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METODOLOGIA DO TRABALHO CIENTÍFICO

RESUMOS TEÓRICOS DA DISCIPLINA

Metodologia Científica (Conceitos Básicos)


A questão do “conhecimento”: do comum ao científico
• O que é essa questão?
É uma relação que se estabelece entre sujeitos ou entre um sujeito e determinado objeto.
• Como ocorre?
Por certa apropriação de uma realidade. Pode ser sensível (física) ou intelectual (mental). Tal
realidade apresenta níveis e estruturas diferentes em sua constituição.
• Como se configura através do tempo?
Atravessa gerações por meio de assimilação e mudança; o que revela aspectos de caráter fixo ou
mutável.
• Como pode ser caracterizado?
De diferentes formas, a depender de fatores específicos; pode ser superficial ou profundo, efêmero
ou durável, físico ou mental, objetivo ou subjetivo, etc.
• Há tipos? Áreas?
Sim, também chamados de “níveis”, que dependem das diferentes formas de apropriação pelos seres.
São eles:
 Conhecimento Empírico (dito “vulgar” ou de “senso comum”)
Adquirido pela própria pessoa na sua relação com o meio (ambiente ou social); consiste em interação
contínua (tentativas, erros, acertos). É ametódico e assistemático.
É possível “conhecer, prever, hipotetizar” apenas pela experiência.

 Conhecimento Teológico
Trata-se do posicionamento diante do mistério, do oculto. É o conhecimento revelado (relativo a
Deus): não se chega a ele por simples inteligência, mas por revelação divina.

 Conhecimento Filosófico
O seu objeto é constituído de realidades mediatas, imperceptíveis aos sentidos e que ultrapassam a
experiência. Filosofar é interrogar e sua tarefa fundamental é a reflexão. Esse conhecimento busca
o saber e não a sua posse.

 Conhecimento Científico
Procura ir além do empírico; quer compreender a estrutura, a organização, o funcionamento, a
composição, as causas, as leis relativas a um ente ou objeto a ser conhecido (se suscetível à
experimentação). Prima pela racionalidade.
Caracteriza-se por ser “certo” (baseado em situações testadas e certificadas); geral (por abranger um
universo e não apenas particularidades); metódico e sistemático. Além disso, busca revelar a
objetividade, o interesse intelectual e o espírito crítico próprios da ciência.

O conhecimento e a ciência
A relação entre os níveis de conhecimento e a ciência se dá por afinidade ou afastamento. Isso porque,
com o passar dos tempos, o conceito de ciência foi se estruturando em bases que não poderiam ser
justificadas apenas por meio de experiências pessoais, revelações transcendentais ou questionamentos
filosóficos. A base da ciência é o fato – que pode ser observado, testado, analisado, discutido e, em
certos casos, até comprovado.

Ciência
• Sentido geral: qualquer conhecimento sistemático.
• Sentido restrito: sistema de aquisição de conhecimento baseado no método científico e/ou
no produto obtido por meio de pesquisas.
• Constituiu-se por etapas: primeiro, as iniciais (relativas a descobertas ocasionais, com traços
rudimentares de conhecimentos e de técnicas) e, depois, as posteriores (relativas a pesquisas mais
metódicas).
Nível inicial (continuidade e mudanças) Nível atual
(?)  (.)

Evolução da ciência
• Revolução científica – séculos XVI e XVII; Evolução marcada por: métodos e instrumentos
de investigação; por uma postura objetiva e rigorosa, a que chamamos postura científica; e por
mudanças de paradigmas (espírito científico);
• Antes, a ciência era entendida como “o resultado da demonstração e da experimentação e só
aceitava o que fosse provado”; hoje, ela se vê “como uma busca constante de explicações e soluções,
de revisão e reavaliação de seus resultados, apesar de sua falibilidade e de seus limites”.

