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Título Original The Lady’s Guide to a Highlander’s Heart

Copyright © 2021 Emmanuelle de Maupassant


Copyright da tradução©2023 Leabhar Books Editora Ltda.

Tradução: Vanessa Rodrigues Thiago


Revisão Soraya Defavari
Gráficos: Victoria Cooper
Diagramação e Adaptação capa: Labellaluna Web®

Todos os direitos reservados.


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Em meio às selvagens montanhas escocesas, a neve cai profundamente, mas a história de Ragnall e Flora espera para aquecer seu
coração.
As minhas heroínas lutam contra muitos dos mesmos desafios que enfrentamos hoje, pela independência e autoafirmação,
enquanto anseiam pelo amor verdadeiro.
Como as mulheres (e homens) em meus contos, você é mais forte do que imagina, mais engenhosa e mais determinada.
Quanto aos finais felizes, todos precisamos acreditar que as coisas podem melhorar se perseverarmos, que há esperança e a chance
de abraçar uma vida de amor, amizade e contentamento.

Com meus mais calorosos desejos,


Em.
Castelo Dunrannoch, Rannoch Moor, Escócia
Noite de 20 de dezembro de 1166
Na torre norte do castelo, a lareira estava quase apagada. As velas estavam se esgotando.
O jovem que andava pela sala virou-se novamente nos calcanhares.
— O Sr. jurou me dar os privilégios de um verdadeiro filho, mas esses anos de lealdade não significam nada.
Malcolm Dalreagh lutou para conter sua raiva.
— Eu sou o chefe do clã e irá me obedecer, assim como jurou fidelidade desde que era um bebê. — Nenhum outro ousaria falar
com ele como seu enteado fazia esta noite. Apenas pela lembrança de sua falecida esposa que procurou aplacar o vira-lata.
— Aye, eu vejo como as coisas vão. Está cego para a ambição de Ragnall e a traição que corre em seu sangue, mas ouve os
rumores de como seu irmão morreu, e ninguém pôde testemunhar, exceto o próprio Ragnall.
A voz de Malcolm permaneceu firme.
— O boato cresce onde os homens têm inveja. O fato é que a aliança é para o bem do clã. Com o pai de Ragnall morto, ele é o
novo chefe dos Balmore e buscará uma esposa. Podemos garantir um casamento sem demora.
— Se for assim, dê Sorcha ou Hilda. Minhas irmãs são apenas um ou dois anos mais novas que Flora, e seu noivado comigo foi
acertado anos atrás, após a morte de meu pai. — Calder fez uma careta. — O Sr. aceitou na época, mas vejo que foi uma promessa
vazia, uma promessa para conseguir minha mãe em sua cama.
Inclinando-se sobre a mesa, Malcolm cerrou os punhos.
— Tome cuidado, Calder. Brina era uma boa mulher e lamento sua morte tão profundamente quanto a da mãe de Flora. Não posso
tomar essa decisão levianamente, mas pode ser, e será. Pois sabe, assim como eu, que estes são tempos incertos, e devemos fortalecer a
posição do clã. Os MacDonald e os Douglas têm fome de tomar nossas terras desde a época de meu avô, quando Camdyn dividia
Balmore e Dunrannoch entre seus filhos. A divisão não impediu sua rivalidade, e o clã ficou ainda mais fraco por isso.
Calder estreitou os olhos.
— Eu ainda não entendo sua ânsia de casar sua filha com a cria de uma prostituta. Ouvi dizer que ela deu um belo espetáculo no
final, com seu amante ao lado.
Em três passadas, Malcolm agarrou Calder pelo pescoço, suas bochechas brilhando de raiva.
— Segure sua língua, ou irei arrancá-la de sua cabeça, filho jurado ou não. Os pecados da mãe de Ragnall foram punidos o
suficiente para não serem lembrados em seus lábios sujos.
Com falta de ar, Calder agarrou as mãos do homem mais velho em seu pescoço, tentando afastá-las, mas a raiva do chefe dava-lhe
força.
Com um grunhido final, Malcolm empurrou seu enteado para longe dele, então se moveu para a lareira, olhando para as brasas
moribundas.
— Nosso novo rei é obstinado e determinado a recuperar o controle da Nortúmbria. Fala-se de uma aliança com a França. Se
William se levantar contra Henry, não podemos entrar na briga como estamos. Para sobreviver a qualquer batalha desse tipo, devemos
lutar ombro a ombro com cada Dalreagh, unidos de coração sob a mesma bandeira. Os homens de Ragnall o seguiriam até as
profundezas do Inferno se ele o comandasse.
Passando a mão pela testa, o chefe do clã Dalreagh parecia de repente muito mais velho do que seus cinquenta anos.
— O noivado acontecerá na noite de Hogmany e, daqui a um ano, Ragnall retornará para repetir seus votos e levar Flora para o
leito nupcial. Ela será dele, goste ou Nay, e quando chegar o dia de se tornar Laird de Dunrannoch e chefe em meu lugar, você dobrará
o joelho, assim como ela.

Acima, onde as sombras eram mais espessas, o rosto pálido pressionado contra a abertura nas tábuas do assoalho se afastou.
Não amava seu meio-irmão, mas Flora aceitara que o noivado era seu dever. E agora, isso? Um calafrio passou por seu coração.
Embora sua mente fosse sua e sua alma pertencesse a Deus, como o padre Gregory havia ensinado, seu corpo pertenceria a seu
marido.
Um homem conhecido por sua selvageria no campo de batalha.
E diziam que não iria parar por nada para conseguir o que desejava.
Embora sua vida tivesse sido protegida, não era tola o suficiente para acreditar que a desejava.
Mas, a liderança de Dunrannoch e a chefia do clã? Para isso, um homem tomaria por esposa quem quer que viesse com o prêmio,
mesmo se fosse uma donzela esquelética que mal entrava em sua feminilidade.
E se não conseguisse agradá-lo?
Flora fez uma oração silenciosa para que nunca descobrisse.
Capela, Pátio Interior do Castelo Dunrannoch
Noite de 31 de dezembro de 1166
A cavalgada havia durado apenas duas horas e o solo, embora coberto de gelo, fornecia uma base segura para a montaria de
Ragnall. Ele e todos os seus homens foram bem recebidos em Dunrannoch. O grande salão estava enfeitado com guirlandas verdes, as
lareiras brilhavam quentes e as mesas foram generosamente providas. Todas as honras e civilidades foram observadas e Malcolm fez
seu primeiro brinde aos convidados de Balmore.
No entanto, Ragnall não podia ignorar seu crescente mal-estar.
Algo em Dunrannoch estava errado.
A noiva que estava diante dele com os olhos baixos não era criança nem mulher. A idade perfeita, diria a maioria dos homens.
Uma idade em que poderia ser moldada ao gosto de um homem, e esta parecia bastante dócil, embora fosse mais magra do que gostaria
e tivesse uma aparência aflita.
Foi um alívio que seu pai a considerasse jovem demais para a consumação, pois Ragnall não tinha apetite por um tipo tão insípido.
Mais um ano poderia trazer mais carne em seus ossos, mas se tornar uma digna castelã para sua casa, isso ainda seria visto. A mulher
que segurava as chaves de todas as portas precisava de mais força do que esta ratinha parecia ter.
Quando o monge pediu que ficassem de frente um para o outro, ele fez o sinal da cruz sobre o pedaço de tartã de Dalreagh e, em
seguida, amarrou seus pulsos.
— Como este nó, estarão ligados - deste momento em diante e enquanto viverem. Que os votos nunca se tornem amargos em suas
bocas.
Ragnall cerrou a mandíbula. O casamento era um contrato, puro e simples, para lhe trazer Dunrannoch após a morte de Malcolm.
Todos o chamariam de chefe - todos os Dalreagh que sussurraram que ele havia deixado o irmão morrer na charneca depois de cair
do cavalo; todos os homens que zombaram do destino de sua mãe e que questionaram a legitimidade de seu sangue.
Se ele era filho de Broderick, só Deus sabia, mas sua juba escura e seus olhos azuis tinham sido suficientes para convencer o pai a
mantê-lo sob seu teto. A sorte havia ditado que o amante de sua mãe tivesse no cabelo os mesmos tons brilhantes que a própria Vanora.
O monge fez sinal para que se ajoelhassem e Ragnall voltou a olhar para a noiva. Mesmo com as mechas trançadas como uma
coroa e cobertas por um fino véu, era evidente que eram da mesma cor.
Uma mecha perdida, vermelho ferrugem, enrolada para tocar o arisaid preso em seu ombro. Seu cabelo parecia bem contra o
xadrez castanho-avermelhado com fios verdes, o comprimento do tecido caindo pelas costas e amarrado em torno de sua cintura de
menina.
Talvez tenha sido apenas isso - essa vivacidade na coloração dela - que despertou sua inquietação. Será que sua mãe se parecia
assim no dia do casamento?
Perguntou-se o que Malcolm via quando olhava para a filha: a esposa com quem se casou há vinte anos ou a mulher que diziam ser
seu verdadeiro amor - a mãe de Ragnall, Vanora.
Teria sido melhor se ela tivesse se casado com Malcolm no lugar de sua tia, mas não havia mérito em remoer tais pensamentos. O
passado estava consumado.
— Com esses votos, suas vidas são unidas como uma só.
Os olhos da garota se agitaram para olhar para o monge enquanto ele pronunciava as palavras do noivado.
— Com estas mãos, se abraçarão como marido e mulher. Com estas mãos, segurarão os filhos e filhas com os quais Deus os
abençoará.
O nó sempre presente no estômago de Ragnall apertou.
Aye, que Deus me abençoe com os filhos que este clã precisa.
Seu próprio pai havia sido um tirano, mal demonstrando amor por Alasdair, muito menos pelo filho cujo nascimento permaneceu
para sempre em questão. Ragnall há muito jurou que seria diferente quando tivesse sua própria família, e que faria tudo ao seu alcance
para garantir o conforto de sua esposa, e assim lhe daria o que ele precisava em troca.
Parecia bastante mansa, disposta a obedecer, a cumprir seu dever. Contudo, iria querer mais do que isso, é claro, mas isso poderia
ser alcançado com o tempo. A afeição dela viria, quando visse o quanto o casamento era importante para ele. Sua própria felicidade
dependia disso e do legado do clã, pois não repetiria os erros de seu pai.
O olhar da garota baixou com a menção de crianças, mordendo os lábios, mas quando o homem santo a incitou em sua própria
resposta, ela ergueu os olhos para encontrar os de Ragnall e reconheceu mais do que timidez. Um lampejo de desafio, talvez, embora
temperado pelo medo.
Certamente, o rubor em sua bochecha estava surgindo; então poderia crescer e se tornar uma beleza.
— Ragnall, Laird de Balmore, aceita esta mulher como sua? Promete protegê-la, suprir suas necessidades físicas e gerar nela os
filhos enviados por Deus?
— Aye. — Ragnall se dirigiu a todos que testemunharam o noivado, o pai da garota e os outros ao lado. — Eu lhe darei tudo o que
um marido dá a uma esposa, até meu último suspiro.
Voltando seu olhar para a noiva, ficou surpreso ao vê-la olhando fixamente com os lábios entreabertos. Apesar de toda a sua
modéstia, e fora afetada pelas palavras.
Por Deus, se a beijasse agora, poderia jurar que seria receptiva. Por isso, no fundo de suas entranhas surgiu uma dor ardente e
deixou sua imaginação vagar pela boca dela.
Do outro lado da sala veio uma tosse rouca do pai da noiva, tirando-o de seu devaneio.
Ele tinha uma promessa a cumprir, e um ano inteiro antes de descobrir o quão disposta a garota estava.
Não era um casamento por amor, mas ele veria bem a mulher que seria sua esposa. Talvez houvesse mais prazer nisso do que
ousava esperar.

