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Corpo,Movimento e Psicomotricidade – UN-1 /P.

Corpo, Movimento e Psicomotricidade - UNIDADE 1


Corpo,Movimento e Psicomotricidade UN- 1 / P. 2

Introdução
Nesta unidade, vamos conversar a respeito do corpo e do movimento na edu-
cação. Antes mesmo de direcionarmos nossas aulas aos conceitos de Psicomotrici-
dade e seus elementos, precisamos ter uma visão do que se conhece sobre o corpo
e o movimento corporal.

Como educadores, deveremos ter uma visão mais científica, mais aprofundada, pois
vamos trabalhar esses sentidos e funções em um ser humano em formação.

Assim sendo, veremos neste momento a importância do corpo e do movimento e


suas implicações no desenvolvimento humano.

O Corpo e o Desenvolvimento Humano


Qual a importância do corpo no desenvolvimento da criança?
No corpo estão inscritas todas as regras, todas as normas e todos os valores
de uma sociedade específica, por ser ele o meio de contacto primário do
indivíduo com o ambiente que o cerca. (DAÓLIO, 2003, p. 39)

Daólio indica-nos, na citação anterior, que nosso corpo é o construtor e, ao mesmo


tempo, é construído pela sociedade em que vive. Entender o corpo como a nossa
representação no mundo e que a partir dele construímos nossa história, permite-nos
ter uma visão da sua importância no desenvolvimento humano.

É importante entendermos que o desenvolvimento humano ocorre pela aquisição


ou aprendizagem de tudo aquilo que o indivíduo construiu ao longo da história da
humanidade. Assim, isso acontece na aquisição e interação com o seu meio – família,
escola, crenças, costumes, entre outros aspectos – mas também se estabelece pela
congruência desses estímulos externos com toda a nossa complexidade interna.São
aspectos do desenvolvimento motor, cognitivo, afetivo e social somados à com-
plexidade biológica, morfológica, emocional, física, muscular e com o nosso meio
ambiente. Portanto, tudo isso pode ser observado em cada sujeito pela sua repre-
sentação corporal.

Nesse sentido, conhecer como o corpo se desenvolve é de grande importância para


a formação docente, afinal, nossas ações pedagógicas são pautadas nas neces- sidades
de cada fase de uma criança.

Desta forma, é necessário, primeiro, ter uma visão histórica de como cada socie-
dade e cultura, ao longo do tempo e em seu próprio espaço, construiu e representou
o corpo humano, atribuindo-lhe certos atributos, negando outros e criando padrões
referenciais de beleza, saúde, postura etc. Nem sempre nosso corpo foi considerado
importante e demorou muito para a educação entender a necessidade de conhecer
o desenvolvimento corporal para propor suas ações.
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Nota-se que, conforme a evolução histórica do pensamento e do discurso humano,


as mudanças corporais foram acontecendo, sendo aceitas, de forma que as novas con-
cepções serviram de base para a próxima mudança.

Vamos conhecer uma visão de como o corpo foi visto na história do homem.

Figura 1 – Homem Vitruviano (1490),


desenho de Leonardo da Vinci
Fonte: Getty Images

O método cartesiano, desenvolvido a partir de século XVII pelo filósofo René


Descartes, influenciou todo desenvolvimento científico e a nossa visão de corpo.
Nessa perspectiva, o conceito de dualidade corpo-mente compara o corpo a uma
máquina e a mente como objeto intelectual de estudo (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009).

A cisão corpo-mente governa e serve como fundamento lógico para o tratamento


do ser humano como se ele fosse formado por peças separadas a serem exploradas
por diferentes grupos de interesse. Com essa fragmentação perde-se a visão da intei-
reza, do conjunto e de suas interconexões. Essa visão foi muito importante para sua
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época, mas contribuiu para um olhar no qual o corpo não tem grande importância
no desenvolvimento humano.

Essa visão predominou por muito tempo e gerou grande impacto em como obser-
vamos o corpo na educação e no ambiente escolar.

Entender o corpo como a nossa representação no mundo, nos faz observar a sua
importância no desenvolvimento e na apresendizagem de uma criança.

O Corpo e a Cultura Corporal


O ser humano é um ser complexo, e essa complexidade se deve a riqueza de
informações que precisamos conhecer para um desenvolvimento integral e para a
interação com o meio.

Agora já aprendemos que o corpo, em contato com os estímulos do ambiente,


registra e responde a diferentes informações que formam seu repertório de conhe-
cimento, e, tudo isso pode variar de criança para criança, de acordo com a cultura
na qual ela está inserida. Assim, vamos entender como cada corpo constrói sua cultua
corporal.

O documentarista francês Thomas Balmès realizou uma filmagem com duração


de um ano. Balmés observou quatro crianças de países diferentes, buscando mostrar
que as diferenças culturais influenciavam no desenvolvimento infantil, desde o nasci-
mento até os primeiros passos. Os países escolhidos para criação do documentário
“Bebês” foram: Namíbia, Mongólia, Japão e Estados Unidos.

Nesta direção, podemos afirmar que cada corpo tem seu desenvolvimento vincu-
lado a cultura em que está inserido. Desse modo, a cultura corporal, como vamos
chamar nessa perspectiva, tem relação com conceitos de teóricos da Pedagogia.

O pesquisador Lev Semenovitch Vigotski, importante psicólogo russo, revolucio-


nou o pensamento de sua época quando apresentou sua particular compreensão do
desenvolvimento humano na perspectiva histórico-cultural.

Vigotski buscou compreender o desenvolvimento humano e principalmente o fun-


cionamento cognitivo de cada indivíduo enquanto parte da sua realidade histórico-
cultural específica. Para o autor, o desenvolvimento do sujeito é um processo cons-
truído nas e pelas interações que estabelece no contexto histórico e cultural em
que está inserido (seu ambiente). E por meio destas relações sociais, estabelecidas
e vivenciadas pela criança na cultura a que pertence, é que se apropria do conheci-
mento produzido (gestos corporais, linguagens, costumes, crenças , juízo de moral
etc.), conhecimento esse produzido pelas gerações precedentes, condição funda-
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mental de desenvolvimento das funções tipicamente humanas, ou seja, as chamadas


funções superiores (BRANDOLISE, 2018).

O corpo é a representação do desenvolvimento humano. Desse modo, podemos


considerar que o desenvolvimento de uma criança pode ser observado pela perspectiva
cultural, pela progressão de mudanças corporais, ou pelo desenvolvimento cognitivo?

A resposta é tão complexa quanto a pergunta, pois o desenvolvimento de uma


criança deve ser analisado por diferentes perspectivas, podendo hoje compreender
todo esse conhecimento por diferentes conceitos teóricos.

Utilizaremos o conceito de desenvolvimento integral para compreender as di-


ferentes dimensões que atuam no desenvolvimento de um ser humano (RIBEIRO,
2015). Assim, as dimensões motora, cognitiva e afetiva/social são consideradas
as principais. Todas as dimensões se interpenetram, por exemplo, um corpo li- mitado
na sua expressão ou com dificuldades nas relações sociais compromete e impacta
diretamente nos processos cognitivos. Dessa forma, apesar de esta disciplina tratar o
desenvolvimento do corpo, nossa referência sempre será pau- tada no
desenvolvimento integral do corpo, e, em cada área do desenvolvimento, podemos
verificar as influências da genética, da maturação, da aprendizagem e do meio
ambiente em geral.

Mas, afinal, qual a importância de saber todas essas informações para sua formação?

A Importância do Corpo e do
Movimento na Educação
Quando planejamos nossas ações pedagógicas, devemos conhecer quem é nosso
aluno, em qual fase de desenvolvimento ele se encontra, e o que desejamos despertar
no seu desenlvolvimento, assim como conhecer o que se espera de uma resposta de
uma criança exige conhecimento sobre as fases de desenvolvimento.

O desenvolvimento humano acontece de forma integral, levando em consideração


as dimensões motora, cognitiva e afetivo/social. Todo o desenvolvimento acontece
pelo nosso corpo e é expressado pelo nosso movimento.

Os movimentos são considerados importantes na vida do ser humano, tanto nos


aspectos biológicos, quanto nos psicológicos e sociais, tornando-se essenciais para o
desenvolvimento humano.
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Nós produzimos movimentos desde o nascimento e é a partir daí que começamos


a interagir melhor com o mundo e ter um maior controle sobre o nosso corpo. E com
as crianças, não é nada diferente.

Os bebês engatinham, correm, caminham e colocam o derredor como o seu


mundo, sempre experimentando o novo, o desconhecido e surpreendendo com sua
maneira de encarar o próprio corpo, as limitações e, sobretudo, com a inventividade.
O movimento para um bebê/criança não tem limite.

Quando as crianças estão brincando também estão exprimindo sentimentos,


emoções e uma maneira de pensar e agir. Cabe ao educador observar e aumentar o
repertório de verbalização e linguagens.

Sendo assim, o movimento é muito mais do que o simples fato de se lomover em


um espaço, porque quando se movimentam eles atuam sobre o meio físico e humano,
modificando-o. Quando uma criança se movimenta, ela não apenas se desloca, ela
mobiliza pessoas no tempo e no espaço e intenciona uma interação com outras pes-
soas e com o mundo que a rodeia.

O modo como andamos, saltamos, praticamos esportes, constitui o resultado da


nossa interação com o meio físico e social. Todos esses movimentos constituem o
produto das nossas necessidades e interesses, em diferentes épocas e em diferentes
culturas. Vamos lembrar-nos do conceito de cultura corporal, campo da cultura que
abrange e expressa as práticas expressivas de comunicação, que se manifestam por
meio de movimentos.

Em diferentes épocas e diferentes culturas foram surgindo movimentos/expressões


comporais que deram origem à dança, aos jogos, brincadeiras e esportes que tinham
por finalidade última a interação/integração social de determinados grupos. Esses
comportamentos e movimentos tinham e têm intencionalidade.

Quando as crianças brincam, elas criam movimentos e ritmos próprios de sua


cultura e apropriam-se desses, aprofundando a cultura e tornando o seu meio mais
rico culturalmente.

Toda e qualquer instituição de educação infantil deve favorecer um ambiente seguro


e socialmente agradável, para que as crianças, ao se sentirem protegidas e estimuladas,
visualizem sinestesicamente, arrisquem-se e promovam desafios sob a tutela do edu-
cador. Se esse ambiente for pobre, pequena será sua manifestação, se for rico e propi-
ciar desafios, grande será sua atuação e ampliação cultural.

O trabalho com movimento é essencial para a criança desenvolver de forma inte-


gral. Quando posteriormente apresentarmos os conceitos de psicomotricidade, você
vai entender melhor como o movimento é importante, pois possibilita manifestações
motoras, sensoriais e psíquicas que irão proporcionar à criança o desenvolvimento
de suas potencialidades.

A cultura do movimento é essencial para o desenvolvimento da psicomotricidade


e quanto mais rica for, maior será a produção intelectual da criança.
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Os movimentos corporais da criança expressam desejos de comunicação, afetivi-


dade e interação com o ambiente que a rodeia. Essas possibilidades a fazem crescer
culturalmente e a levam a ações intecionais cada vez mais complexas.

Veremos que a psicomotricidade, antes relegada ao estudo do desenvolvimento mo-


tor com relevância para sua coordenação, tem nos dias atuais uma maior amplitude.

As diversas práticas pedagógicas que nos tempos atuais marcam a educação refle-
tem diversas concepções em relação ao sentido que se deve dar ao movimento nas
creches, pré-escolas, escolas e outras instituições afins.

É muito comum confundir movimentação com indisciplina. Com o intuito de se


assegurar ordem, progresso, relações harmoniosas e uma atmosfera civilizada, pro-
cura-se simplesmente suprimir a ideia de movimento, cria-se um ambiente rígido nas
posturas para as crianças de diferentes idades.

Diante dessas assertivas, tão comuns nas escolas e no pensamento de alguns


educadores, poderemos concluir que a educação e movimento não se coadunam.
É imperioso dizer que não se poder movimentar ou gesticular é o que impede o pensa-
mento e a manutenção da atenção, tão necessários à aprendizagem.

Nesta direção, é importante entender que quando falamos de corpo, de mo-


vimento, falamos de desenvolvimento humano, ou mais especificamente do
desenvolvimento infantil, sobre o qual estamos nos referindo para assim plane-jar
e refletir sobre as nossas ações. Pois na escola, as nossas ações devem ter intenções e
finalidades que levem em consideração a fase de desenvolvimento das crianças.

O desenvolvimento humano se dá pela aquisição ou aprendizagem de tudo aquilo


que o ser humano construiu ao longo da história da humanidade, da aquisição e da
interação com o seu meio (família, escola, crenças, costumes, dentre outros aspectos),
mas esse desenvolvimento também se estabelece pela congruência destes estímulos
externos com toda a nossa complexidade interna.

É na primeira infância, fase que vai dos zero aos seis anos de idade, que as crian-
ças desenvolvem suas estruturas e circuitos cerebrais e adquirem capacidades que
permitem a elas avançar com habilidades futuras.

Segundo a publicação “O Impacto do Desenvolvimento na Primeira Infância so- bre


a Aprendizagem“, do Núcleo Ciência pela Infância, as crianças com desenvolvi- mento
integral saudável, durante os primeiros anos de vida, têm maior facilidade de se
adaptarem a diferentes ambientes e de adquirirem novos conhecimentos, contri-
buindo para que posteriormente obtenham um bom desempenho escolar, alcancem
realização pessoal, vocacional e econômica e se tornem cidadãos responsáveis.

O desenvolvimento de uma criança é influenciado pelo meio onde a criança vive


e interage e também pelos relacionamentos afetivos estabelecidos.
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Figura 2 – O Começo da Vida (2016)


Fonte: Divulgação

O ser humano é um organismo complexo, que possui corpo e cérebro atuando


conjuntamente, e o educador deve ter uma visão holística, uma visão sistêmicapara
compreendê-lo.
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A mente humana conjuga o corpo e o cérebro, daí resultando a sua integração e


a interação, constituídos pelo contexto onde ela se insere.

O corpo e a motricidade do ser humano não podem continuar restritos ao bioló-


gico, ao fisiológico, não havendo paralelismo, psicológico e fisiológico separados. O
ser humano tem ação e intenção.

As concepções sobre o desenvolvimento humano têm sido compreendidas a partir


de variadas perspectivas e sob olhares tanto das ciências naturais e biológicasquanto
das ciências humanas e sociais. Vários autores influenciaram as compreen- sões do
desenvolvimento humano ao longo do século XX, como Skinner, Piaget, Vygotski,
Wallon, Galluhue, Freud, entre outros podem nos ajudar a compreender como uma
criança se desenvolve. Hoje, áreas como a Neurociência trouxeram mais informações
para esse processo de desenvolvimento integral – cognição, afetividadee dimensão
motora.

A Neurociência e o
Desenvolvimento da Criança
O termo neurociência se difunde como um conceito transdisciplinar ao reunir
diversas áreas de conhecimento no estudo do cérebro humano. A neurociência se
constitui como a ciência do cérebro.

O que chamamos comumente de mente é um grupo de funções desempenhadas


pelo cérebro. As ações cerebrais estão ligadas à toda complexidade humana, aos
comportamentos, e não apenas a comportamentos motores relativamente simples,
como andar e comer, mas a todas as complexas ações cognitivas que associamos
ao comportamento de todo ser humano, como pensar, falar, criar estratégias, entre
outras. A Ciência Neural hoje pode fornecer explicações da atividade cerebral que
podem contribuir para entendermos como a criança desenvolve suas dimensões.

A Neurociência pode explicar os caminhos pelos quais milhões de células indivi-


duais, no cérebro humano, atuam para produzir todo o desenvolvimento e apren-
dizagem da criança, e como tudo isso acontece pelas influências do ambiente e das
relações com outras pessoas.
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O professor de Pediatria e Neurologia da Universidade de Chicago, Peter


Huttenlocher, descobriu que, após o nascimento, o cérebro de uma bebê constrói inú-
meras conexões ou sinapses, mais do que este irá necessitar. O excesso de conexões
garante ao recém-nascido receber as informações de qualquer meio ambiente. Isso
quer dizer que dentro de um desenvolvimento normal, as crianças têm um grande
potencial para receber estímulos (MORALES, 2005).

Os estudos de Huttenlocher demonstram que os três primeiros anos de vida são as


fases mais críticas para as crianças estabelecerem novas sinapses, e que o ápiceou
pico dessa explosão de sinapses é aos seis anos, quando o cérebro começa a eli- minar
aquelas conexões que não são usadas.

O cérebro humano é um órgão complexo, parcialmente desvendado pela ciência,


formado por células nervosas (ou neurônios) e células gliais (células que proporcionam
suporte e nutrição aos neurônios). As primeiras são responsáveis pela motricidade,
consciência e sensibilidade, enquanto as gliais sustentam e mantêm vivos os neurônios.

Figura 3 – Desenvolvimento do cérebro de uma criança


Fonte: Adaptado de National Institute of Enviromental Halth Sciences

Imagem exibida pelo pesquisador Giorgio Tamburlini, do Centro per la Salute


del Bambino, de Trieste, na Itália, na abertura da III Mostra Internacional das
Semanas do Bebê, realizada em 2016, em Recife, pelo Unicef. A imagem
mostra a quantidade de sinapses neurais em cada uma das fases do desenvol-
vimento da criança.

As atividades dos neurônios se adaptam e se modificam à medida em que intera-


gem com o meio ambiente, sendo que os nossos cinco sentidos (tato, gustação, visão,
olfato e audição) constituem o elo de comunicação. São as nossas experiências ou os
estímulos recebidos os principais responsáveis pelas constantes trocas de adaptações
e modificações, a cada novo estímulo aprendido, novas conexões neurais são acres-
centadas (MORALES, 2005).
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O termo plasticidade cerebral também foi apresentado pela Neurociência. O con-


ceito de plasticidade cerebral considera que o sistema nervoso tem a capacidade de
modificar-se ou ajustar-se frente às influências ambientais.

Diante desta breve apresentação da Neurociência, a pergunta que surge é:

Os profissionais que trabalham na Educação devem estar sempre atualizados com


as pesquisas relacionadas ao desenvolvimento humano, pois, de longa data os autores
relacionados à área da Educação consideram as características do desenvolvimento
humano um conhecimento importante para compreender o homem, seu desenvolvi-
mento e como acontece a aprendizagem.

Ao longo desta unidade, identificamos a importância do corpo e do movimento para


essas relações – sujeito, ambiente, desenvolvimento, aprendizagem, cultura e, talvez
o mais importante, liberdade e autonomia. Entender o funcionamento do sistema
nervoso nos permite entender como o desenvolvimento do corpo acontece na sua
integridade. Assim, atualmente, a educação trabalha com o termo Neuroeducação.

A Neuroeducação pode ser definida como uma área de abordagem que trata da
junção dos conhecimentos da Neurociência, da Educação e da Psicologia. Um dos
impactos da Neuroeducação na vida de uma criança é que, em função dos progressos
oferecidos por essa ciência, muitos indivíduos conseguem conquistar a autonomia.
Um dos exemplos mais interessantes é presenciarmos pessoas que convivem com
algum transtorno ou síndrome e que vivem normalmente, trabalhando, estudando e
exercendo sua autonomia.

Considerando o aspecto neuroeducacional, a psicomotricidade ganha uma dimen-


são inegável pelo fato de sua atuação provir do sistema nervoso central. Ele é respon-
sável pela criação de uma consciência no indivíduo acerca dos movimentos que realiza,
por meio de parâmetros como a velocidade, o tempo, o espaço e a percepção própria
da pessoa.

A pesquisadora Marta Kohl de Oliveira, doutora em Psicologia da Educação pela


School of Education of Stanford University (California, EUA) e autora de vários
livros com grande suporte teórico das pesquisas de Vygotsky, diz ser possível esta-
belecer nexo entre a plasticidade cerebral e a teoria histórico-cultural de Vygotsky.
Para Oliveira (1992), a ligação da estrutura biologicamente dada com o papel essen-
cial atribuído aos processos históricos na constituição do ser humano se dá por uma
característica de toda espécie, que seria a plasticidade do cérebro, a capacidade de
cada ser humano se ajustar. O cérebro é um sistema aberto que pode servir a dife-
rentes funções (que podem ser específicas de um momento ou de um lugar cultural).

No cérebro humano existem aproximadamente cem bilhões de neurônios e cada um


desses pode se conectar a milhares de outros, fazendo com que os sinais de informação
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fluam e formem novas conexões neurais ou sinapses. Essa atividade neural pode ser
fortalecida, ou não, dependendo dos estímulos do ambiente. A aprendizagem e o desen-
volvimento estão estreitamente relacionados, assim, se faz necessário que, para propor-
cionarmos uma intervenção pedagógica de qualidade, busquemos ter conhecimento
das bases de desenvolvimento da criança.

Agora que você entendeu que o corpo é a nossa representação no mundo para viver
e registrar nossas experiências, precisamos discutir um pouco sobre a temática do desen-
volvimento humano, suas fases, expectativas de respostas e como podemos atuar.

A ciência da Psicomotricidade vai ser a nossa grande ferramenta para pensar nos
melhores estímulos e verificar possíveis transtornos no desenvolvimento de uma criança.

Finalizaremos a unidade com um fragmento do texto de Merleau-Ponty, impor-


tante pensador contemporâneo. Leia o trecho e pense a respeito do seu próprio corpo:
A tradição cartesiana habituou-nos a desprender-nos do objeto: a atitude
reflexiva purifica simultaneamente a noção comum do corpo e a da alma,
definindo o corpo como uma soma de partes sem interior, e a alma como
um ser inteiramente presente a si mesmo, sem distância. Essas definições
correlativas estabelecem a clareza em nós e fora de nós: transparência de
um objeto sem dobras, transparência de um sujeito que é apenas aquilo
que pensa ser. O objeto é objeto do começo ao fim, e a consciência é
consciência do começo ao fim. Há dois sentidos e apenas dois sentidos
da palavra existir: existe-se como coisa ou existe-se como consciência.
A experiência do corpo próprio, ao contrário, revela-nos um modo de
existir ambíguo. Se tento pensá-lo como um conjunto de processos em
terceira pessoa – “visão”, “motricidade”, “sexualidade” – percebo que essas
“funções” não podem estar ligadas entre si e ao mundo exteriorpor
relação de causalidade, todas elas estão confusamente retomadas e
implicadas em um drama único. Portanto, o corpo não é um objeto.
Pela mesma razão, a consciência que tenho dele não é um pensamento,
quer dizer, não posso decompô-lo e recompô-lo para formar dele uma idéia
clara. Sua unidade é sempre implícita e confusa. Ele é sempre outra coisa
que aquilo que ele é, sempre sexualidade ao mesmo tempo que liberdade,
enraizada na natureza no próprio momento em que se trans- forma pela
cultura, nunca fechado em si mesmo e nunca ultrapassado. Quer se trate
do corpo do outro ou do meu próprio corpo, não tenhooutro meio de
conhecer o corpo humano senão vivê-lo, quer dizer, reto- mar por minha
conta o drama que o transpassa e confundir-me com ele. (MERLEAU-
PONTY, 1999, p. 268-269)
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Material Complementar

Sites
Profissionais Psicomotricidade
https://bit.ly/3bLISqv

Livros
Desenvolvimento Humano
O livro chega à sua 12ª edição trazendo dados e tópicos totalmente atualizados sobre
as diferentes fases do desenvolvimento, da formação de uma nova vida ao inevitável
momento da morte. Seguindo uma abordagem cronológica, as autoras Diane E.
Papalia e Ruth Duskin Feldman apresentam os aspectos do desenvolvimento físico,
cognitivo e psicossocial de forma didática e ilustrada.
Neurociência Aplicada à Educação
O livro traz estratégias para o educador de como é possível estimular o cérebro do aluno
no contexto escolar. O livro traz informações de sinapses e conexões na Neurociência
na área da Linguagem, Matemática, Música, Motricidade e Ludicidade. A partir de
uma perspectiva de análise e reflexão da prática escolar é possível compreender como
o cérebro se modifica. Ensinar é encantar e encantar é conhecer e ser capaz de
aprender sempre.

