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Fomos percebendo com o 1º capítulo que o sistema jurídico é uma ordem com uma
unidade categórica que a norma propõe. Ora, a propósito do método jurídico que podemos
encontrar que é a escola exegese que surge no início do séc XIX e baseia-se na
metodologia do legalismo da codificação pós revolucionária, isto é, entendia o direito com
um conjunto de textos legais sistematizado em códigos principalmente no código civil
portanto esta escola é fruto do legalismo pós revolucionário e de um jusnaturalismo
moderno iluminista que fundava as leis em axiomas dos quais se deduzia o direito natural
racional. No fundo, a ideia dos códigos era fundamental, mas ao mesmo tempo entendia-se
que o código não podia ser simplesmente uma coletânea de normas e sim um código
legislativo elaborado de forma a apresentar-se sistematizado uniforme e racional com o
objetivo final de fornecer uma solução exclusiva e definitiva de uma certo domínio jurídico,
ou seja, a elaboração de uma código para cada ramo do direito. Assim, o direito objeto era
exclusivamente composto por normas gerais e abstratas previstas pelo legislador
verificando-se uma identificação da juridicidade e da normatividade com racionalidade
abstrata. Dito isto, a escola exegese utilizava o método de subsunção das normas e uma
interpretação exegética do tipo lógica dedutiva, ou seja, do texto tudo retirava e assim se
realizava direito. No entanto, os autores desta escola numa 1º fase Proudhon, Delvincourt e
Duranton e 2º fase Géry bem percebiam que os códigos eram incompletos e por isso
assumiram como lacunosos sendo necessária a remissão para fontes subsidiárias de
integração. Desde de logo identificação do direito com a lei, o direito corresponde à lei e
portanto ele manifesta-se apenas na lei e não haveria outro direito que não aquele que
constasse na lei. De qualquer modo, o legalismo do séc XIX admitia uma compreensão
jusnaturalista do direito não obstante esta ideia foi perdendo importância a tal ponto que
passa a relevar era única e simplesmente na lei daqui resultando obviamente uma
concepção estática do direito. A exclusividade da lei como critério jurídico no primeiro
estipulado responde a pergunta sobre as fontes do direito, no segundo estipulado
encontramos o entendimento das fontes de direito da normatividade jurídica, ou seja, esta
escola não só vê a lei como fonte de direito como considera só conteúdo normativo
fornecido encontrada nos critérios jurídicos decisórios o que quer dizer que se recusa a
validade e a necessidade o apelo a outros critérios; a lei é a única fonte do direito e o único
critério normativo portanto esta forma de entender leva-nos que é na lei que se retira
exclusivamente os critérios normativos. O 3º estipulado é da exclusão das lacunas no
sistema da lei civil codificada, este sistema é um sistema completo e fechado, mas assim é
como haveria a escola exegese resolver o problema das lacunas? Estamos perante um
positivismo exegético, o estrito positivismo hermenêutico (teoria da interpretação) composto
pelos seguintes prs:
● Fidelidade à lei no momento de aplicação só sendo necessário apenas a sua
interpretação verificando-se a completa anulação do juiz em prol do legislador
● Interpretação é objetivo-hermenêutica, dedutiva formal e lógico dogmática e assim
os elementos para interpretar: a letra da lei (se levantar alguma dúvida, o método
remetia ao elemento complementar e a ele se chegava com os trabalhos
preparatórios deveriam-se também entender ao espírito da lei que se chamava,
estender ou completar o sentido daquela norma; quando havia uma lacuna, o juiz
podia fazer uma analogia legis ou iuris, encontrar uma norma para conseguir
resolver o caso) e não há invocação de valores e não há aqui uma perspectiva
axiológica-normativa em que se procurar-se fundamento
Tendo em conta o que está em cima, este método era capaz de assegurar a segurança
jurídica, a certeza do direito e ao mesmo tempo era diferente à justeza normativa e à
adequação material ao mérito dos casos a decidir.
● Para decidir os casos não previsto na lei, casos omissos, procurava-se no código
uma norma porque o juiz estava obrigado a encontrá-la e fazia uma auto integração
da lei e se não encontrasse solução no código então o caso não tinha relevância
jurídica
● A interpretação sendo lógica dedutiva implicava que a aplicação e realização direito
fosse igualmente lógica dedutiva, ou seja, a norma legal era a premissa maior de um
silogismo em que o caso a decidir era a premissa menor e com elas obtia-se a
conclusão substantiva.
