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ANGELO R08ERTO ILHA DA SI

Procurador Regional da Repúb

IVÁN IZOUIERDO
Professor titular de Neurologia. Coordenador do Centro de Memória,
Institu to do Cérebro, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
e Instituto Nacional de Neurociência Translacional , CNPq


o
2" EDiÇÃO REVISTA E AMPLIADA

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19Rm Izquierdu.lván .
Mem óri a I lván Izq uierd o. - 2. ed .. rev. e arnpl. - Porto Alegre :
Anm ed .2011 .
1.'3 p. : il. co lar. ; 23 em.

ISBN 971'\ -85-363-2544-6

I. Psicologia. 2. M emória. I. T ítu lo.

CDU 159.953

Cat aloga çáo na pub licação: Ana Paula M. Magnus - CR B 10/2052

• 2011
© Artm ed Ed itora SA , 2011

Prefácio à 2 a edição
Capa : Tatiana Sperhacke
Preparação de originais: Marcos Vinicius Martim da Silva
Editora sênior - Ciências Humanas: Mônica Ballejo Canto
Projeto gráfico e editoração eletr ônic a: TIPOS des ign editorial

i\ pr irn cirn cdi çâo deste livro tev e um su ces so inesperado. Ma s de sd e a é po ca


em que foi publicada até o pr esente , houve algum as mudanças importantes no
tema. do ponto de vista tanto expe rim e n ta l quanto co ncei tua l; as últim as devido
ils pr imeiras. Por exemplo: a ) a demonstraç ão ora defin itiva de que a sequência
de pro cessos mol eculare s re sponsá vei s pela consolidação das memórias, no hi-
poca rnpo, é basicamente a me sm a da LT P na re gião CA I des sa estrutura; b) a
demo nstra ção do "etiquetado sin áp tico" como a base do possível mecanism o
celu lar da formação de re flexos co ndicio n ado s e/o u da associatividade da s memó-
rias; c) a import ância da ext inç ão da s me mó rias no trat amento das síndrome s
de me do ou angústia pós-traumático s; d) a des coberta do processo da rec onso-
lidaç áu. de certa forma oposto à extinção, que pe rmit e a reforma das memórias
depois de consolidadas: e ) a fase de pe rsistê ncia, que det ermi na se as memórias
já consolidadas peru urarn além de un s pouco s dia s. Nesta nov a edição incorpora-
mo s essas mudanças, comentamo s esses me cani smos e co loc a mo s o tema co mo
Reservados todos os direitos de publicação, em língua portuguesa, à
um todo em dia com os conhecimentos at ua is (2010) so bre o assunto.
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sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico , mecân ico , gravação, hasicamente a profission ais e es tud antes da s ciências da sa úde que nã o se dedicam
fotocópia, distribuição na Web e outros), sem permissão expressa da Editora . esp ecificamente ao e studo da me mó ria .
bta segu nd a edi ç ão está dedicada , como a a nte rio r, a meus colaboradores
SÃO PAULO
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Iván Izq u ie rd o
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PA/NTED IN BAAZ/L
Prefácio da 1fi edição

I .stc é um livro para médico s, b iól ogo s, psicó logos co m o rie ntação biol ógica,
hioq u ímicos, farmacêutico s, ve terinár ios, assiste n te s so cia is, e nfe rme iro s e estu-
dantes dos respectivos curso s de gr a d ua ção o u pós-grad uação ; mas também (es-
pe ro ) para muito s mai s. Es tes últ imos podem lê-lo, se q uisere m, pula ndo parágra-
fos ou seç ões: a sim ples an álise do t ítul o de cada seção lhes d irá, de manei ra
geral, se será ou não proveitosa sua le itu ra . No ca pít ulo inicia l há uma breve
descri ção so bre aspe ctos b ásico s que de finem e ex p lica m o fu ncio na me nto dos
neurô nios c das sinapse s; é e vidente que méd icos, b iólogos e ve te rinários, bem
como os es tuda ntes de ssas di scipl inas, po derão pular essa seç ão se m perd e r
muito. () há bito de pular par ágr a fo s, capítulos e seções é m uito cri tica do pel os
professores de literatura. mas ce r ta me n te não pe los lite rat os: nin gu ém menos
que o ma ior esc rito r do séc ulo X X , Borge s, co n fesso u nunca te r podido ler Joyce ,
por exem plo. se m pular págin as int e iras. Pouco s es tuda nte s o u estud ioso s da
Meuicina po de m afirmar ter lido int e gral men te todo s os se us livro s de text o
se m pular pa rágra fos o u at é capítul o s.
Para le itor e s mio int eressad os nas bases b iológicas d a memóri a, doi s bons
~ivros de te X10 são o s de Baddcl cy (199 7) e Tulving e Cra ik (2000) . Par a leito res
mten:ssados na influ ência d as diversas fo rm as de pat ologia ce re bral sobre os
pro cessos cogniti vos e se u d iagn óstico e trata mento , recome nda -se o livro e dita do
por lorruis Palo mo e colaborad ores (200 I), e m es pa nhol (ve r R eferências) .
liste livro reflete 40 a no s dedicad os ao estudo d a me mória . O leitor não
encontr'w'l
' . c
S'ISU· I , . ' d ' - I"
, • u, s escnçocs c InJcas nem aco nse lha me nto s terap êuticos. E sse s
A •

t~pleos perte ncem a te xto s de Neurologia, Psiqui atri a o u Psicol ogia . Também
uno se encont ,- d . - .
" . rurao escnçoe s ex a us tivas d os as pectos molecul ar es o u Iarm aco -
16l!1cos discut iu .. . I'
" os, este ivr o se co nce ntra naque les pro cessos melh or demonstra-
d sohre osC
" -: ''II'.S"" XI'ste con se nso . A h I'hl'lo gra Iia
'u se rcuuz
ia se rcd aos ar ugos
' . . .
pnncipais
eu prcleren"I' a 'l i' . ,I • - () d e r á
" ( , ivros o u a rtigo s uc rcvisao , re sto po era se r e nco ntra do
8 I Prefácio da 18 edição

a partir dessa s referênci as ou na internet, co nfo rme indic ado nos capít ulos corres -
pondentes.
O livro re sponde às per guntas mais habituais qu e me foram formulada s por
jornalistas ou pelo público e m geral, es pecializado ou não , e m palestras q ue
Sumário
pro fe ri ao longo d o s an o s.
O leitor não e nco nt ra rá nem adesão nem falt a de ade são à "escola' ou a
te órico algum. Cre io qu e o cult o da person alid ade não faz parte da ciê ncia. Ser .i
inútil tentar e nq ua d rar este texto e m termos de uma o u o utra esco la psico lógica,
por exemplo. Se quiser e for de seu agra do , o leito r pod er á faze r isso po r conta
própria; temo muit o qu e frac assar á.
lxte livro não é a reedição de o u tro . em espa nho l, chamado " (.Qué cs la
mem ória?". editado pel o Fondo de Cultura Econ ômica e m 1992. A ap roximaç ão O que é a memória? 11
ao prohlema é diferente, e aqui se refl etem os conhecimentos soh re o tema
adquiridos ne ste s último s 9 ano s. Tipos e formas de memória 25
O livro e stá dedicad o ao s mais de 200 colaboradores de l3 países co m li ucrn
publique i trabalhos ao longo da vid a, e muito em es pecia l a meu q ue rido am igo Os mecan ismos da formação das memórias 45
Jorge Horacio Medina, de Buenos Aire s, com qu em colabore i e m 139 art igos.
Muitas das minhas melhores ideias são do Jorge e vice-versa. Muitos de meus As mem órias de curta e de longa duração 65
colaborad ore s são hoje meus amigos entran háve is. Assim dá gosto traba lhar; e
Persistência das memórias de longa dura ç ão 75
assim tr ab alh ei d urante tod o s e sses ano s.
Evoca çâo, extinç ão e reconsolidnç ãn das memórias 79
Iván Izquierdo
A modulaçáo das memórias: influ ência do nível
de alerta, do níve l de ansiedade e do estado de â nimo 87

Síndromcs amnésicas e hipcrrnn ésicas 99

As demência s 109

'lemas variados 121

Referências 129
o que é a memória?

Memória" significa uquisiçâo, form ação , co nservação e evocação d e informa-


ics, A aq uisiçâo é tamhém cha mada de a p re nd izado o u a pre nd izage m: só se
"grava" aquilo que foi aprendido. A cvo-
l;uçào é também ch amad a de record a-
io , ícmhrun ça, recupera ção. SlÍ lem- "Memória " significa aquisição. for-
bramo." aquilo q ue gravamo s, aq uilo que mação, conservação e evocação
foi aprendido . de informações.
Podemos afirmar, co nfo rme Nor-
berto Bobbio, ljue somos aquilo que re-
cordamos, lite ralmente . Não podemo s faze r aq uilo q ue não sa be mos, nem co m u-
nicar nada que de sconheçamos, isto é, nad a q ue não es teja na no ssa memória,
Também n âo estão a no ssa disp osição os co nhecimen tos inace ssívei s, nem for-
mam parte de nós episódios do s quais es q uece mos o u os qu ais nunca atravessa-
mos. O ace rvo de nossa s memórias faz com q ue ca da um de nós seja o que é : um
indivíduo, um ser para o qual não exis te o utro idêntico .
Algué m poderia acrescentar: .....e também so mos o que resolvemos esque -
cer" . Se m d úvida ; ma s não há co mo negar que isso já co ns titu i um processo
ativo, um a prá tica da memória: no sso cé re b ro "le mbra" qu ais s ão as memórias
que.não q uer trazer 11tona, e ev ita recordá-Ias: as humilhaçõ es. por exe m plo, o u
s slluaçôl:s profundam ente desagr ad ávei s o u inco nveniente s. De fat o , n ão as
esquece, pelo contrário : as lembra muito bem e muito se le tiva me n te , mas as
torna de di fícil acesso.
. O passado, nossas memóri as, nosso s es q ueci me ntos voluntários, não só no s
d~7.em quem somos, como também no s permitem projetar o futuro; isto é, nos
dI7~rn, qu e m poderemos se r. O passad o co nté m o ace rvo de dados, o úni co qu e
POS.-;Ulrnos. o tesouro que nos permite tr açar linh as a partir dele , atravessando ,
12 I Iván Izquierdo Memória I 13

rumo ao fu turo , o efê mero pr e sente e m lutivflS são parte de nossa ~em~ria e
Só lembramos aquilo que grava- Procuramos laços , geralmente cul-
que vive mo s. N ão so mos o utra cois a se e m para nossa intercomurucaçao . Os
mos , aquilo que foi aprendido . ruraisou de afinidades e, com base
não isso; não podemo s sê -lo. Se mio te- lli nho s ajudam-se uns aos o u tros
em nossas memârias comuns , ter-
mo s hoje a Me d icina e ntre nossas me- 'W\ndo passam po r dificuldade s. Os h~­
mamas grupos .
mórias, não poderemo s pra ticá-l a ama- I00 S, emhora às vezes pareça o cont ra-
nh ã . Se não no s lembramos de co mo se faz para ca minha r, n ão poderemo s fazê- ta mb ém. procuramos laço s, ge ra l-
lo . Se não recebemos a mor quand o cria nças , d ificilme nte sa bere mo s ofe recê -lo nte culturais o u de afinid ad e s c, co m
quan do adullos . sm no ssas me mó rias comuns, formamos gr upo s: co ma rca s, tribos, povos,
O co nju nto d as me mó rias de ca da um det ermina aq uilo q ue se de no mina des, comunidades, países. Co nsideramo -no s membros de civilizaçõ es int eiras
pe rsonalidade o u forma de se r. U m human o o u um a nima l criado no medo será nos dá segura nça, porque nos propor cion a co nfo rto e identidad e co le tiva.
mais cuida doso, introve rtido , lut ador o u re sse ntido, dependendo de suas lcrnbran- n timos apoiados pelo re sto do gr upo, cha me-se es te familia, bair ro, cidade,
ças especificas mais do que de suas propriedades co ngê nitas. Nem seq ue r as memó- ou continente. Os europeus c os norte-american os , por exemplo, clarame nte
rias do s se res d anad os (co mo os gê meo s un ivitelinos) são iguais; as expe riências rtencern à Civilização Ocidental, Mas de n tro desta, pertencem de man eira mais
de vida de cada um são d ifer entes. U m a vaca d a nad a de o u tra vac a terá mais ou nhável aos gru po s que se nte m mais próximos porque com eles compartilham
menos acesso à co mida do que a vaca origina l, fica rá prenhe mai s o u menos ve zes, rie de memó rias e uma história. 1~ comum que morando, digamos, nos
se us par to s se rão ma is o u menos dolorosos, sof re rá ma is a chuva o u o ca lor que a Unidos, os euro pe us tendam a se associar e nt re si e os latino- american os
o utra ; e as duas nâo se rão exa tame nte igua is, exce to na a pa rê ncia física. Il'nbém; geralmente mais do que com os nati vos do lugar. A recordação de h ábitos,
Memó ria tê m os co m pu ta do res, as bib liotecas, o cacho rro que no s reconhece tu rnes e tradições que nos são co muns leva a pr eferências afet iva s e sociais.
pel o che iro d epois de vá rios a no s, os e lefante s d e q ue m se d iz tere m muit a (mas ide ntid ade dos povos, dos pa íse s e da s civilizações pro vém de su as memó-
nin gu ém me di u) , os povo s o u pa íse s c , logicame n te, nós, os hu m a nos. m uns, cujo conjunto denomina-se Hi stória. A Fra nça é a França porque
M as cad a e le fa n te , cad a ca cho rr o e ca da se r h uma no é q ue m é, um ind ivíduo habitante s se le mhram de coisa s francesas: Ca rlos Magno , Nap ole ão, Vict or
d ife re nte de qualq ue r co ngê ne re, gra ças justa me nte à me mória; a coleção pe ssoal , Verlaine. O co njunto des sa s lembran ças faz co m que os fra nceses se sin tam
de le mbra nças de ca da ind ivíd uo é dist in ta d as demais, é única . 'Iodo s recordamos ~j a m frances es. O mesmo acontece co m o s demais paíse s e as memóri as em
no sso s pais, mas os p ais de cad a um de nó s fo ra m d iferentes. 'Iodos record am os. mnm de seus habitante s. Nós so mos membros da Civilização Oci de nta l porque
gera lme n te vaga mas praze ro sam ente , a casa o nde passamos no ssa p rimcira his tó ria comum inclui M oi sé s, Césa r. Jesu s, o monot eísm o , os gr ego s, os
infâ ncia ; ma s a inf â ncia de uns foi m a is fe liz q ue a de o utros, e as ca sas de alguns nos, os b árbaros, o s ce ltas, os ibéricos, Co lom bo, Lutero , Michel angclo, as
de safo r tunados tr a ze m más lembran ças. 'Iodos record a mos no ssa ru a, mas a : uropc ias que todo s falamos. Fora desse ace rvo histórico comum a todos,
ru a de ca da um foi d ife rente. E u so u que m so u, cada um é quem é, porq uc todos " (;IS do Ocidente temo s uma identidad e indi vidual que depende da história

lembra mos de coisas que nos s ão p róprias e exclusivas e mi o pe r te nce m a ma is da um de nós. Assim, e spa nhó is, ingle se s, cstad un ide nsc s, bra sileiros,
ninguém. No ssas memórias fazem co m qu e ca da se r humano n u a n ima l seja um gua io s e argent inos po ssuímos memórias (histó rias) pr ópria s de ca d a país e
ser único , um ind ivíd uo . n os distinguem dentro do marco maior da C ivilização O cide nta l. Co mo foi
O ace rvo d as memórias de cada um !l O S con ve r te e m indivíd uos. Po ré m, tanto ~~I ~1Jt 80 nos encontrarmo s num mei o cujo ace rvo coletivo de memória s é outro,
nós co mo os demais a nima is, e mbo ra ind ivídu os, não sabe mos vive r muito bcm br imos el os e n tre os diferente s grupos, ba seado s na memória co le tiva que
em iso la me nto : for ma mos gr upo s. "De us o s cria e eles se juntam", afirma o di tmlo . Jl)ve novas" c·\S• S • l IC IiIÇOCS.
' •- aA SSIm,
'
para um h ra st'1 c tro
' na 1'"1
' 1 a d e' lf'la o u e m
po pular. Esse Icn órnc no é tanto ma is in te nso e im port ant e quanto mais evo luído 'Wtlrk se r á. em gcn I . Iác íl h I '
... a mais aCI e sta e ecc r a miza de co m um paraguaIo . do que
m.rn nalIvo de Id a hr,
sej a o a nima l. i\ necessidade da int era ção e ntre membro s da mesma e spé cie. ou
e ntre diferente s es pé cies inclui, como ele me nto -chave, a co m un ica ção e ntre indiví-
du os. I :ssa comun ica ção é ne ce ss ária pa ra o hem-estar e para li sobrevivê nó ll .
.u:
'11 '
se~ se~tido mais amplo , e n t ão, a pal avr a "memória" abrange de sde
d ~cca llJsmos que o pe ra m na s placas de meu co m pu tado r a té 11 história
l)S

. 'I'iza çao,
. a Ndadc , país" po vo ou CIVI _ incluindo
. . . ra
as mcrnor . sm
. e, iviuu
" ,1 ' .1
uis uns
Nas es pécies mai s ava nçad as, o a ltr uísmo . 11 defesa de idea is co m uns , as c moçó e:-.
] 14 I Iván Izqu ierdo Memória I 1

a nimais e d as pessoas. Mas a palavra


' Memória" abrange desde os igno-
"memória" qu er di zer algo diferente em
ções sobre os neurônios
lOS mecanismos que operam nas
ca da ca so, porque os mecanism os de saber alguma coisa sobre os neurônios, já que são e les os que fazem,
placas de meu computador at é a
híst ónade cada cidade, pais, povo
aq uisição, a rmaze na me nto e evocação 'IZLl na m , eVocam e modulam a memória a nima l. H á ce rca de o ite nta bilh ões
J
são diferentes. urâ nios no cé rebro humano.
ou civilização.
Não co nvé m, portanto , en trar no neurônios têm prolongamentos, às ve zes de vá rios ce n tíme tros, po r meio
terreno fácil das generalizaçõ es c consi- uais estabelecem redes, se comunicando un s co m os o u tros. O s prolonga-
d erar que nossa memória é "igua l" a tal t.Qsq ue emite m informação em forma de sina is e lé tricos a o utros neurônios
o u qual tipo de memória dos co mp uta do res. Meu co mp utado r tem chips e pre- min am-se axônios. O s prolongamentos so bre os qu ais os ax ônios colocam
cisa e star ligad o na tomad a para func io na r; e u, ce rta me nte não. Ali ás, se eu . (armação se chamamdendritos (Figura 1.1). A "tra ns fe rê nc ia" de informa-
co loca r os dedo s na tomad a sofre re i um cho q ue , e a pre nde re i uma memória Ul1 axônios pa ra os dendritos é feita atravé s de substâ nc ias químicas produzi-
qual meu computad or é pr ofundamente incapaz: a de evita r colocar os dedos na as terminações dos ax ônios, denominadas n eurotransmissores. O s pontos
tomada. Também não co nvé m fazer d emasiadas a na logias entre me mó rias de terminações axônicas mais se aproximam dos dendrito s se chamam
índo le diferente , co mo a memória indi vidual d os se res vivo s pessoas c a memó- são os pontos reais de intercomunicação de células nervosas. Do lado'
ria coleti va do s paí se s. Fora o as pecto mai s a m p lo d e sua definição, sã o coisas >, nas sinapses, há proteínas específicas para cada neurotrunsmissor,
di ferente s. O s processos subjace n te s a ca da uma são co m p le ta me n te distintos. receptores. Existe m muitos ncurotransmi ssores e muitos receptores
A memória human a é parecid a co m a d os demais mamífero s no referente a se us s: em capítulos seguintes ve re mos os principais del e s e nvo lvidos no s
mecanismos e ssenci ai s, às á reas nervo sas envol vid as e ao seu mecanismo ~~os de memória. Os neurônios "recebem" terminaçõe s de ax ônios de
molecular de o pe ração; ma s não no relativo a se u co nte údo . Um ser humano utros neurônios: às vezes tanto como 10.000 ou mais. Mas emitem um
lembra melodia s e letras de ca nções, o u co mo pr ati car Medicina; um rato, n ão. ", que se ramifica no máximo 10 ou 20 ve zes . I~ como se os neurônio s
O s se res humanos utilizamo s, a partir do s 2 o u 3 a nos, a linguagem para adquirir, m que "ouvir é melhor do que falar": recebem informa ção de muito s
codificar, guardar ou evoca r memórias; as d emais es pé cies animais, n ão, Mas, neur ônio s, mas a retrunsmitern para uns poucos.
fora as áreas d a linguagem, usamos mai s o u menos as mesm as regi ões do c érebro receptores com os quais interagcrn o s neurotransmi ssore s podem ser
e mecanismo s mo leculares se me lha ntes e m cada uma delas para co nstruir e "rios ou inibitorios. Os excitat óríos diminuem transitoriamente a diferença
evoc a r memórias totalmente diferentes. te nciat entre o liquido interior do s neurônio s e o meio que os rodeia. Os
Neste livro , nos oc upa re mo s da memória do s humanos e dos mamíferos. ~ r i08 produzem o efe ito contrário: aumentam esse potencial. Para que um
i: Muito do que se sabe da primeira ve m de estudos feit os em a nim ais de lahorató- nlo possa produzir potenciais de ação e assim se co m u nica r com o s seguin-
rio . As memórias são fe itas por cé lulas nervosa s (neurônios) , se armazenam em isn ser despola rizado at é um certo nível , chamado limiar (Figura 1.1) . O s
redes de neurônio s e são evocadas pel as mesmas redes ncuronais ou por outras. Xcita tó rios e inibitó rio s das intera ções e n tre os neurotransmissores c
São mod uladas pel as e moçôes, pelo nível de consciência e pelos estados de únim l l . pto re s devem-se ao fluxo de íons para o interior da célula, o u desde o
Todos sabem co mo é fác il aprender o u evocar algo quando estamos alertas e de mrJQ.; dl ~ célula para fo ra. A entrada de íon s po sitivos o u c átions (sód io , cálcio)
bom â nimo; e co mo fica difícil aprender qualquer coi sa , ou até lembrar o no me .1 diferença de po te ncia l entre o interior da célula , que é negativo, e o

de uma pe ssoa o u de uma ca nção quando estamos cansados, deprimidos , lU entrada de íons negativos ou án ions (cloro l, ou a sa íd a de cátions
muito estressud os. l, produz um efe ito contrário.
O s maiore s regulad ores da aquisi ção, da forma ção e da evoca ção d as mem l í - ~ . pto~cs que, ao serem ativados. deixam pa ssar íons, denominam- se
ria s são justamente as emo ções e o s e stados de â nimo. Nas experiências que • 'PICOS.H á, porém, outros que, em vez de permit ir a pa ssagem de íons
deixam memórias, aOS olhos que vee rn se so ma m o cérebro - que compara - e ,I o ou para fo ra da célula nervosa, es tim ula m determinad os p ro cessos
' . ~gmlli..~s : estes' .se decnorrnnam me/a hotropicos,
" 11 a" turn I10m
' re cep to res n a ~
co ra ção - que bate acel erado . No momento de evo car, munas vezes e" o co t'11·"'~j O .
quem pede ao c érebro que lembre , e muitas veze s a lembrança acelera o cowÇl1(1· pré-sinúpl iclIs dos axônios por meio un s quais (\S me smo s ncuro-
ji

16 I- Iván Izqu ierdo I


-- Memória 17

ires liherado s em muito s ca so s age m so bre re ce p tores q ue mod ula m


prie Iibcraçáo- Por e xen~plo , . re ~ c~tore s p.ré -s i n ~ p t icos li no rad re~a l i n a
Dendr itos
i\.BA lver pr óxim o par ágrafo) ini bem a libera ção de no rad rc na lina o u
A.
• nios que liheram um o u o u tro tipo de neurotra nsm isso r. e os re ce pto ­
existent e~ nos dcndritos, cost uma m se r de no mi nado s se g und o o no me
ra nsm issor. Assim, o s ax ónios q ue libe ram gluta rnuto (o pr incipal nc u­
Sina pses
lr e xcila llír io) e se us rec eptores corre spo nde nte s são d e no m inado s
rJ1mpl'i '1(ims. O principal ncurot ransmi sso r ini bit ório é cha m ad o GABA (da
~. ti.tI ~ _ '< _ Corpo celular . ingl ês do ácido gama-amino -bllt ír ico ); o s ax ónios q ue o libe ra m e o s
aos quais se liga s ão denominado s GA BAérgicos. O s rece ptore s ü
\) chamados dopaminérgicos, e os ax ônios q ue libe ra m e sse ncuro ­
r. Ia rnbérn. O s receptores à noradrc nal ina se ehamam nvradrenélgicos,
no os ax ônios q ue liberam essa subst ânc ia . No ca so d a sc roto nina, usam­
Ej.W ,'tlossero/()nérgico cuseroton in érgic«). Nu cuso e m q ue o nc uro tra nsm issor
'na, usa-se a expre ssao colin érgico ,
'los subtipos de cad a rec eptor, c em ca da ca so , a int e ra çáo do rcspccti­
nsmissor sobre ele s pro d uz efeitos complet amente d ife re nt es. Assi m,
ce p to rcs dopurnin érgicos, hú os subtipos D I, 0 2, ctc.; pa ra o s nora ­
I os subtipos a. h. ctc.: para os scro toni n érgico s, os IA , 113, 2A. c tc .:
I1né rgico s. os muscarínico s e os nico tinico s. Es te s últ imos siin a ssi m
:1
1
o rq uc no pr imeiro, a subst ância m usearina é ca pa z de mime tiza r o s
rce tilccrlinn, e nos se gundos. a nicot ina é capaz d e fazê -lo .
I 1 drngas (suhs t áncius] q til' imita m n u mimc tiza rn o efe ito dos trunsrnis­
~hrn se us receptore s, Duas fora m mcncion ad a s. umhas de o rige m ve ge ta l.
Terminais ax ónicos

do s rel' epto fl:s colin6r gico s: a m uscur ina e a nicot ina. I :ssas s ubst ân­
tica s, junto co m o próprio ne urot ra nsm issor , se de no m ina m agonistas .
"e tilco lina e a mu scarina s ão agon istas m uscarinicos, e a uccrilco lina l'
LI agonistas nicotinicos.

lb~ m suhstúnc ias ca pa zes de se liga r aos recept o res e m luga r d o s


I Figura 1.1 ~llnlJ ~ So re s corrl'spondentc s, impe d indo dessa for ma sua uçâo . Essas
Célula pira mid al do có rtex ou do hipocam po . Ob serve-se qu e há muitas sinapses em
.rnma m-sl' antagonistas. Por exe mplo , li csc opu lum ina é um a/!/{Igo//is­
seus dendritos e qu e ela emite um axônio qu e se ram ific a e faz. por sua vez, sinapse ~.. . .1

com outros neur ô nio s de difere nte for mato. Um a dessas sinapses mostra-se em for­ l er) ou uc rece p to res mu scarínicos. I J ;Í agon istas c a ntagon istas sint é­
ma amp liad a, à d ireita . ra todos os subtipos de re cept ore s co nh ecidos (m a is de 2,()()()), e ()
~Iro t ra nsm issores e de cad a recepto r s âo c st miado s a través do e mpre ­
)gus.

lla to , o (iABA, a dopamina. a no r ud rc n ali n u, a scro to ni na e a ucc ­


. I()léeul'\s ' ' .sinlp Ics e rc Iuuvurnc
' nt c pelllle na s..s- · . .
ao esse s os pnl1l.:lp:IIS
~DJm:l IS"' l l re ,s cn
~
v°lu()S
1\" " com os pr ocesso s l Ie mc rno"r ru. I -xi.stc m, porem, ,
1I1 :
18 I Iván Izquierdo Memória I 1

muitos outros, de moléculas maiores' Uma lesão do lobo temporal produz alte ra ções semelhante s de
Oglutamato, o GABA . a dopamina.
muito s deste s sã o pept ídeo s, o u seja. se~ ho me m e no camundongo , por exemplo. A int erferência com det er­
a noradrenahna, a serotonina e a
'I u ências de aminoácid os mai s CUrlus do ~ ~Sl"O d e uma cade ia de reaç ões bioqu ímica s no cérebro do rato e do
acetilcolina s ào moléculas simples
que aq ue las que constituem as pro, iWrillLm efeito s parecidos sobre a memória em ambas a s e spécies.
e ralativarnente pequenas . São os tc ínas.
principais neurotransmissores en­ chado s em aves ou em invertehrados indicam que os mecanismos
I l á subs t âncias liberadas pelos axô­ rmação de me mó ria são se me lha ntes aos dos mamíferos e podem
volvidos com os processos de me ­
nio s que atingem receptores disse mina_ litifde rodo s, portanto, propriedades b ásicas do s siste m as nervo sos em geral.
mória.
"1 do s por muit os neurônio s vizinhos, e espécie. Uma le sma, uma abelha, um pint o , um camundongo e
não simplesme n te sobre o de ndrito mais ano , quando submetidos a um e stímulo que causa de sconforto, apren­
próximo. E ssas subst ânc ias Se denomi­ me nte a mesm a coisa: evitar esse estímulo. De fat o , isso constitui
nam neurom oduludores, M uitos são de e aprendizage m denominada esquiva inibit ória: o animal inihe su a
natureza pept ídica, co mo a ~ -endOljin a , que é liberada por neurônio s cujo corpo colocar os ded o s na tomada o u o bico onde n ão deve. Es ta é. por
ce lula r e st á no hipotál amo so bre mu itas c élulas do próprio h ipo túla mo e tia llJlIZCIfIS. fi forma d e a pre nd izage m mai s utili zada no s e studos biológicos
áre a ime d ia ta me nte a nte rior a es te . de no mi nada á rea prc óptica, e no núcleo ~Jl]emó r ia : é muito simples, se adquire numa única vez, permanece por
amigd al ino o u amígdala. O s horm ônios h ipofisá rios vasopressin a c oxitocin a, que (às vezes toda a vida) c tem um va lo r biol ógico importante . t';: o
regulam a produção de urina e as co ntraçõ e s do útero, re spectivamente. a tuam de aprendizado que usamos para olhar para os lados antes de atravcs- '
também so bre numerosas sina pscs ma is o u menos es parsa s. O óxido nítrico (N (») lU pa ra evitar luga res perigosos ou pesso as que no s s ão desagrad áveis.
e o monóxido de ca rbo no (CO) sã o libe ra dos pelo s dcnd rit o s de sin a pscs gluta­
mat érgicas que acaba m de se r e st im ula das e di fundem r umo ao axônio q ue foi
es timu lado, e a m uitos o utros na vizinh a nça, num raio de 0,1 rnm o u mais. Lxistem uas deform a ç õe s
centenas de neurornodul ador es: aq ui só foram me ncio na dos os mais im po rta ntes rnória pessoal c coletiva descarta o trivial e, às ve ze s. incorpora fato s
e m rel ação à memória. H á, tamb ém, ago nistas e a n tago nistas dos mod uludorcs, mos perdendo, ao longo dos dias e dos an os, aquilo (lue não intere ssa ,
muita s ve ze s usado s co mo me dicame n to s e o u tras co mo fe rra me ntas para a pes­ ue n ão nos marcou: ninguém se Iemhra em que an o foi co ns tr uíd a aqu e la
q uisa bio ló gica de sua fun ção. do o utro quarte irão ou onde morava aq ue le co leg a da esco la com quem
'l';lUCO contato. Não costumamos lembrar se q ue r detalhes da tarde de
s tambérn vamos incorporando, ao lon go do s an o s, mentira s e varia­
Sobre ratos, camundongos e aves
ralme n te as enriquecem. Pessoas (avó s, tio s, ami gos, co m pa nhei ro s
l~ po ssível inte rvir nas redes de neurôn ios dos a nima is de labor at ório utra ves ua que n ão foram, no seu momento, mai s d o q ue co m uns, adquirem um
estimulaçã o e lét rica, da ext irpa çâo de gr up os del as o u da ad mi nistração de d rogas roico ou de alguma maneira hrilhante. l-rn ge ra l. so mos ben ignos e
qu e agem so bre e las. Tamb ém é po ssível ana lisar as altera ções bioq uímicas pw uu­ qu ando lem hramos os mortos, embo ra e m vida o s co nsid e rásse mos
zidas no s neurônio s pel a es timula ção, pel a formação o u pela evocaç ão Ué uma UhHS. Inúmeras estátuas cquc stres nas pra ças públicas o a tes tam : lá cavu l­
memória d eterminad a. Pod emos co loca r câ nu las o u el etrodo s no cé rd ll'll de ~.-~wa me n te personagens que, em vida, fora m odiados o u igno ra d os pe lo
animais como os rat os o u os ca mu ndo ngos de lab orat óri o, es pecia lmen te criauos regos e todo o Ocidente lembram a Atenas de P ériclcs como algo
para seu uso ex pe rime nta l. Graç as a isso fo i po ssíve l des vend a r os meca nismoS não Como uma terra onde existiam escravo s. O Bra sil se se n te mais
principais de muit as fun ções nervo sas, e ntre e las a memória . Co mo , basicanK l1te, lInnd (~ se lemb ra do samba, mio dos pelourinhos e do s lá tegos q ue cas tiga­
os sistemas ne u ro na is de tod as as es pécies de mamíferos são m uito se mclh a n t L' ~ us mventn res. A Espanha se se nte mai s Espa n ha qua ndo lembra a
er IStlbe l em cujo . d () o pai' s se um'1"ICOU e fO I. d csco hcr t a a , \ mcnca
' .r., ,
(o homem, o rato e o ca mundo ngo po ssu em lobos cerebra is), pode mos lal . rema
S
inferências se nsa tas d e achados numa d e ssas es pé cies menores e rcJacio n:í-la ndo lembra li Isabel inflexível que exp ulso u os mo uros e os j udeus.
20 Iván Izquierd o

"Memória" e memórias
--- Me m ó ria

m ória que e u possa const ruir a part ir de uma dete rmin ad a ce na o u um


I 21

"nto mio é a me sma que fará um cac ho rro , q uc te m um a vist a mu ito


As memóri as do s huma nos e dos anima is p rovêm d as experiê ncias. Por i s~o , é u ~ o lfato muito melhor do qu e c u, e não tem lingu age m. Nó s costuma­
mais se nsato fa lar e m " me mó rias", ~ não e m "Me mória", já que há tant as ml.: nll'l_ 'r imagens. conhecimento s e pessoas e m palavr as, c muita s vezes as
rias q ua nto expe riê ncias possíve is. E evide nte q ue a me mó ria de te r colocado lls corno memórias só como tai s. No deco rr e r do s a nos. e ssas pa lavras
de dos na to mad a nã o é igua l à d a p rime ira nam orad a, à da casa da infân cia. Íl de mdo vazias de conteúdo e acab am se pe rdendo també m. A Med icina
sab er and ar de bicicle ta, fi do perfu me fugaz de um a flor, à de tod a a Medicina. . 'I de exemplos disso . H á pouco mais de um séc ulo, Cha rco t e Frc ud
'\ lgumas de ssa s me mó rias são ad q uiridas em se gundos (a da to mada. a da flor). m fi "histeria": há 70 o u 80 ano s os psiqui at ras es tudavam a su rm énage .
outras em se ma na s (a nd ar d e bicicle ta), ou tr as em ano s (a M e d icina ). U l1l a ~ SÜll das duas do enças existe na nomenclatura médica de hoje e m di a: a
m uito visuais (a casa da inf ânciaj, outras ilveu-sc em várias sindrorn cs qu e lev am o utro s nomes; a su rm énage
só o lfa tiva s (a do pe rfume da Ilo r j , ou. hoje como u ma da s formas mais pe rve rsas da depressão , aq uel a que
As memórias dos humanos e dos tras q uase co mple tame nte mo toras ou próprio trabalho o u do exe rc ício d a pr ofissão o u d a ativida de co m
an imais provêm das experiências. musculare s (nad ar, a ndar de b icicle ta ]. nhliJllOS a vida e da qual não podemo s pr escindir (burn out syndrom e s. A
Por isso , é mais sensato falar em A lgu mas dão p ra ze r; o utras são terrí­ bumout é bas tante frequente entre cu idado re s de pacientes cr ôn icos ­
"memó rias", e não em ' Memória" , ve is, A lgu mas me mó r ia s co nsiste m dicos quc trabalham só em urgên cias e es tão, portan to, e m perm an ente
numa súbi ta associação de o utras me­ tragédia humana. quase se m de scan so .
mórias preexistentes. co mo qu ando Ar­ um processo de tradução e ntre a realidad e da s experiê ncia s e a forma­
q uimcdes grito u "F urc ka!". O ut ras mio mória respectiva; e o utro e ntr e es ta e a co rre spo nde nte evo cação.
req ue re m ne nhu m co nhe cime n to prévio, co mo a de ixad a pe la exp eriê ncia dos ilA1, nós o s humanos usam os muit o a linguagem para fazer essas trad u­
dedos na to mad a . Algumas co nsiste m nu m baralha r de memórias sem a lógica ima is n ão. A~ e moções. o co n texto e a co mbin ação de a mbos inllucn­
associativa q ue usam os na vigília: os so nho s. d o s quais m uitas ve ze s nus lembra­ ~'lIqUis i li :lO e a evocação, co mo vere mos mais adia nte .
I
I I
mo s ma is do q ue dos fa tos re ais, c co m e le s os mistura mo s. cesses de tra d ução, na aq u isiç ão e na evocação, devem-se ao fat o de
Certame nte. o s meca nismo s nervosos de cada um de sse s tipos de me mória m bas ocasiões, assim como dur ant e o longo pro ce sso de conso lida ção
li! não pod e m ser o s mesmo s; e muit o me no s os co mpo ne n tes e mo cio nais de cada !pU:g-'Çii o de cada memória, utili zam -se redes co mp lexa s de neurônios. Os
u ma . Ne ste livro vere mos q uais são es ses meca nismos nervoso s e co mo s:io in­ re cessos utilizados pelos neurônio s não são idênticos à rea lida de d a
flue nciado s pe los d ive rsos co mpo ne n te s emocio nais. m ou à qual reve rtem as informaçõe s. Uma experiê ncia visua l penetra
I Ta lvez seja sensato rese rvar o uso d a palavra Me mória para de signa r a capaci­ . transformada em sina is e lé trico s, chega a tr avé s de vária s co nex ões
d ade ge ra l do cé re bro c dos o utro s siste ma s para adq uirir, guard ar e 1l' mbrar fIO córtex occ ip ita l e lá cau sa um a sér ie de proce ssos b ioquími co s hoje
info rma ções; e uti lizar a pa lavra "me mórias" para designar a ca da uma { l U a 1lhecidos. U ma informação ve rbal, e m bora possa penetrar tamb ém
cada tipo del as. _ por exemplo, q uando lemos), acaba e m outras regiões do córtex cc rc­
O pr ó prio co nce ito de me m ória e nvolve a bstrações. Podemos le m bra r de ltu~a de uma part itura mu sical, e mbora também te nha co mo pon to de
ma neira vívid a o pe rfume de um a flo r, um aco n tecime n to, um ros to, um poe ma. una, ocupa de.. po is múltipla s
a pa rtitura de um a sinfonia inteira, co mo fazia Mo zart q uando criança. o u um lulas de muitas regiões do cór­
vastíssimo repe rtó rio de jogadas po ssíve is de xad rez, co mo fazem o s gra ndcS 1. -: informaçáo olfativa pc_ Existe um processo de traduçào
me st re s de sse jo go. Ma s a lemb ra nça mio é igual ü re alida de . A memlÍrin do anz, não pelo~ o lhos ; a gusta­
entre a realidade das experiênc ias
per fume da rosa não nos tra z a ro sa ; a do s ca be los d a prime ira na morada nlio a In, etc. Há regiões do c ére­
III 11
e a formação da memória rsspec­
traz de volta , a d a vo z do amigo falecido n âo o recupe ra . I l á um passe de p r" ~- todas essas vias convergem.
nva; e outro entre esta e fl corres­
. . . çâo
tidigita - ce rc I1ra I 11ISS0
' • h ro co nve rte a rca 1nrau
; o ccrc '·1 . 1 c em CO( Ign s. c :' 1 "Vlll
- 1°
~
,l . COmo vere mos, são usad as
pondente evocaçéo
também através d e cód igo s. na evocaçiio de memórias.
22 I Iván Izquierdo Memória I 23

