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1ª Edição

Luanda,2023
Dinis Sacalui Pedro

50 Contos de
terror
Capitulo 1- O sequestro

1ª Edição

Luanda,2023
DEDICATÓRIA

“Aos fãs de terror que não descansam sossegados”


AGRADECIMENTOS

A minha mãe, que mesmo não sabendo das loucuras que seu filho escrevia deu seu
apoio incondicional para a realização desta obra.

Aos meus irmãos, amigos, que me vêm desde sempre a ajudar para que não permita
que as palavras em minha cabeça desapareçam sem razão.

Ao numeroso grupo de jovens da literatura do Magistério MUTU YA KEVELA que jamais


se cansaram de cobrar-me a obra que ainda em rascunhos aceitaram
SOBRE O AUTOR

Dinis Sacalui Pedro, nascido ao 07º dia do mês de Julho de 2004 é oriundo do sul de
Angola, província do Huambo.

É professor formado pelo Magistério Mutu-Ya-Kevela nas especialidades de Matemática


e Física, tão apaixonado pela educação quanto pela literatura.

Mentor do projecto «literalmente literatura», ingressou na roda da poesia aos 13 anos


de idade, altura em que escreveu sua primeira prosa «sem ar». Em 2021 tornou-se um
dos co-mentores do Grupo de Palestras e artes do Magistério Mutu-Ya-Kevela, projecto
que ainda hoje actua naquela instituição com o objectivo de promover na juventude
académica o amor pela literatura e artes diversas, bem como através de debates e
palestras transformar a mente do futuro professor para uma sociedade cada vez mais
exigente.

Autor de mais de 365 poesias em seu percurso, despertou o desejo de unificar suas
poesias em uma única obra intitulada «365dias, 365 cartas», apresentando 11 edições
de 33 cartas.

Suas obras literárias: «365 dias, 365 cartas», «Maria e João - um romance na Mulemba»,
«50 contos de terror - O sequestro», «A terapia dos pés descalços».

Contactos para críticas e sugestões

E-mail: dinissacaluipedro@gmail.com

Linkdin: Dinis Pedro

LL: Dinis Pedro.


Meu nome é Alfredo Domingos, nasci na fatídica e ensolarada tarde de 24 de Abril
de 1989, minha mãe, ou pelo menos a adolescente que foi corajosa o suficiente para me
ter aos seus 16 anos chamava-se Teresa Domingos.
Foi um ano difícil para ela apos ter sido a razão do suicídio do pai camponês de raiz
e ter merecido o eterno desgosto de sua mãe que viria a sofrer um A.V.C isquémico
(acidente vascular cerebral) apenas 5 meses mais tarde, seu namorado com o qual em
momentos de beijos e caricias tiveram jurado amor eterno, finalmente a abandonou, este
até a enviou uma carta (como era costume da época já que não havia ainda os telefones
para toda a gente), mentindo que iria para a tropa e voltava para cuidar dela e de seu
filho- «Eu».

Ele nunca voltou e esse não foi o primeiro caso de abandono ou como chamam
«fuga a paternidade» que se sabe. Mas minha história não começou aí.
Eu nasci com um doença muito rara que degenera meu encéfalo aos poucos por
causa de tal doença ao nascer não chorei, e a cada ano ficava mais insensível ao toque.
Então minha mãe nunca teve de se preocupar comigo causando Sarilhos, pois em vez de
ser um rapaz de poucos amigos, eu era o rapaz de amigos= nenhum.

Em 1994 fui a escola pela primeira vez, e se eu tivesse conseguido alguma vez se
quer me apaixonar, me apaixonei naquele dia, tanta coisa pra fazer num só lugar, pra mim
nem parecia ser real.
Porém não tardou para meus colegas perceberem que havia alguma coisa
incomum em mim, meus professores diziam que eu era de aprendizado rápido, mas de
caracter muito difícil e que quase nunca me socializava com ninguém, e sempre que
alguém tentasse fazer tal coisa eu me afastava logo.
Isso não é de todo ruim pois não?

Um dia enquanto estávamos no recreio, meus colegas bateram em mim e


insultaram tanto que nunca mais pude sair da sala, fui pra casa quase que chorando-
desafiando assim as leis da genética que me formaram, posto lá me deparei com minha
mãe pendurada ao teto morta-julgo eu (sendo sincero nem me dei ao trabalho de
perguntar pra ela), meus vizinhos foi assim que o descreveram: «sentado ao lado do
cadáver de sua mãe», claro que depois fui levado pela polícia para os serviços sociais (uma
vez que eu não tive tios e meus avos eram falecidos).
Andei de casa de acolhimento em casa de acolhimento desde então, sempre
desprezado por causa de minha triste condição mental «lógica de mais», que me impedia
de manter uma conversa por mais de 2 minutos, sempre fui claro em um minuto e meio
dizendo que nunca os amaria e que aos 18 anos me iria embora, então meu
comportamento arrogante e meus planos suicidas sempre foram motivos para me liberar
como diziam. Isto era mais é expulsar.

Então, apenas aos meus 13 anos de idade comecei a usar drogas, fui morar na rua,
onde trabalhava como engraxador de sapatos frente ao parlamento, corajoso devo agora
admitir, afinal eram poucos os clientes que chegavam de sapatos lamacentos se não em
dias de chuva eram poucos os que chegavam de sapatos empoeirados e pra piorar eram
poucos os que não olhavam para mim com desdenho ou medo, esse eram muito poucos.
E isto me irritava imenso, dormia em um banco coberto de jornais que só falavam sobre a
nova era que se aproximava, ou até «viva o século 21».

Aos 16 anos um destes poucos deputados que não temia nem se agoniava com
meu cheiro podre por não mais me lavar com frequência, olhou-me nos olhos castanhos
e vermelhos de droga, e pergunto: Como você se chama-respondi apressadamente
mostrando meu sorriso amarelado de pouco o lavar e exibindo meu hálito que pouco se
confundi- Alfredo Domingos, e o senhor? – Ele com um sorriso puramente branqueado
respondeu com uma nota de 5$-Alfredo Domingos.
Somos charas- me aprecei por dizer.
Ele porém ficou aí parado, ficou calado por segundos, notava-se a cautela com que
se restringia as falas seguintes como se quem quisesse não falar, mas seu transpirar o
denunciasse e então disse.

Quer ir comigo pra casa?


Ei, nem te conheço- respondi logo com tom humorístico.
Ele interrompendo meu comentário disse: eu estou organizando uma nova política
sobre casas de acolhimentos para jovens como você e preciso de provas que dará
certo, se você me ajudar a provar isso, eu ajudo você com todo o resto.
Eu: e como o senhor acha que eu posso ajudar? Não terminei nem o 1º ciclo, e se
terminei não consigo me lembrar, acha mesmo que lhe ajudarei com suas políticas
sei lá do que?
Ele: vamos até minha casa e poderemos conversar melhor sobre como você me
ajudaria, e se você não quiser participar, então te trago de volta aqui amanhã de
manhã, pode ser?
Oque que eu tinha a perder? E se eu não quisesse eu poderia voltar na manhã
seguinte e contar para meus colegas que estive em casa de um deles como nós os
chamamos.
Sim- me aprecei em responder.
Essa foi a melhor decisão que alguma vez já tomei, então lá fui tratado como filho,
fui retirado do mundo das drogas, fui enviado aos E.U.A para me formar, me transformei
em Engenheiro de computação. E aos 23 anos de idade voltei ao meu sagrado país.
Forçado, pois o homem que toda a vida chamei de pai tivera morrido, vítima de doença
prolongada. É a vida.
Sua herança foi dada uma parte para minha mãe e eu herdei 75% de tudo que
Alfredo Domingos possuiu em toda vida. Fiquei rico de facto. Porque eu? O velho nunca
teve filhos biológicos pois sua esposa Ana Maria tivera sido estéril, então logo se vê.
Passei a residir no meu país para dar suporte a minha mãe e tratar dos negócios
de família. E foi aí que tudo aconteceu.
Se você está lendo esta história minha morte chegou então, pois oque você vai ler
a partir de agora nunca contaria vivo a ninguém.
Conheci você LARA
Vocês já conhecem o novo dono disso tudo?- disse Laurinda, uma funcionária de
nível sénior da empresa que herdei.

Pois é, a empresa que herdei de meu pai é de consultoria jurídica ou seja, eu estou
totalmente perdido no que toca ao assunto. Meu pai, enquanto ainda vivo, falava para
mim que quando esta época chegasse eu devia apenas confiar em uma pessoa, ela era
como eu e quase que também não falava, porém é SUPER profissional, leal, e não me
deixaria abandonado.

Do que nos serve conhecer este tal novo chefe pessoalmente, nada por aqui vai
mudar, e com isso eu quero dizer vão mais é trabalhar que nenhum chefe novo ou
antigo vos pagará para ficarem na conversa!- disse Lara com tom de autoridade.
Por aqui é ela quem manda, meu pai tinha tanta confiança nela que a nomeou
chefe de várias sessões.

E sim é desta Lara que meu pai me havia informado, porém, meu pai talvez pela
cegueira da idade, talvez pela caducidade que o acometia tivera esquecido de referir que
Lara era mulher de 38 anos de idade, mãe de 2 filhos cujo pai foi inteligente em assumi-
los. Formosa em termos físicos e intelectuais. Justa e puramente cristã. Como prova viva
desta última característica tinha seus vestidos longos, tal como seus cabelos. Tinha olhos
pretos e mortos dando a impressão de estar quase sempre aborrecida, sua pele era clara
e lábio rasos e rosas.
Desmancha-prazeres- disse outra funcionária em tom de sussurro com medo de
ser ouvida.
Lara fingiu não ter ouvido nada e afastou-se rapidamente para o escritório onde
eu desde as primeiras horas do dia tivera-me trancado com medo de ser notado.
Batendo a porta.

Entre- grito com minha voz que não sai sequer da garganta.
Senhor-disse ela com tom agradável-marcamos uma reunião com os outros sócios
para fazer a sua apresentação e apresentarmos o estatuto desta empresa ao senhor.
Para por instante e fica-me olhando, ainda de costas pra ela olhando eu para a
vista que dava minha janela vidrada para o extenso horizonte consigo perceber que ela
me observa e questiona-se porque eu pareço tão jovem.

23 Anos- respondo ainda antes de ela perguntar


Desculpe, oque o senhor disse?-disse ela com um ar de confusão.
Respondi a pergunta que você não faria- disse eu agora olhando para ela fixamente
nos olhos-mais alguma coisa para me informar?-pergunto de forma arrogante
enquanto me sento para terminar o diálogo.

Seu pai foi meu chefe desde que entrei nesta empresa, devo tudo oque tenho a ele,
era um ótimo chefe e homem melhor ainda, lamento imenso por sua perda- disse
ela olhando para mim- se o senhor precisar de qualquer coisa pode sempre contar
comigo. Eu sei-disse logo.
Enquanto Lara fecha a porta com quem não deseja sair, me detenho finalmente
em lembranças.

Lara, Lara, Lara, eu já tivera conhecido uma Lara, na época minha mãe biológica
ainda estava viva. Lara era a colega de classe que sempre me defendia dos meninos
quando estes tiravam o dia para gozar comigo.
Claro que não é esta Lara, afinal, aquela tinha a minha idade, e esta tem a minha
idade e mais da metade, mas com tudo lembrei-me o quanto odiei Lara porque por anos
me fez sentir impotente, eu podia com meus problemas, então porque ela teve de se
meter onde não foi chamada?

Agora sim me lembro que por mais que me esforçasse para nada sentir por
ninguém havia um sentimento que minha doença degenerativa nunca conseguiu apagar
«meu ódio crescente», foi por isso que meus pais adotivos sempre me expulsavam, eu era
agressivo e violento e quando olhava para outras crianças só sentia ódio e uma vontade
incessante de as provocar dor, muita dor. Não era sádico, não me excitava com essa dor,
mas confesso ter desenvolvido um gosto deveras incomum por provocar dor, era sempre
essa meu botão de escape, não sentia medo, angustia, ou desejo. Mas sei que sentia
gosto, imenso gosto por provocar dor. Ah, e ódio, muito ódio por LARA.

Naquele dia dirigia até casa e fiquei pensando em Lara, minha Lara. Engraçado,
finalmente voltei a encontra-la.
Juro que por momentos fui idiota o suficiente para pensar que esta não era igual
aquela, mas os nomes não mudam, Lara é Lara, seja no infantário ou na empresa. Seu
nome permaneceria o mesmo «Lara».

Os meses foram passando rapidamente e minhas mente aberta me permitiu


adaptação rápida ao trabalho, tanto que estávamos a 26 de Julho participando de uma
conferencia internacional sobre «Políticas de magistratura», o estatuto de meu pai me
permitiu abrir mais rapidamente portas e corações e no final, já havíamos atingido 5
grandes objetivos do ano. Quanto a meus objetivos, aprendi desde sedo a ser paciente, e
então teria ainda de esperar.
No dia 01 de Agosto fomos a uma atividade extra empresarial, onde cada
funcionário na participação da festa teve de trazer sua família. Como era de se esperar, lá
estava ela Lara, bela, com seu marido Mário, e os dois filhos (sua filha Maria, e seu filho
Augusto), que me foram apresentados no início da noite.

