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IVÁN IZOUIERDO
Professor titular de Neurologia. Coordenador do Centro de Memória,
Institu to do Cérebro, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
e Instituto Nacional de Neurociência Translacional , CNPq
•
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2" EDiÇÃO REVISTA E AMPLIADA
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19Rm Izquierdu.lván .
Mem óri a I lván Izq uierd o. - 2. ed .. rev. e arnpl. - Porto Alegre :
Anm ed .2011 .
1.'3 p. : il. co lar. ; 23 em.
CDU 159.953
• 2011
© Artm ed Ed itora SA , 2011
Prefácio à 2 a edição
Capa : Tatiana Sperhacke
Preparação de originais: Marcos Vinicius Martim da Silva
Editora sênior - Ciências Humanas: Mônica Ballejo Canto
Projeto gráfico e editoração eletr ônic a: TIPOS des ign editorial
IMPRESSO NO BRASIL
PA/NTED IN BAAZ/L
Prefácio da 1fi edição
I .stc é um livro para médico s, b iól ogo s, psicó logos co m o rie ntação biol ógica,
hioq u ímicos, farmacêutico s, ve terinár ios, assiste n te s so cia is, e nfe rme iro s e estu-
dantes dos respectivos curso s de gr a d ua ção o u pós-grad uação ; mas também (es-
pe ro ) para muito s mai s. Es tes últ imos podem lê-lo, se q uisere m, pula ndo parágra-
fos ou seç ões: a sim ples an álise do t ítul o de cada seção lhes d irá, de manei ra
geral, se será ou não proveitosa sua le itu ra . No ca pít ulo inicia l há uma breve
descri ção so bre aspe ctos b ásico s que de finem e ex p lica m o fu ncio na me nto dos
neurô nios c das sinapse s; é e vidente que méd icos, b iólogos e ve te rinários, bem
como os es tuda ntes de ssas di scipl inas, po derão pular essa seç ão se m perd e r
muito. () há bito de pular par ágr a fo s, capítulos e seções é m uito cri tica do pel os
professores de literatura. mas ce r ta me n te não pe los lite rat os: nin gu ém menos
que o ma ior esc rito r do séc ulo X X , Borge s, co n fesso u nunca te r podido ler Joyce ,
por exem plo. se m pular págin as int e iras. Pouco s es tuda nte s o u estud ioso s da
Meuicina po de m afirmar ter lido int e gral men te todo s os se us livro s de text o
se m pular pa rágra fos o u at é capítul o s.
Para le itor e s mio int eressad os nas bases b iológicas d a memóri a, doi s bons
~ivros de te X10 são o s de Baddcl cy (199 7) e Tulving e Cra ik (2000) . Par a leito res
mten:ssados na influ ência d as diversas fo rm as de pat ologia ce re bral sobre os
pro cessos cogniti vos e se u d iagn óstico e trata mento , recome nda -se o livro e dita do
por lorruis Palo mo e colaborad ores (200 I), e m es pa nhol (ve r R eferências) .
liste livro reflete 40 a no s dedicad os ao estudo d a me mória . O leitor não
encontr'w'l
' . c
S'ISU· I , . ' d ' - I"
, • u, s escnçocs c InJcas nem aco nse lha me nto s terap êuticos. E sse s
A •
t~pleos perte ncem a te xto s de Neurologia, Psiqui atri a o u Psicol ogia . Também
uno se encont ,- d . - .
" . rurao escnçoe s ex a us tivas d os as pectos molecul ar es o u Iarm aco -
16l!1cos discut iu .. . I'
" os, este ivr o se co nce ntra naque les pro cessos melh or demonstra-
d sohre osC
" -: ''II'.S"" XI'ste con se nso . A h I'hl'lo gra Iia
'u se rcuuz
ia se rcd aos ar ugos
' . . .
pnncipais
eu prcleren"I' a 'l i' . ,I • - () d e r á
" ( , ivros o u a rtigo s uc rcvisao , re sto po era se r e nco ntra do
8 I Prefácio da 18 edição
a partir dessa s referênci as ou na internet, co nfo rme indic ado nos capít ulos corres -
pondentes.
O livro re sponde às per guntas mais habituais qu e me foram formulada s por
jornalistas ou pelo público e m geral, es pecializado ou não , e m palestras q ue
Sumário
pro fe ri ao longo d o s an o s.
O leitor não e nco nt ra rá nem adesão nem falt a de ade são à "escola' ou a
te órico algum. Cre io qu e o cult o da person alid ade não faz parte da ciê ncia. Ser .i
inútil tentar e nq ua d rar este texto e m termos de uma o u o utra esco la psico lógica,
por exemplo. Se quiser e for de seu agra do , o leito r pod er á faze r isso po r conta
própria; temo muit o qu e frac assar á.
lxte livro não é a reedição de o u tro . em espa nho l, chamado " (.Qué cs la
mem ória?". editado pel o Fondo de Cultura Econ ômica e m 1992. A ap roximaç ão O que é a memória? 11
ao prohlema é diferente, e aqui se refl etem os conhecimentos soh re o tema
adquiridos ne ste s último s 9 ano s. Tipos e formas de memória 25
O livro e stá dedicad o ao s mais de 200 colaboradores de l3 países co m li ucrn
publique i trabalhos ao longo da vid a, e muito em es pecia l a meu q ue rido am igo Os mecan ismos da formação das memórias 45
Jorge Horacio Medina, de Buenos Aire s, com qu em colabore i e m 139 art igos.
Muitas das minhas melhores ideias são do Jorge e vice-versa. Muitos de meus As mem órias de curta e de longa duração 65
colaborad ore s são hoje meus amigos entran háve is. Assim dá gosto traba lhar; e
Persistência das memórias de longa dura ç ão 75
assim tr ab alh ei d urante tod o s e sses ano s.
Evoca çâo, extinç ão e reconsolidnç ãn das memórias 79
Iván Izquierdo
A modulaçáo das memórias: influ ência do nível
de alerta, do níve l de ansiedade e do estado de â nimo 87
As demência s 109
Referências 129
o que é a memória?
rumo ao fu turo , o efê mero pr e sente e m lutivflS são parte de nossa ~em~ria e
Só lembramos aquilo que grava- Procuramos laços , geralmente cul-
que vive mo s. N ão so mos o utra cois a se e m para nossa intercomurucaçao . Os
mos , aquilo que foi aprendido . ruraisou de afinidades e, com base
não isso; não podemo s sê -lo. Se mio te- lli nho s ajudam-se uns aos o u tros
em nossas memârias comuns , ter-
mo s hoje a Me d icina e ntre nossas me- 'W\ndo passam po r dificuldade s. Os h~
mamas grupos .
mórias, não poderemo s pra ticá-l a ama- I00 S, emhora às vezes pareça o cont ra-
nh ã . Se não no s lembramos de co mo se faz para ca minha r, n ão poderemo s fazê- ta mb ém. procuramos laço s, ge ra l-
lo . Se não recebemos a mor quand o cria nças , d ificilme nte sa bere mo s ofe recê -lo nte culturais o u de afinid ad e s c, co m
quan do adullos . sm no ssas me mó rias comuns, formamos gr upo s: co ma rca s, tribos, povos,
O co nju nto d as me mó rias de ca da um det ermina aq uilo q ue se de no mina des, comunidades, países. Co nsideramo -no s membros de civilizaçõ es int eiras
pe rsonalidade o u forma de se r. U m human o o u um a nima l criado no medo será nos dá segura nça, porque nos propor cion a co nfo rto e identidad e co le tiva.
mais cuida doso, introve rtido , lut ador o u re sse ntido, dependendo de suas lcrnbran- n timos apoiados pelo re sto do gr upo, cha me-se es te familia, bair ro, cidade,
ças especificas mais do que de suas propriedades co ngê nitas. Nem seq ue r as memó- ou continente. Os europeus c os norte-american os , por exemplo, clarame nte
rias do s se res d anad os (co mo os gê meo s un ivitelinos) são iguais; as expe riências rtencern à Civilização Ocidental, Mas de n tro desta, pertencem de man eira mais
de vida de cada um são d ifer entes. U m a vaca d a nad a de o u tra vac a terá mais ou nhável aos gru po s que se nte m mais próximos porque com eles compartilham
menos acesso à co mida do que a vaca origina l, fica rá prenhe mai s o u menos ve zes, rie de memó rias e uma história. 1~ comum que morando, digamos, nos
se us par to s se rão ma is o u menos dolorosos, sof re rá ma is a chuva o u o ca lor que a Unidos, os euro pe us tendam a se associar e nt re si e os latino- american os
o utra ; e as duas nâo se rão exa tame nte igua is, exce to na a pa rê ncia física. Il'nbém; geralmente mais do que com os nati vos do lugar. A recordação de h ábitos,
Memó ria tê m os co m pu ta do res, as bib liotecas, o cacho rro que no s reconhece tu rnes e tradições que nos são co muns leva a pr eferências afet iva s e sociais.
pel o che iro d epois de vá rios a no s, os e lefante s d e q ue m se d iz tere m muit a (mas ide ntid ade dos povos, dos pa íse s e da s civilizações pro vém de su as memó-
nin gu ém me di u) , os povo s o u pa íse s c , logicame n te, nós, os hu m a nos. m uns, cujo conjunto denomina-se Hi stória. A Fra nça é a França porque
M as cad a e le fa n te , cad a ca cho rr o e ca da se r h uma no é q ue m é, um ind ivíduo habitante s se le mhram de coisa s francesas: Ca rlos Magno , Nap ole ão, Vict or
d ife re nte de qualq ue r co ngê ne re, gra ças justa me nte à me mória; a coleção pe ssoal , Verlaine. O co njunto des sa s lembran ças faz co m que os fra nceses se sin tam
de le mbra nças de ca da ind ivíd uo é dist in ta d as demais, é única . 'Iodo s recordamos ~j a m frances es. O mesmo acontece co m o s demais paíse s e as memóri as em
no sso s pais, mas os p ais de cad a um de nó s fo ra m d iferentes. 'Iodos record am os. mnm de seus habitante s. Nós so mos membros da Civilização Oci de nta l porque
gera lme n te vaga mas praze ro sam ente , a casa o nde passamos no ssa p rimcira his tó ria comum inclui M oi sé s, Césa r. Jesu s, o monot eísm o , os gr ego s, os
infâ ncia ; ma s a inf â ncia de uns foi m a is fe liz q ue a de o utros, e as ca sas de alguns nos, os b árbaros, o s ce ltas, os ibéricos, Co lom bo, Lutero , Michel angclo, as
de safo r tunados tr a ze m más lembran ças. 'Iodos record a mos no ssa ru a, mas a : uropc ias que todo s falamos. Fora desse ace rvo histórico comum a todos,
ru a de ca da um foi d ife rente. E u so u que m so u, cada um é quem é, porq uc todos " (;IS do Ocidente temo s uma identidad e indi vidual que depende da história
lembra mos de coisas que nos s ão p róprias e exclusivas e mi o pe r te nce m a ma is da um de nós. Assim, e spa nhó is, ingle se s, cstad un ide nsc s, bra sileiros,
ninguém. No ssas memórias fazem co m qu e ca da se r humano n u a n ima l seja um gua io s e argent inos po ssuímos memórias (histó rias) pr ópria s de ca d a país e
ser único , um ind ivíd uo . n os distinguem dentro do marco maior da C ivilização O cide nta l. Co mo foi
O ace rvo d as memórias de cada um !l O S con ve r te e m indivíd uos. Po ré m, tanto ~~I ~1Jt 80 nos encontrarmo s num mei o cujo ace rvo coletivo de memória s é outro,
nós co mo os demais a nima is, e mbo ra ind ivídu os, não sabe mos vive r muito bcm br imos el os e n tre os diferente s grupos, ba seado s na memória co le tiva que
em iso la me nto : for ma mos gr upo s. "De us o s cria e eles se juntam", afirma o di tmlo . Jl)ve novas" c·\S• S • l IC IiIÇOCS.
' •- aA SSIm,
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para um h ra st'1 c tro
' na 1'"1
' 1 a d e' lf'la o u e m
po pular. Esse Icn órnc no é tanto ma is in te nso e im port ant e quanto mais evo luído 'Wtlrk se r á. em gcn I . Iác íl h I '
... a mais aCI e sta e ecc r a miza de co m um paraguaIo . do que
m.rn nalIvo de Id a hr,
sej a o a nima l. i\ necessidade da int era ção e ntre membro s da mesma e spé cie. ou
e ntre diferente s es pé cies inclui, como ele me nto -chave, a co m un ica ção e ntre indiví-
du os. I :ssa comun ica ção é ne ce ss ária pa ra o hem-estar e para li sobrevivê nó ll .
.u:
'11 '
se~ se~tido mais amplo , e n t ão, a pal avr a "memória" abrange de sde
d ~cca llJsmos que o pe ra m na s placas de meu co m pu tado r a té 11 história
l)S
. 'I'iza çao,
. a Ndadc , país" po vo ou CIVI _ incluindo
. . . ra
as mcrnor . sm
. e, iviuu
" ,1 ' .1
uis uns
Nas es pécies mai s ava nçad as, o a ltr uísmo . 11 defesa de idea is co m uns , as c moçó e:-.
] 14 I Iván Izqu ierdo Memória I 1
de uma pe ssoa o u de uma ca nção quando estamos cansados, deprimidos , lU entrada de íons negativos ou án ions (cloro l, ou a sa íd a de cátions
muito estressud os. l, produz um efe ito contrário.
O s maiore s regulad ores da aquisi ção, da forma ção e da evoca ção d as mem l í - ~ . pto~cs que, ao serem ativados. deixam pa ssar íons, denominam- se
ria s são justamente as emo ções e o s e stados de â nimo. Nas experiências que • 'PICOS.H á, porém, outros que, em vez de permit ir a pa ssagem de íons
deixam memórias, aOS olhos que vee rn se so ma m o cérebro - que compara - e ,I o ou para fo ra da célula nervosa, es tim ula m determinad os p ro cessos
' . ~gmlli..~s : estes' .se decnorrnnam me/a hotropicos,
" 11 a" turn I10m
' re cep to res n a ~
co ra ção - que bate acel erado . No momento de evo car, munas vezes e" o co t'11·"'~j O .
quem pede ao c érebro que lembre , e muitas veze s a lembrança acelera o cowÇl1(1· pré-sinúpl iclIs dos axônios por meio un s quais (\S me smo s ncuro-
ji
do s rel' epto fl:s colin6r gico s: a m uscur ina e a nicot ina. I :ssas s ubst ân
tica s, junto co m o próprio ne urot ra nsm issor , se de no m ina m agonistas .
"e tilco lina e a mu scarina s ão agon istas m uscarinicos, e a uccrilco lina l'
LI agonistas nicotinicos.
com outros neur ô nio s de difere nte for mato. Um a dessas sinapses mostra-se em for l er) ou uc rece p to res mu scarínicos. I J ;Í agon istas c a ntagon istas sint é
ma amp liad a, à d ireita . ra todos os subtipos de re cept ore s co nh ecidos (m a is de 2,()()()), e ()
~Iro t ra nsm issores e de cad a recepto r s âo c st miado s a través do e mpre
)gus.
muitos outros, de moléculas maiores' Uma lesão do lobo temporal produz alte ra ções semelhante s de
Oglutamato, o GABA . a dopamina.
muito s deste s sã o pept ídeo s, o u seja. se~ ho me m e no camundongo , por exemplo. A int erferência com det er
a noradrenahna, a serotonina e a
'I u ências de aminoácid os mai s CUrlus do ~ ~Sl"O d e uma cade ia de reaç ões bioqu ímica s no cérebro do rato e do
acetilcolina s ào moléculas simples
que aq ue las que constituem as pro, iWrillLm efeito s parecidos sobre a memória em ambas a s e spécies.
e ralativarnente pequenas . São os tc ínas.
principais neurotransmissores en chado s em aves ou em invertehrados indicam que os mecanismos
I l á subs t âncias liberadas pelos axô rmação de me mó ria são se me lha ntes aos dos mamíferos e podem
volvidos com os processos de me
nio s que atingem receptores disse mina_ litifde rodo s, portanto, propriedades b ásicas do s siste m as nervo sos em geral.
mória.
"1 do s por muit os neurônio s vizinhos, e espécie. Uma le sma, uma abelha, um pint o , um camundongo e
não simplesme n te sobre o de ndrito mais ano , quando submetidos a um e stímulo que causa de sconforto, apren
próximo. E ssas subst ânc ias Se denomi me nte a mesm a coisa: evitar esse estímulo. De fat o , isso constitui
nam neurom oduludores, M uitos são de e aprendizage m denominada esquiva inibit ória: o animal inihe su a
natureza pept ídica, co mo a ~ -endOljin a , que é liberada por neurônio s cujo corpo colocar os ded o s na tomada o u o bico onde n ão deve. Es ta é. por
ce lula r e st á no hipotál amo so bre mu itas c élulas do próprio h ipo túla mo e tia llJlIZCIfIS. fi forma d e a pre nd izage m mai s utili zada no s e studos biológicos
áre a ime d ia ta me nte a nte rior a es te . de no mi nada á rea prc óptica, e no núcleo ~Jl]emó r ia : é muito simples, se adquire numa única vez, permanece por
amigd al ino o u amígdala. O s horm ônios h ipofisá rios vasopressin a c oxitocin a, que (às vezes toda a vida) c tem um va lo r biol ógico importante . t';: o
regulam a produção de urina e as co ntraçõ e s do útero, re spectivamente. a tuam de aprendizado que usamos para olhar para os lados antes de atravcs- '
também so bre numerosas sina pscs ma is o u menos es parsa s. O óxido nítrico (N (») lU pa ra evitar luga res perigosos ou pesso as que no s s ão desagrad áveis.
e o monóxido de ca rbo no (CO) sã o libe ra dos pelo s dcnd rit o s de sin a pscs gluta
mat érgicas que acaba m de se r e st im ula das e di fundem r umo ao axônio q ue foi
es timu lado, e a m uitos o utros na vizinh a nça, num raio de 0,1 rnm o u mais. Lxistem uas deform a ç õe s
centenas de neurornodul ador es: aq ui só foram me ncio na dos os mais im po rta ntes rnória pessoal c coletiva descarta o trivial e, às ve ze s. incorpora fato s
e m rel ação à memória. H á, tamb ém, ago nistas e a n tago nistas dos mod uludorcs, mos perdendo, ao longo dos dias e dos an os, aquilo (lue não intere ssa ,
muita s ve ze s usado s co mo me dicame n to s e o u tras co mo fe rra me ntas para a pes ue n ão nos marcou: ninguém se Iemhra em que an o foi co ns tr uíd a aqu e la
q uisa bio ló gica de sua fun ção. do o utro quarte irão ou onde morava aq ue le co leg a da esco la com quem
'l';lUCO contato. Não costumamos lembrar se q ue r detalhes da tarde de
s tambérn vamos incorporando, ao lon go do s an o s, mentira s e varia
Sobre ratos, camundongos e aves
ralme n te as enriquecem. Pessoas (avó s, tio s, ami gos, co m pa nhei ro s
l~ po ssível inte rvir nas redes de neurôn ios dos a nima is de labor at ório utra ves ua que n ão foram, no seu momento, mai s d o q ue co m uns, adquirem um
estimulaçã o e lét rica, da ext irpa çâo de gr up os del as o u da ad mi nistração de d rogas roico ou de alguma maneira hrilhante. l-rn ge ra l. so mos ben ignos e
qu e agem so bre e las. Tamb ém é po ssível ana lisar as altera ções bioq uímicas pw uu qu ando lem hramos os mortos, embo ra e m vida o s co nsid e rásse mos
zidas no s neurônio s pel a es timula ção, pel a formação o u pela evocaç ão Ué uma UhHS. Inúmeras estátuas cquc stres nas pra ças públicas o a tes tam : lá cavu l
memória d eterminad a. Pod emos co loca r câ nu las o u el etrodo s no cé rd ll'll de ~.-~wa me n te personagens que, em vida, fora m odiados o u igno ra d os pe lo
animais como os rat os o u os ca mu ndo ngos de lab orat óri o, es pecia lmen te criauos regos e todo o Ocidente lembram a Atenas de P ériclcs como algo
para seu uso ex pe rime nta l. Graç as a isso fo i po ssíve l des vend a r os meca nismoS não Como uma terra onde existiam escravo s. O Bra sil se se n te mais
principais de muit as fun ções nervo sas, e ntre e las a memória . Co mo , basicanK l1te, lInnd (~ se lemb ra do samba, mio dos pelourinhos e do s lá tegos q ue cas tiga
os sistemas ne u ro na is de tod as as es pécies de mamíferos são m uito se mclh a n t L' ~ us mventn res. A Espanha se se nte mai s Espa n ha qua ndo lembra a
er IStlbe l em cujo . d () o pai' s se um'1"ICOU e fO I. d csco hcr t a a , \ mcnca
' .r., ,
(o homem, o rato e o ca mundo ngo po ssu em lobos cerebra is), pode mos lal . rema
S
inferências se nsa tas d e achados numa d e ssas es pé cies menores e rcJacio n:í-la ndo lembra li Isabel inflexível que exp ulso u os mo uros e os j udeus.
20 Iván Izquierd o
"Memória" e memórias
--- Me m ó ria
Ao co nve rte r a re alidad e num co m p lexo có d igo de sin a is c1<5tricos e bío ' ,U menos preservadas, na s quais so bre vive m algumas memórias.
. _ . d N - . . qUI .
miCOS, o s ncuroruos Ira uzem . a evoca çao, ao reverter e ssa ml ormaçéio par Sq uire e de Wa rrington podem ser facilmente e nco n tra do s no
mei o qu e nos rodeia, os neur ônios rcconvertcrn sina is hioguímicos ou estrutu a . d ou outros q ue tenham ace sso li Mcdlinc, na internet.
, · d . . ral
e m e Ie tn cos , e maneira que no vamente no sso s sentidos e no ssa con sciênc', is páginas exp loraremos os diferentes tipos o u formas de mern ó
. , I d
possam interpret á- os co mo pertencen o a um mundo real. ..
!l<oismos, sua pa tologia, sua modulação pelas e mo ções c, claro, o
Em cada tradução oc o rrem perdas o u mudanças. Qualquer um que tenha
lido poemas no idioma o rigina l e depoi s numa tr adução terá perce hido que h
I uma perda ou uma mudança. Os ital iano s cu nhara m há muitos anos, a Iras
"traduttore = tradiiore" (tra d u to r = tr aidor) para denotar es sas perdas e altera.
ções.
II Ao penetrar na an álise do que é a "Me mó ria" o u, quem sabe , so me nte de "o
que são as memóri as", a travessa mo s uma fronteira um pouco mágica. b pcro
[I" que o leitor me aco m pa nhe na ex plo raç ão dessas magias na s páginas q ue seguem.
Borges escr eveu co ntos magn ífico s so bre o bje to s reais criados através do pensa.
mento o u da memóri a. Isso é, claro, ficção; no es tudo da memória real do s hurna.
nos ou dos animais não se chega a tant o. Mas é um lado da ciência em que a
l magia es tá ba st ante pr e sente ; um lad o e m que há vá rios jogo s de biombos ou de
es pe lhos e m cada tr adução o u transformação.
Porque, a fin al, tr aduzir quer dizer n ão só ve rte r a o utro có d igo, mas tamb ém
I transformar. H á a lgo de pr e stidigitação nessa a rte que tem o cérebro de fazer
memória s, de tr an sformar re al idad es, co nse rvá- las, às ve zes modificá-Ias e re
I vertê-Ias ao mundo re al. E h á também ma gia naquel a o u tra no bre arte. a do
esquecimento, se m o qual o pr óprio Borges af irmava que é impossível pensar
(Izquierdo, 2010 ). Se m o esq uecime nto, o co nv ívio e ntre os membros de qualquer
espécie animal, inclu sive os human os, se ria impossível. Cada reunião de condorní
nio , cad a jo go de fute bo l, cada e leição par a vere ad or, cada di scussão de um
casal, acabariam num de sastr e . U m dos maiores estudiosos da memória, o norte
american o James McG au gh , disse que "a ca rac te rís tica ma is saliente da memória
é ju stamente o e sq uecime nto" . Se pedirmos para o médico mai s fa moso do muno
do que nos conte tudo o que sa be de Medicin a, e le poderá fa zê-lo em poucas
horas; levou 6 an os de f aculdad e , 4 de re sid ência e décadas de prática para
aprendê-lo . A imen sa maiori a de tud o aq uilo que a pre nde mos, de todas as inúme·
ra s memórias que formamo s na vida, se ext ingue o u se perde.
Outros grandes investigad ores da memória, como o também norte-americ~no
Larry Squire, o u a ingle sa E lizabe th Warrington, manifestaram sua perplexida
de diante do fat o d e que nos quad ro s de generativos ce re bra is mai s gra ves,.ern
que o esquecimento é e no rme (a doença de Alzheimer, por exe mplo) , seJarn
tantas as memonas , . qu e am . d a se co nserva m. A sugestã o que emerge desse . fato
, .~
é que , no mei o d as lesõ es, persist am " ilhas" compostas por redes nc uro n,lI -
111
p OS e for S de memória
'tAls dassificaçôcs das mem órias: de aco rdo co m sua função . til: acordo
tempo qu e d uram c de acordo co m se u co nte údo.
t 'buiaJmc ntc J o i!> tiros de mem ória de acordo co m sua fun ção . Uma, muito
fugaz, serve r ara "ger enciar a rea lidade" c det erminar o context o em
iversos fatos. acont ecim e ntos o u o utro tipo de infor mação oco rrem, se
na ou nào fazer uma nova me mó ria disso o u se esse tipo de iníorrna çâo
[11 dos arq uivos. (~ a me m úr ia de tra balho. Serv e para manter d urante
Jliln!:seg undos, no m áximo pou cos minu tos, a informação qu e es tá sendo pro -
:I no mome nto, e tamb ém para sabe r ond e es tamos o u o que estamos
R _
26 I Iván Izquierdo Memória I 27
do s, o suficie n te par a pod er e nten Lados de ânimo , do s níveis de co nsc iê ncia c d as e moções. Os
Usamos a memória de trabalh o
es sa fr ase e talvez a seguint e: mas a s lihe rados po r e ste s ax ônio s, 'Im: vê m d e es tru turas muito
quando perguntamos paraalguém
quecemos para se mpre, logo depois udare mos em ca pítulos posteriore s, modulam int ensa mente as
o numero de telefone do dentista:
e scr evê-Ia, c u tive que co n se rvá . l~ n ntal que se encurr egamda memória de tr ab alh o ; os pr incip ais
conservamos .esse número o
minh a me nte tam bém por algun< ~ .,se' ,gu res modulado rcs da memória de tr ab alho no có rtex pr é-Iontal
tempo suficiente para discá-lo e.
dos para sabe r o 'I uc es tava l:scrcvcnd a acetilcolina - agindo sobre receptores mu scar ínico s - e a
uma vez feita a comunicação cor-
c a pagá-Ia lo go depois, pa ra não c() ndo sobre receptores Dl.
rsspcndente; o esquecemos .
'I fund ir minh a es crita , sfnto tão conhecido de que um e sta do de â n imo negat ivo , por
I
A memóri a d e tr abalho pode ~.... Ita de sono, po r de pre ssão ou por simp les tri steza ou de sânimo ,
medida a través d a memória imedia ta 'memó ria de tra balho. Todo s nós alguma vez tivemo s a experiência
d e fa to , ambos os te rmos pod em se r considerad o s sinô nimos. Um bom teste de a ler ou ouvir c e nte nde r algo, o u simples me n te recordar um
me mór ia d e tr abalho , muito utili zad o na clínica, é o d a lembran ça de n Úme f('~ n~ por tempo suficiente pa ra discá-lo , quando es ta mos distra ído s,
no Brasil, esse te ste é co n hecido por se u nome e m inglê s, digit span, Ml\stram. lt.Il vontade.
-se , o u falam-se , par a o pa ciente , vá rios núm e ro s. D epo is de algun s scgund nsideram a me mó ria de tr ab alh o co mo um ve rdadeiro tipo d e
os suje itos norma is ge ra lme nte co nsegue m lembrar se te o u o ito alga rismos. Um somo um siste ma gerenciad or ce n tra l (central munuger) que m an-
paciente co m a do ença de Alzheimer e m es ta do ava nça do co nsegue lembrar "viva" pelo te mpo suficiente par a poder eve n tua lme n te e ntra r
a pe nas um, talvez d ois. ria propr ia me nt e dita. A expressão "memória de tra balh o "
A mem ória d e tr ab alho é pro ce ssad a fund amentalmente pe lo c órtex pré- ti co mp u taç ão e se e mprega pela ana logia co m siste mas que
fr ontal - a porção mais a nte rior do lobo fro n ta l (Figura 2.1) - suas porç ões anu unção nos computadores. D e fato , a memória de trab alh o d o s
ro la te ra l e órb ita-fro nta l e suas co nexões co m a amígdala basol at cral e o hipo- huma nos obedece simples me nte à a tividade neural de cé lulas do
ca m po , a través do có rtex c n to rrina l. A memória de tra ba lho, também ch amad ta l em resposta imedi ata ou levemente re ta rdada (segundos, oca-
d e memória o pe raciona l, depende , simp les me nte, d a a tividade elé trica dos neu- :millutoS) aos estímulos que a co loca m e m ação . Não deixa tr aço s
rô nios d essas re giões: há neurônio s que "dis pa ra m" se us po te ncia is de ação Oi u comporta rncntais.
início; o utros, no meio e out ros, no fim do s acontec ime n tos, seja m es te s quai r enciado r da memória de trabalh o decorre d o fa to de que esta,
fo re m . A s cé lu las que detectam o in.icio e o fim dos aco nteci me ntos de nominam- receber qualquer tip o de info rmação, deve determinar , e n tre
se neur ônio s on- e neur ônio s oif-, e nco n trados não só no có rtex p rcl rontal corno se essa informação é nov a o u não c, e m último caso, se é útil para
também e m todas a vias sensoriais. u não. Para fazer isso, a memória de tr ab alh o deve ter acesso
Os primatas não humanos têm uma ca pacidade de memó ria de tr abalho tã m óri as preexistente s no indivíduo ; se a informação que lhe chega é
bo a quanto os humanos. Em todas as es pécies, o có rtex pr é- frontal aLUa em ,Ve rá registro dela no rest o do cére bro, e o sujeito pode a pre nde r
II "conluio " co m o córtex entorrinal, o p ari etal supe rior e cingulado a nkrio r. n nova memória) aquilo que es tá recebendo d o mundo exte rno o u
I
co m o hipocampo para gerir a memória de tr ab alh o. O "conluio " é feit o a lrl ~V ;'Sêxplorações da memó ria,
d a troca de informações entre essas regiõe s ce re bra is por me io de suas con~X(.' ~ ' lo siste ma gerenciador do
A memória de trabalho não é acompanhad a por a lte ra çõ es biol/UllnJCWIS ~ ' ~ront u l , são feitas , se gur a-
i
uação nova , ocorra o u não' função nos computadores.
pr é -frontal recebe axônios procedentes d e regi ões ce rebrais vincu lad as com
1
28 I Iván Izq uierd o Mem ória I 29
, Jo ,
nu lia ' 't'-I'1
(;~ .,
d et e rminad as pe la m em ór ia d e tr a b a lh o c su as co n exõ es
• '
' ''s sb tl' m lls m ne m onlCOS,
Ue ma \. · q ue e s ta' 11te c Iicgan doo e
, I'orrna çao
, 11'111'1 p 'lra vori,fica " r se a 111 é
Córtex entorrinal -.
