Você está na página 1de 3

Confessionário

Quando se nasce nesse mundo, nunca vemos o quão podre ele é… vivemos de
pura inocência até uma certa idade, todo mundo é assim, sem exceções… é um instinto
natural do nosso ser… mas quando crescemos vemos que nada mais é o mesmo… os
nossos problemas sempre começam de uma raiz gigantesca que vem quando nascemos,
nossa família. Quando não se dá sorte nesse mundo, ou nasce em algum lugar pobre em
todos os quesitos ou se nasce com pais problemáticos… e o segundo, bom… foi o meu
caso… meu pai era um cristão à risca, se assemelhava com um templário dos tempos
antigos… não mudava muito de um assassino sádico… talvez até templários daquela época
sentiam amor, arrependimento e desespero, mas parece que até mesmo meu pai que é um
seguidor arrisca é o maior pecador de todos… estar com ele não foi bom pra mim, não tive
liberdade sobre nada, era preso sobre uma grande gadanha e uma corda ao pescoço,
qualquer movimento em falso ou era ceifado ou fica suspenso a corda; ter que aprender
etiquetas sobre religião ou eu apanhava até sangrar; ou seguia o que meu pai dizia ou
passava fome; tentava me divertir fora da hora e perdia toda a diversão que eu tinha pelas
próximas semanas… Dizia ele que era apenas um castigo ou uma punição que “Deus”
queria sobre mim… se isso fosse verdade Deus não teria amor incondicional, se fosse isso
o caso eu não teria nascido… e como de praste não era só ele, existia minha mãe também,
ela era totalmente o contrario do pai, em questão, ela so não acreditava em Deus como ele,
e nunca deram certo, mesmo o meu pai ainda apaixonado por ela, ela fazia pouca
questão… na epoca ainda era novo, não entendia muito sobre essas coisas mas aprendi
com o tempo, a minha mãe ja saia com outros caras e cometia os maiores pecados quando
se ja era mãe de um filho e uma dona de casa, eu como o seu unico filho, não era tão
importante assim comparado com fuder e se embriagar, quando o pai saia, parece até
ironico, mas ocorria o que as pessoas tanto brincam, existia um homem diferente toda a
noite… uma puta…? talvez… mas acho que ela era a mais carente de todas, me deixava de
canto como sempre e toda vez que aqueles senhores que eu desconhecia o nome, pedia
algo para ela, ela fazia… como havia dito, carência… não posso julgá-la sou carente por um
amor materno e paterno também. Sem algum ombro pra poder chorar ou algum colo macio
que pudesse confiar.
Passei a maior parte do meu tempo analfabeto e desprovido de algum conhecimento
básico didático, desnutrido, solitário e não aprendi a amar. Algo muito relaxado, deixado de
canto e só servia para ser abusado, estava cansado e exausto já, como criança algo normal
era chorar, já nem conseguia mais… mas eu ainda tenho medo… não sabia me expressar
e ninguém percebia aquilo pois gritar já não adiantava mais, chorar como havia dito era algo
inútil… não saia de casa… aquela casa era podre e estava desabando, precisava saber
onde pisar se não o piso desabava, ele era feito de madeira e cheio de infiltração, comida
escassa, a única coisa que tinha de bom era a água que saia daquela torneira.
Após alguns anos, minha mãe havia sido assassinada por alguém daquela laia que
havia se apaixonado por ela e por saber que ela ainda tinha outro enlouqueceu e aconteceu
o que aconteceu, lá no fundo eu sabia que ia acontecer mas mesmo assim não queria, era
a minha mãe ainda afinal… após isso, meu pai como sempre loucamente apaixonado por
ela, já sabia que não tinha mais motivos para continuar voltando ali ou como aquele olho
parecendo o grande olhar daquele quadro de lúcifer me dizia: “Isso é culpa sua…”. aquele
dia foi marcante pra mim, pois eu havia perdido duas peças naquele jogo de xadrez que eu
era apenas o peão… o rei e a rainha, eu tinha perdido o jogo… meu pai foi embora e minha
mãe cremada, as únicas coisas que me sobraram foi a Urna dela e o pingente de cruz que
meu pai sempre carregava consigo.
Claro, depois disso tinha ido para uma casa de abrigo mais conhecida como
orfanato. Foi feito uma ficha de identificação de lá, apenas sabia meu primeiro nome que eu
mesmo dei, eles não haviam me dado realmente um nome, então usei uma palavra que eu
já ouvi eles falarem “mori”, e assim foi a criação do nome que eu escolhi Mo-ri… tempos
depois como aquele orfanato as pessoas não eram tão “más” assim, foram se feito exames
com médicos psicólogos e psiquiatras, e bom na minha ficha foi cadastrado algumas coisas
e outras eu só ouvi falar como eu tinha alguns problemas mentais e físicos, deles datando
anemia, ossos fracos, pele sensível, baixa imunidade, síndrome de estocolmo e privação de
sentimentos. Na época não sabia o que era, mas agora entendo o por que do mesmo jeito
que aqueles dois me tratavam sempre fui muito apegado aos únicos presentes que me
deram na vida (A Urna e O Pingente), além disso tudo acima fui diagnosticado com algo
“bom”...? enfim… Albinismo eles falaram, pele e pelos mais brancos que a neve, e era o
que explicava a pele sensível e a fotossensibilidade que eu tinha com o sol, por causa disso