Lara aproximou-se de mim e se despediu, então meu tempo de paciência atingiu o


limite. Aquela voz não saia mais de minha cabeça. Quiçá estivesse eu apaixonado por ela,
vá la saber. Certo mesmo é que não me podia mais conter com esse sentimento
decrescendo em minha cabeça. Estava cheio de desejo de toca-la, e essa voz, esse cheiro
era tão incomodante, era tão perturbador que não me podia conter mais.
Oque posso eu fazer?-penso logo antes de responder
Será que podia conter-me mais? Será justo conter-me mais? Porque não posso ser
oque sempre fui?- milhares de pensamento inundam minha mente como que de um
dilúvio se tratasse.

Dilúvio de desespero só pode. Estava tão desesperado por ter ela comigo que não
me importava com o dilúvio das aparentes questões morais que inundavam meu ser. Do
que vale ser moral e correto se não formos felizes? Nada, isso mesmo, não vale nada ser
moral a custo da felicidade, então porque me conter, será que essa excitação SUPER
empolgação/inquietação por Lara se podia esconder mais? Não importa agora. Minha
cabeça dizia para ficar parado e então meu coração mandava prosseguir...
Tive medo que Lara percebesse que a desejo do profundo do meu coração, e que
naquele momento sentia finalmente desejo de a ter comigo sem ser em um
relacionamento profissional, aliás, sem ser em um relacionamento. Queria tanto que
minha respiração me denunciava.

Porque daquela voz? Quem dera saber se essa voz era dela ou era minha, já nem
isso conseguia perceber! Minhas pernas começaram finalmente a faltar com as suas
funções e passaram a tremer, minhas mãos não puderam mais segurar o copo comigo e
então deixo cair.
Lara preocupasse e pergunta como estou, claro que desminto-me dizendo que
estou bem e que só deve ser do álcool. Lara não convence-se com facilidade e oferece-me
carona para casa já que naquele estado não podia conduzir. Engraçado, se ela soubesse
que não consumo álcool, talvez nem se aproximava de mim, mas como eu poderia explicar
as falhas no olhar, e no falar? Talvez medo...mas medo? É simplesmente impossível para
mim, não que eu nunca tivera o desejo de sentir, mas que minha condição não me
permitia.

Uma vez disseram-me que podia ser amor. É, talvez seja amor, talvez eu ame Lara
ou seja outra coisa qualquer sobre o qual estou-me nas tintas. O certo é que eu odiava
senti-me tão dependente dela, meu respirar era em favor dela e bem, isso é o primeiro
passo para sufocar.
Chegando ao carro Lara encontra as chaves do carro e tenta colocar-me dentro
dele. Sinceramente sempre achei que minha primeira vez seria em uma mansão qualquer
no Reino Unido, mas sei que não faria diferença alguma e para além disso é oque tenho
agora? «Uma VAN em um estúpido estacionamento»? Seja como Deus quiser.
Antes de a noite começar havia compilado um plano para ter minha Lara e estava
na hora de o por a rodar.
Lara-chamei por ela atrapalhadamente-Lara!
Sim?-respondeu.
Eu posso sentar-me aí em frente com você-pedi reluzindo os meus olhos para que
ela aceite.
É claro que a cena dos olhos não resultou, mas ela aceitou a mesma.
Claro senhor, ficaríamos muito felizes em ajuda-lo a chegar a casa-disse ela- vamos?
Ficaríamos-perguntei com tom de espanto-pensei que viajávamos sozinhos!?
Não, não, nós vamos com a minha família- disse ela dando espaço para que seus
filhos entrem na VAN acompanhados de seu pai.

Va vamos-respondi fingindo gaguejar.


Claro que devia conduzir era Mário, então o lugar que eu tivera pedido ficou para
Lara, enquanto eu e as crianças fomos jogados para traz.
Pusemo-nos a caminho, Mário conduzia muito responsável como quem
trabalhasse na aviação e trânsito, mas meus olhos só fixavam a Augusto tentando
adivinhar sua idade.

13 Ou 14 pensava eu, Maria porém nunca tivera ficado tão próximo de alguém
como eu, ou seja, de minha classe social, então também fixava o olhar em mim, percebi
pelas conversar de Lara e o marido em russo que se haviam conhecido na antiga sociedade
soviética de 89, eles porém me tiveram subestimado tanto ao ponto de conversar sobre
mim em uma língua que julgavam que eu não conhecesse. Tive então certeza que estavam
prontos para o próximo episódio de nossa viva juntos.

E enquanto sorriam em sua conversa agradável, um caminhão passou por nós, nos
desviando da pista. Fomos bater a um 250 metros da estrada em uma árvore e
desmaiamos. Fomos sequestrados.
E até então tudo corria como planejado. Meus antigos colegas de rua tiveram feito
um bom trabalho ao fazer parecer que fomos sequestrados.
Mas também com o orçamento que gastei com eles se não tivesse feito, eu os teria
sequestrado.
Acordamos amarrados em uma cave sem saber onde estávamos, e então
enquanto ainda fingia estar inconsciente entrou um dos sequestradores com um capuz de
esqui luvas nas mãos, e um altifalante que para além de amplificar sua voz a modificava.

Quem de vocês é o milionário?-perguntou gritando com um tom tão irónico que


mais parecia que brincava com a gente.
Quem são vocês? Oque querem de nós?- respondeu Mário fingindo não ter
entendido a pergunta.
Nós não temos nenhum interesse em vocês, não significam nada para nós. Se nos
disserem qual de vocês é Alfredo Domingos, nós os deixaremos partir- disse o
primeiro. Mário fingiu não ter percebido a questão e voltou a exigir que nos
libertassem.

Irritando o sequestrador que baixou-se, quase que ajoelhando nos pés de Mário,
pegou uma faca se sua cintura e espetou-lhe nos pés fixando assim este ao chão.
Ouvi gritos, vindos de todos eles, incluindo eu mesmo teria gritado se Augusto não
tivesse-me entregado antes.
Augusto cale a boca- disse Lara a seu filho tentando proteger-me.
Foi então que me anunciei.
Eu sou o homem que procuram- falei com tom de medo.
Oque você está fazendo?- perguntou Lara irada com minha decisão.
Sua família não pode sofrer por causa de mim, vocês foram acolhedores comigo e
eu vos pagarei desta maneira?- disse eu imitando um discurso que tivera ouvido
vezes sem conta do filme «dança com lobos» da qual era grande fã.

Os sequestradores não perderam tempo e levaram-me para a sala ao lado,


deixando-os em gritos para que não me fizessem nada de mal, ou então teriam graves
consequências. Engraçado, sempre achei que ser sequestrado devia ter um pouco mais
de graça, mas no entanto ca estou eu, sendo arrastado por dois homens para uma sala de
tortura.
Por momentos silêncio, Silêncio, Silêncio, e então ouviu-se gritos vindos de mim, e
finalmente três tiros que silenciaram as 2 salas.
Era o fim de uma jornada completa para mim.

A vida pode significar tão pouco assim? Qual tivera sido o propósito da minha vida
se agora tudo me parece ter sido inútil? Afinal, no final das contas, não importa o quanto
vivemos, ou o quanto fizemos, 3s são suficientes para acabar-nos, isso nem parece justo.

Talvez tivesse sido se fosse eu a levar aqueles tiros.


Bela atuação, devo admitir- disse eu.
Obrigado boss- responderam meio que em coro fazendo para mim uma vénia.
Agora selem-nos nas grades de vidro, vistam-nos os uniformes e saiam daqui,
receberam seus pagamentos amanhã de manhã- disse eu com ar de autoridade.
É pra já- responderam.
Quando é que sai o filme Alfredo?- perguntou um deles.
Em Outubro-respondi.
Eh amigos, Oque vocês acharam? Acharam mesmo que me arriscaria em colocar
meu maior segredo nas mãos mais sujas e bocas mais baratas do país? Claro que não, eu
menti pra eles que se tratava de um filme que eu os pagaria para participar. E eles, idiotas
que eram, caíram feito patinhos. Eu até escrevi um guião e disse que se os outros
personagens não colaborarem deveria improvisar. E que belo improviso. Agora sim estava
na hora.
Dias de cativeiro
«Você sabia que 67% de psicopatas que você já viu pela TV, em suas declarações
afirmaram que suas ideias maníacas vieram de fontes como livros, filmes, séries policiais,
etc.
Quer dizer, estamos criando uma sociedade cada vez mais doente» - Augusto Cury, em
O vendedor de sonhos

TRIMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMM,
TRIMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMM,
TRIMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMM,
TRIMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMM, este é de fato o som
mais comum entre os toques de celular!
Porém, não é muito agradável se ouvido a 340 decibéis, e este era o som que
acordava-os naquela manhã, eram 15 minutos de quase surdez obrigatória uma vez que
nem preparados para este som estava esta família.
Oque podia eles mais fazer se não suplicar que o som parasse? De fato não podiam
fazer nada.

Lara sequer conseguia acreditar na noite de ontem, pois até onde ela sabia,
tiveram sido sequestrados por um grupo que horas mais tarde acabou por matar seu
chefe, desde então, nenhum dos sequestradores tivera pronunciado uma única palavra.
Mário porém tem memórias mais alongadas, pois este lembra até da sensação de
penetração da faca em seu corpo, da forma estranha como foram vestidos e claro das
caixas de vidro aonde tiveram sido presos.

Lara foi vestida de preto (simplesmente por ser minha cor favorita), Mário de azul
(afinal eu era intolerante a esta cor), Augusto o queixinhas era o vermelho, e Maria era
vestida de verde, assim Augusto (RED), Maria (GREEN) e Mário (BLUE) compunham o meu
conjunto de cores favorito, 16 milhões de combinações possíveis, fazem do RGB color a
minha mais que favorita escolha.
Entrei na sala, agora também vestido de negro, um SMOOKE bem a calhar, luvas
pretas, mascara de esqui, e o SUPER altifalante.
Ao abrir da jaula, saiam, retirem seus pratos de acordo a cor e voltem a entrar, se
algum de vocês se armar no herói garanto que nenhum de vocês sairá vivo daqui-fiz
saber através do altifalante.

Me afasto da porta agora com um carrinho e ponho a frente deles 4 pratos


distribuídos por cor preto, vermelho, verde e azul. Volto a sair da sala e tranco.

3 Minutos depois ouve-se um som que mais parece ser um sinal, abrem-se a jaulas
e claro que como eu esperava eles desobedecem-me, Mário e Lara estão tentando
escapar batendo na porta e chorando até, suplicando por ajudo e sei lá mais oque.
Porque está fazendo isso? Nos deixe ir por favor, nós não vamos a polícia-Lara
suplicava.

Tentativa inútil confesso, afinal, nada duque ela pudesse dizer me faria mudar
minha opinião sobre ela. Que tipo de pessoa pode ser tão singular em um cativeiro? Não
importa mais a compaixão, ela estava comigo e eu só me precisava livrar dos outros, talvez
por isso eu tivera envenenado os outros pratos, claro, não o suficiente para matá-los já,
mas com certeza quantias significativas.
Resolvo a situação com um pequeno choque elétrico que obriga Lara e o marido a
se afastarem das paredes e então com uma arma em mãos entro na sala.
Obrigo-os a entrar em suas jaulas, e apesar do medo e lágrimas, obedecem-me.

E entre tentativas fracassadas de pedidos de ajuda e tentativas inúteis de fuga


foram passando os dias no cativeiro, sempre encarcerados, 15 dias para ser mais exato, e
no entanto eles não tinham sequer noção de quanto tempo já se havia passado já que as
permanentes luzes apagando e ligando bem como a não interação com o meio externo
fazia-os desconhecer o tempo.
No dia 16 do cativeiro, era já hora de começar com os jogos para os quais os tivera
trago aqui. Não me consegui conter mais, precisava mostrar para ela o valor que tenho e
que com certeza é maior que do seu estúpido marido Mário.
Nos últimos 15 dias fui diminuindo o nível de alimentos que eles consumiam,
aumentando também o nível de envenenamento deles, afinal de contas isso era um
sequestro e não um cruzeiro. Como os pratos estavam distribuídos em função das cores
dos seus uniformes ao reduzir reduzi também em relação as cores, tendo deixado Augusto
num período de 4 dias sem alimento algum oque pela minha observação tivera torturado
psiquicamente os seus pais, já que eles eram obrigados a comer enquanto seu filho morria
a fome. Claro que ele não morreu, afinal nunca foi parte do plano mata-lo de fome, tinha
planos melhores e maiores para eles.
Então, ao iniciar da tarde que obviamente não se podia perceber em função das
condições aqui estavam submetidos, entrei na sala em que eles se encontravam
trancados. Pus-me a frente da jaula de Maria que se encontrava dormindo, devido os
traumas que esses dias foram para si, e claro que pelo desespero também.