.~
atitude d e ind iferença o u d e sim p les o bse rvação ,
es exemplos ilust ra m a impo rtân cia d o siste ma ope ra cion a l do córte x
(Al tal para a supervivéncia e para () "d iá logo" co nsta n te COm o me io e co m
; lcrnhrunçns. Esse d iá lo go depe nde da brev e conservação da info rm a-
• ente no cc rchro por te m po s u ficie n te pa ra exam iná -Ia c compará -la
Substância negra (DA)
poucos minutos). e do acervo de me mó rias d e curta o u lo nga d uraçã o ,
Lobo frontal
1IJ,lIl~'I\'IL'i ou proce d urai s. de cad a indivíd uo .
\ ~ Lobo occlpital
I
m ória de tra ba lho " pe rmite ainda o ajuste fin o d o co m por tame n to
"""'0 es te e <; ta acon tece ndo . Uma fa lha na memó ria d e tr a ba lho di ficu ltar ia
ti ll o julgnmenro so bre a import ância do s aco n te cim ento s q Ul' o co rr e m
>--- ente c, po rta nt o . prejudicar ia n os sa perce pção d a rea lidade , N a es-
há falha na mem ória d e tr abalho : o s ujei to fica inca p a z d e ente nde r
lIi!lrI ~11 1l' II rod e ia; ro r exe m p lo , o pacie n te pode e nxergar u m a pared e co m
lindas co n t ra da co mo u ma espécie d e qu ad ro o u como um a massa
>;1II cheia de cll r po s, cab e ças e perna s, F ie nã o di sc rimi na a s me mó rias
I~ I~I I to ) cada passo da aqUlslçao , , - d a capaclid 11d l' d e an d ar di" e 11CICc I t'l, ' I'~ 't lll La s , núdeos hasa l e lutcrul da amígdala , q ue co mo veremos 11
32 I Iván Izq ui er d o Memória I 33
se guir s ão ta mbé m im portan tes mod ulad o rcs da Io rrnac ã.. e '~Ia, (Voc" >
. ns:ívc is pelas memórias de pro cedimento s e nvo lve m o n ú -
me mó ria . A lgu ns autores di st inguem suh -rcgiôcs di ferente s nl:Ssa s úrcas : J pela suhslâ ncia nigra o u ne gr a ) e o cerebelo, A lgumas
ga d. as Uas mc rno" n.as sc rnan • ucas
. . "u'icus;" po re m, a ma io r ia l: lI nsidec 'n
e eplso r.n circuitos do lobo temporal (hipo ca rnpo , c órtex e ntor rina l)
'I , ' di
o u 1 uso rru e ssa isu ncao - N A I I ' ra pois de sua aquísiçilo , SCl se o bse rvam falh as ~ ot ó ri a s d a
., . 11 z ic imc r e e m o utr as do encas . " uc'g"~ nera ll,
c ére bro co m perda de me mó ria, as lc s óc s ca rac te rísti cas de cada uma a ' I nas fas es m a is ava nç adas d a do ença de A lzhc irncr o u da
" " ' I I. , p.l
pn me iro no co r tcx en torr inu e no u po carnpo e, nuns tarde. no Córt ex pré -f o. e m que h á lesõe s da subs tância ne gr a e d isfun ção de sua
e pa rie ta l e o ut ro s (ve r Ca pítulo 9 ), íeo caudat<), que se e nca rrega do co n tro le mot o r. Nas fas es
As principa is rcgi ócs mod ulud o rus d a fo rm ação d e me l11úrias dcd aml e n ça de Pa rkin son observa-se tamb ém um d etrimen to das
são a á re a baso la tera l d o n úcle o a m igdalino o u a mígd a la. localizad •• tam vas, cuja causa nã o é hem co nhecida. A lguns a utores a tr ib u-
lobo tempo ra l (nas sua s fase s inicia is) e as gr a nde s rc gi óe s re gulado ras dos lO um papel na formaçã o d e me móri as declar ativas, pa ral el o
d os de ân imo e de a le r ta , d a ansiedade e d as e m o ç õe s, loca liza das it dislf mas diferente deste e limit ad o só às intc ruç õc s c stim u lo- rcspos-
subs tâ ncia negra, o locus ceru leus, os n úcleos da ru fe e o n úcleo basal de M discussóe s sobre esse pap el ai nda co ntrove rso, reco me nda -
(Figura 2 ,1 ), A lé m de mod u la r, a a m ígd a la ta mbém armaze na me múrias, ado que SI.: encaminhe ao si/e E ntrczl' uhlvlc d .
p alrne n te q ua nd o estas tê m componen tes de a ler ta e moc ion a l. Basta lcrn procedime nto s o u implícit as so fre m pouca modulação pelas
que o s ax ónios de ssa s q ua tro estr utura s inc rva rn o h ipo ca rnpo . a am ígdal tados de ân imo . A princip al modula ção de ssas memória s é
có r tex e ntor rina l, o cing u lado e o pu ric ta l, e libe ra m, re spe ctiva me nte , os n :lJ\ negra -+ n úcleo ca ud a to , que pode explicar. por exe mp lo, a'
tr a nsm isso re s d o pa m ina , noradrc nulina, sc ro to n in u e acc tilco lina . /\. impi to ou a dim inui ção de tr emores o u altc ra çócs do t ónus mu s-
te m po p ulariza d o bas tante o nome de sse s ncurotransmi sso rcs, no s anos rcce m s são obse rvad as quando so mos vítimas de te ns ões c rnoc io-
devid o ao fa to de que nume rosas d ro ga s de uso co rr iq ue iro pa ra 11 trata r ou deixar de fa zer de te rminado movime nto , A a nsie dade
de a nsie dade , d e pre ss ão e o utras alterações das e moções o u d o es tudo de II e os tremores da doença de Pa rkinson.
a ge m a lte rando a Iun çâo desses nc uro t runsm issores, Mas co n tra ria me nte acordo com se u conteúdo , as me mória s se divid em e m dois
n i âo do s jo rn a listas, ne nh um d e le s é "o transm isso r d a fe licid ad e" n u "di ) pr declara tivas (governadas fund amental me nt e pe lo hipo ca rnp o
o u "da angús tia " ou "da e xc ita çâo " , "Iudo depende de o nd e são libc rudos e SI: as proced urais, a ca rgo d o n úcle o ca uda to e sua s co ne x õe s e
tlue re ce ptores de q ue es tr utura a tuam .A do p arnina, por exe m plo, agindo sob 00]0 , segundo muitos es tudos, /\s vias neuronai s enca rr ega d as
re ce pto re s O I no n úcleo a cc u mbc ns, é med iado ra d a depend ência de dn dois grande s tipos de me móri a são d ifere n te s, e a s p rimeiras,
agindo em o utros luga re s so bre o mesmo tip o de re cep to r. é me d iado ru da at 'j .. áo m uito m ai s susce tíve is à modulação pel as e mo ções, pela
çáo ; e m o utro s, de a lgum as sensa ções praze n te iras; e m outros (hipII Clll11ptl, nn estado de ânimo .
dala), d a form ação de me m órias c/ou de sua pe rsistê ncia (ve r Ca pítu los 3 c f trabalho é um tip o de memória co mpletame nte d ife rente d as
A a m ígd a la b aso latc ral re ce be . na ho ra d a formação d as me m ória s. o irnpa me n te online, va r ia de instante e m insta nte , utili za po ucas vias
in icia l de ho r mô nio s pe rifé rico s (principa lme nte os co r tico ide-) libc rauOs ipa lrnc ntc o córtex pré- front a l), ma n té m as informaç ões só un s
sa ngue pe lo e stre sse ou pe la e mo çã o excessiva. L: o núcle o at ravé s do q ual - raras Veze s um min uto o u do is - e cu m pre uma função ge -
subst ânc ius mo d ulam as me m ória s; sua at ivação faz com q ue esta s se gra so contato com a re a lidade , De cide , e n tre tud o a q uilo q ue nos
e m ge ra l mel hor d o q ue as o utras.A ad re na lina é també m liberada re rik r i~am guardare mos e () que
" ; ma s na- o a t ravc s:'Sl l ,' I 11',r a
te em srtun. ço- c s d e a ic r ta, estre sse ou cx c rcicro . [(:lr 4" na memória decl ara ti-
. e n tre o s ca p.'Iare s sangu mc
ex iste " o s e o te ciido cncc [ a"I'ico· , c I111 m,·ld ," I1l'I1lat ·nl .
t
ura] ou q ue memória
De acordo com seu conteúdo , as
Iál ica : age de ma ne ira re flexa so bre a amígd a la e so bre o utras re giiic s c c,r~l1l~ t roced ural va ler á a pena
memórias se dividem em dois
m o d I'f'rca nd o Io ca Ime nte a pre ssa0 . sangum , e a . () mes mo I"az a no r'ld , [(.: na.I1l1ol
' " caso , /\o no s se nt armos
grandes grupos: as declarativas e
• , . - . . ". . ' l S ek l1l1S , ela decl'de que a CO isa.
ra da pe r ife r ica me nt e pe la est m1Ulaçao d o slsle ma slm pa ttCO, CUJI . as procedurais .
seme lhante s ao s d a ad re na lina , nào recit ar um poema,
~
3 I Iván Izquierdo
Memória I 35
dores, músic os e cantores. Por ém, se m perceb ê-lo, é utilizado pelo res
laç âo humana e animal. Assim. muitas vezes um homem só lemb ra
da localização de um determinado edifício, por exe mplo, quando vir, (-I)
-
prévia ao mesmo. Um músico só lembra o resto de uma pa rt itura qu an )
ou o uve as primeiras notas. Um rato ou
um camundongo só lembra do tramo fi-
nal de um labirinto quando percorre o (5)
o prim ing é um fenômeno esse ncia lme n te neocortical. Partil:ipa time s (IR90), q ue a cha mo u de " me m ó ria primária" , co n-
'
c órtex , l'ro n ta I e arc
pre- ' as asso ciatrvas
. . . I> acicn
. l es co m Iesoes
- Co rtÍl:ais nl
e minar memÍlr iu de curta duraçã o aq ue la que dura e ntre I
evide ncia m d éficits de sse tip o de memória: reque rem m ais fragme nt os d te mpo ne cessário para que as me mó rias de longa dura ção
nho de um av ião, por exemplo , para lembrar um a figura que re pn~ s pítulo 3). Discutiu-se d ur ante m ai s de um século se a me -
avião (Figura 2 .2), lO é simple sm ente um a fase inicia l da memória co rno um
de curta d ur ação e a de longa du ra ção e nvo lvem proce sso s
po nto indqx: nde nte s. Corno ve remos no Cupítulo-l, a segun-
Memória de curta duração, memória la. /\ memória de curta dura ção re q uer as me smas es truturas
de longa duração e memória remota ,nga duração , mas e nvo lve mec an ism os pró prio s e d istinto s
A s me mór ias ta mbém podem se r classific ada s pel o tempo que duram. F 8 e 1999a).
me mó ria de trab alho , as m e mórias ex p lícitas podem durar alguns minul curta duraçá o é ba stante re sistente a muito s dos age ntes que
ho ras, o u alguns di as o u me se s, o u muit a s décad as. A s me mórias implídta ~ô:los da conso lid aç ão da memória de longa duração ,
me nte du ra m tod a a vida , ern órias de lo nga duração que d ura m muito s mese s o u a no s
As me mórias de cla rat ivas de longa duração levam tempo para scrcm co nominad as memó r-ia s remotas. U m ra to é ea paz de lembra r,
dadas. N as prime ira s horas apó s sua aq uisição, são l ábc is e susce tíve is à int use rn determinado co mpartime nto de determinada caixa rece-
r ência por n ume ro sos fa tores, de sd e tra um utismos cra nia nos ou clctroch írico na s pa tas. O s ratos de labo rató rio vive m pouco m ais de
co nvulsivo s a té urna va ried ade e no rme de d ro ga s o u, me sm o, iI oco rr êncí huma no de 70 a nos é ca paz de lemb ra r, at é co m det alhe s.
o u tras me mó rias. /\ exposição a um a mbie n te novo de ntr o d a primeira b ntes de sua infâ ncia. Essas co ns titue m me mó rias re motas. O s
a pós a aq uisição, por exe m plo, po d e de t urpa r se riamen te , o u a té cancelai evocação se rão di scutido s no Ca pítu lo 5.
formação de finitiva de um a memória de lo nga duração (Izq uie rdo c t a l., IlJ
U m tr aum at ismo cra nia no o u um cl e tro choqu e min uto s depois da aqui
dos, memórias
cost um a m ter um d e ito sim ila r o u até mai s in te nso : a n ula m por cornplea
ssocia t iva s
gravação q ue es tá se ndo fe ita ne sse momento , c fazem co m qu e o indiví
pe rca a memór ia que acaba de adquirir. U ma libera ção mode rad a de horrnônf são adquiridas por mei o da associação de um e stímulo a o utro
d o es tre sse (a d re na lina, co rticoi dcs) nos m in ut o s se gui nt e s à aquisição [I(J ta, Quem pr imeiro e st ab el eceu isso foi o fisiol o gista ru sso Iva n
me lho rar a co nso lid ação d a me mó ria de longa dura ção; uma liber a ção cxccssi do século X X . Ele observou que a re sp o sta ma is co m u m do s
o u a ad ministração de sses hormônio s e m dose s e levad as, pode re sult ar em am Iq uer estímulo ou conjunt o de es tím ulos novo s, não do loro sos, é
sia . A ad ministr ação d e vá rios inibidore s de e nzimas im po rt a nte s no hipoc a~ r íe nta çào, q ue denominou "r e a ção d o ' Q ue é isto "' " . /\ reação
pode im pedi r a fixaçã o de memórias nas prim ei ra s se is ou m a is horas depor lo grau de alerta, o direcionamento d a ca beça, d o s o lhos o u (se
aq uisição. , -1, por exemplo ) o nariz e as o re lha s e m d ireção à fo nte do e st ím ulo.
J ust amente o fat o de que li fixação defin itiva de uma mem ória é se n ~.I" . r um ambie nte no vo, o animal re age co m re spo stas explora tórias
numerosos age ntes ext e rnos o u internos ap licados depois d a é14 uisiçiio (kll n~U: . ra l. /\ repetição do e stímulo leva ü supressão grad ua l d a reaçã o
co nce ito de consolidação. As memórias d e longa duração não ficam es tabc.lc:ld : 1S1;l) se deno mina habitua ção . f: a forma ma is simples de uprc nd iza -
e m sua fo rma es táve l ou permanente imed ia ta me n te de poi s de sua aqui~ lçao . ria; esta se re vela justamente pel a diminuição !"JTad ua l d a rcs pos -
pr o ce sso q ue Icva a' sua f'ixaçao
- d e f'.miuva
.. daa mm aneira
anei e m q ue matis i: t'lrdl:
, podc tleão do estimulo (Fig ura 2.3) .
se r evoca das nos dias ou nos anos seguintes den omina -se co nso lidaçÍlo. estahelece u que , nos a pre nd izados assoc ia tivos, se um es tímulo
. - uccn v\ Cl: m outro " hio lo gica me nte sign ifica nte " (do lo ro so , praze nte iro)
Co nhecemos em bastante detalhe os mecanism os da co nso hdaçao . li
. J is
ve m p rinc ip alme nte o hipocampo e suas conexõe s e que se r ão a nalisa ( . n ave lmc ntc um a resposta (f uga . sa livação . po r exe m plo), a rc s-
'a p ítulo 3. l'tIJO muda. , . Iica con dirciuna daa ao oar
p ar ea
camrnento . Assi
SSII11, passo u a s'e
38 I Iván Izquierdo Memória I 3
nunc a é pa reudo co m ou tro, Na extin çâo, paramos d e responder porque j á não décadas. São aq uelas memór ias q ue de cid imos to rn a r inaces síveis. cujo acesso
é nece ss ário: o es tímulo inco nd icio nado nã o "ve m" mais. bloq uea mo s. O co nteúdo dessas memória s co mpree nde e pis ód ios h u milhantes,
1\ ha bituaç ão é cla ram e n te um tipo de a pre nd izado e de memó ria mi o asso - desagrad úve is ou simple smente inco nve nie ntes d o ace rvo de me mó rias de cada
cia tivo: re sulta d a simples re pe tição de um es tím ulo, se m associá- lo a nenhum pesso a. Náo inclui ne cessariamente exti nção , embora possa ter a lgu m cornponcn-
o ut ro . 1\ exti nção é considerada co mo o resultado de um novo parcament o: e m te disso ; també m não se lr at a de es q uec ime n to. po rq ue as memórias reprimid as
vez de e stímulo co ndici onado/estímulo inco nd icionad o. a extinção asso cia o es lí- podem volt ar à ton a em tod o se u esple ndor es po nt anea men te. a través da recorda-
mula co nd icio nado prime iro it recé m-a pre nd id a ausência do inco nd iciona do . -âo de o utras memóri as ou atravé s de sess ões de psica ná lise ou o utro tipo de
Não é uma for ma de esq ueci mento ne m um a diminuição da memóri a; é uma exame detalhado d a a uto biogra fia do suje ito. 1\ repress ão pode ce rta me n te se r
inibição da evo cação . voluntária: às veze s d izemos "n âo q uero lembrar ma is desse ass unto" e o co nse-
guimo s. Mas, na ime nsa ma io ria das ve zes. é tot alm ente involun tá ria o u incons-
cie nte, e o cére bro nos po up a o esforço de almejá- la: re prime espo n tane a me n te
Esquecimento
mem órias q ue conside ra que po de ria m nos se r desagra dáveis o u prej udicia is.
Pode se afirmar . co m ce rteza. q ue esq ue ce mos a imensa maior ia d as inlorrn a çócs 1\ repre ssão e nvo lve prov ave lmente siste mas co rticais capazes de inihir a
q ue algu ma ve z fo ra m ar maze nad as. Já vimos que isso se aplica à tot alid ad e das função de o utras áreas cort ícais ou do hipocarnpo . Poré m. não lui nen hu m es tudo
informa ções q ue passam pe la memó ria de traba lho , mas ta mbé m aco n tece co m det alhado ne m siste m ático do s pro ces sos nela e nvo lvidos. Não existe ne nhum (
o re sto d as mcrnó r ias, as q ue formam arq uivos . mode lo de repressão em a nima is de labo ra t ório , e é he m possíve l que eles náo a
De fa to. co nse rvamos s ó uma fração de tod a a info rmação que passa por manifeste m; ou seja. é possível que se tra te de um fe nômeno peculiar ao s hu -
no ssa me mó ria de tr aba lho ; e uma fraç ão menor ainda de tud o aquilo q ue cvc n- mano s. Em humanos, es tudos de resso nância magné tica funcio na l tê m revelado
tualmcn te co nserva mos po r um tempo nas no ssa s memóri as de curta e de longa ativaç ôcs do córtex pré-fronta l vcntrorncdial acompanh ad as de redu ção do fl uxo
dura ção . Nossas me mó rias remot as são às vezes intensas e ljuase semp re valio sas; san guíneo no hipo ca mpo; ma s só e m rep ress ões vo luntárias. N ão há co mo sa be r
porém, re pre se ntam so me n te um a peq ue na part e de tudo aq uilo q ue alg uma qua ndo as o utras ir ão acon te ce r.
ve z aprende mos c le mbra mo s. (: po ssível que exista repress ão na negat iva quase vo lun tária dos sujeitos
Nossa vida soci al. de fat o, se ria im po ssíve l se le mbr ássem os de todo s os deprimido s e m lembra r fat os favo ní ve is de se u pa ssado . l ~: po ssível, ta mb ém,
detalhe s de no ssa int e ra ção co m todas as pessoas e de tod as as impress ões que que aco nte ça u m fenô me no opo sto na te ndê ncia q uase au tomát ica do s de pr imi-
tivem os de cada uma de ssas int e rações. Não po d eríamos seque r d ialogar com dos em lem bra r e pisód ios humilhan te s. dcs agrad úvc is o u inco nve nie n tes.
o s se res qu erido s se ca d a vez que o s vísse mo s vies se ü nossa lembran ça algu m
mal -estar o u algum a briga ou humi lhação. por menor q ue fosse (Izquicrd o, 2(10).
Existe m. alé m do es q uec ime nto e d a perd a real de memó rias, a habit ua çáo
sturas de memórias
e a extinção. Estas são . por ém, co mo vimo s. supre ssõ es reversíve is d a evocaçã o . Frnbor a te nham valor de scritivo e a plicação clínica. as classificações das memó rias
U ma me m ória habit ua d a o u extinta não es tá realme nt e esq uecida: es tá. pelo nu« dew m se r tomad as ao pé d a letra: a maioria se con stitui de misturas de
contr ário, sup rimida no qu e diz respeit o à sua expressão . Um aumen to da inte nsi- I1lcll1')rias de vár ios tipo s, e/o u misturas
dad e do es tímulo reve rte a habitua çâo; uma nov a aprese ntaç ão do es tímulo condi- Je me mlí rias a ntigas co m outras que cs-
cion ad o reve rte a extinç ão. t;io se ndo adq uirid as ou evocad as no . .. - .~-. ~ .
Enquanto estamos evocando ~ ual--
rnl1rne llto.
q~er e~~~i~~Ya. c~~h~-çr;-e~~i~ ;. .
ssim, enq uanto es tamos evocando
Repressão ou procedimento. ativa~se: 'a 'rne- I:
ljualqUl.·r experiênci a. conhecimento o u
Vizin ho à extin ção encontra -se o fenômeno que a Psican álise denominou repres- pruccd ime nto . ut íva -so a memória de
má ria de trabalho para verí!icar se:I
evo ca m-se me mó rias de conteúdo similar ou nã o e misturam-se to d as e las, às A ime nsa maioria das cois as q ue aprende mo s ao longo de todo s os di as de
ve ze s form a ndo , no mo mento , uma nova memória. nossa vid a se extingue o u se perde . Talvez a ma is im por ta nte forma de e squeci-
Di fícil é evoca r u ma memó ria procedural (por exemplo, nadar) sem lembrar ll1e nto seja a extinção: a m aioria das me mó rias q ue fo mo s junta ndo se perde por
ta m bém a lguma sit uação pr é via em que esse ato nos tenha produzido prazer, fa lta de reforço . Ma s a pe rd a simples, po r les ão ou por falta de uso ncuronal,
desprazer o u medo , ou q ue te nha sido associada a alguma situação determinada. dese mpe nh a ta mbém um papel essencial nesse proce sso . Le mbre mo s aqui algo
Re cordare mos, de maneira inco nscie n te , a prime ira vez que caímos numa piscina q ue pouco s sa be m : os seres huma nos co meça m a perder neurônios n a época e m
o u nu m rio, o te mo r q ue isso nos ca uso u, e os movimentos defensivos que fizemos; q ue a pre nde m a caminhar, en tre os 9 e o s 14 meses. A pe rd a é maior no segun-
le m bra re mos ta mbé m como foi bom e n trar na água uma ou mais vezes em que do a no de vida e de pois se desaccl cra , A desa parição de neurônios pode se
fazia ca lor o u co mo foi bo m fa zê -lo co m a na morada ou co m um filho . acele ra r por doe nças de ge ne ra tivas (alcoo lismo . Alzheime r, Parkinson) e causar
Ma is difícil ainda é adqu irir ou evoca r uma me mória declarativa (por exem- proble mas circunscritos às áreas mais afetadas em cada uma dessas doenças
plo, a letra de u ma ca nção ), sem re lacio ná-Ia a outras (a da linguagem e m geral, (Rgura 2.4). Na ma ior ia d as pe sso as, a morte neuronal gradativa faz com q ue , a
a da mel od ia de ssa canç ão) e com memórias proced ura is (a me mó ria de como partir de de terminad a idade (90 ou 100 a no s) as células necessárias para cada
se fa z pa ra cantar), ativando ao me smo tempo a memória de trabalho.
f: comum co n fundir o rosto, o nome ou os atos de uma pe sso a com os de
o utra . l~ co mum con fundir anive rsários próprios e alhe ios. Isso ocorre em todas
as id ade s. mas as pe sso as mais velhas se to rnam especialistas no assunto. Co n he -
ceram tanta ge n te ao lo ngo de sua vida, que é natural confundir ou misturar
fatos ou caracterís ticas de umas com os de outras. Minha mãe, já aos 70 anos,
costumava mist ur a r aco n tecime n to s de minha vida com os de seu irmão, que
era fisica me n te um pouco parecido co migo .
A re pe tição da e vo caç ão das diversas misturas de me mó rias, somada à ex-
tin çâo parcial da maioria del as, pode nos leva r à el aboração de memórias falsas.
-..... ....... ,' ) .
funçã o cere bra l ati nja m um limiar minimo abaixo do q ua l ess as fun 3
im po ssibilitad a s. Isso a co n te ce ta mbém com a memó ria. 1\ perua de ç
e li dis funç ão cerebral que d e las re sulla oc o rre co m velocid ade va riável
ind ivíduo : h á pessoa s d e 100 anos q ue se e nco n tra m perfeitamen te I mecanismos da
ou tras de XO q ue não.
O uso contínuo da me mória d e sacc le ra o u reduz o déficit fun cional
mação das memórias
ria q ue ocorr e com a idad e . As fun ções ce rebra is s ão o e xe mplo car at:f
d e q ue " a função faz o órgão". No referen te à me m ó ria, quanto ma]
m e nos se per d e. Pe rd e an te s a me mó ria u m ind ivíd uo que d edica a m
d e se u te m po a d o rmi r o u a n ão faze r nad a do que o utro que se pr eocup
e m ap re nd e r. em ma nt er sua me n te a tiva . Co mo ve re mos mai s adi an:
perda da memória d a d oença de A lzhc imc r , que costuma se r grav íssim
no s ind ivíd uos co m e ducação supe rior, q ue ad q uiriram pr e sumivel mM
memó rias ao lo ngo d a vid a . A pe rda d e me mó r ias pela falta de uso r
áreas d a Nc urociéncia ho uve ta n to s ava nço s no s úl timos 5 o u 10
a u ma p ro pr ie d ad e neuro na l co nhec id a h á pel o me no s meio século :
fu n ção , seguid a da a tro fia d a s sinapse s pe la falt a d e uso . E ssa prop • refere nte ao s meca nismo s fisio lógico s e mo lec ulares da forma çã o
li du~~i ll d as mem órias,
e studad a in icia lme n te na sinapsc entre o nervo ir ônico e o diufrugma
il1sn uo suo udquirulas ime d ia ta me nte na sua fo rma fina l. D u ran te
la ção re pe tid a d o ne rvo m an tém a sinapse funcional; a secç ão do nc rv
minuto s ou horas apó s sua aq uisiç:ío são Susce tíve is à in terfe rê ncia
sinapse.
rnória s, por d ro gas, ou po r o ut ro s tra tam e n to s (Mc Ga ugh. 1966 e
So hre co mo usa r a me mó ria pa r a m antê -Ia , principalmente p
o. IlJIN ). De fat o , a lorma ç ân de u m a me mó r ia de lon ga duração
h ábito d a le itura. ver Capítulo 9.
ric de p ro cesso s met a hól ico s no h ipoca rnpo e o ut ra s es tru tu ra s
compree ndem dive rsas fa se s e q ue requerem e n tre trê s c oi to
o e Medina. 1997 ; Izquíerdo c t a l., 2006). E nq ua n to e sses pro ce s-
rem conduídos. as memórias de lo nga d ura çüo são lábe is. O conju n
SO ~ e se u re~u h ado d eno m ina m -se con solidação.
a da conso liua çün ve io de d uas fo nt es. Por um lad o , d a obsc rvaçüo
' culo XIX. de que ap ós um trau m atismo cra niano o s indivíd uo s
t:ivame nte aq uilo que havia aco n tecido no s mi n u tos a nte rio res .
rvaçüo de d oi s pe squ isad ore s a le m ãe s, Mülle r e Pilzc c kc r, no
muitas me lTIlírias int erfL'rem e m o utras adq uiridas ime d iatame n-
rdo. IYXll; McCJa ugh, 1( 96) . A mba s as observa çõe s ind icam q ue
dJ7 ~e nd e inicia proce sso s ne rvo so s que d u ra m a lgum tempo a lé m
T:l .ado em SI' c<> • - h . . . M "U 1" 1 k
' sem os quais nao avcra mc rno n a. u cr e I ze c ter
lH.> h depo is, chamaram a esse s p ro ce sso s d e consolidação.
os doi s seg uinte s referem-se fu nda me n ta lme n te à s memórias
IlI(ld ic'ls ou '' ," . _ .
d' . (. . s~m" nl1ca s . de c ur ta e d e lo nga du ra ça o. O s mec ams-
as memoflas de pr o cedimento s o u do priming são pouco co n he-
a m muito pouco e studados e m n ível e le tro fisio lógico o u neu-
deve ao fa to de que raras vezes esses tipo s de memó rias falh am.
