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Introdução da metodologia jurídica

Fomos percebendo com o 1º capítulo que o sistema jurídico é uma ordem com uma
unidade categórica que a norma propõe. Ora, a propósito do método jurídico que podemos
encontrar que é a escola exegese que surge no início do séc XIX e baseia-se na
metodologia do legalismo da codificação pós revolucionária, isto é, entendia o direito com
um conjunto de textos legais sistematizado em códigos principalmente no código civil
portanto esta escola é fruto do legalismo pós revolucionário e de um jusnaturalismo
moderno iluminista que fundava as leis em axiomas dos quais se deduzia o direito natural
racional. No fundo, a ideia dos códigos era fundamental, mas ao mesmo tempo entendia-se
que o código não podia ser simplesmente uma coletânea de normas e sim um código
legislativo elaborado de forma a apresentar-se sistematizado uniforme e racional com o
objetivo final de fornecer uma solução exclusiva e definitiva de uma certo domínio jurídico,
ou seja, a elaboração de uma código para cada ramo do direito. Assim, o direito objeto era
exclusivamente composto por normas gerais e abstratas previstas pelo legislador
verificando-se uma identificação da juridicidade e da normatividade com racionalidade
abstrata. Dito isto, a escola exegese utilizava o método de subsunção das normas e uma
interpretação exegética do tipo lógica dedutiva, ou seja, do texto tudo retirava e assim se
realizava direito. No entanto, os autores desta escola numa 1º fase Proudhon, Delvincourt e
Duranton e 2º fase Géry bem percebiam que os códigos eram incompletos e por isso
assumiram como lacunosos sendo necessária a remissão para fontes subsidiárias de
integração. Desde de logo identificação do direito com a lei, o direito corresponde à lei e
portanto ele manifesta-se apenas na lei e não haveria outro direito que não aquele que
constasse na lei. De qualquer modo, o legalismo do séc XIX admitia uma compreensão
jusnaturalista do direito não obstante esta ideia foi perdendo importância a tal ponto que
passa a relevar era única e simplesmente na lei daqui resultando obviamente uma
concepção estática do direito. A exclusividade da lei como critério jurídico no primeiro
estipulado responde a pergunta sobre as fontes do direito, no segundo estipulado
encontramos o entendimento das fontes de direito da normatividade jurídica, ou seja, esta
escola não só vê a lei como fonte de direito como considera só conteúdo normativo
fornecido encontrada nos critérios jurídicos decisórios o que quer dizer que se recusa a
validade e a necessidade o apelo a outros critérios; a lei é a única fonte do direito e o único
critério normativo portanto esta forma de entender leva-nos que é na lei que se retira
exclusivamente os critérios normativos. O 3º estipulado é da exclusão das lacunas no
sistema da lei civil codificada, este sistema é um sistema completo e fechado, mas assim é
como haveria a escola exegese resolver o problema das lacunas? Estamos perante um
positivismo exegético, o estrito positivismo hermenêutico (teoria da interpretação) composto
pelos seguintes prs:
● Fidelidade à lei no momento de aplicação só sendo necessário apenas a sua
interpretação verificando-se a completa anulação do juiz em prol do legislador
● Interpretação é objetivo-hermenêutica, dedutiva formal e lógico dogmática e assim
os elementos para interpretar: a letra da lei (se levantar alguma dúvida, o método
remetia ao elemento complementar e a ele se chegava com os trabalhos
preparatórios deveriam-se também entender ao espírito da lei que se chamava,
estender ou completar o sentido daquela norma; quando havia uma lacuna, o juiz
podia fazer uma analogia legis ou iuris, encontrar uma norma para conseguir
resolver o caso) e não há invocação de valores e não há aqui uma perspectiva
axiológica-normativa em que se procurar-se fundamento
Tendo em conta o que está em cima, este método era capaz de assegurar a segurança
jurídica, a certeza do direito e ao mesmo tempo era diferente à justeza normativa e à
adequação material ao mérito dos casos a decidir.
● Para decidir os casos não previsto na lei, casos omissos, procurava-se no código
uma norma porque o juiz estava obrigado a encontrá-la e fazia uma auto integração
da lei e se não encontrasse solução no código então o caso não tinha relevância
jurídica
● A interpretação sendo lógica dedutiva implicava que a aplicação e realização direito
fosse igualmente lógica dedutiva, ou seja, a norma legal era a premissa maior de um
silogismo em que o caso a decidir era a premissa menor e com elas obtia-se a
conclusão substantiva.
Escola Histórica do direito - Puchta
Foi a percussora do positivismo normativista e que haveria influenciar Ihering, sendo que
um dos pontos essenciais é a afirmação natureza histórica-nacional do direito que quer
dizer que o fundamento histórico é fundamento constitutivo do direito o que quer dizer o
direito nasce do povo. Outro autor relevante, Savigny e as coordenadas fundamentais deste
autor:
● Há uma crítica e repúdio ao iluminismo legalista que via como o legislador como o
que nos leva a dizer que não há uma conceção estatal do direito, na verdade a
conceção direito era espiritual-cultural e não política.
● Crítica que sustentava a tese histórica do direito, a historicidade era constitutiva do
direito, a matéria do direito será dada pelo passado total da nação não através de
qualquer arbítrio mas que provém da existência íntima da nação, o direito está
sujeito como as restantes experiências coletivas
● Todo o direito nasce como direito consuetudinário, é originado pelo costume e
crenças posteriormente pela jurisprudência não quer isto dizer que a doutrina não
fosse importante, mas Savigny recusava o papel predominante e atribuia-lhe um
papel residual e era necessário uma elaboração determinante daquele direito
originário função que era atribuída aos juristas, ou seja, a principal fonte era a
doutrina. Os institutos jurídicos e relações jurídicas eram alheias aos fins, isto é, tem
existência em si mesmas independentemente do reino dos fins. A escola histórica
preocupada com o sistema jurídico esqueceu-se da historicidade em detrimento da
aclamada cientificidade; o histórico desaparece em função da cientificidade
● Elementos: gramatical, histórico, lógico, sistemático e teleológico. É o momento
intencional de redução jurídico estruturas e categorias formais, ou seja, reduz-se o
jurídico a uma forma. Neste momento ao direito não se importava com as intenções
éticas, políticas ou econômicas o que significa que a concepção jurídica era
equivalente a uma consideração não teleológica; era então elaborado conceito e
institutos jurídicos de índole estrato-funcional que permitiam criar um sistema
unitário e racionalmente auto suficiente isto é uma sistema autónomo que
sustentasse a própria autonomia do jurídico a partir deste momento científico temos
o momento hermenêutico enquanto interpretação cumprido rigorosamente abstrato.
Depois encontramos um momento estritamente metódico de identificação do
pensamento jurídico em correlação com a operação lógica em que a racionalidade
se identifica com esquemas lógico dedutivos, neste momento o método jurídico
traduz então na conceção e tratamento do direito positivo independentemente do fim
ou valores, isto é, fundava-se única e simplesmente na validade absoluta de
categorias formais e na eficácia argumentação lógica.
