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ADORO ROMANCES EM EBOOK APRESENTA!

TINA DONAHUE
Just One Kiss
FOGO DA PAIXÃO

JULIA HISTÓRICOS 1389

Andaluzia, Espanha - 1493


Uma mulher para amar!
Prometida ao filho de um nobre, Catalina sabe que seus dias de liberdade estã o
contados. Por isso, ao encontrar um belo cavaleiro durante uma cavalgada, ela nã o julga
errado permitir que ele a beije... Sem imaginar que se trata justamente do noivo que ela ainda
nã o conhece! Diego de Guzmá n também fica chocado ao descobrir que a beldade que cavalga
pelos campos é Catalina Fernandez de Velasco. Ele nã o poderia desejar uma noiva mais linda e
graciosa, mas o temperamento impetuoso de Catalina prenuncia problemas. Como refrear
uma mulher que nã o tem medo de dizer o que pensa e de fazer o que quer? Talvez o primeiro
passo seja conquistar seu coraçã o!

Digitalização, Revisão e Formatação:


Arlete Barbosa
TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

Nota da Autora
Andaluzia, Espanha
Para uma compreensã o melhor deste romance, precisamos conhecer um pouco
o cená rio e a histó ria do lugar em que ele se desenrola.
A Andaluzia fica ao sul da Espanha, uma regiã o de clima quente e seco, onde
paisagens variadas se combinam. Nela encontram-se as montanhas da serra Morena, a
depressã o de Guadalquivir e a orla marítima.
Sua histó ria teve um longo período agitado. No sé culo VIII, a Andaluzia foi
invadida pelos á rabes, época em que Có rdoba foi a capital de um emirado. Dois séculos
mais tarde, tornou-se a capital de um poderoso califado, centro da cultura muçulmana
no Oci-dente. A grande influência dos invasores na língua, na mú sica, na arquitetura e
em outras á reas da cultura nativa, aprofundou-se. Sinais dessas mudanças persistem
até hoje. No século XI, o cali-pados foi desfeito, ou melhor, desmembrado em pequenos
principados, ou taifas, o que facilitou a reconquista que os espanhó is tentavam havia
muito tempo.
A vitó ria cristã de Las Navas de Tolosa, em 1212, marcou o início da decadência
muçulmana. Em 1492, ano da descoberta da América por Cristó vã o Colombo, a tomada
de Granada pelos "reis cató licos", Fernando de Aragã o e Isabel de Castela, que haviam
patrocinado a viagem de Colombo, deu fim à histó ria da Andaluzia moura.
Nosso heró i, Dom Diego, toma parte nessa luta.
No século XVI, os mouros da Andaluzia foram praticamente forçados à
conversã o ao cristianismo, recebendo a denominaçã o de mouriscos.
Outro aspecto que merece ser destacado é a posiçã o da mulher naquela é poca,
nã o só na Espanha como també m em toda a Europa.
Mesmo na nobreza, o homem gozava de todos os direitos enquanto à mulher
cabia a obrigaçã o de servir o marido, dar-lhe filhos, satisfazer suas vontades e fazê -lo
feliz.
Nossa heroína, de espírito independente, ao se casar, luta para conquistar uma
posiçã o de igualdade com o marido.

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CAPÍTULO I

Andaluzia, Espanha, 1493


A grande propriedade de Velasco.

— E por que tenho de me casar? Por favor, responda — Catalina Fernandez de


Velasco indagou ao arquear as sobrancelhas claras.
Como a filha de dezessete anos de um senhor eminente, a quem
o rei Fernando de Aragã o havia conferido a denominaçã o honrosa de homem
rico, Catalina estava acostumada aos privilégios de sua posiçã o. Exceto nesse caso. Por
ser mulher, ao nascer, havia sido prometida em casamento ao filho do militar que tinha
salvado a vida de seu pai na guerra da Espanha contra Alfonso V de Portugal.
Um ato de bravura pelo qual ela se sentia devedora, mas nã o a ponto de pagar
com o espírito e o corpo. Estes pertenciam unica-mente a ela.
- Esse homem, que será meu marido, nã o vejo desde que eu era uma criança de
seis anos. E entã o...
A lembrança desagradá vel fez Catalina balançar a cabeça, a cabeleira farta e
loira, voando em todas as direçõ es.
Sua irmã mais velha, Susanna, mexeu-se na cadeira de braços que exibia o
brasã o de Velasco. Ela estava no sexto mê s de gravidez e havia ficado viú va
recentemente. O marido tinha sofrido um acidente em seu cavalo á rabe. Inquieta,
comentou:
— Ouvi contar que Dom Diego é muito atraente. Os olhos verdes de Catalina
arregalaram-se.
— Atraente? Como é possível se eleja é um tanto idoso? Susanna riu.
— Catalina, o homem é apenas dez anos mais velho do que você. Portanto, tem
vinte e sete anos.
— Como eu disse, idoso. E feio també m. Se nã o fosse, por que andou sumido
como um mouro em Andaluzia durante onze anos?
— Ele comandava um batalhã o na luta contra os mouros em Granada. E talvez
tenha sido alertado contra seu temperamento, maninha.
Ao ouvir o comentá rio, Catalina sorriu. Com os cabelos e olhos escuros, índole
suave e meiga, Susanna era a filha perfeita, o oposto da irmã . Catalina possuía o
temperamento de homem num corpo de mulher. Mas isso nã o lhe valia nada.
Apesar de ser mais alta do que o pai, sua silhueta era esguia e graciosa. Embora
os pais fossem morenos, sua pele clara e dourada lembrava o trigo no outono,
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enquanto o verde dos olhos era da mesma tonalidade dos famosos jardins de Granada.
Os homens nã o a assustavam. Desde a infâ ncia, ela se mostrara capaz de
cavalgar com mais perícia do que os irmã os. E sabia-se que, em mais de uma ocasiã o,
ela os vencera em luta corporal. Enquanto as irmã s mais novas estavam sendo
educadas na corte, pela rainha Isabel de Castela, Catalina sentia-se aliviada por ter
escapado de tal confinamento. Desejava apenas ser livre. Precisava disso tanto quanto
do ar que respirava.
Seus pés descalços deslizaram em silê ncio pelo chã o de má rmore até o guarda-
roupa. A suas costas, Susanna tornou a mexer-se inquieta na cadeira.
— Catalina, você nã o pode estar planejando sumir por aí. Lem-bre-se, Dom
Diego virá esta noite ao palá cio para conhecer melhor a futura esposa.
— Foi o que me informaram — Catalina respondeu, enquanto procurava algo no
armá rio.
Do fundo e escondidas sob peças de veludo, brocado e seda, tirou umas de
algodã o cru. Susanna pô s-se em pé.
— Minha querida maninha, você nã o vai vestir outra vez roupas de criados.
— Por que nã o? Ouvi falar de mulheres que participam de encenaçõ es em
palcos.
— Impossível! — Susanna exclamou.
— Nã o sei por quê . Você acha que faz mais sentido um homem má sculo
representar uma mulher delicada em vez de a pró pria encenar o papel para o qual
nasceu?
— Catalina, você está lutando contra a natureza. As mulheres devem se casar,
ter filhos e...
— Sei, sei. Talvez por isso eu procure um harém onde eu possa viver e cumprir
totalmente meu destino de mulher.
Susanna fez o sinal-da-cruz e, depois, olhou para as roupas nas mã os da irmã .
— Você nã o pode estar lalando sé rio. E também nã o deveria pegar essas peças
dos criados. Eles já tê m tã o poucas.
— Ora, isso també m sei. Acredite em mim, minha irmã , se eu lhe contar que o
homem destas roupas possui muito mais agora. Em troca delas, eu lhe dei uma de
minhas pé rolas. També m recebi o cavalo dele e um largo sorriso — Catalina explicou,
enquanto trocava o vestido elegante pelas peças simples e enfiava os cabelos longos
sob o gorro.
— Agora, pareço um homem humilde, nã o acha? Susanna nã o conteve um
gemido.
— Nã o! Apenas uma criança sem juízo. Aonde você vai, maninha?
Cavalgar. Ser livre pelo menos por uns momentos, Catalina refletiu. Sabia que,
depois dessa noite, sua vida nã o seria mais a mesma. Em voz alta, respondeu:

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— Nã o se aflija por minha causa. Vou tomar cuidado, prometo. Catalina beijou a
face da irmã .
— Se mamã e e papai souberem dessa impostura, você ficará ...
— Jure que nã o vai lhes contar nada, Susanna.
— Só se você prometer voltar a tempo de se preparar para a chegada de Dom
Diego.
Embora sorrisse com candura, Catalina estava disposta a resistir.
— Por que eu deveria? Sem dú vida alguma, nó s vamos nos casar. A transaçã o
foi acertada muito tempo atrá s e nã o pode ser mudada. Portanto, nã o vou me preparar
e o receberei assim.
E se Dom Diego tentasse discipliná -la como havia feito quando ela nã o passava
dos seis anos, ficaria conhecendo seus punhos cerrados, ela decidiu.
Susanna inclinou-se para a frente e murmurou:
— Você pode ser mais alta do que papai, mas sua fú ria nã o chega à metade da
dele.
Verdade que nã o poderia ser negada.
— Voltarei a tempo de me preparar. Isso a satisfaz? Num gesto meigo, Susanna
acariciou o rosto da irmã .
— Casamento nã o é uma coisa tã o terrível, maninha.
— Para nossos pais, sim. A adoraçã o que sentem um pelo outro nã o conhece
limites. E para você também, pois amava Pedro.
Susanna riu e Catalina franziu a testa.
— Eu disse algo engraçado?
— Doce menina ingê nua. Você nã o sabia que aprendi a amar Pedro?
Ora, isso era uma revelaçã o e tanto.
— Estranho. Eu me lembro muito bem do dia de seu casamento. Você sorria o
tempo todo durante as festividades. Estava tã o alegre que deslizava pelo chã o como
um passarinho voando.
— Eu fingia felicidade para agradar a mamã e, papai, Pedro e a mim mesma. Você
també m é capaz de fazer isso.
Catalina nã o podia trair as convicçõ es c já ia balançar a cabeça num gesto
negativo. Porém, amava Susanna e nã o queria provo-car-lhe mais afliçõ es.
— Tentarei — disse finalmente.
— É tudo que se pede a você. Por favor, Catalina, tenha cuidado. E volte a tempo
de se preparar.
Relutante, ela acabou prometendo que estaria ali na hora certa.
Escapar do palá cio sem ser vista era outra questã o. Catalina grudou-se à s

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paredes e, com os pés descalços, foi percorrendo um aposento atrá s do outro. Mas os
serviçais estavam muito ocupados com os preparativos para a festa desta noite em
homenagem à visita de Dom Diego e logo ela se via lá fora.
Nã o conteve um sorriso. Embora ainda fosse de manhã zinha, o sol já aquecia o
ar e a terra. A brisa seca e suave trazia o odor delicioso das pastagens e o balir dos
carneiros.
A leste, até onde a vista alcançava, ficavam as plantaçõ es de trigo, a oeste havia
as pastagens pontilhadas pelo gado e, logo a seguir, um imenso rebanho de carneiros
vagava sob a guarda de pastores. Mais adiante havia um sem-fim de vilarejos de
propriedade de seu pai, bem como outros palá cios. Mas nenhum tã o sun-tuoso como
este.
Catalina adorava o cintilante má rmore branco, seus graciosos arcos mouriscos e
o mosaico colorido de azulejos. Sentiria muita falta de tudo isso. O coraçã o jamais se
recuperaria quando ela tivesse de acompanhar o marido à propriedade dele. Lá ,
morreria de infelicidade antes mesmo de dar à luz um filho.
Suspirou antes de correr em direçã o ao lugar onde o lavrador linha deixado a
montaria comprada com a pérola. Este havia sido o presente dos pais no seu dé cimo
sexto aniversá rio. A pérola valia muito mais do que um cavalo que nã o era de raça
á rabe. Mas, com ela, fora possível comprar uma liberdade momentâ nea. Havia lucrado
muito mais do que o lavrador com a transaçã o.
Ao chegar a um olival, onde o cavalo estava amarrado a uma das á rvores, ela
olhou por sobre os ombros. Nã o havia sido seguida.
O animal nã o tinha sela e nem mesmo um pano sobre as costas, mas isso nã o
importava. Aliá s, era mais seguro cavalgar em pêlo.
Ela nã o queria correr o risco de sofrer uma investigaçã o por parte de um nobre
que quisesse saber por que um rapaz pobremente vestido usava uma sela de couro
cordovês.
Depois de desamarrar a corda que també m serviria de rédea, Catalina montou
com destreza. Com os pé s descalços, instigou o animal a partir. Ele obedeceu, mas nã o
com o passo firme de Diamante, seu cavalo á rabe e branco. O pêlo dele já começava a
rarear como os cabelos de seu pai cuja energia, também como a do animal, era mínima
apó s uma farta refeiçã o, regada a vinho.
Ao seguir, Catalina teve o cuidado de se manter perto do olival.
Temia que algum trabalhador a visse e avisasse os pais. Imaginava bem o que
aconteceria. O pai poria uma vigilante em seu quarto, provavelmente uma freira que
apreciaria umas fé rias do convento. A mã e teria crises de choro por ter falhado na
educaçã o da filha. Melhor nã o ser apanhada, pois as consequê ncias seriam terríveis.
Mas o ideal mesmo seria se houvesse nascido homem, Catalina refletiu. Por um
momento, imaginou como seria cavalgar livremente e levar uma vida que a agradasse e
nã o aquela para a qual havia sido destinada como mulher. Poder mostrar bravura num
campo de batalha ou ser o senhor de uma grande propriedade. Imaginava ainda como
seria se casar sem ter de levar a uniã o tã o a sério quanto a mulher era forçada.
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Ela sabia o tipo de ligaçõ es que os homens mantinham. Em muitas festas, havia
observado algum marido olhando para uma das moças mais jovem ou mais bonita do
que a esposa. Entã o, aquele homem casado e a amante desapareciam durante um bom
tempo. A esposa esquecida continuava a conversar com as amigas, fingindo nã o notar a
ausê ncia do marido.
Seria melhor se o homem a quem Catalina entregasse o corpo e o coraçã o se
satisfizesse com isso, ela jurava. Mas sua fú ria seria inú til em face da tradiçã o
espanhola.
Ela nã o teria o direito de opinar sobre as vontades e a maneira de agir do
marido. Tã o logo se casasse, seu dever seria garantir a felicidade dele e esquecer a
pró pria.
Talvez nã o voltasse para casa.
Instigou o passo da montaria até que a paisagem se transformasse num mar de
cores difusas que se fundiam com as do passado que ela abandonava.
Catalina encheu os pulmõ es de ar e deliciou-se com o odor da terra. Por uns
instantes, fingiu ser uma grande guerreira com a espada, a lança e o punhal prontos
para lutar contra soldados que, por acaso, quisessem lhe roubar os sonhos e
enclausurar seu espírito, a alma e...
As fantasias foram interrompidas abruptamente. Um outro cavaleiro surgia do
meio de umas castanheiras. A montaria, um cavalo á rabe preto, empinou enquanto a
sua escorregava as patas dianteiras e relinchava. Com esforço, ela conseguiu desviá -la
para a direita e o homem afastava a dele para a esquerda. Os dois arfavam e as
montarias resfolegavam. Entã o, ele dirigiu o cavalo para perto do seu e, sem o mínimo
esforço, segurou a corda, imobilizando-o. Ainda ofegante, Catalina manteve o rosto
abaixado, mas, pelo canto dos olhos, observou o intruso arrogante.

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CAPÍTULO II

Ele a surpreendia. Alto para ura espanhol, a estatura dele ultrapassava em muito
a sua. Desse â ngulo, Catalina nã o podia reconhecer-lhe o brasã o, mas as roupas, a sela
e o cavalo de raça á rabe indicavam a mais alta nobreza.
Ele exibia a segurança calma de um homem que sempre satisfazia as vontades.
Continuou a segurar seu cavalo e a observá -la.
Os olhos e os cabelos dele eram castanhos. A pele tinha uma tonalidade mais
escura do que a sua e o rosto, de feiçõ es bem feitas, era muitíssimo atraente. A ú nica
coisa que o marcava era uma cicatriz no alto da face direita. Parecia ter sido feita por
um punhal. Com certeza, ele tinha o há bito idiota de interceptar outros cavaleiros,
Catalina deduziu.
Ela franziu a testa, mas nã o se atreveu a falar, pois isso a trairia. Decidida,
empurrou-lhe a mã o a fim de soltar a montaria. Nã o conseguiu.
O estranho arqueou as sobrancelhas escuras.
— Como um rapazinho trata um homem dessa forma?
Ao ouvi-lo, Catalina nã o só se encantou com a voz profunda como també m
exultou com o fato de seu disfarce de campesino dar certo. Sem sucesso, empurrou-lhe
a mã o outra vez.
O homem nã o se mexeu e dirigiu-lhe um olhar penetrante.
— Você é mudo, rapaz? Seu problema é esse? Catalina fez um sinal afirmativo
com a cabeça.
O homem baixou as sobrancelhas e indagou numa voz suave:
— Você sempre sofreu desse mal? Novo gesto afirmativo.
— Entã o, por que está nos limites desta propriedade se nã o tem meios de se
comunicar? Seu patrã o é Dom Velasco?
Seu pai. Catalina já ia fazer outro gesto afirmativo, mas conte-ve-se a tempo. O
homem, um nobre sem dú vida, poderia se achar no dever de levar de volta o serviçal
mudo a Dom Velasco. Como nã o respondesse, ele irritou-se.
— Responda, rapaz, como puder, ou o levarei até Dom Velasco para que ele
interprete suas explicaçõ es.
Catalina podia sentir o calor do sol atravé s das roupas de algodã o cru. A
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transpiraçã o escorria da testa e o coraçã o disparava. E o homem esperava sua


resposta. Finalmente, reagiu da ú nica ma-neira que podia naquela situaçã o. Sacou o
punhal da bainha presa à cintura e o dirigiu à mã o do intruso.
Antes que a lâ mina lhe tocasse a pele, ele largou a corda de sua montaria. No
instante seguinte, Catalina nã o ouvia nada além do tropel de sua montaria que partia a
toda.
Atô nito, Dom Diego de Guzmá n viu o rapaz estranho fugir num galope
desenfreado. Por quê ? Ele se vestia como um serviçal e montava em pê lo. Aliá s o pobre
cavalo nem merecia uma sela. Entã o, por que o rapaz fugia? E por que estava nessa
parte da propriedade? Essas terras confinavam com as de seu pai, nas quais o rapaz já
entrava. Diego nã o entendia e, por mera curiosidade, decidiu ir ao encalço dele. Afinal,
fora ameaçado com um punhal sem motivo, mesmo sendo um nobre.
Diego tentou lembrar a ú ltima vez em que algo parecido tinha lhe ocorrido, mas
nã o conseguiu. Na verdade, estava longe dali, envolvido na luta em Granada, desde os
dezoito anos. Já tinha vinte e sete e calculava que muita coisa havia mudado no lugar
desde entã o.
Contudo, isso nã o explicava as diferenças de características físicas desse jovem.
Ele tinha feiçõ es delicadas, quase bonitas embora fosse alto e nã o possuísse uma
silhueta feminina sob as roupas largas e grosseiras. Isso o levara a identificá -lo como
homem. E um excelente cavaleiro.
Com um relancear de olhos por sobre o ombro, o rapaz deu-se conta da
perseguiçã o de Diego e reagiu. Dirigiu o cavalo para a direita, ao longo do pomar e,
depois, seguiu para a esquerda, ao lado de um parreiral. De nada adiantou. A montaria
do rapaz, de raça inferior, nã o podia competir com a velocidade e a energia de um
cavalo á rabe.
Num piscar de olhos, Diego o alcançava. Mais uma vez, tentou pegar a corda que
servia de ré dea e novamente ficou estarrecido. O serviçal a largou, desmontou e,
descalço, correu rumo aos campos de trigo.
Diego já ia chamá -lo aos gritos, mas mudou de ideia. Desmontou, amarrou os
dois cavalos numa á rvore e seguiu a pé . O serviçal logo percebeu que a perseguiçã o
continuava, virou à direita, rumo a um riacho que cortava a propriedade.
Na infâ ncia, Diego e os amigos costumavam nadar nele. No momento,
entretanto, pensou nas roupas e nas botas de couro que nã o gostaria de molhar apenas
para pegar um serviçal obviamente meio doido. Mas apanhou-se sorrindo.
Esse era o tipo de diversã o de que ele precisava. Desde que acordara de manhã ,
sentia-se deprimido. E que homem nã o se sentiria em seu lugar? Esta noite, ia jantar
com Dom Lorenzo, Dona Margarita, a irritante filha deles, a srta. Catalina, e um sem-
fim de amigos.
Diego havia tido, uma vez, a falta de sorte de ver a tal filha. Ela contava seis anos
e ele, dezesseis. Estremeceu ao lembrar-se do encontro. Com facilidade, o tinha
esquecido durante os anos de luta, mas nã o podia mais fazê -lo. Seu pai esperava que
ele se casasse com aquela bruxinha feiosa a quem teria de levar para a cama até que

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produzissem vá rios herdeiros.


Diego preferiria lutar corpo a corpo, com os olhos vendados, meio embriagado,
contra um mouro.
Estava bem só brio no momento e divertia-se com a distraçã o. A velocidade dele
era muito superior à do rapaz e logo a distâ ncia entre ambos diminuía. Mesmo assim, o
jovem era um oponente e tanto. Corria ora para a esquerda, ora para a direita e nã o
tinha mais para onde seguir, pois o campo de trigo terminava no riacho.
Como quisesse apanhá -lo antes de ter de se molhar, Diego apressou o passo.
Mas o rapaz conseguiu tapeá -lo. Quando Diego já estendia o braço para segurar-
lhe a roupa, ele atirou-se no chã o, forçando-o a pulá -lo e a nã o parar.
Uma risadinha vinda de trá s o fez virar-se depressa e correr na direçã o oposta.
Tarde demais. O outro voltava a correr rumo ao riacho e, tã o logo o alcançou, pulou na
á gua.
Apó s uns momentos e bem aborrecido, Diego pulou também. Maldizia os pais
que tinham gerado um filho tã o doido.
O jovem parecia surpreso com a persistê ncia de Diego. Nadava com energia a
fim de escapar, mas logo era alcançado e puxado para a margem. No mesmo instante,
pô s-se a lutar. Seus murros atingiam, quase sem parar, os braços e o peito de Diego
que teria rido se nã o estivesse tã o irritado com tal comportamento Ficou mais ainda ao
vê-lo tentar sacar o punhal. Apossou-se dele e o atirou no riacho.
— Fique quieto — ordenou, mas nã o foi obedecido.
Á gil, o rapaz virou-se e, com o corpo, empurrou Diego que caiu de lado. Entã o,
tentou arrastar-se pela margem. Esforço inú til, pois o oponente já lhe agarrava um dos
pés. Manteve-o preso até que recebesse um forte pontapé no peito.
— Por Dios — Diego balbuciou quase sem fô lego.
Logo o recuperou e reiniciou a perseguiçã o que, dessa vez, foi curta. Ao pegar o
rapaz, enlaçou-o pela cintura, empurrou-o para o chã o e deitou-se em cima para
impedir nova fuga.
— Vamos, me solte! — o serviçal sibilou.
Diego piscou ao ouvir a voz que, além de nã o dever existir, era bem feminina.
A queda no chã o tinha derrubado o gorro do rapaz, soltando uma farta cabeleira
dourada.
E aqueles olhos! Eram de uma extraordiná ria tonalidade verde que Diego jamais
tinha visto igual. O rosto, agora virado para ele, era lindo, com traços perfeitos. Quem
seria esta criatura estranha? Sorriu.
— O rapaz tem voz?
— Já disse, me solte!
— Ah, a mocinha tem voz?
— Esta mocinha o cortará em pedacinhos se você nã o...
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— Joguei seu punhal no riacho. A menos que você tenha outras armas na
cintura. Tem? — Diego a interrompeu em tom de desculpa.
Ela nã o respondeu e Diego insistiu no mesmo tom:
— Seu silê ncio me obriga a revistá -la.
— Nã o carrego outras armas — ela disse depressa.
Diego desviou o olhar para sua boca. Sentiu a contraçã o dos mú sculos do peito
ao ver aqueles lá bios de um rosa delicado. Bei-jou-os de leve e foi invadido por uma
onda de calor intenso.
— Nã o? — ele murmurou numa voz estranha, distante.
Sentia-se paralisado por esses lá bios, pela coluna esguia do pescoço e pelo olhar
de relance para seu peito que a camisa entreaberta expunha. Suas roupas estavam tã o
encharcadas que lhe delineavam a silhueta, permitindo que ele notasse os seios que a
moça tentara esconder antes. Agora, eles arfavam de encontro ao peito dele com sua
respiraçã o ofegante.
— Vamos, me solte — ela tomou a dizer, mas, dessa vez, num murmú rio e nã o
em tom autoritá rio.
Sem atendê -la, Diego a fitou. Se existia uma mulher que ele nã o quisesse soltar
era esta. Imaginou sua fú ria e seu temperamento fogoso desencadeados na cama dele.
Como se lesse tais pensamentos, ela virou o rosto.
— Você atacaria uma mulher desarmada? Ele sorriu e gracejou:
— Você continua de posse de sua voz, nã o é ? Ela apenas o fitou.
— Continua, sim. E também daqueles dedos fechados e joelhos firmes com os
quais gostaria de me atacar. Nã o, de jeito algum você está desarmada.
Ela observou-lhe os lá bios e. por um momento, mostrou-se incerta, talvez com
um pouco de medo, até ele baixá -los aos seus. Fechou os olhos depressa enquanto era
beijada com delicadeza.
Diego queria ir devagar para nã o alarmá -la. A pressa viria mais tarde, sem
dú vida alguma.
Esta mulher era ardente. Chamas que ele ja começava a apreciar enquanto
roçava a ponta da língua em seus lá bios para, em seguida e com cuidado, penetrar em
sua boca.
Cada mú sculo de Catalina ficou tenso com a invasã o, mas logo ela relaxava e
abria a boca para este homem. Este estranho, com lindíssimos olhos escuros, rodeados
por cílios longos, a mantinha cativa de encontro ao peito forte ao mesmo tempo em
que a beijava com a meiguice que ela nã o imaginava que homem algum possuísse.
Este a possuía. Ele excitava seus lá bios com a ponta da língua e os dentes e
tornava a entrar em sua boca.
Era uma dança estranha, um ato que Catalina nunca havia ex-perimentado
antes. Cada vez que o homem retraía a língua, ela pensava em cerrar os dentes para

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impedi-lo de continuar. Poré m, a cada nova tentativa, ela cedia facilmente. Apó s uns
momentos, ansiava por sentir-lhe a boca e a língua.
Como se percebesse isso, Diego aprofundou o beijo. Catalina se viu incapaz de
resistir. Sua boca mexia-se sob a dele por vontade propria, como se a natureza exigisse
isso dela.
O estranho certamente exigia. Com a língua, tocava seus dentes e todos os
recantos da boca. O coraçã o disparava e seu prazer perdurou até sentir a mã o dele
subir de sua cintura para os seios. No instante em que ele tocava um dos mamilos,
Catalina ficou rija e virou o rosto.
Ele parou e delicadamente a beijou no pescoço. Novamente, toda a sua
resistê ncia evaporou-se e Catalina tornou a fechar os olhos. Seu corpo macio amoldou-
se ao dele até que ela lhe sentisse a mã o tentando entrar sob suas roupas.
Desta vez, a magia se quebrou. Como ele se atrevia a tanto?
Catalina afastou-lhe a mã o, empurrou-o para trá s e o estapeou.
O estranho arregalou os olhos e passou a mã o pelo rosto. Ao falar, porém, foi
com suavidade.
— Apesar de estar fora destas terras há muitos anos, acho curiosa sua reaçã o a
um beijo.
Ela cerrou os dentes, o que Diego notou.
— Caso você seja virgem, prometo-lhe que serei delicado. A dor será breve, e o
prazer, duradouro.
Muito simpá tico. Ela tornou a estapeá -lo por se atrever a sugerir tal absurdo.
Desta vez, ele ergueu-se e ajoelhou-se ao lado.
— Que tipo de bruxa é você? — indagou.
— Nã o sou bruxa e você nã o é um cavalheiro.
— Nã o foi nada. Apenas um simples beijo — ele disse, rindo.
Para ela era muito, pois havia gostado. Era mulher; e ele, homem, o que dizia
tudo. Afastou-se para trá s e levantou-se. Diego se pô s em pé no mesmo instante.
— Fique longe, estou avisando! — Catalina gritou. — Lutei melhor do que você!
— Moça estranha. Onde você mora?
— Aragon — ela mentiu ao referir-se ao nordeste do reino espanhol a milhas de
distâ ncia e onde gostaria de estar no momento.
— Em que parte de Aragon? Para quem você trabalha? Confusa, Catalina levou
uns segundos para inventar a resposta.
— Estou viajando para um convento lá . Graças à generosidade de meu tio e das
pessoas importantes que ele conhece, recebi permissã o para me juntar à ordem.
O estranho a fitou entre perplexo e triste.
— E qual é o nome desse convento?
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Catalina lembrou-se de um sobre o qual a mã e e a tia conversavam uma tarde.


Havia prestado atençã o porque temia que, um dia, lá fosse seu destino. Proferiu o
nome que ele pareceu conhecer.
— Perdã o por meu atrevimento. Nã o imaginava que você fosse...
— Vejo que é seu costume atacar mulheres que nã o contam com a proteçã o da
Igreja.
Ele a fitou com olhar pensativo e disse:
— Pensei que você fosse um rapaz, um serviçal de alguém.
— Entã o é seu costume assaltar rapazes desarmados que...
— Nã o! — ele protestou bravo, como se tivesse sido insultado. Catalina deu um
passo para trá s antes que ele a desafiasse a um duelo, prá tica condenada pela coroa e
que poderia lhes custar a cabeça. Depressa, perguntou:
— Onde você deixou meu cavalo?
Diego tirou uma das botas e esvaziou a á gua que ela continha. — Foi você que o
deixou. Se me der um momento, eu a levarei... — Onde? — ela insistiu. Surpreso com
sua audá cia, Diego irritou-se. — A leste daqui, perto do parreiral. — E meu punhal? Em
que parte do riacho você o atirou? — Isso nã o importa mais, pois seria impossível
encontrá -lo. Leve o meu que também a protegerá .
Catalina pensou no regresso para o palá cio e na possibilidade de encontrar
outros nobres cujos beijos e abraços ela teria de rechaçar. Já ia pegar o punhal, mas
puxou a mã o.
— Jogue no chã o, diante de mim — exigiu e foi atendida. Sem desviar o olhar do
homem, ela pegou a arma, virou-se e partiu correndo.
— Senhorita? — o estranho gritou. — Qual é seu nome? Catalina olhou por
sobre o ombro e lembrou-se dos lá bios quentes e do peito forte dele. Por essa e muitas
outras razõ es, nã o respondeu.
Minutos depois, ao chegar ao parreiral, soltou primeiro o cavalo á rabe dele e
deu-lhe um tapa na anca a fim de mandá -lo para casa onde quer que fosse. Em sua
pressa, nã o tinha pensado em verificar a marca de ferro em brasa no animal e nem o
brasã o do estranho na sela.
Nã o importava. O destino deles resumia-se nos momentos passados juntos.
Nunca mais se veriam.
O mais importante era os pais nã o ficarem sabendo do que havia ocorrido,
especialmente do beijo. Um que Catalina nã o esqueceria. Pelo menos, por um bom
tempo. E, sem dú vida alguma, nã o nos braços do futuro marido velho e feio.
Estremeceu ao pensar nisso. Montou e partiu a galope, grata pelo fato de o
estranho de olhos lindos e beijos ardentes nã o poder segui-la.

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CAPÍTULO III

Chegando ao palá cio, Catalina assustou-se ao ver Susanna debruçada numa das
janelas do segundo andar, acenando com um lenço. Com ar indagativo, apontou para si
mesma.
Susanna fez um gesto afirmativo com a cabeça e fingiu que carregava uma
criança. Temendo que a irmã estivesse prestes a sofrer um aborto, Catalina apontou
para ela. Dessa vez, o gesto de Susanna foi negativo ao mesmo tempo em que apontava
da criança imaginá ria para a irmã mais nova. Entã o, passou o indicador pela garganta
como se fosse uma faca.
Catalina entendeu a mensagem. Tinha agido como uma criança e os pais
estavam furiosos e dispostos a matá -la. Desmontou depressa e entregou o cavalo ao
antigo dono.
— Cuide de seu animal — recomendou, mas ao ver-lhe o olhar assustado,
acrescentou: — Nã o se aflija. A pé rola ainda é sua, bem como o cavalo.
Recebeu um sorriso de gratidã o e o fez jurar guardar segredo. Em seguida,
correu para a á rea dos criados onde Susanna já a aguardava com roupas adequadas
para ela vestir.
— Vá se trocar depressa no quarto da cozinheira. Ela está nos aposentos de
mamã e e os outros criados continuam ocupados com os preparativos da festa. Papai a
está procurando desde o momento em que você saiu. Por que entrou na á gua vestida?
Estava suja?
— Nã o, depois explico. Por favor, tente distrair papai.
— Esta será a ú ltima vez — Susanna avisou. Catalina sabia que nã o seria, mas
murmurou:
— Eu sei. Agora, preciso saber onde passei essas horas, ou melhor, o que dizer a
papai.
— Você esteve nos jardins, pensando em seu prometido. Catalina fez uma careta.
— Catalina! — Dom Lorenzo trovejou, - Por for favor, Susanna, entretenha papai
por uns instantes — ela pediu e correu para o quarto da cozinheira.
Trocou de roupa o mais depressa possível e, embora os cabelos ainda
estivessem molhados, voltou à á rea dos criados onde se chocou contra o pai.
Dom Lorenzo, mais gordo do que alto, teve de se amparar em
uma das mã os para nã o cair.
— Papai, o senhor está bem? — Catalina indagou com as mã os estendidas para
ajudá -lo.
Ele arregalou os olhos para essa filha esquisita.
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— Por onde você andou? — Ela retorceu as mã os e recuou uns passos.


