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Objetivos
•• Conhecer e compreender a proposta do ensino da Filosofia para o Ensino Médio, tendo
como eixo a seguinte discussão: tomar como ponto de partida os temas filosóficos ou
a história da filosofia?
Conteúdos programáticos
•• Ponto de partida: temas ou história?
Como estratégia para o estudo desta unidade, preste atenção nas concepções de ensino de cada
autor trabalhado na unidade, tente perceber sua aproximações e distanciamentos teóricos. Em
função da atividade que você irá realizar, fique atento às etapas propostas por Sílvio Gallo, pois, da
compreensão dessa proposta, dependerá o sucesso da realização de sua avaliação final.
UNIDADE 4
Especialização em Filosofia e Ensino de Filosofia.
ATENÇÃO!
Ao iniciar seus estudos, lembre-
se de que a autodisciplina 1 INTRODUÇÃO
poderá auxiliá-lo a monitorar
seus pensamentos, imaginação,
emoções e impulsos, Nas unidades anteriores, nosso estudo esteve voltado ao ensino de Filosofia para o Ensino
canalizando-os para a Fundamental.
aprendizagem dos conteúdos
aqui tratados. Pense nisso...
Na Unidade 4, última unidade da disciplina Metodologia do Ensino e da Pesquisa em
Filosofia I, vamos estudar alguns conceitos relacionados ao ensino de Filosofia para o Ensino Médio.
Uma questão polêmica que se tornou presente na prática de ensino da Filosofia voltada
para o Ensino Médio é:
•• Qual a abordagem da Filosofia utilizada para tal finalidade: a História da Filosofia ou Temas
Filosóficos?
Percebemos que tanto para os autores que têm publicado manuais para tal finalidade, como
para os professores que atuam diretamente na sala de aula, não há um consenso em relação ao dilema.
Há os que partem da História da Filosofia e os que partem de Temas Filosóficos.
Uma das saídas para definirmos uma tomada de posição frente a tal polêmica seria a consulta
aos Parâmetros Curriculares Nacionais, voltado para o Ensino Médio (PCNEM), na parte que trata dos
conhecimentos de Filosofia. O referido documento retoma o Artigo 36, Parágrafo 1°, Inciso III da LDB,
em que se destaca “o domínio dos conhecimentos de Filosofia e de Sociologia necessários ao exercício
da cidadania” (PCNEM, 1999, p. 328). Tomando como ponto de partida, o referido artigo evidencia
três questões fundamentais para se atingir tais objetivos: “a) que conhecimentos são necessários? b)
que Filosofia? E c) de que aspectos deve-se recobrira concepção de cidadania assumida como norte
educativo?” (PCNEM, 1999, p. 329).
Focando no assunto que estamos tratando, quero me ater apenas ao item b: que Filosofia?
O documento em questão, à p. 330, questiona se existe uma Filosofia ou filosofias e opta pela segunda
resposta. Assim, “a reposta que cada professor de Filosofia do Ensino Médio dá à pergunta (b) ‘que
filosofia?’ decorre, naturalmente, da opção por um modo determinado de filosofar que ele considera
justificado. [...] varia de acordo com o grau de formação cultural de cada um” (PCNEM, 1999, p. 331).
A meu ver, essa afirmação é uma “faca de dois gumes” pois, ao não oferecer um critério
mínimo, ao mesmo tempo em que deixa ao professor uma margem de liberdade na elaboração dos
seus planos de ensino, também deixa uma brecha, ou seja, que qualquer coisa que se ensinou na aula
de Filosofia seja filosofia. E mais, partindo desse pressuposto, a falta de especificidade permite afirmar,
ainda, que qualquer um possa ensinar filosofia, independentemente da sua formação.
Proposta Curricular tem como princípios centrais: a escola que aprende, o currículo
como espaço de cultura, as competências como eixo de aprendizagem, a prioridade da
competência da leitura e de escrita, a articulação das competências para aprender e a
contextualização no mundo do trabalho (PROPOSTA CURRICULAR DO ESTADO DE SÃO
PAULO, 2008, p. 11).