Virando pela vigésima vez contra o travesseiro, Flora se perguntou se era a única acordada.
O burburinho do corredor havia diminuído há algum tempo, pois ficou para o ver quem seria o primeiro a entrar na casa no novo
ano, que foi um dos cavalariços mais novos carregando orgulhosamente biscoito amanteigado e sal, um pão preto e um tijolo de turfa.
Depois disso, os homens ficaram turbulentos e ela se desculpou educadamente, sabendo que a cerveja acabaria por vencê-los.
A maioria cairia inconsciente onde estava. Era a mesma coisa ano após ano. De manhã, os encontrava esparramados sobre bancos e
mesas, segurando as pobres cabeças. Geralmente uma boa tigela de mingau resolvia.
Ela mal podia dormir, é claro. A partir desta mesma noite, não era mais simplesmente Flora Dalreagh, filha do chefe de seu clã; e
sim uma mulher prometida.
E o homem que seria seu marido? Um primo distante que só viu uma vez antes, e era muito jovem para notar, mas, havia muito a
observar naquele dia, e tudo o que disseram sobre ele parecia ser verdade.
Mais alto e mais largo do que qualquer outro, portava-se como o guerreiro que era, e havia uma dureza nele que não tinha visto em
outros homens - como se pudesse se afastar e desembainhar a espada a qualquer momento.
Como se quisesse brandi-la e cortar a cabeça de quem estivesse mais próximo.
Provavelmente, já havia feito isso em muitas ocasiões - no campo de batalha. Perguntou-se brevemente quantos homens ele havia
matado. Não que importasse se fossem um ou quinhentos. Uma alma eliminada em uma batalha não era o mesmo que uma vida tirada
em circunstâncias normais. Era assim que as coisas aconteciam. Cada clã protegia o seu povo.
Ainda assim, só de imaginar isso, seu estômago se revirava.
O que isso causava em um homem?
Alguém poderia ser o mesmo depois de ter derramado sangue?
Como mulher, nunca saberia, pois seu dever era com o pai, ajudando a administrar o castelo. Trabalhou arduamente antes da
chegada da neve, garantindo que houvesse provisões para que passassem os meses de inverno, preservando, conservando e defumando
o que pudessem, e armazenando o restante.
Seu dever era para com seu pai e seu clã.
E agora?
Outro dever era ser ela, não apenas como filha, mas como esposa, e isso fez seu estômago revirar ainda mais.
Ela era inocente, é claro; até mesmo Calder nunca a pressionou a desistir do que ambos previram, que seria dele com o tempo. De
todas as mulheres solteiras do castelo, provavelmente sabia muito menos que a maioria, mas sabia mais que nada, graças a Maggie.
Sua criada roncava profundamente em sua cama, tendo bebido mais do que um pouco de cerveja. Porém, antes de desmaiar, teve
mais do que algumas opiniões para compartilhar sobre Ragnall Dalreagh, nem todas elogiosas. Pelo que Maggie falou, o noivado não
era a pior coisa. E certamente ainda melhor do que o casamento que esperava com Calder.
Flora virou-se novamente, afastando as pernas do ponto frio ao pé da cama.
Dali a um ano, não estaria sozinha na cama e Maggie não estaria na cama do canto.
Outra onda de náusea passou por ela.
Maggie havia contado o suficiente para que soubesse o que era esperado. Uma esposa obedecia ao marido em todas as coisas, não
importa o quão vis pudessem parecer, mas um marido que tivesse consideração, saberia levar com cuidado.
Ragnall teria consideração?
Do outro lado do quarto, Maggie deu outro bufo alto e se mexeu sob os cobertores.
Não tinha esperança. Flora poderia muito bem ter alguém no quarto tocando gaita de foles já que provavelmente viraria aquela
noite.
Com um suspiro, afofou o travesseiro debaixo dela e desejou que sua mente encontrasse um pouco de paz, mas não mais do que
alguns momentos se passaram antes que outro som chegasse a seus ouvidos.
A princípio um som fino. Um lamento. Um longo lamento ondulando através da escuridão.
Nay!
Não pode ser!
Ninguém poderia estar tocando uma gaita de foles. Não havia ninguém no castelo que ficaria feliz se alguém ousasse pegar o
instrumento àquela hora da noite.
Agarrando a colcha contra o peito, Flora sentou-se ereta, ouvindo atentamente.
Os sons estavam ficando mais altos. Não muito longe, mas como se estivesse na passagem.
— Maggie! — Flora sibilou na escuridão. —Está ouvindo isso?
A mulher na cama murmurou alguma coisa, mas não acordou.
Ainda assim, continuavam tocando. Pararam brevemente na porta, tão alto que mal podia acreditar que Maggie não acordara, então
o flautista pareceu seguir em frente, em direção à escada além e para baixo, para os aposentos de seu pai.
À medida que o som diminuía, Flora se admirava com o silêncio do salão. Ninguém ouvira? Pois não houve gritos de alegria nem
de protesto.
Colocando os pés no chão, procurou desajeitadamente o vestido que estava usando mais cedo, puxando-o sobre o peito e então
tateou seu caminho até a lareira, para acender sua vela de sebo.
Até pensou em acordar Maggie, mas não havia tempo a perder. O flautista poderia desaparecer completamente enquanto sua criada
se recompunha.
Ao entrar no corredor, Flora colocou a mão em concha para proteger a chama da corrente de ar fria. Sombras tremeluziam sobre as
estreitas paredes de pedra e depois sobre os limites da escada enquanto ela descia. Embora pisasse suavemente, cada passo parecia
ecoar, mas nenhuma porta se abriu e nenhuma voz chamou.
Apenas o lamento da gaita de foles vinha vagamente de baixo, mas, ao chegar, não viu sinal de ninguém.
De repente, tudo ficou quieto e ela hesitou por um momento. Deveria voltar para a cama, mas uma inquietação a levou até a porta
de seu pai. Não importa o quanto tivesse bebido, ele nunca descansaria em nenhum outro lugar. Assim, sentiu um forte desejo de se
assegurar de que estava ali e levantou o trinco.
E mesmo à luz fraca da vela, Flora viu sua forma sob a colcha. Lá estava ele, como deveria estar. Por que então um formigamento
se moveu sobre sua pele? Por que a escuridão fazia a sala parecer mudada?
Correndo para o lado dele, colocou a vela sobre o baú.
— Pai.
Ela jogou o cabelo dele para trás e se aproximou.
Seus olhos estavam entreabertos, mas seu brilho havia desaparecido, e seus lábios estavam imóveis.
Sem respiração.
A dela congelou em seu peito.
— Pai!
Ela pressionou a palma da mão na bochecha dele e achou quente.
Um puxão em sua camisa soltou o jugo de seu pescoço e sua cabeça caiu para o lado.
Ofegando, viu o que não tinha visto antes.
A colcha estava enrolada em seu peito. Puxando-o para trás, viu o punhal enterrado entre suas costelas, empurrado para cima em
um ângulo agudo, e o sangue escorrendo da ferida. O entalhe ornamentado no punho captou a luz da vela. Era sua própria lâmina!
— Pai. — com um soluço, Flora deitou a cabeça sobre o coração dele.
Nenhum movimento ali, nenhuma batida, nenhuma vida, mas o calor de seu corpo dizia que alguma força do mal havia feito seu
trabalho recentemente.
Recuando, olhou para os cantos do quarto. Embora sua mão tremesse, ergueu a chama e se forçou a procurar em cada canto. Se o
demônio imundo espreitasse ali, ela teria ficado impotente diante de seus caprichos, mas não havia nada na sala a não ser ela mesma e a
carne que um dia fora seu pai.
Baixando a vela, voltou-se novamente para ele, fechando os olhos que já não viam. Beijou sua testa e pegou sua mão.
Ela não temia o escuro, nem qualquer espírito vagando por ele. Nenhum ser sobrenatural havia acabado com a vida de seu pai. Essa
ação estava na conta de alguma criatura viva dentro do castelo, e apenas um homem tinha motivo para fazer tal coisa.
Apenas um homem.
Aquele que saudaria a manhã não apenas como laird de Balmore, mas também de Dunrannoch, e chefe de todos.
Um homem ambicioso e sem coração.
Um homem que não se importava com quem estava em seu caminho.
O homem a quem estava ligada.
Castelo Dunrannoch
Perto do amanhecer, 1º de janeiro de 1167
— Acorde, Maggie.
A criada se assustou com a sacudida abrupta que Flora lhe deu.
— Eu preciso de sua ajuda, e rápido.
— Ainda é noite, madame. — Maggie piscou, apertando os olhos contra a iluminação da chama da vela.
— Aye. — Flora jogou para trás os cobertores de Maggie e a puxou para cima. — É o melhor momento para uma fuga. Pelo menos
seis horas até o amanhecer e eles começarão a procurar.
— Mas, o que é tudo isso? Não pode vadiar no escuro. — ela esfregou os olhos. — É algum jogo, senhora? Pensei que todos
estivessem na cama horas atrás.
— Não é um jogo, não. — Flora colocou Maggie de pé e colocou um xale em volta dela. — Algo horrível aconteceu. — a voz de
Flora ficou presa na garganta, mas reuniu todas as suas forças para manter a calma. Não havia tempo a perder. — Maggie, por acaso
conhece a lenda da maldição de Dalreagh?
— Claro. Lyle McDoon lançou uma maldição sobre o clã, depois que Camdyn, o Lobo de Dunrannoch, recusou-lhe a mão de sua
filha mais nova. Jurou que todo herdeiro masculino da linha Dalreagh teria uma morte prematura. É uma história maravilhosa, embora
saiba que não sou supersticiosa como a maioria das pessoas. Seu pai é idoso e nunca teve nem uma tosse. Eu escuto essas coisas com
uma pitada de sal.
— Eu também, Maggie, mas… — Flora engoliu as lágrimas. — Eu ouvi o gaiteiro, eu juro.
— O fantasma de Camdyn? — Maggie pareceu amedrontada de repente. — Aquele que toca sempre que um membro do clã está
prestes a encontrar seu fim?
— Talvez. — Flora agarrou Maggie pelos ombros. — Eu não posso dizer, mas fui para o quarto do meu pai, Maggie, e… — a voz
de Flora falhou novamente.
— O que foi, senhora? Pode me dizer.
Em resposta, Flora tirou a adaga do bolso.
— Santos nos protejam! Tem sangue nela!
— Silêncio! — Flora pressionou o dedo nos lábios de Maggie. — Meu pai foi morto, mas não acredito que seja a maldição. —
endireitando o queixo, recolocou a adaga nas saias. — Alguém perverso reside aqui e ele provocou sua morte.
Os olhos de Maggie se arregalaram.
— Um assassino! É um pecado terrível, mas não sei por que deseja fugir. O castelo é um lugar seguro.
Flora segurou nas suas as mãos da mulher.
— Eu acredito que conheço o homem responsável.
— Conhece?
Flora assentiu, pois ouvira as histórias, que Ragnall causou o acidente de cavalo de seu irmão, para trazer terras em suas próprias
mãos, e que seu próprio pai morreu não muito tempo atrás. As causas foram naturais? Bem, se era capaz de acabar com sua própria
família, sua ambição certamente não teria limites.
Com o pai de Flora morto, Ragnall seria proclamado chefe antes que o corpo esfriasse.
— Aye, Maggie. — Flora ergueu o queixo. — O Laird de Balmore, que dormiu ao lado de seus homens no salão esta noite. Eu
concordei com o casamento por dever para com meu pai, mas que dever manda uma mulher se casar com a besta que acredita ter
matado sua própria família?
A criada assentiu tristemente.
— É obra do diabo, com certeza. Seu pai confiou ao laird não apenas sua mão e sua proteção futura, mas o bem-estar de cada alma
Dunreagh. Nunca ouvi falar de tamanha maldade. Não há honra nisso, com certeza, apenas ganância e grande ambição. Quem sabe do
que esse homem é capaz. Não gosto nem de dizer isso, mas temo por sua segurança, milady. Não há nada que o obrigue a tratá-la com
gentileza.
— Entende por que eu preciso ir?
— É claro, e se for embora, irei acompanhá-la. Vamos para a fazenda do meu irmão. Será difícil na neve, mas não mais do que
quatro horas a pé. Mas, o que devo dizer a eles, milady? Não posso dizer quem realmente é, ou seu plano será em vão. Temos que
escondê-la bem e adequadamente.
Flora apertou a mão de Maggie.
— Eu serei Florrie, outra criada em serviço. Diga que talvez eu não tenha sido bem tratada e queira um novo começo; que eu não
gostaria de falar sobre isso. Tenho uma moedinha que posso levar comigo, para agradecer a seu irmão por me acolher.
— Aye, poderia funcionar. Agora, como disse, devemos partir, assim estaremos bem longe quando o castelo acordar. Talvez possa
usar sua habilidade de escrever, como o padre Gregory lhe ensinou, e deixar um bilhete para despistá-los quando vierem a sua procura.
— Irei dizer que estou perturbada com o noivado, sendo contra minha vontade. — a mente de Flora girava com as possibilidades.
— Direi que estou indo em direção às montanhas e espero morrer. Se a neve caísse novamente pela manhã, enterraria um corpo
rapidamente. Então, saberão que será impossível me encontrar, pelo menos até a primavera, e mesmo assim…
— Provavelmente, os animais a teriam levado; é a maneira mais segura de fazê-los cessar a busca. Quanto a fugir, garanto que só
haverá um homem acordado no portão esta noite. Não vou achar ruim em distrair com um beijo de Hogmany enquanto executa seu
plano, milady, e me juntarei a senhora perto das árvores assim que puder.
Flora agradeceu com a cabeça. Estava deixando para trás tudo o que importava. Deixando seu pai para ser descoberto pela manhã.
Deixando para trás não apenas os luxos da vida no castelo, mas todos com quem se importava.
Curral de ordenha, Castle Balmore, em Rannoch Moor
23 de dezembro de 1168
— Lembre-se agora, Florrie. Elas não deixarão cair o leite se detectarem uma mão estranha. A melhor maneira é deixá-las saber
que é amigável. — Maggie coçou o tufo da cabeça da vaca mais próxima e deu a Flora um sorriso encorajador. — Não são diferentes
das cabras no final das contas.
Flora não pôde deixar de se sentir em dúvida.
As cabras da fazenda não tinham chifres maiores que o braço dela, nem cascos grandes o suficiente para esmagar a cabeça de um
homem. Não eram altas o suficiente para olhá-la diretamente nos olhos quando estava falando com elas e não andavam pesadamente
como essas bestas. Na verdade, as cabras eram provavelmente muito mais astutas, bem como mais ágeis. Pelo que sabia, nenhuma vaca
jamais havia subido no telhado da casa de alguém e começado a comer os juncos.
Ainda assim, aprenderia seus costumes, assim como aprendera muitas coisas nos últimos dois anos. A família de Maggie foi
extremamente gentil e paciente, ensinando-lhe as habilidades necessárias para se tornar útil.
Eles só não tinham vacas.
Havia um rebanho no Castelo Dunrannoch, é claro, mas não cabia a ela se envolver em ordenhá-las.
Ainda assim, não podia reclamar. Pelo menos estavam protegidos do tempo e, com o gado amontoado no espaço fechado, a sala
estava agradavelmente quente, ainda que bastante vivaz sob o nariz.
Maggie tentou por várias semanas dissuadi-la de voltar, mas, assim que Flora soube que Castle Balmore estava procurando
contratar criadas extras durante a temporada festiva, se recusou a deixar o assunto de lado. Apenas quando chegaram, foram informadas
de que era a ordenha que precisava ser cuidada.
A vaca piscou duas vezes com os cílios longos e fungou no feno aninhado na palma da mão de Flora, depois deu uma raspada
molhada com a áspera língua.
— É isso aí, olha, ela lhe tem apresso. — Maggie sorriu do outro lado do curral de ordenha.
Flora sorriu de volta sem entusiasmo. Se sua amiga soubesse o que estava planejando, duvidava que estivesse tão alegre. Era a
única coisa que ela nunca se sentira capaz de confiar a Maggie, pois certamente teria feito tudo ao seu alcance para evitar que Flora
cometesse o grave pecado que pretendia. Certamente, nunca teria concordado em acompanhá-la à casa do laird. Flora fora obrigada a
inventar uma história de querer ver que tipo de chefe Ragnall estava provando ser, e fez uma promessa de nunca tirar o lenço do cabelo.
Embora outras garotas na charneca tivessem o mesmo tom em seus cabelos, Maggie temia que Flora fosse desmascarada e
obrigada a responder a muitas perguntas.
Para Maggie, o passado era o passado e, por mais terrível que fosse, acreditava que Flora deveria deixar isso para trás. Aquela vida
antiga acabou e estava livre, pelo menos, do fardo de se casar com o homem responsável pela morte de seu pai.
Para Flora, nada ficou no passado e nada foi esquecido. Seu único arrependimento foi a impulsividade que a fez fugir naquela noite
terrível.
Ragnall Dalreagh poderia ter prometido a seu pai que não colocaria a mão nela até repetirem os votos de casamento um ano depois,
mas um homem capaz de assassinato dificilmente se incomodaria em manter tal contrato. E, com todos os bens do clã Dalreagh sob sua
propriedade, Ragnall certamente faria o que bem entendesse.
E por mais frágil que fosse, conhecia a chama da luxúria nos olhos de um homem e captou um certo brilho naquela noite terrível,
mesmo enquanto ainda estavam diante do padre Gregory no sagrado santuário de Dunrannoch.
Se eu tivesse esperado, teria me encontrado na cama de Ragnall. Uma vez que estivesse dormindo, seria tudo mais fácil!
Flora não parava de pensar em seu voto e em como poderia voltar a se aproximar o suficiente do Laird de Balmore. Perto o
suficiente para afundar o punho de sua adaga em seu coração perverso, ou cortar sua garganta.
Enquanto agonizava em seu último suspiro, se certificaria de que soubesse quem era ela e por que estava encontrando seu fim nas
mãos dela.
Não tinha ficado feliz em enganar Maggie, mas estava determinada a vingar seu pai. Assim que a ação fosse realizada, revelaria
sua identidade e contaria sua história. Não achava que seria fácil fazer os outros entenderem, mas tinha certeza de que Calder interviria
em seu apoio. Afinal, era o único outro Dalreagh da linha masculina que poderia assumir se Ragnall fosse desacreditado. Caso
contrário, sua vingança provavelmente viria à custa de sua própria vida.
— Nay, limpe as tetas com o pano molhado, Florrie, porque tem bastante sujeira nelas, e puxe algumas vezes antes de apontar para
o balde, para limpar. É exatamente o mesmo que com as cabras. — Maggie se acomodou em seu banquinho e começou a trabalhar,
cantarolando a cantiga festiva que havia sido cantada na cozinha na noite anterior.
Todos os outros no castelo pareciam em boas condições, exceto por ela. Flora mal conseguia se lembrar do último Natal em que
realmente foi feliz. Muito tempo antes, quando sua mãe ainda estava viva, supôs, mas isso fora há muitos anos para oferecer conforto.
Lady Brina tinha sido gentil à sua maneira, mas sua madrasta parecia ter pouco interesse em Flora, exceto como a noiva que desejava
garantir para Calder, seu filho.
Para sua vergonha, não foi capaz de sentir muita dor por sua morte.
Suspirando, descansou a bochecha contra a vaca, inclinando-se para baixo para limpar as tetas. Ao seu toque, o animal bufou e
mexeu os cascos.
Dificilmente poderia culpá-la. Todo o processo era indigno, pensava Flora com frequência.
A cunhada de Maggie dera à luz três vezes desde a chegada de Flora, mas ainda não se sentia à vontade ao ver os bebês no seio de
sua mãe. Naturalmente, um bebê precisava de seu sustento, mas a pobre mulher era obrigada a sentar e ser ordenhada da mesma
maneira que aquela a vaca.
Isso era uma coisa, pelo menos, que Flora sabia que seria poupada, já que não tinha intenção de ser esposa de homem algum, e não
haveria filhos pequenos sem que as palavras do ministro a ligassem a um homem.
Em teoria, já estava ligada, é claro, ao demônio que assassinou seu pai, e, visto que a própria besta não se incomodou em se casar
com mais ninguém, o contrato permanecia válido.
Porém, mais de uma vez parou para pensar nisso, pois deveria ter acreditado que ela estava morta, assim como planejou. De
qualquer forma, nenhum dos homens de Ragnall fora procurá-la. O chefe do clã estava livre para tomar outra noiva, e isso já era
esperado. Afinal, todo laird precisava de herdeiro.
Embora seu pai nunca tivesse sido de aventuras imorais, sabia que muitos daqueles sob sua proteção não eram tão escrupulosos.
Sem dúvida, não faltavam mulheres dispostas a aquecer a cama de Ragnall, e muitas que o fariam sem um anel no dedo.
Ah, Aye, provavelmente convinha muito a Ragnall não ter sido amarrado a uma coisinha sem curvas para encher as mãos de um
homem.
Por alguma razão, a ideia alimentou o ressentimento em seu coração. Com um suspiro de frustração, deu uma última e rápida
limpeza nas tetas. A dona do úbere mudou de casco para casco mais uma vez e enviou sua cauda franjada para bater no rosto de Flora.
— Pare com isso, idiota. Não pode ver que estou aqui para aliviá-la? Fique parada enquanto a ajudo.
— Calma aí, Florrie. — Maggie chamou novamente do outro lado do curral. — Talvez ela esteja sensível, ou sentindo falta do
bezerro.
Gentilmente, Flora apertou para tirar o primeiro leite e a vaca virou o rabo novamente, dando-lhe um bocado de cabelo ruivo e
crespo.
— O que eu disse? Não posso fazer isso enquanto bate na minha cara. — Flora se lançou contra a vaca, apenas para vê-la empurrar
para trás.
— Mas é uma besta selvagem! Por acaso não tem boas maneiras? — Flora pôs mãos à obra novamente. Desta vez, conseguiu um
pouco de leite, mas apenas o suficiente para considerar estar pronta para começar a encher o balde. Aumentou a pressão, mas não
conseguiu nada por seus esforços, a não ser um mísero gotejamento.
Uma galinha entrou, ciscando na palha logo abaixo do traseiro da vaca antes de se agachar para botar um ovo ao lado do balde de
Flora. E com um cacarejar satisfeito, saltou novamente.
— Viu isso, não é? Alguém que entende sua obrigação. — Flora repreendeu a vaca novamente. — É a sua vez agora. Não quero
mais confusão.
Afastando os joelhos, Flora se abaixou o máximo que pôde e apertou cada teta simultaneamente, com muito mais força dessa vez.
A vaca deu um mugido de descontentamento e mudou de posição, enviando um bom jato de leite diretamente para o olho de Flora. Com
um grito, ela se balançou no banco e caiu para trás.
Assim que aterrissou na palha, com as saias voando para cima, um riso baixo e estrondoso veio de algum lugar atrás dela. — Se
essa é uma nova técnica de ordenha, não sei o quão eficaz pode ser.
— É essa besta idiota que está causando problemas e não… — a boca de Flora caiu. A menos de três passos de onde se encontrava
esparramada, estava o homem cujo rosto a havia assombrado nos últimos dois anos.
Em sua memória, ele era igualmente alto e de ombros largos, ostentando os olhos azuis e os cachos selvagens do clã Dalreagh,
mas, em todas as noites em que conjurava seu rosto, era sempre para imaginá-lo se contorcendo em agonia enquanto o perfurava com o
punhal.
Em nenhuma ocasião o imaginou com essa expressão de divertimento.
— Não deixe que eu a impeça. — cruzando os braços, inclinou-se contra a parede da leiteria, sorrindo para ela. — Vejo que
aprenderei uma ou duas coisas observando-a.
O ódio que corria nas veias de Flora tornou-se espesso e negro. Como ousava fazer piada depois de tudo o que havia feito? Na
verdade, ele não tinha consciência - um assassino digno de se aliar ao próprio demônio.
— Och! — a cabeça de Maggie apareceu acima da garupa de sua vaca e desapareceu novamente quando ela fez uma reverência
rápida. — É o laird!
Ragnall Dalreagh inclinou a cabeça em reconhecimento à cortesia.
— E as belas lasses devem estar entre os novos membros da equipe.
— Aye. — Maggie correu ao redor, limpando as mãos no avental. — Sou Maggie McKintoch, do outro lado da charneca, e esta é
minha prima, Florrie.
— Prazer em conhecê-las. Sempre há muito trabalho, então estarão ocupadas. — abaixou-se para pegar as mãos de Flora e, antes
que ela pudesse protestar, ele a levantou.
Ela havia crescido vários centímetros desde a última vez que ele a viu, tanto em altura quanto em dimensões femininas, mas sentiu
uma súbita pontada de medo quando ele olhou para seu rosto, estudando-a atentamente.
Sua sobrancelha se arqueou por um momento, como se estivesse tentando identificar suas feições.
Graças a Deus por Maggie ter insistido que usasse o lenço na cabeça.
Maggie assegurara que parecia bem diferente da jovem esquelética que viera morar na fazenda de seu irmão, e ali estava a prova,
pois o laird parecia não a reconhecer.
Percebendo, de repente, que ainda estava segurando suas mãos, ela as afastou.
— É melhor irmos andando, meu laird. As vacas não se ordenham sozinhas. Há outras vinte esperando depois dessas duas.
— É verdade. — sua boca se curvou para cima. — Tenho muito que administrar aqui em Balmore, mas pelo menos mantenho a
contagem de meu gado.
Flora sentiu o rosto queimar. Claro que o homem conhecia seu próprio gado.
Ela fez uma mesura, endireitou o banquinho e sentou-se novamente. Então, posicionando o balde, rezava para que a maldita vaca
fosse mais gentil e não lhe causasse mais embaraço.
E assim que se inclinou para frente, sentiu dois braços quentes envolvendo-a e um peito duro pressionando suas costas.
— O truque é manter a paciência enquanto mostra ao animal quem está no comando. — para sua consternação, Ragnall a estava
direcionando para o úbere. — Enrole os dedos firmemente ao redor da parte superior para prender o leite e, em seguida, aperte-o com
um movimento rítmico.
Flora ficou congelada enquanto Ragnall movia as mãos sobre as dela.
— Em seguida, abra a palma da mão e puxe para baixo novamente, deixando a teta encher novamente.
Enquanto ele a guiava, um fio fino de leite desceu, atingindo o balde com jato generoso. A visão a encheu de súbito prazer. No
entanto, estava muito ciente de Ragnall pressionado contra ela. Uma total estranha, até onde ele sabia. Parecia que havia presumido
corretamente. O laird era um paquerador escandaloso. Sem dúvida, se lhe desse o mínimo de encorajamento, a teria no chão.
O pensamento enviou outra onda de calor através dela. A última coisa que queria era imaginar aquelas mãos, por mais fortes e
autoritárias, reivindicando o que estava sob suas saias. E não era boba. Se o laird quisesse lhe tomar ali mesmo, não teria escolha a não
ser obedecer, e Maggie seria impotente para intervir.
Aquelas mãos podem ser hábeis com o gado, mas também foram as mãos que enviaram a adaga de seu pai para seu coração. Isso
nunca esqueceria!
Amaldiçoou ter deixado a adaga com seus pertences no palheiro sobre as baias, onde ela e Maggie dormiam. Se ela o tivesse
guardado, poderia tê-lo enfiado entre as costelas dele e acabado com isso.
Em vez disso, contentou-se em colocar o cotovelo ali e se torceu no banco, na esperança de empurrá-lo para trás. Deixá-lo se
esparramar no feno e ver se ele gostava! Mas ele pareceu antecipar até mesmo essa simples ação e ela se deparou com a solidez imóvel
de seu tronco e sua bochecha assustadoramente próxima.
De repente, havia apenas a distância de um fio de cabelo entre seus lábios.
Sua voz falhou quando ele riu novamente, mas, desta vez, havia uma qualidade sensual, como se estivesse apenas jogando um
jogo, e ela o coelhinho pego em sua armadilha.
— Pode não ser a melhor em ordenhar vacas, bela Florrie, mas deve ter outros talentos. — os dedos dele encontraram um cacho
solto embaixo da orelha dela e ela sentiu o toque deles no pescoço.
Engolindo em seco, tentou se inclinar para trás, mas a outra mão dele segurou forte contra sua cintura, impedindo-a de escapar.
— Só estou aqui para ajudar com o leite. Não tenho outros talentos.
— Tenho certeza de que não é verdade.
Por um momento, o coração de Flora pareceu parar.
— Todo mundo sabe que as leiteiras são as melhores beijadoras, afinal. — o laird umedeceu os lábios. —Não vai me mostrar?
— Certamente não! — colocando as palmas das mãos no peito dele, tentou empurrá-lo novamente, mas os pés de Ragnall Dalreagh
estavam muito firmemente plantados em ambos os lados para lhe dar qualquer impulso.
—Não tem medo de descobrir que não pode beijar? — quando disse isso, a ponta de seu nariz, tão quente quanto o resto dele,
esbarrou no dela.
Verdadeiramente, o homem era audacioso. Ela deu outro empurrão.
— Claro que posso beijar, tão bem quanto qualquer uma, mas o Sr. não irá descobrir.
A risada baixa e estrondosa veio novamente e, por um breve momento, sentiu o lábio inferior macio de Ragnall e seu queixo,
áspero com a barba por fazer.
Em estado de choque, começou a protestar, percebendo tarde demais que ele provavelmente veria seus lábios entreabertos como
um convite.
No entanto, no momento seguinte, ele estava de pé.
— Posso ver que é tímida e não há nada de errado nisso, mas vou descobrir seus outros talentos, dona Florrie. — de pé acima dela,
ele deu uma leve piscadela. — Quando terminar de praticar sua técnica nessas tetas macias, traga um pouco do leite para adicionar à
minha água de banho. — acenando para Maggie, que fora ver o que estava acontecendo, ele se virou, deixando as duas mulheres
sozinhas novamente com o gado.
— Ah, Florrie! — Maggie balançou a cabeça, resmungando gravemente. — Isso significa apenas uma coisa, como bem sabe.
Flora também tinha poucas dúvidas.
Como previra, o laird estava acostumado a fazer o que queria com qualquer mulher que desejasse e, hoje, era a escolhida. Uma
estranha emoção passou por ela, arrepiando os pelos de seus braços e causando uma dor perturbadora no fundo de sua barriga.
Será que finalmente chegou a hora? Chegaria perto o suficiente para se vingar?
Mais tarde naquele dia…
Flora estava do lado de fora dos aposentos privados de Ragnall com dois baldes de leite. A adaga, recuperada de sua cama, pesava
em seu bolso. Em seu banho, o laird estaria indefeso. Só tinha que pegá-lo desprevenido e a vingança seria dela.
Infelizmente, Ragnall não estava sozinho.
Ela se inclinou mais perto. A voz do laird, baixa e retumbante, era distinta. Dos outros dois não tinha certeza. A porta estava
desencostada, com uma fresta.
Parecia prudente ouvir.
Nunca testemunhou as audiências privadas de seu pai com membros do clã, mas podia ser benéfico entender o estado das coisas
dentro do clã Dalreagh. Na fazenda, raramente tinham conhecimento dos assuntos do castelo.
Ela pegou apenas fragmentos, mas a discussão era acalorada.
— O maldito seduziu minha irmã e agora a pede em casamento! — declarou a mais grosseira das vozes.
— E o que sua irmã está pensando? — perguntou o laird.
— É uma tola. Ela o ama, a propósito, já que o casamento não foi minha escolha. Foi Domnall aqui quem contratou para se casar
com a jovem cerca de seis meses atrás, e agora descobrimos que ela se adiantou.
— Aye! — o terceiro, Domnall, falou. — E deixa meu sangue quente ao pensar nela deflorada e carregando o filho do bastardo.
Peço sua bênção, laird, para desembainhar as espadas contra ele e tomar Mhairi como esposa.
— E quanto a essa criança? — perguntou o laird novamente.
— O bebê pode ser criado para cuidar das ovelhas e trabalhar com o resto. Pelo menos eu sei que Mhairi é capaz de gerar filhos,
pois assim que eu me casar, haverá muito mais filhos para lhe oferecer conforto — raciocinou Domnall.
Houve uma pausa.
Flora apertou ainda mais a orelha. Não era incomum que tais coisas ocorressem, mas estava interessada em ouvir o que o laird
diria sobre o assunto.
— A honra de um homem não deve ser desprezada — refletiu o laird. — Mas também não podemos desprezar a de uma mulher.
Se a garota o ama e ele tem meios para sustentá-la, pode ser mais sensato deixá-la ir, Finlay.
Houve murmúrios de discordância antes que a sala ficasse em silêncio novamente.
— Se a tomar contra a vontade dela, Domnall, ela irá se ressentir de pelo resto de seus dias. Não é um casamento que eu
encorajaria.
Flora se pegou concordando. Poucas mulheres tinham o privilégio de se casar com quem bem entendessem. Alianças eram vitais.
Seus próprios noivados tinham sido exemplo suficiente disso, primeiro com Calder e depois Ragnall. Seu dever era obedecer a seu pai,
independentemente de seus sentimentos pessoais.
No entanto, os homens pareciam estar aceitando o conselho do laird.
Houve um arrastar de cadeiras e Flora se afastou da porta assim que fora aberta. Os dois homens a examinaram brevemente, depois
passaram, desaparecendo na penumbra do corredor.
Dentro do quarto, um fogo bem aceso dançava chamas brilhantes na lareira. Ragnall estava ao lado, vestido com uma túnica larga,
com cinto na cintura e um grande cão de caça a seus pés.
— Ah, finalmente chegou, Florrie. — olhando para cima de seu carinho no cachorro, deu-lhe um sorriso cansado. — E estava
precisando muito, lass. Era de se esperar que os homens não trouxessem suas disputas na véspera das festividades, mas não há descanso
para Murdo e eu.
O cão olhou para ele com olhos de adoração e deu uma lambida afetuosa na mão de seu dono.
Flora franziu a testa. Com que facilidade ele falava de seus deveres, como se fossem obtidos de maneira justa, e não por atos
perversos.
Ela atravessou a sala com seus baldes, despejando o leite na tina de cobre que a esperava.
—Deseja que eu o ajude a se lavar, meu laird? — embora ele parecesse indiferente, seus olhos azuis a seguiram atentamente.
Uma sensação estranha passou por ela. Como Flora Dalreagh, nenhum homem ousara olhar com tanto interesse óbvio; pelo menos,
ninguém além de Calder. Na fazenda, era tratada como alguém da família. Ver-se submetida a tal análise era enervante. Nervosamente,
colocou o cabelo atrás da orelha, feliz mais uma vez pelo cachecol.
— Aye, lass. Isso que quero. —e um movimento rápido, Ragnall tirou o manto, revelando-se completamente nu por baixo.
Um rubor subiu a suas bochechas. Ela havia antecipado sua nudez, mas não que se despisse tão descaradamente! Sua vontade era
virar as costas, mas recusou-se a deixá-lo pensar que era tímida. Ele poderia achar divertido exibir-se diante dela, mas não lhe daria o
prazer de vê-la ofendida! Com a intenção de manter os olhos em seu rosto, manteve-se firme, olhando diretamente para ele, mas o resto
de Ragnall Dalreagh provou ser muito perturbador para ser ignorado.
Ela tinha visto os irmãos de Maggie se banharem no riacho. Uns bons dez anos mais novos que Ragnall, seus corpos esguios não
tinham nenhuma semelhança com o do homem diante dela.
Os pelos que desciam sobre seu abdome engrossavam na virilha e continuavam em suas grandes coxas. Quanto ao que surgiu entre
eles, não tinha ideia de que o membro de um homem pudesse ser tão grosso, nem que pudesse ser dessa cor avermelhada. A ponta
protuberante, brilhando molhada, era quase roxa.
Quando ergueu os olhos novamente, descobriu que ele estava olhando para trás, e sorrindo com uma certeza de que conseguira o
que queria, o que a fez estremecer. De raiva e algo mais, não tinha certeza do que exatamente, mas isso fez seu pulso disparar.
— Pode ensaboar meu cabelo, lass, e falar comigo se quiser. — ele entrou na banheira, abaixando-se até que a água leitosa
cobrisse as partes que Flora admirava.
Agora era a hora. Ele não teria ideia de sua intenção até que a faca mergulhasse em sua garganta, só tinha que reunir coragem, mas,
naquele momento, seu coração disparou. Tinha que fazer mais do que simplesmente perfurar a pele. Era necessário abrir sua garganta
completamente ou enfiar a lâmina profundamente no tendão. Meias medidas o fariam se debater e gritar por ajuda. Ele poderia
facilmente arrancar a arma de sua mão; e facilmente detê-la.
O cachorro, enquanto isso, observava com olhos curiosos.
— Espero que esteja se acomodando, lass. É difícil ficar longe de tudo que conhece. — Inclinando-se, colocou água
generosamente sobre a cabeça. — O sabão fica à parte, por gentileza.
Maldito!
Como poderia acabar com a vida do homem quando estava sendo tão infernalmente educado, e com aquele grande cachorro idiota
olhando?
Pegando a barra e colocado sobre a toalha, ela o levou ao nariz, inalando o cheiro de urze. Faria isso, lavaria o cabelo do homem:
um último ato de respeito antes de fazer o que deveria. Enquanto isso, precisava manter a calma, não fazer nada que pudesse despertar
suas suspeitas.
— Aye, não é tão fácil ser separado daqueles que amamos.
E foi você quem me separou de meu amado pai, seu vilão!
Ragnall recostou-se na borda e fechou os olhos enquanto massageava seu couro cabeludo, então gemeu quando ela empurrou os
polegares na base de seu pescoço.
— Tem um toque gentil, lass. — sentando-se novamente, inclinou-se para frente, para facilitar que tirasse a espuma.
Pegando um pequeno jarro, ela o fez, e os riachos correram pelos músculos rígidos de seus ombros.
Movendo-se mais para baixo, se inclinou para frente. No momento seguinte, percebeu que o polegar dele estava roçando seu
mamilo, umedecendo o linho de seu avental.
Surpresa, saltou para trás.
— O que está fazendo?
Ele afastou o cabelo dos olhos e a olhava com os cílios molhados.
— Tenho certeza de que sabe, lass. Não lhe trouxe aqui apenas para me ajudar a tomar banho. É da companhia que preciso.
Ele a puxou para mais perto.
— Não farei nada contra sua vontade. Porém, será um prazer a nós dois caso se junte a mim.
— Juntar-me ao Sr.? — o coração de Flora começou a bater forte.
— Ora, na banheira, é claro. — Ragnall ofereceu seu sorriso novamente. — Vai ficar apertado, mas se montar, podemos fazer as
coisas para satisfação mútua.
Ugh! O homem era insuportável! Como se tivesse prazer em cuidar de suas necessidades carnais!
— Devo dizer, estou chocada que o Sr. sugira tal comportamento. — Flora teve pouca dificuldade em reunir sua justa indignação,
embora não lhe escapasse que, se alguém tinha o direito de desfrutar de seu corpo, era o próprio homem estendido diante dela. — Pois
saiba, estou me guardando para o leito nupcial.
Ragnall assentiu gravemente.
— Seu senso de virtude lhe dá crédito, mas, se decidir me deixar amá-la, e o bom Deus achar por bem enviar um bebê para sua
barriga, eu cuidarei de ambos.
Uma onda de fúria subiu da boca de seu estômago. Então, era assim. Ele as levava para sua cama e deixava seus bastardos pelo
castelo. Com base nisso, metade das crianças colocadas para buscar e carregar provavelmente eram dele!
Ela mal percebeu a força com que estava apertando o sabão até que ele voou, saindo de suas mãos. Batendo no chão novamente,
ele se afastou.
Instintivamente, Flora deu um passo à frente, apenas para colocar o pé sobre a barra quando ela ricocheteou na banheira.
O cão, pensando que havia alguma brincadeira em andamento, levantou-se e pulou para cima dela. Flora foi derrubada, voando
para a frente por cima da borda da banheira de cobre e, com um grande respingo, aterrissou sobre o corpo robusto em seu interior.

