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deMalta
Revista para Escola Dominical
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Jovens
professor(a)
índice
Palavra da redação............................................................................................................................... 3
Orientações pedagógicas.................................................................................................................... 4
expediente
Cruz de Malta Projeto Gráfico e diagramação ANGULAR EDITORA
Revista para Escola Dominical. Editora Casa Flutuante Departamento Editorial da Associação da Igreja Metodista
Estudos Bíblicos para Jovens. Professor(a) Av. Piassanguaba, 3031 - Planalto Paulista - 04060-004 –
Imagens
Secretaria Executiva Editorial Freepik & Adobe Stock São Paulo / SP Tel. (11) 2813-8605 / (11) 98335-9042
Joana D’Arc Meireles www.angulareditora.com.br
Esta revista contém lições das seguin-
Colégio Episcopal tes edições da Em Marcha publicadas Departamento Nacional de Escola Dominical
Hideide Brito Torres – Bispa assessora pelo Departamento Nacional de Tel. (11) 2813-8600
Escola Dominical da Igreja Metodista:
Departamento Nacional de 2017.1: lições 15 e 16; 2017.2: lição 11; escoladominical@metodista.org.br
Escola Dominical www.metodista.org.br/escola-dominical
Andreia Fernandes Oliveira 2018.1: lições 13, 17, 18 e 23; 2019.1:
lições 02, 03, 04 e 21; 2019.2: lições 01,
Organização 05, 06, 07, 08, 09, 10, 20 e 22. É proibida a reprodução total de textos, fotos e ilustrações, por
Andreia Fernandes qualquer meio, sem prévia autorização do editor da revista.
Mauren Julião Os textos foram revisados e
atualizados. Quando reproduzidas parcialmente, devem constar a edição,
Colaboração com ano e a página da publicação. Todos os direitos nacionais e
Felipe David Pereira Os textos bíblicos utilizados nos internacionais reservados à Angular Editora.
estudos foram extraídos da Bíblia 2022.2
Revisão Sagrada, traduzida em Português,
Mauren Julião por João Ferreira de Almeida.
2 | Cruz de Malta
palavra da redação
A Escola Dominical é um espaço de formação para a Vida, e mais do que estudos
Da Bíblia para a Vida, expressão que dá nome a esta edição da Cruz de Malta,
é a junção das duas seções de cada lição desta revista: a primeira que busca
acrescentar conhecimento bíblico e percepção da riqueza e beleza da Palavra
de Deus, e a segunda que convida a trazer este saber para a vida, dando sen-
tido ao aprendizado. Para além disso, queremos reforçar com esse título nosso
desejo de que as verdades estudadas e saberes adquiridos sejam aplicados em
todas as áreas do viver de cada aluno e aluna da Escola Dominical, que é mais
do que um espaço para conhecer ou decorar os feitos de Deus, é um espaço de
formação da pessoa cristã para a vida.
Entendemos que é no nosso cotidiano que a Palavra de Deus nos ilumina e dá
sentido ao viver, nos desafiando e transformando. Uma vida transformada pela
Palavra só se faz possível quando as verdades bíblicas são experimentadas por
nós. Por isso, ao longo dos 10 últimos anos, a equipe do Departamento de Escola
Dominical tem trabalhado para alcançar esse objetivo produzindo um material
que gere esse caminho de conhecer para viver. Neste tempo de encerramento
de um ciclo e abertura para um novo tempo, desejamos recordar algumas lições
que marcaram as produções de revistas dos últimos anos. E para auxiliar sua
prática de ensino, trazemos novamente alguns recursos no final da revista, além
das orientações iniciais.
Neste recordar, alimentamos a fé, a esperança e a solidariedade. A partir des-
tas três palavras-chave, organizamos esta edição em três unidades. Na unidade
Viva com fé, relembraremos personagens do Antigo e Novo Testamentos, que
com suas experiências com Deus fortalecem a nossa fé e orientam nossa cami-
nhada. Na unidade Viva com Esperança, reunimos lições que nos inspiram a
seguir crendo em Deus apesar das circunstâncias que nos sobrevêm. Na unida-
de Viva com Solidariedade, as lições reafirmam o nosso compromisso de servir
a Deus e ao próximo, anunciando o Reino de paz, justiça e alegria.