sempre usei roupas mais acolchoadas que me deram, mesmo em calor eu usava elas,
parecia que o calor não me incomodava muito do mesmo jeito. (e eu também nunca gostei
de usar protetor solar, mas sou obrigado.) com o tempo obviamente fui melhorando algumas
coisas nunca foram embora, mas comparado com o que eu tava antes, digo que até dei
sorte de ter realmente sobrevivido, consegui tambem escolaridade, diziam que eu era
super-dotado ou super-inteligente mas eu discordo… alguem que ja passou por tudo que eu
passei provavelmente teve o cérebro cognitivo mais desenvolvido, como se já soubesse
como tudo funcionava.
O tempo que passei lá tentaram me consertar, não era o único quebrado, mas o
único que parecia não querer ser consertado, tentaram interagir comigo, me dar uma
segunda chance, mas eu não dei uma segunda chance a eles, eu ainda tenho medo, não
quero passar pelo mesmo. Solitário, isso que eu era… crianças viam e iam, adotadas ou
não, para onde foram não me interessava… lembrei de algo desse orfanato, dou risada hoje
em dia, mas quando aconteceu não foi mil maravilhas… um órfão meio marrento, foi me
zoar um dia, não estava nos meus melhores dias, me descontrolei e acabei deixando ele
inconsciente no chão… entrei em estado de colapso, eu tinha jurado pra mim mesmo
naquele orfanato que não ia levantar a mão para ninguém porque eu nem conseguia bater
em alguém por causa das minhas condições, então, aquilo foi uma loucura… desespero,
medo, tristeza e satisfação…? eu não tinha entendido, mas depois daquilo percebi que
sempre esteve comigo, só não tinha notado antes… aquele grande acúmulo de emoções
tão ruins quanto o próprio diabo… é aquilo que eu sentia… pessoas em minha volta
naquela situação falaram que quando ocorreu já não era mais “eu”, mas no fundo eu tinha
entendido aquilo, mesmo nunca tendo visto ou sentido aquilo. Ter escondido aquilo por
muito tempo podia ter acontecido algo muito ruim… podia ter me matado… mas essa droga
que me mata é a mesma droga que me causava calma… depois de muito tempo.
Não muito tempo depois fui adotado por uma família simples de vida boa,
financeiramente e estruturalmente falando, a família era um casal, com infelizmente o
senhor infertil, mas bom, não me surpreendia… nos tempos de hoje adotar uma criança, é
pros casais que tinham alguém com infertilidade e queriam ter um filho. Eu não entendi o
porquê que eu fui adotado, mas depois eu comecei a pensar, devem ter ficado com medo
depois daquilo… não tiro a razão deles, mas eu tenho certeza que alteraram a minha ficha,
pois provavelmente só não me transferiram para outro orfanato porque estavam cheios ou
sabiam do que eu fiz… então alteraram a ficha para eu poder ir embora logo, digo,
inteligente da parte deles para despachar algo que os amedronta.
Não sei nem o nome daqueles que eram meus pais biológicos e verdadeiros por
assim dizer, talvez só da minha mãe, em sua Urna não foi nem entalhado o nome dela, não
que eu tenha visto… mas em casa quando ela trazia aqueles homens para lá, um deles
gritou algo como “Lívia”, e o do meu pai eu só não faço ideia… então decidi fazer como eu
fiz com meu próprio nome, já tinha estudado e conhecido muita coisa, e aquela “coisa”
dentro de mim gritava esses nomes, Leviatã para Urna e Behemoth para o Pingente… eu
achei muito estranho isso, achei que estava ficando louco, mas não que eu já não seja…
então aceitei e dei esses nomes, mas porquê duas criaturas bíblicas…? porquê o nemesis
um do outro, e porquê cada vez mais ele me dizia aquilo? com o tempo passei a perceber
que não era ele… mas sim eu… dizendo para me tornar aquilo que pensei que tinha
medo… mas no final acho que sempre gostei dela, fosse uma maldição, fosse uma benção,
podia ser o que for, mas cada vez eu simpatizava mais com aqueles dois, aquele que me
dizia “lembre-se da vida” e a aquela que me dizia “lembre-se da morte”, com o tempo fui
estudando e crescendo a felicidade daquele que queria que eu vivesse mas cultivando ao
mesmo tempo aquele que queria que me lembrasse da morte, aquilo dentro de mim já não
era mais estranho, era eu mesmo… aquilo que eu devia ser… mas ainda não aceitei aquilo,
criei tabus na minha vida que não podem ser quebrados, para que ele ou melhor eu, não
apareça de novo…
O estranho de tudo isso, eu to aqui agora, eu sobrevivi, passei pelo que tinha que ter
passado, agora talvez continuar o caminho que eu trilhei… estou muito atrás para poder
recomeçar, mas muito na longe de poder voltar, como Kafka uma vez disse : “De um certo
ponto adiante não há volta. Esse é o ponto que deve ser alcançado.” acho que cheguei
nesse ponto, sinto que ele é um escritor que me define muito, alguém que um dia eu
gostaria de conhecer, mas agora preciso achar o sentido da vida e o sentido da morte, se o
sentido da vida é morrer e o sentido da morte é morrer… talvez seja isso mesmo… mas
tenho muito caminho a trilhar… se eu não sou a própria morte… quem sou eu…? ou quem
eu deveria ser…? se eu não me tornar-lá até lá, a única coisa que eu desejo é morrer.
Carregarei o Inferno e o Céu comigo até lá… nem que seja por isso.

