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Natureza e arte
Estudos sobre a iconografia ambiental
Da Idade Média à Contemporaneidade
Editar
Juiz de Fora
2019
Copyright by Adriana Vidotte e Lorena da Silva Vargas (Organizadoras)
2019
Capa
NeoHub Studio
Revisão
Janaína Efísio
ISBN: 978-85-7851-245-3
126p
CDD B869
CDU 82-1
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Apresentação
A historiografia brasileira, desde não muitos anos, vem ampliando
a atenção aos estudos ambientais, aos debates que perpassam não apenas
o tempo, mas o espaço em seu sentido mais literal e tudo o que o habita.
Sob respaldo da História Ambiental, os modos de interação do homem
com a natureza vêm sendo revelados em seus diversos momentos e
meandros: econômico, político, religioso, cultural, artístico, dentre
outros. As influências naturais nas produções humanas tornam-se, desse
modo, instrumento desta coletânea ao se refletirem na arte de forma física
e imagética, sob representações carregadas de valor estético e simbólico.
Tomemos o medievo por início de análise em seus manuscritos
iluminados, partindo do estudo de Douglas Carneiro acerca do bestiário
do leão, onde serão discutidas as origens e transformações do simbolismo
de tal animal, amplamente representado na cristandade. A associação
da imagem cristológica do leão ao poder político vai ao encontro do
simbolismo cristão da águia – remetendo a São João Evangelista – na vida
da devota Isabel I de Castela e no reinado dos Reis Católicos, abordado
por Adriana Vidotte a partir da presença da ave no breviário da rainha e
no escudo dos reis. Ainda no âmbito da iconografia animal, Láisson Luiz
explora as representações de lutas entre cavaleiros e caracóis – associados
ao perigo das doenças – no decorrer do século XIV a partir de livros
de horas e bestiários, adentrando ainda à presença de tais cenas em
ornamentações religiosas do período.
A natureza desconhecida, que acarretava riscos ao ser humano,
devendo ser desvendada e governada era, por outro lado, a essência de
seu sustento e matéria-prima de sua arte. Lorena Vargas, nesse sentido,
discute em seu capítulo a presença física e pictórica da natureza nos vitrais
da Catedral de Barcelona entre os séculos XIV e XV, onde a luz e as cores
assumem protagonismo em um contexto onde o natural torna-se cada
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Apresentação
vez mais conhecido e a arte cada vez mais técnica, emotiva e paisagística.
Nessa conjuntura nasceria O Jardim das Delícias, de Hieronymus Bosch,
aqui estudada por Pedro Guimarães, cuja crítica perpassa a iconografia
da paisagem e adentra ao psicopolítico das formas, cores e da relação do
humano com o natural na transição à modernidade.
Adentramo-nos ao século XIX por meio do estudo de Murilo
Gonçalves que, sob análise da obra Der Mönch am Meer, de Caspar David
Friedrich, apresenta o conceito de natureza e o cenário paisagístico no
qual o homem se insere no contexto do romantismo alemão. Da paisagem
natural à paisagem da globalização, fechamos a coletânea com o capítulo
de Bianca Casanova, que discute as obras do goiano G. Fogaça e sua
crítica ao estresse das grandes cidades do século XXI, onde o verde, ainda
que se aproximando intelectualmente, afasta-se fisicamente do cotidiano.
No decorrer histórico, o ser humano conhece e domina a natureza
em um processo de encontros e desencontros pautados na cultura, sem
deixar, porém, de participar intrinsecamente dessa complexa rede natural.
Esperamos que as páginas que se seguem possam ampliar os debates acerca
das transformações, influências, usos e saberes da natureza ao longo do
tempo e, por fim, possibilitar uma autocrítica de nossa realidade.
As organizadoras
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O bestiário do leão e a sua
representação cristológica1
Douglas de Castro Carneiro2
Introdução
O estudo da natureza na Idade Média nos coloca em uma
fronteira ambígua, quanto à representação do natural e do
sobrenatural na sociedade medieval (HERNANDEZ, 2015, p.2).
Durante muitos anos, os historiadores não se interessavam por
animais. Suas observações eram definidas como fúteis, anedóticas
ou marginais. Apenas alguns arqueólogos e filólogos tiveram
interesse pelo tema (PASTOREAU, 2006, p.35). As fontes para o
estudo da zoohistória simbólica e medieval são fundamentalmente
as escritas e as iconográficas. Em muitos casos, tais como os gêneros
dos bestiários, essas fontes encontram-se indissoluvelmente unidas,
que por conta das ilustrações que são, parte integral das mesmas, e
por certo, têm inspirado numerosos temas artísticos, e que tratam
com frequência os bestiários presentes entre os historiadores da arte
(MUÑIZ, 1996, p.231).
Dessa forma, entende-se que:
1
Este artigo é resultado da disciplina “Natureza na Arte Medieval” ministrada pela
professora Dra. Adriana Vidotte.
2
Doutorando em História pela Universidade Federal de Goiás na linha de His-
tória, Memória e Imaginário Social, sobre orientação da professora Dra. Luciane
Munhoz de Omena.
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O bestiário do leão e a sua representação cristológica
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Douglas de Castro Carneiro
nos salmos sete, nove, vinte e dois, cinquenta e seis e noventa. Ela
menciona este animal por volta de cento e cinquenta e sete vezes,
dando a ele uma imagem negativa. O Antigo Testamento, geralmente
apresenta uma imagem negativa do leão, em especial nos episódios da
vida de Sansão, Davi e Daniel. O leão triunfante de Sansão simboliza
as forças do mal e da morte (DULIART, 1993, p.429). Todavia,
enfatiza-se:
O leão continua sendo um animal perigoso nos salmos. Este teve uma
grande responsabilidade por que estes foram adotados posteriormente
pela liturgia. O primeiro constitui uma das respostas do domingo
da paixão e o segundo serve como uma característica da quaresma.
O significado positivo do leão iria substituir os aspectos negativos
posteriormente de certos episódios do Antigo Testamento (DULIART,
1993, p.430).
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O bestiário do leão e a sua representação cristológica
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Douglas de Castro Carneiro
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O bestiário do leão e a sua representação cristológica
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Douglas de Castro Carneiro
lhe desse conta, Deus se ocultou de nosso inimigo, que não soube que
aquele homem era Deus até que o comprovou. Deus se ocultou tanto
que os anjos do céu que estavam no paraíso não o reconheceram. Por
isso, quando voltou o filho de Deus em majestade de onde havia partido
quando se encarnou por nós (THAÜN, 2000, p.40).