— Caminhando por aí, pelos jardins, pensando em meu futuro marido.
O pai se acalmou um pouco, mas franziu a testa.
— Espero que em tais pensamentos nã o houvesse nada perigoso como punhais
ou venenos, minha menina.
Ela jamais poderia enganá -lo. Respirou fundo e suspirou.
— Prometo me comportar, papai. Até me esforçarei para ser uma boa esposa.
— E mã e também — ele acrescentou.
Ah, isso. Ela lembrou-se do beijo do estranho. Imaginava se haveria de pensar
nele muito mais vezes no futuro, quando estivesse entre os braços velhos e feios do
marido.
— E mã e — resmungou por entre os dentes.
— O que aconteceu com seus cabelos? — o pai indagou. Catalina afastou~se
mais ainda, temendo que o pai os tocasse.
— Quando estava passeando, tropecei e caí com a cabeça sob a bica de uma
fonte. Mas só molhei os cabelos.
O pai a fitou como se ela nã o tivesse o mínimo juízo.
— Nã o falta muito tempo para Dom Diego chegar. Você precisa começar a se
preparar para recebê -lo.
— O pai dele também virá ? — Catalina quis saber.
Dom Tomá s era muito querido e quase como um pai para ela. Sempre que o seu
pai se encontrava longe em missõ es militares ou questõ es de negó cios, Dom Tomá s
aparecia a fim de prestar assistência à família. Quando Catalina, ainda criança, se
machucava, ele a consolava. Mais tarde, convencera-a de estudar latim ou francês com
o preceptor, o que ela detestava.
— Os dois virã o. Agora, apresse-se, menina — o pai a advertiu.
Catalina assentiu, mas os pés, pesados como seu coraçã o, teimavam em se
arrastar devagar enquanto ela subia a escada, rumo a seus aposentos.
O banquete seria servido bem tarde quando o calor já houvesse amainado. Por
isso, Dom Diego e o pai, Dom Tomá s, dirigiam-se ao palá cio Velasco ao pô r do sol. Lá ,
apreciariam també m mú sica, jogos e conversas agradá veis.
Nã o que Diego sentisse fome ou interesse pelas atividades. Preferia estar a
caminho de uma fortaleza inimiga, brandindo nada maior do que um punhal. Naquele
cená rio, mesmo sem a arma apropriada, teria chances de lutar. Diferente dessa noite
com Catalina, a moça irritante.
— Diego, se continuarmos neste passo moroso, só chegaremos ao palá cio no fim
do mê s — o pai reclamou.
Embora nã o quisesse jamais chegar lá , Diego esporeou Peligro, o cavalo á rabe
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para ir mais depressa. Mesmo assim, o pai nã o ficou satisfeito e franziu a testa.
— Nã o posso compreender o que se passa com você . Catalina é uma jovem linda,
encantadora.
Diego lembrava-se da criança magricela que tinha visto anos atrá s. Beleza
nenhuma podia ter surgido daquilo. Sem graça já seria uma bê nçã o. Também se fosse
muda. Ele se lembrava de sua voz esganiçada. E de algo mais. "O serviçal" mudo de
horas atrá s.
Sorriu apesar de "o rapaz" o ter forçado a caminhar muitas milhas até encontrar
Peligro que pastava num campo.
— Ah, noto que seu humor está melhorando — o pai comentou. Só porque os
pensamentos vagavam longe dali, ele refletiu ao
pensar naquele corpo macio sob o dele, dos olhos verdes fitando-o, da surpresa
provocada pela cabeleira dourada como o sol, dos lá bios rosados e de sua reaçã o
ardente aos beijos. Da boca que jamais pertenceria a ele ou a homem algum.
Por que, Diego imaginou, uma mulher tã o linda e de temperamento ardente
decidia se enclausurar num convento? Sem dú vida havia muitas feiosas para
desempenhar tal papel. Mulheres como Catalina Ferná dez de Velasco.
— Talvez ela deseje ser freira — distraído, disse em voz alta.
— Freira? Quem? — 0 pai indagou. Diego virou-se para ele. A luz do entardecer,
os cabelos alvos de Dom Tomá s brilhavam. O bigode e o cavanhaque ainda tinham
alguns fios negros da mocidade. A estatura e a silhueta esguia eram iguais á s do filho.
— Catalina. Algué m lhe perguntou se ela gostaria de pertencer a uma ordem
religiosa? — Diego sugeriu.
Dom Tomá s o observou e, depois, desviou o olhar para a es-trada.
— Isso seria depois de você s se casarem, terem muitos filhos e você se for desta
vida?
De preferê ncia antes, Diego pensou, mas nã o disse.
— Talvez ela tenha um chamado divino. Dom Tomá s riu.
— Catalina nã o tem a mínima vocaçã o religiosa, eu lhe garanto.
— Entã o, ela deve estar esperando com ansiedade minha chegada esta noite,
nã o é?
O pai mexeu-se na sela, olhou para os dois lados da estrada e manteve-se em
silêncio.
— Haverá um provador dos alimentos do banquete desta noite, ou serei
envenenado de surpresa?
— Ela será uma boa esposa, meu filho. E obediente. Esposas obedientes nã o
assassinavam futuros maridos. E també m seriam insensíveis na cama. Diego nã o
queria isso, e sim uma mulher com um apetite igual ao dele e com olhar faminto. Ele
queria "a jovem que conhecera à quela manhã ". Riu.
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— Seu humor está cada vez melhor, filho.


— Si — Diego concordou.
Isso se tornava fá cil se pensasse só no "serviçal". Mas o pai tinha outros planos.
Olhou para uma caixa de prata que lhe passava.
— O que é isso? — indagou.
— Um presente seu para Catalina.
— Nã o é um espelho, é? — Diego perguntou e o pai franziu a testa.
— Nã o. Por quê ?
O filho nã o quis declarar o ó bvio e aborrecê-lo. Parecia que o pai já nã o
enxergava tã o bem. Caso sim, estaria mentindo de propó sito sobre a suposta beleza de
Catalina.
— As mulheres geralmente nã o gostam de receber espelhos de presente.
Preferem algo mais prazeroso.
— Entã o, Catalina vai apreciar o que escolhi.
Diego olhou para a caixa e a abriu. O colar de ouro, pérolas e rubis parecia muito
familiar.
— Isto era de mamã e — ele murmurou.
A mã e havia falecido quando ele ainda era menino.
— Era, sim, e merece ser de sua esposa — o pai explicou.
— Ela ainda nã o é minha esposa, papai.
E com oraçõ es fervorosas, talvez nã o chegasse a ser. Num tom firme, Dom
Tomá s declarou:
— Ela será . Você deve esquecer o que aconteceu quando os dois ainda eram
muito novos. Catalina já esqueceu, eu lhe garanto.

Catalina mandou as criadas para fora do quarto e pediu a Susanna para ajudá -la
a se vestir.
— Escolha um vestido de seda dourada — a irmã sugeriu, excitada como se
fosse a noiva.
Talvez porque nã o passasse de espectadora dessa tragédia, Ca-talina refletiu.
— Prefiro seda preta — disse ao tirar um vestido do guarda-roupa.
Mas Susanna nã o concordou e o trocou por um dourado.
— Ficará lindo, maninha, com suas cores. Ai, ouça, Catalina. Os acordes
melodiosos de uma orquestra subiam do grande salã o abaixo. Logo depois, chegavam
també m as vozes afinadas dos mozos de capilla, os rapazes do coro. Cantavam tã o
animados. E por que nã o? Eles nã o estavam destinados a um futuro de infe-licidade ao
lado de Dom Diego.
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Mais uma vez. Catalina teve vontade de fugir. Isso lhe provocou a lembrança do
estranho atraente, de olhos lindos e beijos excitantes.
— Catalina?
Ela piscou e olhou para Susanna que sorriu.
— Que idéias estã o passando por sua cabeça, irmã zinha?
— Nenhuma. Por quê ?
— Você está com as faces mais vermelhas do que as rosas do jardim e a
respiraçã o ofegante. Você vem fingindo para todos nó s o está ansiosa para encontrar
seu...
— Nã o! Eu lhe contarei um segredo se você jurar nã o repetir para ninguém.
— Catalina, nã o gosto de jurar.
— Entã o, prometa.
— Está bem. Qual é seu segredo?
Ao ouvir Catalina descrever o encontro com o estranho, Susanna abriu a boca
como se fosse gritar.
— Quieta. Você prometeu.
Estarrecida, Susanna atirou-se numa cadeira.
— Você beijou outro homem?!
— Apenas um. Foi muito excitante — Catalina afirmou.
— Você permitiu que um estranho a beijasse?
— Nã o tive escolha. Diga uma coisa. Quando você e Pedro estavam juntos, você
aceitava que a língua dele passasse por seus lá bios e entrasse na boca?
— Catalina!
Entã o o uso de línguas entre um homem e uma mulher era errado? Ou apenas se
fosse com um estranho? Catalina precisava esclarecer isso, mas a irmã nã o estava
disposta a ajudá -la.
— Trate de se vestir, pois a mú sica já começou — Susanna advertiu. — E deixe-
me avisá -la, maninha, tire esse homem estranho de sua cabeça. Você nunca mais vai
vê-lo. Ele jamais será seu marido e você deve fidelidade a Dom Diego.
Um homem velho e feio. Já nã o era assim quando ela nã o passava de uma
criança de seis anos? Ela se lembrava bem como se tudo houvesse ocorrido na vé spera.
Os pais a tinham levado ao palá cio Guzmá n para apresentá -la ao futuro marido.
Ela mal entendia o termo e estava ocupada demais, brincando de esconde-esconde
com as outras crianças.
A certa altura, Catalina havia se escondido no guarda-roupa de Dom Tomá s.
Entã o, tinha ouvido a porta do quarto abrir e umas risadinhas. Havia espiado para fora
e visto Dom Diego com o peito nu, sorrindo com cara de bobo para uma criada. Quando

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esta começava també m a tirar a roupa, Catalina tinha gritado.


Dom Diego nã o fora nem um pouco delicado. Sem dar atençã o à criada
assustada, ele havia tirado Catalina do guarda-roupa com brutalidade e aos gritos. Em
retribuiçã o, ela havia lhe dado um pontapé na canela e mordido o braço dele até quase
o osso. Ao vislumbrar-lhe o rosto furioso e, a seus olhos, velho e feio, ela fugira
correndo pelo palá cio. Apesar de ele a perseguir, Catalina tinha lhe escapado das mã os,
mas nã o das do pai. Este ao ver o braço ensanguentado de Dom Diego, castigara a filha
com boas palmadas.
Ela culpava Dom Diego por isso e o odiava. Até seu ú ltimo suspiro, odiaria o
homem com quem tinha de se casar e lhe dar filhos. Estremeceu e olhou em volta do
quarto.
— O que está procurando? — Susanna indagou.
— O punhal — o que pertencia ao estranho atraente, a ú nica coisa que a
protegeria contra o futuro marido.
Susanna curvou as sobrancelhas.
— Papai e mamã e insistem que você esteja desarmada esta noite.
— Nã o importa. Ainda me restam dentes, dedos, que podem ser chamados de
garras, e joelhos capazes de invalidar qualquer homem. Nã o, minha irmã , nã o estarei
desarmada.
— Catalina, Dom Diego é homem feito e, desta vez, será capaz de matá -la se você
o morder — Susanna avisou em tom severo.
— Pois ele terá de me pegar primeiro.
Catalina manteve-se quieta enquanto a irmã a arrumava com seus dedos
má gicos. Quando já estava pronta, aproximou-se do espelho e, incré dula, observou a
imagem.
Os cabelos estavam presos no alto da cabeça com pentinhos e enfeitados com
uma rosa vermelha. Usava o vestido dourado e um colar de ouro. Com a tonalidade
clara da pele, o efeito era exage-rado demais.
— Estou de uma cor só — reclamou.
— A rosa é vermelha e seus olhos, verdes. Você está linda. Dom Diego vai
apreciar sua aparê ncia — Susanna afirmou.
— Nã o imporia o que ele pense de mim — Catalina disse e olhou para o vestido
preto.
— Se você nã o se importa mesmo, pare de olhar para o vestido prelo e leio.
Catalina sorriu para a irmã , beijou-a na face e saiu do quarto, rumo ao grande
salã o.
Já que estava preparada para esta noite, queria que tudo ocorresse e acabasse
depressa. Mas, ao ver uma centena de pares de olhos em sua pessoa, deu-se conta de
que todos observariam sua expressã o quando Dom Diego reconhecesse os direitos

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sobre ela.
Catalina pensou no futuro, quando já estivessem casados. Ele a trancaria no
guarda-roupa à noite como castigo pelo que ela havia feito onze anos atrá s? Pois que
tentasse. Ela se sujeitava a essa uniã o, na qual nã o teria voz ativa ou vontade, mas nã o
sem suas armas. Desejava estar de posse de uma delas nesse momento.
Distraída, tocou a coxa onde costumava prender a bainha do punhal. Acabava de
avistar um homem que detestava ver tanto quanto a Dom Diego.
Antes que pudesse se virar e escapar, Miguel Ramirez Lucero prendeu-lhe o
olhar. Era um rico proprietá rio de terras, mas nã o tanto quanto seu pai. Aos quarenta
anos, Lucero aparentava uns sessenta. Pesava mais que o dobro dela e o topo da
cabeça calva mal chegava a seus ombros. Podia imaginá -lo como pai, mas jamais como
amante ou marido. Mais do que tudo, ela detestava-lhe a persistência piegas. Parecia
tã o forçada e resistente.
Nã o importava quantas vezes ela já tinha lhe dito que nã o poderia se casar com
nenhum outro homem a nã o ser Dom Diego. Lucero apenas sorria, mostrando as
gengivas, e voltava a procurá -la para verificar se a situaçã o havia mudado. Nã o havia,
embora Catalina tivesse rezado para que outra guerra mantivesse Diego longe para
sempre. Poré m, a Espanha gozava a primeira paz duradoura em muitos sé culos.
Atravé s de sinais, Lucero avisava que pretendia falar com ela.
Catalina mordeu o lá bio, prevendo o que ouviria. Enquanto cumprimentava
pessoas amigas, tentou se afastar, mas ele a alcançou.
— Senhorita, sua beleza ofusca a do sol — ele disse em tom afetado e irritante.
— Obrigada, sr. Dom Lucero. Mas acredito que o sol se ofenderia com a
comparaçã o.
— Jamais! Ele existe apenas para brilhar sobre sua pessoa. — Apontou para o
terraço e acrescentou: — Por favor, precisamos conversar a só s.
— Lamento ter de recusar o convite, Dom Lucero. Tenho de dar atençã o a meus
convidados.
— Entre os quais sou um.
Embora nã o soubesse quanto, Catalina nã o ignorava que ele era importante
para os negó cios do pai. Por isso, nã o convinha contrariá -lo.
— Apenas por um momento — ela concordou.
Lucero abriu caminho entre as pessoas para que pudessem chegar ao terraço.
Lá , dirigiu-se à grade, mas Catalina parou junto à porta aberta, onde se sentia mais
segura. Vozes mesclavam-se com a mú sica. Lá fora, o cé u estava estrelado e o ar
recendia a perfume de rosas e de flor de laranjeira. Isso a levou a pensar no estranho
atraente e em seus beijos.
Como seria estar casada com ele? Recebê-lo em sua cama? Ele nã o daria valor à
uniã o de ambos? Ou seu ardor por ele, que até entã o ignorava possuir, atingiria-lhe o
coraçã o e o marcaria com seu nome para sempre?
ADORO ROMANCES EM EBOOK 20
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— Senhorita?
Ela piscou e só entã o deu-se conta de que Lucero ainda a aguardava junto à
grade. Mas recusou-se a se aproximar dele e ficou onde estava. Com isso, a expressã o
de Lucero mudou.
Catalina viu o olhar de raiva, uma fú ria tã o atrevida que ela deu um passo para
trá s. No mesmo instante, ele substituiu a reaçã o rancorosa por um sorriso ameno.
Ela prendeu a respiraçã o ao vê-lo se aproximar demais, desrespeitando a
etiqueta, e murmurar:
— Quero lhe declarar meu amor perene, Catalina. Você é a mulher mais linda
que já conheci. Significa a vida para mim. Sem você , morrerei. Quero me casar com
você , lhe dar meu...
Ríspida, ela o interrompeu:
— O homem, a quem estou prometida, virá esta noite para confirmar nosso
compromisso.
— Nã o precisa ser assim — Lucero afirmou em tom de desprezo.
— Nã o compreendo.
Ele a fitou com os pequenos olhos castanhos cheios de desejo. . — Se você nã o
quer se casar com Dom Diego, fale com seus pais. Sei que eles respeitarã o sua vontade.
Já conversei com eles sobre isso. Seus pais só querem sua felicidade. Esse homem nã o a
fará feliz. Preocupada, você empalideceu e até perdeu peso — ele afirmou ao olhar
para partes de seu corpo que nã o deveria.
— Estou muito bem, sr. Dom Lucero. E tenho certeza absoluta de que meus pais
desejam que eu me case...
— Está muito enganada — ele a interrompeu com um novo sorriso. — Seus pais
só querem vê-la feliz. Tudo que você tem a fazer é lhes dizer que nã o quer essa uniã o.
Entã o, eles permitirã o que nó s dois nos casemos.
Inconcebível!Ridículo! Catalina quase riu, mas estava aturdida demais. Lucero
falava a sé rio? Dom Diego já era ruim por ser um velho de vinte e sete anos. Esse aí
tinha quarenta, podia ser seu pai! Nem como isso ela o queria. Poucos minutos atrá s,
tinha detectado uma ponta de crueldade no olhar dele que até agora a assustava.
Ele chegou mais perto, a barriga bloqueando-lhe a porta. Caso ela se mexesse, se
tocariam.
— Fale com seus pais depois da festa. Diga-lhes que seu coraçã o me pertence e
você deseja...
— Senhorita Velasco?
Catalina virou-se e viu um dos criados.
— Vim avisá -la que Dom Tomá s de Guzmá n chegou e a aguarda do outro lado do
grande salã o.
— Por favor, o senhor me dê licença — Catalina disse a Lucero e afastou-se
ADORO ROMANCES EM EBOOK 21
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antes que ele pudesse responder.


Aliviada e sorridente, atravessou o imenso aposento. Ao reconhecer a cabeça de
Dom Tomá s, coberta pela cabeleira alva, quase correu os ú ltimos passos e atirou-se
nos braços dele.
— Catalina! — ele exclamou ao retribuir o abraço apertado. — Obrigada por ter
vindo. Eu estava com saudade, Dom Tomá s.
— E eu de você, Catalina. Agora, dê um passo para trá s e me deixe admirar
minha mais querida jovem.
Ela o atendeu e deu uma volta para exibir todos os seus â ngulos.
— Eu me desenvolvi como o senhor desejava? — ela indagou.
— Você extrapolou minhas esperanças e sonhos. Está lindíssima! Desafia o
pró prio sol com sua beleza.
Dessa vez, Catalina sorriu com o elogio. Ela amava esse homem mais do que ao
pró prio pai e, por causa disso, tinha aceitado se casar com o filho dele.
Olhou para adiante de Dom Tomá s. Viu um homem baixo e gordo perto da porta.
Quase se encolheu. Dom Diego era pior do que se lembrava. Tinha cabelos ruivos e
crespos muito diferentes dos de Dom Tomá s.
— Catalina? Está na hora de você receber meu filho. Eleja está vindo
cumprimentá -la.
Mas o raivo tinha sumido. Por um instante, ela respirou aliviada, mas lembrou-
se de que a batalha nã o estava ganha. Dom Diego podia ser ainda mais feio. Até mesmo
mais feio que Lucero. En-chendo-se de coragem, levantou o olhar.
O homem alto, que se aproximava, ergueu o olhar da caixa de prata entre as
mã os e nã o deu nem mais um passo. Catalina parou de respirar. Seu olhar foi dos
cabelos castanhos para os olhos rodeados por cílios densos e a cicatriz na face direita.
O que seu estranho atraente fazia ali? Seria casado com uma das damas? Ou
noivo? Quem era ele?
De seu lado, chegou a voz de Dom Tomá s:
— Catalina, permita que eu lhe apresente meu filho, Dom Diego.

ADORO ROMANCES EM EBOOK 22


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CAPÍTULO IV

Paralisada, Catalina mal podia pensar. Este era Dom Diego de Guzmá n? O
estranho atraente? O filho de Dom Tomá s que, depois de onze anos, ainda perseguia
uma criada? Um homem que desejava livrá -la de suas roupas a fim de possuí-la e,
depois, afirmar que o que haviam compartilhado nã o era nadai
Devia haver um engano. Sem dú vida, Dom Tomá s gracejava. Fitou-o em busca de
confirmaçã o, mas ele mostrava-se surpreso com sua expressã o. E com a do estranho
atraente também.
— Seu filho... Onde o senhor disse que ele está ? — murmurou.
— Aí, com a caixa de prata nas mã os. Esse é meu filho. Entã o nã o era um gracejo.
Nã o havia engano. Catalina virou-se
e encarou o estranho atraente, Dom Diego de Guzmá n.
Ele mal se dava conta da mú sica, das vozes e dos risos alegres. O trovejar do
coraçã o os abafava e lhe roubava o fô lego enquanto ele admirava seus cabelos loiros,
enfeitados com uma rosa vermelha.
Diego podia ver cada pé tala aveludada. Mas a beleza da flor nã o se comparava
com a de Catalina. A volta de seu pescoço esguio, havia um colar de ouro, e um vestido
de seda dourada cobria-lhe o corpo macio.
Era como se essa moça houvesse engolido o sol em vez de alimentos, e ele,
agora, resplendia de seu â mago.
Diego nã o via nada alé m de seu brilho e sua beleza. Nem a luz das centenas de
velas que iluminavam o palá cio se comparava com seu esplendor. Mesmo assim, ele
nã o podia acreditar.
Catalina Fernandez de Velasco era o serviçal! O rapaz insolente que ele havia
tirado do riacho, descoberto ser mulher, beijado-a e lhe dado seu punhal? O que tinha
acontecido à criança feiosa de que ele se lembrava? Mais importante, e o convento?
Diego agradeceu aos cé us que essa beldade extraordiná ria nã o ia para convento
algum. Nã o se fosse se casar com ele. No que lhe dizia respeito, eles se casariam, com
ou sem convento.
— Senhorita... Catalina — ele murmurou.
Ela baixou o olhar. Suas faces estavam quase tã o vermelhas quanto a rosa nos
cabelos.
Diego imaginava se o resto de sua pele clara, naquelas partes escondidas dele
agora, coloriam-se também. Uma tonalidade que combinaria com as auréolas da
criatura linda, seus mamilos.
— Sr. Dom Diego — ela disse.

ADORO ROMANCES EM EBOOK 23


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Seguiu-se um silê ncio que Dom Tomá s quebrou:


— Meu filho lhe trouxe um presente. Catalina manteve o rosto virado até Diego
avisar:
— O presente está aqui.
Devagar, ela dirigiu o olhar para a caixa de prata. Estendeu a mã o para pegá -la,
mas baixou-a depressa. Diego imaginou se Catalina queria que ele a jogasse a seus pés
como fizera com o punhal e perguntou:
— Você prefere que eu a coloque no chã o a sua frente?
— O que você disse, filho? — Dom Tomá s indagou, surpreso.
— Nada, papai.
Olhou para Catalina que, depressa, tirava a caixa de sua mã o e recuava vá rios
passos. Ele nã o hesitou em segui-la.
Catalina o olhou de relance antes de abrir a caixa. Ao fazê-lo e ver o colar,
murmurou:
— É lindo!
Ela é que era linda. E acima de tudo, Diego apreciava sua natureza fogosa. Podia
percebê-la sob aquele comportamento recatado.
— Talvez Catalina queira usá -lo esta noite — Dom Tomá s sugeriu.
— Usar? — Diego indagou, distraído e alheio a tudo ao redor. Só tinha noçã o da
beleza diante dos olhos e que logo seria sua mulher, compartilharia sua cama.
Como se o pai lesse tais pensamentos, disse em tom severo:
— Usar, sim. Para que mais ela haveria de querer um colar?
— Claro, papai. Permita que eu a ajude a colocá -lo, Catalina. Seu corpo ficou
tenso e, depois, começou a tremer. Nã o tinha escolha e Diego sabia disso.
Catalina virou-se de costas para ele e curvou um pouco a cabeça para a frente.
Que costas adorá veis. Sob o vestido que lhe servia tã o bem, diferente das roupas de
algodã o cru, Diego admirou sua silhueta esguia, mas nã o sem as curvas admirá veis dos
quadris e a elevaçã o perfeita dos seios que eleja conhecia.
Ela mexeu-se um pouco e Diego sentiu seu odor delicioso. Encantado, fingiu ter
dificuldade em soltar o fecho do colar que ela usava.
— Diego, você quer que eu faça isso? — o pai indagou, impaciente.
— Nã o, obrigado, papai. Sou bem capaz — ele disse e, mentalmente,
acrescentou: Em muito mais coisas do que o senhor imagina.
Quando o fecho soltou, Catalina segurou o colar com a mã o. Diego olhou por
sobre seu ombro e viu que as juntas de seus dedos estavam brancas como se
apertassem o pescoço dele.
Com a maior delicadeza, ele colocou o outro colar e fechou-o depressa. Catalina
virou-se e Dom Tomá s exclamou:
ADORO ROMANCES EM EBOOK 24
TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

— Belíssimo! Agora, minha querida, tenho um jogo de xadrez acertado com seu
pai — avisou e foi-se.
Enfim só s, mas nã o por muito tempo. Diego rodeou Catalina enquanto ela dizia:
— Agora, me dê licença.
Afastou-se, mas ele a seguiu. Desejava estar a seu lado, encantar-se mais com
sua beleza. Além do mais, precisavam conversar. Ele queria saber muita coisa.
Era seu há bito vestir roupas de criados? Gostava de se disfarçar de homem?
Costumava retribuir beijos de estranhos?
Uma onda de ciú me inundou Diego e quase o impediu de respirar. Os joelhos
ameaçavam se dobrar.
Entã o, teve certeza de nã o querer esperar nem o mê s acertado para a realizaçã o
do casamento. De jeito nenhum. Tanto quanto nã o queria essa uniã o, na vinda ao
palá cio, agora ele nã o podia esperar para realizá -la.
Ele a seguiu até a outra extremidade do salã o onde a perdeu de vista.
Impossível, refletiu, frustrado. Ela era a ú nica criatura dourada no palá cio. Só ela
reluzia como a jó ia no pescoço. E Diego tinha de encontrá -la.
— Nã o se mexam ou ele me descobrirá — Catalina disse a Evita, Inez, Bernadina
e Ysabel, suas amigas de infâ ncia e ainda solteiras.
Estava sentada numa poltrona perto da parede e as quatro, em pé , a escondiam.
Ysabel, a mais baixa do grupo, olhou por sobre o ombro e disse:
— Mas Catalina, o sr. Dom Lucero nã o está olhando para cá .
— Estou falando de Dom Diego, o homem alto e com uma cicatriz na face direita.
Todas olharam por sobre o ombro.
— Por favor, nã o façam isso — Catalina pediu.
Como se nã o a ouvissem, as amigas viraram-se de costas para ela a fim de ver
bem. Dom Diego. Ysabel foi a primeira a falar:
— Oh, ele é tã o atraente, Catalina!
— Alto e forte — Evita disse com um suspiro.
— E sem dú vida está procurando algué m — Bernadina completou.
Catalina nã o ia se deixar achar. Empurrou Inez para o lado e, depressa, saiu do
salã o. Um cavalheiro nã o a seguiria.
Enquanto as vozes e a mú sica ficavam mais fracas a suas costas, ela atravessou
vá rias salas do palá cio e conseguiu chegar à á rea dos aposentos particulares da família.
No começo, ela ouvia apenas os pró prios passos no chã o de pedra, mas logo,
notou o ruído de outros. Rumou para os quartos dos criados, embora pudesse tentar
um homem audacioso como Dom Diego. Parou e virou-se para enfrentá -lo.
Em vez dele, viu Lucero. Entã o, sentiu medo.

ADORO ROMANCES EM EBOOK 25


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

Recuou e, num gesto instintivo, procurou o punhal que nã o encontrou, claro.


Sem revelar o medo na voz, disse:
— Senhor, a festa é no grande salã o.
Lucero sorriu. Os olhos dele brilhavam, sinal de que já tinha bebido muito vinho.
Olhou para os quartos a suas costas e disse:
— A ú nica pessoa com quem quero estar é você , Catalina. Ela recuou mais uns
passos.
— Meus pais...
— Estã o muito ocupados com os Mendonza e Dom Tomá s. Catalina calculava se
esse homem teria coragem para atacá -la em sua pró pria casa, mas decidiu nã o se
arriscar. Sem desviar os olhos dele, segurou a base de um pesado candelabro de
bronze na mesa ao lado.
— Como eu já disse, a festa é em outro lugar.
Lucero ignorou o tom de advertê ncia e a arma em sua mã o.
— Querida e linda Catalina — murmurou ao se aproximar. Ela concentrou-se no
candelabro. Era pesadíssimo.
— Você deve lembrar que sou um aliado político de seu pai, portanto...
— Seria aconselhá vel que se juntasse a ele no escritó rio — Diego terminou.
Catalina ergueu o olhar do candelabro a tempo de ver Diego segurar o homem
mais baixo e dizer numa voz de mal contida raiva:
— Você vai voltar para a festa agora.
Lucero deu um passo para trá s e num tom bajulador, exclamou:
— Dom Diego, foi muita sorte sua chegada. Eu estava preocupado com Catalina
e...
— Ela é minha preocupaçã o e nã o sua — Diego declarou.
Catalina nã o gostou do tom possessivo do noivo, algo que Lucero pareceu
respeitar ao retroceder uns passos.
— Nesse caso, vou deixá -la a seus cuidados — disse e desapareceu.
Diego olhou para Catalina que mantinha a mã o apertada no candelabro.
— Pelo que vejo, você perdeu também meu punhal. Percebeu que ela nã o o
fitava e aproximou-se. O coraçã o de
Catalina disparou, poré m, ela nã o se afastou.
— O homem lhe fez algum mal? — ele indagou em voz suave.
— Se tivesse, os convidados teriam de assistir a um veló rio — ela respondeu,
brava.
Diego riu.

ADORO ROMANCES EM EBOOK 26


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

— Que tipo de mulher é você?


— Uma que sabe pensar. Se me der licença... — ela começou ao dar uns passos,
mas Diego a segurou pelo braço.
Roçou o polegar ao longo dele, provocando-lhe ondas de calor pelo corpo
inteiro. Sentiu-se aérea quando ele baixou os lá bios a seu ouvido e murmurou:
— Precisamos conversar, Catalina.
Ela se sentia incapaz de formular qualquer palavra. As ideias se confundiam e o
ritmo da respiraçã o aumentava. Mais ainda quando ele a beijou na orelha e a tocou
com a língua. Fechou os olhos e sentiu as pernas fraquejar.
— Catalina?
Susanna. Depressa, Catalina separou-se de Diego, baixou o olhar e tentou
ignorar a excitaçã o.
— É minha irmã . Ela está grá vida e deve precisar de mim. Enquanto se afastava
pelo corredor, ouviu Diego dizer:
— Ainda conversaremos antes que a festa termine, Catalina.

O salã o de banquetes recendia aos odores mais estimulantes do apetite.


Travessas com uma variedade enorme de iguarias cobriam a longa mesa.
Dom Lorenzo sentava-se à cabeceira e Diego em frente de Ca-talina. Susanna
estava ao lado da irmã e, com frequência, olhava de relance para Diego. Todas as vezes,
ele lhe sorria, o que a forçava a baixar o olhar para o prato. Catalina observava todos os
convidados, exceto Diego e, claro, Lucero.
Este sentava-se entre duas amigas de Catalina. A baixinha cha-mava-se Ysabel,
mas Diego ignorava o nome da outra. Nã o importava, pois apenas Lucero o
interessava.
Os olhos castanhos e pequenos do homem, semelhantes aos de um porco, nã o se
desviavam de Catalina.
Diego apertou a mã o em volta da taça de vinho. Ao tomar um gole, decidiu que
lhe exigiria uma explicaçã o. Nã o só em pensamento como també m fisicamente, o
homem ultrapassava os limites em relaçã o a Catalina. Ele nã o permitiria isso. Ela era
sua.
Observou-a e nã o conteve um sorriso ao notar seu apetite. Ela o fitou de relance
e com expressã o tímida, mas desviou logo o olhar para o pai a quem sorriu
amorosamente.
Diego reprimiu um suspiro. Se nã o a tivesse beijado mais cedo... Isso ele nã o
podia e nem queria mudar.
Nesse momento e como todas as outras pessoas, ele olhou para Dom Lorenzo
que se levantava com a taça de vinho erguida na mã o. Com expressã o de orgulho, o
anfitriã o participou o pró ximo casamento de Catalina com Diego, filho de seu amigo

ADORO ROMANCES EM EBOOK 27


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

mais chegado.
Os aplausos foram estrondosos por parte de todos, exceto de Lucero que se
mantinha imó vel. Diego o encarou até que ele também batesse palmas. Satisfeito com
tal atitude, ele olhou para Catalina. Suas faces estavam rubras como naquela manhã e
sua expressã o era de quem fugiria dali correndo. Antes que ela o fizesse, Diego se
levantou e disse:
— Creio que a felicidade desta noite cansou a querida Catalina. — Fitou-a e
sugeriu: — Talvez uma ida ao terraço lhe faça bem.
Rodeou a mesa e parou a seu lado. Por um instante, temeu que ela o agredisse
com um dos talheres. Porém, sob os olhares de tantas pessoas, ela lhe permitiu que a
ajudasse a se levantar.
Diego lhe ofereceu o braço, o mesmo que ela havia mordido onze anos atrá s e
para o qual baixou o olhar como se pensasse nas cicatrizes. Ele pretendia mostrá -las na
noite de nú pcias, junto com tudo o mais.
— Um pouco de ar fresco aliviará sua tensã o.
Seus dedos, que o tocavam de leve no braço, contraíram-se. Antes que a
primeira caminhada deles se transformasse num combate corpo a corpo, Diego a levou
da sala de jantar ao grande salã o e ao terraço. A essa altura, ela já havia puxado a mã o
e a entrelaçado à outra.
Atrá s deles, o alarido de vozes, os risos e os ruídos do banquete continuavam.
Ali só havia silê ncio e Diego apressou-se em falar:
— Para minha alegria, você se transformou de uma simples criança numa
mulher incrivelmente linda.
Calada, Catalina sentou-se em um banco de pedra. Diego a seguiu e ficou em pé a
seu lado. Finalmente, ela murmurou:
— Obrigada, senhor. Ai, tão formal e distante.
— Posso lhe perguntar uma coisa, Catalina?
Ela ergueu bem os ombros e fixou o olhar no grande salã o vazio.
— O que quiser.
— Isso eu sei, mas você responderá ?
— Nã o tenho escolha. Você vai ser meu marido, nã o vai? Diego arqueou as
sobrancelhas.
— Ah, vou sim. Quero saber por que você vestia aquelas roupas hoje de manhã .
Ela contraiu os mú sculos do rosto.
— Gosto de cavalgar — respondeu.
— Vestida como homem?
— Como serviçal — Catalina corrigiu.
Diego pô s o pé no banco e cruzou os braços sobre o joelho.
ADORO ROMANCES EM EBOOK 28
TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

— Você tinha um encontro marcado com alguém?