Abreviamos os nomes dos livros da Bíblia para incentivar você a memorizar
as siglas. Se tiver dificuldade, confira as abreviaturas nas páginas iniciais da
sua Bíblia. Antigas lições e novos aprendizados é o que convidamos você a
experimentar com esta edição!
Confiantes no Senhor, agradecemos a caminhada percorrida e já esperamos as
novidades que surgirão com alegria e convicção de que boas e novas coisas o
Senhor tem para nós e para sua Igreja.
Que Deus nos abençoe e nos sustente. A Ele toda honra, glória e louvor, pelos
séculos dos séculos. Amém.
Equipe de redação
Esperança e paz!
Esta revista é uma ferramenta para sua prática de ensino e visa o crescimento
e formação cristã dos discípulos e discípulas de Jesus que participam da Escola
Dominical, através do conhecimento e reflexão com base na Palavra. Você é um
importante instrumento de Deus para levar o conteúdo aqui apresentado para
os alunos e alunas, ajudando e estimulando a turma a aproveitar também o
melhor deste material. Assim, seu preparo e capacitação contínua vão ajudar
muito na efetividade de seu trabalho.
A revista Cruz de Malta é preparada para classes de jovens e este exemplar tem
a seguinte configuração:
Aluno(a) Professor(a)
Texto bíblico: Texto base da lição. Texto do(a) aluno(a): Conforme
Introdução: Breve apresentação do assunto da lição, as seções da revista do(a)
sempre na página inicial, junto com o título e texto aluno(a).
bíblico. Objetivos: Apresenta de forma
Da Bíblia: Traz a pesquisa exegética do texto bíblico, sucinta os objetivos do estudo
informações sobre o autor, o contexto histórico e geográ- da lição.
fico do texto, os principais personagens, que papel eles Para início de conversa: Traz
desenvolvem nesse texto, qual o contexto da história e considerações iniciais sobre o
outras informações importantes dentro do tema. assunto tratado, geralmente
Para a vida: É a aplicação do texto para a vida, quando propondo uma dinâmica para
se propõe um diálogo entre a realidade e o que a Bíblia a apresentação do conteúdo
trata sobre o assunto. para a classe.
Conclusão: É o fechamento da lição, espaço que pontua Por dentro do assunto: Traz um
os principais assuntos tratados, reforça os objetivos da aprofundamento do assunto,
lição e enfatiza que com a graça de Deus é possível para ampliar o conteúdo do(a)
aplicar o estudo à nossa vida. professor(a), com conteúdos e
Bate-papo: Questões para fixação do conteúdo e explicações complementares
discussão em classe, que podem levar a uma ação da lição do aluno, geralmente
transformadora diante do conteúdo estudado. relacionadas com a parte
Leia durante a semana: São textos recomendados para bíblica e teológica.
leitura após o estudo da lição, que reforçam seu enten- Por fim: conclusões sobre o
dimento e inspiram na direção do assunto estudado. tema e sugestões de encerra-
Incentive a classe a aproveitar essas leituras. mento da aula.
4 | Cruz de Malta
OBSERVAÇÕES IMPORTANTES:
Bom trabalho!
Da Bíblia
A Bíblia nos apresenta vários títulos para Jesus: Filho de Deus (Mc
1.1), Filho do homem (Mt 24.30), Salvador (Lc 2.11), Senhor (Mc
2.28), Cordeiro de Deus (Jo 1.35), Mestre (Jo 1.38), Messias (Jo 1.41),
Profeta (Jo 1.45), Rei de Israel (Jo1.49), entre outros. William Barclay
(1975, p.9) afirma que o motivo pelo qual o Novo Testamento não
define Jesus em uma única palavra ou frase é que “seus autores
não estão escrevendo teologia: eles estão transmitindo experiên-
cias”. Jesus é a expressão exata de Deus (Hb 1. 3), através do qual
Ele nos fala (Hebreus 1.1)
Cremos que Jesus é Deus e veio à terra em forma humana. No capítu-
lo 1 de João, temos a revelação deste mistério chamado encarnação.