O leão teme o galo branco e o ruído dos carros em movimento, tal é sua
índole, que dorme com os olhos abertos. E isso eis de haver e entender
naquilo que vê. O galo branco significa os homens de vida virtuosa que
anunciam a morte de Deus antes que ele falecesse. Ele há muito temia,
pois era homem, o texto sagrado demonstra aquilo que o próprio Deus
disse: “Pai, perdoa, pela morte que devo sofrer que sua vontade não se
detenha por mim”. Assim mostrou ser homem em sua morte. Tal como
o homem é alma e corpo, Cristo é Deus e homem. E sabeis que Deus
disse a São Pedro o seguinte: que lhe negaria três vezes antes que o galo
cantasse. Em sua honra, o galo canta todas as horas, dia e noite, e nós,
igualmente, cantamos a prima, a terça e meio-dia, e rezamos dia e noite
para o Nosso Criador. Por isso, cantam os freires da matina ao alvorecer:
então Deus foi julgado, golpeado e atado; e ao sair o Sol os clérigos
cantam a prima, pois então Deus ressuscitou e nos arrancou da morte. E
cantamos a terça, quando é à hora da terça, pois então Deus foi castigado
e elevado na cruz. E as doze, os clérigos cantam à hora do meio-dia: então
se produziu a escuridão, quando foi morto na cruz; o Sol se escureceu e
não deu luz devido à autêntica luz da dor que Deus sofreu devido à Sua
humanidade, não à Sua divindade (THAÜN, 2000, p.45).
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O bestiário do leão e a sua representação cristológica
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Douglas de Castro Carneiro
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ANÔNIMO. British Library, London, England, Royal MS 12 C. XIX, Folio 6r-94v.
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O bestiário do leão e a sua representação cristológica
Sabeis que a leoa traz ao mundo seu filhote morto, e quando tem o
leão, chega a dar tantas voltas ao seu redor rugindo e, no terceiro dia,
o filhote ressuscita. Sabeis que a leoa representa a Virgem Maria e o
leãozinho Cristo, que morreu pelos homens. Durante três dias jazeu
na terra para conquistar nossas almas, segundo sua natureza humana,
não segundo a divina. Igualmente obrou Jonas, que ficou três dias na
barriga do peixe. Entendemos pelo rugido do leão a virtude de Deus,
mercê a ela. Cristo ressuscitou, arrancado do inferno. Tal é o significado
que não deveis esquecer. Na verdade, diz isso sobre a autoridade do leão
(THAÜN, 2000, p.55).
Pelo grito do leão, entendemos o poder de Deus, pelo qual Cristo teve
sua vida restaurada e saiu do inferno, este é o significado, faça isso em
memória do leão na verdade, como aprendemos com a autoridade, que
este animal representa (THAÜN, 2000, p.60).
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Douglas de Castro Carneiro
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O bestiário do leão e a sua representação cristológica
Bibliografia
Fontes primárias
ANÔNIMO. British Library, London, England, Royal MS 12 C. XIX, Folio 6r-94v.
WRIGHT, Thomas The bestiary of Philippe de Thaon. London: Society of
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In: Anejos de Estudios Clásicos, Medievales y Renascentistas Revista Historias
Del Orbis Terrarum, Vol. 10, Santiago, p.1-35,2015.
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Douglas de Castro Carneiro
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Sub umbra alarum tuarum protege nos.
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A águia de São João Evangelista nas divisas dos Reis Católicos
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Adriana Vidotte
Los exçelentes enteros de la vna parte dos bultos el vno del Rey mi
sennor y el otro mio asentados en dos sillas los rrostos en continente
que se mire el uno al otro . y el bulto de lo dicho Rey mi sennor tenga
vn espada desnuda en la mano. y el mio vn cetro . con coronas en
las cabeças . y diga en las letras de enderredor de los dichos bultos .
ferdinandus . et. elisabeth . dei graçia. Rex et Regina . castelle . legionis
. e de la otra parte vn aguila de las que se figuran por santo iohan .
evangelista que tenga dos escudos debaxo de las alas . debaxo de la
ala derecha vn escudo de las armas de castilla de castillos e leones . e
debaxo de la otra ala yzquierda . otro escudo con las armas de aragon
e seçilia e vna corona ençima de amos a dos escudos que los alcance . e
non sea muy alta la dicha . corona por que non ocupe mucho el cuello
de la dicha aguila . e las letras han de dezir . enderredor destos dichos
dos escudos sub . umbra . alarum tuarum protege nos (EL TUMBO DE
LOS REYES CATÓLICOS, p. 83-84).
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A águia de São João Evangelista nas divisas dos Reis Católicos
Dibujo de Luis de Salazar y Castro del sello de la princesa Isabel. Apud: LÓPEZ POZA,
2012, p. 37.
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Adriana Vidotte
Escudo dos Reis Católicos junto ao dos seus dois filhos e genros. Disponível em: http://
brunoalcaraz.blogspot.com/2014/08/el-breviario-deisabel-la-catolica-y-la.html. Acesso
em 14 abr. 2019
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A águia de São João Evangelista nas divisas dos Reis Católicos
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www.moleiro.com/pt/livros-de-horas/breviario-de-isabel-a-catolica
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Adriana Vidotte
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A águia de São João Evangelista nas divisas dos Reis Católicos
Pues como ésta sea reyna de las aves, a quien Sant Juan Evangelista
por la alteza de su elevado evangelio y de las otras sus altas revelaciones
dignamente es comparado, por lo qual vos avés puesto so sus alas,
sonbra, protección y amparo, digna cosa es que vuestra alteza sepa essas
mesmas condiciones y propriedades y la significación y aplicación dellas
para las remedar mutatis mutandis. Y aún verá vuestra majestade que
fue bien hazerme limosna del Libro de las propriedades de las cosas, a
bueltas de los otros, el qual para eso me alumbro assaz (HERNANDO
DE TALAVERA, p. 454).
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A águia de São João Evangelista nas divisas dos Reis Católicos
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Adriana Vidotte
Bien por esta causa quiso nuestro Señor, en otro tienpo, que le fueren
ofrescidos sacrifícios de aves y de quadrúpedes animales, por que las
aves significassen a los religiosos y gobernadores, y los otros animales
a los subjectos y seglares. Entre las aves, esse mesmo Señor escogió
las águilas para que todos los cristianos a ellas fuesen comparados ...
Y especialmente quiso que los religiosos y regidores fuessen a ellas
semejantes ... (HERNANDO DE TALAVERA, p. 466).
