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GUIA BIBLIOGRÁFICO E VIDEOGRÁVICO SOBRE VIKINGS EM PORTUGUÊS

Jhonni Languer – Doutor em História pela UFPR. Professor pela Faculdade Estadual de União da Vitória,
FAFI-UV, Paraná.
E-mail: thor_odin7@hotmail.com

A maioria desses títulos podem ser consultados nos seguintes acervos, que também possuem livros
periódicos estrangeiros sobre o tema:
 Curitiba: Biblioteca do Paraná, Universidade Federal do Paraná, PUC Paraná;
 São Paulo: Biblioteca Mário de Andrade, Universidade de São Paulo, PUC São Paulo;
 Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, Universidade Federal, Museu Nacional, Universidade Federal
Fluminense. PUC do RJ;
 Porto Alegre: Universidade Federal, PUC do RGS

RELAÇÃO DOS LIVROS E REVISTAS PUBLICADOS EM PORTUGUÊS SOBE VIKINGS

ANDRADE, Robreto Pereira de. Vikings: Os Senhores do Mar. Rio de Janeiro: Vozes, 1970;
Obra que apresenta aspectos históricos gerais, cuja qualidade acaba comprometida com o
envolvimento do autor por teorias difusionistas, especialmente pelos partidários da pedra de Kensigton

ARBMAN, Hoiger, Os Vikings. Lisboa: Verbo. 1967;


Aspectos gerais da cultura viking

AZEVEDO, Cristina. Vikings: Seguindo a Rota dos Guerreiros Navegantes. Revista Geográfica Universal.
N.249, outubro 1995;
Aspectos gerais, destaque para o festival da cidade de Aarhus na Dinamarca.

BOYER, Régis. Mitos Escandinavos. In: BRUNEL, Pierre (org.) Dicionários de Mitos Literários. Rio de
Janeiro: José Olympio, 1997.
____________Mitos Germânicos. In: BRUNEL, Pierre (org.) Dicionários de Mitos Literários. Rio de
Janeiro: José Olympio, 1997.
Excelentes artigos escritos por uma das maiores autoridades do mundo no assunto.

BROADBENT, Noel. Os Vikings. Rio de Janeiro: Abril coleções. 1999;


Aspectos Gerais sobre a cultura viking.

BROCHARD, Philippe & KRAHENBUHL, Eddy. Os Vikings, Senhores do Mar. São Paulo: Augustus.
1996;
A melhor obra infanto-juvenil disponível em português com excelentes textos e ilustrações.

BRØNDSTED, Johannes. Os Vikings. São Paulo: Hermus,s.d;


Clássico. Obra imprescindível sobre cotidiano, equipamentos, vestuário, alimentação, economia,
religião e comportamento dos vikings escrito por uma das maiores autoridades escandinavas no assunto.

CLARKE, Helen. Os Vikings. São Paulo: Verbo, 1978.


Aspectos Gerais

COHAT, Yves. Os Vikings, Reis dos Mares. Itália: Civilização/Círculos de Leitores, 1988.
Obra excepcional com ótimo texto e reconstrução histórica, iconográfica com referências de autoria e
data. Além de anexar algumas das fontes e documentos originais.

