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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO 

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS 


CURSO DE DIREITO

LUDMILA PINHEIRO ANTUNES

FICHAMENTO DO LIVRO “LIÇÕES PRELIMINARES DE DIREITO”

São Luís
2023
REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. São Paulo, Saraiva, 2014.

CAPÍTULO XXI
DA HERMENÊUTICA OU INTERPRETAÇÃO DO
DIREITO

 A Interpretação Gramatical E A Sistemática (Pág-277):


Nesse tópico, Reale retoma à sua afirmação que durante a Revolução Francesa, a
instituição do Código Civil de Napoleão foi de grande importância para o ordenamento
da vida civil, uma vez que, todas as parcelas da vida social foram reguladas, e os
costumes até então vigentes foram revogados. Nesse sentido, ficava claro que um dos
objetivos desse Código, era declarar a igualdade de todos perante a lei, fazendo com que
o Direito se expressasse através da vontade geral do povo, ou seja, era a expressão de
uma vontade comum. Seguindo essa perspectiva, ficou evidente que a lei era
considerada a única fonte de direito, dessa forma, existiam duas correntes paralelas, a do
Direito Positivo ( que reduzia o Direito à lei ) e a Ciência do Direito ( que levava em
consideração a interpretação da norma ). A partir dessas duas teorias, surge um longo
estudo sistemático a respeito da interpretação da lei, tais estudos foram responsáveis
para constituir os princípios da Escola de Exegese.
A Escola de Exegese, sustentava a teoria de que na lei era possível encontrar a solução
para todos os casos, tudo converge na interpretação dessa norma. Seguindo essa lógica,
a interpretação era abordada sobre duas visões dominantes, uma literal / gramatical e
outra lógico-sistemática. Após uma indagação e um exame imparcial do texto
normativo, vem o trabalho de compreensão de um preceito normativo - o que
caracteriza a interpretação lógico-sitematica - levando em consideração a sua
correlação, uma vez que, nenhum dispositivo de normas se encontra separado dos
demais. Portanto, segundo a Escola Exegese, é somente graças a essa interpretação
lógica e gramatical, que o jurista cumpre o seu dever principal de aplicador da lei.
Comentário: Neste trecho, são destacados alguns pontos importantes.
Primeiramente, o autor enfatiza a importância do Código Civil de Napoleão como
um marco na ordenação da vida civil, destacando sua engenhosidade e arte na sua
concepção. A partir desse contexto, surge a Escola da Exegese, que defende a ideia
de que o Código Civil é capaz de oferecer soluções para todos os casos da vida
social. No desenvolvimento da Escola da Exegese, a interpretação lógica e
gramatical é destacada como o dever primordial do jurista. Por fim, o autor
aponta a necessidade de novas formas de compreensão do Direito diante das
mudanças nos usos e costumes e do avanço da ciência e da técnica. Essa transição
ocorre gradualmente, seguindo a experiência jurídica
 A Interpretação Histórica E A Evolutiva (Pág-281):
Tempos depois, surge uma nova forma de interpretação, a histórica, que se baseia na
afirmação de que a lei representa uma realidade cultural/histórica, uma vez que, a norma
obedece a determinadas sentenças e aspirações da sociedade. Essa doutrina, implicava
que a lei tem "vida própria", visto que, recebe influências do meio em que existe
transformando muitas vezes o seu significado.
Comentário: Sob a influência da Escola Histórica de Savigny, surgiu a chamada
interpretação histórica da lei. Essa abordagem sustenta que a lei é uma realidade
histórica que evolui ao longo do tempo e reflete as aspirações e intenções da
sociedade em determinado período. A interpretação histórica considera não apenas
as intenções originais do legislador, mas também as situações atuais e
supervenientes. Gabriel Saleilles, um representante destacado da França,
desenvolveu a teoria da interpretação histórico-evolutiva. De acordo com essa
doutrina, uma norma legal, uma vez promulgada, adquire vida própria e passa a
ser influenciada pelo ambiente, resultando na transformação de seu significado. Os
juízes têm o poder de combinar diferentes textos legais para atender a novas
realidades. O texto destaca que há um limite para a elasticidade do texto legal, isso
sugere a necessidade de equilíbrio entre a interpretação evolutiva e a adesão ao
texto da lei. anto a abordagem histórico-evolutiva quanto a lógico-sistemática não
permitem uma interpretação criadora fora ou em desacordo com a lei.
 A Escola Da Livre Pesquisa Do Direito E O Direito Livre. Posição De Gény
E Zitelmann (Pág-284):
Com o objetivo de superar os entraves da interpretação histórica e evolutiva, novas
teorias surgem. Entre elas, a teoria de Gény do libre recherche ou seja, da livre pesquisa
do Direito. Nessa teoria, Gény procura conciliar certas posições da escola exegese com
as necessidades do mundo atual. Para ele, a lei deve se manter fiel a sua intenção
primeira, ou seja, a lei só tem uma intenção e não se deve deformá-la. Seguindo Esse
princípio, mesmo quando a lei é interpretada em sua originalidade e mesmo assim não
fornece nenhuma solução é dever do juiz buscar nos costumes e nas analogias a solução
para o caso, observa-se dessa forma que existe uma revalorização do costume como
fonte complementar do direito. Contudo, quando a lei é interpretada no seu sentido
original e os fatos sociais são novos, ou seja, não tem embasamento nos costumes, é
dever do magistrado fazer um trabalho científico que se classifica como a livre pesquisa
do direito com base nas observações desses fatos sociais. Portanto, para concluir o
pensamento de Gény, ele afirma que existem dois elementos fundamentais do direito, o
dado e o construído. O dado desrespeito aquilo que não é criado pelo legislador mas sua
existência tá intrínseca ao fluxo natural humano. Ademais, surge a teoria de zitelman
que afirma que, não existe Plenitude na legislação positiva, ou seja, a existência de
lacunas na legislação, contudo, ele também afirma que o direito como ordenamento
jurídico jamais pode ter lacunas existindo dessa forma uma antítese. Seguindo Esse
princípio, o seu trabalho foi dedicado a procurar fora da lei meios para preencher essas
lacunas.
Comentário: O trecho destaca a obra de François Gény, um jurista francês, que
propôs o movimento da "libre recherche" (livre pesquisa) do Direito. Gény
buscava conciliar posições clássicas da Escola da Exegese com as necessidades do
mundo contemporâneo. Gény contribuiu para a revalorização do costume como
fonte complementar do Direito Civil. No entanto, quando faltam recursos do
Direito costumeiro, o intérprete precisa buscar a solução por meio da livre
pesquisa do Direito, baseada na observação dos fatos sociais. O trecho menciona a
obra de Zitelmann, que tratou das lacunas no Direito e afirmou que, embora
existam lacunas na legislação positiva, o Direito entendido como ordenamento
jamais pode ter lacunas.
 Compreensão atual do problema hermenêutico (pág-289):
Neste tópico, Reale pontua que o primeiro cuidado do hermeneuta é saber qual a
finalidade social da lei com o objetivo de atingir uma correlação que seja coerente entre
a parte abrangente da lei e as suas particularidades representadas em seus artigos.
Ademais, reale procura a fazer uma abordagem a respeito da hermenêutica estrutural,
ele a conceitua como uma forma de captação do valor das partes inserido na estrutura da
lei. Nesse sentido, a finalidade da Lei é sempre um valor, cujo é objetivo do legislador o
garantir.
Comentário: O trecho destaca a importância de compreender a finalidade social da
lei como um todo, para determinar o sentido de cada um de seus dispositivos. O
trecho introduz o conceito de hermenêutica estrutural, que enfatiza que o processo
interpretativo não segue uma análise mecânica das partes em direção ao todo, mas
sim uma forma de captar o valor das partes inserido na estrutura da lei,
inseparável da estrutura do sistema e do ordenamento jurídico.

