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TINA DONAHUE
Just One Kiss
FOGO DA PAIXÃO
Nota da Autora
Andaluzia, Espanha
Para uma compreensã o melhor deste romance, precisamos conhecer um pouco
o cená rio e a histó ria do lugar em que ele se desenrola.
A Andaluzia fica ao sul da Espanha, uma regiã o de clima quente e seco, onde
paisagens variadas se combinam. Nela encontram-se as montanhas da serra Morena, a
depressã o de Guadalquivir e a orla marítima.
Sua histó ria teve um longo período agitado. No sé culo VIII, a Andaluzia foi
invadida pelos á rabes, época em que Có rdoba foi a capital de um emirado. Dois séculos
mais tarde, tornou-se a capital de um poderoso califado, centro da cultura muçulmana
no Oci-dente. A grande influência dos invasores na língua, na mú sica, na arquitetura e
em outras á reas da cultura nativa, aprofundou-se. Sinais dessas mudanças persistem
até hoje. No século XI, o cali-pados foi desfeito, ou melhor, desmembrado em pequenos
principados, ou taifas, o que facilitou a reconquista que os espanhó is tentavam havia
muito tempo.
A vitó ria cristã de Las Navas de Tolosa, em 1212, marcou o início da decadência
muçulmana. Em 1492, ano da descoberta da América por Cristó vã o Colombo, a tomada
de Granada pelos "reis cató licos", Fernando de Aragã o e Isabel de Castela, que haviam
patrocinado a viagem de Colombo, deu fim à histó ria da Andaluzia moura.
Nosso heró i, Dom Diego, toma parte nessa luta.
No século XVI, os mouros da Andaluzia foram praticamente forçados à
conversã o ao cristianismo, recebendo a denominaçã o de mouriscos.
Outro aspecto que merece ser destacado é a posiçã o da mulher naquela é poca,
nã o só na Espanha como també m em toda a Europa.
Mesmo na nobreza, o homem gozava de todos os direitos enquanto à mulher
cabia a obrigaçã o de servir o marido, dar-lhe filhos, satisfazer suas vontades e fazê -lo
feliz.
Nossa heroína, de espírito independente, ao se casar, luta para conquistar uma
posiçã o de igualdade com o marido.
CAPÍTULO I
enquanto o verde dos olhos era da mesma tonalidade dos famosos jardins de Granada.
Os homens nã o a assustavam. Desde a infâ ncia, ela se mostrara capaz de
cavalgar com mais perícia do que os irmã os. E sabia-se que, em mais de uma ocasiã o,
ela os vencera em luta corporal. Enquanto as irmã s mais novas estavam sendo
educadas na corte, pela rainha Isabel de Castela, Catalina sentia-se aliviada por ter
escapado de tal confinamento. Desejava apenas ser livre. Precisava disso tanto quanto
do ar que respirava.
Seus pés descalços deslizaram em silê ncio pelo chã o de má rmore até o guarda-
roupa. A suas costas, Susanna tornou a mexer-se inquieta na cadeira.
— Catalina, você nã o pode estar planejando sumir por aí. Lem-bre-se, Dom
Diego virá esta noite ao palá cio para conhecer melhor a futura esposa.
— Foi o que me informaram — Catalina respondeu, enquanto procurava algo no
armá rio.
Do fundo e escondidas sob peças de veludo, brocado e seda, tirou umas de
algodã o cru. Susanna pô s-se em pé.
— Minha querida maninha, você nã o vai vestir outra vez roupas de criados.
— Por que nã o? Ouvi falar de mulheres que participam de encenaçõ es em
palcos.
— Impossível! — Susanna exclamou.
— Nã o sei por quê . Você acha que faz mais sentido um homem má sculo
representar uma mulher delicada em vez de a pró pria encenar o papel para o qual
nasceu?
— Catalina, você está lutando contra a natureza. As mulheres devem se casar,
ter filhos e...
— Sei, sei. Talvez por isso eu procure um harém onde eu possa viver e cumprir
totalmente meu destino de mulher.
Susanna fez o sinal-da-cruz e, depois, olhou para as roupas nas mã os da irmã .
— Você nã o pode estar lalando sé rio. E também nã o deveria pegar essas peças
dos criados. Eles já tê m tã o poucas.
— Ora, isso també m sei. Acredite em mim, minha irmã , se eu lhe contar que o
homem destas roupas possui muito mais agora. Em troca delas, eu lhe dei uma de
minhas pé rolas. També m recebi o cavalo dele e um largo sorriso — Catalina explicou,
enquanto trocava o vestido elegante pelas peças simples e enfiava os cabelos longos
sob o gorro.
— Agora, pareço um homem humilde, nã o acha? Susanna nã o conteve um
gemido.
— Nã o! Apenas uma criança sem juízo. Aonde você vai, maninha?
Cavalgar. Ser livre pelo menos por uns momentos, Catalina refletiu. Sabia que,
depois dessa noite, sua vida nã o seria mais a mesma. Em voz alta, respondeu:
— Nã o se aflija por minha causa. Vou tomar cuidado, prometo. Catalina beijou a
face da irmã .
— Se mamã e e papai souberem dessa impostura, você ficará ...
— Jure que nã o vai lhes contar nada, Susanna.
— Só se você prometer voltar a tempo de se preparar para a chegada de Dom
Diego.
Embora sorrisse com candura, Catalina estava disposta a resistir.
— Por que eu deveria? Sem dú vida alguma, nó s vamos nos casar. A transaçã o
foi acertada muito tempo atrá s e nã o pode ser mudada. Portanto, nã o vou me preparar
e o receberei assim.
E se Dom Diego tentasse discipliná -la como havia feito quando ela nã o passava
dos seis anos, ficaria conhecendo seus punhos cerrados, ela decidiu.
Susanna inclinou-se para a frente e murmurou:
— Você pode ser mais alta do que papai, mas sua fú ria nã o chega à metade da
dele.
Verdade que nã o poderia ser negada.
— Voltarei a tempo de me preparar. Isso a satisfaz? Num gesto meigo, Susanna
acariciou o rosto da irmã .
— Casamento nã o é uma coisa tã o terrível, maninha.
— Para nossos pais, sim. A adoraçã o que sentem um pelo outro nã o conhece
limites. E para você também, pois amava Pedro.
Susanna riu e Catalina franziu a testa.
— Eu disse algo engraçado?
— Doce menina ingê nua. Você nã o sabia que aprendi a amar Pedro?
Ora, isso era uma revelaçã o e tanto.
— Estranho. Eu me lembro muito bem do dia de seu casamento. Você sorria o
tempo todo durante as festividades. Estava tã o alegre que deslizava pelo chã o como
um passarinho voando.
— Eu fingia felicidade para agradar a mamã e, papai, Pedro e a mim mesma. Você
també m é capaz de fazer isso.
Catalina nã o podia trair as convicçõ es c já ia balançar a cabeça num gesto
negativo. Porém, amava Susanna e nã o queria provo-car-lhe mais afliçõ es.
— Tentarei — disse finalmente.
— É tudo que se pede a você. Por favor, Catalina, tenha cuidado. E volte a tempo
de se preparar.
Relutante, ela acabou prometendo que estaria ali na hora certa.
Escapar do palá cio sem ser vista era outra questã o. Catalina grudou-se à s
paredes e, com os pés descalços, foi percorrendo um aposento atrá s do outro. Mas os
serviçais estavam muito ocupados com os preparativos para a festa desta noite em
homenagem à visita de Dom Diego e logo ela se via lá fora.
Nã o conteve um sorriso. Embora ainda fosse de manhã zinha, o sol já aquecia o
ar e a terra. A brisa seca e suave trazia o odor delicioso das pastagens e o balir dos
carneiros.
A leste, até onde a vista alcançava, ficavam as plantaçõ es de trigo, a oeste havia
as pastagens pontilhadas pelo gado e, logo a seguir, um imenso rebanho de carneiros
vagava sob a guarda de pastores. Mais adiante havia um sem-fim de vilarejos de
propriedade de seu pai, bem como outros palá cios. Mas nenhum tã o sun-tuoso como
este.
Catalina adorava o cintilante má rmore branco, seus graciosos arcos mouriscos e
o mosaico colorido de azulejos. Sentiria muita falta de tudo isso. O coraçã o jamais se
recuperaria quando ela tivesse de acompanhar o marido à propriedade dele. Lá ,
morreria de infelicidade antes mesmo de dar à luz um filho.
Suspirou antes de correr em direçã o ao lugar onde o lavrador linha deixado a
montaria comprada com a pérola. Este havia sido o presente dos pais no seu dé cimo
sexto aniversá rio. A pérola valia muito mais do que um cavalo que nã o era de raça
á rabe. Mas, com ela, fora possível comprar uma liberdade momentâ nea. Havia lucrado
muito mais do que o lavrador com a transaçã o.
Ao chegar a um olival, onde o cavalo estava amarrado a uma das á rvores, ela
olhou por sobre os ombros. Nã o havia sido seguida.
O animal nã o tinha sela e nem mesmo um pano sobre as costas, mas isso nã o
importava. Aliá s, era mais seguro cavalgar em pêlo.
Ela nã o queria correr o risco de sofrer uma investigaçã o por parte de um nobre
que quisesse saber por que um rapaz pobremente vestido usava uma sela de couro
cordovês.
Depois de desamarrar a corda que també m serviria de rédea, Catalina montou
com destreza. Com os pé s descalços, instigou o animal a partir. Ele obedeceu, mas nã o
com o passo firme de Diamante, seu cavalo á rabe e branco. O pêlo dele já começava a
rarear como os cabelos de seu pai cuja energia, também como a do animal, era mínima
apó s uma farta refeiçã o, regada a vinho.
Ao seguir, Catalina teve o cuidado de se manter perto do olival.
Temia que algum trabalhador a visse e avisasse os pais. Imaginava bem o que
aconteceria. O pai poria uma vigilante em seu quarto, provavelmente uma freira que
apreciaria umas fé rias do convento. A mã e teria crises de choro por ter falhado na
educaçã o da filha. Melhor nã o ser apanhada, pois as consequê ncias seriam terríveis.
Mas o ideal mesmo seria se houvesse nascido homem, Catalina refletiu. Por um
momento, imaginou como seria cavalgar livremente e levar uma vida que a agradasse e
nã o aquela para a qual havia sido destinada como mulher. Poder mostrar bravura num
campo de batalha ou ser o senhor de uma grande propriedade. Imaginava ainda como
seria se casar sem ter de levar a uniã o tã o a sério quanto a mulher era forçada.
ADORO ROMANCES EM EBOOK 6
TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO
Ela sabia o tipo de ligaçõ es que os homens mantinham. Em muitas festas, havia
observado algum marido olhando para uma das moças mais jovem ou mais bonita do
que a esposa. Entã o, aquele homem casado e a amante desapareciam durante um bom
tempo. A esposa esquecida continuava a conversar com as amigas, fingindo nã o notar a
ausê ncia do marido.
Seria melhor se o homem a quem Catalina entregasse o corpo e o coraçã o se
satisfizesse com isso, ela jurava. Mas sua fú ria seria inú til em face da tradiçã o
espanhola.
Ela nã o teria o direito de opinar sobre as vontades e a maneira de agir do
marido. Tã o logo se casasse, seu dever seria garantir a felicidade dele e esquecer a
pró pria.
Talvez nã o voltasse para casa.
Instigou o passo da montaria até que a paisagem se transformasse num mar de
cores difusas que se fundiam com as do passado que ela abandonava.
Catalina encheu os pulmõ es de ar e deliciou-se com o odor da terra. Por uns
instantes, fingiu ser uma grande guerreira com a espada, a lança e o punhal prontos
para lutar contra soldados que, por acaso, quisessem lhe roubar os sonhos e
enclausurar seu espírito, a alma e...
As fantasias foram interrompidas abruptamente. Um outro cavaleiro surgia do
meio de umas castanheiras. A montaria, um cavalo á rabe preto, empinou enquanto a
sua escorregava as patas dianteiras e relinchava. Com esforço, ela conseguiu desviá -la
para a direita e o homem afastava a dele para a esquerda. Os dois arfavam e as
montarias resfolegavam. Entã o, ele dirigiu o cavalo para perto do seu e, sem o mínimo
esforço, segurou a corda, imobilizando-o. Ainda ofegante, Catalina manteve o rosto
abaixado, mas, pelo canto dos olhos, observou o intruso arrogante.
CAPÍTULO II
Ele a surpreendia. Alto para ura espanhol, a estatura dele ultrapassava em muito
a sua. Desse â ngulo, Catalina nã o podia reconhecer-lhe o brasã o, mas as roupas, a sela
e o cavalo de raça á rabe indicavam a mais alta nobreza.
Ele exibia a segurança calma de um homem que sempre satisfazia as vontades.
Continuou a segurar seu cavalo e a observá -la.
Os olhos e os cabelos dele eram castanhos. A pele tinha uma tonalidade mais
escura do que a sua e o rosto, de feiçõ es bem feitas, era muitíssimo atraente. A ú nica
coisa que o marcava era uma cicatriz no alto da face direita. Parecia ter sido feita por
um punhal. Com certeza, ele tinha o há bito idiota de interceptar outros cavaleiros,
Catalina deduziu.
Ela franziu a testa, mas nã o se atreveu a falar, pois isso a trairia. Decidida,
empurrou-lhe a mã o a fim de soltar a montaria. Nã o conseguiu.
O estranho arqueou as sobrancelhas escuras.
— Como um rapazinho trata um homem dessa forma?
Ao ouvi-lo, Catalina nã o só se encantou com a voz profunda como també m
exultou com o fato de seu disfarce de campesino dar certo. Sem sucesso, empurrou-lhe
a mã o outra vez.
O homem nã o se mexeu e dirigiu-lhe um olhar penetrante.
— Você é mudo, rapaz? Seu problema é esse? Catalina fez um sinal afirmativo
com a cabeça.
O homem baixou as sobrancelhas e indagou numa voz suave:
— Você sempre sofreu desse mal? Novo gesto afirmativo.
— Entã o, por que está nos limites desta propriedade se nã o tem meios de se
comunicar? Seu patrã o é Dom Velasco?
Seu pai. Catalina já ia fazer outro gesto afirmativo, mas conte-ve-se a tempo. O
homem, um nobre sem dú vida, poderia se achar no dever de levar de volta o serviçal
mudo a Dom Velasco. Como nã o respondesse, ele irritou-se.
— Responda, rapaz, como puder, ou o levarei até Dom Velasco para que ele
interprete suas explicaçõ es.
Catalina podia sentir o calor do sol atravé s das roupas de algodã o cru. A
ADORO ROMANCES EM EBOOK 8
TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO
— Joguei seu punhal no riacho. A menos que você tenha outras armas na
cintura. Tem? — Diego a interrompeu em tom de desculpa.
Ela nã o respondeu e Diego insistiu no mesmo tom:
— Seu silê ncio me obriga a revistá -la.
— Nã o carrego outras armas — ela disse depressa.
Diego desviou o olhar para sua boca. Sentiu a contraçã o dos mú sculos do peito
ao ver aqueles lá bios de um rosa delicado. Bei-jou-os de leve e foi invadido por uma
onda de calor intenso.
— Nã o? — ele murmurou numa voz estranha, distante.
Sentia-se paralisado por esses lá bios, pela coluna esguia do pescoço e pelo olhar
de relance para seu peito que a camisa entreaberta expunha. Suas roupas estavam tã o
encharcadas que lhe delineavam a silhueta, permitindo que ele notasse os seios que a
moça tentara esconder antes. Agora, eles arfavam de encontro ao peito dele com sua
respiraçã o ofegante.
— Vamos, me solte — ela tomou a dizer, mas, dessa vez, num murmú rio e nã o
em tom autoritá rio.
Sem atendê -la, Diego a fitou. Se existia uma mulher que ele nã o quisesse soltar
era esta. Imaginou sua fú ria e seu temperamento fogoso desencadeados na cama dele.
Como se lesse tais pensamentos, ela virou o rosto.
— Você atacaria uma mulher desarmada? Ele sorriu e gracejou:
— Você continua de posse de sua voz, nã o é ? Ela apenas o fitou.
— Continua, sim. E também daqueles dedos fechados e joelhos firmes com os
quais gostaria de me atacar. Nã o, de jeito algum você está desarmada.
Ela observou-lhe os lá bios e. por um momento, mostrou-se incerta, talvez com
um pouco de medo, até ele baixá -los aos seus. Fechou os olhos depressa enquanto era
beijada com delicadeza.
Diego queria ir devagar para nã o alarmá -la. A pressa viria mais tarde, sem
dú vida alguma.
Esta mulher era ardente. Chamas que ele ja começava a apreciar enquanto
roçava a ponta da língua em seus lá bios para, em seguida e com cuidado, penetrar em
sua boca.
Cada mú sculo de Catalina ficou tenso com a invasã o, mas logo ela relaxava e
abria a boca para este homem. Este estranho, com lindíssimos olhos escuros, rodeados
por cílios longos, a mantinha cativa de encontro ao peito forte ao mesmo tempo em
que a beijava com a meiguice que ela nã o imaginava que homem algum possuísse.