Filmes

Divertida Mente
O filme da Disney e da Pixar, conta a história de Rilley, uma garota de 11 anos que
enfrenta uma série de mudanças em sua vida. A principal delas foi sair de sua cidade
natal, no estado de Minnesota (EUA), para morar na longínqua cidade de São Francisco.
O enredo se desenrola dentro da cabeça da menina, onde cinco emoções — Alegria,
Tristeza, Medo, Raiva e Nojo — são responsáveis por processar as informações e
armazenar as memórias. O desenho foi dirigido pelo americano Pete Docter, que
procurou ajuda de psicólogos e neurologistas na preparação do roteiro. Assista ao
filme e faça uma relação com o desenvolvimento humano e a neurociência.
https://youtu.be/LSpeM7G4zfY

Leitura
A Neurociência e a Educação: Como Nosso Cérebro Aprende?
O artigo reflete o processo de aprendizagem, o desenvolvimento e a aquisição de
novos comportamentos.
https://bit.ly/3bKkMg1
Corpo,Movimento e Psicomotricidade – Pag 14

Referências
ARANHA, M. L. de A.; MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução à filosofia.
3. ed. revista. São Paulo: Moderna, 2003.

BRASIL. Referencial Curricular Nacional Para a Educação Infantil. Brasília:


MEC/SEF, 1998, v. 3.

BRANDOLISE, F. M. Desenvolvimento Humano, Brincadeira, Educação Infantil


e as Contribuições de Vigotski e Winnicott. Piracicaba: UNIMEP, 2018.

DAOLIO, J. Da cultura do corpo. 7. Ed. Campinas, SP: Papirus, 2003.

FONSECA, V. da. Psicomotricidade: uma visão pessoal. Construção Psicopedagógica.


vol. 18, n. 17, pg. 42-52. São Paulo-SP, 2010.

. Manual de Observação Psicomotora: significação psiconeurológica dos


fatores psicomotores. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.

MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da percepção. São Paulo, Martins


Fontes, 1999.

RIBEIRO, F. B. Educação escolar: aspectos cognitivos, motores, afetivos e sociais.


Santa Catarina: UNOCHAPECÓ, 2015.

MORALES, R. Educação e Neurociências: uma via de mão dupla. In: 28ª Reunião da
ANPED, n. 13, 2005, Caxambu. Educação Fundamental. Caxambu: UFSCar, 2005.

SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S. E. História da Psicologia Moderna. São Paulo:


Cengage Learning, 2009.

Sites visitados
Sociedade Brasileira de Psicomotricidade. Disponível em: <http://profissionais
psicomotricidade.blogspot.com.br/2007/07/segundo-sociedade-brasileira-de.html>.
Acesso em: 10/4/2013.
CORPO, MOVIMENTO E PSICOMOTRICIDADE – UNIDADE 2 – Pág. 1

O Desenvolvimento Humano
e a Aprendizagem

• O Desenvolvimento Humanoe a Aprendizagem;


• Bases do Desenvolvimento Humano.

OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Apresentar a noção de como se desenvolvem e aprendem as crianças pequenas;
• Estudar como acontece o desenvolvimento das capacidades motoras, linguagem e habilidades
manuais na criança;
• Entender que na educação infantil, o desenvolvimento acontece no decorrer de três etapas:
maturação, desenvolvimento e aprendizagem de acordo com Bassedas, Huguet e Solé.
CORPO, MOVIMENTO E PSICOMOTRICIDADE – UNIDADE 2 – Pág. 2

Contextualização
Reflita sobre as questões abaixo, permita-se divagar sobre elas e, dentro de
um contexto educacional, responda o que você acredita ser a verdade. Ou não há
verdades, apenas suposições?

É possível conhecer uma criança observando-a, colhendo informações sobre os movimentos


que ela executa, de maneira intencional ou reflexa?
Que linguagem ou que tipos de linguagens ela usa que permitem o seu conhecimento?
Ela expressa sua linguagem de maneira a se fazer entender? Como isso se processa? Ou não
se processa de maneira alguma e apenas inferimos informações dedutíveis?
Criança têm habilidades? Ou apenas movimentos reflexos a que denominamos habilida-
des manuais?

O Desenvolvimento Humano
e a Aprendizagem
Nesta unidade, estudaremos que, no ser humano, do nascer até os 6 anos, ocor-
rem as mais potentes e espetaculares mudanças, que se tornam visíveis e fazem
parte do dia a dia na vida de uma criança.

Nesta direção, os profissionais não deveriam ter somente conhecimentos voltados à


segurança e ao cuidar, esse profissional também passa a ter necessidade de conhecer
as fases de desenvolvimento de uma criança, para assim pensar nos melhores estímu-
los e avaliar as expectativas de respostas em cada uma das fases de desenvolvimento.

As pesquisas nesta área passam por fases de grandes descobertas e discussões.


Muitos pensadores da educação, ao investigar o desenvolvimento infantil, percebe-
ram que a inteligência se dá a partir do nascimento e se estende por toda a infância,
e, entender toda essa complexidade é fator essencial para um desenvolvimento de
sujeitos preparados para atuar no mundo.

Devemos estar prontos para atuar na área da educação, conhecendo todos os


direitos relacionados à infância, mas também as necessidades para um crescer em
toda a integridade do desenvolvimento humano.

Mas, afinal, quando falamos de desenvolvimento humano ou, mais especificamente,


do desenvolvimento infantil, a qual conhecimento estamos nos referindo para assim pla-
nejar e refletir sobre as nossas ações? Pois, na escola, as nossas ações devem ter inten-
ções e finalidades que levem em consideração a fase de desenvolvimento das crianças.

O desenvolvimento humano se dá pela aquisição ou aprendizagem de tudo aquilo


que o ser humano construiu ao longo da história da humanidade, da aquisição e da
interação com o seu meio (família, escola, crenças, costumes, entre outros aspectos), 9
9
CORPO, MOVIMENTO E PSICOMOTRICIDADE – UNIDADE 2 – Pág. 3

mas esse desenvolvimento também se estabelece pela congruência destes estímulos


externos com toda a nossa complexidade interna, e tudo isso, como já estudamos em
unidade anterior, acontece pelo nosso corpo em movimento.

Hoje, a área da educação deve formar profissionais atentos à visão da complexida-


de humana, aos aspectos do desenvolvimento motor, cognitivo, afetivo, social, soma-
dos a nossa complexidade biológica, morfológica, emocional, física, muscular e ao
nosso meio ambiente. Tudo isso pode ser visto em cada ser humano, e esse conhe-
cimento deve ser familiar a todos que pretendem trabalhar no ambiente educacional.

Para começar, vamos esclarecer alguns aspectos para facilitar a organização do


nosso conhecimento. Alguns conceitos importantes neste momento: desenvolvimen-
to humano, aprendizagem, maturação e complexidade.

Estamos repetidamente falando sobre “desenvolvimento humano”, primeiro, é impor-


tante lembrarmos que o desenvolvimento humano é um campo em constante evolução,
assim, o que apresentamos hoje deve ser constantemente atualizado pelas suas pesquisas.

Desde o momento da concepção, tem início nos seres humanos um processo de


transformação que continuará até o fim da vida. Uma única célula se desenvolve até se
tornar um ser vivo, e, apesar de sermos singulares , únicos, as transformações que as
pessoas experimentam durante a vida apresentam padrões em comum, assim, o cam-
po que estuda o desenvolvimento concentra-se no estudo científico dos processos
sistemáticos de mudança e estabilidade que ocorrem nas pessoas.

Devemos estar atentos ao fato de que esse desenvolvimento acontece por várias
dimensões ou domínios, entre eles, a área educacional precisa conhecer a dimensão
motora, a dimensão cognitiva e a dimensão afetivo/social.

O desenvolvimento relacionado à dimensão motora está relacionado ao movimen-


to, ao corpo, ao domínio físico. Esse desenvolvimento refere-se ao corpo, às capaci-
dades sensoriais, e às habilidades motoras.

O desenvolvimento relacionado à dimensão cognitiva refere-se às mudanças nas


habilidades mentais (relacionadas ao conhecimento), tais como aprendizagem, atenção,
memória, linguagem, pensamento, raciocínio e criatividade.

Já o desenvolvimento afetivo/social observa os padrões de mudanças nas emoções,


na formação da personalidade e nas relações sociais.

Os autores que estudaram essas dimensões passaram a verificar quais são os


padrões em comum no desenvolvimento de cada fase do ser humano, isso quer
dizer o que devemos esperar de evolução em cada fase e assim planejar nossas
ações para os melhores estímulos.
CORPO, MOVIMENTO E PSICOMOTRICIDADE – UNIDADE 2 – Pág. 4

Figura 1 – Imagem ilustrativa sobre o desenvolvimento humano


Fonte: Freepik

O segundo conceito que vamos entender se refere ao termo aprendizagem.


Existem várias abordagens ou teorias sobre o conceito de aprendizagem, e cada
abordagem apresentará uma concepção diferente do termo. Porém, um ponto de
vista comum entre essas abordagens é que aprendizagem indica mudança, trans-
formação do sujeito, isso quer dizer que a aprendizagem se dá através da assimila-
ção de informações que podem ser utilizadas posteriormente.

Para os futuros professores(as), é impossível falar em aprendizagem sem men-


cionar Jean Piaget (1896-1980). O biólogo, psicólogo e epistemólogo suíço estudou
com profundidade as etapas do desenvolvimento humano, pois, sim, desenvolvi-
mento humano e aprendizagem estão totalmente relacionados. Ao longo dos anos,
PIAGET foi responsável por estabelecer teorias que abordassem esse importante
aspecto da vida de todos nós, que é a aprendizagem.

Para o pesquisador, os organismos vivos tendem a se adaptar a um novo meio a


partir do momento em que passa a existir uma relação entre eles e o ambiente. Adquiri-
mos conhecimentos através de experiências com o contexto no qual estamos inseridos.

Segundo Piaget (1964), a interação entre o indivíduo e o ambiente é responsável


pela formação do conhecimento humano. O equilíbrio de uma ação com outras
ações pelo homem (ser humano) propicia a adaptação aos ambientes. A assimilação
é o elemento-chave que determina a base de todo esse processo de aprendizagem.

Sendo assim, Jean Piaget trouxe aos seus experimentos a constatação de que a
criança vivencia diferentes fases de desenvolvimento para adquirir habilidades funda-
mentais para sua vida, como o pensamento e a linguagem.

Por trás do processo de aprendizagem estão algumas etapas que são imprescin-
díveis para o progresso da mente e também para o fortalecimento da capacidade de
lidar com os desafios e as descobertas do conhecimento e aprendizado.

Figura 2 – Processo de aprendizagem


Fonte: Getty Images

Outro conceito importante é o termo maturação, pois o desenvolvimento e a aprendi-


zagem só podem acontecer em um período onde a criança apresenta certa maturação.
CORPO, MOVIMENTO E PSICOMOTRICIDADE – UNIDADE 2 – Pág. 5

A Maturação diz respeito às mudanças que ocorrem ao longo da evolução, existente


no sistema nervoso central, sendo que o indivíduo se prepara para que todas suas condi-
ções e conexões nervosas cresçam e se adaptem às necessidades futuras do ser humano.

A maturação está vinculada ao corpo e ao cérebro, assim, podemos entender


que existe uma sequência natural de mudanças físicas e padrões de comportamento.
Essa informação tem total conexão com os conceitos de desenvolvimento humano
e aprendizagem, afinal uma criança só pode dar uma resposta a um estímulo caso
tenha áreas necessárias a essa resposta em uma fase de maturação apropriada.

[...] quando falamos de maturação, estamos referindo-nos às mudanças que


ocorrem ao longo da evolução dos indivíduos, as quais se fundamentam na
variação da estrutura e da função das células. (BASSEDAS, 1999, p. 20)

Bases do Desenvolvimento Humano


Utilizaremos o conceito de desenvolvimento integral para compreendermos as dife-
rentes dimensões que atuam no desenvolvimento de um ser humano, fazendo aqui uma
referência ao que comentamos anteriormente sobre o pensamento complexo. A di-
mensão motora, cognitiva e afetiva/social considera as principais. Todas as dimensões
se interpenetram, por exemplo, um corpo limitado na sua expressão ou com dificulda-
des nas relações sociais compromete e impacta diretamente nos processos cognitivos.
Assim, apesar da disciplina ter uma nomenclatura que parece tratar o desenvolvimento
do corpo, nossa referência sempre será pautada no desenvolvimento integral desse cor-
po. Desse modo, em cada área do desenvolvimento, podemos verificar as influências
da genética, da maturação, da aprendizagem e do meio ambiente em geral.

Quando estudamos teorias que tratam do desenvolvimento devemos ter uma con-
vicção de que toda mudança desenvolvimental, em qualquer dimensão, só pode ser
compreendida após uma visão dos padrões entre idades, assim, devemos conhecer
quais são as características de desenvolvimento previstas em cada fase.

Muitos autores verificaram que os domínios do desenvolvimento de cada dimen-


são são observados pelas habilidades e respostas comuns entre as crianças em uma
determinada fase do seu corpo.

Nos estudos de desenvolvimento humano, os fatores internos e externos devem ser


compreendidos. Embora muito do desenvolvimento inicial seja controlado pela matu-
ração (fatores internos), um mínimo do estímulo ambiental (fatores externos) é neces-
sário para um desenvolvimento considerado bem-sucedido. Ambientes empobrecidos
em estímulos podem retardar o desenvolvimento de diversas maneiras. A estimulação
do ambiente pode ter um impacto a longo prazo sobre o desenvolvimento motor,
das percepções da criança, das habilidades cognitivas e das relações sociais.

Neste momento, você já compreendeu que vamos precisar conhecer fatores do


desenvolvimento interno e identificar quais são os melhores estímulos para tornar o
desenvolvimento da criança dentro das expectativas de resposta para a fase do corpo
em que ela se encontra.
CORPO, MOVIMENTO E PSICOMOTRICIDADE – UNIDADE 2 – Pág. 6

O crescimento e o desenvolvimento físico não podem ser ignorados quando pen-


samos no desenvolvimento integral da criança. Para uma criança desenvolver sua
dimensão motora que está relacionada ao seu movimento, temos que compreender
que as habilidades motoras dependem do crescimento muscular, cerebral, ósseo,
e que cada criança, apesar de ter as mesmas estruturas, apresenta ritmo de cresci-
mento e uma constituição corporal única. Assim, vamos observar como essa singu-
laridade de cada criança pode exercer profundas influências sobre a maneira que a
criança desenvolve sua autoimagem, bem como alguns aspectos comportamentais.

No início, embora a gestação e o parto, com suas histórias específicas, tragam


diferenças, o processo de nascimento é muito semelhante para a maioria dos bebês.
Assim, quando nasce uma criança, já podemos determinar se seu crescimento e
desenvolvimento pode evoluir dentro das expectativas dos padrões desejados?

Atualmente, observamos que a constituição e crescimento do feto podem receber


influências ambientais com grande impacto durante a fase pré-natal e, posteriormente,
durante todo o desenvolvimento da criança. As influências ambientais são diversas,
e, dentre elas podemos citar as doenças que podem acometer a mãe (rubéola e sífilis),
as drogas utilizadas, o estilo de vida (sedentarismo, obesidade, fumo, bebida), a idade
da mãe, dietas pobres que podem afetar o desenvolvimento das células do cérebro
e dos tecidos do sistema nervoso, o estado emocional da gestante, entre outros.
Durante o desenvolvimento pré-natal, há períodos durante os quais o organismo em
desenvolvimento é particularmente vulnerável a essas influências. Durante o nasci-
mento, existem também alguns riscos que podem interferir no desenvolvimento de
uma criança, provenientes da falta de oxigênio, ou no caso de crianças prematuras,
que têm algum comprometimento durante sua fase de desenvolvimento (BEE, 2012).

Após o nascimento, as crianças continuam o seu desenvolvimento pela matura-


ção e pelo contato com o ambiente. Os bebês utilizam as primeiras semanas para
muita exploração visual.

Na tabela abaixo, vamos observar características de desenvolvimento nas três


grandes dimensões, assim, podemos pensar nas respostas esperadas em cada fase.
CORPO, MOVIMENTO E PSICOMOTRICIDADE – UNIDADE 2 – Pág. 7

Tabela 1 – Principais Desenvolvimentos Típicos da Infância


Desenvolvimentos Desenvolvimentos Desenvolvimentos
Faixa Etária
Físicos Cognitivos Psicossociais
• Ocorre a concepção; • As capacidades de aprender • O feto responde à voz da mãe
• A dotação genética interage e lembrar estão presentes e desenvolve uma preferência
com as influências ambientais durante a etapa fetal. por ela.
desde o início;
• Formam-se as estruturas e os
Período Pré-Natal órgãos corporais básicos;
(Concepção ao • Inicia-se o crescimento cerebral;
Nascimento) • O crescimento físico é o mais
rápido de todo o ciclo vital;
• O feto ouve e responde os
estímulos sensórios;
• A vulnerabilidade a influência
ambientais é grande.
• Todos os sentidos funcionam no • As capacidades de aprender • Desenvolve-se um apego aos
nascimento em graus variados; e lembrar estão presentes, pais e a outras pessoas;
• O cérebro aumenta de mesmo nas primeiras semanas; • Desenvolve-se a autoconsciência;
complexidade e é altamente • O uso de símbolos e a • Ocorre uma mudança da
Primeira Infância
sensível à influência ambiental; capacidade de resolver dependência para a autonomia;
(Nascimento aos • O crescimento e o problemas desenvolvem-se ao • Aumenta o interesse por
3 Anos)
desenvolvimento físico das final do segundo ano de vida; outras crianças.
habilidades motoras são rápidos. • A compreensão e o uso
da linguagem
desenvolvem-se rapidamente.
Fonte: Adaptada de PAPALIA e FELDMAN (2013)

Para Gallahue e Ozmun (2005), os seres humanos apresentam a capacidade de


interagir com o meio ambiente através dos movimentos. Essa capacidade sofre alte-
rações ao longo do desenvolvimento da criança e durante todo seu ciclo de vida, de-
vido a características como crescimento, maturação, capacidades físicas, e aspectos
ambientais, como espaços, superfícies, inserção sócio cultural, além de, por último,
as exigências das tarefas.

Por volta do 2° mês, ao menos de acordo com alguns pesquisadores como Jean Piaget,
existe sim, uma grande mudança na direção de comportamento em direção a ações mais
propositais, contudo, é por volta dos 6 meses que a criança ganha um maior controle mo-
tor. Essa evolução é gradativa, por volta de 1 mês o bebê ergue o queixo, aos 2 meses pode
levantar o pescoço e aumenta assim a sua exploração visual, a manipulação para agarrar e
para alcançar objetos começa a se desenvolver. Por volta de 5 meses, ele busca os objetos
e o desenvolvimento segue, na medida em que o controle motor se torna melhor, outros
tipos de exploração tornam-se possíveis, fazendo o processo de aprendizagem e desenvol-
vimento se manifestarem como algo estreitamente relacionado (BEE, 2012). O ápice do
refinamento da dimensão motora acontece por volta dos 6 anos de idade, ainda que todas
as dimensões se desenvolvam até o final da vida.

Recordando o conceito, as mudanças que ocorrem em um indivíduo desde sua


concepção até a morte denominam-se desenvolvimento humano. O desenvolvimento
é composto por mudanças comportamentais e estruturais. O processo de desenvol-
vimento motor revela-se por alterações no comportamento motor, o que proporciona
o processo de aprender a mover-se com controle e competência para interagir com o
ambiente (GALLAHUE e OZMUN, 2001).

O processo de desenvolvimento motor é apresentado por Gallahue e Ozmun (2001)


CORPO, MOVIMENTO E PSICOMOTRICIDADE – UNIDADE 2 – Pág. 8

em uma forma de ampulheta. Os autores caracterizam o desenvolvimento da dimensão


motora por fases e expectativas de respostas.

Utilização Utilização Utilização


Permanente Permanente Permanente
na Vida Diária Recreativa Competitiva

FAIXAS ETÁRIAS APROXIMADAS OS ESTÁGIOS DE


DE DESENVOLVIMENTO DESENVOLVIMENTO MOTOR
14 anos e Acima Estágio de Utilização Permanente
De 11 a 13 Anos
FASE MOTORA Estágio de Aplicação
De 7 a 10 Anos ESPECIALIZADA Estágio Transitóri o
De 6 a 7 Anos FASE MOTORA Estágio Maduro
De 4 a 5 Anos Estágio Elementar
De 2 a 3 Anos FUNDAMENTAL Estágio Inicial
De 1 a 2 Anos FASE MOTORA Estágio de Pré-Controle
do Nascimento
Até 1 Ano RUDIMENTAR Estágio de Inibição de Reflexos

De 4 Meses a 1 Ano FASE MOTORA Estágio de Decodificação de Informações


Dentro do Útero e Até Estágio de Codificação de Informações
4 Meses de Idade REFLEXIVA

Figura 3 – Fases do desenvolvimento motor


Fonte: Adaptada de GALLAHUE e OZMUN (2001)

Para os autores, as fases são divididas em:


• Fase motora reflexiva: os reflexos são as primeiras formas de movimento humano.
Esses são involuntários e formam a base para as fases do desenvolvimento motor.
A partir da atividade de reflexos, o bebê obtém informações sobre o ambiente;

Nesta fase existem os estágios de codificação de informações (movimentos mais


aleatórios) e a decodificação de informações (movimentos mais propositais);

Reflexos do bebê, disponível em: https://bit.ly/2XAWJg6

• Fase de movimentos rudimentares: os movimentos rudimentares são determi-


nados de forma maturacional e caracterizam-se por uma sequência de apareci-
mento previsível. Esta sequência é resistente a alterações em condições normais.
Elas envolvem movimentos estabilizadores, como obter o controle da cabeça,
pescoço e músculos do tronco, as tarefas manipulativas de alcançar, agarrar
e soltar, e os movimentos locomotores de arrastar-se, engatinhar e caminhar;
CORPO, MOVIMENTO E PSICOMOTRICIDADE – UNIDADE 2 – Pág. 9

Figura 4
Fonte: Getty Images

• Fase de movimentos fundamentais: as habilidades motoras fundamentais


da primeira infância são consequências da fase de movimentos rudimentares.
Esta fase do desenvolvimento motor representa um período na qual as crianças
pequenas estão envolvidas ativamente na exploração e na experimentação das
capacidades motoras de seus corpos;

Figura 5
Fonte: Getty Images

• Fase de movimentos especializados: esse é um período em que as habilida-


des estabilizadoras, locomotoras e manipulativas fundamentais são progressi-
vamente refinadas, combinadas e elaboradas para o uso em situações crescen-
temente exigentes.

Figura 6
Fonte: Getty Images

Guedes e Guedes (1997) referem-se ao desenvolvimento motor como sendo não


apenas aspectos biológicos de crescimento e maturação. Os autores acreditam que o
desenvolvimento depende das experiências vividas pelo indivíduo e das relações com
o ambiente que o cerca. Le Boulch (1982) deixa evidente a preocupação de estudiosos
da área em identificar os mecanismos e variáveis que influenciam o desenvolvimento
motor e as fases específicas em que cada indivíduo é mais suscetível às influências
de determinados estímulos.

Nesta direção, compreendemos que o crescimento e maturação do ser humano


é um processo natural, ainda que o ambiente pode afetar de maneira diferente o
desenvolvimento das dimensões para cada indivíduo.
CORPO, MOVIMENTO E PSICOMOTRICIDADE – UNIDADE 2 – Pág. 10

O pesquisador Lev Semenovitch Vigotski, importante psicólogo russo, revolucio-


nou o pensamento de sua época quando apresentou a sua particular compreensão do
desenvolvimento humano na perspectiva histórico-cultural (BRANDOLISE, 2018).

Lev Vigotski se opôs às concepções de desenvolvimento de sua época e acredita-


va que o processo, ou as fases de desenvolvimento, estavam atrelados às condições
de aprendizagem. Para o autor, aprendizagem e desenvolvimento não são sinônimos
nem se antagonizam, mas estabelecem profundas relações. (BRANDOLISE, 2018).
A teoria de Vigotski descreve que o desenvolvimento, acontece por uma dupla for-
mação, ou seja, a dos planos biológico e cultural, que conduzem a esse processo.

Retomando a Jean Piaget, a pergunta fundamental que ele formulou, em 1911, e que
orientou suas pesquisas foi: como o ser vivo consegue se adaptar ao meio ambiente?

Essa foi a pergunta que levou o pesquisador a duas situações problema, a da


adaptação biológica e ao problema do conhecimento. Piaget chegou a duas ideias
centrais, a primeira que a adaptação biológica de todo organismo vivo, assim como
toda aquisição de repertório intelectual, se faz através da assimilação de um dado

exterior (ambiente) e o conhecimento não pode ser uma cópia, mas uma integração
em uma estrutura mental pré-existente que, ao mesmo tempo, vai ser mais ou menos
modificada por esta integração. A segunda ideia central é que os fatores normati-
vos do pensamento correspondem às relações, às necessidades de equilíbrio que se
observam no plano biológico. Assim, quando aprendemos algo novo precisamos
organizar nossas estruturas (CAVICCHIA, 1993).

