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Resumo: O presente trabalho tem por objetivo discutir os diversos movimentos do corpo na escola,
numa perspectiva política de educação. Na escola, as ações ou a ausência delas, voltadas direta e
indiretamente para a educação do corpo, comumente se traduzem em um processo de disciplinarização
e olhar para as práticas corporais apenas nas poucas aulas destinadas à educação física ou recreação,
por vezes, sendo reprimidos inclusive nestes espaços. Nas reflexões presentes, conversamos com
concepções sobre o Corpo que inspiram nossa prática diária no chão da escola. Entendemos o corpo
como ponto central das práticas culturais e como instrumento político, ideia que pode reconfigurar por
completo todo o currículo e práticas escolares, questionando: que espaço o corpo ocupa dentro da
escola? O que o currículo favorece, legitima e valoriza na constituição dos sujeitos e de seus corpos?
Nesta perspectiva, vivemos uma escola democrática? Que corpo queremos numa educação pela e na
experiência? Para tanto, nos debruçamos sobre as obras de autores pós-críticos, tratando da cultura e
do corpo na centralidade das relações. Neste percurso, foi possível identificar manifestações
intencionais, que buscam de fato promover um cerceamento dos corpos na escola, e inconscientes,
localizadas em ações cotidianas, ambas privilegiando determinados moldes, indivíduos, valores e
culturas em detrimento de outras, sem que o âmbito do diverso de fato prevaleça. Tal contexto nos
sinaliza a necessidade de questionamentos e mudanças, assim como a proposição de caminhos em
busca de um corpo inteiro, empoderado e presente entre todos os atores escolar, na experiência, na
diferença e na democracia.
Para modificar esse contexto, algumas tentativas possíveis perpassam por outros
valores e práticas que configurariam o currículo, do ponto de vista cultural.
O "corpo escolar"
reproduz nossas vivências em sociedade, e talvez seja um dos espaços em que a reflexão
sobre a cultura, a identidade e a diferença se faça mais necessária. Pérez Gómes (2000)
o meio como as novas gerações se apropriam das produções culturais das gerações anteriores,
infância insere-se, pois, num conjunto de tecnologias políticas que vão investir na regulação
Se a cultura nos concede o direito de ser “social”, e é através deste conhecimento que
podemos nos reconhecer no outro, é esta característica também que nos garante
individualidade, garantia esta que deve ser mantida inclusive nas nossas práticas corporais e
relações com nossos corpos. Uma educação física que não se proponha a pensar, refletir e
criticar com os próprios alunos sobre seus corpos e suas práticas, não se mostra efetiva na
busca deste corpo. Ela deve ser capaz de ensinar, no sentido de transmitir um conhecimento
de outrem, um saber social. Mas, ainda, a educação física deve proporcionar um espaço de
criação, livre e guiada, para que os alunos tenham compreensão das suas possibilidades e
limitações, além de aprender com os outros e poder colocar-se em uma posição de
protagonismo da aprendizagem alheia, incluindo a do professor, tudo realizado com seu
25 a 28 de julho de 2017
corpo. Poder falar, questionar e refletir sobre as práticas corporais próprias, as legitimadas
pela mídia, questões de gênero, padrões de beleza, valorizações de certas práticas e esportes
em detrimento de outras é fundamental para o objetivo maior deste trabalho: saber lidar e
atuar sobre sua própria corporeidade no meio social.
Por fim, acreditamos que a educação física pode ser um amplo espaço de
problematização e reflexão sobre os corpos sociais e as práticas de corpo que são consumidas
pelos alunos. Se dentro da escola os corpos já são dotados de grandes conflitos, na sociedade
estas questões são ainda mais intensas, dadas as variedades de concepções que nos cercam,
muitas vezes em função da mídia e da lógica de mercado. A educação física, pode ser um
espaço de análise crítica e construção de novas possibilidades dessas relações de corpo, com
práticas e discussões, um momento de grande oportunidade para que todos os atores ali
presentes observem e reflitam sobre os corpos além do muro da escola.
Considerações finais
Abordamos neste texto algumas questões, talvez inquietações, que nos surgem
quando paramos para observar os corpos das alunas e dos alunos, automaticamente parando
para olhar nossos corpos e dos outros atores escolares, ampliando para os corpos sociais que
nos deparamos. Mais do que buscar respostas imediatas, propomos aqui um olhar profundo
para o corpo, o lugar que lhe permitimos, o movimento que concedemos a ele. É fundamental,
ainda, que, embora o foco seja maior para o corpo das alunas e dos alunos, todos os corpos
presentes no espaço escolar trazem significados e sentidos políticos para os sujeitos que ali se
fazem presente.
As perguntas que nos movem nesse momento tratam da necessidade de revermos
nossos valores pedagógicos sob uma perspectiva mais ética. Como construir novas alteridades
infantis e jovens que possam problematizar as relações culturais diversas? Como construir
outro projeto de escola, sociedade e cidade? Como construir novos sujeitos políticos? Arroyo
e Silva enfatizando o reconhecimento dos sujeitos neste processo:
Como Arroyo (2012) nos ajuda a pensar: estaríamos de fato em tempos de maior
sensibilidade social para com os corpos? Potencializamos essa construção? Ainda que os
corpos infantis sigam resistindo a nossas intenções, é preciso dar voz a esta potência,
reconhecer que se toda aprendizagem é uma experiência e que toda experiência passa pelo
corpo, não é possível fazer a escola que desejamos se não for corporalmente.
Todos os agentes escolares devem proporcionar um olhar mais cuidadoso e, ao
mesmo tempo rigoroso, no que se refere a percepção das ações, com os corpos escolares,
perceber os momentos os quais estimulamos ou cerceamos, entendendo que estas duas ações
são necessárias, compreender que podemos estimular um espaço criativo e crítico destes
corpos para o desenvolvimento de uma consciência e autonomia, sobre seu corpo e daqueles
que o cercam. Enfim, a escola como lugar do encontro é a escola das muitas vozes e dos
muitos corpos, das muitas práticas que não precisam resgatar o corpo que não se sabe onde
estar, e sim aquela que quer lhe dar espaço para lhe corporificar.
Referências Bibliográficas
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pedagogias dos corpos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.
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Acesso em: 25/06/2017.