Então, abri a sua jaula, despejei água morna nela, e quando ela começou a gritar.
Seus pais e seu irmão já desnutrido pelo tempo presos e cansados obrigatoriamente pelo
ingerir do veneno constante que tenho aplicado, sequer encontravam forças para tentar
gritar mais, por isso se limitavam a suplicar ajuda e tentar apelar pelo meu lado
supostamente moral, coisa claro que não deu resultado.
Retirei Maria da sua jaula, e olhando para Mário, percebi a impotência que seus
olhos demonstravam ao me encarar, mas isso para mim não tinha importância alguma.
Amarei-a a uma cadeira de dentista impedindo que ela conseguisse fazer qualquer
movimento brusco. E então me voltei para seus familiares e expliquei-lhes as regras do
meu jogo.

Vou fazer perguntas para vocês, vocês é quem sabem como vão decidir responder.
A cada mentira contada por vocês, arrancarei uma unha de sua filha, e se as unhas
acabarem vou quebrar um por um, todos os dedos dela, até não sobrar mais nada
para quebrar, vou cortar a língua de sua filha e cortar os seus pulsos, mas não tão
rápido, vou obrigar-vos a observa-la a morrer tão lentamente que vocês morreram
um pouco a cada bocado dela que se perde-disse eu.
Claro eles voltaram a gritar e suplicar-me para que eu não faça nada, e no entanto
foi mais uma vez uma tentativa inútil.
Sai da sala por minutos e quando voltei, em minhas mãos estava uma caixa de
ferramentas, contendo martelos de diferentes tamanhos, bisturis, pinças e muitas outras
ferramentas cirúrgicas.
Aproximei-me de Maria que entre os gritos de seu irmão e seus pais, não se
conseguiu conter e passou a chorar, entre gritos de um lado e de outro, coloquei ao mais
alto volume minhas musicas favoritas tocando apenas em meus auriculares, não alto o
suficiente para afundar os gritos, mas o suficiente para trabalhar deixando um clima
SUPER sinistro no ar.
Gritei olhando para eles-quando vocês se conheceram?

Claro que devido aos auriculares não ouvi sequer uma palavra vinda de suas bocas,
oque para mim era uma mentira, logo, como combinado, peguei em meu bisturi e comecei
cortando muito lentamente as bordadas da sua primeira unha e com um alicate arranquei
muito bruscamente, senti pelos gritos dela que a dor se igualava minimamente ao que
sempre senti todos esses anos, e senti um sentimento a muito desconhecido por mim,
acho que era felicidade, sei lá, porém, só durou 8 rápidos segundo, tão rápido minha
felicidade acabou e então quis voltar a sentir.

Então, sem mesmo perguntar alguma coisa, voltei a cortar lentamente as bordas
das unhas da próxima unha, e com meu alicate arrancava muito bruscamente provocando
uma dor insuportável. Ficava imaginando como será quando for a vez de Lara, como
devem ser seus gritos, a que tom ela grita quando estiver sentindo medo da morte,
sentindo dor, ou quando estiver só provocando mesmo. Fiquei maluco, o sorriso
empolgado (vulgo sorriso psicopata) já não se conseguia conter e meu rosto foi finalmente
inundado por um sorriso tão grande que declarou e deixou patente que não tinha
qualquer intensão de os libertar.

Passaram apenas 35 minutos e todas as unhas de Maria já haviam acabado, quer


as de suas mãos, quer as de seus pés. Então baixei-me e retirei um martelo de minha caixa
de ferramentas e me virei para seus familiares e voltei a perguntar.
Quando vocês se conheceram?-disse eu

Claro que devido as músicas altas que ouvi só pude perceber seus lábios gritando,
sei lá porquê. Mas com certeza não me interessei em ouvi-los, afinal as músicas que ouvia
eram mais interessantes que suas vozes e então martelei o primeiro dedo de Maria que
devido a sua incapacidade de aguentar tanta dor, afinal ainda era uma criança, desmaiou.
Não posso torturar ninguém que esteja desmaiado, afinal não sou nenhum tipo de
monstro. E então descansei e deixei-a descansar 10 minutos e acordei-a.
Voltei a quebrar seu segundo dedo, e outro, e outro e outro. E era tão bom que
não podia deixar de rir, então é assim que é ser feliz? Não sabia que esse tempo todo
estive perdendo as sagradas alegrias da vida.

Ao termina de quebrar as unhas das mãos, percebi que o público que me


acompanhava havia reduzido, pois pela agonia que estava vivendo vendo sua filha naquele
estado, minha querida Lara tivera desmaiado, então fui até a jaula em que ela se
encontrava e acordei-a, apos ver ela já em estado consciente, disse para ela que se ela
voltasse a desmaiar eu iria matar toda a sua família com muita raiva e que a deixaria ir
para que ela vivesse com o remorso de ter sobrevivido e pior, com a ciência que sua família
tivera morrido por um estupido desmaio dela.
Então voltei para Maria e quebrei os outros dedos sem qualquer prazer desta vez,
só senti mesmo era raiva.

Voltei-a para a jaula e fui-me embora.


Passados 5 dias, voltei e desta vez retirei Augusto da jaula, prometi não arrancar-
lhe as unhas e nem quebrar os dedos se ele colaborasse, no entanto não era dele que eu
queria obter as respostas.
Amarei-o com os braços esticados até ao extremo para cima, e as pernas até o
estremo para baixo, então me virei para seus pais e voltei a dizer-lhes:

Vou fazer perguntas para vocês, vocês é quem sabem como vão decidir responder.
A cada mentira contada por vocês, arrancarei uma unha de sua filha, e se as unhas
acabarem vou quebrar um por um, todos os dedos dela, até não sobrar mais nada
para quebrar, vou cortar a língua de sua filha e cortar os seus pulsos, mas não tão
rápido, vou obrigar-vos a observa-la a morrer tão lentamente que vocês morreram
um pouco a cada bocado dela que se perde-disse eu.

Claro eles voltaram a gritar e suplicar-me para que eu não faça nada, e no entanto
foi mais uma vez uma tentativa inútil.
Sai da sala e voltei com um comando apenas.
Quando se conheceram?- perguntei.
Eles cheios de medo, sem entender oque aconteceria se eles não me
respondessem decidiram calar os gritos e responder: na Federação Russa.
No entanto não era essa a resposta que eu queria, e por isso pus meus auriculares
que a essa altura para eles não era um bom sinal e cliquei em um botão no meu comando.
A plataforma em que estava preso Augusto, começou a mover-se esticando seus
braços e pernas desafiando a sua elasticidade e provocando uma incontornável dor,
Augusto tinha apenas seus 15 anos e no entanto dava para ouvir seus ossos se separando
uns dos outros isso foi tão assustador para mim e pela primeira vez experimentei o medo,
a ansiedade, o desejo de pular logo para o final, mas percebia que não tinha mal algum
em esperar e decidi ver até onde isso iria.
Voltei a perguntar: quando vocês se conheceram?
Face a falta de resposta, eu voltei a acionar o botão e isso fez com que fossem mais
uma vez esticados seus braços e pernas até que não conseguia ouvir mais nenhuma
separação de ossos e isso me aborreceu imenso. Sinceramente também pensei que
torturar Augusto poderia ser mais interessante duque estava sendo, e como não estava
sendo, parei com a tortura.
Desamarrei-o e volteio em sua jaula.
Esperei 24 dias e voltei para a sala, para o terceiro jogo.
E então eu quis tirar Mário de sua jaula, mas pela sua estatura física, eu sabia que
seria quase impossível tira-lo de lá sem me magoar, afinal, eu tinha menos idade, menos
experiencia e menos corpo com certeza.
Então aumentei o nível de droga na alimentação dele deixando-o fraco o suficiente
para ficara minha merce, fui até sua jaula e retirei-o dela, então, já desamado, prendi-o
em uma grade especial com uma arma dentro.
Disse para ele que se quisesse salvar a sua família ele devia matar um deles, claro
que eu sabia que o risco de ele atirar em si mesmo era gigantesco, por isso fui claro ao
explicar a cláusula que o impede de matar a si mesmo pois eu mataria toda a sua família,
incluindo sua mãe e seus irmãos e até primos distantes.
Isso foi mais duque suficiente para obriga-lo a tomar essa decisão que a mim
mesmo assombrava.
35 Minutos depois lá estava eu assistindo o consentimento calculado entre Lara e
Mário que acordaram que era matando Lara a solução para esta situação.
Estupido, como podem pensar que matando ela podia se salvar? Eu matava-os
todos se isso acontecesse.
No entanto permaneci assistindo a cena. Ele caminhou até a esposa, beijou-a,
abraçou-a e colocou a arma em sua cabeça, premio o gatilho e a arma estava vazia.
Claro que estava vazia, é claro que pais se sacrificariam pelos filhos e se Mário é
impedido de morrer, quem mais morreria? A mãe, ou seja, Lara.
Nunca estive preparado para o momento da morte de Lara, e por isso tinha eu um
plano B para esta situação.
Entrei na sala sorrindo pelo drama do momento, e aplaudindo a forma eufórica
como eles reagiram a situação, criticando porém a decisão estupida que eles tiveram
tomado tentando sacrificar a única coisa que os mantém vivo «Lara».
Recebi a arma das mãos de Mário, e saí da sala.

5 Minutos depois, voltei com uma família com caraterísticas iguais as deles, um
pai, uma mãe, um filho, e uma filha deveras interessante, amarados ajoelhei-os a
sua frente e disse para Mário: Recomecemos, tu tens agora uma única chance de
salvar sua família ou perde-la. A arma que esta na sua jaula, desta vez está
carregada, para salvar a sua família você deve matar esta família deixando apenas o
progenitor.
Se você fizer eu deixo-vos ir, se não, darei a mesma oportunidade para eles e deixa
que te digo que eles não deixaram esta oportunidade escapar.

Mário se detivera meio que para procurar um consentimento entre seu coração e
a lógica para a qual a razão o arrastava.
Sua família valia mais do que aquela? Seria ele capaz de matar uma família inteira
para proteger a sua?
Eu aprendi que em determinadas situações, todos somos capazes de cometer os
piores crimes. No entanto, foi só através de Mário que esta teoria ganhou poder para mim.
Enquanto se detivera Mário, eu pôs-me a pensar: porque para nós existe o bem e
o mal, se cada um deles são apenas decisões que tomamos mediante a situação que
encaramos.
Mário, não era em nada diferente de mim. Ele elevou a arma e apontou ela em
direção aos pais daquela família que se curvavam para proteger seus dois únicos filhos,
enquanto suplicavam pelas suas vidas também.
Uf…
Déjà-vu…quando fui eu naquela posição, todos me achavam um monstro, sem
coração. Mas agora, Mário parece só um cara que quer com todas as forças proteger sua
família, e isso a qualquer custo.
Sem coração? Sinceramente depois do que vi, duvido que o tal dito coração exista,
e se existe mesmo, então ninguém neste mísero mundo possui um.
Essa família que agora suplica pela vida, já esteve nesta posição antes, e se estão
vivos, devem saber que a outra família não sobreviveu, então oque que há de realmente
belo nesta proteção que dão a seus filhos. Os leões caçam zebras para que seus filhos não
morram a fome, e a gente chama isso pacificamente de cadeia alimentar, nós mesmos
caçamos leões para nossos filhos não morrerem a fome. Que há de belo nisso? Será que
a vida não tem valor porque não é do nosso ciclo.
Agora vem a estúpida ideia de altruísmos, homens pensando que se conseguiriam
colocar no lugar de seus semelhantes, que estupides.
Como em plena época de escravidão, poderia o Europeu se colocar no lugar do
Africano?
A apenas 500 anos, eramos vistos como hoje olhamos para os leões, apenas bichos
sem direitos, devia ser profanação naquela época se achar igual ao ser que por
imperfeição celular nasceu com uma cor mais clara.
E então, hoje, nos tratam do mesmo modo… que vocês acham que mudou?
Permitam que vos elucide. Apenas os termos! Antes macacos, agora pretos,
negros. Tinham as cores já nome e significado, quando pela primeira vez fomos apelidados
de negros.
Discriminação? Racismo? Não, não meus caros, isso vamos lá chamar de cadeia
alimentar.
Padres colonizaram nossa pátria para nos ensinar que seu Deus é deus de amor.
Então que vocês acham que isto é? Mal? Bom?
Não importa, isso para mim é escolha, cada um tem uma, e você escolheu, 500
anos depois achar que os errados eram seus antepassados negros que escolheram ainda
assim morrer adorando a natureza. Hoje você mesmo reza para um deus que em seu
nome seus pais morreram, suas mães foram sequestradas a luz do santo dia de Sábado,
estupradas nas ruas em pleno Domingo e na Segunda-feira sequer receberam um enterro
digno. Foram atiradas a valas comuns, onde juntas com suas filhas que sequer tinham
idade para o sexo, foram queimadas, as vezes vivas até.
Foi assim a 500 anos, e digo mais, foi assim o tempo todo. Oque você acha? Esses
homens não tinham coração? Talvez o coração seja apenas invenção deste século, porque
afinal das contas, estes homens amavam suas esposas, seus filhos, seu país e seu deus.
Seu deus dizia inclusive nos amar. Por quê?

