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JOGAR DESCONSTRUINDO E RECONSTRUINDO: UM EXERCÍCIO PARA

AUTONOMIA1

Osni Zioli2
osnizioli@seed.pr.gov.br

RESUMO: Este artigo propõe a desconstrução e reconstrução do tema futebol nas aulas de
educação física através dos procedimentos didáticos metodológicos contemplados pela Pedagogia
Histórico-Crítica, como exercício para o desenvolvimento da autonomia do aluno. Sem negar ou
desconsiderar a relevância do futebol para a cultura corporal do povo brasileiro, o tema foi escolhido,
principalmente por garantir a princípio o interesse do aluno. A reflexão busca ultrapassar a
abordagem do tema como componente curricular, focando sua atenção nas estratégias e processos
utilizados e que permitam ao aluno a compreensão da totalidade e das relações entre as diversas
dimensões do conhecimento e o fenômeno futebol através da reflexão crítica.

PALAVRAS-CHAVE: Desconstrução. Autonomia. Reflexão Crítica.

ABSTRACT: This article presents the deconstruction and reconstruction of the subject "soccer" in
high school Physical Education classes through methodological didactic procedures cited by the
historical-critical pedagogy, as an exercise for the development of the student's autonomy.
Without denying or disregarding the relevance of soccer to the Brazilian culture, the subject was
principally chosen because it should naturally entice the student's interest.
This study goes beyond the approach of the subject as a curricular component, focusing primarily on
the strategies and processes that allow the student to understand, through critical reflection, the
totality and relativity between diverse dimensions of the knowledge and the phenomenon of soccer.

KEY WORDS: Deconstruction. Autonomy. Critical thinking.

1 INTRODUÇÃO
Este trabalho tem a finalidade de apresentar uma proposta didática com
orientação da Pedagogia Histórico-Crítica, para a desconstrução e reconstrução do
tema futebol nas aulas de Educação Física.
Na escola os alunos apreendem os conteúdos do futebol seguindo padrões
e normas do esporte rendimento, no que se refere às regras, material, espaço,
equipamentos e principalmente do seu ideal de vitória: derrotar o adversário. Muito
deste comportamento se deve ao que Darido (et al., 2005) chama de “posição
contemplativa da realidade”, onde todos os valores presentes nesta realidade
observada, são reproduzidos nas aulas de Educação Física sem reflexão e crítica.
A desconstrução do futebol é uma tentativa de desfazer a interpretação
tradicional do mesmo nas aulas de Educação Física, através de questionamentos e
conseqüentes instrumentalizações busca-se questionar os valores e verdades
vinculadas a este importante elemento de nossa cultura, tendo como orientação uma
concepção de educação progressista crítica, que exige dos sujeitos envolvidos na

1
Trabalho Final do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, Edição 2007.
2
Professor de Educação Física da Rede Estadual de Ensino do Paraná.
1
desconstrução um posicionamento, ou seja, a reconstrução do fenômeno, como
forma de possibilitar uma nova prática social.
Certamente nenhum outro tema da Educação Física é tão rico e repleto de
possibilidades de contextualizações como o futebol. Através dele garantimos o
interesse inicial do aluno e fazemos relações com a sociedade nas dimensões
histórica, econômica, cultural, política, social, entre outras.
Partimos da concepção de uma Educação Física engajada num processo
maior de educação. Estamos falando de educação como processo, no sentido
exposto por Pérez Gómez (1998), que supera a transmissão e aprendizagem dos
conteúdos curriculares que podem rapidamente serem esquecidos ou descartados,
mas, da aprendizagem de mecanismos, estratégias, normas e valores de interação
social que configuram uma conduta que vai além da própria escola.

2 A DESCONSTRUÇÃO E RECONSTRUÇÃO DO FUTEBOL


Os professores se comportam como especialistas mergulhados no seu
pequeno mundo, onde se consideram plenipotenciários. Trabalham sua
disciplina sem a menor preocupação com o que é abordado nas outras. Fica
difícil saber, e até dá para desconfiar, se os próprios professores são
capazes de situar a sua disciplina no contexto do curso, mostrando suas
inter-relações e suas implicações (SANTIN, 2003, p. 72).

Com intuito de superar a prática das aulas de Educação Física voltada para
o desempenho e descompromissada com as metas da educação numa visão mais
ampla e como parte do projeto geral de escolarização, faz-se necessário buscar
fundamentos na Teoria Progressista Crítica da Educação.
Como lembra Saviani (2005) o que a concepção Crítica-Reprodutivista nos
deixou de positivo foi sua análise da escola na sociedade, apontando para a sua
determinação social em função do modo de produção capitalista, onde a sociedade
é dividida em classes com interesses opostos, sofrendo esta a influência maior da
ideologia da classe social dominante. Como esta classe não tem interesse na
transformação da escola ou da sociedade, é impossível apresentarmos uma
proposta de transformação da realidade sem nos posicionarmos do ponto de vista
das classes populares.
Na Educação Física Brasileira, destacam-se três abordagens que
possibilitam esta transformação a partir do tratamento pedagógico dos temas da
Educação Física Escolar: são as abordagens Crítico-Superadora (COLETIVO DE

2
AUTORES, 1993), Crítico-Emancipadora defendidas pelo Professor Elenor Kunz
(1991), (2001) e da Concepção das Aulas Abertas no ensino da Educação Física
(HILDEBRAND; LAGING, 1986). Outros dois autores que merecem ser citados pela
contribuição as concepções críticas da Educação Física são: Sávio Assis (2005) e
Francisco Eduardo Caparroz (2005). Para fins desse trabalho buscaremos apoio na
abordagem Crítico-Superadora.

