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LIVRO DA VIDA

1- QUEM SOU EU?

Quem sou eu? O que sou eu? Quem eu quero ser? Será que 18 anos de vida são o
suficiente para respondermos essas perguntas? Será que me conheço a ponto de saber
que sou e o que quero na vida? Vamos descobrir! Sou Daniel Ribeiro, tenho 18 anos,
nascido no dia 14 de setembro de 2004, as 15h. Sou pardo, tenho 70kg e 1,88 de
altura. Mas minhas características físicas não diz sobre mim, então vou falar sobre
meu eu interno. Se tivesse que me resumir em uma palavra, seria INCRÍVEL! Sou
legal, engraçado, atencioso, prático, esforçado, leal, mas ninguém é perfeito e
assim como todo ser humano, tenho meus pontos negativos como meu egoísmo. O que é
“egoísmo"? Quando pensamos em "egoísmo", pensamos numa pessoa negado algo, mas na
realidade o "egoísmo" é o amor exagerado aos próprios interesses a despeito dos de
outrem. Não me orgulho mas reconheço e passo cada dia da minha vida lutando pra
mudar isso, não por ser apenas um adjetivo ruim meu, mas por ser uma característica
da minha mãe, o que repreendo na minha vida.

2- MÃE

Mãe: "mulher que deu à luz, que tem ou teve filhos, cria e educa eles mesmo não
gerados por ela mas estabelecendo laços maternais". Eu tive uma mãe mas não foi a
que me deu a luz no dia 14/09/2004. Minha mãe, como posso dizer, de sangue, foi um
status na minha vida porque o papel mesmo nunca exerceu. Com ela, as únicas coisas
que aprendi foi a quem não ser na vida. Meu problema com minha mãe começou no meu
primeiro dia de vida, quando ela teve problema no meu parto a causado uma
hemorragia. Mas será que tenho culpa nisso? Eu era apenas um recém nascido, sem
noção do que era a vida, que tinha acabado de ver a luz do dia. Mas para ela para
ela parece que eu tinha, por anos na minha vida isso foi me tacado na cara, até
hoje é, mas sou crescido agora e não me afeta como afetava com 5, 7, 9, 11 e 13
anos. Com apenas meus 3 meses de vida fui “tirado" dela por tomar coisas que não
era apropriado para minha idade, como por exemplo: Calmantes tarja preta. Dos meus
4 anos em diante, já recordo das minhas memórias e já vou logo adiantando, não são
nem um pouco boas. Brigas com homens dentro de casa, agressões e problemas com
álcool eram uma delas. O pior de tudo isso é que eu sempre busquei a aprovação dela
por escutar que merecia aquilo porque ela quase morreu para me dar a vida. Então
não importava o quanto eu sofria, ela era minha mãe e meu dever era amá-la porque
ela "quase morreu para me dar a vida". Dizem que mãe não tem filho favorito, mas
isso não se aplica a minha, passei toda minha infância vendo ela priorizar meus
irmãos mais velhos casados e com filhos. Me machucava ver ela sustentando dois
marmanjos enquanto pra mim nem um chinelo dava. O meu maior trauma de infância é
festa de aniversário, porque ela acabava com TODAS que eu tinha. Minha última foi
no dia 18 de setembro de 2016, que ela destruiu bebada por causa de homem. Parece
que alguém dar em cima do namorado dela era mais importante que a felicidade do
próprio filho. Minha família sempre dizia para mim não fazer festa, porque eu já
sabíamos o padrão que seguia, noite com intuito de comemoração, sempre acabavam em
confusão. Essa é uma das milhares de lembranças ruins sobre ela, poderia ficar
citando de uma em uma mas meu intuito aqui não é me martirizar e sim expressar quem
foi minha mãe para mim. Ela foi ruim, foi ausente, foi egoista. Hoje em dia estou
crescido e parece que os papéis inverteram, por mais novo que eu seja, eu não
preciso mais dela mas ela precisa de mim. Ela não reconhece mas no fundo sabe o
quanto me fez mal e tenta, com pequenos gestos, se redimir, mas até acertando ela
consegue errar e não tem cura no mundo que cure o estrago que ela me fez. Mas no
fim eu agradeço a ela por tudo. Ela me ensinou da maneira errada a ser forte,
porque cada dia ao lado dela foi uma batalha na minha vida e por mais que eu não
guarde rancor, eu não a suporto ainda.