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A águia de São João Evangelista nas divisas dos Reis Católicos
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Considerações finais
O estudo das concepções e representações da natureza tem
proporcionado o aprofundamento e a atualização dos conhecimentos
históricos sobre as sociedades medievais. A abordagem da devoção de
Isabel a São João Evangelista e a análise da águia que a representava,
inicialmente como princesa e posteriormente como rainha, é um bom
exemplo disso. A águia sobre o escudo dos Reis Católicos conotava
a proteção almejada pela Rainha Católica a seus reinos e ao poder
régio que ela e Fernando II de Aragão representavam. E isso podemos
observar nos edifícios, nas moedas e nas imagens dos livros litúrgicos.
Contudo, os reflexos dessa devoção na concepção política são mais
amplos, como podemos perceber na obra que a Rainha encomendou
a seu confessor, frei Hernando Talavera. Na obra do frei jerônimo, a
águia de São João Evangelista serviu como parâmetro para a construção
de um discurso edificante, com afã instrutivo articulado por uma
inflexão reformadora e legitimadora (PARRILLA, p. 19). Mas, não
se deve ignorar que Hernando de Talavera encontrou inspiração para
sua colação no livro de Bartolomeu da Inglaterra, o De Proprietatibus
Rerum, que a Rainha havia lhe presenteado. O livro de Bartolomeu da
Inglaterra é uma enciclopédia do século XIII, que vai muito além de um
bestiário, abrangendo as ciências, a teologia e a astrologia. Na Colación
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A águia de São João Evangelista nas divisas dos Reis Católicos
Referências
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____________. O maravilhoso e o quotidiano no Ocidente Medieval. Lisboa: Edições
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LÓPEZ POZA, S. Empresas o divisas de Isabel de Castilla y Fernando de Aragón
(los Reyes Católicos). JANUS, 1, 2012, p. 1-38.
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Adriana Vidotte
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A luta entre cavaleiros e
caracóis em manuscritos
medievais do século XIV
Láisson Menezes Luiz1
Introdução
O objetivo deste trabalho é fazer um exercício de análise de algumas
imagens presentes em manuscritos medievais produzidos no século XIV,
mais especificamente, buscaremos compreender e refletir sobre as cenas
em que aparecem cavaleiros medievais lutando contra caracóis. Cenas
que despertam a curiosidade dos pesquisadores, pois, até o momento,
não se tem um consenso sobre os significados dessas imagens em tais
manuscritos. Muitas teorias e hipóteses foram formuladas na tentativa de
explicá-las. O nosso intuito não é resolver este dilema, mas sim, a partir
dessas imagens, propor uma reflexão sobre as relações entre as pessoas e a
natureza durante a Idade Média.
A utilização de imagens como fonte de acesso ao passado tem
despertado cada vez mais o interesse dos historiadores, o que fez com que
o território do historiador se alargasse, mas, por outro lado, obrigou-o a
refletir sobre objetos com os quais, até então, não estava habituado.2
1
Doutorando do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal
de Goiás. Bolsista CAPES/FAPEG. Email: laissonmenezes@gmail.com. Este artigo foi
inicialmente pensado e posteriormente apresentado como trabalho final na disciplina
A natureza na arte medieval, ofertada no Programa de Pós-Graduação em História da
Universidade Federal de Goiás, sob a orientação da professora Dra. Adriana Vidotte, no
primeiro semestre de 2017.
2
SCHMITT, Jean-Claude. O historiador e as imagens. In: O corpo das imagens:
ensaios sobre a cultura visual na Idade Média. Tradução: José Rivair Macedo. Bauru:
EDUSC, 2007. p. 25.
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A luta entre cavaleiros e caracóis em manuscritos medievais do século XIV
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Láisson Menezes Luiz
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A luta entre cavaleiros e caracóis em manuscritos medievais do século XIV
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Láisson Menezes Luiz
cena, mas, até o momento, ainda não se tem ao certo uma ideia do seu
real significado. Infelizmente não encontramos nenhum estudo mais
aprofundado abordando a relação da sociedade medieval com os caracóis,
mas, como já mencionamos, o nosso objetivo aqui é apenas fazer um
exercício de análise dessas imagens e procurar, na medida do possível,
mostrar um pouco das relações da sociedade medieval com os animais e,
consequentemente, despertar o interesse pela pesquisa sobre a natureza e
a utilização de fontes imagéticas para se compreender o medievo.
Como mencionamos anteriormente, os animais aparecem com
frequência nas decorações de igrejas, castelos, vestuários entre outros
locais durante a Idade Média e com o caracol não foi diferente. J. M. Martí
i Bonet,9 em seu estudo sobre a catedral de Barcelona, construída entre
os séculos XIII e XV, nos diz que nesse monumento podemos encontrar,
em diversos lugares, uma dezena de caracóis pintados, trabalhados na
madeira, de pedra e mármore, como podemos observar na imagem 2.
9
MARTÍ I BONET, J. M. La Catedral de Barcelona: Història i històries. Barcelona:
Catedral i Museu Diocesà de Barcelona, 2010, p. 127.
10
MARTÍ I BONET, J. M. Op., cit., p. .128-129.
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A luta entre cavaleiros e caracóis em manuscritos medievais do século XIV
L’animale, infatti, nasce dal fango e dal limo della terra, come Ì vermi.
Ma possiede una conchiglia, che è la sua casa. E striscia, come i serpenti.
E un animale nocivo che mangia Tinsalata, sbava in continuazione e
sporca tutto quel che tocca. Per fortuna, si sposta lentamente. Gli occhi
sono collocati sulla punta di due lunghe corna poste sopra la bocca.
Quando ha paura, ritrae le corna dentro la conchiglia e finge di essere
morta. E quindi codarda e furba.12
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Láisson Menezes Luiz
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A luta entre cavaleiros e caracóis em manuscritos medievais do século XIV
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Láisson Menezes Luiz
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Disponível: https://blogs.bl.uk/digitisedmanuscripts/2013/09/knight-v-snail.html.
Acessado em: 08/05/2017.
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A luta entre cavaleiros e caracóis em manuscritos medievais do século XIV
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Láisson Menezes Luiz
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A luta entre cavaleiros e caracóis em manuscritos medievais do século XIV
Imagem 10.
Imagem 11.
Considerações finais
Como mencionamos, o objetivo deste trabalho foi fazer apenas um
exercício de análise de algumas imagens provenientes do medievo com o
intuito de chamar a atenção do historiador para a utilização de imagens
como fonte de pesquisa sobre o passado. Além disso, buscamos sobretudo
compreender as relações do homem medieval com a natureza a partir das
representações de lutas entre cavaleiros e caracóis. O nosso intuito foi
realizar uma breve análise e apresentar as teorias e hipóteses sobre essas
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Láisson Menezes Luiz
Referências
DELORT, Robert. Animais. In: LE GOFF, Jacques e SCHMITT, Jean-Claude.
