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A Vida e a Obra de 50 Ícones das Letras

O r g a n i z a d o r a

Luzdalva S. Magi
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*Luzdalva S. Magi, formada em Letras pelo Centro Universitário Fundação Santo André
(FSA), é professora de Língua Portuguesa, de Língua Inglesa, de Língua Francesa e suas
Literaturas, de Técnicas de Redação e Análise do Discurso é também de Crítica Literária.
Trabalha na Rede Particular, Estadual e Municipal da cidade de Santo André, no ABC.
Contato: E-mail: dalvamagi@yahoo.com.br. Blog: ŚƩƉ͗ͬͬƐƵďůŝŵĞͲƉŽĞŵ͘ďůŽŐƐƉŽƚ͘ĐŽŵ͘ďƌͬ
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Produção Editorial
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(11) 2977-5878

Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial deste trabalho, seja por meio
eletrônico ou impresso, inclusive fotocópias sem prévia autorização e consentimento da editora.
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ÍNDICE
Pág. 8 ................................ Alexander Pushkin
Pág. 9 ................................. Anton Tchekhov
Pág. 11 ................................. Albert Camus
Pág. 12 ................................ Álvares de Azevedo
Pág. 14 ................................. André Breton
Pág. 16 ................................ Jean-Nicholas Arthur Rimbaud
Pág. 18 ................................ Agatha Christie
Pág. 19 ................................ Arthur Conan Doyle
Pág. 20 ................................ Aluízio de Azevedo
Pág. 21 ................................. Aldous Huxley
Pág. 23 ................................ Arthur C. Clarke
Pág. 24 ................................ Carlos Drummond de Andrade
Pág. 25 ................................ Clarice Lispector
Pág. 26 ................................ Cecília Meireles
Pág. 28 ................................ Charles Baudelaire
Pág. 30 ................................ Charles Perrault
Pág. 31 ................................. Dashiell Hammett
Pág. 32 ................................ Dante
Pág. 33 ................................ Émile Zola
Pág. 34 ................................ Eca de Queiroz
Pág. 36 ................................ Emily Bronte
Pág. 38 ................................ Edgar Allan Poe
Pág. 39 ................................ Euclides da Cunha
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Pág. Canal no Telegram:
40 ................................ t.me/BRASILREVISTAS
Ernest Hemingway
Pág. 42 ................................ Fiódor Dostoiévski
Pág. 44 ................................ Fernando Pessoa
Pág. 46 ................................ Franz Kafka
Pág. 48 ................................ Guimaraes Rosa
Pág. 50 ................................ Garcia Márquez
Pág. 52 ................................ Graciliano Ramos
Pág. 54 ................................ García Lorca
Pág. 55................................. Goncalves Dias
Pág. 56 ................................ Guy de Maupassant
Pág. 58 ................................ George Orwell
Pág. 60 ................................ Goethe
Pág. 61 ................................. Balzac
Pág. 62 ................................ Hermann Hesse
Pág. 63 ................................ José Saramago
Pág. 64 ................................ James Joyce
Pág. 66 ................................ Jane Austen
Pág. 68 ................................ John Steinbeck
Pág. 70 ................................ Jorge Luis Borges
Pág. 71 ................................. Júlio Verne
Pág. 72 ................................ Joao Cabral de Melo Neto
Pág. 73 ................................ J. R. R. Tolkien
Pág. 74 ................................ Jorge Amado
Pág. 76 ................................ Lima Barreto
Pág. 77 ................................ Machado de Assis
Pág. 78 ................................ Monteiro Lobato
Pág. 79 ................................ Mary Shelley
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Editorial
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omo arte universal, a Literatura tem uma integridade e uma
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por um italiano, por exemplo, pode ser lida e bem absorvida por
um chinês, alguns séculos depois.
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criação de pinturas, gravuras, esculturas e, também, mais obras literárias,
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Mentes Brilhantes da Literatura Universal ƚƌĂnjŽƉĞƌĮůĚĞϱϬĞƐĐƌŝƚŽƌĞƐ
ĚŽƐŵĂŝƐƐĄďŝŽƐĞƚĂůĞŶƚŽƐŽƐ͕ĚĞǀĂƌŝĂĚĂƐĠƉŽĐĂƐĞƉĂƌƚĞƐĚŽŵƵŶĚŽ͕ƋƵĞ
contribuíram para a criação um patrimônio de cultura representado pelos
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KƌĞĐŽƌƚĞďŝŽŐƌĄĮĐŽĚŽƐĞƐĐƌŝƚŽƌĞƐĨŽĐĂĚŽƐŶĞƐƚĂƉƵďůŝĐĂĕĆŽĞŽƐ
comentários sobre a obra de cada um deles em correlação a outras peças
de arte, literárias ou de outros vieses, são um painel da importância da
Literatura como instrumento de civilização.
Boa leitura.

Os Editores
MENTES BRILHANTES

“... o respeito pelo passado,


eis o traço que distingue a instrução da barbárie;
as tribos nômades não possuem nem história, nem
nobreza...” (Pushkin)

Alexander
Pushkin

A
lexander Sergueievitch Pushkin nasceu em 1799. Um dos maiores
escritores russos, também é considerado fundador da Literatura
Moderna na Rússia. Os pais de Pushkin descendiam de famílias nobres,
mas essa herança cultural não impediu que o escritor apresentasse
atitudes rebeldes e contestadoras provenientes de sua consciência
social. A avó e a aia de Pushkin incentivaram no escritor o hábito da leitura. Era
comum falar o francês em família da nobreza e ler contos para as crianças, assim
era conservada uma atmosfera de aristocracia cultural que culminava em grande
amor pela poesia russa e pela literatura francesa.
O poeta russo publicou seu primeiro poema aos 15 anos. Mesmo sem graduação,
seu trabalho caiu nas graças do meio literário e imediatamente foi reconhecido como
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demonstração de talento genuíno. O escritor graduou-se no Imperial Lyceum, situado
na Vila Real. Seu estilo estava bem longe de ser convencional e por isso a Pushkin
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narrativa inconfundível, na qual o escritor mistura drama, romance e sátira.
Leitor dedicado de autores como Voltaire, Byron e Shakespeare, desde muito
cedo demonstrou familiaridade com as letras. Irreverente e inoportuno, Pushkin foi
castigado com a reclusão. Durante esse período, escreveu seu trabalho mais elogia-
do, Eugene Oneguin. O livro é uma composição de ideias que envolvem sentimentos
de tédio, paixão, amor, convenção, vida e morte.
A Rebelião dos Dezembristas fez com que vários amigos de Pushkin fossem depor-
tados para a Sibéria, um duro golpe para o escritor. Com a morte do Czar Alexander I,
Nicolau I assume o trono e toma sob sua proteção o poeta resgatado do desterro, que
começa a ter sucesso com seus escritos e consegue algum dinheiro com a venda das
estrofes de seu livro Eugene Oneguin. A tragédia espreitava o grande escritor Pushkin.
Casou-se com Natalya Goncharova, uma das mais belas mulheres da época, e morreu ao
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Mortalmente ferido, o poeta morreu dois dias depois. Por suas ideias liberais, seu ím-
SHWRSROtWLFRHDLQÀXrQFLDTXHH[HUFLDVREUHDVJHUDo}HVUHEHOGHVUXVVDVRV%ROFKH-
viques descreviam Pushkin como contrário à literatura e aos valores burgueses e um
antecessor da poesia e literatura soviética. As principais obras de Alexander Pushkin
são: O Prisioneiro do Cáucaso, Eugene Onegin, A História da Revolta de Purgatief e O
Cavaleiro de Bronze.
“... Perder a razão é uma coisa terrível. Antes morrer, a um morto consideramos
com respeito, rezamos por ele. A morte fá-lo igual a todos. Enquanto um homem
privado da sua razão deixou de ser homem...” (Alexander Pushkin)

8
DA LITERATURA MUNDIAL

“Deixe-me perguntar-lhe se recorda que foi


o despotismo e a mentira que arruinaram a
juventude de sua mãe. Despotismo e a mentira
mutilaram a nossa infância e é repugnante e
assustador pensar sobre isso. Lembre-se do horror
e da repulsa que nós sentimos naquele momento
em que o pai se enraiveceu durante o jantar porque
havia muito sal na sopa e chamou a mãe de tola.”
(Tchekhov sobre a tirania de seu pai, em carta a seu irmão
Aleksandr.)
Anton
Tchekhov

A
nton Pavlovitch Tchekhov nasceu em 29 de janeiro de 1860. Considerado
o maior contista de todos os tempos, além de dramaturgo, também exercia
DSUR¿VVmRGHPpGLFR“O pai do escritor, Pavel Iegorovitch Tchekhov, era
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tirania, enquanto que a mãe, Ievguenia Iacovlevna Morozov, possuía
temperamento dócil. Tchekhov desenvolveu na infância o talento para contar histórias,
utilizando como tema as viagens que fazia por toda a Rússia com seu pai, um próspero
comerciante de tecidos.” Comparando seu pai e sua mãe, Tchekhov disse certa vez:
“Nossos talentos recebemos de nosso pai, mas a nossa alma recebemos de nossa mãe.”
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pobres gratuitamente, Anton Tchekhov começou a escrever para ajudar no orçamento
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a literatura é apenas minha amante.”
A marca de sua obra é o estilo simples e de fácil leitura, sem a necessidade de
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a mensagem transmitida por meio de seus escritos. Por utilizar a metalinguagem,
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9
GH VXD QDUUDWLYD VH SHUGH FRP DV DGDSWDo}HV SUySULDV GDV
WUDGXo}HV O equilíbrio linguístico em Tchekhov acontece
por meio da mistura de linguagem referencial e poética com
pitadas de metalinguística. A observação da sociedade russa
em sua época, de maneira geral, é o que imprime a suas
personagens um caráter verdadeiro e real. O universo literário
de Tchekhov pode ser chamado de original. Por conter
uma realidade sóbria, sem glamour, povoada de homens
e mulheres comuns, sua descrição e narrativa obedecem a
SDGU}HVHVVHQFLDLVRTXHSHUPLWHDROHLWRULQWHUDJLUQDWUDPD
em um processo denominado de “ressonância”, como se o
que foi lido ainda continuasse a ecoar na consciência do leitor
e se desenvolvesse além do texto escrito.
$OpPGHVXDJUDQGHJHQHURVLGDGHFRPRSUR¿VVLRQDOGD
Medicina, Anton Tchekhov deixou como legado seus ensaios
(Ostrov Sakhalin, 1895), contos (A Arte da Simulação, 1885), novelas (A Estepe,
1888) e peças teatrais (As Três Irmãs, 1901). O escritor russo morreu em 15 de julho
de 1904. Sobre isso, sua esposa Olga Knipper fez um relato tocante: “... Anton sentou-
se extraordinariamente ereto e disse em voz alta e clara (embora ele não soubesse
quase nada de alemão): ‘,FKVWHUEH¶ (Estou morrendo). O médico acalmou-o, pegou
uma seringa, deu-lhe uma injeção de cânfora e ele pediu champanhe. Anton tomou
um copo cheio, examinou-o, sorriu para mim e disse: ‘Fazia um bom tempo que não
EHELDXPFRSRGHFKDPSDQKH¶(OHEHEHXHLQFOLQRXVHVXDYHPHQWHSDUDDHVTXHUGD
e eu só tive tempo de correr em sua direção e colocá-lo na cama e chamá-lo, mas ele
Entre
tinha emdenosso
parado respirarCanal
e estavano Telegram:
dormindo t.me/BRASILREVISTAS
tranquilamente como uma criança...”
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RV VHQWLGRV RX WDOYH] D PHORGLD WLYHVVH VLGR LQWHUURPSLGD GH UHSHQWH VHP DYLVR
prévio. Esses contos são inconclusivos,
dizemos, e moldamos uma crítica
baseada na suposição de que os
contos devam terminar de maneira
que possamos reconhecer. Ao fazê-lo,
levantamos a questão da nossa própria
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P~VLFD p IDPLOLDU H R ¿P HQIiWLFR ±
DSDL[RQDGRV MXQWRV YLO}HV GHUURWDGRV
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parte da literatura vitoriana, as coisas
não vão mal, mas quando a música
QmR p IDPLOLDU H R ¿P p XP SRQWR GH
LQWHUURJDomRRXDSHQDVLQIRUPDo}HVTXH
eles passaram através de diálogo, como
nas obras de Tchekhov, precisamos de
um sentido muito ousado e alerta da
literatura para nos fazer ouvir a melodia
e, em particular, as últimas notas que
completam a harmonia.” (Virgínia
Woolf destaca a principal qualidade dos
contos de Tchekhov.)

10
DA LITERATURA MUNDIAL

“... Antes, a questão era descobrir se a vida


precisava ter algum significado para ser vivida.
Agora, ao contrário, ficou evidente que ela
será vivida melhor se não tiver significado...”
(Camus)

Albert
Camus

A
lbert Camus nasceu em 07 de novembro 1913. Ganhou o prêmio
Nobel de Literatura no ano de 1957. Natural da Argélia, foi roman-
cista, dramaturgo e jornalista, que militou na Resistência Francesa,
WRPDQGR SDUWH QDV GLVFXVV}HV GR SyVJXHUUD 2 HVFULWRU FRQYLYHX
com a miséria, traço que delineou seu estilo crítico e existencialista.
A infância de Camus foi marcada pela pobreza, mas também pela convivência
agradável com a natureza, o que ele registra em O Avesso e o Direito (1937).
Sua obra mais conhecida é O Homem Revoltado (1951), livro considerado o
pivô do desentendimento entre Camus e Sartre.
No livro O Estrangeiro (1942) é que o leitor se
depara com a linguagem simples e despojada do autor.
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torna leve, se mistura à não consistência, ao absurdo.
Representante do existencialismo francês e notadamente
observador de tudo o que envolve o ser humano, Camus
joga com o sentimento de solidão e angústia em sua
narrativa, mas também empresta um ar nostálgico
de esperança e solidariedade na construção de suas
personagens. Albert Camus se aventura pelo político-
social no livro A Peste e derrama um sentimento profundo
GHH[LVWHQFLDOLVPRH¿ORVR¿DHPO Mito de Sísifo. Há em
sua narrativa uma perspectiva poética e rica em imagem,
da qual nasce uma silhueta de civilização mediterrânea.
Embora tenha abordado o sofrimento, a perda
e a miséria em sua obra, Camus amava viver. Sua
vitalidade e honestidade para com o trabalho e para
com a humanidade deixaram marcas profundas em sua
produção literária. Em 1960, Albert Camus foi vítima
fatal de um acidente de automóvel. Foi encontrado
em sua mala o manuscrito de O Primeiro Homem, um
romance autobiográfico. Nas notas escritas ao longo do
manuscrito, Camus dizia que aquele seria um romance
inacabado, uma triste paródia do destino.
“Não quero ser um gênio... Já tenho problemas
suficientes ao tentar ser um homem.” (Camus)

11
MENTES BRILHANTES

“... Já da noite o palor me cobre o rosto,


Nos lábios meus o alento desfalece,
Surda agonia o coração fenece,
E devora meu ser mortal desgosto!...” (Último
Soneto)

Álvares de
Azevedo

M
anuel Antônio Álvares de Azevedo nasceu em São Paulo no
dia 12 de setembro de 1831. Era dramaturgo, poeta, contista e
ficou conhecido por sua obra Lira dos Vinte Anos (1853), um
compêndio poético de traços ultrarromânticos que fizeram
do poeta ícone literário. Sob a influência de Byron, Álvares
teve postumamente publicado, em 1855, Noite na Taverna, uma coletânea
de contos cuja temática forte e trágica demonstrava bem o espírito do autor.
Os contos de Noite na Taverna possuem como elementos o amor, a morte e
o vício. As principais influências de Álvares de Azevedo foram Lord Byron,
Goethe, Chateaubriand e Alfred de Musset.
Álvares de Azevedo intensifica e enfatiza os extremos, dando uma nuance
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tipicamente romântica à sua obra. A atmosfera de autodestruição, sarcasmo e
ironia permeia sua narrativa. Do submundo da consciência humana, o jovem
escritor extrai a matéria-prima para seus contos obscuros, personagens em
encontros boêmios e vilanias indescritíveis. O poeta oscila entre o culto e
o grotesco, entre o belo e a deformidade, atribui ao cotidiano banal a visão
perturbadora e insana do adolescente entediado e aquartelado dentro de um
mundo fechado e quase autista. O byronismo crítico que lhe escapa do discurso
não fere o brilhantismo da obra, antes aprimora ainda mais o traço underground
que lhe marca o estilo. A “binomia” na obra de Álvares é a sublimação do enlevo
e da decadência, pontilhando um extremismo próprio da alma romântica,
o desejo pela morte, ainda que seja o fim de todas as coisas, o desgaste do
sentimento, ainda que jamais se tenha sentido,
transfiguram-se em imenso vazio que traga a alma
e a vontade. Não é possível falar das efemeridades
em Álvares sem tracejar poesia. Intencionalmente
ou não, ele uniu a figura pura do anjo ao declínio
impuro do demônio e essa dualidade, chamada por
ele de “binomia”, nada mais é do que a essência de
sua obra. A ausência do todo e a carência da parte em
Álvares de Azevedo são o que desequilibra o leitor e
o faz ficar à margem de tudo, sem autonomia para
julgar ou conceber tamanha dualidade, tamanha
honestidade de sentimento.
As metáforas, hipérboles e antíteses em Azevedo
atestam o aspecto dual de sua obra e desnudam o

12
caráter do jovem confuso diante da vida e de sua
representação filosófica. Não há lugar para o santo
em Noite na Taverna. O ambiente é de devassidão e
completamente vazio de religiosidade, que também
se configura como um culto, ainda que profano.
O poeta do desencanto morreu em 25 de abril
de 1852 após ter sofrido uma queda de cavalo que
OKH UHQGHX FRPSOLFDo}HV PXLWR GLItFHLV GH VHUHP
tratadas na época. Um tumor formado no ilíaco foi
removido sem anestésicos, mas a ferida infeccionou
e depois de um período de agonia e febre o escritor
não resistiu. Os restos mortais do poeta repousam
no Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro.
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FRQWiOD FRPR YyV ORXFXUDV GH QRLWHV GH RUJLD
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6DEHLODVHVVDVPLQKDVQXYHQVGRSDVVDGROHVWHORj
farta no livro desbotado de minha existência libertina.
Se o não lembrásseis, a primeira mulher das ruas poderá
contá-lo. Nessa torrente negra que se chama a vida e
que corre para o passado enquanto nós caminhamos
SDUD R IXWXUR WDPEpP GHVÀRUHL FUHQoDV H PH ODQFHL
despidas as minhas roupas mais perfumadas, para
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QDTXHOHQmRVHURHÀ~YLRGHDOJXPDOHPEUDQoDSXUD´
(Trecho de Noite na Taverna.)

13
MENTES BRILHANTES

“... A vida verdadeira está ausente, já dizia


Rimbaud. Este será o instante a não deixar
passar para reconquistá-la. Em todos os
domínios, eu penso que será necessário aportar
a esta busca toda audácia de que o homem seja
capaz...” (André Breton)

André
Breton

A
ndré Breton nasceu em 19 de fevereiro
de 1896. O escritor francês é considerado
teórico e poeta do Surrealismo. Breton
sobrevivia da venda de quadros em
sua galeria de arte. Impulsionou o
Surrealismo, apoiando o movimento e fazendo com
que abrangesse toda a expressão artística na Europa.
O Surrealismo foi marcado pelo “humor negro”,
o que é facilmente percebido em Lautréamont
e Jarry, escritores que utilizam esse mecanismo
como válvula de escape para sua narrativa. O ensaio
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$QWRORJLDGHO¶KXPRXU1RLU, no Telegram:
produzido t.me/BRASILREVISTAS
por Breton,
em 1940, trata exatamente desse humor obscuro,
traço incontestável do Surrealismo.
“... Tudo nos leva a acreditar que existe certo
estado da mente em que vida e morte, o real e o
imaginário, passado e futuro, o comunicável e o
incomunicável, altura e profundidade, não são
mais percebidos como contraditórios...” (A. B.)
André Breton era ligado à Medicina, atuou no
campo da Psiquiatria e acreditava que o instinto e
o inconsciente humano eram os responsáveis pela
força criadora e pela expressão artística. Dissidente
do Dadaísmo e precursor do Surrealismo, possuía
uma abordagem tresloucada e uma força verbal
impressionante em sua obra poética. Por meio
da revista La Revolution Surréaliste, Breton
consolidou o movimento de maneira decisiva em
todo o território europeu. Sua forma de produzir
baseava-se no “automatismo psíquico”, ou seja,
GHL[DU ÀXLU OLYUHPHQWH SDUD R SDSHO DV LGHLDV TXH
lhe passavam pela mente. Para isso, era necessário
que o poeta empreendesse uma profunda viagem
LQWHULRU HP EXVFD GH UHSUHVHQWDo}HV RQtULFDV 2
escritor teve envolvimento com a política, integrou
o partido comunista. Em 1928, escreveu Nadja,

14
livro que foi considerado a consagração
literária do surrealismo. O autor se
posiciona como narrador-personagem
e cria uma personagem misteriosa
para dar corpo aos seus próprios
sonhos, atribui à personagem Nadja
característica diáfana, mágica, própria
das criaturas míticas que são feitas da
mais pura naturalidade. Breton discute
em seu livro o limiar entre loucura e
excentricidade, o caráter arbitrário de
se privar um ser humano de liberdade.
Nadja p XP URPDQFH ELRJUi¿FR H
WUDQVS}H D ¿FomR SRVWR TXH H[WHULRUL]D
os sentimentos e anseios do escritor.
“... No instante de deixá-la, quero
fazer-lhe uma pergunta que resume todas
as demais, uma pergunta que somente
eu seria capaz de fazer, sem dúvida, mas que, pelo menos desta vez, encontrou
UHVSRVWDjDOWXUDµ4XHPpYRFr"¶(HODVHPKHVLWDUµ(XVRXXPDDOPDHUUDQWH¶
Combinamos nos encontrar no dia seguinte no bar que existe na esquina da rua
/DID\HWWHFRPR)DXERXUJ3RLVVRQQLqUH'L]TXHJRVWDULDGHOHUXPRXRXWURGRV
meus livros e insiste quando sinceramente ponho em dúvida o interesse que possa
ter por eles. A vida é diferente do que se escreve...” (Trecho do romance Nadja.)
André
Entre emBreton
nosso preocupou-se especialmente
Canal no Telegram: em fazer conviver sonho e
t.me/BRASILREVISTAS
realidade, loucura e razão. Utilizando seus conhecimentos no mundo da Psiquiatria,
contrapôs valores e criticou posturas existentes na sociedade ao abraçar o modelo
surrealista de escrita e de pensamento. O escritor André Breton, precursor do
surrealismo literário, morreu
em 28 de setembro de 1966,
na cidade de Paris.
“... Cara imaginação, o
que mais amo em ti é que tu
não perdoas...” (A. B.)