— Nã o — ela respondeu ao fitá -lo de relance.
Ele ficou satisfeito com a resposta e a surpresa estampada em eu rosto de
pureza inquestioná vel.
— Pelo que disse, deduzo que é há bito seu se vestir como um serviçal e cavalgar
pela propriedade. Por quê?
— Ningué m me aborrece quando nã o sou eu.
Entã o, ele a estava aborrecendo.
— Catalina, eu já a perdoei por ter me mordido e dado um pontapé quando era
criança. E també m por ter me ameaçado com o punhal hoje de manhã .
— Fico muito grata por sua bondade.
— Isso quer dizer que você nã o me perdoou.
— Nã o há nada para ser perdoado. Você vai ser meu marido e isso resolve a
questã o.
Nã o no que dizia respeito a Diego. Ia passar a vida toda com essa mulher e nã o
queria perder tempo se preocupando com punhais, comidas envenenadas e, talvez, nã o
ter seu respeito e amor, os quais ansiava merecer. Nã o queria sua obediê ncia
indiferente que poderia acabar a qualquer momento.
— Temos um mês até o casamento. Penso que deveríamos usar esse tempo para
nos conhecer bem.
— Como desejar.
— A feira em Có rdoba será dentro de poucos dias. Você gostaria de visitá -la
comigo?
— Se é isso que você quer.
— Ouvi contar que haverá muitas diversõ es. Mú sicas, malabarismos e
quinquilharias para se ver ou até comprar.
— Se é isso que você quer — ela repetiu. Diego respirou fundo.
— Eu poderei vir buscá -la de manhã e nó s almoçaremos nos arredores da feira,
sob uma á rvore. Meus criados providenciarã o o que você quiser comer.
— Se é isso que você quer — ela disse pela terceira vez.
— O que eu quero é que você me olhe enquanto falo.
Um momento se passou. Depois, outro. Finalmente, Catalina ergueu o rosto para
ele.
Nesse instante, o coraçã o de Diego disparou e o corpo contraiu-se sob o impacto
de um desejo tremendo por ela. Queria possuí-la nesse momento e nos seguintes.
E ela sabia.
Naqueles olhos verdes, Diego viu seu desafio aos planos dele, mas também uma
ADORO ROMANCES EM EBOOK 29
TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

carência impaciente e uma sombra de medo.


Sob tudo aquilo, ele esperava ver, um dia, meiguice e amor. Forçou-se a
perguntar com suavidade:
— Isso foi tã o dificil?
Ela negou com a cabeça, mas disse:
— Si
— Catalina, você nã o precisa ter medo de mim — ele a repreendeu.
— Isso eu sei e nã o tenho.
Diego constatou isso em seu olhar e também beligerâ ncia. Esse casamento
jamais seria insípido.
— Entã o, você me acompanhará à feira?
— Se é isso que você ...
— O que eu quero é que você faça sua escolha. Poderá ir comigo ou ficar aqui. A
decisã o é sua, nã o minha. E também na questã o de nosso casamento.
Catalina nã o escondeu a surpresa..
— Nosso casamento?!
Embora morresse um pouco por dentro, Diego assentiu.
— Se você detesta tanto a idé ia de nos casarmos, o acordo de nossos pais feito
para nó s nã o irá adiante. Eu lhe dou minha pala-vra. Falarei com meu pai e assumirei a
culpa pelo rompimento. Você ficará livre para escolher quem quiser. E eu nã o tornarei
mais a aborrece-la.
Seus olhos verdes arregalaram-se num misto de satisfaçã o e cautela. O coraçã o
de Diego pesou no peito, mas ele havia empe-nhado a palavra e nã o voltaria atrá s. Num
tom digno e com uma ponta de tristeza, perguntou:
— O que você escolhe, Catalina? Precisa me dizer agora. Nã o devemos nos
manter, e a nossos pais, na expectativa.
Ela desviou o olhar e crispou as mã os. O peito arfava com a respiraçã o cada vez
mais rá pida. Passou a língua pelos lá bios.
Ela ia lhe negar tudo, Diego pressentiu. Viu-a erguer o rosto quando iniciou o
espetá culo de fogos de artifício, preparado para celebrar a uniã o deles que poderia nã o
se consumar.
Respirou fundo, pronto a forçá -la a se decidir, quando Catalina respondeu
abruptamente:
— Eu o acompanharei à feira.
Ela baixou o olhar o que o impediu de ver se falava a verdade. E sua respiraçã o
estava mais rá pida ainda.
— E quanto à questã o de nosso casamento? — ele indagou. Catalina engoliu em

ADORO ROMANCES EM EBOOK 30


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

seco antes de responder em voz trêmula:


— Eu também o acompanharei nessa jornada.
Antes de Diego piscar, Catalina punha-se em pé , corria para o grande salã o e
desaparecia de vista.
Tã o logo ela alcançou seus aposentos, fechou a porta, atirou-se na cama e cerrou
as cortinas em volta dela.
O que havia feito? Por que tinha prometido se casar com esse homem? O que ele
esperava que lhe desse? A alma e o coraçã o alé m do corpo? Poderia ela dar? Deveria?
Fechou os olhos e refletiu sobre o estratagema dele. Diego nã o a tinha forçado
como um homem de tal posiçã o faria, mas a persuadido. Nã o havia exigido, mas a
conduzido com delicadeza. E ela se deixara apanhar na armadilha.
Porém, que escolha lhe restava? Se nã o se casasse com Diego, Lucero acamparia
no pá tio do palá cio e exigiria que ela lhe fosse dada em casamento. Por Deus, isso nã o
poderia acontecer.
Catalina sabia que morreria se tivesse de passar um ú nico dia com Lucero, ainda
mais o resto da vida.
Diego era um caso diferente. Quando tinha se tornado tã o atraente, deixado de
gritar para falar com suavidade, transformado a fú ria em persuasã o? Será que isso
duraria? Ou a mudança havia sido orquestrada como a uniã o de ambos?
Ele a amava? Catalina achava que nã o. Como poderia? Tinha estado longe
durante anos, lutando em Granada. Mas encontrava-se ali outra vez e poderia, um dia,
amá -la?
Nã o seria ele igual a muitos homens que, num segundo, juravam amor eterno e,
no seguinte, desejavam outra mulher? Como tinha feito nesse dia ao roubar-lhe um
beijo e tentar muito mais, pensando que ela nã o passava de uma criada. Uma sobre
quem a futura esposa nã o ficaria sabendo. Só que ela ficara. Mas isso nã o parecia tê-lo
perturbado.
Quem Diego levaria para a cama essa noite, depois de ir embora dali? Ou quando
já estivessem casados?
Catalina fechou os olhos e os apertou com as mã os, tentando se livrar dessa
ideia terrível. Nã o conseguiu.
Diante da expectativa medonha, jurou que jamais se entregaria totalmente a
esse homem. Seria sua mulher, nã o lhe negaria nada na cama, mas ele nunca teria seu
coraçã o completamente. Caso o oferecesse, Diego o destruiria.
Algum tempo mais tarde, apó s os convidados que tinham viajado grande
distâ ncia subirem para seus quartos, Dom Diego jun-tou-se ao pai e a Dom Lorenzo à
porta.
Os dois amigos discutiam sobre quem era o melhor jogador de xadrez e quem
ganharia mais cavalos á rabes na pró xima vez em que jogassem. Dom Tomá s riu e
disse:
ADORO ROMANCES EM EBOOK 31
TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

— Quer saber, deixei você ganhar. Assim, você poderá incluir aqueles cavalos no
dote de Catalina.
— Além da honra, minha filha levará muitos tesouros de que estou disposto a
abrir mã o.
— Entã o, acrescente seus cavalos á rabes, aqueles que lhe cedi de boa vontade —
Dom Tomá s resmungou.
Diego colocou-se entre os dois, temendo que resolvessem a questã o aos tapas.
— Papai, Dom Lorenzo, ambos apreciaram vinho demais para poder falar ou
refletir com clareza. Deixem a discussã o para outro dia.
Os dois resmungaram, mas estavam cansados demais para insistir.
Diego aproveitou para levar o pai para fora. O amanhecer já marcava o
horizonte, anunciando um novo dia. Dentro de alguns dias mais, Catalina o
acompanharia à feira.
Enquanto um cavalariço ia buscar as montarias, Diego olhou para as janelas do
segundo andar. Qual seria a de Catalina? Ela estaria dormindo ou o observava de uma
delas à s escuras?
Catalina devia ter passado o resto da festa em seu quarto, pois ele nã o a tinha
visto mais no grande salã o ou nas salas de jogos. Ela devia apreciá -los tanto quanto
cavalgar, nadar e correr.
Por que havia concordado com a uniã o deles? Nã o porque temesse desafiá -lo ou
aos pais, pois a moça tinha coragem suficiente para tanto. Talvez porque gostasse
muito de Dom Tomá s.
Ele sentiu o orgulho ferido o que o deixou mais determinado ainda a conquistar
o amor de Catalina.
Tã o logo Diego e o cavalariço ajudaram Dom Tomá s a se acomodar na sela, ele
montou e os dois partiram.
O ar fresco estava agradá vel; e o pai, curioso.
— O que achou de Catalina, filho? É linda, nã o é?
Mais do que o nascer do sol e da mais brilhante estrela. Diego nunca tinha visto
outra mulher com olhos verdes e cabeleira loira tã o deslumbrantes. Mas o que ele
apreciava mais era sua vivacidade. Desejava mais do que qualquer coisa, compartilhar
sua alegria, conquistar-lhe o coraçã o e ser alvo de seu amor espontâ neo. Jurava que
nã o seria feliz até conseguir tudo isso.
— Você precisa seduzi-la, filho.
Diego virou a cabeça para o pai. Teria ele adivinhado suas preocupaçõ es a
respeito do amor de Catalina?
— Como assim, papai?
— Você deve seduzir Catalina com muito cuidado, Diego. Ela nã o é uma mulher
sem â nimo e vontade pró pria.
ADORO ROMANCES EM EBOOK 32
TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

Diego sorriu. Já sabia isso.


— E nã o será conquistada com jó ias. Ela anseia pelo que toda mulher almeja.
— Sei. E o que isso seria, pai?
— Acreditar que é a coisa mais importante para você .
— Como mamã e era para o senhor?
Triste, Dom Tomá s suspirou.
— Existem muitas coisas das quais me arrependo em relaçã o a sua mã e, Diego.
Confissã o inesperada, pois Diego se lembrava deles como um casal muito feliz.
Nã o seria uma recordaçã o infantil embelezada pela passagem do tempo? Nã o
acreditava. Quando o pai estava com a segunda esposa, havia uma frieza entre eles que
Diego nã o tinha sentido na convivê ncia dos pais. Por isso, o comentá rio des-pertou-lhe
o interesse.
— Nossa cavalgada é longa e eu ouvirei com atençã o o que desejar contar sobre
o senhor e mamã e.
— Nã o, essas coisas nã o sã o para seus ouvidos. Mas eu lhe darei um conselho,
filho. Se amar uma mulher, nã o se contenha, ofereça-lhe o coraçã o, a pró pria alma. E
jamais tenha outra enquanto sua mulher ainda viver e compartilhar sua cama.
Aí estava o problema, Diego percebeu. Como o pai, ele era um homem de grande
apetite e nã o ignorava as aventuras amorosas dele. Mas isso só tinha acontecido depois
do segundo casamento. Diego jamais pensara que o pai havia repartido o amor com
outra enquanto sua mã e vivia. Era disso que ele se arrependia?
— As mulheres se resignam ao fato de os maridos ansiarem por variedade, nã o
é?
O pai arregalou os olhos.
— E se Catalina també m ansiar por variedade?
Sem dú vida Diego mataria o homem a quem ela desse preferê ncia. E nunca mais
confiaria nela. Sua infidelidade mataria o amor dele. Mas a pró pria nã o teria
importâ ncia, pois, como homem, isso seria esperado. Porém, estranhava o pai tocar
nesse assunto, o que jamais fizera.
— O senhor menciona Catalina dessa forma porque gosta dela quase como filha?
— Falo isso porque você é meu filho e eu o amo mais do que o ar que respiro e a
comida que me alimenta. Nã o quero vê-lo ferido. Porque, Diego, se você nã o respeitar o
amor ou o coraçã o de Catalina, ela o destruirá . Disso, tenho certeza.

ADORO ROMANCES EM EBOOK 33


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

CAPÍTULO V

Os dias que antecederam a feira foram de agonia para Catalina. Seu espírito
alegre escondia-se sob uma camada de frieza, destinada a proteger-Ihe o coraçã o.
Mesmo assim, ela perdia o controle quando pensava em Diego... e naquele beijo.
Uma noite, durante o jantar, a luta entre a frieza e a animaçã o a levaram a
romper num riso alegre para, no instante seguinte, debulhar-se em lá grimas.
Surpreso, Dom Lorenzo olhou para a filha.
— Catalina, será que você está com febre?
— Nã o, papai.
— Entã o o que a perturba?
Temor pelo futuro. Ela pensava por que tudo tinha de ser tã o diferente para um
homem e uma mulher. Por que eles nã o podiam cooperar e fazer do mundo um lugar
melhor?
Mas ao indagar do pai, ele murmurou algo incompreensível e evitou conversar
mais com a filha peio resto da refeiçã o.
Finalmente amanhecia o dia em que Diego iria levá -la à feira, e ela continuava
confusa. Pá ra piorar a situaçã o, Susanna estava adoentada e de cama. Nã o havia com
quem ela se abrir, exceto a mã e. Ela a amava, mas Dona Margarita nã o entendia o
espírito inquieto da filha.
Catalina percebia o olhar preocupado da mã e enquanto zanzava pelo quarto,
sem saber o que usar para o passeio.
— Vista seu melhor costume para cavalgar — Dona Margarita aconselhou.
Em vez disso, Catalina escolheu o mais velho e confortá vel. Ia se casar com
aquele homem, mas nã o o agradaria demais. Estava resignada a passar o resto da vida
brigando com ele. Nã o via al-ternativa ou como outras mulheres se sujeitavam a isso.
— Mamã e, por favor, me diga uma coisa. Você era apaixonada por papai desde o
início, nã o era?
Dona Margarita sorriu.
— Si. Minha mã e costumava rir quando contava como meus olhos brilharam a
primeira vez em que vi seu pai. Meu coraçã o se perdeu naquele momento.
Catalina tomou as mã os delicadas da mã e entre as suas.
— E o mesmo aconteceu a papai em relaçã o à senhora? A mã e hesitou.
— Papai a adora, mamã e!
— É verdade, filha.
Catalina sentiu mais hesitaçã o ainda naquelas palavras.
ADORO ROMANCES EM EBOOK 34
TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

— Existe alguma coisa que precisa me contar, mamã e? Algo que eu deva saber
sobre as relaçõ es entre homens e mulheres?
— Apenas que você deve fazer tudo que seu marido desejar. Isso o manterá
satisfeito, além de adorá -la.
— Mas com certeza, papai continuaria a amá -la se a senhora discordasse dele.
Dona Margarita sorriu. Era uma mulher linda, com cabelos es-curos, ainda sem
fios brancos, e pele clara.
— Nã o desafio o amor de seu pai com provocaçõ es à paciência dele. Faça o que
seu marido desejar. Confie em mim. Ficará cada vez, mais fá cil com o passar dos anos.
— Em minha opiniã o, ficará mais difícil se cada nova liberdade for cerceada.
— Sua liberdade consiste em ter consciê ncia de que é esposa e mã e. Tal
condiçã o permanecerá se o amor continuar ou nã o.
Entendo o que quer dizer. Devo fechar meus olhos para as esperadas
infidelidades de meu marido.
Dona Margarita puxou as mã os das da filha audaciosa.
— Catalina, se você lutar contra Dom Diego como luta contra as regras da vida,
ele logo se cansará de você.
— Se o resultado for esse, melhor que ele se canse agora e nã o depois de eu me
entregar a ele.
— Catalina, você nã o pode dizer isso!
Deus! De novo essas conversas difíceis com a mã e e Susanna. Elas nã o podiam
entender seu ponto de vista? As mulheres tinham tanto direito à felicidade quantos os
homens.
— Porque, mamã e, devo dar meu amor a um homem que nã o o respeitará ?
— Se você tentar, talvez ele respeite.
— Mas ele também nã o deveria tentar?
— Esse nã o é o dever do marido e sim da esposa.
— Por quê? Nã o seria desperdício de esforço? Se Dom Diego é igual a todos os
homens, exceto papai e Dom Tomá s, ele só me magoará . Nã o quero sofrer dessa forma.
Preferiria nã o ter sentimentos.
— Mas menina, você nã o tem escolha nessa questã o. Você deve ...
— Eu me casarei com Dom Diego e lhe darei filhos, mas jamais minha felicidade.
Ela será só minha.
Dona Margarita sentiu-se perdida com o modo de pensar da filha. Ao perceber,
Catalina lamentou. Queria tanto conversar com uma mulher que a entendesse.
— Mamã e, como é justo um homem fazer o que deseja e à mulher só cabe se
preocupar e esperar?

ADORO ROMANCES EM EBOOK 35


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

— Simplesmente é assim, menina.


— Por quê?
— Nã o sei, mas é — A mã e apontou para o guarda-roupa. — Você vai usar seu
melhor costume de cavalgar. Nã o pode envergonhar seu pai e esta casa. E também dará
todo o amor que puder a Dom Diego. Ele espera isso.
Catalina sabia e baixou o olhar, pois nã o pretendia ceder. Mas foram as palavras
seguintes da mã e que a pertubaram.
— E trate de se comportar esta noite quando o sr. Dom Lucero vier jantar
conosco.
Lucero aqui? Por quê?
Catalina foi até o guarda-roupa e pegou o costume que a mã e determinara.
— Mamã e, que negó cios Dom Lucero tem com papai?
— Nã o sei, menina, e nã o pretendo perguntar. Isso só diz respeito ao seu pai.
Catalina começou a se vestir sob o olhar atento da mã e.
— Tenho outra pergunta, mamã e.
Dona Margarita riu.
— É claro que tem. O que quer saber agora? Por que o sol é tã o quente e a lua
nã o? Por que à vezes venta e outras nã o?
— Minhas perguntas nã o sã o tã o inteligentes. Mas preciso saber se, caso Dom
Diego nao possa se casar comigo...
— E por que isso haveria de acontecer?
— Nã o sei. Uma outra guerra ou talvez ele sofra uma queda do cavalo como
Pedro de Susanna. Aí...
— Catalina, garanta que nã o o provocou.
— Mamã e, estou inocente de qualquer acusaçã o. Só quero saber se, nesse caso,
serei forçada a me casar com Dom Lucero.
— Você se casar com aquele homem?!
— A senhora nã o aprovaria? Papai nã o haveriua de querer essa uniã o a ponto de
me forçar a aceitá -la?
— Nunca, menina!
Catalina exibiu um largo sorriso.
— A idéia de tal casamento nã o a agrada? — A mã e perguntou.
— Nã o, por quê?
Dona Margarita fechou a porta do quarto e contou baixinho:
— Trata-se de um segredo. Sei que você é de confiança e nã o repetirá nada a
niguém. Seu pai e eu já conversamos sobre isso e achamos que Dom Lucero pode ser a

ADORO ROMANCES EM EBOOK 36


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

escolha certa para sua irmã .


— Não! — Catalina quase gritou.
— Filha, por que essa reaçã o rude?
— A senhora disse que papai nã o me forçaria a casar com o homem, mas vã o
forçar Susanna a fazê-lo?
— Seu pai e eu nã o vamos forçar ninguém a nada.
Catalina nã o entendia.
— Susanna foi consultada?
— Claro.
— E concordou?
— Susanna sabe que precisa de um marido para a pró pria proteçã o e a do filho.
Por isso, nã o se opõ e a uma uniã o com Dom Lucero.
Catalina sentiu-se horrorizada. Lembrava-se da crueldade, da raiva que tinha
visto nos olhos dele no terraço. O que aconteceria à meiga e indefesa Susanna se caísse
nas mã os de Lucero? Tal casamento tinha de ser impedido.
Ela amava a irmã o suficiente para forçar o pró prio casamento com Lucero a fim
de salvá -la.
— Acho que falei sem pensar em nã o querer me casar...
— Menina, acho que você está doente. Vai se casar com Dom Diego e com
ninguém mais. É o que se espera. Seu destino é ser esposa e mã e. A menos que queira
ir para um convento.
Tal ameaça fez Catalina acabar de se vestir depressa.
— Nã o, mamã e. Nã o quero ir para um convento. Eu me contentarei em ser
esposa e mã e.
Restava saber com que homem, pois ela protegeria a felicidade da irmã acima de
qualquer coisa.

Diego advertiu-se para ser paciente, conquistar Catalina devagar.


Mas no momento em que chegou ao palá cio Velasco, esqueceu as intençõ es.
Subiu a escada da frente de três em trê s degraus. Estava sem fô lego quando foi
recebido e teve de esperar enquanto Catalina terminava de se preparar para o passeio.
Qual seria sua aparência?, ele imaginou. A cabeleira magnífica estaria escondida
sob o gorro de um serviçal? Cavalgaria sem sela? Ela lhe permitiria roubar um beijo?
A cabeça de Diego rodopiava com as possibilidades desse dia quando ouviu
passos.
Levantou o olhar e sorriu embora os cabelos loiros de Catalina estivessem
escondidos sob uma boina que uma freira aprovaria. E seu costume de cavalgar cobria-

ADORO ROMANCES EM EBOOK 37


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

lhe o corpo muito mais do que as roupas de serviçal.


Mas na gola, ela exibia a jó ia que o criado de Diego tinha entregado na vé spera.
Era uma rosa de ouro com uma esmeralda no centro, uma gema nã o tã o linda quanto
seus olhos verdes. Que, nesse momento, estavam nele. Isso fez Diego quase cantar:
— Buenos dias!
Catalina estava muito mais controlada. Seu aceno discreto foi seguido por um
murmú rio:
— Buenos dias!
Diego disfarçou a ansiedade sob um comportamento discreto. Tinha de ser
cauteloso. Conversou alguns minutos com Dona Margarita e transmitiu as
recomendaçõ es de Dom Tomá s a Dom Lorenzo. Enfim, chegou a hora de partirem.
Lá fora, o criado de Diego já estava montado no cavalo que levava ainda a cesta
com o almoço. Ao lado, a acompanhante de Catalina, uma tia solteira, també m já os
aguardava montada.
Esses dois, na estrada, tiveram de seguir um tanto longe dos outros por causa da
poeira levantada por Peligro e Diamante, os cavalos á rabes de Diego e Catalina.
— Fiquem mais para trá s ainda a fim de nã o respirarem poeira — Diego gritou
ao ouvi-los tossir e temendo que Catalina os chamasse para cavalgar ao lado deles.
Pouco depois, a tosse parava. Diego sorriu.
— Catalina, hoje você está mais adorá vel ainda — ele elogiou. E parece brava
também.
— Gracias, Dom Diego — ela murmurou com o olhar na estrada.
Apesar de seu tom frio, o sorriso dele permaneceu.
— Mas acho que eu teria preferido vê-la descalça e com os cabelos voando ao
vento.
Depois de um longo momento, ela virou o rosto e o fitou. Havia um leve sorriso
em seus lá bios.
— Diga, você também nã o haveria de preferir isso? — ele indagou.
Sua expressã o mudou de repente.
— Sil — ela respondeu numa voz triste, como se tudo aquilo pertencesse ao
passado, e baixou o olhar.
— Pois em nossa propriedade, você poderá se vestir como um serviçal quando
for cavalgar. Aliá s, insisto nisso. Assim, terei uma desculpa para persegui-la.
Catalina riu e tornou a fitá -lo.
— Por quê? Você nunca conseguirá me pegar.
Diego sentiu que nã o estavam falando de seu corpo e sim do coraçã o.
— Você parece estar muito certa disso.

ADORO ROMANCES EM EBOOK 38


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

— Estou mesmo. Já competi com muitos homens e ganhei. Com você nã o será
diferente.
Que arrogância!
— Veremos — ele a desafiou.
— Ah, fala o guerreiro. Ouvi contar seus feitos nos conflitos de nossa naçã o. As
histó rias sobre o grande Dom Diego, líder de seus homens contra os mouros.
— Você nã o ouviu isso de minha boca.
— Nã o, da de seu pai. Dom Tomá s fala sempre de suas aventuras.
— A guerra nã o é uma aventura, Catalina, mas algo muito sério. Ela deu-se conta
de ter infringido as regras de civilidade.
— Nã o foi minha intençã o ser desrespeitosa.
— Eu sei. Mas nã o se deve falar da guerra como se fosse uma confusã o na corte.
Muitos homens morreram, outros ficaram seriamente feridos ou aleijados. Um deles
poderia ser seu irmã o, caso tivesse idade para lutar. No futuro, poderá ser seu filho.
Catalina enrubesceu e perguntou:
— E quanto a você? A cicatriz em seu rosto resultou de um ferimento na guerra?
— Nã o, mas de uma briga com meu irmã o quando éramos crianças. Foi por
cauda de um cavalo á rabe. Cada ura teimava que era seu. O animal, assustado com a
briga e na pressa de escapar, quase escoiceou meu irmã o que se atirou longe e me
atingiu no rosto com a espora.
Catalina riu, mas ficou séria logo.
— Desculpe. Nã o foi uma histó ria engraçada.
Diego também riu e concordou:
— De fato, nã o foi. Sabe, acho que vou apreciar muito nossas conversas à noite.
Embora enrubescesse, ela pediu:
— Conte uma coisa. Existiam mesmo haré ns em Granada?
Esta moça era audaciosa demais. Olhava-o à espera da resposta.
— Eu nã o os conheci, mas me disseram que havia, sim.
— E o que você acha desse costume?
— Que eu lutaria até morrer para livrá -la de tal destino. Dessa vez seu rubor foi
mais intenso e ela dirigiu o olhar para a estrada.
— O que foi, Catalina? Prometo que nã o ficarei chocado com qualquer coisa que
você disser.
Ela esboçou uma sombra de sorriso, mas de novo ficou séria.
— Estou preocupada com Susanna.
— Sua irmã ?

ADORO ROMANCES EM EBOOK 39


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

— Si.
— Ela está com algum problema de saú de?
— Nã o, mas deseja ter um marido para protegê -la e ao filho que vai nascer.
Diego podia compreender isso. O que lhe fugia à compreensã o era a questã o ser
discutida com ele. Estaria Catalina insinuando que ele deveria ser o tal marido?
Cauteloso, disse:
— Percebo bem o dilema de sua irmã , só que você capturou meu coraçã o,
Catalina. Nã o aceitarei outra.
Ela arregalou os olhos.
— Minha confissã o a surpreende? Nã o imagina que eu possa perder meu
coraçã o para você ? — Diego indagou.
— Ora, os homens perdem o coraçã o para as mulheres com facilidade. Para
muitas com frequê ncia. Minha surpresa é você pensar que eu o quero para minha irmã
querida.
Diego franziu as sobrancelhas. O comentá rio nã o era nem um pouco lisonjeiro.
— Como nã o posso ler seus pensamentos, Catalina, talvez você deva me explicar
o alvo de sua conversa.
— Mamã e e papai estã o considerando o sr. Dom Lucero como um possível
partido...
— Jamais! — Diego a interrompeu. Catalina nã o conteve um largo sorriso.
— Vejo que pensa como eu, Diego.
Ele assentiu com um gesto de cabeça. Alé m do sorriso lindo, a frieza de sua voz
tinha desaparecido, ele refletiu, feliz. A vivacidade voltava a seus olhos e, com ela, uma
pergunta:
— O que vamos fazer?
Nós?, ele indagou-se.
— Sobre o dilema de sua irmã ?
— Sim. Se Susanna nã o for procurada por um nobre condizente, Lucero será o
escolhido de meu pai. Nã o permitirei que isso aconteça. Estou disposta a me sacrificar
e casar...
— Você nã o fará isso! Eu a proíbo até de pensar em tal absurdo. Ela o encarou.
— Você se esquece de que ainda nã o estamos casados. Até entã o, posso fazer o
que bem entender.
Diego segurou as ré deas de Diamante e o puxou para mais perto.
— Nã o pode, nã o. Se for preciso, darei um jeito de casar e levá -la para a cama
ainda esta noite a fim de tirá -la de Lucero ou de qualquer outro homem. Entendeu bem
o que eu disse?

ADORO ROMANCES EM EBOOK 40


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

Ela continuou a encará -lo.


— A guerra se ganha à força?
— Quando é preciso.
— Nã o esta. Tenciono salvar minha irmã nã o importa o que me custar. Solte as
ré deas.
Ele nã o a atendeu e Catalina enfiou a mã o sob a jaqueta. Com certeza procurava
o punhal, Diego calculou e, antes que ela o fizesse, disse depressa:
— Encontrarei um marido adequado para sua irmã . Isso solucionaria o dilema
em que você se encontra?
Ela puxou a mã o vazia para fora da jaqueta.
— Talvez, mas você precisa se apressar. E insisto que converse com meus pais
sobre a questã o.
Catalina lhe dava ordens? Insistia?
Ele nunca tinha conhecido mulher tã o audaciosa. Decidiu en-sinar-lhe algo sobre
cooperaçã o, ou melhor, sobre barganha.
— E o que posso esperar por minha obediê ncia, Catalina? Ela o fitou com olhar
espantado.
— Concordei em me casar com você. É isso que pode esperar. Que arrogância!
— Nossa uniã o foi confirmada na festa da outra noite. Agora, temos uma
questã o bem diferente. Exijo outra coisa.
— Nã o diga! Muito bem, entã o. Resolva esse meu problema e eu nã o me casarei
com Lucero.
— Cuidado, Catalina, eu a estou avisando.
— Isso é o má ximo que posso oferecer.
— Quero mais. Ou posso muito bem deixar que você se case com aquele animal
— Diego declarou.
Catalina sentiu medo e o disfarçou ajeitando a boina.
— Tire essa coisa da cabeça. Quero ver seus cabelos.
— É essa sua condiçã o para me ajudar?
— Apenas uma pequena parte dela.
— E a maior?
— Tire a boina e eu lhe direi. Ou você poderá se casar...
Ela obedeceu depressa e gritou quando Diego agarrou a boina e a atirou longe.
— O que você fez?!
— Ora, você detesta aquela coisa tanto quanto eu. Seus cabelos sã o lindos
demais para ficarem cobertos. Quando nos casarmos você nunca os cobrirá . Agora,

ADORO ROMANCES EM EBOOK 41


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

minha condiçã o maior.


— Nã o vou devolver seu punhal. Nã o até eu ter outro. Diego riu.
— Talvez você encontre um na feira de que goste e que eu lhe comprarei.
— É essa sua condiçã o? Devo escolher um punhal que esteja dentro de suas
posses?
— Você sabe que nã o é isso que eu quero, Catalina. Desconfiada, ela pediu em
voz bem baixa:
— Diga de uma vez.
— Exijo um beijo esta tarde. No lugar e na hora de minha escolha. Deve ser
demorado e da maneira que eu quiser. E quando terminar, você nã o me estapeará ,
dará pontapés, apunhalará ou gritará . Entendeu bem?
— Você ajudará minha irmã se eu fizer tudo como quer?
— Dou-lhe minha palavra. Catalina respirou fundo e suspirou.
— Nesse caso, satisfarei sua exigência.
— Isso nã o é suficiente. Quero que faça de boa vontade. Novo suspiro.
— Diego, você exige demais.
— É mesmo, Catalina?
Ela o fitou e baixou logo o olhar.
— Fiz uma pergunta e espero uma resposta. Só apó s um longo momento ela a
deu:
— Farei de boa vontade, prometo.

ADORO ROMANCES EM EBOOK 42


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

CAPÍTULO VI

Ela agia dessa forma pelo bem de Susanna. E, afinal, tratava-se apenas de um
beijo. Nada mais, como Diego tinha dito quando eles haviam trocado tal intimidade.
Catalina sabia o que se esperava dela apó s o casamento. O beijo seria
simplesmente uma liçã o sobre seu papel. Sem dú vida nã o estaria entregando o
coraçã o. Manteve uma atitude mais fria do que se sentia ao se aproximarem de
Có rdoba.
Que cidade linda, cheia de construçõ es alvas que se tornavam douradas sob a luz
do sol. Os arcos graciosos e os mosaicos coloridos falavam dos sé culos de influência
moura ali.
Tã o logo chegaram à feira, Catalina nã o escondeu a animaçã o, apesar do receio
com o beijo prometido a Diego. Enquanto a percorriam, ambos aplaudiam mú sicos e
riam das proezas de malabaristas.
— Fantá stico! — Diego exclamava e lhes atirava moedas.
Além de reses e carneiros à venda, havia um sem-fim de mercadorias. Entre os
tecidos encontrava-se grande variedade de sedas, brocados e veludos. Apesar dos
protestos de Catalina, Diego comprou-lhe tantos cortes que o criado mal podia
carregar.
— Você é generoso demais — ela o censurou.
— Quero vê-la com esses tecidos lindos. Se isso é ser generoso, estou sendo
comigo mesmo.
Ela controlou-se para nã o ceder ao encanto dele.
Quando pararam diante de um mercador que exibia toda sorte de armas
brancas, apertou o braço de Diego. Via-se que eram obras de um artesanato perfeito.
As lâ minas e os cabos de aço damas-quino brilhavam ao sol. Ela nunca tinha visto
tantas no mesmo lugar. Sentia-se fascinada.
Diego curvou-se e lhe disse ao ouvido:
— Você mostra mais prazer com isto aqui do que com as sedas, veludos e
brocados.
— Porque desejo muito possuir uma.
Ele riu e lhe disse que escolhesse a de seu gosto.
— Posso mesmo? — ela indagou ao fitá -lo para ter certeza.
— Pode, sim, mesmo que pretenda usá -la em mim.
O mercador, um homem idoso, olhou espantado de um para o outro.
Catalina examinou vá rios punhais, avaliando o peso de cada um. Finalmente

ADORO ROMANCES EM EBOOK 43


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

selecionou um que parecia ter sido feito para ela.


— Quero este.
Diego pagou o mercador atô nito e a levou à periferia da feira.
— Agora você pode devolver meu punhal?
Ela o tirou da bainha sob a jaqueta e o entregou, tendo o cuidado de apresentar
o cabo primeiro. Diego riu.
— Você deve estar morta de fome para ser tã o delicada comigo.
— Talvez — Catalina respondeu e sorriu.
— Pois entã o, vamos comer.
Diego escolheu um lugar um pouco adiante do local da feira e na sombra de
umas palmeiras. Depois de estender uma toalha na relva, o criado arrumou a refeiçã o.
Esta constituía de frutas, pã o, fatias de carne assada e um casco de vinho.
Depois de agradecer, Diego deu-lhe dinheiro para que ele e a acompanhante de
Catalina se alimentassem na feira, ou seja, longe dali. Isso daria a oportunidade para o
beijo exigido, ela pensou.
Enquanto comia, Catalina relanceava os olhos por Diego e no-tava-lhe as pernas
longas e fortes. Por isso ele a alcançara com facilidade naquele dia. Ele também tinha
mã os grandes e peito largo. Os cabelos fartos eram da mesma tonalidade castanha dos
olhos. Diego os ergueu e a apanhou examinando-o. Nã o pareceu surpreso ou
impressionado com sua atitude
— Aceita mais uma fatia de carne?
— Nã o, obrigada — Catalina respondeu e desviou o olhar para os campos a
perder de vista.
Imaginava se, depois de casados, ela e Diego voltariam a esse lugar. Eles se
lembrariam dos momentos compartilhados ali, ou ele estaria ao lado de outra pessoa?
A voz dele interrompeu-lhe os pensamentos e Catalina o fitou.
— O pã o nã o está fresco? — Diego indagou, olhando para o pedaço em sua mã o.
— Está , sim. Por quê?
— Por um momento, você ficou com uma expressã o estranha. Como se provasse
algo desagradá vel. Talvez fosse uma lembrança.
Apenas do futuro. Mas lembranças nã o vinha de lá . O que Catalina havia sentido
era uma premoniçã o do sofrimento que esse homem poderia lhe causar. Caso ela
permitisse.
— Estou bem. Meu apetite é maior do que o seu.
— Parece que nossa uniã o será de com´petiçõ es sem fim. -Diego comentou.
— Desde que eu continue a ganhar. E ganharei sempre.
— Talvez eu esteja permitindo isso.

