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JORNADA

XAMÂNICA
Um guia para principiantes

SANDRA INGERMAN
Jornada xamânica é a arte interior de viajar aos “mundos
invisíveis”, que estão além da realidade normal, para obter
informações sobre as mudanças em qualquer área da sua vida —
desde a espiritualidade e a saúde, até o trabalho e os
relacionamentos. Em Jornada xamânica, Sandra Ingerman extrai o
conteúdo de mais de vinte anos de experiência como estudante e mestre
de xamanismo para compartilhar conosco os ensinamentos essenciais
dessa prática de transformação. Junte-se a ela para conhecer o papel
original do xamã nas sociedades nativas, aprender como encontrar seu
“animal de poder” e outros mestres espirituais e trabalhar com eles,
obtendo a chave para uma viagem bem-sucedida na cultura
contemporânea. Com narrativas fascinantes sobre os resultados
poderosos das viagens xamânicas e muitas respostas a várias
perguntas, esta obra inclui tudo de que você necessita para explorar os
mundos visionários do xamã.

Inclui um CD de 62 minutos com 3 trilhas sonoras de percussão


para a prática das jornadas xamânicas.
BAIXAR CD COM TOQUE DO TAMBOR XAMÂNICO:
https://drive.google.com/open?id=0B8S91Mmj85NsOFhuLVJFOGN2
c0E

Visite o Mundo Inferior para encontrar o seu animal de poder... entre


no Mundo Superior para encontrar um mestre em forma humana... ou
encontre os espíritos da natureza no Mundo Intermediário. Use o CD
sempre que precisar de energia para a cura ou a resolução de
problemas, inspiração para um projeto criativo, ou apenas quiser
“relaxar” na realidade fora do normal.

A AUTORA

SANDRA
INGERMAN
Sandra Ingerman é reconhecida mundialmente por trazer para a
cultura moderna, métodos de cura da cultura antiga, adequados às
necessidades de nossos tempos. Autora de diversas obras sobre
jornada xamânica, cura e reversão da poluição ambiental, ela
ministra workshops internacionais utilizando seus métodos
espirituais. É a fundadora da Aliança Internacional para
Professores e Xamãs de Remédios para a Terra. Sandra Ingerman
é terapeuta familiar e de casais e conselheira profissional de saúde
mental no Novo México, com certificação em estresse traumático e
em gerenciamento de estresse traumático agudo. Além do livro
Jornada xamânica — um guia para principiantes, Sandra
Ingerman é autora das obras: Resgate da alma — reencontre os
pedaços da alma que ' você perdeu; Cure pensamentos tóxicos,
editados pela Editora Vida & Consciência, Welcome home:
following your soul's journey home, A fall to Grace e Medicine for
the earth.

INTRODUÇÃO

Quando pensamos na palavra “xamã”, ela nos lembra um curador


espiritual que possui conhecimentos secretos e poderes misteriosos.
Então, como é que uma garota comum do Brooklyn envolveu-se
com o xamanismo, nos anos oitenta?
Em 1980 eu frequentava o California Institute of Integral Studies, onde
realizava meu mestrado em aconselhamento psicológico. Por razões
financeiras, eu tinha de trabalhar sessenta horas por semana e ainda
completar doze créditos por quadrimestre, então eu sempre ficava
procurando um modo de obter créditos fáceis. Um dia eu me
encontrava no escritório da escola, quando um amigo entrou na sala e
me contou que um homem vinha de Connecticut para realizar um
workshop de fim de semana sobre uma coisa chamada xamanismo.
Meu amigo não sabia muito bem do que se tratava, mas sabia que eu
poderia obter dois créditos fáceis participando do evento.
Imediatamente fiz minha inscrição, mesmo sem verificar o que seria
necessário para isso. O workshop começou no dia de Halloween 1.
O homem que vinha de Connecticut era o dr. Michael Harner,
antropólogo e autor do livro The way of the shaman, conhecido por ter
recuperado a tradição da jornada xamânica na moderna cultura
ocidental. Enquanto fazia as pesquisas para seu livro, o Dr. Harner fez
uma importante descoberta que se tornou a base do seu ensinamento,
amplamente divulgado no Ocidente. Ele descobriu que a jornada
xamânica é uma prática muito comum a todos os xamãs e culturas ao
longo da história, independentemente das suas diferenças geográficas
e culturais.
Durante uma jornada xamânica o xamã entra num estado alterado de
consciência para viajar fora do espaço e do tempo, naquilo que Carlos

1 - Nota da Tradução: Halloween — Dia das Bruxas é um evento tradicional e cultural que
ocorre nos países anglo-saxônicos, com especial relevância nos Estados Unidos, Canadá,
Irlanda e Reino Unido, tendo como base e origem as celebrações pagãs dos antigos povos
celtas.
Castaneda 2 chamou de realidade fora do normal, ou que considero um
universo paralelo. Geralmente o xamã fica ouvindo algum tipo de
percussão rítmica, que transporta sua alma a uma realidade fora do
normal. Nessas jornadas, o xamã recolhe informações de espíritos
auxiliares, que se colocam à sua disposição nessa realidade fora do
normal, a fim de o ajudarem nas curas e no repasse de informações
para os pacientes, a respectiva família e a comunidade em geral.
Durante esse workshop aprendi que a prática da jornada xamânica pode
ser utilizada por qualquer pessoa para obter respostas a questões
pessoais, aprender diversos métodos de cura, ajudar pessoas nas suas
comunidades e em questões de nível mundial e global. Quando
encontrei meu espírito auxiliar na minha primeira jornada, percebi que
essa prática não só me ajudaria a enfrentar os desafios da minha vida,
mas também promoveria meu crescimento e minha evolução pessoais.
Desde então, em consonância com minha base em psicoterapia, meu
objetivo têm sido encontrar a melhor maneira de aplicar essa poderosa
técnica tão antiga, e compartilhá-la com as pessoas.
A prática da jornada xamânica é uma forma de nos sentirmos
pessoalmente fortalecidos na nossa vida. Ela nos oferece o caminho
para uma revelação direta, é uma abordagem bastante simples para
obtermos o acesso a uma orientação espiritual. É um meio de sairmos
da nossa racionalidade e expandirmos nossa percepção e nossa
consciência.
Quando começamos a perceber que temos a capacidade de solucionar
nossos problemas sozinhos, isso aumenta nossa autoestima de forma
fundamental. Ir ao encontro do nosso espírito auxiliar nos dá uma
sensação de valorização e de conexão com o espírito que habita todas