2.1 A abordagem Crítico-Superadora


Apesar do livro Metodologia do Ensino da Educação Física de um Coletivo
de Autores3 ser a obra mais conhecida desta abordagem, diversas outras ajudaram
à disseminá-la, onde podemos citar de Valter Bracht (1992) o livro Educação Física
e Aprendizagem Social e de João Paulo Medina (1983), A Educação Física cuida do
corpo... e “mente”.
Tendo como área base a sociologia política da Teoria do Materialismo
Histórico- Dialético esta abordagem tem como seus autores de referência Dermeval
Saviani (2004), (2005), (2006) e José Carlos Libâneo (1998). Com a temática
principal a cultura corporal do brasileiro e como conteúdo conhecimentos sobre o
jogo, esporte, dança e ginástica a abordagem utiliza como principal instrumento a
reflexão e a articulação com o Projeto Político Pedagógico da Escola objetivando a
transformação social. Assim, a Educação Física tem uma especificidade, sem deixar
de estar integrado a uma concepção maior de educação. Ou seja, faz a mediação
entre o fazer pedagógico e o contexto social, político e cultural.
A concepção de Educação Física denominada Crítico-Superadora, parte da
visão que a formação teórica e prática do professor deve estar em consonância com
a consciência política das tarefas sociais que ele deve cumprir, e que isto contribuirá
para a elevação da qualidade do ensino e da formação cultural dos alunos.
Todo educador deve ter definido seu projeto político-pedagógico... É preciso
que tenha bem claro: qual o projeto de sociedade e de homem que
persegue? Quais os interesses de classe que defende? Quais os valores, a
ética e a moral que elege para consolidar através de sua prática? Como
articula suas aulas com esse projeto maior de homem e de sociedade?
(COLETIVO DE AUTORES, 1993, p. 26).

Isto supõe professores engajados no processo de transformação da


realidade, professores comprometidos com um projeto político pedagógico, que
3
Autores que participaram da elaboração do livro: Carmem Lúcia Soares, Celi Nelza Zülker Taffarel, Elizabeth
Varjal, Lino Castellani Filho, Micheli Ortega Escobar e Valter Brascht.
3
nasce das necessidades de emancipação de uma classe emergente dentro da
nossa atual estrutura de divisão de classes, ou seja, a classe trabalhadora.
Outro elemento importante é a concepção de currículo ampliado que deve
ordenar a reflexão pedagógica do aluno, de forma a pensar a realidade social
desenvolvendo determinada lógica. Para desenvolvê-la, apropria-se do
conhecimento científico confrontando-o com o saber que o aluno traz de seu
cotidiano, tendo como eixo a constatação, interpretação, compreensão e a
explicação da realidade social complexa e contraditória.
A concepção Crítico-Superadora se opõe ao conceito de Educação Física
voltada para aptidão física como objetivo final da disciplina no ambiente escolar, por
entender que este contribui para a manutenção da estrutura da sociedade,
defendendo o interesse da classe dominante.
A seleção dos conteúdos da Educação Física na concepção Crítico-
Superadora deve oportunizar ao aluno a leitura e análise crítica da realidade em que
vive. Assim, essa seleção e organização dos conteúdos deve levar em consideração
a sua origem, a sua relevância social, a contemporaneidade do conteúdo, e a
adequação por parte do professor as possibilidades sócio-cognoscitivas do aluno.
Os meios empregados para trabalhar esses conteúdos, devem oportunizar a
transformação da concepção de mundo do aluno, através da compreensão dos
sentidos, significados e relações que os conteúdos (ginástica, esporte, jogo, lutas e
dança) têm com a realidade e com os problemas sociais existentes.
Isso significa dizer que o conteúdo não é ensinado com um fim em si
mesmo. Ele deve ser criticado historicamente e compreendido na sua totalidade,
tornando-se instrumento para interpretação crítica da realidade.
Nesta abordagem as aulas de Educação Física passam a ter objetivos mais
amplos, combatendo a mera instrumentalização, e conseqüentemente a visão
fragmentada do homem. Estes objetivos poderiam ser: 1) Participação; 2) Autonomia
do aluno e 3) Reflexão crítica sobre a prática social existente.