Este a possuía. Ele excitava seus lá bios com a ponta da língua e os dentes e
tornava a entrar em sua boca.
Era uma dança estranha, um ato que Catalina nunca havia ex-perimentado
antes. Cada vez que o homem retraía a língua, ela pensava em cerrar os dentes para
impedi-lo de continuar. Poré m, a cada nova tentativa, ela cedia facilmente. Apó s uns
momentos, ansiava por sentir-lhe a boca e a língua.
Como se percebesse isso, Diego aprofundou o beijo. Catalina se viu incapaz de
resistir. Sua boca mexia-se sob a dele por vontade propria, como se a natureza exigisse
isso dela.
O estranho certamente exigia. Com a língua, tocava seus dentes e todos os
recantos da boca. O coraçã o disparava e seu prazer perdurou até sentir a mã o dele
subir de sua cintura para os seios. No instante em que ele tocava um dos mamilos,
Catalina ficou rija e virou o rosto.
Ele parou e delicadamente a beijou no pescoço. Novamente, toda a sua
resistê ncia evaporou-se e Catalina tornou a fechar os olhos. Seu corpo macio amoldou-
se ao dele até que ela lhe sentisse a mã o tentando entrar sob suas roupas.
Desta vez, a magia se quebrou. Como ele se atrevia a tanto?
Catalina afastou-lhe a mã o, empurrou-o para trá s e o estapeou.
O estranho arregalou os olhos e passou a mã o pelo rosto. Ao falar, porém, foi
com suavidade.
— Apesar de estar fora destas terras há muitos anos, acho curiosa sua reaçã o a
um beijo.
Ela cerrou os dentes, o que Diego notou.
— Caso você seja virgem, prometo-lhe que serei delicado. A dor será breve, e o
prazer, duradouro.
Muito simpá tico. Ela tornou a estapeá -lo por se atrever a sugerir tal absurdo.
Desta vez, ele ergueu-se e ajoelhou-se ao lado.
— Que tipo de bruxa é você? — indagou.
— Nã o sou bruxa e você nã o é um cavalheiro.
— Nã o foi nada. Apenas um simples beijo — ele disse, rindo.
Para ela era muito, pois havia gostado. Era mulher; e ele, homem, o que dizia
tudo. Afastou-se para trá s e levantou-se. Diego se pô s em pé no mesmo instante.
— Fique longe, estou avisando! — Catalina gritou. — Lutei melhor do que você!
— Moça estranha. Onde você mora?
— Aragon — ela mentiu ao referir-se ao nordeste do reino espanhol a milhas de
distâ ncia e onde gostaria de estar no momento.
— Em que parte de Aragon? Para quem você trabalha? Confusa, Catalina levou
uns segundos para inventar a resposta.
— Estou viajando para um convento lá . Graças à generosidade de meu tio e das
pessoas importantes que ele conhece, recebi permissã o para me juntar à ordem.
O estranho a fitou entre perplexo e triste.
— E qual é o nome desse convento?
ADORO ROMANCES EM EBOOK 12
TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO
CAPÍTULO III
Chegando ao palá cio, Catalina assustou-se ao ver Susanna debruçada numa das
janelas do segundo andar, acenando com um lenço. Com ar indagativo, apontou para si
mesma.
Susanna fez um gesto afirmativo com a cabeça e fingiu que carregava uma
criança. Temendo que a irmã estivesse prestes a sofrer um aborto, Catalina apontou
para ela. Dessa vez, o gesto de Susanna foi negativo ao mesmo tempo em que apontava
da criança imaginá ria para a irmã mais nova. Entã o, passou o indicador pela garganta
como se fosse uma faca.
Catalina entendeu a mensagem. Tinha agido como uma criança e os pais
estavam furiosos e dispostos a matá -la. Desmontou depressa e entregou o cavalo ao
antigo dono.
— Cuide de seu animal — recomendou, mas ao ver-lhe o olhar assustado,
acrescentou: — Nã o se aflija. A pé rola ainda é sua, bem como o cavalo.
Recebeu um sorriso de gratidã o e o fez jurar guardar segredo. Em seguida,
correu para a á rea dos criados onde Susanna já a aguardava com roupas adequadas
para ela vestir.
— Vá se trocar depressa no quarto da cozinheira. Ela está nos aposentos de
mamã e e os outros criados continuam ocupados com os preparativos da festa. Papai a
está procurando desde o momento em que você saiu. Por que entrou na á gua vestida?
Estava suja?
— Nã o, depois explico. Por favor, tente distrair papai.
— Esta será a ú ltima vez — Susanna avisou. Catalina sabia que nã o seria, mas
murmurou:
— Eu sei. Agora, preciso saber onde passei essas horas, ou melhor, o que dizer a
papai.
— Você esteve nos jardins, pensando em seu prometido. Catalina fez uma careta.
— Catalina! — Dom Lorenzo trovejou, - Por for favor, Susanna, entretenha papai
por uns instantes — ela pediu e correu para o quarto da cozinheira.
Trocou de roupa o mais depressa possível e, embora os cabelos ainda
estivessem molhados, voltou à á rea dos criados onde se chocou contra o pai.
Dom Lorenzo, mais gordo do que alto, teve de se amparar em
uma das mã os para nã o cair.
— Papai, o senhor está bem? — Catalina indagou com as mã os estendidas para
ajudá -lo.
Ele arregalou os olhos para essa filha esquisita.
ADORO ROMANCES EM EBOOK 14
TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO
para ir mais depressa. Mesmo assim, o pai nã o ficou satisfeito e franziu a testa.
— Nã o posso compreender o que se passa com você . Catalina é uma jovem linda,
encantadora.
Diego lembrava-se da criança magricela que tinha visto anos atrá s. Beleza
nenhuma podia ter surgido daquilo. Sem graça já seria uma bê nçã o. Também se fosse
muda. Ele se lembrava de sua voz esganiçada. E de algo mais. "O serviçal" mudo de
horas atrá s.
Sorriu apesar de "o rapaz" o ter forçado a caminhar muitas milhas até encontrar
Peligro que pastava num campo.
— Ah, noto que seu humor está melhorando — o pai comentou. Só porque os
pensamentos vagavam longe dali, ele refletiu ao
pensar naquele corpo macio sob o dele, dos olhos verdes fitando-o, da surpresa
provocada pela cabeleira dourada como o sol, dos lá bios rosados e de sua reaçã o
ardente aos beijos. Da boca que jamais pertenceria a ele ou a homem algum.
Por que, Diego imaginou, uma mulher tã o linda e de temperamento ardente
decidia se enclausurar num convento? Sem dú vida havia muitas feiosas para
desempenhar tal papel. Mulheres como Catalina Ferná dez de Velasco.
— Talvez ela deseje ser freira — distraído, disse em voz alta.
— Freira? Quem? — 0 pai indagou. Diego virou-se para ele. A luz do entardecer,
os cabelos alvos de Dom Tomá s brilhavam. O bigode e o cavanhaque ainda tinham
alguns fios negros da mocidade. A estatura e a silhueta esguia eram iguais á s do filho.
— Catalina. Algué m lhe perguntou se ela gostaria de pertencer a uma ordem
religiosa? — Diego sugeriu.
Dom Tomá s o observou e, depois, desviou o olhar para a es-trada.
— Isso seria depois de você s se casarem, terem muitos filhos e você se for desta
vida?
De preferê ncia antes, Diego pensou, mas nã o disse.
— Talvez ela tenha um chamado divino. Dom Tomá s riu.
— Catalina nã o tem a mínima vocaçã o religiosa, eu lhe garanto.
— Entã o, ela deve estar esperando com ansiedade minha chegada esta noite,
nã o é?
O pai mexeu-se na sela, olhou para os dois lados da estrada e manteve-se em
silêncio.
— Haverá um provador dos alimentos do banquete desta noite, ou serei
envenenado de surpresa?
— Ela será uma boa esposa, meu filho. E obediente. Esposas obedientes nã o
assassinavam futuros maridos. E també m seriam insensíveis na cama. Diego nã o
queria isso, e sim uma mulher com um apetite igual ao dele e com olhar faminto. Ele
queria "a jovem que conhecera à quela manhã ". Riu.
ADORO ROMANCES EM EBOOK 16
TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO
Catalina mandou as criadas para fora do quarto e pediu a Susanna para ajudá -la
a se vestir.
— Escolha um vestido de seda dourada — a irmã sugeriu, excitada como se
fosse a noiva.
Talvez porque nã o passasse de espectadora dessa tragédia, Ca-talina refletiu.
— Prefiro seda preta — disse ao tirar um vestido do guarda-roupa.
Mas Susanna nã o concordou e o trocou por um dourado.
— Ficará lindo, maninha, com suas cores. Ai, ouça, Catalina. Os acordes
melodiosos de uma orquestra subiam do grande salã o abaixo. Logo depois, chegavam
també m as vozes afinadas dos mozos de capilla, os rapazes do coro. Cantavam tã o
animados. E por que nã o? Eles nã o estavam destinados a um futuro de infe-licidade ao
lado de Dom Diego.
ADORO ROMANCES EM EBOOK 17
TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO
Mais uma vez. Catalina teve vontade de fugir. Isso lhe provocou a lembrança do
estranho atraente, de olhos lindos e beijos excitantes.
— Catalina?
Ela piscou e olhou para Susanna que sorriu.
— Que idéias estã o passando por sua cabeça, irmã zinha?
— Nenhuma. Por quê ?
— Você está com as faces mais vermelhas do que as rosas do jardim e a
respiraçã o ofegante. Você vem fingindo para todos nó s o está ansiosa para encontrar
seu...
— Nã o! Eu lhe contarei um segredo se você jurar nã o repetir para ninguém.
— Catalina, nã o gosto de jurar.
— Entã o, prometa.
— Está bem. Qual é seu segredo?
Ao ouvir Catalina descrever o encontro com o estranho, Susanna abriu a boca
como se fosse gritar.
— Quieta. Você prometeu.
Estarrecida, Susanna atirou-se numa cadeira.
— Você beijou outro homem?!
— Apenas um. Foi muito excitante — Catalina afirmou.
— Você permitiu que um estranho a beijasse?
— Nã o tive escolha. Diga uma coisa. Quando você e Pedro estavam juntos, você
aceitava que a língua dele passasse por seus lá bios e entrasse na boca?
— Catalina!
Entã o o uso de línguas entre um homem e uma mulher era errado? Ou apenas se
fosse com um estranho? Catalina precisava esclarecer isso, mas a irmã nã o estava
disposta a ajudá -la.
— Trate de se vestir, pois a mú sica já começou — Susanna advertiu. — E deixe-
me avisá -la, maninha, tire esse homem estranho de sua cabeça. Você nunca mais vai
vê-lo. Ele jamais será seu marido e você deve fidelidade a Dom Diego.
Um homem velho e feio. Já nã o era assim quando ela nã o passava de uma
criança de seis anos? Ela se lembrava bem como se tudo houvesse ocorrido na vé spera.
Os pais a tinham levado ao palá cio Guzmá n para apresentá -la ao futuro marido.
Ela mal entendia o termo e estava ocupada demais, brincando de esconde-esconde
com as outras crianças.
A certa altura, Catalina havia se escondido no guarda-roupa de Dom Tomá s.
Entã o, tinha ouvido a porta do quarto abrir e umas risadinhas. Havia espiado para fora
e visto Dom Diego com o peito nu, sorrindo com cara de bobo para uma criada. Quando
sobre ela.
Catalina pensou no futuro, quando já estivessem casados. Ele a trancaria no
guarda-roupa à noite como castigo pelo que ela havia feito onze anos atrá s? Pois que
tentasse. Ela se sujeitava a essa uniã o, na qual nã o teria voz ativa ou vontade, mas nã o
sem suas armas. Desejava estar de posse de uma delas nesse momento.
Distraída, tocou a coxa onde costumava prender a bainha do punhal. Acabava de
avistar um homem que detestava ver tanto quanto a Dom Diego.
Antes que pudesse se virar e escapar, Miguel Ramirez Lucero prendeu-lhe o
olhar. Era um rico proprietá rio de terras, mas nã o tanto quanto seu pai. Aos quarenta
anos, Lucero aparentava uns sessenta. Pesava mais que o dobro dela e o topo da
cabeça calva mal chegava a seus ombros. Podia imaginá -lo como pai, mas jamais como
amante ou marido. Mais do que tudo, ela detestava-lhe a persistência piegas. Parecia
tã o forçada e resistente.
Nã o importava quantas vezes ela já tinha lhe dito que nã o poderia se casar com
nenhum outro homem a nã o ser Dom Diego. Lucero apenas sorria, mostrando as
gengivas, e voltava a procurá -la para verificar se a situaçã o havia mudado. Nã o havia,
embora Catalina tivesse rezado para que outra guerra mantivesse Diego longe para
sempre. Poré m, a Espanha gozava a primeira paz duradoura em muitos sé culos.
Atravé s de sinais, Lucero avisava que pretendia falar com ela.
Catalina mordeu o lá bio, prevendo o que ouviria. Enquanto cumprimentava
pessoas amigas, tentou se afastar, mas ele a alcançou.
— Senhorita, sua beleza ofusca a do sol — ele disse em tom afetado e irritante.
— Obrigada, sr. Dom Lucero. Mas acredito que o sol se ofenderia com a
comparaçã o.
— Jamais! Ele existe apenas para brilhar sobre sua pessoa. — Apontou para o
terraço e acrescentou: — Por favor, precisamos conversar a só s.
— Lamento ter de recusar o convite, Dom Lucero. Tenho de dar atençã o a meus
convidados.
— Entre os quais sou um.
Embora nã o soubesse quanto, Catalina nã o ignorava que ele era importante
para os negó cios do pai. Por isso, nã o convinha contrariá -lo.
— Apenas por um momento — ela concordou.
Lucero abriu caminho entre as pessoas para que pudessem chegar ao terraço.
Lá , dirigiu-se à grade, mas Catalina parou junto à porta aberta, onde se sentia mais
segura. Vozes mesclavam-se com a mú sica. Lá fora, o cé u estava estrelado e o ar
recendia a perfume de rosas e de flor de laranjeira. Isso a levou a pensar no estranho
atraente e em seus beijos.
Como seria estar casada com ele? Recebê-lo em sua cama? Ele nã o daria valor à
uniã o de ambos? Ou seu ardor por ele, que até entã o ignorava possuir, atingiria-lhe o
coraçã o e o marcaria com seu nome para sempre?
ADORO ROMANCES EM EBOOK 20
TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO
— Senhorita?
Ela piscou e só entã o deu-se conta de que Lucero ainda a aguardava junto à
grade. Mas recusou-se a se aproximar dele e ficou onde estava. Com isso, a expressã o
de Lucero mudou.
Catalina viu o olhar de raiva, uma fú ria tã o atrevida que ela deu um passo para
trá s. No mesmo instante, ele substituiu a reaçã o rancorosa por um sorriso ameno.
Ela prendeu a respiraçã o ao vê-lo se aproximar demais, desrespeitando a
etiqueta, e murmurar:
— Quero lhe declarar meu amor perene, Catalina. Você é a mulher mais linda
que já conheci. Significa a vida para mim. Sem você , morrerei. Quero me casar com
você , lhe dar meu...
Ríspida, ela o interrompeu:
— O homem, a quem estou prometida, virá esta noite para confirmar nosso
compromisso.
— Nã o precisa ser assim — Lucero afirmou em tom de desprezo.
— Nã o compreendo.
Ele a fitou com os pequenos olhos castanhos cheios de desejo. . — Se você nã o
quer se casar com Dom Diego, fale com seus pais. Sei que eles respeitarã o sua vontade.
Já conversei com eles sobre isso. Seus pais só querem sua felicidade. Esse homem nã o a
fará feliz. Preocupada, você empalideceu e até perdeu peso — ele afirmou ao olhar
para partes de seu corpo que nã o deveria.
— Estou muito bem, sr. Dom Lucero. E tenho certeza absoluta de que meus pais
desejam que eu me case...
— Está muito enganada — ele a interrompeu com um novo sorriso. — Seus pais
só querem vê-la feliz. Tudo que você tem a fazer é lhes dizer que nã o quer essa uniã o.
Entã o, eles permitirã o que nó s dois nos casemos.
Inconcebível!Ridículo! Catalina quase riu, mas estava aturdida demais. Lucero
falava a sé rio? Dom Diego já era ruim por ser um velho de vinte e sete anos. Esse aí
tinha quarenta, podia ser seu pai! Nem como isso ela o queria. Poucos minutos atrá s,
tinha detectado uma ponta de crueldade no olhar dele que até agora a assustava.
Ele chegou mais perto, a barriga bloqueando-lhe a porta. Caso ela se mexesse, se
tocariam.
— Fale com seus pais depois da festa. Diga-lhes que seu coraçã o me pertence e
você deseja...
— Senhorita Velasco?
Catalina virou-se e viu um dos criados.
— Vim avisá -la que Dom Tomá s de Guzmá n chegou e a aguarda do outro lado do
grande salã o.