Postura Científica
É uma atitude do pesquisador, um agir motivado por consciência crítica e objetiva (nada de eu acho,
eu creio); perpassa a infância, a adolescência e a juventude; pode ser “cultivada”.
“Para conquistar a objetividade científica, é necessário libertar-se da visão subjetiva do mundo,
arraigada na própria organização biológica e psicológica do sujeito e ainda influenciada pelo meio
social. ”
“A objetividade é a condição básica da ciência. O que vale não é o que algum cientista imagina ou
pensa, mas aquilo que realmente é.”
“Só interessam o problema e a solução. Qualquer um pode repetir a mesma experiência, em qualquer
tempo, e o resultado será sempre o mesmo, porque independe de disposições subjetivas. ”
“Finalmente, a postura científica implica ações racionais. ”

Algumas qualidades da postura científica


• Senso de observação; Gosto pela precisão e por ideias claras;
• “Imaginação ousada”, mas baseada em provas; Curiosidade, sagacidade, discernimento;
• “Humildade” diante das limitações; “Imparcialidade”;
• Mobilização comunitária (comunidade acadêmica, científica);
• Aprender a distinguir VERDADE de EVIDÊNCIA de CERTEZA.

VERDADE – EVIDÊNCIA – CERTEZA


• Verdade: encontro da pessoa com o desvelamento, com o desocultamento e com a
manifestação do ser.
• Evidência: manifestação clara, transparência.
• Certeza: estado de espírito que consiste na adesão firme a uma verdade, sem temor de engano.
Havendo evidência, é possível afirmar com certeza uma verdade.

O método como caminho do conhecimento científico


Método
(sentido geral): “...a ordem que se deve impor aos diferentes processos necessários para atingir um
certo fim ou um resultado desejado”.
(em ciências): “...o conjunto de processos empregados na investigação e na demonstração da
verdade”.
“...não se inventa”  o método depende do objeto de pesquisa e é por ele determinado.

Trata-se de “...anotar os passos percorridos e os meios que levaram aos resultados” (aqui ocorre uma
passagem do que, no início, é empírico para o que é de fato científico). Não é simplesmente “modelo,
fórmula ou receita”; é um disciplinar do espírito. O método científico é um instrumento de trabalho
(meio de acesso) e depende do usuário. É um procedimento sistemático.
Método e Técnica
Método científico
• Plano de utilização; pode ser racional (cosmovisão não testável ou comprovável) ou
experimental (possibilidade de testar e comprovar).
Técnica científica
• Aplicação do plano metodológico e a forma especial de o executar; é subordinada ao método.
Podem ser:
• Técnicas científicas: observação (assistemática, sistemática, não participante, participante,
individual, em equipe, laboratorial), descrição, comparação, análise e síntese;
• Técnicas de pensamento (modos de raciocínio): indução, dedução, intuição, inferência, etc.
• A ciência utiliza-se do método científico para se diferenciar do senso comum, bem como de
outras modalidades como arte, filosofia, religião.

O método científico é um conjunto de procedimentos lógicos e de técnicas operacionais que permitem


o acesso às relações causais constantes entre os fenômenos.

Baseia-se na relação
PROBLEMA (por quê? como?) - - - - - - - - - - - - - - - SOLUÇÃO (resposta)
(HIPÓTESE – proposição explicativa provisória)
Ao se observar determinado fato e querer explicá-lo, constrói-se o processo de investigação científica.
Pensar nos problemas é diferente de raciocinar sobre eles.

Formas de raciocínio
Procedimentos racionais de argumentação/justificação de hipóteses. Objetivam partir de premissas
verdadeiras para chegar a conclusões verdadeiras. Isso ocorre com a dedução, mas nem sempre com
a indução.
 Indução – processo de generalização (do particular para o geral). Alguns homens morreram
 Todos os homens são mortais. (“...a relação identificada se aplica a todos os fatos da mesma
espécie, mesmo àqueles não observados)
Terra, Marte e Saturno são planetas. Terra, Marte e Saturno não brilham com luz própria. Logo, os
planetas não brilham com luz própria.
 Dedução – processo de particularização (do geral para o particular). Todos os homens morrem
 Aquele homem vai morrer

Metodologia Científica: É um conjunto de abordagens, técnicas e processos utilizados pela ciência


para formular e resolver problemas de aquisição objetiva do conhecimento, de uma maneira
sistemática.

