Você está na página 1de 4

Como falar dessa disciplina?

Eu só consigo pensar no ensinando a transgredir da bell


hooks, com isso só consigo pensar no meu passado e toda minha jornada que me trouxe até
2022, então trago este ensaio com tópicos para tentar explicar grandiosidade dessa disciplina,
no mais, ao falarmos de Artur Barbosa, quando falo de mim nem tenho muitas palavras para
descrever o que passei, mas irei tentar.

• Artur, quando era pequeno, amor bruto ou não amor?

Desde de pequeno eu penso, e reflito hoje em dia, o que houve comigo? eu era um corpo
ruim para todos da minha família? eu não era bem vindo para eles? desde pequeno eu só lembro
de partes ruins da minha infância e tudo que eu queria e quero era/é ser feliz, mas tive diversos
momentos, um dos mais marcantes foi numa viagem de família eu ser sempre a chacota, sempre
me chamando de gordo, de monstro e de tudo de pior, e todos riam de mim, minha mãe, meu
irmão, meus tios e tias... e eu não entendia o do porquê? Falavam que me amavam e por outro
apontavam e riam de mim, não sabia se eu era o errado e nunca me lembro de bons momentos,
eles me amavam? Porque eu sinceramente amei tanta gente e só me mostraram que eu estava
errado não podia ser verdadeiro com elas, nem os meus sangues que em teoria deviam ser meu
apoio. E assim procurei apoio em outros braços estranhos e qualquer afeto sempre me foi muito
e outros braços que me marcaram, e assim fui vivendo com medo de ser sozinho.

• A procura de braços, abraços e amores antes mesmo de me entender

Então por volta dos meus 12/13 anos eu frequentava a assembleia de deus e sempre via
todos tão felizes e as vezes que não ia pra sala das crianças, eu ficava com minha mãe assistindo
o culto era lindo tudo aquilo imenso, o nome de um homem em dourado no meio do grande
salão e os pastores que falavam das magias do cristianismo, chegou momentos em que eu
percebi que eu era diferente, que eu não era igual a todos meninos e que a professora da
escolinha dominical percebia que eu sempre conversava demais com as meninas, e me botava
do lado dos meninos que passava 1h e eu calado esperando meu irmão ir me pegar, mas foi
assim eu vivendo dentro da igreja, chegava em casa e chorava no banho pedindo pra deus tirar
esse demônio que gosta de homens de mim.

Assim chega um capitulo confuso pra mim que foi por volta dos meus 15 anos eu fui
assediado dentro do salesiano (o colégio), eles tinham nessa época um projeto de acessibilidade
de jovens no esporte e minha mãe me fez fazer atletismo, lembro que na época era um valor
pequeno comparado com outros lugares de ensino, cerca de 50 reais, e assim foram incríveis
todos os momentos lá e sempre eu ia me trocar no banheiro lá atrás. Então das primeiras vezes
eu ia tomar banho lá e sempre ficava sozinho, e tomava meu banho tranquilo e eu não entendia
o mundo “masculino” tão pouco me entendia, um homem grande branco veio neste dia logo
atras de mim, lembro de tê-lo visto na piscina e logo depois que entro no banheiro ele vem
atras, e entro no boxe para tomar banho, mas percebo o olhar estranho diferente, sinto medo,
mesmo medo que hoje sinto quando entro num banheiro público, porém fecho meu box e sigo
minha vida, ele bate no meu box pedindo sabonete líquido, e só tinha eu e ele lá dentro, eu
passo pra ele por um pequeno espaço da porta, e percebo que ele estava nu, eu não entendo e
penso que isso era comum, ele depois bate de novo pra devolver, e eu me tremo, eu entro em
pânico, e pego novamente pelo pequeno espaço pela porta, e eu saio já vestido do box e ele
também, e meu professor aparece no banheiro e fala com o cara ele e ele sai, ele era conhecido
e eu pensei “deve ser coisa da minha cabeça gay “ quando vou escovar meus dentes no espelho
eu percebo que não era minha cabeça, realmente sofri, ele vem atras de mim, questiona meu
nome e encosta em mim, eu não conseguia me mover eu me tremia, estava preso ali, ele pega
minha mão e encosta nele e por um súbito pensamento saio de lá, eu não lembro muita coisa,
mas sei que ele tinha uma tatuagem de pata de urso na perna.

