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AL PARA PRODUÇÕES AU
TORAIS
ç a s
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Mu áve i s
e v it
in
textos,
gravuras,
colagens
e cartuns:
te
humor e ar
ter
para entre
e refletir!
SANGRIA 1
CARTA AO LEITOR
A sangria
coletiva
Sangria é um sentimento. É sobra gráfica. É sangue vazando.
Coquetel tinto. É esta revista, uma plataforma cultural para pro-
O SENTIMENTO duções autorais. Crônicas, poesias, cartuns, quadrinhos e arte
em geral. Frutos de quem gosta de criar, legitimamente, sem
DE UM arrogância ou presunção; apenas pela busca de quem tenta se
encontrar por meio do processo criativo. Comunicando-se com
REFLETE o mundo e com o próximo e sendo retroalimentado por eles.
Bons argumentos enriquecem qualquer pensamento. E,
O SENTIMENTO aqui, a Declaração Universal dos Direitos Humanos norteia os
princípios básicos nos quais esta publicação se firma e apoia.
DE MUITOS Qualquer coisa fora disso não cabe aqui — a não ser como ex-
pressões de ironia e sarcasmo.
A publicação está dividida em duas grandes seções, entre
outras menores. A primeira, Mistifório, fluxo de expressões
confluentes, reúne trabalhos produzidos por diferentes artis-
tas, em momentos e contextos diversos, dispostos nas páginas
de maneira a sugerir alguma possível relação de sentido entre
eles. O fluxo de sua leitura se entremeia com a de outras seções,
Grinalda e Expositório: a primeira apresenta uma curta seleção
de poemas, enquanto que a segunda contém trabalhos expostos
para contemplação visual. Na segunda grande seção, Micteris-
mo, o joco-sério assume a direção da edição por meio do
humor gráfico e de leituras mais críticas e humoradas.
Em seguida temos HQ — Humor e Quadrinhos —,
sequência direta da seção anterior e cujo nome fala
por si. E, para finalizar, um Arremate opinativo.
Como tende a ser natural em qualquer ser vivo
e projeto que se preze, o objetivo principal desta
publicação é o de existir e se perpetuar da forma que
der. Canalizando energias criativas pairantes no ar e ofe-
recendo ao leitor um entretenimento que busca respeitar e
instigar sua inteligênicia. Enfim, sentimento vazando, coquetel
servido e que sua leitura seja prazerosa.
SANGRIA 3
SUMÁRIO
08 | Mistifório
18 | Conto — Janela
22 | Reflexão — Horizonte nublado
28 | Memorial descritivo — A cidade como
identidade
13, 31 | Expositório
32 | Micterismo
32 | Interatividade abissal
36 | Zen bodismo
38 | Caligrafia
EXPEDIENTE
42 | Pensamentos soltos e humor avulso
EDITORAÇÃO E DESIGN GRÁFICO 44 | Carranca is punk
Igor Villa
REVISÃO
Danilo Villa 45 | HQ — Humor & Quadrinhos
PRODUÇÃO GRÁFICA
Igor Villa 45 | Relógio
IMPRESSÃO
Ainda Não Sei 46 | Lico
COLABORAÇÃO ARTÍSTICA
48 | Inosphera
Alex Ponciano, Alexsander
Rezende, Beatrix Oliveira, 49 | Alegoria da caça
Carlos Roque, Christian
Rodrigues, Claudio Cruz,
Dodô Vieira, Ed Carlos 50 | Arremate
Santana, Erico Bomfim,
Fixxa Brasil, Gazy
Andraus, Irene Estrela
Bulhões, Ítalo Balthasar,
Jazz Miranda, Jéssica
Lemos, Leila Novais,
Léo Daruma, Márcia
Santtos, Nane Anders,
Rachel Midori, Rui
Sora Rodriguez, Valdir
Alvarenga
CONTATO
igorvilla@gmail.com
4 SANGRIA
Alex Ponciano — pág. 4
@alexponciano_arte
Alexsander Rezende — págs. 46, 47
@alexsanderdanaiarezende
Beatrix Oliveira — págs. 8, 10, 15, 18, 20, 26
@beatrixoliveiratattoo
Carlos Roque— págs. 9, 10, 12, 21, 30
@carlosroque.bj
Christian Rodrigues — págs. 46, 47
@licodochrico
Claudio Cruz — págs. 13, 27, 38
@claudio.cruzz
