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Vamos falar de Burnout

Foi o psicanalista, Herbert Freudenberger, que usou o conceito burnout pela primeira
vez para designar um estado de angústia observado nos indivíduos. (Guedes, 2020)
O burnout constitui um tipo específico de stresse ocupacional.
O stresse ocupacional consiste num padrão de reações emocionais, cognitivas,
comportamentais e fisiológicas aos aspetos adversos do conteúdo do trabalho, da
organização e do ambiente de trabalho. O stresse ocupacional é experienciado quando
as exigências do trabalho excedem a capacidade do trabalhador de as controlar e gerir.
O stresse ocupacional e o burnout podem ter consequências prejudiciais na qualidade de
vida e no trabalho. (Ordem dos Psicólogos Portugueses, 2017) De acordo com o
dicionário da língua portuguesa, o termo burnout é caracterizado pelo “esgotamento
físico e mental causado pelo excesso de trabalho ou por stress decorrente da atividade
profissional” (burnout in Dicionário da Língua Portuguesa com Acordo Ortográfico [em
linha], 2003-2016).
O burnout engloba três dimensões:
1. Exaustão emocional: Componente afetiva do burnout, um esgotamento físico e
psicológico. Perda contínua de energia, fadiga, desgaste e/ou falta de recursos
emocionais. O indivíduo sente que atingiu o limite das suas competências.
Subsequentemente, existe um afastamento emocional no seu local de trabalho.
2. Despersonalização: Manifestação de irritação, cinismo, insensibilidade para
com os usuários e atitudes negativas nas relações interpessoais, desprovidas de
empatia. Há um aumento da irritabilidade e uma diminuição da motivação.
Existe também uma construção, por parte da pessoa, de uma defesa para
proteger-se dos sentimentos de impotência, frustração, cinismo e indefinição.
3. Reduzida realização pessoal: Envolve sentimentos de perda de confiança
pessoal, de ineficácia e de baixa produtividade no trabalho. Avalia
negativamente o seu desempenho profissional, percebe a falta de realização
pessoal, diminuindo as suas expectativas pessoais e de autoavaliação. Demonstra
rejeição de si próprio e das suas realizações pessoais, apresentando sentimentos
de fracasso e de baixa autoestima. O desemprego por abandono é uma possível
consequência. (Guedes, 2020)
A problemática do burnout, cada vez mais preocupante, apresenta sintomas
característicos, tais como: ausências no trabalho, agressividade, isolamento, mudanças
bruscas de humor, irritabilidade, dificuldades de concentração, lapsos de memória,
ansiedade, depressão, pessimismo, baixa autoestima, dores de cabeça, enxaquecas,
cansaço, sudorese, palpitação, pressão alta, dores musculares, insónia, crises de asma,
distúrbios gastrintestinais, entre outros. (Vasconcelos, 2016)
Como possíveis causas para o aparecimento desta síndrome, temos: carga de trabalho
superior à capacidade do profissional, falta de autonomia e controlo sobre as tarefas e a
organização do trabalho, baixo propósito ou significado das tarefas realizadas,
realização de tarefas perigosas ou de grande exigência emocional, horários de trabalho
contínuos e excessivos (superiores a 8h diárias) e/ou horários por turnos, existência de
poucas ou nenhumas pausas para descanso (mais de cinco horas de trabalho
consecutivo), conflitos e má relação entre colegas e superiores hierárquicos,
dificuldades de equilíbrio entre a vida pessoal e profissional e incapacidade de resolução
de problemas pessoais que impactam no trabalho. (Ordem dos Psicólogos Portugueses,
2020)
Relativamente às consequências que o burnout acarreta, podemos referir as seguintes:
 Doença física Alterações cardiovasculares (palpitações, hipertensão, etc.),
problemas respiratórios (crises de asma, falta de ar, etc.), problemas
imunológicos (aumento da frequência de infeções, alergias, etc.), problemas
sexuais (diminuição da libido), digestivos (úlceras, náuseas, diarreias, etc.),
musculares (dores de costas, fadiga, etc.) e alterações no sistema nervoso
(enxaquecas, insónia, etc.);
 Deterioração emocional: Ansiedade crónica, depressão, personalidade irritável
ou instável, mudança de humor, cansaço, frustração, raiva e medos indefinidos;
 Alterações comportamentais Abuso de substâncias (álcool e drogas), ações
impulsivas, ou excessivamente agressivas, hiperatividade, queixas compulsivas e
suicídio;
 Disfunção intelectual: Mau desempenho de tarefas, dificuldade de
concentração, dificuldade de memória e de atenção. (Guedes, 2020)
Em conclusão desta temática, temos ainda de salientar as estratégias de prevenção e
intervenção que devem incidir sobre as seguintes áreas:
 Formação em resolução de problemas, assertividade e gestão eficaz do tempo;
 Procura de apoio dos colegas e superiores;
 Desenvolvimento de competências pessoais, de atitude, regulação
comportamental e emocional, que facilitam a resiliência pessoal;
 Perceber os vários fatores desencadeantes, em contextos diferentes;
 Realizar o diagnóstico do problema, reunindo a amplitude dos determinantes e
dos impactos, quer biológicos quer psicossociais;
 Desenvolver estratégias de autocuidado que nos permitam gerir melhor a
ansiedade e o stresse, bem como o equilíbrio entre a vida/necessidades pessoais
e profissionais;
 Consciência do próprio problema, para que se admita a necessidade de se cuidar;
 Promover a sua autoestima;
 Saber reconhecer as dificuldades em gerir a falta de descanso e o stress, saber
identificar os sinais de alerta do burnout e saber onde pedir auxílio;
 A pessoa se valorizar e saber que pode ser valorizável, responsável e
autoconfiante;
 A pessoa se sentir encorajada e saber que tem apoio externo, instrumental e
afetivo dos quais pode dispor para tomar decisões e ações;
 A pessoa ter a perceção de que possui competências internas necessárias para
pôr em prática as suas decisões e saber em que momento se encontra numa
situação compatível com aquilo que está disposto a fazer (Frasquilho, 2015);
 O desenvolvimento do otimismo, do humor e das redes de socialização, a
construção de pensamentos positivos, relaxantes e motivadores, assim como
optar por um estilo de vida saudável onde se incluem uma alimentação
equilibrada, a prática regular de exercício físico, o desenvolvimento de hobbies,
da sensibilidade e da espiritualidade e investir nos afetos e no apoio familiar;
 Rentabilizar micro momentos para nos conectarmos connosco. Aproveitar os
momentos de higiene das mãos (ou aqueles em que lavamos os dentes,
preparamos as refeições ou esperamos que o portão da garagem abra) como uma
oportunidade para ganhar consciência e regular as nossas emoções:
concentrarmo-nos na nossa respiração, no nosso corpo, nos nossos sentimentos e
tentar visualizar a tranquilidade e empatia que queremos levar para o momento
seguinte;
 Dar nome ao que estamos a sentir. Estamos zangados? Preocupados?
Sobrecarregados? Exaustos? Nomear e ganhar consciência sobre como nos
estamos a sentir contribui para sermos mais capazes de gerir essa emoção;
 Três coisas boas. Pensar, escrever ou partilhar com alguém três coisas boas que
nos aconteceram durante o dia, pelas quais estamos gratos ou que, simplesmente,
nos fizeram sentir bem;
 Pedir ajuda. Se está constantemente ansioso, se se sente exausto e não consegue
manter o seu funcionamento habitual, na sua vida pessoal ou profissional,
procure a ajuda de um Psicólogo;
 A nível organizacional: programas de socialização para prevenir o choque com a
realidade e implantação de sistemas de avaliação que concedam aos
profissionais um papel ativo e de participação nas decisões laborais. (Fonte,
2011; Vasconcelos, 2016; Ordem dos Psicólogos Portugueses, 2020)