Tais competências “caracterizam modos de ser, raciocinar e interagir que podem ser
depreendidos das ações e das tomadas de decisão em contextos de problemas, tarefas ou atividades”
(PROPOSTA CURRICULAR DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2008, p. 14). Dessa forma, a educação escolar muda
o foco do ensino para a aprendizagem porque:
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É comum que o professor, quando formula o seu plano de trabalho, indique o que o vai
ensinar e não o que o aluno vai aprender. E é compreensível nesse caso que, ao final do
ano, tendo cumprido seu plano, ele afirme diante do fracasso do aluno, que fez a sua parte,
ensinando, e que foi o aluno que não aprendeu (PROPOSTA CURRICULAR DO ESTADO DE
SÃO PAULO, 2008, p. 14).
Trata-se mais de uma questão retórica do que prática, considerando-se que é difícil conceber
o ensino desassociado da aprendizagem, tema sobre o qual já falamos na Unidade 1 desta disciplina, ao
defendermos o conceito de aprendência. Dessa forma, a citação anterior tem como objetivo levar ao
conhecimento do leitor o conteúdo da referida Proposta. Vamos nos ater nas competências, conforme
demonstra a tabela a seguir:
[...] não irá muito longe o professor que encerrar um pensador numa espécie de caixa preta,
tentando isolar seu pensamento, imaginando que a arquitetura do texto, por si só, poderá
levar a qualquer forma de compreensão ou reflexão. [...] a Filosofia pode assumir uma de
suas principais funções, a de ser uma ferramenta conceitual, produtora de síntese, com o
que animaria o debate multidisciplinar, elevando os padrões de Ensino Médio. [...] Essas
considerações não devem ser entendidas como a avaliação depreciativa da História da
Filosofia, pois ela foi, é e será sempre fundamental para o estuda da Filosofia. [...] a História
da Filosofia não deve constituir a principal orientação para o ensino da disciplina na escola
pública, pois é com o olhar voltado para o mundo que se aprende a pensar filosóficamente
(PROPOSTA CURRICULAR DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2008, p. 42-43).
Aqui já aparece evidenciar-se uma orientação para o ensino de Filosofia focada em temas
cotidianos e não na História da Filosofia, o que discutiremos mais especificamente nos tópicos adiante.
1ª série
1° bimestre 2° bimestre
a) A Filosofia e outras áreas de conhecimento:
a) Por que estudar Filosofia?
mito, senso comum, ideologia, religião, arte,
b) Áreas da Filosofia.
ciência.
3° bimestre 4° bimestre
a) Introdução à Política. a) Democracia e cidadania: origens, conceitos e
b) Teorias do estado – socialismo, anarquismo, dilemas.
liberalismo, totalitarismos. b) Ideologia.
2ª série
1° bimestre 2° bimestre
a) Introdução à Ética. a) Formas contemporâneas de alienação moral:
b) Autonomia e liberdade. individualismo e condutas massificadas.
3° bimestre 4° bimestre
a) Desafios éticos contemporâneos: a ciência e a
a) Relações entre moral e política.
condição humana.
b) Limites entre o público e o privado.
b) Introdução à Bioética.
Fonte: SÃO PAULO. Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Proposta Curricular do estado de São Paulo: Filosofia. Coordenação
Maria Inês Fini. São Paulo: SEE, 2008.
Esta é uma questão que está presente, também, nos manuais de diferentes autores que
têm produzido materiais didáticos para essa finalidade. Há aqueles que optam pela abordagem de
temas e outros pela história da filosofia. Mas não vamos nos aprofundar neste debate, ao menos neste
momento. O que nos interessa é buscar, por meio do diálogo com pesquisadores que se debruçam
sobre o problema, um eixo norteador para a nossa prática e, quem sabe, para a nossa pesquisa neste
campo de estudos.
Para fundamentar essa discussão, iremos utilizar o debate proposto por Alessandro Cerletti,
ATENÇÃO! professor das Universidades de Buenos Aires e Nacional de General Sarmiento; Celso Favaretto, professor da
Para aprofundar seus
conhecimentos sobre as Universidade de São Paulo; e Danilo Marcondes, Professor do Departamento de Filosofia da PUC-Rio.
idéias de Cerletti e Marcondes
consulte: a) CERLETTI, A. A. Ensinar filosofia: da pergunta filosófica à proposta metodológica. In:
KOHAN, W. O. (org.). Filosofia: caminhos para seu ensino. Rio de Janeiro: DP&A, 2004.
b) MARCONDES, D. É possível ensinar filosofia? E, se possível, como? In: KOHAN, Walter O.
