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Vamos falar de Luto

O luto é uma resposta natural e humana à perda de alguém de quem gostamos,


normalmente acompanhada de sentimentos de tristeza profunda, mas podendo incluir
outras emoções, como a negação, a raiva ou a culpa. É um processo que tem uma
dimensão adaptativa, num processo de construção do significado que deve conduzir à
integração da perda e/ou à transformação da relação. (Ordem dos Psicólogos, 2020)
Não existe um calendário ou uma forma certa de fazer um luto. Cada pessoa reage de
forma diferente, sendo o luto único e pessoal. Algumas pessoas reagem de forma mais
intensa do que outras e há pessoas que expressam o luto imediatamente após a
morte, outras só mais tarde. Na família, cada pessoa poderá reagir de forma diferente,
embora a dor seja comum a todos. O período de luto pode ser breve, mas também
prolongar-se. E as crianças manifestam-se de forma diferente dos adultos. (Direção-
Geral da Saúde, 2019; Ordem dos Psicólogos, 2020 & Canavarro, 2008)
Durante um processo de luto, podemos passar por vários momentos, de negação,
choque, tristeza a aceitação e sentir afetos e pensamentos ambivalentes e
contraditórios. Fazer o luto não significa esquecer. Significa aceitar o que aconteceu e
encontrar de novo um sentido na nossa vida. (Direção-Geral da Saúde, 2019; Ordem
dos Psicólogos, 2020 & Canavarro, 2008)
Neste processo, podemos descrever as cinco fases que habitualmente acompanham o
luto:
 Choque - inicialmente uma comoção forte, que se prolonga entre horas a uma
semana, que pode ser interrompida por explosões intensas de aflição e de
raiva. Nesta fase, pode sentir-se excitação, que se reflete no aumento da
tensão arterial e do ritmo cardíaco. E, pode-se sentir atordoamento ou
adormecimento.
 Negação Emocional – estado de incredulidade que leva a agir como se a morte
não tivesse acontecido, mesmo que se tenha a perda racionalmente.
 Desorganização Emocional - é sentido o mundo vazio e desprovido de sentido.
É experimentada a culpa, depressão, ansiedade, solidão, medo e hostilidade.
Pode-se culpar outros pelo acontecimento, e até a própria pessoa. São vividos
episódios depressivos típicos como o desalento para a vida e a perda de
apetite.
 Recuperação – sentimento de libertação em relação à perda, tomando
consciência de que ela foi inevitável. Considera-se que o sucedido não foi uma
derrota face à vida e é aceite a perda de forma serena, cedendo de forma
voluntária aos outros vínculos que são estabelecidos.
 Aceitação e Reorganização emocional – há um ajustamento à realidade da
perda. Começa-se a olhar o futuro em vez de se concentrar no passado. (Ferraz,
2021)
O luto é angustiante e doloroso e desvia a pessoa do seu comportamento quotidiano.
No entanto, é um processo normal que leva ao restabelecimento de um percurso
psicológico saudável. (Ferraz, 2021)
Mas, por vezes, a pessoa não consegue encontrar um ponto de reequilíbrio e perde-se,
ficando presa na mágoa e sofrimento. O luto deixa assim de ser uma reação natural
adaptativa e passa a ser uma prisão criadora de mais dor e novas perdas. (Ferraz,
2021)
O luto patológico decorre quando se intensifica a um nível em que a pessoa se
encontra destroçada, originando um comportamento não adaptativo face à perda,
permanecendo interminavelmente numa única fase e impedindo a sua progressão com
vista à finalização do processo de luto. É o que acontece, na maioria das vezes, na
perda de um filho. (Ferraz, 2021)
O luto patológico é uma entidade clínica frequente que apresenta sintomas de doença
mental. Gera níveis elevados de sofrimento e dano funcional e carece de tratamento
adequado por técnicos especializados. (Ferraz, 2021)
Existem alguns mitos relativos ao luto que é importante salientar, são eles:
 Mito 1: A dor desaparecerá mais rápido se a ignorar;
 Mito 2: É importante ser “forte”, quando se enfrenta uma perda;
 Mito 3: Se não chorar, significa que não está a sofrer com a perda;
 Mito 4: O luto deve demorar um ano. (Ordem dos Psicólogos, 2020)
De seguida, irei expor algumas dicas para que se possa fazer um luto saudável. Assim:
 Respeite e aceite os seus sentimentos - O luto é um processo doloroso, mas
necessário.
 Fale com alguém - É importante expressarmos o que sentimos e partilharmos
esses sentimentos com um familiar ou amigo pode ajudar a reduzir a sensação
de solidão provocada pela dor da perda.
 Cuide de si. Pode ser difícil manter as rotinas de sono, alimentação e
exercício, mas pode melhorar a forma como pensa e como se sente. Tal como
regressar às rotinas diárias habituais. Permita-se voltar a viver momentos
felizes e retomar a sua vida, sem culpa. Sorrir e realizar atividades que nos
dão prazer não significa que esquecemos quem/o que perdemos.
 Peça ajuda. Se já passaram mais de seis meses após a experiência de perda e
não consegue retomar a sua vida quotidiana, procure a ajuda de um
Psicólogo. Às vezes, a dor é demasiado intensa para conseguirmos lidar com
ela sozinhos. Um Psicólogo pode ajudar-nos a sentir melhor, a lidar com a dor
da perda e a recuperar a nossa vida. (Ordem dos Psicólogos, 2020)
Como conclusão, quero salientar que, se mostrar energia e capacidade para lidar com
a vida de todos os dias (rotina diária), se revelar bem-estar físico, demostrado através
da ausência de dores físicas ou sintomas característicos de ansiedade, se for capaz de
se sentir gratificado - sentir prazer quando ocorrem situações ou acontecimentos
desejados ou potencialmente reforçadores, se sentir esperança em relação ao futuro,
for capaz de fazer planos e organizar estratégias para os atingir e funcionar de forma
razoavelmente adequada ao desempenhar papeis sociais como pai/mãe,
marido/mulher ou membro de um grupo, isso significa que foi capaz de se adaptar a
uma perda significativa.

Proposta de filmes: Up (2009) e Collateral Beauty (2016)


Proposta de livros: Assumir a Dor do Luto de D. Messias dos Reis Silveira (2015) e P.S. -
Eu Amo-Te de Cecelia Ahern (2014)

Bibliografia
American Psychiatnc Association. (2013). DSM-5 - MANUAL DIAGNOSTICO E ESTATÍSTICO DE TRANSTORNOS MENTAIS. (M. I. Nascimento, Trad.)
Artmed.
Canavarro, M. C. (2008). Perda e Luto: Modelos compreensivos e Estratégias de Intervenção. Intervenção Psicoterapêutica com Idosos. Coimbra:
Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra.
Canavarro, M. C. (2014). Perda e Luto na Infância e Adolescência. Coimbra: Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de
Coimbra.
DireçãoGeral da Saúde. (2019). Modelo de Intervenção Diferenciada no Luto Prolongado em Adultos.
Ferraz, A. M. (2021). Processo de Luto – Avaliação e Intervenção. Leiria : ForYourMind SERVIÇOS DE FORMAÇÃO, PSICOLOGIA & CONSULTORIA.
Ordem dos Psicólogos . (Outubro de 2020). COVID-19 - TODOS ESTAREMOS DE LUTO.
Ordem dos Psicólogos Portugueses . (2020). FACT SHEET | LUTO.

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