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DE MIKHAIL FARHTIN, N& EDITORA HUCTTEC A Culinra Popular na idade Média ¢ no Renascimento @ Contexto de Prangois Rabelais Questies de Literatura ¢ de Estttica MIKHAIL BAKHTIN (VN. Volochinoy) Marxismo e Filosofia da Linguagem Problemas Fundamentais do Método Sociolégics na Ciéneia da Linguagem, prefécio de ROMAN JAKO3SON apresentagdode Maxnra Yacue.o tradugaode Mice: Lain & YARA FRATESCH VIEIRA com a calaboragao de Lecta Taxena Wiis 8 Cantos Hinreque D. Cuacas Cruz 124 edigée EDITORA HUCITEC Sao Paulo, 2006 Vannaan Cariruco 6 AINTERACAO VERBAL A segunda ortentacao do pensamento filosstica-lingtiistice liga. se, como vimos, ao Racionalismo e ao Neoclassicismo. A primeira orientagao — a do cubjerivismo individualista — esté ligada aa Ro- snantismo, O Romantismo foi, em grande medide, uma reasio contra a palavra estrangeira e 0 dominio que ela exerceu sobre as categoriag do pensamento. Mais particulammente, 0 Romantismo foi uma rea. so contra ltima reincidéncia do poder cultural da palavra estran- geira: as épocas do Renascimento e do Claseicisme. Os rominticos foram os prmeiros fildiogos da lingua matema, os primeizos 2 tentaz seorgenizac toxalmente a reflexdolinguistica sobre a base da atividade mental em lingua materna, considerada como meio de deseavalvi- mento ds conscitncia e do pensamento. E verdade, contudo, que 0+ Tomianticos permaneceram: fil6lagos no sentido estrito do termo. Es- tava aléra de suas forcas, com certeza, reestruturar uma maneira de pensar sobre 4 lingua que se fornara ¢ mantivere durante séculcs. Nao obstante, foram introduzidas nequela reflexio novas categorias, elas ¢ que deram a primeica ovientagao suas caracteristioas expect cas. £ simromatico que mesmo os representantes tecentes do sud- jetivismo individualista sejam especialistas em lingues modernas, Principalmente romanices {Vosslcr, Leo Spitzer, Lorck ¢ ouuvs}, Entretanto, 0 subjetivismo individualista apéic-ce também s brea enuaciacan monologica como ponto de partida da sua reflexio sobre a [ingua. £ verdade que sees representantes nao abordaram a enunciagdo morolégica do pontade vista do fildlogo de compreensao passiva, mas eim de dentro, do porto de vista da pessoa que fala, exprimiado-se, Como se apresenta a enunctigao monlégica do ponto de vista do subjetivismno individualistat Vimos que ela se apresenta como tam ato puramente individual, como uma expresso da conscitncia individual, de seus desejos, suas intengdes, seus impulsos criadores, 1a seus gostos, etc. A categoria da expresso € aquela categoria geral, de nivel superior, que englobao ato de fala, s enunciagzo. ‘Maso que éaiinal 3 expresso? Sua mais simples e mais grossai- 1a detinigdo & tudo aquilo que, tendo se formado e determinado de alguma manelra ne psiquisine do individao, exterioriza-se objetiva- mente para outrem com ajuda de algum cbdigo de signos exteriores. ‘Aexpressio comports, portantn, duas facetas: oconteiido {inte- riot) ¢ sud objetivagdo exteror pare-vutem jou também para si mesmo). Toda teoris da expresso, por mais refinadas ¢ complexes que scjem.as formas que ela pode assamir, deve levar ern conts, inevitavelmente, essas duas facetas: todo 0 ato expressivo move-se entre elas. Consequentemente, a teotia da expressic deve admitir que o conteddo a exprimix pode constituir-se fora de expressdo, que ele comega a existir sob urna certa forts, para pasear em Seguidag uma outra. Pois, ¢ nao fos assim;se ocontenido wexprimir exis- tise desde a origem sob a forma de express3o, s¢ houvesse entre 0 contciido ¢ a expresso uma paseagem quantitarivs (no sentido de uum esclarecimento, de uma ciferenciagao, etc.], en.ao todaa teoria ‘da expressao cairia por terra. A teoria de expressao sapSc ineyitavel- mente um certo dualismo en:re o que ¢ interidf € ¢ que € exterior, com primazia explicita do ésiiteide Interior, jA-que. toto ato-de ohjetivagin (expresso) brocede do interior para 0 exterior. Suas fon tes 840 interiores, Nao € por acaso quic”a tecria-¢o subjetivisme individuelista, come todas.as teorias da expressio, 96 se pode desen- volver sobre um terreno idealista e espiritualista, Tade que éessen- cial € interior, o gue ¢ exterior s6 se torna essencial a Theale dere- ee ip concede interior, de meio ge expressie do espirivo. “$ Giie, exterforizando-se, 0 contetido in aspect, pais ¢ obrigada a aprapriat-se do material: poe de suas proprias regras, esuamhas a0 pensamenty interiox No curse do processo de domainat o material, de submeté-lo, de trans- formé-lo em meio obediente, da expressao, o conteido da atividade ‘verbal a exprimix muda de natureza ¢ € forcado a Um certo compro miisso. Por isso o idezlismo, que dev origem a todas as teorias da expressio, engendrou igualmente tecrias que rejaitara completamen- te ¢ expresséc, considerada como deformasaa.da pureza.da pensar mento interior.’ Em todo caso, todas as forcas criadoras € orga- 70 peasamenta expresso pela palavia e ums mentira” ‘Tiuschev|. “Oh, se pele menos tlguém pudesse exprimir a alma sem palavrait" (Fier) Eteas dss declaragces s40 tipicas Go remantisma idestista. 