(org.). Filosofia: caminhos para seu ensino. Rio de Janeiro: DP&A, 2004.
Marcondes (2004), ao tentar buscar uma resposta para a sua pergunta sobre a possibilidade
ou não de se ensinar filosofia, parte de duas abordagens para o ensino da filosofia:
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a) a primeira, vê a “filosofia como busca e não como saber pronto e acabado”, e como
conseqüência de tal visão, “não podemos ensinar a filosofia, já que não se trata de
algo pronto ou acabado, de um conteúdo informativo, que pode ser transmitido e
reproduzido” (p. 55-56);
b) a segunda, concebe a filosofia a partir de um “caráter mais histórico em que a filosofia
consiste na tradição filosófica, sendo que é esta tradição que de ser ensinada” (p. 56-57).
Temos, portanto, duas vertentes, que, a princípio, parecem contraditórias, pois ao conceber
uma prática de ensino de Filosofia, a primeira coloca o foco no processo muito mais que no conteúdo,
enquanto a segunda faz o inverso, preocupando-se, centralmente, com o conteúdo a ser transmitido.
Optar por uma das vertentes implica em diferentes escolhas na orientação de sua prática docente, se
optarmos pela primeira vertente tendemos a tratar o ensino da Filosofia como o debate de temas, mas,
se optarmos pela segunda, nos remeteremos à transmissão de um conteúdo filosófico pelo viés da
História da Filosofia.
Como afirmação do parágrafo anterior, tais vertentes parecem contraditórias, mas, como
afirma Marcondes (2004), “[...] essas duas concepções, a filosofia como busca ou como estudo da
tradição filosófica, não necessariamente se excluem, mas podem trazer elementos valiosos para o
ensino da filosofia” (p. 59). A história da filosofia, deve ser abordada de forma crítica, e não como uma
visita ao museu, como afirma Gallo (2007b), de modo a despertar os estudantes para a atualidade dos
problemas teorizados pelos filósofos que buscaram uma resposta para o seu contexto histórico e para a
necessidade de que busquemos as nossas respostas para o nosso contexto. Dessa forma:
A história da filosofia deve ser vista assim como história não da tradição em seu sentido
doutrinário, ou como história dos grandes sistemas, mas sim como contendo a contribuição
dos grandes filósofos ao introduzirem questões que até hoje nos motivam a pensar, e
como indicando os vários modos como essas questões foram tratadas (MARCONDES, 2004,
p. 60).
Assim, aqueles que optam pelo debate de temas em sua prática filosófica não devem se
descuidar da visita aos textos filosóficos sob o risco de caírem em um vazio de idéias pela falta de
referências que fundamentem a suposta discussão, caindo em mero “achismo”, dando a falsa impressão
de que fazer filosofia seja uma atitude espontaneísta, ou, ainda, de que qualquer discussão seja por si
mesma uma discussão filosófica.
Uma maneira de garantir o status de debate filosófico é utilizar-se do recorte filosófico para
tratar o tema em questão, ou seja, sem se preocupar com a linearidade histórica, porém, dialogando
com diferentes filósofos, em diferentes momentos, para entender sua posição frente ao tema que
estamos tratando na atualidade, de modo que também nós formulemos as nossas respostas, mesmo
que transitórias, aliás, aí está garantido o objetivo da proposta, possibilitar que o estudante perceba
o processo do filosofar como algo encarnado na história, como fruto de diferentes percepções da
realidade e, como conseqüência, o seu resultado como verdades parciais e inacabadas.
Conforme afirma Marcondes (2004), quando se trata de ensinar Filosofia no Ensino Médio:
[...] mesmo nos níveis mais introdutórios, a leitura dos textos é indispensável, e parte do
que ensinamos consiste exatamente em uma forma específica de ler, que reconstróis o
argumento, que interroga o texto, que identifica suas questões básicas, que revela como
tece seus argumentos, que avalia sua capacidade de nos convencer ou não (p. 66).
ATENÇÃO!