O autor começa falando sobre a divindade de Jesus, identificando-o
como o Logos (Palavra). Na narrativa joanina, esta Palavra se faz
carne e passa habitar no meio de nós. Além disso, aparece no v. 14
o verbo skenóo (do grego, acampar, armar a tenda), que nos remete
à tradição do Êxodo (Tabernáculo): um Deus que se revela, convive
de perto e caminha com o seu povo.
6 | Cruz de Malta
Ainda que a humanidade de não seja o que eu quero, e sim o
Jesus possa ser considerada um que tu queres” (Mc 14.36).
dos mistérios da fé, ela dignifi-
Além de chamá-lo de Pai, Jesus
cou o ser humano, por isso Ele
convida os discípulos a viver a
se torna nossa maior inspiração.
paternidade de Deus. Ao assu-
O mestre se cansa (Jo 4.6), tem
mir Deus como Pai, o respeito
fome e sede (4.7-8; 19.28), se
e a reverência não são enfra-
emociona (11.35), sangra pelas
quecidos, mas a submissão à
feridas (19.34) e morre (19.33).
sua vontade, a proximidade e
Temos ainda, em outros textos
dependência dele podem ser
da Bíblia, o testemunho de que,
fortalecidas. Paulo consegue
semelhante a nós, Jesus enfren-
compreender isso e instrui as
tou diversas tentações ao longo
igrejas a permanecer neste ca-
de seu caminho (Mt 4.1-11; Mc
minho (Rm 8.15; Gl 4.6).
8.31-33; Hb 2.17-18, 4.15). Essas
imagens reforçam a mensa- Jesus, nas suas relações, viven-
gem de que Jesus, sendo Deus, ciou uma gama de emoções hu-
tornou-se humano, e, a partir manas: chorou com Maria pela
desta humanidade, enfrentou os morte de Lázaro; se irritou com
desafios da vida. No seu rela- a incompreensão dos discípulos;
cionamento com Deus e com as festejou com quem estava se
pessoas encontramos inspiração casando; pacificou discussões;
para viver e perseverar na fé. se indignou com a corrupção do
templo; com a falta de esperan-
Jesus veio ao mundo incumbido
ça dos discípulos; desejou estar
de apresentar de forma mais
sozinho; se sentiu abandonado;
explícita a paternidade de Deus.
provou da traição. Ele viveu
Em Lucas 2.42 o vemos, ainda
intensamente as experiências
menino, declarando sua relação
humanas, aprendeu com elas e
com o Deus Pai. O sermão do
ensinou a partir delas.
Monte (Mt 5 a 7) está recheado
das imagens de Deus como Pai. Guiado por Deus, Jesus enxer-
Jesus sempre ora ao Pai e, num gava a dádiva da amizade e da
crítico momento de sua vida, alegria; conseguia superar as di-
Ele encontra nessa expressão ficuldades e enfrentar as tensões.
o consolo e abrigo para viver a Ele não fugiu da convivência.
dura experiência da crucifica- Talvez a humanidade do Mestre
ção: “Aba, Pai, tudo te é possível; tenha sido testada de uma forma
passa de mim este cálice! Porém especial na sua relação com os
8 | Cruz de Malta
em todas as suas atitudes, inclusi-
ve na faxina no templo (Mt 21.12- bate-papo
13). Deus nos convida a assumir
Quais são as características
o amor de Jesus Cristo em nossas
humanas e as características
vidas. A partir dele amamos,
servimos, lutamos por justiça, re- divinas de Jesus? Como a
sistimos ao pecado, construímos e vivência de Jesus na terra
anunciamos o Reino. inspira nossa vida e fé?