Para o autor, o conhecimento acontece pelas trocas entre o organismo e o meio.


Essas trocas são responsáveis pela construção da própria capacidade de conhecer,
já que as informações do ambiente produzem estruturas mentais que, ainda que sejam
orgânicas, não estão programadas no desenvolvimento do ser humano, mas apare-
cem como resultado das solicitações do meio ao organismo, assim sua adaptação
biológica (CAVICCHIA, 1993).

A essa adaptação biológica entre o estímulo do ambiente e organização do or-


ganismo para uma resposta, Piaget chama de processo de adaptação, e o autor
complementa com dois aspectos: a assimilação e a acomodação. A adaptação do
ser humano ao meio ambiente se realiza através da ação (organização de nossas es-
truturas), elemento central da teoria piagetiana, indicando o centro do processo que
transforma a relação com o objeto em conhecimento.

A capacidade de organizar e estruturar a experiência vivida por cada ser humano


é um processo das estruturas mentais que funcionam seriando, ordenando, classifi-
cando e assim estabelecendo relações, porém, como apresentamos anteriormente,
muitos aspectos estão envolvidos neste processo (maturação, ambiente, influências na
gestação, momento do nascimento). Para Piaget, todo esse processo é denominado de
desenvolvimento cognitivo. Nesse desenvolvimento, o autor elencou diferentes estágios
que expressam as etapas pelas quais se dá a construção do mundo pela criança.

Nas suas pesquisas, Piaget acreditava que para acontecer os estágios de desenvol-
vimento é necessário, em primeiro lugar, que a ordem das aquisições seja constante.
Trata-se de uma ordem sucessiva e não apenas cronológica, isso quer dizer que
existe a dependência da experiência do sujeito, e não apenas de sua maturação ou
CORPO, MOVIMENTO E PSICOMOTRICIDADE – UNIDADE 2 – Pág. 11

do meio social.

Além desse critério, Piaget propõe uma divisão por períodos ou fases para carac-
terizar estágios no desenvolvimento cognitivo. Sendo assim, o pesquisador distinguiu
quatro grandes períodos no desenvolvimento das estruturas cognitivas relacionados
ao desenvolvimento da afetividade e da socialização da criança: estágio da inteligên-
cia sensório-motora (de 0 a aproximadamente 2 anos); estágio da inteligência sim-
bólica ou pré-operatória (2 a 7-8 anos); estágio da inteligência operatória concreta
(7-8 a 11-12 anos); e estágio da inteligência formal (a partir, aproximadamente,
dos 12 anos), (CAVICCHIA, 1993).

Os estágios propostos por Piaget estão relacionados a degraus de equilíbrio, pois


quando a criança recebe um estímulo todo o seu organismo deve se reestruturar para
se reequilibrar, e, assim que o equilíbrio é atingido num ponto, a estrutura é integrada
em novo equilíbrio em formação.

Os diversos estágios ou etapas surgem, portanto, como consequência das suces-


sivas equilibrações de um processo que acontece no decorrer do desenvolvimento.
Essa construção só pode acontecer quando as competências cognitivas do ser humano
estão preparadas para o próximo estímulo.

A equilibração é, pois, o processo pelo qual se formam as estruturas cognitivas


e constitui, em última análise, a expressão da lei funcional que afirma a atuação
das estruturas. O processo que conduz desequilíbrios e reconstruções de estru-
turas mentais é o fator determinante no progresso do desenvolvimento cognitivo
(CAVICCHIA, 1993).

Na teoria de Piaget, a concretização ou realização dessas possibilidades dependerá


do meio no qual a criança se desenvolve, uma vez que a capacidade de conhecer é
resultado das trocas do organismo com o meio. Da mesma forma, essa capacidade
de conhecer depende, também, da organização afetiva, uma vez que a afetividade e a
cognição estão sempre presentes em toda a adaptação humana.

O desenvolvimento integral é um emaranhado de aspectos que envolvem a com-


plexidade do ser humano. Esses aspectos, como vimos, são compostos pela nossa
complexidade interna e nossa interação e relação com o ambiente (externo), com
seus espaços, objetos e pessoas.

É importante recordarmos que, quando falamos em desenvolvimento integral,


estamos afirmando que o desenvolvimento nunca acontece em dimensões isoladas,
e sim em conexão com toda sua complexidade.
CORPO, MOVIMENTO E PSICOMOTRICIDADE – UNIDADE 2 – Pág. 12

Figura 7 – Imagem referente ao desenvolvimento


integral, com todas as dimensões atuando
Fonte: sxc.hu

Agora, vamos conhecer a importância do corpo neste desenvolvimento integral.


Assim como todos os nossos aspectos, a dimensão motora é parte integrante do
ser humano e da sua experiência humana. Portanto, mais do que um deslocamento
do corpo no espaço, o movimento constitui-se como uma linguagem, em algumas
fases de desenvolvimento, como a única forma de comunicação e interação com o
ambiente. Por meio do corpo e do movimento, a criança interage e se comunica.
Conhece mais sobre si, sobre o outro e o mundo que a cerca. Expressa sentimentos,
emoções e pensamentos, aprimorando seus gestos e posturas corporais e, nessa
direção, se desenvolve.

Na próxima unidade, vamos conhecer a Psicomotricidade, uma ciência que estuda


o homem em seu desenvolvimento integral, com suas relações internas e externas.

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
Compreendendo o Desenvolvimento Motor
Obra mundialmente reconhecida, apresenta um texto acessível com base descritiva
e explicativa para os processos e produtos dinâmicos do desenvolvimento motor.
Abrangendo todas as fases da vida a partir de uma perspectiva das restrições,
o livro enfoca as fases do desenvolvimento motor, proporcionando uma sólida
introdução aos aspectos biológicos, afetivos, cognitivos e comportamentais de cada
fase. Os autores trazem o que há de mais atual em termos de teoria e pesquisa,
utilizando o Modelo de Ampulheta Triangulada como estrutura conceitual que
auxilia o leitor no entendimento do desenvolvimento motor do bebê, da criança, do
adolescente e do adulto.
CORPO, MOVIMENTO E PSICOMOTRICIDADE – UNIDADE 2 – Pág. 13

GALLAHUE, D. L.; OZMUN, J. C. D.; GOODWAY, J. Compreendendo o


Desenvolvimento Motor. 7 ed., Amgh Editora.

Vídeos
D-14 - O movimento do corpo infantil - uma linguagem da criança
Neste vídeo, você verá uma escola que utiliza o movimento como base para o
trabaho pedagógico, e o quanto é importante o seu uso para o desenvolvimento
infantil, pois é considerada uma linguaguem de cominucação que a criança utiliza.
https://youtu.be/X1UzQjKZVUA
PhD. David Gallahue na FSG - FSG Comunica 399 Edição
Neste vídeo você verá uma pequena entrevista realizada com o Prof. David Lee
Gallahue, um dos mais importantes pesquisadores sobre o desenvolvimento motor.
O Curso de Educação Física da Faculdade da Serra Gaúcha (FSG) promoveu o
3º Congresso Internacional de Motricidade da Serra gaúcha.
https://youtu.be/1_R9-BBKyLM

Leitura
A importância do movimentar-se e suas contribuições para o desenvolvimento
A didática do professor nas aulas de educação física infantil: a importância do
movimentar-se e suas contribuições para o desenvolvimento da criança. Autores:
Lillian dos Santos Belo Oliveira e Carolina Petruy.
https://bit.ly/2yk5GQp

Referências
BASSEDAS, E.; HUGUET, T.; SOLE, I. Aprender e Ensinar na Educação Infantil.
Porto Alegre: Artes Médicas, 1999.

BEE, H.; BOYD, D. A criança em desenvolvimento. Porto Alegre: Artmed. 2011.

BRANDOLISE, F. M. Desenvolvimento Humano, Brincadeira, Educação Infan-


til e as Contribuições de Vigotski e Winnicott. Piracicaba: UNIMEP, 2018.

CAVICCHIA, D. de C. O Cotidiano da Creche: um projeto pedagógico, São Paulo:


Loyola, 1993.

GALLAHUE, D. L.; OZMUN, J. C. Compreendendo o Desenvolvimento motor:


bebê, criança, adolescente e adulto. 1 ed., São Paulo: Phorte Editora, 2001.

________. Compreendendo o desenvolvimento motor: Bebê, Criança, adoles-


cente e adulto. 3 ed., São Paulo: Phorte Editora, 2005.

GUEDES, D. P.; GUEDES, J. E. R. P. Características dos programas de educação


física escolar. Revista Paulista de Educação Física, v.11, n.1, p.49-62, 1997.

LE BOULCH, J. Educação psicomotora: a psicomotricidade na idade escolar.


Porto Alegre: Artes Médicas, 1987.

PIAGET, J. Seis estudos de psicologia. Editora Forense: 1964.


Corpo, Movimento e Psicomotricidade – Unidade 3 / P. 1

Fundamentos da Psicomotricidade

• Introdução;
• Bases Conceituais da Psicomotricidade;
• Breve Revisão da História da Psicomotricidade;
• A Psicomotricidade Aplicada à Educação.

OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Apresentar a história da psicomotricidade e suas bases conceituais;
• Estudar como podemos utilizá-la na educação e nos campos de experiências propostos
pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

UNIDADE 3

CORPO, MOVIMENTO E PSICOMOTRICIDADE

Contextualização
Para nosso momento de contextualização, sugerimos que leia um pequeno artigo
da revista Nova Escola intitulado: O corpo, o movimento e a aprendizagem.

O artigo fala da importância do trabalho com a dança nas escolas e defende


a ideia de que “quem dança tem mais facilidade para construir a imagem do pró-
prio corpo, o que é fundamental para o crescimento e a maturidade do indivíduo
e a formação de sua consciência social”.

Leia o artigo e faça uma reflexão sobre a importância da dança no currículo escolar.
Ressaltamos a importância do estudo da unidade para a sua formação pessoal e profis-
sional. Acesse em: https://bit.ly/2KsYFzv
Corpo, Movimento e Psicomotricidade – Unidade 3 / P. 2

Introdução
Nesta unidade, vamos conversar a respeito da Psicomotricidade e mostrar o quan-
to seu papel é importante para o desenvolvimento humano nas dimensões motoras,
afetivas/socias e cognitivas.

Como educadores, ao planejarmos uma aula, devemos conhecer quem são os


nossos educandos e as fases em que se encontram, para produzirmos atividades que
tenha conexão com o documento normativo (BNCC – Base Nacional Comum Curri-
cular), não fazendo uma separação entre corpo e mente, e sim pensando na criança/
adolescente como um sujeito em processo de desenvolvimento integral.

Assim sendo, veremos a partir de agora a importância da Psicomotricidade e do


movimento, e suas implicações no desenvolvimento humano e na aprendizagem.

Bases Conceituais da Psicomotricidade


Na unidade anterior, apresentamos as bases de conhecimento do ser humano.
Compreendemos a necessidade de um desenvolvimento integral e reconhecemos
a importância do corpo e do movimento.
Esse desenvolvimento integral é um emaranhado de aspectos que envolvem a
complexidade do ser humano. Esses aspectos, como apresentamos, são compostos
por nossa complexidade interna e pela interação e relação com o ambiente (externo),
com seus espaços, objetos e pessoas.
É importante recordarmos que, quando falamos em desenvolvimento integral,
estamos afirmando que o desenvolvimento nunca acontece em dimensões isoladas,
mas sim como uma grande congruência entre o interno e o externo. Nesta unidade,
vamos conhecer a Psicomotricidade e como essa ciência pode nos ajudar a entender
o desenvolvimento em toda a sua integridade.

O corpo e sua interação com o ambiente promovem a aprendizagem, o desenvol-


vimento. Essa capacidade do ser humano para sentir e utilizar o corpo como uma
manifestação com o mundo é o que chamamos de corporeidade.

Entenda um pouco mais sobre o conceito de corporeidade e sua importância na educação,


no desenvolvimento integral e nos conceitos de Psicomotricidade. Neste vídeo, o professor
Walter Roberto Coelho comenta sobre o conceito de corporeidade e sua importância na edu-
cação. Acesse em: https://youtu.be/SOYcovFKA2M

Atualmente, qual área da ciência pode estudar essa corporeidade e toda a sua
integração? Afinal, o movimento e os gestos de cada criança estão ligados à sua

maturação. A corporeidade de cada indivíduo evolui de acordo com sua estrutura


cognitiva, suas experiências afetivas. O desenvolvimento da corporeidade depende,
assim, de todas as dimensões: o desenvolvimento das relações neuronais estabele-
cidas entre as áreas sensoriais e motoras do cérebro, as emoções e relações sociais.
Corpo, Movimento e Psicomotricidade – Unidade 3 / P. 3

A Psicomotricidade é uma área que promove o estudo dessas integrações.


Segundo a Associação Brasileira de Psicomotricidade (ABP), trata-se de uma
ciência que tem como objeto de estudo o homem através de seu corpo em
movimento, em relação ao mundo interno e externo. Contudo, não apenas de
movimento é composta, mas também de intelecto e afeto (emoção), ou seja, três
pilares que, basicamente, formam as capacidades humanas.

Para a ABP, a Psicomotricidade, portanto, é um termo empregado para uma


concepção de movimento organizado e integrado, respeitando a individualidade em
função das experiências vividas pelos sujeitos.

O termo psicomotricidade pode ser entendido como a função do ser humano que
sintetiza psiquismo e motricidade, com o propósito de permitir ao indivíduo adaptar-
-se de forma flexível e harmoniosa ao meio que o cerca.

Agora, vamos entender um pouco mais sobre o termo psiquismo?

Figura 1
Fonte: Getty Images

Psiquismo ou o psíquico é o nome científico que resume as noções de alma, espírito,


mente, pensamento, conduta, comportamento, vida pessoal, drama pessoal humano,
vida intelectual, afetiva e ativa.

A consciência é um sistema que engloba um conjunto de conhecimentos que, por


sua vez, é o universo simbólico que ocorre pela representação semântica da realidade.
O pesquisador Lev Vygotsky chamou a essa representação de signos. É essa represen-
tação que possibilita ao ser humano realizar atividades abstratas, teóricas e subjetivas.
A consciência torna-se assim a expressão do psiquismo. A partir dos pensamen-
tos, as pessoas criam objetivos, desejos e tudo que é pertinente à sua consciência, a
existência objetivada em uma imagem psíquica é o reflexo da realidade concreta pela
ideia que a consciência constrói perante essa mesma realidade. Nesse momento,
ocorre a transformação das imagens em signos e na sequência elabora-se o sistema
de signos que compreendemos como linguagem (SILVA ,2016).

Nesta direção, o processo de desenvolvimento do psiquismo humano ocorre por


meio de elementos e de determinações presentes na cultura histórica e socialmente
desenvolvida na ação do ser humano, assim, a evolução do psiquismo humano é
influenciada pela cultura, isto é, pelas objetivações e apropriações realizadas pelo ser
humano, em dado momento histórico (SILVA, 2016).
Corpo, Movimento e Psicomotricidade – Unidade 3 / P. 4

Ainda não entendeu o que é psiquismo? No vídeo Aspectos que compõe o Desenvolvi-
mento Psíquico, a Psicóloga clínica e educacional Mônica Alves apresenta informações
sobre a formação do psiquismo. Acesse em: https://youtu.be/-lRNKXIcFls

Agora, vamos entender mais sobre o termo motricidade?

Figura 2
Fonte: Getty Images

Já na motricidade estão os movimentos, com uma complexidade de ligações entre


impulsos elétricos, nervos, músculos, que funcionam para permitir todas as ações
automáticas e voluntárias.

O papel da psicomotricidade está exatamente em entender a relação entre


psiquismo e motricidade, e como ela pode afetar o desenvolvimento humano.

A Psicomotricidade quer destacar a relação existente entre motricidade e psi-


quismo, e, nesta relação, estamos falando da totalidade da criança, seus proces-
sos mentais, a afetividade e toda as respostas da criança com o mundo externo
(COLEVATI; PINHO E SORROCHE, 2009).

Portanto, a psicomotricidade pode ser entendida como uma área de conheci-


mento que vai ajudar você a entender as características de desenvolvimento do seu
aluno, organizando atividades que possibilitem à criança conhecer de uma maneira
concreta seu ser e seu ambiente.

Quanta informação!

Na disciplina Corpo, Movimento e Psicomotricidade, preciso conhecer tudo isso?


Corpo, Movimento e Psicomotricidade – Unidade 3 / P. 5

Figura 3
Fonte: Getty Images

Sim, o desenvolvimento integral da criança depende de fatores como o desen-


volvimento cognitivo, afetivo e corporal/motor. Neste aspecto, a psicomotricidade
integra o movimento aos fatores psíquicos e sociais do indivíduo, proporcionando
uma visão que estabelece total relação com o pensamento complexo, essa aborda-
gem holística amplia o olhar do profissional, contribuindo para novas descobertas
nas dificuldades de aprendizagem e desenvolvimento.

Breve Revisão da História


da Psicomotricidade
Os estudos sobre a Psicomotricidade, como objeto de pesquisa, iniciaram-se
na década de 60, sendo que seu auge aconteceu nos anos 70 e 80. Anteriormente,
o movimento humano era estudado apenas nos aspectos físico e motor, porém, nos
dias atuais, os estudos relacionados ao desenvolvimento corporal e motor passaram a
enfatizar o ser humano em toda a sua integração, e assim, como já relatamos, os fatores
psíquicos e sociais foram introduzidos ao estudo da motricidade (HAETINGER, 2005).

Assim, os relatos mostram que os estudos da psicomotricidade ainda são recentes


e, no decorrer de tão pouco tempo, já passou por olhares de diferentes perspecti-
vas. Na primeira fase, a pesquisa fixou-se, sobretudo, no desenvolvimento motor da
criança, e, com o avanço das pesquisas, os estudos passaram a verificar a relação
entre o atraso no desenvolvimento motor e o atraso intelectual da criança, e, a partir
daí, a área de conhecimento da psicomotricidade foi ampliada.

Segundo Bueno (1998), as escolas europeias e americanas contribuíram de maneira


efetiva para a evolução da psicomotricidade, sobressaindo-se a escola francesa, a qual
influenciou no direcionamento que a área da psicomotricidade vem seguindo até hoje.
O professor Vítor da Fonseca, catedrático da Faculdade de Motricidade Humana
da Universidade Técnica de Lisboa, docente no Departamento de Educação Especial
e Reabilitação, e mestre em Dificuldades de Aprendizagem pela Universidade de
Northwestern, Psicopedagogo e psicomotricista, tem sido responsável clínico, ao lon-
go de trinta anos, em vários centros de observação e reeducação psicoeducacional
privados. Ele aponta os pioneiros na área, dentre eles, Fonseca (1995) cita Dupré,
que, em 1909, concedeu destaque ao termo psicomotricidade após relacionar pertur-
bações psicológicas a motoras.
A figura de Ernest Dupré, neuropsiquiatra, em 1909, é de fundamental importân-
cia para o âmbito psicomotor, já que é ele quem afirma a independência da debilidade
motora (antecedente do sintoma psicomotor) de um possível correlato neurológico.

Outro pioneiro no estudo da psicomotricidade no campo científico foi Henri Wallon,


médico, psicólogo e pedagogo, que em 1925, principiou os estudos da reeducação
psicomotora no desenvolvimento psicológico da criança e também introduziu o senso
de identidade corporal. Wallon ocupa-se do movimento humano, dando-lhe uma cate-
goria fundamental como instrumento na construção do psiquismo, permitindo assim,
relacionar o movimento ao afeto, à emoção, ao meio ambiente e aos hábitos de cada
indivíduo. Assim, a teoria walloniana influenciou ao longo dos anos vários campos de
Corpo, Movimento e Psicomotricidade – Unidade 3 / P. 6

atuação como a psicologia, pedagogia, psiquiatria, medicina e educação física. Ain-


da de acordo com Fonseca (1995), Edouard Guilmain, neurologista, desenvolveu, em
1935, um exame psicomotor para fins de diagnóstico e indicação terapêutica.

Você sabia que Wallon foi responsável pela teoria da emoção? Psicólogo da criança, ideali-
zador da reforma do sistema de ensino francês, essas são algumas das maneiras comuns de
identificar a obra do médico, filósofo e educador Henri Wallon (1879-1962). Todas elas estão
corretas, mas também incompletas. “Na verdade, ele é tudo isso, mas é, principalmente,
um psicólogo do desenvolvimento”, diz a vice coordenadora do Programa de Psicologia da
Educação da PUC-SP, Laurinda Ramalho de Almeida. Acesse o link a seguir e descubra mais
sobre esse grande pensador da educação: Disponível em: https://youtu.be/ZfXIkidkFQI

O psiquiatra e professor Ajuriaguerra, em 1947, redefiniu o conceito de debi-


lidade motora, considerando-a como uma síndrome com suas próprias particula-
ridades. Foi ele quem delimitou os transtornos psicomotores que oscilam entre o
neurológico e o psiquiátrico.

Piaget (1896-1980) foi um dos autores que mais estudou as interrelações entre a
psicomotricidade e a percepção através de ampla experimentação. Ele descreve a
importância do período sensório-motor e da motricidade principalmente antes da
aquisição da linguagem, no desenvolvimento da inteligência. Para ele, o desenvol-
vimento mental se constrói, paulatinamente. É uma equilibração progressiva, uma
passagem contínua de um estado de menor equilíbrio para um estado de equilíbrio
superior. A inteligência, portanto, é uma adaptação ao meio ambiente. Para que isso
possa ocorrer é necessário, inicialmente, a manipulação dos objetos do meio com a
modificação dos reflexos primários (OLIVEIRA, 2007, p.31).

As contribuições de Ajuriaguerra, somadas às de Wallon e Piaget influenciaram


o curso de pensamentos de outros autores como: R. Diatkine, J. Buges, Jolivet, S.
Leboaci, permitindo-lhes redefinir os objetos da psicomotricidade, dando ênfase es-
pecial à relação, às emoções e ao movimento. Essas redefinições também sofreram
influência de conceitos psicanalíticos relativos ao campo de afetividade, destacando-
-se psicanalistas como S. Freud, M. Klein, J. Lacan, W. Reich, P. Schilder, F. Dolto,
Samí Alí, D. Winnicott, Manoni, entre outros.

Segundo Fonseca (1995), em 1947-1948, Ajuriaguerra e Datkine provocaram


uma mudança na história da psicomotricidade e redefiniram o conceito de debi-
lidade motora considerando-a como uma síndrome de propriedades particulares.
Ajuriaguerra, em seu Manual de Psiquiatria Infantil, delimita com clareza os transtornos
psicomotores que oscilam entre o neurológico e o psiquiátrico. É nesta oscilação que
situa os transtornos propriamente psicomotores.

Na década de 70, devido à influência das pesquisas de Wallon, surgem os tra-


balhos na educação psicomotora, por Le Boulch, que desde 1966, em seu livro
“A Educação pelo Movimento”, tinha como objetivo inicial sensibilizar os professores
do primeiro grau quanto ao problema da educação psicomotora na escola, pois era um
contexto desfavorável à pedagogia da época, centrada na aquisição das “Habilidades
Escolares de Base”. Somaram-se a estes os trabalhos os de L. Pick, P. Vayer, André
Lapierre, Bernard Auconturier, Defontaine, J. C. Coste e outros, que percebiam nesse
momento a educação psicomotora, enquanto maneira original de ajudar a criança
Corpo, Movimento e Psicomotricidade – Unidade 3 / P. 7

inadaptada a desenvolver suas potencialidades e ter acesso ao mundo escolar.

Agora que conhecemos um pouco sobre a história da psicomotricidade, vamos


entender como essa área pode auxiliar na sua formação.

Conheça um pouco mais sobre as Etapas do Esquema Corporal de Le Boulch.


Disponível em: https://youtu.be/1SUr6ilFwX8

A Psicomotricidade Aplicada à Educação


O conceito de psicomotricidade passou por muitas mudanças. No início, obser-
vamos que o corpo era o único aspecto estudado, já atualmente, o termo psico-
motricidade é visto como o relacionar-se através da ação, ou seja, o sujeito na sua
integração, unindo todas as suas dimensões de desenvolvimento.

Nesta direção, a área psicomotora está associada com a afetividade, a persona-


lidade do indivíduo ao seu corpo, pois ele se utiliza do movimento para expressar
sentimentos e pensamentos.