Ao co nve rte r a re alidad e num co m p lexo có d igo de sin a is c1<5tricos e bío ' ,U menos preservadas, na s quais so bre vive m algumas memórias.
. _ . d N - . . qUI .
miCOS, o s ncuroruos Ira uzem . a evoca çao, ao reverter e ssa ml ormaçéio par Sq uire e de Wa rrington podem ser facilmente e nco n tra do s no
mei o qu e nos rodeia, os neur ônios rcconvertcrn sina is hioguímicos ou estrutu a . d ou outros q ue tenham ace sso li Mcdlinc, na internet.
, · d . . ral
e m e Ie tn cos , e maneira que no vamente no sso s sentidos e no ssa con sciênc', is páginas exp loraremos os diferentes tipos o u formas de mern ó­
. , I d
possam interpret á- os co mo pertencen o a um mundo real. ..
!l<oismos, sua pa tologia, sua modulação pelas e mo ções c, claro, o
Em cada tradução oc o rrem perdas o u mudanças. Qualquer um que tenha
lido poemas no idioma o rigina l e depoi s numa tr adução terá perce hido que h
I uma perda ou uma mudança. Os ital iano s cu nhara m há muitos anos, a Iras
"traduttore = tradiiore" (tra d u to r = tr aidor) para denotar es sas perdas e altera.
ções.
II Ao penetrar na an álise do que é a "Me mó ria" o u, quem sabe , so me nte de "o
que são as memóri as", a travessa mo s uma fronteira um pouco mágica. b pcro
[I" que o leitor me aco m pa nhe na ex plo raç ão dessas magias na s páginas q ue seguem.
Borges escr eveu co ntos magn ífico s so bre o bje to s reais criados através do pensa.
mento o u da memóri a. Isso é, claro, ficção; no es tudo da memória real do s hurna.
nos ou dos animais não se chega a tant o. Mas é um lado da ciência em que a
l magia es tá ba st ante pr e sente ; um lad o e m que há vá rios jogo s de biombos ou de
es pe lhos e m cada tr adução o u transformação.
Porque, a fin al, tr aduzir quer dizer n ão só ve rte r a o utro có d igo, mas tamb ém
I transformar. H á a lgo de pr e stidigitação nessa a rte que tem o cérebro de fazer
memória s, de tr an sformar re al idad es, co nse rvá- las, às ve zes modificá-Ias e re­
I vertê-Ias ao mundo re al. E h á também ma gia naquel a o u tra no bre arte. a do
esquecimento, se m o qual o pr óprio Borges af irmava que é impossível pensar
(Izquierdo, 2010 ). Se m o esq uecime nto, o co nv ívio e ntre os membros de qualquer
espécie animal, inclu sive os human os, se ria impossível. Cada reunião de condorní­
nio , cad a jo go de fute bo l, cada e leição par a vere ad or, cada di scussão de um
casal, acabariam num de sastr e . U m dos maiores estudiosos da memória, o norte­
american o James McG au gh , disse que "a ca rac te rís tica ma is saliente da memória
é ju stamente o e sq uecime nto" . Se pedirmos para o médico mai s fa moso do muno
do que nos conte tudo o que sa be de Medicin a, e le poderá fa zê-lo em poucas
horas; levou 6 an os de f aculdad e , 4 de re sid ência e décadas de prática para
aprendê-lo . A imen sa maiori a de tud o aq uilo que a pre nde mos, de todas as inúme·
ra s memórias que formamo s na vida, se ext ingue o u se perde.
Outros grandes investigad ores da memória, como o também norte-americ~no
Larry Squire, o u a ingle sa E lizabe th Warrington, manifestaram sua perplexida­
de diante do fat o d e que nos quad ro s de generativos ce re bra is mai s gra ves,.ern
que o esquecimento é e no rme (a doença de Alzheimer, por exe mplo) , seJarn
tantas as memonas , . qu e am . d a se co nserva m. A sugestã o que emerge desse . fato
, .~
é que , no mei o d as lesõ es, persist am " ilhas" compostas por redes nc uro n,lI -

111
p OS e for S de memória

'tAls dassificaçôcs das mem órias: de aco rdo co m sua função . til: acordo
tempo qu e d uram c de acordo co m se u co nte údo.

undo sua função:

t 'buiaJmc ntc J o i!> tiros de mem ória de acordo co m sua fun ção . Uma, muito
fugaz, serve r ara "ger enciar a rea lidade" c det erminar o context o em
iversos fatos. acont ecim e ntos o u o utro tipo de infor mação oco rrem, se
na ou nào fazer uma nova me mó ria disso o u se esse tipo de iníorrna çâo
[11 dos arq uivos. (~ a me m úr ia de tra balho. Serv e para manter d urante

Jliln!:seg undos, no m áximo pou cos minu tos, a informação qu e es tá sendo pro -
:I no mome nto, e tamb ém para sabe r ond e es tamos o u o que estamos

Io fi cada mo mento, e o que fize mos o u o nde es távamos no momento


" r. Dá cont inuidade. assim. a nosso s a to s.
memória de trabalho diferencia-se da s de mais porque não de ixa traços e
duz arquivos. Os de ma is tipos de memória, co mo vere mos, sim.
memória de trahalho se define me lhor através de exe mplos . Usamos me-
tmhalh o. por exemrlo. ljuando "co nserva mos" na consciência por alguns
t)~ a terccira palavra da frase a nte rior (q ue a est a altura, já esq uecernos).
~nÇllo dl'~S'1 pac l:dvrasn
• '" o.C
, " servlU par a con segulr . cnten d e ressa f'rase. seu cont ex-
19r1llicado do que veio a seguir. Usam os a mem ór ia de trab alho quando
nt8mos parao
'11 " f .
c . c guem o nume ro de te le one do dentista : conse rvamos esse

.l () tempo suficiente para discá-lo c, uma vez feit a a co municação corres,


nte. o l'SljUecen10S.. U m exe mplo up ' ico
, de memon , .a d e tra b a Iho e' o d a
palavra de mi h t' .
1111 a rase ante rior : ao ler , a co nservamos por alguns se gun-

R _
26 I Iván Izquierdo Memória I 27

do s, o suficie n te par a pod er e nten Lados de ânimo , do s níveis de co nsc iê ncia c d as e moções. Os
Usamos a memória de trabalh o
es sa fr ase e talvez a seguint e: mas a s lihe rados po r e ste s ax ônio s, 'Im: vê m d e es tru turas muito
quando perguntamos paraalguém
quecemos para se mpre, logo depois udare mos em ca pítulos posteriore s, modulam int ensa mente as
o numero de telefone do dentista:
e scr evê-Ia, c u tive que co n se rvá . l~ n ntal que se encurr egamda memória de tr ab alh o ; os pr incip ais
conservamos .esse número o
minh a me nte tam bém por algun< ~ .,se' ,gu res modulado rcs da memória de tr ab alho no có rtex pr é-Iontal
tempo suficiente para discá-lo e.
dos para sabe r o 'I uc es tava l:scrcvcnd a acetilcolina - agindo sobre receptores mu scar ínico s - e a
uma vez feita a comunicação cor-
c a pagá-Ia lo go depois, pa ra não c() ndo sobre receptores Dl.
rsspcndente; o esquecemos .
'I fund ir minh a es crita , sfnto tão conhecido de que um e sta do de â n imo negat ivo , por
I
A memóri a d e tr abalho pode ~.... Ita de sono, po r de pre ssão ou por simp les tri steza ou de sânimo ,
medida a través d a memória imedia ta 'memó ria de tra balho. Todo s nós alguma vez tivemo s a experiência
d e fa to , ambos os te rmos pod em se r considerad o s sinô nimos. Um bom teste de a ler ou ouvir c e nte nde r algo, o u simples me n te recordar um
me mór ia d e tr abalho , muito utili zad o na clínica, é o d a lembran ça de n Úme f('~ n~ por tempo suficiente pa ra discá-lo , quando es ta mos distra ído s,
no Brasil, esse te ste é co n hecido por se u nome e m inglê s, digit span, Ml\stram. lt.Il vontade.
-se , o u falam-se , par a o pa ciente , vá rios núm e ro s. D epo is de algun s scgund nsideram a me mó ria de tr ab alh o co mo um ve rdadeiro tipo d e
os suje itos norma is ge ra lme nte co nsegue m lembrar se te o u o ito alga rismos. Um somo um siste ma gerenciad or ce n tra l (central munuger) que m an-
paciente co m a do ença de Alzheimer e m es ta do ava nça do co nsegue lembrar "viva" pelo te mpo suficiente par a poder eve n tua lme n te e ntra r
a pe nas um, talvez d ois. ria propr ia me nt e dita. A expressão "memória de tra balh o "
A mem ória d e tr ab alho é pro ce ssad a fund amentalmente pe lo c órtex pré- ti co mp u taç ão e se e mprega pela ana logia co m siste mas que
fr ontal - a porção mais a nte rior do lobo fro n ta l (Figura 2.1) - suas porç ões anu unção nos computadores. D e fato , a memória de trab alh o d o s
ro la te ra l e órb ita-fro nta l e suas co nexões co m a amígdala basol at cral e o hipo- huma nos obedece simples me nte à a tividade neural de cé lulas do
ca m po , a través do có rtex c n to rrina l. A memória de tra ba lho, também ch amad ta l em resposta imedi ata ou levemente re ta rdada (segundos, oca-
d e memória o pe raciona l, depende , simp les me nte, d a a tividade elé trica dos neu- :millutoS) aos estímulos que a co loca m e m ação . Não deixa tr aço s
rô nios d essas re giões: há neurônio s que "dis pa ra m" se us po te ncia is de ação Oi u comporta rncntais.
início; o utros, no meio e out ros, no fim do s acontec ime n tos, seja m es te s quai r enciado r da memória de trabalh o decorre d o fa to de que esta,
fo re m . A s cé lu las que detectam o in.icio e o fim dos aco nteci me ntos de nominam- receber qualquer tip o de info rmação, deve determinar , e n tre
se neur ônio s on- e neur ônio s oif-, e nco n trados não só no có rtex p rcl rontal corno se essa informação é nov a o u não c, e m último caso, se é útil para
também e m todas a vias sensoriais. u não. Para fazer isso, a memória de tr ab alh o deve ter acesso
Os primatas não humanos têm uma ca pacidade de memó ria de tr abalho tã m óri as preexistente s no indivíduo ; se a informação que lhe chega é
bo a quanto os humanos. Em todas as es pécies, o có rtex pr é- frontal aLUa em ,Ve rá registro dela no rest o do cére bro, e o sujeito pode a pre nde r
II "conluio " co m o córtex entorrinal, o p ari etal supe rior e cingulado a nkrio r. n nova memória) aquilo que es tá recebendo d o mundo exte rno o u
I
co m o hipocampo para gerir a memória de tr ab alh o. O "conluio " é feit o a lrl ~V ;'Sêxplorações da memó ria,
d a troca de informações entre essas regiõe s ce re bra is por me io de suas con~X(.' ~ ' lo siste ma gerenciador do
A memória de trabalho não é acompanhad a por a lte ra çõ es biol/UllnJCWIS ~ ' ~ront u l , são feitas , se gur a-

I I~ I .unportantes. Seu breve e fugaz


, processamento par ece depen d er fun d a men . ta1 -
mente da atividade elétrica dos neurônios do có rtex prefrontal. M as , col110 ~' l m(t:
das conexões dessa re-
te,lt entorrinal, com o hipo -
A expressão "memória de traba-
lho" provém da área da computa -
essa atividade elétrica neuronal, ao viajar pelos axô nios e at ingir sua extrcml~ad...; m as demais áreas e nvo lvi- ça o e se emprega pela analogia
lib . • • . . scgrUl ntl:. ~(' I'_~"') S de . .
1 e ra neurotransrrussores sobre prote ínas receptoras d os neurOlllOS . . mcmOfla em ge ra l com sistemas que cumprem essa
co munica ndo , assim, traduções bioquímicas da informação pr ocessada. O corte POssibilidad e s d e que

i
uação nova , ocorra o u não' função nos computadores.
pr é -frontal recebe axônios procedentes d e regi ões ce rebrais vincu lad as com

1
28 I Iván Izq uierd o Mem ória I 29

, Jo ,
nu lia ' 't'-I'1
(;~ .,
d et e rminad as pe la m em ór ia d e tr a b a lh o c su as co n exõ es
• '
' ''s sb tl' m lls m ne m onlCOS,
Ue ma \. · q ue e s ta' 11te c Iicgan doo e
, I'orrna çao
, 11'111'1 p 'lra vori,fica " r se a 111 é

nlCsl11a II " ' , • , , ~ ,


, di -ial P'll"l ll o rga nJsm o , a mc rnorm de tra b a lho d e ve in d aga r, Junto
preJu IlI, " " ~ ' " , " " ,
Hipocampo , ' .t 'll1'IS m m:m o l1JCOS a t rave s d o c órte x cnto rr in a l, as PUSSIVCIS rc la -
ma lSSIS l , . ' , ,
pcriêm:ia a t uul co m ou tras se m e lha n te s das qu a is po ssa haver regist ro ,
um in~d O d e scl1nh ecid o q ue é obse rvado pela prim e ira vez, o có rt e x
verificar se nâo lui me mó rias de o u tros insc lo s parecid o s em tama n ho .
u cor. Se , ao fazê -lo . verifica q ue o a n ima l p rese n te é mu ito se m e lh a n te
ue transm ite do e nça s. por exe mplo, o organ ismo poderá re agir fu gindo
[ O ou olirn inarulo-o. Se mio e ncontra registros pe r igo so s de inse to s o u
rcs scml'l llllnle s ao q ue e s t á neste m o men to observa ndo . po d e r á ad o -

Córtex entorrinal -.
.~
atitude d e ind iferença o u d e sim p les o bse rvação ,
es exemplos ilust ra m a impo rtân cia d o siste ma ope ra cion a l do córte x
(Al tal para a supervivéncia e para () "d iá logo" co nsta n te COm o me io e co m
; lcrnhrunçns. Esse d iá lo go depe nde da brev e conservação da info rm a-
• ente no cc rchro por te m po s u ficie n te pa ra exam iná -Ia c compará -la
Substância negra (DA)
poucos minutos). e do acervo de me mó rias d e curta o u lo nga d uraçã o ,
Lobo frontal
1IJ,lIl~'I\'IL'i ou proce d urai s. de cad a indivíd uo .

\ ~ Lobo occlpital

I
m ória de tra ba lho " pe rmite ainda o ajuste fin o d o co m por tame n to
"""'0 es te e <; ta acon tece ndo . Uma fa lha na memó ria d e tr a ba lho di ficu ltar ia
ti ll o julgnmenro so bre a import ância do s aco n te cim ento s q Ul' o co rr e m
>--- ente c, po rta nt o . prejudicar ia n os sa perce pção d a rea lidade , N a es-
há falha na mem ória d e tr abalho : o s ujei to fica inca p a z d e ente nde r
lIi!lrI ~11 1l' II rod e ia; ro r exe m p lo , o pacie n te pode e nxergar u m a pared e co m
lindas co n t ra da co mo u ma espécie d e qu ad ro o u como um a massa
>;1II cheia de cll r po s, cab e ças e perna s, F ie nã o di sc rimi na a s me mó rias

ou ~ucc~~i"a s dessas pe sso as q ue e stá ve ndo . Admite m m uito s a u tores


(Wemherg"
• " r" Duni1011) que o ca ra- te r a I ucm ' a to" n o d a rc a lid
I ad c para
nlcnsderi,
, . .. ,,.d'II"l
" oi h·, I na mc rno. nia I 1Iio . N essa doen ça, ohser-
a d e truba
....ltA r .. rOl· ~ m " I' ,
'I or 11 ogicas, ge ra lme n te co ngê n ita s, n ão só tio córtex pré -
(8) Lobo temporal Ilateral
, . mllS . turnh
, eém d e va"flas su Ir-rc grocs
, - d o h Ipoca
' r ' ra
mpo ( Figu
hIP O C' I 01 I , -: "
I Figura 2.1 , '
' \I , que c o principal e ncarregad o d e fo rmar memór ia s
,fl$ lo rma ln'.II ·'" ,sc' u con · tccuúd o pouc I se r a Iucmuto
' " r ro ,
(A) Mapa das principais áreas cerebrais envolvidas no processamento das m
declarativas , Observe-se que todas essas áreas estão interconectadas entr e
o hipocampo através do córtex entorrinal. Além disso, todas rec ebem inel'Vfl
grandes sistemas moduladores: o da dopamina , o da noradrenallna, o da ---- - - -
e o da acetilcolina. (8) Localização dos corpos celulares dos neurônios doS
, \lh l~ a U HH:c pção mod e rn a d e me m ória de trabal ho. co nsulta r '" :J rl i~os ma is
U'n FU\I"r e P..tlrk ia ( iolú ma n-R ak ic no lile E nl rez l'u h mcd o u qualquer ou t ro
sistemas moduladoras. na inl('rncl.
30 I Iván Izquierdo Memória I 31

Tipos de memória de acordo com seu conteuQo. Licas também s âo ad-


As memórias adquiridas sem a per-
memórias declarativas e procedurais . . a inconscientc ou im-
capç áo do processo denominam -
lplo . a língua materna.
A s memórias que re gistram fa tos, eve ntos o u co n hecime n to se chamam decl se implícitas, As memórias adqui-
uiridas sem a percep-
tivas, porque nó s, os se re s humanos, podemos d eclarar que existe m " '" I ridas com plena intervenção da
, , ~ 1")( ,C I
e no mina m-se irnplíci-
relatar como as adq uirimos. E ntre e las, as referentes a eventos ao s llua is li ! ' consciência se chamam explicrtas,
adq uiridas com plena
mos ou d os quais particip amos d enomin am-se episódicas ou aut()bi()gnífica ~ ' nsciência se chamam
de co n he cime n tos ge ra is, semânticas, As lembrança s d e no ssa formatura,
um ro st o , de um filme o u de a lgo q ue lemo s o u q ue nos co n ta ra m são memó ou perdas de memória cost uma m fa lha r primordial o u exclus i-
e pisód icas, A s memór ias e pisód icas sã o todas autobiográficas; existe m na med] rias declarativas episódicas e ex plícitas, Na mai oria das sín-
e m que sabe mos sua o rige m, J á no sso s conhecime n tos de Po r t ugu~s , Medi ' 1$ e nco ntra m -se pre servadas a m aioria d as memórias prOl:e -
e Psico logi a, o u do perfume das ro sas , são memó ria s se m ân ticas ou de índo] das memórias sem ânticas adq uir idas de maneira implícita, À s
geral. Podemos, é clar o , lembrar dos e pis ód ios a tra vé s do s quais adquirim nça de Alzheimer na sua fase terminal e a do ença de Parkinson
memórias se mâ nticas: ca da a ula de inglê s. li última vez (Iue che iramo s lima fi lOS m a is avançados (Capítulo 7).
o dia em que memorizamo s um poe m a. N ão sabemos o q ue co nstitui o limí
e n tre o começo e a seq uê nc ia de um episód io, o u entre e sta e se u fim: na vcnl ad
nã o sabe mos quando o cé re bro decide q ue "aq ui co meç ou" e de poi s q ue "aq
mem ó ria s e funç ã o cerebral
ac abo u" um determin ad o e pisód io , A de te rmi na ção do in ício e do fim de co episódicas quanto as se mâ nticas re querem, pa ra seu co rre to
e pisód io e nvo lve um a interaçâo e nt re me mó ria declar a tiva e mem ória de trahal a aquisição, na formação o u na evocação, um a boa mem ória
por mei o de suas á reas re sp ect ivas (Piolino e t al., 2U(9) . A s me m órias cpisódi rt an to, um bo m funcionamento do có r tex pr é -fron tal.
são ca racte r istica me nte h uma nas, e a lite ra tura so bre sua e str utura te mporal \0 da memór ia de trabalho no córte x pré -frontal ex plica parte
psicológica re fere -se a huma nos quase na totalidad e, Poré m, n âo Iui d úvida d dessa importante re giã o o cérebro , Es tudos de re sson ância
que os animais têm me mó ria e pis ódica ; na ve rd ade , e m se tratando de mcmó mil (fMRI), que medem basicamente o Iluxo sanguíne o a tr avé s
a s declarativas, os exper ime n tos e m a nim a is d e lab orat ório abra ngem em gcr bra is em pessoas, permitiram e st abelecer qu e v árias rcgi ôc «
q ua se exclu siva mente me m órias e pisód icas (reco nhe ce r um eve nto e rn de ter ntal (predominantemente a antcrolatcral, a su prao rbit ária c a
nado co ntext o , d e te rminar quando co me ça e quando acab a, e tc ). durante a execuçã o da memória de trabalho , lstudos com
D e no m ina m-se memórias procedurai s o u memór ias de procediment ll ~ [aram um pa pel-chave do córtex pré -frontal antcrolatcral e mediai
mem ór ia s de capacid ad es o u habilidad es mo to ra s c se nso r ia is c o que COIIIUOl\) O m ória.
cha m a mos de " hábito s" , Exe m plos típi co s siio as memórias de co mo andar receptores dopaminérgicos de tipo D I o u colin érgicos musca-
bicicle ta, nad a r, sa ltar, so le tra r, e tc, I~ difícil "declarar" que possuímos l a i ~ mc m nessa regiiío dificultam ou ca nce la m a me mó r ia de traba lho .
n,as; para demonstrar que as te mo s, dcvc rnos de I'a to an d ar de e bi
11l:'1','le
~ l .'1, nadll! pré-fronta l afe ta m profunda me n te a tomada de de cisõe s dos
sa lta r o u sol etrar. , o'd manos, inibem a atribuição de valor m o ral às a ç ócs do s o utro s c ,
Se gu indo os autores mai s modernos (D a nio n ct a l., 20(1). podl'mos lllvl às do próprio sujeito. O s psicopatas ca racte r istica me nte apre -
esse s doi OI S tipos d e me mo"n,a e m exp I" ICIit as e imp
. lícit
ICI as . ( /\t e' P()U"(IS
~ , " ' 100 S aLI • as VC7.cs cong~nitas, em diferentes regi ões do córtex pré -frontal.
co ns ide rava m-se expl ícitas só as memórias declarat ivas), À s memórias de rn)~lJ 'IS nervosas pri ncipais re spons ávei s pelas memória s dcclarntiva s
, - e rn gc ra I a d qum
irid as d c mancrra " impücua.rnais
I' , ' ou n1"1105 nl
dirnento s s âo ~ ' nuto" \( làn ticas são duas áreas int ercornunicadas do lobo temporal: o
. , I f I d Cl1UO' n:S U
ca, e se m que o sujeito perco 1a de orma c ara que as esta aprcn .Ós :
. " li ' lrLex entorr inal. Ambas trabalham a ssociada s en tre si e em
difícil . se nâ o impo ss íve l. descre ver de forma coe re nte (e, portanto, t ornar,l:x~J ,a m outras rcgi ôe s do córtex, como o córtex cin gul udo c o córtex

I~ I~I I to ) cada passo da aqUlslçao , , - d a capaclid 11d l' d e an d ar di" e 11CICc I t'l, ' I'~ 't lll La s , núdeos hasa l e lutcrul da amígdala , q ue co mo veremos 11
32 I Iván Izq ui er d o Memória I 33

se guir s ão ta mbé m im portan tes mod ulad o rcs da Io rrnac ã.. e '~Ia, (Voc" >
. ns:ívc is pelas memórias de pro cedimento s e nvo lve m o n ú -
me mó ria . A lgu ns autores di st inguem suh -rcgiôcs di ferente s nl:Ssa s úrcas : J pela suhslâ ncia nigra o u ne gr a ) e o cerebelo, A lgumas
ga d. as Uas mc rno" n.as sc rnan • ucas
. . "u'icus;" po re m, a ma io r ia l: lI nsidec 'n
e eplso r.n circuitos do lobo temporal (hipo ca rnpo , c órtex e ntor rina l)
'I , ' di
o u 1 uso rru e ssa isu ncao - N A I I ' ra pois de sua aquísiçilo , SCl se o bse rvam falh as ~ ot ó ri a s d a
., . 11 z ic imc r e e m o utr as do encas . " uc'g"~ nera ll,
c ére bro co m perda de me mó ria, as lc s óc s ca rac te rísti cas de cada uma a ' I nas fas es m a is ava nç adas d a do ença de A lzhc irncr o u da
" " ' I I. , p.l
pn me iro no co r tcx en torr inu e no u po carnpo e, nuns tarde. no Córt ex pré -f o. e m que h á lesõe s da subs tância ne gr a e d isfun ção de sua
e pa rie ta l e o ut ro s (ve r Ca pítulo 9 ), íeo caudat<), que se e nca rrega do co n tro le mot o r. Nas fas es
As principa is rcgi ócs mod ulud o rus d a fo rm ação d e me l11úrias dcd aml e n ça de Pa rkin son observa-se tamb ém um d etrimen to das
são a á re a baso la tera l d o n úcle o a m igdalino o u a mígd a la. localizad •• tam vas, cuja causa nã o é hem co nhecida. A lguns a utores a tr ib u-
lobo tempo ra l (nas sua s fase s inicia is) e as gr a nde s rc gi óe s re gulado ras dos lO um papel na formaçã o d e me móri as declar ativas, pa ral el o
d os de ân imo e de a le r ta , d a ansiedade e d as e m o ç õe s, loca liza das it dislf mas diferente deste e limit ad o só às intc ruç õc s c stim u lo- rcspos-
subs tâ ncia negra, o locus ceru leus, os n úcleos da ru fe e o n úcleo basal de M discussóe s sobre esse pap el ai nda co ntrove rso, reco me nda -
(Figura 2 ,1 ), A lé m de mod u la r, a a m ígd a la ta mbém armaze na me múrias, ado que SI.: encaminhe ao si/e E ntrczl' uhlvlc d .
p alrne n te q ua nd o estas tê m componen tes de a ler ta e moc ion a l. Basta lcrn procedime nto s o u implícit as so fre m pouca modulação pelas
que o s ax ónios de ssa s q ua tro estr utura s inc rva rn o h ipo ca rnpo . a am ígdal tados de ân imo . A princip al modula ção de ssas memória s é
có r tex e ntor rina l, o cing u lado e o pu ric ta l, e libe ra m, re spe ctiva me nte , os n :lJ\ negra -+ n úcleo ca ud a to , que pode explicar. por exe mp lo, a'
tr a nsm isso re s d o pa m ina , noradrc nulina, sc ro to n in u e acc tilco lina . /\. impi to ou a dim inui ção de tr emores o u altc ra çócs do t ónus mu s-
te m po p ulariza d o bas tante o nome de sse s ncurotransmi sso rcs, no s anos rcce m s são obse rvad as quando so mos vítimas de te ns ões c rnoc io-
devid o ao fa to de que nume rosas d ro ga s de uso co rr iq ue iro pa ra 11 trata r ou deixar de fa zer de te rminado movime nto , A a nsie dade
de a nsie dade , d e pre ss ão e o utras alterações das e moções o u d o es tudo de II e os tremores da doença de Pa rkinson.
a ge m a lte rando a Iun çâo desses nc uro t runsm issores, Mas co n tra ria me nte acordo com se u conteúdo , as me mória s se divid em e m dois
n i âo do s jo rn a listas, ne nh um d e le s é "o transm isso r d a fe licid ad e" n u "di ) pr declara tivas (governadas fund amental me nt e pe lo hipo ca rnp o
o u "da angús tia " ou "da e xc ita çâo " , "Iudo depende de o nd e são libc rudos e SI: as proced urais, a ca rgo d o n úcle o ca uda to e sua s co ne x õe s e
tlue re ce ptores de q ue es tr utura a tuam .A do p arnina, por exe m plo, agindo sob 00]0 , segundo muitos es tudos, /\s vias neuronai s enca rr ega d as
re ce pto re s O I no n úcleo a cc u mbc ns, é med iado ra d a depend ência de dn dois grande s tipos de me móri a são d ifere n te s, e a s p rimeiras,
agindo em o utros luga re s so bre o mesmo tip o de re cep to r. é me d iado ru da at 'j .. áo m uito m ai s susce tíve is à modulação pel as e mo ções, pela

çáo ; e m o utro s, de a lgum as sensa ções praze n te iras; e m outros (hipII Clll11ptl, nn estado de ânimo .
dala), d a form ação de me m órias c/ou de sua pe rsistê ncia (ve r Ca pítu los 3 c f trabalho é um tip o de memória co mpletame nte d ife rente d as
A a m ígd a la b aso latc ral re ce be . na ho ra d a formação d as me m ória s. o irnpa me n te online, va r ia de instante e m insta nte , utili za po ucas vias
in icia l de ho r mô nio s pe rifé rico s (principa lme nte os co r tico ide-) libc rauOs ipa lrnc ntc o córtex pré- front a l), ma n té m as informaç ões só un s
sa ngue pe lo e stre sse ou pe la e mo çã o excessiva. L: o núcle o at ravé s do q ual - raras Veze s um min uto o u do is - e cu m pre uma função ge -
subst ânc ius mo d ulam as me m ória s; sua at ivação faz com q ue esta s se gra so contato com a re a lidade , De cide , e n tre tud o a q uilo q ue nos
e m ge ra l mel hor d o q ue as o utras.A ad re na lina é també m liberada re rik r i~am guardare mos e () que
" ; ma s na- o a t ravc s:'Sl l ,' I 11',r a
te em srtun. ço- c s d e a ic r ta, estre sse ou cx c rcicro . [(:lr 4" na memória decl ara ti-
. e n tre o s ca p.'Iare s sangu mc
ex iste " o s e o te ciido cncc [ a"I'ico· , c I111 m,·ld ," I1l'I1lat ·nl .
t
ura] ou q ue memória
De acordo com seu conteúdo , as
Iál ica : age de ma ne ira re flexa so bre a amígd a la e so bre o utras re giiic s c c,r~l1l~ t roced ural va ler á a pena
memórias se dividem em dois
m o d I'f'rca nd o Io ca Ime nte a pre ssa0 . sangum , e a . () mes mo I"az a no r'ld , [(.: na.I1l1ol
' " caso , /\o no s se nt armos
grandes grupos: as declarativas e
• , . - . . ". . ' l S ek l1l1S , ela decl'de que a CO isa.
ra da pe r ife r ica me nt e pe la est m1Ulaçao d o slsle ma slm pa ttCO, CUJI . as procedurais .
seme lhante s ao s d a ad re na lina , nào recit ar um poema,
~
3 I Iván Izquierdo
Memória I 35

por exem plo; pe lo menos se não quisermos cair. Ao percebe- algo PO l


me nte peri goso, a me mória de trabalho o compara com nossas mcmóriu. me nte gra ndes de estímulos (o m ' ~p.a de um bair~~ , longos segme ntos de
utura. a forma ge ra l de um labirin to) e b) util izando só fragmento s
rat ivas de outras coisas perigosas e procura as capacidades motoras m
en tre as me mórias proce d urais: em geral, aquela que no s manda fugL,.
~jun t () (u ma esq uina, q ua tro not as musicais, uns poucos ce ntímetros de
dor de um lab irinto).
palm c nte qu ando a circunst ância o u o adversário for maior ou mais fIm
Q uando falh am as memórias declarativas, fala-se em amnésia. Difici
no âmbito médico o u po pular. algué m que apresente falhas da memória
d imentos é rotulado como pacie nte amnésico . As pe ssoas vão à consulta "
xando de amné sia quando não con seguem lembrar o ro sto de pessoas da
ou esq uece m dados importantes de sua profissão; não quando esquec
')
andar de bicicleta ou co mo nadar. Por outro lado , é raro que alguém /
essas ha bilidade s mot oras c/ou sensoriais. J á as falhas da memória de t
poderiam e de veriam ser chamadas de amné sia, porém raramente o --_=-=1
varn-se amnésias de memória de trabalho na idade avançada e princip a
e de maneira mai s proeminente - na esquizofrenia.
(1)

o priming (memória adquirida e evoc a d


través de "dicas")
(2)
Muitos autores consid eram a memória evocada através de "dicas" (fr
de uma imagem. a primeira palavra de uma poesia. certos gestos, o
sons) co mo distinta dos demais tipos de memória mencionados cF I ~
inglê s, e sse tipo de memória é chamado priming, palavra para a qu al
uma boa tradu ção em português. Alguns utilizam a expressão "dica (3)
qu er dizer exatamente a mesma coisa.
O priming notoriamente utilizado por atores, professores, alun
é

dores, músic os e cantores. Por ém, se m perceb ê-lo, é utilizado pelo res
laç âo humana e animal. Assim. muitas vezes um homem só lemb ra
da localização de um determinado edifício, por exe mplo, quando vir, (-I)
-
prévia ao mesmo. Um músico só lembra o resto de uma pa rt itura qu an )
ou o uve as primeiras notas. Um rato ou
um camundongo só lembra do tramo fi-
nal de um labirinto quando percorre o (5)

tramo imediat amente pre cedente.


Para muitos. a existência do priming lhas. Mostra-se ao sujeito um desenho simplificado de um avião.
implica que muitas memórias semânti- ,ra~ e o desenho nO 1 (parte da asa); alguns sujeitos conseguem se
cas, episódicas ou procedurais são ad- do desenho ; o utro s requerem que se lhes mostre o desenho n 0 2 .
'falhas no ' . . h " I d
quiridas originalmente de duas manei- n04 oupnm
5. mg so conseguem evocar o desen o orrqma quan o
ras paralelas: a) envolvendo conjuntos
36 I Iván Izquierdo Memó ria I 37

o prim ing é um fenômeno esse ncia lme n te neocortical. Partil:ipa time s (IR90), q ue a cha mo u de " me m ó ria primária" , co n-
'
c órtex , l'ro n ta I e arc
pre- ' as asso ciatrvas
. . . I> acicn
. l es co m Iesoes
- Co rtÍl:ais nl
e minar memÍlr iu de curta duraçã o aq ue la que dura e ntre I
evide ncia m d éficits de sse tip o de memória: reque rem m ais fragme nt os d te mpo ne cessário para que as me mó rias de longa dura ção
nho de um av ião, por exemplo , para lembrar um a figura que re pn~ s pítulo 3). Discutiu-se d ur ante m ai s de um século se a me -
avião (Figura 2 .2), lO é simple sm ente um a fase inicia l da memória co rno um
de curta d ur ação e a de longa du ra ção e nvo lvem proce sso s
po nto indqx: nde nte s. Corno ve remos no Cupítulo-l, a segun-
Memória de curta duração, memória la. /\ memória de curta dura ção re q uer as me smas es truturas
de longa duração e memória remota ,nga duração , mas e nvo lve mec an ism os pró prio s e d istinto s
A s me mór ias ta mbém podem se r classific ada s pel o tempo que duram. F 8 e 1999a).
me mó ria de trab alho , as m e mórias ex p lícitas podem durar alguns minul curta duraçá o é ba stante re sistente a muito s dos age ntes que
ho ras, o u alguns di as o u me se s, o u muit a s décad as. A s me mórias implídta ~ô:los da conso lid aç ão da memória de longa duração ,
me nte du ra m tod a a vida , ern órias de lo nga duração que d ura m muito s mese s o u a no s
As me mórias de cla rat ivas de longa duração levam tempo para scrcm co nominad as memó r-ia s remotas. U m ra to é ea paz de lembra r,
dadas. N as prime ira s horas apó s sua aq uisição, são l ábc is e susce tíve is à int use rn determinado co mpartime nto de determinada caixa rece-
r ência por n ume ro sos fa tores, de sd e tra um utismos cra nia nos ou clctroch írico na s pa tas. O s ratos de labo rató rio vive m pouco m ais de
co nvulsivo s a té urna va ried ade e no rme de d ro ga s o u, me sm o, iI oco rr êncí huma no de 70 a nos é ca paz de lemb ra r, at é co m det alhe s.
o u tras me mó rias. /\ exposição a um a mbie n te novo de ntr o d a primeira b ntes de sua infâ ncia. Essas co ns titue m me mó rias re motas. O s
a pós a aq uisição, por exe m plo, po d e de t urpa r se riamen te , o u a té cancelai evocação se rão di scutido s no Ca pítu lo 5.
formação de finitiva de um a memória de lo nga duração (Izq uie rdo c t a l., IlJ
U m tr aum at ismo cra nia no o u um cl e tro choqu e min uto s depois da aqui
dos, memórias
cost um a m ter um d e ito sim ila r o u até mai s in te nso : a n ula m por cornplea
ssocia t iva s
gravação q ue es tá se ndo fe ita ne sse momento , c fazem co m qu e o indiví
pe rca a memór ia que acaba de adquirir. U ma libera ção mode rad a de horrnônf são adquiridas por mei o da associação de um e stímulo a o utro
d o es tre sse (a d re na lina, co rticoi dcs) nos m in ut o s se gui nt e s à aquisição [I(J ta, Quem pr imeiro e st ab el eceu isso foi o fisiol o gista ru sso Iva n
me lho rar a co nso lid ação d a me mó ria de longa dura ção; uma liber a ção cxccssi do século X X . Ele observou que a re sp o sta ma is co m u m do s
o u a ad ministração de sses hormônio s e m dose s e levad as, pode re sult ar em am Iq uer estímulo ou conjunt o de es tím ulos novo s, não do loro sos, é
sia . A ad ministr ação d e vá rios inibidore s de e nzimas im po rt a nte s no hipoc a~ r íe nta çào, q ue denominou "r e a ção d o ' Q ue é isto "' " . /\ reação
pode im pedi r a fixaçã o de memórias nas prim ei ra s se is ou m a is horas depor lo grau de alerta, o direcionamento d a ca beça, d o s o lhos o u (se
aq uisição. , -1, por exemplo ) o nariz e as o re lha s e m d ireção à fo nte do e st ím ulo.