Ragnall mal teve tempo de se proteger quando ela se lançou no ar. O joelho dela errou sua virilha por um sopro mínimo tirando-lhe
o fôlego do peito, mas levou apenas um momento para recuperar-se e apreciar a sensação do corpo dela. Com as roupas encharcadas, a
plenitude de seus seios era claramente visível através da cambraia grudenta do corpete e suas pernas se abriram naturalmente ao redor
dele, proporcionando à sua espessura um lugar de descanso confortável.
Levando as mãos aos quadris dela, ele fez ruídos tranquilizadores. —Está bem, lass?
Seu lábio inferior, tão carnudo e rosado, tremia. Maduro para beijar. Seria um bom lugar para começar, já que aprendera há muito
tempo que a melhor maneira de liberar o ardor de uma mulher era ir com delicadeza. Um tipo de sedução provocadora geralmente tinha
os resultados mais seguros, com a própria mulher logo assumindo o comando e mostrando o que queria. Não havia necessidade de um
homem forçar uma mulher. Carícias atenciosas fariam todo o trabalho.
Quanto a esta, tinha a sensação de que havia uma forte veia de paixão, se pudesse convencê-la a deixá-lo ser o destinatário.
No ano seguinte, buscaria outra aliança e geraria o herdeiro de que o clã precisava. Até então, ninguém esperava que permanecesse
celibatário, e o brilho nos olhos de Florrie lhe dizia que se sentia tão atraída por ele quanto ele por ela.
Com uma ruga franzindo sua testa, ela estava se contorcendo para se endireitar e conseguindo apenas desalojar seu vestido, de
modo que sua manga caiu, revelando um ombro liso e branco como leite. Mais do que isso e iria expor seu peito completamente.
Sua imaginação já estava calculando seu peso, deslizando uma mão sobre a pele molhada e escorregadia, enquanto a outra, nas
costas dela, a puxava para perto. Seu seio cairia dentro do calor de sua boca, o pico tenso de seu mamilo um encaixe perfeito entre seus
lábios.
Sua excitação, já inchada e dura, saltou com o pensamento.
— Pare com isso!
A exclamação dela o fez cair abruptamente em si.
— Ora, lass, ainda não comecei. Embora seja apenas uma questão de levantar as saias para remediar isso.
— Sua “coisa”. — ela empurrou contra seu peito. — O que quer que esteja fazendo com isso, faça parar.
Uma risada gutural escapou dele.
— Está fazendo isso tudo sozinha, Florrie. Eu não disse para se jogar em cima de mim, disse? Meu corpo está apenas respondendo
à sua sensação, e quanto mais se contorce, mais os efeitos são perceptíveis.
Ela ficou em silêncio com isso, sua expressão desconfiada.
Ocorreu-lhe que ela tinha menos experiência com um homem do que imaginava, então certamente teria que levar as coisas mais
devagar. Certificou-se de olhar em seus olhos e não na curva do que ameaçava explodir de seu corpete.
— Beije-me, Florrie, e depois a ajudo a se levantar. Depois disso, se desejar mais, encontre seu caminho para minha câmara esta
noite. Como eu disse antes, não farei nada para machucá-la.
Podia vê-la considerando a proposta.
— Um único beijo. — seu olhar baixou para os lábios dele e, para sua diversão, ela se preocupou com os próprios, passando a
língua ao longo de sua borda.
— Aye. — Ragnall engoliu um gemido quando a garota se mexeu, inadvertidamente esfregando aquela parte dele que queria muito
mais.
Ela o olhou cautelosamente novamente.
—Jura que não vai me agarrar?
— Juro. O que quer que aconteça entre nós, será por sua iniciativa, lass.
Embora continuasse franzindo a testa, ela baixou a boca para a dele e Ragnall sentiu o doce roçar de seus lábios, macios como uma
pena. Sentiu o cheiro de feno e a fragrância pegajosa de leite misturada com tons mais terrosos.
Instintivamente, levou a mão à nuca dela, abrindo um pouco a boca, esperando que ela arriscasse a língua, depois passou os dedos
por baixo do tecido nodoso do lenço, desejando sentir a sedosidade de seus cabelos.
Quando o pano caiu, ela deu um grito e recuou de repente. Abrindo os olhos, Ragnall piscou com a visão diante dele. Com seus
cabelos ruivos caindo em cascata e seu rosto corado, ela era incrivelmente bonita.
Sua aparência era do tipo que um homem sonhava, ou melhor, era como se já a tivesse conhecido em um sonho. Havia algo
familiar na inclinação de sua boca e na elevação de seus olhos, e naquele tom particular de vermelho que a coroava.
No entanto, o que quer que tenha visto em seu rosto, deu um susto na garota. Colocando o joelho em seu estômago, ela se ergueu e
saiu da banheira, fazendo a água espirrar no chão, suas saias encharcadas balançando.
Murdo deu um gemido triste quando a porta se fechou atrás dela e, afundando de volta na água, Ragnall suspirou profundamente.
Haveria apenas um remédio para o que precisava de Florrie. Só podia esperar que a curiosidade lhe trouxesse até ele mais cedo ou mais
tarde, ou não seria apenas o haggis recheado a ponto de explodir na noite de Hogmany.
Antes do amanhecer, véspera de Natal
Pela centésima vez, Flora se repreendeu.
Vacilou quando deveria ter sido forte.
Se o tivesse matado quando teve a chance, nada disso teria acontecido. Graças a Deus, apesar do lenço escorregar para revelar seu
cabelo, ele parecia não a ter reconhecido.
Na hora, supôs que ceder ao beijo seria a maneira mais fácil de conseguir o que queria: uma ajuda para sair da banheira e ficar
longe daquele bruto enorme. Era evidente que não tinha muita experiência. Os únicos beijos que recebeu no passado foram na bochecha
ou na mão. Nem mesmo Calder tentou colocar a boca na dela, e nunca lhe ocorreu convidá-lo a fazê-lo.
Durou apenas um momento, e estava ciente do pelo macio de sua barba e do aroma fresco do sabonete em sua pele. Consciente
também da dureza de seu corpo sob ela. Não apenas da parte que era alarmante, mas em tudo. O homem tinha o corpo de um guerreiro,
endurecido pela batalha, a pele esticada sobre os músculos.
Ela não queria beijá-lo. Nem um pouco.
Mas deixou seus lábios tocarem os dele. Apenas o suficiente para permitir que a deixasse ir. Significara menos do que nada. Por
que, então, continuava pensando nisso?
Uma coisa era certa. Não cometeria o mesmo erro novamente. Não deixaria seus sentimentos mais suaves interferirem no que
precisava ser feito.
Afinal, era uma Dalreagh, não uma covarde, e não hesitaria em tomar a vingança que lhe era devida. Seu pai havia sido
assassinado, e nunca esqueceria isso. Nem que fosse com seu último suspiro, ela o vingaria.
Durante toda a noite, escondeu-se de Ragnall, sabendo que ele estava em seu quarto, esperando. Agora, Maggie, e os outros que a
cercavam, dormiam, exaustos de seus trabalhos, com os cobertores puxados até o queixo, enquanto ela tocava em seu punhal, testando o
fio em seu polegar, endurecendo seu coração para o que estava por vir.
Hoje, haveria um banquete. Faria com que Ragnall a visse; que seu convite fosse lembrado. Iria até ele e, quando ele estivesse
satisfeito com o que quer que um homem fizesse com uma mulher, dormindo em seu travesseiro, o esfaquearia.
Haveria um fim para isso, mas lidaria com as consequências. Talvez acreditassem na verdade de sua história, e retornaria a
Dunrannoch como uma mulher livre. Se Nay, sem dúvida seria condenada à morte como assassina.
E o que dizer da justiça que foi aplicada além da sepultura?
Haveria um lugar especial no inferno para mulheres que assassinavam seus maridos? Padre Gregory nunca havia mencionado isso,
mas suspeitava que só disse a ela o que achava relevante para sua vida. Dificilmente teria previsto que Flora se encontrasse sob essa
necessidade.
Um calafrio tomou conta de seu coração.
Tentaria não pensar nisso; apenas da ação imediata diante dela.

Entrando nas cozinhas, Flora se assustou com a temperatura que vinha dos fornos e do grande fogão a lenha, mas o calor era bem-
vindo. Durante a noite, esfriou bastante, e depois caiu uma nevasca, engrossando o gelo sobre Loch Balmore, de modo que todos
especulavam se seria forte o suficiente para o curling. O clima sombrio do mês anterior havia sido substituído por céu azul e uma geada
que fazia o peito doer.
Ragnall, disseram a ela, era particularmente bom no jogo, sempre fazendo a jogada certa, para atingir seu objetivo.
Flora costumava gostar de jogar sozinha, seu pai a ensinou, mas não tinha tempo para pensar em frivolidades. Se conseguisse, o
laird de Balmore nunca mais teria a chance de provar sua proeza com uma pedra de curling.
A lareira ali era ainda maior do que a deles em Dunrannoch, com seis caldeirões menores pendurados em braços ao redor do
caldeirão central, e a sala estava cheia de alvoroço. As exigências de preparar o banquete fizeram com que todos ajudassem.
No entanto, a cozinheira, Sra. McTavish, deu-lhe um sorriso alegre quando se aproximou com o leite daquela manhã.
— Aqui está, lass. Venha e dê uma mexida no clootie. — ela acenou para Flora. — A sorte melhora quando todos ajudam. Seis
vezes para um lado, depois seis para o outro.
Pousando os baldes, Flora enxugou as mãos no avental e deu um sorrisinho. Se a Sra. McTavish soubesse o que se passava na
cabeça de Flora, não seria tão simpática ou acolhedora, mas sua doce simplicidade tocou seu coração. Porém, não tinha do que reclamar
sob o teto de Ragnall, recebia nada além de um tratamento justo.
Pegando a colher com as duas mãos, Flora usou sua força para mexer a pesada mistura de sebo, frutas secas e farinha. Enrolado em
um pano e colocado em água fervente, o pudim era um dos preferidos de seu pai.
Um caroço formou-se na garganta de Flora, mas se recusou a ceder à autopiedade.
— É mais forte do que parece. — a cozinheira deu-lhe uma cotovelada. — E bonita, além disso. Sabe que o senhor está
perguntando a seu respeito? Garanto que não estará em sua própria cama esta noite, nem em nenhuma outra durante o Hogmany, se
gostar da companhia dele.
A menção dos modos mulherengos de Ragnall agitou a raiva nela novamente, mas Flora se obrigou a responder humildemente.
— Se o mestre quiser, suponho que não posso discordar.
A Sra. McTavish inchou as bochechas.
— Bem, nunca ouvi falar de nenhuma lass pensando duas vezes antes de entrar em seu quarto. Se fosse verão, o mestre teria te
levado para a charneca no crepúsculo, se quisesse, mas está um pouco frio para isso. Ainda assim, eu diria que já experimentou uns
beijinhos.
— Aye. — um rapaz que passava piscou para Flora, soprando seu próprio beijo. — E o laird vai lhe dar mais do que um uns poucos
beijos. — passando os braços em volta do peito, representou um carinho brincalhão. — Mas, se o laird não for do seu agrado, venha me
encontrar, lass. Irei mantê-la ocupada.
— Sai daqui, antes que eu lhe dê uma surra! — a cozinheira pegou a orelha do menino e balançou a cabeça, rindo. — Não preste
atenção a esse moleque atrevido. É o laird quem a quer.
Pegando sua faca, continuou preparando os coelhos dispostos sobre a mesa.
— E se puder nos ajudar um pouco com os neeps e tatties, será bem-vinda, mas é melhor ajudar a servir no salão esta noite. —
olhou com desaprovação para o lenço na cabeça de Flora. — O laird vai querer que o sirva em particular, então é melhor sumir com
esse pedaço de pano. Pelo pouco que posso ver de seu cabelo, é uma cor bonita e digna de ser admirada.
Estava claro que a Sra. McTavish tinha uma queda pelo laird. Na verdade, Flora não tinha ouvido ninguém falar mal dele, mas
levar as lasses para a charneca no crepúsculo! Sabia que os homens das Terras Altas tinham muita paixão e aceitariam qualquer
conforto que uma garota estivesse disposta a dar, mas o laird deveria dar um exemplo melhor.
Vou servi-lo, tudo bem, mas com mais na travessa do que haggis e stovies, pensou Flora, levando uma faca para a pilha de nabos
que esperavam.

Quando o bolinho de clootie ficou pronto, Flora já havia descontado a maior parte de sua ira nos vegetais. Os últimos anos haviam-
lhe ensinado o que era trabalhar, mas, ainda assim, se sentia cansada. Ter dormido mal provavelmente não ajudou.
— Está merecendo um descanso, garota. — a Sra. McTavish pôs a mão em seu ombro e passou a Flora uma fatia fina. — Isso aqui
é do pudim menor que fiz ontem. Leve para o meu cubículo e deite sua cabeça na cama por um tempo. O mestre espera que esteja fresca
e animada, então não podemos deixar que desmaie. — ela pareceu pensativa por um momento. — Mas, se está pensando e se
preocupando, há uma garrafinha de bebida alcoólica na prateleira ali. É útil, às vezes, para deixar de lado o que quer que esteja te
deixando ansiosa, só tome cuidado para tomar só um gole. Mais e pode não acordar de novo!
Cansada, Flora assentiu. Durante toda a tarde, o conhecimento do que deveria fazer a consumiu, e a situação dificilmente foi
melhorada ao ouvir a tagarelice dos criados, tudo sobre como Ragnall era gentil e como era bom em resolver as disputas do clã.
Mal sabiam eles que tipo de homem realmente era.
Seguindo as instruções da Sra. McTavish, Flora foi até a pequena sala ao lado da cozinha, que a cozinheira havia deixado
aconchegante. Vendo a garrafa de malte, Flora a pegou. Seu pai sempre desaconselhara a bebida forte, dizendo que transformava o
homem no diabo. Se ela se lembrava bem, o pai de Calder havia brigado com ele por causa disso, porque gostava de uísque. Seu pai
havia dito que foi isso que o matou, muita bebida.
Será que…
Abrindo a garrafa, Flora deu uma cheirada cautelosa.
Quanto uma pessoa devia consumir antes de “não acordar”, como disse a Sra. McTavish?
De volta à cozinha, um dos homens de Ragnall desceu para pegar uma jarra de cerveja, um pão e um pouco de queijo, para levar
aos aposentos do laird. Descansando antes que seus convidados chegassem para as festividades da noite, Ragnall não a esperava, mas
certamente não seria muito difícil conseguir entrar.
Ele poderia estar zangado, é claro, por não ter ido quando a convidou pela primeira vez, então teria que se mostrar receptiva, para
despistá-lo, porém se conseguisse fazê-lo beber o malte, poderia ficar inconsciente por tempo suficiente para permitir que fizesse o que
era necessário.
A questão era como fazê-lo, e que quantidade seria suficiente. Embora fosse um momento de festa e alegria, não tinha a impressão
de que Ragnall beberia de bom grado até o estupor no meio da tarde.
Talvez pudesse levar o bolinho de clootie e mergulhá-lo no uísque. Isso esconderia o gosto o suficiente? Virando a garrafa, Flora
deixou o líquido escorrer sobre a pesada massa. O cheiro fez seu nariz torcer, mas acrescentou um pouco mais. O bolinho de frutas
parecia ter uma capacidade notável de absorver o malte.
Ela olhou sob os ombros. A garrafa estava quase cheia e agora parecia conter menos da metade do que tinha. Seria o suficiente?
Colocando-o de volta na prateleira, alisou as saias e desfez o pano do cabelo. Como disse a Sra. McTavish, se quisesse chamar a
atenção dele, seria melhor deixá-lo ver sua longa madeixa. Quanto mais rápido chegasse ao quarto de Ragnall e conseguisse que
comesse o bolinho, mais cedo tudo isso acabaria.
Tarde, Véspera de Natal
Ragnall engoliu o resto da cerveja e jogou o pedaço final de bannock para Murdo. Olhando para a cama novamente, sentiu a
mesma decepção que o incomodava nas horas escuras. A garota não o visitou como ele esperava. Na verdade, passou a noite se
revirando, meio ansioso e um pouco frustrado, quando deveria estar dormindo.
Claro, havia muitas outras que poderia convidar em seu lugar, mas a tentação de provar uma mulher após a outra havia muito se
esgotara.
Não havia convidado a leiteira para sua cama levianamente.
Algo nela se recusava a lhe dar paz. Sua teimosia, talvez; aquela postura determinada no queixo que o lembrava de sua própria
natureza desafiadora.
E era estranho o quanto se parecia com a jovem noiva que ainda assombrava seus pensamentos, aquela garota de aparência triste
que preferiu fugir a se casar com ele.
Não que se considerasse responsável pela morte dela. Afinal de contas, Malcolm viera até ele para negociar o noivado. E duvidava
que até mesmo seu pai tivesse percebido a extensão de sua aversão, ou a que isso poderia levar.
Alguém matou Malcolm Dalreagh naquela noite. Talvez tivesse sido Flora e talvez não. Fugir da cena fez com que parecesse ruim
para ela, mas Ragnall não tinha tanta certeza de que era a culpada. A raiva poderia fazer uma pessoa agir contra sua natureza normal,
mas aquela virgem de rosto pálido seria capaz de matar?
Mas, se não foi Flora, então quem?
Alguém descontente por Ragnall ter roubado o prêmio e tudo o que veio com ele? Embora tivesse alguns palpites, não havia
evidências para agir e sem nenhum vestígio da arma do crime, relutou em fazer acusações.
A melhor maneira tinha sido manter as coisas quietas.
Felizmente, o primeiro a chegar foi o servo idoso de Malcolm e ele teve a sabedoria de ir direto para Ragnall. O velho criado,
embora inflexível quanto à possibilidade de ela ter cometido o ato, concordara que Flora provavelmente assumiria a culpa.
A partir daí, a decisão foi bastante simples. Os homens de Ragnall cuidaram do corpo e ninguém soube.
A história contada era que o chefe havia morrido enquanto dormia, contente por saber que o clã estava em boas mãos. Apenas
Calder começou a fazer perguntas embaraçosas e, embora Ragnall não gostasse do homem, concordou em deixá-lo administrar o castelo
em troca de sua discrição.
Desde então, Ragnall fez tudo o que pôde para afastar aquela noite de sua mente, incluindo sua tristeza pela perda da jovem Flora.
Talvez apenas os anjos realmente soubessem o que havia acontecido com ela, mas o bilhete que havia deixado o convenceu de que não
desejaria ser encontrada. O inverno tinha sido amargo. Se tivesse ido para as montanhas, como disse, não havia dúvida de que morreria.
Ele se tornou adepto, com o passar dos anos, de afastar memórias perturbadoras para se conviver. Melhor fingir que algumas coisas
nunca aconteceram.
Houve certos eventos, porém, que nunca poderiam ser esquecidos.
O que aconteceu com sua mãe, por exemplo.
Ele era apenas uma criança e só tinha ouvido de outras pessoas o castigo imposto a ela e seu amante, mas ninguém merecia o
tratamento que aqueles dois haviam sofrido. Assim, nunca fora capaz de perdoar seu pai por fazê-la sofrer como sofreu, nem por saber
que, se Broderick tivesse sido um tipo diferente de marido, talvez sua mão não se desviasse.
Uma coisa que isso lhe ensinou foi que não fazia sentido colocar uma mulher em sua cama a menos que quisesse estar lá e, uma
vez casado, era dever de um homem garantir que sua noiva estivesse satisfeita.
Ragnall suspirou quando uma batida veio em sua porta. Havia pedido apenas uma hora para si mesmo e pensava que não faria mal
deitar a cabeça por um tempo, mas dificilmente poderia fazê-lo se sua palavra fosse necessária em algum assunto.
Para sua surpresa, no entanto, foi a garota, Florrie, que entrou, parecendo tão deliciosa quanto no dia anterior, e com o cabelo
descoberto, as mechas de fogo contidas em uma trança grossa. Ragnall foi assaltado por uma imagem dela se contorcendo nua sob ele,
seu cabelo solto e sedoso espalhado sobre a carne pálida, um mamilo rosado espreitando entre os cachos em tons de chama.
Maldição!
Foram esses pensamentos que o mantiveram acordado a noite toda!
Ou a mulher estava disposta ou não.
Pelo menos, desta vez, não parecia prestes a desmaiar de susto. Havia um ar muito mais resoluto, do tipo que mostrava que havia
se decidido sobre algo.
Talvez o dia estivesse melhorando, afinal.