Segundo Fonseca (2004), atualmente a psicomotricidade deve ser compreendida


como uma forma de integração da criança com o meio, assim, a psicomotricidade
compreende as habilidades motoras relacionadas aos fatores psicológicos e ambien-
tais. E, dessa forma, o desenvolvimento psicomotor não envolve somente as áreas
motoras, mas também prioriza as habilidades e expressões corporais.
Portanto, é pela representação corporal e pelo movimento que interligamos as di-
mensões motora, cognitiva e afetiva/social para o desenvolvimento de um ser humano.
Os avanços da psicomotricidade foram além dos aspectos motrizes. Hoje, ela pro-
porciona o desenvolvimento da socialização entre os indivíduos, auxilia na aquisição de
aprendizagens como leitura, escrita e pensamento lógico-matemático. Esse desenvol-
vimento tem papel fundamental nos primeiros anos de vida escolar da criança, pois é
nessa fase que se observam possíveis desvios das capacidades motoras, evitando então
futuras dificuldades de aprendizagem.
Dentre as inúmeras linhas de atuação da psicomotricidade, a área da educação
deve ter um grande conhecimento desta ciência, uma vez que as crianças na Educação
Infantil estão no ápice do desenvolvimento psicomotor.
Nos primeiros anos de vida, as crianças exploram o mundo que as rodeiam com
seus corpos, através dos movimentos. Assim, é importante compreendermos que
para um desenvolvimento psicomotor adequado o movimento é muito importante.
Vale lembrar que um processo de aprendizagem é um sistema complicado, no
qual a criança deve ser preparada na área cognitiva e afetiva. Para que tudo isso
aconteça, umas das competências está calcada no desenvolvimento e na exploração
que dependem do movimento.

A criança, durante o tempo que está sendo alfabetizada, por exemplo, utiliza-se
de elementos psicomotores que facilitarão quando tiver que ler e escrever.
Corpo, Movimento e Psicomotricidade – Unidade 3 / P. 8

Inscreva-se no canal do Youtube “Doses de Psicomotricidade”. Com bom humor e uma


didática leve, você receberá conhecimentos esclarecedores sobre os temas relacionados à
psicomotricidade. Disponível em: https://bit.ly/2VwE3Nc

A educação infantil é um período de suma importância para o desenvolvimento


integral da criança, e a psicomotricidade tem uma importante contribuição para as
crianças na faixa etária de até 5 anos, que estão em uma fase em que o movimento
vai além de uma forma de comunicação, pois é algo que lhes traz prazer. Além da
parte motora, as atividades que envolvem o movimento podem ajudar a criança no
desenvolvimento de seu raciocínio, imaginação, criatividade, afetividade e socialização.

Os professores devem estar atualizados quanto às principais áreas do desenvol-


vimento psicomotor na busca por recursos de auxílio na aprendizagem escolar e
no desenvolvimento adequado das fases da criança. Experiências motoras são de
fundamental importância para o desenvolvimento cognitivo, pois pelo movimento a
criança explora e se relaciona com seu meio ambiente.

O movimento se relaciona com o desenvolvimento cognitivo, no sentido de que a


integração das sensações provenientes de movimentos resulta na percepção, e toda

aprendizagem simbólica posterior depende da organização dessas percepções em


forma de estruturas cognitivas. Por meio da exploração motora, a criança desen-
volve consciência do mundo que a cerca e de si própria. O controle motor possibilita
à criança experiências concretas, que servirão como base para a construção de
noções básicas para todo o seu desenvolvimento (ROSA NETO, 1996).

Infelizmente, a escola ainda despreza o corpo no desenvolvimento da criança.


O retardo na evolução do desenvolvimento é causado por vários fatores, como já
apresentamos anteriormente, entre eles, a falta de conhecimento da psicomotricida-
de pelos pais e profissionais da educação. Quando conseguimos uma intervenção
com elementos da psicomotricidade dentro de um tempo adequado no desenvolvi-
mento da criança, podemos de alguma maneira ter uma melhor resposta no seu
desenvolvimento integral.

Quando a escola não observa a importância do desenvolvimento integral pela via


psicomotora, a criança perde a oportunidade de receber uma intervenção correta
para solucionar suas dificuldades, como quando hoje trabalhamos com termos como
transtornos motores.

Os transtornos psicomotores são distúrbios manifestados no corpo sem nenhuma


relação com alterações neurológicas ou orgânicas aparentes. Nesses transtornos, os
elementos da psicomotricidade podem estar comprometidos. Um esquema corporal,
que é um elemento da psicomotricidade que diz respeito a reconhecer seu próprio
corpo, fica comprometido, podendo impedir que a criança tenha domínio de seu
próprio corpo e das suas ações. Assim, ela apresentará dificuldades em todos os
elementos psicomotores.

A página NeuroSaber foi idealizada pelo Dr. Clay Brites, pediatra e neuropedia-
tra formado pela Santa Casa de São Paulo e por Luciana Brites, pedagoga especiali-
zada em Educação Especial na área de Deficiência Mental e Psicopedagogia Clínica
Corpo, Movimento e Psicomotricidade – Unidade 3 / P. 9

e Institucional. Nelas, os pesquisadores compartilham informações sobre aprendiza-


gem, desenvolvimento e comportamento da infância e da adolescência, tendo como
base profunda fundamentação teórica, com uma linguagem simples e um grande
diferencial: aplicabilidade prática.

Para entender um pouco mais como os transtornos psicomotores podem influenciar no desen-
volvimento e na aprendizagem da criança, assista ao vídeo “Dificuldades de Aprendizagem e
Problemas Psicomotores”. Disponível em: https://youtu.be/LTmERk6r9B4

É essencial entendermos, depois de estudar o corpo e movimento, como a psico-


motricidade contribui para o processo de desenvolvimento e aprendizagem. Não se
concebe a criança de forma fragmentada e receptora de conteúdos. A complexidade
da aquisição de conhecimentos e sua relação com o mundo são evidenciadas.

A Sociedade Brasileira de Psicomotricidade nos dá um conceito bastante amplo


do que é Psicomotricidade, como veremos a seguir:

É a ciência que tem comoobjeto de estudo ohomematravés do seu corpo emmovimento


e em relação ao seu mundo interno e externo. Está relacionada ao processo de maturação,
onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas. É sustentada por
três conhecimentos básicos: omovimento, o intelecto e o afeto. Psicomotricidade, portan-
to, é um termo empregado para uma concepção de movimento organizado e integrado,
em função das experiências vividas pelo sujeito cuja ação é resultante de sua individuali-
dade, sua linguagem e sua socialização (SBP, s/d).

No ambiente escolar, observar toda essa integridade que se manifesta pelo corpo
proporciona a formação de criança com seus potenciais, com prazer em ser e inte-
ragir com o outro.

Assim como todos os nossos aspectos, a dimensão motora é parte integrante do


ser humano e da sua experiência humana. Portanto, mais do que um deslocamento
do corpo no espaço, o movimento constitui-se como uma linguagem, e, em algumas
fases de desenvolvimento, como a única forma de comunicação e interação com o
ambiente. Por meio do corpo e do movimento, a criança interage e se comunica.
Conhece mais sobre si, sobre o outro e o mundo que a cerca. Expressa sentimentos,
emoções e pensamentos, aprimorando seus gestos e posturas corporais e, nesta
direção, se desenvolve.

Na educação, a BNCC (Base Nacional Comum Curricular), em seus campos de


experiência, apresenta propostas curriculares para guiar os estímulos para o desen-
volvimento da criança. A organização curricular da Educação Infantil na BNCC está
estruturada em cinco campos de experiências, no âmbito dos quais são definidos os
objetivos de aprendizagem e desenvolvimento. As propostas curriculares destacam
as situações e as experiências concretas da vida cotidiana das crianças e seus sabe-
res para proporcionar um desenvolvimento integral em cada fase. O documento da
BNCC e quais são os campos de experiência ideal para a Educação Infantil baseiam-
-se nas DCNEI (Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil).

Além dos campos ideais para esse desenvolvimento integral, foram respeitadas a
cultura na qual a criança está inserida e a variedade de experimentações, assim relacio-
Corpo, Movimento e Psicomotricidade – Unidade 3 / P. 10

nando os conhecimentos culturais de cada criança, respeitando-se sua singularidade.

Os campos de experiências em que se organiza a BNCC são:


• O eu, o outro e o nós: Neste campo de experiência, a construção da identi-
dade e da subjetividade da criança é um fator importante, experiências que se
relacionem ao autoconhecimento, as noções de pertencimento e valorização da
sua cultura. Este campo também permite à criança desenvolver o convívio com
os outros, o contato com ideias e modos de agir diferentes, os grupos sociais.
Todas essas experiências permitem que a criança desenvolva a percepção de si
mesma e suas relações com o meio. O foco principal pode estar na valorização
da própria identidade e o respeito e aceitação das diferenças. Conhecer seu
próprio corpo e respeitar outras manifestações corporais;

• Corpo, gestos e movimentos: Neste campo de experiência o foco é uso do


espaço com o corpo, as possibilidades de movimentos exploradas pelo corpo
neste espaço. As experiências podem ser enfatizadas com diferentes linguagens
artísticas e culturais. A expressão corporal da música, dança, teatro podem ser
estratégias interessantes;
• Traços, sons cores e formas: Neste campo de experiência são priorizadas as ma-
nifestações culturais, artísticas e cientificas. Neste campo, além das linguagens visu-
ais e manuais, as crianças devem ser estimuladas com as linguagens musicais e ex-
periências de expressão corporal. As crianças devem ser estimuladas em produções
que envolvam artes visuais, música, teatro, dança. Essas experiências contribuem
para o desenvolvimento do senso crítico, da sensibilidade e da expressão pessoal;
• Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações: Esse campo de
experiência deve favorecer a construção das noções de espaço e de direção, pro-
porcionando à criança a possibilidade de reconhecer seu esquema corporal e sua
percepção espacial, que nada mais é do que a criança organizar cognitivamente
as relações do seu corpo com os objetos. É neste campo que as experiências
relacionadas às relações de tempo são abordadas. Aqui existe a viabilização de
situações entre noções de tempo físico (dia, noite, estações, ritmos biológicos,
hoje, ontem, amanhã), as ordens temporais (depois, antes, épocas), as ques-
tões relacionadas às transformações de diferentes tipos de viver pelo tempo.

Todos os campos de experiências são relacionados ao corpo. É por meio do


corpo, do movimento, do gesto e expressão corporal que a criança experimenta, ex-
plora o espaço, conhece os objetos. Com o seu desenvolvimento, o corpo apresenta
uma ampliação do repertório motor e, consequentemente, os movimentos se tornam
mais eficientes na busca por outras explorações e conhecimento. Nesta direção, as
crianças desenvolvem a sua corporeidade.
Diante da apresentação das propostas da BNCC, podemos compreender que a
motricidade possui caráter pedagógico, é pelo movimento, pelo gesto que a criança
manifesta suas intenções, suas emoções. O corpo e sua interação com o ambiente
promovem a aprendizagem, o desenvolvimento. Essa capacidade do ser humano
sentir e utilizar o corpo como uma manifestação com o mundo é o que chamamos
de motricidade, que é o nosso objeto de estudos na área psicomotora.
Nesta unidade conhecemos os conceitos da psicomotricidade, hoje uma ciência
que permite compreender o desenvolvimento psicomotor, ou seja, o aspecto integral.
Apresentaremos na próxima unidade quais são os elementos que formam as áreas
de estudos da psicomotricidade.
Corpo, Movimento e Psicomotricidade – Unidade 3 / P. 11

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
A Psicomotricidade na Educação Infantil
O livro A Psicomotricidade na Educação Infantil, das autoras Pilar A. Sánchez, Marta
R. Martinez e Iolanda V. Peñalver, é uma ferramenta útil para qualificar o cotidiano
pedagógico, ajudando a dar sentido à ação infantil por meio de intervenções e
estratégias para trabalhar eficientemente com a psicomotricidade.

Vídeos
A importância de atividades que desenvolvem a psicomotricidade
A reportagem A importância de atividades que desenvolvem a psicomotricidade, no G1,
mostra o movimento como algo fundamental para o desenvolvimento da criança.
https://glo.bo/3apnZRq

Leitura
Psicomotricidade e práticas pedagógicas no contexto da Educação Infantil: uma etnografia escolar
O estudo tem como objetivo analisar como ocorrem as práticas pedagógicas
psicomotoras na escola de Educação Infantil e qual a importância da psicomotricidade
para o desenvolvimento da criança.
https://bit.ly/3awmqB4
A importância da Psicomotricidade para Educação Infantil
No texto você tem informações relacionadas ao conceito e a importância de
atividades psicomotoras na educação infantil.
https://bit.ly/2KD4xq5

Referências
BRASIL. Referencial Curricular Nacional Para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998. v.3
BUENO, J. M. Psicomotricidade: teoria e prática. São Paulo: Lovise, 1998. COLEVATI, C. A.; PINHO, E.
D. SORROCHE, E. M. O corpo em movimento:
uma relação entre a psicomotricidade e a aprendizagem escrita. Monografia Tra- balho de Conclusão de Curso.
Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium. Lins – São Paulo, 2009.
FONSECA, V. da. Psicomotricidade: uma visão pessoal. Construção Psicopeda- gógica, São Paulo-SP,
2010, vol. 18, n.17, pg. 42-52.
_______. Manual de Observação Psicomotora: significação psiconeurológica dos fatores psicomotores.
Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
_______. Psicomotricidade. 2. Ed. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 1995.
_______. Psicomotricidade: perspectivas multidisciplinares. Porto Alegre: Artmed, 2004.
HAETINGER, M. G. O universo criativo da criança na educação. 2 ed. Porto Alegre: Instituto Criar, 2005.
OLIVEIRA, M. K. Aprendizado e desenvolvimento: um processo sócio-histórico. São Paulo: Scipione, 1997.
ROSA NETO, F. Manual de Avaliação Motora. Porto Alegre: Artes Médicas, 2002.

Site Visitado
Sociedade Brasileira de Psicomotricidade. <http://profissionaispsicomotricidade. blo-
gspot.com.br/2007/07/segundo-sociedade-brasileira-de.html.> Acesso em: 10/4/2013.
Corpo, Movimento e Psicomotricidade – Unidade 4 – p. 1

CORPO, MOVIMENTO E PSICOMOTRICIDADE – UNIDADE 4

Elementos da Psicomotricidade

• Psiquismo e Motricidade;
• Áreas da Psicomotricidade.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
• Apresentar as áreas da psicomotricidade, fundamentais ao desenvolvimento infantil;
• Melhor compreensão quanto à importância do movimento, das brincadeiras e experiên-
cias que contribuem para a tomada de consciência do esquema corporal.
Corpo, Movimento e Psicomotricidade – Unidade 4 – p. 2

Contextualização
Para iniciarmos nossa contextualização, sugiro que leia o artigo da revista Eventos
Pedagógicos, denominado: “A psicomotricidade na educação infantil”, que trata da
importância da psicomotricidade na Educação Infantil, trazendo uma reflexão sobre
a relevância do conhecimento desta ciência na formação do professor, em prol do
desenvolvimento integrado entre o corpo, a mente e o social do seu aluno.

É importante que você faça a leitura desse pequeno artigo, refletindo sobre sua
formação profissional e seu papel como educador, a fim de despertar sua consciên-
cia quanto à atuação dessa prática.

A Psicomotricidade na Educação Infantil, disponível em: https://bit.ly/2yrNYuh

Introdução
Desde o início dos nossos estudos, observamos que a psicomotricidade estuda
o homem através do seu corpo em movimento e a relação deste com os mundos
interno e externo. Não apenas o movimento (motricidade), mas também o intelecto
(cognitivo) e o afeto (emoção) fazem parte do desenvolvimento humano e precisam
de estímulos para que se desenvolvam integralmente.

Nós, educadores, precisamos compreender a educação psicomotora como meio


fundamental para ajudarmos a criança na superação de suas dificuldades, e, conse-
quentemente, para seu pleno desenvolvimento.

Nesta unidade, conceituaremos os elementos da psicomotricidade, tais como a


coordenação motora fina e ampla, a tonicidade, o equilíbrio, a orientação espacial
e temporal, entre outros, a fim de adquirir um conhecimento mais aprofundado e
de saber atuar na prática com nossos alunos, estimulando, orientando e propician-
do experiências que trabalhem e integrem a motricidade, o cognitivo e o afetivo,
ampliando o conhecimento do próprio corpo, e, consequentemente, possibilitando
um melhor desenvolvimento da criança.

Apesar dos estudos sobre a psicomotricidade serem, de certa forma, recentes,


atualmente, profissionais de diversas áreas, principalmente educacional, têm bus-
cado melhores formas de alcançar êxito quanto à aprendizagem dos seus alunos,
utilizando-se desta ciência.

É importante termos claro que aprendizagem é diferente de ensino, já que este


está voltado apenas à transmissão de conteúdos e conhecimentos por meio de
livros e/ou aulas expositivas, atendendo apenas ao conhecimento intelectual/cog-
nitivo, portanto, neste momento é importante que você faça uma reflexão sobre os
Corpo, Movimento e Psicomotricidade – Unidade 4 – p. 3

modelos tradicionais de ensino, ou seja, as quatro paredes da sala de aula fechada,


alunos enfileirados, professores autoritários à frente como detentores únicos do sa-
ber, alunos que não têm liberdade para opinar, se expressar, que não se movimen-
tam e não se relacionam entre si, são modelos antigos que, apesar de infelizmente
ainda existirem em alguns locais, já não atendem mais ao mundo contemporâneo
em que vivemos, pois são modelos ultrapassados.

Nos dias de hoje, a literatura enfatiza a importância das relações, das expres-
sões, dos gestos, do movimento do corpo e sua relação com os objetos e o ambien-
te que os cerca, ou seja, um constante envolvimento entre afetividade e movimento,
que resulta, consequentemente, na cognição. Profissionais buscam, cada vez mais,
meios de atingir a aprendizagem significativa, ter um olhar mais cauteloso à indivi-
dualidade e diferenças dos seus alunos, buscando assim, estratégias e meios para
atender com qualidade ao desenvolvimento de cada um.

A psicomotricidade tem um papel fundamental nesse desenvolvimento, já que


trata as habilidades emocionais, motoras e cognitivas nas diversas etapas da vida do

ser humano, uma vez que as atividades proporcionadas durante a educação infantil
irão embasar todas as demais fases da vida da criança. Por isso, é muito impor-
tante que você entenda que quanto mais experiências e estímulos você oferecer à
criança, ou seja, quanto mais estrutura essa criança tiver durante as etapas da sua
primeira infância, mais as habilidades cognitivas e habilidades de aprendizagem
serão solidificadas e definidas.

O desenvolvimento do ser humano acontece da/na relação interna com o am-


biente (externo) em que está inserido: seus espaços, objetos e na relação com as
pessoas com quem interage. O movimento é o elo de comunicação entre o corpo
e todas essas relações, porém, quando falamos em movimento, não podemos nos
restringir apenas ao deslocamento do corpo no espaço, antes, devemos entendê-lo
como a linguagem do corpo humano que, em algumas etapas da vida, como, por
exemplo, enquanto bebês, torna-se o meio de comunicação principal, de expres-
são, a linguagem propriamente dita.

É muito importante compreendermos que através do corpo e do movimento a


criança conhece a si, ao outro, conhece o mundo, apropria-se de sua cultura, além de
expressar seus sentimentos, pensamentos, anseios e intenções. É nessa primeira eta-
pa da vida que a criança se desenvolve e adquire habilidades que contribuirão com sua
aprendizagem, com o conhecimento de si e o desenvolvimento ao longo de sua vida.

Contudo, sabemos que na maioria das vezes, dentro dos espaços escolares, ape-
nas no momento das aulas de Educação Física é que o corpo será trabalhado.
Importante destacarmos que o movimento corporal não é uma tarefa apenas do
profissional de educação física, mas de todo profissional que esteja envolvido com a
aprendizagem das crianças, daí a importância de nós, educadores, aprofundarmos
nossos conhecimentos sobre o tema proposto.
Corpo, Movimento e Psicomotricidade – Unidade 4 – p. 4

Psiquismo e Motricidade
Sabemos que a psicomotricidade é a ciência que estuda o homem por meio
do seu corpo em movimento e das relações entre os mundos interno e externo.
A própria nomenclatura desta ciência nos explica os aspectos do desenvolvimento
humano em que se debruçam seus estudos, sendo psicomotricidade: psi (psíquico
– afetivo) + co (cognitivo – intelectual) + motric (motricidade – físico) + idade (as
diversas etapas da vida do ser humano).

Conforme o psicólogo soviético Alexis N. Leontiev (1978), o psiquismo huma-


no estrutura-se a partir da atividade social e histórica dos indivíduos, ou seja, pela
apropriação da cultura humana material e simbólica, produzida e acumulada objeti-
vamente ao longo da história da humanidade (ROSSLER, 2004, p. 101).
Assim, podemos dizer que a consciência é um atributo do psiquismo humano,
que se forma à medida em que criamos imagens em nossa mente sobre a realidade
concreta, ou seja, da nossa realidade, do ambiente em que vivemos, das relações
que temos, da nossa cultura. A essas imagens damos nomes (signos) e, dessa for-
ma, constituímos nossa linguagem.

Para compreender melhor a formação do psiquismo humano, sugiro que assista ao vídeo
“O Psiquismo Humano e o Desenvolvimento Funcional Complexo”, do professor Dr. Ricardo
Eleuterio. Nele é apresentado o psiquismo como sendo as representações mentais da reali-
dade em que vivemos, sendo que essas representações são responsáveis por organizar nos-
sas formas de agir, sentir e pensar (formando a personalidade e o comportamento humano).
Disponível em: https://youtu.be/NTzmucgmxnM

Já a motricidade tem como base de estudo o movimento, que engloba as funções


nervosas e musculares, além dos impulsos elétricos, os quais, em conjunto, permi-
tem tanto os movimentos voluntários, quanto os involuntários do corpo humano.

A psicomotricidade, assim, busca compreender as relações que ocorrem entre o


psiquismo e a motricidade. “A psicomotricidade está relacionada com o processo
de maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgâ-
nicas” (DUARTE, 2015, p. 22).

É importante você compreender que, por meio dos sentidos e sensações, a crian-
ça vai recebendo os estímulos proporcionados pela experiência motora, o que per-
mite que ela construa suas noções de tamanho, formas, proporções e ainda, suas
impressões visuais, auditivas e táteis. À medida em que a criança movimenta seu
corpo e tem ações sobre o ambiente e objetos, ela experimenta, testa, amplia suas
sensações, percepções e, consequentemente desenvolve suas funções cognitivas.
[...] o comportamento físico da criança expressa, uma a uma, suas dificul-
dades intelectuais e emocionais [...] ao vermos o corpo em movimento,
percebemos a ação dos braços, pernas e músculos gerada pela ação da
mente. (JOSÉ, COELHO, 1991, p. 108, apud DUARTE, 2015, p. 22)
Corpo, Movimento e Psicomotricidade – Unidade 4 – p. 5

Dessa forma, a educação psicomotora contribui para que as crianças se desen-


volvam em sua totalidade, além de também auxiliar crianças que apresentam atraso
motor (desde os casos mais leves até os mais sérios).

Para nos ajudar a compreender todas essas relações, nos orientar à prevenção
de dificuldades no desenvolvimento das crianças e ainda, nos ajudar a identificar
atrasos motores, a psicomotricidade apresenta alguns elementos/áreas do desen-
volvimento psicomotor, os quais estudaremos adiante.

Áreas da Psicomotricidade
Esquema Corporal (Formação do EU)
O Esquema Corporal nada mais é do que uma pré-consciência que adquirimos sobre
nosso próprio corpo, e ainda sobre como podemos nos expressar e agir por meio dele.

Conhecer o próprio corpo, identificar manifestações e ou sintomas, como por


exemplo, sintomas de estresse, são aspectos básicos que precisam ser desenvolvi-
dos desde a primeira infância por meio de um trabalho psicomotor e, à medida que
o corpo cresce, vão acontecendo ajustes e modificações no esquema corporal.