Dicionário temático medieval. Volume I. Tradução: Hilário Franco Júnior. Bauru:
EDUSC, 2006. p. 57-67.
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manuscritos medievais dos séculos XIII e XIV. Revista Ars Historica, Rio de Janeiro,
n. 15, Jul./Dez, p. 77-96, 2017.
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Da imagem à matéria: a
natureza nos vitrais da
Catedral de Barcelona
(séculos XIV e XV)
Lorena da Silva Vargas1
Introdução
Enquanto um dos eixos formadores do imaginário social em seus
diversos âmbitos, o ambiente natural do medievo interagia com o
ser humano de forma a ultrapassar as necessidades físicas de sustento
e equilíbrio ecológico. Os elementos naturais ganhavam sentido
simbólico a partir das mentalidades, regidas por valores, emoções e
sincretismo, gerando uma natureza multifacetada, representante do
fantástico e das práticas cotidianas: era, por um lado, necessidade
humana, dádiva celeste, elemento de contemplação e de oração, um
locus amoenus; por outro lado, desafiava o ser humano, representava
o desconhecido, a ira divina, fomentava o temor a Deus e aos seus
mistérios, era a imagem do locus agrestis, o qual apenas por meio do
conhecimento do comportamento natural poderia tornar-se receptível
ao homem.
1
Mestranda em História pela Universidade Federal de Goiás – PPGH/UFG, sob
fomento do CNPq, e graduada em História pela Universidade Federal de Goiás –
UFG. Membro do Comité Español de Historia del Arte – CEHA, da Associação
Brasileira de Estudos Medievais – ABREM - e interlocutora do núcleo UFG do
Laboratório de Estudos Medievais – LEME. E-mail: lorenasvargas@hotmail.com
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Da imagem à matéria: a natureza nos vitrais da Catedral de Barcelona (séculos XIV e XV)
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Lorena da Silva Vargas
ganhando lugar e tornando-se modelo para uma arte cada vez mais
preocupada com a aproximação à criação divina e com a busca pela
perfeição como forma não de equiparar-se, mas de aproximar-se ao
Criador e conhecer seus mistérios. A arte daquele momento, berço
para as expressões dos séculos seguintes, correspondeu, assim, a
uma positiva junção entre cientificismo e religiosidade, expressando
não uma laicização, mas uma nova concepção religiosa do que hoje
definimos por arte.
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Da imagem à matéria: a natureza nos vitrais da Catedral de Barcelona (séculos XIV e XV)
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Lorena da Silva Vargas
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Planta litorânea encontrada no Mediterrâneo, de folhas espinhosas e rica em sódio.
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Da imagem à matéria: a natureza nos vitrais da Catedral de Barcelona (séculos XIV e XV)
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Da imagem à matéria: a natureza nos vitrais da Catedral de Barcelona (séculos XIV e XV)
Ainda que criticado pelos cistercienses por ser mais atrativo aos
olhos que à alma, de forma específica por São Bernardo de Claraval e
São Boaventura, o uso de imagens e cores nos templos foi o método
chave para fomentar uma nova proposta espiritual, embasada em
uma fé individualizada e fortalecida, refletida nos princípios da
estética gótica. Enquanto instrumentos de catequização da população
como um todo, os vitrais aqui analisados detêm, como temática
predominante, a representação de santos acompanhados de seus
símbolos, que, em grande medida, provinham do meio natural. No
vitral de São João Evangelista (1397), a águia, ave cujo voo atinge
elevadas altitudes, representa a profundidade e espiritualidade do
evangelho de João, aparecendo acima da imagem do santo cujas vestes
em azul e vermelho lembram sua grandeza e sacrifício (Figura 1). Já no
vitral de São Pedro (1380), seu símbolo, o galo, vem representado em
destaque, abaixo da imagem do santo, que aparece de túnica vermelha
e manto verde, em indicação ao sacrifício e à fé (Figura 2). Recorrente
no cotidiano daquela cidade, na qual era comum a criação de animais
e o cultivo de plantas no fundo das casas (BATLLE I GALLART,
2011), o galo fazia memória à traição de Pedro. O Vitral de São
Nicolau de Bari (1405), por sua vez, traz como símbolo do santo
padroeiro dos navegantes o mar, representando a cena de um dos
principais milagres de São Nicolau: a salvação de quatro navegantes
de um naufrágio (Figura 3). O meio marítimo, uma das principais
hostilidades ao homem, segundo o pensamento medieval, estaria
cercado de perigos reais e imaginários, que iam de piratas a monstros
marinhos, habitantes das profundezas desconhecidas de mares e rios.
Por outro lado, o mar como instrumento divino seria guia do homem,
a exemplo das águas pacíficas que levaram os discípulos de São Tiago
de Jerusalém à Galiza, revelando-se, inclusive, um local aprazível, de
tranquilidade e beleza (MOLINA MOLINA, 2000), uma verdadeira
paisagem. Simultaneamente, a navegação foi uma das maiores bases
do comércio medieval, atividade comum e necessária a diversas
populações. Barcelona enquanto uma das principais rotas marítimas
57
Lorena da Silva Vargas
Figura 1 Figura 2
58
Da imagem à matéria: a natureza nos vitrais da Catedral de Barcelona (séculos XIV e XV)
Figura 3 Figura 4
59
Lorena da Silva Vargas
60
Da imagem à matéria: a natureza nos vitrais da Catedral de Barcelona (séculos XIV e XV)
Figura 5 Figura 6
3
Acerca dos cuidados medievais voltados à natureza ver: CHAFUEN, Alejandro. El
pensamento católico medieval sobre los bosques, los animales y el subsuelo, Revista
Cultura Económica. 31 (86): 7 – 18, 2013.
61
Lorena da Silva Vargas
Considerações finais
O espaço dado à natureza a partir da arte indica não somente a
forma como o homem medieval interagia com o meio fisicamente e
desfrutava de seu valor utilitário, de sua matéria-prima, mas possibilita
compreender a perspectiva cultural de natureza a partir do imaginário,
as interações emocionais que eram estabelecidas. A arte consiste, para
tanto, em veículo primordial de memória sobre a qual abrigam-se ideias,
propósitos, historicidade e emoções. Mais que retratar imageticamente
o ambiente natural sob valores religiosos e simbólicos – não apenas
pautados nas Sagradas Escrituras, mas no meio circundante –, o
vitral abre espaço às expressões físicas da natureza, das quais a luz é a
protagonista, tornando-se uma forma artística ímpar ao acolher suas
múltiplas manifestações. A relação do homem com a natureza no final da
Idade Média, assim, faz-se conhecida a partir da análise dos vitrais não
apenas por meio de sua origem material, das representações pictóricas
neles contidas enquanto elemento artístico – que difunde uma imagem
e uma memória dos santos e de Cristo em detrimento da criação mental
realizada por cada indivíduo a partir da oralidade e da leitura – ou frente
a sua função utilitária de veículo luminoso, mas enquanto objeto vivo
no espaço religioso, que toma por modelo o ambiente natural enquanto
espelho de Deus. Os templos e o ser humano tornam-se microcosmos,
62
Da imagem à matéria: a natureza nos vitrais da Catedral de Barcelona (séculos XIV e XV)
Referências
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Universitat de Barcelona, 2012.