Escola Histórica do direito - Puchta
Foi a percussora do positivismo normativista e que haveria influenciar Ihering, sendo que
um dos pontos essenciais é a afirmação natureza histórica-nacional do direito que quer
dizer que o fundamento histórico é fundamento constitutivo do direito o que quer dizer o
direito nasce do povo. Outro autor relevante, Savigny e as coordenadas fundamentais deste
autor:
● Há uma crítica e repúdio ao iluminismo legalista que via como o legislador como o
que nos leva a dizer que não há uma conceção estatal do direito, na verdade a
conceção direito era espiritual-cultural e não política.
● Crítica que sustentava a tese histórica do direito, a historicidade era constitutiva do
direito, a matéria do direito será dada pelo passado total da nação não através de
qualquer arbítrio mas que provém da existência íntima da nação, o direito está
sujeito como as restantes experiências coletivas
● Todo o direito nasce como direito consuetudinário, é originado pelo costume e
crenças posteriormente pela jurisprudência não quer isto dizer que a doutrina não
fosse importante, mas Savigny recusava o papel predominante e atribuia-lhe um
papel residual e era necessário uma elaboração determinante daquele direito
originário função que era atribuída aos juristas, ou seja, a principal fonte era a
doutrina. Os institutos jurídicos e relações jurídicas eram alheias aos fins, isto é, tem
existência em si mesmas independentemente do reino dos fins. A escola histórica
preocupada com o sistema jurídico esqueceu-se da historicidade em detrimento da
aclamada cientificidade; o histórico desaparece em função da cientificidade
● Elementos: gramatical, histórico, lógico, sistemático e teleológico. É o momento
intencional de redução jurídico estruturas e categorias formais, ou seja, reduz-se o
jurídico a uma forma. Neste momento ao direito não se importava com as intenções
éticas, políticas ou econômicas o que significa que a concepção jurídica era
equivalente a uma consideração não teleológica; era então elaborado conceito e
institutos jurídicos de índole estrato-funcional que permitiam criar um sistema
unitário e racionalmente auto suficiente isto é uma sistema autónomo que
sustentasse a própria autonomia do jurídico a partir deste momento científico temos
o momento hermenêutico enquanto interpretação cumprido rigorosamente abstrato.
Depois encontramos um momento estritamente metódico de identificação do
pensamento jurídico em correlação com a operação lógica em que a racionalidade
se identifica com esquemas lógico dedutivos, neste momento o método jurídico
traduz então na conceção e tratamento do direito positivo independentemente do fim
ou valores, isto é, fundava-se única e simplesmente na validade absoluta de
categorias formais e na eficácia argumentação lógica.
Portanto, podemos perceber que na escola exegese o código era uma regulamentação
total, definitiva do setor da vida social em que a lei é única fonte de direito e assim os
momentos do método: interpretação, integração, construção e aplicação ->
hermenêutica exegética, ou seja, culmina interpretação dogmática de índole
lógico-analítico dedutiva. Por outro lado o método da escola histórica alemã corresponde a
utilização de materiais que margem na experiência consuetudinária e legislativa, mas
também de textos de direito romano e comum eis aqui um direito apresentado mais
completo, método surgido no séc XVIII dando uma relevância residual à lei no séc XX
começa a atribuir nova importância a este critério: hermenêutico científico -> aplicação,
realização do direito.