Desenvolver a consciência corporal nos permite identificar informações impor-


tantes dadas pelo nosso próprio corpo. Quando a criança não desenvolve essa
consciência, possivelmente apresentará distúrbios relacionados à aprendizagem e
ao comportamento.
A educação psicomotora deve ser considerada como uma educação de
base na escola primária. Ela condiciona todos os aprendizados pré-esco-
lares; leva a criança a tomar consciência de seu corpo, da lateralidade, a
situar-se no espaço, a dominar seu tempo, a adquirir habilmente a coor-
denação de seus gestos e movimentos. A educação psicomotora deve ser
praticada desde a mais tenra idade; conduzida com perseverança, permite
prevenir inadaptações difíceis de corrigir quando já estruturadas [...] (LE
BOULCH, 1994 in OLIVEIRA, 1997, p. 35 apud DUARTE, 2015, p. 23)

Antes mesmo de entrar na escola, a criança já vivencia diversas atividades cor-


porais que contribuem para a construção de sua autoimagem. Essa construção per-
mite a ela identificar, localizar e nomear as partes do seu corpo (estrutura corporal);
ter domínio sobre este, controlando seus movimentos e compreendendo quais par-
tes do corpo se usa em cada movimento (ajuste corporal); experimentar situações;
agir sobre o espaço, objetos etc. Toda a harmonia dos movimentos em relação às
experiências permite que a criança se sinta bem e segura, e, dessa forma, conforme
sua maturidade, suas ações passam a ser mais intencionais.
Corpo, Movimento e Psicomotricidade – Unidade 4 – p. 6

Figura 1
Fonte: Getty Images

Você Sabia?
A evolução do esquema corporal ocorre desde as primeiras sensações do bebê; aos 5
meses há o início das percepções das mãos e dos pés; aos 9 meses, o desenvolvimento
motor lhe proporciona impressões novas da percepção e da motricidade: andar, sentar
etc. Dos 11 aos 13 meses, com a ampliação visual, há um aumento nas possibilidades de
movimentação. Aos 18 meses, a criança possui uma noção de seu próprio corpo, mas ain-
da não o projeta em relação ao corpo dos outros. Entre os 2 e 3 anos, adquire controle de
órgãos de eliminação. Dos 3 anos aos 4 anos, descobre a diferença entre os sexos, tanto
corporalmente como intelectualmente e, aos 5 anos, completa-se um primeiro esquema
corporal. Portanto, a criança de 6 anos que não possuir a noção de esquema corporal
será desajeitada ou descoordenada, o que a prejudicará afetivamente (MUTSCHELE, 1985
apud DUARTE, 2015, p. 25).

Ao desenvolver a consciência corporal, faz-se necessárias experiências intrapes-


soais, momentos de reflexão e autoconhecimento, permitindo, por exemplo, o tra-
balho com pequenos relaxamentos e respiração. Tais atividades podem contribuir
para a melhora da concentração, atenção, além de aproximar a criança de si, de
suas sensações e percepções.

Sugiro a leitura do livro “Pedagogia do movimento: universo lúdico e psicomotricidade”.


Nele, os autores descrevem alguns estudos de caso, a que denominam Caso de Ensino. Na
página 47, o Caso de Ensino I aborda a Consciência Corporal e um trabalho todo voltado ao
relaxamento e respiração dos alunos, tendo como foco a concentração e conhecimento do
próprio corpo.
Pedagogia do movimento: universo lúdico e psicomotricidade (e-book) / Herminia Regina
Bugeste Marinho [et al.]. – Curitiba: InterSaberes, 2012.

É muito importante relacionarmos os movimentos das crianças aos objetivos


educacionais que privilegiam a aprendizagem. A própria BNCC – Base Nacional
Comum Curricular, que tem como eixos estruturantes, as interações e as brinca-
Corpo, Movimento e Psicomotricidade – Unidade 4 – p. 7

deiras, organizou-se, na Educação Infantil, em cinco campos de experiências, entre


esses, o campo “Eu, o outro e o nós”, enfatizando a autonomia da criança, o cui-
dado consigo, o conhecimento de si e do outro, a fim de que essa se aproprie de
sua cultura e aprenda o respeito à diversidade. Já o campo de experiências “Corpo,
Gestos e Movimentos”, voltado à psicomotricidade, têm o corpo e o movimento da
criança como base do desenvolvimento, da aprendizagem, das brincadeiras, do co-
nhecimento que a criança vai adquirindo por intermédio das diferentes linguagens
tais como música, dança, teatro, brincadeiras de faz de conta, entre outras experi-
ências que vão estimulando e contribuindo para o crescimento e desenvolvimento
psicomotor da criança.

Sugiro que tome conhecimento da Base Nacional Comum Curricular, explorando a etapa da
educação infantil, disponível no link abaixo. Neste documento, você terá acesso aos Direitos
de Aprendizagem e Desenvolvimento na Educação Infantil, bem como aos campos de expe-
riências em que a BNCC estrutura os objetivos de aprendizagem em cada fase de desenvolvi-
mento da criança. O link para acesso à BNCC é: https://bit.ly/2yserb9

Neste momento, é necessário que você compreenda a relevância do trabalho


com atividades voltadas à consciência corporal, visto que, à partir do reconheci-
mento do corpo, a criança desenvolve outras áreas importantes como a coorde-
nação, a postura, o desenvolvimento da função tônica, além da estrutura espaço
temporal e a lateralidade, conforme veremos a seguir.

Figura 2
Fonte: Adaptado de Getty Images

Lateralidade
A lateralidade é a capacidade de utilizar os dois lados do corpo, tanto o lado
direito, quanto o esquerdo, durante a movimentação do corpo. “A lateralidade é
a propensão que o ser humano possui de utilizar preferencialmente mais um lado
do corpo do que o outro em três níveis: mão, olho e pé”. (OLIVEIRA, 1997, p. 62
apud DUARTE, 2015, p. 25)

É importante entendermos que normalmente as pessoas desenvolvem mais habi-


lidades em um dos lados do corpo devido à sua dominância cerebral, o que significa
Corpo, Movimento e Psicomotricidade – Unidade 4 – p. 8

que, se uma pessoa possui dominância cerebral esquerda, ela desenvolverá maior
habilidade do lado direito do corpo (destros). O contrário acontece com as pessoas
cuja dominância cerebral está no lado direito, que desenvolvem maior habilidade do
lado esquerdo do corpo (canhotos).

A lateralidade permite que os movimentos estejam combinados numa ação mo-


tora, determinando assim um lado predominante.

Figura 3
Fonte: Getty Images

Devemos observar que, por volta do primeiro ano de vida, a criança usa as duas
mãos para pegar e manusear objetos, e, conforme vai crescendo, vai delimitando mais
sua preferência quanto ao uso de um dos lados. Por volta de 2 anos, a maioria das
crianças já definiu sua lateralidade, ainda que faça uso da mão ou pé oposto. É muito
comum ouvir algumas pessoas dizerem “meu filho vai ser canhoto, ele come com a
mão esquerda”, entre outras frases que se referem à criança nessa faixa etária. Enten-
da que apenas aos 6 anos de idade a lateralidade está totalmente definida e, só então,
saberemos quais crianças são destras e quais são canhotas. Até essa faixa etária,
portanto, é fundamental que a criança seja estimulada, principalmente nas atividades
escolares, a utilizar-se de ambos os lados, para que desenvolva sua predominância.

Figura 4
Fonte: Getty Images

Importante!
Jamais devemos forçar a criança a mudar seu lado dominante, ou seja, a criança é canho-
ta e o adulto exige que utilize a mão direita, pois isso pode ocasionar diversos transtor-
nos nas funções psicomotoras.
Corpo, Movimento e Psicomotricidade – Unidade 4 – p. 9

Aos 6 anos de idade, com a lateralidade bem definida, a criança se conscientiza


do seu eixo corporal, ou seja, distingue frente e atrás, direita e esquerda em seu
próprio corpo. Essa conscientização já faz parte da primeira etapa da orientação
espacial, área da psicomotricidade que vai trabalhar a localização da pessoa em
relação ao espaço/ambiente e objetos, conforme veremos a seguir.

Figura 5
Fonte: Getty Images

A lateralidade continua evoluindo e, aos 7 anos de idade, a criança já consegue


compreender a noção de direita e esquerda a partir do seu próprio corpo em rela-
ção ao outro, ou seja, de maneira espelhada (sua direita é a esquerda de quem está
à frente).

Figura 6
Fonte: Adaptado de Getty Images

O cérebro funciona de forma integrada, portanto, dificuldades na lateralidade


podem afetar outras funções, como:
• Habilidade motora;
• A fala e a escrita;
• Localização no espaço (noções de dentro e fora, em cima e em baixo);
• Desempenho inferior na leitura e na escrita em comparação com crianças com
dominância lateral completa (inclusive espelhamento das letras e números);
• Dislexia;
• Desempenho inferior em matemática em comparação com crianças com do-
minância lateral completa.
Corpo, Movimento e Psicomotricidade – Unidade 4 – p. 10

Lateralidade Cruzada
Agora que você já sabe que a lateralidade é a predominância de um dos lados
(direito ou esquerdo) que as pessoas utilizam para realizar suas atividades, como
escrever, comer, ouvir etc., é importante que você saiba também que existem casos
em que o indivíduo utiliza-se da mão direita para escrever, do pé direito para chutar,
mas, se vai olhar por um telescópio, por exemplo, utiliza-se do olho esquerdo, ou
seja, para algumas atividades utiliza um lado do corpo e, para outras, outro lado.
Nesse caso, temos a lateralidade cruzada, que segundo SILVA (2015, p.10) “[...]
há discordância estabelecida entre o lado preferencial utilizado pelo membro supe-
rior e inferior, ou entre olho e membros”.

Pessoas com lateralidade cruzada apresentam dificuldades de aprendizagem,


bem como estima baixa, fadiga, falta de atenção etc.

Sugiro que assista ao vídeo “Trabalhe a Lateralidade dos Pequenos com estes 3
exercícios”, que apresenta algumas atividades sobre como podemos trabalhar e desenvolver
a lateralidade com nossos pequenos. Disponível em: https://youtu.be/4rmucdULoqE

Estruturação ou Orientação Espacial


Conforme a criança vai crescendo, sendo estimulada e se desenvolvendo, ela
passa a fazer uma construção mental de tudo o que a cerca, por meio dos seus
movimentos. Ela começa a situar-se no espaço em que vive, ou seja, relaciona seu
corpo ao espaço, aos objetos e às pessoas e os situa quanto à distância, o lado de
dentro-fora, frente e atrás, longe ou perto e assim por diante. “Através do espaço
e das relações espaciais que nos situamos no meio em que vivemos, em que esta-
belecemos relações entre as coisas, em que fazemos observações, comparando-as,
combinando-as, vendo as semelhanças e diferenças entre elas.” (OLIVEIRA, 1997,
p.74 apud DUARTE, 2015, p. 27).

Assim, devemos compreender que, primeiro a criança percebe o seu corpo (es-
quema corporal), depois percebe seu corpo em relação ao espaço, em seguida a
posição dos objetos em relação a ela mesma e, por fim, relaciona os objetos entre si.

A percepção sensorial (visão, tato, audição etc.) leva a criança a perceber as


caraterísticas dos objetos, possibilitando uma organização desses no espaço, visto
que ela conseguirá classificá-los por tamanho, peso, cor, entre outras propriedades
que permitem agrupamentos.

É muito importante que nós, como educadores, tenhamos um planejamento


focado em atividades que trabalhem os elementos da psicomotricidade, tendo em
vista a predominância da área a ser trabalhada dentro de cada atividade, conforme
exemplificado a seguir.

Exemplos de atividades para trabalharmos predominantemente estrutura/orien-


Corpo, Movimento e Psicomotricidade – Unidade 4 – p. 11

tação espacial:

Figura 7 – Brincar de amarelinha (frente, atrás,


um lado, o outro, dentro, fora, linha)
Fonte: Getty Images

Figura 8 – Brincar de gangorra (em cima, em baixo)


Fonte: Getty Images

Figura 9 – Brincar de faz de conta (dentro / fora)


Fonte: Getty Images
Corpo, Movimento e Psicomotricidade – Unidade 4 – p. 12

O que aprender em estruturação espacial?


• Situações (dentro, fora, no alto, abaixo, longe, perto);
• Tamanho (grosso, fino, grande, médio, pequeno, estreito, largo);
• Posição (em pé, deitado, sentado, ajoelhado, agachado, inclinado);
• Movimento (suspender, abaixar, empurrar, puxar, dobrar, estender, girar, rolar, cair, levan-
tar-se, subir, descer);
• Formas (círculo, quadrado, triângulo, retângulo);
• Qualidade (cheio, vazio, pouco, muito, inteiro, metade);
• Superfícies e Volumes.

Devo realçar a importância dessas atividades para a preparação da criança às


demais fases de desenvolvimento, pois.
[...] as alterações na formalização da escrita também estão vinculadas a
problemas de origem orgânica, como os motores, que impedem a facilida-
de de certos movimentos. Durante a execução da leitura e escrita nota-se a
postura corporal, o sentar, as tensões, o relaxamento, modo de preensão
do lápis, concentração etc. (WEISS, 2000 apud DUARTE, 2015, p. 27)

Dessa maneira, a criança que desenvolve a orientação espacial, aprende noções


fundamentais ao seu desenvolvimento, como as noções de distância, direção entre
outras. A criança desenvolve também a memória espacial, que permite, por exem-
plo, reproduzir por meio de um desenho a imagem de um espaço antes observado.

Quando as bases da psicomotricidade não são bem desenvolvidas e/ou traba-


lhadas, a criança pode apresentar transtornos psicomotores, prejudicando inclusive
sua aprendizagem escolar. Por exemplo, a criança que não desenvolveu a consciên-
cia corporal plenamente pode não ter domínio do seu corpo, o que comprometerá
os demais elementos da psicomotricidade. Se a estrutura espacial está comprome-
tida, a criança pode apresentar dificuldades em relação à representação abstrata
de direita e esquerda, ou ainda, pode não conseguir escrever na pauta (na linha
horizontal do caderno), realizando movimentos ascendentes ou descendentes, pode
ainda, apresentar dificuldades quanto à posição das letras, espelhando essas no
momento da escrita, não discriminando as direções das letras e/ou números, como
“b” e “p”, “6” e “9”, “b” e “d”, “p” e “q”, “15” e “51”.

Além disso, a estrutura espacial não desenvolvida pode afetar a leitura, levando
a criança a dificuldades como pular linhas, palavras durante a leitura e/ou dificulda-
de para mover os olhos da esquerda para a direita durante a leitura.

Também é importante distinguir a fase da alfabetização e não as confundir com


transtornos psicomotores, pois é muito comum a criança espelhar as letras, escrever
da direita para a esquerda ou utilizar o caderno de ponta-cabeça no início da alfabeti-
zação, o que não significa um transtorno. Aos poucos, com o trabalho de associação
ao alfabeto, por exemplo, mostrando à criança qual a posição correta da letra ou a
forma de usar o caderno, essa passa a compreender, e, consequentemente, ajusta
sua escrita e as posições. Daí a importância de o educador ter um olhar cauteloso ao
desenvolvimento de cada criança, orientando-o sempre que necessário.
Corpo, Movimento e Psicomotricidade – Unidade 4 – p. 13

Estruturação ou Orientação Temporal


A estruturação ou orientação temporal trata da maneira como a criança se situa
no tempo. Apresenta a sequência de acontecimentos, bem como a duração, o in-
tervalo e o ritmo no tempo, tais como: antes, durante, após, ontem, hoje, amanhã,
os dias dentro do mês, as semanas, e assim por diante. É muito comum as crianças,
durante sua fala, dizerem, por exemplo, “vou para a escola ontem” ou “amanhã foi
o aniversário da Maria?”, “depois de ontem”, “antes de hoje”. As noções de tempo
são difíceis para a criança associar, principalmente por serem noções abstratas.

Devemos observar que a percepção temporal comprometida também afetará o


desenvolvimento da criança (enfatizamos aqui principalmente o desenvolvimento
escolar). “[...] a leitura exige a percepção temporal e a sincronização entre a leitura e
os movimentos oculares (olhos) e linguagem interior (mental) em coordenação com
a respiração para a leitura em voz alta”. (DUARTE, 2015, p. 28)

Para realizar a leitura, a criança precisa ter domínio do ritmo, a sequência do som
no tempo, e ainda, possuir memória visual e auditiva. É muito comum que as crian-
ças, principalmente na fase da alfabetização, escrevam tudo junto, sem perceber os
espaços entre as palavras. Exemplo: “espetei minhamãocomogarfo”. O trabalho com
cantigas, parlendas, contação de histórias, identificação de palavras nas músicas can-
tadas, por exemplo, ajudam a criança a perceber o som e sua sequência, ajustando
sua escrita da maneira correta.

É importante entendermos que a orientação temporal caminha junto à orienta-


ção espacial,
[...] o corpo coordena-se, movimenta-se dentro de um espaço determi-
nado e em função do tempo, em relação a um sistema de referência.
Sendo assim, não se concebe a ideia de espaço sem referência à noção
de tempo e por esta razão muitas vezes nos deparamos com referências
à orientação espaço-temporal. (DUARTE, 2015, p. 27)

Dessa forma, na área da psicomotricidade, a orientação espaço-temporal deve


ser reforçada com atividades diversas, como por exemplo, amarelinha africana; ob-
servar animais como lesma e formiga e dizer qual é mais rápido e qual é mais lento;
dança dos bambolês (onde as crianças ficam com um bambolê em mãos e jogam
uma para a outra); aulas que envolvam dança e instrumentos musicais, entre outros.

Os principais conceitos a aprender na orientação temporal:


• Simultaneidade;
• Ordem e sequência;
• Duração dos intervalos;
• Renovação cíclica de certos períodos – é a percepção de que o tempo é deter-
minado em dia (manhã, tarde e noite), semanas e estações.
Corpo, Movimento e Psicomotricidade – Unidade 4 – p. 14

Tônus ou tonicidade
O tônus é um termo que se refere, na fisiologia, à contração muscular. Está
presente em todas as funções motoras: equilíbrio, coordenação motora, postura e
movimento, os quais abordaremos a seguir. Podemos dizer que o tônus tem grande
relevância para o desenvolvimento das pessoas, visto que influencia a execução dos
movimentos do corpo.

Uma das questões básicas é entendermos o tônus muscular como um fenômeno


nervoso que acontece mesmo sem a execução de movimentos (em repouso), isto
é, nossos músculos estão sempre em prontidão para executar algum tipo de movi-
mento. “[...] O tônus é o responsável pela execução dos movimentos, sendo o seu
domínio observado desde o nascimento” (MARINHO et al., 2012, p. 59). O tônus
também é responsável pela manutenção de posturas.

Segundo Marinho (2012), na psicomotricidade, um termo muito utilizado é o diá-


logo tônico, que trata da comunicação que fazemos com o mundo, mesmo sem que
ainda tenhamos a palavra falada, ou seja, através das nossas posturas e gestos. Quando
ouvimos expressões “você está muito nervoso, veja como está tenso” ou ainda, quando
as pessoas comentam sobre nossa preocupação, notando rigidez do pescoço e om-
bros, perceba que estamos revelando nossos sentimentos pelo nosso próprio corpo.

Equilíbrio
O equilíbrio é a capacidade do indivíduo de se manter sobre uma base de sus-
tentação do corpo de forma estável, esteja esse parado ou em movimento. O
equilíbrio pode ser classificado em equilíbrio estático, quando o corpo se man-
tém parado e equilíbrio dinâmico, quando o corpo está em movimento pelo
espaço em que está inserido.

De acordo com Gallahue (2005), ao nascer, o


bebê tem pouco controle da cabeça e dos músculos
do pescoço, aos poucos, vai adquirindo controle,
até conseguir manter a cabeça ereta, depois disso,
passa a ter controle dos músculos das regiões torá-
cica e lombar do tronco e então, quando alcança
controle total do tronco, consegue sentar-se sozi-
nho, ao mesmo tempo em que está desenvolvendo
o controle sobre os braços e mãos. “A obtenção da
figura ereta, em pé, representa um marco desen-
volvimentista na busca do bebê pela estabilidade”
(GALLAHUE, 2005, p. 168). Assim, ter controle
do equilíbrio é uma grande conquista para a crian-
ça, que dará seus primeiros passinhos, ganhará
independência e poderá a partir de então, se mo-
vimentar e explorar os espaços que a circundam. Figura 10
Fonte: Getty Images
Corpo, Movimento e Psicomotricidade – Unidade 4 – p. 15

Importante!
Dentre os movimentos rudimentares: estabilidade (equilíbrio), locomoção e manipu-
lação, a estabilidade é a mais básica, visto que todo elemento voluntário envolve um
elemento de estabilidade, conforme nos apresenta Gallahue (2005).

Coordenação Motora Global / Ampla (praxia global)


e Coordenação Motora Fina (praxia fina)
A coordenação motora global, também chamada de coordenação motora ampla,
diz respeito à ação conjunta de diferentes e grandes músculos (principalmente os
membros inferiores e superiores do tronco) na execução de movimentos voluntá-
rios, amplos e complexos, e depende da habilidade do equilíbrio postural.

É muito importante que as crianças, durante a infância, brinquem e se movimen-


tem em espaços abertos, como parques, onde elas possam correr, saltar, brincar
à vontade em balanços, gangorras, cordas, entre outras atividades que contribuam
para seu desenvolvimento físico.

Figura 11
Fonte: Adaptado de Getty Images

Já a coordenação motora fina é a habilidade manual que o indivíduo tem, que


possibilita realizar movimentos combinados, utilizando pequenos grupos muscu-
lares. Dentre as atividades que envolvem a coordenação motora fina estão, por
exemplo, escrever, recortar, encaixar, juntar pecinhas em um recipiente, brincar de
bolinha de gude etc.

Para Alves (2008, p. 58) apud Campos e Souza (2014, p. 20) “É uma coordena-
ção segmentar, normalmente com a utilização da mão exigindo precisão nos mo-
vimentos para a realização das tarefas complexas, utilizando também os pequenos
grupos musculares”.

É importante que você saiba que, além da coordenação motora fina, há que pos-
suir um controle ocular, denominado coordenação óculo-manual, ou viso-motora,
ou seja, a visão acompanhando os gestos da mão. Exemplo: escrita
Corpo, Movimento e Psicomotricidade – Unidade 4 – p. 16

Figura 12
Fonte: Adaptado de Getty Images

Em Síntese
Trabalhar a psicomotricidade e suas áreas especificamente é muito importante para o
desenvolvimento das crianças. É através do movimento, do estímulo às experiências e
brincadeiras que as crianças se desenvolvem em sua totalidade.
Muitas atividades, senão todas, ofertadas às crianças, vão integrar a cognição, a motri-
cidade e o afetivo, contudo, nós, educadores, temos de propiciar vivências, tendo um
planejamento que enfatize cada elemento da psicomotricidade e sua predominância, ou
seja, em um jogo de xadrez, se desenvolve coordenação motora fina (motricidade), se
desenvolve a afetividade (a experiência com o adversário), porém, a predominância está
na área cognitiva. Já, pular corda, desenvolve a afetividade, a cognição, no entanto, a
predominância está na coordenação motora ampla (motricidade).
Assim, o planejamento, o olhar cauteloso às dificuldades dos alunos e o que se quer al-
cançar são fundamentais.

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Corpo, Movimento e Psicomotricidade – Unidade 4 – p. 17

Sites
Neurosaber
É possível explorar assuntos diversos ligados à psicomotricidade em campos como
vídeos, artigos, entre outros, de interesse à pesquisa.
https://neurosaber.com.br/

Livros
Ludicidade e psicomotricidade
Leia o capítulo 5 – O desenvolvimento psicomotor (p. 67-78), do livro “Ludicidade e
psicomotricidade”, de Aniê Coutinho de Oliveira e Katia Cilene da Silva. Você verá
como ocorre o desenvolvimento psicomotor, do nascimento aos 12 anos de idade,
tratando a perspectiva de que o desenvolvimento psicomotor pode ser entendido como
a interação entre o pensamento (consciente ou não) e o movimento dos músculos.
https://bit.ly/2w5c3Gm

Vídeos
Aspectos básicos da psicomotricidade
Apresentado pela psicopedagoga e psicomotricista Luciane Brites, do Instituto
Neurosaber, o referido vídeo apresenta a psicomotricidade e a importância de trabalhar,
por meio de atividades que exijam movimento, o lúdico, a fim de que a criança se
desenvolva integralmente.
https://youtu.be/6BdRrepK_IA

Leitura
Atividades lúdicas para a psicomotricidade
O artigo abrange as áreas da psicomotricidade e traz propostas interessantes de
experiências voltadas ao desenvolvimento dessas áreas.
https://bit.ly/2wVug9F
Corpo, Movimento e Psicomotricidade – Unidade 4 – p. 18

Referências
CAMPOS, A. P. da S. SOUZA, L. R. A psicomotricidade como ferramenta no
processo de alfabetização com crianças do 1º ano do Ensino Fundamental.
Trabalho de Conclusão de Curso. Centro Universitário Católico Salesiano,
Lins, SP, 2014. Disponível em: <http://www.unisalesiano.edu.br/biblioteca/
monografias/57410.pdf>.

DUARTE, A. F. Psicomotricidade e suas implicações na Alfabetização. 2. Ed.


São Paulo: All Print Editora, 2015.

GALLAHUE, D. L. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, adoles-


centes e adultos. 3.ed., São Paulo: Phorte, 2005.