— Por favor, o senhor me dê licença — Catalina disse a Lucero e afastou-se
ADORO ROMANCES EM EBOOK 21
TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO
CAPÍTULO IV
Paralisada, Catalina mal podia pensar. Este era Dom Diego de Guzmá n? O
estranho atraente? O filho de Dom Tomá s que, depois de onze anos, ainda perseguia
uma criada? Um homem que desejava livrá -la de suas roupas a fim de possuí-la e,
depois, afirmar que o que haviam compartilhado nã o era nadai
Devia haver um engano. Sem dú vida, Dom Tomá s gracejava. Fitou-o em busca de
confirmaçã o, mas ele mostrava-se surpreso com sua expressã o. E com a do estranho
atraente também.
— Seu filho... Onde o senhor disse que ele está ? — murmurou.
— Aí, com a caixa de prata nas mã os. Esse é meu filho. Entã o nã o era um gracejo.
Nã o havia engano. Catalina virou-se
e encarou o estranho atraente, Dom Diego de Guzmá n.
Ele mal se dava conta da mú sica, das vozes e dos risos alegres. O trovejar do
coraçã o os abafava e lhe roubava o fô lego enquanto ele admirava seus cabelos loiros,
enfeitados com uma rosa vermelha.
Diego podia ver cada pé tala aveludada. Mas a beleza da flor nã o se comparava
com a de Catalina. A volta de seu pescoço esguio, havia um colar de ouro, e um vestido
de seda dourada cobria-lhe o corpo macio.
Era como se essa moça houvesse engolido o sol em vez de alimentos, e ele,
agora, resplendia de seu â mago.
Diego nã o via nada alé m de seu brilho e sua beleza. Nem a luz das centenas de
velas que iluminavam o palá cio se comparava com seu esplendor. Mesmo assim, ele
nã o podia acreditar.
Catalina Fernandez de Velasco era o serviçal! O rapaz insolente que ele havia
tirado do riacho, descoberto ser mulher, beijado-a e lhe dado seu punhal? O que tinha
acontecido à criança feiosa de que ele se lembrava? Mais importante, e o convento?
Diego agradeceu aos cé us que essa beldade extraordiná ria nã o ia para convento
algum. Nã o se fosse se casar com ele. No que lhe dizia respeito, eles se casariam, com
ou sem convento.
— Senhorita... Catalina — ele murmurou.
Ela baixou o olhar. Suas faces estavam quase tã o vermelhas quanto a rosa nos
cabelos.
Diego imaginava se o resto de sua pele clara, naquelas partes escondidas dele
agora, coloriam-se também. Uma tonalidade que combinaria com as auréolas da
criatura linda, seus mamilos.
— Sr. Dom Diego — ela disse.
— Belíssimo! Agora, minha querida, tenho um jogo de xadrez acertado com seu
pai — avisou e foi-se.
Enfim só s, mas nã o por muito tempo. Diego rodeou Catalina enquanto ela dizia:
— Agora, me dê licença.
Afastou-se, mas ele a seguiu. Desejava estar a seu lado, encantar-se mais com
sua beleza. Além do mais, precisavam conversar. Ele queria saber muita coisa.
Era seu há bito vestir roupas de criados? Gostava de se disfarçar de homem?
Costumava retribuir beijos de estranhos?
Uma onda de ciú me inundou Diego e quase o impediu de respirar. Os joelhos
ameaçavam se dobrar.
Entã o, teve certeza de nã o querer esperar nem o mê s acertado para a realizaçã o
do casamento. De jeito nenhum. Tanto quanto nã o queria essa uniã o, na vinda ao
palá cio, agora ele nã o podia esperar para realizá -la.
Ele a seguiu até a outra extremidade do salã o onde a perdeu de vista.
Impossível, refletiu, frustrado. Ela era a ú nica criatura dourada no palá cio. Só ela
reluzia como a jó ia no pescoço. E Diego tinha de encontrá -la.
— Nã o se mexam ou ele me descobrirá — Catalina disse a Evita, Inez, Bernadina
e Ysabel, suas amigas de infâ ncia e ainda solteiras.
Estava sentada numa poltrona perto da parede e as quatro, em pé , a escondiam.
Ysabel, a mais baixa do grupo, olhou por sobre o ombro e disse:
— Mas Catalina, o sr. Dom Lucero nã o está olhando para cá .
— Estou falando de Dom Diego, o homem alto e com uma cicatriz na face direita.
Todas olharam por sobre o ombro.
— Por favor, nã o façam isso — Catalina pediu.
Como se nã o a ouvissem, as amigas viraram-se de costas para ela a fim de ver
bem. Dom Diego. Ysabel foi a primeira a falar:
— Oh, ele é tã o atraente, Catalina!
— Alto e forte — Evita disse com um suspiro.
— E sem dú vida está procurando algué m — Bernadina completou.
Catalina nã o ia se deixar achar. Empurrou Inez para o lado e, depressa, saiu do
salã o. Um cavalheiro nã o a seguiria.
Enquanto as vozes e a mú sica ficavam mais fracas a suas costas, ela atravessou
vá rias salas do palá cio e conseguiu chegar à á rea dos aposentos particulares da família.
No começo, ela ouvia apenas os pró prios passos no chã o de pedra, mas logo,
notou o ruído de outros. Rumou para os quartos dos criados, embora pudesse tentar
um homem audacioso como Dom Diego. Parou e virou-se para enfrentá -lo.
Em vez dele, viu Lucero. Entã o, sentiu medo.
mais chegado.
Os aplausos foram estrondosos por parte de todos, exceto de Lucero que se
mantinha imó vel. Diego o encarou até que ele também batesse palmas. Satisfeito com
tal atitude, ele olhou para Catalina. Suas faces estavam rubras como naquela manhã e
sua expressã o era de quem fugiria dali correndo. Antes que ela o fizesse, Diego se
levantou e disse:
— Creio que a felicidade desta noite cansou a querida Catalina. — Fitou-a e
sugeriu: — Talvez uma ida ao terraço lhe faça bem.
Rodeou a mesa e parou a seu lado. Por um instante, temeu que ela o agredisse
com um dos talheres. Porém, sob os olhares de tantas pessoas, ela lhe permitiu que a
ajudasse a se levantar.
Diego lhe ofereceu o braço, o mesmo que ela havia mordido onze anos atrá s e
para o qual baixou o olhar como se pensasse nas cicatrizes. Ele pretendia mostrá -las na
noite de nú pcias, junto com tudo o mais.
— Um pouco de ar fresco aliviará sua tensã o.
Seus dedos, que o tocavam de leve no braço, contraíram-se. Antes que a
primeira caminhada deles se transformasse num combate corpo a corpo, Diego a levou
da sala de jantar ao grande salã o e ao terraço. A essa altura, ela já havia puxado a mã o
e a entrelaçado à outra.
Atrá s deles, o alarido de vozes, os risos e os ruídos do banquete continuavam.
Ali só havia silê ncio e Diego apressou-se em falar:
— Para minha alegria, você se transformou de uma simples criança numa
mulher incrivelmente linda.
Calada, Catalina sentou-se em um banco de pedra. Diego a seguiu e ficou em pé a
seu lado. Finalmente, ela murmurou:
— Obrigada, senhor. Ai, tão formal e distante.
— Posso lhe perguntar uma coisa, Catalina?
Ela ergueu bem os ombros e fixou o olhar no grande salã o vazio.
— O que quiser.
— Isso eu sei, mas você responderá ?
— Nã o tenho escolha. Você vai ser meu marido, nã o vai? Diego arqueou as
sobrancelhas.
— Ah, vou sim. Quero saber por que você vestia aquelas roupas hoje de manhã .
Ela contraiu os mú sculos do rosto.
— Gosto de cavalgar — respondeu.
— Vestida como homem?
— Como serviçal — Catalina corrigiu.
Diego pô s o pé no banco e cruzou os braços sobre o joelho.
ADORO ROMANCES EM EBOOK 28
TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO
— Quer saber, deixei você ganhar. Assim, você poderá incluir aqueles cavalos no
dote de Catalina.
— Além da honra, minha filha levará muitos tesouros de que estou disposto a
abrir mã o.
— Entã o, acrescente seus cavalos á rabes, aqueles que lhe cedi de boa vontade —
Dom Tomá s resmungou.
Diego colocou-se entre os dois, temendo que resolvessem a questã o aos tapas.
— Papai, Dom Lorenzo, ambos apreciaram vinho demais para poder falar ou
refletir com clareza. Deixem a discussã o para outro dia.
Os dois resmungaram, mas estavam cansados demais para insistir.
Diego aproveitou para levar o pai para fora. O amanhecer já marcava o
horizonte, anunciando um novo dia. Dentro de alguns dias mais, Catalina o
acompanharia à feira.
Enquanto um cavalariço ia buscar as montarias, Diego olhou para as janelas do
segundo andar. Qual seria a de Catalina? Ela estaria dormindo ou o observava de uma
delas à s escuras?
Catalina devia ter passado o resto da festa em seu quarto, pois ele nã o a tinha
visto mais no grande salã o ou nas salas de jogos. Ela devia apreciá -los tanto quanto
cavalgar, nadar e correr.
Por que havia concordado com a uniã o deles? Nã o porque temesse desafiá -lo ou
aos pais, pois a moça tinha coragem suficiente para tanto. Talvez porque gostasse
muito de Dom Tomá s.
Ele sentiu o orgulho ferido o que o deixou mais determinado ainda a conquistar
o amor de Catalina.
Tã o logo Diego e o cavalariço ajudaram Dom Tomá s a se acomodar na sela, ele
montou e os dois partiram.
O ar fresco estava agradá vel; e o pai, curioso.
— O que achou de Catalina, filho? É linda, nã o é?
Mais do que o nascer do sol e da mais brilhante estrela. Diego nunca tinha visto
outra mulher com olhos verdes e cabeleira loira tã o deslumbrantes. Mas o que ele
apreciava mais era sua vivacidade. Desejava mais do que qualquer coisa, compartilhar
sua alegria, conquistar-lhe o coraçã o e ser alvo de seu amor espontâ neo. Jurava que
nã o seria feliz até conseguir tudo isso.
— Você precisa seduzi-la, filho.
Diego virou a cabeça para o pai. Teria ele adivinhado suas preocupaçõ es a
respeito do amor de Catalina?
— Como assim, papai?
— Você deve seduzir Catalina com muito cuidado, Diego. Ela nã o é uma mulher
sem â nimo e vontade pró pria.
ADORO ROMANCES EM EBOOK 32
TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO
CAPÍTULO V
Os dias que antecederam a feira foram de agonia para Catalina. Seu espírito
alegre escondia-se sob uma camada de frieza, destinada a proteger-Ihe o coraçã o.
Mesmo assim, ela perdia o controle quando pensava em Diego... e naquele beijo.
Uma noite, durante o jantar, a luta entre a frieza e a animaçã o a levaram a
romper num riso alegre para, no instante seguinte, debulhar-se em lá grimas.
Surpreso, Dom Lorenzo olhou para a filha.
— Catalina, será que você está com febre?
— Nã o, papai.
— Entã o o que a perturba?
Temor pelo futuro. Ela pensava por que tudo tinha de ser tã o diferente para um
homem e uma mulher. Por que eles nã o podiam cooperar e fazer do mundo um lugar
melhor?
Mas ao indagar do pai, ele murmurou algo incompreensível e evitou conversar
mais com a filha peio resto da refeiçã o.
Finalmente amanhecia o dia em que Diego iria levá -la à feira, e ela continuava
confusa. Pá ra piorar a situaçã o, Susanna estava adoentada e de cama. Nã o havia com
quem ela se abrir, exceto a mã e. Ela a amava, mas Dona Margarita nã o entendia o
espírito inquieto da filha.
Catalina percebia o olhar preocupado da mã e enquanto zanzava pelo quarto,
sem saber o que usar para o passeio.
— Vista seu melhor costume para cavalgar — Dona Margarita aconselhou.
Em vez disso, Catalina escolheu o mais velho e confortá vel. Ia se casar com
aquele homem, mas nã o o agradaria demais. Estava resignada a passar o resto da vida
brigando com ele. Nã o via al-ternativa ou como outras mulheres se sujeitavam a isso.
— Mamã e, por favor, me diga uma coisa. Você era apaixonada por papai desde o
início, nã o era?
Dona Margarita sorriu.
— Si. Minha mã e costumava rir quando contava como meus olhos brilharam a
primeira vez em que vi seu pai. Meu coraçã o se perdeu naquele momento.
Catalina tomou as mã os delicadas da mã e entre as suas.
— E o mesmo aconteceu a papai em relaçã o à senhora? A mã e hesitou.
— Papai a adora, mamã e!
— É verdade, filha.
Catalina sentiu mais hesitaçã o ainda naquelas palavras.
ADORO ROMANCES EM EBOOK 34
TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO
— Existe alguma coisa que precisa me contar, mamã e? Algo que eu deva saber
sobre as relaçõ es entre homens e mulheres?
— Apenas que você deve fazer tudo que seu marido desejar. Isso o manterá
satisfeito, além de adorá -la.
— Mas com certeza, papai continuaria a amá -la se a senhora discordasse dele.
Dona Margarita sorriu. Era uma mulher linda, com cabelos es-curos, ainda sem
fios brancos, e pele clara.
— Nã o desafio o amor de seu pai com provocaçõ es à paciência dele. Faça o que
seu marido desejar. Confie em mim. Ficará cada vez, mais fá cil com o passar dos anos.
— Em minha opiniã o, ficará mais difícil se cada nova liberdade for cerceada.
— Sua liberdade consiste em ter consciê ncia de que é esposa e mã e. Tal
condiçã o permanecerá se o amor continuar ou nã o.
Entendo o que quer dizer. Devo fechar meus olhos para as esperadas
infidelidades de meu marido.
Dona Margarita puxou as mã os das da filha audaciosa.
— Catalina, se você lutar contra Dom Diego como luta contra as regras da vida,
ele logo se cansará de você.
— Se o resultado for esse, melhor que ele se canse agora e nã o depois de eu me
entregar a ele.
— Catalina, você nã o pode dizer isso!
Deus! De novo essas conversas difíceis com a mã e e Susanna. Elas nã o podiam
entender seu ponto de vista? As mulheres tinham tanto direito à felicidade quantos os
homens.
— Porque, mamã e, devo dar meu amor a um homem que nã o o respeitará ?
— Se você tentar, talvez ele respeite.
— Mas ele também nã o deveria tentar?
— Esse nã o é o dever do marido e sim da esposa.
— Por quê? Nã o seria desperdício de esforço? Se Dom Diego é igual a todos os
homens, exceto papai e Dom Tomá s, ele só me magoará . Nã o quero sofrer dessa forma.
Preferiria nã o ter sentimentos.
— Mas menina, você nã o tem escolha nessa questã o. Você deve ...
— Eu me casarei com Dom Diego e lhe darei filhos, mas jamais minha felicidade.
Ela será só minha.
Dona Margarita sentiu-se perdida com o modo de pensar da filha. Ao perceber,
Catalina lamentou. Queria tanto conversar com uma mulher que a entendesse.
— Mamã e, como é justo um homem fazer o que deseja e à mulher só cabe se
preocupar e esperar?
— Estou mesmo. Já competi com muitos homens e ganhei. Com você nã o será
diferente.
Que arrogância!
— Veremos — ele a desafiou.
— Ah, fala o guerreiro. Ouvi contar seus feitos nos conflitos de nossa naçã o. As
histó rias sobre o grande Dom Diego, líder de seus homens contra os mouros.
— Você nã o ouviu isso de minha boca.
— Nã o, da de seu pai. Dom Tomá s fala sempre de suas aventuras.
— A guerra nã o é uma aventura, Catalina, mas algo muito sério. Ela deu-se conta
de ter infringido as regras de civilidade.
— Nã o foi minha intençã o ser desrespeitosa.
— Eu sei. Mas nã o se deve falar da guerra como se fosse uma confusã o na corte.
Muitos homens morreram, outros ficaram seriamente feridos ou aleijados. Um deles
poderia ser seu irmã o, caso tivesse idade para lutar. No futuro, poderá ser seu filho.
Catalina enrubesceu e perguntou:
— E quanto a você? A cicatriz em seu rosto resultou de um ferimento na guerra?
— Nã o, mas de uma briga com meu irmã o quando éramos crianças. Foi por
cauda de um cavalo á rabe. Cada ura teimava que era seu. O animal, assustado com a
briga e na pressa de escapar, quase escoiceou meu irmã o que se atirou longe e me
atingiu no rosto com a espora.
Catalina riu, mas ficou séria logo.
— Desculpe. Nã o foi uma histó ria engraçada.
Diego também riu e concordou:
— De fato, nã o foi. Sabe, acho que vou apreciar muito nossas conversas à noite.
Embora enrubescesse, ela pediu:
— Conte uma coisa. Existiam mesmo haré ns em Granada?
Esta moça era audaciosa demais. Olhava-o à espera da resposta.
— Eu nã o os conheci, mas me disseram que havia, sim.
— E o que você acha desse costume?
