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Margaret Mallory

O Guardião
Returns of The Highlanders 1

Tradução/Pesquisa: GRH
Revisão Inicial: Ana Claudia
Revisão Final e Formatação: Ana Paula G.

Resumo
Quatro guerreiros destemidos retornam para reivindi-
car suas terras e seus legados. Mas todas as suas fa-
çanhas no campo de batalha não são suficientes para
prepará-los para o seu maior desafio: Conquistar os
corações de quatro belas escocesas.

Após anos de luta no exterior, Ian MacDonald volta para


casa para encontrar seu clã em perigo. Para salvar seus
parentes, ele deve corrigir os erros do seu passado. . . e
reivindicar a noiva que renegou por muito tempo. Quando
era menina, Sìleas via em Ian o seu cavaleiro de armadura
brilhante. Mas quando sua tentativa de resgate comprome-
teu sua virtude perante o clã, Ian foi forçado a se casar
contra sua vontade. Cinco anos depois, Sìleas transfor-
mou-se de uma menina estranha em uma mulher bela e
independente, que sabe que merece mais do que o marido
relutante que preferiu a guerra à ficar com sua jovem espo-
sa. Agora, este Highlander diabolicamente belo está final-
mente apaixonado. Ele quer uma segunda chance com Sì-
leas - e não vai aceitar um não como resposta.

Comentário da Revisora Ana Claudia


Apesar de difícil por ser do inglês, adorei revisar este livro. A histó-
ria é muito legal! Os dois são obrigados a casar ainda muito jovens e o
mocinho se revolta com isso e vai embora horas depois do casório. Cin-
co anos depois o espadão volta e a noivinha virgem resolve dar uma li-
ção no highlander e fazê-lo lutar pelo direito de penetrar na sua caver-
na intocada, já que ela tem outro pretendente a desbravador.Nesse
meio tempo há também a disputa pela liderança do clã e a tentativa do
padrasto da mocinha de tomar o castelo dela, lutas nas quais nosso he-
rói vai se engajar na tentativa de provar a si mesmo, ao clã e a famí-
lia que é merecedor do respeito de todos.
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Comentário da Revisora Ana Paula G.
Eu adorei a história: romântica, sensual em certos trechos e ainda
fiquei feliz por ser uma série. Só achei que a heroína pegou pesado nes-
te livrinho, afinal, ela guarda mágoa por anos do marido que a aban-
dou..masssssss,poxa, eles se casaram quando ela tinha 13 ANOS! Ele ob-
rigado pelo pai e a via como uma amiga de infância e nada mais.Tudo
certo que ela foi humilhada quando o marido escafedeu-se sem ‘prestar
as honras’,mas acho que não justifica todo o ressentimento dela...Bom,
ele volta cinco anos depois...huahah.e ai a coisa pega fogo..Achei uma
historia emocionante, prende mesmo.E estou louca para ver como as
previsões da Teàrlag vão se cumprir nas vidas dos outros.Notem que ela
fala por metáforas,quando chegar ao final do livro vocês vão perceber.-
Com ela,nada é o que parece....huahahah...Boa Leitura!

PRÓLOGO
ILHA DE SKYE
Escócia, 1500
Teàrlag MacDonald, o membro vivo mais velho de seu clã e vidente
de reputação considerável, deixou seu olho bom vagar lentamente de um
menino ao outro. Visitantes ao seu pequeno chalé próximo ao mar eram ra-
ros.
─ O que traz você aqui nesta noite tempestuosa rapazes?
─ Queremos saber o nosso futuro, Teàrlag─ o jovem Connor disse. ─
Pode nos dizer o que prevê para nós?
O menino que falou era o segundo filho do Laird, um rapaz de doze
anos com o cabelo escuro como breu herdado de sua mãe.
─ Tem certeza de que querem ouvir?─ Perguntou ela. ─ Na maioria
das vezes eu prevejo a morte, não sabem disso?
Os quatro rapazes trocaram olhares, mas nenhum deles deu um passo
em direção à porta. Eles eram mais corajosos que a maioria.

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Ela ainda se perguntava o que os levou a invadir seu chalé e molhar
seu chão de gotas de chuva nesta noite em particular.
─ Você teme que eu morra antes de predizer algo sobre você, é isso?
Ela fixou seu olho bom no mais novo, um rapaz de dez anos com ca-
belo negro como o seu primo Connor e os olhos azuis como o céu de ve-
rão. O rapaz corou, confirmando sua suspeita.
─ Bem, eu espero não morrer tão cedo, Ian MacDonald.
Ian ergueu as sobrancelhas.
─ Então você me conhece, Teàrlag?

─ É claro que conheço. Três de você, ─disse ela, apontando o dedo


para Ian e seus primos Alex e Connor ─ são meus parentes.
A compreensão de que eram parentes de uma mulher com um olho só
e uma corcunda não pareceu agradá-los.
Teàrlag riu para si mesma e se virou para atirar um punhado de ervas
na lareira. Quando o fogo estalou e soltou faíscas, ela inclinou-se para res-
pirar a fumaça picante. Ela não podia invocar a visão à vontade, mas às ve-
zes as ervas a tornavam mais clara.
Assim que os meninos entraram em seu chalé, cheirando a cães, lã
molhada e mar, ela tinha visto uma aura laranja sobre eles o que indicava
que uma visão estava vindo. Era incomum para ela ver o brilho em torno
de mais de uma pessoa de cada vez. Teàrlag suspeitava que era porque os
rapazes eram como unha e carne, mas quem era ela para questionar o seu
dom?
─ Você primeiro. ─ disse apontando o dedo para Ian.
Os olhos do rapaz se arregalaram, mas quando um dos outros meni-
nos lhe deu um empurrão, ele se aproximou da mesa para ficar ao lado
dela.
Rápido como um piscar de olhos, ela meteu uma pedra pequena e
lisa em sua boca escancarada. A pedra não ia ajudá-la a ver nada, mas
acrescentava mistério e o mantinha quieto.
─ Não engula a pedra, rapaz─ disse ─ ou ela vai matar você.

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Ian olhou para seu primo Connor, que lhe fez um aceno tranquiliza-
dor. Teàrlag descansou a mão sobre a cabeça de Ian e fechou os olhos. A
visão, que começara a se formar a partir do momento que ele passou por
sua porta, veio rapidamente.

─ Você casará duas vezes ─ disse ela. ─ Uma vez com raiva e outra
por amor.
─ Duas mulheres!─ Alex, aquele com o cabelo louro de seus ante-
passados vikings, gargalhou. ─ Isso vai mantê-lo ocupado.
Ian cuspir a pedra em sua mão.
─ Eu não quero saber disso, Teàrlag. Por que não me conta algo
interessante... Como quantas batalhas eu vou lutar... Ou se eu vou morrer
no mar?
─ Eu não posso comandar a visão, rapaz. Se optar por falar de amor
e de mulheres, então que assim seja. ─ Ela olhou para os outros. ─ E o res-
to de você?
Os outros três fizeram uma careta como se ela tivesse dado a eles um
de seus remédios de gosto amargo.
Ela gargalhou e deu uma tapa na mesa.
─ Não parecem tão corajosos agora, não é, rapazes?
─ Não é justo vocês ouvirem sobre minhas duas esposas, ─ Ian disse
aos outros, ─ a menos que eu ouça sobre as suas.
Alex deu aos outros dois rapazes um sorriso torto e trocou de lugar
com Ian.
─ Eu não preciso da visão para saber que você nasceu para causar
problemas às moças. ─ Ela balançou a cabeça. Os meninos eram todos ho-
mens bonitos, mas este tinha o diabo nos olhos. ─ Uma pena, mas não há
nada a ser feito sobre isso.
Alex sorriu.
─ Parece muito bom para mim.

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─ Ach. ─ Deslizou uma segunda pedra do prato sobre a mesa para
dentro da boca de Alex e colocou a mão em sua cabeça. Foi uma sorte ela
ter juntado pedras bonitas na praia naquela manhã.
─ Tsk, tsk, isso não é muito bom. Um dia, você vai se deparar com
uma mulher tão bonita como nunca viu antes, sentada em uma rocha no
mar.
Ela abriu os olhos e bateu no peito de Alex.
─ Cuidado com ela, pois pode ser uma selkie assumindo sua forma
humana para atrair você para a morte.
─ Eu prefiro ter uma selkie a duas mulheres─, Ian resmungou do ou-
tro lado da mesa.
Para um MacDonald de Sleat, colocar uma esposa de lado para tomar
outra era simples como trocar de roupa. Parecia o caminho escolhido por
eles para partir os corações das mulheres que amavam.
Teàrlag fechou os olhos novamente e riu tanto que se engasgou. Ach,
isso certamente era uma surpresa.
─ Alex, eu o vejo fazendo a corte a uma donzela feia e marcada. ─
disse ela, enxugando os olhos no xale. ─ Temo que ela seja bastante forte
também. E não me refiro a ser agradavelmente roliça, se me entende.
Os outros meninos riram, até que ficaram com o rosto vermelho.
─ Eu acho que você está se divertindo as minhas custas. ─ disse
Alex, olhando de soslaio para ela. ─ Desde que eu não tenho nenhuma in-
tenção de me casar. Tenho certeza que se eu o fizer, a moça teria que ser
muito, muito bonita.
─ Eu vejo o que vejo. ─ Ela lhe deu um empurrão e Alex fez um ges-
to para Duncan. Ele era um rapaz alto de cabelos vermelhos, cuja mãe tinha
servido como babá de Connor.

─ Este tem o sangue de ambos, a feiticeira do mar MacKinnon e o


rei guerreiro celta, Scathach, de modo que se lembrem de mantê-lo ao seu
lado ─ disse, apontando o dedo para os outros três. Para Duncan ela disse,─
É onde você vai obter a sua ferocidade e seu temperamento.

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Duncan ficou parado, sua expressão séria, quando ela colocou uma
pedra em sua boca e descansou a mão em sua cabeça.
Quase ao mesmo tempo, um forte sentimento de perda e saudade pai-
rou sobre ela e angustiou seu espírito. Ela ergueu a mão, era velha demais
para suportar por muito tempo.
─ Tem certeza de que quer ouvir, rapaz?─ Ela perguntou em voz bai-
xa.
Duncan a encarou e balançou a cabeça.
─ Eu temo que tristes dias o esperem ─, disse ela, apertando seu
ombro. ─ Mas vou dizer uma coisa. Às vezes, um homem pode mudar seu
futuro.
Duncan cuspiu a pedra e deu-lhe um educado:
─ Obrigado.
O filho do Laird foi o ultimo.
─ O que eu quero saber é o futuro do nosso clã, ─ Connor disse gi-
rando a pedra em sua boca. ─ Será que vamos ter paz e prosperar nos pró-
ximos anos?
Seu pai tinha vindo perguntar-lhe a mesma coisa, não muito tempo
atrás. Tudo o que ela tinha sido capaz de dizer-lhe que era um dia ele teria
de enviar o filho para longe para mantê-lo seguro.
Quando ela colocou a mão na cabeça de Connor, ela ouviu os gemi-
dos dos moribundos e viu os homens de seu clã deitados em um campo ala-
gado de sangue escocês. Então ela viu os quatro, já homens feitos, jovens
e fortes, em um navio, cruzando o mar. Ela se cansou, mas as visões
continuaram uma após a outra.
─ Teàrlag, você está bem?─ Connor perguntou.
Quando ela abriu os olhos, Alex entregou-lhe um copo de uísque fei-
to por ela própria, dizendo:
─ Beba vai lhe fazer bem. ─ Ela bebeu perguntando a si mesma
como ele encontrara o uísque.
─ Eu vejo muitos perigos à frente de todos você─ disse ela. ─ Vocês
devem manter-se sempre juntos, se quiserem ter qualquer esperança de sob-
revivência.

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Os rapazes não pareciam impressionados. Como Highlanders, eles
sabiam sem predições que o seu futuro seria perigoso. E como meninos,
eles achavam a percepção disso mais emocionante do que preocupante.
Eles eram jovens e uma mulher sábia não ia dizer a eles tudo que ela
vira. Depois de considerar o que poderia ser útil a eles, ela disse para Con-
nor:
─ Você quer saber o que deve fazer para ajudar o clã?
─ Sim, Teàrlag, eu quero.
─ Então vou dizer ─ disse ela, ─ o futuro do clã vai depender de
você escolher a mulher certa.
─ Eu? Mas é meu irmão, que será Laird.
Ela encolheu os ombros. Ele iria aprender em breve sobre as tristezas
futuras.
─ Pode dizer-me qual a mulher que eu devo escolher, então?─ Con-
nor pediu. A preocupação franzindo sua testa.
─ Ach, a moça vai escolher você─, disse ela, e apertou sua boche-
cha. ─ Você deve ser sábio o suficiente para aceitar isso.

Ela olhou para a porta da casa pouco antes do som da batida. Alex,
que estava mais próximo, abriu-a e riu quando viu a menina com o selva-
gem cabelo despenteado e vermelho ali.
─ É apenas a amiguinha de Ian, Sìleas ─, disse ele, enquanto a puxa-
va para dentro e fechava a porta contra o frio.
A menina passou os grandes olhos verdes pela sala, então parou em
Ian.
─ O que está fazendo vagando sozinha no escuro?─ Ian perguntou-
lhe.
─ Eu vim encontrá-lo, Ian─, disse a menina.
─ Quantas vezes devo dizer que deve ter cuidado?─ Ian apertou seu
manto e se virou para os outros. ─ É melhor eu levá-la de volta para casa.
A velha pensou que o pai da menina devia ser esfolado vivo por dei-
xar a pequenina vagar por aí como fazia. Mas ele não era o tipo de homem
que tinha muita utilidade para uma filha.

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─ Sìleas você não tem medo que as fadas levem você?─ Perguntou
ela.
Sìleas balançou a cabeça. Ach, a pobre criança sabia que as fadas
roubavam apenas as crianças que são muito preciosas para seus pais.
─ Vamos, então,─ Ian disse, pegando a mão da menina. ─ Vou contar
uma história sobre um selkie enquanto caminhamos.
Sìleas olhou para o rapaz, e seus olhos brilhavam como se o próprio
Deus houvesse enviado o mais forte e mais corajoso guerreiro em todas as
Highlands para ser seu protetor.

CAPÍTULO 1
ILHA DE SKYE
Escócia, 1508

As mãos estendidas de Sìleas colidiram e rasparam contra as paredes


ásperas, o tato substituindo a visão enquanto ela corria através da escuri-
dão. Pequenas criaturas saltitavam a sua frente, correndo com medo igual a
ela.
Mas não havia eco de passos atrás dela. Ainda.
Um círculo de luz cinza apareceu à frente, sinalizando o fim do tú-
nel. Quando chegou a ele, Sìleas ficou de quatro e se arrastou pela abertura
estreita, a lama arrastando em suas saias.
Os arbustos arranhavam o rosto e as mãos enquanto ela os afastava
para o outro lado. Uma lufada do límpido ar marinho
a envolveu, afastado a umidade, o de terra cheiro do túnel. Sìleas inspirou
profundamente várias vezes, mas ela não tinha tempo para parar.
Assustadas, as ovelhas estacavam ou trotavam para fora de seu cami-
nho quando Sìleas subiu até o morro. Ela rezou para que não o tivesse per-

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dido. Quando ela finalmente chegou ao topo, ela se escondeu atrás de uma
pedra para esperar.
Antes que pudesse recuperar o fôlego, ouviu o som de cascos.
Ela tinha que ter certeza de que era Ian. Com seu coração batendo
nos ouvidos, ela espiou ao redor da pedra.
Tão logo ele contornou a curva, ela gritou o nome dele e pulou para
o caminho.
─ Isso foi perigoso, Sil─ disse Ian, depois de puxar com força as ré-
deas do cavalo. ─ Eu quase passei por cima de você.
Ian parecia tão bonito em seu belo cavalo, com seu cabelo escuro vo-
ando e o brilho do pôr do sol brilhando sobre ele, que por um longo mo-
mento Sìleas esqueceu a urgência de seu problema.
─ O que está fazendo aqui?─ Ian perguntou. ─ E como você se sujou
tanto?
─ Eu estou fugindo do meu padrasto─, disse Sìleas, girando em volta
de si mesma. ─ Eu saí pelo túnel secreto quando o vi dispensando você no
portão da frente.
─ Eu ia passar a noite aqui no meu caminho para casa─, disse ele, ─,
mas disseram-me que a metade do castelo estava doente com alguma
pestilência e me mandaram embora.
─ Eles mentiram para você─, disse ela, estendendo a mão para ele. ─
Temos de nos apressar antes de ele notar que eu parti.
Ian ergueu-a na frente dele. Apesar das costas arderem como o diabo, ela se
inclinou contra ele e suspirou. Estava segura.
Ela tinha perdido Ian nestes últimos meses, quando ele estava na cor-
te escocesa e combatendo na fronteira. Agora
sentia-se como nos velhos tempos, quando ela era uma menina pequenina e
Ian sempre ia ajudá-la por causa de um arranhão ou de qualquer outra coi-
sa.

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Mas desta vez ela estava com problemas, como nunca antes. Se ela
tinha alguma dúvida sobre como a sua situação era calamitosa, ver
a Dama Verde pairar sobre ela chorando foi um aviso claro.
Quando Ian virou o cavalo na direção do castelo, ela se levantou e se
virou para enfrentá-lo. ─ O que está fazendo?
─ Eu estou levando você de volta─, disse Ian. ─ Eu não vou ser acu-
sado de sequestro.
─ Mas tem que me levar embora! O bastardo pretende casar-me com
o pior dos MacKinnons.
─ Segure sua língua─, disse Ian. ─ Você não deve chamar o seu pa-
drasto de bastardo.
─ Você não está me ouvindo. O homem vai me fazer casar com An-
gus MacKinnon.
Ian parou o cavalo.
─ Você deve ter se confundido. Mesmo o bastardo do seu padrasto
não faria isso. De qualquer maneira, eu prometo que vou contar ao meu pai
e ao meu tio o que você disse.
─ Eu vou contar-lhes pessoalmente quando você me levar até eles.
Ian balançou a cabeça. ─ Eu não vou iniciar uma guerra entre clãs por levar
você embora. Mesmo se o que diz é verdade, não haverá
casamento tão cedo. Você ainda é uma criança.
─ Eu não sou criança─, disse Sìleas, cruzando os braços. ─ Tenho
treze anos.
─ Bem, você não tem seios,─ Ian disse, ─ e nenhum homem vai que-
rer casar-se até você tê-los. Ouch! Não precisa espetar-me com esse seu co-
tovelo pontudo apenas por falar a verdade.
Sìleas lutou contra a dor em seus olhos. Depois de tudo o que tinha
acontecido com ela hoje, isso foi difícil de suportar, especialmente vindo
do homem com quem planejava se casar.

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─ Se você não me ajudar Ian MacDonald, vou a pé.
Quando ela tentou deslizar para fora do cavalo, Ian a pegou e segu-
rou-a. Ele pegou o rosto dela entre suas mãos e
esfregou o polegar levemente em sua bochecha, o que tornou diabolica-
mente difícil não chorar.
─ Eu não quero ferir seus sentimentos, pequena. ─ disse ele. ─ Você
não pode ir sozinha. É um longo caminho até a próxima casa, e logo estará
escuro.
─ Eu não vou voltar para o castelo─, disse ela.
─ Acho que se eu levar você de volta, você vai escapar pela passa-
gem secreta de novo não é?
─ Vou sim ─, disse ela.
Ian suspirou e virou seu cavalo.
─ Então é melhor nos pormos em movimento. Mas se eu for enforca-
do por sequestro, isso ficará em sua consciência. ─ Ian parou para armar
acampamento quando ficou muito escuro para enxergar. Se ele não tivesse
Sìleas com ele, ficaria tentado a continuar. Mas a casa de sua família era a
uma boa distância ainda, e era arriscado andar na escuridão da noite.
Ele entregou a Sìleas metade de sua torta de aveia e um pedaço de
queijo, e eles comeram em silêncio. Haveria sérios problemas por causa
dessa fuga e tudo porque ela deixara a imaginação correr solta novamente.
Olhou de esguelha para ela. Pobre Sil. Seu lindo nome, pronunciado
com um suave ─ Shh─, como um sussurro no ouvido, zombava dela. Ela
era uma coisinha patética, esquelética, com dentes grandes demais e cabelo
vermelho rebelde e brilhante de doer os olhos. Mesmo quando ela tivesse
seios, ninguém ia se casar com ela por sua aparência.
Pelo menos, ela lavara a lama do rosto.
Ian desenrolou seu cobertor e deu-lhe um olhar de advertência.
─ Deite-se e não diga uma palavra.
─ Isto não é minha culpa.
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─ É sim ─ disse ele, ─ Embora você saiba muito bem que ninguém
vai culpá-la.
Sìleas enrodilhou-se em um lado o cobertor e colocou os pés sob seu
manto.
Ian se deitou de costas para ela e envolveu o kilt em torno de si. Ti-
nha sido um longo dia de viagem e ele estava cansado.
Quando ele estava quase adormecendo, Sìleas sacudiu seu ombro.
─ Eu ouvi alguma coisa.
Ian pegou sua claymore e sentou-se para ouvir.
─ Eu acho que é um javali─, ela sussurrou. ─ Ou um urso muito
grande.
Ian caiu para trás com um gemido.
─ É apenas o vento soprando as árvores. Já não me torturou o sufici-
ente por um dia?
Ele não podia voltar a dormir com a pequenina tremendo ao lado
dele. Ela não tinha carne em seus ossos o suficiente para
mantê-la aquecida.
─ Sil, está com frio?─ Perguntou.
─ Estou quase morrendo, ─disse ela com uma voz fraca, triste.
Com um suspiro, ele rolou de costas e estendeu o seu kilt sobre os
dois.
Agora ele estava bem acordado. Depois de olhar para os galhos das
árvores com o vento chicoteando acima dele por um longo
tempo, ele sussurrou:
─ Sil, está acordada?
─ Estou.
─ Eu vou casar em breve─, disse ele, e não pode deixar de sorrir
para si mesmo. ─ Eu a conheci na corte em Stirling.Eu vim para casa para
contar aos meus pais.
Ele sentiu Sìleas enrijecer ao lado dele.

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─ Estou tão surpreso quanto você. ─ disse ele. ─ Eu não tinha planos
de casar por alguns anos ainda, mas quando um homem encontra a
mulher certa... Ah, Sil, ela é tudo que eu quero.
Sìleas ficou quieta por um longo tempo, então ela perguntou com
aquela voz, rouca engraçada dela:
─ Como sabe que ela é a mulher certa para você?
─ Philippa é uma beleza rara. Ela tem olhos brilhantes, sedosos cabe-
los louros e curvas capazes de fazer um homem se esquecer de respirar.
─ Hmmph. Não há nada além de sua aparência que você possa dizer
sobre esta Philippa?
─ Ela é tão graciosa como uma rainha das fadas─, disse ele. ─ E ela
tem uma risada linda que soa como um cristal.
─ E é por isso que quer casar com ela?
Ian riu com o tom cético de Sìleas.
─ Eu não deveria dizer-lhe isto pequena. Mas há mulheres que um
homem pode ter sem casar, e mulheres que ele não pode. Ela é do segundo
tipo, e eu a desejo muito, muito.
Ele passou um braço sobre o ombro de Sìleas e se virou para dormir
com um sorriso no rosto.
Ele deve ter dormido como os mortos, porque ele não se lembrava de
nada até que acordou com o som de cavalos. Em um instante, ele afastou
seu kilt e pegou a sua claymore enquanto três cavaleiros cavalgavam para
seu acampamento e começavam a circundá-los. Embora Ian os reconheces-
se como de seu clã, ele não baixou sua espada.
Ele olhou por cima do ombro para Sìleas para ter certeza de que ela
estava bem. Ela estava sentada com seu kilt puxado sobre a cabeça e ficou
espreitando através de uma fenda.
─ Poderia ser este o nosso jovem Ian, de volta dos combates na
fronteira?─ Um dos cavaleiros disse.
─ É ele mesmo! Ouvimos dizer que você teve grande sucesso com-
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batendo os Ingleses ─, disse outro, enquanto os três continuaram circulan-
do. ─ Deve ser porque os ingleses tem sono pesado.
─ Ouvi dizer que eles esperam educadamente por você para escolher
a hora e o local para lutar─, disse o terceiro. ─ Pois como poderia um
homem dormir tão profundamente que não ouve cavalos passando através
de seu acampamento?
Ian rangeu os dentes enquanto os homens continuavam se divertindo
às suas custas.
─ Os ingleses lutam como as mulheres, então o que você podia es-
perar?─ O primeiro disse, enquanto os três se aproximavam ainda mais do
acampamento.
─ Falando de mulheres, quem é a moça corajosa que não tem medo
de dividir a cama com o nosso guerreiro feroz?
O outro homem gritou.
─ Sua mãe vai matá-lo por trazer uma prostituta para casa─, disse
outro, causando uma rodada de gargalhadas.
─ Eu quero estar lá quando ela descobrir, ─ o primeiro disse. ─ Ve-
nha, Ian, vamos dar uma olhada nela.
─ Eu não tenho nenhuma mulher comigo─ , disse Ian, puxando o kilt
para revelar a menina. ─ É apenas Sìleas.
Sìleas puxou o restante da manta de sobre si mesma e olhou para
eles.
Os cavaleiros ficaram quietos. Seguindo os seus olhares, Ian olhou
por cima do ombro. Seu pai e seu tio,
que era o Laird de seu clã, tinham levado seus cavalos até à beira do cam-
po.
Não havia nenhum som agora, exceto o resfolegar dos cavalos ─ , Os
olhos de seu pai passearam de Ian para Sìleas,
depois voltaram para Ian com uma fúria sombria.

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─ Voltem para casa agora, rapazes─ , seu tio ordenou aos outros.─
Nós vamos em breve.
Seu pai desmontou, mas esperou para falar até que os outros homens
estivessem fora do alcance da voz.
─ Explique-se, Ian MacDonald,─ seu pai disse em um tom utilizado
para avisar que Ian estava prestes a levar uma surra.
─ Eu não sei como consegui dormir sem perceber a chegada dos ca-
valos, pai.
─ Não banque o tolo comigo─ , gritou o pai. ─ Você sabe muito bem
que eu estou perguntando por que esta viajando sozinho com Sìleas e por
que encontramos você partilhando a cama com ela.
─ Mas eu não estou pai. Bem, eu suponho que estou viajando com
ela, embora eu não tenha tido a intenção de fazer isto, ─ Ian se atrapalhou.
─ Mas não estamos partilhando a cama!
O rosto de seu pai passou do vermelho ao roxo. Não me diga que eu
não vi o que está claro como o dia diante dos meus olhos.
Só pode haver uma explicação para isso. Os dois fugiram e se casaram em
segredo.
─ É claro que não casamos.
Todo o caminho de casa, Ian tinha imaginado como os olhos de seu
pai se encheriam de orgulho quando ouvisse o relato de Ian
sobre a luta contra os Ingleses na fronteira. Em vez disso, seu pai estava fa-
lando com ele como se ele fosse um rapaz culpado
de uma brincadeira perigosa.
─ Nós não estávamos compartilhando a cama, não no sentido que
você está sugerindo pai,─ Ian disse, tentando e não conseguindo manter a
calma.
─ Isso seria nojento. Como pode pensar isso?
─ Então porque é que a moça está aqui com você?─ Seu pai pergun-

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tou.
─ Sìleas pôs na cabeça que o seu padrasto tem intenção de casá-la
com um dos MacKinnon. Ela jurou que ia fugir sozinha se eu não a trou-
xesse comigo.
Seu pai se agachou ao lado de Sìleas.
─ Você está bem, moça?
─ Estou graças a você. ─ Ela parecia patética, sua pele pálida contra
o seu desgrenhado cabelo vermelho e tremendo como uma pequena
ave sob sua manta.
Seu pai gentilmente pegou a mão dela entre suas mãos enormes.
─ Você pode me dizer o que aconteceu, moça?
Isso era demais. Seu pai estava falando com Sìleas como se ela fosse
a inocente em tudo isto.
─ É verdade que Ian não queria me ajudar. Mas eu forcei a mão, por-
que o meu padrasto que casar-me com seu filho para que eles possam rei-
vindicar Knock Castle. ─ Ela baixou os olhos e disse em voz trêmula: ─ E
não foi apenas isso, mas eu não quero falar sobre o resto.
Sìleas sempre gostou de exagerar. Se ela não tinha pai de Ian em suas
mãos antes, ela com certeza tinha agora.
─ Foi uma sorte que a moça tenha descoberto o plano deles e
fugido─, disse o tio Ian. ─ Não podemos deixar o MacKinnon roubar
Knock Castle sob nossos narizes.
Seu pai levantou-se e descansou a mão no ombro de Ian. ─ Eu sei
que você não tinha a intenção disso, mas você comprometeu a virtude de
Sìleas.

O estômago de Ian revirou-se enquanto ele sentia o desastre iminen-


te.
─ Mas, pai, isso não pode ser verdade. Conheço Sìleas toda sua
vida. E ela é tão jovem, ninguém vai pensar nada de mal porque passei a
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noite sozinho com ela.
─ Os homens que encontraram você já acreditam no pior─, disse seu
pai. ─ Isso está fadado a se tornar conhecido dos outros.
─ Mas nada aconteceu─, Ian insistiu. ─ Eu nunca pensei nisso!
─ Isso não importa─, disse seu pai.
─ Isto não é por causa da virtude de Sìleas, é?─ Ian disse, incli-
nando-se para seu pai com os punhos cerrados. ─ É sobre manter as terras
dela fora das mãos dos MacKinnon.
─ Isso também, ─ seu pai concordou. ─ Mas você arruinou a reputa-
ção de Sìleas, e só há uma maneira de arrumar isto. Os dois vão se casar as-
sim que chegarem em casa.
Ian ficou horrorizado.
─ Não. Eu não vou fazer isso.
─ O que não vai fazer é envergonhar sua mãe e eu─, disse o pai, os
olhos tão duros como aço. ─ Espero um comportamento honrado de meus
filhos, mesmo quando é difícil. Especialmente quando é difícil.
─ Mas eu...
─ Você tem uma obrigação com a moça e seu clã ─ disse seu pai. ─
Você é um MacDonald, e fará o que for necessário.
─ Vou reunir os homens─, disse seu tio. ─ Eu não espero que os
MacKinnons fiquem satisfeitos quando ouvirem as notícias.
Sìleas estava chorando em silêncio, segurando o kilt de Ian junto ao
seu rosto e balançando para frente e para trás.
─ Arrume suas coisas, moça─, disse o pai, dando-lhe um tapinha de-
sajeitado. ─ Você devem se casar antes que MacKinnon venha à procura de
você.

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CAPÍTULO 2
MASMORRA DO CASTELO DUART
Ilha de Mull, Outubro 1513

─Vermes Malditos! A palha está viva com essas criaturinhas. ─Ian


levantou-se e coçou os braços. ─Eu odeio dizer isso, mas infelizmente a
hospitalidade Maclean parece que está em baixa.
─São os vermes Maclean que andam sobre duas pernas que me preo-
cupam─, disse Duncan. ─Vocês sabem que estão lá em cima debatendo o
que fazer conosco, e não tenho fé que eles escolham misericórdia.
Connor esfregou as têmporas. ─Depois de cinco anos lutando na
França, ser capturado pelos Macleans no dia em que pôs o pé na Escócia...
Ian sentiu a humilhação tanto quanto seu primo. E eles eram necessá-
rios em casa. Eles tinham deixado à França assim que soberam da desastro-
sa derrota para os Ingleses em Flodden.
─Já é hora de fugirmos, ─ Ian disse aos outros. ─Espero que até
mesmo os Macleans nos façam a cortesia de nos servir o jantar antes de nos
matar. Devemos aproveitar a chance de fugir, então.
─Aye. Connor ficou ao lado dele e olhou através da grade de ferro
para a escuridão lá fora.
─ Assim que o guarda abrir a porta, nós...
─Ach, não há necessidade de violência, primo. ─ Alex disse, falando
pela primeira vez. Ele se deitou com suas longas pernas
estendidas sobre a palha suja, sem se incomodar com o que saísse de lá.
─E por que isso?─ Ian perguntou, dando um chute em Alex com a
bota.
─Eu não estou dizendo que é um plano ruim─, disse Alex, ─só que
não vamos precisar dele.
Ian cruzou os braços, divertido, apesar de si mesmo.

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─Você vai chamar as fadas para abrir a porta para nós?
Alex era um mestre contador de histórias e deixou que o silêncio
crescesse para ter certeza que tinha a atenção de todos antes de falar.
─Quando eles me levaram para ser interrogado, foram um pouco ru-
des. A esposa do Laird entrou por acaso e insistiu para ver minhas feridas.
Connor gemeu.
─Alex, diga-me que você não...
─Bem, ela me despiu e aplicou uma pomada de cheiro doce da cabe-
ça aos pés. A senhora ficou impressionada com minhas cicatrizes de guerra
e vocês sabem como eu gosto disso em uma mulher ─, disse Alex, levan-
tando uma mão, a palma para cima. ─para encurtar a história, foi tudo mui-
to excitante para nós dois.
─Você fodeu a esposa do homem que está prendendo a gente? O que
há de errado com você? ─Duncan gritou. ─É melhor estarmos prontos, ra-
pazes, pois acho que a discussão sobre a possibilidade de nos matar será
curta.
─Essa é a gratidão que recebo, depois por eu ter sacrificado a minha
virtude para libertá-los─, disse Alex. ─A senhora não vai dizer ao marido o
que fizemos, e ela jurou que poderia nos tirar daqui.
─Então, quando ela vai fazer isso?─ Ian não questionou se a senhora
viria, as mulheres sempre faziam as coisas mais improvável para Alex.·.
─Esta noite─, disse Alex. ─E não foi só a minha cara bonita, rapa-
zes, que a convenceu a nos ajudar. A senhora é uma Campbell. Shaggy Ma-
clean casou com ela para fazer a paz entre os dois clãs. Ela o odeia, é claro,
e faz o seu melhor para mantê-lo frustrado.
─Ha!─ Ian disse, apontando o dedo para Connor. ─Que esta seja
uma lição para você, quando for escolher uma esposa entre os nossos inimi-
gos.
Connor esfregou sua testa. Como o filho do Laird, esperava-se que
ele fizesse uma aliança de casamento com um dos outros clãs. Com tantos

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homens mortos após Flodden, uma série de clãs estaria procurando negoci-
ar tais alianças.
─O interessante é você estar dando conselhos sobre mulheres─, disse
Alex, levantando as sobrancelhas para Ian. ─Quando não parece saber o
que fazer com a sua.
─Eu não tenho esposa, ─disse Ian com uma advertência deliberada
na voz. ─Contanto que não tenha sido consumado, não é um casamento.
Enquanto estava na França, Ian fez o possível para esquecer o seu ca-
samento. Mas agora que ele estava voltando para casa, para Skye, poria um
fim ao seu casamento falso.
Alex sentou-se.
─Alguém está disposto a fazer uma aposta sobre ele? Meu dinheiro
diz que o nosso rapaz não vai escapar desse casamento.
Duncan segurou Ian antes que ele pudesse arrancar o sorriso do rosto
de Alex.
─Isso é o suficiente, Alex, ─ Connor disse.
─Você são patéticos─, disse Alex, levantando-se e alongando os
músculos. ─Ian, casado, mas não aceita isso. Duncan, que se recusou a ca-
sar com seu amor verdadeiro.
Ah, pobre Duncan. Ian olhou para Alex a historia era muito triste
para brincadeiras.
─E então há Connor, ─ Alex continuou suas divagações ─, que deve
tentar adivinhar qual de uma dúzia de lairds com filhas solteiras seria o
mais perigoso de ofender.
─Ach, os irmãos do meu pai provavelmente vão me matar primeiro e
salvar-me do problema de escolher─, disse Connor.
─Não conosco protegendo você─, disse Duncan.
Para os tios de Connor seria um prazer ter um empecilho a menos en-
tre eles e liderança do clã. O avô de Connor, o primeiro Laird dos MacDo-
nalds de Sleat, teve seis filhos com seis diferentes mulheres. Os filhos to-
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dos se odiavam desde o nascimento, e os ainda vivos sempre estavam nas
gargantas uns dos outros.
─Espero que quando o meu irmão for Laird ele livre o clã de pro-
blemas, mantendo apenas uma mulher─, disse Connor, balançando a cabe-
ça.
Alex bufou.
─Ragnall?
Era uma esperança vã, se alguma vez houve uma, mas Ian não diria
isso. O irmão mais velho de Connor não era diferente de seu pai e de seu
avô quando se tratava de mulheres.
─Então, com quem você vai casar Alex?─ Duncan perguntou. ─Qual
donzela Highlander vai acabar com sua farra sem enfiar uma adaga nas
suas costas?
─Nenhuma─, disse Alex, com voz bem humorada. ─Eu já disse.
Nunca irei me casar.
Os pais de Alex haviam sido rivais desde que Ian conseguia se lemb-
rar. Mesmo nas Highlands, onde as emoções tendem a ser exacerbadas, a
violência de sua animosidade era famosa. Das três irmãs que se tornaram as
mães de Ian, Alex e de Connor, só a de Ian tinha encontrado a felicidade no
casamento.
Ao som de passos, Ian e os outros levaram as mãos aos cintos onde
seus punhais deveriam estar.
─Hora de sair deste inferno, rapazes─, Ian disse em voz baixa. Ele
achatou-se contra a parede perto da porta e acenou para os outros. Plano ou
não, eles atacariam os guardas.
─Alexander!─ Uma voz de mulher saiu da escuridão do outro lado
das barras de ferro, seguido pelo barulho de chaves.
Ian respirou fundo o ar salgado. Era bom estar navegando novamen-
te. Eles haviam roubado a galera favorita de Shaggy, que levou um longo
tempo para restaurar seu orgulho. Era elegante e rápida, e eles iam fazer um
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bom tempo com o forte vento de outubro. A jarra de uísque que eles parti-
lhavam, mantinha Ian aquecido. Ele cresceu navegando nestas águas. Cada
pedra e corrente era tão familiar para ele como os picos das montanhas à
distância.
Ian fixou o olhar no contorno escuro da Ilha de Skye. Apesar de to-
dos os problemas que o esperavam lá, a visão de casa provocou um profun-
do anseio dentro dele.
E haveria problemas em abundância. Eles tinham falado pouco du-
rante as longas horas na água desde que a mulher de Campbell lhes dera a
terrível notícia que tanto o Laird como o irmão de Connor, Ragnall, tinham
sido mortos em Flodden. Foi uma grande perda para o clã.
Duncan estava tocando suavemente músicas tristes em uma flauta
que ele sempre carregava, sua música refletia a sua tristeza e saudade. Ele
enfiou a flauta dentro do seu kilt e disse a Connor,
─Seu pai era um grande Laird.Talvez não tivesse sido amado, mas
ele era respeitado como um líder forte e guerreiro feroz, que era o que real-
mente contava nas Highlands. Ian achou difícil imaginá-lo morto.
Ele tomou um longo gole da jarra. ─Eu não consigo acreditar que perde-
mos os dois─, disse ele, apertando o ombro de Connor quando ele passou-
lhe o uísque. ─Para dizer a verdade, eu achava que não havia um homem
vivo que pudesse derrotar Ragnall.
Ian sabia que a perda de seu irmão era o mais duro golpe para Con-
nor. Ragnall tinha sido feroz, impetuoso, e aceito como o sucessor do
Laird. Ele também havia se dedicado a seu irmão mais novo.
─Eu suspeitava de algo─, disse Duncan,pois se qualquer um deles
estivesse vivo Shaggy não teria arriscado provocar uma guerra entre clãs.
─Mesmo com nosso Laird morto, Shaggy deve esperar uma represá-
lia do nosso clã, ─ Ian disse após tomar outro gole. ─Então, eu estou me
perguntando por que ele se arriscou.

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─ Ian está certo─, Alex disse, acenando para ele. ─Quando Shaggy
disse que ia deixar cair os nossos corpos sem vida no mar, ele não se pare-
cia com um homem preocupado para mim.
─Ele não tinha guardas extras postados fora do castelo─, disse
Ian. ─Alguma coisa está acontecendo.
─O que você quer dizer?─ Connor disse.
─Sabe muito bem que ele está sugerindo. Um dos irmãos de seu pai
está por trás disso ─, disse Duncan.─Eles sabiam que voltaria assim que a
notícia de Flodden chegasse até nós, então um deles pediu a Shaggy para
manter um olho sobre nós.
─Eles todos são astutos, malditos bastardos─, disse Alex. ─Mas qual
deles você acha que deseja mais a chefia?
─Hugh Dubh─, disse Connor, usando o apelido de Hugh, ─Black
Hugh, apelido dado a ele por seu coração negro.
─Hugh não achou a divisão dos bens justa quando meu avô morreu,
e está queimando com o ressentimento desde então. Os outros fizeram ca-
sas para si nas ilhas próximas, mas não Hugh .
─O que eu quero saber─, Ian disse, ─é o que Hugh prometeu a
Shaggy para se certificar de você nunca mostraria seu rosto em Skye nova-
mente.
─Você está tirando conclusões precipitadas, todos você─, disse Con-
nor. ─Não há afeto entre meu tio e eu, mas eu não acredito que ele teria me
assassinado.
─Hmmph, ─ Alex bufou. ─Eu não confiaria em Hugh.
─Eu não disse que confiava nele─, disse Connor. ─Eu não confiaria
em qualquer um dos irmãos do meu pai.
─Eu aposto que Hugh já se colocou como Laird e está vivendo no
castelo Dunscaith ─, disse Duncan.
Ian suspeitava que Duncan estivesse certo. Por tradição, o clã esco-

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lhia seu líder entre os homens com sangue do Laird. Com o pai de Connor
e seu irmão morto e Connor na França, restavam apenas os tios de Con-
nor. Se metade das histórias contadas sobre eles fosse verdade, eles eram
um bando de assassinos, estupradores e ladrões.
Como um homem tão nobre como Connor poderia compartilhar o
sangue com eles era um mistério. Alguns diriam que as fadas tinham troca-
do os bebês.
Eles estavam se aproximando da praia. Sem a necessidade de trocar
uma palavra, ele e Duncan baixaram a vela, em seguida, pegaram os remos
com os outros. Remaram juntos em um ritmo constante que veio tão natu-
ralmente para Ian como respirar.
─Eu sei que você não está pronto para discutir o assunto, Connor─,
disse Ian entre remadas. ─Mas, mais cedo ou mais tarde você vai ter que
lutar com Hugh pela chefia.
─Você está certo─, disse Connor. ─Eu não estou preparado para dis-
cutir isso.
─Ach!─ Alex disse. ─Você não pode deixar aquele cretino ser o nos-
so Laird.
─O que eu não quero fazer é causar discórdia dentro do clã, ─ Con-
nor disse. ─Depois de nossas perdas em Flodden, uma luta pela chefia iria
enfraquecer-nos ainda mais e tornar-nos vulneráveis a nossos inimigos.
─Eu concordo que no início você deve ficar quieto, ─ disse Ian. De-
pois de uma ausência de cinco anos, Connor não poderia simplesmente en-
trar no castelo Dunscaith e reivindicar a chefia, especialmente se Hugh já
tiver o controle do castelo. ─Vamos deixar os homens saberem que você
está em casa e que eles têm uma alternativa para Hugh. Então, quando
Hugh mostrar que ele coloca seus próprios interesses acima do clã como
ele certamente vai fazer: Nós o indicaremos como o melhor homem para li-

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derar.
Alex virou-se para Duncan, que estava no remo oposto ao seu.
─Você e eu somos como crianças inocentes ao lado dos meus pri-
mos.
─Todos os grandes lairds são calculistas─, disse Ian com um sorri-
so. ─Isso é uma característica necessária.
─Connor terá de ser calculista apenas para permanecer vivo─, disse
Duncan sem um traço de humor. ─Hugh tem sido pirata nas ilhas ociden-
tais durante anos sem ser pego. Isso significa que ele é inteligente e impla-
cável e sortudo também.
Ficaram em silêncio por um tempo novamente. Connor podia não es-
tar pronto para admitir isso em voz alta ainda, mas Ian concordava com
Duncan: A vida de Connor estava em perigo em Skye.
─Se você estiver indo para o castelo, eu vou com você─, disse
Ian. ─Vocês não sabem o que os espera lá.
─Você não sabe o que espera por você também─, disse Con-
nor. ─Você deve ir para casa e ver como está a sua família.
Ian fez uma oração para que o próprio pai tivesse sobrevivido à bata-
lha. Ele lamentou que a sua despedida tivesse sido zangada e lamentou ain-
da mais ter ignorado as cartas de seu pai, ordenando-lhe voltar para
casa. Ele deveria ter lutado ao lado de seu pai e dos membros do clã em
Flodden. Ele levaria a culpa de não estar lá até o túmulo.
─E você precisa resolver as coisas com a garota,─ Connor acrescen-
tou. ─Cinco anos é muito tempo para mantê-la a espera.
Ian tinha conseguido esquecer o problema de Sìleas enquanto eles
conversavam sobre Connor e a chefia do clã.
E ele não queria pensar nisso agora. Ele tomou outro gole da jarra de
uísque a seus pés, enquanto eles descansavam os remos e deslizavam até a
praia. Assim que o barco raspou o fundo, ele e os outros caíram na água

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gelada e arrastaram o barco para a praia de Skye.
Após cinco anos fora, ele estava em casa.
─Vou esperar para ir ao Castelo Dunscaith quando souber para que
lado sopra o vento─, disse Connor, enquanto arrastavam o barco acima da
linha de maré. ─Duncan e eu levaremos o barco de Shaggy para o outro
lado de Sleat e descobriremos como as pessoas se sentem ali.
─Eu ainda acho que eu deveria ir com você─, disse Ian.
Connor balançou a cabeça. ─Vamos enviar uma mensagem ou vire-
mos encontrá-lo em dois ou três dias. Nesse meio tempo, fale com seu
pai. Ele vai saber o que os homens estão pensando desse lado da ilha.
─Eu sei que você não vai deixar o seu melhor homem fora disso─,
disse Alex. ─Então, devo ficar com você ou ir ao norte para ouvir o que as
pessoas de lá estão dizendo?
─Fique com Ian─, disse Connor, o branco de seus dentes brilhando
na escuridão crescente. ─Ele enfrenta o maior perigo.
─Muito engraçado. ─ Ao pensar em Sìleas, tomou outro gole da jarra
e engasgou quando Alex o cutucou com força nas costelas.
─É melhor dar a Ian uma semana inteira─, disse Alex. ─Você não
quer que ele deixe sua pobre esposa sozinha após tão longa espera.
Os outros riram pela primeira vez desde que tinham ouvido a notícia
sobre o pai de Connor.
Ian, no entanto, não achou graça.
─Eu não tenho esposa, ─ ele repetiu.
─As terras de Sìleas são importantes para o clã, especialmente o
Knock Castle,─ Connor disse, passando um braço sobre os ombros de Ian.
─Elas protegem nossas terras na costa oriental. Não podemos deixá-
las cair nas mãos de MacKinnon.
─O que está dizendo?─ Ian perguntou entre os dentes cerrados.
─Sabe muito bem que meu pai não o forçou a se casar com Sìleas

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por preocupação com a virtude da menina. Ele queria Knock Castle nas
mãos de seu sobrinho.
─Não pode estar tentando dizer-me para aceitar Sìleas como minha
esposa─Connor apertou o ombro de Ian. ─Tudo o que eu estou pedindo é
que você considere as necessidades do clã.
Ian tirou a mão de Connor do seu ombro.
─Eu estou dizendo a você agora, eu nãovou manter este casamento.
─Bem, se não o fizer, ─ Connor disse, ─então deve encontrar um ho-
mem em quem possa confiar para tomar seu lugar.
─Talvez você deva esperar até ser o Laird antes de começar a dar or-
dens─, Ian alfinetou.

CAPÍTULO 3
Península de Sleat, Ilha de Skye.

O vento soprava na capa de Sìleas enquanto ela conversava com seu


vizinho mais próximo, Gordan Graumach MacDonald, em um lugar rocho-
so com vista para o mar. As montanhas do continente eram negras contra o
céu escuro. Apesar do frio, da umidade que penetrava nos ossos e da neces-
sidade de chegar em casa para ajudar com ceia, algo a segurou.
─Quanto tempo mais você vai dar a Ian?─ Gordan perguntou.
Sìleas viu um barco cruzando o estreito, o seu contorno pouco visível
à luz, desvanecendo-se, enquanto ela considerava sua pergunta.
Quando ela não respondeu, Gordan disse:
─Já está na hora de você desistir dele.
Desistir de Ian? Ela poderia fazer isso? Era a pergunta que ela fazia a
si mesma todos os dias agora.
Amara Ian desde que podia se lembrar. Quase a partir do momento
em que começara a andar planejava se casar com ele. Ela sorriu para si
mesma, lembrando-se de como era gentil com ela, apesar das provocações
dos homens e dos outros garotos por deixar uma menininha com metade do
seu tamanho segui-lo como um cachorrinho perdido.
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─Ele a mantém esperando há cinco anos. ─ Gordan pressionou.
─Isso é mais tempo do que qualquer homem merece.
─Isso é verdade. ─ Sìleas lançou para trás o cabelo que batia em seu
rosto.
Seu casamento era a pior lembrança de sua vida e ela era uma mulher
com más lembranças o suficiente para escolher. Não houve tempo para
cumprir as tradições usuais que fazem de um casamento uma festa e trazem
sorte para o novo casal. Nenhum presente e felicitações dos vizinhos. Nem
lavar os pés da noiva. Nenhum anel. Nem carregar a noiva nos braços. E,
certamente, nada de salpicar a cama com água benta, não com Ian amea-
çando atirar o sacerdote pelas escadas quando ele tentou ir com eles até o
quarto de dormir.
Nenhuma das tradições de boa sorte foram mantidas, exceto uma. A
mãe de Ian insistiu para Sìleas usar um vestido novo. Embora Sìleas não
pudesse ver como um pouco mais de azar adicionado ao que ela já tinha
pudesse fazer diferença.
De qualquer modo, a mãe de Ian foi inflexível quanto a ela usar o
vestido sujo, com que chegara. Infelizmente, o único vestido novo que ela
poderia usar em virtude da pressa, era uma que a mãe de Ian tinha feito
para si mesma.
Sìleas tomou banho rapidamente, mal se lavando, de modo que esta-
va enxuta e vestida antes de a mãe de Ian voltasse para ajudá-la. Rapida-
mente, ela limpou as feridas ao longo nas costas para que não deixassem
marcas de sangue no vestido emprestado.
Quando ela colocou o vestido por cima da cabeça, ele flutuou sobre
ela como um saco. Ela olhou para onde o corpete caía, exagerando sua falta
de seios. Se isso não bastasse, ela queria chorar por causa da cor. Um tom
tão forte de vermelho ficaria lindo na mãe de Ian, de cabelos escuros, mas
fez o cabelo de Sìleas parecer laranja e a pele dela avermelhada.
Quando a mãe de Ian irrompeu na sala, sua expressão assustada antes
que ela disfarçasse confirmou os piores temores de Sìleas.

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─ Uma pena não termos tempo de arrumá-lo, ─ disse a mãe dele es-
talando a língua. ─Mas você sabe que traz má sorte à noiva.
Sìleas tinha certeza que a cor do vestido anularia qualquer boa sorte
que o fato de ser novo pudesse trazer. A noiva devia usar azul.
Depois veio a pior parte de tudo. Enquanto descia as escadas, com a
mão da mãe dele nas costas empurrando-a para frente, ela ouviu Ian gritar
com seu pai. Suas palavras foram o último golpe que quase a derrubou.
Você deu uma boa olhada nela, pai? Vou dizer-lhe uma coisa, eu não
vou aceitá-la. Eu não vou dizer os meus votos.
Mas com seu pai, seu Laird, e uma dúzia membros do clã armados,
em torno dele, Ian os disse.
Sìleas piscou quando Gordan ficou na frente dela e pegou-lhe os
ombros, trazendo-a violentamente de volta ao presente.
─Não tente me beijar de novo─, disse ela, virando a cabeça. ─Você
sabe muito bem que não é certo.
─O que eu sei é que você merece um marido para amá-la e honrá-la,
─ disse Gordan. ─Eu quero ser esse homem.
─Você é um homem bom, e eu gosto de você─. Gordan também era
bonito, com o rico cabelo castanho e os quentes olhos avelã. ─ Mas eu fico
pensando que quando Ian voltar, ele vai...
Ele vai o quê? Cair de joelhos e implorar o meu perdão? Dizer que
lamentou cada dia que esteve fora?
Verdade seja dita, ela não estava pronta para se casar quando eles se
casaram. Ela precisava de mais um ano ou dois antes de se tornar uma ver-
dadeira esposa. Mas cinco anos! Cada dia que Ian não retornou aprofundou
a ferida. Ela agora devia ter um bebê em seus braços e outro agarrando as
saias, como a maioria das mulheres de sua idade. Ela queria crianças. E um
marido.
Sìleas respirou fundo o ar salgado. Foi uma humilhação atrás da ou-
tra. Ian poderia fingir que eles não se casaram, porque ele estava vivendo
entre milhares de franceses que não sabiam disso. Mas ela vivia com sua
família na ilha, no meio de seu clã.
Onde cada pessoa sabe quanto tempo Ian me deixou aqui esperando.

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─Se você não pode pedir a anulação... ─ Gordan deixou a pergunta
inacabada.
Embora ela pudesse pedir uma anulação, não poderia dizer isso a
Gordan que, pelo menos, não ainda. Ela tinha conversado longamente sobre
isto com o pai de Ian e o Laird do clã. Se seus parentes MacKinnon soubes-
sem que seu casamento nunca foi consumado, eles tentariam sequestrá-la,
declarar o casamento inválido, e forçá-la a casar com um deles.
Embora, seu casamento com Ian não fosse um casamento a prova,
era quase isso. Através de algum milagre, o Laird tinha encontrado um Pa-
dre. O Laird os queria casados e o castelo dela firmemente nas mãos dos
MacDonalds de Sleat.
Pela mesma razão, teria sido inútil pedir ao Laird para apoiar uma
petição para anular o casamento. Um bispo não iria enviar uma petição para
Roma, apenas em seu nome. Consequentemente, ela tinha escrito uma carta
ao rei James em busca de sua ajuda. Durante seis meses, a carta estivera es-
condida em seu peito, esperando sua decisão de enviá-la.
Mas agora, tanto o rei James como seu Laird estavam mortos.
─Se você não pode pedir a anulação─, Gordan disse ─então simples-
mente se divorcie Ian e case comigo.
─Sua mãe não ficaria satisfeita com isso─, ela disse com uma risada
seca. ─Eu não sei se ela iria desmaiar ou cravar-lhe um punhal.
Embora fosse comum nas Highlands se casar e divorciar sem a bên-
ção da igreja, a mãe de Gordan escolhera o tipo de mulher com que seu
precioso filho devia casar. Uma mulher ─usada─ era improvável que a sa-
tisfizesse.
─Isto não é decisão da minha mãe, ─ disse Gordan. ─Eu amo você,
Sìleas, e eu estou decidido a tê-la como minha esposa.
Sìleas suspirou. Era maravilhoso ter um bom homem dizendo que a
amava, mesmo que ele fosse o homem errado.
─Você sabe que eu não consigo pensar em deixar a família de Ian
agora.

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─Então prometa que vai me dar uma resposta assim que puder, ─
disse Gordan. ─ Há muitos homens que a desejam, mas vou ser bom para
você. Eu sou um homem firme. Eu nunca iria deixá-la como Ian fez.
Embora ele dissesse aquilo para tranquilizá-la, suas palavras perfura-
ram seu coração.
─É hora de voltamos para a casa. ─ Ela se virou e começou a andar
na direção do caminho. ─Eu me afastei demais.
─Ach, ninguém vai condená-la por passar um tempo afastada após
ter trabalhado tão duro, ─ disse Gordan, pegando o braço dela. ─E, se você
casar comigo, eles terão de aprender a ficar sem você.
Enquanto andavam até o caminho, Sìleas olhou por cima do ombro
para a água escura. Onde estava Ian agora? Após todo esse tempo, ela per-
dera o menino que tinha sido seu amigo e protetor. Mas ela não sabia se
ainda queria o jovem revoltado que a tinha deixado, mesmo que ele se dig-
nasse a voltar para ela.
Ela esperara cinco anos por Ian. Era tempo suficiente. Amanhã, ela
iria reescrever sua carta e enviá-la a viúva do rei morto.
•••
─Talvez ache mais fácil por causa do uísque─, disse Alex.
─Você não espera que eu vá enfrentar isto sóbrio─, disse Ian.
Ian inclinou a jarra mais uma vez para ter certeza de que estava va-
zia, em seguida, jogou-a de lado. Quando contornaram a próxima curva,
viu a fumaça das chaminés da casa de sua família voluteando contra o céu
escuro e sentiu uma saudade enorme de sua família. Seria bom estar em
casa... Se não tivesse que enfrentar o problema de Sìleas.
─A maioria das mulheres não aprecia um homem que está babando
de bêbado, primo. ─ disse Alex. ─Espero que você não tenha bebido tanto
que vá ter problemas em cumprir o seu dever conjugal.
─Por que não me deixa em paz?
─Ach,─ Alex disse, esfregando o braço onde Ian dera um soco, ─Eu
só queria alegrá-lo com uma piadinha.
─É bom que você esteja voltando para casa comigo─, disse Ian. ─Se
Sìleas vai precisar de outro marido no clã, pode muito bem ser você.
─Eu pensei que você gostasse da moça─, disse Alex.
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Na verdade, Ian gostava de Sìleas. Ele queria um bom marido para
ela.
Ele só não queria ser esse marido.
Por cinco anos, esse casamento falso pairara sobre ele. Não que ele
deixasse isso constrangê-lo, mas estava sempre lá no fundo de sua mente
como uma ferida que não cura. Agora que ele tinha vindo para casa em
Skye, era hora de tomar o seu lugar no clã. Ele supostamente teria que se
casar o que significava que tinha que lidar com o problema de Sìleas pri-
meiro. Ele ainda ficava com raiva toda vez que pensava em como tinha
sido forçado a casar. E se ela tinha feito isso de propósito ou não, de qual-
quer maneira a culpa era dela.
Uma vez que ele se livrasse do peso do casamento, ele poderia per-
doá-la.
Um cão latia em algum lugar na escuridão para anunciar o seu re-
gresso a casa. O cheiro de vacas e cavalos enchia-lhe o nariz ao passar en-
tre as formas familiares do estábulo e da casa antiga, onde seus pais vive-
ram primeiro. Pouco mais à frente, a luz era filtrada através das persianas
da casa de dois andares que seu pai tinha construído antes de Ian nascer.
Balançando um pouquinho, Ian encontrou o fecho e o levantou. O
cheiro de terra do fogo de turfa envolveu-o quando ele abriu a porta.
Ignorando cotovelada de Alex, ele parou no vestíbulo escuro para
analisar as pessoas que se reuniam ao redor da lareira. Sua mãe estava sen-
tada no lado oposto. Seu rosto ainda era bonito, mas ela estava muito ma-
gra, e sua espessa trança negra tinha traços de branco.
Em frente a ela, havia um casal sentado em um banco, de costas para
a porta. Vizinhos, o mais provável. Entre eles e sua mãe, um jovem com o
cabelo castanho de seu irmão estava estatelado no chão, como se vivesse
aqui. Poderia este homem de pernas longas, falando com uma voz profun-
da, ser seu pequeno irmão Niall?
Não havia nenhum sinal de seu pai ou Sìleas, então ele teria as sau-
dações fáceis primeiro.
─Olá Mamãe!─ Ele chamou, quando entrou no hall.

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Sua mãe gritou seu nome e correu através da sala para pular em seus
braços. Ele girou com ela antes de colocá-la no chão outra vez.
─Mamãe, mamãe, não chore. ─ Seus ossos eram nítidos sob suas
mãos quando ele bateu nas suas costas para acalmá-la. ─Você pode ver que
eu estou bem.
─Você é um filho desgraçado por ficar longe tanto tempo. ─ Ela deu-
lhe um tapa no braço, mas estava sorrindo para ele através das lágrimas.
─Tia Beitris, eu sei que você sentiu falta de mim também─, disse
Alex, quando estendeu os braços para a mãe de Ian.
─E quem é este homem castanho?─ Ian disse, voltando-se para seu
irmão.
Sua mãe tinha perdido três bebês, todas meninas, antes de Niall nas-
cer, então havia uma lacuna de nove anos entre Ian e seu irmão. Quando
Ian foi para a França, seu irmão mal alcançava seu ombro. Agora, aos
quinze, Niall estava olho no olho com ele.
─Certamente, este não pode ser meu irmãozinho. ─ Ian passou o bra-
ço em volta do pescoço Niall e coçou sua cabeça com os nós dos dedos, em
seguida, passou-o para Alex, que fez o mesmo.
─Olhe para você─, disse Alex. ─Eu aposto que todas as moças da
ilha estavam atrás de você, mas isso é porque eu não estava aqui para dis-
traí-las.
Niall e Alex trocaram um par de socos de brincadeira, em seguida,
Niall chamou a atenção de Ian e inclinou a cabeça. Ian tinha esquecido o
casal no banco, mas ao sinal de seu irmão, ele se virou para cumprimentá-
los.
A sala tremeu quando Ian olhou para a jovem que agora estava de pé
sob o brilho da luz do fogo com os olhos fixos no chão e apertava as mãos
diante de si. Seu cabelo era do tom mais bonito de vermelho que ele já ti-
nha visto. Caia em ondas brilhantes sobre seus ombros e seios e emoldura-
va um rosto tão bonito que seu coração encolheu só de olhar para ela.

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Quando ela levantou o olhar e encontrou o seu, ficou sem ar. Seus
olhos eram esmeraldas brilhantes, e eles pareciam estar fazendo uma per-
gunta como se sua própria vida dependesse disso.
Qualquer pergunta que esta moça fizesse, sua resposta seria sim.

CAPÍTULO 4

Havia algo de muito familiar nesta linda moça de olhos verdes, mas
Ian não conseguia descobrir o que era.
─Ian. ─ Alex cutucou-lhe as costelas.
Ian sabia que devia parar de olhar para ela, mas não conseguia deter
a si mesmo. E por que faria isso, quando a moça estava olhando para ele
também? Perguntou-se vagamente se o homem ao seu lado era seu marido
esperando que não fosse.
─Hmmph─, resmungou Alex, empurrando Ian. Ele atravessou a sala
e cumprimentou a jovem com um beijo na bochecha, como se a conhecesse
bem.
─Ach, você é um espetáculo de se ver─, disse Alex, afastando-se e
segurando suas mãos. ─Se eu fosse seu marido, Sìleas, pode ter a certeza
que eu não teria deixado você esperando um único dia.
Sìleas? Ian balançou a cabeça. Não, não podia ser...
A jovem mulher a sua frente não tinha nada da menina magrela de
treze anos de idade, que ele se lembrava. Em vez de membros desajeitados
e cotovelos pontudos, ela tinha linhas graciosas e curvas arredondadas que
fez sua garganta ficar seca.
E ainda... Aquele era o nariz arrebitado de Sìleas. E supunha que a
massa gloriosa de cachos vermelhos poderia ser dela, se fosse escovado e
penteado, coisa que nunca havia visto antes.
─Bem vindo ao lar─, a jovem disse a Alex no tipo de voz gutural que
um homem gostaria ouvir no escuro.
Sìleas nunca teve uma daquelas vozes agudas de menina... Mas esta
beleza não poderia ser verdadeiramente ela.

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─Você dois devem estar com fome depois da viagem. Venha, Sìleas,
vamos alimentar esses homens ─, disse a mãe dele, pegando a moça pelo
braço. Sua mãe lançou-lhe um olhar de advertência por cima do ombro,
como fazia quando ele era garoto e cometia algum erro grave na frente das
visitas.
Quando ele começou a seguir as duas mulheres à mesa, Alex o puxou
de volta.
─Você é idiota?─ Alex sussurrou. ─Você nem sequer cumprimentou
Sìleas. Qual é o problema?
─Tem certeza de que é Sìleas?─ Ian disse, inclinando-se para o lado
para poder ver a garota de cabelos vermelhos.
─Claro que é, ó tolo─, disse Alex. ─Será que não ouviu a sua mãe
dizer o nome dela?
Ian teve que afastar o seu olhar dela quando Niall e o outro homem
se juntaram a eles. Agora que ele deu uma boa olhada para o homem, viu
que era seu vizinho, Gordan Graumach MacDonald.
─Ian, Alex, ─ disse Gordan, cumprimentando-os com um aceno cur-
to de cabeça.
Ian reconheceu no homem o ‘cabeça dura’ de olhos cor de avelã.
─Gordan.
─Você se foi há muito tempo─, disse Gordan, soando como se Ian
não pudesse ficar fora por tempo suficiente para fazê-lo feliz. ─Muita coisa
mudou aqui na sua ausência.
─Foi mesmo?─ Ian disse, reconhecendo um desafio quando ouvia
um. ─Bem, você pode esperar mais algumas mudanças, agora que estou de
volta.
Gordan fez uma careta para ele antes de ir se juntar as mulheres, que
estavam ocupadas preparando comida na mesa do outro lado da sala.
─Obrigado pelo jantar, ─ disse Gordan para eles.
─Você é sempre bem-vindo para o jantar. Isso é pouco para agrade-
cer tudo que você fez por nós ─, disse sua mãe, sorrindo para Gordan.
─Foi muita gentileza sua levar Sìleas para um passeio hoje.
O que em nome de todos os santos sua mãe estava agradecendo
àquele interesseiro?
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─Se precisar de mim para... Para qualquer coisa. ─ disse Gordan a
Sìleas em voz baixa, ─você sabe onde me encontrar.
Gordan tocou seu braço enquanto falava com ela, e um surto inexpli-
cável de raiva subiu no peito de Ian, sufocando-o.
Se Sìleas respondeu, Ian não ouviu por causa do sangue pulsando em
seus ouvidos. O que estava acontecendo entre Sìleas e Gordan Graumach
MacDonald? Ele estava prestes a jogar Gordan para fora, quando o homem
mostrou o bom senso de sair.
─Você não terá que procurar muito para encontrar um homem para
substituí-lo─, disse Alex no ouvido de Ian. ─Isso é o que queria, não é?
─Isso não significa que eu vou deixar Gordan fazer de mim um cor-
no ─, Ian sibilou entre dentes.
Ian não sabia se lamentava ter bebido muito uísque ou gostaria que
de ter bebido muito mais.
Depois de viajar metade do mundo, ele se sentiu desorientado em sua
própria casa. Todo mundo tinha mudado, seu irmão, sua mãe. E acima de
tudo Sìleas. Ele ainda não conseguia acreditar que era ela.
─Onde está papai?─, Ele perguntou a sua mãe.
─Vamos jantar─, disse sua mãe, e desapareceu na cozinha. Ela vol-
tou um momento depois, com uma tigela fumegante. ─Eu fiz sua sopa de
peixe favorita.
O estômago de Ian roncou quando o cheiro salgado o alcançou. Ele
estava quase morrendo de fome.
─Onde está papai?─, Ele perguntou de novo, quando se sentou à
mesa.
Pelo canto do olho, ele viu as costas de Sìleas desaparecendo ao su-
bir as escadas.
Ele parou com a colher a meio caminho da boca, quando lhe ocorreu
que ele tinha o direito de segui-la para cima levá-la para a cama. Hoje à
noite. Agora. Antes do jantar, se ele quisesse. E, novamente, depois. O ór-
gão entre suas pernas estava lhe dando um enfático SIM!
Sua reação o assustou. Durante cinco longos anos, ele tinha planeja-
do acabar com o casamento assim que voltasse. Ele não tinha nenhuma dú-

37
vida. A única pergunta era: Como fazer isso com o mínimo embaraço para
Sìleas e a menor dificuldade para ele.
Mas elaborou esse plano antes de ver que ela se transformara nesta
moça encantadora, com uma voz que era como veludo deslizando sobre a
pele e curvas que faziam com que sonhasse com sua pele nua quando fe-
chava os olhos.
Sim, ele definitivamente queria levar Sìleas para a cama. Qualquer
homem iria querer. A questão, entretanto, era se queria que ela fosse a últi-
ma mulher que ele levaria para sua cama. Ele não estava preparado para de-
cidir isto hoje à noite. Inferno, nem conhecia mais Sìleas. Seria essa mulher
a mesma garotinha de cabelos ruivos, selvagens que costumava segui-lo e
que sempre precisava ser salva?
Ian sabia que deveria dizer algo. Mas o quê? Ele não podia dizer a
ela que estava pronto para ser seu marido e ligar sua vida à dela para sem-
pre. Embora ele não tivesse ideia do que dizer se levantou de sua cadeira,
Com o estômago roncando, para segui-la até lá em cima.
Antes que desse dois passos, foi parado por um estrondo na sala ao
lado. Ele se virou a tempo de ver a troca de olhares entre sua mãe e irmão.
Ao som de um segundo estrondo, Niall se levantou.
─Eu vou buscá-lo.
Sìleas ignorou o barulho e os berros que se seguiram enquanto corria
até as escadas. Desta vez, eles teriam que se virar sem ela. Ela bateu a porta
do quarto, encostou-se nela, e engoliu em seco respirando profundamente.
Maldito! Ela chorou por Ian MacDonald muitas vezes ao longo dos últimos
cinco anos, e não iria fazê-lo novamente.
Sua cabeça latejava, o peito doía, e não tinha ar suficiente.
Os planos tolos que fizera desde que era uma menininha foram des-
truídos, como a louça que o pai de Ian estava jogando contra a parede no
andar de baixo. Ela mentiu para si mesma. Mentiu, quando disse a si mes-
ma que ela tinha deixado os sonhos infantis para trás. Mentiu, quando disse
que ela deixou de esperar que Ian quisesse compartilhar uma vida com ela
quando ele finalmente voltasse.

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Se ela tivesse desistido de seus sonhos, seu coração não estaria san-
grando com a perda deles agora.
Quando Ian abraçou sua mãe em primeiro lugar, Sìleas entendeu.
Isso era o correto. E ela quase não se ressentiu, quando em seguida ele
cumprimentou Niall, por Niall tinha perdido Ian quase tanto quanto ela.
Mas então, foi à vez dela.
Ela fixou seu olhar no chão e prendeu a respiração, esperando. Ele é
que tinha partido, então, ele é que devia ir até ela.
Em qualquer caso, seus pés não se moviam.
Então a sala ficou em silêncio, e sentiu o seu olhar sobre ela. Len-
tamente, Sìleas levantou a cabeça e olhou para os olhos mais azuis das
Highlands. Seus dedos estavam gelados, as palmas das mãos suadas, e cor-
pete parecia muito apertado... Por cinco anos, ela tinha esperado por esse
momento.
Ela tinha imaginado isso mil vezes. Ian abriria um largo sorriso que
aqueceria seus olhos e a estreitaria em seus braços. Ele iria dizer o quanto
sentira falta dela e como estava feliz por estar em casa. Então, na frente de
Deus e sua família, ele a chamaria de sua esposa e dar-lhe-ia um beijo, seu
primeiro beijo real.
Em seus momentos mais realista, ela pensou que poderia ser estranho
entre eles no início, mas que Ian tentaria acertar as coisas e pediria seu per-
dão. Nunca imaginara que ele não iria falar com ela.
Nem uma única palavra.
Com o coração na garganta, Sìleas implorou-lhe com os olhos para
fazer o correto. Em vez disso, ele olhou para ela como se tivesse crescido
uma cauda e barbatanas nela. Se ele não queria assumi-la como esposa, po-
deria ao menos ter tido a cortesia de cumprimentá-la como o velho amigo
que era, então, lhe dissesse em particular que não queria ser seu marido. Ig-
norá-la em público foi insultante e cruel.
Sìleas andava pelo quarto, apertando as mãos até as unhas perfura-
rem a pele. O menino que ela tinha conhecido nunca teria sido tão cruel. O
jovem zangado que a chamara de repulsiva, no entanto, era capaz de muita

39
crueldade. Todo esse tempo, ela tinha arranjado desculpas para ele. Mesmo
agora, ela tinha tentado, mas não reconhecê-la de forma alguma, era sim-
plesmente imperdoável.
As palavras de Ian no de seu dia do casamento soaram em seus ouvi-
dos. Já deu uma boa olhada nela, pai? Ach! Ela chutou a porta certa que de
eles não iriam ouvir, por causa da gritaria lá em baixo.
Ela inclinou a cabeça para trás. ─Querido Deus, por que o fez ficar
mais bonito do que antes? Era realmente necessário? ─
Ian tinha sido um menino adorável, com gentis olhos azul-celeste
emoldurados por cílios longos e escuros. Mas não havia mais nada do me-
nino doce no homem que entrara na casa esta à noite. É verdade que seus
olhos eram azuis como nunca e seu cabelo negro e brilhante como seda.
Mas o homem tinha um ar áspero e perigoso sobre ele.
Era possível que ele já estivesse assim quando voltou da luta nas
fronteiras, e ela fosse muito jovem para reconhecer. Mas no momento em
que ele entrou na sala hoje à noite, sentiu, reconheceu como era perigoso.
E, em vez de medo, uma onda de excitação a percorreu até as pontas dos
dedos dos pés. Ela queria estar perto dele, para sentir o poder da sua pre-
sença, para tocar a vibração, a energia que corria através dele.
Ela sentia, queria... E Ian ignorou.
Ela precisava ir embora desta casa. Não, ela não ia ficar casada com
um homem que não a queria.
Ela puxou um saco de pano do gancho na parte de trás da sua porta,
jogou-o sobre a cama, e começou a jogar suas coisas dentro ele.
Nem todos os homens a achavam repulsiva. Ela sabia que para vários
membros do clã, seria o prazer de tê-la como esposa e não apenas por suas
terras.
Enquanto olhava ao redor do aposento, decidindo o que levar com
ela, seu olhar permanecia na colcha a mãe dele fez para ela... As pedras co-
loridas que Niall tinha recolhido com ela... A caixa de madeira que o pai de
Ian tinha esculpido para ela.

