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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ

PROGRAMA DE PROTEÇÃO E DEFESA DO


CONSUMIDOR
Rua Lindolfo Monteiro, nº 911, Bairro de Fátima, CEP nº 64049-440, Teresina
– PI Telefones: (086) 2222.8100 / E-mail: procon@mppi.mp.br

TERMO DE AUDIÊNCIA
PROCESSO ADMINISTRATIVO DE Nº 000322-426/2023

Aos 08 de fevereiro de 2024, às 12:00 h, através de videoconferência da plataforma


Teams, fizeram-se presentes o MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ, por meio do
PROCON/MPPI, representado pelo Coordenador Geral e Promotor Justiça, Dr. Nivaldo
Ribeiro; a Construtora Rivello, neste ato representada pelo advogado, Dr. Geylanderson Góis do
Nascimento (OAB/PI 21.851), a advogada, Dra. Alice Viana, e a preposta, Débora Barreto;
Rafael Sérvio Santos, representando Guilherme Dantas Leal, e o consumidor, Guilherme Dantas
Leal, adquirente, representado também pelo Dr. Eduardo Lins (OAB/PI 23.297); Braz Neves do
Rego Neto e Janaina Ribeiro da Silva Paula, Matheus Freire Silva do Nascimento, Melissa
Floriano Nunes (esposa de Elesbão Ferreira Viana Júnior), representados neste ato pelo
advogado, Dr. Eduardo Lins, Bárbara Melo Silva Lima Leite, adquirente, representada por Dra.
Maria Isabel Franchi Marinho (OAB/SP 335.879), a fim de participarem da presente audiência.
ABERTA A AUDIÊNCIA de conciliação por videoconferência, através da plataforma
de transmissão Teams, a qual foi integralmente gravada.
Inicialmente, a assessoria jurídica, apresentou a pauta a ser discutida durante a
audiência. Trata-se de demanda acerca de vícios construtivos, não entrega de imóvel, distrato, e
outras irregularidades no empreendimento Casas e Jardins.
A fornecedora informou que se trata de um loteamento, então não é exigido pela
legislação que seja registrado. “Ainda que o contrato coloque alguns termos dizendo que não é
loteamento, não conseguimos alterar a realidade da situação”, afirmou a preposta. É um
loteamento. O prazo de contrato é de 12 (doze) a 18 (dezoito) meses contados a partir do alvará
de construção. Os contratos são disponibilizados para leitura prévia, enviados pelo Whatsapp
para assinatura digital. O cliente consegue ler com antecedência. Tem uma cláusula que indica
que o cliente tem disponibilidade de levar para um advogado ler o contrato.
Sobre obras paradas, a fornecedor informou que todas as obras que estão presentes hoje
são obras referentes a distratos. Uma obra é feita de maneira fracionada e intercalada, então há
fases da obra de um cliente e que não haverá trabalhador em determinados dias. É normal numa
construção.
Com relação aos vícios construtivos, a preposta afirmou que, até final do ano passado, as
obras estavam em período de construção, falhas podem acontecer e são corrigidas no decorrer da
construção. Durante o processo é próprio da construção civil as correções.
Sobre taxa condominial, a construtora informou que a modalidade que foi vendida é
loteamento em que os adquirentes já respondem automaticamente pelas taxas de condomínio. O
contrato com Aldebaran prevê isso. Independente do tempo que dure a obra, é do momento de

