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2 SÃO PAULO FAZ ESCOLA – CADERNO DO PROFESSOR

FILOSOFIA
TEXTO INTRODUTÓRIO

Chegamos ao quarto bimestre e pode ter acontecido de, em algum momento, os estudan-
tes perguntarem sobre a sua posição, a sua opinião sobre a posição de um ou outro filósofo,
uma ou outra escola filosófica ou, ainda, qual filosofia você considera melhor ou verdadeira.
Em geral os professores de Filosofia tendem a evitar este momento de manifestar a sua
posição, por diferentes motivos, entre eles, o temor de que os estudantes considerem a prefe-
rência do (a) professor (a) determinante para menosprezar a posição contrária ou, ainda, que a
Filosofia seja vista como matéria de opinião em que cada escola filosófica vale pela maior ou
maior adesão do público em geral, o que desvalorizaria o pensamento filosófico na sua diversi-
dade. Esta atitude de muitos professores de Filoso fia tem relação com a formação acadêmica,
cujo rigor metodológico não nos deixa à vontade para uma manifestação pessoal acerca das
diferentes linhas de pensamento. Este rigor metodológico é importante para a formação acadê-
mica, entretanto, não pode ser reproduzido na educação básica, pois esta exige mais flexibilida-
de e abertura para o trato de temas e problemas a partir das leituras e análises filosóficas.
Ainda que a abordagem temática do Currículo de Filosofia possa facilitar a manifestação
das opiniões dos (as) docentes e tornar a Filosofia mais aberta e mais viva, o respeito à História
da Filosofia na abordagem temática e a consciência da especificidade de cada pensador, muitas
vezes, nos leva, ao tratar de ética ou estética, por exemplo, a falar sobre a perspectiva de Platão
ou Kant, mas uma vez chamados a nos manifestar, tendemos a nos calar e afirmar que ambas são
válidas (o que está correto), no entanto, nossos estudantes precisam de mais, talvez de uma de-
monstração viva de como diante de diferentes argumentos válidos podemos nos posicionar de
forma articulada, fundamentada e contextualizada e que, a partir da nossa experiência, pode-
mos nos alinhar melhor com uma linha filosófica do que com outra. Posicionar-se não pode sig-
nificar falta de rigor ou um golpe na pluralidade de ideias. Nos posicionar e argumentar trazen-
do para a cena uma ou outra tradição filosófica é uma forma de valorizar o percurso da formação
filosófica e, ao mesmo tempo, a nossa trajetória de vida.
Não devemos nos esquecer de que na educação básica a Filosofia não está sozinha, não
está protegida como na universidade, quando os pares se reconhecem e se empenham nas suas
leituras e pesquisas muitas vezes de forma solitária. Na educação básica, a Filosofia deve dialo-
gar com outros componentes curriculares e com outras áreas do conhecimento e o professor de
Filosofia pode, sempre que possível, manifestar suas preocupações, suas expectativas e suas
posições e, acima de tudo, mostrar que elas podem ser transitórias e que argumentos mais con-
sistentes podem trazer mudanças às nossas opiniões e crenças.
Os temas a serem tratados, neste 4º. bimestre, é um bom momento para exercitar a flexi-
bilidade da Filosofia na educação básica, seja pelos diferentes suportes de manifestação, seja ao
nos provocar acerca das nossas expectativas de felicidade. Estas situações são especiais para
trazermos nosso repertório filosófico-cultural articulado a nossas experiências.
Bom trabalho!
FILOSOFIA – ENSINO MÉDIO 3

HABILIDADES DO CURRÍCULO DO ESTADO DE SÃO PAULO E AS 10


COMPETÊNCIAS GERAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA NA BNCC

Este Guia tem o objetivo de favorecer o processo de transição para a nova regulamentação
acerca do desenvolvimento de habilidades fundamentais para o pleno desenvolvimento dos
estudantes. Como já foi informada, nos Guias anteriores, a perspectiva de educação integral é
reforçada pelo desenvolvimento de competências socioemocionais, que devem ser intencional-
mente incorporadas no cotidiano das aulas de Filosofia, no planejamento de atividades e orga-
nização dos trabalhos individuais e em grupo, entre outros momentos do processo de ensino/
aprendizagem. Ou seja, trata-se de rever as ações pedagógicas propostas de forma a promover
competências socioemocionais. A leitura compartilhada de um texto, o incentivo para a criação
de grupo de estudos e outras atividades que envolvam cooperação apresentam potencial para
desenvolver a empatia, o acolhimento e o respeito ao outro, por exemplo. Ainda, propor proje-
tos de pesquisa fundamentados em questões que são geradas por estudantes no cotidiano das
aulas de Filosofia, pode ser uma excelente oportunidade para investigação e resolução de pro-
blemas de forma colaborativa.
Neste quarto bimestre destacamos a competência nove (09). Exercitar a empatia, o diálo-
go, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito
ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indiví-
duos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem pre-
conceitos de qualquer natureza.
Os estudantes devem ser alertados sobre a importância do exercício do diálogo, da livre
manifestação de opiniões. A garantia da convivência de opiniões antagônicas no mesmo am-
biente de convivência é um fundamento da sociedade democrática.
Neste aprendizado contínuo que é a expressão de opiniões, inclusive, opiniões polêmicas,
deve-se cuidar para que as diferentes expressões de opiniões não discriminem, ofendam ou
fomentem preconceitos.
No contexto do ensino de Filosofia não podemos nos afastar das opiniões, pois estas
quando manifestadas podem ser debatidas, dialogadas e, por isso, podem ser melhor funda-
mentadas ou mudadas. Por isso, é importante que os estudantes sejam estimulados para mani-
festar as suas opiniões.
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ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS E RECURSOS DIDÁTICOS


Ressalvamos mais uma vez que este Guia está orientado pelas habilidades descritas no
Currículo do Estado de São Paulo de forma a contemplar as competências gerais da BNCC. Ou
seja, o desenvolvimento das habilidades e competências dirigiram as abordagens e todas as
sugestões apresentadas e pelo caráter geral das habilidades e competências, privilegiamos a
realização de leituras, pesquisas e registros.
Além dos livros didáticos, é importante fazer uso de outras referências para dinamizar as
aulas, por exemplo, filmes, fotografias, imagens, notícias, músicas, entre outros. Neste Guia e
nas atividades complementares indicadas para os estudantes há sugestões de diferentes re-
ferências que podem ser utilizadas, mas estas podem ser substituídas por outras de sua
preferência ou, ainda, indicadas pelos estudantes. Assim, antes de iniciar um tema, você deve
antecipar a temática a ser tratada, propor um exercício em que os estudantes busquem na me-
mória referências sobre o tema a ser trabalhado, uma música, um filme, uma história, um relato
capaz de articular a memória individual à memória coletiva, enfim, um exercício que pode fazer
parte da sensibilização sobre o tema. Estes podem ser tratados e ressignificados com outras
experiências, especialmente, as do professor.

COMO OS CONTEÚDOS ESTÃO ORGANIZADOS

Selecionamos, para o 4o. bimestre, alguns elementos fundamentais para refletir e organizar
as aulas, tendo como base o Currículo do Estado de São Paulo, mas lembramos que devemos
ter no horizonte o desenvolvimento das Competências Gerais da Educação Básica.

1ª série - A Filosofia Política neste bimestre trabalha a Democracia e a Cidadania, res-


gatando a origem, os conceitos e dilemas presentes em nossa sociedade. Aborda também
a questão da Desigualdade social e ideológica, desenvolvendo reflexões necessárias sobre
a realidade nacional. São desenvolvidas também reflexões sobre a Democracia e a justiça
social / Os direitos humanos / Participação política, em que é possível verificar, por meio
das notícias, fatos e acontecimentos, a partir de diferentes pontos de vista, os objetivos e os
efeitos de políticas públicas de caráter compensatório na vida dos cidadãos.

2ª série – Para realizar o trabalho com os temas Desafios éticos contemporâneos / A


Ciência e a condição humana, o ponto de partida se dá por meio do levantamento de infor-
mações sobre como os homens se relacionam com a ciência e com a natureza e como a ética
se dá nessa relação.
Ao tratar do tema Introdução à Bioética, é possível trazer para a discussão questões re-
lacionadas ao aborto, à eutanásia, ao genoma humano, sobre os transgênicos e até mesmo a
participação de animais em pesquisas. Todas estas questões podem ser encaradas de forma
diferente, a partir do olhar crítico e reflexivo sobre a ética e as suas relações com a vida.
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3ª série – Neste momento é possível realizar com os jovens estudantes as principais


características do discurso filosófico em comparação com o discurso da literatura. Ma-
chado de Assis, Hume, Maquiavel e Voltaire subsidiam estas análises e o desenvolvimento
das habilidades requeridas para este bimestre.
Para tratar dos valores contemporâneos que cercam o tema da felicidade e das di-
mensões pessoais e sociais da felicidade, utilizamos questionamentos sobre os quais são as
condições objetivas e condições subjetivas para a felicidade com o desenvolvimento da se-
quência didática, por meio de questionamentos, vídeos, músicas e sugestões de pesquisas.

Dessa forma, o desenvolvimento das habilidades a seguir exige o refinamento do olhar por
meio do exercício da leitura, da escrita e da prática dialógica. Vamos começar o trabalho em
cada série olhando para as habilidades do Currículo relativas ao 4º bimestre.

Nos quadros, que seguem, as habilidades destacadas em azul, distribuídas nas etapas da
sequência didática, devem fazer parte do planejamento, pois, de acordo com o Currículo, o
trabalho pedagógico precisa ser realizado tendo como base o desenvolvimento de
competências e habilidades. Ao observar a habilidade, sugerimos que, conforme orientação
da BNCC, p. 28-29), identifiquem o verbo (que indica o processo cognitivo a ser desenvolvido),
o complemento ao verbo (revelador do objeto de conhecimento mobilizador da habilidade)
e, por fim, a especificidade que pode indicar o contexto para o desenvolvimento da
habilidade.

Destacamos que as orientações a seguir têm o sentido de subsidiar o planejamento das


aulas, a partir das habilidades relacionadas e dos temas propostos no Currículo.
Lembramos que a sequência didática se apresenta para um olhar mais atento aos momen-
tos da aprendizagem que, no seu desenvolvimento não são estanques, mas articulados intrinse-
camente, de forma que a sensibilização também exige contextualização e, da mesma maneira,
a contextualização requer constante sensibilização e assim por diante.
Desse modo, os pontos que destacamos não precisam ser estritos. Não se trata, portanto,
de utilizar este guia como um manual de instruções, a ser seguido à risca. É fundamental, neste
sentido, ponderar e realizar articulações que são próprias do (a) professor (a), advindas da sua
experiência e em consonância com as necessidades de aprendizagem dos estudantes.
Destacamos que, além do presente Guia, serão disponibilizadas atividades complementa-
res para os estudantes. Procuramos articular algumas propostas do Guia com as atividades com-
plementares. Entretanto, tendo em vista que se trata de atividades complementares, estas não
têm a pretensão de esgotar as possibilidades de trabalho com os estudantes.
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FILOSOFIA
1a Série – Ensino Médio
QUADRO DAS HABILIDADES DO CURRÍCULO DO ESTADO DE SÃO PAULO E
COMPETÊNCIAS GERAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA
HABILIDADES DO
CURRÍCULO DO ESTADO COMPETÊNCIAS GERAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA
DE SÃO PAULO
Reconhecer a condição de 1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mun-
pobreza material como ques- do físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar
tão social importante. aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática
e inclusiva.
Analisar a questão da pobre- 2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências,
za no âmbito da reflexão so- incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criativida-
bre justiça social. de, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver proble-
Expressar escrita e oralmente mas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das
a relevância dos direitos hu- diferentes áreas.
manos. 3. Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às
mundiais, e também participar de práticas diversificadas da produção artístico-
Identificar diferentes concei- -cultural.
tos de democracia e sua rela- 4. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e
ção com a igualdade efetiva escrita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das lingua-
entre os cidadãos. gens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações,
experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos
Reconhecer e planejar práti- que levem ao entendimento mútuo.
cas de participação política
na relação com autoridades 5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação
locais. de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluin-
do as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir
Identificar e discutir fenôme- conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida
nos históricos, sociais, cultu- pessoal e coletiva.
rais e artísticos no exercício 6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhe-
de reflexão filosófica. cimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do
mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu
Sistematizar informações le- projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilida-
vantadas em pesquisa e de.
apresentadas pelo professor
7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular,
e pelos colegas.
negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e
Identificar, selecionar e pro- promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo res-
blematizar informações em ponsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em rela-
textos filosóficos. ção ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta.
8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreen-
Elaborar textos-síntese a par- dendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros,
tir dos conteúdos filosóficos com autocrítica e capacidade para lidar com elas.
estudados. 9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazen-
do-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com
Relacionar informações, re-
acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus
presentadas de diferentes
saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer
formas, e conhecimentos dis-
natureza.
poníveis em diferentes situa-
ções, para construir argu- 10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade,
mentação consistente. resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, de-
mocráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.
FILOSOFIA – ENSINO MÉDIO 7

TEMA: FILOSOFIA POLÍTICA - DEMOCRACIA E


CIDADANIA: ORIGENS, CONCEITOS E DILEMAS /
DESIGUALDADE SOCIAL E IDEOLÓGICA
Página 92 no Caderno do Aluno

Antes de terem sido inventados os sinais repre-


sentativos da riqueza, estas só podiam consistir
em terras e em animais, os únicos bens reais
que os homens poderiam possuir. Ora, quan-
do as herdades foram crescendo em número
e em extensão, a ponto de cobrirem o solo
inteiro e se tocarem todas, umas não puderam
mais crescer senão à custa de outras, e os ex-
tranumerários, que a fraqueza ou a indolência
tinham impedido de adquiri-las por sua vez,
tornados pobres sem ter perdido nada, porque,
tudo mudando em torno deles, só eles não
tinham mudado, foram obrigados a receber ou
https://pixabay.com/images/id-2473799/ a roubar a subsistência das mãos dos ricos; e,
daí, começaram a nascer, segundo os diversos
caracteres de uns e de outros, a dominação e a
servidão, ou a violência e as rapinas.

Discurso sobre a origem da


desigualdade entre os homens
J. J. Rousseu

SENSIBILIZAÇÃO
Para iniciar uma discussão sobre a filosofia política, em sintonia com o tema proposto pelo
currículo, sugerimos como sensibilização o uso de elementos da produção cultural como músi-
cas, imagens, poesias, entre outros ou mesmo uma pergunta que possa gerar pensamentos e
conversas sobre o tema. Há diferentes possibilidades de realização de tal atividade junto aos
estudantes. Destacamos que, neste primeiro momento, é importante a manifestação oral e/ou
por escrito sobre em quais momentos eles tiveram contato com os conceitos democracia, cida-
dania e desigualdade social.
Com a intenção de dar subsídios aos docentes, apontamos como possibilidades o uso da
poesia Intertexto1 de Bertold Brecht ou a música A cidade2 de Nação Zumbi ou a charge de
Duke publicada em 28/02/2019 no site O Tempo3.

1
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=8G7skLpIqMs Consulta em: 16/05/2019.
2
Fonte: https://www.letras.mus.br/nacao-zumbi/77652/ Consulta em: 16/05/2019.
3
Fonte: https://www.otempo.com.br/image/contentid/policy:1.2142279:1551305417/CHARGE%20
O%20TEMPO.JPG?f=3x2&w=940&$p$f$w=9a2eab8 Consulta em: 16/05/2019.
8 SÃO PAULO FAZ ESCOLA – CADERNO DO PROFESSOR

VOCÊ É DO TIPO QUE SE ENVOLVE COM AS QUESTÕES POLÍTICAS


OU VIRA A CARA E FICA SENTADO NA FRENTE DA TV?
DESIGUALDADE SOCIAL, ESTE PROBLEMA É MEU?

Estas perguntas podem provocar discussões sobre os fenômenos históricos, sociais e cul-
turais sobre a desigualdade social, suas origens e consequências, assim como remeter a refle-
xões filosóficas possíveis de serem desenvolvidas a partir do repertório dos estudantes.
Espera-se que os estudantes possam falar sobre o tema, remeter a experiências vividas ou
a acontecimentos que foram divulgados pela mídia. Ou seja, todos nós temos histórias para
contar sobre desigualdade social, ainda que se possa divergir sobre as motivações e as formas
de superá-las. Falar sobre desigualdade social nos leva a falar a respeito de naturalização que
nos mantêm insensíveis em relação a situações de privação, marginalização e sofrimento dos
outros. Neste contexto, os estudantes podem ser convidados para pensar as formas de olhar o
mundo contemporâneo, as desigualdades e falar sobre a desigualdade social e outros temas
que envolvem a ação política de diferentes formas. Uma possibilidade neste sentido é a criação
e o desenvolvimento de memes.
No Jornal da Unicamp foi noticiado que memes democratizam a política, trata-se do resul-
tado de uma pesquisa desenvolvida pelo publicitário Renato Georgette Frigo4.
Selecionamos alguns trechos da notícia para trazer subsídios, caso o docente decida traba-
lhar a construção de memes como momento de sensibilização. Neste caso, recomendamos que
os estudantes façam a leitura da reportagem completa, pois além do trazer considerações ini-
ciais sobre ciberdemocracia, os estudantes têm a oportunidade de conhecer um pouco mais do
amplo universo da pesquisa acadêmica.

“O pesquisador chegou à conclusão de que os internautas já sabem se expressar muito bem no am-
biente digital e assim conseguem influenciar as outras pessoas e as decisões políticas. Isso, por si só,
representa um grande passo na direção da ciberdemocracia, conceito criado pelo filósofo francês
Pierre Lévy”.
“A popularidade dos memes do facebook indica que a forma com que os indivíduos se relacionam
com a política nunca mais será a mesma”.
“Renato explica que o termo meme surgiu muito antes das redes sociais, na década de 1970, quando
o biólogo evolucionista Richard Dawkins lançou o livro “O Gene Egoísta”. Para Dawkins, o meme é,
para a memória, o que o gene é para a genética, ou seja, sua unidade fundamental. O meme seria a
unidade básica do conhecimento responsável pela evolução cultural, assim como os genes são res-
ponsáveis por propagar a hereditariedade”.

4
Fonte: Jornal da Unicamp. https://www.unicamp.br/unicamp/index.php/ju/noticias/2018/05/23/memes-de-
mocratizaram-politica-diz-pesquisador Consulta em: 16/05/2019.
FILOSOFIA – ENSINO MÉDIO 9

“Em outras palavras, os memes são ideias, conceitos ou valores transmitidos e perpetuados confor-
me a adesão das pessoas. Sem a repetição, o meme é extinto. Um exemplo de meme famoso, desta-
ca Renato, é a canção ‘Parabéns para você’. ‘Ninguém te ensinou e você aprendeu. A partir desse
momento, você repete a canção em todas as festas de aniversário. As novas gerações vão tendo
acesso a esse conteúdo e ele permanece”.
“O publicitário Renato Georgette Frigo, autor da dissertação: ‘Embora a grande maioria dos memes
políticos seja do tipo persuasivo, os memes engraçados são os que mais se propagaram’”.
Nesse prisma, toda transformação da sociedade é resultado de uma guerra entre os memes dominan-
tes e aqueles que tentam se estabelecer como novo padrão. ‘A internet é um rio gigantesco de me-
mes por causa da velocidade com que você consegue levar a informação adiante. Isso permite que a
cultura mude de maneira muito rápida. Na internet, o meme encontrou o ambiente ideal para crescer
e se transformar numa forma de expressão social. Cada vez mais vemos uma autonomia das pessoas
em relação ao tipo de conteúdo que elas querem propagar e criar’”.
“O ‘meme de Facebook’, essa foto com alguns dizeres que viraliza nas redes sociais, é a prova da in-
dependência criativa da população. ‘Não precisamos mais de uma empresa ou um partido emitindo
uma comunicação oficial que depois vai ser propagada. Hoje, qualquer pessoa, seja a favor ou contra
qualquer alinhamento político, consegue difundir memes’”.
Durante a pesquisa, Renato entrou em vários grupos de memes políticos e fez divisões por categorias:
memes persuasivos, de debate, de ataque, de humor. “Embora a grande maioria dos memes políticos
seja do tipo persuasivo, os memes engraçados são os que mais se propagaram”.
Renato vê com otimismo esse indício de que a ciberdemocracia está se aproximando. “Antes faláva-
mos de futebol e novela, e, agora, falamos cada vez mais de política. Isto mostra que a consciência
política cresceu e isso repercute na realidade. Na ciberdemocracia, as pessoas votam por necessidade
e não por obrigação”.
 Fonte: https://www.unicamp.br/unicamp/index.php/ju/noticias/2018/05/23/memes-
democratizaram-politica-diz-pesquisador Consulta em 16/05/2019.