Mário disparou contra cada um dos membros daquela inocente família, sem
coração algum, e é assim que terminam as histórias de verdade, homens não são bons,
porque não são maus.
Notava-se as lágrimas de culpa que seus olhos deixavam sair, mas por outro lado
a esperança de sair deste cativeiro aumentara seu animo muito rapidamente.
Tão rapidamente começaram eles a suplicar para que eu os libertasse.
Mandei-os calar para que eu pudesse fazer meu luto, pelos familiares que acabei
de perder. Afinal, aquela família eram meu tio, tia, primo e prima, que foram dados como
imigrantes a três meses.
Quase que chorava em seus cadáveres, foi quando Lara percebeu que isto não
aumentara as chances destes saírem de lá, mas as reduzira a nada, em desespero fechou-
se em sim e só podia mesmo chorar.
Sou eu o psicopata, mas são eles que assassinam minha família.
Em que tipo de mundo vivemos afinal?
Deixe que vos diga em qual!
Vivemos num mundo onde oque eu faço é errado, sou limitado pela minha
condição mental a matar seres humanos, e sou um monstro por não preservar a vida. No
entanto, seres humanos são obrigados pela sua condição humana a tirar vida animal, e
isso é cadeia alimentar. Que belo deve isso ser.
Monstro ou não, não importava muito naquele instante.

Dirigi-me para Mário, que devido a ocasião se culpava de monstruosidade, olhei-


lhe fixamente nos olhos, e disse: Que parte do, não matarás você não entendeu seu
monstro sem coração? Sua família vale mais do que esta que acabaste de sacrificar?
Como poderás dormir a noite com tanto sangue em suas mãos? E se ainda agora eu
lhe der a liberdade, poderá viver livre com essa consciência?

Lara descobrira agora oque lhes pretendia transmitir, no entanto seu emocional
lhe impedia de descobrir-se a si, mesma.

Levantou-se de em sua prisão e pôs-se a gritar: oque você quer da gente afinal?
Nos deixe ir embora! Nós não fizemos nada para você! Nós nunca iremos contar
nada, nós não sabemos nada!

Um pouco primitivo admito, afinal, a esta altura eu esperava que já estivesse bem
claro que nada do que eles dirão me fará liberta-los. Mas, por outro lado, percebi que esse
era seu método de convencer-se que seu marido tivera fortes razões para se tornar num
assassino.
Ridículo! Saí da sala. Deixando o silêncio filosófico entre aquela família, que agora
descobrira um novo pai, e marido, um capaz de matar com o pretexto de proteção.
Não há um bom sequer
O sofrimento fortifica as nossas forças, e faz-nos homens melhores, disse uma vez
um filósofo que sequer sabia do que estava falando, que estupidez pode vir a ser isso?

De certeza que eu não era o único que podia discordar de tal ridicularidade, então
apenas 5 dias apos os últimos acontecimentos, apareci-lhes meio que em visões realistas,
preparando o nosso espaço para mais uma tarde divertida de jogos.
Para eles não foram dias, foram apenas horas, afinal não tinham noção do tempo
que estavam prisioneiros.
Não tinha eu interesse nenhum em torturar mais crianças: que coisa sem graça-
pensei eu.

Olhei para Mário, e percebi uma certa entrega a minhas mãos, afinal, nos últimos
tempos vem se sentindo culpado de crimes que antes de cá estar se sentira incapaz de
cometer, crimes que enquanto advogado de profissão, tem vindo a se esforçar para julgar.
Mário pretendia a morte, e ainda que eu me esforça-se para o torturar, dor
nenhuma sentiria, sua mente estava já morta, apenas o corpo permanecia ali.

Talvez o sofrimento nos fortifique mesmo.


Que graça sentiria eu em torturar um homem sem alma? Nenhuma, então como
último recurso, fui até a prisão de Lara, e arrastei-a de lá, senti a voz de Mário retornar
com sua alma para seu corpo, estava ele disposto a morrer, mas pronto para ver o amor
de sua vida morrer, isso nunca.

Os filhos de Lara puseram-se a gritar por ela: mãe, mãe, deixe a nossa mãe em paz.
Ainda ouço suas vozes algumas vezes.
Claro que os ignorei, abafei aquela sala com música alta de mais, deixando um
clima SUPER estranho uma vez que ouvíamos vezes sem conta YOU ARE NOT ALONE.
Enquanto amarrava Lara a cama que trouxera, ela sem sequer tentar resistir,
olhou-me nos olhos e disse: você vai arder no inferno!
Você acredita em Deus Lara?- perguntei.

Ela no entanto conteve suas respostas, e não disse uma só palavra.


Tá bom, seu deus não pode salvar você de mim, e muito menos sua família, porque
foi ele que trouxe vocês para mim! Reze, reze, e reze muito mais, para sua alma ser
salva do nada para onde ela vai. “Pedi e vos será dado, batei e vos será aberto”, sou
eu quem pediu para te ter, e olha só para sua volta, você está comigo, e por culpa
sua, sua família morrerá aqui, quanto a você, você viverá para saber que suas
orações não foram nunca ouvidas por ninguém, e que as palavras do seu pastor
eram apenas para conforto pessoal.

Lara pôs-se então as gargalhadas. Confesso não ter entendido seus motivos até ela
decidir falar: tu estás muito enganado se achas que me enganas com esse seu
discurso zinho, você precisa entender a lógica, eu sei que eu e minha família
morreremos aqui, então tecnicamente não somos nós que estamos fechados com
você aqui meu caro, você está fechado com a gente. Como você acha que isto vai
acabar Alfredo?
Do que você está falando?- perguntei com uma certa indagação na garganta.

Eu sei quem você é “SENHOR”- respondeu ela com um completo tom de sarcasmo.
As gargalhadas aumentavam a medida que ela percebera que suas desconfianças
se confirmavam.
Peguei em um bisturi e baixei para sussurrar em seu ouvido.

Que diferença faz você saber ou não quem eu sou, achas mesmo que eu imagino
um final diferente se não com minha morte aqui? Morrerei mais vivo do que nunca
e completamente satisfeito, e você? Você morrerá aqui, quem sabe hoje até,
sabendo que só você sabia quem eu era, e isso não foi suficiente para me parar, que
pena, “MISS LARA”- disse eu agora também com o tom de sarcasmo.
Lara, esforçou-se para arrancar minha carne com sua boca meio que em tom de
desespero.

É mesmo esse o espirito Lara, grite, lute, e morra tentando se salvar-gritei satisfeito
com a sua reação.
Aumentei a música do ambiente.
Lara olhou para o bisturi, e disse: sério? Oque foi? Falta de criatividade? Você já
usou essa contra minha filha, não se lembra?

Arrogante até ao fim não é? Claro que me lembro, lembro-me perfeitamente de


seus gritos, e fico imaginando como deve ser que ela grita quando é
espontaneamente, devo experimentar isso também? Olhe para o sangue dela,
quantos anos ela tem? Já está uma mulher Lara, oque você acha que vai acontecer
quando você partir? Ela presa aqui comigo sozinha? Falta de criatividade? Posso-lhe
garantir que não, falta-me muito ainda por fazer, mas você vai estar aqui para assistir
eu estuprando sua filha e obrigando seu filho a matar seu pai e sua irmã, e como
disse você viverá, oque você acha agora da minha falta de criatividade?

Afastei-me de Lara cujas lágrimas já rolavam de seu rosto, não por si mesma, mas
pela família que estava agora condenada, pois ela revelara saber minha identidade.
Instalei o monitor a frente de suas prisões para que eles pudessem ter a imagem
ampliada do que eu faria com Lara, que afastei para um canto mais iluminado e distante.
Coloquei em mim um microfone e aquele transformou-se em um verdadeiro
programa televisivo.

Vamos começar- disse eu.


Com a tesoura cortei ao meio as roupas de Lara, que se esforçava para esconder o
belíssimo corpo que ela tinha, e quão belo era, apesar da idade e dos dois filhos, deus foi
deveras generoso com esta mulher, deixando seus seios ainda lindamente desenhados, e
sua cintura e tamanho igualavam-se a de uma mulher que nunca foi mãe, nos seus
perfeitos 28 anos de idade.

WAU Lara, com uma mulher com esse corpaço até eu matava aldeias inteiras-disse
eu.

Pequei meu marcador e passei a desenhar a área que cortaria.


Lara não parava de mexer-se para ver se evita oque depois foi chamado de
operação, mas minha habilidade com desenho técnico permitiu-me terminar as linhas
horizontais e as verticais, apenas a metade delas.
Busquei pelo bisturi e comecei a corta-la seguindo as linhas outrora desenhadas,
aquilo sim era um banho de sangue.
Era sangue por todo o lado, então eis que me apareceu uma ideia genial, preservar
aquele sangue para uso.
Comecei a coleta-lo, em meio aos gritos de Lara, e o desespero de sua família não
me pude conter, meu mais que belo sorriso, inundou a sala a medida em que cortava a
pele de Lara.
Comecei a arrancar a pele dela e abrindo alguns buracos que perfuravam até seus
músculos deixando passar o sangue gota por gota.
De vez em quando voltava a sutura-la, outras vezes não, deixava minha pinça
alargando o buraco feito por mim para a passagem mais rápida do sangue.
Sem anestesia Lara desmaiou umas três vezes durante todo esse processo, e não
a julgo, afinal, eu mesmo teria desmaiado se fosse eu em seu lugar.
Ia aproveitando seus momentos de desmaio para suturar as aberturas feitas, mas
acordava para que ela pudesse-me ver suturando sua pele arrancada e já morta em si
mesma outra vez.
Lara e sua família choraram muito e suplicaram pela suas vidas durante todo esse
processo, no entanto em nenhum instante Lara suplicou por sua vida como quem não
quisesse dar-me o gosto de sentir ela a suplicar por misericórdia.
Terminado isto, pus-me ao lado de sua boca, era o momento pelo qual sempre
esperei, nada do que fizera, me fizera sentir alegria, mas isto aqui era diferente, sentia
meu sorriso diferente, sorria diferente.
Olhei-a nos olhos cujo olhar era já enfraquecido pela perda de tanto sangue, perdi-
me no olhar e beijei-a.
Claro que o beijo não foi retribuído, Lara usou suas forças de reserva para me
expulsar, também já tinha quase tudo que desejava, que fique ela com seu beijo.
Abri sua boca correndo o risco de ser mordido outra vez, mas o meu estilo dentista
a impediu de me fazer qualquer mal.
Lara me negara um beijo com a mesma língua que usou para revelar minha
identidade, então essa língua passou a pertencer-me.
Cortei-lhe a língua para que não falasse nada nunca mais.
E então deixei o escanda-lo invadir a sala em que seus familiares estavam.
Mário já não tinha uma boca para beijar.
Mas com certeza esse não era o maior problema.
Lara havia perdido muito sangue, ou melhor, expulsado muito sangue, afinal cada
gota do seu sangue foi preservada por mim.
Ficou muito mal, e precisou de ajuda médica, e isso era um problema.
Afinal, não a podia encaminhar para hospital algum pois que seria preso, tive então
de ser eu a utilizar meus poucos conhecimentos de medicina para a salvar a vida.
Que constrangedor, penso em mim até hoje.
Por sorte, seu filho Augusto terá do mesmo tipo sanguíneo e foi o salvador dela
por agora.
Sem forças, Lara foi presa por mim em sua jaula, recuperando ou morrendo, já
íamos descobrir.
Ao chegar da hora de jantar, limitei-me a fazer a entrega de costume, mas hoje
com uma ligeira diferença, eu mesmo jantava com eles esta noite.
Sentei-me a sua frente, apreciando a forma devoradora como se alimentavam do
veneno que de costume os colocava em seus pratos.
Comecei me alimentando, e para beber escolhi uma coisa bem diferenciada hoje,
“SANGUE HUMANO”. Sim, sim, dei nova utilidade ao sangue de Lara, que no final não tinha
o sabor que sempre imaginei que tinha, mas me obrigava a bebe-lo, afinal, deixava um ar
SUPER psicótico no ar.
Que tipo de monstro sou eu?
Pesquisas psicológicas afirmam que dentro de cada um de nós há um monstro
adormecido, um monstro que quando acordado em situações críticas apresenta o pior de
cada um. Então que tipo de monstro há em mim? Qual o seu tamanho? E oque ele é
capaz?

Debati-me com questões como essas durante muitos anos da minha vida, mas
parece-me agora que me venho finalmente a conhecer.
Lara ainda estava mal, desde a última vez que conversamos, suas feridas iam
infecionando e sarando muito lentamente, porém o trauma passado naquela cama
hospitalar não a deixava dormir.

Eu porém, não conhecia o significado de pesadelos até aquela semana. Durante


várias noites experimentei o sabor do medo, ao sonhar com os gritos de Maria e Lara
sonhava com um final pior para mim do que alguma vez imaginei, acordava ansioso, suado
e com dificuldades em respirar. Posso dizer finalmente que tive medo de adormecer
durante estas noites.