ADORO ROMANCES EM EBOOK 44


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

— Por que você agiria assim?


— Vontade de agradá -la.
Conversa mais estranha para um homem, ela pensou.
— Minha felicidade lhe diz respeito?
— Claro. Como nã o poderia?
Catalina nã o sabia responder. Ou se deveria. Podia ser mais uma das artimanhas
de Diego. Porém, ela nã o era tã o inocente a ponto de ignorar a atitude de um homem
quando ele queria algo de uma mulher. Tinha visto como Pedro induzia Susanna a
satis-fazer-lhe a vontade nas poucas vezes em que ela resistia. E també m o mesmo jogo
entre o pai e a mã e.
Porém, era uma guerra maior que a preocupava. Uma em que seu coraçã o corria
riscos. Diego o queria, mas por uma questã o de desafio. Se ele vencesse, logo se
cansaria da vitó ria e de seu amor. Desanimada, suspirou.
— Nã o seria melhor chamar seu criado para tirar estas coisas já que
terminamos de comer? — ela sugeriu.
— No tempo devido.
Ah, chegava o momento do beijo. Catalina controlou o coraçã o e a mente
enquanto o resto permanecia à disposiçã o do homem.
Mas, para surpresa sua, ele nã o a tocou, embora observasse seu rosto com olhar
pensativo e por um bom tempo.
— Quer me perguntar alguma coisa, Diego?
— Nã o. Gosto de olhar para você.
— E eu deveria retribuir esse olhar?
— Faça o que desejar — ele respondeu com um sorriso.
— Por quanto tempo?
— Como posso saber? Nã o sou você . A escolha é sua. Diego estava sendo
complacente demais. Quanto tempo isso
duraria? Até o final do mês? Dois dias apó s o casamento? Uma hora? Até o exato
momento em que ela lhe desse o coraçã o para usá -lo como entendesse? Ela desviou o
olhar.
— Está fazendo planos para seu punhal? — Diego indagou.
— Caso esteja, a escolha é minha.
— Como deve ser.
A delicadeza exagerada começava a ralar os nervos de Catalina. Ela ergueu-se
nos joelhos e, depois, pô s-se em pé. Diego levantou o olhar.
— Aonde vai?
— Andar um pouco.
ADORO ROMANCES EM EBOOK 45
TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

— Vou com você.


— Prefiro ir sozinha.
— Nã o. Embora você seja capaz de se defender, existem muitos perigos para
uma mulher andar sozinha por aí. Catalina franziu a testa.
— Agora, a verdade vem à tona.
— Que verdade?
— Sem a revelar por palavras, você informou que, tã o logo nos casemos, eu nã o
poderei cavalgar sozinha pela propriedade.
— Pois tenho certeza de que você me desafiará com a mesma facilidade com que
faz a seu pai.
— Você é impossível! Nã o posso ficar brava com você — Ca-talina reclamou e
afastou-se.
Um segundo depois, Diego estava a seu lado.
— Isso a perturba? Se preferir, posso mantê -la brava sempre. Catalina sorriu.
— Sem dú vida você conseguiria. Mas nã o, prefiro você como está agora. Quanto
tempo posso esperar que essa sua nova atitude dure?
— Nova? Sou assim desde que nasci.
— Pois lembro de um rapaz que, aos dezesseis anos, berrou como uma vaca
doente e quase me arrancou o braço só porque gritei.
Diego ficou vermelho.
— Você me apanhou num momento inoportuno.
— Entendo. Você aprecia criadas. Gostou de mim quando pensou que eu fosse
uma. Preciso me lembrar disso no futuro.
— Quando pensei que você fosse uma criada nã o fazia ideia do que estava a
minha espera no palá cio de seus pais.
— As criadas deles, você quer dizer.
— Nã o, eu me refiro a você .
— Eu nã o estava a sua espera, Diego. Exigiram isso de mim porque eu havia lhe
sido prometida.
Ele semicerrou os olhos.
— Você se nega a me dar seu coraçã o, nã o é ?
— Quem sabe nã o tenha um para dar.
— Tem, sim, Catalina. Vi mais amor em você durante uma hora do que a maioria
das pessoas possui a vida inteira. Você, porém, se recusa a compartilhá -lo comigo.
Ela virou o rosto, mas Diego a forçou a fitá -lo.
— Você está se negando a me dar amor?

ADORO ROMANCES EM EBOOK 46


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

— Só me resta dar aquilo que posso.


— Responda minha pergunta, Catalina.
Ela nã o podia, pois revelaria os pensamentos. E isso seria o caminho para o
coraçã o. Precisava protegê -lo. Entã o, explicou:
— Tudo isso é novo para mim. Nã o tenho certeza de nada.
A expressã o de Diego suavizou-se. Com delicadeza, ele a acariciou nas faces e em
volta do queixo.
— Talvez uma liçã o seja oportuna, caso você esteja disposta. Algo em seu â mago
vibrou. Os pés e as mã os gelaram enquanto
sua voz saía meio sufocada.
— Eu lhe dei minha palavra que estaria.
— De fato deu, Catalina — ele murmurou ao aconchegar seu rosto entre as mã os
e baixar a boca à sua.
Ela amoleceu no mesmo instante e, sem perceber, apoiou-se nele. Diego a
amparou com o braço em sua cintura enquanto a língua procurava entrar em sua boca.
Ela permitiu, pois havia prometido beijar de boa vontade. Esse era o ú nico motivo para
sua reaçã o.
Catalina repetiu isso a si mesma até quando passou os braços pelos ombros de
Diego a fim de enlaçá -lo pelo pescoço e, depois, abrir mais a boca para aprofundar o
beijo. A palavra dada era o ú nico motivo para tal colaboraçã o.
Entã o por que a pró pria língua se mexia e empurrava a dele para invadir-lhe a
boca?
Surpreendeu-se ao sentir e gostar do sabor desse homem que viria a ser seu
marido. Ele teria o direito de, todas as noites, repetir tudo isso e, entã o, possuí-la.
Os braços de Catalina estreitaram mais o pescoço de Diego enquanto o desejo a
consumia e levava o coraçã o a bater mais depressa e a mente a rodopiar.
Sem mais pensar que reagia assim porque havia prometido mostrar boa
vontade,, arqueou o corpo para trá s quando Diego acariciou seus seios sobre a roupa.
Pouco depois, deliciava-se em ser puxada de encontro ao corpo dele e sentir-lhe o sinal
da paixã o.
Uma tã o intensa quanto a sua.
Embrenhou os dedos nos cabelos fartos e macios dele enquanto o beijo
continuava numa dança louca de línguas.
Catalina se submetia a esse homem de livre e espontâ nea vontade. Retribuía-lhe
a paixã o nã o porque ele exigisse e sim por ser o que desejava.
Mesmo assim, resguardava o coraçã o. Tolice. Isto nã o passava de um simples
beijo que terminou com um suspiro sufocado de ambos.
Ao abrir os olhos, por um momento Catalina sentiu o mundo rodopiar e temeu

ADORO ROMANCES EM EBOOK 47


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

nã o conseguir se manter em pé . Ao perceber e apesar de estar quase sem fô lego, Diego


a amparou. Também ofegante, ela nã o resistiu e apoiou a cabeça no ombro dele.
Apó s alguns momentos, sentiu-lhe as mã os nos cabelos enquanto a voz
acariciante murmurava:
— Eu a desejo, Catalina. Preciso possuí-la. Quero que seja minha para sempre.
Ainda meio sem ar, Catalina respirou fundo.
— Você me terá depois que nos casarmos.
— Nã o posso esperar até esse dia — Diego afirmou, peremptó rio.
Catalina ergueu a cabeça e o que viu nos olhos dele a fez sepa-rar-se depressa.
— Você precisa.
Diego chegou perto e tentou enlaçá -la pela cintura outra vez. Rá pida, ela recuou
mais uns passos.
— Por que preciso? Estamos noivos e vamos nos casar. É como SE já
estivé ssemos — ele argumentou.
— Exijo que você espere até nos casarmos.
— Pois entã o, exijo que nos casemos hoje. É a minha vontade, Caso contrá rio,
me aborrecerei muito.
— Nossos pais marcaram a data e nó s a respeitaremos.
Diego deu a impressã o de estar disposto a teimar, mostrar quem era a
verdadeiramente, mas desistiu no ú ltimo instante.
— Muito bem. Será como você quer. Mas aviso-a de que, na noite de nú pcias,
exigirei que se entregue completa e espontaneamente como fez momentos atrá s.
Como poderia ser diferente?, Catalina indagou-se. Esse homem lhe provocava
uma paixã o tã o ardente como jamais ela pensara ser possível existir. Poré m, disse em
voz fria:
— Como desejar, Diego.
— Nã o, Catalina, sua entrega será absoluta porque você a deseja. Ningué m mais.
Em silê ncio, ele afastou-se.

ADORO ROMANCES EM EBOOK 48


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

CAPÍTULO VII

A criatura o estava levando à loucura. Num momento, incen-diava-se nos braços


dele e, no seguinte, era uma virgem refutada. Diego a desejava como jamais havia
desejado outra mulher, poré m, ela o forçava a esperar. Pois assim seria. Estava de-
cidido a nã o tocá -la, nem mesmo olhar para ela.
No trajeto de volta, Diego sugeriu à acompanhante de Catalina cavalgar na
frente enquanto ele seguiria atrá s com o criado.
Quando se aproximavam do palá cio Velasco, ele só tinha vontade de voltar para
casa a galope. Nã o suportava a frustraçã o provocada pela presença de Catalina. Poré m,
lembrou-se da promessa que tinha feito em relaçã o a Lucero.
Pela janela do escritó rio de Dom Lorenzo, Diego vislumbrou a silhueta do
desgraçado. Olhou para Catalina e, por sua expressã o de desagrado, percebeu que ela
també m o tinha visto.
Desmontou e ajudou-a e a acompanhante a fazê -lo. Levou-as até a porta onde
Catalina convidou:
— Aceita jantar conosco?
— Bem, eu lhe prometi falar com seus pais — ele respondeu. Depois de breves
cumprimentos, foi necessá rio suportar outra refeiçã o com Lucero à mesa. O homem
falava pouco e gastava as energias em esvaziar taças de vinho e se refestelar com a
comida.
Diego observou Catalina que mantinha o olhar no prato. O de Dom Lorenzo ia de
Susanna para Lucero que se sentava à frente dela. Esse, porém, nem olhava para ela,
Diego notou. Quando erguia o olhar do prato, dirigia-o a Catalina.
Isso era demais. Se o duelo nã o fosse proibido pela coroa, tal afronta seria
resolvida com espadas, Diego refletiu. Sendo assim, manteve-se calado quando Lucero
se dirigiu a Catalina.
— Gostou de seu passeio à feira, senhorita?
— Consegui encontrar um punhal de meu agrado lá .
Dona Margarita abafou uma exclamaçã o e Dom Lorenzo suspirou.
— Você nã o pretende ferir ninguém com ele, nã o é , menina?
Ela olhou primeiro para Lucero e, entã o para o pai.
— Nã o, senhor.
Diego quase sorriu. Catalina tinha presença de espírito, admitiu. E també m era
uma grande atriz, pois, mesmo se precisasse enfren-tar consequências graves, sem
dú vida ela usaria o punhal em Lucero a fim de proteger a irmã .
Alheio a isso, Lucero comeu mais um pouco antes de fazer nova pergunta. Dessa
ADORO ROMANCES EM EBOOK 49
TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

vez a Susanna.
— A senhora gostaria de ir à feira amanhã ?
— Ela nã o pode. Está grá vida — Catalina disse depressa.
Todos os olhares caíram nela. Antes que algué m pudesse falar. Diego aparteou:
— É uma viagem de muitas horas, penosa para qualquer mulher.
A faca de Catalina bateu no prato.
Impossível agradar essa criatura, ele pensou. Mesmo assim, disse:
— Mas existem algumas mulheres mais capazes do que outras de enfrentar tal
dificuldade.
Ela sorriu com essa vitó ria que, na verdade, era dele, já que pagaria qualquer
preço para vê -la feliz.
Porém, Lucero parecia determinado a acabar com qualquer alegria. Continuou a
dirigir-se a Susanna:
— Poderíamos fazer diversas paradas. Todas as vezes que a senhora precisasse
descansar.
— Diego comprou vá rios cortes de seda, brocado e veludo na feira. Insistiu que
eram para Susanna — Catalina provocou.
Ele a fitou com expressã o indignada, mas seu olhar lhe suplicou que apoiasse
sua artimanha. Como ele poderia negar?
— Bem, foi uma decisã o de comum acordo entre mim e Catalina.
— Muita generosidade sua — Dona Margarita disse.
Confiante, Lucero insistiu:
— Os tecidos devem ser lindos, tenho certeza, mas há muitas diversõ es na feira
e...
— Nesse caso, vamos todos amanhã — Catalina o interrompeu. — Susanna
cavalgará a meu lado e Diego ao de Dom Lucero.
Isso era demais. Diego nã o estava disposto a cavalgar ao lado daquele animal
que lhe cobiçava a noiva. Porém, novamente o olhar suplicante de Catalina o fez ceder.
— Creio que podemos fazer tal passeio — disse.
Por uns momentos continuaram a comer em silê ncio. Entã o, Lucero o quebrou:
— Se os tecidos foram comprados para Dona Susanna, nã o restam muitos
motivos para se ir à feira. Quem sabe numa outra ocasiã o.
Diego e Catalina entreolharam-se.

Assim que o jantar terminou e antes que os homens se retirassem ao escritó rio
do pai, Catalina puxou Diego para um canto.

ADORO ROMANCES EM EBOOK 50


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

— Quero lhe agradecer. Você me fez um grande favor.


— Eu lhe dei minha palavra.
Era mais do que isso. Ele nã o havia desafiado seus comentá rios e sugestõ es.
— Quero que vamos juntos falar com meu pai — ela disse.
— Sobre Susanna? Pensei que você quisesse que eu cuidasse disso sozinho.
— Você pode, se preferir. Mas achei que poderíamos conversar també m sobre
nó s dois com meu pai.
— Você mudou de ideia outra vez, Catalina? Quer voltar atrá s na palavra dada?
Pretende se entregar a Lucero para salvar...
— Nã o. Fale baixo, por favor.
— Entã o, de que se trata?
— Vou pedir a meu pai para nos dar permissã o para casar antes da data
acertada. Tã o logo você queira. Esta noite se for possível.
Diego nã o escondeu a surpresa.
— Está falando sé rio?
— Estou.
— Só pode ser por causa de meu apoio a sua irmã à mesa. Em parte era, apesar
da ameaça de entregar o coraçã o a este homem. Catalina nã o era tola. Apesar de seu
esforço, sabia que estava se apaixonando depressa demais por Diego. Rezava para ter
forças a fim de continuar lutando contra isso.
— Quero me casar com você, Diego. Como afirmou hoje, nã o há razã o para
esperarmos.
— Você se entregará livre e totalmente a mim, inclusive seu coraçã o?
Ela temia nã o ter escolha, embora tencionasse se proteger. Uma pessoa podia
amar, imaginava, sem perder o uso da razã o.
— Sim, Diego, inclusive meu coraçã o.
Aturdido e ansioso, ele disse:
— Nesse caso, vamos falar logo com seu pai.

Pouco depois, Dom Lorenzo olhou da filha para Diego com ar de quem esperava
uma péssima notícia.
— Devo avisá -los que, qualquer que seja o assunto, nã o poderá ser pior do que a
desfeita que infligi a Dom Lucero. Ele esperava jogar xadrez comigo esta noite, mas eu
me neguei. Ele já está a caminho de casa. Muito bem, o que querem conversar?
Com o olhar, Catalina mostrou a vontade de que Diego falasse. Ele, entã o,
dirigiu-se a seu pai.

ADORO ROMANCES EM EBOOK 51


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

— É com grande aborrecimento que preciso informá -lo sobre um desagradá vel
incidente provocado por Dom Lucero, na noite em que o senhor anunciou meu noivado
com sua filha.
Dom Lorenzo endireitou-se na poltrona.
— Incidente? De que tipo?
— Enquanto Catalina ia por um corredor, rumo à á rea dos criados, vi que Dom
Lucero a seguia.
— Como assim? Tem certeza disso? Ele podia estar no corredor por outros
motivos.
— Nã o, as intençõ es de Dom Lucero eram bem claras. Sua filha percebeu logo,
mas como estivesse desarmada, só pô de contar com a presença de espírito para se
proteger.
Diego olhou para Catalina e foi recompensado com um sorriso.
— Muito bem, o que aconteceu entã o? — Dom Lorenzo indagou.
— No momento em que sua filha já ia erguer um candelabro para se defender eu
chegava ao local da cena. Ante minha presença e a exigê ncia para que Dom Lucero nã o
mais molestasse Catalina, ele finalmente se foi.
— Ele nã o pode ter permissã o para se aproximar de Susanna. É um homem mau
— Catalina aparteou o que fez o pai arregalar os olhos.
— Mau?! Menina, você nã o o conhece bem. Admito que ele agiu de maneira
impró pria e quero acrescentar, Diego, que lhe sou devedor por ter defendido Catalina.
Mas Lucero é inofensivo. As manobras políticas dele tê m ajudado muita gente
importante.
— Isso pode ser, mas ele continua sendo mau — Catalina insistiu e continuou
sem dar atençã o ao olhar de advertência do pai. — Antes de Diego chegar aquela noite,
Dom Lucero me assediou no terraço. Falou de seu amor eterno por mim e, quando o
lembrei de meu compromisso, a expressã o do olhar dele foi de ó dio. Eu o acho capaz
de grande violência física, até contra uma mulher.
Dom Lorenzo reclinou-se na poltrona e olhou para Diego.
— O que você pensa a respeito?
Num movimento brusco, Catalina pô s-se em pé .
— Papai, fui eu quem viu a expressã o assassina no olhar daquele homem e nã o
Diego.
O pai a encarou, ignorando seu rompante. Sem dizer uma palavra, tinha olhado
de Diego para a filha e de volta para ele.
—Catalina nã o interrompa outra vez e sente-se. E entã o, Diego, o que pensa?
Ela nã o obedeceu e pô s-se a andar de um lado para outro, mas calada. Diego, por
sua vez, nã o soube o que dizer quando Dom Lorenzo voltou a insistir:

ADORO ROMANCES EM EBOOK 52


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

— Quero sua opiniã o sobre o assunto.


— Eu nã o estava lá .
— Sua informaçã o anterior contradiz isso.
— No terraço. Eu ainda nã o tinha chegado com meu pai. Dom Lorenzo inclinou-
se para a frente.
— Você acredita que Dom Lucero seja capaz do que Catalina... Eu a aviso, filha,
mais uma palavra, eu a mandarei para fora daqui.
Ela continuou a andar, mas ainda calada. Diego mexeu-se na cadeira e, ao ver
que Dom Lorenzo esperava uma resposta, respirou fundo.
— Suspeito que o homem nã o alimente bondade alguma no coraçã o. Sua filha
Susanna merece um marido melhor. Já prometi a Catalina que ajudarei a encontrar um
companheiro adequado para a viú va de Dom Pedro.
Dom Lorenzo baixou o olhar e Catalina arriscou-se a falar:
— Por favor, papai, nã o entregue a nossa preciosa Susanna à quele homem mau.
— E se ela o ama?
— Impossível! Ela nem amava Pedro. Casou-se com ele para agradar ao senhor e
à mamã e — Catalina disse depressa.
Na opiniã o de Diego, Dom Lorenzo sabia e queria escapar depressa dessa
confusã o.
— O senhor precisa manter os dois longe um do outro — Catalina continuou. —
Ou eu me entregarei a...
— Catalina! Eu já a avisei a esse respeito — Diego disse ao pô r-se em pé
depressa.
— Ainda nã o estamos casados. Até entã o, você nã o pode me dar ordens.
— Estamos noivos e você honrará nosso compromisso — Diego afirmou e
dirigiu-se outra vez a Dom Lorenzo. — Essa é outra razã o para sua filha e eu estarmos
aqui.
— Esqueça isso — Catalina disse.
— Tarde demais — ele respondeu e virou-se para seu pai. — Sua filha e eu
desejamos antecipar a data do casamento.
Catalina gritou:
— Isso foi antes...
— Fique quieta — Diego a advertiu.
— De jeito nenhum! — ela vociferou.
— Parece que a antecipaçã o do casamento resolverá algumas questõ es — Dom
Lorenzo admitiu.
Catalina arregalou os olhos e encarou os dois homens.
ADORO ROMANCES EM EBOOK 53
TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

— Papai, eu disse que mudei de...


— Tarde demais, filha. Você se casará com Diego no fim desta semana. Tempo
suficiente para se preparar tudo.
— Gracias — Diego disse a Dom Lorenzo e, depois, segurou Catalina pelo braço.
— Seu pai deseja ficar sozinho agora. Vamos deixá -lo. — ele insistiu ao abrir a porta e
puxá -la para fora.
No mesmo instante, ela puxou o braço.
— Como você se atreve a se interpor na maneira de eu ajudar Susanna?
— Eu a avisei antes e vou repetir, Catalina. Você nã o se entregará a Lucero. Nã o
me importa o que venha a acontecer a Susanna se isso implica destruir sua vida. Esse é
meu primeiro cuidado porque você me pertence. Unicamente a mim.
— Ainda nã o — ela afirmou ao começar a se afastar depressa.
— No final desta semana! Livre e totalmente! — ele declarou. Ela correu para
seu quarto e bateu a porta com tanta força que
uma criada apareceu para ver qual era o problema.
— Vá embora e me deixe sozinha! — Catalina gritou. A serviçal obedeceu
depressa.
Diego jamais seria tã o cordato. Ainda nã o estavam casados e ele já dirigia sua
vida. Pode fazer isso. Não pode fazer aquilo. Porque se preocupava com seu bem-estar?
Ele queria ser seu dono e senhor. Agia assim porque era homem e sabia que a for ça lhe
daria o que desejasse.
Ora, nã o com Catalina Fernandez de Velasco. Pela astú cia, ele poderia induzi-la a
antecipar o casamento, forçá -la a ser sua mulher, exigir tudo na cama, mas nã o teria
seu coraçã o. Jamais.
Na manhã seguinte, Susanna balançou a cabeça, mal acreditando na novidade
sobre Catalina.
— Você vai mesmo se casar com Dom Diego antes da data acertada?
— Nã o quero falar sobre isso.
— Por quê? Ele a ameaçou? Por acaso a agrediu? — Susanna indagou baixinho
enquanto caminhavam pelo corredor.
Catalina virou-se para a irmã com olhar de fú ria mal contida.
— Se tivesse, haveria um veló rio e nã o um casamento. Assustada, Susanna
empalideceu.
— Nã o está se sentindo bem, Susanna?
— Tanto quanto é possível com meu corpo nesta proporçã o horrível.
— Você está linda — Catalina afirmou e sorriu, mas ficou logo sé ria. — Você
merece o melhor, Susanna. Nã o pode ver Dom Lucero outra vez. Nã o permitirei que ele
se aproxime de você.
ADORO ROMANCES EM EBOOK 54
TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

Susanna piscou, espantada, porém, Catalina prosseguiu. Nã o tinha escolha, mas


nã o revelaria o fato de Lucero a ter assediado duas vezes na noite da festa. Magoaria a
irmã .
— O homem é uma ameaça. Primeiro, tentou me conquistar apesar de meu
compromisso com Diego. E, agora, ele deseja você. Sei que ele nã o me amava e, embora
qualquer homem bom se sentisse abençoado por tê-la, Susanna, temo que Dom Lucero
nã o possua um pingo de amor para dar. Ele cobiça algo mais do que nos conquistar.
Talvez parte da fortuna de papai atravé s de nossos dotes ou algum privilégio político.
Nã o confio nele e você també m nã o deve.
— Mas ele tem sido muito atencioso comigo, Catalina.
— Por favor, Susanna, tente entender, você s dois ainda nã o estã o casados. Ele
nã o pode ser outra coisa no momento, pode?
— Seja como for, preciso de um marido. — Encontrarei um para você.
— O quê ? Está pretendendo me oferecer Dom Diego? Uma boa ideia.
— Você o aceitaria?
— Jamais! Ele nã o me amaria como a você — Susanna respondeu.
— O quê ?! Você nã o pode juntar amor a Diego. Ele só pensa em possuir.
— Como todos os homens. Pelo menos, ele é muito atraente.
— Você acha, Susanna?
— Si, e você també m, maninha. Vejo como seus olhos brilham quando ele está
perto.
— Penso que seu estado afetou a cabeça.
— Você o ama, sim — Susanna teimou.
— Nã o!
— Uma resposta tã o rá pida só pode ser falsa.
— Você acha mesmo que amo Diego? — Catalina indagou, pensativa.
— Tenho certeza. E ele a ama também. Você nã o calcula a sorte que tem,
Catalina.
— Suponho que nã o. Talvez a rapidez dos acontecimentos tenha confundido
meu raciocínio. Afinal, vou me casar dentro de poucos dias. No momento em que
formos declarados marido e mulher, Diego ganhará uma esposa e eu perderei a
liberdade e a alegria.
— Uma pessoa se sente mais livre quando compartilha a felicidade com outra.
Para tanto, é preciso força de vontade. Tente ser feliz, Catalina. O que você e Diego
encontraram um no outro deve ser nutrido e nã o negligenciado.
— Você nã o faz ideia do quanto ele é obstinado.
— Nesse caso, você s formam o casal perfeito. Nunca encontrei mulher tã o
teimosa quanto você , maninha.
ADORO ROMANCES EM EBOOK 55
TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

Catalina sorriu e abraçou a irmã .


— Farei o que você pede, Catalina, a respeito de Dom Lucero. Serei cautelosa
quando ele estiver por perto, embora ache que você exagera o perigo.
— Pode ser — Catalina mentiu. — Mas tenho certeza de que você nã o se
arrependerá da decisã o.

ADORO ROMANCES EM EBOOK 56


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

CAPÍTULO VIII

O tempo passou tã o depressa que Catalína imaginou se nã o estaria sonhando


quando o dia da cerimô nia chegou.
De seu quarto, ela ouviu os primeiros acordes da mú sica e, logo, as vozes dos
rapazes do coro. Dessa vez, elas tinham uma nota de tristeza que combinava com seu
estado de espírito.
Foi até a janela e olhou para a paisagem que tanto amava. Iria deixá -la nesse dia
a fim de viver na propriedade de Diego.
Embora ela ficasse a poucas horas a cavalo dali era como se estivesse em algum
ponto remoto do cé u. Daí em diante, passaria a cuidar da felicidade de Diego e nã o da
sua.
Em vez de cavalgar pelos campos com roupas de serviçal, teria de se tornar mã e
e criar os filhos de Diego como ele achasse melhor. E quando chegasse o momento em
que ele fosse procurar outra mulher, esperava-se que ela ignorasse a traiçã o como se
nã o existisse.
Porém, havia algo que essa uniã o nã o poderia provocar nela, a disposiçã o para
se deixar ferir. No momento em que descobrisse uma ligaçã o amorosa de Diego nã o
mais se entregaria a ele de boa vontade. Naturalmente ele poderia forçá -la a aceitá -lo,
mas seria a ú nica maneira de possuí-la.
— Catalina?
Por sobre o ombro, ela olhou para Susanna e sorriu ao vê-la tã o linda com um
vestido de seda verde, feito à s pressas com um dos cortes comprado por Diego na feira.
— Você está deslumbrante, Susanna, e é você quem deveria ser a noiva.
A irmã riu, mas a repreendeu:
— Serei eu se você nã o se aprontar depressa. Vamos lá , eu a ajudarei, a menos
que prefira uma criada.
— Nã o, quero você, por favor.
Susanna soltou uma exclamaçã o quando Catalina correu para abraçá -la com
cuidado.
— Você está chorando, maninha!?
— Estou. Vou sentir muita falta sua.
— Que tolice! Você vai se mudar para a propriedade de Diego e nã o para o
castelo da rainha da Inglaterra. Vamos nos ver com frequê ncia. Além do mais, essa
uniã o vai ser muito boa para você .
— Vá morar comigo.

ADORO ROMANCES EM EBOOK 57


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

Susanna afastou-se e balançou a cabeça.


— Nã o. Você precisa ficar ao lado de seu marido e nã o do meu. Ele é seu futuro.
Catalina sentiu vontade de fugir, mas se controlou e permitiu que a irmã a
penteasse. Como no dia do noivado, os cabelos foram presos com pentinhos no alto da
cabeça e enfeitados com uma rosa.
Entã o, chegou a hora do vestido. Era de seda branca finíssima, com fios de ouro
e prata e enfeitado com pérolas minú sculas.
Em volta do pescoço, ela colocou o colar dado por Diego. A jó ia lhe dava a
sensaçã o de ser o laço de uma forca. Calçou luvas longas sobre as quais Susanna pô s
vá rios anéis e, entã o, afastou-se para admirar o efeito de seu esforço. Bateu palmas.
— Dom Diego vai adorar como você ...
— Talvez fosse melhor eu usar outro vestido.
— Se você se atrever a mudar qualquer coisa, eu o chamarei para lidar com suá
impertinência.
Desanimada, Catalina olhou em volta.
— O que está procurando? — Susanna quis saber.
— Meu punhal.
— Catalina! Você nã o pode estar falando sério! Ora se estava.
Quando encontrou a arma, levantou a saia e a prendeu junto à coxa. Se a vida
matrimonial nã o fosse harmoniosa, pelo menos ela estaria protegida.
Susanna atirou-se numa cadeira.
— Vou ter pena de Dom Diego esta noite.
— Dele? Eu sou a virgem!
— Seria melhor lembrar seu marido desse detalhe.
— Creio que ele está ciente.
— Suplique que ele seja delicado.
— Nã o suplico nada a homem algum. — Tocou a coxa e sentiu o punhal. — Ele
será delicado, ou coisa parecida.
Apesar de chocada, Susanna riu.
— Entã o, está pronta, maninha?
Catalina duvidava que jamais estivesse, mas assentiu com um gesto de cabeça.
Diego nã o tinha visto Catalina depois da discussã o no escritó rio de seu pai.
Enquanto esperava que ela descesse para a cerimô nia na capela, alimentava dú vidas
quanto a sua chegada.
Na imaginaçã o, a via vestida como um serviçal, fugindo do palá cio e, depois de
montar em pê lo num pangaré , galopando até o riacho onde se afogaria. Isso para evitar

ADORO ROMANCES EM EBOOK 58


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

se casar com ele.


Catalina o deixaria, bem como os pais dela, o dele, a madrasta e os irmã os de
ambos reunidos para testemunhar a cerimô nia. O pensamento assustador ainda o
atormentava quando ele ouviu uma movimentaçã o à s costas. Virou-se e viu Catalina
chegar.
Nesse momento, o coraçã o ajoelhou-se e a alma cantou. Diego nunca tinha visto
beleza igual. Ela nã o havia sido tocada pelo sol, pois era o pró prio astro-rei.
E estava ali. Por isso, mais do que por sua beleza, ele seria eternamente grato.
Enquanto Catalina se aproximava, Diego tentou capturar-lhe o olhar, poré m, ela
o mantinha abaixado. Escondia seu estado de espírito. Continuou a fazê -lo depois de
parar ao lado dele.
Diego nã o conseguia afastar o olhar. Queria tocá -la para ter certeza de que era
real e nã o um espírito. Em vã o, rezava para que cia o fitasse.
Durante a cerimó nia inteira, Catalina manteve a atençã o longe dele. Mesmo
quando, finalmente, foram declarados marido e mulher, ela nã o o fitou.
Diego viu Catalina abraçar os pais, os irmã os e as irmã s. Todos lhe desejaram
felicidades na nova vida, ao lado do marido. Um marido cujo olhar ela se negava a
encontrar. Nem quando Diego lhe ofereceu o braço.
Cordata, ela o aceitou e, de leve, pô s a mã o na dele. Mas sempre sem fitá -lo.
Juntos e à frente de todos, dirigiram-se ao grande salã o onde o banquete seria servido
e as festividades teriam início. Elas só terminariam ao amanhecer, horas depois de os
recém-casados terem partido para a lua-de-mel.
Entã o, sem dú vida, a mulher teria de olhar para ele. Como nã o fosse homem de
se arriscar, curvou-se e perguntou a seu ouvido:
— Você está com seu punhal?
Catalina parou, forçando todos atrá s a fazer o mesmo. Embora tentasse
esconder o sorriso, nã o conseguiu. Recomeçou a andar e murmurou:
— Talvez.
Catalina nã o se lembrava de ver os pais com expressã o tã o feliz. Triste, deu-se
conta de que se sentiam aliviados de se verem livres dela. Culpa sua por nã o ter sido
uma filha boa como Susanna. Com frequê ncia os desafiava para fazer o que queria. Este
casamento com Diego era uma das poucas coisas contra a qual tinha se rebelado.
Ela fingiu relancear o olhar pelo grande salã o, mas, de soslaio, observou o
marido.
Que palavra assustadora! Marido. O homem a seu lado era um estranho. Quase
como o pai e a mã e eram ao se casarem. Susanna e Pedro também.
De repente, Catalina pensou nos filhos que teria. Dali a dezoito anos, uma filha
sua estaria se sentindo da mesma forma que ela?
Ou os filhos que desse a Diego herdariam a personalidade dele? A mesma

ADORO ROMANCES EM EBOOK 59


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

autoconfiança?
Naturalmente ele era mais perito nas atividades amorosas, mas, nessa noite, se
daria conta da inexperiê ncia da noiva. Isso o agradaria ou aborreceria? Ela deveria se
importar? Nã o, decidiu.
Nã o daria seu coraçã o a esse homem. Bastava dar-lhe o futuro.
Catalina olhou para as mã os dele que, de repente, pousavam nas suas. Aqueles
dedos longos e fortes aqueciam os seus. Provocaram algo em seu â mago que se
expandiu pelo corpo inteiro e o rosto. Quando levantou o olhar, Diego a fitava.
Naqueles olhos, ela viu a mudança. A expressã o nã o era mais de pretendente e
sim de marido. Aqueles olhos queimavam com â nsia ardente. Havia até um toque de
desejo na voz quando ele disse:
— Prove isto.
Catalina olhou para o doce que ele segurava, mas, quando quis pegá -lo, Diego
balançou a cabeça.
— Abra a boca. Quero dar esta delícia a minha esposa.
Ela olhou em volta. Os convidados os observavam. Fitou Diego e entreabriu os
lá bios. Com a maior delicadeza, ele lhe deu o doce. Surpreendeu-se quando Catalina
passou a língua pelos dedos dele para saborear o mel que restava.
— Você gostaria que eu providenciasse alguns desses docinhos para levar
conosco? — ele perguntou.
— Como você preferir.
— Estou indagando sobre sua vontade, mulher.
— Tenho certeza de que coincide com a sua, marido.
— Muito bem, se você quer fazer esse jogo.
— O jogo nã o é meu, marido, e sim o que você concebeu, dias atrá s, no escritó rio
de meu pai.
— Você ainda nã o entendeu? Eu nã o queria que você se oferecesse para aquele
animal do Lucero.
— Eu lhe obedeci totalmente, marido, como devia. Mais agora que sou sua
mulher.
— Ainda nã o. Esta noite será , eu lhe garanto.
Tais palavras provocaram uma onda de calor em Catalina que aumentou com o
beijo que Diego lhe deu. Carícia que foi muito aplaudida por todos no salã o.
Quando ele a soltou, disse baixinho:
— Espere mais disso, Catalina, muito mais.
Ela afastou-se uns passos e, mais uma vez, as pessoas pararam o que faziam
para observá -la. Pareciam esperar que ela matasse o marido ali mesmo.