ALGUMAS DICAS PARA CONSTRUIR MEMES EM SALA DE AULA


Vídeo tutorial
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=kIxcW8zSmYo
Consulta em 16/05/2019

Aplicativos para construir memes:


Meme Creator
Fonte: https://play.google.com/store/apps/details?id=com.gentoozero.memecreator&hl=pt_BR
Consulta em: 16/05/2019

Meme Generator Free


Fonte: https://play.google.com/store/apps/details?id=com.zombodroid.MemeGenerator
Consulta em: 16/05/2019
10 SÃO PAULO FAZ ESCOLA – CADERNO DO PROFESSOR

Exemplo passo a passo:

Escolha uma imagem que dialoga com a ideia que deseja transmitir.

https://pixabay.com/images/id-937665/

Abra a imagem no aplicativo de sua preferência e construa o texto!

https://pixabay.com/images/id-937665/

IDENTIFICAR E DISCUTIR FENÔMENOS HISTÓRICOS, SOCIAIS, CULTURAIS


E ARTÍSTICOS NO EXERCÍCIO DE REFLEXÃO FILOSÓFICA

CONTEXTUALIZAÇÃO
A partir das manifestações e conversas proporcionadas pelo momento de sensibilização,
os estudantes podem ser instigados para a compreensão das relações entre Democracia e Igual-
dade entre os cidadãos, conforme habilidade indicada no currículo.
Para melhor identificar estes diferentes conceitos, sugerimos a leitura de textos e arti-
gos em revistas físicas ou virtuais, ou até mesmo textos presentes em livros didáticos. Suge-
rimos também a leitura do artigo “As várias dimensões da pobreza”, que se encontra no
material elaborado para o aluno. Neste texto, são exploradas as pobrezas monetária e multi-
dimensional, apresentando informações pertinentes para o desenvolvimento de reflexões
com os estudantes.
FILOSOFIA – ENSINO MÉDIO 11

As várias dimensões da pobreza


Estudo contemplado com o Prêmio Capes aponta que Brasil reduziu a pobreza monetária,
mas ainda tem o desafio de fazer o mesmo com a pobreza multidimensional.

Entre os anos de 2000 e 2010, a pobreza monetária sofreu importante redução em todas as regiões do
Brasil, graças ao crescimento econômico com melhora na distribuição de renda. Ocorre que a pobre-
za multidimensional, aquela que leva em consideração outros fatores além da renda, tais como con-
dições de moradia e educação, continua sendo um desafio a ser enfrentado pelo país, especialmente
nas áreas rurais. A constatação faz parte da tese de doutorado da economista Adriana Stankiewicz
Serra, no Instituto de Economia (IE) da Unicamp, sob a orientação do professor Walter Belik. A pesqui-
sa foi contemplada com o Prêmio Capes 2018 na área de Economia. 
Em seu trabalho, Adriana comparou a incidência da pobreza multidimensional entre as áreas rurais e
urbanas, tendo em vista as marcantes desigualdades espaciais existentes no território brasileiro. Para
isso, ela utilizou dados do censo demográfico, alcançando assim a realidade das condições de vida ao
nível dos municípios. A economista desenvolveu uma proposta de modelo econométrico espacial, de
modo a considerar a relação entre variações na pobreza e crescimento econômico. De acordo com a
autora da tese, os resultados das análises demonstraram que as assimetrias em termos de privações
entre as áreas rurais e urbanas permanecem elevadas, apesar da melhora das condições da popula-
ção em todos os indicadores avaliados.
Adriana explica que ocorreram, no período considerado, avanços substanciais no acesso à eletricida-
de e bens de consumo duráveis nas áreas rurais, mas estas ainda registram graves carências em sane-
amento e educação básica, esta última relacionada principalmente a jovens e adultos. “O acesso ao
ensino fundamental foi praticamente universalizado. O mesmo, porém, não acontece na faixa de 15 a
17 anos de idade. Ainda temos uma parcela importante da população analfabeta, o que é inaceitável,
além de muitos jovens e adultos que cumpriram poucos anos estudos”, pontua a pesquisadora, acres-
centando que a pesquisa não aborda a questão da qualidade da educação.
Ainda segundo o estudo, os dados obtidos indicam que somente uma parcela da população é simul-
taneamente pobre tanto na perspectiva monetária quanto na não monetária. “Daí a importância de
os países, o Brasil incluído, desenvolverem índices próprios para mensurar o problema da pobreza
multidimensional. O fato de a pessoa ter uma renda que a coloca fora dos padrões convencionais de
pobreza não significa que ela de fato deixou esta condição, visto que ainda pode estar sofrendo im-
portantes privações em outras áreas”, observa Adriana.
Particularmente, a economista defende que a principal prioridade do Brasil dentro do esforço de
combate à pobreza deve ser o investimento em educação. “A educação é fundamental não somente
para ampliar as oportunidades de inserção das pessoas no mercado de trabalho, mas também para
conferir autonomia, no sentido mais amplo do termo, à vida delas”, considera Adriana. Ela esclarece
que a pesquisa considerou duas dimensões de pobreza: padrão de vida e educação. A variável saúde
não foi trabalhada diretamente porque o censo demográfico não traz informações sobre o tema.
A primeira dimensão levou em consideração os seguintes indicadores: canalização de água, banheiro
de uso exclusivo, destino do lixo, energia elétrica, bens de consumo duráveis e densidade morador/
dormitório. A segunda contemplou dois aspectos - frequência à escola e alfabetização e adequação
12 SÃO PAULO FAZ ESCOLA – CADERNO DO PROFESSOR

idade-série escolar e nível de instrução. Conforme a autora da tese, a distribuição espacial da pobreza
multidimensional no território brasileiro se mostrou similar à pobreza monetária, fartamente registrada
pela literatura. “A maior incidência ocorre nos municípios do Norte e Nordeste”, observa.
A pesquisa apurou igualmente que a contribuição do aumento da renda domiciliar per capita para a re-
dução da pobreza foi menor nas microrregiões rurais em comparação com as microrregiões intermediá-
rias e urbanas. “Também foi possível constatar que o crescimento do PIB nos setores agropecuário e de
serviços foi estatisticamente significativo para a redução da pobreza nas microrregiões rurais e intermedi-
árias, embora o efeito tenha sido extremamente baixo para a análise por municípios”, aponta.
Conforme Adriana, a literatura destaca a importância das relações entre as áreas rurais e urbanas para o de-
senvolvimento e para a redução da pobreza. A proximidade com centros urbanos favorece o acesso dos
moradores das regiões rurais a bens e serviços e amplia as oportunidades de trabalho destes. A pesquisa
verificou que o setor de serviços foi o que mais contribuiu para reduzir a pobreza nas microrregiões rurais.
Em outras palavras, os dados revelam a importância da renda não agrícola para a redução da pobreza
rural. “Ou seja, não é possível resolver a pobreza rural somente por meio de uma política setorial agrí-
cola. A agricultura é importante, sem dúvida, mas é fundamental criar alternativas em outras atividades,
dado que elas têm potencial para contribuir para a redução da pobreza”, considera a autora da tese,
que contou com bolsa de estudos concedida pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (Capes) para realização do doutorado sanduíche na Universidade de Leeds, na Inglater-
ra, sob a supervisão do Gaston Yalonetzky.
MANUEL ALVES FILHO

Fonte: https://www.unicamp.br/unicamp/index.php/ju/noticias/2018/10/03/varias-dimensoes-da-pobreza
Consulta em: 25/04/2019.

Depois de realizar esta leitura, sugerimos que os docentes discutam com os estudantes
algumas questões:

SEGUNDO O TEXTO, O QUE


SIGNIFICA POBREZA
MULTIDIMENSIONAL?

O QUE AINDA É CONSIDERADO


FRÁGIL NA ESTRUTURA SOCIAL
APRESENTADA NO TEXTO?

MEDIANTE AS INFORMAÇÕES PRESENTES


NO TEXTO E OS CONHECIMENTOS QUE
VOCÊ POSSUI SOBRE A REALIDADE DAS
DESIGUALDADES NO BRASIL, O QUE É
NECESSÁRIO FAZER DEMOCRATICAMENTE
PARA DIMINUIR AS DIFERENÇAS?
FILOSOFIA – ENSINO MÉDIO 13

Sugerimos também o artigo “Banco Mundial alerta para aumento da pobreza no Brasil”,
notícia que revela o crescimento da pobreza no Brasil, nos últimos anos, sendo esta uma leitura
alternativa para o desenvolvimento da sequência didática.

Banco Mundial alerta para aumento da pobreza no Brasil

Relatório do Banco Mundial divulgado nesta quinta-feira (04) afirma que a pobreza aumentou no Brasil
entre 2014 e 2017, atingindo 21% da população (43,5 milhões de pessoas).
O documento intitulado Efeitos dos ciclos econômicos nos indicadores sociais da América Latina:
quando os sonhos encontram a realidade demonstra que o aumento da pobreza no período foi de 3%,
ou seja, um número adicional de 7,3 milhões de brasileiros passou a viver com até US$ 5,50 por dia.
No ano de 2014, o total de brasileiros que viviam na pobreza era de 36,2 milhões (17,9%). O quadro
negativo teve início com a forte recessão que o país atravessou a partir do segundo semestre daquele
ano, que durou até o fim de 2016.
O Banco Mundial avalia que o fraco crescimento da América Latina e Caribe, especialmente na América
do Sul, afetou os indicadores sociais no Brasil, país que possui um terço da população de toda a região.
Mesmo assim, o Banco Mundial manteve as previsões de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB)
brasileiro, com altas de 2,2% em 2019 e 2,5% em 2020. As projeções são melhores do que as de outros
países, como o México (1,7%), mas ficam abaixo de nações como a Colômbia (3,3%). Os países com
previsão de queda no PIB são a Argentina (- 1,3%) e a Venezuela (-25%).
Para a região da América Latina e Caribe, o crescimento deve ser menor do que o do Brasil. As estima-
tivas iniciais eram de 1,7%, mas, no mais recente relatório, elas despencaram para 0,9%, puxadas pelo
péssimo desempenho da Venezuela. O crescimento da América do Sul também deverá sentir os efeitos
da crise venezuelana, ficando em apenas 0,4%.
O relatório destaca as incertezas quanto à reforma da Previdência, afirmando que sua aprovação “de-
pende da formação de coalizões”, uma vez que o partido governista não tem maioria no Congresso. A
instituição elogia o Brasil por buscar um programa “ambicioso” de reformas, mas afirma que o país é o
caso mais preocupante na região depois da Venezuela.
O Brasil deverá ter um déficit fiscal de 6,9% do PIB em 2019 e um déficit primário de 1,2% do PIB. A
dívida pública deve corresponder a 80% do PIB.
“As perspectivas de crescimento para este ano não mostram uma melhora substancial em relação a
2018, como consequência do crescimento débil ou negativo nas três maiores economias da região –
Brasil, México e Argentina – e do colapso total na Venezuela”, afirma o relatório. Se excluídos os núme-
ros venezuelanos, o PIB da América do Sul teria alta de 1,8% em 2019.
O relatório afirma que os programas sociais podem ser os mais eficazes amortecedores dos choques
econômicos. Segundo o economista-chefe do Banco Mundial para a América Latina e Caribe, Carlos
Végh, essas iniciativas são comuns em países desenvolvidos, mas não nessa região.
14 SÃO PAULO FAZ ESCOLA – CADERNO DO PROFESSOR

“A região deve desenvolver, além dos programas estruturais existentes, ferramentas de rede de segu-
rança social que possam apoiar os pobres e os mais vulneráveis durante o ciclo de baixa nos negócios”,
afirma o relatório.
O Banco Mundial afirma que a América latina e Caribe é a região com os indicadores mais voláteis em
todo o mundo por ser exposta a fatores externos (como preços das commodities e liquidez internacio-
nal) e instabilidades institucionais e políticas.
O Banco Mundial analisou três indicadores: taxa de desemprego, pobreza e necessidades básicas insa-
tisfeitas (habitação, educação e saneamento).
*Com informações da Deutsche Welle
Edição: Maria Claudia
Fonte: http://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2019-04/banco-mundial-
alerta-para-aumento-da-pobreza-no-brasil Consulta em: 16/05/2019.

Depois de realizar esta leitura, sugerimos que os docentes discutam com os estudantes
algumas questões:

• O que é pobreza?
• Ter a informação de que 21% da população brasileira encontra-se em condição de pobreza te
faz pensar sobre a importância de políticas públicas que fomentem a igualdade? Por que?
• No artigo, consta a informação de que as pessoas vivem com até US$ 5,50 por dia. Realize
o cálculo, de acordo com a cotação do dolar do dia, de quanto isso significa somados os 30
dias de um mês. Agora, calcule aproximadamente o quanto uma pessoa gasta diariamente,
considerando as despesas com moradia, transporte, alimentação, vestuário, saúde e lazer
(considere os gastos de acordo com o padrão de vida da sua família).

Importante destacar que os resultados podem variar e pode acontecer de alguns estu-
dantes não ter conhecimentos dos gastos cotidianos. Dessa forma, pode ser interessante indi-
car um padrão para os estudantes. Também é possível orientá-los para pesquisar o preço do
transporte, da cesta-básica, a média dos alugueis no bairro, entre outras despesas e, a partir
dos cálculos refletir.

IDENTIFICAR DIFERENTES CONCEITOS DE DEMOCRACIA E SUA RELAÇÃO


COM A IGUALDADE EFETIVA ENTRE OS CIDADÃOS

Com a intenção de dar continuidade à contextualização, sugerimos resgatar com os estu-


dantes o que eles compreendem por pobreza, sobretudo pobreza material e como ela pode
refletir na questão social.
FILOSOFIA – ENSINO MÉDIO 15

O que é a Pobreza?
A pobreza pode ser compreendida como a condição de quem é pobre, ou seja, aquele que não tem
as condições básicas para garantir a sua sobrevivência com qualidade de vida e dignidade. A po-
breza também costuma se referir à classe social e econômica das pessoas que são pobres.
É importante destacar que a pobreza abrange diferentes aspectos da vida dos indivíduos, como, por
exemplo, a carência de bens e serviços essenciais para a vida: alimentação, vestuário, cuidados com a
saúde, cuidados com a educação, moradia etc.
Texto adaptado a partir “Significado da Pobreza”
Fonte: https://www.significados.com.br/pobreza/ Consulta em: 29/04/2019.

O professor Oswaldo Giacoia, titular do Departamento de Filosofia da Unicamp, conversa


sobre o problema da legalidade e da legitimidade da desigualdade social como sendo um dos
problemas mais agudos da filosofia política e do direito.
No vídeo “O que legitima a desigualdade social?”5, o professor Oswaldo Giacóia reflete
sobre o que legitima a desigualdade social e aponta alguns questionamentos: O que justifica
que alguns mandem e outros obedeçam? A dominação, o que é? Durante o vídeo é apresenta-
da a ideia da manifestação de poder e da possibilidade de exercer um comando sobre o outro.
As informações presentes no vídeo nos fazem pensar nas diferenças entre LEGALIDADE e
LEGITIMIDADE e possibilitam estabelecer argumentos sobre a existência de valores que devem
compor a base da justiça, principalmente na condução das políticas sociais. Outra reflexão fun-
damental refere-se aos valores como a IGUALDADE, LIBERDADE e a DIGNIDADE como base
para a legitimação do poder das autoridades políticas.
Estas reflexões contextualizam sobre os mecanismos de atuação do poder público que
deveriam priorizar a questão social voltada para o bem comum. A partir disso, sugerimos que os
estudantes realizem uma pesquisa sobre dados atuais que correspondam à pobreza material da
população brasileira e que, a partir dos dados pesquisados, elaborem um breve relato sobre
desigualdade social.

RECONHECER A CONDIÇÃO DE POBREZA MATERIAL


COMO QUESTÃO SOCIAL IMPORTANTE

LEITURA E ESCRITA
Com a intenção de promover o desenvolvimento da habilidade que requer a identificação, a
seleção e a problematização em textos filosóficos, sugerimos para os estudantes a leitura do tre-
cho que aborda o conceito de IGUALDADE no DICIONÁRIO FILOSÓFICO de Voltaire6, segue:

5
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=BOm3p50-Tek Consulta em: 16/05/2019
6
Fonte: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000022.pdf Consulta em: 25/04/2019.
16 SÃO PAULO FAZ ESCOLA – CADERNO DO PROFESSOR

IGUALDADE
Que deve um cão a um cão, um cavalo a um cavalo? Nada. Nenhum animal depende de seu seme-
lhante. Tendo, porém, o homem recebido o raio da Divindade que se chama razão, qual foi o resulta-
do? Ser escravo em quase toda a terra. Se o mundo fosse o que parece dever ser, isto é, se em toda
parte os homens encontrassem subsistência fácil e certa e clima apropriado a sua natureza, impossível
teria sido a um homem servir-se de outro. Cobrisse-se o globo de frutos salutares. Não fosse veículo
de doenças e morte o ar que contribui para a existência humana. Prescindisse o homem de outra mo-
rada e de outro leito além do dos gansos e capros* monteses, não teriam os Gengis Cãs e Tamerlões
vassalos senão os próprios filhos, os quais seriam bastante virtuosos para auxiliá-los na velhice. No
estado natural de que gozam os quadrúpedes, aves e répteis, tão feliz como eles seria o homem, e a
dominação, quimera, absurdo em que ninguém pensaria: para que servidores se não tivésseis neces-
sidade de nenhum serviço? Ainda que passasse pelo espírito de algum indivíduo de bofes tirânicos e
braços impacientes por submeter seu vizinho menos forte que ele, a coisa seria impossível: antes que
o opressor tivesse tomado suas medidas o oprimido estaria a cem léguas de distância. Todos os ho-
mens seriam necessariamente iguais, se não tivessem precisões. A miséria que avassala a nossa espé-
cie subordina o homem ao homem - O verdadeiro mal não é a desigualdade: é a dependência. Pouco
importa chamar-se tal homem Sua Alteza, tal outro Sua Santidade. Duro, porém é servir um ao outro.
Uma família numerosa cultivou um bom terreno. Duas famílias vizinhas têm campos ingratos e rebel-
des: impõe-se-lhes servir ou eliminar a família opulenta. Uma das duas famílias indigentes vai oferecer
seus braços à rica para ter pão. A outra vai atacá-la e é derrotada. A família servente é fonte de criados
e operários. A família subjugada é fonte de escravos. Impossível, neste mundo miserável, que a socie-
dade humana não seja dividida em duas classes, uma de opressores, outra de oprimidos. Essas duas
classes se subdividem em mil outras, essas outras em sem conto de cambiantes diferentes. Nem todos
os oprimidos são absolutamente desgraçados. A maior parte nasce nesse estado, e o trabalho contí-
nuo impede-os de sentir toda a miséria da própria situação. Quando a sentem, porém, são guerras,
como a do partido popular contra o partido do senado em Roma, as dos camponeses na Alemanha,
Inglaterra, França. Mais cedo ou mais tarde todas essas guerras desfecham com a submissão do povo,
porque os poderosos têm dinheiro e o dinheiro tudo pode no estado. Digo no estado, porque o mes-
mo não se dá de nação para nação. A nação que melhor se servir do ferro sempre subjugará a que,
embora mais rica, tiver menos coragem.
Todo homem nasce com forte inclinação para o domínio, a riqueza, os prazeres e sobretudo para a in-
dolência. Todo homem portanto, quereria estar de posse do dinheiro e das mulheres ou das filhas dos
outros, ser-lhes senhor, sujeitá-los a todos os seus caprichos e nada fazer ou pelo menos só fazer coisas
muito agradáveis. Vedes que com estas excelentes disposições é tão difícil aos homens ser iguais quan-
to a dois pregadores ou professores de teologia não se invejarem. Tal como é, impossível o gênero
humano subsistir, a menos que haja infinidade de homens úteis que nada possuam. Porque, claro é que
um homem satisfeito não deixará sua terra para vir lavrar a vossa. E se tiverdes necessidade de um par
de sapatos, não será um referendário que vo-lo fará. Igualdade é pois, a coisa mais natural e ao mesmo
tempo a mais quimérica**. Como se excedem em tudo que deles dependa, os homens exageraram
essa desigualdade. Pretendeu-se em muitos países proibir aos cidadãos sair do lugar em que a ventura
FILOSOFIA – ENSINO MÉDIO 17

os fizera nascer. O sentido dessa lei é visivelmente: Este país é tão mau e tão mal governado que veda-
mos a todo indivíduo dele sair, por temor que todos o desertem. Fazei melhor: infundi em todos os
vossos súditos o desejo de permanecer em vosso estado, e aos estrangeiros o desejo de para aí vir. Nos
íntimos refolhos*** do coração todo homem tem direito de crer-se de todo ponto igual aos outros
homens. Daí não segue dever o cozinheiro de um cardeal ordenar a seu senhor que lhe faça o jantar;
pode, todavia, dizer: “Sou tão homem como meu amo; nasci como ele chorando; como eu ele morrerá
nas mesmas angústias e com as mesmas cerimônias. Temos ambos as mesmas funções animais. Se os
turcos se apoderarem de Roma e eu virar cardeal e meu senhor cozinheiro, tomá-lo-ei a meu serviço”.
Tudo isso é razoável e justo. Mas, enquanto o grão turco não se assenhorear de Roma, o cozinheiro
precisa cumprir suas obrigações, ou toda a humanidade se perverteria. Um homem que não seja cozi-
nheiro de cardeal nem ocupe nenhum cargo no estado; um particular que nada tenha de seu mas a
quem repugne o ser em toda parte recebido com ar de proteção ou desprezo; um homem que veja
que muitos monsignori**** não têm mais ciência, nem mais espírito, nem mais virtude que ele, e que
se enfade de esperar em suas antecâmaras, que partido deve tomar? O da morte.
*bodes / **desprovido de realidade / ***as partes mais profundas / ****monsenhores

Dentro da temática proposta, torna-se interessante solicitar aos estudantes que grifem, no
texto, os principais pontos que sintetizam o conceito de IGUALDADE / DESIGUALDADE para,
em continuidade, elaborarem um texto síntese dos assuntos que foram abordados nesta sequên-
cia didática.