Dodô Vieira — págs. 39, 41, 43, 45
@cartunistadodo
Ed Carlos Santana — págs. 40, 42, 43
@edcarloscartunista
Erico Bomfim — pág. 2
@bomfim_estudio
Fixxa Brasil — pág. 6
@fixxabrasil
Gazy Andraus
— pág. 48
@gazyandraus
Irene Estrela Bulhões — pág. 14
@irene.estrelabulhoes
Ítalo Balthasar — pág. 21
@italobalt
Jazz Miranda — págs. 22, 23, 24, 25, 31
@dangerjazz
Jéssica Lemos — pág. 27
@jehlemos23
Leila Novais — pág. 19
COLABORADORES
@leilalemosnovais
Léo Daruma — pág. 11
@ldarumaman
Márcia Santtos
— págs. 28, 29
@gravurar
Nane Anders — págs. 16, 17
@naneanders
Rachel Midori — pág. 20
@rachelmidori_
Rui Sora Rodriguez — págs. 14, 30
@paginasangue
Valdir Alvarenga — pág. 14
@valdirmirante82
SANGRIA 5
6
SANGRIA
Fixxa Brasil
EDITORIAL
Mudanças
inevitáveis
Tudo muda o tempo todo e tudo sempre mudará, pois a mudan-
ça é aliada do tempo, e o tempo, inevitável. Já dizia Heráclito, pra
lá de 500 a. C., que a mudança era a única constante. Eterno devir.
Nosso corpo muda, nossa mente muda, nosso mundo muda. Por
vontade nossa, ou apesar de nossa vontade. Para o bem, ou para
o mal, enquanto o tempo passa, indiferente.
Somos agentes e reagentes de mudanças: sociais, culturais,
morais, pessoais, emocionais, materiais, naturais e várias outras
mais. Podemos promovê-las, atrasá-las, direciona-las ou deba-
tê-las, porém, sendo inevitáveis, não haverá como as impedir.
Apenas, nos adaptarmos. E já ensinava tio Darwin que quem não
se adapta acaba extinto.
Mudamos como espécie com o passar das eras. Nos aperfeiço-
amos e evoluímos. Mudanças ruins, portanto, seriam aquelas que
nos levassem a regredir e degenerar. Evolução, involução, mutação.
Só o que já é perfeito não precisa ser aperfeiçoado. Ainda assim, po-
deria vir a ser modificado, se corrompido ou estragado — a menos
que se considere a imutabilidade como uma qualidade inerente da
perfeição, coisa para os metafísicos se debruçarem. Seja como for,
seguimos em processo de transformação constante; ou a caminho
de nosso aperfeiçoamento ou em outra direção qualquer.
Somos inexoravelmente carregados pela corrente do tempo,
não havendo nada que possamos fazer para a impedir. Só nos
restando tentar vogar por sobre seu fluxo, bem orientados ou
não, a caminho de nossos destinos.
SANGRIA 7
FLUXO DE EXPRESSÕES CONFLUENTES
UM DIA NA ESCOLA
Igor Villa
Beatrix Oliveira
pandemônio infantojuvenil.
Quando a equipe da ONG chegava, organizava-se uma
fila — ou algo parecido —, e os jovens seguiam para o ônibus
escolar. Cada um à sua maneira, de acordo com o seu grau
de educação e sua personalidade. Uns, mais quietos e tran-
quilos; outros, bagunceiros, falavam alto, cantarolavam, se
empurravam na fila e se ofendiam pelo caminho. Quando
então não brigavam.
Certa vez, uma “tia” da portaria, conhe-
cida pelo seu gênio forte e mau humor recor-
rente, perdendo a paciência com um dos
jovens que seguia pela fila batendo palmas
e cantando alto indecências, apontou para
ele, gritando: “que falta de educação é essa,
menino? Vou contar pro seu pai!”, no que o
garoto respondeu, dando de ombros e es-
tendendo os braços, num misto de desdém e
deboche, “meu pai tá preso!”.
Beatrix Oliveira
8 SANGRIA
E-MAIL É COISA DE VELHO
Igor Villa
Carlos Roque
PURA FICÇÃO
Igor Villa
SANGRIA 9
PASSEIO CULTURAL
Carlos Roque
Igor Villa
Beatrix Oliveira
em um gesto de mão automático,
muito por educação. Mas o sujeito não
se importava. Seguia compenetrado
na tarefa para a qual fora contratado.
Indiferente à indiferença dos outros;
dedicado à sua missão.