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aquisição e não na entrega da obra. Acerca da ausência de correção de INCC foi explicado que o
contrato é claro sobre essa correção de INCC, como e quando será cobrada.
Sr. Braz, adquirente, afirmou que o acesso ao contato era dificultado e sempre
postergado, não houve facilidade para receber comunicação da construtora. Afirmou que morava
próximo à obra, então acompanhava diariamente. Disse que as informações não batiam. “Não
recebi contrato referente a lote; as obras ficaram paradas antes de ser feito o distrato. No período
de 3 a 4 meses, verifiquei que o grupo que estava trabalhando na minha casa em outra hora
estava em outra casa, o que acontecia com outros clientes também”.
O advogado de alguns consumidores presentes na audiência, Dr. Eduardo Lins, relatou
que todo o projeto Casas e Jardins era um conjunto de 51 unidades, estruturado e vendido pela
construtora. “Todos os contratos da construtora Rivello é que iniciavam qualquer relação com
outros como Aldebaran, Prefeitura. O contrato é de venda de lote, de construção, de
financiamento e de regularização imobiliária. Oferecia tudo pronto para o cliente de forma pronta
e acabada. Existia uma parceria entre Rivello e Aldebaran, os clientes não tinham contato, nem
acesso. A Rivello tinha um correspondente bancário, Sr. Rafael Chaves, que se responsabilizava
para organizar junto à Caixa e à Prefeitura; junto ao cartório, também havia uma pessoa
responsável, Sra. Morgana Penha, que resolvia tudo pela construtora. A Rivello menciona que
não se trata de um contrato de promessa de entrega de unidade futura, mas as confissões de
dívidas assinadas pelos clientes sempre mencionava que era contrato para entrega futura. Foi
prometida para todos os clientes entrega em doze meses. A propaganda era feita pelos corretores
e pela Rivello. Os contratos eram fechados dentro da construtora. Posteriormente, informou que
seria de 12 a 18 meses com adiamento de mais 180 dias. A variação de prazo de forma incerta
prejudicou os clientes. A Rivello organizou internamente de forma conjunta, mas quando o
cliente iria questionar, a empresa dizia que a obra dele era separada, individualizada. Eles não
viam sua casa sendo construída. Desde meados de setembro de 2022, as obras começaram a ser
abandonadas. Vários laudos foram feitos comprovando estruturas enferrujadas. Uma casa sendo
usada como canteiro de obras para outro empreendimento. Clientes reclamaram diversas vezes.
Iniciou-se uma pressão para os clientes fazerem distrato, a Rivello estava tendo prejuízo
milionário, cerca de R$ 5 milhões, e começou a repassar o prejuízo com cobrança de INCC,
reequilíbrio contratual e não estava construindo a casa dos clientes. Os consumidores viam sua
obra parada sem explicação. A Rivello informou que tinha problema de mão de obra no mercado,
que não tinha funcionários para construir o empreendimento Casas e Jardins e, ao mesmo tempo,
contratou funcionários para construir um novo empreendimento vendido após o Casas e Jardins.
Em seguida, informaram que a empresa contratada para construir havia quebrado; depois que a
subempreiteira Inspira também havia quebrado. Tomamos conhecimento de uma audiência da
empreiteira Inspira contra a Rivello em virtude de a Rivello não estar repassando os pagamentos
para a construção; que estava cortando pagamento de fornecedores, cortando pagamento de
funcionários, e valores para o Casas e Jardins. O Ministério do Trabalho fez fiscalização.
Solicitamos documentos para a construtora, mas foram negados”, acrescentou. No contrato com
a Inspira, a Rivello se posiciona como incorporadora. Os documentos foram elaborados de forma
a prejudicar os clientes e, no momento que a construtora abandonou o empreendimento, impôs
condições que lesavam os consumidores. “O Sr. Fabiano está morando no interior, ele se mudou
de São Paulo para Teresina com base na promessa de entrega da casa. Teve que abrir mão de
todos os direitos para que tivesse o mínimo de valor para construir. O Sr. Braz foi obrigado a
distratar também essa construção, teve que assumir por conta própria. Tendo que resolver toda a