Portanto, podemos perceber que na escola exegese o código era uma regulamentação
total, definitiva do setor da vida social em que a lei é única fonte de direito e assim os
momentos do método: interpretação, integração, construção e aplicação ->
hermenêutica exegética, ou seja, culmina interpretação dogmática de índole
lógico-analítico dedutiva. Por outro lado o método da escola histórica alemã corresponde a
utilização de materiais que margem na experiência consuetudinária e legislativa, mas
também de textos de direito romano e comum eis aqui um direito apresentado mais
completo, método surgido no séc XVIII dando uma relevância residual à lei no séc XX
começa a atribuir nova importância a este critério: hermenêutico científico -> aplicação,
realização do direito.
Podemos ainda falar no momento conceitual, o sistema conceitual reduzia ao
conteúdo jurídicos obtidos no direito positivo, conteúdos esses através da interpretação
jurídica e através da qual se operava a tarefa da construção jurídica, ou seja, através da
concetualização sistemática e com o desenvolvimento lógico permitia atingir-se a totalidade
racional do sistema jurídico a plenitude lógica do sistema que levaria a exclusão de lacunas
através desta determinação sistemática conceitual podia orientar-se logicamente
teórica-cientificamente a própria conceitualização do direito mediante a subsunção dos
casos concretos aos conceitos normativos das normas aplicáveis convertendo-se esta
operação lógica dedutiva. Há por conseguinte uma tarefa prévia que é confiável a tarefa
jurídica do pensamento jurídico inferior, tarefa esta que traduz na análise jurídica e de
concentração lógica e que corresponde à função de interpretação e que chamaremos a
jurisprudência inferior. A outra tarefa corresponde à tarefa de construção realização do
direito e aqui temos a jurisprudência superior, ou seja, no plano da jurisprudência inferior
trabalhamos com informações dados devido à intervenção se transformam em proposições
jurídicas ou em dirieto objeto ou direito imposto, já no plano da jurisprudência superior
procedemos à criação de institutos e de conceitos e fazemos não o direito objeto dado mas
sim o direito dogmático, não aqui como na primeira a análise jurídica e sim uma
concentração lógica. No momento hermenêutico é o momento da interpretação que é
absolutamente indispensável para o método jurídico que trata do momento da determinação
do sentido da norma seja ela lei ou proposição normativa e de acordo com a escola
exegese este momento é da tarefa da jurisprudência inferior. A interpretação é um passo
que é ratio cognoscendi dos processos científicos da análise da concentração e construção,
mas ela também é um momento metódico sustentado em abstrato postulando e
pressupondo o sistema de conceitos e seu axiológico e interpretar é atribuir à norma texto
um sentido único e integrando-a no sistema dinâmico e ao mesmo tempo dando-lhe sentido.
Por fim, a aplicação enquanto momento exterior do método jurídico pressupõe que o
mesmo é ciência é por isso que o justificamos como operação técnica lógica dedutiva,
operação que se vai aplicar aos casos concretos do direito e que graças ao momento
científico do momento ceitual como ao momento hermenêutico que nos impõe soluções pré
determinadas em abstrato, no fundo o que aqui está em causa é o esquema lógico dedutivo
do silogismo subsuntivo que garante a relação entre o geral e o particular. O juiz neste caso
é um juiz árbitro com poder neutral que se limita a pronunciar em concreto as palavras que
a norma prescreve em abstrato. Portanto a aplicação como momento técnico exterior não
constitui qualquer problema.
Teoria tradicional da interpretação da lei (juízos abstratos)
A primeira questão que se coloca é qual o objeto da interpretação e para esta teoria
o que se interpreta é o texto da norma dado a base desta concentração está o positivismo
legalista aliado ao positivismo normativista. Partimos de 2 pontos: o texto tem a constituição
e o texto oferece uma compreensão global; este texto é contéudo das significações ou por
outras palavras os conteúdos significativos imanentes das próprias norma lei, conteúdo este
auto suficiente e tal como dizia Savigny estas significações textuais eram compostas por
elemento gramatical - a letra e o teor verbal, o texto na sua relevância gramatical -,
elemento histórico - o texto na sua relevância histórica vinculado a circunstâncias relevam
para o seu aparecimento e o caminho na produção essa norma e o elemento lógico e
sistemático que está preocupado com a unidade lógica e estrutural da norma jurídica e
sobretudo preocupado com a sua localização no sistema de norma e pirâmide de conceitos.
Para esta teoria, ainda que com cariz positivista legalista também tem características
positivista normativista e estão em causa elementos materiais como sejam interesses,
valorações, decisões e intenções - Géry, racional teleológico - preocupa-se em perceber o
motivo ou o fim da norma e Savigny no início exclui este elemento porque entende que a
interpretação deve ser formal conduzindo a uma juridicidade formal, não deve ter em conta
a perceção da razão, do fim daquela norma. Ou seja, por um lado temos uma interpretação
metodológica dogmática-regra aquela que não ocorre ao momento teleológico, mas depois
mais tarde assume ainda que excepcionalmente a uma metodologia teleológica, pois
percebe que o texto norma não se apresenta no seu estado puro mas antes defeituoso e
imperfeito e dado a este estado do texto norma é que é nos permitido mobilizar elementos
extra textuais. O texto norma, a letra da lei tem uma função prescritiva e esta função
prescritiva impõe-se como prioridade analítica e cronológica e vai condicionar todo o
processo interpretativo e porque tem valor normativo, ela vai condicionar de forma negativa
todo o elemento interpretativo, ou seja, vai assumir uma relevância negativa da letra da lei,
a teoria da fronteira da interpretação e da teoria da alusão.
Teoria da fronteira da interpretação da lei: o sentido literal a extrair do uso
linguístico geral ou sentido literal possível é aquele que vai assinalar o próprio limite da
interpretação, fora disto o que encontramos é a decisão judicial. De facto, o intérprete
começa por pedir ao elemento gramatical que a exclua todos os sentidos incompatíveis com
eventual relevância do texto norma. Por isso que se diz que o elemento gramatical tem uma
nota negativa porque é excludente. Mas para além deste passo, a lei também vai
desempenhar a função de seleção de fins possíveis, ou seja, vamos selecionar os sentidos
mais naturais ou imediatos, aqueles que correspondem ao usos comuns ou jurídicos mais
habituais dentro das palavras e expressões contidos no texto lei, este momento
interpretativo tem função escolher os candidatos exclusivos, os valores indicativos para uma
resolução de uma controvérsia jurídica - candidatos positivos. Não obstante continua a
decorrer aqui o teor literal do texto norma contenha em si o conteúdos possíveis que
correspondem a utilização de termos menos comuns, nesta tarefa encontramos os
candidatos neutros mas que são ainda permitidos pela letra da lei, objetos, fatos e casos
nos quais o teor do elemento literal por si não permite uma posição definitiva de inclusão ou
exclusão.