Seu celular toca, ele atende. Mantém
uma expressão grave no rosto. Mais ouve
do que fala. Parece ser coisa séria e pessoal,
mas ele não se deixa afetar; conclui a liga-
ção: “não posso falar agora; estou traba-
lhando”. E desliga o aparelho.
10 SANGRIA
MISTIFÓRIO
Léo Daruma
SANGRIA 11
MISTIFÓRIO
Carlos Roque
Igor Villa
12 SANGRIA
EXPOSITÓRIO
BELA SANTOS 1
Claudio Cruz
Nanquim e lápis
de cor sobre papel
SANGRIA 13
GRINALDA
miram-te os poetas
No habitar de uma imagem destas águas baixas
Vaga de todos os santos
a luz de uma estrela, bantos e brasis
Vaga e da terra aos céus
lume da lucidez, sem nuvens e cantantes
Vaga admitem
o canto no sereno, admiram-te
canto doce, e amam no intransitivo
canto de grilo…
Na beira da lagoa,
A sombra dos salgueiros Igor Villa
Dança ao vento da poesia. (em deferência a Valdir Alvarenga)
Valdir Alvarenga
14 SANGRIA
MISTIFÓRIO
Igor Villa
BARATOPATIA
Igor Villa
SANGRIA 15
MISTIFÓRIO
Nane Anders
GIRAÇÃO
Igor Villa
— Para! Para! Estou fican-
do tonto! — gritava o pião,
cansado de girar.
16 SANGRIA
MISTIFÓRIO
SANGRIA 17
MISTIFÓRIO Conto
18 SANGRIA
Leila Novais
SANGRIA 19
MISTIFÓRIO
Beatrix Oliveira
para o outro. Se cumprimentam com o olhar
e um gesto de cabeça. — Mais um dia... — sus-
pira um. O outro assente com um sorriso edu-
cado no rosto. Daí, como se tomado por uma
dúvida súbita, pergunta — Ou seria menos um?
Rachel Midori
VALA ARTÍSTICA
Igor Villa
20 SANGRIA
GRINALDA
Carlos Roque
05.01.1999
SANGRIA 21
Procura-se
uma ficção
em que eu
consiga
acreditar!
Jazz Miranda
22 SANGRIA
Reflexão MISTIFÓRIO
Jazz Miranda
HORIZONTE NUBLADO
igor Villa
Estude, se forme, trabalhe, progrida; tenha “Ser workaholic é cool”, “seja o explorador de
uma vida próspera e feliz; é o que canta a sereia si mesmo”, coaxa o discursador profissional. É
para o jovem incauto, encantado, perdido no tudo ficção!
tabuleiro do mercado. É tudo ficção! Como já Jovens neném, digo, “nem-nem”, nem es-
explicou o sapiente Yuval Harari. Que, a propó- tudam e nem trabalham. Muitos, por desalento
sito, recentemente prognosticou o surgimento e descrença com o futuro. Games, streamings e
de uma nova classe de pessoas num futuro besteiras na internet, difícil não procrastinar.
próximo: a dos inúteis. Pessoas que, simples- Posterga-se até um momento de lazer, série ou
mente, não serão mais empregáveis devido aos filme que se gostaria de assistir. Procrastinação
avanços tecnológicos proporcionados pelas de um passatempo prazeroso — ou se perdeu
inteligências artificiais. Meras peças obsoletas o prazer? —, ócio criativo destrutivo. É preciso
descartadas pelo sistema. Que, ociosas, preci- ver; é preciso se entreter; é preciso ter; e dá-lhe
sarão ter sua existência requalificada. consumir quinquilharias pop e ostentar experi-
Ademais, crises econômicas; jovens, os ências de consumo nas redes sociais. Animais
primeiros a serem dispensados — menos custos gregários que somos, buscando sempre pela
para as empresas. Mercado pequeno para tanta aprovação do próximo, mesmo que o próxi-
gente; estudada e capacitada até. Não importa, mo consista em um estranho qualquer, bem
economia retraída, mundo encolhido, gente distante de nós. Milhões de jovens instigados a
sobrando, geração desperdiçada. Energia des- nutrirem desejos que não poderão bancar. Mas
perdiçada. Sonhos irrelevantes. E ainda fica um o jovem empreendedor é esperto. Capitaliza
monte de coach coaxando, responsabilizando até uma conversa de botequim na internet.