Mem ória I 47
I Iván Izq uierdo
o da s -- -- -- -7 /~as
ec an ism os da co ns oli da çã Horas
me mó ria s de lon ga du raç ão
d a memória de longa dur açã o co
Os mec ani smo s d a co nso lida ção
de sve nd ad o s no s últim o s 25 an o s
co mo co nscq u ência da de scobert
a '"
e m 1973, cha ma do de pote ncia çâ
cess o e lc tro fisio l ógico de scob erto
pers iste n te da re spo sta de ncur ôní
dur ação . Isso co nsis te no aume nto
e stim ula ção repe titiv a de um uxô
nio ou um con junt o de ax ônios qn
s an o s segu in tes foi de scrita a de{! -._- .
nap ses co m e las (Figura 3.1) . No
long a dur açã o, um fenô me no qu
e co nstitui a ima gem em espe lho
d ...
de um a dete rmi nad a respost a sin
dep ress ão (inib ição ) persiste nte
titiva d e uma via afer ente . Horas
co nsc q u ênc ia d a es timu lação repe
lc tro fisio l ógi cos obs erva dos
For a m os primeiro s pr oce ssos c
s, mas e m hor as, sem ana s ou de lo nga dura ção (B). Os gráf
icos
pod ia se r med id a não e m segu ndo long a dura ção (A) e dep ressão
ória s, levo u mui to s a co nside rá-I s por C. Barn e s , N. Bazá n,
lon ga dur ação , sim ilar à d as mem tes feito
dos de sete exp erim ento s dif eren -
naç âo e arm azen am ento da m " M. Ito e K. Aeyma nn. O eixo verti
ca l med e as resp osta s pós
sívc is "ba ses" do s p ro cesso s de forr as proc edent es de CA3 , a razã o
eira met ade dos ano s d em CA1 po r esti m ulaç ão das fibr
Assim, na déc ad a d e 1980 e na prim de um estím ulo repe titivo (4-10 0/
lece r os me cani smo s mo lecu laJi s ilust ram a apl icaç ão
do . As seta
pesqui sad or es pro cura ram es tabe que dura vários d ias. No gráfico B,
ação. O s pioneiro s for am Han sjür co A, obte ve·se pote ncia ção , últl-
ciaç ão e da dep ressão de lon ga dur o de lon ga dura ção , que dura
ho ras . Nun ca fo i med ida esta
, na Ale man ha O rien tal; os q u di a8.
e cola bor ado re s em Mag deb urgo
rido r da pote ncia ção de longa durr
cheg ara m for am o próp rio de scob
m Nova Yor k, e Juli etta l-rey, do
B1iss, e m Lon dre s, E ric Kan dcl , e
de Mat thie s.
a me nta lme nte no hipoea
O s mecani smo s fora m es tuda dos fund rde rido s falta m o u apre sent am -se
mod ificad os na po -
ão e m es tudo s in vitro. A ostr ut ur lIS8l1 S
cam nn (CA3 , gyrus
rcs, exa min ando fati as de ssa regi vári n".a dUT<t<;úo em outr as suh- regities do hipo tecid os nervo so s
e má tica na Figu ra 2.4. Das
hipoc arnp o a parece de maneira esqu ulra s are as do cére hro de mam ífero
s ou em
foi a cha mad a CA I, que é a mais men o siio os men cio-
do hipo carn po, a mai s es tud ad a Poré m, os meca nism os büsi co s dess e fenô
a es timu laçã o da s fibra s que pro sive o neo ccírtex, e e m
med iai; e ssa regi ão é ativad a pel das úrea s ee re h ra is estu dad a s, inclu
mo s da pot encia ção de long a du Squ irc, 200()). 1I;í fel1ô mc-
- árc a CA3 . Os prin cipa is mec anis de num e rosa s es pé cies (Ka ndo ] e
(ve r Kan del e Squ irc, 20()())
s ão apre sent ado s no oue drc 3.1
I Iván Izquierdo Memória I 49
1. Excitação repetid a das células hipocampais através da estimulação d o de potenciação de longa duração ; participa na lib eração de óxido
re s gl utamatér gico s do tipo AMPA, assim chamados porque respo e ou tras subst âncias peq uenas qu e estimulam a transm issão glutama-
ao glutam ato como a uma substância denominada ácido amino-h A PKC pré-sináptica fosforila uma proteína chamada GAP-43, que ta m-
isoxazol-prop iân ico. Os recep tores GABAérgicos do ti po A inibem ula a liberaç ão de glutam ato . Post eriorm ente, e durant e 30-60mi n,
de potenciação de longa duração . soformas de PKC diferentes das qu e se enc ontram nas terminaçõe s
2. Essa excitação leva a uma de spolarização p ersistente da célula; áptic as participam em diversos proce ssos p ós-sin áptl co s, qu e incluem
ao ing resso de sód io à célula, através do próprio receptor AMPA 'ilação dos pr óprios rece ptores g lutamatérg ico s. Junto com a PKC pré-
3. Como con sequência da de spolarização, a cél ula expulsa o íon ma o NO (oxido nítrico) e o CO (mon óxido de carbo no) , sintetizados
normalmente obtura o receptor glutamatérgico de tipo NMDA, as pticamenle em con junção co m a ação da enzim a proteína cinase G
porque é capaz de resp onder tanto ao glutamato quanto ao seu 'clico dep endente) , dif undem pa ra a termi nal pré-sin áptica e promovem
áci do N-metil-d-aspártico . Uma vez "desentupid o" , o receptor N a liberação de glutamato .
ser "funcional" e a permitir o ingresso de cálcio à célula através do e a PKA tam b ém fosforilam receptores g lutamatérg icos; mas seu
4. Em algumas áreas cerebrais, ativam-se também rec eptores gluta cial cons iste na fosforilação de fator es de tran scrição d e DNA pre sen-
metabotrópicos que , atravé s de processos metabólicos, tam bém ÍlltOMualQO dez células, 2·6h após a induçã o da pot enciação de longa dura-
a concentração do cálcio intracelular.
5. O aumento de cálcio intracelular estimula direta ou indiretamente IJ fator de trans crição estimulado por essas duas enzimas d enomina-
enz ima s chamadas proteínas cinase, das quais há vários tipos: ~ (do ingl ês · cAMP resp onsi ve·eleme nt binding protein "). A ativa ção
cinase c átclo/catmodotlna dependentes (CaMKI , I, 11, 111 e IV), 2-6h depois d e iniciada a potenciação de longa duração, leva o
cinase cálcio dependentes (PKC) , as dependentes do GMPc células pos-sinápticas a produzir mRNAs (RNAs men sag eiros) que
pendentes do AMPc (PKA) e as proteínas cinase ati váveis extra, a slI1tese de numerosas proteín as no s ribo ssomos. Algumas des sas
(ERKs) que , até pouco temp o atrás, acred itav a-se serem ativá ve o outros fatores de transcrição, qu e voltam para o núc leo (c-Fos ,
agente s mit ógenos. As proteínas cinase são enzimas (ou seja, ll8 transladam a ou tros lugares da célula . Outras são p rote ínas de
biológ ico s de natureza proteica ) que regulam a transferência d lular, qu e são transportadas às sina pses dessas cél ulas , alterando
desde o ATP a sítios específicos em diversas proteínas. A 1081· 'ole e, port anto, aumentando ou diminu indo sua fun ção ,
proteínas geralmente incrementa sua função . (A cal modulina é um d endritos há um aparelho de síntese proteica qu e prescinde da
endógen a presente nas célula s . GMPc é a sigla do gua nililfosfato mRNAs pelo núcleo e atua formando-as a part ir do uso de mRNAs
é a sigla do adenosiifosfato cíclico, e ATP é sigla do adenosin 8 l rata-se de um sistem a que origin alm ente foi descrito em células
três subst âncias são nucleosídeos, parentes pró ximos dos nu que, nos dend ritos apicai s de CA 1, é imprescindivel pa ra a síntese
formam parte da sequ ência do DNA e dos diversos tipos de R uma das proteínas que compõem o receptor glutamatérg ico AM PA
6. As proteínas cinase CaMKII e PKC favorecem a fosforllação d proteínas tam bém essenciais para a transm issão sin áptica e a me.
de receptore s ao glutamato; ao fazê-lo , os ativam . A fosforilaç le ma eXlrarribossomal de síntese pro téica den om ina-se mT OR,
glutam atérgi co de tipo AMPA , por exemplo, por inte rvenção da ressão inglesa mammalian targ et of rapamycin (alvo para a ra-
várias hor as após a indução de potenciação de longa duração. os mamíferos), e é justamente inibido pel o antibiótico rap ami cina .
7. O papel das proteínas cinase varia conforme a enzima e sua I TOR dep ende do fosfoinositol-3-fosfato , da PKA e d o BDNF para
-siná p tic a (nas termin ações axânicas estimuladas) ou pós-si na
eir06
inervada por esses axôni os) . A PKG é necessária nos prim
Memória I 51
o I Iván Izquierdo
. . rica "O interior da célu la. ficando assim indi spo níve is para se u
nos pa recidos co m a potenciação de longa duração e m gflnglios d t\ slOa p . ..
mis SÚlJ ne ura l (Agure 3,2).
o ut ras estruturas (Ca rcw, 1996) . " IP()~ t ' l na décad a de 1980 como mode lo para a ha hitua çâo c a
Na A lemanha,.Juliett a l -rey, e m co labo ração co mo brit ânico Rich OI pn ., •
, apr ..ndiLados que consiste m na inibição de um a respo sta : no
postu lo u e m 1998 que nos de ndritos em que oco rre uma I.TI' (do ' u 8CJll. ' ~
. um estímulo neutro ; no segu ndo, a um e stímulo que tinha sido
term po/el1 /iatioll) são produzid as certas pr ot eínas que podem passar I. a
condi cio nado (ve r ca p ítulo a n te rior) . Po ré m, ess a pro po sta não
sina pses vizinhas e /o u es timulad as numa seq uê nc ia temporal pró xi
incita a também produzir ituaçúO(' :I eXlínção pode m dura r muitos me ses o u a nos; a de pressão
menta-la se est a estive r sen lIçií.I nun ca ro i medida alé m de umas po ucas ho ra s. Por out ro lado,
d a. O fe nô me no chama-s inumc nto pode reve rte r e m questão de segundos uma habituação
Há fenômenos parecidos com a mento sin áp tico " (.\)'napt o: um a ume nto d a intensidade do estímulo pode rev e r te r rapida-
potenciação de lo nga duração em permitiria explica r a car bit ua çào (Figura 23); a reapresenta ção do e stím ulo inco nd icionado
gânglios de moluscos e outras soc ia tiva d a l J'P, q ue faz e per instanlam.: alllc nlc um a extinção, por exem plo. Nad a sc rnc lha n-
'~ rv ado na depre ssão de lo nga duração. Ho je em d ia, se acred íta
estruturas. de uma sinu psc além da es t
sa tamb ém se r potcnciad c part icipar. que r no hipoc a mp o , quer fora del e, como base d a
ge ne ra lização da cada I.:I , algumas ta refas q Ut ' n ão envolve m aume n to , e sim diminuição
ptica. Viirios aprend iza dos q ue utíl iza m o cere bel o b ase ia m-se
vizinhas o u estimulad as po ucos segundos depois. De Iato, foi ad
jlllc rcssado s pode m consultar no site E ntrez PubMc d) .
explicação mais plau síve l pa ra o fa to co nhecido de que a consolido
co mporta mento s muito próximos a ou tro s pod em potenciar a consof
últ imos: por exe mplo , a hah itu ação a um campo ab erto po uco untc s d
inibit ória o u de um reconhecimento de obje tos [tr ês tarefa s que
campo] pode melh o rar a gravação dest as últimas (Ballarin i ct al.,
I\lguns d o s passos referidos falt am o u apre scntam- se rnod i
tenciação de longa dur ação e m o u tras sub-regiõe s do hipocam
dentatus) o u em o u tras á reas ce re b ra is (Izq uierdo ct al., 2(06).
A lguns dos dados d o Q uad ro :U es tão ilustrado s na Figu o
sC4 uê ncia exposta no Q ua d ro 3.1 co mo os cs q ue mas da Figur a O
igua lmente à po te nc iaçüo de longa duração (I T I') med iu a no hip<
uic rd
3.1; Izquierdo e Me d ina, 1<)97; Kandcl e Sq u irc, 2000; I/ 4
hipocampo e que se adq uire e m po uco s segund o s, co mo a po te m:illl; iio :1revc e realizada numa ún ica sessão . Os res ultados o b tid o s
d ura çâo: a esquiva inibitó ri a o u esq uiva pa ss iva . Repe tindo o desL:rito no eira muitas scss ôcs o u sess ões lo ngas pa ra s ua a p rendizage m
lo 2. e ssa ta refa e nvo lve a forma ção de u ma me mória d eclara tiva na qual ..,, interpret açüo.jilque e nvo lve m m istu ras d e di fe re n tes fases
aprende a inibir uma re spos ta (d e sce r de uma pla taforma, en trar num tr e si L" OU co m proce sso s d e re a q uisição o u evocação. De
co mpa rtime nto ) para não re ce he r u m e stím ulo aversivo ( um choque nunca foi possível che gar a co ncl usõe s cla ras e m tare fa s
por exe m plo ) , Est a memó ria corrcspo ndc àq ue la e m q ue o s humano 1r.xas. justame n te por e ste mo tivo : os a ut ore s não co nse gue m
bo ta r o s d e d os na tomad a o u ent rar nu ma rua pe rigo sa , o u ap rendem WI outra.
es q ue rd a ante s d e atravessa r uma r ua , (Na Ingla terra e Ja p ão, a rcspost o ponto de partida dos expe rime n to s (q ue d rogas injetar ou
ta é o lha r à di re ita : o tr ânsito, lá, é pel a m ão o po sta) , i\ e sq uiva inibiu' , e quantos mi n utos antes o u d epo is d a aq uisiç ão ) fo ram os
me mó ria e pisó d ica (le mb ra mos o episódio pe lo q ua l a a pre nde mos: tudo da potenciação de longa d uração . Porém. e m a lguns
que bot amos o s de do s na tomad a ) e ta mbém se m ântica (a p renUe mllll tr ário: os achados obtido s no s expe rime nto s so b re me móri a
TüDi\S o u pelo me nos A MAIORI A d a s circunstâ ncias pe rigosas: um corresponde nte levada li cabo na análise da potenciação de
me nte e p isó d ico se to rn a de valor sem ântico). tados dos expe rime n to s comportarne ruais leva ra m li deter-
O s labora tó rio s m ais a tivo s ne ssa b usca foram o s de Stcvc n Ro se, na I ) 5 passos en umerados anterio rmente co mo s ubstratos da for-
ra : Cia ra n Rcgun, na Irla nd a: Mark Be a r, Robe rt Malcnka e Thornas de longa duruç âo interv êm tamb ém no s processos de fo r-
no s E stados U nidos; Jo sé Maria Delgado-G a rcia e Agnes G ruar t. na I das memt'1rias do aprendizado de esquiva inibi tória na re -
Yad in D udai, em Israel ; Jo rge M edina. em Bu e no s Ai re s, e o l11eU. po do rato (Izq u íc rdo e Medina, j 997; lzq uie rd o e t al ., 20( 6).
Alegre - q ue tra ba lha mo s asso ciad o s. Ca rew tra ba lho u ba sÍL:a llll' nte em achado paralelo, por doi s grupo s d ife re nt e s, de LTP da
lusco dc no m inad o Ap/ysia, Rose tra ba lho u fund a me n tal mcn h: sobre L~ Sl\ ll ris axônica s da subá rea CAJ d o h ipo ca rnpo co m as cé lula s
bit ória em pinto s. e o s d e m ais gru pos traba lha mo s fu nJ ame n talnlL' n,tL' urn ntc a co nsolidaç ão tanto d a esquiva in ibitó r ia (W h itlo ck
dore s. A co incid ência do s result ados o b tido s em pin tos e em ra to s c r do a p re nd izad o de piscar um o lho de m ane ira co nd icio nad a
ex trao rd inária . ape sa r da d ife re nça e n tre espé cie s e e stru tura s I1L'[\'(lSO. , te achado roi recente me n te este nd ido a o u tras ture fus,
d as. i\ scq u óncia de processOs lento de objetos (Clarke et aI.. 20 10), que pouco te m a ver
o
" " l ' cons •
lar e s atravci ss d a q ual , o qual pe rm ite su po r que . d e fa to , n u a seq üên cia de
mcmu n as e p ra ti1(,"11""~ ., te id
»Ó» ,
que subjacem ü I.TP ou a pr ópria LTP são a base dos
rato s L~ e m pi.nto s, c. SO' Lrkrc
I _. ill das ma is diversas me mó ria s, D e ma ne ira importan te ,
Aprendemos a svnar TODAS ou
lhe s d o obse rvad o crn ll1o l ~ :>l.: rp antes da aquisi ção das tare fa s mencionadas oclui a
pelo menos A MAIORIA das cir-
. C rew. Il"F' (I() ' IZIIUlcr
cunstãncias perigosas: um conhe- insetos (Ca :J . ' 1 ~, () que sugL'fe fortemente (ou comp rova ) q ue e sta re quer
211()6). . bloquímicos q ue a LTP (Clarkc c t a l., 2( 10).
cimento episódico se torna da va- 'lIhzau(
.1
I
I
'I
de uma sub stâ ncia tóxica , 1\ r
co ndicionada co nsiste e m evitar. n
uração, Simultaneamen te, ativação de recep tores c o /ln érglcos de
ico e noradren érglcos ~, que modulam a açã o dos anteriores.
dessa ocasião , o alime nto ; como se o an imal pe nsasse "deve se r aquilo que leio às células e ativação subseque nte de vária s p roteínas cinase.
I1 O eq uiva le nte hu mano a ess e tipo de a pre ndizad o é co m um nus crianç 'ê s enzimas pós- sináp ticas: a óxido nitric o sinte tase, que pro duz
q ue a ingest ão de suco de la ra nja , por exe mplo , passa a se r as soci ada com o (NO) , a hem e-oxigena se , que produz m onóxid o de carbo no (CO),
!!l q ue produz o fator de ativação plaque tário , PAF. O NO e o CO são
1
111 " algum reméd io , ca usando e ntão a cvitaç ão do suco de laranja du ra nte an
rdem através da membrana rumo àqu ela da terminação pré-sináptica;
11 meca n ismos mo lec ula res deste tipo de me mória, no lobo da insula. são
lipidio que atravessa a membrana dendritica e também se dirige
iI
r!
simila re s ao s re lat ados no Q uad ro 3,2 pa ra a es qu iva inibitó ria (Dudai
1995) .
'nação exõmce: As três substâncias, através de mecanism os que
'beração de glutamato, aumentam a eficiência dessa sineps e duren-
Deve -se salien ta r que foi esse ncia l, co mo pr e curso ra dos es tudos neu ino«. Estes mecanismos não pare cem ser importantes para a po -
micos, a lo nga tradição de pesq uisas so bre o compo rt ame n to de anima is 'onga duraç ão, mas são necessários para a formação da me mória
pesso as com lesões em dife rentes regiões do siste ma ne rvoso ce ntral: I.:X
PKC e sua função sobre a p roteína GAP-43, e a da CaMKII e sua
tais, as pr ime iras, e secundária s a tumore s, ciru rgia s rna lsuccd id us ou acld ladora sobre a sub-unidade recep tora do recept or AMPA são an álo-
as segu ndas , Esses es tud os leva ram a focaliza r a atenção pri mon.l ialm cla çâo de longa duração e na form açã o da memória , em CA 1.
hipocamp o e e m suas conexões, incluindo vá ria s regiõ es co rticais e ú re ~Ls I' 'vação da MAPK e da PKA são diferentes. Na p otenciaçâo de
lado ra s co mo o núcl eo amigdalino e o u tro s. Po rém. o s es t udo s sobre lcsô 'lia, a cadeia da MAPK part ic ipa nos processos iniciais: na form ação
de longa duração, essa cadeia enzimátic a intervém 3h ou mais
brais fora m e são se mp re indefini dos em re lação il part icipuçâo de lima ou
'uisição da tarefa, Na potenciaç ão de longa dura ção não parece
área e m passo s definidos dos processo s de co nso lida ção o u o utro s. ou ne pc: lpel importante da PKA nos prime iros minut os após a indução desse
lidad e , hoje já a mplame n te de monstrada expe riment al me n te. de q ue ou t na formação das memórias , essa cade ia enzimática intervém duas
giões cerebrais assumam o pape l d a áre a extirpada o u lesad a, a través da .. meira, nos prim eiros minut os após a aquisição; a segunda, 2-6h
de novas vias nervo sas que suprem o pa pe l da q ue falta . Esses p roh~en~
co muns ao s modelo s de an imais co m lcs ôe s não a na tômicas, nu s ge nom :d§ alividade da PKA são acompanhado s de um aumento simultâneo
nuclear. O CREB nucl ear participa em proc essos que levam à sintese
"nocautes" (kno ckouts) e m q ue a exp re ssão de det erminado ge ne ~ sup
muito diversas . Algumas dessas proteinas rep õem as que têm sid o
o u os "tra nsg ênicos" e m q ue e la é alte rad a. . processos anteriores ; outras são, como na p otenciação de longa
o
U m passo adiante na de te rm ina ção das áreas e nvolvidas na s m,l'm ~ 'P/eínes de adesão celular (O "Co nnell et aI., 199 7) ,
, .
dado pel as mod e rn as tecrucus dei
c Imagen s, d as q Uai' s a. que . 11'1""
vr - In'lI" " , ec LI io o de PKA, 2-6h após o iníci o da memória (aquisição) é altamente
, . , . I'
re ssona nclll rnagne uc u uncmna . , I (I'Mi' }') I" " . n""
vr r. ~ s s a s iccrucas I .. u.. "111 inulre ,t receptores dopamin érgicos tipo D1/D5, noradrenérgicos do
. - h 'li d ' - .' . h uunto l'ada 11 :/in ente, serotonin érgicos tip o /A. Os dois pr imeiros estimul am e os
a at rva çao meta o ca e um a ou nu tra rcgiao uo ce rc 1'0 cnq ,
. ' d 'um ou s inibem a enzima adeni/il cic/ase, que produz AMPc, o cotetor
_ a nima l o u humano - es tá formando ou reco rda ndo mc mo n as l "
para a ação da PKA. Ass im , indiretamente, os receptores D1 e p
, ' I slll
tipo , rela tivas a um mo me nt o em q ue o individ uo não se e ncon tra n l.: s~ ' ',' 02 serotonérgicos IA inib em a atividade da PKA, levando a uma
não me de m, po rem, , os pr oce sso s me ta ho' I'ICOS CI1VO·1 VluOS. '.1 Á s.'S'I'n1. a uni uma depressão da consoli daçã o da memória resp ecti vamente.
do logia. re a Ime nte ap rop n.au.1 a pa ra a an a' I'Ise dos proces sos me l l'....'' ' lllarcsd:l
56 I Iván Izq uierdo Memó ria I 57
çfio n u da co nso lida ção lias me mó rias, o u de ou tro s as pec tos de s l'l~ i • . ansiedade e ao estado de ânimo . Ve re mos esse aspecto
n1 U de
" .~, c "l ei
çâo d a a ná lise bioq uímic a detal hada e da fa rmaco logia mu leculaL m mo i I ' [tulo 6. () 5 passos 1-4 e 7- 10 foram todos co rroborado s por
,p .. • . - d
acima . Inl'm'II'S
, . "nocautes o u tru nsgcruco s e m que a exp re ssao os
O result ado das experiê ncias b ioq uírnicas e fa rmacológicas /molecular rn para um ou mai s rece ptores, e nzi mas o u fat ores me ncio na-
a fo rmaçiio da s me mó ria s no s levo u a de te rm ina r co m ba stan te preci. IS receplO n;~ s NMDA , da PKC, CaM KJ I, d a PKi\ o u o C R E R)
qu ência de passo s molecular es subjace n tes it conso lidação das ml.:n1"lriulo, li modificada (ve r hih liografia em lzqu icrdo e Medina, IlJ97;
~ ... 1 cFOS
S,\es processos não é; ao po n to des ta última se r, em muito s
nte incompatível com a oco rrê ncia simultâ ne a de uma potc n-
l1fação .
as de me mória que a pa re nte me n te ta mb ém utilizam a se -
s hipocampais descritos no Q uadro 3.2, h á trê s que são muito
1odelos an imais:
III
'I !!
58 I Iván Izq uierdo Memória I 59
água (" Iahirin to aq uá tico de Mo rris" ) o u n um labirinto gera lme n te de niS010 S que lhe s p ermit em d e sempenh ar fun ções pl á sti ca s . D e no mi na -se
mad e ira , de v ários bra ço s. plasticidade o co njun to de pro cessos fisiológicos , e m nível ce lula r e mol ec ula r.
3 A me mória de reco n hecime nt o , ljue r de obje to s, quer de o utros ani ma is que expl ica a ca pacidade das cé lulas ne rvo sa s de mu d ar suas respostas a de te r-
d a mesma espécie, q ue é o mod elo de uma fo rma de me mó ria q ue falha min ad o s es tí m u los co mo função d a expe riê ncia . E le t ro fisio logica mc n te , a
mu ito na do e nça de Alzheime r. Co loca-se um rat o o u um ca m un do ngo plasticidade se ma nifes ta co mo LTP o u LTD . Co rnporta mc nt a lrnc ntc , a travé s
na prese nça de do is obje tos dife ren tes. nu m ambiente re st ri to . O a nimal da aljui sição de um a pre ndi zado e da for mação de uma me móri a .
p assa um tempo mais o u meno s igual exp lo ra ndo ambos objetos. Nu ma
seguin te ses são troca-se u m de lcs po r outro. O a nima l dedica sua explora-
ção pre fe re ncial me nte ao o bje to novo : reconhece o q ue fico u na caixa
Int e ra ç õe s do hipocampo com outras área
an te rio rme nte co mo "já visto" . O me smo pod e se r fe ito usando o utros
cere bra is na formação de memórias
an imais d a me sma esp écie e m vc» de obje to s: o ra to o u ca m und o ngo é A rq,'üi o CA 1 do hipocampo é a principal pro tago nista da form ação de memóri as
expo sto através de um vidro a o utro ra to o u ca m undongo e ga sta cer to declarat ivas e m ma mí feros (Izq uie rdo e Me d ina , 1997; Izq uicrdo ct aI., 20(6) .
tempo che ira ndo -o o u se apro xima nd o de le . Se, num a se ssão seg uin te, Por ém, ao contrár io do que ocorr e na pot e nciação o u na dcprcss âo de long a
I o mesmo "visitan te " fo r a pres e n tad o , o an ima l () explo ra rá meno s, por- duração, no re la tivo ú memória , não a tua isol ad a do re sto do cé re bro .
q ue o reco nhece . Se o a nimal "vis ita n te" fo r ou tro , u a nima l "res ide nt e" Dent ro do hip o campo, CA I e mite fibras excitat órias a uma região vizinh a
.
o
'" I:
;i
,
;1-.
I"
.1
o explo ra rá inte nsa men te po rq uc se d á co nta de q uc e le é novo (C la rke
e t a l., 20 10).
chamad a subícu lum q ue , por sua ve z. e m ite fibras excitat órius q ue faze m sinapsc
com cé lulas do vizinho có rt ex cnto rr inal. Es ta, por sua ve z, e mite ax ónios ao
f!J'/u s d enlalus. que projet a a o utr a região de nominad a CA3. c ujo s ax ônios faze m
11 .
Porém, em nenhum a de ssas ta rd as foi po ssíve l che ga r a co ncl usões tão com- sinupscs cxcitut órias co m as cé lu las piramid ais de CA 1. Este circuito fo i de scrit o
p le tas co mo as do Q uad ro 3.2 e m termos do co njunto de processe s e nvolv idos e pela pr ime ira ve z pel o gra nde ne uroa na to mista e lite rato espa n ho l do n Sa ntiago
sua seq u ência det alh ada. Isso se de ve ao fat o de ljue. se ndo as scss ôes de aq uisição Rarn ón y Cajal, no inicio do séc ulo XX; se u co nhecime nto mai s de tal hado prové m
I longas o u re pe tid as. mistura m-se nelas di fe re nt es fases da co nsolid ação , ou ent ão de pe squisas de vá rios lab oratórios de muitos pa íse s na segund a met ad e de sse
!: a aquisição co m a consolidação e/ou a evocação (Rose , 1995; Izquic rdo e Medina. século. Estudo s rece ntes evide ncia ra m que o circ uito int e rn o do hipo carnpo ,
I• i , I
1997; Izq uie rdo e t a I., 200h) . CA l-eSubículum-e-Có rtex c n to rri nal-1GY11ls denlalIlS-1CA3-1CA I (F igura 2A)
.;! A ta refa d e recon hecime n to de obje tos e stá sendo cad a vez mais ut ilizada é funcionalmente ativo e ca paz de reve rbe ra r mu itas veze s por segundo e m con -
,.
I co mo modelo expe rime ntal, po rq ue não e nvolve ne nh um a estimu lação avc rsiva, dições fisiológicas (ve r lzquierdo e Medina, 1997) . Na ve rda de . po de -se afirmar
!I e porque um mesmo a nima l pode se r utilizad o várias veze s, va riando o s objet os qu e CA I não é mais do que um co mpo ne n te de um circuito funcio na l que repre-
e m ca da oca sião . sent a um ve rda deiro siste m a, o siste ma hipoca mpal. Co mo men cionado acima,
,. vários e leme n tos deste siste ma (gy/Us den tatus, CA'1) são tam b ém ca pazes de evi-
o .
denciar plasticidade, pelo menos sob a fo rma de potenciação de lon ga d uração .
Plasticidade neuronal As Figuras 2. 1, 2.4 e 9 .1 ilustr a m algumas das principais co nex ões ex trínseca s
e memória ~ - __ ~ _ -_- ~_ c,, do siste ma hipocarnpal; a última delas já mos trando se u prej uízo nu doe nça de
A ex plicação mais prováve l pa ra o uso r Plasticldade .é:o conjunta de PtO,:· A1zheimcr. O córtex e n to rr ina l e mi te fibr as ao gyr us dc nt a tus l ' rece be fibras do
suhículum. A lé m di sso , o có rtex c n to rri nul po ssu i, po r sua vez, imp orta n tes cone-
da seq uê ncia d e meca nis mos do Q ua- i cessosfisiOió~ícos .em n(vel.celu-
d ro 3.2 pa ra a conso lida ção di: muito s lj3re .molec ular; que explica a ca - Xôe s alc rc n tcs e c fe rc ntcs com o có rtex pr é -fronta l (o nde se pro ce ssa a me m ória
tipo s de memória é q ue muitas cé lu las paeídadades Células nervosas de de trabalh o ), os c ór tices associ ativos puriet nl, o ccip ita l e cing ulado an te rior, c
ne rvo sas, e n tre e las e m pa rtic ula r as mudar suas respostas a determi- COm o restante do córtex do lobo temporal. A lém do qual, tam b ém exis te m nume -
cé lulas pi ramid ai s d a região C A I d o nados estimulos. rosas int crconex ôc s horizontais e ntre as d ive rsas área s cn rtieais: do pré-Irontul
hipoca mpo, tê m um conj unto de rnc cu- para o parictal. de ste para o tempo ra l, e tc.
i" .