— Que eu lutaria até morrer para livrá -la de tal destino. Dessa vez seu rubor foi
mais intenso e ela dirigiu o olhar para a estrada.
— O que foi, Catalina? Prometo que nã o ficarei chocado com qualquer coisa que
você disser.
Ela esboçou uma sombra de sorriso, mas de novo ficou séria.
— Estou preocupada com Susanna.
— Sua irmã ?
— Si.
— Ela está com algum problema de saú de?
— Nã o, mas deseja ter um marido para protegê -la e ao filho que vai nascer.
Diego podia compreender isso. O que lhe fugia à compreensã o era a questã o ser
discutida com ele. Estaria Catalina insinuando que ele deveria ser o tal marido?
Cauteloso, disse:
— Percebo bem o dilema de sua irmã , só que você capturou meu coraçã o,
Catalina. Nã o aceitarei outra.
Ela arregalou os olhos.
— Minha confissã o a surpreende? Nã o imagina que eu possa perder meu
coraçã o para você ? — Diego indagou.
— Ora, os homens perdem o coraçã o para as mulheres com facilidade. Para
muitas com frequê ncia. Minha surpresa é você pensar que eu o quero para minha irmã
querida.
Diego franziu as sobrancelhas. O comentá rio nã o era nem um pouco lisonjeiro.
— Como nã o posso ler seus pensamentos, Catalina, talvez você deva me explicar
o alvo de sua conversa.
— Mamã e e papai estã o considerando o sr. Dom Lucero como um possível
partido...
— Jamais! — Diego a interrompeu. Catalina nã o conteve um largo sorriso.
— Vejo que pensa como eu, Diego.
Ele assentiu com um gesto de cabeça. Alé m do sorriso lindo, a frieza de sua voz
tinha desaparecido, ele refletiu, feliz. A vivacidade voltava a seus olhos e, com ela, uma
pergunta:
— O que vamos fazer?
Nós?, ele indagou-se.
— Sobre o dilema de sua irmã ?
— Sim. Se Susanna nã o for procurada por um nobre condizente, Lucero será o
escolhido de meu pai. Nã o permitirei que isso aconteça. Estou disposta a me sacrificar
e casar...
— Você nã o fará isso! Eu a proíbo até de pensar em tal absurdo. Ela o encarou.
— Você se esquece de que ainda nã o estamos casados. Até entã o, posso fazer o
que bem entender.
Diego segurou as ré deas de Diamante e o puxou para mais perto.
— Nã o pode, nã o. Se for preciso, darei um jeito de casar e levá -la para a cama
ainda esta noite a fim de tirá -la de Lucero ou de qualquer outro homem. Entendeu bem
o que eu disse?
CAPÍTULO VI
Ela agia dessa forma pelo bem de Susanna. E, afinal, tratava-se apenas de um
beijo. Nada mais, como Diego tinha dito quando eles haviam trocado tal intimidade.
Catalina sabia o que se esperava dela apó s o casamento. O beijo seria
simplesmente uma liçã o sobre seu papel. Sem dú vida nã o estaria entregando o
coraçã o. Manteve uma atitude mais fria do que se sentia ao se aproximarem de
Có rdoba.
Que cidade linda, cheia de construçõ es alvas que se tornavam douradas sob a luz
do sol. Os arcos graciosos e os mosaicos coloridos falavam dos sé culos de influência
moura ali.
Tã o logo chegaram à feira, Catalina nã o escondeu a animaçã o, apesar do receio
com o beijo prometido a Diego. Enquanto a percorriam, ambos aplaudiam mú sicos e
riam das proezas de malabaristas.
— Fantá stico! — Diego exclamava e lhes atirava moedas.
Além de reses e carneiros à venda, havia um sem-fim de mercadorias. Entre os
tecidos encontrava-se grande variedade de sedas, brocados e veludos. Apesar dos
protestos de Catalina, Diego comprou-lhe tantos cortes que o criado mal podia
carregar.
— Você é generoso demais — ela o censurou.
— Quero vê-la com esses tecidos lindos. Se isso é ser generoso, estou sendo
comigo mesmo.
Ela controlou-se para nã o ceder ao encanto dele.
Quando pararam diante de um mercador que exibia toda sorte de armas
brancas, apertou o braço de Diego. Via-se que eram obras de um artesanato perfeito.
As lâ minas e os cabos de aço damas-quino brilhavam ao sol. Ela nunca tinha visto
tantas no mesmo lugar. Sentia-se fascinada.
Diego curvou-se e lhe disse ao ouvido:
— Você mostra mais prazer com isto aqui do que com as sedas, veludos e
brocados.
— Porque desejo muito possuir uma.
Ele riu e lhe disse que escolhesse a de seu gosto.
— Posso mesmo? — ela indagou ao fitá -lo para ter certeza.
— Pode, sim, mesmo que pretenda usá -la em mim.
O mercador, um homem idoso, olhou espantado de um para o outro.
Catalina examinou vá rios punhais, avaliando o peso de cada um. Finalmente
CAPÍTULO VII
vez a Susanna.
— A senhora gostaria de ir à feira amanhã ?
— Ela nã o pode. Está grá vida — Catalina disse depressa.
Todos os olhares caíram nela. Antes que algué m pudesse falar. Diego aparteou:
— É uma viagem de muitas horas, penosa para qualquer mulher.
A faca de Catalina bateu no prato.
Impossível agradar essa criatura, ele pensou. Mesmo assim, disse:
— Mas existem algumas mulheres mais capazes do que outras de enfrentar tal
dificuldade.
Ela sorriu com essa vitó ria que, na verdade, era dele, já que pagaria qualquer
preço para vê -la feliz.
Porém, Lucero parecia determinado a acabar com qualquer alegria. Continuou a
dirigir-se a Susanna:
— Poderíamos fazer diversas paradas. Todas as vezes que a senhora precisasse
descansar.
— Diego comprou vá rios cortes de seda, brocado e veludo na feira. Insistiu que
eram para Susanna — Catalina provocou.
Ele a fitou com expressã o indignada, mas seu olhar lhe suplicou que apoiasse
sua artimanha. Como ele poderia negar?
— Bem, foi uma decisã o de comum acordo entre mim e Catalina.
— Muita generosidade sua — Dona Margarita disse.
Confiante, Lucero insistiu:
— Os tecidos devem ser lindos, tenho certeza, mas há muitas diversõ es na feira
e...
— Nesse caso, vamos todos amanhã — Catalina o interrompeu. — Susanna
cavalgará a meu lado e Diego ao de Dom Lucero.
Isso era demais. Diego nã o estava disposto a cavalgar ao lado daquele animal
que lhe cobiçava a noiva. Porém, novamente o olhar suplicante de Catalina o fez ceder.
— Creio que podemos fazer tal passeio — disse.
Por uns momentos continuaram a comer em silê ncio. Entã o, Lucero o quebrou:
— Se os tecidos foram comprados para Dona Susanna, nã o restam muitos
motivos para se ir à feira. Quem sabe numa outra ocasiã o.
Diego e Catalina entreolharam-se.
Assim que o jantar terminou e antes que os homens se retirassem ao escritó rio
do pai, Catalina puxou Diego para um canto.
Pouco depois, Dom Lorenzo olhou da filha para Diego com ar de quem esperava
uma péssima notícia.
— Devo avisá -los que, qualquer que seja o assunto, nã o poderá ser pior do que a
desfeita que infligi a Dom Lucero. Ele esperava jogar xadrez comigo esta noite, mas eu
me neguei. Ele já está a caminho de casa. Muito bem, o que querem conversar?
Com o olhar, Catalina mostrou a vontade de que Diego falasse. Ele, entã o,
dirigiu-se a seu pai.
— É com grande aborrecimento que preciso informá -lo sobre um desagradá vel
incidente provocado por Dom Lucero, na noite em que o senhor anunciou meu noivado
com sua filha.
Dom Lorenzo endireitou-se na poltrona.
— Incidente? De que tipo?
— Enquanto Catalina ia por um corredor, rumo à á rea dos criados, vi que Dom
Lucero a seguia.
— Como assim? Tem certeza disso? Ele podia estar no corredor por outros
motivos.
— Nã o, as intençõ es de Dom Lucero eram bem claras. Sua filha percebeu logo,
mas como estivesse desarmada, só pô de contar com a presença de espírito para se
proteger.
Diego olhou para Catalina e foi recompensado com um sorriso.
— Muito bem, o que aconteceu entã o? — Dom Lorenzo indagou.
— No momento em que sua filha já ia erguer um candelabro para se defender eu
chegava ao local da cena. Ante minha presença e a exigê ncia para que Dom Lucero nã o
mais molestasse Catalina, ele finalmente se foi.
— Ele nã o pode ter permissã o para se aproximar de Susanna. É um homem mau
— Catalina aparteou o que fez o pai arregalar os olhos.
— Mau?! Menina, você nã o o conhece bem. Admito que ele agiu de maneira
impró pria e quero acrescentar, Diego, que lhe sou devedor por ter defendido Catalina.
Mas Lucero é inofensivo. As manobras políticas dele tê m ajudado muita gente
importante.
— Isso pode ser, mas ele continua sendo mau — Catalina insistiu e continuou
sem dar atençã o ao olhar de advertência do pai. — Antes de Diego chegar aquela noite,
Dom Lucero me assediou no terraço. Falou de seu amor eterno por mim e, quando o
lembrei de meu compromisso, a expressã o do olhar dele foi de ó dio. Eu o acho capaz
de grande violência física, até contra uma mulher.
Dom Lorenzo reclinou-se na poltrona e olhou para Diego.
— O que você pensa a respeito?
Num movimento brusco, Catalina pô s-se em pé .
— Papai, fui eu quem viu a expressã o assassina no olhar daquele homem e nã o
Diego.
O pai a encarou, ignorando seu rompante. Sem dizer uma palavra, tinha olhado
de Diego para a filha e de volta para ele.
—Catalina nã o interrompa outra vez e sente-se. E entã o, Diego, o que pensa?
Ela nã o obedeceu e pô s-se a andar de um lado para outro, mas calada. Diego, por
sua vez, nã o soube o que dizer quando Dom Lorenzo voltou a insistir:
CAPÍTULO VIII
autoconfiança?
Naturalmente ele era mais perito nas atividades amorosas, mas, nessa noite, se
daria conta da inexperiê ncia da noiva. Isso o agradaria ou aborreceria? Ela deveria se
importar? Nã o, decidiu.
Nã o daria seu coraçã o a esse homem. Bastava dar-lhe o futuro.
Catalina olhou para as mã os dele que, de repente, pousavam nas suas. Aqueles
dedos longos e fortes aqueciam os seus. Provocaram algo em seu â mago que se
expandiu pelo corpo inteiro e o rosto. Quando levantou o olhar, Diego a fitava.
Naqueles olhos, ela viu a mudança. A expressã o nã o era mais de pretendente e
sim de marido. Aqueles olhos queimavam com â nsia ardente. Havia até um toque de
desejo na voz quando ele disse:
— Prove isto.
Catalina olhou para o doce que ele segurava, mas, quando quis pegá -lo, Diego
balançou a cabeça.
— Abra a boca. Quero dar esta delícia a minha esposa.
Ela olhou em volta. Os convidados os observavam. Fitou Diego e entreabriu os
lá bios. Com a maior delicadeza, ele lhe deu o doce. Surpreendeu-se quando Catalina
passou a língua pelos dedos dele para saborear o mel que restava.
— Você gostaria que eu providenciasse alguns desses docinhos para levar
conosco? — ele perguntou.
— Como você preferir.
— Estou indagando sobre sua vontade, mulher.
— Tenho certeza de que coincide com a sua, marido.
— Muito bem, se você quer fazer esse jogo.
— O jogo nã o é meu, marido, e sim o que você concebeu, dias atrá s, no escritó rio
de meu pai.
— Você ainda nã o entendeu? Eu nã o queria que você se oferecesse para aquele
animal do Lucero.
— Eu lhe obedeci totalmente, marido, como devia. Mais agora que sou sua
mulher.
— Ainda nã o. Esta noite será , eu lhe garanto.
Tais palavras provocaram uma onda de calor em Catalina que aumentou com o
beijo que Diego lhe deu. Carícia que foi muito aplaudida por todos no salã o.
Quando ele a soltou, disse baixinho:
— Espere mais disso, Catalina, muito mais.
Ela afastou-se uns passos e, mais uma vez, as pessoas pararam o que faziam
para observá -la. Pareciam esperar que ela matasse o marido ali mesmo.
— Nã o faço ideia do que queira dizer, senhor, mas exijo que saia daqui
imediatamente.
— Permita que eu explique — ele disse ao se aproximar um pouco. — Veja,
Catalina querida, existem muitas razõ es para uma uniã o como a sua e de Diego nã o
durar muito. Viuvez é uma, e permanente.
Catalina esbugalhou os olhos. A criatura falava de assassinato?
— Mas um homem jovem e forte como Diego torna sua viuvez pouco prová vel. A
menos que ele sofra um acidente como Pedro de Susanna.
Catalina deu um passo para trá s. Lucero a seguiu e, ainda sor-rindo, continuou:
— Mas nem sempre se pode contar com acidentes, embora nã o se deva perder a
esperança. E eu tenho muita. Paciê ncia também.
— O senhor está insano! — Catalina exclamou.
— De jeito nenhum. Estou apaixonado. Eu a quero, Catalina. Teria me casado
com sua irmã apenas para ficar perto de você.
Ela deu mais um passo para trá s, mas nã o havia por onde escapar.
— Veja, meu amor, enquanto temos de esperar que um acidente dê fim a Diego e
você se veja livre para se casar comigo, existe uma soluçã o para nó s. Seu marido
viajará , sem dú vida. Enquanto ele estiver ausente da propriedade, você poderá ser
minha aman...
O tapa de Catalina cortou o resto da palavra.
— Jamais! — vociferou. Lucero levou a mã o ao rosto e a fitou.
— Jamais é muito tempo, Catalina. Mas como eu já a avisei, sOU um homem
paciente. Creio que você acabará pensando como eu. Até entã o, meu amor.
As ú ltimas palavras a seguiram quando Lucero lhe deu passagem e ela saiu do
escritó rio. Desvairada, correu para longe dali.
— Nada — ela disse e o fitou. — Quero ir embora já . Você vai me negar isso?
Diego mal disfarçou a alegria.
— Entã o, vou anunciar nossa partida a todos.
— Vou com você.
— Pensei que precisasse mandar descer sua bagagem.
— Uma criada pode fazer isso. Quero ficar a seu lado, Diego. Com seu punhal,
talvez ela pudesse protegê-lo.
— Tudo bem, ele concordou.
Juntos, voltaram ao grande salã o. Enquanto Diego anunciava a partida deles,
Catalina notou o ar de alívio dos pais e o de satisfaçã o de Dom Tomá s, mas nã o
percebeu as lá grimas de Susanna. Continuava preocupada com Lucero.
Ele nã o tinha voltado ao grande salã o. Onde estaria? Quais seriam os planos
dele?
O olhar de Catalina vasculhava a saída do aposento quando sentiu o braço de
Diego em sua cintura.
— Pronta para partir? Com a cabeça, ela assentiu.
Diego nã o fazia ideia do que tinha provocado essa mudança repentina na noiva.
Ela o puxou pela mã o para fora do aposento, rumo à porta de saída e do pá tio
enluarado. Uma noite para amantes. Para recém-casados.
Antes que ele pudesse roubar um beijo ou pronunciar uma palavra, Catalina
mandou um criado ir buscar Peligro e Diamante, deu ordens a outros a respeito de sua
bagagem e chegou ao ponto de comunicar ao criado de Diego o que esperava dele. Será
que manteria a atitude autoritá ria na cama essa noite?, Diego indagou-se. De jeito
nenhum. Lá , ele demarcaria seus limites.
Os cavalos chegaram e antes que Catalina o mandasse montar, ele a ajudou a
fazê -lo. Virou-se para trá s ao notar que ela nã o parava de olhar por sobre os ombros.
Só confirmou a paisagem enluarada o que facilitaria a viagem.
No momento em que Diego montou Peligro, Catalina instigou Diamante a passar
de trote a galope e fazer-lhe um sinal com a mã o para acompanhá -la.
Isso era demais. A moça precisava de controle, sem dú vida. Ele esporeou Peligro
e, ao alcançá -la, segurou as rédeas de Diamante. Brava, ela indagou:
— Por que fez isso?
— Vamos cavalgar num passo seguro. Nã o quero que minha mulher quebre o
pescoço antes de eu levá -la para a cama.
Apesar do luar, seu rubor nã o pô de ser notado. Ela desviou o olhar e, mais uma
vez, dirigiu-o por sobre o ombro.
Diego virou-se na sela, mas só viu os criados a cavalo que levavam a bagagem de
Catalina. Intrigado, perguntou:
CAPÍTULO IX
pararam diante de uma porta imensa de madeira entalhada com cenas campestres.
Sem dú vida, símbolo da riqueza de Dom Diego de Guzmá n.
Ele a abriu e postou-se de lado para Catalina entrar primeiro.