Podemos ainda falar no momento conceitual, o sistema conceitual reduzia ao
conteúdo jurídicos obtidos no direito positivo, conteúdos esses através da interpretação
jurídica e através da qual se operava a tarefa da construção jurídica, ou seja, através da
concetualização sistemática e com o desenvolvimento lógico permitia atingir-se a totalidade
racional do sistema jurídico a plenitude lógica do sistema que levaria a exclusão de lacunas
através desta determinação sistemática conceitual podia orientar-se logicamente
teórica-cientificamente a própria conceitualização do direito mediante a subsunção dos
casos concretos aos conceitos normativos das normas aplicáveis convertendo-se esta
operação lógica dedutiva. Há por conseguinte uma tarefa prévia que é confiável a tarefa
jurídica do pensamento jurídico inferior, tarefa esta que traduz na análise jurídica e de
concentração lógica e que corresponde à função de interpretação e que chamaremos a
jurisprudência inferior. A outra tarefa corresponde à tarefa de construção realização do
direito e aqui temos a jurisprudência superior, ou seja, no plano da jurisprudência inferior
trabalhamos com informações dados devido à intervenção se transformam em proposições
jurídicas ou em dirieto objeto ou direito imposto, já no plano da jurisprudência superior
procedemos à criação de institutos e de conceitos e fazemos não o direito objeto dado mas
sim o direito dogmático, não aqui como na primeira a análise jurídica e sim uma
concentração lógica. No momento hermenêutico é o momento da interpretação que é
absolutamente indispensável para o método jurídico que trata do momento da determinação
do sentido da norma seja ela lei ou proposição normativa e de acordo com a escola
exegese este momento é da tarefa da jurisprudência inferior. A interpretação é um passo
que é ratio cognoscendi dos processos científicos da análise da concentração e construção,
mas ela também é um momento metódico sustentado em abstrato postulando e
pressupondo o sistema de conceitos e seu axiológico e interpretar é atribuir à norma texto
um sentido único e integrando-a no sistema dinâmico e ao mesmo tempo dando-lhe sentido.
Por fim, a aplicação enquanto momento exterior do método jurídico pressupõe que o
mesmo é ciência é por isso que o justificamos como operação técnica lógica dedutiva,
operação que se vai aplicar aos casos concretos do direito e que graças ao momento
científico do momento ceitual como ao momento hermenêutico que nos impõe soluções pré
determinadas em abstrato, no fundo o que aqui está em causa é o esquema lógico dedutivo
do silogismo subsuntivo que garante a relação entre o geral e o particular. O juiz neste caso
é um juiz árbitro com poder neutral que se limita a pronunciar em concreto as palavras que
a norma prescreve em abstrato. Portanto a aplicação como momento técnico exterior não
constitui qualquer problema.
Teoria tradicional da interpretação da lei (juízos abstratos)
A primeira questão que se coloca é qual o objeto da interpretação e para esta teoria
o que se interpreta é o texto da norma dado a base desta concentração está o positivismo
legalista aliado ao positivismo normativista. Partimos de 2 pontos: o texto tem a constituição
e o texto oferece uma compreensão global; este texto é contéudo das significações ou por
outras palavras os conteúdos significativos imanentes das próprias norma lei, conteúdo este
auto suficiente e tal como dizia Savigny estas significações textuais eram compostas por
elemento gramatical - a letra e o teor verbal, o texto na sua relevância gramatical -,
elemento histórico - o texto na sua relevância histórica vinculado a circunstâncias relevam
para o seu aparecimento e o caminho na produção essa norma e o elemento lógico e
sistemático que está preocupado com a unidade lógica e estrutural da norma jurídica e
sobretudo preocupado com a sua localização no sistema de norma e pirâmide de conceitos.
Para esta teoria, ainda que com cariz positivista legalista também tem características
positivista normativista e estão em causa elementos materiais como sejam interesses,
valorações, decisões e intenções - Géry, racional teleológico - preocupa-se em perceber o
motivo ou o fim da norma e Savigny no início exclui este elemento porque entende que a
interpretação deve ser formal conduzindo a uma juridicidade formal, não deve ter em conta
a perceção da razão, do fim daquela norma. Ou seja, por um lado temos uma interpretação
metodológica dogmática-regra aquela que não ocorre ao momento teleológico, mas depois
mais tarde assume ainda que excepcionalmente a uma metodologia teleológica, pois
percebe que o texto norma não se apresenta no seu estado puro mas antes defeituoso e
imperfeito e dado a este estado do texto norma é que é nos permitido mobilizar elementos
extra textuais. O texto norma, a letra da lei tem uma função prescritiva e esta função
prescritiva impõe-se como prioridade analítica e cronológica e vai condicionar todo o
processo interpretativo e porque tem valor normativo, ela vai condicionar de forma negativa
todo o elemento interpretativo, ou seja, vai assumir uma relevância negativa da letra da lei,
a teoria da fronteira da interpretação e da teoria da alusão.