2.2 A didática para a desconstrução e reconstrução


Para Saviani (2006) uma pedagogia articulada com os interesses populares
deve valorizar a escola e estar interessada em métodos de ensino eficazes. Esses
métodos visam estimular a atividade e iniciativa do aluno, com a iniciativa do

4
professor, valorizando o diálogo entre alunos, professor e a cultura acumulada
historicamente.
A proposta que utilizaremos é baseada no trabalho do professor João Luiz
Gasparin (2007), Uma didática para a pedagogia Histórico-Crítica. Esta pedagogia é
constituída palas três fases do método dialético de construção do conhecimento:
PRÁTICA – TEORIA – PRÁTICA. Ela parte do nível de desenvolvimento atual do
aluno, trabalhando na zona de desenvolvimento imediato até chegar a um novo nível
de desenvolvimento. Seguindo os passos propostos por Saviani, a pedagogia
consiste em cinco passos: 1) Prática Social Inicial, 2) Problematização, 3)
Instrumentalização, 4) Catarse e 5) Prática Social Final dos Conteúdos.

2.2.1 Prática Social Inicial


A prática social é apontada por Saviani (2006) como ponto de partida do
processo. Este é o momento de mobilização do aluno para o trabalho, onde se
busca um contato inicial com o tema a ser estudado. Para Gasparin (2007) uma das
formas de motivar o aluno é conhecer a sua prática social imediata a respeito do
tema, pois é um contra-senso ensinar sem partir das necessidades e interesses dos
alunos (CORTELA, 2002).
A ação didática do professor busca fazer a relação do conteúdo com o que
acontece diariamente na vida dos alunos, dando significado ao mesmo. Com isso,
ele mostra aos alunos que o conteúdo que irá ser trabalhado já é conhecido por eles
na prática. Criando assim um “clima de predisposição favorável à aprendizagem”
(GASPARIN, 2007, p. 15).
Gasparin faz aqui uma ressalva: a prática social não é restrita apenas ao
que o aluno sabe como indivíduo, ela deve ser traduzida pela compreensão e
percepção que está presente em todo o grupo social.

2.2.1.1 Procedimentos didático-metodológicos:


O processo didático metodológico aqui apresentado tem como objetivo
provocar a reflexão sobre a prática social, e com isso, instrumentalizar o aluno com
ferramentas para o desenvolvimento de sua autonomia, torna-se imprescindível ao
professor comunicar os alunos da finalidade do processo, isto é, de transformação
da realidade social existente.

5
A omissão desta intencionalidade política por parte da ação docente pode
gerar a crítica sem a ação, levando o processo as mesmas limitações das Teorias
Crítico-Reprodutivistas.
Considerando que toda Prática Social Inicial é sempre uma contextualização
do conteúdo, Gasparin (2007) aponta duas formas de encaminhamento dessa
atividade: a) Anúncio dos conteúdos; b) Vivência cotidiana dos conteúdos.
Assim, poderíamos propor o seguinte encaminhamento para o tratamento do
tema futebol nas aulas de Educação Física, nesta etapa do processo:

a) Anúncio dos conteúdos:

Tema: Futebol e o povo brasileiro


Objetivo Geral: Refletir sobre o futebol e o povo brasileiro, afim de adquirir uma consciência
crítica sobre os sentidos e significados dados ao futebol brasileiro pela sociedade
contemporânea.
Tópicos Objetivos específicos
01) A história (que se conta) Discutir a história de como um esporte restrito a classe
do futebol no Brasil dominante foi popularizado, percebendo como ele foi
reinventado e re-significado pelo povo brasileiro;
02) Elementos estruturais do Reconhecer os elementos estruturais constituintes do jogo de
jogo de futebol futebol, a fim de compreender a lógica formal do jogo;
03) O preconceito e racismo Identificar na história do futebol ações e atitudes
no futebol preconceituosas e racistas em relação aos jogadores negros
e de camadas populares, a fim de perceber nos dias de hoje
ações e atitudes com novas roupagens;
04) Os elementos técnicos Vivenciar os elementos técnicos táticos individuais do futebol,
táticos individuais do jogo a partir de situações jogadas, dando sentido e significado a
esses elementos;
05) O futebol para o povo Descrever a importância do futebol para o povo brasileiro,
brasileiro identificando momentos em que ele passou a ser objeto de
manipulação das classes dominantes;
06) Os meios táticos coletivos Reconhecer as ações táticas coletivas durante o jogo,
do futebol percebendo a importância da colaboração e cooperação entre
os companheiros na dinâmica do jogo;
07) A história do Brasil Reconhecer e valorizar as conquistas e participações do
futebol brasileiro no contexto mundial, resgatando a história e
compreendendo o seu valor para a população brasileira.
08) O futebol como negócio Refletir sobre o futebol fora dos campos, percebendo o uso do
homem na busca do lucro.
09) Os sistemas de jogo e as Identificar os sistemas de jogo mais utilizados no futebol,
posições/funções dos podendo como praticante se situar no contexto e como
jogadores expectador apreciar criticamente uma partida de futebol;
10) A mulher no futebol Observar e questionar a sociedade brasileira e o como ela
reflete seus conceitos e valores no futebol feminino.

b) Vivência cotidiana dos conteúdos


1) O que os alunos já sabem: Algumas perguntas que podem obter
respostas espontâneas dos alunos:
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• O que é o futebol para o povo brasileiro?
• Qual a importância do futebol para o brasileiro?
• O que você conhece sobre o futebol?
− Possíveis respostas: Paixão, alegria, divertimento e
distração, técnica, tática, arte, espetáculo, lazer,
tristeza, brincadeira, malandragem, ginga, esporte
popular, trabalho, raça, negócio, meio para fama e
fortuna, campeonato, copa do mundo, pelada,
orgulho nacional, televisão, sistemas de jogo, regras,
árbitros, estádios, ingressos, clássicos, clubes,
ídolos, etc..