1s tains nizadoras da cxpressio estao xo interior. O exterior constitui ape: nas o material passive Co que GNF Ho Interioz. Basicamente, a cx Pressdo se constrdi no interior, sua exteriorizacio ndo é serio asna ~ wadupdo. Disso resulta que a compreensao, 0 comentanc ea expli- cagdo do fato ideologico devemn dirigit-se para o interior, isto €, fazer o ceminio inverso do de expressao: procedendo da abjetivagao » exterior, a explicagdo deve infiltsar-se até ae suas raizes formedo- Tas internas. Essa € a concepgao da expressdo no subjetivismo indi- vidualista, A tteoria da expresso que serve de fundamento a primeira orien: tagdo do pensamento filoséfico-Linglifstico € radicalmente false, © contetido 2 exprimir e sua objerivagdo externa sio ctiados, como ‘vimos, a partir de wm unico ¢ mesmo material, pois Mio existe ativi- dade mental sem expressig Semideiea>Consequentemente, € preci- so eliminar de sade o principio déiia distingdo qualitativa entreo conteiide interior ¢ a expressio exterior. Além disso, o centro orga- nizador e formador néo se situanointerior, mas aa exterior. Nao éa atividade mental que organiza a expressdo, mas, 20 conttario, € a exprossio que organiza a atiridade mesttal, que amodela e decer- mina sua orientagao. a Qualquer qui sejao aspecto daexpressio-enunciagio considera- dy, cle sera deecrminade petas ccndigoes reais da enunciacao em questio, isco ¢, antes de tudo pela situagdo social mais imediata. Com efeito, « enunciagao 60 produto da interagao de dois indi- vvicluos socialmente organizados e, mesmo gue nao haja um interlo- cutor real, este pode ser substituida pelo representante médio do grupo social ao qual pertence a locutor. A palavea dirige-se a um. interlocutor. ela ¢ ‘undo da pessoa desse interlocutor: variard se se tratar dé uma pessoa do mesmo grupa social ou nao, se esta for infe- rior ou superiorna hierarqnia social, se estiver ligada a0 locutor por tagos socials mais ou menos estreitos (pai, mae, marids, etc.]. Nao pode haver interlocutor abstrato; a0 terfamos linguagem comum. corn tsl interlocutor, nem no sentido préprie nem no figarado. Se algumas vezes temos a pretensio de pensar e de exprimir-nos urbi et orbi, na wealidade ¢ claro que vernos “a cidade eo mundo” através do prisma do meio social concreta que nos englods, Na maior parte dos casos, é preciso suporalém disso um certo horizonte social defi- nido ¢ estabelecico que determina criagio ideolégiea do grupo s0- cial eda épocaa que pertencemas, um horizonte contemporineo da nossa literatura, da nossa ciencia, da nossa moral, do nosso direito. 16 © mundo interior €@ reflexdo de cada individuo ttm um eu io social proprio bem estabelecide, em cuja atmosferase constroem ‘euas dedugées interiores, suas motivagGes, apreciagdes, etc. Quanto ‘mais aculturado for 0 individu, mais o auditorlo em questdo se aproximard do auditorio medio da criagao idcol6gica, mas em todo ‘caso 9 interlocutor ideal ndo pode ultrapassar as froaieiras de ume Glasse ¢ de uma épocd bem-definidas. Essa orivatacdo da palayra em fungac do interlocutor tem uma importancia muito grande. Na realidad, toda palaviacomporta duas * faces, EL € dzterminade tanto pelo fate de que procede de alguém, como pelo fato de que se dixige para alguém. Ela constituijustamen- te optoduto da interagdo do locutor e do ouvinte. Toda palavra ser. @ Ge expresso a um emh relacdo 20 outro. Através dapalavra, deli- no-me em relacdo 20 outig, isto ¢, em htima andlise, em celagao & Goletividade. A palavra €uma espécie de ponte langads entre mimi ¢ og dros. Se ela ce epéia sobre mim numa extremidade, na ousra apéia.se sobre o meu interlocutor. A palavra € 0 terrtone comum do locutor e de interlocutor. ‘Mas como s¢ define 0 locutor? Com efvito, se a pslavra nie lhe pertence toralmente, ums vez que cla se situa numa espécie de zona fronteitiga, cabe-lhe contudo uma koa metade. Em um determinado momenta, o logutor ¢ incomwestavelinente U diva duav da palavea, que € eutdo sua prupriedade inalicnivel. Eo instante do atofisiol6gi- co de materializagdo da palavra, Mas a categoria da propriedade nao é aplicdvel a esse ato, na medidaer que ete ¢ puramerte fisiolgica Se, zo contrario, considerarmos, nao 0 ato fisica de materialize. cao do som, mas a materializagio da palavea como signo, entio a questo da propricdade tornar-te-4 bem mais complexa. Deixando de lado o fato de que a palavra, corno signo, é extraida pelo locator de um estaque social de signos cisponiveis, a propria vealizacdo des- te signo social na enunciacio concreta ¢ inteiramente determinada i led ayes sociais. A individualizagio estilistica da eaunciagio “dé que falam 08 Vostlerianos, constitui justamente este reflexo da inter-relagao social, em cujo contexto se constréi uma determinada enunciagdo, A situagao social mats tmediata ¢ 0 melo social mais amplo deterininam completamente ¢, por assim dizer, a partir do gett prépuio interior, aostratara da enuncingao, : ‘Na verdade, qualquer que seja a enunciagan considereda, mes- mo qué ni6 se trate de uma informacao factual (a cofuuiicagio, no sentido estrico], mas da expresso verbal de uma necessidade qual- uy quer, por exernplo a forme, € certo que ela, na sua totalidade, ¢ social- monte dirigida. Antes de mais nada, ela é