Ficava observando pelo monitor, a tortura que era para Lara sobreviver aquilo tudo
que acontecia, ao desejo de morte que Mário nutria em si mesmo, e a agonia de Maria ao
pensar que morreria aí, tão jovem que era.
Debati-me sobre minhas razões para continuar a fazer-lhes aquilo, afinal não era
só pela minha condição neurológica, afinal, já senti medo, alegria, excitei-me e desejei
com todo o coração, eu era mais humano do que fui durante toda a minha vida, então
porque ainda não os libertei, o medo de morte assolava minha alma, percebi que tinha
medo de os libertar e deixar de me sentir normal, afinal, se senti todas essas coisas por
causa desta família, oque me garante que se eles partirem não deixarei de sentir? E se
eles partirem, oque acontecerá comigo uma vez que Lara sabe quem eu sou?
Será que devia matar apenas a Lara? Será que me perdoaria algum dia por ter Lara
tão perto e a perder?

Decididamente estava fora de questão liberta-los, mas agora esta questão me


fizera pensar, oque farei eu com todos eles quando nenhum deles ter medo de morrer?
Não se pode tirar a liberdade a quem a tem, pois só quando estamos dispostos e decididos
a morrer é que conseguimos realmente viver.

Enquanto se alongava os debates em minha cabeça, observei um fenómeno que


meus olhos não podiam compreender.
Maria, Augusto, e Mário, puseram-se em pé voltados para a cela de Lara, que ficava
mais a centro da sala, e cada um deles expressava a gratidão e amor que detivera durante
toda a sua vida. Lara era de facto amada, só não pude compreender porque julgou ela que
este amor era bom. Seus filhos e marido queriam com este gesto poupar-lhe ao
sofrimento e permitir que a mulher que nada mais podia falar porque eu havia arrancado
sua língua, pudesse partir para sempre.

Oque é a morte? E que influencia ela tem sobre a forma como vivemos nossa vida?
Será possível encontrar paz em meio a guerra? Despreocupação em meio a crise? De que
céus estavam eles falando? Meu estudo não permitia compreender em que estagio
comportamental humano se enquadrava tal atitude.
Poderemos alguma vez partir em paz em um trem que sequer sabemos se parará?
Como podemos aceitar a morte tão calmamente? Toda aquela situação me perturbava.
Porém ao pequeno Augusto de apenas 14 anos parecia tudo estar claro.

Lara não educara seus filhos com educação católica, aliás eram ela e sua família
uns dos poucos grupos de fé cristã que acreditava fortemente na passagem da alma para
um plano maior, o plano de Deus como eles o chamaram mais tarde, acreditavam, que
este cativeiro inclusive era parte do plano de deus para esta família e que depois deles
aprenderiam alguma lição.
Eles faziam suas orações todos os dias as mesmas horas, e agora que Lara estava
no seu fim, com certeza que eles redobraram as orações para que o seu senhor a
recebesse.

O senhor podia até estar pronto para receber Lara em seus braços, mas eu ainda
não estava pronto para deixa-la partir. E era lógico que eu tinha de redobrar os cuidados
para ela.
Passei então a alimenta-la de forma mais rigorosa, saldável, e atenciosa, a princípio
despertei a desconfiança de sua família, mas ao passar dos dias, aperceberam-se das
melhorias que ela apresentava, já não parecia um monstro.
Eles já não gritavam por ajuda ou suplicavam que os deixasse ir. Parecia que
estavam estudando meu comportamento para perceber oque eu realmente queria.
Passei a prestar mais atenção a eles, e a dar alguns alívios para eles.
Deixava-os mais tempo fora de suas celas, podiam visitar a cela de Lara com maior
frequência, abraçavam ela e expressões de amor era tudo oque mais via durante estes
dias.
Minhas noites de pesadelos não foram ficando mais brandas, alias se estendiam a
medos maiores. Na tentativa de fazer parar, passei a jantar com eles e a dormir mais
próximo da cela deles.

Parecíamos mesmo estar a viver em sociedade, eu e minhas regras de socialização,


e eles obedecendo as riscas ora por medo ora por respeitar os limites de cada um.
Meus limites eram bem conhecidos, mas agora que repenso, talvez não os
conhecesse tão bem.
Afinal, durante aquelas semanas tratando da saúde de Lara, cuidando de Maria e
permitindo que Augusto e Mário se libertassem por instantes passei a experimentar algo
deveras incomum para mim até ao momento. Em mim ardia o coração, acordava ao meio
da noite para os observar dormindo, e sentia completa necessidade de estar com eles a
toda ora, eh, experimentei o AMOR, puro, simples, e completo amor, nunca em minha
vida tivera amado alguém, mas agora sinto como se pudesse amar para o resto da minha
vida.
Havia quebrado a maior barreira pela vida imposta em mim, sofro de degeneração
do encéfalo, como posso sequer amar? Pelos vistos minha degeneração havia tempo que
tivera-se degenerado, afinal, eu mesmo estava amando.
O medo de os perder, e o desejo de os deter para mim. A agonia que sentia ao
sentir sua agonia me fizera pensar em quanto sofrimento havia causado a aqueles pais
que viram seus filhos serem torturados, a aqueles filhos que viram seus pais torturados, a
aquele marido que viu-me torturar sua esposa ao ponto de quase a matar.
Que tipo de perdão posso eu encontrar agora? Quem me perdoaria pelas
monstruosidades que cometi? Como posso eu encontrar paz e conforto no senhor
se até sangue humano consumi na tentativa de provar a mim mesmo que estou
livre? Minha tentativa de me libertar acabou de me aprisionar em um sentimento
pior que o amor, a culpa que guardo agora em meu coração jamais poder-me-ia
deixar viver- disse eu encostada de costa para a jaula de Maria que pelos meus
cálculos dormitava ainda.

Perdão? Parece uma palavra tão simples de ser dita. Mas como podemos nós
perdoar você? Quem nos deu este poder? Seus arrependimentos são por nos ter
feito mal? Ou por ter desobedecido a Deus? Entenda primeiro que são coisas
totalmente diferentes e o conforto e paz que procura encontrará em seu próprio
coração. Perdão? Peça a Deus perdão, porque nenhum de nós tem poder para o
perdoar, o coração humano é imperfeito e por causa desta imperfeição, ainda que
mintamos que o perdoamos, seguiremos guardando mágoas de si, você arrancou
minhas unhas, quebrou meus dedos, quase matou minha mãe, meu irmão e meu
pai, que tipo de perdão posso eu lhe oferecer, que tipo de perdão posso eu dizer em
palavras que o trará conforto? Porém se antes de buscares o perdão humano,
alcançares o divino, de certeza achará paz!- disse Maria, mostrando para mim que
não dormira como eu calculava.

Que sabedoria, como podia uma criança que nem ela dizer tão belas palavras? Que
livro lera ela? Quem lhe educara a pensar deste modo? A resposta permanecia a minha
frente óbvia como o tempo que passava, Lara.

Caminhei até a cela de Lara. Maria de algum modo sabia que não pretendera fazer
mal a sua mãe e por isso mantivera a calma.
Sentei-me ma cama em que ela se encontrava, eram tão belos seus lábios, era tão
belo seu rosto apesar de agora um bocado pálido, observei sua estrutura e percebi que
estava de facto apaixonado, preso em um amor totalmente impossível e sem chances de
reciprocidade, um amor completamente proibido e absurdamente perigoso para ambos.
Amava Lara e a influência deste amor em mim já não se conseguia esconder.
Oque Lara havia feito comigo? Que feitiço havia ela preparado para mim? Durante
muito tempo ouvi meu pai falando da doçura que Lara representava para ele, houveram
tempos que acreditei até que estes eram amantes.
Mas cá estou eu, hoje amando intensamente uma mulher que pelas leis do
universo e da lógica jamais poderá ser minha. Se eu pudesse ao menos ter um pedaço dela
para poder me lembrar do que ela é, uma mecha de seu cabelo agora é tudo que desejo
ter. Adormeci em seu colo, senti-a tremer, me entregava para ela, estava completamente
vulnerável mas ela não me quis. Não disse ela ainda sequer uma palavra quando eu havia
percebido seu desprezo. Levantei-me de seu colo, ia-me embora quando olhei-lhe
fixamente nos olhos, seus medos, seus anseios davam lugar agora para um olhar
singelamente frio, não podia conter o sofrimento que a fiz passar e chorava, suas lágrimas
percorriam-lhe o rosto, e senti como se ela me quisesse dizer alguma coisa.
Mas como dizer tais palavras, se eu agora possuía sua língua?
A culpa apossou-se de mim naquele instante, não era o mesmo homem que havia
sequestrado aquela família, era mais frágil, mais fraco.
Afastei-me dela o mais rápido que consegui, mas aquele olhar persegui-me agora
para onde quer que eu fosse, suas lágrimas escorrendo aquele belo rosto desfigurado
agora pelo meu egoísmo era tudo oque eu via.

Tentei dormir em minha sala, mas a cada momento em que fechava meus olhos
via aquele olhar, e ouvia suas palavras que nunca foram ditas. Como podia eu me
compadecer dela? Terá ela compaixão de mim? Ela me perdoará? Me deixará viver?
Lara ensinara para mim a maior das lições da minha vida, sem se esforçar ou sequer
dizer uma única palavra, ainda não os podia libertar pois agora eu também estava preso
em seu cativeiro, Lara estava certa, era eu quem estava preso com eles aí, eles eram
homens completamente livres, e por mais que me esforçasse não poderia roubar sua
liberdade. Já a minha, foi-me tirada no momento em que olhei-lhe nos olhos.

Passei aquela e as 5 noites seguintes em claro tentando conhecer-me e perceber


oque farei agora, mas tudo oque via era aquele olhar, meio que por magia, virava meus
sonhos e revirava minhas memorias para encontrar o lugar para me esconder e nada. Tudo
oque havia conhecido até aqui era a solidão apesar de estar rodeado de gente nunca
estive com ninguém.
Que coisa mais louca. Quem diria, eu sentindo carência! Eu tenho tudo, sou bem
formado, sou rico, posso ter as mulheres que eu quiser e ainda assim a única que
realmente quero não posso ter? Que valor têm meu diplomas, meus carros ou meus bens
se sequer o amor de uma família posso ter?

Nunca fui amado por ninguém na minha vida, minha mãe biológica se matou por
desgosto de mim, meu pai biológico nunca me quis ter, meus avos morreram por desgosto
depois de saber que eu vinha a caminho. Meu segundo pai me usou apenas para ganhar
prestígio e glórias, minha segunda mãe nunca pode de amar de verdade porque nunca
conseguiu ver-me como realmente seu filho. Talvez por isso tenho tanta inveja de Lara,
afinal, apesar de achar que tenho tudo, ela possuiu tudo que não podia ter, nem que
quisesse comprar.
Porque não?
Nestes dias, tudo oque fazia parecia para mim razão de turbulência, fechava os
olhos e em sonhos enxergava Lara, eu e os meninos como se esta família fosse realmente
minha.
Onde estava Mário? Que fizera eu com este homem em meus sonhos? Porque o
substitui eu nos meus sonhos? Que aquilo devia significar? Devia ser desta maneira que
nossa história terminava? Será isto empatia? Será que me ponho no seu lugar por alguma
razão memorável?

Que isso importa agora, Lara melhorava muitíssimo rápido já que recebia reias
cuidados.
O pesadelo desta família transformava-se rapidamente um apenas um sonho ruim,
e eu não passava de mais um bicho papão por baixo de suas camas, que não tarda passava
a ser ignorado, pois nem medo de mim tinham mais.
Claro que permaneciam obsoletos quanto as minhas razões para tais acções, mas
por isso não poderão ser julgados, afinal, até eu mesmo sou obsoleto quanto a razão de
tudo isto.

Acordei numa bela manhã, tão bela quanto as outras, porém mais especial. Pois
este era o dia criado para que eu me expressasse a Lara sobre os meus sentimentos. Ia
finalmente olhar-lhe nos olhos e dizer-lhe o quanto a acho uma pessoa horrível e temível,
o quanto a desprezo de todo o coração e a vontade que tenho de a possuir para mim, tão
grande vontade, que meus dedos tremem só de lhe ver, tão grande vontade que desperta
em mim coisas que para a ciência é impossível eu sentir.

Ia finalmente abraçar Lara e a possuir, por 5 minutos seria a pessoa mais feliz ou
talvez infeliz do universo. Afinal, como posso eu saber se serei feliz se nunca tive essa
experiencia? Que espectativa, que probabilidade, que excitação, não podia sequer
imaginar como seria esta noite e isso me excitava de uma forma que eu nem sequer podia
compreender… o universo de probabilidades não me deixava irrequieto e isso me
enlouquecia… e se ela disser não? Oque será de mim? Oque farei se ela não me quiser?
Parecia uma criança que encontrava seu primeiro amor no infantário e que acordava no
dia com a missão de oferecer uma rosa a este amor, era estúpido a forma como o medo
se apossava de mim, era deprimente ver em meus olhos a loucura que cometera por
suposto amor, já nem me podia reconhecer ao me olhar no espelho. Acordo e vejo Lara,
me olho no espelho e sua imagem aparece meio que como reflexo.
Devo estar a enlouquecer, isso não sou eu. Que estes psicopatas fizeram comigo?
Como posso escapar de uma prisão para qual fui-me entregar, deitando as chaves no mais
profundo dos abismos?