40
Ela morava aqui há cinco anos, mas estava errada ao pensar nela,
como a sua casa. Não importa o quanto ela amasse a família de Ian, eles
eram o sangue dele, sua família. Não dela.
Sìleas olhou para o vestido que segurava e lembrou-se de como ela e
a mãe de Ian tinha conversado junto ao fogo enquanto trabalhavam juntas
para costurá-lo Toda a sua vida, ela havia desejado uma família, uma casa
onde as pessoas rissem à mesa e cuidassem uns dos outros. Ela tinha sido
feliz aqui, apesar da espera.
A família de Ian a tinha recebido desde o início, e, eventualmente,
aceito e amado. Seu pai tinha demorado mais tempo para ser conquistado,
mas ela conseguira. Perder a família que ela amava como sua seria difícil.
Muito difícil, certamente. Mas ela estava aqui como esposa de Ian.
Se não fosse, não podia ficar.
Mas onde ela poderia ir?
Sìleas caiu no chão e encostou a cabeça ao lado da cama. Ela não ti-
nha família para levá-la embora, nem casa para ir. Embora ela fosse herdei-
ra de Knock Castle, o padrasto, Murdoc MacKinnon, se apossara dela e ela
temia que ele quisesse tomar posse dela também.
Ela poderia procurar Gordan, é claro, mas ela não estava pronta para
tomar essa decisão.
Foi tomada pelo desespero quando olhou para o céu negro, sem lua
fora de sua janela. Viajar na escuridão seria insensato e não tinha lugar para
ir. Além disso, ela não podia simplesmente abandonar a família depois tudo
o que tinham feito por ela. Havia coisas que ela devia resolver antes de po-
der sair.
Ela estava tão cansada que se sentia tonta. As últimas semanas foram
difíceis e hoje à noite foi pior. Pela manhã, ela iria planejar seu futuro.
Ela puxou o saco meio-cheio para fora da cama e o deixou cair no
chão com um baque. Quando se arrastou para a cama, Sìleas tentou esque-
cer que este era para ser o seu leito conjugal.
O estômago de Ian se contraiu.
─Mãe, o que é isto? Aconteceu alguma coisa ao papai?

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─Seu pai foi ferido em Flodden. ─ Sua mãe lhe deu um sorriso fraco
e tenso. ─Mas ele está muito melhor agora .
Ela se encolheu ao ouvir o som de outra batida e louças quebradas
caindo no chão. Desta vez, foi seguido pela voz de seu pai, gritando:
─Deixe-me, seu maldito!
Ian correu através da porta de entrada para a pequena sala que costu-
mava servir como quarto de dormir de um servo e parou quando viu o ho-
mem na cama.
Seu pai estava sob uma colcha, parecendo mais magro do que seria
possível. Um curativo cobria o alto da cabeça e um olho. Sob o curativo,
um corte vermelho corria ao lado de seu rosto para baixo do seu queixo. A
parte de seu rosto que não estava coberto por ataduras era como pergami-
nho branco, ao invés de sua cor avermelhada usual.
Em todas as suas lembranças, seu pai era um guerreiro, alto podero-
samente construído que poderia balançar uma claymore com bastante força
para cortar um inimigo ao meio. Ele era um homem que passava seu tempo
ao ar livre, nas montanhas ou no mar.
Encontrá-lo como um inválido de cama balançou as fundações de
Ian.
─Olá, pai─, disse ele, forçando sua voz para ser firme.
─Levou um tempo danado tempo para voltar para casa. ─ A voz de
seu pai soava rouca, como se ele tivesse que lutar para respirar e para falar.
O olhar de seu pai passou dele para Alex, que tinha entrado em seus calca-
nhares. ─O mesmo vale para você, Alex Bàn MacDonald. Duncan e Con-
nor voltaram também?
─Aye─, disse Alex. ─Eles foram para o oeste para dar uma olhada.
A boca de Ian ficou seca. A colcha que cobria seu pai estava esticada
em cima da cama onde a perna esquerda de seu pai deveria estar.
Ian afastou seu olhar perna amputada de seu pai, a culpa pesando em
seu peito como uma pedra.
─Você está certo, pai. Eu deveria ter voltado para casa mais cedo. Eu
devia estar aqui para lutar com você em Flodden.

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─Você acha que poderia ter salvado a minha perna, é isso?─ Disse o
pai, seu rosto ruborizado de raiva. Então disse em voz baixa: ─Não, filho,
eu não teria desejado você lá. Você teria sido perdido como os outros, e a
família precisa de você, agora que eu sou inútil.
Independentemente do resultado, Ian deveria ter combatido ao lado
de seu pai. As palavras de seu pai não o absolviam. Redenção era algo que
um homem tinha que ganhar.
─Mas, se tivesse estado na batalha, eu sei que teria me deixado mor-
rer como um homem─, disse o pai com um vicioso olhar para Niall.
Ian olhou para Niall, percebendo pela primeira vez, que seu irmão
mais novo deve ter lutado em Flodden. Um rapaz forte de quinze anos de
idade que foi treinado para lutar não seria deixado em casa com as mulhe-
res e crianças.
Os músculos da mandíbula Niall se cerraram, antes que ele dissesse:
─Venha, pai, deixe-me ajudá-lo a sentar-se.
Quando Niall tentou segurar o braço dele, o pai o empurrou para lon-
ge.
─Eu disse, para deixar-me em paz!
Algo mais do que perder uma perna tinha mudado em seu pai. Pay-
ton MacDonald tinha sido um guerreiro que causava terror nos corações de
seus inimigos, mas ele também tinha sido um homem que mostrava carinho
e bondade para com sua família.
─Dê a cadeira a Ian e saia ─, seu pai ordenou sem olhar para Niall.
─Alex, saia da porta e entre. Devo contar aos dois os infortúnios de nosso
clã, o futuro dos MacDonalds de Sleat descansa em você.

CAPÍTULO 5

─Por que devemos partir tão cedo?─ Alex perguntou, enquanto atra-
vessavam o pátio para o curral. ─Nós acabamos de chegar.
─Precisamos encontrar Connor e Duncan e fazer nossos planos─,
disse Ian.
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As notícias sombrias de seu pai tinham mantido Ian e Alex conver-
sando até tarde da noite. Como haviam temido Hugh Dubh e seu bando de
homens sem clã, tinha tomado o controle de Dunscaith, o castelo do Laird,
assim que os homens retornaram da batalha em Flodden com o corpo do
Laird morto. Hugh tinha proclamou-se o novo
Laird do clã. E então, o novo Laird tinha ficado sem fazer nada en-
quanto os MacKinnons atacavam Knock Castle.
Isso fez Ian ficar cego de fúria.
─Connor disse que ele viria nos procurar quando precisasse de nós─,
disse Alex.
─Eu não posso sentar minha bunda aqui sem fazer nada, com tanta
coisa em jogo─, disse Ian.
Além disso, ele precisava escapar, mesmo que apenas por um dia ou
dois. Nada em casa foi como ele esperava. Encontrar o seu pai aleijado o
abalou muito. E ver Sìleas o havia confundido.
─Então, o que você vai resolver sobre Sìleas?─ Alex perguntou.
─Eu não sei.
─Você acha que ficar longe dela vai ajudar a decidir?─ Alex pergun-
tou. ─Você deve saber que isso é uma bobagem, primo.
Tolo ou não, isso era o que Ian estava fazendo. Porque ele foi força-
do a dizer os votos quando não cometeu ofensa, nunca tinha pensado em
mantê-los. Mas se ele tomasse Sìleas como sua verdadeira esposa agora, se-
ria uma coisa completamente diferente. Seria sua decisão, e ele se sentiria
honrado em manter seus votos. Até a morte.
─Preciso de tempo para decidir─, disse Ian.
─Então você acha que a escolha é sua, não é?─ Alex disse. ─Você
tem certeza que Sìleas ainda o quer?
Ian virou-se para Alex para ver se ele estava falando sério.
─Ela está morando com a minha família durante todo esse tempo, es-
perando por mim. ─Com um sorriso, ele acrescentou, ─ O clã inteiro sabe
que a garota me adora desde que era uma criança.
─Ach, mas ela não é mais uma criança ingênua ─, disse Alex por
sobre o ombro enquanto abria a porta do estábulo.

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Alex parou tão abruptamente que Ian colidiu com ele. Quando Ian
entrou, viu o que, ou melhor, quem Alex pegara de surpresa.
Sìleas estava vestida com uma camisa de homem e botas velhas, ela
estava limpando uma baia com um forcado. Com manchas de sujeira em
seu rosto e pedaços de palha emaranhadas em seus cabelos, ela parecia
mais com a Sìleas que Ian lembrava.
Seu forcado estava meio levantado quando os viu. Seus olhos se ar-
regalaram, e então, muito lentamente, ela descansou o cabo de madeira do
forcado sobre o chão de terra.
─Não me diga que vocês estão pensando em sair─, disse ela, olhan-
do para Ian.
─Apenas por alguns dias─, disse Ian, sentindo-se inexplicavelmente
culpado. Ele tinha todos os motivos para ir.
─Não podem fazer isso─, disse ela, erguendo a voz. ─Você viu como
as coisas estão aqui. Você viu o que aconteceu com o seu pai.
─Sil, um homem deve fazer o que ele tem que fazer─, disse Ian. ─O
futuro do clã está em jogo.
─Hugh Dubh está sentado no castelo do Laird há semanas─, disse
ela, plantando uma mão em seu quadril. ─Eu acredito que podemos sobre-
viver mais um dia ou dois a isso.
─A demora só vai piorar as coisas, ─ disse Ian.
─Você não pode passar mais do que uma noite com sua mãe após a
pobre mulher não colocar os olhos sobre você por cinco anos? ─Sìleas per-
guntou.
Ian sentiu uma pontada de culpa, mas ele tinha que ir. Para desviar a
atenção dela e porque estava curioso, Ian perguntou:
─O que está fazendo vestida desse jeito e limpando as baias?
─Alguém tem que fazer isso─, Sìleas disse seus olhos soltando faís-
cas de fogo verde. ─Seu pai não pode fazê-lo. E seu irmão não pode fazer
tudo sozinho, por mais que tente.
─Há outros homens que podem fazer isso─, disse Ian.
─Você está vendo algum homem aqui para ajudar?─ ela disse, fazen-
do um gesto abrangente com o braço. A outra mão segurava o forcado tão

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fortemente os nós dos dedos estavam brancos. ─Perdemos alguns homens
na batalha, e Hugh Dubh proibiu o resto de trabalhar em nossas terras.
O pai de Ian não lhe contara nada sobre isto, sobre este insulto.
─Dê-me o forcado, Sil─, Alex disse, usando a voz que usava para
acalmar cavalos. ─ Eu entendo porque você quer usá-lo nele, mas Ian não
será bom para ninguém se enfiar o forcado em seu coração.
Quando ela olhou para Alex e bateu o cabo do forcado contra o chão,
Alex ergueu as mãos com as palmas para fora e deu um passo atrás.
─Eu posso ver─, disse ele em voz baixa para Ian ─, que a moça ain-
da o adora.
Ian decidiu tentar a sua sorte. Quando ele começou a andar em sua
direção, Sìleas segurou o forcado na frente dela.
─Não tente me dizer o que um homem deve fazer─, disse ela, com
tanta raiva que as lágrimas encheram seus olhos ─ porque a verdade é que
você está apenas brincando de ser um homem.
Ela estava forçando sua paciência agora. Como ela ousava zombar
dele?
─Proteger o clã não é brincadeira.
─ Um verdadeiro homem não abandona a sua família quando preci-
sam dele─, disse ela. ─E proteger o clã começa com sua família.
Desta vez, a verdade de suas palavras queimou através dele.
─Vou ficar até termos noticias de Connor─, Ian disse, e estendeu a
mão para o forcado. ─Vá para dentro, Sìleas. Eu faço isto.
Ela atirou o forcado contra a parede com um ruído alto que os cava-
los relincharem, e passou tempestuosamente por ele.
Na porta, Sìleas girou para lançar uma última alfinetada.
─É hora de crescer, Ian MacDonald, porque sua família precisa de
você.
Ian e Alex foram para o riacho para se limpar, ao invés sujar a cozi-
nha de sua mãe tomando banho na banheira que havia ali.
─Limpar o estábulo não foi como eu pensei que iria servir ao clã─,
Alex disse, parecendo divertido.
─É um desperdício de nossos talentos. Somos guerreiros! ─Ian disse
o bom humor Alex irritando-o ainda mais. ─Devíamos estar usando nossas

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claymores, invadindo o castelo, e jogando Hugh sobre o muro para os pei-
xes comerem.
─Enquanto Sìleas limpa os estábulos para você?─ Alex disse, levan-
tando uma sobrancelha e sorrindo. ─Hugh Dubh tem tanto direito de reivin-
dicar a chefia como Connor. Não podemos simplesmente jogá-lo no mar,
mesmo que seja muito gratificante.
─Mas ele está fazendo isso, sem ter sido escolhido pelo clã, e ele não
tem direito de fazer isso─, disse Ian. ─Ele cometeu um erro ao não convo-
car uma reunião, forçando a escolha antes que Connor retornasse.
─Acho que Hugh estava esperando até que ele pudesse anunciar a
triste notícia da morte de Connor─, disse Alex.
─Não vai ser fácil convencer os homens a ir contra Hugh, enquanto
ele mantiver o Castelo Dunscaith─, disse Ian. ─Nós devemos encontrar
uma maneira de mostrar-lhes que Connor é o homem certo.
─Estou morrendo de fome─, disse Alex, jogando sua toalha suja em
Ian. ─Deve ser a hora de comer, não é?
─Alguma coisa que papai disse sobre o que aconteceu na batalha me
preocupou─, disse Ian, enquanto andavam em direção a casa.
─O que foi?─ Alex perguntou.
─Ele disse que os Ingleses o surpreenderam, atacando por trás─, dis-
se Ian. ─Você já lutou com o meu pai, sabe que ele luta como se tivesse
olhos na parte de trás de sua cabeça. Como os Ingleses passariam por ele
sem ele perceber?
Alex apertou o ombro de Ian.
─No seu auge, seu pai era um grande guerreiro, mas ele está velho.
─Sim, ele está─, disse Ian, seu espírito afundando quando ele lemb-
rou-se do rosto pálido de seu pai e seus cabelos grisalhos. ─Eu deveria ter
estado lá para proteger suas costas.
─Como está se sentindo hoje, Payton?─ Sìleas perguntou, quando
ela colocou a bandeja sobre a mesinha ao lado da cama.
─Eu estou sentindo falta de uma perna, então como você acha que
estou?─, Disse.

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Parou de ajudá-lo a sentar-se, sabendo que iria irritá-lo. Mesmo que
tivesse uma centena de coisas para fazer, Sìleas sentava na cadeira ao lado
dele e forçava as mãos a ficarem quietas.
─O que está chateando você?─ Payton perguntou, inclinando os
olhos para ela enquanto levava um bolo de aveia até à boca.
Sìleas apertou os lábios.
─Venha, Sìleas, você está tão furiosa como nunca vi.
─Seu filho é um idiota─, ela deixou escapar e se arrependeu, assim
que as palavras saíram de sua boca.
─A qual dos meus filhos idiota você está se referindo?─ Payton per-
guntou.
─Eu não vou ouvi-lo dizer outra palavra contra Niall, e você sabe
disso─, disse ela. ─É hora de parar de culpá-lo por fazer o que tinha que fa-
zer.
─Então, é Ian, não é?─ Payton disse.
─Eu não entendo porque esta é a primeira coisa a divertí-lo nas últi-
mas semanas─, ela retrucou. Apesar de seu aborrecimento, Sìleas teve o
prazer de ver um vislumbre de seu antigo eu.
─O que Ian fez para conhecer seu outro lado tão cedo?
Ela não podia dizer a ele que Ian não tinha intenção de reconhecer a
ela ou ao seu casamento, ela tinha seu orgulho, então contou o mais recente
crime de Ian.
─Ele não tem noção do que deve ser feito em agricultura e
pecuária─, disse ela, cruzando os braços. Era responsabilidade de Ian ago-
ra, e ele teria apenas que aprender.
─Eu criei Ian para ser um guerreiro, não um agricultor, moça. Ele
tem coisas mais importantes para fazer ─, disse Payton, sua expressão se
tornando dura. ─Eu disse a ele como aquele demônio tomou Knock Castle.
Sìleas não disse nada, sabendo que a perda de seu castelo era uma fe-
rida aberta no orgulho de Payton e de todo o clã. Seu padrasto tinha espera-
do por cinco anos, então atacou na esteira de Flodden quando os MacDo-
nalds estavam fracos.
Payton colocou seu prato na bandeja e afundou-se nas almofadas, pa-
recendo pálido.
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─Se serve de consolo para você, espero que o fantasma de Knock
Castle esteja assombrando meu padrasto─, disse ela, dando-lhe uma pisca-
dela. ─Eu duvido que a Dama Verde deixe Murdoc ter uma única noite de
sono tranquilo.
─É uma pena que o seu fantasma não carregue um punhal─, Payton
disse em uma voz cansada.
─Devo contar como ela alertou-me para sair naquele dia?─, Pergun-
tou ela.
─Sim, moça. ─ Payton fechou os olhos quando ela começou e estava
dormindo antes que ela estivesse no meio da velha história. Doeu-lhe ver o
grande homem tão enfraquecido.
As mãos descansando sobre as cobertas eram marcadas por cicatrizes
de batalha que por si só, contavam uma história. No entanto, ela.
Gentilmente se lembrou de como aquelas mãos grandes a tinha abra-
çado na manhã que Payton tinha encontrado ela e Ian dormindo na floresta.
Sem acordá-lo, Sìleas levantou a mão mais próxima a ela e segurou-a.
Payton estava ficando mais forte a cada dia. Ela poderia partir em
breve. Com Ian aqui, ele ficaria muito bem sem ela. Todos eles ficariam.
Mas Sìleas temia que, quando ela partisse, seria como Payton, sem-
pre faltando uma parte dela que tinha sido amputada.

CAPÍTULO 6

Ian ficou parado na porta olhando Sìleas. Esta era a nova Sìleas outra
vez, toda limpa e penteada, usando um vestido verde musgo, tão linda que
ele tinha que lembrar a si mesmo de respirar. Ela deve ter se banhado na
banheira da cozinha, pois suas bochechas estavam rosadas e um cacho úmi-
do ficou preso ao lado de seu rosto.
Ele ficou surpreso, por seu pai deixá-la segurar sua mão como se fos-
se uma criança, até que ele percebeu que ele estava dormindo. Embora ele

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tivesse cuidado para não fazer barulho, ela sentiu a sua presença e se virou.
Hoje os olhos estavam do mesmo tom verde musgo do vestido, mas toca-
dos com o orvalho das lágrimas que brotaram em seus olhos.
─Minha mãe disse para avisar que o jantar está pronto ─, disse ele
em voz baixa. ─Você está bem?
Sìleas assentiu e pegou a bandeja quando se levantou. Quando Ian se
afastou para deixá-la passar, ela disse:
─Ele não é um homem saudável. Você não devia tê-lo mantido acor-
dado até tão tarde.
Aparentemente, Sìleas tinha carinho em seu coração por cada memb-
ro de sua família, exceto ele.
─Meu pai queria conversar─, Ian disse, ─ e eu acho que fez bem a
ele.
─Eu suponho que você está certo─, disse ela com um suspiro. ─Mas
tenha cuidado com ele.
Ian seguiu o balanço provocante de seus quadris, até que ela desapa-
receu na cozinha.
Ele continuou olhando para ela enquanto eles comiam a refeição do
meio-dia. Com aquele lábio inferior cheio, a boca dela era feita para beijar.
Toda vez que ela franzia os lábios e soprava o guisado, seu coração dava
um salto estranho em seu peito. E seu coração não era a única parte afetada
dele. Seu pênis estava de pé, duro como um soldado Inglês.
Provavelmente, Sìleas estava zangada com ele por não fazer claras
suas intenções. Ele tinha dificuldade em lembrar suas razões para esperar
enquanto ele a observava tomar uma colherada de caldo, sorrindo de prazer
ao sentir o gosto e passar a sua língua cor de rosa em seu lábio superior.
Talvez ele devesse apenas levá-la para a cama agora e fazer amor
com ela. Se o preço de seguir o seu desejo era ganhar uma esposa, bem, era
hora de ele arranjar uma, de qualquer maneira.
Alex, o diabo, estava sentado ao lado de Sìleas, conquistando-a com
seu encanto lendário. Ela jogou a cabeça para traz, rindo de alguma coisa
que ele disse. Foi uma bela risada, profunda e sensual.

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─Eu não acredito em uma palavra do que você está dizendo, Alex
Bàn MacDonald!─ Sìleas apertou a mão sobre o peito como se ela não con-
seguia respirar. ─Cinco homens, não é? Como é que você escapou?
─Você quer dizer, como ele fugiu?─ Alex perguntou. ─ Não foi
nada, realmente. Disse-lhes que eu podia correr, ou eles poderiam morrer.
Ian ficou irritado pela maneira como Sìleas inclinava-se com os
olhos fixos em Alex, como se estivesse bebendo as palavras de Alex.
─Havia apenas três deles, e não cinco ─ Ian corrigiu, suas palavras
soando impacientes aos seus próprios ouvidos.
Sìleas se virou para ele, seu sorriso desaparecendo. Senhor, mas ela
tinha lindos olhos, mesmo quando eles estavam mortalmente sérios, como
agora. O cheiro da urze de verão inundou seu nariz. Será que ela usava urze
seca na água do banho? Ah, isso significava que cada centímetro de sua
pele teria aquele cheiro adorável.
─Agora que nós limpamos o estábulo, ─ Ian disse: ─Alex e eu esta-
mos indo falar com alguns dos homens deste lado da ilha.
─E por que vocês precisam fazer isso?─ Sìleas perguntou.
Ian ergueu as sobrancelhas.
─Não é da sua conta, mas temos a intenção de descobrir como os
homens se sentem sobre a perspectiva de ter Hugh como seu laird.
─Tanto eu como Niall podemos falar sobre isso, ─, disse Sìleas, cor-
tando a carne com vigor suficiente para cortar também a tábua. ─Mas, se
você quer perguntar pessoalmente aos homens, todos eles vão estar na igre-
ja amanhã.
─Um Padre vem visitar a ilha─, explicou sua mãe. ─Padre Brian irá
batizar todas as crianças nascidas desde que ele esteve aqui há um ano.
Havia sempre uma falta de padres nas Highlands. Ao contrário da
França, a igreja aqui era pobre.
Embora os lairds Highlanders pudessem permitir que Deus fizesse
uso de suas terras para as igrejas e mosteiros, eles não costumavam fazer
isso. Porque a igreja só poderia fazer pouco para apoiá-los, já que poucos
homens juntavam-se ao sacerdócio, e um Padre que se casou não foi expul-

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so. Tal como acontece com o divórcio e o casamento, as regras da igreja
não eram rigorosamente seguidas nas Highlands.
─Esperar para ver os homens na igreja parece um bom plano─, disse
Alex, dando a Sìleas um sorriso brilhante.
─Não acha, Ian?
Ian balançou a cabeça, ele preferia ir agora, só para sentir que estava
fazendo algo.
─E não ignore as mulheres─, sua mãe acrescentou ─Ná bac éinne ná
bíonn buíochas nd mban air. ─ Não dê atenção a alguém que as mulheres
não respeitam.
─Sìleas─, disse Alex, ─o que acha de sairmos no barco esta tarde?
Alex estava tentando provocá-lo; Ian olhou para ele para que soubes-
se que não achava divertido.
─Será ótimo ─, Sìleas disse com um sorriso suave para Alex. ─Mas
depois que eu limpar a cozinha, eu devo ter uma conversa com Ian aqui.
Ela disse que seu nome como se estivesse dizendo merda de porco.
Então ela virou-se para lançar um duro olhar para ele.
─Quando você terminar sua refeição pode reservar um pouquinho de
tempo para falar comigo?
Sìleas podia não parecer a mesma, mas ela foi tão direta quanto
quando era uma menina selvagem. Certamente, ela queria saber como iria
ficar a situação deles. Suas palavras afiadas o lembraram que seria sensato
ele dar tempo a si mesmo antes de decidir seu destino.
─Não tem nenhuma mulher para ajudar na cozinha?─ Ian perguntou,
apenas em parte porque ele queria desviar a atenção dela.
Eles sempre tiveram uma mulher ou outra do clã que precisava de
uma casa que ia viver com eles e ajudar a sua mãe.
─Alguns dos homens chegaram a pedir conselhos ao seu pai a res-
peito da escolha de um novo laird, ─ sua mãe disse. ─Ele exortou-os a es-
perar pela volta de Connor e Hugh Dubh esteve nos castigando desde en-
tão.
─Quando Hugh ameaçou todos os que trabalhavam aqui─, Sìleas
disse, ─nós dissemos a eles para partir.

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─Vá logo falar com Ian, ─ disse sua mãe, pegando as terrinas das
mãos de Sìleas. ─Eu vou limpar.
Quando Ian levantou-se, Niall entrou pela porta. Em vez de re-
preendê-lo por faltar ao jantar, a expressão de Sìleas suavizou-se quando o
viu.
─Niall, pode juntar-se e mim e Ian?
Por que ela estava perguntando se Niall podia se juntar a eles?
─ É claro, pode contar comigo─, Niall disse, sorrindo para ela en-
quanto pendurava o chapéu atrás da porta.
─Obrigada. ─ A voz de Sìleas vacilou um pouco, como se Niall ti-
vesse feito algo especial que a tocou, quando tudo o que ela mostrou a Ian
foi irritação.
Quando ele seguiu Sìleas até as escadas, o cheiro da urze inundou
seu nariz. Ele não podia deixar prestar atenção aos seus delicados tornoze-
los e na oscilação de suas saias enquanto ela subiu os degraus íngremes.
Levantando o olhar, ele imaginou o suave arredondado do traseiro dela sob
as saias.
Ela os levou para a sala que tinha sido seu quarto quando menino.
Ele parecia diferente agora, com a janela contornada por lindas pedras e
flores secas em um jarro sobre a mesa. Seu estômago se contraiu com a
lembrança da última vez que esteve nesta sala, na noite do casamento,
quando ele passou uma noite longa e cansativa no piso duro.
Ele olhou para sua antiga cama, onde ela dormia agora. Se ele qui-
sesse, poderia dormir aqui com ela todas as noites.
Ele ficou duro só de pensar nisso. Se ele ficasse com ela, iria cons-
truir uma nova cama para eles mais adequada para Knock Castle, com enta-
lhes e cortinas pesadas, como ele tinha visto na França.
Depois de tomar uma cadeira na mesa, ela apontou para ele e Niall
fazer o mesmo. Niall sentou em frente a ela, como se por hábito, deixando
Ian sentar em um banquinho entre eles, de frente para a parede.
─Eu não sei se percebeu como o seu pai estava gravemente ferido
quando voltou. ─ Sìleas falou em uma voz suave e os olhos fixos na mesa.

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─Papai não acordou por uma quinzena─, Niall acrescentou ─ Foi um
milagre que ele tenha sobrevivido.
Seu pai pediu a Deus que o levasse, se fosse ficar aleijado. Em seu
lugar, Ian sentiria o mesmo.
─Desde que você não estava aqui, Niall e eu tomamos as decisões
que precisavam ser tomadas nestas últimas semanas ─, disse Sìleas, sua
voz se tornando tremula novamente. ─Eu acho que você ficará satisfeito
com o que fizemos.
─Que tipo de decisões?─ Ian perguntou.
Sìleas levantou-se para pegar um maço de papéis da prateleira acima
da mesa.
─Quanto gado devia ser abatido para o inverno, que ovelhas vender
ou trocar, esse tipo de coisa.
O que poderia ser mais maçante do que isso?
Sìleas sentou-se e empurrou a pilha de papéis que estava sobre a
mesa para ele.
─Agora que você está aqui, estas decisões são suas. ─Ela fez uma
pausa, depois acrescentou: ─ Pelo menos até seu pai está bem.
Ian olhou para baixo. Havia números todos para baixo da primeira
página.
─O que vocês esperam que eu faça com isso?
─Sìleas explicará tudo a você─, disse Niall, sorrindo para ela. ─Ela
está ajudando a gerir as nossas terras e inquilinos há anos. Devia ouvi-lo,
sempre comentando sobre o quão inteligente ela é.
Seu pai? Deixando uma moça ajudá-lo e elogiando-a? Ian não queria
acusar o irmão de mentir, mas, realmente, essa era difícil de entender.
Ian observou Sìleas quando ela falou sobre o gado e as plantações,
ouvia mais o som da voz dela do que as palavras. Ele percebeu como ela
repetidamente incluía Niall em seu discurso. O que o impressionou tanto
quanto seu entusiasmo pelos detalhes tediosos era como ela reconheceu a
necessidade de seu irmão em ser tratado como homem.
Seu pai certamente não mostrou preocupação com o orgulho de Ni-
all. Lembrando dureza de seu pai com Niall, Ian sentiu uma onda de ternura

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por Sìleas por causa de sua bondade para com seu irmão. Ele teria que per-
guntar a ela porque o pai estava tão zangado com Niall.
Com a mente em Niall e seu pai, ele não percebeu que ela terminara
de explicar as contas até que ela estava de pé.
─Devo ir agora─, disse ela, alisando as saias ─, ou a roupa nunca
será lavada e você não terá jantar.
Sem pensar, Ian disse:
─A manutenção da casa não é responsabilidade da minha mãe?─
Isso trouxe um segundo questionamento a sua mente que o deixou preocu-
pado. Apontando para a pilha de papéis frente a ele, perguntou: ─Por não
era ela a tomar essas decisões no lugar de papai?
─Acaso acha que eu usurpei o lugar dela?─ Sìleas perguntou sua voz
quase um sussurro. ─É isso que você acha?
A mágoa nos olhos de Sìleas o atingiu rapidamente.
─Eu não quis dizer─, ele começou a dizer, mas ela o interrompeu.
─Não importa─, disse ela, embora claramente sim. ─Você vai assu-
mir a tarefa agora, por isso vou deixá-lo fazer isso.
─Espere─, Ian disse, pegando o braço dela. ─Você fez um bom tra-
balho, e eu ficaria feliz que continuasse fazendo.
─Não é mais minha obrigação fazer isso agora─, disse ela com uma
voz firme.
Ach, sentiu-se menor do que um grão de areia. Mas antes que pudes-
se pedir desculpas, ela saiu. Tão logo ela foi embora, seu irmão bateu com
o punho na mesa.
─Você não imagina como tem sido aqui, enquanto estava fora em
suas aventuras─, disse Niall.
Ian encontrou o olhar de raiva de seu irmão.
─Então tem que me dizer.
─Papai estava ainda vivo quando voltei para casa. ─ Niall apertou o
maxilar enquanto se inclinava para frente e olhava para suas mãos. ─Eu
não sei o que teria feito sem Sìleas. Ela lavou as feridas dele todos os dias e
colocou o remédio que pegou de Teàrlag.
Tristeza e culpa se enroscaram nas entranhas de Ian. Ele nunca iria
saber se poderia ter evitado que seu pai fosse ferido se ele estivesse ao seu

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lado na batalha. Mas ele era tão bom quanto qualquer homem com uma
espada, então ele poderia ter feito a diferença.
─Durante o tempo em que papai esteve desacordado─, disse Niall ─,
Sìleas passou horas ao seu lado, conversando e lendo para ele como se ele
pudesse ouvir cada palavra.
Pareceu estranho para Ian que Niall só falasse de Sìleas cuidando de
seu pai.
─E quanto a sua mãe?
─Mamãe parou de falar quando ela pensou papai estava morrendo.
Ela era como uma sombra de si mesma. ─Niall manteve os olhos fixos em
suas mãos e falou em voz baixa e áspera. ─Sil e eu fizemos o nosso melhor
para fazê-la comer, mas ela ficou tão fraca que temíamos perdê-la também.
A culpa era amarga na garganta de Ian. Niall era jovem demais para a
carga que estava carregando e que era responsabilidade de Ian.
─Mamãe está muito melhor desde que acordei papai um par de se-
manas atrás. Mas papai... ─Niall se virou para olhar a pequena janela. ─
Bem, tem sido quase pior desde que ele acordou e descobriu que sua perna
tinha sido amputada.
Ian se inclinou sobre a mesa e apertou o ombro de seu irmão.
─Me desculpe, eu não estava aqui. Viemos assim que ouvimos a no-
tícia da batalha.
─Devias ter voltado muito antes disso─, Niall disse sua voz dura. ─
devia ter voltado para Sìleas. Você a envergonhou, deixando-a sozinha por
tanto tempo.
Ian nunca tinha considerado que a sua ausência pudesse envergonhá-
la. Até que voltou, ele tinha pensado nela como uma garota estranha que
não estava pronta para o casamento.
─De uma forma ou outra, vou fazer isso direito─, disse Ian. ─Sou
grato a você por cuidar da família na minha ausência.
─É Sìleas a quem deve agradecer não a mim. ─ Seu irmão levantou
abruptamente, empurrando a mesa. Ele estava tremendo de raiva. ─Sìleas
trabalhou exaustivamente, mantendo a família unida. Será que você não viu

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os círculos sob seus olhos? Eu faço o meu melhor para ajudá-la, mas não é
o suficiente.
─Eu vejo as coisas agora─, disse Ian, mantendo a voz calma.
─Então é melhor você convencê-la a ficar─, disse Niall ─, pois não
podemos ficar sem ela.
─Sìleas não vai a lugar nenhum, por enquanto. ─ Pelo menos não até
que ele decidisse o que fazer.
─É incrível ela ainda não tê-lo deixado─, disse Niall, os olhos arden-
tes fixos em Ian. ─Se ainda não sabe, há uma fila de homens esperando ela
perder a paciência com você.

CAPÍTULO 7

Ian ouviu Alex roncar na cama ao lado e viu o céu clarear pela fresta
nas persianas da casa velha, enquanto ele pensava sobre o dia seguinte. Era
um dia importante, para ele e para o clã. Depois fazendo um balanço dos
dois dias desde seu retorno, ele decidiu aceitar Sìleas como sua verdadeira
esposa. Ele iria dizer a ela hoje, após a reunião na igreja.
No final, foi uma escolha fácil. Sìleas tornou-se o elo que manteve a
sua família unida. Além de não estar aqui quando precisava dele, ele não
iria levá-la para longe deles agora. Eram todos muito afeiçoados a ela. Na
verdade, ele estava um pouco preocupado que os sentimentos de Niall em

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relação a ela não fossem totalmente fraternais, mas o rapaz era jovem e su-
perarria isto rapidamente.
Para sua mãe, Sìleas encheu o vazio em seu coração deixado pelas fi-
lhas que havia perdido ainda bebês. O que o surpreendia era a proximidade
entre Sìleas e seu pai. Mesmo sendo muito ocupada, Ian a encontrou na ca-
beceira de seu pai várias vezes ao dia. Sua presença parecia acalmá-lo. Em-
bora seu pai nunca tivesse lamentado abertamente a perda de suas filhas,
como sua mãe, talvez ele também tivesse uma ferida que Sìleas curara.
Se não por outro motivo, Ian manteria Sìleas para o bem de sua famí-
lia. Adicionado a isso, ela era a herdeira de Knock Castle, uma boa admi-
nistradora, e fazia seu sangue ferver. O que mais pode um homem pedir?
Agora que ele chegara em casa para tomar seu lugar no clã, precisava
de uma esposa. Não havia nenhuma boa razão para revirar a cesta quando
ele já tinha uma fruta madura. A única objeção que ele poderia fazer é que
não tinha sido ele a escolher Sìleas como esposa, mas seria burrice deixar
isso detê-lo, quando tudo o mais pesava em favor do casamento.
Agora que ele tomara sua decisão, era apenas uma questão de ficar
sozinho com Sìleas para dizer a ela. Salvar o clã de Hugh Dubh vinha pri-
meiro, é claro. Ele iria falar com ela após o encontro na igreja hoje.
Em seguida, ele poderia se juntar a Sìleas na cama do andar de cima.
Sorriu para si mesmo. Essa vantagem especial pesava fortemente a
favor de manter o casamento. Não precisaria mais dormir na casa antiga
com Alex. E uma vez ele contasse a Sìleas de sua decisão, ela iria parar al-
finetá-lo com sua língua afiada.
Ele podia pensar em outros usos para aquela língua...
─Vai ficar na cama durante toda a manhã?─ Alex disse, e Ian voltou-
se para encontrar seu primo vestido e prendendo sua claymore no cinto.
Ian sorriu para ele, sentindo-se realmente bem desde que voltou para
casa. Ele mal podia esperar para ver o rosto de Sil quando ele falasse com
ela. Ele se lembrava de como ela costumava olhá-lo, com aquele brilho nos
olhos, como se ele fosse a pessoa mais forte e mais valente que ela pudesse
ter a esperança de se encontrar.

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Quando ele dissesse a ela, ela olharia para ele daquele jeito de novo,
mas com os olhos de uma mulher. E de uma mulher cheia de desejo. Então
ele a apertaria em seus braços e a beijaria como estava querendo fazer des-
de que chegou. Ah, fazia anos desde que ele tinha dado a uma moça seu
primeiro beijo.
E então não haveria todos os outros ...
Sangue de Deus, ele nunca tinha ido para a cama de uma virgem an-
tes. Ele tinha feito o seu melhor para evitar inocentes até agora. Ele sur-
preendeu-se por achar a perspectiva de levar uma virgem para cama ...
Emocionante. Pelo menos, esta virgem em particular. Sìleas seria só dele,
agora e para sempre.
─Ian─, disse Alex, chacoalhando-o de volta para o presente.
Quando saiu da cama, Ian pegou a manta para cobrir sua ereção late-
jante. Pelas barbas de Deus, ele estava com dor.
Hoje à noite. Hoje à noite, ele iria levar Sìleas para a cama.
Mas, primeiro, havia o encontro. Trabalho antes do prazer.
─Vejo que você está indo para a igreja preparado,─ Ian disse a Alex,
enquanto prendia sua própria claymore.
─Não acho que Hugh vá respeitar a casa de Deus, sem um pouco de
encorajamento.
A notícia da chegada de Ian e Alex devia ter chegado aos ouvidos de
Hugh, e sua presença deve ter deixado Hugh nervoso. Hugh não era tolo.
Ele sabia que se eles estavam aqui, Connor e Duncan não podiam estar
muito longe.
─Quantas facas está levando?─ Ian perguntou, quando ele colocou
um punhal no lado da bota.
─Eu só tenho duas adagas,─ Alex disse, fazendo uma careta.
─Aqui─, Ian disse, atirando-lhe outra. ─Eu trouxe uma extra de casa
na noite passada.
─Você é um bom homem─, disse Alex, pegando-a.
Sìleas não estava lá embaixo quando tomaram o café da manhã, mas
ela estava esperando no portão com a mãe de Ian quando Ian, Alex, e Niall
trouxeram os cavalos para frente da casa.

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─Tem certeza de que vai ficar bem sem mim?─ Sìleas perguntou a
mãe de Ian.
─Você se preocupa muito─, disse a mãe dele, batendo na mão dela.
─Estou me sentindo eu mesma outra vez. Payton e eu vamos ficar muito
bem.
Sìleas beijou a sogra no rosto e virou-se para onde os três estavam
esperando em seus cavalos.
─Está um dia tão bonito─, disse ela. ─Nós poderíamos andar.
─Nós vamos a cavalo─, disse Ian.
Era verdade que a chuva não passava de uma garoa leve, o que fez
dele um belo dia para meados de outubro nas Highlands. Mas ele queria os
cavalos no caso de precisarem fazer uma partida rápida.
Quando Sìleas caminhou para o cavalo de Niall, Ian parou a sua fren-
te para bloquear seu caminho. Ele estendeu a mão.
─Cavalgue comigo.
Por um momento, ela o olhou como se fosse recusar, o que o irritou.
Então se lembrou de que ela não sabia ainda da sua decisão. Quando ela fi-
nalmente lhe deu a mão, girou-a na frente dele. Ian apertou-a contra ele,
quando fez o cavalo trotar. Quando ele se virou para acenar adeus a sua
mãe, ela deu-lhe um aceno de aprovação.
Ele faria duas mulheres felizes por sua decisão de fazer um verdadei-
ro casamento com Sìleas.
Era difícil pensar com o cheiro do seu cabelo em seu nariz e seu tra-
seiro entre suas coxas. Mas o passeio foi curto, então ele forçou seus pensa-
mentos para o que ele diria aos homens quando chegassem lá.
À medida que se aproximavam da igreja, eles tiveram que passar por
Dunscaith Castle, a casa do laird do clã. O castelo tornou-se famoso por
duas mulheres, que segundo Teàrlag eram antepassadas de Duncan.
De acordo com as velhas histórias, Dunscaith foi construído em uma
única noite por uma bruxa do mar. Foi aqui, também,que a grande rainha
guerreira celta, Scathach, fundou a lendária Escola de Heróis.
Ian tinha visto Dunscaith mil vezes antes, mas hoje ele olhou para ele
pela primeira vez como atacante.

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O castelo estava em uma ilha rochosa perto da praia, com uma dis-
tancia de seis metros entre ele e a ilha principal. Se a rocha pura não fosse
suficiente para impedir um ataque por mar, a muralha de cinco metros de
espessura em cima dele com certeza seria.
Para entrar no castelo, um atacante ou tinha de entrar pela porta do
mar do outro lado, que seria facilmente bloqueada, ou atravessar a ponte
fortificada que se estendia entre as ilhas. Se você chegasse do outro lado da
ponte, os defensores do castelo poderiam levantar a ponte levadiça no fim
dela para pará-lo. E se você conseguisse passar a ponte levadiça, você ain-
da tinha que abrir caminho até um lance de escada murada que era muito
estreita para dois homens subirem esgrimindo suas espadas.
─Um castelo fácil de defender e difícil de tomar─, Alex disse, repe-
tindo os pensamentos de Ian.
─Sim─. Enquanto cavalgavam, Ian fixou os olhos na torre do caste-
lo. Hugh estaria lá agora, os observando de seu poleiro?
Era difícil de suportar que um homem, ganancioso, sem honra, pos-
suísse o castelo onde Scathach havia treinado seus famosos guerreiros.
Ian podia ver que já havia um grande grupo de pessoas fora da igreja,
que estava há apenas dois passos após a ponte para o castelo. A igreja era
um edifício humilde, caiada de branco, muito pobre comparada às catedrais
que tinha visto na França.
Com seus pensamentos em Hugh e nas tarefas à frente, Ian percebeu
que ele não tinha falado uma palavra com Sìleas, mas ele não tinha tempo
agora.
─Cuide dela,─ Ian disse a seu irmão, quando ele a ajudou a desmon-
tar. ─Eu preciso falar com os homens.
Como planejado, ele e Alex moveram-se separadamente através dos
homens reunidos para descobrir o que eles achavam de Hugh proclamando-
se laird. Após cumprimentá-lo, alguns falavam em voz baixa sobre os maus
tratos de Hugh para com eles ou sua família. Quem não estava tão silencio-
so era Tait MacDonald, um homem magro de trinta anos.

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─Hugh violou minha irmã e a deixou carregando um bebê,─ Tait
disse, os olhos ardendo de ódio.
─Eu suspeito que você não quer esperar o Dia do Julgamento para
vê-lo punido─, disse Ian. ─Eu sei que eu não faria isso.
─É melhor Hugh se cuidar. ─ Tait se aproximou, e acrescentou:
─Um monte de homens o apoiaria, se você se candidatasse a chefia.
─Eu não tenho sangue do laird.─ Ian era um guerreiro habilidoso
como qualquer outro, e ele poderia comandar os homens na batalha. Mas os
lairds precisavam ser pacientes, também, e paciência era um traço que não
partilhava com seu primo.
─Não, mas Connor tem ─, disse Tait. ─Ele está de volta, e ele vai ser
um grande laird, ainda melhor do que o seu pai.
─Diga a Connor eu estou com ele─, disse Tait.
Ian avaliou o homem e supôs que a velocidade de Tait seria mais do
que suficiente para compensar sua baixa estatura em uma luta.
─Ele vai ficar feliz em tê-lo do seu lado.
Foi um começo, e outros se seguirão. Como se costuma dizer, bas-
tava, uma vaca romper a cerca para uma dúzia pular sobre ela.
─O problema é que Connor é ainda um rapaz na memória dos ho-
mens─, disse Tait. ─Ele se foi há muito tempo.
Tait estava certo. Os homens precisavam ver Connor para julgar o
seu valor como homem. Mostrar-se abertamente demais, no entanto, pode-
ria matá-lo.
─Por outro lado,─ Tait disse, ─os homens estão indignados que de-
pois de chamar a si mesmo de laird, Hugh ficou sentado enquanto os
MacKinnons atacavam Knock Castle. E eles não entendem por que ele não
tentou tomá-lo de volta.
A perda de Knock Castle foi mais um peso na corrente de culpa ao
redor do pescoço de Ian. Mesmo que ele não quisesse, manter o Knock
Castle era o seu dever.
Na manhã seguinte ao seu casamento, Ian e seu laird surpreenderam
o padrasto de Sìleas com a notícia do casamento. Tão logo os MacKinnons
entregaram o castelo, Ian viajou para a França, não importando quem seu

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laird escolheu para manter o castelo em seu nome. Mas a fúria, tingida de
vergonha, o queimava por dentro agora. O homem do clã que ficou em seu
lugar como defensor do castelo havia sido morto no ataque MacKinnon.
Como Ian mudou-se no meio da multidão, ouviu repetidas vezes a
queixa sobre a perda de Knock Castle.
─O que você vai fazer sobre castelo de sua esposa?─ Mais de um ho-
mem perguntou-lhe. ─Estamos prontos para lutar por ele, mas precisamos
de um laird para nos conduzir.
Falando do diabo.
Quando os homens em torno de Ian desviaram seus olhares e se
afastaram, ele se virou para ver Hugh Dubh emergir da ponte do castelo se-
guido por um grupo de homens. Ian trocou um olhar com Alex sobre as ca-
beças dos outros homens para ter certeza Alex tinha visto Hugh. Alex ba-
lançou a cabeça e continuou seu caminho.
Ian pegou o Padre pelo braço.
─Padre, leve as mulheres e crianças para dentro da igreja.
O Padre virou e viu Hugh e seus homens.
─Vou levá-las para dentro, mas eu estou avisando você, eu não que-
ro nenhuma violência aqui na igreja.
─Isso é com Hugh─, disse Ian. ─Tudo o que posso prometer é que
não vou começar nada.
Em seguida Ian encontrou Sìleas e Niall.
─Vá para dentro agora─, disse ele, pondo a mão na curva de suas
costas para empurrá-la.
Sìleas olhou para os homens que se aproximam por sobre seu ombro.
─Eu não tenho medo de Hugh.
─Pois deveria ter ─, Ian disse, segurando seu braço com força para
que ela soubesse o que ele queria dizer com isso. ─Niall, leve-a para den-
tro, em seguida, ajude o Padre com os outros.
Niall e Sìleas fizeram cara feia para ele, mas ele não tinha tempo
para discutir.
─Vão agora, você dois.
Moveu-se para ficar ao lado de Alex assim que Hugh e seus homens
entraram na igreja. Olhar de Hugh pousou sobre ele, avaliando como estava
Ian.
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Estou pronto para cortar suas bolas, Hugh Dubh.
Hugh parou há um metro dele e ficou com as pernas abertas em uma
postura alerta. Por um longo momento, eles mediram um ao outro. Hugh
era um homem grande, de rosto quadrado, que tinha uma forte semelhança
com o pai de Connor e Ragnall. Como o mais novo dos seis filhos de seu
pai, ele não poderia ter muito mais de trinta anos, embora seus anos no mar
o fizesse parecer mais velho.
Quando o pai de Connor foi feito laird, Hugh assumiu a pirataria. A
julgar pelas histórias sobre ele, Hugh foi bem-sucedido em seu comércio.
Alguns acreditavam que ele podia invocar a névoa do mar à vontade, por
causa do modo como seus barcos desapareciam após um ataque. Outros
disseram que Hugh tinha uma grande quantidade de ouro escondido na
Ilha de Uist e que ele dava as crianças capturadas como alimento
para o dragão do mar que guardava.
─Eu ouvi que dois de vocês estavam de volta─, disse Hugh, pousan-
do a mão sobre o punho da adaga longa em seu cinto. ─Você deveria ter
vindo ao castelo para prestar seus respeitos.
─Se os homens que costumavam trabalhar a nossa terra ainda fizes-
sem isso─, Ian disse: ─talvez eu pudesse ter achado tempo para uma pe-
quena visita.
─O resto ficou para trás─, disse Hugh, e levantou a mão. ─Eu preci-
so de uma conversa em particular com os filhos pródigos aqui.
Ele esperou até que os outros recuaram alguns passos.
─Eu estava apenas incentivando o seu pai a jurar a sua lealdade─,
disse Hugh, com os olhos brilhando divertidos.
─Mas agora que você está aqui, eu vou aceitar seu juramento no lu-
gar dele.
A raiva pulsou através de Ian, sua mão coçava para pegar a claymore
amarrada às costas. Um bom golpe e ele livraria o clã deste parasita.
Ian não fez nenhum esforço para manter a voz baixa.
─Enquanto meu pai viver, eu não vou tomar decisões por ele, seu
bastardo nojento.

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─Ouvi dizer que ele perdeu a cabeça, bem como a perna─, disse
Hugh. ─É sua obrigação interferir e tomar seu lugar como cabeça de sua fa-
mília.
─Como todos os homens aqui sabem,─ Ian disse em alta voz, fazen-
do um gesto amplo para incluir os homens reunidos em torno deles no átrio
da igreja, ─meu pai lutou em muitas batalhas com o Senhor das Ilhas para
proteger o nosso clã. Ele merece o respeito de seu filho e seu clã.
Os homens responderam com acenos e grunhidos de aprovação.
─Eu não vou tomar o lugar de meu pai nem fazer promessas em seu
lugar─, Ian disse, olhando para Hugh.
─E onde é que o seu pai está, Alexander Bàn MacDonald?─ Hugh
perguntou.
─Se tem que perguntar, meu palpite é que ele não deu o seu apoio a
você ─, disse Alex com um sorriso que sugeriu que ele sabia muito bem o
seu pai não apoiaria Hugh. ─Você não acha que ele tem reservas sobre a
sua capacidade de liderança, não é?
A veia no pescoço de Hugh pulsava quando ele passeou seu olhar en-
tre Alex e Ian.
─No final, ele vai se ajoelhar como todo o resto de você─, Hugh dis-
parou. ─Vocês podem dizer o mesmo quando virem Connor.
Ian se virou para falar com os homens atrás dele, deixando Alex para
cobrir suas costas.
─Como filho de Payton, um sobrinho para o nosso laird morto, e um
homem deste clã─, Ian gritou: ─Eu os convoco para uma reunião do clã
para escolher nosso próximo laird, como é nosso costume.
Quando Ian voltou, Hugh o olhou como se quisesse cravar sua clay-
more no peito dele, mas outra rodada de grunhidos de aprovação o fez pen-
sar melhor.
─Essa é uma boa ideia─, Hugh disse através de seus dentes. ─Nós
podemos ir todos para o salão do castelo e fazer o certo agora.
Os homens de Hugh, companheiros de seus dias a pirataria, levanta-
ram seus punhos e gritaram o seu acordo. Por um momento, Ian temeu ter

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perdido o controle da multidão, mas logo ficou evidente a partir do silêncio
dos outros homens, que não concordavam com a sugestão de Hugh.
─Todo homem tem direito a escolher seu laird─, Tait gritou. ─A con-
vocação deve ser enviada para cada membro do clã, com uma data determi-
nada para a votação.
Houve um murmúrio alto de concordância.
Hugh podia ler a multidão, assim como Ian.
─Vamos confirmar meu lugar como laird na reunião de Samhain─,
disse. ─Vou mandar avisar que eu espero que todo homem venha ao castelo
e fazer o seu juramento.
Alex levantou uma sobrancelha para Ian. Pelo menos eles não teriam
que abrir caminho para Dunscaith, uma vez que Hugh havia concordado
em uma reunião formal para escolher um laird.
─Agora, vamos ver esses bebês serem batizados.─ Hugh fez sinal
para seus homens, e a multidão se afastou quando eles se dirigiram para a
porta da igreja.
─Você tem culhões, ─ Ian disse a Alex, enquanto esperavam os ou-
tros homens para entrar na igreja. ─Acaso acha que meu pai tem reservas
sobre a sua capacidade para liderar?
─Eu? Eu estava apenas tentando fazer os olhos de saltarem tanto
quanto você fez.
Eles compartilharam uma risada seca, então foram para a igreja.
─Samhain é a menos de três semanas─, disse Alex, em tom preocu-
pado.
─Pode ser mais fácil de tomar o castelo pela força─, Ian disse, ─ do
que convencer muitos cabeças-duras MacDonalds de qualquer coisa em tão
pouco tempo.
─É pena a mãe de Hugh não tê-lo afogado no momento do nasci-
mento─, disse Alex.
─Sim, é uma pena.
O Padre, que parecia um guerreiro, estava na porta, fazendo com que
cada homem deixasse suas armas do lado de fora.
─Agora, rapazes, você podem colocar as claymores nesta pilha e
suas adagas na outra. Não haverá armas na minha igreja.

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─Será que fez Hugh Dubh e seus homens deixarem as deles?─ Ian
perguntou por sua vez.
─Eu fiz─, disse o sacerdote. ─E você vai deixar as suas também.
─Você é um homem corajoso─, Ian disse em voz baixa. ─Se for inte-
ligente também, então sabe que Hugh é o braço direito do diabo.
Os olhos escuros do Padre brilharam, e ele deu um leve aceno a Ian.
─Você pode ter certeza de que Hugh e seus homens mantiveram al-
gumas adagas escondidas ─, disse Ian. ─Eu não quero desrespeitar nin-
guém, mas isso significa que meu primo e eu temos que manter as nossas
também.
─Mantenha-as bem escondidas─, disse o sacerdote em voz baixa.
Ian inclinou-se para falar no ouvido do Padre.
─Quando chegar a hora, vamos precisar de todos os homens, incluin-
do você, Padre .
─Deus recompensará os justos─, disse o sacerdote. ─Ora, estão atra-
sando o serviço Divino, então vamos entrar.
Um olhar de Ian, e os meninos que estavam sentados na parte de trás
levantaram-se para encontrar outros assentos. Ele e Alex precisavam se
sentar perto da porta e das pilhas de armas lá fora. Depois que se sentaram,
Ian procurou por Sìleas na Igreja lotada. Não demorou muito para encon-
trá-la perto da frente. Um cabelo tão brilhante quanto o dela se destacava,
mesmo entre muitas outras ruivas.
─Quem é aquele ao lado dela?─, Ele sussurrou para Alex.
─Ao lado de quem?
─Ach, sabe muito bem que eu quis dizer, de Sìleas.
Alex não tentou esconder seu sorriso.
─Eu acredito que é seu vizinho, Gordan.─ Depois de uma pausa,
acrescentou, ─Gordan é um bom homem. Eu aposto que as moças o acham
bonito também.
Ian assoviou quando uma dúzia de bebês berraram enquanto eram
salpicados com água benta.
─Pelos santos, quantos bebês nasceram este ano?─ Ele questionou.
─Eu diria que os homens tiveram um inverno muito bom─, disse
Alex.

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Ian e Alex foram os primeiros a sair depois que o batismo terminou.
As gotas de água benta ainda não tinham secado na cabeça dos bebes e eles
já tinham suas armas nas mãos.
─É bom segurá-la novamente─, disse Alex, beijando a lâmina de sua
claymore.
Ele e Alex estavam lado a lado com suas espadas desembainhadas
quando Hugh e sua comitiva saíram da igreja.
Hugh parou na frente deles.
─Guarde minhas palavras, a menos que você esteja morto no Sam-
hain─, ele sussurrou em voz baixa, ─ ficará de joelhos diante de mim na
reunião.
─Um de nós vai morrer antes que isso aconteça─, disse Ian.
Ian encontrou o olhar de cada homem quando eles saíram da igreja e
passavam. Reconheceu a maior parte deles. Todos entenderam que o retor-
no dos Highlanders da França mudou a balança de poder em Skye. Cada
homem teria que escolher um dos lados.
Quando o último dos homens de Hugh estava na ponte para o caste-
lo, Ian avistou Ilysa, irmã de Duncan.
Ela era uma coisa tão pequena, era difícil acreditar que ela e Duncan
vinham da mesma mãe. Em um vestido disforme e com o cabelo coberto
por um lenço escuro como uma avó, Ilysa se misturou com as mulheres ca-
sadas. Ele só percebeu quando ela olhou para cima e deu-lhe um olhar cor-
tante. Então, ela inclinou a cabeça, sinalizando que queria falar com ele.
Quando ele se aproximou do grupo das mulheres, elas se juntaram
em torno dele perguntando sobre suas viagens. Levou algum tempo para
afastar Ilysa.
─Lamento você ter perdido seu marido em Flodden─, disse ele uma
vez que eles estavam fora do alcance do outros.
Uma emoção que não podia ler atravessou o rosto de Ilysa antes que
ela deixasse cair seu olhar e acenasse para agradecer a sua condolência.
─Onde está vivendo?─, Perguntou ele.
─Estou de volta ao castelo.
Ian olhou para ela.
─ Isso não é seguro. Hugh e seus homens são muito difíceis.

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Ilysa e Duncan tinham crescido no castelo, mas Ian tinha assumido
que ela estava vivendo com a família de seu marido.
─Ach, ninguém me nota, ─ Ilysa disse com um pequeno sorriso. ─E
só para ter certeza de que mantenham a distância, eu os deixo saber que eu
estou aprendendo a magia de Teàrlag.
─Eu não posso acreditar que Duncan vai deixá-la ficar lá─, disse Ian.
─Como se eu fosse deixar Duncan me dizer o que fazer─, disse ela,
revirando os olhos. ─Eu sobrevivi sem as ordens dele desde que você qua-
tro foram embora. Ele tentou, mas eu sou duas vezes mais teimosa que ele.
Aquilo resumia tudo.
─Mas por que ficar no castelo?─ Ian disse. ─Se você não quer ir
para a família do seu marido, você será bem-vinda para ficar em nossa
casa.
─Connor precisa de olhos e ouvidos no castelo, e nenhum de vocês
pode fazer isso por ele─, disse ela. ─Hugh ignora as mulheres, ele não tem
noção que eu o estou espionando.
Se Duncan não tinha sido capaz de convencê-la, Ian muito menos.
─ Tome cuidado agora. Não faça nada perigoso.
─Eu tenho uma mensagem de Connor e Duncan, ─ Ilysa disse em
voz baixa. ─Você deve encontrá-los na caverna sob a casa de Teàrlag de-
pois de amanhã.
Alex veio por trás deles e pôs o braço em volta dos ombros estreitos
de Ilysa.
─Então, como está a irmãzinha de Duncan?
─Eu estou bem, e você pode tirar suas mãos de mim, Alexander
Ban,─ Ilysa disse com bom humor empurrando o braço de Alex. ─Que pro-
blemas esteve causando?
─Problemas, eu? Não, eu estive fazendo uma boa ação ─, disse Alex,
com um sorriso diabólico. Virando-se para Ian, ele disse: ─Eu encontrei
uma mulher para ajudar a sua mãe e Sìleas na cozinha.
─Tão rápido assim?─ Ian coçou o pescoço. ─Deixe-me adivinhar.
Será que essa mulher não é uma atraente jovem de moral duvidosa?
─Aqui estou eu, tentando ajudar uma parente pobre ─, disse Alex,
balançando a cabeça ─, e tudo o que você faz é me criticar.

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─Você não está se referindo a Dina, está?─ Ilysa perguntou.
Dina? Ian tinha uma vaga lembrança de uma garota curvilínea e de
olhos escuros que era uns dois anos mais velha que ele.
Ele esteve entre suas coxas uma ou duas vezes quando mal tinha ida-
de suficiente para saber o que fazer.
─Boa sorte ─, disse Ilysa. ─Devo voltar agora. Eu tenho que manter
Hugh acreditando que ninguém mais pode cuidar para que haja abundância
de comida e cerveja na mesa.
Quando ela se foi, Ian disse:
─Talvez você devesse ter me perguntado antes de convidar alguém
para morar na minha casa.
─Eu não vi você procurar alguém para ajudar a sua pobre mãe e mu-
lher.─ Alex encolheu os ombros. ─Mas, se você não se importa que elas
continuem trabalhando até a exaustão, bem ...
À menção de Sìleas, Ian correu seu olhar sobre as poucas mulheres
ainda no átrio da igreja.
─Viu Sìleas?─ Ele perguntou, pensando que ela deveria ter voltado
para a igreja.
─Ela saiu com Gordan─-Alex limpou a garganta ─para o seu passeio
dominical de costume.
─Seu o quê?
─Não se preocupe, ela disse que eles vão nos encontrar em casa─,
disse Alex. ─Você sabe, Gordan vai se juntar à família para o jantar de do-
mingo. Como de costume.
─O que Sìleas acha que está fazendo?─ Ian se sentia como se sua ca-
beça estivesse explodindo.
─Passeando, eu suponho─, disse Alex.
Ian queria esmagar o punho no meio do rosto sorridente de Alex.
Gordan, aquele sonso! Ian encontrou o irmão com seus cavalos e
agarrou-o pelo braço.
─Diga-me o que é está acontecendo entre Sìleas e Gordan.
Niall puxou o braço.
─Gordan a protege, assim como todos nós temos feito, em sua au-
sência.

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Com isso, Niall montou no cavalo, bateu as rédeas, e saiu a galope.
Ian soltou a respiração e perguntou o que havia acontecido com o rapaz que
costumava segui-lo por todo lado. Ele teria que ter uma conversa com seu
irmão. Mas primeiro, ele iria lidar com Sìleas.
Na viagem de volta para a casa, ele ignorou as tentativas de Alex de
conversar. Ele não estava com humor para isso. Ian manteve os olhos fixos
a frente, procurando por Gordan e Sìleas, mas ele não viu o casal em lugar
nenhum no caminho de volta.
Se eles não estavam na estrada, onde diabos estavam?

CAPÍTULO 8

Quando chegaram em casa, Alex foi ao estábulo, dizendo que prefe-


ria a companhia das feras a de Ian.
Niall deve ter se metido em algum lugar, também, pois não havia si-
nal dele. Ian encontrou sua mãe sozinha, costurando perto do fogo.
─Como está papai?─, Perguntou ele.
─Dormindo.
Ian estava sentado com os braços cruzados, esperando Sìleas e Gor-
dan.
Sua mãe olhou por cima de sua costura.
─O que está incomodando você, meu filho?

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─Eu estou tentando entender por que minha família parece ter enco-
rajado Sìleas a sair sozinha com Gordan quando tem oportunidade─, disse
ele, moendo as palavras. ─Você sabe o que isso parece, mamãe. Sil não
teve uma mãe que lhe ensinasse que esse tipo de comportamento pode afe-
tar a reputação dela, mas você sabe muito bem. Por que não conversou com
ela?
Sua mãe arqueou as sobrancelhas.
─Se você estava tão preocupado com o comportamento de sua es-
posa, talvez devesse ter voltado para casa mais cedo.
─Eu não sabia que ela estava passeando por toda a Ilha de Skye com
Gordan Graumach MacDonald. E é bem melhor que o maldito passeio seja
tudo o que ela está fazendo com Gordan.
─Ach, os homens─, murmurou a mãe e voltou para sua costura. ─O
que você deve fazer é agradecer a Gordan por cuidar dela.
─Eu deveria agradecer-lhe?─ Ian disse, se esforçando para não gritar
com sua mãe.
─Você não pode esperar que ela ficasse enfiada em casa o tempo
todo─, disse sua mãe. ─Seu pai nunca a deixava sair sozinha por medo de
seus parentes MacKinnon tentarem roubá-la. Desde que ele foi ferido e os
outros homens pararam de trabalhar as nossas terras, Gordan foi gentil o
suficiente para acompanhar Sìleas quando seu irmão não pode.
─Hmmph─, Ian bufou. ─Gordan tem algo mais em mente do que
protegê-la.
─Gordan é um homem honrado─, disse sua mãe. ─Se você não quer
Sìleas como esposa, eu ficaria feliz por ela ter Gordan como seu marido.
Ian sentou-se ereto.
─Como o marido, disse?
─Mantenha a voz baixa. Você vai acordar o seu pai .
Antes de Ian voltar para casa, seu plano havia sido ver Sìleas casada
com um bom homem. Mas Gordan? Ele nunca a faria feliz.
─Seria um bom marido para a nossa Sìleas, exceto pela mãe de
Gordan, é claro.─ Ela estalou a língua. ─Aquela mulher será uma provação
para qualquer nora.

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─Seria um bom marido, exceto por sua mãe?─ Ian bradou. Ele não
podia acreditar no que estava ouvindo.
─Sim, seria,─ disse sua mãe, rompendo o fio com os dentes. ─Perder
Sìleas seria como perder minhas filhinhas mais uma vez. Se ela não vai
continuar a fazer parte da nossa família, então seria melhor mantê-la por
perto.
─O que faz você achar que vou deixar Gordan ficar com ela?
Sua mãe deixou a costura de lado e deu-lhe um sorriso suave.
─Se você quiser Sìleas como sua esposa, não acha que é hora de di-
zer isso a ela?
Ao som da abertura da porta, Ian saltou para seus pés. Sìleas entrou,
olhando por cima do ombro e rindo. Ela era uma visão, com suas boche-
chas rosadas de frio e os cachos soltos do cabelo enrolando sobre o rosto
dela.
Seu riso morreu quando ela se virou e o viu.
─Onde estava?─ Ian estava na frente dela esperando uma explicação.
─Com Gordan─ disse ela, quando tirou o manto e o entregou a Gor-
dan para pendurar na porta.
─Eu não os vi na estrada─, disse Ian.
─Nós não estávamos na estrada─, disse ela, então se virou para falar
com sua mãe. ─Está uma tarde adorável para esta época do ano. Não, não
se levante, Beitris. Vou ver o jantar.
Ela passou por Ian e se dirigiu para a cozinha sem sequer um olhar
para ele. Ele estava prestes a segui-la quando Alex enfiou a cabeça pela
porta da frente.
─Niall e eu precisamos de sua ajuda com um dos cavalos─, Alex
chamou, então fechou a porta novamente.
Ian saiu e encontrou Alex esperando por ele no estábulo.
─Para que você precisam de mim? Você é o melhor homem com os
cavalos.
─Eu não o chamei para ajudar com os malditos cavalos ─, Alex disse
em voz baixa. ─Seu irmão está no estábulo, e ele está tão furioso que é ca-
paz de secar o leite das vacas.

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─Eu não tenho tempo agora─, disse Ian, cerrando os punhos. ─Eu
preciso falar com Sìleas.
─Agora, eu acho que você precisa falar com o seu irmão. Eu tentei
dizer a Niall que você não é tão burro como parece ser, mas eu temo não ter
sido muito convincente. ─Alex bateu nas costas de Ian. ─Vá falar com o
rapaz.
─Ach!─ Ian entrou no estábulo e encontraram Niall curvado, esco-
vando seu cavalo.
Quando Niall olhou para cima e os viu, ele jogou a escova contra a
parede.
Ian segurou Niall quando ele o atacou.
─Niall, qual é o problema?
─Volte para a França!─ Niall gritou na cara dele.
Ian bloqueou o braço Niall, quando ele tentou dar um murro nele.
Antes que Niall pudesse atingi-lo com a outra mão, Ian girou em torno dele
e segurou-o pelo pescoço. Seu próprio temperamento explodindo agora.
─Você está muito longe de poder bater em seu irmão mais velho, en-
tão eu sugiro que não tente de novo─, Ian sussurrou no ouvido de Naill.
Não havia nada a dizer, quando ambos estavam com tanta raiva, en-
tão ele deixou o seu irmão ir.
Ian olhou para as costas rígidas de Niall quando ele saiu do estábulo
com os punhos cerrados. Tudo isso por seguir os conselhos de Alex. Ian ter-
minou de escovar o cavalo para se acalmar antes de voltar para a casa.
No momento em que ele chegou à mesa, seu irmão e Gordan esta-
vam sentados ao lado de Sìleas, e Alex sentado à sua frente. Ele se sentou e
olhou para Alex enquanto remexia a comida no prato.
Sua mãe estava falando com ele, mas Ian não podia seguir o que ela
dizia, não quando era claro como o dia que Gordan estava tentando roubar
Sìleas, sob seu próprio teto. Ossos de Deus, o homem não tirava os olhos
de cima dela.
E o que Alex estava fazendo? Ele estava lançando todo seu charme
deslumbrante. E pela maneira como Sil ria das tolas observações de Alex,
seu encanto estava funcionando.
Ian não podia engolir a comida.
74
Sìleas estava determinada a ser alegre. Maldito Ian MacDonald.
Primeiro, ele exige que ela cavalgue com ele, levando-a a acreditar que iria
desempenhar o papel de seu marido diante da metade do clã na igreja.
Então, assim que chegaram, ele a tratou como se ela fosse ainda uma
criança.
Ela jogou a cabeça para trás e riu da piada de Alex, que ela havia per-
dido toda a primeira parte.
Seria pedir demais Ian se sentar ao lado dela? Por cinco anos, ela
teve de ouvir comentários das mulheres sobre o marido desaparecido. Se
mais uma matrona tivesse dado a ela um olhar de simpatia, hoje, ela teria
gritado lá na igreja. E então as mulheres teriam mais o que falar.
Ela já sofrera muitas humilhações. Mas tinha sido mais difícil do que
ela esperava assistir mãe após a mãe levar seu bebê para frente para ser ba-
tizado, enquanto seus próprios braços estavam vazios.
Ian não estava nem mesmo esperando por ela na porta da igreja. Fe-
lizmente, Gordan tinha sido gentil o suficiente para levá-la para casa assim
que tudo tinha acabado. Claro, isso significava que ela tinha que aguentar
os olhares suplicantes de Gordan, mas pelo menos ele teve o bom senso de
não pressioná-la hoje.
─Nós precisamos contar-lhes sobre os homens que vimos─, disse
Gordan em voz baixa, enquanto os outros estavam falando.
─Não─, ela murmurou.
Gordan não parecia feliz com isso, mas ele faria o que ela pediu. Ela
não quer preocupar Beitris e Payton mais ainda, principalmente quando os
dois estavam ficando muito melhor. Quando ela e Gordan viram os três es-
tranhos que vindo em direção a eles no caminho, ela entrou em pânico,
pensando que poderiam ser MacKinnons atrás dela.
Era tolice. Por que eles viriam procurá-la, depois de todo esse tem-
po? Mesmo assim, ela e Gordan saíram da estrada. Eles pegaram o atalho
para sua casa, onde ele lhe deu um pouco de uísque enquanto sua mãe fazia
uma careta para ela.

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─O que é que você está dizendo?─ Ian perguntou, olhando para Gor-
dan da extremidade da mesa.
Ela chutou Gordan para lembrá-lo de sua promessa de não dizer
nada.
─Que seria melhor eu voltar para casa,─ disse Gordan e se levantou.
─Minha mãe vai ficar esperando.
Ela inclinou a cabeça para trás e deu um sorriso agradecido a Gordan
por não dizer nada.
─Obrigado por me trazer em segurança para casa.
Mal Gordan tinha saído houve uma batida na porta.
─Eu vou atender─, disse Alex.
Quando ele abriu a porta, entrou Dina, uma mulher ao redor da qual
os homens giravam como se ela tivesse algum segredo obscuro para com-
partilhar com eles. Sìleas ouvira na igreja hoje que o marido de Dina pe-
gou-a em sua cama com outro homem, o que não foi surpresa para nin-
guém, apenas para ele, que a expulsou de casa.
O estômago de Sìleas revirou quando Dina deixou cair um saco de
pano pesado dentro da sala.
─Obrigada, por me contratar,─ disse Dina, erguendo a cabeça para a
mãe de Ian. ─Eu sou uma boa cozinheira e eu vou fazer o meu melhor para
dar uma mão onde for preciso.
Pelo olhar assustado no rosto de Beitris, o convite para morar na sua
casa não tinha vindo dela.
─Ian e eu dissemos a Dina que você ficaria feliz com sua ajuda─,
disse Alex.
Sìleas deu uma olhada para Ian, que estava olhando para Alex, como
se ele não estivesse satisfeito com Alex por mencionar seu papel neste as-
sunto. Como Ian pode fazer isso com ela? Era humilhação demais.
A lembrança terrível inundou sua visão. Ela deveria uns nove anos.
Ian tinha dito a ela repetidamente que era um homem agora e que ela não
podia segui-lo mais por toda parte. Claro que ela não lhe dera atenção.
Até o dia em que ela o encontrara atrás da cabana de um pastor com
as pernas de Dina enroscadas na cintura dele.