O que é pesquisa?
 “A pesquisa é uma atividade voltada para a solução de problemas, através do emprego de
processos científicos. ”
 “Pesquisar, significa, de forma bem simples, procurar respostas para indagações propostas. ”
 “Pesquisa científica é a realização concreta de uma investigação planejada, desenvolvida e
redigida de acordo com as normas da metodologia consagradas pela ciência. ”
 “Pesquisa científica é um conjunto de procedimentos sistemáticos, baseados no raciocínio
lógico, que tem por objetivo encontrar soluções para os problemas propostos mediante o emprego de
métodos científicos. ”
São inúmeras e variadas as propostas de classificação para os tipos de pesquisa existentes.
Enumeramos algumas das mais comuns: Pesquisa exploratória; Pesquisa bibliográfica; Pesquisa
documental; Pesquisa experimental; Pesquisa qualitativa; Pesquisa quantitativa; Pesquisa explicativa;
Pesquisa descritiva; Pesquisa de campo; Pesquisa de laboratório.
Técnicas de pesquisa: Entrevista; História de vida; Observação; Questionário; Formulário; etc.
Tipos de pesquisa
São inúmeras e variadas as propostas de classificação para os tipos de pesquisa existentes. Abaixo
enumeramos algumas das mais comuns.

Quanto aos objetivos


 Pesquisa exploratória (passo inicial do processo de pesquisa p.63 Bervian/ familiaridade,
aprimoramento de ideias p.41 Gil/ levantamento de informações p.123 Severino)
 Pesquisa descritiva (observa, registra, analisa, correlaciona fatos ou fenômenos sem
manipulá-los p.61 Bervian/ Severino não a descreve explicitamente/ tem como objetivo primordial a
descrição das características de determinada população ou fenômeno, ou estabelecer relações entre
variáveis p. 42 Gil):
 Pesquisa documental (documentação em geral, não só impressa, mas fotos, filmes, gravações,
documentos legais, etc.) p. 122 Severino/ investiga documentos com o propósito de descrever e
comparar usos e costumes da realidade sob um viés histórico p.62 Bervian;
 Estudo de caso (sobre determinado indivíduo, família, grupo ou comunidade que seja
representativo de seu universo p. 62 Bervian/ apontado como similar à pesquisa de campo p. 121
Severino / estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos, de maneira que permita seu amplo
e detalhado conhecimento; estudo-piloto p.54 Gil)
 Pesquisa explicativa (além do que faz a descritiva, esta busca causas p. 123 Severino)

Quanto à natureza das fontes


 Pesquisa bibliográfica (a partir do registro de livros, artigos, teses, etc.) p.122 Severino/ p.44
Gil
 Pesquisa documental (documentação em geral, não só impressa, mas fotos, filmes, gravações,
documentos legais, etc.) p. 122 Severino/ p.62 Bervian / p.45 Gil
 Pesquisa experimental (pretende dizer de que modo ou por que o fenômeno é produzido p.63
Bervian/ testável; observa e manipula; laboratórios, variáveis, formas de controle, etc. p. 123
Severino/ p.47 Gil consiste em determinar um objeto de estudo, selecionar as variáveis capazes de o
influenciar, e definir formas de controle e de observação dos efeitos que a variável produz no objeto):
 Pesquisa de campo (em Bervian p. 63/ em Severino p. 123, é assim referida por ocorrer em
seu ambiente próprio, contexto em que se realizam/ p.52 Gil)
 Pesquisa de laboratório (em Bervian p. 63/ em Severino p. 123, é assim referida por ocorrer
em seu ambiente próprio, contexto em que se realizam)

Quanto à abordagem: qualitativa; quantitativa; quali-quantitativa (mista)

Aspectos e etapas da pesquisa científica


Antes de desenvolver uma pesquisa científica propriamente dita, é preciso pensar em algumas etapas
de planejamento.