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2007.
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Encuentro, 2009.
TARANILLA DE LA VARGA, Carlos Javier. Breve historia del Gótico. Madrid:
Nowtilus, 2017.
63
Psicopolítica e Imaginário
da Natureza no Jardim
das Delícias Terrenas de
Hieronymus Bosch
Pedro Henrique Corrêa Guimarães1
Hieronymus Bosch. “O Jardim das Delícias Terrenas” (1504). Óleo sobre madeira.
Museo del Prado, Madrid.
1
Bacharel em Direito e Mestre em História pela Universidade Federal de Goiás (UFG).
E-mail: pedrocorreaguimaraes@yahoo.com
64
Psicopolítica e Imaginário da Natureza no Jardim das Delícias Terrenas de Hieronymus Bosch
1º§
A associação me fez querer pesquisar mais sobre a ligação entre natureza
e pintura, tomando a tela como símbolo do imaginário dessa relação no final
do medievo e início da modernidade. Valho-me, portanto do paradigma
indiciário de Carlo Ginzburg e de algumas imersões psicopolíticas tal qual
formulado pelos filósofos Peter Sloterdijk e Byung Chul-Han2, para que, pela
história da arte, possamos jogar luz sobre um problema contemporâneo, a
relação do homem com a natureza, perfilando a mesma preocupação de Di
Caprio (Before the flood? [Seremos História] Netflix, 2016).
2º§
Jheronumus van Aken nasceu na cidade de Den Bosch (também
conhecida como ‘s-Hertogenbosch) nos Países Baixos, por volta do ano
1450 (data incerta segundo a historiografia). A sua biografia também é
incerta. Sabe-se que tinha uma vida tranquila na cidade holandesa e que
sua família tinha estreitas relações com o bispo da Catedral de São João,
aí, talvez, tenham começado as pinturas de cunho litúrgico.
2
CHUL-HAN, B. Psicopolítica – o neoliberalismo e as novas técnicas de poder. São Paulo:
Editora Ayiné, 2018.
65
Pedro Henrique Corrêa Guimarães
3
SLOTERDIJK. Ira e tempo. São Paulo: Estação Liberdade, 2013.
66
Psicopolítica e Imaginário da Natureza no Jardim das Delícias Terrenas de Hieronymus Bosch
3ª§
O Jardim das Delícias Terrenas é a pintura mais conhecida de Bosch,
concluída provavelmente no ano de 1504. Para Hans Belting (apud
WUNDRAN, 2005) a obra fora feita por encomenda de Henrique
III, da casa de Nassau. Porém, o que se sabe precisamente é que fora
adquirida por Felipe II, em 1593, em um leilão, permanecendo por
muito tempo no Mosteiro do Escorial. Desde 1936, ela compõe o
acervo do Museo del Padro em Madrid, por imposição do governo de
Franco.
A parte externa da obra é conhecida como A criação do mundo no
terceiro dia. A imagem representa a figura de um globo terreno e contém
a inscrição ipse dixit et facta s(ou)nt / ipse man(n)davit et creata s(ou)nt,
que pode ser traduzida como Ele o diz e tudo foi feito. Ele o mandou e
tudo foi criado, correspondendo ao salmo bíblico número 33. O interior
possui três partes, o Jardim do Éden (painel esquerdo na perspectiva do
espectador), o Jardim das Delícias (painel central, de maior dimensão) e
o Inferno (painel da direita). Esbocemos assim uma pequena análise de
cada uma dessas partes.
67
Pedro Henrique Corrêa Guimarães
I – O Éden
68
Psicopolítica e Imaginário da Natureza no Jardim das Delícias Terrenas de Hieronymus Bosch
II – As Delícias
69
Pedro Henrique Corrêa Guimarães
III - O Inferno
70
Psicopolítica e Imaginário da Natureza no Jardim das Delícias Terrenas de Hieronymus Bosch
IV- A tríade
Os três painéis representam uma continuidade de luz, menos
intensa no primeiro painel, mais intensa no segundo e quase ausente
no terceiro, tal qual um ciclo diário entre a aurora e o crepúsculo.
Há ainda uma gradação da inserção do humano no natural, que
desemboca numa cena apocalíptica. O irrealismo ou surrealismo das
figuras é crescente, sendo que, no inferno, boa parte das formas não
são identificáveis.
O que então podemos dizer que Bosch está representando? Por
essas pontuações, ele representa uma tipologia da relação humano-
natureza, relação essa marcada por uma imanência, mas também por
uma transcendência. As imagens apontam que o humano é aquele que
está inserido no natural, mas dele procura escapar. Mas a natureza é
inescapável e, por isso, as pessoas estão condenadas à submissão. Vemos
também uma fuga de Bosch para o surreal, que inspirou, muito tempo
depois, figuras da vanguarda com Dali. Bosch é um pintor de aura
barroca, marcado pelo conflito entre vida e morte, luz e sombra, dor e
felicidade, imanência e transcendência.
4ª§
No primeiro volume de sua trilogia Esferas4, o filósofo alemão Peter
Sloterdijk lê o Jardim das Delícias Terrenas de Bosch5 como um prenúncio
da criação da intimidade. A intimidade, para ele, é como bolhas nas quais
4
SLOTERDIJK, P. Esferas I: bolhas (José Oscar de Almeida Marques, Trad.). São Paulo:
Estação Liberdade, 2016.
5
A capa da versão brasileira de Esferas, editada e publicada pela Estação Liberdade, é
estampada pela própria obra de Bosch.
71
Pedro Henrique Corrêa Guimarães
5ª§
A pintura de Bosch, vista por esse preceito psicopolítico, é tomada
como uma tensão entre o interior e o exterior, como uma tensão entre
intimidade e natureza. O humano é um ser-com o natural, parafraseando
Heidegger. A natureza está no homem, mesmo quando ele tende a querer
transcendê-la. O homem moderno é aquele que procura criar zonas de
6
SLOTERDIJK, Teoria das esferas. Conversando comigo mesmo sobre a poética do
espaço, Redescrições – Revista online do GT de Pragmatismo, ano VI, nº 1, Tradução de
Giovane Martins e Vitor Ferreira Lima, 2015, p. 86.