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Ach, ele tinha esquecido tudo sobre Dina. Ele deveria ter avisado sua
mãe. Por que Alex a convidara? Não havia problemas suficientes na casa?
─Vou levar o jantar de Payton,─ Sìleas disse, levantando-se sem lan-
çar nem um olhar a Ian. ─Deve estar com fome, Dina. Sente-se no meu lu-
gar.
Ian notou que Sìleas não havia tocado na comida.
Depois que eles terminaram a refeição, ele e Alex entraram para con-
versar com Payton. Quando Ian tentou capturar o olhar de Sìleas, ela dei-
xou abruptamente a sala, deixando um rastro gelado atrás dela.
Ian queria segui-la, mas seu pai estava esperando para ouvir o que
aconteceu na igreja. Ele mostrou um pouco de seu velho espírito enquanto
discutiam o que precisava ser feito em seguida. Já que seu pai tirara uma
longa soneca, ele não se cansou por um bom tempo.
No momento em que Ian e Alex voltaram para a sala, ela estava va-
zia.
─Maldição─, disse Ian. ─Eu queria falar com Sìleas esta noite.
─Falar?─ Alex disse, dando-lhe uma cotovelada. ─Eu pensei que seu
plano era levar a moça para a cama hoje e fazer dela uma boa esposa.
─Ela não facilita as coisas─, disse Ian, pegando a jarra de uísque e
dois copos da prateleira. ─O olhar que ela me lançou podia fritar meus
ovos.
─Ach, Sìleas está apenas chateada porque você a deixou
esperando.─ Alex deu-lhe um tapinha no peito. ─Você pode ter certeza de
que eu não teria feito isso.
─Oh, sim, com certeza você estaria pronto para saltar para o casa-
mento─, disse Ian, então virou o copo.
─Não eu, mas nós dois sabemos que você é do tipo que casa.─ Alex
bebeu seu próprio copo e fez um sinal pedindo mais.
─Você não encontrará outra melhor do que Sìleas. Essa moça tem
fogo.
Antes de beber a sua segunda rodada, eles brindaram e cantaram:
─Não é um brinde, se o copo não for esvaziado.
─O que posso fazer?─ Ian disse, limpando a boca. ─Ela age como se
me odiasse. E ela está sempre saindo com Gordan Graumach .

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─Não pode deixar Gordan conquistá-la, ele é muito chato para uma
moça com aquele fogo.─ Alex balançou as sobrancelhas. ─Eu saberia o
que fazer com aquele calor.
─Este não é o momento para suas piadas,─ Ian disse, sua irritação
crescente. ─E eu estou mais do que cansado de ouvir o que você faria em
meu lugar.
─Quem disse que eu estou brincando?─ Alex levantou um ombro.
─Será que você não prefere vê-la comigo do que com Gordan? Ach, ela se-
ria desperdiçada em um homem com tão pouca imaginação.
─Eu não gosto que fale de minha esposa dessa forma─, disse Ian,
cerrando os punhos.
─Se for tão tolo a ponto de deixar Sìleas partir sem lutar por ela,
você não a merece. ─ Alex se inclinou para frente, sua expressão séria. ─E,
se você não a fizer sua esposa verdadeira em breve, vai perdê-la.
─Ela é minha mulher─, disse Ian através de seus dentes. ─E eu pre-
tendo mantê-la.
─Então é melhor você fazer algo sobre isso─, disse Alex. ─Eu cresci
com uma mulher amarga, então posso dizer a você, uma mulher só perdoa
algo tão grave se começar a odiá-lo.
Esse era um pensamento deprimente; ambos tomaram outra bebida.
─Falando de seus pais─, Ian disse, ─quando irá vê-los?
─Não importa qual eu veja em primeiro lugar, eu nunca vou ouvir a
mesma coisa dos dois.─ Alex soltou um longo suspiro. ─Eu vou esperar até
o encontro no Samhain, para vê-los ao mesmo tempo.
─Quantas vezes sua mãe tentou envenenar seu pai?─ Ian perguntou,
sem esperar uma resposta.
─Não é estranho que nenhum deles tenha se casado de novo?
─Graças a Deus eles se comprometeram a não torturar ninguém. A
única coisa que os dois concordam, é que eu deveria cometer o mesmo erro
deles. Eles querem me casar e produzir um herdeiro. ─Alex sacudiu a cabe-
ça. ─Talvez eu devesse resgatar Sìleas de Gordan. Não teria nenhuma difi-
culdade em começar a trabalhar para ter um herdeiro com ela.

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Ian se inclinou sobre a mesa e agarrou Alex pela frente de sua cami-
sa.
─Eu avisei para não falar dela dessa maneira.
Ele foi impedido de socar seu primo por uma risada atrás dele. Ele se
virou para ver Dina saindo da cozinha.
─Você já estão brigando por mim?─ Perguntou.
─Não se apresse em ir para o chalé─, disse Alex para Ian, antes de
levantar-se da mesa. Ele colocou o braço ao redor dos ombros de Dina e ca-
minhou com ela até a porta.
Ian serviu mais uísque em seu copo e bebeu o líquido dourado. Ele
preferia o bom uísque escocês ao vinho francês em qualquer ocasião. Ele
sentiu um calor agradável quando a bebida deslizou pela sua garganta. In-
ferno, ele preferia um uísque escocês ruim ao melhor vinho francês.
O que ele estava fazendo dormindo em uma cama fria, todas as noi-
tes ao lado de Alex, pelo amor de Deus. Sìleas era sua esposa, não era? Ela
estava dormindo em seu quarto, em sua cama, sozinha.
Eles disseram votos diante de um sacerdote. Certamente significava
alguma coisa. É verdade que ele estivera pronto para se livrar de Sìleas,
mas isso foi antes que ele voltasse a encontrá-la crescida, em todos os sen-
tidos.
Que o Senhor o ajudasse, mas Sìleas tinha crescido bem.
Pensou em seus seios fartos, o balanço hipnotizante de suas saias
quando ela subiu as escadas, o brilho nos seus olhos verdes, a pele cremosa
de sua garganta acima do decote do seu vestido.
Seu copo estava vazio, então ele tomou um longo gole direto da jar-
ra.
Ele queria ver mais do que a pele cremosa. Para sentir o cheiro. Pas-
sar sua língua em cada centímetro dela. E não havia nenhuma razão que
não devesse fazer isso. Sìleas lhe pertencia. A igreja os juntara.
Droga, ele não deveria ter hesitado. Era aí que estava o problema.
Tudo o que ele precisava fazer agora era mostrar a ela que queria ser um
marido de verdade.

79
Mas estava pronto para desistir de outras mulheres? Estava pronto
para dizer que ela seria a única mulher que ele levaria para a cama? Ele
pensou por um momento.
Inferno, sim.
Ele iria mostrar a ela o quanto ele a queria. Sil era selvagem, sempre
foi. Ela seria tudo que ele queria na cama, sabia disso, sem dúvida. E ele
seria tudo o que ela queria. Ela ficaria tão satisfeita que não olharia duas
vezes para Gordan Graumach novamente.
Ele bateu com o copo em cima da mesa. Já era tempo. Sua decisão
foi tomada. Por Deus, ele estava pronto para comprometer-se.
Ia ser uma noite para recordar.

CAPÍTULO 9

Ian tirou as botas e subiu calmamente pelas escadas. Não havia ne-
cessidade de deixar toda a família saber das suas intenções. Ele levantou a
trava da porta do quarto de Sìleas e entrou.
Foi envolvido pela escuridão quando porta se fechou atrás dele.

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Ian deslizou a trava, trancando a porta. Ele não queria interrupções
logo cedo. Alguém teria que fazer as tarefas da manhã, ele pretendia manter
Sìleas na cama até tarde. Talvez eles não se levantassem a manhã toda.
Ele estava perto da porta, cada músculo tremendo com antecipação,
esperou os olhos se acostumarem com a escuridão. Seu pênis Já estava do-
lorosamente duro. No silêncio, ele ouviu a respiração dela, suave como sus-
piros.
Gradualmente, ele pode ver a sua forma na cama. Ela estava deitada
de costas, com um braço atirado para cima, emoldurando sua cabeça no tra-
vesseiro. Ele engoliu em seco. Ele iria levar essa imagem dela e de sua pri-
meira noite juntos para o resto de sua vida. Uma onda de ternura cresceu
em seu peito. Essa mulher era sua para proteger. Sua esposa.
Ele estava pronto para a responsabilidade.
Seu pênis latejante lembrou-o de que ele estava mais do que pronto
para o prazer. Sua respiração se tornou ofegante assim que sentou na borda
da cama.
Dormir com ela não seria como dormir com outras mulheres. Esta
era sua esposa. Esta era Sìleas.
Os músculos de seu estômago se contraíram, e sua garganta secou.
Ele não podia esperar para tocá-la. Para tirar sua camisola e passar as mãos
sobre a pele cremosa pela primeira vez. Para afundar os dedos em sua mas-
sa de cabelo vermelho, enquanto a beijava e acariciava.
Eles ficariam nus. Sim, definitivamente nus. Pele contra pele, com o
cheiro da urze em seu nariz.
Ele desenrolou o seu kilt e puxou a camisa sobre a cabeça, deixando-
os cair no chão a seus pés. Ela suspirou quando ele levantou as cobertas e
se meteu sob os cobertores. Com o coração trovejando em seus ouvidos, ele
estendeu a mão para ela.
Ele pegou a ponta de sua camisola, o tecido áspero sob seus dedos,
quando ela rolou para longe dele com outro suspiro. Ele aproximou-se e
pousou a mão sobre a curva de sua cintura.

81
A luxuria rugiu por ele como um animal selvagem. Pelo amor de
Deus, ela era virgem. Disse a si mesmo que devia ir lentamente, mas não ia
ser fácil.
Ele puxou-a contra si e mordeu o lábio contra a onda de desejo que
inundou seus sentidos e testou sua vontade. Respirou lenta e profundamen-
te. Ele queria saborear cada parte desta primeira vez: abraçar sua esposa na
cama, o cheiro do seu cabelo em seu rosto, o calor de seu corpo junto ao
dele.
Ele empurrou o cabelo pesado para o lado e beijou seu pescoço.
─Mmmmm─. O som vinha do fundo da sua garganta.
Ele sorriu contra sua pele soprando suavemente. Ele pensou que teria
de persuadi-la, mas ela estava esperando por ele.
─Sil─, ele sussurrou em seu ouvido: ─Eu vou tirar sua camisola ago-
ra.
Quando ele esfregou o pescoço dela, ela fez aquele:
─ Mmmmm─ outra vez, o som baixo ateou fogo em suas entranhas.
Em seguida, a respiração dele acelerou quando ela se apertou contra
ele, fazendo seu pau pulsar contra a fenda entre suas nádegas.
Ele levantou mais a camisola, antecipando a sensação de pele nua.
Lentamente, pousou-a sobre o quadril dela.
─ Ahhhh .
Sua pele era ainda mais suave do que ele imaginava. Mais um puxão
e seu pênis descansou contra a pele nua das nádegas de Sìl.
─Você não imagina como isso é bom─, disse ele num sussurro es-
trangulado. Tão bom que ele quase mordeu o ombro dela.
As coisas estavam indo melhor do que ele esperava, e ele não queria
assustá-la. Então a beijou no ombro suavemente, em vez disso, e esforçou-
se para não pular sobre ela. Ela respirou profundamente, parecendo tão fe-
liz que ele se perguntou se não estava se preocupando demais.
Ian desejava ter acendido uma vela. Ele queria vê-la, mas nada pode-
ria tirá-lo desta cama agora. Era uma tortura prazerosa deslizar a mão lenta-
mente para cima e para baixo na curva de seu quadril. Com vontade pró-
pria, sua mão deslizou até um seio.

82
Oh Jesus! A suavidade pesada do seio cheio pareceu gloriosa em sua
mão. Um mamilo endurecido e pressionado contra a palma da mão e ele era
um homem perdido. O sangue pulsou em seus ouvidos. Sua fome era ur-
gente, exigente.
Agora. Ele precisava dela agora.
Sua resolução de ir devagar era um navio perdido na tempestade furi-
osa de sua luxúria. Tudo que ele queria neste mundo era estar enterrado
dentro dela. Em um instante, ela esta deitada de costas. Suas mãos estavam
em seus seios sob a camisola, e seu pau pressionado contra o interior de sua
coxa, enquanto ele beijava seu pescoço.
─Ian! O que você está fazendo?
Ach, o que ele estava fazendo? Ele tinha que se controlar. Uma vir-
gem. Ela é uma virgem.
Uma virgem não devia se sentir tão bem debaixo dele. Ele pegou o
rosto dela entre as mãos e baixou a boca para a dela. Seu beijo foi tão ino-
cente, que o sacudiu.
─Ah, Sil, você é maravilhosa─, disse ele.
Ele passou a língua em seu lábio inferior e ouvi-la prender a respira-
ção. No início, ela pareceu resistir aos seus beijos, mas aos poucos ela ce-
deu. Quando ele pediu-lhe para abrir aboca, ela recuou, assustada, mas em
seguida, ela cedeu novamente. Quando a língua dela se moveu contra a sua,
viu um vislumbre do céu. Logo ele estava se afogando em seus beijos.
Foi tudo perfeito. Ela era perfeita.
Ele apertou as mãos em seu cabelo.
─Não tenha medo. Serei cuidadoso. Não vai doer muito ─, ele sus-
surrou em seu ouvido enquanto avançava para frente. Ele engasgou quando
a cabeça de seu pau encontrou o seu objetivo e tocou-lhe o centro doce.
─Largue-me!─ Sìleas gritou, e começou a bater com os punhos con-
tra os seus ombros e peito.
─O quê? O que há de errado? ─Ela não respondeu, mas estava chu-
tando e se contorcendo como um peixe, então ele rolou de cima dela. ─Sil,
o que eu fiz?

83
Jogou longe as cobertas e saltou para fora da cama. Ele teve um vis-
lumbre de pernas longas através do luar que entrava pela janela antes que
ela puxasse a camisola para baixo.
Ela acendeu a vela e virou os olhos furiosos para ele.
─O que está fazendo na minha cama, Ian MacDonald?
─É a minha cama também─, disse ele, tentando fazer com que seu
cérebro funcionasse. Seu pênis estava tão duro que até doía. Ele estivera
tão perto...
─Como ousa vir aqui quando estou dormindo e tentar se aproveitar
de mim.
─Você é minha mulher─, disse Ian. ─Isso significa que posso fazer o
quiser com você.
─Então eu sou sua mulher agora, não é? Você não pensava assim an-
tes. ─Ela cruzou os braços sob os seios, e sua garganta ficou seca.
─Eu ... Eu decidi aceitar a situação─, disse ele, com os olhos e pen-
samentos sobre os seios dela. A pele das palmas das mãos formigava com a
lembrança da sensação deles em suas mãos. ─Estou pronto para torná-la
como minha mulher agora. Muito pronto.
─Você está pronto agora? E o que o fez tomar esta decisão depois de
todo esse tempo?
Ela estava batendo o pé, isto não era um bom sinal. Ach, Sil ainda ti-
nha tornozelos bonitos ...
─Ian─, ela disse para chamar sua atenção. ─Eu perguntei o que fez
você decidir que queria ficar comigo. Pensei que eu o enojava.
Ele jogou as pernas para o lado da cama e deu-lhe um olhar lento de
cima a baixo.
─Você não me enoja agora, ─ ele disse sua voz grossa. ─E acho que
eu não enojo você também, a julgar pela forma como me beijou. ─Ele não
pode deixar de sorrir quando disse isso, o que provavelmente foi um erro.
─Eu estava dormindo!─ Ela tinha as mãos nos quadris agora, e seu
pé estava batendo furiosamente.
─Talvez você estivesse n principio─, disse ele, achando que ele esta-
va gostando de provocá-la, mas eu não acredito que estivesse dormindo
quando me beijou de volta.
84
─Pensei que estava sonhando─, ela retrucou. ─Eu não sabia o que
estava fazendo.
─Para alguém inocente, você beijou muito bem─, disse ele, sorrindo
para ela. ─Muito, muito mesmo.
Com as bochechas coradas, e ela parecia mais bonita ainda. Ele pe-
gou um punhado da camisola volumosa e puxou-a para mais perto.
─Eu sei que você me ouviu dizer algumas palavras infelizes sobre
você antes de eu partir, e eu sinto muito, por ferir seus sentimentos. Mas
acho você muito atraente agora. ─Ele baixou o olhar para os belos seios ar-
redondados há apenas alguns centímetros de seu rosto.
─Muito atraente.
Quando olhou para cima, seus olhos estavam fuzilando-o. Ele não
conseguia ver onde tinha errado, nem que fosse para salvar sua vida. Que
mulher não gostaria de ouvir um elogio?
─O que você está dizendo é que quer me levar para a cama─, disse
ela.
─Absolutamente─, disse ele.
─E essa é a razão de você querer ser meu marido.
─É uma das razões─, disse ele, falando com cuidado agora. ─Eu
também vi tudo que você fez pela minha família, e como são apegados a
você. Minha mãe gosta muito de você.
─Então você quer me manter porque sua mãe gosta de mim─, disse
ela. ─Isso seria um consolo para qualquer mulher.
A conversa de alguma forma estava indo muito mal. O problema é
que estavam falando demais.
Se ele pudesse levá-la para a cama novamente, ele poderia fazê-la es-
quecer de qualquer reclamação boba que ela tivesse a fazer.
Ian se levantou e puxou-a contra si.
─Peço desculpas se não consigo encontrar as palavras certas, mas eu
me sinto tão bem─, ele murmurou contra seu cabelo ─, e você cheira tão
bem, que eu não consigo pensar.
Ela engasgou quando ele segurou seu seio. Finalmente, ela parecia
ter perdido a fala.

85
─Iremos para a cama, eventualmente, Sil─, disse ele contra sua ore-
lha. ─Não me faça esperar. Eu a desejo muito.
Ela o empurrou.
─Não há nada especial em querer me levar para a cama, Ian MacDo-
nald.
Arremessando-lhe o braço para o lado, ela disse:
─Metade dos homens do clã poderia dizer isso. Pelo menos, eu não
acho que muitos recusariam, se eu convidasse.
O sangue pulsou em seus ouvidos.
─Se você convidasse? Se você convidasse!
─Você me querer na cama não é uma razão boa o suficiente para
mim.─ Ela atravessou o quarto. Na porta, se virou e gritou por cima do
ombro, ─Você não é bom o suficiente para mim.
Ela bateu a porta com tanta força que as suas pedras decorativas no
peitoril da janela saltaram.
Ele estava mais que chateado mesmo. Se ela convidasse. Como ela
pôde dizer uma coisa dessas?
Ele agarrou sua camisa no chão, puxou-o sobre sua cabeça enquanto
atravessava o quarto em três passos largos e depois a seguiu escada a baixo.
─Você é quem quis se casar comigo em primeiro lugar. Não pode
negar isso.
─Basta ficar longe de mim─, ela gritou de volta. ─Ou eu juro, vou
enfiar uma adaga em você.
─Você planejou a coisa toda, porque queria ficar longe do seu pa-
drasto─, ele berrou, enquanto a seguia pelo corredor até a cozinha. ─E eu
não tive o direito de dizer nada sobre isso, tive? Todos conseguiram o que
queriam, menos eu.
Eles estavam na cozinha agora, com a mesa entre eles. Quando Ian
contornou a mesa e tentou puxá-la pela camisola, ela pegou uma frigideira
e ameaçou bater em sua cabeça.
─Agora que eu a quero como uma verdadeira esposa, você muda de
ideia─, ele gritou. ─Exatamente no que pensa que está se metendo? Será
que você esperava que seu marido não fosse levá-la para a cama?

86
─Talvez eu não esperasse, um ano atrás. Ou há um mês ─, ela gritou
de volta. ─Ou há poucos dias, quando você finalmente decidiu nos abenço-
ar com sua presença.
─Estou preparado para ser o seu marido agora,─ Ian disse, rangendo
os dentes.
─Oh, graças!─ Ela revirou os olhos e deu um tapinha no peito.
─Meu coração está disparado.
─Você me escolheu, e gostando ou não, eu sou seu marido─, disse
ele. ─E eu não quero nunca mais ouvir a minha mulher falando de outros
homens e o que eles fariam se fossem convidados para a cama dela.
Foi quando ela o atingiu no lado da cabeça com a frigideira.
─Jesus, Maria e José, você me bateu!─ Ele se dobrou segurando a
cabeça. Doeu pra caramba.
Sìleas parecia tão chocada com o que tinha feito quanto ele. Ele deci-
diu que se ela o perdoasse, então ele também a perdoaria.
─Venha, moça, isso não é maneira de começar nossa vida de casa-
dos.
─Não, não é─, disse ela com voz trêmula.
Ele notou que ela tinha uma faca de cozinha na outra mão e apontou
para ela.
─Abaixe a faca, Sil, e venha para a cama.
Foi quando ela bateu-lhe pela segunda vez.
Ele acordou no chão com Sìleas de pé sobre ele, a faca de cozinha
ainda na mão. A julgar pelo fogo em seus olhos, ela estava decidindo exata-
mente onde colocá-la dentro dele.
─Eu acho que você consegue se livrar desse animal sem ter que usar
a minha melhor faca de cozinha nele.
Ao som da voz de sua mãe, Ian se arriscou a desviar os olhos de Sìle-
as tempo suficiente para ver sua mãe de pé na porta, de camisola e touca. A
trança, preta e cinza pendurada por cima do ombro e as mãos nos quadris.
Ian rolou quando a faca caiu da mão Sìleas exatamente no lugar onde
estava deitado.

87
Sìleas abriu a boca como se estivesse tentando formar uma resposta
para sua mãe, então ela apertou a mão sobre a boca e saiu correndo da cozi-
nha.
─Obrigado, senhora─, Ian disse quando ficou de pé. Ele balançou a
cabeça, tentando se orientar e entender o que acabara de acontecer. Num
minuto, ele estava beijando Sìleas na cama, e no outro ela estava tentando
matá-lo.
─E o que exatamente você acha que estava fazendo?─ Sua mãe per-
guntou.
─Eu?─, Perguntou ele, batendo no peito. ─Sìleas era que estava ten-
tando me matar em sua cozinha.
─Ach, ainda meio bêbado, como está, acho que você poderia fugir de
uma moça pequena como Sìleas.─ Sua mãe acenou com a mão indiferente.
─Agora, você vai me dizer por que é que uma moça doce estava perse-
guindo-o na cozinha com uma faca?
─Isso não é algo que eu vou discutir com minha mãe.─ Ele pegou a
faca e a panela do chão e bateu-os sobre a mesa.
Niall apareceu na porta atrás de sua mãe.
─O que ele fez para Sìleas? Se ele a magoou, eu vou matá-lo.
Ian suspirou e pegou a frigideira novamente, no caso de precisar dela
para se defender.
─Isso não é da sua conta─, disse sua mãe com uma voz forte. ─Volte
para a cama. Eu cuido de Ian.
Niall estava com os punhos cerrados e olhou para Ian por um longo
momento antes de obedecer a sua mãe. Quando a porta finalmente se fe-
chou atrás Niall, Ian soltou a frigideira. Era tudo tão ridículo, que um sorri-
so surgiu em seus lábios.
─Você vai cuidar de mim, senhora? Não sou um pouquinho grande
para isso?
─Eu tenho comigo alguns conselhos para dar a você─, disse ela, ─e
é melhor você ouvir, se não quer perder sua esposa.

88
Com um suspiro, Ian seguiu sua mãe para o salão e sentou-se perto
da lareira. Sua cabeça ainda martelava pelo golpe com a frigideira. A moça
tinha um braço bom.
─Você quase não falou com Sìleas desde chegou em casa, e então vai
ao quarto dela exigindo seus direitos de marido ─, sua mãe disse, balançan-
do a cabeça.
─Mamãe, você não respeita a minha privacidade? Isso é entre Sìleas
e eu.
Sua mãe acenou com a mão novamente.
─O que fez, saltou sobre a pobre moça?
─Não, senhora. Eu não saltei sobre ela ─, disse Ian, mantendo a voz
calma com esforço. ─Mas ela é minha esposa.
─Que tipo de idiota eu criei?─ Sua mãe disse, inclinando a cabeça
para cima, como se implorando céu.
─Você me casou com ela, e agora está me dizendo que eu não posso
agir como um marido?
─Sabe muito bem que existem todos os tipos de casamentos─, sua
mãe disse, apontando o dedo para ele. ─Se você quer um feliz, você vai se-
guir o meu conselho.
Pensou nos pais de Alex, que eram inimigos desde sempre.
─Tudo bem, senhora. Diga- me o que acha que eu deveria fazer.
─Você partiu o coração dela e feriu seu orgulho,─ disse sua mãe.
─Portanto, agora deve procurar seu perdão e ganhar sua confiança.
─E como vou fazer isso?
─Fale com ela, passe um tempo com ela─, disse sua mãe. ─Faça-a
ver que você gosta dela.
─Eu gosto dela─, disse ele.
─Eu não tenho certeza que ela achou isso que quando você invadiu o
quarto dela no meio da noite, exigindo seus direitos.
─Eu já disse, não foi assim.
─Sìleas sabe que foi forçado a casar com ela─, disse sua mãe, incli-
nando-se para frente. ─Então, o que deve fazer é convencê-la que se você
pudesse escolher entre todas as mulheres do mundo, ela seria a única que
você escolheria.

89
Ele ainda queria Sil mesmo depois que ela bateu-lhe na cabeça com
uma frigideira, duas vezes. Certamente, que isso contava para alguma coi-
sa.
Mas será que ele escolheria Sìleas acima de qualquer outra mulher?
Uma semana atrás, ele não teria achado possível. Agora, ele não tinha tanta
certeza.
─Sìleas tinha um pai que pensava mais em seus cães do que em sua
filha e um padrasto que era pior ─, disse sua mãe. ─A moça precisa de um
homem que veja o seu valor e a ame. Ela merece isso. Se você não pode
dar-lhe isso, então talvez deva se afastar.
Ian sempre gostara de Sìleas. Mas ele sabia que sua mãe estava fa-
lando de algo mais do que carinho. Ela estava falando sobre o que ela e seu
pai tinham.
Sua mãe se levantou e tomou seu rosto nas mãos.
─Eu planejei o casamento de você muito antes do dia em que seu tio
pegou você dormindo no bosque com ela.
Ian ergueu as sobrancelhas.
─Talvez você devesse ter me contado.
─Isto não teria melhorado as coisas─, disse ela, e beijou sua testa.
─Você e Sìleas foram feitos um para o outro. Só não arruíne tudo fazendo
outra tolice.

CAPÍTULO 10

Assim que Ian sentou-se à mesa para se juntar ao irmão Alex para o
café da manhã, Niall se levantou, fazendo a colher cair ruidosamente no
chão. Depois de dar a Ian um olhar assassino, ele saiu da sala e da casa, ba-
tendo a porta atrás dele.
─Nada é feito em silêncio nesta família─, disse Alex, sua boca se
contraindo. Ele estendeu os braços num bocejo dramático.
─Um ruído me acordou assustado na noite passada.

90
─Eu estou avisando, Alex, nem uma palavra─, disse Ian.
─Creio que a noite de núpcias não foi tão bem como você
esperava─, disse Alex. ─Não quer que eu lhe dê algumas instruções, pri-
mo?
Ian começou a saltar sobre a mesa, mas se conteve quando Alex lan-
çou-lhe um olhar de advertência.
─Bom dia, Sìleas─, Alex disse.
─É?─ Sìleas disse em um tom cortante. Ignorando o lugar vazio ao
lado de Ian, ela deu a volta para o outro lado da mesa e sentou ao lado de
Alex.
Alex levantou uma sobrancelha para Ian e começou a tomar o min-
gau de aveia.
Ian limpou a garganta.
─Bom dia, Sil.
Ela apertou os lábios em uma linha fina e definida e mexeu seu min-
gau com uma boa dose de vigor. Por vários minutos, o único som na sala
era o raspar das colheres nos pratos. Pela atenção que Sìleas deu ao min-
gau, ela não pareceu estar comendo muito.
Finalmente, ela baixou sua colher. Olhando através de Ian como se
ele não estivesse lá, ela perguntou,
─Onde está Niall?
Ian pigarreou novamente.
─Acredito que ele saiu para tomar ar fresco.─ Ele tentou desespera-
damente pensar em outra coisa para dizer a ela.
─Um pouco de ar fresco fará bem a você também─, Alex disse-lhe.
─Você está um pouco pálida hoje. E se eu levá-la para pescar e deixar a bri-
sa do mar colocar a cor de volta em seu rosto?
Quando Ian saltou, Alex levantou o dedo, descansando-o contra seu
rosto para sinalizar que Ian devia ser paciente.
Sìleas estreitou os olhos, pensando bem. Então ela disse:
─Eu gostaria muito. Faz anos que eu não pesco.
─Encontre-me na praia em uma hora, e eu vou mostrar como é que
se faz─, disse Alex.
Que diabo Alex estava fazendo?

91
A porta da cozinha se abriu, e Dina entrou, limpando as mãos no
avental.
─Terminaram?
Com um sorriso malicioso para Alex, ela acrescentou:
─Ou será que vão querer mais?
─Pode ver o café da manhã de Payton, Dina?─ Sìleas disse, quando
ficou de pé. ─Eu tenho algumas coisas para fazer. E depois eu vou pescar.
Sem esperar Dina responder ou reservar um olhar para Ian, Sìleas
saiu e desapareceu nas escadas.
•••
O vento gelado congelou bochechas Sìleas e fez-lhe água nos olhos.
Apesar de Alex, remar suavemente, seu pequeno barco balançava na água
agitada.
As emoções de Sìleas eram tão selvagens como o mar hoje. Ela esta-
va furiosa com Ian por se meter em sua cama sem nem mesmo perguntar a
ela. Depois de mantê-la a sua espera durante cinco longos anos, ele espera-
va que ela fosse grata!
Grata por ele ter decidido aceitar a situação.
Aquela não era uma ‘situação’!
Os beijos de Ian tinha criado uma tempestade estranha de emoções
violentas dentro dela. Ela estava tão faminta pelo carinho de Ian e o desejo
que ele despertou nela era tão grande, que ela quase se perdeu nele. Mas Sì-
leas sabia que para ele era apenas uma necessidade física. Ian a queria, mas
pela razão errada ou, pelo menos, não pelas razões que ela precisava.
─Você não tem medo de um pouquinho de mau tempo, tem?─ Alex
gritou, sorrindo.
Sìleas balançou a cabeça. Como ele, estava acostumada e tão confor-
tável no mar como em terra.
─De qualquer modo, eu diria que não é um bom dia para a pesca.
─Bem, você não acredita que eu a trouxe aqui para pescar, não é?─
Alex disse.
Ela balançou a cabeça novamente e viu quando ele manobrou habil-
mente o barco em torno de algumas pedras até uma enseada abrigada, onde
o mar estava mais calmo.

92
─É hora de termos uma conversa.─ Ele descansou os remos e se in-
clinou para frente. ─Você e eu temos alguns planos ardilosos a fazer.
Ela o empurrou para trás o cabelo dando chicotadas em seu rosto.
─Ardilosos?
─Sim, conspirações─, disse Alex, arqueando as sobrancelhas.
─Agora, você e eu sabemos que você ama Ian, sempre amou.
─Você não conhece meus sentimentos.
─Eu estou do seu lado moça, ─, disse Alex. ─Então não vamos per-
der tempo mentindo um para o outro.
Ela cruzou os braços e olhou para o mar.
─Eu não vou passar minha vida esperando Ian prestar atenção em
mim.
─Não estou dizendo que deva aceitar menos do que o devido─, disse
Alex. ─Mas eu suspeito que Ian se importe com você mais do que pensa.
─Parece-me,─ ela disse entre os dentes ─, que não saber que se im-
porta é o mesmo que não se importar.
─Às vezes um homem precisa de um empurrãozinho─, disse Alex.
─Bater-lhe na cabeça com a frigideira um par de vezes foi um bom come-
ço.
Sìleas sentiu suas bochechas se aquecem.
─Ian merecia.
─Eu não tenho dúvida que sim─, disse Alex. ─Mas você não pode
culpá-lo por tentar levá-la para a cama.
─Hmmph.
─Não se lembra como nós quatro costumávamos navegar para
Knock Castle levá-la para pescar?─ Alex disse. ─Sempre foi Ian, que nos
convenceu a deixá-la ir até lá. Não que o resto de nós não gostasse de
você, é claro, mas nós éramos garotos loucos por aventuras. Nós não a le-
varíamos conosco se Ian não tivesse insistido.
─Ele simplesmente sentia pena de mim─, disse ela.
─Sim, Ian sempre teve um coração mole─, disse Alex. ─Mas ele
gostava de ter você por perto. Ele estava sempre falando sobre as coisas en-
graçadas que você dizia ou a rapidez com que aprendia alguma coisa.
─Eu era uma menininha ─, disse ela. ─Ele não me conhece agora.

93
─Então, dê-lhe tempo para conhecê-la de novo─, disse Alex. ─Isso é
tudo que estou pedindo. Não decida contra ele de modo rápido.
─Por que está tentando me convencer?
─Porque eu sei que você vai fazer Ian feliz─, disse Alex, sua expres-
são séria. ─Ele é um homem bom, Sìleas. É por isso que você esperou por
ele tanto tempo.
─Hmmph.─ Ela estava mais confusa do que nunca.
Alex olhou para as nuvens no horizonte.
─É melhor voltarmos. Uma tempestade está chegando.
As ondas cresceram selvagens no caminho de volta, envolvendo-os
como um ovo em uma chaleira em plena ebulição. Sìleas segurou firmes os
lados do barco, desfrutando a velocidade da água e dos respingos do mar
em sua pele.
─Isso é bom, não é?─ Alex gritou, e eles sorriram um para o outro.
A chuva que caia no mar não estava muito atrás deles quando Alex
remava para a praia.
─Aquele é Ian?─ Sìleas gritou acima do vento, embora soubesse que
era ele andando para cima e para baixo na praia.
─Ahh, perfeito─, disse Alex. ─Mesmo aqui, eu posso ver que ele
está nervoso.
Ian os tinha visto e agora estava em pé com as mãos nos quadris,
olhando para o mar em sua direção.
─Vamos ficar um pouco mais?─ Alex disse. ─O homem merece so-
frer, não acha?
─O que você quer dizer, Alex?
─Isso tudo parte do meu plano de fazer Ian valorizar você.
─Valorizar-me? Ian nos olha como se quisesse matar a nós dois.
─O que enche o olho enche o coração─, disse Alex. ─Confie em
mim, isto é um bom sinal.
Ela se sentou mais perto de Alex para poder ouvi-lo melhor sobre o
vento.
─Você disse tinha um plano, mas não me disse qual era.
─Bem, uma parte do plano é fazer ciúmes a ele─, disse Alex.
─Ciúmes? De você?
Alex riu.
─Acredite ou não, a maioria das mulheres me acha irresistível.

94
Embora Alex não fosse para ela, era fácil ver o apelo dos olhos
verde-mar e a aparência de guerreiro Viking combinado com todo o charme
dele.
Ela se virou para ver o avanço de Ian através da praia para encontrá-
los. Ele tinha aquele olhar perigoso que fazia seu coração bater rápido.
─Tem certeza que isso é uma ideia sábia, Alex?─, Perguntou ela.
─Vou fazer uma aposta com você─, disse Alex. ─Se eu estiver certo
e você tiver Ian rastejando aos seus pés dentro de uma quinzena, você me
dará um grande beijo na boca na frente dele.
─Você é um diabo─, disse ela, incapaz de parar de rir, apesar da ten-
são que sentia com o avanço de Ian sobre eles. ─E se estiver errado?
Um sorriso lento se espalhou pelo rosto de Alex.
─ Ora moça, o mesmo. O mesmo.
Ian deve ter sido enfeitiçado por fadas para deixar seu primo sair so-
zinho de barco com Sìleas.
Você não está indo tão bem por conta própria, Alex tinha dito a ele.
Deixe-me ver se posso ajudá-la a ver melhor as coisas. Você bem sabe quão
convincente eu posso ser.
Ian sabia exatamente como seu primo bonito poderia ser persuasivo.
As mulheres caíam umas sobre as outras para fazer papel de bobas com
Alex.
O mar estava agitado e pesadas nuvens de chuva estavam se aproxi-
mando enquanto Ian andava pela praia. Onde no inferno estavam eles? O
que estava fazendo Alex mantê-la fora com esta tempestade que se apro-
xima? O tempo estava piorando rapidamente.
Lembrou-se que Alex tinha um segundo sentido na água, como se um
ancestral Viking estivesse sussurrando orientações em seu ouvido. Mesmo
assim, Alex não devia se arriscar com Sìleas no barco.
Ian olhou novamente para, o velho barco furado largado no alto da
praia. Ele estava quase desesperado o suficiente para pegá-lo para ir procu-
rar por eles, quando avistou o barco quando ele apareceu e desapareceu en-
tre as ondas. Pelos santos, ele ia matar Alex.

95
Quando se aproximaram da costa, Ian enfrentou o mar bravo para
ajudar a levar o barco para a praia. Nem a água gelada, nem o vento frio e
úmido no rosto arrefeceram seu temperamento. Ele queimou ainda mais
quando Sìleas aproximou-se de Alex no barco e seu riso viajou através da
água.
Ele agarrou o lado do barco e o firmou quando Alex caiu na água.
Em vez de tomar o seu lado do barco, Alex levantou Sìleas e foi para a
praia, carregando-a nos braços acima do alcance das ondas, deixando Ian
para arrastar o barco sozinho como se fosse um escravo.
─Cuidado com o barco!─ Alex gritou por cima do ombro. ─Nós não
queremos perdê-lo.
Quando Alex chegou à praia, ele se virou com Sìleas ainda em seus
braços para assistir Ian fazer o seu trabalho por ele. Pelo amor de Deus, por
que o homem não a colocava sobre seus próprios pés agora? E lá estava ela,
sorrindo para Alex, como se estivesse se divertindo.
Assim que ele pôs o barco em segurança, Ian atravessou a praia para
se juntar a eles.
─Minha esposa está ferida?
─Eu não deixaria mal algum atingir minha garota favorita, deixaria?
─ Alex disse com uma piscadela para Sìleas. ─Mas eu não queria arriscar
deixá-la se lançar nas ondas. Está um dia tempestuoso, se você não tinha
notado.
─Sugiro que a coloque no chão antes que eu quebre seus braços─,
disse Ian. ─Melhor ainda, eu vou levá-la.
─Eu posso ficar de pé─, disse Sìleas. ─Ponha-me no chão.
─Tudo o que quiser, moça ─ disse Alex, e soltou.
Ian se coçava para dar um murro no rosto sorridente do primo, mas
queria algumas respostas em primeiro lugar.
─Que infernos estava fazendo, metê-la na água com a tempestade
que se aproxima? E não me diga que você não a viu.
─Claro que eu vi ─, disse Alex, relaxadamente. ─Eu posso tê-la dei-
xado se aproximar um pouquinho demais, porque nós estávamos nos diver-
tindo muito. Mas no fim, tudo deu certo.

96
Ian olhou para Sìleas e não se sentiu mais tão zangado quando ela
tremeu. Com sua face corada pelo vento e o cabelo selvagem, ela parecia
uma ninfa do mar que veio até a praia na esperança de ser conquistada.
─Por que demoraram tanto a voltar?─ Ele perguntou a ela. ─Eu não
vi nenhum peixe no maldito barco.
─Foi um dia ruim para a pesca─, disse ela.
Agora que ele pensou nisso, não havia sequer uma rede no barco.
─Então o que estavam fazendo todo esse tempo?─ Gritou, com a
imagem de seus braços em volta do pescoço de Alex quando ele a levou
para terra, viva em sua mente. ─Não é o suficiente ter Gordan Graumach
comendo em sua mão?
─Você pode achar estranho, mas eu gosto de estar com um homem
que não grita comigo─, disse ela, gritando também.
─Se divertiu com Alex, não foi?
Com seus olhos verdes cintilando e o cabelo chicoteando sobre seu
rosto, ela parecia a própria e magnífica rainha celta, Scathach.
─Não ouse acusar-me de ser igual a você─, disse ela, enfiando o
dedo em seu peito.
Sua declaração o acalmou um pouco. Sìleas não iria mentir para ele.
─Você deveria pensar o que parece quando anda com outros
homens─, disse ele. ─Não vou ser feito de bobo.
Sìleas gritou algo que podem ter sido maldições, mas que foram le-
vadas pelo vento. Quando ele pegou a mão dela, ela o chutou na canela. Ele
ficou estupefato quando ela se virou e correu da praia para o caminho aci-
ma.
Ian olhou para seu primo, esperando simpatia e as desculpas que
eram devidas.
─O que em nome do céu há de errado com você?─ Alex disse, er-
guendo as mãos no ar. ─Será que sempre tem que gritar com ela?
─Eu? Você está me culpando por isso?
─Você me culpa por tudo de errado que acontece─, disse Alex, com
voz alterada. ─Mas não há desculpa para insultar Sìleas.
─Eu espero que você esteja me dizendo que nada aconteceu entre vo-
cês no barco─, disse Ian, cerrando os punhos.

97
─Eu estava lá fazendo o meu melhor para convencê-la que você não
é tão idiota como ela pensa. Você de alguma forma conseguiu, apesar de si
mesmo, a esposa perfeita, e agora parece estar fazendo todo o possível para
perdê-la.
Alex, que era geralmente difícil de irritar, andava para trás e para
frente e gesticulava com as mãos enquanto vociferava.
─Sìleas não é apenas bonita, ela é sensível e amável também─, disse
Alex. ─Somando-se este milagre, a sua família adora a moça.
─Eu disse a ela que eu a quero ─, disse Ian. ─O que mais ela quer de
mim?
─Por que não fez nada para fazer as pazes com ela?─ Alex disse, ab-
rindo os braços. ─Seria tão difícil mostrar a ela que a admira, que deseja
cuidar dela? Quer saber, eu estou com nojo de você.
Com isso, Alex se virou e deixou Ian sozinho na praia olhando para
as ondas. Ele ainda estava lá quando os céus se abriram e ele ficou enchar-
cado.

CAPÍTULO 11

Sìleas sentou-se à pequena mesa em seu quarto de dormir com sua


carta ao agora-morto rei James e uma folha de pergaminho limpa à sua
frente. Como é que alguém envia uma carta a uma rainha viúva, que tam-
bém era regente?

98
Ela apertou a ponta da pena contra seu rosto enquanto considerava a
questão.
Para Sua Alteza,
Isso deve bastar. Ela mordeu o lábio enquanto copiava a carta origi-
nal. Incomodava-lhe que tivesse que agradecer a Ian pela habilidade. Será
que ela não tinha lembranças agradáveis de sua infância que não o envol-
vessem?
Sua mãe nunca tinha tido tempo suficiente para ensiná-la a escrever,
e não teria cruzado a mente do pai contratar um professor particular para
ela. Quando ficou claro que ninguém iria ensiná-la, Ian fez. Para um garoto
que não gostava de se sentar, ele tinha sido diligente, gastara horas com ela.
O resultado foi que, apesar de não ter uma letra elegante, feminina, ela era
uma escritora lenta, mas competente.
Ela borrou a tinta e teve que começar de novo em uma folha de per-
gaminho. Quando terminou, soprou sobre a carta e a leu outra vez. Estava
feito.
O problema agora era como conseguir entregá-la à rainha no Castelo
de Stirling.
Ela se assustou ao som de uma batida em sua porta e empurrou as
cartas sob o maço de contas empilhadas sobre a mesa. ─Quem é?─ Ela gri-
tou.
Ian enfiou a cabeça pela porta.
Ele deu um sorriso que elevou seu batimento cardíaco. Por que ele ti-
nha esse efeito sobre ela? Ela o evitara desde ontem, uma tarefa não tão
fácil, já que eles estavam vivendo sob o mesmo teto, porque ela temia vê-lo
e enfraquecer sua determinação.
─Posso entrar?
Quando ela não respondeu, ele entrou e fechou a porta atrás de si.
Suas bochechas queimaram quando ela se lembrou da carta. Ela sentiu uma
pontada de culpa por não ter contado a ele que ela estava buscando ajuda
real para anular seu casamento, mas a sufocou.
─Eu prometo, não vou gritar com você. E não vou tocar em você...
─A voz de Ian falhou quando seu olhar deslizou sobre ela, como se ele esti-
99
vesse lembrando cada parte dela que tinha tocado duas noites antes. ─... A
menos que você queira que eu toque.
Ela não conseguia respirar. Com seu cabelo escuro caindo sobre um
dos olhos e sombra da barba sobre a mandíbula forte, Ian parecia rude e pe-
rigosamente atraente.
Ele franziu as sobrancelhas.
─Eu não faria mal a você. Sabe disso não é?
Faria sim. Já tinha feito.
Ian olhou ao redor do quarto.
─Você fez um bom trabalho aqui. ─ Ele cheirou e levantou os cantos
da boca. ─Cheira muito melhor do que quando eu dormia aqui quando era
garoto. Costumava cheirar a cães e cavalos e a mim, eu suponho.
Lembrou-se de acordar com o cheiro dele quando ele deitou na cama
com ela. O perfume ficara vagamente em sua cama, dando a ela uma noite
agitada.
Ela engoliu em seco quando o olhar de Ian caiu na cama e lá perma-
neceu por um longo momento.
─Eu vim para perguntar sobre as contas de você me mostrou─, disse
ele, trazendo o seu olhar de volta para ela.
Como é que um homem podia ter olhos tão azuis?
─Tenho certeza que meu pai não ligava para essas coisas, embora
talvez um dos homens que trabalham para ele fosse responsável por isso ─,
disse Ian.
─Então, você tem que me ensinar.
Ela ergueu as sobrancelhas, pois ele não prestou atenção a primeira
vez que ela tentou mostrar-lhe.
Ele levantou o banco que estava contra a parede com uma mão, o co-
locou ao lado dela, e sentou-se em um ágil movimento. O homem movia-se
como ela imaginava que um leão faria, toda a graça e ondulação muscular.
Ela saltou quando ele aproximou seu banco.
Quando estendeu a mão para a pilha de pergaminhos, seu braço e
ombro pressionados contra ela enviaram ondas calor por seu corpo.
─Agora vamos dar uma olhada neles.
Ela acordou do seu torpor e afastou a pilha para longe dele.

100
─Estas já estão em ordem!─ Ela disse, sua voz saindo de alta e estri-
dente.
Deu-lhe um olhar divertido, os olhos azuis brilhantes, e levantou uma
sobrancelha.
Para esconder seu embaraço, ela começou a explicar o seu método de
manter o controle do gado da fazenda.
─Veja, eu registro todos os bezerros novos aqui.
Ele tocou a mão dela, e ela ficou sem fala.
─Você sempre foi melhor em números do que eu, Sil.
─Só porque você não tem paciência. ─ Ela tentou lançar um olhar
severo, porém, apesar de si mesma, seu coração encheu-se com o elogio.
─A impaciência é um defeito meu. ─ Ian deu um sorriso lento en-
quanto arrastava um dedo pelo seu antebraço. ─Que estou tentando dura-
mente corrigir.
Ela engoliu em seco.
─Eu sei o que você está tentando fazer.
─Sabe?─ Ele afastou um cacho rebelde de seu rosto, enviando um
arrepio pelo corpo todo até a ponta dos dedos dos pés.
─Você está tentando me seduzir.
─Cada um tem uma habilidade─, disse ele, com os olhos cintilando.
Sem afastar o olhar de seu rosto, ele acenou com a mão para os pergami-
nhos. ─Você é boa com números, por isso deve continuar fazendo a conta-
bilidade.
Ela abriu a boca para dizer-lhe que ela não estaria aqui para fazê-lo,
mas se conteve. Ian foi criado para cumprir seu dever para com sua família
e clã, e ele tinha decidido que esse dever, incluía fazer dela sua esposa ver-
dadeira. Era melhor, então, que ele não soubesse que ela estava fazendo ou-
tros planos.
─E em que você é bom?─, Perguntou ela.
─Como você disse,─ ele disse, aproximando-se, seus dentes brancos
brilhando. ─Seduzindo minha esposa.
Ela sentiu-se corar até a raiz dos cabelos.
─Eu não sou sua esposa.
─Mas você é─, disse ele.
─Você não me reclamou por cinco anos.

101
Ele deslizou a mão sob os cabelos e segurou a parte de trás do seu
pescoço quando se inclinou na direção dela.
─Bem, eu estou reclamando agora.
Pelos santos, Ian ia beijá-la. A memória de acordar com seus beijos
enviou uma desconhecida onda de desejo por ela. Suas pálpebras estavam
pesadas sobre os olhos que queimavam como uma chama azulada.
Ela se viu inclinando-se em direção a ele, como uma mariposa voan-
do para as chamas.
Seu beijo era suave e sensual, acariciando os lábios com uma suges-
tão tentadora de tudo o que um beijo poderia ser.
Quando ele se afastou, ela o seguiu. Ele sorriu contra seus lábios, em
seguida, passou a língua levemente sobre seu lábio inferior. Como um gesto
tão pequeno podia preenchê-la com um desejo tão poderoso? Ela agarrou a
frente de sua camisa de linho para se firmar.
Ele fez um som profundo na garganta que ela sentiu mais do que ou-
viu. Quando ele encostou a boca à dela, não foi um roçar provocante dos
lábios, mas um beijo que fez o sangue pulsar em suas veias. Ela sentiu seu
coração batendo sob as mãos quando ele a puxou contra ele.
Seu próprio coração bateu nos ouvidos quando ele aprofundou o bei-
jo. Ela não se lembrava de abrir a boca para ele, mas as línguas foram mo-
vendo-se juntos em um ritmo que ressoava dentro dela. Ela sentiu uma
crescente urgência que era ao mesmo tempo assustadora e emocionante.
Os dedos dele estavam enterrados em seus cabelos e o corpo estava
tenso com a mesma tensão que corria através dela. Quando ele distribuiu
beijos molhados embaixo da orelha e desceu para a lateral de sua garganta,
ela segurou seu queixo com a mão.
A barba áspera fez cócegas na pele sensível de sua palma e arrepios
de prazer subiram por seu braço.
Ela amava o rosto dele. Tocá-lo agora a fez perceber que ela estivera
desejando tocá-lo desde a primeira noite ele voltou.
Ela respirou entrecortadamente quando ele traçou um caminho ao
longo do topo de seu corpete com a boca. Agora. Ela devia pará-lo agora.

102
Mas ela estava com fome do toque de um homem. Pelo toque deste
homem. De Ian.
Ela parou de respirar quando ele deslizou lentamente a língua sobre a
curva de seu peito. Era como se Ian lesse o seu corpo, pois ela estava ciente
de uma dor surda entre as pernas que ele fez aumentar ao descansar uma
mão quente e pesada em sua coxa. Quando de sua garganta brotou um es-
tranho som, ele levantou a cabeça para capturar sua boca novamente.
Ela estava com a cabeça leve, se afogando em seus beijos. Quanto
tempo eles se beijaram, ela nunca saberia dizer. Quando ele afastou-se, ela
tornou-se consciente da mão dele se movendo para cima de sua coxa e da
respiração quente em seu ouvido.
─Precisamos ir para a cama─, ele disse, sua voz áspera cheia de de-
sejo, e ela queria ir para onde ele a estava levando. ─Eu não quero fazer
amor com você pela primeira vez em uma cadeira.
Ao ouvir aquilo ela finalmente voltou à realidade.
─Não─, disse ela, empurrando-o para longe.
Deixou cair a testa no ombro dela.
─Sil, não diga não─, ele disse, soando como se sentisse dor. ─Por fa-
vor.
O quarto tornou-se sufocante, e o único som era a sua respiração ás-
pera.
─Eu a desejo desesperadamente. ─ Embora ele não a tocasse, exceto
onde sua testa descansava em seu ombro, o ar vibrava com a tensão entre
eles.
─Eu disse que não. ─ Ela não tentou afastá-lo de novo, por medo de
que se o tocasse, não pudesse se afastar novamente.
Ele respirou fundo e soltou o ar lentamente.
─Tudo o que você quiser─, ele sussurrou, então se inclinou para trás
em seu banco. ─Mas pode me dizer por quê?
O calor em seu olhar queimou sua pele. Ela mordeu o lábio, mas não
respondeu.
─Você não pode me dizer que não gosta quando eu a beijo─, ele
disse, sua voz rica como mel em sua língua. ─Ou que não gosta do jeito
que eu toco em você, porque sei que gosta.
103
Suas palavras enviaram outra onda de calor através dela.
─Eu acho que também gostará do ... Resto.
Ah, sim. Ela costumava se perguntar se gostaria das relações conju-
gais, mas agora ela estava bem certa de que gostaria, pelo menos, se fosse
com Ian. Seu coração ainda estava batendo como se ela tivesse corrido.
Ele correu-lhe um dedo levemente pelo braço, enviando outra onda
de calor para o seu ventre.
─Existe alguma coisa que a preocupa? Algo que você tem medo?
Havia, mas ela não diria a ele.
─Você teme que vá doer na primeira vez que eu a levar para a cama,
─ disse ele ─, mas eu acho que é outra coisa que a está segurando.
Ela engoliu em seco, querendo saber como ele havia descoberto.
─Não posso corrigir se eu não souber o que está errado.
Ian parecia sincero, pelo que ela podia perceber através do pulsar do
sangue em seus ouvidos. Mas ela não ia dizer nada. Ela decidiu que preci-
sava mais do que apenas desejo. Mas não foi isso que a parou esta noite.
Na verdade, quando ele a beijava daquela maneira, sua falta de amor
e devoção não poderia estar mais longe de sua mente.
Não, era um medo diferente que a trouxera de volta aos seus sentidos
e lhe dera a força para interromper o que eles tanto queriam.
─Você costumava confiar em mim─, disse ele, tomando-lhe a mão e
esfregando o polegar sobre a palma dela.
Houve um tempo em que ela teria dito tudo a ele. Mas não agora.
Nada poderia fazê-la admitir que o que ela temia era o fogo que ar-
deu em seus olhos quando a viu nua. Em sua ignorância, ela costumava
pensar que seria possível manter suas roupas quando o marido a levasse
para a cama. Mas da forma determinada como Ian tentou tirá-las, isso pare-
cia improvável.
Muito improvável.
Se ele a amasse, ela não teria medo de deixá-lo vê-la nua. Se ela não
o amasse tanto, talvez não importasse para ela.
─Você não tinha medo de nada quando era criança─, disse ele, com
os olhos suavizando com o seu sorriso. ─Verdade seja dita, você costumava
me assustar às vezes. Era quase como se você se metesse problemas só para
eu ir salvá-la.
104
─É verdade. ─ Ela engasgou com as palavras, era uma coisa difícil
de admitir. ─Eu confiava completamente em você. Mas não confio mais
agora.
Ela viu o relâmpago de dor em seus olhos antes que ele apertasse os
lábios e assentisse. Sua boca ficou seca quando o silêncio tenso entre eles
se estendeu.
─Eu falhei com minha família e meu clã por não estar em casa quan-
do precisaram de mim. Eu quero fazer as pazes, para fazer as coisas direito,
se eu puder ─, disse Ian. ─Eu quero ser o seu marido não apenas para ter
você na minha cama, mas eu estaria mentindo se dissesse que não faz parte
dos meus planos. Mas eu prometo que vou tentar ser o tipo de marido você
merece.
Sìleas sentiu-se enfraquecer, mas um discurso bonito não era sufici-
ente para fazê-la perdoar os anos de negligência, nem a dor que ele causou
a ela desde que chegou em casa.
─E o que eu quero?─ Perguntou ela com um tremor na voz.
─Eu pensei que isso era o que você queria. Você foi feliz vivendo
aqui com minha família. ─Ele se inclinou para frente e deu-lhe um leve
sorriso. ─E você gostava muito de mim.
O que ele não disse, mas ambos sabiam, era que Ian havia sido a pes-
soa que ela mais amara no mundo. E dane-se, a julgar pelo estado de seu
coração ferido, ainda amava.
─Eu não o quero como meu marido, porque foi forçado a casar comi-
go. ─ Ela engoliu em seco, os olhos fixos nas mãos cruzadas sobre o colo.
─Ou porque o clã precisa de minhas terras. Ou porque sua mãe gosta de
mim.
─Eu gosto de você também. ─ Ele estendeu a mão para prender uma
mecha solta de seu cabelo atrás da orelha, mas ela o afastou.
─Eu não o quero como meu marido porque acho que preciso de pro-
teção ou porque você sente pena de mim─, ela continuou. ─Ou porque
você não gosta de fazer contas.

105
─Eu juro, eu a desejaria mesmo se você não soubesse fazer contas─,
disse ele, roçando os dedos contra a bochecha dela. Quando ela olhou para
cima, deu-lhe um olhar escaldante que fez seu estômago apertar. ─Eu quero
você, Sil.
Ela puxou a mão da dele e ficou de pé.
Todas as razões que ele expusera poderiam ser suficientes se ele fos-
se qualquer outro homem. Mas não era o suficiente com Ian. Ela não iria
passar a vida com um homem, ansiando por seu amor ser retribuído.
Ela se obrigou a sair do quarto e fechar a porta atrás de si.

CAPÍTULO 12

Ian ouviu a voz alterada de seu pai assim que abriu a porta da frente
da casa.
─Olhe o que me fez!─ Payton estava gritando com Niall, que estava
tentando ajudá-lo a cruzar a sala.
─Devia ter me deixado morrer como um homem.
Sìleas estava no outro lado de seu pai, incentivando-o a andar.
106
─Será maravilhoso ver você tomar as suas refeições com a família
novamente.
─Porventura não vai se sentar à mesa, papai?─ Niall disse.
O seu pai imediatamente começou a levantar a bengala para atacar
Niall, Ian começou a atravessar a sala, mas Sìleas estava mais perto. Seu
coração parou quando ela se colocou entre os dois homens.
─Não ouse tocá-lo!─ Sìleas gritou.
Quando seu pai deteve o golpe a tempo, Ian voltou a respirar. Seu pai
ainda tinha os braços e ombros de um homem poderoso. Deus no Céu, ele
poderia tê-la matado.
Niall passou por Ian e pela porta da frente, sem vê-lo. Sìleas cravou o
olhar em seu pai, ficando cara a cara com ele ou ficaria, se fosse mais alta.
Nenhum dos dois pareceu perceber a presença de Ian ou a porta bater.
─Se você falar assim com Niall de novo, eu juro que não vou per-
doá-lo, ─ Sìleas disse. Seu peito subia e descia em profundas respirações
quando ela e seu pai olhavam um para o outro.
─Ele deveria ter me deixado morrer no campo de batalha─, disse o
pai. ─Ele tirou minha masculinidade, trazendo-me para casa neste estado.
Ela falou com uma voz lenta e deliberada, Seu olhar cortante como
aço.
─Devia ser grato por ele ser seu filho, depois do que ele fez por
você.
─Grato? Olhe para mim! ─Seu pai gritou, apontando para a perna
amputada.
─Devia se envergonhar, Payton MacDonald, por desejar abandonar a
sua família. ─ disse ela. ─Já passou da hora de você parar de sentir pena de
si mesmo.
Ela girou nos calcanhares, com os cabelos balançando, e saiu da
casa.
Seu pai mancando foi até a cadeira mais próxima, caiu sobre ela com
um baque, e esfregou as mãos sobre o rosto.
Ian pegou o uísque do armário e encheu um copo.

107
─Aqui está, papai─, disse ele, quando colocou o copo sobre a mesa
ao lado de seu pai. Ele começou a colocar a garrafa de volta, então resolveu
deixá-la sobre a mesa também.
Seu pai apertou o copo como se estivesse segurando uma corda de
salvamento e olhou para a parede.
─É melhor eu ir ver Niall ─, disse Ian.
Seu pai acenou sem se virar para olhar para ele.
─Faça isso, filho.
Estava chovendo a cântaros, então Ian esperava Niall não tivesse ido
longe. Ele tentou o velho chalé primeiro e encontrou Alex e Dina aprovei-
tando os prazeres da carne. Eles não o viram. De lá, ele saltou através das
poças para o estábulo.
O cheiro de vacas e de palha úmida encheu suas narinas quando ele
olhou para o interior, escuro e com cheiro de mofo. Ele fez uma pausa e ou-
viu. Através do som da chuva batendo, ele ouviu o murmúrio de vozes e se-
guiu para a parte de trás do estábulo, onde encontrou Niall e Sìleas senta-
dos lado a lado sobre uma pilha de palha entre duas vacas.
Eles não o ouviram chegar.
─É a dor do seu pai falando─, disse Sìleas. ─Ele não quis dizer aqui-
lo.
─Ele quis dizer exatamente o que disse. ─ Niall bateu a lateral de seu
punho contra a parede estábulo.
─Ele não poderia ser mais claro.
─Bem, eu estou orgulhosa de você, se isto significa alguma coisa
para você. ─ Sìleas colocou a mão na face de Niall. ─Estou tão orgulhosa
do que você fez que meu peito explode de orgulho toda vez que penso nis-
so. ─
─Está mesmo, Sil?─ Neill disse, o rosto ficando de um vermelho bri-
lhante.
─Ach, é claro que sim!─ Ela disse com um aceno de mão. ─Eu vi
você crescer e se tornar um homem que todos nós podemos confiar. Para
dizer a verdade, eu estou doente de inveja sobre a mulher que vai casar com
você, porque você vai ser o melhor marido em toda a Escócia.

108
Ian sentiu a mordida da crítica em suas palavras. Um homem que to-
dos nós podemos confiar. O melhor marido em toda a Escócia.
Ele sentiu seus defeitos em ambos os casos.
─Mas não se esqueça de que foi seu pai, que o ensinou a ser o ho-
mem que é. ─ acrescentou em uma voz mais suave.
─Eu estou morrendo de raiva de Payton agora, mas eu também estou
rezando para que ele volte a ser ele mesmo novamente. Quando isso acon-
tecer, eu sei que ele vai se arrepender de cada palavra que ele disse a você.
─Então, é aqui que estão,─ Ian disse, fingindo que tinha acabado de
entrar no estábulo.
Eles se viraram quando ele ficou a vista.
─Sinto muito por papai ter sido tão duro com você─, disse Ian.
─Não acha que fiz a coisa certa, trazendo papai de volta?─ Niall es-
tava olhando para ele com olhos ardentes, em busca de sua aprovação como
ele costumava fazer anos atrás.
Ian suspeitou que ele se sentiria da mesma forma que seu pai. Um
homem que não podia lutar não era realmente um homem. Ainda assim, no
lugar de Niall, ele teria feito o mesmo.
─Eu não sei se foi a coisa certa─, disse Ian. ─Mas você não tinha es-
colha.
Quando Sìleas começou a seguir Niall para fora do estábulo, Ian se-
gurou seu braço. Ele se sentiu culpado quando ela se virou para enfrentá-lo
e ele viu a cautela substituir a bondade que estava em seus olhos quando
ela falou com o seu irmão.
─Obrigado por falar com Niall como fez─, disse ele. ─Você restau-
rou o orgulho dele.
A expressão dela suavizou com o elogio, e ele sentiu outra onda de
culpa. Se fazer-lhe um merecido elogio foi o suficiente para agradá-la, ele
deveria ter feito isto antes.
─O tempo deve limpar logo─, disse ele. ─Quer dar um passeio co-
migo mais tarde?
─Eu tenho muito trabalho a fazer.
─Você tem tempo para sair com Gordan e Alex, mas não comigo?─,
Disse ele, não conseguindo manter a nitidez de seu tom.

109
─Eu me divirto com eles─, disse ela, afastando os olhos. ─Não vejo
nenhum motivo para atrasar minhas tarefas para ter uma discussão com
você.
Ela tentou se afastar, mas ele segurou-a rapidamente pelo braço.
─Ach, eu não quero discutir com você─, disse ele. ─Quer ir comigo
a casa de Teàrlag? Você poderia levar alguns mantimentos para ela.
Ele sabia por sua mãe que Sìleas e a irmã de Duncan se revezavam
levando comida para a velha vidente. Sem isso, Teàrlag não sobreviveria ao
inverno.
─Eu preciso mesmo visitá-la. ─ Sìleas apertou os lábios, consideran-
do.
─Então venha e me faça companhia─, disse Ian.
─Eu vou─, disse ela. ─Mas o que vai fazer na casa de Teàrlag?
─Vou me encontrar com Connor e Duncan lá─, disse Ian. ─Pode es-
tar pronta em uma ou duas horas? Eu tenho algo a fazer primeiro.
Sìleas reprimiu a sua irritação quando ela mostrou Dina onde as coi-
sas eram guardadas na cozinha. Na verdade, irritação era uma palavra mui-
to leve para o que ela sentia.
Não que Dina estivesse fazendo nada em particular que pudesse de-
sagradá-la no momento. Toda vez que ela olhava para Dina, porém, ela a
via com as pernas em volta traseiro nu de Ian, enquanto balançavam-se
contra a cabana do pastor.
Sìleas bateu uma panela sobre a mesa de trabalho e, em seguida, fi-
cou duplamente irritada quando não conseguia lembrar o que pretendia fa-
zer com ela.
O casal fornicando estivera demasiado absorvidos no que eles esta-
vam fazendo para notar a menina de nove anos de idade, que estava assis-
tindo a alguns metros de distância. No principio, Sìleas estava demasiada-
mente atordoada para cobrir os olhos, o que provavelmente explicava por
que sua lembrança do ocorrido era cristalina. Mesmo quando ela finalmente
os cobriu, ela podia ouvir suspiros de Dina e seus gritos de Aye! Sim!
─Sim?
O som da voz de Dina ao seu lado fez Sìleas saltar.
Dina deu-lhe um olhar perplexo.
110
─É aqui que Beitris esconde o sal?
Sìleas acenou com a cabeça sem olhar para ver onde Dina estava
apontando. Ela odiava ter essa mulher na casa. Como Ian se atrevia a trazer
sua ex-amante para sua casa? Mas, essa não era verdadeiramente sua casa,
não era?
E talvez Dina não fosse ex-amante de Ian, também.
Sìleas começou a cortar nabos com uma faca grande. Picar, picar, pi-
car.
Ela estava com raiva de Ian por dar a ela aquela horrível lembrança
dele e Dina. Ach era irritante que a chateasse agora tanto como tinha abor-
recido quando era criança. Mas tudo mudou entre ela e Ian depois disso.
Ela fez uma pausa em sua tarefa. Não, a mudança tinha começado
antes.
Quando Ian deixou a infância para trás, ele veio para Knock Castle
cada vez menos para levá-la para um passeio a cavalo ou para sair em seu
barco. Em seguida, ele se foi para as terras baixas. E quando estava em
casa, ele parecia a gastar todo o seu tempo praticando suas habilidades de
batalha com os homens ou flertando com as moças com idade suficiente
para ter seios.
Ou fazia mais que flertar.
─Você não está picando corretamente─, disse Dina, atraindo sua
atenção para o único nabo única picado na tábua.
─Você acha que consegue fazer o jantar sozinha?─ Sìleas perguntou,
tirando o avental pela cabeça. ─Eu tenho uma tarefa a cumprir.
Ela fugiu da cozinha sem esperar pela resposta de Dina e foi à procu-
ra de Ian, com a intenção de dizer-lhe que ela tinha mudado de ideia sobre
ir à casa de Teàrlag com ele. Sua busca cessou quando o encontrou atrás do
estábulo com seu pai.
Sua garganta ficou apertada e lágrimas subiram aos seus olhos quan-
do ela viu a cena. Droga Ian. Quando ela estava pronta para aceitar que não
tinha mais nada nele do menino que ela havia amado, ele fazia algo pareci-
do com isto.

111
Ian tinha entalhado um pedaço de madeira e o equipara com tiras de
couro para prender na perna amputada do seu pai. Com um braço sobre o
ombro de Ian, Payton estava aprendendo a andar com ele.
O resto deles havia tratado Payton como o inválido que acharam que
ele era. Eles faziam tudo por ele, até hoje, aumentando sua fúria ao se des-
cobrir menos do que o homem que ele costumava ser. Ian era um guerreiro
e compreendia o pai melhor do que eles.
Ela sentiu-se culpada quando percebeu que era a primeira vez que
Payton saía desde que Niall o trouxera para casa e ele era um homem que
costumava passar a maior parte do tempo ao ar livre.
Ela viu quando Ian andava com seu pai em um ritmo dolorosamente
lento, para cima e para baixo no comprimento estábulo, e depois para cima
e para baixo novamente.
─Você vai conseguir, pai, ─ disse Ian.
Payton bufou.
─Em breve eu vou dançar, não é?
─Você sempre foi um dançarino terrível, pai.
Ao som da risada de Payton, ela sentiu sua determinação de resistir a
Ian enfraquecer um pouco mais. Este parecia tanto como o Ian que lembra-
va. Ele tinha visto a coisa certa a fazer para ajudar seu pai e fez isso.
─Você estará andando por conta própria, logo, logo. ─ disse Ian.
─Assim que fizer isto, vamos por uma espada em sua mão.
─Ótimo. Eu sou um lutador muito melhor do que dançarino ─, disse
Payton.
Ian ainda estava rindo quando olhou para cima e a viu. Ela conseguiu
enxugar as lágrimas antes que Payton a visse também.
─Ah, Sìleas─, disse Payton, com um sorriso que brilhava em seus
olhos. ─ Está um belo dia para sair, não é?
Estava frio e úmido.
─Um dia muito bom, na verdade, Payton─, disse ela, com os olhos
borrando. ─O melhor em muito, muito tempo.

112
CAPÍTULO 13

As emoções de Sìleas oscilavam entre sua raiva por Ian e a ternura


que sentia em relação a ele pelo que tinha feito por Payton. Ela percebeu
que esta caminhada para a casa de Teàrlag era a primeira vez que ela estava
sozinha com ele desde o seu retorno, exceto pelas duas vezes em seu quar-
to, que não tinha sido bem para conversar.
─O que fará para Connor ser eleito laird?─, Perguntou ela, para dizer
alguma coisa.
─Eu vou fazer o que for preciso, para o bem do clã, ─ disse Ian.
─Não há nada que eu não faria por Connor. Ele é como um irmão para
mim.
Se Ian tinha um plano, ele não estava compartilhando com ela.
─A casa de Teàrlag é um bom lugar para um encontro─, disse ela.
─Raramente vejo outra alma no caminho do chalé dela.
─Eu suspeito que Connor e Duncan estejam hospedados na caverna
na praia sob o chalé─, disse Ian. ─Aquela enseada é um bom lugar para se
esconder o barco de Shaggy também.
─Eu me lembro dessa caverna─, disse ela, virando-se para ele. ─Vo-
cês costumavam se esconder lá, fingindo serem selvagens piratas.
Os outros meninos tinham ficado furiosos quando os encontrou, até
Ian sugeriu que ela poderia ser a princesa cativa que eles mantinham como
refém. Na época, ser amarrado e amordaçado parecia um preço pequeno a
pagar para ser incluída no jogo deles.
O caminho interior virou para a última milha, levando os viajantes
através do vale para evitar as falésias altas neste trecho da costa. Antes de
fazer a curva, Sìleas e Ian deixaram o caminho para ficar em uma área pla-
na e gramada no topo do penhasco.
─Este é um dos meus lugares favoritos─, disse Sìleas.
Ela respirava a brisa do mar enquanto olhava para as montanhas que
se erguiam do outro lado da entrada. A excitação formigava na ponta dos
dedos enquanto ouvia o bater das ondas lá embaixo. Como muitos ilhéus, a
selvageria do mar falou à sua alma.