Escolha do tema
O que vou pesquisar?
 Busca por um assunto interessante e atual a desenvolver na área pretendida, uma área
específica de conhecimento (pesquisa exploratória);
 Baseada inicialmente em fontes simples: vivências cotidianas, questões polêmicas, reflexões
de leituras, conversação com outros pesquisadores, debates e discussões, etc.

Revisão de literatura (“estado da arte”)


Quem já pesquisou algo semelhante? Que abordagem ou estratégia adotou?
 Pesquisa de trabalhos semelhantes ao que se pretende estudar; uso de palavras-chave ou
expressões que delimitem e facilitem a busca em sites de periódicos e publicações sérias na área de
estudo;
 Pesquisas em bibliotecas físicas ou virtuais (livros, teses, dissertações, monografias, artigos,
resenhas, etc.).
Aqui a figura do orientador é muito importante na indicação de rumos, abordagens, leituras, etc.

Formulação do problema e construção de uma hipótese


O que me inquietou a respeito de determinado assunto ou realidade a ponto de se tornar uma
problematização para a qual quero dar uma resposta ou buscar uma solução?
 Observação de uma realidade temática e levantamento de questões sobre ela, definindo-a em
termos de tempo e espaço, de possibilidades analíticas/críticas, de verificação ou testagem, etc.

Justificativa de relevância do estudo


Por que estudar esse tema? Para quem será relevante? Que contribuição poderá trazer?
 Vantagens e benefícios que a pesquisa poderá proporcionar;
 Importância científica, cultural e /ou social;
 Definição de argumentos convincentes.

Determinação de objetivos
O que pretendo alcançar com esse estudo?
 Descrição objetiva do propósito da pesquisa, do seu foco principal.

Metodologia a adotar
Como se dará a pesquisa? Que procedimentos serão adotados para que o objetivo seja alcançado?
 Qual será o tipo de pesquisa e o universo da pesquisa? Que critérios de análise serão adotados?
 Utilizará amostragem? Quais serão os instrumentos de coleta e tabulação dos dados?
 Como interpretará dados e informações?

Técnicas de pesquisa mais comuns: Entrevista; História de vida; Observação; Questionário;


Formulário. A decisão quanto à escolha da técnica está estritamente ligada ao que pode ser mais
eficiente para se atingir os objetivos da pesquisa.

Universo da pesquisa
 Total de indivíduos que possuem as mesmas características definidas para um determinado
estudo. Trata-se de um grupo mais abrangente de pessoas que se pretende representar com os
resultados de uma pesquisa.

Amostra
 É a parte do universo; constituída pelas pessoas dentro desse universo de pesquisa que irão
responder os questionamentos do estudo proposto.

Forma de coleta e tabulação de dados de pesquisa


Como será o processo de coletar, organizar e analisar os dados?
 Detalhes possíveis (quem? quando? onde? de que forma?): local, período, participantes,
instrumentos, etc. Que instrumentos de coleta (técnicas científicas como entrevista, questionário,
formulário, etc.) adotar? Qual o que melhor? Como fazer a análise? Como tabular/organizar os dados
coletados (Gráficos? Figuras? Tabelas? Quadros? Fluxogramas? Cálculos estatísticos? Programas
específicos?)

Análise e discussão de resultados


Como os dados serão analisados?
 Comparação, crítica, proposição, imagens explicadas;
 Confirmação ou negação de hipótese anunciada.
Conclusões da análise
 Apontar a relação entre fatos verificados e teoria;
 Sintetizar os resultados obtidos;
 Evidenciar as conquistas alcançadas com o estudo e as contribuições dadas (seja para o meio
acadêmico, empresarial, social, tecnológico, etc.);
 Indicar limitações e reconsiderações;
 Propor continuidade.