15
MENTES BRILHANTES

“... Eu escrevia silêncios, noites, anotava o


inexprimível. Fixava vertigens. Criei todas as
festas, todos os triunfos, todos os dramas. Tentei
inventar novas flores, novos astros, novas
carnes, novos idiomas...” (Arthur Rimbaud)

Jean-Nicholas
h l Arthur
Rimbaud

O
poeta Rimbaud
nasceu em Char-
leville no dia 20
de outubro de
1854. Sua obra
foi produzida durante a ju-
ventude, aos 20 anos já havia
escrito 20 livros de poemas.
De personalidade polêmi-
ca, era tido como libertino,
seu espírito era marcado por
Entre em nosso Canal no
uma inquietude profunda.
Telegram: t.me/BRASILREVISTAS
Talvez tenha sido essa in-
quietude a essência de seus
escritos e a força motriz que
comandava suas composi-
o}HV SRpWLFDV 2 HVFULWRU IH]
inúmeras viagens, percorreu
três continentes durante sua
agitada e breve existência.
Rimbaud escreveu car-
tas contendo amostras de
seu trabalho para o poeta
simbolista Paul Verlaine e
em 1871 foi convidado a se-
guir para a cidade de Paris
e hospedou-se na casa do
escritor. Desse encontro in-
usitado de gênios literários
nasceu um envolvimento
amoroso polêmico e escan-
daloso que culminou com a
prisão de Paul Verlaine em
julho de 1872 por desferir
um tiro contra Rimbaud. O
poeta considerado como “a

16
voz do futuro” estava à frente de seu tempo pelo aspecto visionário de sua poe-
sia, a precocidade e a genialidade do escritor fizeram com que se tornasse ícone
da literatura e influência para muitos autores que o precederam. Debochado e
LUUHYHUHQWH5LPEDXGFKRFRXDVRFLHGDGHIUDQFHVDFRPVXDVSURYRFDo}HVTXH
transcendiam o campo artístico, descrevia a ruína, a perdição e as insanidades
que permeiam a psique humana. Observador e crítico da hipocrisia do mundo,
HPDOJXPDVYH]HVHUDWDPEpPSHUVRQDJHPGDVVLWXDo}HVTXHGHVFUHYLD
“O meu maior medo é que os outros me vejam como eu os vejo. Imaginar
o inferno é ser inferno.” (A. R.)
Uma Estadia no Inferno, obra mais comentada de Rimbaud, trata da
aventura rumo ao desconhecido, e o inferno descrito é uma busca insidiosa
por conhecimento e domínio sobre as vilanias humanas. O homem torpe e
FRQVSXUFDGRVHUHQRYDQGRHVHSXULILFDQGRSRUPHLRGHDo}HVLQVLGLRVDVSRU
PHLRGRWpGLRHGHXPYD]LRTXHEHLUDRDELVPRGDVIUXVWUDo}HVKXPDQDV8P
inferno frio, desprovido da danação do fogo, repleto do azedume humano, no
qual nenhum diabo espera para dar a merecida punição.
“... Antigamente, se bem me lembro, minha vida era um festim no qual to-
GRVRVFRUDo}HVH[XOWDYDPQRTXDOFRUULDPWRGRVRVYLQKRV8PDQRLWHVHQWHL
a Beleza em meus joelhos. E achei-a amarga. E injuriei-a. Armei-me contra a
justiça. Fugi. Ó feiticeiras. Ó miséria, ó ódio, a vós é que foi confiado o meu
WHVRXUR7XGRIL]SDUDTXHVHGHVYDQHFHVVHHPPHXHVStULWRDHVSHUDQoDKX-
mana. Como um animal feroz, investi cegamente contra a alegria para estran-
gulá-la. Conjurei os verdugos para morder, na minha agonia, a culatra de seus
fuzis. Conjurei as pragas, para afogar-me na areia, no sangue. Fiz da desgraça
a Entre
minha em divindade.
nosso Refocilei
Canal nonaTelegram:
lama. Enxuguei-me ao ar do crime. E preguei
t.me/BRASILREVISTAS
boas peças à loucura. E a primavera trouxe-me o horrível gargalhar do idiota.
Ora, por último, chegando a ponto de quase fazer o trejeito final, sonhei encon-
trar a chave do festim antigo, no qual talvez recobrasse o apetite. A caridade
pHVVDFKDYH(VWDLQVSLUDomRSURYDTXHWHQKRVRQKDGRµ6HPSUHVHUiVKLHQD
HWF¶ H[FODPD R GHP{QLR TXH PH FRURRX GH WmR DPiYHLV SDSRXODV µ9HQFH D
morte com todos os teus apetites, com todo o teu egoísmo e todos os pecados
FDSLWDLV¶´ 7UHFKRGHUma Estadia no Inferno, Rimbaud.)

17
MENTES BRILHANTES

“... A escrita é um grande conforto para


pessoas como eu, que estão inseguras sobre si
mesmas e têm dificuldade para expressar-se
corretamente...” (A. C.)

Agatha
Christie

A
gatha Mary Clarissa Christie nasceu em 15 de setembro de 1890. Dedicou-se
DHVFUHYHUURPDQFHVSROLFLDLVTXH¿FDUDPFRQKHFLGRVPXQGLDOPHQWH6HXV
livros foram os mais traduzidos no planeta, ultrapassados em popularidade
apenas pela Bíblia e por William Shakespeare. A escritora britânica utilizava
o pseudônimo de Mary Westmacott, era conhecida por “Duquesa da
Morte” e “Rainha do Crime”. Suas personagens Hercule Poirot, Miss Marple, Tommy e
Tuppence Beresford e Parker Pyne se tornaram referências do gênero policial.
$JDWKD &KULVWLH ¿FRX IDPRVD SRU VHX WDOHQWR HP FULDU HQUHGRV PLVWHULRVRV H
fascinantes. Na maioria de suas histórias, nem sempre o grande suspeito é o culpado.
$DXWRUD¿JXUDQRGuinness Book of World Records como a mais vendida em todo o
planeta. Devon, cidade na qual passou sua infância, também foi cenário para alguns
Entre
de seus em nosso
romances. Canalviveu
A escritora no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS
também em Londres e um de seus personagens
famosos, Hercule Poirot, é londrino.
“... Não reconhecemos os momentos realmente importantes da vida até ser
demasiado tarde...” (A.C.)
Os vilarejos e pequenas vilas inglesas eram os espaços nos quais Agatha desenvolvia
suas tramas e quase sempre utilizava como personagem um médico. Aventurou-se
fazendo sátiras de livros infantis, como Five Little Pigs, que foram muito bem aceitos
SHORS~EOLFR2SURFHVVRGHFULDomRGDDXWRUDVHEDVHDYDHPDQRWDo}HVIHLWDVHPXP
caderno que ela trazia sempre consigo, anotava nele manchetes de jornais, venenos
OHWDLV DFRQWHFLPHQWRV FXULRVRV TXH SXGHVVHP VH WRUQDU LQVSLUDo}HV SDUD IXWXURV
URPDQFHV6XDVSHUVRQDJHQVVXUJLDPSRUPHLRGHREVHUYDo}HVTXHDDXWRUDID]LDH
suas ideias se desenvolviam gradativamente, sendo amarradas cuidadosamente como
em uma investigação policial. Segundo Agatha, “... a história policial é intrincada, com
um enredo complicado, tecnicamente interessante e que requer muito trabalho, mas
é sempre compensadora e, ainda, o que posso descrever como a história policial que
tem como pano de fundo uma espécie de paixão: nesse caso, é a paixão que ajuda a
salvar a inocência. Porque é a inocência que importa, não a culpa...”. O livro preferido
da autora foi Absent in the Spring, escrito sob o pseudônimo de Mary Westmacott.
Ao acompanhar o marido em suas viagens arqueológicas, a escritora aproveitava a
DWPRVIHUDGHPLVWpULRTXHURQGDYDDVHVFDYDo}HVQRGHVHUWRSDUDFULDUVHXVURPDQFHV
Foi assim que nasceram os livros Morte no Nilo, Morte na Mesopotâmia e Morte Entre
as Ruínas. Com mais de 80 livros publicados, Agatha Christie morreu em 12 de janeiro
de 1976, vítima de pneumonia.
³2DPRUGHPmHSRUVHX¿OKRpGLIHUHQWHGHTXDOTXHURXWUDFRLVDQRPXQGR
Ele não obedece lei ou piedade, ele ousa todas as coisas e extermina sem remorsos
WXGRRTXH¿FDUHPVHXFDPLQKR´ $JDWKD&KULVWLH
18
DA LITERATURA MUNDIAL

“... Quando você elimina o impossível, o que


sobra é a verdade...” (Sir Conan Doyle)

Arthur Conan
Doyle

S
ir Arthur Ignatius Conan Doyle nasceu em Edimburgo no dia 22 de maio
de 1859. Grande escritor britânico famoso pela criação da personagem
Sherlock Holmes, além de inovar a literatura criminal, também se
DYHQWXURXSHOD¿FomRFLHQWt¿FDQRYHODVKLVWyULFDVURPDQFHVHSRHVLD6LU
Conan Doyle era formado em Medicina, mas se destacou na carreira de
escritor. Em suas veias se misturavam sangue inglês e irlandês. Aprendeu com a mãe
as primeiras letras e dela herdou uma personalidade marcada pelo cavalheirismo.
Em 1887, publicou seu primeiro trabalho considerado de ótima qualidade,
Um Estudo em Vermelho. Sherlock Holmes apareceu pela primeira vez neste
trabalho. Para compor a personagem, Holmes, o escritor, utilizou como modelo
seu professor
Entre da universidade,
em nosso Canal noJoseph Bell, e em
Telegram: carta lhe disse: “É mais do que
t.me/BRASILREVISTAS
certo que é a você a quem eu devo Sherlock Holmes… Com base no centro de
dedução, na interferência e na observação que ouvi você inculcar, tentei construir
um homem.” O Cão dos Baskervilles, publicado em 1902, tem como personagens
Holmes e Watson, um enredo intrigante que prende a atenção do leitor pelo
fascínio que a narrativa imprime.
Arthur Conan Doyle escreveu ensaios nos quais chegou a discutir o
misticismo, como em Espiritualismo e Racionalismo. A aproximação com a
GRXWULQDHVSLULWXDOLVWDDFRQWHFHXTXDQGRRHVFULWRUSHUGHXVXDHVSRVDH¿OKRWDOYH]
em uma tentativa natural de buscar algum tipo de consolo para uma situação que lhe
FDXVDYDLPHQVDGRU(PERUDRHVFULWRUWHQKDSURGX]LGRXPDYDVWDREUDHOD¿FRX
obscurecida diante da proporção tomada pelo seu personagem Sherlock Holmes e
SHODQDUUDWLYDPLVWHULRVDHUHSOHWDGHGHGXo}HV
“... Para mim, o cérebro humano, em sua origem, é como um sótão vazio que
você pode encher com os móveis que quiser. Um tolo vai entulhá-lo com todo tipo
de coisa que for encontrando pelo caminho, de tal forma, que o conhecimento que
SRGHULDVHUOKH~WLO¿FDUiVRWHUUDGRRXQDPHOKRUGDVKLSyWHVHVWmRPLVWXUDGR
a outras coisas, que não conseguirá encontrá-lo quando necessitar dele. O
especialista, ao contrário, é muito cuidadoso com aquilo que coloca em seu sótão
cerebral. Guardará apenas as ferramentas de que necessita para seu trabalho, mas
dessas terá um grande sortimento mantido na mais perfeita ordem. É um engano
pensar que o quartinho tem paredes elásticas que podem ser estendidas à vontade.
Chega a hora em que, a cada acréscimo de conhecimento, você esquece algo que já
VDELDeGDPDLRULPSRUWkQFLDSRUWDQWRHYLWDUTXHLQIRUPDo}HVLQ~WHLVRFXSHP
o lugar daquelas que têm utilidade...” (Trecho de Um Estudo em Vermelho, de Sir
Conan Doyle.)

19
MENTES BRILHANTES

“... E naquela terra encharcada e fumegante,


naquela umidade quente e lodosa, começou a
minhocar, a esfervilhar, a crescer, um mundo,
uma coisa viva, uma geração, que parecia
brotar espontânea, ali mesmo, daquele lameiro,
e multiplicar-se como larvas no esterco...” (O
Cortiço)

Aluízio de
Azevedo

A
luízio Tancredo Belo Gonçalves de Azevedo nasceu em 14 de
abril de 1857 em São Luís do Maranhão. Era escritor, diplomata,
caricaturista e jornalista. Irmão mais novo do dramaturgo Artur
Azevedo, com o qual chegou a se envolver no teatro. O talento para
as artes manifestou-se em Aluízio desde a infância, sua inclinação
para o desenho já despontava e mais tarde ele também desenvolveu sua aptidão
para a escrita.
No ano de 1881, em meio a burburinhos abolicionistas, Aluízio Azevedo
publicou o romance O Mulato (1881). Com essa obra, ele dá início ao Naturalismo
na literatura brasileira e também escandaliza a sociedade ao explicitar as
TXHVW}HVUDFLDLVGHPRQVWUDQGRFODUDPHQWHVXDSRVLomRGHIDYRUiYHOHPUHODomR
às Entre em nosso Canal
ideias abolicionistas nofortaleciam.
que se Telegram:Na t.me/BRASILREVISTAS
província, ele causa alguma
LQGLJQDomRSRUVXDVFRQYLFo}HVPDVQD&RUWHREWpPRVXFHVVRGHVHMDGRTXH
o estimula a produzir romances, contos, crônicas e peças de teatro. De acordo
com alguns críticos literários, é possível observar que sua obra oscila entre a
dramaticidade e o cunho comercial próprio do Romantismo, ou o caráter bem
elaborado e complexo que lhe imprime a tendência naturalista.
O livro O Cortiço (1890) pode ser considerado um romance naturalista.
$ERUGDDYLGDHPFRUWLoRVDVSpVVLPDVFRQGLo}HVGHPRUDGLDHQIUHQWDGDVSHOD
população de baixa renda no Rio de Janeiro do final do século XIX. Segundo
teóricos e estudiosos de literatura, O Cortiço é o primeiro livro brasileiro
que aborda a homossexualidade. Aluízio discute a quase promiscuidade dos
cortiços, os vícios e as taras, os sonhos e anseios do populacho. Notadamente
influenciado por escritores europeus como Émile Zola, ele esmiúça o
SUHFRQFHLWR H FRQWUDULD R 5RPDQWLVPR H VHXV SDGU}HV 3DUD R FUtWLFR $OIUHGR
Bosi, no romance O Cortiço acontece uma verdadeira “seleção natural”, na
qual os fortes devoram os fracos. Um recurso de escrita ou figura de linguagem
que o autor utiliza é o chamado “zoomorfismo”, que atribui a pessoas e coisas
Do}HVGHDQLPDLVFRPRQRWUHFKRTXHVHJXH³8PGLDSRUpPRVHXKRPHP
depois de correr meia légua, puxando uma carga superior às suas forças, caiu
morto na rua, ao lado da carroça, estrompado como uma besta...” (O Cortiço)
“... E o canto daquela guitarra estrangeira era um lamento choroso e dolorido,
eram vozes magoadas, mais tristes do que uma oração em alto-mar, quando a
tempestade agita as negras asas homicidas, e as gaivotas doidejam assanhadas,
cortando a treva com os seus gemidos presságios, tontas como se estivessem
fechadas dentro de uma abóboda de chumbo...” (Aluízio de Azevedo).

20
DA LITERATURA MUNDIAL

“... Saber é uma palavra cujo significado


é muito amplo. Prefiro dizer que estamos
capacitados a fazer algumas suposições...”
(Huxley)

Aldous
Huxley

A
ldous Leonard Huxley nasceu em Godalming no dia 26 de julho
de 1894. Huxley pertencia a uma proeminente e tradicional família
inglesa cuja característica era a intelectualidade. Seu avô, Thomas
Henry Huxley, era biólogo e defendia a teoria de Charles Darwin de
que tudo evolui. Sua mãe era irmã da escritora Humphrey Ward e
sobrinha do poeta Matthew Arnold. Por pertencer a uma família com recursos
¿QDQFHLURVDHGXFDomRGH$OGRXV+X[OH\IRLSULPRURVD
Aos 16 anos, Huxley desenvolveu uma doença na retina que lhe causou
cegueira parcial. Esse problema fez com que o escritor aprendesse Braille. Obteve
grande sucesso ao escrever Contraponto, livro publicado por volta da década de
³$VVHQVDo}HVQmRVmRHQWLGDGHVjSDUWHVXVFHWtYHLVGHVHUHPHVWLPXODGDV
Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS
LQGHSHQGHQWHPHQWHGRUHVWRGRHVStULWR4XDQGRXPKRPHP¿FDHPRFLRQDOPHQWH
exaltado numa direção, está sujeito
D ¿FDU WDPEpP HP RXWUDV´ 7UHFKR
do livro Contraponto.) O livro
&RQWUDSRQWR ¿JXUD QR WRSR GDV OLVWDV
de mais importantes do século XX.
Admirável Mundo Novo foi
escrito por Huxley por volta do
ano de 1930. Com essa obra, foi
consolidada sua fama internacional.
O livro trata de uma sociedade na
qual uma parte da população vive
com total acesso às facilidades
tecnológicas. Nela, as crianças são
produzidas in vitro e existe uma
droga que mantém todos felizes
sem que haja efeitos nocivos para a
saúde. Por outro lado, essa mesma
sociedade mantém uma espécie
de reserva onde vivem pessoas
em estado total de primitivismo,
lá não existe droga que retarde o
envelhecimento e todos vivem em
estado de abandono e profunda
PLVpULDVRFLDO³4XDQGRQmRVHWHPR

21
hábito da história, os fatos relativos
ao passado parecem quase sempre
inacreditáveis. Toda a descoberta
da ciência pura é potencialmente
VXEYHUVLYD SRU YH]HV D FLrQFLD
deve ser tratada como um inimigo
possível...” (Trecho de Admirável
Mundo Novo.)
No ano de 1954, Aldous
publicou As Portas da Percep-
ção. Com esse livro, ele adentrou
o mundo dos alucinógenos, discu-
tiu a possibilidade de que a cons-
ciência poderia ser ampliada com
o uso de drogas e por meio desse
discurso tornou-se uma espécie de
guia espiritual dos hippies. Mer-
gulhou nas profundezas da Filo-
sofia Oriental. Em 1962, o escritor
publicou seu último romance, A
Ilha. “Penso na incompreensível
sequência de mudanças que fazem
uma vida. Penso que o destino dos
seres humanos, ininterpretável e
Entreassim
mesmo em nosso Canal
cheio de no Telegram:
significa- t.me/BRASILREVISTAS
ção divina, é composto pela fusão
de belezas, horrores e absurdos.
Cerca de um terço do sofrimen-
to que devo suportar é inteira-
mente inevitável por ser inerente
à própria condição humana. Re-
presenta o preço que todos têm de
pagar pelo fato de sermos dotados
GH VHQVLELOLGDGH HPERUD VHGHQ-
tos de libertação, nos sujeitamos
às leis naturais que nos obrigam
a continuar caminhando (sem
poder retroceder) através de um
mundo inteiramente indiferente
ao nosso bem-estar. Caminhando
em direção à decrepitude e à cer-
teza da morte. Os outros dois ter-
oRV VmR µFRQIHFFLRQDGRV HP FDVD¶
e o Universo os considera inteira-
mente supérfluos.” (Trecho do ro-
mance A Ilha.)
“... Não existe remédio único
para males que jamais têm somente
uma causa...” (Huxley)
DA LITERATURA MUNDIAL

“... Existem duas possibilidades: ou estamos


sozinhos no Universo, ou não. Ambas são
igualmente aterrorizantes...” (Clarke)

Arthur
h C.
Clarke

S
ir Arthur Charles Clarke nasceu em Minehead no dia 16 de dezembro
GH  )RL HVFULWRU H LQYHQWRU 6XDV REUDV VHJXLUDP D OLQKD GD ¿FomR
FLHQWt¿FD6HXFRQWRThe Sentinel deu origem aos clássicos do cinema de
¿FomRFRPR2001: Uma Odisseia no Espaço e o aclamado Encontro com
Rama. Na infância, o escritor era fascinado por Astronomia e tudo o que
envolvia o Universo, utilizava um telescópio rudimentar para observar e traçar
mapas da Lua.
O livro O Fim da Infância, de Clarke, foi publicado em 1953. O enredo
WUDQVFRUUH HP PHLR j *XHUUD )ULD H WUDWD GD LQYDVmR SDFt¿FD GD WHUUD SRU VHUHV
alienígenas. Os misteriosos Senhores Supremos tornam-se os governadores do
planeta, mas ninguém consegue vê-los, já que não saem de suas naves. O discurso
Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS
de Arthur Clarke nesse livro aborda o medo do ser humano de ser abordado por
outras formas de vida e a capacidade que a humanidade tem de submeter-se a
uma força maior de dominação. O mistério é o elemento que o escritor usa para
SUHQGHURLQWHUHVVHGROHLWRU(OHSHUPDQHFHSUHVHQWHGRLQtFLRDR¿PGDREUD
2¿OPH2001: Uma Odisseia no Espaço, resultado de uma parceria fantástica
entre Arthur Clarke e Stanley Kubrick, discute a evolução humana e a criação
GDWHFQRORJLD2UHDOLVPRFLHQWt¿FRSHUPHLDDREUDRVHIHLWRVVRQRURVHDTXDVH
ausência de diálogos criam uma atmosfera diferente e interessante para quem
assiste. Kubrick, de forma genial, associou o movimento dos dançarinos de valsa
com a dança solitária dos satélites no espaço. Para isso, utilizou o Danúbio Azul,
GH -RKDQQ 6WUDXVV 6HJXQGR 6WDQOH\ .XEULFN R ¿OPH  ³ e EDVLFDPHQWH
uma experiência visual, e não verbal, que evita a palavra dita para alcançar o
VXEFRQVFLHQWHGRHVSHFWDGRUGHXPPRGRHVVHQFLDOPHQWHSRpWLFRH¿ORVy¿FR2
¿OPHpXPDH[SHULrQFLDVXEMHWLYDTXHDFHUWDRHVSHFWDGRUHPXPQtYHOLQWHULRUGH
consciência, como a música ou a pintura fazem...”.
Arthur Clarke morreu em 19 de março de 2008, no Sri Lanka, aos 90 anos,
YtWLPD GH FRPSOLFDo}HV UHVSLUDWyULDV (P XPD HQWUHYLVWD j $JrQFLD 5HXWHUV R
escritor disse: “... Nos próximos 50 anos, milhares de pessoas vão fazer viagens
orbitando a Terra e, depois, até a Lua e além dela. As viagens e o turismo espacial
vão tornar-se tão corriqueiras quanto as viagens a destinos exóticos em nosso
próprio planeta...”.
“... Ficamos agora no momento decisivo entre duas eras. Atrás de nós está
XPSDVVDGRDTXHQyVQXQFDSRGHPRVUHWRUQDU$YLQGDGRIRJXHWH¿QDOL]RXXP
milhão de anos de isolamento... a infância de nossa raça era excedente e a história
como nós a sabemos, ela começou...” (Arthur Clarke)