2 - Nota da Revisão: Carlos Castaneda ou Carlos Aranha Castaneda (1925—1998) foi


escritor e antropólogo formado pela Universidade da Califórnia, notabilizando-se com a
publicação The teachings of Don Juan — a Yaqui way of knowledge, lançado no Brasil com
o nome de A erva do diabo.
as coisas. Sentimo-nos amados pelo poder do Universo e nunca mais
nos sentimos sós novamente.
Quando trabalhamos com os espíritos auxiliares ficamos sabendo qual
é a verdadeira definição de poder. Possuir o verdadeiro poder é ser
capaz de usar a própria energia para produzir transformações em nós,
nas outras pessoas e no planeta.
A jornada xamânica é um caminho prazeroso de resgate do
conhecimento de que necessitamos para trazer harmonia e equilíbrio
de volta à nossa vida. Ela nos ajuda a despertar para nosso potencial
criativo. Ao despertarmos nossa vida muda, garantindo-nos e aos
outros também, boa saúde e bem-estar. Já vi pessoas em depressão
despertarem para a alegria de viver, pessoas que começaram a dançar
e a cantar depois de uma vida inteira reprimindo a criatividade. Já vi
pessoas reconstruindo suas vidas depois de sofrerem doenças
debilitantes e perdas pessoais. Vi pessoas recuperarem a “voz”.
Precisamos apenas ter a vontade de realizar esse trabalho e um coração
aberto. Todo mundo pode realizar a jornada e abrir-se a novas
dimensões da vida, pois os espíritos estão esperando para nos mostrar
tudo isso.
É importante você entender que eu não pretendo treiná-lo para que se
torne um xamã. Tradicionalmente não é habitual que alguém se
apresente voluntariamente para assumir o papel de xamã, ou se
identifique como xamã. Geralmente alguém é escolhido pelos
“espíritos” para se tornar um xamã e servir à sua comunidade. De fato,
nas culturas xamânicas é considerado de mau agouro alguém se definir
como xamã, pois isso é visto como uma ambição ao poder, e a visão
do xamã sobre o poder é que, se você o ambiciona, certamente vai
perdê-lo. Em vez disso, a comunidade reconhece alguém como xamã
baseada nos resultados bem-sucedidos das suas ações em benefício de
seus clientes e da comunidade como um todo.
No livro Jornada xamânica — um guia para principiantes, você poderá
aprender uma das técnicas mais fundamentais usadas pelos xamãs do
mundo inteiro para se conectarem com auxiliares espirituais, a fim de
obterem uma orientação e uma cura espiritual pessoal, ajudarem as
outras pessoas e o planeta, e se religarem à natureza, com seus ciclos
e ritmos; essa é a jornada xamânica.
Essa prática é destinada a lhe oferecer um acesso direto à sua própria
orientação espiritual. Acredito que os tempos em que vivemos exigem
que desenvolvamos ferramentas para solucionar nossos problemas,
ferramentas que nos deem a possibilidade de nos tornarmos mais fortes
e criativos.
Muitos de vocês poderão usar este método para sua cura pessoal, seu
crescimento e evolução. Depois de uma extensiva prática, alguns de
vocês serão orientados a usar esse trabalho para ajudar outras pessoas
da sua comunidade, e no trabalho de ajuda ao planeta. Esse programa
é destinado a lhe oferecer uma introdução à técnica da jornada
xamânica, de modo a permitir que seu destino se revele a você. O CD
que acompanha o livro contém três sessões de música percussiva para
ajudá-lo no início da sua prática. Assim que terminar a leitura de
Jornada xamânica — um guia para principiantes, você estará
preparado para usar o CD como acompanhamento às suas viagens a
uma realidade fora do normal.

Capítulo 1
XAMANISMO: O CAMINHO DA REVELAÇÃO DIRETA
O xamanismo é a prática espiritual mais antiga conhecida pela
humanidade, remontando há cerca de dez mil anos. Apesar de a
palavra “xamã” ser uma palavra siberiana, que designa um curador
espiritual, o xamanismo também foi praticado em partes da Ásia,
Europa, África, Austrália, Groenlândia e entre os nativos da América
do Norte e do Sul, ao longo de toda a história. O fato de esta prática
ter sobrevivido e florescido por dez mil anos demonstra a potência
desse trabalho.
Um dos mais belos aspectos da jornada xamânica é o princípio da
revelação direta. A prática da jornada xamânica nos ajuda a afastar os
véus que separam os mundos visíveis dos invisíveis e obter o acesso a
informações e energias que podem ajudar o nosso despertar e a
recuperação da nossa totalidade integrada. Um xamã é um homem ou
mulher que interage diretamente com os espíritos para tratar dos
aspectos espirituais das doenças, realizar o resgate de almas, obter
informações divinas, ajudar os espíritos de pessoas falecidas na sua
passagem para o Além, e realizar uma grande variedade de cerimônias
para a comunidade. Os xamãs assumiam muitos papéis nas
comunidades tribais, eles atuavam como curadores, médicos,
sacerdotes, psicoterapeutas, místicos e contadores de histórias.
Tradicionalmente, a prática do xamanismo visava resultados práticos
que deviam ser obtidos pelo xamã. Numa cultura xamânica tradicional
havia um único indivíduo ou diversas pessoas que assumiam o papel
de xamã. Ele era consultado por caçadores e coletores da tribo para
identificar as fontes de alimento. Se o xamã fosse incapaz de adivinhar
com exatidão o local em que poderiam encontrar alimentos, a tribo não
sobreviveria. Esperava-se também que o xamã realizasse curas para as
doenças dos membros da comunidade. Mais uma vez a sobrevivência
da tribo era amplamente dependente das habilidades espirituais do
xamã.
O xamanismo nos ensina que tudo o que existe está vivo e possui um
espírito, e que estamos ligados à Terra e a tudo o que vive por meio da
nossa interconectividade espiritual. Assim como a física quântica
descreve um campo de energia que interliga toda vida, os xamãs
também falam de uma rede de vida que interliga tudo que existe. Na
cultura contemporânea, muitos de nós sentem um profundo anseio de
vivenciar a unidade com essa rede de vida e curar a sensação de