Quanto à segunda também chamada de interpretação mínima diz nos que tem
haver uma correspondência verbal mínima entre a relevância gramatical da lei e o
pensamento legislativo determinado pela interpretação, ou seja reduz a importância do
sentido literal, mas ao mesmo também impõe um limite da interpretação; dá prioridade
absoluta ao elemento verbal e que estando em causa um elemento verbal não tão claro
duvidoso só possam ser admitidos resultados interpretativos que tenham ligação estreita
com a letra da lei, ou seja, esta teoria exige que o elemento gramatical quando pouco claro
só sejam admitidos resultados que consigam encontrar na própria letra da lei uma própria
expressão.
Estas duas teorias são degraus para chegar à resolução da controvérsia jurídica que
faz nos encontrar 3 tipos candidatos, começamos por ter os candidatos negativos, positivos
e os neutros.
Temos que ter em conta outros elementos, mas de facto temos que ter em conta o
caso concreto, a relevância positiva da lei, momento histórico e lógico sistemático e aqui
entra em conflito, temos 2 formas de abordar o objeto, temos o objetivismo dogmático e o
subjetivismo dogmático. Para esta teoria - objetivismo - o que está em causa é a
reconstituição da vontade história para o positivismo dogmático o que leva ao pensamento
real do sujeito legislador e assim o conteúdo da norma é aquele que é desejado pelo seu
criador que se vai tentar averiguar qual a vontade do legislador que está expressa na letra
da lei - mens legislatoris. Já no subjetivismo dogmático pretende-se abstrairmos da vontade
do legislador real e concentramos no sentido em que o texto da norma encerra, a
interpretação e apenas a exposição do sentido possível que está na lei - mens legis.
Relativamente ao subjetivismo podemos ainda dizer enquanto doutrina legalista consegue
que o direito em termos imperativo decisionista e isto porque aquilo que foi legislado foi em
função da vontade do legislador, ou seja, são imperativos e constituem o próprio direito.
Se o texto da norma é duvidoso, é preciso procurar comutar/resolver a
indeterminação que é transmitida pelo texto norma seja através daquilo está na própria letra
da lei - mens legis - seja pelo aquilo que percebemos que o legislador pretendeu - mens
legislatoris. A interpretação é uma tarefa que constitui primeiro uma tentativa filológica
(estudo da linguagem da literatura) histórica de um produto espiritual que diz nos Savigny,
ou seja, interpretar é colocar-se no pensamento ou no ponto de vista do legislador
reproduzindo-se aquilo que ele quis dizer, reconstituição da vontade real do legislador real -
subjetivismo. Para o objetivismo, depois de criada a lei ela vai se desprender desta própria
vontade, do seu autor e passar a ter uma existência própria, objetiva. Portanto, o direito é
uma ordem concedida como normativamente objetiva e com uma racionalidade e
intencionalidade próprias, independentes da vontade do legislador. No artigo 9º do CC
encontra-se uma solução de compromisso entre objetivismo e subjetivismo. O intérprete
deve procurar o sentido histórico que o legislador quis dar ao texto norma sendo certo que
este artigo 9.1 que depois nos remete a recorrer a outros elementos, orientam-se em última
análise a interpretação para a presunção do entendimento do legislador; tem um caráter
misto e percebemos aqui podemos ter 2 interpretações: dogmática e teleológica racional,
privilegiando-se deste modo de uma presunção de justeza.
Tendo em conta, a teoria tradicional, o método jurídico e especificamente a teoria da
alusão, consegue-se encontrar vários resultados de interpretação que são enunciados e são
tidos em conta começamos por solicitar todos os resultados de interpretação consagrados
pelo método jurídico, o intérprete deve sempre chegar a um sentido admitido pela letra da
lei, ou seja, para não violar a teoria da alusão, os sentidos possíveis, porque admitidos pela
letra da lei. Então os resultados possíveis são:
● Declarativa - é aquela em que o resultado a que a interpretação chega corresponde
à escolha do candidato positivo, isto é, do sentido mais natural, mais habitual da
letra da lei
● Enunciativa - corresponde à escolha de um sentido que não sendo o mais natural é
ainda o possível, ou seja, trata-se de um sentido lógico virtualmente contido nas
palavras da lei e obtido mediante os seguintes argumentos:
○ “Maiori ad minus” - isto é a lei permite a mais também permite o menos. Ex.:
se um determinado sujeito alienar (vender) um bem também pode onerar
esse bem (hipoteca, penhora)
○ “Minori ad maius” - a lei que permite menos também permite mais, se a lei
permite proibir a oneração de um determinado bem então não poderei vender
nem doar esse bem.
○ “Contrario sensu” - a lei estabelece como disciplina para certa situação
excepcionais incita implicitamente ao princípio regra oposto; uma norma
excecional. Ex.: 875 é contrario sensu do 219.
● Extensiva - é aquela que o resultado o intérprete chega corresponde à escolha do
sentido mesmo não sendo o mais natural, é mais extenso que o natural e aqui os
argumentos usados para sustentar esta interpretação são os seguintes:
○ Identidade de razão (argumento a pari) - por igual razão, por paridade
○ Maioria da razão (a fortiori) - a razão mais forte, mais plausível
● Restritiva - resultado que o intérprete chega a corresponder à escolha de um sentido
que não sendo o mais natural ainda é possível, é menos extenso que o sentido
natural. O argumento para sustentar este resultado da interpretação é do legislador
disse mais do que queria dizer. Ex.: na palavra nulidade, o intérprete socorrendo-se
aos elementos histórico-sistemático conclui que o sentido ao interpretar a norma
onde se encontra a palavra será de uma invalidade relativa ou anulabilidade com
efeito o legislador ao utilizar o conceito nulidade remete para a invalidade do negócio
jurídico sendo certo que este instituto comporta a invalidade assim a anulabilidade
será o sentido menos natural, mas ainda assim possível e menos extenso.

A escola da jurisprudência dos interesses vai apresentar uma crítica acerca destes
resultados e apresentam outro resultado que é a interpretação. Esta escola é uma escola de
direito que contribui para aquilo que se chama por uma compreensão do direito na
perspectiva do fins ou dos interesses. Esta compreensão é radicalmente oposta à sua
sustentada pelo normativismo do séc XIX caracterizado pelo formalismo, ou seja,
caracteriza-se por compreender o direito como um sistema de leis que tinham uma
finalidade exclusiva, coordenar os vários arbítrios individuais sem intervir no plano dos fins e
interesses subjacentes à vontade concreta de cada indivíduo interveniente. Em clara
oposição a esta compreensão de direito a jurisprudência dos interesses vem afirmar que os
interesses são os fatores causais, constituintes do direito e assim sendo os interesses que
para jurisprudência dos interesses manifestam-se em forma de conflito seria a genética
determinante do direito e a função do direito e ao mesmo tempo o objetivo final do direito
seria o de arbitrar os interesses conflituantes e em simultâneo proteger esses interesses.
Ora desta compreensão vai resultar uma norma e uma específica compreensão da lei que
será decisiva para o modo como esta conceção que vai perceber a interpretação da lei.