Em fim, nada podia fazer pelos vistos. Se não seguir o lógico guião da vida. Suas
falas, suas deixas, era tudo confuso para mim, mas que de errado tem o confuso? Somos
todos frutos de confusão.
E então minha mente foi preenchida com a estúpida ideia que talvez devesse
conquistar Lara pelos métodos tradicionais… estúpido? Sim, muito estúpido. Como posso
eu por um instante que fosse achar que depois de tudo que já fiz com seus filhos, com seu
marido e até mesmo com ela, ela poderia apaixonar-se por mim… que ridículo.

Porém, as palavras sobre perdão proferidas por Maria a quando do nosso último e
são diálogo, poderão talvez servir de consolo para Lara fazendo com que seu deus a
obrigue a perdoar, afinal o mesmo deus uma vez já tivera dito “amai os vossos inimigos”.
Não tenho duvida alguma quanto ao facto de estar na lista dos inimigos desta família,
afinal seria mais estupido ainda não ser considerado como tal depois de todo esse esforço.
Assim sendo, serão eles capazes de me amar? Que perturbador.

Procurei aconchegar-me ao lado da jaula de Maria que nas últimas semanas se


revelara dotada de uma sabedoria astronómica…porém de fácil uso, afinal poderia
manipula-la do modo que eu quiser.

Oque você acha de sair daqui?-pergunto eu voltado para ela.

Não havendo necessidade disso, porque você me faria sair daqui? - Respondeu ela
sem sequer ter movido um dedo, mostrando despreocupação e controle da
situação.
Eu tenho a arma, eu tenho a mente, eu tenho a vontade, mas ela parece estar no
controle do gatilho? Que interessante…

Como assim “não havendo necessidade”? Quer dizer que você não vê necessidade
de ver sua mãe? Não vê necessidade de estar com seu pai ou seu irmão? Nem muito
menos necessidade de sair destas prisões? - Perguntei

Você acha que pode dar-me a liberdade? Quem você pensa que é? “Deus”? Fala
sério… eu, minha mãe, meu irmão e meu pai morreríamos antes de atravessar
aquele portão, nós não sabemos onde estamos, nem se duraríamos quanto tempo
fora destas paredes. Minha mãe morrerá em breve e por mais que você queira, não
poderá fazer nada para impedir isto… meu pai provavelmente se matará tentando
matar você por raiva e o desejo de vingança que se vai implantar no meu irmão o
consumirá para o resto de sua vida, tanto que quererá matar você, mas obviamente
não poderá faze-lo - disse ela.
Riu minimamente mostrando contentamento - porque você acha que sua mãe
morrerá se ela está recebendo muito bom tratamento e as melhoras são óbvias?
Porque você acha que seu irmão não poderá matar-me? Que injusto, você nem
sequer se deu ao trabalho de imaginar o seu futuro.- Pergunto um tanto curioso.

Eu mesma matarei minha mãe, foi ela quem pediu isso para mim. Quanto ao meu
irmão, ele não poderá mata-lo porque - deu uma pausa nas falas, levantou-se, veio
em minha direcção, olhou-me nos olhos fixamente e então disse- eu mesma vou
matar você.

Engulo o nada que preenchia minha garganta e então surgem mim um sorriso –
você? Quem diria! Maria, Maria, Maria… que imaginação fértil. Vou contar-te um
segredo, sua mãe é a única coisa que a mantem viva aqui, se ela morrer, eu não me
importo nem um pouco, afinal, é para isso que eu a trouxe cá… já para você…
órfãozinha de merda… você não durará nem uma hora sem sua mãe aqui. Você acha
mesmo que eu já a torturei? Oque te faz pensar isso? Seus dedos quebrados? Suas
unhas arrancadas? (risos) minha querida, isso não foi nada, espere só até chegar a
sua hora.

Você se acha o maior de todos não é? (risos) eu realmente tenho pena de você, tu
és só mais um homem cuja história será esquecida, e aí finalmente encontrará sua
tão desejosa liberdade – disse-me ela

Você não está cansada de não estar livre? De ficar se segurando? De ficar presa as
ideias e vidas que outros idealizaram? De viver se escondendo de mim? (risos) … fala
sério aí Maria… você acha mesmo que eu não vejo você tentando se esconder a cada
vez que eu apareço por aqui… você ainda teme, você ainda treme, e isso é sua maior
prisão. Mas admito que você cresceu, só estou curioso para saber oque vem a seguir
– respondi-lhe.

Que foi isso? Fala sério, quase intimidado por uma garotinha que a umas semanas
não sonhava mais nada do que arranjar um namorado antes de envelhecer? Que ridículo.

Porém, aquilo não passavam de ameaças, não tencionava cumprir nenhuma delas,
até porque estava focado em resolver as coisas com Lara, talvez até cozer sua língua de
volta se fosse preciso.
Fui até a jaula de Mário, que se manteve já em pé me aguardando.
E propus-lhe que me ajudasse a conquistar sua esposa…humhum isso mesmo.

Sabe Mário, eu acho que você não é tão idiota quanto eu achei no início disto tudo,
por isso peço desculpas, lamento mesmo e eu acho que você já deve ter percebido
que não existe nada aqui que eu queira mais do que matar cada um de vocês,
escortejar seus filhos pedaço por pedaço e dar a vocês a carne para jantar. Mas
ambos apesar de diferentes concordamos em uma coisa… «sua esposa é belíssima»,
eu não quero continuar com esse negócio de maníaco para sempre, já deves ter
percebido que não rende muito, afinal, eu também quero ser feliz sabe, realizar
meus sonhos, e toda essa bobagem motivacional, mas há um grande impedimento
no meio disso tudo «Eu não tenho esposa, não tenho filhos, nem uma família como
a sua, e isso incomoda bastante.
E eu poderia resolver isso matando você e roubando sua mulher e filhos, mas isso
não seria digno de um cavalheiro, pois não?»
Assim sendo proponho a seguinte estratégia para podermos resolver isso.
Eu vou jantar com sua esposa Lara, por uma noite ela me pertencerá, tal como seus
filhos, uma única noite, e depois, tanto tu como cada um deles sairá daqui, desta
vez, sem truques.
E aqui entras tu meu querido amigo… tu convencerás todos eles a participarem de
um jantar comigo, e a fingirem que somos uma família, por pelo menos uma noite.
Temos um trato?- Perguntei.

Jamais poderia aceitar tal coisa, quem você acha que é? Quem você acha que eu
sou? Oque te fez achar por um instante que fosse que eu e minha família faremos
isso?- interrogou-me.

Quem eu sou? Meu caro, eu sou o homem com a mão no gatilho de uma arma
apontada para sua família, e você? Você é pai e sei que não fará isso por si, claro, o
orgulho e egoísmos estão impedindo a sua visão clara, mas deixa-me esclarecer
porque você fará.

Olhe para Lara, sua esposa querida, eu vou até lá e vou simplesmente estupra-la,
enquanto obrigo seu filho assistir toda cena, ele virá enchido de coragem tentar
matar-me, porém por eu ser superior em termos de físico, idade e experiencia
acabarei dominando-o, e porque eu quero que ele se sinta mesmo inútil isto não
será suficiente. Eu irei invadir seu espaço super privado na sua frente, e na frente de
sua filha Maria irei estupra-lo de igual modo, estupra-lo tanto que ele terá
dificuldades de fazer as necessidades para o resto da sua vida. Mas isso não será de
resto o fim, eu vou deixa-lo viver, só para ver a onda de estupro se estender por esta
sala, e então caminharei devagarinho para a prisão de sua bonequinha Maria (está
ficando gostosa, não está?), e lá, farei o dobro do que farei com sua esposa, aposto
que daqui a 30 anos ainda será possível ouvir os gritos dela ecoando por esta sala
vazia… ela é só uma criança, não é? Mas e daí? Isso não me impedirá de estupra-la
até ela não ter mais forças para respirar e viver, e então morrerá. Mas, será então aí
que nossa aventura começará meu querido. Eu vou profanar o cadáver de sua
esposa e sua filha com tudo que se tem direito, estuprarei elas mesmo mortas, pelos
órgãos genitais e todo o resto. E então voltarei para a jaula de seu querido filho inútil
que estará vivo até então suplicando que o mate, mas eu não o farei. Eu sei que você
não tem medo da morte, mas seus filhos, isso aí já é outra história… eu sinto o cheiro
de seu medo, vindo direito de sua cara de surpreso assustado. Então, como isso vai
ser? Vamos ser uma família esta noite, ou, bora colocar o coelhinho na toca? –
Perguntei, agora dirigido para todos eles que ouviam a conversa que mantivera
com Mário.

Agora sim estávamos nos entendendo, de um lado eu me sentindo vivo de novo e


de outro eles sentindo-se a cada segundo que passava um pouco mortos… espetacular
sentimento. Que espírito, que sensação… se deus existisse talvez agora eu dissesse para
ele o quanto estou amando esse momento, obrigado meu deus.
É claro que em função disto tudo eles acabaram concordando, estúpidos, quem
eles acham que são? Jesus Cristo? Que coisa, isso é até deprimente.

Passei a o resto da tarde, me preparando e preparando o local para a nossa


comemoração em família.
E finalmente chegou a hora, esperada por todos nós, fui até seus aposentos e
apressei-me em chama-los. Mário não podia fazer parte da nossa comemoração então
teria de ficar encarcerado durante este período.

Filhos? Venham abraçar o seu pai!- chamei-os


É claro que eles não vieram correndo, tão claro como o olhar de Lara para seus
filhos autorizando a estes tal atrocidade.

Deixe-os passar depois do abraço confortante que recebi destes.


Linda como sempre meu amor – disse eu para Lara.
Ela no entanto não disse nada para mim, que falta de educação. Eu aqui te
elogiando e você não sabe sequer responder, que decepcionante. Mas como podia ela
responder alguma palavra que fosse se não tem língua sequer.
Lara vestia um vestido vermelho que realçava seus seios, que mesmo com as
marcas da tortura, não a deixavam mal. Prendia o cabelo e isso deixava a amostra de seu
pescoço, e que pescoço era aquele. Meu deus, talvez até já acredite em ti.
Chegamos a sala que tivera preparado para nós e era uma coisa surpreendente.
É igualzinha a nossa- disse Augusto surpreendido- presentes.
Maria puxou seu irmão que quase se entregava aos prazeres deste mundo por
simples prendas.

Maria, deixe seu irmão pegar suas prendas- disse eu sorrindo para eles.

Acho que primeiro é o jantar de natal só depois abrimos as prendas- defendeu ela,
mostrando para mim que nunca tive uma só noite de natal em família.

Ouviste a tua irmã, abriremos apos o jantar Augusto, paciência- disse eu.

Sentamo-nos e começamos então o jantar. Foi esplendoroso, foi exuberante, foi


emocionante e apaixonante, percebi então que aquilo era o preço que sem querer fui
obrigado a pagar.
Mas foi apenas ao fim do jantar que aconteceu algo memorável.

Tu és igual a cada um de nós, tu não és diferente em nada, tu comes, bebes, ris,


olhas e vives como cada um de nós… mas há uma coisa que eu não consigo perceber
no seu comportamento, porque você faz oque você faz? Sabe, você sempre foi rico,
você é muito inteligente, você tem muitos talentos, então porque não pode
simplesmente formar uma família? Se você está apaixonado pela minha mãe e faz
isso imagine como será se metade da cidade se apaixonar por ela!- disse ela.

Isso lá é jeito de falar com seu pai? (risos) - disse-lhe- você não é mesmo fácil de
enganar pois não? Já que você quer tanto saber, eu vou te contar.
Minha história começou a alguns anos, enquanto era ainda muito jovem, mais jovem
do que sou hoje em dia, na minha escola havia uma rapariga chamada Lara, ela era
muito bonita, muito inteligente e creio que para além de mim, metade da turma
estava interessada nela, desde homens à mulheres. Todos queriam Lara… eu porém
não podia sentir nada por ela, apenas me limitava e todos os dias que ia para a escola
eu alimentava em mim as esperanças, esperanças que um dia talvez eu também
sinta alguma coisa, pois não sentir nada no meio de todas aquelas pessoas que se
enchiam era anormalmente um crime.
Que inconsciente fui neste tempo. Permita que te conte uma coisinha sobre
esperança, esperança de um amor impossível que trouxe um filho bastardo ao
mundo, esperanças depositadas no retorno de um namorado que jamais tenciona
voltar, esperanças de pais depositadas nos seus filhos, filhos que decepcionam,
esperanças de encontrar o perdão de seus pais que se suicidam para não te perdoar,
esperanças numa mãe que se suicida para não ter de cuidar de você…
Isso é esperança Maria…isso é ilusão, nada dessas coisas que você acha sentir são
reias, o medo, o amor, o ódio, a inveja, a raiva e todas essas coisas que estás
sentindo agora são só prisões criadas pelas sociedades no sentido de gerar em ti
qualquer tipo de impacto, você tem medo de morrer por isso você quer acreditar
em algo maior que você, algo que defacto não exista mas que lhe traga conforto de
algum modo, daí você ter decidido ser cristã. Você tem medo que o mundo seja
maior que nós e que nós sejamos meros grãos de areia neste oceano, daí você
acreditar que nós somos os únicos seres racionais da face da terra… oque é a
racionalidade? Oque isso significa? E como pode o pensamento humano ser
modelado com bases em regras de lógicas criadas por Aristóteles? Quem é esse cara
para milhões anos depois do homem começar a existir exigir regras para uma
propriedade privada? Que lógica tem o pensar lógico? Somos apenas criaturas
irracionais que aprenderam a falar, não somos diferentes de cães, gatos ou ratos,
afinal, tanto quanto não os entendemos, eles não nos entendem…que diferença faz
morrer ou viver? Acreditar ou não crer? Amar ou odiar, nada disso é real, você acha
que está magoada e que por tudo que fiz para vocês, você deve me odeiar, mas no
fundo, eu não fiz nada a vocês, eu apenas mostrei como é impossível estar no lugar
de outros, você fala muito de amor…então porque nunca se ofereceu para morrer
no lugar das pessoas que dizes amar? Como acontece o amor? Oque é o amor? Você
sabe? Então porque eu sinto que tudo oque vocês têm, é superficial?
Minha querida, entenda de uma vez por todas, vocês me odeiam, mas eu não sinto
nada por vocês, nem ódio nem amor… e sabe, isso é defacto a única verdade do
homem.