isolamento. Quando viajamos a uma realidade fora do normal, em
nossas jornadas xamânicas, aprendemos a nos comunicar com os
espíritos das árvores, plantas, animais, insetos, aves, peixes, répteis e
rochas, assim como o espírito dos elementos terra, ar, água e fogo.
Vivenciamos diretamente a rede da vida.
Como somos parte da natureza, temos uma profunda necessidade de
nos ligarmos aos ciclos e ritmos naturais. Imagine como seria
exaustivo caminhar contra o fluxo de um rio todos os dias da sua vida.
Na verdade, nós nos desligamos dos ciclos e ritmos da lua e das
estações do ano, e muitas vezes realmente caminhamos contra o fluxo
da vida. Acredito que em parte essa é a causa de alguns males atuais,
como fadiga crônica, depressão e diversas outras doenças, tanto
psicológicas quanto físicas, tão comuns hoje em dia. Os espíritos
auxiliares têm muito a nos ensinar sobre a recuperação do equilíbrio e
da harmonia em nossa vida, com a ligação aos ciclos da natureza e da
vida, e a unidade com o mundo natural.
Na prática do xamanismo há uma grande variedade de cerimônias
realizadas para venerar os ciclos da natureza e os ciclos da nossa vida,
e trabalhar com eles, assim como a previsão de acontecimentos e a
interpretação de sonhos — para a obtenção da visão interior, da cura e
do aumento de energia. O xamanismo também pode nos ensinar o valor
de uma prática espiritual regular e da ajuda a outras pessoas, o que traz
a nossa vida um autêntico senso de significado e um objetivo.
Finalmente, o xamanismo nos dá a capacidade de obtermos o acesso a
forças poderosas que nos ajudam a criar o mundo em que queremos
viver — a criá-lo para nós e para os outros.
Os xamãs curam a doença emocional e física trabalhando com o
aspecto espiritual da doença. O papel tradicional do xamã tem sido a
realização de cerimônias. Depois de dez mil anos, os xamãs
tradicionais ainda fazem parte da vida e da prática comunitária na
Sibéria, Ásia, Austrália, África e América do Norte e do Sul. A técnica
da jornada xamânica que você aprenderá neste livro é apenas uma das
cerimônias que os xamãs utilizam para estabelecer uma comunicação
com o mundo espiritual.
Do ponto de vista do xamã, são três as causas mais comuns para as
doenças. Primeiro, uma pessoa pode ter perdido a energia, o que a
levou a ter depressão, doenças crônicas ou uma série de problemas.
Nesses casos, o xamã viaja para restaurar a energia perdida dessa
pessoa. Ou então, uma pessoa pode ter perdido parte da sua alma ou
essência, produzindo a perda da alma, o que às vezes acontece durante
um trauma emocional ou físico, como acidentes, cirurgias, abusos,
traumas de guerra, desastres naturais ou outras circunstâncias
traumáticas. Essa perda da alma resulta em dissociação, Síndrome de
estresse pós-traumático, depressão, doença, problemas de deficiência
imunológica, vícios, tristeza sem fim ou coma. O papel do xamã é
buscar, por meio da realização de uma cerimônia de recuperação da
alma, as partes dela que desapareceram e foram perdidas devido ao
trauma. Da perspectiva de um xamã, a terceira causa de doença seria
algum bloqueio espiritual ou energia negativa assimilada pelo cliente,
devido à perda da sua energia ou alma. Esses bloqueios espirituais
também causam doenças, geralmente numa região específica do corpo.
O papel do xamã é extrair e remover essas energias maléficas do corpo.
Outras cerimônias realizadas por xamãs incluem a acolhida de crianças
que chegam ao mundo, a celebração de casamentos e o auxílio às
pessoas no momento da morte, na transição do corpo ao espírito. Os
xamãs também trabalham para estimular o crescimento das lavouras,
para ajudar as pessoas na interpretação de sonhos, e no
aconselhamento daquelas que estão passando por dificuldades.
Os xamãs são encarregados das cerimônias de iniciação realizadas por
ocasião das transições de uma fase da vida a outra, como, por exemplo,
a iniciação das crianças à vida adulta. Os xamãs contam histórias sobre
o significado da vida, e mostram como os espíritos podem nos ajudar
a encontrar nosso caminho quando nos sentimos perdidos nas
circunstâncias da nossa vida. Eles podem neutralizar encantamentos
ou energias negativas e restaurar o significado da comunidade,
eliminando a desarmonia e o desequilíbrio, e também realizam
cerimônias de luto, quando ocorre a perda de um membro da
comunidade. Os xamãs também leem sinais e presságios para escolher
os momentos mais auspiciosos para a realização de certas atividades,
como a caça e as celebrações.
Eles conseguem entender os ciclos da natureza, os ciclos das estações
do ano e as fases da lua, e o modo como as estrelas se movimentam
pelo céu. Conseguem ler os sinais que chegam com essas mudanças e
movimentações. Comunicam-se com os espíritos do clima e mantêm a
harmonia e o equilíbrio nas suas comunidades.
Normalmente existe mais do que um xamã numa comunidade. Xamãs
diferentes são conhecidos por suas respectivas áreas de especialidade
espiritual. Por exemplo, alguns xamãs podem ser conhecidos por seus
grandes êxitos em determinadas cerimônias de cura, como o resgate de
almas, enquanto outros são conhecidos por suas habilidades
divinatórias.
Ao longo do tempo, a prática do xamanismo foi se adaptando em
resposta a diferentes necessidades culturais e à mudança dos tempos.
Atualmente, há um forte retorno do xamanismo no Ocidente, com uma
ampla diversidade de pessoas integrando as práticas xamânicas à sua
vida, entre as quais, estudantes, donas de casa, professores,
psicoterapeutas, advogados, enfermeiras, médicos, políticos
e cientistas. Eu acredito que uma das principais razões desse retorno é
que as pessoas querem ter acesso às suas próprias orientações
espirituais. Não queremos mais entregar nosso poder a figuras de
autoridade, aceitas socialmente. Sabemos que somos os únicos a ter,
verdadeiramente, o poder de mudar nossa vida.

