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Sir Donald Neil MacCormick (27 de Maio de 1941 – 5 de Abril de 2009) foi um filósofo do Direito e
político escocês. Ele foi professor da Universidade de Edimburgo de 1972 a 2008. Foi membro do
Parlamento Europeu de 1999 a 2004, membro da Convenção para o Futuro da Europa e executivo
do Partido Nacional Escocês. Foi também professor de teoria do Direito na Faculdade de Direito da
Universidade de Dundee de 1965 a 1967.
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Legal Reasoning and Legal Theory (Oxford: Clarendon Press, 1978)
partir de 1992 ingressa no “período europeu”. O livro que será abordado ao longo do
semestre pertence justamente a esta última fase.
Algo que me chamou muito a atenção foi a análise dos autores brasileiros sobre a
atitude do autor do livro em relação às críticas que recebe às suas linhas de pensamento. Tal
atitude consiste em uma verdadeira apreciação e apreensão dos argumentos contrários ao seu
entendimento, para formar uma “interação construtiva” entre seus textos e as críticas feitas a
eles. Ou seja, MacCormick “leva seus interlocutores a sério”, e não tem falhas pessoais
(orgulho,soberba, ego, etc.) que o impedem de realizar uma autocrítica e eventualmente
concordar com seus críticos. Como é dito pelos professores brasileiros, trata-se de uma ética
deveras louvável, com a qual tenho orgulho de me identificar e defender. A arrogância de
muitos intelectuais os leva amiúde a insistir em erros lógicos próprios do seu modo de pensar.
Fui remetido instantaneamente à ideia da dialética de Sócrates (apesar dos professores
brasileiros terem associado esta conduta ao “princípio da caridade”), que me parece ser o
fundamento intelectual para se adotar essa postura; o conhecimento deve ser construído
(naturalmente) por interações construtivas, que ocorrem quando se deixa de lado o ego típico
do “bacharelismo” acadêmico brasileiro e do argumento de autoridade. Em suma, entendo,
assim como MacCormick, que o conhecimento necessita, de fato, da virtude humana da
humildade.
Tal abordagem intelectual se afasta tanto do isolacionismo teórico como da tentação
de sempre conciliar pensamento diversos, o que transformaria o direito em uma “colcha de
retalhos”. Como apontado pelos professores brasileiros, o ambiente jurídico do País é
peculiarmente avesso a formas não personalistas de argumentação, em razão da proeminência
da autoridade e da erudição. O famoso “argumento de autoridade” está entre as técnicas
argumentativas que rebaixam a razão a algo que vejo como uma espécie de desfile de moda,
em que os trajes usados seriam os títulos acadêmicos e extra-acadêmicos.
No primeiro capítulo do livro propriamente dito, MacCormick aponta para a
importância dos valores fundamentais como norte da argumentação jurídica, que é então uma
argumentação persuasiva (assim como Sócrates ensina em sua famosa obra “Retórica”).
Inclusive, o autor pretende justamente desenvolver o que chama de “nova retórica”, tratado
pela primeira vez por Chaim Perelman3.
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É um dos mais importantes teóricos da Retórica no século XX. Sua obra principal é o Traité de
l'argumentation - la nouvelle rhétorique ("Tratado da argumentação - a nova retórica"), de 1958,
escrito em conjunto com Lucie Olbrechts-Tyteca
A análise proposta pelo autor nesta obra pressupõe a visão pós-positivista do direito à
qual se convencionou chamar de “teoria institucional do Direito”. Esta análise também
pressupõe uma visão do direito como sistema (neste ponto me lembrei da “Teoria dos
Sistemas de Luhmann”), que funciona como um corpo íntegro e coeso. As normas, como
elementos, comunicam-se umas com as outras, ao mesmo tempo que se diferenciam.
Em suma, o autor defende que faz-se necessário ao saber jurídico saber diferenciar
argumentos bons de argumentos maus, estudo ao qual a academia conferiu o nome de
retórica. Por esta razão, o livro tem o título que tem. Por outro lado, o “estado de Direito”
presente no título pressupõe a ética do legalismo, que, por sua vez, pressupõe que há valores
morais que precisam da manutenção de uma ordem normativa institucionalizada, “para o bem
da paz e da previsibilidade entre os seres humanos”, bem como para a produção e aplicação
do ideal de justiça.