— Clootie para o senhor, meu laird. — fazendo uma mesura, Flora retirou o pano do prato que carregava. — Não é o pudim
principal, já que irá cortá-lo no salão, mas a cozinheira achou que gostaria de uma amostra, e tem uma gotinha de alguma coisa em
cima, como é tradicional para o Natal. — Flora deu-lhe um sorriso radiante. — O Sr. vai provar, espero, e assim posso dizer à Sra.
McTavish como gostou.
— Aye, lass, mas apenas se compartilhar comigo. — o laird se abaixou para coçar Murdo sob o queixo. — Sente-se e vamos olhar
para o ano novo juntos, com uma mordida no pudim para trazer boa sorte.
Os olhos de Flora se desviaram para o cão de caça, encarando seu dono com nada menos que adoração.
— Oh, eu não poderia. —colocou o prato ao lado de Ragnall. — É muito requintado para mim. Prefiro um pouco de mingau. — a
última coisa que queria era acabar embriagada.
Embora duvidasse que Ragnall fosse diabólico o suficiente para levantar a saia de uma mulher quando estivesse sob a influência da
bebida, cair inconsciente no quarto do laird não serviria para seu propósito. Precisava de seu juízo perfeito para o que estava planejando.
Ragnall franziu a testa.
— No entanto, eu consideraria uma honra se sentasse comigo um pouco. Não tenho dúvidas de que estão trabalhando duro nas
cozinhas. Mas merece um descanso. Puxe o banquinho e me conte sobre sua fazenda e família. O que farão esta noite? Um jogo de
ferraduras ou nove pinos, ou gostam de “cavaleiro cego”?
Ragnall quebrou um pedaço de clootie, mas, assim que o colocou na boca, começou a tossir.
— Nossa, a Sra. McTavish andou ocupada com sua garrafa! — com os olhos lacrimejantes, engoliu o pedaço. — Eu sei que ela
guarda o malte para ocasiões especiais, então foi extremamente generoso da parte dela molhar o pudim.
Flora assentiu. Podia sentir o cheiro da bebida de onde estava sentada e só isso a deixava tonta.
Limpando a garganta, o laird continuou conversando.
— Na primavera, pode convidar sua família para fazer uma visita ao castelo, visto que nunca estiveram aqui antes. É sempre um
prazer conhecer aqueles que residem nas terras de Dalreagh.
— É muito gentil, meu laird.
— Na época de meu pai, ele prestava pouca atenção aos que estavam nos arredores da charneca, mas desejo remediar isso. Todos
são importantes e devem ser levados a se sentirem assim.
Flora mordeu o lábio. Seu pai costumava dizer o mesmo, embora tendesse a manter seus convites apenas para os membros do clã.
Ragnall aproximou o prato.
— O malte é bastante forte, mas não desejo ofender a Sra. McTavish.
Ele olhou o pudim de vários ângulos e uma pontada de arrependimento se contraiu no peito de Flora. O que isso faria com ele?
Tinha visto homens vomitarem por beberem muita cerveja e apertarem seus estômagos com dores terríveis. Qual seria, então, o efeito
de tanto uísque?
No calor do momento, jogou o braço para frente, jogando o prato no chão. O pudim caiu, aterrissando diretamente aos pés do cão
de caça, que o olhou como se mal pudesse acreditar no que os céus acharam por bem dar de presente.
— Nay! — Flora saltou, pegando o pudim de mandíbulas iminentes. Olhando em volta, podia ver apenas um curso de ação.
Embora muitas das aberturas nas paredes do castelo fossem fendas estreitas, permitindo que seus arqueiros se defendessem conforme
necessário, a da câmara do laird era maior e revestida com vários pequenos pedaços de vidro. Erguendo o trinco, Flora jogou fora o
pudim e fechou-o rapidamente antes que a neve pudesse entrar.
Murdo ergueu os olhos de reprovação e desabou tristemente junto à lareira, soltando um suspiro sincero. Ragnall, enquanto isso, a
examinava como se houvesse ficado delirante.
— Sra. McTavish tem tantos pratos que quer que experimente no banquete; seria uma pena estragar seu apetite comendo todo
aquele pudim pesado. — Flora fez o possível para reunir um certo grau de indiferença. — E, claro, o clootie não é para cachorros. Não
queremos que Murdo fique doente.
Ragnall olhou para o cão, depois de volta para Flora.
— Bem, parece que nenhum de nós precisa se preocupar mais, embora seja improvável que quem encontrar os restos do pudim
empregue a mesma abstinência. Só podemos rezar para que sobrevivam à provação.
Flora agarrou a beirada da janela, sentindo-se enjoada. Ela esperava que os pássaros ficassem bem se o comessem.
Levantando-se de sua cadeira, a expressão do laird se transformou em preocupação.
— Tem certeza de que está se sentindo bem, Florrie? — ele tocou sua testa, então moveu seus dedos para seu pulso, como se para
medir seu pulso.
— Aye, perfeitamente bem.
Levantando a manga, seu toque foi leve sobre a pele sensível.
—Deve saber, lass, que tenho um forte desejo de levá-la para minha cama, e não apenas por uma única noite. Claro, prometo vê-la
devidamente casada quando chegar a hora de nos separarmos.
Flora cerrou os dentes.
— É extremamente atencioso da sua parte, tenho certeza.
— E também adivinhei, doce Florrie, que é pura.
— Ah, aye. Sou pura em todas as ações, ainda que não sempre em pensamento. — Flora conseguiu esboçar um meio sorriso.
Seus lábios roçaram o lado de seu pescoço e ela estremeceu.
— Não se preocupe, lass. Conheço as maneiras de preparar uma mulher para um homem, então ficará pronta para receber tudo o
que tenho para lhe oferecer.
A maneira como estava beijando embaixo de sua orelha a fez duvidar. Do jeito que estava, seus joelhos ameaçavam esquecer para
que foram feitos. No entanto, o fato dele ser adepto das formas de sedução não mudava o essencial do que pretendia fazer.
— Assim que eu a despir, Florrie, não haverá barreira para que eu reivindique cada parte sua. — ele arrastou sua boca para baixo,
suas mãos agarrando-a pelos quadris e puxando-a para o calor de seu corpo.
Sabendo que ele havia dito essas mesmas palavras para inúmeras outras mulheres, deveria ter sentido repulsa, mas uma parte dela
estava curiosa. Se Ragnall Dalreagh era o amante que proclamava ser, que lhe provasse isso.
Tinha medo de muitas coisas, mas não se permitiria temer isso. Era apenas um ato humano, ao qual teria se submetido como esposa
dele. Ragnall havia roubado muito dela, mas ela tiraria isso dele.
Inclinando a cabeça para trás, deixou a boca dele percorrer o comprimento de seu pescoço até a base de sua garganta. Como se
sentisse sua rendição, Ragnall a ergueu em seus braços, seus olhos fixos nela o tempo todo, brilhantes, escuros, que falavam da paixão
que pretendia compartilhar com ela. Em poucos passos, alcançou a cama, cobrindo-a com seu corpo enquanto a deitava, e Flora sentiu
um pânico momentâneo.
Este era o momento. Iria tornara-se o que Deus e seu pai planejaram e, quando acabasse, quebraria os Mandamentos, cometendo o
pior dos pecados.
Ragnall a olhava intensamente, como se estivesse tão inseguro quanto Flora sobre por onde começar, mas então sua boca encontrou
a dela em um beijo profundo e terno e ela se perdeu nele, ao mesmo tempo leve como o ar, mas mais consciente de seu corpo do que já
tinha estado antes. Sentia-se viva com a força de seus braços e a pressão de seus quadris e, quando ele interrompeu o beijo, ofegou, sem
fôlego.
Ele murmurou palavras carinhosas enquanto empurrava o vestido de seus ombros, roçando sua bochecha sobre a pele macia de sua
clavícula, até a curva superior de seus seios. A ponta de sua língua deslizou sobre seu mamilo antes de tomá-lo em sua boca,
consumindo-a inteira. Um choque de desejo, intenso e inegável, apertou dentro dela, chocante em sua ferocidade.
Não importava que o odiasse.
Era uma pervertida, mas um arrepio de excitação a balançou quando ele levou a mão até sua panturrilha e coxa até encontrar a
umidade entre suas pernas. E quando ele mergulhou um dedo lá, acariciando onde era macia como veludo, quis chorar e gemer e bater
nele com os punhos. Mas os cerrou em vez disso, bem como seus dentes, desejando não fazer nenhum som que lhe mostrasse o quanto
precisava que continuasse a tocá-la, assim como estava fazendo.
E o tempo todo, ele chupava seu mamilo. Com o rosto enterrado ali, pelo menos não podia ver o que havia em seus olhos. Não
queria que visse aquela necessidade terrível e quente que a fazia querer gritar e envolver as pernas com força, puxando-o mais fundo,
pois queria saber como poderia ter sido se tivesse uma noite de núpcias.
—Tem certeza agora? — a voz de Ragnall era irregular quando ergueu a cabeça, seus olhos escuros de desejo. Ele empurrou os
quadris para a frente e, embora ainda estivesse totalmente vestido, sentiu o cume duro pressionando contra ela, e a lenta pulsação de seu
próprio desejo, dizendo-lhe o que precisava dele.
Flora umedeceu os lábios.
— Sim. Aconteça o que acontecer, é uma escolha minha.
Aquilo parecia tudo o que precisava ouvir. Inclinando-se para trás para descansar sobre os joelhos, ele puxou a camisa
apressadamente sobre a cabeça, revelando-lhe o torso musculoso e cheio de cicatrizes de batalha que suas mãos desejavam tocar.
— Quero me enterrar em você, lass, entrar com força, mas prometo refrear minha necessidade selvagem, pois não vou esquecer
que é virgem e não vou machucá-la.
Sem fôlego, Flora concordou com a cabeça.
No entanto, antes que pudesse puxar o kilt para o lado, houve uma batida forte na porta. Ragnall hesitou, olhando para Flora,
deitada seminua embaixo dele. A batida veio mais forte na segunda vez.
— Laird? Tem alguém querendo uma audiência antes do início da festa.
— Por minhas bolas, o homem não pode esperar um pouco?
Flora puxou um pouco a bainha de sua camisola, para que sua perna pudesse roçar a grande coxa peluda de Ragnall. Sua atenção
foi imediatamente atraída para baixo e ele puxou a camisa ainda mais para cima, expondo os úmidos cachos ruivos a seu olhar faminto.
— Diga que tenho meu próprio banquete para comparecer aqui antes de descer, e tenho um apetite que não será saciado
rapidamente. — embora estivesse obviamente irritado, piscou para Flora.
— Mas é Calder, do castelo Dunrannoch, e insiste em lhe falar.
Ao ouvir o nome de Calder, a respiração de Flora ficou presa no peito.
Ele estava em Balmore?
Claro que estava. Todos os que ocupavam posição estariam vindo para jurar lealdade e participar das festividades que antecederam
o próprio Hogmany.
Ela só podia especular sobre o que era tão urgente que desejava consultar o chefe do clã, chamando-o de seu quarto.
Não teria descoberto que estava ali, certo? Não. Era impossível. Mesmo Ragnall não sabia quem ela era, e ninguém em Balmore
via Maggie como outra coisa senão uma simples criada. Não havia nada para entregá-la.
— Devo dizer ao idiota para mastigar seu punho, ou irá atendê-lo?
— Diga para ir embora. — Ragnall gritou de volta. Passando as mãos pelos quadris de Flora, ele puxou a camisola para cima,
sobre a cabeça dela e jogou longe, de modo que ficasse realmente nua sob ele.
— Ele está dizendo que vai subir, a menos que apareça agora. — a voz além da porta parecia decididamente insegura.
— Maldição do inferno! — Ragnall se curvou para descansar a cabeça no estômago de Flora. — Está vendo como é, Florrie? Nada
de paz!
— Está tudo bem. — Flora forçou-se a responder com firmeza. A última coisa que precisava era que Calder invadisse o quarto.
Embora Ragnall não a tivesse reconhecido, praticamente crescera com seu meio-irmão, que seria menos facilmente enganado.
— Desça. Vou esperar aqui, aquecendo a cama. — deu a ele um sorriso hesitante.
Ragnall suspirou e assentiu. — Acenda o fogo, lass, e eu pedirei que lhe enviem comida e uma roupa nova. Não haverá mais
ordenha das vacas enquanto eu precisar da sua companhia.
Para ficar decente, ele passou a mão nos cabelos. — Nay, não é a coisa mais confortável, afastar-me quando tenho uma espada
larga totalmente desembainhada sob meu kilt, mas não ficarei longe por muito tempo. — depositando um último beijo em seus lábios,
ele finalmente partiu.
Flora recostou-se nos travesseiros.
Que Deus a ajudasse!
Mais alguns momentos e teria sido completamente tomada!
Um calor estranho estava fluindo por ela, emanando do fundo de sua barriga. Seus seios, arrancados da barba por fazer de Ragnall,
pareciam despojados de atenção agora que ele se fora.
Que Deus a ajudasse mesmo.
Ela podia sentir o calor e o peso dele sobre ela, e precisava que voltasse para terminar o que havia começado. Só então o mataria.
Saindo da cama, se enrolou na colcha e foi até a escrivaninha de Ragnall. A gaveta de cima estava trancada, mas a segunda de
baixo se abriu para revelar várias folhas de pergaminho, uma pena e um frasco de tinta.
Apressadamente, colocou tudo sobre a mesa, mergulhando a pena. Não havia tempo para tomar os cuidados que o padre Gregory
incutira nela, mas o bilhete era apenas para ela: uma destilação de sua promessa, para se lembrar do que deveria fazer.
À luz do entardecer, ela formou as palavras.

Eu, Flora Dalreagh, juro vingar a morte prematura de meu pai, por lâmina ou veneno, estrangulamento ou afogamento. Por
qualquer meio que se apresente.
Estarei atenta ao tempo e, não importa o quão brando meu coração se torne, não desistirei de cumprir meu dever.

Pronto!
Estava escrito e não iria fugir de seu voto.
Olhando entre as roupas descartadas, recuperou a adaga do bolso, a lâmina ainda manchada com o sangue de seu pai. Dirigindo a
ponta para o polegar, picou uma gota de seu próprio sangue para juntar-se a ela, então pressionou o polegar ao lado de seu juramento
escrito.
Acima de tudo, e não importa o que acontecesse, se lembraria por que estava ali.
Muito tarde, dia de Natal
Quantas horas se passaram?
Ela havia comido uma porção do ensopado. Com ele veio um vestido de lã vermelho macio e um cinto trançado, agora colocado
sobre o baú ao pé da cama. Flora não queria pensar em quem poderia tê-lo usado antes, ou de onde tinha vindo.
Como a verdadeira noiva de Dalreagh, teria recebido um amplo guarda-roupa como parte de seu dote.
Flora voltou a andar de um lado para o outro, parando na janela para olhar o pátio. Os membros do clã chegavam sem parar para o
banquete da noite, seus cavalos conduzidos aos estábulos. Durante todo o dia, os servos do castelo estiveram ocupados preparando
camas e acendendo lareiras. Como os outros, Maggie deveria estar trabalhando.
Ragnall deve ter se envolvido em dar as boas-vindas, pois o que quer que Calder desejasse discutir não demoraria tanto, e Ragnall
certamente parecia ansioso para retornar. No entanto, uma ponta de medo se formou dentro dela. O que Calder diria ao laird?
Por mais tentador que fosse vestir a roupa, caso se aventurasse a descer, seria mais seguro fazê-lo em sua túnica simples, pois
chamaria menos atenção assim.
Usar o vestido carmesim seria declarar-se de uma maneira que poderia levar a perguntas difíceis. Melhor passar despercebida entre
os convidados. Ainda assim, olhou ansiosamente para o tecido macio. Se tivesse reivindicado seu lugar de direito, como castelã da casa,
teria recebido os convidados de Balmore ao lado de Ragnall e recebido todas as cortesias. Em seu disfarce de Florrie McKintoch, ela
não era nada e esperava-se que agradecesse os favores mostrados pelo laird; grata, também, por encontrar um marido quando ele
próprio se cansasse dela.
Tal era o fardo de uma mulher!
O próprio pensamento fez seu sangue ferver.
Ela não deveria ter desejos, pensamentos e opiniões próprias, mas os tinha em abundância, além de vontade de agir!
Depois de trançar o cabelo, vestiu as roupas velhas e tirou do bolso o quadrado de tecido, prendendo-o bem na cabeça.
A adaga ela escondeu debaixo do travesseiro. Uma vez que voltasse, para esperar Ragnall mais uma vez, a arma estaria ali,
facilmente à mão.
E o voto que escrevera?
Saber que havia escrito as palavras lhes dava poder e precisaria de toda a força para cumprir sua promessa, mas não podia arriscar
que o papel fosse encontrado. Com isso, lançou os olhos ao redor da sala. Devia haver algum lugar onde poderia esconder o
pergaminho. Só por um tempo. Uma vez que seu ato fosse feito, iria queimá-lo.
Voltando para a mesa, ela caiu de joelhos, olhando para baixo. Uma fenda na parede serviria, só precisava ser largo o suficiente
para receber o papel dobrado. Nas sombras, não seria visto.
Passando as mãos pela pedra, Flora encontrou o que procurava e escondeu o pergaminho. Seu voto fazia parte da sala agora; parte
das muralhas do castelo. Quando chegasse a hora, se lembraria disso.

Seguindo o corredor que levava às cozinhas e ao fundo do salão, o som de risadas e alegria aumentava à medida que Flora se
aproximava.
— Florrie!
Ela girou ao ouvir seu nome, para ver Maggie atrás. Deixando a jarra de lado, sua amiga abraçou-lhe com rapidez.
— Onde esteve? — Maggie manteve a voz baixa. —Estava procurando por você.
— Nos aposentos do laird. Não há necessidade de preocupação. — Flora ofereceu todas as garantias que pôde, sabendo como
Maggie se preocupava. — Eu estava lá por minha própria vontade, e nada aconteceu de preocupante.
A sobrancelha de Maggie se ergueu.
— Tudo bem, mas eu queria encontrá-la por minhas próprias razões. — ela puxou Flora ainda mais para as sombras. — É a
chegada de Calder que me deixa ansiosa.
Flora assentiu, incitando a amiga a continuar.
— Trouxe o clootie para o laird cortar e foi então que Calder pôs os olhos em mim. Tentei ficar fora de vista, mas a Sra. McTavish
insistiu que eu saísse para servir a cerveja e ele me agarrou pelo pulso. — Maggie mordeu o lábio. — Lembrou-se de que eu era sua
criada e queria que eu lhe contasse sobre a noite da morte de seu pai, sobre o que lhe aconteceu, quando fugiu durante a noite, e se eu
sabia algo sobre isso.
— E o que disse? — Flora engoliu em seco, a boca repentinamente seca.
— Eu disse que foi um choque terrível para mim descobrir que tinha ido embora e que o laird estava morto, e que eu mesma deixei
o castelo na manhã seguinte, desejando não ter mais nada a ver com Dunrannoch.
— E acha que ele acreditou?
Maggie negou. — Eu diria que suspeitou, pois olhou atentamente ao redor do salão, como se a estivesse procurando.
A mente de Flora saltava de uma possibilidade para outra. O assunto sobre o qual Calder desejava falar com Ragnall
provavelmente não tinha nada a ver com ela, mas se pensasse que poderia estar ali, quem sabia o que sugeriria.
Os dois estavam sentados juntos à mesa principal. Se chegasse perto o suficiente, poderia ouvir a conversa deles.
— Dê-me a jarra de cerveja, Maggie.
— Nay! Eu não vou! — Maggie balançou a cabeça com veemência. — Se está pensando em se aproximar de Calder, isso é um
erro. O homem não é confiável.
— Serei cuidadosa, prometo.
Relutantemente, Maggie entregou-lhe o jarro e, com os olhos baixos, humildemente, Flora entrou no clamor do salão.

— Já lhe disse, Calder, não desejo desistir do controle de nenhuma parte das terras de Dalreagh. — Ragnall bebeu até o fundo de
seu copo e o empurrou para o lado. — Era o desejo do velho chefe que os dois ramos fossem reunidos novamente, para fortalecer o clã.
Se não pudermos segurar o que é nosso, algum outro o tirará de nós. Seria uma loucura dividir o que agora está unido.
— Claro que não se importa, Ragnall, tendo sido o escolhido para liderar o clã. — Calder deu um grunhido descontente. — Mas,
conhece minha irritação. Durante anos, Malcolm me disse que passaria a liderança de Dunrannoch para minhas mãos, junto com a
custódia de sua filha. Eu teria ficado satisfeito. Em vez disso, não tenho nada além da administração do castelo, e isso apenas por seu
favor.
Ragnall empurrou para o lado sua bandeja.
— As responsabilidades do laird não devem ser encaradas levianamente. Todos dependem de minha vontade: gerações de famílias,
filhos e anciãos. É um dever que pretendo cumprir até meu último suspiro.
Calder murmurou alguma coisa.
— Se tem mais alguma coisa a dizer, prefiro ouvir na minha cara! — Ragnall cruzou os braços, assumindo um tom mais severo. —
Se isso é tudo, vou me despedir por aqui.
— Nay! Acalme-se. Não deveríamos nos desentender. — Calder deu um tapinha nas costas de Ragnall. — Embora eu saiba por
que quer se retirar mais cedo. Ouvi dizer que tem um novo pedaço de saia esperando.
— Ouviu isso?
Parada três passos atrás, Flora levantou as orelhas.
— Aye, e uma linda jovem ruiva também. Então quando tiver o suficiente dela, pode passá-la ao longo do caminho. — Calder deu
um sorriso lascivo. — Alguma recompensa, pode chamar, pela noiva que me foi prometida antes de reivindicá-la.
Ragnall estreitou os olhos. — Não é minha intenção me cansar dela tão cedo, então o aconselho a lançar sua rede em outro lugar.
Com pés leves, Flora se aproximou um pouco mais.
— Como preferir — Calder deu de ombros. — É sua prerrogativa como laird e chefe. Primeiro escolha a mais suculenta. Apenas
tome cuidado com quem leva sob seu teto.
—O que quer dizer com isso? — quando Ragnall se inclinou para frente, Flora se abaixou para encher sua taça, recuando antes que
qualquer um dos homens tivesse tempo de notá-la.
Sem olhar para ela, Calder ergueu a sua própria taça, convidando-a a servi-lo. — Só que vi que a antiga criada de Flora Dalreagh o
está servindo. Como os eventos de uma certa noite permanecem duvidosos… — Calder tocou a lateral do nariz — …estou surpreso por
estar disposto a deixá-la perambulando por aí. Pelo que sabe, foi ela e aquela lass que parecia recada, mas não era, que mandaram o
velho para o outro lado. Afinal, as duas foram embora antes do amanhecer
O sangue de Flora congelou em suas veias. Pouca chance, então, de persuadir Calder a apoiar sua alegação de inocência.
Esperava que Ragnall concordasse com a insinuação suja, pois o desvio de suspeitas só poderia ajudá-lo. Em vez disso, sua voz se
tornou ameaçadora.
— Está no passado e é onde permanece. Apenas Deus e Malcolm Dalreagh sabem a verdade e quem quer que o tenha enviado para
seu criador, acertará suas próprias contas no Dia do Julgamento.
Calder ergueu as mãos em sinal de resignação.
— Não irei dizer mais nada. Apenas fique de olho naquela garota, a Maggie. Se ela não estiver escondendo nada, eu como meu
próprio sporran!
Quando Calder inclinou a cabeça, indicando Maggie do outro lado da sala, Ragnall desviou o olhar brevemente e, naquele mesmo
momento, Flora viu Calder deixar cair algo de sua mão no recipiente de bebida do laird.
No momento em que Ragnall olhou para trás novamente, Calder havia levantado sua xícara.
— Um brinde. — Calder olhou para o laird por cima da borda. — Vida longa e amizade verdadeira.
Sem suspeitar, Ragnall pegou a cerveja e levou-a aos lábios.
Se Calder envenenasse o homem que ela acreditava ter matado seu pai, o que isso importava? Certamente, estaria fazendo um
favor, fazendo o ato que havia sido incapaz de fazer sozinha? Mas algo estava errado e parecia errado ficar parada.
No mesmo instante, se lançou para frente, derrubando a taça da mão do laird e derramando a cerveja sobre sua túnica. Xingando,
ele deu um pulo e, ao se virar para repreender a falta de jeito dela, encontrou os olhos de Flora.
— Não há necessidade de me arrastar! — Flora tentou libertar seu braço enquanto Ragnall a conduzia escada acima.
— Se fosse obediente, eu não precisaria levá-la de volta para o quarto. Assim, estaria esperando por mim lá em vez de fugir para
onde deveria estar.
— Aye! Esperando o quanto quiser! — Flora não pôde deixar de mostrar sua ira. — E mantida lá até que termine comigo!
Ragnall a girou, pressionando-a contra a parede e pairando acima dela.
—Não era para ter ouvido isso. Outros homens lhe cobiçarão, como bem deve saber. Escolhi minhas palavras para alertar Calder,
usando uma linguagem que ele entenderia. Como eu disse antes, não desejo a segurar contra sua vontade.
Como serva no castelo, ela não tinha um poder verdadeiro de desafiar os desejos do laird. O fato dele insistir no contrário
continuou a confundi-la. A única mulher que poderia ter certeza de manter seu corpo sagrado era uma prometida à igreja, servindo
como noiva de Cristo. Esse privilégio não era de Flora, embora sempre se perguntasse se poderia se entregar à mercê do convento.
A verdade era que, desde o momento em que se casaram, pertencia a Ragnall, mesmo que ele nunca tivesse consumado a união.
Agarrando seu pulso, Ragnall a conduziu para cima, então ao longo da passagem escura, de volta ao seu próprio quarto, fechando a
porta firmemente atrás deles antes de falar mais.
Por fim, ele soltou. — Explique-se. Estava espionando, e não acredito que tenha derrubado a taça por acidente.
Carrancuda, Flora aproximou-se do fogo e tirou o lenço.
Por que interveio? A intenção de Calder era malévola, tinha certeza, mas o que a inspirou a salvar Ragnall de qualquer travessura
que seu meio-irmão planejou?
Isso, ela não podia dizer, mas não faria sentido expor suas suspeitas sobre Calder ao laird, pois pensaria que era uma encrenqueira
e isso não seria bom para promover seu objetivo.
Firmando o queixo, resolveu interpretar o personagem que ele parecia acreditar que fosse.
— Eu estava entediada, esperando. — colocando as mãos para trás, desamarrou o avental, então se sentou para tirar os chinelos. —
E me irritou ao ver que achou a companhia de seus membros do clã mais atraente do que voltar para o meu lado.
Os lábios de Ragnall se contraíram.
— Então não vamos perder mais tempo. Pode ser uma garota desobediente, mas eu sou seu mestre, neste aposento mais do que em
qualquer outro lugar, e vou providenciar para que tire essa roupa de serviço, para usar as roupas elegantes que foram enviadas.
A maneira como ele falou despertou seu antigo sentimento de ira, mas, no fundo de sua barriga, a estranha dor tomou conta
novamente. Ele desejava ser seu mestre, mas ela o faria servi-la mesmo assim. Deixaria que a apalpasse e lhe tocasse. E também lhe
acariciasse.
Quando tudo estivesse pronto, pegaria a adaga sob o travesseiro. Puxando a túnica sobre a cabeça, ela a jogou no chão. De pé
apenas com sua camisola, passou os dedos pela trança para soltá-la, deixando a longa madeixa ruiva cair livremente sobre o ombro.
— O Sr. não é o mestre em tudo. Eu tenho o livre arbítrio que Deus me deu.
— É assim mesmo? — havia um brilho inconfundível em seus olhos, e seu estômago vibrou em resposta. Ragnall agarrou o
vestido escarlate, claramente com a intenção de forçá-lo sobre ela.
Com uma ousadia repentina rugindo em suas veias, Flora tirou a camisola dos ombros. Ficando nua, plantou as mãos nos quadris.
Ragnall parou em seu caminho, assim como imaginou que ele faria. Seu olhar caiu para seus seios, para a curva de seu quadril e,
em seguida, para o ponto crucial de suas pernas, seus olhos ficando vários tons mais escuros.
Flora mal teve tempo de pensar antes que ele jogasse o vestido para o lado e a levantasse. Em quatro passadas, a jogou na cama.
— Vou lhe mostrar quem é o seu mestre. — ajoelhando-se sobre ela, suas palavras eram cheias de comando, embora falasse com
uma rouquidão suave, passando as mãos pelo comprimento de sua coxa interna. Flora foi obrigada a conter o gemido, lutando contra a
vontade de levantar os quadris enquanto ele acariciava com os polegares cada lado de seu sexo. Absurdamente, cruzou as mãos sobre o
peito, sentindo-se repentinamente em desvantagem.
Ele deu um sorriso conhecedor e, com muita delicadeza, a abriu. Olhando para o lugar mais macio do interior, sua voz era pouco
mais que um murmúrio. — Vou lhe dar mais prazer do que pode imaginar, pequena leiteira, e não pararei até que se curve sob mim. Vai
tremer e implorar para que eu lhe dê mais - e quero ouvir cada som.
Flora não disse nada, mas o lugar escorregadio entre suas pernas se contraiu em resposta, como se entendesse melhor do que ela o
que estava para acontecer.
Curvando-se, Ragnall passou as mãos por baixo de seu traseiro, em seguida, abaixou para beijar seus cachos. Flora se contorceu,
mas Ragnall apenas a segurou com mais firmeza, mantendo-a onde desejava com duas mãos fortes.
Ela sentiu a barba por fazer em seu queixo e o calor de sua respiração quando sua língua encontrou a costura de seu sexo e deslizou
para cima.
O que estava fazendo?
Já a havia tocado por dentro antes, mas sua língua era completamente diferente.
Fechou os olhos. Era torturante, mas suportaria. Deixaria que pensasse que tinha se rendido.
Ele a segurou firme em sua boca e, por dentro, um puxão profundo tomou conta, respondendo à pressão dos longos golpes de sua
língua. Até tentou se conter, abafar os sons que fazia, mas foi inútil. Fosse o que fosse, Flora queria mais.
Estava segurando a colcha, mas seus dedos de repente encontraram os cabelos dele e não para afastá-lo. Odiava-o, mas algo a
agitava, como o vento que empurra com força o lago, ondulando as águas e fazendo com que tudo se curvasse à sua vontade. Uma
necessidade crescente a invadiu, sombria e quente, e arqueou-se contra a boca dele, elevando-se ainda mais.
Ele deu um gemido baixo, sua voz persuasiva. — É isso, lass. Deixe-se levar.