Gasparin (2007) considera esse momento o da contextualização do


conteúdo, onde o professor busca despertar a consciência crítica sobre o tema. Os
assuntos abordados retratam a prática social em seus diversos graus, cabendo ao
professor sistematizar as ligações do conteúdo com a dimensão social que ele
possui.

c) O que os alunos gostariam de saber mais:


Possíveis questões: 1) Por que a escola não faz a formação de atletas de
futebol? 2) Qual a diferença entre o futebol profissional e o amador? 3)
Por que a televisão transmite jogos somente de alguns times? 4) Como é
o treinamento dos times e atletas de futebol? 5) Por que as torcidas
brigam nos estádios de futebol? 6) Por que o futebol masculino tem mais
apoio que o feminino? Entre outras.

As perguntas devem ser anotadas, mas não devem ser respondidas nesse
momento. Elas fazem parte do processo de mobilização e deverão ser respondidas
somente do processo de instrumentalização.
2.2.2 Poblematização
É neste momento que coloca-se ou identifica-se os problemas postos pela
prática social, ou seja, reconhecer quais questões precisam ser resolvidas no âmbito
da prática social, e em conseqüência, que conhecimento é necessário dominar
(SAVIANI, 2006).
7
Para Gasparin (2007) trata-se do elemento-chave na transição entre prática
e teoria, isto é entre o fazer cotidiano e a cultura elaborada. Isto é feito através de
situações-problemas que estimula o raciocínio do aluno. Pode-se considerar que
aqui acontece a desconstrução da totalidade, mostrando ao aluno que o fenômeno
não pode ser visto sem considerar os aspectos sociais, políticos, econômicos,
religioso, entre outros. Importante lembrar que a problematização não acontece em
uma aula, ou numa unidade didática, ela é um processo que deve estar presente por
toda a vida do estudante.

2.2.2.1 Procedimentos didático-metodológicos:


Seguindo a proposta elaborada por Gasparin (2007), nesta fase do processo
tem duas tarefas práticas principais:
a) Identificação da discussão sobre os principais problemas postos pela
prática social e pelo conteúdo. Assim, pode-se propor a discussão em
que se evidenciam aspectos contraditórios presentes na prática social
inicial e no conteúdo:
− Qual a diferença do futebol práticado nas aulas de educação física e do práticado pelos
clubes de futebol profissional?
− Se o futebol é um esporte popular, por que ele já foi proibido para pobres e negros?
− Qual o segredo do brasil para ganhar 5 copas do mundo?
− Por que criamos tantos craques de futebol no Brasil?
− O que é necessário para aprender a técnica e a tática?
− Todos podem aprender a técnica e serem tão habilidosos quanto os grandes jogadores do
futebol brasileiro?
− É correto o time ou jogador conseguir vencer usando elementos contrários a ética e as regras
do jogo, sem que o árbitro perceba?
− Pode-se jogar futebol com homens e mulheres na mesma equipe?
− Todos os jogadores ficam famosos e ricos jogando futebol?
− Por que as mulheres não tem o mesmo reconhecimento que os homens no futebol?
− Por que o brasileiro é apaixonado pelo futebol?
− O que são sistemas de jogo? Para que eles servem?
− Já nascemos sabendo jogar?
− Quem ganha com o negócio futebol?
− Quem são os consumidores desse negócio?
− Quais as utilidades sociais, políticas, econômicas e culturais do futebol para o povo
brasileiro?

b) Dimensões do conteúdo a serem trabalhadas: Faz-se necessário


formular questões mais adequadas, levando-se em conta o que se
pretende alcançar.