Redação final e apresentação/defesa/publicação do trabalho científico


 TCC (Monografia/Artigo científico), Tese, Dissertação;
 Defesa.

Essas etapas vão se manifestar de modo particular, a depender do tipo de trabalho científico que se
vai desenvolver. Por exemplo, em um Projeto de Pesquisa, a ênfase recai sobre o “planejar”; na
pesquisa, recai sobre o “executar”; e no produto final, que pode ser um TCC ou uma publicação, recai
sobre o “apresentar resultados”.

Aspectos relevantes para iniciar a pesquisa científica


 Pesquisa exploratória. Trata-se da investigação inicial que precede toda e qualquer pesquisa.
É a busca, em fontes teóricas sérias (livros, teses, dissertações, artigos científicos de portais
de periódicos ou revistas especializadas), através de palavras-chave bem delimitadas, que
permitirá conhecer o “estado da arte” do tema sobre o qual se quer pesquisar, a fim de verificar
a necessidade de determinado estudo ou se ele parece inviável em vista de já ser muito
discutido ou estar esgotado. Caso pareça um bom tema a ser estudado, é recomendável já
iniciar a análise delimitativa dos materiais a serem selecionados para leitura e base teórica,
considerando os títulos e avaliando se o resumo do texto parece bem construído e consistente.
Importa também verificar a atualidade e recência do estudo, como está o tema no cenário
atual, etc. Isso evitará perda de tempo. Após essa seleção, sugere-se o fichamento e a resenha
do material, a fim de servir como facilitador futuro quando se realizar a fundamentação teórica
da pesquisa.

 Organização estrutural e progressão temática. É essencial compreender a estrutura


organizacional e a progressão temática de um trabalho acadêmico, ou seja, onde e de que
modo devem aparecer no relato da pesquisa os elementos que a compõem: o tema, a
contextualização da problemática a ser estudada, a justificação de relevância do estudo, a base
teórica e a metodologia a ser adotada, as análises e discussões de resultados, as conclusões e
contribuições que foram trazidas, etc. Essa consciência a respeito da forma e do conteúdo dá
um caráter de consistência temática, de compreensão do modo como foi progredindo a ideia
a ser estudada, desde sua concepção até sua plena realização em forma de estudo científico.

 Normalização Acadêmica: regras de publicação e formatação. Trata-se de adequar, de


conformar o trabalho científico realizado às regras de formatação (tipo e tamanho de fonte,
margens, espaçamentos, citações, etc.) propostas pelas fontes de publicação das pesquisas
científicas (portais de periódicos, revistas especializadas, bibliotecas ou banco de repositório
de universidades, etc.). Essa padronização objetiva gerar certa unidade na utilização e
reconhecimento dos gêneros textuais acadêmicos e promover o status de seriedade e
formalidade científica dos estudos. Dessa forma, todos esses elementos trabalham para que a
pesquisa científica fique mais objetiva, clara e precisa possível, dentro de um padrão mais ou
menos fixo, que facilite a publicização do conhecimento advindo da pesquisa.
Gêneros que auxiliam no processo da pesquisa
Há uma construção cognitiva inicial no processo de fazer pesquisa científica que exige do pesquisador
a busca por meios que o auxiliem a elaborar e a descrever coerentemente sua intenção ou decisão por
estudar determinado tema. Construir uma pesquisa requer muita leitura analítica, reflexão e
estratégias acertadas de organização, não somente dos procedimentos metodológicos a adotar como
do próprio modo textual de expor o que se pretende realizar.
Para isso, alguns gêneros de texto podem funcionar como bons instrumentos nesse percurso
investigativo. O fichamento, o resumo e a resenha são exemplos disso, uma vez que exercitam esse
olhar analítico e a escrita crítico-avaliativa.