J ust amente o fat o de que li fixação defin itiva de uma mem ória é se n ~.I" . r um ambie nte no vo, o animal re age co m re spo stas explora tórias
numerosos age ntes ext e rnos o u internos ap licados depois d a é14 uisiçiio (kll n~U: . ra l. /\ repetição do e stímulo leva ü supressão grad ua l d a reaçã o
co nce ito de consolidação. As memórias d e longa duração não ficam es tabc.lc:ld : 1S1;l) se deno mina habitua ção . f: a forma ma is simples de uprc nd iza -

e m sua fo rma es táve l ou permanente imed ia ta me n te de poi s de sua aqui~ lçao . ria; esta se re vela justamente pel a diminuição !"JTad ua l d a rcs pos -
pr o ce sso q ue Icva a' sua f'ixaçao
- d e f'.miuva
.. daa mm aneira
anei e m q ue matis i: t'lrdl:
, podc tleão do estimulo (Fig ura 2.3) .
se r evoca das nos dias ou nos anos seguintes den omina -se co nso lidaçÍlo. estahelece u que , nos a pre nd izados assoc ia tivos, se um es tímulo
. - uccn v\ Cl: m outro " hio lo gica me nte sign ifica nte " (do lo ro so , praze nte iro)
Co nhecemos em bastante detalhe os mecanism os da co nso hdaçao . li
. J is
ve m p rinc ip alme nte o hipocampo e suas conexõe s e que se r ão a nalisa ( . n ave lmc ntc um a resposta (f uga . sa livação . po r exe m plo), a rc s-
'a p ítulo 3. l'tIJO muda. , . Iica con dirciuna daa ao oar
p ar ea
camrnento . Assi
SSII11, passo u a s'e
38 I Iván Izquierdo Memória I 3

denominar aos e stímulo .s nc(:U tr (l


A extinção é um fenômeno seme -
resposta m~da por SUa aSS()(:ilH; Condi cionamento pavloviano Extinção
lhante à naoltua ç áo: perante a
outro s, estímulos condicion d
repetição de um estimulo condici- a o...,
res posta nova a e sse estímulo, r eI;
onado, deixamos de emitir a res-
condicionada. O s e stímul ns hiot
posta correspondente.
mente sign ifican te s, q ue se mpre c
uma resposta , passaram li se ch
_ estímulos incondicionados, porq
sua res posta nao depende de nenhum o u tro . A s respostas na tu rais aos cst
incondicio nados (sa livação, fuga, e tc.) denominam-se respostas inmndicilln
(Figura 2.3).
i\ ligação e ntre u m es tím ulo e lima re sp osta se chama reflexo. () de ~c n
mento de um a re sp ost a condicionada a um e stímulo o rigina lme n le ne utr
so zinho não a produzia, se cha ma ref lexo condiciona d o (fi g urei 2 JI. D
maneira o u de o u tra, é possível conce be r todas a s formas de upre nd izado ,
cia tivo , co mo refl exo s condicio nad o s de um ou outro tipo. l I á uma v Extinção
im po r ta n te dos re flexos co nd icio nad os e m q ue o animal aprende a faz
o m it ir um a re sp ost a co nd icio nada para obter o u par a evitar o estímulo con
nad o ; e m o u tras pa lavras. u tiliza sua re sposta co ndicio nad a COJllO um instrui Condicionamento
instru montal
to . Esse tip o de ap re nd izado d e no m ina- se in strumental c é extruo rdinarian
co mum e de gra nde va lo r ada p ta tivo (Figura 2.3). Fo i descobe rto indcpcnd
mente pelo po lonês Jerzy Ko no rski c pe lo csiad unidc nsc Sk in nc r e m 1937.
pios d o di a a di a s ão a sé rie d e a to s q ue o s a nim a is e os huma nos fU / e m
o bter re co mpensas, por exe m plo, um p ra to de comida ; ou os que fazem ---- Sessões
o m itimos pa ra evitar ca stigos, po r exemplo, um cho q ue e lé tr ico ou uma hol
.harnar o garçom n um resta ur a nt e pa ra q ue no s traga comida e um onamento Pavloviano, condicionamento instrumental e extin ção.
co ndi cio nado instrume nta l. O cho ro das cr ia nças para que a m ãe lhes d ~po ndem a exp erimentos realizados pelo autor em colabo raç ão
tio. Wanda Wyrwicka e Germán Sierra , em 1962 . Em ambos os
ta mb ém, Evitar co loca r o s dedos na to mada pa ra não so fre r um choque el
li porcentagem de respostas (eixo vert ical) em cad a sess ão
é o u tro . At ra vessar a ru a para não da r de fre nte co m uma pe s~ l H I Jesablfll Iclalmente , ap resenta-se reiteradamente um so m a um gato; os
é mais um exe m plo de re flexo co nd icionado instr um en ta l. m as reações de orientaçã o em respo sta ao som (resposta
m a vev estabe le cido um re fle xo co ndi cio na do PavlllVia llo o u um r bsa rve-se que , com a repeti ção do esti mulo , o gato acaba se
n náo respon dendo mais a ele . A partir da 1Dª sessão, o som é
condicionado in strumen tal , a a pre se ntação re ite rada do e stímulo cnndicill
t zes com um leve choque elétrico a uma das patas do animal. O
se m seu " re forço", o es tim ulo incondicio nado , pro voca rá 11 extinç;Ío da m '.
' '''u imp , 1t' 1f uma resposta condicionada ao som (pontos pretos) , que neste
(Figura 2.3). Po r exe mplo, se ve mos que co m o c horo na- o con . scg
da pata. Esta co nstituiu uma resposta cond icionada clássica
se ve m o s qu e a tra vess a nd.•o a ru a na- o no s ve mos I'ivrc s ua ~ 'SI)'l
" pes. , llue IIucr
"1
ll
a/mente, o som foi apresentado sozinho outra vez . Em poucas
ev ita r, de ixa re mo s de cho r a r o u d e a tra vessa r a ru a. t1h'iã o da resposta condicionada . No gr áfico inferior, outro gato fo i
. ção
- c. , ussim,
. um fc no' rnc no sc rnc 11iant c a' harn bíuuucaoÇ'-Il) ' pc n 1ntl' WClon amento instrumental: cada vez que retraiu a pata . não rece-
"\ extin - . ' li'
u. çao
- d e um estirn o .duce iixamo s d C crmitiir a re.s pOS' l ll.:C() rr L ~fX
• u Io con d irciona d o. 'sl
'e -se que aprendeu ma is rapidamente a tarefa, e qu e a su bse-
o mais lent a
te. Na h abit ua çâo , para mo s de re spo nde r por mio ser neccssa flll: \I • .
40 I Iván Izquierdo Memória I 1

nunc a é pa reudo co m ou tro, Na extin çâo, paramos d e responder porque j á não décadas. São aq uelas memór ias q ue de cid imos to rn a r inaces síveis. cujo acesso
é nece ss ário: o es tímulo inco nd icio nado nã o "ve m" mais. bloq uea mo s. O co nteúdo dessas memória s co mpree nde e pis ód ios h u milhantes,
1\ ha bituaç ão é cla ram e n te um tipo de a pre nd izado e de memó ria mi o asso - desagrad úve is ou simple smente inco nve nie ntes d o ace rvo de me mó rias de cada
cia tivo: re sulta d a simples re pe tição de um es tím ulo, se m associá- lo a nenhum pesso a. Náo inclui ne cessariamente exti nção , embora possa ter a lgu m cornponcn-
o ut ro . 1\ exti nção é considerada co mo o resultado de um novo parcament o: e m te disso ; també m não se lr at a de es q uec ime n to. po rq ue as memórias reprimid as
vez de e stímulo co ndici onado/estímulo inco nd icionad o. a extinção asso cia o es lí- podem volt ar à ton a em tod o se u esple ndor es po nt anea men te. a través da recorda-
mula co nd icio nado prime iro it recé m-a pre nd id a ausência do inco nd iciona do . -âo de o utras memóri as ou atravé s de sess ões de psica ná lise ou o utro tipo de
Não é uma for ma de esq ueci mento ne m um a diminuição da memóri a; é uma exame detalhado d a a uto biogra fia do suje ito. 1\ repress ão pode ce rta me n te se r
inibição da evo cação . voluntária: às veze s d izemos "n âo q uero lembrar ma is desse ass unto" e o co nse-
guimo s. Mas, na ime nsa ma io ria das ve zes. é tot alm ente involun tá ria o u incons-
cie nte, e o cére bro nos po up a o esforço de almejá- la: re prime espo n tane a me n te
Esquecimento
mem órias q ue conside ra que po de ria m nos se r desagra dáveis o u prej udicia is.
Pode se afirmar . co m ce rteza. q ue esq ue ce mos a imensa maior ia d as inlorrn a çócs 1\ repre ssão e nvo lve prov ave lmente siste mas co rticais capazes de inihir a
q ue algu ma ve z fo ra m ar maze nad as. Já vimos que isso se aplica à tot alid ad e das função de o utras áreas cort ícais ou do hipocarnpo . Poré m. não lui nen hu m es tudo
informa ções q ue passam pe la memó ria de traba lho , mas ta mbé m aco n tece co m det alhado ne m siste m ático do s pro ces sos nela e nvo lvidos. Não existe ne nhum (
o re sto d as mcrnó r ias, as q ue formam arq uivos . mode lo de repressão em a nima is de labo ra t ório , e é he m possíve l que eles náo a
De fa to. co nse rvamos s ó uma fração de tod a a info rmação que passa por manifeste m; ou seja. é possível que se tra te de um fe nômeno peculiar ao s hu -
no ssa me mó ria de tr aba lho ; e uma fraç ão menor ainda de tud o aquilo q ue cvc n- mano s. Em humanos, es tudos de resso nância magné tica funcio na l tê m revelado
tualmcn te co nserva mos po r um tempo nas no ssa s memóri as de curta e de longa ativaç ôcs do córtex pré-fronta l vcntrorncdial acompanh ad as de redu ção do fl uxo
dura ção . Nossas me mó rias remot as são às vezes intensas e ljuase semp re valio sas; san guíneo no hipo ca mpo; ma s só e m rep ress ões vo luntárias. N ão há co mo sa be r
porém, re pre se ntam so me n te um a peq ue na part e de tudo aq uilo q ue alg uma qua ndo as o utras ir ão acon te ce r.
ve z aprende mos c le mbra mo s. (: po ssível que exista repress ão na negat iva quase vo lun tária dos sujeitos
Nossa vida soci al. de fat o, se ria im po ssíve l se le mbr ássem os de todo s os deprimido s e m lembra r fat os favo ní ve is de se u pa ssado . l ~: po ssível, ta mb ém,
detalhe s de no ssa int e ra ção co m todas as pessoas e de tod as as impress ões que que aco nte ça u m fenô me no opo sto na te ndê ncia q uase au tomát ica do s de pr imi-
tivem os de cada uma de ssas int e rações. Não po d eríamos seque r d ialogar com dos em lem bra r e pisód ios humilhan te s. dcs agrad úvc is o u inco nve nie n tes.
o s se res qu erido s se ca d a vez que o s vísse mo s vies se ü nossa lembran ça algu m
mal -estar o u algum a briga ou humi lhação. por menor q ue fosse (Izquicrd o, 2(10).
Existe m. alé m do es q uec ime nto e d a perd a real de memó rias, a habit ua çáo
sturas de memórias
e a extinção. Estas são . por ém, co mo vimo s. supre ssõ es reversíve is d a evocaçã o . Frnbor a te nham valor de scritivo e a plicação clínica. as classificações das memó rias
U ma me m ória habit ua d a o u extinta não es tá realme nt e esq uecida: es tá. pelo nu« dew m se r tomad as ao pé d a letra: a maioria se con stitui de misturas de
contr ário, sup rimida no qu e diz respeit o à sua expressão . Um aumen to da inte nsi- I1lcll1')rias de vár ios tipo s, e/o u misturas
dad e do es tímulo reve rte a habitua çâo; uma nov a aprese ntaç ão do es tímulo condi- Je me mlí rias a ntigas co m outras que cs-
cion ad o reve rte a extinç ão. t;io se ndo adq uirid as ou evocad as no . .. - .~-. ~ .
Enquanto estamos evocando ~ ual--
rnl1rne llto.
q~er e~~~i~~Ya. c~~h~-çr;-e~~i~ ;. .
ssim, enq uanto es tamos evocando
Repressão ou procedimento. ativa~se: 'a 'rne- I:
ljualqUl.·r experiênci a. conhecimento o u
Vizin ho à extin ção encontra -se o fenômeno que a Psican álise denominou repres- pruccd ime nto . ut íva -so a memória de
má ria de trabalho para verí!icar se:I

essa informação co~t~- o~ ~ão dk'.


~Ü(l. 'Ir uta -sc de memórias declarativa s. quase sempre epis ódica s, qu e o indiv íduo traba lho para verificar se essa informa- nossos "arquivos",
simples me nte decide ignorar. c cuja l'vocm;áo suprime. mu itas vezes durante <.;;io eon sta ou mio de nossos "arquivos";
Iván Izq uierdo Memória 43

evo ca m-se me mó rias de conteúdo similar ou nã o e misturam-se to d as e las, às A ime nsa maioria das cois as q ue aprende mo s ao longo de todo s os di as de
ve ze s form a ndo , no mo mento , uma nova memória. nossa vid a se extingue o u se perde . Talvez a ma is im por ta nte forma de e squeci-
Di fícil é evoca r u ma memó ria procedural (por exemplo, nadar) sem lembrar ll1e nto seja a extinção: a m aioria das me mó rias q ue fo mo s junta ndo se perde por
ta m bém a lguma sit uação pr é via em que esse ato nos tenha produzido prazer, fa lta de reforço . Ma s a pe rd a simples, po r les ão ou por falta de uso ncuronal,
desprazer o u medo , ou q ue te nha sido associada a alguma situação determinada. dese mpe nh a ta mbém um papel essencial nesse proce sso . Le mbre mo s aqui algo
Re cordare mos, de maneira inco nscie n te , a prime ira vez que caímos numa piscina q ue pouco s sa be m : os seres huma nos co meça m a perder neurônios n a época e m
o u nu m rio, o te mo r q ue isso nos ca uso u, e os movimentos defensivos que fizemos; q ue a pre nde m a caminhar, en tre os 9 e o s 14 meses. A pe rd a é maior no segun-
le m bra re mos ta mbé m como foi bom e n trar na água uma ou mais vezes em que do a no de vida e de pois se desaccl cra , A desa parição de neurônios pode se
fazia ca lor o u co mo foi bo m fa zê -lo co m a na morada ou co m um filho . acele ra r por doe nças de ge ne ra tivas (alcoo lismo . Alzheime r, Parkinson) e causar
Ma is difícil ainda é adqu irir ou evoca r uma me mória declarativa (por exem- proble mas circunscritos às áreas mais afetadas em cada uma dessas doenças
plo, a letra de u ma ca nção ), sem re lacio ná-Ia a outras (a da linguagem e m geral, (Rgura 2.4). Na ma ior ia d as pe sso as, a morte neuronal gradativa faz com q ue , a
a da mel od ia de ssa canç ão) e com memórias proced ura is (a me mó ria de como partir de de terminad a idade (90 ou 100 a no s) as células necessárias para cada
se fa z pa ra cantar), ativando ao me smo tempo a memória de trabalho.
f: comum co n fundir o rosto, o nome ou os atos de uma pe sso a com os de
o utra . l~ co mum con fundir anive rsários próprios e alhe ios. Isso ocorre em todas
as id ade s. mas as pe sso as mais velhas se to rnam especialistas no assunto. Co n he -
ceram tanta ge n te ao lo ngo de sua vida, que é natural confundir ou misturar
fatos ou caracterís ticas de umas com os de outras. Minha mãe, já aos 70 anos,
costumava mist ur a r aco n tecime n to s de minha vida com os de seu irmão, que
era fisica me n te um pouco parecido co migo .
A re pe tição da e vo caç ão das diversas misturas de me mó rias, somada à ex-
tin çâo parcial da maioria del as, pode nos leva r à el aboração de memórias falsas.
-..... ....... ,' ) .

Gyrus d entatus Córtex entorrinal


Memórias acima de memórias
Nosso cé rebro pos su i milh ócs de memó rias e fragm entos de me mórias. É so bre Outr as regióes
do có rtex
ess a base q uc fo rm a mos ou evoc a mos ou tras. O co njun to dc no ssas me mórias é
se mel ha n te àq uelas cidad es e uro pc ias o u asiáticas m u ito velha s. e m yue succssi- I Figura 2.4
vas co ns truções ao lo ngo de m u ito s séculos, muitas ve zes umas acim a das o u tras, Estrutura interna do hipocampo e suas principais conexões intrínsecas (internas) e
lhe s d áo um ca rá te r c uma apa rê ncia pr ó pria. Ninguém q ue visite Ro m a poderá extrínsecas (desde ou para fora do mesmo). O principal contingente de axônios
aferentes ao hipocampo provém do córtex entorrinal, que mantém conexôes de ida e
co n fu nd i-la co m A te na s o u L o nd res. e mbo ra a arquitetura primi tiva po ssa tcr
de vo lta com o resto do córtex. As fibras procedentes da área entorrinal fazem sinapse
sido m uito scrnc lha n tc . com as células do gyrus dentatus, que por sua vez emite axônios rumo à subárea
As sim so mo s, também, co mo indi víd uo s, os hu mano s e os de mais a nim ais. CA3 , Esta área envia alguns axónics para o subículum, mais muitos para a subárea
( : bom lcmhrar quc a bas e sob re a qual for mamos e evoca mos memó rias COllS- CA1. Os axônios de CA1 fazem sinapse com células do subículum, que por sua vez
tantcrncntc e stá constituída por " me mó rias e fra gmentos de me mó rias", mas prin- emite fibras em direção à área entorrinal. Existem também conexões aferentes e
eferentes de CA3 e em parte de CA1 através do fórn ix. As fibras aferentes do fórnix
cipalrncntc por estes últimos. "le mos mais memórias extintas o u qu ase -ex tintas no
são c o linérg ic as e vêm do núcleo mediai do septum. As eferentes projetam-se ao o
noss o cérebro do quc memórias inteiras e exatas. Como vimos no ca pítulo an te rio r.
hipotálamo posterior e tem uma função de regulação endócrina. (As letras CA vêm
é Iácil demonstrá-lo: hasta pedir a qualquer um que relate tud o o quc aconteceu do latim cornu ammonis, corno de Ammon, que se dava antigamente ao hipocampo .)
no ano passado ou no dia de ontem. Podemos fazê-lo em pouco s minutos.
I Iván Izquierdo

funçã o cere bra l ati nja m um limiar minimo abaixo do q ua l ess as fun 3
im po ssibilitad a s. Isso a co n te ce ta mbém com a memó ria. 1\ perua de ç
e li dis funç ão cerebral que d e las re sulla oc o rre co m velocid ade va riável
ind ivíduo : h á pessoa s d e 100 anos q ue se e nco n tra m perfeitamen te I mecanismos da
ou tras de XO q ue não.
O uso contínuo da me mória d e sacc le ra o u reduz o déficit fun cional
mação das memórias
ria q ue ocorr e com a idad e . As fun ções ce rebra is s ão o e xe mplo car at:f
d e q ue " a função faz o órgão". No referen te à me m ó ria, quanto ma]
m e nos se per d e. Pe rd e an te s a me mó ria u m ind ivíd uo que d edica a m
d e se u te m po a d o rmi r o u a n ão faze r nad a do que o utro que se pr eocup
e m ap re nd e r. em ma nt er sua me n te a tiva . Co mo ve re mos mai s adi an:
perda da memória d a d oença de A lzhc imc r , que costuma se r grav íssim
no s ind ivíd uos co m e ducação supe rior, q ue ad q uiriram pr e sumivel mM
memó rias ao lo ngo d a vid a . A pe rda d e me mó r ias pela falta de uso r
áreas d a Nc urociéncia ho uve ta n to s ava nço s no s úl timos 5 o u 10
a u ma p ro pr ie d ad e neuro na l co nhec id a h á pel o me no s meio século :
fu n ção , seguid a da a tro fia d a s sinapse s pe la falt a d e uso . E ssa prop • refere nte ao s meca nismo s fisio lógico s e mo lec ulares da forma çã o
li du~~i ll d as mem órias,
e studad a in icia lme n te na sinapsc entre o nervo ir ônico e o diufrugma
il1sn uo suo udquirulas ime d ia ta me nte na sua fo rma fina l. D u ran te
la ção re pe tid a d o ne rvo m an tém a sinapse funcional; a secç ão do nc rv
minuto s ou horas apó s sua aq uisiç:ío são Susce tíve is à in terfe rê ncia
sinapse.
rnória s, por d ro gas, ou po r o ut ro s tra tam e n to s (Mc Ga ugh. 1966 e
So hre co mo usa r a me mó ria pa r a m antê -Ia , principalmente p
o. IlJIN ). De fat o , a lorma ç ân de u m a me mó r ia de lon ga duração
h ábito d a le itura. ver Capítulo 9.
ric de p ro cesso s met a hól ico s no h ipoca rnpo e o ut ra s es tru tu ra s
compree ndem dive rsas fa se s e q ue requerem e n tre trê s c oi to
o e Medina. 1997 ; Izquíerdo c t a l., 2006). E nq ua n to e sses pro ce s-
rem conduídos. as memórias de lo nga d ura çüo são lábe is. O conju n
SO ~ e se u re~u h ado d eno m ina m -se con solidação.
a da conso liua çün ve io de d uas fo nt es. Por um lad o , d a obsc rvaçüo
' culo XIX. de que ap ós um trau m atismo cra niano o s indivíd uo s
t:ivame nte aq uilo que havia aco n tecido no s mi n u tos a nte rio res .
rvaçüo de d oi s pe squ isad ore s a le m ãe s, Mülle r e Pilzc c kc r, no
muitas me lTIlírias int erfL'rem e m o utras adq uiridas ime d iatame n-
rdo. IYXll; McCJa ugh, 1( 96) . A mba s as observa çõe s ind icam q ue
dJ7 ~e nd e inicia proce sso s ne rvo so s que d u ra m a lgum tempo a lé m
T:l .ado em SI' c<> • - h . . . M "U 1" 1 k
' sem os quais nao avcra mc rno n a. u cr e I ze c ter
lH.> h depo is, chamaram a esse s p ro ce sso s d e consolidação.
os doi s seg uinte s referem-se fu nda me n ta lme n te à s memórias
IlI(ld ic'ls ou '' ," . _ .
d' . (. . s~m" nl1ca s . de c ur ta e d e lo nga du ra ça o. O s mec ams-
as memoflas de pr o cedimento s o u do priming são pouco co n he-
a m muito pouco e studados e m n ível e le tro fisio lógico o u neu-
deve ao fa to de que raras vezes esses tipo s de memó rias falh am.
Mem ória I 47
I Iván Izq uierdo

as ; mot ivo pelo qua l são de meDO


me sm o na s demênc ias mai s ava nçad
ap licad o e co ncita ram menos esfo
rços dos estu dios os do tem a.
bre me cani smo s de mem ória s p
.. .
Os es cassos est udos realizad os so 200 • • • ••••• • •• e •
• •

anismo s e m prin cípi o bast ante


o u " háb itos" reve lara m, po rém , mec
qu e oca sio na lme nte e m outr as árc
aos d as mem ó rias de cla rativas, só ar
ut iliza das para as memória s decl
(striatum, ce rebe lo) dis tinta s das 200tí; Kan d
1997 ; Izqui erdo e t al.,
refe rências em Izq uie rdo e Med ina,
2000 ; Rou tten be rg, 200 I). 100

o da s -- -- -- -7 /~as
ec an ism os da co ns oli da çã Horas
me mó ria s de lon ga du raç ão
d a memória de longa dur açã o co
Os mec ani smo s d a co nso lida ção
de sve nd ad o s no s últim o s 25 an o s
co mo co nscq u ência da de scobert
a '"
e m 1973, cha ma do de pote ncia çâ
cess o e lc tro fisio l ógico de scob erto
pers iste n te da re spo sta de ncur ôní
dur ação . Isso co nsis te no aume nto
e stim ula ção repe titiv a de um uxô
nio ou um con junt o de ax ônios qn
s an o s segu in tes foi de scrita a de{! -._- .
nap ses co m e las (Figura 3.1) . No
long a dur açã o, um fenô me no qu
e co nstitui a ima gem em espe lho
d ...
de um a dete rmi nad a respost a sin
dep ress ão (inib ição ) persiste nte
titiva d e uma via afer ente . Horas
co nsc q u ênc ia d a es timu lação repe
lc tro fisio l ógi cos obs erva dos
For a m os primeiro s pr oce ssos c
s, mas e m hor as, sem ana s ou de lo nga dura ção (B). Os gráf
icos
pod ia se r med id a não e m segu ndo long a dura ção (A) e dep ressão
ória s, levo u mui to s a co nside rá-I s por C. Barn e s , N. Bazá n,
lon ga dur ação , sim ilar à d as mem tes feito
dos de sete exp erim ento s dif eren -
naç âo e arm azen am ento da m " M. Ito e K. Aeyma nn. O eixo verti
ca l med e as resp osta s pós
sívc is "ba ses" do s p ro cesso s de forr as proc edent es de CA3 , a razã o
eira met ade dos ano s d em CA1 po r esti m ulaç ão das fibr
Assim, na déc ad a d e 1980 e na prim de um estím ulo repe titivo (4-10 0/
lece r os me cani smo s mo lecu laJi s ilust ram a apl icaç ão
do . As seta
pesqui sad or es pro cura ram es tabe que dura vários d ias. No gráfico B,
ação. O s pioneiro s for am Han sjür co A, obte ve·se pote ncia ção , últl-
ciaç ão e da dep ressão de lon ga dur o de lon ga dura ção , que dura
ho ras . Nun ca fo i med ida esta
, na Ale man ha O rien tal; os q u di a8.
e cola bor ado re s em Mag deb urgo
rido r da pote ncia ção de longa durr
cheg ara m for am o próp rio de scob
m Nova Yor k, e Juli etta l-rey, do
B1iss, e m Lon dre s, E ric Kan dcl , e
de Mat thie s.
a me nta lme nte no hipoea
O s mecani smo s fora m es tuda dos fund rde rido s falta m o u apre sent am -se
mod ificad os na po -
ão e m es tudo s in vitro. A ostr ut ur lIS8l1 S
cam nn (CA3 , gyrus
rcs, exa min ando fati as de ssa regi vári n".a dUT<t<;úo em outr as suh- regities do hipo tecid os nervo so s
e má tica na Figu ra 2.4. Das
hipoc arnp o a parece de maneira esqu ulra s are as do cére hro de mam ífero
s ou em
foi a cha mad a CA I, que é a mais men o siio os men cio-
do hipo carn po, a mai s es tud ad a Poré m, os meca nism os büsi co s dess e fenô
a es timu laçã o da s fibra s que pro sive o neo ccírtex, e e m
med iai; e ssa regi ão é ativad a pel das úrea s ee re h ra is estu dad a s, inclu
mo s da pot encia ção de long a du Squ irc, 200()). 1I;í fel1ô mc-
- árc a CA3 . Os prin cipa is mec anis de num e rosa s es pé cies (Ka ndo ] e
(ve r Kan del e Squ irc, 20()())
s ão apre sent ado s no oue drc 3.1
I Iván Izquierdo Memória I 49

Quadro 3.1 1 (contin Ull qao )


Mecanismos da f o rma ç ã o da potenci a ç ão de longa dura rn ol: da fo r m a ç ã o d a p o t enciação de longa duraçã o

1. Excitação repetid a das células hipocampais através da estimulação d o de potenciação de longa duração ; participa na lib eração de óxido
re s gl utamatér gico s do tipo AMPA, assim chamados porque respo e ou tras subst âncias peq uenas qu e estimulam a transm issão glutama-
ao glutam ato como a uma substância denominada ácido amino-h A PKC pré-sináptica fosforila uma proteína chamada GAP-43, que ta m-
isoxazol-prop iân ico. Os recep tores GABAérgicos do ti po A inibem ula a liberaç ão de glutam ato . Post eriorm ente, e durant e 30-60mi n,
de potenciação de longa duração . soformas de PKC diferentes das qu e se enc ontram nas terminaçõe s
2. Essa excitação leva a uma de spolarização p ersistente da célula; áptic as participam em diversos proce ssos p ós-sin áptl co s, qu e incluem
ao ing resso de sód io à célula, através do próprio receptor AMPA 'ilação dos pr óprios rece ptores g lutamatérg ico s. Junto com a PKC pré-
3. Como con sequência da de spolarização, a cél ula expulsa o íon ma o NO (oxido nítrico) e o CO (mon óxido de carbo no) , sintetizados
normalmente obtura o receptor glutamatérgico de tipo NMDA, as pticamenle em con junção co m a ação da enzim a proteína cinase G
porque é capaz de resp onder tanto ao glutamato quanto ao seu 'clico dep endente) , dif undem pa ra a termi nal pré-sin áptica e promovem
áci do N-metil-d-aspártico . Uma vez "desentupid o" , o receptor N a liberação de glutamato .
ser "funcional" e a permitir o ingresso de cálcio à célula através do e a PKA tam b ém fosforilam receptores g lutamatérg icos; mas seu
4. Em algumas áreas cerebrais, ativam-se também rec eptores gluta cial cons iste na fosforilação de fator es de tran scrição d e DNA pre sen-
metabotrópicos que , atravé s de processos metabólicos, tam bém ÍlltOMualQO dez células, 2·6h após a induçã o da pot enciação de longa dura-
a concentração do cálcio intracelular.
5. O aumento de cálcio intracelular estimula direta ou indiretamente IJ fator de trans crição estimulado por essas duas enzimas d enomina-
enz ima s chamadas proteínas cinase, das quais há vários tipos: ~ (do ingl ês · cAMP resp onsi ve·eleme nt binding protein "). A ativa ção
cinase c átclo/catmodotlna dependentes (CaMKI , I, 11, 111 e IV), 2-6h depois d e iniciada a potenciação de longa duração, leva o
cinase cálcio dependentes (PKC) , as dependentes do GMPc células pos-sinápticas a produzir mRNAs (RNAs men sag eiros) que
pendentes do AMPc (PKA) e as proteínas cinase ati váveis extra, a slI1tese de numerosas proteín as no s ribo ssomos. Algumas des sas
(ERKs) que , até pouco temp o atrás, acred itav a-se serem ativá ve o outros fatores de transcrição, qu e voltam para o núc leo (c-Fos ,
agente s mit ógenos. As proteínas cinase são enzimas (ou seja, ll8 transladam a ou tros lugares da célula . Outras são p rote ínas de
biológ ico s de natureza proteica ) que regulam a transferência d lular, qu e são transportadas às sina pses dessas cél ulas , alterando
desde o ATP a sítios específicos em diversas proteínas. A 1081· 'ole e, port anto, aumentando ou diminu indo sua fun ção ,
proteínas geralmente incrementa sua função . (A cal modulina é um d endritos há um aparelho de síntese proteica qu e prescinde da
endógen a presente nas célula s . GMPc é a sigla do gua nililfosfato mRNAs pelo núcleo e atua formando-as a part ir do uso de mRNAs
é a sigla do adenosiifosfato cíclico, e ATP é sigla do adenosin 8 l rata-se de um sistem a que origin alm ente foi descrito em células
três subst âncias são nucleosídeos, parentes pró ximos dos nu que, nos dend ritos apicai s de CA 1, é imprescindivel pa ra a síntese
formam parte da sequ ência do DNA e dos diversos tipos de R uma das proteínas que compõem o receptor glutamatérg ico AM PA
6. As proteínas cinase CaMKII e PKC favorecem a fosforllação d proteínas tam bém essenciais para a transm issão sin áptica e a me.
de receptore s ao glutamato; ao fazê-lo , os ativam . A fosforilaç le ma eXlrarribossomal de síntese pro téica den om ina-se mT OR,
glutam atérgi co de tipo AMPA , por exemplo, por inte rvenção da ressão inglesa mammalian targ et of rapamycin (alvo para a ra-
várias hor as após a indução de potenciação de longa duração. os mamíferos), e é justamente inibido pel o antibiótico rap ami cina .
7. O papel das proteínas cinase varia conforme a enzima e sua I TOR dep ende do fosfoinositol-3-fosfato , da PKA e d o BDNF para
-siná p tic a (nas termin ações axânicas estimuladas) ou pós-si na
eir06
inervada por esses axôni os) . A PKG é necessária nos prim
Memória I 51
o I Iván Izquierdo

. . rica "O interior da célu la. ficando assim indi spo níve is para se u
nos pa recidos co m a potenciação de longa duração e m gflnglios d t\ slOa p . ..
mis SÚlJ ne ura l (Agure 3,2).
o ut ras estruturas (Ca rcw, 1996) . " IP()~ t ' l na décad a de 1980 como mode lo para a ha hitua çâo c a
Na A lemanha,.Juliett a l -rey, e m co labo ração co mo brit ânico Rich OI pn ., •
, apr ..ndiLados que consiste m na inibição de um a respo sta : no
postu lo u e m 1998 que nos de ndritos em que oco rre uma I.TI' (do ' u 8CJll. ' ~
. um estímulo neutro ; no segu ndo, a um e stímulo que tinha sido
term po/el1 /iatioll) são produzid as certas pr ot eínas que podem passar I. a
condi cio nado (ve r ca p ítulo a n te rior) . Po ré m, ess a pro po sta não
sina pses vizinhas e /o u es timulad as numa seq uê nc ia temporal pró xi
incita a também produzir ituaçúO(' :I eXlínção pode m dura r muitos me ses o u a nos; a de pressão
menta-la se est a estive r sen lIçií.I nun ca ro i medida alé m de umas po ucas ho ra s. Por out ro lado,
d a. O fe nô me no chama-s inumc nto pode reve rte r e m questão de segundos uma habituação
Há fenômenos parecidos com a mento sin áp tico " (.\)'napt o: um a ume nto d a intensidade do estímulo pode rev e r te r rapida-
potenciação de lo nga duração em permitiria explica r a car bit ua çào (Figura 23); a reapresenta ção do e stím ulo inco nd icionado
gânglios de moluscos e outras soc ia tiva d a l J'P, q ue faz e per instanlam.: alllc nlc um a extinção, por exem plo. Nad a sc rnc lha n-
'~ rv ado na depre ssão de lo nga duração. Ho je em d ia, se acred íta
estruturas. de uma sinu psc além da es t
sa tamb ém se r potcnciad c part icipar. que r no hipoc a mp o , quer fora del e, como base d a
ge ne ra lização da cada I.:I , algumas ta refas q Ut ' n ão envolve m aume n to , e sim diminuição
ptica. Viirios aprend iza dos q ue utíl iza m o cere bel o b ase ia m-se
vizinhas o u estimulad as po ucos segundos depois. De Iato, foi ad
jlllc rcssado s pode m consultar no site E ntrez PubMc d) .
explicação mais plau síve l pa ra o fa to co nhecido de que a consolido
co mporta mento s muito próximos a ou tro s pod em potenciar a consof
últ imos: por exe mplo , a hah itu ação a um campo ab erto po uco untc s d
inibit ória o u de um reconhecimento de obje tos [tr ês tarefa s que
campo] pode melh o rar a gravação dest as últimas (Ballarin i ct al.,
I\lguns d o s passos referidos falt am o u apre scntam- se rnod i
tenciação de longa dur ação e m o u tras sub-regiõe s do hipocam
dentatus) o u em o u tras á reas ce re b ra is (Izq uierdo ct al., 2(06).
A lguns dos dados d o Q uad ro :U es tão ilustrado s na Figu o
sC4 uê ncia exposta no Q ua d ro 3.1 co mo os cs q ue mas da Figur a O
igua lmente à po te nc iaçüo de longa duração (I T I') med iu a no hip<
uic rd
3.1; Izquierdo e Me d ina, 1<)97; Kandcl e Sq u irc, 2000; I/ 4

Depressão de longa duração


tel1 11
Na depressão de longa dura ção (ITD. do inglê s /ong- dep
vários dos processo s mencionad os acima. Ilá inicialmente uma at j
tor cs gluta ma té rgicos AM I'A e , a seguir, NMDA; e po s teriorme l1 ~ ptores glu tamalêrgicos na depressão de lo nga d uração . A súb ita
d a ( :aM KIl e d a PK( :. Ma s es tas últimas ocorrem e m menor gr to sobre os receptores AMPA de um dendrito pode, em determina-

ra pida me nte ca nce lado pela ação de t'() st'ata s~ s,


e n/.imas que ret '
ativar a interação destes com proteínas da reg ião pós-sináptica
PIor e o tran sportam pa ra de ntro dos d end ritos .
d as pr ot eínas. Através de um mecani smo ainda pouco conheci,
gluta maté rgicos que Iicuram fo srorilad o s por pouco icrnpo são t
52 Ivá n Izq uierdo Me mó ria I 53

, ção, em á re as localizad as do cé re b ro , de drogas co m ações


Como se formam e se consolidam as
s cspecífit'as: ag onístas o u antago nistas glu turna t érgico s o u
memórias de longa duração?
ceptores estimulante s nu inibido rc s e nzim áticos. As microin-
A det e rmina ção da se q u ência dos processos e nvol vid os na gê nese
, • n:,\(;0
, dadas a tempos preciso s na s re giõ es e nvol vidas na memó r ia .
ção e na manu te nção d a potenciação d e longa du ração levo u a lL: ntar bioquímica da s propr ie dade s desse s recep to re s, assim como
se ele s sã o a plicáve is ta mbé m fi form ação . à co nso lid aç ão e Ú mllnutt' l} e d e cad a uma das enzimas e nvo lvidas no s proce sso s.
me mórias de cla rativas.
Pa ra e sse propó sito . fo i e sco lhid a uma tarefa m uito sim ples, que u [I dos experimentos. fo i esse ncia l trab a lhar com uma tarefa

hipocampo e que se adq uire e m po uco s segund o s, co mo a po te m:illl; iio :1revc e realizada numa ún ica sessão . Os res ultados o b tid o s
d ura çâo: a esquiva inibitó ri a o u esq uiva pa ss iva . Repe tindo o desL:rito no eira muitas scss ôcs o u sess ões lo ngas pa ra s ua a p rendizage m
lo 2. e ssa ta refa e nvo lve a forma ção de u ma me mória d eclara tiva na qual ..,, interpret açüo.jilque e nvo lve m m istu ras d e di fe re n tes fases
aprende a inibir uma re spos ta (d e sce r de uma pla taforma, en trar num tr e si L" OU co m proce sso s d e re a q uisição o u evocação. De
co mpa rtime nto ) para não re ce he r u m e stím ulo aversivo ( um choque nunca foi possível che gar a co ncl usõe s cla ras e m tare fa s
por exe m plo ) , Est a memó ria corrcspo ndc àq ue la e m q ue o s humano 1r.xas. justame n te por e ste mo tivo : os a ut ore s não co nse gue m
bo ta r o s d e d os na tomad a o u ent rar nu ma rua pe rigo sa , o u ap rendem WI outra.
es q ue rd a ante s d e atravessa r uma r ua , (Na Ingla terra e Ja p ão, a rcspost o ponto de partida dos expe rime n to s (q ue d rogas injetar ou
ta é o lha r à di re ita : o tr ânsito, lá, é pel a m ão o po sta) , i\ e sq uiva inibiu' , e quantos mi n utos antes o u d epo is d a aq uisiç ão ) fo ram os
me mó ria e pisó d ica (le mb ra mos o episódio pe lo q ua l a a pre nde mos: tudo da potenciação de longa d uração . Porém. e m a lguns
que bot amos o s de do s na tomad a ) e ta mbém se m ântica (a p renUe mllll tr ário: os achados obtido s no s expe rime nto s so b re me móri a
TüDi\S o u pelo me nos A MAIORI A d a s circunstâ ncias pe rigosas: um corresponde nte levada li cabo na análise da potenciação de
me nte e p isó d ico se to rn a de valor sem ântico). tados dos expe rime n to s comportarne ruais leva ra m li deter-
O s labora tó rio s m ais a tivo s ne ssa b usca foram o s de Stcvc n Ro se, na I ) 5 passos en umerados anterio rmente co mo s ubstratos da for-

ra : Cia ra n Rcgun, na Irla nd a: Mark Be a r, Robe rt Malcnka e Thornas de longa duruç âo interv êm tamb ém no s processos de fo r-
no s E stados U nidos; Jo sé Maria Delgado-G a rcia e Agnes G ruar t. na I das memt'1rias do aprendizado de esquiva inibi tória na re -
Yad in D udai, em Israel ; Jo rge M edina. em Bu e no s Ai re s, e o l11eU. po do rato (Izq u íc rdo e Medina, j 997; lzq uie rd o e t al ., 20( 6).
Alegre - q ue tra ba lha mo s asso ciad o s. Ca rew tra ba lho u ba sÍL:a llll' nte em achado paralelo, por doi s grupo s d ife re nt e s, de LTP da
lusco dc no m inad o Ap/ysia, Rose tra ba lho u fund a me n tal mcn h: sobre L~ Sl\ ll ris axônica s da subá rea CAJ d o h ipo ca rnpo co m as cé lula s
bit ória em pinto s. e o s d e m ais gru pos traba lha mo s fu nJ ame n talnlL' n,tL' urn ntc a co nsolidaç ão tanto d a esquiva in ibitó r ia (W h itlo ck
dore s. A co incid ência do s result ados o b tido s em pin tos e em ra to s c r do a p re nd izad o de piscar um o lho de m ane ira co nd icio nad a
ex trao rd inária . ape sa r da d ife re nça e n tre espé cie s e e stru tura s I1L'[\'(lSO. , te achado roi recente me n te este nd ido a o u tras ture fus,
d as. i\ scq u óncia de processOs lento de objetos (Clarke et aI.. 20 10), que pouco te m a ver
o
" " l ' cons •
lar e s atravci ss d a q ual , o qual pe rm ite su po r que . d e fa to , n u a seq üên cia de
mcmu n as e p ra ti1(,"11""~ ., te id
»Ó» ,
que subjacem ü I.TP ou a pr ópria LTP são a base dos
rato s L~ e m pi.nto s, c. SO' Lrkrc
I _. ill das ma is diversas me mó ria s, D e ma ne ira importan te ,
Aprendemos a svnar TODAS ou
lhe s d o obse rvad o crn ll1o l ~ :>l.: rp antes da aquisi ção das tare fa s mencionadas oclui a
pelo menos A MAIORIA das cir-
. C rew. Il"F' (I() ' IZIIUlcr
cunstãncias perigosas: um conhe- insetos (Ca :J . ' 1 ~, () que sugL'fe fortemente (ou comp rova ) q ue e sta re quer
211()6). . bloquímicos q ue a LTP (Clarkc c t a l., 2( 10).
cimento episódico se torna da va- 'lIhzau(
.1

O s es tu do s I(lram I L nd izage l1l hastante estudad a L' q ue de u re sultad o s cla ro s


lor semãntíco .
d e doi s rn étodus búsÍL'llS: do Quau rn .\,2 l' li lI \' e r S ÜII eundi cion a d u ~I u m sa bo r.
54 I Iván Izq uier do Memória I 55

,,[ d iferença das a n ter iores


Um passo adiante na determina- " I1l.:sta ui
ta refa o pa pel central núo é de
ção das áreas envolvidas nas me- d a forma ç ão da memória de longa dura ç ã o em CA1
nhado ,
pel a re si ão CA I U{) h'IpUCO\
, ó'
mórias foi dado pelas modernas
e sim _pelo có rtex do lobo da' I' nS\I1: apetida das célula s hipocamp ais através da estim ulação de recepto-
técnicas de imagens, das quais a
aversao a um sabo r. o a nimal a :matérg lcos AM PA , NMDA e metabotrópicos, assim chama do s p or-
mais usada é a ressonância mag-
ingestão de um ulimcnu 1 co m um dem tanto ao g lutamato qu anto a uma substãncia deno minada áci-
nética funcional (fMRI), dro xi-metil-isoxazol-propiônico , Os receptores GABAérgicos do tipo
de mal-estar ge ral ind uzido pela in
po e no có rtex entorr ina/, inibem o início da formação de memória