COTTERELL, Artur. Enciclopédia de Mitologia: nórdica, clássica, celta. China: Livros e Livros. 1998.
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Organizada em forma alfabética e com três divisões (nórdica, clássica e celta), a obra possui uma
espetacular estrutura iconográfica, apresentando telas, ilustrações e esculturas de entidades mitológicas.
Algumas das imagens são extremamente raras, como as telas oitocentistas de Gustav Malmstrom, A. Gallen-
Kallela, G. von Leek e François Gerard. Diversos artistas contemporâneos complementam a descrição de
cada verbete. Esse certamente é o maior mérito deste livro, fornecendo ao pesquisador condições de
identificar as fontes iconográficas a partir de seu autor, data, estado atual da fonte e sua atual localização. No
caso específico da estrutura dos mitos, o livro apresenta um panorama genérico facilitando a identificação de
cada personagem dentro da complexa genealogia nórdica. Isso se torna ainda mais interessante com relação
aos deuses menos conhecidos, como Gefion, Billing ou Andvari, concedendo ao leitor uma precisa
reconstituição terminológica.
Apesar desses méritos, este livro apresenta alguns problemas. Em primeiro lugar o autor inseriu no
capítulo dedicado aos nórdicos alguns deuses que fazem parte da mitologia eslava. É certo que algumas
tradições de origem germânica se espalharam pela Europa oriental, originando muitas vezes os mesmos
personagens com nomenclaturas diferentes. Os saxões, jutos e anglos chamavam o deus viking Thor de
Donnar, enquanto os habitantes da Rússia (colonizados pelos rus, vikings suecos) o denominavam de
Perunu.
Outros deuses eslavos que tinham relação com os mitos germânicos foram Potrimpo (identificado
como Freyer) e Patollo (similar a Odin). Mas alguns personagens mencionados pelo livro — como Baba
Yaga, Vlkodlak, Valese Triglav — por serem únicos na tradição eslava, deveriam ser incluídos em um
capítulo separado. O autor repetiu o mesmo personagem em dois vocábulos diferentes: Siegmund e Sigmund
(p 205, 222, 223 e 228). Na realidade, tanto na tradição alemã ( Das Nibelungenlied) quanto na escandinava
(Volsunga Saga), Siegmund era o pai do herói Sigurd / Siegfried – O matador do dragão Fafnir. Alguns
deuses germânicos muito importantes foram omitidos como Ostara, deusa da primavera, foi citada por Bade
(673) e Jacob Grimm (1835) e constituiu a origem de um festival pagão em abril, convertido na páscoa cristã
(Ostern, páscoa em alemão; Easter, em inglês).
Outros personagens míticos esquecidos foram Bestla e Narvi. Os nibelungos, míticos povos de anões
que deram origem às epopeias escandinavas e alemãs, também foram omitidos. Alguns importantes mundos
do universo nórdico estão ausentes: Midgard (a Terra), Alfheim (terra dos duendes e elfos), Vanaheim,
Muspenheim ( a morada dos gigantes de fogo), Jotuheim. Omissões também ocorreram no capítulo sobre os
mitos celtas, com dois personagens irlandeses mais famosos na atualidade: o rei Conan e o deus ceifador de
crianças Cromm. Conan tornou-se um herói muito popular com os romances de Robert Howard (1906 –
1936),e posteriormente adaptado para histórias em quadrinhos e cinema. Na iconografia, algumas pinturas
apresentam datações erradas. O quadro Ogma de Nick Beale, é apresentado como sendo de 1910 (p. 154),
mas todas as outras ilustrações deste pintor são datadas de 1905. A pintura Thor e os Gigantes de M. E.
Winge, de 1872, foi apresentado como sendo de 1890 ( p. 230). A impressionante tela de Karl Ludwing
Engel – A Cavalgada das Valkírias -, foi datada como sendo de 1680 (p. 212). O problema é que este pintor
alemão viveu de 1778 a 1840. No quadro Freyja, de B. Blommer, o livro apresenta duas datas: 1852 (p. 190)
e 1952 (p. 196).
Em relação aos ilustradores para complementar a obra em 1995 – James Alexander e Nick Beale –
podemos perceber uma profunda preocupação de pesquisa e leitura das fontes mitológicas originais.
Rompeu-se desta maneira, com uma tradição iniciada no século XIX em representar os deuses nórdicos e
celatas portando capacetes com pares de asas, e principalmente com enormes chifres. Um exemplo é com
Odin, que nos relatos míticos era caolho, trajava uma túnica e um imenso chapéu, mas nas pinturas e na
ópera do século XIX transformou-se em um imenso guerreiro de armadura, com um elmo com gigantescas
asas de águia. Devido ao estereótipo criado pelos pintores oitocentistas, atualmente os próprios vikings são
associados no imaginário dos capacetes com cornos – um fato nunca provado pela arqueologia e pela
documentação histórica.

EASTEMAN, Max. Noruega: O Berço dos vikings. Seleções do Reader`s Digest, junho 1957.
Artigo genérico se muitos aprofundamentos.

FERRONI, Marcelo. Os Vikings e a Chegada ao novo Mundo. Galileu, ano 9, n. 111, 2000.
Artigo bem escrito porem de conteúdo considerado raso. Já discutido em boletins anteriores.

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FÚRIA Nórdica. São Paulo: Abril Livros / Time Life, 1991. Coleção História em Revista.
Texto dinâmico e bem atualizado. Bom trabalho de catalogação e amostragem das fontes.

GANERI , Anita. Os Vikings. São Paulo: Abril jovem, 1995.


Obra infanto-juvenil

GIBSON, Michael. Os Vikings. São Paulo: Melhoramentos, 1990. Coleção Povos do Passado.
Obra de caráter genérico, com boas ilustrações e reconstruções cotidianas bem interessantes.