O quarto deles era enorme. Ali també m havia um candelabro com velas acesas,
alé m de outras espalhadas pelo aposento. Uma janela aberta à esquerda permitia a
entrada de ar fresco.
Rodeada por guarda-roupas, cô modas, mesinhas e poltronas ficava a cama
imensa com um dossel e cortinas de veludo de um castanho mais claro do que os
cabelos e os olhos de Diego.
Ele fechou a porta e ficou parado junto a ela enquanto dizia:
— Você é nova aqui, Catalina, nã o me esqueci e compreendo. Portanto, espero
que me oriente no andamento desta noite o quanto lhe for possível.
Ela se sentiu agitada com essa delicadeza inesperada.
— Lamento, mas nã o sei como começar — desculpou-se. Diego se aproximou,
aconchegou seu rosto entre as mã os e
pô s-se a beijá -la. Apesar dos avisos para proteger o coraçã o, Ca-talina gemeu e
abriu a boca para receber a língua do marido. A carê ncia dele pareceu aumentar. Logo
aprofundava o beijo e a abraçava como se temesse que ela fugisse.
Minutos depois, quando ambos estavam temporariamente sa-ciados dessa
intimidade, Diego afastou-se e, numa voz rouca, murmurou:
— Está na hora de você se despir.
Catalina manteve-se imó vel enquanto ele tirava seus anéis, as luvas e o colar.
Em seguida, foi a vez dos sapatos e das meias. Enfim, restavam o vestido e a roupa de
baixo.
Ela fechou os olhos e permitiu que Diego removesse tudo. O ar frio da noite
tocou sua pele nua, enrijecendo mais os mamilos num prenú ncio do que viria ocorrer.
Como quisesse que Catalina testemunhasse tudo, ele disse numa voz suave, mas
insistente:
— Abra os olhos, minha querida.
Ela obedeceu com esforço, mas sentiu apenas um momento de vergonha pela
nudez. No mesmo instante, viu o desejo estampado no olhar de Diego. Era o que ele
queria, aliá s ambos.
Apesar da respiraçã o já meio acelerada, ele sorriu um pouco e tirou a bainha
com o punhal de sua coxa.
— Com sua permissã o, vou guardar isto num lugar seguro.
— Agradeço sua atençã o.
Depois de pô r a arma num dos guarda-roupas, ele voltou para seu lado. Tirou a
rosa e os pentinhos de seus cabelos e acabou de desmanchar o penteado.
— Nã o — ela balbuciou.
— Entã o, o que você sentiu?
Surpresa. Desejo. Carência.
Diego leu a resposta em seu olhar.
— Deixe que eu a guie nos caminhos do amor, minha querida. Nã o lhe farei mal
e nem a envergonharei, prometo.
Com a respiraçã o acelerada, Catalina tinha a sensaçã o de que o quarto
rodopiava. Fechou os olhos e permitiu que ele agisse como desejava. Porém, Diego
queria ainda mais.
— Abra suas pernas — ordenou.
Deveria ou nã o?, ela indagou-se. Mas era o marido quem mandava e nã o podia
negar-lhe nada. Para ser sincera, nã o queria negar.
Depois de uns momentos, obedeceu.
Sua surpresa nã o poderia ser maior. Com os movimentos da mã o de Diego ela
sentiu uma umidade estranha. O que estaria acontecendo em seu corpo? E a ela? O
quarto continuava a rodopiar, mas parou quando ele penetrou um dedo em seu corpo.
Nã o conteve uma exclamaçã o.
— Está doendo? — ele perguntou.
Catalina balançou a cabeça. Nunca havia sentido sensaçã o igual ou a seguinte
quando, com o polegar, Diego acariciou a á rea onde os pê los terminavam. Seu desejo
era tã o grande que ela agarrou com força a beirada do lençol. Numa voz sufocada,
indagou:
— Diego, o que está me fazendo?
— O que você sente? — ele murmurou.
— Uma carência tã o grande que vai me matar!
— Nã o lhe fará mal algum, prometo.
— Mas...
— Quietinha. Faça isso por seu marido.
Impossível resistir, pois nos momentos seguintes, as carícias dele a levaram a
gritar com a explosã o de sensaçõ es que foram das pernas ao peito e do coraçã o à
cabeça. Catalina arfava e virava a cabeça de um lado para o outro, mas o efeito
persistia. Nã o passaria nunca? Era o que ela queria?
— Diego — balbuciou, porém, ele nã o ouviu.
O marido tinha baixado a cabeça para seus seios e beijava os mamilos com
sofreguidã o. Catalina temia enlouquecer. Nã o haveria limites para essa tortura
intensa? Uma mulher podia suportar tanto prazer nos braços do marido sem morrer?
Ela duvidava que pudesse aguentar mais.
Choramingou enquanto as mã os de Diego exploravam cada parte de seu corpo.
ADORO ROMANCES EM EBOOK 69
TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO
Ele parou de beijar-lhe os seios e escorregou o rosto para além de sua cintura. Como
continuasse para a regiã o mais baixa, Catalina intuiu o que ele pretendia e tentou
fechar as pernas, mas o marido foi mais rá pido e a impediu.
Dessa vez, ela balançou a cabeça com um não ené rgico.
— Você nã o espera que eu permita...
— Catalina, você é minha mulher e eu tenciono apreciá -la. Nã o feche as pernas.
Isso nã o vai doer.
Ela nã o estava com medo de dor e sim confusa com a ousadia de Diego. Firmada
nos cotovelos, soergueu-se e indagou: -— Diga a verdade, outras pessoas fazem isso?
Ele sorriu de sua inocê ncia.
— Nã o questionei todas que conheço, mas acredite em mim, meu amor, isso nã o
é mais raro do que uma mulher dar à luz um filho.
A expressã o do marido dizia que sua recusa seria inaceitá vel. Catalina deitou-se,
abriu as pernas e crispou as mã os quando Diego começou a beijar sua parte mais
íntima.
Depois disso, ela temia nunca mais poder fitá -lo. Nem olhar para outra pessoa,
sair do palá cio ou se levantar dessa cama.
Porém, o prazer que o marido lhe provocava era uma completa surpresa.
Entregou-se a ele e logo sentiu que algo se avolumava em seu â mago, uma sensaçã o
agradá vel que, de lá , espalhou-se pelo corpo inteiro. Arqueou o corpo para trá s um
segundo antes de o clímax a atingir, ameaçando-a atirá -la pelo céu afora.
Diego se ajoelhou e segurou-a pela cintura. A voz dele parecia vir de muito longe
ao dizer seu nome. Catalina forçou-se a abrir os olhos para fitá -lo.
— Agora, você está pronta para mim. Nã o lute contra isto. A dor passará
depressa — ele garantiu.
Ela aquiesceu com um gesto de cabeça e fechou os olhos.
— Catalina, quero que você testemunhe tudo, que veja nosso amor.
Impossível. O homem exigia demais. Entreabriu os olhos e, entã o, arregalou-os
ao vê -lo se posicionar entre sua pernas, pronto para possuí-la. Apavorou-se. Sem
dú vida ele a mataria.
Diego penetrou apenas um pouco, o suficiente para disparar o coraçã o de
ambos. Numa voz rouca, explicou:
— Fazer isto depressa, atingirá o objetivo, minha querida. Depois, talvez haja
prazer.
Catalina preparou-se enquanto Diego baixava os quadris. Com um impulso
poderoso, venceu sua virgindade numa penetraçã o completa, transformando a noiva
em esposa.
Catalina fechou bem os olhos ao sentir a pressã o do ó rgã o do marido. Suas
entranhas pareciam forçadas ao má ximo de sua elasticidade.
— Esta é a parte pior e a dor logo começará a passar — ele murmurou entre
tragadas sô fregas de ar.
Como seria possível?, ela indagou-se. Porém, nã o tinha escolha.
Catalina agarrou a borda do lençol e prendeu a respiraçã o quando Diego deu
novo impulso. Outro e outro e outro até ela perder a conta. Mas a dor começava a
passar como ele havia dito e logo desaparecia.
Em lugar dela, surgia uma sensaçã o agradá vel e muito excitante. Catalina só
podia se deixar levar pela onda de prazer que Diego lhe proporcionava. Sentia como se
o corpo encolhesse, ou o dele aumentasse. Mais uma vez, a uniã o de ambos tornava-se
apertada, forçada.
Mas curiosamente, isso só aumentou a sensaçã o excitante que finalmente a
dominou. Soltou um grito, abafado pelo de Diego que mesclava o pró prio prazer com o
seu. Juntos, eles tinham alcançado o piná culo do desejo.
Catalina e Diego apreciaram-se por horas a fio. As velas se derreteram e a cera
extinguiu as chamas. Nã o importava, pois a luz do sol já iluminava o quarto. Como se
isso pudesse revelar mais de seu corpo que Diego ainda nã o tivesse admirado, ela ten-
tou, em vã o, cobrir-se com o lençol.
— Você ainda nã o terminou aqui, meu amor.
O que mais o marido lhe pediria? Ele a tinha possuído tantas vezes e acariciado
seu corpo inteiro, mas nã o havia sido o suficiente?
Catalina o tinha surpreendido. Depois de seu acanhamento e confusã o iniciais
sobre o que seria feito na cama, havia se tornado tã o ardente e vigorosa quanto ele. A
certa altura, Diego temera que seus gritos assustassem os criados que poderiam
pensar que ele a estivesse matando.
Neste momento, uma expressã o maliciosa surgia em seu rosto lindo enquanto se
sentava entre as pernas dele.
— Catalina, o que pensa estar fazendo?
— Estou me familiarizando com meu marido — ela respondeu ao acariciá -lo
entre as coxas.
O contato deixou Diego de cabelo em pé. Essa mulher era audaciosa demais e
precisava ser instruída sobre o comportamento adequado de uma esposa. Mas como as
carícias continuassem, ele exclamou:
— Catalina!
— Quieto meu querido, ou eu nã o lhe provocarei prazer.
Antes que Diego pudesse repetir seu nome, ele estremecia ao atingir a satisfaçã o
plena.
Catalina abraçou-o e beijou a marca de sua dentada no braço dele.
— Você me perdoou pelo ataque cruel?
— Si — ele balbuciou, ofegante.
ADORO ROMANCES EM EBOOK 71
TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO
CAPÍTULO X
manhã seguinte, longe de sua proteçã o ou da de um criado que ele se negava a levar.
— Permita que eu vá com você — ela pediu.
Estavam na cama, apó s terem feito amor, momento em que seria mais fá cil fazer
o marido satisfazer sua vontade. Com olhar triste, ele sacudiu a cabeça.
— Nã o posso. O problema é com servos de uma vila. Sã o pessoas rudes e nã o
quero expô -la a eles.
— Eu me vestirei como serviçal. Ninguém me reconhecerá , nem você.
Diego a fitou e sorriu.
— Você ainda vai fazer isso aqui. Mas só quando eu puder persegui-la. Será bem
divertido.
Catalina o acariciou no peito.
— Por favor, Diego, nã o me deixe aqui sozinha.
— Ora, há mais criados aqui do que precisamos. Você nã o ficará sozinha.
— Mas nã o estarei com você .
— O que acha de ir visitar seus pais? Passar o dia com eles? Nã o, ela precisava
acompanhá -lo. Insistiu.
— Irei com você para protegê -lo contra aqueles servos. Você nã o pode me
impedir.
Diego a olhou com firmeza.
— Que ideia está passando por sua cabeça? Será que nã o confia em minha
fidelidade enquanto estiver longe de você?
Ela nem havia pensado nisso.
— Você me deu sua palavra quanto a se manter fiel. Por que ou duvidaria dela?
— Qual é o motivo para você insistir em me acompanhar? Pa-rece determinada
a me proteger. Contra quem?
Como nã o pudesse contar, Catalina decidiu usar outra tá tica.
— Pelo menos, leve uns serviçais.
— Para quê? Eles sã o necessá rios aqui.
— Você disse que as pessoas lá sã o rudes.
— Em relaçã o a você. Sou homem e elas nã o me assustam. Ela repetiu umas
palavras em á rabe que tinha ouvido Diego usar quando estava bravo, deixando-o
consternado.
— Catalina, nunca mais repita essas palavras.
— Por que se você as diz? — Sou homem e você , mulher. Nem sabe o que elas
significam.
— Entã o, você precisa me ensinar.
— Jamais.
— Nesse caso, vou encontrar um mouro que me...
— Ensinarei quando voltar de minha viagem.
— À qual você levará quatro criados pelo menos. E exijo que eles vã o armados.
— Por quê? Aqueles servos nã o estã o planejando uma revolta Eles têm apenas
umas questõ es para acertar. Sou um senhor justo. Sempre fui. Você se preocupa sem
razã o.
— Eu me preocupo porque te adoro, Diego. Por favor, será que estou pedindo
muito?
Ele respirou fundo e suspirou.
— Suponho que nã o. Levarei os homens e as armas se isso a deixar mais
sossegada.
Deixaria, sem dú vida.
—Senor Dom Lucero, eu trouxe um lanche que ainda nã o comi e estou com fome.
Mas nã o posso sair da á gua sem minhas roupas. O senhor faria o grande favor de
passá -las para mim? Estã o aí a seus pés. Para nã o molhar suas botas, seria melhor que
pegasse um galho daquela á rvore lá atrá s para me entregar as peças.
Quando ele esticasse o galho, Catalina pretendia puxá -lo para a á gua, nadar até a
margem e se apoderar do punhal. Caso ele se aproximasse, apunhalaria-o.
Mas Lucero foi mais esperto do que ela esperava.
— Por que um galho? Usarei minha espada.
Catalina desanimou. Nã o podia se valer do plano se ele usasse a espada, pois
correria o risco de cortar as mã os.
— Ora, apenas jogue as roupas.
Lucero nã o o fez. Desembainhou a espada e a usou para erguer seu vestido do
chã o. Em seguida, balançou-o em sua direçã o, tendo o cuidado de mantê-lo perto da
margem para forçá -la a ficar em pé a fim de pegá -lo. Esboçou um largo sorriso.
Catalina queria matá -lo, mas nã o havia nada que pudesse fazer. Ele a deixava
sem saída. Entã o, o pior aconteceu.
A criada Teresita, de dezesseis anos, que trabalhava na cozinha e lançava
olhares sedutores para Diego, Catalina percebia, apro-ximava-se a cavalo. Os cabelos
vermelhos da moça esvoaçavam quando viu os dois. Virou a montaria para melhor
observar a cena.
Catalina queria morrer. O que Diego pensaria quando ficasse sabendo? E ficaria,
sem dú vida alguma. Tinha certeza por causa da expressã o de Teresita. Esta mostrava a
intençã o de informar ao patrã o a pouca vergonha da esposa ao exibir o corpo nu e a
possível infidelidade.
Embora temesse a língua da criada, Catalina temia mais ainda um ataque de
Lucero. Por isso, gritou:
— Teresita, traga minhas roupas.
Numa voz adocicada e com medo fingido, Lucero contou:
— Sua patroa corria o risco de morrer afogada. Por que nã o estava aqui para
ajudá -la? Eu nã o podia por causa da idade. Por acaso passava por aqui e ouvi seus
gritos.
— Mentiroso! — Catalina esbravejou, mas percebeu seu erro. Havia falado como
se os dois estivessem envolvidos em algo
errado que ele tentava disfarçar.
Ai, Mãe misericordiosa, a situaçã o nã o podia ficar mais sombria.
Teresita amarrou o cavalo na mesma á rvore de Diamante e correu para pegar as
roupas de Catalina. Lucero, por sua vez, como se fosse um cavalheiro, continuou a
mentir:
— Agora que está segura, Senora Guzmá n, vou embora. — Virou-se para a
ADORO ROMANCES EM EBOOK 79
TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO
CAPÍTULO XI
Catalina passou uma noite de insô nia na cama imensa, atormentada por visõ es
de assassinatos e de olhares furiosos de Diego. Mas ao amanhecer, com a promessa de
um dia lindo e do retorno do marido, achou que estava exagerando.
Diego sabia de sua repulsa por Lucero e havia testemunhado como o homem a
tinha assediado no palá cio do pai. Poré m, por causa disso, ainda existia o perigo de o
marido pegar a espada, correr à propriedade de Lucero e matá -lo.
Catalina retorceu as mã os. Uma vez enraivecido, Diego nã o se acalmaria com
facilidade. Era preciso conceber um plano em que ele acreditasse e que nã o o deixasse
muito bravo. Para tanto, teria de falar com ele antes de Teresita o fazer.
Com isso em mente, Catalina vestiu-se depressa para receber o marido. Pronta,
deixou os aposentos e, quase correndo, transpô s o corredor, rumo à escada.
Uma criada de meia-idade varria o patamar. Ao vê -la, baixou o olhar e foi
embora.
Catalina nã o soube o que fazer. Já tinha visto essa criada muitas vezes, que
sempre lhe sorria ao cumprimentá -la. Mas nã o nesse dia, ela refletiu ao descer ao
andar té rreo.
Lá , apanhou a troca de olhares de duas outras criadas que limpavam a sala de
jantar. A mulheres pararam de cochichar e continuaram a trabalhar.