Assim, tendo presente o problema dos resultados compreendido como o momento da
interpretação e tendo presente o respeito pelos limites da relevância negativa da letra da lei
e tendo ainda presente a distinção essencial então a letra da lei e o espírito da lei
poder-se-ão verificar algumas hipóteses de interpretação:
1. A letra da lei e o espírito da lei correspondem naturalmente, isto é o significado
gramaticalmente enunciado pelo texto da lei exprime adequadamente o sentido que
é imputado ao texto pelos outros elementos de interpretação; estamos perante uma
interpretação declarativa. O texto admite no seu significado correto ou mais
natural, o sentido determinável pelo espírito da lei e o intérprete apenas se foca
nesse sentido que o texto exprime natural e corretamente; o intérprete encontra o
significado mais correto ou mais natural a que correspondam os candidatos
positivos. No fundo, interpretação declarativa é aquela que fixa à norma como o seu
verdadeiro sentido, o sentido ou um dos sentidos mais literais e aqui a intérprete
limita-se a escolher o sentido que o texto direta ou indiretamente tenha selecionado
que não sendo o mais natural seja ainda assim possível embora mais extenso ou
menos extenso aqui estamos no âmbito dos candidatos neutros e aparecem outras
hipóteses. A letra da lei, significado mais natural é mais amplo que o espírito, o
sentido determinável pelos outros elementos de interpretação. Neste caso, estamos
perante uma interpretação negativa em que se restringe o sentido mais natural da
lei; no fim que façamos coincidir com o seu espirito no fundo, o legislador aqui
adotou um texto que atraiçoou o pensamento na medida que diz daquilo que
pretendia dizer o resultado da interpretação será mais restritivo do que o sentido que
resulta o texto da lei.
2. A letra da lei isto é o seu significado mais natural é menos ampla do que o seu
espírito sendo certo então o que aqui temos que alargar ou fazer uma interpretação
extensiva. Alargar o sentido mais naturalmente textual da lei, mas dentro dos seus
significados possíveis e portanto dando à norma um sentido mais amplo do que
aquele que resulta do texto da lei isto porque o intérprete chega à conclusão de que
a letra da lei fica aquém do espírito da lei, isto é a fórmula verbal peca por defeito,
diz menos daquilo que pretendia dizer.
3. Outra hipótese: a interpretação ab rogante ou revogatória permite concluir que a
lei interpretada não tem sentido isto é a conciliação entre a letra da lei e o espírito da
lei enquanto elementos essenciais de uma norma legal não é possível seja pela
expressão ser absolutamente incorreta seja porque o texto enuncia um sentido
absolutamente inconcebível com o pensamento normativo. Aqui é habitual quando
concorrem normas contraditórias poderá fazer-se uma interpretação revogatória.
4. Interpretação enunciativa - obtido através de utilização de elementos da norma
jurídica ao contrário da interpretação extensiva - argumentos “a pari” e “a fortiori" -
associado a uma forma de argumentação jurídica que estabelece se é proibido o
mais também é proibido o menos aliada ao argumento a maiori ad minus o que
permite mais também permite o menos e ainda ao argumento do “contrario sensu” e
interpretação enunciativa de acordo com a jurisprudência dos interesses assume-se
muitas vezes uma interpretação extensiva na medida que vai para além do sentido
da lei. Todos estes resultados mencionados cabiam nos quadros de interpretação
seja ela orientação subjetivista “mens legislatoris” seja ela objetivista “mens legis”. O
certo é que a determinada altura vai-se abandonar esta corrente dos candidatos
possíveis o que se passa ter presente é a correção do texto fundado
teleologicamente, isto é, fundada na razão de ser da norma, no objetivo da norma é
aqui que devemos perceber a superação.
Superação da teoria tradicional de interpretação
Com a teoria teleológica enriqueceu-se os resultados da interpretação aceitando-se
a preterição do texto a favor do cumprimento efetivo da intenção prático-normativa. Ora,
com a interpretação corretiva admite que o intérprete sacrifique ou corrija o texto da lei para
realizar a intenção praticada, porque se depara com alteração das circunstâncias
relativamente às quais a norma foi prevista e a lei formulada e a cumprir-se na íntegra o teor
verbal da lei tal significaria a frustração daquela intenção prático normativa semelhante a
esta interpretação corretiva analogicamente se passam as coisas com os modos
interpretativos que se designam por:
● Redução teleológica irá reduzir ou excluir do campo de uma norma casos que estão
abrangidos pela letra da lei com fundamento teleológico inerente à mesma norma
● Extensão teleológica alarga-se o campo da norma definido pelo texto com o
fundamento da sua inerente teleologia a casos que estavam abrangidos pelo texto
A redução e extensão teleológica não se confunde com a interpretação extensiva e
restritiva, porque as primeiras não se procura adequada correspondência entre o espírito e
a letra da lei do que se trata agora é uma correção do texto fundada teleologicamente
prosseguindo-se uma interpretação para além dos possíveis sentidos ou significado formal.
O sentido impositivo ultrapassa o limite da interpretação tradicional o que nos mostra a
acentuação do elemento teleológico implica o abandono de um sentido puramente
hermenêutico-exegético com a correspondente assunção de um verdadeiro sentido
normativo, ou seja, prático normativo na interpretação jurídica.

Elementos da Interpretação da lei - art 9


É nosso entendimento que os elementos literais e extra literais devem ser sempre
utilizados conjuntamente. O elemento literal, isto, tendo em conta a letra da lei o que está
escrito no enunciado linguístico. O art 9 é claro: não nos podemos afastar da letra da lei,
esta não só é ponto de partida da interpretação como é um elemento irremovível mas se
este for elástica é possível argumentar em vários sentidos e afastarmos de uma
interpretação unicamente literal. Pelo outro lado, se prescindimos totalmente do texto não
podemos afirmar que há interpretação da lei podemos já não estaremos a pesquisar o
sentido que se encontra numa dada exteriorização conceitual. Apesar de tudo, é necessário
ter um certo cuidado com a polissemia, com a ambiguidade dos termos da letra da lei,
veja-se o exemplo da palavra direito que inúmeras vezes vem mencionada nos textos
legislativos e que vem referenciada com diferentes significações, ou seja, a literalidade é
insuficiente para encontrar o sentido claro da lei, a letra da lei não permite mais do que
traçar uma catálogo de sentidos à partida possíveis o que podemos afirmar é que o
entendimento literal será tendencialmente aquele que será aceite, porque iremos presumir
que o legislador terá consagrado através daquele enunciado linguístico, a solução mais
acertada exprimindo-se através dos termos mais adequados, confiram o art 9.3. Dito isto, o
processo interpretativo não acaba aqui sendo necessária uma tarefa de interligação e
valoração que vai exceder o domínio literal, ou seja, o intérprete irá socorrer-se extra
literais.