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burocracia. E, recentemente, a ART foi dado baixa outro dia, de maio para cá, a comunicação foi
realizada há muito tempo. Solicitados documentos, algumas informações não eram
documentadas; promessas feitas de boca. O que era garantido pessoalmente, quando ia para a
documentação, a construtora invertia totalmente a tratativa. Exemplo do que ocorreu com a Sra.
Janaina e Sr. Josino. Foram realizadas duas reuniões. Na última, realizada na data 26 de abril de
2023, houve uma promessa do proprietário da Rivello, Sr. Marcelo, em que ele confirmou que a
situação da construtora ter parado a construção. Houve um acordo sobre a PLS, os clientes
cumpriram o que foi acordado e a outra parte era: as chaves e pós-obra, aditivos. O valor de
chaves não fazia sentido cobrar, se a casa não está sendo construída e o pós-obra também. O Sr.
Marcelo prometeu expressamente se abster de fazer a cobrança até quando voltasse a obra, em
outubro de 2023 que já extrapolava o prazo prometido na venda. Os consumidores concordaram
e a construtora disse que voltaria a construir. Ocorre que, em 29 dias, a Rivello mandou uma
comunicação distratando eles e cobrando as chaves e o pós-obra. Todos os clientes estão com
problema de regularização na Prefeitura o alvará demorou muito para ser protocolado. O que
impactou no andamento da obra. No caso do Sr. Braz, começou a construção 227 dias após
emissão do alvará. Após o alvará, a construtora tinha que apresentar o carimbamento. A maior
parte dos adquirentes não têm o carimbamento. A Rivello trocava as equipes, não havia relatório
diário de obras, uma equipe que chegava após outra não sabia a situação do imóvel, de falhas, de
retrabalhos. O Sr. Mateus tinha no contrato a data expressa de entrega das chaves. O cliente se
viu obrigado a aceitar as condições da construtora. No caso da Sr. Janaina, a casa está parada. Há
matagal no local. Não há fiscalização, não há mestre de obras cuidando dos lotes. Os
consumidores realizavam os pagamentos de forma individual, mas a construtora tratava como
empreendimento conjunto o dinheiro de um cliente era usado para construir a casa de outra
pessoa. Solicitamos calendário e orçamento. A empresa informou que não havia essa separação
entre os imóveis. No entanto, no momento de cobrar dos clientes era separado. Existem clientes
que distrataram e outros não. A empresa se resguarda de assumir as suas responsabilidades.
Houve uma narrativa da empresa para encobrir as responsabilidades e terceirizar todos os
prejuízos. Alguns clientes ficaram com dinheiro aprisionados”.
Consumidores ratificaram as informações mencionadas e apresentaram alguns casos em
que a construtora não cumpriu a oferta e os adquirentes foram prejudicados. Que a empresa
enviou e-mail de notificação de distrato e justificou que a construtora havia tido um prejuízo de
R$ 5 milhões. A única proposta apresentada foi de que compraria a casa pelo valor que havia
sido adquirida. Após o distrato, construtora não atende mais os clientes. A empresa não
apresentou nenhuma proposta de acordo e orientou os consumidores a procurarem a Justiça.
A Dra. Maria Izabel, que representa duas consumidoras, afirmou que não houve distrato
com as suas clientes, entretanto, as duas estão pagando valores para a Caixa, taxa de obra mensal
e a obra nunca foi entregue. Existem vícios construtivos. A Rivello diz no contrato que, enquanto
estiver construindo o imóvel, é responsável pelo pagamento da taxa condominial. As clientes
estão sendo executadas por taxa de condomínio porque não pagaram as taxas. O discurso da
construtora não condiz com a realidade. Foram liberadas PLS sem assinatura, estão cobrando
INCC de obra e a empresa já recebeu tudo. E foi a fornecedora que atrasou a obra. A adquirente,
Sra. Bárbara, ganhou uma liminar na Justiça estabelecendo que ela não deveria mais ser cobrada,
no entanto, ela é cobrada todos os dias pela Rivello.