Capítulo 2
OS TRÊS MUNDOS

De acordo com a visão xamânica existe uma realidade invisível


além do mundo físico, que é acessível por meio da jornada
xamânica. No xamanismo céltico essa realidade que não vemos é
conhecida como o “Outro Mundo”. Na tradição aborígene
australiana os mundos invisíveis são chamados de “Tempo de
Sonho”. Muitas tradições xamânicas acreditam que a realidade
invisível está dividida em três mundos separados, chamados de
Mundo Inferior, Mundo Superior e Mundo Intermediário. Cada
mundo possui qualidades distintas, inclusive portas de entrada ou
portais específicos e uma paisagem reconhecível. Nesta introdução
eu gostaria de apresentar cada um desses três mundos, inclusive
suas distintas entradas e diferenças de paisagem.
Às vezes, o Mundo Inferior é conhecido pelo termo “Mundo
Subterrâneo”, apesar de ele poder ter uma conotação negativa para
algumas pessoas. Geralmente a paisagem do Mundo Inferior é terrena,
cheia de montanhas, desertos, selvas densas e florestas. Quando ensino
a jornada xamânica, recomendo que as pessoas comecem a jornada
pelo Mundo Inferior.
Para viajar ao Mundo Inferior, comece visualizando um local da
natureza que você visitou na realidade normal e do qual você se lembra
bem, e então o utilize para viajar à terra. As formas tradicionais de
entrar no Mundo Inferior incluem a descida pelas raízes de uma árvore,
pelo centro de um vulcão por meio de um buraco no solo, pela entrada
de uma caverna, ou por meio de um corpo d’água, como um lago, um
regato, um rio ou uma cachoeira. Qualquer modo de ver a si mesmo
num local específico na natureza, usando uma abertura natural para
viajar ao interior da terra, é plenamente válido. Se você não conseguir
ter uma visão clara de uma abertura natural, poderá ver a si mesmo
viajando para dentro da terra num elevador ou vagão do metrô, se for
mais fácil para você.
Muitas vezes as pessoas vivenciam uma fase de transição tão logo
entram numa abertura semelhante a um túnel, que as leva ao Mundo
Inferior. Um exemplo literário dessa transição pode ser encontrado na
história de Alice no País das Maravilhas, em que Alice desce a outro
mundo por meio de um túnel mágico. Eventualmente, você poderá
subir à luz, e a paisagem à sua volta poderá ficar mais clara. Esse é o
Mundo Inferior.
Em comparação, muitas pessoas vivenciam o Mundo Superior como
bastante etéreo. A luz tende a ser brilhante, apesar do espectro de cores
poder incluir tudo, desde as cores de tons claros até a mais completa
escuridão. As paisagens do Mundo Superior podem ser bastante
variadas, e você poderá se encontrar numa cidade de cristal ou
simplesmente nas nuvens. Quando você está no Mundo Superior, é
comum sentir-se como se estivesse de pé sobre alguma coisa, apesar
de não sentir mais a terra sob os pés.
Para viajar ao Mundo Superior, você deve começar vendo-se num local
em particular na natureza que vai ajudá-lo a viajar para cima. Alguns
xamãs usam a Arvore da Vida para subir pelos seus galhos até o Mundo
Superior. Outra forma tradicional de viajar a esse mundo é subir por
uma corda ou escada, saltar do cume de uma montanha, subir por um
tornado ou redemoinho, escalar um arco- íris, subir pela fumaça de
uma fogueira ou chaminé, ou então pegar uma ave que possa levá-lo.
Atualmente, algumas pessoas viajam ao
Mundo Superior num balão de ar quente, outras simplesmente flutuam
até ele, e outras ainda pedem ao seu animal de poder ou espírito
protetor que as leve até lá. Qualquer meio que você utilize para chegar
ao Mundo Superior é adequado.
Você passará por uma transição que indicará que entrou no Mundo
Superior. Para algumas pessoas essa transição é uma camada de nuvens
ou névoa. Mas não será uma barreira, será apenas uma transição, como
na história de “João e o Pé de Feijão”, em que o menino sobe pelo pé
de feijão e é obrigado a passar por meio de uma camada de nuvens
antes de entrar num mundo novo. Da mesma forma, no Mágico de Oz,
Dorothy viaja a outro mundo sobre um tornado, o que é uma
experiência muito comum no xamanismo. De fato, há muitas histórias
infantis que falam de viagens a uma realidade fora do comum, e que
coincidem com as práticas do xamanismo tradicional.
Depois que você passou por essa transição, chegará ao primeiro nível
do Mundo Superior. Se ainda estiver vendo planetas e estrelas
enquanto viaja para cima, é sinal de que ainda não chegou ao Mundo
Superior. Novamente, você só saberá que chegou ao Mundo Superior
por causa da sensação de ter passado por uma espécie de umbral
permeável, após o qual a paisagem vai se transformar.
Apesar de muitas tradições xamânicas considerarem certo número de
níveis nos Mundos Inferior e Superior, muitos de nós encontramos um
número ilimitado de níveis, porque o próprio Universo é ilimitado.
Cada nível pode lhe ensinar algo especial, e cabe a você explorá -los.
O Mundo Intermediário é a dimensão espiritual do nosso mundo físico.
Viajar no Mundo Intermediário é um método de comunicação com os
espíritos que vivem em todas as coisas da realidade física. Geralmente
os xamãs viajam ao Mundo Intermediário para encontrar objetos
perdidos e roubados, para entrar em comunhão com a natureza ou para
realizar curas à distância. Outra grande viagem no Mundo
Intermediário é uma jornada à lua, para conhecer os seus diversos
ciclos e fases, e como eles afetam nossos sentimentos e
comportamentos. Dessa forma, você poderá realizar mudanças na sua
vida que estejam alinhadas com seus ciclos naturais e que vão
lhe proporcionar uma maior sensação de bem-estar. Você também
poderá falar ao sol, às estrelas e aos elementos da natureza, pois cada
um deles tem muito a nos ensinar sobre a restauração do equilíbrio na
nossa vida.
Quando você viaja no Mundo Intermediário, encontra-se no momento
presente, viajando pela nossa paisagem física. Simplesmente veja a si
mesmo saindo pela porta da frente e pisando no seu jardim, ou viajando
pelo espaço velozmente, para procurar algo que perdeu ou para
alcançar um destino mais distante. Você poderá fazer uma viagem ao
Mundo Intermediário para se encontrar com as plantas, árvores e
rochas do lugar em que mora, aprender mais sobre elas e sintonizar -se
com elas. George Washington Carver era um botânico respeitado, que
disse ter obtido muitos conhecimentos sobre o cultivo de plantas
conversando com elas, ao caminhar pelas florestas. Os xamãs sempre
têm conversado com os animais e as plantas dentro e fora das suas
jornadas, a fim de aprender coisas sobre a natureza, seus ciclos, ritmos
e o meio ambiente. Entretanto, não dependa exclusivamente das suas
jornadas ao Mundo Intermediário para se conectar à natureza. Você
também sentirá vontade de passar algum tempo ao ar livre
comunicando-se com a natureza, e felizmente suas viagens vão inspirá-
lo a fazer isso.
Pode ser um pouco complicado trabalhar com o Mundo Intermediário,
pois há muitos tipos diferentes de espíritos vivendo lá. Alguns desses
espíritos são almas de pessoas falecidas que sofreram mortes
traumáticas e não tiveram uma travessia bem-sucedida ao outro lado.
Talvez alguns desses espíritos nem saibam que estão mortos. Para
ajudá-los, você precisaria receber mais treinamento do que esse
programa pode lhe oferecer. De fato, há toda uma área de treinamento
xamânico chamada “psychopomp work”, que inclui métodos
destinados a ajudar essas almas a completar seu processo de travessia.
Entretanto, é bom fazermos a jornada para conversarmos com o
espírito de uma árvore, uma planta, um rio, o vento, ou então nos
encontrarmos com as fadas, os devas e os duendes que habitam o
Mundo Intermediário.
Durante suas viagens, você pode escolher se viaja ao Mundo Inferior,
ao Mundo Superior ou ao Mundo Intermediário. Pode escolher se
conversa com os espíritos que encontra ou se simplesmente vai em
frente. Ao empreender uma jornada xamânica é importante
compreender que você tem o controle total de onde quer ir e com quem
quer falar. Parte do prazer de explorar a realidade fora do normal é
descobrir as qualidades ligadas aos diferentes territórios — incluindo
uma variedade de paisagens — e o tipo de espíritos que vivem ali.
Nossos espíritos auxiliares têm a capacidade de viajar entre os mundos
e nos acompanhar nas jornadas, para nos transportar e nos dar apoio,
independentemente do lugar para onde viajamos.
Finalmente, não há regras preestabelecidas sobre o que as pessoas
devem vivenciar quando viajam a cada um dos mundos; mesmo assim
descreverei algumas experiências comuns para aju- dá-lo a entender as
diferenças entre os mundos. Entretanto, é vital que você confie na sua
própria experiência em vez de tentar repetir a experiência de outra
pessoa — e que você se lembre de que a experiência de uma pessoa
tem o mesmo valor que a de outra.

Capítulo 3
ANIMAIS E MESTRES DE PODER

Existem dois tipos principais de espíritos auxiliares que os xamãs


consultam e com quem trabalham em suas viagens: animais de
poder, também conhecidos como espíritos protetores, e mestres na
forma humana. Esses animais de poder e mestres são encontrados
nos Mundos Inferior e Superior.
A medida que sua prática de viajar for se aprofundando, você
encontrará muitos espíritos auxiliares diferentes. Normalmente você
terá um ou dois animais de poder, espíritos protetores ou mestres
principais trabalhando com você constantemente nas questões centrais
da sua vida. Com o tempo você aprenderá a confiar em seus espíritos
auxiliares — tanto os primários quanto os temporários — e a se apoiar
neles para auxiliá-lo e guiá-lo. Eles vão acompanhá-lo nas suas viagens
ao longo de toda a vida.
Animais de poder e espíritos protetores
Nas culturas xamânicas acredita-se que quando nascemos, o espírito
de no mínimo um animal se oferece para nos proteger e guiar ao longo
da nossa vida — ele é o nosso animal de poder.
Quando uma pessoa tem consciência do seu animal de poder, é possível
comunicar-se com ele diretamente numa jornada xamânica e pedir-lhe
ajuda e orientação. Mesmo quando uma pessoa não tem consciência do
seu animal de poder, ela recebe um apoio invisível, sem ter noção dele.
Algumas pessoas relatam ter toda uma equipe de animais ao redor
delas, porém o mais comum para alguém é ter um ou dois animais de
poder principais, com outros espíritos animais auxiliares mais
periféricos.
Seu animal de poder representa a espécie como um todo daquele
animal que o está protegendo e auxiliando. Por exemplo, você não tem
a proteção do espírito de uma águia em particular, um canguru ou um
esquilo específicos. Na verdade, você tem a proteção do espírito da
espécie das águias como um todo, ou dos cangurus e esquilos como um
todo. E muito comum alguém ter como animal de poder uma criatura
mitológica, por exemplo, o cavalo Pégaso ou um unicórnio. Você
também poderá receber a oferta de um animal extinto para ser seu
animal de poder, pois o espírito de uma espécie animal é eterno.
Portanto, não é incomum alguém ter como seu animal de poder um
dinossauro, como por exemplo, um estegossauro 3.