GINZBURG, Carlo. Mitologia Germânica e Nazismo: Sobre um velho livro de Georges Dumézil. In:
_______Mitos, Emblemas e Sinais. São Paulo: Cia das Letras, 1989.
Artigo muito interessante, escrito por um dos maiores historiadores da atualidade.

GRAHAN-CAMPBELL, James. Os Viquingues: Origens da Cultura Escandinava. Vol. e II. Madrid:


Edições Del Prado, 1997. Coleção Grandes Impérios e Civilizações.
A melhor e mais completa obra sobre vikings em português. Descrição minuciosa dos sítios
arqueológicos, excelente reconstituição histórica, mapas e gráficos bem elaborados, enfim, um atlas
histórico-arqueológico de valor imprescindível.

GRANT, John. Introdução à Mitologia Viking. Lisboa. Editorial Estampa, 2000.


Encadernado, 128 páginas, ilustrado. Traduzido do Inglês: An introduction to viking Mithology,
1990.

Nas últimas décadas vem se intensificando o interesse popular por temas mitológicos, somando-se a
inúmeros filmes, livros, séries e outras formas de entretenimento. Apesar disso, são muito escassas as
publicações em língua portuguesa sobre a cultura viking, e principalmente os mitos germânicos, motivo do
interesse pelo livro em questão supracitado. A obra Introdução a Mitologia Viking, do escritor britânico
John Grant foi dividida em duas partes, sendo a primeira um dicionário com as principais divindades, e a
segunda, um estudo sobre os principais aspectos temáticos da mitologia retratada.
Somado ao fato de a obra ter um projeto gráfico audacioso, com belas reproduções de ilustrações,
fotografia e figuras, tratar-se-ia de um trabalho de referência espetacular, tanto ao iniciante quanto ao
especialista na temática. Uma grande vantagem para o leitor mais criterioso é a falta de alguns dados sobre
iconografias: estão ausentes a data original, autoria das imagens, especialmente as do Oitocentos.
O livro é uma grande decepção, principalmente quando analisamos, mas profundamente seu texto.
Logo no início percebemos no autor um desconhecimento maior em história medieval: “os vikings eram um
povo teutônico” (p.6). Tanto os teutões, saxões, anglos, jutos, vikings e outros, eram povos que do ponto de
vista étnico-linguístico, são classificados como de origem germânica. Os outros dois troncos étnico-
linguísticos da Europa pré-cristã, foram a celta e a eslava. E cada uma dessas etnias tinham grandes
diversificações política, mas sempre com uma base comum na língua e em parâmetros culturais e
mitológicos muito próximos.
Ainda em sua introdução, John Grant comete equívocos, desconhecendo também maiores leituras em
antropologia. A respeito dos vikings declara: “[...] de uma crueldade bárbara (...) matando homens, crianças,
violando mulheres (...). Os métodos de carnificina usados contra os camponeses e pescadores eram
repugnantes (...) esses crimes faziam também com que a maior parte dos membros da cultura viking
empalidecessem” (p.6-7). O tema da violência é um conceito que deve ser relativizado em História, assim
como os estereótipos de bárbaro, civilizado, atrasado, moderno, e de humanidade. Afinal, os vikings, apesar
de usarem métodos considerados violentos, não adotavam o uso da tortura, amplamente usada na Europa
medieval, que diga-se de passagem, era toda cristianizada.
E também sem entrarmos em outros pormenores, como a utilização da inquietação, das chacinas
pelos cruzados na terra santa – matando e torturando em nome da Santa Igreja. Assim, ética e moral são
conceitos que variam de cultura pra cultura. Se para um francês cristão os vikings e os orientais eram pagãos
bárbaros e desumanos, um muçulmano medieval teria os mesmos olhares para um europeu que visitava suas
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terras... Um tema largamente discutido por especialistas como Georges Duby e Jacques Le Goff. Em relação
ao “empalidecimento” dos membros da cultura nórdica, lembramos que a palavra viking era utilizada nos
primeiros tempos das incursões (século VIII d.C.), a todo camponês, ou membro da alta sociedade
escandinava que se aventurava pelo mar à fora, para conseguir alguma espécie lucro, posses ou vantagem
heroica. Portanto, não havia por parte das comunidades escandinavas nenhum caráter moralista negativo a
seus guerreiros que retornavam das pilhagens.
Grant segue com seu texto também com terminologias pouco apropriadas. Em relação às sepulturas
utilizou a frase: “padrões de pedras” (p.24), mas o termo correto seria: alinhamentos megalíticos em forma