, .'
I!.:
"
i
:j ;
! A inte rv e n ção se riada do s vários proce ssos mo lecula res su bjace ntes à co nso - por sis te mas vinculado s ao nivel de a le rta, à an sied ade e ao s es tados de ânimo é
,
lidação das me m órias, em CA I, me ncio nad a no Q ua d ro 3.2, a plica-se de fo rma exe rcid a so bre e ssas á re as, ao mes mo te mpo qu e no hipocarnpo.
rigo ro sa ú es qu iva inibitó ria. Mas a maio r parte d as evidências ind ica q ue é esse n-
"I!; cialm ente a me sma nas mais d iversa s for ma s de apre nd izage m c me mó ria (Ca rew,
1996; Izq uicrd o e Medina, 1997) . Varia ligei ra mente se gundo a tar da a nalisad a,
A base biológica da formação das memórias
ma s n ào na sua essê ncia : e m alg umas situa çócs, a fase de pen de nte de CaMKJ I Don Santiago Rarn ón y Cajal po st ulo u, e m 1893. qu e o ar maze na me nto d as
l: mais longa o u mais breve ; em o u tra s, os dois picos de interve nção da PKi\ memó rias obed ece a a ltera ções morfo lógicas da s sina pses e nvo lvidas em cad a
e stão mais próximos o u dista nte s (lzq uicr do e McGa ugh, 2(00). Mas, nas d iversas uma de las. As alt e ra ções, suge riu Cajal, pode ria m co nsistir e m a largame ntos ,
i formas de plasticidade, part icipa o co nju nto dos pro cessos bio q uím ico s men ciona- estr eit ame nto s, bifurcações o u o utras mud anças e strut ura is d as sina pses. O s áb io
ii dos no Q uad ro 3.2, q ue são parecidos aos da pot en cia ção de lo nga duração espanho l mio via, rac io na lme n te, possibilid ade de que pu desse have r câ mbio s
;1"
I
(Q uad ro 3. 1), ai nda q ue ne m sempre na mesma sequ éncia rigorosa . tão profundos como o s prod uzidos pe la fo rmação de mem ó rias. se m que houvesse
uma alte ra ção an atômica e fisiológica qu e o s suste n tasse.
De fa to, na s me mó rias ma is simples, muda , co mo vimos, na d a me no s qu e a
Saturação e oclusão resposta a um determinado e stímulo; ou sej a, mud am as conexõe s funcio na is
Isso faz com q ue , de fat o, o uso desse conjun to d e processo s mo le cul ar e s pa ra entre o indivíd uo c o mundo q ue o ro de ia , e ntre as vias ufe re n tc s que pe rmite m
const ruir uma pote ncia ção d e longa d ur a ção o u um a me mó ria d e te rmin ada, na a percep ção e a an álise do s e stímulo s, e as vias efe rc ntcs q ue levam as re sposta s
me sma scq u ência me ncionada no Q uad ro 3.2 o u e m outras, po ssa sat urar o s do or ganismo. Na s me mó rias ma is co mplexas (a me mó ria se mâ ntica de tod a a
siste mas me tabólicos d as cé lulas piramid ais de CA I e imped ir a fo rma ção con se - medicina, por exe mplo, o u a de uma lon ga pa rtit ura mu sical) mud a m uito mais:
cu tiva de outra memória o u de outra po tenciação (C larkc ct al., 20 10). A se nsação mud a, na re lação e n tre cad a se r e o universo , nada me nos que a base do co nhe ci-
quase física q ue todo s ex per imen ta- mento que o os p rimeiros tê m do segundo .
:ji: mo s algu ma vez de q ue , ao acabar Como vimos. a a tivaç ão plás tica de algumas vias ne rvo sas envo lvendo ()
d et e r min ad a a tivid ad e in te le ctu al, hipo carnpo e su as conexõe s. po r meio de um a sé rie de passos moleculare s, causa
A pré-exposi ção a urnapotencia- co mo um pe río do de es t ud o intenso a altera ção primeiro func ion a l (adesão ce lula r) c , finalme nte , mo rfo ló gica d as
',' I çáo de longa duração oua um ou um a a ula, " não ca be ma is nad a e m sinapscs. Que m mais e st udou esse s fe nô me no s foi o no rte -amer icano Willia m
I ·1 : aprendizado alimentício compro-
I. noss a cabe ça ", corrcspo nde a um fato Grccnough ( 1985).
mete a capacidade do sistema hi- re al. A pré -expo sição a uma pote ncia- O co nce ito atua lme n te vige nte é o de qu e Rurn ón y Caj al, há ma is d e u m
pocampal de aprender outra tarefa ção de longa du ra ção o u a um ap re n- século at r ás, tinha raz ão . IH co nsen so e ntre todo s os pes q uisad or e s da área de
, ,I
.s imilar ou diferente durante vários dizado alime ntício comprome te a ca - qu e, realme nt e, as me mó rias co nsistem na modifica ção de dete rminad as sinnpsc s
I minutos ou horas. pa cid ad e do siste ma hipoca rnpal de de distint as vias, qu e inclue m o hipoca rnpo c suas pri nc ipa is co nexões. Co mo
,1 . :1
I ·
! a pre nde r o utra tar e fa similar ou d ife - veremos no Capít ulo 5, as áre as e nvo lvidas na evoca ção d as mem órias decl ara -
re nte du ran te vário s minutos o u ho- tivas são justame n te es tas. De um po nto d e vista operacional, as me mó ria s nad a
ras: usa-se, cad a vez. uma porce nta- mais seriam do qu e a lte ra çõe s e strutur ais de sinupses. dis tintas para cada me -
ge m ba stan te gra nde d a "cn pa cidade " bioquímica " instalada" do hi pocamp o . mória ou tipo de me móri as.
Essa nece ssida de ljue no s invade , de pois de du as o u tr ês a ulas o u pa lest ra s co nse- (.: fúcil entende r q ue as mo d ifica ções est ru tura is d as sinapscs ca usur áo a ltc ru-
I'
1;( cut ivas, de que no s é necessário sa ir um pouco, "e sticar as pe rn as" e to mar um çócs funcionai s ó bvias. Por exe mplo, ao se ram ificar uma tc rmina çáo axónica o u
, 'I
cafezinho antes de encarar a próxima aula ou palestra , co rresponde a um fenô me- Umdendrito, haverá, de fa to, novas sinupses. Ao se a largar 11 supe rfície da termi -
no re al, não imaginá rio . nação pr é-sin úpt íca o u a da áre a dc nd rítica que es ui il sua fren te . a ume ntará a
Vere mos no Ca pít ulo 5 q ue essas áre a s cor tica is par ticipam tamhé m da evoca- eficiência de ssa sinapsc , Se. e m vez disso , oco rre um es t rei tamen to dessas úrc us,
ç ão d as me mó rias e, no Capitu lo ó, qu e boa part e d a mod ula ç ão da me mó ria havt:ni um a d iminui ção da efici ê ncia dessa sina pse .
: l
i
< :
sobre o u tro s re ce p to res glu Lamaté rgico s) e so b re libe ra ção de gluta ' urô nio s, tanto no hipocarnpo como fora d el e .
a gind o so bre G A P-43, a via N O / P KG ) c , ma is ta rd e , de slocadas cs ~a l , re o pliming mencionad o s no ca pí tu lo a n te r io r suge re m, po-
. S,l ~
ao n úcleo ju ~ t () com as.E R Ks, e stim ul.a nd o.fa to re s de tra nscriçãn que, 'ijn possível reconstruir e ev ocar memó ria s co mplex as a part ir
mRNAs, estimula m a síntese de pro te ina s sma pse -espeeífieas : ~ /nLl l: s till ia s c sino pse s do que se po de ria pe nsa r. Cert a m e n te , meno s
pela s e nzim as mencionada s e pe lo fo sfo ino sito l-3-fo sfa Lo , po r uma ati Itízados na aqui sição inicia l. A a presc nta çâo d e u ma figura
siste ma mTO R de pe nde nte pa ra a s íntese p ro téi ca ext rarribo ssomal. ('crU uma imagem permite muitas ve ze s a rec onstrução d a imagem
ca d a pad rão e specífico d e a tiva çâo siná ptica no tre ino de ve e stimular co m e ce com a reprodu ção e a co nse q uc nt e evo caç ão d e um
d ife re n tes . In icia lmen te , e d ura n te as prime ira s 16-24h a pós o t érrnin uma longa partitura mu sica l a pa r tir d e "d ica s" . A pa lavr a
tre ino , pr ovave lmente a s me mó r ias são sus te n ta das po r glico pm ll' inas sin ulta r na rccorda çâo d o I Iino N ac io na l comple to , co m m ús ica
d as e m CA l o u rc gi ôcs eq uiva le nte s de ave'>o u inse tos, inco rp11rad as oblíq ua ou arredondada pode traze r il Lona um ro sto e Lo d o s
brana s sin ápt icas. Po steriorm e nte , acre d ita-se em a lgu m p ro cesso aut o u um quadro complexo .
rativo e nvo lve nd o tr ansfo rm açõ es d o DNA d as re giõ e s envo lvid as. por m nie ntc lembrar aqui lju c isso não implica q ue a d ica con te n ha
o u o u tra s mud a nças covule n tc s. De fa to , na me d ida e m q ue a idad ria evocada. Para poder s ê-lo, ela deve se e nco ntra r e m a lguma
d ete ct a-se mais metila ção no DNA de hipoca rnpo de a n ima is de cxpcri m e lha n tc il utili zad a na aq uisição de ca d a me mó r ia; se n ão . a
suge r ind o q ue isso po ssa ser co nscqu ência de se u uso na Iorrn açâo rcit lent ória.
me móri as. E m a lguns tipo s d e a p re nd izado e na fo rmação das corres
m e mó r ias pode se r lj ue in te rve n ha LTD e m vez de LTP: luí evid ência
I li:!i ~ e sse sej a o caso de alg um as me mó rias fo rm ad as no ce re belo . po r cxc rnpl
<li in fo r m açõ e s so bre os muito s tipo s d e mo d ificações es truturais e luncion
o co rr e m na sinupse devid o a se u uso o u falt a de uso , e principalmente d
secu nd ária s à Iormaçâo d e me mó ria s, é ú til co ns ulta r a bib liogr a fia rnai
'i te no sitc E n tre zP ubM ed o u o utro co m ace sso am plo ao sis tema d a Medl
inte r ne t. As a lte ra ções d as d ive rsas sinapses d e cad a u m a d as re des q
p ócrn ca d a memó ria de termina m por q ue os ind ivíd uo s pa ssam a n:spo
m a ne ira diferente a u m e stím ulo q ue inicia lme nt e e ra ne utro o u L< ' U ~
re spo sta s. Pa ra as me mó r ia s ma is co mplexa s, o nde se lê " cs tim uln", J~
"co nj untos" o u "co mplexos" o u "co nste la çôc s" de estím ulo s; e ~lI1Je s.~ I
ta " d eve -se le r " re spostas", o u tamb ém "formas d e pensar", "a u tlides ou
cime n to s" .
Q ua ntas sina pscs se rá preciso mod ifica r pa ra q ue u m indivíduo possa
uma d ete rmi nad a me mó ria '! Obviame n te, isso d e pe nde r á do tipo de I
, . . . . . . . . " 'L. 1' 1'u: nao d
Se lo r uma rncrnon a re la tiva me n te sim ples (e sq uiva 10 1 1 1 () •• _
l i; uma p la ta fo rm a, nao- bo ta r os dedos na to mad a ) , u ns po uco ' s' m i l.hll l' ~J
. .. h ' I · I' . ' c' ''' ) Sl' !llr um.
e m se is o u se te rcgio e s core nus P O ( c ruo cxp tea r o pro ce "'.... . ' .
t't r a) (·n\·olv
sc ma• n uca
. ' .
comple xa (Lo da a med icina, to d a um a pa r u uru i . _ "
,_
bilhó cs de. "
sm npsc s, e m rnurtas a rc as cc rc I1ra lS,
' O ss n
nuúme ro" Illíl' ...n (l l x.
C'
0<1 I
na s ma is ta rde (fa cilitação r etrógrada ;
ve r McGaugh , 1966,2000; l zq uic rdo e
Medi na, 1997). " CD
Muitos Iatorcs co rnport ame nta is podem ta mbém interferir na consolid ação.
Por exemp lo , a expos ição a um a sit uação nova c , portanto , chamativa , 1 ou 2h
depoi s d a aq uisição de uma determinad a me mória, pode in te rfe rir se riame n te I ---:-:-:-
ML-D - I
na gr avação d esta . O efe ito a mné sico retrógr ado d a novid ade é de vido à int e rfe-
rê ncia no s p ro ce sso s ne uroq uim ico s d a co nso lida ção e m curso . gura 4 .1
Depois de passar pela memória de trabalho (MT), a informação se armazena formando
O pe ríodo em q ue ocorre a co nsolid aç ão d as me mó rias de longa d ura ção é,
memórias de curta duração (MCD ) e/ou de longa duração (MLD) , Em principio,' a
portanto , l ábil e susc e tíve l a nu merosas in fluê ncias, muitas d as q uais pode m se r primeira poderia corresponder a uma fase inicial da segunda, Porém, através de
ne gativas. vários tratamentos , pode-se suprimir a MCD sem alterar a MLD (ver texto). Em
No entanto. tod o s sabe mos q ue q ualq uer anima l. inclu sive o s humano s, é consequência, a MCD obedece a um sistema separado e paralelo ao da MLD ; seu
ca paz de lemhrar pe rfe ita mente bem co isas ad q uiridas min utos o u ho ras a ntes. papel é manter a memória "vi va" enquanto a MLD está sendo formada. Os retângulos
que representam a MT, a MC D e a MLD não estão desenhados em escalas proporcio-
o u seja, no período e m q ue essas memórias ainda nã o est ão he m c defi nitivam ente
nais à sua duração, que é de segundos ou poucos minutos para a MT, de 1 a 6h para
I, co nso lid ad as. O que mantém a ca pac id ade mnemônica Iuncionando e nq uan to
a MCD, e de muitas horas, dias ou até anos para a MLD, Doze horas após a aquisição,
as me mó rias n ão es tão a ind a be m for mad as'! inicia-se a intervenção do (s) mecanismo(s) que regula(m) a persistência da memória
;1 U m d os pa is da Psicologia mo d e rna , o inglê s de o r ige m e stadunidc nse descritos no Cap ítulo 6. Há pelo menos dois mecanismos desse tipo : um , que age
' i'.
:~ Willia m J a rne s, propôs , em l R90, q ue de ve ria have r um siste ma secundá rio de 12h depois da aquisição; outro que age reiteradamente cada 24h depois da aquisição .
me mória ljue man tivesse a ca p ac id ade de record ação do a n imal opera tiva e n- Ambos são bioquimicamente diferentes e agem independentemente do sono.
I: quan to a formação da memória primár ia ou principal não estives se aind a co mple-
ta . No sécul o XX, a me mória se cu nd á ria propos ta po r Ja rnes fo i de no minad a
memória de curt a dura çào, e a me mória pr incipal o u primá ria , memória de long a
dur a ção (McGa ugh, 2000) . longa duração leva n tada po r Williarn J ames (1890) só pode se r dada por um d os
Ad mi tid a a nece ssidad e da ex istência de um siste ma de me mória de curta dois seguintes expe rime n tos:
dura ção (a té 6h ) e nq u an to a me mó ria de fin itiva o u de longa d ura ção não está
realm en te "acabad a" (6h o u mais de pois ele adquir ida ), su rge a seguin te pergunt a- • Um experime n to que demonstre que é possíve l su primir a memó ria de
-chave , que mobilizou a m uito s ne urocientistas e psicó logos durante mais um curta duração se m oca sion ar um a perda d a me mória de lo nga d ura ção
séc u lo : a me mó ria de cur ta d uração é uma fase da me mó ria de lo nga dura ção o u para um de te rm in ado aprendizado num mesm o suje ito .
é um fe nô me no fisiológico p a ra le lo e diferente (Figura 4.1) ? • Outro q ue demonstre q ue isso é simplesme nt e imposs íve l.
A re spo sta a essa q uest ão é fund a me n tal, porque a int e rpre tação d a constru-
ção d as me mó rias e a de nu merosos qu ad ro s clínico s em q ue ocorre m d istú rbios I~ evidente que , se (a) fo sse ve rd adeira, a me mória de c ur ta d ur aç ão se ria
de um ou o u tro tipo de me mó ria, seri a m comple tame nte dife re nte s e m ca da Um processo inde pe ndente da de longa duraç ão . a mbas se riam pa ra le las dura n te
ca so . A re spo sta à q ues tão d a inde pe nd ênc ia o u n ão da s memó rias de curta e de certo tem po, até a consolidaç ão da segund a ( Izqu ic rdo e t ul., 1991') .
II
68 I Iván Izqu ierdo Memória I 69
Nas memórias não associa tivas (ha b ituação ) e nas de p rocedimento s, assi m pari ct al po sterior, que sup rime m a memória de curta d uraç ão se m reduzir a
co mo no priming não se distingu e uma memó ria de cu rta duração, ne m do ponto mem ória de longa duração (Izq uie rdo e t a l., lYYK, 1999) (Rgura 4.1) .
de vista co mp o r ta me nta l, nem do ponto de vista neu roquímico . Por o u tro lad o, numerosas obse rva ções clínicas fe itas entre 1970 e 20 00 ev i-
denciaram qu e , de fa to, há sindro mes neurológica s e situa ções de in te re sse médi-
co nas q uais ocorrem falh as se le tivas da memória d e cu r ta d ura ção , se m co m pro -
Separação da memória de curta duração
mctimento a lgum da memória de lo nga duração. A sit ua çâo ma is co rriq uei ra é
da memória de trabalho
a da ve lhice normal: o s idosos apresent a m m uitas ve ze s falhas cla ra s na me mória
U m erro comum e n tre os psicólogos norte -americanos é a co nfusão e ntre memó - re cente , se m a lte ra ções impo rta n tes das memórias mais antigas. O ut ra. clássica ,
ria de traba lho e memó ria de cur ta d ur aç ão . é a da de pressão : o paciente tem d ificuldade e m le m bra r aq uilo q ue aco n tece u
A memó ria de tr ab a lho , co mo foi há poucos m inu tos o u poucas ho ra s, mas é ca paz de lembra r memórias de dias
definida no Ca pítu lo 2, é to talme nte di - o u a no s at rás mu ito be m, pri ncipa lme nte se e ssas me mó rias mai s vel has são de
ferente do s demais tipo s de memó ria. índole tr iste o u nega tiva. M uitas ve zes se obse rva um q uad ro semel ha nte na
Um e rro comum entre os psicólo-
Ce rta me n te é curta, e dura de sde pou- co nfusão menta l prod uto de a lgu m aco ntecime nto es tressante. A perda da memó -
gos norte-americanos é a confusão
co s segundos a té , no máximo , 1 a 3 mi- ria re cent e co m prese rvaç ão d a me mória de longa d uração é p at o gn ornônica do
entre memória de trabalho e me-
nuto s. M as o princip al é qu e se u pa pe l quad ro clínico qu e se denomina delirium , muitas vez e s ocasio nado por ca usas
mória de curta duração.
não é o de fo rm ar a rq u ivos, ma s sim o o rgânicas e habitualme nte bast ante reve rsíve l. F inalm e nte, na litera t ura do s a nos
d e a na lisar as in fo rm aç ões que chega m 1970 e 1980, há descr ições de síndro mes sec und árias a lesões co rt ícu is variadas
const antemente ao cé re b ro e co m pa rá - nas qu a is há um a fa lha seletiva d a me mó ria recente de tipo ve rba l, co m pr eserva -
-las às existe ntes nas demai s memórias, declarati vas e proced u ra is, de cur ta ou ção da me mória de lo nga d uração , tanto ve rb a l q ua n to d e ou tro s tip os (Izq uie rdo
longa duração . A memó ria de tr abalho nã o te m consequ ências bioqu ímicas men- et al. ,1 999).
surá ve is q ue não se jam as muito breves q ue deco rrem a cada momento da ativid a- Os resul tados de no ssos experime n-
de e lé trica de qualquer neurônio . tos e de a lguns o u tros a u to res (p rinc i-
A me mória denominada de cur ta d ur ação (Izquie rdo e t a I., 1999; Mc G augh, palmente Ca re w; ve r refe rê nc ias em A perda da mem ória recente com
2000) es te nde -se desde os primeiro s se gu ndos o u min utos seguin tes ao a pre ndiza - Izquícrdo e t a l., 1999 ). j unto co m a evi- preservação da memória de longa
do até 3 a 6 ho ras; q ue r d ize r, o te m po que leva a memó ria de longa duração dência clínica. sã o ca tegórico s. D as duas duração é patognomônica do qua-
pa ra se r e fet ivamente co ns truíd a. Como ve re mos a se guir, as ba ses d a me mória po ssihilid ades levantad as po r W illiam dro clinico que se denomina del/-
de cur ta duração são essencialme n te bioq uímic as e d ife re ntes d as da memó ria Jarncs (processos paralel os, pro cesso s rium , muitas vezes ocas ionado por
de longa duração . sequenciai s), a pr imeira é a ve rd ade ira . causas orgânicas e habitualmeme
A memória de trabalho não só oc upa o utras es tru turas ne ur ai s (funda men ta l- Qual é a base fisiol ógica e molecula r bastante reversível
I ' j me nte o có r te x pré-frontal), co mo ta mbém te m uma farmacologia mol ecula r da memó ria de cu rta duração ?
tot almente d ife rente d as d a memória de curta o u de longa duração (Izq uie rdo H á v ário s pontos a co nsiderar.
et a I., 1999). Em prime iro lugar , a memó ria de curt a d uração de pe nde do prévio pro ce s-
Il sa me n to d as informações pel a memó ria de trabal ho , assi m como a me mória d e
longa dura ção . A me mória de tra ba lho , cuja p rincipa l ba se un a tomo- Iisio l ógica
Separação da memória de curta duração
é o córtex pré- fronta l. p reced e ao s o u tro s do is tipo s de me mó ria, e de termina
da memória de longa duração
I; Numa sé rie d e expe rime nto s publicad a e ntre 1998 e 1999 , meus co lab o ra do re s
e cu de mo ns tramo s que há pe lo me nos 16 tr a tamentos diferent es, ad minis trado s
qu e tip o e quanta info rmação irá se "fixa r" nos siste mas de cu r ta e de lo nga
du raçiio.
li rn segundo lugar, a memória de curt a duração é se le tiva me n te afetada por
que r na região CA I do hipocarnpo, que r no có rtex cntorrinal, que r no có rt ex muito s tra ta me nto s ad m in istrados nas me sm as árc us qu e processam /I rncrn órju
70 I Iván Izquierdo Memória I 71
de longa d u ração (Ca p ítulo 3) : a região CA I do hipo carnpo , o cór tex en to rrinaI men te qu e a me mó ria de cur ta duração c a d e lo nga d ura ção não são partes de
e o córtex parie ta!. Por tan to, as mesmas área s es tão envolvid as no p rocessame nto um mesmo pro ce sso, e sim duas sé r ie s d e pr oce sso s para lelos c ind epe nd en te s
de cada tipo de memória. e mbo ra a través de meca nismo s clara mente difere n tes. (Ouad ro 4 1) .
Em terceiro lugar, o conte údo d as me mór ias de curta e lo nga d ura ção é Assim co mo há e le men tos e m comum entre o s mecanismos da po te nciação
basicamente o mesmo: se ap rende rmo s de cor um de te rminado texto ou uma de longa d ur ação e a memória de longa du raç ão, há també m algu ns (e mbo ra
figura. evocaremos esse texto ou essa figu ra e nã o um ou tro qua lq uer, tan to I ou po ucos) e leme nt o s e m co m um e ntre a me mó ria de curt a d uraç ão e um tipo
3 ho ras mais ta rde (memória de cu rt a d ur ação ) como no d ia seguinte , se nos abo rtivo de LTP deno mina do "de curta d uração" (ve r lzquie rdo e t al., 1999): a
le mbramos dele (me mória de longa duração ). Isso indic a que a informaç ão inde pe ndência de am bas em re lação li interve nção d e várias proteí nas cina se
afc re n te ao s doi s sistemas mne m ônico s é a mesma, e a respost a. ta mb é m. Em (vá rias isofo rma s da PKC, CaMKII ) e à a tivação tardia de CREB nucle ar c da
o ut ra s pa lavr a s, a in fo r ma çã o aferente (o s estím ulos condici o nados e sín tese pro tc ica co rre sponde nte . Porém, há várias d ife renças impo rtante s e ntre
incond icionados) chega a través d as me smas vias se nso ria is, c a res po sta ou as a memória de cu rta du ra ção e a po te nciação de lo nga d ura ção : a) a prime ira
respo sta s corr espo nd e ntes são emitid as pelas me smas vias moto ra s o u cf e toras. ocorre na a usê ncia de me mó ria de longa d ura ção: a segun da só pode se r detectad a
A d ife re nça e ntre os do is tipo s de me mó ria (de cur ta e de lo nga d ura ção), que median te a supressão d a pote nciação d e lon ga d uração : h) a memória el e curta
faz com q ue sejam sensíveis a difere ntes trat amentos e res pondam a processos duração é extre mame nte depende n te d as isoformas o. e/o u ~I I d a PKC e da
d istinto s, n ão re side no input (pe rcepção e an álise do texto ou da figur a) ne m no
output (a evocação do texto o u d a figur a e se u significado).
A d ifere nça en tre as memó rias de cu rta e de longa duração re side não em
seu co nte údo co gnitivo , qu e po de ser o me smo. ma s no s mecanismos subjacentes
a cad a um a de las. Q ua d ro 4 . 1
I~ imp o rtante salie ntar aq ui que a met odo logia aplicada ao estudo d a separa- Mecani sm os da fo rm ação da m e mári a de c urta dura ção
çáo das me mórias de cu rta e de lo nga dur ação não pode inclu ir análises b íoqu ími-
cas no hip ocampo ou em o utras estruturas. co mo fo i feito no es tudo d a me mória 1. Em CA1, ativa ção de receptores glutamatérgicos dos tipos AMPA , N MDA e
metabotrópicos, cuja ação é modulada positivamente (facilitada) por receptores
de longa dura ção (Ca pít ulo 3, Q uadro 3.2). A<; altera ções moleculare s que aconte -
colinérgicos muscarínicos, dopaminérgicos 01 e ~-noradrenérgicos; e negativa-
cem na região CA l o u e m outras áreas, e q ue são subjacente s à co nsolidação,
mente (in ib id a) , por rec eptores serotoninérgicos do tipo IA.
ocorre m sim ultane ame nte à própria existê ncia d a memór ia de curt a dura çào, e
não podem ser dir e ta mente re lacio nad as a e la, ne m para incluí-I as, nem para No có rtex entorrinal, intervenção de receptores qlutarnaterqicos do tipo AMPA,
excluí-Ias. O único método po ssível par a a análise dos mecanismos mo leculare s mas não dos restantes tipos. Mod ulaç ão positiva por receptores serotoninérgicos
IA (oposto ao que ocorre em CA1).
da me mó ria de cur ta d uração e m uma ou ou tra estrutur a cerehra l e nvo lve o
emprego de micro injcç ócs localizad as nessas estrut ur as de drogas co m açóes No córtex parietal posterior são necessarios também receptores AMPA seleti-
e spe cíficas sobre um o u o utro d eter minado rece p tor o u uma e nzima . vam ente para a formação de memória de curta duração.
Segue m à con tin uação , no Q ua d ro 4.1, os passos moleculare s da Iorrn a çáo 2. A formação da m em ór ia de curta duração é inibida por receptores GABAérgicos
d o tip o A nas três estruturas mencionadas.
da me mó ria de curta duração.
3. Contrariamente à memória de longa duração, o córtex pré-frontal não participa
O bse rve -se q uc há algumas sim ilarid ades, ma s há também mu itas d ifere nças,
da formação nem do desenvolvimento da memória de curta duração.
e ntre o s me can ismos sim ultâneos d a formação d a me mó ria de curta d ura ção e a
4. No hipocampo e no córtex entorrinal, durante a primeira hora é necessária a
me mó ria d e longa d uração . ativação da PKC. presumivelmente pré-sináptica.
As sim ilaridade s indi cam elos entre ambos os tip os de me mó ria, q ue evide n- 5. Durante os primeiros 90min, é necessária a participação das ERKs e da PKA no
te me n te são nece ssários. d ad o o conteúdo cognitivo idê ntico da s d uas. Ambas hipocampo. Não é necessária a fosforilação do CREB nem a síntese proteica
contêm a mesma info rmação a lcrcntc e cícrcntc; o input e o out pu t d as mem órias no hipocampo.
de curta du raç âo e de longa du ra ção são iguais. Mas as diferenças ind icam clara-
72 I Iván Izq uierdo Memór ia I 73
p ~ot c ína cinase A du r.ante os prim ei ro s lJOmi n; a po te nciaçúo de CUTla hl apontar aqui que es sa propried ad e fa z co m que e la possa
nuo de pe nde desse s siste ma s. lprir seu papel de " alojamento te m po r ário ' da me mó ria. e n-
D eve mos sa lie ntar aq ui que to dos os passos mo lcl:ula res env I . definitiva está sendo co nstruíd a .
. , o VC! I
de crn asc s (to dos os do Q uad ro 3.2, d a con so lida ção d a l\1cm(')ria d a memória de lon ga duração , que mi o se forma sem a tivaçã o
D ura ção . e todo s os do Q uad ro 4.1, co rres po ndente ü Me m(ll" ia de CUr ma mTOR e a subse q ue nte síntese pro tc ica, a me mó ria de
çã o) envolvem por isso mesmo uma altc ra çâo d a funç ão de I)rn teín'l( s," req ue r síntese pr ot cic a c provave lme nte de pe nde ap e na s d a
um a umento dessa fun ção . A s cinascs ca ta lisam a fo sforilaçãn de prol de diversa s vias e nvo lve ndo pro teínas cinasc , se m chegar ao
seja. a transfe rê ncia de um rad ical fo sfa to «(l0 / ) desde uma mn \écul
(ade nosina-trifosfa to) a algum sít io es pecífico de uma pro te ína. Por c
c álcio -calmod ulina cinase II (C a M IU I) tr an sfe re fosfa to da A l I' il
posição R3 1 (Se r IIJ1) d e uma d as pro te ínas co m po nen tes do receptor
t érgico AM PA (G luR l), e co m isso a ume n ta SUa funç ão, que é a de li
mato, permitind o , por uma a lte ração de su a fo rm a. ~I abe rtura de um
Na + e a con seq ucn tc despolar iza çâo do de nd rito . Q uase todas as int
de cinase s e nume ra das nas Q uad ros 3.2 e 4.1 resulta m num a ume nto d
de prot e ínas clave s re spon sáv e is prime iro pe la transrnissüo glutamat é
se g uir, pe la a tiva ção d as vias sinalizudoras llue acaba m a tiva ndo , por p
de sín tese . fa to res de tran scrição envo lvidos na síntese de segme ntos das
nas sinápticas re ce nte me nte est im ulada s, Acred ita -se q ue a torma çáo li
rias envo lve a seq ü ência desses pro ce ssos ( Ka ndc l c Sq uirc , 2IK )(); l/li
al., 20U6).