IDENTIFICAR, SELECIONAR E PROBLEMATIZAR INFORMAÇÕES


EM TEXTOS FILOSÓFICOS

ELABORAR TEXTOS-SÍNTESE A PARTIR DOS CONTEÚDOS


FILOSÓFICOS ESTUDADOS

É importante que o texto de Voltaire seja contextualizado para que os estudantes possam
realizar considerações sobre as concepções de igualdade/desigualdade presentes no texto.

AVALIAÇÃO

Os estudantes poderão ser avaliados a partir das produções escritas e grau de profundida-
de da pesquisa ou outras atividades propostas pelo(a) professor(a). No contexto do tema que
perpassa pela desigualdade social e ideológica, em que a Filosofia Política retoma os conceitos
de democracia e cidadania olhando para as habilidades destacadas. Sugerimos que a avaliação
18 SÃO PAULO FAZ ESCOLA – CADERNO DO PROFESSOR

apresente, como foco, a reflexão sobre as diferenças e igualdades entre os seres humanos e a
necessidade do fortalecimento dos acessos, compreendendo a existência da pobreza material.
Uma sugestão é a retomada dos conceitos pesquisados e a construção de uma narrativa que
evidencie a aprendizagem dos mesmos.

ATIVIDADE
Os estudantes podem se engajar na elaboração individual ou em grupos de uma re-
vista virtual veiculando, entre outras ideias, notícias e projetos de natureza social.

Alguns sites de pesquisa:


Calameo. https://pt.calameo.com/
Flipsnack. https://www.flipsnack.com/bp/digital-magazine
Universia. https://noticias.universia.com.br/tiempo-libre/noticia/2014/04/
22/1095092/conheca-4-sites-criar-propria-revista-online.html

Uma possibilidade de pensar o tema pode ser a partir de questões


do ENEM dos anos de 2016 e 2018.
ENEM 2016 e outras questões
ENEM 2018

RECUPERAÇÃO
A recuperação da aprendizagem deve ser realizada a partir de uma proposta diferenciada
ao tratar o tema e avaliar a aprendizagem do estudante. É preciso estar atento para oportunizar
possibilidades de fazer diferente, tanto com relação às atividades quanto às avaliações.
Sugerimos que os estudantes resgatem um ou mais conceitos que foram trabalhados e
elaborem um mapa conceitual sobre a aprendizagem.
FILOSOFIA – ENSINO MÉDIO 19

TEMA: FILOSOFIA POLÍTICA - DEMOCRACIA


E JUSTIÇA SOCIAL / OS DIREITOS HUMANOS /
PARTICIPAÇÃO POLÍTICA
Página 98 no Caderno do Aluno

(...) Não esqueça de dizer que, em 1888, uma


questão grave e gravíssima os fez concordar
também, ainda que por diversa razão. A data
explica o fato: foi a emancipação dos escravos.
Estavam então longe um do outro, mas a opi-
nião uniu-os. A diferença única entre eles dizia
respeito à significação da reforma, que para
Pedro era um ato de justiça, e para Paulo era
o início da revolução. Ele mesmo o disse, con-
cluindo um discurso em São Paulo, no dia 20
de maio: “A abolição é a aurora da liberdade;
esperemos o sol; emancipado o preto, resta
emancipar o branco”.
Byrev. https://pixabay.com/images/id-87407/
Esaú e Jacó
Machado de Assis

SENSIBILIZAÇÃO
Sugerimos que utilize elementos da produção cultural como músicas, imagens, poesias, en-
tre outros ou mesmo perguntas que possam gerar pensamentos e conversas sobre o tema. Há
diferentes possibilidades de iniciar o trabalho junto aos estudantes. Destacamos que, neste pri-
meiro momento, é importante enfatizar a manifestação oral e/ou escrita sobre a temática. Algumas
questões podem ser importantes para verificar o entendimento dos estudantes sobre a temática.

O QUE É JUSTIÇA SOCIAL?


PARA QUE SERVEM OS DIREITOS HUMANOS?
VOCÊ ACHA QUE A REALIDADE SOCIAL, POLÍTICA E ECONÔMICA
PRECISA SER MODIFICADA?
SE ACREDITA QUE SIM, COMO VOCÊ COMPREENDE A IMPORTÂNCIA DA
PARTICIPAÇÃO POLÍTICA PARA A TRANSFORMAÇÃO DA REALIDADE?
SE ACREDITA QUE NÃO, JUSTIFIQUE A SUA POSIÇÃO.

Estas ou outras perguntas podem motivar os estudantes a pensarem politicamente. A par-


tir desta motivação, os jovens podem ser orientados para pesquisarem informações sobre o
tema e sistematizarem, socializando o assunto pesquisado em uma roda de conversa.
Sugerimos que converse com os estudantes sobre a produção filosófica relativa ao proble-
ma da participação política com a finalidade de melhorar as condições de vida das pessoas.
20 SÃO PAULO FAZ ESCOLA – CADERNO DO PROFESSOR

Neste contexto, sugerimos referências a Rousseau, especialmente, sobre o papel do “contrato


social” e a abordagem ao pensamento de John Rawls, especialmente, os princípios de justiça –
liberdade e igualdade.
Neste caso explicação dada em aula expositiva pode ser interessante, tendo em vista a
habilidade a ser desenvolvida.
Para o desenvolvimento da aula expositiva, sugerimos a leitura do artigo Rawls: filósofo po-
lítico do século XX – Revista Cult https://revistacult.uol.com.br/home/rawls-filosofo-politico-
do-seculo-20/ e o vídeo “J. Rawls e o renascimento do liberalismo” com Luis Bernardo Araújo
– CPFL Cultura7. Caso opte-se por oportunizar o conteúdo para os estudantes, sugerimos edição
do vídeo.
Importante salientar a importância de se tratar os conceitos centrais “liberdade” e “igualda-
de” e a oportunidade como condição para se efetivar os princípios de justiça. Esta consideração
parte da ideia de que os indivíduos são diferentes e diferenças étnicas, culturais ou econômicas,
entre outras não devem justificar a supressão de direitos e de liberdades básicas, nem vantagens
de quaisquer naturezas. Cada indivíduo deve ter um direito igual às liberdades básicas. Segundo
J. Rawls as instituições democráticas devem garantir liberdades básicas, ainda que o acesso as ri-
quezas sejam desiguais. A desigualdade no acesso, neste caso não pode se converter em desvan-
tagem. O reconhecimento do desigual acesso permite a promoção de políticas públicas capazes
de gerar oportunidades para que grupos menos privilegiados ou historicamente diferenciados
para acessar bens materiais e sociais. Dessa forma, por exemplo, as cotas raciais que visam a inser-
ção ao ensino superior e cargos públicos, por meio de concursos tem o sentido de buscar igualda-
de. Neste contexto liberdade e a igualdade tem como ponto de equilíbrio a oportunidade.
A partir desta primeira inserção no pensamento de J. Rawls, os estudantes podem ser con-
vidados para realizar pesquisas sobre “JUSTIÇA SOCIAL”, “DIREITOS HUMANOS” e “PARTICI-
PAÇÃO POLÍTICA”. Com o aporte das aulas e das leituras os estudantes podem responder
questões que estão disponíveis no Caderno do Aluno:
- Quais são as pessoas mais indefesas em nossa sociedade?
- Como o desamparo das pessoas se revelam no cotidiano? A partir das suas impressões e
informações sobre o tema, descreva as fragilidades mais evidentes da população. Procure agre-
gar dados estatísticos e estudos acadêmicos à sua descrição. Para esta atividade considere in-
formações sobre violência, desemprego, entre outras.
Consideramos que estas questões podem gerar uma série de debates, o que entendemos
pode ser fundamental para esclarecer dúvidas e expor posições contrárias. É importante que
independentemente da posição dos estudantes, que eles sejam orientados para aprimorar seus
argumentos, por meio da reflexão amparada em pesquisa acadêmica e dados oficiais.

SISTEMATIZAR INFORMAÇÕES LEVANTADAS EM PESQUISA


E APRESENTADAS PELO (A) PROFESSOR(A) E PELOS COLEGAS

RELACIONAR INFORMAÇÕES, REPRESENTADAS DE DIFERENTES FORMAS,


E CONHECIMENTOS DISPONÍVEIS EM DIFERENTES SITUAÇÕES,
PARA CONSTRUIR ARGUMENTAÇÃO CONSISTENTE

7
CPFL CULTURA. Fundadores do Pensamento: Balanço do século XX/ Paradigmas do século XXI.
FILOSOFIA – ENSINO MÉDIO 21

CONTEXTUALIZAÇÃO
A partir do conteúdo pesquisado sobre “JUSTIÇA SOCIAL”, “DIREITOS HUMANOS” e
“PARTICIPAÇÃO POLÍTICA. Sugerimos que os estudantes produzam um texto argumentativo,
analisando a questão da pobreza no âmbito da reflexão sobre a justiça social como a habilidade
requer. Para apoiar a redação, sugerimos que os estudantes reconheçam o fundamento de polí-
ticas públicas de combate à pobreza como bolsa família e seguro defeso
Programas sociais como o Bolsa família8 - que contribui para o combate à pobreza e à de-
sigualdade no Brasil - e o Seguro defeso9 - benefício temporário, no valor de um salário mínimo,
pago durante o período em que as atividades de pesca são paralisadas, com o objetivo de pre-
servar variadas espécies - são essenciais para assegurar que muitas pessoas não passem neces-
sidades durante um período de instabilidade econômica.
Sabemos que a pobreza é um problema complexo e que as políticas públicas devem se
voltar para amenizar as condições de desigualdade por um período, sendo uma medida que
deveria ser provisória até o indivíduo atingir uma estabilidade social e econômica.
A partir desta breve introdução e com o objetivo de ampliar a abordagem, propomos a
seguinte atividade, disponível no Caderno do Aluno:
- Pesquise outras políticas sociais voltadas para uma sociedade mais justa e indique seus
princípios de atuação.
Com estes estudos e indagações propostas, os estudantes podem produzir de forma mais
contextualizada o texto argumentativo.

ANALISAR A QUESTÃO DA POBREZA NO ÂMBITO


DA REFLEXÃO SOBRE JUSTIÇA SOCIAL

A partir da redação do texto argumentativo os estudantes podem ser orientados para pen-
sar ações e práticas relacionadas à participação política articulada para a superação da pobreza.
Para isso, os estudantes podem retomar as políticas sociais pesquisadas e indicar formas de
aprimoramento ou, ainda, sugerir outras. É importante que os estudantes sejam orientados para
uma participação política planejada e sustentável. Neste contexto, os estudantes devem ser
orientados para pesquisar os canais de participação política como, por exemplo: participação
nos Conselhos Temáticos da cidade, reuniões sobre orçamento participativo, audiências públi-
cas, sites do poder legislativo10, entre outros.

RECONHECER E PLANEJAR PRÁTICAS DE PARTICIPAÇÃO POLÍTICA


NA RELAÇÃO COM AUTORIDADES LOCAIS

8
Fonte: http://mds.gov.br/assuntos/bolsa-familia/o-que-e Consulta em: 16/05/2019
9
Fonte: http://mds.gov.br/area-de-imprensa/noticias/2015/abril/normas-para-seguro-defeso-entram-em-
vigor-nesta-quarta-1o Consulta em: 16/05/2019
10
Entre os canais, nos quais os estudantes podem exercitar a participação política, sugerimos: Câmara dos Deputa-
dos: https://www2.camara.leg.br/participacao/saiba-como-participar/institucional/canais ;
Senado Federal : https://www12.senado.leg.br/institucional/falecomosenado
22 SÃO PAULO FAZ ESCOLA – CADERNO DO PROFESSOR

LEITURA E ESCRITA
Para o desenvolvimento desta etapa da sequência didática sugerimos a leitura dos artigos
I, II, III, VI, VII, XVII e XXIX da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Artigo I Artigo II
Todos os seres humanos 1 - Todo ser humano tem capacidade
nascem livres e para gozar os direitos e as liberdades
iguais em dignidade e direitos. São estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de
dotados de razão e consciência e qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, idioma,
devem agir em relação uns aos religião, opinião política ou de outra natureza, origem
outros com espírito de nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra
fraternidade. condição.
2 - Não será também feita nenhuma distinção fundada na
condição política, jurídica ou internacional do país ou
Artigo III território a que pertença uma pessoa, quer se trate de
Todo ser humano tem um território independente, sob tutela, sem
direito à vida, à governo próprio, quer sujeito a qualquer
liberdade e à segurança outra limitação de soberania.
pessoal.

Artigo VI Artigo VII


Todo ser humano tem o Todos são iguais perante a lei e têm
direito de ser, em todos os direito, sem qualquer distinção, a igual
lugares, reconhecido como proteção da lei. Todos têm direito a igual
pessoa perante a lei. proteção contra
qualquer discriminação que viole a presente
Declaração e contra qualquer incitamento a
Artigo XVII tal discriminação.
1. Todo ser humano tem direito
à propriedade,
só ou em sociedade com outros. Artigo XXIX
2. Ninguém será arbitrariamente 1 - Todo ser humano tem deveres para com a
privado de sua propriedade. comunidade, na qual o livre e pleno desenvolvimento
de sua personalidade é possível.
2 - No exercício de seus direitos e liberdades, todo ser humano
estará sujeito apenas às limitações determinadas pela lei,
exclusivamente com o fim de assegurar o devido reconhecimento
e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer as
justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar
de uma sociedade democrática.
3 - Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese
alguma, ser exercidos contrariamente aos
objetivos e princípios das Nações Unidas.
FILOSOFIA – ENSINO MÉDIO 23

A partir desta leitura, orientamos que os docentes solicitem aos estudantes que expressem
por escrito ou oralmente a relevância dos Direitos Humanos, sobretudo os artigos destacados
para o desenvolvimento da temática que se encontra em desenvolvimento.

EXPRESSAR ESCRITA E ORALMENTE A RELEVÂNCIA


DOS DIREITOS HUMANOS

AVALIAÇÃO
Os estudantes poderão ser avaliados, a partir das produções escritas e grau de profundi-
dade da pesquisa ou outras atividades propostas pelo(a) professor(a). No contexto do tema
que perpassa pela Democracia e justiça social / Os direitos humanos / Participação política,
em que a Filosofia Política retoma conceitos importantes, olhando para as habilidades desta-
cadas, sugerimos que a avaliação apresente, como foco, a reflexão sobre os direitos humanos
e a justiça social, compreendendo a importância da participação política para a transformação
do bem-estar social.

Uma possibilidade de pensar o tema pode ser a partir de


questões do ENEM dos anos de 2016 e 2017.
ENEM 2016
ENEM 2017 – QUESTÃO 79

RECUPERAÇÃO
A recuperação da aprendizagem deve ser realizada, a partir de uma proposta diferenciada
em tratar o tema e a avaliação da aprendizagem do estudante. É preciso estar atento para opor-
tunizar possibilidades de fazer diferente, tanto com relação às atividades quanto às avaliações.
Sugerimos que os estudantes resgatem um ou mais conceitos que foram trabalhados e
elaborem um vídeo com evidências da aprendizagem.
FILOSOFIA – ENSINO MÉDIO 27

FILOSOFIA
2a Série – Ensino Médio
QUADRO DAS HABILIDADES DO CURRÍCULO DO ESTADO DE SÃO PAULO E
COMPETÊNCIAS GERAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA
HABILIDADES DO
CURRÍCULO DO ESTADO COMPETÊNCIAS GERAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA
DE SÃO PAULO
Reconhecer a relevância da 1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo
reflexão filosófica para a aná- físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar apren-
lise dos temas que emergem dendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclu-
dos problemas das socieda- siva.
des contemporâneas. 2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências,
incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade,
Expressar por escrito e oral- para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e
mente questionamentos so- criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes
bre o avanço tecnológico, o áreas.
pensamento tecnicista e as
consequências para a vida no 3. Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mun-
planeta. diais, e também participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural.
4. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e es-
Discutir questões do campo crita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens
da Bioética, distinguindo o artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experi-
papel da reflexão filosófica ências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem
para o seu enfrentamento. ao entendimento mútuo.
Identificar e problematizar 5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação
valores sociais e culturais da de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo
sociedade contemporânea. as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhe-
cimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e
Identificar, selecionar e pro- coletiva.
blematizar informações em 6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhe-
textos filosóficos. cimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do
mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu
Elaborar textos-síntese a par- projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade.
tir dos conteúdos filosóficos 7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular,
estudados no bimestre. negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e
promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo respon-
Relacionar informações, re-
sável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao
presentadas de diferentes
cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta.
formas, e conhecimentos dis-
poníveis em diferentes situa- 8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreen-
ções para construir argumen- dendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros,
tação consistente. com autocrítica e capacidade para lidar com elas.
9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-
-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com aco-
lhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus sabe-
res, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer
natureza.
10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade,
resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, de-
mocráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.
28 SÃO PAULO FAZ ESCOLA – CADERNO DO PROFESSOR

TEMA: DESAFIOS ÉTICOS CONTEMPORÂNEOS –


A CIÊNCIA E A CONDIÇÃO HUMANA
Página 93 no Caderno do Aluno

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente


ecologicamente equilibrado, bem de uso co-
mum do povo e essencial à sadia qualidade de
vida, impondo-se ao Poder Público e à coletivi-
dade o dever de defendê-lo e preservá-lo para
as presentes e futuras gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito,
incumbe ao Poder Público:
I - Preservar e restaurar os processos ecológicos
essenciais e prover o manejo ecológico das es-
pécies e ecossistemas;
II - Preservar a diversidade e a integridade do
patrimônio genético do País e fiscalizar as enti-
https://pixabay.com/images/id-2286601/ dades dedicadas à pesquisa e manipulação de
material genético (...).

Esaú e Jacó
Constituição da República Federativa
do Brasil de 1988.