Catalina resolveu ir para fora. Nem chegou a descer ao pá tio. Vá rios serviçais
executavam tarefas habituais e a olharam de esguelha como se ela tivesse duas
cabeças.
Um medo gelado provocou-lhe um arrepio na espinha. Já ia voltar para dentro,
mas lembrou-se dos olhares das criadas. Só lhe restava refugiar-se em seus aposentos.
Porém, como interceptar Teresita de lá ?
Depressa, desceu a escada e começou a caminhar na direçã o em que ele deveria
chegar. Sabia que era uma atitude suspeita aos olhos dos serviçais. A esposa culpada ia
ao encontro do marido antes que ele ouvisse as má s línguas. Poré m, ela nã o tinha
escolha e nem tempo para mandar encilhar Diamante.
Catalina nã o havia andado mais do que meia hora quando viu, a distâ ncia, a
poeira levantada pelos cavaleiros. Isso foi logo seguido pelo tropel dos animais.
Entã o, ela distinguiu Diego que cavalgava à frente do grupo. Teve vontade de
correr-lhe ao encontro, mas sentiu-se presa ao chã o. Atrá s dele, vinham cinco
cavaleiros e nã o quatro como na ida. Quem seria o intruso?
Nesse instante, ela viu um lampejo de cabelos vermelhos. Quando já estavam
mais perto, reconheceu o pai de Teresita que também trabalhava na propriedade.
O homem tinha cometido a audá cia de ir ao encontro de Diego a fim de lhe
ADORO ROMANCES EM EBOOK 81
TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO
contar o ocorrido?
Pelo olhar gé lido de Diego, quando se aproximou, Catalina soube que ele havia
sido informado de tudo. Mas a atitude dele nã o sugeria aos serviçais que havia algo
errado.
Ao chegar a seu lado, ele puxou as ré deas, estendeu-lhe a mã o, que ela pegou, e a
puxou para o colo. Juntos, cavalgaram o resto do caminho para casa.
Pela primeira vez, depois da noite do casamento, Catalina nã o queria entrar no
palá cio. Temia a fú ria do marido que já percebia pela maneira com que ele a segurava
pela cintura. Nã o havia mais a delicadeza habitual, mas uma grosseria indicativa de
que ele estava a par do ocorrido.
Quando chegaram ao palá cio, um criado ajudou Catalina a desmontar. Diego o
fez, entregou as rédeas de Peligro a um cavalariço e, entã o, ofereceu-lhe o braço para
que entrassem.
Para o resto do mundo, Catalina tinha certeza, eles pareciam os felizes senhor e
senhora da propriedade. A educaçã o de ambos tinha lhes ensinado as formalidades
que deveriam demonstrar diante dos serviçais.
Catalina, porém, conhecia o verdadeiro Diego. Ao retornar da viagem, embora
curta, o marido a teria estreitado contra o peito e a beijado com paixã o, sem se
importar com os olhares dos serviçais. Tal demonstraçã o já tinha acontecido antes.
Quando entraram no palá cio, Diego puxou o braço e verificou a
correspondê ncia. Em seguida, dirigiu-se à criada que dava as ordens à cozinheira.
— Nã o mande preparar nada para o almoço — determinou. Catalina
estremeceu. Sem lhe dirigir uma ú nica palavra, ele lhe ofereceu o braço a fim de
subirem a seus aposentos. Ela teve vontade de fugir, mas apoiou-se no braço.
Nunca antes ela havia notado o ruído dos passos de ambos, nem sentido o ar tã o
parado e os momentos tã o infinitos.
Parecia que nunca chegariam aos aposentos, mas, tã o logo o fizeram e Diego
fechou a porta, mais uma vez, Catalina quis fugir ou que ele dissesse alguma coisa. Ela
nã o se atrevia a murmurar uma ú nica palavra. Mas o marido manteve-se em silê ncio.
Nem parecia respirar.
Finalmente ela o fitou, mas recuou depressa, amedrontada com o olhar furioso
dele. Em silêncio, Diego esperava. Desesperada, ela começou a falar:
— Nã o é o que você pensa.
Ao observá -la, ele contraiu os mú sculos do rosto e Catalina continuou:
— Felipe nã o tinha o direito de ir encontrá -lo para...
— Quase matei o homem pelo que ele contou — Diego a interrompeu e
aproximou-se.
Chegou bem perto, poré m, ela manteve-se firme, pois nã o havia cometido erro
algum. Numa voz baixa e calma, disse:
— Isso nã o é verdade!
— Como pode me pedir para acreditar em você ? Eu a deixo aqui sozinha por
pouco mais de um dia e, acidentalmente, Dom Lucero a encontra nadando nua no
riacho em minha propriedade. Muito conveniente para ele!
— Muito conveniente que Teresita estivesse lá para testemunhar tudo. Você nã o
imagina por que ela surgiu no lugar? Que interesse ela poderia ter?
— Teresita nã o estava nadando nua no riacho. Nã o me casei com ela e nem lhe
jurei fidelidade.
Catalina tornou a suplicar:
— Por favor, Diego! Existe muito mais nisso do que você sabe. Ele atravessou o
quarto e a segurou pelo braço.
— Nesse caso, me conte os segredos que guarda tã o bem. Ela nã o podia até ter
certeza de que o marido nã o cometesse uma tolice.
— Primeiro, você tem de prometer...
— Nã o lhe prometo mais nada, mulher. Agora, conte! Catalina o fitou, mas
manteve-se em silê ncio. Nã o tinha opçã o.
Ela preferia perder o amor e a confiança do marido em vez de vê -lo arriscar a
pró pria vida para vingar o atrevimento de Lucero. Como a mulher nã o dissesse mais
nada, ele largou seu braço e saiu do quarto.
Melhor ficar longe e não pensar, Diego disse a si mesmo. Cada vez que o fazia,
lembrava do que Catalina havia lhe dito antes de se casarem. Ela se entregaria a Lucero
a fim de salvar a irmã do animal. Ningué m era mais importante para ela do que
Susanna. Nem mesmo o marido.
Pegou as ré deas de Peligro das mã os do cavalariço, montou e partiu a galope.
Cavalgou sem direçã o certa até encontrar-se à beira do riacho onde o encontro se dera.
Encontro descrito por Felipe, o serviçal, com tais detalhes que Diego o
derrubara no chã o, sob a ponta da espada. Mas tinha lhe poupado a vida até poder
verificar a verdade com Catalina.
Tinha chegado ao palá cio certo de que tudo seria resolvido e, sem dú vida, nã o a
favor de Felipe. Antecipava que a esposa o aguardasse tã o ansiosa e carente da uniã o
de ambos quanto ele.
Porém, no momento em que a tinha visto caminhando na estrada, tã o longe do
palá cio, ao encontro dele, com expressã o aflita e de medo, tivera certeza de que Felipe
nã o havia mentido.
O encontro com Lucero tinha ocorrido. Era a desculpa que Diego desejava para
matar o animal. Mas o problema nã o estava com Lucero e sim com Catalina.
Audaciosa, ela falava demais em fidelidade e confiança. Até na noite de nú pcias o
tinha acusado de desejar outra mulher. Com isso, o havia tapeado e forçado a lhe dar
sua presença. Ele nã o o fez. Quando acabou a leitura, abriu outra carta. Depois outra e
mais outra. Mesmo assim, Catalina esperou em silê ncio. Quando nã o havia mais cartas
para serem lidas, indagou:
— Você pretende me ignorar pelo resto de nosso casamento? Diego nã o
respondeu e saiu do escritó rio depois de passar por
ela. No corredor, rumou para a escada.
A criada que tinha lhe preparado o banho acabava de descer as escadas. Olhou
para os dois e desapareceu depressa.
Catalina nã o lhe deu atençã o e seguiu Diego aos aposentos de ambos. Lá , ele se
despiu como se estivesse sozinho. Tã o logo entrou na banheira de á gua quente, ela
ajoelhou-se ao lado.
— Vou esfregar suas costas
Quando pegou a esponja, ele a segurou pelo pulso.
— Diego, por favor — ela murmurou.
Em silêncio, ele arrancou-lhe a esponja da mã o e só entã o a soltou. No instante
seguinte, iniciou o banho como se Catalina nã o estivesse ali.
Naquela noite, o primeiro andar do palá cio ecoava o riso e as vozes de homens
que pareciam estar bebendo vinho demais.
Pelas criadas. Catalina tinha ficado sabendo que eles eram ca-balleros, ou seja,
nobres de posiçã o secundá ria. Tinham lutado sob o comando de Diego em Granada e
se tornado amigos dele.
Até que horas a festa continuaria?, ela indagou-se. Mas as gargalhadas e outros
barulhos continuavam. Apertou a testa quando alguma coisa estalou lá embaixo. Ouviu
mais risos e, depois, um gritinho feminino. Sentou-se para ouvir melhor e discerniu
risos histé ricos de mulher.
Ai, Mãe misericordiosa, isso nã o.
Catalina retorcia as mã os quando mais risadas femininas soaram lá embaixo.
Levantou-se e foi até a porta que se entreabriu. Depois de ouvir com atençã o, percebeu
que havia umas cinco moças lá com todos aqueles homens. E um deles era seu marido.
Um marido que a ignorava e gozava de todos os direitos nessa casa. Ela sabia
que nã o tinha autoridade para exigir a expulsã o de uma ú nica pessoa dali. E nem
mesmo para despedir um serviçal. Esse era um privilégio unicamente de Diego.
Suas preocupaçõ es com o casamento voltavam a atormentá -la e de muito mais
maneiras de que ela havia suspeitado.
CAPÍTULO XII
Diego permitiu que a festa continuasse por trê s dias, embora nã o tomasse parte
nas diversõ es como as dos amigos com criadas jovens. Mantinha-se à parte bebendo e
pensando em Catalina.
Nem uma vez ela saiu do quarto. Depois da primeira noite, em que nã o tinha
comido nada, pediu a uma criada para levar suas refeiçõ es lá . Comia e dormia sozinha,
mas nã o reclamava.
Talvez ela houvesse escapado e voltado para a casa dos pais.
Ou ido para Lucero.
Diego terminou o vinho enquanto essa ideia lhe corroía a pró pria alma. Isso e o
fato de lhe terem roubado os momentos mais felizes da vida. Momentos esses que
tinham sido com Catalina.
Uma das criadas se aproximou. Ele havia esquecido o nome da moça. Ela o fitou
com olhar sedutor como se isso o levasse a desejá -la. Diego nã o se interessou. Sonhava
com Catalina.
A moça, ao perceber a indiferença de seu senhor, foi procurar homens mais
dispostos.
Diego serviu-se de mais vinho. O tempo passava. Alguns homens dormiam,
outros comiam e uns tantos seguiam criadas a seus quartos.
Mas Diego nã o se mexia. Bebeu mais enquanto pensava em Catalina e no
casamento deles. Deprimido, imaginou a maneira como passaria o resto dele. Carente.
Necessitado. Quando ela lhe pertencia. Diego largou o copo de vinho e levantou-se. Nã o
estava embriagado. Tinha desejado ficar, mas até isso lhe fora negado. Os pensamentos
estavam claros. Imagens perturbadoras de Lucero e Catalina passavam-lhe pela
cabeça.
Ele deixou o grande salã o e dirigiu-se à escada. Atrá s dele, dois homens
discutiam sobre o final de uma partida de xadrez.
— Juan, eu lhe afirmo, sou o vencedor — gritou Roberto. Diego começou a subir
a escada e, quando chegou lá em cima,
Juan e Roberto ainda brigavam pelo resultado do jogo. Ou por uma mulher que
deveria ser o prê mio do vencedor.
Diego parou diante da porta do quarto. A respiraçã o já estava ruidosa. Carê ncia
demais. Lembrou-se de que Catalina era sua mulher e lhe pertencia.
Abriu a porta, entrou e fechou-a. Iluminado por apenas uma vela, o quarto
estava na penumbra, mas havia luz suficiente para ele ver Catalina deitada na cama.
Ela havia deixado as cortinas abertas como ele preferia. Tinha os olhos fechados,
as feiçõ es relaxadas e, pela respiraçã o profunda, dormia. Os ombros e seios nus
ADORO ROMANCES EM EBOOK 87
TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO
mostravam que ela obedecia à ordem do marido de nunca usar peça alguma naquela
cama.
Sem desviar o olhar dela, Diego descalçou as botas e, depois despiu-se. Sua
mulher. Pertencia só a ele.
Aproximou-se da cama. Ela nã o se mexeu. Sentou-se na beirada a seu lado. Ela
continuou dormindo.
Diego afastou o lençol de seda que a cobria da cintura para baixo e deitou-se a
seu lado. Sentiu a maciez de sua pele e seu calor. Tocou-a no lado do rosto. Sua
respiraçã o mudou de ritmo e ela entreabriu os olhos. Sonolentos, eles pareciam nã o
focalizá -lo. Entã o, ela balbuciou:
— Diego?
Quem mais ? Em vez de responder, ele apossou-se de sua boca. Esperava
resistê ncia, uma briga. Nada.
No mesmo instante, Catalina abriu bem a boca, permitindo ao marido o acesso
absoluto ao que lhe pertencia por direito. Acari-ciou-o no ombro e, depois, enlaçou-o
pelo pescoço.
La embaixo, a balbú rdia da festa continuava, mas ali em cima.
Diego só se dava conta desta mulher de quem se privara por tempo demais. Ele
a queria nesse momento. Precisava dela.
Numa fraçã o de segundo, ela posicionou-se de costas para recebê -lo. Com um
impulso poderoso, Diego a possuiu.
Seu corpo estremeceu de prazer. Murmú rios e gemidos suaves escaparam de
seus lá bios até que Diego os capturasse outra vez.
Ele a beijou com paixã o durante todo o ato. Quando este terminou, ele continuou
dentro de seu corpo enquanto a boca se distraía com seus lá bios e seios, até estar
pronto para ela outra vez.
Diego desfrutou a mulher, sua esposa, pelo resto da noite, quando as sombras
deram lugar à luz do sol. Durante o tempo todo, os dois nã o disseram uma palavra,
apenas fitaram-se na alma.
Diego sabia que nã o tinha nada para esconder. E ela?
Tinha medo de saber, pois a amava demais. Ele a adorava. Ca-talina faria parte
dele até o dia de sua morte. Mesmo assim, nã o podia tolerar o fato de ela já o haver
traído. E que talvez o fizesse de novo no futuro. Desanimado, baixou o olhar.
Catalina o tocou no rosto e, depois, na cicatriz no braço.
— Você quer dormir? — perguntou.
Ele queria a verdade, seu amor e, acima de tudo, sua fidelidade. Voltou a fitá -la.
— Nã o. Exijo saber seus segredos. Os que você tem a audá cia de esconder de
mim.
Foi a vez de Catalina baixar o olhar. Isso revelou a Diego mais do que palavras
poderiam. Ela nã o lhe pertencia. Nã o de coraçã o. Nã o podia forçá -la a ter tal fidelidade.
Diego afastou-se um pouco e Catalina o segurou pelo braço a fim de impedi-lo de
se levantar.
— Por favor, Diego, saiba que te amo. Jamais amarei outro tanto quanto a você.
— Esses sã o seus segredos? Todos eles?
— Nã o...
— Mas você nã o me contará os outros.
— Antes de eu os revelar, preciso ter sua promessa...
— Nã o, Catalina. Como eu já disse, nada mais de promessas de minha parte —
ele afirmou, levantou-se e foi até o guarda-roupa.
— Você vai embora outra vez?
— Nã o. Esta é minha casa e tenho o direito de apreciá -la. Você é minha esposa e
eu també m a apreciarei.
Diego escolheu umas roupas e virou-se para ela.
— Mas será tudo. Um prazer momentâ neo. A necessidade de um homem. Nada
mais profundo. E jamais voltará a ser.
A vida toda, Catalina tinha pensado que a pior coisa a que uma mulher poderia
se sujeitar seria a vontade férrea de um homem ou sua crueldade. Mas, nas semanas
seguintes, ela descobriu que existia algo ainda pior: indiferença. Especialmente por
parte de algué m tã o amado.
Embora ela e Diego fizessem as refeiçõ es juntos, oferecessem recepçõ es e
fizessem amor todas as noites, ele jamais retribuía seus olhares afetuosos. Só a tocava
quando precisava estimulá -la a fim de alcançar o pró prio prazer.
Os momentos de convivê ncia carinhosa, em que trocavam ideias, nã o existiam
mais. Se ela mencionava um assunto qualquer, o marido apenas a ouvia com olhar
alheio como se estivesse entediado. Apesar de antes ambicionar liberdade total, com
essa indiferença do marido, Catalina sentia-se abandonada.
Suportou a situaçã o por algum tempo. Depois de vá rios dias desse tratamento,
ela sentiu a necessidade de desafiá -lo. Queria provocar-lhe alguma emoçã o que
sentisse por ela, mesmo que fosse raiva. A pró pria subiu-lhe à cabeça, um dia, durante
o almoço.
Enquanto Diego, saboreava umas frutas, com mais atençã o do que dedicava a
ela, Catalina o informou:
— Como Susanna está perto de dar à luz, planejo ir até a casa de meus pais para
ajudar no parto. E também para combinar os detalhes do pró ximo casamento dela com
Dom Có rdoba.