Alegre , e Kirstin Ecke l-M a ha n e se u gru po , e m Se a ttle , a inve stigar se existe m feira passada para não co nfund i-lo, ao sa ir, co m o lugar e m que o estacio ne i
mecanism os p~)s te r i o res à consoli d ação celular q ue expliq ue m a persistência de hoje, quando chegue i.
a lgumas me mó rias de longa duração po r pouco s o u muito s di as. I:cke \-M a ha n de screveu o utro me canismo , cíclico e circa d iuno , que co nsis te
Med ina , Ca rnma ro ta, e u e nosso s col ab o rad o re s achamos um meca nismo em um a ume nto a cad a 12 horas d a a tivida de d as E R Ks e da Ca MKIl no hipo -
q ue a tua 12 horas depo is da aquisição , a tiva ndo a área tcgmcntal ve ntra l (V "IA . campo a partir do momento e m que certa tar efa de es q uiva é ad q uirid a .
ventral tegm ent al arl'{/) cujo s ax ônios sã o do parniné rgicos e ine rvum a rcgiâo CA I Ne m o mecanismo do BDNF de scob erto por nós ne m o mecanismo circa -
d o hipoca rnpo, e ne le e stimu lam rece pt ore s D I à dopa mina, o q ue ca usa a r ápida dian o descoberto po r Ecke l-M a han gua rda m rel aç ão com o sono o u co m a lguma
sínte se d e BD N F no hipo ca rnpo e sua ime d ia ta libe ração . Do funciona mento fase do so no , ao menos no rat o . Ambos oco rre m igua lme n te quando o treino (a
de sse siste ma re sulta um e vide n te fo rtale cime nto de sinapses hipocâmpicas q ue aq uisição ) é produzido de manhã, q ua ndo o rat o co meç a se u pe ríodo di á rio de
pa rticipa m na rece nte co nso lida ção d essa me móri a e sua pe rsistê ncia po r pe lo so no, o u à noite, quando e nfrenta suas 12-14 ho ras d e vigília. Ao lo ngo do s a nos
me no s d ua s o u tr ês se ma nas mai s. Se , pe lo co n tr á rio , esse meca nismo falha (por te m havido po stula çõe s de q ue o so no o u os so nho s aj uda m a grava r me mórias ,
exe m plo. po r ad minis tra ção de um antico rpo co n tra llDN E de u m inib ido r de po rém há pouca ev idê nc ia re al ne sse se n tid o ; o so no e os so nhos p arecem
sua síntese no hipoca rnpo 12 ho ras pó s-aquisição ou de um a n tago nista de re ce p- irreleva nt e s aos dois mecanism os a té agora demonstrado s q ue re almente regu-
to rcs D I), as me mórias só d ura m mais dois o u tr ês d ias . Em horário s mais tardios lam a persistência d as me mó ria s de longa duração. Co nt udo , tod os sabemos
(24 horas a pós o tr e ino) ocorr em o utros pro cessos bioq uímicos no hipocampo que uma bo a no ite d e so no ajud a a lembra r as co isas do d ia a nterior (o u o utras).
vincu lad o s fi libe ração de BDNF e à persistência: um pico tard io de c-Fos, ho rnc r c um a no ite se m so no pe rturba nossa vida cognitiva . Segura me nte deve exist ir
I a e o utr a s proteí nas . A inibição de sses p ico s di m inui o u a nula a persistência . alguma função do so no, talvez principa lme nte do s sonhos, na de te rmin ação d a
O bservando o gráfico infe rio r d a F igura 4.1, a "loca lização te mporal" desses per sist ência da s memórias; po rém, essa fu nção . a ind a, não fo i de sco be rt a.
meca nismo s é a p a rt ir do ret ângulo q ue re presen ta a MeD. Ass im, depois da fa se de consolid a ção cel ular. qu e d ura desde a aquisição
l I á evid ências indi re tas, ma s m uito cla ras, de que e sse meca nismo funcio na at é 6 horas mais tarde e que ocorre basicamente no hi pocarnpo , dese nca deia m-
tanto em rato s de lab o ra tó rio q ua nt o e m huma nos, com os mesmos inte rvalo s se , ne st a mesma estrutur a, pelo me no s dois pro cesso s que d e te rm in a m a
de te m po, e de que e le fa lha a pa rtir d a met ad e d a expecta tiva de vid a de a mb as persistência das memórias. Ambos se iniciam 12 horas de po is da aquisição ; um
as e spécies: um a no no ra to e 40 an o s no huma no . A té o s 40, os humanos po de m deles e nvo lve a ativação de neurônios do pa mi né rgico s d a V1 A que ca usam pro-
le mbra r m uito be m do no me de um filme visto na TV dois o u se te dias atrás, du ção de BD NF no hip ocarnpo ; o o utro e nvo lve a a tivaçã o de um sistema circa -
,i
I
ass im co mo o no me de se us a tores principa is. De po is dos 40, nossa Iernhra n ça dian o que reg ula os nívei s de Ca M Klr e E R K no h ipo ca m po .
do filme visto há se te di as di minui o u de saparece . No ra to , fa lha a me mória de
I um aprend izado de es q uiva leve a pr e ndi do se te d ias an tes , mas não de out ro
a pre nd ido do is d ias a ntes. A falha po de ser co n to rnad a pe la administra ção de
agentes do pa minérgicos 12 ho ras de po is
d a esq uiva - no rat o - ou do filme - e m
É possível que esse "esquecimen- um h uma no . É possível q ue esse "e sq ue-
to " de memórias mais ou menos cimen to " de me mórias ma is o u me no s
triviais geradas há vários días tenha trivia is ge rad as há vá rio s d ias te nha um
um papel fisiológico, evitando a p ap e l fisio lógi co , ev ita nd o a co nse rva-
conservação de informação pouco ção de informação pouco impo rtan te
importante por muito tempo que por mu ito te mpo que possa int e rfe rir
possa interferir com a mais recen - co m a ma is recente ; se m dúvid a. pa ra
te . mi m é mu ito melhor es q uece r e m q ue
lugar es tacio nei me u ca rro na se gunda-
6
Evocação , extinção
e reconsolidação
das me mórias
Como observo u WilIia m Ja rncs, e m 1890. a ún ica forma de ava lia r as memó rias
é med indo sua evo ca ção .
No mo me n to da evoc ação, () cé re bro de ve recr iar. em instan tes. memó rias
que leva ra m ho ra s par a se r formadas. Às veze s, a evoca ção está inibida por
mecanismos variad o s (" te n ho o nome na po n ta d a língua, mas não consigo le m-
bra r"). mas q uan do eve ntua lme nte essa inibição é supe rada. a evocação ocorr e
rapidamente, às veze s em forma mui to d e talhada . Mais adi an te vere mos várias
das possíveis causas d a inibição tra nsitóri a d a evoca çã o.
ecanismos da evocação:
o ato de reviver memórias
Co mo vimo s no Capít ulo 3, o co nse nso e nt re os pe squ isa do res da á rea é de q ue
as me mór ias são a rmaze nadas a través de mo d ificaçõ es - pe rm an e nt es ou ao
menos muito duradouras - da forma e d a fun ção d as sina pses d as re des neurais
de cada me mó ria. Essas mod ificações res ultam do proce sso de consol idaç ão d a
memó r ia de longa du ração .
Foi també m consenso, dur an te dé -
cad as, q ue no momento da evocaç ão o u I. _._~~
80 I Iván Izquierdo
Memória I 81
do es) seja m a prese nta dos na ho ra do teste . Nã o ba sta ped ir pa ra (J al uno numa
sa la de a ula q ue res po nda bem às pergu ntas d e uma pro va escrita. É preciso Quadro 6.2
ind icar qual é a disciplina so b re a q ua l deverá resp onder, qual é o ass unto des sa M eca n ismos d a evocação da m emór ia d e l o n g a d u r a ç ão
di sciplina e qua is são as pe rgun tas que se deseja qu e e le respo nda. N ão basta
co lo ca r um ra to sobre uma pla tafo r ma q ualq ue r par a q ue ele evo q ue Uma esq uiva Para que ocorra a evocação são neces sários, em CA1, córtex entorrinal, parietal e
cingulad o anterior:
inibitó ria : te rá q ue se r a me sma plata forma na q ua l a pre nde u, de ntro d a mesma
ca ixa de tre ino , se po ssível no mes mo a mbiente, co m a mesma inte nsid ade de 1. Rec eptore s glutam até rglco s AMPA e metabotrópicos em toda s as estruturas
luz, et c. Nâo hasta d izer a let ra "o " pa ra q ue algué m le m bre do Ilino Nacio na l. e, no córtex pariet al e cingulado , também receptore s NMDA.
Ne m se q ue r "ou..." . f.: preciso d ize r "Ouvira m ..:' o u, melho r a ind a, "O uvira m 2. Ativid ad e normal de PKA .
do Ipira nga" . Pa ra evoca r uma memó ria é p re ciso recr iá-la co ncla rna ndo à ação 3. Atividade normal da via das MAPK, sendo que , em CA1, as enz imas p42 e p44
dessa via metabóli ca aumentam sua atividade em relação à intens idade da
o ma io r n úmero possíve l de sina pse s pe r te nce n te s aos e stím ulo s co ndicio na dos
evocação (a atividade de ambas as enzimas pode ser tomad a como um indi ca-
de ssa me mó ria . É como re co nstru ir um a casa : q ua nto ma is tijo lo s se te m 11d is-
dor do nível de evocação) .
posição , melhor se rá a rec o nstr ução ; se há algum ind ica tivo de a q ue lugar d a
4. Atividade normal de várias isoforma s da PKC, incluindo a. e ~II.
casa pertenciam gr upo s de sse s tijo los, a ta rda pod e rá se r facilitad a .
5. Não é necessária a atividade da CaMKIJ em nenhuma das estruturas men eio'
Só no s últ irnos do is a nos fo i po ssível de mo nstrar q uais sã o as principa is á reas nad as durante a evocação .
ce re bra is e os meca nism os mo lecula re s tio pro cesso d e e vo caçã o (Ba rro s e t al., 6. No núc leo am igdalino só é necessária a integridade dos receptores glutama-
2000; Sza piro e t a l., 2000). Os est udos envolve ra m, co mo no ca so d a consolida ção : térgicos AMPA e a dos recepto res ~·ad re né rgico s.
a) a ad mi nistraçã o localizad a, e m dive rsas e stru turas ce re bra is, de drogas co m
ações mol ecu lar es esp ecíficas ; b) a medição das alteraçõ es bioq uímicas ca usad as
pel a evo cação . A ta refa de aprendizado u tiliza da fo i, novame nte. a es q uiva inibi-
tória, aprendida e m rat o s e m uma ú nica sess ão .
O s resulta dos e as con clus ões são most rado s no s Q uad ro s 6.1 e 6.2. O Q uad ro curt a du ração são m uito me nores que o s d a me mó r ia de lo nga du ra ç ão . No ca so
6.1 most ra os meca nismos molecula res de tect ad os na re gião CA 1 do hipo eampo da me mó ria de lo nga duração , o s processo s mo leculares med ido s no hip o ca rnpo
pa ra fi evo cação d a memória de cur ta du ração d a esquiva inibitó r ia, me d id a 3 foram pra tica me n te igua is ao s d a mesma me mó ria me dida um dia depois da
horas de po is do tre ino . O Q uadro 6.2 mo stra os req ue rimentos mo lecu lare s d a aq uisição . A lé m d isso . os pr o cessos mo lecu lar es da e voca ção da me mó ria d e
evoca ção dessa mesma fo r ma de a p re nd izado med ida 24 ho ras de pois do tre i- longa d uração fo ra m idê ntico s e m q ua tro das cinco est ruturas ne rvosas an alisa -
no . O bse rve-se que os reque rime n tos molecul are s da evocação d a memória de da s: CA I. córtex ento rrinal . córtex pa rie tal posterior e có rt ex cingu lado a nte ri-
or. No núcle o a m igd a lino só fo i demonst ra da a participação d e receptores
glutamat é rgico s do tipo AMPA e a de receptore s I~ adrcn érgico s,
O bse rve -se q ue os req ue rime ntos mo lec ulare s da evocação são d ife re ntes
do s d a Ior rna çâo da me mó ria, tanto da d e curta d ura çâo qua nto d a de lo nga
Quadro 6.1
duração. No pr ime iro ca so, n ão e nvo lvem a necessidade de o utros receptores
Mecanismos da evocação da memória de curta duração
além d os glutu nuué rgicos de tipo AMPA, o u seja , aqueles q ue no rma lme n te
proce ssa m a transmi ss ão siná p tica cxcitut ória . No caso da evoca ção da me m ória
1. A evoc ação da memór ia de curta dura ção requer,em CA1, recepto res glutamatér-
gicos intac tos. de longa d uração , a a tivaç ão de rec e pto res glu ta ma t érgico s va ria segundo li estru-
2. Também envo lve a ativação de receptore s ~ -noradren érgico s , mas estes não tura (A M PA e mciabo tr ópicos e m CA I e no córtex c nto r rina l: AMPA, NMDA
são imp rescind íveis. e rnc tab o tr ópico s no có r tex parie ta l e cinguludo a nt e rio r) . S ão necc ss árius, nas
3. Não requer a interv enção de PKC, PKA, MAPK ou CaMKl1. llua trn rcgi ôc s co r tica is, a s via s meta hú lil"as d a PKA. da PKC c da MA PK. ma s
em fo rma simultâ ne a com a lltivaçiin de re ce pt o res glu ta ma tergicos ou. Pl' !O
82 I Iván Izquierdo Memória I 3
me nos, muito p róxima a es ta no tempo ; n a co nso lidação, o e nvo lvime nto dessas ch oque . No momento da evocação, o a nimal per cebe isso ao realizar a re spo st a
via s e m CA I pe lo menos é sc que ncial. F ina lme n te , dife re nç a da co nso lidação ,
à condicionada; e ass im inicia a extinção. Esta, evi de nte me nte, só se rá observad a
a CaM KI I não é imp ortante pa ra a evocação e m nenhuma d as áreas es tudadas. pe rante tes tes suce ssivos. Se um ra to apre nde a n ão descer de um a p la taforma
As not ávei s diferenças e ntre a bioq uímica da evocação e a d a conso lidação par a ev ita r rece ber um cho q ue, e na sessão de te st e de sce e mesmo assim não
faze m co m que a prime ira não po ssa se r co nside ra d a como uma simples rei te ra- receb e o cho q ue, na vez seguinte q ue seja colocado so bre a pla ta fo rma , te nde rá
ção da segunda, co mo postu la ram há algu ns an o s algu ns teó ricos. A evocaçã o a fica r ali menos tempo e, assim , nas suce ssivas repe tições, a té y ue eve ntua l-
co nst it ui um proce sso mo lecula r co mpl exo , que ocorre sim ulta ne ame n te e m mente a re sposta "perma nece r n a pla ta fo r ma" fica extinta.
várias á re as ce re bra is c que obe de ce a meca nismo s bioq uím ica s próprio s. O Vimos também que a ext inçã o não e nvo lve nece ssar iamen te esq uecime nto .
fa to de ta mbé m requerer re ceptores glutama t érgicos nad a mai s sign ifica alé m Se e m algu ma das sucess ivas sess ões de teste o a nima l receb e um choq ue, aind a
de que e ste é o ne uro tra nsmissor excita tó rio principa l do cé rebro , incluindo as qu e este seja um a fra ção do o riginal, recuperará inst anta neame nte a me mória da
q ua tro áreas aqui estudad as. O fato de envo lver a nece ssid ade de PKA, PKC e esquiva inibitória e passa rá a aumentar o tempo de permanê ncia na plataforma .
MAP K funciona n tes, nad a mai s sign ifica se n ão que , como vimos no ca pítulo A exti nção co ns titui um novo a pren d izado . O suje ito que havia a pre nd ido
ante rior, essas sã o trê s d as vias e nzimát icas pr incipa is e m lodo s os fe nô me no s qu e es tím ulo co nd icionado + es tím ulo incondicionad o = respo sta, de repent e
plástico s co n hec idos nos tec idos ne rvo so s; em to do caso, o bserve -se que a evoca- precisa apre nder o co ntrá rio : es tím ulo co nd iciona do + nada (o miss ão do estím u-
çã o não re q ue r Ca M KI I, ne m, q uan do se trat a da me mória de c urta d ura ção, lo incondicionado) = ex tin ção.
ne n huma via enzimáti ca im po rta nte . Recentemente foi obse rvado qu e a inst alaç ão d a extinção , esse novo apre nd i-
'!:
zad o, re q ue r sín te se pro tc ica, ass im como a conso lid ação do a pre nd izado origin al
i: Os "brancos"
°
(ver Ca pítulo 3) . Isso foi obse rvado tanto no lobo d a insu la par a co nd icion ame n -
i to ave rsivo ao gos to ( Ber rnan e D uel ai, 2001), q ua nto para a es q uiva inibit ória
I Pop ularment e cha mam-se "bra ncos" as falhas rep e nt ina s e ine spe radas d a evoca- na região CA I do h ipo ca rnpo (Via nna et al., 2001 b) .
ção q ue oco rr e m em mo me ntos de an sied ade ou e stresse . O s "b ran co s" s âo A lé m d isso , o in ício da extinção , numa pr imeira sess ão de cvocaç âo sem
co m un s e m aluno s q ue devem recita r uma poe sia. ou le mbra r-se de um a resposta ch oque e lé trico, ut iliza rece p tores glut ama t érgicos tipo NM DA. CaMKII, P KA
d ifícil; e m ca n tores na hora de ve r-se a nte a plat e ia o u e m profes sores com pouca e MAPK, co mo req ue r a co nso lid ação de qualque r a pre nd izado novo (Ca pítu lo
experiên cia . Seu mecanismo fo i dete rminado e m anos rece n tes por Do rninique 3, Quad ro 3.2). A aç ão dest es mecan ismo s oc orre no exa to mo me nto e m q ue se
de Q ucrv ain e J a mes McG a ugh : obedece m a um a de sca rga de corticoidcs da produz a primei ra evocaçã o sem re fo rço: a administra ção em CA I de um a ntago -
suprarrc n al, co mo ocorre hab itualme nte e m mo mentos de e stre sse o u alta a nsie - nist a de re ce ptores NM DA o u das e nzimas me ncio nadas im pede o dese nvo lvi-
dad e . O s cortico ide s age m diretame nte sobre rece ptores p ró prios no hipo campo mento ulterio r da extinção (Via nna et al., 200 1b) .
e ta mbé m ind iret a me nte est imu lando mecanismos p-no ra d re né rgicos na amígda- Pode -se afirma r, e ntão, q ue , de fat o , a evo cação pla nta as se me n tes de sua
la baso la tc ral . pr ópria extin ção , mio só do po nto de vista co mpo r ta me n tal, mas ta mb ém d o
ponto de vista molecula r.
() pro ce sso de evoc açã o é a única prova re a l de q ue alg uma vez a prende mos
A evocação planta as sementes
algo, e fo r ma mos as conse guintes memórias. Não é unive rsal: a me mó ria de
de sua própria extinção
Curta du ração , as me mó rias p ro cedura is e o priming mio a pr esentam ext inção
Como vimos no Ca pít ulo 2, sa be mos de sde Pavlov ( 1926) que a o miss ão do mani rcst a.
es tím ulo incondicion ado (o " reforço ": a carne num aprend izad o alime nt ício , o
cho q ue elé trico n um a prend iza do ave rsivo), de se ncade ia o início da extinção .
E m muitas ta refas experime ntais, a sessão e m que se re aliza () te ste de evocação
Pape l fisiológico da extinção
da(s) me m óriurs) co stu ma se r fe ito se m a a p rc sc n tuç âo de e stím ulo incond icio - As me mó rias extin tas permanecem latente s e não s ão evocadas, a menos que
nado. Assi m. po r exe m plo, na se ssão de les te da esq uiva inibit ória, n ão Sl ' d á o ocorra uma circ unst ância e specia l: lima apresenta ção u n es) estímulo(s) USllUO(S)
84 I Iván Izq uierdo Memória I 85
pa ra adq u iri-Ias de uma forma mu ito precisa e /o u com uma int e nsid ade mu ito ro sto cambia nte do mor to a té o pranto peculiar de cada ind ivíd uo ali presente ,
a ume ntada ; um a "dica" muito apro priad a ; um quad ro emociona l qu e imite u o u de um e pisód io mu ito humilha nte, o u de uma gue rra . Viver ía mo s conde na dos
quad ro e m q ue el as fora m original men te adq uiridas; uma situa çáo co mport a a pe rma nece r pa ra sempre num quad ro gravíssim o e intra t ávc l de de pr ess ão .
me nta l que se ass e mel he à do a pre nd izado origina l. Po r exemp lo. 0 prov áve l
q ue ao se rmos exposto s a um a de terminada situação perigo sa, nos lembre mos
das estrat égias de esca pe ou defesa pa ra situa ções pe rigosas e m gera l.
evocação também planta as sementes
Recordemo s aq ui q ue extin ção não sign ifica esq uecime n to : as me m órias
de sua própria reconsolidação
extintas po de m se r "trazida s à to na " d e d iversas fo rm as; as me mórias esq uecidas. o pro ce sso de evocaç ão é . co mo vimos. me ta bo licame n te impo rta nte em muit as
mio, Nos aco ntecime nto s cogn itivo s. s âo mais as memórias e sq uec id as do que as regióes do cé re bro e. em pa r te. e nvolve a reat iva ção de sistemas de ncuro tra ns
extin tas q ue eve ntunlm c ntc pe rmanecem: é só ve rifica r a pe rd a re al e definitiva misso res (no rad re nalina, ace tilco lina , ácido glut âmicu) e pro te ínas cinuse (ERKs,
da ime nsa ma io ria d as inío rrna çócs q ue pass a m e S:lO breve me nte re tid as pel a CaM KII . PKA ) util izado s na co nso lidn çâo . Se. por um lado . sua rc pc tiçâo na
memória de trabalho . Por ém, há tamhé m um vasto número de me mórias ex tinta s au sê ncia do reforço te nde a leva r à extin ção, por out ro , a simples reativação da
q ue julga mo s esq uecid as, ma s perm anece m ar maze nadas e m fo rma "la te nte ", memó ria pod e leva r a sua rcco nso lida çâo.
O nú mero e a fu nção de ssas me mó rias são de sco nhecido s. Pos sivelmente cum Esse pro ce sso fo i de scrito e m det al hes. e m 2000. po r Joseph Le Dom e Karirn
pra m um pa pel e m re la ção às info rrna çócs que a memó ria d e trabalho req ue r Nad e r. e tinha sido sugerido e m a nos a nteriores por v ários pe squi sad ores. Consis
do indiv íduo cada vez que e sse processo ge renciado r é posto em o pe ra ção por te na rca firma çâo d a me mória ca usad a po r su a simples repe tição. e é media do
alguma expe riência de term inad a , nova o u evo cad a . f·: pos síve l que as memórias por sín tese pro te ica ribo sso rnal no hipo carnpo e na a mígdala basolatera1. A admi
"de sconhecid as" o u latente s de se mpe nhe m també m a lgu ma funç ão e m relaç ão nist ra ção de a n iso rnicina, bloque ad o r de sse tipo de sin tese pro t éica, imediata
co m a sempre misteri o sa "pe rsonalida de" q ue ca racte riza cada um de nós. hu ma mente de po is da evocação , bloq ue ia a evoca ção e m sessões poste riores. Isso fo i
no s ou a nima is. obse rvado e m m uitas tar efas e e m muita s es pécies. Poré m, só aco ntece se a
Uma fun ção cla ra da s memó rias ex tintas o u sc rnicxtin tas é a de con tr ibuir evocação é re la tiva mente p róxima ao tre ino . e não se obse rva se a tar efa foi be m
às " mistura s de me mó rias" ou às e vo ca çõe s parci a is o u defe itu os as q ue . co mo co nsol idada h á vá rios di as . E m huma nos, a rcco nsolid a çâo permite a incorpo ra
vimos no Ca pítul o 2. são ca ructc risticas d as pe ssoa s idosas o u das me m órias çâo de novas in formaçõ es à me mória qu e es tá se ndo e voc ada ( Fo rca to c t a l.,
muito an tigas. M uito s postula m que as me mó rias e pis ód icas adqu irid as e m situa 2( 10). Ou tro períod o propício à adi ção ou il subt ra ção de informa çõe s às memó
çô c s pa rticu la rme nte e mocionais jamais süo es q ue cida s, I: prop ôe rn, co mo exem rias e m huma nos é d ura nte as três primeiras horas de sua conso lida ção ( Izq uie rdo
plo . a pe rgunta: "Onde você e st ava quando aco ntece u o ate ntado à s to rr es gê e Chaves, 1988) .
me as'?". É verdade q ue muitos co nse guem res po nde r ess a pe rgunta com det alhe s; Exist e , é cla ro, a a ltc ra çâo do co n te údo da me mó ria pe la intr usão ou inclusão
mas é ve rdade ta m b ém q ue m uito s de ta lhe s se perdem ao lo ngo dos anos, e de mat e rial e m o utros mome ntos ; po r exemp lo, nos ido so s, simp les me nte ao
mu ita s out ra s memó rias de situa çôcs seme lhan tes pod em se m ist ura r co m a d a passar dos a nos. O bvia me n te isso po de ocasionar sua deformaçã o a té o po n to
pe rgun ta , d a nd o luga r a resposta s errad as. 'Iodos le mbra mo s he m os e pisód ios de transform á-las em me m ória s falsa s; isso interessa so b o po n to de vista jurídico.
e mocional men te ma rca n te s; poré m. ningué m é capaz. ao lo ngo dos a no s, de Durante o interroga tó rio de uma te ste mu nha. um advogado a stuto pode in tro d u
le mb ra r tod os os de ta lhes (todos os ros to s e todos os incide ntes do dia do nas ci zir mud a nças no ma te rial evoc ado at ravé s das p alavra s usa das na pr ó pria inte rro
me nt o do prime iro filho. o u de um a forma tura . o u de um vel ó rio ). gação (o nde e stava o assassino no mome n to do di spa ro - perd ão, se nhor J u iz,
t': bo m conside rar o lado ad a pt a tivo o u fisiológico dis so . A lém do p ro blema qu is d ize r o acusado...).
inere nte à hipot é tica possibilida de de a rmaze nar de masiadas me mó rias e assim
imped ir o curso norma l de no sso s pe nsame nt o s, co rno o pe rsonage m de Borges
me ncionado no Ca pitulo 2. a co nservaç ão de de masiado s de ta lhes das me mó ri
as mu ito e mocion a nte s ca usa ria e stragos na no ssa vid a a fe tiva, Imagine m slÍ se
guardásse mos todo s os de tal he s de cad a vl.'lú rin de um se r q ue rido : desde o
7
A modulação das memórias:
influência do nível de alerta,
do nível de ansiedade e do
estado de ânimo
"lodos sabemos por expe riência própria que os estados de ânim o, as emoções. o
níve l de alerta, a an siedade e o es tresse mod ulam forte mente as memóri as. Um
aluno estressado ou pou co alerta não forma corr et ament e memóri as numa sala
de aula. Um alun o qu e é submetido a um nível alto de ansiedade dep ois de uma
aula. pode esquecer aquilo que apr end eu . Um alun o estressado na hor a da evoca-
ção (numa prova, por exemplo) apresenta dificuld ades para evocar (o famoso
"bra nco"); outro qu e, pelo contrário, es tive r bem ale rta , conseguirá record ar
muito hem .