● Elemento sistemático - pensar no direito como um sistema uno, estabelece com
outros que lhes pertencem conexões; a interpretação de uma fonte não se pode
fazer isoladamente, toda a fonte se integra numa ordem; este elemento tem um
alcance latíssimo e é muito valorizado obrigando-nos a fazer um exercício relação
normativa que na estratificação hierárquico-normativa nos orienta num sentido
ascendente já com elementos suficientes para conseguirmos interpretar
corretamente, isto é, com todos os dados relativamente a categorias
hierárquico-jurídicas superiores. Dentro deste elemento, temos que perceber 3 tipos
de relação: subordinação, conexão, analogia
○ Subordinação - trata-se de ligar a proposição a princípios mais vastos e
gerais que irão atribuir um conteúdo enquadrando-se o pr. da interpretação
conforme a constituição, de facto um sistema jurídico está cravejado por
fundamentos essenciais que sustenta a sua unidade, estes prs
correspondem às grandes coordenadas do ordenamento jurídico merecendo
o mesmo respeito e obrigatoriedade que merece a lei. Não sendo normas
têm caráter mais flexível - pr da boa fé - na conservação dos negócios
jurídicos. Um pr é algo que encontramos a meio caminho entre uma regra e
um valor concretiza através de uma opção por uma regulação material o
valor, não dispensando a mediação ulterior da regra. O pr é um passo para
concretização dos valores subdividindo-se em formas e matérias
○ Conexão - trata-se de um interligação de vários preceitos situados no mesmo
plano valorativo com o objetivo de um sentido útil. Cada número de um artigo
só é compatível se o situarmos perante todo texto do artigo, cada artigo
perante os que antecede ou os que procede
○ Analogia - trata-se de um esclarecimento através um de comparação com
outros normativos sobre questões similares, procuram-se as semelhanças
entre preceitos independentemente do sistema da própria fonte em causa e
aqui se encaixa o argumento por analogia onde estabelece ligação de
afinidade, identidade e similaridade. Analogia como categoria mental, mas
não ainda como integração de lacunas, ou seja, ainda no âmbito da
interpretação da lei, aqui estabelece lugares paralelos, normas respeitantes a
institutos ou hipótese de qualquer modo relacionados com fonte que se
pretendem interpretar que semelhante à situação em causa, o - Não
esquecendo que a interpretação é uma tarefa conjunto o pano de fundo
desta interpretação é ordenamento no seu todo e por isso o sentido de cada
fonte está em necessária conexão com todas as outras o que quer dizer que
a interpretação deve reconstruir a unidade global da realidade
● Elemento histórico - o intérprete deve atender ao contexto histórico às circunstâncias
económicas e sociais que estiveram subjacentes à elaboração da norma falamos
aqui dos trabalhos preparatórios, tudo isto é fundamental para perceber ratio-legis,
mas é preciso ter atenção que o elemento histórico não inclui ao intérprete a um
exercício interpretativo generalista isto é de acordo com o autor da lei- Ou seja este
elemento vai perdendo alguma importância porque a norma vai evoluindo
distanciando-se do contexto inicial. Dentro deste elemento encontramos precedentes
normativos como por ex que vigoraram no passado, textos legais, textos doutrinais,
textos comparativos, regras estrangeiras que vigoraram na elaboração da norma;
além deste encontramos os trabalhos preparatórios como estudos prévios
anteprojetos de lei, propostas de alterações de lei, as próprias atas de comissões
encarregues aos projetos de leis. tudo isto servem para nos alertarmos e
prevenirmos a atitude e opção última do legislador, afastando-se as opções que o
próprio legislador rejeitou. Neste elemento temos em conta, além da ratio-legis, a
occasio-legis, ou seja, uma circunstancialismo social que rodeou o aparecimento da
lei
● Elemento teleológico - ter em conta os fins e as ideias fundamentais das normas;o
que faz com que a norma evolua em função das circunstâncias. Este elemento tem a
ver diretamente com a ratio-legis, enquanto não se descobrir o para quê de uma lei
não se detém ainda a chave da interpretação. O art 9.1 quando refere às condições
específicas do tempo em que é aplicada consagra o finalismo mas podemos aferir
que a justificação social da lei é tida em conta como elemento de interpretação. A
teleologia é um dos elementos a escrutinar o sentido, o espírito de uma lei, é vital
para proceder à interpretação e é nesse sentido é que verdadeiramente há
ratio-legis. Para o prof Baptista Machado, a teleologia é razão de ser da norma, não
é somente o motivo de política legislativa que ditou a regra, a ratio-legis separa-se
dessas considerações para se dar um sentido intrínseco à lei.
Concluímos que não há hierarquia entre elementos, tão pouco há uma desvalorização do
elemento literal, aliás a letra da lei é o pr e o fim da interpretação.

Integração de lacunas
As leis são gerais e abstratas para poderem regular todas as situações da vida que
exigem disciplina jurídica e por isto surgiram sempre hipóteses mais ou menos numerosas
que não são previstas nem são objeto de qualquer específica determinação e neste caso
estamos perante uma lacuna legal =/= situação diferente é quando temos a própria lei a
indicar subsidiariamente a aplicação de um outro direito, é uma questão poupança jurídica.
Uma lacuna é uma situação que carecia de previsão/solução jurídica e quando falamos
deste problema estamos a referir à interpretação no sentido lato, porque é um problema que
se trata do enquadramento jurídico e é em sentido lato porque muitas vezes não estávamos
perante uma lacuna aparente porque pode-se resolver através interpretação extensiva ou
restritiva. Para termos uma lacuna é ter um vazio jurídico ou uma falha para qual é
imprescindível encontrar regulação, há lacuna legal quando a lei e o direito consuetudinário
não contém uma regulação exigida e consagrada na ordem jurídica, não a encontramos na
ordem jurídica e no sistema jurídico como um todo resposta à questão decidenda. Não
basta dizer que a lacuna é um caso não previsto do direito ou não regulada
normativamente, muitas situações do dia-a-dia não estão reguladas nem previstas na lei,
porque não têm relevância para o direito, não são questões de direito. A existência de
lacunas será uma fatalidade que tem em conta 3 fatores:
● Deficiência de previsão, é impossível prever todas situações vindouras
● Intenção de não regulação, há matérias ainda em evolução e por isso o legislador
opta por não regular determinados aspectos
● Situações novas, a evolução das circunstâncias faz com a lei elaborada hoje se
aplique amanhã em condições adversas, não se pode aplicar o ordenamento jurídico
dos automóveis aos aviões.