ADORO ROMANCES EM EBOOK 60


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

Ai se pudesse, Catalina refletiu. Pelo menos acabar com um pouco daquela


arrogâ ncia. Mas apenas sorriu meigamente.
— Catalina, aonde você vai? — o pai indagou, alarmado.
— Estou com frio, papai. Vou buscar meu xale.
— Mandarei uma criada pegá -lo para você.
— Prefiro ir eu mesma. Voltarei logo — ela prometeu ao pô r a mã o no ombro
de Diego.
— Acho bom — ele disse.
Porém, em vez de subir a seu quarto, Catalina dirigiu-se ao escritó rio do pai que
ficava longe do grande salã o. De lá , mal se ouvia o barulho da festa.
Sentou-se na cadeira do pai e cobriu os olhos com as mã os. Imaginava se, algum
dia, se acostumaria ao papel de esposa. Preo-cupava-se em como sobreviver essa noite.
Nã o sentia medo. Seu problema era apreciar demais o que Diego lhe fizesse. Caso sim,
perderia o coraçã o para ele na primeira noite? Se isso acontecesse, que esperança lhe
restaria para o futuro?
Cruzou os braços sobre a escrivaninha e apoiou a cabeça neles. Gostaria de
dormir um pouco, gozar uma pausa desse pesadelo.
De repente, ouviu passos que se aproximavam do escritó rio. Com certeza, uma
criada. Continuaram e pararam junto à porta.
Talvez Diego a tivesse seguido até ali. E se nã o fosse ele, poderia ser o pai.
Qualquer um deles lhe passaria um sermã o.
A maçaneta estalou e a porta se abriu. Catalina fingiu que dormia na esperança
de que, qualquer um, tivesse pena dela e se fosse.
Ficou tensa quando os passos chegaram a seu lado e uma fra-riílncia doce
demais e sufocante a envolveu.
Depressa, Catalina abriu os olhos, endireitou o corpo e depa-rou-se com Lucero.
No mesmo instante, ele recuou um passo.
Sem titubear, ela pulou em pé e passou para trá s da cadeira a fim de pô r alguma
distâ ncia entre ambos.
— O que isto significa? Por que motivo entrou aqui? — pre-guntou?
Lucero sorriu, mas apenas com os lá bios, pois o olhar era feroz.
— O que está fazendo aqui, Catalina? A festa é em outro lugar, aliá s, onde está
seu marido.
— Meu marido e meus movimentos nã o lhe dizem respeito.
— De fato, nã o. Ainda mais que, agora, você está casada.
— Sem dú vida alguma, estou.
— Naturalmente nada dura para sempre, nã o acha, meu amor? Meu amor? O
atrevimento desse homem era ultrajante!
ADORO ROMANCES EM EBOOK 61
TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

— Nã o faço ideia do que queira dizer, senhor, mas exijo que saia daqui
imediatamente.
— Permita que eu explique — ele disse ao se aproximar um pouco. — Veja,
Catalina querida, existem muitas razõ es para uma uniã o como a sua e de Diego nã o
durar muito. Viuvez é uma, e permanente.
Catalina esbugalhou os olhos. A criatura falava de assassinato?
— Mas um homem jovem e forte como Diego torna sua viuvez pouco prová vel. A
menos que ele sofra um acidente como Pedro de Susanna.
Catalina deu um passo para trá s. Lucero a seguiu e, ainda sor-rindo, continuou:
— Mas nem sempre se pode contar com acidentes, embora nã o se deva perder a
esperança. E eu tenho muita. Paciê ncia também.
— O senhor está insano! — Catalina exclamou.
— De jeito nenhum. Estou apaixonado. Eu a quero, Catalina. Teria me casado
com sua irmã apenas para ficar perto de você.
Ela deu mais um passo para trá s, mas nã o havia por onde escapar.
— Veja, meu amor, enquanto temos de esperar que um acidente dê fim a Diego e
você se veja livre para se casar comigo, existe uma soluçã o para nó s. Seu marido
viajará , sem dú vida. Enquanto ele estiver ausente da propriedade, você poderá ser
minha aman...
O tapa de Catalina cortou o resto da palavra.
— Jamais! — vociferou. Lucero levou a mã o ao rosto e a fitou.
— Jamais é muito tempo, Catalina. Mas como eu já a avisei, sOU um homem
paciente. Creio que você acabará pensando como eu. Até entã o, meu amor.
As ú ltimas palavras a seguiram quando Lucero lhe deu passagem e ela saiu do
escritó rio. Desvairada, correu para longe dali.

Na pressa, Catalina chocou-se contra Diego perto da escada, ele a segurou e


perguntou:
— O que é isso? Está pretendendo fugir de mim?
— Por favor, me solte.
— Para quê?
— Preciso mandar trazer minha bagagem aqui para baixo. Quero ir embora já
com você , Diego. Nã o posso esperar mais.
Diego se mostrou surpreso e confuso ao mesmo tempo, enquanto Catalina nã o
parava de olhar para trá s.
— Quem você está procurando? Uma criada?
Lucero, com um punhal ou qualquer outra arma, para assassiná-lo.

ADORO ROMANCES EM EBOOK 62


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

— Nada — ela disse e o fitou. — Quero ir embora já . Você vai me negar isso?
Diego mal disfarçou a alegria.
— Entã o, vou anunciar nossa partida a todos.
— Vou com você.
— Pensei que precisasse mandar descer sua bagagem.
— Uma criada pode fazer isso. Quero ficar a seu lado, Diego. Com seu punhal,
talvez ela pudesse protegê-lo.
— Tudo bem, ele concordou.
Juntos, voltaram ao grande salã o. Enquanto Diego anunciava a partida deles,
Catalina notou o ar de alívio dos pais e o de satisfaçã o de Dom Tomá s, mas nã o
percebeu as lá grimas de Susanna. Continuava preocupada com Lucero.
Ele nã o tinha voltado ao grande salã o. Onde estaria? Quais seriam os planos
dele?
O olhar de Catalina vasculhava a saída do aposento quando sentiu o braço de
Diego em sua cintura.
— Pronta para partir? Com a cabeça, ela assentiu.
Diego nã o fazia ideia do que tinha provocado essa mudança repentina na noiva.
Ela o puxou pela mã o para fora do aposento, rumo à porta de saída e do pá tio
enluarado. Uma noite para amantes. Para recém-casados.
Antes que ele pudesse roubar um beijo ou pronunciar uma palavra, Catalina
mandou um criado ir buscar Peligro e Diamante, deu ordens a outros a respeito de sua
bagagem e chegou ao ponto de comunicar ao criado de Diego o que esperava dele. Será
que manteria a atitude autoritá ria na cama essa noite?, Diego indagou-se. De jeito
nenhum. Lá , ele demarcaria seus limites.
Os cavalos chegaram e antes que Catalina o mandasse montar, ele a ajudou a
fazê -lo. Virou-se para trá s ao notar que ela nã o parava de olhar por sobre os ombros.
Só confirmou a paisagem enluarada o que facilitaria a viagem.
No momento em que Diego montou Peligro, Catalina instigou Diamante a passar
de trote a galope e fazer-lhe um sinal com a mã o para acompanhá -la.
Isso era demais. A moça precisava de controle, sem dú vida. Ele esporeou Peligro
e, ao alcançá -la, segurou as rédeas de Diamante. Brava, ela indagou:
— Por que fez isso?
— Vamos cavalgar num passo seguro. Nã o quero que minha mulher quebre o
pescoço antes de eu levá -la para a cama.
Apesar do luar, seu rubor nã o pô de ser notado. Ela desviou o olhar e, mais uma
vez, dirigiu-o por sobre o ombro.
Diego virou-se na sela, mas só viu os criados a cavalo que levavam a bagagem de
Catalina. Intrigado, perguntou:

ADORO ROMANCES EM EBOOK 63


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

— O que pode haver atrá s de nó s? Do que você está fugindo?


Ela estremeceu e manteve o olhar na estrada à frente.
— De nada — respondeu.
— Entã o por que está tremendo de medo?
— Nã o temo ningué m, marido. Estou com frio.
-— Nesse caso, nã o vou esquecer de esquentá -la no momento cm que
chegarmos em casa, está bem?
Ela nã o respondeu e nem reclamou por ele continuar a segurar as ré deas de
Diamante para, como marido, determinar o passo das montarias.
Dentro de poucas horas, a estrada os levaria à propriedade dele e ao leito
nupcial.

ADORO ROMANCES EM EBOOK 64


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

CAPÍTULO IX

Catalina debatia se deveria contar a Diego a confrontaçã o com Lucero e as


ameaças veladas dele. Mas, se o fizesse, temia o desfecho. O marido desafiaria o outro a
um duelo, algo proibido pela coroa.
Ela duvidava que Diego obedecesse à nova lei. Era homem. Insistiria em
trespassar a espada em Lucero. Dezenas de vezes, calculava. Restava-lhe proteger o
marido a todo custo. Sabia que Lucero só atacaria quando Diego estivesse sozinho. Isso
exigiria sua atençã o constante até ela pró pria enfrentar Lucero.
Mais uma vez, Catalina virou-se na sela e olhou para trá s. Numa voz calma,
Diego disse:
— Seu futuro está na frente, mulher, nã o atrá s. A menos que esteja fugindo de
algué m que nã o seja seu marido.
Ela nã o respondeu e manteve o olhar na estrada à frente. O passo moroso das
montarias estava acabando com o que lhe restava de compostura. Sem se conter mais,
indagou:
— Marido, será que nã o podemos apressar os animais só um pouco?
— Por que você haveria de querer isso, mulher? Por acaso nã o pode esperar a
hora de se ver sozinha comigo, já que estamos casados?
Catalina olhou para Diego e quase sorriu. Como era atraente.
— Estou cansada, marido.
— Espera descansar esta noite?
Ela desviou o olhar. Nã o porque estivesse com medo ou vergonha do que a
aguardava. Temia apreciar demais esse homem. Numa voz meia incerta, disse:
— Cabe a você determinar as condiçõ es para esta noite. Como sabe, sou
inexperiente nesse assunto.
— Nã o será mais de amanhã em diante — Diego prometeu. Catalina o fitou e ele
sorriu ao acrescentar:
— Entã o, espero que você mantenha a marcha.
O comentá rio incendiou seu peito e ela nã o soube o que dizer. Melhor, pois
quanto mais falasse, mais se complicaria.
Depois disso, seguiram cada um com seu pró prio pensamento. Ela se
surpreendeu muito quando se aproximavam do palá cio de Diego.
Embora ele o houvesse mencionado no dia da ida à feira, ela mal podia acreditar
no que via. Era o dobro do tamanho do de seu pai e as pedras brancas e polidas
brilhavam sob o luar.

ADORO ROMANCES EM EBOOK 65


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

— Como é lindo! — exclamou.


— Você vai aprender a gostar daqui — Diego murmurou. Catalina o observou ao
notar um tom de ansiedade na voz dele.
Quando isso tinha substituído a autoconfiança, a arrogâ ncia? Em que ele estaria
pensando?
Impossível saber. Com o rosto virado, ela percorria o olhar pela propriedade
que passaria a ser o lar de ambos, pois eram marido e mulher. Ou, como Diego diria,
logo seriam.

Foram recebidos no pá tio por serviçais encarregados das montarias e, à porta,


pelos que cuidavam do palá cio. No vestíbulo de entrada, havia um enorme candelabro
com dezenas de velas acesas.
— Deixei ordens para prepararem alimentos que deverã o ser levados, bem
como bebidas, a nossos aposentos, caso você deseje algo — Diego informou.
O que Catalina queria era mais tempo a fim de se prevenir para o que viria a
ocorrer. Embora desejasse esse homem e continuasse a se apaixonar por ele, apesar de
seus esforços ao contrá rio, as pernas fraquejavam.
Diego devia ter percebido isso, pois passou o braço por sua cintura e murmurou:
— As criadas estã o à espera para ajudá -la a se preparar para nossa noite, mas
caso isso a constranja, podemos ir conversar no escritó rio e deixar que tudo aconteça
normalmente.
Catalina o observou. Ele estava disposto a fazer isso pela noiva nervosa? A
esperar mais um pouco pelo que tanto ansiava? Isso amainou seus temores e
aumentou a expectativa.
— Se você nã o se importar, marido, prefiro que vamos agora para nossos
aposentos e nossa primeira noite.
Mais uma vez, Diego se surpreendeu.
— Nesse caso, vou chamar suas criadas para a ajudarem.
— Você nã o pode fazer isso para mim? Nã o podemos ficar sozinhos esta noite?
— Catalina indagou.
Estaria contrariando os costumes? Nã o sabia. A mã e tinha tentado orientá -la
nesses detalhes, porém, ela nunca havia prestado atençã o. A â nsia por liberdade tinha
sido tã o grande naquelas horas quanto a necessidade de orientaçã o nesse momento.
Diego arregalou os olhos e sorriu.
— Tudo que você quiser, Catalina.
— Pois essa é minha vontade.
Depois de dispensar as criadas, ele passou o braço por sua cintura e a conduziu
até a escada. Subiram e, lá em cima, percorreram um longo corredor. No fim dele,

ADORO ROMANCES EM EBOOK 66


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

pararam diante de uma porta imensa de madeira entalhada com cenas campestres.
Sem dú vida, símbolo da riqueza de Dom Diego de Guzmá n.
Ele a abriu e postou-se de lado para Catalina entrar primeiro.
O quarto deles era enorme. Ali també m havia um candelabro com velas acesas,
alé m de outras espalhadas pelo aposento. Uma janela aberta à esquerda permitia a
entrada de ar fresco.
Rodeada por guarda-roupas, cô modas, mesinhas e poltronas ficava a cama
imensa com um dossel e cortinas de veludo de um castanho mais claro do que os
cabelos e os olhos de Diego.
Ele fechou a porta e ficou parado junto a ela enquanto dizia:
— Você é nova aqui, Catalina, nã o me esqueci e compreendo. Portanto, espero
que me oriente no andamento desta noite o quanto lhe for possível.
Ela se sentiu agitada com essa delicadeza inesperada.
— Lamento, mas nã o sei como começar — desculpou-se. Diego se aproximou,
aconchegou seu rosto entre as mã os e
pô s-se a beijá -la. Apesar dos avisos para proteger o coraçã o, Ca-talina gemeu e
abriu a boca para receber a língua do marido. A carê ncia dele pareceu aumentar. Logo
aprofundava o beijo e a abraçava como se temesse que ela fugisse.
Minutos depois, quando ambos estavam temporariamente sa-ciados dessa
intimidade, Diego afastou-se e, numa voz rouca, murmurou:
— Está na hora de você se despir.
Catalina manteve-se imó vel enquanto ele tirava seus anéis, as luvas e o colar.
Em seguida, foi a vez dos sapatos e das meias. Enfim, restavam o vestido e a roupa de
baixo.
Ela fechou os olhos e permitiu que Diego removesse tudo. O ar frio da noite
tocou sua pele nua, enrijecendo mais os mamilos num prenú ncio do que viria ocorrer.
Como quisesse que Catalina testemunhasse tudo, ele disse numa voz suave, mas
insistente:
— Abra os olhos, minha querida.
Ela obedeceu com esforço, mas sentiu apenas um momento de vergonha pela
nudez. No mesmo instante, viu o desejo estampado no olhar de Diego. Era o que ele
queria, aliá s ambos.
Apesar da respiraçã o já meio acelerada, ele sorriu um pouco e tirou a bainha
com o punhal de sua coxa.
— Com sua permissã o, vou guardar isto num lugar seguro.
— Agradeço sua atençã o.
Depois de pô r a arma num dos guarda-roupas, ele voltou para seu lado. Tirou a
rosa e os pentinhos de seus cabelos e acabou de desmanchar o penteado.

ADORO ROMANCES EM EBOOK 67


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

Catalina entreabriu os lá bios num suspiro mudo enquanto o marido passava


seus cabelos pelos ombros para emoldurar os seios.
Diego deu uns passos para trá s e respirou fundo vá rias vezes a fim de se
controlar. Como se as roupas estivessem em chamas, começou a arrancá -las fora.
Quando já quase terminava, Catalina virou o rosto, mas ele nã o admitiria isso.
— Olhe para mim. Veja o que seu marido tem para lhe oferecer.
O coraçã o de Catalina disparou enquanto o pescoço e o rosto se tingiam de
vermelho ao obedecer. O corpo forte dele estava nu e desejava o seu. O peito largo era
coberto de pêlos mais escuros do que os cabelos. As pernas longas eram bem
torneadas, bem como a ereçã o. Diego era tã o grande e forte que ele temia nã o
conseguir recebê-lo em seu corpo. Suas pernas ameaçaram dobrar, mas ele a amparou
depressa contra o corpo. Com um dos braços em sua cintura e outro sob os joelhos,
carregou-a para a cama.
Os lençó is de seda finíssima e macios acariciaram sua pele. Ela esperou que
Diego fechasse as cortinas em volta da cama para que ficassem nas sombras, mas ele
nã o o fez. Catalina deu-se conta da intençã o dele. Queria que cada um visse exatamente
o que fariam.
Como começasse a tremer, Diego pegou sua mã o e a beijou.
— Farei o má ximo esforço para nã o machucá -la, mas devo avisar que haverá
uma certa dor no início.
Catalina tinha ouvido uma amiga casada mencionar isso, mas precisava saber
mais.
— Quando essa dor começa?
— Ainda nã o, por enquanto. Nada de pressa esta noite. Seu olhar caiu na ereçã o
dele. Como poderia acomodar aquilo dentro do corpo?, indagou-se. E agora, corno
impedir gemidos de prazer se Diego deitava-se sobre ela e a beijava no pescoço?
Ai, Mãe misericordiosa! Ao senti-lo saborear sua pele, ela te- meu desmaiar.
Jamais tinha imaginado prazer igual e era só o começo, pois a mã o de Diego tinha
encontrado seus seios. Auda- cioso, ele apertou os mamilos entre o polegar e o
indicador até que uma sensaçã o excitante se iniciasse neles e atingisse seu â mago.
Diego devia ter percebido isso. Bem devagar, baixou a mã o dos seios para além
da cintura, passou por entre suas coxas e a tocou onde os pê los terminavam. Catalina
nã o conteve uma exclamaçã o e tentou empurrar-lhe a mã o.
Diego afastou a boca de seu pescoço e a fitou com olhar baço de desejo. Num
murmú rio, indagou:
— Eu a machuquei?
Nã o, mas como ele podia fazer uma coisa dessa?
— Diego, nã o acho que você deva ser tã o audacioso com suas carícias.
— Catalina, elas a machucaram?

ADORO ROMANCES EM EBOOK 68


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

— Nã o — ela balbuciou.
— Entã o, o que você sentiu?
Surpresa. Desejo. Carência.
Diego leu a resposta em seu olhar.
— Deixe que eu a guie nos caminhos do amor, minha querida. Nã o lhe farei mal
e nem a envergonharei, prometo.
Com a respiraçã o acelerada, Catalina tinha a sensaçã o de que o quarto
rodopiava. Fechou os olhos e permitiu que ele agisse como desejava. Porém, Diego
queria ainda mais.
— Abra suas pernas — ordenou.
Deveria ou nã o?, ela indagou-se. Mas era o marido quem mandava e nã o podia
negar-lhe nada. Para ser sincera, nã o queria negar.
Depois de uns momentos, obedeceu.
Sua surpresa nã o poderia ser maior. Com os movimentos da mã o de Diego ela
sentiu uma umidade estranha. O que estaria acontecendo em seu corpo? E a ela? O
quarto continuava a rodopiar, mas parou quando ele penetrou um dedo em seu corpo.
Nã o conteve uma exclamaçã o.
— Está doendo? — ele perguntou.
Catalina balançou a cabeça. Nunca havia sentido sensaçã o igual ou a seguinte
quando, com o polegar, Diego acariciou a á rea onde os pê los terminavam. Seu desejo
era tã o grande que ela agarrou com força a beirada do lençol. Numa voz sufocada,
indagou:
— Diego, o que está me fazendo?
— O que você sente? — ele murmurou.
— Uma carência tã o grande que vai me matar!
— Nã o lhe fará mal algum, prometo.
— Mas...
— Quietinha. Faça isso por seu marido.
Impossível resistir, pois nos momentos seguintes, as carícias dele a levaram a
gritar com a explosã o de sensaçõ es que foram das pernas ao peito e do coraçã o à
cabeça. Catalina arfava e virava a cabeça de um lado para o outro, mas o efeito
persistia. Nã o passaria nunca? Era o que ela queria?
— Diego — balbuciou, porém, ele nã o ouviu.
O marido tinha baixado a cabeça para seus seios e beijava os mamilos com
sofreguidã o. Catalina temia enlouquecer. Nã o haveria limites para essa tortura
intensa? Uma mulher podia suportar tanto prazer nos braços do marido sem morrer?
Ela duvidava que pudesse aguentar mais.
Choramingou enquanto as mã os de Diego exploravam cada parte de seu corpo.
ADORO ROMANCES EM EBOOK 69
TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

Ele parou de beijar-lhe os seios e escorregou o rosto para além de sua cintura. Como
continuasse para a regiã o mais baixa, Catalina intuiu o que ele pretendia e tentou
fechar as pernas, mas o marido foi mais rá pido e a impediu.
Dessa vez, ela balançou a cabeça com um não ené rgico.
— Você nã o espera que eu permita...
— Catalina, você é minha mulher e eu tenciono apreciá -la. Nã o feche as pernas.
Isso nã o vai doer.
Ela nã o estava com medo de dor e sim confusa com a ousadia de Diego. Firmada
nos cotovelos, soergueu-se e indagou: -— Diga a verdade, outras pessoas fazem isso?
Ele sorriu de sua inocê ncia.
— Nã o questionei todas que conheço, mas acredite em mim, meu amor, isso nã o
é mais raro do que uma mulher dar à luz um filho.
A expressã o do marido dizia que sua recusa seria inaceitá vel. Catalina deitou-se,
abriu as pernas e crispou as mã os quando Diego começou a beijar sua parte mais
íntima.
Depois disso, ela temia nunca mais poder fitá -lo. Nem olhar para outra pessoa,
sair do palá cio ou se levantar dessa cama.
Porém, o prazer que o marido lhe provocava era uma completa surpresa.
Entregou-se a ele e logo sentiu que algo se avolumava em seu â mago, uma sensaçã o
agradá vel que, de lá , espalhou-se pelo corpo inteiro. Arqueou o corpo para trá s um
segundo antes de o clímax a atingir, ameaçando-a atirá -la pelo céu afora.
Diego se ajoelhou e segurou-a pela cintura. A voz dele parecia vir de muito longe
ao dizer seu nome. Catalina forçou-se a abrir os olhos para fitá -lo.
— Agora, você está pronta para mim. Nã o lute contra isto. A dor passará
depressa — ele garantiu.
Ela aquiesceu com um gesto de cabeça e fechou os olhos.
— Catalina, quero que você testemunhe tudo, que veja nosso amor.
Impossível. O homem exigia demais. Entreabriu os olhos e, entã o, arregalou-os
ao vê -lo se posicionar entre sua pernas, pronto para possuí-la. Apavorou-se. Sem
dú vida ele a mataria.
Diego penetrou apenas um pouco, o suficiente para disparar o coraçã o de
ambos. Numa voz rouca, explicou:
— Fazer isto depressa, atingirá o objetivo, minha querida. Depois, talvez haja
prazer.
Catalina preparou-se enquanto Diego baixava os quadris. Com um impulso
poderoso, venceu sua virgindade numa penetraçã o completa, transformando a noiva
em esposa.
Catalina fechou bem os olhos ao sentir a pressã o do ó rgã o do marido. Suas
entranhas pareciam forçadas ao má ximo de sua elasticidade.

ADORO ROMANCES EM EBOOK 70


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

— Esta é a parte pior e a dor logo começará a passar — ele murmurou entre
tragadas sô fregas de ar.
Como seria possível?, ela indagou-se. Porém, nã o tinha escolha.
Catalina agarrou a borda do lençol e prendeu a respiraçã o quando Diego deu
novo impulso. Outro e outro e outro até ela perder a conta. Mas a dor começava a
passar como ele havia dito e logo desaparecia.
Em lugar dela, surgia uma sensaçã o agradá vel e muito excitante. Catalina só
podia se deixar levar pela onda de prazer que Diego lhe proporcionava. Sentia como se
o corpo encolhesse, ou o dele aumentasse. Mais uma vez, a uniã o de ambos tornava-se
apertada, forçada.
Mas curiosamente, isso só aumentou a sensaçã o excitante que finalmente a
dominou. Soltou um grito, abafado pelo de Diego que mesclava o pró prio prazer com o
seu. Juntos, eles tinham alcançado o piná culo do desejo.
Catalina e Diego apreciaram-se por horas a fio. As velas se derreteram e a cera
extinguiu as chamas. Nã o importava, pois a luz do sol já iluminava o quarto. Como se
isso pudesse revelar mais de seu corpo que Diego ainda nã o tivesse admirado, ela ten-
tou, em vã o, cobrir-se com o lençol.
— Você ainda nã o terminou aqui, meu amor.
O que mais o marido lhe pediria? Ele a tinha possuído tantas vezes e acariciado
seu corpo inteiro, mas nã o havia sido o suficiente?
Catalina o tinha surpreendido. Depois de seu acanhamento e confusã o iniciais
sobre o que seria feito na cama, havia se tornado tã o ardente e vigorosa quanto ele. A
certa altura, Diego temera que seus gritos assustassem os criados que poderiam
pensar que ele a estivesse matando.
Neste momento, uma expressã o maliciosa surgia em seu rosto lindo enquanto se
sentava entre as pernas dele.
— Catalina, o que pensa estar fazendo?
— Estou me familiarizando com meu marido — ela respondeu ao acariciá -lo
entre as coxas.
O contato deixou Diego de cabelo em pé. Essa mulher era audaciosa demais e
precisava ser instruída sobre o comportamento adequado de uma esposa. Mas como as
carícias continuassem, ele exclamou:
— Catalina!
— Quieto meu querido, ou eu nã o lhe provocarei prazer.
Antes que Diego pudesse repetir seu nome, ele estremecia ao atingir a satisfaçã o
plena.
Catalina abraçou-o e beijou a marca de sua dentada no braço dele.
— Você me perdoou pelo ataque cruel?
— Si — ele balbuciou, ofegante.
ADORO ROMANCES EM EBOOK 71
TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

— E está feliz, meu marido?


Feliz?Não. Estava... Nã o tinha certeza do quê. Nã o encontrava palavras para
descrever o êxtase que sentia, o amor que transbordava de seu coraçã o por esta
mulher teimosa, intré pida e adorá vel. Entã o, falou com as mã os e os braços ao estreitá -
la contra o peito.
Quando a respiraçã o normalizou e a percepçã o retornou, ele a beijou no rosto.
— Hoje, vamos descansar — murmurou.
— Esse é o costume? — ela indagou.
Diego riu.
— É uma questã o de bom senso. Você deve ter ficado cansada com essa nossa...
— Posso aguentar tanto tempo quanto você. Creio que até muito mais — ela
afirmou ao encará -lo.
Ah, a competiçã o entre eles estava de volta. A experiência vivida ali na cama nã o
tinha abalado a determinaçã o da criatura linda.
— Um dia, você vai compreender que existem coisas para as quais as mulheres
nã o nasceram.
Sua expressã o sombreou-se.
— Tais como? — ela perguntou.
Tudo foi o que primeiro ocorreu a Diego. Mas como Catalina sabia onde seu
punhal estava, tal resposta nã o seria sensata.
— Atividades que exigem grande energia — ele desconversou. Ela apontou para
os lençó is amarfanhados.
— Isso aí exigiu muita potê ncia? Quanto a mim nem afetou minha respiraçã o.
Ai, esta mulher!
— Agora que está casada comigo, Catalina, e sob minha pro-teçã o, nã o precisa
mais se disfarçar de homem. Está muito bem como é. Apenas me adore, me
proporcione prazer nesta cama e me dê muitos filhos. É tudo que peço.
Seu rosto tornou-se mais sombrio, o que preocupou Diego.
— Você gostou do que fizemos, nã o gostou? — indagou ele.
— Gostei, mas porque foi com você .
Diego riu.
— Ora, claro, sou seu marido. Você nã o conhecerá outro homem.
— E você nem outra mulher deste dia em diante.
Ah, essa era a questã o, ele refletiu. Teria o pai dela lhe falado sobre a liberdade
que os homens gozavam quanto a isso? Nã o importava. Com a maior facilidade, ele lhe
jurou fidelidade, mas sua expressã o nã o desanuviou.

ADORO ROMANCES EM EBOOK 72


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

— O que é agora? — indagou.


— Você jurou depressa demais. Nã o está levando o assunto a sério como eu.
— Catalina, você está vendo coisas onde nã o existe nada.
— Nem jamais existirá , pois eu nã o tolerarei. Ela estava lhe dando um ultimato?
— O que quer dizer, mulher?
— Se um dia eu descobrir que me traiu, meu marido, você nunca mais me
apreciará nesta cama ou em outra qualquer.
— Você fala com uma audá cia estranha para alguém menor do que eu e sem
minha energia superior. Se eu a desejar, como pretende resistir?
— Com todo o meu ser e minha ausência, pois encontrarei meu pró prio amante
que...
— Você o quê?
Diego indagou já a tendo forçado a se deitar sob ele. Catalina nã o mostrou medo
e, com a maior calma, reafirmou as intençõ es.
— Se você me trair, nã o haverá motivo para eu me manter fiel. A mulher estava
louca. Abusava da paciê ncia dele como jamais outra fizera!
— A troco de que esta conversa sobre traiçã o? Nã o fiz nada para provocá -la.
— Só quero avisá -lo. Nã o encaro minhas promessas com leviandade. E nem você
fará isso, meu marido. Se ferir meu coraçã o, o seu terá de suportar meu silêncio e
comportamento. Juro.
Inacreditá vel! Ele nã o tinha feito absolutamente nada e a mulher o condenava.
Estavam casados há apenas um dia e ela já ditava as ordens da uniã o! Isso, mais do que
as ameaças, feria seu orgulho de homem. Afastou-se dela e levantou-se da cama.
— Está me deixando, aqui sozinha? — Catalina indagou, ainda deitada.
— Deixando-a?
— Sim, para ir procurar outra.
Ele teve vontade de urrar, mas apenas gritou:
— Catalina, como pode dizer uma coisa dessa?
— Porque ninguém tem coragem para tanto. Todos fingem nã o ver essas coisas,
mas eu, nã o. Por isso, exijo saber se você vai se consolar nos braços de outra. Caso sim,
nã o pretendo ficar à espera de seu retorno. Irei embora imediatamente.
A mulher falava demais. Porém, embora estivesse furioso, Diego temia que ela
quisesse dizer aquilo mesmo. Voltou para a cama.
— Diga uma coisa, você me ama?
A pergunta a assustou, porém ela nã o se retraiu.
— Si.

ADORO ROMANCES EM EBOOK 73


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

— Entã o como jamais poderia pensar em ir embora?


— Posso porque te amo. Só a indiferença me faria ficar. E isso, Diego, nunca
sentirei por você. E você me ama, marido?
— Claro!
— Quer me proteger e me tratar com carinho?
— Sem dú vida alguma.
— Entã o, como poderia me trair?
— Nã o fiz isso — ele insistiu. Catalina arqueou as sobrancelhas.
— Nã o trairei! — ele prometeu.
— Você precisa afirmar isso de coraçã o. E nã o apenas para me compelir a fazer
o que você deseja ou calar minhas indagaçõ es irritantes.
Diego sorriu, poré m, ela continuou séria.
— Você precisa ser sincero, Diego, pois se eu lhe der meu coraçã o, exijo que
você jamais o machuque.
— Prometi com sinceridade — ele garantiu, ciente que, pela primeira vez na
vida, cumpriria tal promessa.
Seria um marido fiel e nã o tocaria em outra mulher. Aliá s, nã o queria. Jamais.
A expressã o de Catalina suavizou-se e o que aconteceu a seguir foi um milagre.
Diego viu amor genuíno em seus olhos. A adoraçã o com que ela o fitava quase o fez
perder o fô lego.
— Serei uma boa esposa para você — ela prometeu. Disso, ele nã o tinha dú vida.

ADORO ROMANCES EM EBOOK 74


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

CAPÍTULO X

Catalina adaptou-se à vida de casada com mais facilidade do que tinha


imaginado. As noites nos braços de Diego lhe proporcionavam alegria e prazer, o que
só servia para aumentar sua excitaçã o. O marido a igualava na disposiçã o e insistia ser
mais capaz na busca da satisfaçã o plena. Poré m, ela nã o concordava.
Assim sendo, nas primeiras semanas de casamento, eles esta-vam sempre
cansados, mas sorriam como tolos quando se aproxi-mavam um do outro. Caso
estivessem no quarto, ou cavalgando ou nadando nus no riacho, viviam num paraíso.
Contudo, logo outras questõ es começaram a exigir providências. Havia o
problema de se encontrar um marido para Susanna. Pelas cartas entregues a Catalina
pelos criados dos pais, ela ficou sabendo que Lucero insistia em se casar com a irmã .
Jurava que a amava muitíssimo, mas Catalina nã o conseguia esquecer o encontro
terrível com ele na noite de seu casamento.
Pensou em contar tudo para Diego, cujo amor por ela crescia com o passar dos
dias. Mas sabia que ele mataria Lucero se soubesse das ameaças veladas do homem. O
que as autoridade fariam ao marido a fez estremecer de medo. Desanimada, suspirou.
Só lhe restava vigiá -lo e rezar para que ele encontrasse logo um companheiro para a
irmã .
Para conseguir isso, Diego escreveu a vá rios amigos da nobreza. Recebeu
respostas favorá veis de uns poucos de Aragã o, no nordeste da Espanha. Depressa,
Catalina escreveu para a irmã , contando a boa notícia.
Mas entã o, a situaçã o que ela mais temia, aconteceu. Diego tinha de ir tratar de
negó cios no ponto mais distante da propriedade. Ficaria ausente um dia inteiro e a

ADORO ROMANCES EM EBOOK 75


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

manhã seguinte, longe de sua proteçã o ou da de um criado que ele se negava a levar.
— Permita que eu vá com você — ela pediu.
Estavam na cama, apó s terem feito amor, momento em que seria mais fá cil fazer
o marido satisfazer sua vontade. Com olhar triste, ele sacudiu a cabeça.
— Nã o posso. O problema é com servos de uma vila. Sã o pessoas rudes e nã o
quero expô -la a eles.
— Eu me vestirei como serviçal. Ninguém me reconhecerá , nem você.
Diego a fitou e sorriu.
— Você ainda vai fazer isso aqui. Mas só quando eu puder persegui-la. Será bem
divertido.
Catalina o acariciou no peito.
— Por favor, Diego, nã o me deixe aqui sozinha.
— Ora, há mais criados aqui do que precisamos. Você nã o ficará sozinha.
— Mas nã o estarei com você .
— O que acha de ir visitar seus pais? Passar o dia com eles? Nã o, ela precisava
acompanhá -lo. Insistiu.
— Irei com você para protegê -lo contra aqueles servos. Você nã o pode me
impedir.
Diego a olhou com firmeza.
— Que ideia está passando por sua cabeça? Será que nã o confia em minha
fidelidade enquanto estiver longe de você?
Ela nem havia pensado nisso.
— Você me deu sua palavra quanto a se manter fiel. Por que ou duvidaria dela?
— Qual é o motivo para você insistir em me acompanhar? Pa-rece determinada
a me proteger. Contra quem?
Como nã o pudesse contar, Catalina decidiu usar outra tá tica.
— Pelo menos, leve uns serviçais.
— Para quê? Eles sã o necessá rios aqui.
— Você disse que as pessoas lá sã o rudes.
— Em relaçã o a você. Sou homem e elas nã o me assustam. Ela repetiu umas
palavras em á rabe que tinha ouvido Diego usar quando estava bravo, deixando-o
consternado.
— Catalina, nunca mais repita essas palavras.
— Por que se você as diz? — Sou homem e você , mulher. Nem sabe o que elas
significam.
— Entã o, você precisa me ensinar.