Ainda nos reportando a Marcondes (2004), independentemente de qual vertente nos Dúvidas? Comentários?
afiliemos, um coisa há que se preservar para garantir a característica do filosofar: o debate, a discussão, Sugestões? Entre em contato
com seus colegas de curso e
a polêmica e a argumentação. com seu tutor pela Sala de Aula
Virtual. Estamos preparados
para oferecer o suporte
Cerletti (2004) segue nessa linha de argumentação ao questionar como deve se dar o ensino necessário para o sucesso de
da Filosofia no Ensino Médio, via produção ou reprodução, ou, ainda, ensinar a filosofar ou transmitir sua aprendizagem.
um conteúdo filosófico? De acordo com o referido autor, por meio de uma vertente tradicional parte-
se do suposto que “a filosofia, definível como um conjunto de conhecimentos, que é passível de ser
transmitido” (p. 25), cabendo ao professor a sua mera transmissão, sob esta ótica qualquer um estaria
habilitado a ensinar a Filosofia, bastando reproduzir um saber pronto e acabado e presentes manuais
produzidos para este fim.
[...] estimular a levar adiante este desafio, Filosofar, então, é atrever-se a pensar por si
mesmo, e faze-lo requer uma decisão. Há que se atrever a pensar, porque isso supõe uma
maneira nova de se relacionar com o mundo e com os conhecimentos, e não meramente
reproduzi-los (CERLETTI, 2004, p. 30).
Há, portanto, para o autor, uma diferença entre a aula de Filosofia e a aula filosófica, na
primeira prevalece a reprodução e na segunda a produção, isso implica “que a aula não seja um lugar
onde o professor ofereça respostas a perguntas que seus alunos não tenham formulado” (CERLETTI,
2004, p. 31), considerando que todo conteúdo seja um pretexto para a produção filosófica, de modo que
tal conteúdo estará atrelado a prática de ensino.
Essa prática filosófica poderia ir de encontro ao que Favaretto (2004) denomina de ideal de
emancipação “cujo objetivo primordial é o de levar o educando à maturidade, à conquista da autonomia
de pensamento existencial [...]” (p. 43). O referido autor chama de elaboração e intervenção na realidade,
ou descoberta do funcionamento e do sentido das configurações “[...] (teorias, ideologias e mitologias,
religiosas, científicas, tecnológicas, artísticas); significa interrogar, formular questões e objeções”
(CERLETTI, 2004, p. 46, grifo nosso).
Dessa forma, ainda para Cerletti (2004), o ensino da Filosofia no Ensino Médio não deve
promover um saber acabado a ser transmitido, mas supões a condição de leitura, análise e produção
de modo a promover o “desenvolvimento do pensamento crítico por meio da vinculação entre os
conhecimentos filosóficos, a cultura e a vivência” (p. 49). Escapando, assim, das discussões genéricas e da
mera reprodução estéril.
Que existe duas vertentes orientando a prática de ensino de Filosofia no Ensino Médio, e
que elas orientam, também, a produção dos manuais para tal finalidade. Em um primeiro momento, tais
vertentes podem se parecer excludentes, mas, ao analisá-las mais cuidadosamente, podemos perceber
que elas são componíveis, uma “enfatiza a constituição histórica do pensamento, mostrando como os
problemas filosóficos vão se formulando nos filósofos, nos textos” [...] a outra “enfatiza os procedimentos
de pensamento que se encontram nos textos filosóficos, e também em outros, e que são essenciais para
o exercício da reflexão” (MARCONDES, 2004, p. 53).
A questão não está na escolha de uma delas, mas na postura do professor, que, ao escolher
uma das vertentes, deverá garantir o diálogo com a situação existencial do aluno, de modo que garanta
o seu diálogo, de forma crítica e esclarecida, com a realidade na qual está inserido. Não queremos afirmar
com isso que tal prática seja fácil, pois estamos diante de sujeitos, não existem receitas prontas, pois cada
realidade carrega em si a sua especificidade, porém se quisermos garantir o processo filosófico na sala
de aula, temos que nos debruçar sobre esta problemática e identificar as nossas posições e escolhas.