113
─Vamos ver se o tronco ainda está lá?─ Ian perguntou, apontando
para a sua direita, onde uma trilha de cabras continuava ao longo do pe-
nhasco.
─Sim, vamos.
Ian pegou sua mão e sorriu para ela quando a colocou debaixo da sua
manta para mantê-la aquecida. Ela sabia que ele estava lembrando-se,
como ela era, como ele costumava pegar a mão dela ao longo deste cami-
nho.
─Eu não tenho mais medo de ficar na borda do penhasco agora─,
disse ela, sorrindo de volta.
─Não importa, eu me sentirei melhor se eu a estiver segurando─,
disse ele. ─O vento é forte, e é um longo caminho.
A primeira parte da trilha do penhasco era larga o suficiente para que
eles caminhassem lado a lado entre a falésia e o afloramento rochoso.
Após uma curta distância, o caminho girava em torno de uma pedra
enorme. Ele estreitava depois e, em seguida, terminava abruptamente na
borda de uma fenda gigante que dividia o precipício.
─O tronco ainda está aqui─, Ian disse, parecendo satisfeito.
Em uma tempestade muito tempo atrás, uma árvore que havia agarra-
do à borda da falésia caiu do outro lado da fissura de 30 metros formando
uma ponte. A única maneira de continuar era atravessar o tronco como as
cabras faziam.
Sìleas prendeu a respiração quando espiou sobre a borda.
─Eu não posso acreditar que vocês atravessavam aqui, em vez de ir
pelo caminho principal.
─Ach, éramos tolos. Foi uma surpresa não matamos a nós mesmos
─, Ian disse, puxando-a para trás. ─A única vez que eu fiquei realmente
assustado, porém, foi quando você nos seguiu.
Sìleas lembrou-se da sensação da madeira escorregadia sob seus pés
descalços e do som das ondas batendo contra as rochas abaixo. Ian tinha
dito a ela para não vir, de modo que ela havia se escondido por trás da pe-
dra até que os quatro rapazes tinham atravessado a fenda e desaparecido no
caminho do outro lado.

114
─Perdi um ano da minha juventude, quando eu virei e a vi no tronco.
─ Ian colocou seu braço ao redor dela e a apertou contra seu lado.
Ela tinha já atravessado metade da fenda antes de olhar para baixo e
congelar.
─O que o fez se virar naquele dia?─, Perguntou ela. Sentia-se bem
com o braço dele ao seu redor. Ela não pode deixar de apoiar-se nele.
─Eu senti uma fisgada na parte de trás do meu pescoço. ─ Ele deu
um sorriso que fez vibrar estômago dela e tocou-lhe levemente o queixo
com as juntas dos dedos .
Sìleas viu a água subir quando outra onda encheu a fenda estreita, em
seguida, colidiu contra as duras paredes. Quando ela explodiu em borrifos e
espuma, ela provou o medo estonteante que tomou conta dela quando esta-
va no tronco quando era uma menina pequenina. Naquele dia, ela tinha sido
incapaz de tirar os olhos da água correndo e trovejando abaixo dela, até que
ela ouviu Ian chamá-la.
Não olhe para baixo, Sil, Olhe para mim. Olhe para mim!
Mordendo o lábio, ela tinha tirado o seu olhar da água revolta para
encontrar os olhos de Ian.
Não tenha medo, porque eu estou indo buscá-la.
Ian tinha andado todo o tronco em sua direção, segurando-a com seu
olhar e falando com ela o tempo todo. Mesmo agora, seu corpo recordou a
onda de alívio que correu através de seus membros, quando sua mão final-
mente apertou-lhe o pulso.
“Eu a peguei. Não vou deixá-la cair.”
E ele não tinha deixado mesmo.
Sìleas percebeu que estava prendendo a respiração e a soltou. Uma
onda de gratidão subiu em seu peito pelo menino de onze anos que tinha
atravessado o tronco sem um momento de hesitação para salvá-la. Ian sem-
pre foi assim, destemido e decisivo em uma crise. Não foi a única vez que
ele a resgatara, apenas a mais dramática.
Depois desse dia, sempre que ela estava com problemas, ela não ora-
va a Deus para salvá-la. Em vez disso, ela orava para Deus enviar Ian.

115
─Sìleas─, disse Ian, trazendo a atenção do rapaz em sua memória
para o homem ao seu lado. Ele apoiou as costas dela na pedra e colocou os
braços de cada lado dela. ─Acho que você me deve um beijo por ter me as-
sustando até a morte naquele dia.
Sem esperar que ela concordasse, ele abaixou a cabeça na direção
dela.
Ela não podia resistir e não queria. Segurando a frente de seu kilt
para se firmar, ela inclinou a cabeça para encontrá-lo. Quando seus lábios
tocaram os dela, ela se derreteu. A água batendo e agitando abaixo e o ven-
to chicoteando os ramos das árvores acima ecoou a excitação que pulsava
através dela.
Seu coração batia tão rápido que ela se sentiu tonta, enquanto ele bei-
java seu nariz, pálpebras, as bochechas.
─Será que você me trouxe a este lugar pensando que a lembrança me
faria amolecer?─, Perguntou ela.
─Aye─, disse ele, acariciando sua orelha. ─Será que isso funciona?
Sob sua vaidade e aquela perigosa excitação que parecia fazer o ar
crepitar em torno dele, ela viu vislumbres do rapaz de bom coração que ele
costumava ser. Lembrando desprezo cego do menino pela sua própria segu-
rança para protegê-la, ela quase podia confiar nele.
No entanto, não era o garoto que a tinha deixado, mas o homem.
─Você não costumava cheirar tão bem─, Ian disse, beijando o seu
cabelo. Ele correu as mãos para cima pelas laterais de seu corpo sob a capa,
fazendo-a sentir-se tonta e sem fôlego.
─Eu gosto muito de tocar em você.
Era difícil pensar com as mãos dele sobre ela e sua respiração em seu
ouvido. Finalmente, ela se forçou a apoiar as mãos contra o peito dele.
─Eu paguei o beijo─, disse ela. ─Agora é hora nos pormos a cami-
nho.
─Aquele beijo foi por assustar-me naquele dia─, disse ele, enquanto
distribuía beijos ao longo de sua mandíbula. ─Temo que me deva muitos
mais por tirá-la do tronco.

116
Seu coração disparou quando ele trouxe sua boca de volta para a
dela. Seus lábios eram macios e quentes e, mais uma vez, ela virou líquido
em seus braços. Quando ele terminou o beijo, ela se afastou dele, sentindo-
se corada e confusa.
─Estou contente por ter esperado para cobrar a dívida─, disse ele,
sorrindo para ela com um olhar diabólico.
─Eu não sou um brinquedo. ─ Sìleas tentou afastá-lo, mas ele estava
tão imóvel quanto a rocha atrás dela.
─Eu não sei o que quer dizer com esta observação. ─ Disse ele, seu
sorriso desapareceu e havia um tom de raiva em sua voz.─O que a faz pen-
sar que eu estou brincando?
─Talvez porque você me ignorou e a seus votos pelos os últimos cin-
co anos─, disse ela. ─E não tente me dizer que não teve mulheres na Fran-
ça, pois eu não acredito nisso.
─Eu não pensava em você como minha esposa, então. ─ Ele tomou-
lhe o queixo na mão e fixou os intensos olhos azuis sobre ela. ─Mas eu
penso agora.
─Bem, eu não. ─ Ela passou debaixo do braço dele e começou a cir-
cular a pedra, mas ele a pegou pela cintura e a puxou de volta.
─Você é a minha mulher, goste ou não─, disse ele, elevando-se sobre
ela. ─Então é melhor gostar.
─Eu não gosto disso. ─ disse ela. ─Nem um pouco.
─Está mentindo, Sil─, disse ele, com os olhos quentes nos dela.
─Você gosta quando eu a beijo. Se já esqueceu, eu vou ter que mostrar ou-
tra vez.
Ian puxou-a para seus braços e começou a beijá-la loucamente. Todo
argumento desapareceu sob o assalto a seus sentidos. Era como se tivesse
estado com fome de seus beijos, sem o saber. Agora que ela tinha descober-
to o que desejava, tinha que prová-lo, tocá-lo. Ela queria engoli-lo todo,
levá-lo para dentro dela, e nunca perdê-lo.
Ela se agarrou a ele, incapaz de chegar perto o suficiente.
─Eu quero senti-la─, disse Ian, empurrando para trás a sua capa.

117
Onde quer que ele a tocasse, as mãos queimavam sua pele com um
calor que atraía cada vez mais. Ele afastou a cabeça e apertou os lábios
onde o pulso dela batia loucamente na base da garganta. Ela respirou pro-
fundamente quando a mãos dele cobriram seus seios.
─Ahhh─, ele suspirou. ─Seus seios foram feitos para minhas mãos.
Ele baixou a cabeça, passando a língua no vale entre eles. Seus lábios
estavam quentes e úmidos em sua pele. Quando ele tomou seus mamilos
entre os dedos, pura luxúria percorreu seu corpo e amoleceu seus membros,
como o uísque em uma barriga vazia.
Sua cabeça caiu para trás contra a pedra que ela deixou as novas sen-
sações levá-la. Quando sentiu a umidade e o calor da boca de Ian em seu
peito, ela deu um salto. Ele descobriu o mamilo através do tecido e correu
sua língua sobre ele, e foi tão bom que ela não queria que ele parasse.
Quando ele chupou o seio, ela sentiu que até os dedos dos pés se esti-
cavam. Ela sentiu um instante fugaz de constrangimento quando percebeu
que tinha gemido em voz alta, mas logo se perdeu no turbilhão de sensa-
ções Ian que estava provocando nela. Ela estava ofegante quando ele largou
seu seio para subir pela garganta com beijos quentes e molhados.
─Ach, eu amo os sons que você faz─, disse ele contra sua orelha.
─Eu a quero debaixo de mim, Sìleas. Eu quero me enterrar dentro de você
e dar-lhe tal prazer que você gritará meu nome.
Ele beijou-a até que seus lábios estavam inchados. Quando ele se
afastou, o ar frio arrepiou a pele aquecida sob suas roupas, deixando-a com
um desejo físico pelo o corpo que tinha pressionado contra o dela. Ela se
sentia atordoada, desorientada e muito consciente do seu corpo. Seus seios
formigavam, sentia-se molhada e com dores entre as pernas, e seus dedos
coçavam pelo toque sedoso de seu cabelo e o tecido áspero de sua camisa.
─Viu, você gosta dos meus beijos,─ Ian disse, parecendo totalmente
seguro de si. ─E eu prometo, você vai gostar ainda mais quando eu a levar
para a cama.
Ela passou a língua sobre os lábios secos.
─Isso não significa que eu gosto de ser casada com você.

118
─É um começo muito bom─, disse ele, com um brilho nos olhos.
─Você é um homem vaidoso, Ian MacDonald,─ ela disse, e voltou
sua atenção para arrumar seu vestido.
Ela sentiu Ian mover-se e olhou para cima para ver o olhar fixo em
algo atrás dela. Segurando um dedo sobre seus lábios, ele acenou com a ca-
beça na direção da estrada. Ela se virou e viu vinte homens subindo a estra-
da em direção a eles. A julgar pelas espadas que ela podia ver, eles estavam
preparados para problemas ou para causá-los.
À frente do grupo, vinha ninguém menos que Hugh Dubh MacDo-
nald.
Ela sentiu a tensão de Ian nos músculos tensos de seu corpo quando
ele se inclinou contra ela, pressionando-a para o chão.
─Eles estão procurando Connor─, disse ele ao lado de sua orelha,
quando o grupo entrou curva da estrada.
─Deus, não─, ela sussurrou. ─O que podemos fazer?
─É mais rápido chegar até Teàrlag pela trilha do penhasco. ─ Ele gi-
rou em torno dela e lhe deu um beijo rápido e duro. ─Eu devo avisar Con-
nor e Duncan. Espere aqui, e eu voltarei para você, logo que eu puder.
─Eu vou com você─, disse ela. ─Você pode precisar de mim.
─Não, você vai ficar aqui. Eu não tenho tempo para discutir. ─Ele
começou a sair, mas parou. ─Droga!
Ela se virou para ver o que chamou sua atenção. Quatro homens de
Hugh estavam se postando ao lado da estrada, em vez de seguir os outros.
─O que eles estão fazendo?─, Ela sussurrou.
─Hugh se lembrou de que costumávamos usar o caminho das
cabras─, disse ele em voz baixa. ─Ele deixou estes homens para cortar a
fuga Connor e Duncan por esta via.
Quando ela olhou para ele, a mandíbula de Ian estava cerrada e os
seus olhos de frio aço azul.
─Venha─, disse ele, pegando sua mão. ─Eu não posso deixá-la aqui
agora.

119
CAPÍTULO 14

Ian pisou no tronco como se estivesse subindo um degrau em vez de


andar sobre um penhasco. Quando ela lhe contou anteriormente que queria
ir com ele, ela só pensava que não queria se separar dele.
Mas o medo tomou conta de sua barriga agora.
Ian ficou de lado no tronco e estendeu a mão para ela.
─Aguente firme, nós vamos atravessar juntos.
Apesar do frio no ar, suas mãos estavam suadas. Ela enxugou-as em
sua capa antes de segurar na mão dele. A mão que envolvia a sua era seca,
quente e reconfortante. Cautelosamente, ela colocou um pé no tronco.
─Eu não sei se posso fazer isso.
─Apenas lembre-se não olhar para baixo. ─ disse Ian. ─Nós estare-
mos do outro lado antes de você perceber.
Ela deu outro passo, e agora ambos os pés estavam no tronco e sobre
o penhasco. Embora ela mantivesse os olhos fixos em Ian, ela podia ouvir a
água correndo abaixo.
─Você está indo bem─, disse Ian. ─Eu não vou deixá-la cair.
Ela deu mais um passo.
─É mais fácil de manter o seu equilíbrio se você se mover rapida-
mente─, disse ele, incentivando-a.
Ela deu mais um passo e outro. Estava ficando mais fácil. Ela se atre-
veu a respirar novamente.
Quando ela estava no meio do caminho, o pé bateu uma moita de
musgo e escorregou. Embora ela recuperasse equilíbrio quase que imedia-
tamente, o seu olhar caiu para a água agitada lá embaixo. O pânico correu
através de seus membros e a fez transpirar. Seus pés não se moveram nova-
mente.
120
─Olhe para mim─, disse Ian num tom que disse que tudo ficaria
bem. ─Estou com você , Sil. Estou aqui.
Com esforço, ela arrancou o seu olhar das ondas quebrando abaixo e
olhou para Ian. Sua expressão era confiante, tranquilizadora.
─Muito bem─, disse Ian. ─Estamos quase lá.
Passo a passo, ela seguiu-o, apertando sua mão até os dedos doerem.
Uma eternidade depois, ela chegou do outro lado, e Ian a colocou no chão.
A sensação de terra firme sob seus pés a deixou com a cabeça leve de alí-
vio.
─Você me deve uma centena de beijos por isso─, ele disse, sua voz
dura e urgente. ─Temos de nos apressar agora.
Sua provação não havia terminado, pois ainda tinha que seguir a tri-
lha do penhasco o resto do caminho para a casa de Teàrlag.
─Não pode me soltar?─ Perguntou ela, quando Ian a puxou. ─Não
estou sentindo meus dedos.
─Não.
O caminho se estreitava até se tornar uma borda mais ou menos da
largura do pé dela. Eles evitaram pisar sobre pedras soltas, a parede do pe-
nhasco às suas costas. Além das pontas de seus sapatos não havia nada
além do ar, as ondas cinzentas e a espuma branca muito abaixo.
O coração de Sìleas bateu em seus ouvidos enquanto examinava o
penhasco abaixo, procurando arbustos crescendo na rocha onde pudesse
agarrar, se ela caísse.
E então seu calcanhar escorregou na pedra solta, e ela perdeu o apoio
dos pés. Ela gritou o nome de Ian enquanto caia para a morte.
Ela continuou gritando enquanto seus pés balançavam no ar.
─Peguei-a─, Ian disse, sua voz tensa.
Ela parou de gritar e olhou para cima. Os joelhos Ian estavam dob-
rados, e ele apoiava o braço na parede de pedra para equilibra-se; a outra
mão ainda segurava o pulso dela. Sua mandíbula estava cerrada, e os mús-
culos do pescoço estavam tensos com o esforço de segurá-la.
Com um gemido, ele a ergueu de volta para o caminho. Seus joelhos
tremiam tão violentamente que ela teria caído novamente se Ian não esti-
vesse segurando-a.
121
─Nós não podemos parar aqui─, Ian disse, olhando fixo em seus
olhos. ─Eu disse a você que não iria deixá-la cair. Você precisa confiar em
mim.
Ela assentiu com a cabeça. Ian tinha muita força em seu braço, ele
não iria deixá-la cair.
─Só um pouquinho mais, amor─, disse Ian, persuadindo-a a prosse-
guir. ─Eu quase posso ver o chalé de Teàrlag agora.
Sìleas estava com o coração na boca, mas ela se moveu com ele.
─Muito bem garota. Mais três ou quatro passos é tudo.
Quando o caminho finalmente se abria para a clareira por trás do
chalé de Teàrlag, Sìleas queria ficar de joelhos e beijar a grama.
─Por isso, você me deve muito mais do que beijos,─ Ian disse, enxu-
gando a testa com a manga. ─Agora temos de encontrar Connor e Duncan.
Eles correram para casa de Teàrlag e encontraram os dois homens
sentados em sua mesa, comendo guisado em grandes tigelas de madeira.
─É hora de correr, rapazes─, Ian disse com voz fria. ─Hugh e vinte
homens armados estão chegando até a estrada.
Connor e Duncan estavam em seus pés antes de Ian terminar de falar.
─Nós vamos estar na caverna─, disse Connor, enquanto prendia sua
claymore. ─Faça barulho para nos avisar se começarem a descer para a
praia.
─Farei ─, disse Ian. ─Vão logo.
─Desculpe, Teàrlag─, disse Connor por cima do ombro, enquanto
saia pela porta.
─Guarde meu ensopado─, disse Duncan, pegando um bolo de aveia.
Ele acenou para eles enquanto seguia Connor.
Sìleas afundou na cadeira que ainda estava quente por Connor ter
sentado nela.
─Onde está seu uísque, Teàrlag?─ Ian perguntou.
─Eu vou buscar─, disse a velha.
Os membros de Sìleas fundiram-se à cadeira enquanto ela olhava os
outros dois ir trabalharem com rapidez e movimentos controlados. Em um
piscar de olhos, Ian despejou o cozido das tigelas no pote pendurado sobre
a lareira, limpou-as com um pano, e pôs na prateleira acima da mesa.

122
Enquanto Ian fez isso, Teàrlag retirou um jarro debaixo da cesta de
costura no canto e verteu uma medida saudável do mesmo em dois copos
sobre a mesa.
─Beba de uma vez─, Ian ordenou a Sìleas e também bebeu o seu.
Sìleas sufocou quando o líquido de fogo queimou sua garganta.
Ian limpou os copos, colocou-os de volta na prateleira, e tomou a ca-
deira ao seu lado.
─Agora, nós viemos aqui ter uma conversa agradável e relaxante
com Teàrlag.
Um momento depois, a porta se abriu e vários homens malcheirosos
lotaram a pequena sala. O primeiro era Hugh Dubh.
Sìleas não o tinha visto tão de perto desde que era criança. Quando
Hugh examinou a pequena casa, ela ficou impressionada com o quanto ele
se parecia com seu irmão, o ex-laird, e Ragnall. Ele tinha o mesmo rosto
largo, impressionante e imponente presença, mas havia algo escuro e sinis-
tro nos olhos enevoados de Hugh . O laird e Ragnall tinham sido homens
duros, mas eles não tinham essa maldade neles.
─Onde eles estão?─ Hugh exigido.
A vaca do outro lado da parede mugiu em queixa quando um dos ho-
mens de Hugh a empurrou de lado e cortou a palha com a claymore.
─Se você fizer o leite de minha vaca secar, se verá comigo─, disse
Teàrlag.
─Os outros três não podem estar longe, se você está aqui─, Hugh
disse a Ian. ─Por que você não nos poupa de um monte de problemas e me
diz onde está meu sobrinho? Connor e eu precisamos ter uma conversa.
─Tenho certeza que você já sabe que Alex está com minha família─,
disse Ian, recostado na cadeira, como se eles estivessem discutindo como
os peixes estavam mordendo. ─Mas eu não vi Connor e Duncan.
─Eu me pergunto por que Ian MacDonald iria querer vir aqui ver
este velha─, disse Hugh, inclinando sua cabeça na direção de Teàrlag. ─E a
única resposta que me vem é que você não queria. Então, eu suponho que
você está aqui porque os outros estão escondidos nas proximidades.
Hugh acenou para seus homens e se dirigiu para a porta.
─Venham rapazes, vamos encontrá-los.
123
─Eu vim com minha esposa─, disse Ian, descansando o braço ao lon-
go das costas da cadeira de Sìleas. Quando Hugh se virou, Ian acrescentou
em voz baixa, ─Problemas femininos, você sabe.
Hugh fixou os olhos sobre Sìleas, fazendo ela se sentir como se ele
pudesse ver embaixo de suas roupas.
─A moça parece-me muito bem.
─Não há nada de errado com ela─, disse Teàrlag, e todas as cabeças
se viraram em sua direção.
─Eu sabia que Ian estava mentindo─, Hugh cuspiu e pegou sua ada-
ga.
─Na verdade sua esposa o trouxe aqui. ─ Teàrlag franziu os lábios e
sacudiu a cabeça. ─Às vezes, uma moça tem um problema com o marido,
embora eu raramente veja isso em um homem tão jovem como Ian.
Ian tossiu e bateu os pés dianteiros da cadeira no chão.
─Teàrlag!─, Disse ele, olhando para a velha vidente.
─Está dizendo que o nosso jovem Ian aqui está tendo problemas para
agradar sua bela mulher?─ Hugh estava sorrindo de orelha a orelha.
─Nada a se preocupar─, disse Teàrlag, soando como se houvesse
muita coisa para se preocupar.
Sìleas sufocou uma risada e colocou a mão na perna de Ian para im-
pedi-lo de se levantar da cadeira.
─Sìleas é uma moça paciente, à espera do marido por cinco longos
anos─, Teàrlag disse, parecendo triste.
─Tenho certeza que ela está disposta a esperar um pouquinho mais
para ele superar seu ferimento de guerra...
─Eu não estou ferido lá─, Ian gritou. ─Não há nada de errado com
minhas partes.
Hugh e os outros homens caíram na gargalhada.
─Às vezes, a lesão está aqui─, disse Teàrlag, batendo a têmpora com
o dedo indicador. ─Mas não se preocupe, eu tenho uma poção que vou pre-
parar para você. Ela funciona... Às vezes.
Ao ver a indignação no rosto de Ian, Sìleas teve de morder as boche-
chas para não rir.
Hugh e os outros homens estavam gargalhando. Quanto mais irritado
Ian ficava, mais eles acreditavam na história de Teàrlag.
124
─Se você perder a paciência com Ian posso encontrar-lhe um novo
marido─, disse Hugh, dando uma piscadela para Sìleas. ─Um que estará à
altura da tarefa.
Os homens irromperam em uma nova rodada de riso.
─Não se incomode─, disse Sìleas, deixando cair seu olhar para o
colo. ─Tenho certeza que Ian estará curado muito em breve.
─É um milagre que ela está esperando─, um dos homens disse, e foi
recompensado com roncos e risadinhas.
─Não há nada de errado comigo. ─ Ian se levantou e apertou as
mãos na frente dele. ─Eu estou pronto para lutar contra qualquer homem
que disser que há.
─É melhor poupar suas forças─, disse Hugh, engasgando de tanto rir.
Ele se virou para Sìleas e acrescentou: ─Não esqueça a minha oferta.
Quando Ian deu um passo em direção a Hugh, Sìleas ficou na frente
dele.
A respiração de Ian era áspera, e os músculos de seus braços estavam
tensos sob seus dedos. Seria tolice Ian atacar Hugh com cinco dos seus ho-
mens na sala e outros quinze esperando lá fora.
Hugh jogou a cabeça para trás, deixando seu riso encher a sala min-
úscula. Sìleas tinha certeza, que ele estava tentando enfurecer Ian e estava
perto de conseguir.
─Não é sábio rir das desgraças dos outros─, disse Teàrlag ─, especi-
almente quando você mesmo estará enfrentando coisas piores.
O sorriso de Hugh desapareceu.
─O que quer dizer, velha?
─Eu vejo sua morte, Hugh MacDonald Dubh.
O rosto de Hugh ficou sem cor, e ele deu um passo para trás.
Teàrlag pegou uma tigela pequena na prateleira acima da lareira e jo-
gou o que parecia ser ervas secas sobre o fogo, fazendo-o cuspir e soltar fu-
maça. Então, ela revirou seu olho bom, e começou a fazer um som agudo
estranho enquanto ela mudou o peso do corpo de um pé para o outro.
─Eu vejo isso claro como o dia─, Teàrlag disse em uma voz distante,
como se estivesse falando com eles de outro lugar.

125
─Você está deitado em uma mesa longa, e as mulheres estão prepa-
rando seu corpo para a sepultura.
─Não diga isso, bruxa!─ Hugh ergueu as mãos enquanto recuava até
a porta da cabana.
─Eu vejo sua morte, Hugh MacDonald Dubh─, Teàrlag gritou, agi-
tando os braços. ─Eu vejo sua morte, e ninguém está chorando!
─Dane-se, mulher! Você não sabe de nada. Não vê nada ─, gritou
Hugh, então se virou e saiu da casa. Os outros homens tropeçavam uns sob-
re os outros em sua pressa para segui-lo.
Assim que os homens partiram, Ian pôs os olhos em chamas sobre a
vidente.
─Por que você achou necessário falar com eles sobre a minha mas-
culinidade, Teàrlag? Todos os homens na ilha vão rir de mim esta noite.
─As mulheres, também. ─ Teàrlag mostrou os três únicos dentes su-
periores em um largo sorriso.
─Sua história os fez desviar o olhar de Connor e Duncan, ─ Sìleas
disse em uma voz suave, enquanto tentava esconder seu próprio sorriso.
─Ah, bem,─ Teàrlag disse, acenando com a mão. ─Você mereceu
depois do que fez para Sìleas.
─O quê?─ Ian disse, batendo com o punho na mesa. ─Eu não fiz
nada para merecer ser humilhado.
─Não acha que todo o clã comentou quando deixou Sìleas na manhã
seguinte ao casamento?─ Teàrlag disse, sacudindo um dedo para ele.
Ian sentou-se. Depois de um longo momento, ele se virou para Sìleas
e pegou a mão dela.
─As mulheres a humilharam?
─Oh, sim, ─ Sìleas disse com uma risada seca. Falando alto, ela imi-
tou as vozes. ─ Você não conseguiu manter o seu homem em casa, Sil? 'O
que você acha que está detendo Ian? ─Se você lhe desse um filho, talvez
seu marido voltasse para casa.
Ian levou sua mão aos lábios e beijou-a.
─Sinto muito. Quando eu estava na França, eu ainda pensava em
você como uma jovem que não teria nenhum uso para um marido.
─Como se você tivesse pensado em mim.

126
─Ian, vá buscar os outros rapazes agora─, disse Teàrlag, pegando as
tigelas da prateleira. ─Eles ainda não acabaram de jantar.
Sìleas achou divertido Teàrlag falar com Ian como se ele fosse um
menino de dez anos e não um homem com três vezes o seu tamanho. Sua
diversão acabou assim que Ian saiu e Teàrlag focou seu único olho nela.
─Então, por que você não levou aquele seu marido bonitão para a
sua cama ainda?─ Teàrlag disse. ─Eu sei que não é pela razão que eu dei
àquele maldito Hugh Dubh.
Sìleas sentiu suas bochechas esquentarem, e ela baixou o seu olhar
para o chão.
─Dê-lhe tempo─, disse Teàrlag, cobrindo a mão de Sìleas com sua
mão retorcida. ─Ian tem tudo para ser o homem você quer que ele seja.
Está usando o amuleto que eu fiz para você?
Sìleas assentiu.
─Você dorme com ele ao lado do seu coração?─ Teàrlag perguntou.
Ela balançou a cabeça novamente.
─Então, você sabe o que fazer, moça.

CAPÍTULO 15

Ian temia por sua saúde.


Sìleas estava enlouquecendo-o de desejo. Não podia ser bom para
um homem querer tanto uma mulher sem obter satisfação. Coletar os beijos
que ele disse que ela lhe devia apenas fazia a tortura pior.
Ele ficava acordado à noite imaginando sua pele cremosa à luz do
luar. Toda vez que ele ouviu sua voz na sala ao lado ou tinha um vislumbre
dela cruzando o quintal, esperava que ela tivesse vindo procurá-lo, para lhe
dizer que estava pronta.
Imaginou-a andando na direção dele, devagar, balançando os quadris
e com olhos brilhantes. Então, ela iria apoiar as mãos sobre seu peito e di-
zer:
127
─Eu decidi. Eu o quero na minha cama, Ian MacDonald.
Ian balançou a cabeça e largou o martelo antes de machucar a si mes-
mo. Toda vez que ele a encurralava em um canto para roubar um beijo, al-
guém entrava e a distraia. Algumas vezes ele conseguia tocar-nos s seios
dela. Ach, ele ficava duro só de pensar nisso, mas bastava.
Ele não aguentava mais isso.
E não tinha tempo a perder. Com o Samhain há pouco mais de uma
quinzena, eles precisavam fazer alguma coisa. Ele tinha discutido com
Connor e Duncan, quando foi buscá-los na caverna naquele dia na casa de
Teàrlag. Todos eles concordaram que a melhor maneira de influenciar o seu
clã para apoiar Connor era tomar Knock Castle.
Para justificar o ataque aos MacKinnons, Ian precisaria remover
qualquer dúvida quanto ao seu direito a Knock Castle como marido de Sìle-
as. Claro, eles poderiam tomar o castelo sem uma reivindicação justa, aqui-
lo era feito o tempo todo, mas chamaria a atenção da coroa para a disputa.
Connor e MacDonalds não precisavam de mais esse problema, além do que
eles já tinham.
O que significava que Ian precisava consumar seu casamento. Levar
sua noiva para sua cama. Era uma sorte, de fato, que as necessidades do clã
combinassem com o seu próprio desejo.
Tudo estava arranjado. Ian tinha convencido sua mãe e Niall que, le-
var seu pai para um passeio de barco em torno de Seal Island faria bem a
todos. Claro, Alex não teve dificuldade em persuadir Dina a desaparecer
com ele durante a tarde.
Finalmente, Ian teria Sìleas só para ele.
Encontrou-a na cozinha. Ela estava inclinada sobre a mesa de traba-
lho, pressionando uma mistura de aveia para o fundo de uma panela. Ele
suspirou quando se imaginou deitado naquela mesa e com ela montada sob-
re ele. Ela estava com os cabelos presos para cima, exceto por algumas me-
chas soltas que formavam cachos em seu pescoço e nos lados do seu rosto.
─Cheira bem, ─ ele disse. A cozinha estava quente e cheirava a aveia
e mel.

128
Ela parou ao som de sua voz e olhou para cima, de olhos arregalados.
─Eu não ouvi entrar.
─O que é que você está fazendo?
─Um mimo para seu pai─, disse ela com um sorriso. ─Ele tem um
fraco por doces, você sabe. E vou levar um pouco para Annie. Ela tem um
novo bebê.
Ian arregaçou as mangas e deu a volta na mesa, parando ao lado dela.
─Eu costumava ajudar minha mãe na cozinha.
Ela lhe deu um olhar de soslaio.
─Tenho certeza que você era de grande ajuda para ela.
─Ach, estou ferido, você não acredita em mim─, disse ele. ─Venha,
vou mostrar o quanto sou bom.
Ela ergueu as sobrancelhas, mostrando-lhe que suspeitava que ele
não estivesse apenas falando sobre os seus dotes culinários.
Ele não estava.
Sìleas mergulhou uma colher de madeira num pote e derramou o mel
sobre a mistura de aveia.
─Dina deveria estar me ajudando. ─ Ela bateu a colher de pau contra
a lateral da panela. ─Mas não apareceu.
─Você não vai ver Dina esta tarde─, disse Ian, pegando a colher dela
para lamber o mel. ─Ela e Alex estão... Fazendo companhia um ao outro.
Suas mãos pararam bruscamente, e suas bochechas ficaram verme-
lhas.
─Então é isso.
Ian estava satisfeito pela oportunidade de adverti-la sobre Alex.
─Espero que Dina não espere ser a única.
─Espero que Alex também não.
Ele riu, e então acrescentou.
─Alex não é o tipo do homem de ficar na cama de uma mulher.
─Eu não acho que você esteja em uma posição de criticar Alex,
quando dificilmente pode reivindicar a si mesmo ter vivido a vida de um
santo. ─Sìleas pegou a panela e bateu com tanta força que a mesa sacudiu.
─Isso ajuda a misturar. Vou esperar para cozinhar quando eles estiverem
em casa.
Ian inclinou-se para ela.
─Estou vivendo a vida de um monge, agora, se isso é algum conforto
para você.
129
─Ach, tal sacrifício─, disse ela, enquanto se movia em torno dos in-
gredientes sobre a mesa para nenhum propósito que pudesse discernir. ─Há
quanto tempo está assim, uma semana inteira?
Ele moveu-se para trás dela e segurou firmemente em seus quadris.
Ah, ela se sentia bem apoiada nele.
─Uma semana parece um tempo muito longo─, ele disse enquanto
roçava-lhe o pescoço ─, quando cada momento que passa eu estou desejan-
do tê-la nua.
Ele beijou-lhe o lado do pescoço e sentiu seu pulso acelerado debai-
xo de seus lábios. Ela respirou profundamente quando ele pressionou sua
ereção latejante contra suas nádegas.
─Eu adoraria lança-la sobre essa mesa ─, disse ele, enquanto passava
as mãos pelos braços dela.
─Shhh! Alguém pode chegar e ouvi-lo. ─Ela parecia escandalizada,
mas estremeceu ao seu toque.
─Ninguém está em casa─, disse ele, mordiscando sua orelha. ─só
você e eu.
Sua respiração mudou quando ele deslizou as mãos em torno de suas
costelas e acariciou a parte inferior de seus seios com os polegares.
─Eu estou pensando que a primeira vez que eu fizer amor com você,
deve ser em nosso leito conjugal─, disse ele. ─Mas se você quiser fazer
amor aqui na mesa, eu estou à disposição.
Sìleas limpou as mãos no avental e fingiu empurrar seus antebraços.
─Deixe-me ir, agora.
Não era uma resistência séria. Quando Sìleas lhe disse que não, ela
bateu-lhe com uma frigideira e pulou sobre ele com uma faca na mão.
Mas quando ele a tocou na parte de trás do pescoço foi recompensa-
do quando um ─mmmm─ que escapou de seus lábios. Sua pele era macia e
cremosa como manteiga fresca e cheirava acanela e mel. Precisando sentir
o gosto dela, ele passou a língua ao longo de sua pele acima da borda do
vestido.

130
Ele tocou a plenitude suave de seus seios e teve que fechar os olhos
lutando contra a onda de luxúria que o tomou. Oh, Deus, como ele a deseja-
va.
Quando ele encontrou seus mamilos, ela fez um som baixo no fundo
de sua garganta que o deixou louco, e ele ficou determinado a ouvi-lo nova-
mente. Quando ele revirou os mamilos entre os dedos, ela apoiou a cabeça
contra o seu ombro, e sua respiração se tornou rápida e superficial. Ele ten-
tou acalmar a própria respiração. Ela era como cera nas mãos dele agora,
quente e moldável ao seu toque.
Desta vez, ela o deixaria meter-se sob suas saias, ele sabia disso.
Deus, ele ia explodir aqui mesmo se ela continuasse se movendo assim
contra ele.
Era hora de levar a sua mulher para o andar de cima. Finalmente. En-
tão quando ele estava prestes a levantá-la nos braços para levá-la para cima,
notou uma marca em seu pescoço.
Era uma linha branca, pouco visível. Uma cicatriz.
Ele passou o dedo sobre ela.
─O que é isso?
Sìleas ficou rígida. Quando ela tentou afastar-se dele, ele a segurou
no lugar.
─Como é que você conseguiu isso?
─Não é nada─, disse ela. ─Deixe-me ir, agora.
Ele empurrou a ponta de seu vestido para baixo uma ou duas polega-
das para ver melhor. A cicatriz continuava até suas costas, fora da vista.
Ela virou-se em seus braços e descansou as palmas das mãos sobre o
peito. Olhando para ele com olhos entrecerrados, ela disse:
─Quero que me beije.
Seu olhar fixou-se em seus lábios cheios, entreabertos, e ele ficou
tentado. Mas por que ela estava tão desesperada para desviar a atenção
dele? Quando ela deslizou as mãos até seu pescoço e encostou-se a ele, foi
insuportavelmente difícil resistir a ela.
Ele roçou seu rosto suave com o polegar.
─O que é que você não quer me mostrar?

131
Ela apertou os lábios em uma linha fina e estreitou os olhos. Seu bre-
ve jogo de sedução acabou. Era uma pena. Mas algo aqui não lhe cheirava
bem.
Cada vez que ele a tinha beijado, as coisas tinham corrido bem, mui-
to bem até o momento que ele começou a despi-la. Enquanto ele pensava
sobre isso, percebeu que esta era a primeira vez que ele a tinha visto com o
cabelo para cima.
─Você pode cooperar ou não─, ele disse, ─mas eu vou dar uma olha-
da.
Seu lábio inferior tremeu. Santos do céu, o que era isso? Sìleas nunca
chorava. Mesmo quando ela era uma criança de seis anos e seu pai a esque-
cia nos lugares, deixando-a a encontrar seu próprio caminho para casa, ela
não derramava uma lágrima.
Ele beijou o lado do rosto e delicadamente voltou-a.
─Não, ─ ela disse com uma voz fraca, mas ele poderia dizer que ela
tinha desistido de esperar que ele obedecesse.
Seus dedos pareciam grandes e desajeitados, quando ele soltou os pe-
quenos ganchos. Quando ele os tinha soltado até cintura, ele empurrou o
vestido de seus ombros. A camisa que usava por baixo tinha um decote
grande o suficiente na parte de trás para ele ver o que ela estava esconden-
do.
A fúria chegou como uma tempestade, batendo em seus ouvidos e fa-
zendo suas mãos tremem. Ele a rodou para bater com o punho na mesa.
─Eu vou matá-lo. Eu juro que vou matar quem fez isso com você.
Sìleas estava chorando em silêncio, mas Ian estava tão cheio de vio-
lência que estava com medo de colocar as mãos sobre ela.
─Quem fez isso com você?─ Perguntou ele. ─Você tem que me di-
zer.
Enxugou o rosto com a mão.
─Quem acha que foi? Meu padrasto.
─Ach, Sil, por que não me disse?─ Ele queria jogar sua cabeça para
trás e gritar em sua indignação. Ela ainda era uma criança quando Murdoc

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fez isso. ─Se eu soubesse que ele estava machucando você, eu teria feito
alguma coisa.
Mas ele devia ter sabido. Ele sempre foi seu protetor, e isso tinha
acontecido debaixo do seu nariz.
─Quando ele fez isso?─ Fez um grande esforço para suavizar sua
voz, sabendo que raiva não era o que ela precisava dele agora, mas era difí-
cil quando seu corpo ainda pulsava com ela.
Ela respirou entrecortadamente.
─No principio Murdoc não se incomodava comigo. Como sabe, ele
esperava que minha mãe lhe desse um filho que iria herdar Knock Castle.
A mãe de Sìleas tinha perdido vários bebês antes de completarem um
ano. E Ian não tinha ideia de quantos abortos a pobre mulher teve.
─Depois que ela morreu ao perder o último bebê, Murdoc pôs na ca-
beça que ele poderia manter minhas terras casando-me com seu filho An-
gus. Ele não me deu paz depois disso. Quando eu lhe disse que nunca iria
casar com um MacKinnon, muito menos com aquele filho nojento dele, ele
bateu em mim para me fazer concordar.
Ian cerrou o maxilar até doer para não gritar maldições. Anos atrás,
Angus MacKinnon quase causara uma guerra de clãs por estuprar uma mu-
lher do clã da mãe de Ian, o Clã Ranald. A questão foi resolvida com uma
pesada multa, mas ressentimentos permaneceram, assim como aumentaram
os rumores de queda de Angus para a violência.
─Mas você sabe como eu sou teimosa. ─ Sìleas disse, olhando por
cima do ombro para dar-lhe um sorriso amargo. ─No final, Murdoc me
trancou no meu quarto de dormir e mandou chamar Angus.
─E esse foi o dia que encontrei você?─ Ian perguntou já sabendo a
verdade amarga.
Ela assentiu com a cabeça.
─Murdoc não sabia sobre o túnel.
Cristo, me perdoe. Todo esse tempo, ele culpou Sìleas pelo seu casa-
mento forçado. Ele pensou que ela havia agido por causa de alguma loucu-
ra de menina que tinha ido mais longe do que ela esperava. Ele não tinha
noção que estava em sérios problemas naquele dia.

133
Mas então, ele não tinha feito muito esforço para descobrir, também.
Ela cobriu o rosto e disse num sussurro estrangulado:
─Eu sabia que você me acharia nojenta outra vez quando visse a ci-
catriz.
─Deus me ajude, Sil, como pode dizer isso?─ Ele a virou e puxou-a
contra o peito. ─Por favor, diga-me por que você pensa tão mal de mim.
Ele apertou-a e beijou seus cabelos até que ela parou de chorar. Em
seguida, ele levantou-a nos braços e a carregou para as escadas.
Às vezes as palavras não eram suficientes.

CAPÍTULO 16

Sìleas descansou a cabeça contra o peito de Ian, enquanto ele a carre-


gava pelas escadas. Ela não sabia mais que queria, mas se sentia segura ani-
nhada em seus braços, e ela precisava se sentir segura agora.
Ian levou-a para seu quarto de dormir e chutou a porta para fechá-la.
Tão logo ele a colocou de pé ao lado da cama, tirou-lhe o vestido por cima
da cabeça, deixando-a em pé só com a camisa. Ela estava muito exausta
134
para ficar embaraçada. Ele manteve uma mão em seu ombro para firmá-la
enquanto dobrava os cobertores, então ele a depositou sobre a cama.
Com uma delicadeza surpreendente em um homem tão grande, ele
afastou o cabelo de seu rosto com os dedos.
O gesto fez lembrar-se da bondade de seu pai naquele dia, que ele os
encontrou na floresta e se ajoelhou ao lado dela, falando baixinho e segu-
rando a mão dela entre as suas mãos enormes.
Sob o perigoso guerreiro endurecido que Ian havia se tornado, a bon-
dade do menino que ele fora uma vez permaneceu. Ele emoldurou-lhe o
rosto com as mãos e se inclinou para beijá-la. Ela suspirou quando ele ro-
çou os lábios sobre os dela.
─Eu não quero que você se preocupe─, disse ele em voz baixa,
─Afinal, estou indo para a cama com você.
Sua boca ficou seca quando ele soltou sua claymore e colocou-o no
chão ao lado da cama, onde estaria à mão. Ela sabia que ele fazia isso por
hábito, o que, também, a fez se sentir segura. Ninguém iria passar pela por-
ta enquanto Ian estivesse aqui.
Ela viu quando ele tirou as botas e as meias e depois desenrolou seu
plaid e ele caiu. Ian ficou de pé vestindo apenas uma camisa, que o cobria
até as coxas. Ela olhou para suas pernas poderosas, tão diferentes de quan-
do ele era um menino, então trouxe seu olhar lentamente de volta ao seu
rosto. Ian tinha sido um menino adorável, mas ele era tão bonito agora, que
até doía olhar para ele.
Quando ele percebeu o seu olhar e seus olhos escureceram, ela sentiu
uma profunda agitação dentro de si. Mesmo se o que ele sentisse por ela
fosse piedade, não podia deixar de reagir ao seu desejo por ela. Desejo, pi-
edade, dever. Se isso era tudo o que o trouxe para sua cama e garantiu seu
casamento, ele nunca iria se contentar com ela. Pelo menos não por muito
tempo.
Ela respirou tremula enquanto Ian abria sua camisa. Ele parou no
meio do caminho e deixou cair as mãos.
Ele não a queria mais. As cicatrizes eram muito feias.

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─Não vou tomar-lhe a virgindade neste momento, apenas porque
você está carente─, disse ele. ─Eu quero que você decida aceitar-me como
seu marido com a cabeça e coração limpos.
A cama balançou quando ele deitou ao seu lado. Antes que ela pudes-
se recuperar o fôlego, ele puxou-a para seus braços. O calor e a energia dele
irradiavam da cabeça aos pés.
─O que eu vou fazer─, disse ele com o rosto tão perto que ela podia
sentir o calor de seu hálito em seus lábios,
─É deixá-la sem nenhuma dúvida de que eu a desejo.
Ela engoliu em seco. Sìleas suspeitou que seu plano envolvesse a re-
moção do resto de suas roupas.
─Está muito claro aqui─ foi tudo que ela conseguiu dizer através
garganta apertada.
─A primeira vez que a tenho nua, quero vê-la por inteiro.
A primeira vez. Haveria uma segunda depois de vê-la de costas? Ele
só tinha visto um pouco de suas cicatrizes na cozinha. E mesmo que as ci-
catrizes não o perturbassem, ela iria decepcioná-lo de outras maneiras?
─Você é tão linda como o seu nome, Sìleas. ─ Ele disse o nome dela,
extraindo o som shhh. ─Eu deveria saber que você ia crescer. Além disso,
tem os seus dentes.
Ela não achava que fosse possível fazê-la sorrir esta noite, mas ele
conseguiu.
─E o que há de errado com meus dentes?
─Absolutamente nada. ─ Ele arrastou o polegar sobre o lábio inferi-
or, fazendo-a prender a respiração. ─Eu gostaria de senti-los na minha pele.
─Está brincando?─ Ela não tinha a intenção de dizer as palavras em
voz alta.
Ele manteve os olhos fixos nos dela enquanto sacudia a cabeça, e seu
coração pulou uma batida. Tomando-lhe a mão, ele raspou os dentes sobre
a almofada do polegar, enviando um turbilhão de sensações através dela.
Quando ele cobriu sua boca com a dele, ficou difícil pensar em suas
preocupações.
Ele já beijara muitas vezes, então ela pensou que estava preparada.
Mas beijar deitada era uma experiência completamente diferente. Ela se

136
sentia oprimida pela sua proximidade, pelo peso dele debruçado sobre ela,
pressionando-a sobre a cama.
Seus lábios eram quentes e macios. Quando ela colocou a palma da
mão no rosto dele, sentiu a aspereza da barba contra a palma da mão, ele
fez um som baixo em sua garganta. O movimento da língua dele em sua
boca enviou espirais de prazer ao ventre dela. Seu coração estava batendo
muito rápido. E isso foi antes de ela sentir o calor da mão de Ian cobrindo-
lhe o seio.
Ela ofegou quando ele afastou a boca da dela.
─Ahh, você tem um gosto muito bom, Sil─, disse ele em seu ouvido.
Ele mordiscou sua orelha, enviando arrepios inesperados através
dela, em seguida, beijou o rosto dela. Quando ele mudou-se para sua gar-
ganta, tirou suspiros involuntários de seus lábios. O calor úmido de sua
respiração, seus lábios, a língua em sua pele, capturou toda a sua atenção.
Mas quando ela sentiu a boca sobre a pele nua no topo de um seio, seus
olhos se abriram.
Quando ela começou a sentar-se, Ian apertou as mãos em torno de
seus pulsos, pressionou-os na cama nas laterais da cabeça, e começou a dis-
solver sua resistência com beijos intermináveis. Ela não estava ciente de
quando ele a soltara, mas ela tinha as mãos em torno de seu pescoço agora,
puxando-o para mais perto.
Ela gemeu em decepção quando ele se afastou. Ele deu um sorriso
quente que brilhava em seus olhos.
─Acho melhor deixarmos essa parte para depois, Sil.
Antes que ela percebesse, ele virou-a sobre seu estômago.
Ao adivinhar a sua intenção, ela agarrou os lados da camisa com as
duas mãos.
─Não, Ian. Não.
Em vez de puxar a camisa como ela esperava, ele afastou o cabelo
para o lado e começou a beijar seu pescoço. Seus lábios eram tão suaves,
ela suspirou sem querer. Então ele beijou seu ombro nu. Ian posicionou as
penas nas laterais do corpo de Sìleas, ele desceu lentamente por suas cos-
tas, esfregando as mãos firmes sobre ela e beijando-a através da camisa.
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Ela havia sido tão pouco tocada em sua vida. A intimidade do contato
causado vibrou em seu estômago.
Ela ficou paralisada com a sensação inesperada quando ele mordis-
cou o seu traseiro por sobre camisa, parecia com o que sentiu quando ele
usou os dentes. Quando ela levantou-se nos cotovelos para olhar por cima
do ombro, Ian deu-lhe um sorriso diabólico.
Ela deixou a cabeça afundar de volta para a cama. Fechando os
olhos, ela se concentrou em suas mãos deslizando sobre seus quadris para
cima e para baixo de suas coxas. Quando ele pegou seu pé e beijou a plan-
ta, ela sentiu cócegas e prazer ao mesmo tempo. Seu pé! Certamente, ele
devia gostar um pouco dela para fazer isso.
Ele começou a voltar pelas pernas, mas desta vez ele estava tocando
a pele nua. Ela cerrou os punhos em sua camisa de novo, mas os dedos re-
laxaram enquanto ele massageou os músculos de suas pernas.
─Suas pernas são firmes─, disse ele. ─Você trabalha muito.
─Mmmph.
Suas mãos fortes faziam maravilhas em seus músculos doloridos,
embora ela ficasse tensa toda vez que a mão desviava para o interior de sua
coxa.
Quando ele mordiscou seu traseiro, novamente, não havia tecido en-
tre essa parte do seu corpo e os dentes dele. Mas era tão bom ser tocada,
que ela não se opôs.
Ela estava à deriva em uma poça de calor líquido, quando Ian se in-
clinou sobre ela e disse em seu ouvido:
─Eu preciso fazer isso.
Ela sentiu uma lufada de ar frio nas costas. Então, ela ouviu Ian res-
pirar fundo e o sentiu ficar acima dela.
─Não!─ Ela tentou se levantar, mas Ian segurou-a pelos ombros.
Ele ficou quieto por um longo tempo. Então disse com uma voz ter-
na:
─Na verdade, eu mal posso ver as cicatrizes, são quase invisíveis.
─Você está mentindo para mim. Não deve suportar a olhar para mim.
─Não, não, não é nada disso─, disse ele.
Ela suspirou e descansou a cabeça na cama de novo.

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─Eu posso apenas imaginar como devem ter sido, quando ele ma-
chucou─, disse ele. ─E isso me faz ficar tão bravo, eu quero matar o des-
graçado com minhas próprias mãos.
Quando sentiu os lábios dele tocarem suas costas outra vez com bei-
jos leves, lágrimas encheram seus olhos por sua ternura.
─Eu tenho estado com medo que Murdoc venha me buscar desde
que o seu pai veio para casa ferido. ─ Ela olhou para Ian por cima do omb-
ro e o viu estremecer como se suas palavras o ferissem.
─Ele não vai mais levá-la─, disse ele. ─Eu não vou deixar.
─Eu sei─, disse ela sobre o travesseiro.
─Obrigado, Sil─, disse ele em voz baixa.
Ela não se sentia confortável em ficar nua desde a surra. Depois de
esconder suas cicatrizes por tantos anos, ela começou a se sentir à vontade
em sua nudez quando Ian percorreu suas costas com os seus beijos suaves e
quentes. Enquanto ele a beijava, suas mãos se moviam em círculos, para
cima e para baixo nas laterais de seu corpo, tocando os lados de seus seios
e seguindo as linhas de sua cintura e quadris.
─Ah, Sìleas─, disse ele. ─você é tão bonita. Eu quero tocar cada
centímetro seu.
Gordan e outros homens tinham dito que ela era bonita, mas ela nun-
ca tinha acreditado. Mas o toque de Ian quase a fez acreditar. Seu toque era
reverente e calmante.
Mais, a sua aceitação começou a curar a cicatriz em seu coração.
Cinco anos atrás, as palavras duras de Ian no dia de seu casamento ti-
nham sido como o ardor do álcool em suas feridas frescas. Elas tinham
aprofundado a cicatriz dentro dela. Talvez fosse essa a única coisa que po-
deria curá-la.
Ian se deitou ao seu lado, virando-a com ele para que ela sentisse o
calor reconfortante de seu corpo nas costas e a volta dela. Ela fechou os
olhos, seguindo o movimento da sua mão até a coxa e sobre a curva do
quadril até a cintura.
Então ela sentiu algo duro e urgente pressionado contra seu traseiro e
sua sensação de paz desapareceu. Seu coração estava batendo duas vezes

139
mais rápido que antes. Apesar da declaração de Ian que não tinha a inten-
ção de tirar sua virgindade, dessa vez, ela de repente sentiu a sua vulnera-
bilidade, deitada nua na cama ao lado de um homem excitado.
Ela lambeu os lábios.
─Embora tudo tenha sido muito agradável, eu devo me levantar ago-
ra.
Ela conseguiu sentar-se, mas Ian sentou-se com ela.
─Ainda não─, disse Ian com uma mão firme em seu quadril. ─Con-
fie em mim.
─Eu posso adivinhar o que vem a seguir─, disse ela e tentou se es-
quivar dele.
─Eu não acho que você possa ─ disse ele, puxando-a para mais per-
to. ─Mas eu estou ansioso a mostrar-lhe.
Ela se virou para ele.
─Eu sei que você se sente culpado por coisas que não são sua culpa,
como a perna de seu pai e as cicatrizes nas minhas costas e por algumas
coisas que podem ser culpa sua. Mas você não pode corrigi-las, vincu-
lando-se a mim agora.
─Eu disse a você, eu não vou levá-la tão longe─, disse ele, envolven-
do o rosto dela com a mão. ─Eu sei que você não está pronta. Pode confiar
em mim.
Confiando nele ou não, ela o deixou persuadi-la a voltar para a cama.
Ela estava deitada de lado novamente, com ele atrás dela.
─Eu posso sentir o cheiro da urze de verão em sua pele─, disse ele,
quando cheirou seu pescoço.
Ela prendeu a respiração enquanto sua mão se moveu para cima sob-
re sua barriga, em seguida, deixou escapar um pequeno suspiro quando a
mão dele envolveu um seio. Todos os seus sentidos estavam alertas, com o
calor dele em torno dela, pressionado contra ela por toda a parte. Sua respi-
ração ficou difícil quando ele plantou quentes, beijos molhados ao lado da
sua garganta. Então ele apertou-a contra ele para que seu corpo se movesse
com o dele em um movimento de balanço lento.

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─Eu quero você─, disse ele em seu ouvido. ─Diga-me que sabe dis-
so.
─Sim─. Claro que desejava, mas ele provavelmente desejaria qual-
quer mulher que estivesse pressionada contra ele nua na cama.
Ele a distraiu, esfregando o polegar sobre seu mamilo. As sensações
dispararam para algum lugar no fundo de seu ventre. Então ele virou de
costas e tomou o seio na boca.
Será que todos os homens sabem fazer isso? Ela estava respirando
muito rápido. Ela arqueou as costas, seu corpo implorando para ele não
parar, quando as sensações rasgaram-na e sentiu uma dor surda entre as
pernas.
Ela queria sentir a pele dele contra a dela.
─Você não pode tirar sua camisa?
─Quer me matar, moça?─, Perguntou ele, mas sentou-se e tirou a ca-
misa.
Quando ele puxou-a em seus braços, ela cerrou os dentes, saborean-
do a deliciosa sensação dos músculos e dos pelos no peito duro contra os
seios. Ele beijou-a até que ela se sentia como se estivesse flutuando.
Sua língua moveu-se contra a dela quando ele passou os dedos em
círculos lentos de seu quadril até o topo da sua coxa.
Cada vez que seus dedos roçavam o lugar que doía entre as pernas
causavam uma explosão de sensações. Ela se sentia tão sensível que chega-
va a ser doloroso e quase gemeu de decepção cada vez que sua mão se afas-
tava.
Quando ele finalmente passou os dedos entre as pernas, a palavra:
─Sim!─ Saiu de sua boca. Ian gemeu e colou a boca sobre a dela.
Este não foi o beijo lento e sensual de antes, mas ambicioso, exigen-
te. Enquanto ele violava sua boca, seus dedos fizeram uma dança mágica
entre as pernas. Ela se colou a ele, querendo-o mais perto, mais perto ainda,
quando as sensações cascateavam através dela.
Ele terminou o beijo e olhou para ela com olhos que estavam escuros
com fogo azul.
─Eu quero vê-la gozar ─ disse ele em voz áspera. ─Não sabe o que é
isso?
141
Era difícil se concentrar com o que ele estava fazendo com ela com a
mão, mas ela conseguiu balançar a cabeça.
─Eu quero dar-lhe prazer até fazê-la gritar.
─É mesmo? ─ ela perguntou em dúvida. ─ Tem certeza?
─Oh, sim─, disse ele, dando-lhe um sorriso perverso fazendo ondu-
lar seus dedos. ─Confie em mim. Deixe-me fazer isso.
Ele lhe deu outro beijo profundo. Em seguida, ele foi passando a lín-
gua entre os seios, circulando seu mamilo, enquanto movia seus dedos má-
gicos entre as pernas. Quando ele tomou o seio na boca e o sugou, ouviu-se
emitindo sons agudos, suplicantes. Tudo o que ele estava fazendo, ela que-
ria mais. As sensações percorriam seu corpo até que cada fibra de seu ser
estava esticada com a tensão, à espera de alguma coisa, algo mais.
Seu corpo se sentia como se fosse partir pode tirar em dois, mas Ian
era implacável.
E então ela explodiu em mil pedaços. Ela ouviu-se gritar quando o
corpo dela se esticou em um espasmo de intenso prazer que a deixou tre-
mendo. Antes que ela pudesse recuperar o fôlego, Ian a beijou com uma ne-
cessidade e uma urgência que enviou uma nova onda de desejo através
dela. Suas mãos estavam por toda parte, apertando, acariciando, enquanto
ele a devorava com seus beijos.
Quando rolou em cima dela e abriu suas pernas com o joelho, ela não
se lembrou de sua promessa.
Ela queria o que ele queria. Ela o queria dentro dela, para se fundir
com ele, ser um com ele.
Uma lágrima deslizou para o lado do rosto dela, porque este era o
Ian, o homem que sempre foi concebido para ser seu marido. O homem que
queria ser o seu primeiro amante e seu ultimo. Só podia ser Ian. Sempre
Ian, e nenhum outro.
Quando o seu eixo tocou seu centro, o desejo surgiu através dela
como uma onda batendo na praia. Ela se agarrou aos seus ombros, pu-
xando-o para frente. Mas ele moveu seu corpo para longe dela e baixou a

142
cabeça para descansar a testa de leve no peito dela. Seu corpo estava tão
tenso que sua respiração arrepiou sua pele úmida.
─Eu estou tentando me lembrar de minha promessa─, disse ele.
─Eu quero que esqueça. Por favor, Ian.
Mas ele afastou-se dela e caiu de costas na cama. O ar estava carre-
gado com a tensão entre seus corpos, e os dois estavam sem fôlego.
─Eu só precisava parar um pouco─, disse ele.
Ela se virou e tentadoramente descansou a mão no alto de seu estô-
mago. Ele paralisou ao seu toque, em seguida, tomou a mão dela e trouxe-a
para a boca para beijar os dedos.
Ele virou o rosto e colocou a mão contra sua bochecha.
─Você gostou?
─Sim─. Ela corou, sentindo-se envergonhada.
─Foi maravilhoso ver você sentir prazer ─, disse ele, passando a mão
em seus cabelos. ─Eu amo os sons que você faz, e a sensação de tê-la em
minhas mãos.
Ao ouvir isto, Sìleas sentiu a tensão crescer novamente. Ela engoliu
em seco. A intensidade de seu olhar sobre ela aumentou. Quando ele pôs a
mão entre suas pernas de novo, ela prendeu a respiração.
Mantendo os olhos fixos nos dela, ele disse:
─Eu gosto que esteja quente e úmida, para mim, Sil. Você é uma
bela mulher. Você é tudo que eu quero.
─Eu não sei o que fazer. Eu não deveria... ─Ela tentou segurar o
pensamento, mas Ian estava movendo seus dedos daquela forma que torna-
va impossível pensar em mais nada.
─Não amor. Esta vez é apenas para você ─, disse ele, enquanto rola-
va de costas.
Em seguida, a boca de Ian estava na dela e ela deixou-se ser arrasta-
da pela magia.

CAPÍTULO 17

143
Ian cumprimentou cada homem na porta da igreja para ter certeza de
que não entrava ninguém em quem não confiassem.
─ Padre Brian foi corajoso de sua parte concordar em deixar que nos
encontrássemos aqui─, Ian disse quando o Padre chegou. ─ Mas você não
precisava correr o risco de vir aqui pessoalmente esta noite.
─ Eu rezei sobre isso, e Deus aprova─, disse o sacerdote, e entrou.
Ian ouvira dizer que o Padre tinha uma mulher, e ele supôs que Deus havia
aprovado isso também.
Era hora de começar.
Ian saiu para a noite e escutou. Quando não ouviu nada, apenas o
uivo do vento, ele voltou para dentro e sinalizou para Connor que estava
tudo pronto.
Duncan e Alex se juntaram a ele na parte de trás, onde seria o primei-
ro a receber a quaisquer visitantes indesejados, enquanto Connor tomou seu
lugar na frente. Por causa da proximidade da igreja de Dunscaith Castle,
apenas duas velas foram acesas, uma em cada lado de Connor. Os homens
que estavam perambulando pelo recinto se sentaram, e a sala ficou em si-
lêncio. Embora o resto da igreja estivesse escuro, Ian sentiu que todos os
olhos estavam voltados para Connor.
─ Vocês vieram aqui esta noite, ─ disse Connor com uma voz que
encheu a igreja─ porque os MacKinnons roubaram Knock Castle de nós, e
vocês sabem que devemos tomá-lo de volta.
Vários dos homens gritaram e levantaram seus punhos ou bateram
suas claymores no chão.
─ Vocês serviram ao meu pai quando ele era laird─, disse Connor,
quando ficou em silêncio novamente.
─ E ele não teria deixado os MacKinnons tomar o que nos pertence!
─ Esta explosão de um dos homens mais velhos foi seguida por um sopro
forte de acordo.
─ Precisamos de Knock Castle para proteger nossas terras ao leste de
invasores─, disse Connor. ─ É um perigo para todos nós não tê-lo nas mãos
de MacDonald.

144
Ian sorriu apreciando a maneira simples de Connor colocar o assunto
diante dos homens. Ele falou uma verdade que todos eles sabiam, em con-
traste com Hugh, que mentia descaradamente, precisasse ou não.
─ Para a proteção do clã, devemos tomá-lo de volta─, disse Connor,
e novamente houve murmúrios de aprovação.
─ A questão é como fazê-lo sem um líder para nos guiar.
─ É hora de termos um laird disposto a lutar por nós. ─ um homem
gritou.
Era, mas Connor foi sábio o suficiente para não fazer esse movimen-
to ainda.
Connor deixou o rumor crescer antes de levantar as mãos pedindo si-
lêncio.
─ Hugh, declarou-se laird, ─ disse ele, reforçando em suas mentes
que Hugh ainda não tinha sido escolhido pelo clã. ─ Eu não quero colocar
ninguém na posição de ir contra o homem que pode muito bem ser o nosso
laird.
Houve alguns resmungos. Até agora, isso estava acontecendo exata-
mente como eles esperavam.
─ Embora Hugh tenha se recusado a lutar por Knock Castle, ele nun-
ca disse que os outros não poderiam lutar.
Connor fez uma pausa para dar aos homens tempo para analisar isso
e chegarem à conclusão de que ele queria. Ele era bom nisso.
─ Há um homem aqui que tem um direito claro sobre o castelo─,
disse Connor. ─ E eu digo que um homem com um direito não precisa es-
perar por seu laird para agir em seu nome, se ele acredita que pode realizar
a tarefa por si mesmo.
Vários homens viraram-se para espiar Ian nas sombras no fundo da
igreja.
─ E se alguns dos membros do seu clã quiserem ajudá-lo, tanto me-
lhor!
Houve gritos de ─ Sim! Sim!
Um homem entrou no corredor central da igreja e esperou para falar
até que Connor o reconheceu com um aceno de cabeça.

145
─ Se está falando de Ian MacDonald, ele não tem direito sobre
Knock Castle.
Assim que o homem abriu a boca, Ian sabia que era o maldito Gor-
dan.
─ Sìleas que é a herdeira e depois, seu filho. Até onde eu sei ─, disse
Gordan, voltando-se para olhar pelo corredor na direção de Ian, ─ a moça
não está grávida de Ian.
Uma criança faria Ian ter certo direito. Por enquanto, ele estava re-
presentando Sìleas e seus futuros filhos.
─ Ian está de volta há apenas uma semana, ─ gritou Alex. ─ Dê ao
homem algum tempo.
A observação de Alex causou uma rodada de risos e um abrandamen-
to da tensão que a interrupção de Gordan causara.
Mas Gordan não havia concluído.
─ Ian a abandonou, ─ disse Gordan. ─ se Sìleas decidir escolher ou-
tro marido, ninguém pode culpá-la.
─ Ela não fez tal coisa, nem fará!─ Ian lutava para livrar-se do braço
de Duncan para poder subir lá e esmagar o rosto de Gordan.
─ Tudo o que sei, ─ disse Gordan, virando-se novamente para ter
certeza Ian não perdia as suas palavras, ─ é que um homem não pode en-
gravidar uma mulher se ela não partilhar a sua cama.
Desta vez, Ian se libertou das garras de Duncan. Ele saltou sobre
Gordan, e os dois caíram no chão, mas ele só conseguiu dar alguns socos
antes de Connor e Alex o puxarem. Quando Gordan levantou-se e tentou
atacá-lo, Duncan pegou Gordan por trás e segurou-o.
─ Se ainda não a levou para a cama, ─ Connor sussurrou a um centí-
metro do rosto de Ian, ─ faça isso antes de reunir os homens para tomar o
castelo.
─ Eu vou cuidar disso ─, disse Ian entre os dentes, olhando para seu
primo.
─ Quanto a você, Gordan MacDonald,─ Connor disse, virando e pe-
gando Gordan pela frente de sua camisa. ─ Se você acha que Sìleas pode

146
escolher você como substituto de Ian, sugiro-lhe manter a boca fechada e
sua espada afiada para a luta pelo castelo.
─ Sìleas é minha esposa─, disse Ian, encarando Gordan. ─ Se Gor-
dan quer levá-la, ele vai ter que me matar primeiro.
Ian ignorou Connor e empurrou os outros que estavam de pé na parte
da frente da sala.
─ Um MacDonald luta pelo que lhe pertence. ─ ele gritou para os
homens reunidos. ─ Peço a vocês se juntem a mim na luta por Knock Cas-
tle para o bem do nosso clã. Com ou sem a sua ajuda, eu vou tomá-lo. Por-
que eu sou um MacDonald, e mantenho o que é meu.
Ian deixou seu olhar vagar lentamente ao redor da sala, em seguida,
sacou sua claymore e segurou-a no alto.
─ Eu sou Ian MacDonald, marido de Sìleas, e tomarei Knock Castle!
As tábuas do piso da igreja vibraram com o bater de pés e claymores
enquanto os homens gritavam com ele, sacudindo o edifício com o seu gri-
to de guerra.
─ Knock Castle! Knock Castle! Knock Castle!

CAPÍTULO 18

Quando Sìleas viu Ian e Alex chegando, ela pegou sua capa e correu
para encontrá-los.
─ Onde estavam?─ Perguntou ela, tomando o braço de Ian e sorrindo
para ele.
Alex balançou as sobrancelhas para ela e sorriu, como se ele fosse
responsável pela mudança entre ela e Ian.
─ Nós ficamos com Connor e Duncan a noite passada─, disse Ian. ─
Confesso que bebi demais para conseguir voltar para casa.
Sìleas estalou a língua.
─ Bem, pelo menos você não está mentindo para mim sobre isso.
Ian parou no meio do caminho, com os olhos tão quentes como o ve-
rão em seu rosto.

147
─ Senti sua falta na noite passada.
Alex percebeu a insinuação e partiu em direção a casa.
─ Precisamos conversar, ─ disse Ian. ─ mas não aqui.
Seu coração disparou, sabendo que Ian queria resolver as coisas entre
eles. Ela estava pronta.
Depois de ficar acordada metade da noite pensando nisso, ela tinha
decido.
Sentiu uma excitação nervosa quando Ian a levou pelo caminho da
pequena praia abaixo da casa. Esperançosa.
Era assim que se sentia. Quando ele a levara nos braços para o andar
de cima, ele mostrou-lhe o homem que ela sabia que ele poderia ser, o ho-
mem no qual ela acreditava.
Ela não podia enganar-se acreditando que Ian a amava, ele tinha ou-
tras razões para querer ser seu marido.
Mas havia tanto cuidado em seu toque que ela tinha razão para espe-
rar que um dia ele a amaria. Mesmo que ele nunca a amasse como ela o
amava, Ian a convencera de que ele a valorizava e que estava determinado
a ser um bom marido para ela de agora em diante.
De qualquer modo, era tarde demais. Se ela pretendia deixá-lo, deve-
ria ter feito isso antes que ele a levasse para cima ontem. Ele pode tê-la dei-
xado virgem, mas ela tinha perdido sua inocência. Queria sentir seu peso
em cima dela de novo, correr os dedos sobre os músculos das costas, para
ver as estrelas explodindo atrás de suas pálpebras, enquanto ondas de pra-
zer pulsavam através dela.
Que mulher em sã consciência poderia recusar um bolo depois de
prová-lo? O pensamento de compartilhar a cama com Ian todas as noites
enviou-lhe um arrepio até os dedos dos pés.
Sìleas sorriu para si mesma e tocou a pedra especial no bolso para
dar sorte. Quando chegaram à praia, Ian a levou ao antigo barracão que es-
tava escondido nas árvores acima da linha da maré. Depois de entrar, eles
acomodaram-se no banco baixo no meio de uma variedade familiar de re-
des de pesca, cordas e retalhos para remendar velas.

148
─ Eu falei a verdade quando disse que senti sua falta,─ Ian disse, fi-
xando os seus intensos olhos azuis sobre ela.
─ Senti sua falta também.
─ Eu sempre vou querer tê-la ao meu lado. ─ disse ele. ─ Não quero
passar mais uma noite sem você na minha cama.
Ela prendeu a respiração, esperando que ele terminasse.
─ O que eu estou dizendo, o que eu estou pedindo, eu quero dizer é,
se está disposta a ser a minha verdadeira esposa, começando hoje. ─ Ele
procurou algo dentro do plaid. ─ Aqui, eu tenho uma coisa pra você.
Ele tomou sua mão e deixou cair um pequeno anel de prata nela.
─ Eu não lhe dei um anel no dia em que nos casamos. ─ disse ele. ─
Eu quero fazer isso agora.
Sìleas virou-o na palma da mão, o tradicional presente de um homem
para sua noiva. Ela passou a ponta do dedo ao redor do círculo, o símbolo
do amor eterno. O anel foi moldado para se assemelhar a duas cordas torci-
das em conjunto, entrelaçadas como a vida de um casal seria.
─ Eu sei que nosso casamento não foi como deveria ter sido. ─ disse
Ian.
Sìleas teve que rir.
─ Foi o pior dia da minha vida.
Ian fez uma careta.
─ Não pode ter sido tão ruim.
─ Foi ─ disse ela. ─ Não se lembra do vestido que sua mãe me fez
vestir?
Ian contraiu a boca.
─ Caberiam três de você dentro dele.
─ E a cor!─ Disse ela, revirando os olhos. ─ Nada poderia ter sido
pior.
Embora eles estivessem rindo, era uma lembrança amarga para am-
bos. Ainda assim, ele fez Sìleas se sentir melhor ao falar sobre isso.
─ Mas você casou com o homem que queria, não foi?─ Ian disse, le-
vantando os ombros e dando-lhe uma piscadela.
─ Ter o noivo dizendo seus votos com a ponta de uma adaga nas cos-
tas não é o sonho de uma garota quando ela imagina o dia do casamento.
A expressão de Ian ficou séria.
─ Eu vou fazer tudo para você. O anel é apenas o começo.

149
Olhar nos olhos de Ian era como ser puxada para dentro do mar e ela
queria ir para onde a corrente a levava.
─ Eu estou pronto para ser um bom marido para você─, disse ele, to-
mando-lhe a mão. ─ Diga-me que quer ser minha mulher.
─ Eu quero.
Ian pegou o anel da sua mão e colocou-o em seu dedo.
─ Parece bom em você ─ ele disse, e levou sua mão à boca. Seus lá-
bios eram quentes e macios em seus dedos, lembrando Sìleas de como eles
tocaram em seu ventre.
Ela engoliu em seco.
─ Tenho um presente para você também.
Quando ele arqueou as sobrancelhas, ela ficou contente por sur-
preendê-lo. Ela puxou o cristal de seu bolso e estendeu-a para ele ver. Ele
não era maior do que o seu polegar e tinha uma linda cor acinzentada, que
era como ver o verde do mar através de um espesso nevoeiro.
─ Sabe o que é isso?─ Perguntou ela.
─ A pedra pequenina?─ Ian disse com um sorriso.
─ É uma pedra encantada, ─ disse ela em voz baixa. ─ o Cristal
MacDonald.
─ Eu pensei que estava perdido. ─ Ele pegou cuidadosamente entre
os dedos e ergueu-a, tentando ver através dela. ─ Não é o que dizem que
foi trazido de volta da Terra Santa pelos cruzados?
─ Aye. Minha avó o guardou. ─ Sìleas olhou para as mãos descan-
sando no colo. ─ Veja, ela não gostava do meu pai e sabia que minha mãe
era fraca. Para mantê-lo fora das mãos dele, ela o deu à velha vidente para
guardar para mim. Teàrlag deu-me depois que eu vim morar com sua famí-
lia. Ela diz que protege o usuário.
─ Então você deve mantê-lo. ─ Ian colocou o cristal na mão de Sì-
leas, em seguida, fechou a mão sobre a dela.
Sìleas encontrou seu olhar e abanou a cabeça.
─ Você disse que me protegerá, e eu acredito em você. Mas quem vai
protegê-lo? Este é o meu presente de casamento para você, então deve
guardá-la.