ADORO ROMANCES EM EBOOK 76


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

— Jamais.
— Nesse caso, vou encontrar um mouro que me...
— Ensinarei quando voltar de minha viagem.
— À qual você levará quatro criados pelo menos. E exijo que eles vã o armados.
— Por quê? Aqueles servos nã o estã o planejando uma revolta Eles têm apenas
umas questõ es para acertar. Sou um senhor justo. Sempre fui. Você se preocupa sem
razã o.
— Eu me preocupo porque te adoro, Diego. Por favor, será que estou pedindo
muito?
Ele respirou fundo e suspirou.
— Suponho que nã o. Levarei os homens e as armas se isso a deixar mais
sossegada.
Deixaria, sem dú vida.

No dia da viagem, entretanto, Catalina sentia-se inquieta. Durante a noite, ela


havia tido um sonho tã o real que acordara cho-rando. Nele, Diego tinha partido a
cavalo e nunca mais voltado. Noite apó s noite, ela se postava a uma janela com um vela
acesa na mã o para orientá -lo. Mas nã o o tinha visto mais.
Quando o marido se despediu com um abraço, agarrou-se a ele e nã o quis largá -
lo. Rindo, ele disse:
— Minha querida, se nã o soltar minhas roupas, terei de viajar nu.
— Volte para mim — ela suplicou.
— Sempre voltarei para você , meu amor, juro. Agora, exijo uma promessa sua.
Comporte-se. Nada de se vestir como um serviçal até eu retornar.
— Essa ordem, posso obedecer.
Ele sorriu, despediu-se com um beijo apaixonado e se foi.
Desde o casamento, era a primeira vez que o marido ficava fora de seu olhar e
Catalina sentia-se perdida. Se já estivesse grá vida talvez fosse diferente, mas ainda nã o
tinha concebido. Sem ter o que fazer, decidiu ir cavalgar. Uma das criadas indagou se
deveria acompanhá -la.
— Nã o, vou sozinha. Diga à cozinheira para preparar um lanche de pã o e frutas.
Catalina já tinha resolvido ir até o riacho que ela e Diego adoravam. Nadaria um
pouco, faria a refeiçã o do meio-dia e voltaria para casa a fim de rezar pela volta segura
do marido no dia seguinte. Pouco depois, saiu.
Embora o verã o já houvesse passado, ela sentia o calor do sol nas costas
enquanto Diamante galopava pelos campos.
Perto do meio-dia, Catalina chegou à margem do riacho. Como todos os serviçais
da propriedade tinham sido avisados para nunca se aproximarem daquele trecho, ela
ADORO ROMANCES EM EBOOK 77
TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

sabia que ficaria sozinha.


Depois de prender Diamante a uma á rvore pró xima, despiu-se completamente e
entrou no riacho.
A á gua estava deliciosa. Bebeu um tanto para matar a sede, molhou os cabelos e,
entã o, nadou um pouco. Imaginava onde Diego estaria nesse momento e se sentia a
separaçã o tanto quanto ela.
Catalina sorriu ao pensar que talvez, dos dois, fosse ele quem mais se ressentia,
pois o relacionamento era uma competiçã o constante em que ambos empatavam. Riu
alto e Diamante relinchou de maneira estranha como se estivesse assustado. Pelo quê ?
Nadou para uma parte mais rasa, afastou os cabelos do rosto e olhou na direçã o
do cavalo. Poré m, nã o conseguiu enxergá -lo porque Lucero se interpunha entre eles.
Catalina pensou que estivesse tendo uma alucinaçã o provocada pelo sol quente.
Mas, entã o, viu a expressã o de luxú ria naqueles olhos pequenos que admiravam seus
ombros nus.
Apavorada, ela pensou em seu estado e nas roupas que tinham ficado na
margem, atrá s de Lucero. E o punhal também!
Como se soubesse disso, ele provocou:
— Buenas tardes, senorita!
A correçã o escapou dos lá bios de Catalina sem querer.
— Senora!
— Claro. Mil perdõ es, senora. Isso talvez explique sua falta de modé stia — ele
disse com ar divertido.
Catalina nã o se conteve e disse as palavras em á rabe que Diego, a tinha proibido
de usar. Lucero arregalou os olhos com o insulto, e, depois, os semicerrou.
— Eu a desejo, Catalina. Isso nã o mudou e nunca mudará . Mas, também devo
avisá -la para mostrar respeito.
A ele?! O homem estava demente?
— Ordeno que saia já desta propriedade.
— Pois vou esperar pelas ordens de seu marido. Aliá s, onde ele está ? — Lucero
indagou ao olhar em volta.
Apesar de a á gua a cobrir, Catalina cruzou os braços no peito. Nã o suportava
mais o olhar do homem.
— O senhor precisa ir embora.
— Claro. Quando seu marido voltar — repetiu.
Catalina queria gritar, mas ninguém a ouviria. Os servos tinham ordem para nã o
se aproximar dessa á rea. Tudo estava perdido, a menos que pudesse ludibriar Lucero a
se afastar o suficiente para ela pegar suas roupas. Numa voz de acanhamento e
respeito fingidos, disse:
ADORO ROMANCES EM EBOOK 78
TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

—Senor Dom Lucero, eu trouxe um lanche que ainda nã o comi e estou com fome.
Mas nã o posso sair da á gua sem minhas roupas. O senhor faria o grande favor de
passá -las para mim? Estã o aí a seus pés. Para nã o molhar suas botas, seria melhor que
pegasse um galho daquela á rvore lá atrá s para me entregar as peças.
Quando ele esticasse o galho, Catalina pretendia puxá -lo para a á gua, nadar até a
margem e se apoderar do punhal. Caso ele se aproximasse, apunhalaria-o.
Mas Lucero foi mais esperto do que ela esperava.
— Por que um galho? Usarei minha espada.
Catalina desanimou. Nã o podia se valer do plano se ele usasse a espada, pois
correria o risco de cortar as mã os.
— Ora, apenas jogue as roupas.
Lucero nã o o fez. Desembainhou a espada e a usou para erguer seu vestido do
chã o. Em seguida, balançou-o em sua direçã o, tendo o cuidado de mantê-lo perto da
margem para forçá -la a ficar em pé a fim de pegá -lo. Esboçou um largo sorriso.
Catalina queria matá -lo, mas nã o havia nada que pudesse fazer. Ele a deixava
sem saída. Entã o, o pior aconteceu.
A criada Teresita, de dezesseis anos, que trabalhava na cozinha e lançava
olhares sedutores para Diego, Catalina percebia, apro-ximava-se a cavalo. Os cabelos
vermelhos da moça esvoaçavam quando viu os dois. Virou a montaria para melhor
observar a cena.
Catalina queria morrer. O que Diego pensaria quando ficasse sabendo? E ficaria,
sem dú vida alguma. Tinha certeza por causa da expressã o de Teresita. Esta mostrava a
intençã o de informar ao patrã o a pouca vergonha da esposa ao exibir o corpo nu e a
possível infidelidade.
Embora temesse a língua da criada, Catalina temia mais ainda um ataque de
Lucero. Por isso, gritou:
— Teresita, traga minhas roupas.
Numa voz adocicada e com medo fingido, Lucero contou:
— Sua patroa corria o risco de morrer afogada. Por que nã o estava aqui para
ajudá -la? Eu nã o podia por causa da idade. Por acaso passava por aqui e ouvi seus
gritos.
— Mentiroso! — Catalina esbravejou, mas percebeu seu erro. Havia falado como
se os dois estivessem envolvidos em algo
errado que ele tentava disfarçar.
Ai, Mãe misericordiosa, a situaçã o nã o podia ficar mais sombria.
Teresita amarrou o cavalo na mesma á rvore de Diamante e correu para pegar as
roupas de Catalina. Lucero, por sua vez, como se fosse um cavalheiro, continuou a
mentir:
— Agora que está segura, Senora Guzmá n, vou embora. — Virou-se para a
ADORO ROMANCES EM EBOOK 79
TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

criada e, bravo, disse: — Nã o permita que isso aconteça outra vez.


Em seguida, montou e desapareceu de vista. Numa voz firme, a de senhora da
propriedade, Catalina mandou:
— Jogue minhas roupas, menina.
Teresita nã o acertou suas mã os, de propó sito ou nã o, e as peças caíram na á gua.
— Volte para o palá cio! — ela ordenou à criada que, com olhar de desafio,
obedeceu.
Só quando já estava fora do riacho e vestida com as roupas encharcadas, a ideia
ocorreu a Catalina. Como a criada passava pelo lugar proibido? Seria parte do plano de
Lucero? Ele nã o pretendia assediá -la, mas desacreditá -la aos olhos de Diego?
O trajeto parecia sem fim e a perspectiva dos negó cios, enfadonha. Diego
desejava poder virar Peligro para voltar ao palá cio e a Catalina.
Que maravilha ela era! Que alegria! Era tanta que, ao chegar à vila, ele nem
notou as moças que procurava à s vezes. Uma, de cabelos escuros, pele alva e olhos cor
de mel, seguia cada passo seu. Chegou a roçar os seios em seu braço quando ele
esquivou-se.
Os servos estranhavam o comportamento recatado de Dom Diego de Guzmá n.
No passado, ele teria abraçado a moça e se distraído com ela por um longo tempo, num
lugar já preparado para tais atividades. Depois, ele a recompensaria com ouro ou seda.
Em seguida, partiria satisfeito e sem a mínima preocupaçã o.
Mas isso pertencia ao passado e, agora, existia o presente com Catalina. Avisou a
moça para manter distâ ncia, pois nã o sujaria as mã os que haviam tocado a esposa
querida.
Eia sempre lhe seria fiel e esperava sua retribuiçã o.

ADORO ROMANCES EM EBOOK 80


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

CAPÍTULO XI

Catalina passou uma noite de insô nia na cama imensa, atormentada por visõ es
de assassinatos e de olhares furiosos de Diego. Mas ao amanhecer, com a promessa de
um dia lindo e do retorno do marido, achou que estava exagerando.
Diego sabia de sua repulsa por Lucero e havia testemunhado como o homem a
tinha assediado no palá cio do pai. Poré m, por causa disso, ainda existia o perigo de o
marido pegar a espada, correr à propriedade de Lucero e matá -lo.
Catalina retorceu as mã os. Uma vez enraivecido, Diego nã o se acalmaria com
facilidade. Era preciso conceber um plano em que ele acreditasse e que nã o o deixasse
muito bravo. Para tanto, teria de falar com ele antes de Teresita o fazer.
Com isso em mente, Catalina vestiu-se depressa para receber o marido. Pronta,
deixou os aposentos e, quase correndo, transpô s o corredor, rumo à escada.
Uma criada de meia-idade varria o patamar. Ao vê -la, baixou o olhar e foi
embora.
Catalina nã o soube o que fazer. Já tinha visto essa criada muitas vezes, que
sempre lhe sorria ao cumprimentá -la. Mas nã o nesse dia, ela refletiu ao descer ao
andar té rreo.
Lá , apanhou a troca de olhares de duas outras criadas que limpavam a sala de
jantar. A mulheres pararam de cochichar e continuaram a trabalhar.
Catalina resolveu ir para fora. Nem chegou a descer ao pá tio. Vá rios serviçais
executavam tarefas habituais e a olharam de esguelha como se ela tivesse duas
cabeças.
Um medo gelado provocou-lhe um arrepio na espinha. Já ia voltar para dentro,
mas lembrou-se dos olhares das criadas. Só lhe restava refugiar-se em seus aposentos.
Porém, como interceptar Teresita de lá ?
Depressa, desceu a escada e começou a caminhar na direçã o em que ele deveria
chegar. Sabia que era uma atitude suspeita aos olhos dos serviçais. A esposa culpada ia
ao encontro do marido antes que ele ouvisse as má s línguas. Poré m, ela nã o tinha
escolha e nem tempo para mandar encilhar Diamante.
Catalina nã o havia andado mais do que meia hora quando viu, a distâ ncia, a
poeira levantada pelos cavaleiros. Isso foi logo seguido pelo tropel dos animais.
Entã o, ela distinguiu Diego que cavalgava à frente do grupo. Teve vontade de
correr-lhe ao encontro, mas sentiu-se presa ao chã o. Atrá s dele, vinham cinco
cavaleiros e nã o quatro como na ida. Quem seria o intruso?
Nesse instante, ela viu um lampejo de cabelos vermelhos. Quando já estavam
mais perto, reconheceu o pai de Teresita que também trabalhava na propriedade.
O homem tinha cometido a audá cia de ir ao encontro de Diego a fim de lhe
ADORO ROMANCES EM EBOOK 81
TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

contar o ocorrido?
Pelo olhar gé lido de Diego, quando se aproximou, Catalina soube que ele havia
sido informado de tudo. Mas a atitude dele nã o sugeria aos serviçais que havia algo
errado.
Ao chegar a seu lado, ele puxou as ré deas, estendeu-lhe a mã o, que ela pegou, e a
puxou para o colo. Juntos, cavalgaram o resto do caminho para casa.
Pela primeira vez, depois da noite do casamento, Catalina nã o queria entrar no
palá cio. Temia a fú ria do marido que já percebia pela maneira com que ele a segurava
pela cintura. Nã o havia mais a delicadeza habitual, mas uma grosseria indicativa de
que ele estava a par do ocorrido.
Quando chegaram ao palá cio, um criado ajudou Catalina a desmontar. Diego o
fez, entregou as rédeas de Peligro a um cavalariço e, entã o, ofereceu-lhe o braço para
que entrassem.
Para o resto do mundo, Catalina tinha certeza, eles pareciam os felizes senhor e
senhora da propriedade. A educaçã o de ambos tinha lhes ensinado as formalidades
que deveriam demonstrar diante dos serviçais.
Catalina, porém, conhecia o verdadeiro Diego. Ao retornar da viagem, embora
curta, o marido a teria estreitado contra o peito e a beijado com paixã o, sem se
importar com os olhares dos serviçais. Tal demonstraçã o já tinha acontecido antes.
Quando entraram no palá cio, Diego puxou o braço e verificou a
correspondê ncia. Em seguida, dirigiu-se à criada que dava as ordens à cozinheira.
— Nã o mande preparar nada para o almoço — determinou. Catalina
estremeceu. Sem lhe dirigir uma ú nica palavra, ele lhe ofereceu o braço a fim de
subirem a seus aposentos. Ela teve vontade de fugir, mas apoiou-se no braço.
Nunca antes ela havia notado o ruído dos passos de ambos, nem sentido o ar tã o
parado e os momentos tã o infinitos.
Parecia que nunca chegariam aos aposentos, mas, tã o logo o fizeram e Diego
fechou a porta, mais uma vez, Catalina quis fugir ou que ele dissesse alguma coisa. Ela
nã o se atrevia a murmurar uma ú nica palavra. Mas o marido manteve-se em silê ncio.
Nem parecia respirar.
Finalmente ela o fitou, mas recuou depressa, amedrontada com o olhar furioso
dele. Em silêncio, Diego esperava. Desesperada, ela começou a falar:
— Nã o é o que você pensa.
Ao observá -la, ele contraiu os mú sculos do rosto e Catalina continuou:
— Felipe nã o tinha o direito de ir encontrá -lo para...
— Quase matei o homem pelo que ele contou — Diego a interrompeu e
aproximou-se.
Chegou bem perto, poré m, ela manteve-se firme, pois nã o havia cometido erro
algum. Numa voz baixa e calma, disse:

ADORO ROMANCES EM EBOOK 82


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

— Diego, você precisa ouvir o que tenho para contar.


— Pois, conte.
Ela nã o sabia como. Temia a verdade, mas també m a mentira.
— Com sua ausê ncia, procurei alguma coisa para fazer. Decidi ir cavalgar,
mandei preparar um lanche e fui até nosso riacho. Fazia calor e, enquanto eu nadava
para me refrescar...
— Atirou-se nos braços de Lucero.
Catalina arregalou os olhos com a acusaçã o e levantou a voz:
— Como você se atreve a dizer uma coisa dessa?!
— Porque havia uma testemunha.
— Teresita! Nó s dois sabemos que ela vive de olho em você .
— Nã o fui eu quem se mostrou infiel.
— Nem eu.
Ele se afastou como se nã o tolerasse ficar perto da mulher.
— Nã o? Nó s dois sabemos como você se preocupa com Susanna. Nã o importa o
custo, você deseja salvá -la das mã os de Lucero!
— Isso foi antes de nos casarmos e de revelar a meu pai o cará ter de Lucero.
Diego desfiou um sem-fim de palavras em á rabe e pô s-se a andar de um lado
para o outro. De repente parou e virou-se para ela.
— Você está dizendo que Lucero entrou em minha propriedade com o ú nico
intuito de assediá -la em minha ausência?
Catalina empalideceu. Se confirmasse tal conjetura, Diego mataria o homem sem
pensar nas consequências. A honra de ambos estava em jogo. Ela já via a vingança nos
olhos do marido.
— Responda! — ele exigiu.
— Nã o sei por que o homem estava na propriedade e como me encontrou. Só
pode ter sido acidental.
Ao ouvi-la, a fú ria de Diego aumentou. Mas, em seguida, algo pior aconteceu. A
raiva se transformou em indiferença fria.
O marido tinha se virado de costas. Nã o sabia o quanto ela o adorava?
Desesperada, suplicou:
— Diego, por favor, me ouça. Dom Lucero nã o tocou em mim e nem eu nele. Eu
nã o o trairia agora nem mesmo para ajudar Susanna. Você precisa acreditar nisso.
Ele virou-se e a fitou, mas com olhar incrédulo.
— Ninguém é tã o importante para você quanto sua querida irmã . Nem mesmo
eu.

ADORO ROMANCES EM EBOOK 83


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

— Isso nã o é verdade!
— Como pode me pedir para acreditar em você ? Eu a deixo aqui sozinha por
pouco mais de um dia e, acidentalmente, Dom Lucero a encontra nadando nua no
riacho em minha propriedade. Muito conveniente para ele!
— Muito conveniente que Teresita estivesse lá para testemunhar tudo. Você nã o
imagina por que ela surgiu no lugar? Que interesse ela poderia ter?
— Teresita nã o estava nadando nua no riacho. Nã o me casei com ela e nem lhe
jurei fidelidade.
Catalina tornou a suplicar:
— Por favor, Diego! Existe muito mais nisso do que você sabe. Ele atravessou o
quarto e a segurou pelo braço.
— Nesse caso, me conte os segredos que guarda tã o bem. Ela nã o podia até ter
certeza de que o marido nã o cometesse uma tolice.
— Primeiro, você tem de prometer...
— Nã o lhe prometo mais nada, mulher. Agora, conte! Catalina o fitou, mas
manteve-se em silê ncio. Nã o tinha opçã o.
Ela preferia perder o amor e a confiança do marido em vez de vê -lo arriscar a
pró pria vida para vingar o atrevimento de Lucero. Como a mulher nã o dissesse mais
nada, ele largou seu braço e saiu do quarto.

Melhor ficar longe e não pensar, Diego disse a si mesmo. Cada vez que o fazia,
lembrava do que Catalina havia lhe dito antes de se casarem. Ela se entregaria a Lucero
a fim de salvar a irmã do animal. Ningué m era mais importante para ela do que
Susanna. Nem mesmo o marido.
Pegou as ré deas de Peligro das mã os do cavalariço, montou e partiu a galope.
Cavalgou sem direçã o certa até encontrar-se à beira do riacho onde o encontro se dera.
Encontro descrito por Felipe, o serviçal, com tais detalhes que Diego o
derrubara no chã o, sob a ponta da espada. Mas tinha lhe poupado a vida até poder
verificar a verdade com Catalina.
Tinha chegado ao palá cio certo de que tudo seria resolvido e, sem dú vida, nã o a
favor de Felipe. Antecipava que a esposa o aguardasse tã o ansiosa e carente da uniã o
de ambos quanto ele.
Porém, no momento em que a tinha visto caminhando na estrada, tã o longe do
palá cio, ao encontro dele, com expressã o aflita e de medo, tivera certeza de que Felipe
nã o havia mentido.
O encontro com Lucero tinha ocorrido. Era a desculpa que Diego desejava para
matar o animal. Mas o problema nã o estava com Lucero e sim com Catalina.
Audaciosa, ela falava demais em fidelidade e confiança. Até na noite de nú pcias o
tinha acusado de desejar outra mulher. Com isso, o havia tapeado e forçado a lhe dar

ADORO ROMANCES EM EBOOK 84


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

seu coraçã o e a jurar a ser fiel quando era ela a traidora.


O pior, nã o importava a desonra, estava no fato de ele nã o querer outra mulher.
Duvidava que jamais viesse a querer.
Olhou para o riacho onde ele e Catalina tinham vindo vá rias vezes para se
refrescar e ter prazer. Nunca mais voltariam juntos. Ela havia maculado o lugar ao
convidar Lucero a vir ali.
Ela afirmava que o encontro tinha sido acidental. Mas a á rea era no centro da
propriedade e nã o na periferia onde Lucero poderia estar passando. Esperava que o
marido acreditasse que o desgraçado tinha surgido quando ela estava nua e sem a
proteçã o do marido e do punhal? Mentirosa! Fingida!
Diego a tinha visto fingir para o pai. Censurou-se por esperar um melhor
comportamento seu. Tinha acreditado que ela amaria e desejaria apenas ele.
Como tinha sido tolo. E agora, precisava remediar o estrago que ela havia feito.
Os criados deviam comentar como Catalina, ainda recé m-casada tinha facilmente
forçado o marido a correr de casa.
Pois muito bem, não mais.

Em prantos, Catalina deitava-se em sua cama e de Diego quando ouviu um


tropel de cavalo no pá tio. Seria Peligro?
Sentou-se depressa e apurou os ouvidos. Era sim. O marido tinha voltado.
Enxugou as lá grimas e saiu do quarto. Correndo, atravessou o corredor, desceu a
escada e chegou lá embaixo no momento em que ele entrava.
— Diego, eu...
Nã o terminou, pois o marido a ignorou como se ela nã o existisse.
— Preparem um banquete para trinta pessoas. Vou receber convidados esta
noite — ele instruiu vá rias criadas.
Convidados? Convidados! Catalina seguiu Diego pelo corredor principal.
— Quem vamos receber esta noite? — ela indagou.
Ainda sem lhe dar atençã o, Diego mandou outra criada lhe preparar um banho.
Depois, chamou um criado a quem deu o nome das pessoas que ele deveria ir convidar.
Em seguida, dirigiu-se ao escritó rio.
Catalina olhou para o serviçal que a observava com curiosidade. Brava, levantou
a voz:
— Você ouviu seu senhor. Mexa-se!
Mais do que depressa, ele obedeceu. Mas Catalina continuou imó vel no corredor.
Nã o conhecia nem pelo nome os homens que Diego mandara convidar. Muniu-se de
coragem e foi atrá s dele.
Encontrou-o lendo uma carta. Decidiu esperar que ele terminasse e desse por

ADORO ROMANCES EM EBOOK 85


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

sua presença. Ele nã o o fez. Quando acabou a leitura, abriu outra carta. Depois outra e
mais outra. Mesmo assim, Catalina esperou em silê ncio. Quando nã o havia mais cartas
para serem lidas, indagou:
— Você pretende me ignorar pelo resto de nosso casamento? Diego nã o
respondeu e saiu do escritó rio depois de passar por
ela. No corredor, rumou para a escada.
A criada que tinha lhe preparado o banho acabava de descer as escadas. Olhou
para os dois e desapareceu depressa.
Catalina nã o lhe deu atençã o e seguiu Diego aos aposentos de ambos. Lá , ele se
despiu como se estivesse sozinho. Tã o logo entrou na banheira de á gua quente, ela
ajoelhou-se ao lado.
— Vou esfregar suas costas
Quando pegou a esponja, ele a segurou pelo pulso.
— Diego, por favor — ela murmurou.
Em silêncio, ele arrancou-lhe a esponja da mã o e só entã o a soltou. No instante
seguinte, iniciou o banho como se Catalina nã o estivesse ali.

Naquela noite, o primeiro andar do palá cio ecoava o riso e as vozes de homens
que pareciam estar bebendo vinho demais.
Pelas criadas. Catalina tinha ficado sabendo que eles eram ca-balleros, ou seja,
nobres de posiçã o secundá ria. Tinham lutado sob o comando de Diego em Granada e
se tornado amigos dele.
Até que horas a festa continuaria?, ela indagou-se. Mas as gargalhadas e outros
barulhos continuavam. Apertou a testa quando alguma coisa estalou lá embaixo. Ouviu
mais risos e, depois, um gritinho feminino. Sentou-se para ouvir melhor e discerniu
risos histé ricos de mulher.
Ai, Mãe misericordiosa, isso nã o.
Catalina retorcia as mã os quando mais risadas femininas soaram lá embaixo.
Levantou-se e foi até a porta que se entreabriu. Depois de ouvir com atençã o, percebeu
que havia umas cinco moças lá com todos aqueles homens. E um deles era seu marido.
Um marido que a ignorava e gozava de todos os direitos nessa casa. Ela sabia
que nã o tinha autoridade para exigir a expulsã o de uma ú nica pessoa dali. E nem
mesmo para despedir um serviçal. Esse era um privilégio unicamente de Diego.
Suas preocupaçõ es com o casamento voltavam a atormentá -la e de muito mais
maneiras de que ela havia suspeitado.

ADORO ROMANCES EM EBOOK 86


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

CAPÍTULO XII

Diego permitiu que a festa continuasse por trê s dias, embora nã o tomasse parte
nas diversõ es como as dos amigos com criadas jovens. Mantinha-se à parte bebendo e
pensando em Catalina.
Nem uma vez ela saiu do quarto. Depois da primeira noite, em que nã o tinha
comido nada, pediu a uma criada para levar suas refeiçõ es lá . Comia e dormia sozinha,
mas nã o reclamava.
Talvez ela houvesse escapado e voltado para a casa dos pais.
Ou ido para Lucero.
Diego terminou o vinho enquanto essa ideia lhe corroía a pró pria alma. Isso e o
fato de lhe terem roubado os momentos mais felizes da vida. Momentos esses que
tinham sido com Catalina.
Uma das criadas se aproximou. Ele havia esquecido o nome da moça. Ela o fitou
com olhar sedutor como se isso o levasse a desejá -la. Diego nã o se interessou. Sonhava
com Catalina.
A moça, ao perceber a indiferença de seu senhor, foi procurar homens mais
dispostos.
Diego serviu-se de mais vinho. O tempo passava. Alguns homens dormiam,
outros comiam e uns tantos seguiam criadas a seus quartos.
Mas Diego nã o se mexia. Bebeu mais enquanto pensava em Catalina e no
casamento deles. Deprimido, imaginou a maneira como passaria o resto dele. Carente.
Necessitado. Quando ela lhe pertencia. Diego largou o copo de vinho e levantou-se. Nã o
estava embriagado. Tinha desejado ficar, mas até isso lhe fora negado. Os pensamentos
estavam claros. Imagens perturbadoras de Lucero e Catalina passavam-lhe pela
cabeça.
Ele deixou o grande salã o e dirigiu-se à escada. Atrá s dele, dois homens
discutiam sobre o final de uma partida de xadrez.
— Juan, eu lhe afirmo, sou o vencedor — gritou Roberto. Diego começou a subir
a escada e, quando chegou lá em cima,
Juan e Roberto ainda brigavam pelo resultado do jogo. Ou por uma mulher que
deveria ser o prê mio do vencedor.
Diego parou diante da porta do quarto. A respiraçã o já estava ruidosa. Carê ncia
demais. Lembrou-se de que Catalina era sua mulher e lhe pertencia.
Abriu a porta, entrou e fechou-a. Iluminado por apenas uma vela, o quarto
estava na penumbra, mas havia luz suficiente para ele ver Catalina deitada na cama.
Ela havia deixado as cortinas abertas como ele preferia. Tinha os olhos fechados,
as feiçõ es relaxadas e, pela respiraçã o profunda, dormia. Os ombros e seios nus
ADORO ROMANCES EM EBOOK 87
TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

mostravam que ela obedecia à ordem do marido de nunca usar peça alguma naquela
cama.
Sem desviar o olhar dela, Diego descalçou as botas e, depois despiu-se. Sua
mulher. Pertencia só a ele.
Aproximou-se da cama. Ela nã o se mexeu. Sentou-se na beirada a seu lado. Ela
continuou dormindo.
Diego afastou o lençol de seda que a cobria da cintura para baixo e deitou-se a
seu lado. Sentiu a maciez de sua pele e seu calor. Tocou-a no lado do rosto. Sua
respiraçã o mudou de ritmo e ela entreabriu os olhos. Sonolentos, eles pareciam nã o
focalizá -lo. Entã o, ela balbuciou:
— Diego?
Quem mais ? Em vez de responder, ele apossou-se de sua boca. Esperava
resistê ncia, uma briga. Nada.
No mesmo instante, Catalina abriu bem a boca, permitindo ao marido o acesso
absoluto ao que lhe pertencia por direito. Acari-ciou-o no ombro e, depois, enlaçou-o
pelo pescoço.
La embaixo, a balbú rdia da festa continuava, mas ali em cima.
Diego só se dava conta desta mulher de quem se privara por tempo demais. Ele
a queria nesse momento. Precisava dela.
Numa fraçã o de segundo, ela posicionou-se de costas para recebê -lo. Com um
impulso poderoso, Diego a possuiu.
Seu corpo estremeceu de prazer. Murmú rios e gemidos suaves escaparam de
seus lá bios até que Diego os capturasse outra vez.
Ele a beijou com paixã o durante todo o ato. Quando este terminou, ele continuou
dentro de seu corpo enquanto a boca se distraía com seus lá bios e seios, até estar
pronto para ela outra vez.
Diego desfrutou a mulher, sua esposa, pelo resto da noite, quando as sombras
deram lugar à luz do sol. Durante o tempo todo, os dois nã o disseram uma palavra,
apenas fitaram-se na alma.
Diego sabia que nã o tinha nada para esconder. E ela?
Tinha medo de saber, pois a amava demais. Ele a adorava. Ca-talina faria parte
dele até o dia de sua morte. Mesmo assim, nã o podia tolerar o fato de ela já o haver
traído. E que talvez o fizesse de novo no futuro. Desanimado, baixou o olhar.
Catalina o tocou no rosto e, depois, na cicatriz no braço.
— Você quer dormir? — perguntou.
Ele queria a verdade, seu amor e, acima de tudo, sua fidelidade. Voltou a fitá -la.
— Nã o. Exijo saber seus segredos. Os que você tem a audá cia de esconder de
mim.

ADORO ROMANCES EM EBOOK 88


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

Foi a vez de Catalina baixar o olhar. Isso revelou a Diego mais do que palavras
poderiam. Ela nã o lhe pertencia. Nã o de coraçã o. Nã o podia forçá -la a ter tal fidelidade.
Diego afastou-se um pouco e Catalina o segurou pelo braço a fim de impedi-lo de
se levantar.
— Por favor, Diego, saiba que te amo. Jamais amarei outro tanto quanto a você.
— Esses sã o seus segredos? Todos eles?
— Nã o...
— Mas você nã o me contará os outros.
— Antes de eu os revelar, preciso ter sua promessa...
— Nã o, Catalina. Como eu já disse, nada mais de promessas de minha parte —
ele afirmou, levantou-se e foi até o guarda-roupa.
— Você vai embora outra vez?
— Nã o. Esta é minha casa e tenho o direito de apreciá -la. Você é minha esposa e
eu també m a apreciarei.
Diego escolheu umas roupas e virou-se para ela.
— Mas será tudo. Um prazer momentâ neo. A necessidade de um homem. Nada
mais profundo. E jamais voltará a ser.

A vida toda, Catalina tinha pensado que a pior coisa a que uma mulher poderia
se sujeitar seria a vontade férrea de um homem ou sua crueldade. Mas, nas semanas
seguintes, ela descobriu que existia algo ainda pior: indiferença. Especialmente por
parte de algué m tã o amado.
Embora ela e Diego fizessem as refeiçõ es juntos, oferecessem recepçõ es e
fizessem amor todas as noites, ele jamais retribuía seus olhares afetuosos. Só a tocava
quando precisava estimulá -la a fim de alcançar o pró prio prazer.
Os momentos de convivê ncia carinhosa, em que trocavam ideias, nã o existiam
mais. Se ela mencionava um assunto qualquer, o marido apenas a ouvia com olhar
alheio como se estivesse entediado. Apesar de antes ambicionar liberdade total, com
essa indiferença do marido, Catalina sentia-se abandonada.
Suportou a situaçã o por algum tempo. Depois de vá rios dias desse tratamento,
ela sentiu a necessidade de desafiá -lo. Queria provocar-lhe alguma emoçã o que
sentisse por ela, mesmo que fosse raiva. A pró pria subiu-lhe à cabeça, um dia, durante
o almoço.
Enquanto Diego, saboreava umas frutas, com mais atençã o do que dedicava a
ela, Catalina o informou:
— Como Susanna está perto de dar à luz, planejo ir até a casa de meus pais para
ajudar no parto. E também para combinar os detalhes do pró ximo casamento dela com
Dom Có rdoba.