SENSIBILIZAÇÃO
Para darmos início as discussões do tema relacionado aos desafios éticos, nos dias de hoje,
sugerimos dois caminhos de sensibilização: o primeiro por meio de um vídeo e o segundo por
meio de algumas indagações. Os dois caminhos têm como objetivo proporcionar incomodo e
reflexão, servindo como ponto de partida para as discussões das próximas aulas.
O vídeo11 de animação intitulado “Você está perdido no mundo como eu?” apresenta uma
série de acontecimentos, que dialogam de forma crítica a relação de uma boa parte da popula-
ção com os aparelhos celulares e suas diversas funcionalidades por meio de recursos, aplicativos
e redes sociais. A animação é um tanto quanto radical quando apresenta a ideia de indiferença
em relação à vida, colocando o uso das tecnologias acima de tudo, promovendo uma reflexão
sobre o sistema. A partir de sua exibição é possível promover uma roda de conversa ouvindo as
impressões dos estudantes.
A sugestão de sensibilização por meio de indagações também pode ser somada à apre-
sentação do vídeo, no entanto ambas podem acontecer de forma independente.

11
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=Fpip4WOWygc Consulta em: 20/05/2019
FILOSOFIA – ENSINO MÉDIO 29

Apresentamos algumas indagações:

De que forma os avanços tecnológicos vêm conduzindo a sua


rotina, os seus saberes, a sua forma de ver o mundo?

Por que se fala tanto da necessidade de reciclar?

O uso exagerado de agrotóxicos é realmente necessário?

Por que com tanta tecnologia ainda se fala em risco de extin-


ção de espécies animais?

Estas perguntas fomentam o início da discussão sobre o tema, na verdade elas permitem
que os estudantes identifiquem e problematizem alguns valores sociais e culturais que implicam,
de forma direta, na relação ética do homem com a contemporaneidade.

IDENTIFICAR E PROBLEMATIZAR VALORES SOCIAIS E CULTURAIS


DA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

CONTEXTUALIZAÇÃO
A partir deste ponto, a necessidade de contextualização sobre o tema é fundamental, isto
porque, a técnica, a ciência e a condição humana encontram-se atreladas de tal forma que seria
impossível pensar na vida humana sem considerar o que ela produz e cria.
Neste sentido, no procedimento de contextualização, sugerimos que os estudantes indi-
quem no seu cotidiano o que há de técnica, ciência e tecnologia. Neste processo, talvez seja
interessante orientá-los a irem além dos objetos, pensar também na comunicação verbal, cálcu-
los lógicos matemáticos e procedimentos culinários, entre outros.
Pensar nesta relação – homem como um ser de técnicas, de ciência – tem a ver com auto-
nomia, com qualidade de vida, com conforto, além dos processos de criação, recriação e adap-
tação de práticas e usos, que alteram também o nosso modo de ser, a nossa visão de mundo e
os nossos valores. Ou seja, o desenvolvimento técnico - a ciência - não altera apenas o nosso
entorno, mas a nós mesmos na medida em que usamos e vivemos, a partir de uma visão de
30 SÃO PAULO FAZ ESCOLA – CADERNO DO PROFESSOR

mundo que nos é dada pela ciência e pela tecnologia. Neste contexto, sugerimos que os estu-
dantes, em grupos, elejam uma situação que envolva o desenvolvimento científico e tecnológi-
co, pesquisem o quanto esta situação pode ter mudado o mundo e o que acarretaria essa mu-
dança em termos sociais e individuais.
Caso os estudantes tenham dificuldade de indicar uma situação, você pode indicar a pes-
quisa de cada grupo. Entre as situações possíveis, podemos citar: o desenvolvimento da pílula
anticoncepcional (o que este produto da ciência e da tecnologia mudou no mundo e na vida dos
indivíduos); a descoberta e desenvolvimento da energia elétrica; as ondas do rádio e o desen-
volvimento tecnológico dos aparelhos; as vacinas, entre outras.
A partir deste primeiro movimento, consideramos que vale a pena refletir por meio de de-
bate sobre como muitas descobertas científicas têm seu caráter discutido e até desmerecido por
intermédio da própria tecnologia como, por exemplo, as fake news, disseminando notícias falsas
sobre vacinas, o que fez com que diminuísse sistematicamente a população imunizada, de forma
que doenças outrora superadas estão reaparecendo na sociedade contemporânea.
Outra consideração que pode ser debatida, tem a ver com o desenvolvimento científico e
tecnológico, que não chega da mesma forma para todos e, neste sentido, podemos incluir no
debate acerca do conhecimento científico questões éticas como, por exemplo, a ética que en-
volve as questões ambientais.
Sugerimos que os estudantes escutem ou leiam a entrevista “Instituto de Estudos Avança-
dos sobre ética socioambiental” da Rádio USP12 cujo tema está ligado aos problemas de ordem
ambiental que o País enfrenta neste momento.

INSTITUTO DE ESTUDOS AVANÇADOS DISCUTE ÉTICA SOCIOAMBIENTAL


Em continuidade ao Ciclo UrbanSus do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, o Seminário sobre
Ética Socioambiental promove diálogos e reúne experiências sobre o assunto, trazendo à luz temas
como ética na ciência e na tecnologia, justiça ambiental, equidade e sustentabilidade. O propósito é
contribuir para maior compreensão e propagação da temática da sustentabilidade entre academia,
sociedade e setor público, como estímulo à construção de uma cultura da sustentabilidade aliada à
ética socioambiental. O Jornal da USP no Ar conversou com Marcos Buckeridge, diretor do Instituto de
Biociências (IB) da USP e coordenador do Programa Cidades Globais do IEA, e com Luciano Felix Florit,
doutor em Sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), sobre a importância
da reflexão ética em questões ambientais.
A ética socioambiental está conectada aos problemas de ordem ambiental que o País enfrenta, sobre-
tudo, no momento atual. Para Buckeridge, o cenário é de retrocesso. No início do século XX, os estu-
dos de ecologia começaram a ganhar maior congruência. “Várias descobertas levaram o mundo a uma

12
Fonte: https://jornal.usp.br/atualidades/instituto-de-estudos-avancados-discute-etica-socioambiental/
Consulta em 20/05/2019.
FILOSOFIA – ENSINO MÉDIO 31

conscientização que o meio ambiente existe. E que ele nos influencia”, expõe o professor. Todo acú-
mulo gerado através dessas descobertas pode ser comparado à Revolução Copernicana. Do mesmo
modo que Nicolau Copérnico evidenciou que a Terra não é o centro do universo, os estudos de ecolo-
gia mostraram que “o homem não é o centro do meio ambiente, mas, sim, uma parte dele”.
Apesar das evidências científicas, a defesa do meio ambiente foi gradativamente colocada dentro de
um contexto político por diferentes grupos, expõe Buckeridge. “Enquanto a ciência vai avançando,
compreendendo que o homem faz parte de uma rede de interações e que, alterando o ambiente, alte-
ra-se o bem-estar do homem, alguns grupos começam a pensar que isso poderia se tornar uma ação
ativista”, ou melhor, um problema a ser combatido. Foi justamente isso que o presidente dos Estados
Unidos, Ronald Reagan, fez na década de 1980, relembra Buckeridge. A narrativa construída por Rea-
gan associava a preocupação ambiental com grupos de esquerda. Exatamente o que está acontecen-
do no Brasil, comenta o diretor do IB.
Para Luciano Felix Florit, os avanços no campo da ecologia podem ser interpretados como uma revolu-
ção, contudo, ela nem sempre se traduz em ações práticas. Cabe à ética socioambiental debruçar-se so-
bre essas questões, com enfoque em dois campos: iniquidade social nas questões ambientais, ou seja, o
não cumprimento de leis e normas, e a maneira como os seres vivos não humanos são tratados. Segundo
Florit, há grandes controvérsias sobre essas temáticas e a reflexão é o caminho para enfrentá-las.
Por fim, o professor Buckeridge reforça a importância de reparar o conhecimento científico da maneira
como grupos políticos trabalham com ele. Florit acrescenta que os argumentos são a chave para a re-
solução, mas que o poder costuma negá-los. “Não é um caminho fácil”, enfatiza o sociólogo.
Fonte: https://jornal.usp.br/atualidades/instituto-de-estudos-avancados-
discute-etica-socioambiental/ Consulta em: 20/05/2019.

Para aprofundar a temática, sugerimos uma breve exposição sobre o tema. Consideramos
que pode ser importante, nesta aula, trazer um pouco de História da Filosofia, especialmente as
considerações dos pensadores da Escola de Frankfurt. Neste sentido, destacamos alguns pon-
tos que julgamos importantes.
Uma abordagem fundamental para o mundo contemporâneo é aquela lançada por Adorno
e Horkheimer (filósofos associados aos temas da Escola de Frankfurt) na obra Dialética do Escla-
recimento: fragmentos filosóficos13. Os argumentos enfatizam a relação homem e ciência e des-
tacam que os homens se tornam submissos à racionalidade técnica e ao objetivo de controle
social e da natureza. Falam da razão instrumental e o quanto ela se refere a esse processo de
conhecimento que pretende a dominação do mundo, o controle total da natureza e dos homens
entre si. É fundamental esclarecer que no contexto do pensamento de Adorno e Horkheimer, a
crítica tem como foco a racionalidade instrumental e não uma “demonização” do progresso
técnico como um todo.

13
AD0RN0, Theodor; H0RKHEIMER, Max. Dialética do esclarecimento fragmentos filosóficos. Tradução Guido Anto-
nio de Almeida. Rio de Janeiro Jorge Zahar, 1985. p. 40.
32 SÃO PAULO FAZ ESCOLA – CADERNO DO PROFESSOR

No processo do mundo moderno - a racionalidade dominante -, segundo Adorno, o cálcu-


lo limita-se a eficácia do resultado. É o tipo de racionalidade, por exemplo, que prevê a rígida
separação entre o progresso da ciência e da técnica e as questões éticas. Ou seja, na racionali-
dade técnica apartada das questões éticas, poderíamos tomar decisões políticas cuja aparência
de neutralidade e imparcialidade seria capaz matar ou deixar morrer.
Adorno e Horkheimer nos convidam para pensar a relação dialética entre progresso e bar-
bárie. Para os filósofos frankfurtianos, a experiência vivida por alemães, ciganos, homossexuais,
testemunhas de Jeová, comunistas e judeus nos eventos do nazismo é reveladora de como o
desenvolvimento científico e tecnológico capaz de produzir ciência e técnica com a finalidade
de explorar, torturar e exterminar eficazmente seres humanos.
A partir desta abordagem, sugerimos a leitura do trecho que segue para responder a se-
guinte questão:

POR QUE É
IMPORTANTE
PENSAR SOBRE
ISSO?

A obra original pode ser encontrada entre as obras que compõem o acervo da escola
“Ética e Cidadania, caminhos da filosofia”.

TRÊS MOMENTOS DA SOCIEDADE TECNOLÓGICA


A partir da instauração do mundo moderno, a técnica atingiu outra dimensão. Segundo Silvio Gallo14,
podemos considerar três momentos de geração da sociedade tecnológica. No primeiro momento,
durante o período do Renascimento, ocorreu o desencantamento do mundo, ou seja, a retirada do
divino dos eventos naturais com a introdução do método científico no desenvolvimento de técnicas
que ampliaram as possibilidades de construção de máquinas e equipamentos. Esse evento alavancou
uma sociedade que começava a se estruturar tecnologicamente.
A Revolução Industrial pode ser considerada o segundo momento de realização de uma sociedade
tecnológica, quando, mais do que instrumentalizar a vida com objetos mais elaborados e mais do que
ampliar as velocidades e encurtar distâncias, mais do que tornar mais leves pesados fardos, o homem
passa a ser guiado pela máquina. O tempo do trabalho já não é mais definido pelo homem, mas pela
máquina. Já não são mais os ritmos naturais que governam a vida humana. A vida humana ganha um
nível de artificialidade até então inédita.

14
GALL0, Silvio (Coord.). Ética e cidadania caminhos da Filosofia elementos para o ensino de Filosofia. 20. ed.
Campinas Papirus, 2012. p. 104-106.
FILOSOFIA – ENSINO MÉDIO 33

O terceiro momento da instauração da sociedade tecnológica é aquele em que vivemos. Com a rapi-
dez do processamento de dados pelos computadores, a subordinação dos homens ao tempo e ao
ambiente das máquinas fica cada vez maior. A sociedade contemporânea se caracteriza, cada vez
mais, pela velocidade das atualizações das máquinas e das informações, tornando o homem gradativa-
mente mais dependente e obsoleto em relação ao fluxo de atualizações e informações.
Texto adaptado a partir de “Os três momentos de geração da sociedade tecnológica”.
In: Gallo (coord.) Ética e cidadania: caminhos da filosofia, p. 104-106.

Este texto aponta que as mudanças fazem parte do desenvolvimento da vida humana e
que a sociedade tecnológica se encontra em contínuo movimento. A comunicação entre os ho-
mens e a sua relação com a natureza são bons exemplos que podemos solicitar aos jovens na
descrição, nestes três momentos. Perguntas do tipo: Como se dava a comunicação entre os
homens no período do Renascimento e da Revolução Industrial e como se dá hoje, na Socieda-
de Contemporânea? O que mudou, do século XVI para o século XXI, nas relações do homem
com a natureza? Quais as consequências atuais e as possíveis consequências futuras se manti-
vermos este ritmo de avanço tecnológico?
Existem muitas outras possibilidades de trabalho para o desenvolvimento da habilidade re-
querida, perpassando por questões ambientais, políticas, éticas e sociais, deixamos algumas dicas.

Hans Jonas: Por que a técnica moderna é um objeto para a ética


Oswaldo Giacoia Junior – Departamento de Filosofia – IFCH/Unicamp
Fonte: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/nh/v1n2/v1n2a07.pdf Consulta em: 20/05/2019 .

Reflexões para um futuro melhor


Henrique Rattner lança suas críticas ferozes sobre o papel desempenhado por cien-
tistas, governos e transnacionais
Fonte: https://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/set2001/unihoje_ju166pag25.html
Consulta em: 20/05/2019 .

Moral e ética no mundo contemporâneo


Yves de La Taille
Fonte: https://www.revistas.usp.br/revusp/article/download/125319/122350/
Consulta em: 20/05/2019 .

RECONHECER A RELEVÂNCIA DA REFLEXÃO FILOSÓFICA PARA A ANÁLISE DOS


TEMAS QUE EMERGEM DOS PROBLEMAS DAS SOCIEDADES CONTEMPORÂNEAS

EXPRESSAR POR ESCRITO E ORALMENTE QUESTIONAMENTOS SOBRE


O AVANÇO TECNOLÓGICO, O PENSAMENTO TECNICISTA
E AS CONSEQUÊNCIAS PARA A VIDA NO PLANETA
34 SÃO PAULO FAZ ESCOLA – CADERNO DO PROFESSOR

LEITURA E ESCRITA

CONHECIMENTO E RAZÃO INSTRUMENTAL
Quem quer que ainda seja capaz de lançar um olhar crítico ao mundo contemporâneo não poderá
certamente deixar de se surpreender ao comparar os resultados do processo histórico da modernidade
com o projeto que se pode inferir das pretensões de nossos ancestrais fundadores. Bacon e Descartes
situam-se nesta relação de paternidade exatamente porque propuseram os meios racionais de eman-
cipação do homem em relação às forças da natureza e aos dogmas estabelecidos por instâncias de
autoridade alheias ao domínio da pura razão. Tais meios racionais constituem os procedimentos de
conhecimento da realidade em todos os seus aspectos. Conhecer emancipa porque o conhecimento
traz consigo o domínio da realidade. 
Em princípio, nenhum elemento haveria neste quadro que pudesse causar estranheza ao homem do
nosso século, habituado às conquistas tecnológicas derivadas do progresso da ciência e à marcha ace-
lerada que caracteriza o domínio da terra por via das criações do engenho humano. (...)
Por que propósitos tão razoáveis aparecem hoje para nós como revestidos de um caráter quase bizar-
ro? Simplesmente porque a história da modernidade mostrou a incompatibilidade entre as duas partes
do projeto: a autonomia da razão e a conquista da felicidade. (...). Isto nos coloca diante de um proble-
ma singularmente difícil: explicar como a história encarregou-se de tornar falso algo que o pensamen-
to instituiu como verdade fundamental. (...)
Nada mais óbvio do que a constatação de que a razão é fator de progresso. O que caracteriza o avan-
ço histórico da modernidade é sobretudo o desenvolvimento da ciência e da técnica, tornado possível
pelas perspectivas metafísicas e metodológicas instituídas e fundamentadas no século XVII, pelo traba-
lho de Galileu, Bacon e Descartes. A compreensão mais aprofundada do processo, no entanto, exige
que se pergunte pelo tipo de racionalidade que se exerceu neste progresso. 
(...)E como a objetividade é constituída a partir desta unidade metódica, segue-se que um único tipo
de objeto é adequado a um único método. Pode-se continuar falando numa diversidade de objetos (a
alma, Deus, os corpos), mas o conhecimento evidente supõe a redução desta diversidade de conteú-
dos a uma uniformidade intelectual. De alguma maneira é preciso abstrair da diversidade a unidade,
para que haja correspondência entre método e objeto. É a própria unidade do paradigma que exige
esta redução, já que a certeza matemática, isto é, eminentemente intelectual e que incide sobre entes
abstratos, é o protótipo de evidência. É este o significado da matematização do mundo, ou do caráter
matematizante do conhecimento enquanto tal.
É esta unidade que prejudica, desde o início, a visão da diferença e da articulação entre o teórico e o
prático. Descartes não põe em dúvida a diferença entre a Física e a Moral, mas a necessidade de co-
nhecimento igualmente evidente em todos os domínios faz com que o conhecimento em moral deva
seguir o mesmo paradigma do conhecimento físico. (...)
É claro que estes problemas aparecem de maneira mais contundente no caso das ciências que têm por
objeto o homem, sejam aquelas convencionalmente ditas «humanas», como a Sociologia e a História,
FILOSOFIA – ENSINO MÉDIO 35

sejam aquelas que pelo menos têm o homem entre os seus objetos, como é o caso da Psicologia. As
questões que esta última suscita em termos de epistemologia e teoria da ciência são particularmente
relevantes para um equacionamento crítico do problema da razão instrumental.
Boa parte da crítica que se faz à Psicologia científica desde o final do século XIX até os anos 30 deste
século pode ser remetida a um problema de fundo, que foi desdobrado em várias dificuldades de ordem
epistemológica e de teoria do conhecimento. Trata-se da possibilidade de fazer do sujeito um objeto. 
Texto adaptado15
Franklin Leopoldo e Silva. Conhecimento e Razão instrumental. Psicol. USP, 1997.

A partir da leitura do texto proposto, sugerimos algumas questões para que os estudantes
possam exercitar a identificação da informação no texto filosófico.15

1. No primeiro parágrafo há a referência a uma constatação acerca do mundo contemporâ-


neo que não se efetiva de forma banal. Qual capacidade é necessária para se surpreen-
der com o processo histórico da modernidade?

2. No texto há uma crítica sobre racionalidade que conduz toda a diversidade para um úni-
co paradigma de conhecimento, indique quais áreas do conhecimento mais se ressen-
tem desta condição?

3. Por que, na sua opinião, as humanidades, pelo seu objeto de conhecimento, apresentam
dificuldades para se adequarem a uma racionalidade de caráter matematizante?
4. Comente a seguinte informação: “boa parte da crítica que se faz à Psicologia científica,
desde o final do século XIX, remete à dificuldade de fazer do sujeito um objeto”. 

IDENTIFICAR, SELECIONAR E PROBLEMATIZAR


INFORMAÇÕES EM TEXTOS FILOSÓFICOS

AVALIAÇÃO
Os estudantes poderão ser avaliados, a partir das produções escritas e grau de profundi-
dade da pesquisa ou outras atividades propostas pelo(a) professor(a). No contexto do tema,
sugerimos que a avaliação possa, segundo seu critério, ser apresentada em formato de seminá-
rio, trabalho escrito ou jornal mural com a seleção de algumas notícias levadas pela turma.