Conclusão
Jesus é o nosso Senhor e Salvador, leia durante
é Deus com o Pai. Não podemos a semana
ter dúvidas disso, mas Ele tam- Segunda-feira: João 1.1-14
bém viveu como ser humano. Terça-feira: Mateus 5
Se a sua divindade nos salvou, Quarta-feira: Mateus 6
a sua humanidade nos inspira Quinta-feira: Mateus 7
para uma vida de santidade em Sexta-feira: Lucas 14
sua presença. Que as lições des- Sábado: João 15
ta revista tragam conhecimento,
inspiração e as mudanças neces-
sárias para isso.
10 | Cruz de Malta
nação do Filho de Deus. A expres- perava os dilemas que surgiam,
são “No princípio” vincula Logos nós encontramos formas de com-
(Palavra) com Gênesis 1. Temos preender as nossas dificuldades
uma narrativa em que se exalta e pistas de superação para os
o poder criativo e sustentador da problemas que se apresentam
Palavra de Deus. Por sua Palavra, a nós. Não há desmerecimento
tudo é criado e tudo depende da
em reconhecer a humanidade de
Palavra para existir.
Jesus, pois isso em nada enfra-
Segundo Champlin, para o quece a sua divindade.
Evangelho de João esse Logos/
Verbo/Palavra é: 1) uma força cria- Para saber mais
dora; 2) uma força controladora; 3)
SIQUEIRA, Felipe. O convívio dos
uma pessoa (...); 4) uma personali-
diferentes: o desafio para a inclu-
dade, de natureza divina, embora
tivesse encarnado como ser hu- são a partir de João 4. Disponível
mano, ou seja, é vero Deus e vero em: http://bit.ly/2NMoQWb
homem; 5) o Logos é quem revela
Deus, servindo de elo de conexão Por fim
entre Deus e nós seres humanos; 6)
Destaque a compreensão da hu-
o Logos veio para aproximar Deus
dos seres humanos; 7) o Logos é manidade de Jesus como impres-
a expressão de Deus na criação cindível para a caminhada de fé.
inteira e não meramente para o ser Cada aluno(a) deve eleger dois
humano, pois Ele sempre existiu aspectos da humanidade de Jesus
(...)” (REIS, 2015). que precisam ser desenvolvidos
Em João, essa Palavra se faz carne em sua vida. Orem e agradeçam
e habitou no meio de nós. O verbo pelas pessoas inspiradoras cita-
habitar significa acampar, armar das no início da aula.
a tenda e nos remete à tradição
do Êxodo (Tabernáculo): um Deus Bibliografia
que se revela, convive de perto e BARRETO, Juan. O evangelho de São João: análise
linguística e comentário exegético. São Paulo:
caminha com o seu povo. Neste Paulinas, 1989.
sentido, assim afirma Bortolini BORTOLINI, J. Como ler o Evangelho de João. São
Paulo: Paulus, 2008.
(2008, p.20): “Jesus é, a partir desse KOESTER, Helmut. Introdução ao Novo Testamento:
momento e para sempre, o lugar história e literatura do cristianismo primitivo. Tradução
de Euclides Luiz Calloni. São Paulo: Paulus, 2005. v. 2.
do encontro com Deus. Deus está KONINGS, Johan. Evangelho segundo João: amor e
presente no meio de nós numa fidelidade. São Paulo: Loyola, 2005. MATEOS, Juan;
REIS, Ana Isa dos. João 1.1-14. Auxílio homilético.
pessoa: o ser humano Jesus”. Proclamar Libertação. Editora Sinodal, vol. 40, 2015.
Disponível em: http://bit.ly/2NpOErf.
Ao explicitar a humanidade de TILLICH, Paul. História do pensamento cristão. 4ed.
Jesus e enxergar como Ele su- São Paulo: ASTE, 2007.
Da Bíblia
A narrativa bíblica dos capítulos 1 a 3 de Gênesis nos mostra os propó-
sitos de Deus para a humanidade. Ao serem criados por Deus, homem e
mulher foram abençoados para viverem uma vida tranquila na presença
do Criador (1.27-30; 3.8a).