Fiel à palavra dada, Diego tinha conseguido encontrar um nobre para se casar
com Susanna.
— Vou para lá esta noite, mas só depois que você dormir. Nã o quero privá -lo de
meus deveres de esposa — Catalina acrescentou.
Diego nã o parou de descascar uma laranja. Numa voz calma, disse:
— Como você desejar.
Era assim? Muito bem. Ele teria isso e muito mais.
— Para minha ausência nã o atrapalhar sua vida aqui, nã o vou levar serviçais
comigo — ela o informou, dando seu maior golpe.
Ela queria dizer que nã o levaria proteçã o alguma na viagem. No passado, isso
teria feito o marido protestar, furioso. Ele, porém, limitou-se a fitá -la de relance e
repetir:
— Como você desejar.
Catalina ficou tensa com o insulto, mas manteve a voz calma.
— Tenho meu punhal. É só do que preciso.
Diego pô s um gomo da laranja na boca e o saboreou antes de falar.
— Eu já a vi usar a arma. Você a maneja bem.
— Nã o sei quando vou voltar.
— Fique lá o tempo que precisar.
— Pode haver complicaçõ es, pois é o primeiro filho de Susanna.
— Nã o se pode apressar esses casos.
— Se você nã o quiser que eu vá , eu...
— Quero que você faça o que desejar.
— Nesse caso, talvez eu pule no riacho para me afogar. Diego olhou para seu
prato que ela havia batido na mesa.
— Você se esquece que eu já vi como você nada bem. Nunca se afogará , acredite.
Catalina começou a chorar. Nã o conseguia mais conter a tristeza. Isso,
finalmente, provocou uma reaçã o no homem de pedra. Mas de raiva. Ele pulou em pé e
esbravejou:
— Catalina, pare com isso!
— Nã o posso.
Diego suspirou e voltou a sentar-se.
— Por que está chorando?
— Porque você nã o se importa comigo.
— Como posso? Você guarda segredos de mim.
Como ele estava enganado. Catalina nunca havia sentido tristeza maior do que
na hora em que preparava a bagagem para a viagem à casa dos pais. Estranho. Ela
havia aprendido a gostar mais dali do que da casa onde tinha nascido e sido criada.
Sem dú vida por causa da presença de Diego, mesmo que ele mostrasse indiferença.
Catalina nã o o culpava. Como ele poderia saber que seu segredo só tinha o
propó sito de proteger-lhe a vida? Como poderia com-preender que ela, por amá -lo
tanto, achava tã o impossível entre-gar-se a Lucero quanto partir para a lua?
Diego só sabia de sua disposiçã o, antes do casamento, de ceder a Lucero, a quem
desprezava muito, só para salvar a irmã do animal.
Que tola havia sido! Com que descuido tinha tratado as atençõ es e o amor de
Diego. Na ocasiã o, havia lhe parecido um jogo que ela precisava ganhar. Estava
convencida de que necessitava de liberdade e nã o de amarras, nem mesmo das
forjadas pelo amor. Agora, nã o tinha em que se agarrar, pois o marido nã o lhe dedicava
nada alé m de indiferença.
Catalina jamais tinha se sentido tã o solitá ria como no momento em que
terminou de arrumar a bagagem e chamou Ignacio, o criado de Diego, para levá -la para
a garupa de Diamante.
O homem fingiu nã o notar seu rosto inchado e nã o sentir surpresa quando ela
lhe disse para cuidar da segurança de Diego.
— Fique sempre perto dele e o proteja. Nunca permita que ele cavalgue sozinho
— determinou em tom baixo, mas peremptó rio.
A expressã o do criado indicava curiosidade, mas era impossível explicar-lhe o
problema com Lucero. Por questã o de lealdade, ele contaria tudo a Diego. Catalina
podia imaginar o desfecho.
Durante as ú ltimas semanas, Lucero nã o tinha sido uma ameaça. Devia ter
ouvido falar de seus problemas com Diego. Os criados comentavam tudo entre si e
també m com os de outros nobres. As palavras viajavam.
Catalina sentia que Lucero tentava usar a situaçã o para atraí-la para a cama
dele. Para que matar Diego se, ao desacreditar-lhe a esposa, ele alcançaria o objetivo?
O homem nã o devia mais se importar com quem a mulher fosse para a cama. Dessa
forma, Lucero poderia gozar o que tanto queria sem correr riscos.
Quando Ignacio levou sua bagagem, Catalina esperou que o marido viesse se
despedir. Ele nã o apareceu. Nã o tinha estado nos aposentos o dia todo e nem
apreciado seu corpo. Onde ele estaria?
Ao chegar ao pá tio, a noite já ia adiantada, mas era de lua cheia. Haveria
claridade suficiente para ela viajar. Entã o, ela notou quatro cavaleiros ao lado de
Diamante. Olhou para eles e, depois, para o criado de Diego.
— O que isto significa? — indagou.
— Esses homens a acompanharã o até você estar segura dentro da casa de seus
pais — Catalina ouviu Diego dizer a suas costas.
Virou-se depressa. O coraçã o disparou. Talvez o marido se importasse com ela.
Ao beijá -la na face, ele fingiu que sim. Mas entã o, murmurou ao seu ouvido:
— Se você estiver grá vida de um filho meu, nã o quero que nada aconteça a ele.
O coraçã o de Catalina pesou no peito. O ú nico motivo para tal proteçã o era a
possibilidade de ela estar grá vida.
— Adiós! — ele disse.
Antes de Catalina responder, o marido dirigiu-se ao palá cio.
De uma das janelas, Diego a viu montar e partir acompanhada pelos quatro
cavaleiros. Entã o, correu ao primeiro andar para poder vê-la por mais tempo.
Seus cabelos estavam soltos como ele gostava, mas sua expressã o parecia tã o
desanimada quanto no dia em que ele fora confirmar o noivado.
Diego nã o compreendia essa mulher que amava tanto. Ela nã o queria ter
deixado a casa dos pais e, agora, mostrava-se triste por ter de passar uns dias lá . Havia
exigido liberdade a todo custo, mas quando a conseguira, queria algemas. Tinha
tentado enraivecê-lo e acabado em lá grimas. Guardava segredos que envolviam
ADORO ROMANCES EM EBOOK 92
TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO
Lucero, mas entregava-se ao marido todas as noites como só uma mulher apaixonada
poderia fazer.
Diego curvou a cabeça e crispou as mã os. Talvez devesse acompanhá -la nessa
viagem. Isso mesmo, era o que faria.
Correu para a escada, mas parou antes de descê-la. Cometeria um erro ao
juntar-se a ela. Voltou para a janela.
Enquanto esse problema com Lucero existisse entre eles, nada poderia voltar ao
que era antes. Nem mesmo quando Susanna se casasse com o novo pretendente.
Algo mais atiraria Catalina aos braços de Lucero. Um esquema para salvar o pai,
ou a mã e ou até uma das irmã s mais novas. A lista continuaria a crescer, bem como
seus segredos.
— Por que, mulher, você nã o pode ser honesta comigo? — Diego gritou.
Catalina continuou a jornada, inconsciente de que o marido houvesse falado e
que os olhos dele estivessem marejados de lá grimas.
Durante o trajeto, os acompanhantes de Catalina cavalgavam a uma distâ ncia
apropriada. Porém, mantinham o olhar atento pelas cercanias, ela sabia. Algum perigo
poderia atingi-la e a um possível filho de Diego.
Estaria ela grá vida?, indagou-se. Isso teria influência na situaçã o? Talvez. Diego
nã o se envolveria numa questã o com Lucero que pudesse afastá -lo de um filho
desejado.
Era uma esperança. Tudo que lhe restava.
Catalina passou a mã o pela barriga. Estava bem achatada. Havia se passado um
bom tempo desde o casamento e ela já devia ter concebido. Quem sabe havia algo
errado com ela que a impedisse de engravidar. Tal ideia lhe deu vontade de chorar
mais, poré m, controlou-se.
Pouco tempo depois, nem mesmo a silhueta do palá cio dos pais a consolou. Seu
lar nã o era mais ali e nem tornaria a ser.
Mas, ao ver a mã e mimando Susanna, cuja barriga imensa parecia prestes a
explodir, Catalina enterneceu-se.
— Maninha! — Susanna exclamou ao vê -la.
Catalina abraçou a irmã com cuidado e a beijou nas faces.
— Será que devemos esperar gê meos? — perguntou.
— Nã o faço ideia, mas espero que seja menino — Susanna respondeu enquanto
a mã e saia do aposento e as deixava sozinhas.
— Isso é verdade ou a vontade de Dom Roberto de Có rdoba? Susanna riu.
— Ele é um homem encantador. Bom, amoroso e quase atraente.
— Quase? Por acaso é caolho ou banguela? Falta um pedaço do nariz dele? Você
precisa me contar.
Susanna minhas lá grimas nã o sã o por causa de uma gravidez e sim por questõ es
mais sérias.
— E quais sã o elas? — Susanna indagou, preoupada.
Catalina precisava se abrir com algém, e a irmã querida era sua maior
esperança. Mesmo assim, começou num tom cauteloso:
— Sabe, quando Diego fez a primeira vaigem depois do casamento, Dom Lucero
apareceu na propriedade e me apanhou nadando nua no riacho.
Susanna arregalou os olhos e murmurou:
— O que está me contando? Nã o pode ser verdade!
— Você nã o ouviu os criados daqui comentar o caso?
— Nã o perco tempo com maledicência deles.
— Parabéns por isso.
— Catalina, você precisa me contar o que resultou disso.
— O que importa? O resultado é o mesmo. Diego deixou de me amar. Está
indiferente. Para ele, nã o existo mais. Mas, pela segurança dele, preciso maner o
segredo.
CAPÍTULO XIII
avisou para ficar longe do homem. E quanto a Diego? Você escondeu essa histó ria dele?
Por quê?
— Conheço meu marido. Ele insistiria em desafiar Lucero a um duelo e fazê -lo
pagar pela audá cia de se aproximar de mim. Ele nã o respeitaria a proibiçã o da coroa e
seria punido da pior maneira possível. Nã o posso e nã o vou deixá -lo correr esse risco.
Susanna compreendeu a situaçã o, mas nã o um detalhe.
— Como Dom Lucero pô de se aproximar de você na noite do casamento?
Está vamos todos no grande salã o.
— Lembra-se, mana, que me queixei de frio e disse que ia ao quarto buscar meu
xale? Foi uma desculpa para escapar um pouco da festa e ficar num lugar sossegado.
Nã o fui ao quarto e sim ao escritó rio de papai. Precisava refletir e ajustar meu estado
de espírito à nova condiçã o, mas Lucero chegou lá logo depois de mim. Quando
consegui escapar do homem, Diego me esperava ao pé da escada. Eu nã o podia lhe
contar as ameaças de Lucero, pois ele teria agido no mesmo instante. Quando se trata
de honra, Diego nã o dá ouvidos à razã o.
— Imagino. Mas, no dia em que Dom Lucero apareceu perto do riacho, o que
aconteceu para ele ir embora sem atacá -la?
Catalina contou todos os detalhes, inclusive a parte de Teresita.
— Mentirosa! Como se atreveu a fazer tais acusaçõ es? E o pai també m. Você
deve demitir os dois — Susanna aconselhou.
— Isso nã o compete a mim. Diego é o senhor de nossa casa e de todos os
serviçais. Além disso, ainda nã o posso contar a verdade a meu marido. Talvez nunca
possa. Já se passou tempo demais.
Susanna abriu a boca para protestar, mas Catalina nã o deixou.
— Sabe, mana, como eu insistisse muito em salvá -la das garras de Dom Lucero,
afirmei a Diego que estava disposta a me sacrificar ao homem para salvá -la. Ele, entã o...
— Você lhe disse isso?! Teria coragem de agir assim por mim? Catalina assentiu
com um gesto de cabeça.
—Minha querida, seu cuidado é para com Diego e nã o comigo.
— Pois acho que deve ser com os dois. Nã o quero que mal algum aconteça a
ambos. Nã o cometi erro algum, Susanna. Foi Lucero quem tramou tudo isso na
esperança de Diego me abandonar e, assim, me convencer a me tornar amante dele.
— Ele usou essas palavras?
— Foi quando o estapeei.
— Fez muito bem, maninha! — Susanna aplaudiu. Apesar da tristeza, Catalina
riu um pouco.
— Nã o sei o que fazer. Nã o quero perder o amor de meu marido. Vou lhe contar
uma coisa, Susanna, que nã o contei a ninguém. Na noite de nú pcias, fiz Diego jurar que
nunca teria outra mulher, só eu. Avisei que se ele me traísse com outra, eu retribuiria
Mas, apó s alguns dias, Catalina desapontou-se. Em vez de Diego, foi Ignacio
quem chegou com a resposta ao pedido de Susanna.
Levou-a para a irmã que mal tinha energia para respirar e, muito menos, para
abrir e ler uma carta. Pediu a Catalina que o fizesse e, tã o logo ela o fez, indagou:
— Qual é a resposta de Diego?
— Ele acha que o pedido nã o passa de outra artimanha minha. Só que, desta vez,
abusei de sua compreensã o e nã o da dele. E que até eu revelar meus segredos, nada
mudará entre nó s.
— Nesse caso, você precisa fazer isso. Confie na capacidade de Diego para
decidir a melhor maneira de resolver a questã o, assim que ele se inteirar da verdade
— Susanna aconselhou.
— Como você pode sugerir isso? A vida de seu futuro marido nã o está em jogo
— Catalina protestou, brava.
Susanna nã o alterou a voz ao responder:
— Eu sei, Catalina. Mas você precisa convencer seu marido com a arma de seu
amor. É a ú nica que lhe resta.
Seria forte o bastante para garantir a vitó ria? E quando poderia usá -la? Pois,
naquela noite, Susanna entrou em trabalho de parto.
Durante a ausê ncia de Catalina, Diego tentou ocupar-se com as atividades que
exercia antes do casamento. Mas tinha perdido o interesse por todas. Os dias eram
uma eternidade e as noites, mais longas ainda. Onde quer que fosse, ele via Catalina.
Na cama, imaginava-a deitada ao lado e disposta a entregar-se por inteiro a ele
mais uma vez. Ela estava em todos os lugares e em lugar nenhum. Porém, impossível
tirá -la da cabeça. Ainda mais depois daquela carta que ela forçara Susanna a escrever.
A mulher o considerava tã o ingê nuo a ponto de cair em tal armadilha? Pois nã o
era. Mesmo sem entender nada. O que mais estranhava era o comportamento
repentino de seu criado, apó s a partida de Catalina.
Desde entã o, ele o seguia como uma sombra. Vá rias vezes e certo de estar
sozinho, Diego virava-se para trá s e lá estava o homem a alguma distâ ncia. Quando
indagava o que fazia por ali, Ignacio respondia com questõ es vagas sobre serviços.
No início, Diego nã o tinha achado estranho tal comportamento. Deprimido com
a ausência de Catalina, só pensava nela. Alimen-tava-se por força de há bito e, à noite,
rolava na cama num sono intermitente.
Susanna ia morrer, Catalina tinha certeza. Nenhuma mulher poderia suportar tal
agonia e dor e continuar viva. A irmã gritava quase sem parar. Suas mã os tremiam ao
enxugar-lhe o suor na testa.
Dona Margarita entrou no quarto para se revezar com Catalina, mas a filha a
interceptou antes que ela alcançasse a cama.
— Mamã e, tenho medo que Susanna nã o sobreviva.
A mã e olhou para a parturiente e sorriu.
— A senhora quer que ela morra?! — Catalina indagou bai-xinho.
— Catalina, sua irmã é forte e está indo muito bem. A mã e teria ficado cega e
surda? Susanna acabava de gritar.
— Faça alguma coisa — Catalina suplicou.
— O que você propõ e?
— A senhora nã o sabe? A mã e passou o braço por sua cintura. — É você quem
ignora essas coisas, menina. Uma criança nasce quando está pronta. Nem antes, nem
depois. Nã o há nada que possamos fazer por Susanna a nã o ser tratá -la com carinho.
Ela tem de dar conta disso sozinha. Ela sabe, embora você, nã o.
Catalina virou a cabeça ao ouvir novo grito da irmã . Esse lhe provocou um
arrepio ao longo da espinha.
— E melhor você nã o ter medo da vida. Sua hora logo chegará — a mã e a
advertiu.
Ai, isto não! Jamais!
— Tenho medo de nã o ser capaz de suportar tormento igual. Sabe, mamã e, eu
me recuso a ter filhos.
— Acho que é um pouco tarde para dizer isso, menina. Catalina enrubesceu ao
pensar nas noites de paixã o passadas com Diego. Talvez isso també m tivesse acabado
como o amor dele havia.
— Embora eu seja casada, acho que nunca conceberei, mamã e.
— Pois já concebeu, filha.
O quê? Catalina fitou a mã e cujos olhos brilhavam.