Teoria da fronteira da interpretação da lei: o sentido literal a extrair do uso
linguístico geral ou sentido literal possível é aquele que vai assinalar o próprio limite da
interpretação, fora disto o que encontramos é a decisão judicial. De facto, o intérprete
começa por pedir ao elemento gramatical que a exclua todos os sentidos incompatíveis com
eventual relevância do texto norma. Por isso que se diz que o elemento gramatical tem uma
nota negativa porque é excludente. Mas para além deste passo, a lei também vai
desempenhar a função de seleção de fins possíveis, ou seja, vamos selecionar os sentidos
mais naturais ou imediatos, aqueles que correspondem ao usos comuns ou jurídicos mais
habituais dentro das palavras e expressões contidos no texto lei, este momento
interpretativo tem função escolher os candidatos exclusivos, os valores indicativos para uma
resolução de uma controvérsia jurídica - candidatos positivos. Não obstante continua a
decorrer aqui o teor literal do texto norma contenha em si o conteúdos possíveis que
correspondem a utilização de termos menos comuns, nesta tarefa encontramos os
candidatos neutros mas que são ainda permitidos pela letra da lei, objetos, fatos e casos
nos quais o teor do elemento literal por si não permite uma posição definitiva de inclusão ou
exclusão.
Quanto à segunda também chamada de interpretação mínima diz nos que tem
haver uma correspondência verbal mínima entre a relevância gramatical da lei e o
pensamento legislativo determinado pela interpretação, ou seja reduz a importância do
sentido literal, mas ao mesmo também impõe um limite da interpretação; dá prioridade
absoluta ao elemento verbal e que estando em causa um elemento verbal não tão claro
duvidoso só possam ser admitidos resultados interpretativos que tenham ligação estreita
com a letra da lei, ou seja, esta teoria exige que o elemento gramatical quando pouco claro
só sejam admitidos resultados que consigam encontrar na própria letra da lei uma própria
expressão.
Estas duas teorias são degraus para chegar à resolução da controvérsia jurídica que
faz nos encontrar 3 tipos candidatos, começamos por ter os candidatos negativos, positivos
e os neutros.
Temos que ter em conta outros elementos, mas de facto temos que ter em conta o
caso concreto, a relevância positiva da lei, momento histórico e lógico sistemático e aqui
entra em conflito, temos 2 formas de abordar o objeto, temos o objetivismo dogmático e o
subjetivismo dogmático. Para esta teoria - objetivismo - o que está em causa é a
reconstituição da vontade história para o positivismo dogmático o que leva ao pensamento
real do sujeito legislador e assim o conteúdo da norma é aquele que é desejado pelo seu
criador que se vai tentar averiguar qual a vontade do legislador que está expressa na letra
da lei - mens legislatoris. Já no subjetivismo dogmático pretende-se abstrairmos da vontade
do legislador real e concentramos no sentido em que o texto da norma encerra, a
interpretação e apenas a exposição do sentido possível que está na lei - mens legis.
Relativamente ao subjetivismo podemos ainda dizer enquanto doutrina legalista consegue
que o direito em termos imperativo decisionista e isto porque aquilo que foi legislado foi em
função da vontade do legislador, ou seja, são imperativos e constituem o próprio direito.
Se o texto da norma é duvidoso, é preciso procurar comutar/resolver a
indeterminação que é transmitida pelo texto norma seja através daquilo está na própria letra
da lei - mens legis - seja pelo aquilo que percebemos que o legislador pretendeu - mens
legislatoris. A interpretação é uma tarefa que constitui primeiro uma tentativa filológica
(estudo da linguagem da literatura) histórica de um produto espiritual que diz nos Savigny,
ou seja, interpretar é colocar-se no pensamento ou no ponto de vista do legislador
reproduzindo-se aquilo que ele quis dizer, reconstituição da vontade real do legislador real -
subjetivismo. Para o objetivismo, depois de criada a lei ela vai se desprender desta própria
vontade, do seu autor e passar a ter uma existência própria, objetiva. Portanto, o direito é
uma ordem concedida como normativamente objetiva e com uma racionalidade e
intencionalidade próprias, independentes da vontade do legislador. No artigo 9º do CC
encontra-se uma solução de compromisso entre objetivismo e subjetivismo. O intérprete
deve procurar o sentido histórico que o legislador quis dar ao texto norma sendo certo que
este artigo 9.1 que depois nos remete a recorrer a outros elementos, orientam-se em última
análise a interpretação para a presunção do entendimento do legislador; tem um caráter
misto e percebemos aqui podemos ter 2 interpretações: dogmática e teleológica racional,
privilegiando-se deste modo de uma presunção de justeza.