ADORO ROMANCES EM EBOOK 89


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

Fiel à palavra dada, Diego tinha conseguido encontrar um nobre para se casar
com Susanna.
— Vou para lá esta noite, mas só depois que você dormir. Nã o quero privá -lo de
meus deveres de esposa — Catalina acrescentou.
Diego nã o parou de descascar uma laranja. Numa voz calma, disse:
— Como você desejar.
Era assim? Muito bem. Ele teria isso e muito mais.
— Para minha ausência nã o atrapalhar sua vida aqui, nã o vou levar serviçais
comigo — ela o informou, dando seu maior golpe.
Ela queria dizer que nã o levaria proteçã o alguma na viagem. No passado, isso
teria feito o marido protestar, furioso. Ele, porém, limitou-se a fitá -la de relance e
repetir:
— Como você desejar.
Catalina ficou tensa com o insulto, mas manteve a voz calma.
— Tenho meu punhal. É só do que preciso.
Diego pô s um gomo da laranja na boca e o saboreou antes de falar.
— Eu já a vi usar a arma. Você a maneja bem.
— Nã o sei quando vou voltar.
— Fique lá o tempo que precisar.
— Pode haver complicaçõ es, pois é o primeiro filho de Susanna.
— Nã o se pode apressar esses casos.
— Se você nã o quiser que eu vá , eu...
— Quero que você faça o que desejar.
— Nesse caso, talvez eu pule no riacho para me afogar. Diego olhou para seu
prato que ela havia batido na mesa.
— Você se esquece que eu já vi como você nada bem. Nunca se afogará , acredite.
Catalina começou a chorar. Nã o conseguia mais conter a tristeza. Isso,
finalmente, provocou uma reaçã o no homem de pedra. Mas de raiva. Ele pulou em pé e
esbravejou:
— Catalina, pare com isso!
— Nã o posso.
Diego suspirou e voltou a sentar-se.
— Por que está chorando?
— Porque você nã o se importa comigo.
— Como posso? Você guarda segredos de mim.

ADORO ROMANCES EM EBOOK 90


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

— Você nã o compreende, Diego.


— É claro que eu... Nã o, leve isso embora. Nã o queremos uvas — ele gritou com
a criada que trazia uma cesta delas.
— Diego, eu gosto de uvas — Catalina disse entre dois soluços.
— Traga de volta — ele ordenou à criada, esperou ser obedecia e que ela saísse
da sala para dizer: — Pronto, Catalina, as uvas estã o aí. Coma!
Ela chorava tanto que Diego resmungou em á rabe.
— Você está me amaldiçoando agora? — ela soluçou. O resmungo foi substituído
por um berro:
— Nã o!
— Entã o o que você disse?
— Nã o importa.
— Para mim, importa. Você prometeu me ensinar o que queriam dizer, mas nã o
fez isso.
— E você nã o fez muitas das coisas que me prometeu, mulher.
— Você nem se importa que eu viaje sozinha à noite?
— Por que eu deveria se você nã o se incomoda? Essa nã o era a resposta que ela
esperava. Nem as palavras seguintes.
— Talvez uma temporada ao lado de sua querida irmã e de seus pais seja do que
você precisa. Seu coraçã o deve ter ficado lá - Diego comentou antes de se levantar e
sair da sala.

Como ele estava enganado. Catalina nunca havia sentido tristeza maior do que
na hora em que preparava a bagagem para a viagem à casa dos pais. Estranho. Ela
havia aprendido a gostar mais dali do que da casa onde tinha nascido e sido criada.
Sem dú vida por causa da presença de Diego, mesmo que ele mostrasse indiferença.
Catalina nã o o culpava. Como ele poderia saber que seu segredo só tinha o
propó sito de proteger-lhe a vida? Como poderia com-preender que ela, por amá -lo
tanto, achava tã o impossível entre-gar-se a Lucero quanto partir para a lua?
Diego só sabia de sua disposiçã o, antes do casamento, de ceder a Lucero, a quem
desprezava muito, só para salvar a irmã do animal.
Que tola havia sido! Com que descuido tinha tratado as atençõ es e o amor de
Diego. Na ocasiã o, havia lhe parecido um jogo que ela precisava ganhar. Estava
convencida de que necessitava de liberdade e nã o de amarras, nem mesmo das
forjadas pelo amor. Agora, nã o tinha em que se agarrar, pois o marido nã o lhe dedicava
nada alé m de indiferença.
Catalina jamais tinha se sentido tã o solitá ria como no momento em que
terminou de arrumar a bagagem e chamou Ignacio, o criado de Diego, para levá -la para

ADORO ROMANCES EM EBOOK 91


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

a garupa de Diamante.
O homem fingiu nã o notar seu rosto inchado e nã o sentir surpresa quando ela
lhe disse para cuidar da segurança de Diego.
— Fique sempre perto dele e o proteja. Nunca permita que ele cavalgue sozinho
— determinou em tom baixo, mas peremptó rio.
A expressã o do criado indicava curiosidade, mas era impossível explicar-lhe o
problema com Lucero. Por questã o de lealdade, ele contaria tudo a Diego. Catalina
podia imaginar o desfecho.
Durante as ú ltimas semanas, Lucero nã o tinha sido uma ameaça. Devia ter
ouvido falar de seus problemas com Diego. Os criados comentavam tudo entre si e
també m com os de outros nobres. As palavras viajavam.
Catalina sentia que Lucero tentava usar a situaçã o para atraí-la para a cama
dele. Para que matar Diego se, ao desacreditar-lhe a esposa, ele alcançaria o objetivo?
O homem nã o devia mais se importar com quem a mulher fosse para a cama. Dessa
forma, Lucero poderia gozar o que tanto queria sem correr riscos.
Quando Ignacio levou sua bagagem, Catalina esperou que o marido viesse se
despedir. Ele nã o apareceu. Nã o tinha estado nos aposentos o dia todo e nem
apreciado seu corpo. Onde ele estaria?
Ao chegar ao pá tio, a noite já ia adiantada, mas era de lua cheia. Haveria
claridade suficiente para ela viajar. Entã o, ela notou quatro cavaleiros ao lado de
Diamante. Olhou para eles e, depois, para o criado de Diego.
— O que isto significa? — indagou.
— Esses homens a acompanharã o até você estar segura dentro da casa de seus
pais — Catalina ouviu Diego dizer a suas costas.
Virou-se depressa. O coraçã o disparou. Talvez o marido se importasse com ela.
Ao beijá -la na face, ele fingiu que sim. Mas entã o, murmurou ao seu ouvido:
— Se você estiver grá vida de um filho meu, nã o quero que nada aconteça a ele.
O coraçã o de Catalina pesou no peito. O ú nico motivo para tal proteçã o era a
possibilidade de ela estar grá vida.
— Adiós! — ele disse.
Antes de Catalina responder, o marido dirigiu-se ao palá cio.
De uma das janelas, Diego a viu montar e partir acompanhada pelos quatro
cavaleiros. Entã o, correu ao primeiro andar para poder vê-la por mais tempo.
Seus cabelos estavam soltos como ele gostava, mas sua expressã o parecia tã o
desanimada quanto no dia em que ele fora confirmar o noivado.
Diego nã o compreendia essa mulher que amava tanto. Ela nã o queria ter
deixado a casa dos pais e, agora, mostrava-se triste por ter de passar uns dias lá . Havia
exigido liberdade a todo custo, mas quando a conseguira, queria algemas. Tinha
tentado enraivecê-lo e acabado em lá grimas. Guardava segredos que envolviam
ADORO ROMANCES EM EBOOK 92
TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

Lucero, mas entregava-se ao marido todas as noites como só uma mulher apaixonada
poderia fazer.
Diego curvou a cabeça e crispou as mã os. Talvez devesse acompanhá -la nessa
viagem. Isso mesmo, era o que faria.
Correu para a escada, mas parou antes de descê-la. Cometeria um erro ao
juntar-se a ela. Voltou para a janela.
Enquanto esse problema com Lucero existisse entre eles, nada poderia voltar ao
que era antes. Nem mesmo quando Susanna se casasse com o novo pretendente.
Algo mais atiraria Catalina aos braços de Lucero. Um esquema para salvar o pai,
ou a mã e ou até uma das irmã s mais novas. A lista continuaria a crescer, bem como
seus segredos.
— Por que, mulher, você nã o pode ser honesta comigo? — Diego gritou.
Catalina continuou a jornada, inconsciente de que o marido houvesse falado e
que os olhos dele estivessem marejados de lá grimas.
Durante o trajeto, os acompanhantes de Catalina cavalgavam a uma distâ ncia
apropriada. Porém, mantinham o olhar atento pelas cercanias, ela sabia. Algum perigo
poderia atingi-la e a um possível filho de Diego.
Estaria ela grá vida?, indagou-se. Isso teria influência na situaçã o? Talvez. Diego
nã o se envolveria numa questã o com Lucero que pudesse afastá -lo de um filho
desejado.
Era uma esperança. Tudo que lhe restava.
Catalina passou a mã o pela barriga. Estava bem achatada. Havia se passado um
bom tempo desde o casamento e ela já devia ter concebido. Quem sabe havia algo
errado com ela que a impedisse de engravidar. Tal ideia lhe deu vontade de chorar
mais, poré m, controlou-se.
Pouco tempo depois, nem mesmo a silhueta do palá cio dos pais a consolou. Seu
lar nã o era mais ali e nem tornaria a ser.
Mas, ao ver a mã e mimando Susanna, cuja barriga imensa parecia prestes a
explodir, Catalina enterneceu-se.
— Maninha! — Susanna exclamou ao vê -la.
Catalina abraçou a irmã com cuidado e a beijou nas faces.
— Será que devemos esperar gê meos? — perguntou.
— Nã o faço ideia, mas espero que seja menino — Susanna respondeu enquanto
a mã e saia do aposento e as deixava sozinhas.
— Isso é verdade ou a vontade de Dom Roberto de Có rdoba? Susanna riu.
— Ele é um homem encantador. Bom, amoroso e quase atraente.
— Quase? Por acaso é caolho ou banguela? Falta um pedaço do nariz dele? Você
precisa me contar.

ADORO ROMANCES EM EBOOK 93


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

— Nada disso. Ele é esquelé tico — Susanna explicou.


— Nesse caso, você deve dar ordens à s criadas para alimentá -lo bem. Se nã o
obedecerem, conhecerã o o poder de meu punhal.
— Minha querida irmã , senti tanta falta sua. Você é alegria pura. E nunca muda
— Susanna elogiou, rindo.
Nã o era verdade, mas Catalina sabia nã o ser ainda o momento para revelar
certas coisas.
— Você precisa me contar, maninha, como é sua vida com Diego. Ainda nã o
engravidou?
— Acho que nã o — Catalina respondeu e, entã o, Suzanna fez uma lista de alguns
sintomas de gravidez.
— O mais visível é sua palidez. Sinal seguro de que uma nova vida está em seu
corpo.
Ou de um marido indiferente.
— Quem sabe — murmurou.
Susanna ficou em silencio por um momento. Entã o, perguntou:
— Catalina, está tudo bem com você e Diego? Ele é... quer dizer, você... isto é...
— Ele é um amante magnífico! Só uma mulher cega ou meio morta e
completamente embriagada poderia resistir aos encantos do homem. E, mesmo assim,
só por um momento.
Susanna riu.
— Pelo jeito, você está gostando da vida de casada.
— Jamais pensei que pudesse amar tanto um homem. Nem amarei outro. Diego
é minha vida.
— Eu sabia e lhe disse isso!
— E o que você viu em Diego em relaçã o a mim?
— Como assim? Ele a adora. Percebi isso no início e quando você tentava se
esquivar dele.
Catalina ficou em silêncio.
— Maninha, Diego nã o a tem maltratado, nã o é?
— Nã o! Tenho meu punhal.
Susanna riu e Catalina começou a chorar.
— O que foi que eu disse? — Susanna indagou.
— Nada.
— Mas você esta soluçando. Ora, esse é um sinal seguro. Você está grá vida e
deve...

ADORO ROMANCES EM EBOOK 94


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

Susanna minhas lá grimas nã o sã o por causa de uma gravidez e sim por questõ es
mais sérias.
— E quais sã o elas? — Susanna indagou, preoupada.
Catalina precisava se abrir com algém, e a irmã querida era sua maior
esperança. Mesmo assim, começou num tom cauteloso:
— Sabe, quando Diego fez a primeira vaigem depois do casamento, Dom Lucero
apareceu na propriedade e me apanhou nadando nua no riacho.
Susanna arregalou os olhos e murmurou:
— O que está me contando? Nã o pode ser verdade!
— Você nã o ouviu os criados daqui comentar o caso?
— Nã o perco tempo com maledicência deles.
— Parabéns por isso.
— Catalina, você precisa me contar o que resultou disso.
— O que importa? O resultado é o mesmo. Diego deixou de me amar. Está
indiferente. Para ele, nã o existo mais. Mas, pela segurança dele, preciso maner o
segredo.

ADORO ROMANCES EM EBOOK 95


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

CAPÍTULO XIII

A reaçã o de Susanna foi imediata. — A segurança dele?! Como assim? Quem


seria tã o idiota de fazer algum mal físico a Dom Diego?
— Nã o seria um idiota, mas alguém esperto. A morte de Diego nã o seria
consequê ncia de um confronto.
— A morte dele?! Do que você está falando? — Susanna perguntou de olhos
arregalados.
Catalina gostaria de evitara verdade, mas nã o era mais possível.
— Dom Lucero quer a morte de Diego.
— Por que motivo?
— Eu sou o motivo.
— Você?! Ai, Catalina, essa suspeita só pode ser engano seu.
— Nã o é suspeita, mana, e sim um fato.
Catalina detestava ter de revelar à irmã querida que Lucero nã o tinha querido se
casar com ela por amor e sim movido pelas intençõ es mais desprezíveis. Porém, era
impossível.
— Dom Lucero me assediou duas vezes na noite em que Diego veio confirmar o
noivado. E, na noite do casamento, ele me disse que essa uniã o nã o haveria de durar
para sempre. E, quando eu ficasse viú va, ele me teria. Apesar de Diego ser novo e forte,
a morte dele era possível.
— Que horror, Catalina! Eu nã o sabia de nada e nem desconfiei quando você me
ADORO ROMANCES EM EBOOK 96
TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

avisou para ficar longe do homem. E quanto a Diego? Você escondeu essa histó ria dele?
Por quê?
— Conheço meu marido. Ele insistiria em desafiar Lucero a um duelo e fazê -lo
pagar pela audá cia de se aproximar de mim. Ele nã o respeitaria a proibiçã o da coroa e
seria punido da pior maneira possível. Nã o posso e nã o vou deixá -lo correr esse risco.
Susanna compreendeu a situaçã o, mas nã o um detalhe.
— Como Dom Lucero pô de se aproximar de você na noite do casamento?
Está vamos todos no grande salã o.
— Lembra-se, mana, que me queixei de frio e disse que ia ao quarto buscar meu
xale? Foi uma desculpa para escapar um pouco da festa e ficar num lugar sossegado.
Nã o fui ao quarto e sim ao escritó rio de papai. Precisava refletir e ajustar meu estado
de espírito à nova condiçã o, mas Lucero chegou lá logo depois de mim. Quando
consegui escapar do homem, Diego me esperava ao pé da escada. Eu nã o podia lhe
contar as ameaças de Lucero, pois ele teria agido no mesmo instante. Quando se trata
de honra, Diego nã o dá ouvidos à razã o.
— Imagino. Mas, no dia em que Dom Lucero apareceu perto do riacho, o que
aconteceu para ele ir embora sem atacá -la?
Catalina contou todos os detalhes, inclusive a parte de Teresita.
— Mentirosa! Como se atreveu a fazer tais acusaçõ es? E o pai també m. Você
deve demitir os dois — Susanna aconselhou.
— Isso nã o compete a mim. Diego é o senhor de nossa casa e de todos os
serviçais. Além disso, ainda nã o posso contar a verdade a meu marido. Talvez nunca
possa. Já se passou tempo demais.
Susanna abriu a boca para protestar, mas Catalina nã o deixou.
— Sabe, mana, como eu insistisse muito em salvá -la das garras de Dom Lucero,
afirmei a Diego que estava disposta a me sacrificar ao homem para salvá -la. Ele, entã o...
— Você lhe disse isso?! Teria coragem de agir assim por mim? Catalina assentiu
com um gesto de cabeça.
—Minha querida, seu cuidado é para com Diego e nã o comigo.
— Pois acho que deve ser com os dois. Nã o quero que mal algum aconteça a
ambos. Nã o cometi erro algum, Susanna. Foi Lucero quem tramou tudo isso na
esperança de Diego me abandonar e, assim, me convencer a me tornar amante dele.
— Ele usou essas palavras?
— Foi quando o estapeei.
— Fez muito bem, maninha! — Susanna aplaudiu. Apesar da tristeza, Catalina
riu um pouco.
— Nã o sei o que fazer. Nã o quero perder o amor de meu marido. Vou lhe contar
uma coisa, Susanna, que nã o contei a ninguém. Na noite de nú pcias, fiz Diego jurar que
nunca teria outra mulher, só eu. Avisei que se ele me traísse com outra, eu retribuiria

ADORO ROMANCES EM EBOOK 97


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

na mesma moeda com um amante.


Susanna nã o conteve uma exclamaçã o.
— Você afirmou isso e continua viva?!
— Grande parte do tempo, Diego é um homem delicado.
— Muito. Qualquer outro marido a teria estrangulado.
— Ele me controla com a indiferença.
— Nã o posso acreditar que ele sinta isso de verdade. Vi a paixã o de Diego todas
as vezes em que olhava para você . Catalina, você precisa ser honesta com ele.
Impossível construir uma vida conjugal baseada na desconfiança.
Catalina enxugou as lá grimas.
— Tenho medo. Nã o quero que Diego faça algo a Lucero capaz de lhe provocar
um castigo mais terrível ainda. Esse é meu dilema. Estou disposta a sacrificar o amor
dele por mim para lhe dar proteçã o.
— Tem de existir outra maneira. — Susanna refletiu por um momento e, entã o,
exclamou: — Já sei! Falarei com ele por você .
Catalina arregalou os olhos e sorriu.
— Susanna, acho que você encontrou a soluçã o ideal. Diego sabe que você nã o
tem malícia, é honesta, meiga, submissa e...
— Mas nã o sou você.
— Ora, é muitíssimo melhor.
— Nã o aos olhos de Diego. acredite em mim, maninha, ele a ama por sua
exuberâ ncia, sua índole apaixonante e nã o a aceitaria se você fosse diferente. Temos de
lhe escrever para vir me visitar.
As duas levaram o dia seguinte inteiro para compor a carta. Cada vez que
Susanna sugeria a redaçã o, Catalina discordava.
— Como posso irritar um homem ao lhe escrever que desejo vê-lo? — Susanna
perguntou.
— As vezes, o humor de Diego é imprevisível.
— Tem certeza de que nã o está falando de si mesma, Catalina?
— Você ficaria satisfeita ao ver como sou cordata quando meu marido está por
perto.
— Sem dú vida eu desmaiaria de choque.
Catalina sorriu e fez nova tentativa. Ditava as palavras para a irmã escrever, pois
a caligrafia devia ser a dela para Diego nã o desconfiar. Finalmente, a mensagem ficou
perfeita, mas surgiu uma nova preocupaçã o.
— E se seu filho chegar na mesma hora de Diego?
— Seu marido terá de esperar.
ADORO ROMANCES EM EBOOK 98
TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

— Você nã o conhece Diego — Catalina afirmou.


— E você ignora a pressa de uma criança que precisa nascer. Catalina rezou para
ficar sabendo disso logo. Talvez tivesse essa notícia para dar ao marido quando ele
chegasse depois de receber a carta de Susanna.

Mas, apó s alguns dias, Catalina desapontou-se. Em vez de Diego, foi Ignacio
quem chegou com a resposta ao pedido de Susanna.
Levou-a para a irmã que mal tinha energia para respirar e, muito menos, para
abrir e ler uma carta. Pediu a Catalina que o fizesse e, tã o logo ela o fez, indagou:
— Qual é a resposta de Diego?
— Ele acha que o pedido nã o passa de outra artimanha minha. Só que, desta vez,
abusei de sua compreensã o e nã o da dele. E que até eu revelar meus segredos, nada
mudará entre nó s.
— Nesse caso, você precisa fazer isso. Confie na capacidade de Diego para
decidir a melhor maneira de resolver a questã o, assim que ele se inteirar da verdade
— Susanna aconselhou.
— Como você pode sugerir isso? A vida de seu futuro marido nã o está em jogo
— Catalina protestou, brava.
Susanna nã o alterou a voz ao responder:
— Eu sei, Catalina. Mas você precisa convencer seu marido com a arma de seu
amor. É a ú nica que lhe resta.
Seria forte o bastante para garantir a vitó ria? E quando poderia usá -la? Pois,
naquela noite, Susanna entrou em trabalho de parto.

Durante a ausê ncia de Catalina, Diego tentou ocupar-se com as atividades que
exercia antes do casamento. Mas tinha perdido o interesse por todas. Os dias eram
uma eternidade e as noites, mais longas ainda. Onde quer que fosse, ele via Catalina.
Na cama, imaginava-a deitada ao lado e disposta a entregar-se por inteiro a ele
mais uma vez. Ela estava em todos os lugares e em lugar nenhum. Porém, impossível
tirá -la da cabeça. Ainda mais depois daquela carta que ela forçara Susanna a escrever.
A mulher o considerava tã o ingê nuo a ponto de cair em tal armadilha? Pois nã o
era. Mesmo sem entender nada. O que mais estranhava era o comportamento
repentino de seu criado, apó s a partida de Catalina.
Desde entã o, ele o seguia como uma sombra. Vá rias vezes e certo de estar
sozinho, Diego virava-se para trá s e lá estava o homem a alguma distâ ncia. Quando
indagava o que fazia por ali, Ignacio respondia com questõ es vagas sobre serviços.
No início, Diego nã o tinha achado estranho tal comportamento. Deprimido com
a ausência de Catalina, só pensava nela. Alimen-tava-se por força de há bito e, à noite,
rolava na cama num sono intermitente.

ADORO ROMANCES EM EBOOK 99


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

Mas, depois de algum tempo, Diego percebeu que a companhia de Ignacio nã o


era acidental. O criado encontrava-se sempre perto de seu senhor e nunca por ordem
sua.
Achava estranho, embora o homem fosse de uma fidelidade ímpar e o servisse
desde sua infâ ncia. Chegou a pensar se o criado nã o estaria velho demais para
trabalhar e já um tanto senil.
Certo dia, Diego cavalgou até o riacho maldito, do encontro de Catalina e Lucero.
Novamente, avistou o criado e, dessa vez, a cavalo. Ergueu-se na sela e gritou:
— O que você faz aqui? Qual é seu propó sito?
Teria errado ao confiar em Ignacio? O criado o seguia a fim de contar aos outros
o que seu senhor fazia e todos comentassem mais ainda seu casamento? Ignacio
parecia perdido.
— Vamos, exijo uma resposta — Diego ordenou e foi obedecido.
— La duena me mandou segui-lo aonde quer que o senhor fosse, durante sua
ausê ncia.
Diego tentou em vã o nã o demonstrar surpresa e nem que a raiva marcasse seu
semblante.
Por que Catalina tinha mandado o criado vigiá -lo durante sua ausência? Temia
que ele visitasse uma das criadas jovens à noite?
Ora, tinha sido ela quem o havia traído com Lucero de maneira tã o insensível.
Que arrogâ ncia! Como se atrevia a tanto!
— La duena estava errada ao lhe dar tal ordem. Pode voltar para seu serviço no
palá cio — Diego declarou, surpreso por falar em voz fria quando o sangue fervia nas
veias.
Ignacio nã o se mexeu.
— Você nã o me ouviu, homem? — Diego esbravejou.
— Patrón, vejo que o senhor nã o entendeu.
Por que ele era o ú nico a nã o entender nada da situaçã o? Catalina o tinha
acusado da mesma coisa. E, agora, um simples criado.
— Nã o gostei de seu tom e de suas palavras. Exijo que você...
— As ordens de la duena foram muito claras. Devo ficar sempre perto do senhor,
protegê -lo e nunca permitir que cavalgue só .
Diego nã o podia acreditar no que acabava de ouvir.
— Como assim, me proteger? Do quê? De quem?
— Nã o sei, senhor. La duena nã o explicou.

Susanna ia morrer, Catalina tinha certeza. Nenhuma mulher poderia suportar tal

ADORO ROMANCES EM EBOOK 100


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

agonia e dor e continuar viva. A irmã gritava quase sem parar. Suas mã os tremiam ao
enxugar-lhe o suor na testa.
Dona Margarita entrou no quarto para se revezar com Catalina, mas a filha a
interceptou antes que ela alcançasse a cama.
— Mamã e, tenho medo que Susanna nã o sobreviva.
A mã e olhou para a parturiente e sorriu.
— A senhora quer que ela morra?! — Catalina indagou bai-xinho.
— Catalina, sua irmã é forte e está indo muito bem. A mã e teria ficado cega e
surda? Susanna acabava de gritar.
— Faça alguma coisa — Catalina suplicou.
— O que você propõ e?
— A senhora nã o sabe? A mã e passou o braço por sua cintura. — É você quem
ignora essas coisas, menina. Uma criança nasce quando está pronta. Nem antes, nem
depois. Nã o há nada que possamos fazer por Susanna a nã o ser tratá -la com carinho.
Ela tem de dar conta disso sozinha. Ela sabe, embora você, nã o.
Catalina virou a cabeça ao ouvir novo grito da irmã . Esse lhe provocou um
arrepio ao longo da espinha.
— E melhor você nã o ter medo da vida. Sua hora logo chegará — a mã e a
advertiu.
Ai, isto não! Jamais!
— Tenho medo de nã o ser capaz de suportar tormento igual. Sabe, mamã e, eu
me recuso a ter filhos.
— Acho que é um pouco tarde para dizer isso, menina. Catalina enrubesceu ao
pensar nas noites de paixã o passadas com Diego. Talvez isso també m tivesse acabado
como o amor dele havia.
— Embora eu seja casada, acho que nunca conceberei, mamã e.
— Pois já concebeu, filha.
O quê? Catalina fitou a mã e cujos olhos brilhavam.
— Seu rosto a trai, menina, bem como sua palidez e seu cansaço. Na primavera,
você estará nessa situaçã o de Susanna.
Catalina arregalou os olhos diante da agonia da irmã . Esse seria seu destino na
primavera? Ai, Mãe misericordiosa!
— Nã o se preocupe, minha filha. Depois de toda essa dor, haverá a criança e
muita alegria. Ainda mais se você der um filho a Diego.
Sem dú vida o que o marido haveria de querer. Ela ia ser mã e?
Precisava contar logo a Diego. Só que ele estava longe e se negava a vir vê -la ali.

ADORO ROMANCES EM EBOOK 101


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

— Exijo a verdade, menina.


Diego estava sentado à escrivaninha. Ignacio postava-se atrá s dele e Teresita, na
frente.
Calada, ela continuou olhando para o chã o. Furioso, ele esmurrou a
escrivaninha. Teresita estremeceu e levantou o olhar.
— Patrón, o senhor precisa acreditar em mim. O plano nã o foi meu. Fui forçada.
Diego sabia o nome dessa força: ouro. Ou qualquer bobagem que Lucero tivesse
lhe atirado.
— O que você foi forçada a fazer? — ele perguntou.
— Tive de seguir la dueña enquanto ela cavalgava, mas sem ser vista até o
momento certo.
— E que momento foi esse? — Diego indagou, crispando as mã os.
A moça estremeceu.
— Se disser a verdade, você terá emprego em outra casa, pois nã o quero mais
sua presença aqui. Nem a de seu pai. Mas, se você mentir, garanto que os dois...
— O sr. Dom Lucero me avisou para só aparecer quando la dueña estivesse
numa situaçã o comprometedora.
Diego fechou os olhos. Mal podia respirar, mas prosseguiu:
— Você viu Dom Lucero se aproximar de la dueña?
— Si.
Diego abriu os olhos e a encarou.
— Conte tudo que aconteceu, todos os detalhes. Enquanto a moça descrevia
como Lucero tinha se aproximado de uma Catalina despreocupada e desprotegida,
Diego refletiu que a ú nica soluçã o seria matar o homem.
Mas a preocupaçã o de Teresita era com a pró pria sorte. Implorou o perdã o de
Diego e de Catalina. Implacá vel, ele fez uma ú ltima pergunta.
— Como Dom Lucero a recompensou por trair sua senhora?
Teresita contou e ele balançou a cabeça. A moça nem tinha sido bem paga.
Diego a mandou repetir tudo. Queria nã o só verificar se ela nã o havia mentido
como també m escrever o relato. Nã o havia. Entã o, a mandou fazer um "X" no final do
documento, pois ela era analfabeta. Em seguida, ordenou que ela e o pai saíssem da
propriedade.
Tã o logo Teresita se foi, aos prantos, Ignacio falou:
— Patrón. Sei que nã o compete a mim dizer certas coisas, mas preciso. Acho que
sei por que la duena nã o lhe contou nada. Ela temia sua reaçã o contra o sr. Dom Lucero
e nã o queria que houvesse derramamento de sangue.
— Entã o por que ela lhe ordenou para me proteger? Pretendo derramar o

ADORO ROMANCES EM EBOOK 102


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

sangue dele e nã o o meu.


— Acho que o homem também ameaçou lhe fazer mal a fim de a forçar a aceitá -
lo.
— Desgraçado! — Diego exclamou no auge da fú ria cuja grande parte era contra
si mesmo.
Sua jovem esposa tinha tentado protegê-lo quando era ela quem merecia sua
proteçã o. Apesar da pouca idade, ela havia assumido uma grande responsabilidade e
até se arriscado a perder o amor dele. A recompensa tinha sido seu ó dio e, depois, a
indiferença.
Ao vê -lo se levantar, Ignacio perguntou:
— Patrón, aonde o senhor vai?
— Fazer uma visita urgente a Dom Lucero.

ADORO ROMANCES EM EBOOK 103


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

CAPÍTULO XIV

Quando Susanna teve ura momento de sossego em sua agonia, exultou com a
novidade de Catalina.
— Que maravilha! Você vai dar um filho a Diego, tenho certeza.
— Você acha que mamã e está certa? Susanna passou a língua pelos lá bios
ressecados.
— Comigo, acertou até quase o dia do par...to.
Ela cortou a palavra ao meio e, depois, gritou de dor.
Ai, Mãe misericordiosa, Catalina pensou. Ela teria de passar por essa tortura na
primavera? Tortura que parecia nã o ter fim.
Aflita, Susanna agarrou suas mã os e as apertou com força. A mã e e duas tias
entraram no quarto e puseram-se a conversar e a rir baixinho. Catalina limpou a
garganta para lhes chamar a atençã o, mas as três a ignoraram.
Quando houve outra pausa momentâ nea entre as dores, Dona Margarita contou:
— Susanna, acabo de ser informada que Dom Roberto chegou e aguarda o
nascimento da criança no escritó rio de seu pai.
Catalina franziu a testa. Seria melhor se ele viesse ao quarto para testemunhar o
sofrimento da noiva com os pró prios olhos. Talvez assim os homens nã o ficassem tã o
ansiosos para provocar tal tormento à s esposas. Mas Susanna mostrou-se satisfeita.
— Por favor, dêem a ele minhas boas-vindas e algo para comer.
Catalina nã o conteve o riso.
— Você ainda vai transformá -lo num touro.
— Acho que, depois de nos casarmos, será Dom Roberto que me fará engordar
de novo.
Dona Margarita assumiu ar de censura.
— Filhas, senhoras jovens de sua posiçã o nã o falam essas coisas.
— Si, mamã e — Catalina disse, mas continuou a rir.

A fú ria desvairada e o fato de nã o ter confiado em Catalina instigavam Diego.


Pegou a espada e o punhal e disse a um criado para levar Peligro ao pá tio. Em seguida,
mandou Ignacio com um acompanhante entregar umas mensagens que havia escrito.
O maldito ia pagar por amedrontar uma jovem esposa que nã o fazia nada além
de nadar no riacho da propriedade do marido. Ficaria conhecendo a fú ria desse marido
por ameaçar-lhe a vida.

ADORO ROMANCES EM EBOOK 104


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

Diego montou e deu rédeas soltas a Peligro que disparou pelos campos. Mesmo
assim, levaria quase uma hora para alcançar a propriedade de Lucero.
Enquanto cavalgava, Diego pensava no que queria e precisava fazer com o
homem. Lucero era uma ameaça ao alegar que amava Catalina. Ele nã o desejava nada
alé m de possuí-la, e Diego estava disposto a morrer para impedi-lo de chegar perto
dela. Ou de algué m de sua família. Tinha certeza que sabia qual era o plano do
desgraçado.
Catalina tinha duas irmã s mais novas. Lucero as procuraria, forçando-a a ir para
o lado dele a fim de proteger as inocentes.
Ela faria isso, pois era mais corajosa do que qualquer homem que Diego
conhecia. E honrada também. Nã o tinha traído ningué m, muito menos a ele.
Ela havia tentado apenas protegê -lo enquanto lhe oferecia todo o seu amor. E
ele havia lhe virado as costas.
— Meu amor, me perdoe — ele murmurou.
Furioso, continuou cavalgando rumo ao palá cio de Lucero e para um confronto
urgente.
Quando chegou, foi recebido pelos criados com respeito e naturalidade, pois nã o
suspeitavam do motivo de sua visita.
Diego sorriu mentalmente. A surpresa era sempre aconselhá vel antes de uma
batalha e ali haveria guerra.
— Onde está seu senhor? — ele perguntou a uma criada.
— Nos aposentos dele — sr. Dom Guzmá n.
Diego dirigiu-se à escada que começou a subir de dois em dois degraus. Aflita, a
criada o seguiu.
— Sr. Dom Guzmá n, eu lhe suplico que volte lá para baixo. Meu senhor está no
meio do banho.
Diego riu. Ó timo apanhar o animal nas mesmas condiçõ es em que ele tinha
surpreendido Catalina.
Quando a criada, amedrontada, tentou distraí-lo, ele a sacudiu pelo braço.
— Volte lá para baixo e nã o apareça mais aqui em cima, nã o importa o que você
ouvir — ele ordenou.
Ao ver a mã o de Diego no cabo da espada, ela correu escada abaixo. Ele, entã o,
percorreu o olhar em volta e viu outra criada.
— Lá para baixo, já — ordenou. Essa obedeceu no mesmo instante.
Só depois de terminar a busca e se convencer de que nã o havia mais ninguém
ali, Diego dirigiu-se aos aposentos de Lucero.
A porta estava aberta e ele entrou. Na banheira, com á gua até o peito e uma taça
de vinho na mã o, Lucero sorria com ar de idiota. Com certeza tramava mais maldades

ADORO ROMANCES EM EBOOK 105


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

ou já tinha bebido demais.