I
I
'I
de uma sub stâ ncia tóxica , 1\ r
co ndicionada co nsiste e m evitar. n
uração, Simultaneamen te, ativação de recep tores c o /ln érglcos de
ico e noradren érglcos ~, que modulam a açã o dos anteriores.
dessa ocasião , o alime nto ; como se o an imal pe nsasse "deve se r aquilo que leio às células e ativação subseque nte de vária s p roteínas cinase.
I1 O eq uiva le nte hu mano a ess e tipo de a pre ndizad o é co m um nus crianç 'ê s enzimas pós- sináp ticas: a óxido nitric o sinte tase, que pro duz
q ue a ingest ão de suco de la ra nja , por exe mplo , passa a se r as soci ada com o (NO) , a hem e-oxigena se , que produz m onóxid o de carbo no (CO),
!!l q ue produz o fator de ativação plaque tário , PAF. O NO e o CO são
1
111 " algum reméd io , ca usando e ntão a cvitaç ão do suco de laranja du ra nte an
rdem através da membrana rumo àqu ela da terminação pré-sináptica;
11 meca n ismos mo lec ula res deste tipo de me mória, no lobo da insula. são
lipidio que atravessa a membrana dendritica e também se dirige

iI
r!
simila re s ao s re lat ados no Q uad ro 3,2 pa ra a es qu iva inibitó ria (Dudai
1995) .
'nação exõmce: As três substâncias, através de mecanism os que
'beração de glutamato, aumentam a eficiência dessa sineps e duren-
Deve -se salien ta r que foi esse ncia l, co mo pr e curso ra dos es tudos neu ino«. Estes mecanismos não pare cem ser importantes para a po -
micos, a lo nga tradição de pesq uisas so bre o compo rt ame n to de anima is 'onga duraç ão, mas são necessários para a formação da me mória

pesso as com lesões em dife rentes regiões do siste ma ne rvoso ce ntral: I.:X
PKC e sua função sobre a p roteína GAP-43, e a da CaMKII e sua
tais, as pr ime iras, e secundária s a tumore s, ciru rgia s rna lsuccd id us ou acld ladora sobre a sub-unidade recep tora do recept or AMPA são an álo-
as segu ndas , Esses es tud os leva ram a focaliza r a atenção pri mon.l ialm cla çâo de longa duração e na form açã o da memória , em CA 1.
hipocamp o e e m suas conexões, incluindo vá ria s regiõ es co rticais e ú re ~Ls I' 'vação da MAPK e da PKA são diferentes. Na p otenciaçâo de
lado ra s co mo o núcl eo amigdalino e o u tro s. Po rém. o s es t udo s sobre lcsô 'lia, a cadeia da MAPK part ic ipa nos processos iniciais: na form ação
de longa duração, essa cadeia enzimátic a intervém 3h ou mais
brais fora m e são se mp re indefini dos em re lação il part icipuçâo de lima ou
'uisição da tarefa, Na potenciaç ão de longa dura ção não parece
área e m passo s definidos dos processo s de co nso lida ção o u o utro s. ou ne pc: lpel importante da PKA nos prime iros minut os após a indução desse
lidad e , hoje já a mplame n te de monstrada expe riment al me n te. de q ue ou t na formação das memórias , essa cade ia enzimática intervém duas
giões cerebrais assumam o pape l d a áre a extirpada o u lesad a, a través da .. meira, nos prim eiros minut os após a aquisição; a segunda, 2-6h
de novas vias nervo sas que suprem o pa pe l da q ue falta . Esses p roh~en~
co muns ao s modelo s de an imais co m lcs ôe s não a na tômicas, nu s ge nom :d§ alividade da PKA são acompanhado s de um aumento simultâneo
nuclear. O CREB nucl ear participa em proc essos que levam à sintese
"nocautes" (kno ckouts) e m q ue a exp re ssão de det erminado ge ne ~ sup
muito diversas . Algumas dessas proteinas rep õem as que têm sid o
o u os "tra nsg ênicos" e m q ue e la é alte rad a. . processos anteriores ; outras são, como na p otenciação de longa
o
U m passo adiante na de te rm ina ção das áreas e nvolvidas na s m,l'm ~ 'P/eínes de adesão celular (O "Co nnell et aI., 199 7) ,
, .
dado pel as mod e rn as tecrucus dei
c Imagen s, d as q Uai' s a. que . 11'1""
vr - In'lI" " , ec LI io o de PKA, 2-6h após o iníci o da memória (aquisição) é altamente
, . , . I'
re ssona nclll rnagne uc u uncmna . , I (I'Mi' }') I" " . n""
vr r. ~ s s a s iccrucas I .. u.. "111 inulre ,t receptores dopamin érgicos tipo D1/D5, noradrenérgicos do
. - h 'li d ' - .' . h uunto l'ada 11 :/in ente, serotonin érgicos tip o /A. Os dois pr imeiros estimul am e os
a at rva çao meta o ca e um a ou nu tra rcgiao uo ce rc 1'0 cnq ,
. ' d 'um ou s inibem a enzima adeni/il cic/ase, que produz AMPc, o cotetor
_ a nima l o u humano - es tá formando ou reco rda ndo mc mo n as l "
para a ação da PKA. Ass im , indiretamente, os receptores D1 e p
, ' I slll
tipo , rela tivas a um mo me nt o em q ue o individ uo não se e ncon tra n l.: s~ ' ',' 02 serotonérgicos IA inib em a atividade da PKA, levando a uma
não me de m, po rem, , os pr oce sso s me ta ho' I'ICOS CI1VO·1 VluOS. '.1 Á s.'S'I'n1. a uni uma depressão da consoli daçã o da memória resp ecti vamente.
do logia. re a Ime nte ap rop n.au.1 a pa ra a an a' I'Ise dos proces sos me l l'....'' ' lllarcsd:l
56 I Iván Izq uierdo Memó ria I 57

çfio n u da co nso lida ção lias me mó rias, o u de ou tro s as pec tos de s l'l~ i • . ansiedade e ao estado de ânimo . Ve re mos esse aspecto
n1 U de
" .~, c "l ei
çâo d a a ná lise bioq uímic a detal hada e da fa rmaco logia mu leculaL m mo i I ' [tulo 6. () 5 passos 1-4 e 7- 10 foram todos co rroborado s por
,p .. • . - d
acima . Inl'm'II'S
, . "nocautes o u tru nsgcruco s e m que a exp re ssao os
O result ado das experiê ncias b ioq uírnicas e fa rmacológicas /molecular rn para um ou mai s rece ptores, e nzi mas o u fat ores me ncio na-
a fo rmaçiio da s me mó ria s no s levo u a de te rm ina r co m ba stan te preci. IS receplO n;~ s NMDA , da PKC, CaM KJ I, d a PKi\ o u o C R E R)

qu ência de passo s molecular es subjace n tes it conso lidação das ml.:n1"lriulo, li modificada (ve r hih liografia em lzqu icrdo e Medina, IlJ97;

duração , Os mesmos e nco nt ra m-se expostos no Q ua d ro ~ .2, no qual utir )6).


os me smos pontos demonst rados para os mecanismo s da pntcnciaç<lo cada um dos pa ssos re la tad os anteriorme nt e , percebe-se qu e
duração , com o acréscimo, e m ca d a caso, se necessário, das dife renç ao segu inte e, portanto, a um a alt e ração subscqucn te em
ambo s o s pro ce sso s, e m itálico . Co mo pod e se observar, os meca nismoed tal forma que o mecanismo b ásico da formaç ão de pot en ciação
ção o u d a co nso lida ção d a me mória de lo nga duração , no hipocam pn, ou de memória declarat iva de longa du ra çã o, é co nsti tuído
cia lmc nt c o s mes mo s des cri to s para a LTP e m CA I. determinam a altcru çâo d ur ad oura d a fu nção das sinapse s
t im po rta nte sa lie nta r lj ue o po nt o 10 en volve nad a me nos do qn I caso . Fica, assim, forta lecida a hipótese de que a co nsolida ção
pa rte fund a me nta l do meca nism o do s proce sso s de modula ção das m memórias po ssui um mec a nismo e ssencia lme nte igu al ao da
na s vá rias horas su bse q uc n tcs à sua aq uisição po r vias nervosas vincuh casos, ao da I.TO, ve r Ka ndc l e Sq uirc, 2000 e Izq uierdo e t
me n tal ne sta conclus âo são a seq u ência pre cisa e O timing dos
I1cos subja centes à co nso lid ação d a me mória, ass im co mo a
S processos, que pro vo u ser esse ncialmente a mesm a descrita
lerdo e Medina, 19\)7; l zqui c rdo e t al ., 2006 ; Whitlock c t al.,
xistc rn a consolid a ção e li ge raçã o de lTP da sina pse CA~ ­
fisio logica me nte em v árias ta re fas de dive rsa índo le enq uanto
ida (Whitlock ct al ., 2006 ; G rua rt et a l., 2006; Izq uic rdo ct al.,
.1., 20 (0).
nnrus formas de aprendizagem nos ro edo res, a índo le dos procc s-
c~13 nvolvídos na íorma çâo das me m órias é basicame nte a mesm a,

~ ... 1 cFOS
S,\es processos não é; ao po n to des ta última se r, em muito s
nte incompatível com a oco rrê ncia simultâ ne a de uma potc n-
l1fação .
as de me mória que a pa re nte me n te ta mb ém utilizam a se -
s hipocampais descritos no Q uadro 3.2, h á trê s que são muito
1odelos an imais:

., varied ades de "medo co nd icio nado". em q UI: o s an imai s são


I Rgura 3.3 la exposição reit erada e pr olongad a a um estím ulo co nd icio -
Mecanismos moleculares da formação de m emórias . A figura ilustra um rial deter minado (um to m, um a luz) o u ind e te rm inado ( um
glutamatérgica , com as prin cipais enzimas e sistem as a ela vinculados. A s
dos passos correspondentes e suas inter-r elações est ão come ntadas na . Io co ndiicro nauo
I
.dc "a· p rc. ndilzagcn s cspacuus
. . ...c m q ue o e sumu
3.2 . Esta sequência é também aplic ável, em bo a parte, à po tenciação de long
ito de estímulos visu ais co locados a distância do an imal. nos
(Qua dro 3.1)
)sta instrumenta l co nsiste e m pe rco rre r certa dist ância na
----- -

III

'I !!
58 I Iván Izq uierdo Memória I 59

água (" Iahirin to aq uá tico de Mo rris" ) o u n um labirinto gera lme n te de niS010 S que lhe s p ermit em d e sempenh ar fun ções pl á sti ca s . D e no mi na -se
mad e ira , de v ários bra ço s. plasticidade o co njun to de pro cessos fisiológicos , e m nível ce lula r e mol ec ula r.
3 A me mória de reco n hecime nt o , ljue r de obje to s, quer de o utros ani ma is que expl ica a ca pacidade das cé lulas ne rvo sa s de mu d ar suas respostas a de te r-
d a mesma espécie, q ue é o mod elo de uma fo rma de me mó ria q ue falha min ad o s es tí m u los co mo função d a expe riê ncia . E le t ro fisio logica mc n te , a
mu ito na do e nça de Alzheime r. Co loca-se um rat o o u um ca m un do ngo plasticidade se ma nifes ta co mo LTP o u LTD . Co rnporta mc nt a lrnc ntc , a travé s
na prese nça de do is obje tos dife ren tes. nu m ambiente re st ri to . O a nimal da aljui sição de um a pre ndi zado e da for mação de uma me móri a .
p assa um tempo mais o u meno s igual exp lo ra ndo ambos objetos. Nu ma
seguin te ses são troca-se u m de lcs po r outro. O a nima l dedica sua explora-
ção pre fe re ncial me nte ao o bje to novo : reconhece o q ue fico u na caixa
Int e ra ç õe s do hipocampo com outras área
an te rio rme nte co mo "já visto" . O me smo pod e se r fe ito usando o utros
cere bra is na formação de memórias
an imais d a me sma esp écie e m vc» de obje to s: o ra to o u ca m und o ngo é A rq,'üi o CA 1 do hipocampo é a principal pro tago nista da form ação de memóri as
expo sto através de um vidro a o utro ra to o u ca m undongo e ga sta cer to declarat ivas e m ma mí feros (Izq uie rdo e Me d ina , 1997; Izq uicrdo ct aI., 20(6) .
tempo che ira ndo -o o u se apro xima nd o de le . Se, num a se ssão seg uin te, Por ém, ao contrár io do que ocorr e na pot e nciação o u na dcprcss âo de long a
I o mesmo "visitan te " fo r a pres e n tad o , o an ima l () explo ra rá meno s, por- duração, no re la tivo ú memória , não a tua isol ad a do re sto do cé re bro .
q ue o reco nhece . Se o a nimal "vis ita n te" fo r ou tro , u a nima l "res ide nt e" Dent ro do hip o campo, CA I e mite fibras excitat órias a uma região vizinh a

.
o
'" I:
;i
,

;1-.
I"
.1
o explo ra rá inte nsa men te po rq uc se d á co nta de q uc e le é novo (C la rke
e t a l., 20 10).
chamad a subícu lum q ue , por sua ve z. e m ite fibras excitat órius q ue faze m sinapsc
com cé lulas do vizinho có rt ex cnto rr inal. Es ta, por sua ve z, e mite ax ónios ao
f!J'/u s d enlalus. que projet a a o utr a região de nominad a CA3. c ujo s ax ônios faze m
11 .
Porém, em nenhum a de ssas ta rd as foi po ssíve l che ga r a co ncl usões tão com- sinupscs cxcitut órias co m as cé lu las piramid ais de CA 1. Este circuito fo i de scrit o
p le tas co mo as do Q uad ro 3.2 e m termos do co njunto de processe s e nvolv idos e pela pr ime ira ve z pel o gra nde ne uroa na to mista e lite rato espa n ho l do n Sa ntiago
sua seq u ência det alh ada. Isso se de ve ao fat o de ljue. se ndo as scss ôes de aq uisição Rarn ón y Cajal, no inicio do séc ulo XX; se u co nhecime nto mai s de tal hado prové m
I longas o u re pe tid as. mistura m-se nelas di fe re nt es fases da co nsolid ação , ou ent ão de pe squisas de vá rios lab oratórios de muitos pa íse s na segund a met ad e de sse
!: a aquisição co m a consolidação e/ou a evocação (Rose , 1995; Izquic rdo e Medina. século. Estudo s rece ntes evide ncia ra m que o circ uito int e rn o do hipo carnpo ,
I• i , I
1997; Izq uie rdo e t a I., 200h) . CA l-eSubículum-e-Có rtex c n to rri nal-1GY11ls denlalIlS-1CA3-1CA I (F igura 2A)
.;! A ta refa d e recon hecime n to de obje tos e stá sendo cad a vez mais ut ilizada é funcionalmente ativo e ca paz de reve rbe ra r mu itas veze s por segundo e m con -
,.
I co mo modelo expe rime ntal, po rq ue não e nvolve ne nh um a estimu lação avc rsiva, dições fisiológicas (ve r lzquierdo e Medina, 1997) . Na ve rda de . po de -se afirmar
!I e porque um mesmo a nima l pode se r utilizad o várias veze s, va riando o s objet os qu e CA I não é mais do que um co mpo ne n te de um circuito funcio na l que repre-
e m ca da oca sião . sent a um ve rda deiro siste m a, o siste ma hipoca mpal. Co mo men cionado acima,
,. vários e leme n tos deste siste ma (gy/Us den tatus, CA'1) são tam b ém ca pazes de evi-
o .
denciar plasticidade, pelo menos sob a fo rma de potenciação de lon ga d uração .
Plasticidade neuronal As Figuras 2. 1, 2.4 e 9 .1 ilustr a m algumas das principais co nex ões ex trínseca s
e memória ~ - __ ~ _ -_- ~_ c,, do siste ma hipocarnpal; a última delas já mos trando se u prej uízo nu doe nça de
A ex plicação mais prováve l pa ra o uso r Plasticldade .é:o conjunta de PtO,:· A1zheimcr. O córtex e n to rr ina l e mi te fibr as ao gyr us dc nt a tus l ' rece be fibras do
suhículum. A lé m di sso , o có rtex c n to rri nul po ssu i, po r sua vez, imp orta n tes cone-
da seq uê ncia d e meca nis mos do Q ua- i cessosfisiOió~ícos .em n(vel.celu-
d ro 3.2 pa ra a conso lida ção di: muito s lj3re .molec ular; que explica a ca - Xôe s alc rc n tcs e c fe rc ntcs com o có rtex pr é -fronta l (o nde se pro ce ssa a me m ória
tipo s de memória é q ue muitas cé lu las paeídadades Células nervosas de de trabalh o ), os c ór tices associ ativos puriet nl, o ccip ita l e cing ulado an te rior, c
ne rvo sas, e n tre e las e m pa rtic ula r as mudar suas respostas a determi- COm o restante do córtex do lobo temporal. A lém do qual, tam b ém exis te m nume -
cé lulas pi ramid ai s d a região C A I d o nados estimulos. rosas int crconex ôc s horizontais e ntre as d ive rsas área s cn rtieais: do pré-Irontul
hipoca mpo, tê m um conj unto de rnc cu- para o parictal. de ste para o tempo ra l, e tc.
i" .
, .'
I!.:
"

60 I Iván Izq uierdo Memó ria I 61

i
:j ;
! A inte rv e n ção se riada do s vários proce ssos mo lecula res su bjace ntes à co nso - por sis te mas vinculado s ao nivel de a le rta, à an sied ade e ao s es tados de ânimo é
,
lidação das me m órias, em CA I, me ncio nad a no Q ua d ro 3.2, a plica-se de fo rma exe rcid a so bre e ssas á re as, ao mes mo te mpo qu e no hipocarnpo.
rigo ro sa ú es qu iva inibitó ria. Mas a maio r parte d as evidências ind ica q ue é esse n-
"I!; cialm ente a me sma nas mais d iversa s for ma s de apre nd izage m c me mó ria (Ca rew,
1996; Izq uicrd o e Medina, 1997) . Varia ligei ra mente se gundo a tar da a nalisad a,
A base biológica da formação das memórias
ma s n ào na sua essê ncia : e m alg umas situa çócs, a fase de pen de nte de CaMKJ I Don Santiago Rarn ón y Cajal po st ulo u, e m 1893. qu e o ar maze na me nto d as
l: mais longa o u mais breve ; em o u tra s, os dois picos de interve nção da PKi\ memó rias obed ece a a ltera ções morfo lógicas da s sina pses e nvo lvidas em cad a
e stão mais próximos o u dista nte s (lzq uicr do e McGa ugh, 2(00). Mas, nas d iversas uma de las. As alt e ra ções, suge riu Cajal, pode ria m co nsistir e m a largame ntos ,
i formas de plasticidade, part icipa o co nju nto dos pro cessos bio q uím ico s men ciona- estr eit ame nto s, bifurcações o u o utras mud anças e strut ura is d as sina pses. O s áb io
ii dos no Q uad ro 3.2, q ue são parecidos aos da pot en cia ção de lo nga duração espanho l mio via, rac io na lme n te, possibilid ade de que pu desse have r câ mbio s
;1"
I
(Q uad ro 3. 1), ai nda q ue ne m sempre na mesma sequ éncia rigorosa . tão profundos como o s prod uzidos pe la fo rmação de mem ó rias. se m que houvesse
uma alte ra ção an atômica e fisiológica qu e o s suste n tasse.
De fa to, na s me mó rias ma is simples, muda , co mo vimos, na d a me no s qu e a
Saturação e oclusão resposta a um determinado e stímulo; ou sej a, mud am as conexõe s funcio na is
Isso faz com q ue , de fat o, o uso desse conjun to d e processo s mo le cul ar e s pa ra entre o indivíd uo c o mundo q ue o ro de ia , e ntre as vias ufe re n tc s que pe rmite m
const ruir uma pote ncia ção d e longa d ur a ção o u um a me mó ria d e te rmin ada, na a percep ção e a an álise do s e stímulo s, e as vias efe rc ntcs q ue levam as re sposta s
me sma scq u ência me ncionada no Q uad ro 3.2 o u e m outras, po ssa sat urar o s do or ganismo. Na s me mó rias ma is co mplexas (a me mó ria se mâ ntica de tod a a
siste mas me tabólicos d as cé lulas piramid ais de CA I e imped ir a fo rma ção con se - medicina, por exe mplo, o u a de uma lon ga pa rtit ura mu sical) mud a m uito mais:
cu tiva de outra memória o u de outra po tenciação (C larkc ct al., 20 10). A se nsação mud a, na re lação e n tre cad a se r e o universo , nada me nos que a base do co nhe ci-
quase física q ue todo s ex per imen ta- mento que o os p rimeiros tê m do segundo .
:ji: mo s algu ma vez de q ue , ao acabar Como vimos. a a tivaç ão plás tica de algumas vias ne rvo sas envo lvendo ()
d et e r min ad a a tivid ad e in te le ctu al, hipo carnpo e su as conexõe s. po r meio de um a sé rie de passos moleculare s, causa
A pré-exposi ção a urnapotencia- co mo um pe río do de es t ud o intenso a altera ção primeiro func ion a l (adesão ce lula r) c , finalme nte , mo rfo ló gica d as
',' I çáo de longa duração oua um ou um a a ula, " não ca be ma is nad a e m sinapscs. Que m mais e st udou esse s fe nô me no s foi o no rte -amer icano Willia m
I ·1 : aprendizado alimentício compro-
I. noss a cabe ça ", corrcspo nde a um fato Grccnough ( 1985).
mete a capacidade do sistema hi- re al. A pré -expo sição a uma pote ncia- O co nce ito atua lme n te vige nte é o de qu e Rurn ón y Caj al, há ma is d e u m
pocampal de aprender outra tarefa ção de longa du ra ção o u a um ap re n- século at r ás, tinha raz ão . IH co nsen so e ntre todo s os pes q uisad or e s da área de
, ,I
.s imilar ou diferente durante vários dizado alime ntício comprome te a ca - qu e, realme nt e, as me mó rias co nsistem na modifica ção de dete rminad as sinnpsc s
I minutos ou horas. pa cid ad e do siste ma hipoca rnpal de de distint as vias, qu e inclue m o hipoca rnpo c suas pri nc ipa is co nexões. Co mo
,1 . :1
I ·
! a pre nde r o utra tar e fa similar ou d ife - veremos no Capít ulo 5, as áre as e nvo lvidas na evoca ção d as mem órias decl ara -
re nte du ran te vário s minutos o u ho- tivas são justame n te es tas. De um po nto d e vista operacional, as me mó ria s nad a
ras: usa-se, cad a vez. uma porce nta- mais seriam do qu e a lte ra çõe s e strutur ais de sinupses. dis tintas para cada me -
ge m ba stan te gra nde d a "cn pa cidade " bioquímica " instalada" do hi pocamp o . mória ou tipo de me móri as.
Essa nece ssida de ljue no s invade , de pois de du as o u tr ês a ulas o u pa lest ra s co nse- (.: fúcil entende r q ue as mo d ifica ções est ru tura is d as sinapscs ca usur áo a ltc ru-
I'
1;( cut ivas, de que no s é necessário sa ir um pouco, "e sticar as pe rn as" e to mar um çócs funcionai s ó bvias. Por exe mplo, ao se ram ificar uma tc rmina çáo axónica o u
, 'I
cafezinho antes de encarar a próxima aula ou palestra , co rresponde a um fenô me- Umdendrito, haverá, de fa to, novas sinupses. Ao se a largar 11 supe rfície da termi -
no re al, não imaginá rio . nação pr é-sin úpt íca o u a da áre a dc nd rítica que es ui il sua fren te . a ume ntará a
Vere mos no Ca pít ulo 5 q ue essas áre a s cor tica is par ticipam tamhé m da evoca- eficiência de ssa sinapsc , Se. e m vez disso , oco rre um es t rei tamen to dessas úrc us,
ç ão d as me mó rias e, no Capitu lo ó, qu e boa part e d a mod ula ç ão da me mó ria havt:ni um a d iminui ção da efici ê ncia dessa sina pse .
: l
i

< :

62 I Iván Izq uierdo Memória I 3

o in ício das transfo rrna çócs


.
sin ápticas q ue são a base das , •
InCII1(}' ft.a células piramidais d o hipo cam po . Ca d a um a d e las re ce be de
se à aç ão de p ro te ína s cinase so br e re ce p tores (CaMKII so br e (lhtR ) S e emite uxônios ljuc se rami fic a m e II co m u n icam co m

sobre o u tro s re ce p to res glu Lamaté rgico s) e so b re libe ra ção de gluta ' urô nio s, tanto no hipocarnpo como fora d el e .
a gind o so bre G A P-43, a via N O / P KG ) c , ma is ta rd e , de slocadas cs ~a l , re o pliming mencionad o s no ca pí tu lo a n te r io r suge re m, po-
. S,l ~
ao n úcleo ju ~ t () com as.E R Ks, e stim ul.a nd o.fa to re s de tra nscriçãn que, 'ijn possível reconstruir e ev ocar memó ria s co mplex as a part ir
mRNAs, estimula m a síntese de pro te ina s sma pse -espeeífieas : ~ /nLl l: s till ia s c sino pse s do que se po de ria pe nsa r. Cert a m e n te , meno s
pela s e nzim as mencionada s e pe lo fo sfo ino sito l-3-fo sfa Lo , po r uma ati Itízados na aqui sição inicia l. A a presc nta çâo d e u ma figura
siste ma mTO R de pe nde nte pa ra a s íntese p ro téi ca ext rarribo ssomal. ('crU uma imagem permite muitas ve ze s a rec onstrução d a imagem
ca d a pad rão e specífico d e a tiva çâo siná ptica no tre ino de ve e stimular co m e ce com a reprodu ção e a co nse q uc nt e evo caç ão d e um
d ife re n tes . In icia lmen te , e d ura n te as prime ira s 16-24h a pós o t érrnin uma longa partitura mu sica l a pa r tir d e "d ica s" . A pa lavr a
tre ino , pr ovave lmente a s me mó r ias são sus te n ta das po r glico pm ll' inas sin ulta r na rccorda çâo d o I Iino N ac io na l comple to , co m m ús ica
d as e m CA l o u rc gi ôcs eq uiva le nte s de ave'>o u inse tos, inco rp11rad as oblíq ua ou arredondada pode traze r il Lona um ro sto e Lo d o s
brana s sin ápt icas. Po steriorm e nte , acre d ita-se em a lgu m p ro cesso aut o u um quadro complexo .
rativo e nvo lve nd o tr ansfo rm açõ es d o DNA d as re giõ e s envo lvid as. por m nie ntc lembrar aqui lju c isso não implica q ue a d ica con te n ha
o u o u tra s mud a nças covule n tc s. De fa to , na me d ida e m q ue a idad ria evocada. Para poder s ê-lo, ela deve se e nco ntra r e m a lguma
d ete ct a-se mais metila ção no DNA de hipoca rnpo de a n ima is de cxpcri m e lha n tc il utili zad a na aq uisição de ca d a me mó r ia; se n ão . a
suge r ind o q ue isso po ssa ser co nscqu ência de se u uso na Iorrn açâo rcit lent ória.
me móri as. E m a lguns tipo s d e a p re nd izado e na fo rmação das corres
m e mó r ias pode se r lj ue in te rve n ha LTD e m vez de LTP: luí evid ência
I li:!i ~ e sse sej a o caso de alg um as me mó rias fo rm ad as no ce re belo . po r cxc rnpl
<li in fo r m açõ e s so bre os muito s tipo s d e mo d ificações es truturais e luncion
o co rr e m na sinupse devid o a se u uso o u falt a de uso , e principalmente d
secu nd ária s à Iormaçâo d e me mó ria s, é ú til co ns ulta r a bib liogr a fia rnai
'i te no sitc E n tre zP ubM ed o u o utro co m ace sso am plo ao sis tema d a Medl
inte r ne t. As a lte ra ções d as d ive rsas sinapses d e cad a u m a d as re des q
p ócrn ca d a memó ria de termina m por q ue os ind ivíd uo s pa ssam a n:spo
m a ne ira diferente a u m e stím ulo q ue inicia lme nt e e ra ne utro o u L< ' U ~
re spo sta s. Pa ra as me mó r ia s ma is co mplexa s, o nde se lê " cs tim uln", J~
"co nj untos" o u "co mplexos" o u "co nste la çôc s" de estím ulo s; e ~lI1Je s.~ I
ta " d eve -se le r " re spostas", o u tamb ém "formas d e pensar", "a u tlides ou
cime n to s" .
Q ua ntas sina pscs se rá preciso mod ifica r pa ra q ue u m indivíduo possa
uma d ete rmi nad a me mó ria '! Obviame n te, isso d e pe nde r á do tipo de I
, . . . . . . . . " 'L. 1' 1'u: nao d
Se lo r uma rncrnon a re la tiva me n te sim ples (e sq uiva 10 1 1 1 () •• _
l i; uma p la ta fo rm a, nao- bo ta r os dedos na to mad a ) , u ns po uco ' s' m i l.hll l' ~J
. .. h ' I · I' . ' c' ''' ) Sl' !llr um.
e m se is o u se te rcgio e s core nus P O ( c ruo cxp tea r o pro ce "'.... . ' .
t't r a) (·n\·olv
sc ma• n uca
. ' .
comple xa (Lo da a med icina, to d a um a pa r u uru i . _ "
,_
bilhó cs de. "
sm npsc s, e m rnurtas a rc as cc rc I1ra lS,
' O ss n
nuúme ro" Illíl' ...n (l l x.
C'

. ' . . _ ' ll1 i h:~ 1J


no c érebro huma no ha u ns NO hilh ócs d e ncuro rno s: d OIS l rnc II
emórias de cu rta
longa duração

no capít ulo an te rio r, a fo rm ação de um a me mó ria decl a ra tiva de


pd o sistema hipoca rnpal c sua s co nexõe s leva se is o u ma is ho ra s,
penedo. co nfo rme ve remos no Ca pítu lo 6, o pro cesso é ba sta nte
I a mod ilica çócs por muitas vari áveis. São clássicas as observações
toxicuçáo alco ólica, um tra uma tismo cra nia no o u um c lctrocho q ue
tumam ca usar amnési a retr ôgr udu pa ra os fa tos o u eve ntos imc dia -
'ores a eles, Isso se de ve ao fato de a intoxicaç ão, o traumat ism o e
inte rrompe re m as Iasc s inicia is d a co nso lidação, ca ncela ndo o pro-
(s) rncrn óri.u sj iniciad o pouco s minuto s an te s. I~ co m um o uvir ,
de boxe nocauteado. d iga mos, no 7" round, frases co mo a segu inte :
ce u? l-u vinha ganha ndo fácil at é o 3°o u 4"assa lto e ago ra apa re ço
numa maca. com um pa no mol ha do na te st a, no vcsti ário .,". O
) funcio namento de se us meca nismos ce re br ais de con sol id aç ão ,
l\ão conseguiu grava r o acontecido e ntre o 4"e o fa tíd ico 7° assalto ,
ntece com um indivíduo que acaba de sof rer um ac ide n te a uto rnob i-
rcceheu um traumatismo c ra nia no , Quando chega a po lícia, não
dar corre tamente qu e rnanobrar s) Iczjust am cnte a ntes do ac idcn-
ruo policial nem o dono do o utro ve ículo co nsegue m co m preende r
Jcvole nte .
, inúme ras int erferên cias com o s proce sso s mn e mô nico s são
S ,d e tratamentos dados durante o curso de uma co nso lidação ,
netas pro u' 1 u""zcrn anmesm a: iImpe d e m o prossegu ime
- , retr -ógra du. ' n to
'U da consolida ção do que acaha de ser aprendido , de tal maneira
rde eSS'1 . ,
" c Il1cm OTl a, Produzem amné sia retrógrada um elctrocho -

h' ou Um tnum' «urna t'isrno craruuno, oco rn' uo


,' .1 ' d
ucpois ' , çao,
a aquisi - ou a
JP<lcamp'(ll uc ,I . ' ibid (., . , , d
1111 I o res da PK .'o u d a PKA minut o s I1lHl S tar c,
66 I Iván Izq uierdo
Me mória I 67

etc. Pe lo cont rá r io , est im u la n te s d a


Inúmeras interterênclas com os
PKA dados no h ipocampo 3 ou 6h de -
processos mnemônicos são pos-
síveis através de tratamentos da-
dos durante o curso de uma con-
solidaçâo.
pois d a aq uisição de um a me mória faci-
litam su a co nso lid ação . Essas mem órias
serão melhor lembrad as dias o u sema -
lD-- 1 "CD 1-1 " LO I

0<1 I
na s ma is ta rde (fa cilitação r etrógrada ;
ve r McGaugh , 1966,2000; l zq uic rdo e
Medi na, 1997). " CD
Muitos Iatorcs co rnport ame nta is podem ta mbém interferir na consolid ação.
Por exemp lo , a expos ição a um a sit uação nova c , portanto , chamativa , 1 ou 2h
depoi s d a aq uisição de uma determinad a me mória, pode in te rfe rir se riame n te I ---:-:-:-
ML-D - I
na gr avação d esta . O efe ito a mné sico retrógr ado d a novid ade é de vido à int e rfe-
rê ncia no s p ro ce sso s ne uroq uim ico s d a co nso lida ção e m curso . gura 4 .1
Depois de passar pela memória de trabalho (MT), a informação se armazena formando
O pe ríodo em q ue ocorre a co nsolid aç ão d as me mó rias de longa d ura ção é,
memórias de curta duração (MCD ) e/ou de longa duração (MLD) , Em principio,' a
portanto , l ábil e susc e tíve l a nu merosas in fluê ncias, muitas d as q uais pode m se r primeira poderia corresponder a uma fase inicial da segunda, Porém, através de
ne gativas. vários tratamentos , pode-se suprimir a MCD sem alterar a MLD (ver texto). Em
No entanto. tod o s sabe mos q ue q ualq uer anima l. inclu sive o s humano s, é consequência, a MCD obedece a um sistema separado e paralelo ao da MLD ; seu
ca paz de lemhrar pe rfe ita mente bem co isas ad q uiridas min utos o u ho ras a ntes. papel é manter a memória "vi va" enquanto a MLD está sendo formada. Os retângulos
que representam a MT, a MC D e a MLD não estão desenhados em escalas proporcio-
o u seja, no período e m q ue essas memórias ainda nã o est ão he m c defi nitivam ente
nais à sua duração, que é de segundos ou poucos minutos para a MT, de 1 a 6h para
I, co nso lid ad as. O que mantém a ca pac id ade mnemônica Iuncionando e nq uan to
a MCD, e de muitas horas, dias ou até anos para a MLD, Doze horas após a aquisição,
as me mó rias n ão es tão a ind a be m for mad as'! inicia-se a intervenção do (s) mecanismo(s) que regula(m) a persistência da memória
;1 U m d os pa is da Psicologia mo d e rna , o inglê s de o r ige m e stadunidc nse descritos no Cap ítulo 6. Há pelo menos dois mecanismos desse tipo : um , que age
' i'.

:~ Willia m J a rne s, propôs , em l R90, q ue de ve ria have r um siste ma secundá rio de 12h depois da aquisição; outro que age reiteradamente cada 24h depois da aquisição .
me mória ljue man tivesse a ca p ac id ade de record ação do a n imal opera tiva e n- Ambos são bioquimicamente diferentes e agem independentemente do sono.
I: quan to a formação da memória primár ia ou principal não estives se aind a co mple-
ta . No sécul o XX, a me mória se cu nd á ria propos ta po r Ja rnes fo i de no minad a
memória de curt a dura çào, e a me mória pr incipal o u primá ria , memória de long a
dur a ção (McGa ugh, 2000) . longa duração leva n tada po r Williarn J ames (1890) só pode se r dada por um d os
Ad mi tid a a nece ssidad e da ex istência de um siste ma de me mória de curta dois seguintes expe rime n tos:
dura ção (a té 6h ) e nq u an to a me mó ria de fin itiva o u de longa d ura ção não está
realm en te "acabad a" (6h o u mais de pois ele adquir ida ), su rge a seguin te pergunt a- • Um experime n to que demonstre que é possíve l su primir a memó ria de
-chave , que mobilizou a m uito s ne urocientistas e psicó logos durante mais um curta duração se m oca sion ar um a perda d a me mória de lo nga d ura ção
séc u lo : a me mó ria de cur ta d uração é uma fase da me mó ria de lo nga dura ção o u para um de te rm in ado aprendizado num mesm o suje ito .
é um fe nô me no fisiológico p a ra le lo e diferente (Figura 4.1) ? • Outro q ue demonstre q ue isso é simplesme nt e imposs íve l.
A re spo sta a essa q uest ão é fund a me n tal, porque a int e rpre tação d a constru-
ção d as me mó rias e a de nu merosos qu ad ro s clínico s em q ue ocorre m d istú rbios I~ evidente que , se (a) fo sse ve rd adeira, a me mória de c ur ta d ur aç ão se ria
de um ou o u tro tipo de me mó ria, seri a m comple tame nte dife re nte s e m ca da Um processo inde pe ndente da de longa duraç ão . a mbas se riam pa ra le las dura n te
ca so . A re spo sta à q ues tão d a inde pe nd ênc ia o u n ão da s memó rias de curta e de certo tem po, até a consolidaç ão da segund a ( Izqu ic rdo e t ul., 1991') .
II
68 I Iván Izqu ierdo Memória I 69