Seu peito subia e descia com cada respiração enquanto ela se deitava na colcha, seus membros finalmente relaxados. Deu-lhe mais
satisfação do que esperava, vê-la estremecer sob seu toque.
Apesar de ser solteira, era determinada, tirando a roupa para ficar nua diante dele, incitando-o a deitar-se sem demora.
E estava mais do que pronta para o que pretendia, graças ao mel que havia produzido. Maldição, o gosto dela era bom. Se tivesse
continuado, não duvidava que rapidamente atingiria seu clímax novamente, mas ele não era nenhum santo; chegara a hora de explorá-la
com mais do que os dedos e a língua. Com isso, não teria descanso até que houvesse uma verdadeira união.
Fazia tempo que ele não queria uma garota tão desesperadamente, e o latejar em sua virilha deu-lhe o próprio trabalho do diabo
para se conter, mas prometeu que a união seria mutuamente prazerosa, e era uma questão de honra que mantivesse a sua palavra.
E que Deus o ajudasse, pois teria que lutar contra o desejo de se enterrar nela, ou jogá-la e tomá-la por trás, deslizando entre suas
coxas.
E embora parte dele quisesse que ela soubesse que teria tudo o que desejava, queria que se submetesse de bom grado, que o
desejasse da mesma forma que a desejava. Não podia prometer que não ficaria dolorida pela manhã, mas esperava que tivesse algumas
boas lembranças de suas relações sexuais para atenuar o desconforto.
Levantando-se, parou ao lado da cama.
— Me quer, lass? —estava ciente da irregularidade em sua voz. Se a resposta fosse negativa, não sabia o que faria.
Embora não falasse, ela deu um aceno de cabeça.
Era tudo o que precisava.
Desabotoando seu kilt, começou a se juntar a ela, nu. Se fossem fazer isso corretamente, queria sentir cada curva feminina contra
sua pele, envolvê-la em torno dele e, com alguma sorte, encorajar a jovem a explorar o gosto e a sensação de sua própria carne.
Enquanto tirava a última roupa, agradou-lhe vê-la lançar os olhos sobre o que logo seria dela.

Querido Pai Celestial, o tamanho dele!


Tendo-o visto em seu banho, já sabia, é claro, mas quando ele tirou o kilt, uma onda de pânico a invadiu.
Mal teve um momento antes que ele estivesse em cima dela, apoiando seu peso nos braços, mas deixando-a muito consciente de
seu calor, dos pelos de seu corpo e dos músculos duros. Passando as mãos gentilmente sobre seus ombros e seios, lembrou-se de como o
laird acariciava seu cão de caça e como o animal o olhava com adoração quando o fazia. Mesmo agora, jazia ao lado da lareira,
seguindo os passos de seu mestre.
Sua carícia pousou na reentrância da cintura de Flora e ela estremeceu sob ele, apesar do calor ardente que emanava de seu corpo
de guerreiro. Cada parte dela tornou-se consciente de cada centímetro dele. Até mesmo seus cílios estavam trêmulos, tocados como
eram por seus meio-beijos que iam de suas sobrancelhas até as pálpebras de seus olhos.
—Confia em mim, lass? — ele murmurou baixinho, embora sua rigidez já estivesse aninhada onde estava molhada. — Beije-me,
Florrie, e coloque suas pernas ao meu redor. Essa é a maneira de me levar para dentro. —esfregou o nariz na ponta do dela, então trouxe
seus lábios para que se encontrassem.
Suas mãos a estavam guiando para onde queria, e ela permitiu, deixando seu corpo afundar ainda mais entre suas coxas.
— Seja suave e doce, lass. O homem em mim anseia por tomá-la rapidamente, mas tomarei todos os cuidados. — sua excitação
estava cutucando-a e, embora não fizesse nada, seu sexo se suavizou e se separou para ele. E então a penetrou com um gemido baixo e o
choque fez Flora gritar.
Ragnall ficou parado, embora permanecesse embutido dentro dela.
— É apenas um pequeno desconforto. — uma camada de suor cobria sua testa. — Devagar e sempre é o caminho; logo verá que
me ter dentro de você é um prazer. — enquanto falava, ele se retirou, depois avançou, sua mandíbula apertando o tempo todo.
Era incrivelmente apertado e incrivelmente grande. Se escolhesse mover-se mais rapidamente, ou empurrar com mais força,
certamente se machucaria.
— Foi feita para mim, Florrie. — Ragnall falou ofegante, trabalhando seu comprimento adentro, encontrando um ritmo mais suave.
As pernas dela estavam fazendo exatamente como ele pediu, entrelaçando-se com as dele, como hera em torno de carvalho.
Ela ofegou quando seu próximo impulso penetrou mais do que os anteriores, e deu um gemido correspondente.
Mesmo assim, pensou, não posso. Não posso.
Mas seu corpo tinha outras ideias.
Ele a estava beijando novamente, sua boca desenhando uma selvageria crua que não sabia que estava lá, fazendo-a querer se abrir
para ele.
Fazendo-a querer tê-lo dentro de si, seu peso pressionando e suas mãos segurando-a contra seus impulsos.
O desconforto era diferente agora. Não mais uma dor lancinante, mas uma dor, ecoando aquela que geralmente repousava sobre
seu coração, nunca deixando que esquecesse o que havia sido tirado dela.
Ela queria estar apenas ali, deixando esta estranha necessidade convencê-la.
Ragnall estava olhando para ela, seu olhar profundamente azul, penetrando-a tão ferozmente quanto seu corpo. Ele ficou parado
por um momento.
— Assim está bem, lass? — tirando uma de suas mãos de baixo dela, afastou o cabelo de sua bochecha, então acariciou seu seio,
roçando seu polegar, quente, em seu mamilo, seu toque leve como uma pluma. Ela não pôde deixar de choramingar.
Não pare.
Balançou-se contra ele, e foi doce, enlouquecedoramente maravilhoso.
Ela o queria. Mesmo que a machucasse, queria sentir a extensão de seu corpo, vermelho-sangue e duro. E queria saber tudo o que
poderia fazer com ela; conhecer sua força e seu tamanho.
Ela empurrou os quadris para cima e arqueou as costas, querendo a mão dele totalmente em seu seio; querendo que beliscasse onde
a provocava, que a tocasse com mais força.
Queria tudo.
Os músculos dela se apertaram sobre ele e Ragnall gemeu, mais alto desta vez.
— Lass, não sabe o que faz comigo. — ele começou a se mover novamente e ela se agarrou a ele enquanto suas estocadas ficavam
mais rápidas.
Ela temia estar errada no que desejava. Ragnall parecia fora do controle que havia exercido, seus olhos pesados com desejo lascivo,
mas algo a atraiu para a mesma onda que o levava, fazendo-a cravar as unhas em suas costas tanto para machucá-lo quanto para
incentivá-lo.
Ele jogou a cabeça para trás quando o espasmo o alcançou e pulsou por dentro, derramando sua semente profundamente.

Um ronco suave do outro lado da cama lhe disse que Ragnall Dalreagh não estava mais acordado.
Conseguiu exatamente o que planejou, usou seu desejo para se colocar em sua cama, e lá estava ele, dormindo ao lado dela e
vulnerável ao punhal descansando sob seu travesseiro.
Virando-se de lado, o laird a apertou contra seu peito. A perna dele ao lado da dela, prendendo-a tão seguramente quanto o braço
atravessado em seu corpo.
Mesmo dormindo, era forte, mas ainda assim conseguia alcançar a lâmina. Só tinha que fazer com que deslizasse e a enfiar em seu
pescoço. Ele não saberia o que estava acontecendo até que fosse tarde demais.
Ragnall se mexeu novamente, aninhando o queixo na curva do pescoço dela e suspirando.
Tentando ignorar o som de sua respiração e o calor de sua mão descansando em sua barriga, Flora se preparou para agir.
Agora que chegou a esse ponto, a ação a encheu de pavor, não apenas por causa da intimidade que tinham compartilhado.
Ela sabia o tempo todo que seria difícil.
Era assassinato.
Um pecado grave.
E cometido nestes dias de Yule, dias em que honravam o nascimento do Senhor.
Ela se ajoelhou na capela com os outros servos do castelo na manhã anterior, como uma verdadeira cristã, e o tempo todo tramando
um ato que poderia enviar sua alma para o diabo.
Deus perdoava tais coisas?
Muitos homens mataram em nome da honra, protegendo seu povo e suas terras.
Muitos mataram por vingança também.
Mas e quanto a matar aquele a quem todo o clã chamava de líder?
O homem que deveria chamá-la de esposa e a quem se entregou, como teria feito em sua verdadeira noite de núpcias?
O homem que poderia ter plantado um bebê em sua barriga?
O pensamento a deixou fria. Se estivesse grávida, poderia viver consigo mesma sabendo que era a assassina do pai do inocente?
Desde que fugira, virando as costas para tudo o que poderia ter sido, negou qualquer pensamento sobre a maternidade. Tal caminho não
era para ela; agora não.
Não poderia ser.
Mas o pensamento a incomodou.
Qual seria o destino desse bebê, se algum dia nascesse?
Um pai morto e uma mãe condenada por assassinato?
Pior que sua própria infância, lamentando a morte de sua mãe.
Não que todos os jogos de cama fizessem uma criança. Em cinco anos, foi a única filha de seus pais, e nem todas as gestações
foram bem-sucedidas. Durante o casamento de seu pai com a mãe de Calder, houve sete concepções que ela conhecia. Apenas dois
chegaram a termo e nenhuma das crianças sobreviveu à noite.
Ainda assim, precisava ter um cuidado. A Sra. McTavish saberia as ervas que se tomava quando um bebê era indesejado, ou talvez
Maggie?
Flora mordeu o lábio com força. A probabilidade era que não houvesse filho, mas, mesmo que houvesse, sabia que sua consciência
nunca permitiria que fizesse tal coisa.
Matar o homem que assassinou seu pai era uma coisa.
Acabar com a vida de um inocente era outra.
Já era ruim o suficiente ter que matar Ragnall, e depois de terem se deitado juntos no ato que a tornou dele. Afinal, o vínculo físico
entre marido e mulher era tão forte quanto qualquer juramento de fidelidade.
Ela estava prestes a quebrar os votos que havia feito durante o noivado, e não haveria volta.
Flora fechou os olhos com força e passou os dedos sob a cabeça. Lá estava, o cabo frio e macio da adaga. Gentilmente, lentamente,
o puxou e o segurou firmemente em sua mão.
Da forma em que estava deitada, não estava em melhor posição para enfiar a lâmina no alvo. Melhor sentar acima dele e localizar a
veia. Não gostaria de ser cruel.
Embora sua ambição o tivesse levado a acabar com o pai dela, parecia um bom homem em outros aspectos; o tipo que seu pai teria
aprovado para sucedê-lo.
Um mergulho da faca era melhor, para evitar sua luta.
A respiração de Ragnall permaneceu pesada, perto de seu ouvido. Caso se movesse muito rapidamente, arriscava acordá-lo.
Apoiando o ombro dele com a outra mão, se afastou.
Quão profundamente estava dormindo, e sonhando também, a julgar pelos pequenos sons que fazia.
Do outro lado da sala, um gemido fino veio de onde o cão estava. Ele se mexeu e se esticou, e passos soaram ao lado da cama.
Embora a luz da lua estivesse fraca, Flora viu o menor brilho nos olhos do animal. Ele descansou o queixo sobre a colcha, examinando
seu mestre e ela em sua cama.
Não me olhe assim! Seu mestre deve pagar pelo que fez; não importa se o ama.
Virando as costas para o cão, se apoiou no cotovelo, segurando a lâmina no pescoço de Ragnall, a ponta apontada para a veia
grossa. Um empurrão forte e seria feito, direto até o cabo.
Que Deus do céu me perdoe. Flora prendeu a respiração.
Sua mão estava tremendo e sua visão turva.
Lágrimas! Nay! Não haveria lágrimas!
O vilão não havia derramado nada por seu pai, e não desperdiçaria nada com ele.
Mas, por trás, o cão de caça voltou a ganir e a arranhar as costas de Flora com as patas.
Com um suspiro trêmulo, puxou a adaga, afastando a ponta para trás.
Não poderia fazer isso!
Ragnall Dalreagh merecia morrer, mas não seria nas mãos dela. Em algum lugar ao longo do caminho, o que parecia simples
deixou de ser.
Acabou.
Ela deixaria Castle Balmore e tentaria encontrar sua paz em outro lugar. As freiras de Inverness a acolheriam, talvez.
Embora se sentisse covarde e envergonhada por sua falta de determinação, havia consolo em saber que sua alma não correria
perigo. Poderia se penitenciar pela maldade que já havia cometido.
Isso deveria ter lhe trazido alívio, mas um vazio terrível se apressou em preencher o lugar onde estava seu ódio - o fogo que ardeu
dentro dela durante esses dois anos.
Mesmo sendo uma tolice, sentiu um forte desejo de tocar a face dele. O laird a havia levado para sua cama por uma única razão.
Sentimentos ternos não tinham lugar aqui - no entanto, rastejaram em torno de seu coração e mantiveram-no cativo.
Uma única lágrima brotou e escorreu por seu nariz.
Se ao menos Ragnall tivesse sido paciente, esperando por sua liderança no clã. Ele poderia ter sido um marido digno. Um homem
que poderia amar. O homem que geraria seus filhos.
Agora, tudo estava em ruínas, pois embora estivesse muito fraca para vingar seu pai, tinha resolução suficiente para saber que não
poderia permanecer sob o teto de Ragnall.
Ir embora era a única resposta.
Com as costas da mão, afastou a lágrima.
No momento seguinte, seu pulso foi puxado para trás e a adaga caiu de sua mão. O laird, com os olhos despertos e escuros
ardentes, pairou sobre ela, prendendo-a na cama com seu peso, e a adaga espetando a garganta de Flora.
Perto do amanhecer, 25 de dezembro
—Então quer me matar? — a voz que tinha sido rouca de desejo agora estava fria como o gelo sobre o lago, e a adaga que Flora
havia escondido estava encostada em sua própria garganta. — Muitos podem desejar minha morte, mas o que eu fiz para ofendê-la, uma
simples leiteira?
Flora não ousou se mexer, pois a ponta afiada da adaga tocou exatamente no lugar que pretendia ser sua própria marca. Ragnall
precisava apenas aumentar a pressão um pouquinho mais e o sangue dela pintaria a lâmina.
— Não me reconhece? — embora tremesse por dentro, encontrou seu olhar feroz. — Sou eu, a filha do homem que matou, embora
ele confiasse a você tudo o que amava.
Choque passou por suas feições, com descrença em seus calcanhares, raiva seguindo logo atrás. Por um breve momento, Flora
sentiu a adaga pressionar sua pele com mais força e soltou um grito estrangulado, mas a pressão diminuiu quase imediatamente.
— Se eu desejasse silenciá-la, minhas mãos nuas em sua garganta seriam suficientes, mas eu não sou um assassino de mulheres,
não importa no que acredite. — jogou o punhal longe, de modo que deslizou pelo chão. — A lass prometida a mim morreu nestes dois
invernos e a verdade sobre a morte de seu pai junto com ela. —passou os dedos pelo cabelo dela, pesar franzindo a testa, mas sua voz
permaneceu dura. — Tem a aparência dela, admito, mas é impossível que seja ela. A lass não era mais do que uma criança quando se
uniu a mim. E tinha um jeito de ratinho. Não teria sobrevivido sem os confortos com os quais foi criada.
— Pensa tão pouco do sangue dos Dalreagh? — a raiva de Flora explodiu. — Eu era uma criança, mas não sem amigos, e tive dois
longos anos para me tornar a mulher que vê agora. Eu me preparei para vingar o assassinato de meu pai, jurando ter satisfação com a
mesma lâmina que o matou. Observe se não confia em mim. O entalhe no punho provará minha história e minha própria reivindicação
do nome Flora Dalreagh. Meu disfarce era simples, mas bom o suficiente para enganá-lo.
Ragnall recuou um pouco, claramente inseguro de sua convicção, e Flora sentiu o ar frio passar entre eles. Ambos ainda estavam
nus, e a coxa de Ragnall estava entre as dela. A mão dele pousou em seu ombro, a mesma mão que a embalou durante todo o ato de
amor.
Assim, pareceu considerar tudo o que lhe foi dito e um lampejo de respeito surgiu em seus olhos. — Se for mesmo Flora, não sei
no que acreditar. Parecia ser uma filha dedicada, mas as pessoas fazem coisas terríveis quando ficam com raiva repentina, e um noivado
nem sempre é escolha da mulher. — um olhar triste se apoderou dele. — Dissuadi os homens de procurarem-na, dizendo que não os
arriscaria no inverno das montanhas e, quando não a vi nem tive notícias a seu respeito, acreditei que estivesse morta, como todo
mundo. Eu lhes disse que, se fosse culpada, já havia pagado o que devia.
— Matar meu pai? — Flora empurrou seu peito, tentando colocar mais espaço entre eles. — É uma boa história colocar a culpa em
mim, quando o pecado recai sobre sua própria cabeça. É astuto e inteligente, admito, Ragnall, mas não há honra em você! Apenas
ambição cruel, e por isso deveria se envergonhar.
Ela reprimiu um gemido contra os dedos doloridos dele em seu ombro.
— Talvez esteja falando a verdade sobre sua inocência, mas tem um rosto ousado para agir como uma donzela inocente quando eu
acordo para encontrá-la com uma lâmina em meu pescoço. Não confesse ser incapaz de matar quando estava prestes a me lançar para o
Criador!
Flora deu um grito exasperado. — Quem me dera ser capaz! Estaria morto neste momento, com seu sangue expiando o que foi
ceifado. Foi minha própria falta de coragem que o deixou vivo. Traí a memória de meu pai ao falhar em despachá-lo, e essa falha
carregarei comigo até o dia de minha morte.
Para sua irritação, seus olhos se encheram de lágrimas novamente. Já perdera tanto, e com que propósito? Apenas para que Ragnall
pudesse reivindicar impacientemente seu lugar como chefe do clã.
Mas seu choro parecia não amolecer o coração do laird. Levantando-se da cama, vestiu a camisa e acendeu a lamparina,
recuperando a adaga de onde estava.
Girando-o na mão, inspecionou a escultura. Não havia como confundir a adaga passada de chefe para chefe, portando os símbolos
do clã Dalreagh: um cervo orgulhoso e uma águia com asas estendidas. Claro, alguns diriam que apenas o assassino de seu pai teria a
chance de roubar a adaga dele.
Olhando para cima, os olhos de Ragnall seguraram os dela por vários segundos.
Ele a mataria agora?
Se fosse o assassino que acreditava que fosse, dificilmente iria querer que espalhasse sua história sobre o castelo.
Quando ele falou, foi com um ar determinado. — Não lhe ocorreu que seu pai me escolheu como sucessor porque confiava em
mim? O clã precisa de uma liderança forte. Se tivesse me matado, teria mergulhado os Dalreaghs em um caos. — deixando de lado a
adaga, pegou seu kilt e começou a envolvê-lo — Se for inocente da morte de seu pai, entendo seu desejo de vingança, e isso lhe dá
crédito, embora duvide que teria escapado com tanto sucesso quanto antes. Meus homens não parariam por nada até que fosse
encontrada.
Flora suspirou cansada.
— Não pode entender. — ela afastou as lágrimas. Já não tinha aprendido há muito tempo que não serviam para nada? — Os erros
devem ser corrigidos. Eu vim para sua cama com a intenção de vingar o assassinato de meu pai. Só por isso eu permiti que me tocasse.
— esfregou os dedos sobre a colcha, não desejando olhar nos olhos de Ragnall, pois suas palavras não eram totalmente verdadeiras.
O laird não precisava ouvir quanto prazer suas carícias lhe haviam dado. Era humilhante o suficiente admitir para si mesma. Seu
ato de amor a havia agitado de maneiras que não compreendia. Mesmo agora, se a adaga fosse colocada em sua mão e Ragnall
permanecesse indefeso, seria incapaz de obter a vingança que buscava.
Apertando o kilt, Ragnall colocou a adaga em seu cinto. Mais uma vez, a examinou, como se estivesse decidindo sobre seu curso
de ação, e uma sombra apareceu sobre ele quando se aproximou.
Ele falou suavemente desta vez.
— Os pássaros naquela colcha foram costurados pela mão de minha mãe. Como muitas donzelas, ela não teve voz no compromisso
escolhido, e seu casamento com meu pai não foi feliz. — Ragnall fez uma pausa, pigarreando, enquanto Flora olhava para o bordado
sob seus dedos. — Eu era muito jovem para entender, pois a encontrava com os olhos vermelhos com bastante frequência, e meu pai
não se importava com quem ouvia a violência que despejava sobre ela.
Ragnall hesitou novamente e Flora o encontrou olhando para ela com uma expressão pensativa. Verdadeiramente, era um homem
de humores que mudavam rapidamente.
— Alasdair, meu irmão, me manteve longe dele o máximo que pôde, mas era como uma escuridão sobre o castelo e sobre todos
nele.
Alasdair.
Pela falha na voz de Ragnall, ficou claro que falar dele causava certa dor. Certamente então, o acidente de equitação tinha sido
apenas isso. Olhando para o homem diante dela agora, não podia acreditar que havia conspirado para causar a morte de seu irmão.
— Deve ter ouvido as histórias, sem dúvida, do que aconteceu depois. — Ragnall veio sentar-se no canto da cama.
Flora deu um pequeno aceno de cabeça, embora apenas fragmentos tivessem chegado aos seus ouvidos. Como seu marido era
incapaz de lhe dar o afeto que procurava, Vanora havia arrumado um amante, mas o dia inevitável chegou quando os dois foram
descobertos. A punição imposta à dupla foi bárbara, disso Flora sabia, embora os detalhes nunca tivessem sido mencionados em seus
ouvidos. Mesmo Maggie se recusou a dizer.
— Eu já bati espadas mais de uma vez com homens que ousaram jogar a história na minha cara. — Ragnall nivelou seu olhar para
Flora. — Mas falo disso agora para mostrar que entendo seu desejo de vingar o pai que amava. Passei minha juventude tramando planos
para acabar com o homem que sujeitou minha mãe àquela morte cruel.
— E por que não agiu? — Flora mal conseguiu esconder sua surpresa.
— Foi Alasdair quem me convenceu contra isso. — o rosto de Ragnall suavizou quando falou o nome de seu irmão. — Ele me
disse que tínhamos que considerar o bem do clã; que havia conflito suficiente entre os clãs sem causar facções internas. Alasdair deveria
assumir o lugar de meu pai como laird, e estava contente em esperar.
Flora tinha apenas lembranças muito vagas do primo mais velho de seus primos de segundo grau. Uma pessoa séria, lembrou. E
teria sido um chefe sábio pelo que ouvia, embora talvez lhe faltasse o espírito de Ragnall, que parecia atrair os outros com mais força.
Puxando as botas em sua direção, Ragnall começou a amarrá-las em suas pernas.
— Não é uma parte da minha história que tenho prazer em contar, lass, mas faço isso para mostrar que entendo o fogo em suas
entranhas. Talvez tenha matado seu pai, ou talvez Nay, mas, de qualquer forma, entendo o que teria lhe motivado a fazer isso. Não
tenho dúvidas de que minha mãe lamentou o dia em que seu próprio pai a entregou a Broderick e a condenou a um casamento que
trouxe nada além de lágrimas.
Flora franziu a testa.
— Parte do que diz faz sentido, e meu coração se compadece de sua pobre mãe e tudo o que ela suportou, mas não entendo por que
segue essa linha de raciocínio quando deve saber que sou inocente na morte de meu pai. É meu desejo vingá-lo pegando aquele que me
fez vir até aqui, acreditando que era assassino.
De pé, o laird a olhou com compaixão, mas a pedra subjacente em seus olhos permaneceu.
— É o que diz… ou talvez sua mente esteja tão cheia de ressentimento que não consegue julgar onde gastar sua ira. De qualquer
maneira, não posso deixá-la ter a liberdade do castelo, sabendo da raiva que dirige sua mente. Preciso de tempo para pensar no que deve
ser feito. Até então, deverá ficar trancada aqui.
Flora agarrou a colcha em seu punho enquanto observava Ragnall partir e ouvia a chave girando pesadamente na fechadura. Ela
deveria ser mantida ali, então, até que decidisse sua punição.
Estendendo a mão por cima da cama, sentiu o calor onde o corpo dele estava, e um calafrio passou por ela.
Parecia convencido de que fora ela quem matara o pai.
Sendo assim, estaria errada em sua própria suposição?
Afundou a cabeça nas mãos e seu coração se encheu de pavor.
Se Ragnall não assassinou seu chefe, então quem o matou? E com que propósito?
O passar das horas trouxe um tumulto de emoções, mas agora Flora tinha certeza de uma coisa. Suas convicções estavam erradas
em relação a Ragnall. Se ele fosse o assassino de seu pai, não teria escrúpulos em apontar a adaga para o próprio pescoço de Flora,
despachando-a antes que tivesse a chance de contar sua história em outro lugar.
Em vez disso, seus olhos lhe disseram que sentia apenas pena; isso e um estranho tipo de empatia. Parecia impossível então que
carregasse o peso da culpa de um assassino.
Ela lhe diria isso, que estava errada, e faria tudo o que pudesse para convencê-lo de sua própria inocência. Juntos, descobririam
quem era o verdadeiro responsável. Como chefe, Ragnall teria autoridade para levar o vilão de coração maligno à justiça. Ela acreditava
em seu senso de honra para fazê-lo, mesmo que causasse problemas dentro do clã.
Com vivacidade, lavou-se na pequena bacia, estremecendo apenas um pouco com a área dolorida entre suas pernas. Fiel à sua
palavra, Ragnall foi gentil, pois foi ela quem o incitou. E pensar que teve medo, naquelas horas depois, que pudesse tê-la deixado
grávida.
Agora, a noção trouxe consigo sentimentos completamente diferentes.
Seus votos foram feitos diante de Deus e unidos pelo aperto de mãos.
Eles perderam tanto tempo, mas compensaria isso agora. Seria a esposa que merecia e abraçaria Ragnall como seu marido, como
seu pai pretendia. Isso, pelo menos, poderia fazer.
Depois de vestir o vestido vermelho de lã, arrumou o cabelo e ficou apresentável. Tinha fé que ele veria a verdade.
Então, ele iria querer levá-la para o grande salão, não é? Para apresentá-la aos seus membros do clã. O laird explicaria tudo e eles
entenderiam. Ele os faria acreditar em sua inocência e tudo ficaria bem. Afinal, ele era o chefe, e muito respeitado. Ninguém
questionaria sua sabedoria.
Ela só tinha que recontar os detalhes daquela noite, e então veria a honestidade de suas palavras.
Não se permitiria acreditar em qualquer outra coisa.
Quando a porta finalmente se abriu, o coração de Flora disparou e ela se levantou imediatamente. Como desejava lançar os braços
em volta do pescoço de seu marido e encontrar seus beijos ansiosos com os seus.
Somente quando ele entrou na sala com Calder ao seu lado, a alegria dela morreu em seu peito, pois Ragnall parecia ter
envelhecido desde a última vez que o viu.
— Aye, é a garota. — Calder deu um passo ousado em sua direção, com um sorriso desagradável nos lábios. — O pai não
suspeitava que cuidava de uma víbora, mas eu vi desde o começo, que era uma serpente disfarçada de donzela, mais preocupada com
seus próprios desejos vãos do que com seu dever para com o clã. Foi um alívio, eu lhe digo, quando o compromisso inicial de nos
unirmos como marido e mulher foi quebrada.
Ele balançou a cabeça tristemente.
— Não fui o único a ouvi-la discutindo com Malcolm em seu quarto na noite de sua morte, mas não imaginei que fosse tão longe a
ponto de matá-lo. As roupas ensanguentadas foram encontradas no quarto dela pela manhã, e a garota fugiu, como bem sabe.
Por alguns momentos, Flora ficou horrorizada demais para falar, mas então uma onda de fúria a invadiu.
— Mentiras! Nunca falei contra a vontade de meu pai. Eu era tudo o que uma filha obediente deveria ser. Aceitei todas as decisões
que ele tomou, mesmo quando as escolhas não eram minhas. —olhou para Ragnall, implorando para que falasse em seu nome, mas viu
apenas uma aceitação sombria.
Como isso aconteceu?
O laird não era tolo. Por que acreditaria nas acusações de Calder?
— Você vê como ela é! — Calder cruzou os braços. — De seus próprios lábios, a própria admite que o noivado foi contra sua
vontade, ela não escreveu o mesmo no bilhete que deixou em seu quarto, dizendo que não o aceitaria como marido? Ela não queria
você, Ragnall, mais do que me queria.
Um brilho maligno iluminou os olhos de Calder.
— Acredito que como dormiu com ela, teve a chance de inspecionar seu corpo com boa luz? Não me surpreenderia descobrir que
traz alguma marca do diabo. Ouvi dizer que as bruxas não gostam de casar com homens mortais, tendo demônios suficientes para visitá-
los à noite para satisfazer até mesmo os desejos mais devassos.
O suspiro de horror morreu na garganta de Flora quando viu Ragnall olhar não para ela, mas para o sol da manhã que enchia a
janela.
Ele não toleraria acusações tão vis. Não acreditava nisso.
— Não há dúvida de que veio até você se passando por inocente e o seduziu com doces promessas — continuou Calder. — Mas
agora vejo que usa o belo escarlate de uma mulher confiante em seus encantos. Se tivesse voltado ao seu quarto sozinho, garanto que
teria levantado aquelas saias em um instante. É assim com as mulheres que sabem como torcer um homem na ponta do dedo.
Flora sentiu o calor subir ao rosto. Seria isso o que Ragnall via quando a olhava, uma mulher conivente que havia manipulado suas
paixões o tempo todo? Envergonhava-a pensar que não estaria muito errado.
— Vejo que dói saber que foi enganado, mas não precisa se preocupar mais, Ragnall. Se eu pudesse resolver o assunto, mandaria
enforcar a libertina por seus pecados, mas honrarei seus desejos como chefe do clã. Como combinamos, cuidarei de sua detenção no
Castelo Balmore, e não será mais um perigo para os homens tementes a Deus. — Calder lançou um rápido olhar para seu laird e,
vendo-o distraído, lançou a Flora um olhar de triunfo. — Vou me preocupar em fazer com que pense muito sobre sua maldade, vivendo
seus dias em penitência.
Flora apertou a garganta.
— Mas não podem fazer isso! Ragnall é meu marido consumado. Só ele tem autoridade sobre mim.
Correndo para o lado do laird, pegou a mão dele e a levou ao peito.
— Olhe para o seu coração, marido. Sabe que sou uma boa mulher e verdadeira.
Ragnall concedeu-lhe a cortesia de encontrar seus olhos, mas os dele sofreram uma transformação, cheios de um abismo de dor
oca. Ela mal reconheceu o homem que brincou com ela, que a confrontou com sua própria raiva, e que se deitou com ela com tanta
paixão.
— O noivado será anulado. — Calder declarou. — O padre Gregory concordará quando souber a verdade sobre os crimes profanos
da bruxa. Nenhum homem deveria permanecer casado com tal megera, muito menos o amado laird do clã Dalreagh. Há muitas
mulheres virtuosas que nosso laird pode escolher no lugar dessa prostituta imunda. Minhas próprias irmãs de Sorcha e Hilda, estão
atingindo a maioridade e serão esposas obedientes. No ano novo, enviarei as duas para Castle Balmore para que as conheça melhor,
Ragnall. Não tenho dúvidas de que encontrará alguém do seu agrado, e o casamento pode acontecer assim que estiver pronto.
— Nay! — Flora caiu de joelhos, pressionando a cabeça na coxa de Ragnall. — Não me mande embora.
— Mexa seus pés, vadia. — a mão áspera de Calder a colocou de pé novamente. — Seja grata por ter sido poupada de um
julgamento perante os membros do clã e de expor seu corpo para a busca de marcas de bruxas. Mesmo que um corpo pareça puro, às
vezes elas são encontradas nas partes íntimas e a busca deve ser completa.
— Basta! — Ragnall falou finalmente, seu tom tingido de cansaço. —Está atormentando a garota sem um bom motivo, Calder.
Apesar de todas as evidências que apresentou sobre a noite da morte de Malcolm, não posso ter certeza de que ela empunhava a adaga.
Leve-a de volta para casa e trate-a com o cuidado devido à filha do antigo chefe, mas confine-a em seus antigos aposentos em
Dunrannoch até que eu pense mais sobre o assunto.
Ele olhou suplicante para Flora.
— Eu quero mesmo acreditar que é inocente.
— Marido. — sua voz não passava de um sussurro.
— Escute, mulher. — o aperto de Calder em seu braço era firme. — O laird falou e não é para discutir.
— Ragnall. Não me abandone! Será que não vê que eu me importo contigo?
Mas o laird não olhou para trás quando Calder levou Flora embora.