de navios. Na legenda da fotografia da pedra de Lindsfarne, na Inglaterra, o autor descreve: “acredita-se que
comemora o primeiro ataque viking a ilha” (p. 25). A pedra foi erguida pelos britânicos no século IX e tem
duas faces: uma com sete vikings portando espadas e machados e outro lado referenciando o juízo final. Ou
seja, associa os pagãos com o eminente fim do mundo. Com isso, Grant cometeu um grave erro ao citar esta
pedra como um monumento, pois de maneira nenhuma um cristão teria comemorado um ataque viking a um
lugar santo.
O famoso cofre de Franks (Inglaterra), recebeu na legenda uma datação do século XVIII (p. 28), mas
na realidade ela foi fabricada no século IX. Mas o maior erro histórico do autor acabou sendo a frase: “ Os
vikings também foram para o Sul, até o Mediterrâneo – com os celtas irlandeses – chegando a ameaçar o
Império Romano” (p. 119). Isto é simplesmente impossível, porque os vikings (séc. VIII – XI d.C.) eram do
período medieval, muito depois da queda do império romano ocidental.
Equívocos com relação à mitologia são bastante amplos. Nos verbetes sobre os deuses Inverno e
Verão (p. 12 e 15), o autor cometeu um lapso linguístico (caso não tenha sido culpa do tradutor). Os vikings
chamavam o verão (do lat. Veranum) de Sumar e o inverno (do lat. Hibernu) de Vetur. Um dos únicos
deuses nórdicos em que a grafia é idêntica ao português atual é a do deus Sol. No verbete sobre o deus
Modi, houve um erro de transcrição repetida ou de impressão tipográfica: “ Filho de Thor e da giganta
Iarnaxa. Após o Ragnarök, ele seu irmão Modi...” (p.13). O correto seria Magni, o outro filho do deus Thor.
A respeito da tela do deus Odin e Brunhilde, ela não foi originalmente publicada em 1915 (p. 96), e sim em
1890, de autoria do pintor F. Leeke.
Com relação às valquírias, o autor efetuou contradições em seu texto. Na página 88, ele afirma sobre
essas personagens míticas: “jovens belíssimas”, e na página seguinte: “nas lendas originais, as valquírias
eram muito belas”. Mais adiante, comentando uma das maravilhosas ilustrações de Arthur Rackam,
Brunhilde (1910), o autor mudou de opinião: “pouco nos leva a acreditar que os vikings as vissem como
lindas donzelas de belas formas” (p.88). Mas afinal, as tradições míticas não refletem as concepções de uma
sociedade? O mito de Afrodite não encarra o ideal de beleza feminino dos gregos? É obvio que os vikings
idealizavam mulheres de belas formas, e o mito das deusas nórdicas Iduma, Freyja, Brunhilde e as Valkírias,
nada mais refletem do que esse ideal. Ainda sobre as valquírias, o autor comenta: “ A imagem moderna das
valquírias foi colorida pela execução das óperas de Richard Wagner: vêmo-las como obejecto do ridiculo,
roliças de peito grande” (p. 91). Nada mais incorreto. Analisando as fotografias da primeira execução oficial
completa de O Anel dos Nibelungos (1876, Bayreuth), percebemos que as cantoras que executavam o papel
das donzelas em questão, não eram nada roliças, pelo contrário, eram beldades que em nada denegriam a
mitologia original. A cantora Amelie Friedrih, que fez o papel de Brunhilde em 1876, era muito bonita.
As ilustrações e pinturas utilizadas como cenário desta ópera, como quadros de G. von Leeke e do
citado Arthur Rackham entre 1870- 1910, representam as virgens guerreiras como criaturas absolutamente
maravilhosas. Em especial, a pintura da valquíria de Theodor Pixies para o cenário de 1870, é simplesmente
uma donzela loira, magra e linda. A questão é que já no século XX, algumas cantoras germânicas que se
tornaram famosas interpretando a dita obra musical, não tinham um corpo que talvez fizesse jus à sua voz...
E por fim, o autor deixou de citar o aspecto de donzelas das jovens valquírias e optou por citar as asas de
cisnes (introdução moderna) em seus capacetes.
Ao comentar sobre o deus Freyer, John Grant novamente elaborou comentários moralistas: “ seu
culto parece ter sido bastante desagradável, incluindo práticas como sacrifícios humanos. ” (p. 57). Qualquer
análise sobre fenômenos religiosos e míticos deve ser relativizada, porque os referenciais simbólicos mudam
de uma cultura para outra. Temas como sacrifícios humanos e canibalismo fizeram e fazem parte da história
e cultura de várias sociedades, e não podem ser relativizados no ponto de vista e a partir do referencial ético-
cristão do ocidente moderno. O moralismo subjetivo do autor torna-se direto quando trata da deusa Freiya: “

