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AS CAPACIDADES MOTORAS E COMPONENTES PERCEPTIVO-MOTORES

NA EDUCAÇÃO FÍSICA INFANTIL

As Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil determinam que os eixos


estruturantes das práticas pedagógicas na Educação Infantil são as interações e a
brincadeira. A Base Nacional Comum Curricular/Etapa da Educação Infantil, a partir
desses eixos estruturantes, determina seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento
que devem ser assegurados às crianças:

• Conviver com outras crianças e adultos, em pequenos e grandes grupos,

utilizando diferentes linguagens, ampliando o conhecimento de si e do outro, o

respeito em relação à cultura e às diferenças entre as pessoas.

• Brincar cotidianamente de diversas formas, em diferentes espaços e tempos,

com diferentes parceiros (crianças e adultos), ampliando e diversificando seu

acesso a produções culturais, seus conhecimentos, sua imaginação, sua

criatividade, suas experiências emocionais, corporais, sensoriais, expressivas,

cognitivas, sociais e relacionais.

• Participar ativamente, com adultos e outras crianças, tanto do planejamento da

gestão da escola e das atividades propostas pelo educador quanto da realização

das atividades da vida cotidiana, tais como a escolha das brincadeiras, dos

materiais e dos ambientes, desenvolvendo diferentes linguagens e elaborando

conhecimentos, decidindo e se posicionando.

• Explorar movimentos, gestos, sons, formas, texturas, cores, palavras, emoções,

transformações, relacionamentos, histórias, objetos, elementos da natureza, na

escola e fora dela, ampliando seus saberes sobre a cultura, em suas diversas

modalidades: as artes, a escrita, a ciência e a tecnologia.

• Expressar, como sujeito dialógico, criativo e sensível, suas necessidades,

emoções, sentimentos, dúvidas, hipóteses, descobertas, opiniões,

questionamentos, por meio de diferentes linguagens.


• Conhecer-se e construir sua identidade pessoal, social e cultural, constituindo

uma imagem positiva de si e de seus grupos de pertencimento, nas diversas

experiências de cuidados, interações, brincadeiras e linguagens vivenciadas na

instituição escolar e em seu contexto familiar e comunitário.

A Educação Física é o componente curricular que tem como especificidade a


abordagem das práticas corporais (brincadeiras e jogos, esportes, ginásticas,
danças, lutas e práticas corporais de aventura) e pode contribuir muito na garantia
dos direitos de aprendizagem e desenvolvimento às crianças. A vivência de tais
práticas, pelas crianças, possibilitam a construção de conhecimento referente ao seu
corpo e suas possibilidades de movimento, colaboram para a construção de sua
identidade, promovem a interação social, possibilitam a expressão de emoções e
sentimentos, incentivam o desenvolvimento da imaginação e criatividade, entre
outros aspectos. Porém, para que essas contribuições sejam efetivas, se faz
necessário que o professor/professora de Educação Física desenvolva suas práticas
pedagógicas a partir de uma intencionalidade educativa, ou seja: sua ação docente
deve incluir as ações de refletir, selecionar, organizar, planejar, mediar e monitorar
o conjunto das práticas e interações, garantindo a pluralidade de situações que
promovam o desenvolvimento pleno das crianças. Nesse sentido, é de extrema
importância que as práticas corporais a serem realizadas sejam variadas,
oportunizando às crianças o acesso aos elementos da cultura corporal e a
construção de um repertório motor amplo e diversificado. Para tanto, se faz
necessário que a criança tenha oportunidade de vivenciar diferentes habilidades de
movimento e desenvolver variadas capacidades motoras.

As classificação das capacidades motoras podem ser realizadas de diferentes


formas. Manno (1985) propõe divisão em 2 grupos:

• Capacidades condicionais: conjunto de capacidades que tem como fator limitante


a disponibilidade de energia e, por conseguinte, as condições orgânico-musculares
do indivíduo (Força, Resistência, Velocidade e Flexibilidade – essas duas últimas
são consideradas, por alguns autores, pertencentes à categoria das capacidades
coordenativas)

• Capacidades coordenativas: determinadas pelos processos de Controle motor e


regulação do SNC (equilíbrio, ritmo, orientação, agilidade, entre outras).
A partir dos anos 80, um novo modelo de classificação das capacidades motoras
foi proposto:

Aptidão relacionada à saúde: capacidade de realizar atividades diárias com vigor e


está relacionada a um menor risco de doenças crônicas (resistência cardiovascular,
força, resistência muscular, flexibilidade)

Aptidão física relacionada ao desempenho motor e esportivo (agilidade, velocidade,


equilíbrio e outras capacidades motoras dependendo da modalidade esportiva).

A seguir serão apresentadas definições de algumas capacidades motoras e sua


aplicação no contexto infantil:

Resistência cardiovascular: Capacidade do coração, pulmão, sistema vascular de


oferecer oxigênio durante a realização de atividade física. Depende, em grande
parte, do estilo de vida individual da criança. Atividades aeróbicas como correr e
pedalar fazem parte da vida diária da criança e promovem o desenvolvimento dessa
capacidade motora.