FICHAMENTO
É uma das fases da Pesquisa Bibliográfica. Seu objetivo é facilitar o desenvolvimento das atividades
acadêmicas e profissionais. Pode ser utilizado para:
 Identificar as obras;
 Analisar o material: conhecer seu conteúdo e utilizá-lo em futuras citações acadêmicas para
auxiliar e embasar a produção de textos;
 Elaborar textos interpretativos e críticos.

Classificação de Fichamento:
1. FICHAMENTO TEXTUAL - é o que capta a estrutura do texto, percorrendo a sequência
do pensamento do autor e destacando ideias principais e secundárias, argumentos,
justificações, exemplos, fatos etc. Traz, de forma racionalmente visualizável - em itens e
de preferência incluindo esquemas, diagramas ou quadro sinóptico - uma espécie de
“radiografia” do texto.
2. FICHAMENTO TEMÁTICO - reúne elementos relevantes (conceitos, fatos, ideias,
informações) do conteúdo de um tema ou de uma área de estudo, com título e subtítulos
destacados. Consiste na transcrição de trechos de texto estudado ou no seu resumo, ou,
ainda, no registro de ideias, segundo a visão do leitor. As transcrições literais devem vir
entre aspas e com indicação completa da fonte (autor, título da obra, cidade, editora, data,
página). As que contêm apenas síntese das ideias dispensam as aspas, mas exigem a
indicação completa da fonte. As que trazem simplesmente ideias pessoais não exigem
qualquer indicação.
3. FICHAMENTO BIBLIOGRÁFICO - consiste em resenha ou comentário que dê ideia do
que trata a obra, sempre com indicação completa da fonte. Pode ser feito também a respeito
de artigos ou capítulos isolados, arquivado segundo o tema ou a área de estudo. O
Fichamento bibliográfico completa a documentação textual e temática e representa um
importante auxiliar do trabalho de estudantes e professores.

Adaptado de http://www.fichamento.com.br/comofazer.html

A leitura de textos teóricos exige capacidade de interpretação e sistematização. Para tanto,


existem técnicas de leitura que são, também, técnicas de pesquisa. Nesse aspecto, o fichamento é
procedimento importante na organização de dados integrantes da efetivação da pesquisa de
documentos. Ele serve para arquivar e organizar as principais informações provenientes de leituras,
devendo permitir um fácil acesso aos dados fundamentais para a elaboração do trabalho. A forma de
registrar as informações nas fichas depende da organização de cada leitor, podendo ser utilizadas as
tradicionais fichas de cartolina pautada, a folha comum de um caderno ou, mais modernamente,
fazendo-se uso de um banco de dados de um computador. O importante é que as informações estejam
bem organizadas, de modo a facilitar o acesso às mesmas. De acordo com diferentes autores, o
fichamento deve conter a seguinte estrutura mínima:
a) cabeçalho  pode ser dividido em apenas dois campos: o primeiro indica o assunto; o segundo, a
classificação. Exemplo:
1 O Estado
1.1 Concepções de Estado;

b) referência  no caso de um livro, a referência deve apresentar a autoria, título da obra, local de
publicação, editora e ano de publicação, como segue, no exemplo:
CHIZZOTTI, A. Pesquisa em ciências humanas e sociais. São Paulo: Cortez, 1998.;

c) conteúdo  depende do modelo de fichamento, podendo ser: fichamento de transcrição textual,


fichamento de resumo e fichamento de comentário.

Fichamento de transcrição textual: conforme a Associação Brasileira de Normas Técnicas (2001a),


a transcrição textual é chamada de citação direta, pois reproduz literalmente os conceitos do autor
consultado. Veja exemplo:
O Estado
1.1 Concepções de Estado
OLIVA, A. Conhecimento e liberdade: individualismo x coletivismo. Porto Alegre: EDIPUCRS,
1994.
“Não há como negar que as ciências sociais suscitam problemas ontológicos especiais” (p. 62).
“O holismo radical não se limita a reivindicar a existência de todos: defende também uma ontologia
hierarquizada segundo a qual o indivíduo é totalmente determinado – no que é, pensa e faz – por
estruturas e processos subsistentes em coletivos ou todos” (p. 92).