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não foi nenhum modelo de virtude. Seria de esperar que tivesse sido insultada pela sua sexualidade –
especialmente numa sociedade primitiva, em que se espera que as mulheres sejam castas e condescendes”
(p.62). Muito pelo contrário! Freyja era uma das deusas mais veneradas pelos escandinavos. Aliás, as
mulheres vikings eram bem liberadas para os padrões do cristianismo medieval, pois podiam ter
propriedades, divorciar-se quando bem quisessem e escolher seus relacionamentos sexuais. A poligamia era
uma prática comum entre os vikings, principalmente na Suécia, onde o deus Freyer, era mais adorado.
Citando várias deusas nórdicas, o autor acabou por confundir: “ Eástre, Gode, Hlódin, Holda, Horn,
Nerthus, Ostara e Wode”, (p.64). Acontece que Eástre e ostara são denominações para a mesma deusa.
Identificada como a primavera, o seu culto inspirou a moderna celebração da páscoa (Eáster, em inglês;
Ostern em alemão) com ovos e coelhos, símbolos de fertilidade. Em relação ao deus Loki, o autor exagerou:
“é o mais fascinante dos membros do panteão escandinavo” (p. 67). Claro que esta é uma opinião pessoal,
mas em relação a esse mesmo deus, Grant cometeu outra contradição. Na pagina 57 ele afirma que os três
principais deuses foram Odin, thor e Freyer, algo que corroboramos plenamente. Mas na página 79, ele cita
que a trindade máxima seria Loki, odin e Thor.
O final da obra torna cada vez mais óbvio os referenciais moralistas cristãos do autor. Em relação ao
Valhala, ele seria tão apelativo aos vikings que estes cometeriam suicídio para poderem adentra-lo mais
rapidamente: “ se deixavam cair sobre as suas lanças para se habilitarem a fazer parte dos eleitos de
Einheriar” (p. 88). Uma afirmativa completamente falsa. O que era desonroso para um viking era não poder
morrer com a espada ou machado em punho, em um campo de batalha! Claro que possam ter existido
vikings suicidas mas desconhece-se qualquer caso dessa natureza.
Novamente citando Wagner, o autor mas uma vez errou: “ A versão da história retratada no ciclo do
O Anel de Wagner é uma versão tardia não tem relação com as lendas escandinavas.” (p.9). Ora, qualquer
estudioso deste compositor alemãosabe que ele se vaseou na versão de Volsunga Saga (séc. XIII), ao invés
de Das Nibelungenlied, versão alemã do século XIII. Por um motivo bem obvio: a versão alemã não cita em
nenhum momento qualquer divindade. Ao eleger a saga escandinava, Wagner apenas alterou o nome dos
proncipais deuses – em vez de Odin, adotou o nome saxão –teutão Wotan; para Thor, adotou Donnar; para o
herói Siegurd, adotou o nome de Siegfried.
O desfecho do livro não poderia ter sido pior. Comentando sobre o Ragnarök, Grant acabou por
revelar suas próprias concepções religiosas “O cristianismo também deixou suas marcas na mitologia
escandinava , estando escrito que, após o Ragnarök, verificar-se-á a encarnação de um deus grande demais
para ser nomeado – por outras palavras: Jeová”. (p. 118). Ou seja, para o autor, dentro da própria narrativa
mitológica dos vikings já e encontravam-se bases para a legitimação do futuro cristianismo. Uma afirmativa
totalmente equivocada, pois a mitologia nórdica era essencialmente cíclica: após o declínio e morte dos
deuses, todo o ciclo cósmico iria se repetir no politeísmo viking original, não há espaço para um deus ou
profeta redentor nos moldes hebraico-cristãos.
Em conclusão, o escritor John Grant realizou uma obra repleta de equívocos, erros históricos e
interpretações falsas, revelando um profundo desconhecimento a respeito da cultura e das tradições vikings.
Ao leitor brasileiro resta apenas uma boa consulta em uma obra de referência muito mais completa e
séria: Enciclopédia de Mitologia Nórdica, Clássica e Celta, de Arthur Cotterell (1988) e a excelente obra
analítica Mitos Nórdicos, de R. Page (1999).

HEYMANN, Gisela. Vikings: a fúria nórdica. Super Interessante, ano 6. N.12. 1992.
Reportagem genérica.