Nas memórias não associa tivas (ha b ituação ) e nas de p rocedimento s, assi m pari ct al po sterior, que sup rime m a memória de curta d uraç ão se m reduzir a
co mo no priming não se distingu e uma memó ria de cu rta duração, ne m do ponto mem ória de longa duração (Izq uie rdo e t a l., lYYK, 1999) (Rgura 4.1) .
de vista co mp o r ta me nta l, nem do ponto de vista neu roquímico . Por o u tro lad o, numerosas obse rva ções clínicas fe itas entre 1970 e 20 00 ev i-
denciaram qu e , de fa to, há sindro mes neurológica s e situa ções de in te re sse médi-
co nas q uais ocorrem falh as se le tivas da memória d e cu r ta d ura ção , se m co m pro -
Separação da memória de curta duração
mctimento a lgum da memória de lo nga duração. A sit ua çâo ma is co rriq uei ra é
da memória de trabalho
a da ve lhice normal: o s idosos apresent a m m uitas ve ze s falhas cla ra s na me mória
U m erro comum e n tre os psicólogos norte -americanos é a co nfusão e ntre memó - re cente , se m a lte ra ções impo rta n tes das memórias mais antigas. O ut ra. clássica ,
ria de traba lho e memó ria de cur ta d ur aç ão . é a da de pressão : o paciente tem d ificuldade e m le m bra r aq uilo q ue aco n tece u
A memó ria de tr ab a lho , co mo foi há poucos m inu tos o u poucas ho ra s, mas é ca paz de lembra r memórias de dias
definida no Ca pítu lo 2, é to talme nte di - o u a no s at rás mu ito be m, pri ncipa lme nte se e ssas me mó rias mai s vel has são de
ferente do s demais tipo s de memó ria. índole tr iste o u nega tiva. M uitas ve zes se obse rva um q uad ro semel ha nte na
Um e rro comum entre os psicólo-
Ce rta me n te é curta, e dura de sde pou- co nfusão menta l prod uto de a lgu m aco ntecime nto es tressante. A perda da memó -
gos norte-americanos é a confusão
co s segundos a té , no máximo , 1 a 3 mi- ria re cent e co m prese rvaç ão d a me mória de longa d uração é p at o gn ornônica do
entre memória de trabalho e me-
nuto s. M as o princip al é qu e se u pa pe l quad ro clínico qu e se denomina delirium , muitas vez e s ocasio nado por ca usas
mória de curta duração.
não é o de fo rm ar a rq u ivos, ma s sim o o rgânicas e habitualme nte bast ante reve rsíve l. F inalm e nte, na litera t ura do s a nos
d e a na lisar as in fo rm aç ões que chega m 1970 e 1980, há descr ições de síndro mes sec und árias a lesões co rt ícu is variadas
const antemente ao cé re b ro e co m pa rá - nas qu a is há um a fa lha seletiva d a me mó ria recente de tipo ve rba l, co m pr eserva -
-las às existe ntes nas demai s memórias, declarati vas e proced u ra is, de cur ta ou ção da me mória de lo nga d uração , tanto ve rb a l q ua n to d e ou tro s tip os (Izq uie rdo
longa duração . A memó ria de tr abalho nã o te m consequ ências bioqu ímicas men- et al. ,1 999).
surá ve is q ue não se jam as muito breves q ue deco rrem a cada momento da ativid a- Os resul tados de no ssos experime n-
de e lé trica de qualquer neurônio . tos e de a lguns o u tros a u to res (p rinc i-
A me mória denominada de cur ta d ur ação (Izquie rdo e t a I., 1999; Mc G augh, palmente Ca re w; ve r refe rê nc ias em A perda da mem ória recente com
2000) es te nde -se desde os primeiro s se gu ndos o u min utos seguin tes ao a pre ndiza - Izquícrdo e t a l., 1999 ). j unto co m a evi- preservação da memória de longa
do até 3 a 6 ho ras; q ue r d ize r, o te m po que leva a memó ria de longa duração dência clínica. sã o ca tegórico s. D as duas duração é patognomônica do qua-
pa ra se r e fet ivamente co ns truíd a. Como ve re mos a se guir, as ba ses d a me mória po ssihilid ades levantad as po r W illiam dro clinico que se denomina del/-
de cur ta duração são essencialme n te bioq uímic as e d ife re ntes d as da memó ria Jarncs (processos paralel os, pro cesso s rium , muitas vezes ocas ionado por
de longa duração . sequenciai s), a pr imeira é a ve rd ade ira . causas orgânicas e habitualmeme
A memória de trabalho não só oc upa o utras es tru turas ne ur ai s (funda men ta l- Qual é a base fisiol ógica e molecula r bastante reversível
I ' j me nte o có r te x pré-frontal), co mo ta mbém te m uma farmacologia mol ecula r da memó ria de cu rta duração ?
tot almente d ife rente d as d a memória de curta o u de longa duração (Izq uie rdo H á v ário s pontos a co nsiderar.
et a I., 1999). Em prime iro lugar , a memó ria de curt a d uração de pe nde do prévio pro ce s-
Il sa me n to d as informações pel a memó ria de trabal ho , assi m como a me mória d e
longa dura ção . A me mória de tra ba lho , cuja p rincipa l ba se un a tomo- Iisio l ógica
Separação da memória de curta duração
é o córtex pré- fronta l. p reced e ao s o u tro s do is tipo s de me mó ria, e de termina
da memória de longa duração
I; Numa sé rie d e expe rime nto s publicad a e ntre 1998 e 1999 , meus co lab o ra do re s
e cu de mo ns tramo s que há pe lo me nos 16 tr a tamentos diferent es, ad minis trado s
qu e tip o e quanta info rmação irá se "fixa r" nos siste mas de cu r ta e de lo nga
du raçiio.
li rn segundo lugar, a memória de curt a duração é se le tiva me n te afetada por
que r na região CA I do hipocarnpo, que r no có rtex cntorrinal, que r no có rt ex muito s tra ta me nto s ad m in istrados nas me sm as árc us qu e processam /I rncrn órju
70 I Iván Izquierdo Memória I 71

de longa d u ração (Ca p ítulo 3) : a região CA I do hipo carnpo , o cór tex en to rrinaI men te qu e a me mó ria de cur ta duração c a d e lo nga d ura ção não são partes de
e o córtex parie ta!. Por tan to, as mesmas área s es tão envolvid as no p rocessame nto um mesmo pro ce sso, e sim duas sé r ie s d e pr oce sso s para lelos c ind epe nd en te s
de cada tipo de memória. e mbo ra a través de meca nismo s clara mente difere n tes. (Ouad ro 4 1) .
Em terceiro lugar, o conte údo d as me mór ias de curta e lo nga d ura ção é Assim co mo há e le men tos e m comum entre o s mecanismos da po te nciação
basicamente o mesmo: se ap rende rmo s de cor um de te rminado texto ou uma de longa d ur ação e a memória de longa du raç ão, há també m algu ns (e mbo ra
figura. evocaremos esse texto ou essa figu ra e nã o um ou tro qua lq uer, tan to I ou po ucos) e leme nt o s e m co m um e ntre a me mó ria de curt a d uraç ão e um tipo
3 ho ras mais ta rde (memória de cu rt a d ur ação ) como no d ia seguinte , se nos abo rtivo de LTP deno mina do "de curta d uração" (ve r lzquie rdo e t al., 1999): a
le mbramos dele (me mória de longa duração ). Isso indic a que a informaç ão inde pe ndência de am bas em re lação li interve nção d e várias proteí nas cina se
afc re n te ao s doi s sistemas mne m ônico s é a mesma, e a respost a. ta mb é m. Em (vá rias isofo rma s da PKC, CaMKII ) e à a tivação tardia de CREB nucle ar c da
o ut ra s pa lavr a s, a in fo r ma çã o aferente (o s estím ulos condici o nados e sín tese pro tc ica co rre sponde nte . Porém, há várias d ife renças impo rtante s e ntre
incond icionados) chega a través d as me smas vias se nso ria is, c a res po sta ou as a memória de cu rta du ra ção e a po te nciação de lo nga d ura ção : a) a prime ira
respo sta s corr espo nd e ntes são emitid as pelas me smas vias moto ra s o u cf e toras. ocorre na a usê ncia de me mó ria de longa d ura ção: a segun da só pode se r detectad a
A d ife re nça e ntre os do is tipo s de me mó ria (de cur ta e de lo nga d ura ção), que median te a supressão d a pote nciação d e lon ga d uração : h) a memória el e curta
faz com q ue sejam sensíveis a difere ntes trat amentos e res pondam a processos duração é extre mame nte depende n te d as isoformas o. e/o u ~I I d a PKC e da
d istinto s, n ão re side no input (pe rcepção e an álise do texto ou da figur a) ne m no
output (a evocação do texto o u d a figur a e se u significado).
A d ifere nça en tre as memó rias de cu rta e de longa duração re side não em
seu co nte údo co gnitivo , qu e po de ser o me smo. ma s no s mecanismos subjacentes
a cad a um a de las. Q ua d ro 4 . 1
I~ imp o rtante salie ntar aq ui que a met odo logia aplicada ao estudo d a separa- Mecani sm os da fo rm ação da m e mári a de c urta dura ção
çáo das me mórias de cu rta e de lo nga dur ação não pode inclu ir análises b íoqu ími-
cas no hip ocampo ou em o utras estruturas. co mo fo i feito no es tudo d a me mória 1. Em CA1, ativa ção de receptores glutamatérgicos dos tipos AMPA , N MDA e
metabotrópicos, cuja ação é modulada positivamente (facilitada) por receptores
de longa dura ção (Ca pít ulo 3, Q uadro 3.2). A<; altera ções moleculare s que aconte -
colinérgicos muscarínicos, dopaminérgicos 01 e ~-noradrenérgicos; e negativa-
cem na região CA l o u e m outras áreas, e q ue são subjacente s à co nsolidação,
mente (in ib id a) , por rec eptores serotoninérgicos do tipo IA.
ocorre m sim ultane ame nte à própria existê ncia d a memór ia de curt a dura çào, e
não podem ser dir e ta mente re lacio nad as a e la, ne m para incluí-I as, nem para No có rtex entorrinal, intervenção de receptores qlutarnaterqicos do tipo AMPA,

excluí-Ias. O único método po ssível par a a análise dos mecanismos mo leculare s mas não dos restantes tipos. Mod ulaç ão positiva por receptores serotoninérgicos
IA (oposto ao que ocorre em CA1).
da me mó ria de cur ta d uração e m uma ou ou tra estrutur a cerehra l e nvo lve o
emprego de micro injcç ócs localizad as nessas estrut ur as de drogas co m açóes No córtex parietal posterior são necessarios também receptores AMPA seleti-
e spe cíficas sobre um o u o utro d eter minado rece p tor o u uma e nzima . vam ente para a formação de memória de curta duração.

Segue m à con tin uação , no Q ua d ro 4.1, os passos moleculare s da Iorrn a çáo 2. A formação da m em ór ia de curta duração é inibida por receptores GABAérgicos
d o tip o A nas três estruturas mencionadas.
da me mó ria de curta duração.
3. Contrariamente à memória de longa duração, o córtex pré-frontal não participa
O bse rve -se q uc há algumas sim ilarid ades, ma s há também mu itas d ifere nças,
da formação nem do desenvolvimento da memória de curta duração.
e ntre o s me can ismos sim ultâneos d a formação d a me mó ria de curta d ura ção e a
4. No hipocampo e no córtex entorrinal, durante a primeira hora é necessária a
me mó ria d e longa d uração . ativação da PKC. presumivelmente pré-sináptica.
As sim ilaridade s indi cam elos entre ambos os tip os de me mó ria, q ue evide n- 5. Durante os primeiros 90min, é necessária a participação das ERKs e da PKA no
te me n te são nece ssários. d ad o o conteúdo cognitivo idê ntico da s d uas. Ambas hipocampo. Não é necessária a fosforilação do CREB nem a síntese proteica
contêm a mesma info rmação a lcrcntc e cícrcntc; o input e o out pu t d as mem órias no hipocampo.
de curta du raç âo e de longa du ra ção são iguais. Mas as diferenças ind icam clara-
72 I Iván Izq uierdo Memór ia I 73

p ~ot c ína cinase A du r.ante os prim ei ro s lJOmi n; a po te nciaçúo de CUTla hl apontar aqui que es sa propried ad e fa z co m que e la possa
nuo de pe nde desse s siste ma s. lprir seu papel de " alojamento te m po r ário ' da me mó ria. e n-
D eve mos sa lie ntar aq ui que to dos os passos mo lcl:ula res env I . definitiva está sendo co nstruíd a .
. , o VC! I
de crn asc s (to dos os do Q uad ro 3.2, d a con so lida ção d a l\1cm(')ria d a memória de lon ga duração , que mi o se forma sem a tivaçã o
D ura ção . e todo s os do Q uad ro 4.1, co rres po ndente ü Me m(ll" ia de CUr ma mTOR e a subse q ue nte síntese pro tc ica, a me mó ria de
çã o) envolvem por isso mesmo uma altc ra çâo d a funç ão de I)rn teín'l( s," req ue r síntese pr ot cic a c provave lme nte de pe nde ap e na s d a
um a umento dessa fun ção . A s cinascs ca ta lisam a fo sforilaçãn de prol de diversa s vias e nvo lve ndo pro teínas cinasc , se m chegar ao
seja. a transfe rê ncia de um rad ical fo sfa to «(l0 / ) desde uma mn \écul
(ade nosina-trifosfa to) a algum sít io es pecífico de uma pro te ína. Por c
c álcio -calmod ulina cinase II (C a M IU I) tr an sfe re fosfa to da A l I' il
posição R3 1 (Se r IIJ1) d e uma d as pro te ínas co m po nen tes do receptor
t érgico AM PA (G luR l), e co m isso a ume n ta SUa funç ão, que é a de li
mato, permitind o , por uma a lte ração de su a fo rm a. ~I abe rtura de um
Na + e a con seq ucn tc despolar iza çâo do de nd rito . Q uase todas as int
de cinase s e nume ra das nas Q uad ros 3.2 e 4.1 resulta m num a ume nto d
de prot e ínas clave s re spon sáv e is prime iro pe la transrnissüo glutamat é
se g uir, pe la a tiva ção d as vias sinalizudoras llue acaba m a tiva ndo , por p
de sín tese . fa to res de tran scrição envo lvidos na síntese de segme ntos das
nas sinápticas re ce nte me nte est im ulada s, Acred ita -se q ue a torma çáo li
rias envo lve a seq ü ência desses pro ce ssos ( Ka ndc l c Sq uirc , 2IK )(); l/li
al., 20U6).

Papel da memória de curta duração


o pa pel d a me mó ria de traba lho (Ca p ítulo 2) e o Lia Illemó ria
II silo ó bvios .
O pa pe l d a memó ria de curta d ura ção é, basicam ente . ode mantt:ro i
e m co nd ições de res po nde r a trav és de lima "có p ia" efê me ra d :l lllcm<Íri
pai, e nq ua nto e sta a inda n âo te nha sido forma d a. Se rve . e m si, r ara ler (
à página 3 de u m e scrito de ve mo s recordar as piÍginas I c 2). ra ra dar s
a ep isódio s, e ce rta me nte pa ra ma nte r co nver sa s,
Para isso , a IllC01<'lria JL'
ra ç úo n âo so fre cxt i ll ~ ,in aO In ~
' se L'S ( I
o u (, ho ras e m que r lllIl: .
dura çâo m áxima: a pa rt ir JL" ~
o papel d,a memória de curta du- d ' nenll' SU
raçàoserve, em sl para ler; para lo . passa a ser gra a1l' ·/l 1
dar sequêncla a episódios, e cer- d a pclu mCll10.' rtU( IL' I( l ll e:'
" " Jur
, . it I ,"'r"l
proxllllll cu 1' 1 li II .. ~ llll~ ,li
.
lamente para manter conversas .
ra zo- es pe las q unrs
. ,
,I
III ' 1I1(l rJ lI
~
5
Persistência das memórias
de longa duração

E m pr incípio , de no mina m-se me mó rias de lo nga duração toda s aq ue las q ue


duram mai s de 6 ho ras (McGaugh. 200 0; Izq uie rdo c t al ., 2006) . te mp o q ue
de mora o processo de sua conso lida ção cel ula r. Po rém, todo s sabe mos que a lgu-
mas me mó rias de lo nga du ração d ur am dois o u três dias e n ut ra s. se ma nas.
me ses o u an o s. I lá que m estude "p a ra o exa me" daq ui a do is o u três d ias ; há
que m estude " pa ra tod a a vid a". D e d uas pe sso as q ue vee m um filme j un tas, é
comum que uma del as le mbre de tal he s por po ucos d ias e nqu an to a o utra Icmhre
do filme po r mu ito te mpo .
Um fa tor d a maio r pe rsistê ncia d e algumas memórias é o níve l de " ale rt a
emocio nal" que aco mpa nha sua co nsolid aç ão inicia l, co mo de mo nstra ra m Ca h ill
e McGlI ugh ( 1998) nu ma sé rie de ex perime n tos c obse rva ções importa nte s no
fim da dé cad a de I99ll. lodos reco rd a mos po r mai s te mpo e em ma io r deta lhe
aco nt ecimen tos q ue ocorre ram co m um fo rte gr a u de alerta emociona l: no sso
casame nt o. o na scim e nt o de no sso pri mei ro filho . a morte de Ayrto n Sen na , a
mo rte de algué m muito q ue rido . Po ucos re cord a mos e m deta lhe a tarde ante rior
o u po ste rio r a ess es aco ntecimen tos ; o u. se m ir m uit o lo nge , a ta rde de o nte m.
Porém. h á muito s fa tos e eve nt o s que não fo ram adqu irido s co m ne nh um gr a u
de alert a e mocion al e que reco rd a mo s m uito he m por anos: a lgumas le is d a
Iísicu ap re ndidas no colégio, o no me c o rosto de alg um as pesso as que n ada
re prese ntam pa ra nó s. as let ras de ca n-
çó cs das qu ais nu nca gos tam o s m uito .
uma po rta d e um a casa e m q ue nu nca Todos recordamos por mais tem-
en tramo s. de. po e em maior detalhe acon-
Essas o bservaç ões da vida co tid iana teclme ntos que ocorreram com um
Ievara m Jorgc Medina e colaborad ore s, forte grau de alerta emocional ,
e m Buenos Aire s; meu gr upo. em Porto
76 Iván Izq u ie rd o Memória I 77

Alegre , e Kirstin Ecke l-M a ha n e se u gru po , e m Se a ttle , a inve stigar se existe m feira passada para não co nfund i-lo, ao sa ir, co m o lugar e m que o estacio ne i
mecanism os p~)s te r i o res à consoli d ação celular q ue expliq ue m a persistência de hoje, quando chegue i.
a lgumas me mó rias de longa duração po r pouco s o u muito s di as. I:cke \-M a ha n de screveu o utro me canismo , cíclico e circa d iuno , que co nsis te
Med ina , Ca rnma ro ta, e u e nosso s col ab o rad o re s achamos um meca nismo em um a ume nto a cad a 12 horas d a a tivida de d as E R Ks e da Ca MKIl no hipo -
q ue a tua 12 horas depo is da aquisição , a tiva ndo a área tcgmcntal ve ntra l (V "IA . campo a partir do momento e m que certa tar efa de es q uiva é ad q uirid a .
ventral tegm ent al arl'{/) cujo s ax ônios sã o do parniné rgicos e ine rvum a rcgiâo CA I Ne m o mecanismo do BDNF de scob erto por nós ne m o mecanismo circa -
d o hipoca rnpo, e ne le e stimu lam rece pt ore s D I à dopa mina, o q ue ca usa a r ápida dian o descoberto po r Ecke l-M a han gua rda m rel aç ão com o sono o u co m a lguma
sínte se d e BD N F no hipo ca rnpo e sua ime d ia ta libe ração . Do funciona mento fase do so no , ao menos no rat o . Ambos oco rre m igua lme n te quando o treino (a
de sse siste ma re sulta um e vide n te fo rtale cime nto de sinapses hipocâmpicas q ue aq uisição ) é produzido de manhã, q ua ndo o rat o co meç a se u pe ríodo di á rio de
pa rticipa m na rece nte co nso lida ção d essa me móri a e sua pe rsistê ncia po r pe lo so no, o u à noite, quando e nfrenta suas 12-14 ho ras d e vigília. Ao lo ngo do s a nos
me no s d ua s o u tr ês se ma nas mai s. Se , pe lo co n tr á rio , esse meca nismo falha (por te m havido po stula çõe s de q ue o so no o u os so nho s aj uda m a grava r me mórias ,
exe m plo. po r ad minis tra ção de um antico rpo co n tra llDN E de u m inib ido r de po rém há pouca ev idê nc ia re al ne sse se n tid o ; o so no e os so nhos p arecem
sua síntese no hipoca rnpo 12 ho ras pó s-aquisição ou de um a n tago nista de re ce p- irreleva nt e s aos dois mecanism os a té agora demonstrado s q ue re almente regu-
to rcs D I), as me mórias só d ura m mais dois o u tr ês d ias . Em horário s mais tardios lam a persistência d as me mó ria s de longa duração. Co nt udo , tod os sabemos
(24 horas a pós o tr e ino) ocorr em o utros pro cessos bioq uímicos no hipocampo que uma bo a no ite d e so no ajud a a lembra r as co isas do d ia a nterior (o u o utras).
vincu lad o s fi libe ração de BDNF e à persistência: um pico tard io de c-Fos, ho rnc r c um a no ite se m so no pe rturba nossa vida cognitiva . Segura me nte deve exist ir
I a e o utr a s proteí nas . A inibição de sses p ico s di m inui o u a nula a persistência . alguma função do so no, talvez principa lme nte do s sonhos, na de te rmin ação d a
O bservando o gráfico infe rio r d a F igura 4.1, a "loca lização te mporal" desses per sist ência da s memórias; po rém, essa fu nção . a ind a, não fo i de sco be rt a.
meca nismo s é a p a rt ir do ret ângulo q ue re presen ta a MeD. Ass im, depois da fa se de consolid a ção cel ular. qu e d ura desde a aquisição
l I á evid ências indi re tas, ma s m uito cla ras, de que e sse meca nismo funcio na at é 6 horas mais tarde e que ocorre basicamente no hi pocarnpo , dese nca deia m-
tanto em rato s de lab o ra tó rio q ua nt o e m huma nos, com os mesmos inte rvalo s se , ne st a mesma estrutur a, pelo me no s dois pro cesso s que d e te rm in a m a
de te m po, e de que e le fa lha a pa rtir d a met ad e d a expecta tiva de vid a de a mb as persistência das memórias. Ambos se iniciam 12 horas de po is da aquisição ; um
as e spécies: um a no no ra to e 40 an o s no huma no . A té o s 40, os humanos po de m deles e nvo lve a ativação de neurônios do pa mi né rgico s d a V1 A que ca usam pro-
le mbra r m uito be m do no me de um filme visto na TV dois o u se te dias atrás, du ção de BD NF no hip ocarnpo ; o o utro e nvo lve a a tivaçã o de um sistema circa -
,i
I

ass im co mo o no me de se us a tores principa is. De po is dos 40, nossa Iernhra n ça dian o que reg ula os nívei s de Ca M Klr e E R K no h ipo ca m po .
do filme visto há se te di as di minui o u de saparece . No ra to , fa lha a me mória de
I um aprend izado de es q uiva leve a pr e ndi do se te d ias an tes , mas não de out ro
a pre nd ido do is d ias a ntes. A falha po de ser co n to rnad a pe la administra ção de
agentes do pa minérgicos 12 ho ras de po is
d a esq uiva - no rat o - ou do filme - e m
É possível que esse "esquecimen- um h uma no . É possível q ue esse "e sq ue-
to " de memórias mais ou menos cimen to " de me mórias ma is o u me no s
triviais geradas há vários días tenha trivia is ge rad as há vá rio s d ias te nha um
um papel fisiológico, evitando a p ap e l fisio lógi co , ev ita nd o a co nse rva-
conservação de informação pouco ção de informação pouco impo rtan te
importante por muito tempo que por mu ito te mpo que possa int e rfe rir
possa interferir com a mais recen - co m a ma is recente ; se m dúvid a. pa ra
te . mi m é mu ito melhor es q uece r e m q ue
lugar es tacio nei me u ca rro na se gunda-
6
Evocação , extinção
e reconsolidação
das me mórias

Como observo u WilIia m Ja rncs, e m 1890. a ún ica forma de ava lia r as memó rias
é med indo sua evo ca ção .
No mo me n to da evoc ação, () cé re bro de ve recr iar. em instan tes. memó rias
que leva ra m ho ra s par a se r formadas. Às veze s, a evoca ção está inibida por
mecanismos variad o s (" te n ho o nome na po n ta d a língua, mas não consigo le m-
bra r"). mas q uan do eve ntua lme nte essa inibição é supe rada. a evocação ocorr e
rapidamente, às veze s em forma mui to d e talhada . Mais adi an te vere mos várias
das possíveis causas d a inibição tra nsitóri a d a evoca çã o.

ecanismos da evocação:
o ato de reviver memórias
Co mo vimo s no Capít ulo 3, o co nse nso e nt re os pe squ isa do res da á rea é de q ue
as me mór ias são a rmaze nadas a través de mo d ificaçõ es - pe rm an e nt es ou ao
menos muito duradouras - da forma e d a fun ção d as sina pses d as re des neurais
de cada me mó ria. Essas mod ificações res ultam do proce sso de consol idaç ão d a
memó r ia de longa du ração .
Foi també m consenso, dur an te dé -
cad as, q ue no momento da evocaç ão o u I. _._~~

da le mb ra nça oco rr e u ma re at ivação ' Çl consenso entre ospesquisado-, '


das red es sin áp ticas de cada me mó ria . res daarea é de que as merm~n~
Esse mecanismo é um corolário do an- são, arrnazenecas.etrav és dé :mo:"
terio r. I~ be m co nhecido o fato d e qu e a dihca çôes. da forma e da função ' ,
evocação se rá tanto melhor , mais fácil das sinapses das redes neurais de
e mais fided igna quanto mais co mpo - cada rnern éría .
nente s do es) c st ímuí or s) co nd icio na-
;

80 I Iván Izquierdo
Memória I 81

do es) seja m a prese nta dos na ho ra do teste . Nã o ba sta ped ir pa ra (J al uno numa
sa la de a ula q ue res po nda bem às pergu ntas d e uma pro va escrita. É preciso Quadro 6.2
ind icar qual é a disciplina so b re a q ua l deverá resp onder, qual é o ass unto des sa M eca n ismos d a evocação da m emór ia d e l o n g a d u r a ç ão
di sciplina e qua is são as pe rgun tas que se deseja qu e e le respo nda. N ão basta
co lo ca r um ra to sobre uma pla tafo r ma q ualq ue r par a q ue ele evo q ue Uma esq uiva Para que ocorra a evocação são neces sários, em CA1, córtex entorrinal, parietal e
cingulad o anterior:
inibitó ria : te rá q ue se r a me sma plata forma na q ua l a pre nde u, de ntro d a mesma
ca ixa de tre ino , se po ssível no mes mo a mbiente, co m a mesma inte nsid ade de 1. Rec eptore s glutam até rglco s AMPA e metabotrópicos em toda s as estruturas
luz, et c. Nâo hasta d izer a let ra "o " pa ra q ue algué m le m bre do Ilino Nacio na l. e, no córtex pariet al e cingulado , também receptore s NMDA.
Ne m se q ue r "ou..." . f.: preciso d ize r "Ouvira m ..:' o u, melho r a ind a, "O uvira m 2. Ativid ad e normal de PKA .

do Ipira nga" . Pa ra evoca r uma memó ria é p re ciso recr iá-la co ncla rna ndo à ação 3. Atividade normal da via das MAPK, sendo que , em CA1, as enz imas p42 e p44
dessa via metabóli ca aumentam sua atividade em relação à intens idade da
o ma io r n úmero possíve l de sina pse s pe r te nce n te s aos e stím ulo s co ndicio na dos
evocação (a atividade de ambas as enzimas pode ser tomad a como um indi ca-
de ssa me mó ria . É como re co nstru ir um a casa : q ua nto ma is tijo lo s se te m 11d is-
dor do nível de evocação) .
posição , melhor se rá a rec o nstr ução ; se há algum ind ica tivo de a q ue lugar d a
4. Atividade normal de várias isoforma s da PKC, incluindo a. e ~II.
casa pertenciam gr upo s de sse s tijo los, a ta rda pod e rá se r facilitad a .
5. Não é necessária a atividade da CaMKIJ em nenhuma das estruturas men eio'
Só no s últ irnos do is a nos fo i po ssível de mo nstrar q uais sã o as principa is á reas nad as durante a evocação .
ce re bra is e os meca nism os mo lecula re s tio pro cesso d e e vo caçã o (Ba rro s e t al., 6. No núc leo am igdalino só é necessária a integridade dos receptores glutama-
2000; Sza piro e t a l., 2000). Os est udos envolve ra m, co mo no ca so d a consolida ção : térgicos AMPA e a dos recepto res ~·ad re né rgico s.
a) a ad mi nistraçã o localizad a, e m dive rsas e stru turas ce re bra is, de drogas co m
ações mol ecu lar es esp ecíficas ; b) a medição das alteraçõ es bioq uímicas ca usad as
pel a evo cação . A ta refa de aprendizado u tiliza da fo i, novame nte. a es q uiva inibi-
tória, aprendida e m rat o s e m uma ú nica sess ão .
O s resulta dos e as con clus ões são most rado s no s Q uad ro s 6.1 e 6.2. O Q uad ro curt a du ração são m uito me nores que o s d a me mó r ia de lo nga du ra ç ão . No ca so
6.1 most ra os meca nismos molecula res de tect ad os na re gião CA 1 do hipo eampo da me mó ria de lo nga duração , o s processo s mo leculares med ido s no hip o ca rnpo
pa ra fi evo cação d a memória de cur ta du ração d a esquiva inibitó r ia, me d id a 3 foram pra tica me n te igua is ao s d a mesma me mó ria me dida um dia depois da
horas de po is do tre ino . O Q uadro 6.2 mo stra os req ue rimentos mo lecu lare s d a aq uisição . A lé m d isso . os pr o cessos mo lecu lar es da e voca ção da me mó ria d e
evoca ção dessa mesma fo r ma de a p re nd izado med ida 24 ho ras de pois do tre i- longa d uração fo ra m idê ntico s e m q ua tro das cinco est ruturas ne rvosas an alisa -
no . O bse rve-se que os reque rime n tos molecul are s da evocação d a memória de da s: CA I. córtex ento rrinal . córtex pa rie tal posterior e có rt ex cingu lado a nte ri-
or. No núcle o a m igd a lino só fo i demonst ra da a participação d e receptores
glutamat é rgico s do tipo AMPA e a de receptore s I~ adrcn érgico s,
O bse rve -se q ue os req ue rime ntos mo lec ulare s da evocação são d ife re ntes
do s d a Ior rna çâo da me mó ria, tanto da d e curta d ura çâo qua nto d a de lo nga
Quadro 6.1
duração. No pr ime iro ca so, n ão e nvo lvem a necessidade de o utros receptores
Mecanismos da evocação da memória de curta duração
além d os glutu nuué rgicos de tipo AMPA, o u seja , aqueles q ue no rma lme n te
proce ssa m a transmi ss ão siná p tica cxcitut ória . No caso da evoca ção da me m ória
1. A evoc ação da memór ia de curta dura ção requer,em CA1, recepto res glutamatér-
gicos intac tos. de longa d uração , a a tivaç ão de rec e pto res glu ta ma t érgico s va ria segundo li estru-
2. Também envo lve a ativação de receptore s ~ -noradren érgico s , mas estes não tura (A M PA e mciabo tr ópicos e m CA I e no córtex c nto r rina l: AMPA, NMDA
são imp rescind íveis. e rnc tab o tr ópico s no có r tex parie ta l e cinguludo a nt e rio r) . S ão necc ss árius, nas
3. Não requer a interv enção de PKC, PKA, MAPK ou CaMKl1. llua trn rcgi ôc s co r tica is, a s via s meta hú lil"as d a PKA. da PKC c da MA PK. ma s
em fo rma simultâ ne a com a lltivaçiin de re ce pt o res glu ta ma tergicos ou. Pl' !O
82 I Iván Izquierdo Memória I 3

me nos, muito p róxima a es ta no tempo ; n a co nso lidação, o e nvo lvime nto dessas ch oque . No momento da evocação, o a nimal per cebe isso ao realizar a re spo st a
via s e m CA I pe lo menos é sc que ncial. F ina lme n te , dife re nç a da co nso lidação ,
à condicionada; e ass im inicia a extinção. Esta, evi de nte me nte, só se rá observad a
a CaM KI I não é imp ortante pa ra a evocação e m nenhuma d as áreas es tudadas. pe rante tes tes suce ssivos. Se um ra to apre nde a n ão descer de um a p la taforma
As not ávei s diferenças e ntre a bioq uímica da evocação e a d a conso lidação par a ev ita r rece ber um cho q ue, e na sessão de te st e de sce e mesmo assim não
faze m co m que a prime ira não po ssa se r co nside ra d a como uma simples rei te ra- receb e o cho q ue, na vez seguinte q ue seja colocado so bre a pla ta fo rma , te nde rá
ção da segunda, co mo postu la ram há algu ns an o s algu ns teó ricos. A evocaçã o a fica r ali menos tempo e, assim , nas suce ssivas repe tições, a té y ue eve ntua l-
co nst it ui um proce sso mo lecula r co mpl exo , que ocorre sim ulta ne ame n te e m mente a re sposta "perma nece r n a pla ta fo r ma" fica extinta.
várias á re as ce re bra is c que obe de ce a meca nismo s bioq uím ica s próprio s. O Vimos também que a ext inçã o não e nvo lve nece ssar iamen te esq uecime nto .
fa to de ta mbé m requerer re ceptores glutama t érgicos nad a mai s sign ifica alé m Se e m algu ma das sucess ivas sess ões de teste o a nima l receb e um choq ue, aind a
de que e ste é o ne uro tra nsmissor excita tó rio principa l do cé rebro , incluindo as qu e este seja um a fra ção do o riginal, recuperará inst anta neame nte a me mória da
q ua tro áreas aqui estudad as. O fato de envo lver a nece ssid ade de PKA, PKC e esquiva inibitória e passa rá a aumentar o tempo de permanê ncia na plataforma .
MAP K funciona n tes, nad a mai s sign ifica se n ão que , como vimos no ca pítulo A exti nção co ns titui um novo a pren d izado . O suje ito que havia a pre nd ido
ante rior, essas sã o trê s d as vias e nzimát icas pr incipa is e m lodo s os fe nô me no s qu e es tím ulo co nd icionado + es tím ulo incondicionad o = respo sta, de repent e
plástico s co n hec idos nos tec idos ne rvo so s; em to do caso, o bserve -se que a evoca- precisa apre nder o co ntrá rio : es tím ulo co nd iciona do + nada (o miss ão do estím u-
çã o não re q ue r Ca M KI I, ne m, q uan do se trat a da me mória de c urta d ura ção, lo incondicionado) = ex tin ção.
ne n huma via enzimáti ca im po rta nte . Recentemente foi obse rvado qu e a inst alaç ão d a extinção , esse novo apre nd i-
'!:
zad o, re q ue r sín te se pro tc ica, ass im como a conso lid ação do a pre nd izado origin al

i: Os "brancos"
°
(ver Ca pítulo 3) . Isso foi obse rvado tanto no lobo d a insu la par a co nd icion ame n -
i to ave rsivo ao gos to ( Ber rnan e D uel ai, 2001), q ua nto para a es q uiva inibit ória
I Pop ularment e cha mam-se "bra ncos" as falhas rep e nt ina s e ine spe radas d a evoca- na região CA I do h ipo ca rnpo (Via nna et al., 2001 b) .
ção q ue oco rr e m em mo me ntos de an sied ade ou e stresse . O s "b ran co s" s âo A lé m d isso , o in ício da extinção , numa pr imeira sess ão de cvocaç âo sem
co m un s e m aluno s q ue devem recita r uma poe sia. ou le mbra r-se de um a resposta ch oque e lé trico, ut iliza rece p tores glut ama t érgicos tipo NM DA. CaMKII, P KA
d ifícil; e m ca n tores na hora de ve r-se a nte a plat e ia o u e m profes sores com pouca e MAPK, co mo req ue r a co nso lid ação de qualque r a pre nd izado novo (Ca pítu lo
experiên cia . Seu mecanismo fo i dete rminado e m anos rece n tes por Do rninique 3, Quad ro 3.2). A aç ão dest es mecan ismo s oc orre no exa to mo me nto e m q ue se
de Q ucrv ain e J a mes McG a ugh : obedece m a um a de sca rga de corticoidcs da produz a primei ra evocaçã o sem re fo rço: a administra ção em CA I de um a ntago -
suprarrc n al, co mo ocorre hab itualme nte e m mo mentos de e stre sse o u alta a nsie - nist a de re ce ptores NM DA o u das e nzimas me ncio nadas im pede o dese nvo lvi-
dad e . O s cortico ide s age m diretame nte sobre rece ptores p ró prios no hipo campo mento ulterio r da extinção (Via nna et al., 200 1b) .
e ta mbé m ind iret a me nte est imu lando mecanismos p-no ra d re né rgicos na amígda- Pode -se afirma r, e ntão, q ue , de fat o , a evo cação pla nta as se me n tes de sua
la baso la tc ral . pr ópria extin ção , mio só do po nto de vista co mpo r ta me n tal, mas ta mb ém d o
ponto de vista molecula r.
() pro ce sso de evoc açã o é a única prova re a l de q ue alg uma vez a prende mos
A evocação planta as sementes
algo, e fo r ma mos as conse guintes memórias. Não é unive rsal: a me mó ria de
de sua própria extinção
Curta du ração , as me mó rias p ro cedura is e o priming mio a pr esentam ext inção
Como vimos no Ca pít ulo 2, sa be mos de sde Pavlov ( 1926) que a o miss ão do mani rcst a.
es tím ulo incondicion ado (o " reforço ": a carne num aprend izad o alime nt ício , o
cho q ue elé trico n um a prend iza do ave rsivo), de se ncade ia o início da extinção .
E m muitas ta refas experime ntais, a sessão e m que se re aliza () te ste de evocação
Pape l fisiológico da extinção
da(s) me m óriurs) co stu ma se r fe ito se m a a p rc sc n tuç âo de e stím ulo incond icio - As me mó rias extin tas permanecem latente s e não s ão evocadas, a menos que
nado. Assi m. po r exe m plo, na se ssão de les te da esq uiva inibit ória, n ão Sl ' d á o ocorra uma circ unst ância e specia l: lima apresenta ção u n es) estímulo(s) USllUO(S)
84 I Iván Izq uierdo Memória I 85

pa ra adq u iri-Ias de uma forma mu ito precisa e /o u com uma int e nsid ade mu ito ro sto cambia nte do mor to a té o pranto peculiar de cada ind ivíd uo ali presente ,
a ume ntada ; um a "dica" muito apro priad a ; um quad ro emociona l qu e imite u o u de um e pisód io mu ito humilha nte, o u de uma gue rra . Viver ía mo s conde na dos
quad ro e m q ue el as fora m original men te adq uiridas; uma situa çáo co mport a­ a pe rma nece r pa ra sempre num quad ro gravíssim o e intra t ávc l de de pr ess ão .
me nta l que se ass e mel he à do a pre nd izado origina l. Po r exemp lo. 0 prov áve l
q ue ao se rmos exposto s a um a de terminada situação perigo sa, nos lembre mos
das estrat égias de esca pe ou defesa pa ra situa ções pe rigosas e m gera l.
evocação também planta as sementes
Recordemo s aq ui q ue extin ção não sign ifica esq uecime n to : as me m órias
de sua própria reconsolidação
extintas po de m se r "trazida s à to na " d e d iversas fo rm as; as me mórias esq uecidas. o pro ce sso de evocaç ão é . co mo vimos. me ta bo licame n te impo rta nte em muit as
mio, Nos aco ntecime nto s cogn itivo s. s âo mais as memórias e sq uec id as do que as regióes do cé re bro e. em pa r te. e nvolve a reat iva ção de sistemas de ncuro tra ns­
extin tas q ue eve ntunlm c ntc pe rmanecem: é só ve rifica r a pe rd a re al e definitiva misso res (no rad re nalina, ace tilco lina , ácido glut âmicu) e pro te ínas cinuse (ERKs,
da ime nsa ma io ria d as inío rrna çócs q ue pass a m e S:lO breve me nte re tid as pel a CaM KII . PKA ) util izado s na co nso lidn çâo . Se. por um lado . sua rc pc tiçâo na
memória de trabalho . Por ém, há tamhé m um vasto número de me mórias ex tinta s au sê ncia do reforço te nde a leva r à extin ção, por out ro , a simples reativação da
q ue julga mo s esq uecid as, ma s perm anece m ar maze nadas e m fo rma "la te nte ", memó ria pod e leva r a sua rcco nso lida çâo.
O nú mero e a fu nção de ssas me mó rias são de sco nhecido s. Pos sivelmente cum­ Esse pro ce sso fo i de scrito e m det al hes. e m 2000. po r Joseph Le Dom e Karirn
pra m um pa pel e m re la ção às info rrna çócs que a memó ria d e trabalho req ue r Nad e r. e tinha sido sugerido e m a nos a nteriores por v ários pe squi sad ores. Consis­
do indiv íduo cada vez que e sse processo ge renciado r é posto em o pe ra ção por te na rca firma çâo d a me mória ca usad a po r su a simples repe tição. e é media do
alguma expe riência de term inad a , nova o u evo cad a . f·: pos síve l que as memórias por sín tese pro te ica ribo sso rnal no hipo carnpo e na a mígdala basolatera1. A admi­
"de sconhecid as" o u latente s de se mpe nhe m també m a lgu ma funç ão e m relaç ão nist ra ção de a n iso rnicina, bloque ad o r de sse tipo de sin tese pro t éica, imediata­
co m a sempre misteri o sa "pe rsonalida de" q ue ca racte riza cada um de nós. hu ma­ mente de po is da evocação , bloq ue ia a evoca ção e m sessões poste riores. Isso fo i
no s ou a nima is. obse rvado e m m uitas tar efas e e m muita s es pécies. Poré m, só aco ntece se a
Uma fun ção cla ra da s memó rias ex tintas o u sc rnicxtin tas é a de con tr ibuir evocação é re la tiva mente p róxima ao tre ino . e não se obse rva se a tar efa foi be m
às " mistura s de me mó rias" ou às e vo ca çõe s parci a is o u defe itu os as q ue . co mo co nsol idada h á vá rios di as . E m huma nos, a rcco nsolid a çâo permite a incorpo ra­
vimos no Ca pítul o 2. são ca ructc risticas d as pe ssoa s idosas o u das me m órias çâo de novas in formaçõ es à me mória qu e es tá se ndo e voc ada ( Fo rca to c t a l.,
muito an tigas. M uito s postula m que as me mó rias e pis ód icas adqu irid as e m situa­ 2( 10). Ou tro períod o propício à adi ção ou il subt ra ção de informa çõe s às memó­
çô c s pa rticu la rme nte e mocionais jamais süo es q ue cida s, I: prop ôe rn, co mo exem­ rias e m huma nos é d ura nte as três primeiras horas de sua conso lida ção ( Izq uie rdo
plo . a pe rgunta: "Onde você e st ava quando aco ntece u o ate ntado à s to rr es gê ­ e Chaves, 1988) .
me as'?". É verdade q ue muitos co nse guem res po nde r ess a pe rgunta com det alhe s; Exist e , é cla ro, a a ltc ra çâo do co n te údo da me mó ria pe la intr usão ou inclusão
mas é ve rdade ta m b ém q ue m uito s de ta lhe s se perdem ao lo ngo dos anos, e de mat e rial e m o utros mome ntos ; po r exemp lo, nos ido so s, simp les me nte ao
mu ita s out ra s memó rias de situa çôcs seme lhan tes pod em se m ist ura r co m a d a passar dos a nos. O bvia me n te isso po de ocasionar sua deformaçã o a té o po n to
pe rgun ta , d a nd o luga r a resposta s errad as. 'Iodos le mbra mo s he m os e pisód ios de transform á-las em me m ória s falsa s; isso interessa so b o po n to de vista jurídico.
e mocional men te ma rca n te s; poré m. ningué m é capaz. ao lo ngo dos a no s, de Durante o interroga tó rio de uma te ste mu nha. um advogado a stuto pode in tro d u­
le mb ra r tod os os de ta lhes (todos os ros to s e todos os incide ntes do dia do nas ci­ zir mud a nças no ma te rial evoc ado at ravé s das p alavra s usa das na pr ó pria inte rro­
me nt o do prime iro filho. o u de um a forma tura . o u de um vel ó rio ). gação (o nde e stava o assassino no mome n to do di spa ro - perd ão, se nhor J u iz,
t': bo m conside rar o lado ad a pt a tivo o u fisiológico dis so . A lém do p ro blema qu is d ize r o acusado...).
inere nte à hipot é tica possibilida de de a rmaze nar de masiadas me mó rias e assim
imped ir o curso norma l de no sso s pe nsame nt o s, co rno o pe rsonage m de Borges
me ncionado no Ca pitulo 2. a co nservaç ão de de masiado s de ta lhes das me mó ri­
as mu ito e mocion a nte s ca usa ria e stragos na no ssa vid a a fe tiva, Imagine m slÍ se
guardásse mos todo s os de tal he s de cad a vl.'lú rin de um se r q ue rido : desde o
7
A modulação das memórias:
influência do nível de alerta,
do nível de ansiedade e do
estado de ânimo