Recado para mãe:


Não me cobre aquilo que você jamais foi capaz de me dar. Não te odeio e te desejo
toda felicidade do mundo.

3- PAI

O que o universo pecou na escolha da mãe, ele acertou na do pai. Eu tive o melhor
pai que alguém poderia ter, que nunca me deixou faltar nada e sempre fez de tudo
pra tirar um sorriso do meu rosto. Ele também foi uma vítima da minha mãe,
reconhecendo que ela era maluca e contratando alguém para cuidar de mim com apenas
3 meses de idade. Se eu tive uma vida foi graças a ele, ele salvou as boas
lembranças da minha infância, eu era muito apegado a ele e por morar longe, só o
via final de semana. Lembro como se fosse ontem, aos sábados à tarde, no horário do
almoço, ele chegava no portão de casa assobiando e eu corria direto pros braços
dele para abraçá-lo. E aos domingos a noite quando ele ia embora, eu chorava não
querendo deixar. Ele foi, é e sempre será meu herói e por mais que eu tenha
crescido, ela vai sempre ser o mesmo para mim.

Recado para pai:


Obrigado por ter sido luz em meia a tanta escuridão ma minha vida.

4- MÃE (DE VERDADE)

Como mencionado, fui “tirado” da minha “mãe” com 3 meses de idade. Meu pai
contratou uma babá pra tomar conta de mim, visto que minha “mãe” não tinha controle
nem dela mesmo. Hoje, o que era pra ter sido uma babá, se tornou uma mãe (de
verdade) para mim, agradeço a ela por cada segundo de vida normal que tive. Dona
velha, é assim que a chamo, minha mãe que não me colocou no mundo, mas me ensinou a
viver nele e fez e ainda faz cada segundo da minha vida nele ser especial. Ela quem
cortava meu cabelo, catava piolho e o penteava boi lambeu para eu ir pra escola,
ela quem me dava banho no tanque, ela quem cuidava de mim quando estava doente, ela
quem só deixava eu tomar o suco quando comesse tudo e colocava pimenta na minha
boca quando eu xingava. Meu pai parou de pagá-la para tomar conta de mim quando
completei 7 anos, mas por morar em frente à minha casa, continuei indo lá, afinal,
ela era mais que uma babá pra mim, seus filhos já eram meus irmãos e sua casa me
proporcionava a paz que eu precisava. Até hoje frequento a casa dela, mais que a
minha até, inclusive sigo escrevendo esse livro deitado sobre sua cama.

Recado para dona velha:


Obrigado pela vida, sem você não estaria aqui.

5- ÂNCORA

Todo mundo na vida tem algo que não importa a pior situação que esteja passando,
aquilo sempre vai melhorar seu momento. No dia 3 de junho de 2013, uma estrela pop
mundial, conhecida como Hannah Montana, chocou o mundo com uma imagem mais rebelde
de si mesma. A cantora Miley Cyrus, que era conhecida pelo seu papel no seriado da
Disney Channel, lançou uma música mais ousada, fez diversas apologias vulgares em
cima do palco de uma das maiores premiações musicais do mundo e apareceu nua numa
bola de demolição. Por mais sucesso que ela estivesse fazendo, o mundo caiu em cima
dela julgando sua imagem mais vulgar, visto que o público da cantora era infantil e
ninguém esperava aquilo da garotinha da Disney. Desde então, me apaixonei por
Cyrus, sempre fui diferente então sempre gostei do diferente, enquanto riam dela em
minha volta, eu achava aquilo a arte mais pura. Sua coragem me inspirava, logo
criei uma conexão com ela, que ao longe da sua carreira, depositou seus pontos
altos e baixos e sua realidade em suas músicas. Ela nunca foi um produto de uma
gravadora, a carreira dela é uma bagunça porque a vida dela é uma bagunça. Até hoje
ela segue se reiventando contando histórias da sua vida, acho que não é só eu que
me identifico com isso, suas letras foram essenciais em vários momentos da minha
vida, me ajudaram a passar por várias crises e enfrentar diversas batalhas, afinal,
a vida é uma escalada, mas a vista é ótima (verso da sua canção: The Climb).
Recado para Miley Cyrus:
Você sempre esteve ali quando mais precisei.