150
Era a coisa mais preciosa que possuía. Ao dar a ele, ela estava mos-
trando-lhe que ela confiava nele com sua vida e com seu coração.
─ Vou proteger você e o cristal. ─disse ele, encontrando os seus
olhos.
─ Teàrlag fez esta bolsa para guardá-lo─ Ela puxou a correia de cou-
ro do bolso. ─ Ela disse que as palavras sobre ela aumentam a força do
cristal.
Sìleas não acrescentou que Teàrlag disse a ela que se ela dormisse
com ele ao lado de seu próprio coração em primeiro lugar, o coração dele
sempre se lembraria do dela. Ela esperava que fosse verdade.
Quando Sìleas abriu a bolsa para ele, Ian largou o cristal dentro dela.
Lágrimas arderam na parte de trás de seus olhos quando ela se aproximou
para colocá-lo no pescoço dele.
Sìleas colocou a mão sobre a bolsa, onde repousava sobre o coração
de Ian.
─ Eu posso sentir o seu coração batendo através dela─ disse, olhan-
do para ele. ─ Mantenha-o perto de você e fique a salvo para mim.
─ Ian a apertou em seus braços. Sua respiração estava quente em seu
ouvido enquanto ele sussurrava:
─ Obrigado, Sìleas.
Eles se abraçaram por um longo tempo.
Em seguida, Ian a beijou suavemente e disse:
─ Irei até você esta noite, então.
─ Aye. Hoje à noite.
Hoje à noite. O início de sua nova vida juntos.

CAPÍTULO 19
151
─ Que lindo bebê Annie tem─, disse Sìleas, enquanto andava de bra-
ço dado com Beitris a caminho de casa após sua visita aos vizinhos. ─ Ni-
all, foi muito gentil de sua parte vir conosco.
Ian tinha planejado acompanhá-los até que Payton pediu-lhe para
praticar no quintal. Seria a primeira tentativa de Payton de usar sua claymo-
re desde que fora ferido.
─ Você está parecendo feliz hoje ─ sua sogra, disse, e piscou para
ela. ─ Talvez você tenha seu próprio bebê para mostrar por esta altura no
próximo ano.
O coração de Sìleas se encheu com o pensamento. Beitris tinha adivi-
nhado que tudo havia mudado entre ela e Ian. E estava quase tão feliz com
isso como Sìleas.
Quando Niall deu-lhe um olhar inquisidor, ela corou. Ela ia dizer a
Niall que ela e Ian iriam começar a partilhar o leito matrimonial, ainda que
ele e o resto da família soubessem pela manhã.
─ Ach, olhe quem está chegando!─ disse Niall com um olhar amargo
no rosto.
Era Gordan, e ele estava marchando em linha reta para eles, parecen-
do um homem com alguma coisa em sua mente que não podia calar. Sìleas
respirou profundamente. Ela temera vê-lo, indo ou vindo, desde que passa-
ram por sua casa a caminho da casa de Annie.
─ É melhor falar com ele─, disse Beitris em seu ouvido pouco antes
Gordan chegar até eles.
─ Beitris. Niall ─ Gordan deu a cada um breve aceno. ─ Sìleas, pos-
so ter uma palavrinha com você? É importante.
─ Nós vamos caminhar devagar─, Beitris disse a ela. ─ Vocês podem
nos alcançar depois de conversar.
Gordan deu a Sìleas um sorriso quente e esperançoso de que a fez se
sentir miserável. Beitris estava certa, era hora de dizer a Gordan que as coi-
sas foram resolvidas entre ela e Ian. Gordan era um bom homem, e ela lhe
devia isso.

152
─ Eu não posso mais passear com você, ─ disse ela. ─ Eu decidi fi-
car com Ian.
─ Não pode ser verdade. ─ Seus olhos estavam selvagens quando ele
segurou seus braços. ─ Diga-me que não é tarde demais, que você ainda
não se entregou a ele.
Ela corou, lembrando todas as coisas que Ian tinha feito com ela.
Embora ela ainda fosse virgem, ela tinha, de fato, se entregado a ele.
─ Ian não merece você, ─ disse Gordan. ─ Ele não a ama como eu.
Ach, ele não estava fazendo isso fácil.
─ Ian diz que está pronto para ser um bom marido para mim, e eu
acredito nele.
─ Com seu rosto bonito, Ian pode ter qualquer mulher,─ Gordan
disse, acenando com o braço para o lado como se houvesse uma fila de mu-
lheres ali. ─ mas você deve ter um homem que a veja como a mulher espe-
cial que é.
Ela não queria machucá-lo, mas suavizar a mensagem não ajudaria
Gordan aceitá-la.
─ Ian se preocupa comigo. ─disse ela.
─ É isso o que ele diz a você?─ Disse Gordan, erguendo a voz. ─
Dói-me vê-la acreditar em suas mentiras.
─ Pare com isso, Gordan. Eu sei que você está chateado, mas não
ouse chamar Ian de mentiroso.
─ Você sempre teve um fraco por Ian, e isso a deixa cega, ─ disse
ele, balançando a cabeça. ─ O que Ian quer de você são suas terras.
─ Não. Isso não é verdade.
─ Ele voltou a Skye para ajudar Connor a se tornar laird. ─ A voz de
Gordan estava áspera com a emoção.─ Isso é tudo que importa.
Dedos gelados de dúvida rastejaram sobre seu coração.
─ Não, Ian quer ser meu marido.
─ É por isso que ele ficou afastado cinco anos?─ Perguntou ele. ─
Sabe que Ian faria qualquer coisa por Connor, e este quer seu castelo de
volta nas mãos de MacDonald.
─ O que quer dizer, Gordan?
─ Os quatro, Connor, Ian, Alex, e Duncan, realizaram uma reunião
secreta na noite passada na igreja.

153
Um arrepio de medo subiu sua espinha.
─ Sobre o quê? Eles vão enfrentar Hugh?
─ Connor é inteligente. Ele sabe que é muito cedo para desafiar seu
tio diretamente. ─ disse Gordan. ─ Em vez disso, ele tem Ian, como seu
marido é o único com direito a chamar os homens para tomar Knock Cas-
tle.
Por que ninguém contou a ela sobre o plano para expulsar o padrasto
de seu castelo? Por que não Ian disse a ela?
Em vez disso, ele a levou a acreditar que tinha passado a noite be-
bendo com Connor e os outros.
─ Os quatro têm tudo planejado. ─ disse Gordan, erguendo os bra-
ços. ─ Eles sabem o quanto perder Knock Castle feriu o orgulho do clã. Os
homens vieram na noite passada porque estão com raiva por Hugh não ter
atacado. Todos eles foram para casa acreditando que, ao contrário de Hugh,
Connor nunca viraria as costas, enquanto os nossos inimigos tomavam o
que nos pertence.
─ Connor não faria isso ─ disse ela em voz baixa.
─ Eu estou dizendo a você, ─ disse Gordan, ─ todo o propósito de
tomar Knock Castle é reunir os homens em apoio a Connor pela chefia.
Sìleas sentiu que sua garganta estava fechando. Sua voz saiu alta e
firme como ela perguntou:
─ Está dizendo que esse encontro foi na noite passada?
─ Sim.
E Ian voltou esta manhã com um anel, dizendo que ele não queria es-
perar mais uma noite para ser o seu verdadeiro marido. Ela sentiu como se
estivesse à beira de um banco de areia com a areia deslizando sob seus pés.
─ Connor precisa de um homem com a afirmação de um marido para
justificar o ataque, ─ disse Gordan. ─ Essa é a razão de Ian querer você
agora.
No fundo da mente, ela ouviu a voz de Ian. ‘Não há nada que eu não
faria por Connor.’
Ainda assim, ela disse:
─ Isso não significa que Ian não se importa comigo.

154
─ O que Ian quer─, disse Gordan, ─ é ser o herói que salvou o clã,
colocando Connor na chefia.
Suas palavras soaram verdadeiras em seu coração, pois ela sabia que
Ian tinha uma necessidade premente de se redimir.
─ Só porque Ian quer ajudar o clã não significa que é a única razão
para ele querer ser meu marido.
─ Eu estou dizendo a você, ─ disse Gordan, ─ Ian só a quer, porque
então ele terá o direito de reclamar suas terras e o castelo.
─ Isso não foi suficiente para fazer com que ele quisesse se casar co-
migo cinco anos atrás, e eu era a herdeira de Knock Castle então.
Ela podia ouvir o desespero em sua voz.
─ Isso foi antes de Flodden. Antes do pai de Connor e seu irmão
morrerem. Antes de Hugh Dubh assumir a chefia. ─ Gordan salientou cada
ponto implacavelmente. ─ E isso foi antes de Connor ter uma chance de se
tornar laird.
Ela balançou a cabeça, porque não queria acreditar.
─ Connor ordenou a Ian para levá-la para a cama, então ele teria o
direito como marido de tomar Knock Castle, ─ Gordan disse. ─ Eu ouvi
Connor dizer isso.
“Eu vou fazer o que for preciso, pelo bem do clã. Não há nada que eu
não faria por Connor.”
─ Ian disse a Connor que não se preocupasse, que ele iria “cuidar
disso”.
Ela sentiu seu rosto vermelho de vergonha.
─ Você sabe que eu nunca menti para você. ─ disse ele.
─ Eu não vou ouvir isso! ─ disse ela, afastando-se dele.
─ Você foi enganada por Ian por cinco anos, ─ disse Gordan. ─ Eu
estou implorando, não seja enganada por ele pelo resto de sua vida.
Os longos anos de espera ainda doíam. E com certeza, Ian não tinha
sido fiel a ela, enquanto ele estava na França.
Será que um anel e algumas palavras suaves compensavam isso?
─ Pelo amor de Deus, Sìleas, abra seus olhos e veja o homem pelo
que ele é. ─ Gordan deu um profundo suspiro. ─ Se você mudar de ideia,
eu estarei esperando.

155
Seu lábio tremeu quando viu Gordan virar e subir o caminho em di-
reção à sua casa. Não, ela não acreditaria nisso. Ela conhecia o coração de
Ian. Ele não quis enganá-la.
Mas enquanto ela corria em direção à casa, tudo o que ela conseguia
se lembrar era que Ian não tinha dito nenhuma vez que a amava.

CAPÍTULO 20

Ian cantarolou para si mesmo enquanto derramava o segundo balde


de água fervente na banheira. Em um piscar de olhos, ele tirou e jogou suas
roupas sujas no canto, então se meteu dentro da água fumegante com um
suspiro longo e satisfeito.
Hoje à noite. Hoje à noite seria a noite, ele consumaria seu casamen-
to e Sìleas estaria ligada a ele para a vida toda. Ele queria que tudo fosse
perfeito para ela. Claro, ele não poderia ser cheiroso como Sìleas, mas pelo
menos ele estaria limpo para ela. Ele levou uma garrafa de vinho para sua
alcova e iluminou o quarto com velas.
Ele descansou a cabeça contra a borda da banheira e sorriu para si
mesmo, pensando na noite que tinha pela frente.
Porra. Por que a porta da frente estava aberta? Com o seu pai ador-
mecido e todos os outros tendo ido ver o novo bebe do vizinho, ele deveria
ter a casa para si mesmo um pouco mais. Ach, era melhor ele terminar o
banho, antes que as mulheres entrassem na cozinha para preparar a ceia.
Ele se sentou e esfregou o rosto. Depois ele mergulhou sua cabeça na
água para enxaguar o sabão, ele sentiu dedos em seu cabelo.
─ Sìleas ─ ele disse, sorrindo como um idiota com os olhos fechados
e a água escorrendo pelo rosto.
Ela colocou as mãos em seus ombros, e ele suspirou quando ela des-
lizou para baixo do peito. Mas alguma coisa estava errada... Ele sentou-se
ereto, virou-se e descobriu que não era Sìleas que tinha suas mãos sobre
ele.
156
─ Dina. O que você está fazendo aqui?
─ O que é isso?─ Dina tirou cordão que segurava o cristal sobre a
sua cabeça antes que ele pudesse pensar e segurar seu braço para detê-la.
─ Você precisa sair, pode ver que eu estou tomando banho. ─ Ele er-
gueu a sua mão. ─ Dê-me isso de volta antes de ir.
Ela balançou o cristal na frente dele, mas fora de seu alcance, então
riu e o colocou no pescoço.
─ Isso seria um belo presente para você para me dar em troca para o
que eu vou dar a você.
─ Nós não estamos dando nada um ao outro, Dina─, disse ele, per-
dendo a paciência com ela. ─ Agora me dê isso.
─ Você não perguntou o que eu ia dar a você. ─ Ela passou o dedo
sob o cordão onde a bolsa que guardava o cristal estava, na fenda entre os
seios.
─ Pelos santos, Dina, o que você acha que está fazendo?
─ Eu não pude deixar de notar você dormindo na casa velha, ─ disse
ela. ─ Parece uma vergonha dormir sozinho, quando não precisa fazer isso.
─ Eu não estou interessado no que você está oferecendo. ─ disse ele.
─ Agora me dê isso e vá embora.
Ele se inclinou e pegou um punhado da saia de seu vestido e puxou.
─ Dê-me.
Ela já devia ter desabotoado seu vestido, porque deu um passo atrás
enquanto a maldita coisa ficava em suas mãos. Ele levantou os olhos do
vestido e o apertou em seus dedos ao vê-la de pé em sua camisa.
Então, antes que ele pudesse dizer uma palavra, a camisa estava no
chão.
Agora, ele era um homem. Ele não queria olhar. Ela não era a mulher
que ele queria. Mas Dina tinha atraentes... Atributos. E ela estava de pé,
bem na frente dele nus. Não ajudava em nada que Sìleas o tivesse deixado
em um estado constante de frustração.
Contra sua vontade, seu pau saltou para a vida. Isso não significa que
ele pretendia usá-lo.
─ Eu quero que você me devolva à bolsa, pegue suas roupas, e saia
da cozinha, para que eu possa terminar o meu banho e me vestir.

157
─ Venha e pegue-a. ─ Como ela pretendia, seus olhos foram para a
bolsa, que estava deitada entre os seios nus.
Ele olhou em volta para a toalha. Droga, ele tinha deixado sobre o
banco do outro lado da mesa. Dina seguiu o seu olhar, pois ela correu ao re-
dor da mesa, os seios balançando, e apanhou-a.
Ach! Ele queria estrangular a mulher.
─ Se você não se vestir e sair, então eu saio. ─ Ele apertou os lados
da banheira, ergueu-se, e saiu, a água escorrendo. Ele estava pegando sua
camisa limpa sobre a mesa quando ouviu uma comoção atrás dele e se vi-
rou.
O grito de Sìleas encheu a pequena sala quando ele a viu na porta.
Seus olhos eram incrivelmente amplos, e ela gritava como se alguém a ti-
vesse esfaqueado.
─ Sìleas ─ Ian começou a ir até ela, mas seu olhar caiu para sua viri-
lha e ela gritou de novo. Ele havia esquecido que estava nu. Ele agarrou sua
camisa da mesa e cobriu-se. Embora ela fosse virgem, ele não esperava que
ela fizesse este escândalo por sua primeira boa olhada para ele nu.
─ Está tudo bem, Sil─, disse ele, caminhando em sua direção.
Ela afastou-se, não com medo em seus olhos, como esperava, mas
com dor de tal forma que sentiu seu coração apertar em seu peito.
Quando seu olhar se moveu para um ponto atrás dele, lembrou-se de
Dina. Em sua preocupação com Sìleas, ele tinha esquecido completamente
aquela mulher maldita. E então ele percebeu o que isto deve ter parecido
para Sìleas.
─ Você lhe deu minha pedra!─ Sìleas disse em um sussurro abafado.
Ian se sentia como se as paredes do aposento estivessem caindo em
cima dele, sufocando-o sob o seu peso.
─ Não. Não, eu não dei. ─ disse ele, então, Sìleas se virou e correu.
─ Não é o que você pensa!
Quando ele foi atrás dela, Niall tomou o lugar dela na porta da cozi-
nha, gritando:
─ Seu bastardo!
─ Saia do meu caminho. ─ disse Ian, e empurrou seu irmão para o
lado.
158
Infelizmente, ambos os pés e o chão estavam molhados. Quando Ni-
all o empurrou, ele escorregou e caiu para trás, no chão. Em seguida, seu ir-
mão passou a esmurrar sua cabeça e o tronco, o tempo todo gritando:
─ Como pôde fazer isso? Como é que você pôde?
Ian ficou tentado a dar uma surra no seu irmão mais novo quando
Alex finalmente puxou Niall de cima dele.
─ Por que demorou tanto?─ Ian disse, puxando a camisa sobre a ca-
beça.
─ Talvez eu achasse que você merecia─, disse Alex.
─ Eu não toquei Dina─. Ian se virou e gritou para ela. ─ Diga-lhes
que não a toquei. Diga a eles!
Enquanto sua cabeça estava voltada, Niall soltou-se de Alex e acer-
tou um golpe no lado da cabeça de Ian que fez seu ouvido zumbir. Ele não
podia ver para bloquear o golpe seguinte.
Ele acordou no chão junto à lareira, com sua mãe pairando sobre ele
e sua cabeça doendo como o diabo.
─ Onde está Sil?─ Disse ele, começando a se levantar.
Sua mãe colocou a mão em seu peito.
─ Não se mexa, ou eu vou bater na sua cabeça eu mesma.
─ Mamãe, eu preciso ver Sil. Ela pensa que eu fiz algo que não fiz.
─ Dê-lhe tempo para se acalmar. ─ disse sua mãe. ─ Mesmo assim,
você terá dificuldade para convencê-la. Vou dizer a você, meu filho, isso
não parece bom.
Supunha que não, com ele e Dina ambos nus, e seu pau hasteado.
─ Talvez você deva me deixar falar com ela─, disse sua mãe.
─ Então acredita em mim, senhora?─ Ele precisava de alguém para
acreditar nele.
─ Você é como o seu pai─, disse ela, afastando o cabelo da testa. ─
Uma vez que encontra a mulher certa para de procurar. ─ Ela virou-se
quando Alex entrou pela porta da frente com uma golfada de ar frio. ─ Mi-
nhas irmãs não tiveram tanta sorte. Espero que Connor e Alex não sigam os
vergonhosos exemplos de seus pais.
─ O que é que você está dizendo?─ Alex disse que, quando atraves-
sou a sala. Então, ele inclinou-se sobre Ian, sorrindo. ─ Então, finalmente

159
está acordado? Da próxima vez que formos lutar, eu quero o seu irmão com
a gente.
─ Há quanto tempo estou deitado aqui?─ Ian reprimiu a náusea e
sentou-se, apesar dos protestos de sua mãe.
Alex deu de ombros.
─ Uma hora?
─ Quero Dina fora desta casa─, disse Ian, cambaleando.
Sangue de Deus, sua cabeça doía, mas ele tinha que falar com Sìleas.
Ele segurava nas paredes, enquanto subia as escadas.
Quando chegou a porta de seu quarto, ele bateu suavemente.
─ Sil. ─ Ele bateu novamente. ─ Sìleas. Deixe-me explicar. Por fa-
vor.
Nada.
Ele chamou três vezes.
Quando ela ainda se recusou a responder pela quarta vez, ele disse,
─ Estou entrando.
Ele tentou abrir a porta, mas ela escorara algo contra ela. Ele bateu o
ombro contra a porta, abrindo-a com um crack, o som desagradável zum-
bindo em seus ouvidos e fazendo sua cabeça doer ferozmente. Esperando
que ela não tivesse uma frigideira, ele enfiou a cabeça através da abertura.
O silêncio do quarto causou um arrepio de mal-estar na sua nuca. Ele
podia ver agora que ela apoiara uma arca contra a porta. Depois de dar ou-
tro empurrão na porta, ele entrou.
Ian ficou em pé no meio do quarto vazio, seu olhar moveu-se lenta-
mente das roupas espalhadas pela cama para o vestido amarelo que ela es-
tava usando, que estava em uma pilha no chão. O bater de seu coração soa-
va alto em seus ouvidos contra o silêncio da sala.
Ele se virou para olhar para o seu manto sobre o pino da porta, ape-
sar de achar que ele não estaria lá. Ele estava.
Uma fúria cega apoderou-se dele quando ele adivinhou onde tinha
ido, para o homem que era do primeiro da fila esperando para tomá-la dele.
Depois de descer as escadas saltando três degraus de cada vez, ele saiu de
casa sem uma palavra para os outros.
Por Deus, ele ia bater em Gordan MacDonald até matá-lo. E então
ele arrastaria sua esposa para casa pelos cabelos e gritando todo o caminho.
160
CAPÍTULO 21

Sìleas tropeçou várias vezes no caminho rochoso e escuro, mas ela


continuou correndo, como se colocar distância entre ela e o que viu na co-
zinha pudesse entorpecer a dor em seu peito. Mas não importava o quão rá-
pido ela corresse, a visão de Ian e Dina sempre estava diante dela.
Os dois. Juntos. Nus.
Ver o seu cristal pendurado entre os seios de Dina foi uma traição
ainda mais difícil. Ela negara sua cama a Ian. Com o tempo, ela poderia ter
sido capaz de perdoá-lo por dar o seu corpo para outra mulher antes de es-
tarem dividindo uma cama de casal.
Mas o cristal era o seu presente de casamento para ele. Ele simboli-
zava a dádiva do seu coração, e Ian sabia disso.
A bolsa de couro amarrada à cintura bateu contra a sua coxa enquan-
to ela corria ao longo do caminho escuro. Ela esperava ter moedas suficien-
tes para pagar um pescador para levá-la através do estreito e comprar um
cavalo no outro lado. Graças a Deus ela manteve roupas velhas de Niall
para limpar o estábulo. Se alguém lhe perguntasse, o pescador diria que ti-
nha levado um rapaz.
O que foi isso?
Durante a respiração, ela ouviu algo atrás dela. Um lobo? Um urso?
Lembrou-se de Ian dizendo-lhe para nunca correr de um animal selvagem,
porque ele a veria como caça. Maldição! Será que ela nunca estaria livre da
voz de Ian em sua cabeça?
Ela ignorou-a e correu mais rápido.
O som chegou mais perto, ela correu mais rápido. Sìleas gritou quan-
do o animal se chocou contra ela, jogando-a ao chão. Seu grande peso pou-
sou em cima dela, cortando-lhe a respiração e imobilizando-a contra o
chão.

161
─ Sìleas, pare de dar pontapés! Eu estou tentando sair de cima de
você.
─ Niall?
O grande peso saiu, e ela sentou-se, ofegante, inalando grandes gol-
fadas de ar. Seus membros pareciam fracos e sem ossos depois do susto.
─ Você quase me matou de medo!
─ Machuquei você?─ Niall perguntou.
─ Não, mas por que veio atrás de mim? Você viu o mesmo que eu na
cozinha, assim sabe que não vou voltar.
─ Eu não poderia deixá-la partir sozinha, sem ninguém para protegê-
la ─ disse Niall. ─ Eu vou com você, onde quer que você esteja indo.
Ela queria chorar por sua bondade, mas se controlou. Depois que ela
começasse a chorar, temia não conseguir parar.
─ Eu não posso deixar você vir comigo─, disse ela. ─ Sua família
não gostaria que você me ajudasse a fugir.
─ Foi papai que me enviou─, disse Niall. ─ Ouviu-a descer pela ja-
nela e me disse para segui-la e mantê-la segura. Ele me deu dinheiro, tam-
bém.
Querido Payton. Desta vez, ela enxugou uma lágrima de seu olho.
─ Além disso─, Niall disse com um sorriso na voz: ─ Eu não queria
que fosse até Gordan para obter ajuda.
─ Não há nada de errado com Gordan─, disse ela, e se perguntou por
que não tinha nem pensado em ir até ele.
─ Não há certo também, pelo menos não para você, Sil─. Niall se le-
vantou e ajudou-a a ficar de pé. ─ Então, para onde estamos indo?
─ Para Stirling.
Niall deu um longo assovio.
─ Isso é uma distância razoável. O que você quer fazer lá?
Sìleas começou a andar.
─ Eu vou pedir a rainha para me ajudar a obter a anulação da igreja.
E enquanto eu estou lá, eu vou também pedir sua ajuda na remoção do meu
padrasto de Knock Castle.
Ela não queria viver em Knock Castle, mas o castelo era dela e ela
precisava de um lugar para viver.

162
─ Pedir isso a rainha é um pouco drástico, não acha?─ Niall pergun-
tou. ─ Você pode se separar de Ian pela Lei Highland. Isso deveria ser sufi-
ciente.
─ E antes que eu perceba, meu laird vai me dizer quem eu vou casar
na próxima vez─, disse ela. ─ Eu não vou deixar Hugh decidir meu desti-
no, de jeito nenhum. Não, a única maneira de libertar-me é me colocar nas
mãos de alguém mais poderoso. Eu agradeço a Deus que nesse momento,
esse alguém seja uma mulher.
─ Mas você não terá que se preocupar com Hugh por muito tempo─,
disse Niall. ─ Connor vai ser laird.
─ Connor quer Knock Castle nas mãos de alguém muito próximo a
ele ─ disse ela. ─ Ele vai decidir que eu não tenho nenhum motivo para
deixar Ian.
─ Connor é um homem justo ─ disse Niall. ─ Ele vai deixar você se
separar de Ian tão logo você escolha um novo marido no clã, especialmente
se o homem for outro parente próximo dele.
Ela bufou.
─ Está sugerindo Alex? Eu gosto muito dele, mas casar com Alex
seria ir da frigideira para o fogo.
─ Case comigo ─ Niall disse em uma voz suave. ─ Estou tão perto
de uma relação de sangue com Connor como Ian ou Alex.
Sìleas sentiu como se seu peito estivesse encolhendo. Ela parou e se
virou para encará-lo, embora ela mal conseguisse ver sua face no escuro.
─ Oh Niall ─ disse ela, esticando os dedos para tocar o rosto dele, ─
Você não quis dizer isso.
─ Por que, acha que sou muito jovem?─ Disse ele, parecendo mago-
ado. ─ Ou será que eu não sou tão bom quanto o meu irmão, mesmo depois
do que ele fez para você?
─ Não, não é isso ─ disse ela, embora fosse muito jovem. Ela des-
cansou a mão no braço dele. ─ Eu cresci desejando todos os dias ter irmãos
e irmãs. Você ter se tornado um irmão para mim tem sido uma das grandes
bênçãos da minha vida. Não me peça para desistir disso.

163
─ Você é uma irmã para mim também ─ disse Niall, e ela podia
ouvi-lo se mexendo no escuro. ─ Mas... Bem, é tão bonita que acredito que
eu poderia superar isso.
─ Eu agradeço a oferta ─ disse Sìleas, pegando seu braço para
apressá-lo no caminho. ─ Mas eu não acredito que eu vá querer outro mari-
do por um tempo muito, muito longo.
─ Onde ela está?─ Ian gritou, quando bateu na porta Gordan.
Não havia luz na janela ou debaixo da porta. Se Gordan tinha levado
Sìleas para sua cama esta noite, Ian mataria a cria do diabo ali mesmo.
Ele bateu na porta novamente, até as janelas tremerem.
─ Venha para fora e me enfrente como um homem!
Quando a porta se abriu, Ian cerrou os punhos, pronto para amassar o
rosto bonito de Gordan. Ele sufocou sua fúria quando a mãe de Gordan
olhou para ele por sob sua touca de dormir.
─ Eu vim buscar a minha esposa.
─ Sìleas?─ A mãe de Gordan apertou camisola sobre sua garganta. ─
Não me diga que a moça o deixou. Eu sempre soube que ela era um proble-
ma.
Ocorreu-lhe que Sìleas e Gordan saberiam que este era o primeiro lu-
gar que ele os procuraria. Se eles não estavam aqui, então ele iria encontrá-
los no inferno, se fosse necessário.
─ Devo pedir-lhe para se afastar, para que eu possa dar uma olhada.
─ disse Ian.
Gordan apareceu de repente atrás de sua mãe.
─ O que, em nome de Deus, pensa que está fazendo─, disse Gordan,
empurrando sua mãe de lado ─, batendo na minha porta, no escuro da noi-
te, ameaçando a minha mãe?
Ian deu um soco no rosto de Gordan, empurrando-o para dentro da
casa. Quando ele entrou, pegou Gordan pela frente de sua camisa.
─ Vou perguntar mais uma vez─, disse Ian a um centímetro do nariz
de Gordan. ─ Onde escondeu a minha esposa?
─ Sìleas? É disso que se trata? ─ Gordan disse, limpando o sangue
de sua boca com as costas da mão.
─ Será que ela finalmente o deixou, então? Bom para ela.

164
─ Não tente me dizer que não sabia disso ─Ian disse, enquanto olha-
va o quarto. Ela não estava à vista, então ele empurrou Gordan e atravessou
a sala. ─ Onde ela está?─ Ele enfiou a cabeça na cozinha vazia.
─ Ninguém está aqui, apenas nós dois─ disse a mãe de Gordan.
Ian a ouviu se atrapalhando com a vela. Quando a chama pegou, Ian
viu o olhar de preocupação de Gordan.
─ Ela saiu sozinha à noite?─ Gordan disse. ─ O que fez com ela,
homem?
Ian sentiu uma ferroada de medo na barriga.
─ Está me dizendo a verdade, que você não sabe onde ela está?
─ Eu juro pelo túmulo de meu pai. ─ disse Gordan.
Ian engoliu em seco.
─ Eu devo encontrá-la antes que algo ruim aconteça com ela. ─ Na
porta, ele se virou e disse: ─ Vai me avisar se ela vier aqui?
─ Aviso. ─disse Gordan. ─ Mas se Sìleas optou por deixá-lo, eu não
vou mandá-la de volta.
─ Onde ela poderia ter ido?─ Ian passou as mãos pelo cabelo en-
quanto andava para cima e para baixo do corredor. Ele sempre mantinha a
cabeça fria durante uma crise, mas agora ele não conseguia pensar em
nada.
─ Vamos até o quarto dela, ver se ela deixou alguma pista─, disse
Alex.
Ian subiu as escadas com Alex nos calcanhares.
Quando chegou ao quarto, Ian pegou o vestido dela do chão. Antes
que ele pudesse parar a si mesmo, aproximou-o do seu rosto e respirou o
cheiro dela. Ele fechou os olhos. A falta que sentia dela era uma dor física,
como um corte de navalha em seu coração.
Como ela pôde deixá-lo?
─ Dê uma olhada nisso.─ disse Alex atrás dele.
Ian juntou-se a Alex na pequena mesa onde Sìleas mantinha as con-
tas. Alex havia arruinado suas pilhas arrumadas, jogando os pergaminhos
ao acaso por toda a mesa.
─ Leia ─ disse Alex, batendo com o dedo em uma folha que repousa-
va em cima dos pergaminhos espalhados.

165
O coração de Ian afundou quando ele o leu. Deus do Céu, o que Sìle-
as estava pensando? Era uma carta para a rainha, pedindo o seu apoio na
obtenção de uma anulação do casamento com Ian MacDonald. Ela também
pedia a coroa assistência na remoção de seu padrasto de seu castelo e ter-
ras.
─ Parece que esta foi sua primeira tentativa,─ Alex disse, apontando
para onde a tinta estava manchada. ─ Eu não encontrei sua versão final.
─ Ela deve ter levado com ela. ─ A descoberta de onde ela tinha ido
golpeou Ian com a força de uma explosão no peito. ─ Deus me ajude, ela
está indo para Stirling.
Ian ouviu passos leves na escada e se virou para ver sua mãe na por-
ta. Ela permaneceu lá, apertando as mãos. Quando ela finalmente falou, sua
voz era quase um sussurro.
─ Niall foi também.
Ian demorou um longo momento para entender o significado das pa-
lavras de sua mãe.
─ Niall? Niall foi com Sìleas?
─ O seu pai diz que é melhor que ela não vá sozinha. ─ disse sua
mãe.
─ Sangue de Deus!─ Ian andou cima e para baixo do quarto, se sen-
tindo como um animal encurralado. ─ O que aqueles dois estavam pen-
sando? Stirling não é um passeio pela estrada, é uma viagem de vários dias.
Cristo, eles poderiam ser assassinados ao longo do caminho!
Visões de Sìleas estuprada, o irmão dele impiedosamente espancado,
e seus corpos mutilados deixados ao lado da estrada como alimento para os
animais selvagens, encheram a cabeça de Ian.
─ Niall é bom com uma espada. ─ disse Alex, adivinhando a direção
dos pensamentos de Ian. ─ Tenho certeza que seu pai ensinou a ele do mes-
mo que ensinou a você, saber prever o problema e viajar invisível.
O olhar de sua mãe pousou sobre o vestido amarelo que ainda estava
na mão de Ian, então, o moveu para a cama.
─ As roupas velhas de Niall que Sil usa para limpar o celeiro se fo-
ram. Lavei-as e deixei dobradas sobre a cama para ela.

166
─ Com Sìleas vestida como um rapaz, o risco não é tão grande. ─
disse Alex.
─ Mesmo que eles consigam chegar a Stirling,─ Ian disse, erguendo
as mãos, ─ a cidade em si é uma colmeia de vespas.
A morte prematura de Tiago IV em Flodden deixou a Escócia com
um bebê como rei e sua mãe, a irmã do odiado rei Inglês, como regente. Ian
não precisava da visão para saber que os homens poderosos e cruéis estari-
am na corte disputando o controle do bebê e sua mãe.
─ Vou atrás deles!─ disse Ian, ao partir em direção às escadas. ─ E
quando eu encontrá-los vou matá-los eu mesmo.
Alex encontrou com ele no corredor.
─ Não vai demorar muito tempo para pegar Connor e Duncan. ─
disse ele.
Ian balançou a cabeça.
─ Não. Eu não sei quanto tempo isso vai levar, e faltam apenas quin-
ze dias para o encontro de Samhain. Os três devem ficar aqui e ter certeza
de Connor será escolhido laird.
─ Vamos com você.─ Alex puxou seu manto de um dos ganchos da
porta.
─ Dará tempo de ir a Stirling e voltar, se formos rápido.
Ian olhou para os olhos verdes de seu primo, que estavam solenes
pela primeira vez.
─ Connor e Duncan vão dizer o mesmo. ─ Alex disse.
Ian balançou a cabeça em agradecimento e saiu pela porta.

167
CAPÍTULO 22

Sìleas segurava no braço de Niall enquanto guiavam os seus cavalos


através das movimentadas ruas pavimentadas de Stirling.
Apesar de estar exausta e suja depois de dias de viagem, ela olhou
em volta. Ela nunca havia estado em uma cidade deste tamanho antes.
─ Pode soltar meu braço?─ Niall disse em voz baixa. ─ Eu não gosto
da maneira como as pessoas estão olhando para nós, com você vestida
como um rapaz e tudo mais...
Sìleas tirou a mão. Em sua surpresa, ela havia esquecido seu disfarce.
─ Parece um palácio construído para os deuses ─ disse ela, olhando
para o castelo de Stirling.
Eles o haviam visto por quilômetros antes de chegar à cidade, empo-
leirado no topo das falésias rochosas imponentes, que o protegiam por três
lados. O lado do castelo que dava para a cidade era a única maneira por
onde alguém poderia se aproximar, e ele era protegido por uma muralha e
um portão maciço.
─ E se a rainha não estiver aqui?─ Niall perguntou. ─ A família real
tem mais de um castelo, você sabe.
─ Seu pai diz que se a rainha tiver qualquer bom senso, este é o lugar
onde ela trouxe o menino rei. ─ Sìleas disse. ─ Ele diz que nem mesmo o
rei Inglês pode tomar o castelo de Stirling.
Eles retomaram o caminho para uma taverna na periferia da cidade
que tinha no andar de cima quartos de hóspedes e um estábulo atrás, para
os seus cavalos. Depois de pagar pela noite, eles tomaram a ceia na taberna.
Sìleas nunca tinha estado entre tantos estranhos em sua vida. A maio-
ria dos homens falava o Inglês usado pelos Lowlanders. Embora ela sou-
besse um pouco da língua, eles falavam muito rápido para ela entender. A
maioria usava o estilo de roupa Inglês.
168
─ Por favor, quer parar de olhar para suas braguilhas!─ Niall assobi-
ou e empurrou a aba do boné sobre os olhos. ─ Você vai nos arranjar briga
ou um convite desagradável.
Sìleas abafou uma risada atrás de sua mão. Ela tinha ouvido falar que
os nobres ingleses usavam um pano acolchoado sobre suas partes íntimas,
mas ela não tinha realmente acreditado nisso.
─ Vou precisar de um banho antes de visitar a rainha. ─ Ela olhou
para suas próprias roupas e cheirou. ─ Sinto o cheiro de cavalo, e essa é a
melhor parte.
─ Vou pedir ao taberneiro para enviar a água. ─ disse Niall, chegan-
do a seus pés. ─ Vai custar um extra.
Algum tempo depois, ela viu uma mulher carregando dois baldes se
movimentando até as escadas, o mais próximo a uma lavagem que aquelas
escadas tinham visto, fora há muito, muito tempo.
Ela e Niall seguiram a mulher até um quarto pequeno, com uma pe-
sada cama de solteiro. Depois de alertar Sìleas para trancar a porta, Niall
voltou à taverna para esperar enquanto ela tomava banho.
Sìleas sacudiu o vestido azul que ela enfiara na sua sacola de pano,
satisfeita que, mesmo no caos de sua fuga, ela tinha pensado para trazer seu
melhor vestido para a corte. Após estendê-lo na cama para arejar, ela se
limpou o melhor que podia na pequena banheira de madeira e vestiu a ca-
misa que ela iria usar sob o vestido no dia seguinte.
Quando Niall retornou, ele insistiu que ela ficasse com a cama. Ela
se deitou de costas para ele enquanto ele se lavava na mesma água. Quando
ele terminou, enrolou-se na sua manta no chão em frente à porta.
Ela apagou a vela e tentou se acomodar na cama estranha.
─ Obrigado por ter vindo comigo, Niall. ─disse ela na escuridão. ─
Eu não acho que poderia ter chegado aqui sem você.
─ Para dizer a verdade, eu não tenho certeza se nós deveríamos ter
vindo. ─ disse Niall. ─ A cidade está cheia de Lowlanders e pior, existem
Ingleses aqui, começando com a própria rainha. Nós não temos noção em

169
que estamos nos metendo. Talvez fosse melhor ir para casa e resolver seus
problemas lá.
─ Após vir de tão longe, eu vou ver a rainha. ─ disse Sileas, mas fe-
chou os olhos e rezou pedindo orientação. Niall estava certo? Vir até aqui
teria sido um erro? Ela nunca tinha estado tão longe de Skye.
E ela se sentiu culpada por trazer Niall com ela.
Niall ficou em silêncio por tanto tempo que ela pensou que ele estava
dormindo, quando ele disse:
─ Eu estive pensando muito sobre o que vimos na cozinha.
─ E o que há ali que valha a pena considerar?─ Ela perguntou, sua
voz saindo forte.
─ Bem, e se Ian foi apenas tomar um banho, e Dina entrou, inespe-
radamente?─ Niall disse, com voz hesitante. ─ Você viu a banheira, e Ian
gotejando água.
─ Você não mencionou que Dina estava nua, também, ─ Sìleas disse
entre os dentes. ─ E não tente me dizer que você não percebeu.
─ Eu dificilmente poderia deixar de notar isso, poderia? E no come-
ço eu acreditava o mesmo que você sobre o que eles estavam fazendo na
cozinha. ─ Pelo desconforto na voz de Niall, ela poderia dizer que ele pre-
feria ser esfregado com urtigas a discutir isso com ela. ─ Mas veja, Dina é
o tipo de mulher que tira suas roupas para qualquer homem, mesmo sem
ele pedir.
Sìleas se sentou na cama e olhou para a forma escura no chão.
─ E como é que sabe isto, Niall MacDonald?
─ Bem... Dina fez isso comigo ─ disse ele.
A boca de Sìleas abriu-se. Como se atrevia Dina a usar suas artima-
nhas em Niall? Ele era um garoto ainda, apesar de ter mais de um metro e
oitenta de altura.
E a tendência de Dina para tirar suas roupas não explicava como o
Cristal MacDonald terminou em torno do pescoço dela.
─ Está esperando que eu acredite que nada aconteceu naquela cozi-
nha?─ Ela retrucou. ─ Foi isso o que aconteceu quando Dina tirou as rou-
pas dela para você, Niall? Nada?
O silêncio Niall confirmou sua culpa.

170
─ Sua mãe teria vergonha de você. ─ Sìleas deitou-se e apertou seu
travesseiro algumas vezes para afofa-lo.
─ Eu não sou um homem casado. ─ disse Niall. ─ E o que eu faço
com uma mulher não é da conta de minha mãe.
─ Hmmph. Estou muito decepcionada com você. ─ disse ela, vi-
rando-lhe as costas e puxando o cobertor até suas orelhas.
O barulho da taverna abaixo era tudo o que quebrava o longo silêncio
entre eles, até que, finalmente, Niall falou de novo.
─ Se eu tivesse uma mulher como você, Sil, eu não teria tomado o
que Dina ofereceu. ─ Niall fez uma pausa. ─ É por isso que eu continuo
pensando que talvez Ian não tenha feito nada. Talvez devesse dar-lhe uma
chance de contar o que aconteceu.
Sìleas passou metade da noite acordada, virando de um lado para o
outro, batendo nos insetos do colchão de palha e pensando no que Niall ti-
nha dito. Ela tinha uma fraqueza permanente por Ian MacDonald que podia
quase acreditar em qualquer coisa que o absolvesse.
Quando sentiu que sua determinação começava a enfraquecer, ela se
lembrou de ter visto Ian nu, em toda sua glória, seu pau em pé, pronto e
Dina atrás dele, sem nada para cobri-la, exceto a bolsa com o cristal de Sì-
leas pendurada entre os seios.
Toda vez que ela conseguia pôr de lado seus pensamentos sobre Ian e
Dina, ela virava na cama, preocupando-se com o encontro com a rainha.
Ela estava em cometendo uma tolice, trazendo seu problema para a rainha?
Ach, mas ela estava cansada de homens que decidiam o que fazer com ela.
Uma mulher era obrigada a se preocupar mais com ela do que com seu cas-
telo.
Mesmo que a rainha não quisesse ajudá-la, que mal poderia haver em
pedir?
Quando Sìleas cansou de espantar os insetos e perseguir os seus pen-
samentos em círculos intermináveis, ela se levantou e deitou no chão duro
perto de Niall. Ela era grata a ele por ficar com ela e respeitar sua decisão,
mesmo se o que ela fez parecesse tolice para ele.

171
Ao anular seu casamento com o Ian, ela também iria cortar o laço
formal com Niall. Essa era mais uma perda, e das grandes!
Ela se deitou ouvindo a respiração dele, sabendo Niall seria sempre o
irmão de seu coração.
Ela esperava que ele sentisse o mesmo e que ela não fosse perdê-lo
também.

CAPÍTULO 23

Sìleas passeava pelo quarto minúsculo acima da taberna, lamentando


a cada vez que ela havia deixado Niall convencê-la a esperar aqui enquanto
ele entregava sua carta no castelo. Ao som de uma batida, ela pegou o pu-
nhal de cima da cama e colocou o ouvido à porta.
─ Sìleas, deixe-me entrar.
Era Niall, então deslizou o ferrolho.
─ Eu estava quase morta de preocupação. Por que levou tanto tem-
po?
─ Está elegante, agora─ disse Niall, tocando em seu vestido.
─ Diga-me o que aconteceu. ─ disse ela. ─ Será que a rainha vai me
ver?
─ Os guardas riram de mim quando eu disse que iria esperar a res-
posta da rainha─ disse Niall, caindo sobre a cama. ─ Mas uma hora depois,
eles me deram a mensagem de que a rainha vai ver-nos esta manhã.
Sìleas de repente sentiu o estomago pesar como se tivesse comido
um quilo de chumbo em vez de mingau ralo no café da manhã. Ela estava
indo realmente ver a rainha.
─ Eu não tenho espelho!─ disse ela. ─ Pode me ajudar com meu
cabelo?
Os olhos de Niall se arregalaram, mas ele tomou obedientemente os
grampos da mão dela. Depois que ela torceu suas ondas selvagens em uma
espiral na parte posterior da cabeça, ele ficou atrás dela e tentou fixá-lo no

172
lugar. Niall podia disparar uma flecha certeira, mas parecia ter apenas pole-
gares quando se tratava de cabelo.
─ Eu vou apenas amarrá-lo de volta com uma fita─, disse ela quando
o cabelo continuava a cair solto após três tentativas. Depois que ela acabou,
virou-se em um círculo. ─ Você acha que estou bem, para ir até corte?
─ Você será uma das mais belas moças lá. ─ disse Niall, dando-lhe
um largo sorriso.
Enquanto eles caminhavam até a colina íngreme através da cidade
para o castelo, a inquietação causou um arrepio na coluna de Sìleas e dimi-
nuiu os seus passos. Não é de admirar Payton dizer que o rei bebê estaria
seguro no castelo de Stirling. A guarita, que projetava para fora da muralha
para formar a entrada fortificada do castelo, era enorme. O olhar de Sìleas
viajou das quatro torres redondas da guarita para as torres quadradas igual-
mente enormes nos cantos da muralha que dava para a cidade.
─ Nós podemos ir para casa. ─ disse Niall. ─ Não é tarde demais
para mudar de ideia.
─ Nós viemos até aqui. ─ disse ela. ─ Seria indelicado recusar o con-
vite da rainha, especialmente depois que eu pedi para vê-la.
Atravessaram a ponte levadiça e mostraram seu convite para a guar-
da permanente de homens na entrada entre as duas primeiras torres redon-
das. Depois de verificar o selo da carta, os guardas os deixaram passar.
Sìleas sentia como se não conseguisse respirar dentro da guarita com
toneladas de pedra acima e em ambos os lados dela. Ao passarem, ela viu
que havia outro conjunto de torres redondas maciças de frente para o interi-
or do castelo. A pressão sobre o peito aliviou à medida que emergiram para
a luz no outro lado.
─ Este é o lugar onde eu esperei ontem. ─ disse Niall. ─ É o chama-
do Pátio Exterior.
Na frente deles havia uma construção feita de uma brilhante pedra
rosa que era tão bonita que tomou fôlego de Sìleas. O prédio era imenso,
mas gracioso, com janelas altas e esguias torres que pareciam ser decorati-
vas e não defensivas. Figuras entalhadas de leões com coroas e uma criatu-

173
ra mítica com chifres que ela não conhecia estavam empoleiradas em inter-
valos ao longo da linha central do seu telhado pontiagudo.
Um guarda que os seguira, apontou para uma porta em arco ao lado
do edifício.
─ Vão até lá.
Sìleas e Niall passaram sob o arco e entraram no pátio interior do
castelo. O edifício com as torres decorativas estava à sua direita. Um se-
gundo edifício grande, feito da mesma pedra brilhante ficava no lado opos-
to. Junto ao outro lado do pátio, um pequeno edifício com janelas de vidro
colorido que devia ser uma capela. Servos, soldados e bem vestidos corte-
sãos, atravessavam o pátio olhando como se soubessem para onde estavam
indo.
─ Em que prédio acha que a rainha está?─ Ela sussurrou para Niall.
Ele encolheu os ombros e balançou a cabeça em direção ao prédio
com as torres decorativas.
─ Este é o maior.
Quando eles se aproximaram dos guardas, os homens olharam Sìleas
de cima a baixo como se ela pudesse estar escondendo uma adaga sob suas
saias, o que é claro que ela estava fazendo. Ainda assim, ela ficou aliviada
ao ver que eram Highlanders.
─ Nós estamos procurando pela rainha─ disse Niall.
─ Este é o Salão Principal, que é usado apenas para grandes ocasi-
ões. ─ O guarda que falou que era um homem de cerca de quarenta anos,
com pernas musculosas do tamanho de troncos de árvores e risos nos olhos.
─ Mas desde que a moça tem um sorriso tão encantador, eu vou deixar os
dois darem uma pequena espiada.
Depois de olhar à esquerda e à direita, ele abriu a porta e fez sinal
para dentro.
Sìleas se viu em uma sala que tinha talvez, três andares, com cinco
lareiras, e um telhado com pesadas vigas de madeira que cruzavam para
formar arcos angulares.

174
─ O bebê James V foi coroado aqui não muito tempo atrás─, disse o
guarda. ─ É o maior salão de toda a Escócia, até mesmo maior do que o do
Castelo de Edimburgo.
O guarda falou com orgulho, tanto quanto se tivesse construído o sa-
lão ele próprio.
─ É uma visão grandiosa, e agradeço-lhe o favor de nos deixar vê-lo.
─ disse Sìleas. ─ Mas a rainha está nos esperando. Pode dizer-nos onde po-
demos encontrá-la?
O guarda abriu a porta e apontou outro lado do pátio.
─ Ela está mantendo a corte do outro lado, no que é chamado de
Casa do Rei.
Quando Sìleas começou a seguir Niall para fora, o guarda a parou
com um toque em seu braço.
─ Deixe-me dar-lhe um pequeno conselho moça. ─ ele disse, incli-
nando-se o suficiente para ela sentir o cheiro das cebolas em sua respiração.
─ Não vá lá apenas com o rapaz. Espere e volte com seu pai e alguns ou-
tros homens de seu clã.
─ Ele é meu irmão, e ele vai cuidar de mim─, disse ela, dando um
sorriso.
A Casa do Rei era um impressionante edifício, embora não tivesse a
elegância do Salão Principal.
Homens bem vestidos e mulheres moviam-se ao longo de suas gale-
rias cobertas de madeira, que serviam como corredores para os andares su-
periores.
─ Nós devemos nos manter atentos─ disse Niall no ouvido dela, en-
quanto atravessavam o pátio. ─ Se a rainha parecer como seu maldito ir-
mão, ela será astuta e obstinada.
─ Isso descreve a maioria dos homens que conheço, ─ Sìleas disse,
─ então eu devo estar bem preparada.
─ Cuidado com o conde de Angus, Archibald Douglas, também.
─ O laird Douglas?─ Perguntou ela. ─ O que ele tem a ver conosco?
─ Na noite passada, enquanto você tomava banho, eu ouvi que a rai-
nha confia nos conselhos dele. ─ Niall se inclinou mais perto.
─ Na verdade, dizem que ela levou Douglas para a sua cama.

175
Sìleas se virou para olhar para ele.
─ Mas o rei morreu há pouco tempo.
─ Sim, e ela carrega filho do rei morto. ─ Niall disse em voz baixa.
─ De qualquer modo, dizem que a rainha é completamente dominada por
Douglas e ele é completamente dominado pelo desejo de governar a Escó-
cia.
Eles haviam chegado à entrada da Casa do Rei, onde foram recebidos
por outro conjunto de guardas, que os orientou a esperar dentro da sala até
que fossem chamados.
Sìleas ficou imediatamente feliz por estar usando um vestido de esti-
lo Inglês, que era de cintura alta e mais adequado do que seus vestidos
normais, uma vez que todas as mulheres usavam esse estilo. O dela, no en-
tanto, era mais simples e muito mais modesto do que os que as outras mu-
lheres estavam usando. Embora houvesse um punhado de escoceses vesti-
dos de camisas de linho e plaids, a maioria dos homens no salão também
usava roupas inglesas.
Sìleas atravessou a sala, atraída pela espetacular vista das janelas do
lado oposto do salão. Quando ela chegou às janelas e olhou para baixo, pa-
recia que a casa do rei tinha sido construída sobre a borda dos penhascos.
─ Você pode ver a milhas daqui. Ach, aquele parece ser Ben Lomond
─ Niall disse, apontando.
─ Eu acredito que é. ─ Eles se viraram ao som de uma voz feminina
atrás deles.
Se a mulher não tivesse falado com eles em Inglês, Sìleas teria pen-
sado que estava olhando para uma fada rainha. Ela tinha cabelos cor de luar
e brilhos em seu toucado, que emoldurava um rosto com encantadoras, fei-
ções delicadas. Um vestido cor de rosa com um brilho prateado flutuando
sobre ela, exceto pelo corpete ajustado, que tinha um pescoço quadrado,
que revelou os topos dos pequenos, seios perfeitos.
Fada ou não, Niall estava olhando com a boca entreaberta, como se
encantado.

176
─ Você é novo na corte, ou eu o conheceria, ─ disse a mulher com
um sorriso brilhante para Niall.
Ou Niall estava muito fascinado para falar ou o seu Inglês o abando-
nara. O inglês de Sìleas era pior que o dele, mas ela conseguiu dizer:
─ Acabamos de chegar.
─ Ah, vocês são Highlanders. ─ A mulher deixou seus olhos vaga-
rem sobre Niall novamente. ─ Na verdade, eu sabia que pelo seu tamanho e
sua beleza selvagem, que você era um Highlander.
Niall inchou como um sapo pela bajulação descarada.
─ Bem vindo a Stirling─, disse a mulher. ─ Meu nome é Lady Phi-
lippa Boynton.
Philippa. O nome era como uma faca no coração de Sìleas. Philippa
era o nome da jovem sobre a qual Ian contara a ela na fatídica noite que
eles dormiram na mata.
─ Está em Stirling há muito tempo?─ Sìleas perguntou, querendo sa-
ber se ela poderia verdadeiramente ter a má sorte de encontrar a mulher
com que Ian tinha desejado se casar.
─ Não muito tempo desta vez─, disse a mulher, virando os olhos cin-
tilantes para Sìleas. ─ Atualmente, eu passo mais tempo em Londres, mas
já estive muitas vezes em Stirling.
─ Você estava aqui no castelo há cinco anos?─ Sìleas perguntou com
uma voz firme.
A mulher deu uma gargalhada que fez Sìleas pensar em pequenos si-
nos.
─ Sim, eu acredito que estava. Eu fiquei aqui por vários meses nesta
época. Como é que você adivinhou?
Ach era ela, a mulher que Ian desejava se casar.
A memória daquela noite voltou bruscamente, o chão áspero sob ela,
o frio no ar, o noturno céu acima dela. Mas acima de tudo, ela lembrou-se
da melancolia na voz de Ian quando ele falou sobre uma dama com uma ri-
sada cristalina, a graça de uma fada e uma beleza tão encantadora, que faria
qualquer homem decidir se casar num piscar de olhos.

177
Ian deixou de mencionar que Philippa era Inglesa. Se ele estava dis-
posto a dizer a seu pai e ao laird do clã que desejava se casar com uma in-
glesa, então Ian devia amá-la muito.
A mulher fada estava olhando para Sìleas como se estivesse esperan-
do por uma resposta. Sìleas não tinha nem ideia da pergunta, portanto, ela
balançou a cabeça e deixou Lady Philippa acreditar que ela não tinha en-
tendido o seu Inglês.
Sìleas ficou aliviada quando um jovem interrompeu-os.
─ Sua Alteza a Rainha irá vê-los agora. ─ disse ele, fazendo uma li-
geira reverência para Sìleas. ─ Eu vou acompanhá-los até seu salão priva-
do.
Sìleas acenou para Lady Philippa e tomou o braço de Niall. Enquanto
eles seguiam o servo pela sala, Niall olhou para Lady Philippa por cima do
ombro.
O servo os levou através de um portal em arco, depois parou na base
de uma escada circular.
─ Apenas a senhora foi convidada.
─ Ela não vai a lugar nenhum sem mim. ─ disse Niall.
─ A audiência será nos aposentos particulares da rainha─, disse o ho-
mem. ─ A privacidade da rainha e suas damas devem ser respeitadas.
Sìleas puxou Niall para o lado.
─ Haverá apenas mulheres nos aposentos da rainha, então não há
nada com que se preocupar.
Niall pareceu não gostar muito daquilo, mas não discutiu quando ela
lhe deu um sorriso brilhante e pegou suas saias para acompanhar o servo
pelas escadas.
Pouco tempo depois, Sìleas encontrou-se no quarto da rainha. Várias
senhoras descansavam em sofás ou em almofadas de seda e brocado espa-
lhadas pelo chão, enquanto a rainha se sentava em uma cadeira de espaldar
alto com seus pés surpreendentemente minúsculos apoiados em um banqui-
nho e um cão chihuahua no colo. Ela era uma mulher rechonchuda com
olhos redondos que combinavam com seu cão e pesados anéis de brilhantes
em cada dedo gordo.

178
De pé ao lado dela, com uma mão pousada nas costas da cadeira, es-
tava um belo homem moreno de mais ou menos a Idade de Ian, com uma
barba bem cuidada e olhos frios. A julgar pelas suas roupas finas e a sua
postura, Sìleas adivinhou que este era o conde de Angus, Archibald Dou-
glas. Ela soube que seu pai tinha morrido em Flodden, tornando-o o laird
de seu clã, O Douglas.
A boca de Sìleas estava seca quando ela se adiantou e fez sua reve-
rência, esperando estar fazendo isso corretamente.
─ Esta é Sìleas MacDonald, da Ilha de Skye?─ A rainha perguntou.
Sìleas não tinha previsto que a rainha não falasse gaélico. Seu mari-
do, embora um Lowlander ganhou a simpatia dos Highlanders por aprender
a falar gaélico. Ele tinha sido um grande amante da música Highlander
também.
─ Ela pode não falar Inglês. ─ o homem que Sìleas presumira ser Ar-
chibald Douglas disse.
─ Eu falo um pouco de Inglês. ─ disse Sìleas.
A rainha deu um suspiro impaciente e revirou os olhos para o céu.
Sìleas respirou fundo para se acalmar, então disse.
─ Sua Alteza, eu percorri um longo caminho para pedir sua ajuda na
obtenção de uma anulação da igreja.
Enquanto a rainha fez uma careta como se Sìleas fosse algo que seu
cachorro tivesse deixado para trás, o Douglas a examinou de cima a baixo
olhando-a como se ela estivesse usando apenas a roupa de baixo. Que par
rude eram esses dois. Como diziam, Coloque seda em uma cabra e ainda é
uma cabra.
─ Então, você encontrou um outro homem com quem deseja se ca-
sar?─ A rainha virou-se para suas damas e acrescentou: ─ É a razão de cos-
tume.
Sìleas sentiu corar.
─ Não, Sua Alteza, eu não encontrei.
─ Portanto, por que a urgência?─ A rainha perguntou, erguendo as
sobrancelhas depiladas. ─ Você não está carregando o filho de outro ho-
mem, está?

179
Sìleas sentiu a face ardente. Ela balançou a cabeça violentamente
neste momento.
O Douglas perguntou-lhe em gaélico:
─ Então, você é virgem?
─ Essa é uma pergunta muito intima senhor─, respondeu ela, em
gaélico, encontrando seu olhar.
O Douglas virou-se para a rainha e presenteou-a com um sorriso des-
lumbrante.
─ Sei que é tedioso para você falar com alguém que tem tanta difi-
culdade com o Inglês.
O homem fez Sìleas ficar brava o suficiente para cuspir. Seu Inglês
não era tão ruim assim.
─ Não ajuda que a moça esteja nervosa por estar falando com a rea-
leza, pela primeira vez. ─ Douglas falou com a rainha em uma voz suave.
─ Devo cuidar deste problema para você?
A rainha lançou um olhar penetrante para Sìleas, mas ela desviou o
olhar para longe quando o Douglas sussurrou algo em seu ouvido que fez
seu pescoço enrubescer. Um momento depois, ele caminhou até a porta que
dava para o exterior e balançou sua mão para Sìleas, sinalizando para que
ela o seguisse.
A apreensão arrepiou a sua pele enquanto ela o seguia, mas ela tam-
bém não queria ficar com a rainha. Uma vez que eles estavam na galeria e
fora da vista da rainha, ele segurou seu braço contra o seu corpo em um
aperto firme que aumentou seu desconforto. Ela lembrou-se que estava em
um palácio rodeado por soldados e guardas. Certamente ela não tinha nada
a temer.
Depois de passar três portas, ele abriu a quarta, que os levou a uma
pequena sala. Ela ficou aliviada ao ver dois servos, que ficaram de pé e se
inclinaram, quando eles entraram. Sìleas olhou através da porta aberta para
sua direita e seu coração bateu mais rápido quando ela vislumbrou uma
cama imponente, com uma moldura de madeira escura e pesadas cortinas
vermelhas.
─ Saiam. ─ disse Douglas.
180
Os servos desapareceram uma segunda porta. Quando esta se fechou
atrás deles, Sìleas procurou pela adaga amarrada à sua coxa e amaldiçoou-
se por não encontrar um esconderijo mais à mão. Ela tentou, mas não en-
contrara um bom lugar para enfiar uma adaga neste vestido e certamente
nem em seus delicados sapatos.
Douglas serviu vinho de uma jarra de prata ornada sobre a mesa late-
ral e tomou um gole. Ela repreendeu-se por deixar sua imaginação voar.
Nada poderia ser mais normal do que um homem tomando uma bebida.
─ Eu tenho alguns assuntos a discutir com você, moça. ─ , disse ele,
e entregou-lhe o copo. ─ Sua carta à rainha disse que é herdeira de Knock
Castle.
Ela decidiu segurar sua língua até saber onde isso estava levando.
─ Eu sabia sobre você ser a herdeira, é claro, mas sobe que você ca-
sou com um MacDonald e pensei que o assunto estivesse resolvido. ─ Sua
surpresa deve ter aparecido em seu rosto, porque que acrescentou:
─ É meu trabalho saber destas coisas.
Ela não gostava desse homem saber muito sobre ela. Desde que ele
tinha bebido o vinho, não poderia ser envenenado, então ela tomou um
gole. Não fez nada para curar sua garganta seca.
─ A rainha em breve me nomeará guardião das ilhas ocidentais, o
que inclui Skye, é claro. ─ Ele se aproximou e disse em voz suave. ─ Isto
significa, moça, que eu sou um homem bom para se conhecer. E quanto
mais você me conhecer, melhor será para você.
Seu coração estava acelerado. Apesar de sua inexperiência, ela teve
uma noção razoável do que ele estava sugerindo.
Ele arrancou o copo de sua mão e coloque-o sobre a mesa.
─ Tenho certeza que você já passou por tempos difíceis, tanto com o
MacDonald quanto com os MacKinnons tentando colocar suas mãos sobre
você e seu castelo. ─ disse ele. ─ Provavelmente, os MacLeods vão ter uma
chance também.
Quando ele deu um passo para frente, ela deu um passo para trás.

181
─ Eu sou um homem poderoso─, disse ele, apoiando uma mão em
seu braço. ─ Eu posso protegê-la dos MacDonalds, dos MacKinnons, e de
todos os outros.
Ela recuou até os calcanhares bater na parede. Ele estava tão perto
dela, agora que ela poderia cheirar o vinho em seu halito e o odor almisca-
rado de sua pele sob o perfume que ele usava.
─ Você é uma moça adorável. ─ Ele passou um dedo ao longo de sua
bochecha. ─ E tem coragem para vir até aqui, apenas com o jovem que está
esperando por vocês na sala.
Se sua intenção era fazê-la perceber o quão sozinha era e quão longe
estava da proteção de seu clã, ele tinha conseguido.
Ela engoliu o medo e tentou manter a cabeça fria.
─ Eu não acho que a rainha gostaria de vê-lo tocar em mim.
─ Não, eu não acho que ela gostaria. ─ disse ele, os dentes de um
branco resplandecente. ─ É por isso que eu vou ter certeza que ela não sa-
berá sobre nós. Nada poderia ser mais fácil.
Ela passou a língua sobre os lábios secos.
─ É hora de ir.
─ Venha, moça, eu mereço uma recompensa por ter que dormir com
a vaca Tudor. ─ Ele segurou o rosto dela e arrastou seu polegar sobre o lá-
bio inferior dela. ─ E não se preocupe. Se tiver um filho, eu prometo que
vou cuidar dele.
Sua boca abriu com esta declaração contundente de suas intenções.
─ Você é um bastardo inconivente ─ela sussurrou encarando-o. ─
Você só quer Knock Castle para si mesmo, assim como todo o resto.
─ Posso assegurar-lhe, moça─, disse ele, segurando seus ombros e
pressionando-a contra a parede, ─ Knock Castle não é tudo que eu quero de
você.
Se ela pudesse ter chegado a sua adaga, ela o teria matado. Como
não pôde, ela lutou contra ele, mas ele segurou-a rapidamente.
─ Você é linda ─ ele disse em uma voz rouca, enquanto sua boca
aproximava-se mais da dela. ─ E eu tenho uma fraqueza pelas virgens bo-
nitas.

182
CAPÍTULO 24

Cada nervo e músculo de Ian estavam rígidos com a tensão enquanto


cavalgavam para Stirling. Ele esperava encontrar Sìleas e Niall na estrada,
mas a dupla havia se movido rápido, maldita. Após dias de viagem difícil e
preocupação, sentiu-se como uma pele que havia sido esticada e pregada
em um quadro.
─ Vamos verificar todas as tabernas e estalagens─ disse Connor. ─
Eles vão ficar em uma delas.
Se eles tivessem chegado a Stirling. A cabeça de Ian latejava toda
vez que ele pensava nos perigos.
─ Eu vou ao castelo procurar por eles. ─ disse ele.
─ Se eles não foram lá ainda, nós ainda podemos manter isto em se-
gredo ─ disse Connor.
O medo pulsava através dele.
─ Eu não me importo se sou motivo de riso em toda a Escócia. Devo
encontrá-la rapidamente, antes que ela se machuque.
Se já não tiver sido machucada.
─ Eles não podem ter chegado a Stirling com mais de meio dia à
nossa frente. ─ disse Alex. ─ Sìleas não pode apenas ir ao palácio e ter uma
audiência com a rainha. Mais do que provavelmente, eles vão fazê-la espe-
rar um dia ou dois, se a deixarem ver a rainha.
Ian concordou, com relutância, a olhar em primeiro lugar na cidade.
Depois de guardar seus cavalos no estábulo da primeira taverna que encon-
traram, eles entraram e finalmente tiveram seu primeiro lance de sorte.
─ Leve o quarto de cima no final do corredor, ─ disse o taberneiro,
enfiando as moedas que Ian deu-lhe na bolsa de couro em seu cinto.
─ Viu dois rapazes, um quase tão alto quanto eu, e o outro pequenino
com o cabelo vermelho?─ Ian perguntou.

183
─ Talvez. ─ O taberneiro estreitou os olhos para Ian. ─ Por que está
procurando por eles?
O coração de Ian bateu mais rápido. Ele queria pegar o homem e ar-
rancar tudo o que ele sabia, mas ele ficou grato pela proteção inesperada do
taberneiro ao par rebelde.
─ Meus irmãos tiveram uma discussão com o nosso pai e fugiram─,
disse Ian. ─ Eu vim para levá-los para casa.
─ Ainda bem que você veio─ disse o homem, servindo um copo de
cerveja para outro cliente. ─ O grande parece saber se defender em uma
luta, mas há uma abundância de outros perigos em Stirling, se sabe o que
eu quero dizer.
Ian sabia. Graças a Deus que ele os encontrara.
─ Qual é o quarto deles?─ Ian disse, começando a andar em direção
às escadas.
─ O mais novo deve estar lá em cima, mas o mais velho saiu há al-
gum tempo. ─ Ele riu e balançou a cabeça ─ Engraçado, ele encontrou-se
com uma moça bonita e disse que estava indo visitar a Rainha.
As pessoas na rua se moviam para fora do caminho de Ian enquanto
ele caminhava em direção ao castelo. Connor estava ao lado dele e os ou-
tros dois atrás deles.
─ Cuidado com o seu temperamento─ disse Connor, uma vez que se
aproximou da portaria. ─ Se você desembainhar sua espada, vinte guardas
estarão em cima de você antes de possa dizer o nome dela.
Eles disseram aos guardas na portaria que eles estavam procurando
uma mulher do seu clã.
─ Ela estava com um rapaz alto de quinze anos, e ela é mais ou me-
nos dessa altura─ , Ian disse, pondo a mão no queixo ─, e tem cabelo ver-
melho flamejante.
─ Como eu poderia não lembrar dela?─ Um dos guardas disse. ─
Ach, ela é uma beleza.
Ian respirou fundo para não atacá-lo.
─ Se fosse minha esposa, pode ter a certeza que eu a manteria em
casa─, disse outro.

184
Ian rangeu os dentes enquanto Connor e Alex convenciam os guardas
a deixá-los passar, em seguida, eles correram para Casa do Rei. Assim que
eles passaram um outro grupo de guardas na porta, ele viu Niall.
Os olhos de seu irmão arregalaram-se quando Ian e os outros atraves-
saram o corredor, mas ele se manteve firme.
─ Onde ela está?─ Ian agarrou Niall pela frente de sua camisa. ─
Diga-me agora.
─ Um servo a levou para sala de estar privada da rainha ─ disse Ni-
all, e Ian viu a preocupação em seus olhos. ─ Ele disse que os homens não
podiam ir lá.
Ian sabia por experiência própria que era uma mentira. As damas da
rainha introduziam homens furtivamente lá, todo o tempo.
─ Eu não gostei, mas há apenas mulheres lá, então Sìleas deve estar
segura o suficiente─, disse Niall, mas havia um tom de duvida em sua voz.
─ Mas ela já entrou há muito tempo.
Ian se virou para os outros.
─ Podem distrair os guardas por alguns minutos?
─ Espere, eu vejo uma maneira mais fácil de entrar─ Alex desviou o
olhar do outro lado da sala. ─ Acredito que é a garota Inglesa que costuma-
va ter um olho em você.
Ian seguiu o olhar de Alex para uma mulher elegante e um rosto de-
licado, de proporções perfeitas, emoldurado por cachos muito louros.
─ Está falando de Lady Philippa?─ Niall perguntou com uma voz
melancólica.
Era realmente Philippa, a mulher com quem Ian havia planejado se
casar, no que parecia ter sido outra vida.
─ Eu aposto que Philippa pode metê-lo no salão da rainha em um
piscar de olhos, se ela quiser. ─ disse Alex, empurrando Ian. ─ Então, faça
um esforço para ser encantador.
Philippa virou a cabeça e piscou várias vezes quando viu Ian cami-
nhando em sua direção. Depois sussurrando algo para o homem de pé ao
lado dela, ela atravessou a sala para encontrá-lo com um sorriso iluminando
seu rosto.

185
─ Você continua tão bonito como sempre, Ian MacDonald─, disse
ela, estendendo sua mão enluvada para ele. ─ Quantos corações das mulhe-
res dos outros você já quebrou desde nosso último encontro?
─ Preciso falar com vocês a sós─ disse Ian, e levou-a pelo cotovelo.
Ela olhou de soslaio para ele e sorriu quando ele a levou para um
canto escuro.
─ Oh meu Deus, as senhoras todas vão falar e ficarão verdes de inve-
ja.
Ian reprimiu sua impaciência.
─ Eu nunca pedi desculpas por não voltar para você. ─ Ele devia isso
a ela e o correto era se desculpar antes de pedir um favor. ─ Eu queria vol-
tar e me casar com você, mas... Não foi possível.
─ Céus, Ian, eu não poderia ter casado com você─ ela disse, e riu
com aquela risada que costumava encantá-lo. ─ Eu era uma das amantes do
rei James na época.
Ian estava atordoado. Ele pensou que ela era uma moça inocente e
apaixonada por ele.
Philippa lhe deu um sorriso amargo.
─ Eu estava fazendo o que minha família mandou. Eles me manda-
ram para a corte este propósito.
─ Eu sinto muito a sua família tratá-la tão mal. Foi um erro deles.
─ Ah, Ian─ disse ela com um suspiro. ─ Você é valente. Eu sempre
gostei disso em você.
─ Já que está aqui na corte de novo, eu suponho que a rainha nunca
descobriu o que foi para o rei. ─ Ian disse, esperando que ela estivesse em
bons termos com a rainha para que pudesse ajudá-lo. ─ Ouvi dizer que ela
é uma mulher vingativa, então você estar se arriscando ao vir aqui.
─ Desta vez, foi meu marido que me enviou. ─ Ela se inclinou para
sussurrar ao lado de sua orelha. ─ Ele diz que Archibald Douglas, o conde
de Angus, em breve terá o poder da coroa. É por isso que ele quer eu sedu-
za o Douglas e o leve para minha cama.
Ian se enrijeceu.
─ Seu marido pediu para você fazer isso?