̢̦͕͈҇͌͑̅̚ ̨̥̠҇̀̑̚ ̨̦̠҇̑͂̏̅͗


??? - : Í̸̭̬̒̅͒͢͠ Ş̵͉͈̙̫͉҇͒͑͆́S҉̧͎̦̯̈́̆̈́̍͝Ǫ̴̝̝́̄̽͡ ,̸̨̛͉͎̮͚̠̗͌̈́̃͗̐́̑͗͢͝I̶S̸̞̪̣͆̔͢͝S̸͇̘̲͔̏͂̐̕͜Ǫ̵̞͉͑̓͞ Ṁ̶̡̩̪͍̰̬́̊͋̇̕Ĕ̶̘̘͓̳̙̾̌͗͒̕͜ S҉̢̭͕̅͂͂̎̅̕M̭̲̈̈́̀͜ ̛ Õ̶̧̙͍͉̐̍͞
̴ ,̷̢̙̟̪̊͒̽͠ C̷̟͎̗̆́̉̀̆͢͞Ǫ̴͚̬̱͒̓̓̚͠ͅ R҉̧͚̟̘̬̏̍́͝R̵̢̥͖͉̗̀̆̽̆͡Ã̴̛͚͙̮͉̍͐͆͜ P̴̢̘̦͇͙̈̋̚͝A̴̡͉̪̝̮͔̋̽͡R̵Ȧ̶̡̞̩̞͆̆̈̕ M̴̭͎̍̓͢ͅ ̛ ̬͉̦͔̐͑͊̎̚͢͝I̷M̷̡̫͎҇͗̂̃!!̵̨̝͈̞̎̂́̾̃͝ ̵̟̖͉̘̏̒̍͢͠!̷̛̩̖͊̅̎̒͜ E̵̢̦̲̲̥͔҇͌̽̀̚ A̴̧̫̖͍̙̞͒̑͠P̸̢̯̮̓̂́̔̕R҈̛̩͓̬͉͋͑̿̑̍͜ͅO̬̬͈̳҇̓͒̋͜V
̷ ̸̡̲̬҇͆̐́̋̚Ȩ̸̳͕̳̯͇̋̓̈́̋̚͝ ̡͕̲̝͖̜̊̈̔̈́͠I̶T̸͉̰̽͋͐̇͢͝E̸̥̫͉̤̐̈͜͠ E̶̢̦̯̥͉͂̔̾̚͝S҉̧̜͓̦͖͙̀̐͋͞SA҉ ҉ ̢̖͓̎͒̇̿̈́͞ Ĺ̸̨̗̦̦̓͗́͞ Ǭ̸͕̫̆͐͂̑̕Ṉ̸̗̤̓͆͜͡ G̴̡̦͚͎̦͒͊͌̋̕A̷͉͓̲̲҇̀͒̚͜ N̷̨̜͖̜͎̣̍͗͂̉͞O̸̧͎͍͎҇̽̈͗͐Ï̴̧̛͕̝͍̀͒ T҉E̷̡̩̯͇̬̦͛͒̕!̷̧̛̗̣͐̚̚
ͅ ͅ
Mo-ri - : Não… por enquanto vou aproveitar o dia…! … … … Acho que ninguém deve ver
esse confessionário… não tem porquê…

amassa essa grande folha branca que seria sua única amiga em muito tempo…

Agora vou, ir pra grande sonhada escola, lá talvez eu possa ter meu grande e
sonhado “Carpe Diem” !!!

??? - : 𝓒𝓪𝓻𝓹𝓮 𝓝𝓸𝓬𝓽𝓮𝓶... 𝓢𝓸𝓬𝓲𝓾𝓶! :) 𝓷𝓸𝓼𝓬𝓮 𝓽𝓮 𝓲𝓹𝓼𝓾𝓶, 𝓵𝓾𝓬𝓮𝓪𝓽 𝓵𝓾𝔁 𝓿𝓮𝓼𝓽𝓻𝓪.

Você também pode gostar