6- DANIEL RIBEIRO

E quem sou eu afinal? Porque tanto sobre tantas pessoas antes de falar de mim?
Assim como a Miley, estou sempre me reinventado e é claro, de algumas
personalidades eu me orgulho, já de outras, prefiro fingir que não existiu. Quando
criança, sempre fui muito diferente, sou homem mas nunca gostei de coisas de homem,
como por exemplo: futebol, pipa e bolinha de gude. Pelo contrário, gostava de
panelinha, Barbie e até mesmo andar de salto. Não suportava os meninos da minha
idade e suas tolices como Neymar e por isso sempre fui taxado como “viado” ou
“bicha”. Mas não me importava, afinal, eu era criança é pra mim não passava de uma
brincadeira. Mas quando usam uma palavra pra te julgar, então você passa a ver
aquilo como uma ofensa. Então entrei na adolescência e devido ao meu jeito mais
afeminado, aquelas palavras continuaram me perseguindo e por mais que eu me
importasse, eu demonstrava não ligar. Mas uma hora todo mundo cansa né e comecei a
dar um jeito daquilo parar. Comecei a agir como os meninos da minha idade, usar
roupas que não gostava, um corte de cabelo que não gostava, ouvir músicas que não
gostava e me envolver com garotas mesmo não querendo. Eu havia criado uma realidade
tão real que com o tempo eu passei a gostar daquilo sem precisar me forçar, e isso
durou anos…

7- EU NASCI PARA CORRER E NÃO POSSO SER DOMADO

Em agosto de 2020, a frase “Eu nasci para correr e não pertenço a ninguém" surgiu
na minha vida e foi o pontapé inicial para mim acordar. O que eu ganhava agradando
as pessoas? Aceitação? E o que exatamente faria com isso? Então voltei, aos poucos,
a ser quem eu era, sem ligar pro quem iam falar. Em 2021, comecei a beber álcool e
foi a melhor coisa que me aconteceu, pois como dizem, bebida entra, verdade sai.
Sou gay, como perceptível e 11 de dezembro de 2021 beijei meu primeiro homem. Na
minha cabeça aquilo foi um momento que não se repetiria, até que aconteceu de novo
e de novo então me assumi de vez pros meus amigos, o que pra eles não era novidade
nenhuma, somente pra mim que se negava acreditar. Em 2022, comecei a explorar esse
meu lado, conhecer pessoas desse mundo e até mesmo frequentar lugares, foi quando
senti que sabia quem eu era e o que queria. 11 de setembro de 2022, usei a primeira
roupa feminina, com muito receio mas sem medo do que iam falar. 14 de outubro de
2022 foi o dia que morri, voltando do trabalho fui sequestrado por 2 policiais. O
que pra mim era apenas um engano, para eles era uma “queima de arquivo”. Fui
colocado na mala de um carro e acordei desnorteado num matagal e Bangu, machucado e
sozinho. Me informei, pedi ajuda e voltei pra casa vivo. Quando minha ficha de que
quase morri, caiu, qualquer resquício daquele Daniel que se importava com opinião
alheia, tinha acabado de vez. Não importa se comentários vinha de desconhecidos ou
de amigos, que era o que mais tinha, simplesmente não me importava, só queria ser
eu mesmo. 2023 eu me encontrei e estou feliz, quem tinha que sair da minha vida
saiu, quem tinha que ficar ficou, mas no fim sou grato por todos que passaram por
ela, afinal, a vida é feita de fases, nada dura para sempre e temos que aprender a
lidar com isso e aproveitar o momento. 22 de fevereiro de 2023 eu tirei o maior
peso das minhas costas, me assumi pra minha mãe, pois não suportava viver em dois
mundos, um dentro de casa e o outro fora. Meu pai ainda não sabe sobre mim e acho
que ele ainda não tá preparado pra isso, o que me entristece, sinto que nossa
relação atual se baseia em coisas matérias, eu peço, ele faz, mas a hora certa vai
chegar. Hoje me encontro em paz, sinto que me encontrei, que me conheço e o que eu
quero pra minha vida. Sou Daniel, homem, gay, afeminado, tenho muitos sonhos e um
deles é estudar moda e ser um grande estilista no futuro. Não preciso fingir o que
sou pra ninguém, uso roupas que gosto, corto o cabelo do jeito que gosto, escuto o
que gosto e ajo da forma que gosto. Eu me amo e me considero quase perfeito, mas
perfeito ninguém é. Mas tenho apenas 18 anos, tenho muito que viver pela frente
ainda, afinal, eu nasci para correr!

Recado de Daniel:
Seja você mesmo!

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