Força muscular: Capacidade do corpo em exercer uma força máxima contra um


objeto externo ao corpo. No seu sentido mais puro é a capacidade de exercer um
máximo esforço. Crianças engajadas em atividades diárias fazem muito esforço com
os membros inferiores para correr e pedalar. Sua força nos braços é desenvolvida
através de atividades como levantar e carregar objetos grandes, segurar materiais
e balançar-se nos brinquedos disponíveis no pátio da escola e das praças/parques.
Nas brincadeiras que exigem a manutenção de uma determinada posição do corpo
(estátua, por exemplo), esta capacidade pode ser requerida.

Flexibilidade: habilidade de vários ligamentos do corpo para se moverem através


de sua extensão completa de movimento. É específica aos ligamentos e pode ser
melhorada com a prática.

Equilíbrio: capacidade de manter o corpo em determinada posição resistindo à


gravidade (equilíbrio estático) e fazer rápidas alterações no corpo quando ele é
colocado em várias posições (equilíbrio dinâmico). É influenciado pela visão, pelo
ouvido, pelo cerebelo e pelos proprioceptores (terminações nervosas) nos músculos,
ligamentos e tendões.

Coordenação: capacidade de integrar sistemas motores separados na realização


de um movimento eficiente.

Coordenação ampla (ou grossa): utilização de grandes grupos musculares


Coordenação fina: utilização de pequenos grupos musculares

Coordenação óculo-manual: é a habilidade que permite realizar ações que requerem


o uso simultâneo dos olhos e as mãos

Coordenação óculo-pedal: é a habilidade que permite realizar ações que requerem


o uso simultâneo dos olhos e os pés

Agilidade: capacidade de mudar a direção rapidamente enquanto este se move de


um ponto a outro. Brincadeiras que utilizam labirintos construídos com elásticos e
percursos com obstáculos podem auxiliar o desenvolvimento da agilidade.

Velocidade: capacidade de se mover de um ponto a outro no menor tempo possível.

Dentre os componentes perceptivo-motores, é importante destacar, na


Educação Infantil:

Percepção corporal: habilidade de diferenciar as partes do corpo, identificar o que


as partes do corpo podem fazer e como fazer as partes do corpo se movimentarem
eficientemente.

A habilidade de diferenciar as partes do corpo é denominada de esquema corporal


e é um elemento importante a ser abordado com as crianças, especialmente na faixa
etária entre 2 e 3 anos.

A Lateralidade também é um elemento da percepção corporal e pode ser definida


consciência de que o corpo tem dois lados distintos, que podem se mover
independentemente. É diferente da dominância lateral - uso preferencial de um
segmento do corpo em relação ao outro (mão, pé, olho). Pode ser pura (preferência
dos diferentes segmentos do mesmo lado do corpo) ou mista (por ex: Preferência
pelo olho direito, mão direita e pé esquerdo).

Não utilizamos, na Educação Infantil, a identificação do lado direito/esquerdo,


uma vez que essa compreensão vai ocorrer nos anos iniciais do Ensino
Fundamental. Incentivamos a criança a conhecer e utilizar os dois lados do seu
corpo solicitando que ela manipule materiais e realize gestos com “uma” mão, “a
outra” mão, “um” pé, “o outro“ pé, por exemplo.

Percepção espacial: percepção da localização do corpo e a orientação no

espaço.
Percepção temporal: se refere ao desenvolvimento da capacidade de perceber
aspectos relacionados com o tempo. Atividades de corrida ritmada, de dança e de
malabarismo requerem graus variáveis de percepção temporal.

O/a professor/a de Educação Física, ao realizar o planejamento das atividades


a serem propostas para turmas de Educação Infantil, deve ter a intencionalidade
educativa de promover a vivência de práticas corporais que possibilitem o
desenvolvimento de variadas habilidades de movimento e diversas capacidades
motoras e perceptivo-motoras. Dessa forma, a criança é motivada a descobrir as
diferentes possibilidades de movimento de seu corpo e a construir um autoconceito
positivo.

BIBLIOGRAFIA:

BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Base Nacional Comum


Curricular. Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/a-base/>.
Acesso em: 20 jan. 2011.
BRASIL.MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO.Diretrizes Curriculares Nacionais para
Educação Infantil. Disponível
em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alia
s=9769-diretrizescurriculares-2012&category_slug=janeiro-2012-
pdf&Itemid=30192 Acesso em: 20 jan. 2019.
GALLAHUE, D.; DONNELLY, F. - Educação Física Desenvolvimentista para todas
as crianças - Editora Editora Phorte (ISBN: ISBN: 8576551268)

RANGEL, I. C. A. e DARIDO, S. C. Educação Física na Infância. Guanabara


Koogan, 2010. ISBN 978-85-277-1599-7.

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