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Com Massa Socie
Com Massa Socie
SOCIEDADE DE MASSA
RESUMO
Este trabalho busca caracterizar o paradigma da sociedade de massa nos estudos dos mass
media. Inicialmente, ele resgata a origem do termo sociedade de massa, recorrendo as
abordagens sociológicas do século XIX. A reflexão sociológica forja o termo sociedade de
massa, após um desdobramento das caracterizações efetuadas em torno da sociedade
moderna. Em seguida, tal estudo faz uma exposição de abordagens dos meios de
comunicação que trabalham com a noção de sociedade de massa. Quatro são as abordagens
escolhidas: teoria hipodérmica, teoria crítica, agenda setting e espiral do silêncio. Enfim, o
artigo busca evidenciar algumas fragilidades de tais abordagens assentadas sobre a noção
de sociedade de massa.
PALAVRAS-CHAVE:
Sociedade de massa / teoria hipodérmica / teoria crítica / agenda setting / espiral do
silêncio
1
OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO PELO VIÉS DO
PARADIGMA DA SOCIEDADE DE MASSA
Após ter estudado algumas abordagens acerca dos meios de comunicação em geral e da
cultura de massa e particular, no curso de Comunicação Social, fomos interpetado por
estudantes que levantaram uma série de questões. A angústia, suscitada pela abordagens
estudadas, no tocante à sociedade de massa, pode ser retrada através de interrogações
como:
2
algumas abordagens que tem, no interior de sua leitura, a noção de sociedade de massa para
refletir sobre os meios de comunicação.
Um dos eixos para pensar a sociedade moderna e suas transformações sociais foi
fomentando a distinção entre a sociedade antiga (Gemeinschaft) e a sociedade moderna
(Gesellschaft). A sociedade moderna será vista como uma sociedade da cidade e não rural
como a sociedade antiga. Ocorre neste momento, em vários países da Europa um
deslocamente de massas populacionais em direção às cidades. A maioria da população vai
se concentrando em espaços considerados urbanos.
3
Nestes novos espaços as massas populacionais deixam de ser camponesas e passam
a ser caracterizadas pelo novo trabalho. Karl Marx irá assentar sua reflexão sobre estas
novas maneiras de produzir riquezas, ou modos de produção, tendo no centro o proletariado
urbano, os trabalhadores da cidade. Este novo contexto irá ressaltar que a sociedade em
questão passa a ser uma sociedade industrializada, que gira em torno da indústria e da
técnica. Porém uma técnica cada vez mais aperfeiçoada, que produz e é produzida em
grande escala, que demanda um mercado mais amplo (nacional e internacional) e suscita a
especialização das tarefas.
4
demonstra como a especialização do trabalho em vez de levar a uma interdependência,
provoca o enfraquecimento da consciência coletiva. O isolamento de indivíduos, que não se
reconhecem como parte integrante do todo, leva-os para a anomia, às vezes ao sucídio.
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pela revolução francesa, pelo funcionamento da sociedade americana e pela revolução
industrial. Numa época de profundas mutações, onde estudos sociológicos que analisam a
transição antigo-moderno, uma análise é fixada no medo da desintegração social. Observa-
se que abordagens, muitas vezes díspares em vários pontos acerca das relações sociais,
clamam várias delas a necessidade de uma organização social perene. No bojo e no
aprofundamento da crítica da desintegração social da sociedade moderna nasce a
formulação Sociedade de Massa.
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sociedade moderna é que ele vê dois tipos de de regime político segundo a estruturação do
tecido social: a democracia e o despotismo democrático.
Um autor que teve uma forte influência neste desdobramente reativo à sociedade em
questão foi o sociólogo francês Gustave Le Bon (1841-1931), no seu estudo A Psicologia
das multidões. Mesmo elaborando este livro sem um rigor científico, Le Bon tem a
especificidade de ser um dos primeiros a ter a multidão, a massa como objeto de sua
reflexão e também o de deixar transparecer, com uma certa nitidez, os preconceitos
circundam sua época.3
Le Bon explora o lado psicossociológico das multidões como o nome de sua obra
sugere. Com a presença cada vez mais constante das multidões nos espaços públicos,
Gustavo Le Bon detecta o poder das multidões como um sintoma universal de todas as
nações e alerta, que o aparecimento das multidões marcará provavelmente as últimas etapas
das civilizações ocidentais. Para o autor, a multidão é uma identidade onde os indivíduos
estão submetidos a uma alma coletiva, pois ela tem sua própria natureza. A multidão, como
ele descreve, é feminina, impulsiva, móvel, dominada por uma mentalidade “mágica”. Ela é
influenciável, seduzida por sentimentos simples e exagerados, tem a moral degradada e é
intolerante e autoritária.