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─ Como se levar o homem para cama nos trouxesse algum beneficio.
Archibald Douglas não é um homem de tomar decisões com seu pau, ou,
infelizmente, ─ ela deu um tapinha no peito, Ian─ com seu coração.
─ Ach, É uma vergonha você ter acabado com um marido tão mise-
rável.
Ela encolheu os ombros delicados.
─ Nós combinamos bem na maioria das coisas.
Ian não sabia o que dizer.
─ Além disso, eu posso cuidar de mim com o Douglas─, disse ela. ─
Ao contrário da pobre virgem que ele tem em suas garras no momento. A
menina é tão inocente, ela não terá chance contra os gostos dele.
Um arrepio correu coluna de Ian.
─ Conte-me sobre esta moça.
─ Aparentemente, ela é herdeira de um castelo que Douglas quer.
Esta manhã, ouvi-o convencer a rainha a ajudar a garota terminar seu casa-
mento e casá-la com um dos seus primos Douglas. ─ Ela deu um suspiro. ─
Eu acho que a conheci, e temo que uma vez que Douglas veja como ela é
bonita, o primo não a terá antes que ele mesmo a tenha.
Ian agarrou seu braço.
─ Philippa, devo chegar até ela.
Os olhos de Philippa se arregalaram, e sua mão foi para o seu peito.
─ Não me diga que... Não, Ian, você não pode ser o marido, ela está
tentando se livrar de você?
─ Sou─, ele cuspiu. ─ Eu vim para levá-la para casa. Pode colocar-
me dentro dos aposentos da rainha?
Ela baixou a cabeça.
─ Eu não me assusto facilmente, mas a verdade é que eu tenho um
pouco de medo de Archibald Douglas.
─ Prometo a você,─ Ian disse, inclinando-se mais perto, ─ eu nunca
direi que você me deixou entrar.
─ Eu suponho que você não faria isso, mesmo sob tortura. ─ disse
ela, um leve sorriso retornando aos lábios. Ela estendeu a mão para ele: ─
Venha, é melhor se apressar.
Philippa levou-o pela escada dos empregados, que estava escondida
atrás de uma tela. Quando ela chegou no topo, se virou para ele.

187
─ Eu espero que você não vá culpá-la se... ─ Ela fez uma pausa e
mordeu o lábio. ─... Se você encontrá-la demasiado tarde.
O suor porejou em sua testa.
─ Apenas me diga para onde ir daqui.
─ A rainha deu a Douglas um conjunto de salas para seu uso privado,
lá. ─ Philippa apontou para uma porta no fim do corredor estreito.
─ Tenha cuidado, Ian. ─ disse ela e beijou-o na bochecha. ─ Haverá
guardas lá dentro e ouvi dizer que Douglas é muito bom com uma espada.

CAPÍTULO 25

Sìleas desejou nunca ter deixado Skye.


─ Se é tudo a mesma coisa para você, Laird Douglas... ─ Ela tentou
se afastar dele, mas não tinha para onde ir. ─ Eu vou retirar o meu pedido
de assistência da rainha e vou embora.
─ Bobagem. ─ O Douglas pegou uma mecha solta ao lado de seu
rosto entre os dedos, esticou-a e sorriu ao saltá-la e vê-la enrolar. ─ Diga-
me, moça, é tão selvagem quanto o seu cabelo?
Ela não gostou da maneira como seus olhos escureceram quando ele
disse isso.
─ Eu sou uma dama muito educada. ─ Se havia uma hora ideal para
enfeitar a verdade, era agora.
─ A julgar pela sua decisão precipitada de viajar por metade da Es-
cócia, com apenas um menino como seu acompanhante, eu acho que é uma
selvagem.
Sìleas prendeu a respiração para evitar que o peito tocasse no dele
enquanto ele inclinava-se mais um centímetro mais perto dela. O suor des-
ceu-lhe pelas costas quando ela considerou que era muito improvável que
conseguisse alcançar o punhal amarrado à sua coxa antes que ele parasse.
Em qualquer caso, levantar seu vestido parecia uma escolha tola no mo-
mento.

188
─ Você vai descobrir que há grandes benefícios em ser minha aman-
te─, disse Douglas, forçando o joelho entre as pernas dela.
─ Eu tenho certeza que existem moças que apreciariam os 'benefí-
cios', mas você não tem nada que eu queira.
Ela não queria tocá-lo, mas quando parecia que ele não iria se afastar
por conta própria, ela empurrou seu peito. Ele não pareceu notar.
─ Você vai mudar de ideia, muito em breve─ disse ele, tão perto sua
respiração esquentou o rosto dela. ─ Eu sei como agradar uma mulher.
Seu coração batia freneticamente em seu peito enquanto Douglas se
inclinava na direção dela. Ela apertou os olhos e rezou a mesma oração,
que rezava quando era pequena.
Por favor, Deus, envie Ian.
─ Já faz um longo tempo desde que eu tive uma virgem─, disse ele
em voz baixa e áspera. ─ Eu estou ansioso para ensinar-lhe tudo o que sei.
Ela se encolheu quando o bigode áspero de Douglas roçou seu lábio
superior.
─ É a minha esposa que você tem em suas mãos, Douglas.
Por algum milagre, a voz de Ian encheu a sala. Espero que tenha to-
mado conta dela. Muito lentamente, ela abriu os olhos, com medo de que
fosse apenas imaginação.
Sua respiração ficou presa quando ela olhou sobre o ombro de Dou-
glas e viu a resposta à sua oração preenchendo a porta. Com sua claymore
desembainhada e a morte em seus olhos, Ian parecia magnífico e mais peri-
goso do que ela jamais vira.
─ Se quiser se afastar dela agora,─ Ian disse: ─ Eu vou assumir que
você não sabia que ela é minha esposa e deixá-lo viver.
Archibald Douglas arqueou as sobrancelhas para ela. Por um mo-
mento, Sìleas se perguntou se Ian sabia que estava ameaçando o conde de
Angus, um dos homens mais poderosos da Escócia e amigo especial da rai-
nha.
Mas é claro que ele sabia.
O Douglas virou-se, levando-a consigo. Ele segurou-a contra ele com
um braço e o punho da sua espada na outra mão.

189
─ É este o marido de quem deseja se livrar?─ Perguntou Douglas,
um sorriso divertido se contorcendo em seus lábios. ─ O que a deixou vir-
gem?
─ Não se engane, a moça é minha esposa. ─ A voz de Ian soou tão
ameaçadora que os cabelos da nuca de Sìleas ficaram em pé. ─ E ela vai
continuar assim enquanto eu continuar respirando.
Enquanto ele continuasse respirando. Apesar de sua situação precá-
ria, as palavras de Ian enviaram uma onda de emoção através dela.
─ Então você é Ian MacDonald do MacDonalds Sleat,─ Douglas
disse, estreitando os olhos. ─ Diga-me, é um lutador tão bom como dizem?
─ Melhor ─ disse Ian. ─ Agora, por favor, afaste-se de minha esposa.
Eu não vou ser tão educado da próxima vez.
Ela se assustou quando Archibald Douglas jogou a cabeça para trás e
riu.
─ Eu aprecio homens corajosos ao ponto de loucura. ─ disse o Dou-
glas. ─ Vou precisar de homens como você lutando comigo, quando eu for
para as ilhas para acabar com esta última rebelião.
─ Você não vai viver para lutar outro dia, se não soltar minha
esposa─, disse Ian. ─ Minha paciência já se esgotou.
─ Eu vou chamá-lo quando chegar a hora. ─ O Douglas a empurrou
para a frente. ─ Tome a sua noiva, Ian MacDonald de Skye.
Ian tomou seu pulso num aperto firme e puxou-a para trás.
─ Mas pelo amor de Deus, ─ Douglas disse, ─ não a deixe virgem
outra noite

CAPÍTULO 26

Ian arrastou Sìleas através do corredor passando pelos cortesãos que


riam dissimuladamente. Ele estava praticamente arrancando-lhe o braço,
mas ela não se importava. Ela queria chorar de alívio por ele estar aqui, por
que ele veio buscá-la, mesmo que fosse o orgulho que o fez fazer isso.

190
Sem diminuir o ritmo, Ian sinalizou para alguém. Sìleas mal teve
tempo de olhar por cima do ombro, mas foi fácil identificar os quatro ho-
mens altos vestidos como Highlanders cercados por um bando de damas da
corte.
Uma onda de culpa passou por ela quando percebeu que Connor,
Duncan, e Alex tinham vindo a Stirling por causa dela, quando eram neces-
sários em casa. Embora os três claramente tivessem visto ela e Ian, não fi-
zeram nenhum movimento para segui-los. Apenas Niall correu atrás deles.
─ Graças a Deus você está bem-─ Niall parou bruscamente quando
Ian se virou.
Ian estava furioso como nunca o tinha visto.
─ Por muito pouco. ─ Ian falou entre dentes cerrados, e a veia no
pescoço pulsava. ─ O Douglas teve as mãos sobre ela.
Niall virou os olhos arregalados para ela.
─ Eu deveria ter ido com você.
─ O que você devia ter feito, ─ Ian disse ─, era nunca tê-la trazido
para Stirling.
Mesmo Niall teve o bom senso para não segui-los depois. Uma vez
que eles estavam fora, Ian dirigiu-se para um portão ao lado da capela. No
outro lado do arco, continuou a descer por um caminho íngreme construído
na encosta. Ela quase caiu enquanto o seguia até uma enorme área gramada
que era cercada pela muralha exterior do castelo.
Sem olhar para ela, Ian começou a caminhar rapidamente pelo cam-
po. Ela segurou suas saias com a mão livre e quase teve que correr para
manter-se ao seu lado até chegarem ao muro. Ela pensou que certamente,
ele pararia agora, mas ele a puxou atrás de si para subir os degraus constru-
ídos no lado da parede.
Quando ele finalmente parou no topo e se virou para ela, ela estava
ofegante.
─ O que em nome de Deus, você achava que estava fazendo?─ Ele
gritou. ─ Não sabe quem é O Douglas?

191
Ela não viu guardas patrulhando esta parte do muro, que foi construí-
do diretamente sobre o penhasco. Aparentemente, Ian a tinha trazido até
aqui para que ele pudesse gritar com ela sem ser ouvido ou interrompido.
─ O homem poderia ter usado você, a matado e deixado na rua, ─
Ian gritou, enquanto andava para trás e para frente ao longo da largura de
dois metros do passadiço ─, e ninguém teria dito uma palavra sobre isso.
Ele parou e olhou para o horizonte.
─ Deus no Céu, Sil, se eu não fosse capaz de adivinhar aonde você
ia? ─ Ele fez uma pausa, apertando sua mandíbula. ─ E se eu não tivesse
chegado a tempo?
Mantendo o olhar fixo à frente, ele subiu na borda do muro e sentou
escarranchado.
Ela ficou ao lado dele e olhou seu perfil.
─ Então, por que veio me buscar?─ Perguntou ela.
Ele virou os olhos azuis para ela e a olhou de forma tão intensa que o
ar parecia vibrar entre eles.
─ Porque você é minha esposa, goste ou não.
Sua boca ficou seca. Apesar de si mesma, sua voz tremia quando ela
falou. ─ Eu sei. Então você veio por causa de seu orgulho.
─ É isso que você acha?─, Disse ele, parecendo indignado.
─ Sim─ Ela umedeceu os lábios. ─ E, porque você precisa de mim
para justificar a tomada do Castelo de Knock.
─ Eu não vou dizer que o meu orgulho não levou uma surra, porque
ele levou. E eu não vou dizer que não precisamos tomar Knock Castle, por-
que que precisamos. ─ disse ele em uma voz dura. ─ Mas não foi por isso
que eu vim buscá-la.
Ela ergueu o olhar de seus sapatos enlameados para os olhos irritados
dele.
─ Então por que veio?
─ Eu vim porque é minha responsabilidade proteger você. ─ , disse
ele. ─ Eu posso... Eu não vou deixá-la, minha família, ou meu clã nova-
mente. Mesmo que você não fosse a minha esposa, o que você é, é meu de-
ver protegê-la. Aceitei a tarefa de ser seu protetor muito tempo atrás, e não
vou parar agora.

192
Sìleas entendia a necessidade de Ian de fazer as pazes. Ainda assim,
ela esperava ser mais que um dever, mais do que um erro ele precisava cor-
rigir. Ela respirou fundo e soltou o ar lentamente.
Era difícil para uma mulher dizer a um homem que ela o queria.
─ Você se importa ao menos um pouco comigo?
─ Claro que eu me importo com você, porra─, disse ele, sacudindo o
braço para o lado. ─ Eu sempre cuidei de você, desde que você era peque-
nina, e você sabe disso.
Como um cão favorito. Um suspiro de decepção escapou de seus lá-
bios.
─ E eu desejo você. ─ Seus olhos ficaram escuros, e ele deu-lhe um
olhar que queimava através dela. ─ Eu a desejo tanto que às vezes não pos-
so respirar quando eu olho para você.
Ele se virou novamente e olhou para as montanhas distantes. Depois
de um tempo, ele disse:
─ Quando você me deixou, Sil... Bem, nada importava, a não ser
trazê-la de volta.
Certamente este era um bom sinal, não era? Um motivo de esperan-
ça? Mesmo que Ian nunca a amasse como ela o amava, ele parecia genuina-
mente querer que ela fosse sua esposa agora, não havia punhal em suas cos-
tas. Ele sentia afeição por ela, a desejava.
─ Céus, você quase me matou de susto fugindo assim!─ disse ele,
sua raiva surgindo novamente. ─ Eu não sabia onde tinham ido, ou se vo-
cês estavam a salvo.
─ Niall cuidou muito bem de mim. ─ disse ela, sentindo-se mais cal-
ma agora.
─ Niall será um homem poderoso um dia, mas ele ainda é jovem ─
disse ele, balançando a cabeça. ─ Ele não compreende o perigo de homens
como Archibald Douglas.
Ian olhou para longe por um longo tempo antes de falar novamente.
─ Eu sei que tem as suas queixas contra mim, mas eu preciso falar
claramente com você.─ disse ele. ─ Foi um erro trazer os nossos problemas

193
para cá. É perigoso chamar a atenção da coroa e de Douglas. Nunca se sabe
onde isso vai acabar.
Ela encostou-se na borda ao lado dele e abraçou-se contra o vento
forte.
─ Por que não me falou de seus planos de tomar Knock Castle?
─ Eu não queria que você se preocupasse com isso. Além disso, nós
apenas fizemos planos. ─ Seu tom era azedo, mas pelo menos ele não ten-
tou dizer-lhe que tomar o castelo da família dela não era da sua conta. ─
Agora não vamos ter tempo para tomá-lo antes que o laird seja escolhido na
reunião do Samhain.
─ Eu gostaria que Connor e os outros não tivessem vindo. ─ disse
ela.
─ Pior que isso foi encontra-la a sós com Douglas atrás de uma porta
fechada, muito pior. ─ Ian disse. ─ Eles sabiam que eu poderia precisar de-
les, e sempre fomos leais uns aos outros.
Sìleas observava as nuvens que se acumulavam em torno das monta-
nhas e pensou sobre a lealdade, especificamente, de Ian.
─ Eu estou pronta para ouvir sobre Dina agora. ─ disse ela.
─ Dina? Eu não tenho nada a dizer sobre Dina. ─ disse ele. ─ Ela
não tem nada a ver conosco.
Ela ficou em silêncio e esperou sua raiva passar.
─ Eu queria estar limpo para você na nossa noite de núpcias, ─ disse
ele, e ela ouviu a melancolia em sua voz. ─ Eu estava tomando meu banho,
quando Dina entrou na cozinha com os seus próprios planos.
─ E o cristal?─ Perguntou ela. ─ Eu o vi sobre ela.
─ Dina veio por trás de mim e tirou-o de meu pescoço quando eu não
estava esperando por isso.
Esta admissão parecia constrangê-lo mais do que ser pego nu com
Dina.
Ele desceu do parapeito para ficar diante dela.
─ Eu peguei a sua pedra de volta─, disse ele, metendo a mão dentro
de sua camisa e puxando uma corda de couro amarrada ao redor de seu pes-
coço. Ele abriu a bolsa e deixou cair o cristal na palma da mão para ela ver.
─ Eu juro que eu não a toquei─, disse ele e segurou seu olhar.

194
Ela fechou a mão sobre a pedra e apertou suas mãos em volta de seu
punho.
─ Eu acredito em você.
─ Se você ficar comigo, eu prometo que vou ser fiel. ─ disse Ian. ─
Eu vou fazer o meu melhor para fazê-la feliz.
Não foi uma promessa de amor eterno, mas foi o suficiente. Ian iria
cuidar dela. Como seu marido, ele iria colocar as necessidades dela em pri-
meiro lugar, como uma questão de honra. Ele iria protegê-la com sua vida,
se fosse preciso.
─ Se você ainda quiser me deixar, eu não vou objetar, ─ disse Ian. ─
mas estes são tempos difíceis, e você deve ter um homem para protegê-la.
Se você desejar escolher outro marido, deve fazê-lo rapidamente.
Não seria justo se casar com outro homem quando ela iria sempre
amar Ian. O que a fez pensar que ela podia deixá-lo?
─ Eu fiz a minha escolha há muito tempo, ─ disse ela. ─ para mim,
sempre foi você, Ian MacDonald.
─ Bom. ─ Ian deslizou o cristal de volta na bolsa, meteu-a dentro de
sua camisa, e pegou a mão dela.
Mais uma vez, Sìleas tinha que correr para acompanhar seus passos
largos. Ele manteve um firme aperto de mão e seguiu em frente pelo castelo
e em seguida, para a cidade, como se os lobos estivessem mordendo seus
calcanhares.
─ Para onde estamos indo?─ Perguntou ela.
─ Eu não gosto de Douglas, ─ disse Ian sem quebrar o ritmo ─, mas
eu quero pôr em prática o seu conselho, logo que possível.
Sìleas engoliu em seco, lembrando as palavras de despedida de Dou-
glas.
“Pelo amor de Deus, não a deixe virgem outra noite.”

195
CAPÍTULO 27

Sìleas viu Niall sentado em uma das mesas quando eles entraram na
taverna, escura e barulhenta. Ele ficou de pé tão logo eles entraram.
─ Fique longe de problemas,─ Ian disse, com um olhar penetrante
para Niall quando passou por ele. ─ Encontro vocês pela manhã.
Ainda não era meio-dia.
Niall agarrou seu braço livre.
─ É isso que quer Sil?
Rapaz corajoso. Seu coração estava trovejando no peito, mas conse-
guiu dar um aceno de cabeça para tranquilizá-lo.
Ian atravessou a taberna com apenas um olhar à direita ou à esquerda
e levou-a para cima. Na última porta, ele tomou-a nos braços e cruzou a so-
leira.
Aparentemente, Ian não queria arriscar com a má sorte que se escon-
dia atrás das portas.
Ele chutou a porta e colocou no chão. Enquanto ele empurrava um
armário para frente da porta, ela olhou para a cama que parecia encher o
quarto. Quando ele se virou e fixou seu olhar quente nela, ela engoliu em
seco. Seu corpo parecia pulsar com uma energia mal contida.
Ela estava consciente de seu peito subindo e descendo, os músculos
rígidos da mandíbula, a tensão que atravessa todas as fibras dele. Quando
ele deu um passo em direção a ela, Sìleas teve que lutar para não dar um
passo atrás. Seu desejo era palpável e escuro, aquecido por sua raiva, que
era resultado do seu orgulho ferido, bem como do medo por sua segurança.
Sem uma palavra, esmagou-a contra seu peito e sua paixão explodiu.
Sua boca violou a dela, exigindo tudo e não devolvendo nada.

196
Não havia nada nele do amante gentil, que dera beijos suaves como
penas sobre suas cicatrizes. Dessa vez, Ian a deixou ver a indomável vio-
lência da sua fome por ela.
Ela se sentia oprimida pela força da sua necessidade, o assalto em
seus sentidos. Ele a assustava, e mesmo assim algo profundo dentro dela
ansiava por sua emoção crua, desconhecida e incontrolável. Ela queria se
afogar na paixão tempestuosa de beijos profundos, sentir o toque das mãos
insistentes segurando seus quadris.
Ian afastou sua boca para dar-lhe beijos quentes e úmidos ao longo
do lado de sua garganta. Segurando seu traseiro, ele a ergueu contra ele
para que ela sentisse sua ereção, cheia e dura.
─ Eu a quero tanto─, disse ele contra sua orelha. ─ Eu posso morrer
aqui, se não a possuir.
Pela primeira vez, sentiu que seu poder sobre ele e gostou. Ela abriu
as mãos sob a camisa dele e mordeu os lábios, com um gemido baixo.
─ Bem, sou sua─, disse ela, e puxou-o para outro beijo profundo.
Ele a guiou para a cama, e caíram sobre ela. Segurando seu rosto nas
mãos, ele a beijou, como se nunca fosse ter a chance novamente. Então
suas mãos estavam correndo sobre seu corpo, ansiosas pelo desejo. Seu pei-
to parecia apertado, como se ela não pudesse conseguir ar suficiente. O pul-
so batia em seus ouvidos.
A mão de Ian estava sobre seu peito, seu polegar buscando o mamilo.
Quando o encontrou, ele abaixou a cabeça para chupar seu seio através do
corpete de seu vestido. Ela ofegou como sensações intensas em espiral cor-
rendo através dela. O mundo foi suspenso como cada parte de seu ser foca-
do na boca em seu peito. Foi uma tortura, mas uma tortura doce que a dei-
xou sem fôlego e tonta.
Ele puxou a saia de seu vestido até que a mão dele tocou em sua
coxa nua. Mas não foi o suficiente.
─ Eu preciso de você nua, ─ ele disse, sua voz grosa soando baixa e
profunda na garganta. ─ Agora!

197
Ele rolou para o lado e começou a desprender a parte de trás de seu
vestido, enquanto a boca dela era assaltada com beijos ardentes que a dei-
xou atordoada e querendo mais. A próxima coisa que ela percebeu foi que
levantara os braços e ele estava puxando o vestido por cima da cabeça. O ar
frio bateu-lhe na pele quente, já que a camisa tinha saído junto com seu
vestido.
Antes que ela tivesse tempo de se sentir constrangida, ele se enros-
cou em torno dela, envolvendo-a no calor de seu corpo e sua paixão. O te-
cido áspero de sua camisa fez doer à pele sensível.
Seu coração bateu forte com antecipação, pois ele fez uma pausa
para tirar as botas e puxar a camisa sobre a cabeça.
Quando ele esmagou-a contra si novamente, desta vez foi pele contra
pele.
Cada centímetro dela incendiava e suas mãos estavam por toda par-
te, correndo sobre seu corpo, enquanto ele beijava seu cabelo, seu rosto,
sua garganta. Sua nudez aumentou a urgência da necessidade ardente.
Ela sentiu isso na tensão de seus músculos, em suas mãos, na fome
de seus beijos.
─ Você é minha─ disse ele, parando para olhar para ela com os
olhos ardentes. ─ E eu estou reclamando cada centímetro seu.
Seu cabelo caiu sobre sua pele quando ele se moveu para baixo, dis-
tribuindo quentes beijos molhados sobre o esterno, na parte inferior dos sei-
os e em seu estômago. Todo o tempo, suas mãos brincavam com seus ma-
milos, enviando sensações direto para o local dolorido entre suas pernas.
Quando sua boca e língua percorreram sua barriga e desceram por
seu quadril, uma pequena inquietação se infiltrou no turbilhão de sensações
que inundavam o seu corpo. Sua inquietação cresceu ainda mais quando ele
levantou seu joelho e ela sentiu o toque da barba crescida e o calor úmido
de sua boca aberta no interior de sua coxa.
A tensão aumentou dentro dela, enquanto sua boca se aproximava e
mais de seu centro. Certamente, ele não ia beijá-la ali. Sua respiração se
tornou ofegante, enquanto ele se movia para cima, centímetro a centímetro.

198
Ela estava à sua mercê, e não se importava. Onde quer que ele a estivesse
levando, ela queria ir.
Oh Deus! Quando ele a beijou ali, entre suas pernas, seu corpo es-
tremeceu, ou pelo choque ou por ela estar muito sensível, ela não sabia. Ele
gemeu e apertou suas coxas.
Ele passou a língua sobre ela, enviando ondas de prazer através dela
que apertou os lençóis entre os dedos. Ela tentou formar palavras para pro-
testar, mas os sons que vinham de sua garganta pareciam incentivá-lo a fa-
zer mais.
E quanto mais ele fez, mais ela queria que ele nunca parasse.
Ela se agarrou ainda mais aos lençóis, como se sua vida dependesse
disso enquanto a tensão crescia dentro de si. Quando não aguentou mais,
ela se contorceu contra ele. Mas ele era implacável. Ela gozou em ondas
que a cegaram.
Antes que ela pudesse recuperar o fôlego, ele estava em cima dela.
Suas mãos estavam enfiadas em seu cabelo, sua respiração irregular estava
em seu rosto e os olhos estavam atordoados, sem foco. O peito pressionava
seus seios sensíveis.
Mas o que tinha a sua atenção era sua masculinidade pressionada
contra o lugar sensível onde à boca dele tinha estado um momento antes.
Por vontade própria, seus quadris subiram para encontrá-lo. Ele fez
um som gutural e se moveu para frente, mas assim que ela sentiu que ele
começava a empurrar dentro dela, ele parou.
Seu rosto estava tenso quando ele olhou para ela, piscando como se
ele tivesse dado um passo em direção à luz após sair de um lugar escuro.
Ele saiu de cima dela lentamente, como se estivesse lutando contra
uma corrente revolta, e se deitou ao lado dela. Quando ela se virou para ele,
ele afastou o cabelo do rosto. Algo tinha mudado nele.
A urgência de alguns momentos antes foi contida, mas ela sentia que
ainda ardia quente logo abaixo da superfície.
─ Eu nunca fui pra cama com uma virgem antes, então eu não sei o
quanto isso vai doer em você. ─ disse ele. ─ Você está com medo?
Ela balançou a cabeça, era mais verdadeiro.

199
Seu olhar caiu para sua virilha, e ela sentiu seus olhos se arregalarem
quando ela deu uma boa olhada em seu sexo.
─ Ach, é maior do que eu esperava─ ela disse, incapaz de tirar os
olhos dele. ─ Será que vai caber?
Ele riu baixinho e ergueu-lhe o queixo com os dedos.
─ Como uma luva. Nós fomos feitos um para o outro.
Ela inclinou a cabeça para o lado para dar outra olhada.
─ Eu não tenho tanta certeza...
─ Onde está a minha garota brava?─ Ele perguntou, com um sorriso
nos olhos. ─ Não quer tocar em mim?
Quando ela não respondeu, ele disse:
─ Venha, me dê sua mão.
Ele prendeu o fôlego enquanto guiava os dedos dela lentamente sob-
re seu eixo. Era estranho como parecia duro como uma rocha ao mesmo
tempo em que a pele era macia e sedosa. Estava molhado no topo.
─ Viu? Não há nada a temer ─ disse ele, com a voz tensa.
Quando ela olhou para o rosto de Ian, ele parecia sentir dor.
─ Está doendo?─ Ela perguntou o acariciando para cima e para bai-
xo, de forma mais firme desta vez.
─ Não é... Dor... Exatamente. Mas eu não aguento muito tempo, não
até depois que eu a tiver pela primeira vez.
Ela assentiu com a cabeça, concordando.
─ Sente-se, moça─ disse ele, puxando-a para cima. Então ele se ajo-
elhou no chão e puxou-a para a borda do leito de modo a que os seus joe-
lhos ficaram em cada lado da cintura.
Quando ele envolveu-a nos braços, ela estava bem ciente de seu sexo
pressionando contra ela. Ele a beijou no rosto e se inclinou para beijar o
lado da sua garganta. Então ele lhe deu um beijo lento e prolongado, a sua
língua entrando e saindo, explorando sua boca. A dor entre suas pernas
crescia à medida que ele movia seus quadris para trás e para frente, fazendo
com que o seu sexo se movesse com uma lentidão extraordinária contra ela.
Ele cobriu os seios com as mãos, rolando os mamilos entre os dedos
enquanto ele continuava se movendo contra ela. Ela se sentia covarde, mal
conseguia sentar-se. Seu eixo deslizou facilmente, porque ela estava muito
molhada, mas Ian não pareceu se importar. Ele se inclinou para trás, e ela
200
sentiu o calor do seu olhar em cada parte íntima dela. Isso tornou difícil
respirar.
─ Você é tão bonita ─ disse ele, em voz baixa e áspera.
Mas Ian é que era bonito. Com os olhos escurecidos pelo desejo de
azul meia-noite, o cabelo de preto, e o corpo endurecido de um jovem
guerreiro, ele poderia encantar a própria rainha das fadas.
─ Eu a desejo tanto!─ disse ele.
Quando ele a empurrou de volta na cama, ela ficou agradecida por-
que não tinha mais força para continuar sentada. Ele puxou-a mais na cama
e deitou sobre ela. A respiração dela acelerou quando ele tocou o ponto sen-
sível entre suas pernas e mover os dedos sobre ela em um movimento cir-
cular.
Quando ele se inclinou para tomar sua boca, ela deslizou os braços
ao redor de seu pescoço. Logo ela estava perdida nos beijos profundos. Ela
puxou-o contra ela, querendo sentir o seu peso sobre ela.
A respiração saiu dela em um huff quando a ponta do seu membro
pressionou contra sua abertura. Por conta própria, suas pernas se enrosca-
ram em volta dele, puxando-o para frente.
Ele quebrou o beijo. Com seus olhos nos dela, observando-a de per-
to, ele empurrou para frente até que algo dentro dela o deteve. O suor mo-
lhou sua testa.
─ Vai doer um pouco─ disse ele.
─ Eu não me importo. ─ Ela se sentia nervosa, impaciente.
─ Eu acho que você está pronta─, disse ele, respirando com dificul-
dade. ─ Não está? Não quer esperar um pouco mais? ─ Sua voz estava ten-
sa.
─ Eu quero senti-lo dentro de mim.
Ele fez um som estrangulado e avançou. Ela sentiu uma dor aguda, e
algo dentro dela se rasgou.
Ela deve ter gritado, porque Ian cobriu seu rosto com beijos.
─ Você está bem, amor?
Ele a chamava de “amor”
─ Estou─, disse ela. A dor aguda tinha ido embora, mas ela podia
sentir cada centímetro dele dentro dela, distendendo-a.
─ Você é tão apertada!─ disse ele.
201
─ Muito apertada?─ Perguntou ela, o pânico crescendo em sua gar-
ganta. ─ Será que vai dar tudo certo?
─ Ah, é perfeita─, disse ele, apertando os olhos. ─ Você não tem no-
ção de como é bom.
Então ele a beijou, e ela esqueceu tudo, exceto dele. Ela gemeu quan-
do ele começou a se mover lentamente dentro dela, provocando novas sen-
sações. Seus beijos eram famintos, urgentes, enquanto ele se movia mais
rápido e mais forte contra ela. Ela levantou os quadris e puxou seus omb-
ros, querendo-o mais perto, mais fundo.
Então, muitas emoções foram fluindo através de suas veias que a fa-
ziam sentir como se ela fosse chorar ou quebrar.
Alegria. Amor. A proximidade de outro ser humano, ela nunca havia
sentido antes. Ela nunca imaginou que se sentiria assim, envolvida em seus
braços, seus corpos unidos e movendo-se como um só. Ela não sabia dizer
onde ela terminava e ele começava.
─ Você me faz tão bem, Sil. ─ Suas palavras vieram em rajadas sua-
ves. ─ Eu... Eu não posso esperar, amor.
Ela segurou nele enquanto ele se movia cada vez mais rápido. Ela
sentia a pressão crescendo dentro deles.
─ Você é minha! ─ ele suspirou. ─ Minha. Minha. Para sempre mi-
nha.
Para sempre. Ela o amaria para sempre.
─ Sìleas─ ele gritou, movendo-se contra ela, e ela se estilhaçou em
seus braços. Estrelas brilhavam contra suas pálpebras enquanto seu corpo
se contraia em torno dele. Ela chamou o seu nome, seu corpo percorrido
ondas de prazer.
Ele caiu sobre ela. Embora ele fosse pesado, ela alegrou-se com o
peso dele, com a certeza de que ele estava aqui, que ele era dela.
Ian a tinha reivindicado como sua no passado.
Na verdade, ela sempre foi sua. Sempre.
Oh Deus, ele era um homem mau e um pobre marido. Por certo, ele
tinha sido muito duro com ela, uma virgem. Mas ele nunca precisara de

202
uma mulher assim. Nunca. Pelo menos conseguira parar de mergulhar nela
e possuí-la forte e rápido como ele queria.
Ele deveria ter falado com ela e sido gentil desde o início. Ach, ele
provavelmente a assustou muito ao atacá-la do jeito que fez no momento
em que a porta foi fechada. E então ele a chocou ao fazer sexo oral. Ele
sorriu para si mesmo. Não, ele não poderia lamentar aquela parte e ele tinha
certeza que ela também não lamentava.
Quando ela gozou... Não havia nada parecido neste mundo, e prova-
velmente nem no próximo. Ele ainda estava tremendo pelo que fazer amor
com ela lhe fizera. Ele era um homem abençoado por ter uma mulher que
podia fazê-lo sentir assim.
Ele puxou-a de modo que sua cabeça descansou em seu peito, respi-
rou o perfume de seus cabelos, e começou a cair no sono.
─ Eu conheci a dama Inglesa quem você queria casar.
Suas palavras o tiraram de seu estupor.
─ O quê?
─ Philippa─, disse ela com uma voz suave. ─ Ela é tudo o que você
disse que ela era.
─ Eu não me lembro do que eu disse sobre ela. ─ Por que ela estava
falando de Philippa?
Com uma voz pequena, ela disse:
─ Ainda lamenta ter sido impedido de se casar com ela?
─ Sil, eu não quero qualquer mulher como minha esposa, só você.
Depois do que acabara de acontecer entre eles, como ela poderia estar se
perguntando isso? Mulheres podem ser muito difíceis de entender às vezes.
─ Eu lhe disse que nunca haverá outra mulher, ─ disse ele, ─, mas eu
não posso mudar o passado.
E esse era o problema. Seu passado era precisamente a razão pela
qual ela precisava de segurança.
Ele rolou de costas e se inclinou sobre ela.
─ Você não tem motivo para ter inveja de Philippa─ disse ele,
olhando em seus olhos. ─ E não é apenas porque é mais bonita do que ela.
─ Ach, agora eu sei que você está mentindo para mim. ─ disse ela,
fazendo uma careta.

203
─ Você não sabe como é encantadora. ─ Ela estava linda com o cabe-
lo selvagem sobre travesseiro e seu rosto rosado pelo amor.
Ela prendeu a respiração quando ele se inclinou para baixo e passou
a língua sobre o mamilo, que se levantou para ele, implorando por mais.
Ele pressionou o pau contra seu quadril para que ela pudesse sentir o quan-
to ela o excitava.
─Casar com Philippa teria sido um erro terrível. ─ disse ele.
Ela lambeu o lábio e perguntou em voz sussurrada.
─ Por quê?
─ Porque você é a mulher que foi feita para mim. ─ Ele rolou em
cima dela, abrindo-lhe as pernas. ─ Se você tiver alguma dúvida, deixe-me
mostrar outra vez.

CAPÍTULO 28

Ian piscou para Sìleas e apertou-lhe a perna debaixo da mesa quando


ele pegou o último bocado de seu mingau. Ele sabia que parecia um bobo
apaixonado para os outros convidados, que estavam tomando café da ma-
nhã ou um copo de cerveja antes de sair para seus afazeres do dia, mas ele
não conseguia tirar o sorriso do rosto.
─ Você está linda esta manhã─, disse ele, afastando-lhe uma mecha
de cabelo do rosto. Ele não conseguia manter as suas mãos longe dela, em-
bora soubesse que isso a envergonhava.
─ Nós vamos pegar os outros e deixar Stirling esta manhã?─ Sìleas
perguntou.
Ele estava prestes a sugerir que poderiam voltar para a cama por
mais uma hora ou duas, quando um homem entrou na taverna e esquadri-
nhou a sala lotada. Porra, com essa barba preta, parecia um Douglas. Então
o olhar do homem pousou em Ian e ele atravessou a taverna em direção a
eles. Droga novamente.

204
─ O Douglas tem um presente de casamento para você, ─ disse o
homem, soando mais como se estivesse entregando uma ameaça do que
uma felicitação.
Ian pegou o pergaminho que o homem entregou-lhe e quebrou o selo.
Era um documento de posse de Knock Castle e das terras vizinhas assinado
pela rainha, como regente.
─ Dê meus agradecimentos ao Douglas,─ Ian disse, enrolando perga-
minho e metendo-o dentro de sua camisa para guarda-lo. ─ Eu suponho que
você não saiba se é o único?
A coroa tinha um mau hábito de dar a posse da mesma propriedade
para mais de um clã, o que servia para alimentar ainda mais os conflitos en-
tre os clãs.
O homem ignorou a pergunta e se sentou ao lado dele no banco.
─ Donald MacDonald Gallda de Lochalsh está causando problemas
de novo.
Donald Gallda estava comandando esta última rebelião contra a co-
roa. Como seu pai e primo antes dele, Donald tentava elevar os MacDo-
nalds à sua antiga glória, quando seu laird era o Senhor das Ilhas.
Depois de fracassada a rebelião de seu pai, Donald foi levado pelo
rei para ser criado nas terras baixas, por isso que os Highlanders chamavam
Donald Gallda, o Estrangeiro.
─ Os dias do Senhor das Ilhas são coisa do passado. ─ o homem do
clã Douglas disse. ─ Prosseguir com a rebelião vai apenas prejudicar a
você e ao MacDonalds de Sleat.
Ian concordou, embora ele não estivesse disposto a compartilhar seus
pensamentos sobre o assunto com um estranho. Fazia vinte anos, desde que
o Senhor das Ilhas tinha sido forçado a se submeter ao rei da Escócia. Des-
de então, o clã MacDonald tinha se dividido em vários ramos, cada um com
seu próprio laird, e não havia como reverter isso. Ex-vassalos dos MacDo-
nalds, os MacLeods, os Camerons, e os MacLeans, entre outros lutaram por
sua independência também.

205
─ Eu ouvi que Donald Gallda depôs a guarnição real e tomou o cas-
telo de Urquhart. ─ disse Ian.
─ Ach, eles são demônios─, disse o homem. ─ começando essa re-
belião logo após nossa derrota para os Ingleses.
─ Estou em lua de mel, por isso a rebelião não me preocupa muito
hoje─, disse Ian, colocando o braço em torno de Sìleas. Será que nunca o
homem iria embora?
─ Nós compartilhamos os inimigos─, o homem disse.
Isso era verdade, embora um homem precisasse de um livro como o
que Sìleas mantinha com o registro das ovelhas e vacas para manter o con-
trole das alianças instáveis entre os clãs. Os MacLeods de Harris e Dunve-
gan, no entanto, eram rivais dos MacDonalds de Sleat há muito tempo e
eles estavam apoiando a rebelião. Lachlan Cattanach MacLean de Duart,
também conhecido como Shaggy Maclean, havia ficado ao lado dos rebel-
des, e, Ian tinha uma rixa pessoal contra Shaggy, depois de passar um tem-
po em sua masmorra.
─ Se o Douglas tiver certeza que seu primo iria apoiar a Coroa─, dis-
se o homem, ─ ele poderia ser convencido a dar uma mão quando Connor
estiver pronto para assumir a chefia.
─ Eu vou me certificar de dar o meu melhor conselho a Connor─
disse Ian.
Quando o homem finalmente se levantou e saiu, Ian suspirou.
─ Eu acho que, tomar a chefia de Hugh Dubh será apenas o início de
problemas de Connor.
─ Aye─ disse Sìleas. ─ Mas quanto mais cedo ele estiver no co-
mando, melhor.
─ Minha esposa é uma mulher sábia─ Ian disse, levantando o queixo
com o dedo. ─ O que acha de voltar para o nosso quarto?
Ahh, seus olhos eram tão verdes. E, melhor ainda, eles estavam di-
zendo exatamente o que ele queria.
Ele estava no meio do banco quando uma mão pesada pousou em seu
ombro. Quem era agora? Afastando mão, ele virou-se para encontrar um

206
homem de cabelos selvagens que cheirava como se não tomasse banho há
muito tempo.
─ Eu o vi falando com um dos Douglas─, disse o homem, com uma
voz tão profunda que a bancada vibrou quando ele falou.
─ Ele estava me dando um presente de casamento─, disse Ian, per-
dendo a paciência. ─ E se você não se importa, eu estou levando minha
noiva de volta para a cama agora.
─ Um momento, amigo, ─ disse o homem, mas não soou amigável.
─ Vá para casa e diga ao seu laird que estamos contando com os MacDo-
nalds de Sleat para lutar conosco contra a Coroa.
Pelas barbas de Deus, quantos homens iriam falar com ele antes que
ele pudesse levar sua noiva de volta para cima?
─ Você não acha que os ingleses mataram escoceses suficientes em
Flodden para matarmos um ao outro agora?─ Ian tomou um longo gole de
sua cerveja e bateu com o copo vazio na mesa. ─ Tudo somado, o seu senso
de oportunidade parece muito pobre para mim.
─ Temos de atacar agora, enquanto não há rei para lutar contra nós─
disse o homem. ─ Mesmo os Lowlanders não seguirão uma inglesa para a
batalha.
─ Eu suspeito que não será a rainha, mas Archibald Douglas, quem
estará conduzindo-os─, disse Ian. ─ Eu não gosto do homem, mas eu não
cometeria o erro de subestimá-lo. O Douglas tem ferro em seus olhos.
Quando o segundo homem finalmente os deixou, Ian pegou a mão de
Sìleas.
─ É melhor nos apressarmos.
─ Ach, eles chegaram. ─ disse ela.
Ian se virou para ver Connor e os outros que entravam na taverna.
Ele soltou um suspiro, sabendo que seus amigos tinham lhe dado mais tem-
po do que deveriam. Eles não podiam se dar ao luxo de atrasar a sua partida
mais tempo. Foi, no entanto, um pequeno consolo ver a decepção no rosto
de Sìleas.
•••

207
Sìleas lutou para manter os olhos abertos quando se sentaram ao re-
dor da fogueira. Niall tinha perdido a luta e roncava com a cabeça contra
um tronco, enquanto os outros conversavam. A única coisa que mantinha
Sìleas acordada era o seu estômago roncando e o traseiro dolorido. Depois
de um dia, ele sentiu como se tivesse estado montada no maldito cavalo du-
rante uma semana.
Embora os homens tentassem conter o ritmo por consideração a ela,
Sìleas sentia a sua urgência. Faltava menos de uma semana para o Samhain
e o encontro para escolher o novo laird. Eles não poderiam ter se dado ao
luxo de perder tempo indo buscá-la em Stirling. E, no entanto, nenhum de-
les pronunciou uma palavra de queixa contra ela.
Nem iriam fazer isso.
Porque Ian a reivindicara como sua esposa, os outros simplesmente a
aceitaram. Ela quase podia sentir o apertado vínculo que ligava os quatro
homens fechando-se ao seu redor e incluindo-a em sua proteção. Era silen-
cioso e sutil, mas sabia com certeza absoluta que qualquer um deles morre-
ria para protegê-la.
Embora tivesse conhecido Connor, Alex, e Duncan quando eles eram
crianças, ela agora os conheceria como homens. Ela deixou seu olhar pou-
sar sobre cada um deles enquanto eles conversavam, começando com Alex,
que se parecia com um dos seus ancestrais saqueadores vikings, até que ele
riu o que era frequente. Em seguida, havia Duncan, um homem enorme,
que podia tocar a mais doce música que você sempre quis ouvir, mas tinha
uma sombra de tristeza em seus olhos. Quando ela perguntou sobre Dun-
can, Ian disse a ela que ele tinha se apaixonado pela irmã de Connor, que
era casada com o filho de um laird irlandês.
Finalmente, ela virou seu olhar para Connor, que parecia tanto com
Ian que poderia ser confundido com ele, por alguém que não os conhecesse
bem. Se os homens o elegessem laird, seria porque ele era um forte guerrei-
ro e muito inteligente. Mas Sìleas acreditava que Connor seria um grande
laird, porque ele também tinha a humildade para ouvir o sábio conselho dos
208
outros e sentia compaixão até mesmo pelos mais humildes membros de seu
clã.
─ Havia quase tantos homens me avaliando em Stirling, quanto há
em casa em Skye. ─ Connor disse virando os espetos com os coelhos no
fogo.
─ Eles querem colocar a sua aposta no cavalo certo─, disse Duncan.
─ O que me preocupa é que eles estão esperando uma porção dos ganhos.
─ Com a coroa nas mãos de um bebê, é cada um por si ─ disse
Connor, balançando a cabeça ─ e os abutres devorando os fracos.
─ Os Douglas e os Campbells são os piores. ─ disse Alex. ─ Eles são
como dois cães com um osso.
─ Sim, e eu sinto seus dentes em mim!─ disse Connor, e todos riram.
─ Vocês deveriam ter colocado Alex para trabalhar na rainha─, disse
Duncan. ─ Então, todos nós poderíamos ter títulos extravagantes como
Douglas.
─ Você ofende a minha honra─ , disse Alex. ─ Eu só cumpro o meu
dever para o clã com as bonitas.
Depois que pararam de rir, Connor disse.
─ É melhor mantermos a cabeça baixa, rapazes. Temos inimigos de
sobra, não precisamos de mais.
O cheiro dos coelhos assando finalmente acordou Niall, que se sen-
tou e se espreguiçou.
─ Ainda não estão prontos? Estou com fome.
─ É melhor Sìleas servir-se primeiro, ─ Connor disse, enquanto le-
vantava o espeto do fogo. ─ Seu estômago está roncando tão alto que está
perturbando os cavalos.
Sua boca encheu d’água quando Connor tirou o espeto do fogo e Ian
cortou uma fatia grande para ela com a faca. Embora ela gostasse das brin-
cadeiras dos homens, assim que sua fome foi saciada, ela ficou cansada de-
mais para acompanhá-los.
─ Sua esposa vai morrer sufocada se continuar dormindo com a boca
cheia. ─ disse Connor.
Ela abriu os olhos um pouquinho para encontrar todos os homens
sorrindo para ela.

209
─ Isso seria uma vergonha, depois dos problemas que enfrentamos
para resgatá-la. ─ disse Duncan.
─ Por Deus, Duncan, Será que já ouvi você fazer duas piadas esta
noite?─ Disse ela, e todos riram.
Ian entregou-lhe uma caneca de cerveja e esfregou as costas dela en-
quanto ela tomava um gole para ajudar a engolir o coelho.
─ Vamos para a cama. ─ Ele colocou a caneca de lado e pegou-a em
seus braços.
─ Boa noite Sìleas e durma bem, ─ os outros desejaram a ela quando
Ian a levou para a escuridão além da luz do fogo.
Quando Ian encontrou um lugar isolado a alguma distância dos ou-
tros, ele a colocou de pé e estendeu seus cobertores. Ela pensou que ia dor-
mir logo que sua cabeça encostasse no chão. Em vez disso, ela ficou entre
os nos braços de Ian, ouvindo o vento nas árvores e o som fraco de Duncan
assobiando uma música.
Quando Ian ergueu o queixo e lhe deu um beijo suave, ela abriu a
boca para ele e se apertou contra ele.
Como ela o amava.
Ele se afastou.
─ Tem certeza de que não está muito cansada?
─ Aye. Eu quero você, Ian MacDonald. ─ Ela levou a mão até o seu
membro ereto para mostrar-lhe como ela estava certa.
As noites foram iguais em seu retorno a Skye. Depois de andar tantas
horas que ela mal podia ficar de pé, eles comiam e conversavam com os
outros. Em seguida, Ian a carregava para fazer sua cama longe dos outros.
Assim que ela se deitava com ele, o cansaço evaporava-se como a
neblina da manhã e eles faziam amor a metade da noite. O que Ian fez com
ela foi uma maravilha constante para ela, uma magia que ela temia que as
fadas invejariam.
No momento em que chegou à praia, ela estava em uma neblina
exausta de felicidade. Eles encontraram um primo distante de Alex, um dos
MacDonnells, que estava disposto a levá-los através do Estreito de Sleat
em seu barco.

210
Apesar do vento frio e úmido sobre o mar, Sìleas caiu em sono pro-
fundo, por causa do balanço do barco e com os braços de Ian sobre ela.
Ela acordou ao perceber a tensão no corpo de Ian. Quando ela abriu
os olhos, viu Knock Castle envolto em nuvens baixas desde o litoral até o
norte.
─ Espero que acredite que eu iria querer você como minha esposa ou
não mesmo que não fosse herdeira de Knock Castle. ─ disse ele.
Ela ignorou a ponta de dúvida, que permaneceu em seu coração e
acenou com a cabeça.
─ Mas devemos tomá-lo de volta. ─ disse ele.
Ela aumentou seu aperto no braço de Ian. Mesmo se ela tivesse Ian
com ela, seria capaz de viver em um lugar que trazia tanta tristeza para ela?
Poderia algum dia esquecer o sofrimento de sua mãe ou da maldade de seu
padrasto?
Será que ela e Ian seriam felizes em um castelo que fazia um fantas-
ma chorar?
Ela entendeu a importância do castelo e sua reivindicação sobre ele
para o clã, mas só de vê-lo, seu estômago se apertou em nós. Saber que
Murdoc e Angus estavam lá à fez se sentir pior.
─ Eles não podem nos ver do castelo, podem?─ Perguntou ela, ainda
que se sentisse idiota.
─ Eles vão ver o barco, mas há muitos barcos nessas águas─ disse
Ian. ─ Eles não conhecem este.
Ian manteve seu olhar fixo em Knock Castle até que ele desapareceu
de vista.
─ Eu não vou deixar o homem que te machucou manter a sua casa.
Mas Knock Castle nunca tinha sido um verdadeiro lar para ela

211
CAPÍTULO 29

Gritos de saudação encheram a casa assim que Ian abriu a porta da


frente.
─ Louvado seja Deus, todos você estão seguros e que os trouxe para
casa, para nós─ disse sua mãe. Ela abraçou-o e cada um dos outros ho-
mens, por sua vez, enquanto o pai abraçou Sìleas.
─ Meu filho estúpido está tratando você melhor agora?─ Seu pai
perguntou, com o braço sobre os ombros dela.
─ Às vezes um homem precisa de um bom susto para limpar a cabe-
ça.
─ Então minha cabeça deve estar muita clara, pois ela quase me ma-
tou de susto pai. ─ Ian disse, rindo.
Ah, era bom estar em casa.
Ouviram as notícias durante o jantar. Embora ninguém tenha sido in-
formado da sua partida, como acontece em Skye, saberiam disso em um dia
ou dois.
─ Os seguidores de Hugh espalharam o boato de que Connor foi em-
bora definitivamente. ─ disse o pai. ─ Ouvimos da irmã de Duncan que
Hugh está fazendo promessas que não é provável que mantenha a fim de
obter apoio. Infelizmente, parece estar funcionando.
Isso não augura nada de bom. Desde o início, foi sempre um desafio
para Connor tomar a chefia de seu tio, mas contava tomar Knock Castle
para aumentar o apoio a favor de Connor. Os homens adoram uma vitória.
Mas agora era tarde demais para reunir homens e montar um ataque.
─ Com o Samhain daqui ha dois─ disse Alex, batendo nas costas de
Connor ─ nós vamos ter que agir rapidamente para deixar que os homens
saibam que você está em casa e pronto para tomar seu lugar como laird.
O tempo era muito curto. Ainda assim, tinha que haver uma maneira
de convencer os membros do clã que Connor era o homem certo para esco-
lher ou que Hugh era a escolha errada.
Eles discutiram as suas estratégias para a reunião durante o jantar.
Mas quando terminaram de comer, eles puseram de lado as incertezas pelo
212
futuro para comemorar a volta para casa e o início da vida de Ian e Sìleas
juntos.
Duncan puxou sua flauta, e o resto deles se revezavam cantando as
músicas antigas que todos sabiam. Quando Sìleas cantou e bateu palmas
com os outros, havia um brilho sobre ela que aqueceu o coração de Ian.
Ele se recostou na cadeira, observando os outros. Ele pegou seu pai
piscando para sua mãe e sabia quão satisfeitos seus pais estavam por tudo
ter sido resolvido entre ele e Sìleas. Mesmo Niall tinha se aproximado. Em-
bora Niall tenha sido cauteloso ao se aproximar dele no dia em que parti-
ram de Stirling, seu irmão tinha aceitado, uma vez que viu como Sìleas es-
tava feliz.
Ian se sentiu em paz aqui em casa com Sìleas, seus amigos e sua fa-
mília. Ele não conseguia se lembrar de uma época em que ele se sentiu tão
contente.
─ É melhor nos despedirmos agora─, disse Connor, se aproximando.
─ Duncan, Alex, e eu vamos sair cedo de manhã, muito antes que nosso par
de pombinhos esteja de pé. Nós vamos conversar com tantos homens quan-
to possível antes do Samhain.
─ Eu vou encontrar com vocês antes da reunião─, disse Ian.
─ Sìleas, ─ Duncan disse com sua voz rouca, ─ vai usar aquele vesti-
do novo sobre o qual nos falou na reunião?
Ian quase caiu da cadeira. Duncan era um homem bom, fazendo um
esforço para trazer Sìleas para dentro do círculo de sua amizade.
─ Eu devia estar tonta de cansaço para falar sobre vestidos com vo-
cês─ disse Sìleas, um bonito rubor colorindo suas bochechas. ─ Eu não
achei que vocês estivessem me ouvindo falar sozinha sobre isso.
─ Eu não falo o tempo todo como alguns, ─ disse Duncan, voltando-
se para levantar uma sobrancelha para Alex, ─ então eu ouvi o suficiente. É
verde para combinar com seus olhos, estou certo?
Ian trocou olhares com Alex e Connor, que parecia estar tão sobres-
saltado como ele, pela conversa de Duncan.
─ É verde─ , Sìleas disse, dando um enorme sorriso para Duncan. ─
Diga-me, vai tocar sua flauta na reunião?
213
─ Ach, esta flauta é apenas para quando eu viajo. ─disse Duncan, ba-
tendo onde a guardava dentro de sua camisa. ─ Quando Connor for eleito
laird, eu vou tocar minha gaita de fole e talvez a minha harpa também. Mi-
nha irmã as guardou para mim.
Os homens se levantaram, se preparando para ir para a casa velha
dormir.
Sìleas levantou-se na ponta dos pés e beijou a bochecha de Duncan.
─ Vejo vocês na reunião.
─ Moça, cuidado─ , disse Duncan. ─ Eu não quero a adaga Ian em
minhas costas.
─ Eu vou arriscar─, disse Alex, abrindo os braços para ela. ─
Lembre-se, você prometeu-me um beijo quando estávamos no barco.
─ Prometeu o que... ─ Antes de Ian poder começar a questionar, Alex
levantou Sìleas do chão e a beijou na boca.
Ian mal teve tempo de puxá-la de Alex, quando Connor disse:
─ Desde que nós estamos saindo cedo, melhor eu receber meu beijo
agora também.
Connor, um homem sábio, optou por um beijo amigável no rosto.
─ Eu já tive o suficiente de vocês agarrando minha esposa!─ Ian
disse, colocando o braço em torno de Sìleas, puxando-a para perto.
─ Mas eu não recebi o meu─ disse Niall, dando um passo à frente.
─ Você passou a noite sozinho com minha esposa e viveu para contar
o fato,─ Ian disse, levantando a mão para afastar seu irmão. ─ É melhor se
contentar com isso.
Depois que os homens partiram para casa e seus pais se sentaram
conversando tranquilamente, perto da lareira,
Sìleas puxou Ian de lado.
─ Quero contar a Gordan sobre nós─ disse ela. ─ Não é certo que ele
ouça de outra pessoa.
Ian balançou a cabeça.
─ Tudo bem. Vou levar você lá pela manhã.
─ Eu prefiro ir agora e acabar com isso─ disse ela. ─ Tudo bem?
Ian lembrou que seu irmão disse sobre uma longa fila de homens es-
perando por Sìleas a perder a paciência com ele. Se ela estava com pressa

214
para dizer ao primeiro homem da fila que parasse de esperar, então, estava
tudo bem com ele.
─ Eu vou com você e espero ─, disse ele. ─ Eu não quero saia sozi-
nha.
Pouco tempo depois, Ian estava encostado numa árvore sob um céu
sem lua e via sua esposa bater na porta de Gordan.
Quando Gordan abriu-a, um raio de luz caiu sobre Sìleas e todo o pá-
tio escuro. Ian ouvido o murmúrio de vozes enquanto eles conversavam na
porta.
Em seguida, ele ouviu a mãe de Gordan, gritando:
─ A moça deixou seu marido por você, não foi?
Gordan foi paciente, como sempre, com sua mãe.
─ Mamãe, silencio. Eu não posso explicar agora ─, ele a repreendeu,
antes de sair e fechar a porta.
Os dois falaram em voz baixa um pouco mais, então Sìleas deixou
Gordan e caminhou em direção à árvore onde Ian esperava. Ian sentiu os
olhos de Gordan sobre ele na escuridão.
─ Seja bom para ela!─ Gordan gritou.
─ Serei.
Ian segurou a mão de Sìleas enquanto voltavam para casa pelo cami-
nho escuro. Ele não perguntou sobre sua conversa com Gordan, se ela qui-
sesse falar disso, ela o faria.
Antes de chegarem em casa, ele parou no caminho e se virou para
ela. Ele arrumou o cabelo que esvoaçava sobre seu rosto, mas estava escuro
demais para ver sua expressão.
─ Eu nunca quis envergonhá-la por não voltar para casa. ─ disse ele.
─ Eu sei que vocês não queria isso. ─ disse ela.
Mas a verdade era que ele tinha pensado pouco em seus sentimentos,
e ambos sabiam disso.
─ Se eu tivesse que fazer de novo, eu não seria tão burro.
─ Você tem certeza?─ Ela disse com um sorriso em sua voz.
Era como se ela tentasse aliviar sua consciência, fazendo pouco caso
disso. Ele puxou-a em seus braços e descansou o queixo em sua cabeça.

215
─ Me desculpe por tê-la magoado. Eu gostaria que não tivéssemos
sido forçados a casar naquela época, antes de estarmos prontos, para que
pudéssemos fazê-lo agora, e da maneira certa.
─ É verdade que eu não estava pronta─, disse Sìleas. ─ Mas eu sem-
pre quis que você fosse meu marido.
─ Isso é porque é mais sábia do que eu. ─ Ian disse, esfregando o
queixo contra os cabelos dela. ─ Eu odeio saber que a minha mulher vai
sempre se lembrar do início do nosso casamento como o pior dia da sua
vida. Eu faria qualquer coisa para mudar isso.
Sìleas inclinou-se para longe dele, e ele sentiu o toque suave da pon-
ta dos dedos em sua bochecha.
─ Então vamos contar nosso casamento como a partir de agora, e não
cinco anos atrás.
Ian percebeu que ela tinha razão para querer falar com Gordan esta
noite, para por um ponto final em tudo o que houve. Eles iam embarcar em
sua nova vida juntos, agora que estavam em casa.
Ian a apertou contra ele.
─ Vou tentar fazer as pazes com você todos os dias a partir de agora.

CAPÍTULO 30

Sìleas entendia por que Ian estava dizendo essas coisas para ela. Não
que ela não acreditasse quando ele disse que queria fazê-la feliz. Mas Ian
tinha um vazio dentro dele. Até que ele se redimisse por ter partido quando

216
eles precisavam dele, ele não podia perdoar a si mesmo. Isso só fez amá-lo
mais.
Ao vê-lo hoje à noite, rindo e conversando com seus amigos e fami-
liares, Sìleas sabia que podia sentar em frente à mesa do café dele por cin-
quenta anos e nunca se cansar disso. Mas o amor não era sempre igual. Se
Ian cuidasse dela e fizesse o seu melhor para ser um bom marido, seria
mais do que a maioria das mulheres tinham dos homens a quem dedicavam
suas vidas e muito melhor do que a pobre mãe de Sìleas tivera.
Os sentimentos entre eles quando faziam amor era tão poderosos,
que ela acreditava Ian poderia vir a amá-la da maneira que ela o amava.
Quando ele estava dentro dela, ele a chamava de “amor” e carinhosamente
de “mo chroí”, meu coração.
Ela ouvira muitas vezes uma jovem mulher falar de um homem que
falava de amor no auge da paixão e tinha ido embora antes de o bebê che-
gar. Algum dia, Ian iria dizer estas palavras a ela em outras ocasiões, talvez
à mesa ou enquanto segurava uma criança deles em seu joelho e ela saberia
que ele estava sendo sincero.
Nesse meio tempo, ela aceitaria o afeto caloroso que ele lhe dava e,
sim, as noites de paixão também e seria feliz com isso.
Mas ela iria esperar pelo dia em que ele desse seu coração a ela total-
mente.
Ian estava contente de encontrar a casa silenciosa quando eles volta-
ram. Quando ele abriu a porta do quarto para Sìleas, este estava iluminado
com o brilho de uma dúzia de velas. Ele sorriu pela ideia de sua mãe.
Ele tomou o rosto de Sìleas em suas mãos quando estavam ao lado
da cama. Quando ele fez amor com ela pela primeira vez
Em Stirling, seu desejo reprimido por ela tinha feito a sua relação
frenética, intensa. Se ele fosse honesto com si mesmo, havia uma ponta de
raiva com sua necessidade de possuí-la daquela primeira vez até que a ma-
ravilha daquilo o atingiu e tocou a sua alma.
No caminho para casa em Skye, tinham feito amor todas as noites no
escuro, debaixo da sua manta no frio e úmido chão. Naquela época, havia

217
ainda a necessidade frenética, a sensação de que nunca poderia haver tem-
po suficiente.
Mas hoje à noite eles estavam em casa, na sua própria cama pela pri-
meira vez como marido e mulher. Olhando em seus olhos, ele sentiu uma
ternura imensa por ela.
─ Eu quero fazer amor com você esta noite lentamente. ─ Ele esfre-
gou o polegar sobre a bochecha dela.
Quando ele se inclinou para beijá-la, ela inclinou a cabeça para trás
para encontrá-lo. Seus lábios eram macios e quentes.
O desejo o consumia, mas ele poderia levar algum tempo para sabo-
reá-la. Ela estaria sempre aqui. Ela era sua.
Ele passou as mãos pelas costas dela pela curva de sua cintura e o
alargamento dos quadris. Quando ela colocou os braços ao redor de seu
pescoço, ele aprofundou o beijo. Por longos minutos, eles permaneceram
ao lado da cama, perdido em beijos longos e profundos.
Ela afastou-se para descansar a cabeça contra seu peito e deu um sus-
piro longo e satisfeito que o fez sorrir.
─ Você tem o cabelo lindo. ─ Ele passou a mão pelos longos fios,
observando as cores deslizarem entre seus dedos na luz das velas. Ele tinha
todos os tons de vermelho nele, do ouro ao cobre do gengibre ao vinho.
─ Pode desabotoar o meu vestido para mim?─ Perguntou ela.
Quando a rodeou com os braços e soltou os ganchos nas costas, pen-
sou que ele faria isso todas as noites. Ele empurrou o vestido dos ombros e
beijou a pele quente e leitosa. Quando ela se inclinou para trás para olhar
para ele, ele podia ver manchas pequenas de ouro no verde dos seus olhos.
O desejo que viu neles enviou um choque de luxuria por ele.
─ Vamos para a cama, Ian.
Ele engoliu em seco quando ela deixou o vestido cair no chão e saiu
dele. Antes que ele pudesse recuperar o fôlego, a camisa o seguiu.
Aparentemente, sua esposa decidiu definir um tom para as noites de
seu casamento. Isso lhe pareceu ótimo. E ele estava feliz que ela deixou de
se preocupar com suas cicatrizes também.
Ele deixou seu olhar vagar sobre ela, de sua massa brilhante de cabe-
lo ondulado, que caia sobre os ombros nus e seios como de uma ninfa de
218
madeira, para os cachos que cobriam seu lugar secreto e, em seguida por
suas pernas longas, até os tornozelos finos e os pés.
─ Ach, como é bela, Sìleas.
─ Suas roupas agora. ─ Quando se sentou na cama e pegou a bota,
ela o empurrou para trás. ─ Eu vou fazer isto.
Ele nunca soube quão provocador poderia ser ter uma mulher nua a
seus pés puxando as botas. O vislumbre do céu que ela lhe deu, deixou seu
pau ereto. Quando ela se ajoelhou entre as pernas e correu suas mãos até as
coxas, ele soltou o cinto e jogou-o de lado sem olhar para ver onde ele caiu.
Ele estava ofegante enquanto as mãos dela subiam por suas pernas,
sob a camisa longa. Claro, ele não usava nada sob ela. Seu pênis subiu o te-
cido chamado à atenção para si.
Por favor, Sil. Ele mordeu o lábio para não implorar-lhe que o tocas-
se.
Ela o encarou, enquanto corria as mãos para cima nos lados de seus
quadris.
─ A sua camisa?
─ Sim!─ Ele levantou-se o suficiente para soltá-la de debaixo dele e
tirá-la.
Desta vez, ela o torturou, passando as mãos sobre os topos de suas
pernas, nas laterais de seus quadris, e em seguida, sobre o peito. Finalmen-
te, ela colocou sua mão em torno de seu pênis.
Enquanto movia a mão para cima e para baixo do seu eixo, ele agar-
rou seus ombros e beijou-a com toda a paixão que sentia. Foram longos
momentos antes de ele se lembrar que tinha a intenção de fazer amor com
ela lentamente... Mas era difícil conter seus sentimentos. Seu cabelo roçou
suas coxas e barriga quando ela beijou-lhe o peito.
Quando seus beijos desceram mais, sua mente parou de funcionar
completamente.
─ Ahh!─ O ar saiu dele quando sentiu o toque suave de seus lábios
sobre a ponta do seu membro.
─ É assim que se faz?─ Perguntou ela.
Ele não podia responder, mas ela deve ter tomado o seu gemido
como um incentivo, pois ela continuou seus esforços.
219
Eles foram muito bons, mas, finalmente, ele foi capaz de obter as pa-
lavras para oferecer uma sugestão.
─ Você pode usar a sua boca, amor.
Sìleas tinha bons instintos e não precisou de mais instruções. Ian se
deitou na cama, ofegante. Vagamente, veio-lhe o pensamento que ele deve-
ria impedi-la e fazer amor com ela corretamente, mas ele não conseguiu.
O que ela estava fazendo era muito bom.
Ele gozou em uma explosão que quase o matou e o deixou grato. Ele
puxou-a na cama e passou os braços em torno dela.
─ Ah, amor, isso foi... Foi... Muito, Muito bom...
Ele lutou contra o peso das pálpebras, mas ele não tinha dormido
muito por quase uma quinzena. Ele acordou com o cheiro da urze verão do
cabelo dela. Quando ele abriu os olhos, ela estava sentada,
Apoiada em um braço e olhando para ele com um sorriso no rosto.
Ela parecia satisfeita consigo mesma.
─ Diga-me que eu não dormi muito tempo.
─ Não. Apenas um pouquinho.
A julgar pela altura das velas, ela estava dizendo a verdade. Ainda
assim, ele deve ter sonhado com ela, porque ele acordou desejando-a. Ele
pousou a mão em sua coxa.
─ Como sabe fazer isso?─ Pensar na boca dela sobre ele o tornou
mais duro.
─ Ouvi as mulheres casadas falando sobre como os homens gosta-
vam.
Ele nunca tinha apreciado fofocas das mulheres antes.
─ Elas estavam rindo, então eu não tinha certeza se elas estavam
brincando. ─ Ela lhe deu um sorriso torto. ─ Eu acho que elas não estavam.
A luz das velas brincava na sua pele. Seus mamilos estavam rosados
e pontudos, e seus olhos ficaram escuros quando ele tocou seu seio e esfre-
gou o polegar sobre o mamilo endurecido.
─ Eu gostei─ disse ele.
Ele a puxou para baixo em um beijo profundo e deslizou a mão entre
suas coxas. Ela estava quente e úmida para ele.
Do jeito que ela estava beijando-o, ela não queria esperar.

220
Da próxima vez, com certeza. Da próxima vez, ele iria amá-la lenta-
mente.
Ele o fez. E na outra vez também. Eles adormeceram entre os inter-
valos de fazer amor.
Quando acordou pela última vez, as velas se foram, e a primeira luz
do amanhecer estava brilhando através da janela. Ele se apoiou no cotove-
lo, para vê-la dormir. Embora o cabelo dela parecesse um emaranhado sel-
vagem por todo o travesseiro, seu rosto estava em paz.
Ian sentia tanta ternura por ela que era como uma dor dentro dele.
Embora ele tivesse dito a ela em Stirling que iria deixá-la escolher
um outro homem, se ela não o quisesse, sabia agora que era mentira. Ele
nunca poderia deixá-la ir.
Ele a amava. Ele não sabia quando isso aconteceu, mas suspeitou que
tinha sido muito antes que percebesse. Com o dorso da mão, ele tirou uma
mecha de cabelo do rosto.
Sìleas não sabia o seu próprio valor. Ele amava a sua força, seu bom
coração, sua curiosidade e sua coragem.
Embora ela não gostasse de ouvir, ele também a amava por sua devo-
ção à sua família, pois não havia como negar a bondade disso.
Ele gostava que ela dissesse o que pensava e cuidasse de si mesma. E
ela entregou-se a ele sem pedir nada em troca. Quando ela era uma coisa
pequenina, confiava nele para salvá-la dos infortúnios. E agora que ela era
uma mulher, ela confiava nele com seu coração.
Ele faria o seu melhor para merecê-lo, agora e sempre.
Quando ele sentiu o cheiro do mingau e ouviu o murmúrio de vozes
masculinas vindo de baixo, ele percebeu que tinha que levantar-se. Ainda
assim, ficou olhando o rosto de Sìleas e o constante subir e descer de seu
peito um pouco mais. Era difícil deixá-la, mesmo sabendo que ele iria dor-
mir com ela novamente hoje, e na maioria das noites para o resto de sua
vida.
Mas Ian precisava falar com seu pai antes de Connor e os outros par-
tirem. Uma suspeita horrível demais para acreditar começou a se formar na

221
mente de Ian sobre o que realmente aconteceu em Flodden. Ele esperava
que a memória de seu pai tivesse melhorado com a sua saúde.

CAPÍTULO 31

Sìleas cantarolava para si mesma enquanto lavava-se na bacia e de-


pois se vestia. A que horas ela tinha dormido? Estava tudo calmo no andar
de baixo, dando a ela esperança de encontrar Ian sozinho. Seu rosto ficou
quente com o pensamento de enfrentar Beitris e Payton depois de ontem à
noite. E se a tivessem ouvido através das paredes?
Suas pernas tremiam quando ela desceu as escadas.
Seu pé mal tinha tocado o ultimo degrau, quando Alex entrou pela
porta da frente, segurando o lado do corpo.
Ela piscou, incapaz de assimilar o que estava acontecendo por um
momento.
Bom Deus, aquilo era sangue escorrendo por entre os dedos! Quando
Ian e Niall ajudaram Alex a sentar numa cadeira, ela disparou para a cozi-
nha para pegar panos e uma bacia de água. No momento em que ela voltou,
Ian havia retirado o plaid de Alex e cortara a camisa, revelando um corte
profundo vermelho que descia na lateral do corpo de Alex e outro na coxa.
─ Ian, deve ir procurar Connor e Duncan─, disse Alex.
─ Eles estão muito mais machucados do que eu.
Alex fez uma careta quando Sìleas começou a limpar a ferida com o
pano molhado.
─ Onde posso encontrá-los?─ Ian disse.
─ Fomos emboscados no caminho, menos de uma milha ao norte da-
qui─, disse Alex. ─ Mas eles não estão em condições de andar.
─ Vamos, ─ Ian disse a Niall. ─ Vamos levar os cavalos.
─ Ian─. Voz de Alex o parou na porta. ─ Eles nos deixaram para
morrer, então eu não acho que voltarão. Mas mantenha os olhos abertos, de
qualquer forma.
─ Quantos homens?─ Ian perguntou.
222
─ Vinte quando eles nos atacaram─, disse Alex. ─ Um pouco menos
agora.
A mão de seu marido havia entrado no quarto em meio a essa con-
versa e imediatamente começou a ajudar Sìleas a estancar o sangue das fe-
ridas de Alex.
Depois que a porta bateu atrás de Ian e Niall, Sìleas disse:
─ Vamos precisar que você se deite Alex, para que possamos costu-
rar o corte em seu rosto. Parece profundo.
─ Não há necessidade─, disse Alex, mas ele os deixou ajudá-lo a se
deitar no chão perto do fogo.
─ Cuidado agora, ─ ela disse, ─ Eu acho que você pode ter quebrado
uma costela ou duas.
Sìleas aumentou o fogo enquanto Beitris foi buscar agulha e linha.
─ Nós precisamos trabalhar rapidamente, ─ disse Beitris quando ela
voltou─ para estarmos prontas quando eles trouxerem Connor e Duncan.
O medo martelava no coração de Celas quando ela lavou o sangue e
a sujeira da ferida no rosto de Alex. Se Alex era o menos ferido, como esta-
riam os outros dois?
─ Pode me dizer o que aconteceu?─ Ela pediu para desviar sua aten-
ção do que ela estava fazendo.
─ Eles estavam procurando por nós. ─ Alex respirou fundo quando
ela deu o primeiro ponto para fechar o corte. ─ Eu acho que alguém nos viu
fazendo a travessia ontem.
─ Foi Hugh?─, Perguntou ela.
─ Não. ─ Alex estremeceu quando ela enfiou a agulha novamente. ─
Foram os MacKinnons e alguns de seus bons amigos, os MacLeods.
Os dedos de Sìleas congelaram.
─ Você tem certeza? O que estariam fazendo aqui, tão longe do terri-
tório MacDonald?
─ Essa é uma pergunta muito boa─, disse Alex. ─ Seu padrasto,
Murdoc estava com eles. E aquele quadrúpede do Angus também.
Sìleas engoliu o pânico crescente em sua garganta e se forçou a man-
ter a mão firme enquanto terminava os pontos. Então ela pegou o remédio
que Beitris entregou-lhe e esfregou-o suavemente sobre a ferida.