Isso se deve à operação de vários sistemas moduladores, cuja natureza e
cujo modo de açã o são hoje bem conhe cidos.
i se u pa pe l modu lado r. A amígda la haso la te ral re sponde a nu me ros os estí mulos se co nfunde j á co m um gra u mode rado de an siedade, co ntinua aumentando na
pe rif éricos tanto sensoriais co mo horrnon ais c vege ta tivos . As vias co rrespo n med id a e m q ue a ansiedade cre sce , até o po n to d e se confund ir co m o estresse.
de n te s a tinge m essa e str utura a través de sinapscs no có rtex e nto rrinal (McGin ty, e au me nta ai nd a mai s na medid a e m que o est resse se int e nsifica . O efe ito de
1( 99). O c órtex c nto rrin al po de , ass im, ser visto como um gr a nde "filt ro" e pro todas essa s su bst âncias na aq uisição o u na fase in icial da co nsolidação (prime iro s
ce ssador iruerrncd i ário de infor maç ão (Iue 6 d irigid a : a) ao hipocampo para seu o
:; a 1 minuto s) é aumentá-lu até certo nível c, a partir deste . q ua ndo a an siedade
proce ssamento e m termos de co nso lid ação de memória de curta o u de lo nga 6 inte nsa c começa o q ue po de ría mo s de no mina r estresse, é o de diminuir a
du ra ção c /ou d e evocação ; h) ü a mígd a la baso la tcral para su a aná lise em te rm os co nso lid ação . Existe. porta n to. um efe ito re a lme n te mo d ulad o r co m um a cu rva
de nível de alerta o u de e mo ção . em U invertida, deno minad a curva dc Yerkes -D odson e m ho me nage m aos a uto
O co m plexo dos nú cle os basa l c la tera l d a amígd a la (a mígda la ba so la tc ral] res que primeiro d es crevera m a modu lação das me mórias pe la ansiedade c o
mod ula n âo só mem órias decla rativas q ue se conso lidam no hipocampo, co mo es tresse (ve r McG a ugh, 20( 4) (Figura 7 .1) .
tam b ém memó rias procedurais o u " háb itos" processado s no núcleo caud ato O s ho rmô nios mencio nados s ão den ominado s por m uito s co mo "h ormônios
( Packard c t al., 1( 94). r:: p rov áve l que e sta aç ão seja med iada ta mbé m atravé s do estre sse ". e mbora sua libe ração aco mpa nhe mio só () estre sse co mo tam bé m
de co nex ões a través do có rt ex en to rr inal, mas existe m co nexões d ire tas en tre níve is men ore s de ativa ção nervosa gen era lizad a: o ale rta e a a nsied ade.É ve rd a
essa áre a d a am ígdala e o núcleo caudato . Para uma an álise detalhada d as cone de, po r o utro lad o, que existe um cont tnuum e n tre o a le rta . a a nsied ade e o q Ul'
x óc s a fc rc ntes e eferentcs da am ígda la, ve r Alhe id e colabora do re s (1995). jú pode ser (Il. no rninado est re sse . De um ponto de vista psiquiátrico, é claro que
A amígdala baso lutc ra l ut iliza para seu papel modula tó rio sina pse s co lin ér
gicas, feit as por fibras provenientes do nú cleo basal de Mcyner t, e ~ - n o ra d re
n érgicas, fe itas po r fib ra s pro ve nie n te s do locus cem leu." (ve r Ca p ítulo 2 e Figura
2. 1). e m ambo s os caso s co m neurônios da pró pria a mígd a la . I.s scs siste mas silo
ati vados pelo n íve l de alerta do indivíd uo (ma io r nível de a le rta. ma io r ati vaçã o) %
dese mpenho
e pela uvcrsividade dos estím ulo s externos o u internos. () estado de a le rt a a tiva
Bom
neurônios da formação re ticul a r me scnccfálica, e axônios d as suas cé lulas ine rvam
os n úcleo s d a amígda la, o scpt um e o có rtex c ntorrina l, No estado de aler ta
provavelme nte predomina a utiliza ção das sinupse s ~ - norad re n érgica s (Ca hill e
Mc ii a ugh, 19( 8). l lá ta mbém termina çõ es dopa rnin érgicas e scrot onin érgicas
na amígd ala : e stas estilo envolvida s na pe rce pção d a a nsiedade e na ge ra ção d e Médi o
re spo stas para a mesma (ve r Mc Ginty, ]9 ( 9). I l á. por último , fibras proce dentes
do hi potálamo q ue libe ra m ~ - e n do r fi n a sob re as sina pscs no ra d renérgica s da
amígd a la (ve r Izq u ícrdo , 1989) . í~ po ssíve l q ue as mesmas tenham também re la
ção co m a mo du lação da fas e inicia l d as me mó rias pel a amígd ala, ma s tê m sido
me nos es tud ad as a esse respeito do q ue as outras. Ruim
Sabe -se há mu itos a nos que o níve l de ale rta. a an sied ade e o estre sse se
.: Baixa Média Alta
t '
aco mpa n ha m de um aumento do tónus simpático , q ue acarre ta um a libe ra ção
de no rad rcnalina da s te rmina ções dos ne rvos sim pá tico s para o sa ngue . Sahe gura 7 .1
se. também, q ue o alerta , a ansiedade e o e stresse ca usam a libcra çâo UL' ho rmô nio Cu rva de Yerkes-Dodson : os eixos verti cai s representam o nível de co nsol ida çã o ou
de evocaçã o ; o eixo horizontal repr ese nta nível de ansiedade, estresse o u nível dos
ad rc no co rtico tró l ico (ACT H ) pe la hip óíise anterior. de glucoco rticoi de s pe lo
hormôni os "do estresse" após sua liber ação endógena o u sua adm inis traç ão ao
có rtex d a sup ra rrc na l, de adrenalina pela medula d a sup rar rc nal, e de vaso pre s sujeito . As fun ções mne môni cas reque rem um c erto nível de ansi edade ou estresse
sina pe la hip ófise posterior. O níve l sanguíne o de ssas subst âncias se co rre lac iona pa ra seu correto de sem p enho , mas falham se esse nível for m uit o alto .
co m o e stado do sujeito. Assim, uurnc n ta na med ida e m q ue (l a lerta a ume nta e
: ;1
i
I
I as três co ndições se a presen tam ro deadas de uma sinto ma to logia qu e as to rn a mories" (o tipo de memória qu e nas hist órias e m qu ad rinho s são ilustra das com
bem d ife rentes e ntre si. O ale rt a não ca usa "sintomas", mas sim re spo stas ge ne ra - um a lâmpad a e lé trica que se ace nde dent ro d a ca beça de quem fica alertado po r
lizad as co mo aume nt o do t ónus mu scular, taquicardia, leve elevação da pressão el as) (C a hill e McGaugh, 1998).
arterial, ce rta dil a tação pupil ar (rnid ríase), além da ap ar ição de um e letroe nce- As pessoas cos tuma m lembrar melh or e em m ais detalhe os e pisó dios o u
falogr a ma ca rac terizado por o ndas pequenas e de alia frequên cia. Todas essas eve ntos ca rregados de e mo ção, co mo onde estava m q ua ndo matar a m o Presiden-
características se ace n tua m na ansi edade, e muito ma is ainda no es tresse, até te Kenned y o u quando se u país ga n ho u um a Co pa do Mundo . A Hungria chego u
alcan ça r proporções ext re mas; mas já ligad as a um conjunto de sintomas psíqu icos como favor ita à fin al d a Co pa de 1954, perdendo pa ra Alemanha O cide n tal.
caracte ríst icos e mu itos dele s dignos de tr atamento . Um senh o r hún garo de 84 anos que co n heci em 1986 lembrava a formação d o
Co mo foi dito , a a núgda la basola te ra l resp onde aos n ívei s circulan tes do s tim e húngar o no s 7 jogo s em qu e particip ou, e o a utor de ca da um do s go ls.
" ho rmônios do es tresse" devido à a tivação das sina pses co liné rgicas e pr incipal - Porém, como vimos no ca pítu lo a nte rio r, nem me smo assi m a reco rd ação de sse s
mente das noradrenérgicas que receb e. Através de suas fibras d irigidas ao có rt ex eve n to s ch ega a se r perfe ita : nas melhores memó rias se mpre h á um grau de
entorrinal e ao lúp ocamp o, ati va o u inativa sua s sinapses seguindo a le i de Ye rkcs - extin ção. Co mo talvez fosse de se espe ra r, só duvidou e quase e rro u em do is
Dodso n (Figura 7.1). nomes d o tim e q ue disputou a final.
Cabe cit a r tamhém a oxitoci na, hormônio d a hip ófise poste rior, como a va- Além d a in tervenção d a a mígda la baso la te ra l, a fase inicial d a co nsolidação
sopre ssina, e de es tru tur a química simila r a es ta . A oxit ocina é o principal hor- d a memória de longa duração é med iad a por re cept ore s doparnin érgico s tipo
mônio do parto e age sohre o útero ; mas tam bém afet a d ire ta e indiret ame n te DI , p-noradrenérgicos e sc ro to nin érgicos tipo IA, localizados no có rtex cnt or-
neurôn ios da a migda la, pr ovoc ando sua inibição e tendo , e m co nse q uê ncia, um rin al. Esses rece pt ore s resp ondem a terminações de ax ónios pro cedente s d a
e fei to amnésico. Lemb re mos aq ui que os partos cos t uma m se r d oloroso s, e não substâ nc ia ne gr a, do locus eeruleus e do s núcleo s d a rale, re specti va mente . Os
obst ante isso , as fême as de nu merosas espécie s - as mulheres por exe mplo - receptores O 1 e ~ do córtex e nto rr ina l a tua m a ume nta ndo a a tivid ade da aden ílil
costumam ter vá rios filho s e não lemhram d a dor re al que representou cad a ciclasc, a enzima que produz AMPc e regul a indiretamente a ati vid ade da PKA,
parto . Le mbra m -se das circuns tâ ncias d a dor, do fat o d e que houve muita d or . e nzim a que usa AMPc como co fa to r. Os receptores I A têm o efe ito co ntrá rio .
mas não da dor e m si. A dor é um a d as poucas coisas emocionalmente im po rt antes As vias dopaminérgica s e se ro to niné rgicas não têm nenhum papel im porta n te
que não pode ser evocad a em sua ve rd adeira int ensidade. Muitos o pinam que a na regulação da fase inicial d a consol id ação da m emó ria de lon ga duração no
amnésia da dor do parto , ou de ou tras dor e s inte nsas, pode ser dev id a a uma hip ocampo, no có r tex pariet al e na amígd ala basolateral (Izq uie rdo e t ul., 20(6).
ação modulad ora da oxi toei na o u d a p-endo rfina so b re a a migda la o u o utras A via noradre nérgica , porém, agi ndo sob re receptores ~ localizad o s n a re gião
á reas ce re brais. CA I do hip oc a mp o , exe rce u m efe ito es timula n te so bre a fase inicial d a co nso li-
O papel da amígdala é crucial nas memóri as de ev entos de alt o co n te údo d ação da me móri a de longa duração . Esta ação é puramente sináptica e nã o tem
emocio nal, aversivo o u não . Individu os co m lesões da amígdala ba sol ateral sâ o relação com a e stimulação d a ade nilil ciclase nem d a PKA.
incapaze s de lembrar co rre ta me n te os as pectos mais e mociona n tes de textos o u
de cenas pre senciad as. A região da arníg-
d ala a pre se n ta, e m sujeitos no rm ais, Depe ndê nc ia de estado endóaen
um a h iperativação quando es tes s ão E m muitos casos, as memórias adquiridas sob u m a situação de a nsie d ade o u
Indivíduos com lesões da amíg- submet idos a texto s o u cenas e mocio- e str e sse incorporam a se u conj unto de e stímulos co nd icionados co m po ne n tes
dala basolateral s áo Incapazes na n tes o u capazes d e produzir um maior d a situação neuro -humoral e horrnonal e m que (o ram adquiridas. Ass im, a aq u isi-
de lembrar corretamente os as- grau de alerta . Po r último, é conheci do ção d e um a es q uiva inib itó ria é a nsiogê nica e /o u cs trc ssantc porque e nvo lve um
pectos mais emocionantes de o fa to de que efe tivame n te lembr amos choque elétrico, que produz hípersccre çâo de neuro tran srnissores o u neurornodu-
textos ou de cenas presencia - me lho r as memórias co m m aior co nt e ú- lad ores ( ~ -e n dor fina , noradrenalina ) e horm ônio s do e stre sse (no rad re nalina
das, do e mocional, aquel as qu e e m língua in- d o siste ma simpá tico, adre na lina, gluco corticoidc s, va sopre ssina, ACTI I) com
glesa são denominadas "[lashb ulb m e- a ções sobre a a mígd ala hasolatcral. () co njunto de ssas al tc raç óes ncuro-hurnora is
92 I Iván Izqui erdo Memória I 93
I I
e ho rmonais se inco rp o ra ú expe riê ncia co rno ma is um co nj unto de compo ne nte s Em CA I, o s rece pto res dopam in ór
do estím ulo cond icionado. gicu s D I e o s sc r oto n in ér gico s J A "As emoções e os estados de âni
Como sabe mos, par a co nse guir um a bo a evocação de q ualq ue r memória é inibem a formação de me mória de cur ta mo influenciam em muito a forma
conve nien te aprese n ta r ao an imal o maior nú mero po ssíve l de compo ne ntes do d ur ação . e o s p-no rad re né rgico s não çào das memórias.·
estímulo condicio na do (Ca pítulo 4). O s a nima is e as pe sso as evocam m e lho r têm e fei to .
uma me mó ria nnsio g ênica, avc rs iva ou cstrcssa rue , q uan do coloc ad os novame nte Jú no có rtex cn to rrinal . o s rece pto
n uma situ ação ansiogônica, avc rsiva ou e st ressa n tc , simila r ü do tre ino inicia l re s p-nora ú re né rgícos e o s sc ro tonin érgico s IA Iavo rc cc rn a consolidação d a
ou. e ntão. quando inje tados co m ho rmô nios do estresse num a dose lluC faça a memó ria de curta duração , e nqua nto o s dopaminé rgicos D I inibem esse p rocesso,
co nce ntr a ção sanguíne a se aproximar à do t re ino inicial ( Izq u ie rd o , Il)S4). Os ef e itos são di fere ntes da q ue les q ue este s recepto res ca usa m, simulta ne a
Esse fenômeno se de no mina depend ência de esta do endógenu e tem uma e nor mente . sob re a fo rma ção d a me mó ria de lo nga duruçâo no c órtex cn to rr ina l, o
me import ância adapta tiva. Per mite qu e. peran te u ma situação presumive lmente qua l ce rta me n te ilustra mais u ma d ifer e nça e n tre os me canism os de ambos tipo s
pe rigosa, como po te ncialme n te o são todas as situaç ões com um alto co nte údo de de mem ória (Izquie rdo e t ul., 1999).
ale rta o u ansiedade. o suje ito "traga à to na" seu acervo de me mórias de circunst ân O resultad o de tud o isso é que se torna ext re mame nte d ifícil. se nã o impo ssí
cias do gênero, para assim po der ter à dispo sição um conjunto de respostas po ssíveis. vel. prever co mo um de ter minad o níve l de alert a ou a nsieda de pode regular e m
A-; respostas a situaç ões po tenci alme nte pe rigosas costumam ser de fuga, de luta, mais o u e m me nos a co nso lid a çáo da s mem ó rias de curta e de lo nga d ur ação,
de imobilidade. de d issimulo. e tc. 'Iodos os animais as po ssue m; e m alguns predo logo de po is de am bas se re m adq uirid as. Re almente, po uco pode mos d ize r Io ra
mina det e rmin ado tipo de respo sta, dependendo d as circu nstâ ncias, mas, se m dú daq uilo q ue todo s sabem: "a s e moções e o s est ados de ânimo influ e nciam e m
vida, é bo m ter o maio r nú mero delas d ispo n íveis quando po dem ser necess árias , mu ito a fo rmação d as me mó rias". De pe ndendo do grau de a tivação o u ina tivaçâo
da s três vias me ncio nad as e m cad a momento. por influê ncia do níve l de ansiedade
ou do estado de ânimo do suje ito, e de pende nd o do eq uilíbrio e ntre o s efeitos
Modulação da memória de trabalho
de cad a u ma d as três vias (do pa rniné rgica, no rad rcn érgica e se ro to nin érgica )
Como vimos no Ca p ítu lo 2. a me mória de trabalho de pe nd e basica men te da entre si e nas d uas estru turas mencio na das (CI\ I e có rtex c nto rrinal), po de re mo s
a tivid ade el étrica online de ne ur ô nios do có rtex pré -fro n ta l, e de suas in te rações ter um a vasta gama de efei tos modulatórios sobre a forma ção inicial da s me mórias
com o siste ma hipocampa l e co m o u tr as rcgiôcs corticais, via có rtex c nto rrinal. de cu rta d ura ção. Es tes e feitos poder ão se r ma io re s o u me nores e m cada caso
A memó ria de traba lho é mo dulada , no có rtex pré -fro ntal, po r vias dopam i num mesmo suje ito e m difere ntes ho ra s do dia, por exe mp lo, ou depe nde nd o
nérgica s ascende ntes q ue age m atra vés de receptores Dl (G oldma n-Rakic, 1996) da intensidad e de sua an siedade e das o scilaçõ e s de se u e stado de ânimo. De
e po r vias colin érgicas mu scu rinicas pro cedentes do nú cleo de Meynert . Ess as qualquer ma ne ira. a mod ulação da me mó ria d e curta d ura ção é mais o u me nos
vias exe rce m ta mbém uma modulação adi cional ind ire ta da memó ria de traba lho, impr evisíve l, e mbo ra saiba mos co m precisão () efei to de cada via e do s receptores
no hip ocampo c no có rtex pa ric tal po ste rior , segurame n te med iad a pelo córtex corre sp onde ntes so bre esse pro cesso . A lém do mais. es ta mod ulnçâo n áo se rá
cnto rrinal. igual nem no mesmo se n tido Lj ue a modulação simultánea. pe las mesmas via s,
da con sol ida çâo d a me mória de lo nga dura ção .
I lá coi sas. no estudo do s pro ce sso s cognitivos e no es tudo das e moçõ es e do
Modulação da memória de curta duração ânimo, qu e ce rt a mente mi o pod e m se red uzir a um bottom line, corno gos tam os
A mem ória de cur ta dura ção é mod ulad a na fase inicial de sua co nsolidação por jorna lislas e o s aficio nado s a rcducio nismos teóricos. A principa l é q ue. e mbora
receptores do pa miné rgicos tip o D I, ~ - no rad re né rgico s e sero tonin érgico s tipo conheçam o s as vias e nvolvida s na percepção do s estados de ânimo e d as e moções
IA loca lizad os na re gião CA 1 do hipoca mpo e no córtex en to rri na J. Os efe itos e nas respostas ao s me smos, não conhece mos a na turcz..a d aqu ilo q ue é tra d uzido .
de ssa modu lação sâo co mp lexos . po rq ue es sas vías p ro d uzem efe ito s desigu ais Por exe mplo, não sa be mos porq ue determinado incide nte nos causa determinad o
em a mba s estru tura s. est ad o de a le rta o u de unsicd ad c . A re sposta varia segundo 11 ocusí ão.Tamb ém
.......-~
o recepto r ( ,ABA,\ poss ui.em algumas de suas su hunid adcs , sítios rece ptores
Quadro 7.1 (conti n uaçao)
às bcnzo d ia zcpinns, ao ct a no l, ao s barbitúricos e a a lguns estcro idc s a nest ésicos.
Sist emas moduladores da memória: Sítios e tempos d e a ç ã o
Estas substâ nci as ta mbé m inibem as me mó rias. principalme n te as memó rias
e pis ódica s. Vias dopam inérgicas agindo sobre receptores D1:
O efe ito inih idor do s recep tores (,ABA,\ é ins tan tâ neo c d efinitivo . Os agn
nista s q ue se liga m ao sít io rece ptor do ( iABA (m uscimo l) o u ao d as bcnzodiu Facilitam a memória de trabalho agindo no córtex pr é-frontal .
ze pinas, do c ta no l o u dos ba rb it úrico s cau sa m uma imediat a su pre ss ão da utividu Inibem a formação de memó ria de curta dur ação na região CA1 d o hipocam po e no
de ce lula r de todas as áre as envo lvidas e m um o u o ut ro tipo de me mória. PllUC có rtex entorri nal.
-se afirmar q ue o s siste mas GABAérgicos s ão () " fre io" pr incip a l da Iorrna ção e
Facilitam a formação de memória de long a duração por ações sobre CA1. córt ex
d a evocaç ão d as memórias. Se sufic ien teme nte in tensa. a inihiç âo CiABAé rgica ent orrinal e córtex parieta!. Estes efeitos são exercidos durante as primeiras 6 ho ras
efe tivamente supr ime tod a e q ua lq ue r in te rve n ção da tra nsm iss ão glut uma t érgicu de pois da aquisição no córt ex entor rinal , e entre 3 e 6 horas depois da aquisição no
so bre a for m ação ou a evoc açã o de q ua lq ue r form a de me mó ria e. se m d úvida. hipocampo e no córtex parieta!.
toda s as conscq u ênci as de sta, e n ume rad as a pa rtir do Q ua dro 3.2.
Facilitam a evocação agindo simul tane amente sob re CA1, córtex entorrinal, córtex
parietal e córtex cingu lado anterior, .
';
Resumo
Vias noradrenérgicas agindo sobre receptore s ~ :
o conj un to d as ações dos d ifere n tes siste mas rnod ulado res res u me-se no Quadro
7.1. Facilitam a formação de memória de curta duração na reg ião CAl do hipocampo.
Facilitam a formação de me mó ria de lon ga du ração por ação sobre CA1 e sobre o
córtex parietal imedi atamente depois da aquis ição, e novamente 3-6 horas mais
tarde . Também o fazem por uma ação sobre o c órtex entorrinal desde o momento
Quadro 7.1 da aquisição até 6 horas mais tarde ,
Sistemas m oduladores da memória: Sítios e tempos d e ação Facilitam a evocação agi ndo simu ltaneamente sob re CAl , córtex entorrina l, có rtex
parie tal e córtex cing ulado anterior.
Am ígdala basolateral :
Mod ula a mem ória utilizando sinap ses colinérgicas muscarín icas e ~- noradre né rg icas,
Vias seroton iné rgicas agin do sobre rec eptore s 1A :
através de suas proje ções à área CAl do hipo camp o e do có rtex entorrina!.
Facilitam a formação de memória de curta duração agindo sobre CA1. Ao mes mo
Age sobre a fase inic ial da consolidação da memória de longa duração. Através das
tem po a inib em agi ndo sob re o córtex entorrina!.
sinapses colinérgi cas també m regula a memória de Irabalho.
Inibem a formação de memória de longa d uração po r ação sobre CA1 e sobre o
É ativada por alguns neuromoduladores centrais (vasop ressina ) e inibi da por outros
córtex parietal imediatamen te depois da aquisição. e novamente 3-6 horas mais
(~ ' e ndorf i na, oxitocina).
tarde, Também o fazem por uma ação sobre o córt ex entorrinal desde o momento
É ativada pelo tônus simpático e pe la norad ranalina. adrenalina, gl ucocorticoides, da aquisiçã o até 6 hor as ma is tarde.
vasopressina e adrenocorticotrofina circu lante s ("hormônios do estresse") . É parti
Inibem a evoca ção agindo simultaneamente sobre CAl , córtex antorrinal, córtex
cu larmente ativada por terminações coli nérgicas agindo sobre recep tores tanto
pa rietal e córtex cingulado ante rior.
muscarínicos como nicot ínicos, e por drogas qu e age m estimuland o essas term ina
ções, entre elas várias utilizadas no trata mento da doença de Alzheimer (ver próxi
mo capítulo) .
Continu a Continua
98 I Iván Izqu ierdo
8
Quadro 7.1 (c ontinuação)
Si s t e m a s moduladores da memória: sítios e tempos de ação
Síndromes amnésicas
Vias colinérgicas agindo sobre receptores mu scar ínicos: e hipermnésicas
Facilitam a memória de trabalh o p or um a ação sobre o córtex pr é-frontal.
"! Facilitam a evocação p or ação so bre CA1, có rtex entorrinal, córtex parietal e córtex
cing ulado ant erior.
o est ud o de ta lhado da s d ive rsas sínd ro rnes amné sicas nã o é ma té ria deste livro ,
mas do s tr a tados de Ne uro logia o u Psiq uiat ria especia liza do s no te ma. Por ém,
pod e ser de utilidade um a bre ve de scr ição de alguns dele s, e m re lação ao s meca-
nismo s an alisados nos capítul os prece de ntes.
Como tod as as funções q ue en vo lve m sina pscs , a melho r forma de mel hora r
! e de conse rvar a me mó ria , e m tod os os seus tipos e suas moda lidade s, é o exe rcí-
t~
cio ou a prática. Sabe -se há 50 an os qu e o uso au me nta o tamanho e mel ho ra a
Iun çâo da s sinapscs e m ge ra l, c a fa lta
de uso as atrofia. tanto anatômica como
fisiologicame nt e. Q ue m pr ime iro estu-
Nos processos med iados por si-
dou isso, e o fez em ma io r de talhe, foi o napses, como os de formaçào e
au stralian o .1 01m Ca rew Eccles, na dé - evocação da memória. aplica-se o
cada de 1950. Ecclcs examino u sina pse s velho adágio: a função faz o ór-
neu ro mu sculare s, c co mparou sua fo r- gão .
ma e a q uantidade de ne uro transmissor
liberad o por cada impulso (no caso, ace -
tilco lina), e a exte nsão da supe rfície pós-
sin áptic a rece pto ra a es te ncu ro tr a nsrnisso r, tanto em situaçõ e s de uso re iterad o
qu an to de falta de uso to ta l.
Dados muito semelhan tes foram ob tidos a nos mais tarde em muitas ou tras
sina pscs e e m mu itas o utras Iun çôes. inclusive a memó ria (ve r Grec nou gh. 19K5).
Nos pro cessos mediados JXJr sinapscs , com o os de fo rma ção c evocação da memó -
ria , aplica -se o ve lho adágio: a fun ção faz o ór gão.
100 I Iván Izquierdo
Memória I 101
Patologia básica da amnésia mo rre ndo. at iva m-se ta m bé m e m excesso . a té o es go tame nto , as cadl~ ia s c nzi
nui tica s me ncio nad as no s C apítu los 3. :) e 6.
A me mó ria fa lha q ua ndo as sin upses e nca rregadas de fa ze r o u evo ca r um o u (.:: co m um o bse rva r nas áre as que estão se ne cro sa ndo , d ura n te a a po p to se.
o u tro tipo de me mó ria e nco n tra m- se e m nú mero dimin uído o u e stão in ibid a s de scargas e pilé pt icas de te ctáve is no e lc troe ncc fu logra rnn e, às vezes. ta mbé m
o u a lteradas . co rnpo rt a rnc n ta lrne nte . A mo rt e ne uro na l in d uzid a por agen tes eo nv ulsivan tes
O n úme ro de sinapscs c/o u de ne ur ônios d as re gi õe s res po nsáve is pe las me (rnct razo l, e stricn ina, p icro toxin a, c tc.) o be dece à hipl're st im ulaçiio se g uida de
mórias es tá d im in uído desd e o nascime n to em q ua dro s ne uro l ógico s ca usad os upop iose .
po r a noma lia s ge n ôm icas o u po r le sõ e s ce rebra is na ho ra do pa rt o o u po uco (~ in te ressa nte not ar q ue os passo s d a a po p tose envo lve m scqu ência s d e
an te s o u de poi s. Cur io same n te , essa s sind ro rn cs nã o co stum a m se r exa mina d a s pro ce sso s a ná logo s qualitat ivame nte ao s que in te rvê m nos pro cessos p lás tico s;
nu s co ngres so s e nos te xtos es pecia lizados e m te m as cognitivos . e m bora a fa lha só q ue de mod o e xage ra d o e termina l.
ma is sa lie nte dos pa cie nte s é a inca pacid ade o u d ificu ldade e m for m ar c evoca r
me mó ria s. A pa to lo gia d as d ive rsas formas de re tardo me nta l é va riada. mas
e nvo lve se m pre u ma redu ção q ua n tita tiva de neurô nio s e sina psc s no có r tex Amnésias nos distúrbios afetivos
pr é-fr o n ta l, no hipoca mpo e no có rtex do lobo te m pora l. E m a lguns q ua d ros, O s d is túr bios afetivos, principa lmente a de press âo, ha bitua lme nte se acom pa
o b se rva m-se le sõ e s an a tô m ica s gro sse ira s. n ham de a lgum gra u de a mné sia. Ne ssas doe nças n áo há alte ra ções mo rfohígica s
Na idade ad u lta. co mo ve re mos, o co rr e u ma dirninuiçâo do nú me ro de neu dem o nst rad as, mas fa lham ao mesm o te mpo v ários siste mas rnoduladores centra is
rôni os q ue pode mos de no min a r fisioló gica . Esta d imi n uiç ão é grada tiva. aco ntece envo lvidos na modulação da s me m ór ias: as via s dopa min érgicus, no ra d rc n érgicas
e m tod as as re giões ce re bra is, se de senvolve ao longo de décad as e rara vez e sero to niné rgicas.
o co rr e um déficit funcio na l dela resulta nte an te s do s 80 -85 a nos. Poré m. m uitas As falhas da me mó ria são mai s fre q ue nte s na de pre ssão e costuma m se r l'XU
do e nça s se ac o mpa nha m de uma ace leraç ão d a pe rda ne uro na l fisio ló gica. Isso gc ra du s pe los pacien te s, q ue as pe rce bem co mo ma io re s do y ue re a lme nte seio . O
po de aco n tec e r por hip óxia (fa lta de che gad a de oxig ênio ao c ére bro ), po r hipc pacie n te de pre ssivo te m um a cla ra te ndê ncia a recorda r me lho r as expe riências
re stim ulação e e sgo tame nto o u po r Ic n órn c nos bio q u im ico s ca usa dos por de te r negati vas (h umilha ç ões, pe rdas, doe nças, mal-estares. o utros episód ios de pressivo s
m inad as doe nça s (Figura 8 .1) . ant e rio res) q ue as me mórias mais a legres o u agradáve is. A a mnésia y uc aco mpan ha
A m o rt e po r hipóxia po de se r di re ta o u pr ece d ida po r uma fase de hip e rc s a depress ão ra ras vez e s a tinge pro po rç ões grav e s, e a lguma s veze s n áo é se let iva :
tim ulaçiio . E m a m bo s o s caso s, de no m ina- se upoptose . A hipóxia ca usa uma a tinge ta nto as me mó ria s " ruins" co mo a s me mó rias "bous" , Co stuma se r ma is
de spo la rizaç áo pel a dimuiçâo das pro priedades da me mb ra na celular q ue rna nt érn rnaniíc sra no re la tivo it me mória de curt a d ur a ção e na evoca ção . A a m nés ia dos
o eq ui líbrio iôn ico norma l e n tre se u in te rio r e se u me io exte rn o : ma is só d io. deprimid o s é mais hem pe rce bida pe los fa mi lia res e a migos que pe los pró prio s
me no s po tá ssio d o lado e xte rn o. Isso se deve a duas co isa s: a pro prie d ade d a pacie nte s. Isso é ma is comum nos pac ien tes idosos (Pa lo mo c t a I.. 2()ll l) .
me mbra na de se co nstitu ir nu m filtro es pe cífico pa ra ambos o s íons, c a exis tência D evido jus ta me nte ao fa to de que os ind ivíd uos de pre ssivo s a prese nta m
d e um a bomba de só d io e pot áss io, u ma e nzi ma lo ca lizad a na pró p ria me mbr a meno s amnésia para as memória s ma is nega tiva s. n ão é co nveniente. de m a ne ira
n a cel ula r q ue , im pulsionad a pel a e ne rgi a de rivada d a hidr ólisc de AT P (ad e no alguma, tr a ta r a sínd ro me a mn é sica da depre ss ão de ma nei ra iso la da d o reste
si na trifo sfat o ), expulsa só d io para o exte rio r e fa z ingre ssa r potá ssio . A de spe d a do ença . U m pa cie nte de primid o e m q ue o estado de ânimo continua ru im ,
lar ização , se abru pta, oc asiona a pe rd a imedi at a de todas as propriedade s elé tricas ma s rec upe ra sua me mória a través de algum trat a me nt o . te r á. co mo é óbvio.
