Você está na página 1de 2

Palavra do Professor

Educação, como defini-la?

A educação – o compartilhar de saberes, ensinar-e-aprender – faz parte de nossa vida desde os


primeiros instantes de nossa existência. Estamos envolvidos pela educação em todo o tempo:
na escola, na família, na igreja, na rua, etc. Entretanto, o que é educação? Quais suas
principais características? Como ela tem sido pensada e vivenciada através dos tempos e em
diferentes contextos?

Assim como a própria sociedade é um corpo coletivo formado da individualidade das pessoas que a compõem, e
assim como o seu fim é a felicidade de seus membros a quem todas as suas instituições devem servir, assim
também a educação, como idéia (a definição, a ‘filosofia’), deve ser pensada em nome da pessoa e, como
instituição (a escola, os sistema pedagógico) ou como prática (o ato de educar), deve ser realizada como um
serviço coletivo que se presta a cada indivíduo, para que ele obtenha dela tudo o que precisa para se
desenvolver individualmente (PRADO, 1994, p.62).

Para Durkheim, um dos pais da sociologia educação, a educação seria um meio pelo qual a
sociedade prepara, no íntimo das crianças, as condições fundamentais de sua própria
existência, um “conjunto de influências que, sobre a nossa inteligência ou sobre a nossa
vontade, exercem os outros homens, ou, em seu conjunto, realiza a natureza” (1987, p.35).
Segundo ele, a função da educação seria basicamente socializar (perpetuar e reforçar a
homogeneidade necessária à sociedade) e selecionar (assegurar a persistência da diversidade
necessária à sociedade).

Durkheim apresenta a educação como uma instituição fundamental para a manutenção da


ordem social, ainda que ela permita certa autonomia do sujeito. O cerne de seu interesse pela
educação liga-se diretamente ao estudo da moral, pois a educação seria a melhor maneira de
socializar os indivíduos, ainda crianças, nas regras sociais mais fundamentais - nacionais,
disciplinares, etc. Portanto, a educação tem no pensamento durkheimiano uma função real,
logo se organiza enquanto instituição para realizar sua função moralizadora da sociedade.

Embora o pensamento de Durkheim expresse umas das principais maneiras de se conceber e


tratar a educação, existem vários outros pontos de vista, reflexões e idéias. Entretanto, pode-
se dizer que, nos pensadores da educação, há em comum a percepção da educação como um
aspecto essencial à manutenção da vida em sociedade – tanto reproduzindo formas de
dominação quanto as combatendo, tanto educando quanto deseducando. Além disso, nota-se
também o reconhecimento de que diversos grupos sociais constroem diferentes concepções de
educação e formas de se educar, que se (trans)formam no tempo e no espaço: não há um único
modelo de educação nem um único lugar onde ela acontece.

A educação constitui-se como um processo por meio do qual as novas gerações são
socializadas, ou seja, são preparadas para integrar a vida social. Ela se constitui em processos
interativos através dos quais os participantes da sociedade assimilam saberes, habilidades,
técnicas, atitudes, valores existentes no meio culturalmente organizado com vistas à
humanização plena. Pode-se afirmar que a educação tem um poder formador e transformador
da sociedade, constituindo-se num processo de constante mudança social. É possível observar
que cada sociedade, em cada momento histórico, cria e estabelece uma educação específica,
visto que não há uma educação universal, ou uma educação ideal.
Enfim, a educação é uma “prática social que envolve o desenvolvimento dos indivíduos no
processo de sua relação ativa com o meio natural e social, mediante a atividade cognoscitiva
necessária para tornar mais produtiva, efetiva, criadora, a atividade humana prática”
(LIBÂNEO, 2007, p.142). Sendo assim, pode-se afirmar que a

educação compreende o conjunto dos processos, influências, estruturas, ações, que intervêm, no
desenvolvimento humano de indivíduos e grupos na sua relação ativa com o meio natural e social,
num determinado contexto de relações entre grupos e classes sociais, visando à formação do ser
humano. A educação é, assim, uma prática humana, uma prática social, que modifica os seres
humanos nos seus estados físicos, mentais, espirituais, culturais, que dá uma configuração à nossa
existência humana, individual e grupal (LIBÂNEO, 2006, p. 64, grifo do autor).

Atualmente, temos a escola como um local privilegiado de se educar, visto que nela
encontramos agentes especializados, métodos específicos e práticas refletidas de educação.
Entretanto, como sabemos, a educação não é uma exclusividade da escola. A educação ocorre
durante toda a vida numa variedade de manifestações e atividades – sociais, políticas,
culturais, econômicas, religiosas, familiares, escolares etc – e por meio de distintas
modalidades – formais, informais e não-formais.

Segundo Libâneo (2007, p.88-89), a educação formal é aquela que ocorre nas instituições
escolares, é mais sistemática, segue padrões preestabelecidos por uma equipe, é estruturada,
intencional com propostas políticas educacionais fechadas, em que se observa um programa
curricular a ser cumprido, as quais se desenrolam por meio de uma dinâmica em sala de aula.
O processo é precedido de um planejamento em que se definem os métodos e as técnicas a
serem empregados, quais os resultados a serem alcançados e como serão avaliados e
validados.

A educação informal (LIBÂNEO, 2007, p.88-89) é entendida como sendo um processo


espontâneo, não intencional e não formal, no qual se observa a aprendizagem de experiências
nem sempre conscientes, que preexistem e que provavelmente formarão os suportes físicos,
emocionais e sociais do indivíduo, visto que “o ser humano educa-se pelo simples fato de
viver e conviver com outras pessoas, desenvolvendo-se e transformando-se por efeitos de sua
interação com o meio no qual está interagindo” (CADINHA, 2007, p. 18-19).

Já a educação não-formal (LIBÂNEO, 2007, p.89) constitui-se em propostas educacionais


mais abertas que se desenvolvem de forma mais flexível, com emprego de procedimentos
metodológicos diversificados, não seguindo uma seqüência convencionada necessariamente.
Por exemplo, a mídia dissemina saberes e modos de agir nos campos políticos, social,
econômico e moral por meio de mensagens educativas (ou não) para combate à violência, às
drogas, etc; as empresas promovem programas de formação profissional, dentre outros.

Sugestões de Leitura
BRANDÃO, C. R. O que é educação. 30. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.
DURKHEIM, E. A educação como processo socializador: função homogeneizadora e função
diferenciadora. In: FORACCHI, M. M.; PEREIRA, L. Educação e sociedade: leituras de
Sociologia da Educação. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1987. p. 35-48.
LIBÂNEO, J. C. Pedagogia e pedagogos, para quê? 9. ed. São Paulo: Cortez, 2007.

Você também pode gostar