3 - N. da R.: estegossauro — animal pré-histórico cujo nome significa “lagarto telhado”, viveu
entre 152 à 145 milhões de anos atrás e recebeu esse nome porque se pensava que suas
Atualmente existem muitos livros sobre o simbolismo espiritual de
diferentes animais. Como o xamanismo é baseado na revelação direta,
o melhor é não depender da interpretação de outra pessoa sobre os
animais que você encontrar nas suas jornadas. Se você não conseguir
reconhecer, pela aparência ou comportamento, a espécie de animal que
encontrar, poderá recorrer a um livro sobre animais para identificá -lo.
Entretanto, consultar um livro sobre a simbologia do espírito de um
animal em particular não vai ajudá-lo a descobrir as qualidades
espirituais únicas que o animal está lhe oferecendo. Para obter essa
informação, o melhor é perguntar diretamente ao animal quais as
dádivas, as qualidades e o apoio que ele está lhe trazendo.
Nos meus workshops, muitas vezes ouço alunos relatarem que numa
jornada um elefante se ofereceu a eles para ser seu animal de poder.
Quando os alunos perguntaram o que ele poderia lhes ensinai', eles me
contaram que o elefante respondeu: “Estou tentando ensiná-los a serem
mais leves”. Entretanto, nenhum livro de simbologia vai lhe dizer que
o elefante representa a mensagem “seja mais leve”!
Eu, pessoalmente, recebi um ensinamento muito poderoso sobre isso
no fim dos anos oitenta, quando estava viajando bastante e dando
aulas. Muitas vezes as pessoas que frequentam meus workshops e
palestras me trazem algum presente. No entanto, houve um
determinado período em que recebi uma forte mensagem por meio de
uma série de presentes que, a princípio, não entendi direito. Para
começar, cheguei um dia num workshop e recebi dois presentes que
representavam uma coruja — uma pena de coruja e um amuleto de
coruja. Os amuletos provêm da tribo Zuni e são pequenas estatuetas
entalhadas em madeira, imbuídas do poder de um determinado animal.
Achei estranho receber dois presentes relativos à coruja, pois eu nunca
comentara com ninguém que a coruja seria um espírito auxiliar para

placas ósseas protetoras eram dispostas como as telhas e um telhado.


mim. Mas isso foi só o começo! No mês seguinte continuei recebendo
presentes que representavam corujas. O fluxo de presentes ligados à
coruja culminou com uma máscara de coruja feita à mão por um de
meus alunos. Obviamente havia uma mensagem nisso, mas eu não
sabia qual era.
Resolvi viajar ao encontro do meu principal espírito protetor, com
quem venho trabalhando desde 1980. Perguntei-lhe por que tantas
pessoas estavam me dando presentes associados à coruja, e por que
esse animal estava entrando na minha vida. Ele respondeu que, além
de enxergar no escuro, a coruja possui um tipo especial de radar que
logo me seria útil. Então a jornada terminou abruptamente. Como as
viagens são fora do tempo, a palavra “logo” poderia até significar algo
longínquo, num futuro distante, por esse motivo não acreditei que a
razão para a coruja entrar na minha vida seria revelada num futuro
próximo.
Algumas semanas depois fui lecionar num workshop em St. Louis. O
evento terminou no domingo à noite, e eu tinha alguns clientes com
consultas marcadas na segunda-feira de manhã em Santa Fé. Então,
tive de pegar um voo tarde da noite para voltar
à minha casa. Num determinado momento, durante o voo, todas as
luzes da cabine do avião se apagaram, e a tripulação começou a andar
de um lado a outro do corredor carregando lanternas acesas. Eu pensei
que tinham apagado as luzes para não perturbar o sono dos passageiros.
Mas pouco tempo depois o piloto fez um anúncio, dizendo que
certamente nós estávamos imaginando o que poderia ter acontecido.
Na verdade, eu nem estava pensando naquilo, mas de repente fiquei
atenta. Ele disse que nosso avião sofrerá um curto-circuito e estávamos
sem energia elétrica, tanto dentro da cabine quanto fora do avião. Além
disso, estávamos prestes a atravessar uma tempestade de raios, e não
tínhamos nenhum dos radares funcionando para nos guiar.
Imediatamente me lembrei de todos os presentes que havia recebido,
ligados à coruja, e da resposta na minha jornada algumas semanas
antes, quando meu espírito auxiliar disse que a coruja possuía um tipo
especial de radar que logo iria ser útil para mim. Felizmente o avião
pousou em segurança, sem problemas, e eu tenho certeza de que a
presença da coruja foi parte da razão pela qual chegamos em segurança
naquela noite. Foi uma profunda lição sobre o modo como o Universo
estava cuidando de mim, anunciando a ajuda de que eu precisaria, e
também a fornecendo.
Se eu tivesse consultado um daqueles livros populares de simbologia
e procurado o significado espiritual da coruja, provavelmente teria
encontrado alguma coisa como “transformação”; mas, com certeza,
não teria encontrado nada a respeito de um radar, ou algum aviso de
que eu iria precisar desse dom específico da coruja num futuro não
muito distante. O que eu fiquei sabendo é que quando não voltamos às
nossas jornadas para descobrir o significado dos nossos animais de
poder e suas mensagens, muitas vezes perdemos as lições únicas que
eles nos oferecem. Por esse motivo, é importante você não procurar a
interpretação das outras pessoas para as lições espirituais associadas
aos seus animais de poder. Tudo isso deve permanecer apenas entre
você e o seu animal de poder. Portanto, o que eles têm a lhe oferecer
pode não coincidir com as noções preconcebidas que você possui sobre
suas habilidades e aptidões em particular. Também é importante você
saber quais são suas ideias sobre a quantidade de poder que os
diferentes animais possuem. Eu observei algumas pessoas em