"lodos sabemos por expe riência própria que os estados de ânim o, as emoções. o
níve l de alerta, a an siedade e o es tresse mod ulam forte mente as memóri as. Um
aluno estressado ou pou co alerta não forma corr et ament e memóri as numa sala
de aula. Um alun o qu e é submetido a um nível alto de ansiedade dep ois de uma
aula. pode esquecer aquilo que apr end eu . Um alun o estressado na hor a da evoca-
ção (numa prova, por exemplo) apresenta dificuld ades para evocar (o famoso
"bra nco"); outro qu e, pelo contrário, es tive r bem ale rta , conseguirá record ar
muito hem .
Isso se deve à operação de vários sistemas moduladores, cuja natureza e
cujo modo de açã o são hoje bem conhe cidos.

odulação da aquisição e da consolidação


da memória de longa duração
A modulação da aq uisição e da s fases iniciais da consolidação ocorre basica-
mente ao mesmo temp o, e é difícildistinguir uma da outra. Envolve dois aspect os:
I) Distingue as memóri as com maior car ga emocio nal das dem ais, c faz co m que
as primeiras se gravem melhor. 2) Em determin ad as circunstâ ncias, acrescenta
infor mação neur o-humoral ou horm on al ao cont eúd o das memórias (ver próxima
seção) .
O núcle o-chave na modulação das - = -

fases iniciais da co nso lid ação é a região Os estaoos de ânimo, as emoções•.


ba soluteral do núcleo amigdaJino o u o nível de alerta, a ansiedade e o
amígdala. Essa estrutura envia fibras ao est~sse modulam fortemente as,
córt ex entorrinal e diretamente ao hi- memórias.
pocampo, através das quais pro cessa
88 I Iván Izquierdo Memória I 89

i se u pa pe l modu lado r. A amígda la haso la te ral re sponde a nu me ros os estí mulos se co nfunde j á co m um gra u mode rado de an siedade, co ntinua aumentando na
pe rif éricos tanto sensoriais co mo horrnon ais c vege ta tivos . As vias co rrespo n­ med id a e m q ue a ansiedade cre sce , até o po n to d e se confund ir co m o estresse.
de n te s a tinge m essa e str utura a través de sinapscs no có rtex e nto rrinal (McGin ty, e au me nta ai nd a mai s na medid a e m que o est resse se int e nsifica . O efe ito de
1( 99). O c órtex c nto rrin al po de , ass im, ser visto como um gr a nde "filt ro" e pro ­ todas essa s su bst âncias na aq uisição o u na fase in icial da co nsolidação (prime iro s
ce ssador iruerrncd i ário de infor maç ão (Iue 6 d irigid a : a) ao hipocampo para seu o
:; a 1 minuto s) é aumentá-lu até certo nível c, a partir deste . q ua ndo a an siedade
proce ssamento e m termos de co nso lid ação de memória de curta o u de lo nga 6 inte nsa c começa o q ue po de ría mo s de no mina r estresse, é o de diminuir a
du ra ção c /ou d e evocação ; h) ü a mígd a la baso la tcral para su a aná lise em te rm os co nso lid ação . Existe. porta n to. um efe ito re a lme n te mo d ulad o r co m um a cu rva
de nível de alerta o u de e mo ção . em U invertida, deno minad a curva dc Yerkes -D odson e m ho me nage m aos a uto ­
O co m plexo dos nú cle os basa l c la tera l d a amígd a la (a mígda la ba so la tc ral] res que primeiro d es crevera m a modu lação das me mórias pe la ansiedade c o
mod ula n âo só mem órias decla rativas q ue se conso lidam no hipocampo, co mo es tresse (ve r McG a ugh, 20( 4) (Figura 7 .1) .
tam b ém memó rias procedurais o u " háb itos" processado s no núcleo caud ato O s ho rmô nios mencio nados s ão den ominado s por m uito s co mo "h ormônios
( Packard c t al., 1( 94). r:: p rov áve l que e sta aç ão seja med iada ta mbé m atravé s do estre sse ". e mbora sua libe ração aco mpa nhe mio só () estre sse co mo tam bé m
de co nex ões a través do có rt ex en to rr inal, mas existe m co nexões d ire tas en tre níve is men ore s de ativa ção nervosa gen era lizad a: o ale rta e a a nsied ade.É ve rd a­
essa áre a d a am ígdala e o núcleo caudato . Para uma an álise detalhada d as cone ­ de, po r o utro lad o, que existe um cont tnuum e n tre o a le rta . a a nsied ade e o q Ul'
x óc s a fc rc ntes e eferentcs da am ígda la, ve r Alhe id e colabora do re s (1995). jú pode ser (Il. no rninado est re sse . De um ponto de vista psiquiátrico, é claro que
A amígdala baso lutc ra l ut iliza para seu papel modula tó rio sina pse s co lin ér­
gicas, feit as por fibras provenientes do nú cleo basal de Mcyner t, e ~ - n o ra d re ­
n érgicas, fe itas po r fib ra s pro ve nie n te s do locus cem leu." (ve r Ca p ítulo 2 e Figura
2. 1). e m ambo s os caso s co m neurônios da pró pria a mígd a la . I.s scs siste mas silo
ati vados pelo n íve l de alerta do indivíd uo (ma io r nível de a le rta. ma io r ati vaçã o) %
dese mpenho
e pela uvcrsividade dos estím ulo s externos o u internos. () estado de a le rt a a tiva
Bom
neurônios da formação re ticul a r me scnccfálica, e axônios d as suas cé lulas ine rvam
os n úcleo s d a amígda la, o scpt um e o có rtex c ntorrina l, No estado de aler ta
provavelme nte predomina a utiliza ção das sinupse s ~ - norad re n érgica s (Ca hill e
Mc ii a ugh, 19( 8). l lá ta mbém termina çõ es dopa rnin érgicas e scrot onin érgicas
na amígd ala : e stas estilo envolvida s na pe rce pção d a a nsiedade e na ge ra ção d e Médi o
re spo stas para a mesma (ve r Mc Ginty, ]9 ( 9). I l á. por último , fibras proce dentes
do hi potálamo q ue libe ra m ~ - e n do r fi n a sob re as sina pscs no ra d renérgica s da
amígd a la (ve r Izq u ícrdo , 1989) . í~ po ssíve l q ue as mesmas tenham também re la ­
ção co m a mo du lação da fas e inicia l d as me mó rias pel a amígd ala, ma s tê m sido
me nos es tud ad as a esse respeito do q ue as outras. Ruim

Sabe -se há mu itos a nos que o níve l de ale rta. a an sied ade e o estre sse se
.: Baixa Média Alta
t '
aco mpa n ha m de um aumento do tónus simpático , q ue acarre ta um a libe ra ção
de no rad rcnalina da s te rmina ções dos ne rvos sim pá tico s para o sa ngue . Sahe­ gura 7 .1
se. também, q ue o alerta , a ansiedade e o e stresse ca usam a libcra çâo UL' ho rmô nio Cu rva de Yerkes-Dodson : os eixos verti cai s representam o nível de co nsol ida çã o ou
de evocaçã o ; o eixo horizontal repr ese nta nível de ansiedade, estresse o u nível dos
ad rc no co rtico tró l ico (ACT H ) pe la hip óíise anterior. de glucoco rticoi de s pe lo
hormôni os "do estresse" após sua liber ação endógena o u sua adm inis traç ão ao
có rtex d a sup ra rrc na l, de adrenalina pela medula d a sup rar rc nal, e de vaso pre s­ sujeito . As fun ções mne môni cas reque rem um c erto nível de ansi edade ou estresse
sina pe la hip ófise posterior. O níve l sanguíne o de ssas subst âncias se co rre lac iona pa ra seu correto de sem p enho , mas falham se esse nível for m uit o alto .
co m o e stado do sujeito. Assim, uurnc n ta na med ida e m q ue (l a lerta a ume nta e
: ;1
i

90 I Iván Izqu ierdo Memória I 1

I
I as três co ndições se a presen tam ro deadas de uma sinto ma to logia qu e as to rn a mories" (o tipo de memória qu e nas hist órias e m qu ad rinho s são ilustra das com
bem d ife rentes e ntre si. O ale rt a não ca usa "sintomas", mas sim re spo stas ge ne ra - um a lâmpad a e lé trica que se ace nde dent ro d a ca beça de quem fica alertado po r
lizad as co mo aume nt o do t ónus mu scular, taquicardia, leve elevação da pressão el as) (C a hill e McGaugh, 1998).
arterial, ce rta dil a tação pupil ar (rnid ríase), além da ap ar ição de um e letroe nce- As pessoas cos tuma m lembrar melh or e em m ais detalhe os e pisó dios o u
falogr a ma ca rac terizado por o ndas pequenas e de alia frequên cia. Todas essas eve ntos ca rregados de e mo ção, co mo onde estava m q ua ndo matar a m o Presiden-
características se ace n tua m na ansi edade, e muito ma is ainda no es tresse, até te Kenned y o u quando se u país ga n ho u um a Co pa do Mundo . A Hungria chego u
alcan ça r proporções ext re mas; mas já ligad as a um conjunto de sintomas psíqu icos como favor ita à fin al d a Co pa de 1954, perdendo pa ra Alemanha O cide n tal.
caracte ríst icos e mu itos dele s dignos de tr atamento . Um senh o r hún garo de 84 anos que co n heci em 1986 lembrava a formação d o
Co mo foi dito , a a núgda la basola te ra l resp onde aos n ívei s circulan tes do s tim e húngar o no s 7 jogo s em qu e particip ou, e o a utor de ca da um do s go ls.
" ho rmônios do es tresse" devido à a tivação das sina pses co liné rgicas e pr incipal - Porém, como vimos no ca pítu lo a nte rio r, nem me smo assi m a reco rd ação de sse s
mente das noradrenérgicas que receb e. Através de suas fibras d irigidas ao có rt ex eve n to s ch ega a se r perfe ita : nas melhores memó rias se mpre h á um grau de
entorrinal e ao lúp ocamp o, ati va o u inativa sua s sinapses seguindo a le i de Ye rkcs - extin ção. Co mo talvez fosse de se espe ra r, só duvidou e quase e rro u em do is
Dodso n (Figura 7.1). nomes d o tim e q ue disputou a final.
Cabe cit a r tamhém a oxitoci na, hormônio d a hip ófise poste rior, como a va- Além d a in tervenção d a a mígda la baso la te ra l, a fase inicial d a co nsolidação
sopre ssina, e de es tru tur a química simila r a es ta . A oxit ocina é o principal hor- d a memória de longa duração é med iad a por re cept ore s doparnin érgico s tipo
mônio do parto e age sohre o útero ; mas tam bém afet a d ire ta e indiret ame n te DI , p-noradrenérgicos e sc ro to nin érgicos tipo IA, localizados no có rtex cnt or-
neurôn ios da a migda la, pr ovoc ando sua inibição e tendo , e m co nse q uê ncia, um rin al. Esses rece pt ore s resp ondem a terminações de ax ónios pro cedente s d a
e fei to amnésico. Lemb re mos aq ui que os partos cos t uma m se r d oloroso s, e não substâ nc ia ne gr a, do locus eeruleus e do s núcleo s d a rale, re specti va mente . Os
obst ante isso , as fême as de nu merosas espécie s - as mulheres por exe mplo - receptores O 1 e ~ do córtex e nto rr ina l a tua m a ume nta ndo a a tivid ade da aden ílil
costumam ter vá rios filho s e não lemhram d a dor re al que representou cad a ciclasc, a enzima que produz AMPc e regul a indiretamente a ati vid ade da PKA,
parto . Le mbra m -se das circuns tâ ncias d a dor, do fat o d e que houve muita d or . e nzim a que usa AMPc como co fa to r. Os receptores I A têm o efe ito co ntrá rio .
mas não da dor e m si. A dor é um a d as poucas coisas emocionalmente im po rt antes As vias dopaminérgica s e se ro to niné rgicas não têm nenhum papel im porta n te
que não pode ser evocad a em sua ve rd adeira int ensidade. Muitos o pinam que a na regulação da fase inicial d a consol id ação da m emó ria de lon ga duração no
amnésia da dor do parto , ou de ou tras dor e s inte nsas, pode ser dev id a a uma hip ocampo, no có r tex pariet al e na amígd ala basolateral (Izq uie rdo e t ul., 20(6).
ação modulad ora da oxi toei na o u d a p-endo rfina so b re a a migda la o u o utras A via noradre nérgica , porém, agi ndo sob re receptores ~ localizad o s n a re gião
á reas ce re brais. CA I do hip oc a mp o , exe rce u m efe ito es timula n te so bre a fase inicial d a co nso li-
O papel da amígdala é crucial nas memóri as de ev entos de alt o co n te údo d ação da me móri a de longa duração . Esta ação é puramente sináptica e nã o tem
emocio nal, aversivo o u não . Individu os co m lesões da amígdala ba sol ateral sâ o relação com a e stimulação d a ade nilil ciclase nem d a PKA.
incapaze s de lembrar co rre ta me n te os as pectos mais e mociona n tes de textos o u
de cenas pre senciad as. A região da arníg-
d ala a pre se n ta, e m sujeitos no rm ais, Depe ndê nc ia de estado endóaen
um a h iperativação quando es tes s ão E m muitos casos, as memórias adquiridas sob u m a situação de a nsie d ade o u
Indivíduos com lesões da amíg- submet idos a texto s o u cenas e mocio- e str e sse incorporam a se u conj unto de e stímulos co nd icionados co m po ne n tes
dala basolateral s áo Incapazes na n tes o u capazes d e produzir um maior d a situação neuro -humoral e horrnonal e m que (o ram adquiridas. Ass im, a aq u isi-
de lembrar corretamente os as- grau de alerta . Po r último, é conheci do ção d e um a es q uiva inib itó ria é a nsiogê nica e /o u cs trc ssantc porque e nvo lve um
pectos mais emocionantes de o fa to de que efe tivame n te lembr amos choque elétrico, que produz hípersccre çâo de neuro tran srnissores o u neurornodu-
textos ou de cenas presencia - me lho r as memórias co m m aior co nt e ú- lad ores ( ~ -e n dor fina , noradrenalina ) e horm ônio s do e stre sse (no rad re nalina
das, do e mocional, aquel as qu e e m língua in- d o siste ma simpá tico, adre na lina, gluco corticoidc s, va sopre ssina, ACTI I) com
glesa são denominadas "[lashb ulb m e- a ções sobre a a mígd ala hasolatcral. () co njunto de ssas al tc raç óes ncuro-hurnora is
92 I Iván Izqui erdo Memória I 93

I I

e ho rmonais se inco rp o ra ú expe riê ncia co rno ma is um co nj unto de compo ne nte s Em CA I, o s rece pto res dopam in ór­
do estím ulo cond icionado. gicu s D I e o s sc r oto n in ér gico s J A "As emoções e os estados de âni­
Como sabe mos, par a co nse guir um a bo a evocação de q ualq ue r memória é inibem a formação de me mória de cur ta mo influenciam em muito a forma ­
conve nien te aprese n ta r ao an imal o maior nú mero po ssíve l de compo ne ntes do d ur ação . e o s p-no rad re né rgico s não çào das memórias.·
estímulo condicio na do (Ca pítulo 4). O s a nima is e as pe sso as evocam m e lho r têm e fei to .
uma me mó ria nnsio g ênica, avc rs iva ou cstrcssa rue , q uan do coloc ad os novame nte Jú no có rtex cn to rrinal . o s rece pto ­
n uma situ ação ansiogônica, avc rsiva ou e st ressa n tc , simila r ü do tre ino inicia l re s p-nora ú re né rgícos e o s sc ro tonin érgico s IA Iavo rc cc rn a consolidação d a
ou. e ntão. quando inje tados co m ho rmô nios do estresse num a dose lluC faça a memó ria de curta duração , e nqua nto o s dopaminé rgicos D I inibem esse p rocesso,
co nce ntr a ção sanguíne a se aproximar à do t re ino inicial ( Izq u ie rd o , Il)S4). Os ef e itos são di fere ntes da q ue les q ue este s recepto res ca usa m, simulta ne a ­
Esse fenômeno se de no mina depend ência de esta do endógenu e tem uma e nor ­ mente . sob re a fo rma ção d a me mó ria de lo nga duruçâo no c órtex cn to rr ina l, o
me import ância adapta tiva. Per mite qu e. peran te u ma situação presumive lmente qua l ce rta me n te ilustra mais u ma d ifer e nça e n tre os me canism os de ambos tipo s
pe rigosa, como po te ncialme n te o são todas as situaç ões com um alto co nte údo de de mem ória (Izquie rdo e t ul., 1999).
ale rta o u ansiedade. o suje ito "traga à to na" seu acervo de me mórias de circunst ân­ O resultad o de tud o isso é que se torna ext re mame nte d ifícil. se nã o impo ssí­
cias do gênero, para assim po der ter à dispo sição um conjunto de respostas po ssíveis. vel. prever co mo um de ter minad o níve l de alert a ou a nsieda de pode regular e m
A-; respostas a situaç ões po tenci alme nte pe rigosas costumam ser de fuga, de luta, mais o u e m me nos a co nso lid a çáo da s mem ó rias de curta e de lo nga d ur ação,
de imobilidade. de d issimulo. e tc. 'Iodos os animais as po ssue m; e m alguns predo­ logo de po is de am bas se re m adq uirid as. Re almente, po uco pode mos d ize r Io ra
mina det e rmin ado tipo de respo sta, dependendo d as circu nstâ ncias, mas, se m dú­ daq uilo q ue todo s sabem: "a s e moções e o s est ados de ânimo influ e nciam e m
vida, é bo m ter o maio r nú mero delas d ispo n íveis quando po dem ser necess árias , mu ito a fo rmação d as me mó rias". De pe ndendo do grau de a tivação o u ina tivaçâo
da s três vias me ncio nad as e m cad a momento. por influê ncia do níve l de ansiedade
ou do estado de ânimo do suje ito, e de pende nd o do eq uilíbrio e ntre o s efeitos
Modulação da memória de trabalho
de cad a u ma d as três vias (do pa rniné rgica, no rad rcn érgica e se ro to nin érgica )
Como vimos no Ca p ítu lo 2. a me mória de trabalho de pe nd e basica men te da entre si e nas d uas estru turas mencio na das (CI\ I e có rtex c nto rrinal), po de re mo s
a tivid ade el étrica online de ne ur ô nios do có rtex pré -fro n ta l, e de suas in te rações ter um a vasta gama de efei tos modulatórios sobre a forma ção inicial da s me mórias
com o siste ma hipocampa l e co m o u tr as rcgiôcs corticais, via có rtex c nto rrinal. de cu rta d ura ção. Es tes e feitos poder ão se r ma io re s o u me nores e m cada caso
A memó ria de traba lho é mo dulada , no có rtex pré -fro ntal, po r vias dopam i­ num mesmo suje ito e m difere ntes ho ra s do dia, por exe mp lo, ou depe nde nd o
nérgica s ascende ntes q ue age m atra vés de receptores Dl (G oldma n-Rakic, 1996) da intensidad e de sua an siedade e das o scilaçõ e s de se u e stado de ânimo. De
e po r vias colin érgicas mu scu rinicas pro cedentes do nú cleo de Meynert . Ess as qualquer ma ne ira. a mod ulação da me mó ria d e curta d ura ção é mais o u me nos
vias exe rce m ta mbém uma modulação adi cional ind ire ta da memó ria de traba lho, impr evisíve l, e mbo ra saiba mos co m precisão () efei to de cada via e do s receptores
no hip ocampo c no có rtex pa ric tal po ste rior , segurame n te med iad a pelo córtex corre sp onde ntes so bre esse pro cesso . A lém do mais. es ta mod ulnçâo n áo se rá
cnto rrinal. igual nem no mesmo se n tido Lj ue a modulação simultánea. pe las mesmas via s,
da con sol ida çâo d a me mória de lo nga dura ção .
I lá coi sas. no estudo do s pro ce sso s cognitivos e no es tudo das e moçõ es e do
Modulação da memória de curta duração ânimo, qu e ce rt a mente mi o pod e m se red uzir a um bottom line, corno gos tam os
A mem ória de cur ta dura ção é mod ulad a na fase inicial de sua co nsolidação por jorna lislas e o s aficio nado s a rcducio nismos teóricos. A principa l é q ue. e mbora
receptores do pa miné rgicos tip o D I, ~ - no rad re né rgico s e sero tonin érgico s tipo conheçam o s as vias e nvolvida s na percepção do s estados de ânimo e d as e moções
IA loca lizad os na re gião CA 1 do hipoca mpo e no córtex en to rri na J. Os efe itos e nas respostas ao s me smos, não conhece mos a na turcz..a d aqu ilo q ue é tra d uzido .
de ssa modu lação sâo co mp lexos . po rq ue es sas vías p ro d uzem efe ito s desigu ais Por exe mplo, não sa be mos porq ue determinado incide nte nos causa determinad o
em a mba s estru tura s. est ad o de a le rta o u de unsicd ad c . A re sposta varia segundo 11 ocusí ão.Tamb ém
.......-~

94 I Iván Izquierdo Memória I 95

não sa be mos co mo e porque um estado determinad o de a le rta o u de a nsieda de


odulação da evocação
ocasiona certo nível de ativação da via doparnin érgica ce re bra l e não outro. Nã o
co nhece mos a na tureza dos se ntime ntos subjacen tes aos estados de â nimo o u as A modulação d a evocação também é ba st ante simples, e e nvo lve a ções de fibra s
e moções, mu ito menos se ir ão se tra du/i r n um determinado nível fu ncional de dopamin érgica s agi ndo sobre receptores O 1, fibr as norad re nérgicas agind o sobre
uma via o u de ou tra, nem de que man e ira . Todos temos con st antemente sentime n- receptore s ~, e fibr as se ro to niné rgicas agindo so bre recepto re s IA e , e m ad ição
to s e emoçõ es ; in tu itivame nte, percebe mos que não é possíve l, nem talvez faça a estas, fibras colin érgicas a tua ndo sobre receptore s musca rín ico s, p rove n ien tes
se n tid o, tr ad uzir isso em termos pr e ciso s de at ividade ncuron al , Co n tra riame nte d o núcleo de Mcy ner t.
à o pinião dos red ucio nista s, o mais a tua n te do s quais l: o português rad icado em A evocação é melhorad a pe los receptore s D l , ~ e mu scar ínico s, e inib id a
Iowa A ntô n io D a rnasio (ve r bibliogr afia na in te rn e t), esta mos longe , talvez irre- pelos receptore s I A, ao mesm o tempo. na região CA I do hipoca rnpo , no có r tex
mediavelmente lo nge, d a tr adução de se ntime nto s e m mo léculas. c nto rrina l e no córtex cingulado ante rio r, ou seja, nas q ua tro á re as em llu e a
Se não podemos seque r faze r pre d iç õe s pre cisas sob re o res ulta do da mod u- ati vação d a PKi\ e de o u tras e nzimas (;
lação da me mó ria de curta duração em te rmos fisio lógico s, ape sa r de co nhece r- necessária pa ra que aco nteça a evoca -
mo s e m det alhe as vias , os rece ptores e o s sistemas e nvolvido s, e se us sítios e ção. A aç ão das vias dopa rn in érg ícas, A evocação é melhorada pelos re-
mo me n tos de ação ... (.: possíve l faze r exper ime nto s e d e monstra r cor re la çôcs noradre né rgica s e se ro to nin érgícas é to- ceptores 01 . I~ e muscarinicos . e
de ta lh adas, mas é pouco se nsa to brincar de ser De us. talmente exp licáve l por se us e fe itos in- Inibida pelos receptores 1A. ao
di ret o s sobre a PKA , j á me ncio na dos. mesmo tempo . na região CA 1 do
A modulação colin érgica pod e se r de vi- hipocampo, no córtex entorrina I e
odulação das fases tardias da consolidação da a e fe ito s so bre a PKC o u o u tros pro- no córtex cingulado anterior
da memória de longa duração cessos sin ápticos (Barros e t a l., 200 1).
Co mo vimo s, a mod ulação da fase in icia l d a co nso lid ação d as memórias de lo nga
duração é de pe nd e n te primo rd ia lmente da amígd a la ba so latc ral, e e m me nor
Funç ã o inibitória do sistema GABAérgico
gr au de recepto re s ~-noradren (; rgico s no hipo campo e no có rtex e n to rr ina!.
bre todos os tipos de memória
En tre 3 c 6 ho ras de po is d a aq u isição há uma se gu nd a fase modulat ória,
co incidente co m a segu nda fase de a tivid ade da PKi\ (ve r Ca pit ulo 3) c a subse - o principal mo d ulado r d a me mó ria de tr abalh o e de todos o s de mais tipos de
quente a tivação do P-C R I:: B e d a sín te se protc ica , fase e sta q ue é ess encial pa ra rncrn ór ia é o conj un to d e siste mas inibido re s GABAé rgicos pre se n te s na região
a ult e rior fixa ção das me mó rias e m su a fo rma defi ni tiva . CA I do hipncampo , no có r tex c nto rrinul, paric ta l, cinguludo a nterior, cingulado
Esta segu nd a fase modula t ória é relativa me nte simples. Simulta ne ame nte , posterio r e có rtex pré-fro n ta l a n te ro la tc ra l c co r tico rncd ial. Agindo e m cad a
e m CAI , no có rtex ento rrinal e no có rtex pa rie tal po ste rio r, fibras do pa rnin érgicas Um de sses lugares, o G A BA (ácido ga ma-a mino b utírico), pri nc ipal nc u ro tra ns-
agind o so bre rece pt ores O 1. fibra s no rad rc n érgica s agindo so b re rece pt o re s p, ntissnr inibit ório do cé re bro , inibe todos o s processos e nvo lvidos na fo rmação
c fibras sc ro io niné rgicas agindo sob re rece ptores I A, mod ulam e ssa fase tard ia o u evo ca ç ão dos d ive rsos tipos de memória por uma aç áo sin ápt ica di ret a sobre o s
e crucial d a consolidaç ão . As du as prime iras o faze m est im ula ndo, nas trê s est ru- re ceptores de no minados G ABA..\, A inibição GAAAérgica é instan t ânea porq ue
tu ra s me ncionada s. a ade nilil cicla se ; e a última, mod ula a co nso lidação inihindo é mediada po r um rece pto r iono tr ópico , co m efeito hipc rpo la rizador sobre as
a adc n ilil ciclusc , Co mo fo i me ncio nado . esta e nzima pro d uz o A M Pc que age cé lulas devido a um a e n tra d a rápida de clo ro (CI· ). que se co ntrup óc à dcspo la-
co rn o co futo r d a PKJ\. As açõ es mod ulat órias d as vias me ncio nadas e se us rece p- rizuçâo ca usad a pelos rece ptores glut am at érgicos iono tr ópicos AM PA c NMD A
to re s influe nc iam de ma ne ira di re ta os proc e ssos me tabólicos que levam à sín te- O pape l do s de ma is sub tipo s de rece pt ore s GABAé rgicos sobre a me m ória
se pro t éica e à eve ntu al alte ra ção mo rfo lógica d as sina pse s envolvidas nes sas é di scutíve l; há ev id ê ncias de que os re ceptores G A BA B possam de sempe nha r
es t ru t ura s. co m cad a me mória de longa d uraç ão (I zquie rd o e McG a ugh, 2000) . tamb ém um papel no hipoca mpo o u na am ígd a la .
96 I Iván Izquierdo Memória I 97

o recepto r ( ,ABA,\ poss ui.em algumas de suas su hunid adcs , sítios rece ptores
Quadro 7.1 (conti n uaçao)
às bcnzo d ia zcpinns, ao ct a no l, ao s barbitúricos e a a lguns estcro idc s a nest ésicos.
Sist emas moduladores da memória: Sítios e tempos d e a ç ã o
Estas substâ nci as ta mbé m inibem as me mó rias. principalme n te as memó rias
e pis ódica s. Vias dopam inérgicas agindo sobre receptores D1:
O efe ito inih idor do s recep tores (,ABA,\ é ins tan tâ neo c d efinitivo . Os agn­
nista s q ue se liga m ao sít io rece ptor do ( iABA (m uscimo l) o u ao d as bcnzodiu­ Facilitam a memória de trabalho agindo no córtex pr é-frontal .

ze pinas, do c ta no l o u dos ba rb it úrico s cau sa m uma imediat a su pre ss ão da utividu ­ Inibem a formação de memó ria de curta dur ação na região CA1 d o hipocam po e no
de ce lula r de todas as áre as envo lvidas e m um o u o ut ro tipo de me mória. PllUC ­ có rtex entorri nal.
-se afirmar q ue o s siste mas GABAérgicos s ão () " fre io" pr incip a l da Iorrna ção e
Facilitam a formação de memória de long a duração por ações sobre CA1. córt ex
d a evocaç ão d as memórias. Se sufic ien teme nte in tensa. a inihiç âo CiABAé rgica ent orrinal e córtex parieta!. Estes efeitos são exercidos durante as primeiras 6 ho ras
efe tivamente supr ime tod a e q ua lq ue r in te rve n ção da tra nsm iss ão glut uma t érgicu de pois da aquisição no córt ex entor rinal , e entre 3 e 6 horas depois da aquisição no
so bre a for m ação ou a evoc açã o de q ua lq ue r form a de me mó ria e. se m d úvida. hipocampo e no córtex parieta!.
toda s as conscq u ênci as de sta, e n ume rad as a pa rtir do Q ua dro 3.2.
Facilitam a evocação agindo simul tane amente sob re CA1, córtex entorrinal, córtex
parietal e córtex cingu lado anterior, .
';
Resumo
Vias noradrenérgicas agindo sobre receptore s ~ :
o conj un to d as ações dos d ifere n tes siste mas rnod ulado res res u me-se no Quadro
7.1. Facilitam a formação de memória de curta duração na reg ião CAl do hipocampo.

Facilitam a formação de me mó ria de lon ga du ração por ação sobre CA1 e sobre o
córtex parietal imedi atamente depois da aquis ição, e novamente 3-6 horas mais
tarde . Também o fazem por uma ação sobre o c órtex entorrinal desde o momento
Quadro 7.1 da aquisição até 6 horas mais tarde ,
Sistemas m oduladores da memória: Sítios e tempos d e ação Facilitam a evocação agi ndo simu ltaneamente sob re CAl , córtex entorrina l, có rtex
parie tal e córtex cing ulado anterior.
Am ígdala basolateral :
Mod ula a mem ória utilizando sinap ses colinérgicas muscarín icas e ~- noradre né rg icas,
Vias seroton iné rgicas agin do sobre rec eptore s 1A :
através de suas proje ções à área CAl do hipo camp o e do có rtex entorrina!.
Facilitam a formação de memória de curta duração agindo sobre CA1. Ao mes mo
Age sobre a fase inic ial da consolidação da memória de longa duração. Através das
tem po a inib em agi ndo sob re o córtex entorrina!.
sinapses colinérgi cas també m regula a memória de Irabalho.
Inibem a formação de memória de longa d uração po r ação sobre CA1 e sobre o
É ativada por alguns neuromoduladores centrais (vasop ressina ) e inibi da por outros
córtex parietal imediatamen te depois da aquisição. e novamente 3-6 horas mais
(~ ' e ndorf i na, oxitocina).
tarde, Também o fazem por uma ação sobre o córt ex entorrinal desde o momento
É ativada pelo tônus simpático e pe la norad ranalina. adrenalina, gl ucocorticoides, da aquisiçã o até 6 hor as ma is tarde.
vasopressina e adrenocorticotrofina circu lante s ("hormônios do estresse") . É parti­
Inibem a evoca ção agindo simultaneamente sobre CAl , córtex antorrinal, córtex
cu larmente ativada por terminações coli nérgicas agindo sobre recep tores tanto
pa rietal e córtex cingulado ante rior.
muscarínicos como nicot ínicos, e por drogas qu e age m estimuland o essas term ina­
ções, entre elas várias utilizadas no trata mento da doença de Alzheimer (ver próxi­
mo capítulo) .

Continu a Continua
98 I Iván Izqu ierdo

8
Quadro 7.1 (c ontinuação)
Si s t e m a s moduladores da memória: sítios e tempos de ação
Síndromes amnésicas
Vias colinérgicas agindo sobre receptores mu scar ínicos: e hipermnésicas
Facilitam a memória de trabalh o p or um a ação sobre o córtex pr é-frontal.

Facilitam a formação de memórias de curt a ou de longa duração p or ações sob re


CA1, có rtex entorrin al ou córtex parietal po sterior nos primeiros mom ent os de sua
formação .

"! Facilitam a evocação p or ação so bre CA1, có rtex entorrinal, córtex parietal e córtex
cing ulado ant erior.

o est ud o de ta lhado da s d ive rsas sínd ro rnes amné sicas nã o é ma té ria deste livro ,
mas do s tr a tados de Ne uro logia o u Psiq uiat ria especia liza do s no te ma. Por ém,
pod e ser de utilidade um a bre ve de scr ição de alguns dele s, e m re lação ao s meca-
nismo s an alisados nos capítul os prece de ntes.
Como tod as as funções q ue en vo lve m sina pscs , a melho r forma de mel hora r
! e de conse rvar a me mó ria , e m tod os os seus tipos e suas moda lidade s, é o exe rcí-
t~
cio ou a prática. Sabe -se há 50 an os qu e o uso au me nta o tamanho e mel ho ra a
Iun çâo da s sinapscs e m ge ra l, c a fa lta
de uso as atrofia. tanto anatômica como
fisiologicame nt e. Q ue m pr ime iro estu-
Nos processos med iados por si-
dou isso, e o fez em ma io r de talhe, foi o napses, como os de formaçào e
au stralian o .1 01m Ca rew Eccles, na dé - evocação da memória. aplica-se o
cada de 1950. Ecclcs examino u sina pse s velho adágio: a função faz o ór-
neu ro mu sculare s, c co mparou sua fo r- gão .
ma e a q uantidade de ne uro transmissor
liberad o por cada impulso (no caso, ace -
tilco lina), e a exte nsão da supe rfície pós-
sin áptic a rece pto ra a es te ncu ro tr a nsrnisso r, tanto em situaçõ e s de uso re iterad o
qu an to de falta de uso to ta l.
Dados muito semelhan tes foram ob tidos a nos mais tarde em muitas ou tras
sina pscs e e m mu itas o utras Iun çôes. inclusive a memó ria (ve r Grec nou gh. 19K5).
Nos pro cessos mediados JXJr sinapscs , com o os de fo rma ção c evocação da memó -
ria , aplica -se o ve lho adágio: a fun ção faz o ór gão.
100 I Iván Izquierdo
Memória I 101

Patologia básica da amnésia mo rre ndo. at iva m-se ta m bé m e m excesso . a té o es go tame nto , as cadl~ ia s c nzi­
nui tica s me ncio nad as no s C apítu los 3. :) e 6.
A me mó ria fa lha q ua ndo as sin upses e nca rregadas de fa ze r o u evo ca r um o u (.:: co m um o bse rva r nas áre as que estão se ne cro sa ndo , d ura n te a a po p to se.
o u tro tipo de me mó ria e nco n tra m- se e m nú mero dimin uído o u e stão in ibid a s de scargas e pilé pt icas de te ctáve is no e lc troe ncc fu logra rnn e, às vezes. ta mbé m
o u a lteradas . co rnpo rt a rnc n ta lrne nte . A mo rt e ne uro na l in d uzid a por agen tes eo nv ulsivan tes
O n úme ro de sinapscs c/o u de ne ur ônios d as re gi õe s res po nsáve is pe las me­ (rnct razo l, e stricn ina, p icro toxin a, c tc.) o be dece à hipl're st im ulaçiio se g uida de
mórias es tá d im in uído desd e o nascime n to em q ua dro s ne uro l ógico s ca usad os upop iose .
po r a noma lia s ge n ôm icas o u po r le sõ e s ce rebra is na ho ra do pa rt o o u po uco (~ in te ressa nte not ar q ue os passo s d a a po p tose envo lve m scqu ência s d e
an te s o u de poi s. Cur io same n te , essa s sind ro rn cs nã o co stum a m se r exa mina d a s pro ce sso s a ná logo s qualitat ivame nte ao s que in te rvê m nos pro cessos p lás tico s;
nu s co ngres so s e nos te xtos es pecia lizados e m te m as cognitivos . e m bora a fa lha só q ue de mod o e xage ra d o e termina l.
ma is sa lie nte dos pa cie nte s é a inca pacid ade o u d ificu ldade e m for m ar c evoca r
me mó ria s. A pa to lo gia d as d ive rsas formas de re tardo me nta l é va riada. mas
e nvo lve se m pre u ma redu ção q ua n tita tiva de neurô nio s e sina psc s no có r tex Amnésias nos distúrbios afetivos
pr é-fr o n ta l, no hipoca mpo e no có rtex do lobo te m pora l. E m a lguns q ua d ros, O s d is túr bios afetivos, principa lmente a de press âo, ha bitua lme nte se acom pa ­
o b se rva m-se le sõ e s an a tô m ica s gro sse ira s. n ham de a lgum gra u de a mné sia. Ne ssas doe nças n áo há alte ra ções mo rfohígica s
Na idade ad u lta. co mo ve re mos, o co rr e u ma dirninuiçâo do nú me ro de neu­ dem o nst rad as, mas fa lham ao mesm o te mpo v ários siste mas rnoduladores centra is
rôni os q ue pode mos de no min a r fisioló gica . Esta d imi n uiç ão é grada tiva. aco ntece envo lvidos na modulação da s me m ór ias: as via s dopa min érgicus, no ra d rc n érgicas
e m tod as as re giões ce re bra is, se de senvolve ao longo de décad as e rara vez e sero to niné rgicas.
o co rr e um déficit funcio na l dela resulta nte an te s do s 80 -85 a nos. Poré m. m uitas As falhas da me mó ria são mai s fre q ue nte s na de pre ssão e costuma m se r l'XU­
do e nça s se ac o mpa nha m de uma ace leraç ão d a pe rda ne uro na l fisio ló gica. Isso gc ra du s pe los pacien te s, q ue as pe rce bem co mo ma io re s do y ue re a lme nte seio . O
po de aco n tec e r por hip óxia (fa lta de che gad a de oxig ênio ao c ére bro ), po r hipc­ pacie n te de pre ssivo te m um a cla ra te ndê ncia a recorda r me lho r as expe riências
re stim ulação e e sgo tame nto o u po r Ic n órn c nos bio q u im ico s ca usa dos por de te r­ negati vas (h umilha ç ões, pe rdas, doe nças, mal-estares. o utros episód ios de pressivo s
m inad as doe nça s (Figura 8 .1) . ant e rio res) q ue as me mórias mais a legres o u agradáve is. A a mnésia y uc aco mpan ha
A m o rt e po r hipóxia po de se r di re ta o u pr ece d ida po r uma fase de hip e rc s­ a depress ão ra ras vez e s a tinge pro po rç ões grav e s, e a lguma s veze s n áo é se let iva :
tim ulaçiio . E m a m bo s o s caso s, de no m ina- se upoptose . A hipóxia ca usa uma a tinge ta nto as me mó ria s " ruins" co mo a s me mó rias "bous" , Co stuma se r ma is
de spo la rizaç áo pel a dimuiçâo das pro priedades da me mb ra na celular q ue rna nt érn rnaniíc sra no re la tivo it me mória de curt a d ur a ção e na evoca ção . A a m nés ia dos
o eq ui líbrio iôn ico norma l e n tre se u in te rio r e se u me io exte rn o : ma is só d io. deprimid o s é mais hem pe rce bida pe los fa mi lia res e a migos que pe los pró prio s
me no s po tá ssio d o lado e xte rn o. Isso se deve a duas co isa s: a pro prie d ade d a pacie nte s. Isso é ma is comum nos pac ien tes idosos (Pa lo mo c t a I.. 2()ll l) .
me mbra na de se co nstitu ir nu m filtro es pe cífico pa ra ambos o s íons, c a exis tência D evido jus ta me nte ao fa to de que os ind ivíd uos de pre ssivo s a prese nta m
d e um a bomba de só d io e pot áss io, u ma e nzi ma lo ca lizad a na pró p ria me mbr a ­ meno s amnésia para as memória s ma is nega tiva s. n ão é co nveniente. de m a ne ira
n a cel ula r q ue , im pulsionad a pel a e ne rgi a de rivada d a hidr ólisc de AT P (ad e no­ alguma, tr a ta r a sínd ro me a mn é sica da depre ss ão de ma nei ra iso la da d o reste
si na trifo sfat o ), expulsa só d io para o exte rio r e fa z ingre ssa r potá ssio . A de spe ­ d a do ença . U m pa cie nte de primid o e m q ue o estado de ânimo continua ru im ,
lar ização , se abru pta, oc asiona a pe rd a imedi at a de todas as propriedade s elé tricas ma s rec upe ra sua me mória a través de algum trat a me nt o . te r á. co mo é óbvio.
d a cél ula. inclusive se u po te ncia l d e re po uso. O qual a in ca pa cita pa ra ge rar aument ad o se u potencia l d e risco par a
pot e ncia is p ós-sin úpticos e pote ncia is de a ção . Se gr ad ua l, a dcspolar izu çâ o au­ o suicíd io que é. co mo sa be m os, a co n­
me n ta tr a nsito ria me nte a a tividade d as cé lulas e m q ue stão ; as te rm inaçõ es uxó­ se q uê nc ia ma is temível d a depress ão . As falhas da memória são mais fre­
nica s libe ra r ão mais gluta m:llo , es te excita rá cad a vez m a is as membra nas pó s­ D e ve -se tra ta r a do e n ça co mo um que ntes na depressão e costumam
siná p ticas, a m ba s Iica r âo h ipere stim ula d us at é o e sgo ta me nto c a morte ce lular todo, at ravé s de psicot c rupia e de medi­ ser exageradas pelos pacientes
co rre spo nde n te . D ura nte li períod o inte rme d i ár io , enquanto a s cé lulas e.st.jll ca me n to s unridc prc ssivo s: no c urso do
·!