deverminada da maneiza ‘mais imediata pelos participantes do ato de fala, expl{citos ou impli citos, em ligaco com uma sitvagio bem precisa; a situagdo da fer- Ta enunciacao, impondo-lheesta ressonancta em vez daquela, por exemple a cxigéncia ow a solicitacao, a alimmagdo de dircitos ou a prece pedindo greca, um estilo rebuscado ou simples, a seguzange ou a timidez, etc. A sitnacao e os participantes mais imediatos deter- minama forma eo estilo ocasicnais da enunciacao. Os estratos mais, profundos da sua estrutura sdo decerminados petas presses sociais mais substanciais e durdvcis a quc esté submetido o locutor. Se tomacmos « emunciagZono estégio inicial deseu desenvolvi. ‘mento, “na alma”, nao se mudard a esséncia das coisas, ja due a estrursa da atividade mental étio social como a dasua objetivacéo exterior. © grau de consciéncia, de clareza, de acabamento formal | da atividede mental 6 dicetamente proporcional ao seu grau de orien ‘wgacdo social. 1g, NE Mzitide 4 simples mada de consciensia, metmo confuss, Ic uma sensagao qualquer, digamos a fome, pode dispeasar uma ex- ‘pressdo exterior mas ndo dispensa ume expresedo idealggica; tanio isso 6 verdade que tada tomada de coaéeiéncia implica discurso in- ‘erlbr, encuayav interior e estilo inzerior, ainda que rudimentares, & tornada de conscigncia dafome pode ser acompaniada de deprecagio,_ de raiva, de lamento oude indignagao. Enumeremos equi apenas 08 matizes mais grosseiros e mais marcados da entoapio interior, na realidade, a atividade menta pode ser marcada por entoagies sutise complexes. A expressio exterior, na maior parte dos casos, zpenas prolonge'e esclarece a orientagdo tomada pelo discurso intctior, ¢ 25, entoagdes que ele contém, - “De que maneita sera mareada a sensagao interior da fore? Isso Bepende a0 mesmo tempo da situagao imediata em que se situa a ‘percepgao, ¢ da situagdo social da pessoa faminta, em geral. Com feito, essas s30 as condigdes que determinam o contexco apreciati- ‘v0, 0angulo social em que seri recebida a sensacio da fome. O con texto social imediato determina quais serio os ouvintes possiveis, amigos ou inimigos para os quais sero orientadas a cousciencia ea sensagio da fome: as imprecayies serio langadas contra a natureza ingrata, contra si mesmo, 4 sociedade, um grupo social determina- do, um certo incividuo! Clara, € preciso distinguir gravs na cons- cigmoia, na clareza e na diferenciagdo dessa orientagao social da ex- ug peridncia meatal. Mas é cerro que gem uma orientago social d cardter apreciativa nao hd atividade mental. Mesmo os gr eeern-nascido sac orientados para a mic. Fode-sc descrever a forme, acrescentando-se um apelo a revolta, 4 agitaréo, nesse caso a ativi. cade mental sera eetruturada em fuagao de urn apelo potencial, a fim de provacar a agitacio; a tomada de consclencla pode tomar 2 forma do protesto, ers. Na relagdo com um ouvinte potential fe algurnse vezes distinta- mente percebido), podem-se distinguir dois ples, dois limites, den- tro dos quais se realiza a tomada de consciencia € aelaboracao ideo- logica. A atividade mental oscila ce um 4 ouuo. Por convengéo, cha- ifemigs esses dois pélos atividade mental do ew ¢ atividade mental dongs . ‘Na verdade, a atividade mental do eu tende para a auto-elimine- 0.4 medida que se aproxima do seu limite, perle a sua modela em ideologica ¢ conseqiieatcmente seu grav de consciencia, apro- itidndo-se assim da reagio fisiol6gica do animal A atividade men- tal dilepida eatdo osen potencial, sea esboco de orientacio social ¢ _Berde portance sua represemtacdo verbal. Avividades mentais jeola dss, ou mesmo seqiiéncias inteires podera tender pars o pélo do ex, prejudicande gesim sua clareza ¢ sua modelagem ideclagica, e dan- ‘do provas de. quea consciéneid fo ncapaz.deenralzar-se social rcute + "A atividade menial do 20s nao € uma atividade de carstex pam tivo, gregirio: € uma atividade diferenciada. Melhor ainda, adiferen. ciagio ideol6giea, 0 crescimenta do grau de consciéacia sio direte- ‘wiente proporcionais @ firmeza e 4 estabilidade da orien:acio social. Quanto mais forte, mais bem-organizada e diferenciade for a coleti- vidade no interior da qual 6 individvo se orienta, mais distinto ¢ complexe seré o sea mundo interior, ‘Aatividade mentel do nds permite diferentes graus.e diferentes tipos demedelagem ideologies. Suponhames que o homem faminco tome censciéncia da sua foms.no meio de uma maultiddo heteréclita de pessoas igualments farnintas, cua situagdo se deve ao 2caso (desafortunados, mendigos, sic). Aativdade mental desse individuo ioledo, sem classe, se14 uma coloragdo especifica e vendera para formas ideo! desermi “Sobre a possbilidade de numa série de exeriBrcias exuats humanes cs purer 20 contexio social, com peuds ccnconstante da veiblizagio da experitn- fia, ver Frediam, Op. cit, pp. 1356. uy nadas, cuja gama pode ser bastante extensa: a resignacio, a vergo- ‘lia, o sentimenco de ¢ependencia e muitas outrss tonzlidadestn- 8 suaatividade mental (As formas ideol6y sespandeptesy! He €.aresul aca dencaaiuialepentabpSela,Sonorae 0 ‘caso, ouo protesta individualista do mendligo, au a resignagio mtstieado penivente, Saponhamos agora que 0 faminto