HISTÓRIA do Homem nos últimos dois milhões de anos. Saxoes, celtas e vikings. Lisboa: Seleções
do Reader´s Digst. 1975.
Aspectos gerais dos povos bárbaros germânicos.

HOLTEN, Birgitte & GUIMARAES, Lucia. Desfazendo as Ilusões: o Dr Lund e a suposta presença
escandinava na terra de Santa Cruz. Locus, Juiz de Fora, vol. 3, n. 1, p. 332-44, 1997.
Excelente artigo que analisa o envolvimento de Peter Lund com as teorias difusionistas de Carl Rafn
– no caso, da possibilidade dos vikings terem estado no Brasil.

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JOSEPH, K. Vikings: Os intrépidos navegadores do ano 1000. História, n. 24. São Paulo: Editora
Três. S.d.
Aspectos gerais da cultura vikings

KERVRAN, Louis. Celtas e Vikings precederam Colombo. Planeta: Os grandes enigmas, n. 136-B,
janeiro 1984.
Reconstrução das teorias difusionistas mais famosas, entre elas as similaridades linguísticas e
pretensas descobertas de inscrições na América do Norte.

KRISTJÁNSSON, Jónas. Os vikings chegaram a uma nova terra. O Correio da Unesco, n. 4, ano2.
1974.
Excelentes reconstituições arqueológicas da colonização viking na Islãdia e Groelândia.

LANGER, Johnni. A Origem do Imaginário sobre Vikings. Espaço Plural, Unioeste/Cepedal. Ano
III, n. 8, agosto 2001.
Reconstrução do imaginário e do esteriótipo a respeito dos povos vikings e escandinavos.

LOUTH, Patrick. A Civilização dos Germanos e dos Vokings. Rio de Janeiro: Otto Pierre, 1976.
Coleção Grandes Civilizações Desaparecidas.
Obra clássica e excepcional, um dos melhores textos disponíveis em português. O autor domina
amplamente a história, arquitetura, cultura, linguagem dos vikings. As comparações étnico-mitológicas que
elabora a todo momento são geniais.

MACDONALD, Fiona. Vikings. São Paulo: Moderna, 1996.


Obra infanto-juvenil, com texto razoável e iconografia muito boa.

MAHIEU, Jacques de. Os Vikings no Brasil. São Paulo: Francisco Alves, 1976.
Clássico difusionista moderno, o autor apresenta provas e discussões sobre a presença viking antes
de Cabral. Diversos momentos do livro são discutíveis, além da fraude acompanhar toda a obra: em algumas
fotografias percebe-se montagens, como na foto de Sete Cidades (Piauí). Comprovando que autor nem ao
menos esteve em nosso país.

MARMORI, Margareth. Guerreiros de Odin. Super interessante, ano 12. N. 6, 1998.


Artigo sobre a descoberta de novos navios vikings, próximo ao porto de Roskylde na Dinamarca.

MODERNELL, Lena. Eram os Vikings paraguaios? Manchete, 4 de abril de 1998.


____________Cerro Corá: os vikings na América do Sul. Revista Geográfica Universal, n. 282,
junho de 1988.
Texto difusionista, que tenta estabelecer relações entre as pinturas pré-históricas do Paraguai com os
povos vikings. Não apresenta nenhum rigor científico.

OLIVEIRA, Elvira. Vikings e Saxões invadem São Paulo e ajudam alunos a pesquisar com gosto.
Nova Escola. V. 8 set. 1993.
Texto interessante sobre o ensino de História a partir das invasões bárbaras.

OLLIVER, Jean & BASTIAN, Jacques. Os Vikings. Lisboa: publicações Dom Quixote, 1981.
Excelente adaptação em quadrinhos de dois textos, o primeiro a respeito da colonização viking na
Rússia, eo segundo sobre a exploração viking no Atlântico Norte.

OS VIKINGS: Intrépidos Navegantes do Norte. São Paulo: Abril coleções / Time-Life editores.
1999. Coleção Civilizações Perdidas.

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Trabalho excepcional, apresentando maravilhosas fotografias, gráficos, tabelas, ilustrações. Bem
atualizada com referencias às descobertas arqueológicas recentes. Concede um bom espaço de destaque para
a influencia viking na Inglaterra e no Atlântico Norte.

PAGE, R.I. Mitos Nórdicos. São Paulo: Centauro. 1999.