15
Texto adaptado a partir do original SILVA, Franklin Leopoldo e. Conhecimento e Razão Instrumental. Psicol. USP,
São Paulo, v. 8, n. 1, p. 11-31,1997. Texto completo acessível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_art
text&pid=S0103-65641997000100002 Acesso em: 30/05/2019.
36 SÃO PAULO FAZ ESCOLA – CADERNO DO PROFESSOR

Uma possibilidade de pensar o tema pode ser a partir de questões


do ENEM dos anos de 2016 e 2018.
ENEM 2016
ENEM 2018

RECUPERAÇÃO
A recuperação da aprendizagem deve ser realizada a partir de uma proposta diferenciada
ao tratar o tema e a avaliação da aprendizagem do estudante. É preciso estar atento para opor-
tunizar possibilidades de fazer diferente, tanto em relação às atividades quanto às avaliações.
Sugerimos que os estudantes resgatem um ou mais conceitos que foram trabalhados e
elaborem uma notícia com evidências da aprendizagem.

TEMA: INTRODUÇÃO À BIOÉTICA


Página 100 no Caderno do Aluno

Over himself,
over his own
body and mind, t
he individual is
sovereign.*

On Lybert
John Stuart Mil

https://pixabay.com/images/id-664427/

O tema bioética tem como objetivo discutir questões relativas aos valores da vida hu-
mana em relação à saúde, à medicalização, à existência e ao meio ambiente. Todas estas
questões estão presentes em nosso cotidiano e reflexões mais profundas precisam ser em-
preendidas.
FILOSOFIA – ENSINO MÉDIO 37

SENSIBILIZAÇÃO
Para darmos início a esta sequência didática, sugerimos algumas indagações:

O QUE É MORAL OU
ÉTICO?

O QUE É CERTO E O QUE É


ERRADO, QUANDO
AVALIAMOS OS RESULTADOS
DO AVANÇO TECNOLÓGICO?

A QUEM ESSE
AVANÇO BENEFICIA?

A partir destas perguntas podemos dar continuidade com uma nova indagação:

VOCÊ JÁ OUVIU
FALAR EM BIOÉTICA?

As respostas darão subsídios para uma roda de conversa em que será possível discutir
questões do campo da bioética, trazendo para aula a possibilidade de refletir sobre a importân-
cia de pensar sobre questões que muitas vezes são encaradas como tabus sociais.
Estas discussões podem perpassar pela reflexão filosófica, indo além, partindo para o en-
frentamento sobre a atuação de políticas públicas, questionando sobre quais são as tomadas de
decisão e escolhas que beneficiam a população e o meio ambiente, assegurando assim uma
relação ética com a vida - vida dos homens, dos animais e do planeta.

DISCUTIR QUESTÕES DO CAMPO DA BIOÉTICA, DISTINGUINDO O PAPEL


DA REFLEXÃO FILOSÓFICA PARA O SEU ENFRENTAMENTO
38 SÃO PAULO FAZ ESCOLA – CADERNO DO PROFESSOR

CONTEXTUALIZAÇÃO
No processo de contextualização, é importante fomentar a pesquisa sobre as diferentes
formas de pensar a bioética. Quais assuntos a partir do nome “bioética” podem ser motivo de
discussão? A sugestão é orientar os estudantes a formarem grupos, em que cada grupo fique
responsável por pesquisar uma situação diferente.
As pesquisas podem contemplar as seguintes situações: genoma humano, clone, aborto,
eutanásia, transgênicos, uso excessivo de agrotóxicos, pesquisas com animais etc.
O docente pode orientar os estudantes a pesquisarem em livros didáticos diversos, jornais,
revistas, sites, filmes, vídeos e redes sociais sobre as situações que foram indicadas. Após a pes-
quisa, é importante o docente orientá-los a sistematizarem as informações, para posteriormen-
te, elaborarem uma apresentação para turma. Esta ação possibilita que todos tomem contato
com as diferentes situações.
A partir das apresentações dos grupos, é desejável que o docente oriente os estudantes a
relacionarem as informações destas diferentes situações, construindo assim um argumento
consciente e crítico sobre a temática trabalhada.
Outra forma de contextualização pode se dar por meio de filmes. Trazemos para este guia
duas sugestões:

COBAIAS - No sul dos Estados Unidos, em 19 32, a sífilis havia se tornado uma epi-
demia entre as comunidades afro-americanas. Preocupado com a rapidez com que
a doença se espalha pela região, o governo decide criar um programa de tratamen-
to no único hospital negro da localidade. Infelizmente, o tratamento acaba perden-
do seu apoio financeiro e é fechado. A partir daí, tem início uma das mais horríveis
traições da história da humanidade. Um grupo de doutores cria um novo programa
médico que apenas finge estar tratando a doença. Na verdade, eles estão realizan-
do um estudo sobre o efeito da sífilis em homens negros, para comprovar se eles
são biologicamente iguais ou diferentes dos brancos. Durante anos, 600 homens
foram submetidos a essa humilhação, iludidos com uma cura que nunca chegaria.
Fonte: https://filmow.com/cobaias-t34851/ Consulta em: 23/05/2019 .

A estudante Tauana Campos, do 4° ano de Ciências Biológicas, publicou em fevereiro de


2011, no site Jornal Biosferas do curso de Ciências Biológicas da UNESP de Rio Claro, o artigo
“Filosofia da Ciência - Filme “Cobaias” e o Caso Tuskegee – onde estava a Bioética?”16. A leitu-
ra deste texto auxilia o docente nas reflexões e discussões que podem acontecer a partir do fil-
me “Cobaias”, caso tenha o escolhido como metodologia de trabalho.
A intenção deve estar voltada para o desenvolvimento da habilidade que requer a relação
de informações pensadas de diferentes formas, considerando os conhecimentos disponíveis
para variadas situações.

16
Fonte: http://www.rc.unesp.br/biosferas/Art0036.html Consulta em: 23/05/2019.
FILOSOFIA – ENSINO MÉDIO 39

FILME “COBAIAS” E O CASO TUSKEGEE – ONDE ESTAVA A BIOÉTICA?


O filme “Cobaias”, 1997, Anasazi Productions, se baseia no “Estudo Tuskegee de Sífilis Não-Tratada
em Homens Negros”, mais conhecido como Caso Tuskegee, que ocorreu no Condado de Macon, Ala-
bama, Estados Unidos, de 1932 à 1972, ele foi uma das transformações que mais contribuiu para o
avanço da Bioética, houveram outros estudos relacionados à sífilis antes dele, porém a penicilina ainda
não havia sido descoberta (descoberta em 1928, por Alexander Fleming, e utilizada como fármaco a
partir de 1941), como o “Oslo Study” e o “Rosahn Study”.
O Caso Tuskegee é comparado a outros estudos, os quais os participantes também não eram informa-
dos do experimento, como os estudos realizados na Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945), por Hitler
em prisioneiros de guerra, na sua maioria judeus, eles eram expostos a temperaturas muito baixas por
períodos prolongados; infectados com tifo, malária, e outras doenças para testar drogas e vacinas; es-
terilização; administrar venenos para estudar seus efeitos letais; testes aplicando corantes químicos em
olhos de presos na tentativa de mudar suas cores, experiências com gêmeos, entre outros. Em 1947
médicos do regime nazista são julgados pelos crimes cometidos, elabora-se o Código de Nuremberg,
primeiro sistema normativo internacional regulador dos padrões de pesquisas clínicas, nele já se esta-
belecia que o consentimento voluntário era absolutamente essencial e que o participante tinha direito
de ser informado para tomar a decisão. Em 1948 foi elaborado a Declaração Universal dos Direitos do
Homem - “Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos”.
Além disso, a pesquisa passou por vários estágios, sendo os iniciais plausíveis, os objetivos iniciais eram
levantar novos fundos para tratar os participantes, pois depois da Crise de 1929 o governo Rosenwald
retirou os fundos que auxiliavam a descoberta de novos tratamentos para a sífilis, doença que mais
afetava os moradores da cidade de Tuskegee, porém a proteção do indivíduo não era tão importante
quanto o interesse da sociedade em mostrar que os negros eram inferiores tanto socialmente, cultural-
mente, quanto biologicamente. Nenhum deles foi informado sobre o verdadeiro propósito do estudo,
eles foram induzidos a acreditar que estavam recebendo tratamento adequado, além de receberem
incentivo por parte da enfermeira Eunice Rivers, como conversas, visitas, comida, remédios, seguro
funerário, consultas com médicos e exames, quando alguns reclamavam que o tratamento não estava
surtindo efeito, que eles tinham dores, a enfermeira dizia que o governo estava gastando com eles, que
eles eram ingratos, em 1957 os sobreviventes até ganharam um diploma do Serviço de Saúde Pública
Norte-Americano agradecendo a participação de 25 anos no estudo, como se isso fosse o suficiente
pelo não tratamento lhes negado; por fim o estudo foi interrompido em 1972 por pressão da socieda-
de, após divulgação na imprensa leiga. Em 1947 o serviço de saúde pública norte-americana criou
“Centros de Tratamento Rápido” para pacientes com sífilis, mesmo assim, todos os indivíduos incluí-
dos no estudo continuavam sem receber tratamento por decisão formal do grupo de pesquisadores, o
que no filme é mostrado quando o militar ex-participante do estudo leva seu amigo para tomar a vaci-
na e ele não pode, pois seu nome está marcado para não tomar a vacina, além do fato da influência da
enfermeira, Eunice Rivers, sobre os participantes do estudo, eles tinham menos instrução, mostrando
que aquele que detém maior grau educacional, é mais confiável. Ela era tão confiável, na visão dos
participantes, que até 1952, de 146 óbitos, ela conseguiu a autorização para 145 necropsias.
40 SÃO PAULO FAZ ESCOLA – CADERNO DO PROFESSOR

Foram escritos 13 artigos científicos sobre o estudo, os mais importantes foram os de 1936, 1952 e 1961,
e em todos era explicito o não tratamento, por vezes os artigos geraram polêmica, mas esta logo foi su-
perada, mostrando que a história ideológica era muito presente mesmo no mundo acadêmico. Muitas
pessoas contraíram sífilis ao longo do estudo, bem como muitos recém-nascidos e o E.U.A. pagaram mais
de dez milhões de dólares em indenizações para mais de 6.000 pessoas, mas somente em 16 de maio de
1997 o Presidente Bill Clinton pediu desculpas formais para os cinco sobreviventes que compareceram à
solenidade na Casa Branca, isso mostra que ainda há muita hierarquia de valores, perdemos a noção dos
direitos dos valores das pessoas. Em relação a este triste caso da história mundial, em 1981 James H.
Jones, publicou o livro Bad Blood: The Tuskegee Syphlis Experiment e em 1997 saiu o filme Cobaias, uma
forma de tornar mais público o episódio lamentável. O filme em si é bem fiel a história que aconteceu,
porém, mesmo sendo encarado como um documentário, ele tem um toque de romance que não acon-
teceu na realidade, talvez para minimizar um pouco a brutalidade da pesquisa.

Esse caso foi fundamental para a estruturação da Bioética, ética em ciência experimental, pois em 1978
houve a publicação do Relatório Belmont, seus princípios eram: respeito pelas pessoas (consentimento
livre e esclarecido), ou seja, saber sobre o que se trata, estar ciente da pesquisa, sua finalidade e riscos;
beneficência (avaliação da relação custo-benefício), ou seja, vale a pena fazer a pesquisa, os dados
serão úteis; e justiça (igualdade de acesso à participação nos estudos e distribuição dos resultados), ou
seja, todos têm que ter acesso aos resultados da pesquisa.

Onde estava a Bioética nessa época? Valeu a pena tantas mortes em relação aos resultados que o es-
tudo obteve? Porque tantos tiveram que morrer, não somente nesse caso, mas também em outros
como nos experimentos da 2° Guerra Mundial, estudo de células cancerosas vivas injetadas em 22
idosos para testar a imunidade ao câncer, ausência de tratamento de hepatite em crianças com defici-
ência mental, e outras infectadas deliberadamente com o vírus; infelizmente por causa dessas mortes
e dessas pesquisas antiéticas que hoje a Bioética está tão estruturada, por causa deles que hoje para
se fazer qualquer tipo de pesquisa, tanto com seres humanos, quanto com animais, existe um Comitê
de Ética que avalia a proposta, avalia se vale a pena o estudo, se a metodologia é necessária, quantos
indivíduos são necessários, então quem somos nós para julgar se os resultados dessas pesquisas foram
válidos para que elas acontecessem, apenas podemos dizer que eles foram válidos para que esse tipo
de pesquisa não aconteça mais, para assegurar que as próximas pesquisas não sejam feitas dessa ma-
neira, que elas respeitem os objetos de pesquisa, para que os indivíduos não sejam somente um núme-
ro, uma estatística, um resultado e sim um ser humano ou animal que acima de tudo merece respeito e
tem direito a vida.
Tauana Campos – 4° ano de Ciências Biológicas
Fonte: http://www.rc.unesp.br/biosferas/Art0036.html Consulta em: 23/05/2019.

Outro possível filme para trabalhar com os alunos é o drama romântico “Como eu era antes
de você?”. Neste filme, é abordada a escolha da eutanásia, questão polêmica que divide opini-
ões. Para fomentar as discussões, sugerimos o levantamento de informações sobre as possibili-
dades e condições da eutanásia em diferentes países, inclusive no Brasil.
FILOSOFIA – ENSINO MÉDIO 41

COMO EU ERA ANTES DE VOCÊ - Rico e bem-sucedido, Will (Sam Claflin) leva
uma vida repleta de conquistas, viagens e esportes radicais até ser atingido por
uma moto, ao atravessar a rua em um dia chuvoso. O acidente o torna tetraplégico,
obrigando-o a permanecer em uma cadeira de rodas. A situação o transforma em
um sujeito depressivo e extremamente cínico, para a preocupação de seus pais
(Janet McTeer e Charles Dance). É neste contexto que Louisa Clark (Emilia Clarke)
é contratada para cuidar de Will. De origem modesta, com dificuldades financeiras
e sem grandes aspirações na vida, ela faz o possível para melhorar o estado de es-
pírito de Will e, aos poucos, acaba se envolvendo com ele.
Fonte: http://www.adorocinema.com/filmes/filme-230327/ Consulta em 23/05/2019 .

RELACIONAR INFORMAÇÕES, REPRESENTADAS DE DIFERENTES


FORMAS, E CONHECIMENTOS DISPONÍVEIS EM DIFERENTES
SITUAÇÕES PARA CONSTRUIR ARGUMENTAÇÃO CONSISTENTE

Lembramos que a exibição de filmes na íntegra ou trechos requer a supervisão do docen-


te. Dessa forma, independentemente da classificação etária, solicitamos aos docentes que
assistam os filmes e reflitam sobre a maturidade das turmas para assistir as cenas.

LEITURA E ESCRITA
Nesta etapa, sugerimos aos docentes selecionarem textos e/ou fragmentos em livros didáti-
cos diversos, revistas filosóficas, sites específicos que fomentem as reflexões sobre a BIOÉTICA.
Esta seleção pode incluir leituras realizadas em bimestres e anos anteriores tendo em vista
articular informações já conhecidas e as mais recentes. A Declaração Universal dos Direitos Hu-
manos, por exemplo, pode ser retomada neste momento para analisar Declaração Universal
sobre Bioética e Direitos Humanos, documento elaborado pela Unesco de Portugal.

DECLARAÇÃO UNIVERSAL SOBRE BIOÉTICA E DIREITOS HUMANOS


Consciente da capacidade única dos seres humanos de refletir sobre a sua existência e o seu meio
ambiente, identificar a injustiça, evitar o perigo, assumir responsabilidades, procurar cooperação e dar
mostras de um sentido moral que dá expressão a princípios éticos,
Considerando os rápidos progressos da ciência e da tecnologia, que cada vez mais influenciam a nossa
concepção da vida e a própria vida, de que resulta uma forte procura de resposta universal para as suas
implicações éticas,
Reconhecendo que as questões éticas suscitadas pelos rápidos progressos da ciência e suas aplicações
tecnológicas devem ser examinadas tendo o devido respeito pela dignidade da pessoa humana e o
respeito universal e efetivo dos direitos humanos e das liberdades fundamentais,
Convicta de que é necessário e oportuno que a comunidade internacional enuncie princípios universais
com base nos quais a humanidade possa responder aos dilemas e controvérsias, cada vez mais nume-
rosos, que a ciência e a tecnologia suscitam para a humanidade e para o meio ambiente, [...]
[...] Reconhecendo que a presente Declaração deve ser entendida de uma forma compatível com o
direito nacional e internacional em conformidade com o direito relativo aos direitos humanos,
Recordando o Ato Constitutivo da UNESCO, adotado em 16 de Novembro de 1945,
42 SÃO PAULO FAZ ESCOLA – CADERNO DO PROFESSOR

Considerando que a UNESCO tem um papel a desempenhar na promoção de princípios universais as-
sentes em valores éticos comuns que orientem o desenvolvimento científico e tecnológico e bem assim
as transformações sociais, com vista a identificar os desafios que se levantam no domínio da ciência e da
tecnologia tendo em conta a responsabilidade das gerações presentes para com as gerações futuras, e
que é necessário tratar as questões de bioética, que têm necessariamente uma dimensão internacional,
no seu conjunto, aplicando os princípios já enunciados na Declaração Universal sobre o Genoma Humano
e os Direitos Humanos e a Declaração Internacional sobre os Dados Genéticos Humanos, e tendo em
consideração não apenas o contexto científico atual mas também as perspectivas futuras,
Consciente de que os seres humanos fazem parte integrante da biosfera e têm um papel importante a de-
sempenhar protegendo-se uns aos outros e protegendo as outras formas de vida, em particular os animais,
Reconhecendo que, baseados na liberdade da ciência e da investigação, os progressos da ciência e da
tecnologia estiveram, e podem estar, na origem de grandes benefícios para a humanidade, nomeada-
mente aumentando a esperança de vida e melhorando a qualidade de vida, e sublinhando que estes
progressos deverão sempre procurar promover o bem-estar dos indivíduos, das famílias, dos grupos e
das comunidades e da humanidade em geral, no reconhecimento da dignidade da pessoa humana e
no respeito universal e efetivo dos direitos humanos e das liberdades fundamentais,
Reconhecendo que a saúde não depende apenas dos progressos da investigação científica e tecnoló-
gica, mas também de fatores psicossociais e culturais,
Reconhecendo também que as decisões relativas às questões éticas suscitadas pela medicina, pelas
ciências da vida e pelas tecnologias que lhes estão associadas podem ter repercussões sobre os indiví-
duos, as famílias, os grupos ou comunidades e sobre a humanidade em geral,
Tendo presente que a diversidade cultural, fonte de intercâmbios, de inovação e de criatividade, é neces-
sária à humanidade e, neste sentido, constitui património comum da humanidade, mas sublinhando que
ela não pode ser invocada em detrimento dos direitos humanos e das liberdades fundamentais,
Tendo igualmente presente que a identidade da pessoa tem dimensões biológicas, psicológicas, so-
ciais, culturais e espirituais,
Reconhecendo que comportamentos científicos e tecnológicos contrários à ética têm repercussões
particulares nas comunidades autóctones e locais,
Convicta de que a sensibilidade moral e a reflexão ética devem fazer parte integrante do processo de
desenvolvimento científico e tecnológico e de que a bioética deve ter um papel fundamental nas esco-
lhas que é necessário fazer, face aos problemas suscitados pelo referido desenvolvimento,
Considerando que é desejável desenvolver novas formas de responsabilidade social que assegurem que
o progresso científico e tecnológico contribui para a justiça, a equidade e o interesse da humanidade,
Reconhecendo que um meio importante de avaliar as realidades sociais e alcançar a equidade é prestar
atenção à situação das mulheres,
Sublinhando a necessidade de reforçar a cooperação internacional no domínio da bioética, tendo par-
ticularmente em conta as necessidades específicas dos países em desenvolvimento, das comunidades
autóctones e das populações vulneráveis,
Considerando que todos os seres humanos, sem distinção, devem beneficiar das mesmas elevadas
normas éticas no domínio da medicina e da investigação em ciências da vida,
Proclama os princípios que se seguem e adopta a presente Declaração.
Fonte: Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos – UNESCO Portugal
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=65673
FILOSOFIA – ENSINO MÉDIO 43

Após a realização da leitura deste ou de outro texto indicado, de acordo com a preferência
do docente, recomendamos a elaboração de um texto-síntese para apresentar a compreensão
da leitura.
Outros textos e situações podem ser retomadas para fortalecer as reflexões e produções
de textos. Destacamos que a retomada de textos e situações devem ser organizados a partir da
elaboração de texto síntese. Neste momento, voltado para refletir de forma mais aprofundada,
das questões relativas à bioética. Os textos sínteses devem apresentar os seguintes pontos:
categorizar os fatos referentes ao tema; organizar o que foi escrito sobre o tema, indicando as
fontes consultadas e o contexto da produção e, por fim, organizar de maneira lógica os argu-
mentos.