Tendo em conta, a teoria tradicional, o método jurídico e especificamente a teoria da
alusão, consegue-se encontrar vários resultados de interpretação que são enunciados e são
tidos em conta começamos por solicitar todos os resultados de interpretação consagrados
pelo método jurídico, o intérprete deve sempre chegar a um sentido admitido pela letra da
lei, ou seja, para não violar a teoria da alusão, os sentidos possíveis, porque admitidos pela
letra da lei. Então os resultados possíveis são:
● Declarativa - é aquela em que o resultado a que a interpretação chega corresponde
à escolha do candidato positivo, isto é, do sentido mais natural, mais habitual da
letra da lei
● Enunciativa - corresponde à escolha de um sentido que não sendo o mais natural é
ainda o possível, ou seja, trata-se de um sentido lógico virtualmente contido nas
palavras da lei e obtido mediante os seguintes argumentos:
○ “Maiori ad minus” - isto é a lei permite a mais também permite o menos. Ex.:
se um determinado sujeito alienar (vender) um bem também pode onerar
esse bem (hipoteca, penhora)
○ “Minori ad maius” - a lei que permite menos também permite mais, se a lei
permite proibir a oneração de um determinado bem então não poderei vender
nem doar esse bem.
○ “Contrario sensu” - a lei estabelece como disciplina para certa situação
excepcionais incita implicitamente ao princípio regra oposto; uma norma
excecional. Ex.: 875 é contrario sensu do 219.
● Extensiva - é aquela que o resultado o intérprete chega corresponde à escolha do
sentido mesmo não sendo o mais natural, é mais extenso que o natural e aqui os
argumentos usados para sustentar esta interpretação são os seguintes:
○ Identidade de razão (argumento a pari) - por igual razão, por paridade
○ Maioria da razão (a fortiori) - a razão mais forte, mais plausível
● Restritiva - resultado que o intérprete chega a corresponder à escolha de um sentido
que não sendo o mais natural ainda é possível, é menos extenso que o sentido
natural. O argumento para sustentar este resultado da interpretação é do legislador
disse mais do que queria dizer. Ex.: na palavra nulidade, o intérprete socorrendo-se
aos elementos histórico-sistemático conclui que o sentido ao interpretar a norma
onde se encontra a palavra será de uma invalidade relativa ou anulabilidade com
efeito o legislador ao utilizar o conceito nulidade remete para a invalidade do negócio
jurídico sendo certo que este instituto comporta a invalidade assim a anulabilidade
será o sentido menos natural, mas ainda assim possível e menos extenso.
A escola da jurisprudência dos interesses vai apresentar uma crítica acerca destes
resultados e apresentam outro resultado que é a interpretação. Esta escola é uma escola de
direito que contribui para aquilo que se chama por uma compreensão do direito na
perspectiva do fins ou dos interesses. Esta compreensão é radicalmente oposta à sua
sustentada pelo normativismo do séc XIX caracterizado pelo formalismo, ou seja,
caracteriza-se por compreender o direito como um sistema de leis que tinham uma
finalidade exclusiva, coordenar os vários arbítrios individuais sem intervir no plano dos fins e
interesses subjacentes à vontade concreta de cada indivíduo interveniente. Em clara
oposição a esta compreensão de direito a jurisprudência dos interesses vem afirmar que os
interesses são os fatores causais, constituintes do direito e assim sendo os interesses que
para jurisprudência dos interesses manifestam-se em forma de conflito seria a genética
determinante do direito e a função do direito e ao mesmo tempo o objetivo final do direito
seria o de arbitrar os interesses conflituantes e em simultâneo proteger esses interesses.
Ora desta compreensão vai resultar uma norma e uma específica compreensão da lei que
será decisiva para o modo como esta conceção que vai perceber a interpretação da lei.