pertenga a uma coletividade conde 2 jome naose deve 20 acaso, oade ela ¢ uma realidadewotetiva, mas onde entretanto ndo existe vinculo material séli¢ raintes, de forma gue cada um celes passa fore ispladamenge, E_ 88a, freqticatemente, a situayao des camponeses. A coletividade(o ‘mir"*} gente a fore, mas 03 seus membros esto materiaimente ‘solacos, nao esta figados por uma economia comam, eada um su- portaa forne no pequeno mundo fechado de sua mxépria exploraczo. Em tais condigies, predominard una consciencia da fame ‘ieade reiignagio, anas desprovida de sentimento de vergonta ou dé“huma thacdo: cada um diz a si préprio: "Ji que todos safvem em oe ) eutambém o farei”. E sobre um tal terreno que se desenvolver 08 sistemas filosdficos e religidsos fundadys sobre: pee 10 e asesip- - pagio na adversidade (os primeiros cristiog, 05 tolstoian De maneira completarnétite diferente serg experimentada afore polus theinbios de Tifia coleuvidace unida por. vincilos materiais objetivos {batalhéo de soldados, operarios reunides no interior da sina, trabaihadores numa grande propriedede agricola de tipo capi- talists, enfira todauma classe social desde que nela tenha ammadure- cido anidedo de “Classe para si"). Nesse caso, dominario na ativida- de mentel as tonalidides Go ptotesto ativo © seguro’ de si miésmo, fo haverd luger para uma mentalidade resignada ¢ subrnisea. Ea que se encontra c terrenc mais (avorSvel paraum descavelvimente i mitide e ideologicamente bem-formado da atividade mental? _-, Todos 0s tipos de atividade mental que.examinaiads Soin suas “1. nflexées prineipais, serum modelos ¢ formas de-enunciagdes cer. Orgunismo de propriedade coletive rural antes da Rewolucdo de 1917, [Nath * Dados imvexessantes sobre a expressao da tome poder ser encnatrades nas obras de um célebre lingtisea c_memporinee, membre da escola de Vosaler, Leo Spitzer: Ftalienische Kelegsgefangenenbriefe¢ Dis Umicaresbugen des Bosrifes Hunger. O problema fundamental exposta & 2 adaptapie Gexivel da palaves 4a reprecentasie is condigces de uma situagicexcepclanal. Fela ao auror, contuda, uma abordagem sociolgica genuine, 120 _reapondentes. Em todos 03 casos, a situagio social determina sel ch lo, que metéfors, que forma de enunciagao serviré para exprimit| y * ‘a fome a partir das direcdes inflexivas da experiéncia. : + preciso classificar A parte 4 atividade mental para si. Ela dis. tingue-se claramente da atividade meatal do eu que delinimes aci- ma_A atividade mental individualieta é perfeitamente diferenciada e definida. O individualismo ¢ uma forma ideolégica particular da atividade metital do rds da classe burguesa encontia-se um tipo aiidlogo na classe feudal ariscocritical. A atividade meatal de tipo individualista caractetiza-se por urns orientsgao social sdlida e afir- mada. Nio é da interior, da mais profundo da personalidade que se tiraa confianca individualista em si, a consciéncia do proprio valor, nas do exterior; watase da explicitagao ideolégica do meu seams social, da defesa pela lei ¢ por toda a estritura da sociedade de um bastido objetivo, a minha posigio econ6mica individual. Apersona- Jidade incividual é tio socialmente estruturada como a atividade ‘mental de tipo coletivista: a explicitagao ideoldgica de uma sirugdo econémica complexe ¢ est4vel projeta-sena alma individual, Mas ¢ contradicio inverna queest4 ineorita nesse tipo de atividade meatal do nés, assim: como na estratura social correspondente, cedo au tar: de destruira sua medelagem ideoldgica. Tacentra-oc uma esiratura andloga na atividede mental para ai isolada ("s capacidade e a forga de sentiz-se no seu direito enquanto individuo isolado”, atitude cultivada em particular por’ Romain Rolland, e em parte igualmente por Tolstoil. O orgulho que esta po- sigdo solitéria implica apdia-se igualmente sobre 0 “nés". Essa va- riante da atividade mental do nds é caracteristica de intelligent gcidepral contemporinea. As palavras de Tolst6i, afirmande que ‘Gkiste um pensamento para sie um pensamento pars 0 pablico, implicam uma confrontagde entre duas concepgbes de piblico. Esse “para si” tolstoiano, na realidadc, apenas indica uma cancepgio so- cial do oavinte que Ihe é propria. Q_pensamento nie existe forzde sua expressio potencial e conseqiientemente fora da crientagée so- cial dessa expresso ¢ o proprio pensamento. yt ‘Assim, a personalidade que se, exjrime, aproemdida, por assita | dizer, do interior, revela-se tim produto total ds inter relagao social, Aatividade mental do sujeito constitui,.da mesma forma que a cx-“ pressdo exterior, um tersitorio social. Em consequencia, todo otis yp necizio que leva da atividade mental [0 “contecdoaexprimmir”)4 sua ; '/ bjesivagao exiecnd (a Menunciagio”}situs-se completamente emf gy”. iF | cerritdrio social. Quando a atividade mentel se realize sob a forma de uma enuncisgao, aorientagaosocial 8 qual ela se submete adqui- re maior complexidade gracas 4 exigéncia de adaptagio a0 contexta social imediato do ata de fala, e, aclma de tudo, cos interlocutores ‘concretos. ‘Tudo isso langa uma nova luz sobre o problema da conseiéncis e da deotogia. Fora de sua objetivacéo, de sua reatizagao ream mate. rial determinado |o gesto, a pelavra, © grito), a consciéncia é uma ficedo, Nao é sendo uma construsdo ideolégica incorreta, criads sea considerar os dados concretos da exprossao social. Mas, enquanso expressio material estruturada (através da palavra, do signo, do de- seaho, da pinturs, do som musical, ete], a consciéneia constitu um fato objetivo e uma forca socia. imensa. E preciso notar que essa conscléncia ndo se situa acima do ser e ndo poce determinar a sua ". « mas ideclégicos. Loge que sparecera, as noves foryas sociaisencon. 