23
MENTES BRILHANTES

(Resíduo)
“... Pois de tudo fica um pouco./Fica um pouco
de teu queixo/no queixo de tua filha./De teu
áspero silêncio/um pouco ficou, um pouco/
nos muros zangados,/ nas folhas, mudas, que
sobem./Ficou um pouco de tudo/no pires de
porcelana,/dragão partido, flor branca,/ficou
um pouco de ruga na vossa testa,/retrato./E
de tudo fica um pouco./Oh, abre os vidros de
Carlos Drummond de loção/e abafa o insuportável mau cheiro da me-
mória...” (C. D. A.)
Andrade

O
escritor Carlos Drummond de Andrade nasceu em 31 de outubro
de 1902 na cidade de Itabira, nas Minas Gerais. Poeta, cronista
e contista que figura entre os mais importantes nomes da
literatura mineira. Como todo mineiro, cheio de tradicionalismo
e memórias, a obra do poeta transita entre montanhas e o que se
enxerga através delas. Carlos Drummond era escritor e também funcionário
público. Simpatizante do Modernismo, Drummond abraçou a proposta de
Oswald de Andrade e adotou a instituição do verso livre. Sua poética dentro
do padrão modernista poderia ser considerada como voltada para uma
tendência mais concretista.
Embora
Entre emnão se possa
nosso classificar
Canal Drummond
no Telegram: como modernista, é certo que
t.me/BRASILREVISTAS
ele tenha herdado muita coisa dessa escola literária. Herdou o verso livre, a
metrificação sem amarras, as temáticas voltadas para o cotidiano e sobretudo
a liberdade linguística. A poesia de Carlos Drummond apresenta pitadas de
crítica social, mas o arroubo ideológico não é sua marca principal. O que marca
seu texto poético é a impressão de estar sempre “fora do mundo”, em uma
atitude alheia e solitária. É possível encontrar em Drummond a verve social,
a ironia de um observador frente a um mundo sempre em mutação e também
um pouco de aridez metafísica que incomoda o leitor ainda que de forma leve.
“... Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo...” (Carlos Drummond)
A grande inspiração na vida do poeta mineiro foi sua filha única e
também escritora Maria Julieta, ambos muito próximos, partilhando uma
cumplicidade literária, fruto da genética que jamais vingou, pois o peso do
nome do pai obscureceu a obra da filha. Maria Julieta foi para Drummond
tudo de mais importante na terra. Tanto, que depois da morte da filha ele disse
à sua cardiologista para que lhe receitasse um “infarto fulminante”. Apenas 12
dias depois da morte da filha, Drummond morre, fragilizado pela dor da perda.
Estrambote Melancólico
Tenho saudade de mim mesmo,/Saudade sob aparência de remorso,/De
tanto que não fui, a sós, a esmo,/E de minha alta ausência em meu redor./
Tenho horror, tenho pena de mim mesmo/E tenho muitos outros sentimentos
violentos./Mas se esquivam no inventário./E meu amor é triste como é vário,/E
sendo vário é um só./Tenho carinho por toda perda minha/Na corrente que de
mortos a vivos me carreia/E a mortos restitui o que era deles,/Mas em mim se
JXDUGDYD$HVWUHODG¶DOYDSHQHWUDORQJDPHQWHVHXHVSLQKR HFLQFRHVSLQKRV
são) na minha mão. (C.D.A.)

24
DA LITERATURA MUNDIAL

“... Não suporto meios termos. Por isso, não


me doo pela metade. Não sou sua meio amiga
nem seu quase amor. Ou sou tudo ou sou
nada...” (Clarice Lispector)

Clarice
l
Lispector

C
larice nasceu na Ucrânia em uma família judaica e foi naturalizada brasileira.
Escritora e jornalista, cresceu em Pernambuco, Estado no qual seus pais
se instalaram. Fugindo da perseguição aos judeus durante a Guerra Civil
Russa, a família de Clarice peregrinou por várias aldeias na Ucrânia e
chegou ao Brasil quando a escritora contava um ano e dois meses de idade.
'HVXDQDFLRQDOLGDGHHODGL]LDQmRWHUYtQFXORV4XDQGRTXHVWLRQDGDDUHVSHLWRGL]LD
³1DTXHODWHUUDHXOLWHUDOPHQWHQXQFDSLVHLIXLFDUUHJDGDGHFROR´$¿UPDYDVHU
o Brasil sua terra. Demonstrava inclinação para a escrita desde que aprendeu a ler e
escrever, falava vários idiomas, entre os quais o francês e o inglês, mas no ambiente
familiar era costume falar o iídiche. A escritora foi colunista do Jornal do Brasil,
Correio
Entredaem Manhã
nossoe Diário
Canal da Noite. Durante a década
no Telegram: de 1970, todos os judeus foram
t.me/BRASILREVISTAS
demitidos do Jornal do Brasil e a escritora não foi poupada. Sua obra apresenta uma
FODUDLQÀXrQFLDH[LVWHQFLDOLVWDHpFRPXPSHUFHEHUHPVXDVSHUVRQDJHQVDWLWXGHVGH
questionamento com relação à vida, à existência e à sociedade de modo geral.
O livro Perto do Coração Selvagem (1943) foi o romance de estreia da escritora.
Escrito aos 19 anos, premiado e aclamado pela crítica, o romance recebeu prêmios na
FDWHJRULDGHHVWUHDQWH2SRHWD/rGR,YRD¿UPRXVHU³DPDLRUQRYHODMiHVFULWDSRUXPD
mulher em Língua Portuguesa”. A Paixão Segundo G. H. (1964) é o romance de Clarice
que possui um forte apelo existencial, cuja personagem, depois de demitir a empregada
e começar metaforicamente a limpeza do quarto, questiona a existência e a relevância de
tudo que viveu, pondera sobre as experiências que deixou escapar ao longo da vida. G.
H. pode ser todas as pessoas, pode ser a individualidade vilipendiada pela convivência e
um grito contra a convenção.
Em 1977, a autora publicou seu último livro, A Hora da Estrela, romance que
apresenta a saga de uma retirante que tenta sobreviver na cidade grande e consegue
se depreender da submissão ao destino para sonhar com dias melhores.
$ PLVpULD FDUDFWHUtVWLFD GH DOJXPDV UHJL}HV GR %UDVLO PDUFD D QDUUDWLYD
forte e comovente da infortunada Macabéa. Clarice Lispector morreu em 09 de
dezembro de 1977 na cidade do Rio de Janeiro. A causa de sua morte foi um
câncer inoperável no ovário.
³ D ~QLFD YHUGDGH p TXH YLYR 6LQFHUDPHQWH HX YLYR 4XHP VRX" %HP LVVR Mi
é demais (...) Perco a consciência, mas não importa, encontro a maior serenidade na
DOXFLQDomReFXULRVRFRPRQmRVHLGL]HUTXHPVRX4XHUGL]HUVHLREHPPDVQmR
posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer, porque no momento em que tento falar,
não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu
digo...” (Trecho do livro Perto do Coração Selvagem.)

25
MENTES BRILHANTES

“... Em toda a vida, nunca me esforcei por


ganhar nem me espantei por perder. A
noção ou o sentimento da transitoriedade
de tudo é o fundamento mesmo da minha
personalidade...” (C. M.)

Cecília
Meireles

C
ecília Benevides de Carvalho Meireles nasceu
em 07 de novembro de 1901 na cidade do
Rio de Janeiro. Foi professora e poetisa e
aclamada como uma das vozes líricas mais
importantes da literatura brasileira. Em
1919, Cecília publicou seu primeiro livro de poemas,
(VSHFWURV (PERUD D DXWRUD YLYHVVH D LQÀXrQFLD GR
Modernismo, seu primeiro livro possuía heranças
VLPEROLVWDVRFRQMXQWRGHVRQHWRVDSUHVHQWDGRVSRVVXtD
características de várias escolas, o que atribui à sua obra
umEntre
caráterematemporal.
nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS
O estilo da autora transita entre o verso livre,
DV DOLWHUDo}HV DV DVVRQkQFLDV H D ULPD (PERUD
Cecília tenha se aventurado pela literatura infantil,
seus textos poéticos voltados para crianças
também foram apreciados pelos adultos.
A musicalidade de seus poemas, o caráter
efêmero e a leve nostalgia perceptível
em sua escrita fazem com que o leitor se
comova e participe catarticamente de sua
obra. Cecília recebeu várias homenagens ao
longo de sua carreira.
O livro Espectros é o conjunto de 17
sonetos com influências simbolistas. Nele,
Clarice derrama toda a sua musicalidade,
melancolia e espiritualidade. Os versos são
decassílabos ou alexandrinos e a temática
é histórica, mitológica ou religiosa (1919).
Romanceiro da Inconfidência (1953) é uma
coletânea de poemas escritos por Cecília
sobre a Inconfidência Mineira. Nessa obra,
Cecília aborda a escravidão, a exploração
do ouro em Minas Gerais, as figuras
históricas de D. Maria, a Louca, Tiradentes
e a produção dos poetas árcades.

26
“... A terra tão rica
H±yDOPDVLQHUWHV±
o povo tão pobre...
1LQJXpP TXH SURWHVWH   LQ 'R
animoso Alferes, Romance XXVII)
Ou Isto ou Aquilo tem como
temática o mundo infantil. Cecília
resgata a infância até para os adultos,
que, ao entrar em contato com o livro,
rememoram os tempos de criança.
Como instrumento lúdico, o livro
permite que a criança adentre o mundo
da poesia e aprenda de forma prazerosa
sem se afastar de seu universo. Segundo
a autora, quando ela ainda não tinha o
domínio da leitura, ela imaginava “os
livros cheios de vozes que contavam
o mundo”, por isso o caráter de
brincadeira de sua obra infantil. “... Com
seu colar de coral,/Carolina/corre por
entre as colinas/da colina...” (O Colarr
de Carolina) Cecília morreu em 09 de
novembro
Entre emdenosso 1964.Canal
Foram-lhe
no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS
prestadas várias homenagens
e seu corpo foi velado no
Ministério da Educação e
Cultura. Sua contribuição para
a literatura foi inestimável e
sua obra permanece atemporal,
adequando-se ao tempo.
“... Minha infância de menina
sozinha deu-me duas coisas que
parecem negativas e foram sem-
pre positivas para mim: silêncio e
solidão. Essa foi sempre a área de
minha vida. Área mágica, onde os
caleidoscópios inventaram fabulo-
sos mundos geométricos, onde os
relógios revelaram o segredo do seu
mecanismo e as bonecas, o jogo do
seu olhar. Mais tarde, foi nessa área
que os livros se abriram e deixaram
sair suas realidades e seus sonhos,
em combinação tão harmoniosa,
que até hoje não compreendo como
se possa estabelecer uma separação
entre esses dois tempos de vida,
XQLGRVFRPRRV¿RVGHXPSDQR´
(Cecília Meireles)
27
MENTES BRILHANTES

“... Sou um apaixonado pelo mistério, porque


sempre tenho a esperança de desvendá-lo...” (C. B.)

Charles
Baudelaire

C
harles Pierre Baudelaire nasceu em Paris em 09 de abril de 1821.
Poeta boêmio, considerado como precursor do Simbolismo e teórico
da literatura francesa, ao lado de Walt Whitman fundou a chamada
“tradição moderna” na poesia. Sua obra teórica influenciou as
artes plásticas do século XIX. Ao atingir a maioridade, Baudelaire
tomou posse da herança deixada por seu pai, viveu por dois anos consumindo
álcool e drogas em companhia da atriz haitiana Jeanne Duval. Em 1844, a
mãe de Charles Baudelaire o interdita na justiça e seus bens passam a ser
controlados por um notário.
Em 1857, é publicado o livro As Flores do Mal. No mesmo ano, a justiça acusa
Baudelaire
Entre em de nosso
ultrajarCanal
a moralno pública. O autor
Telegram: e a editora foram condenados
t.me/BRASILREVISTAS
a pagar 300 francos de multa à Justiça. Os exemplares foram apreendidos. A
poesia de Charles Baudelaire nasce do seu íntimo e se exterioriza, pertencendo
ao leitor à medida que ele se identifica com o poeta. O aspecto pária e a redenção
por meio da beleza se misturam e se fundem naturalmente sem que se possa
precisar onde termina o “maldito” e começa o “belo”.
A segunda edição de As Flores do Mal,
publicado em 1860 obedecia à seguinte organização:
Spleen et Idéal (Tédio e Ideal)
7DEOHX[SDULVLHQ 4XDGURV3DULVLHQVHV
Le Vin (O Vinho)
Les Fleurs du Mal (As Flores do Mal)
Révolte (Revolta)
La Mort (A Morte)
%DXGHODLUH XWLOL]DYD DV LPSUHVV}HV GR
cotidiano na metrópole e dali extraía a matéria-
prima que permeava sua obra, descascava a
ferida humana e fazia brotar sensibilidade
travestida de revolta e ódio, reação intimista
que o poeta aplicava à sua visão de mundo. O
grande poeta francês se encontrou com a morte
HP  GH DJRVWR GH  YLWLPDGR SHOD Vt¿OLV
Foi sepultado no Cemitério de Montparnasse.
³± 'H TXHP JRVWDV PDLV GL] Oi KRPHP
HQLJPiWLFR"'HWHXSDLGHWXDPmHGHWXDLUPm
RXGHWHXLUPmR"

28
±1mRWHQKRSDLQHPPmHQHPLUPmRQHPLUPm
±'RVWHXVDPLJRV"
±(LVXPDH[SUHVVmRFXMRVHQWLGRDWpKRMHLJQRUHL
±'DWXDSiWULD"
±1mRVHLDODWLWXGHHPTXHHVWiVLWXDGD
±'DEHOH]D"
– Amá-la-ia de boa vontade, divina e imortal.
±'RRXUR"
±2GHLRRWDQWRFRPRYyVD'HXV
±(QWmRTXHDPDVWXVLQJXODUHVWUDQJHLUR"
±$PRDVQXYHQV$VQXYHQVTXHSDVVDP/iORQJH
$VPDUDYLOKRVDVQXYHQV´ O Estrangeiro, Charles Baudelaire.)

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29
29
MENTES BRILHANTES

“... Nós vivemos dentro de um grande conto de


fadas, do qual ninguém faz realmente ideia...”
(Jostein Gaarder)

Charles
Perrault

C
harles Perrault nasceu em 02 de janeiro de 1628 na cidade de Paris. Escritor
e poeta do século XVII que deu origem ao gênero literário conhecido como
“contos de fadas”. Perraut viveu na mesma época que Jean de La Fontaine.
Além de escritor, exerceu a função de advogado e foi superintendente do rei
Luís XIV da França. A maioria de seus contos atravessou a barreira do tempo
e ainda permanecem vivos, sendo veiculados por meio de vários tipos de linguagem.
Originariamente, os contos de fadas possuíam passagens não recomendadas
ao público infantil, ou seja, era uma leitura dirigida aos adultos. O responsável pela
suavização das histórias e a adequação ao universo infantil foi Charles Perrault, que
decidiu compilar histórias que ouvia na infância e que eram contadas pelas damas nos
VDO}HVGDFRUWHSDULVLHQVH&RPROLWHUDWXUDGHVDOmRRVFRQWRVGHIDGDVHPVXDVYHUV}HV
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adultas eram repletos de incestos, mortes, abusos e toda a sorte de ignomínias a que uma
criança não deve ter acesso. Suprimidas as passagens mais fortes, nascia Chapeuzinho
Vermelho, A Bela Adormecida do Bosque, Pequeno Polegar, Gato de Botas e Cinderela.
Em os Contos da Mamãe Gansa, Charles Perrault reúne o melhor sobre o mundo
maravilhoso da imaginação. Utiliza uma narrativa simples que envolve o leitor,
transportando-o para outras paragens, nas quais tudo pode acontecer. Cada história
apresenta características da sociedade da época, contexto histórico, costumes e cultura.
Em Cinderela, é possível perceber a fragilidade do ser feminino e a submissão em relação
DRVHUPDVFXOLQRYDORUHVTXHID]LDPGDPXOKHUXPD¿JXUDLQVHJXUDHGLUHFLRQDGDSHOR
SRGHUSDWULDUFDO3HUUDXOWEXVFRXSRUPHLRGRVFRQWRVGHIDGDVVROLGL¿FDUHPIDYRUGD
sociedade o comportamento da mulher, preservar a ideia de manutenção da família
como único objetivo que devesse ser ambicionado pelo universo feminino.
É possível perceber em Perrault a marca da oralidade que denota a intenção de
simplicidade de linguagem e que torna o texto acessível às crianças.
³±0LQKDDYyFRPRYRFrWHPEUDoRVJUDQGHV
±eSUDWHDEUDoDUPHOKRUPLQKD¿OKD
±0LQKDDYyFRPRYRFrWHPRUHOKDVJUDQGHV
±eSUDHVFXWDUPHOKRUPLQKDPHQLQD
±0LQKDDYyFRPRYRFrWHPROKRVJUDQGHV
±eSUDYHUPHOKRUPLQKDPHQLQD
±0LQKDDYyFRPRYRFrWHPGHQWHVJUDQGHV
±³eSUDWHFRPHU´ 7UHFKRGHChapeuzinho Vermelho, de Charles Perrault.)
Charles Perrault morreu em 16 de maio de 1703, em Paris. Seu legado ainda encanta
crianças, jovens e adultos que fazem da imaginação um lugar agradável para descansar
dos atropelos do dia a dia real e desgastante.

30
DA LITERATURA MUNDIAL

“... O pensamento é algo que dá vertigem...”


(D. H.)

Dashiell
Hammett

D
ashiell Hammett nasceu em Maryland em 27 de maio de 1894.
Hammett foi reconhecido como o renovador do gênero policial. A
crítica foi favorável com relação às suas histórias e o público também
se mostrou satisfeito. Seu trabalho começou a ser publicado em
revistas populares, como a Smart Set e a Black Mask, e em pouco
tempo já chamavam a atenção devido à quantidade de leitores.
Hammett escreveu livros consagrados, como Seara Vermelha (1929), O Falcão
Maltês (1930), A Chave de Vidro  HPDLVXPDLQ¿QLGDGHGHFRQWRV3RUVXDV
FRQYLFo}HV SROtWLFDV R HVFULWRU VRIUHX SHUVHJXLomR GXUDQWH D FKDPDGD ³FDoD jV
bruxas”, empreendida pelo senador Joseph McCarthy nos anos 1950. Acusado de
VXEYHUVLYR¿FRXLPSHGLGRGHWUDEDOKDUQRFLQHPD(QWULVWHFLGRHSURIXQGDPHQWH
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abalado pelos acontecimentos, o autor de O Falcão Maltês adoeceu e morreu em
10 de janeiro de 1961, em Nova York.
O Falcão Maltês foge ao lugar comum dos romances policiais. Não há intenção
do autor de que a trama se prenda a um mistério policial pronto a satisfazer o
OHLWRUORJRTXHpGHVYHQGDGR2DVSHFWRVRPEULRHHQLJPiWLFRUHPHWHDLQGDJDo}HV
mais complexas do que somente o objeto em si. Os fatos são colocados como uma
gigantesca teia de aranha que aprisiona o leitor e
o faz se perder em um labirinto de possibilidades.
O gênero literário Noir apareceu em território
americano depois da Primeira Grande Guerra.
Nasceu das revistas pulpSXEOLFDo}HVSRSXODUHV
e que serviram de vitrine para vários autores que
DLQGDLQÀXHQFLDPRSDQRUDPDDUWtVWLFRDWpKRMH
Os maiores escritores do gênero passaram por
HVVDV SXEOLFDo}HV OHYDQGR DR S~EOLFR KLVWyULDV
cheias de violência, mas também com pegadas
de humor e que sob uma aparente inocência
criticavam a sociedade americana da época.
A traição das mulheres fatais, a corrupção
GRV FKHI}HV PD¿RVRV H XP VXEPXQGR iVSHUR
e perigoso era o conteúdo de autores como
Raymond Chandler, James Ellroy e Dashiell
Hammett. O cinema abraçou esse gênero e com
isso consagrou personalidades como os atores
+XPSKUH\%RJDUWH-RKQ*DU¿HOG

31
MENTES BRILHANTES

“... Se acontecer que o poema sagrado,/em que


céu e terra puseram mão,/(magro me fez, de
tanto ano passado)/Vencer a crueldade que em
prisão/me exila do redil onde, cordeiro,/dormi,
oposto aos lobos que o atacam;/Voz e pelo
distinto do primeiro/terei, chegando poeta, e
me façam/a testa ornar com folha de loureiro...”
(“Paraíso”, Canto XVI)

Dante

D
ante Alighieri nasceu em Florença no ano de 1265. É considerado o
maior poeta da língua italiana. A literatura ocidental sofreu profunda
LQÀXrQFLDGH'DQWHHDWpKRMHRSRHWDpFXOWXDGRQRPHLROLWHUiULR
Dante viveu parte de sua vida em Florença até ser exilado injustamente
e ser abandonado pela família. Não se tem muita informação sobre
sua educação, talvez tenha estudado em casa, mas é fato que teve contato com o
trabalho de autores da Antiguidade Clássica Latina, pois em sua obra A Divina
Comédia é possível encontrar referências de Horácio, Ovídio, Cícero e Virgílio.
De acordo com uma lei do ano de 1295, o membro da nobreza que
pretendesse tomar um cargo político deveria fazer parte das “Guildas”,
“Corporação de Artes e Ofícios”,
Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS
por isso Dante entrou para a Guilda
de Boticário, o que o habilitou a
atuar como político. Essa profissão
foi providencial para Dante, visto
que naquela época os livros eram
comercializados nos Boticários.
O livro A Divina Comédia
descreve a jornada de Dante
através do Inferno, do Purgatório
e do Paraíso. Nessa viagem, ele
é acompanhado inicialmente
pelo poeta romano Virgílio
SHUVRQL¿FDomR GR ODGR UDFLRQDO
humano), autor do poema épico
Eneida. Ambos percorrem o Inferno
e o Purgatório, mas ao chegar ao
Paraíso, Virgílio é substituído por
Beatriz, grande amor de Dante
$OLJKLHUL SHUVRQL¿FDomR GD JUDoD
divina). Alguns autores presumem
que Dante tenha estado com a amada
apenas uma vez na adolescência e
que a paixão do poeta tenha sido
platônica. Beatriz representa a
pureza, sabedoria e beleza.