ELABORAR TEXTOS-SÍNTESE A PARTIR DOS CONTEÚDOS


FILOSÓFICOS ESTUDADOS NO BIMESTRE

AVALIAÇÃO
Sugerimos no contexto das considerações e das propostas apresentadas, que a avaliação
possa estar direcionada ao entendimento do tema abordado. Destacamos que as atividades
realizadas, ao longo do desenvolvimento do tema e das habilidades indicadas, devem ser con-
sideradas para o processo avaliativo. Fica a critério do (a) professor (a) a elaboração de provas
sobre o tema.

Uma possibilidade de pensar o tema pode ser por meio


da questão do ENEM de 2014.
ENEM 2014

RECUPERAÇÃO
A recuperação da aprendizagem deve ser realizada a partir de uma proposta diferenciada
ao tratar o tema e a avaliação da aprendizagem do estudante, a partir do desenvolvimento das
habilidades previstas, possibilitando assim outras formas de evidenciar o conhecimento. O do-
cente precisa estar atento para oportunizar possibilidades de fazer diferente, tanto em relação
às atividades quanto às avaliações.
Sugerimos a construção de uma história em quadrinhos que apresente uma situação pro-
blemática no que diz respeito à bioética. Pode ser algo relacionada ao aborto, ou a eutanásia,
ou até mesmo à questão dos transgênicos, o importante é que o estudante revele em sua cons-
trução a importância da reflexão sobre a bioética.
44 SÃO PAULO FAZ ESCOLA – CADERNO DO PROFESSOR

RECURSOS DIDÁTICOS
Há diversos recursos didáticos que podem enriquecer o trabalho com o tema proposto.
Indicamos alguns exemplos a serem utilizados conforme o planejamento de aulas do (a) pro-
fessor (a).

ARTIGOS/LIVROS/TEXTOS/SITES

OBRA FILOSÓFICA
AD0RN0, Theodor; H0RKHEIMER, Max. Dialética do esclarecimento fragmentos filosóficos.
Tradução Guido Antonio de Almeida. Rio de Janeiro Jorge Zahar, 1985. p. 40.
DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Afrodite, Lisboa. 1967.
GALL0, Silvio (Coord.). Ética e cidadania caminhos da Filosofia elementos para o ensino de
Filosofia. 20. ed. Campinas Papirus, 2012.

SITES

Ao menos 5 países permitem suicídio assistido ou eutanásia; veja quais são


Fonte: http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2014/11/ao-menos-5-paises-
permitem-suicidio-assistido-ou-eutanasia-veja-quais-sao.html Acesso em: 13/05/2019.
Bioética nas questões da vida e da morte
Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-656420030002
00008 Acesso em: 13/05/2019.
Bioética e Aborto
Fonte: http://www.portalmedico.org.br/biblioteca_virtual/bioetica/ParteIIIaborto.htm
Acesso em: 13/05/2019.
Clonagem humana
Fonte: https://super.abril.com.br/ciencia/clonagem-humana/ Acesso em: 16/05/2019.
Da Ética Filosófica à Ética em Saúde
Fonte: http://www.portalmedico.org.br/biblioteca_virtual/bioetica/ParteIIdaetica.htm
Acesso em: 13/05/2019.
Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos – UNESCO Portugal
Fonte: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_
action=&co_obra=65673 Acesso em: 13/05/2019.
Declaração Universal sobre o Genoma Humano e os Direitos Humanos: da teoria à prática
Fonte: https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000122990_por Acesso em: 13/05/2019.
Doente terminal pode ter aparelho desligado
Fonte: http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,AA1345635-5598,00-DOENTE+
TERMINAL+PODE+TER+APARELHO+DESLIGADO.html Acesso em: 13/05/2019.
FILOSOFIA – ENSINO MÉDIO 45

O projeto genoma humano e os desafios da bioética na pós-modernidade: princípio da dignidade


da pessoa humana como paradigma às questões bioéticas
Fonte: http://www.egov.ufsc.br/portal/conteudo/o-projeto-genoma-humano-e-os-
desafios-da-bio%C3%A9tica-na-p%C3%B3s-modernidade-princ%C3%ADpio-da-
dignidade Acesso em: 13/05/2019.
Perigo: o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo.
Fonte: https://g1.globo.com/pr/parana/especial-publicitario/apreaa/noticia/perigo-o-
brasil-e-o-maior-consumidor-de-agrotoxicos-do-mundo.ghtml Acesso em: 12/06/2019
Sociedade do Espetáculo
Fonte: https://farofafilosofica.com/2017/04/09/sociedade-do-espetaculo-de-guy-debord-
documentario-e-livro/ Acesso em: 30/05/2019.
ZYGMUNT BAUMAN 
Fonte: https://farofafilosofica.com/2017/02/24/zygmunt-bauman-em-pdf-31-livros-para-
download/ Acesso em: 30/05/2019.
Filme “Cobaias” e o Caso Tuskegee – onde estava a Bioética?
Fonte: http://www.rc.unesp.br/biosferas/Art0036.html Consulta em: 23/05/2019.
Pesquisas com animais
Fonte: https://ciencia.estadao.com.br/blogs/herton-escobar/pesquisas-com-animais/
Acesso em: 13/05/2019.
Reflexões para um futuro melhor - Henrique Rattner lança suas críticas ferozes sobre o papel de-
sempenhado por cientistas, governos e transnacionais
Fonte: https://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/set2001/unihoje_ju166
pag25.html Consulta em: 20/05/2019.

REVISTAS

Moral e ética no mundo contemporâneo - Yves de La Taille


Fonte: https://www.revistas.usp.br/revusp/article/download/125319/122350/ Consulta
em: 20/05/2019.
O debate sobre aborto no Brasil: bioética, biopolítica e a Perspectiva dos Funcionamentos como
horizonte de justiça
Fonte: https://revistas.ufrj.br/index.php/metaxy/article/download/14082/10146 Aces-
so em: 13/05/2019.
Hans Jonas: Por que a técnica moderna é um objeto para a ética
Oswaldo Giacoia Junior - Departamento de Filosofia – IFCH/Unicamp
Fonte: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/nh/v1n2/v1n2a07.pdf Consulta em: 20/05/2019.
Instituto de Estudos Avançados discute ética socioambiental
Fonte:https://jornal.usp.br/atualidades/instituto-de-estudos-avancados-discute-etica-
socioambiental/ Consulta em: 20/05/2019.
46 SÃO PAULO FAZ ESCOLA – CADERNO DO PROFESSOR

SILVA, Franklin Leopoldo e. Conhecimento e Razão Instrumental. Psicol. USP, São Paulo, v. 8, n.


1, p. 11-31,1997. Texto completo acessível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0103-65641997000100002 Acesso em 30/05/2019.
Transgênicos: uma questão bioética
Fonte: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/san/article/view/8635626
Acesso em: 13/05/2019.

VÍDEOS

Cobaias
Fonte: https://filmow.com/cobaias-t34851/ Consulta em: 23/05/2019.
Cobaias (Miss Evers´ Boys) - Legendado - O Caso Tuskegee
https://www.youtube.com/watch?v=5H24-PHs3Us&t=2906s
Como eu era antes de você?
Fonte: http://www.adorocinema.com/filmes/filme-230327/ Consulta em: 23/05/2019.
Como Eu Era Antes de Você - Trailer Oficial 1 (leg) [HD]
https://www.youtube.com/watch?v=PnqUs3xiAVI Acesso em: 13/05/2019.
Você está perdido no mundo como eu?
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=Fpip4WOWygc Consulta em: 20/05/2019.

DICA

ENEM 2014
Fonte: https://descomplica.com.br/gabarito-enem/questoes/2014/primeiro-dia/pa-
nayiotis-zavos-quebrou-o-ultimo-tabu-da-clonagem-humana-transferiu-embrioes-para-
o-utero/ Consulta em: 20/05/2019.
ENEM 2016
Fonte: https://descomplica.com.br/gabarito-enem/questoes/2016/primeiro-dia/nao-
estou-mais-pensando-como-costumava-pensar-percebo-isso-de-modo-mais-acentuado-
quando-estou-lend/ Consulta em: 20/05/2019.
ENEM 2018
Fonte: https://descomplica.com.br/gabarito-enem/questoes/2018/primeiro-dia/uma-
-manifestacao-contemporanea-fenomeno-descrito-no-texto-e-oa/ Consulta em:
20/05/2019.
FILOSOFIA – ENSINO MÉDIO 47

FILOSOFIA
3a Série – Ensino Médio
QUADRO DAS HABILIDADES DO CURRÍCULO DO ESTADO DE SÃO PAULO E
COMPETÊNCIAS GERAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA
HABILIDADES DO
CURRÍCULO DO ESTADO COMPETÊNCIAS GERAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA
DE SÃO PAULO
Refletir sobre o tema felicida- 1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo
de no contexto da contribui- físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar apren-
ção filosófica. dendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclu-
siva.
Distinguir relações mantidas 2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências,
por pessoas de diferentes incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade,
culturas com a ideia de felici- para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e
dade. criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes
Distinguir abordagens pesso- áreas.
ais e sociais a respeito da 3. Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mun-
ideia de felicidade. diais, e também participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural.
4. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e es-
Ler, compreender e interpre- crita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens
tar textos filosóficos. artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experi-
ências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem
Desenvolver habilidades de ao entendimento mútuo.
leitura e escrita, bem como
de expressão oral na aborda- 5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação
gem de temas filosóficos. de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo
as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhe-
Elaborar hipóteses e ques- cimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e
tões a partir de leituras e de- coletiva.
bates realizados. 6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhe-
cimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do
Identificar diferentes conceitos mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu
de felicidade, destacando projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade.
questões associadas a diferen-
7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular,
tes entendimentos contempo-
negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e
râneos sobre “ser feliz”.
promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo respon-
Relacionar a ideia de felicida- sável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao
de a uma ética solidária. cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta.
8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreen-
dendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros,
com autocrítica e capacidade para lidar com elas.
9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-
-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com aco-
lhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus sabe-
res, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer
natureza.
10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade,
resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, de-
mocráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.
48 SÃO PAULO FAZ ESCOLA – CADERNO DO PROFESSOR

TEMA 1: CARACTERÍSTICAS DO DISCURSO


FILOSÓFICO - COMPARAÇÃO
COM O DISCURSO DA LITERATURA
Página 88 no Caderno do Aluno

Se, de um lado, a Filosofia não é uma ciência, ao


menos não no sentido em que se usa a palavra
para designar tradições empíricas de pesquisa
voltadas para a construção de modelos abstra-
tos dos fenômenos, e se não é, também, uma
das belas artes, no sentido poiético de ser uma
atividade voltada especificamente para a criação
de objetos concretos, de outro lado, a Filosofia
sempre teve conexões íntimas e duradouras
com os resultados das ciências e das artes e, no
esforço de pensar seus fundamentos, muitas ve-
zes foi além delas, abrindo campos para novos
https://pixabay.com/images/id-3325080/
saberes e novas experiências (...). Ademais, dada
a sua materialização como escrita, muitas vezes
de beleza e vigor poéticos incomparáveis, não
chega a ser inédito que alguns a aproximem da
Literatura...

Conhecimentos de Filosofia
PCN – Ensino Médio

SENSIBILIZAÇÃO
A comparação do discurso filosófico com a produção literária tem o sentido de propiciar ao
estudante o exercício para entender uma forma de manifestação do pensamento filosófico e ao
mesmo tempo reconhecer que Filosofia não é literatura.
Em consonância a esta consideração inicial, sugerimos que os estudantes elaborem hipó-
teses sobre os fragmentos que seguem, e a partir destas, indiquem qual texto é da tradição filo-
sófica e qual fragmento refere-se a um texto literário. É importante que os estudantes sejam
capazes de indicar elementos que fundamentem a hipótese levantada.17

Fragmento 1:
“(...) - Vai entender. Os fatos explicarão melhor os sentimentos: os fatos são tudo.
A melhor definição do amor não vale um beijo de moça namorada”17.

17
Machado de Assis. Obra Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar 1994. v. II. Disponível em: http://www.dominio-
publico.gov.br/download/texto/bv000240.pdf Acesso em: 09/05/2019.
FILOSOFIA – ENSINO MÉDIO 49

Fragmento 2:
Todos os objetos da razão ou da investigação humanas podem dividir-se natural-
mente em dois gêneros, a saber: relações de ideias e de fatos. Ao primeiro pertencem as
ciências da geometria, da álgebra e da aritmética e, numa palavra, toda afirmação que é
intuitivamente ou demonstrativamente certa. Que o quadrado da hipotenusa é igual à soma
do quadrado dos dois lados, é uma proposição que exprime uma relação entre estas figuras.
Que três vezes cinco é igual à metade de trinta exprime uma relação entre estes números.
As proposições deste gênero podem descobrir-se pela simples operação do pensamento e
não dependem de algo existente em alguma parte do universo. (...) Os fatos, que são os se-
gundos objetos da razão humana, não são determinados da mesma maneira, (...) O contrário
de um fato qualquer é sempre possível, pois, além de jamais implicar uma contradição, o
espírito o concebe com a mesma facilidade e distinção como se ele estivesse em completo
acordo com a realidade. Que o sol não nascerá amanhã é tão inteligível e não implica mais
contradição do que a afirmação que ele nascerá.18

A partir deste primeiro exercício, caberá ao docente orientar os estudantes a elaborarem


hipóteses sobre as aproximações acerca do tema e do tratamento que é dispensado para o
mesmo.18
Um segundo movimento, acerca deste processo de sensibilização, é apresentar aos estu-
dantes os autores e orientá-los para pesquisarem quem são, onde e em que momento viveram,
assim como as obras mais relevantes.
Por fim, sugerimos a organização de um debate sobre as semelhanças e diferenças entre o
discurso filosófico e a literatura, tendo como base os fragmentos apresentados e as experiências
literárias e filosóficas dos estudantes.

ELABORAR HIPÓTESES E QUESTÕES A PARTIR


DE LEITURAS E DEBATES REALIZADOS

CONTEXTUALIZAÇÃO
Para contextualizar o tema proposto, sugerimos que explicite junto aos estudantes as dife-
rentes possibilidades de expressão do pensamento. No contexto da história da Filosofia é válido
retomar os diálogos de Platão, além de informar aos estudantes que autores da Filosofia usaram
versos para expor seus pensamentos, como, por exemplo, Parmênides, Voltaire, com seus con-
tos cheios de sarcasmo e ironia e, mais contemporaneamente Sartre, que utilizava de diferentes

18
Ensaio Sobre o Entendimento Humano. Seção II- Da origem das ideias. Versão eletrônica do livro “Investiga-
ção Acerca do Entedimento Humano” Autor: David Hume Tradução: Anoar Aiex Créditos da digitalização: Mem-
bros do grupo de discussão Acrópolis (Filosofia) Homepage do grupo: http://br.egroups.com/group/acropo-
lis/ Acessível em Domínio Público http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000027.pdf
Acesso em 09/05/2019.
50 SÃO PAULO FAZ ESCOLA – CADERNO DO PROFESSOR

gêneros de escrita para manifestar suas ideias, posturas filosóficas e denúncias acerca das nos-
sas ações e pretensões. Sartre escreveu textos literários, peças de teatro, roteiros de cinema,
ensaios e outros textos de teor filosófico.
Além da produção filosófica que se aproxima da forma literária há, ainda, escritores que,
na sua produção literária, foram influenciados profundamente pela filosofia como Albert Ca-
mus, Milan Kundera, Clarisse Lispector. Das relações entre filosofia e literatura podemos con-
siderar que, por vezes, a produção literária empenha-se na reflexão filosofia, bem como a re-
flexão filosófica é apresentada na produção literária. Há ainda casos em que filósofos buscam
na literatura a matéria para a reflexão filosófica, pois a literatura, muitas vezes, ilustra conceitos
filosóficos.
Ressaltamos, ainda, que os diferentes gêneros filosóficos trazem um elemento fundamen-
tal: a tentativa de universalidade. Ainda que o texto filosófico apresente personagens fictícios,
com marcas de personalidade individual, como nas obras de Voltaire e Sartre, ele apresenta um
ponto de vista capaz de ser generalizado, revela sempre a tentativa de refletir sobre a relação
entre o particular e o universal. Ou seja, toda a trama construída, esteja ela em diálogo, carta,
ensaios, poema, aforismo, entre outros gêneros filosóficos, tem a pretensão de trazer elementos
capazes de construir a validade do seu enunciado principal revelador de um pensamento, de um
conceito fundamental.
O texto filosófico não comunica alguma novidade científica, política ou cultural, não é fon-
te de informação, apesar das marcas do tempo e da condição daquele que o elaborou se faze-
rem presentes. Isto posto, o texto filosófico não é atual nem desatualizado. O texto filosófico,
independente do gênero, tem uma tese a ser defendida.
Dessa forma, é importante que os estudantes possam exercitar estas possibilidades de
entender que o fato da filosofia não ser literatura não é impeditivo para que estes se inter-re-
lacionem de forma diversa, sendo este vínculo muito proveitoso para despertar reflexões e
aprimorar o conhecimento sobre o mundo e as relações sociais, políticas, econômicas, cultu-
rais etc.
Voltaire no “dicionário filosófico”, entre os verbetes, procura refletir sobre questões pró-
prias da vida comum, trazendo uma linguagem pedagógica acessível. O verbete “amor-pró-
prio”, por exemplo, tem o sentido de mostrar a dificuldade de definir elementos da subjetivida-
de como o “amor próprio”.
A partir do exposto, sugerimos a leitura do fragmento que segue e, a partir desta, os estu-
dantes podem ser orientados para discutirem em grupos o que eles entendem por “amor pró-
prio” e em que sentido os exemplos do mendigo e do faquir apresentam potencial para revelar
elementos do “amor próprio” capaz de contribuir para o nosso entendimento sobre o tema e
do todo.
FILOSOFIA – ENSINO MÉDIO 51

AMOR PRÓPRIO
Um mendigo dos arredores de Madri esmolava nobremente. Disse-lhe um transeunte:
- O sr. não tem vergonha de se dedicar a mister tão infame, quando podia trabalhar?
- Senhor, - respondeu o pedinte - estou lhe pedindo dinheiro e não conselhos. - E com toda a dignida-
de castelhana virou-lhe as costas.
Era um mendigo soberbo. Um nada lhe feria a vaidade. Pedia esmola por amor de si mesmo, e por
amor de si mesmo não suportava reprimendas.
Viajando pela Índia, topou um missionário com um faquir carregado de cadeias, nu como um macaco,
deitado sobre o ventre e deixando-se chicotear em resgate dos pecados de seus patrícios hindus, que
lhe davam algumas moedas do país.
- Que renúncia de si próprio! - dizia um dos espectadores.
- Renúncia de mim próprio? - retorquiu o faquir. - Ficai sabendo que não me deixo açoitar neste mundo
senão para vos retribuir no outro. Quando fordes cavalo e eu cavaleiro.
Tiveram pois plena razão os que disseram ser o amor de nós mesmos a base de todos as nossas ações
- na Índia, na Espanha como em toda a terra habitável. Supérfluo é provar aos homens que têm rosto.
Supérfluo também seria demonstrar-lhes possuírem amor próprio. O amor próprio é o instrumento da
nossa conservação. Assemelha-se ao instrumento da perpetuação da espécie. Necessitamo-lo. É-nos
caro. Deleita-nos - E cumpre ocultá-lo.
VOLTAIRE. Dicionário Filosófico. Verbete “amor próprio”. Disponível Domínio Público
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000022.pdf

O Dicionário filosófico de Voltaire é uma obra do Iluminismo assim como a Enciclo-


pédia de Denis Diderot. São obras que revelam o espírito de uma época. Neste
sentido, sugerimos uma pesquisa sobre a época e o cenário político e social em que
estas obras foram construídas e publicadas, bem como a recepção que elas tiveram
naquele momento.