os indivíduos pelos seus fracassos, pressio- O jovem romântico, criativo e proativo
nando os jovens com discursos pré-moldados, quer ser produtivo. Quer colaborar, contribuir
enchendo suas cabeças com neuroses e de- e se destacar no grupo; se tornar relevante em
pressão. Se esforce ao máximo de suas capaci- sua área de atuação. Quando convocado, en-
dades para conseguir o mínimo de dignidade. tra em campo determinado, buscando provar
SANGRIA 23
o seu valor. Mas, não raro, logo se vê empenha- das redes sociais. Peões incapazes de vislum-
do no engenho do senhor Burnout. Responsabi- brar o futuro de sua trajetória. Mas, claro, não
lidade sênior com pagamento júnior. Bagaço de estou me referindo a minoria privilegiada que
cana saindo pela moenda. Sem suco a oferecer, já tem seu futuro tracejado desde cedo.
acaba se tornando adubo, lenha, ou comida Jovens sem futuro são o futuro. E mesmo
para bestas. E a sereia volta à superfície para que o futuro seja só uma projeção intangível,
cantar novamente. ele sempre acaba se materializando como
Os jovens estão seguindo pela vida sem presente. É tudo ficção, eu sei. Mudanças
planos de navegação, pulando de casa em inevitáveis forçarão o surgimento no mundo de
casa no tabuleiro, aleatoriamente, à mercê da novas ficções para a humanidade se firmar. O
própria sorte, confusos quanto às regras do horizonte está nublado, mas existe algo além.
jogo, caindo em ciladas e aderindo a discursos Precisamos de uma nova ficção para acreditar.
odientos, irresponsáveis, em charcos rançosos Mais justa, solidária, transigente e abnegada.
Jazz Miranda
24 SANGRIA
MISTIFÓRIO
SEM CHAMADO
Igor Villa
SANGRIA 25
MISTIFÓRIO
Beatrix Oliveira
MENSAGEM INDIRETA
Igor Villa
26 SANGRIA
DESABAFO EM PROSA
Jéssica Lemos — 28/05/2020 (um texto pandêmico)
Cruz
io
ud
Cla
SANGRIA 27
MEMORIAL DESCRITIVO A cidade como identidade
O
s trabalhos da série “A cidade como identidade” nasce-
ram a partir de 2017 com minhas caminhadas no entorno
de meu ateliê Gravurar, localizado no bairro da Vila Ma-
thias em Santos. Caminhar é um processo de trabalho frequente,
onde coleto ervas daninhas, penas, objetos descartado, madei-
ra, além de desenhar e fotografar pessoas, animais e entorno
para minhas investigações estéticas.
Grande parte das construções do bairro datam das décadas
iniciais de 1900 e possuem uma história a ser contada. Essas
edificações me falam da transitoriedade do tempo e das relações
construídas entre elas e as pessoas. Algumas relatam os maus
tratos, as lutas, os desapegos; outras poucas, me mostram o
quão amáveis e acolhedoras podem ser quando preservadas.
Os vínculos afetivos entre as gerações passadas, presentes e
futuras estão contidos no diálogo que
estabelecemos com essas edifica-
ções, com nossa história individual
e coletiva, possibilitando a todos
enxergarem-se como protagonistas
da história. A identidade do povo está
contida e preservada no patrimônio
arquitetônico e dá à população cons-
ciência de seus direitos e obrigações
com a sua localidade. É necessário ir
além de si mesmo e pensar em ques-
tões como: Por que preservar? O que
preservar? Preservar para quem?
A utilização de um material
descartado como as embalagens
cartonadas trouxe mais sentido a
essa discussão. Utilizei essas embalagens para minha
investigação da ‘Cidade como Identidade’, produzindo
matrizes de gravuras originais gravadas e impressas
em relevo e côncavo.
As matrizes descartadas carregam vestígios,
marcas e machucados de sua história individual,
28 SANGRIA
e é essa fragilidade que endossa o diálogo simbólico de reter o
tempo, materializar a memória e nossa história coletiva.
Nesta série, apresento uma cidade imaginária, recriada a
partir de meu diálogo com a cidade real, que nos convida a nos
reconhecermos nela.
A cidade é nossa identidade.
SANGRIA 29
GRINALDA
Menina triste
Bexiga solta no vento.
Menino feliz.
vida
Garotos negros.
precioso movimento Na cabeceira da ponte
dança muda indiscreta Tibum na água.
tímida
rodopio fora de eixo
passo errado
que do curso esperado desvia Levanta e grita
Culto no meio do ônibus.
vida A chuva aumenta.
entorse no pé
que de pé se põe
tropeço que frustra Torcicolo
desfruta! Olho só para frente
insano desfile que ensina Ano novo.