32
DA LITERATURA MUNDIAL

“... Por que é que o sofrimento dos animais me


comove tanto? Porque fazem parte da mesma
comunidade a que pertenço, da mesma forma
que meus próprios semelhantes...” (Émile Zola)

É
Émile
Zola

É
mile-Édouard-Charles-Antoine Zola nasceu em Paris em 02 de abril de
1840. Precursor do Naturalismo francês, suas ideias eram consideradas
libertárias. Zola começou como jornalista escrevendo em uma coluna
GRV MRUQDLV &DUWLHU GH 9LOOHPHVVDQW¶V H &RQWURYHUVLDO 6XDV FUtWLFDV j
sociedade da época repercutiam pelo caráter ácido e engajado. Um
dos seus primeiros trabalhos, La Confession de Claude (1865), era de caráter
DXWRELRJUi¿FR H QmR REWHYH ERD DFHLWDomR SRU SDUWH GD FUtWLFD 1R DQR VHJXLQWH
Émile publicou o romance Thérèse Raquin (1866), que foi ainda mais criticado pela
sociedade literária.
O romance Thérèse Raquin propunha inovar a escrita. Nele, Zola aproveita a
FRUUHQWHFLHQWt¿FDGDpSRFDHSURGX]XPSURIXQGRHVWXGRFLHQWt¿FRGRVHUKXPDQR
Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS
e da sociedade em formato de romance. Thérèse Raquin é considerado o marco do
surgimento do Naturalismo francês. Nele, Zola aborda darwinismo, evolucionismo e
GHWHUPLQLVPR FLHQWt¿FR ³ (P Théresè Raquin, eu quis estudar alguns
temperamentos. Eis aí todo o livro. Escolhi personagens soberanamente dominados
por seus nervos e sangue, desprovidos de livre-arbítrio, levados a cada ato de suas
YLGDVSHODIDWDOLGDGHGDFDUQH7KpUqVHH/DXUHQWVmRKXPDQRVEUXWRVQDGDPDLV  
&RPHoDPRVHVSHURDFRPSUHHQGHUTXHPHXREMHWLYRIRLFLHQWt¿FR´ )UDJPHQWR
do prefácio do livro Théresè Raquin, escrito por Émile Zola.)
Germinal (1885) é considerado o ápice da escrita de Émile Zola. Nesse livro, ele
chega às últimas consequências do Realismo. O escritor discute a condição humana
tanto no âmbito social quanto individual. Ele fala de luta, repressão e esperança,
demonstrando a crueza e a linha tênue e tensa que existe entre a submissão e a
revolta. Para escrever Germinal, Émile Zola trabalhou dois
meses como mineiro nas minas de carvão francesas, sentiu na
pele o drama dos trabalhadores na extração do carvão. Pôde
FRPSURYDURHVIRUoRQDVHVFDYDo}HVDOXWDFRQWUDDXPLGDGH
e o ar rarefeito, a promiscuidade dos alojamentos, baixos
salários e miséria absoluta. Acompanhou de perto a greve dos
mineiros e experimentou a repressão sofrida por eles.
O grande escritor e ativista Émile Zola morreu em 29
de setembro de 1902 em circunstâncias não muito comuns:
DV¿[LRXVHSRULQDODUXPDTXDQWLGDGHPRUWDOGHPRQy[LGR
de carbono proveniente de uma lareira com defeito. A
ideia de assassinato cometido por seus opositores políticos
nunca foi descartada.

33
MENTES BRILHANTES

“... O amor eterno é o amor impossível. Os


amores possíveis começam a morrer no dia em
que se concretizam...” (Eça de Queiroz)

Eça de
Queiroz

J
RVp 0DULD GH (oD GH 4XHLUy] QDVFHX HP 3yYRD GH 9DU]LP HP  GH
novembro de 1845. Um dos mais aclamados escritores portugueses,
produziu vários romances, entre eles O Primo Basílio (1878), Os
Maias (1888), A Ilustre Casa de Ramires (1900), A Cidade e as Serras
(1901) e O Crime do Padre Amaro (1875). O último foi considerado pela
crítica como o melhor romance realista português do século XIX.
Eça nasceu para a literatura como romancista, entretanto, com o passar do
WHPSRHSRUPHLRGHLQÀXrQFLDVFRPR)ODXEHUWUH¿QRXVHXHVWLORWRUQDQGRVH
incontestavelmente um realista. O ceticismo e a ironia impregnaram sua obra e o
típico sentimentalismo português (considerado pelo escritor como uma doença)
se afastou de sua escrita. Evitar o sentimentalismo exagerado não quer dizer que
Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS
sua obra não possua sentimento. Trata-se de crítica ao exagero lusitano comum
jSHUVRQDOLGDGHSRUWXJXHVD2HOHPHQWRGHVFULWLYRHP(oDGH4XHLUR]GiFRUSR
à realidade produzida, permite ao leitor adequar ao cotidiano os acontecimentos
SHUWLQHQWHVj¿FomR
As personagens de Eça são impulsionadas pelo acaso, não possuem carac-
terísticas heroicas nem complexidade psicológica, apenas existem e são ma-
nipuladas pelo destino.
Fazem parte do univer-
so comum que tran-
sita ao longo de uma
existência instintiva e
sem grandes ideais. A
direção que seguem é
determinada pelo de-
senrolar dos aconteci-
mentos e não demons-
tram controle de suas
vidas. As adversidades
e o elemento-surpresa
enredam, manipulam
e fazem sucumbir suas
personagens estrutu-
ralmente vulgares.
A marca estilística
de Eça é a inteligência

34
do texto, a lucidez e o aspecto conciso
que o coloca entre os mais lidos. A crítica
social e principalmente à vida burguesa
aparece de forma clara em alguns
dos seus romances. Em A Cidade e as
Serras, R HVFULWRU FRQWUDS}H R FDPSR H
a cidade, discute os prós e os contras da
modernidade e do ambiente bucólico.
Além da “ironia” (contrário do real, sátira),
o escritor utiliza em sua obra recursos
estilísticos, tais como a “sinestesia” (apelo
aos sentidos), “adjetivação” (uso de
DGMHWLYRV HDV³DOLWHUDo}HV´ UHSHWLomRGH
sons). A Ilustre Casa de Ramires (1900)
é o ponto alto da maturidade intelectual
do escritor. O discurso cáustico das
primeiras obras cede espaço para a
esperança e uma postura mais crédula em
relação ao ser humano.
2 HVFULWRU (oD GH 4XHLUR] PRUUHX
em Paris no dia 16 de agosto de 1900. Foi
sepultado em Santa Cruz do Douro.
“... Tinham dado onze horas no cuco
da sala de jantar. Jorge fechou o volume
de Luís em
Entre Figuier
nossoque Canal
estiverano
folheando
Telegram: devagar, estirado na velha voltair de
t.me/BRASILREVISTAS
marroquim escuro, espreguiçou-se, bocejou e disse:
±7XQmRWHYDLVYHVWLU/XtVD"
±/RJR
Ficara sentada à mesa a ler o Diário de Notícias, no seu roupão de manhã
GH ID]HQGD SUHWD ERUGDGR D VXWDFKH FRP ODUJRV ERW}HV GH PDGUHSpUROD R
cabelo louro um pouco desmanchado, com um tom seco do calor do travesseiro,
HQURODYDVHWRUFLGRQRDOWRGDFDEHoDSHTXHQLQDGHSHUILOERQLWRDVXDSHOH
WLQKD D EUDQFXUD WHQUD H OiFWHD GDV ORXUDV
com o cotovelo encostado à mesa acariciava
a orelha, e, no movimento lento e suave dos
seus dedos, dois anéis de rubis miudinhos
GDYDP FLQWLODo}HV HVFDUODWHV´ 7UHFKR GR
livro O Primo Basílio.)
MENTES BRILHANTES

“... Meu amor por Heathcliff é como uma rocha


eterna. Eu sou Heathcliff...” (Fala de Catherine
em O Morro dos Ventos Uivantes.)

Emily
Brontë

E
mily Jane Brontë nasceu em Thornton em 30 de julho de 1818. Foi uma
escritora britânica que teve sua obra O Morro dos Ventos Uivantes
(1847) adaptada para o cinema. Emile escrevia utilizando o pseudônimo
de Ellis Bell, talvez para não se expor, já que em sua época não era
muito comum mulheres atuarem no universo literário. Suas irmãs
Charlotte e Anne possuíam temperamentos bem diferentes de Emily. Charlotte
Brontë escreveu no prefácio de O Morro dos Ventos Uivantes sobre a irmã Emily:
³(PERUDVHXVVHQWLPHQWRVSHORVTXHDFHUFDYDPIRVVHPEHQHYROHQWHVUHODo}HV
FRP HOHV HOD QXQFD SURFXURX QHP FRP SRXFDV H[FHo}HV DV H[SHULPHQWRX (
mesmo assim ela os conhecia: sabia seus costumes, sua linguagem, a história de
VXDVIDPtOLDVSRGLDRXYLUVREUHHOHVFRPLQWHUHVVHHIDODUGHOHVFRPGHWDOKHV  
Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS
porém, com eles, raramente trocou uma palavra...”. Das três irmãs, Emily era a
que possuía personalidade introvertida e gostava de reclusão.
A única publicação de Emily, Wuthering Heights (O Morro dos Ventos
Uivantes), não foi muito bem aceita em sua época, mas com o passar dos anos tor-
QRXVHXPFOiVVLFRGDOLWHUDWXUDLQJOHVD7HYHDKLVWyULD¿OPDGDLQÀXHQFLRXP~-
sicos e poetas pela beleza da narrativa, pelo aspec-
WR GHVHVSHUDGR H FDWDVWUy¿FR GRV VHQWLPHQWRV TXH
transbordavam nas personagens, mas que de certa
IRUPDVHPDQWrPFRQWLGRVGRLQtFLRDR¿P$DWPRV-
fera tensa, mistura de amor e ódio, sofrimento e
desencontro, paixão e desprezo são os ingredientes
que marcam o destino das personagens. Nesse livro,
a autora esgotou todas as possibilidades de senti-
mentos avassaladores. Toda tentativa desesperada
de felicidade é quase como se Emily tivesse esgota-
do a si mesma, derramado no papel a sua própria
essência de vida.
A família Brontë possuía uma veia literária
incontestável. As três irmãs escreveram obras
que se tornaram clássicos da literatura. Charlotte
com Jane Eyre, Emily com Wuthering Heights,
e a mais moça, Anne, com The Tenant of Wildfell
Hall. O irmão, Branwell, fugiu à regra e ao talento.
(UD ErEDGR H YLYLD PHWLGR HP VLWXDo}HV HVFXVDV
praticava pequenos crimes que ninguém tomava

36
conhecimento. Branwell Brontë
morreu no ano de 1848. Emily
e Anne morreram em seguida,
vítimas da tuberculose. Depois
de alguns meses de casada,
Charlotte também sucumbe à
tuberculose e morre. O vilarejo
de Haworth foi o cenário para
a trágica história da família
do reverendo Patrick Brontë.
6XDV ¿OKDV (PLO\ &KDUORWWH H
Anne passaram para a história
e foram consagradas por suas
obras literárias.
  ³ ± 1mR VHL FRPR
explicar, mas certamente que
tu e toda a gente tendes a
noção de que existe, ou deveria
existir, outro eu para além
de nós próprios. Para que
serviria eu ter sido criada se
DSHQDVPHUHVXPLVVHDLVWR"2V
meus grandes desgostos neste
mundo foram os desgostos do
+HDWKFOL̆
Entre emHnosso HX DFRPSDQKHL
Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS
e senti cada um deles desde o
LQtFLR p HOH TXH PH PDQWpP
viva. Se tudo o mais perecesse
H HOH ¿FDVVH HX FRQWLQXDULD
PHVPR DVVLP D H[LVWLU H VH
WXGR R PDLV ¿FDVVH H HOH IRVVH
aniquilado, o universo se
tornaria para mim uma vastidão
desconhecida, a que eu não teria a
sensação de pertencer. O meu amor
pelo Linton é como a folhagem dos
bosques: irá se transformar com o
tempo, sei disso, como as árvores se
transformam com o inverno. Mas o
PHXDPRUSRU+HDWKFOL̆pFRPRDV
penedias que nos sustentam: podem
não ser um deleite para os olhos,
mas são imprescindíveis. Nelly, eu
VRX R +HDWKFOL̆ (OH HVWi VHPSUH
sempre no meu pensamento. Não
por prazer, tal como eu não sou
um prazer para mim própria, mas
como parte de mim mesma, como
eu própria...” (Trecho de O Morro
dos Ventos Uivantes.)
MENTES BRILHANTES

“... Diante da ave feia e escura,/ Naquela


rígida postura,/ Com o gesto severo, – o triste
pensamento/ Sorriu-me ali por um momento,/
E eu disse: ‘O tu que das noturnas plagas/ Vens,
embora a cabeça nua tragas,/ Sem topete, não és
ave medrosa,/ Dize os teus nomes senhoriais;/
Como te chamas tu na grande noite umbrosa?’/ E
o corvo disse: ‘Nunca mais!’...” (Poema O Corvo –
Tradução de Machado de Assis.)
Edgar Allan
Poe

E
dgar Allan Poe transitou entre a poesia, o terror, a ficção científica,
o suspense e a sátira. O escritor desprezava o caráter didático da
escrita e não gostava de alegorias, pensava que a escrita deveria
tingir seu objetivo ainda que na superfície. Segundo Poe, a
obviedade esvazia a obra dos elementos artísticos que ela deve
possuir, a qualidade está em concentrar-se em um ponto para o qual devem
convergir os esforços criativos do escritor e a atenção do leitor. Sentir e idealizar
demandava cálculo e metodologia. Em seus contos, Poe invade os recônditos
da alma humana e retira de lá tristezas, maldades, beleza e dor. Desmascara o
medo e a solidão profunda da razão apresentando ao homem a sua verdadeira
face, sem o subterfúgio da máscara social ou psicológica. É possível perceber
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isso em William Wilson (1839), O Demônio da Perversidade (1845), A Esfinge
(1846) e O Gato Preto (1843).
A narrativa perturbadora de Poe se faz sentir mais intensamente no conto
A Queda da Casa de Usher. O medo está presente não como uma possibilidade,
mas como algo corpóreo, tocável, que existe de fato dentro de cada um. O terror
não é externo, ele se desenvolve e cresce como se não coubesse mais dentro da
psique e se apoderasse das páginas, utilizando-as para conjurar sua existência.
1mRKiOXJDUSDUDHVSHUDQoDVGHYHU}HVRXSULPDYHUDVWXGRVHFRQILJXUDHP
eterno desfolhar do outono e enrijecido inverno.
Edgar Allan Poe morreu em 07 de outubro de 1849, em Baltimore. Não se
sabe ao certo o que o levou à morte.
“... Não fui, na infância, como os outros e nunca vi como os outros viam.
0LQKDVSDL[}HVHXQmRSRGLDWLUDUGHIRQWHLJXDOjGHOHVHHUDRXWURRFDQWR
que acordava o coração de alegria. Tudo o que amei, amei sozinho...” (Do poema
Só, de Edgar Poe.)

38
3 8
DA LITERATURA MUNDIAL

“... Dilatam-se os horizontes. O firmamento, sem


o azul carregado dos desertos, alteia-se, mais
profundo, ante o expandir revivescente da terra.
E o sertão é um vale fértil. É um pomar
vastíssimo, sem dono.
Depois tudo isto se acaba. Voltam os dias
torturantes; a atmosfera asfixiadora; o
empedramento do solo; a nudez da flora;
e, nas ocasiões em que os estios se ligam
Euclides da sem a intermitência das chuvas, o espasmo
assombrador da seca...” (Trecho de Os Sertões –
Cunha “A Terra”.)

E
uclides Rodrigues da Cunha nasceu em Cantagalo em 20 de
janeiro de 1866. Foi engenheiro, romancista e escritor. Enquanto
se desenvolvia o começo do conflito de Canudos, Euclides
escreveu dois artigos cujo título era A Nossa Vendeia, artigos
que lhe proporcionaram um convite do Estado de São Paulo para
acompanhar o final do conflito como correspondente de guerra. Euclides
aceitou a oferta por partilhar da ideia republicana de que o movimento de
Antônio Conselheiro pretendia restaurar a monarquia.
“... O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo
exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral. A sua aparência, entretanto,
ao primeiro lance de vista, revela o contrário. Falta-lhe a plástica impecável,
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RGHVHPSHQRDHVWUXWXUDFRUUHWtVVLPDGDVRUJDQL]Do}HVDWOpWLFDV´ 7UHFKR
de Os Sertões – “O Homem”.)
Canudos foi um exemplo de resistência. O exército atacou por três vezes com
um equipamento bélico de ponta para a época e nas três vezes foi repelido por
camponeses que lutavam com “pedras” e “paus”. A Guerra de Canudos foi um
OHYDQWHGHVREUHYLYrQFLD2HVFULWRUQmR¿FRXDWpR¿QDOGRFRQÀLWRPDVFRQVHJXLX
descrever os horrores do massacre e a crueldade com a qual a população de
Canudos foi dizimada.
“... A caatinga mirrada e nua apareceu repentinamente, desabrochandonuma
ÀRUHVFrQFLD H[WUDYDJDQWHPHQWH FRORULGD QR YHUPHOKR IRUWH GDV GLYLVDV QR
azul desmaiado dos dólmãs e nos brilhos vivos das chapas dos talins e estribos
oscilantes...” (Trecho de Os Sertões – “A Luta”.)
A esposa de Euclides da Cunha, Anna de Assis, envolveu-se com o tenente
'LOHUPDQGRGH$VVLVDQRVPDLVQRYRGRTXHHODHFRPHOHWHYHGRLV¿OKRV
Uma das crianças morreu ainda pequena e o menino que sobreviveu foi aceito
FRPR ¿OKR SRU (XFOLGHV 2 DGXOWpULR GH $QQD FXOPLQRX FRP XP GHVIHFKR
SDVVLRQDOTXH¿FRXFRQKHFLGRFRPR³$7UDJpGLDGD3LHGDGH´1RDQRGHR
escritor invade a casa do rival de arma em punho e acaba sendo assassinado por
ele. Anna se casa com o assassino de seu marido e com ele vive 15 anos. Em 1913,
R¿OKRGRDXWRUGHOs Sertões e Anna de Assis tenta vingar seu pai e também é
assassinado pelo tenente Dilermando.
“... Canudos tinha muito apropriadamente, em roda, uma cercadura de
PRQWDQKDV (UD XP SDUrQWHVLV HUD XP KLDWR (UD XP YiFXR 1mR H[LVWLD
Transposto aquele cordão de serras, ninguém mais pecava...” (E. C.)

39
MENTES BRILHANTES

“... É sempre assim. Morre-se. Não se


compreende nada. Nunca se tem tempo de
aprender. Envolvem-nos no jogo. Ensinam-nos
as regras e à primeira falta matam-nos...” (E.
H.)

Ernest
Hemingway

E
rnest Miller Hemingway nasceu
em Oak Park no dia 21 de julho
de 1899. Ernest trabalhou como
correspondente em Madrid na
Guerra Civil Espanhola. Esse
trabalho é considerado a fonte de inspiração
para sua mais importante obra Por Quem
os Sinos Dobram. Hemingway fazia a parte
da chamada “Geração Perdida”, expressão
criada por Gertrude Stein para denominar
os escritores expatriados em Paris. Ganhou
Entre em nosso Canal no Telegram:
o prêmio Pulitzer (1953) com seu trabalho
t.me/BRASILREVISTAS
O Velho e o Mar, que se tornou um clássico
do cinema. O pai de Ernest se suicidou em
1929 por problemas relativos à saúde e às
¿QDQoDVWDOYH]SRULVVRRVXLFtGLRDSDUHoDGH
forma recorrente em sua narrativa. A mãe era
cantora de ópera e possuía uma personalidade
forte e dominadora.
Em Por Quem os Sinos Dobram,
Hemingway critica a Guerra Civil
Espanhola, rememora seu momento como
voluntário e analisa de forma corrosiva
a postura violenta das tropas italianas
e alemãs. Além de suas experiências, o
escritor faz referências à questão do homem
perante a si mesmo. O título remete ao
poeta inglês John Donne, retirado do livro
Poems on Several Occasions, cujo verso
LOXVWUDDLGHLDFRPSURSULHGDGH³4XDQGR
morre um homem, morremos todos, pois
somos parte da humanidade...”. O livro
Por Quem os Sinos Dobram foi adaptado
para o cinema em 1943, protagonizado por
Ingrid Bergman e Gary Cooper, e seguiu
LQÀXHQFLDQGR 1D &DOLIyUQLD RV URTXHLURV

40
do Metallica incluíram em seu
álbum Ride the Lightning, a
música ‘For Whom The Bell Tolls¶
TXH D¿UPDUDP WHU VLGR LQVSLUDGD
no livro de Ernest Hemingway.
No trecho que segue, é possível
FRPSURYDU D JUDQGH LQÀXrQFLD
sofrida por Ernest do pastor e poeta
John Donne “... Nenhum homem
p XPD LOKD LVRODGR HP VL PHVPR
todos são parte do continente, uma
parte de um todo. Se um torrão de
terra for levado pelas águas até o
PDU D (XURSD ¿FDUi GLPLQXtGD
como se fosse um promontório,
como se fosse o solar de teus
DPLJRV RX R WHX SUySULR D PRUWH
de qualquer homem me diminui,
porque sou parte do gênero
humano. E por isso não pergunte
SRU TXHP RV VLQRV GREUDP HOHV
dobram por vós...” (Meditações/
VII, John Donne). Embora não se
possa discutir o costume dado ao
contexto
Entre em histórico,
nossoo Canal
escritorno
tinha
Telegram: t.me/BRASILREVISTAS
como passatempo o hábito de caçar
animais por mero divertimento, o
que atualmente não seria visto com
bons olhos pelos órgãos de proteção
aos animais. Há quem não concorde
que é muito difícil dissociar a vida
da obra de um escritor, mas existem casos em
TXHLVVR¿FDFODUR4XDQGRVHOrDREUDpFRPR
se o autor contasse suas experiências e tudo o
que viveu. Com Ernest Hemingway foi assim,
até sua morte foi anunciada quando sempre
voltava ao tema de
suicídio. A propósito,
ele se matou em 02
de julho de 1961, em
Ketchum, Idaho.
“... Um escritor
faz-se de dia, sobre
o asfalto e em cima
do pó, sofrendo e
desfrutando, odiando
e querendo como só
pode fazer um louco
ou um Deus...” (E. H.)