72
Psicopolítica e Imaginário da Natureza no Jardim das Delícias Terrenas de Hieronymus Bosch
Referências
CHUL-HAN, B. Psicopolítica – o neoliberalismo e as novas técnicas de poder. São
Paulo: Editora Ayiné, 2018.
GOMBRICH, E. História da Arte. Rio de Janeiro: LTC, 1999.
SLOTERDIJK, P. Esferas In: bolhas (José Oscar de Almeida Marques, Trad.). São
Paulo: Estação Liberdade, 2016.
____________. Ira e tempo. São Paulo: Estação Liberdade, 2013.
____________. Teoria das esferas. Conversando comigo mesmo sobre a poética do
espaço, Redescrições – Revista online do GT de Pragmatismo, ano VI, nº 1: 86-105,
Tradução de Giovane Martins e Vitor Ferreira Lima, 2015.
WUNDRAM, O Pré-Renascimento» em Os mestres da pintura ocidental, Taschen,
2005.
73
O Romantismo em Der Mönch
Am Meer, de Caspar David
Friedrich: Indivíduo e Natureza
Murilo Gonçalves1
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O Romantismo em Der Mönch Am Meer, de Caspar David Friedrich: Indivíduo e Natureza
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Murilo Gonçalves
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O Romantismo em Der Mönch Am Meer, de Caspar David Friedrich: Indivíduo e Natureza
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80
O Romantismo em Der Mönch Am Meer, de Caspar David Friedrich: Indivíduo e Natureza
81
Murilo Gonçalves
*
Como apontado, não apenas os poetas-filósofos, mas também os
músicos e os pintores mantiveram fecundo diálogo dentro da tradição
romântica, de modo que a confluência de elementos e desenvolvimentos
semelhantes é claramente percebida. A reflexão estética sobre a música
na Alemanha durante a maior parte do século XVII foi fortemente
influenciada pelo pensamento desenvolvido na França. A teoria
cartesiana, racionalizadora e mecanizadora dos sentimentos, foi a
base para a Affektenlehre21, isto é, “a ideia de que uma obra musical
deve representar afetos abstratos - um efeito por trabalho - utilizando
figuras musicais estereotipadas”22. Além da obra de René Descartes, os
trabalhos de Charles Batteux e Jean-Philippe Rameau também foram
19
Uma questão que passa por Herder, Kant, Fichte e assume sua forma mais radical em
Hegel. Segundo Jean Hyppolite, “a teoria kantiana da liberdade, desenvolvida com tan-
ta profundidade por Fichte, era ainda uma teoria abstrata. O idealismo filosófico teria a
necessidade de pensar o homem em sua história concreta e de encontrar nela o espírito”
(HYPPOLITE, J. Introducción a la filosofía de la historia de Hegel. Buenos Aires:
Ed. Calden, 1970, p. 12).
20
SCHLEGEL, op. cit., p. 221.
21
A despeito de sua existência desde pelo menos o final do século XVI, a consideração
da representação e condução dos afetos se torna um componente central da estética mu-
sical somente no barroco, onde “tornou-se o principal objetivo do compositor e a base
de inúmeros tratados”. Ademais, “melodia (intervalos), harmonia, ritmo, gradações de
tempo, dinâmica, instrumentação etc. - tudo isso era empregado em razão da imitação
ou representação dos afetos” (VIDEIRA, M. O Romantismo e o Belo Musical. São
Paulo: Unesp, 2014, pp. 59-60).
22
BICKNELL, J. The early modern period. In: GRACYK, Theodore; KANIA, Andrew
(ed.). The Routledge Companion to Philosophy and Music. London/New York:
Routledge, 2011, p. 275.
82
O Romantismo em Der Mönch Am Meer, de Caspar David Friedrich: Indivíduo e Natureza
83
Murilo Gonçalves
25
“[...] é uma arte a tal ponto elevada e majestosa, que é capaz de fazer efeito mais
poderoso que qualquer outra no mais íntimo do homem, sendo por inteiro e tão pro-
fundamente compreendida por ele como se fora uma linguagem universal” (SCHO-
PENHAUER, A. Metafísica do Belo. Tradução de Jair Barboza. São Paulo: Editora
Unesp, 2003, pp. 227-228).
26
Ibid., p. 234.
27
A figura de Friedrich Nietzsche também possui destaque. Seu envolvimento com
o tema da música ocorre desde o início de sua trajetória intelectual. No entanto, não
chegou a formular propriamente uma filosofia da música. Nietzsche foi fortemente
influenciado pela metafísica do belo de Schopenhauer. Em concordância com o último,
considera a música como meio de expressão do inefável (considerado como “domínio
da experiência que escapa da estrutura linguística”), como pura criação sem o condicio-
namento de determinações formais. No entanto, aproxima-se de Wagner ao pensar a
associação da música com a poesia dramática, sobretudo com a tragédia grega. “Como
arte não conceitual, a música torna possível transpor aquele conteúdo da experiência
que não se deixa representar, criando as condições para a formação da imagem. É esse
domínio da experiência que o poeta lírico interpreta a partir da música e da imagem
simbólica, enquanto formas artísticas capazes de transportar esse elemento mais fino,
inacessível, à imagem e ao conceito”. Cf. CAVALCANTI, A. H.. Música, linguagem e
criação em Nietzsche. In: Revista Discurso, n. 37, 2007, pp. 183-199.
28
Cf. DAHLHAUS, C. Die Idee der absoluten Musik. Kassel: Bärenreiter, 1978.
Acrescenta-se que “a religiosidade exacerbada e a valorização do inefável opõem-se clara-
mente às exigências laicas e racionalistas predominantes durante a maior parte do século
XVIII” (VIDEIRA, 2014, p. 77).
84
O Romantismo em Der Mönch Am Meer, de Caspar David Friedrich: Indivíduo e Natureza
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Murilo Gonçalves
86
O Romantismo em Der Mönch Am Meer, de Caspar David Friedrich: Indivíduo e Natureza
(Figura 1: Caspar David Friedrich - Der Mönch am Meer - (1808–1810, 1,1 m x 1,72
m, tinta a óleo) - Alte Nationalgalerie, Staatliche Museen zu Berlin)
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Murilo Gonçalves
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Murilo Gonçalves
Referências
ARGAN, Giulio Carlo. L’Arte Moderna. Milano: Sansoni per la Scuola, 1994.