DESENVOLVER HABILIDADES DE LEITURA E ESCRITA, BEM COMO


DE EXPRESSÃO ORAL NA ABORDAGEM DE TEMAS FILOSÓFICOS

LEITURA E ESCRITA
O conto “O enfermeiro”19 de Machado de Assis apresenta questões acerca da moralida-
de e de como as nossas convicções podem ser flexíveis quando se trata de sobrevivência. O
enfermeiro se defende e, neste percurso de auto proteger-se, revela uma condição humana?
A partir da leitura, os estudantes podem realizar um debate sobre o conto para responder à
questão proposta.

19
O texto na integra está disponível em http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000265.pdf
52 SÃO PAULO FAZ ESCOLA – CADERNO DO PROFESSOR

O ENFERMEIRO
Parece-lhe então que o que se deu comigo em 1860, pode entrar numa página de livro? Vá que seja,
com a condição única de que não há de divulgar nada antes da minha morte. Não esperará muito, (...)
estou desenganado.
Olhe, eu podia mesmo contar-lhe a minha vida inteira, em que há outras coisas interessantes, mas para
isso era preciso tempo, ânimo e papel, e eu só tenho papel (...). Adeus, meu caro senhor, leia isto e
queira-me bem; perdoe-me o que lhe parecer mau, e não maltrate muito a arruda, se lhe não cheira a
rosas. Pediu-me um documento humano, ei-lo aqui (...).
Já sabe que foi em l860. No ano anterior, ali pelo mês de agosto, tendo eu quarenta e dois anos, fiz-me
teólogo - quero dizer, copiava os estudos de teologia de um padre de Niterói, antigo companheiro de
colégio, que assim me dava delicadamente, casa, cama e mesa. Naquele mês de agosto de 1859, rece-
beu ele uma carta de um vigário de certa vila do interior, perguntando se conhecia pessoa entendida,
discreta e paciente, que quisesse ir servir de enfermeiro ao Coronel Felisberto, mediante um bom or-
denado. O padre falou-me, aceitei com ambas as mãos (...).
Chegando à vila, tive más notícias do coronel. Era homem insuportável, estúrdio, exigente, ninguém o
aturava, nem os próprios amigos. (...) e depois de entender-me com o vigário, que me confirmou as
notícias recebidas, e me recomendou mansidão e caridade, segui para a residência do coronel.
Achei-o na varanda da casa estirado numa cadeira, bufando muito. Não me recebeu mal. Começou por
não dizer nada; pôs em mim dois olhos de gato que observa (...).
- Você é gatuno?
- Não, senhor.
Em seguida, perguntou-me pelo nome: disse-lho (...) achou que não era nome de gente, e propôs
chamar-me tão-somente Procópio, ao que respondi que estaria pelo que fosse de seu agrado. (...) A
verdade é que vivemos uma lua-de-mel de sete dias.
No oitavo dia, entrei na vida dos meus predecessores, uma vida de cão, não dormir, não pensar em
mais nada, recolher injúrias, e, às vezes, rir delas (...). Tudo impertinências de moléstia e do tempe-
ramento (...). Se fosse só rabugento, vá; mas ele era também mau, deleitava-se com a dor e a humi-
lhação dos outros. No fim de três meses estava farto de o aturar; determinei vir embora; só esperei
ocasião.
Não tardou a ocasião. Um dia, como lhe não desse a tempo uma fomentação, pegou da bengala e
atirou-me dois ou três golpes. Não era preciso mais; despedi-me imediatamente, e fui aprontar a mala.
Ele foi ter comigo, ao quarto, pediu-me que ficasse, que não valia a pena zangar por uma rabugice de
velho. Instou tanto que fiquei.
- (...)Procópio, dizia-me ele à noite; não posso viver muito tempo (...). Você há de ir ao meu enterro,
Procópio; não o dispenso por nada. Há de ir, há de rezar ao pé da minha sepultura (...).
O coronel estava pior, fez testamento, descompondo o tabelião, quase tanto como a mim (...). No prin-
cípio de agosto resolvi definitivamente sair; o vigário e o médico, aceitando as razões, pediram-me que
ficasse algum tempo mais. Concedi-lhes um mês (...).
Vai ver o que aconteceu. Na noite de vinte e quatro de agosto, o coronel teve um acesso de raiva,
atropelou-me, disse-me muito nome cru, ameaçou-me de um tiro, e acabou atirando-me um prato de
mingau, que achou frio (...).
FILOSOFIA – ENSINO MÉDIO 53

(...) Resmungou ainda muito tempo. Às onze horas passou pelo sono. Enquanto ele dormia, saquei um
livro do bolso, (...)pus-me a lê-lo, no mesmo quarto, a pequena distância da cama; tinha de acordá-lo à
meia-noite para lhe dar o remédio. Ou fosse de cansaço, ou do livro, antes de chegar ao fim da segun-
da página adormeci também. Acordei aos gritos do coronel (...). Ele, que parecia delirar, continuou nos
mesmos gritos, e acabou por lançar mão da moringa e arremessá-la contra mim. Não tive tempo de
desviar-me; a moringa bateu-me na face esquerda, e tal foi a dor que não vi mais nada; atirei-me ao
doente, pus-lhe as mãos ao pescoço, lutamos e esganei-o.
Quando percebi que o doente expirava, recuei aterrado, e dei um grito; mas ninguém me ouviu. Voltei
à cama, agitei-o para chamá-lo à vida, era tarde; arrebentara o aneurisma, e o coronel morreu (...). Não
posso mesmo dizer tudo o que passei, durante esse tempo. (...) os gritos da vítima, antes da luta e du-
rante a luta, continuavam a repercutir dentro de mim (...). Não creia que esteja fazendo imagens nem
estilo; digo-lhe que eu ouvia distintamente umas vozes que me bradavam: assassino! Assassino!
Tudo o mais estava calado. (...) Voltava a andar à toa, na sala, sentava-me, punha as mãos na cabeça;
arrependia-me de ter vindo. - “Maldita a hora em que aceitei semelhante coisa!” Exclamava. E des-
compunha o padre de Niterói, o médico, o vigário, os que me arranjaram um lugar, e os que me pedi-
ram para ficar mais algum tempo. Agarrava-me à cumplicidade dos outros homens.
(...) Achei-me com um crime às costas e vi a punição certa. Aqui o temor complicou o remorso. (...) Antes
do alvorecer curei a contusão da face. Só então ousei voltar ao quarto. (...). Tremiam-me as pernas, o co-
ração batia-me; cheguei a pensar na fuga; mas era confessar o crime, e, ao contrário, urgia fazer desapa-
recer os vestígios dele. Fui até a cama; vi o cadáver, (...)Vi no pescoço o sinal das minhas unhas; abotoei
alto a camisa e cheguei ao queixo a ponta do lençol. Em seguida, (...) mandei recado ao vigário e ao
médico.
A primeira idéia foi retirar-me logo cedo (...). Mas adverti que a retirada imediata poderia fazer desper-
tar suspeitas, e fiquei. Eu mesmo amortalhei o cadáver (...). Não saí da sala mortuária; tinha medo de
que descobrissem alguma coisa (...). Vindo a hora, fechei o caixão, com as mãos trêmulas, tão trêmulas
que uma pessoa, que reparou nelas, disse a outra com piedade:
- Coitado do Procópio! Apesar do que padeceu, está muito sentido.
Pareceu-me ironia; estava ansioso por ver tudo acabado. Saímos à rua (...). Quando tudo acabou, respi-
rei. Estava em paz com os homens. Não o estava com a consciência, e as primeiras noites foram natu-
ralmente de desassossego e aflição. Não é preciso dizer que vim logo para o Rio de Janeiro, (...) embo-
ra longe do crime; não ria, falava pouco, mal comia, tinha alucinações, pesadelos...
- Deixa lá o outro que morreu, diziam-me. Não é caso para tanta melancolia.
E eu aproveitava a ilusão, fazendo muitos elogios ao morto, chamando-lhe boa criatura, impertinen-
te, é verdade, mas um coração de ouro(...). Outro fenômeno interessante, e que talvez lhe possa
aproveitar, é que, não sendo religioso, mandei dizer uma missa pelo eterno descanso do coronel(...).
Não fiz convites, não disse nada a ninguém; fui ouvi-la, sozinho, e estive de joelhos todo o tempo,
persignando-me a miúdo. Dobrei a espórtula do padre, e distribuí esmolas à porta, tudo por inten-
ção do finado (...).
Sete dias depois de chegar ao Rio de Janeiro, recebi a carta do vigário, que lhe mostrei, dizendo-me
que fora achado o testamento do coronel, e que eu era o herdeiro universal. Imagine o meu pasmo.
Pareceu-me que lia mal, fui a meu irmão, fui aos amigos; todos leram a mesma coisa. Estava escrito; era
eu o herdeiro universal do coronel (...). Reli a carta, cinco, dez, muitas vezes; lá estava a notícia.
54 SÃO PAULO FAZ ESCOLA – CADERNO DO PROFESSOR

(...) Assim, por uma ironia da sorte, os bens do coronel vinham parar às minhas mãos. Cogitei em recu-
sar a herança. Parecia-me odioso receber um vintém do tal espólio(...). No fim dos três dias, assentei
num meio-termo; receberia a herança e dá-la-ia toda, aos bocados e às escondidas. Não era só escrú-
pulo; era também o modo de resgatar o crime por um ato de virtude; pareceu-me que ficava assim de
contas saldas.
(...) Crime ou luta? Realmente, foi uma luta em que eu, atacado, defendi-me, e na defesa.... Foi uma luta
desgraçada, uma fatalidade. Fixei-me nessa idéia (...). Não era culpa do coronel, bem o sabia, era da mo-
léstia, que o tornava assim rabugento e até mau..., mas eu perdoava tudo, tudo... O pior foi a fatalidade
daquela noite.... Considerei também que o coronel não podia viver muito mais; estava por pouco; ele
mesmo o sentia e dizia. Viveria quanto? Duas semanas, ou uma; pode ser até que menos. Já não era vida,
era um molambo de vida, se isto mesmo se podia chamar ao padecer contínuo do pobre homem... E
quem sabe mesmo se a luta e a morte não foram apenas coincidentes? (...). Fixei-me também nessa idéia...
(...) Estava atordoado. Toda a gente me elogiava a dedicação e a paciência. As primeiras necessidades
do inventário detiveram-me algum tempo na vila. Constituí advogado; as coisas correram placidamen-
te. Durante esse tempo, falava muita vez do coronel. Vinham contar-me coisas dele, mas sem a mode-
ração do padre; eu defendia-o, apontava algumas virtudes, era austero...
- Qual austero! Já morreu, acabou; mas era o diabo.
E referiam-me casos duros, ações perversas, algumas extraordinárias (...).
Entrando na posse da herança, converti-a em títulos e dinheiro. Eram então passados muitos meses, e
a idéia de distribuí-la toda em esmolas e donativos pios não me dominou como da primeira vez; achei
mesmo que era afetação. Restringi o plano primitivo; distribuí alguma coisa aos pobres, dei à matriz da
vila uns paramentos novos, fiz uma esmola à Santa Casa da Misericórdia, etc. (...). Mandei também le-
vantar um túmulo ao coronel, todo de mármore, obra de um napolitano, que aqui esteve até 1866 (...).
Os anos foram andando, a memória tornou-se cinzenta e desmaiada. Penso às vezes no coronel, mas
sem os terrores dos primeiros dias. Todos os médicos a quem contei as moléstias dele, foram acordes
em que a morte era certa, e só se admiravam de ter resistido tanto tempo. Pode ser que eu, involunta-
riamente, exagerasse a descrição que então lhes fiz; mas a verdade é que ele devia morrer, ainda que
não fosse aquela fatalidade...
Adeus, meu caro senhor. Se achar que esses apontamentos valem alguma coisa, pague-me também
com um túmulo de mármore, ao qual dará por epitáfio esta emenda que faço aqui ao divino sermão da
montanha: “Bem-aventurados os que possuem, porque eles serão consolados.

A partir da leitura do conto espera-se que os estudantes sejam capazes de identificar, nos
elementos da narrativa, questões filosóficas que dizem respeito ao comportamento humano.
No conto é possível observar que o enfermeiro é realista sobre a sua situação, mas revela ao
mesmo tempo astúcia para fugir da punição, além de contar com a sorte. O realismo acerca das
situações, assim como a agudez de pensamento, são elementos presentes nas obras filosóficas
que refletem sobre a moral, a política e o comportamento humano, como afirma Mauro Souza
Ventura no artigo “Moral e Sobrevivência no conto de Machado de Assis”.20

20
Disponível em https://www.unicamp.br/iel/site/alunos/publicacoes/textos/m00017.htm Acesso em: 15/05/2019.
FILOSOFIA – ENSINO MÉDIO 55

Isto posto, sugerimos que os estudantes leiam o fragmento da obra “O príncipe” de Ma-
quiavel que apresenta a política como “cenário” privilegiado da manifestação da astúcia para
vencer em situações reais.

CAPÍTULO XV
DAQUELAS COISAS PELAS QUAIS OS HOMENS, E ESPECIALMENTE OS PRÍNCIPES, SÃO LOUVA-
DOS OU RECRIMINADOS
(...) sendo minha intenção escrever algo de útil para quem por tal se interesse, pareceu-me mais conve-
niente ir em busca da verdade extraída dos fatos e não à imaginação dos mesmos, pois muitos conce-
beram repúblicas e principados jamais vistos ou conhecidos como se realmente tivessem existido. Em
verdade, há tanta diferença de como se vive e como se deveria viver, que aquele que abandone o que
se faz por aquilo que se deveria fazer, aprenderá antes o caminho de sua ruína do que o de sua preser-
vação, eis que um homem que queira em todas as suas palavras fazer profissão de bondade, perder-
-se-á em meio a tantos que não são bons. Donde é necessário, a um príncipe que queira se manter,
aprender a poder não ser bom e usar ou não da bondade, segundo a necessidade.
Deixando de parte, assim, os assuntos imaginários para tratar dos verdadeiros, digo que todos os ho-
mens, especialmente os príncipes por estarem situados em posição mais preeminente, quando anali-
sados, se fazem notar por alguns daqueles atributos que lhes acarretam ou reprovação ou louvor. (...)
Ainda, não evite o príncipe de incorrer na má reputação por aqueles vícios que, sem eles, seria difícil
manter o Estado; pois, se bem considerado, sempre se encontrará alguma coisa que, parecendo virtu-
de, se praticada acarretará ruína, e alguma outra que, com aparência de vício, uma vez seguida dará
origem à segurança e ao bem-estar.21

A partir do texto, sugerimos que os estudantes sejam orientados para escrever um comen-
tário sobre aspectos relativos ao comportamento humano, presentes no fragmento de texto de
Maquiavel e no conto de Machado de Assis.21

LER, COMPREENDER E INTERPRETAR TEXTOS FILOSÓFICOS

AVALIAÇÃO
Sugerimos, a partir do tema e das habilidades a serem desenvolvidas, que os estudantes,
com base no conto “O enfermeiro”, argumentem se são contra ou favoráveis as decisões do
enfermeiro a partir da morte do Coronel Felisberto. No entanto, lembramos que fica a critério
do (a) professor (a) a elaboração de provas sobre o tema.

21
MAQUIAVEL. N. O Príncipe. Tradução livre a partir do texto disponível em inglês - The Prince by Nicolo Machiavelli
Translated by W. K. Marriott March, 1998 [Etext #1232]. Project Gutenberg. Disponível em http://www.dominio
publico.gov.br/download/texto/gu001232.pdf Acesso em: 15/05/2019.
56 SÃO PAULO FAZ ESCOLA – CADERNO DO PROFESSOR

Uma possibilidade de pensar o tema pode ser por meio


da questão do ENEM de 2018.
ENEM 2018

RECUPERAÇÃO
A recuperação da aprendizagem deve ser realizada a partir de uma proposta distinta do
que já foi feito no processo avaliativo. Possibilitando, assim, outras formas de evidenciar o co-
nhecimento. O docente precisa estar atento para oportunizar possibilidades de fazer diferente,
tanto em relação às atividades quanto às avaliações.
Sugerimos, considerando o tema, que os estudantes pesquisem sobre as diferenças e
aproximações entre o texto filosófico e o texto literário, retomem a leitura do texto de Voltaire e
respondam à seguinte questão: Por que podemos afirmar que a descrição do verbete “amor
próprio” de Voltaire é um texto filosófico?

TEMA: VALORES CONTEMPORÂNEOS QUE CERCAM O


TEMA DA FELICIDADE E DAS DIMENSÕES PESSOAIS E
SOCIAIS DA FELICIDADE
Página 95 no Caderno do Aluno

Não digas nada!


Nem mesmo a verdade
Há tanta suavidade em nada se dizer
E tudo se entender –
Tudo metade
De sentir e de ver...
Não digas nada
Deixa esquecer
Talvez que amanhã
Em outra paisagem
Digas que foi vã
Toda essa viagem
Até onde quis
Ser quem me agrada...
https://pixabay.com/images/id-2979107/ Mas ali fui feliz
Não digas nada.

Fernando Pessoa
FILOSOFIA – ENSINO MÉDIO 57

SENSIBILIZAÇÃO
De onde vem a nossa ideia de felicidade? Temos pontos de vista acerca da felicidade que
podem ser compartilhados por todos? A minha felicidade pode significar a infelicidade do outro?
A partir das questões iniciais, sugerimos um debate sobre diferentes modelos de felicidade:

Cite exemplos:

- Dos contos de fada - Dos romances


- Das novelas - Das propagandas
- Dos filmes - Das redes sociais

As considerações sobre os modelos devem ser sistematizadas, de forma a se construir uma


ideia geral acerca das abordagens sociais sobre a felicidade.
Para ampliar o repertório sobre o tema, sugerimos que os estudantes assistam aos vídeos
indicados e produzam breves comentários sobre as diferentes abordagens de felicidade.
- Ser cientificamente feliz: dinheiro traz felicidade?22
- Filosofia e felicidade, com Marcia Tiburi e Mario Sergio Cortella - Felicidade e Filosofia.23

DISTINGUIR ABORDAGENS PESSOAIS E SOCIAIS


A RESPEITO DA IDEIA DE FELICIDADE

CONTEXTUALIZAÇÃO
Para o processo de contextualização, sugerimos uma breve explicação sobre o tema felici-
dade a partir da perspectiva filosófica.
A felicidade, como tema da Filosofia, está associada a ideais forjadas, a partir de condições
impostas pela realidade social, política e cultural. Aristóteles, na Ética a Nicômaco, abre um es-
paço fundamental para discutir a felicidade como a finalidade das nossas ações. Sugerimos o
vídeo – “A Felicidade - Mônica Dias – Organização Internacional Nova Acrópole do Brasil”24
como uma possibilidade para pensar a felicidade segundo Aristóteles.
A perspectiva de que devemos procurar o bem maior ganha contornos interessantes quan-
do procuramos reconhecer onde e como vivemos e o que podemos esperar para sermos felizes.
Correntes filosóficas do período helenístico, do estoicismo e do epicurismo revelam diferentes

22
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=nK6sVsi-yao Consulta em: 13/06/2019.
23
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=W_1EtLeJEh0 Consulta em: 13/06/2019.
24
Fonte: https://nova-acropole.org.br/blog-saiba-mais/videos/video-a-felicidade/ Consulta em: 13/06/2019.
58 SÃO PAULO FAZ ESCOLA – CADERNO DO PROFESSOR

facetas da felicidade, o que nos oportuniza pensar que a felicidade não é um dado objetivo, uma
ideia, situação ou sensação que pode ser vivenciada da mesma maneira por todos.
Estas perspectivas de felicidade decorrem de um processo histórico-cultural conhecido
como helenismo, que se deu pela fusão da cultura grega com a dos povos orientais. Do ponto
de vista político, a principal consequência deste processo foi a dissolução da polis, isto é, da
cidade-Estado grega, que, pouco a pouco, foi perdendo sua autonomia. Antigas instituições,
como a assembleia dos cidadãos e a democracia ateniense, deixaram de existir. Não havia mais
espaço para a participação ativa dos cidadãos nas decisões mais importantes da vida da popu-
lação. Nesse contexto, a atividade filosófica também sofreu significativas transformações, mu-
dando o foco de suas preocupações.
Para o estoicismo, a felicidade consiste em adequar nossa vontade ao que está dado. Ou
seja, desejar apenas as coisas que dependem do que está em nosso alcance e eliminar todas as
paixões, a fim de alcançar o estado de imperturbabilidade da alma – a ataraxia. Não se deixar
perturbar por ideais fora do nosso alcance é reconhecer que existe uma razão para as coisas
serem da forma que elas são. Esta razão de ser das coisas pode ser relacionada com uma espé-
cie de Logos ou Deus, que integrado à natureza das coisas, se faz presente em toda a nossa vida.
Esta razão é uma ordem racional necessária, presente nos eventos. Dessa forma, os eventos não
podem ser compreendidos imediatamente ao ato, mas exigem para a sua compreensão ade-
quada que seja percebida numa complexidade mais ampla. Assim, uma doença não deve ser
vista como um malefício, mas como uma parte, como um ajuste, uma forma de manutenção que
visa a perfeição.
Por outro lado, segundo o epicurismo, a felicidade pode ser alcançada sempre que evita-
mos o medo. Em Carta a Meneceu 25, mais conhecida como Carta sobre a felicidade, Epicuro fala
sobre como alcançar a felicidade e conservá-la ao longo das nossas vidas. Ele enaltece a utilida-
de da Filosofia para a obtenção da “saúde do espírito”, isto é, da felicidade. Isso porque, é filo-
sofando que aprendemos a distinguir entre as coisas que nos aproximam da felicidade e as que
dela nos distanciam, optando pelas primeiras e evitando as segundas. Neste processo de distin-
ção, aprendemos a evitar o temor que não tem explicação lógica. Neste sentido, segundo Epi-
curo, não há motivo para temer a morte, pois ela não é nem um bem, nem um mal, uma vez que
ela não produz sensações boas ou ruins. A morte nada mais é do que a ausência de sensações,
assim sendo, a morte não é nada para nós. Se estamos vivos ela está ausente e quando ela che-
ga, nós não estamos presentes. Para Epicuro é uma tolice nos angustiarmos à espera da morte,
fazemos melhor uso da vida aproveitando o momento presente. Para isso, precisamos conhecer
bem os nossos desejos e direcionar nossas escolhas àquilo que contribui para a manutenção da
boa forma física e o cultivo de um espírito calmo, porque, segundo Epicuro, esse é o propósito
da vida feliz.
A felicidade, desta forma, é a busca do prazer que não é banal, no sentido de que o prazer
deve ser antes avaliado pelos benefícios ou danos que pode causar. Além disso, como nem tudo
o que desejamos está ao nosso alcance, devemos aprender a extrair prazer daquilo que temos,
ou das coisas simples da vida, em vez de sofrer pela falta daquilo que não podemos ter. Trata-se,
antes, do prazer entendido como estado de conforto e tranquilidade, único capaz de nos pro-
porcionar a verdadeira felicidade.