41
MENTES BRILHANTES

“... Do lado de cá, o nosso mundo, em nada


parecido com aquele, que por isso nos parecia
uma ilustração de contos de fadas. O nosso era
um mundo bem outro, regido por estatutos,
disciplinas, horários específicos; uma casa para
mortos-vivos; uma vida à margem e homens de
vivência muito diferente. É esse canto tão distinto
da vida que me proponho descrever aqui...”
(Trecho de Recordação da Casa dos Mortos.)
Fiódor
Dostoiévski

F
iódor Mikhailovich Dostoiévski
nasceu em 11 de novembro de 1821
em Moscou. Considerado como
uma das maiores personalidades
literárias da Rússia, ainda muito
pequeno ficou órfão de mãe e seu pai foi
assassinado pelos colonos da propriedade
pertencente à família. Fiódor estudou
Engenharia em uma escola militar de São
Petersburgo e se aprofundou na literatura de
seu tempo. Sofria de epilepsia, doença que
Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS
se manifestou depois do assassinato de seu
pai. Traduziu Eugéne Grandet, de Honoré de
Balzac, quando contava apenas 23 anos de
idade, tradução que figura como seu primeiro
trabalho literário. O primeiro romance de sua
autoria, intitulado Gente Pobre, alcançou boa
repercussão e crítica favorável, inclusive do
mais importante crítico do início do século XIX,
Vladimir Belinski.
No ano de 1849, Fiódor Dostoiévski foi pre-
so, acusado de participar de encontros subversivos
na casa de um revolucionário. O escritor foi con-
denado à morte, mas teve a sentença suspensa no
último instante por Nicolau I. Foi mandado para
D6LEpULDRQGH¿FRXSUHVRQRYHDQRV'HVVHH[tOLR
nasceu Recordações da Casa dos Mortos, livro que
não atingiu grande sucesso, mas que é a narrati-
va angustiada de alguém com um futuro incerto e
YtWLPDGHWRGDVDVSURYDo}HVSRVVtYHLVHLPDJLQD-
das. A obra do escritor russo transita entre a humi-
lhação e o assassinato, o suicídio e a loucura. Sua
produção é chamada de “Romances de ideias” por
HQYROYHURkPELWR¿ORVy¿FRHH[LVWHQFLDOGRLQGL-
víduo. É possível dizer que a narrativa do escritor
possui forte inclinação existencialista.

42
O romance Crime e Cas-
tigo (1866) tem como perso-
nagem o jovem Raskólnikov,
estudante de Direito extre-
mamente pobre, que espera
se destacar de alguma forma
ao longo da vida. Para o per-
sonagem, os seres humanos
se dividem em medíocres e
acima da média, o que de cer-
ta forma o faz entender que
para alguns atitudes licen-
ciosas são permitidas porque
visam atingir um objetivo
maior. Raskólnikov, em meio
a tormentosas crises de cons-
ciência, leva a cabo o plano
de roubar uma velha agiota.
O romance discute a comple-
xa psique humana, os medos,
culpas e consequências de
atitudes irremediáveis.
Seu último romance,
Os Irmãos Karamazov, era
Entre
tido porem nosso
Freud Canal
como no Telegram:
o me- t.me/BRASILREVISTAS
lhor romance já produzido e
de grande influência para o
romance moderno, que as-
similou dele a impressão de
deslocamento constante e re-
alidade desordenada.
O estilo de Dostoiévski pode
ser descrito como dramático e
explosivo. Suas personagens
exageram tanto no sofrimento
velado quanto na expressão, se
vestem de valores espirituais que
superam o tempo. Segundo o te-
órico literário Mikhail Bakhtin, a
narrativa de Fiódor é única e faz
com que os opostos se esbarrem
em uma dinâmica sem preceden-
tes. Em sua visão de mundo, os
pontos de vista se cruzam e inte-
ragem para gerar nova forma de
ver as coisas. Fiódor Dostoiévski
morreu em 09 de fevereiro de
1881 de problemas decorrentes
da epilepsia e enfisema.

43
MENTES BRILHANTES

“... Se depois de eu morrer, quiserem


escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples.
Tem só duas datas – a da minha nascença e
a da minha morte.
Entre uma e outra todos os dias são
meus...” (Poemas Inconjuntos)

Fernando
d
Pessoa

F
ernando António Nogueira Pessoa nasceu em Lisboa em 13 de junho de
1888. Educado na África do Sul, lugar para onde foi levado depois do
segundo casamento de sua mãe, teve educação inglesa e escreveu seus
primeiros poemas nesse idioma. Foi considerado por Harold Bloom
como um dos 26 melhores escritores ocidentais tanto na literatura
portuguesa quanto na inglesa. Os escritores ingleses Shakespeare, Edgar Allan
Poe, John Milton, Lord Byron, John Keats, Percy Shelley, Alfred Tennyson
WLYHUDPSURIXQGDLQÀXrQFLDHPVXDYLGD
Além da criação literária de Pessoa, vale citar sua criatividade em inventar
“heterônimos”, que diferem do “pseudônimo” por não serem meros apelidos,
mas personalidades completas que adquirem realidade por meio da produção
Entreatribuída
poética em nosso Canal
a elas. Por no
serTelegram: t.me/BRASILREVISTAS
a personalidade original, chamavam a ele,
Fernando Pessoa, de Ortônimo. Seus heterônimos mais conhecidos foram Álvaro
de Campos, Ricardo Reis e Alberto
Caeiro, a eles foram atribuídas mais
SXEOLFDo}HV %HUQDUGR 6RDUHV p XP GH
seus heterônimos que mais se aproximam
GH VXD SHUVRQDOLGDGH HVVH SRGHULD VHU
considerado um pseudônimo, pois não
apresenta data de nascimento nem de
falecimento como os outros. A Bernardo
é atribuído o Livro do Desassossego.
Ao contrário de Álvaro de Campos
e Alberto Caeiro, seu heterônimo Ricardo
Reis não possui data de falecimento,
fato que inspirou o grande e premiado
escritor português José Saramago a
escrever o interessante romance O Ano
da Morte de Ricardo Reis (1984), no
qual ele faz com que Ricardo Reis seja
testemunha de um período difícil, em
TXH LGHLDV IDVFLVWDV VH LQ¿OWUDYDP QD
sociedade portuguesa. A fantasia se
mistura ao contexto histórico...
Saramago mata Ricardo Reis
em meio ao desfalecimento social e

44
político de Portugal. Fernando Pessoa,
HP VHX SRHPD $XWRSVLFRJUD¿D WUDGX] RV
heterônimos brilhantemente: “O poeta é
XP¿QJLGRU)LQJHWmRFRPSOHWDPHQWH4XH
FKHJDD¿QJLUTXHpGRU$GRUTXHGHYHUDV
sente”. O poeta Fernando Pessoa morreu
em 30 de novembro de 1935 de pancreatite
aguda e em sua cama de hospital escreveu
sua derradeira frase em inglês “I know not
what tomorrow will bring” (“Não sei o que o
amanhã trará”).
“É uma vontade de não querer ter
pensamento, um desejo de nunca ter sido
nada, um desespero consciente de todas as
células do corpo e da alma. É o sentimento
súbito de se estar enclausurado na cela
LQ¿QLWD 3DUD RQGH SHQVDU HP IXJLU VH Vy
D FHOD p WXGR"   $ VROLGmR GHVRODPH $
companhia oprime-me. A presença de outra
pessoa desencaminha-me os pensamentos.
(...) Há momentos em que tudo cansa, até
o que nos repousaria. (...) Mais terrível do
que qualquer muro, pus grades altíssimas
a demarcar o jardim do meu ser, de modo
que, vendo
Entre emperfeitamente
nosso Canal os outros, perfeitissimamente
no Telegram: eu os excluo e mantenho
t.me/BRASILREVISTAS
outros...” (Trecho de Livro do Desassossego.)
MENTES BRILHANTES

“... Alguém devia ter caluniado a Joseph K.,


pois sem que ele tivesse feito qualquer mal, foi
detido certa manhã. A cozinheira da senhora
Grubach, sua hospedeira, que todos os dias
às oito horas lhe trazia o desjejum, não se
apresentou no quarto de K. nesta manhã. Jamais
acontecera isso. [...] [K.] Fez soar a campainha.
Imediatamente bateram em sua porta, e no
dormitório entrou um homem ao qual K.
FFranz jamais vira antes naquela casa...” (Trecho de O
Processo.)
Kafka

F
ranz Kafka nasceu em Praga em 03 de julho de 1883. Nascido em uma
IDPtOLDMXGLD)UDQ]HUDRPDLVYHOKRGRVVHLV¿OKRVGH+HUPDQQH-XOLH
Kafka. Considerado um grande escritor tanto pela crítica quanto por
seus leitores, suas obras mais famosas são A Metamorfose (1915), O
Processo (1925) e O Castelo (1926). Nesses livros, Kafka discute um
mundo cheio de labirintos burocráticos criados pelo homem e que se tornam
armadilhas para a humanidade.
Kafka não se relacionava bem com o pai. De personalidade sensível, preferia
VHLVRODUDEDWHUGHIUHQWHFRPRDXWRULWDULVPRSDWHUQR2HVFULWRUIRLLQÀXHQFLDGR
pelas culturas judaica, alemã e tcheca. Apesar de ser respeitado nos círculos
literários, seus livros só alcançaram reconhecimento postumamente, durante
Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS
VXDYLGDDSHQDVDIUXVWUDomRHRVIUDFDVVRVDIHWLYRVOKH¿]HUDPFRPSDQKLD(P
A Metamorfose, Kafka utiliza a metáfora do homem que se transforma em inseto
por incapacidade de se relacionar com a vida, com as outras pessoas, e também
faz uma crítica à sociedade e à deterioração dos valores humanos. O personagem
Gregor Samsa não se transforma propriamente em um inseto, mas se submete a um
trabalho que despreza, à autoridade desmedida
do pai e ao absurdo do seu cotidiano e, portanto,
se vê como algo desprezível e nojento. A
transformação do personagem não lhe causa
estranheza, ele se adapta à sua nova forma como
se adaptou à mediocridade cotidiana.
Em O Processo, Kafka demonstra o absurdo
da sociedade burocrática. Seu personagem
Joseph K. é preso sem que o motivo seja claro.
6LWXDo}HVVHPVHQWLGRYmRVHDPRQWRDQGRDR
longo da narrativa e demonstram a angústia
de alguém que se vê emaranhado em uma teia
GH VXSRVLo}HV VHP IXQGDPHQWR -RVHSK . p
executado por ser inocente mesmo sem saber
do que é inocente, porque não há uma acusação
clara. É quase como se a culpa do réu fosse
pertencer à humanidade e não confessar isso.
A lei em O Processo não é apenas punitiva, ela
é surreal e surpreendente. Tem característica
de inacessibilidade, como se tudo dentro

46
daquela atmosfera conspirasse
contra até a execução.
Em O Castelo, persiste o absurdo.
O agrimensor cujo nome é K. é
chamado para prestar serviço, mas
não consegue entrar no castelo. Para
alguns, o castelo é o inconsciente
de K. e a vila é a consciência. Ele
não consegue respostas para suas
perguntas, talvez uma tentativa de
Kafka de explicar a insegurança trazida
pela urbanização crescente e os medos
do homem diante das mudanças. É
possível dizer que Franz Kafka faz
referências a si mesmo em suas obras
quando chama suas personagens de
“K.”. A Metamorfose, O Processo
e O Castelo falam de indiferença,
inutilidades que permeiam o dia a
dia e, sobretudo, de silêncio.
 ³3RU¿PDOX]GHVHXVROKRV
se torna fraca e ele não sabe mais se
HPYROWDGHOHWXGRHVWi¿FDQGRHVFXUR
de verdade ou se são apenas seus
olhos
Entrequeemo nosso
enganam. Porém,
Canal no agora
Telegram: t.me/BRASILREVISTAS
ele reconhece no escuro um brilho que
irrompe inextinguível da porta da lei. E
eis que ele não vive mais por muito tempo.
Antes de sua morte, todas as experiências
GR WHPSR TXH SRU Oi ¿FRX VH UH~QHP QD
forma de uma pergunta em sua cabeça,
uma pergunta que até então não havia
feito ao porteiro. Ele acena em sua direção,
uma vez que já não pode mais levantar
seu corpo enrijecido. O porteiro tem de se
inclinar profundamente sobre ele, pois a
diferença de tamanho se acentuou muito,
desfavorecendo o homem. ‘Mas o que é
TXHTXHUHVVDEHUDLQGDDJRUD"¶SHUJXQWD
R SRUWHLUR µ7X pV PHVPR LQVDFLiYHO¶ µ6H
WRGRVDVSLUDPDOHL¶GL]RKRPHPµFRPR
pode que em todos esses anos ninguém a
QmRVHUHXSHGLXSDUDHQWUDU"¶2SRUWHLUR
UHFRQKHFHTXHRKRPHPMiHVWiQR¿PH
no intuito de ainda alcançar seus ouvidos
moribundos, grita com ele: ‘Aqui não
poderia ser permitida a entrada de mais
ninguém, pois essa entrada foi destinada
apenas a ti. Agora eu vou embora e
WUDQFRD¶´ 7UHFKRGHO Castelo.)

47
MENTES BRILHANTES

“... Compadre meu Quelémem sempre diz que eu posso


aquietar meu temer de consciência, que sendo bem-
assistido, terríveis bons espíritos me protegem. Ipe! Com
gosto... Como é de são efeito, ajudo com meu querer
acreditar. Mas nem sempre posso. O senhor saiba: eu
toda a minha vida pensei por mim, forro, sou nascido
diferente. Eu sou eu mesmo. Divêrjo de todo mundo... Eu
quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa. O
senhor concedendo, eu digo: para pensar longe, sou cão
mestre – o senhor solte em minha frente uma ideia ligeira
Guimarães e eu rastreio essa por fundo de todos os matos, amém!...”
(2001, p. 31).

Rosa

J
oão Guimarães Rosa nasceu em Cordisburgo em 27 de junho de 1908.
Além de médico e diplomata, é considerado um dos maiores escritores
EUDVLOHLURV(UDÀXHQWHHPYiULRVLGLRPDVHVHLQWHUHVVDYDSHODVYDULDo}HV
linguísticas, o que demonstrava em sua obra. Ingressou na Faculdade
de Medicina da Universidade de Minas Gerais no ano de 1925, quando
contava apenas 16 anos de idade.
O estilo em Guimarães transita pelo realismo fantástico, tendência literária
que surgiu no início do século XX. Essa tendência é a junção da realidade e da fantasia,
a preocupação estilística em inserir o irreal como um acontecimento cotidiano. O
escritor mineiro apresenta em sua narrativa aspectos regionais, ou seja, elementos
linguísticos e particularidades de uma determinada região. É possível encontrar
Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS
nas obras de Guimarães os neologismos, fenômeno linguístico que consiste na
FULDomRGHRXWUDVSDODYUDVRXH[SUHVV}HVQRYDVWDPEpPSRGHVHUDDWULEXLomRGH
um novo sentido a uma palavra já existente. De uma maneira geral, os neologismos
são criados a partir dos processos já existentes na língua, que são a justaposição,

48
SUH¿[DomR DJOXWLQDomR YHUEDOL]DomR H VX¿[DomR
Na obra de Guimarães, é comum neologismos como
“nonada” (coisa sem importância), “suspirância”
(suspiros repetidos), “coraçãomente” (cordialmente).
“... Saudade é ser, depois de ter...” (João G. Rosa)
Grandes Sertões Veredas é o romance mais
famoso de Guimarães Rosa. Foi escrito em 1956.
A princípio foi pensado como parte da obra Corpo
de Baile, entretanto cresceu e adquiriu autonomia,
tornando-se um marco na literatura brasileira.
Guimarães reconstruiu o sertão por meio da
linguagem, ilustrou o sertanejo ao narrar suas crenças,
VXDVG~YLGDVVXDVVXSHUVWLo}HVHVREUHWXGRR³SHQVDU
falando”, próprio do homem simples do campo. As
personagens de Grandes Sertões Veredas Riobaldo
e Diadorim vivem um desencontro, pois a moça
travestida de jagunço é para Riobaldo um enigma. O
lado racional de Riobaldo enxerga e aceita a ideia do amigo de empreitada, mas
R ODGR LQVWLQWLYR SHUFHEH D ¿JXUD GD IrPHD H SRU LVVR HOH YLYH R GHVHVSHUR GH VH
ver apaixonado por alguém que pertence ao mesmo sexo. Parte da tensão do livro
e parte da visão romântica se deve a esse amor proibido, que para Riobaldo não
poderia ter despertado, posto que não é comum. O desfecho do livro, na verdade, é
TXHVHFRQ¿JXUDFRPRRUHDOHQFRQWURTXDQGR5LREDOGRYr'LDGRULPHPVXDIRUPD
de mulher e tudo já está perdido.
EntreJoãoem Guimarães
nosso Canal Rosa nomorreu de infarto
Telegram: em 19 de novembro de 1967
t.me/BRASILREVISTAS
no Rio de Janeiro.
³4XH'LDGRULPHUDFRUSRGHPXOKHU
moça perfeita... Estarreci. A dor não
pode mais do que a surpresa. [...]
8LYHL'LDGRULP'LDGRULPHUDPXOKHU
[...] Estendi a mão pra tocar naquele
corpo [...] e a mulher estendeu a toalha,
recobrindo as partes. Mas aqueles
olhos eu beijei, e as faces, a boca [...] E
HXQmRVDELDSRUTXHQRPHFKDPDUHX
H[FODPHLPH GRHQGR ± 0HX DPRU´
(Trecho de Grandes Sertões Veredas.)

49
MENTES BRILHANTES

“... Descobri que minha obsessão por cada


coisa em seu lugar e cada assunto em seu
tempo, cada palavra em seu estilo, não era o
prêmio merecido de uma mente em ordem, mas,
pelo contrário, todo um sistema de simulação
inventado por mim para ocultar a desordem da
minha natureza...” (G. G. M.)

Garcia
Márquez

G
abriel José Garcia Márquez nasceu em
Aracataca em 06 de março de 1927.
Admirado por seu estilo verossimilhante
(realidade e fantasia), o escritor colombiano
é considerado um dos mais importantes
dessa tendência literária. Encantado pelas histórias
sobre a Guerra dos Mil Dias contadas pelo avô materno
Nicolas Márquez, o escritor deu asas à imaginação e sob
HVVD LQÀXrQFLD GHX RULJHP DR LQFUtYHO URPDQFH Cem
Anos de Solidão (1967). A narrativa de Franz Kafka
em A MetamorfoseWDPEpPLQÀXHQFLRXVXDHVFULWDGH
Entre
acordo comem nosso Canal
a observação no Telegram:
do próprio t.me/BRASILREVISTAS
Gabriel Garcia: “...
(QWmR HX SRVVR ID]HU LVVR FRP DV SHUVRQDJHQV" &ULDU
VLWXDo}HVLPSRVVtYHLV"´
A obra de Garcia Márquez não se fez só de
romances verossimilhantes. É possível encontrar muita
política e o contexto social vivido na América Latina em
sua época. Em Ninguém Escreve ao Coronel (1961),
o autor descreve a história verdadeira do naufrágio
de Luis Alejandro Velasco publicada originalmente
no jornal El Espectador. Depois de Cem Anos de
Solidão, que foi traduzido
em vários idiomas, o
escritor publicou Crônica
de uma Morte Anunciada
(1981), cuja narrativa gira
em torno do assassinato
de Santiago Nassar. O
assassinato anunciado se
desenrola em um ambiente
que narra a premeditação,
todos sabem, o fato já é
aceito como consumado,
Santiago Nassar já é um
homem morto mesmo
antes de se deparar com

50
seus algozes. O livro de Marquez
permite que o leitor se intere do fato
e trace conjecturas. O escritor mistura
¿FomR H KLVWyULDV SRSXODUHV GHL[D
ao leitor a opção de se aproximar e
interagir ou permanecer distante, como
mero espectador da trama.
O Amor nos Tempos do Cólera
(1985) conta a história de um casal
que se apaixona sem nunca ter se
conhecido. Eles passam 53 anos sem
proximidade física, apenas trocam
correspondência. Florentino Ariza e
Fermina Daza, personagens de O Amor
nos Tempos do Cólera, são afastados
pela família. Ela se casa e vive o
casamento com dignidade e recato,
sem jamais esquecer seu grande amor.
Ele, por sua vez, se envolve com muitas
mulheres, mas nunca se entrega nem
se apaixona por mais ninguém a não
ser sua amada. Uma narrativa tocante
que desperta nostalgia, como se o leitor
partilhasse a esperança do encontro e a
Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS
vívida sensação de solidão, de falta.
“... Florentino Ariza, por outro lado,
não deixara de pensar nela um único
instante desde que Fermina Daza
o rechaçou sem apelação depois de uns amores longos e contrariados e haviam
transcorrido a partir de então 51 anos, nove meses e quatro dias. Não tivera que manter
a conta do esquecimento fazendo uma risca diária nas paredes do calabouço, porque
QmRVHKDYLDSDVVDGRXPGLDVHPTXHDFRQWHFHVVHDOJXPDFRLVDTXHR¿]HVVHOHPEUDU
se dela...” (Trecho de O Amor nos
Tempos do Cólera.)
Gabriel Garcia Márquez
morreu em 17 de abril de 2014
na cidade do México, vítima de
pneumonia por decorrência de
um câncer linfático.
“... É necessário abrir os olhos
e perceber que as coisas boas
estão dentro de nós, onde os
sentimentos não precisam de
motivos nem os desejos de razão.
O importante é aproveitar o
momento e aprender sua duração,
pois a vida está nos olhos de quem
sabe ver...” (G. G. M.)

51
MENTES BRILHANTES

“... Comovo-me em excesso, por natureza e


por ofício. Acho medonho alguém viver sem
paixões...” (G. R.)