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Conteúdos Dimensões Questões Problematizadoras
1. A história (que Histórica, Como o futebol chegou no Brasil?
se conta) do Cultural e O que faz do Brasil o país do Futebol?
futebol no Brasil Política Como o poder utilizou o futebol em diversos momentos
históricos do Brasil?
2. Os elementos Histórica, O que se precisa para jogar futebol?
estruturais do Conceitual, Será que o futebol sempre teve esta estrutura?
jogo de futebol Operacional e O que precisamos ter para organizar um torneio ou
Legal campeonato de futebol?
Por que as regras são necessárias?
3. O preconceito Conceitual, O que é preconceito e racismo?
e rascismo no Histórica e Como erá feita a exclusão de pobres e negros do futebol?
futebol Social Por que se proibiu pobres e negros de jogar futebol?
4. Os elementos Conceitual Como se pode no futebol proteger e/ou tirar a bola do
técnicos táticos Procedimental adversários sem cometer faltas?
individuais do Operacional e Quais as formas de conduzir a bola para o ataque?
jogo. Cultural Por que o brasileiro gosta tanto de driblar?
Como evitar que o atacante progrida com a bola?
Quais as formas de “chutar” a bola para o gol?
5. Os sentidos e Conceitual Por que o brasileiro é apaixonado pelo futebol?
sifnificados do Político e Que tipo de justiça ele encontra no futebol, que não
futebol para o Cultura Popular encontra no seu dia-a-dia?
povo brasileiro Sorte, azar, milagre, estes elementos da cultura popular
existem no futebol?
6. Os meios Conceitual O que pode o ataque/defesa fazer quanto está na situação
táticos coletivos Procedimental de 2X1, 2X2, 3X2, 3X3, etc..
do futebol Operacional e É mais fácil jogar sozinho ou coletivamente?
Cultural Qual a importância da cooperação entre os jogadores no
campo de jogo?
Por que os jogadores brasileiros tem dificuldades em se
adaptar ao futebol coletivo dos clubes europeus?
7. A história do Histórico, Quais os títulos mundiais do futebol brasileiro?
Brasil nas Copas Conceitual e Qais foram os ídolos dos seus pais e avôs no futebol?
Social. Que importância teve e têm estes títulos para o povo
brasileiro?
8. O futebol Conceitual, Por que é necessário a criação de ídolos no futebol?
como negócio Econômico e Todos os jogadores alcançam a fama e o sucesso no
Social futebol? Quem mais ganha com o futebol?
É possivel o pobre alcançar a promoção social através do
futebol?
9. Os sistemas Conceitual Como se distribui os jogadores em campo?
de jogo e as Operacional É importante que cada um saiba quais são suas
posições/funções Procedimental responsabilidades e deveres? Por que?
dos jogadores Social O jogo seria melhor se cada jogador fosse livre para fazer
o que quiser durante o jogo?
10. A mulher no Conceitual, Por que se valoriza mais o futebol masculino do que o
futebol Cultural e feminino? O que é androcrácia e androcêntrismo?
Social Futebol é coisa para homem?
Por que há preconceito quanto a mulher que pratica o
futebol?

2.2.3 Instrumentalização
Saviani (2006) considera a instrumentalização momento de apropriação dos
instrumentos teóricos e práticos necessários para facilitar a resolução dos problemas
detectados na prática social. Gasparin (2007) coloca que todo processo de ensino-
9
aprendizagem neste momento deve explicitamente confrontar os alunos com o
conhecimento sistematizado. “Trata-se da apropriação pelas camadas populares das
ferramentas culturais necessárias a luta social que travam diuturnamente para se
liberar das condições de exploração em que vivem” (SAVIANI, 2006, p. 71).
Nesse momento do processo os alunos e o conteúdo são posto em relação
recíproca com a mediação pedagógica do professor. Gasparin (2007) lembra que
nenhum dos três elementos do processo pedagógio (aluno, conteúdo e professor)
são neutros, todos são de uma forma ou outra condicionados por aspectos
subjetivos, objetivos, culturais, políticos, econômicos, etc.
Masetto (apud GASPARIN, 2007), entende mediação pedagógica como a
atitude, o comportamento do professor se colocando como facilitador, incentivador
ou motivador da aprendizagem, colocando-se como uma ponte entre o aprendiz e a
sua aprendizagem. Neste processo o professor ajuda o aluno a coletar informações,
relacioná-las, organizá-las, manipulá-las, discuti-las, debatê-las, com os outros, até
produzir um conhecimento significativo para ele.
Resumindo, “A instrumentalização é o caminho pelo qual o conteúdo
sistematizado é posto à disposição dos alunos para que o assimilem e o recriem e,
ao incorporá-lo, transformem-no em instrumento de construção pessoal e
profissional” (GASPARIN, 2007, p. 53).

2.2.3.1 Procedimentos didático-metodológicos:


Segundo Vasconcelos (1993) para a construção do conhecimento do aluno o
professor deve possibilitar o confronto entre o conhecimento do aluno com o
conhecimento científico, permitindo ao aluno penetrar no objeto de estudo e
compreender as suas relações internas e externas, captando-lhe a essência. Assim,
conhecer para o autor é estabelecer relações. Quanto mais ambrangentes e
complexas forem estas relações, melhor será o conhecimento do aluno sobre o
objeto de estudo.
Podemos então, apresentar a seguinte proposta para o processo de
construção do conhecimento na fase de instrumentalização para o tema futebol nas
aulas de educação física, seguindo os procedimentos indicados por Gasparin
(2007):