30 SANGRIA
EXPOSITÓRIO
PAISAGEM I
Jazz Miranda
arte digital
SANGRIA 31
INTERATIVIDADE
ABISSAL
Benéfico e/ou maléfico para nossa realidade psicossocial, a
interação entre o cérebro humano e os algoritmos das redes
sociais estão transformando — e transtornando — o mundo.
Igor Villa
J
á é consenso admitir que as redes sociais vez melhor o funcionamento das redes sociais e
mudaram bastante o mundo nos últimos de sua indústria, assim como de seu impacto no
anos. Porém, a maneira como essa afirma- mundo e na psiquê humana, potencializados,
ção se coloca talvez desagrade alguns. Pessoas sobretudo, pelos algoritmos do sistema. Pes-
teriam mudado bastante o mundo nos últimos soas, algoritmos e o mercado das redes sociais
anos, por meio dos recursos e das facilida- mudaram bastante o mundo nos últimos anos.
des viabilizados pelas redes sociais. Tá bom, Certa áurea romântica que já pairou sobre
mas todas essas mudanças teriam se dado de a internet em seus primórdios se dissipou ao
maneira orgânica, espontânea e natural? Bem, longo dos anos, mediante a uma realidade de
a realidade vem mostrando que não, à medida mercado que veio a se consolidar dentro dela
que a humanidade vai compreendendo cada com planos de negócios multimilionários. In-
32 SANGRIA
Meme cultural. Obra: Rinaldo e
o Escudo-Espelho, de Francesco
Maffei, 1650-55. Encontrado em:
https://media.getty.edu/museum/
images/web/larger/00089401.jpg
SANGRIA 33
Choques e petiscos
34 SANGRIA
MICTERISMO
a caveira de boné
SANGRIA 35
ZEN BODISMO
Pérolas de sabedoria do venerável BODEDARMA,
Power Master Coach de Transcedência Virtual, Cósmica e Financeira
Referências
* LANIER, Jaron. Dez argumentos para
você deletar agora suas redes sociais.
Rio de Janeiro: Intrínseca, 2018.
** EMPOLI, Giuliano Da. Os engenheiros
do caos. São Paulo: Vestígio, 2020.
REDE DE COMPRAS
Nas prateleiras do mercado, DIÁLOGO AO LÉU
cérebros e corações, — Dez Argumentos Para Você Deletar Agora
Suas Redes Sociais... tá, então por que você não
emoções, deletou suas redes sociais depois de ter lido esse
medos e desejos, livro, já que você acha ele tão bom?
ambições. — Pela mesma razão que um fumante continua
Em oferta e promoções, a fumar, mesmo depois de informado sobre os
males que o cigarro causa. Quero dizer, VÍCIO!
liquidações.
36 SANGRIA
MICTERISMO
SANGRIA 37
CALIGRAFIA Claudio Cruz
38 SANGRIA
MICTERISMO
Dodô
INFLUÊNCIA OPORTUNISTA
Igor villa
SANGRIA 39
MICTERISMO
HUMOR MATADOR
Igor Villa
Ted Bundy, Jeffrey Dahmer, John W. consegue evitar” —, nesse momento, Jerry
Gacy, Herb Baumeister e outros… todos na Brutos cutuca Samuel Little, rindo — “é isso
plateia de um show de comédia stand-up mesmo! É engraçado porque é verdade!” —,
no inferno. No palco, um igual, fazendo sua e o show continua. Com muitas piadas sobre
apresentação. Fazia observações ácidas e mães narcisistas, pais abusadores e complexo
bem-humoradas sobre a vida, a sociedade de Édipo. Algumas sobre alcunhas bizarras
e seus costumes. Falava de suas vítimas e atribuídas aos criminosos pela imprensa e
seus crimes, tirando sarro de alguma par- outras tantas sobre a mitificação da “classe”
ticularidade ocorrida no momento de seus por Hollywood. E para arrematar, piadas
atos, alguma súplica inusitada, considerada sobre a polícia e as autoridades — “Às ve-
engraçada por ele, e coisas do tipo. A plateia zes, só falta a gente implorar: ‘por favor, nos
ria, se identificando com o texto e o humoris- prendam!’” —, e o show se encerra. Sucesso.
ta, que zombava de muitos aspectos comuns Um alçapão se abre debaixo deles e todos
à vida de um serial killer, como a recorrente retornam, caindo, para o caldeirão de óleo
necessidade de muitos em colecionar troféus fervente. Enfim, é isso, o humor não tem
de suas vítimas — “a gente sabe que isso limite; o que tem limite é a moral, a ética e a
pode nos ferrar, mesmo assim, a gente não capacidade cognitiva das pessoas.