Graciliano
Ramos

G
UDFLOLDQR5DPRVGH2OLYHLUDQDVFHXHP4XHEUDQJXORHPGHRXWXEUR
GH2VSDLVGH*UDFLOLDQRWLYHUDP¿OKRVGRVTXDLVRHVFULWRUHUD
o primogênito. Terminado o ensino de segundo grau, Graciliano atuou
como jornalista e em seguida enveredou pela carreira literária, sendo
considerado um dos grandes nomes da literatura brasileira.
 $ REUD GH *UDFLOLDQR p PDUFDGD SHOR UHJLRQDOLVPR H SHODV GL¿FXOGDGHV
enfrentadas pelo nordestino, mas não se limita a isso. O homem é retratado pelo
escritor dentro de um contexto real, entretanto a problemática desse contexto
não interfere em seu desenvolvimento como indivíduo. Seu primeiro livro, Caetés
Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS
  GHL[D EHP FODUD D LQÀXrQFLD GH (oD GH 4XHLUy] $ QDUUDWLYD REHGHFH DRV
SDGU}HV GD ¿FomR UHDOLVWD GR VpFXOR ;,;
Nos moldes do romance de estreia, São
Bernardo (1934), também é narrado
em primeira pessoa. O livro inicia-se no
terceiro capítulo e o que se passa nos dois
SULPHLURVVmRGLYDJDo}HVTXHDQWHFHGHPH
explicam o que virá em seguida.
O livro Angústia (1936) é
considerado por alguns críticos como
sua grande obra. Outros o consideram
exagerado, o que destoa de seus outros
romances. Angústia reúne clareza e
sensatez, mas também rompantes de
confusa desordem. O intenso “pensar”
contrasta profundamente com a atitude
de inércia em relação à vida. O movimento
e a ação estão presentes nas lembranças,
no pensamento do autor, enquanto lá
fora o tempo se arrasta em um rumorejar
de cigarras e placidez de cercas. O grande
crítico literário Alfredo Bosi diz sobre
52
Angústia: “... tudo nesse romanceVXIRFDQWHOHPEUDRDGMHWLYRµGHJUDGDGR¶TXHVHDS}H
DRXQLYHUVRGRKHUyLSUREOHPiWLFRHVWDPRVQROLPLWHHQWUHRURPDQFHGHWHQVmRFUtWLFD
e o romance intimista. Foi a experiência mais moderna, e até certo ponto marginal,
de Graciliano. Mas a sua descendência na prosa brasileira está viva até hoje...”. Sobre
a comparação da obra com Crime e Castigo, de Dostoiévski Graciliano, diz: “... Onde
DVQRVVDVRSLQL}HVFRLQFLGHPpQRMXOJDPHQWRGH$QJ~VWLD6HPSUHDFKHLDEVXUGRVRV
elogios a este livro e alguns, verdadeiros disparates, me exasperam, pois nunca tive
semelhança com Dostoiévski nem com outros gigantes. O que sou é uma espécie de
Fabiano, e seria Fabiano completo se a seca houvesse destruído a minha gente, como
você bem conhece...”.
O livro Vidas Secas (1938) foi adaptado para o cinema. Nessa obra, a narrativa
de Graciliano não segue uma linearidade. A ligação
entre capítulos é feita pelo aspecto temporal, que
permite ao leitor um bom entendimento ainda que
faça uma leitura independente do capítulo. A narração
em terceira pessoa, utilização não comum em
Graciliano, talvez se deva ao fato de as personagens
apresentarem recursos verbais quase paupérrimos. A
ênfase do tempo psicológico na narrativa aproxima
as personagens do leitor.
Graciliano Ramos morreu no Rio de Janeiro
emEntre
20 deem nosso
março Canal
de 1953, no Telegram:
de câncer no pulmão. t.me/BRASILREVISTAS
“... Fizeram alto. E Fabiano depôs no chão parte
da carga, olhou o céu, as mãos em pala na testa.
Arrastara-se até ali na incerteza de que aquilo fosse
realmente mudança. Retardara-se e repreendera
os meninos, que se adiantavam, aconselhara-os a
poupar forças. A verdade é que não queria afastar-
se da fazenda. A viagem parecia-lhe sem jeito,
nem acreditava nela. Preparara-a lentamente,
adiara-a, tornara a prepará-la, e só se resolvera
D SDUWLU TXDQGR HVWDYD GH¿QLWLYDPHQWH SHUGLGR
3RGLD FRQWLQXDU D YLYHU QXP FHPLWpULR" 1DGD R
prendia àquela terra dura, acharia um lugar menos
seco para enterrar-se. Era o que Fabiano dizia,
pensando em coisas alheias: o chiqueiro e o curral,
que precisavam conserto, o cavalo de fábrica,
bom companheiro, a égua alazã, as catingueiras,
as panelas de losna, as pedras da cozinha, a cama
de varas. E os pés dele esmoreciam, as alpercatas
calavam-se na escuridão. Seria necessário largar
WXGR"$VDOSHUFDWDVFKLDYDPGHQRYRQRFDPLQKR
coberto de seixos...” (Trecho de Vidas Secas.)

53
MENTES BRILHANTES

“Tentei ser moderna, mas não deu. É sensual


a relação que tenho com minha máquina de
escrever.” Lygia Fagundes Telles

García
Lorca

F
ederico García Lorca nasceu na Andaluzia em 05 de junho de 1898.
Considerado um dos grandes poetas de língua espanhola, é citado por
alguns estudiosos como socialista e vítima da Guerra Civil Espanhola.
Durante sua estadia nos Estados Unidos e em Cuba, Lorca produziu a
parte de sua obra considerada surrealista, que demonstrava seu desprezo
pelo modo de vida em uma sociedade mecanizada.
A obra de García Lorca apresenta como tema a vida na Andaluzia.
,PSUHVV}HVH3DLVDJHQV  WUDWDGHFRLVDVUHODWLYDVD$QGDOX]LDPoemas do
Canto Fundo  IDODGRIROFORUHHGRVFDQWRVUHJLRQDLVRomancero
Gitano (1928) aborda a vida e os costumes ciganos. Na dramaturgia, o
escritor contribuiu com Bodas de Sangue (1933), Yerma (1934) e A Casa de
Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS
Bernarda Alba (1936).
“... Eu pronuncio teu nome/nas noites escuras,/ quando vêm os astros/beber na
Lua/e dormem nas ramagens/das frondes ocultas./ E eu me sinto oco/de paixão e
de música./ Louco relógio que canta/mortas horas antigas...” (García Lorca)
Federico García Lorca se interessava pela música e pela pintura. Em
VHX FLUFXOR GH DPL]DGH ¿JXUDYDP 6DOYDGRU 'DOt SLQWRU FDWDOmR VXUUHDOLVWD  H
Pedro Salinas (poeta espanhol da “Geração 27”). Sua estreia no teatro aconteceu
em 1920 com a peça O Sortilégio da Mariposa. Em sua poesia, Lorca aborda o
HVStULWR DQGDOX] H VH LGHQWL¿FD FRP DV PLQRULDV H[SHULPHQWD D GLVFULPLQDomR
por causa da homossexualidade, desenvolve grande aversão e revolta em relação
aos fascistas e militares do governo de Franco. Foi o fundador e dirigente da
companhia teatral La Barca, com a qual percorreu cidades encenando Cervantes
e outros autores famosos.
O grande escritor e dramaturgo espanhol García Lorca foi fuzilado no dia
19 de agosto de 1936 em Granada.
“... Deixaria neste livro/toda a minha alma./Este livro que viu/as paisagens
FRPLJRH YLYHX KRUDV VDQWDV4XH SHQD GRV OLYURVTXH QRV HQFKHP DV PmRV
GH URVDV H GH HVWUHODVH OHQWDPHQWH SDVVDP4XH WULVWH]D WmR IXQGDp ROKDU RV
UHWiEXORVGHGRUHVHGHSHQDVTXHXPFRUDomROHYDQWD9HUSDVVDURVHVSHFWURV
de vida que se apagam,/ver o homem desnudo/em Pégaso sem asas,/ver a vida e
a morte,/a síntese do mundo,/que em espaços profundos/se olham e se abraçam./
Um livro de poesias/é o outono morto:/os versos são as folhas/negras em terras
EUDQFDVH D YR] TXH RV Orp R VRSUR GR YHQWRTXH OKHV LQFXWH QRV SHLWRV±
estranháveis distâncias./O poeta é uma árvore/com frutos de tristeza/e com
folhas murchas/de chorar o que ama...” (García Lorca)

54
DA LITERATURA MUNDIAL

“... Eu amo a noite taciturna e queda!/Amo a


doce mudez que ela derrama,/e a fresca aragem
pelas densas folhas/do bosque murmurando:/
Então, malgrado o véu que envolve a terra,/a
vista, do que vela enxerga mundos,/e apesar
do silêncio, o ouvido escuta/notas de etéreas
harpas...” (Gonçalves Dias)

Gonçalves
Dias

A
obra de Gonçalves Dias pode ser identificada com o Romantismo
pela subjetividade e o sentimento que apresenta. O poema Canção
do Exílio foi escrito cinco anos após o poeta ter partido para
estudar na Europa e apresenta temática própria da primeira fase
do Romantismo no Brasil.
O ar saudoso e nostálgico é o elemento que denuncia a verve romântica, as
referências à pátria podem ser consideradas como o
desejo de criar símbolos nacionalistas. Canção do Exílio
foi parodiado amplamente pelos poetas modernistas.
“... Minha terra tem palmeiras/Onde canta o sabiá/
As aves que
Entre em aqui
nossogorjeiam/
Canal noNãoTelegram:
gorjeiam como lá...”
t.me/BRASILREVISTAS
(Canção do Exílio)
“... Minha terra não tem palmeiras.../E em vez de um
mero sabiá,/Cantam aves invisíveis/Nas palmeiras
TXHQmRKi´ 3DUyGLDGH0iULR4XLQWDQD
A temática indianista em Gonçalves Dias aparece no
poema épico Juca Pirama (1851). Considerado por
alguns críticos como obra-prima do escritor, o poema
possui 484 versos, o que lhe confere um caráter épico.
O enredo gira em torno da história de um guerreiro
Tupi que é aprisionado por uma tribo antropófaga,
os Timbiras. O prisioneiro deve cantar seus feitos
para que o sacrifício seja mais honroso. “... Meu
canto de morte,/guerreiros, ouvi:/Sou filho das
selvas,/nas selvas cresci./Guerreiros descendo/da
tribo Tupi...” (I- Juca-Pirama)
Gonçalves Dias morreu em 03 de novembro de
1864, em um naufrágio.
³ 7X FKRUDVWH HP SUHVHQoD GD PRUWH"1D
SUHVHQoDGHHVWUDQKRVFKRUDVWHV"
1mRGHVFHQGHRFREDUGHGRIRUWH3RLVFKRUDVWHV
PHXILOKRQmRpV3RVVDVWXGHVFHQGHQWHPDOGLWR
De uma tribo de nobres guerreiros,/Implorando
cruéis forasteiros,/Seres presa de vis Aimorés...”
(I- Juca-Pirama)

55
MENTES BRILHANTES

“... Dois homens nunca se conhecem até a


alma, até o fundo dos pensamentos. Podem
caminhar um ao lado do outro, às vezes
abraçados, mas nunca unidos, e a pessoa moral
de cada um de nós fica eternamente sozinha
por toda a vida...” (G. M.)

Guy de
Maupassant

H
enri René Albert Guy de Maupassant
nasceu em 05 de agosto de 1850. Sua
produção literária tem caráter psicológico,
principalmente seus contos. Também é
possível encontrar traços de crítica social,
DHVFULWDSRGHVHULGHQWL¿FDGDHPDOJXQVPRPHQWRVFRP
o Realismo. O escritor era grande admirador de Gustave
Flaubert e o considerava como seu mestre. Flaubert, por
sua vez, assumiu o papel de tutor intelectual de Guy de
Maupassant.
Os 300 contos escritos por Maupassant remetem
Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTASa
um ambiente sombrio, que pode ser comparado com
a sensação de temor diante do desconhecido, próprio
da mente humana e seus delírios. Sua
narrativa é tão perfeita, que beira o
impressionismo, como se o escritor
pintasse um quadro e por meio de sua
técnica narrativa fosse possível captar a
luz e o movimento do ambiente descrito.
O verbal em Maupassant se confunde com
o visual. O leitor cria em sua imaginação
todo o movimento e a textura narrada de
uma forma tão profunda, que se rompe a
tênue linha que separa o real do imaginário,
quase um desfecho sinestésico, no qual os
sentidos são orientados pela narrativa.
Seu conto mais comentado, O
Horla (1887), foi elogiado pelo escritor H.
P. Lovecraft. Segundo algumas leituras, o
protagonista do conto O Horla apresenta
a mesma tendência à insanidade que seu
DXWRU $V LQÀXrQFLDV FUHGLWDGDV DR FRQWR
YmR GR ¿OPH Diary of Madman a um
episódio da segunda temporada da série de
televisão Star Trek (Gene Roddenberry),
que apresenta uma entidade inspirada no

56
O Horla +i GXDV YHUV}HV GR FRQWR
QDSULPHLUDRVIDWRVMiDFRQWHFHUDP
na segunda, é escrito em primeira
pessoa, como se fosse um diário,
seguindo uma ordem cronológica,
com dia e mês dos fatos ocorridos.
Guy de Maupassant terminou
seus dias sofrendo o medo da morte
e com isso desenvolveu o hábito da
solidão. Sua obsessão por se manter
vivo tornou-se paranoia, a mania de
perseguição o assombrou até o fim
da vida. Os sintomas de insanidade
pioraram tanto, que o escritor
tentou o suicídio em 02 de janeiro de
1892, mas sua morte ocorreu em 06
de julho de 1893, em um asilo para
doentes mentais na cidade de Paris.
“... Em vez disso, entretanto,
com as costas contra a porta, abri-a
apenas o suficiente para poder sair
de costas e, como sou muito alto,
toquei a esquadria com a cabeça.
Estava certo de que ele não tinha
conseguido
Entre em nossoescapar
Canale nodeixei-o
Telegram: t.me/BRASILREVISTAS
fechado sozinho, completamente
VR]LQKR 4XH IHOLFLGDGH &RQVHJXLUD
prendê-lo. Então corri para baixo,
para a sala de visitas que ficava
embaixo do meu quarto. Peguei os dois
ODPSL}HVHGHVSHMHLWRGRRTXHURVHQH
no tapete, na mobília, em toda parte.
Toquei fogo e fugi, depois de trancar
cuidadosamente a porta. Escondi-me
no fundo do quintal, em uma moita de
louros...” (Trecho do conto O Horla.)

57
MENTES BRILHANTES

“... Pensamento duplo indica a capacidade de


ter na mente, ao mesmo tempo, duas opiniões
contraditórias e aceitar ambas...” (G. O.)

George
Orwell

E
ULF$UWKXU%ODLUQDVFHXHPGHMXQKRGHH¿FRXFRQKHFLGR
pelo pseudônimo de George Orwell. O escritor admirava Jack
/RQGRQHDH[HPSORGHOHIH]LQFXUV}HVHPiUHDVFDUHQWHVGD
periferia londrina, dormiu em alojamentos populares e observou
as diferenças sociais existentes. No ano de 1928, mudou-se para a
FLGDGHGH3DULVHGXUDQWHHVVHWHPSRUHFHEHXDMXGD¿QDQFHLUDGHXPDWLDTXH
também residia na França.
O livro Nineteen Eighty-Four (Mil Novecentos e Oitenta e Quatro) pode ser
FODVVL¿FDGRFRPRXPURPDQFH³GLVWySLFR´RXVHMDRGLVFXUVR¿FWtFLRTXHDERUGD
a antítese da utopia ou a experiência em uma “utopia negativa”. Orwell discute
emEntre emuma
seu livro nosso Canal totalitarista
sociedade no Telegram:e t.me/BRASILREVISTAS
opressiva que, apesar do controle, deixa
transparecer núcleos de corrupção e
abusos contra a privacidade do indivíduo.
A distopia é a descrição de um sistema de
governo no qual os abusos administrativos
ultrapassam a margem suportável, serve
como alerta para dimensionar os rumos
que uma sociedade totalitarista é capaz de
tomar. Em Animal Farm (1945), publicado
no Brasil com o título de A Revolução dos
Bichos, o escritor satiriza o comunismo da
União Soviética. A narrativa fala de utopia
e idealismo, de corrupção e poder. Os
bichos de uma fazenda se revoltam contra
os humanos e resolvem criar uma sociedade
melhor, mas o poder corrompe um dos
animais e ele implanta uma ditadura tão
horrível e corrompida quanto à dos seres
humanos. O livro critica Stalin, que, de
acordo com a visão socialista democrática
do escritor, teria traído os objetivos e
princípios da Revolução Russa de 1917.

58
±4XDOTXHUFRLVDTXHDQGHVREUH
duas pernas é inimiga.
±4XDOTXHUFRLVDTXHDQGHVREUH
quatro pernas, ou tenha asas, é
amigo.
±1HQKXPDQLPDOXVDUiURXSDV
±1HQKXPDQLPDOGRUPLUiHP
cama.
±1HQKXPDQLPDOEHEHUiiOFRRO
±1HQKXPDQLPDOPDWDUiRXWUR
animal.
±7RGRVRVDQLPDLVVmRLJXDLV 2V
sete mandamentos da revolução
dos bichos)
Eric Arthur Blair ou George
Orwell morreu em 21 de janeiro
de 1950, em Londres, aos 46 anos
de idade. A causa de sua morte foi
tuberculose, e em sua sepultura
KiDSHQDVRVLPSOHVHSLWi¿R³
Here lies Eric Arthur Blair. Born
June 25, 1903, died January 21,
1950...”, nenhuma menção feita
Entre em nosso Canal no Telegram:
ao seu pseudônimo. Sua obra
t.me/BRASILREVISTAS
atravessou a barreira do tempo
e ainda se mantém atual. Em
uma sociedade globalizada, como
a que se apresenta a alegoria do Grande
Irmão utilizada no livro 1984 (Big Brother),
se converte em reality show, devassando
SULYDFLGDGHVDOLPHQWDQGRDPELo}HVH
sobretudo controlando mentes por meio
GHUHSHWLo}HVDOLHQDQWHVHIUtYRODV2UZHOO
vislumbrou um futuro muito além do alcance
de seus olhos e estava realmente à frente de
seu tempo.

59
MENTES BRILHANTES

“... Não há arte patriótica nem ciência


patriótica. As duas, tal como tudo o que é
bom e elevado, pertencem ao mundo inteiro
e não podem progredir a não ser pela livre
ação recíproca de todos os contemporâneos
e tendo sempre em contra aquilo que nos
resta e aquilo que conhecemos do passado...”
(Goethe)

Goethe

J
ohann Wolfgang Von Goethe nasceu em 28 de agosto de 1749
em Frankfurt. Para atender à vontade do pai, Goethe ingressou
na Faculdade de Direito de Leipzig no ano de 1675, demonstrou
pouco interesse pelo curso e se dedicava mais às aulas de desenho,
de xilogravuras e gravuras em metal. Em 1806, o escritor publica
a primeira parte de Fausto, um poema trágico dividido em duas partes que
discute a problemática humana do ponto de vista metafísico. A segunda parte
de Fausto foi publicada postumamente em 1832. O livro tornou-se um clássico
da literatura alemã. Sendo considerado um espelho da alma humana, Fausto
caracteriza uma gama enorme de simbologias que não se esgotam, apenas
se transmutam. A força criativa da personagem é tamanha, que influenciou
Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS
Puchkin, Paul Valéry, Thomas Mann, Wagner, Berlioz, Schumann, Liszt e
vários outros.
O livro Os Sofrimentos do Jovem Werther (1774) é considerado ponto
de início do Romantismo e obra-prima da literatura mundial. A narrativa
em primeira pessoa é notadamente autobiográfica, o que suscitou na época
grande identificação dos jovens com a obra, uma onda de suicídios juvenis é
atribuída ao efeito causado pela leitura. A personagem Werther sofre com a
impossibilidade de seu amor correspondido, mas impossível de se consumar
SRUTXHVW}HVpWLFDV$SDL[mRYLYLGDSHORMRYHP:HUWKHUpWmRSURIXQGDTXHHOH
apenas se reconhece e se justifica na figura da amada. A não presença daquela
que ele ama esvazia sua existência de significados e o suicídio é uma tentativa
desesperada de se incorporar ao mundo no qual sua paixão vive.
“... Se eu me acosto jamais em fofa cama,/contente e em paz, que nesse instante eu
PRUUD6HXPDVyYH]FRPIDOVDVORXYDPLQKDVFKHJDUHVSRUWDODUWHDDOXFLQDU
PHTXH HX PH DJUDGH D PLP SUySULR VH YDOHUHVD FDWLYDUPH FRP GHOHLWHV
IUtYRORVV~ELWRDOX]GDYLGDVHPHDSDJXH9i4XHUHVDSRVWDU"´ Fausto)
Goethe publicou em 1810 o livro Teoria das Cores, narrativa de cunho
científico que descreve o fenômeno das cores e que influenciou artistas como
Wassily Kandinsky, que o considerava um dos melhores estudos sobre o tema.
Além de Kandinsky, o pintor inglês Joseph William Turner, um dos precursores
do Impressionismo, o estudou profundamente.
Johann Wolfgang Von Goethe morreu em 22 de março de 1832.
“... Devemos ouvir pelo menos uma pequena canção todos os dias, ler um bom
poema, ver uma pintura de qualidade e, se possível, dizer algumas palavras
sensatas...” (Goethe)

60
DA LITERATURA MUNDIAL

“... Quando temos vinte anos, estamos


convencidos de que resolvemos o enigma do
mundo. Aos trinta, começamos a refletir a
cerca dele. Aos quarenta, descobrimos que ele
não tem solução...” (Balzac)

Balzac

H
onoré de Balzac nasceu em 20 de maio de 1799. Escritor de
romances, novelas e contos, é considerado uma das mais notáveis
figuras da literatura francesa. Retratou em sua obra a sociedade
francesa após a queda de Napoleão Bonaparte. Sua narrativa
crítica apontava a hipocrisia, a ambição desmedida e a usura,
elementos negativos que proliferavam na sociedade da época. A primeira
experiência literária de Balzac foi um libreto para uma opereta cujo título era
Le Corsaire. Esse trabalho foi desenvolvido tendo como base o The Corsair, de
Lord Byron. Por não encontrar um compositor que musicasse sua peça, Balzac
desistiu do projeto.
EntreOsemhábitos de Balzac eram curiosos. Ele costumava jantar cedo e dormir até
nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS
o meio da noite, depois acordava e trabalhava por toda a madrugada, em algumas
RFDVL}HVHVFUHYLDSRUKRUDV&RVWXPDYDUHYLVDUVHXVHVFULWRVGHIRUPDREVHVVLYD
e na maioria das vezes o produto publicado já havia se afastado totalmente da ideia
RULJLQDOGDGRRFXLGDGRFRPDVUHYLV}HVRTXHQDYHUGDGHDFDEDYDGLVSHQGLRVR
para ele e seu editor.
O traço realista na obra de Balzac se encontra na forma como são descritos
os objetos e ambientes que servem de pano de fundo para suas personagens,
cada descrição é carregada por riqueza de detalhes. O caráter humano de suas
personagens aproxima o leitor da visão realista empreendida pelo autor. É
possível perceber o embate social e o embate psicológico que é travado ao longo
da narrativa.
A Mulher de Trinta Anos (1829-1842) foi escrito em seis partes e trata das
mudanças enfrentadas pelas mulheres ao superarem cada ciclo etário. Por ter se
tornado o trabalho mais popular do escritor é que se atribui
a esse romance o surgimento da adjetivação “balzaquiana”,
XWLOL]DGDSDUDFODVVL¿FDUPXOKHUHVQDFDVDGRVDQRV
Ilusões Perdidas (1837-1843) é o livro considerado por
Balzac como a parte principal de sua La Comédie Humaine.
Segundo Marcel Proust, é o melhor livro que Balzac escreveu.
Em Ilusões Perdidas, o escritor compara província e metrópole.
Honoré de Balzac morreu em Paris no dia 18 de
agosto de 1850.
“... Os deveres da sociedade tomarão todo o seu tempo, e o
tempo é o único capital das pessoas que só têm a inteligência
como fortuna...” (H. B.)