Fichamento de resumo: trata-se de uma síntese das principias ideias do autor contidas na obra.
Utilizam-se as ideias do autor, escrevendo-as livremente com as próprias palavras.
1 O Estado
1.1 Concepções de Estado
OLIVA, A. Conhecimento e liberdade: individualismo x coletivismo. Porto Alegre: EDIPUCRS,
1994.
O autor apresenta e discute os fundamentos filosóficos de um projeto de liberalismo ético-político,
tendo como núcleo a ideia de liberdade. Trata-se, portanto, de uma séria crítica ao holismo ou
coletivismo e de uma defesa da liberdade do indivíduo concreto, sem absolutizar o individualismo.

Fichamento de comentário: é um fichamento descritivo, com comentários abordando a obra inteira


ou parte dessa obra.
1 O Estado
1.1 Concepções de Estado
OLIVA, A. Ontologia: os descaminhos na busca da substância social. In:______. Conhecimento e
liberdade: individualismo x coletivismo. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1994. p. 15-41.
Defende a tese de que o holismo, historicamente, apenas tem servido como
dispositivo de legitimação para o poder exarcebado nas mãos do grupo encastelado no aparato do
Estado.

Assim, o fichamento tem como objetivo permitir armazenamento de dados e/ou informações de
documentos, no todo ou em parte, para posterior utilização, segundo os interesses do pesquisador.

RESUMO
É a condensação das partes relevantes de um texto: síntese das suas ideias e não das suas palavras;
não se trata de “miniaturizar” o texto, pois, ao resumir, deve-se manter fiel à ordem das ideias
apresentadas pelo autor do texto. Não se trata propriamente de um trabalho de elaboração, mas de um
trabalho de extração de ideias, de um exercício de leitura. (SEVERINO, Antônio Joaquim.
Metodologia do Trabalho Científico. 23ª ed. São Paulo: Atlas, 2007)

A depender de sua finalidade e considerando textos didáticos mais gerais, apresenta características e
nomenclatura específicas:
 Resumo descritivo ou indicativo: aqui se descrevem os principais tópicos do texto original, e
se indicam sucintamente seus conteúdos. Não dispensa a leitura do texto original para a
compreensão do assunto. Quanto à extensão, não deve ultrapassar quinze ou vinte linhas;
utilizam-se frases curtas que, geralmente, correspondem a cada elemento fundamental do
texto; porém, o resumo descritivo não deve se limitar à enumeração pura e simples das partes
do trabalho.
 Resumo informativo ou analítico: tipo de resumo que reduz o texto a um terço ou um quarto
do original, abolindo-se gráficos, citações, exemplificações abundantes, e mantendo as ideias
principais. Deve dispensar a leitura do texto original para o conhecimento do assunto. Não
aponta opiniões pessoais de quem o elabora.
 Resumo crítico: consiste na condensação do texto original a um terço ou um quarto de sua
extensão, mantendo as ideias fundamentais, e permitindo opiniões e comentários do autor do
resumo. Também dispensa a leitura do texto original para o conhecimento do assunto. Um
tipo mais abrangente de resumo crítico é chamado de Resenha, que, além de reduzir o texto,
permitir opiniões e comentários, inclui julgamentos de valor, tais como comparações com
outras obras da mesma área do conhecimento, a relevância da obra em relação às outras do
mesmo gênero, etc.
(ANDRADE, Maria Margarida de. Introdução à Metodologia do Trabalho Científico. 10ª ed. São
Paulo: Atlas, 2010)

Quando se tratar de Resumo Acadêmico (ou Abstract), há um procedimento e uma


estruturação específicos. Definido como “apresentação concisa dos pontos relevantes de um
documento” (NBR 6028:2003). O resumo nunca pode ser expressão apenas daquilo que o aluno
entendeu com a leitura. Para ser tecnicamente correto, há que se apresentar o essencial do texto,
obedecendo à hierarquia das ideias e à mesma sequência em que aparecem no texto. (Adaptado de
CERVO, Amado L.; BERVIAN, Pedro A.; SILVA, Roberto da. Metodologia Científica. 6ª ed. São
Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007)