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A consumidora Polliana disse que adquiriu a casa porque estava precisando de uma casa
no térreo. A construtora prometeu entrega em doze meses. “Apontei com laudo de engenheiro
que a construção estava com vários problemas. Por fim, me vi obrigada a distratar. Na verdade,
essa taxa de INCC fui informada de que eu não pagaria. Agora, eu finalizei a casa com outra
pessoa. A Rivello informou que iria garantir o que tinha sido feito. Recentemente, a minha
garagem desabou, feita pela Rivello. Avisei por várias vezes para a empresa que tinha rachadura.
O engenheiro fez a vistoria na quinta e na sexta-feira, toda a garagem caiu. Eles fizeram uma
parte da garagem. Tem água entrando nas portas, piso desalinhado, diversos problemas. Poderia
ter caído por cima de mim ou algo mais grave”.
Sr. Josino afirmou que a imobiliária entrou em contato e “fomos até a construtora, Tiago
Garcia nos levou até a obra para mostrar uma casa modelo. Voltamos para a construtora e
fechamos o negócio na construtora. Janeiro de 2023 era para ser entregue a casa. Até hoje, desde
de dezembro de 2022, a obra está abandonada. Começamos a entrar em contato com a Rivello e
as cobranças não paravam. Muito difícil entrar em contato com eles. Nos reunimos com a
empresa em abril foi acordado que pagaríamos uma PLS (sem a nossa assinatura) e eles se
comprometeram a voltar a obra em outubro. Fomos enganados desde o início. Minha esposa está
doente. Estamos com financiamento na Caixa Econômica. Estamos há mais de ano pagando taxa
de obra sendo que a obra não existiu. Temos que pagar taxa de condomínio. Estamos com
pagamento da moradia em atraso”. Mesmo assim, após pagar o que tinha sido cobrado, foi
informado de que o contrato havia sido rescindido pela construtora.
Braz informou que o alvará não teve regularização. Passou seis meses tentando resolver
nos órgãos competentes. A empreiteira disse que não havia sistematização do uso dos materiais.
“Estou com processo judicial, a justiça deu ordem de pagamento e a construtora está protelando”.
A Sra. Bárbara relatou que recebeu uma multa de notificação do condomínio, no valor de
cerca de R$ 7.000 (sete mil reais) em virtude de falhas na construção e vazamento que está
atingindo um outro imóvel que está sendo construído por outra construtora.
O coordenador-geral do Procon, Dr. Nivaldo Ribeiro, indagou da construtora se há
proposta de conciliação.
A Rivello, por meio da advogada, Dra. Alice Viana, afirmou que todos os processos
mencionados na audiência estão na Justiça, “então a fornecedora não tem nenhuma proposta de
acordo”.
O processo seguirá para instrução processual possível aplicação de penalidade
administrativa, visto que houve infração ao Código de Defesa do Consumidor. O Promotor, Dr.
Nivaldo Ribeiro, determinou que o processo seja encaminhado para análise da Assessoria
Jurídica e ingresso com ação judicial.
Eu, Kelly Cristina Bezerra da Costa, Técnica Ministerial do PROCON, digitei a presente
ata de audiência virtual, nos termos do Ato Conjunto PGJ/Procon n° 01/2020 1, a qual segue
assinada eletronicamente2 pelo senhor Promotor de Justiça Coordenador-Geral do Procon, para
efeitos e provas nos autos3.
Cientes os presentes. Nada mais.

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Assinatura Realizada Externamente Doc: 5639873, Página: 4
Dr. Nivaldo Ribeiro
Promotor de Justiça
Coordenador do Procon MPPI

1 Institui a “audiência virtual” para realização de atos finalísticos na atuação extrajudicial no âmbito do Programa
Estadual de Proteção e Defesa do Consumidor do Ministério Público do Estado do Piauí (Procon/MPPI).
2 Art. 3º. Os atos preparatórios e executórios da audiência virtual devem adotar as diretrizes abaixo alinhadas: V -
deverá ser elaborado termo de audiência ou termo de acordo no SIMP, onde serão registrados os encaminhamentos,
os pedidos das partes e outras questões relevantes, além da assinatura digital do membro
3 Art. 3º. IV – a audiência realizada através do Microsoft Teams será gravada para efeito de prova nos autos; VI –
nas hipóteses de gravação da audiência virtual, o link onde poderá ser encontrado o respectivo vídeo deverá ser
obrigatoriamente disponibilizado no SIMP ou no próprio software Teams, seja no próprio termo, seja em certidão
emitida pelo servidor do órgão de execução.

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