61
MENTES BRILHANTES

“... Nada lhe posso dar que já não exista


em você mesmo. Não posso abrir-lhe outro
mundo de imagens além daquele que há em
sua própria alma. Nada lhe posso dar a não
ser a oportunidade, o impulso, a chave. Eu o
ajudarei a tornar visível o seu próprio mundo,
e isso é tudo...” (Hermann Hesse)

Hermann
Hesse

H
ermann Hesse nasceu em 02 de julho de 1877. Filho de missionários
protestantes que haviam pregado o cristianismo na Índia, não quis
seguir a carreira de pastor. A espiritualidade sempre foi muito presente
QDYLGDGRHVFULWRU+HVVHFULRXVHXHVWLOR¿ORVy¿FRHIRLLQÀXHQFLDGR
pela Psicologia Analítica. Durante sua vida, escreveu vários livros e foi
contemplado com o prêmio Goethe e com o Nobel de Literatura.
O livro Demian  GHPRQVWUDDLPSRUWkQFLDHDLQÀXrQFLDGR¿OyVRIR
Nietzsche na obra de Hermann Hesse. Com essa publicação, ele ganhou o Prêmio
Nobel de Literatura em 1946. Na elaboração de Demian, o escritor utilizou todo o
VHXFRQKHFLPHQWRVREUHSVLFDQiOLVHSDUDHODERUDURODELULQWRHPRFLRQDORVFRQÀLWRV
éticos e a tomada de consciência sobre a fragilidade da moral pela personagem. O
Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS
romance apresenta em sua narrativa todo o processo de crescimento de uma pessoa
ao longo de sua existência, as fases e as crises existenciais.
Em 1922, Hesse publica SidartaLQVSLUDGRQD¿JXUDGHSiddhartha Gautama,
o Buda. O livro descreve a jornada de um homem em busca da plenitude espiritual
e de alcançar os estágios mais elevados de equilíbrio, o que é possível comprovar
OHQGR R WUHFKR D VHJXLU ³ DQGHL GHYHUDV VXUGR H LQVHQVtYHO´ 4XHP VH SXVHU D
GHFLIUDUXPPDQXVFULWRFXMRVLJQL¿FDGROKHLQWHUHVVDUWDPSRXFRPHQRVSUH]DUiRV
VLQDLVHDVOHWUDVTXDOL¿FDQGRRVGHLOXVmRVHQmRRVOHUiHVWXGiORViDPiORVi
letra por letra. Eu, porém, que almejava ler o livro do mundo e o livro da minha
SUySULD H[LVWrQFLD GHVSUH]HL RV VLQDLV H DV OHWUDV HP SURO GH XP VLJQL¿FDGR TXH
lhes atribuía de antemão. Chamei de ilusão o mundo dos fenômenos. Considerei
meus olhos e minha língua apenas aparentes casuais, desprovidas de valor. Ora, isso
passou. Despertei. Despertei de fato. Nasci somente hoje...”
O Lobo da Estepe (1927) é considerado a obra máxima de Hermann Hesse
e também um dos mais representativos romances do século XX. O livro narra as
peripécias de um outsider e seu despertar para a consciência do “eu” e do papel que
todos representam em uma sociedade.
“... Era uma vez certo Harry, chamado o Lobo da Estepe. Andava sobre duas pernas,
usava roupas e era um homem, mas não obstante era também um lobo das estepes.
Havia aprendido uma boa parte de tudo quanto as pessoas de bom entendimento
podem aprender e era bastante ponderado. O que não havia aprendido, entretanto,
era o seguinte: estar contente consigo e com sua própria vida. Era incapaz disso, daí
ser um homem descontente. Isso provinha, decerto, do fato de que, no fundo de seu
coração, sabia sempre (ou julgava saber) que não era realmente um homem, e sim
um lobo das estepes...” (H. H.).

62
DA LITERATURA MUNDIAL

“... As palavras proferidas pelo coração não têm


língua que as articule, retém-nas um nó na
garganta e só nos olhos é que se podem ler...”
(Saramago)

J é
José
Saramago

J
osé de Sousa Saramago nasceu em Azinhaga no dia 16 de novembro
de 1922. Seus pais e avós eram agricultores. Saramago demonstrou
desde cedo interesse pelo estudo da cultura, mas a dificuldade
financeira da família impossibilitou que ele cursasse a universidade.
Seu primeiro livro, Terra do Pecado, foi publicado em 1947, quando
Saramago contava 25 anos de idade.
O livro Memorial do Convento (1982) pode ser considerado como
narrativa verossimilhante pelos elementos fictícios e reais que se misturam.
O relato se passa no início do século XVIII. O escritor utiliza o contexto
histórico, os acontecimentos políticos e religiosos e cria personagens fictícios
que interagem
Entre dentro
em nosso de umno
Canal ambiente real. t.me/BRASILREVISTAS
Telegram:
“... Dormiu cada qual como pôde, com seus próprios e secretos sonhos,
que os sonhos são como as pessoas, acaso parecidos, mas nunca iguais, tão
pouco rigorosos, seria dizer Vi um homem, como Sonhei com água a correr,
não chega isto para sabermos que homem era nem que água corria, a água
que correu no sonho é água só do sonhador, não saberemos o que ela significa
ao correr se não soubermos que sonhador é esse, e assim vamos do sonhador
ao sonhado, do sonhado ao sonhador, perguntando, Um dia terão lástima
de nós as gentes do futuro por sabermos tão pouco e tão mal...” (Trecho de
Memorial do Convento.)
No livro A Caverna (2000), Saramago discute a modernidade e as
mudanças econômicas, o impacto que a industrialização provoca no pequeno
artesão, compara o shopping center com a caverna, aborda a frágil sensação de
segurança dos ambientes modernos de lazer. No trecho que
VHJXH p SRVVtYHO FRQVWDWDU D UHÀH[mR SURIXQGD GR TXH VH
tornou o homem diante da sociedade que ele mesmo criou.
“... A partir desse dia, Cipriano Algor só
interrompeu o trabalho na olaria para comer e dormir. A
sua pouca experiência das técnicas fê-lo desentender-se
GDVSURSRUo}HVGHJHVVRHiJXDQDIDEULFDomRGRVWHFLGRV
piorar tudo quando se equivocou nas quantidades de
barro, água e desfloculante necessárias a uma mistura
equilibrada da barbotina de enchimento, verter com
excessiva rapidez a calda obtida, criando bolhas de ar no
interior do molde...” (Trecho de A Caverna.)

63
MENTES BRILHANTES

“... Ninguém presta à sua geração maior


serviço do que aquele que, seja pela sua arte,
seja pela sua existência, lhe proporciona a
dádiva de uma certeza...” (J. J.)

James
Joyce

J
ames Augustine Aloysius Joyce nasceu em Dublin em 02 de feverei-
ro de 1882. É considerado um dos maiores escritores de sua época.
Mesmo o escritor tendo vivido ausente de sua terra, a Irlanda, os ele-
mentos culturais irlandeses estão presentes em sua obra. Como repre-
sentante do Modernismo
inglês, a narrativa de Joyce tran-
sita entre o cosmopolita e o indi-
vidual. Além da obra em prosa,
Joyce escreveu textos poéticos,
elogiados
Entre empor Ezra
nosso Pound,
Canal que noosTelegram: t.me/BRASILREVISTAS
considerava “inovação de ritmo”.
Seus poemas apresentavam forte
influência simbolista e neles já
apareciam experiências linguísti-
cas, tais como arcaísmos e neolo-
gismos, traço estilístico de Joyce.
O livro Ulisses (1922) é
uma adaptação da Odisseia, de
Homero, transposta para a metró-
pole. No romance, a personagem
do agente de publicidade Leopold
Bloom vive uma odisseia em 24 ho-
ras. O livro é visto como um desa-
¿RSHORVWUDGXWRUHVSRLVRHVFULWRU
utiliza trocadilhos, neologismos,
MRJRV GH SDODYUDV FLWDo}HV H UHIH-
rência histórica, portanto traduzir
Ulisses é empreender um profun-
do estudo linguístico. Os poemas
de Joyce Pomes Penyeach (1927)
falam das experiências do escritor
e sobre a doença nos olhos que lhe
diminuiu a visão.
“... Stephen, com o cotovelo
repousando no granito pontudo,

64
encostou a palma abaixo da
sobrancelha e olhou para a
extremidade da manga de
seu casaco preto lustroso
que começava a puir. Uma
dor, que ainda não era a dor
do amor, agitou seu coração.
Silenciosamente, em sonho,
ela viera até ele após a sua
morte, seu corpo gasto
dentro de largas roupas
tumulares marrons, exalando
XP RGRU GH FHUD H SDXURVD
seu sopro, que se curvara
sobre ele, mudo, reprovador,
um fraco odor de cinzas
molhadas. Através do punho
puído, ele viu o mar saudado
como uma grande e doce mãe
pela voz bem alimentada ao
seu lado. A orla da baía e o
horizonte continham uma
massa líquida verde opaca. Uma tigela de porcelana ficara ao lado do leito de
morte dela contendo a bile que parecia uma lesma verde arrancada de seu
fígado
Entreapodrecido
em nossoem seus no
Canal ataques de vômito
Telegram: e de altos gemidos...” (Trecho
t.me/BRASILREVISTAS
de Ulisses.)
A obra do escritor James Joyce foi utilizada como objeto de pesqui-
sa por vários autores e influenciou além do campo literário. A frase “Three
4XDUNV IRU 0XVWHU 0DUN´ GR OLYUR
Finnegans Wake, foi de onde se ori-
ginou a denominação “quark” na
física, que serve para designar par-
tículas elementares. É comum em
Dublin a celebração do Bloomsday,
homenagem a James Joyce e cujo
nome deriva do protagonista de
Ulisses, Leopold Bloom, a comemo-
ração acontece no dia 16 de junho.
O objetivo é reaproximar a obra de
Joyce da população.
Joyce morreu em Zurique, Suíça, no
dia 13 de janeiro de 1941.
“... Não te cansaste do ardor trilha-
GR)XOJRU GR GHFDtGR VHUDILP"
1mROHPEUHRVGLDVHQFDQWDGRV7HX
olhar tem o meu coração queimado/E
tens até tua vontade enfim/ Não te
FDQVDVWH GR DUGRU WULOKDGR"´ (Po-
ema parte do romance A Portrait of
the Artist as a Young Man.)

65
MENTES BRILHANTES

“Acho incrível”, diz Bingley, “como todas as jovens têm


tanta paciência para cultivar todos esses talentos”. (…)
“Todas pintam, forram biombos e fazem bolsas. Não
conheci uma que não saiba fazer tudo isso, e estou seguro
de que jamais me falaram de uma jovem pela primeira
vez sem referir-se a quão talentosa ela era.” (…) “Uma
mulher deve ter um amplo conhecimento de música,
canto, desenho, dança e línguas modernas para merecer
essa palavra (talentosa); e, aparte de tudo isso, deve haver
algo em seu ar e em sua maneira de andar, no tom de
sua voz, em sua forma de relacionar-se com as pessoas
Jane e em sua expressão que, se não for assim, não merecerá
completamente a palavra.” (Jane Austen, Pride and
Austen Prejudice.)

J
ane Austen nasceu em Steventon no dia 16 de dezembro de 1775. A
narrativa de Jane é marcada pelo traço irônico que ela imprime às suas
personagens. Sua obra é objeto de estudo e de trabalhos acadêmicos,
sendo considerada de enorme relevância para a literatura. Por
pertencer a uma família burguesa, proprietária de terras e de hábitos
campesinos, a escritora aborda em seus romances esse contexto. Embora seus
livros pareçam inocentes, é possível perceber crítica social e contestação de
costumes, principalmente no que diz respeito às mulheres. Embora de educação
totalmente conservadora, a autora deixa transparecer em sua narrativa que o
VHUIHPLQLQRQHPVHPSUHVHFXUYDjVFRQYHQo}HVHDRTXHDVRFLHGDGHHVSHUD
dasEntre
mulheres,
em que a mulher
nosso Canalutiliza quase sempre
no Telegram: seu instinto e sua proximidade
t.me/BRASILREVISTAS
com a natureza para nortear sua
conduta como indivíduo.
Como a educação da época de
Jane Austen era baseada no tratado
de Rousseau, Emilio, voltado para
o universo masculino, é admirável
pensar que Jane tenha conseguido
se instruir e alcançar respeito e
reconhecimento intelectual. Aos
16 anos, a escritora começou a
escrever utilizando cadernos nos
quais anotava suas ideias. O livro
Northanger Abbey (1817) é uma
paródia dos romances góticos e
deixa perceber os traços estilísticos
da escritora, a ironia, o discurso
indireto livre e sobretudo o aspecto
satírico com relação a romances
mais sérios e afetados da época.
Isso também pode ser interpretado
como elementos de modernidade e
evolução da literatura inglesa.
O romance Pride and Prejudice
(1813) discute os direitos, anseios
e deveres das mulheres da época.

66
A escritora enfatiza a
inteligência e os atribu-
tos intelectuais em de-
trimento dos atributos
físicos, que era o que
se esperava das moças
inseridas naquele con-
texto. Como ilustração
de um período histórico
e panorama dos valo-
res, Pride and Prejudi-
ce continua sendo fonte
SDUD H[SODQDo}HV VREUH
a evolução social das fa-
mílias e do ser feminino.
³ ± 0HX FDUR 6U %HQ-
QHW ± UHVSRQGHX D PX-
OKHU ± FRPR SRGH
VHU WmR LUULWDQWH 'HYH VD-
ber que estou pensando
em casá-lo com uma delas.
± e HVWD D LQWHQomR GHOH
DR VH LQVWDODU DTXL"
± ,QWHQomR %REDJHP &RPR
SRGH
Entre GL]HU
emXPD
nossoFRLVD GHVVDV"
Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS
Mas é muito provável que
ele possa se apaixonar por uma
delas, portanto o senhor deve
ir visitá-lo assim que chegar.
± 1mR YHMR QHFHVVLGDGH $ VH-
nhora e as meninas podem ir,
ou pode mandá-las sozinhas, o
que talvez seja ainda melhor,
já que, sendo tão bonita quan-
to elas, o Sr. Bingley pode-
ria achá-la a melhor de todas.
± (VWi PH OLVRQMHDQGR PHX
caro. Sem dúvida eu tive mi-
nha cota de beleza, mas não
WHQKR SUHWHQV}HV GH VHU H[-
FHSFLRQDOKRMHHPGLD4XDQGR
uma mulher tem cinco filhas
adultas, deveria desistir de
pensar em sua própria beleza.
± (P WDLV FDVRV D PX-
lher nem sempre tem mui-
ta beleza na qual pensar.
±0DVPHXFDURRVHQKRUUH-
almente precisa visitar o Sr. Bingley quando ele vier a ser nosso vizinho...”
(Trecho de Pride and Prejudice.)

67
MENTES BRILHANTES

“... Os projetos melhor elaborados, sejam


de ratos ou sejam de homens, fracassam
muitas vezes e nos fornecem apenas tristeza
e sofrimento em vez do prêmio prometido...”
(Sobre o livro Of Mice and Men, por Robert
Burns.)

J h
John
Steinbeck

J
ohn Ernst Steinbeck, Jr. nasceu em Salinas
no dia 27 de fevereiro de 1902. Durante
sua adolescência, por influência dos pais,
Steinbeck leu Flaubert, Dostoiévski e Milton.
O início literário do escritor aconteceu com
A Taça de Ouro (1929), uma biografia romanceada
que já denunciava a marca estilística do autor, que
utiliza alegorias em sua narrativa.
Of Mice and Men (1937) é a história dos irmãos
George e Lennie, dois trabalhadores do campo que
perambulam em busca de emprego, lutando contra
Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS
os problemas trazidos pela Grande Depressão, que
aconteceu de 1929 a 1939 nos Estados Unidos. Of Mice
and Men foi adaptado para o teatro, cinema e televisão.
The Grapes of Wrath (1939) conta a
jornada de uma família de trabalhadores
rurais que são obrigados a deixar sua
terra para tentar a sorte nos campos de
colheita da Califórnia. Foi com esse livro
que John Steinbeck ganhou o Prêmio Nobel
de Literatura no ano de 1962, um relato
enternecedor que desperta no leitor lapsos
sinestésicos, como sentir o frio da poeira
entre os dedos ou o cheiro apetitoso de
carne sendo frita em um fogão improvisado
à beira da estrada. O sofrimento escorre pela
narrativa, pois a vida fica cada vez mais dura
e a sociedade se torna mais injusta na medida
em que o romance segue seu curso. As famílias
que congestionam as estradas querem apenas
o direito de trabalhar para sobreviver, e para
conquistar esse direito se afastam quilômetros
de sua terra natal, aceitam trabalho escravo,
perdem entes queridos e um pouco da
esperança pelo caminho, mas sobrevivem. A
magistral adaptação para o cinema do diretor

68
John Ford, lançada em 1940, inspirou o cantor
de folk music Woody Guthrie a escrever uma
canção de 17 versos ‘The Ballad of Tom Joad¶
sobre o protagonista de The Grapes of Wrath,
vivido na tela por Henry Fonda.
“... Porque o homem, ao contrário de qualquer
coisa orgânica ou inorgânica do universo, cresce
para além de seu trabalho, galga os degraus
de suas próprias ideias, emerge acima de suas
SUySULDVUHDOL]Do}HV´(Trecho de The Grapes
of Wrath.) East of Eden (1952) é considerado
um clássico da literatura americana. Conta a
história dos Hamiltons e dos Trask, famílias
pioneiras do Vale do Salinas, na Califórnia.
Uma história de amor, traição e medo, amizade
e inocência. A narrativa se desenvolve em meio
DGLJUHVV}HV&RPDQRVWDOJLDGHXPERPiOEXP
de fotografias, Steinbeck deixa escapar traços
autobiográficos. Seu avô materno, Samuel Hamilton, é uma das personagens
do livro. East of Eden foi adaptado para o cinema pelas mãos talentosas
do diretor Elia Kazan. O icônico James Dean viveu o jovem Carl Trask,
o promissor Richard Davalos viveu o papel de Aaron Trask e o veterano
Raymond Massey interpretou Adam Trask. Romance de tirar o fôlego, East
of Eden merece figurar como obra-prima do escritor John Steinbeck. O filme
de Kazan
Entre empode perfeitamente
nosso Canal no ser considerado
Telegram: uma releitura da história de
t.me/BRASILREVISTAS
Caim e Abel.
Steinbeck morreu em 20 de dezembro de 1968 em Nova York,
vitimado por problemas cardíacos.
“... Escrever, para mim, é uma função profundamente pessoal, secreta
mesmo, e quando o produto é liberado, ele
separa-se de mim e não tenho mais sensação
de que é meu. É como uma mulher tentando
recordar como é o parto. Ela não consegue...”
(J. S.)

69
MENTES BRILHANTES

“... Não criei personagens. Tudo o que escrevo


é autobiográfico. Porém, não expresso minhas
emoções diretamente, mas por meio de fábulas
e símbolos. Nunca fiz confissões. Mas cada
página que escrevi teve origem em minha
emoção...” (Trecho da entrevista concedida em julho de
1985 ao jornalista Roberto D’Ávila.)

Jorge Luis
Borges

J
orge Francisco Isidoro Luis Borges Acevedo nasceu em Buenos Aires
em 24 de agosto de 1899. Escritor argentino de renome, Borges teve
sua obra reconhecida em todo o mundo. O trabalho de Jorge Luis
%RUJHVDSUHVHQWDXPDWHPiWLFDYROWDGDSDUDDUHOLJLmRUHSUHVHQWDo}HV
oníricas, acontecimentos fantásticos e o caos que reina no mundo. Os
livros Ficciones (1944) e O Aleph (1949) são considerados mais populares.
³'HVYDULRODERULRVRHHPSREUHFHGRURGHFRPSRUYDVWRVOLYURVRGHH[SODQDU
em quinhentas páginas uma ideia cuja exposição oral cabe em poucos minutos...”
(Trecho de Ficciones.)
Ficciones é uma coletânea de contos que é vista pela crítica como
obra-prima. Nesse livro, o escritor se desgarra da realidade e caminha entre
Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS
labirintos do imaginário. Borges apresenta elementos filosóficos nessa
narrativa, discute os paradoxos temporais e os limites da percepção humana.
É desnecessário dizer que tudo isso de um âmbito poético e visceral. O trecho
que segue faz parte do conto A Biblioteca de Babel. “... O universo (que outros
chamam a Biblioteca) constitui-se de um número indefinido, e quiçá infinito,
de galerias hexagonais, com vastos postos de ventilação no centro, cercados
por varandas baixíssimas...”
As histórias curtas do livro O Aleph apresentam como temática a
imortalidade, a identidade, o tempo e a condição humana. A simbologia em
Borges arrasta o leitor a criar suas próprias conjecturas, é o fio que conduz
ao fim do labirinto e que possibilita voltar à realidade sem perder a noção do
que é real e do que é imaginação. Abstração e dramaticidade são os elementos
utilizados com maestria por Jorge Luis Borges nessa obra. O autor define sua
obra nas palavras a seguir “... O que a eternidade é para o tempo, O Aleph é
para o espaço...”.
Jorge Luis Borges morreu em 14 de junho de 1986 em Genebra.

Sou
³6RXRTXHVDEHQmRVHUPHQRVYmR4XHRYmRREVHUYDGRUTXHIUHQWHDRPXGR
9LGUR GR HVSHOKR VHJXH R PDLV DJXGR5HÀH[R RX R FRUSR GR LUPmR6RX WiFLWRV
DPLJRV R TXH VDEH4XH D ~QLFD YLQJDQoD RX R SHUGmRe R HVTXHFLPHQWR 8P
deus quis dar então/Ao ódio humano essa curiosa chave./Sou o que, apesar de tão
ilustres modos/De errar, não decifrou o labirinto/Singular e plural, árduo e distinto,
Do tempo, que é de um só e é de todos./Sou o que é ninguém, o que não foi a espada/
Na guerra. Um esquecimento, um eco, um nada...” (Poema de Jorge Luis Borges.)