223
─ Aí está─, disse ela, limpando as mãos. ─ Vai ficar uma cicatriz,
mas que só vai torná-lo mais interessante para as moças.
Elas trabalharam rapidamente para limpar e costurar seus outros feri-
mentos.
─ Continue deitado. ─ Beitris disse a Alex enquanto se levantava. ─
Agora melhor conseguir água potável e cobertores para os outros.
Mal reuniram os cobertores Ian irrompeu da porta carregando Dun-
can. A cabeça do gigante ruivo pendia contra o braço de Ian, como se ele
fosse uma criança adormecida. Sìleas estendeu um cobertor sobre o chão
junto à lareira, onde Alex tinha estado alguns momentos antes. Ian caiu de
joelhos e delicadamente deitou Duncan entre eles.
─ Eu preciso ajudar Niall com Connor. ─ Ian encontrou os olhos
dela. ─ Ele está muito mal.
O sangue das feridas de Duncan já estava escorrendo pelas lajes da
lareira.
─ Deus nos ajude─, ela sussurrou, enquanto Beitris tomava o lugar
de Ian do outro lado do ferido.
─ Ele está tentando acordar, ─ Beitris disse. ─É um bom sinal.
Sìleas suspeitava que Beitris estivesse dizendo isto, para dar-lhes es-
perança. Tomando a faca que sua sogra trouxera da cozinha, ela começou a
cortar a camisa ensopada de sangue de Duncan. Ela engoliu bile quando viu
o ferimento.
─ Oh Deus, não─, disse ela, cobrindo a boca.
─ Deixe-me fazer isso. ─ Alex se aproximou coxeando e empurrou-a
de lado. ─ Eu já cuidei de feridas como esta antes.
Antes que ela pudesse argumentar com Alex, Ian entrou pela porta
com Connor. Ele estava segurando a cabeça e os ombros de Conor, enquan-
to Niall segurava suas pernas.
Maria, Mãe de Deus! Não admira que os MacKinnons os houvessem
deixado para morrer. Se não fosse pelo cabelo preto tão parecido com o de
Ian, Sìleas não teria reconhecido Connor.
Ian deitou-o sobre o cobertor que ela estendera para ele. Usando sua
adaga, Ian cortou roupas de Connor, jogando os pedaços de tecido enchar-

224
cado de sangue no fogo. Connor estava coberto com muito sangue, Sìleas
não podia dizer onde eram seus ferimentos. Mas a superficialidade de sua
respiração assustava mais do que todo o sangue.
Como Alex, Ian trabalhou com uma eficiência rápida que demonstra-
va experiência. Ela sabia que haviam lutado na França e nas fronteiras an-
tes que, mas os perigos que enfrentaram nunca pareceram reais para ela an-
tes.
─ Pode trazer o uísque?─ Alex pediu a ela de onde ele trabalhava
com Beitris sobre Duncan.
─ Seja uma boa moça ─ disse Alex, quando ela pegou a garrafa da
prateleira. ─ e despeje-o em um par de panos para nós.
Ela fez como ele disse e, em seguida, atiçou o fogo da lareira para
manter os homens feridos aquecidos.
─ Sua flauta o salvou─ , disse Alex, segurando a flauta, que pendia
sobre o pescoço de Duncan a partir de um cordão de couro, estava dobrada
ao meio, onde ele tinha sido atingido por uma espada.
Duncan contraiu o corpo enquanto Alex e Beitris limpavam suas feri-
das com panos embebidos em uísque. Apesar de sua dor fazê-la se enco-
lher, a valentia de Duncan assegurou a dela.
Connor só tremia enquanto Ian limpava suas feridas. Sìleas orou
muito enquanto ela entregava panos limpos a Ian.
─ Você acha que ele vai viver?─ Ela perguntou a Ian num sussurro
estrangulado.
─ Não vou deixá-lo morrer─ disse Ian.
Ela o ajudou a enfaixar a cabeça de Connor, o peito e depois seus
braços. Ach, a pele de Connor tinha um tom acinzentado. Ele tinha perdido
sangue demais.
Senhor Jesus, tem piedade. Connor é um homem bom, e a esperança
de nosso clã. Não o tire de nós.
Ian tentou traçar um plano enquanto trabalhava para conter o fluxo
de sangue de Connor. Ele tinha que levar os homens feridos para um lugar
seguro. Connor era o alvo principal, mas quem quer que tivesse feito isso
tinha a intenção de matar a todos.

225
─ Vamos precisar esconder vocês três, enquanto se recuperam─ disse
ele por cima do ombro para Alex. ─ É melhor que os homens que fizeram
isso acreditem que foram bem sucedidos em sua emboscada.
─ Foram os MacKinnons, com alguns dos MacLeods─ disse Alex. ─
Mas eu suspeito que Hugh fez um maldito acordo com eles para fazer isso,
ou eles não correriam o risco de nos atacar tão dentro do território MacDo-
nald.
─ Eu tenho a mesma suspeita─ disse Ian, amarrando bem apertado o
último nó da bandagem em torno do braço de Connor.
─ Provar é que será outra questão.
─ Seria ainda mais difícil de provar se estivéssemos mortos. ─ disse
Alex.
Alex chamou sua atenção e inclinou a cabeça para o lado, sinalizan-
do que ele queria uma palavra longe dos outros. Quando Ian se agachou ao
lado dele, Alex disse:
─ Você percebeu que os MacKinnons e MacLeods não tiveram tem-
po para recolher seus mortos? Algo os assustou.
─ Aye. Mais uma razão para tirar vocês três daqui. ─ Ian enxugou a
testa com a manga da camisa.
─ Vou leva-los de barco para a casa de Teàrlag. Ela é a melhor cu-
randeira, e você pode se esconder lá, como antes.
─ Niall, pegue a carroça para que possamos levá-los para a água─,
ele chamou seu irmão e voltou para onde Connor estava.
Ele olhou para o rosto maltratado de Connor, e a raiva o inundou.
Anteriormente, ele estivera tão focado em estancar o sangue para salvar a
vida de Connor que não tinha realmente visto como ele estava machucado.
─ Eu deveria ter matado Hugh Dubh fora da igreja naquele dia─, dis-
se Ian, cerrando os punhos. ─ Juro por Deus, eu terei o seu sangue por isso.
Sua mãe se ajoelhou ao lado de Sìleas do outro lado de Connor. Sua
boca estava apertada quando ela acariciou a bochecha de Connor.
─ Você deve chamar o sacerdote antes de levá-lo embora. ─ disse
ela.
─ Não há tempo para isso. ─disse Ian.

226
─ Este é o único filho da minha irmã morta, ─ disse sua mãe, olhan-
do para ele, ─ e eu não vou deixá-lo encontrar o Criador com seus pecados
sobre ele.
─ Connor não está morrendo.
─ Temo que ele possa morrer, filho─, disse ela com uma voz suave.
─ Além do mais, você está diminuindo suas chances ao movê-lo.
Ian olhou para Connor como se pesando os riscos.
─ Não, eu vou tirá-lo daqui. Eu não vou deixá-lo ser arrastado dessa
casa e abatido no quintal como um animal.
Alex acenou o seu acordo. No caos, Ian não tinha notado que seu pai
tinha vindo para a sala até agora.
─ Ian está certo─, disse Payton, colocando a mão no ombro de sua
esposa. ─ Se os homens descobrirem que Connor sobreviveu e está aqui,
eles virão matá-lo.
Uma corrente de ar frio fez as chamas da lareira dançarem quando
Niall entrou pela porta.
─ A carroça já está do lado de fora.
Ian esfregou a testa. Seus pais e Niall ficariam seguros o suficiente
em casa, contanto que eles não mantivessem Connor escondido aqui. Mas
ele não queria deixar Sìleas aqui, com Murdoc por perto.
Mas o que ele estava fazendo com ela? Com Hugh e os MacKinnons
metidos na tentativa de assassinato de Connor, levá-la com eles poderia co-
locá-la em um perigo maior do que deixá-la. Além disso, havia pouco espa-
ço para os homens feridos no pequeno barco de pesca.
Havia apenas uma escolha.
─ Niall, eu preciso que você leve Sìleas até Gordan.
Ian olhou para Sìleas, ela estava ajoelhada no chão, segurando a mão
de Connor como um anjo. Deus do Céu, que ele amava essa mulher. Ele
caiu sobre um joelho e tocou seu rosto.
─ Não é seguro para você aqui em casa, com os MacKinnons por
perto─, disse ele. ─ Eles não vão pensar em procura-la na casa de Gordan,
e eu sei que ele a protegerá com sua vida.
Ela mordeu o lábio e assentiu.

227
─ Depois de levá-la─, disse a Niall, ─ encontre o Padre e peça-lhe
para vir à casa de Teàrlag depois do anoitecer. Diga-lhe que ele não deve
ser visto.
Isso consolaria sua mãe, e não faria mal ter o Padre rezando pelos
homens de qualquer maneira.
─ Eu vou ajudar você a levá-los até o barco antes de Sil e eu sair-
mos─ disse Niall.
─ Eu posso ajudar com os outros─ disse Alex.
Ian viu o brilho de suor na testa de Alex enquanto ele lutava com
seus pés. Alex estava mais ferido do que ele queria que soubessem.
Quando eles levaram a carroça até a praia, o vento frio arrebatou as
extremidades dos cobertores que envolviam os homens feridos. Sìleas se-
guiu a carroça até a água. Enquanto ele e Niall levavam primeiro Duncan e
depois Connor para o barco, ela encontrou um pedaço de pau para Alex
para se apoiar e ajudou-o a embarcar.
Ian olhou para os três homens feridos, Alex meio caído e os outros
dois deitados no pequeno barco na beira da praia. Só Deus sabia como ele
iria subir com eles os degraus íngremes da praia até a casa de Teàrlag, mas
ele conseguiria.
Ele apertou o ombro de seu irmão e virou-se para dizer adeus a Sìle-
as.
─ Você é o melhor dos homens, Ian MacDonald, ─ ela disse, com
voz firme e os olhos secos e claros. ─ Se alguém pode salvá-los, esse al-
guém é você.
Ela sempre teve muita fé nele e ele precisava disso agora.
─ Vou voltar assim que eu puder. ─ Ele pegou o rosto dela em suas
mãos e beijou-a na boca. ─ Fique a salvo, mo chroí.

228
CAPÍTULO 32

─ Tome este punhal─, disse Niall, entregando-o a ela quando eles


deixaram a praia. ─ Coloque-o na manga, caso precise.
Eles pegaram a bifurcação do caminho para a casa de Gordan e anda-
ram em um ritmo acelerado, sem falar de novo, seus pensamentos sobre os
entes queridos que tinham acabado de sair. Confiar em Gordan para pro-
tegê-la deve ter sido um amargo remédio para Ian engolir, mas ele não hesi-
tou em colocar a sua segurança à frente de seu orgulho.
Sìleas olhou por cima do ombro e teve um vislumbre através das ár-
vores de Ian na praia empurrando o barco para a água. Um arrepio passou
por ela.
Por favor, Deus, vele por Ian e mantenha-o seguro para mim. Não
deixe que esses jovens pereçam.
Eram apenas otocentos metros até a casa de Gordan, mas o caminho
subia e fazia uma curva de modo que não se podia ver de uma casa para a
outra. Quando eles fizeram uma curva, uma dúzia de homens a cavalo apa-
receu ao longe, vindo em sua direção.
Sìleas prendeu a respiração. Eram seu padrasto e Angus na frente dos
cavaleiros? Mesmo a essa distância, elas a reconheceriam pelos cabelos.
Ela podia sentir seus olhos sobre ela. O que ela temera por anos estava se
tornando realidade.
Eles estavam vindo buscá-la.
─ Corra!─ disse ela para Niall. ─ Eles vão me levar, e não há nada
que possa fazer para impedi-los.
─ Nós podemos correr de volta para casa─, disse Niall, puxando seu
braço.

229
─ Não! Se forem para lá, eles vão ver os outros que saindo no barco
─ ela gritou. ─ E vão matar todos eles!
Os MacKinnons tentaram assassinar Connor uma vez. Quando vis-
sem que tinham falhado, matariam todos os homens no barco. Ian era o me-
lhor dos lutadores, mas havia muitos deles. Ele iria morrer tentando salvar
os outros. Provavelmente, Payton e Beitris iriam correr para ajudar e ser
mortos também. Ela não podia deixar isto acontecer.
─ Por favor, Niall─ disse ela. ─ Eu estou implorando para você ir. É
a mim que eles querem.
─ Não sem você. ─ Ela ouviu o sussurro familiar de uma lâmina de
aço quando Niall sacou sua claymore de suas costas.
─ Você deve ir para poder dizer a Ian que me levaram. ─ disse ela,
segurando seu braço.
Os cascos dos cavalos se aproximando vibrava através de seus pés e
ecoou em sua cabeça.
─ É tarde demais. Para trás de mim! ─ disse Niall, empurrando-a
para suas costas.
No momento seguinte, uma dúzia de homens MacKinnon os rodea-
va.
─ Ele é valente─ um dos homens disse com uma risada, enquanto
desmontava. Ele saltou para trás, porém, quando Niall brandiu a sua clay-
more a um centímetro de seu peito.
─ Vamos, rapaz, não há necessidade de você morrer hoje─, disse ou-
tro homem ─, mas a moça pertence a nós.
Os homens abriram caminho quando Murdoc passou por eles em seu
cavalo.
─ Você tem muito a responder, Sìleas─ disse ele com uma voz dura,
encarando-a. Olhando para Niall, ele disse ─ Quem é o rapaz tolo, pronto
para morrer por você?
Antes que ela pudesse pensar em uma mentira, Niall disse em uma
voz desafiadora:
─ Eu sou Niall MacDonald, filho de Payton e irmão de Ian.
─ Leve-o─ disse Murdoc.

230
Sìleas gritou quando os homens cercaram Niall. Niall cortou o braço
de um homem e feriu outro, mas havia muitos deles. Não demorou muito
para que o prendessem.
─ Ele é seu─ , Murdoc disse, voltando-se para Angus.
O pânico correu através das veias de Sìleas quando Angus desmon-
tou de seu cavalo. Não adiantava argumentar com ele, pois Angus gostava
de ferir as pessoas e não pensava nas consequências. Murdoc era perspicaz.
Matar Niall não era importante para ele, ela precisava dar-lhe uma razão
para não fazê-lo.
─ Vocês vão se arrepender se feri-lo!─ ela gritou.
Murdoc levantou a mão, sinalizando a Angus para parar.
─ E por que eu me arrependeria por deixar um MacDonald a menos
neste mundo?
─ Ian MacDonald é um homem teimoso─ disse ela. ─ Você deve ter
ouvido falar que ele ficou afastado por cinco anos apenas porque foi força-
do a casar comigo.
─ Ouvi dizer que ele se recusou até mesmo a dormir com você. ─
Murdoc riu e os outros se juntaram a ele ─ Felizmente, o Angus aqui não é
tão seletivo.
Sìleas não se atrevia a olhar para Angus, com medo de perder a cora-
gem.
─ É verdade que Ian não me quer. ─ Ela estendeu o braço, apontando
para Niall. ─ Mas este rapaz é o único irmão de Ian. Se você prejudicar um
fio de cabelo na cabeça, posso assegurar que Ian virá atrás de você. Não
importa quanto tempo leve, um dia ele vai pegar você de surpresa. Ele é
muito teimoso.
─ Chega de conversa─ disse Angus, puxando sua espada.
O medo se apoderou de seu coração quando Angus avançou para Ni-
all.
─ Murdoc, você não ganha nada por prejudicá-lo.
─ Se Ian a tratou-a tão mal─ Murdoc perguntou, estreitando os olhos
para ela, ─ por que se importa com o que acontece a seu irmão?
─ Porque ele é como um irmão para mim também─ disse ela, dei-
xando a verdade aparecer em seus olhos.
231
─ Se sua mãe não tivesse sido tão inútil─ disse Murdoc, sua ira ex-
plodindo ─ você teria um irmão verdadeiro.
Sìleas sentia a adaga na manga. Se Murdoc não parasse Angus ela te-
ria de apunhalar o bruto quando ele passasse por ela. Ela teria apenas uma
chance, mas ela não sabia onde seria melhor atingi-lo. Seu coração dispa-
rou enquanto ela tentava pensar. Angus tinha muita barriga, se ela atingisse
lá, não poderia detê-lo. Não, tinha que ser em seu pescoço grosso.
─ Angus, temos o que viemos buscar─ disse Murdoc, em seguida,
virou-se para os outros homens. ─ Amarre o rapaz a uma árvore. Se ele
apodrecer antes que o encontrem, que assim seja.
Sìleas sentiu as pernas fracas de alivio. Louvado seja Deus! Ela viu
quando os homens amarraram e amordaçaram Niall, apesar de seus chutes.
─ Venha Sìleas. Nós não temos mais tempo a perder ─ disse Murdoc.
─ Você vai com Angus.
Não foi fácil manter a coragem quando Angus sorriu, mostrando os
dentes marrons e quebrados, e curvou o dedo chamando-a.
─ Deixe-me dizer adeus─ ela deixou escapar. Antes que alguém se
movesse para detê-la, ela correu até a árvore onde Niall estava amarrado e
jogou os braços em volta do pescoço.
─ Diga Ian que eu estarei esperando por ele─, disse ela no ouvido de
Niall, deixando cair o punhal nas costas dele.
Um instante depois, as mãos ásperas Angus a puseram de pé.

CAPÍTULO 33

Connor estava tão quieto que Ian observou o movimento de seu peito
enquanto guiava o barco para a praia. Connor ainda estava vivo, mas por
pouco tempo.
Ele e Alex trocaram um olhar preocupado, mas não havia nada a di-
zer. Assim que ele puxou o barco para a praia, ele levantou o corpo mole de
seu primo nos braços. Seu estômago apertou, era difícil ver Connor assim.
232
Deixando Alex para vigiar Duncan, ele começou a subir os degraus
traiçoeiros da falésia. Ele pensou em todas as vezes que tinham corrido
para cima e para baixo nestes degraus quando eram garotos. Como homens,
os dois anos entre ele e Connor não faziam diferença. Mas, como um garo-
to, Ian tinha venerado seu primo mais velho. Apesar de corajoso como
ninguém, Connor tinha sido sempre o mais sensato dos quatro. Eles chega-
ram à idade adulta só porque Connor conseguiu desestimular as aventuras
mais imprudentes ou pelo menos algumas delas.
Quando Ian se aproximou do topo do penhasco, ele olhou para cima
para ver Teàrlag e a irmã de Duncan, llysa com os braços cruzados e olhan-
do para o lado.
─ Eu vi vocês chegando ─Teàrlag gritou, e ele sabia que ela estava
se referindo à “visão” pela qual ela era conhecida.
As mulheres o fizeram entrar rapidamente e o instruíram para colocar
Connor em cobertores já haviam preparado diante do fogo. Ilysa ficou qua-
se tão pálida quanto Connor quando viu o estado que ele estava.
─ Vá buscar os outros─ Teàrlag disse, acenando para ele.
Quando ele voltou para o barco, ficou aliviado ao encontrar Duncan
acordado e capaz de se segurar nas costas de Ian. Ele era um homem enor-
me e Ian quase perdeu o equilíbrio mais de uma vez sobre os degraus de ro-
cha lisa.
O vento soprava uma chuva fina e gelada agora. No momento em
que chegou ao topo, Duncan estava tremendo violentamente. Seu corpo, já
testado até o limite, não podia suportar o frio e a umidade.
Ian bateu na porta da casa e cambaleou pela sala para depositar sua
carga na cama de Teàrlag.
Era uma cama em forma de caixote embutida na meia parede que se-
parava a sala principal do chalé do estábulo, onde sua vaca estava mugindo
queixosamente.
Ilysa jogou um cobertor sobre o irmão enquanto Teàrlag tirava uma
pedra quente do fogo para colocar a seus pés.
Sem parar para descansar, Ian voltou à praia para buscar Alex.
─ Eu posso subir até lá, se você me der uma mão─ disse Alex.
233
─ Não, eu vou levar você nas minhas costas─ disse Ian. ─ Vai ser
mais rápido, e não estou com vontade de discutir.
Alex não gostou, mas era assim que ia ser.
Ian resmungou quando ele ergueu Alex em suas costas.
─ Deus me ajude, os três devem comer como os cavalos.
Ian tinha câimbras nas pernas eram cólicas quando chegou a casa
pela terceira vez. Alex insistiu em sentar em uma cadeira. Entretanto, ele
não reclamou quando as mulheres puseram um cobertor sobre os ombros,
uma pedra aquecida debaixo de seus pés e uma xícara de caldo quente em
suas mãos.
Ian sentou-se pesadamente em um banquinho perto da mesa. Ele
conseguira trazer todos os três vivos, apesar de Connor estar pendurado por
um fio e Duncan não parecer muito melhor. Ian estava grato por as mulhe-
res serem hábeis curandeiras, embora ele suspeitasse havia pouco que po-
deria ser feito agora, exceto manter os homens aquecidos e alimentados.
E rezar.
─ Você não deve demorar─ disse Teàrlag, fixando seu olho bom sob-
re ele. ─ Sua mulher está em perigo.
Sìleas. Ele ficou de pé, sentindo como se tivesse sido chutado no es-
tômago.
─ O que você pode dizer-me?─ Perguntou ele.
─ Só que ela está muito assustada─ disse Teàrlag.
─ Tome,─ Ilysa disse, empurrando um farnel de bolos de aveia em
sua mão quando ele saiu pela porta da casa.
Os céus se abriram em sua viagem de volta, encharcando-o. Ele gri-
tou de frustração quando forçado a baixar a vela. Enquanto se esforçava
com os remos, seu coração parecia bater no mesmo ritmo da chuva forte
batendo em seu rosto.
Se Sìleas não houvesse deixado o punhal com Niall, ela o teria finca-
do em Angus. O mau cheiro do homem a cercava, sufocando-a enquanto
cavalgavam. Ela olhou para a fricção coxa maciça contra a dela e imaginou
mergulhar a lâmina nela uma e outra vez. Toda vez que ele movia o braço

234
em volta de sua cintura ou pressionava contra a parte inferior dos seios, ela
batia o cotovelo em suas costelas.
Angus não fez nenhum sinal de que ele percebeu.
─ Quantas meninas foram estupradas por você desde a última vez o
vi?─ Ela disse, e apontou-o novamente.
─ Eu não contei─ disse ele, parecendo divertido. ─ Pena que tenha
crescido, Sìleas. Você vai servir, mas eu gostava mais de você antes.
─ Ach, é uma besta repugnante! Você vai queimar no inferno, com
certeza. ─
─ Confesso para os padres─, disse ele. ─ Quando eu seguro uma lâ-
mina contra suas gargantas, a penitência não é tão ruim, exceto o desgraça-
do do Padre Brian. Ele é um bastardo hipócrita.
─ Meu marido vai matá-lo antes que você tenha a chance de se con-
fessar de novo─, disse ela. ─ Você vai morrer com a sua alma negra com o
pecado.
─ Seu casamento é uma farsa, e todos em Skye sabem disso. ─ Ele
se inclinou para baixo até que os bigodes sujos tocaram o lado de seu rosto
e sua respiração a sufocou. ─ Mas você vai ter em breve um verdadeiro
marido, o tipo que sabe o que deve ser feito com uma mulher.
As provocações que ela tinha usado para conter seu medo a abando-
naram. Ian viria buscá-la, mas quando? Ele pensava que ela estava segura,
aos cuidados de Gordan. Quanto tempo ela passaria em Knock Castle com
Angus e Murdoc antes de Ian descobrir que ela estava lá?
Como se a amortecer suas esperanças, uma chuva fria começou a
cair.
Quando Knock Castle surgiu da chuva fina sobre o promontório, o
medo pesou-lhe sobre o peito, tornando difícil respirar. Ela não tinha entra-
do no castelo desde o dia em que fugiu pelo túnel após Murdoc espancá-la.
Quando cruzaram a ponte levadiça, ela olhou para o maciço portão de ferro
e madeira e estremeceu. Caro Senhor, como é que Ian iria salvá-la?
Sìleas se perguntou se o fantasma do castelo apareceria como costu-
mava fazer. A lenda era que a Dama Verde, como ela era chamada por cau-

235
sa do vestido verde pálido que usava, sorria ou chorava, dependendo se
boas ou más notícias estavam vindo para a família que ocupava o castelo.
O fantasma sempre chorou por Sìleas.

CAPÍTULO 34

No momento em que Ian finalmente se aproximava da praia abaixo


da casa de seus pais, os músculos de seus braços e ombros pareciam pron-
tos para descolar dos ossos. Ele estreitou os olhos para ver através da chuva
gelada que ainda batia em seu rosto.
Alguém estava na praia agitando os braços.
Era Niall. O coração de Ian caiu para suas botas. Teàrlag estava cer-
ta. Algo estava errado. Saltou para fora do barco e disparou em direção à
praia, transportando o barco com ele, quando Niall entrou na arrebentação
para ajudar.
─ Eles levaram Sìleas─ Niall gritou por cima do vento e da chuva,
pegando o outro lado do barco.
─ Quem a levou?─ Ian gritou de volta.
─ Os MacKinnons e seu padrasto─ disse Niall, e Ian podia ver que
seu irmão estava quase chorando. ─ Angus estava com eles.
Ian bateu com o punho contra o barco. Deus, não!
Assim que arrastaram o barco acima da linha da maré, Niall contou
em uma torrente de palavras o que tinha acontecido.
Os demônios MacKinnon levaram a mulher de Ian quase mataram
seu irmão.
─ Eu tentei salvá-la─, disse Niall com a voz embargada.
Ian cerrou os dentes contra a raiva que subia dentro dele e apertou os
ombros de seu irmão.
─ Eu sei que tentou.
─ Ian! Niall!
Ao ouvir gritos, Ian olhou para cima para ver Gordan correndo em
direção a eles ao longo do caminho acima da praia.

236
─ Diga-me que os MacKinnons não a levaram!─ Gordan gritou, en-
quanto descia até eles.
Como Gordan sabe que foram os MacKinnons? A ira pulsava nas
veias de Ian. Ele puxou sua adaga e apontou para Gordan.
─ O que você sabe disso?
Niall segurou o braço de Ian.
─ Gordan não prejudicaria Sìleas. Deixe-o falar.
Gordan tinha os olhos selvagens de um homem perturbado, e ele ti-
nha vindo encontrá-los. Ian baixou sua adaga, mas não a guardou.
─ Quando Sìleas veio falar comigo ontem à noite, minha mãe achava
que ela estava fazendo planos para deixa-lo para casar comigo ─ , Gordan
disse, parecendo aflito. ─ Ela enviou o menino que trabalha para mim du-
rante a noite para Knock Castle. Ela mandou uma mensagem para Murdoc,
dizendo-lhe que vocês quatro trouxeram Sìleas de volta de Stirling e esta-
vam aqui na casa de seus pais ─ O rapaz acabou de me contar sobre isso
agora.
Depois que Niall disse a Gordan o que aconteceu, Gordan afundou
na areia molhada e segurou a cabeça. Ian o deixou na praia sem olhar para
trás. Malditos Gordan e sua mãe.
─ Murdoc manterá Sìleas dentro Knock Castle por enquanto─ , disse
ele a Niall, enquanto se dirigiam até a casa.
─ Eu tenho que tirá-la de lá.
Ian cerrou os punhos, lembrando as cicatrizes que Murdoc colocara
nas costas dela. Ele estava indo para matá-lo, de qualquer maneira. Mas se
Murdoc tivesse colocado a mão sobre ela, ele iria rasgá-lo membro por
membro.
─ Ian─ o irmão disse, virando os olhos preocupados para ele. ─ Ela
deixou Murdoc acreditar que não liga para ela e que nunca vocês... Bem,
que seu casamento não foi consumado.
Ian esperou o resto.
─ Ele pretende casá-la com Angus.
O pensamento das mãos carnudas de Angus na pele delicada de Sìle-
as fez suas próprias mãos tremerem com fúria. Ele tinha que resgatá-la e ra-

237
pidamente. Se ele não a salvasse antes de Angus estuprá-la, ele nunca iria
perdoar a si mesmo. Nunca.
Ele não podia permitir que sua raiva nublasse seu pensamento. Ele se
forçou a concentrar seus pensamentos nos problemas diante dele. A primei-
ra coisa que ele tinha que fazer era um plano para tirar Sìleas de Knock
Castle. Então, uma vez feito isso, ele precisava para salvar seu clã de Hugh.
Com os outros feridos, não havia mais ninguém para fazê-lo.
Ele tirou todo o conforto que pode das palavras sussurradas na men-
sagem trazida por Niall. Diga a Ian que eu estarei esperando por ele. Ela
acreditava que ele não falharia com ela.
Ele sempre teve Connor, Duncan, e Alex ao seu lado. Quando eram
meninos, eles brincaram juntos. Na juventude, eles aprenderam a velejar e
manejar as primeiras claymores juntos. Como homens, eles lutaram lado a
lado. Através dos anos, haviam corrido inúmeros riscos tolos juntos e salva-
do as vidas uns dos outros. Eles cuidavam uns dos outros.
Agora, quando Ian precisava deles mais do que nunca, estava sozi-
nho.
─ Você tem a mim e papai─, disse seu irmão, como se lesse seus
pensamentos.
Ian quase riu. Se acrescentasse o Padre Brian, ele teria um quarteto
novo. Mas um homem sem uma perna, um rapaz de quinze anos, e um Pa-
dre eram pobres substitutos para os guerreiros das montanhas experientes
em seu auge.
─ Devo chamar os outros homens?─ Niall perguntou.
─ Os homens estavam dispostos a lutar conosco porque eles acredita-
vam que Connor poderia ser o nosso laird ─ disse Ian, balançando a cabe-
ça. ─ Hugh vai espalhar a notícia que Connor está morto ou desaparecido
até Connor estar em pé novamente, Deixar alguém saber que ele sobrevi-
veu ao ataque iria colocá-lo em perigo.
─ Então o que faremos?─ Niall perguntou.
─ Nós vamos fazer o que Highlanders sempre fazem quando o inimi-
go é mais forte─ , Ian disse, encontrando os olhos de seu irmão.
─ O que é isso?─ Niall perguntou.
238
─ Vamos usar enganos e trapaças, é claro.

CAPÍTULO 35

Ratos deslizavam para fora dos juncos enquanto Murdoc arrastava


Sìleas pela sala. O salão do castelo estava ainda mais sujo que ela se lemb-
rava.
─ Ponha um pouco de comida nessa mesa!─ Murdoc gritou para uma
mulher encolhida no canto. Ele chutou dois cães que brigavam por um osso
e virou-se para Sìleas. ─ Nós vamos nos casar depois que comermos.
─ Não pode fazer isso ─ disse Sìleas. ─ Eu já estou casada. E não foi
um casamento a prova, um Padre casou Ian e eu.
Murdoc curvou os lábios em um sorriso de escárnio.
─ Então, você acha que aquele bêbado que seu laird encontrou era
um sacerdote?
Sìleas estava atordoada.
─ Claro que ele era.
Mesmo quando ela disse isto, se lembrou de como o sacerdote se
atrapalhou com as palavras e a ameaça nos olhos do laird, quando ele olhou
para o homem. Outras coisas se encaixaram, coisas que tinham sido enter-
radas entre as piores lembranças daquele dia: o Padre tropeçando no manto
que era demasiado longo para ele, sua tentativa de seguir, ao invés de levá-
los até as escadas para salpicar a cama com água benta antes de Ian amea-
çar jogá-lo escada a baixo.
─ Você é tão fácil de enganar como sua mãe ─ disse Murdoc ─Ela
era realmente uma tola.
─ Ian e eu dissemos votos um ao outro, e que nos faz marido e mu-
lher pelo costume Highland. ─ Ela engoliu em seco. ─ E não importa o que
ouviu, eu posso estar carregando um filho dele.
Ela instintivamente colocou a mão sobre seu abdômen quando a ver-
dade de suas palavras a atingiu.

239
─ Você pensa que eu me importo de quem é o filho?─ Murdoc enco-
lheu os ombros. ─ Mas se Angus não quiser assumir o seu moleque como
dele, bem, bebês morrem o tempo todo.
Ela olhou para ele boquiaberta. Ela não tinha acreditado que Murdoc
fosse mesmo capaz de tais males.
─ Se você não está grávida agora, estará em breve ─ disse Murdoc.
─ De uma forma ou de outra, você vai me dar à criança MacKinnon que a
sua mãe deveria ter dado. Precisamos que a criança tenha total direito ao
castelo.
─ Prometo a você, Murdoc, nunca terá em suas mãos um filho meu.
─ Não acho que possa escapar desta vez, porque eu já bloqueei o tú-
nel. ─ Ele lhe deu um duro empurrão. ─ Vá ajudar a botar comida na mesa.
Os homens estão com fome.

Ian puxou o plaid sobre a cabeça quando ele passou pelo castelo
Dunscaith a caminho da igreja.
A sorte estava com ele, pois ele encontrou somente o sacerdote de jo-
elhos diante do altar simples da Igreja.
─ Desculpe, Padre, mas isso não pode esperar.
O Padre benzeu-se e ficou de pé.
─ Você está tão desesperado assim para confessar seus pecados, Ian
MacDonald?─ Padre Brian perguntou, limpando os joelhos.
─ Não, Padre. Eu não tenho tempo para isso.
─ Foi o que pensei─, disse o sacerdote. ─ É uma pena, porque eu
suspeito que fosse mais interessante do que o que eu costumo ouvir.
─ Um dia eu vou dar a você horas de confissão em meio a copos de
uísque, se quiser─ , disse Ian. ─ Mas agora eu preciso de um tipo diferente
de ajuda.
─ Qual?─ Perguntou o Padre.
─ Está em bons termos com os MacKinnons?
─ Estando ou não, eu atendo a todos os clãs por estas bandas,─ Padre
Brian disse com um encolher de ombros. ─ De fato, eu estava planejando
visitar os MacKinnons, como faço todos os anos.

240
─ Será que os MacKinnons o deixarão entrar em Knock Castle?─ Ian
perguntou.
─ Se eles têm pecados a confessar ou casamentos para serem aben-
çoados, eles vão abrir suas portas para mim─ disse Padre Brian.
─ Por que pergunta?
O estômago de Ian se contraiu a menção do sacerdote de casamentos
para serem abençoados. Ele odiava pensar que Murdoc achava que casar
Sìleas com Angus poderia servir como a chave para o poder.
─ Murdoc MacKinnon está prendendo a minha esposa em Knock
Castle, ─ Ian disse com os dentes cerrados. ─ Eu preciso tirá-la de lá. Quer
me ajudar, Padre?
Quando o Padre não respondeu de imediato, Ian disse.
─ Ele pretende dá-la a Angus MacKinnon.
─ Ach não, Angus. Eu vi o que esse homem fez para moças jovens ─
disse o Padre, estreitando os olhos com raiva. ─ Que quer que eu faça?
─ Falaremos sobre isto no caminho. ─ Ian esperava ter um plano em
breve. Deus tinha enviado-lhe o Padre Brian, o que era um começo.
Ian benzeu-se antes de deixar a igreja. Por favor, Deus, mantenha-a
segura até que eu possa chegar até ela.

CAPÍTULO 36

Os olhos de Sìleas se arregalaram quando viu a mulher encostada na


parede da escada que descia para as cozinhas.
─Dina─, ela sussurrou. ─O que estais fazendo aqui?
─Um dos homens MacKinnon gostou de mim─, disse Dina. ─Eu
não tinha mais para onde ir.
─Sinto muito por isso.─ Embora Sìleas tivesse razões para desejar o
pior para Dina, ela ficava infeliz ao ver qualquer mulher vivendo neste in-
ferno.

241
─Eu lamento ve-la aqui também─, disse Dina.
─Porventura me ajudará então?
─Eu não consigo sair─ disse Dina. ─Eles estão mantendo os guardas
no portão.
─Então eu preciso encontrar uma forma de distraí-los até que Ian ve-
nha me buscar─, disse ela.
─Você tem certeza que ele virá buscar você?─ Dina perguntou.
─Tenho.
─Eu não teria feito o que fiz se soubesse que voce queria Ian─, disse
Dina. ─Desde que você não estava dando a ele o que ele queria, eu não vi
mal nenhum nisso.
Elas foram interrompidos por Murdoc vindo do outro lado do corre-
dor.
─Onde está o nosso jantar?
Quando o seu copo de metal bateu na parede proximo a cabeça de
Sìleas, ela e Dina começaram a descer. Estava escuro nas escadas, mas
haviz luz e o som de vozes e panelas vindo da cozinha abaixo.
─Eu tenho um veneno─, disse Dina perto do ouvido de Sìleas.
─Veneno?─ Sìleas parou e se virou para olhar para Dina.─Como é
que voce conseguiu veneno?
─Teàrlag deu para mim─, disse Dina. ─Eu fui vê-la para pedir um
amuleto antes de eu vir aqui. Eu não lhe disse onde eu estava indo, mas ela
disse, “uma moça tão tola como você provavelmente vai precisar de algo
mais forte do que um bom amuleto da sorte “.
Dina inclinou-se para o lado de sua bota.
─Foi quando ela me deu este frasco pequenino. Podemos derramá-lo
na cerveja, não é?
─Eu não quero matar todos eles─, disse Sìleas.
─Teàrlag disse que uma gota ou duas vai deixar um homem doente.─
Dina entregou-lhe o frasco. ─Os jarros de cerveja vão estar em uma bande-
242
ja perto da porta. Eu vou distrair os homens na cozinha enquanto você co-
loca o veneno.
─Como vai fazer isso?
Dina riu.
─Você vai ver. Nada poderia ser mais fácil.
Sìleas seguiu Dina sob o teto abobadado baixo da despensa para a
cozinha barulhenta. Ela ficou na porta enquanto Dina atravessava a cozi-
nha, balançando os quadris, em direção a um homem corpulento que tinha
um cutelo na mão e estava gritando ordens aos servos da cozinha.
Ele parou de gritar no meio da frase quando viu Dina.
─Eu estou morrendo de fome, Donald─, disse ela com voz ronronan-
te . Ela colocou a mão no ombro do cozinheiro. ─Acaso tem algo ... especi-
al ... para uma moça faminta?
Todo mundo na cozinha parou no meio de suas tarefas para observar
Dina quando ela se inclinou para mais perto do cozinheiro e falou-lhe em
voz baixa e sugestiva. Sìleas vi uma meia dúzia de jarras de cerveja na
mesa ao lado dela, pronta para ser levada para o salão. Virando as costas
para a cozinha, ela puxou a tampa do pequeno frasco.
Quantas gotas que ela deveria colocar em cada jarra? Era difícil adi-
vinhar quanto cada homem iria beber das jarras compartilhadas. Suas mãos
tremiam quando ela derramou algumas gotas em cada um.
─O que está fazendo aí?─ A voz áspera atrás de Sìleas a assustou, e
ela derramou o resto do veneno no ultimo jarro.
─Murdoc disse-lhe para trazer mais cerveja para a mesa─, Dina dis-
se, ─então é melhor você deixá-la ir.
Sìleas levantou a bandeja e saiu correndo da cozinha, derramando
cerveja. Na parte inferior da escada, ela fez uma pausa para respirar profun-
damente para se acalmar. Não adiantaria nada envenenar a cerveja se ela
derramasse tudo no chão.

243
Antes que ela pudesse chegar à mesa, os homens começaram a arran-
car as jarras de sua bandeja.
─Parem com isso, seus animais─, ela gritou e ergueu a bandeja, com
medo de que pegassem tudo.
Ela tinha apenas uma jarra quando chegou à mesa, mas era a única
com o veneno extra. Ela tentou esconder o sorriso quando a pôs entre Mur-
doc e Angus.
Outro homem empurrou-a de lado e pegou a jarra. A fúria queimou
em seu peito enquanto ela olhava a cerveja escorrer pelo queixo, enquanto
ele bebia direto da jarra.
─Pegou a minha cerveja, não foi?─ Angus socou o homem no ventre
e pegou a jarra de suas mãos.
A esperança cresceu em seu coração quando Angus levou a jarra à
boca e afundou-se novamente quando nada saiu.
Angus jogou a jarra contra a lareira e começou a bater no homem
que a pegara primeiro.
─Traga mais─, disse Murdoc e bateu no traseiro dela com força sufi-
ciente para picar através das camadas de seu vestido.─E diga àque cozi-
nheiro imprestável que eu vou mostrar-lhe o meu punhal se ele não trouxer
comida agora.
Ela cometeu um erro grave. O que ela devia ter feito era ter dado
todo o veneno para Murdoc e o matado. Sem ele, os outros homens rodopi-
aram confusos, como uma galinha com a sua cabeça feia cortada.
Murdoc se virou e a pegou olhando para ele.
─O que está fazendo olhando para mim?─ Disse ele e bateu com o
punho na mesa. ─Vá!
Sìleas e Dina se pocionaram contra a parede, observando os homens
comer e esperando que eles mostrassem algum sinal
da doença. Seu tempo estava se esgotando.
Ela mordeu o lábio.
244
─Por que o veneno não está funcionando, Dina?
─Eu não sei. Talvez seja cedo demais.
Sìleas saltou quando Murdoc ficou de pé e bateu com o copo na
mesa. Quando ele teve a atenção dos homens, gritou:
─É hora de celebrar um casamento!
Ele examinou a sala até que encontrou Sìleas e, em seguida, acenou-
lhe para vir para a frente. Quando ela não se moveu, ele acenou para dois
homens corpulentos.
─Ouvi dizer que Angus não consegue ficar duro a menos que a mu-
lher esteja gritando e chorando─, disse Dina, apertando-lhe a mão. ─Então
fique quieta.
Sìleas olhava freneticamente procurando um meio de fuga enquanto
os dois homens vinham em sua direção. Apesar do aviso de Dina, ela gritou
enquanto a arrastavam através do salão para a frente de Murdoc e Angus.
─Você vai dizer seus votos agora─, disse Murdoc.
─Eu não vou─, disse Sìleas, encontrando seus olhos. ─Se você não
conseguiu me fazer dizê-los aos treze anos, deve saber que também não
conseguirá agora.
─Talvez você esteja mais disposta após o sexo.─ Murdoc encolheu
os ombros. ─Mas senão, tudo que nós realmente precisamos de você é de
uma criança MacKinnon.
─Meu marido Ian vai matar você deixar qualquer homem me tocar─,
disse ela. ─E os MacDonalds não vão descansar enquanto você estiver em
Knock Castle.
─Você é tão ingênua que sinto até pena─, Murdoc disse, balançando
a cabeça. ─Hugh MacDonald e eu fizemos um acordo. Eu fico com você e
Knock Castle em troca de matar seu sobrinho Connor.
Uma onda de raiva se levantou de dentro dela. Com ela vieram pala-
vras que ela não sabia que estavam lá.

245
─Em nome de minha mãe, eu o amaldiçoo, Murdoc MacKinnon─,
ela gritou, esticando o braço e apontando para Murdoc. Então ela virou-se
lentamente e girou o braço em um grande círculo. ─Eu amaldiçôo cada um
de vocês! Vocês devem sofrer por arrancar-me do meu marido e por tomar
o que pertence a mim e a meu clã. Todos sofrerão!
O salão ficou em silêncio. Todos os olhos estavam em cima dela, e
alguns dos homens se benzeram.
─Angus!─ A voz profunda de Murdoc quebrou o silêncio, enchendo
o salão e reverberando em seu peito. ─Leve-a para cima.
O pânico a inundou quando Angus levantou-a com um braço e jo-
gou-a sobre seu ombro. Com a cabeça pendendo para baixo, o sangue mar-
telava em seus ouvidos enquanto ela gritava e batia com os punhos nas cos-
tas dele .
O riso dos homens desapareceu enquanto subia a escada em espiral
fechada que levava aos aposentos privados da família.
Quando Angus levou-a para o quarto que tinha sido de sua mãe, a
histeria a tomou completamente. Ela cegou para tudo, menos para a ima-
gem em sua mente de sua mãe deitada na cama, com o sangue o sangue en-
charcando a cama e os lençóis. Sìleas viu as gotículas que caíram da cama
para o chão, quando sua mãe morreu.
Sìleas arranhou e gritou como um animal selvagem. Quando ela
afundou seus dentes na mão de Angus, ele a soltou tempo suficiente para
ela cambalear para fora da cama e correr para a porta.
Ela correu de encontro a Murdoc na porta. Ele segurou-a rapidamen-
te.
─Não, aqui não─, ela implorou, sacudindo os braços e pernas.─Por
favor, não aqui , onde ela morreu.
Murdoc não atendeu a sua súplica não mais do que ele tinha atendido
as de sua mãe.

246
Quantas vezes ela estava do outro lado da porta e ouviu o choro da
mãe? Sua mãe tinha sofrido as atenções de dois maridos que queriam um
herdeiro para o castelo e não importa se a mataram no processo.
Durante anos, Sìleas tinha empurrado as memórias do sofrimento de
sua mãe para os recessos longinquos de sua mente.Sua mãe parecia tão di-
ferente dela, bela, frágil, cordata. Na verdade, Sìleas culpou sua mãe pelas
escolhas que levaram à sua miséria. Agora, ela percebeu que sua mãe deve
ter se sentido tão presa como ela fez agora.
Quando Murdoc a arrastou de volta para a cama, ela viu o cabelo de
sua mãe loira se espalhar sobre o travesseiro, sua beleza um contraste gri-
tante com o sangue escuro nas cobertas. O cheiro de sangue e o suor de do-
ença encheu o seu nariz. Ela viu a pele pálida e braços flácidos de uma mu-
lher fraca demais para chorar.
Quando Murdoc largou-a de costas sobre a cama, Sìleas sentiu seu
corpo afundar no colchão, com o peso de sua dor. Ela viu sua mãe como a
vira pela última vez, com os olhos abertos, mas sem ver, e um braço fino
esticado sobre a cama, como se ela estivesse ainda esperando que alguém
estendesse a mão e a resgatasse do pesadelo que era sua vida.
No final, foi Deus que teve misericórdia e levou-a para se juntar seus
bebês mortos.
Sìleas estava sem piscar, o olhar fixo nas vigas do teto. Ela se sentia
imune aos homens agora, cheia de dor pela mãe dela, a dor que ela tinha
negado até agora.

247
CAPÍTULO 37

O céu escurecia aumentando o sentido de urgência de Ian enquanto


ele olhava o topo das muralhas de Knock Castle.
─Apenas dois homens na muralha─, disse o pai ao lado dele.
Ian balançou a cabeça. ─Está pronto Padre Brian?
─Sim.
Ian subiu no carrinho de mão e se agachou ao lado do barril de vi-
nho. Ossos de Deus, o que ele estava fazendo?
─Deveríamos ter usado a carroça, então papai e eu poderíamos ir
com vocês─ queixou-se Niall, mais uma vez.
─Os guardas desconfiariam mais de uma carreta grande, ─ disse Ian.
─Eu vou abrir o portão para vocês se juntarem a nós assim que eu puder.
A verdade é que Ian não sabia se havia dois homens ou quarenta a es-
pera para matar todos eles.
─Deus esteja com vocês─ disse o Padre Brian, e lançou a lona sobre
Ian como se estivesse espalhando um pano sobre um altar. Em seguida, ele
a arrumou em torno Ian de modo que não cobrisse o barril de vinho.
Seu truque era tão antigo quanto os gregos antigos. Parecia impro-
vável, contudo, que Murdoc ou Angus tivessem estudado os clássicos.
O Padre Brian grunhiu enquanto pegava as alças e puxava o carrinho
para frente. Era bom o Padre ser um homem forte, pois eram cerca de cem
metros das árvores até o castelo.
Com o barril de vinho chacoalhando próximo a sua cabeça, Ian se
perguntou se os troianos tinham ficado tão apertados em seu cavalo de ma-
deira. Ele segurou as pontas da lona para mantê-la no lugar quando o carri-
nho pulou sobre as placas de madeira da ponte levadiça. Quando o Padre
Brian parou o carro com um solavanco e jogou as alças para o chão, Ian
teve que apoiar seus pés contra os lados para evitar cair de costas.
Através de um buraco que ele furou na lona com a ponta de sua
adaga, ele observou o sacerdote bater ruidosamente na madeira portão.

248
Uma voz respondeu vinda do outro lado, mas Ian não conseguiu distinguir
as palavras.
─Estou fazendo minhas rondas por Skye, como eu faço todo ano─,
disse o Padre Brian em sua voz profunda e retumbante. Ele apontou para a
carreta. ─Eu tenho um barril de vinho do mosteiro de Iona que estava tra-
zendo para o meu bispo, mas é muito longe para transportar. Eu estou dis-
posto a vendê-lo para vocês.
O portão se abriu. Ian segurou o punho de sua adaga quando o Padre
Brian pegou o carro e empurrou-o para frente.
─Já que nós estamos celebrando um casamento, eu tenho certeza que
vocês vão querer doar o vinho─ disse um guarda.
O sangue nas veias de Ian se transformou em gelo com a menção de
um casamento, e ele orou para não ser tarde demais para salvar Sìleas do
estupro.
─Ninguém tomará o vinho até que eu tenha o pagamento em minha
mão para o trabalho dos bons monges ─Padre Brian disse, parando o carro
dentro do pátio exterior.
Como Ian havia previsto, os guardas não quiseram esperar. Quando o
primeiro levantou a lona, Ian enfiou a adaga sob o braço levantado do ho-
mem e matou-o antes que ele pudesse proferir um som. Havia apenas ou-
tros cinco guardas ao redor do carro. Quando ele saltou de pé, sacou sua
claymore e a enfiou em um deles.
Os outros que se juntaram em torno do carro, com a intenção de ali-
viar o Padre de seu vinho, deram um passo atrás rapidamente. O sempre
útil Padre Brian enfiou o pé para fora, fazendo um deles cair para trás com
um grito.
Quando um de seus companheiros se virou para olhar, a espada de
Ian sibilou através do ar, quase arrancando a cabeça do homem com seu
corpo.
Agora, os outros guardas tinham suas espadas desembainhadas e
prontas. Havia apenas dois deles de pé. Ian se moveu em direção a par, an-
sioso para terminar o trabalho.

249
Pelo canto do olho, viu o homem que o Padre Brian tinha derrubado
levantar e atacar o sacerdote com sua espada. Um momento depois, o guar-
da estava aos pés do Padre Brian, e o sacerdote estava limpando o sangue
da lâmina do atacante em seu manto.
Ian girou em um círculo completo, e um de seus adversários gritou
quando a lâmina de Ian atingiu o lado do homem. Droga, eles estavam fa-
zendo muito barulho. O último guarda atacou, acreditando que Ian não se-
ria rápido o suficiente para se recuperar de seu último golpe.
Foi o último erro que o homem cometeu.
Ian verificou nas muralhas. Quando ele não viu ninguém, ele assu-
miu que os dois que estavam na muralha anterior tinham descido por causa
do vinho e estavam entre os mortos. Ele correu para a porta e acenou para
sinalizar a seu pai e irmão.
─Você nem sempre foi um Padre, foi?─ Ian disse, quando os dois ar-
rastaram os corpos dos os homens mortos para uma despensa vazia constru-
ída contra a parede.
─Eu pensei que eu iria deixar meus dias de luta para trás─, disse o
sacerdote. Depois de terem movido o último homem, ele benzeu-se e lim-
pou as mãos em seu manto. ─Devia ter mais guardas aqui. Aonde acha que
todos os outros homens estão?
─Dentro do castelo. Comemorando um casamento.
A estrutura maciça de Angus apareceu na linha da visão de Sìleas.
Como se de uma grande distância, ela o viu tirar o kilt e levantar sua cami-
sa. Ela tremia, seu corpo sentindo o perigo, enquanto ela lutava para deixar
de lado as imagens de sua mãe e se libertar do peso da dor que a prendia à
cama.
Mas quando as mãos gordas de Angus agarraram suas coxas, ela vol-
tou a si com um empurrão. Ela não podia suportar que este homem vil a to-
casse. Antes que ela pudesse juntar forças para lutar com ele, Angus olhou
por cima do ombro.
─O quê?─ Angus disse. ─Vai ficar aí me olhando?

250
─Eu quero ter certeza de que é feito. Tê-la capturado não nos trará
bem algum, a menos que ela tenha um filho.
Ela não conseguia ver além do mamute em pé entre suas pernas na
beira da cama, mas era a voz de Murdoc que ela estava ouvindo.
─Eu não posso fazer isso quando ela está olhando para mim como
morta─, queixou-se Angus.
─Nós dois sabemos o que você precisa para tomar uma mulher─,
disse Murdoc. ─Então faça isso.
Com as palavras de Murdoc, o conselho de Dina voltou a sua mente:
Apenas fique deitada. Quando Angus virou-se para ela com o braço inclina-
do para bater nela, enrijeceu-se para suportar o golpe.
Mas então, Angus congelou no lugar, os olhos fixos em algo acima
dela. Enquanto um lamento lúgubre enchia o quarto, Sìleas olhou para cima
para ver a forma translúcida da Dama Verde flutuando acima dela. Ela esta-
va chorando e gemendo.
Angus cambaleou para trás da cama.
─A miserável chamou um fantasma com a sua maldição!
Angus pôs os braços na frente do seu rosto, quando o lamento da
Dama verde ficou mais alto. A tristeza na voz do fantasma era o suficiente
para fazer os anjos chorar.
─Ela está vindo me pegar!─ Angus tropeçou nos próprios pés quan-
do se virou e fugiu do quarto.
Sìleas sentou-se e encontrou os olhos de seu padrasto. A intervenção
da Dama Verde deu-lhe tempo para trazer a coragem e sua raiva de volta.
─É você que faz com que ela chore ─ disse ela. ─Você sempre a fez
chorar.
Murdoc atravessou o quarto em três passos largos e empurrou-a para
deitar na cama novamente.
─Seu choro não me parou antes─ disse ele. ─E não será agora que
vai parar.
Sìleas olhou para ele, o terror apertando seu coração.
─Eu sou filha de sua esposa. Nem mesmo você cometeria um pecado
tão grave.

251
Murdoc deu de ombros e se inclinou sobre ela até que ela sentiu o ca-
lor de seu corpo.
─Vou dizer-lhe o mesmo que eu disse a sua mãe─, ele sussurrou em
seu rosto. ─Preciso de um filho do meu sangue.
O choro Lady Green tinha diminuído, como se ela soubesse que não
adiantaria contra Murdoc.
─Depois de ser uma criança feia, você se tornou uma coisinha boni-
ta─, disse Murdoc, inclinando-se para fixar seus duros olhos negros nos
seios dela. ─Se Angus não pode fazer o trabalho, eu tenho certeza que não
vou ter nenhum problema.

CAPÍTULO 38

─Vamos ver se o vinho funciona uma segunda vez─, Ian disse aos
outros. ─Padre Brian, está disposto a assumir o barril no corredor para dis-
traí-los?
O Padre concordou.
─Uma vez que todos os homens que estão lá dentro de reunirem em
torno do Padre Brian, entraremos tão silenciosamente quanto pudermos─
ele disse ao seu pai e Niall. ─Se Sìleas estiver no hall, vamos pegá-la e ir
embora antes que algum deles perceba que estamos ali.
Ou pelo menos ele esperava isso.
─Se ela não estiver no salão ...─ Ian engoliu em seco com o pensa-
mento do que isso significaria. ─Então, Niall e papai protegerão as escadas
enquanto eu vou para cima buscá-la.
Era um plano pobre, mas ele não podia pensar em nada melhor.
O Padre Brian fez uma oração rápida para eles, e todos eles fizeram o
sinal da cruz. Quando Ian e o sacerdote fizeram o carrinho subir os degraus
da torre principal, ele se virou para ver o pai atravessar o pátio exterior.
Vendo como seu pai se movia lentamente, ele temia estar levando todos os
homens de sua família para a morte.

252
─Deus está do nosso lado. ─ O Padre deu um tapinha braço de Ian
enquanto falava, então abriu a porta e pôs o carrinho para dentro, chaman-
do: ─Boa noite para vocês, MacKinnons!
Ian esperou alguns momentos, cada músculo tenso, antes de abrir a
porta e entrar. Não havia guarda postado à porta ou se houvera um, ele dei-
xara seu posto para se juntar à multidão de homens reunidos em torno do
Padre Brian e seu barril. Quando Niall enfiou a cabeça para dentro, Ian ace-
nou para frente e se moveu ao longo da parede para as sombras.
Ele examinou o corredor mal iluminado, em busca de Sìleas. Havia
cinquenta homens MacKinnon no salão, contra seus quatro, mas quase não
havia mulheres e Sìleas não estava entre elas. Seu estômago se contraiu
quando ele percebeu que Angus e Murdoc também estavam ausentes da
sala.
Seus olhos voltaram para uma das mulheres. O que Dina está fazen-
do aqui? Seu olhar estava fixo nele. Seus músculos ficaram tensos, enquan-
to esperava por ela denunciá-los.
Após olhar em volta, Dina removeu a tocha do suporte de parede ao
seu lado e deixou cair sobre os juncos no chão. Então, ela encontrou os
olhos de Ian novamente e acenou com a cabeça em direção às escadas.
Ela estava dizendo que eles levaram Sìleas para cima.
Enquanto corria pela porta em arco para as escadas, os juncos já esta-
vam começando a queimar. A escadaria de pedra em espiral foi construída
no sentido horário para dar a vantagem para o defensor, que poderia balan-
çar seu braço da espada livremente, enquanto um atacante destro subindo
teria seu braço da espada apertado contra o meio da espiral. A vantagem era
perdida, no entanto, quando o atacante era treinado para lutar com as duas
mãos. Quando Ian correu até as escadas, ele mudou sua espada para a mão
esquerda.
Passos ecoaram acima dele. Um instante depois, um homem enorme
trombou nele, fazendo-os cair pelas escadas. Quando Ian viu que o homem
em cima dele era Angus MacKinnon, a raiva quase o cegou.

253
─O que fez com ela?─ Gritou ele. Angus era forte, mas lutava com
selvageria, lançando socos em pânico, como se fosse louco. Em um mo-
mento, Ian estava sentado no peito de Angus com o seu punhal na garganta
do homem.
─Eu perguntei o que fez com minha esposa. ─ Ian pressionou sua lâ-
mina contra a garganta de Angus, fazendo correr um fio de sangue.
─Eu vi o seu fantasma!─ Angus gritou. ─estava pairando sobre mim.
O coração de Ian parou no peito. Ele temia que Angus fosse estuprar
Sìleas, mas nunca pensou que ela seria morta.
Ele ouviu um som estranho não natural, e uma corrente de ar frio
passou sobre ele. Deus, não. Não deixe que ela esteja morta! Ian passou sua
adaga pela garganta de Angus e correu até as escadas.
Quando chegou ao andar de cima, a porta aberta em frente à escada
levava a um dormitório grande. Através dela, ele viu um homem debruçado
sobre a cama, o joelho nu de uma mulher, e um pedaço de tecido azul bri-
lhante que pairava sobre a lateral da cama. O azul era do mesmo tom que o
do vestido que Sìleas estava usando na última vez que a viu.
Ian foi tomado pela ira. Com um rugido, ele invadiu o quarto balan-
çando sua claymore.

CAPÍTULO 39

Murdoc apertava a sua mão sobre a boca de Sìleas enquanto ela luta-
va para sair debaixo dele. Ela não ouvia mais o choro da Dama Verde.
254
Mesmo o fantasma do castelo, a abandonara.
─Sua mãe era uma fraca─, disse Murdoc. ─ Foder com ela era ente-
diante. Mas uma moça animada como você vai certamente dar-me um filho
forte.
Murdoc, a soltou de repente quando um grito de guerra mortal resoou
pelo quarto como um trovão. O alívio caiu sobre ela.
Ian tinha vindo buscá-la.
Murdoc girou e puxou a espada com a rapidez do relâmpago. Apesar
de ter bloqueado a tentativa de Ian de chegar ao seu coração, o sangue es-
corria pelo seu braço, encharcando a manga de sua camisa. O barulho das
espadas encheu o quarto enquanto os dois homens se moviam de um lado
para o outro
Sìleas abraçou os joelhos ao peito, enquanto observava e rezava.
Ian parecia glorioso, com seu cabelo escuro voando, e seus olhos
azuis penetrantes como os de um falcão mergulhando do céu para matar. Os
músculos de seu corpo tensionavam e relaxavam conforme ele balançava a
pesada espada em mortais arcos rítmicos.
Por trás da violência controlada, ela sentiu a raiva pulsante de Ian.
Uma e outra vez, ele atacou, a lâmina cortando o ar com força letal. Outro
corte e sangue correu do topo da coxa de Murdoc, perto de sua virilha.
Outro, e seu ombro sangrou. No entanto, Murdoc revidava os golpes.
Ele era um homem forte e um guerreiro experiente, e estava lutando por
sua vida. Os homens grunhiam com o esforço de seus movimentos.
O sangue espirrou na cama quando a luta se aproximou. Quando
Murdoc caiu de costas contra a cama, ela se esforçou para sair do seu cami-
nho. Mas Murdoc estendeu o braço e ela gritou quando ele prendeu seu tor-
nozelo em um punho de ferro.
─Arrgh!─ Murdoc gritou quando a espada de Ian atravessou sua
barriga, prendendo-o à cama. Em rápidos lances sucessivos, Ian agarrou
Murdoc pelos cabelos, passou a adaga pela garganta de Murdoc, e puxou a
espada da barriga de Murdoc com um grande som de sucção.
Ian passou por cima do corpo de Murdoc e levantou Sìleas da cama
em seus braços. Ela segurou o pescoço dele com toda a sua força.
255
─Calma, calma. Eu estou aqui agora. ─Ele a acalmou com murmúri-
os suaves enquanto esfregava suas costas e beijava seus cabelos ─Eu vou
mantê-la segura.
─Ian! Temos de ir.
Ao som da voz profunda de um homem, ela se virou e viu o Padre
Brian na porta. A fumaça ondulava pela escada atrás dele.
─Depressa!─ o Padre gritou. ─O castelo está em chamas.
Ian levantou-a nos braços. Quando ele levou-a para fora, ela olhou
por cima do ombro para o quarto que tinha sido o lugar de tanto sofrimento
para sua mãe. A fumaça foi enchendo o quarto tão rapidamente que mal
conseguia ver o corpo de Murdoc no chão. A última coisa que ela viu desli-
zando através da fumaça foi o flash de um vestido verde pálido.
A fumaça era tão densa na escada que ela não conseguia ver o Padre
Brian à frente deles, mas ouviu-o tossindo. Seus olhos lacrimejaram, a gar-
ganta queimou. Quando chegaram embaixo, Niall e Payton estavam espe-
rando por eles dentro da sala.
Os dois estavam cercados pelos corpos de homens mortos.
Assim que Ian a pôs de pé, os quatro correram ao longo da parede
em direção a porta da frente da torre principal.
A fumaça não era tão espessa no corredor, porque o fogo estava alto
aqui. Tudo o que poderia queimar, como os juncos, mesas, bancos, estava
em chamas. Enquanto ela observava, as chamas subiram da mesa alta e
atingiram o teto de madeira.
Ela rezou para que Dina tivesse escapado, pois não havia mais nin-
guém na sala, apenas os mortos.
─Eu vou primeiro. Eles podem ter homens lá fora, prontos para nos
atacar quando sairmos ─, Ian avisou antes de abrir a porta.
Isso era o que ele teria feito, mas quando ele saiu, parecia que os
MacKinnons tinham abandonado o castelo completamente. O pátio estava
vazio salvo por Dina, uma cabra, e alguns poucos frangos.
─Devia ter visto Niall─, disse o pai, enquanto descia os degraus da
torre principal um de cada vez. Ele estava coberto de sangue e inclinava-se

256
sobre Niall em busca de apoio, mas estava sorrindo como se nunca tivesse
sido mais feliz.
─Ficamos juntos, com ele cobrindo meu lado fraco, e ele matou to-
dos os MacKinnon que se atreveram a chegar perto das escadas.
Ian apertou o braço em volta de Sìleas. Ele não podia juntar-se ao seu
bom humor pela vitoria. A visão de sua esposa pressionada em uma cama
com um homem de pé entre suas pernas, ainda estava com ele e provavel-
mente o assombraria seus sonhos por um longo, longo tempo.
─O Padre Brian era um espetáculo para ser visto─ Niall disse, rindo.
─Ele não queria usar uma espada ou um punhal, então ele derrubava os
MacKinnons batendo na cabeça deles com um suporte de castiçal de prata.
─Ficaram muito poucos deles para lutar, ─ o Padre Brian disse. ─En-
tre a náusea e o fogo, eles fugiram como coelhos.
─Dina e eu envenenamos a cerveja─ Sìleas disse em uma voz calma.
─Moças inteligentes─ disse o Padre, sorrindo para ela.
Enquanto os outros continuaram compartilhando histórias, Ian puxou
Sìleas contra seu peito e fechou os olhos.
Louvado seja Deus, ele a encontrara.
Seus olhos se abriram ao som de botas nas tábuas de madeira da pon-
te levadiça. Ele empurrou Sìleas para trás dele e puxou sua claymore pouco
antes de uma dúzia de homens correr através do portão.
─É Gordan, ─ Sìleas disse.
Ian relaxou sua postura quando ele viu que era, de fato, Gordan, e ele
estava levando um grupo de MacDonalds.
─Tomamos Knock Castle!─ Seu pai cumprimentou-os, levantando a
espada para o céu.
Os homens pararam entre a Torre principal que ainda queimava e o
pátio exterior vazio de MacKinnons e baixaram as armas, parecendo desa-
pontados.
─Eu só pude reunir uma dúzia de homens rapidamente,─ disse Gor-
dan, se aproximando deles.
─Sou grato a vocês por terem vindo─, disse Ian e viu a dor nos olhos
de Gordan quando viu Sìleas.

257
Gordan virou-se e fixou o olhar sobre a fumaça que saia pelas das
portas abertas do castelo.
─Eu pensei que você iria precisar de ajuda, mas posso ver vocês não
precisaram.
─Eu preciso de sua ajuda─, disse Ian.
Gordan voltou.
─Ótimo. O que quer que eu faça?
─Está quase anoitecendo, por isso vamos ter de ficar aqui durante a
noite, ─ disse Ian. ─Mas no período da manhã, eu preciso ir até minha casa
e levar Connor para o encontro. Pode guardar o castelo para mim por um
tempo?
─Aye. A casa da guarda não foi atingida pelo fogo, então podemos
dormir lá ─ disse Gordan. ─Vou enviar um homem à reunião amanhã à noi-
te para falar por todos os homens aqui. ─Seu olhar vagou sobre a torre
principal fumegante, novamente. ─Com tanta pedra, a torre não vai quei-
mar tempo. Vamos salvar o que pudermos, mas eu suspeito que não será
muito.
Ian pensou em todas as lembranças ruins que Sìleas tinha deste cas-
telo, que iria ser sua casa. Ele não queria manter uma única peça de mobi-
liário, roupa de cama ou tábua do assoalho.
─Os homens podem ficar com qualquer coisa que conseguirem sal-
var─, disse ele. ─Sìleas e vamos começar de novo.
Pela maneira como Sìleas apertou sua mão, ele soube que tinha to-
mado à decisão certa.
─ Tudo bem, moça?─ Seu sogro perguntou-lhe.
Enquanto Sìleas falava com seu pai e Niall, Ian chamou Gordan para
uma conversa em particular.
─Há outro favor que eu quero pedir a você ─, disse ele em voz bai-
xa.
Gordan olhou para o chão e chutou a sujeira com a ponta da bota.
─Você sabe que estou em debito com você depois do que minha mãe
fez.
─Pode cuidar de Dina depois que sairmos de manhã?─ Quando Gor-
dan ergueu a cabeça bruscamente, Ian acrescentou.

258
─Só até que eu possa encontrar alguém para cuidar dela.
─Ela é sua amante?─ Gordan sibilou, alargando as narinas. ─Eu dis-
se que estava em debito com você, mas não vou ajudá-lo a enganar Sìleas.
─Você me entendeu mal─, Ian disse, colocando a mão para cima.
─Nunca haverá outra mulher para mim, apenas Sìleas.
Os lábios de Gordan estavam pressionados em uma linha dura, mas
ele estava ouvindo.
─Eu duvido que nós tivéssemos saído vivos sem a ajuda de Dina─,
disse Ian. ─Eu não gostaria de deixá-la desprotegida. Pode vigiá-la e ver se
ela está segura?
Gordan olhou para Dina, que estava sozinha, protegendo-se contra a
chuva fina que tinha começado a cair.
─Ela cometeu erros─ disse Ian. ─Mas todos nós merecemos uma
chance de nos redimir.
─Sim, nós merecemos, ─ disse Gordan com um leve aceno de cabe-
ça. ─Eu vou mantê-la segura.

CAPÍTULO 40

Estava úmido e frio na casa da guarda, mas eles não passaram fome
naquela noite. Gordan trouxera peixe seco, bolo de aveia, queijo e o Padre
Brian –que deus o abençoasse- teve a presença de espírito para levar o bar-
ril de vinho para fora quando ele estava fugindo do fogo.
Após o jantar frio, o Padre Brian fez uma oração. Eles baixaram a ca-
beça para orar pelas vidas de Connor, Alex, e Duncan, e pela sobrevivência
de seu clã.
Enquanto os outros caíram no sono ou conversavam em voz baixa,
Ian encostou-se contra a parede com Sìleas, onde ele podia ver a porta. Ele

259
não tinha certeza se os MacKinnons não iriam voltar. Embora ele tivesse
fechado o portão e deixado alguns homens na muralha sob a chuva para
vigiar, ele não iria descansar facilmente esta noite. Ele não tinha homens
suficientes para proteger o castelo contra um ataque total.
Ele apertou o kilt em torno de Sìleas e beijou seu cabelo enquanto ela
descansava contra seu peito. Cada vez que ele pensava em quão próximo
ele tinha estado de perdê-la, sentia como se uma grande mão apertasse seu
coração.
─Há algo que eu preciso dizer-lhe ─ Sìleas disse em voz baixa.
O sangue bateu nos ouvidos de Ian quando ele preparou-se para ou-
vir o que ele sabia que seria insuportável. Mas ele devia aguentar e ser forte
por ela.
─Foi Angus ou Murdoc?─ Ele perguntou com a voz embargada. Por
mais que vivesse, ele nunca iria perdoar a si mesmo por ser tarde demais
para salvá-la de ser violentada.
Sìleas tocou os dedos em seu rosto.
─Não. Isso não aconteceu.
Será que ela mentiria para poupá-lo? Ele não queria pressioná-la ago-
ra. Quando eles estivessem a salvo, com muito tempo disponível para con-
versar, ele iria descobrir tudo o que tinha acontecido no castelo.
─Eu falo a verdade─, disse ela. ─Eu não tinha certeza você iria me
encontrar antes que um deles me estuprasse, mas você me encontrou.
O alívio o inundou. Os homens puseram as mãos sobre ela e a assus-
taram, mas pelo menos ela não tinha sofrido a pior violação.
─Eu nunca duvidei que iria salvar-me no final─, disse ela. ─Você
sempre me salvou.
Sua fé nele o impressionava. Ian ergueu sua mão e beijou-lhe os de-
dos.
─E amanhã, você vai se certificar de que Hugh Dubh não se torne
nosso laird─, disse ela com voz determinada. ─Você vai fazer isso pelo
nosso clã, por Connor, e por todos os outros. E você vai fazer isso por mim.
─Vou fazer o meu melhor.