7. ‘tram sue primeira expressdo € sua elaboragao ideologica nesses ni- Fe Veis superiores da ideulogia do couidiano, antes que consigam inya-‘?% dir a arena da idcologia oficial constituida. £ claro, no decorrer dé” [iaia, no curso do processo de inliltragio progressivanas instituigoes idealégicas fa imprensa, a literatura, a ciéncial, essas novas cacrea. ” tes da ideotogia do cotidiano, por mais revolucionarias que sejam, “* submetern-se 2 influéncia dos sistemas ideoligicos estabelecides, €)~ 757- assimiilam parcialmente as formas, priticas ¢ abordageas ideologi.7 -*) vas neles acumulados. SUA. ‘OG quese chama habitualmente “individualidade criadora” cons- timi a expressio do nacleo centual sdlido € durdvel da orientagao social do individuo. Ai situaremos principalmente os estratos su periores, mais bera-formadas, do discurso intericr {ideclogia do co: tidiano), onde cada representagao ¢ inflexao passou pelo estagio da expressao, dealguma forme sofreu a piova da expressdo externa. AC situaromos igualmente as palavras, as entoagdes ¢ os movimentos interiores que passaram com sucesso pela prova daexpressio exter- nanuma escala social mais ou menes ampla e adquriram, por 2s3im_ dizer, um grande polumente ¢ lustro social, pelo efeito das reagdes & réplicas, pela rejeigdo ou apoio do auditsric social. Certamente, nos niveis inferiores da ideologia do cotidiano, © fator biogrdfico e biol6gico tem ura papel importante, mas 4 medida que a enunciacao se integra no sistema ideclogico, decresce a im- portaneia desse fator. Consequentemente, seas explicagGes de card: ‘er biolégico e biogzafico tém algum valor nos niveis superiores, 0 seu papel extremamente modesto, Aqui o método secialigico obje- tivo tem total primazia. Assim, a ters da expressac subjacente ao sudjerivismo in- dividualista deve ser completamente cejeitada. O centro organiza- dor de toda enunciagao, de toda expresso, nao € interior, mas ex- terior: esta situado no meio social que envolve o individu. 86.0 grito inarticulado de urn animal procede do intetloz, do zparelhe fisiologice do individuo isolado. E uma reagie fisiolégica pusa e nao ideologi¢ameate marsada, Pelo contrdrio, a enunciagao hand, ae ae na mais primitiva, ainda que realizada por um organism indivi- dual, é, do ponto de vista do seu conteide, de sua significagso, organizade fora do individu pelas condigdes extra-orginieas do cio social. A enunciagdo enquanio tal € um puro produto da teragdo social, quer se wate dE uit! ato de lala dcterminado pela Situagio imediata ou pelo contexto mais amplo que constitui ¢ conjunto das condigdes de vida de una determinada comunidade * Tingaistica. ‘A caunciagio individual {a ”parole”), contrariamente a teoria do objetiviemo abstrato, nao é de mencira alguma um fato indivi- dal que, pela sus individualidade, nia se prestaa andlise cociol6gica Com efeito, se assim fosse, nem a soma desses atos individuais, nem as caracteristicas abstratas comuns a todos esses atos individuais [as “formas normativameate idénticas”| poderiarm gerar um produ to social, O subjerivismo individualista tem razao em sustentar que as enunciagdes isoladas constic.em a substancia real da lingua e que a elas esté rescrvada a fungdocriativana lingua. Mas cst4 errado quandy ignora e € incapaz de compreender a natureza social da enunciagao ¢ quando tenta deduzir esta iiltima do mondo interior do locutor, en- quanto expressio desse mando interior. A estrutura da ecunciacdo eda atividede mental a capsiusir say de uetuived suGial, A elabou gic éstilistice da enungiagdo ¢ de natureca sootoldgica ea propria cadeia verbal, 3 qual se reduz en linia andlise 4 realidade da lin- Bula, € socta?. Cada elo dessa cadeia ¢ social, assim como toda a din’- mica da sua evolugaa, O subjetivismo individualista tem toda a xazdo quando diz que nio se pode isolar uma forma lingiiistica do seu conterido idenldgice. ~4> Thda palavrs € ideologica e toda utilizacio da lingua esté Ligada 3 evoliigig IeotOeica. Esta errada qUanlWo diz que esse conzend6 ideo. \égico pode ‘gualimente scr deduziec das condigdes do psiquismo individual Osubjetivismo individuatista ests errado em tomar, da mesma ‘maneira queo objetivismo abstrato, a enunciacao monatégica camo seu ponto de partida basico. E verdade que alguns vosslerianos co- ‘megeram a.abordaro problema do didlogo, oque os leva a wna cum- preensdo mais justa da interaczo verbal. Citareros por exemplo 0 livrode Leo Spitzer, italiertsche Umeangsprache, onde ee eacentra uma tentativa de andlise das formas de italiano utilizadona conver- sagio, em estreita ligagéo com as condigées de utilizagio.