O sofrimento humano não fazia parte do projeto, mas quando o primeiro
casal desobedeceu a Deus comendo do fruto proibido (3.6-7), o distan-
ciamento de Deus e o sofrimento surgiram como consequências desse
pecado. O propósito de Deus para a humanidade era a vida, mas com a
desobediência o pecado e a morte entraram no mundo (Rm 5.12).
Deus deu uma ordem específica, e junto com ela, anunciou a consequên-
cia de não a observar: “De toda árvore do jardim comerás livremente,
mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque,
no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (2.16-17).
Mesmo cientes, quando tentados pela serpente, homem e mulher
cederam. No diálogo entre Eva e a serpente se revelou a raiz do erro.
Primeiro, a relativização da Palavra de Deus. A serpente põe em dúvida
o que Deus havia dito (Gn 3.1b) e ainda as intenções de Deus (3.5). Em
segundo, a sedução pelo poder – “sereis como Deus” (3.5).
12 | Cruz de Malta
A doutrina do “pecado original” (3.7), o medo e a culpa (vv.8;10),
ensina que que a desobediên- entre outras consequências.
cia a Deus, como característica
Ao ser confrontado por Deus pela
humana, traz consequências de-
desobediência (3.9-12), Adão res-
sastrosas: conflitos, desarmonia,
ponsabilizou Eva, e indiretamen-
mal-estar e morte. Vemos isto no
te, quis culpar o próprio Deus, já
relato bíblico: antes do pecado en-
que Ele a havia criado (3.12). Por
trar no coração humano, homem e
sua vez, Eva culpou a serpente,
mulher viviam harmoniosamente
que muito astuta, saiu de cena.
sob vários aspectos:
E de quem foi, então, a culpa? O
Nas relações interpessoais, isto é, texto de Gênesis 3.1-17 não usa
entre homem e mulher, pois não nomes próprios ao se referir ao
havia culpa nem vergonha (2.25). homem e à mulher, que só apare-
Nas relações com o meio ambien- cem a partir do verso 17, sugerin-
te, isto é, entre o ser humano, os do, assim, que essa história não
animais e a natureza. O biblista é específica de Adão e Eva, mas
Milton Schwantes (2002, p.47), ao de toda humanidade.
falar desta harmonia, declara: “... O homem, feito alma vivente após
em Gênesis 1 a pessoa está inte- receber o sopro divino (2.7), rece-
grada a seu ambiente. Há solida- beu de Deus um despertamento
riedade entre pessoas e animais. espiritual, que o colocou a par da
As pessoas são tão amigas dos necessidade de assumir responsa-
animais que foram criadas no mes- bilidades e por meio delas obede-
mo dia, em irmandade. Juntinho à cer a Deus, tendo em vista ser ele
mulher e ao homem, foram feitos imagem do seu Criador. Então foi
leões e jacarés. Aparece aí uma dada a ele uma ordem divina pela
integração da criação”. qual viverconforme Gênesis 2.16-
Na relação com o Criador. Deus 17. Esta ordem trazia o desafio de
se agradou do homem (1.27 e 31), estabelecer um padrão de vida
preocupou-se em dar-lhe uma e mantê-lo (KIDNER, 1979, p.57).
auxiliadora que lhe fosse idônea, Assim, ao agir positivamente com
com a intenção de vê-lo bem e as pressões exercidas sobre ele,
feliz (2.18), e comunicava-se com assumiria a responsabilidade de
eles (3.8a). O primeiro sinal do ser livre.
rompimento nesse relacionamento Ao dar ao homem uma ordem
foi que eles se esconderam após pela qual conduzir sua vida, Deus
desobedecer. Surgem a vergonha estava lhe dando também direitos
14 | Cruz de Malta
descontentamento, que levam à concedeu-nos o seu amor e a sal-
ganância, que por sua vez nos leva vação através de Jesus Cristo. O
a prejudicar outras pessoas e nos retorno para o caminho da vida é
afastam de Deus e de sua Palavra. o arrependimento, que nos coloca
Apesar da tendência ao pecado, em contato com a graça divina. Foi
Deus, em seu amor, não desiste da a graça de Deus que deu a Adão
humanidade, mas muitas vezes e e Eva a oportunidade de um reco-
de muitas maneiras se aproxima meço. Certamente que essa graça
do ser humano, mostrando com- nos sustenta em nossas provações
paixão e buscando ter aliança. e sofrimentos.