A melhor opção em português sobre a mitologia viking. O autor é professor de anglo-saxão da
Universidade de Cambridge, bibliotecário do Corpus Christie College e especialista em epigrafia rúnica.
Teve acesso não somente às fontes básicas sobre o tema – nos próprios arquivos originais - como tam,bém
domina a bibliografia moderna em inglês, francês e alemão.
Apesar dessa forte tendência acadêmica, o texto do livro de Page é bem acessível, mas sempre
recorrendo à citações originais dos documentos consultados, bem como utilizando grafias, terminologias e
expressões próprias dos dialetos germânicos. Dentro dessa proposta erudita, o autor incluiu uma rica
iconografia fotográfica baseada em relatos, estátuas, inscrições e relevos vikings (o que concede uma
imagem muito mais fiel ao verdadeiro universo mítico). Essa proposta de reconstrução “arqueológica” da
imagem dos mitos, tem a vantagem de superar diversos estereótipos (alguns sobre os próprios bárbaros
germânico) que foram iniciados a partir do Oitocentos na Europa. Uma parte essencial do livro
especialmente para os historiadores, é o capitulo “onde encontrar os mitos nórdicos”. Através dele, existe
relativa a leitura dos documentos clássicos, procurando verificar até onde houve interferência da cultura
cristã e medieval na perpetuação das narrativas orais.
Ou seja, o folclore viking pode ter sido reinterpretado em alguns aspectos no momento em que
finalmente escrito. É uma questão complexa visto que os especialistas nunca terão a oportunidade de estudar
a mitologia escandinava em seu momento original – do período viking restam somente algumas inscrições
no alfabeto rúnico, com poucos detalhes sobre seus deuses.
Após a introdução documental e noções básicas do universo genealógico das divindades, o autor
define as ramificações das duas principais famílias de deuses nórdicos: os Aesir e os Vanir. Em capítulos
separados, Page descreve os dois Aesir principais, que também são os dois deuses germânicos mais
importantes: Odin (Wotan) e Thor (Donnar). Após a descrição das miraboilantes aventuras de Odin e Thor,
o livro de Page concede uma detalhada reconstrução de duas figuras complexas e atraentes, os deuses
Balder, o formoso, e Loki. Após a destruição catastrófica do mundo, no qual os Aesir e Vanir unem-se em
batalha contra seus inimigos, os gigantes e os filhos de Loki, inicia-se um novo mundo. Outros deuses muito
mais interessantes também são comentados, como os irmãos gêmeos Freyr e Freyja, responsáveis pela
fertilidade.
O último capítulo do livro de Page, reconstitui alguns heróis das sagas, como Regin, Volsung,
Sigmund e Sigurd, não tão conhecidos do grande público. Mas por certo, personagens fundamentais na
cosmogonia germânica, e que tiveram grande importância no romantismo europeu do sec. XIX. Percebe-se
em todo o texto deste historiador britânico uma preocupação em identificar significados sociais, ou seja, a
partir de possíveis origens etimológicas, como tentando encontrar equivalências nas narrativas no próprio
cotidiano e cultura dois escandinavos. Uma influência da noção de mito elaborada por Georges Dumézil,
principalmente em sua obra Mytheset dieux des Germains: nas tradições imaginárias dos germânicos pode-
se verificar elementos da evolução social em um sentido militar. Ou seja, os mitos são formas particulares de
narrativas imaginárias determinadas pelo contexto cultural.

POHL, Frederick. Os Exploradores vikings. São Paulo: Ed. Florence, 1966.


Obra difusionista ultrapassada com diversas referências à mitos e fraudes arqueológicas

QUESADA, Pedro. Os Vikings. São Paulo: Civilização Brasileira, s.d.


Obra genérica sobre história e cultura viking.

RAFN, Carl Christian. Memória sobre o descobrimento da américa no século décimo. Revista do
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, tomo II, n, 6, pp. 210- 236. 1840.
Artigo Clássico sobre a colonização viking no Novo Mundo, pelo maior especialista escandinavo do
século XIX. Raro, mas disponível nas bibliotecas públicas e nos Institutos Históricos nas maiorias das
capitais brasileiras.

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RAGACHE, Gilles & LAVERDET, Marcel. Os Vikings: mitos e lendas, São Paulo: Ática, 1997.
Obra infanto-juvenil com texto bem adaptad, mas com ilustrações extremamente estereotipadas,
preconceituosas e mal elaboradas. O Final da Obra possui um bom texto com teor informativo.

RICH, Louise Dickinson. Os Vikings. Rio de Janeiro: Record. 1966.


Aspectos genéricos sobre a cultura dos vikings.