Tipos de lacunas
● Voluntárias - são aquelas que o legislador não quis resolver e deixou o problema
para jurisprudência, é o caso ainda hoje das barrigas de aluguer e da morte
medicamente assistida
● Involuntárias - aquelas que não previu e como tal não elaborou uma adequada lei ou
norma jurídica. Ex.: foi o casamento de pessoas do mesmo sexo
● Iniciais - surgem na altura em que o legislador faz a norma
● Posteriores - aquelas que surgem como consequências evoluções técnicas,
económicas e sociais
● Previsão - as que surgem na falta de previsão de uma certo comportamento ou facto
● Estatuição - aquelas que revelam a ausência de consequências a que o direito faz
corresponder a um certo facto ou comportamento, ou seja, não se instituíram as
consequências do facto jurídico
● Regulamentação - aquelas se revelam quando a lei prevê o caso mas remete a
estatuição para critérios de equidade
● Manifestas - são aquelas que se revelam quando a lei não contém normas jurídicas
propriamente dita embora se perceba a teleologia
● Ocultas - aquelas que se revela quando a lei contém uma norma jurídica aplicável a
uma certa categoria de casos mas desconsiderou certas situações especiais, ou
seja, vai se traduzir por ausência de disposição excepcional ou especial conforme os
casos isto é a lei contém uma regra aplicável a uma certa categoria de casos mas
fá-lo de tal modo olhando o próprio sentido e finalidade lei verificamos de que essa
categoria abrange uma subcategoria cuja a particularidade ou especialidade que é
relevante não foi considerada. Ex.: norma que proíbe em frente uma garagem, mas
o dono da garagem estacionar em frente à sua garagem
● Colisão - acabam elas próprias serem lacunas ocultas que surgem quando há várias
normas contraditórias que resolvem a mesma situação -> interpretação ab rogante e
resolve-se atribuindo a preferência por uma ou por outra das normas conflituantes.
Por regra, estando em colisão direitos pessoais e patrimoniais prevalece os direitos
pessoais.

Processos de integração de lacunas


A solução vai ser forjada para cada caso concreto não podendo ser no entanto
esquecido o sistema jurídico na sua globalidade isto é não podemos esquecer que a
solução que vai ser encontrada apesar de tudo irá ser utilizada em casos futuros e este
trabalho que se irá realizar é trabalho que se faz a pensar nas consequências relaciona-se
com a sinética, fazemos um exercício de ponderação de consequências sistemáticas.
Podemos dizer desde já que há 2 tipos de processos de integração de lacunas
● Processo extra-sistemáticos
○ Normativos - eliminar a dificuldade que surja através da elaboração de uma
regra que vai prever a situação em apreço e é órgão com competência
legislativa que dita a regra faltosa há medida que os casos omissos se vão
verificando
○ Discricionário - estamos presentes de 2 soluções possíveis o que quer dizer
que não há propriamente uma lacuna o que existe na realidade é uma opção
havendo portanto o poder discricionário de resolver a situação em apreço
sendo que a solução encontrada só irá valer para o caso em concreto não
existindo aqui uma preocupação normativo, porque existe 2 regras possíveis
por isso não é um problema normativo
○ Equitativo - o juiz não decide segundo uma norma, mas segundo as
circunstâncias do caso concreto o que nos leva a concluir não visa aqui criar
uma norma e sim uma solução casuística valorizando-se as circunstâncias
ocorridas. Mais uma vez não se pode dizer verdadeiramente que há uma
integração de lacunas porque neste processo a lacuna não desapareceu, daí
concluirmos que entre estes 3 processos extra sistemáticos na prática
parece-nos que o processo normativo irá responder ao problema da
integração de lacunas
● Processo inter-sistemáticos - aqui vai-se raciocinar de analogia para analogia; se o
fato X é semelhante ao facto Y então a norma que se aplica ao facto X também se
aplica ao facto Y. No entanto, temos que olhar sempre para a justificação do regime
que se concentra definido para o facto X para ver se cobre a razão de ser da sua
aplicação para o facto Y e só se houver esta identidade de razão é que então a
relação de analogia irá ser legítima.
○ Art 10 - o que interessa então é a analogia da norma e não a analogia do
caso; temos que discernir a mesma ratio decidendi a mesma razão de decidir
isto é estabelecer um núcleo fundamental entre ambos os casos que
justifique a mesma estatuição e o que interprete irá fazer é colocar-se na
vestes do legislador pensando na regra que criaria se fosse ele legislador e
nesta 1ª fase o que temos é analogia legis, ou seja, recurso a uma regra
determinada pela aplicação de uma outra regra legal. Se uma regra estatui
de certo modo para um determinado caso, é natural que um caso análogo
seja resolvido do mesmo modo apesar do lacunoso legalmente.
○ Determinar porém onde há ou não analogia acaba por se tornar uma tarefa
difícil, isto porque não basta perceber a semelhança exterior, é necessário
que se verifique a semelhança sob o ponto do efeito jurídico, isto porque o
caso omisso é-o porque há diversidade, diferente dos outros, em relação ao
facto previsto, é relativamente semelhante, mas é relativamente diverso o
que analogia supõe é que as semelhanças são mais relevantes do que as
diferenças. Dois casos irão se dizer análogos quando neles se verifique um
conflito de interesses paralelo de modo a que o critério valorativo adotado
pelo legislador para resolver esse conflito de interesses num dos casos seja
por igual ou maioria de razão aplicável ao outro.
○ Ora na questão de analogia, defende o prof. Batista Machado, que no
contexto de separação entre esta integração e a interpretação meramente
extensiva iremos passar de um plano de indagação para um direito praeter
legem, ou seja, a analogia não se confunde com a interpretação extensiva,
porque esta ainda estamos a extrair a própria regra que está implícita num
texto imperfeito; no caso da analogia nada encontramos implícito no texto,
porque há uma lacuna. Quando tal não é possível passa-se então para a
analogia iuris, isto é, não existindo regra especificamente desenhada para
resolver situações análogas recorremos aos princípios jurídicos ou aos
princípios específicos de determinadas áreas do direito que geralmente estão
positivados.
○ Podemos concluir que há dois tipos de analogia: legis - recorrer a uma norma
análoga e iuris - recorrer a princípios de direito. A distinção deve-se fazer
consoante a analogia funcione pelo recurso a uma norma precisa que pode
ser transposta para o caso omisso ou supõe a mediação de um princípio
elaborado a partir de várias leis singulares só ele permitindo a solução
daquela hipótese.
○ Art 10.3 chamamos à atenção para outra situação; aqui faz-se uma apelo
geral ao sistema jurídico que se vai elaborar é uma norma ad hoc, na prática
um norma jurisprudencial tirando partido dos prs gerais do sistema ou dos
prs jurídicos supra-legais. No nr 3, o legislador não remete o intérprete para
juízos de equidade, aqui o que se faz é incumbir de elaborar uma norma, isto
é, uma regra geral e abstrata que contemple o tipo de casos em se irá
integrar o caso omisso. Sendo uma norma geral e abstrata não é uma norma
com caráter definitivo para casos futuros ou para outros julgadores, isto
porque não é da competência do intérprete, poder judiciário criar lei.