Diego desembainhou a espada e bateu na porta com toda a força.
Lucero estremeceu. A taça caiu no chã o, o vinho espalhando-se nas roupas dele.
Virou a cabeça e viu Diego com a espada na mã o.
— Buenas tardes! — Diego o cumprimentou.
Lucero deu a impressã o de ter perdido a capacidade de emitir um ú nico som.
Em silê ncio absoluto olhou do sorriso estranho de Diego para a espada cuja ponta
quase o tocava. Desviou o olhar para a pró pria arma, fora de seu alcance. Como o
punhal de Catalina estava quando o animal a surpreendera.
Lucero finalmente se mexeu. Apertou o corpo gordo na banheira como se assim
pudesse escapar da ponta da espada de Diego que já lhe tocava o pescoço.
Por sua vez, Diego usou um tom agradá vel.
— Você nã o me ouviu? Buenas tardes!
— Buenas tardes, Dom Diego — Lucero balbuciou.
— Vejo que está tomando um banho muito necessá rio — Diego comentou ao
aproximar mais a ponta da espada ao pescoço dele.
Apesar do insulto, Lucero lhe dirigiu um olhar de sú plica. O desgraçado nã o
tinha nem um décimo da coragem de Catalina, provada na ocasiã o em que lhe
impusera tal humilhaçã o.
Diego repetiu o comentá rio em voz raivosa:
— Vejo que está tomando um banho muito necessá rio.
— Si.
— Mais seguro aqui do que num riacho ao ar livre. Lucero empalideceu, mas
manteve-se calado.
— Bem, chega dessa conversa de banho. Ela deve aborrecê-lo. Confuso, o
homem fez um sinal afirmativo seguido de um negativo:
— Você parece ser prudente.
— Ah... eu... ah...
— O que está querendo dizer? Indagar o motivo de minha visita?
— Sua presença é sempre bem-vinda nesta casa e...
— Nã o está curioso sobre minhas intençõ es? — Diego o interrompeu.
— Bem, nã o entendo por que desembainhou a espada e me ameaça.
— Nã o mesmo? Percebo que devo esclarecê-lo. Soube que você deseja que
minha esposa se torne sua amante.
— NÃ O! Nunca, Dom Diego! Diego fingiu estar confuso.
— Está insinuando que minha esposa nã o é atraente a ponto de... — Ela é linda!

ADORO ROMANCES EM EBOOK 106


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

Nenhuma mulher é tã o adorá ve l— Lucero afirmou. Bem verdade.


— Entã o você a acha atraente?
— Sim, claro. Eu...
— Você acha minha esposa atraente?! — Diego gritou. Tarde demais, Lucero
deu-se conta do erro.
— Nã o, quer dizer, eu... nã o... Ela é, mas...
— Diga de uma vez o que pensa, homem!
A boca de Lucero mexeu sem emitir nenhuma palavra coerente.
Diego o observou por um instante antes de puxar a espada e recuar um passo.
Lucero parecia prestes a chorar. O corpo tremia como o de uma mulher assustada. De
qualquer uma, exceto o de Catalina. Ela, Diego sabia, enfrentaria a situaçã o com
dignidade e coragem.
— O que ouvi contar nã o era verdade? — ele indagou. Lucero olhou em volta
como se procurasse a resposta certa.
Como nã o encontrasse, tentou ganhar tempo.
— E o que você ouviu?
— Que você , vá rias vezes e com persistê ncia, propô s que minha esposa fosse sua
amante.
— Nunca! Apesar da beleza famosa de sua esposa, eu jamais tentaria ter uma
ligaçã o com ela, uma mulher casada — ele declarou com reverência nas ú ltimas
palavras.
— Sei. Nesse caso, minha esposa é mentirosa? — Diego perguntou ao voltar a
tocar-lhe o pescoço com a espada.
— Nã o! Eu nã o diria uma coisa dessa!
— Entã o, você é o mentiroso, já que minha esposa nã o é .
— Nã o, estou falando a verdade. Quem sabe ela entendeu mal.
— Nã o creio, pois tem uma testemunha. A criada Teresita. Lucero, que tinha
corado, voltou a empalidecer.
Diego sorriu.
— Ah, vejo que você conhece Teresita.
— Nã o! Sei que ela é sua criada. Mas qualquer coisa que ela tenha lhe contado é
mentira! Ela é a mentirosa, nã o sua esposa, nem eu. Ela queria afogar sua querida
Catalina. Eu vi. Apenas tentei salvá -la!
— Você tentou salvar minha esposa?
— Isso mesmo.
Diego desviou o olhar para além de Lucero como se refletisse sobre a nova
informaçã o.
ADORO ROMANCES EM EBOOK 107
TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

— Bem, isso muda a questã o. Bondade de sua parte.


Lucero suspirou aliviado com essa reaçã o inesperada. Ansioso, acrescentou
depressa:
— Eu jamais permitiria que uma pessoa que lhe é tã o querida...
— Claro que nã o, embora seu modo de agir me deixe curioso — Diego o
interrompeu.
— Quanto a salvar sua esposa?
— Nã o. O que nã o entendo é sua presença perto dela, especialmente durante
minha ausê ncia. Você pode explicar isso?
O olhar de Lucero revelou afliçã o e medo ao gaguejar:
— Sim, claro... isto é ... quer dizer, eu...
— Vamos, fale à s claras. O que você fazia em minha propriedade?
— Bem, eu estava cavalgando, distraído com meus pró prios pensamentos
quando, de repente, ouvi os gritos de sua esposa que se afogava.
— Ela gritava enquanto engolia á gua e se afogava?
— Sim! Quer dizer, nã o. Eu a ouvi antes e a salvei. Pelo menos tentei, mas sou
velho e fraco. Acredite em mim, Diego.
— Entã o foi a criada Teresita que planejou essa cena para assassinar minha
esposa?
— Exatamente!
— Mas você permitiu que essa moça perigosa escapasse. Por que nã o a entregou
à justiça?
— Em vã o tentei pegá -la. Ela fugiu depressa.
— Sei. E você sentiu vergonha de me informar desse crime? Lucero assentiu
depressa com um gesto de cabeça. Covarde. Maldito. Animal.
— Mas estaria disposto a informar à s autoridades?
— Si — Lucero respondeu depressa, pois ainda nã o tinha percebido o que o
aguardava. — Teresita já foi detida por causa do crime?
Diego decidiu mentir para garantir a verdade.
— Nã o. Ela me contou seu plano de mandar me matar a fim de ficar com minha
esposa.
A hesitaçã o de Lucero o traiu antes de ele gritar:
— Isso nã o é verdade!
— Em pé, seu maldito!
Lucero arregalou os olhos com o insulto, mas só se mexeu quando Diego o
cutucou com a espada.

ADORO ROMANCES EM EBOOK 108


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

— Vou fazê-lo pagar por me atacar — ele choramingou.


A espada desceu pelo peito flá cido, passou pela barriga imensa e parou perto da
parte mais preciosa de um homem.
— O que você disse? — Diego indagou.
— Eu lhe suplico a nã o me fazer mal algum, Diego.
— Você teria violentado minha esposa se houvesse tido a chance.
— Nã o!
— Mas existe uma soluçã o. Uma que garantirá a todas as mulheres do reino
nunca mais serem molestadas por você — Diego disse, voltando a olhar para o bem
precioso do homem.
— Por favor, eu lhe darei o que pedir, farei qualquer coisa que quiser se nã o me
fizer mal algum!
A mã o de Diego mantinha-se firme no cabo da espada enquanto tornava a
encarar Lucero.
— Saia da banheira e vá até a escrivaninha. Você tem uma confissã o para
escrever.

O homem tremia tanto que só depois da quarta tentativa conseguiu escrever de


maneira legível. Diego mal continha a impaciência, pois queria acabar com a questã o o
mais depressa possível.
— Se demorar mais, vai se arrepender — ele ameaçou Lucero.
— Sou inocente!
— Se disser isso mais uma vez, irá repetir sua histó ria ao demô nio. Agora,
escreva!
Depressa, Lucero pô s-se a redigir a confissã o. Pouco depois, chorava enquanto
Diego a lia. Havia tentado contornar os fatos.
— Ponha-se em pé , pois vamos embora — Diego anunciou.
— Permita que eu me vista primeiro.
— Como você permitiu minha esposa fazer ao ameaçá -la lá no riacho?
Lucero tentou protestar, mas ao ver aonde a espada de Diego apontava, ficou em
silêncio.
— Você vai descer ao pá tio e montar seu cavalo como está -Diego avisou.
No momento em que chegaram ao corredor, Lucero ordenou aos criados, aos
gritos, para irem a seus quartos e nã o saírem de lá .
Diego nã o disse nada, pois sabia que Lucero achava ser essa a pior parte. Poré m,
outra surpresa o aguardava no pá tio.
Tã o logo ele passou pela porta, encolheu o corpo na tentativa de escondê-lo.
ADORO ROMANCES EM EBOOK 109
TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

Dom Tomá s, pai de Diego, outros nobres da regiã o e autoridades o aguardavam já


montados a fim de entregá -lo à justiça. Desesperado, Lucero gritou:
— Sou inocente! Dom Diego quer me forçar a lhes contar mentiras. Tenho certa
idade e sou incapaz de cometer tais crimes.
Um oficial sacudiu no ar o documento que continha a declaraçã o de Teresita.
Diego tinha mandado Ignacio levá -la junto com uma carta à s autoridades enquanto
outros serviçais, a cavalo, reuniam os nobres da regiã o para trazê-los até ali.
Tudo estava perdido para Lucero, embora ele continuasse a se declarar
inocente.
Finalmente, seus criados o forçaram a montar. Dom Tomá s pegou as ré deas do
cavalo e, acompanhado pelos outros, levou-o embora.
Quando nã o passavam de pontos na distâ ncia, Diego embainhou a espada e
olhou para o sol no poente.
E para alé m do horizonte onde ficava o palá cio da família de Catalina.

ADORO ROMANCES EM EBOOK 110


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

CAPÍTULO XV

Sentada no chã o do quarto de Susanna, Catalina embalava a filha recém-nascida


da irmã . Encantada, observava-a. A criança era perfeita. Cada dedo e artelho um
milagre! Como alguém podia criar tal maravilha?
Embora o bebê parecesse estar dormindo, enrolou os dedinhos em volta do
polegar da tia.
— Vejam! Ela ainda nã o tem um dia e já é tã o forte como qualquer homem! —
exclamou para a mã e e as tias.
— Rezamos que nã o — Dona Margarita disse. Susanna riu.
— Maninha, você nã o desiste nunca dessa luta?
— Talvez nã o. Mas me diga uma coisa. Por que nã o é possível que essa guerra
seja enfrentada ombro a ombro por um homem e uma mulher? Nã o seria mais sensato
e benéfico se lutassem dessa maneira contra o resto do mundo em vez de um contra o
outro? — Catalina indagou, olhando para as outras mulheres.
Dona Margarita massageou a testa e gemeu baixinho.
Antes que matasse a mã e com suas ideias loucas, Catalina decidiu fechar a boca.
Elas já tinham causado muito aborrecimento. No passado, porque ela falava demais e,
no presente, por nã o ter revelado tudo a Diego.
— Catalina?
Ela olhou para Susanna. A irmã ainda estava pá lida e abatida.
— Do que você precisa? Providenciarei o que puder.
— Só peço que deixe minha filha comigo por algum tempo. A mã e e as tias riram
enquanto Catalina enrubescia, constrangida. Depressa, acomodou o bebê nos braços da
mã e.
A pequena Benita, no mesmo instante, procurou o seio de Susanna e acomodou-
se para uma longa refeiçã o.
Ao observar a alegria genuína da irmã , Catalina esqueceu as confusõ es em sua
vida. Mal podia esperar pelo nascimento do pró prio filho. Caso a mã e estivesse certa
quanto a sua gravidez.
Antes que pudesse lhe perguntar, Susanna deixou escapar uma exclamaçã o
aflita. Assustadas, as quatro olharam para ela.
— Acho que, na pressa de trazer Benita ao mundo, esqueci meu pobre Roberto.
Será que alguém cuidou dele?
— Vou verificar já . Caso nã o tenha se alimentado, o farei comer até arrebentar
— Catalina garantiu.

ADORO ROMANCES EM EBOOK 111


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

— E o ameaçará com o punhal se ele nã o quiser comer — uma das tias disse por
entre os dentes.
— Catalina tem muita energia. Espero que minha pequena Benita tenha a
mesma personalidade — Susanna afirmou em defesa da irmã .
A mã e e as tias fizeram o sinal-da-cruz e rogaram aos cé us para impedir tal
catá strofe.
Catalina trocou um sorriso com a irmã e, depressa, dirigiu-se ao escritó rio do
pai. Tã o logo entrou, Dom Roberto ergueu a cabeça e pulou em pé . De fato, era
magé rrimo, mas com feiçõ es atraentes.
O olhar aflito dele caiu no vestido amassado de Catalina.
— Ela nã o morreu, nã o é? Diga que nã o!
— Susanna está viva e passa bem. Assim como a pequena Benita.
Catalina mordeu o lá bio. Ignorava o protocolo a ser observado em tal situaçã o.
Ainda mais quando um filho nã o tinha sido gerado.
Mas Dom Roberto soltou um grito de alegria e abraçou a futura cunhada. Pediu
desculpa pelo atrevimento e exclamou:
— Uma filha tã o linda quanto Susanna, tenho certeza! Catalina exultou. Um
homem com a mesma sensibilidade da irmã . Sem dú vida, ele seria um bom marido.
Como Diego havia sido antes de a esposa o magoar, refletiu, triste.
— Senhora, algum problema? — Dom Roberto indagou ao notar sua expressã o.
Seu futuro. Será que ainda teria um? Diego ficaria contente com a perspectiva de
um filho? Continuaria a tratá -la com indiferença depois do nascimento da criança?
— Estou cansada. Foi muita movimentaçã o. Mas está na hora de relaxarmos,
pois foi um final feliz — ela afirmou.
— Como é possível quando se está apaixonado?
— Acho que nã o é — Catalina concordou. — Mas você precisa se alimentar.
Venha comigo, Roberto.

Nã o foi preciso ameaçá -lo com o punhal. Ele comeu tudo que Catalina lhe serviu.
Ela teria de contar a verdade a Susanna. O futuro marido continuaria com aspecto
frá gil.
Quando Roberto foi recebido no quarto da mulher que amava e da criança que
criaria como filha, Catalina ficou no corredor para observá -los a distâ ncia, pela porta
aberta.
Como já fosse mã e, a irmã nã o se mostrava mais tã o acanhada. Tal qualidade
tinha sido transferida a Dom Roberto. Ele deu a impressã o de que desmaiaria quando
carregou Benita. Porém, Catalina nunca tinha visto tanta alegria, ou amor.
Parabé ns, Susanna. Dom Roberto é seu de coraçã o, ela refletiu.

ADORO ROMANCES EM EBOOK 112


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

Para nã o perturbar a nova família, foi para seu antigo quarto. Deitou-se, pois
precisava descansar. Poré m, a noite estendia-se ameaçadora com o retorno de todas as
preocupaçõ es. Estava na hora de voltar para casa e um futuro incerto ao lado do
marido que amava e sempre amaria.
Sentia tanta falta das carícias de Diego, dos beijos ardentes, do vigor dele. Se
nunca mais se aconchegasse a ele, preferiria morrer.
Quando a primeira luz do amanhecer surgiu, Catalina levantou-se e começou a
arrumar a bagagem. Depois que se despedisse de Susanna, dos pais e de Dom Roberto,
retornaria ao palá cio de Diego. E, quem sabe, para o coraçã o dele.
Quando terminou, saiu do quarto e dirigiu-se ao da irmã . Mas ao virar o
corredor, chocou-se contra Diego.
O peito dele aparou o golpe de seu ombro e os olhos arregala ram-se ao vê -la.
Atô nita, Catalina balbuciou:
— Diego, você está aqui?!
Ele tinha se recusado antes a vir. Por que havia mudado de ideia? Nã o podia ser
por causa do nascimento da filha de Susanna. Havia de ser por um motivo sé rio. Algo
que a magoasse.
Catalina ainda nã o estava preparada para isso. Aliá s, nunca estaria. Virou-se
para escapar correndo, mas Diego a segurou.
— Aonde você vai?
— Para longe de sua raiva, marido. Surpreso, ele franziu as sobrancelhas.
— Minha raiva? Levantei a voz com você?
— Ainda nã o, mas gritará comigo.
Sem nem mais uma palavra, ou explicaçã o da presença dele ali, Diego a puxou
em direçã o à escada. Catalina resistiu.
— O que está fazendo?
— A criança de Susanna já nasceu e seu trabalho aqui terminou. Portanto, você
deve ir embora.
— Eu sei, mas minha bagagem está lá no quarto. Ele continuou a puxá -la.
— Você nã o vai precisar dela.
Por que nã o? O marido estava tã o furioso que ia fazer o que nunca tinha
pensado antes? Mandá -la para longe, talvez um convento?
Ela nã o merecia isso. Nã o havia feito nada errado. Resistiu com mais força.
Impaciente, Diego a olhou por sobre o ombro.
— Catalina, já tive de enfrentar o desgraçado do Lucero e, agora, vou ter de
enfrentar você ?
Seu coraçã o quase parou de bater. O medo do que ele poderia lhe fazer deu
lugar a outros muito piores.
ADORO ROMANCES EM EBOOK 113
TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

— Diego, o que você está dizendo? O que fez?


— Fale baixo ou vai acordar sua irmã e a criança. Catalina lembrou-se delas e
baixou a voz.
— O que você fez a Dom Lucero?
— O que teria feito muito antes se você houvesse me contado todos os seus
segredos.
A possibilidade de o marido ter sujado as mã os com sangue a deixou apavorada.
A coroa exigiria a cabeça dele como puniçã o por tal crime. Ela ficaria viú va aos
dezessete anos. Perderia seu grande amor para sempre. E o filho nã o teria pai.
Isso nã o poderia estar acontecendo!
— Seu grande idiota! Você perdeu o bom senso? — ela esbravejou.
Trê s exclamaçõ es de horror subiram do andar térreo. Uma de Dona Margarita e
duas das tias. Elas nunca tinham ouvido uma esposa falar dessa maneira com o marido.
Com um aceno de cabeça, Diego concordou com a indignaçã o delas. Por entre os den-
tes, disse:
— Vamos embora, mulher. E lembre-se de seu lugar. Ela nã o podia.
— Como você se atreveu a praticar algo tã o idiota?
Diego resmungou suas palavras preferidas em á rabe e nã o esperou mais. Com
um movimento á gil, a ergueu nos braços e a carregou escada abaixo.
— Vamos, me solte — ela gritou.
— Nã o até eu terminar com você . — Virou-se para as outras senhoras e, num
tom mais ameno, disse: — Por favor, transmitam meus parabé ns a Susanna e Dom
Roberto pelo nascimento da filha.
Embora rubras de vergonha pelos gritos de Catalina para que o marido a
soltasse, elas prometeram atender-lhe o pedido.
Diego nã o a soltou, nem mesmo seu pulso quando montou Pe-ligro antes de
puxá -la para cima e a acomodar no colo.
Com o braço em sua cintura para mantê-la presa e em questã o de segundos,
partiam a galope.

Catalina continuou a chorar e a gritar.


— Tudo está perdido! Como você teve coragem...
Diego nã o suportou mais. A mulher o adorava a ponto de querer protegê -lo, mas
isso nã o incluía confiança e nem respeito pela inteligê ncia dele. Sem parar, acusava-o
de tê -la perdido ou de talvez nunca a haver tido. Irritado, ele a interrompeu:
— Primeiro, você me acusou de infidelidade quando eu nem havia olhado para
outra mulher. Agora isto, seja lá qual for sua nova acusaçã o.
— Você assassinou Dom Lucero — ela soluçou.
ADORO ROMANCES EM EBOOK 114
TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

Diego levantou o rosto para o cé u e respirou fundo. De fato Catalina nã o


confiava no bom senso dele. Estava na hora de lhe dar uma liçã o. Baixou o rosto para
fitá -la e disse:
— Ah, isso. E você vai sentir falta dele?
Por um momento, ela continuou a soluçar. Quando parou, franziu a testa e o
encarou. Entã o, gritou:
— Como se atreve a me acusar disso depois de tudo que sofri por sua causa?
— E isso que adoro em você , Catalina. Essa sua disposiçã o para lutar contra mim
grande parte do tempo. Muito bem. Agora você vai ter a chance de verificar se pode
vencer.
Ela olhou em volta e surpreendeu-se ao ver Diamante amarrado a uma á rvore.
— O que isso significa? — indagou.
Diego puxou as ré deas de Peligro e, antes de desmontar, ajudou Catalina a fazê-
lo. Entã o, pegou uma trouxa amarrada à sela e a atirou a seus pés.
— O que é isso? — ela perguntou.
— Abra e veja.
Ao obedecer, sua surpresa aumentou.
— Roupas de um serviçal?!
— Suas agora.
— Você quer que eu as use? — Catalina indagou e afastou-se depressa, mas ele a
seguiu.
— Você vai usá -las, sim. Desde nosso noivado, você morre de vontade de ter
uma competiçã o como a nossa primeira a fim de tentar me vencer. Aliá s, você quer isso
o tempo todo. Pois agora vamos ver se é capaz.
— Diego, nã o é hora para brincadeiras. Você precisa fugir! — ela exclamou e
atirou a trouxa no chã o.
— Sem antes apreciar nossa competiçã o?
— Diego!
— Está bem — ele disse, mas nã o se mexeu.
— Vá embora! — Catalina insistiu.
— Para onde? Por quê?
Ela o encarou como se o marido tivesse enlouquecido.
— Você assassinou o animal do Lucero.
— Lembro agora. E você vai sentir falta...
— Diego! Eu tinha esperado evitar isso, que você nã o cometesse tamanha tolice.
— Para você poder continuar a acusar seu marido de todo tipo de bobagens e

ADORO ROMANCES EM EBOOK 115


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

crimes sem a mínima evidência?


Ela o encarou ao protestar:
— Isso nã o é verdade! Foi você que me acusou de interesse por Lucero.
Diego baixou a cabeça.
— Eu nunca me perdoarei por esse erro em nossa uniã o e pela falta de confiança
mú tua.
— Nã o mesmo?
— Nã o. Meu ciú me por seus sentimentos por Susanna e sua dedicaçã o a ela nã o
me permitiram confiar em você. Por esse motivo, você deveria me odiar para sempre.
Eu nã o esperaria menos do que isso de uma mulher temperamental como você .
— Ah, Diego, adoro... O que está fazendo? — Catalina indagou ao tentar se
aproximar e ele a impedir.
— Catalina, penso que você nã o deve me adorar. Tenho de fugir, ou você já se
esqueceu disso?
Seu rosto sombreou-se.
— Diego, o que você fez ao homem?
— Que homem?
— Ora, Dom Lucero. Diga a verdade, Diego. Você matou ou nã o o animal?
— Você queria que ele fosse assassinado?
— Você pode me responder, marido?
— Se eu responder você pá ra de gritar?
— Diego, estou suplicando que me dê uma resposta. Por favor.
— Por que se você acha já saber a verdade?
Catalina ia esbravejar, mas, em vez disso, observou-o com olhar pensativo.
Entã o, quase gritou de alegria:
— Lucero está vivo, nã o está ? Você nã o lhe fez mal algum afinal. Por favor, me
diga! Ai, Diego, preciso saber isso para ter certeza de que você está em segurança.
Sua preocupaçã o o comoveu assim como sua alegria com a possibilidade de um
fim para o dilema deles. Por isso, Diego nã o podia mais esconder-lhe a verdade.
— Pois muito bem, vou contar tudo. Ele foi tratado de maneira apropriada.
Como teria sido muito antes se você apenas houvesse me confessado seus segredos.
Nã o toquei num fio de cabelo do maldito. Minhas mã os estã o limpas de sangue como
você desejava. Mas lembre-se, mulher, você nã o deve repetir as palavras com que me
referi a ele. Nem as em á rabe que digo de vez em quando. Elas sã o de meu repertó rio,
nã o do seu.
A alegria de Catalina foi substituída por frieza e desafio.
— Entã o as regras de meu marido voltaram? E com força total! — Já está na
ADORO ROMANCES EM EBOOK 116
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hora de você entender, Catalina, que existem coisas neste mundo com as quais os
homens podem lidar muito melhor do que qualquer mulher.
— Tais como?
Tudo ele pensou dizer, mas tal resposta serviria apenas para apressar a
discussã o que já pairava no ar. Entã o, respondeu:
— Cavalgar é uma. Ou a esperteza de perseguir um ao outro.
— Você acredita no que acabou de dizer?
— Claro. E para provar, lhe darei a vantagem necessá ria em nossa competiçã o.
Um dia basta? Ou dois seriam melhor para você ?
Catalina arrancou fora as roupas a fim de vestir as de serviçal.
— Dispenso qualquer vantagem, Diego. Mesmo se eu cavalgasse com os olhos
vendados, escaparia de você. Nem preciso de uma sela.
— Pois vamos tirar a de Diamante.
Ela o olhou por sobre o ombro nu como o resto de seu corpo lindo.
— Tudo bem — concordou, enquanto vestia a camisa de algodã o cru.
O olhar de Diego percorreu suas pernas bonitas e as ná degas macias antes que
ela as cobrisse.
— O que acha de apostarmos no resultado de nossa competiçã o? — ele sugeriu.
— Boa ideia.
— Bem, se eu vencer, quer dizer, se eu a capturar antes de você chegar ao nosso
riacho, você terá de se tornar uma esposa comportada. Para sempre.
Catalina empalideceu.
— Comportada?!
Diego reprimiu um sorriso.
— Preciso explicar o que isso significa?
— Nã o. Testemunhei o comportamento de minha mã e a vida inteira.
— Espero que o seu seja melhor. Você nunca questionará nenhuma ordem
minha. Jamais discutirá comigo, fará tudo que eu exigir e viverá apenas para me fazer
feliz. Quaisquer passos seus, sejam dentro do palá cio ou fora, bem como suas decisõ es,
só com minha permissã o.
Em vã o ela tentou impedir que um gemido escapasse por entre seus dentes
cerrados.
Diego conteve o riso e indagou:
— De acordo?
— Sim. Mas quanto a você? Quando eu ganhar...
— Quando?!

ADORO ROMANCES EM EBOOK 117


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

— Isso mesmo. Quando eu chegar ao riacho sem ser capturada por você, exigirei
que nó s dois juntos tomemos as decisõ es que nos afetarã o, que fiquemos em pé de
igualdade em tudo em vez de um ter mais direitos e o outro, menos. Também hei de
querer tomar parte, tanto quanto você , na administraçã o da casa, inclusive na
demissã o de qualquer serviçal e que pessoas serã o convidadas a nos visitar. Os filhos
serã o nossos para criar e nã o apenas seus, sejam meninos ou meninas.
Diego ficou boquiaberto com a extensã o de suas exigências.
— Você está pedindo demais — afirmou.
— Caso tenha medo de perder, entã o...
— E claro que nã o tenho. Pode se preparar, mulher. Catalina foi até Diamante e
já ia montar quando Diego gritou:
— Espere! Você nã o precisa da sela. Ou já se arrependeu de afirmar isso?
Ela apenas arqueou as sobrancelhas e desafivelou a sela. Entã o, tentou removê-
la. Diego, que a observava, disse:
— Talvez este seja um momento em que o homem se mostra mais capaz.
— Concordo. A sela é muito pesada e eu preciso de sua ajuda e de sua força
superior — ela respondeu, ofegante.
Ele se curvou ao ouvir as palavras atenciosas e verdadeiras.
— Como desejar.
Catalina curvou a cabeça para esconder o sorriso. No momento em que Diego
tirou a sela, ela pulou nas costas do animal e partiu a galope.
— Pare!— ele gritou, mas nã o foi obedecido.
A mulher era impossível. Ele só tinha proposto a competiçã o por brincadeira. E,
a aposta ridícula, só para ver sua reaçã o, pois jamais haveria de querer mudá -la numa
mulher comportada. Adorava sua espontaneidade. Mas isto era demais! Catalina fazia o
pró prio marido de bobo. Ela haveria de ver.
Diego jogou a sela no chã o, montou Peligro e iniciou a perseguiçã o. Era homem,
um cavaleiro superior por natureza e a competiçã o ia ser fá cil. Exceto por um detalhe.
O peso que Diamante tinha de suportar era bem menor do que Peligro precisava.
Catalina cavalgava bem à frente e gritou:
— Admita!
— Nunca! — ele respondeu.
Ela riu mais uma vez e continuou a ganhar vantagem. Diego, porém, nã o ia
permitir isso. Puxou as rédeas e virou Peligro para a direita. Lá havia uma trilha que
evitava as colinas e depressõ es que Catalina tinha de vencer. Como ele esperava, isso
diminuiu a distâ ncia que os separava.
Ela olhou para trá s e percebeu o que acontecia.
— Você será uma esposa comportada! E para sempre — Diego gritou.
ADORO ROMANCES EM EBOOK 118
TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

Ela esbravejou umas palavras que vagamente pareciam á rabes.


Mulher teimosa, mas estava perdendo. Diego viu a chance de alcançá -la. Virou
Peligro para a esquerda, rumo a trilha seguida por Catalina.
Ela percebeu e nã o escondeu a preocupaçã o. Gritou quando Diego já se
aproximava, mas antes que ele pudesse agarrar suas ré deas, puxou-as, forçando
Diamante a parar.
Peligro passou voando enquanto o riso de Catalina ecoava no ar. Bem como as
palavras em á rabe de Diego.
Ele virou a montaria, mas Diamante já escapava a galope.
Diego franziu a testa. Isso nã o podia estar acontecendo! Impossível ser vencido
por uma mulher! Ainda mais pela esposa que tanto amava! Era contra as leis da
natureza e dos homens!
Instigou Peligro a galopar enquanto planejava uma estratégia como fazia antes
de enfrentar uma batalha. Em todas as competiçõ es era preciso prever as manobras do
oponente. Era homem e nã o esperava menos do que isso de si mesmo.
Ele nã o perderia. O riacho ficava logo adiante da pró xima colina. Tinha de agir
depressa.
Ele dirigiu Peligro para a esquerda que o colocava numa elevaçã o acima de
Catalina. Quando ela notou, seu sorriso desapareceu. Entã o, virou a cabeça para o
outro lado ao ver Peligro seguir para a direita. Depois, de novo para a esquerda.
Cada vez que Diego fazia isso, ela virava-se para observá -lo, o que a impedia de
prestar atençã o no rumo da montaria e em sua velocidade.
Aos poucos, a distâ ncia entre eles diminuiu. Quando Catalina se deu conta, Diego
esporeou Peligro a ir mais depressa. Pouco depois e já com o riacho à vista, ele a
alcançava.
Ela reagiu no mesmo instante ao estapear-lhe as mã os, arranhá -las com as
unhas e gritar. Isto constituiu a maior injú ria, pois a mulher podia, de fato, ser
espalhafatosa.
Mesmo assim, Diego segurou suas rédeas, a montaria, mas nã o Catalina.
Com a maior facilidade, ela levantou a perna, escorregou de Diamante e correu
para o riacho.
Mas Diego nã o ia permitir sua vitó ria. Parou os dois cavalos, desmontou e foi em
sua perseguiçã o. Essa parte ia ser a mais fá cil, pois a velocidade dele era muito
superior à sua.
Em pouco tempo e no instante em que Catalina chegava ao riacho, ele a segurava
pelas roupas.
— Diego, nã o! Nã o me deixe cair ou me machucar! Estou grá vida! — ela gritou.
O quê?! Diego afrouxou os dedos e diminuiu a velocidade dos passos. Mas, em
seguida, esbravejou em á rabe.

ADORO ROMANCES EM EBOOK 119


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

Catalina estava rindo de sua pequena artimanha que tinha lhe dado o tempo
necessá rio para chegar ao riacho.
Já entrava na á gua com a graciosidade de uma mulher. Estava na ponta dos pé s e
com os braços levantados para se equilibrar.
Quando se virou, bateu palmas.
— Fui melhor do que você! A vitó ria é minha! — exultou. Da margem do riacho,
Diego gritou:
— Foi coisa nenhuma! E nã o merece a vitó ria!
— Fui sim! E... Diego, o que está fazendo? — ela indagou. Apesar das botas, ele
entrava na á gua para pegá -la.
— Diego! — ela exclamou, assustada, ao se afastar um pouco. Tarde demais. Ele
já a erguia nos braços a fim de jogá -la no fundo.
— Diego, por favor, cuidado para nã o me derrubar.
— Você trapaceou! Merece ser jogada na á gua e se afogar.
— Nã o, Diego! É verdade, estou grá vida.
Seria possível? As mã os de Diego que já afrouxavam para deixá -la cair,
apertaram-na de encontro ao peito. Porém, ele a advertiu:
— Catalina, se isso é outra tapeaçã o sua, eu...
— Nã o é , juro. Mamã e me informou de meu estado enquanto eu cuidava de
Susanna. Ela fez o mesmo para minha irmã e previu até a é poca do nascimento de
Benita.
Seria verdade?
Pela expressã o de seus olhos verdes, era. Diego levou-a para a margem e, com
cuidado, deitou-a no chã o.
— Como está se sentindo? — perguntou, aflito e achando que havia algo a fazer
para garantir sua saú de e a do filho.
— Estou bem, Diego, pois a vitó ria foi minha. — Sorriu e acrescentou: — Mas
també m estou grá vida.
Ele a tocou na barriga que lhe parecia mais plana do que a terra em volta.
— Para quando sua mã e previu que nosso filho deve nascer? Catalina hesitou e
empalideceu.
— Qual é o problema? — Diego indagou, temendo que ela estivesse doente ou
trapaceando outra vez.
— Poderemos ter uma filha. Você acha que poderá amá -la tanto quanto a um
filho?
— Claro! Será minha filha! — ele declarou. As sobrancelhas loiras franziram.
— Está bem, nossa filha — ele resmungou. — Mas vai me dizer para quando

ADORO ROMANCES EM EBOOK 120


TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO

devemos esperá -la?


— Ou a ele. Na primavera.
Diego sorriu, mas ficou logo sério.
— Apesar de grá vida, você cavalgou em pêlo, pulou no chã o e...
— Consegui a vitó ria! — ela exclamou e sorriu.
Ah, esta mulher! Diego fechou os olhos e curvou a cabeça. Sorriu quando sentiu
suas carícias no rosto.
— Você vai pagar a aposta? — ela indagou, temerosa.
— Si — ele respondeu e abriu os olhos.
— Se você tivesse vencido me obrigaria a ser uma esposa bem comportada?
— Sabe que nã o e que eu a amo como você é . Talvez um pouco mais gordinha
por uns meses.
— E você me perdoa por manter meus segredos?
— Se nunca mais tiver outros.
— Prometo que nã o farei isso.
— Mas já está quebrando a promessa!
— Como assim, Diego? Impossível!
— Você está escondendo de mim o que tem sob as roupas.
Com expressã o maliciosa, Catalina sorriu para o marido. No instante seguinte,
começaram a se despir. Nova competiçã o que terminou em empate, embora ambos
alegassem vitó ria. Diego hesitou antes de possuí-la. Fitou-a e murmurou:
— Você está grá vida. Talvez nã o devê ssemos...
— Susanna me explicou que nossa uniã o nã o fará mal ao bebê . Até quase as
ú ltimas semanas, um casal pode continuar a expressar seu amor dessa forma. É o
costume, Diego.
— Ora, agora é minha esposa que me instrui nessas questõ es.
— Nó s ensinaremos um ao outro — ela murmurou. Abraçou-o e lhe deu um
beijo que o levou ao cé u e muito além.
Quando se uniram, tornaram-se um só em corpo, espírito e alma, numa
comunhã o plena de amor.

ADORO ROMANCES EM EBOOK 121

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