BICKNELL, Jeanette. The early modern period. In: GRACYK, Theodore; KANIA,
Andrew (ed.). The Routledge Companion to Philosophy and Music. London/
New York: Routledge, 2011.
CAVALCANTI, Anna H. Música, linguagem e criação em Nietzsche. In: Revista
Discurso, n. 37, 2007, pp. 183-199.
DAHLHAUS, Carl; MILLER, Norbert. Europäische Romantik in der Musik
(Band 2). Oper und symphonischer Stil 1800 – 1850. Von E.T.A. Hoffmann zu
Richard Wagner. Stuttgart/Weimar: Verlag J. B. Metzler, 2007.
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(Lettre), 2007.
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Stuttgart: J. B. Metzler Verlag, 2017.
FICHTE, Johann Gottlieb. A Doutrina da Ciência de 1794. Tradução de Rubens
Rodrigues Torres Filho. In: Fichte (Os Pensadores), São Paulo: Abril Cultural,
1984.
GOMBRICH, Ernst. H. A história da arte. Tradução de Álvaro Cabral. Rio de
Janeiro: LTC, 2015.
HYPPOLITE, Jean. Introducción a la filosofía de la historia de Hegel. Buenos
Aires: Ed. Calden, 1970.
43
Cf. KOERNER, 2009, pp. 245-262.
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O Romantismo em Der Mönch Am Meer, de Caspar David Friedrich: Indivíduo e Natureza
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Urbe: uma visão artística de
G. Fogaça (1985-2010)
Bianca Cristina Barreto Casanova1
De Jecimar a Di Souza
Jecimar de Souza Arruda nasceu em 1967, na cidade de Goiás2, em
uma família muito modesta. Aos três anos de idade, mudou-se com seus
pais para Britânia3, pequeno município do norte de Goiás cuja economia
baseava-se na agricultura. Ainda pequeno, seus pais se separaram e sua
mãe decidiu morar em Mato Grosso, levando os filhos. Mas Jecimar
preferiu ficar com o pai em Britânia, segundo seu próprio depoimento
(G. FOGAÇA, 2017).
1
Mestranda e graduanda em História pela Universidade Federal de Goiás, advogada.
E-mail: biancac.casanova@gmail.com
2
Goiás ou Cidade de Goiás é um município brasileiro do Estado de Goiás. O municí-
pio foi reconhecido em 2001 pela UNESCO como sendo Patrimônio Histórico e Cul-
tural Mundial por sua arquitetura barroca peculiar, por suas tradições culturais seculares
e pela natureza exuberante que o circunda.
3
Britânia, fundada em 1957, é um município do interior do Estado de Goiás. Sua
população estimada em 2004 era de 5.583 habitantes. A região desenvolveu inicialmente
a agricultura, mas hoje predomina a pecuária e desperta para o desenvolvimento do
turismo. Seu ponto turístico mais conhecido é o Lago dos Tigres.
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Urbe: uma visão artística de G. Fogaça (1985-2010)
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Bianca Cristina Barreto Casanova
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Urbe: uma visão artística de G. Fogaça (1985-2010)
De Di Souza a G. Fogaça
O jovem Di Souza, assim, em 1985, se deparou pela primeira
vez com uma cidade grande e também com o ritmo que ela impunha.
Durante o dia trabalhava no Ipasgo, à noite pintava seus quadros sob uma
fraca lâmpada em um quartinho minúsculo nos fundos de uma casa na
rua 70 do centro de Goiânia. E, quando lhe sobrava tempo, expunha seus
quadros como ambulante na avenida Anhanguera. Também fazia pintura
de cavalete, de paisagens de arredores de cidades. Viajava para cidades
históricas, como Sabará e a cidade de Goiás, e armava seu cavalete na
parte de fora da cidade. Costumava tirar fotos das paisagens para ajudar
em suas pinturas.
Di Souza passou a frequentar galerias, oferecendo suas obras de
porta em porta. Conseguiu vender alguns quadros, juntou algum
dinheiro e passou a dividir apartamento com amigos. Seu jeito
carismático continuou proporcionando que pessoas o ajudassem durante
sua trajetória. Seu chefe o incentivava a pintar, e o presidente do Ipasgo
à época, Luís Rassi (de 15/03/83 a 05/02/86), custeava as exposições que
Di Souza conseguia fazer nas galerias. Di Souza ficaria durante 15 anos
trabalhando no Ipasgo.
Durante as férias, Di Souza ia a Britânia visitar sua família. Aos 19
anos, fez uma pequena exposição na Câmara dos Vereadores da cidade.
Dentre os visitantes, havia uma moça de 20 anos, que estudava economia
em Goiânia, bancária, noiva de um rapaz da capital e que também estava
de férias em Britânia visitando os pais recém-chegados na cidade. Ela,
que sempre amou artes e literatura, assinou seu nome no caderno de
visitas e escreveu também uma crítica sobre a obra, que havia adorado.
Di Souza ficou encantado com o comentário no caderno e saiu
procurando pela cidade a pessoa que o tinha escrito. Cidade pequena,
logo descobriu o endereço de Maria de Lourdes, ou Malu, e lhe mandou
flores. A moça deixou o noivo para ficar com o artista, casaram-se três
anos depois na igreja de Britânia.
A cerimônia foi o maior fiasco. Dias antes, Di Souza foi à casa dos
sogros exigir o carro emprestado: “eu não vou a pé no meu casamento,
97
Bianca Cristina Barreto Casanova
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Urbe: uma visão artística de G. Fogaça (1985-2010)
Entre 1963 e 1986, tornou-se professor de desenho e plástica na Escola Goiana de Belas
Artes e no Departamento de Artes e Arquitetura da Universidade Católica de Goiás. O
artista foi um nome importante para amplificar a visibilidade da arte goiana com suas
representações de cenas urbanas e cotidianas. Já entre 1968 e 1971, torna-se diretor do
curso de Arquitetura da Universidade Católica de Goiás. Em 1970, quando Amaury
resolve se dedicar à técnica em que mais se destacaria, a aquarela, Goiânia passava por
um movimento artístico e cultural intenso. Foi o momento em que diversos ateliês
foram abertos na cidade e que artistas como Amaury, D.J. Oliveira, Sáida Cunha e Juca
di Lima saíam pela cidade para pintar ao ar livre, retomando uma prática atrelada ao
movimento impressionista francês do século XIX. Além dessa articulação com artistas,
Amaury atuou na Exposição do Congresso Nacional dos Intelectuais em 1954, foi um
dos fundadores do Museu de Arte de Goiânia, onde uma das salas leva seu nome, e re-
cebeu, em 1990, o Prix Lucien Martial, concedido pela Societé Internacionale da Beaux
Arts (MENEZES, 1998).