Finalmente, Ele entrega seu pró-
prio filho, Jesus, para nossa reden-
ção e, conforme sua Palavra, quem
bate-papo
nele crer não sofrerá condenação. Que indícios do pecado origi-
nal ainda se apresentam na
Paulo faz uma síntese dessa es-
vida humana? Como podemos
perança: “Porque, assim como,
evitar o pecado?
em Adão, todos morrem, assim
também todos serão vivificados
em Cristo” (1C 15.22). leia durante
a semana
Conclusão Domingo: Gênesis 3.1-7
Segunda-feira: Gênesis 2.4-25
O pecado é gerador do sofrimento Terça-feira: Gênesis 3.1-24
e da morte eterna, que nos afasta Quarta-feira: Mateus 4.1-11
permanentemente de Deus, dei- Quinta-feira: Lucas 22.39-46
xando-nos como mortos espirituais. Sexta-feira: 1Coríntios 15.1-34
Sábado: 1Coríntios 15.35-58
Deus, sabedor da nossa condição,
16 | Cruz de Malta
Portanto, “ser como Deus” seria 12.2; 1Co 2.9, entre outros). Jesus,
para Adão e Eva um passo para mesmo sendo o próprio Deus, en-
a “liberdade”, deixando de servir quanto ser humano foi totalmente
a Deus para servir a si mesmos. dependente do Pai – sendo, assim,
Esse é o primeiro engano que completamente oposto a Adão.
seduz a humanidade, a ideia de
A vitória da Cruz nos devolveu a
que uma vida sem Deus seria
oportunidade de seguir a vonta-
melhor do que uma vida com Ele.
de de Deus, já que Jesus conquis-
Em Gênesis 3 nos deparamos com tou todos os subsídios para que
o projeto de Deus para o ser hu- isso fosse possível. O “pecado
mano desarticulado de sua ideia original”, como comumente é
original e perfeita. O ser humano dito, não diz respeito a uma de-
se vende à escravidão do pecado sobediência apenas, mas sim ao
por decidir viver uma vida sem de- anseio do ser humano em viver
pender de Deus. Em contraponto sua vida em si mesmo.
a Adão, no entanto, existe Jesus, e
a perspectiva de mudança desse
legado de fracasso.
Por fim
Motive sua classe, sublinhando a
O apóstolo Paulo trabalha Jesus importância da vida devocional
como o segundo Adão, isto é, e da leitura da Palavra para o
como aquele que veio para nos genuíno entendimento da vitória
proporcionar mais do que um mo- da Cruz. Finalize a aula com uma
delo de vida, mas também nos dá oração de louvor e gratidão a
poder espiritual para ser confor- Deus por tudo o que Ele fez para
me Ele foi. Jesus, mesmo tentado nos resgatar para uma nova vida.
pelo diabo (Mt 4. 1-11) prevaleceu,
através de uma vida de jejum, Bibliografia
oração e submissão à vontade de GLEISER, Marcelo. Oppenheimer e a bomba, 2004.
Disponível em: https://bit.ly/2Ns8rSY.
Deus. É importante lembrar que KIDNER, Derek. Gênesis: introdução e comentário.
Jesus era totalmente humano e Série Cultura Bíblica. Tradução Odayr Olivetti. Editoras
Mundo Cristão e Vida Nova. Primeira edição 1979.
foi tentado nos principais pontos KILPP, Nelson; MOTA, Sônia Gomes. Gênesis 3.1-
de fraqueza: a manutenção da 19(20-24). Proclamar Libertação, Vol. 25. Editora
Sinodal, 2000. Disponível em: https://bit.ly/3vpFrTp.
sobrevivência e a sede por poder. REVISTA CRUZ DE MALTA. Identidade e Comunhão
para a Missão. São Paulo: Departamento Nacional de
O legado de Jesus aponta que a Escola Dominical da Igreja Metodista, 2014.2.