260
─O que eu queria dizer a você é que Murdoc admitiu que tinha um
acordo com Hugh─ disse Sìleas. ─Hugh o deixaria ficar com o Castelo e
comigo em troca de assassinar Connor.
─Eu sabia─ disse Ian, batendo o punho no chão de terra. ─Prometo a
você, eu não vou deixar Hugh se tornar laird.
Ele mataria Hugh antes de deixar isso acontecer.
Ela deixou a cabeça cair contra o peito dele de novo.
─Eu quero ficar acordada só para sentir seus braços em volta de
mim─ ela disse com uma voz suave. ─Mas eu estou tão cansada que não
consigo manter meus olhos abertos.
─Shhh. Durma, mo chroí ─ ele murmurou, quando ela adormeceu
em seus braços.
Ian despertou os homens na primeira luz. Ele estava ansioso para le-
var sua esposa para um lugar mais seguro e ver como Connor e os outros
estavam. E não havia tempo de sobra. Os dias sombrios de novembro esta-
vam quase sobre eles; a celebração de Samhain começaria ao pôr do sol.
─Ian─ Niall chamado do portão. ─Venha ver isso.
Ian ouviu a urgência na voz de seu irmão e correu para se juntar a ele
sobre a ponte levadiça.
─Não─ disse Niall, apontando para o mar, onde três galeras de guer-
ra estavam navegando em direção à costa.
Droga, droga, droga. Ian olhou através da chuva, tentando ver quem
era. Sangue de Deus, o homem de pé na proa do navio da frente era nin-
guém menos que seu ex-carcereiro, Shaggy Lachlan Cattanach Maclean.
Por que Shaggy está vindo aqui? Com três navios carregados com
guerreiros, não parece ser uma visita amigável.
─Por Cristo!─ Ian disse: ─Eu não tenho tempo para lidar com um
bando de assassinos MacLeans esta manhã.
Ian se virou quando o Padre Brian se juntou a eles sobre a ponte le-
vadiça.
─Tenho certeza que você disse isto para pedir ajuda do Senhor, ao
invés de tomar o Seu nome em vão─ disse o sacerdote. ─Porque vamos
precisar de intervenção divina, isso é certo.
Na verdade, eles iriam, pois os Macleans estavam desembarcando.

261
─Rápido, preciso de cada homem em cima da muralha!─ Ian gritou,
enquanto ele corria para dentro. ─Cada um de vocês leve o escudo de um
dos mortos com vocês. Os Macleans estão chegando, e devemos fazê-los
acreditar que há mais de nós do que na realidade há.
Ele não se opôs quando Sìleas e Dina seguiram Gordan pela escada
carregando escudos. Se os homens de Shaggy entrassem, seria mais seguro
em cima da muralha.
─Estou indo até lá!─ Ian gritou para os outros.
A chuva e os escudos extras só enganariam Shaggy à distância, o que
significava que ele precisava a manter Shaggy na praia.
Shaggy era o tipo de homem que podia sentir o cheiro de fraqueza,
então Ian fez questão de andar como se tivesse todo o tempo do mundo en-
quanto caminhava até onde Shaggy e seus homens haviam desembarcado
seus barcos.
─Está um pouco longe de casa, não é, Shaggy?─, Disse ele, quando
chegou a eles.
Ian estava contente de ver que o jovem ao lado de Shaggy era Hec-
tor, seu filho mais velho. Hector tinha uma reputação de ser um pouco mais
sensível e mais confiável do que seu pai.
─Que tipo de tolo enfrenta três galeras de guerra cheias de homens
sozinho?─ Shaggy disse, olhando para ele sob suas sobrancelhas negras.
─Mas, então, ouvi dizer que os Douglas dizem que você é destemido ao
ponto da loucura.
Às vezes, as notícias viajavam mais rápido do que os homens nas
Highlands.
Ian deu de ombros.
─Eu sou apenas um curioso sobre o porquê de vocês estarem nave-
gando nessas águas.
─Eu estou procurando por aquele pequeno barco que você roubou de
mim─ disse Shaggy. ─Eu o não vi quando eu naveguei pela sua casa, então
eu ainda estou procurando.
Ian tinha a resposta para uma pergunta. Deve ter sido a visão de três
galeras de guerra de Shaggy na costa, que tinha enviado os MacKinnons

262
correndo para atacaram Connor e os outros. Ele não acreditava, no entanto,
que Shaggy tivesse vindo apenas por seu barco roubado.
─Eu não posso oferecer-lhe o tipo de hospitalidade que gostaria,─
disse Ian. ─Tivemos de queimar a torre no processo de tomar o castelo, de
modo que o calabouço não está em muito boas condições.
Shaggy avançou para ele, mas seu filho agarrou seu braço.
─Eu tenho uma proposta para você. ─disse Ian. ─E se não for tão
louco como eles dizem, você vai aceitá-la.
Hector puxou o seu pai de volta uma segunda vez.
─Vamos ouvi-lo primeiro, pai.
─Você apoiou o homem errado ao ajudar Hugh a assumir a chefia de
Connor. Nós escapamos do seu calabouço, e agora temos Knock Castle.
─Ian fez uma pausa para deixar Shaggy pensar, antes de dizer:
─ Eu sugiro que você mude de lado enquanto ainda pode.
Shaggy rosnou, o que Ian tomou como estímulo suficiente para con-
tinuar.
─Hugh ficou sentado enquanto os MacKinnons tomavam Knock
Castle, é por isso que você estava pensando que você poderia vir e tomá-lo
para si mesmo ─ disse Ian. ─Se temos um laird que não protege nossas
terras, então os MacKinnons e os MacLeods irão invadir-nos, o que será o
fim dos MacDonalds em Skye.
Ian parou por um longo momento.
─ Pense sobre o que os MacKinnons e seus mais poderosos irmãos,
os MacLeods, fariam se possuíssem toda Skye?
─Que me importa o que os malditos MacLeods fariam?─ Shaggy
disse.
Ian abriu as mãos.
─Se eles não tiverem que se preocupar com os MacDonalds em sua
porta, eles olharão para o sul de suas terras na ilha de Mull.
A partir do olhar de soslaio que Hector deu a seu pai, Ian suspeitou
que ele tinha dado a Shaggy precisamente o mesmo aviso. Qualquer ho-
mem com senso sabia que manter o equilíbrio era importante, com os ami-
gos, bem como com os inimigos. Nas Highlands, amigos se tornavam ini-
migos e o contrário também era frequente.

263
─Mas isso não vai acontecer, porque Connor será laird. ─ Ian cruzou
os braços como se ele não tivesse nada mais a fazer. ─Connor não é um ho-
mem que você deseje como seu inimigo. Então, se tem alguma intenção de
tentar tomar Knock Castle, é melhor reconsiderar.
Shaggy trocou olhares com seu filho.
─Hugh diz que vai se juntar à rebelião contra a Coroa─ disse
Shaggy. ─Connor também?
─Você não pode acreditar em uma palavra que Hugh diz. ─ Ian deu
de ombros. ─Eu não posso falar por Connor, mas ele vai fazer o que for
melhor para o nosso clã.
Shaggy fixou os olhos em Ian coçando o rosto através de sua barba.
Apesar da chuva e do vento frio soprando do mar, o suor escorreu nas cos-
tas de Ian. O tempo estava se esgotando. Ele estava ansioso para que os
MacLeans partissem para que ele pudesse ir encontrar Connor.
Ao mesmo tempo, ele inclinou a cabeça para trás como se estivesse
observando o tempo até que, finalmente, Shaggy falou.
─Connor ainda não se casou, não é?
Ian ficou tão surpreso com a pergunta que quase riu. Ainda assim,
não era difícil adivinhar por que Shaggy perguntava isso. Pelo número de
mulheres com quem Shaggy se casara e, em seguida, colocara de lado ao
longo dos anos, ele provavelmente tinha um monte de filhas para casar.
─Connor não é casado... Ainda─, disse Ian, balançando nos calca-
nhares, e desejando que o homem pegasse seus malditos barcos e fosse em-
bora.
─Se Connor se casasse com uma das minhas filhas, supondo que ele
se torne o seu laird, ─ Shaggy disse: ─Eu poderia ser convencido a deixá-lo
manter aquela galera como presente de casamento.
─Aquela galera é um barco, bem rápido─, disse Ian. ─Eu vou falar
com Connor sobre suas filhas.
─Diga a ele que ele pode usar a galera, quando ele for buscar uma
delas. ─ Shaggy mostrou os dentes tortos no meio de sua barba espessa, no
que Ian tomou por um sorriso.

264
─Quando Connor vier para o casamento, ─ Shaggy disse quando se
dirigia para o seu barco, ─vamos discutir sua posição sobre a rebelião.
Pobre Connor. Ele teria as mãos cheias quando se tornasse laird.
Se ele ainda estivesse vivo.
Assim que Ian entrou pelo portão, ele pegou o seu cavalo.
─Eu não posso não chegar Castelo Dunscaith antes da reunião co-
meçar, ─ ele disse a seu pai, enquanto montava.
─Pode adiar a cerimônia para escolha do laird até que eu possa che-
gar lá com Connor?
─O seannachie vai contar as histórias do clã desde os tempos antigos
até o presente─, disse o pai. ─Quando ele falar do pai de Connor, vou
acrescentar os meus próprios contos para homenagear meu velho amigo, e
eu vou incentivar os outros homens mais velhos a fazê-lo também. Vai ser
difícil para Hugh nos cortar. Enquanto isso, é melhor você correr.
─Eu vou com você─, disse Sìleas, estendendo a mão para ele.
─Ótimo. Eu quero você comigo. ─Ele a ajudou a montar em seu ca-
valo.
Da última vez, ele a deixara, pensando que iria mantê-la segura. Ele
não correria o risco de ser afastado dela novamente.
O que aconteceu hoje, eles teriam de enfrentar juntos.
Assim que os barcos arredondados de Shaggy deixaram a baía e esta-
vam fora de vista, Ian e Sìleas galoparam ao longo da ponte levadiça. O sol
era um círculo de luz cinza nas pesadas nuvens pela frente. Estava cho-
vendo, o que significava que havia uma chance razoável de Hugh não ver a
fumaça vinda de Knock Castle e saber que seus planos tinham falhado.
Ian estava contando com isso. Para ter alguma esperança de sucesso,
ele precisava da surpresa ao seu lado.

CAPÍTULO 41
─Você está um farrapo de homem como eu nunca vi─, disse Ian, in-
clinando-se sobre a cama para apertar o ombro bom de Connor. ─Mas nun-

265
ca pareceu melhor para mim.
Connor estava fraco e machucado, mas ele estava alerta.
─Ele não está pronto para ir a qualquer lugar ainda─, disse Ilysa, as
sobrancelhas franzidas. ─E o pobre Duncan está tão fraco quanto um gati-
nho.
Apesar da gravidade da sua situação, ele e os outros homens troca-
ram olhares divertidos. Mesmo ferido, apenas a irmã de Duncan poderia
compará-lo a um gatinho.
─E a perna ferida Alex ainda me preocupa muito,─ Ilysa disse, apon-
tando um dedo acusador para o ferido.
─Ach, todos nós vamos ficar bem─, disse Duncan, que estava tão
pálido que as sardas se destacavam em seu rosto.
─Voce acha que pode viajar?─ Ian perguntou a Connor. ─A reunião
está começando.
Aquela coisinha minuscula que era Ilysa se interpôs entre ele e Con-
nor e colocou as mãos nos quadris.
─Não pode estar querendo tirá-lo dessa cama, Ian MacDonald.
─Eu posso ir para o encontro,─ Connor disse entre os dentes, en-
quanto tentava sentar-se.
Duncan pegou o braço de sua irmã quando Ian foi ajudar Connor.
─Connor tem que ir─ disse Duncan. ─Todos nós temos.
O esforço para se sentar cansou Connor, ele estava ofegante e o suor
porejava na testa.
─Temos de ir, mas a questão é como─, disse Alex de seu banco do
outro lado do quarto minúsculo. ─Eu odeio admitir isso, rapazes, mas não
vamos semear o medo nos corações dos nossos inimigos em nossa condi-
ção presente.
Ian olhou para eles. Duncan e Alex tinha duas pernas boas entre eles
e um braço da espada bom, e era duvidoso que Connor pudesse ficar de pé.
─Alex está certo. Se Hugh nos vir desse jeito, ele vai matá-los antes

266
de entrarmos no castelo ─ Ian disse. ─Precisamos por os três lá dentro sem
que ninguém os veja.
─Temos duas coisas a nosso favor─, continuou ele. ─Primeiro, Hugh
não está esperando vocês, porque ele acha que estão mortos.
─E a segunda─ Sìleas disse, ─é que é a véspera de Samhain, então
podemos disfarçá-los.
Metade do clã estaria usando fantasias para imitar os mortos ou
afastá-los, Ian nunca tinha certeza.
─Podemos pintar nossos rostos de negro,─ Duncan sugeriu. ─Muitos
dos jovens fazem isso.
─Se eu chegar com três homens de seu tamanho e cor do cabelo, es-
pecialmente o seu, Duncan, temo que o rosto pintado de preto
não será suficiente para impedir que alguém adivinhe quem é.
Teàrlag, que estava curvada sobre algo fervendo na panela de ferro
sobre o fogo, se virou e falou pela primeira vez.
─Ilysa, eu ainda não entreguei as roupas da última pessoa que ajuda-
mos a enterrar. Elas devem servir,aye?
─Meu elegante irmão não vai gostar─, disse Ilysa, um sorriso lento
se espalhando sobre o rosto. ─Mas eu acredito que nós vamos mandá-los
para o castelo sem que ninguém os reconheça.
Ian conduziu a pequena galera deShaggy em torno da baía.Feliz-
mente, havia uma brisa leve e ele não teve que remar.
─Vocês está encantador─, disse Alex, sufocando o riso quando Dun-
can segurou seu gorro contra o vento. ─Temo que vai ser difícil manter os
homens à distância.
Duncan estava usando as roupas de uma famosa fofoqueira que tinha
morrido algumas semanas antes e que, felizmente, tinha sido enorme. Dun-
can e Alex tinham tirado a sorte pelo privilégio.
─Qualquer homem que me tocar vai encontrar a propria bunda─, dis-
se Duncan com um olhar azedo.
267
─Eu não quero ferir seus sentimentos, mas eu acho que você estará a
salvo de avanços indesejáveis─ disse Ian. ─Mas para um caso de necessi-
dade, espero que você tenha um punhal escondido sob suas saias.
─Hmmph─. Duncan bufou e olhou para o castelo.
Alex colocou uma das máscaras Teàrlag tinha feito a partir de reta-
lhos de pano para cobrir os machucados das faces deConnor e Alex.
─Eu odeio ter esconder a minha cara bonita, quando todas as moças
do clã estarão no encontro.
Connor estava deitado no fundo do barco, dormindo profundamen-
te. Mesmo que Ian o tivesse carregado a maior parte do caminho do chalé
de Teàrlag até a praia, a viagem até o barco tinha minado a pouca força que
tinha.
─Melhor acordá-lo agora─ disse Ian.
Duncan e Alex ajudaram Connor a sentar-se e Sìleas colocou sua
máscara para ele.
Ian não precisava esconder sua identidade, já que as pessoas espera-
vam que ele estivesse no encontro. De qualquer modo, ele manteve o boné
sobre os olhos enquanto guiava o barco até o ancoradouro do castelo. Mais
cedo,haveria uma fila de barcos à espera, mas a luz da tarde se foi, e à noite
tinha chegado
As tochas dentro do portão do mar brilhavam sobre o barco à frente
deles, apenas outro retardatário.
Ilysa havia retornado ao castelo mais cedo pela estrada, pois os alar-
mes poderiam ser disparados, se ela não estivesse lá quando fosse hora de
servir a comida para a reunião.
A água espirrou entre o barco e o atracadouro quando um dos guar-
das pegou a corda enrolada da frente do seu barco e amarrou-o a uma esta-
ca de ferro. Este foi o momento mais perigoso. Ian estava pronto para al-
cançar sua claymore e matar os guardas se fosse preciso.

268
O outro soldado era um sujeito pequeno e magro, que corajosamente
ofereceu a mão para Duncan.
─Você é bem grandona,não?
Duncan olhou como se estivesse indo matar o guarda ao invés de to-
mar a sua mão. Ach, isto ia ser um problema. Ian ficou tenso quando o
guarda virou a cabeça, deixando seu olhar vaguear sobre cada um de-
les. Quando seus olhos encontraram os de Ian, seu rosto abriu um largo sor-
riso que mostrava vários dentes perdidos.
─Sou Tait,─ o homem disse em voz baixa. ─Ilysa mandou-me para
ajuda-los aqui.
À luz das tochas atrás do guarda, Ian podia apenas vislumbrar Tait, o
homem que odiava Hugh por violar sua irmã.
─Posso lidar com este último barco e trancar o portão ─, Tait disse
para o outro guarda. ─Voce não quer perder a fogueira, não é?
Desta vez, quando Tait ofereceu sua mão, Duncan a tomou. O barco
inclinou quando Duncan ficou de pé na lateral, então subiu novamente
quando ele saiu.
─Fico feliz em vê-los aqui, rapazes─ Tait disse logo que o outro
guarda desapareceu nas as escadas. ─Aquele maldito Hugh Dubh esteve
desfilando ao redor do castelo durante todo o dia como um maldito galo.
Tait subiu para o barco para ajudá-lo com Connor. À medida que carrega-
vam Connor entre eles, Ian olhava por cima do ombro para ver Sìleas aju-
dando Alex.
─Neste momento, todos estarão no jardim para ver a fogueira─ dis-
se Tait.
Ian olhou para a longa escadaria, iluminado por tochas que cobriam
as paredes de ambos os lados. Infelizmente, eles teriam que subir e atraves-
sar a torre principal para chegar ao pátio exterior. Tudo o que estava abaixo
do nível do mar do castelo era a umida masmorra, um lugar que Ian espera-

269
va que não iriam ver por dentro esta noite.
Alex foi o primeiro, se virando bem o suficiente por conta própria.-
Duncan foi o próximo, arrastando a perna, com Sìleas pairando ao lado
dele.
─Eu acho que posso subir sozinho,─ Connor disse com uma voz
firme, mas um gemido escapou-lhe quando Ian e Tait o ajudaram a dar o
primeiro passo.
─Poupe a sua força─ disse Ian. ─Você vai precisar dela em breve.
─A verdade é que Hugh tem os seus homens de olho em você, Ian,─
Tait disse, enquanto avançavam lentamente atrás dos outros.
Ele estavam levando uma eternidade para subir as malditas escadas.
─Ele ouviu que alguns dos homens pretendem indicar o seu nome
para ser laird, agora que eles pensam que Connor está morto, mesmo que
não seja parente consanguineo do laird ─Tait disse.
─Por que acha que enfrentei tantas dificuldades para trazer Connor
aqui esta noite?─ Ian brincou.
Connor parou onde estava e se virou.
─Talvez voce deva aceitar, Ian. Não estou em forma para liderar o
clã.
─Não, você não vai me dar a tarefa de liderar esse miserável bando
de teimosos─ Ian disse, puxando Connor para o passo seguinte. ─Você é o
homem certo para ele. O único.
A fogueira de Samhain ardia no meio do pátio exterior do castelo, as-
sim como fizera duarante toda a vida de Sìleas. Parecia estranho, quando
tantas outras coisas tinham mudado.
Ninguém lhes deu uma segunda olhada quando se fundiram com as
sombras na parte de trás do círculo que se formara em torno do fogo. Mui-
tos na multidão usava roupas extravagantes ou lanternas feitas de nabos
ocos com rostos esculpidos para afastar os maus espíritos.

270
Algumas mulheres estavam jogando ossos ou assando nozes para
adivinhar com quem se casaria, o Samhain era uma data para adivinhações.
Muitas moças diziam aos seus namorados um sim ou não depois do
Samhain, dependendo do que os sinais revelaram esta noite.
As crianças estavam se divertindo como sempre faziam, mas Sìleas
sentiu a tensão por trás da folia dos adultos. Hugh tinha anunciado que iria
chamar todos os homens para fazer um juramento de lealdade a ele
antes que a noite terminasse.
─Quando entramos para a cerimônia, eu quero que você encontre
Ilysa e fique com ela─, Ian disse a ela em voz baixa. ─Ela saberá como sair
daqui, se as coisas se tornarem violentas.
─Está bem.─ Ela entendeu que iria ajudá-lo ao não ter que se preo-
cupar com ela quando chegasse a hora.
Ao som de flautas e tambores, todos voltaram sua atenção para
Hugh, que estava em frente da multidão com a grande fogueira atrás
dele.
─O Samhain é um momento em que nos reunimos para celebrar a
colheita final do ano e lembrar dos nossos mortos ─, disse Hugh, estenden-
do os braços.
─Sou grato pelas longas histórias que muitos de vocês compartilha-
ram em memória de meu querido irmão que partiu. ─disse ele, enfatizando
“longas e muitas”, com um olhar em direção a um grupo de homens mais
velhos que incluía o pai de Ian. ─Mas o Samhain é também quando marca-
mos o início de nosso Ano Novo. E neste Samhain, também celebraremos
o início de uma nova era para o clã MacDonald de Sleat.
Sìleas bateu o pé. Hugh estava em boa forma hoje à noite.
─Eu coloquei um lugar na mesa principal para o meu irmão morto e
meu sobrinho Ragnall, como é nossa tradição, por isso seus espíritos po-
dem se juntar a nós para esta noite especial de Samhain.

271
Sìleas pensou que falar de seu ex-laird era corajoso da parte de
Hugh, pois maioria dos membros do clã sabia Hugh tinha se ressentido de
seu irmão desde o dia em que nasceu. Ainda assim, os laços de sangue
eram respeitados nas Highlands.
Hugh colocou a mão sobre o coração.
─Eu sei que meu irmão ficaria feliz em me ver tomar o seu lugar
como laird.
Alex e Duncan engasgaram. Hugh olhou em sua direção, mas eles
estavam protegidos pelas sombras.
─Agora é o momento para todos nós deixarmos de lado nossa triste-
za, mesmo sendo difícil ─ Hugh disse: ─e jurar fidelidade ao seu novo
laird.
─Será que ele pensa que pode simplesmente evitar uma votação?─,
Ela sussurrou para Ian.
─Sim, mas os homens não gostam disso.
Pelos murmurios ao redor deles, ficou claro que Ian estava certo.
─Nós vamos ter a nossa festa, logo que os juramentos forem feitos─,
disse Hugh. ─Para o salão!
─Movimente-se entre os homens e esteja pronto─, Ian disse a
Tait.Então ele se virou para Connor e os outros.
─Não deixem ninguém ve-los até que eu dê o sinal.
─Gra mo chroí,─ Ian disse a Sìleas, e apertou a mão dela antes de
desaparecer na multidão. Amor do meu coração.
Sìleas esperou com os três homens até a maioria da multidão estar lá
dentro. O barulho das vozes era alto no salão quando eles entraram e en-
contraram um lugar para ficar contra a parede traseira.
Ela se inclinou para frente e olhou para os três. Eles pareciam um
estranho, mas comum trio de bêbados, dois homens com máscaras de
Samhain e uma mulher enorme com um grande chapéu, encostados à

272
parede e segurando um ao outro para apoiar-se.
Connor levantou a máscara e se inclinou para falar em seu ouvido.
─Você não deve ficar perto de nós agora, quando as coisas
estão chegando ao ponto alto.
Sua voz soou mais forte do que antes, e ele estava de pé. Isso era
bom. Ela apertou seu braço e foi se juntar a Ilysa e Beitris, que estavam em
pé com as outras mulheres.
Ela tinha uma boa visão de Hugh, que estava sentado na cadeira do
laird sobre uma plataforma elevada em uma extremidade do hall.
Ela não conhecia os homens mal-encarados que estavam de cada
lado dele, mas achou que fossem companheiros de seus tempos de pirata-
ria. Eles olhavam para a multidão, como se estivessem ansiosos para forçar
o juramento de qualquer homem que não o fizesse de bom grado.
─Quem quer a honra de ser o primeiro?─ Hugh gritou.
O salão ficou em silêncio enquanto todos esperavam para ver quem
seria o primeiro a se apresentar. A multidão suspirou audivelmente quando
Ian entrou no espaço que havia sido deixado na frente de Hugh e os guar-
das ao lado dele.
─Bem, voce tem mais juizo do que eu pensava, Ian Aluinn─, Hugh
disse, usando o apelido que as mulheres haviam dado anos atrás a Ian em
uma tentativa de ridicularizá-lo.─Eu pensei que meus homens teriam de
‘convencê-lo’ a fazer o correto.
Em vez de dobrar o joelho para prestar o seu juramento, Ian se virou
para a multidão. Havia fogo em seus olhos, e ele ficou com as pernas aber-
tas como se estivesse pronto para lutar com meia dúzia de homens de uma
só vez, o que ele provavelmente estava.
Ach, seu marido era de tirar o fôlego.
─É a nossa tradição permitir que os homens falem antes da seleção
de um novo laird,─ Ian disse em uma voz que atingiu todos os cantos do

273
salão. ─Eu pretendo falar.
Um murmúrio alto de acordo levantou-se da multidão.
Hugh tamborilou os dedos no braço da cadeira, como se estivesse
louco para dar a ordem para executar Ian.
Mas Hugh não era tolo. Ficou claro a partir da reação à declaração de
Ian que o clã esperava que ele seguisse as tradições, mesmo se eles acredi-
tassem que o resultado estava certo.
─Se voce acha que deve, então fale. ─ disse Hugh fazendo um gesto
impaciente com a mão. ─Mas como eu sou o único homem aqui com o
mesmo sangue do laird, não vejo muito sentido nisso.
Ian se virou para olhar por cima do ombro para Hugh.
─Tem tanta certeza que meu tio não deixou outro filho ou dois que
você não conhece?
Houve uma explosão de riso masculino ao redor da sala, pois todo
mundo sabia que seu laird, como seu pai antes dele, levara para a cama inú-
meras mulheres ao longo dos anos.
─Mas não, eu não vim perturbar a noite para contar-lhe sobre um
novo pretendente a chefia.─ Ian ergueu o punho no ar. ─Eu vim aqui para
dizer que eu tomei Knock Castle de volta dos MacKinnons!
A sala tremeu quando homens acenaram seus claymores, e a multi-
dão gritou sua aprovação. Hugh se levantou e levantou as mãos pedindo si-
lêncio, mas levou algum tempo antes que ele pudesse ser ouvido.
Após os aplausos cessarem, Hugh disse:
─ Dizer que tomou o castelo não torna isso verdade.
Sìleas ficou surpreso ao ver Gordan emergir da multidão para ficar
ao lado de Ian na frente. Suas roupas estavam cobertas com a fuligem, e ele
parecia como se tivesse cavalgado duro para chegar aqui.
─A maioria de vocês sabe que eu tive minhas diferenças com Ian,─
disse Gordan. ─Então, podem confiar na minha palavra quando eu digo que
ele tomou Knock Castle ontem.
274
Alguns homens gritaram, mas Gordan levantou a mão para sinalizar
que ele não estava convencido.
─ Shaggy Maclean está navegando nas redondezas, por isso espero
que alguns de vocês vão se juntar a mim em Knock Castle pela manhã. Nós
não queremos perdê-lo para os MacLeans depois que acabamos de tomá-lo
de volta dos MacKinnons.
O salão estava cheio novamente com gritos e espadas erguidas ao
alto. Seu discurso feito, Gordan deu um aceno de cabeça e voltou para a
multidão.
─Este é um dia de orgulho, de fato, para os MacDonalds de Sleat.─
Hugh falou como se ele fosse responsável pela vitória, embora todos sou-
bessem que ele ficou parado, enquanto os MacKinnons tomavam Knock
Castle.
Todos os olhos, no entanto, estavam em Ian, que ganhou a atenção da
platéia. Ele caminhou os poucos metros para a mesa elevada, onde os dois
lugares havia sido reservados para os mortos.
─Antes de escolher um laird novo,─ Ian disse, em voz lenta e delibe-
rada ─ devemos resolver a questão da morte do nosso último laird e de seu
filho, Ragnall.
Um arrepio atravessou o salão a sua menção aos mortos, pois o véu
era fino entre os mortos e os vivos no Samhain. Sìleas quase podia ver o
laird e Ragnall, grandes, musculosos, de cabelos louros e expressão dura,
ladeando Ian.
─Aqueles de nós que estavam em Flodden sabemo que aconteceu─,
disse Hugh, seus rígidos olhos cinzentos varrendo a multidão. ─Enquanto
Ian estava bebendo bons vinhos e divertindo-se com as senhoras na França,
nós estavamos sendo abatidos pelos Ingleses!
Ian esperou o murmúrio que se seguiu cessar. Então, em uma voz
embargada pela raiva, ele disse:

275
─Nosso laird e seu filho não foram abatidos pelos Ingleses.
O sangue fugiu do rosto de Hugh, e ele olhou para Ian boquiaberto,
antes que ele se contivesse e fechasse a boca. A multidão estava em um si-
lêncio atordoado.Ian esticou o braço, apontando para Hugh, e gritou com
uma voz que ecoou pela sala.
─Eu o acuso, Hugh Dubh MacDonald, de assassinar o nosso laird e
seu filho em Flodden!
A multidão estava em alvoroço.
Hugh tentou falar várias vezes antes que pudesse ser ouvido.
─Eu lutei em Flodden─ disse ele, apertando os punhos e fixando os
olhos assassinos em Ian. ─Como ousa me acusar do mais vil crime, quando
me afundei em sangue escocês até os meus tornozelos, combatendo, en-
quanto você abandonou o clã na nossa hora de necessidade.
Hugh virou-se e gritou para os guardas:
─Prendam-no!
Sìleas engasgou e começou a avançar, mas Beitris e Ilysa a segura-
ram.
Então a voz de Tait veio do outro lado do corredor.
─Vamos ouvir o que Ian tem a dizer!
Vários outros o seguiram, gritando:
─Sim! Deixe-o falar! Deixe-o falar!
Hugh levantou a mão como se para interromper os seus guardas, ape-
sar de terem sido lentos para seguir as suas ordens.
─É fácil fazer acusações─, Hugh disse a Ian, ─sem nada para apoiá-
las.
─Mas eu tenho provas.─ Ian fez uma pausa, dando tempo a todos
para acreditar em suas palavras, antes que ele dissesse: ─Eu peço ao meu
pai, Payton MacDonald, para vir para a frente.
Sìleas apertou as mãos de Beitris e Ilysa quando Payton caminhou
para a frente da sala. Apesar de coxear e de seu cabelo grisalho, ele ainda
era um homem formidável, com ombros poderosos e cicatrizes de batalha
276
no rosto e nas mãos. Seu coração explodiu de orgulho de ver pai e filho,
homens bons e honrados, de pé juntos na frente de seu clã.
─Pai─, Ian disse: ─pode dizer-nos quais homens do nosso clã luta-
ram perto você na batalha.
─Eu lutei do lado esquerdo do nosso laird e Ragnall lutou à sua di-
reita, como sempre fizemos─, disse o pai. ─Nós estavamos na frente de
novo, como sempre.
Houve um estrondo de concordancia entre os homens, pois eles sabi-
am que os três sempre lutaram assim.
─E quem estava atrás de vocês?─ Ian perguntou.
─Desta vez, eram Hugh Dubh e alguns de seus homens.
A resposta de Payton provocou um murmúrio na multidão, embora
Hugh estar por trás dos homens que foram mortos não provava nada em si
mesmo.
─Pode nos dizer como o laird e Ragnall foram mortos?
Payton balançou a cabeça.
─Eu não vi quem lançou os golpes, mas eles vieram de trás de
nós. Eu fiquei intrigado com issso desde então.
O salão estava tão silencioso que Sìleas podia ouvir sua própria res-
piração.
─Os Ingleses vieram para cima de nós com tudo e estávamos lutando
por nossas vidas─, disse Payton. ─De qualquer modo, eu não sei
como os soldados ingleses poderiam ter chegado atrás de nós, sem perce-
bermos.
Ian deu de ombros.
─No calor da batalha, não se consegue ver tudo.Mas nós três sempre
lutamos juntos. Protegiamos as costas um do outro. Sou capaz de compre-
ender um de nós não ver um soldado Inglês se esgueirar por trás de nós,
mas nenhum de nós perceber issso? ─Payton balançou a cabeça ─Não, isso
não parece possível.
277
Vários homens grunhiram de acordo, os três homens tinham sido co-
nhecido como lutadores notáveis que sobreviveram a muitas batalhas quan-
do os outros não conseguiram.
─Nós três fomos atingidos quase no mesmo momento─, disse Pay-
ton. ─Eu vi o nosso laird cair para a frente ao mesmo tempo em que eu
ouvi Ragnall gritar. Antes que eu pudesse chegar a qualquer um deles, eu
levei uma pancada na parte de trás da minha cabeça.
─Na parte de trás, de trás,─ Ian repetiu. ─Não sabe quem o feriu,
pai?
Payton balançou a cabeça.
─Eu acordei uma quinzena mais tarde, na cama, sem uma perna.
─Esta é a prova?─ Hugh interrompeu, levantando os braços. ─É uma
pena que o meu irmão e Ragnall tenham morrido em Flodden, mas você
está desperdiçando o nosso tempo revirando o passado.
Ian apontou para três homens mais velhos na frente.
─Vocês diriam já ter lutado contra os ingleses e outros Highlanders
vezes suficientes para saber a diferença entre suas armas?
─Não seja idiota─disse um deles. ─Claro que sabemos.
─Então, pode dizer-nos que arma fez a cicatriz na parte de trás da ca-
beça do meu pai?
Payton tirou o boné e se virou. Sua cabeça foi raspada em torno de
um ferimento de cinco polegadas.
─Sorte sua que quem fez isso o atingiu apenas com a ponta de sua
espada, ou você seria um homem morto─, disse um deles─Seu movimento
para chegar ao laird e Ragnall quando foi atacado provavelmente foi o que
o salvou.
─Pode dizer que tipo de espada que era?─ Ian perguntou.
─Isso foi feito por uma claymore e não por uma espada inglesa─,
disse o homem, e os outros dois concordaram com a cabeça. ─Vê a es-
pessura do corte? Sim, isso foi feito por uma claymore.
278
O barulho na sala era ensurdecedor até Ian levantou as mãos pedindo
silêncio.
─Temos muitos inimigos entre os clãs, e a maioria deles estava lá na-
quele dia─, disse Hugh. ─Nosso laird era meu irmão, e Ragnall, meu sobri-
nho. Eu nunca levantei a minha mão contra o meu próprio sangue.
─ Connor não é seu próprio sangue?─ Ian disse, andando em dire-
ção Hugh com as mãos em punhos cerrados. ─Por que não diz aos mem-
bros do nosso clã o que fez com Connor?
─Eu não coloquei os olhos sobre Connor em mais de cinco anos.─
─Eu sei o que você fez─, disse Ian, seus olhos eram estreitas fendas
azuis.─Primeiro, pediu a Shaggy Maclean para matar nós quatro antes che-
garmos a Skye. Mas nós o surpreendemos, quando escapamos do calabou-
ço de Shaggy.
Hugh começou a falar, mas Ian gritou acima dele.
─Então vos fez um pacto com o maldito Murdoc MacKinnon.Você
disse que ele poderia ficar com Knock Castle e com minha esposa em troca
de assassinar Connor.
Cada homem na sala estava imaginando porque Hugh não lutara por
Knock Castle, Ian tinha acabado de dar-lhes uma explicaçãoplausivel.
─Você é um mentiroso─disse Hugh, mas o suor estava escorrendo
em sua testa.
─Murdoc MacKinnon admitiu a traição à minha esposa.
─Uma mulher irá dizer o que ela acha que voce quer ouvir.─ O olhos
de Hugh correram ao redor da sala. ─O que eu acho que aconteceu é que
Connor e os outros dois decidiram voltar para a França logo após o quatro
virem para casa.
─Então por que você espalhou a noticia que eles foram assassina-
dos pelos MacKinnons?─ Ian perguntou.
─Quer que eu chame Connor, Alex, e Duncan para nos contar a his-
toria?
279
O som alto, doce de uma flauta começou no fundo do salão, fazendo
todo mundo virar e olhar. No fundo da sala, estavam Connor, Alex, e Dun-
can, sem os disfarces.Os homens arfaram e mulheres afastaram as saias
para deixá-los passar quando os três caminharam para a frente.
─É Samhain, tio ─ gritou Connor. ─Está preparados para encontrar
os mortos?
Os olhos de Hugh se arregalaram, e ele fez um som abafado, enquan-
to seus homens se benzeram e se afastaram. Embora os três homens man-
cassem e os seus rostos estivessem machucados, não havia dúvida de que
estes eram guerreiros valorosos.
─Devia ter me matado você mesmo─, disse Connor, quando ele che-
gou a frente de seu tio. ─Só um tolo confiaria em um Maclean ou MacKin-
non para uma tarefa tão importante.
Quando vários membros do clã cercaram Hugh, ele olhou para seus
guardas para protegê-lo. Mas os homens de Hugh, que como piratas eram
conhecidos por desaparecer nas névoas para evitar a captura, tinha desapa-
rescido na multidão. Em um instante, Hugh foi desarmado e arrastado para
o lado.
Todos os olhos na sala stavam fixos sobre os quatro guerreiros high-
landers que tinham regressado de França. Apesar de seus ferimentos, eles
eram homens fortes em seu apogeu, uma nova geração de homens Mac-
Donald, prontos para tomar seu lugar como lideres e protetores de seu clã.
O pai de Ian começou a bater sua bengala ritmicamente no chão de
pedra. Imediatamente, outros começaram a pisar e bater palmas ao mesmo
ritmo. Clap,clap,clap,clap. Vozes profundas encherama sala, gritando, ba-
tendo os pés e as mãos.
─Laird! Laird! Laird!
Connor se adiantou e levantou os braços, enquanto a multidão rugiu
mais alto e mais alto, proclamando-o como sua escolha.

280
Foi um milagre Connor conseguir ficar de pé sozinho, mas ele conse-
guiu. Sìleas não achou que a multidão percebeu quando ele começou a
cambalear, mas Alex e Duncan mancaram para a frente para ficar em cada
lado dele.Ian estava um pouco distante, seus olhos procurando o corredor
até que ele a encontrou.
Eles haviam conseguido. Connor seria o laird seguinte do clã Mac-
Donald de Sleat.
Ian se sentia como se um grande peso tivesse sido tirado de seus
ombros, um peso que ele tinha carregado desde o momento ele soube da
calamidade em Flodden. Ele se redimiu salvando o seu clã do desastre cer-
to.
A luta não acabou. Hugh ainda tinha alguns aliados, alguns no salão
e outros, que sairam do castelo em meio ao caos. Eles teriam de ser puni-
dos, eventualmente, mas não poderiam causar mais problemas
hoje à noite.Ian queria compartilhar esse momento com Sìleas. Sorrindo,
ele se virou para olhar para ela.
Seu coração encheu-se quando a viu, porque ela estava sorrindo para
ele, os olhos brilhando.As pessoas sairam do seu caminho quando ele em-
purrou a multidão em direção a ela. De repente, seu olhar mudou para algo
atrás dele, e ela gritou.
Ele virou a tempo de ver um flash de aço atrás de Connor, Alex, e
Duncan, onde os homens estavam segurando Hugh. No meio do júbilo tu-
multuoso, ninguém pareceu notar quando um dos homens que segurava
Hugh caiu no chão com sangue jorrando de sua garganta. Um momento
depois, o segundo homem se dobrou, com o sangue escorrendo entre os lá-
bios.
Nem ninguém ouviu o grito de de advertência de Ian quando Hugh
puxou a adaga do homem morto de seu cinto. Ian já estava atravessando a
multidão, correndo para chegar até Connor antes de Hugh.

281
Embora Ian estivesse correndo tão rápido quanto podia, ele via tudo
com clareza penetrante, como se o tempo tivesse ficado mais lento.
Ele viu cada pessoa que abria caminho para ele, Duncan batendo
palmas, a cabeça de Alex jogado para trás enquanto ria e Hugh se movendo
com a adaga apontada para as costas de Connor.
─Não!─ Ian gritou, quando ele deu os três ultimos passos de uma
corrida contra a morte e voou pelo ar.
Ele sentiu a ferroada de uma lâmina passando de raspão por suas cos-
tas quando ele caiu no chão em cima de Connor com um baque sur-
do. Quando ele olhou para cima, já com sua adaga na mão, Duncan e Alex
estavam segurando Hugh acima dele.
Gritos ecoaram pelas paredes, e cada adaga e claymore no salão foi
desembainhada.
─Eu agradeço por salvar minha vida─, resmungou Connor por baixo
dele. ─Mas poderia sair de cima de mim agora? Eu sinto como se um cava-
lo tivesse caido sobre mim.
─Espero não ter aberto nenhuma de suas feridas─, disse Ian, enquan-
to se levantava. ─Ach, pelo sangue parece que que sim.
─O sangue é seu desta vez─, disse Connor após Ian ajudá-lo a se le-
vantar. ─Vire-se de costas e vamos ver a gravidade com que ele
o feriu.
─Eu nem mesmo sinto isso─, Ian disse, olhando por cima do ombro
para sua camisa ensanguentada.
─Connor, o que voce quer que façamos com esse assassino?─ Alex
perguntou, e chacoalhou Hugh.
─Meu pai era um grande laird, e meu irmão Ragnall teria sido me-
lhor ainda ─ Connor disse, olhando para seu tio. ─Você privou o clã de sua
liderança.
Ian pensou que Connor seria um laird melhor do que qualquer um

282
deles, mas não era o momento de dizer isso.
─Você não tem a dureza que é preciso para ser laird─, Hugh
cuspiu.─Seu pai tinha pelo menos isso.
─Eu não vou estragar a festa de hoje à noite com uma execução
Hugh, mas faça suas orações, por que você vai morrer pela manhã . Connor
virou-se para vários membros do clã que estavam por perto.
─Leve-o para o calabouço. Ele é escorregadio, então vigie-o de per-
to.
O barulho na sala era ensurdecedor quando homens carregavam Con-
nor em volta da cadeira do laird. Na esteira da revelação do assassinato de
seu ex-laird, a escolha do clã era clara. Isso não queria dizer que ninguém
tinha dúvidas sobre a liderança de Connor, mas nenhum deles as expressa-
ria hoje à noite.
Eles escolheram Connor, porque ele era filho de seu pai e irmão de
Ragnall, porque ele não era Hugh. A maioria dos membros do clã não co-
nhecia a coragem de Connor ainda. Com o tempo, ele iria revelar-se a eles.
Uma vez que eles o conhecessem como Ian, eles seguiriam Connor
por causa do bom homem que ele era e do grande homem que ele estava
destinado a ser.
Por esta noite, Connor e o clã estavam seguros. As comemorações
iriam continuar durante a maior parte da noite, mas Ian não tinha necessida-
de de ficar até o fim. Ele tinha mais uma coisa que deve fazer para compen-
sar o passado, uma última etapa para se redimir com a pessoa que mais im-
portava.
Ele encontrou Sìleas dando cotoveladas para abrir caminho através
da multidão de homens aglomerados na frente. Quando ela sentiu seu
olhar, ela lhe deu um largo sorriso, como antes. Depois de todas as manei-
ras que ele falhara com ela , seu sorriso era um pequeno
milagre, um presente que esperava ganhar sempre.

283
Ele levantou-a nos braços e levou-a para fora do salão.
A maioria dos convidados iria dormir no chão do salão esta noite,
mas Ian pretendia usar um dos poucos quartos. Connor lhe devia isso.

CAPÍTULO 42

Assim que a porta do quarto se fechou atrás deles, ele puxou Sìleas
para seus braços. Ele enterrou o rosto em seu cabelo e respirou o cheiro fa-
miliar de seu cabelo e pele.Enquanto ela estava em perigo, todo o foco dele
era em resgatá-la. Então ele teve que voltar sua mente para a viagem de
Connor para a reunião e em torná-lo laird.
─Eu quase perdi você.
Só agora que suas tarefas foram concluídas e os perigos passados, foi
plenamente atingido. Seus joelhos enfraqueceram com a idéia de quão per-
to estivera disso. Ele correu as mãos sobre ela para se assegurar de que ela
estava inteira.
─Eu deveria ter impedido Murdoc de levá-la─, disse ele.
─Ian, você não pode se culpar por tudo o que acontece.─ Sìleas re-
costou-se e olhou para ele com seus honestos olhos verdes. ─E você me
salvou.
─Eu falhei com você tantas vezes, a começar pelo dia encontrei-a
fora do túnel e não acreditei que estava em perigo ─, disse ele. ─Eu nunca
deveria ter deixado você, para lidar com tudo sozinha enquanto eu ia para a
França.Eu não sei como dizer o quanto estou triste por tudo isso.
─Você voltou para casa justamente quando mais precisávamos ─,
disse ela, tocando seu rosto. ─Se vocês tivessem ficado aqui, poderiam ter
sido mortos em Flodden com o resto deles. E onde estaríamos agora sem

284
você? Seu pai ainda estaria deitado na cama destilando veneno sobre Niall,
Hugh seria laird, e eu provávementel estaria casada com Angus.
O pensamento das mãos de Angus sobre ela enviou uma onda de fú-
ria fria através dele. Se ele pudesse matá-lo novamente, mataria.
─Eu não sei como voce pode me perdoar.
─Não sabe por que esperei cinco longos anos por você, MacDonald
Ian?─, Ela perguntou com um leve sorriso iluminando seu rosto.
Era uma maravilha para ele que ela tivesse esperado.
─É porque eu sempre soube que era especial. Eu consegui ver isso
em você desde que era criança. Mesmo quando voce errava, eu acreditava
no rapaz que tinha muita coragem e bondade em seu coração. Eu sabia o
homem que poderia ser.
Ele embalou seu rosto na mão. Sentiu uma imensa gratidão por sua
fé nele, pela menininha que confiara nele para salvá-la de todos os contra-
tempos, pela brava garota de 13 anos que jogou seu destino em
suas mãos sem pensar duas vezes. E acima de tudo, pela mulher que espe-
rava que ele voltasse, e que, quando ele falhou outra vez, deu-lhe mais uma
oportunidade para provar a si mesmo.
Ele tinha vindo para casa procurando apenas expiação, e que ela lhe
dera foi o milagre do amor.
─Eu vou fazer o meu melhor para ser o homem que acredita que eu
sou.
─Você já é ─, disse ela.
Ele sentiu uma forte necessidade de fazer amor com ela, para lhe
mostrar o quanto se importava. Mas ela precisa de tempo, depois do que ela
havia passado. A imagem de Murdoc entre as pernas dela ficaria com ele
por muito, muito tempo. A lembrança devia ser muito pior para ela.Será
que algum dia esmaeceria o suficiente para que ela o quisesse novamente?
─Deixe-me ajudá-la a ir para a cama, mo chroí. Você precisa descan-
sar ─disse ele. ─Mas, se você puder suportar meu toque, eu gostaria de
285
dormir segurando você em meus braços.
Ele queria muito mais do que isso, mas apenas roçou os lábios na tes-
ta dela.
Ele já estava duro com o desejo antes que ela deslizasse os braços ao
redor de seu pescoço. Quando ela se na ponta dos pés e inclinou-se para
ele, ele se controlou e deu-lhe um beijo casto. Mas quando ela o puxou
para baixo em um beijo profundo, empurrando a língua em sua boca com
uma urgência que fez o sangue correr mais rápido em suas veias, ele era um
homem perdido.
Finalmente, ele se obrigou a parar o beijo.
─Você não tem que fazer isso para me agradar. Você deve desc...
─Eu o desejo desesperadamente─, ela o interrompeu, puxando-o
pelo peito da camisa. ─Não ouse me dizer que eu devo descansar.
Ian confiava em sua esposa para saber o que ela queria.
Sìleas precisava dele para fazer amor com ela para enxugar o medo
que a atingira desde que Alex irrompeu em casa sangrando na manhã ante-
rior. Ela mantinha uma aparencia corajosa maior parte do tempo, mas ela
temia o estupro a degradação e a morte, ela temia pela vida da família de
Ian e pelos amigos dele, que eram agora a sua família e amigos. E acima de
tudo, ela temia morrer e nunca ver Ian novamente.
Ela se sentia desesperada para abraçá-lo, senti-lo dentro dela e ao seu
redor. Eles caíram da cama, beijando e correndo suas mãos um sobre o ou-
tro como se eles nunca fossem ter chance de de fazer isso outra vez, algo
que quase tinha acontecido. Eles rasgaram a roupa um do outro até que fi-
nalmente estavam pele contra pele. Mas não era o suficiente.
Ela precisava sentir seu peso sobre ela. Quando ela puxou seus om-
bros, ele rolou para cobri-la. Ela fechou os olhos e respirou profundamen-
te. Era como se ela precisasse senti-lo pressionando-a, tocando-a da cabeça
aos pés, para acreditar que ele estava realmente aqui com ela.

286
Ela finalmente se sentia segura .
E ela o desejava como nunca desejou antes. Ele deslizou as mãos en-
tre suas pernas e gemeu quando descobriu o quão molhada ela estava para
ele.
─Eu preciso de vocês dentro de mim─ ela disse, sua voz saindo rou-
ca. ─Eu preciso da nossa união.
Quando ele tocou a entrada do sexo dela com a cabeça do seu mem-
bro, estremeceu com o esforço para não mergulhar nela. Mas quando Sìleas
abraçou as pernas em torno dele, ele fez o que eles tanto queriam. Ela ofe-
gou quando Ian mergulhou profundamente dentro dela.
Por um longo momento, eles ficaram parados, e ela se deliciaou com
a intensidade da sensação de senti-lo dentro dela, e a antecipação do seu
próximo movimento.
─Mo chroí.─ Ele segurou a cabeça dela entre as mãos e beijou-lhe
as pálpebras, as bochechas, o cabelo. ─Acaso sabe o quanto eu amo você?
─Sei.─ Ela sabia agora. Seu amor brilhava em seus olhos, sua voz,
seu toque. Era tudo ao seu redor, envolvendo-a em seu calor.
Valeu a pena esperar pelo coração de Ian. Valera a pena esperar por
Ele.
Com seus olhos fixos nos dela, ele começou a se mover lentamente
dentro dela. A bolsa que guardava o cristal que ela lhe dera, ele arrastou
sobre o peite dele como se conectando seus corações enquanto ele se movia
sobre ela ritimadamente. Sua respiração era irregular, e os músculos de seu
rosto tensos pelo esforço.
─Mais forte!─ Ela arqueou as costas e o puxou pelos ombros,aper-
tando-se contra ele. Ela se agarrou a ele com toda sua força e amor.
─Mo shíorghrá ... mo shíorghrá ...
Ele sussurrou as palavras carinhosas enquanto se movia dentro dela,
mas ela se sentia muito emocionada para falar. Lágrimas escorriam pelos

287
lados do rosto, as emoções muito fortes para conter. Ian capturou sua boca
e engoliu seus gritos quando eles se fundiram em uma explosão de fogo
branco.
Ian rolou com ela até que Sìleas ficou deitada em cima dele. Seu co-
ração batia descontroladamente em seu ouvido, e sua mão
tremia quando ele afastou o cabelo de seu rosto.
─Nós somos um só─, disse ele. ─Nós sempre seremos.
A luz cinzenta da madrugada estava entrando pela janela estreita
quando ela acordou. Ian estava atrás dela, seu braços sobre ela e uma mão
em concha sobre o seio. Ela se aconchegou mais perto e senti seu membro
enrijecer contra ela. Quando ela se virou em seus braços para encará -lo, ele
traçou sua pele com os dedos e beijou-a com uma ternura que apertou seu
coração.
─Desta vez, estou determinado a fazer amor com você lentamente─,
disse ele com um brilho nos olhos ─, e você vai deixe-me fazer do meu jei-
to.
─Certo─, disse ela, sorrindo para ele.
Ian sentou-se e pegou a mão dela.
─Tem algo que eu quero perguntar primeiro.
A gravidade de sua expressão enviou um frisson de ansiedade através
dela. Ela se sentou de pernas cruzadas para encará-lo e puxou o cobertor
sobre os ombros.
─Sim, o que é?
Ian lambeu os lábios. Ela nunca tinha visto Ian parecer nervoso antes
em sua vida, e estava prestes a vê-lo agora.
─O que eu quero perguntar a você é; voce gostaria de fazer tudo de
novo?─, Disse. ─Casar-se, quero dizer. Com os amigos e vizinhos para nos
desejar felcidade, uma grande festa, música e dança.
Sìleas estava muito chocada para falar.
─Eu gostaria de fazer de maneira certa desta vez─, disse ele.
288
Lágrimas arderam na parte de trás de seus olhos. Sua voz saiu como
um sussurro.
─Você realmente quer isso?
─Quero─ disse ele, com o olhar carinhoso. ─Quando eu disser os
meus votos perante todos os nossos amigos e vizinhos, eles vão saber que
eu os digo livremente e que vou mantê-los.
Ela tentara não deixar o que os outros diziam machucá-la, mas em
um clã de uma ilha onde todos sabiam davida dos outros, isso tinha sido di-
fícil. Ian tinha encontrado uma maneira de restaurar seu orgulho, honrando-
a perante seu clã.
─Murdoc disse que não foi um Padre de verdade que nos casou na-
quele dia─ disse ela.
─Ach, eu deveria ter adivinhado que meu tio faria isso. Então vamos
pedir ao Padre Brian para abençoar nosso casamento.
Ian ergueu-lhe o queixo com o dedo.
─Eu quero que fique ainda mais linda em um vestido fino, e cada ho-
mem morrendo de inveja, porque você é só minha.
Sìleas pensou no vestido vermelho mal ajustado que pendia em seu
seio e fazia a sua pele parecer manchada e seu cabelo laranja.
─Vou usar um vestido de azul, a cor dos olhos do meu verdadeiro
amor─, disse ela, deixando um sorriso lento se espalhar em toda seu ros-
to. ─Vai ser tão lindo que as mulheres não falarão de mais nada por sema-
nas.
─Você aceita, então?─ Ian perguntou. ─Vai se casar comigo de
novo?
Sìleas jogou os braços em volta do pescoço dele.
─Eu me casaria com você mil vezes, Ian MacDonald.
Ian apertou-a contra ele.
─Quando eu era um rapaz, Teàrlag previu que eu casaria duas
vezes,─ ele disse com uma risada em sua voz. ─Teàrlag poderia ter me sal-

289
vado de uma boa dose de problemas se ela tivesse me dito que seria com a
mesma mulher nas duas vezes.
Sìleas olhou para ele por baixo dos seus cílios.
─Então, com qual esposa você pretende fazer amor devagar?
─Ela terá de ser você, mo chroí─, disse Ian, quando a beijou abaixo
da orelha e colocou-a de volta na cama,─E você novamente.

CAPÍTULO 43

Sìleas e Beitris cumprimentaram o último grupo de mulheres que en-


trou na portaria de Knock castle. As mulheres arrulhavan e cacarejavam
enquanto olhavam os presentes que foram colocados lá para esse propósito.
─Ach, a costura desse travesseiro é adorável, Margaret─, disse uma
mulher para outra.
─Mas não é um presente tão útil para uma noiva como o pote de fer-
ro fino você deu a ela─respondeu a amiga.
Fazia apenas três dias desde que Connor fora feito laird, por isso as
mulheres mal tivera tempo para preparar seus presentes. Mas, depois da
longa espera Sìleas por uma festa de casamento real, nenhum deles estava
reclamando.
Apesar do cheiro suave de madeira queimada que pairava no ar, Sìle-
as estava feliz agora que Ian havia insistido em não espere até que o castelo
estivesse habitável para seu casamento.
Uma vez que as mulheres haviam terminado de ver os presentes e
cumprimentar umas aos outras, Beitris gritou:
─É hora da lavagem dos pés da noiva!
Sìleas riu enquanto as mulheres se sentaram em um banquinho de
madeira na frente de uma banheira, presente de casamento de
290
Ilysa, tirraram os sapatos e as meias, e enfiaram os pés na água fria.
Sìleas não tinha crescido na companhia de mulheres. Ela sempre se
sentiu estranha entre elas, particularmente nos anos em que ela não se en-
caixava com as moças solteiras ou com as mulheres casadas.
Mais de uma fizeram comentários indiscretos com ela sobre a longa
ausência de Ian. Mas hoje, ela se sentia aceita pela primeiro tempo e estava
se divertindo.
Sìleas viu quando a sogra tirou de seu anel de casamento e jogou-a
na banheira.
─Você tem o casamento mais feliz que eu conheço, com certeza o
seu anel me trará muita sorte.─ Sìleas tomou a mão de Beitris e sorriu para
ela. ─Eu sou abençoada por ter uma sogra, que é como uma mãe para mim.
Beitris fungou e limpou o nariz quando as mulheres aplaudiram.
Então todas as mulheres que estão procurando maridos se reuniram
em torno da banheira. Sìleas gritou enquanto elas se revezavam
mexendo os pés e procurando no fundo da banheira pelo o anel. Embora
Ilysa fosse mais jovem que ela e viúva, Sìleas ficou surpreso ao vê-la em pé
na fila esperando sua vez. Ilysa nunca havia demonstrado qualquer
interesse em se casar novamente antes.
Ilysa, no entanto, não teve sua vez.
─Eu achei!─ Dina gritou. As outras mulheres trocaram olhares, pois
eram todas muito cientes de como Dina perdeu seu último marido.
─Boa sorte para você, Dina,─ Sìleas disse. ─Que sejas tão feliz
como eu sou.
As mulheres finalmente se dignaram a notar Ian e os outros homens
que, por tradição, foram do lado de fora da porta, brincando uns com os ou-
tros e tentando olhar para dentro. Ian deixou as mulheres arrastá-lo para o
quarto e sentá -lo sobre um banco no outro lado da banheira de Sìleas.
O olhar de Ian estava fixo na dela quando ele colocou a mão sobre o

291
coração e boca, a chuisle mo chroí. isso provocou suspiros nas mulheres,
mas não as impediu de cobrir seus pés em cinzas antes
colocá-los na banheira.
A lavagem pés e as adivinhações deveriam ter lugar na véspera do
casamento, mas eles tinham decidido fazer tudo no mesmo dia, então o Pa-
dre Brian poderia estir emboraar.
Ian pegou suas as mãos e ajudou-a a ficar de pé. quando eles estavam
juntos na banheira, deu-lhe um beijo que a fez esquecer que os outros esta-
vam assistindo, até que ela ouviu os gritos de aprovação.
─Acho que ele poderia dar a meu Donald uma lição ou duas─, uma
das mulheres mais velhas disse, provocando uma nova onda de
risos.
─Fora, Ian Aluinn─, disse outra mulher, e Ian deixou uma matrona
com metade do tamanho dele empurrá-lo para fora.
Antes que pudessem fechar a porta, ele soprou um beijo para Sìleas.
─Eu estarei esperando por vocês no jardim, mo chroí.
─Você é uma moça de sorte─, disse Dina, enquanto as mulheres a
ajudavam a sair da banheira e enxugavam os pés. Pela maneira como
os olhos de outras mulheres haviam seguido Ian, Sìleas suspeitou que Dina
não era a única mulher na sala que ficaria mais do que feliz em trocar de lu-
gar com ela.
Sìleas se perguntava onde tinha ido Beitris quando a viu voltar de
um canto do aposento com um vestido de seda brilhante da cor dos jacin-
tos.
─Ahh, é lindo─, Sìleas suspirou, apontando o material fino.
─Quando você teve tempo para fazer isso? ─ o sorriso Beitris era
tão amplo que parecia que seu rosto ia se dividir ao meio.
─Eu comecei a trabalhar nele na noite em que Ian chegou em casa da
França.
Sìleas não se incomodou em perguntar como a sogra sabia que ela

292
iria precisar dele. Ela levantou os braços quando duas das mulheres puxa-
ram seu vestido por cima da cabeça, deixando-a apenas com a camisa.
─Beitris, esta vai lhe dar muitos netos─, uma velha com o cabelo
muito branco disse, beliscando o quadril de Sìleas.
─Ela vai ter bebês lindos─ disse Beitris, deixando cair o vestido por
cima da cabeça de Sìleas.
O vestido flutuou sobre ela em um redemoinho de seda. Ele se encai-
xou perfeitamente, agarrando-se a cada curva como se tivesse sido
costurado por fadas. Sìleas encontrou os olhos de Beitris e sabia que ambos
estavam pensando no horrivel vestido vermelho que ela
tinha usado em seu primeiro casamento.
─Obrigada, Beitris─, disse Sìleas e elas sorriram uma para a outra.
─Ach, você tem muita sorte!─ As mulheres exclamaram repetidas
vezes, um vestido de casamento tão perfeito, era um sinal de boa sorte.
As mulheres deslizaram meias finas até as pernas dela e pentearam o
cabelo. Como um último toque, Ilysa amarrou um raminho de urze branca
em seu cabelo, outro símbolo de boa sorte.
Então todas as mulheres arrulharam e suspiraram, dizendo-lhe, como
faziam a todas as noivas, que ela era a mais bela noiva que já tinha vis-
to. Quando saiu para o pátio exterior e Ian olhou para ela, ela sentiu como
se fosse verdade.
Ele era tão bonito que a visão dele a fez sentir como se algo tivesse
batido contra o peito.
O cristal que ela lhe dera tinha sido transformado em um broche que
prendia seu kilt no ombro, e ele usava um raminho de urze branca em sua
boina, igual ao que ela usava em seu cabelo.
Duncan, Connor, e Alex estavam ao lado dele, vestido com sua me-
lhor roupa e parecendo bem. Como eram jovens e saudáveis, eles estavam
se recuperando rapidamente de seus ferimentos, embora suas feridas ainda

293
comprovassem o ataque sofrido por eles.
Quando Duncan ergueu as sobrancelhas para ela, ela balançou a ca-
beça e ele começou a tocar. Sua gaita de foles encheu o ar com uma canção
de esperança e alegria. Todos os olhos estavam voltados para ela quando se
juntou a Ian diante do Padre Brian.
─Eu, Ian MacDonald Payton, tomo Sìleas MacDonald, para ser mi-
nha esposa. Na presença de Deus e diante destas testemunhas, eu prometo
ser um marido amoroso e fiel a você, até que Deus nos separe pela morte.
Sìleas disse seus votos em troca. Quando o Padre abençoou-os, Ian a beijou
e a multidão irrompeu em aplausos.
Connor foi o primeiro a felicitá-los.
─Que vocês sejam abençoados com vida longa e paz.
Sìleas apertou a mão de Ian. Entre a iminente rebelião e a fuga de Hugh, a
paz parecia improvável, mas ela iria esperar por uma vida longa juntos.
─Que voces envelheçam com bondade e riquezas─, disse Duncan,
dando-lhes outra do habituais bênçãos.
Quando chegou a vez de Alex, ele disse para Ian:
─Você salvou-se um monte de problemas por se casar com uma
MacDonald. Como eles dizem, 'Casar com uma moça é você casar com seu
clã inteiro.’
─Estou contente por você dizer isto,─ Connor disse, descansando a
mão no ombro de Alex. ─Este é precisamente o motivo que eu preciso
casá-lo com uma mulher de outro clã. Eu vou chamá-lo em breve para
cumprir o seu dever.
─Não eu─, disse Alex, colocando as mãos para cima e dando um
passo atrás. ─Eu vivo pela máxima: 'O convidado inteligente come um
pouquinho de cada prato.
Todos eles fingiram não ouvir os pais de Alex, que tinha ido até o fi-
nal pátio para gritar um com o outro.
Eles fizeram a festa no pátio exterior, também, uma vez que a casa da
294
guarda era muito pequena para todos os convidados. Apesar de estar frio,
não estava chovendo, e a comida que as mulheres trouxeram era saborosa
e abundante. Eles se aqueceram depois com música e dança. Todos os ho-
mens beijaram Sìleas, dando-lhe moedas de um centavo, até Ian pôr fim a
essa particular tradição.
─Vamos pegar o Padre─, ele sussurrou em seu ouvido.
Eles descobriram o Padre Brian e sairam sem que ninguém perce-
besse, ou pelo menos fingiu não notar. Quando chegaram ao quarto impro-
visado que Ian tinha preparado para eles no andar superior da
portaria, ele cruzou a soleira com ela nos braços.
Ele colocou-a no chão, e esperaram enquanto o Padre Brian aspergia a
cama com água benta.
─Faça a sua parte─, disse a Ian com uma piscadela, ─e vocês vão ter
muitas crianças bonitas.
Assim que Ian fechou a porta atrás do sacerdote, Sìleas desatou a rir.
─Eu já coloquei o amuleto para fertilidade que Teàrlag deu-me de-
baixo da cama.
Ian puxou-a para seus braços.
─Nós vamos ter que fazer o nosso melhor para não desperdiçar tanta
sorte.

EPÍLOGO
Nove meses depois

O medo era um sentimento desconhecido para Ian.


Sua mãe descia as escadas periodicamente para informar que sua es-
posa estava bem e tudo estava a correr como era esperado. Apesar de suas
garantias, uma sensação estranha de pânico invadia seus membros cada vez
que ele ouvia os passos de sua mãe nas escadas.
─Sente-se, Ian, antes de você gastar o seu piso novo. ─ disse Alex.

295
Por que ele engravidara Sìleas? O que ele estava pensando? Não era
culpa das crianças, ele sabia disso. Mas por Deus, a mãe dela tinha morrido
de parto.
─Ela é uma garota forte─, disse seu pai. A simpatia em seus olhos
mostrou que ele entendia de uma forma que os outros, que não tinham es-
posas, não podiam entender.
Sìleas gritou novamente, e seu coração parou no peito.
─É só quando elas estão fracas demais para gritar que precisamos
nos preocupar─ disse o pai.
Seu pai podia estar mentindo para ele, mas a força da voz de Sìleas
foi reconfortante.
─Eu acho que a ouvi xingar ─ disse Duncan, parecendo quase tão
preocupado quanto Ian. ─Isso é um bom sinal, não é?
─Quanto tempo demora, pai?─ Ian passou as mãos pelo cabelo en-
quanto andava. ─Eu não deveria tê-la trazido de volta aqui para Knock
Castle. E se for amaldiçoado?
─Primeiro fez o Padre Brian abençoar todos os cantos─, disse Alex.
─Então manteve a pobre Teàrlag aqui por três dias fazendo feitiços bobos
para proteção.
─Isso foi para agradar Sìleas ─ disse Ian e ignorou as risadinhas dos
outros.
─Se vocês estão infelizes aqui─, disse Connor, ─você fez um bom
trabalho ao enganar a todos.
Eles eram tão felizes que Ian temia ter provocado ciúme nas fadas.
─Ian ─ disse a mãe da porta. ─Você pode vir agora.
Ela afastou-se para deixá-lo correr por ela, e ele subiu as escadas três
degraus de cada vez. Quando entrou no seu quarto, Sìleas estava apoiada
em almofadas, ladeada por Ilysa e Dina.
Sua esposa parecia cansada, mas radiante. Louvado seja Deus! Ele
nunca queria passar por isso novamente.
Ilysa mudou de lado para que ele pudesse tomar seu lugar ao lado da
cama.
─Vamos deixá-los a sós─, disse ela. ─Basta chamar se você precisar
de mim.

296
─Eu vou dizer adeus, porque Gordan logo estará vindo me buscar.
Dina afagou a própria expansão da barriga e deu-lhes uma piscadela
ampla.
─Ele é um marido muito... Atento....
Quando Ian pediu a Gordan para vigiar Dina, ele nunca suspeitou
que estivesse promovendo uma união duradoura. Que também parecia ser
perfeita. Estar com um homem firme como Gordan assentou Dina e esta
acendeu uma centelha em Gordan. As brigas aos gritos entre Dina e a mãe
de Gordan, no entanto, tornaram-se lendárias.
Quando a porta se fechou atrás das duas mulheres, Ian passou os de-
dos contra o rosto de Sìleas.
─Você está bem, mo chroí?
─Estou ─ disse ela.
─Ach, parecia que você estava sendo torturada.
─Eu estava─, disse ela, mas quando ela sorriu para ele, o coração de
Ian fez uma volta em seu peito. Sìleas tinha um brilho interior que a torna-
va insuportavelmente bela.
─Você ainda não olhou. ─ disse ela.
O cobertor sobre o volume em seu braço escondia dele o rosto do
bebê.
─O que é?─ Perguntou ele. ─Um menino ou uma menina?
Ele esperava um menino, só porque o pensamento de ter uma menina
o assustava até a morte. E se ela fosse como sua mãe, se metendo em con-
fusões em todas as oportunidades? Ele seria um velho antes do tempo.
─Tome a sua filha─, disse Sìleas.
Quando ele levantou o pacote de seu braço, o bebe não pesava nada.
─Ela é uma coisa pequenina, não é?─ Ele empurrou o cobertor para
trás para ver seu rosto e sua filha se apossou de seu coração partir desse
momento. ─Ah, mas ela é uma beleza! Ela vai ter um lindo cabelo laranja,
assim como você.
─Meu cabelo não é laranja.
Era, mas ele não discutiu.
─Não quer ver o outro agora?─ Perguntou ela.
─O quê? Há mais?
─Só mais uma. Outra menina.

297
Ele não tinha notado o volume no outro braço de sua esposa até ago-
ra. Ela levantou-se e descansou-o na curva de seu braço.
─Este tem cabelo laranja, também─, disse Ian quando olhou para sua
adorável segunda filha. Ele sorriu para sua esposa. ─Elas vão causar pro-
blemas, não é?
─Mais do que provável─, disse ela, soando bastante complacente
com isso. ─Você vai ser um pai maravilhoso.
Sìleas sempre teve tanta fé nele.
─Como vamos chamá-las?─, Perguntou ele.
─Eu gostaria que uma fosse Beitris, por sua mãe─, disse Sìleas. ─E a
outra Alexandra por Alex, tudo bem?
─Tudo bem─, disse ele, sorrindo para suas meninas pequeninas.
─Duncan e Connor não são bons nomes para uma moça.
─Nós devemos ter filhos da próxima vez─, disse ela. ─Vamos preci-
sar de pelo menos quatro.
─Quatro filhos? Por que precisamos de mais filhos? ─Apesar de es-
tar muito feliz com seus dois bebês, não estava ansioso para arriscar a vida
de sua esposa novamente.
─Assim, podemos dar a eles os nomes de Connor, Duncan, Payton, e
Niall, é claro. ─ Ela tocou o braço dele. ─Depois de ser filha única, eu que-
ro uma casa cheia de crianças.
Ele balançou a cabeça, esperando que fosse mais fácil da próxima
vez, mas esperava que não.
─ Se fizermos dois de cada vez, não vai demorar muito.
Ele ouviu um tilintar de riso e olhou para cima para ver o que se pa-
recia muito com uma mulher em um vestido verde pálido flutuando acima
da cama.
─É a Senhora Verde ─, disse Sìleas, parecendo satisfeita em encon-
trar um fantasma no seu quarto. ─Eu nunca vi seu sorriso antes.
Ian decidiu que ele poderia viver com um fantasma sorridente, se isto
fazia a sua esposa feliz.
Quando ele se inclinou para baixo com seus bebês nos braços para
dar um beijo em sua amada Sìleas, ele poderia jurar que a Senhora verde
piscou para ele.

298
FIM

Série Returns of The Highlanders

1-O Guardião(The Guardian)

Após anos de luta no exterior, Ian MacDonald volta para casa para encontrar seu
clã em perigo. Para salvar seus parentes, ele deve corrigir os erros do seu passa-
do. . . e reivindicar a noiva que renegou por muito tempo. Quando era menina, Sì-
leas via em Ian o seu cavaleiro de armadura brilhante. Mas quando sua tentativa
de resgate comprometeu sua virtude perante o clã, Ian foi forçado a se casar con-
tra sua vontade. Cinco anos depois, Sìleas transformou-se de uma menina estra-
nha em uma mulher bela e independente, que sabe que merece mais do que o marido relutante que
preferiu a guerra à ficar com sua jovem esposa. Agora, este Highlander diabolicamente belo está final-
mente apaixonado. Ele quer uma segunda chance com Sìleas - e não vai aceitar um não como resposta.

2-O Pecador (The Sinner)

Alex MacDonald é conhecido por sua habilidade como guerreiro, sua destreza
com as mulheres, e sua promessa de nunca ter uma esposa. Mas agora o seu laird
lhe pediu para fazer um último sacrifício: Casar-se com Glynis MacNeil, uma moça
famosa por sua beleza. Desafiadora e rebelde, Glynis se recusa a apaixonar-se por
outro canalha bonito. No entanto, quando os pecados do passado de Alex forçam
uma união improvável, Glynis cede à tentação e se torna sua esposa. Será que a
sua nova paixão será forte o suficiente para combater o inimigo que ameaça a
sua casa, seu clã, e suas próprias vidas?

299
3-The Warrior

Da Ilha de Skye aos campos de batalha da França, Duncan MacDonald nunca esqueceu o verdadeiro
amor que deixou para trás. Considerado indigno da filha de um laird, Duncan abandonou a encantadora
Moira para provar sua coragem em batalha. Agora, quando chamado para resgatá-la de um clã rival, uma
coisa é certa: o que sente por Moira é mais forte do que nunca. Vendida em casamento a um homem
violento, Moira fará de tudo para garantir que ela e seu filho sobrevivam. Quando um enorme guerreiro
chega para salvá-la, acha que suas preces foram atendidas, até que percebe que é Duncan, o homem
que há anos dilacerou seu coração e agora é sua única esperança. PREVISÃO DE LANÇAMENTO NO SITE
DA AUTORA – OUTUBRO 2012

4-The Chieftain – PREVISÃO DE LANÇAMENTO NO SITE DA AUTORA - 2013 – Sem resumo.

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