¢ sobrevu- 126 do coma situagao svcial do interlocutor *O método de Leo Spitzer, contudo, é psicoldgico-descritivo, Blendo tira de sua andlise nena. mua conclusio sociologica coerente. A eaunciacao monpl6zica per- manece a base da realidade lingtifstica para os vosslerianos. Otto Dietrich colocoucom grande clareza o prablemada intera- cdo derbal * Toma como ponto de partida 2 critica da teoria de emun- clacao como meio de expressao, Para ele, 2 fungao central da iingua- gem no é a expressio, masa comunicagdo, Iss0 0 leva a considezar e papel do ouvinte, O par locutot-ouvinte constitul, pare Dietrich, @ condigie necessaria da linguagem. Contuo, ele partilha essencisl- Tene 28 premissas psico|ozicas do subjecvismo individaalista. Além disso, as pesquisas de Diecrich sic desprovides de qualquer base socio- Iogicabem-definida : ‘Agora estamos ern condigées de responders questées que colo- amos no inicio do quarto capitulo. A verdadeira substéncia da Ufi> } gua ndo ¢ constitufda por um sistema abstrato de fonmss linglisti- | cas nem pela enunciagao monolégica isolada, nem. pelo ato poica- | fisiolagica de eua produgao, mas pelofen¢meno social ca interardo verbal, tealizada através da erunciapdo ou das enunctegdes& interagdo vethal constituiassima realidade fundamental da lingua. “"O didloge, no sentido estrito do termo, nao constitui, € claro, senin nena das formas, 6 verdade qna dae mais importantes, da interacao verbal, Mes pode-se compreender 4 palavra “ditlogo” num sentido amplo, isto €, ndo apenes comme a comunicagacem vozalta, de pessoas colocadas face a face, mas toda comunicagao verbal, de qualquer tipo que seja. Olivto, isto €, o ato de fala impresso, constitu’ igualmente um: elemento da comunicagao verbal. Ele ¢ objeto de discusses ativas sob a forma de didlogo e, tlém disso, feito para ser apreendide de: maneira ativa, para ser estudado a fundo, comentado ¢ criticade no. quadra da discurso interior, sem contar as reagdes impressas, insti- tucionalizadas, que se encontrar nas diferentes esferas da comu-; a ease regpeita, a praptia constragia da tivto é sintomitiea Fle divide.ce fem quan partes, cules ritolus so: “7. Formas de inodugao do Ditogo. IL. La- cator e Interlacetor: a] Cortesia Para com 0 Parceiro, b| Economia + Desperdicio dda Expressia, c}labrisazio de Fala ¢ Réplica, MU, Locotor ¢ Sitaagio. IV Fim do Didlogo”. Hermann Wundedich precade Spitzer na ditecio do estudo de lingua sda conversacic courente nes condigées reais da comunicagio. Cf, seulivra: Unsere Unreargsprache( 1894). Wer Dis Problenne der Sprachpeyeholosie, 14. a7 i nicegao verbal leriticas, resenhas, que exercem influencia sobre os trabalhos posteriores, etc.) Além disso, o ato de fala sob a forma de livro & sempre orientado em fungio das intervengoes anteriores na mesma esiera de atividade, tantoas do proprio autor comoas de outres autores: ele decorte portanto da situado particular de um. problema cientifico ou de um estilo de producao literaria, Assim, 0 discurso escrito 6 de ceria maneiza parte integrante de urna discus: sp ideolégica em grende escala: ele reeponde a alguma coisa, rehu- ta, confirma, antecipa as respostas « objecdes potenciais, procura epoic, etc, Qualquer cnunciagae, por mais significativa e completa que seja, constitui apenas uma fragdo de uma corrente de comunica- do verbal ininterrupta [concernente a vida cotidiana, 3 literatura, ao conhecimento, a polities, etc.). Mas essa comunicacao verbal ininterrupta constitul, por sua vez, epenas um momento na evolu- Gao continua, ema todas as diregocs, de urn grupo social detersnina- do. Um importante problema decorre dai: o estudo das relagdes entre a interagao concreta e a situagdo extralingifstica —nao 36 a situacdo imediata, mas também, a:ravés dela, 0 contexto social mais amplo, Essas celagdes tomam formas diversas, © 0s diversos elementos da situagdo recebem, em ligagao com uma ou outra for- ma, uuma signiticagio diterente (2ssim, 08 elos que se estanelecern com os diferentes elementos de uma situacao de comunicacio ar- Ustica diferem dos de uma comunicardo cientifica). A comunica- ao verbal nio poderd jamais scr compreendida ¢ explicade fora desse vinculo com a situegio conereta. A coraunicegao verbal en- trelaca-se inextricavelmente aos outros tipos de comunicagéo € cresce com eles sobre o terrence comum da situacdo de producao. Nio se pede, evidentemente, isolar a comunicagdo verbal dessa comunicagao global em perpétua evolugao. Gragas a esse vineulo concreto com a situa¢ao, a comunicagao verbal é sempre acom- Panhada por atos sociais de carater nao verbal (gestos do trabalho, atos simblicos de un ritual, certimOnias, etc.{, dos quais ela ¢ muitas vezes apenas 0 complemento, desempeakando um papel meramente auxiliar. A lingua vive € evolut historicamente na comanicacdo verbal conereta, ndo no sisteraa lingilistico abstrato das formas da lingua nem no psiquisme individual dos falantes. Disso deecrre que a ordem merodolégica para o estudo da fin. gua deve ser o seruinte’ Le 1. As formas ¢ os tipos de interapgo verbal em ligacao com as condigdes concretas cm que se realiza 2. As formas das distintas enunciagSes, dos atos de fala isole- dos, em ligagao estreita com 2 interae0,de que constitvem os ele- mentos, isto & a8 categorias de atos de fala na vida ena criagéo idcolégica que se prestam a uma determinagao pela interagdo verbal. 