REVISTA EM MARCHA. Graça e Discipulado na
diligência e a submissão resultam Missão da Igreja. Revista do Professor(a). Limeira/SP:
Editora Ágape, 2008.
em uma vida conforme a vonta- REVISTA FLÂMULA JUVENIL. Ligad@s em Deus. São
de de Deus e isso na verdade é Paulo: Departamento Nacional de Escola Dominical
da Igreja Metodista, 2015.1.
benefício para nós, visto que o SCHERER, Cristina. Gênesis 3.1-13 – Prédica.
projeto de Deus é que tenhamos Disponível em: https://bit.ly/3P5DEJU.
SCHWANTES, Milton. Projetos de esperança: Meditações
paz e realização (cf Jr 29.11; Rm sobre Gênesis 1-11. São Paulo: Paulinas, 2002.
Da Bíblia
Rispa foi uma das concubinas do Rei Saul. A condição de concubina
conferia à mulher menos valor na estrutura familiar. Uma concubina era
alguém em condição de escravidão ou adquirida por motivos de vitória
na guerra, que se tornava uma esposa secundária.
Ainda que o Antigo Testamento registre algumas leis para defender
os direitos dessas mulheres (Dt 21.10-14), elas eram muito desvalori-
zadas socialmente. Ao saber desse contexto e relacionar a atuação
de Rispa na defesa da dignidade de seus filhos, percebe-se quão
corajosa foi essa mulher.
Rispa era filha de Aiá (2Sm 3.7), mãe de Armoni e Mefibosete, estes
também filhos de Saul (21.7). Ela foi envolvida numa trama de po-
der, na briga entre as casas de Saul e Davi pelo domínio do Reino
(3.6-21). Isbosete, filho de Saul acusava Abner – homem forte da
casa de Saul – de tomar Rispa. Não era a defesa a honra de Rispa
que estava em questão, a insinuação de Isbosete na realidade dizia
respeito à tentativa de assumir o lugar de Saul, tomando também o
trono. Abner se indigna com a desconfiança e, diante da acusação,
decide se unir a Davi (v.9).
18 | Cruz de Malta
Rispa só volta a aparecer no sobre uma rocha, ficando ali por
capítulo 21, agora sofrendo a muito tempo – do início da colhei-
perda dos seus filhos que foram ta até as chuvas – protegendo os
entregues por Davi para aplacar corpos de serem comidos por aves
a ira dos gibeonitas, que tinham de rapina ou animais do campo.
sido perseguidos pela família de Para a professora drª Lucia Weiler
Saul quebrando uma promessa (2006, p.75), “Aproximadamente
antiga (cf. Js 9). seis meses ela vigiou e protegeu
os sete corpos. Certamente não
Davi busca a reparação depois
ficou sozinha neste protesto. Mais
de ser alertado pelo Senhor so-
pessoas, mulheres e outras terão
bre a culpa sobre Saul que gerou
se unido a ela em solidariedade.
fome no meio do povo. Os gibeo-
O protesto individual tornou-se co-
nitas, numa atitude de vingança,
letivo, adquirindo assim uma força
requereram a vida dos descen-
de irradiação política e profética”.
dentes de Saul, e Davi cedeu a
eles sacrificando a vida de filhos Seu protesto silencioso e per-
e netos de Saul. severante foi ouvido por Davi,
que deu dignidade não só aos
Rispa e Merabe são as mulheres
mortos que Rispa cuidava, mas
que perderam seus filhos naquela
também aos restos mortais de
vingança. O autor do texto con-
Saul e Jônatas (v.12-14).
centra sua atenção em relatar a
atitude de Rispa. Não se ouve a
sua voz, mas as suas atitudes são Para a vida
tão fortes que chegam, depois de Ninguém está isento de se tornar
muito tempo, aos ouvidos de Davi. vítima de atitudes equivocadas
Rispa, por meio da sua atitude, re- de outras pessoas. Muitas ações
clama um enterro digno para seus imprudentes geram consequên-
filhos e os outros jovens de sua cias que chegam a afetar quem
família. A morte por enforcamento não tem nada a ver com a história.
era uma vergonha e a falta de se- Vítimas de balas perdidas são um
pultamento digno ou o fato de ter exemplo disso. Nem sempre as
o corpo comido por animais tam- pessoas culpadas são achadas ou
bém. É por isso que essa mulher presas, mas a família que sofreu a
entra em cena. sua perda tem que lidar com ela.