Assim, tendo presente o problema dos resultados compreendido como o momento da
interpretação e tendo presente o respeito pelos limites da relevância negativa da letra da lei
e tendo ainda presente a distinção essencial então a letra da lei e o espírito da lei
poder-se-ão verificar algumas hipóteses de interpretação:
1. A letra da lei e o espírito da lei correspondem naturalmente, isto é o significado
gramaticalmente enunciado pelo texto da lei exprime adequadamente o sentido que
é imputado ao texto pelos outros elementos de interpretação; estamos perante uma
interpretação declarativa. O texto admite no seu significado correto ou mais
natural, o sentido determinável pelo espírito da lei e o intérprete apenas se foca
nesse sentido que o texto exprime natural e corretamente; o intérprete encontra o
significado mais correto ou mais natural a que correspondam os candidatos
positivos. No fundo, interpretação declarativa é aquela que fixa à norma como o seu
verdadeiro sentido, o sentido ou um dos sentidos mais literais e aqui a intérprete
limita-se a escolher o sentido que o texto direta ou indiretamente tenha selecionado
que não sendo o mais natural seja ainda assim possível embora mais extenso ou
menos extenso aqui estamos no âmbito dos candidatos neutros e aparecem outras
hipóteses. A letra da lei, significado mais natural é mais amplo que o espírito, o
sentido determinável pelos outros elementos de interpretação. Neste caso, estamos
perante uma interpretação negativa em que se restringe o sentido mais natural da
lei; no fim que façamos coincidir com o seu espirito no fundo, o legislador aqui
adotou um texto que atraiçoou o pensamento na medida que diz daquilo que
pretendia dizer o resultado da interpretação será mais restritivo do que o sentido que
resulta o texto da lei.
2. A letra da lei isto é o seu significado mais natural é menos ampla do que o seu
espírito sendo certo então o que aqui temos que alargar ou fazer uma interpretação
extensiva. Alargar o sentido mais naturalmente textual da lei, mas dentro dos seus
significados possíveis e portanto dando à norma um sentido mais amplo do que
aquele que resulta do texto da lei isto porque o intérprete chega à conclusão de que
a letra da lei fica aquém do espírito da lei, isto é a fórmula verbal peca por defeito,
diz menos daquilo que pretendia dizer.
3. Outra hipótese: a interpretação ab rogante ou revogatória permite concluir que a
lei interpretada não tem sentido isto é a conciliação entre a letra da lei e o espírito da
lei enquanto elementos essenciais de uma norma legal não é possível seja pela
expressão ser absolutamente incorreta seja porque o texto enuncia um sentido
absolutamente inconcebível com o pensamento normativo. Aqui é habitual quando
concorrem normas contraditórias poderá fazer-se uma interpretação revogatória.
4. Interpretação enunciativa - obtido através de utilização de elementos da norma
jurídica ao contrário da interpretação extensiva - argumentos “a pari” e “a fortiori" -
associado a uma forma de argumentação jurídica que estabelece se é proibido o
mais também é proibido o menos aliada ao argumento a maiori ad minus o que
permite mais também permite o menos e ainda ao argumento do “contrario sensu” e
interpretação enunciativa de acordo com a jurisprudência dos interesses assume-se
muitas vezes uma interpretação extensiva na medida que vai para além do sentido
da lei. Todos estes resultados mencionados cabiam nos quadros de interpretação
seja ela orientação subjetivista “mens legislatoris” seja ela objetivista “mens legis”. O
certo é que a determinada altura vai-se abandonar esta corrente dos candidatos
possíveis o que se passa ter presente é a correção do texto fundado
teleologicamente, isto é, fundada na razão de ser da norma, no objetivo da norma é
aqui que devemos perceber a superação.
Superação da teoria tradicional de interpretação
Com a teoria teleológica enriqueceu-se os resultados da interpretação aceitando-se
a preterição do texto a favor do cumprimento efetivo da intenção prático-normativa. Ora,
com a interpretação corretiva admite que o intérprete sacrifique ou corrija o texto da lei para
realizar a intenção praticada, porque se depara com alteração das circunstâncias
relativamente às quais a norma foi prevista e a lei formulada e a cumprir-se na íntegra o teor
verbal da lei tal significaria a frustração daquela intenção prático normativa semelhante a
esta interpretação corretiva analogicamente se passam as coisas com os modos
interpretativos que se designam por:
● Redução teleológica irá reduzir ou excluir do campo de uma norma casos que estão
abrangidos pela letra da lei com fundamento teleológico inerente à mesma norma
● Extensão teleológica alarga-se o campo da norma definido pelo texto com o
fundamento da sua inerente teleologia a casos que estavam abrangidos pelo texto
A redução e extensão teleológica não se confunde com a interpretação extensiva e
restritiva, porque as primeiras não se procura adequada correspondência entre o espírito e
a letra da lei do que se trata agora é uma correção do texto fundada teleologicamente
prosseguindo-se uma interpretação para além dos possíveis sentidos ou significado formal.