RESENHA ACADÊMICA
A resenha é um gênero discursivo em que a pessoa que lê e aquela que escreve têm objetivos
convergentes: uma busca e a outra fornece alguma opinião crítica sobre o artigo. Para atender ao
leitor, o resenhista basicamente descreve e avalia uma dada obra a partir de um ponto de vista
informado pelo conhecimento produzido anteriormente sobre aquele tema.
Esse gênero discursivo é usado na comunidade acadêmica para avaliar - elogiar ou criticar - o
resultado da produção intelectual em uma área do conhecimento, ou simplesmente para fornecer ao
pesquisador a base teórica de argumentação de sua pesquisa. A resenha deve possuir as mesmas
qualidades de estilo imprescindíveis a todo texto escrito, como: simplicidade, clareza, concisão,
propriedade vocabular, precisão vocabular e objetividade. Além disso, deve apresentar
imparcialidade, atitude científica e privilegiar o essencial.
● Imparcialidade:
O resenhista busca avaliar as ideias da obra, devendo posicionar-se criticamente e apresentar tanto os
aspectos positivos quanto os negativos da obra.
● Cientificidade:
A resenha, assim como todo trabalho acadêmico, deve ter cunho científico; refere-se mais à análise
do objeto que do pesquisador.
● Privilegiar o essencial:
Importa falar apenas do que é mais importante na obra.
Estrutura retórica básica de uma resenha
Ao longo de vários estudos, a análise desse gênero indica que, ao resenhar um artigo, por
exemplo, podemos encontrar algumas recorrências textuais. Baseando-se nelas, foi possível
desenvolver quatro etapas em que realizamos as ações de:

APRESENTAR > DESCREVER > AVALIAR > (NÃO) RECOMENDAR O ARTIGO

A alta frequência com que esses movimentos retóricos (apresentação, descrição, avaliação e
recomendação) aparecem em resenhas nos permite construir uma descrição esquemática do gênero:

1. Apresentar o artigo
Passo 1: Informar o tópico geral do artigo e/ou
Passo 2: Definir o público-alvo e/ou
Passo 3: Dar referências sobre o autor e/ou
Passo 4: Fazer generalizações e/ou
Passo 5: Inserir o artigo na disciplina

2. Descrever o artigo
Passo 6: Dar uma visão geral da organização do artigo e/ou
Passo 7: Estabelecer o tópico de cada capítulo e/ou
Passo 8: Citar material extratextual

3. Avaliar partes do artigo


Passo 9: Realçar pontos específicos

4. (Não) Recomendar o artigo


Passo 10A: Desqualificar/recomendar o artigo ou
Passo 10B: Recomendar o artigo apesar das falhas indicadas

Em geral, essas ações tendem a aparecer nessa ordem e podem variar em extensão, de acordo
com o quê e o quanto o resenhista deseja enfatizar em sua análise do artigo, ou podem variar em
frequência, de acordo com as características da obra ou estilo do resenhista. As resenhas, de modo
geral, trazem também descrição de material extra que vai além do texto principal de cada capítulo do
artigo, na forma de apêndices, anexos, tabelas, gráficos, figuras, dados, exercícios e etc. A linguagem
usada frequentemente inclui verbos no presente do indicativo para descrever a atualidade e relevância
do tema, descrever a organização do artigo e para avaliá-lo. Em suma, podemos considerar que o
gênero discutido nessa apresentação serve para incrementar o diálogo acadêmico entre pesquisadores,
seja uma relação de simetria entre resenhista dirigindo-se aos pares, ou numa relação descendente em
que o resenhista se coloca como um especialista opinando para um público-alvo de não iniciados.

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