O texto destaca que ela toma um Quando a morte e a injustiça ba-
pano de saco e o estende para si teram à porta de Rispa, ela não se
20 | Cruz de Malta
pessoas; Saul e Jônatas tiveram
um enterro digno. Ao se colocar de bate-papo
forma perseverante pela causa de Que lições práticas a história
promover um enterro digno para de Rispa nos ensina sobre
seus filhos e os filhos de Merabe, como nos posicionar e agir
Rispa moveu o coração do rei Davi frente às dores e injustiças
e promoveu justiça. que vivemos?
22 | Cruz de Malta
Sua atuação foi diferencial, ela aluno(a) nos convida a ter uma
conseguiu inclusive um enterro postura prática diante de ques-
digno para Saul e Jônatas (1Sm tões que merecem justiça. Rispa
21.12-14) e diante disso, o apazi- foi inteligente, escolheu bem a
guamento da terra, selando as- estratégia de luta.
sim a paz entre as casas de Davi Qualquer que seja o engajamen-
e Saul (GONZALEZ, 2007, p.63). to da Igreja em busca de paz e
Selar a paz! Esse é um caminho justiça, ela deve se sustentar na
maravilhoso para a Igreja assu- orientação divina, adquirida por
mir como projeto missionário. meio da Palavra e da oração. Se
Diferente de Rispa, a Igreja – quer Rispa lutou por um enterro digno
como instituição – quer como para seus filhos, a Igreja pode e
comunidade, tem poder para se deve trabalhar com a prevenção
posicionar a favor de quem sofre, da violência.
levantando, especialmente, a
bandeira do amor, da paz e da
justiça. Pois como afirma o profe-
Por fim
ta: “O efeito da justiça será paz, Desenvolva a pergunta da se-
e o fruto da justiça, repouso e se- ção Bate-papo e peça para que
gurança, para sempre” (Is 32.17). a turma, durante a semana, leve
uma palavra de consolo para
Na história de Rispa, percebemos mães e pais que perderam seus
que sua luta não foi isolada, ela filhos e filhas.
não estava só. Ainda que não
esteja explícito no texto, pessoas Para saber mais: O tema da
deram a ela suporte para per- cultura de paz e da mediação de
conflitos é pouco difundido, mas
manecer ali, enquanto pleiteava
pode ser algo a ser conhecido,
um enterro justo para seus filhos.
estudado e um excelente projeto
Essa também pode ser uma pos-
que pode fazer parte do progra-
tura da Igreja: oferecer sustento,
ma missionário da igreja.
especialmente espiritual (mas
não só), para quem vivencia um
tempo difícil de perda. Acolher as Bibliografia
DOUGLAS, J.D. (org.). O Novo Dicionário da Bíblia.
famílias é fundamental. São Paulo: Vida Nova, 2006.
GONZALEZ, Carmen M.G. La participacion de um
mujer sabia en uma situación de violencia – es-
No texto bíblico não há nenhum tudio basado en 2ªSamuel 20:1-22. Disponível em:
relato de que Rispa tenha falado https://bit.ly/3o6NVdV.
WEILER, Lúcia. Rispá, simplesmente Rispá. Revista
algo enquanto cuidava do corpo Estudos Teológicos, v. 46, n. 1, p. 71-78, 2006.
Disponível em: https://bit.ly/3IIgx6K.
daqueles jovens. No entanto, sua
atitude foi constante e contínua,
inclusive enxotando os animais.
Nesse sentido, a lição do(a)