3.5 Classificação das espécies de interpretação HERMENÊUTICA JURÍDICA CLÁSSICA: CLASSIFICAÇÃO DAS ESPÉCIES DE INTERPRETAÇÃO A classificação das espécies de interpretação pode ser realizada utilizando três diferentes aspectos: a Origem/Agente (quem ou o que originou), a Natureza (forma) e os Efeitos (impacto). No que se refere à Origem/Agente, a interpretação pode ser classificada em duas categorias distintas: pública e privada (ou científica). A primeira é realizada pelos órgãos do poder público, ou seja, pelo Estado, enquanto a segunda é feita por estudiosos e juristas por meio de suas obras e pareceres. Ainda quanto à classificação em pública, há três camadas: A Interpretação Autêntica (ou legislativa), que é realizada pelo próprio órgão legislativo responsável pela promulgação da lei, utilizando uma lei secundária (interpretativa) para esclarecer a lei primária a ser interpretada. A Interpretação Judicial, realizada pelos órgãos do poder judiciário, que utilizam a interpretação para aplicar as leis em casos concretos e, quando há jurisprudência ou súmula, ela passa a ser uma norma jurídica. A Interpretação Administrativa, realizada pelos órgãos da administração pública, que emitem orientações para a aplicação de normas jurídicas por meio de portarias, por exemplo. HERMENÊUTICA JURÍDICA CLÁSSICA: CLASSIFICAÇÃO DAS ESPÉCIES DE INTERPRETAÇÃO Quanto à classificação em Privada, temos a definição de que, também conhecida como interpretação científica, é aquela realizada por particulares que possuem autoridade intelectual no campo do Direito, como juristas, cientistas jurídicos e jurisconsultos. Essa interpretação ocorre por meio de tratados, pareceres jurídicos, doutrinas, livros e outras publicações de cunho jurídico. Quanto à Natureza, há uma sequência de ideias, pode-se usar o macete “LGHSTS”, em que: L ->: Interpretação Lógica: é aquela que busca compreender o significado das palavras e expressões da norma de maneira coerente e sistemática, com base na intenção do legislador no momento da sua criação. Essa interpretação pode envolver elementos externos, como o contexto em que a norma foi criada, e utiliza documentos como atas e exposições de motivos para alcançar um entendimento mais completo da norma. Em sentido amplo é qualquer interpretação da norma que envolva elemento externo, e em sentido estrito se refere a intenção de quem a produziu. G ->: Interpretação Gramatical: Necessária mas limitadora, com base na Letra da lei, análise morfológica e sintática do texto normativo desconsiderando os elementos externos a ela. Também conhecida como interpretação literal. Tal modelo era o único admitido pela escola de Exegese, na França. HERMENÊUTICA JURÍDICA CLÁSSICA: CLASSIFICAÇÃO DAS ESPÉCIES DE INTERPRETAÇÃO H ->: Interpretação Histórica: Em sentido filológico, busca-se a interpretação etimológica, ou seja, a análise da origem e evolução das palavras ao longo do tempo para compreender o seu significado atual. Já em sentido próprio, a interpretação é realizada levando em conta a evolução histórica do instituto que a norma regula, buscando entender como ele se desenvolveu ao longo do tempo e como isso afeta a sua interpretação no presente. S ->: Interpretação Sistemática: interpretação da norma à luz do ordenamento jurídico (interpretação da parte pelo todo, do todo pela parte). É responsável pela coerência e unidade do ordenamento jurídico. Busca harmonizar princípios e regras mutuamente. Influenciada por Dilthey. T ->: Interpretação Teleológica: telos é fim. Toda norma foi feita para realizar um objetivo. A melhor interpretação é aquela que deixa a norma mais apta para realizar a sua finalidade. O texto da norma pode ser flexibilizado para facilitar a realização de seu fim. A teleológica não vê a norma como um fim em si mesmo, mas um meio. Tem fundamento no Art. 5o da LINDB. A seguir, a Interpretação Sociológica, a qual precisa de mais atenção. HERMENÊUTICA JURÍDICA CLÁSSICA: CLASSIFICAÇÃO DAS ESPÉCIES DE INTERPRETAÇÃO S ->: Interpretação Sociológica: Há três objetivos precípuos para essa vertente, são eles: Eficacial, que dá mais eficácia à referida norma, consiste em conferir à norma a aplicabilidade em relação aos fatos nela ou por ela previstos. Atualizador, que consiste em conferir à norma a aplicabilidade a fatos por ela não previstos (fatos novos, que não existiam na época em que o legislador elaborou a norma). Esses fatos novos devem guardar semelhança em relação aos fatos originais previstos pela norma, de modo que, se existissem na época, esses fatos novos (possivelmente) teriam sido abrangidos pelo legislador. Evita distorções em ordenamentos jurídicos utilizados por mais de uma geração. Transformador, atendendo aos anseios da sociedade, consiste em conferir à norma a interpretação que seja mais interessante às correções das injustiças sociais. É a prevista também no art. 5o da LINDB. HERMENÊUTICA JURÍDICA CLÁSSICA: CLASSIFICAÇÃO DAS ESPÉCIES DE INTERPRETAÇÃO Agora, quanto aos Efeitos, são eles: Interpretação Declarativa: O interpretador conclui que não será necessário ampliar ou restringir o sentido da norma, pois a letra da lei é igual ao espírito da lei. O que está escrito é o que se queria dizer. Resulta de todas as técnicas de interpretação. Interpretação Modificativa: pode ser atualizadora ou corretiva. A atualizadora ocorre quando a lei precisa ter seu sentido atualizado para se adequar aos fatos supervenientes. Já a corretiva ocorre para compatibilizar duas normas em antinomia, modificando o sentido de uma delas para evitar sua exclusão. A interpretação modificativa envolve certa elasticidade no sentido da lei e pode resultar em certo abuso de linguagem. Interpretação Ab-rogante: reconhece-se a validade de uma norma, deixando de aplicar a outra (situação de antinomia). Deve ser o último recurso do intérprete, utilizada apenas após esgotados os critérios de resolução de antinomia. Interpretação Mutuamente Ab-rogante: uma norma exclui a outra e nenhuma é aplicada, tornando lícita a conduta por elas tratada. Não considera-se interpretação pois ao excluir ambas não há resultado. QUESTÕES ESTILO PROVA
1. Explique as espécies de interpretação quanto à origem e aponte a diferença
entre interpretação autêntica e administrativa. 2. Aponte e defina a Interpretação Sociológica quanto aos seus objetivos, e explique de que maneira pode-se influenciar na interpretação da norma em casos que envolvem questões sociais e culturais em constante mudança. 3. Defina o conceito de interpretação Declarativa e aponte sua diferença quanto à Modificativa.