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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

CURSO DE QUÍMICA LICENCIATURA


METODOLOGIA DE PESQUISA EM QUÍMICA1
Professora: Dra. Joyce Laura da Silva Gonçalves

A CIÊNCIA E OS TIPOS DE CONHECIMENTO

A palavra ciência vem do latim scientia, que significa aprender ou conhecer.


Segundo Marconi e Lakatos (2019, p.74) a Ciência “é uma sistematização de
conhecimentos, um conjunto de proposições logicamente correlacionadas sobre o
comportamento de certos fenômenos que se deseja estudar.” Para Galliano (1979, p.
16), ciência “é o conhecimento racional, sistemático, exato e verificável da realidade”.
Já para Trujillo (1974, p.8) “A ciência é todo um conjunto de atitudes e atividades
racionais, dirigidas ao sistemático conhecimento com objeto limitado, capaz de ser
submetido à verificação".
Nascimento e Souza (2015, p.126) descreveram que a ciência pode ser entendida
como “conhecimentos racionais, obtidos por meio de métodos, verificáveis e
sistematizados referentes a objetos de igual natureza.” Pode-se dizer que o motivo
básico da ciência é a curiosidade intelectual e a necessidade que o homem tem de
compreender-se e o mundo em que vive (KÖCHE, 1997).
Todas as ciências possuem (i) objetivo ou finalidade: preocupação em
distinguir a característica comum ou as leis gerais que regem determinados eventos; (ii)
função: aperfeiçoamento, da relação do homem com o seu mundo e (iii) objeto: que
pode ser material- o que se pretende estudar, analisar, interpretar ou verificar ou formal-
o enfoque especial, em face das diversas ciências que possuem o mesmo objeto
material.
As classificação e divisão das ciências é mostrada na Figura 1. As ciências se
dividem em ciências formais e ciências fáticas. As Ciências formais preocupam-se
com coisas abstratas, símbolos que só existem na mente humana, no plano conceitual,
como os números, por exemplo. São também chamadas de ciências formais e não
empíricas, pois comprovam suas proposições sem recorrer à experimentação. Não

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abordam, assim, objetos empíricos, de coisas, nem de processos. Já as Ciências fáticas:
são “materiais, seu método é a observação e a experimentação, e seu critério de verdade
é a verificação.” (ASTI VERA, 1974, p. 12). São também chamadas de ciências
empíricas, pois se dedicam à comprovação e verificação dos fatos e acontecimentos do
mundo que nos rodeia. Empregam, portanto, símbolos interpretados. As ciências fáticas
são subdivididas em Ciências naturais ou Ciências sociais.

Figura 1: Classificação e divisão das Ciências. (Fonte: adaptado de Marconi e Lakatos, 2019)

A ciência não é o único caminho para se obter conhecimento. Dentre os possíveis


caminhos cita-se quatro tipos de conhecimento: empírico (popular), filosófico,
teológico (religioso) e científico.

 Conhecimento Empírico

O conhecimento empírico é também chamado de conhecimento prático, popular,


vulgar ou de senso comum. É o conhecimento obtido pelo acaso, baseado em
observações sobre o cotidiano, fundamentado em experiências vivenciadas e
transmitidas de pessoa para pessoa. Como exemplo temos o uso de plantas na cura de
determinadas doenças (sem saber qual componente da planta é o princípio ativo),
oriundo da observação, tentativa e erro que foi transmitida de geração para geração de
forma cultural.
Segundo Ander-Egg (1978), o conhecimento empírico caracteriza-se como (i)
superficial- passível de falhas, pois se conforma com a aparência da situação; (ii)
sensitivo- referente a vivências cotidianas; (iii) subjetivo- o próprio sujeito é quem

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organiza suas experiências e as transmite, (iv) assistemático- não há uma forma
sistemática de organizar as experiências, nem sua transmissão e também não há a
pretensão da validação da informação e (v) acrítico- independente se verdadeiro ou
não, não há critérios nesse conhecimento. A cultura popular tem como base este tipo de
conhecimento.

 Conhecimento Filosófico

O conhecimento filosófico compreende os estudos da relação do homem com todo o


universo. É originado a partir do raciocínio, da construção de ideias e da reflexão
humana. Baseia-se no uso da razão para questionar os problemas humanos para chegar a
conclusões ou hipóteses sobre as coisas, recorrendo às luzes da própria razão humana.
Como exemplo tem-se o pensamento de que as máquinas um dia irão se sobrepor aos
humanos.
O conhecimento filosófico é (i) valorativo- parte de uma hipótese que não é
passível de verificação; (ii) racional, em virtude de consistir num conjunto de
enunciados logicamente correlacionados, (iii) sistemático, pois suas hipóteses visam a
representação coerente da realidade estudada, numa tentativa de aprendê-la em sua
totalidade, (iv) infalível e (v) exato, pois suas hipóteses não são submetidas somente ao
teste de observação (pode-se acompanhar experimentalmente).
Segundo Ruiz (1979), a filosofia emprega “o método racional, no qual prevalece o
processo dedutivo, que antecede a experiência, e não exige confirmação experimental,
mas somente coerência lógica.” Este conhecimento abrange os estudos sobre ética,
estética, lógica e política, procurando compreender a realidade em seu contexto mais
universal.

 Conhecimento Teológico

O conhecimento teológico é também chamado de conhecimento religioso está


relacionado com a fé e a crença divina. Como exemplo cita-se a criação do mundo e a
origem das espécies, mais precisamente da espécie humana. Esse conhecimento
manifesta-se diante do mistério ou de algo oculto que provoca curiosidade, estimulando
a vontade de entender aquilo que se desconhece.