102 I Iván Izquierdo Memória I 103

tr atament o , irá melhorando a memóri a do pacient e ao mesm o tempo que os de depressão e demência s, muito me-
demai s sin to mas do distúrbio. nos a primeira é fat or de risco par a a As fases iniciais das demências
A mania pod e e nvo lve r também uma di sfunção d a memória . No s man íaco s segund a (Pa lomo e t a I., 2001 ). muitas vezes se acompanham de
o u hip omaníaco s (ma n íacos leve s) falha co m cert a Ire qu ência a memória de A s fase s iniciais d as demências mui - um quadro depressivo, que os Iarni-
tra balh o : o có rt ex pré -fro nta l não "fi ltra " adeq uada me nte as info rmaçõe s proce- ta s ve zes se aco m pa nh a m de um qua- liares costumam considerar como
d entes do me io , e o indivídu o pode agir de maneira confusa . O casion almente, dr o depres sivo , que os fami liar e s cos tu- mais grave do que realmente é,
também hú fa lhas na evo caç ão : o pa cie nte cos t uma rel at ar que suas rec ordaçõe s mam co ns ide ra r co mo mais grave do
fica m "a to pc tadas, co mo se qui sessem sa ir tod as ao mesm o tempo" . Os sinto- que re almente é. Ess a depressão o be de -
mas amn ésicos da mania são atribuído s à hiperfun çâo d o s siste mas dopa rnin ér- ce à percepção pel o paciente de que realmente es tá perdendo sua fun ção mn e-
gico s e noradren érgicos ce ntra is. Estes sinto ma s ha bitualmente mio são tratados, mônica aos poucos. M as muit as vezes oco rre m quadros depre ssivos se pa rados
e regr ide m no cu rso da te ra pia ps ico tc rú pica e med icamen to sa da d o e n ça como da demência e se m rel ação ca us a-e fei to co m e la.
um todo , O limiar mínimo de fun cionamento , para a maioria do s siste mas do cé re bro,
geralmente é ultr apassad o em se n tido descendente a uma idad e muito avan çada:
acima dos 95 o u 100 a nos . Porém, por ca usas ge né ticas, tóxicas o u va sculares
A amnésia senil benigna
alguns núcleo s o u regiõe s pod em a tingir esse nível de di sfun ção ma is cedo. Na
A se n ilidade é acompa nhad a de um e n fraq ue cime n to ge ra l dos d ive rso s tip os doença de Parkinson , o número de sina pses doparnin érgicas no núcleo caudado
de memó ria . Isso se deve li perd a nc uro na l q ue, co mo se sa be hoje e m d ia, se pode ca ir ab aixo d o mínimo nece ssário para se u funcionamento normal. Na
manife st a a través de lima perda de função só q ua ndo ultra passa ce rt o limiar doença de Alzheimer, as lesões ca rac te rísticas podem levar a uma perda neuronal
m ínimo e nece ssá rio para o de sempe nho . A pe rd a ne urona l, de fa to , é ma ior na á rea ento rrinal e no hip ocampo que ultrapasse o mínimo necessá rio para a
por volta do s 9-13 me ses de idad e . q u a ndo a prende mos a ca minh a r; ao fazê -lo, Iun ção mnem ônica (Fig ura 8 .1) .
de ixa mo s de ut iliza r tod os o s ne urônios e as sinupscs q ue se e nca rr ega m de Na a m nésia se nil denominada benigna, o ind ivíd uo é ca pa z de sus te n ta r
conside ra r desde um po nto de vista perce pt ivo , cognitivo e mo tor o mundo semi- um a vida mais o u meno s normal e a utoss uficie n te durante muitos ano s. Cre io
ho rizo nta l e q uadrú pedc d o s ani mais infe rio re s. Esse s siste ma s, por falt a de qu e nin guém descreveu co m mais pr eci são e clareza a amn ésia se nil do qu e o
uso , desa pa recem. A part ir de ssa idade , a pe rd a ne ur onal co ntinua a uma ve loci- cin east a Luis Bunue l, de scr evendo a de sua mãe e a pr ópria quando co meç ara m
dade m uito me no r d ur a nte o resto d a vida (Figura 8.1) . a perder suas memórias re spectiv as (ve r Izquierdo e Medina, 1998). E m pessoa s
A de pr e ssã o é u ma doen ça de incidência e levad a na ve lhice. Isso se de ve li de idad e muito ava nçad a (a cima dos 90), às ve zes é difícil es tabe lece r o limi te
pe rce p ção pelo ido so de sua inca pacida de física cresce nte , do e n fr aq uecime nto e n tre um quad ro benigno e um quadro dernencial , O s cuida do s clínic o s e a s
d e seus po de res co gn itivos (principalme nte da me mó ria ) e d as n ume ro sas pe rdas recomendações p ar a aq ue les que fo rmam o e nto rn o do paciente são, mui ta s
re a is (de a migo s, pa re n tes, cond ição eco nô mica c possib ilid ades de tr a ba lho ). vez es, indistingu íveis.
De ve m se ext re ma r as pre ca u çócs para um diagnó stico corre to d a de p ress ão Há muitas variaçõ es indi viduais no curso c na in te nsid ad e d a amné sia se n il
nos ido so s, e não confund i-la co m a simple s amn ésia se nil benign a. m uito me - denominada benigna . Há pessoa s qu e co nse rva m seu in tel ecto e suas me mó ria s
no s co m as fa ses in icia is de uma d e mência . muito íntegros a té passados os 80 a nos: Jorge Luis Borges, Ko nrad Ad cnauc r,
A ntiga me nte usava-se o te rmo "pscudodc m ência" pa ra de sign ar a de prcssâo D cng Z haoping, G iuse ppe Verdi, a R ainha Vit ória, da Ingla te rra , e alto Nie -
grave nos idoso s, Ll uC m uitas vezes ~ aco m panhad a de d e so rie n ta ção c /ou de um me ycr são exemplo s clássico s. Muitas outras, não , Pro vave lmente, () exercício
quad ro del ira nte ou sc midcl ira n tc . O ler mo psc ud c dc m ência mio fel iz, po rq ue
é contínuo da memória e m suas diversas formas seja a principal causa de ssa diferen-
a depre ss ão e a d emência a prese nta m sin to ma to logias mu ito d ife re nte s q ue ça entre o de clínio co gn itivo de uns e de o utros . Borges pr a tico u co m intensidade
po de m e d eve m se r d ife re nciad a s no d iagnóstico . Por outro lado, o s mel ho res a literatura e o aprendizado de líng uas at é sua morte , aos ~() . De ng gove rn o u e
es tudos e pide miol ógico s re ce nte s, re a liza dos na U ni âo I:uro pe ia e e m pa rticula r transformo u um pa ís e no rme e complexo de po is dos 9lJ. Verd i compô s suas óperas
na Es pa n ha, indi ca m que n âo hlí co r re la ção e ntre a incid ência ou pr eva lência mai s comple xas, Falstaff e O tcllo, depois dos XO, O q ue lhe req ue riu rcaprerulcr
104 I Ivá n Izquie rdo Memória I 105

Felizmente este tr ejeit o cultural es tá


100 mudando, e com isso, provavelment e , A diminuição da capacidade de
está se ndo le nt a mente aument ad o o memória de curta duração se deve
número de ido so s sad io s e integr ados à a perdas neuronais no hipocampo.
soc ied ade. no córtex entorrinal ou eventual­
Muit as veze s as pr ime iras ma nife s­ mente parietal.
ta ç óe s da a mnésia se nil benigna co nsis­
tem numa disfun ção da memória de tr a­
balho (ver pr óxima se ção ), geralmente leve, e numa diminuição da capacid ad e
de memória de curta duração. Es ta última se manifest a a través d e co isas tai s
co mo ir ao supe r me rca do e es q uece r a met ad e das co mpra s; de po is que pa ssou
a dige stão , não lembrar se havia a lmoçado o u n ão ; chega r a um lugar e n ão
lembrar que me io de tr ansp orte ut ilizou para chega r lá, e tc. A dimin uição d a
-- - - - - ---~~-------- - - - memória de tra balh o obede ce a perd as ne uro nais no có r tex pré -fro nta!. A dimi­
-------- nui ção da capacid ade de memó ria de curta duração se deve a perdas neuronais
40 BO anos no hipocampo, no có rt ex entorrinal o u eve n tualme n te pa ric ta l.
Não devemos co nfundir a a mnésia se nil co m a tendência das pesso as idosas
I Figura 8 .1
a rel embrar me mórias a ntigas e m de trimento das memórias mais rece ntes, Q ue m
Perd a neuronal no rma l e sua ace leração po r doenças. Há uma gr an de per da neu ro nal
po r volta do p rime iro ano de idade , qu e declina de manei ra expone nci al logo depois . melh or ex plico u isso foi, novam ente , Jorge Luis Borges. Os ve lhos ac ha m preferi­
A perda conti nua ao longo da vida, a um ritmo menos intenso . Em pessoas normais, vel lcmbra r fa to s e e p isód ios de sua infâ nc ia o u juventude po rq ue corrc spondem
essa pe rd a não consegue atingi r o limi ar mínimo pe lo qual a perda ocasiona doenças. à "époc a d a fe licidade ": aquel a e m que e ram ágeis, fo rtes, bonito s, potente s,
Em pessoas com doenças de generat ivas (Parkins o n, Alzheimer, etc .), a perda se com toda uma vida à su a espera, aquel a e m q ue podiam jogar bola com facilid ad e ,
ace lera a partir de det erm inado momento (por um transtorno vascul ar, lníaccioso,
em que conseguiam dançar a noit e inte ira co m pe sso as belas do sexo o pos to ,
tóxico ou de out ro tipo) e em determinadas regiões do cérebro o número de neurônios
disponíveis pode cair po r b aixo do lim iar mínimo necessário para um a ju nção correta;
etc. A s memóri as mais recentes revel am muitas vezes se us imped imentos físico s
isso ocasiona os si ntom as de hipofunc âo que car ac teriza m essas doenças. ou a n ímico s: as mulhe re s já não o lha m par a e les na ru a de man e ira co nvid a tiva,
ma s com pen a; a pr ática do s es portes lhe s é negad a ; um a noit e se m dormir já
nã o ma is re flet e uma noite de pr azere s c alegria, ma s sim um a peno sa noi te d e
insônia. As not ícias da atualidade lhes pare ce m menos int er essantes: já se conv en­
ceram de que, pe ssoalmente, nad a pod e rão faze r pa ra influe nciar se u cu rso. A s
h ar mo n ia e co mpo sição . Pa ra tudo isso. esses perso nage ns ilustres tive ra m llue mú sicas popular es mo de rn as lhes reve la m sua inca pacida de de dan ça r a se u
pra tica r int e nsame nte os d ive rso s aspec to s d a me mória a té se us últ imos dias, ritmo , e nq ua nto as de a ntiga me nte lhe s traze m be las recordações. M uitos de
M uito s idoso s. no e nt a nto . p refe re m ficar ado rmecidos fre n te a um a pare lho de seus ami gos já morreram; é melh or lembrar d e les 40 o u 50 a no s a trá s, q ua ndo
te levisão subme tidos a constantezapping, sem presta r se riame nte ate nção a nada. compartilhavam juntos momentos inesquecíve is e in te nso s d a vid a . l~ provável
Esses ind ivíd uo s so fre m de te rio ra ção gradual , mas rá pid a, de suas funçõ es cog­ que pelo men os parte da perda de memórias re ce nte s pelos idoso s seja devida ü
n itivas. A inat ivid ade física e me ntal do s idoso s se rel acio na muito com h ábito s redução d a persistência li uc se observa depois dos 40 an o s para alguma s mem órias
culturais: no Bra sil, po r exe mplo , as pesso as são "trei nadas" d uran te a no s pa ra (Izquicrdo e t a!., 2008).
alme ja r uma aposentado ria rá pida e se ded ica r depo is a não faze r nad a , aind a O s ido sos ge ra lme n te e scolhem, como o faz em todo s, quais as me mó rias
que física ou me ntalme n te e steja m capacit adas para faze r ainda muitas co isas. que pr eferem evocar. Quase sem pre , a escolha é inco nscie nt e .
106 I Iván Izq uierdo
Memória I 107

Hipe rmné sia çâo é cientí fica o u linguisticarncn te incorre ta: um ind ivíd uo com pouca
in teli-
gê ncia mi o é um sáb io , ainda q ue seja e m inglês. Pastcur o u
Há mu itas pesso as nor mais cuja memór ia parece melhor que a Lavoisi er e ra m
dos de mais. Na sa vants. A pe rso nage m de Dustin H offman no filme Rain Ma n, mio
vida re al, o caso mais Ia rnoso é o do pe queno Wo lfga ng A rnadcus ; pel o meno s
Mo za rt , q ue em francê s.
e ra ca pa z, ao s 6 anos, de ouvir uma co mpos ição o rq uestra l e . ao
vo ltar a cas a, Não há nenhum a e xplicação científica para a hipcrmn ésia, incl uindo
escreve r a pa rtitura co mple ta num pa pe l. Sua irmã ma is ve lha, os a u-
Nan nc rl, t inha tist as com hipcrrnné sia. Por motivo s que não co nhe ço . os pe squisad
uma ca pacidad e mne mô nica não m u ito infer io r para m úsica , e Bc ores têm Se
e tho ve n pa re- mantid o afastad os do e studo das po ssíve is patolog ias desse tipo
ce que tarnh érn tinha uma brrande me mó ria m usical qu ando muito de síndro rne.
jovem, e mbo- Talvez isso se de va a dois fat o s. O pr imeiro, q ue a h ipermn ésia não é co
ra não t anto q ua n to Mozari . I louve um pe rso nage m d a vid a rea nside rad a
l e stud ad o pe lo pa to lógica po r nos sa civilizaç ão ; pe lo cc ntr ário, a posse de uma
ncurop sicó logo russo Lur ia lui 40 ou 50 an o s, de q ue m só conhecemos bo a memór ia é
sua inicial tida co mo símbo lo de sabe doria. Jâ vimo s, pela sínd ro mc dos savan
(S.). dotado jlÍ na idade ad u lta de uma memó ria excepc ional. Em ts, que issc
anos rece ntes, mio é nece ssa ria me nt e verdad e . U ma me mór ia excel ente pode
Mc G au gh e Ca hill de screver am mais um ca so de hipcrrnn ésia na co nvive r com
vid a re a l, o de um q uad ro de insufi ciê nci a co gn itiva general izada. A memó ria . na
u ma obsc u ra fun cio ná ria do s tribuna is da C al ifórnia . s s uas d ive rsas
fo rmas, mio é o único compon ente d a co gnição nem d a int eligênc
Mas, li exceção de Mozar t, o hiperm n ésico mai s co nhecido é o person ia ; a percepç ão ,
agem o raciocí nio e li cri atividade desempenham fun çõ es no mínimo igualme
do co nto de Borges , Funes, () Memon oso , Funcs era ca pa z de reco n te impor-
rd a r u m d ia tante s. U m indi víduo perce pti vo e criativo com bo a capacid ade
in tei ro de sua vid a, a té o último segundo. M as para fazê -lo precisa de raciocín io
va, é claro, de pode suprir um d éficit re lativo de me mó ria mu ito bem; recorde mo s
o utro d ia inte iro de sua vid a. com o que precisa ria vive r parado as gra nd e s
no te mpo , co isa ob ra s q ue Vcrdi o u Borges cria ram numa idade já muito avança
q ue não existe. Ass im, de man ei ra inte lige nte , Borge s demo nstra da, q ua ndo é de
pelo mét od o pr esumir que tinham algum gra u de a m-
do absurd o ( tã o usado em álgebra ) tlue u ma memó ria perfe ita
é imposs íve l. né s ia se n i l b e n ig n a . O p r e sid e n te
A lé m di sso , em se u conto . ra ciocina que Fu ncs " nâo se ria muito capaz
de pe nsa r, Rcaga n, homem de po uca c ultura e já
porq ue para pensar é necess ário esq uecer, parti pod er faze r ge A memóri a, nas suas diversas for-
ne ra lizaçõe s", no início de sua doença de Alzhe irner ,
a rgu me nto que é rigo rosa mente ce rto (Izq uie rdo, 2010) . mas. não é o único compon ente
ma s rodead o po r asse ssore s intelige n -
Vários de stes person agens, o pacient e de l.uria, a p acie n te de McGa da cogniçã o nem da Inteligéncia:
ugh e te s, concret izo u o sonho político de IO-
Ca hill e o p ró pri o Funes fo ra m caracte rizados co mo tendo um desenv a percepç ão, o raciocínio e a c ria-
olvime nto dos os pr esid entes de se u país: a vitó ria
inte lectua l infe rio r ao normal, co mo pe ssoas com u m níve l de inteligê tividade desempenham tuoçoes 110
ncia re la ti- do s Es ta dos Unido s na g uerra fria.
va me nte bai-xo. mínimo igualmente importa ntes.
Alé m de uma memór ia bem tre inad a
H á um subtipo de pacien te s autista s com uma pa to logia seve
ra no s lob o s em se us mu itos an o s de ato r, e mbora já
tempor ais, que se ca ract e riza por u ma híperm n ésia: uma capacid
ade e no rme decade nt e por efeito do iníc io de uma
de formar e evoca r memór ias co m plexas, muitas vezes re fer ida
s a números ou doe nça de Al zheime r, conta va com uma qua lid ad e q ue fazia toda
operaç ões ma temátic as e /o u à mú sica . O cine ma popula rizou a diferen ça :
um exempl o de sabia se ro dea r de as sessore s apro priados para seus fins.
autist a com grande me mória para operaçôc s matem ática s e núme
ros (Rain Man ,
1988 , in terp retado por Dust in Iloffm an ), e o ut ro de um autist a
co m cap acidade
musica l to ra do co mu m (Shine, 1996 , interpr etado por G coíf rey
Ru sh ).
esqu izofre nia como uma d
O sub tipo de pa ciente s autista s co m níve is de inteligê ncia ba ixo
s ou mu ito
rande s doen ças da mem ória
ba i-xo s, ao que pe rtencem o s perso nagens de Ra in Man: o u Sh ine A e sq u izo fren ia é uma doe nça me ntal (a lguns acha m que é um
fo i de no m inado
pelos fran ce se s do séc ulo XIX de idiots savan ts, O termo, q ue co nju n to de
sign ifica idiot as doe nças me ntais) cuja caracte rística princip al é a o co rrê nc ia d e de
sá bio s. pode sc r lament ável , mais é descritivo . Poré m. co m seu e lírio s e alu cina-
n tusiasmo pelo çôcs, Os pacie nte s m uita s ve zes re lut a m, assusta dos nu dese sp erado
" politica me nte co r re to ", os a utore s ingle se s c no rte -a mcrican os s, esta r se n-
pass a ra m a cha- do virtua lme nte "inund ados", "alagad o s" , "bo mha rde udos' o u
ma-los, nos úll imo s a no s, só de savants (Slíbios ). Ú óbvio que e sta "pe r~egui dos"
" nov a" de sign a- po r um excesso de infurrnu çâu, que lhe), "a taca " sem Irégu ll e se
m pied ade .
108 I Iván Izquierdo

Pel a descri ção, o qu adro so a co mo o de quem pad ece de um sé rio distúrbio


9
da me mó ria de tr abalho o u ge re nc iador pré-front al: o sujei to nã o co nse gue d iscri­
minar ent re as co isas que percebe , e se se n te inund ado , alagado o u sobre pujado
por e las. Enxe rga-se uma pesso a a po iad a co ntra um a parede . perto de uma árvo ­
As demências
rc , o suje ito co messe tip o de dé ficit enxe rga tudo ao me sm o tempo , se rn d iscr irni­
nar uma co isa d a o u tra, e o bvia me nte isso lhe d á ra zões p ar a sentir-se am e açado
o u pe rse guido .
Pe squisadores modernos, e ntre el e s Daniel Weinberger (l -gan e t ai, 2001 ) e
Pierre D a nio n, o bse rvara m pr ecisament e que os es q uizo frê nicos pad ecem de
um déficit seve ro nas funçõe s d a memória de trabalho, co m sé rias lesõe s no
có r tex pré-fro nta l de o rige m, pel o me nos e m parte , genética.
Alé m disso , os esq uizofr ênico s pad ecem também de um sé rio distúrbio a m­
né sico para memórias e pisód icas e explícit as: isso é de se es pe ra r se os episódios
co nsiste m em pe sadelo s e inexatidõe s co mo o que aca bamos d e descreve r. O Co mo vimo s, a pe rda ne uro n al pode se ace le rar na idade ad ulta como co n sc ­
d éfi cit d a memória de clarativa dos esq uizofrê nico s se cor re lacion á co m le sões q u ência de ac iden te s cé re bro -vasculares, de tumo re s, de lesões o u de lima va rie ­
na s dive rsa s es trutur as do lobo te mporal que participam d a memória (ver Capítu­ da de de proce sso s degener at ivos (F igura 8.1). Q ua ndo a perda abra nge as funçõ e s
lo s 3 a 5) . O s es q uizo frê nicos costumam ter pre se rvadas sua s memórias impl ícitas superior es , os Cf uad ros clínicos se de no mina m de mências (de: pa rtícu la pr ivat iva ;
e d e procedimento s. E sta nova visão d a es q uizofre nia co mo uma d oença q ue m êncía: de rivado de m ens , men te ) . I.ite ralme n tc , ao perder ne urônios, pe rd em­
abra nge vários tipos d e memória , causad o s por dé ficits morfológicos da s á reas se as funçõ es men ta is; entre el as, as me mó rias.
e nvo lvidas no se u processamento , abre novas perspectivas tanto para a co m pree n­ E ntre as m uita s Iu nçócs menta is d iminuídas o u pe rdidas, destaca-se a me mó­
são desta entid ad e clínica quanto para o de senvolvimento de no vo s e mai s pro mis­ ria. E m prime iro lu gar. porq ue s ua pe rd a é m uitas ve ze s inca pacita nte e é no tada
sore s tr atamentos para a mesma. tanto pe lo paciente co mo po r seus familiares o u co m panhe iros . Segundo , po n t ue
Pa ra muitos psiqu iatras o u neuropsiquiatras es pa nhó is, a esq uizo fre nia deve en vo lve um gra u de despe rso na lização que, e m caso s se ve ro s, é trá gica: vo lta mos
se r co nside rad a uma doença mai s neurológica que psiqui átrica, ha ja vista sua à fra se do início : "so mos aq uilo de q ue no s lembra mo s". Q uand o pe rd e mos
patologia pr é -frontal e tempora l. aquel a s me mó ria s que faze m com q ue cad a um de nós seja um indivíd uo , nos
enco n tramos fre n te a um q uad ro deso lad or.
Na doe nça d e Alzhcirne r, as le sõe s caracte rísticas envo lvem:

• H ipcrse cre çiio de uma pro teí na c ha ma da subst ância p -~I m i lll j d c pelas
cé lula s afet ad as. E sta proteína é pro d uzid a norma lmen te pelas cé lulas
ne rvosas, mas na do ença de Al zhc irner isso ocorre de fo rma exage ra d a,
causan do vacúo los de ta ma n ho cre sce n te q ue. ao se j untare m, de te rm i­
na m a morte de to do s o s ne urô nios que as ro de ia m.
• Fo rmação de ernarun hados n euroff brllure s, prod uto de a no malias estru ­
t ura is de u ma pro te ín a chamada Ta u, co m po ne n te nat ural das ncuro fí­
bri las do s ax ônío s, q ue também, por vo lume, e pe la inte rr upção do trânsi­
to de po te nciai s d e a ç ão pelo s ax ôn io s a fe ta dos, ca usa m morte celular c
disf unção.
11

110 I Iván Izq uierdo


Memória I 111

o efei to de ambos os tipos de lesão bioq uímica se complement a m na ge ração


da sin torna to logia da doe nça de Alz hei mc r o u em mode los de camundo ngos i/ Est aglo l
---l
(G_I~
((~ ~--....;r--, 'r;
. Esla gio 2

transg ênicos com hipe rexprc ss ão de uma ou o utra pro teín a nos qu ad ros amné-
sicos re sulta ntes . Em modelos animais. o excesso de prote ína ~-a mi loid e é muito c:/;]'I,I \ J I) :- ~
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( d7;\ ; y '~
mais a mnésico q ua ndo oco rre junto co m um exce sso de proteí na ·lilU. e vice-
~Q~,~~/ / ;; )\ ' \-. :~. .:>: )
ve rsa .
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rt9x
,l empó r81
Na doe nça de Alzhc imcr, e ssa s le sões ocorrem inicialme nte no córtex e n-
to rrinal e , a seguir, no hipocarnpo. Co m o de co rrer dos meses o u dos anos, apare - eaentO tri"" I >~ U li c: i

cem também no có rte x pré -fro nt al, parietal e occipital; c, às vezes, e m o utras ~~/
ár e as do c érebro (Fig u ra 9 ,1).

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Essas lesões, se extre ma me n te ab und ant es nas áreas me ncion ad as. tê m sido

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co ns iderada s pat ogn orn ônica s da doe nça de Alzhe irner (Hym an ct al., 1990).
Por ém, le s óes similares. e co m localiz.aç ão se mel hante , obse rva m-se na de mê ncia

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q ue acompanha a doe nça de Par kinson c, aind a, em indi vídu os muito idosos
se m pat o logia cogni tiva definida . De fat o. plac as arnilo ide s e e ma ra n hados fi-
brilares se ob servam, e m pequena q ua ntidade , e m pe ssoas pe rfe ita me nte nor- '~--";" ' "G . ,
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ma is, 11 partir dos 20 ou 30 anos. Seu número aume nta com a idade , tanto em
hu man o s co mo em cães e prima tas; se m a tingir, po rém. a pro fusã o de ssas les ões
- característica da doe nça de Alzhe ime r, Não há co rrelação en tre a ocorrê ncia
dessas le s ões e qua lq ue r sint omatologia e m cães e pr ima tas, A lguns a utore s
ac ham que e sta doença re sulta do exagero de um qua d ro histol ógico normal, e
não na simple s aparição das cha madas le sões cara cte rísticas da doe nça.
Há do is gra ndes subgr up os de pacientes co m doe nça de Alzhei mer: aqu e les
q ue apres entam prejuízo en tre os 50-60 a nos, e aq ue les e m 4 ue a doe nça se
ma nifest a a part ir dos 65-70 anos. A prim eir a forma costuma te r um curso ma is
rápi do . O pr imeiro caso descri to por Alo is Alzhei rncr , de sco bridor da d oen ça .
e ra um a mulhe r de 5 1 anos. Ambas as forma s da doe nça se aco mpan ha m de
Rgura 9 .1
altcr a çôes cro mossô micas d ifere ntes, o q ue indica q ue obedece m a pelo menos
Evoluç ão anatômica da doença de Alzheimer no lobo tempo ral ao longo de sucessivos
doi s tra nsto rn os gc n ômicos distint os . Por é m, estudos e m numerosos gêm eos estágios (1 a 6). No estágio 1, há po ucas lesões (emaranhados fíbr ilares de proteína
uni vitclinos, cuj a carga ge nética é idê ntica , de mo nstra ra m q ue mu ita s vezes só Tau e p lacas de ~- am ilo i de) localizad as na área entorrina l. Este estágio pod e durar
um dos doi s ma nife sta a doença. Isso indi ca que , a lém dos fatore s ge né ticos, há vários anos e nele a do ença é assintomática. No est ági o 2 , aumenta o número d e
lesões na área entorrinal e apa recem alg uma s lesõ es no hlpocampo e num a regi ão
também o utras cau sas ou fat o res de sc ncadc antcs da doença . E stes pode m ser que o liga com a área entorrinal, cham ada subíc ulo. Apa recem os prime iros sinto mas.
tóxicos, a mbienta is, psiquiát rico s o u a té med icame ntosos: nã o há evidê ncia s em Este estágio dura de 1 a 3 anos . Nos seguintes est ág io s , 3 e 4, aumentam as áreas
favo r de um ou outro fa tor. lesadas, forman do-se entre elas verdadeiras "ilhas "d e tecido no rmal, que passam a
funci onar isoladas da áreas envolvidas . Na c linica o b serva m-se tam bém "ilhas " de
Na sínd ro rne de D OWD, há alte raçõ es cromossômicas seme lhantes às da doe n- memórias intactas . Estes estágios duram entre 2 e 5 an os, O est ág io 5 corres po nde
ça de Alzhcime r na sua variedad e pré -senil. Os por tado res de sind ro rnc de Down à fas e avançada da doença : as lesões se multiplicam , aparece m também em outras
frequente me nte mor rem re la tivam ente ced o (por vo lta dos .:tO a nos ). mu itas regi ões cerebrais (córtex pré -frontal, frontal , parietal) e o d etrimento cog nitivo se inten-
sific a, Este estág io dura de 2 a 3 anos, No est ág io 6 o u term inal, não há mais "ilhas "
ve ze s co m um qu ad ro dcrncnc ial scmclh nnte ao d a doe n ç....' de A lzhc irn c r c co m
nem anatô micas nem mnemônicas , e a cognição desaparece qu ase p or completo .
le sõe s ce re br ais do mesmo tipu .
~

112 I Iván Izquierdo Memória I 113

As lesõe s vascu lar e s múltipl as po ­ evid ência co ncre ta de que o quad ro de Cre u tz fc ld-Ja ko b hu mano seja ca usad o
Na demência alcoólica, parece de­
dem consistir e m pe4 uen as áre as de e n­ por co ntágio dessas doença s do gado , seja at ravé s da ingestão de carn e ou de
sempenhar um papel o efe ito tóx i­
farte e em lesõe s dcs mie liníza ntc s se­ outra m a ne ira .
co do próprio etano I sobre os neu­
cundárias à interrupção d a irr igaçiio A doe nça de Pa r kinsnn ou a sín d rome de imu n odeflciênc íu adquirida (SIDA)
rônios , além das lesões vascula­
sanguínea local. Obse rvam -se essas le­ podem le var a um q uad ro de mencial. Os mec a nismos d as duas demências não
res.
sões ta mbé m nos q uad ro s d c rnc nciaíg são be m co nhe cidos. No Pa rkinson. é po ssível q ue a di sfu n ção co gnit iva seja
secund á rios a po litra umatism o cra nia­ de vida à função afetada do nú cleo ca udaio na aqu isição de me mó rias (vc r Ca p ítu­
no , co mum nos boxe ad ore s (demência lo 3) ; po ré m, cha ma a at e nção o fa to de que, se isso fosse assim, o s sintomas n ão
pu gilisticu) e ao uso re iterado e excessivo de álcool ou cocaína . Nu ma p ro po rção tinham po r que ocorrer t ão ta rde no dese nvo lvimen to da doença co mo é o caso.
el evada de a lcoolista s, desenvo lve- se uma síndrome denominada de mência a lco ó. nem se manifestar po r uma a mné sia re trógra da . Na SIDA (co nhecida no Brasil
lleu . q ue a lgu ns conside ra m secund ár ia à sínd romc ne ur o ló gica de Wer n icke­ por sua sigla e m inglê s, AIDS ), as le sõe s ce rebrais silo m últ iplas e ge ne ra lizad as ,
Ko rsa kofL I~ carac te rística dessa sínd ro me a "confab ula ção" o u a dissimula çâo e a evo luçã o do q uad ro a mnésico é rá pid a.
d as fa lhas d a memó ria por in vc ncio n ices, Na de mê ncia a lcoó lica, pa rece dese m­ A s demê ncias de Pa r kinso n e a SI D A silo q uad ro s sec und ários à evolu ção
penhar um pa pel o e fe ito tóxico do p ró prio e ta no l sobre os ne urô nios, alé m d as das pr óprias doe n ças.j á as do e nças de Pick e Crc ut zfc ld-J akob são e m si próprios
lc s ôc s va scu la re s. D as d e ma is drogas de abuso, cab e de stacar os o p ioidc s. Es te s quad ro s dernenciais.
pode m causar , no uso crô nico , uma sind ro rne dc rnc ncia l pe lo me no s e m pa rte As demências de origem vascular por microin fur tes, pode m oco rre r sozin has
dev ida a efe itos tó xico s da d ro ga . ou, ma is ha bitua lme n te, sobre pondo se us efe ito s a uma doença d e o utro tipo .
Nã o têm sido re latadas de forma fidedign a de mê ncias causadas pel a maconha prin cipalmen te a de Alzhc imer. Q ua ndo o co rrem sozi nhas , os prime iros sin to ma s
e se us co m po ne n tes : es tes pro d uze m, no e n ta n to, q uad ro s de a m nésia aguda o u da s de m ências po r micro infa r tcs pode m se r mu ito va riados . de pe nde ndo d a lo ca­
suhagud a de gr avid ade vari áve l. O uso reiterado e in te nso d a coca ína e m suas lização d as lcs óes. Se u curso de pe nde da evo lução das Icsô es o u d a oco rr ê ncia
diversa s for m as, e ntre e las pr incipa lme nte o "cra ck" , pode ca us a r u ma síndrome de no vo s microi n la r tcs. As d ro gas usad as no tr a tame nto de se u q uadro amnési co
pr é -fro nta l (ve r m a is ad ia n te) , se gu id a o u nã o de de mê ncia . sã o as mesmas usad as na doe nça de A lzhe ime r (ve r ma is ad ia n te ), c são só
Na doen ça de P ick , també m d e índ o le hcrcd ir ár ia. h á um quadro d e rncncial pal ia t ivas. Para as de mências de o rige m vas cul ar o im po rta nte real me nt e é a
às ve zes se me lha nt e ao de A lzhc imcr, m as faltam as les ões nc uro librila rcs e as pre venção da sa úde card iovascu la r. O fumo é um fa to r pa rt ic ularme n te ugrava n­
placas umiloid cs, I l á, poré m, outro tipo de a lte ração histol ógica, que co nsiste te, pe lo dei to vasoco nstritor d a nico tina .
na ap a rição assimé trica. no s lob os tempo ra is e fro nt ais, na autópsia. de cé lulas Nas d emências oco rre pe rda das funçõe s ce re bra is, incluindo as me ntais e ,
inchad as , não funci ona ntes, que aprescn tu m co lo raç ão pá lid a . Nesta do e nça, as den tro d estas , da s íunçõ cs co gn it ivas , espe cial mente a me mó ria . E mbo ra e st a
lcs ócs ca racte rísticas predo mina m no he misfé rio esq ue rdo. últi ma seja a mais grave desde o po nto d e vista d a ma nuten ção d a pe rso nal id a­
A doen ça de Cre utzfeld-j ukob le m uma evo lução se mel ha nte q ua lita tivam en­ de o u d a ind ivid ua lid ade do suje ito , m uita s vezes mi o constitui o sintoma ma is
te à d oença de A lzhc irnc r, mas e m vez de se de se nvo lve r ao lo ngo de an o s, o faz salie nte nem o mo tivo pr im ário de q ue ixa dos pa cientes, à exceção d a do e nça de
em pouco s meses. Ne st a doe nça. o quad ro que leva à mo r te ne uro nal é a cxprcs­ Alzhc irnc r, na q ua l de p ois de se us prime iro s esuigios a a mné sia é o sin toma
s ão d e um a pro te ína co nstitu in te d a membr an a, o prion , co m um a co nfi guração mai s destacado.
espacial a lte rada . A funçã o dessa proteína é basica me n te de scon hecid a; sua a u­ A dest ruição da memó ria se gue um
sê ncia, e m ca mu ndo ngos, leva a uma hipcrsc nsihilidad c a age nte s e pilc ptogênicos curso pró prio e ma is ou me no s ca rac te ­
(Walz e t aI., (999). A do e n ça de Cr c u tz íe ld -J uko b se caracte riza po r les ões d isse­ rístico no s d ive rso s t ipo s de de mê ncia. A destruição da - memória
.. . .. . .segue
-

minadas de tipo espongiforrnc : lite ra lme n te , áre as no rma lme nte povo adas po r Isso é conscqu ência dire ta d a evo luç ão Um c urso próprio e' rnalsourne­
neurôn io s co nverte m-se . po r sua mo r te , e m vas tos v ac úolos, Doe nças se mc lha n­ da pa to logia de cada urna del as. A evo ­ nos caracter istico nos diversos ti­
tcs, de ca racte rísticas pat o l ógicas similares, mas sinto ma tologia va riada, existe m lução da sínd ro me a mné sica é insid iosa pos de demnncla
no gado bo vino (doe n ça da "vaca lo ucu" ) e ov ino (sempie.l'). N âo lui ne nh uma na de mê ncia por microin fur tc s, m uito
114 I Iván Izq uierdo Memória I 115

in te nsa. mas le n ta (a nos) na doença de A lzhc irne r, m uito le nta c mi o inexo ráve l
na doe nça de Pa rkinson, e mu ito nipid a (meses) na doença de Cr e utzfc ld-J nko b
Sobre drogas paliativas, curativas,
efetivas e ineficazes
o u às vez e s nos q uad ro s pr é -fron tai s. incluindo a d oe nça de Pick.
E m algu ns q uad ro s dc rn enci ais pre do mina. no início . um a di sfunção da me - Cab e a po ntar aq ui, no e n ta nto, um mot ivo de co nfu sã o im portante que permc ia
mória d e t ra balho. Es ta é de difícil de tecç ão e se ma nife sta por uma d imi nui ção bo a pa rte da litera tur a refe re nte l'l do ença de A lzh e irne r . Na décad a de J 980. a
d a ca pacidade de filtra r iníorma çáo, fazend o co m q ue o sujei to pareça mui tas descoberta de le s ões e co nscq uc nte hi po a tivid ade do n úcleo basa l de Mcyne rt,
vezes de sorien tado , com d ificu ldade em co ncent rar o '-lue de no mina "s ua a te u- se de do maio r sistema rnodulado r co liné rgico do cére bro , e m pa cie nt es co m
ção' naqu ilo q ue est á aco ntece ndo . e co m te ndê ncia a confund ir o qu e pe rcebe doença de A lzhci mc r. Icvou a uma "hipó tese co liné rgica " de sta pa tol ogia . Es sa
o u o q ue record a. A d isf unção d a me mó ria de tr abalho es tá asso ciad a a lc s ôcs hip ótese po stulava q ue a acetilco lina e ra O " principa l ne urot ra nsmisso r envo lvido
do córtex p ré -fro n ta l. na memória". Poré m. na se gu nda met ade d essa me sma décad a, fo ram descobe r-
É comum que esse défi cit ve n ha associado a u ma dilicu ldade tanto para tos dé lic its se melhan tes nos siste mas dopa rninérgico , no rad re né rgico e se ro to -
for mur q ua nto para evocar me mó ria s, predomin an teme nt e d e lo nga du ra ção. niné rgico ce nt ra l. Pa ralel ame n te , fo i de te r minado q ue o siste ma hipoca m pa l é a
Na ma ioria do s CélSOS de demência. o indivídu o ma nté m ce rt o gra u de funcio na- regiâo mais im port an te ta nt o p ar a a ío rma ção co mo p a ra a evo ca ção das me mó-
men to da memória de cur ta d uraç ão: co nsegue seguir o ru mo d e um a co nve rsa rias decla rat ivas. e lorum estabelecidos os mecani sm os co rrespo nden tes. Também
c pa rticipar dela, faze r ta re fas sim ples. pe rcorrer d ist âncias curt as, sabe ndo ao nde foi de mo nst ra do q ue as le s õe s ca ra cterísticas da doe nça de A lzhc irne r a purecc m
se dirige (ir ao a rm az ém), e tc. Com o ava nço da severida de das de mê ncias, oco rre inicia lmente no có rtex c ntorrinal e no hipoca rnpo e. ma is tarde , e m o utras regiões
uma perda ma is p ron unciad a , e o pacien te esquece do rosto d e se us filho s; do do có r tex, pr incipa lmente pr é-fro nt a l. pa ric ia l e occ ipita l associa t iva (I Iyman e t
ca minho co rre to de sde sua cama a té o ba nhe iro; esq ue ce de co nhec ime nt os al., 1(90). Isso re lego u a " hipó tese colin érgica" a um pa pel, no máximo , se c undá -
e le me ntares de sua profissão . o u a té q ual era a su a profissão . rio na pa to ge nia d a do ença de Alzhe imc r e d as de mências e m gera l. Poré m,
esse pa pe l, e m bo ra secundá rio, é impo rta nte do pon to de vista mod ulnt ório, e
realme nte 11 ucc tilco lina mod ula positiva me n te as fun ções mn e mônicas e m ge ral.
Demência pré·frontal e demência nas fases De fa to, drogas que es tim ula m essa Iunçâo sã o utilizad as no tratam ento palia tivo
finais da doença de Parkinson d as dem ências: tacrina, doncp czilo, rivastigmina, galant ami na.
Ca d a tipo de d e mência te m u ma pat ologia própria . lJue n âo é (1 caso a na lisa r Só ago ra, nos últ imo s 10 ou 15 a no s,
aqui , Encont ram-se altc raç ócs pré- fro n ta is quando h á comprome time nto d a me - co meçara m a a pa rece r ou tra s droga s
mór ia de tra bal ho, do hipoc a rnpo e do có rtex te m po ra l e, às vezes, pa ric ta l q ua ndo pura uso te ra pêut ico nas demê ncias: de -
e stão alte rados os de mais tipo s de me mória . Existe um quad ro cha ma do de "sín- rivad o s de agonistas so bre rece ptores Foi dete rminado que o sisisma I1J-
d ro mc pré -fro n ta l", ca rnctc rizado pe la fa lta de autoco ntr olc o u de "fre io" moral, gluta rna t érgicos A M PA, ou mod ulad o - pocampal é a região mais impor-
co nce itual ou verba l. M uitas vezes, e sse q uad ro é re su ltado de a buso pro lo ngad o rcs dos mesmos. cha mados arn paqui nas. tante tanto para a formação como
L' excessivo de d rogas que e stimu la m sinapscs doparnin érgicas no có rt ex pré - Es tas e a mc ma nt inu. q uc age so bre re - parae evoceçéo das memórias de-
fronta l. co mo a coc a ína . Ou tr as. é devido a lesóc s vascula re s o u de o u tro tipo de ce ptores NMDA, são conside ra das um clarativas .
um dos lobos pré- fro nta is o u de a mbos. i\ sínd ro rnc pr é -fron tal pod e evo luir po uco supe riores ao s age nte s coliné r-
par a u ma verd ade ira de mência. q ue se de no mina dem ên cia pr é-Iron tal . gico s, mas a ind a est ão mu ito lo nge do
A doença de Pa r kinsun aprese nta. a lém da pe rda ce lular na subst ância ne gra de sej áve l: n áo po ssuem e le itos preve ntivo s. e são úte is só du ra nt e po ucas se ma -
q ue ex p lica os transto rnos mo to res e do t ónus muscula r, le sóe s co rtica is q ue nas, po rq ue a morte nc uro nu l pros segue inexo r ável, mesmo na sua p re sença , e
exp licam () estado dc rncncia l q ue m u itas vezes aco m pa nha o s estágios finais da vai tira nd o os possíveis substra tos ce lulare s de se u efe ito be néfi co .
d oe nça ( pe lo menos e m cerca de 500/" do s casos) . Boa pa rt e dos d éficits d e me m ória silo re sultado de an oma lias gê nicus: e s te
Como nas de ma is d em ên cia s (vide a seg uir), o truturnc n to do d uno cognit ivo é cla ra me nte () caso de v áru», tipos d e dé ficits de aprend izad o e outros t ipo s de
é sinto mát ico na demê ncia pr é-fro ntal e na na rkinso nia na . in sufic iência cogni t iva co ngê n ita e d e m u itas de m ências, sobretudo 11 UC
116 I Iván Izquierdo Memória I 117