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Objetivos específicos Conteúdos Dimensões Ações Recursos
Discutir a história de como um esporte restrito a A história (que se Histórica, Exposição oral do 1) Livro: PARANÁ. Educação
classe dominante foi popularizado, percebendo como conta) do futebol Cultural e professor; Física. Curitiba : SEED-PR, 2006.
ele foi reinventado e re-significado pelo povo no Brasil. Política. Pesquisa Bibliográfica; 2) Folhas: ZIOLI, Osni. Por que o
brasileiro. Prática de formas brasileiro é apaixonado pelo
alternativas de jogar futebol? 2007.
futebol (adaptações e 3) Laboratório de Informática:
improvisações possíveis Internet.
de locais e materiais para 4) Material e locais diversos para
praticar o jogo). improvisação da prática do futebol.
Reconhecer os elementos estruturais constituintes Os elementos Histórica, Exposição oral do 1) Folhas: ZIOLI, Osni. Por que o
do jogo de futebol, a fim de compreender a lógica estruturais do Conceitual, professor; brasileiro é apaixonado pelo
formal do jogo. jogo de futebol. Operacional e Pesquisa Bibliográfica; futebol? 2007.
Legal. Resolução de Problemas; 2) Laboratório de Informática:
Observação de um jogo; Internet.
3) Material e locais diversos para a
prática do futebol.
Identificar na história do futebol ações e atitudes O preconceito e Conceitual, Exposição oral do 1) Livro: PARANÁ. Educação
preconceituosas e racistas em relação aos jogadores rascismo no Histórica e professor; Física. Curitiba : SEED-PR, 2006.
negros e de camadas populares, a fim de perceber futebol. Social. Pesquisa Bibliográfica; 2) Folhas: ZIOLI, Osni. Por que o
nos dias de hoje as mesmas ações e atitudes com Debate sobre preconceito brasileiro é apaixonado pelo
novas roupagens. e rascismo. futebol? 2007.
3) Laboratório de Informática:
Internet.
Vivenciar os elementos técnicos táticos individuais Os elementos Conceitual, Exposição oral do 1) Folhas: ZIOLI, Osni. Por que o
do futebol, a partir de situações jogadas, dando técnicos táticos Procedimental, professor; brasileiro é apaixonado pelo
sentido e significado a esses elementos. individuais do Operacional e Resolução de problemas; futebol? 2007.
jogo. Cultural. Apresentação das 2) Laboratório de Informática:
experiências dos alunos; Internet.
Observação de jogos. 3) Material e locais diversos para a
prática do futebol.
Descrever a importância do futebol para o povo Os sentidos e Conceitual, Exposição oral do 1) Livro: PARANÁ. Educação
brasileiro, identificando momentos em que ele sifnificados do Político e professor; Física. Curitiba : SEED-PR, 2006.
passou a ser objeto de manipulação das classes futebol para o Cultura Pesquisa Bibliográfica; 2) Folhas: ZIOLI, Osni. Por que o
dominantes. povo brasileiro. Popular. Debate sobre Poder e brasileiro é apaixonado pelo
Futebol. futebol? 2007.

11
Reconhecer as ações táticas coletivas durante o Os meios táticos Conceitual, Exposição oral do 1) Folhas: ZIOLI, Osni. Por que o
jogo, percebendo a importância da colaboração e coletivos do Procedimental professor; brasileiro é apaixonado pelo
cooperação entre os companheiros na dinâmica do futebol. e Operacional. Resolução de problemas; futebol? 2007.
jogo. Apresentação das 2) Laboratório de Informática:
experiências dos alunos; Internet.
Observação de jogos. 3) Material e locais diversos para a
prática do futebol.
Reconhecer e valorizar as conquistas e participações A história do Histórico, Exposição oral do Livros, revistas, filmes, entrevistas,
do futebol brasileiro no contexto mundial, resgatando Brasil nas Copas. Conceitual e professor; internet, outros.
a história e compreendendo o seu valor para a Social. Pesquisa Bibliográfica;
população brasileira. Entrevistas.
Refletir sobre o futebol fora dos campos, percebendo O futebol como Conceitual, Exposição oral do 1) Livro: PARANÁ. Educação
o uso do homem na busca do lucro. negócio. Econômico e professor; Física. Curitiba : SEED-PR, 2006.
Social. Pesquisa Bibliográfica; 2) Folhas: ZIOLI, Osni. Por que o
Debates. brasileiro é apaixonado pelo
futebol? 2007.
Identificar os sistemas de jogo mais utilizados no Os sistemas de Conceitual, Exposição oral do 1) Folhas: ZIOLI, Osni. Por que o
futebol, podendo como praticante se situar no jogo e as Operacional, professor; brasileiro é apaixonado pelo
contexto e como expectador apreciar criticamente posições/funções Procedimental Resolução de problemas; futebol? 2007.
uma partida de futebol. dos jogadores. e Social. Apresentação das 2) Laboratório de Informática:
experiências dos alunos; Internet.
Observação de jogos. 3) Material e locais diversos para a
prática do futebol.
Observar e questionar a sociedade brasileira e como A mulher no Conceitual, Debate sobre as 1) Folhas: ZIOLI, Osni. Por que o
ela reflete seus conceitos e valores no futebol futebol. Cultural e diferenças entre os sexos brasileiro é apaixonado pelo
feminino. Social. e as possibilidades de futebol? 2007.
alterações nas regras do 2) Quadra, bola, premiação, etc..
jogo;
Organização de
competição de futebol
misto com as regras
adptadas.