○ Art 10.1, o intérprete aplicador deverá aplicar por analogia aos casos
omissos as normas que diretamente contemplem casos análogos e só na
hipótese de não encontrar no sistema uma norma aplicável a casos análogos
e que deverá proceder de acordo o art 10.3 e o critério decisivo nesta última
fase do processo de integração de lacunas é a conformidade ao sistema
jurídico de uma norma que o intérprete deve determinar e irá permitir resolver
o caso em apreço. Cham-se à atenção que tanto o 10.1 como o 10.3 a
solução que aqui encontramos vale tão só e apenas para aquele caso em
concreto, esgota-se nesse caso em concreto a integração de lacunas supõe
uma interpretação em sentido restrito, mas não é ela própria interpretação e
só após de termos apurado qual o sentido das fontes existentes é que
podemos concluir que o caso não está especificamente regulado, ou seja,
primeiros fazemos um trabalho de interpretação e depois uma trabalho de
integração, mas depois no momento do preenchimento da lacuna legal será
necessário um trabalho de integração das fontes que analogicamente se
possam considerar aplicáveis. Dito isto, nem sempre há situações que se
posso recorrer a analogias

Proibição do uso de analogia


● Desde logo, princípios como na área penal, as regras penais são um obstáculo na
integração de lacunas por analogia. Aquelas regras que estabelecem de crimes e
penas e os respectivos efeitos (não está aqui incluído as normas negativas que tem
conteúdo mais favorável ao arguido) não podem ser aplicadas por analogia e as
razões apresentadas são a proteção do cidadão contra eventuais abusos de poder,
proteção de autonomia individual e principalmente o pr mor do direito penal, o
princípio da legalidade e da tipicidade.
● Normas excepcionais são também elas um obstáculos à integração de lacunas, ora
porque é uma norma que vai oposto ao regime regra, estando delimitadas as regras
excepcionais em razão do núcleo de situações para as quais se encontram
especificamente previstas não há razão para hipotetizar uma eventual lacuna legal->
art 11. O que as normas excepcionais admitem é uma interpretação extensiva
● Regras restritiva de direitos, liberdade e garantias não é possível o recurso à
analogia admite-se quanto muito a interpretação extensiva
Aplicação da lei no tempo
O princípio base da aplicação da lei no tempo é do que lex posteriori derrogat legi
priori - não retroatividade da lei, a entrada em vigor de uma lei nova (LN) não pode no
entanto nunca provocar radical na continuidade da vida social à factos e situações que
tendo se verificado antes do vigor da lei nova tendo continuado no futuro ou a projetar-se
nele e porque a função social do direito é essencialmente estabilizadora, ordenadora de
condutas, ordenadora de expectativas é que existe ao direito, um entendimento justo da
aplicação temporal da lei, ou seja, o direito não pode orientar as condutas antes de ser
colocado em vigor. Daí que seja o princípio da retroatividade da lei a essência do direito e
isto é defendido por Savigny. Este problema não é estático, mas que é dinâmico como é a
tecnologia, como as outras ciências, como as concepções sociais e por isso evoluindo como
estas e por tal motivo são tão numerosas as alterações e inovações legislativas. A LN por
regra aplica-se imediatamente para evitar a estagnação da evolução social e também por
razões de igualdade. Proibisse a aplicação da retroatividade:
● No caso julgado art 282.3 CRP caso contrário o poder legislativo estaria a dar ao
poder judicial um ataque ao pr de separação de poderes, o fundamento para a
consagração deste pr que afetaria se não fosse assim o caso julgado é segurança e
certeza jurídica
● Casos que venham agravar a penas e contraordenações de 29.1, 3 e 4 CRP
● Leis penais de conteúdo mais desfavorável ao arguido, isto porque se entende
absurdo ou chocante dois agentes do mesmo facto ilícito serem punidos com penas
diferentes. O legislador para efeitos de justiça nivela por baixo preferindo sempre a
lei mais favorável ao arguido, o mesmo se passando também em matérias
disciplinares e ilícitos de mera ordenação social 282 CRP
● Leis restritivas de direitos, liberdade e garantias não podem as mesmas terem
caráter retroativo - art 18 CRP. A proibição é expressa para estas matérias contudo a
jurisprudência constitucional vai mais longe e não admite que possa ser atingido
anterior conseguido quando isso afete um pr de confiança inerente ao próprio estado
de direito democrático
● Leis que criem impostos retroativos art 103.3 CRP
Quando entra uma lei nova, o legislador utiliza o chamado direito transitório que é a solução
que a lei nova oferece para resolver o seu conflito com a lei antiga são soluções casuísticas
visam as hipóteses que se coloquem na fronteira entre uma e outra lei. O direito transitório é
a confecção de uma solução específica que nos indica a remissão para uma das leis ou
para uma lei antiga ou uma lei nova e quando não existem disposições transitórias então
temos que recorrer ao art 12CC. O direito transitório pode ser formal ou material
● Formal - se limita a determinar, se a lei antiga ou nova aplicável à situação, o próprio
legislador oferece a solução estabelecendo-a como uma remissão, ou seja, a lei
nova revoga a lei antiga, mas há como que uma extensão para o tipo de situações
que o legislador refere no direito transitório, isto é, as situações que o legislador diz
que tem de ser resolvidas com a lei antiga
● Material - também aqui temos uma solução oferecida pela lei nova para resolver o
potencial conflito entre lei nova e lei antiga mas trata-se de uma solução à aplicação
de uma nem à aplicação de outra, trata-se de uma terceira solução, de nova
disciplina, forja-se uma solução nova para aquele conjunto de situações que foram
“apanhadas com a entrada em vigor da lei nova” adaptando-se o regime da lei nova,
surgindo uma regulamentação só para essas situações.
Há 2 doutrinas relativamente à retroatividade da aplicação da lei:
● 1º dos direitos adquiridos apresentada por Savigny - o critério de solução
baseava-se no seguinte a ideia que os direitos adquiridos à sombra de uma
determinada lei deveriam ser respeitados pelas leis posteriores, não poderia haver
lei posterior que alterasse, limitasse ou extinguisse um direito adquirido, constituído
à luz por lei anterior. È importante distinguir os direitos adquiridos das faculdades
legais e ainda das simples expectativas: os direitos adquiridos são os que entraram
na nossa esfera jurídica e não podem ser retirados, as faculdades legais são
poderes conferidos por lei e existem sempre que o seu exercício os convertem em
direitos adquiridos, as expectativas são esperanças que se podem converter em
direitos adquiridos quando surge um determinado suposto. Savigny diz que deve
respeitar os direitos adquiridos, mas não as faculdades legais ou as simples
expectativas. Principais críticas: não é fácil distinguir direito subjetivo de simples
expectativa, pois expectativa e mesmos faculdades legais são direito em formação,
nem todos os direitos devem pertencer definitivamente sujeitos a uma disciplina
vigente a quando a sua constituição, isto é, não se pode confundir direitos adquiridos
com direitos subjetivos por exemplo sendo a propriedade um direito subjetivo não é
ele por si só um direito adquirido portanto não pode ser indiferente à nova lei.
● 2º dos factos passados - Todo o facto jurídico é regulado pela lei vigente aquando da
produção desse facto, não estamos no âmbito do direito mas sim dos factos isto
implica que a lei nova não possa ser retroativa e implica que a lei antiga irá se
aplicar aos efeitos jurídicos já consumados e aos efeitos jurídicos independentes
quando a lei nova surge e os efeitos jurídicos que ainda não se produziram mas
podem ocorrer como consequência mais ou menos longínqua de um facto passado.