workshops ficarem muito aborrecidas, só por terem um animal de
poder como o esquilo em vez de algo que eles pensam ser mais forte e
poderoso, como um urso ou uma águia. Entretanto, na realidade fora
do normal, uma espécie de animal não tem mais poder do que a outra.
Todos os animais de poder têm um poder extremo, e cada um deles tem
lições únicas e muitas vezes inesperadas para nos transmitir. Um rato
pode ser tão poderoso quanto um leão, mas cada um deles tem algo
diferente a nos ensinar.
As árvores, os duendes e as fadas também podem ser espíritos
auxiliares. Assim como os espíritos das árvores, os duendes não são
animais, nós os chamamos de espíritos protetores. Geralmente as
plantas não são consideradas espíritos protetores, mas são usadas pelos
xamãs no mundo inteiro por causa das suas propriedades curativas.
Nas culturas xamânicas a vida em comunidade era muito importante.
O processo de individuação que vemos como tão importante na nossa
cultura atual, não era importante nas culturas indígenas, pois cada
indivíduo precisava contribuir para a comunidade a fim de assegurar a
sua sobrevivência. Em algumas culturas, as pessoas pertenciam a
certos clãs em que um único animal de poder oferecia ajuda para o
grupo como um todo, ou para a comunidade de pessoas. Da mesma
forma, nas viagens que eu realizava para os outros, encontrei casais,
famílias e até organizações e negócios que muitas vezes tinham um
animal de poder que os apoiava na realidade fora do normal.
Ocasionalmente, em algumas viagens, encontrei mamíferos que
demonstravam um comportamento ameaçador para mostrar o seu
grande poder. Não é normal encontrar um animal de poder como um
urso, por exemplo, que fique de pé numa postura ameaçadora para
expressar seu poder. Se isso ocorrer, sugiro que você pergunte ao urso
o que ele tem a lhe ensinar a respeito da sua força e do seu poder.
Existe certa confusão em relação à aparência dos animais que surgem
nas jornadas. Eu gostaria de abordar isso. São animais que carregam
veneno, têm espinhos ou mordem os seres humanos. Insetos como
formigas, abelhas e aranhas podem ser animais de poder, apesar de
que, quando você os sente rastejando numa certa região do corpo, eles
podem estar indicando uma doença. Por exemplo, quando um xamã
entra num estado alterado de consciência e olha para o corpo do seu
cliente, ele poderá ver um réptil mostrando os dentes ou um grupo
localizado de formigas. Da mesma forma, cobras, lagartos e dragões
podem ser animais de poder, mas quando eles mostram os dentes ou
ameaçam, isso pode ser um sinal de doença. Existem exceções, quando
a mordida de um animal é destinada a transmitir o poder. Por exemplo,
quando pela primeira vez eu encontrei a cobra branca, que é um dos
meus espíritos auxiliares, ela me mordeu no pescoço. Era sua maneira
de mostrar seu poder e transmitir suas energias curativas para mim.
Encontrei outros viajantes experientes que tiveram a mesma
experiência com uma cobra. Uma distinção importante a fazer é se o
animal que apareceu para você está se mostrando um verdadeiro
auxiliar. Por exemplo, o animal de poder de algumas pessoas é uma
grande aranha muito gentil. Entretanto, quando vemos milhares de
aranhas andando no fígado de alguém, a situação é bem diferente.
Na jornada xamânica, quando você tem uma intenção clara, o espírito
sabe o que você está pedindo para ser mostrado. Ao embarcar numa
viagem em que sua intenção é encontrar um animal de poder ou um
espírito protetor, é exatamente isso que você vai ver aparecer; e não
grupos de insetos. Quando um xamã viaja com a intenção de ver a
identidade espiritual de uma doença, às vezes aparecem insetos ou
répteis, alertando o xamã para a localização da doença no corpo do
cliente. Outra coisa que devemos levar em conta é que não deve mos
nos vangloriar do nosso animal de poder. Como eu disse antes, no
xamanismo, quando nos vangloriamos do nosso poder, nós o
perdemos.
Mestres em forma humana
Os outros tipos de espíritos auxiliares com quem os xamãs geralmente
trabalham são chamados mestres em forma humana. Numa sociedade
xamânica tradicional seriam os deuses e deusas daquela cultura, assim
como os espíritos ancestrais. Atualmente as pessoas também
encontram uma grande variedade de outros mestres, inclusive figuras
religiosas como Jesus, Maria ou Buda. Algumas pessoas encontram
figuras históricas inspiradoras, como Einstein 4 ou Hildergard von
Bingen 5 . Muitas pessoas relatam terem encontrado um parente
falecido, como uma avó ou um avô, como mestres. Outros trabalham
com deuses e deusas, como Isis, Osíris e Eros.
É muito importante permanecer aberto para as diversas formas de
mestres que se apresentam a você. Por exemplo, você poderá encontrar
uma criança pequena se apresentando como mestre. Ou, quando estiver
viajando para obter informações a respeito de uma questão em
particular, poderá encontrar um espelho, significando que você deverá
ser seu próprio mestre a respeito daquela questão.
Eu tenho tido o mesmo espírito protetor principal desde 1980, mas
encontrei outros espíritos auxiliares que me ajudam em diferentes
questões da minha vida por algum tempo, e depois vão embora.
Também tenho alguns animais de poder à minha volta que me ajudam,
e me dão um apoio em geral, mas com os quais não me comunico
regularmente. Também já tive diversos mestres que me apareceram sob
forma humana, apesar do meu mestre principal ser Isis, que encontrei
em 1986, numa busca visionária.
Meu espírito protetor é aquele que realiza uma cura xamânica durante
as jornadas que faço para outras pessoas. Ele também me ajuda a
responder perguntas da minha vida pessoal. Isis responde às minhas
perguntas pessoalmente, e também me ajuda quando escrevo livros,