A luz do dia se transformou em escuridão quando as paredes de granito do Castelo Dunrannoch surgiram, e a lua subiu para a
primeira porção do céu, lançando seu brilho através da neve rodopiante.
Com os pulsos amarrados, cavalgou na frente de Calder, obrigada a suportar a pressão de seu corpo contra o dela e seus dedos a
tocando. A princípio, ele apenas agarrou seu quadril sob a capa, cavando a carne macia, mas logo teve coragem de apalpar seus seios,
enquanto respirava quente em seu ouvido. A fina lã do vestido oferecia pouca proteção contra seus cruéis ajustes e beliscões, e ele não
se importava que o ar frio invadisse seu corpo tão livremente quanto suas mãos atrevidas.
Era o dia da Santa Missa, quando as almas cristãs refletiam sobre o milagre do nascimento do Senhor, lembrando-se da sagrada
família reunida em torno do berço da criança que mudaria o mundo. Um tempo de esperança nos tempos mais sombrios. No entanto,
Flora nunca se sentiu tão sozinha.
À medida que cada quilômetro de paisagem gelada passava, Flora se obrigava a se refugiar em seu íntimo. Não havia dúvidas
quanto ao tratamento que receberia sob a proteção de Calder, mas recusava-se a reagir a qualquer tormento que ele pudesse inventar.
Que a usasse, se quisesse, mas não teria a satisfação de ouvi-la implorar ou mostrar sinais de angústia.
De muitas maneiras, falhou com seu pai e traiu o nome de Dalreagh com sua tolice, pois dirigiu seu olhar vingativo inteiramente
para o homem errado, e desperdiçou esses anos se escondendo enquanto o verdadeiro culpado sentava-se ocioso dentro do paredes de
sua antiga casa.
Como tinha sido tão cega?
Via agora que o ressentimento de Calder pelo noivado rompido alimentara sua natureza odiosa. Ele tinha planejado acusar Ragnall
do assassinato? Apenas suas próprias ações alteraram esse caminho, pois tornara-se a candidata mais provável ao fugir do castelo.
Calder esperou seu tempo, mas não duvidava que tivesse más intenções contra seu laird. Não o tinha visto derramar algo na bebida
de Ragnall? Se não fosse por sua interferência, ele já poderia estar morto.
Fios gelados se entrelaçaram ao redor dela com o pensamento, mais frio do que o ar noturno, pois Calder tentaria novamente, tinha
certeza, e se afirmaria como o legítimo sucessor de Ragnall.
Quando os pesados portões de ferro de Dunannoch se ergueram em suas correntes, Flora lançou um último olhar para a charneca,
sabendo que talvez nunca mais a visse. Embora fosse um lugar estéril, com as árvores totalmente retorcidas e cobertas de gelo sob a
sombra das montanhas, sua beleza rude fazia parte dela tanto quanto o próprio castelo.
Mais do que nunca, estava ciente de tudo o que havia perdido. Sua casa, onde antes fora feliz e amada, agora era sua prisão, e quem
sabe o que a esperava.
Ela temia o pior, pois Calder não tinha honra. Com o casamento dela com Ragnall anulado, poderia subjugar a fofoca e refutar as
acusações que outros fariam, tomando-a como esposa, mas duvidava que precisasse de sua linhagem para reforçar sua posição.
Provavelmente, a envergonharia publicamente quando não temesse mais a intervenção de Ragnall. Uma vez que o laird tomasse
uma das irmãs de Calder como esposa, certamente não pensaria mais nela, e seu destino não teria nenhuma importância para ele.
Flora previa apenas um fim e, embora esperasse que seu sofrimento não se prolongasse, seu instinto lhe dizia que Calder a manteria
enquanto lhe agradasse fazê-la sofrer.
Seu único consolo era a chance que poderia ter de se vingar do verdadeiro assassino de seu pai. Deixar Calder pensar que estava
acovardada, fraca e quebrada, e assim daria o golpe final e acabaria com a tortura que a perseguia.
Aqueles poderiam ser seus últimos dias, mas daria seu último suspiro sabendo que a justiça havia sido feita.
Castelo Balmore
Tarde, 31 de dezembro
Ragnall olhou para o fundo de seu copo vazio e depois para a janela coberta de gelo. O castelo estava cheio de sons de diversão,
mas não tinha vontade de festejar. Um novo ano estava chegando, mas a escuridão do passado parecia envolvê-lo ainda mais apertado.
Mesmo o afeto leal de Murdo não conseguiu confortá-lo, embora o cão tivesse seguido seu dono de perto nos últimos dias,
colocando a cabeça em seu colo sempre que o silêncio de sua melancolia aumentava demais.
Desde o primeiro momento em que pôs os olhos na criada de cabeça de fogo, sentiu uma parte do fardo sair de seus ombros, como
se a vitalidade dela tivesse o poder de afastar algumas das memórias dolorosas que carregava.
Talvez alguma parte dele soubesse que era ela, Flora, o tempo todo, mas não estava disposto a aceitar o que seus ossos lhe diziam.
E escolheu amá-la da única maneira que conhecia, com seu corpo em vez de seu coração. Um tipo insignificante de amor, mas não era
capaz de mais. Tinha sido endurecido por muitos anos.
Agora, o que fez?
Embora Calder fosse parente, não confiava no homem. Além disso, o veneno que lançou sobre Flora era estranho. Quaisquer que
fossem seus pecados, ela era jovem, mais donzela do que mulher, não importava as curvas femininas que se encaixavam em suas mãos
e a paixão que ardia em seu sangue.
E pensou que não seria capaz de fazer um julgamento com a cabeça limpa enquanto ela ficasse sob seu teto, mas permitir que
Calder levasse Flora fora um erro. Na mesma noite, se arrependeu da decisão e decidiu selar seu cavalo, mas a tempestade já estava
forte, o granizo raivoso caindo cruelmente pela charneca, e sabia que seria imprudente enviar seu cavalo para o vendaval.
Também não podia viajar sozinho.
Arriscar a própria vida era uma coisa, mas não podia colocar em risco a de outros homens para remediar seu erro.
Agora, a tempestade estava diminuindo, mas era a noite de Hogmany. Não poderia arrastar seus parentes para o frio do inverno
quando seu único desejo era se unir em comemoração. Quando amanhecesse, ordenaria que os cavalos fossem preparados e ele mesmo
jogaria água fria nos homens, se necessário, para trazer Flora de volta à segurança de Balmore.
Ainda não sabia que decisão deveria tomar, mas reuniria evidências e questionaria pessoalmente as testemunhas, em vez de confiar
na supervisão duvidosa de Calder. Sua oração era feita a um Deus misericordioso, que o guiaria para encontrar Flora tão inocente
quanto ela proclamava.
Enquanto isso, deveria se juntar ao banquete abaixo. Não importava o quanto estivesse preocupado, um chefe era necessário entre
seus homens, e a noite de Hogmany era rica em costumes para receber bons presságios para o ano novo.
Cada porta seria coberta com sorveira e aveleira para afastar o mal, e a vassoura varreu a má sorte para fora da porta, mas Ragnall
sabia que a sorte do clã dependia da liderança e não do ritual.
Uma batida suave veio na porta e pediu para a criada que convocou anteriormente para trazer mais cerveja entrar. Talvez tomasse
apenas mais uma caneca antes de vestir o rosto que deveria usar como líder dos Dalreaghs.
Ele a reconheceu imediatamente. — Maggie, não é?
A mulher que entrou no castelo ao lado de Flora.
Uma confidente?
Se alguém sabia o que havia acontecido naquela noite, talvez fosse ela.
Fazendo uma reverência, a criada deixou o jarro e voltou os olhos nervosos para seu laird.
— Eu queria confiar no senhor, meu laird.
— Aye. — Ragnall indicou para se sentar. — E eu deveria ter lhe trazido aqui antes, para falar por sua senhora.
A mulher torceu o avental para frente e para trás.
— Não posso garantir os motivos de minha Flora em se tornar íntima do senhor, laird… — o assunto claramente lhe causava
algum embaraço. — E reconheço que foi uma tolice dela ter vindo até aqui. Eu não queria que fizéssemos isso, mas Flora estava
determinada a fazê-lo.
Ragnall sentiu a tensão quando sua mandíbula apertou.
— Pode ter ignorado as intenções de sua senhora, mas certamente sabe o que aconteceu naquela noite, dois invernos antes?
A mulher estava tremendo. — Quanto a isso, com Deus como testemunha, não posso dizer. — o tremor em seu lábio traiu a
proximidade de suas lágrimas. — Mas conheço Flora desde que era uma criança, e eu juro pela minha vida que nunca teria levantado a
mão para machucar seu pai. Ela veio até mim nas horas mais sombrias com a expressão horrorizada, contando que o encontrou
assassinado em sua cama, e não duvidei nem por um momento da honestidade disso.
Ragnall franziu a testa. Ele tinha visto mentiras suficientes em seu tempo para saber quando uma pessoa estava sendo sincera, e o
comportamento de Maggie lhe dizia que acreditava em tudo o que dizia.
Mas, suas ações ainda não faziam sentido para ele.
— Por que fugiram do castelo, se nenhuma das duas era culpada pela morte do laird? Deve ter previsto que isso ficaria contra sua
senhora. Só os culpados fariam isso e sua senhora havia se prometido a mim como esposa horas antes. Isso não valeu nada para ela?
— Oh, meu laird!
Aqui estava o choro que ameaçava vir. Maggie enterrou o rosto no avental e balançou a cabeça.
— Eu não sei como dizer isso, mas Flora estava convencida de que o assassinato estava em suas mãos. Não sei por que pensou
isso, mas estava convencida de que o Sr. estava impaciente pelo poder que a chefia traria. Ela jurou com devoção que nunca viveria
como sua esposa, sabendo que era o assassino de seu querido pai. E estava pronta para deixar o castelo sem uma alma para protegê-la,
então eu não tive escolha a não ser ir com ela. Nos abrigamos com um de meus irmãos, em sua fazenda, e Flora fez o possível para
aprender os métodos agrícolas, embora nunca tenha se sentido confortável com a ordenha.
A ordenha?
A lembrança de sua beleza de cabelos cor de fogo curvada sob o úbere da vaca correu para fazer Ragnall sorrir, mas o momento foi
passageiro.
Desde o início, planejara enganá-lo.
Quanto ao propósito, queria muito acreditar na história da criada, mas era possível que estivesse tão enganada a respeito das
intenções de Flora Dalreagh quanto ele próprio.
— Acalme-se. Eu posso querer lhe falar novamente, mas isso é tudo por enquanto. Fui apressado em mandar sua senhora embora,
mas logo a trarei de volta para Balmore, e buscarei respostas a muitas perguntas. Vou descobrir a verdade, sem dúvida.
Maggie se jogou no chão e beijou a mão de Ragnall.
— Oh! Agradeço por isso, Laird Dalreagh, pois temo por sua segurança em Dunrannoch. Não é meu lugar alertar sobre o caráter
do seu homem no comando de lá, mas não acredito que ela receberá um tratamento justo. Desde que o noivado foi rompido, vi que
nutria má vontade em relação à senhora, e é um homem que guarda rancor há muito tempo, eu diria. — ela enxugou os olhos com o
avental. — Eu não durmo de tanto me preocupar.
A carranca de Ragnall voltou. A cada palavra que Maggie falava, seus próprios medos aumentavam.
— Deixe-me agora, pois tenho muito em que pensar. — Ragnall a levantou novamente. — Cuide da sua vida e não diga uma
palavra a ninguém. Eu devo lidar com isso sozinho.
Com outra reverência, a criada partiu e Ragnall virou-se para seu fiel cão de caça com um suspiro.
Aye, chegaria ao fundo da questão e faria tudo o que pudesse para manter Flora segura, fosse qual fosse o resultado.
Começaria anotando tudo o que a criada lhe dissera. Puxando a cadeira de sua escrivaninha, pegou sua pena e papel e começou a
escrever. Para seu desgosto, uma corrente de ar jogou o pergaminho no chão antes que chegasse à segunda linha, deixando um rastro de
tinta na mesa.
Xingando, se abaixou para pegar a pena e ali, embaixo da mesa, algo chamou sua atenção.
O que era aquilo, empurrado para dentro das pedras?
Com dedos ágeis, conseguiu pegar.
Um pedaço de seu próprio pergaminho, rabiscado com uma caligrafia não muito boa, mas ainda assim legível.
Ele leu as palavras:

Eu, Flora Dalreagh, juro vingar a morte prematura de meu pai, por lâmina ou veneno, estrangulamento ou afogamento. Por
qualquer meio que se apresente.
Estarei atenta ao tempo e, não importa o quão brando meu coração se torne, não desistirei de cumprir meu dever.