70
DA LITERATURA MUNDIAL

“... Tudo que um homem pode imaginar


outros homens poderão realizar.” (Júlio Verne)

Júlio
Verne

J
úlio Verne nasceu em Nantes em 08 de fevereiro de 1828. A carreira
literária de Verne foi impulsionada pelo editor Pierre-Jules Hetzel, que
publicou sua primeira novela em 1862 cujo título era Cinco Semanas
em um Balão. Nessa obra, Júlio relata uma espetacular viagem que se
passa por volta do século XIX e que tem como objetivo a travessia do
continente africano de Zanzibar ao Senegal. O veículo utilizado na viagem era
um balão de hidrogênio. Embora os leitores imaginassem que a viagem tivesse
acontecido de fato, Júlio Verne nunca esteve em um balão. O relato foi produto
de pesquisa e de sua prodigiosa imaginação. Em sua narrativa, o escritor inseriu
LPSUHVV}HVJHRJUi¿FDVWLSRVGHYHJHWDomRLQIRUPDo}HVVREUHDFXOWXUDWLSRVGH
DQLPDLVRTXHFDXVDYDG~YLGDVTXDQWRDVHDYLDJHPHUDUHDORX¿FWtFLDCinco
Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS
Semanas em um BalãoUHQGHXIDPDHHVWDELOLGDGH¿QDQFHLUDDRHVFULWRU
O editor de Verne, Pierre-Jules Hetzel, publicava um livro do escritor
quase anualmente, e em 1864 publicou Viagem ao Centro da Terra, que é
considerado um clássico da literatura de ficção científica. No ano de 1950, o
livro foi adaptado para o cinema e o papel de protagonista foi dado ao ator
britânico James Mason. No ano de 2008, os atores Brendan Fraser, Josh
Hutcherson, Anita Briem e Seth Meyers foram escolhidos para atuar em outra
versão. O livro Vinte Mil Léguas Submarinas foi publicado em 1870 e obteve
o mesmo sucesso que os anteriores. Seu protagonista, Capitão Nemo, e o
submarino Nautilus, deixaram sua marca indelével na história. O submarino
Nautilus figurava como uma obra-prima da engenharia. Nemo se esconde nas
profundezas do mar e corta vínculos com a terra. Toda sua tripulação sobrevive
GDTXLORTXHRPDUIRUQHFHDOpPGHDOLPHQWRUHWLUDPGRRFHDQRDHOHWULFLGDGH
que precisam.
Entre todos os sucessos de Júlio Verne, Volta ao Mundo em Oitenta
Dias   p R PDLV FRQKHFLGR 7HYH YiULDV DGDSWDo}HV SDUD R FLQHPD $
narrativa é sobre uma aposta feita pelo protagonista, que se compromete a
viajar ao redor do mundo em 80 dias. A jornada de aventuras que se segue
estimula a imaginação de leitores de todas as idades.
Júlio Verne morreu em 24 de março de 1905 e foi sepultado no cemitério de
La Madeleine, na França. O último livro publicado do escritor foi O Senhor do
Mundo (1904).
³2VREVWiFXORVH[LVWHPSDUDVHUHPYHQFLGRVTXDQWRDRVSHULJRVTXHPSRGH
VHRUJXOKDUGHIXJLUGHOHV"7XGRpSHULJRQDYLGD'HXVWHUQRVLDSRVWRiJXDQDV
veias, em vez de sangue, se nos quisesse sempre imperturbáveis...” (Júlio Verne)

71
MENTES BRILHANTES

“... O amor comeu meus cartões de visita. O amor


veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera
meu nome. O amor comeu minhas roupas, meus
lenços, minhas camisas. O amor comeu metros
e metros de gravatas. O amor comeu a medida
de meus ternos, o número de meus sapatos,
o tamanho de meus chapéus. O amor comeu
minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e
de meus cabelos. O amor comeu meus remédios,
minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu
João Cabral de minhas aspirinas, minhas ondas curtas, meus
raios-X. Comeu meus testes mentais, meus
Melo Neto exames de urina...” (Os Três Mal-Amados)

J
oão Cabral de Melo Neto nasceu em Recife no dia 09 de janeiro de 1920.
Foi um poeta brasileiro cuja obra é surrealista e popular ao mesmo tempo.
O racionalismo poético de João Cabral tem mais a ver com a rigidez
estética do que com a falta de emoção. Segundo a crítica, seus poemas
são “cerebrais”, nada voltados para sentimentalismos piegas, porém o
primeiro livro do escritor, Pedra do Sono (1942), transitava nos limiares oníricos
e pode ser considerado detentor de fortes traços surrealistas. Mais tarde, João
Cabral criticou o aspecto imagético de Pedra do Sono.
“... O mar soprava sinos/
RVVLQRVVHFDYDPDVÀRUHV
DVÀRUHVHUDPFDEHoDVGHVDQWRV
Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS
Minha memória cheia de palavras/
meus pensamentos procurando fantasmas/
meus pesadelos atrasados de muitas noites...” (J. C. Pedra do Sono.)
A obra mais conhecida de João Cabral, Morte e Vida Severina é um poema
dramático fala sobre a temática da seca, a vida do retirante nordestino, a luta pela
sobrevivência. O protagonista foge da miséria e vai buscar emprego no litoral, mas
sofre com a indiferença das pessoas e com o processo de adaptação que ocorre.
-RmR&DEUDODERUGDDGL¿FXOGDGHGRUHWLUDQWHSDUDVHDGDSWDUHPRXWUDVWHUUDVH
aprender novos costumes. Esse aculturamento distancia o nordestino de sua terra
QmRVy¿VLFDPHQWHPDVWDPEpPVHQWLPHQWDOPHQWH
No trecho de Morte e Vida Severina que segue,
o protagonista se apresenta ao leitor “... O meu nome
é Severino,/não tenho outro de pia./Como há muitos
Severinos,/que é santo de romaria,/deram então
GH PH FKDPDU6HYHULQR GH 0DULDFRPR Ki PXLWRV
6HYHULQRVFRP PmHV FKDPDGDV 0DULDV¿TXHL VHQGR
RGD0DULDGR¿QDGR=DFDULDV´ 7UHFKRGHMorte e
Vida Severina.)
João Cabral de Melo Neto morreu em 09 de
outubro de 1999 no Rio de Janeiro.
³ 4XHP PDLV LQÀXrQFLD H[HUFHX VREUH PLP
teoricamente, foi o arquiteto Le Corbusier. Por muitos
DQRV HOH VLJQL¿FRX SDUD PLP OXFLGH] FODULGDGH
construtivismo. Em resumo: o predomínio da
inteligência sobre o instinto...” (J.C.)

72
DA LITERATURA MUNDIAL

“... A guerra deve acontecer, enquanto


estivermos defendendo nossas vidas contra um
destruidor que poderia devorar tudo; mas não
amo a espada brilhante por sua agudeza, nem
a flecha por sua rapidez, nem o guerreiro por
sua glória. Só amo aquilo que eles defendem..
(Tolkien)

J R
J. R. R
R.
Tolkien

J
ohn Ronald Reuel Tolkien nasceu em Bloemfontein, Estado Livre de
Orange, no dia 03 de janeiro de 1892. Tolkien era doutor em Letras e
Filologia. Escreveu livros que caíram nas graças dos adolescentes pelo
mundo todo e teve suas obras adaptadas para o cinema. Seu livro O
Hobbit   IRL FRQVLGHUDGR SHOD FUtWLFD FRPR PHOKRU REUD GH ¿FomR
infantojuvenil. O romance atravessou a barreira do tempo e se manteve como
clássico infantil até os dias de hoje. A temática de Tolkien é a conquista do
conhecimento e o crescimento pessoal por meio da superação de obstáculos.
O Senhor dos Anéis é na verdade uma trilogia desenvolvida de 1937 a 1949.
O livro é dividido em The Fellowship of the Ring, The Two Towers e The Return of
the King. Tolkien obteve tanto sucesso, que sua obra foi traduzida para mais de 40
Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS
LGLRPDVHYHQGHXPDLVGHPLOK}HVGHFySLDV2HVFULWRUFULRXRHVSDoRQRTXDO
DPELHQWDVXDQDUUDWLYDSRXFDRXTXDVHQHQKXPDUHIHUrQFLDFRPGDGRVJHRJUi¿FRV
UHDLVSRGHPVHUHQFRQWUDGRV2VGRPtQLRVGDOLQJXtVWLFDHGD¿ORORJLDDX[LOLDUDPR
DXWRUHPVXDFULDomReSRVVtYHOSHUFHEHUQDREUDHOHPHQWRV¿OROyJLFRVPLWROyJLFRV
da industrialização e sobretudo elementos religiosos. A adaptação para o cinema
IRL IHLWD SHOR GLUHWRU 3HWHU -DFNVRQ R TXH IRL XP VXFHVVR SRLV R ¿OPH DFXPXORX
17 Oscars. O Senhor dos AnéisDSUHVHQWDLQÀXrQFLDVFRPRBeowulf (poema anglo-
VD[mR DSHUVRQDJHP*DQGDOIpGHFODUDGDPHQWHLQVSLUDGDQRGHXVQyUGLFR2GLQ2
OLYURpSRYRDGRSRU+XPDQRV$Q}HV(OIRV(QWV+REELWVH2UFV
Embora os romances de Tolkien sejam populares e de aventura, sua
narrativa encerra com ensinamentos de valores importantes tanto em família
quanto em sociedade. Esses ensinamentos apresentam discurso que enaltece a
amizade e o caráter incorruptível, a luta contra a maldade
e a escuridão. As personagens de Tolkien passam parte da
narrativa lutando contra sua própria fraqueza, precisam
subjugar a ambição, o desejo de poder para depois lutar
contra as forças malignas externas.
“... Mas agora ela cantava na língua antiga dos elfos de
além-mar, e ele não conseguia entender as palavras: bela
era a música, mas não podia consolá-lo. Apesar disso, como
DFRQWHFHFRPDVSDODYUDVpO¿FDVHVWDV¿FDUDPJUDYDGDVHP
sua memória, e muito tempo depois ele as interpretou o
PHOKRUTXHS{GHDOtQJXDHUDDGDVP~VLFDVpO¿FDVHIDODYD
GHFRLVDVSRXFRFRQKHFLGDVQD7HUUD±PpGLD´ 7UHFKRGR
livro Senhor dos Anéis.)

73
MENTES BRILHANTES

“... Neste momento de música, eles sentiram-se


donos da cidade. E amaram-se uns aos outros,
se sentiram irmãos porque eram todos eles
sem carinho e sem conforto e agora tinham
o carinho e conforto da música...” (Trecho de
Capitães de Areia.)

Jorge
Amado

J
orge Leal Amado de Faria nasceu em Itabuna em 10 de agosto de 1912. O
escritor é respeitado no Brasil e no estrangeiro. Teve sua obra adaptada
para o cinema, teatro, televisão. Jorge Amado tem como estilo o romance
¿FFLRQDO6XDQDUUDWLYDDPELHQWDVHQD%DKLDSRUWDQWRDSUHVHQWDWUDoRV
regionais. De 1941 a 1952, viveu exilado, transitando entre Argentina,
Uruguai, Paris e Praga. No livro Capitães de Areia (1937), Jorge Amado demonstra
FRQYLFo}HV SROtWLFDV H HQJDMDPHQWR 'HVFUHYH DV GL¿FXOGDGHV HQIUHQWDGDV SHODV
crianças abandonadas e a difícil forma de sobreviver nas ruas da cidade de
Salvador da década de 1930. Capitães de Areia é um romance pontuado por
momentos comoventes que ilustram uma realidade ainda presente na atualidade.
O livro é leitura recomendada nos
Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS
vestibulares. Em novembro de 1937,
vários exemplares de Capitães de
Areia foram queimados em praça
pública sob a alegação de ser leitura
não recomendada à sociedade.
Gabriela, Cravo e Canela (1958)
¿FRX LPRUWDOL]DGR HP WHOHQRYHOD
marcou a mudança de estilo do autor,
que passou do engajamento político
para a abordagem de crônica de
costumes da Bahia. Em sua narrativa
apareceram os poderosos coronéis e
as mulheres com uma sensualidade
natural, quase instintiva. Sua obra
VRIUH XPD PXGDQoD VLJQL¿FDWLYD QD
qual não se discute mais os valores
sociais, e sim as características do ciclo
do cacau. A obra também foi adaptada
para o cinema.
O livro Dona Flor e seus Dois
Maridos é o mais conhecido pelos
leitores do escritor Jorge Amado.
Ilustra a boêmia Salvador dos anos
1940, envolta por uma atmosfera
nostálgica. É possível considerar

74
que o escritor mistura elementos do
realismo fantástico na terceira parte do
livro, quando a personagem Vadinho
retorna da morte e visita a sua viúva em
RFDVL}HVHPEDUDoRVDV
O romance Tieta do Agreste (1977)
relata a volta de uma mulher que foi
escorraçada de sua cidade natal, descreve
o preconceito e o caráter fechado das
cidadezinhas do interior, especialmente
do Norte e Nordeste, que não aceitam
mudanças, muito menos a modernidade.
Aborda a religiosidade exagerada e
a autorrepressão que cada membro
GD SRSXODomR VH LPS}H 1R PHLR GH
mediocridades e fofocas de portão, narra
o romance ardente entre tia e sobrinho,
o que, aos olhos das pessoas, se trata de
um pecado imperdoável.
“... Perpétua tenta cerrar a porta do quarto,
recolher-se, borrar dos olhos o que vira.
Mas não chega a completar a manobra
de recuo. Tieta percebe o bruxuleio da
chama do candeeiro, adivinha a irmã à
espreita,
Entre ema raiva culmina:
nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS
±4XHID]DtHVFRQGLGDHVSLDQGRHVSLDQGR"
Descoberta, Perpétua mostra-se, avança
um passo:
±2TXHDFRQWHFHX"2TXHpTXHLVVRVLJQL¿FD"
$ YR] QmR UHÀHWH HVFkQGDOR H IXURU DSHQDV
espanto. Ainda há tempo para salvar a
moralidade, manter a decência...” (Trecho de
Tieta do Agreste.)

75
MENTES BRILHANTES

“...Triste Fim de Policarpo Quaresma é um romance


em terceira pessoa em que se nota maior esforço
de construção e acabamento formal. Lima Barreto
nele conseguiu criar uma personagem que não
fosse mera projeção de amarguras pessoais como
o amanuense Isaías Caminha, nem um tipo pré-
formado nos moldes de figuras secundárias que
pululam em todas as suas obras.” (Comentário do
crítico literário Alfredo Bosi)

Lima
Barreto

A
fonso Henriques de Lima Barreto nasceu no dia 1º de março de
1881. Rompeu com o nacionalismo ufanista da República Velha e
criticou um sistema que privilegiava aristocratas e militares. Em
sua obra, abordou a problemática social e foi duramente criticado
pelos parnasianos por seus traços estilísticos despojados. Barreto
tinha a esperança de que sua obra revolucionasse costumes e inovasse o
pensamento da época.
O livro O Triste Fim de Policarpo Quaresma (1915) surgiu como
folhetim e foi publicado primeiramente no Jornal do Commercio. A narrativa
irônica
Entrepossui esse efeito
em nosso devido
Canal à postura do t.me/BRASILREVISTAS
no Telegram: narrador que não se posiciona,
deixa que o leitor faça seu julgamento sobre as atitudes estapafúrdias da
personagem. O Triste Fim de Policarpo Quaresma foi adaptado para o
FLQHPDHPHUHFHEHXRWtWXORGH3ROLFDUSR4XDUHVPD+HUyLGR%UDVLO
O enredo escrito por Alcione Araújo respeitou o romance de Lima Barreto e
o diretor Paulo Thiago deu vida à personagem vivida pelo ator Paulo José.
As liberdades tomadas no enredo, como o romance de Policarpo e Ismênia
e também o fuzilamento da personagem no fim do filme, não prejudicam a
linha original do livro, apenas imprimem movimento ao filme. A epígrafe
do livro o traduz com propriedade: “... O grande inconveniente da vida real
e o que a torna insuportável ao homem superior é que se transferirem para
ela os princípios do ideal, as qualidades tornam-se defeitos, de modo que,
muito frequentemente, o homem completo tem bem menos sucesso na vida
do que aquele que se move pelo egoísmo ou pela rotina vulgar...”. (Epígrafe
retirada do livro Origens do Cristianismo.)
A publicação póstuma de Lima Barreto Clara dos Anjos (1948) trata
do cotidiano das famílias da época. Nele, o autor descreve o drama de uma
moça de família que foi enganada por um sujeito de caráter duvidoso. Clara
dos Anjos é uma moça negra que vive com sua família no subúrbio do Rio
de Janeiro. Marcelo Lelis e Wander Antunes adaptaram a obra para os
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(VVDDGDSWDomRJDQKRXR7URIpX+40L[HPQDFDWHJRULDGHDGDSWDomR
para quadrinhos.
Lima Barreto morreu em 1º de novembro de 1922.
“... Falta-lhes crítica, não só a mais comum, mas também a necessária do grau
de certeza da experiência e dos instrumentos em que as refazem...” (L. B.)

76
DA LITERATURA MUNDIAL

“– Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As


batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que
assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra
vertente, onde há batatas em abundância; mas se as duas
tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam
a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz,
nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das
tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria
e ousadia da vitória, os hinos, aclamações, recompensas
públicas e todos os demais efeitos das ações bélicas.” [Síntese
Machado de do Humanitismo feita por Quincas a Rubião...] (Trecho do
livro Quincas Borba.)
Assis

J
oaquim Maria Machado de Assis nasceu no dia 21 de junho de 1939.
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Foi testemunha da mudança do Império para a República. De família
pobre, não teve oportunidade de estudar regularmente e não cursou
a universidade, porém esses percalços em sua formação cultural não
impediram que se tornasse o mais representativo escritor brasileiro e o fundador
da Academia Brasileira de Letras.
O Realismo no Brasil surgiu com sua obra Memórias Póstumas de Brás
Cubas   TXH p FRQVLGHUDGR XP GLYLVRU GH iJXDV HP VXDV SURGXo}HV %UiV
Cubas rompe com a narração linear, com a escrita bem comportada, e apresenta
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com essa obra Machado de Assis antecipou as ideias modernistas, abordou as
FODVVHVVRFLDLVRSRVLWLYLVPRRFLHQWL¿FLVPRHFULRXXPDQRYD¿ORVR¿D
Quincas Borba (1892) traz as mesmas características de Memórias
Póstumas de Brás Cubas, mas sem o elemento
romântico. Ironiza as correntes positivistas,
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ser considerado como um estudo da
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do ser humano. Machado de Assis publicou
romances, peças teatrais, contos, poemas e
sonetos e crônicas. O escritor morreu em 29
de setembro de 1908 no Rio de Janeiro.
“... Garcia, em pé, mirava e estalava as
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janela, concluía um trabalho de agulha.
Havia já cinco minutos que nenhum deles
dizia nada. Tinham falado do dia, que
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morava o casal Fortunato, e de uma casa de
saúde, que adiante se explicará. Como os
três personagens aqui presentes estão agora
mortos e enterrados, tempo é de contar a
história sem rebuço...” (Trecho do conto A
Causa Secreta.)

77
MENTES BRILHANTES

“... A Verdade nua manda dizer que entre as raças de


variado matiz, formadoras da nacionalidade e metidas
entre o estrangeiro recente e o aborígine de tabuinha
em beiço, uma existe a vegetar de cócoras, incapaz de
evolução, impenetrável ao progresso. (...) Pobre Jeca Tatu!
Como é bonito no romance e feio na realidade! Jeca Tatu é
um Piraquara do Paraíba, (...) onde se resumem todas as
características da espécie. (...) A modinha, como as demais
manifestações de arte popular existente no país, é obra do
mulato, em cujas veias o sangue recente do europeu, rico
Monteiro de ativismos estéticos, borbulha d’envolta com o sangue
selvagem, alegre e são do negro. O caboclo é soturno.”
Lobato (Trecho do conto Urupês.)

J
osé Bento Renato Monteiro Lobato nasceu
em Taubaté no dia 18 de abril de 1882.
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pelas características educativas de sua
obra infantil. O livro que iniciou Lobato
no mundo literário foi A Menina do Narizinho
Arrebitado (1920), obra não reeditada que hoje é
considerada rara. O universo infantil de Monteiro
Lobato começa no maravilhoso Sítio do Picapau
Amarelo. Suas personagens se deslocam para
outros mundos criados pela imaginação do autor.
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Segundo o escritor, “... Tudo tem origem nos
sonhos. Primeiro sonhamos, depois fazemos...”,
por isso sua narrativa é povoada por criaturas
fantasiosas e aventuras educativas e divertidas.
O livro O Presidente Negro/O Choque das
Raças   IRL XP URPDQFH GH ¿FomR FLHQWt¿FD
escrito por Lobato que não obteve popularidade.
O objetivo dessa obra era ser um cartão de visitas
do autor para o mercado americano. Lobato, ao
desenvolver essa narrativa futurista, teve como
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escritor tentou discutir a problemática da supremacia
de determinadas etnias sobre outras, mas o livro não
teve uma boa aceitação pelo público leitor. Monteiro
Lobato era defensor de que o Brasil poderia produzir
seu próprio petróleo. Sua tentativa de popularizar essa
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verdadeira perseguição ao escritor. Lobato defendeu
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no dia 04 de julho de 1948.
“... Tudo é loucura ou sonho no começo. Nada do que
o homem fez no mundo teve início de outra maneira,
mas já tantos sonhos se realizaram, que não temos o
direito de duvidar de nenhum...” (M. L.)

78
DA LITERATURA MUNDIAL

“... Maldito, maldito criador! Por que eu vivo? Por que não
extingui, naquele instante, a centelha de vida que você
tão desumanamente me concedeu? (...) Nenhum pai vigiara
meus dias de criança, nenhuma mãe me dedicara seus
sorrisos e suas carícias; ou, se assim fora, toda a minha vida
era agora um borrão, um vazio em que eu nada distinguia.
(...) Que era eu?… (...) Eu era horroroso e gigantesco. Que
significava aquilo? Quem era eu? O que era eu? Donde vinha
eu? Qual era meu destino? Era constantemente assaltado
por essas perguntas, mas não conseguia respondê-las...”
M
Mary (Trecho de Frankenstein.)

Shelley

M
ary Wollstonecraft Shelley nasceu em Londres no dia 30 de
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conhecida por sua obra Frankenstein, ou O Moderno Prometeu
(1818). A obra nasceu de uma viagem com amigos para o Lago de
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grupo de amigos composto por Claire Clairmont, John Willian Polidori e Lord
Byron. Durante essa estadia, nas noites e dias chuvosos que se seguiram, surgiu
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DFHLWRXRGHVD¿RHQDVFHXFrankenstein.

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da ciência. Aborda traços existenciais ao discutir a solidão da criatura, que é o
primeiro a ser criado. É possível perceber a forte crítica feita pela escritora ao
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poetas. O mundo era, para mim, um segredo, que
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procurava povoar com seus próprios devaneios
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a mulher representa na sociedade da época e qual
a postura esperada de uma esposa e mãe pelo
marido, senhor absoluto de seu castelo. Shelley
critica a submissão das mulheres e a aceitação das
regras e dogmas sociais.
Mary Shelley morreu no dia 1º de
fevereiro de 1851. Sua obra Frankenstein ¿FRX
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“... O cálice da vida estava envenenado para sempre,
e o coração, feliz e alegre, nada via em torno de mim
senão uma treva densa e terrível, que nenhuma luz
penetrava...” (Trecho de Frankenstein.)

79
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A Literatura é a arte que melhor retrata a cultura de um povo.
Lendo os grandes escritores russos, por exemplo, é possível
saber como é o povo russo na sua essência, os sentimentos que
ele tem,
Entre em as características
nosso morais e psicológicas,
Canal no Telegram: tudo o que dele
t.me/BRASILREVISTAS
emana e que chamamos coletivamente de ‘cultura’.

A Literatura posta no seu suporte natural, os livros, também


se faz de matriz para outras artes – como filmes, peças de
teatro, além de servir de inspiração para a criação de pinturas,
gravuras, esculturas e, também, mais obras literárias, compondo
ciclos artísticos infinitos.

Mentes Brilhantes da Literatura Universal é um


apanhado de 50 escritores icônicos, de variadas épocas e rincões
do mundo, que contribuíram para a criação um patrimônio de
cultura representado pelos livros que legaram à humanidade.

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