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Inicialmente, tal abordagem não cabe sequer numa prática de ensino voltada para o Ensino
superior que optou por uma formação específica em Filosofia, quanto mais para o Ensino Médio, quando
temos como platéia adolescentes e jovens que não escolheram tal disciplina para ser estudada. Que
sentido tem falar de tais filósofos, por meio de uma abordagem linear, expondo as suas teorias, muitas
vezes, de uma maneira totalmente descontextualizada da realidade histórica, econômica, política e
social vivenciada pelos alunos? Vamos confessar: que chatice!
PARA VOCÊ REFLETIR:
Não bastasse isso, tais filósofos são colocados em “pedestais”, como se fossem deuses, ou Como pensar estratégias
gênios inalcansáveis a nós, pobres mortais. Pensando nisso, temos a tarefa e o desafio de tornar a filosofia de sedução, a fim de atrair
o interesse dos nossos
algo agradável de ser estudado, sem ignorar a sua complexidade e as suas terminologias específicas, alunos para a problemática
porém, criando condições de sedução do nosso público. levantada por Descartes?
Porque não partimos de
uma contextualização de
Imaginemos uma aula sobre o Discurso do Método de Descartes, estruturado em torno de sua realidade existencial
uma leitura mecanicista, com a finalidade de entender os princípios do método cartesiano. Vejam bem, frente às transformações da
modernidade? A obra poderia
com isso não estou afirmando que não possamos trabalhar com tal obra. ser tratada como uma tentativa,
bem sucedida, de resposta a tal
realidade.
Dantas (2004), ao discutir o processo civilizatório enquanto baseado em relações de poder que
determinam a produção do conhecimento, de modo a organizar uma ordem social de dominação, afirma que: ATENÇÃO!
Refletir sobre os conteúdos
estudados é uma estratégia
Idéias e concepções de mundo não brotam da mente de sujeitos sem história e sem que pode contribuir para a
sociedade, dirigindo-se a um mundo de objetos sem história e sem contexto social ampliação de sua compreensão.
na forma abstrata e vazia de um metadiscurso pretensamente transcendental: em sua Tal procedimento possibilita
amadurecer nossas idéias e
origem concreta, elas nascem da história, lhe pertencem e sobre ela incidem à medida que
confrontá-las com a realidade.
necessariamente agem sobre as condições de compreensão, racionalização e comunicação
do real (p. 119).
De modo que toda teoria tem origem em uma dada realidade, são criações humanas, da
mesma forma que é inserida em uma determinada realidade, está impregnada de subjetividades
e, dessa forma, tais idéias revelam posições e interesses. Frente a isso, muito mais que reproduzir tais
idéias, seria mais produtivo para o professor, e interessante para o aluno, desenvolver a sua capacidade
de identificar os pressupostos subjacentes às teorias criadas e, portanto, produzidas por meio de que
intencionalidade?
Não se trata aqui apenas de reconhecer que os discursos acabem pelas mais diversas vias,
tornando-se meios de reprodução, legitimação e racionalização de uma ordem social
fundada em relações de poder e dominação; o que de fato é infinitamente mais difícil de
captar são do mecanismos pelos quais a dominação da linguagem, do sentido e do próprio
pensamento se inscreve em nossa própria fala, em nossa própria escuta, em nossa própria
comunicação (DANTAS, 2004, p. 124).
Vale ressaltar que isso não implica em um abandono das teorias filosóficas, muito pelo
contrário, ela se torna indispensável para atingirmos o nosso objetivo, afinal, é por meio dela que
dialogaremos com os filósofos, que tomaremos contato com os seus problemas, suas crises, suas soluções.
É por meio de tais teorias que dividiremos com tais pensadores os nossos problemas e nossas crises, e
por meio desse diálogo buscaremos as nossas soluções, construiremos nossas idéias, repensaremos a
nossa vida e a nossa realidade.
Não há modelos, “mesmo porque não existe o caminho, mas cominhos, uma pluralidade
deles e... desconhecidos” (GARCIA, 1999, p. 62). De modo que vamos aqui percorrer apenas um desses
caminhos que vem sendo apontados por alguns pesquisadores que se debruçam sobre a questão do
ensino de Filosofia para os alunos do Ensino Médio.