d a cél ula. inclusive se u po te ncia l d e re po uso. O qual a in ca pa cita pa ra ge rar aument ad o se u potencia l d e risco par a
pot e ncia is p ós-sin úpticos e pote ncia is de a ção . Se gr ad ua l, a dcspolar izu çâ o au o suicíd io que é. co mo sa be m os, a co n
me n ta tr a nsito ria me nte a a tividade d as cé lulas e m q ue stão ; as te rm inaçõ es uxó se q uê nc ia ma is temível d a depress ão . As falhas da memória são mais fre
nica s libe ra r ão mais gluta m:llo , es te excita rá cad a vez m a is as membra nas pó s D e ve -se tra ta r a do e n ça co mo um que ntes na depressão e costumam
siná p ticas, a m ba s Iica r âo h ipere stim ula d us at é o e sgo ta me nto c a morte ce lular todo, at ravé s de psicot c rupia e de medi ser exageradas pelos pacientes
co rre spo nde n te . D ura nte li períod o inte rme d i ár io , enquanto a s cé lulas e.st.jll ca me n to s unridc prc ssivo s: no c urso do
·!
tr atament o , irá melhorando a memóri a do pacient e ao mesm o tempo que os de depressão e demência s, muito me-
demai s sin to mas do distúrbio. nos a primeira é fat or de risco par a a As fases iniciais das demências
A mania pod e e nvo lve r também uma di sfunção d a memória . No s man íaco s segund a (Pa lomo e t a I., 2001 ). muitas vezes se acompanham de
o u hip omaníaco s (ma n íacos leve s) falha co m cert a Ire qu ência a memória de A s fase s iniciais d as demências mui - um quadro depressivo, que os Iarni-
tra balh o : o có rt ex pré -fro nta l não "fi ltra " adeq uada me nte as info rmaçõe s proce- ta s ve zes se aco m pa nh a m de um qua- liares costumam considerar como
d entes do me io , e o indivídu o pode agir de maneira confusa . O casion almente, dr o depres sivo , que os fami liar e s cos tu- mais grave do que realmente é,
também hú fa lhas na evo caç ão : o pa cie nte cos t uma rel at ar que suas rec ordaçõe s mam co ns ide ra r co mo mais grave do
fica m "a to pc tadas, co mo se qui sessem sa ir tod as ao mesm o tempo" . Os sinto- que re almente é. Ess a depressão o be de -
mas amn ésicos da mania são atribuído s à hiperfun çâo d o s siste mas dopa rnin ér- ce à percepção pel o paciente de que realmente es tá perdendo sua fun ção mn e-
gico s e noradren érgicos ce ntra is. Estes sinto ma s ha bitualmente mio são tratados, mônica aos poucos. M as muit as vezes oco rre m quadros depre ssivos se pa rados
e regr ide m no cu rso da te ra pia ps ico tc rú pica e med icamen to sa da d o e n ça como da demência e se m rel ação ca us a-e fei to co m e la.
um todo , O limiar mínimo de fun cionamento , para a maioria do s siste mas do cé re bro,
geralmente é ultr apassad o em se n tido descendente a uma idad e muito avan çada:
acima dos 95 o u 100 a nos . Porém, por ca usas ge né ticas, tóxicas o u va sculares
A amnésia senil benigna
alguns núcleo s o u regiõe s pod em a tingir esse nível de di sfun ção ma is cedo. Na
A se n ilidade é acompa nhad a de um e n fraq ue cime n to ge ra l dos d ive rso s tip os doença de Parkinson , o número de sina pses doparnin érgicas no núcleo caudado
de memó ria . Isso se deve li perd a nc uro na l q ue, co mo se sa be hoje e m d ia, se pode ca ir ab aixo d o mínimo nece ssário para se u funcionamento normal. Na
manife st a a través de lima perda de função só q ua ndo ultra passa ce rt o limiar doença de Alzheimer, as lesões ca rac te rísticas podem levar a uma perda neuronal
m ínimo e nece ssá rio para o de sempe nho . A pe rd a ne urona l, de fa to , é ma ior na á rea ento rrinal e no hip ocampo que ultrapasse o mínimo necessá rio para a
por volta do s 9-13 me ses de idad e . q u a ndo a prende mos a ca minh a r; ao fazê -lo, Iun ção mnem ônica (Fig ura 8 .1) .
de ixa mo s de ut iliza r tod os o s ne urônios e as sinupscs q ue se e nca rr ega m de Na a m nésia se nil denominada benigna, o ind ivíd uo é ca pa z de sus te n ta r
conside ra r desde um po nto de vista perce pt ivo , cognitivo e mo tor o mundo semi- um a vida mais o u meno s normal e a utoss uficie n te durante muitos ano s. Cre io
ho rizo nta l e q uadrú pedc d o s ani mais infe rio re s. Esse s siste ma s, por falt a de qu e nin guém descreveu co m mais pr eci são e clareza a amn ésia se nil do qu e o
uso , desa pa recem. A part ir de ssa idade , a pe rd a ne ur onal co ntinua a uma ve loci- cin east a Luis Bunue l, de scr evendo a de sua mãe e a pr ópria quando co meç ara m
dade m uito me no r d ur a nte o resto d a vida (Figura 8.1) . a perder suas memórias re spectiv as (ve r Izquierdo e Medina, 1998). E m pessoa s
A de pr e ssã o é u ma doen ça de incidência e levad a na ve lhice. Isso se de ve li de idad e muito ava nçad a (a cima dos 90), às ve zes é difícil es tabe lece r o limi te
pe rce p ção pelo ido so de sua inca pacida de física cresce nte , do e n fr aq uecime nto e n tre um quad ro benigno e um quadro dernencial , O s cuida do s clínic o s e a s
d e seus po de res co gn itivos (principalme nte da me mó ria ) e d as n ume ro sas pe rdas recomendações p ar a aq ue les que fo rmam o e nto rn o do paciente são, mui ta s
re a is (de a migo s, pa re n tes, cond ição eco nô mica c possib ilid ades de tr a ba lho ). vez es, indistingu íveis.
De ve m se ext re ma r as pre ca u çócs para um diagnó stico corre to d a de p ress ão Há muitas variaçõ es indi viduais no curso c na in te nsid ad e d a amné sia se n il
nos ido so s, e não confund i-la co m a simple s amn ésia se nil benign a. m uito me - denominada benigna . Há pessoa s qu e co nse rva m seu in tel ecto e suas me mó ria s
no s co m as fa ses in icia is de uma d e mência . muito íntegros a té passados os 80 a nos: Jorge Luis Borges, Ko nrad Ad cnauc r,
A ntiga me nte usava-se o te rmo "pscudodc m ência" pa ra de sign ar a de prcssâo D cng Z haoping, G iuse ppe Verdi, a R ainha Vit ória, da Ingla te rra , e alto Nie -
grave nos idoso s, Ll uC m uitas vezes ~ aco m panhad a de d e so rie n ta ção c /ou de um me ycr são exemplo s clássico s. Muitas outras, não , Pro vave lmente, () exercício
quad ro del ira nte ou sc midcl ira n tc . O ler mo psc ud c dc m ência mio fel iz, po rq ue
é contínuo da memória e m suas diversas formas seja a principal causa de ssa diferen-
a depre ss ão e a d emência a prese nta m sin to ma to logias mu ito d ife re nte s q ue ça entre o de clínio co gn itivo de uns e de o utros . Borges pr a tico u co m intensidade
po de m e d eve m se r d ife re nciad a s no d iagnóstico . Por outro lado, o s mel ho res a literatura e o aprendizado de líng uas at é sua morte , aos ~() . De ng gove rn o u e
es tudos e pide miol ógico s re ce nte s, re a liza dos na U ni âo I:uro pe ia e e m pa rticula r transformo u um pa ís e no rme e complexo de po is dos 9lJ. Verd i compô s suas óperas
na Es pa n ha, indi ca m que n âo hlí co r re la ção e ntre a incid ência ou pr eva lência mai s comple xas, Falstaff e O tcllo, depois dos XO, O q ue lhe req ue riu rcaprerulcr
104 I Ivá n Izquie rdo Memória I 105
Hipe rmné sia çâo é cientí fica o u linguisticarncn te incorre ta: um ind ivíd uo com pouca
in teli-
gê ncia mi o é um sáb io , ainda q ue seja e m inglês. Pastcur o u
Há mu itas pesso as nor mais cuja memór ia parece melhor que a Lavoisi er e ra m
dos de mais. Na sa vants. A pe rso nage m de Dustin H offman no filme Rain Ma n, mio
vida re al, o caso mais Ia rnoso é o do pe queno Wo lfga ng A rnadcus ; pel o meno s
Mo za rt , q ue em francê s.
e ra ca pa z, ao s 6 anos, de ouvir uma co mpos ição o rq uestra l e . ao
vo ltar a cas a, Não há nenhum a e xplicação científica para a hipcrmn ésia, incl uindo
escreve r a pa rtitura co mple ta num pa pe l. Sua irmã ma is ve lha, os a u-
Nan nc rl, t inha tist as com hipcrrnné sia. Por motivo s que não co nhe ço . os pe squisad
uma ca pacidad e mne mô nica não m u ito infer io r para m úsica , e Bc ores têm Se
e tho ve n pa re- mantid o afastad os do e studo das po ssíve is patolog ias desse tipo
ce que tarnh érn tinha uma brrande me mó ria m usical qu ando muito de síndro rne.
jovem, e mbo- Talvez isso se de va a dois fat o s. O pr imeiro, q ue a h ipermn ésia não é co
ra não t anto q ua n to Mozari . I louve um pe rso nage m d a vid a rea nside rad a
l e stud ad o pe lo pa to lógica po r nos sa civilizaç ão ; pe lo cc ntr ário, a posse de uma
ncurop sicó logo russo Lur ia lui 40 ou 50 an o s, de q ue m só conhecemos bo a memór ia é
sua inicial tida co mo símbo lo de sabe doria. Jâ vimo s, pela sínd ro mc dos savan
(S.). dotado jlÍ na idade ad u lta de uma memó ria excepc ional. Em ts, que issc
anos rece ntes, mio é nece ssa ria me nt e verdad e . U ma me mór ia excel ente pode
Mc G au gh e Ca hill de screver am mais um ca so de hipcrrnn ésia na co nvive r com
vid a re a l, o de um q uad ro de insufi ciê nci a co gn itiva general izada. A memó ria . na
u ma obsc u ra fun cio ná ria do s tribuna is da C al ifórnia . s s uas d ive rsas
fo rmas, mio é o único compon ente d a co gnição nem d a int eligênc
Mas, li exceção de Mozar t, o hiperm n ésico mai s co nhecido é o person ia ; a percepç ão ,
agem o raciocí nio e li cri atividade desempenham fun çõ es no mínimo igualme
do co nto de Borges , Funes, () Memon oso , Funcs era ca pa z de reco n te impor-
rd a r u m d ia tante s. U m indi víduo perce pti vo e criativo com bo a capacid ade
in tei ro de sua vid a, a té o último segundo. M as para fazê -lo precisa de raciocín io
va, é claro, de pode suprir um d éficit re lativo de me mó ria mu ito bem; recorde mo s
o utro d ia inte iro de sua vid a. com o que precisa ria vive r parado as gra nd e s
no te mpo , co isa ob ra s q ue Vcrdi o u Borges cria ram numa idade já muito avança
q ue não existe. Ass im, de man ei ra inte lige nte , Borge s demo nstra da, q ua ndo é de
pelo mét od o pr esumir que tinham algum gra u de a m-
do absurd o ( tã o usado em álgebra ) tlue u ma memó ria perfe ita
é imposs íve l. né s ia se n i l b e n ig n a . O p r e sid e n te
A lé m di sso , em se u conto . ra ciocina que Fu ncs " nâo se ria muito capaz
de pe nsa r, Rcaga n, homem de po uca c ultura e já
porq ue para pensar é necess ário esq uecer, parti pod er faze r ge A memóri a, nas suas diversas for-
ne ra lizaçõe s", no início de sua doença de Alzhe irner ,
a rgu me nto que é rigo rosa mente ce rto (Izq uie rdo, 2010) . mas. não é o único compon ente
ma s rodead o po r asse ssore s intelige n -
Vários de stes person agens, o pacient e de l.uria, a p acie n te de McGa da cogniçã o nem da Inteligéncia:
ugh e te s, concret izo u o sonho político de IO-
Ca hill e o p ró pri o Funes fo ra m caracte rizados co mo tendo um desenv a percepç ão, o raciocínio e a c ria-
olvime nto dos os pr esid entes de se u país: a vitó ria
inte lectua l infe rio r ao normal, co mo pe ssoas com u m níve l de inteligê tividade desempenham tuoçoes 110
ncia re la ti- do s Es ta dos Unido s na g uerra fria.
va me nte bai-xo. mínimo igualmente importa ntes.
Alé m de uma memór ia bem tre inad a
H á um subtipo de pacien te s autista s com uma pa to logia seve
ra no s lob o s em se us mu itos an o s de ato r, e mbora já
tempor ais, que se ca ract e riza por u ma híperm n ésia: uma capacid
ade e no rme decade nt e por efeito do iníc io de uma
de formar e evoca r memór ias co m plexas, muitas vezes re fer ida
s a números ou doe nça de Al zheime r, conta va com uma qua lid ad e q ue fazia toda
operaç ões ma temátic as e /o u à mú sica . O cine ma popula rizou a diferen ça :
um exempl o de sabia se ro dea r de as sessore s apro priados para seus fins.
autist a com grande me mória para operaçôc s matem ática s e núme
ros (Rain Man ,
1988 , in terp retado por Dust in Iloffm an ), e o ut ro de um autist a
co m cap acidade
musica l to ra do co mu m (Shine, 1996 , interpr etado por G coíf rey
Ru sh ).
esqu izofre nia como uma d
O sub tipo de pa ciente s autista s co m níve is de inteligê ncia ba ixo
s ou mu ito
rande s doen ças da mem ória
ba i-xo s, ao que pe rtencem o s perso nagens de Ra in Man: o u Sh ine A e sq u izo fren ia é uma doe nça me ntal (a lguns acha m que é um
fo i de no m inado
pelos fran ce se s do séc ulo XIX de idiots savan ts, O termo, q ue co nju n to de
sign ifica idiot as doe nças me ntais) cuja caracte rística princip al é a o co rrê nc ia d e de
sá bio s. pode sc r lament ável , mais é descritivo . Poré m. co m seu e lírio s e alu cina-
n tusiasmo pelo çôcs, Os pacie nte s m uita s ve zes re lut a m, assusta dos nu dese sp erado
" politica me nte co r re to ", os a utore s ingle se s c no rte -a mcrican os s, esta r se n-
pass a ra m a cha- do virtua lme nte "inund ados", "alagad o s" , "bo mha rde udos' o u
ma-los, nos úll imo s a no s, só de savants (Slíbios ). Ú óbvio que e sta "pe r~egui dos"
" nov a" de sign a- po r um excesso de infurrnu çâu, que lhe), "a taca " sem Irégu ll e se
m pied ade .
108 I Iván Izquierdo
• H ipcrse cre çiio de uma pro teí na c ha ma da subst ância p -~I m i lll j d c pelas
cé lula s afet ad as. E sta proteína é pro d uzid a norma lmen te pelas cé lulas
ne rvosas, mas na do ença de Al zhc irner isso ocorre de fo rma exage ra d a,
causan do vacúo los de ta ma n ho cre sce n te q ue. ao se j untare m, de te rm i
na m a morte de to do s o s ne urô nios que as ro de ia m.
• Fo rmação de ernarun hados n euroff brllure s, prod uto de a no malias estru
t ura is de u ma pro te ín a chamada Ta u, co m po ne n te nat ural das ncuro fí
bri las do s ax ônío s, q ue também, por vo lume, e pe la inte rr upção do trânsi
to de po te nciai s d e a ç ão pelo s ax ôn io s a fe ta dos, ca usa m morte celular c
disf unção.
11
transg ênicos com hipe rexprc ss ão de uma ou o utra pro teín a nos qu ad ros amné-
sicos re sulta ntes . Em modelos animais. o excesso de prote ína ~-a mi loid e é muito c:/;]'I,I \ J I) :- ~
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/t _~~'I/ '
( d7;\ ; y '~
mais a mnésico q ua ndo oco rre junto co m um exce sso de proteí na ·lilU. e vice-
~Q~,~~/ / ;; )\ ' \-. :~. .:>: )
ve rsa .
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rt9x
,l empó r81
Na doe nça de Alzhc imcr, e ssa s le sões ocorrem inicialme nte no córtex e n-
to rrinal e , a seguir, no hipocarnpo. Co m o de co rrer dos meses o u dos anos, apare - eaentO tri"" I >~ U li c: i
cem também no có rte x pré -fro nt al, parietal e occipital; c, às vezes, e m o utras ~~/
ár e as do c érebro (Fig u ra 9 ,1).
1~''\J
/~
Essas lesões, se extre ma me n te ab und ant es nas áreas me ncion ad as. tê m sido
As lesõe s vascu lar e s múltipl as po evid ência co ncre ta de que o quad ro de Cre u tz fc ld-Ja ko b hu mano seja ca usad o
Na demência alcoólica, parece de
dem consistir e m pe4 uen as áre as de e n por co ntágio dessas doença s do gado , seja at ravé s da ingestão de carn e ou de
sempenhar um papel o efe ito tóx i
farte e em lesõe s dcs mie liníza ntc s se outra m a ne ira .
co do próprio etano I sobre os neu
cundárias à interrupção d a irr igaçiio A doe nça de Pa r kinsnn ou a sín d rome de imu n odeflciênc íu adquirida (SIDA)
rônios , além das lesões vascula
sanguínea local. Obse rvam -se essas le podem le var a um q uad ro de mencial. Os mec a nismos d as duas demências não
res.
sões ta mbé m nos q uad ro s d c rnc nciaíg são be m co nhe cidos. No Pa rkinson. é po ssível q ue a di sfu n ção co gnit iva seja
secund á rios a po litra umatism o cra nia de vida à função afetada do nú cleo ca udaio na aqu isição de me mó rias (vc r Ca p ítu
no , co mum nos boxe ad ore s (demência lo 3) ; po ré m, cha ma a at e nção o fa to de que, se isso fosse assim, o s sintomas n ão
pu gilisticu) e ao uso re iterado e excessivo de álcool ou cocaína . Nu ma p ro po rção tinham po r que ocorrer t ão ta rde no dese nvo lvimen to da doença co mo é o caso.
el evada de a lcoolista s, desenvo lve- se uma síndrome denominada de mência a lco ó. nem se manifestar po r uma a mné sia re trógra da . Na SIDA (co nhecida no Brasil
lleu . q ue a lgu ns conside ra m secund ár ia à sínd romc ne ur o ló gica de Wer n icke por sua sigla e m inglê s, AIDS ), as le sõe s ce rebrais silo m últ iplas e ge ne ra lizad as ,
Ko rsa kofL I~ carac te rística dessa sínd ro me a "confab ula ção" o u a dissimula çâo e a evo luçã o do q uad ro a mnésico é rá pid a.
d as fa lhas d a memó ria por in vc ncio n ices, Na de mê ncia a lcoó lica, pa rece dese m A s demê ncias de Pa r kinso n e a SI D A silo q uad ro s sec und ários à evolu ção
penhar um pa pel o e fe ito tóxico do p ró prio e ta no l sobre os ne urô nios, alé m d as das pr óprias doe n ças.j á as do e nças de Pick e Crc ut zfc ld-J akob são e m si próprios
lc s ôc s va scu la re s. D as d e ma is drogas de abuso, cab e de stacar os o p ioidc s. Es te s quad ro s dernenciais.
pode m causar , no uso crô nico , uma sind ro rne dc rnc ncia l pe lo me no s e m pa rte As demências de origem vascular por microin fur tes, pode m oco rre r sozin has
dev ida a efe itos tó xico s da d ro ga . ou, ma is ha bitua lme n te, sobre pondo se us efe ito s a uma doença d e o utro tipo .
Nã o têm sido re latadas de forma fidedign a de mê ncias causadas pel a maconha prin cipalmen te a de Alzhc imer. Q ua ndo o co rrem sozi nhas , os prime iros sin to ma s
e se us co m po ne n tes : es tes pro d uze m, no e n ta n to, q uad ro s de a m nésia aguda o u da s de m ências po r micro infa r tcs pode m se r mu ito va riados . de pe nde ndo d a lo ca
suhagud a de gr avid ade vari áve l. O uso reiterado e in te nso d a coca ína e m suas lização d as lcs óes. Se u curso de pe nde da evo lução das Icsô es o u d a oco rr ê ncia
diversa s for m as, e ntre e las pr incipa lme nte o "cra ck" , pode ca us a r u ma síndrome de no vo s microi n la r tcs. As d ro gas usad as no tr a tame nto de se u q uadro amnési co
pr é -fro nta l (ve r m a is ad ia n te) , se gu id a o u nã o de de mê ncia . sã o as mesmas usad as na doe nça de A lzhe ime r (ve r ma is ad ia n te ), c são só
Na doen ça de P ick , també m d e índ o le hcrcd ir ár ia. h á um quadro d e rncncial pal ia t ivas. Para as de mências de o rige m vas cul ar o im po rta nte real me nt e é a
às ve zes se me lha nt e ao de A lzhc imcr, m as faltam as les ões nc uro librila rcs e as pre venção da sa úde card iovascu la r. O fumo é um fa to r pa rt ic ularme n te ugrava n
placas umiloid cs, I l á, poré m, outro tipo de a lte ração histol ógica, que co nsiste te, pe lo dei to vasoco nstritor d a nico tina .
na ap a rição assimé trica. no s lob os tempo ra is e fro nt ais, na autópsia. de cé lulas Nas d emências oco rre pe rda das funçõe s ce re bra is, incluindo as me ntais e ,
inchad as , não funci ona ntes, que aprescn tu m co lo raç ão pá lid a . Nesta do e nça, as den tro d estas , da s íunçõ cs co gn it ivas , espe cial mente a me mó ria . E mbo ra e st a
lcs ócs ca racte rísticas predo mina m no he misfé rio esq ue rdo. últi ma seja a mais grave desde o po nto d e vista d a ma nuten ção d a pe rso nal id a
A doen ça de Cre utzfeld-j ukob le m uma evo lução se mel ha nte q ua lita tivam en de o u d a ind ivid ua lid ade do suje ito , m uita s vezes mi o constitui o sintoma ma is
te à d oença de A lzhc irnc r, mas e m vez de se de se nvo lve r ao lo ngo de an o s, o faz salie nte nem o mo tivo pr im ário de q ue ixa dos pa cientes, à exceção d a do e nça de
em pouco s meses. Ne st a doe nça. o quad ro que leva à mo r te ne uro nal é a cxprcs Alzhc irnc r, na q ua l de p ois de se us prime iro s esuigios a a mné sia é o sin toma
s ão d e um a pro te ína co nstitu in te d a membr an a, o prion , co m um a co nfi guração mai s destacado.
espacial a lte rada . A funçã o dessa proteína é basica me n te de scon hecid a; sua a u A dest ruição da memó ria se gue um
sê ncia, e m ca mu ndo ngos, leva a uma hipcrsc nsihilidad c a age nte s e pilc ptogênicos curso pró prio e ma is ou me no s ca rac te
(Walz e t aI., (999). A do e n ça de Cr c u tz íe ld -J uko b se caracte riza po r les ões d isse rístico no s d ive rso s t ipo s de de mê ncia. A destruição da - memória
.. . .. . .segue
-
minadas de tipo espongiforrnc : lite ra lme n te , áre as no rma lme nte povo adas po r Isso é conscqu ência dire ta d a evo luç ão Um c urso próprio e' rnalsourne
neurôn io s co nverte m-se . po r sua mo r te , e m vas tos v ac úolos, Doe nças se mc lha n da pa to logia de cada urna del as. A evo nos caracter istico nos diversos ti
tcs, de ca racte rísticas pat o l ógicas similares, mas sinto ma tologia va riada, existe m lução da sínd ro me a mné sica é insid iosa pos de demnncla
no gado bo vino (doe n ça da "vaca lo ucu" ) e ov ino (sempie.l'). N âo lui ne nh uma na de mê ncia por microin fur tc s, m uito
114 I Iván Izq uierdo Memória I 115
in te nsa. mas le n ta (a nos) na doença de A lzhc irne r, m uito le nta c mi o inexo ráve l
na doe nça de Pa rkinson, e mu ito nipid a (meses) na doença de Cr e utzfc ld-J nko b
Sobre drogas paliativas, curativas,
efetivas e ineficazes
o u às vez e s nos q uad ro s pr é -fron tai s. incluindo a d oe nça de Pick.
E m algu ns q uad ro s dc rn enci ais pre do mina. no início . um a di sfunção da me - Cab e a po ntar aq ui, no e n ta nto, um mot ivo de co nfu sã o im portante que permc ia
mória d e t ra balho. Es ta é de difícil de tecç ão e se ma nife sta por uma d imi nui ção bo a pa rte da litera tur a refe re nte l'l do ença de A lzh e irne r . Na décad a de J 980. a
d a ca pacidade de filtra r iníorma çáo, fazend o co m q ue o sujei to pareça mui tas descoberta de le s ões e co nscq uc nte hi po a tivid ade do n úcleo basa l de Mcyne rt,
vezes de sorien tado , com d ificu ldade em co ncent rar o '-lue de no mina "s ua a te u- se de do maio r sistema rnodulado r co liné rgico do cére bro , e m pa cie nt es co m
ção' naqu ilo q ue est á aco ntece ndo . e co m te ndê ncia a confund ir o qu e pe rcebe doença de A lzhci mc r. Icvou a uma "hipó tese co liné rgica " de sta pa tol ogia . Es sa
o u o q ue record a. A d isf unção d a me mó ria de tr abalho es tá asso ciad a a lc s ôcs hip ótese po stulava q ue a acetilco lina e ra O " principa l ne urot ra nsmisso r envo lvido
do córtex p ré -fro n ta l. na memória". Poré m. na se gu nda met ade d essa me sma décad a, fo ram descobe r-
É comum que esse défi cit ve n ha associado a u ma dilicu ldade tanto para tos dé lic its se melhan tes nos siste mas dopa rninérgico , no rad re né rgico e se ro to -
for mur q ua nto para evocar me mó ria s, predomin an teme nt e d e lo nga du ra ção. niné rgico ce nt ra l. Pa ralel ame n te , fo i de te r minado q ue o siste ma hipoca m pa l é a
Na ma ioria do s CélSOS de demência. o indivídu o ma nté m ce rt o gra u de funcio na- regiâo mais im port an te ta nt o p ar a a ío rma ção co mo p a ra a evo ca ção das me mó-
men to da memória de cur ta d uraç ão: co nsegue seguir o ru mo d e um a co nve rsa rias decla rat ivas. e lorum estabelecidos os mecani sm os co rrespo nden tes. Também
c pa rticipar dela, faze r ta re fas sim ples. pe rcorrer d ist âncias curt as, sabe ndo ao nde foi de mo nst ra do q ue as le s õe s ca ra cterísticas da doe nça de A lzhc irne r a purecc m
se dirige (ir ao a rm az ém), e tc. Com o ava nço da severida de das de mê ncias, oco rre inicia lmente no có rtex c ntorrinal e no hipoca rnpo e. ma is tarde , e m o utras regiões
uma perda ma is p ron unciad a , e o pacien te esquece do rosto d e se us filho s; do do có r tex, pr incipa lmente pr é-fro nt a l. pa ric ia l e occ ipita l associa t iva (I Iyman e t
ca minho co rre to de sde sua cama a té o ba nhe iro; esq ue ce de co nhec ime nt os al., 1(90). Isso re lego u a " hipó tese colin érgica" a um pa pel, no máximo , se c undá -
e le me ntares de sua profissão . o u a té q ual era a su a profissão . rio na pa to ge nia d a do ença de Alzhe imc r e d as de mências e m gera l. Poré m,
esse pa pe l, e m bo ra secundá rio, é impo rta nte do pon to de vista mod ulnt ório, e
realme nte 11 ucc tilco lina mod ula positiva me n te as fun ções mn e mônicas e m ge ral.
Demência pré·frontal e demência nas fases De fa to, drogas que es tim ula m essa Iunçâo sã o utilizad as no tratam ento palia tivo
finais da doença de Parkinson d as dem ências: tacrina, doncp czilo, rivastigmina, galant ami na.