25
Fonte: http://abdet.com.br/site/wp-content/uploads/2014/11/Carta-Sobre-a-Felicidade.pdf
Consulta em: 13/06/2019.
FILOSOFIA – ENSINO MÉDIO 59

A felicidade pensada pelo estoicismo e epicurismo está bem distante da felicidade orien-
tada pelo hedonismo atual26, relacionado ao prazer do consumo de coisas, das tecnologias e
padrões. A felicidade neste sentido liga-se à obsessão, à ansiedade por ter sempre mais e mais.
Talvez o hedonismo atual traduza de forma mais efetiva a busca pela felicidade, que mais facil-
mente seja reconhecida no nosso cotidiano.
Outros aspectos acerca do tratamento da felicidade no contexto da tradição filosófica po-
dem ser considerados numa aula expositiva.
A partir do que foi brevemente comentado, sugerimos uma atividade para aprofundar a
reflexão acerca da dimensão social da felicidade. Os estudantes devem ter clareza que o ideal
de felicidade que cada um de nós guarda tem relação com o tempo e com a cultura que se vive.
Alcançar a felicidade não depende apenas da vontade e da atitude de cada pessoa, por mais
esforçada e determinada que ela seja. Não é possível ser feliz sem algumas condições objetivas
como moradia, alimentação, saúde, lazer e subjetivas como afeto, compreensão, conhecimento.
Para explorar um pouco mais esta compreensão, sugerimos que elenquem 05 condições obje-
tivas e 05 condições subjetivas de felicidade.
A partir destas listas, os estudantes devem ser orientados para escutarem as músicas sugeridas,
observando a ideia de felicidade presente em cada uma delas para responder às questões abaixo.

SUGESTÕES DE MÚSICAS SOBRE O TEMA:

• FELICIDADE (Marcelo Jeneci)


https://www.youtube.com/watch?v=s2IAZHAsoLI

• EU SÓ QUERO SER FELIZ (Selva, DJ Marlboro, Cidinho e Doca)


https://www.youtube.com/watch?v=fE6hA1WUCfY

• DEIXA A VIDA ME LEVAR (Zeca Pagodinho)


https://www.youtube.com/watch?v=404OPFW1SRQ

• FELICIDADE (Seu Jorge)


https://www.youtube.com/watch?v=Zm5V_b47IM8

• WAVE – Melissa Amorim (Tom Jobim)


https://www.youtube.com/watch?v=K_Vor88aopU

Em quais músicas há orientações As músicas ao tratarem do tema


para a felicidade proposta pelo felicidade destacam quais demandas
hedonismo, epicurismo ou objetivas e/ou subjetivas para a
estoicismo? Por quê? felicidade? Cite exemplos.

26
O Epicurismo é o precursor do Hedonismo que na tradição entende que na vida devemos buscar o prazer. Esta
perspectiva, entretanto, foi desvirtuada e atualmente seu entendimento é diverso da sua proposta original.
60 SÃO PAULO FAZ ESCOLA – CADERNO DO PROFESSOR

REFLETIR SOBRE O TEMA FELICIDADE NO CONTEXTO


DA CONTRIBUIÇÃO FILOSÓFICA

IDENTIFICAR DIFERENTES CONCEITOS DE FELICIDADE, DESTACANDO


QUESTÕES ASSOCIADAS A DIFERENTES ENTENDIMENTOS
CONTEMPORÂNEOS SOBRE “SER FELIZ”

Nós herdamos a felicidade como um conceito filosófico da cultura grega/ helenística. Mas
estes entendimentos acerca da felicidade, de matriz europeia, são únicos? E a ideia de felicida-
de que se origina de outras experiências?
Sugerimos que, para ter uma compreensão mais aprofundada de felicidade, os estudantes
pesquisem em diferentes culturas os ideais de felicidade. Para trazer subsídios à pesquisa, apon-
tamos alguns sites abaixo.

SUGERIMOS, POR EXEMPLO, OS SEGUINTES SITES PARA A PESQUISA:


• O que podemos aprender com a ideia de felicidade dos Astecas
Ana Pais (@_anapais)BBC News Mundo
Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/geral-47616504 Consulta em: 13/06/2019

• Edição 353 de 06 de dezembro de 2010. “Eu só existo porque nós existimos”:


a ética Ubuntu, por Moisés Sbardelotto
Fonte: http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_content&view=article&id=3691&secao=353
Consulta em: 13/06/2019

A partir da pesquisa, sugerimos a organização de um seminário no qual os estudantes po-


dem socializar o resultado das pesquisas.

DISTINGUIR RELAÇÕES MANTIDAS POR PESSOAS DE DIFERENTES


CULTURAS COM A IDEIA DE FELICIDADE

LEITURA E ESCRITA
A partir das atividades desenvolvidas no processo de contextualização deste tema, sugeri-
mos que os estudantes em grupo elaborem uma peça publicitária, para divulgar uma perspecti-
va de felicidade aliada a uma ética solidária.
FILOSOFIA – ENSINO MÉDIO 61

PARA REALIZAR ESTE TRABALHO É IMPORTANTE DAR ALGUMAS DICAS PARA


OS ESTUDANTES COMO:
• Pesquisar a ideia de ética solidária;
• Qual o público que se quer atrair com esta ideia?;
• Como destacar a perspectiva de felicidade aliada a uma ética solidária por meio
de imagens, cores, frases etc.?;
• Qual é o espaço em que as peças podem ser melhor visualizadas pelo públi-
co alvo?

Segundo o publicitário Felipe Cardozo27, para fazer uma peça publicitária é fundamental
o planejamento. Pensar o objetivo da peça exige também pensar a plataforma mais adequada
e as demandas de cada uma, por exemplo, o post para Facebook deve ter 800 pixels de altura
e de largura. No planejamento a escolha, das cores e da fonte a serem utilizadas, pode ser fun-
damental, para dar identidade ao projeto. A diagramação garante a qualidade da mensagem a
ser divulgada. As fontes serifadas, por exemplo, são mais frequentes em trabalhos que apresen-
tam blocos de texto, pois tende a guiar o olhar direto para a mensagem, facilitando a leitura. As
fontes sem serifa são recomendadas em textos curtos: títulos, posts e chamadas. A diagramação
também demanda planejamento. As caixas de texto tendem a facilitar a diagramação, mas os
textos não devem ser muito longos, a mensagem deve ser simples e criativa de forma que fique
na cabeça daquele que tem contato com ela. Imagens para layouts devem ter alta qualidade.
Para fazer uso de imagens é importante verificar a autorização de uso. Há muitas imagens na
internet, é preciso verificar a autorização de uso e se têm direitos autorais. Sugerimos sempre
utilizar bancos de imagens gratuitos. Ainda no quesito imagens, é importante ter cuidado com
o uso excessivo, pois podem causar confusão e afastar o público.
Além destas dicas, os estudantes devem pesquisar sobre o que é uma peça publicitária e
as técnicas que podem ser utilizadas.

RELACIONAR A IDEIA DE FELICIDADE A UMA ÉTICA SOLIDÁRIA

AVALIAÇÃO
Sugerimos que a avaliação seja realizada segundo as atividades previstas e realizadas. En-
tão, a partir do tema e das habilidades a serem desenvolvidas, os docentes devem orientar os
estudantes a escreverem uma dissertação com a temática e componham um diálogo “Sobre a
impossibilidade de ser feliz sozinho”. Destacamos que a questão proposta é mera sugestão.

27
Felipe Cardozo. 6 dicas indispensáveis para criar layouts de peças publicitárias. Fonte: https://blog.mxcursos.
com/6-dicas-indispensaveis-para-criar-layouts-de-pecas-publicitarias/ Consulta: 13/06/2019.
62 SÃO PAULO FAZ ESCOLA – CADERNO DO PROFESSOR

Uma possibilidade de pensar o tema pode ser por meio


das questões do ENEM de 2016 e 2018.
ENEM 2016
ENEM 2018

RECUPERAÇÃO
A recuperação da aprendizagem deve ser realizada a partir de uma proposta distinta do
que já foi feito no processo avaliativo possibilitando, assim, outras formas de evidenciar o conhe-
cimento. O docente precisa estar atento para oportunizar possibilidades de fazer diferente, tan-
to em relação às atividades quanto às avaliações.
Sugerimos, considerando o tema, que os estudantes pesquisem sobre a felicidade no con-
texto da filosofia de Aristóteles e, a partir da pesquisa realizada, elaborem um mapa conceitual
articulando as palavras/conceitos relativos ao tema pesquisado.

RECURSOS DIDÁTICOS
Há diversos recursos didáticos que podem enriquecer o trabalho com o tema proposto, indi-
camos alguns exemplos a serem utilizados conforme o planejamento de aulas do (a) professor (a).

ARTIGOS/LIVROS/TEXTOS/SITES

OBRA LITERÁRIA
ASSIS, Machado de. “O enfermeiro”. In: Obra Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar 1994. v. II.
Texto proveniente de: A Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro - A Escola do Futuro da
Universidade de São Paulo.
Texto-base digitalizado por: Núcleo de Pesquisas em Informática, Literatura e Linguística
(http://www.cce.ufsc.br/~nupill/literatura/literat.html)
Disponível em http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000265.pdf
Acesso em: 16/05/2019.

OBRA FILOSÓFICA

HUME, David. Ensaio sobre o Entendimento Humano. Seção II- Da origem das ideias. Versão
eletrônica do livro “Investigação Acerca do Entendimento Humano”. Tradução: Anoar Aiex
Créditos da digitalização: Membros do grupo de discussão Acrópolis (Filosofia) Homepage
do grupo: http://br.egroups.com/group/acropolis/ Acessível em Domínio Público
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000027.pdf Acesso em: 09/05/2019.
MAQUIAVEL. N. O Príncipe. In: WEFORT, Francisco (org.). Os clássicos da política. 8ª Edição.
São Paulo: Ática,1997. Vol.1.
FILOSOFIA – ENSINO MÉDIO 63

MAQUIAVEL. N. (Nicolo Machiavelli) the Prince. Translated by W. K. Marriott March, 1998 [Etext
#1232] Projeto Gutenberg. Disponível em Domínio Público http://www.dominiopublico.
gov.br/download/texto/gu001232.pdf. Acesso em: 16/05/2019.
SILVA. Franklin Leopoldo e. Felicidade: Dos filósofos pré-socráticos aos contemporâneos. São
Paulo: Claridade, 2007.

SITE

BBC NEWS – Brasil Notícias


O que podemos aprender com a ideia de felicidade dos Astecas
Ana Pais (@_anapais)BBC News Mundo
Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/geral-47616504 Consulta em: 13/06/2019.
Cancioneiro Fernando Pessoa
Fonte: http://www.cfh.ufsc.br/~magno/cancioneiro.htm. Disponível em http://www.do-
miniopublico.gov.br/download/texto/pe000006.pdf
CAMARA DOS DEPUTADOS https://www.camara.leg.br/
- RADIO CÂMARA: Primeiros Parágrafos. O Mito de Sísifo, de Albert Camus. O início de
uma boa viagem começa nos primeiros parágrafos.... Narração - Luiz Cláudio Canuto.
Disponível em https://www2.camara.leg.br/camaranoticias/radio/materias/PRIMEI-
ROS-PARAGRAFOS/559538-O-MITO-DE-SISIFO,-DE-ALBERT-CAMUS.html
Acesso em: 16/05/2019.
DOMÍNIO PÚBLICO – Biblioteca digital em software livre. http://www.dominiopublico.gov.br/
pesquisa/PesquisaObraForm.jsp
VOLTAIRE. Dicionário Filosófico. Verbete “amor próprio”. Disponível Domínio Público http://
www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000022.pdf

REVISTAS (ON LINE)

BRAREN, I. O valor do tempo (Sêneca, Epístolas morais a Lucílio 1). Letras Clássicas, n. 3, p. 291-
292, 13 out. 1999.
Disponível em http://www.revistas.usp.br/letrasclassicas/article/view/73768
Acesso em: 28/06/2019.
REVISTA GALILEU. Filosofia é usada como guia para viver melhor
http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI299871-17773-2,00-FILOSO
FIA+E+USADA+COMO+GUIA+PARA+VIVER+MELHOR.html Acesso em: 28/06/2019.
IHU (on line) Revista do Instituto Humanitas – UNISINOS. Edição 353 de 06 de dezembro de 2010.
“Eu só existo porque nós existimos”: a ética Ubuntu, por Moisés Sbardelotto
Fonte: http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_content&view=article
&id=3691&secao=353 Consulta em: 13/06/2019.
NOVAK, M. DA G. Estoicismo e epicurismo em Roma. Letras Clássicas, n. 3, p. 257-273, 13 out.
1999. Disponível em http://www.revistas.usp.br/letrasclassicas/article/view/73765
64 SÃO PAULO FAZ ESCOLA – CADERNO DO PROFESSOR

NUNES, Benedito (Entrevista)Revista Trans/Form/Ação. São Paulo, 31(1): 9-23, 2008


Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/trans/v31n1/v31n1a01.pdf
Acesso em: 15/05/2019.
Destaque para questões sobre a condição da Filosofia no mundo contemporâneo, p. 19 e 20.
NUNES, Benedito. “Machado de Assis e a Filosofia”. Travessia: Publicação do Programa de Pós-
-Graduação em Literatura. Universidade Federal de Santa Catarina. Disponível em https://
periodicos.ufsc.br/index.php/travessia/article/view/17324/0
Acesso em: 15/05/2019.
PASSOS, Cleusa Rios. Clarice Lispector. “Os Elos da Tradição”.  Revista USP, (10), 167-174. Dispo-
nível em http://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/52192/56232
PINTO Manuel da Costa. “Homenagem Albert Camus”. Revista Cult. Disponível em https://re-
vistacult.uol.com.br/home/homenagem-albert-camus/ Acesso em: 16/05/2019.
REVISTA GALILEU. Filosofia é usada como guia para viver melhor
http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI299871-17773-2,00-FILOSOFI
A+E+USADA+COMO+GUIA+PARA+VIVER+MELHOR.html Acesso em: 28/06/2019.

BLOG

Felipe Cardozo. 6 dicas indispensáveis para criar layouts de peças publicitárias. Fonte: https://
blog.mxcursos.com/6-dicas-indispensaveis-para-criar-layouts-de-pecas-publicitarias/
Consulta: 13/06/2019.

ARTIGOS

VENTURA, Mauro Souza “Moral e Sobrevivência no conto de Machado de Assis. Disponível em


https://www.unicamp.br/iel/site/alunos/publicacoes/textos/m00017.htm
Acesso em: 15/05/2019.

MÚSICAS

FELICIDADE (Marcelo Jeneci)


https://www.youtube.com/watch?v=s2IAZHAsoLI
EU SÓ QUERO SER FELIZ (Selva, DJ Marlboro, Cidinho e Doca)
https://www.youtube.com/watch?v=fE6hA1WUCfY
DEIXA A VIDA ME LEVAR (Zeca Pagodinho)
https://www.youtube.com/watch?v=404OPFW1SRQ
FELICIDADE (Seu Jorge)
https://www.youtube.com/watch?v=Zm5V_b47IM8
WAVE – Melissa Amorim (Tom Jobim)
https://www.youtube.com/watch?v=K_Vor88aopU
FILOSOFIA – ENSINO MÉDIO 65

DICAS

ENEM 2016
https://www.resumov.com.br/provas/enem-2016/q40-sentimos-que-toda-satisfacao-de-
-nossos-desejos-advinda-do-mundo/
ENEM 2018
https://filosofianaescola.com/enem/questoes-de-filosofia-enem-2018/
ENEM 2018
https://descomplica.com.br/gabarito-enem/questoes/2018/primeiro-dia/remanescen-
te-periodo-helenistico-maxima-apresentada-valoriza-seguinte-virtude/

VÍDEOS

A Felicidade - Mônica Dias - Organização Internacional Nova Acrópole do Brasil”


Fonte: https://nova-acropole.org.br/blog-saiba-mais/videos/video-a-felicidade/
Consulta em: 13/06/2019.
Felicidade (Animação) - “Ratos e felicidade”
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=Xnc1RT73m9s Consulta em: 13/06/2019.
Filosofia e felicidade, com Marcia Tiburi e Mario Sergio Cortella - Felicidade e Filosofia.
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=W_1EtLeJEh0 Consulta em: 13/06/2019.
O Enfermeiro (Machado de Assis). Direção Mauro Farias. Publicado em 16 de abril de 2015. Dispo-
nível em https://www.youtube.com/watch?v=YY8RNYkSM18 Acesso em: 16/05/2019.
O enfermeiro de Machado de Assis. Animação (estudantes do 2º B). Publicado em 07/11/2015, por
Juliana Camargo.
Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=LHxnO5z-Ibk Acesso em: 16/05/2019.
Ser cientificamente feliz: dinheiro traz felicidade?
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=nK6sVsi-yao Consulta em: 13/06/2019.
Última entrevista de Clarice Lispector. Entrevistador: Julio Lerner. TV Cultura Digital. Publicado em
07 de dezembro de 2012.
Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=ohHP1l2EVnU Acesso em: 16/05/2019.
5 contos existenciais: o enfermeiro de Machado de Assis. Noemi Jaffe. Publicado em 16 de ju-
nho de 2015 pela Casa do Saber.
Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=GTW1DQx63M8 Acesso em: 16/05/2019.

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