4 - N. da R.: Albert Einstein (1879-1955) foi um físico alemão radicado nos Estados Unidos
mais conhecido por desenvolver a teoria da relatividade. Ganhou o Prêmio Nobel da Física
de 1921 pela correta explicação do efeito fotoelétrico.
5 - N. da R.: Hildegard von Bingen — foi educada desde 1106 no convento de
Disibodenberg. Em 1114 ingressou na ordem, que se regia por Regula Benedicti (Regras
de São Bento de Nursia) tornando-se sua abadessa a partir de 1136. Autora de várias obras
musicais de temática religiosa incluindo Ordo Virtutis, uma espécie de ópera que relata um
diálogo de um grupo de freiras com Deus; e de livros de medicina: Liber simplicis medicinae,
que fala sobre plantas, animais e minerais de uso terapêutico e Liber compositae medicinae,
que aborda a natureza, causas e sintomas das doenças com base na fisiologia
microscópica.
realizo workshops e faço palestras em congressos.
Assim como no caso dos animais de poder, os mestres são uma fonte
de cura e de sabedoria na nossa vida. Por exemplo, Nancy, uma das
minhas alunas, foi curada por meio de um trabalho constante com seu
mestre. Ela sofrerá abusos quando criança, e por esse motivo tinha
muitas depressões, para as quais estava tomando fortes medicamentos.
Quando começou a fazer as viagens xamânicas, encontrou o seu
mestre, que era o rei Jaime IV, da Escócia. Como Nancy era professora
de escola, decidiu fazer algumas pesquisas para saber mais a respeito
da vida do rei Jaime. Encontrou muitos livros sobre a vida dele, e, ao
longo da pesquisa, descobriu que ele também havia sofrido abusos
quando criança, por parte do pai. Ela soube que ele havia se curado,
superando seus traumas de infância, e então percebeu que também
poderia se curar. Ao ler sua história e viajar ao seu encontro, Nancy
finalmente conseguiu deixar o passado para trás, livrar-se da depressão
e também dos antidepressivos.
Outra aluna, chamada Isabel, estava planejando passar férias com o
marido no Havaí. Ela viajou até o seu mestre e perguntou-lhe se havia
algo de que precisava saber antes de partir para as férias. Seu mestre
lhe disse que ela deveria levar uma corda. Isabel ficou muito surpresa
com a resposta, pois não estava planejando carregar nenhuma mochila
nem escalar montanhas. Contou ao marido e a alguns amigos sobre o
conselho que havia recebido na jornada, e todos eles deram risada; mas
de qualquer maneira ela decidiu levar a corda, e colocou-a na mala.
Quando chegou ao Havaí, Isabel foi caminhar com o marido numa
trilha bastante popular, numa região em que chovia muito, por isso
havia muitos pontos de lama escorregadia. Num determinado ponto da
trilha eles escorregaram e ficaram presos, e Isabel usou a corda para
sair do lugar com segurança.
Da mesma forma com que a coruja entrou na minha vida quando eu
precisei de ajuda, este exemplo mostra como um espírito auxiliar deu
um conselho para proteger alguém de um evento futuro. Essas
experiências nos mostram que somos amados e cuidados por nossos
espíritos auxiliares.
Relacionando-se com os seus espíritos auxiliares
Os animais de poder, espíritos protetores e mestres são conhecidos
como espíritos auxiliares. Às vezes os espíritos auxiliares vão se
mostrar a você como cansados ou doentes. É importante se lembrar de
que eles são apenas espíritos, não ficam cansados nem doentes. Eles
podem apenas estar representando o seu estado físico ou emocional.
Podem também o estar submetendo a um teste para ver se você vai lhes
dar assistência ou amor. Seria uma demonstração de lealdade e
compromisso em relação a eles, à luz de tudo que dão a você.
Os animais de poder e os espíritos protetores não ficam com ciúmes
uns dos outros. Às vezes numa jornada, você poderá ver dois dos seus
animais de poder lutando. É importante lembrar que são espíritos, e
numa viagem, quando eles se mostram lutando uns contra os outros,
provavelmente estão representando algo que acontece na sua vida e ao
qual você precisa prestar atenção. Pergunte-lhes o que estão tentando
comunicar por meio deste comportamento, para que você possa receber
a mensagem que estão tentando lhe transmitir.
É importante encontrar um animal de poder ou espírito protetor em
quem você possa confiar, que possa ser seu guia nas aventuras na
realidade fora do normal, e que responda às suas perguntas. Se
encontrar ou sentir um espírito e não tiver certeza se ele é um auxiliar
para você, deve evitá-lo, assim como espantaria um réptil ou inseto
que não quer ver por perto enquanto está passeando no bosque. Viajar
é muito seguro, mas é importante ter certeza de sempre possuir o
controle total sobre o local em que está viajando e com quais espíritos
está interagindo.
Geralmente os xamãs chamam seus animais de poder e seus mestres
por meio da canção e da dança ritual. É considerada uma oferta
generosa convidar os espíritos auxiliares a passarem através do nosso
corpo, pois eles são desencarnados e incapazes de vivenciar o prazer
da realidade física por si mesmos. Essa prática é uma maneira que os
xamãs encontraram de se conectarem com o poder de seus espíritos
auxiliares e honrá-los, permitindo-lhes que dancem por meio de seus
corpos.
Eu o aconselho a procurar a melhor maneira de honrar seus espíritos
auxiliares, do seu próprio jeito. Ao fazer isso, perceberá que eles
permanecem com você por mais tempo, do que se ignorar sua presença
e suas tentativas de ajudá-lo na sua vida espiritual. Uma maneira de
honrar seus espíritos auxiliares é escrever um poema sobre eles ou
desenhar o retrato deles. Às vezes, quando viajo à realidade fora do
normal, eu trago uma cestinha de piquenique para meus espíritos
auxiliares e os alimento. Durante essas viagens, minha intenção é
simplesmente agradecer-lhes, sem lhes perguntar nada nem lhes pedir
ajuda. Essa é minha maneira de agradecer por toda ajuda que me deram
ao longo dos meus 20 anos de viagens. Não há nada, nenhum acordo
intercultural, que o impede de compartilhar a identidade dos seus
espíritos auxiliares com os outros. Entretanto, em algumas culturas,
todos na comunidade conhecem a identidade dos espíritos protetores
de cada pessoa. Eu gostaria de lhe sugerir que viaje até seus espíritos
auxiliares e pergunte-lhes pessoalmente se o que sentem é o melhor.
Percebi que alguns dos meus espíritos auxiliares concordam em
compartilhar sua identidade com o público, então escrevo e falo sobre
eles nas minhas palestras. Meu animal de poder principal, porém,
disse-me que seria melhor manter sua identidade em segredo. Por outro
lado, às vezes é benéfico compartilhar a identidade dos seus espíritos
auxiliares, a fim de explicar sua prática espiritual para os outros. De
qualquer maneira, eu lhe recomendo que peça permissão a eles.
Os animais de poder e mestres vivem nos Mundos Inferior e Superior.
Você pode realizar jornadas exploratórias como parte da sua prática
xamânica para encontrar diferentes animais de poder e mestres em
diferentes níveis dos Mundos Inferior e Superior. Os animais de poder
e mestres conseguem viajar entre todos os mundos, e podem
acompanhá-lo nas suas viagens xamânicas, onde quer que você vá.
Você também pode chamá-los para o Mundo Intermediário quando
sentir necessidade da sua proteção ou da sua ajuda.
Por exemplo, digamos que você está se sentindo nervoso antes de ir a
um encontro meio complicado. Com uma intenção clara, chame seus
animais de poder e seus mestres e peça-lhes que permaneçam com você
durante o encontro para ajudá-lo e orientá-lo, e assim diminuir sua
ansiedade. Ou então, se você pretende dirigir o seu carro numa rodovia
e está se sentindo nervoso, pode chamar seus espíritos auxiliares e
pedir-lhes sua proteção e sua ajuda para voltar para casa em segurança.
Eu uso esta técnica frequentemente na minha vida diária. Por exemplo,
fico muito nervosa quando estou num avião, e passo muito tempo
viajando em aviões. Quando subo no avião, faço uma meditação
silenciosa para ajudar-me a relaxar. Em silêncio, eu peço a todos meus
animais de poder, mestres e espíritos auxiliares que fiquem comigo
para garantir um voo seguro e ameno até o avião chegar ao seu destino.
Também peço para todos os animais de poder, mestres e espíritos
auxiliares da tripulação e dos outros passageiros para que se
aproximem, a fim de garantirem um voo seguro e suave para todos. De
uma perspectiva xamânica tudo está vivo e possui um espírito, por esse
motivo eu também chamo os animais de poder e os espíritos auxiliares
do próprio avião, para que estejam presentes, a fim de garantirem um
voo seguro.
O relacionamento com nossos espíritos auxiliares também nos protege
do fenômeno, bastante comum, do esgotamento. Energeticamente,
quando você estabelece um contato mais próximo com outras pessoas,
poderá “captar” seus sentimentos e pensamentos. Poderá até sentir que
uma pessoa está “sugando” sua energia porque precisa de apoio ou de
ajuda. O xamanismo nos oferece meios para estarmos totalmente
presentes diante dessa pessoa, sem assumirmos seu sofrimento num
nível energético, o que poderia nos levar ao esgotamento ou ao
adoecimento. Nessa situação, uma prática xamânica clássica é pedir
silenciosamente ao seu animal de poder ou ao seu mestre que o
preencham com poder e fortaleçam seus limites, antes do seu encontro
com alguém que está necessitado. Desse modo, você não ficará
vulnerável à troca invisível que ocorre no nível energético, em que o
material de outra pessoa é transferido para você. Para permanecer
energeticamente intacto, você poderá também usar esse método antes
de entrar num recinto lotado ou sair para uma rua cheia de gente.
Essa técnica de chamar seus espíritos auxiliares ao Mundo
Intermediário não deve ser usada para iniciar uma jornada no meio do
seu dia — ou quando você está ocupado nas atividades da sua vida
cotidiana. Há momentos em que é apropriado realizar a jornada, e
outros não. De fato, os xamãs tradicionais realizam cerimônias e rituais
antes da viagem, e são muito decididos quanto ao momento
que escolhem para viajar à realidade fora do comum a fim de entrar
em contato com seus espíritos auxiliares. As pessoas que não
conseguem seguir a disciplina de entrar ou sair deliberadamente da
realidade fora do normal não estão mais praticando o xamanismo, estão
entrando no mundo da psicose. As pessoas psicóticas não sabem em
que mundo estão inseridas. Em comparação, uma jornada xamânica é
sempre deliberada, proposital e intencional.
Quando você começar a praticar a jornada regularmente, perceberá que
os espíritos auxiliares com quem trabalha lhe dão todos os tipos de
assistência. E claro que você precisa assumir a responsabilidade pelas
escolhas que faz na vida. Seus espíritos auxiliares não vão fazer tudo
por você. Entretanto, você perceberá que eles podem realmente ajudá-
lo no caminho que vai levá-lo à evolução da sua alma.
Capítulo 4
PREPARANDO-SE PARA A JORNADA