Ed Carlos
40 SANGRIA
Igor Villa
“Ainda não li,
mas dizem que
é muito bom.”
— M. Limeira
“É uma obra
Dodô
“Puro suco de
contemporaneidade.”
— Jokó
UM LIVRO
PARA VOCÊ
COMPRAR
CATA
NICA
SANGRIA 41
MICTERISMO
OS SOLTOS
PENSAMENT
VU LSO!
E HUMOR A lla
Igor Vi
Ed Carlos
textos:
Se o deserto
do Saara já
foi floresta no
passado, pode a
floresta amazônica
se tornar deserto
no futuro?
,
"Ele é hipócrita
o" .
mas é sincer
tava
Era o que cons
no santinho do
candidato.
Igor Villa
Percebi que
algo andava
estranho no
mundo quando
vi o undergroun
d
entrar na mod
a
e se tornar
mainstream.
Igor Villa
42 SANGRIA
Canso só de
Dodô
te
passar em fren
ad em ia
a uma ac
ue la s
e ouvir aq
músicas qu e
tocam lá.
Verdadeiros
operadores de
cancela da inte
rnet,
acomodados na
guaritinha de
seus
apar tamentos,
co nt ro la nd o qu
em
de ve , ou não,
ser
Igor Villa
cancelado.
SANGRIA 43
MICTERISMO
ISO.
PENSAR NÃO É PREC
NAVEGAR É PRECISO;
Igor Villa
o te m po qu e
tant
ne m le m br o.
N ão se i.. .
ac ho que sou
um anarquista
e a m orte
conser vador s
eza
da bel iva,
socialista
lib eral ... is to
crat
já existe?
for lu za
a bele
rrer!
vai mo
da
devora m
uve
or ta
pela n otos
O que me conf anh
é imaginar qu e em
de gaf tas!
is
consum
algum univer so
do
paralelo está tu
dando cert o.
44 SANGRIA
HUMOR & QUADRINHOS
SANGRIA 45
HUMOR & QUADRINHOS
texto e traço:
Christian Rodrigues
cores:
Alexsander Rezende
46 SANGRIA
SANGRIA 47
HUMOR & QUADRINHOS o poético-filosófico de Gazy Andraus
sendo assim...
pois nunca se
sabe quando um
revés poderá
nos atingir.
à mercê das
vicissitudes...
...querer é
uma virtude.
fim
SANGRIA 49
ARREMATE Igor Villa
Ó a IA aí, ó!
Produzi essa arte em 2018 para a revista Porreti- tas também fazem, assimilam diferentes técnicas e
nho, refletindo sobre o processo criativo e o avanço referências para conseguirem criar as imagens que
tecnológico. Quanto ao ato de desenhar e pintar, desejam? A diferença, óbvio, é que o processamento
em si, já compreendia ser plenamente capaz para a cerebral ainda — ainda! — se mostra mais abrangente
tecnologia de então reproduzir o fenômeno. Câmeras e complexo do que o dos sistemas computacionais
como olhos, processador como cérebro, impressora hoje desenvolvidos. Mas o trilho do tempo está aí,
ou braços robóticos como as mãos do artista. Agora, com a locomotiva do progresso tecnológico avan-
criar, como as IA estão fazendo hoje em dia, real- çando aceleradamente. A arte, contudo, sobreviverá,
mente, eu imaginava que esse tipo de coisa só seria pois ela sempre se adapta à lógica social vigente. Já
possível bem mais lá para frente, no futuro, e que, os artistas, como os artífices do séc. XIX, esses sim,
provavelmente, ou eu estaria muito velho para ver, sentirão — já sentem — um sacolejo forte na passa-
ou nem estaria mais aqui. Errei. “Ain, mas a IA não gem do trem. E não adianta gritar, Ned Ludd, pois
cria; só combina dados e imagens preexistentes para o trem não vai parar por sua causa. Entenda a nova
gerar novas formas”, ué, mas não é isso que os artis- realidade e se adapte, ou faça o que quiser.
50 SANGRIA