3A partir daf, exame das formas de lingua na sua incerpretagao Jingutstica habitual. E nessa mesme ordem que se desenvolve a evolucaoreal da lin- (gue: as relagdes sociais evoluem fem fungéo das infra-estrusures, depois « comunicagao ¢ « interagio verbais evoluem no quadro des relagdes sociais, as formas dos atos de fala evoluem em conseqian- cfa da interacao verbal, ¢ 0 provesso de evolucio refleze-se, enfin, na cudanga das formas da lingua. ~” De tudo o que dissemos, decorre que o problema das formas da enunciagdo considerada como vm todo adquire uma enorme impor- tancia, Jé indicamos que o que falta & lingtfstica contermporanea é ma abordagem dz enunciaydo em si, Sua andlise no Litrepassa a segmentagio em constitaintes imediatos. E, no erttantu, as unida- des reais da cadeia verbal si0.ag enunciagdes. Mas, justamente, pars estudar as formas dessas unidades, convém nao separd-las do curso luiscdriev das enunciayocs. Enyuanto um todo, a enunciacao 60 se realiza no curso da comunicagdo verbal, pois o todo determinado pelos seus limites, que se configura pelos pontos de contaro de uma determinada enuncia¢do com o meio extraverbal e verbal lista , a3 outras enunciagces), ‘A primeira palavra © a ultima, o comege ¢ o fim de ama enun- iagdo permiter nos jd colocar o problema do todo. O grocesao da fala, compreendida no sextido ample como processo de atividede de Jinguagem tanto exterior como interior, € ininterrupto, nao tem co- mmego ner fim. A enunciagao realizada ¢ como uma ilha smergindo de um oceano sem limites, 0 discurse interior. As dimensSes ¢ as formas dessa ilha sao detcrminadzs pela situagéo da eaunciagio ¢ porsati auditorio. A situagdo e o auditério obtigam o discurso inte- or a realizar-se em uma expressdo exterior definida, que se insere diretamente ao conteato ado-verbalizado da vida corrent:, enele se amplia pela ago, pelo gesto ou peta reeposta verbal dos outros parti- cipantes na situacao de enuaciagaa. Uma questo completa, s excla- macao, a ordem, 0 pedido sao enunciagdes completas tipicas da vide corrente. Todas [particularmente as ordens, os pedidos)exigem um 19 complemento extraverbal assim como um inicio nao verbal. Esses tipos de discursos menores da vida cotidiane so modelados pela fricgio da palavra contra o meio extraverbal » contea palavta do outro, ‘Assim, a forma da ordem € determinada pelos obstacules que ela pode encontrar, o gran de submissio do receptor, ete. A modela- gem deg enunciagSes responde aqui a particularidades formaitas ¢ nao reiteraveis das situagdes da vida cotrente. So se pode falar de formulas especiticas, de escerectipos no discurso da vida couidiana quando existem fozruas de vida em comum iclativamente reguiari- zoddas, reforgadaa pelo uso epelas cizouastancias. Assim, eacontram- se tipos particulares de formulas estereotipadas servindo As necessi- dades da conversa ce saldo, fatile quennzo crta nenhuma obrigacac, era que todos ¢s participantes sto familiares uns aos outrus e onde a diferenga principal é entre homens ¢ mulheres. Encontram-se elabo- radas formes particulares de palavras-aivsGes, de subentendidos, de reminiscéncias de pequeros incidentes sem nenkuma importancia, etc. Um outro tipo de formula dabore-se na conversa entre marido: mulher, eatre irmao cirmS, Pessoas incoiremente estranhss unas ae cutras ¢ reunidas por acaso {uum (ila, numa entidade qualquer) comecam, constroem é tezminam suas declaragées e stias réplicas de maneiza completamente difsrente. Eucoutraiui-se sia vutsus tipos nos sexes no camgo, nas quermesses populares na cidade, na conversa dos operirios a hora dc almozo, etc. Teda situapao inscrita duravelmente nos costumes possiri um auditério organizada de ma certa maneira € conseqentemente um certo repericrio de peque- nas formulas comentes, A {6rmula estercotipada adapta-se, em gual- quer lugar, a0 canal de interagio eocial que lhe ¢ reservada, refletin- do ideologicamente o tipo, a estruturs, ax objetivos ¢ a compasicio social do grupo. As formulas da vida correnie fazem parte do meio social, s40 elementos da festa, dos lazeres, das relagdes que se tre- ‘vam no hotel, nas fabricas, eto. Elas coincidem com esse meio, S40 por ele delimitadac e deterrainades em codos os aspectos. Assim, encontram.se diferentes formas de construgao de enunciages nos Jugures de producdo de trebalhoe nos meios de comeéreio. No que se refere as formas da comunicagio ideoldgica no sentido preciso do rermo — as formas das declaregbes politieas, atos politicos, leis, decretos, manifestos, etc.; e 2s formas das enunciagdes posticas, tra~ tados cientificos, etc, — todas elas foram objeto de pesquisas espe- clalizadas em retérica e poética Mas, como vimnos, essas pesquisas 130) estiveram completamente divorciedas, de um lado, do problema da finguagem e, do outro, do problema da comunicasao social. Uma andlise fecunda das formas do coniunto de enunciafoes como unida- des reais na cadela verbal sé ¢ possivel de uma perspective que enca- rea chunciagdo individual como um fendmeno puramente sociolé- ico. A