Partindo desse pressuposto, e para atingir tal finalidade, o professor e pesquisador, Gallo,
não ignora as dificuldades encontradas pelo professor da escola pública, porém, defende que tais
dificuldades não devem ser usadas como desculpas para a atividade não produtiva no ensino da
Filosofia. Tomando como ponto de partida a frase do filósofo contemporâneo, Sthepahne Douailler, o
“ensino da filosofia como um exercício de poder de começo”, propõe que o professor leve em conta isso
e que, por meio dos conceitos, os alunos façam da Filosofia uma experiência própria, com base no que
Gallo (2007a) denomina de quatro pontos fundamentais para planejar uma aula de Filosofia, ou seja:
a) a sensibilização;
b) a problematização;
c) a investigação;
d) a conceituação.
Além disso, também se pode partir de outros elementos artísticos como poemas, contos,
romances, músicas, e, eu acrescentaria notícias de jornais e revistas, por que não? Mas vale a mesma
regra aplicada aos filmes, elementos que sejam próximos do universo cultural de tais estudantes. Pois ,
para eles, como afirma Merleau Ponty, “a verdadeira filosofia é reaprender a ver o mundo”.
Outra etapa dos elementos didáticos apresentado por Gallo (2007a), conseqüência da
primeira, da sensibilização, é a problematização, ou o ponto de partida para a experiência filosófica.
Tal problematização pode se materializar na forma de uma interrogação ou pergunta que movimenta
a experiência filosófica e que nos remete ao pensar e nos direciona à última etapa, que é a formação do
conceito.
Vale lembrar que a problematização é uma das etapas mais importantes do processo,
porém, é preciso ter clareza que não é apenas discutir o problema pelo problema, mas trabalhá-lo
filosoficamente, considerando que tem que ser, antes de tudo, um problema para o aluno.
É importante notar que esta proposta não dispensa o contato com os textos e as produções
filosóficas, e, como afirmamos anteriormente, a visita à história da filosofia não se dá como quem vai a
um museu, mas é parte de um processo não linear de trabalhar com a história da filosofia, pois nada
impede que, dependendo do problema levantado e analisando um determinado conceito, ocorra um
salto da filosofia grega para a modernidade, e, ainda, que se retorne á Idade Média.
Vale lembrar que o que interessa não é a reprodução, mas o processo de apropriação de
conceitos como instrumentos ou ferramentas para pensar a realidade vivenciada pelo estudante. É o
ato de descobrir, na história da filosofia, tais conceitos e trazê-los para nossos dias, partir dos alunos e
aplicar os conceitos às suas experiências como forma de instrumento de pensar ou “equacionar” seus
problemas.
O que não podemos perder de vista é que toda filosofia nasce e se desenvolve dentro de
um determinado contexto de tempo e espaço. Não podemos ficar nos escondendo por detrás de um
pseudo-conceito de “filosofia pura”, que acaba ocultado a nossa falta de capacidade ou de disposição de
tratar o ensino da Filosofia como ação em movimento, de encontro a problemas reais, afinal não foi isso
que os filósofos fizeram ao longo da trajetória da história da filosofia?
Como queremos que nossos estudantes do Ensino Médio se sintam sensibilizados por
pensamentos que, para eles, parecem estéreis e totalmente alheios às suas vidas? Como podemos
exigir que nossos estudantes se interessem pela idéia de um determinado filósofo quando ignoram o
contexto em que ela foi produzida? Como nós nos portaríamos diante de situações semelhantes?
Está na hora de pensarmos o ensino dessa disciplina pelo viés dos estudantes do Ensino
Médio, isso, porém, não é desculpa nem sinônimo de vulgarização do conhecimento, pelo contrário,
talvez essa seja a saída para despertar o interesse desses estudantes pelo assunto, afinal, foi no momento
em que percebemos a relação da Filosofia com a nossa vida, percebendo que ela poderia nos oferecer
elementos conceituais para nos posicionarmos frente às situações existenciais que nos afligem, que
aprendemos a gostar de Filosofia.
6 CONSIDERAÇÕES
Chegamos na quinta e última unidade da disciplina Metodologia do Ensino e da Pesquisa em
Filosofia I, na qual abordamos a proposta de uma prática de ensino de Filosofia voltada para o Ensino
Fundamental I e II e discutimos, também, apoiados na idéias de diferentes teóricos, as concepções de
uma prática filosófica voltada para os estudantes do Ensino Médio.