Mais uma vez percebi que cresci com dois pais que não tiveram responsabilidades
comigo que eu fui me perdendo em mim até 2021, eu não entendia, eles não me explicaram e
minha mãe branca não sabia falar dos perigos que eu podia ter sendo um menino de cor, e assim
me afundei no meu demônio gay e procurei na internet algo que faltava em mim, homens com
dobro da minha idade na época, que não sabiam e que cobravam maturidade de um jovem de
17/16 anos, fui excepcionalmente abusado mentalmente e fisicamente até que um dia falaram
pra mim “adoro sua cor, um delicia você dessa corzinha” eu não entendia, o porquê desse
comentário, foi ai que na época eu entendi que eu era o outro, o outro de cor, diversas histórias
de um jovem gay na internet não se sentia amado, minhas histórias, e como tudo isso me fazia
me sentir um pedaço de lixo que nunca seria amado, nem por pessoas da minha idade, tão
pouco por pessoas mais velhas.

• Artur? Pode ser escrito de diferentes formas, mas ele sempre será sempre eu e o meu
eu ARTUR

São tantas informações de vida que não consigo resumir, são quase 20 anos em que eu
passei 18 me sentindo horrível, péssimo, excluído e não amado, até que a universidade me
permitiu eu ter de estudar com minha amiga e que aos poucos nos tornamos melhores amigos,
e mesmo dentro percebendo que posso me perder várias vezes, como perdi por um menino que
passou pela gente numa quinta que estávamos fofocando, ele me fez, me criou e eu fui atras
dele até abreu e lima porque pensei que poderia ser meu amor perdido que deixei e ele me
ajudava bastante me chamando e apresentando a mãe dele e dizendo coisas doces que me
faziam delirar e febril de amor eu fiquei, e fui atras dele, esperei por ele e disse adeus mas ele
voltou como se nada e ele já tinha minhas chaves ele só entrou e não se importou se entrava
com os pés sujo ele quis me sujar de dentro a fora quis que eu me humilhasse por migalhas do
bolo que eu levava pra ele, nesse meio tempo eu tive vários conselho da minha antiga psicóloga,
de uma maluca que leu tarot pra mim e eu não percebia que tudo que eu fazia era pra nada
porque ele não me queria, ele queria a fantasia de me ter a qualquer momento pra saciar a
carência dele, e foi assim que ele partiu meu coração duas vezes, e pra ele foi nada, mas pra
mim foi muita coisa depois dele aprendi bastante coisa, a me valorizar.

Entretanto não quero ser a vítima da minha própria história, não quero andar com medo
de amar, não temer o amor, nem tão pouco me segurar pra ser eu, já foi os tempos que eu
aguentava calado, meu pai me batia constantemente por causa do meu cabelo até que ele viu
que ele me bater não adiantaria muita coisa, eu tive que ouvir muita coisa novamente de gente
que ajudei em tanta coisa, gente que não merecia meu apoio, enquanto eu estudava acumulava
um ódio por mim irreconhecível, que gritava pela casa da minha tia palavras de ódio a mim, e
depois aparece querendo minhas coisas mas nunca mais será o mesmo, pedindo pra fazer as
coisas por ela e ser o empregado dela de fazer comida a lavar os pratos e se eu não fazia eu era
digno de linchamento verbal, e que puxava meu cabelo e que falava pra eu alisar e mandava eu
passar chapinha isso comigo com meus 18 anos já, que eu era feio que meu cabelo era feio e
que essa moda era feia, mas tudo que lembrasse minha cor era motivo de chacota mas os seu
tubos e tubos de bronze que eu passava com minhas mão não era feio, o que era feio era o que
lembrava minha cor ou minha raça.

• Da pedagogia ao amago

Foi incrível me perceber presente como pessoa de cor, ou pessoa negra, porque eu nunca
fui apontado diretamente como pretinho, mas lembro de um dia numa dessa disciplina que eu
me senti, e vi que as coisas e nossas angustias se pareciam, e que Renato um dia falou que eu
estava de enxerido num evento para branco(wehoo)não encarei isso como ruim, eu só não
esperava que alguém falasse isso porque até ali eu tinha medo de me encaixar como alguém de
cor, até que essa disciplina me mostrou que tudo que eu passei era por causa da minha cor e
não porque eu era uma pessoa horrível, mas não me sinto 100%, eu ainda tenho medos, mas
essa disciplina foi importante par meu autoconhecimento, e com esse saio reflito de como seria
importante para que todas as pessoas de cor tivessem essa experiencia que eu tive com Renato,
Mari e Jefferson, que era importantíssimo sabermos, inclusive foi iluminador ter Renato como
professor.

Você também pode gostar