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Le Bon faz uma semelhança entre as características da multidão com a de raça. Ele
não oferece precisões em torno desta palavra, mas diz que a mistura de diferentes origens
étnicas oferece as características do comportamento da multidão. Com a mesma virulência,
ele atacará as ações e comportamento socialista da época, identificando também de maneira
idêntica ao da multidão. Assim, a multidão absorve o indivíduo numa forma de
contaminação mental, e tal contaminação é impulsionada pelas características hereditária,
populares e raciais que compõem uma espécie de “alma coletiva” desta multidão ou massa.
Ortega Y Gasset será um outro crítico no tocante à nova sociedade, também por ele,
caracterizada, sociedade de massa. É ele que vai ressaltar, com sua visão ontológica do
homem massa, emergidos da sociedade também de massa.4 Homeme-Massa se encontra
nos vários extratos sociais e é um indivíduo abrutalhado, violento, promotor do
esgarçamento social. Ortega y Gasset articula o papel dos meios de comunicação pelo viés
da técnica que carrega nela o primitivismo, fazendo emergir a barbárie pela ação das
massas. A massa existe, então, pela sua revolta, isto é pela violência ou subversão do
diferente e singular. Neste esforço de precisão e exigência metodológica de tal abordagem,
a massa é descrita como sendo formada por indivíduos atomizados, reclusos nos seus
espaços privados. Os meios de comunicação surgem com força neste contexto refazendo a
ligação de tais indivíduos com a sociedade.
8
4. Os meios de comunicação no contexto da “sociedade de massa”: Da Teoria
Hipodérmica ao agendamento (Agenda-Setting)
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A força dos meios de comunicação, segundo a teoria hipodérmica, é proveniente da
leitura do esgarçamente do tecido social de um lado, e do indivíduo sob a égide da
pscologia behavisrista. Esta abordagem psicológica reforça a “mensagem certeira” no
momento que baliza o comportamento humano pelo condicionamento, e o descreve em
termos de estímulo e resposta. Os estímulos que não produzem respostas não são
considerados como estímulos. Estando o comportamento humano reduzido à relação
estímulo-resposta, surge a visão do efeito inevitável e instatâneo. O comportamento
humano, esvaziado de conceitos como atitude, valor, motivo, ou seja de toda a
subjetividade da experiência, é visto como pura e simples reação as açoes externas , quer
dizer, aos estímulos.
10
Adorno na crítica as “teorias positivas” que se perde nos detalhes e são
transformadas em ideologias, propõe a dialética negativa que nega a identidade entre o
pensamento e a realidade. Ele irá forjar sua crítica no tocante às pretensões da filosofia em
tentar captar a totalidade do real. Nas mãos de Adorno, a dialética negativa se torna uma
crítica da cultura em particular e da sociedade em geral.
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“Quanto mais sólidas se tornam as posições da indústria cultural, tanto mais
brutalmente esta pode agir sobre as necessidades dos consumidores, produzi-
las, guiá-las e discipliná-las, retirar-lhe até o divertimento”8
4.3. O agenda setting e a espiral do silêncio: a massificação pela fala e pelo silêncio
O agenda setting e a espiral do silêncio são duas faces de uma mesma moeda.
Ambas trabalham com a perspectiva massificante sob a égide da imposição dos mass media
sobre os indivíduos. Porém, o agenda setting apregoa a tematização no deslocamento da
agenda mediática via agenda do público, fazendo-se fala, conversa no dia-a-dia. Já na
espiral do silêncio, os indivíduos atingidos por certos temas, e tendo eles opiniões
diferentes tendem a se enclausurar no silêncio.
O agenda setting constrói sua hipótese afirmando que a influência dos mass
media não reside na maneira como que eles fazem o público pensar, mas no que eles fazem
o público pensar. Há um deslocamento na imposição dos mass media na modalidade do
efeito de como pensar para o que pensar. Se, de um lado, a teoria crítica ressaltava a
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massaficação pelo o que os mass media não levavam as pessoas a pensar, de outro, o
agendamento constrói a massificação como resultado daquilo que eles vão pensar.
A espiral do silêncio ressalta, por sua vez, a imposição dos mass media, não
pela força de agendar temas a ser conversado, mas pela força de provocar o silêncio.
Elisabeth Noelle-Neumann parte do princípio que os indivíduos buscam evitar o
isolamento, levando-os a se associar as opiniões dominantes. Se tal associação representa
um alto custo social, na defesa de um ponto de vista minoritário, os indivíduos tendem a
recolher-se ao silêncio. Centrando-se na psicologia social, Noelle-Neumann aproxima os
13
temas dos mass media e a noção de opinião pública10 e a repercussão que eles terão nos
indivíduos, no público.