MARINHO, H. R. B. [et al.]. Pedagogia do movimento: universo lúdico e psi-


comotricidade [livro eletrônico] Curitiba: InterSaberes, 2012. Disponível em: <ht-
tps://plataforma.bvirtual.com.br/Account/Login?redirectUrl=/Acervo/Publica-
cao/6196>. Acesso em 07/02/2020.

SILVA, E. E. Lateralidade em escolares de 7 a 8 anos: Relação com a


aprendizagem. Campina Grande, PB, Universidade Estadual da Paraíba. Centro de
Ciências Biológicas e da Saúde. Departamento de Educação Física. Especialização
em Educação Física Escolar, 2015. Disponível em: <http://dspace.bc.uepb.edu.br/
jspui/bitstream/123456789/8937/1/PDF%20-%20Emmanuella%20Ferreira%20
da%20Silva.pdf>.

ROSSLER, J. H. O desenvolvimento do psiquismo na vida cotidiana: Aproximações


entre a psicologia de Alexis N. Leontiev e a teoria da vida cotidiana de Agnes Hel-
ler. Cad. Cedes, Campinas, vol. 24, n. 62, p. 100-116, abril 2004. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v24n62/20094.pdf>. Acesso em 27/01/2020.
Corpo, Movimento e Psicomotricidade – Unidade 5 – pág.1

Desenvolvimento Funcional e
Desenvolvimento Funcional na Infância

• Introdução;
• A Importância do Movimento em cada uma das Faixas
Etárias e o Desenvolvimento Funcional na Infância;
• Habilidades Motoras;
• Considerações Finais.

OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Apresentar as possibilidades envolvidas em atividades relacionadas com os movimentos
humanos e as emoções geradas a partir da relação entre meio/aluno, aluno/aluno e
aluno/professor, tanto na perspectiva intrínseca quanto extrínseca;
• Viabilizar situações adequadas para os diferentes momentos de desenvolvimento dos
alunos da Educação Infantil e Ensino Fundamental I;
• Otimizar a relação de ensino-aprendizagem na perspectiva do desenvolvimento do
cidadão crítico e reflexivo.

Introdução
Ao longo da história da humanidade, o movimento vem sofrendo modificações
quanto à sua funcionalidade. Além disso, por muito tempo, as destrezas e as capaci-
dades físicas eram elementos essenciais para a sobrevivência do ser humano.

Assim, a necessidade de ter força, agilidade e resistência estavam relacionadas


às situações de vida ou morte. Afinal de contas, a caça para a alimentação e uso
da força para a defesa de suas famílias contra outros predadores exigiam de forma
natural essas habilidades e capacidades.

As atividades relacionadas à infância já possuíam uma relação direta com esse de-
senvolvimento, que podemos comparar com os outros animais, que testam e desenvol-
vem suas habilidades e capacidades brincando, assim como fazem os cães, os leões etc.

Graças à capacidade intelectual do ser humano, que além de possibilitar reflexões


mais complexas que os outros seres da natureza, faz com que seja possível guar-
dar informações para as gerações futuras se apropriarem desse conhecimento, sem
terem vivenciado uma determinada situação que levou ao conhecimento específico.

1
11
Corpo, Movimento e Psicomotricidade – Unidade 5 – pág.2

Com isso, as sobrevivências foram se tornando menos ameaçadas. A manipula-


ção de novas ferramentas que facilitaram a vida cotidiana do ser humano e o desen-
volvimento de novas tecnologias tornaran o homem cada vez menos dependente de
suas capacidades e destrezas físicas.

Na sociedade moderna, o uso exacerbado de alguns utensílios, como carros,


motos, escadas rolantes, elevadores entre outros, afasta ainda mais o movimento da
rotina diária de cada indivíduo e, assim, por falta de estímulo, problemas como obe-
sidade, menor desenvolvimento dos músculos, deficiências físicas (força, resistência e
flexibilidade), tornam-se fatores relacionados diretamente com o desenvolvimento de
doenças crônicas, além de problemas psicossociais.

Pesquisas atuais mostram a importância da presença do movimento no desen-


volvimento dos indivíduos. Crianças cujas vidas sejam restritas de brincadeiras com
a presença de ações motoras, por terem a maior parte do seu tempo de diversão
relacionados a uma postura estática em frente a uma tela, seja de computador, televi-
são, vídeo games e tablet, acabam não vivenciando atividades fundamentais para seu
desenvolvimento motor, cognitivo e psicosocial. Crianças sedentárias têm maior pos-
sibilidade de serem adultos sedentários, sendo que podemos ainda relacionar tal fator
aos pais sedentários, que aumentam a incidência dessas características em seus filhos.

Desta maneira, a falta de conhecimento dos pais em relação aos potenciais de


aprendizagem envolvidos nas brincadeiras coletivas que contemplem movimento,
raciocínio para solucionar problemas que solicitam aspectos intelectuais, destrezas
corporais e adaptações contínuas de ambas contribuem ainda mais para a ausência
do movimento na rotina das crianças.

Podemos ainda destacar fatores da sociedade contemporânea, como a violência,


que nos torna cada vez mais presos dentro de nossas casas, condomínio, shopping
centers etc. Dentro desse contexto, a escola tem um papel fundamental para estimular
ações que possibilitem aos alunos vivências motoras, afetivas e sociais, a fim de esti-
mular práticas que contribuirão para o desenvolvimento integral da criança/indivíduo.

Nesta unidade, iremos refletir sobre questões como:


• O que devemos apresentar em termos de movimento para cada uma das faixas etá-
rias que compõem a Educação Infantil e os Anos Iniciais do Ensino Fundamental?
Sobre qual contextualização devemos apresentar cada uma dessas atividades?
• Qual o potencial de aprendizagem em atividades interdisciplinares que envolvem
o movimento?
• Quais são os movimentos essenciais para garantir o desenvolvimento global de
nossos alunos?
• Quais são os estímulos sociais relacionados com essas atividades e quais as
emoções envolvidas que proporcionam o desenvolvimento do aluno equili-
brado emocionalmente?

Sugerimos que leia um artigo que resume os estudos de David L Gallahue intitulado
Educação Física Desenvolvimentista, disponível em: https://bit.ly/2XYcy0z

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Corpo, Movimento e Psicomotricidade – Unidade 5 – pág.3

O artigo apresenta a importância do movimento no desenvolvimento do indivíduo,


apontando características do desenvolvimento motor, aprendizagem cognitiva e cres-
cimento sócio afetivo cognitivo e crescimento sócio afetivo.

Leia o artigo e faça uma reflexão sobre a importância do movimento no currículo


escolar em relação à sua prática profissional futura, ressaltando a importância do
estudo da unidade para a sua formação pessoal e profissional.

A Importância do Movimento em cada uma


das Faixas Etárias e o Desenvolvimento
Funcional na Infância
Compreendemos por meio dos nossos estudos a importância do movimento
para o desenvolvimento humano. Este está presente desde a concepção até os últi-
mos dias de vida. Desde a barriga da mãe (período fetal), a criança apresenta seus
primeiros movimentos perceptíveis. Nessa fase, há movimentação da boca e punhos
e, de forma reflexa, o sugar do polegar e, ainda, com seu crescimento e o espaço
restrito, os movimentos reflexos já são consistentes e consideráveis, tornando-se cada
vez mais ativo até o nascimento.

Nos dois primeiros anos de vida, há um desenvolvimento motor substancial.


A criança passa de um ser sem defesa, relativamente sedentária, para uma criança

consideravelmente maior, vertical e ativa. O desenvolvimento motor tem uma forte


influência no crescimento físico e o desenvolvimento de suas capacidades como força
e resistência. Nessa fase, cabe aos responsáveis e aos educadores possibilitarem um
ambiente seguro para uma exploração nata das crianças, sendo que critérios de
comparação não devem ser estabelecidos, pois algumas características físicas, como
tamanho da cabeça, que influencia no equilíbrio em pleno desenvolvimento, o tama-
nho da mão, que influencia na manipulação de objetos e as capacidades físicas (prin-
cipalmente força e resistência) alteram-se no tempo de desenvolvimento subjetivo.

No primeiro ano de vida, o aumento tanto de peso como de comprimento ocorre


de maneira veloz e continua de forma acentuada até o segundo ano, mas já com
intensidade relativamente menor.

Os movimentos reflexos têm funções importantes na sobrevivência das crianças


e servem de base para o desenvolvimento dos movimentos voluntários posteriores.
Ações como engatinhar e caminhar apresentam uma relação de dependência para
o desenvolvimento funcional das crianças e serão a base para futuras ações mais
complexas. Observe a tabela abaixo:

Tabela 1 – Sequência de desenvolvimento e taxa aproximada de


aparição e inibição de reflexos selecionados primitivos e posturais

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Corpo, Movimento e Psicomotricidade – Unidade 5 – pág.4

Mês
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
De moro x x x x x x x
Susto x x x x x
Procura x x x x x x x x x x x x
Sucção x x x x x
Reflexos Palmar-mental x x x
Primitivos Palmar-mandibular x x x x
Agarramento palmar x x x x x
De Babinki x x x x
Agarramento plantar x x x x x x x x x
Firmeza do pescoço x x x x x x x
Direção auditiva x x x x x
Direção ótica x x x x x x x
Flexão dos braços x x x x x x x x x x
Amortecimento e apoio x x x x x x x x x
Reflexos
Endireitamento do pescoço x x x x x x x
Posturais
Endireitamento do corpo x x x x x x x
Engatinhar x x x x
Caminhar x x x x x
Nadar x x x x x
Fonte: Adaptado de Gllahue, D L., 2003

Os reflexos primitivos estão relacionados diretamente com a obtenção de alimento


e a segurança dos bebês. Portanto, apresentaremos alguns reflexos primitivos que
devem ser acompanhados ao longo do desenvolvimento das crianças.
• Reflexo de Moro: testado a partir de uma condição de insegurança que pode
ser gerada a por uma postura supina. Também pode ser provocado por um
barulho ou até a própria tosse do bebê. A permanência desse reflexo por mais
que seis meses pode ser um indício de distúrbios neurológicos e quando esse
reflexo ocorre de forma assimétrica pode indicar paralisia de Erb ou lesão de
um membro;
• Reflexos de Busca e de Sucção: estão associados diretamente com a busca
pelo alimento e devem ser estimulados principalmente na amamentação,
estando presentes em todos os recém-nascidos normais;
• Reflexo Palmar de Pressão: ocorre desde os primeiros meses e com tamanha
intensidade que é possível que a criança sustente o peso do seu próprio corpo em
suspensão. Um aperto sem força e o prolongamento de ato, após o primeiro ano
de vida, pode ser um sinal de retardo no desenvolvimento motor ou de hemiplegia;
nesse caso, cabe uma investigação com laudo específico para esse diagnóstico;
• Reflexo de Babinsk: se desenvolve para o reflexo plantar. A persistência de ato,
após o sexto mês, pode ser um indicador de falha no desenvolvimento;
• Reflexos Posturais: se enquadram em uma classe de ações que precedem os

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Corpo, Movimento e Psicomotricidade – Unidade 5 – pág.5

movimentos voluntários e, por esse motivo, devem ser estudados pelos indiví-
duos envolvidos no desenvolvimento motor das crianças. De uma forma geral,
esse reflexo posiciona a criança em uma postura ereta em relação ao seu am-
biente e pode durar até o primeiro ano de vida, sendo identificado em todas as
crianças normais;
• Reflexos Corretivos Labirínticos e Visuais: estão envolvidos diretamente
na manutenção da postura ereta das crianças e podem ser identificados com
inclinações diferenciadas do tronco, sendo que a cabeça se posiciona sempre
para um equilíbrio da postura ereta. Essas ações ainda são reforçadas pelo
reflexo de levantamento, que envolve os braços em uma ação para o mesmo
objetivo postural;
• Reflexos de Engatinhar, Andar e Nadar: embora, aparentemente, estejam
relacionados com atos voluntários posteriores não estão bem esclarecidos nos
estudos do desenvolvimento motor. Thelen (1985) propõe que o estímulo de um
reflexo desenvolva a força dos membros envolvidos, facilitando o desenvolvi-
mento futuro dos movimentos voluntários.

Para compreender melhor a sequência de desenvolvimento dos reflexos primitivos e postu-


rais, assista aos vídeos do professor Rogério J. de Souza:
• Reflexos primitivos – Avaliação e Integração: https://youtu.be/wm-ApSbCMK8
• Reações Posturais: https://youtu.be/9MohtXdx5AU

Desenvolvimento Funcional na Infância


Do nascimento até o final da primeira infância, o desenvolvimento motor, de uma
forma geral, está associado aos processos de sobrevivência, tendo como principal
foco a alimentação e a defesa. Os movimentos reflexos e as habilidades rudimentares
(manipulação, estabilização e locomoção), que servem de base para o desenvolvi-
mento motor posterior, completam-se nesse período. Os aspectos cognitivos e o
fortalecimento das musculaturas envolvidas nas ações reflexas e rudimentares são
extremamente necessários para dar condição básica às crianças para tentativas mais
ousadas e complexas para as novas possibilidades que a vida lhes apresentará.

A introdução na fase motora fundamental exige que as atividades de locomoção e


de manipulação estejam totalmente controladas, pois a combinação dessas será ine-
vitável no desenvolvimento natural do ser humano. Embora não seja o foco central
desta unidade, não há como dissociar os aspectos afetivos, que influenciam de forma
significativa a velocidade do desenvolvimento motor das crianças, da segurança rela-
cionada ao meio e às pessoas, que permitem um avanço mais intenso no desenvolvi-
mento das habilidades que serão adquiridas nessa fase. A forma como os fatores de
estímulos são apresentados também pode melhorar a capacidade de aprendizagem
dos nossos alunos.

O modelo proposto a seguir mostra-nos uma condição de interação entre os princi-


pais fatores que atuam nessa proposta de desenvolvimento e interação com os alunos.

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Corpo, Movimento e Psicomotricidade – Unidade 5 – pág.6

Indivíduo Ambiente
Genética, Vivências, segurança,
subjetividade e encorajamento e
fatores psicológicos fatores intrínsecos

Atividades
Fatores físicos e
mecânicos

Figura 1 – Esquema geral de desenvolvimento motor

A interação desses fatores é fundamental no desenvolvimento de todo ser.


As características genéticas, os conceitos/valores familiares e a forma como a criança
percebe refletem-se diretamente em seus aspectos psicológicos. Poderíamos, ainda,
destacar características de saúde, como nutrição, sono e patologias. O ambiente

oferecido às crianças deve ter características que transmitam possibilidades de desen-


volvimento, sem colocar em risco sua saúde.

A dificuldade de pais e educadores está em saber até onde há excesso de segu-


rança que possa estar privando a criança de uma possibilidade de desenvolvimento
maior, e até que ponto a displicência de proteção pode colocar a criança em risco
mais sério. De uma forma geral, na infância, as brincadeiras são o principal cami-
nho para o desenvolvimento como um todo. O sentido da autonomia e o estímulo
às iniciativas estão envolvidos diretamente à capacidade de desenvolvimento socioa-
fetivo que irá servir de alicerce para os próximos passos, caminhando para um novo
sentido de independência e fomentando habilidades para a manipulação de fatores
ambientais de acordo com o anseio da criança para explorar novas vivências.

Espera-se, para a fase da infância, um desenvolvimento motor e físico rápido, ha-


vendo, normalmente, pequenas confusões no que se refere à consciência corporal,
temporal, espacial e direcional. Os aspectos físicos são necessários, inclusive, para
o controle adequado das necessidades fisiológicas, como urinar e defecar. Ações
envolvidas na troca de vestimenta são esperadas nesse período. Os movimentos
bilaterais apresentam menor dificuldade de serem explorados quando comparados
aos unilaterais, e não há diferença significativa nas habilidades e nas capacidades
quando comparamos meninas e meninos dessa faixa etária. Os aspectos cognitivos
são facilmente observados pela quantidade de ideias expressas, que constituem o
desenvolvimento de raciocínio pré-operacional, o qual apresenta como resultan-
te a transição de um comportamento de autossatisfação para o comportamento
socializado fundamental. O desenvolvimento afetivo circula em torno do vencer a
timidez, a insegurança por experimentar o novo, associado ao controle de riscos na

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Corpo, Movimento e Psicomotricidade – Unidade 5 – pág.7

execução das atividades, principalmente as lúdicas, que compõem o mágico mundo


do imaginário, do faz de conta, que permite que a aprendizagem vá muito além do
mundo concreto.

Aos educadores e aos pais cabe oferecer uma abundância de atividades que apre-
sentem problematizações a serem solucionadas de forma autônoma, a fim de maxi-
mizar a criatividade e o anseio de explorar um mundo novo, mas cada vez menos
temido, fomentando o encorajamento positivo e reduzindo o medo do fracasso.
O nível de exigência das habilidades deve estar de acordo com habilidades pré-
-existentes, mas sempre com um grau ótimo de desafio para estimular uma par-
ticipação engajada das crianças na busca pelo sucesso da realização da atividade.
O envolvimento global do corpo faz-se necessário para os desenvolvimentos moto-
res posteriores; é preciso usar braços, pernas, cintura pélvica e escapular, tanto de
forma bilateral como unilateral, variando velocidade, amplitude e agilidade, favore-
cendo também uma postura adequada.

Na fase final da infância (de 6 a 10 anos), o desenvolvimento se dá em uma


velocidade mais lenta, e já é notado um controle no sistema sensorial e motor
mais desenvolvido.

Habilidades Motoras
As habilidades motoras estão relacionadas diretamente com fatores intrínsecos às
atividades diárias, ao ambiente e ao indivíduo, sendo denominados de rudimentares,
quando nos referimos ao desenvolvimento motor crescente da primeira infância.

O desenvolvimento motor da criança está associado diretamente aos estímulos


apresentados em sua rotina. Assim, mesmo que a solução do problema apresentada
como estímulo para a criança gere um movimento rudimentar, ele deve ser persis-
tente, a fim de afinar as características motoras da criança. Desse modo, o controle
da musculatura, a experiência com a ação da força da gravidade e o ato de se
movimentar em espaços restritos são fundamentais para o desenvolvimento motor
da criança, sendo que o desenvolvimento se dá de forma sequencial previsível, mas
em ritmos individualizados, de acordo com a subjetividade e estímulo apresentado a
cada uma das crianças.

As habilidades rudimentares podem ser divididas em: estabilidade, locomoção


e manipulação.

Habilidades de Estabilização e Habilidades


Motoras Fundamentais de Estabilidade
De forma segmentada, o controle relacionado à estabilidade inicia-se pela capaci-
dade motora do pescoço e prossegue com o desenvolvimento do controle do tronco
e das pernas, suscetivelmente.

Ao nascer, temos uma preocupação constante quanto aos cuidados apresentados

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Corpo, Movimento e Psicomotricidade – Unidade 5 – pág.8

ao posicionamento da cabeça dos bebês, pois os músculos relacionados ao controle


do pescoço são os primeiros controles de estabilização observados, dessa forma, a
velocidade de desenvolvimento de força e resistência dessa região, assim como das
outras, irá depender dos estímulos. Portanto, crianças privadas de movimento, como
eram usados, os “charutinhos de fraldas” em bebês recém-nascidos em tempos pas-
sados, inibem esse controle.

O controle seguinte a ser desenvolvido é o do tronco, tanto da região torácica


(porção superior do tronco), como da região lombar (porção inferior do tronco).
Esse controle é detectado com o posicionamento inclinado do tronco e a reação de
inclinação do bebê na busca pela posição ereta. Outra habilidade observada nessa
fase é a rotação do tronco da posição supinada para a posição pronada, que ocorre
aproximadamente no 6º mês ou um pouco mais tarde.

Com o controle completo do tronco, o bebê está apto a iniciar a postura de sentar.
O sentar com apoio na região lombar exige o controle pleno do tronco, mas ainda
não há o controle das pernas. A necessidade de apoio vai diminuindo com o tempo,
estando inversamente proporcional ao ganho de controle dos membros inferiores,

sendo que o auxílio para o sentar se faz desnecessário aproximadamente no 7º mês


de vida, lembrando que, em paralelo, o controle das mãos e dos membros superiores
ocorre de forma simultânea ao desenvolvimento dessas habilidades.

Observe a tabela abaixo e acompanhe a sequência de desenvolvimento em cada


faixa etária, segundo Gallahue:

Tabela 2 – Sequência de desenvolvimento e idade aproximada


de surgimento de habilidades rudimentares de estabilidade
Segura-se com apoio. 1º mês
Controle da cabeça Desencosta o queixo da superície de contato. 2º mês
e do pescoço Bom controle de cúbito ventral. 3º mês
Bom controle de cúbito dorsal. 5º mês
Levanta cabeça e peito. 2º mês
Tenta virar de bruço. 3º mês
Controle do tronco
Rola com sucesso para ficar de bruço. 6º mês
Rola de bruço para a posição de barriga para cima. 8º mês
Senta com apoio. 3º mês
Senta com o própio apoio. 6º mês
Sentar
Senta sozinho. 8º mês
Fica em pé com apoio. 6º mês
Apoia-se segurando com as mãos. 10º mês
Ficar em pé Puxa-se para ficar em pé com apoio. 11º mês
Fica em pé sozinho. 12º mês
Fonte: Adaptado de Gallahue, D. L., 2003

O marco no processo de desenvolvimento relacionado à estabilidade é o ato de


ficar em pé, o controle involuntário da musculatura dos membros inferiores em pro-
cessos de contração e relaxamento para ação estável do corpo na posição ereta com

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Corpo, Movimento e Psicomotricidade – Unidade 5 – pág.9

apoio exclusivo das pernas.

Essa ação, de uma forma geral, é tida como a mais espetacular nessa fase de
desenvolvimento motor, pois é a partir desse momento que o bebê inicia a ação de
caminhar, sendo os primeiros passos realizados com apoio, transcendendo de uma
forma muito veloz para as primeiras tentativas de excluí-los. Assim, os estímulos são
fundamentais para essa realização e o encorajamento deve ser feito de forma contí-
nua e segura para que não ocorram inibições traumáticas e riscos excessivos.

O equilíbrio dinâmico está relacionado à manutenção de uma postura cor-


poral que tenha domínio do centro de gravidade em deslocamento, como, por
exemplo, os processos de diferentes formas de caminhar, nas quais existe uma
constante projeção do centro de gravidade, que é deslocado para frente e recupe-
rado ao eixo corporal imediatamente após, ou seja, uma sucessão de desequilíbrio
e recuperação do equilíbrio que ocorrem enquanto caminhamos. O equilíbrio
estático ocorre quando não temos deslocamento, mas pode ser estimulado tanto
na posição bípede ou invertida (cabeça para baixo). Os movimentos axiais são
relacionados a posturas estáticas que envolvem inclinações de tronco, alongamen-
tos, giros, rotações e similares.

Tabela 3 – Média de idade no desenvolvimento das habilidades motoras fundamentais de estabilidade


Padrão de Idade aproximada
Habilidades
movimento de início
Caminhar em linha reta. 3 anos
Caminhar em linha circular. 4 anos
Ficar em pé sobre uma trave de equilíbrio baixa. 2 anos
Equilíbrio
Caminhar com apoio sobre uma trave de 10 cm a curta distância. 3 anos
dinámico
Caminhar na mesma trave alternando os pés. 3-4 anos
Executar rolamento de frente de forma grosseira. 3-4 anos
Executar rolamento de frente de forma refinada. 6-7 anos
Colocar-se em pé. 10 meses
Colocar-se em pé sem apoio das mãos. 11 meses
Equilíbrio
Colocar-se em pé sem apoio. 12 meses
estático
Equilibrar-se em um pé por aproximadamente 4 segundos. 5 anos
Suportar o peso do corpo em apoio invertido com 3 contatos. 6 anos

Movimentos Refina-se progressivamente até o momento em que esses movimentos


estejam incluídos nos padrões de movimentos manipulativos emer- 2 meses a 6
axiais gentes de lançar, aparar, chutar, bater, etc.
Fonte:Adaptado de Gallahue D L.,2003

Embora o desenvolvimento das habilidades seja analisado de forma isolada, não


podemos deixar de enfatizar a importância do conjunto das habilidades a serem
estimuladas com nossos alunos, pois cada nova aprendizagem dá à criança novos
recursos para continuar a exploração de um mundo ainda novo.

Habilidades de Locomoção
A capacidade de explorar um mundo em plena expansão se dá com o desenvolvi-

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mento das habilidades de locomoção. Assim, a familiarização com a ação constante


da força da gravidade se faz necessária para esse processo e os movimentos de
locomoção têm uma relação de dependência das habilidades rudimentares anteriores
para que seja desenvolvida.