12
2.2.4 Catarse
O quarto passo dessa prática pedagógica é chamado de catarse por Saviani
(2006). O termo catarse deve ser acolhido na acepção gramsciana, ou seja, no
sentido filosófico. Neste caso a catarse seria uma reconstrução do que já esta
construído. Ghiraldelli Junior (2005) traduz esse processo utilizando a terminologia
marxista da seguinte forma: o conhecimento reconstruído da catarse é um
conhecimento purificado, não ideológico, ele além de ser um conhecimento do
funcionamento das estruturas, é também o conhecimento de como são as estruturas
que determinam a superestruturas.

Assim, um estudante pode aprender, mas pode aprender assuntos


ideologizados, falsos, todavia se ele aprender em cartase, ele o fará através
de uma purificação do pensamento, e aí, estará de fato munido de um
conhecimento capaz de levá-lo a intervir melhor na prática social em
benefício de seus interesses que, no caso do marxismo, não serão, após a
catarse, quaisquer interesses, mas os interesses históricos da classe social
que pertence o estudante (GHIRALDELLI JR. 2005, p. 215).

Se na instrumentalização a análise é uma das operações mentais básicas


para a construção do conhecimento, na catarse a operação fundamental é a síntese
(GASPARIN, 2007). Depois de incorporados os conteúdos e o seu processo de
construção, é chegado o momento onde o aluno é solicitado a mostrar o quanto se
aproximou da solução dos problemas levantados nas duas primeiras etapas do
processo.
O aluno pode demonstrar o que aprendeu dos conteúdos trabalhados
respondendo de forma conceitual questões elaboradas pelo professor. Ou seja, é o
momento de avaliação. Entretanto, ela também pode ser informal, com a observação
do professor da mudança de atitudes e procedimentos do aluno diante da prática e
da reflexão do conteúdo estudado nas aulas de educação física.

2.2.4.1 Procedimentos didático-metodológicos:


A demonstração do que o aluno aprendeu, não pode ser somente conceitual,
ela deve também manifestar-se em seu modo de proceder e agir, que segundo
Gasparin “deve ser muito diverso daquele expresso na Prática Social Inicial do
conteúdo” (2007, p. 135).
É importante o professor ter consciência que a concepção de educação
física aqui utilizada busca fazer a leitura da realidade através do questionamento dos

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conteúdos curriculares (cultura corporal) e assim, transformar a realidade social, e
que isso não pode não acontecer bruscamente, ou seja, ela é um processo, que
perpassa pela aula, pela escola, pela família e pela sociedade. Ela não tem duração
estipulada ou prazo de validade, o importante é que o aluno adquira instrumentos e
ferramentas para desconstruir a realidade que se apresenta como natural.
Gasparin (2007) compara esse momento como um grito de gol, isto é, houve
avanços e progressos para que ele aconteça durante a partida. Mas, ele é fruto de
um processo que começou muito antes da partida, e certamente esta longe de
terminar. Mesmo que o aluno vença a partida, tem ainda todo o campeonato para
disputar. Assim, esta fase possui dois momentos, a saber:

1º) Elaboração da nova síntese


O aluno deverá elaborar mentalmente a sua síntese do conteúdo, sendo
capaz de articular o tema nas diversas dimensões em que ele foi trabalhado. Ele
deve apresentar uma reformulação que permita comparar o que ele aprendeu,
comparando com a Prática Social Inicial.

2º) Expressão prática da nova síntese


Momento da avaliação que traduz o crescimento do aluno, onde será
observado como ele se apropriou do conteúdo e resolveu as questões propostas,
como ele passou da síncrese à síntese. Este não deve ser entendido como
conhecimento para realização de uma prova ou teste e sim como “conhecimento que
se tornou um novo instrumento de compreensão da realidade e de transformação
social” (GASPARIN, 2007, p. 138).
Neste caso podemos apresentar como síntese mental desejada do aluno a
seguinte leitura da realidade:
O futebol é um dos mais importantes elementos da cultura popular brasileira.
Mais que um esporte, mais que uma paixão, ele é considerado uma instituição
nacional, assumindo função de identidade cultural dos brasileiros. Ele pode como
campo de estudo retratar a sociedade brasileira (cultural e científica).
Da sua origem elitista e “nobre” no Brasil até a sua reinvenção pelo povo
brasileiro. Esporte importado da Inglaterra como interesse de lazer da classe
dominante, ele se popularizou e ganhou novas formas e significados. O pobre o

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negro, perceberam no futebol, mais que um interesse de lazer, era a possibilidade
de superar uma elite que era minoria mais dominante. De sentir um pouco da justiça
que não tinham no dia-a-dia, pois a princípio as regras são iguais para todos
(Histórica e social).
O futebol tornou-se um grande negócio, movimentando bilhões de dólares
anualmente. E como todo negócio na sociedade capitalista, ele visa o lucro e a
grande mercadoria deste negócio são os jogadores de futebol. Muitas vezes tratados
como tal literalmente (Econômica e ética).
A expressão prática desta nova síntese pode ser fomentada através de
questões que atendam as diversas dimensões estudadas nas etapas anteriores do
processo. Outra possibilidade e mais rica para a educação física é a de criar
momentos onde os alunos expressem a nova síntese de modo textual, verbal e
principalmente de procedimentos e atitudes.
Assim, além da promoção de avaliações, seminários, debates, produção de
textos, deve-se dar autonomia para que eles promovam eventos relacionados ao
futebol, visando superar as questões levantadas. Como por exemplo, o futebol
separado por sexo, ou seja, como eles podem resolver na prática esta questão?
Mais do que um simples jogo envolvendo meninos e meninas na aula de
educação física, quando discutido e refletido conjuntamente, apresenta soluções
interessantes para a aceitação do outro, no jogo. Aceitação, que requer as
premissas de não exclusão, e principalmente participação ativa com eqüidade das
meninas.