14
Também percebemos a pertinência das observações realizadas pelo inglês John
Thompson acerca da teoria crítica, teoria que teve uma grande ressonância nos estudos dos
mass media aos longo de décadas. Thompson aponta algumas fragilidades teóricas,
podendo ser caracterizadas em três direções:
- As características atribuídas à indústria cultural (características gerais atribuídas à
indústria cultural - padronização, repetição, pseudopersonalização -, sem um investimento
para conhecer, em pormenores, a organização e as práticas cotidianas desta indústria, ou os
ramos diferentes que a constituem);
- a natureza e o papel dado à ideologia na sociedades modernas (não é evidente que os
indivíduos ao consumirem tais produtos aderem, de maneira acrítica à ordem social. Dizer
que os produtos são padronizados, pseudo-realistas etc, é uma coisa, dar o passo e dizer,
por outro lado, que aqueles que consumiram estes produtos standardizados passam a agir de
forma imitativa, reproduzindo o status quo... já se fixa numa outra ordem, que levantam
questões de ordem metodológica).
- A visão totalizante, e frequentemente pessimista, das sociedades modernas e a atrofia dos
indivíduos no seu interior (Mesmo sendo verdade que as sociedades modernas tende a
funcionar de maneira sistêmica, interligada, elas estão também em constante
movimento, com nuanças diversas, com setores desorganizados, focos de
resistência... Na visão contestada, as sociedades estão harmoniosamente integradas
e os indivíduos controlados).14
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nos sentimos ameaçados e fragilizados diante de investidas diversas (política, econômica,
institucional, tecnológica...).
1
Pode-se notar, pelas questões levantadas, que as abordagens estudadas tinham como pensadores Ortaga Y
Gasset, Adorno, Horkheimer, Edgard Morin entre outros. Aqueles pensadores marcado pelo otimismo com a
cultura de massa (Daniel Bell, Oswald Spengler...) não eram ainda do conhecimento dos estudantes
mencionados.
2
TOCQUEVILLE, A., De la démocratie en Amérique, Paris, Gallimard, 1968.
3
LE BON, Gustave, Psycologia das multidões, Lisboa, Empreza do Almanach Encyclopedico Illustrado,
1908.
4
ORTEGA Y GASSET, José, La révolte des masses, Paris, Gallimard, 1967.
5
O termo indústria cultural foi empregado por Horkheimer e Adorno pela primeira vez no texto Dialética do
Iluminismo. A utilização desse termo substitui « cultura de massa » eliminando supostas interpretações que a
cultura fosse uma manifestação espontânea das massas. Wolf, M., op. cit.
6
HORKHEIMER, M. e ADORNO, T., La dialectique de la raison, Paris, Gallimard, 1989.
7
HORKHEIMER, M. e ADORNO, T., A indústria cultural, in COSTA LIMA, Luiz (org.), Teoria da
cultura de massa, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1982, p. 160.
8
Idem ibidem, p. 181.
9
A hipótese do agenda setting recebeu várias críticas acerca de suas especificidades (parâmetros temporais
referentes às agendas e a relação entre elas, a variaedade de agendas junto ao público( intrapessoal,
interpessoal...). Ver BARROS FILHO, Clóvis de, Ética na comunicação, São Paulo, Moderna, 1995. Ver
também WOLF, M., Teorias da comunicação, Lisboa, Editorial Presença, 1986.
10
No final de seu artigo E. Noelle-Neumann conclui : «A questão de saber se os mass media antecipam a
opinião pública ou se eles não somente a refletem está no centro das discussões científicas desde muito
tempo. Segundo o mecanismo psico-social, que nós chamamos de "espiral do silêncio" , é conviente ver os
mass media como criadores da opinião pública. Eles constituem o ambiente cuja a pressão deslancha a
combatividade, a submissão ou o silêncio». Ver NOELLE-NEUMANN, E., La spirale du silence – une
théorie de l’opinion publique, in Hermès, n°4, Paris, Editions du CNRS, 1991, p. 187.
11
Idem ibidem, p. 182.
12
Idem ibidem.
13
Ver KATZ, E., «A propos des médias et de leurs effets», in SFEZ, L. (org.), Technologies et Symboliques
de la Communication, PUG, 1988. Ver também WOLF, M. Gli effetti sociali dei media, Milano,
Bompiani, 1995.
14
Ver THOMPSON, John B., Ideologia e cultura moderna, Petrópolis, Vozes, 1995.
15
KATZ, Elihu, «La recherche en communication depuis Lazarsfeld», in Hermès, n° 4, Paris, Editions du
CNRS, 1991.
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