Em relação a esta doutrina surge uma mais mitigada, segundo Nipperdey, a lei
antiga vai aplicar-se efeitos nos factos passados e nos factos pendentes e não nos
factos que se produzem depois do vigor da lei nova. Principais críticas: os efeitos
jurídicos são uma consequência imediata dos factos jurídicos e portanto esses
efeitos existem da ocorrência desses factos, por exemplo um contrato de compra e
venda surgem direito e deveres para ambas partes e facto esse direitos e deveres
serem exercidos no momento ou posteriormente é relevante para saber se aplica a
lei nova ou antiga, a doutrina que se vai aplicar é do texto 11 CC; o sentido da
retroatividade como agir no passado sendo que o passado se consubstancia em
factos equivale a factos passados, aplica-se aos factos passados a lei antiga e aos
fatos presentes e novos a lei nova, ora esta designação mais simples por si
incompleta porque vai descorar os efeitos jurídicos, a esse fator que está na base do
desvio ao pr geral da retroatividade
Análise do art 12 CC
O prof. Oliveira Assunção encontra aqui uma imprecisão isto porque a lei não dispõe
só para o futuro, a lei atinge as situações que se verifiquem no momento na entrada em
vigor, entrando em vigor a lei atinge imediatamente as situações que defronta, mas não
atinge sob o passado alterando valorações já produzidas, é regra geral. Sendo-lhe conferida
essa eficácia, ou seja, se atingir as já produzidas ficarão ressalvados os efeitos produzidos
pelos factos que a lei se destine a regular. Por ex, a lei nova vem fixar uma taxa de juro
máximo inferior à lei antiga declarando se aplica aos contratos já celebrados. Primeira parte,
nos termos da retroatividade na teoria do facto ousado, distingue dois tipos de norma as
que dispõe nos registos de validade de quaisquer factos ou sob efeitos de quaisquer factos-
Segunda parte, aquelas que dispõe sobre o conteúdo de certas situações jurídicas e
modelam sem os olhar aos factos tais situações deram origem funciona como uma
interpretação ao contrario sensu do nr 1 do art 12, ou seja, 12.2 esclarece que o facto
constitutivo da relação jurídica que já ocorreu na sob a lei antiga estará sujeito à
aplicabilidade da lei nova, ou seja, os efeitos ligados aquele facto vão ser abrangido pela
nova regulação.
A diferença substancial entre aplicar a 1 ou 2 parte do nr 2 reside no facto da lei
(nova) regular efeitos com expressão do valoração dos factos que lhe deram origem - 1ª
parte - ou regular diretamente a situação que seja qual for o facto que a tiver originado - 2 ª
parte. Por outras palavras, o critério para se aplicar a lei nova ou não ao passado ou a
casos futuros reside na abstração do facto se a lei dispõe sobre a jurídica abstraindo se do
facto que lhe deu origem então a lei nova aplicar-se-á a essa situação.
Graus da retroatividade
● Máximo - a lei aplica-se a todas as situações do passado independente do caso ter
transitado caso julgado
● Agravado - a lei aplica-se a todas situações do passado, mas salvaguarda as que
estão definitivamente fixadas e transitadas em julgado ou que sejam objeto de título
formal equivalente
● Ordinário - lei nova respeita todos efeitos produzidos pela lei antiga. A regra geral é
pr da retroatividade.
● O grau máximo é constitucionalmente proibido com exceção da figura de aplicação
da lei penal mais favorável ao arguido.
Leis aplicáveis
● Situações jurídicas contratuais - o estatuto do contrato é determinado em face da lei
vigente ao tempo da conclusão desse mesmo contrato. porém sempre as cláusulas
do contrato celebrado na vigência de uma lei antiga e por esta consideradas válidas
conflituam com as disposições de uma lei nova com incidència com os efeitos com
contratos similares esno do teor de tal disposições ditado por razões atinentes ao
estatuto das pessoas e bens atinentes a prs restauradores sociais e económicos tal
disposições irão prevalecer sobre aquelas cláusulas, ou seja, enquanto ordenadoras
do estatuto legal das pessoas e dos bens as disposições consagradas na lei nova
regula os problemas para os quais esta lei é agora competente.
● Situações jurídicas pessoais - quando estamos perante regulação incidente de um
estatuto pessoal aplica-se a lei em vigor nesse momento, ou seja, a lei antiga. Já
relativamente ao conteúdo desse estatuto pessoal e à regulação desse mesmo
conteúdo aplica-se a lei nova.
● Situações jurídicas reais (direito das coisas) - quando estamos perante a regulação
de incidente real e relativamente à regulação à constituição de tal estatuto aplica-se
a lei em vigor nesse momento quanto ao seu conteúdo aplica-se a lei nova.
● Relações jurídicas sucessória - aplica.se à lei em vigor no momento da abertura da
sucessão e abre-se a sucessão quando morre
● Facto ilícito - aplica-se a lei ao tempo da ocorrência do facto ilícito

Artigo 13 - Lei Interpretativa


Materialmente estamos perante uma única lei, ou seja, relativamente desta natureza
não há que aplicar propriamente o princípio da não retroatividade previsto no art 12. Autores
como Antunes Varela e Pires de Lima dizem-nos que este artigo 13 manifesta que
retroagem os efeitos da lei interpretativa até à data na entrada em vigor da antiga lei, tudo
ocorrendo como se tivesse publicado na data em que a lei foi interpretada. Há no entanto
determinados efeitos que têm que ser ressalvados desde logo se entretanto tiver havido um
caso julgado que tenha implicado uma interpretação diferente daquela que trouxe a lei
interpretativa. O que a lei interpretativa faz é aplicar-se a factos e situações anteriores
porque consagrando e fixando uma das interpretações possíveis da lei antiga seria aquela
que os destinatários deveriam contar não é suscetível de frustrar legítimas expectativas.
Uma lei interpretativa para ser considerada como tal tem que ter certos pressupostos tem
que ser anterior à lei antiga, tem que interpretar uma lei antiga e formalmente não pode ser
inferior à lei interpretada.
Leis confirmativas
Leis novas que vem de certa forma aligeirar formalidades demasiada pesadas e
suportadas pela lei antiga, por exemplo, determinados requisitos de negócios jurídicos para
que os mesmos sejam válidos impostos pela lei antiga que com a lei nova serão
dispensados, não sendo desconsiderados a validade desses mesmos negócios jurídicos.
Se assim não fosse, à luz do art 12.2, tais negócios jurídicos não seriam válidos, contudo é
frequente que uma lei nova mais favorável confirme expressamente a validade desse
mesmo negócio que à luz da lei antiga seria considerado inválido, tornado válido.
Concluído, agarramos cegamente ao pr da retroatividade em circunstâncias como estas em
termos de tráfico jurídico afiguraria-se inútil e demasiado formalista bloqueando a vida,
negócios e casos jurídicos.

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