Arrastar-se é o primeiro indício que a criança está apta a iniciar as habilidades


relacionadas à locomoção com o apoio dos braços no solo. A criança estimulada por
algum desejo pessoal empurra seu tronco em direção aos seus pés e, no retorno do
tronco, há um leve deslocamento iniciando a ação dessa habilidade. Cabe destacar
que o estímulo para esse desenvolvimento está relacionado ao fato da criança ficar
no solo solta, pois quando a criança é privada dessa situação, dificilmente haverá
alguma evolução nesse sentido. Devemos lembrar, portanto, que o uso do andador é
um exemplo dessa privação, pois inibe o desenvolvimento da musculatura que atua
como base para movimento motor e cognitivo da criança.

O primeiro deslocamento eficaz das crianças é o engatinhar, com a combina-


ção de movimentos dos membros superiores com os membros inferiores, asso-
ciados ao controle pleno da cabeça e pescoço, havendo evolução de velocidade
e estabilidade. Segundo Carl Delacano (1966), o aprimoramento do engatinhar e
as técnicas de se arrastar são necessários para o alcance do domínio hemisférico
cortical, sendo que esse domínio de um lado do córtex está relacionado à orga-
nização neurológica apropriada, considerando ainda que uma organização com
falhas levará a problemas motores, perceptivos e de linguagem na criança e no
adulto. Essa hipótese é confirmada por neurologistas, pediatras e pesquisas na
área de desenvolvimento infantil.

Com o domínio geral do corpo, as crianças iniciam a tentativa de colocar-se


na postura em pé. Com os pés afastados, virados para fora e joelhos levemente
flexionados, a habilidade de caminhar não ocorre inicialmente de maneira fluida.
Desse modo, os fatores ambientas são fundamentais para o estímulo dessa habi-
lidade, pois o sentimento de segurança da criança propulsionará o maior número
de tentativas e, consequentemente, uma evolução mais rápida. Essa fase do desen-
volvimento tem uma relação direta com o desenvolvimento do sistema nervoso e
das aptidões físicas.

Tabela 4 – Sequência de desenvolvimento e idade aproximada de


início de surgimento de habilidades de locomotoras rudimentares
Andar segurando com as mãos. 10º mês
Andar com orientação. 11º mês
Galope ereto
Andar sozinho (mãos para o alto). 12º mês
Andar sozinho (mãos abaixadas). 13º mês
Fonte: Adaptado de Gallahue, D L., 2003

Shyrley (1931) destacou quatro estágios, relacionados ao desenvolvimento das


crianças para o caminhar sem auxílio:
• Período precoce do caminhar, no qual pouco progresso é realizado;
• Período de ficar em pé com ajuda;

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• Período de caminhar amparado;


• Período de caminhar sozinho.

Com o domínio do caminhar, as crianças iniciam as tentativas de suas varia-


ções, como caminhar para os lados e para trás (ECKERT, 1973) e nas pontas dos
pés (BAYLEY, 1935).

Tabela 5 – Média de idade no desenvolvimento das habilidades motoras fundamentais de locomoção


Padrão de Idade aproximada
Habilidades
movimento de início
Galope ereto rudimentar sem auxílio. 13 meses
Caminhada lateral. 16 meses
Caminhada para trás. 17 meses
Caminhada
Sobe degraus com auxílio. 20 meses
Sobe degraus sozinho (passos seguidos). 24 meses
Desce degraus sozinho (passos seguidos). 25 meses
Caminhada rápida (mantém contato com o solo). 18 meses
Corrida verdadeira. 2-3 anos
Corrida
Corrida eficiente e refinada. 4-5 anos
Corrida madura. 5 anos
Desce de objetos baixos. 18 meses
Salta de objetos com o impulso de um pé. 2 anos
Salta de objetos com o impulso dos dois pés. 28 meses
Salto
Salta em distância (aproximadamente 1 m). 5 anos
Salta em altura (aproximadamente 30 cm). 5 anos
Padrão de salto maduro. 6 anos
Saltita até três vezes com o pé de preferência. 3 anos
Saltita de 4 a 6 vezes no mesmo pé. 4 anos
Saltito Saltita de 8 a 10 vezes no mesmo pé. 5 anos
Saltita distâncias de 15 cm em cerca de 11 seg. 5 anos
Saltita com habilidade com alternâncias rítmicas. 6 anos
Galope básico (ineficiente). 4 anos
Galope
Galopa habilmente, padrão maduro. 6 anos
Skipping com uma perna. 4 anos
Skipping Skipping completo. 5 anos
Skipping completo maduro. 6 anos
Fonte: Adaptado de Gallahue, D. L., 2003

Com o domínio das habilidades motoras rudimentares, as crianças estão prontas


para a execução de movimentos mais elaborados e complexos. Os movimentos
exigidos nas novas vivências serão o estímulo para o desenvolvimento das habilida-
des motoras fundamentais de locomoção.

Habilidade de Manipulação e Habilidades


Motoras Fundamentais de Manipulação
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As habilidades de manipulação estão relacionadas aos ajustes visuais e manuais e


ao processo de interação com objetos dispostos no ambiente da criança, e funcionam
como estímulos para o desenvolvimento dessa habilidade, os movimentos de ombros
e braços, mesmo que descoordenados, e que inicialmente, antecedem os movimentos
de punho e das mãos.

As crianças, desde muito cedo, conseguem segurar alguns objetos de forma re-
flexiva, mas é necessário colocarmos um objeto em suas mãos, agindo como os
primeiros estímulos para o desenvolvimento das habilidades manipulativas.

Eckert (1987) resumiu seis atos para a conquista da preensão:


• Transição da localização visual de um objeto para a tentativa de alcançá-lo;
• Transição da coordenação simples, visual e manual, para a progressiva indepen-
dência do esforço visual com sua expressão máxima em atividades com dedilhar,
digitar ou tocar um piano;
• Transição do movimento máximo inicial da musculatura corporal para um
envolvimento mínimo, com maior economia de esforço;
• Transição da atividade proximal dos grandes músculos dos braços e dos ombros
para a atividade distal dos músculos finos dos dedos;
• Transição dos movimentos precoces, rudimentares e abrangentes, na manipu-
lação de objetos, para a precisão de controle similar à de uma pinça, com o
polegar e o dedo indicador em oposição;
• Transição do alcance e da manipulação inicial bilateral para o uso ideal da
mão perfeita.

Tabela 6 – Sequência de desenvolvimento e idade aproximada de


início de surgimento de habilidades de manipulação rudimentares
Alcance controlado. 6º mês
Pegadura flexível. Nascimento
Pegadura voluntária. 3º mês
Pegadura palmar com as duas mãos. 3º mês
Pegar Pegadura palmar com uma mão. 5º mês
Pegadura de pinça. 9º mês
Pegadura controlada. 14º mês
Come sem ajuda. 18º mês
Soltura básica. 12º ao 14º mês
Soltar
Soltura controlada. 18º mês
Fonte: Adaptado de Gallahue, D. L., 2003

A habilidade de soltar os objetos ocorre para um polimento final. As habilidades


rudimentares de manipulação: desde os seis meses, a criança consegue segurar, mas
o controle motor relacionado ao soltar ocorre de forma tardia, aproximadamente aos
14 meses. O desenvolvimento dessas habilidades proporciona a criança o explorar
de um mundo com mais detalhes, não se limitando apenas em segurar e colocar na
boca, conseguido assim identificar formas e detalhes mais minuciosos.

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Observe a tabela a seguir, que aponta a idade média aproximada no desenvolvi-


mento das habilidades motoras fundamentais de manipulação.

Tabela 7 – Média de idade no desenvolvimento das habilidades motoras fundamentais de manipulação


Padrão de Idade aproximada
Habilidades
movimento de início
Comportamento de alcance primitivo. 2–4 meses
Captura de objetos. 2–4 meses
Alcançar, segurar Pegar espalmando. 3–5 meses
e soltar Pegar pinçando. 8–10 meses
Pegada controlada. 12–14 meses
Soltura controlada. 14–18 meses
Corpo vira para o alvo, pés mantêm-se estáticos, objeto é lançado somente com
2–3 anos
a extensão dos braços.
Lançar Idem ao anterior, acrescentando a rotação do corpo. 3–5 anos
Com deslocamento do pé do mesmo lado do braço utilizado para o lançamento. 4–5 anos
Padão maduro de lançamento. 6 anos
Persegue a bola, não responde a bolas aéreas. 2 anos
Responde a bolas aéreas com movimento de braços atrasados. 2–3 anos
Precisa de orientação de como posicionar os braços. 2–3 anos
Pegar Reação de medo (gira a cabeça). 3–4 anos
Utiliza o corpo para apanhar objetos. 3 anos
Apanha objetos utilizando somente as mãos. 5 anos
Padrão maduro do movimento de apanhar. 6 anos
Empurra a bola. 18 meses
Chute com a perna extendida e com discreto movimento corporal. 2–3 anos
Chutar Flexiona a perna na sua porção inferior. 3–4 anos
Grande balança frente/trás com oposição definida dos braços. 4–5 anos
Padrão maduro do chute. 5–6 anos
Visualiza o objeto e faz um balanço no plano vertical. 2–3 anos
Faz um balanço no plano horizontal e de desloca ao lado do objeto. 4–5 anos
Bater
Giro de tronco e quadril e leva o peso do corpo para a frente. 5 anos
Padrão horizontal maduro utilizando bola estacionária. 6–7 anos
Fonte: Adaptado de Gallahue D. L.2, 003

O trabalho com as mãos é exigido todos os dias por nossas rotinas. A mão é uma
das principais portas de entrada para o conhecimento das crianças. O uso das mãos
inicia-se na gestação, com ações reflexas. Isso pode ser observado quando o bebê
coloca a mão no rosto ou mesmo chupa os dedos ainda no ventre da mãe.

A capacidade de manipulação de objetos amplia-se de forma crescente. Os atos


de alcançar, segurar e soltar estão relacionados ao contato bem sucedido com o
objeto a ser manipulado, mantendo-o preso e soltando-o de forma espontânea, o
que se torna possível com o desenvolvimento cognitivo que ocorre com o desen-
volvimento das habilidades. Essa tarefa surge, inicialmente, com as brincadeiras,
que podem ser estimuladas com móbiles, brinquedos de diferentes formas e/ou que

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emitam algum tipo de som ou sejam feitos de diferentes materiais e rugosidade, e


passam, rapidamente, a serem utilizados como forma de se alimentar, de se higie-
nizar e também de comunicação.

A habilidade fundamental de lançar consiste na projeção de um objeto em uma


determinada direção-alvo, sendo essa habilidade desenvolvida por estímulos nor-
malmente já relacionados a algum esporte, como o basquete e o beisebol, entre
outros. A habilidade fundamental de pegar tem uma forte relação com o lançar,
pois precisamos deter o objeto de forma controlada para que possamos lançá-lo.
Uma definição para o ato de pegar está relacionada ao realizar uma recepção de
um objeto que foi lançado para ser seguro em pleno voo.

Os pais acabam, de forma inconsciente, apresentando à criança objetos e brin-


cadeiras que aumentam a velocidade de aprendizagem de uma determinada habili-
dade. Qual criança, no Brasil, não ganha uma bola e lhe é solicitado o movimento
de chutar, sob influência diretamente do nosso futebol? O desenvolvimento da habi-
lidade de chutar, em brasileiros, é precoce, quando comparada com os americanos.
A cultura, de uma forma geral, é o principal caminho para o uso de determinados
estímulos (tipo de brinquedo, brincadeira e espaço disponível) e, durante a infância,
há uma projeção de complexidade desses estímulos, que são direcionados para as
habilidades que são exigidas nesses esportes. Cabe ressaltar que gestos motores
pré-definidos em todas as modalidades esportivas como sendo os corretos não
devem ser exigidos nessa fase, pois há muitos caminhos a serem percorridos até
que a criança execute, de forma perfeita, um determinado gesto esportivo e essa
cobrança pode ser causa de inibição para a prática.

Chutar pode ser definido como a transferência de força com os pés para um
objeto, normalmente bola, mas existem outros objetos que podem ser usados na exe-
cução de um chute. Esse movimento inicia-se apenas com um empurrar com os pés
e desenvolve-se para chegar ao uso do corpo com deslocamento frontal e utilização
simultânea de rápida flexão/extensão do joelho da perna a ser utilizada no chute.

A habilidade fundamental de manipulação de bater não deve estar associada à


agressão, pois é uma habilidade que exige diversos sensores associados à interação
de aspectos cognitivos e capacidades físicas para ser executada. Pode ser descrita
como um breve contato com o objeto com os braços acima da cabeça, ao lado
do corpo ou mesmo abaixo da linha da cintura pélvica. Existem diversas formas
de estímulo para a realização dessa habilidade, podendo ser um bater de bola de
diferentes formas, um rebater com algum objeto, exemplo do beisebol, do tênis, do
crickete, entre outros.

Considerações Finais
O conhecimento apresentado nesta unidade se faz necessário aos educadores
para estimular as habilidades adequadas para cada uma das faixas etárias na qual está
atuando, auxiliando na avaliação de habilidades pré-adquiridas em fases anteriores.

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Corpo, Movimento e Psicomotricidade – Unidade 5 – pág.15

Sabemos que a curiosidade nata de explorar um mundo desconhecido ocorre natu-


ralmente, contudo, o uso do imaginário, do faz de conta, de atividades lúdicas, de
músicas, são possibilidades importantes para o desenvolvimento dessas habilidades
rudimentares, além do desenvolvimento paralelo dos aspectos sociais e afetivos
envolvidos desse período.

Os estímulos apresentados ao longo do crescimento das crianças de 3 a 10 anos,


em média, devem proporcionar uma variedade de atividades. É importante apre-
sentar à criança todas as habilidades cabíveis à sua faixa etária e colocá-las no
planejamento de atividades que contenham alguma habilidade fundamental envolvida.
Não devemos esquecer essas variações, fomentando assim o vocabulário motor
diversificado, auxiliando, ainda mais, no desenvolvimento de aspectos sensoriais.
A utilização de músicas enriquece trabalhos feitos com crianças de idades infe-
riores, mas a dança pode ser aplicada em todas as fases da vida e não pode
ser deixada de lado quando estamos definindo os conteúdos a serem utilizados.
De uma forma geral, o esquema abaixo simplifica os itens envolvidos no processo
de desenvolvimento da criança, lembrando que não conseguimos desenvolver qual-
quer habilidade de forma única e isolada, pois aspectos sociais, cognitivos e afetivos
envolvem cada uma das atividades práticas, principalmente quando trabalhadas de
forma coletiva.

Aspectos Objetivos da
ambientais atividade

Indivíduo

Resultado

Figura 2 – Proposta de desenvolvimento da atividade proposta

A contextualização das atividades envolve o imaginário das crianças no desen-


volvimento de suas atividades. Se apresentarmos uma simples atividade de busca a
um determinado objeto, o estímulo para a brincadeira não será tão elevado, mas, se,
na mesma brincadeira, contarmos um história que prenda a atenção e que envolva
suas emoções, teremos um envolvimento completo da criança nessa atividade.
O faz de conta presente no imaginário das crianças deve ser sempre alimentado,
pois isso as torna grandiosas em suas realizações. Que criança não brinca e ima-
gina que voa? Que está no sol? Que luta com monstros grandiosos? Que lida com
fadas variadas? Só não nos permitimos mais isso quando ganhamos maturidade e
nos encaminhamos para outra fase de nossas vidas. A riqueza desse universo deve
ser explorada ao máximo, garantindo, assim, o envolvimento pleno da criança em

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Corpo, Movimento e Psicomotricidade – Unidade 5 – pág.16

seu desenvolvimento motor. As atividades motoras, por muitas vezes, podem ainda
ser relacionadas a outras disciplinas numa contextualização e para o resultado final.
A interdisciplinaridade traz grande potencial de aprendizagem quando existem
movimentos envolvidos. Devemos quebrar o paradigma de que criança compor-
tada é a criança que fica sentada, prestando atenção, e envolvê-la em atividades
ricas em aspectos motores, afetivos, sociais e cognitivos. Só assim alcançaremos o
caminho para a transformação e ao alcance da vida autônoma.

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
Compreendendo o Desenvolvimento Motor: Bebês, Crianças e Adultos
GALLAHUE, D. L.; OZMUN, J. C. Compreendendo o desenvolvimento motor:
bebês, crianças e adultos. (cap. 9). 2. ed. São Paulo: Editora Phorte, 2003.
Educação Física na Escola – Implicações para a Prática Pedagógica de Coordenação
DARIDO, S. C.; RANGEL, I. C. A. Educação física na escola – implicações para
a prática pedagógica de coordenação. (cap. 10-15). Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2005.

Leitura
Jogos e Brincadeiras e o Desenvolvimento Motor na Educação Infantil
GONÇALVES, R. P. Jogos e Brincadeiras e o Desenvolvimento Motor na
Educação Infantil. Centro Universitário de Brasília – UniCEUB, 2016.
https://bit.ly/3eMdYkL
A Dança como Estratégia para o Desenvolvimento Motor de Crianças
NOGUEIRA JR., J. E. A dança como estratégia para o desenvolvimento motor
de crianças. IV Simpósio Internacional de Ciências Integradas da Unaerp. Unaerp,
Guarujá, São Paulo.
https://bit.ly/3bCcXJQ

Referências
BRASIL. Referencial Curricular Nacional Para a Educação Infantil. v.3. Brasília:
MEC/SEF, 1998.

DARIDO, S. C.; RANGEL, I. C. A.; Educação física na escola: implicações para


a prática pedagógica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.

GALLAHUE, D. L.; OZMUN, J. C. Compreendendo o desenvolvimento motor:


bebês, crianças adolecentes e adultos. São Paulo: Phorte Editora, 2003.

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Corpo, Movimento e Psicomotricidade – Unidade 6 – pág. 1

Corpo e Movimento: Jogos,


Brincadeiras e Artes na Construção
do Desenvolvimento Humano

• Corpo e Movimento: Jogos, Brincadeiras e Artes


na Construção do Desenvolvimento Humano;
• O Jogo e a Brincadeira na Psicomotricidade;
• A Psicomotricidade e as Artes;
• A Psicomotricidade na Educação Inclusiva e Especial;
• A Psicomotricidade no Berçário.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
• Compreender e contextualizar aquilo que representa o conhecimento e compreensão sobre
a interação entre a criança e suas capacidades táteis, auditivas e visuais.

Contextualização
O que é mais importante para educar uma criança: levar em conta a sua capaci-
dade tátil, levar em conta tudo aquilo que ela é capaz de ouvir, ou levar em conta tão
somente aquilo que ela vê?

Como educar é um grande conjunto de ensinos e aprendizagens, onde quem


ensina deve aprender e onde quem aprende pode e deve ensinar, certamente será
o conjunto dessas três dimensões (tato, audição e visão), com outras tantas que é
possível elencar, que teremos aquilo que é importante para educar.

Veremos a seguir a contextualização desses vetores e depois certamente teremos


alguma condição de dizer/afirmar o que é importante, ou quais são fatores impor-
tantes para se educar.

Certamente acabaremos por descobrir que a junção de tudo é o que fará com que
tenhamos um princípio educacional que valha a pena.

O site que veremos a seguir – mapa do brincar – poderá lhe dar uma dimensão do quão
grande são as possibilidades de se educar através dos sentidos. Acesse e sinta algumas das
muitas formas de brincar.
O Mapa do Brincar é uma iniciativa da “Folhinha”, suplemento infantil do jornal Folha de
S.PAULO. O site reúne hoje 750 brincadeiras de todo o país. Disponível em: https://bit.ly/2znaXXH

Assista ao vídeo O pato – Toquinho, veja e sinta uma das músicas que poderá ser trabalhada
e cantada com crianças. Disponível em: https://youtu.be/z8-yWOXXJ4Y
Corpo, Movimento e Psicomotricidade – Unidade 6 – pág. 2

Introdução
Estamos chegando ao final de nossa disciplina e neste momento compreender-
mos que para falar sobre o desenvolvimento integral da criança não podemos focar
somente na perspectiva corporal.

Somos um corpo, não estamos em um corpo. Essa afirmação reforça a apresen-


tação dos conceitos desde a primeira unidade. Quando pensamos em discorrer sobre
o desenvolvimento de uma criança pelo seu corpo, estamos trazendo sua dimensão
corporal, com toda a sua maturação orgânica e seus aspectos cognitivos, estamos
trazendo suas experiências no mundo com todas as suas relações afetivas, que for-
mam a dimensão afetivo/social. Assim, pensar a criança e o desenvolvimento do
corpo é levar em consideração todas essas dimensões.

Além do olhar dessas dimensões, precisamos conhecer como uma criança se de-
senvolve, suas fases, suas características, a expectativa de resposta daquela faixa etária,
seu funcionamento cerebral e, diante de toda essa complexidade de um desenvolvimen-
to harmonioso e integral, pensar qual melhor ação pedagógica ou estímulo posso uti-
lizar para favorecer a organização da aprendizagem e do desenvolvimento na infância.

Os conceitos da Psicomotricidade foram apresentados, e agora vamos trazer pro-


postas práticas para pensarmos no melhor estímulo na escola.

Você Sabia?
Que as metodologias ativas hoje podem ajudar você no processo de aprendizagem de
desenvolvimento da criança e refinar os aspectos psicomotores. Em uma metodologia
ativa a criança é o aprendiz ativo.

A aprendizagem ativa pode ser definida como “aprendizagem que é ini-


ciada pelo sujeito que aprende, no sentido de que é executada pela pes-
soa que aprende, em vez de lhe ser apenas “passada” ou “transmitida’”.
(HOHMANN, BANET e WEIKART, 1984)

Ao estudar os conceitos de psicomotricidade, entendermos que todo ser humano


se desenvolve desde seu nascimento até a morte, porém é na fase da infância que esse
desenvolvimento está acontecendo em maior escala, principalmente na área motora e
cognitiva. Nesta direção, pensar em estímulos para desenvolver cada fase da criança
torna-se um objetivo fundamental na área de desenvolvimento e aprendizagem.

Neste momento, já sabemos que os elementos da psicomotricidade são indicativos


de pontos importantes no desenvolvimento integral de uma criança.

Como então desenvolver ações pedagógicas onde cada elemento psicomotor pos-
sa ser estimulado, e qual atividade e método para contemplar os elementos?

Vamos lembrar que o ápice do desenvolvimento psicomotor acontece por volta


dos 6/7anos e nessa fase as crianças adoram se expressar, seja pelo movimento, por
expressões artísticas ou pelo lúdico.

Corpo e Movimento: Jogos,


Corpo, Movimento e Psicomotricidade – Unidade 6 – pág. 3

Brincadeiras e Artes na Construção


do Desenvolvimento Humano
Na primeira infância, a criança está em um momento em que o corpo é sua prin-
cipal forma de comunicação. Ela manifesta pelas ações corporais seus sentimentos e
emoções, suas aquisições de habilidades e sua relação com o mundo, e ao fazer o uso
do movimento para se expressar, a criança sente prazer. Contudo, esse movimento
não é qualquer movimento, dentro de gestos do cotidiano, é o movimento do brincar,
do jogar e das atividades expressivas artísticas.

Pretendemos agora enfatizar a importância do estímulo à criatividade das crian-


ças para que elas aprendam com a diversidade existente, assim, vamos pensar em
metodologias que possam favorecer o desenvolvimento do corpo pelo lúdico e pelas
expressões de linguagens artísticas.

O movimento é a essência da infância e o lúdico é igualmente importante para a


criança. Portanto, qual a relevância do movimento e do lúdico quando o professor
pretende trabalhar aspectos psicomotores para o desenvolvimento da criança?

A escola infelizmente não valoriza o corpo, os espaços educacionais ainda trazem a


ideia de que a aprendizagem deve acontecer pelo não movimento, por alunos parados
e estáticos. Em qualquer fase da vida isso é impossível, porém na educação infantil o
corpo deve ser muito valorizado, pois na primeira infância, mais do que em qualquer
período, o movimento é a forma de expressão e comunicação, em que a criança utili-
za seu corpo para experimentar o mundo e desenvolver-se de forma integral.

Na educação infantil, quando falamos em movimento e corpo, estamos falando


de cem por cento das suas atividades, pois as relações da criança com o mundo e
com os objetos são totalmente corporais. As crianças organizam suas experiências
pelo movimento, mas, como elas fazem isso?

Pelo jogo, pela brincadeira e pelos gestos expressivos com as manifestações artísticas.

O Jogo e a Brincadeira na Psicomotricidade


O termo lúdico é conceituado na literatura por diferentes concepções. O lúdico
pode estar em um contexto, na metodologia de uma atividade e também está ligado
aos termos jogar e brincar. O conceito do termo lúdico do historiador Johan Huizinga
(2012) traz o que acredito ser primordial para entendermos a sua importância na edu-
cação infantil, para Huizinga, o lúdico está relacionado ao prazer.

