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Um dia atípico

Antila acordara mais cedo naquele dia, sentia que tinha descansado
bem, dormido em colchão real. Preparou seu café da manhã, colocou
música logo cedo, comeu, tomou banhou, juntou suas coisas, se despediu
do seu gato e saiu para o trabalho mais cedo que o de costume.
No caminho para a estação de metrô decidiu mudar a rota, já que
tinha mais tempo por ter saído cedo. Decidiu passar pelo parque e viu
algumas crianças brincando no balanço, amarelinha e pega-pega. Sentiu um
grande prazer em vê-las se divertindo, acreditava que a infância era o
estado mais puro da humanidade, pois ainda não havia se corrompido com
o mundo em que vivemos. Ficou ali observando e meditando sobre sua
infância até o horário de costume para ir ao trabalho.
Com o coração quente e confortado como um filho abraçado por sua
uma mãe, seguiu para o metrô e chegou no trabalho com ânimo, alegria e
disposição que só se tem nas duas primeiras semanas de um novo trabalho.
Se sentia muito mais viva, presente!
O dia de trabalho fora incrivelmente produtivo e prazeroso, nem
havia reclamado por ainda ser segunda-feira.
Nem sempre foi assim, em um mundo onde gurus de finanças e
produtividade dizem que “não existe pobreza que resista a 14 horas de
trabalho diário” também existem pessoas que compram este tipo de ideias
e adotam para suas vidas.
Produtividade e trabalho acima de amigos, família e
relacionamentos.
Antila não era diferente destas pessoas, era jovem, tinha disposição
para trabalhar horas a fio, sempre buscando ser cada vez mais produtiva,
porém, com dois anos nesta frenesi de trabalho e diversas horas extras, em
uma reunião semestral com as lideranças da empresa teve que ir ao
banheiro no meio da reunião, ao chegar percebeu que estava respirando
ofegante em uma velocidade crescente, mas não tinha feito exercício e não
entendia o motivo de estar ofegante, então foi em direção a um box, no
meio no caminho começou a ver tudo turvo e se girando, como se tivessem
colocado algodão em frente ao seus olhos e a chacoalhado, foi neste
momento que percebeu que estava tendo sua primeira crise de ansiedade,
nunca mais fez muitas horas extras e sua produtividade nunca mais foi
como antes, as 8 horas diárias de trabalho se tornou um eternidade e o
trabalho a desgastava como quem carregava pedras para as pirâmides
egípcias .
Porém, este era um dia totalmente diferente desses últimos dois
anos, pela manhã, com apenas 4 horas terminou o trabalho que costumava
levar o dia inteiro para finalizar, após o almoço, participou da mesma
reunião trimestral que a deixou com crise de ansiedade 2 anos atrás. A
reunião correu bem, sem crise, sem sequer ansiedade fora do costume.
Alguns colegas de trabalho repararam na sua performance
totalmente atípica, e além disso, ainda estava radiante, era visível sua
alegria. Começaram a conversar entre eles e ficaram tentando adivinhar o
que poderia estar deixando-a desta forma, até fizeram aposta.
Aproveitaram quando Antila foi para a cozinha pegar café e a
seguiram para juntos indagarem o que tanto os deixaram curiosos, e em
uma voz sobressaindo a outra perguntaram:
- O que aconteceu com você?
-Você parece mais feliz, ontem teve?
-Vi que enviou o relatório que costumava enviar no final do dia logo pela
manhã.
Assustada com toda aquela comoção, quase derramou o café na
blusa e então respondeu em um tom suave, baixo e crescente:
-Eu.. Eu realmente não sei o que aconteceu, talvez tenha dormido bem.
Um engraçadinho no fundo falou em tom julgador:
-Aposto que está tomando ritalina ou venvanse.
-Nunca tomei nada do tipo, tenho medo de ficar viciada – Respondeu Antila,
em tom suave.
Era hora de ir para casa, porém, estava tão alegre e leve que parecia
que estava saindo e indo direto para o happy hour de toda sexta com os
colegas da empresa.
No caminho decidiu ir ao bosque da cidade, no bosque, deitou-se na
grama e tirou um livro da bolsa, o qual não pegava para ler há muito tempo.
Leu por um tempo e reparou em um morrinho coberto de grama curta e
macia, despertou uma vontade de descer e subir aquele morrinho descalça,
subia e descia com um sorriso no rosto, repetiu inúmeras vezes, não por
obrigação ou algum motivo em específico, era única e exclusivamente por
prazer.
Chegando na escada do condomínio do seu apartamento começou a
se questionar o motivo de estar daquela forma, tão feliz e extremamente
produtiva, estava mais presente do que nunca em suas atividades, até
mesmo nas mais pequenas. Desejava saber de coração o que tinha
acontecido, para poder repetir o processo, estava cansada de se sentir
cansada.
Ao abrir a porta do apartamento, tirou o calçado, fez carinho em seu
gato e foi para o quarto, ao colocar a bolsa no chão, reparou que havia
esquecido o celular em cima da cama carregando.

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