Alzhe ime r. Ü de se es perar que , no futuro próximo, apareça m mé todos preve nti­ A vaso pre ssina, a ad re na lina, a i\CTI-I e deri vad o s, a anfc tamina , a coc aí na
vos dessas doenças. No te-se q ue a pa lavra "gê nica" não necessa riam ente q uer e a nico tina melhor am a fo rmação de memórias decl ar ativas de lo nga duração
d izer "he redit ária ". Tod o s os ge nes são he rd ad o s; mas ao lon go da vida a ca pa ci­ dentro de uma mar ge m m uito es trei ta de tempo e de dosagem; fora do tempo
d ade de mu itos del es de express ar d ifere n te s mH. NAs po de mudar . Ce rtos genes útil (minuto s a pós a aq uisição) são inú te is, abaixo d a do se efet iva mi o têm efe itos
se expressam só a partir de cer ta ida de : a pub erda de, po r exe m plo, a idade adulta sobre a memóri a, e aci ma dessa dose a deprimem e causam at é dano ce rebral.
o u a vel hice . A doença de A lzhe ime r é u m exemplo ca rac te rístico desta últ ima . Isso, ma is a gravida de de se us efe itos sec undá rios (hipe rt ens ão art e rial) e o
O utro s se expressam demais o u de me nos, co mo conscqu ênc ia d a ação do s mais pot encial de dependência de várias dessa s drogas, impedem sua utilização ter a­
d ive rso s agentes, de sde va riaçõe s no clima até d ro gas ou ou tras subs tâncias da pêutica nas amn ésias de q ua lq ue r tipo, e principalmente na s demências.
mais va riad a índole. Na ve rdade, o e st udo exa ustivo dos mecanismos da memória c se us modu­
lad or es ( Izq uierdo e t al., 2006; ve r Ca pítulo s 3 a 5), levou a maioria do s pe squi sa­
dor es da área ao co nve ncime nto de que em cada mo men to, para cada indivíduo,
"Drogas que melhoram a memória"
dadas s uas circun stância s emo cionais e anímicas, a memória est á sempre traba­
Hoje em di a há mu ito inte resse no de senvolvime nto de droga s que au me nte m a lhando perto d o máxim o de s ua capacidade. Q uando determinado indivíduo
ca pa cid ade de memó ria da s pessoas e m idad e esco la r ou u nive rsitária . apre senta fa lhas d a memória, em co ndições padrão de sa úde , o pr oblema se
A té ago ra , não fo i e nco n trad a nenhum a droga que "me lhore" a me mó ria deve a ca nsaço, sat uração do es) siste ma(s), de sa tenção, infl uên cia negativa de
e m pesso as normais e que seja realmente útil. Em nosso lab o ra tório , ao lo ngo alguma via modul at ória ou hipe r o u hip ossecre çâo de algum hormônio. U ma
do s anos, est udamos várias centenas de d rogas q ue eve ntua lme nte pod em facilitar vez co rr igido o pro blema, segundos o u minuto s depois, ou, se nece ssári o , depois
a Iorrn a çâo o u a evocação de me mórias para a lgu mas tar efas de ap re ndizado de um so no reparad o r, o ind ivíduo vo lta rá ao normal. Se o prohlema for devido
em ra tos e ca mundo ngos, ad ministradas por viu oral. intra perito ne ul, subcutânea. a es tresse ou alta ansie da de (por exe mp lo, ap re ndizado num cá rce re ou e m
intra cercbrovcntricula r o u di re tamente nas ma is d iversas es trut uras cere bra is. a lguma sa la de aula o u ou tro amb ien te qu e par a o indi vídu o é traumático ). se rá
Ne n hu ma del as serve pa ra o uso e m hu manos, q ue r po r seus efe itos co late ra is co rrigi do pel a mud an ça de situação o u a mbien te .
tóxico s ou ind uto rc s de depe ndência. q ue r po rqu e a ú nica via pe la qu al são A cre nça popular, mu ito di fundid a pel a mídi a, de que "o cé re bro não utiliza
efetivas é a int racc rcbral, qu e é inapl icáve l no se r hum ano. mais do qu e 10% de sua ca paci da de insta lada" é um a inverdade . Isso nunca foi
O met ilfcn id ato (ritalina ), a a nfe ta mina e a nico tina enco n tram-se e ntre seg ue r es tuda do, e não haver ia forma a lguma de demonstrá-lo. A ve rda de é que
essa s drogas. () p rimei ro é um e stimula nte ce ntra l que é utiliza do para co mba te r o cé re bro , e e m par ticul ar sua função
a sínd rome de dé ficit de a tenção e m crianças e adul tos , ' Ic rn sido a té ago ra impos­ mn emônica, funcio na sempre ao máxi­
sível e stabel ece r se sua ação favor áve l so bre a fo rmação de me mór ias de clara tivas mo de eficiência e rendimento possíveis. Em cada momento , para cada
ne sse s pacie ntes é u m efeit o próprio o u simple sme nte re flet e a me lho ra no nível Age eo mo um a má quin a a ltame n te individuo, dadas suas circunstãn­
ou na foc alização de a te n ção qu e a d ro ga pro d uz. Em ad ulto s sad io s, ministrad a sof isticada, co mplexa e regulável , co mo ctss emocionals e anímicas, a me­
12 horas depois da forma ção de uma mem ória trivial, au me n ta sua persistê ncia os ca rros d a Fórmul a 1. Em co nd ições móriaestásempre trabalhando per­
(l zquierdo e t al., 2008). O s da dos sob re o efeito do mctilíc nidato sobre memória ó timas, são exce len tes . Em co ndições to do máximo de sua capacidade .
fo ra d esse pe ríodo restrito após o aprendizado, ou e m pesso as se m transto rn o menos do qu e ó timas (fa lta de hab ilida­
de déficit d a ate nção não são con clusivo s. Ce rta mente n ão justificam o LL'iO recrea­ de do pilot o , excesso de te mp eratura,
tivo de sta d ro ga pa ra "me lho ra r a memória", co mum entre alguns na Ing la terra um a leve tor ção de alguma peça, chuva) se u rendime nto cai. Não porque o motor
e nos Esta d os Unidos. Ess e uso é tão injustificado como o do s extratos de g-ingko es teja mal desenhado; mas jus ta me nte por ser tão sofisticado c de deli cad o eq uilí­
biloba, plan ta po pu la r no O rie nte e gu e tem ra ma, nunca pro vad a , de ta mbé m brio, fe ito par a funcio na r muito hem sob co nd ições apropriad as.
"me lhora r a me mó ria". Estudos de talhad os so bre os extra tos de sta pla nta n âo Fo ra das demên cias mencionadas, a mais comum é a a lcoólica, cuj a sin to­
e ndo ssa m e ssa suposição. mat ologia co nfu nde -se co m a de Alzhc imc r, mas se d eve a les ões vascula res
118 I Iván Izq uierdo Mem ó ria I 11

d isseminad as ca usa das pe lo s efeitos rei terados do á lcoo l e m excesso. e pode Principa lmente o meca nismo da le it ura e m si e nvo lve um giga nt esco e
co me çar m u ito mais cedo , já aos 20 o u 30 a nos. Existe ta mbé m a dem ência ra pid íssimo scanning de tod as as pa lavra s q ue o c ére bro co nhece e co me ça m
traum ática (ta mbé m cha ma d a pugil ísticu o u "dos lutadores de ()(IXt!·' ) . co m essa le tra . se g uido po r um novo sca nn ing cad a VeZ q ue se lê u ma no va letra.
J .crnos a let ra "p" no in ício de uma p alavra e des filam po r nossa cabeça p au s,
peras, pássa ro s. pêssego s, perus. pinotes. etc. Milisscgundo s depois. le mos a letra
Prevenção e tratamento
seguinte . por exemp lo um "c ". c faze mos de sapa rece r panelas L' coloca mos no
Pa ra as demências, e m gera l não há ai nd a tra ta me n to es pe cífico. fora da dos se u luga r pedras e perus; lemos, a segu ir, urn " ]" e sup ri mimos penas e pe des tres,
ulcoo listns (que co nsiste na a bstinê ncia dessa droga) e a d a truurna tica, qu e consis- e os trocamos po r pe los, pe legos e pe lot as. Ca da ve z. a ca da le tra . desfilam ve loz-
te na inter rup ção d a exposiçã o ao s go lpes. Cla ra me nte nem se m pre é po ssível me nte pelo co rte visua l pr ime iro ped ra s, pê ssego s, depo is pau s, pássar os e pane las
uma re versão total dos sinto mas e m a mbo s os caso s. Us a m-se, co mo me ncio nado c, a seguir. pel o s e pel otas, N âo lui nen huma ativid ad e nervosa q ue ex ija tanto
a nteriorme n te. d ro gas es timu la ntes dos n eurô nios co liné rgicos (p rincipalme nte em tá o po uco tempo do c ére b ro, c pa rt icula rme n te da memória, co mo a leit ura ,
done pczilo, rivas tigm ina e ga lan ta mina: De fat o, esta incl ui me mó ria visua l, ve rba l e de image ns, e nt re o utras.
a tacr ina usa-se pouco hoje e m d ia pe los Jl á es tudos demon st rando q ue as pe ssoas qUL' mai s Ice m co stumam conservar
efe itos secundá rios de hiperrno tilidade por mais tempo sua memó ria sadi a e a té iniciam seus q uad ro s de Alzhe ime r
As tentativas bem controladas feio
ga stroi nt esti nal) e mc rna ntina o u a m- ma is ta rde qu e os n áo leit o re s. A tores.
tas com alguns produtos de fndole
paq uinas, estim ula ntes de re ce ptores pro fessores e e scrit o res co siurna rn estar
vegetal (gmgko bitob« e serneman-
glutnrnat érgicos de tipo A M PA À s ve - e n tre as profissõ es e m que ma is se lê .
tes) nunca deram resultados visl- Não há nenhuma atividade nervo-
ze s, se e mpre ga m tamb ém outras d ro - Todo s o s dema is "exercício s pa ra a me -
veis . Este é um terreno que ainda sa que exija tanto ernt ãc pouco
gas estimu la ntes. mas sempre de fo rm a mó ria" reco me ndados pel as revistas e
aguarda algum breakthrough tera- tempo do cérebro . ~ particular-
e m pírica e se m nenh um a base re a l qu e outro s órgãos leigo s (pa lavra s cruzadas .
pêutico que parece estar ainda lon- menie da memória, como 8 hlftura
jus tifiq ue se u uso . Como já fo i d ito. as movimento s re pet itivo s. jogo s. e tc.) s âo
ge .
te nt a tivas be m contro lada s feita s co m m uito infe rio res para rea lme nte exe r-
a lg u ns p rodut o s d e índ ole ve ge ta l cita r a memó ria do que a le itura. São
,ngko biloba c seme lhan tes) nu nca de - mais p rá ticos para anima is de la bora tório , llu e mi o sa be m le r (Jc nsc n, 2006).
ra m res ulta dos visíve is. Es te é um terreno que a inda a gu arda a lgum breukthrouglt Vá rio s est ud os mos tram que a leit ura de m úsica é tão efe tiva para pr e servar ti
te rapêu tico que parece estar a inda longe . As d ro ga s atualmente em uso são me mó ria co mo a de pa lavras.
(po uco) efic aze s du ra n te a lgun s mese s. quando vão mo rre ndo aos pouco s os Para os deficientes vis ua is, a alt e rn ati va ma is vá lid a é conseguir outro s q ue
neurô nios q ue deveriam ser seus a lvos de aç ão; é como q ue re r co ma nd a r um le iam para e les. Isso fazia Borges , como an tes del e H o mero c M ilton, três escrito -
ataque q ua nd o já não há m a is soldado s d e infa nta ria. re s ge nia is, mas ce gos, que se "aliment ava m" do q ue liam pa ra el es se us se res
As e speranças radica m na pr e venção . A memória é um a Iunçâo fo rte me n te que ridos. Ce gos s ão o u foram ta mbé m R ay Charlcs, J o aquín Rod rigo , Ste vic
es tim ulada pe lo uso . co mo fo i come ntad o no Ca pítu lo 2. A a tivid ad e q ue mai s Wo nde r o u Andre a Bocce lli, que nos d ão sua música . Nenh um de les padeceu
estimula a memória é a le itura : e la requer o e mprego simultâ neo e e m rápid a de demência .
scq uê ncia de memórias visua is e de linguage ns, e stim ula parale lame nte as memó-
rias visua is (q ua nd o pensamos numa árvo re, "ve mos " uma árvo re), es tim ula as
vias do s sen time n tos e emoçõe s (nüo ex iste m, no human o . as memórias "a-e mo-
cio na is" : e m tod o momento de no ssa vida es ta mo s so b a influê ncia de a lguma
emoção , gra nde ou peq ue na, e de a lgum estad o de â nimo . Tod a mem ória quando
se fa z ou se evoca e nvol ve e req ue r u a tivaç âo das vias rnoduladorns depe nde nte s
d as erno ç ócs c do s sentimento s (Ca p ítulo 7),
10

Temas variados

Tra tare mos aq ui de vário s assunto s importantes sobre Me mó ria que não co stu­
ma m se r re latados no s texto s so hre Me mória ne m nos de Med icina, Ne uro logia,
Psiq uiatria. Psicolo gia. Nc uroq uímica o u Nc u ro fisiologia.

Ilhas de memória
Nas d oe nças ce rebrai s orgâ nicas , co mo já foi mencionad o, no meio d e uma
d isfunção ge ne ra lizad a d a fo rmação e d a evo cação de me mó rias. é co mum
e nco n trar "ilhas" de mem ória exce le nte. No s pacie ntes com doe nça de A lzhe imc r
o u de Cr e utzfc ld -Ja ko b é co mum e nco n tr a r, perdido s no me io de uma co nversa
co m po uco sentido , trechos q ua se per fe itos em q ue o suje ito lembra com precisão
um co n hecime nto . uma image m. ou u m tr e cho de u m livro . f: co mu m ve r, e m
ho ns am bie n tes un iversitários, q ue os ex-col aborado res de det e rm inado profe s­
sor, q ue outrora se destacou por sua sabedoria e q ue agora pade ce de A lzhc imer,
vão visitá-lo para lhe d ar alento , e par a reco lher del e "p é ro las" intac tas de co nh e ­
cimen to s q ue se julgava m pe rd id as. E u
tive o cas ião de compa rtil har esse s mo ­
me nto s, e m visitas rea lizad as a professo­ Nos pacientes com doença de
res famosos e ago ra doe n tes , um na Ar ­ Alzheímer ou de Creutzfeld-Jakob
gent ina e o u tro no s Estado s U nid o s; ê comum encontrar. perdIdos no
este úlLimo, um Pre mio No be l de Física. meio de uma conversa com pouco
que q ua ndo rec ebeu a not ícia do prê­ sentido, trechos quase perfeitos
mio já estava co m A lzhc irnc r, e mal se em que o sujeito lembra com pre­
limit ou a so rr ir c dizer "how n ice " par a cisão um conhecimento, uma irna­
qu em lhe trouxe a notícia . De ambos os gem, ou um trecho de um livro .
mestres aprendi muito no curso de ssa s
122 I Iván Izquierdo Memória I 123

visitas. Par a começar. ambos se mo str a ra m mu ito fe lizes pe lo fat o de nos ve r de perde u-se nas hoje in úmer as o po r tunida des de d ist ra ção , quan do n ão e m es t ére is
novo, embo ra já não lembrassem bem quem é ra mos . " Vale mai s se ntir tu a mão tr ab alh os de doutrinamc n to ideológico , ainda abunda nte em m uito s países do
no o mbro d o q ue ess es reméd io s q ue me d ão q ue não serve m pa ra nad a e só mundo, inclusive ap ós a qued a do Muro d e Berlim. Cla ro q ue he m pior se ria m
causa m di arr éia", me d isse um de le s. O rem édio era tacrina; d uas se ma na s de- as co isas se hoje, neste mundo o nde os es tím ulos so bra m. o a pre nd izad o esco lar
pois o tr at amento fo i interro m pido , po rque a piora gra da tiva do q uad ro fe z co m ficasse re legado ao s tons es curos e o pacos de a n tiga me n te: ningué m a pre nde ria.
que o reméd io perde sse o efe ito. Ai nd a ass im, po r muito te m po de po is disso, as De qualquer maneir a, o uso de amb ien tes e nr iq uecido s e m hum a nos não
mãos no se u o mbro co n tinua ra m a ter se u va lor terap êut ico . a ume nto u "a ca pa cidade de memória" o u "a capacida de me nta l" d as cr ia nças
.lá vimos no Ca pítulo 7 o pape l do s afe tos e d as erno çôes na re gul a ção da s nem dos adu ltos : estima tivas do rend imento escolar indi cam que es te ficou es tá -
me mórias; todos sa bemos o u dev eríamos sa be r q ua l é se u papel na vid a co mo ve l, nas bo as esco las, ao longo do s último s 60 a nos. O nde essa técnica rev el ou
um to do . se u e no rme pod er, no entanto , foi no trat amento de cri anças o u ad ol escentes
co m graves lesões ce re bra is.
A estim ulação co nsta nte , paciente e aco m pa nhada de ca rinho tem consegui-
Estimulação ambiental do recuperar de forma not ável dé ficits gravíssimos. H á casos de cria nças com
I:dwa rd Bcnne tl c se us co labo ra do res e m Be rke ley, na década de 1960, intro d uzi- graves lesões ce re bra is pe rinat ais o u ad q uiri das no s primei ro s a nos de vid a que,
ra m a técni ca de subme te r a n ima is d e lab or at ó rio a a mb ien tes "e nr iq ueci dos", tr at ad as co m mét od os de a mbie nte e nr iq uecido e e stimulação se nsoria l repetida
che io s de o bje to s com os qua is p udesse m br inca r, pra ticar exe rcícios, efet ua r e fe ita co m afe to, ch egam a ter um de se m penho escola r igu al o u superio r it
ex plo ra ções . A fa mo sa ro d a gira tó ria dos ha rnstc rs de estima ção te ve su a o rige m média . E m m uitos casos, oco rre uma regre ssão comp le ta o u quase co m p le ta
ne ssa técni ca . De sd e o início , o gr u po de Ben ne tt e, ma is ta rde , o utro s (ve r do s quad ro s patológico s, por re generação sin áptica profusa e ge ne ral izad a . A
Grcc nough, 1( 85) e nco n tra ra m vá rios elei tos o rgân icos desse s tra ta me nt os : des- regene ração a bra nge a " us ur pação " de funçõ es do he misfé rio lesad o , pe lo he mis-
de o a ume nto do núme ro de sina pscs no c órtex ce re bra l e no hipo ca rnpo . a té fé rio sa dio, at ravés de novas co nexões su bco rtica is. E fe itos m uito se me lha n te s
um a u me n to re a l do núme ro de cé lulas nervosas no gyrus dentatus de ca m un- fo ra m o btidos e m a n imais expe rime nta is por Ca rlo s Alexa nd re Nel10 e se us
do ngos e stim ulados d u ra nte os primei ro s 25 di as de vida; d esd e a umento do co labo ra do res, e m Po rt o Alegre (procurar p ublicações so bre es te tema na int er-
pe so d o córtex ce re br a l, até a umen to do consumo de glico se por esse tec ido . net a trav é s do E n tre zP ubme d o u o u tros ace sso s ao Medlinc ),
Um livro re cen te de Eric I ense n advoga pela a plicuç âo de e st ím ulo s semel ha nte s E m todo s esses ca sos, a ún ica exp lica ção possível para as melh o ra s é uma
ao s h uman o s. pa ra exerci tar o cérebro (Jc nse n, 2003). es tim ulação do crescimento e da ra mificação de ax ônios e dc ndrito s, e a formação
E sse s tra ba lho s pa rt ira m do princí pio ge ra lme n te ace ito de q ue um me io de novas sinapses, substituindo as desa-
che io de e stím ulo s q ue exige m at e nção e respostas ajud a no dese nvo lvime nto par e cid as; ai nda que estas te nha m sido
da capacid ade me nta l. O mé to do se aplica cot idia na me n te e m cre che s, jardins do lad o o po sto (co ntralatcrais), A ime n-
Há casos de crianças com graves
de infância . esco las primá rias e sec und á r ias d e todo o mu ndo. N a décad a de sa maioria do s ne u rô n io s é inca paz de
lesoes cerebrais pennalais ou ad-
1960, e m bo a part e devido ao s tra ba lho s de Be nne lt e se u grupo , " a par ece ram reprodu ção, à exceçã o de alg um as cé lu-
qumdas nos primeiros anos de
as co res" e o "design " nas sa las ele a ula co mo adjunto ed uca t ivo imp o r ta nte . las do gyrus dentatus e drl ce rebe lo . Nos
vida que chegam a ler um dssern -
Apre nd e- se melhor a tab uad a po r me io de fich as ou de se nhos co loridos do q ue primat as, a reprodução neuronal (n c u-
penno escolar igualou supenor â
no q uad ro negro (q ue há algu mas década s passo u a ser ve rde ) e d e giz chamado rog ôncsc ) é limitad a e ocorre basica -
média .
bra nco . que na ve rd ade era cinz a (c fo i substit uído po r " pincé is a tô m ico s" ). E me nt e nos prime iro s anos de vida. Pod e
ce rta me nte mai s agrad ável a pre nde r numa sa la deco rad a co m core s vivas de se r estimulada pel a ocorrência de pe-
que nu m a mbie nte cinze nto e seve ro. que nas lesõe s em ne ur ô n io s vizinhos.
A pr e nde -se mel hor e co m mais agrado. mas não necessariame nte ma is: o N unca é suficie nte e m núme ro nem e m velocida de co mo pa ra da r conta d a form a-
re nd ime n to e sco la r na e scol a primá ria de 20 10. na ma ioria do s pa íses. nã o é çâo de me mó rias o u da rc cu pc ruçâo de lc s ôc s, E m roedores pod e ser esti mula d a
mu ito mai or dn q ue . diga mo s. e m 193:' ; o que se ga nho u em al egria e mo tivação pe lo exercício .
124 I Iván Izquierdo Memória I 125

Assi m, tod a a vid a dos seres hum anos se de senvolve fo ra d a lingua ge m.


As memórias infantis que aparentemente num m undo pr é-Iinguístico, a té o s 3 a nos, aproximad a me nte . As me mórias fe itas
se perdem a n te s di sso são co mo as d os ani ma is: uma á rvo re é "essa" árvo re c não te m
f: prováve l que os prime iros tipos de memória que a parece m durante o dese nvol- no me , assim como não o tem pa ra um ga to o u um ca mu nd o ng o : não há símbolos
vime n to, ta nto huma no como a n ima l, sejam a me mó ria de trabalho e a memória que possam d is tingu i-la de o ut ras á rvo re s. Não é possíve l e ntende r esse id io ma
de cur ta dur ação . D e fat o, n ão há evidê ncias de q ue as cr ianças de po ucos dias pa ra q ue m po ssui o ut ro , as sim co mo não é pos sível ente nder o chinês para a lgu é m
de id ade po ssam forma r o utro tipo de memória. Cho ra m quando se us refl exo s ed ucado e m inglês , a me nos q ue po ssa a pre ndê -lo .
gástrico -cerebra is lhe s infor ma m que passar am 1-4 ho ras da últim a inge st ão de I~, assim, invi ávc l r tr nduzi r" essas memó rias infan tis e m termo s de linguage m.
leit e (me mória de cur ta du ração ); discriminam es tímulos sim ples, re agindo de e tra zê-Ias à to na . Falt am e le me n tos, e não há co mo e stabe lece r um el o e ntre ()
man e ira di fe re nc iada a u ma ca rícia e a um ruído o u uma dor (memó ria de tr a ba- qu e foi ca ptado e a rm aze nado e m termos de imagens c sensações c sua ex pre ss ão
lho ). Nad a ind ica q ue lembrem muitas co isas de um dia par a o utro ; passam a numa língu a qua lq ue r.
dife renciar as pe sso as só a partir de a lguma s se ma nas o u me se s de idad e. Co me- Por isso , as pesso as não co nsegue m evocar as me mórias da prim eira in fâ ncia.
çam a so rrir e m re sposta a co isas o u pe ssoas que lhes são agradáveis depois dos Alg uns poucos co nse gue m se lembr ar, de ma ne ira exprimível e m pa lavra s, e pisó-
2-3 meses de idade . dio s sim ples de q uando tinha m 2 an os. A mai o ria não co nsegue fa zê -lo com
Mas, se m dúvida , t ão logo co meça m a for ma r me mó rias de maior d uração , memó rias an te rior es aos 3 o u 4 a no s; e m muito s caso s, a té isso reque r um longo
os anim ais e as pe sso as pa ssa m a d esenvo lve r uma vida cognitiva de cre scente traba lho psico te ra p êu tico . As prime iras memórias fo ram adq uirida s nu ma ling ua-
comp lexidade e de m uito va lo r futuro . Isso aco ntece de forma clar a depois dos ge m diret a e n ão me tafó rica, a me sm a usad a pe los ani ma is, q ue Pavio v de no mi-
pr ime iros d ias de vida . Sah e r d ife re nciar a mãe da s de ma is pe ssoas é im po rta n te nou "0 pr ime iro siste ma de sinai s". As posteriore s aos 3-4 an os fo ra m ad quiridas
c marca pa ra tod a a vida . A p re nde r a di fe re ncia r o pai de o u tro s homens, co isa e insta n ta ne a me n te tr aduzid as ao "segundo sist e m a d e sinais": a lingu agem.
que ocorr e a lgun s d ias o u se ma nas ma is ta rde, é ta m bé m d a ma io r impo rt ância l~ ta lve z po ssíve l expl ica r isso atravé s de uma me táfora: é co mo se no s pr ime i-
para se u fu turo. ro s a nos de vid a nossa língua tivesse sido o ch inê s, de poi s tive sse havido uma
No s animais e no s se res huma nos de po uco s mese s o u anos, as pe rce p ções e tra nsição ao po rt uguês, e o a pre nd izad o de ste ú ltimo idioma no s t ive sse fei to
as me mórias não se traduze m e m me tá fo ras ve rba is; isto é. e m ling uage m. já esq uece r o anterio r. Torna-se impossíve l tr a nspor aq ue las coi sas q ue só apre nde-
que as pa lavras nã o s ão o utra co isa sen ão me táforas. A isso me refe ri em det alhe mos e m chi nê s p a ra um mu ndo que ignora to ta lme nt e es sa língua .
no livro Tempo e Tolerãncia (Porto A legre . Sulina/UF RGS. 1998). Qu a ndo uma H á hoje e m d ia um co nse nso sob re esse fa to de q ue o "div isor de á guas" d as
cria nça de um ano vê uma árvo re , vê o o bje to e m pa rt icula r e não o inte rp reta m a is a n tigas me mó rias infa nt is, as in tr ad uzíveis, é a aparição d a lingu age m na
e m te r mos do sign ifica do ge né rico da pa lavra á rvo re , po rq ue não a co nhece e vida das pessoas. É ó bvio q ue pa rt icipam ta m bé m o utros fa to res. co mo a matu-
não pode en te ndê -la. Le va, co mo sa be mos. um certo te mpo ensina r a uma cria nça ra ção ce re bra l, o ac úm ulo prévio de me -
peq uena q ue seu pa i e n ão qualq uer ser huma no masculino me rece se r ch amado mór ias, e tc. M as a lin ha d ivisó ria é cla -
" p a i" ; muito ma is tempo leva . e requer uma mai o r matura ção ce re bra l, lhe ex pli- ra me nte a lingu age m .
car q ue "aq uilo" que te m tr onco c fo lha s se de no mina "á rvo re". I~ bom lembrar, no e ntan to. que boa Hã hoje em dia um consenso so-
A s cri anças co meçam a e n te nder que as co nexões en tre p alavra s expressa m parte d aquelas me mó rias pr é-linguísti- bre esse fato de que o "divisor de
coi sas d ife re nte s do qu e ca da pa lavra por se parado d e po is dos 9- I Xme ses co rno ca s c hoje intraduzívc is são as ma is im- águas " das mais antigas memóri·
mínimo. O u so coerente e habit ual de frases apa rece só ma is tarde . Pode-se port ante s de nos sa vid a. Po ré m, não há as infantis. as intraduzíveis. ê a
co nside ra r a fase e ntre os IR e o s 36 me se s co mo mis ta ; para a lgu ma s co isas. a a me nor d úvid a d e q ue , e m bo ra co difi- epar íçéo da linguagem na vida das
cria nça us a co nhecime n tos di re tos, para ou tras começa a meta fo rizá-l o s usando cad as num a lingu agem ina cessíve l para pessoas.
a lingua gem. O uso co nt ínu o . na tur al, habitual e apropriado da linguage m ra ras o s ad ultos, as me mó rias im porta ntes da
veze s co meç a ante s do s 3 anos. pr ime ira infâ ncia fica m gra vad as pa ra
126 I Iván Izquierdo Memória I 127

sem pre e pc rrnc ia m de ma neira inconscien te a reco rdação o u a pe rcepção de aq uilo q ue e stá se ndo percebido . De lírio s asso lam o s pacientes esq uizofrênicos ,
muitas ou tras me mó rias po sterior es, d ado se u enorme valo r afe tivo. A origem cuja orige m e stá , co mo vimos no capít ulo a n te rior, em falh as gr ossei ra s do
de quase toda nossa vida afetiva es tá ne ssas me mó rias an tigas e inconscientes "gerenciad or de info rmaçõe s" do có rtex p ré-fro nta l (Egan e t al., 20( 1) c Suas
que ad quirimos q uando muito pe que no s. co nexões co m outra s ár e as do có r tex. Delírio s ocorre m ta mb ém no de lir ium.
H á demo nst ra ções de q ue o ch eiro dos seio s mat ernos é uma memóri a inco ns- sind rome muitas vezes de origem tóxica e m que a falh a pr edomina nte é na me mó-
cie n te-cha ve para to d a no ssa vida afe tiva po sterior. Fo i m uito a n te s de sa be r ria de cur ta dura ção. Ignora-se se essa falha tem re lação com a ge ração de mistu-
lingu a alguma que a pre nde mo s o que é a fome, o q ue se faz pa ra saciá-la, q ue m ras extravagan tes de memó rias.
é a mãe , quem é o pai , o q ue é a d or c co mo re sponder a ela, o q ue é o praze r A cria tividad e tem sido defin ida por Jaime Vaz Brasil como a co njun ção de
num se ntido gen é rico, quem sã o o s avó s, q ue m são os demais, q uem é de confia r duas ou ma is me mórias. Não se cri a a pa rtir do na da : cr ia-se a part ir do q ue se
e q uem nã o é , o que é a luz, o que e é um a nimal e o q ue o d iferencia d as sab e , e o que sabe mos e st á e m no ssas me mó rias. Não creio q ue exis ta alguma
pessoas, e tc. definição po ssíve l pa ra o a to criat ivo . Algu ma vez e scre vi que ele se assemelha a
Ali ás, te m -se e scrito basta nte sobre a arte de sa be r em quem se pode co nfiar tro peça r co m alguma co isa (no livro , já mencio nado , Tempo e l olerância) , e que
e e m quem não . A opinião mais generalizada é que isso é um aspecto d a co gnição be m-ave n tu rado s são aque les que se dão co n ta di sso e a pa rtir d aí c laborarn
em que as cria nças menores são mestre s, as cr ian ça s de 4 a 10 anos são ainda algo novo : um quad ro , um poema , u m co nto. u ma pa rtitura mu sical. Mas o s
bast ante bo as, os ado lesce n tes são pé ssimo s, os adu ltos também são pés simos c, co mp o ne n tes dessas obras co nstam do q ue está e m no ssas mem órias. Muitas
alé m d isso , exage rados; c os velho s ocasion alme nte recuperam a sabed or ia perdi- vezes se ac re sce n ta algo novo a e la s, como oc o rre no s de lírios. De fa to , no s
d a na infância. últ imo s 100 anos, o s prod u to s da criação hum a n a e m pint ura, escultura . música
e literatura tê m se assemelha do basta nte mais aos de lírio s q ue às muito m a is
fo rmais criações de é pocas a nte riores. Co mp aremos Mir ó com Vclasq uez, o u
Sonhos, delírios, criatividade
Schoe nbe rg co m Bce thove n, o u Fe rr e ira G ullar com Cesário Verde . Mas o certo
Há u m séc ulo , Fre ud es tud o u in te nsa me n te o po ssivel sign ificad o do s so n hos, c é q ue a "loucura" ine re n te à criação ar tíst ica se mpre existi u. Isso que muitos
popularizou ex traord inaria me nte e sse trab alho . deno mina m "loucu ra" nad a mai s é do que a a rte co mb ina tó ria levad a a novo s
Re cente me nte , muito s est udos tê m ve rificado que os son hos na da mais são, extre mos. O a rt ista faz algo novo , algo que se rá u ma co mposição de me mórias.
na ve rd ade , que mistur as de memó rias existe ntes no cérebro , de maneira alt a rnc n- mas q ue não é igua l à so m a de suas par tes.
te influe nciad a pe los aco nte cime n tos do dia ou d ias an te rio res e as pr evisõe s O certo é q ue es se mu ndo glo balizado e impessoa l de hoje . o nde têm ma is
par a o dia o u d ias segu intes. Não há ne n hum ind ício obje tivo que nos pe rmita pod e r dez o bscu ro s funcion á rios de uma e ntid ad e fin an ce ira com sede em No va
intuir que signifiquem alguma coisa alé m di sso ; só te mos as hipó te se s d e Fre ud . Yor k do que os mais de 200 re is o u preside nt es do p la ne ta , não co meço u o nte m .
O cé re bro pr oduz so n hos quan do no estágio mais pro fund o do so no, e a lógica Mctternich , Fe lipe J I. A lexa nd re, o G rande , c seus estados de â nimo mandava m
que e n tão u tiliza ce rt amen te não é a m a is aq ue la q ue utili za na vigília . Co bra m ais e m suas époc as do q ue a so ma total de seus s úd ito s. a ime nsa ma io ria d o s
mais at ua lidade do q ue nunca , e ntã o, e seria muito in te ressa nt e re -est ud ar e quais não os co nheciam seq ue r pc lo no me . Sempre ho uve, nos criadores, a neces-
a mp liar, co m as técnicas neuro psicológica s e neurofis iológi cas hoj e d ispo n íve is, sida de visce ral de co mba te r a massificação, de épaterle bourgeois (assustar o
aquele s ac ha dos se minais do fu nd ador d a Psicanálise. Nã o é impo ssível que , burguê s). p ara ve r se de sse choque resultava alguma coisa me lho r. Foram épa -
ass im co mo oc orreu com os postulad o s de Sa ntiag o R amón Y Ca jal no final d o tatues as sinfo nia s do "Pa pa i" l Iayd n, co m se us súbitos ura qucs de percussã o, o u
séc ulo XIX so bre a índole mor fológica d as memó rias, o u os de Ivan Pet rovich as sinfo n ias e os últimos q ua r te to s de Bc c thovcn, co m suas formas ca mbia nte s e
Pavlov, nos anos d e ] 920, sobre o s re flexo s co nd icionados e sobre a extin ção. os su as ocasio nais d isso n âncias; m uito mais do que isso a so ciedade forma l de sua
d ad o s mais mod ernos ve nha m a referendar as inte rpret açõe s do s so nhos feita s é poca nã o lhes permi tia . Fo i ép atante e já a luci na tó ria II ópera, em que ca ntam
por Freud , pelo me no s e m mu itos asp ect o s. gue rr e iros, moribundo s, ama n tes, ra inh as d a noit e , reis e duendes. princesas e
O s delírios são pa recidos ao s so nho s e m su a estrutur a : são misturas ap ar e nte - fad as e m ce ná rios es tra nhos, fe itos de faze nd a e pa pe lão . Nisso, foram precurso-
me n te extravagan tes de memó rias . No cas o do s del írio s, so ma-se às memó rias ras dos muito ma is a lucina tó rios mu sica is d e l lollywoo d, at é chegar !lUS paroxis-
128 I Ivá n Izqu ierdo

mos do s shows de rock de ho je , em que música, ce nografi as, efe itos c:-.pcciais e
luzes se une m num todo já co mple ta me nte de lira nte , muitas vezes incre ml:ntduo
po r d ro gas . Geralmente o arti sta é um se r qu e se irrita co m a uniformiJ auc e a Referên cias
ma ssificaçã o cult ural o u e sté tica d a soc ied ade q ue o ro de ia . M istura suas memó.
ria s e cria sua s obras para se refugiar o u para se af astar de uma rea lida de co m a
qu al não cornpactuu.
No fun do , pe nsa ndo be m, l) home m comum do início do sé culo XXI. rico
o u pobre , muit as veze s de ambulando solit ário e pre ocupa do pe las ru as, n áo taz
nad a m uito di fe re n te. Sem suas me mó rias. não se ria ningué m; e se m ch amú-Ias.
evocá-Ias e rnisturá -lns o u falsific á-las, não po de ria viver.
Talvez no início do século XXI tod o s sejamo s um po uco art istas porque
pr ecisamos di sso pa ra viver.

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