Querido Deus!
Pode-se dizer que era um guia para um assassinato!
Embora o tom fosse ingênuo, a intenção ardente por trás das palavras era aparente. Flora havia escrito o voto nesta mesma sala,
provavelmente. E ele era o alvo de sua ira. Sorte que seu “coração mole” aparentemente venceu.
Seu coração mole.
O seu sentiu uma onda de calor em resposta.
E o voto em si? Aqui estava finalmente a prova de sua inocência, em sua própria mão, pois ninguém poderia acreditar que fosse
culpada do assassinato de seu pai quando escrevera de forma tão convincente sobre seu desejo de vingá-lo.
Que tolo tinha sido!
Nesse momento, quem sabia o perigo que ela corria? Se Flora não tivesse matado Malcolm Dalreagh, poderia adivinhar quem era o
verdadeiro culpado. As suspeitas que havia deixado de lado não podiam mais ser ignoradas, e a permanência de Flora no Castelo
Dunrannoch a colocava em perigo mortal.
Aye, havia sido enganado, mas não pela garota que se insinuou em seu coração.
Não havia tempo para atrasos, não importava o tempo ou a quantidade de cerveja correndo nas veias de seus homens.
O banquete Hogmany seria transferido para Dunrannoch e, se Calder tivesse prejudicado Flora de alguma forma, não seria apenas
uma cabeça de porco na mesa.
Alcançando sua espada e bainha, Ragnall se preparou. Estava pronto para lutar, não apenas por justiça, mas pela mulher que
merecia estar ao seu lado.
Castelo Dunrannoch
Hogmany Night, 31 de dezembro
Suas mãos estavam quase dormentes por causa da corda com a qual haviam sido amarradas durante essas cinco noites, mas Flora
tentou manter a mente concentrada. Os nós haviam resistido ao puxão de seus dentes, mas, mesmo que os soltasse, o quarto continuava
fortemente trancado e vigiado, e a janela dava para o pátio abaixo.
Até agora, apenas seu ciclo a impediu de ser violentada. Nesse ínterim, Calder a submeteu a inúmeras humilhações.
Desde o início, mostrou que pretendia usar a força física, não apenas para aplacar seu desejo pelo corpo dela, mas para dominar e
abusar. Rasgando seu corpete, a desnudou, apertando e beliscando, seus olhos brilhando com prazer vicioso e provocando o tempo todo:
que traria seus homens para que tivessem sua vez até que ela confessasse sua culpa, ou a fizesse desfilar antes de queimá-la como uma
bruxa. Pior de tudo, a manteria trancada para sempre, e não haveria fim para os tormentos que lhe infligiria.
Quando levantou suas saias e empurrou os dedos rudemente entre suas pernas, ela levou sua mente para outro lugar, para a urze, e
a brisa sussurrando suavemente.
E não sabia que estava sangrando até que ele retirou a mão, demonstrando sua repulsa com um forte tapa em seu rosto.
A sensibilidade em sua bochecha e acima da sobrancelha lhe disse que tinha um forte hematoma, mas a dor daquela marca não era
nada comparada com a dor em seu coração.
Ninguém viria em seu socorro.
Por um breve momento, se permitiu acreditar que Ragnall poderia se importar com ela, mas não havia substância por trás do que
compartilharam. Ele deixou isso claro quando a mandou embora.
Estava sozinha, mas era filha de Malcolm Dalreagh e bisneta do poderoso Camdyn, que primeiro fez de Dunrannoch sua fortaleza.
Ela se vingaria do verdadeiro perpetrador do assassinato de seu pai.
Esse pensamento a sustentou.
Era noite de Hogmany, e todo o castelo estaria comemorando, mas o lamento do flautista à meia-noite sinalizaria apenas o fim de
tudo o que havia passado. Não haveria novos começos.
Ela realizaria um ato honroso antes de sua própria morte, dando sua vida como os guerreiros do clã no campo de batalha.
Ao ouvir a chave girar na fechadura, o pulso de Flora deu um salto e acelerou. Calder não permitia que ninguém entrasse desde que
a trouxe para o castelo sob o manto da escuridão, então não tinha nenhuma ilusão quanto ao propósito desta visita.
Ela estava limpa o suficiente agora para que Calder não tivesse escrúpulos em pegar o que desejava.
Curvando-se contra a madeira lisa da cabeceira da cama, encolheu-se o máximo que pôde. Que ele pensasse que estava assustada.
Sua hora chegaria para lhe mostrar do que era feita.
Fechando a porta atrás de si, Calder cambaleou com os pés instáveis. Certamente, a bebida já estava fluindo livremente. Uma
chama de esperança surgiu no peito de Flora.
Sem fazer barulho, ergueu seu kilt, segurando seu pau e seus testículos.
— O que vai ser então, moça? Quer chupar primeiro, antes que eu a espete? — riu grosseiramente. — Mostre-me se gosta do sabor
deste gordo haggis e tatties e eu vou mandar uma bandeja com algo para sua barriga quando terminarmos.
Flora mal conseguia esconder sua cara de desagrado. Calder devia estar bêbado se ousava sugerir colocar sua masculinidade perto
dos dentes dela. Por mais dócil que se fizesse parecer, duvidava que confiasse nela tanto assim.
Na verdade, parecia flácido demais para realizar qualquer ato sexual, mas isso não o impediria de tentar algo desagradável, ela
tinha certeza.
Seu desgosto deve ter transparecido em seu rosto, pois seu humor ligeiramente jovial desapareceu rapidamente. Jogando para o
lado seu tartan, rosnou ameaçadoramente para Flora.
— Meu pau não é bom o suficiente para você? Era suficiente, de acordo com seu pai, até que aquele bastardo do Ragnall tomou
tudo o que deveria ser meu!
Cerrando os punhos, deu um passo mais perto.
— Vire-se, então, se não quiser ver o que vai receber. — agarrando o pé esquerdo de Flora, ele o puxou com força, fazendo-a
gritar. Colocando-a na beirada da cama, a empurrou, de modo que seu rosto pressionasse a colcha. Com as mãos ainda amarradas, seus
braços estavam desconfortavelmente esticados. Além disso, não teria chance de alcançar a adaga que Calder mantinha embainhada em
seu cinto.
— Solte minhas mãos, por favor. —tentou tornar sua voz mais doce. — Será mais fácil me mover se eu não estiver presa pela
corda.
— Soltar? — Calder deu outra risada grosseira. — Por que eu faria uma coisa dessas? Vou me virar bem, não se preocupe.
Levantando suas saias, deu um forte tapa em seu traseiro nu e riu maldosamente.
— Estou pronto para reivindicar o que é meu de direito agora que não está mais sangrando como um porco preso. É uma pena que
não irei lhe tomar como uma virgem, graças a Ragnall que já a montou, mas aposto que seu outro buraco ainda está apertado.
Ele se inclinou, pressionando suas costas, sua respiração pesada em seu ouvido.
— Devo fazer-lhe sangrar naquele lugar em vez disso? Apenas lembre-se, pequenina Flora, seria Ragnall metendo em seu traseiro
se não tivesse ficado entediado tão rapidamente.
Segurando as lágrimas, Flora tentou não ouvir. Quaisquer que fossem os defeitos de Ragnall, nunca havia causado dor a ela
intencionalmente; pelo menos, não da maneira que Calder planejava, mas dificilmente poderia argumentar depois da facilidade com que
Ragnall havia desistido dela.
Então ouviu Calder cuspir e um dedo rombudo enfiar entre as nádegas de Flora.
Ofegando, se encolheu, mas seu peso a impediu de escapar e ela sentiu a pressão de sua ereção contra sua pele nua.

Apenas o estrondo da porta batendo na parede a salvou.


— São homens de nosso clã no portão, de Balmore. O laird exige te ver, Calder, bem como Lady Flora. — o guarda parecia um
pouco mais sóbrio do que esse mestre, cambaleando enquanto dava a notícia.
Xingando, Calder se levantou e Flora se virou. O guarda, pelo menos, teve a decência de olhar de soslaio enquanto abaixava as
saias.
— Diga para se juntar à festa que estarei com ele em breve. — Calder olhou com raiva. — E faça com que seus homens coloquem
suas armas na fortaleza. Não é uma noite para darmos as mãos em armas; não quando a cerveja está fluindo.
Assentindo com a cabeça, o guarda saiu tão rapidamente quanto havia chegado.
Calder fez uma careta, falando mais consigo mesmo do que com Flora.
— O que esse canalha quer, bem agora? Não importa, eu lhe darei o que merece.
Com um grunhido de irritação, Calder sacou sua adaga e cortou as cordas nos pulsos de Flora, evitando por pouco cortar sua pele.
O alívio por estar livre das amarras fez seus olhos arderem como nenhuma provocação havia feito e assim esfregou os pulsos para
restaurar a sensibilidade.
Segurando a lâmina diante dele, Calder jogou-lhe um xale e sacudiu a cabeça.
— Coloque isso para cobrir o rasgo em seu corpete. Duvido que o laird tenha vindo para fazer outra coisa senão se vangloriar, mas
vamos deixá-la apresentável, Aye, até descobrirmos o que quer. —deu-lhe um sorriso odioso. — E cuidado, não reclame, ou vou tirar as
roupas do seu corpo quando voltarmos, e não as verá novamente. Isso fará com que aprecie meu calor, em vez de tremer nua.
A aversão percorreu as veias de Flora. O homem era parente distante pelo sangue, mas não havia nada que o tornasse digno do
nome Dalreagh. Seu pai tinha razão em romper o noivado.
Calder estava armado e ela não tinha nada além de sua inteligência, mas o instinto lhe dizia que poderia não ter outra chance. O
penico embaixo da cama ainda estava cheio de ontem, quando Calder exigiu que se aliviasse enquanto ele observava. Segurando-o entre
as pernas, ele riu enquanto ela corava, e desejou então que suas mãos estivessem livres, querendo bater na cabeça dele com a tigela
pesada.
Não havia nada que a impedisse de fazê-lo agora. Seria apropriado, já que o homem não passava de um monte de merda.
Com o coração batendo forte, Flora mergulhou no chão, estendendo a mão para o penico, e Calder gentilmente deu um passo mais
perto, curvando-se para agarrá-la. Flora sentiu um breve momento de alegria quando as gotas o atingiram no rosto, e não perdeu tempo
em balançar o pote em um arco calculado.
Seus xingamentos blasfemos cessaram quando o penico atingiu sua têmpora.
Embora atordoado, ele ainda segurava a adaga e se inclinou na direção dela, golpeando o ar.
— Apenas espere até que eu te pegue, vadia. — Calder passou a manga no rosto. — Vou fazer um novo corte em sua barriga e
fodê-la enquanto grita por misericórdia!
Pegando as saias, Flora correu para a porta, desceu correndo o corredor e subiu os degraus de dois em dois. Sua melhor esperança
agora era chegar ao banquete e se entregar à misericórdia de Ragnall. Melhor ser presa em Balmore do que ali.
Calder não seria capaz de esconder seu humor amargo. Ragnall veria que o homem estava desequilibrado. E poderia até acreditar
em sua suspeita de que Calder tinha sido o maldito assassino.
No entanto, ao chegar à galeria dos menestréis, ouviu uma grande comoção lá embaixo. Os homens de Ragnall podem ter deposto
suas espadas, mas havia muita luta acontecendo. A mobília virou enquanto os homens lutavam entre si, mas ficou claro que os leais a
Calder estavam se saindo pior. No meio da multidão, avistou Ragnall e seu coração disparou.
Subindo em uma mesa, ele gritou alto e claro.
— Ouçam-me, pois não desejo ver sangue de parentes derramado.
Embora seus cachos estivessem mais selvagens do que nunca e seus olhos escuros e fundos, nunca pareceu tão bonito.
— Por meio desta, tomo posse deste castelo e tratarei todos os homens com justiça. Calder não é o que vocês pensam. Haverá um
julgamento, mas acredito que assassinou Malcolm de Dunrannoch. Lady Flora é inocente de qualquer crime e é mantida aqui contra sua
vontade. Entreguem minha esposa e jurem sua fidelidade, e tudo ficará bem.
Nesse momento, ele ergueu os olhos, e o rosto que virou para Flora se suavizou. Fosse qual fosse a raiva que havia ali, a mesma
fugia diante do amor que brilhava em seus olhos, dirigido à mulher que era legalmente sua.
— Ragnall! —chamou-lhe, sentindo como se estivesse pronunciando seu nome pela primeira vez. Com o coração palpitante,
começou a abrir caminho entre os músicos, para alcançar a escada do outro lado, mas mal deu um passo antes que um braço envolvesse
sua garganta, levantando-a de seus pés.
O guincho morreu em sua garganta quando percebeu que a ponta de uma adaga fora pressionada com força sob suas costelas
inferiores.
— Cala a boca, vadia! — sibilou Calder. O cheiro de urina exalava dele. — Você vem comigo, e vai fazer isso rápido, ou irei
cortá-la, como prometi. Há muitos quartos com fechaduras, e posso abrir vários buracos antes que qualquer homem de Ragnall arrombe
a porta.
Sem esperar resposta, arrastou-lhe de volta pelo caminho de onde vieram, puxando-a ao longo da passagem e para cima, subindo as
escadas da torre, trancando cada porta à medida que subiam.
No topo, Calder chutou a barreira final e uma rajada de gelo varreu, trazendo consigo um redemoinho de neve. O frio atingiu Flora
como um soco, deixando-a sem fôlego enquanto a arrastava para fora.
— O que está fazendo? —ofegou entre as palavras, o ar congelado rasgando seus pulmões.
— Certamente reconhece as ameias, não? — Calder falou com os dentes cerrados. — Parece que o laird não é tão estúpido quanto
parece, e veio a reclamar depois de tudo. Duvido que vá querer ouvir o que eu digo, mas vai se lembrar do que eu faço.
Em um único movimento, ele jogou a corda que antes prendia suas mãos sobre sua cabeça. Flora tentou se contorcer, mas Calder
puxou com força. Dessa vez, sua amarra se transformou em um laço em seu pescoço e, embora ela o puxasse com os dedos, não havia
como soltar a corda.
Calder certamente estava quase com tanto frio quanto ela, mas um fogo antinatural parecia arder em seus olhos quando a
inspecionou e depois se inclinou para o lado.
Não haveria nada para ver, pois conhecia a torre que escalaram tão bem quanto qualquer outra parte do castelo. Era a gêmea da
torre que se erguia acima de Balmore, com suas ameias visíveis a quilômetros de distância, erguendo-se trinta metros ou mais acima do
pátio.
No entanto, Calder a levou ao topo, inclinando a cabeça dela para fazê-la ver como ele havia feito.
—Não sabe, não é? —zombou, puxando a corda para que apertasse ainda mais em sua garganta. — Ragnall nunca mereceu liderar
o clã, já que não é filho de Broderick. Com a morte de seu irmão, a posição de laird deveria ter ido para mim, como herdeiro de Connor.
Ragnall não passa de um bastardo, como todos sabem.
Flora conseguiu sacudir a cabeça.
— Isso é bobagem.
—Acha mesmo? — Calder zombou novamente. — Só Vanora saberia, mas é do conhecimento geral que Gillivray, o falcoeiro,
começou a deitar-se com ela logo depois que Alasdair nasceu. Era uma prostituta, e Broderick não teve suavidade em seu coração
quando puniu ela e seu amante.
Ele apertou ainda mais o laço e Flora se ouviu emitindo um som de engasgo. Momentaneamente, o mundo escureceu.
Nay! Não vou desmaiar! Ragnall está chegando, eu não vou morrer. Estamos destinados a sermos marido e mulher. Se dissesse as
palavras repetidamente, isso as tornaria verdadeiras. Só precisava se segurar e acreditar.
Mas Calder estava dando um laço na outra ponta da corda e jogando-a sobre um dos pedaços mais finos de pedra.
— Você não é melhor. Pois estava prostituindo-se para um homem que pensava que era uma criada. Então não me diga que estava
se comportando como uma esposa decente deveria, ou vou deixar suas entranhas expostas e os corvos vão se deliciar mais cedo.
Uma onda de náusea ameaçou dominá-la. Pretendia empurrá-la sobre as ameias e deixá-la pendurada lá? Que barbaridade era essa?
— Dificilmente será o mesmo que a ira de Broderick, mas tenho certeza de que será perto o suficiente para que Ragnall nunca se
esqueça.
Flora não conseguia mais falar, mas seus olhos questionadores levaram Calder a continuar, pronunciando cada palavra com prazer.
— Broderick os pendurou pelos pés, deixando-os balançar o dia inteiro. — Calder deu um sorriso perverso. — Não estavam nus,
mas poderiam muito bem estar, pois as camisas de ambos cobriam suas cabeças e estavam nus por baixo. Vanora era livre o suficiente
com seus favores, e Broderick raciocinou que ela não merecia modéstia na morte. Foi dito que chamaram um ao outro até perto do fim.
A boca de Calder se contorceu novamente, em uma horrível aparência de sorriso.
— Por fim, Broderick fez com que balançassem as cordas, de modo que os crânios dos amantes rachassem no granito e deixassem
duas manchas de sangue que levaram um inverno inteiro para serem lavadas.
Flora fechou os olhos com força e voltou a se distrair. Não queria ouvir mais nada. A história era terrível demais. Uma história com
a qual Ragnall viveu toda a sua vida.
Nem podia imaginar o tratamento que deve ter sofrido de seu pai, nem as provocações que recebeu até que fosse forte o suficiente
para silenciá-las com os punhos.
Quanto ressentimento cresceu dentro dele, sabendo do fim trágico de sua mãe? Quaisquer que fossem seus sentimentos sobre o que
havia acontecido, não seria de admirar se temesse pela confiabilidade de sua própria esposa.
Engoliu sua vergonha.
Da forma com que se comportara, como o marido confiaria nela?
Não que isso importasse, pois nunca mais o veria. Não haveria a chance de deixá-lo acreditar que poderia realmente se importar.
Sentiu Calder cutucar suas costas, e a rajada de vento na canhoneira. Bastaria apenas um empurrão e partiria.
Assim, deveria fazer sua oração antes que fosse tarde demais, mas não conseguia formular as palavras que poderia falar ao Deus
que esperava encontrar em breve.
Em vez disso, viu o rosto de Ragnall e um único pensamento preencheu sua mente.
Eu o amo.
Perto da meia-noite, Hogmany
Cada parte dela doía, especialmente onde a corda havia roçado, mas Flora se entregou à maciez da cama em que estava deitada, ao
calor reconfortante das mãos ternas em sua pele e ao almíscar familiar do homem que sussurrava baixinho.
— Diga-me se alguma coisa que eu fizer te machucar, mas não se mexa. — dedos firmes e avaliadores percorreram suas costelas,
depois suas pernas e braços, dobrando delicadamente cada junta. — Se quebrou alguma coisa, não posso correr o risco de agravar, já
que parece ter ido ao inferno e voltado.
Quando Ragnall alcançou a clavícula de Flora, ela estremeceu. Seu pescoço estava em carne viva onde Calder havia torcido
cruelmente.
— Aye, vai doer, pobre lass. — as mãos se moveram para segurar a parte de trás de sua cabeça, levantando-a para tomar um gole
de caldo quente. — Mas você é forte e logo se curará. Nenhum outro mal acontecerá, Flora, pois o bastardo já está respondendo ao
Todo-Poderoso por seus pecados.
Morto?
O vento estava forte nas ameias e ela ficou horrorizada, mas percebeu a porta quebrando e os gritos dos homens. Algo se moveu
rapidamente pelo ar, arremessado com grande força, e com isso teve um vislumbre de Calder quando ele se aproximou. Com as feições
contorcidas pela fúria, arranhou a lâmina em seu pescoço, então estendeu a mão em sua direção, se para se salvar ou para levá-la com
ele, não sabia.
Seu grito foi levado pela tempestade e com isso o mundo dela se desvaneceu na escuridão. Consciente apenas vagamente de ser
carregada, pois estava muito entorpecida com o choque e o frio para sentir qualquer coisa além do desejo de se render àqueles braços
fortes que a transportavam para longe do terror da noite.
Ela observou o rosto acima do dela: o laird de Dalreagh, com seus cachos escuros e olhos azuis penetrantes, e a pequena covinha
no queixo sob a barba por fazer.
— Aye, sobreviverá e prosperará, Flora Dalreagh. Eu prometo isso. — tomando a palma da mão dela, levou-a aos lábios, depois à
bochecha. Quando lhe deu o mais fraco dos sorrisos, seu coração deu um salto.
Queria encostar o rosto em seu pescoço, inalar seu perfume e ser abraçada, sabendo que nunca mais seria solta. Ansiava por ele -
esse homem do qual passou tanto tempo fugindo, que interpretou mal desde o início. Ele tinha vindo defendê-la e salvá-la, mas somente
seu senso de honra teria guiado essas ações, independentemente da maneira como o tratou.
Precisava lhe dizer o quanto estava errada. Que queria consertar os erros; que queria que eles tentassem. Será que ele seria capaz de
perdoa-la?
A ideia de que talvez ele não fosse capaz lhe causou uma dor esmagadora no peito e nenhuma palavra viria.
Vendo sua angústia, Ragnall alisou seus cabelos.
— Não fale, pois sofreu muito e precisa descansar.
Aye, queria descansar em seu abraço. Mais do que isso, queria esfregar a barba por fazer de sua mandíbula e agarrar seus cachos
enquanto ele a beijava.
Mas Ragnall apenas levantou o caldo novamente, fazendo com que tomasse mais.
— Eu irei ficar aqui, não se preocupe. E, quando estiver pronta, pode decidir o que deseja.
O que ela desejava?
Bem, queria oferecer conforto e compreensão. Queria conhecer os contornos do marido que havia negado por tempo demais.
Queria ser a esposa que ele merecia. Para dar-lhe amor.
E receber o mesmo, para sempre.
Uma pequena ruga apareceu entre suas sobrancelhas quando ele puxou a colcha mais para cima sobre os ombros dela.
— Sei que fez o que seu pai pediu quando pronunciou as palavras do noivado, mas não irei retê-la, se não for esse o seu desejo,
Flora. — os olhos que voltou para ela estavam cheios de incerteza. — Se preferir fazer de Dunrannoch seu lar, como dona do castelo,
não vou lhe obrigar a voltar comigo. Tenho homens leais suficientes para deixar uma força aqui, para protegê-la.
O peito de Flora ficou apertado. Havia sido apenas uma fantasia passageira e Ragnall já estava planejando a próxima mulher para
aquecer sua cama.
Ele parecia desconfortável enquanto formulava suas próximas palavras.
— Se ficar confortável com isso, posso visitá-la uma vez por mês, até que tenha um herdeiro. Então, irei deixá-la em paz. Sua vida
deveria ser sua, Flora. Não farei com que siga um caminho que não escolheu.
Confortável?
Não havia dúvida de que a estava afastando, querendo que continuasse sendo sua esposa apenas no nome, apenas o suficiente para
lhe dar um filho.
— Nay! — sua voz saiu áspera, emergindo da dor em sua garganta.
Ragnall recuou com a brusquidão de sua declaração, choque e desapontamento em sua expressão.
— Nay? Não gostaria que eu a visse novamente? —parecia quase envergonhado. — Nós não saímos do começo que eu esperava,
não há como negar, e não mostrei o respeito que merecia, mas eu…
Flora o interrompeu agarrando a frente de sua camisa e puxando-o para baixo, inclinando a cabeça para trás para oferecer seus
lábios. Por vários longos, deliciosos e maravilhosos momentos, houve apenas a boca dele e a dela, o calor e a força de seus braços e o
rápido batimento de seus corações, pressionados juntos.
As mãos dele acariciaram suas costas até a cintura, puxando-a para ele do jeito que havia sonhado, o tempo todo sozinha e
assustada, com medo de nunca mais vê-lo novamente.
Quando se separou, foi para puxá-la ainda mais firmemente para ele, curvando-a sob seu queixo. E murmurou baixinho.
— Nem posso te dizer como pensei em seu beijo nos últimos dias.
Uma chama de esperança se acendeu dentro de Flora. Empurrando contra seu peito, o fez olhá-la nos olhos.
— Nós mal nos conhecemos, e eu estava decidida a te matar, pelo que espero que possa me perdoar, mas…
Foi a vez de Ragnall interromper. Segurando a bochecha de Flora, sustentou seu olhar.
— Não fale do passado. Mesmo quando eu acreditava no pior, eu não podia me considerar inocente. Pois agiu como uma
verdadeira Dalreagh, honrando a memória de seu pai. Não posso ficar com raiva por isso.
A chama de Flora ficou mais brilhante.
— Você deve saber, marido, que o único lugar que eu quero estar é ao seu lado. Não permitirei que outra tome meu lugar. Sou sua
esposa e ninguém deve se interpor entre nós.
A surpresa passou pelas feições de Ragnall, e então uma alegre esperança.
— Eu não poderia ter ordenado que oferecesse o que deve ser dado livremente. —descansou sua testa sobre a dela. — Em troca,
serei devotado a você por toda a minha vida, mas temo que deve conhecer toda a história antes de tomar sua decisão, pois sem dúvida
ouviu mais fofocas do que verdades sobre minha família.
Uma onda de compaixão encheu o peito de Flora. Não desejava causar-lhe dor obrigando-o a contar qualquer parte da história que
Calder havia revelado de forma tão cruel.
— Não. Eu sei o suficiente. Tudo o que importa é que não queira repetir os erros de seus antepassados. — olhando nos olhos de
Ragnall, soube que nunca mentiria para ela. Sua história tornara isso abominável. — Eu te amo, marido.
— Eu também, esposa, com uma paixão ardente, e não me importo que não possa ordenhar uma vaca. — ela deu um soco
brincalhão no peito dele, mas qualquer protesto que estivesse inclinada a fazer foi logo esquecido quando seus lábios encontraram os
dela novamente.
De longe vinha o som de flautas, atravessando o castelo, sua música lembrando a todos a passagem do velho e o começo do novo.
— É meia-noite. — Ragnall passou os dedos pelo cabelo de Flora, alisando a confusão de cachos de fogo. — E devo perguntar
novamente, mo chridhe. Com cada homem dentro destas paredes como testemunha, vamos unir nossas mãos novamente e ouvirá minha
promessa de amá-la para sempre?
— Sim. — Flora assentiu. — E mostraremos o que acontece, quando marido e mulher escolhem um ao outro acima de todas as
coisas.
Sete meses depois…
Com um floreio final, Flora pôs a pena de lado e secou a tinta. Sentando-se, admirou sua obra. Sem dúvida, havia alguns que
poderiam elaborar seus escritos melhor do que ela, mas estava orgulhosa, no entanto, de sua maestria. Mesmo à luz de velas, podia ver
que as linhas estavam equilibradas e que não havia borrões para estragar o efeito.
A porta se abriu e fechou suavemente, e os passos que conhecia tão bem se aproximaram. Mãos familiares pousaram sobre seus
ombros e o marido que amava deu um beijo em seu pescoço nu.
— Fazendo mais anotações, meu amor? — Ragnall beijou sua nuca, uma mão em concha em seu seio enquanto a outra pousou em
sua barriga arredondada. —Já chegou ao capítulo sobre como ordenhar as vacas, ou ainda, em um sobre como assassinar seu marido?
— Saia daqui! — rindo, Flora deu um tapa na mão que a apertava, embora tenha sorrido quando Ragnall acariciou sua orelha. —
Estive escrevendo os ingredientes para o clootie. Se o volume deve incluir todas as coisas úteis para nossas filhas, não devemos deixar
de fora uma receita tão importante.
— Na verdade, não deveríamos. — Ragnall roçou a boca mais abaixo, afastando a barra do vestido de Flora. Tomando seus beijos
ao longo de sua clavícula, olhou para ela da borda externa de seu ombro. — É minha opinião que o bebê que está carregando é um filho,
mas não tenho objeção a continuarmos nossos deveres até que tenha um punhado de filhas para passar sua sabedoria. E assim, serão
conhecidas em todo o país como as garotas mais espertas, sem dúvida.
Flora sorriu satisfeita. Agradou-lhe profundamente que Ragnall aprovasse que soubesse ler e escrever. Tinha grandes planos, de
fato, para garantir que todos no castelo conhecessem seus textos. Maggie provou ser uma aprendiz rápida, e não havia criança em
Balmore que não soubesse escrever seu nome.
— E o capítulo sobre como ensiná-lo a agradá-la na cama? — O polegar de Ragnall roçou seu mamilo, fazendo Flora prender a
respiração. — Temos espaço para adicionar mais?
— Você é um homem perverso, Ragnall Dalreagh, vindo para me distrair quando ainda tenho tanto para fazer. — mas Flora
recostou a cabeça no peito dele e fechou os olhos, deliciando-se com a sensação de sua boca, deixando mais beijos, quentes contra sua
pele fria. — Estou dedicando uma seção inteira aos maridos, por acaso. —suspirou quando Ragnall a ergueu, levando-a gentilmente
para a cama. Deitada imóvel, riu enquanto ele a adorava a partir dos tornozelos, percorrendo todo o caminho para cima, até que ofegou
e riu um pouco mais, e ofegou novamente.
— E tem um capítulo sobre isso, suponho. — sua voz saiu abafada por baixo de suas saias.
— Oh, sim. Será um capítulo pesado. — Flora enterrou seu grito de prazer nas costas da mão enquanto Ragnall levantava um
pouco o traseiro dela, para demonstrar mais facilmente os pontos mais delicados do que deveria ser incluído. — Mas fazer mais
pesquisas… — ofegou, mal conseguindo recuperar o fôlego — seria interessante.
Flora nunca duvidou que Ragnall o faria.
Não havia mais palavras então. Apenas o doce conforto de duas almas que se encontraram, e que não tinham qualquer outro lugar
que desejassem estar senão nos braços uma da outra.