Estudamos, de maneira especial, como essas práticas podem ser pensadas e propostas na
forma de projetos e fundamentados na pesquisa.
Esperamos que esta disciplina tenha correspondido às suas expectativas de reflexão acerca
dos conteúdos estudados.
7 AUTO-AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM
38 Chegamos, enfim, ao término da Unidade 4!
Neste momento, você poderá fazer uma auto-avaliação da sua aprendizagem, tanto em relação ao
que foi apresentado como proposta para o Ensino Fundamental quanto em relação ao Ensino Médio, sabemos,
no entanto, que as discussões de tais problemáticas não se encerram por aqui, cabe a você, por meio da pesquisa,
formular e dar continuidade aos questionamentos sobre os conteúdos estudados.
Aproveite esta oportunidade para verificar o que foi positivo neste estudo, as estratégias
de aprendizagem que podem ser utilizadas em outras disciplinas e o que pode ser melhorado para a
aplicação em novos contextos. Agora, é com você!
8 AVALIAÇÃO CONTINUADA
Levando em consideração a discussão levantada sobre o ensino da Filosofia “tendo como
ponto de partida: temas filosóficos ou a história da filosofia?”, defenda o seu ponto de vista, a respeito da
polêmica, fundamentado sua opinião nas idéias dos autores apresentados nesta unidade.
Vale lembrar que, para a realização desta interatividade, você poderá usar os autores
indicados ou outros de seu conhecimento. Lembre-se de que aqui não cabe “achismo” ou senso comum,
sua opinião, para ser aceita, deve ser teóricamente fundamentada.
Atividade
Agora, é o momento de você colocar em prática uma proposta para o ensino de Filosofia
voltada para o Ensino Médio. Use o seu conhecimento e a sua criatividade, pois, como disse Paulo Freire
(apud SASSONE 2004, p. 117), “Sei que as coisas podem inclusive piorar, mas também sei que é possível
intervir para melhorá-las” (2002, p. 52).
Elabore, com base na proposta apresentada nesta unidade, um plano de Filosofia para o Ensino
Médio. O critério para elaboração será a sua capacidade de apropriação dos conceitos apresentados
nesta unidade, considerando que, por meio de tais conceitos, você construirá uma proposta de ensino
de curto, médio ou longo prazo, voltado para estudantes do Ensino Médio, focada em situações da sala
de aula, ou nas grandes áreas de estudo da filosofia. O ponto de partida pode ser os Elementos Didáticos
apresentados por Gallo (2007a).
Plano de disciplina
a) INTRODUÇÃO
Fundamentação teórica do projeto.
b) JUSTIFICATIVA
Explique a relevância da sua proposta.
c) PÚBLICO ALVO
Para quem, quando, onde e duração.
d) OBJETIVO
O que você pretende com o seu projeto?
e) CONTEÚDO
Quais conteúdos (concretamente) você vai utilizar para atingir o seu objetivo?
f) METODOLOGIA
Como você pretende desenvolver o seu conteúdo para atingir o seu objetivo?
g) AVALIAÇÃO
Como você pretende avaliar o desenvolvimento do seu projeto?
h) BILBLIOGRAFIA
A que você utilizou para a fundamentação teórica e metodológica do Projeto. A que você vai
utilizar como conteúdo de seu Projeto
• Essa atividade vale 1,5 pontos em sua avaliação continuada e deverá ser entregue no
Portfólio.
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Você pôde, portanto, estudar, durante as quatro unidades, conceitos relacionados ao tema,
por meio do debate proposto por autores e pesquisadores renomados, e de diferentes instituições de
ensino que têm se debruçado sobre o assunto. No entanto, não fechamos a discussão, pelo contrário,
ela fica em aberta, aguardando a contribuição de outros interlocutores que venham enriquecer o
nosso debate, disso dependem o nosso crescimento, bem como a melhora da nossa prática enquanto
educadores, e quem ganha são as crianças, os adolescente e os jovens que experimentam do mergulho
na experiência do filosofar.
Carga horária
•• Uma hora e meia presencial – 8ª semana.
Atividade
•• Prova escrita conforme orientações descritas no Informativo.
Encontro Presencial