Você mente, e se engana a si mesmo, mas não pode mais nos enganar com suas
filosofias mal acabadas. Você não sente nada por ninguém? É isso que você diz
quando estás diante do espelho? (risos)
Que ridículo! Você é simplesmente ridículo! Sinceramente! Me diga uma verdade
sobre você e eu te direi tudo oque você não é- disse Maria.
Você é só mais um garotinho assustado que viu sua mãe desistir da vida… você é só
mais um morador de rua que recebeu a oportunidade de ouro de uma vida e ficou
se achando especial, você é só mais um, eu sei que você se acha muito especial, mas
fala sério… você é só mais um… mais um doente, mais um demente, mais um
psicopata, mais um louco da merda… mais um na lista interminável das pessoas que
não se conseguem encontrar neste universo- continuou dizendo.

E sou eu quem tem as filosofias mal acabadas?- perguntei-lhe.

Suas palavras mesmo quando silenciadas ecoavam entre as sinapses da minha


hedionda mente que se negava a aceitar tal diagnóstico de estupides… quem ela pensa
que é? Como ela pode saber? Ela não viveu nada ainda! É só uma garotinha assustada que
faria de tudo para viver…hummm… ela nem sequer…

O jantar era dado como acabado, e era chegada a ora de cada um deles levar para
o seu quarto seu presente de natal.
Claro que estavam receosos no momento em que os entreguei, mas depois de
alguns olhares frios e palavras como “faz parte do acordo” tudo foi se alinhando e eles
obedecendo mesmo sem querer foram para seus túmulos sem saber.
Combinamos que abririam as prendas assim que ouvissem o meu sinal. Então
aproximadamente as 23:59min do dia 25 de Dezembro ouviu-se um grande barulho
Trimmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm
mmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm
mmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm, apesar das
dores em seus ouvidos de tão grande que o barulho era, perceberam que era o sinal de
que lhes avia dito e apressaram-se a abrir suas prendas.
Para Maria havia uma grande caixa de preservativos masculinos com a justificativa
de que ela devia se cuidar mais. Para Augusto, havia apenas uma faca…e para Mário deixei
um álbum fotográfico com os melhores ângulos do nosso jantar em família para que ele
pudesse ver co seus próprios olhos, como a minha figura paterna era mais forte do que a
dele… se fosse eu o pai desta família, nada disso teria acontecido com ela.

Mas, estava eu ocupado com algo mais importante do que as suas reções, estava
ocupado com Lara, não me entendam mal… Lara dá-me sempre uma baita trabalhera.
Oque você achou do meu presente? Espero que tenha gostado. Que pergunta mais
descabida, me perdoe… é que- ainda estava eu falando quando ela se aproximou de mim,
fixou-me os olhos e pôs meus presentas a mesa.
Virou-se de costas para mim e ficou aí parada.

Ainda perturbado com tão grande silêncio vindo dela, observei que em cima dos
presentes havia papel- que inteligente, afinal, se você não pode falar, escreva.
Demorei para abrir aquelas folhas, pois me perdia ainda em sentir o cheiro de suas
mãos que com certeza tocaram naquelas folhas, era tão belo o perfume, era tão bela suas
caligrafia que nem me segurei ou ao menos pensei na possibilidade de suas palavras.
Aprecei-me em ler e o que li, destrui-me mais uma vez.

Lara escreveu que apesar de se sentir lisonjeada por ser amada por um psicopata
demente que nem eu (o que com certeza era irónico apenas), ela desprezava tudo oque
eu era e representava, ela não sentia nada por mim? Claro que sentia, sentia um monte
de ódio e vontade de fazer com que eu desapareça, Lara sentia-se tão desgastada com
toda aquela situação que orava para seu deus todos os dias para que a levasse deste
mundo, pois só assim, eu sentiria oque é perder alguém e entenderia oque era o amor.
Para ela eu era um louco desprezível que se ela sobrevivesse teria de gastar milhões para
esquecer. Mas, no momento em que eu pensei que era o fim de suas palavras… veio o
pior.

Eu acho que todo mundo algum dia acaba sendo desprezado… mas podes crer,
não importa quantas vezes você vai ser desprezado, dói sempre de igual modo…
Como assim ela não me ama? Eu fiz tudo, eu dei tudo de mim! Eu sou forte, sou
inteligente, sou rico, sou eu e todo cheio de mim, oque ela quer que eu faça mais? Porque
me tortura tanto assim? Será que essa mulher não sabe oque é o amor… Mas é claro que
ela me ama, ela só precisava de um empurrãozinho.

As vezes todas as coisas estão erradas e nós só precisamos de um empurrãozinho


para as corrigir, então eu ia fazer isso por ela.
Deixei cair as cartas de Lara, pelo susto óbvio que levei depois da leitura daquelas
palavras e finalmente senti em meu rosto a gélida temperatura que têm as lágrimas, senti
em minha boca o seu salgado sabor e não me reconheci… eu estou chorando? Chorando
feito uma criança que não é amada por ninguém? Fala sério… chorando porque Lara disse
não me amar?

Que ridículo… ponho minha mão direita em meu rosto e limpo minhas lágrimas…
chego mais perto de Lara que permanecia ainda de costas, e pedi-lhe que olhasse para
mim… olhasse para mim fixamente nos olhos.
Olhou-me no fundo dos olhos com seus olhos mortos e seus olhar era quase tão
frio quanto aquele momento, tão frio quanto aquelas lágrimas, que ainda hoje posso
sentir escorrer pelo meu rosto.

Com certeza não me amava, isso até eu podia ver… em seu profundo olhar eu
podia me ver e isso encheu-me de raiva, porque ela não me amava?
Puxei a toalha da mesa e todos os objectos nela caíram ao chão, partindo-se um
apos outro, Lara voltou o rosto para o lado baixando-o ligeiramente como quem estivesse
com medo.
Você tem medo de mim? Você me teme? Que tipo de mostro é você? Eu fiz tudo
isso por você, para você me amar, você vem aqui, diz que não me ama e tem medo
de mim? Eu sou o monstro? Eu? Como pode? É você que está me desprezando! É
você que está me matando agora.
Cade seu perdão? Cade seu deus de amor? Cade o amor que você diz ter por todo
mundo?- gritava eu já destruído.
Que sentimento é esse? Agarrei Lara pelos braços e sacudindo-a gritava- me diga
alguma coisa.
Foi quando percebi meu grande erro. Lara não podia dizer nada, sua língua tivera
sido arrancada e isso quem fez fui eu.

No entanto, a cada pensamento racional que me surgia, surgia-me a raiva, e o


desespero.
Destruí cada 𝑚2 Daquele compartimento derrubando tudo a minha volta, desde
espelhos à cadeiras, num ataque agressivo de raiva.
Saí correndo daí e então encarei a realidade… se Lara não me quer eu arranjo quem
queira, até acho que já tenho ideia de quem queira.

Agora me encontro caminhando em direcção a jaula de Maria, devagarinho, bem


devagarinho eu vou.
Abri a jaula, Maria olhava para mim acabado e sem perceber cheguei-me demais
para ela, ela empurrou-me, mas eu tinha muito mais força que uma garotinha de 14
aninhos.

Empurrei-a e ela foi contra o vidro, bateu a cabeça e apesar de ainda não estar
inconsciente, não estava consciente o suficiente para resistir. E então estuprei-a e
enquanto a estuprava, ela gritava e gritava como sem igual, seus gritos podiam ser ouvidos
em todos os cantos, sem gosto, sem sabor, no fundo era apenas isso? Não tem sentido!
Mesmo horas depois de ter consumado o acto, podia ouvir Maria gritar e suplicar
que alguém a matasse.
Ninguém apareceu, nem eu, nem seus, pais, pelo contrário, ninguém vinha em seu
socorro, e ela ainda podia sentir a dor da penetração em si, ainda podia se sentir abusada,
usada e jogada naquele chão como um trapo. Maria com certeza não imaginara assim seu
1º contacto sexual, não sendo roubado seu prazer pelo prazer de outro…
Quem diria… fiquei deprimido… e um golpe de água fria mesmo, foi quando voltei
para a sala em que deixei Lara e percebi finalmente que havia cometido. Que atrocidade,
Lara não aguentava a ideia de que eu pudesse ter estuprado sua filha e chorava
incessantemente.
A culpa é toda sua, eu só precisava ouvir que você me ama, mas o seu orgulho e essa
sua personalidade não convencional é tudo o que lhe impedia de me amar e me fez
ser quem eu sou- disse-lhe.
Lara chorava permanentemente, e nada a podia consolar.
Então cheguei ao fim.
Não os podia mais manter ali, qual era o meu objectivo com tudo isso? Oque
consegui com tudo isso? Serei mais um como dissera Maria?
E então partiu-me o coração vê-la naquela situação de desespero e então decidi
finalmente acabar com essa loucura.

Fui até as jaulas de Mário e Maria e abri-as, Mário correu logo para o encontro de
sua filha e então me dirigi cabisbaixo para a jaula de Augusto olhei-lhe nos olhos e abri sua
jaula… ele ficou parado na minha frente me encarando.
Me desculpe- disse eu.
Ele no entanto não disse nada, e meio que num tiro, atravessou-me correndo para
a jaula de Maria.

3 Minutos depois lá estava augusto correndo para mim com a faca com o qual o
presenteei tentando me matar de tanta raiva que tinha…
Hum, desgraçada certinha, Maria tinha razão, Augusto me matará de certeza. Que
coisa, tanta cena criada, tantos milhões gastos para acabar assim? Desperdício.

Porém, Mário se põe a frente do seu filho e é esfaqueado sem querer.


Que tensão, que situação… porque fez isso? Por que razão fez isso? Será que você
é idiota? Eu estraguei sua família, eu destruí sua e estraguei tudo entre vocês e você é
esfaqueado por mim?

Que sentimento de culpa é esse? Que idiotice a minha, oque estou fazendo aqui?
Mário só pode dizer não seja igual a ele, que isso quererá dizer?
Augusto retirou a faca do estomago de seu pai que agora caía ao chão, baixando
para ele, choravam, lamentavam, se desculpavam e diziam que a culpa é minha…Mas era
tarde de mais. Mário morrera nos braços de Augusto que agora se tornara o assassino de
seu próprio pai.
Maria correu até a sala em que sua mãe estava trancada, tentou arrombar a porta
mais sua força era insuficiente, voltou correndo até mim e recebeu-me s chaves.
Abriu as portas rapidamente e entrou num tiro. Correu para mãe e começou uma
gritaria sem igual
.
No início pensei que ela gritava por tudo aquilo que acontecera, afinal, ela foi
estuprada, seu pai acabava de morrer e seu irmão estava traumatizado de mais para se se
levantar, se eu fosse ela, esse com certeza seria um bom momento para procurar conforto
em Lara. Mas, mesmo depois de um tempinho, os gritos nunca paravam. Ela gritava e
gritava e gritava cada vez mais.

Fui lá ter para perceber o porque de tantos gritos e vi. Oque mais temia acabava
de acontecer, Lara morrera.
Acabava de cortar seus pulsos com os cacos dos vidros que eu quebrara em meu
ataque de raiva, não aguentara suportar mais tanta tortura, e a visão de ver seu filho se
tornando o assassino do próprio amor da sua vida, e a ideia de não ter conseguido
proteger sua filha de mim a consumira como eu tivera consumado sua filha ao desgosto
eterno e ela morrera muito antes de cortar seus pulsos.

Lara não podia mais suportar a ideia que eu fizera tudo isso porque ela não quis se
entregar a mim então para me castigar e deixar de sentir na pele e na alma todos esses
males achara melhor tirar sua própria vida.
Culpa minha? Não sei ao certo!
Mas sei que nesta noite chorei, chorei muito intensamente, tanto que Augusto
apercebeu-se do falecimento de sua mãe pelos meus gritos.
Chorei e continuei chorando, afundei-me em álcool e quis-me matar também, mas
meu egoísmo não permitia.