99
Bianca Cristina Barreto Casanova
7
Vanda Pinheiro Gabinete de Arte pertencia à pintora e gravadora Vanda Pinheiro
Dias. Nascida em Itaberaí/GO em 1930, Vanda Pinheiro estudou na Escola Goiana de
Belas-Artes da UCG, quando foi aluna de Frei Nazareno Confaloni e de D.J. Oliveira.
Possui obras de sua autoria no acervo do Museu de Arte de Goiânia. Frequentou a Es-
cola de Belas-Artes da Universidade Católica de Goiás e recebeu orientação de Cleber
Gouvêa (COELHO, 2015).
8
A Itaú Galeria faz parte da Fundação Itaú Cultural, “em que curadores e diretores
são escolhidos pela fundação, e não pelo banco (...). Gilmar Camilo foi durante anos
diretor da Itaú Galeria, e configurou nome importante para o mercado de arte goiano
por ser a principal ponte que levava galeristas a diretores de museus. Posteriormente
veio a ser diretor do Museu de Arte Contemporânea de Goiás, na gestão do governador
Marconi Perillo.” (COELHO, 2015, pp. 100 e 109).
100
Urbe: uma visão artística de G. Fogaça (1985-2010)
101
Bianca Cristina Barreto Casanova
então lhe propôs um acordo: ela sairia do emprego, ficaria só por conta
de estudar e, depois que ela passasse, ele sairia do Ipasgo e viveria por
conta da arte. Viver apenas com o salário do Ipasgo e a venda de algumas
poucas pinturas fez a família passar por dificuldades. Malu ficou dois
anos estudando para o concurso. No dia seguinte ao que Malu tomou
posse no cargo do TRT, Di Souza saiu do Ipasgo. A partir daí, ele só se
dedicou à arte.
Simplesmente G. Fogaça
Nos idos dos anos 90, havia outro artista plástico em Goiânia
assinando Di Souza9. Era necessário mudar de nome artístico. Filho de
Jeciron Fogaça, Jecimar foi o único filho a não herdar o sobrenome do
pai. Durante toda a infância, fora chamado de Gerson como um apelido
diminutivo de Jecimar. É então que cria G. Fogaça, nome com o qual
alcançaria o reconhecimento internacional como artista.
Tendo saído do Ipasgo e passado anos mergulhado em sua arte, no
final da década de 90, G. Fogaça se sentiu seguro para recomeçar. Nessa
época, mesclava paisagens do interior e paisagens urbanas, sempre com
um expressionismo10 bem evidente. Malu tomou a iniciativa de procurar
um lugar para G. Fogaça expor e ele concordou. A partir de então, ficou
delimitada a divisão de tarefas: G. Fogaça pintava os quadros e Malu fazia
a divulgação e organização das exposições.
9
O homônimo de Di Souza seria o pintor César José de Souza, natural de Goiânia e
nascido no mesmo ano do artista de que tratamos, 1967. César José, entretanto, par-
ticipou de salões e coletivas em galerias de diversas cidades brasileiras desde os anos 80
(Menezes, 1998, p. 102), enquanto Jecimar dava seus primeiros passos na capital goiana
nessa mesma época.
10
O Expressionismo foi um movimento artístico e cultural de vanguarda, surgido
na Alemanha no início do século XX; “não era somente um estilo com características
em comum, mas um amplo movimento que propunha uma nova forma de entender a
arte e que aglutinou diversos artistas de várias tendências. O expressionismo surge como
uma reação ao positivismo associado aos movimentos impressionista e naturalista, pro-
pondo uma arte pessoal e intuitiva, onde predominasse a visão interior do artista – a
‘expressão’ – em oposição à mera observação da realidade – a ‘impressão’” (CHILVERS,
2007, p. 334).
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Figura 6: Wassily Kandinsky, Rua em Murnau com Mulheres, 1908, Óleo em cartolina
(71x97 cm).
Fonte: < https://www.wassilykandinsky.net/work-291.php>
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Bianca Cristina Barreto Casanova
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Urbe: uma visão artística de G. Fogaça (1985-2010)
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Bianca Cristina Barreto Casanova
Entrevistas
DA CUNHA, Maria de Lourdes. Depoimento [02 mai. 2018]. Entrevistadora:
Bianca Cristina Barreto Casanova. Goiânia, 2018.
DA MATA, Antônio. Depoimento [17 mai. 2018]. Entrevistadora: Bianca Cristina
Barreto Casanova. Goiânia, 2018.
G. FOGAÇA. Depoimento [02 mai. 2018]. Entrevistadora: Bianca Cristina
Barreto Casanova. Goiânia, 2018.
JORGE, Miguel. Depoimento [01 mai. 2018]. Entrevistadora: Bianca Cristina
Barreto Casanova. Goiânia, 2018.
MENEZES, Amaury. Depoimento [18 mai. 2018]. Entrevistadora: Bianca Cristina
Barreto Casanova. Goiânia, 2018.
PERDOMO, Dayalis González. Depoimento [21 mai. 2018]. Entrevistadora:
Bianca Cristina Barreto Casanova. Goiânia, 2018.
SILVEIRA, PX. Depoimento [24 abr. 2018]. Entrevistadora: Bianca Cristina
Barreto Casanova. Goiânia, 2018.
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Urbe: uma visão artística de G. Fogaça (1985-2010)
Leis
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BRASIL. Lei nº 13.613, de 11 de maio de 2000. Institui o Programa Estadual de
Incentivo à Cultura – GOYAZES e dá outras providências. Brasília, DF, mai. 2000.
BRASIL. Lei nº 15.633, de 30 de março de 2006. Dispõe sobre a criação do Fundo
de Arte e Cultura do Estado de Goiás - Fundo Cultural e dá outras providências.
Brasília, DF, mar 2006.
BRASIL. Lei nº 8.313, de 23 de dezembro de 1991 (Lei Rouanet). Restabelece
princípios da Lei n° 7.505, de 2 de julho de 1986, institui o Programa Nacional de
Apoio à Cultura (Pronac) e dá outras providências. Brasília, DF, dez. 1991.
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Informações Gráficas
Formato: 15,24 x 22,86cm
Mancha: 11,8 x 20,7cm
Tipologia: Adobe Garamond Pro - Theano Didot
Projeto editorial e acabamento: Editar Editora Associada – Juiz de Fora/MG
Tel.: (32) 3213-2529 – (32) 3241-2670 – www.editar.com.br – contato@editar.com.br
Junho de 2019