Proposta de filmes: Glengarry Glen Ross (1992); Office Space (1999); Bringing out
the Dead (1999) e The Devil Wears Prada (2006)
Proposta de livros: Porque Andamos Tão Exaustos? de Vânia Castanheira (2020) e
Burn Out de João Bravo (2019)
BIBLIOGRAFIA
Fonte, C. M. (2011). ADAPTAÇÃO E VALIDAÇÃO PARA PORTUGUÊS DO QUESTIONÁRIO DE COPENHAGEN BURNOUT
INVENTORY (CBI). Dissertação de Mestrado em Gestão e Economia da Saúde. Faculdade de Economia da
Universidade de Coimbra.
Guedes, A. L. (2020). Ansiedade, stress e burnout: definição conceptual e operacional, inter-relações e impacto na
saúde. Universidade Beira Interior: Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Medicina.
Ordem dos Psicólogos Portugueses. (2017). Projecto de Resolução do PCP sobre o "Reconhecimento da Síndrome
de Burnout como Acidente de Trabalho" - Contributo da OPP. Lisboa .
Ordem dos Psicólogos Portugueses. (2020). Perguntas e respostas sobre burnout. Lisboa.
Vasconcelos, A. S. (2016). SAÚDE MENTAL, BURNOUT, STRESS E SATISFAÇÃO NO TRABALHO: UM ESTUDO EM
BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS. Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto: Dissertação
de Mestrado para obtenção do grau de Mestre em Educação para a Saúde.

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