2.2.5 Prática Social final do conteúdo


É o ponto de chegada sendo caracterizada pela transposição do teórico para
o prático. Ou seja, a situação do aluno no interior da prática social alterou-se
qualitativamente. Não se trata somente de passar a realizar ações como jogar
futebol misto, ou alterar todas as regras permitindo que toda a turma jogue ao
mesmo tempo. Mas, apresentar uma nova maneira de pensar, de entender e julgar
os fatos, as idéias. Para Gasparin (2003) trata-se de uma nova ação mental/prática.
Seguindo este princípio pode-se presumir que o aluno terá suas intenções
de ações com base no estudo realizado. Ou seja, que eles adquiram a capacidade
de ação, mais do que atuar, protagonizar nos diversos segmentos da sociedade de

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forma responsável, comprometido com os ideais democráticos e capazes de
participar racionalmente de um processo de mudança social.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Educação Física Escolar concebida como parte do projeto geral de
escolarização e em decorrência disto articulada ao projeto político-pedagógico da
escola (DCE’s, 2006), deve estar focada nas metas da educação, ou seja, “o pleno
desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho” (BRASIL, 2006). Entendendo cidadania como o
indivíduo que desempenha deveres e usufrui de direitos, que lhe possibilitam
interferir ativamente no meio social em que vive.
Assim, passam as aulas de Educação Física a terem objetivos mais amplos,
combatendo a mera instrumentalização, e conseqüentemente a visão fragmentada
do homem. Estes objetivos, sintetizados em: Participação; Autonomia e Reflexão
Crítica sobre a prática social existente são focados e oportunizados no que aqui
chamamos de desconstrução dos temas da Educação Física, com o intuito de
superar as visões baseadas “nas lógicas instrumental, anátomo-funcional e
esportivizada, provenientes de outras matrizes teórico-metodológicas, sobretudo, do
modelo positivista, originário das ciências da natureza” (PARANÁ, 2006).
Como lembra Kosik (2002) “o complexo dos fenômenos que povoam o
ambiente cotidiano e a atmosfera comum a vida humana, com a sua regularidade,
imediatismo e evidência, penetram na consciência dos indivíduos” apresentando-se
como um aspecto natural e independente. O que o autor chama de
pseudoconcreticidade. Isso pode ser facilmente constatado no fenômeno esporte,
um dos temas mais comuns nas aulas de Educação Física.
Assim, a pergunta que se buscou responder nesse ensaio é: Como a prática
docente pode oportunizar ao aluno a compreensão da “coisa em si”, para além do
claro-escuro e verdade e engano da pseudoconcreticidade apontada por Kosik. A
desconstrução nos pareceu o melhor caminho para entender a
pseudoconcreticidade da realidade e a sua destruição. Entretanto, a idéia não é
propor um novo conceito tentando negar o conceito original.
Propor a reflexão sobre a realidade existente significa “fazer não só um certo
esforço, mas também um détour (KOSIK, 2002), ou seja, ir as origens, conhecer

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seus determinantes, ora se aproximando, ora se distanciando do fenômeno. Para
iniciar esta caminhada nada mais apropriado que a prática social existente.
Como exposto acima, e sem negar os conteúdos da Educação Física,
estamos buscando mecanismos, estratégias, normas e valores de interação social,
que perpassam o conhecimento disciplinar e possam ser úteis como tal, por toda a
vida dos nossos alunos.

REFERENCIAS
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pedagógica. 2ª ed. Campinas : Autores Associados, 2005.
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física da escola: a educação física como componente curricular. Campinas :
Autores Associados, 2005.
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Janeiro: DP&A, 2006.
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epistemológicos e políticos. 6a ed. Edição: Instituto Paulo Freire. São Paulo: Cortez,
2002.
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na escola: implicações para a prática pedagógica. Rio de Janeiro: Guanabara
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GASPARIN, João Luiz. Uma didática para a pedagogia histórico-crítica.
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LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da escola pública: a pedagógia crítica-
social dos conteúdos. 21a ed. . Campinas: Edições Loyola, 1998.
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PARANÁ. Diretrizes curriculares de educação física para a educação básica:
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SAVIANI, Dermeval. Educação: do senso comum à consciência filosófica.
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aula. São Paulo : Editora Salesiana Dom Bosco, 1993. (Cadernos pedagógicos do
libertad, 2).

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