ROOKE, Patrick. Os Normandos. São Paulo: Melhoramentos. 1991.


Reconstituição da colonização viking na França e seus descendentes.

NO RUMO dos Vikings. Revista Geográfica Universal, n. 13, outubro de 1975.


Aspectos gerais dos vikings na Europa e Brasil, influenciada pelas então recentes teorias de Jacques
de Mahieu.

SAGA DE ERIK. São Paulo: Paulicéia. 1992.


Tradução dos dois manuscritos originais da saga viking pelo Atlântico Norte.

SIMONS, Gerald. Os Corsários Vikings in: ______ Os Bárbaros na Europa. São Paulo: José
Olympio, 1970.
Texto bem escrito e com boas ilustrações e gráficos.

SPALDING, Walter. Discionário de Mitologia Germânica. São Paulo: Cultrix, s.d.


Obra genérica, sem maiores aprofundamentos mitológicos.

STURLUSON, Snorri. Edda em Prosa. Rio de Janeiro: Numen, 1993.


Excelente tradução com apresentação e notas de Marcelo Magalhães Lima. Clássico do islandês
Sturluson (1179-1241), escrito originalmente em 1220 e uma das melhores fontes sobre mitologia viking.

TATI, Miecio. Os Vikings. São Paulo: Tecnoprint, 1982.


Livro genérico.

TEICH, Daniel Hessel. Odisseia Viking. Veja, São Paulo, 10 de maio de 2000.
Artigo sobre a abertura da exposição do Museu Smithsonian, nos Estados Unidos e que constitui a
maior amostra do mundo da civilização viking.

VALLVÉ, Manuel. Os Vikings. Rio de Janeiro: Ed, Tecnoprint, s.d.


Obra Genérica.

VESILIND, Friit J. Na Trilha dos Vikings. Nacional Geographic, São Paulo, vol. 1, n. 1, maio 2000.
Excelente reportagem sobre a história viking e a herança cultural sobre a Europa moderna.

DOCUMENTÁRIOS DUBLADOS OU LEGENDADOS EM PORTUGUÊS SOBRE OS VIKINGS

BIOGRAFIAS: Leif Ericson (orig.: Voyages of a Viking). Bill Harris (dir.). A&F Television
Networks, 1995, 45min. Disponível pelo canal Mundo.
Excelente documentário a respeito da vida do explorador viking Leif Ericson, o descobridor oficial
da América.

GUERREIROS do Passado: Os Vikings. Phil Grabsky (dir.). Estados Unidos, Discovery


Comunications. 1994. VHS. 22min. Disponível pelo Discovery Channel Brasil.
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Episódio de série excepcional, que resgata os principais guerreiros da antiguidade. A partir da
biografia de Egil Skallagrinson, o documentário retrata a vida de um guerreiro viking desde a infância até o
auge de sua vida.

A SAGA Viking. (orig.: The Viking Saga). Mikael Agaton (dir.). Denmark/Norway: Agaton Film
Television: Sveriges Television / 1998. VHS, 135min. Disponível pelo Discovery Channel Brasil.
Documentário em dois episódios. O primeiro apresenta as principais características da sociedade
viking, a expansão comercial e militar, religião, linguagem e exploração. Destaque para as pesquisas na
cidade de Birka. Suécia. O segundo reconstitui a incursão dos vikings suecos (rus) pela região da Ucrânia a
Rússia. Formando o primeiro império russo.

OS VIKINGS na América do Norte, série Mistérios Antigos (orig.: The Vikings in North America).
Steve Pomerantz (ed.). A&F Television Networks, 1995. 45min. Disponível pelo Canal Mundo.
Episódio de série apresentada e narrada (no original) por Leonard Nimoy, o Spock da Star Trek.
Neste episódio toda a saga da exploração do Atlântico Norte é reconstituída, até as recentes pesquisas
arqueológicas conduzidas pela canadense Birgida Wallace.

VIKINGS: Guerreiros do Norte, Série Civilizações Perdidas. (orig.: Vikinger: Genies aus der Kälte).
Gerard Röpke (dir.). Alemanha Lfge Wiesbaden, 1996. VHS. 45min. Coleção da Editora Abril.
Documentário alemão sobre os principais aspectos da história e cultura viking com destaque para as
pesquisa sobre a cidade dinamarquesa de Hetheby (antigamente chamada de Haitabu), que atualmente
pertence a Alemanha. A cultura escandinava é simbolizada por um machado, uma ideia genial e com efeitos
cênicos impressionantes.

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