— Seu rosto a trai, menina, bem como sua palidez e seu cansaço. Na primavera,
você estará nessa situaçã o de Susanna.
Catalina arregalou os olhos diante da agonia da irmã . Esse seria seu destino na
primavera? Ai, Mãe misericordiosa!
— Nã o se preocupe, minha filha. Depois de toda essa dor, haverá a criança e
muita alegria. Ainda mais se você der um filho a Diego.
Sem dú vida o que o marido haveria de querer. Ela ia ser mã e?
Precisava contar logo a Diego. Só que ele estava longe e se negava a vir vê -la ali.
CAPÍTULO XIV
Quando Susanna teve ura momento de sossego em sua agonia, exultou com a
novidade de Catalina.
— Que maravilha! Você vai dar um filho a Diego, tenho certeza.
— Você acha que mamã e está certa? Susanna passou a língua pelos lá bios
ressecados.
— Comigo, acertou até quase o dia do par...to.
Ela cortou a palavra ao meio e, depois, gritou de dor.
Ai, Mãe misericordiosa, Catalina pensou. Ela teria de passar por essa tortura na
primavera? Tortura que parecia nã o ter fim.
Aflita, Susanna agarrou suas mã os e as apertou com força. A mã e e duas tias
entraram no quarto e puseram-se a conversar e a rir baixinho. Catalina limpou a
garganta para lhes chamar a atençã o, mas as três a ignoraram.
Quando houve outra pausa momentâ nea entre as dores, Dona Margarita contou:
— Susanna, acabo de ser informada que Dom Roberto chegou e aguarda o
nascimento da criança no escritó rio de seu pai.
Catalina franziu a testa. Seria melhor se ele viesse ao quarto para testemunhar o
sofrimento da noiva com os pró prios olhos. Talvez assim os homens nã o ficassem tã o
ansiosos para provocar tal tormento à s esposas. Mas Susanna mostrou-se satisfeita.
— Por favor, dêem a ele minhas boas-vindas e algo para comer.
Catalina nã o conteve o riso.
— Você ainda vai transformá -lo num touro.
— Acho que, depois de nos casarmos, será Dom Roberto que me fará engordar
de novo.
Dona Margarita assumiu ar de censura.
— Filhas, senhoras jovens de sua posiçã o nã o falam essas coisas.
— Si, mamã e — Catalina disse, mas continuou a rir.
Diego montou e deu rédeas soltas a Peligro que disparou pelos campos. Mesmo
assim, levaria quase uma hora para alcançar a propriedade de Lucero.
Enquanto cavalgava, Diego pensava no que queria e precisava fazer com o
homem. Lucero era uma ameaça ao alegar que amava Catalina. Ele nã o desejava nada
alé m de possuí-la, e Diego estava disposto a morrer para impedi-lo de chegar perto
dela. Ou de algué m de sua família. Tinha certeza que sabia qual era o plano do
desgraçado.
Catalina tinha duas irmã s mais novas. Lucero as procuraria, forçando-a a ir para
o lado dele a fim de proteger as inocentes.
Ela faria isso, pois era mais corajosa do que qualquer homem que Diego
conhecia. E honrada também. Nã o tinha traído ningué m, muito menos a ele.
Ela havia tentado apenas protegê -lo enquanto lhe oferecia todo o seu amor. E
ele havia lhe virado as costas.
— Meu amor, me perdoe — ele murmurou.
Furioso, continuou cavalgando rumo ao palá cio de Lucero e para um confronto
urgente.
Quando chegou, foi recebido pelos criados com respeito e naturalidade, pois nã o
suspeitavam do motivo de sua visita.
Diego sorriu mentalmente. A surpresa era sempre aconselhá vel antes de uma
batalha e ali haveria guerra.
— Onde está seu senhor? — ele perguntou a uma criada.
— Nos aposentos dele — sr. Dom Guzmá n.
Diego dirigiu-se à escada que começou a subir de dois em dois degraus. Aflita, a
criada o seguiu.
— Sr. Dom Guzmá n, eu lhe suplico que volte lá para baixo. Meu senhor está no
meio do banho.
Diego riu. Ó timo apanhar o animal nas mesmas condiçõ es em que ele tinha
surpreendido Catalina.
Quando a criada, amedrontada, tentou distraí-lo, ele a sacudiu pelo braço.
— Volte lá para baixo e nã o apareça mais aqui em cima, nã o importa o que você
ouvir — ele ordenou.
Ao ver a mã o de Diego no cabo da espada, ela correu escada abaixo. Ele, entã o,
percorreu o olhar em volta e viu outra criada.
— Lá para baixo, já — ordenou. Essa obedeceu no mesmo instante.
Só depois de terminar a busca e se convencer de que nã o havia mais ninguém
ali, Diego dirigiu-se aos aposentos de Lucero.
A porta estava aberta e ele entrou. Na banheira, com á gua até o peito e uma taça
de vinho na mã o, Lucero sorria com ar de idiota. Com certeza tramava mais maldades
CAPÍTULO XV
— E o ameaçará com o punhal se ele nã o quiser comer — uma das tias disse por
entre os dentes.
— Catalina tem muita energia. Espero que minha pequena Benita tenha a
mesma personalidade — Susanna afirmou em defesa da irmã .
A mã e e as tias fizeram o sinal-da-cruz e rogaram aos cé us para impedir tal
catá strofe.
Catalina trocou um sorriso com a irmã e, depressa, dirigiu-se ao escritó rio do
pai. Tã o logo entrou, Dom Roberto ergueu a cabeça e pulou em pé . De fato, era
magé rrimo, mas com feiçõ es atraentes.
O olhar aflito dele caiu no vestido amassado de Catalina.
— Ela nã o morreu, nã o é? Diga que nã o!
— Susanna está viva e passa bem. Assim como a pequena Benita.
Catalina mordeu o lá bio. Ignorava o protocolo a ser observado em tal situaçã o.
Ainda mais quando um filho nã o tinha sido gerado.
Mas Dom Roberto soltou um grito de alegria e abraçou a futura cunhada. Pediu
desculpa pelo atrevimento e exclamou:
— Uma filha tã o linda quanto Susanna, tenho certeza! Catalina exultou. Um
homem com a mesma sensibilidade da irmã . Sem dú vida, ele seria um bom marido.
Como Diego havia sido antes de a esposa o magoar, refletiu, triste.
— Senhora, algum problema? — Dom Roberto indagou ao notar sua expressã o.
Seu futuro. Será que ainda teria um? Diego ficaria contente com a perspectiva de
um filho? Continuaria a tratá -la com indiferença depois do nascimento da criança?
— Estou cansada. Foi muita movimentaçã o. Mas está na hora de relaxarmos,
pois foi um final feliz — ela afirmou.
— Como é possível quando se está apaixonado?
— Acho que nã o é — Catalina concordou. — Mas você precisa se alimentar.
Venha comigo, Roberto.
Nã o foi preciso ameaçá -lo com o punhal. Ele comeu tudo que Catalina lhe serviu.
Ela teria de contar a verdade a Susanna. O futuro marido continuaria com aspecto
frá gil.
Quando Roberto foi recebido no quarto da mulher que amava e da criança que
criaria como filha, Catalina ficou no corredor para observá -los a distâ ncia, pela porta
aberta.
Como já fosse mã e, a irmã nã o se mostrava mais tã o acanhada. Tal qualidade
tinha sido transferida a Dom Roberto. Ele deu a impressã o de que desmaiaria quando
carregou Benita. Porém, Catalina nunca tinha visto tanta alegria, ou amor.
Parabé ns, Susanna. Dom Roberto é seu de coraçã o, ela refletiu.
Para nã o perturbar a nova família, foi para seu antigo quarto. Deitou-se, pois
precisava descansar. Poré m, a noite estendia-se ameaçadora com o retorno de todas as
preocupaçõ es. Estava na hora de voltar para casa e um futuro incerto ao lado do
marido que amava e sempre amaria.
Sentia tanta falta das carícias de Diego, dos beijos ardentes, do vigor dele. Se
nunca mais se aconchegasse a ele, preferiria morrer.
Quando a primeira luz do amanhecer surgiu, Catalina levantou-se e começou a
arrumar a bagagem. Depois que se despedisse de Susanna, dos pais e de Dom Roberto,
retornaria ao palá cio de Diego. E, quem sabe, para o coraçã o dele.
Quando terminou, saiu do quarto e dirigiu-se ao da irmã . Mas ao virar o
corredor, chocou-se contra Diego.
O peito dele aparou o golpe de seu ombro e os olhos arregala ram-se ao vê -la.
Atô nita, Catalina balbuciou:
— Diego, você está aqui?!
Ele tinha se recusado antes a vir. Por que havia mudado de ideia? Nã o podia ser
por causa do nascimento da filha de Susanna. Havia de ser por um motivo sé rio. Algo
que a magoasse.
Catalina ainda nã o estava preparada para isso. Aliá s, nunca estaria. Virou-se
para escapar correndo, mas Diego a segurou.
— Aonde você vai?
— Para longe de sua raiva, marido. Surpreso, ele franziu as sobrancelhas.
— Minha raiva? Levantei a voz com você?
— Ainda nã o, mas gritará comigo.
Sem nem mais uma palavra, ou explicaçã o da presença dele ali, Diego a puxou
em direçã o à escada. Catalina resistiu.
— O que está fazendo?
— A criança de Susanna já nasceu e seu trabalho aqui terminou. Portanto, você
deve ir embora.
— Eu sei, mas minha bagagem está lá no quarto. Ele continuou a puxá -la.
— Você nã o vai precisar dela.
Por que nã o? O marido estava tã o furioso que ia fazer o que nunca tinha
pensado antes? Mandá -la para longe, talvez um convento?
Ela nã o merecia isso. Nã o havia feito nada errado. Resistiu com mais força.
Impaciente, Diego a olhou por sobre o ombro.
— Catalina, já tive de enfrentar o desgraçado do Lucero e, agora, vou ter de
enfrentar você ?
Seu coraçã o quase parou de bater. O medo do que ele poderia lhe fazer deu
lugar a outros muito piores.
ADORO ROMANCES EM EBOOK 113
TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO
hora de você entender, Catalina, que existem coisas neste mundo com as quais os
homens podem lidar muito melhor do que qualquer mulher.
— Tais como?
Tudo ele pensou dizer, mas tal resposta serviria apenas para apressar a
discussã o que já pairava no ar. Entã o, respondeu:
— Cavalgar é uma. Ou a esperteza de perseguir um ao outro.
— Você acredita no que acabou de dizer?
— Claro. E para provar, lhe darei a vantagem necessá ria em nossa competiçã o.
Um dia basta? Ou dois seriam melhor para você ?
Catalina arrancou fora as roupas a fim de vestir as de serviçal.
— Dispenso qualquer vantagem, Diego. Mesmo se eu cavalgasse com os olhos
vendados, escaparia de você. Nem preciso de uma sela.
— Pois vamos tirar a de Diamante.
Ela o olhou por sobre o ombro nu como o resto de seu corpo lindo.
— Tudo bem — concordou, enquanto vestia a camisa de algodã o cru.
O olhar de Diego percorreu suas pernas bonitas e as ná degas macias antes que
ela as cobrisse.
— O que acha de apostarmos no resultado de nossa competiçã o? — ele sugeriu.
— Boa ideia.
— Bem, se eu vencer, quer dizer, se eu a capturar antes de você chegar ao nosso
riacho, você terá de se tornar uma esposa comportada. Para sempre.
Catalina empalideceu.
— Comportada?!
Diego reprimiu um sorriso.
— Preciso explicar o que isso significa?
— Nã o. Testemunhei o comportamento de minha mã e a vida inteira.
— Espero que o seu seja melhor. Você nunca questionará nenhuma ordem
minha. Jamais discutirá comigo, fará tudo que eu exigir e viverá apenas para me fazer
feliz. Quaisquer passos seus, sejam dentro do palá cio ou fora, bem como suas decisõ es,
só com minha permissã o.
Em vã o ela tentou impedir que um gemido escapasse por entre seus dentes
cerrados.
Diego conteve o riso e indagou:
— De acordo?
— Sim. Mas quanto a você? Quando eu ganhar...
— Quando?!
— Isso mesmo. Quando eu chegar ao riacho sem ser capturada por você, exigirei
que nó s dois juntos tomemos as decisõ es que nos afetarã o, que fiquemos em pé de
igualdade em tudo em vez de um ter mais direitos e o outro, menos. Também hei de
querer tomar parte, tanto quanto você , na administraçã o da casa, inclusive na
demissã o de qualquer serviçal e que pessoas serã o convidadas a nos visitar. Os filhos
serã o nossos para criar e nã o apenas seus, sejam meninos ou meninas.
Diego ficou boquiaberto com a extensã o de suas exigências.
— Você está pedindo demais — afirmou.
— Caso tenha medo de perder, entã o...
— E claro que nã o tenho. Pode se preparar, mulher. Catalina foi até Diamante e
já ia montar quando Diego gritou:
— Espere! Você nã o precisa da sela. Ou já se arrependeu de afirmar isso?
Ela apenas arqueou as sobrancelhas e desafivelou a sela. Entã o, tentou removê-
la. Diego, que a observava, disse:
— Talvez este seja um momento em que o homem se mostra mais capaz.
— Concordo. A sela é muito pesada e eu preciso de sua ajuda e de sua força
superior — ela respondeu, ofegante.
Ele se curvou ao ouvir as palavras atenciosas e verdadeiras.
— Como desejar.
Catalina curvou a cabeça para esconder o sorriso. No momento em que Diego
tirou a sela, ela pulou nas costas do animal e partiu a galope.
— Pare!— ele gritou, mas nã o foi obedecido.
A mulher era impossível. Ele só tinha proposto a competiçã o por brincadeira. E,
a aposta ridícula, só para ver sua reaçã o, pois jamais haveria de querer mudá -la numa
mulher comportada. Adorava sua espontaneidade. Mas isto era demais! Catalina fazia o
pró prio marido de bobo. Ela haveria de ver.
Diego jogou a sela no chã o, montou Peligro e iniciou a perseguiçã o. Era homem,
um cavaleiro superior por natureza e a competiçã o ia ser fá cil. Exceto por um detalhe.
O peso que Diamante tinha de suportar era bem menor do que Peligro precisava.
Catalina cavalgava bem à frente e gritou:
— Admita!
— Nunca! — ele respondeu.
Ela riu mais uma vez e continuou a ganhar vantagem. Diego, porém, nã o ia
permitir isso. Puxou as rédeas e virou Peligro para a direita. Lá havia uma trilha que
evitava as colinas e depressõ es que Catalina tinha de vencer. Como ele esperava, isso
diminuiu a distâ ncia que os separava.
Ela olhou para trá s e percebeu o que acontecia.
— Você será uma esposa comportada! E para sempre — Diego gritou.
ADORO ROMANCES EM EBOOK 118
TINA DONAHUE FOGO DA PAIXÃO
Catalina estava rindo de sua pequena artimanha que tinha lhe dado o tempo
necessá rio para chegar ao riacho.
Já entrava na á gua com a graciosidade de uma mulher. Estava na ponta dos pé s e
com os braços levantados para se equilibrar.
Quando se virou, bateu palmas.
— Fui melhor do que você! A vitó ria é minha! — exultou. Da margem do riacho,
Diego gritou:
— Foi coisa nenhuma! E nã o merece a vitó ria!
— Fui sim! E... Diego, o que está fazendo? — ela indagou. Apesar das botas, ele
entrava na á gua para pegá -la.
— Diego! — ela exclamou, assustada, ao se afastar um pouco. Tarde demais. Ele
já a erguia nos braços a fim de jogá -la no fundo.
— Diego, por favor, cuidado para nã o me derrubar.
— Você trapaceou! Merece ser jogada na á gua e se afogar.
— Nã o, Diego! É verdade, estou grá vida.
Seria possível? As mã os de Diego que já afrouxavam para deixá -la cair,
apertaram-na de encontro ao peito. Porém, ele a advertiu:
— Catalina, se isso é outra tapeaçã o sua, eu...
— Nã o é , juro. Mamã e me informou de meu estado enquanto eu cuidava de
Susanna. Ela fez o mesmo para minha irmã e previu até a é poca do nascimento de
Benita.
Seria verdade?
Pela expressã o de seus olhos verdes, era. Diego levou-a para a margem e, com
cuidado, deitou-a no chã o.
— Como está se sentindo? — perguntou, aflito e achando que havia algo a fazer
para garantir sua saú de e a do filho.
— Estou bem, Diego, pois a vitó ria foi minha. — Sorriu e acrescentou: — Mas
també m estou grá vida.
Ele a tocou na barriga que lhe parecia mais plana do que a terra em volta.
— Para quando sua mã e previu que nosso filho deve nascer? Catalina hesitou e
empalideceu.
— Qual é o problema? — Diego indagou, temendo que ela estivesse doente ou
trapaceando outra vez.
— Poderemos ter uma filha. Você acha que poderá amá -la tanto quanto a um
filho?
— Claro! Será minha filha! — ele declarou. As sobrancelhas loiras franziram.
— Está bem, nossa filha — ele resmungou. — Mas vai me dizer para quando