Ao observamos crianças brincando, podemos afirmar que o lúdico é a base de


toda a atividade da Educação de Infância, pois é o meio de motivação para a criança,

que pode dar origem a processos de aprendizagem importantes, fonte de descoberta


e prazer.

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Corpo, Movimento e Psicomotricidade – Unidade 6 – pág. 4

Ludicidade é a espontaneidade de se expressar na educação infantil, já que a


brincadeira espontânea e prazerosa permite e possibilita uma abertura às emoções,
à organização do esquema corporal e da maturação da cognição.

O brincar e o jogo na educação devem estar totalmente conectados com o desen-


volvimento do corpo. Na infância brincar é coisa séria.

Quando a criança brinca ela desenvolve algumas habilidades que são importantes
para o seu desenvolvimento. Podemos perceber três habilidades que estão relaciona-
das aos jogos e brincadeiras: as habilidades motora, comportamental e expressiva.
Essas habilidades possibilitam à criança desenvolver seus potenciais motores, cogni-
tivos e afetivos, e a organizar seu esquema corporal.

Vamos conversar sobre possibilidades de atividades lúdicas psicomotoras.

Figura 1 – Jogos de encaixe, uma possibilidade de atividade lúdica


para desenvolver coordenação motora fina e estruturação espacial
Fonte: Getty Images

A imagem anterior é um exemplo de atividade lúdica, pois além do movimento


de manipulação ser refinado, a criança precisa usar a atenção, desenvolver a noção
espacial e refinar sua coordenação motora fina, somando-se a tudo isso, a atividade
é atraente para as crianças pelas suas características lúdicas.

Outro exemplo interessante é a atividade chamada “perseguindo pegadas colo-


ridas”. A atividade é bem parecida com a amarelinha, contudo aqui a criança terá
que colocar seus pés em cada uma das pegadas disponibilizadas na sala de aula,
o que favorece o desenvolvimento motor, como coordenação motora ampla, noção
espacial, lateralidade e equilíbrio. Na área cognitiva, a criança desenvolve a atenção
e a percepção visual. Além do desenvolvimento psicomotor, você pode estimular as
crianças ao conhecimento das cores.

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Figura 2
Fonte: Getty Images

Essa mesma atividade pode ter muitas variações, veja a seguir outro exemplo que
pode ser utilizado para desenvolver as mesmas áreas.

Figura 3
Fonte: Reprodução

Como mencionado anteriormente, quando a criança brinca, ela desenvolve algu-


mas habilidades que são importantes para o seu desenvolvimento. Podemos perceber
três habilidades que estão relacionadas aos jogos e brincadeiras, as habilidades moto-
ra, comportamental e expressiva. Essas habilidades possibilitam à criança desenvolver
os potenciais motores, cognitivos e afetivos, e a organizar seu esquema corporal.

E por falar em esquema corporal, atividades lúdicas nas quais a criança tenha que des-
cobrir seu corpo são sempre bem divertidas na escola. Vamos propor alguns exemplos.

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Figura 4
Fonte: Divulgação | Diy Artesanato

Na imagem anterior, podemos fazer com as crianças materiais para localizar e


nomear os sentidos e junto agregar as características emocionais.

Outra atividade lúdica para os esquemas corporais envolve a localização e nome-


ação das partes do corpo:

Figura 5
Fonte: verefazer.org

Na internet você poderá encontrar vários moldes para essa atividade.

As atividades lúdicas são prazerosas para as crianças e você pode utilizar para to-
das as faixas etárias. O interessante também é o material que podemos usar, assim, a
falta de verba não pode ser uma desculpa para propor as atividades. Vamos observar
nas imagens alguns exemplos de atividades.

Atividade de coordenação motora e equilíbrio – Acerte a bola no buraco da caixa. Dispo-


nível em: https://youtu.be/ddUYfGDPsMY

Com poucos recursos você pode fazer essas atividades, que desenvolvem a noção

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Corpo, Movimento e Psicomotricidade – Unidade 6 – pág. 7

espacial, a coordenação motora ampla, refinam os movimentos locomotores e desenvol-


vem a atenção.

Faça pesquisas e desenvolva atividades com poucos recursos para estimular os elementos
da Psicomotricidade.

Figura 6
Fonte: Getty Images

Noções de espaço, coordenação motora ampla e fina.

Figura 7 Figura 8
Fonte: Getty Images Fonte: Getty Images

O brincar e o jogo na educação devem estar totalmente conectados com o desen-


volvimento do corpo. Na infância brincar é coisa séria.

Quando a criança brinca, ela desenvolve algumas habilidades que são importantes
para o seu desenvolvimento.

Podemos perceber três habilidades que estão relacionadas nos jogos e brinca-
deiras: as habilidades motora, comportamental e expressiva. Essas habilidades

possibilitam à criança desenvolver os potenciais motores, cognitivos e afetivos, e a


organizar seu esquema corporal.
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As habilidades motoras na Educação Infantil se dividem em cinco tipos e são liga-


das aos movimentos das crianças: força, equilíbrio, flexibilidade, a coordenação
motora fina e global, fechando com a lateralidade.

Quando falamos em habilidades motoras, existe uma aproximação com outros


termos como: capacidades, padrão de movimento, aprendizagem motora ou desen-
volvimento motor.

O termo habilidades motoras pode ser empregado em diferentes contextos.


Aqui estamos empregando-o como habilidades básicas pensando que essas são
primordiais para o controle do corpo e a organização do esquema corporal. Essas
habilidades são desenvolvidas quando as crianças brincam e jogam.

Já a habilidades comportamentais, ligadas às relações e aos comportamentos


humanos, são divididas em quatro tipos: a primeira é a desinibição, a segunda a
socialização, depois, os conceitos de saúde e as vivências emocionais.

As habilidades comportamentais também são de suma importância para um


desenvolvimento motor harmonioso. Por exemplo, trabalhar a desinibição dos
alunos pelas atividades lúdicas pode ajudar as crianças nas expressões artísticas
e corporais.

Já as habilidades expressivas estão ligadas à comunicação, nossa relação com


o mundo e com as pessoas. Entre as habilidades expressivas estão a fluência verbal,
o ritmo, a expressão dramática (que são as representações dos papéis sociais), a dic-
ção (importante na fala) e, por último, a destreza manual.

No desenvolvimento global das crianças, devemos estimular essas três habilida-


des, para gerar as competências necessárias para a criança desenvolver e interagir
com o mundo.

A Educação Psicomotora é uma Educação Global, que associa todas as poten-


cialidades: motora, cognitiva e afetiva/social.

Quando elaboramos um Plano de Ação pensando no desenvolvimento da criança,


devemos focar todas as potencialidades e lembrar que o lúdico é um meio de chegar
às respostas desejadas.

A Psicomotricidade e as Artes
A psicomotricidade, como já vimos, é a ciência da educação que tem como um
de seus objetivos ajudar às crianças a conhecerem o seu corpo, bem como todas
as suas possibilidades, sua linguagem emocional, suas formas de expressão, assim
permitindo a elas lidarem com as relações de tempo, as relações entre seus pares,
familiares e a escola.

O nosso corpo fala e representa aquilo que nós somos, representa a nossa iden-
tidade, o que cada um de nós desenvolve em movimentos é o que nos caracteriza
como pessoa e todas as nossas ações motoras, como sabemos, tem interdependên-

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cia com as dimensões afetiva e cognitiva.


O nosso corpo representa os nossos sentimentos, ele é o veículo que usamos
para nos expressar, e na criança, a expressão corporal tem um papel fundamental
durante a infância, permitindo que ela manifeste corporalmente diferentes expres-
sões através do contato, gestos, posturas, sendo essas representativas de seus senti-
mentos e emoções, ou seja, na infância, o corpo é o veículo de comunicação.

Um dos elementos da psicomotricidade, fundamental para a formação da per-


sonalidade da criança, é o conhecimento do esquema corporal. Após a aquisição
desse conhecimento a criança passa a se expressar pelo seu corpo de forma mais
consciente, com suas formas de agir e movimentos, jogos corporais, exploração do
espaço, o que desencadeia uma série de sensações relativas à relação do corpo com
o espaço que o envolve. São pelas sensações que a criança expressa suas angústias,
medos, alegrias, desejos (BAPTISTA, 2016).

A utilização da arte como forma de expressão tem como objetivo auxiliar a crian-
ça no seu percurso de desenvolvimento emocional, cognitivo e criativo, funcionando
como uma alavanca para o desenvolvimento integral e tornando-a conhecedora do
seu eu interno e externo.

A arte nesta perspectiva deve atuar no contexto em que envolve as crianças na


satisfação através da expressão, não tendo como objetivo reproduzir algo, mas sim
a expressão das emoções e sentimentos através das suas criações (Sousa, 2003).
Nestes processos criativos, o objetivo é vivenciarem a espontaneidade com que são
feitos, além de se pensar a utilização da arte como meio de desenvolver a manifesta-
ção expressiva da criança, bem como os conteúdos e linguagens artísticas permitem
à criança desenvolver os aspectos psicomotores.

Elementos como estruturação espacial e temporal podem ser desenvolvidos por


conteúdos como dança, música, teatro, artes visuais, desenhos, pinturas etc.

Figura 9
Fonte: Getty Images

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A Associação Brasileira de Psicomotricidade (ABP) é uma entidade de caráter científico-


-cultural, sem fins lucrativos, e foi fundada com o objetivo de agregar aos profissionais que
vinham se formando e trabalhando na área. Na página da associação você encontra muita
informação da área da psicomotricidade, e dentre as possibilidades, o link para o artigo traz
temas atuais e discussões importantes para a formação dos profissionais que pretendem
atuar com a ciência psicomotora.
No texto Ser arte: Corpo/Criação nos Espaços Educacionais através da TransPsicomo-
tricidade você entenderá novos termos e possibilidades para a área da psicomotricidade.
A partir da reflexão sobre os sentidos e significados do que vem a ser uma “escola
criativa” este artigo busca explicitar as relações entre Psicomotricidade, Pensamento
Complexo e Transdisciplinaridade, a partir da proposta da Formação em TransPsicomo-
tricidade Educacional e Clínica, que capacita profissionais graduados para a sensibiliza-
ção pela via do corpo das premissas da reforma do pensamento propostas por Morin,
desde o casal grávido ao idoso. Para conseguir realizar tamanho empreendimento o
TransPsicomotricista precisa de um mergulho intenso através da experiência corporal,
em cada um dos sete saberes.
Acesse o link e leia o artigo na íntegra: https://bit.ly/2KwXYoY

A seguir, vamos pensar em algumas possibilidades de atividades nas quais a arte


e os elementos psicomotores estão presentes.

Figura 10
Fonte: portaldoprofessor.mec.gov.br

Na atividade anterior, a prosposta envolve a coordenação motora fina no recortar,


as noções de espaço ao pintar e o esquema corporal na organização dos recortes de
um corpo.

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Figura 11 Figura 12
Fonte: Getty Images Fonte: Getty Images

As atividades que envolvem a estruturação espacial podem estar em jogos, dese-


nhos e dança.
Você começou a entender que a criança precisa desenvolver todas as suas dimen-
sões, e que o lúdico e as artes podem ajudar você, uma vez que as atividades ficam
prazerosas e ajudam às crianças.

A Psicomotricidade na Educação
Inclusiva e Especial
Agora, vamos falar um pouco da área psicomotora e a educação inclusiva e espe-
cial. Quando falamos da ligação entre a psicomotricidade e as necessidades educativas
especiais, é importante salientar que as habilidades desenvolvidas dentro das práticas
psicomotoras exercem influências diretas na aprendizagem da criança, assim, quando
uma apresenta qualquer dificuldade de aprendizagem ou no seu desenvolvimento,
alguma dimensão foi comprometida, e, com certeza, teremos algumas alterações no
desenvolvimento psicomotor.

Por exemplo, o Transtorno do Espectro Autista (TEA) é caracterizado por prejuí-


zos em três áreas do desenvolvimento: a) habilidades de interação social; b) habilida-
des de comunicação; c) presença de comportamentos estereotipados e/ou interes-
ses restritos. Consideramos a criança com TEA um sujeito que possui dificuldades
na relação e interação com os outros, consigo mesma e com o mundo que a cerca,
bem como dificuldades na inclusão no universo da linguagem e na socialização.
Nesta análise, podemos observar que as dimensões comprometidas proporcionam
comprometimento na formação do esquema corporal.

A Psicomotricidade é uma possibilidade de intervenção com crianças autistas,


uma vez que promove o desenvolvimento de várias características que essas crianças
apresentam como, por exemplo, nos movimentos estereotipados, que fortalecem
a interiorização da criança ao se movimentar em torno de si mesma e dificultam a
relação desta com o mundo exterior.

Neto et al. (2013) discorrem que as noções espaço-temporais também são impor-
tantes para o desenvolvimento motor, social e cognitivo. No entanto, para o desenvol-

vimento dessas noções, é necessário uma melhor elaboração da percepção corporal.


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Frente às considerações feitas sobre o corpo da criança autista, salienta-se que a


proposta da psicomotricidade para este sujeito é de contribuir, na medida do possível,
para com o processo de significação desse corpo fragmentado. Assim, essa criança
terá uma possibilidade maior de sentir e vivenciar seu corpo. A proposta deste tipo de
intervenção é oferecer à criança autista o prazer de vivenciar suas experiências por
meio de seu corpo, nas várias relações que esta desenvolverá.
Assim, a ideia neste momento é você entender que a psicomotricidade trata do
desenvolvimento de todas as crianças. Portanto, devemos pesquisar e investigar qual
a condição do nosso aluno e, junto a sua singularidade, propor estímulos.

A Psicomotricidade no Berçário
Apesar da escolha na formação em Pedagogia, percebemos que muitas pedago-
gas e pedagogos ainda continuam pensando no berçário como um lugar onde só
realizamos a função de cuidar e esquecemos do estímulo psicomotor, assim, vamos
finalizar esta unidade pensando em possibilidades de atividades para esta fase.
No berçário, podemos trabalhar com estímulos voltados à exploração e à tonici-
dade muscular. Aqui, começamos o conhecimento das possibilidades corporais, das
sensações e da percepção.
Crianças nessa faixa etária precisam de atividades de exploração. Uma estratégia
é deixar para as crianças objetos em cestos ou caixas com texturas e formas dife-
rentes. A primeira coisa que o bebê vai fazer é levar os objetos à boca, pois essa é a
forma que ele tem de conhecê-los. Vamos lembrar que a criança aqui está na fase
sensório-motor de Piaget e, além de trabalhar os movimentos de manipulação e con-
trole corporal, a criança experimenta diferentes sensações.

Atividade 1: Exercícios para o corpo


• Objetivo geral: fortalecer os músculos do corpo;
• Objetivo específico: fortalecer os músculos do corpo para desenvolver capaci-
dades posturais.

Descrição
• Braços e pernas: deite o bebê de barriga para cima, pegue-o suavemente pelos
pés e pelas mãos e faça flexões e movimentos circulares com as pernas e braços;
• Braços e abdômen: ponha o bebê deitado de barriga para cima, motive-o a
agarrar seus polegares, levante-o suavemente e volte a deitá-lo;
• Braços e tórax: deite o bebê de barriga para cima e, com delicadeza, separe
suas mãos na altura do peito.
Esta atividade promove o fortalecimento do tônus muscular e o desenvolvimento
da capacidade de força física. Assim, a criança terá maior controle e domínio do
seu corpo para interagir com a ambiente.

Atividade 2: Exercícios para o corpo


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• Objetivo Geral: Fortalecer os músculos do corpo;


• Objetivo Específico: Fortalecer os músculos do corpo para desenvolver capa-
cidades posturais e motoras;
• Recursos: Bola e bandeja com farinha.

Descrição
• Engatinhar com auxílio: Deite a criança de barriga para baixo e levante-a delicada-
mente pela cintura, fazendo com que seus pés e mãos toquem o chão. Movimente
um pouco a criança para a frente, de modo que ela comece a engatinhar;
• Engatinhar até a bola: Sente-se no chão, com as pernas esticadas. Deite a
criança no seu colo, na posição de barriga para baixo, depois que você já estiver
sentado. Mostre a ela uma bola que está centímetros além do alcance das suas
mãos. Faça-a rolar e motive-a a tentar chegar até ela;
• Exercito o meu corpo: Encha uma bandeja grande com bastante farinha.
Coloque a criança perto da bandeja, usando somente fraldas, para que tenha a
possibilidade de sentir em todo o corpo a textura da farinha. Deixe-a entrar na
bandeja e manusear seu conteúdo.

Atividade 3: Sentar-se e ficar parada


• Objetivo Geral: Desenvolver diferentes capacidades posturais;
• Objetivo Específico: Dominar diferentes posturas;
• Recursos: Travesseiro e brinquedos.

Descrição
• Sentar-se sem auxílio: Deite o bebê de barriga para cima com o travesseiro nas
suas costas, de tal forma que seu tronco fique ligeiramente erguido. Convide a
criança a sentar-se na sua frente oferecendo um brinquedo que está a cerca de
30 centímetros de distância;
• Coloque-se de pé e mantenha-se ereto, com auxílio: Ofereça a criança que
está no berço um brinquedo para que ela se erga agarrando-se no berço;
• Transferir o peso de uma perna para a outra: Pare a criança em uma borda
de uma cama. Uma vez nessa posição, coloque um brinquedo sobre ela, sempre
ao alcance da criança, porém, às vezes do seu lado esquerdo e outras vezes do
seu lado direito. Ensine a criança a transferir um peso de uma perna para a
outra colocando em uma das suas mãos um objeto pequeno, quando ela estiver
em pé.
Observação: a capacidade de transferir o peso de uma perna para a outra é
fundamental na ação de caminhar.

Atividade 4: Aprender a descolocar-se pela casa


• Objetivo Geral: Desenvolver diferentes formas de deslocamento e locomoção;

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• Objetivo Específico: Aperfeiçoar o engatinhar e subir degraus;


• Recursos: Diferentes tipos de obstáculos.

Descrição
• Engatinhar: Coloque diferentes obstáculos no chão e motive a criança a en-
gatinhar desviando-se deles;
• Subir e descer degraus: Motive a criança a subir e descer degraus. Supervisione
esse exercício, que dará a ela muita força e ânimo para seguir explorando a casa.

Atividade 5: Brincando com as mãos


• Objetivo Geral: Desenvolver a capacidade de segurar e manusear objetos;
• Objetivo Específico: Ordenar o movimento dos dedos de acordo com as rimas.

Descrição
Recite para a criança rimas e estrofes, acompanhando-as com movimentos coor-
denados das mãos e dos dedos.

Atividade 6: Manipulando objetos


• Objetivo Geral: Desenvolver a capacidade de segurar e manusear objetos;
• Objetivo Específico: Desenvolver a capacidade de preensão e manipulação de
objetos não muito familiares.

Descrição
• Entregue à criança um objeto por vez, para exercitar assim suas capacidades
de preensão em relação a distintas formas. Não coloque objetos diretamente na
mão da criança, espere que ela a estique para concretizar a ação;
• Transfira você a água de um recipiente para outro. Essa atividade, que cativará
a atenção da criança, pode ser desenvolvida na hora do banho.

Atividade 7: Pegando a gelatina


• Objetivo Geral: Desenvolver a capacidade de segurar e manusear objetos;
• Objetivo Específico: Desenvolver a coordenação óculo-manual.

Descrição
Sente a criança em frente a um pote de gelatina. Deixe-a colocar as mãos no
recipiente, manuseá-la e comê-la.

Atividade 8: Exercícios para o corpo


• Objetivo Geral: Fortalecer os músculos do corpo;
• Objetivo Específico: Fortalecer os músculos do corpo para desenvolver capa-
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cidades posturais e motoras.

Descrição
• Desenvolver e fortalecer os músculos das crianças, tanto das que ainda en-
gatinham como daquelas que estejam dando seus primeiros passos. Coloque
diferentes obstáculos no chão, como uma bola, uma caixa de papelão, um brin-
quedo grande, dos quais a criança terá de desviar num passeio de gatinhas;
• Motive-a para que engatinhe e não se deixe alcançar por um adulto que vem
atrás dela e a persegue dizendo: Vou te pegar, vou te pegar.

Atividade 9: Colocar-se de pé
• Objetivo Geral: Desenvolver diferentes capacidades posturais;
• Objetivo Específico: Ensinar a criança a ficar em pé sem auxílio.

Descrição
Coloque um brinquedo sobre uma cadeira, motivando a criança a erguer-se
para alcançá-lo.

Atividade 10: Os primeiros passos


• Objetivo Geral: Desenvolver diferentes formas de deslocamento e locomoção;
• Objetivo Específico: Desenvolver a estabilidade e equilíbrio ao caminhar.

Descrição
• Caminhar segurando na mão de um adulto: Segure a criança pela mão e motive-
a a dar seus primeiros passos. Solte-a pouco a pouco, colocando-lhe o desafio de
percorrer distâncias cada vez mais longas;
• Caminhar puxando um brinquedo: Ofereça à criança um brinquedo de puxar,
preferencialmente um que produza algum efeito visual e sonoro ao se mover.
Se ainda não anda, ajude-a segurando-a pela mão.

Atividade 11: Manipulando objetos de diferentes tipos


• Objetivo Geral: Desenvolver a capacidade de segurar e manusear objetos;
• Objetivo Específico: Desenvolver a preensão e a autonomia.

Descrição
Ensine à criança os diferentes usos de cada um dos materiais. Dê a ela tempo
para experimentar cada objeto. Uma vez que saiba como divertir-se com os objetos,
deixe-a brincar sozinha o maior tempo possível.

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Em Síntese
Essas foram as nossas sugestões nesta unidade para o fechamento da disciplina Corpo,
Movimento e Psicomotricidade. Vale sempre lembrar a importância da atualização nes-
ta área, pois o desenvolvimento integral é o foco da psicomotricidade. Esperamos ter
contribuído para o seu conhecimento, lembrando que nosso papel é ofertar estímulos
para cada fase de desenvolvimento e para o entendimento do desenvolvimento integral
com ênfase na dimensão corporal.

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Vídeos
A Importância do Brincar
Neste vídeo você verá a professora da faculdade de Educação da USP, Tizuko
Morchida, falando um pouco mais sobre o papel das brincadeiras na educação infantil.
Ela destaca que até os bebês aprendem a fazer escolhas através dos brinquedos.
https://youtu.be/HpiqpDvJ7-8
Importância do brincar no desenvolvimento infantil – Conexão – Canal Futura
Brincar é um direito estabelecido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente,
e é também fundamental para o desenvolvimento e formação do ser humano.
A Semana Mundial do Brincar ressalta a importância dessa atividade na infância.
Entrevistados: Giovana Barbosa de Souza, conselheira da Aliança pela Infância; e
Sônia Teixeira, orientadora educacional.
https://youtu.be/C0XY2O1lbE8
Leitura
Música para aprender e se divertir
Esta matéria, da Revista Nova Escola, fala sobre a importância da linguagem musical
na educação infantil, “o trabalho com a música ajuda a melhorar a sensibilidade
das crianças, a capacidade de concentração e a memória, trazendo benefícios ao
processo de alfabetização e ao raciocínio matemático”.
https://bit.ly/2KItdxr
O desenvolvimento da psicomotricidade e a interdisciplinaridade no trabalho com artes
O presente artigo apresenta como a disciplina de Arte constitui-se como um meio
prático e prazeroso para desenvolver as habilidades motoras e psicomotoras dos alunos.
https://bit.ly/2VNO4nO
A importância e contribuição da psicomotricidade no desenvolvimento da pessoa com deficiência
no ensino regular https://bit.ly/2Y4yNlo
Referências
BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação
Fundamental. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI)
Brasília: MEC/ SEF, 1998. HUIZINGA, J. Homo ludens: o jogo como elemento
da cultura. 7. ed. São Paulo: Perspectiva, 2012.MELLO FILHO, J. de. O ser e o
viver: Uma visão da obra de Winnicot. 2.ed. São Paulo: Casa do Psicólogo,
2011.NETO, F. R. et.al. Efeitos da intervenção motora em uma criança com
transtorno do espectro do autismo. Temas sobre desenvolvimento.
Florianópolis, 2013. NICOLA, M. Conceitos. In: NICOLA, M. Psicomotricidade:
manual básico. Rio de Janeiro: Revinter, 2004. Cap. 2, p. 5-12.PERRI, K.
Crianças utilizam objetos como pontes para o exterior. Disponível em:
<http://migre.me/eFCM8>. Acesso em 15/04/2013.
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