Ca d a tipo de d e mência te m u ma pat ologia própria . lJue n âo é (1 caso a na lisa r Só ago ra, nos últ imo s 10 ou 15 a no s,
aqui , Encont ram-se altc raç ócs pré- fro n ta is quando h á comprome time nto d a me - co meçara m a a pa rece r ou tra s droga s
mór ia de tra bal ho, do hipoc a rnpo e do có rtex te m po ra l e, às vezes, pa ric ta l q ua ndo pura uso te ra pêut ico nas demê ncias: de -
e stão alte rados os de mais tipo s de me mória . Existe um quad ro cha ma do de "sín- rivad o s de agonistas so bre rece ptores Foi dete rminado que o sisisma I1J-
d ro mc pré -fro n ta l", ca rnctc rizado pe la fa lta de autoco ntr olc o u de "fre io" moral, gluta rna t érgicos A M PA, ou mod ulad o - pocampal é a região mais impor-
co nce itual ou verba l. M uitas vezes, e sse q uad ro é re su ltado de a buso pro lo ngad o rcs dos mesmos. cha mados arn paqui nas. tante tanto para a formação como
L' excessivo de d rogas que e stimu la m sinapscs doparnin érgicas no có rt ex pré - Es tas e a mc ma nt inu. q uc age so bre re - parae evoceçéo das memórias de-
fronta l. co mo a coc a ína . Ou tr as. é devido a lesóc s vascula re s o u de o u tro tipo de ce ptores NMDA, são conside ra das um clarativas .
um dos lobos pré- fro nta is o u de a mbos. i\ sínd ro rnc pr é -fron tal pod e evo luir po uco supe riores ao s age nte s coliné r-
par a u ma verd ade ira de mência. q ue se de no mina dem ên cia pr é-Iron tal . gico s, mas a ind a est ão mu ito lo nge do
A doença de Pa r kinsun aprese nta. a lém da pe rda ce lular na subst ância ne gra de sej áve l: n áo po ssuem e le itos preve ntivo s. e são úte is só du ra nt e po ucas se ma -
q ue ex p lica os transto rnos mo to res e do t ónus muscula r, le sóe s co rtica is q ue nas, po rq ue a morte nc uro nu l pros segue inexo r ável, mesmo na sua p re sença , e
exp licam () estado dc rncncia l q ue m u itas vezes aco m pa nha o s estágios finais da vai tira nd o os possíveis substra tos ce lulare s de se u efe ito be néfi co .
d oe nça ( pe lo menos e m cerca de 500/" do s casos) . Boa pa rt e dos d éficits d e me m ória silo re sultado de an oma lias gê nicus: e s te
Como nas de ma is d em ên cia s (vide a seg uir), o truturnc n to do d uno cognit ivo é cla ra me nte () caso de v áru», tipos d e dé ficits de aprend izad o e outros t ipo s de
é sinto mát ico na demê ncia pr é-fro ntal e na na rkinso nia na . in sufic iência cogni t iva co ngê n ita e d e m u itas de m ências, sobretudo 11 UC
116 I Iván Izquierdo Memória I 117
Alzhe ime r. Ü de se es perar que , no futuro próximo, apareça m mé todos preve nti A vaso pre ssina, a ad re na lina, a i\CTI-I e deri vad o s, a anfc tamina , a coc aí na
vos dessas doenças. No te-se q ue a pa lavra "gê nica" não necessa riam ente q uer e a nico tina melhor am a fo rmação de memórias decl ar ativas de lo nga duração
d izer "he redit ária ". Tod o s os ge nes são he rd ad o s; mas ao lon go da vida a ca pa ci dentro de uma mar ge m m uito es trei ta de tempo e de dosagem; fora do tempo
d ade de mu itos del es de express ar d ifere n te s mH. NAs po de mudar . Ce rtos genes útil (minuto s a pós a aq uisição) são inú te is, abaixo d a do se efet iva mi o têm efe itos
se expressam só a partir de cer ta ida de : a pub erda de, po r exe m plo, a idade adulta sobre a memóri a, e aci ma dessa dose a deprimem e causam at é dano ce rebral.
o u a vel hice . A doença de A lzhe ime r é u m exemplo ca rac te rístico desta últ ima . Isso, ma is a gravida de de se us efe itos sec undá rios (hipe rt ens ão art e rial) e o
O utro s se expressam demais o u de me nos, co mo conscqu ênc ia d a ação do s mais pot encial de dependência de várias dessa s drogas, impedem sua utilização ter a
d ive rso s agentes, de sde va riaçõe s no clima até d ro gas ou ou tras subs tâncias da pêutica nas amn ésias de q ua lq ue r tipo, e principalmente na s demências.
mais va riad a índole. Na ve rdade, o e st udo exa ustivo dos mecanismos da memória c se us modu
lad or es ( Izq uierdo e t al., 2006; ve r Ca pítulo s 3 a 5), levou a maioria do s pe squi sa
dor es da área ao co nve ncime nto de que em cada mo men to, para cada indivíduo,
"Drogas que melhoram a memória"
dadas s uas circun stância s emo cionais e anímicas, a memória est á sempre traba
Hoje em di a há mu ito inte resse no de senvolvime nto de droga s que au me nte m a lhando perto d o máxim o de s ua capacidade. Q uando determinado indivíduo
ca pa cid ade de memó ria da s pessoas e m idad e esco la r ou u nive rsitária . apre senta fa lhas d a memória, em co ndições padrão de sa úde , o pr oblema se
A té ago ra , não fo i e nco n trad a nenhum a droga que "me lhore" a me mó ria deve a ca nsaço, sat uração do es) siste ma(s), de sa tenção, infl uên cia negativa de
e m pesso as normais e que seja realmente útil. Em nosso lab o ra tório , ao lo ngo alguma via modul at ória ou hipe r o u hip ossecre çâo de algum hormônio. U ma
do s anos, est udamos várias centenas de d rogas q ue eve ntua lme nte pod em facilitar vez co rr igido o pro blema, segundos o u minuto s depois, ou, se nece ssári o , depois
a Iorrn a çâo o u a evocação de me mórias para a lgu mas tar efas de ap re ndizado de um so no reparad o r, o ind ivíduo vo lta rá ao normal. Se o prohlema for devido
em ra tos e ca mundo ngos, ad ministradas por viu oral. intra perito ne ul, subcutânea. a es tresse ou alta ansie da de (por exe mp lo, ap re ndizado num cá rce re ou e m
intra cercbrovcntricula r o u di re tamente nas ma is d iversas es trut uras cere bra is. a lguma sa la de aula o u ou tro amb ien te qu e par a o indi vídu o é traumático ). se rá
Ne n hu ma del as serve pa ra o uso e m hu manos, q ue r po r seus efe itos co late ra is co rrigi do pel a mud an ça de situação o u a mbien te .
tóxico s ou ind uto rc s de depe ndência. q ue r po rqu e a ú nica via pe la qu al são A cre nça popular, mu ito di fundid a pel a mídi a, de que "o cé re bro não utiliza
efetivas é a int racc rcbral, qu e é inapl icáve l no se r hum ano. mais do qu e 10% de sua ca paci da de insta lada" é um a inverdade . Isso nunca foi
O met ilfcn id ato (ritalina ), a a nfe ta mina e a nico tina enco n tram-se e ntre seg ue r es tuda do, e não haver ia forma a lguma de demonstrá-lo. A ve rda de é que
essa s drogas. () p rimei ro é um e stimula nte ce ntra l que é utiliza do para co mba te r o cé re bro , e e m par ticul ar sua função
a sínd rome de dé ficit de a tenção e m crianças e adul tos , ' Ic rn sido a té ago ra impos mn emônica, funcio na sempre ao máxi
sível e stabel ece r se sua ação favor áve l so bre a fo rmação de me mór ias de clara tivas mo de eficiência e rendimento possíveis. Em cada momento , para cada
ne sse s pacie ntes é u m efeit o próprio o u simple sme nte re flet e a me lho ra no nível Age eo mo um a má quin a a ltame n te individuo, dadas suas circunstãn
ou na foc alização de a te n ção qu e a d ro ga pro d uz. Em ad ulto s sad io s, ministrad a sof isticada, co mplexa e regulável , co mo ctss emocionals e anímicas, a me
12 horas depois da forma ção de uma mem ória trivial, au me n ta sua persistê ncia os ca rros d a Fórmul a 1. Em co nd ições móriaestásempre trabalhando per
(l zquierdo e t al., 2008). O s da dos sob re o efeito do mctilíc nidato sobre memória ó timas, são exce len tes . Em co ndições to do máximo de sua capacidade .
fo ra d esse pe ríodo restrito após o aprendizado, ou e m pesso as se m transto rn o menos do qu e ó timas (fa lta de hab ilida
de déficit d a ate nção não são con clusivo s. Ce rta mente n ão justificam o LL'iO recrea de do pilot o , excesso de te mp eratura,
tivo de sta d ro ga pa ra "me lho ra r a memória", co mum entre alguns na Ing la terra um a leve tor ção de alguma peça, chuva) se u rendime nto cai. Não porque o motor
e nos Esta d os Unidos. Ess e uso é tão injustificado como o do s extratos de g-ingko es teja mal desenhado; mas jus ta me nte por ser tão sofisticado c de deli cad o eq uilí
biloba, plan ta po pu la r no O rie nte e gu e tem ra ma, nunca pro vad a , de ta mbé m brio, fe ito par a funcio na r muito hem sob co nd ições apropriad as.
"me lhora r a me mó ria". Estudos de talhad os so bre os extra tos de sta pla nta n âo Fo ra das demên cias mencionadas, a mais comum é a a lcoólica, cuj a sin to
e ndo ssa m e ssa suposição. mat ologia co nfu nde -se co m a de Alzhc imc r, mas se d eve a les ões vascula res
118 I Iván Izq uierdo Mem ó ria I 11
d isseminad as ca usa das pe lo s efeitos rei terados do á lcoo l e m excesso. e pode Principa lmente o meca nismo da le it ura e m si e nvo lve um giga nt esco e
co me çar m u ito mais cedo , já aos 20 o u 30 a nos. Existe ta mbé m a dem ência ra pid íssimo scanning de tod as as pa lavra s q ue o c ére bro co nhece e co me ça m
traum ática (ta mbé m cha ma d a pugil ísticu o u "dos lutadores de ()(IXt!·' ) . co m essa le tra . se g uido po r um novo sca nn ing cad a VeZ q ue se lê u ma no va letra.
J .crnos a let ra "p" no in ício de uma p alavra e des filam po r nossa cabeça p au s,
peras, pássa ro s. pêssego s, perus. pinotes. etc. Milisscgundo s depois. le mos a letra
Prevenção e tratamento
seguinte . por exemp lo um "c ". c faze mos de sapa rece r panelas L' coloca mos no
Pa ra as demências, e m gera l não há ai nd a tra ta me n to es pe cífico. fora da dos se u luga r pedras e perus; lemos, a segu ir, urn " ]" e sup ri mimos penas e pe des tres,
ulcoo listns (que co nsiste na a bstinê ncia dessa droga) e a d a truurna tica, qu e consis- e os trocamos po r pe los, pe legos e pe lot as. Ca da ve z. a ca da le tra . desfilam ve loz-
te na inter rup ção d a exposiçã o ao s go lpes. Cla ra me nte nem se m pre é po ssível me nte pelo co rte visua l pr ime iro ped ra s, pê ssego s, depo is pau s, pássar os e pane las
uma re versão total dos sinto mas e m a mbo s os caso s. Us a m-se, co mo me ncio nado c, a seguir. pel o s e pel otas, N âo lui nen huma ativid ad e nervosa q ue ex ija tanto
a nteriorme n te. d ro gas es timu la ntes dos n eurô nios co liné rgicos (p rincipalme nte em tá o po uco tempo do c ére b ro, c pa rt icula rme n te da memória, co mo a leit ura ,
done pczilo, rivas tigm ina e ga lan ta mina: De fat o, esta incl ui me mó ria visua l, ve rba l e de image ns, e nt re o utras.
a tacr ina usa-se pouco hoje e m d ia pe los Jl á es tudos demon st rando q ue as pe ssoas qUL' mai s Ice m co stumam conservar
efe itos secundá rios de hiperrno tilidade por mais tempo sua memó ria sadi a e a té iniciam seus q uad ro s de Alzhe ime r
As tentativas bem controladas feio
ga stroi nt esti nal) e mc rna ntina o u a m- ma is ta rde qu e os n áo leit o re s. A tores.
tas com alguns produtos de fndole
paq uinas, estim ula ntes de re ce ptores pro fessores e e scrit o res co siurna rn estar
vegetal (gmgko bitob« e serneman-
glutnrnat érgicos de tipo A M PA À s ve - e n tre as profissõ es e m que ma is se lê .
tes) nunca deram resultados visl- Não há nenhuma atividade nervo-
ze s, se e mpre ga m tamb ém outras d ro - Todo s o s dema is "exercício s pa ra a me -
veis . Este é um terreno que ainda sa que exija tanto ernt ãc pouco
gas estimu la ntes. mas sempre de fo rm a mó ria" reco me ndados pel as revistas e
aguarda algum breakthrough tera- tempo do cérebro . ~ particular-
e m pírica e se m nenh um a base re a l qu e outro s órgãos leigo s (pa lavra s cruzadas .
pêutico que parece estar ainda lon- menie da memória, como 8 hlftura
jus tifiq ue se u uso . Como já fo i d ito. as movimento s re pet itivo s. jogo s. e tc.) s âo
ge .
te nt a tivas be m contro lada s feita s co m m uito infe rio res para rea lme nte exe r-
a lg u ns p rodut o s d e índ ole ve ge ta l cita r a memó ria do que a le itura. São
,ngko biloba c seme lhan tes) nu nca de - mais p rá ticos para anima is de la bora tório , llu e mi o sa be m le r (Jc nsc n, 2006).
ra m res ulta dos visíve is. Es te é um terreno que a inda a gu arda a lgum breukthrouglt Vá rio s est ud os mos tram que a leit ura de m úsica é tão efe tiva para pr e servar ti
te rapêu tico que parece estar a inda longe . As d ro ga s atualmente em uso são me mó ria co mo a de pa lavras.
(po uco) efic aze s du ra n te a lgun s mese s. quando vão mo rre ndo aos pouco s os Para os deficientes vis ua is, a alt e rn ati va ma is vá lid a é conseguir outro s q ue
neurô nios q ue deveriam ser seus a lvos de aç ão; é como q ue re r co ma nd a r um le iam para e les. Isso fazia Borges , como an tes del e H o mero c M ilton, três escrito -
ataque q ua nd o já não há m a is soldado s d e infa nta ria. re s ge nia is, mas ce gos, que se "aliment ava m" do q ue liam pa ra el es se us se res
As e speranças radica m na pr e venção . A memória é um a Iunçâo fo rte me n te que ridos. Ce gos s ão o u foram ta mbé m R ay Charlcs, J o aquín Rod rigo , Ste vic
es tim ulada pe lo uso . co mo fo i come ntad o no Ca pítu lo 2. A a tivid ad e q ue mai s Wo nde r o u Andre a Bocce lli, que nos d ão sua música . Nenh um de les padeceu
estimula a memória é a le itura : e la requer o e mprego simultâ neo e e m rápid a de demência .
scq uê ncia de memórias visua is e de linguage ns, e stim ula parale lame nte as memó-
rias visua is (q ua nd o pensamos numa árvo re, "ve mos " uma árvo re), es tim ula as
vias do s sen time n tos e emoçõe s (nüo ex iste m, no human o . as memórias "a-e mo-
cio na is" : e m tod o momento de no ssa vida es ta mo s so b a influê ncia de a lguma
emoção , gra nde ou peq ue na, e de a lgum estad o de â nimo . Tod a mem ória quando
se fa z ou se evoca e nvol ve e req ue r u a tivaç âo das vias rnoduladorns depe nde nte s
d as erno ç ócs c do s sentimento s (Ca p ítulo 7),
10
Temas variados
Tra tare mos aq ui de vário s assunto s importantes sobre Me mó ria que não co stu
ma m se r re latados no s texto s so hre Me mória ne m nos de Med icina, Ne uro logia,
Psiq uiatria. Psicolo gia. Nc uroq uímica o u Nc u ro fisiologia.
Ilhas de memória
Nas d oe nças ce rebrai s orgâ nicas , co mo já foi mencionad o, no meio d e uma
d isfunção ge ne ra lizad a d a fo rmação e d a evo cação de me mó rias. é co mum
e nco n trar "ilhas" de mem ória exce le nte. No s pacie ntes com doe nça de A lzhe imc r
o u de Cr e utzfc ld -Ja ko b é co mum e nco n tr a r, perdido s no me io de uma co nversa
co m po uco sentido , trechos q ua se per fe itos em q ue o suje ito lembra com precisão
um co n hecime nto . uma image m. ou u m tr e cho de u m livro . f: co mu m ve r, e m
ho ns am bie n tes un iversitários, q ue os ex-col aborado res de det e rm inado profe s
sor, q ue outrora se destacou por sua sabedoria e q ue agora pade ce de A lzhc imer,
vão visitá-lo para lhe d ar alento , e par a reco lher del e "p é ro las" intac tas de co nh e
cimen to s q ue se julgava m pe rd id as. E u
tive o cas ião de compa rtil har esse s mo
me nto s, e m visitas rea lizad as a professo Nos pacientes com doença de
res famosos e ago ra doe n tes , um na Ar Alzheímer ou de Creutzfeld-Jakob
gent ina e o u tro no s Estado s U nid o s; ê comum encontrar. perdIdos no
este úlLimo, um Pre mio No be l de Física. meio de uma conversa com pouco
que q ua ndo rec ebeu a not ícia do prê sentido, trechos quase perfeitos
mio já estava co m A lzhc irnc r, e mal se em que o sujeito lembra com pre
limit ou a so rr ir c dizer "how n ice " par a cisão um conhecimento, uma irna
qu em lhe trouxe a notícia . De ambos os gem, ou um trecho de um livro .
mestres aprendi muito no curso de ssa s
122 I Iván Izquierdo Memória I 123
visitas. Par a começar. ambos se mo str a ra m mu ito fe lizes pe lo fat o de nos ve r de perde u-se nas hoje in úmer as o po r tunida des de d ist ra ção , quan do n ão e m es t ére is
novo, embo ra já não lembrassem bem quem é ra mos . " Vale mai s se ntir tu a mão tr ab alh os de doutrinamc n to ideológico , ainda abunda nte em m uito s países do
no o mbro d o q ue ess es reméd io s q ue me d ão q ue não serve m pa ra nad a e só mundo, inclusive ap ós a qued a do Muro d e Berlim. Cla ro q ue he m pior se ria m
causa m di arr éia", me d isse um de le s. O rem édio era tacrina; d uas se ma na s de- as co isas se hoje, neste mundo o nde os es tím ulos so bra m. o a pre nd izad o esco lar
pois o tr at amento fo i interro m pido , po rque a piora gra da tiva do q uad ro fe z co m ficasse re legado ao s tons es curos e o pacos de a n tiga me n te: ningué m a pre nde ria.
que o reméd io perde sse o efe ito. Ai nd a ass im, po r muito te m po de po is disso, as De qualquer maneir a, o uso de amb ien tes e nr iq uecido s e m hum a nos não
mãos no se u o mbro co n tinua ra m a ter se u va lor terap êut ico . a ume nto u "a ca pa cidade de memória" o u "a capacida de me nta l" d as cr ia nças
.lá vimos no Ca pítulo 7 o pape l do s afe tos e d as erno çôes na re gul a ção da s nem dos adu ltos : estima tivas do rend imento escolar indi cam que es te ficou es tá -
me mórias; todos sa bemos o u dev eríamos sa be r q ua l é se u papel na vid a co mo ve l, nas bo as esco las, ao longo do s último s 60 a nos. O nde essa técnica rev el ou
um to do . se u e no rme pod er, no entanto , foi no trat amento de cri anças o u ad ol escentes
co m graves lesões ce re bra is.
A estim ulação co nsta nte , paciente e aco m pa nhada de ca rinho tem consegui-
Estimulação ambiental do recuperar de forma not ável dé ficits gravíssimos. H á casos de cria nças com
I:dwa rd Bcnne tl c se us co labo ra do res e m Be rke ley, na década de 1960, intro d uzi- graves lesões ce re bra is pe rinat ais o u ad q uiri das no s primei ro s a nos de vid a que,
ra m a técni ca de subme te r a n ima is d e lab or at ó rio a a mb ien tes "e nr iq ueci dos", tr at ad as co m mét od os de a mbie nte e nr iq uecido e e stimulação se nsoria l repetida
che io s de o bje to s com os qua is p udesse m br inca r, pra ticar exe rcícios, efet ua r e fe ita co m afe to, ch egam a ter um de se m penho escola r igu al o u superio r it
ex plo ra ções . A fa mo sa ro d a gira tó ria dos ha rnstc rs de estima ção te ve su a o rige m média . E m m uitos casos, oco rre uma regre ssão comp le ta o u quase co m p le ta
ne ssa técni ca . De sd e o início , o gr u po de Ben ne tt e, ma is ta rde , o utro s (ve r do s quad ro s patológico s, por re generação sin áptica profusa e ge ne ral izad a . A
Grcc nough, 1( 85) e nco n tra ra m vá rios elei tos o rgân icos desse s tra ta me nt os : des- regene ração a bra nge a " us ur pação " de funçõ es do he misfé rio lesad o , pe lo he mis-
de o a ume nto do núme ro de sina pscs no c órtex ce re bra l e no hipo ca rnpo . a té fé rio sa dio, at ravés de novas co nexões su bco rtica is. E fe itos m uito se me lha n te s
um a u me n to re a l do núme ro de cé lulas nervosas no gyrus dentatus de ca m un- fo ra m o btidos e m a n imais expe rime nta is por Ca rlo s Alexa nd re Nel10 e se us
do ngos e stim ulados d u ra nte os primei ro s 25 di as de vida; d esd e a umento do co labo ra do res, e m Po rt o Alegre (procurar p ublicações so bre es te tema na int er-
pe so d o córtex ce re br a l, até a umen to do consumo de glico se por esse tec ido . net a trav é s do E n tre zP ubme d o u o u tros ace sso s ao Medlinc ),
Um livro re cen te de Eric I ense n advoga pela a plicuç âo de e st ím ulo s semel ha nte s E m todo s esses ca sos, a ún ica exp lica ção possível para as melh o ra s é uma
ao s h uman o s. pa ra exerci tar o cérebro (Jc nse n, 2003). es tim ulação do crescimento e da ra mificação de ax ônios e dc ndrito s, e a formação
E sse s tra ba lho s pa rt ira m do princí pio ge ra lme n te ace ito de q ue um me io de novas sinapses, substituindo as desa-
che io de e stím ulo s q ue exige m at e nção e respostas ajud a no dese nvo lvime nto par e cid as; ai nda que estas te nha m sido
da capacid ade me nta l. O mé to do se aplica cot idia na me n te e m cre che s, jardins do lad o o po sto (co ntralatcrais), A ime n-
Há casos de crianças com graves
de infância . esco las primá rias e sec und á r ias d e todo o mu ndo. N a décad a de sa maioria do s ne u rô n io s é inca paz de
lesoes cerebrais pennalais ou ad-
1960, e m bo a part e devido ao s tra ba lho s de Be nne lt e se u grupo , " a par ece ram reprodu ção, à exceçã o de alg um as cé lu-
qumdas nos primeiros anos de
as co res" e o "design " nas sa las ele a ula co mo adjunto ed uca t ivo imp o r ta nte . las do gyrus dentatus e drl ce rebe lo . Nos
vida que chegam a ler um dssern -
Apre nd e- se melhor a tab uad a po r me io de fich as ou de se nhos co loridos do q ue primat as, a reprodução neuronal (n c u-
penno escolar igualou supenor â
no q uad ro negro (q ue há algu mas década s passo u a ser ve rde ) e d e giz chamado rog ôncsc ) é limitad a e ocorre basica -
média .
bra nco . que na ve rd ade era cinz a (c fo i substit uído po r " pincé is a tô m ico s" ). E me nt e nos prime iro s anos de vida. Pod e
ce rta me nte mai s agrad ável a pre nde r numa sa la deco rad a co m core s vivas de se r estimulada pel a ocorrência de pe-
que nu m a mbie nte cinze nto e seve ro. que nas lesõe s em ne ur ô n io s vizinhos.
A pr e nde -se mel hor e co m mais agrado. mas não necessariame nte ma is: o N unca é suficie nte e m núme ro nem e m velocida de co mo pa ra da r conta d a form a-
re nd ime n to e sco la r na e scol a primá ria de 20 10. na ma ioria do s pa íses. nã o é çâo de me mó rias o u da rc cu pc ruçâo de lc s ôc s, E m roedores pod e ser esti mula d a
mu ito mai or dn q ue . diga mo s. e m 193:' ; o que se ga nho u em al egria e mo tivação pe lo exercício .
124 I Iván Izquierdo Memória I 125
sem pre e pc rrnc ia m de ma neira inconscien te a reco rdação o u a pe rcepção de aq uilo q ue e stá se ndo percebido . De lírio s asso lam o s pacientes esq uizofrênicos ,
muitas ou tras me mó rias po sterior es, d ado se u enorme valo r afe tivo. A origem cuja orige m e stá , co mo vimos no capít ulo a n te rior, em falh as gr ossei ra s do
de quase toda nossa vida afetiva es tá ne ssas me mó rias an tigas e inconscientes "gerenciad or de info rmaçõe s" do có rtex p ré-fro nta l (Egan e t al., 20( 1) c Suas
que ad quirimos q uando muito pe que no s. co nexões co m outra s ár e as do có r tex. Delírio s ocorre m ta mb ém no de lir ium.
H á demo nst ra ções de q ue o ch eiro dos seio s mat ernos é uma memóri a inco ns- sind rome muitas vezes de origem tóxica e m que a falh a pr edomina nte é na me mó-
cie n te-cha ve para to d a no ssa vida afe tiva po sterior. Fo i m uito a n te s de sa be r ria de cur ta dura ção. Ignora-se se essa falha tem re lação com a ge ração de mistu-
lingu a alguma que a pre nde mo s o que é a fome, o q ue se faz pa ra saciá-la, q ue m ras extravagan tes de memó rias.
é a mãe , quem é o pai , o q ue é a d or c co mo re sponder a ela, o q ue é o praze r A cria tividad e tem sido defin ida por Jaime Vaz Brasil como a co njun ção de
num se ntido gen é rico, quem sã o o s avó s, q ue m são os demais, q uem é de confia r duas ou ma is me mórias. Não se cri a a pa rtir do na da : cr ia-se a part ir do q ue se
e q uem nã o é , o que é a luz, o que e é um a nimal e o q ue o d iferencia d as sab e , e o que sabe mos e st á e m no ssas me mó rias. Não creio q ue exis ta alguma
pessoas, e tc. definição po ssíve l pa ra o a to criat ivo . Algu ma vez e scre vi que ele se assemelha a
Ali ás, te m -se e scrito basta nte sobre a arte de sa be r em quem se pode co nfiar tro peça r co m alguma co isa (no livro , já mencio nado , Tempo e l olerância) , e que
e e m quem não . A opinião mais generalizada é que isso é um aspecto d a co gnição be m-ave n tu rado s são aque les que se dão co n ta di sso e a pa rtir d aí c laborarn
em que as cria nças menores são mestre s, as cr ian ça s de 4 a 10 anos são ainda algo novo : um quad ro , um poema , u m co nto. u ma pa rtitura mu sical. Mas o s
bast ante bo as, os ado lesce n tes são pé ssimo s, os adu ltos também são pés simos c, co mp o ne n tes dessas obras co nstam do q ue está e m no ssas mem órias. Muitas
alé m d isso , exage rados; c os velho s ocasion alme nte recuperam a sabed or ia perdi- vezes se ac re sce n ta algo novo a e la s, como oc o rre no s de lírios. De fa to , no s
d a na infância. últ imo s 100 anos, o s prod u to s da criação hum a n a e m pint ura, escultura . música
e literatura tê m se assemelha do basta nte mais aos de lírio s q ue às muito m a is
fo rmais criações de é pocas a nte riores. Co mp aremos Mir ó com Vclasq uez, o u
Sonhos, delírios, criatividade
Schoe nbe rg co m Bce thove n, o u Fe rr e ira G ullar com Cesário Verde . Mas o certo
Há u m séc ulo , Fre ud es tud o u in te nsa me n te o po ssivel sign ificad o do s so n hos, c é q ue a "loucura" ine re n te à criação ar tíst ica se mpre existi u. Isso que muitos
popularizou ex traord inaria me nte e sse trab alho . deno mina m "loucu ra" nad a mai s é do que a a rte co mb ina tó ria levad a a novo s
Re cente me nte , muito s est udos tê m ve rificado que os son hos na da mais são, extre mos. O a rt ista faz algo novo , algo que se rá u ma co mposição de me mórias.
na ve rd ade , que mistur as de memó rias existe ntes no cérebro , de maneira alt a rnc n- mas q ue não é igua l à so m a de suas par tes.
te influe nciad a pe los aco nte cime n tos do dia ou d ias an te rio res e as pr evisõe s O certo é q ue es se mu ndo glo balizado e impessoa l de hoje . o nde têm ma is
par a o dia o u d ias segu intes. Não há ne n hum ind ício obje tivo que nos pe rmita pod e r dez o bscu ro s funcion á rios de uma e ntid ad e fin an ce ira com sede em No va
intuir que signifiquem alguma coisa alé m di sso ; só te mos as hipó te se s d e Fre ud . Yor k do que os mais de 200 re is o u preside nt es do p la ne ta , não co meço u o nte m .
O cé re bro pr oduz so n hos quan do no estágio mais pro fund o do so no, e a lógica Mctternich , Fe lipe J I. A lexa nd re, o G rande , c seus estados de â nimo mandava m
que e n tão u tiliza ce rt amen te não é a m a is aq ue la q ue utili za na vigília . Co bra m ais e m suas époc as do q ue a so ma total de seus s úd ito s. a ime nsa ma io ria d o s
mais at ua lidade do q ue nunca , e ntã o, e seria muito in te ressa nt e re -est ud ar e quais não os co nheciam seq ue r pc lo no me . Sempre ho uve, nos criadores, a neces-
a mp liar, co m as técnicas neuro psicológica s e neurofis iológi cas hoj e d ispo n íve is, sida de visce ral de co mba te r a massificação, de épaterle bourgeois (assustar o
aquele s ac ha dos se minais do fu nd ador d a Psicanálise. Nã o é impo ssível que , burguê s). p ara ve r se de sse choque resultava alguma coisa me lho r. Foram épa -
ass im co mo oc orreu com os postulad o s de Sa ntiag o R amón Y Ca jal no final d o tatues as sinfo nia s do "Pa pa i" l Iayd n, co m se us súbitos ura qucs de percussã o, o u
séc ulo XIX so bre a índole mor fológica d as memó rias, o u os de Ivan Pet rovich as sinfo n ias e os últimos q ua r te to s de Bc c thovcn, co m suas formas ca mbia nte s e
Pavlov, nos anos d e ] 920, sobre o s re flexo s co nd icionados e sobre a extin ção. os su as ocasio nais d isso n âncias; m uito mais do que isso a so ciedade forma l de sua
d ad o s mais mod ernos ve nha m a referendar as inte rpret açõe s do s so nhos feita s é poca nã o lhes permi tia . Fo i ép atante e já a luci na tó ria II ópera, em que ca ntam
por Freud , pelo me no s e m mu itos asp ect o s. gue rr e iros, moribundo s, ama n tes, ra inh as d a noit e , reis e duendes. princesas e
O s delírios são pa recidos ao s so nho s e m su a estrutur a : são misturas ap ar e nte - fad as e m ce ná rios es tra nhos, fe itos de faze nd a e pa pe lão . Nisso, foram precurso-
me n te extravagan tes de memó rias . No cas o do s del írio s, so ma-se às memó rias ras dos muito ma is a lucina tó rios mu sica is d e l lollywoo d, at é chegar !lUS paroxis-
128 I Ivá n Izqu ierdo
mos do s shows de rock de ho je , em que música, ce nografi as, efe itos c:-.pcciais e
luzes se une m num todo já co mple ta me nte de lira nte , muitas vezes incre ml:ntduo
po r d ro gas . Geralmente o arti sta é um se r qu e se irrita co m a uniformiJ auc e a Referên cias
ma ssificaçã o cult ural o u e sté tica d a soc ied ade q ue o ro de ia . M istura suas memó.
ria s e cria sua s obras para se refugiar o u para se af astar de uma rea lida de co m a
qu al não cornpactuu.
No fun do , pe nsa ndo be m, l) home m comum do início do sé culo XXI. rico
o u pobre , muit as veze s de ambulando solit ário e pre ocupa do pe las ru as, n áo taz
nad a m uito di fe re n te. Sem suas me mó rias. não se ria ningué m; e se m ch amú-Ias.
evocá-Ias e rnisturá -lns o u falsific á-las, não po de ria viver.
Talvez no início do século XXI tod o s sejamo s um po uco art istas porque
pr ecisamos di sso pa ra viver.
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