O sentido impositivo ultrapassa o limite da interpretação tradicional o que nos mostra a
acentuação do elemento teleológico implica o abandono de um sentido puramente
hermenêutico-exegético com a correspondente assunção de um verdadeiro sentido
normativo, ou seja, prático normativo na interpretação jurídica.
Integração de lacunas
As leis são gerais e abstratas para poderem regular todas as situações da vida que
exigem disciplina jurídica e por isto surgiram sempre hipóteses mais ou menos numerosas
que não são previstas nem são objeto de qualquer específica determinação e neste caso
estamos perante uma lacuna legal =/= situação diferente é quando temos a própria lei a
indicar subsidiariamente a aplicação de um outro direito, é uma questão poupança jurídica.
Uma lacuna é uma situação que carecia de previsão/solução jurídica e quando falamos
deste problema estamos a referir à interpretação no sentido lato, porque é um problema que
se trata do enquadramento jurídico e é em sentido lato porque muitas vezes não estávamos
perante uma lacuna aparente porque pode-se resolver através interpretação extensiva ou
restritiva. Para termos uma lacuna é ter um vazio jurídico ou uma falha para qual é
imprescindível encontrar regulação, há lacuna legal quando a lei e o direito consuetudinário
não contém uma regulação exigida e consagrada na ordem jurídica, não a encontramos na
ordem jurídica e no sistema jurídico como um todo resposta à questão decidenda. Não
basta dizer que a lacuna é um caso não previsto do direito ou não regulada
normativamente, muitas situações do dia-a-dia não estão reguladas nem previstas na lei,
porque não têm relevância para o direito, não são questões de direito. A existência de
lacunas será uma fatalidade que tem em conta 3 fatores:
● Deficiência de previsão, é impossível prever todas situações vindouras
● Intenção de não regulação, há matérias ainda em evolução e por isso o legislador
opta por não regular determinados aspectos
● Situações novas, a evolução das circunstâncias faz com a lei elaborada hoje se
aplique amanhã em condições adversas, não se pode aplicar o ordenamento jurídico
dos automóveis aos aviões.
Tipos de lacunas
● Voluntárias - são aquelas que o legislador não quis resolver e deixou o problema
para jurisprudência, é o caso ainda hoje das barrigas de aluguer e da morte
medicamente assistida
● Involuntárias - aquelas que não previu e como tal não elaborou uma adequada lei ou
norma jurídica. Ex.: foi o casamento de pessoas do mesmo sexo
● Iniciais - surgem na altura em que o legislador faz a norma
● Posteriores - aquelas que surgem como consequências evoluções técnicas,
económicas e sociais
● Previsão - as que surgem na falta de previsão de uma certo comportamento ou facto
● Estatuição - aquelas que revelam a ausência de consequências a que o direito faz
corresponder a um certo facto ou comportamento, ou seja, não se instituíram as
consequências do facto jurídico
● Regulamentação - aquelas se revelam quando a lei prevê o caso mas remete a
estatuição para critérios de equidade
● Manifestas - são aquelas que se revelam quando a lei não contém normas jurídicas
propriamente dita embora se perceba a teleologia
● Ocultas - aquelas que se revela quando a lei contém uma norma jurídica aplicável a
uma certa categoria de casos mas desconsiderou certas situações especiais, ou
seja, vai se traduzir por ausência de disposição excepcional ou especial conforme os
casos isto é a lei contém uma regra aplicável a uma certa categoria de casos mas
fá-lo de tal modo olhando o próprio sentido e finalidade lei verificamos de que essa
categoria abrange uma subcategoria cuja a particularidade ou especialidade que é
relevante não foi considerada. Ex.: norma que proíbe em frente uma garagem, mas
o dono da garagem estacionar em frente à sua garagem
● Colisão - acabam elas próprias serem lacunas ocultas que surgem quando há várias
normas contraditórias que resolvem a mesma situação -> interpretação ab rogante e
resolve-se atribuindo a preferência por uma ou por outra das normas conflituantes.
Por regra, estando em colisão direitos pessoais e patrimoniais prevalece os direitos
pessoais.