CAPÍTULO XXII
INTEGRAÇÃO E APLICAÇÃO DO DIREITO

 Distinções Preliminares (Pág-295):


Nesse tópico, introduz que interpretação, integração e aplicação são termos que muitas
vezes se confundem, contudo correspondem a conceitos distintos. O termo"a aplicação
do direito" relaciona-se a imposição de uma Diretriz como decorrência de competência
legal, entretanto, para que essa aplicação aconteça é necessário que o órgão do Estado
interprete o direito.
Comentário: Antes de aplicar o Direito, é necessário interpretá-lo. Mesmo quando
a norma legal é clara, a clareza só pode ser reconhecida por meio do ato
interpretativo. A aplicação eficaz do Direito depende de uma interpretação
adequada. Reconhecendo que a lei pode ter lacunas, é necessário preencher essas
lacunas para garantir uma resposta jurídica apropriada para quem está
desamparado pela lei expressa. Esse processo de preenchimento de lacunas é
chamado de integração do Direito.
 Analogia E Interpretação Extensiva (Pág-296):
A analogia se relaciona ao princípio de que o direito é um sistema de finalidades.
Seguindo Esse princípio, ela parte do pressuposto da existência reconhecida de uma
lacuna na lei. Diferencia-se da interpretação extensiva justamente por esse pressuposto,
uma vez que, a interpretação extensiva parte do princípio que a norma é suscetível a
aplicação ao caso.
Comentário: A analogia consiste em estender a um caso não previsto aquilo que o
legislador previu para outro caso semelhante, desde que haja identidade de razão
jurídica. É necessário ter cautela ao aplicar a analogia, pois uma pequena
diferença de fato pode resultar em grandes diferenças de direito. A analogia difere
da interpretação extensiva. Enquanto a analogia é utilizada para preencher
lacunas na lei, a interpretação extensiva parte do pressuposto de que a norma
existe e pode ser aplicada, desde que seja estendida além do usual.
 A Equidade (Pág-298):
Segundo Miguel Reale, através da equidade pode-se superar o problema das lacunas que
o Direito possui, visto que, existem situações em que é preciso suavizar o texto jurídico,
realizando esse suavização por meio da equidade, que é, portanto, a justiça adaptada à
particularidade de uma situação concreta.
Comentário: Reale destaca que a equidade permite superar lacunas do direito por
meio de normas equitativas e que, por meio de juízos de equidade, as conclusões da
regra genérica podem ser amenizadas para ajustá-la às particularidades da vida
social. O texto enfatiza a necessidade de abrandar o texto legal em certos casos,
utilizando a eqüidade como forma de aplicar a justiça de acordo com a
especificidade de uma situação real. Destaca-se que o direito positivo permitia ao
juiz aplicar a regra que estabeleceria se fosse legislador, quando autorizado a
decidir por equidade.
 Natureza lógica da aplicação do Direito (pág-299):
A princípio, de forma resumida real e procure explicar nesse tópico que o problema da
aplicação do direito está intimamente ligado ao problema de sua eficácia, ou seja são
problemas que se relacionam.
Comentário: O autor menciona a aplicação da lei no tempo e no espaço como um
aspecto relacionado à eficácia do Direito. O autor ressalta que, embora distintos, os
problemas da eficácia e da aplicação do Direito estão intimamente relacionados. O
autor critica a compreensão formalista que reduz a aplicação da lei à estrutura de
um silogismo, destacando que a aplicação do Direito é uma questão complexa que
envolve fatores lógicos, axiológicos e fáticos.

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