Maria e Augusto acabavam de se transformar em órfãos completos. Que perdão


podia eu agora receber?
Fui até a sala onde estavam fechados, olhei para aquelas celas abertas sabendo
que isso só poderia representar que finalmente acabara, mas não fiz caso algum, queria
que ao menos um deles me matasse.
Supliquei para que me matassem, mas eles ficaram aí parados olhando para mim
apenas com pena e lágrimas nos olhos pela sua mãe que partira. Se soubessem do seu
suicídio e da minha culpa talvez me quisessem matar mais não fizeram caso algum.
Levantei e corri para frente de Maria que não se moveu um centímetro.

Dei-lhe a faca que estava em minhas mãos e disse-lhe: não tenho razões para
continuar a viver, por favor, por todo o mal que lhes causei, mata-me.

Ela recebeu a faca olhou-me nos olhos, jogou para longe e disse-me: você já está
morto, você não vê? Você mesmo acabou de fazer isso com você, agora viva
morrendo todos os dias.

Augusto não tinha a mesma filosofia que sua irmã mais velha e enquanto ela falava
hipnotizando-me em seu olhar, esfaqueio-me.
Senti a lâmina penetrando minha carne e por mais que quisesse que penetrasse
minha alma, ela limitou-se a carne.

Caí, e enquanto sangrava ao caminho da morte, vi Augusto arrastando sua irmã


pela mão para escaparem.
Fiquei finalmente pensando em tudo oque eu fizera da minha vida e na forma
como Lara tivera-me olhado.
Mas não era ainda meu fim, arranquei aquela faca de mim, e enquanto
ensanguentado tentava me manter no chão para morrer, via minha vida passar por mim-
que vida - via-me em verdes prados e não era como aquela cena nos livros ou nos filmes
em que alguém vinha até você e dizia que não era ainda a sua hora de se juntar a eles,
nada disso, não havia um deus lá me esperando para me julgar, só capim, e muito mais
capim, eram verdes capins para tudo oque era canto.
Então ouvi uma voz atras de mim, voltei-me mais não pude ver ninguém lá, e
repentinamente o local se encheu de silêncio e sussurros, eram muitas vozes, todas elas
tridimensionais, vinham de todos os lados, vinham de todos os lados… eu estava
enlouquecendo? De quem eram aqueles sussurros?

Outra vez repentinamente, esse lugar belo e calmo foi substituído por trevas e
escuridão, não havia luz alguma no fundo do túnel, não havia jesus algum me esperando
de braços abertos, e agora se por um instante que fosse eu acreditei na existência do
demónio cristão (o diabo) não me sobram dúvidas que era tudo ilusório.

Fechei meus olhos e então começaram os gritos outra vez.


Eu estou morto?- pergunto-me enquanto ainda me sobram forças para perguntar.
O céu está tão distante agora, está tudo ficando tão escuro, será que vai chover?-
iniciam então os delírios.
Enquanto eu estou morrendo, Maria e Augusto não conseguiam achar a saída, e
todas as portas que abriram até agora só os encaminhava para armadilhas que eu havia
instalado em todo o armazém, para garantir que eles não fugissem.

Me desculpa- disse Augusto


Oque? O que você está falando?- perguntou Maria.
Eu matei o papai, eu sou um assassino- disse ele cabisbaixo, enquanto enxugava as
lágrimas que rolavam de seu rosto.

Maria olhou para ele como quem estivesse cansada de mais para ter aquela
conversa ali, mas engoliu seu cansaço e então pondo as mãos nos ombros de seu
irmãozinho disse-lhe- a culpa não é sua, a culpa é daquele psicopata, aquele demente, ele
sim é o verdadeiro assassino.

Então porque você não permitiu que eu o matasse como ele fez como o papai?-
perguntou-lhe ele.
Oque você acha que a mamãe faria se estivesse aqui connosco? Você acha mesmo
que ela permitiria que você se transformasse num assassino por causa daquele
homem? Olhe para mim meu irmão, agora somos só nos dois, e tu sabes que eu não
conseguirei sem você. Agora vamos nos concentrar em sair daqui, vamos deixa-lo
qui e ele morrerá sozinho- disse-lhe ela.

Ele olhou para ela e disse- eu vou cuidar de você e não vou permitir que nada de
mal te aconteça.
Eu sei- disse ela.

(Assobios)
(Aplausos lentos)
Quem? Você vai proteger ela de mim? Você Augusto? Como você pretende fazer
isso? Do mesmo modo como você protegeu sua mãe e seu pai? Estou preocupado
com esse seu método de proteger as pessoas que você julga amar! Que ridículo-
disse eu
Não dê ouvidos para ele Augusto- apressou-se em dizer Maria.
E quanto a você Maria, minha querida, já vais embora? Pensei que nós estávamos
finalmente a começar a nos divertir juntos, você não acha?- digo enquanto lambo
os lábios de ponta a ponta com minha língua amostra.
É sinceramente lastimável que isso tudo acabe assim, sabem. Eu tinha tão belos
planos pra nós, planos tão gigantescos que vocês se assustariam com a amplitude
dos meus planos se os ouvissem.

Ainda estava eu tentando organizar os pensamentos e palavras quando Augusto


partiu para cima de mim tentando-me esganar. Empurro-o contra a parede então ele tira
a faca ainda vermelha, pintada pelo sangue de seu pai.
Não Augusto, não faça isso-gritava Maria em tom de desespero.
Eu vou proteger você, eu não vou deixar ele te fazer qualquer mal- disse ele,
voltando para ela e dando um sorriso descontraído.

Que triste, Augusto tentou atacar-me com a faca, mas desta vez me esquivei e dei-
lhe um pontapé as costas. Fazendo-o soltar a faca. Apanhei a faca, puxei Augusto para
mim, abracei-o de traz de modo que ele pudesse ficar de frente com sua irmã.

Não faça promessas que não poça cumprir Augusto, essa é a regra de ouro dos
homens! Infelizmente nunca crescerás o suficiente para aprender esta lição- disse-
lhe.

Maria abanava a cabeça para mim, como quem estivesse suplicando para que eu
não fizesse mal ao Augusto.

Por favor não, eu te peço para não fazeres isso, nós não vamos mais embora. Só não
o faça…- dizia ela repetidamente.
Enquanto Augusto lutava sem sucesso para se libertar de minhas mãos.
Fazer-lhe mal? Era isso que tu dirias agora? Que tipo de monstro você acha que eu
sou? Você acha mesmo que eu poderia magoar Augusto? Sinceramente, eu não sou
assim tão horrível sou? Não é você que disse-me conhecer? Me diga então como
isso acabará Maria, Tu achas que eu magoarei o seu irmãozinho ou não?- perguntei-
lhe.

Levantei a faca que estava em minha mão e disse- Agora sem sarcasmo!- então em
seguida, cortei a garganta de Augusto.
Oque vocês acharam que eu ia fazer? Deixar apenas duas crianças saírem as ruas
a dizer que eu sou um assassino? Isso seria ridículo.
Aproximei-me de Maria que já caíra de rastos ao chão, e enquanto em uma mão
segurava a faca que gotejava o sangue de seu irmão, na outra mão fiz surgir o som da
liberdade.
Você não sabe nada sobre mim Maria, toda aquela análise que você acha que fez
sobre mim e tudo isso que você acha que sabe sobre mim, é falso. No fundo, você
não sabe nada sobre nada sobre mim- falava eu enquanto aproximava-me dela aos
poucos
Empurrei-a para a porta e enquanto ela se estremecia toda, beijei-a abrindo a
porta.
Uma luz invadiu a sala, a muito tempo que ela não via a luz do sou e com certeza
estava quase que cega de tanta luz.
Empurrei-a para fora e mostrei-a para cidade.

Tome cuidado lá fora, esse é um mundo perigoso- disse-lhe eu enquanto a


abandonava a sua própria sorte em uma cidade que ela nem sequer conhecia.

Entrei novamente no armazém, olhei-lhe enquanto ela sentada se lamentava e


chorava.
A porta ia se fechando aos poucos e então gritei para ela- boa sorte meu amor, até
depois.
Sou um homem livre, meu crime é
a liberdade

As 04 horas da tarde de sexta-feira 22 de Julho a polícia invadiu minha residência,


acompanhados de Maria que não pode conter e quase partiu para cima de mim para me
matar, está crescida agora.
Sabia que era meu fim, finalmente, e estava disposto a aceitar isso pacificamente.
Quase que implorei que me matassem, porém este não é o modo da polícia atuar, e em
vez de morte, recebi uma cela, em uma prisão de segurança máxima.

Aposto tudo que tive, incluindo a minha vida que Maria desejava-me matar em
casa mesmo, porém nem isso foi possível.
Enquanto sentia as algemas apertando meus pulsos, com os joelhos dos policiais
em cima de mim, debati-me sobre minha liberdade.

O juiz perguntou para mim como me declarava.


Culpado? Culpado de quê? De querer a liberdade? Culpado de querer que as vozes
acabassem na minha cabeça? Eu só sobrevivo se matar, então sou culpado também de
querer viver? Sou culpado de não se deixar levar pelas mentiras da sociedade sobre as leis
que só sabem nos aprisionar? Sou culpado de ser o leão desta cadeia alimentar? Sim sou
culpado, se estas são as acusações, então sim, sou culpado.

Mas, o tribunal me acusara de triplo homicídio, tortura, crimes contra a


humanidade, sequestro, tentativa de homicídio, canibalismo, e contra isso eu respondi:
Estou inocente.

Porém, em função das inúmeras provas que existiam em volta deste processo,
recebi uma pena de 25 anos de prisão sem condicional pelo homicídio de Lara, 14 anos
por atos de canibalismo,25 anos de prisão pelo homicídio de Augusto, 27 anos pelo
homicídio de Mário, 12 anos por tentativa de homicídio de Maria, uma pena de prisão
perpétua por crimes contra a humanidade, 32 anos por crimes de desvalorização a vida e
no meio disso tudo 2 anos de prisão por sequestro foi oque consegui. Que ridículo afinal,
nada disso teria acontecido se não os tivesse sequestrado.

Quanto as outras duas famílias que foram mortas no cativeiro? Sobre isso não
foram encontradas provas e meu advogado de defesa vindo do ministério público porque
me neguei a chamar o meu, esforçou-se para que eu não fosse condenado por crimes sem
provas, não me dei ao trabalho de confessar mais nada, ou de ao menos negar alguma
acusação
.
No meu julgamento estava cheio, todos queriam ver o homem livre que me tornei.
Livre? Sim, livre, hoje alcancei a liberdade eterna porque sei que nunca estive eu
errado, a humanidade pode-me prender onde quiser e jamais conseguirá tirar-me a
liberdade pois todos podemos pensar em crimes, mas apenas homens livres podem
comete-los.

Eu sou mais do que homem livre hoje.


E o que eu ganho com isso no entanto? Nesta prisão, sou obrigado a ser escravo
sexual, para sobreviver, vender cigarros e até usar drogas. Para conseguir este mísero
papel para vos escrever estas confissões inclusive fui obrigado a atuar com a função
sexualmente apelativa.

Um dia serei morto aqui, alias, mesmo que eu estiver de boa saúde morrerei aqui
algum dia, no entanto morrerei sem qualquer tipo de arrependimento, sinto-me
finalmente completo, talvez porque a vontade de morrer desapareceu de mim.
Mas de qualquer forma, sinto-me mais vivo do que em qualquer outra época, tive
pais que me amaram, amei e tive tudo que sempre quis.
Sou um monstro, dizem eles, mas me usam em seus exemplos durante suas
pregações, palestras, debates, aulas, onde quer que vão, meu nome é citado. Isto é que é
imortalidade, imortalidade que seus deuses sequer poderão retirar.
Maria? Que tipo de conforto ela podia receber de um juiz? Minha prisão não
representou justiça para ela de modo algum.

Maria recebeu de mim o maior dos presentes, um que nem todo o dinheiro do
mundo poderia comprar, o autoconhecimento, hoje ela sabe até onde vão seus limites, e
sabe que para se viver não existem limites, não existem leis, não existem juízes sequer.
Somos todos animais selvagens numa selva em que leões não são reis, aliás, não existem
reis, não existem maiores ou menores, apenas existimos nós, nós e o instinto de
sobrevivência.
Isso, e um filho, que apesar de ser óbvio fruto de estupro, ela o amará eternamente
concluindo a teoria que de mal se cria o bem.

E você? Já é um homem livre ou ainda está preso nas correntes do moralismo e


hipocrisia sob o qual enquanto ocupantes de um lugar na sociedade somos obrigados a
manter nossas ideologias?
Eu lhe digo, viva mais, nem que isto significar interromper o ciclo de vida de outros,
seja mais sem culpa, sem remorso, sem abstinências, sem limites.
Seja você, alcance a tão merecida liberdade, se liberte de suas correntes sociais e
culturais e de valor ao que você é por dentro.
Minha história termina aqui, talvez daqui a pouco minha cela seja invadida e eu
morra esfaqueado. Talvez eu também sobreviva, mas que diferença isso fará? Vivo ou
morto, sou livre e ninguém poderá roubar-me isso.

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