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Esse conhecimento é (i) valorativo- apoia-se em fundamentos sagrados; (ii)
inspiracional- por terem sido reveladas pelo sobrenatural; (iii) sistemático, ou seja, tem
origem, significado, finalidade e destino como obra de um criador divino e suas
evidências não são (iv) verificáveis, porém é (v) indiscutível, pois nele está sempre
implícita uma atitude de fé perante um conhecimento revelado.

 Conhecimento Científico

O conhecimento científico procura conhecer além do fenômeno e resulta de uma


investigação metódica e sistemática da realidade, buscando as causas dos fatos e as leis
que os regem. Esse conhecimento surge a partir da determinação de um objeto
específico de investigação e da explicitação de um método para essa investigação. O
conhecimento científico exige a utilização de métodos, processos, técnicas especiais
para análise, compreensão e intervenção na realidade. Como exemplo cita-se a teoria da
evolução das espécies de Darwin.
O conhecimento científico é (i) real (factual)- lida com as ocorrências ou fatos; (ii)
contigente- suas proposições ou hipóteses têm sua veracidade ou falsidade conhecida
através da experiência; (iii) sistemático- trata de um saber ordenado logicamente,
formado por um sistema de ideias (teoria); (iv) verificável- suas hipóteses podem ser
comprovadas e, caso, não possam essas hipóteses não são consideradas científicas; (v)
falível- não é definitivo, absoluto e final, já que está em constante renovação e
construção e, devido a isso, (vi) aproximadamente exato, pois novas proposições e o
desenvolvimento de técnicas podem reformular o acervo de teorias existentes.

Tabela 1: Os tipos de conhecimento e suas características. (Fonte: adaptado de


https://www.metodologiacientifica.org/)

Conhecimento Conhecimento Conhecimento Conhecimento


empírico Religioso Filosófico Científico
Valorativo Valorativo Valorativo Real
Reflexivo Inspiracional Não-verificável Contingente
Assistemático Sistemático Sistemático Sistemático
Verificável Não verificável Infalível Verificável
Falível Infalível Exato Falível
Inexato Exato Aproximadamente
Exato

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O conhecimento científico segundo Galliano (1979):
• atém-se aos fatos, isto é, procura desvendar a realidade dos fatos. Por meio deles, o
pesquisador inicia e termina sua investigação, portanto parte dos fatos interfere neles e
retorna a eles;
• transcende os fatos, isto é, além de explicá-los, busca descobrir suas relações com
outros fatos, ampliando o conhecimento;

• é analítico, isto é, estuda e explica os fatos, decompondo-os em partes. A análise tem


como objetivo desvendar os elementos que os compõem e as inter-relações que
formam o todo;
• requer exatidão e clareza, condições indispensáveis para a comprovação e verificação
dos dados;

• é comunicável, pois seu propósito é informar, e deve ser compartilhado não só com a
comunidade científica, mas com a sociedade toda;
• é verificável, e isso quer dizer que é preciso a comprovação dos fatos para se tornar
verdadeiro;

• depende de investigação metódica, seguindo etapas, normas e técnicas, portanto,


obedecendo a um método preestabelecido;
• é sistemático, isto é, “[...] é constituído por um sistema de ideias interligadas
logicamente”;

• é explicativo, pois busca explicar os fatos reais, dando respostas aos porquês! A
explicação científica não descreve somente o fato, mas procura explicar as razões da
existência dele;
• é aberto e cumulativo, pois permite constantes aprimoramentos e novas descobertas.
Exemplo: os organismos vivos, que estão em permanente crescimento e modificação.

• É aberto, porque não existem barreiras que o limitam;


• é útil, pois proporciona ao homem “um instrumento valioso para o domínio da natureza
e a reforma da sociedade, em benefício do próprio homem.”

Conforme Morin (2003), a ciência está sempre em movimento, em ebulição, e


talvez o próprio fundamento de sua atividade seja ser impulsionada por um poder de
transformação. Para fazer Ciência é necessário ultrapassar a cotidianidade e a partir da
repetição, observação e testagem construir hipóteses acerca daquilo que se espera ser
verdade. Ao longo desta disciplina vamos estudar os métodos e metodologias
necessários para se fazer Ciência de forma sistemática, ética e com confiabilidade.

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Referências bibliográficas:

_____. Metodologia científica. <<https://www.metodologiacientifica.org/>>. Acessado


em 20 de agosto de 2020.
_____. Metodologia de Pesquisa Científica.
<https://campusvirtual.fiocruz.br/gestordecursos/hotsite/metodologia>> Acessado em
10 de agosto de 2020.
ANDER-EGG, E. Introducción a las técnicas de investigación social: para
trabajadores sociales. 7 ed. Buenos Aires: Humanitas, 1978.
ASTI VERA, A. Metodologia da pesquisa científica. Porto Alegre: Globo, 1974.
GALLIANO, G. O método científico: teoria e prática. São Paulo: Mosaico, 1979.
KÖCHE, J. C. Fundamentos de metodologia científica: teoria da ciência e prática da
pesquisa. 14. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.
MARCONI, M. A; LAKATOS, E.M. Fundamentos de Metodologia Científica. 8ed.
São Paulo: Atlas, 2019.
MORIN, E. Ciência com Consciência. Rio de janeito: Bertran, 2003.
NASCIMENTO, F. P.; SOUSA, F. L. L. Metodologia de pesquisa científica: teoria e
prática. Brasília: Thesaurus, 2015.
RUIZ, J. A. Metodologia científica: guia para eficiência nos estudos. São Paulo: Atlas,
1979.
TRUJILLO, F. A. Metodologia da ciência. 2 ed. Rio de Janeiro: Kennedy, 1974.
ZANELLA, L. C. H. Metodologia de pesquisa. 2. ed. Florianópolis: Departamento de
Ciências da Administração/UFSC, 2013. 134p.

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