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Viaje no tempo até 1904, para “O Guia de uma Lady: Como encantar um Highlander no Natal”.
Eu amo um conto cheio de intriga e aventura, e esta tem sido minha missão com minha série Guia de uma lady.
A história de Ragnall e Flora nos dá um vislumbre de como começa o ‘guia’, escrito por Flora para incluir toda a sua sabedoria. À
medida que o volume é passado por sua família, cada filha acrescenta sua própria voz, até que o livro se torne um tesouro de pérolas.
Eventualmente, alguma jovem empreendedora garantirá que o manuscrito seja impresso, permitindo que o guia chegue a ainda
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recomendações de minha própria pilha de leitura.
Todos são bem-vindos.
Te vejo lá.
Aye - Sim
Clootie – Pudim tradicional escocês feito com gordura, frutas e especiarias.
Haggis – Prato escocês. É basicamente bucho de ovelha recheado.
Hogmany – Noite de Ano Novo.
Lass – Garota, jovem, moça.
Mo chridhe – Meu coração.
Nay – Não
Tatties – Prato escocês semelhante a um purê de batatas
Yule – Celebração pagã que acontece durante alguns dias e que assimilou o Natal cristão como parte das festividades. É
uma celebração pelo Solstício de Inverno.
Por que um homem abandonaria sua noiva após uma única noite de paixão?
Cinco anos após seu desgosto e humilhação, Sofia está determinada a descobrir - e reivindicar seu legítimo lugar ao lado dele,
mesmo que isso signifique viajar para as montanhas selvagens de Carpathia para fazer de seu castelo decrépito o seu lar.
Amaldiçoado por sua linhagem, Constantin foi um tolo ao acreditar que o casamento com Sofia o salvaria.
Agora, a única mulher que ele sempre amou está em perigo, pois os segredos sombrios do Castelo Roznov estão prestes a serem
revelados.

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GARANTIDO: Aventura, intrigas, cenas de amor escaldantes e romance de tirar o fôlego.
AS MONTANHAS DO SUL DOS CÁRPATOS, TRANSILVÂNIA
FINAL DE ABRIL DE 1886

Sofia examinou a pousada em ruínas com o coração apertado. Um conjunto de persianas, fechado contra o vento gelado, sacudia
nas dobradiças soltas. Os outros estavam pregados, enquanto o telhado parecia prestes a desabar, cedendo sob vários metros de neve.
Os confins remotos dos Cárpatos não ofereciam muitas opções de hospedagem. De qualquer forma, o que seu cocheiro estava
pensando, parando em um lugar tão esquecido por Deus?
Dentro era pior. Não dava para ignorar as teias de aranha, e Sofia reconhecia excrementos de rato quando os via. No entanto,
estava quente… e depois de passar sete horas trêmulas se abraçando contra o frio, iria aproveitar ao máximo.
Coberta por altos penhascos de gelo, a passagem da montanha era íngreme, seguindo uma trilha estreita bem acima de uma ravina.
Sofia passou o dia em um estado de alta tensão, rezando para que não acabassem mergulhando para a morte… embora seu cocheiro
parecesse alheio a qualquer perigo iminente.
A mão dele em seu braço era firme enquanto a conduzia para a mesa de madeira mais próxima.
— Coma. Beba. Coloque algo quente dentro, sim! — Codruț mostrou os dentes em uma espécie de sorriso. Ele falou com o
estalajadeiro e correu para a porta, murmurando algo sobre cuidar dos cavalos.
Quando Sofia entrou, gargalhadas estridentes enchiam o outro lado da sala… os homens envolvidos em algum jogo ou outro.
Agora, meia dúzia de cabeças estavam voltadas em sua direção, encarando-a sem disfarçarem, e o estalajadeiro a olhava com mais
atenção do que todos.
Sofia supôs que eles não hospedavam muitos forasteiros, e devia parecer estranho que estivesse desacompanhada, mas estava
vestida modestamente, em um de seus trajes de viagem mais velhos. Não havia nada em sua aparência que despertasse uma curiosidade
tão grosseira. Ela se mexeu no banco duro, esperando que os homens voltassem para seus dados… ou o que quer que os estivesse
ocupando.
Quando o estalajadeiro se aproximou, trazendo um prato com alguma coisa, Sofia lembrou-se da fome que sentia. A última coisa
que comeu foi mingau de café da manhã, antes de partir da última estalagem. Um pouco de ensopado seria bem-vindo. Simplesmente
não pensaria em quem poderia tê-lo feito ou com quais ingredientes.
O estalajadeiro fez uma reverência insinuante, apertando os botões do colete e olhando de soslaio, atras de um bigode que
evidenciava vários jantares.
— Eu sou Domnul Popescu. Bem-vinda.
Embora a travessa contivesse apenas uma linguiça gordurosa, acompanhada de queijo duro e um naco de pão pouco apetitoso,
Sofia agradeceu com a cabeça. Não estava em posição de ser exigente.
— Um pouco de aguardente de ameixa, se tiver. — Ela olhou esperançosa para as garrafas dispostas atrás do balcão de madeira.
Uma deles devia conter Țuică. Toda a região era conhecida pela bebida. Não que ela costumasse beber destilados, mas seu pai sempre
elogiara o aguardente local, dizendo que esquentava de uma maneira agradável. No mínimo, podia ajudar a linguiça e o queijo de
aparência duvidosa a descer.
Os olhos de seu anfitrião brilharam, pousando na bolsa que Sofia segurava no colo.
— Tenho garrafa especial. — Com outra pequena reverência, ele recuou.
Sofia quase podia ver o sujeito esfregando as mãos.
Então, era isso. Sem dúvida, Codruț estava recebendo algum tipo de taxa por trazer viajantes para esta pousada miserável. Não pela
primeira vez, ela desejou ter tomado mais cuidado ao contratar seu meio de transporte, mas estava muito ansiosa para seguir em frente.
A primeira parte da viagem, acompanhada por Marta, transcorreu com facilidade: um trem de Bucareste a Hermannstadt, depois
uma carruagem até Sighișoara. Para consternação de Sofia, foi lá que sua criada implorou para que voltassem para a capital.
Não que isso estivesse fora de questão, mas ela certamente não poderia voltar para a Residência do Cônsul Britânico. O grande
edifício na Strada Jules Michelet veio com a posição de seu pai e já tinham passado três meses completos desde sua morte. Seu
substituto havia sido mais do que generoso em permitir que ela ficasse enquanto fazia planos futuros.
Sua herança era suficiente para que pudesse se estabelecer em qualquer lugar: Paris, Viena, Londres, se… se ela não desperdiçasse
sua renda em frivolidades. Mas passou toda a sua vida viajando de uma cidade para outra. Não tinha raízes em nenhum lugar, e viajar
por si só há muito havia perdido seu fascínio.
Só havia um lugar onde Sofia poderia considerar seu lar legítimo, e isso significava continuar no coração dos Cárpatos.
Tinha entregado a Marta uma parte de suas moedas e escreveu uma carta de referência, junto com uma lista de residências
diplomáticas, em Bucareste, onde Marta poderia se candidatar a uma vaga. Leal e honesta, sua criada encontraria facilmente um
emprego.
Deixando de lado a ansiedade sobre como seria recebida em seu destino, Sofia contratara Codruț e, na manhã seguinte, partiram.
Desde então, passou quatro noites em estalagens e, como as estradas, elas se tornaram cada vez mais decadentes.
O pior de tudo era o próprio Codruț, cujos aromas eram tão intragáveis quanto seu hábito de cuspir bocados de tabaco de mascar.
Havia também a regularidade com que detinha os cavalos para se aliviar, e sem sequer se dar ao trabalho de descer da boleia para isso!
Oh, sim. Quanto mais cedo chegasse ao seu destino e se despedisse de seu encantador condutor, melhor.
Para consternação de Sofia, quando o estalajadeiro se aproximou novamente, viu que ele carregava não apenas a “garrafa especial”
… pela qual imaginou que estaria pagando pelo menos três vezes o preço normal … mas dois copos pequenos.
O tosco acomodou o traseiro do outro lado da mesa e destampou o conhaque, servindo a ambos um gole generoso. Deu-lhe um
sorriso de dentes amarelos, erguendo a taça como se fosse um brinde.
— Esse excelente Țuică deve ser apreciado com amigos.
Seu dialeto era bastante incomum, mas o conhecimento de Sofia de romeno e alemão era suficiente para entender o que queria
dizer.
— É uma honra ter uma lady em minha taberna. — Uma volta de seu pulso, viu o conteúdo desaparecer e ele bater o copo na mesa.
Os habitantes do outro lado da sala observavam, parecendo não ter nada mais urgente a fazer do que observar o espetáculo dela
provando o aguardente.
Ela tomou um gole hesitante.
— Beba tudo. É o costume! — Os olhos do estalajadeiro estavam fixos nela.
Sentindo que dificilmente poderia fazer de outra forma, Sofia encheu a boca com a doçura ardente. Enquanto o aguardente descia,
deixava um rastro de brasas.
Segurando o peito, Sofia procurou água em volta, mas não havia… apenas a bebida, que seu anfitrião estava servindo novamente.
Superado o primeiro choque, a sensação de aquecimento não foi desagradável, mas Sofia teve medo de tomar um segundo copo.
— Um pouco de chá agora, se tiver?
— Chá? — O proprietário franziu a testa. — É um insulto beber qualquer coisa que não seja Țuică.
Sofia respirou fundo. Afinal, os copos eram bem pequenos. Mais um não faria mal, e quando Codruț voltasse, ela pediria a ele para
comprar um frasco de água para levar para o quarto. Tinha sido um longo dia, afinal.
Ela bebeu o conteúdo, apenas para sucumbir a um ataque de tosse. Não apenas sua garganta, mas todas as veias de seu corpo
estavam envoltas em chamas. Enquanto isso, o estalajadeiro estalava os lábios de satisfação, tendo esvaziado novamente o copo.
— Outro.
Desta vez, Sofia balançou a cabeça com firmeza, embora isso fizesse a sala girar estranhamente.
Era fome, claro. Isso sempre deixava a pessoa tonta. Arrancando um pedaço de pão, ela tentou mastigar.
Onde estava Codruț? Certamente, ele já deveria ter cuidado dos cavalos… e não jantaria?
Pensando bem, ela decidiu que não teria estômago para isso.
— Eu deveria me retirar, por gentileza. — Segurando a beirada da mesa, Sofia fez menção de se levantar, mas suas pernas mal
tinham força para mantê-la de pé. A tensão do dia cobrava seu preço.
Se ao menos Marta tivesse ficado com ela. Sofia não havia percebido o quanto ela valorizava a companhia de sua criada até que
não a tivesse mais. Um nó se formou em sua garganta, mas ela o engoliu. Pensamentos melancólicos tendiam a surgir quando ela estava
cansada e, se Sofia havia aprendido alguma coisa, era que precisava ser forte, não importa o que a vida jogasse sobre ela.
Na privacidade do seu quarto, Sofia por vezes entregava-se às lágrimas, mas havia sempre a esperança de que o amanhã traria
coisas melhores. Mesmo quando o coração estava partido, era preciso ter firmeza.
— Seu quarto, sim. — O estalajadeiro afastou-se da mesa, levantando as calças. — Eu te mostro. Tudo muito bom.
Sofia olhou para a porta. Embora ela guardasse as melhores joias e moedas em sua bolsa, seus outros objetos de valor e coisas para
a noite estavam em sua valise. Codruț sempre carregava para ela.
— Vem. — O proprietário acenou. — Cama é muito confortável. — Seus dedos rechonchudos se fecharam ao redor do braço dela.
Instintivamente, ela endureceu.
— Eu consigo, obrigada.
Depois de um momento de hesitação, o estalajadeiro recuou, mas ficou por perto.
— Eu só preciso— … Sofia piscou… — meu cocheiro. Você vai falar com ele, não vai? Dizer ao meu cocheiro que preciso da
minha mala? — Seu estômago revirou e se enrolou sobre si mesmo.
Domnul Popescu pairava sobre ela.
— Não se preocupe, bela senhora. Tudo o que precisa está aqui e nós a mantemos aquecida. — Momentaneamente, seus olhos
piscaram para onde seus outros clientes estavam sentados.
A visão de Sofia se recusava a focar como deveria, mas havia algo de lobo na maneira como olhavam para ela. Além disso, o olhar
do estalajadeiro tinha um olhar vulgar… para o seio de Sofia.
Uma nova consciência tomou conta dela: algo estava muito errado.
O pai de Sofia sempre disse a ela que seus modos obstinados a colocariam em apuros. Durante muito tempo, isso significou evitar
ser conduzida a jardins por cavalheiros inadequados ou beber muito champanhe… mas suas circunstâncias atuais superavam qualquer
coisa que seu amado Papa pudesse ter imaginado.
Com a garrafa de aguardente na mão, o estalajadeiro agarrou-a pelo cotovelo, puxando-a para o fundo da taberna.
— Você está me machucando. — Sofia tropeçou, batendo o quadril na quina de uma mesa.
O estalajadeiro não cedeu, nem mesmo olhou para ela. Nem os homens do outro lado da sala vieram em seu auxílio, claramente
não se importavam com sua situação.
Tarde demais, ela pensou em pegar a faca que veio com o jantar, embora duvidasse que fosse afiada o suficiente para ser de alguma
utilidade.
— Pare! Me deixe ir! Codruț, ajude! — Foi o choque que deixou a voz dela tão fina? Ela balançou sua bolsa, mas seus esforços
foram ineficazes.
Codruț! Isso era coisa dele? Deixá-la aqui? Roubá-la? Sua valise e os baús no teto da carruagem alugada continham tudo o que ela
possuía.
Ela seria assassinada e jogada na ravina?
Ninguém a encontraria.
Mas Codruț poderia ter feito isso a qualquer momento. Por que esperou, trazendo-a para este lugar?
Sofia gemeu de medo. Em resposta, o estalajadeiro se virou e torceu o braço dela, de modo que ela caiu em seu peito, assaltada
pelo fedor de suor e alho.
Foi-se qualquer indício de subserviência.
— Meu irmão se juntará a nós. — O proprietário zombou. — Mas será para ajudar a mim e não a você.
O grito de Sofia foi interrompido pela mão áspera que cobriu sua boca.
Nesse exato momento, a porta da pousada se abriu. Uma rajada de flocos de neve voou pelo chão, levada pelo frio da noite, e uma
figura encapuzada preencheu a soleira.
A lâmpada pendurada nas vigas mais altas balançou, enviando um arco de sombra e luz sobre um rosto que era ao mesmo tempo
perigoso e belo em sua perfeição… espreitando aquele lugar nefasto.
Seu olhar não percorria a sala, mas parecia ver e entender tudo. Alto, elegante, mas exercendo grande presença física, ele ficou
totalmente imóvel.
Iluminado pelo fogo, aquele olhar fixo em Sofia e as mãos sujas sobre ela se desvaneceram.
Choramingando, o estalajadeiro dobrou os joelhos antes de se prostrar no chão. Do outro lado da sala, os outros se encolheram, seu
medo palpável, seus rostos traindo o encolhimento de suas entranhas. Um se benzeu, sua voz fraca enviando uma oração chorosa.
Aqueles olhos escuros e dominadores mantinham Sofia paralisada, seu olhar enviando ondas de calor e de gelo, fazendo-a desejar
fugir e correr para ele.
Cada linha de seu rosto esculpido era familiar; este homem que a fazia tremer, que fazia seu pulso acelerar e seu coração doer
dentro do peito.
Não era um estranho. Era seu marido.
Livro 1

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O aventureiro selvagem, Burnell, é exatamente o tipo de “homem perigoso” do qual jurou se afastar, e fazer-se passar por sua
noiva só pode significar problemas
Ou então, fazê-la tão notória que poderá torná-la irresistível.

Será que conseguiram convencer a todos de que estão loucamente apaixonados?


Que os jogos comecem!

Nível de calor: apaixonado

Descubra mais na série O Guia de uma Lady: romance histórico repleto de aventura, mistério e intriga.
Livro 2
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Amor é a única coisa da qual ela não pode fingir.
Deserdada pelo pai, um magnata do petróleo, a debutante Rosamund Burnell está em apuros.
Com fundos limitados e muito longe do Texas, a resposta parece óbvia.
Fingir que ainda é uma herdeira para garantir um solteiro inglês elegível.
Ao encontrar o duque de Studborne, suas orações parecem ter sido atendidas.
A única pedra em suas sapatilhas?
Sua crescente atração pelo sobrinho do duque: o muito digno, muito honrado e muito pobre, Benedict.
Contudo, os motivos do duque para cortejá-la não são o que parecem, e Rosamund cai em uma armadilha.
Os misteriosos desaparecimentos na Abadia Studborne são uma mera coincidência?
Ou algo perverso se esconde no interior das antigas paredes monásticas?
Rosamund deve descobrir a verdade, e apenas uma pessoa na abadia pode ajudá-la.
O quase coroinha e irritante Benedict!

Livro 3

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Uma ilha misteriosa. Um irmão desaparecido. A aventura de uma vida.

LESTE DAS ILHAS SALOMÃO, 1899


Sob a proteção do belo capitão Jorge de Silva, Lady Bathsheba Asquith desembarca na misteriosa ilha de Vanuaka com apenas três
dias para encontrar seu irmão desaparecido.

As provações da selva afastam qualquer pretensão de civilidade e a paixão explode, mas Silva não é bem o que parece, e Bathsheba
corre mais perigo do que pode imaginar.

O vulcão de Vanuaka está despertando – e apenas um sacrifício humano pode aplacar seu fogo.
Livro 4
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O amor é a única coisa que ela não consegue disfarçar.

OS PÂNTANOS SELVAGENS DA ESCÓCIA, 1904


O fazendeiro do Texas, Rye Dalreagh, está sendo jogado em um buraco, como o herdeiro há muito perdido do Castelo
Dunrannoch, com cinco noivas em potencial para escolher e muito a aprender sobre ser um “cavalheiro adequado”.
Ursula precisa se esconder de seu guardião sórdido e seus planos de casamento idiotas, até que sua herança fosse desbloqueada em
seu vigésimo quinto aniversário.
Um encontro casual em um trem faz com que Ursula assuma a identidade de uma professora de etiqueta idosa e vá ao castelo
preparar sua “jovem carga”, mas andar a cavalo, laçar vacas e usar um chapéu Stetson Rye é muito mais do que esperava.
Espera-se que Rye escolha uma noiva, mas, com um assassino à solta e uma antiga maldição escocesa para enfrentar, conseguirá
chegar ao altar?
“O Guia de uma Lady: Como encantar um Highlander no Natal” é um romance histórico de Natal de coração leve com um mistério
aconchegante para resolver.
EMMANUELLE DE MAUPASSANT vive com seu marido (fabricante de chá e bolo de frutas) e seu pequeno terrier
peludo (perito em brinquedos barulhentos e bacon).
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