Filosofia manxista da linguagem deve justamente colocar como bese de sua doutrina a enunciagao como realidad: da linguagern & como estrutura socioideolégica ‘Apés ter mostrado a estrutura sociolégica da enunciagio, volte- mos agora as duas orientagées do pensamento tilostfico-lingitistico para tirar conclusdes definitivas. lingiista moscovite R, Schos, que pertence a segunda orientagao do pensamento Fileséfico-Lin- guistico (objetivisrao abstrato}, termina com as seguintes palavras tam breve esbogs da situazda da lingiistica contertpordnea: “A lingua nde € wna coisa (ergon], mas antes uma atividade natural e congtnita dohomem (onergeia)", proctamava.ainvesti- gacio lingiifstica romantica do século XIX, £ algo completamen- te diferente que diz 2 lingutstica cesrice confemporanea: “A lin- ia nao é uma atlvidade individual {energeia’, mas um lezedo histérico-cultural de humanidade {ezgon],”” Essa conchsdo espanta-nos por sia parcialidade e scu epriosis- imo. No plano dos fatos, ela ¢ completamente falss, Com efeito, a escola de Vossler liga-s¢ igualmente & Lingiifstics tebrica contem- potinee, sendona Aleranha atual um dos movimentos mais fortes do pensamento lingistico. £ inadmissivel reduzir a liagufstica a apenas wma das suas orientages, No plano da teoria, preciso refu- tar tanuoa tese quanta aniftesc apresentadas por Schor. Com eleito, nem ume nem outra dio conta da verdadeire natureza da lingua. ‘Vamos tentar formular nosso prGprie ponto de vista com 2s 5¢- guintes proposigdes: 1. A lingua como sistema eativel de formas normstivamente identicas ¢ apenas uma abstraclo cientifica que s6 pode. servit a sobre 0 tdpice és disiuneio de uma obrs de arte literria das eondigoes da comunicagae artistice © a zesultante inércia da obra, ver nesco extudo, "SIa¥0 v jizmt slova + poézit” (A Palavra na Vida e a Pelevra na Poesie},Zvestd (Estrela), Eulota do Estado, 6|1926){Nd.Tm} "artigo i cisade ce Schos, “Krizis savrerniennot hingvistikt” [A Guise éa Lingiissica Contemporineal, p.71 13k certos fins tedricos e prdticos particulares. Essa abstragao nao dé conta de maneira adequeda da realidade concreta da lingua. 2..A Lingua constitaium processo de evolucdo ininterrupto, que serealiza atrevés da interagdo verbal social dos locutozes. 3. As leis da evoluedo lingiistica nao sio ¢e maneira alguma as leis da psicolog:a individual, mas também nie podem ser divorciadas da atividade dos (alantes. As leis de evolugae lingiistica so essen. cialmente leis sociol6gicas, 4 A criatividade da lingua nio coincide com ¢ eriatividade ar- tistica nem com qualquer cutra forma de criatividade ideologica es- peoifica. Mas, a0 mesino tempo, a criatividade da lingua ndo pode se compreendida independentemente dos contetidos ¢ valores ideo- Jégizos que a ela se ligam, A evo.ugie da lingaa, como toda evolu- ¢40 historica, pode ser percebida como uma necessidade cega de tipo mecanicista, mas também pode wrnar-se “uma necessidade de fur- cipuamento livre”, uma vez quc alcan cou a posicée de uma necessi- dade consciente e desejada. 5, A esinutura da enunctagao $ uma estrutura puramerite so- Gia. A enunciagio como tal s6 setorna eferiva entre falantes. O ato de fala individual {no sentido estrito do termo “individual” ¢ uma contradictio in adjecto. 192, CarituLo 7 ‘TEMA E SIGNIEICACAO NA LINGUA © problema da signifieacio é um dos mais ditfceis da Lingoisti- ca. As tentativas de resolugao desse problema tem revelado o estrei- tosolildquio da citncia Linguistica com particularclareza, Com efeito, a reoria que se apsia sobre uma compreensao passiva ndo 0s da 0s mneies de abordar os fundamentos ¢ as carecteristices essenciais da significago lingitstica, Dentro dos limites da nossa investigagio, Limitar-nos-emos a um cxame mauito breve & superficial dessa ques- to, Procuraremos simplesmente trapar a5 grandes linhas de uma investigagdo produtiva nesse carnpo. ‘Um sentido definido e Unico, uma significagdo unitiria, é uma propriedede que pervence « cada enunciagée como am toda. Vamos Cleiuaro gentido da enunciagio complerao seu tema.’ O temadeve sertinico. Caso contrério, nio teriamos nenhuma base para definira enunciacao. O tema da enunciagao ¢ na verdade, essim come apré- pria enunciacdo, individual e aaorcitetvel. Fle ce apresenta como expressdo de uma situagéc histérica concreta que deu origem 2 caunciagao. A enunciagio: “Que horas sao!” tem win sentido dife- yente caca vez que é usada e também, consegiientemente, na nossa terminologia, um outro tema, que depende da siuaea0 histSrica concreta fhistSrice, auma escala microseépica)em que é pronuncia- dae da qual conctiti na verdade umn elemento. ‘Coaclui-se queo tema da enunciagao édeterminado.nio 26 pe- las formas lingdisticas que entram ne composigéo (as palayras, 28 iodfolégicas ou sintéticas, os s5ns, as entoagbes|, mas iguel- formas Biosologicas © mente pelos elementos nao ‘Ease terme 6, naturalmente, sujito a divides, Para nis, © termo "ema" cobrc igualmente ous realizacio, € por issoqae ele no deve sr contuneide com © Gans de uma obra de arte. © conccito de “anidade teradtioa”& 0 que estaria tats pedxime do nesto, 133 ly

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