Tradicionalmente os xamãs criavam cerimônias e rituais para suas


viagens. Eles só viajavam intencionalmente com algum objetivo.
Levavam algum tempo preparando-se, cantando e dançando para
clarear suas mentes, a fim de se transformarem “num osso oco” —
um verdadeiro instrumento do poder do Universo.
Quando você estiver pronto para fazer sua primeira jornada, certifique-
se de que tem uma intenção e um objetivo muito claros. Mesmo se você
quiser apenas explorar os Mundos Inferior, Intermediário ou Superior,
tenha uma ideia clara de que é esse seu objetivo. Se você pretende
fazer uma pergunta na jornada, repita-a diversas vezes antes. Se você
ficar sentada simplesmente ouvindo os tambores sem se fixar num
objetivo, poderá até fazer uma jornada poderosa, porém muitas pessoas
relataram que, quando viajam sem um objetivo claro, suas viagens são
confusas e desconexas. A chave da prática espiritual — quer sejam
viagens xamânicas ou meditação — é a concentração. É importante
saber como se concentrar durante as viagens, e não se distrair c om a
tagarelice da mente ou as preocupações cotidianas.
É importante para você determinar qual é o melhor momento do dia
para viajar. Você terá de ir experimentando, para saber qual é o
momento do dia em que você consegue se concentrar melhor —
quando está mais descansado e sua mente mais clara, e não
embaralhada com um monte de detalhes. Muitas pessoas relatam que
o melhor momento para viajarem é de manhã, antes de iniciarem seu
dia. Geralmente, o fim da tarde não é um bom momento para viajar.
Muitas vezes as pessoas reclamam que suas jornadas são fragmentadas
e confusas nessa hora do dia. Algumas pessoas preferem viajar pouco
antes de irem para a cama, à noite. Posso viajar a qualquer momento
do dia para um cliente, mas quando viajo para mim mesma, geralmente
minhas viagens mais claras são de manhã cedo, antes de sair do
tranquilo espaço em que dormi, para enfrentar minha vida no dia-a-
dia.
Não há uma crença comum a todas as culturas sobre o melhor tipo de
alimentação para a jornada xamânica. É verdade que em muitas
culturas os xamãs fazem uma dieta especial antes de realizar certas
cerimônias e trabalhos de cura. Você terá de pesquisar o que funciona
melhor para você em termos de alimentação, para aumentar ou
diminuir sua capacidade de concentração. Geralmente, eu sinto que a
bebida alcoólica interfere na concentração e na atenção durante as
viagens. E também, quando se faz uma refeição pesada antes da
jornada, o corpo estará ocupado com a digestão e ficará mais difícil
para a pessoa se concentrar e permanecer alerta. Algumas pessoas
acham que a cafeína pode ajudá-las a se concentrarem, e a minha
experiência mostrou-me que um pouco de cafeína até pode ajudar a
produzir viagens mais claras, porém um excesso de cafeína pode
“fechar as cortinas” que as separam da realidade fora do normal.
Sugiro que você encontre um lugar confortável, tranquilo, em que não
será interrompido na sua jornada. Uma precaução útil também é
desligar o telefone. Você poderá viajar deitado ou sentado. Lembre -se
de que terá uma jornada mais clara se estiver alerta, portanto, não se
instale muito confortavelmente, pois correrá o risco de adormecer.
Uma vez definido o local, você poderá dançar, cantar, cantarolar ou
fazer alguns exercícios movimentando-se bastante, para que o
oxigênio circule pelo seu sistema. Isso também abrirá o seu coração e
vai ajudá-lo a ter uma sensação de unidade com toda a vida. Mover-se,
dançar, cantar e cantarolar são atividades que vão ajudá-lo a romper as
barreiras do egoísmo, que poderão impedir uma jornada clara. Além
disso, os espíritos comunicam-se conosco por meio do coração, e nós
“enxergamos” as coisas na nossa jornada também por meio dele.
Portanto, é bastante benéfico levar nossa respiração até o coração para
que ele se abra mais plenamente. Costumo ensinar às pessoas que têm
dificuldades de concentração nas suas viagens, como respirar
profundamente por meio do coração, e elas me relatam resultados
bastante positivos. Portanto, se você perder a concentração enquanto
está viajando ou sentir que não está vivenciando nada, certifique-se de
que está respirando com o coração. Vá repetindo o objetivo da jornada
e o que você pretende perguntar, até seu foco retornar e você voltar à
trilha certa.
Uma das muitas definições de xamã é “aquele que enxerga no escuro”.
É bem mais fácil viajar na escuridão total. Portanto, algumas pessoas
fecham as persianas e cortinas para escurecer o recinto. Você também
pode usar vendas oculares de qualquer tipo, como uma faixa, uma
bandana ou uma almofadinha para os olhos, a fim de evitar a
luminosidade. Faça o que for mais confortável para você.
Respire profundamente mais uma vez antes de começar a jornada e ao
longo dela, para ter uma experiência mais clara. Então, antes de iniciar
o CD de percussão, esclareça mais uma vez o seu objetivo. Repita-o
tantas vezes quantas forem necessárias para se concentrar e ter clareza
a respeito do propósito da sua jornada. Visualize o local de início na
natureza, de onde você partirá para viajar aos Mundos Inferior ou
Superior. Se for viajar ao Mundo Intermediário, visualize o portal pelo
qual sairá.
Lembre-se de que você possui o controle total do local para onde está
indo, com quem falará e quando retornará. Esse tipo de jornada não é
como um sonho em que, a menos que tenha estudado a técnica do
sonho lúcido, você não possui o controle do que está lhe acontecendo.
Se você está tendo um pesadelo, por exemplo, fica preso nele sem
conseguir interrompê-lo. Isso nunca acontecerá numa jornada
xamânica.
Ao longo da viagem, você poderá escolher entre ir ao Mundo Inferior,
ao Mundo Intermediário ou ao Mundo Superior. Pode escolher entre
parar para conversar com um espírito ou seguir adiante. No entanto,
você não pode escolher quais os espíritos auxiliares que vão se
apresentar para ajudá-lo. Mas poderá afirmar sua intenção de querer
encontrar um espírito auxiliar específico, que já esteve com você em
alguma jornada anterior. Permita-se ter surpresas.
O papel da percussão na jornada xamânica
Em diversas culturas, a maioria dos xamãs usa uma percussão
monótona ou rítmica para alterar seu estado de consciência. Há
também tradições que usam chocalhos, varetas e guizos. Na Austrália,
os xamãs usam didgeridoo 6 e uma espécie de matraca. O povo Sami da
Lapônia e da Noruega usa tambores ou cantos monótonos chamados
joiking. O som monótono gerado por esses instrumentos transporta o
xamã a um estado alterado de consciência, permitindo- lhe viajar com
sucesso nos mundos invisíveis.
Atualmente existem instrumentos científicos que conseguem medir a
atividade cerebral durante os estados alterados de consciência. Quando

6 - N. da R.: Didgeridoo — instrumento de sopro dos aborígenes australianos. É um


aerofone, ou seja, um instrumento onde o som é provocado pela vibração do ar. O som no
didgeridoo é produzido pela vibração dos lábios e por outros sons produzidos pelo
instrumentista.
estamos num estado normal de consciência, as nossas ondas cerebrais
se encontram no que os cientistas chamam de “estado beta”.
Entretanto, os cientistas descobriram que quando ouvimos uma
percussão monótona, nossas ondas cerebrais se tornam mais lentas.
Primeiro, elas diminuem a velocidade até chegarem ao estado alfa, que
sinaliza o início do estado de meditação. Depois, nossas ondas
cerebrais tornam-se mais lentas ainda, chegando ao estado theta. Este
é o estado das ondas cerebrais com que penetramos na nossa jornada
xamânica, quando podemos explorar os mundos invisíveis e manter
contato com nossos espíritos auxiliares.
É possível viajarmos sem o som de um tambor, mas se tornarmos um
hábito ouvir uma percussão ou outra música que nos ajude a alterar
nosso estado de consciência, poderemos nos focar e nos disciplinar
melhor na nossa prática xamânica. Você poderá continuar recebendo
sinais intuitivos espontâneos ao longo do dia, mas é importante cri ar
uma rotina na sua prática xamânica. Isso garantirá que suas viagens
fiquem claramente separadas do resto das atividades do seu dia.
Certas tradições xamânicas incluem o uso de plantas psicotrópicas
(alucinógenas), que algumas pessoas atualmente chamam de “plantas
de visão”. Muitas das plantas psicotrópicas que os xamãs usam para a
cura ou para ajudá-los na orientação divinatória das suas comunidades
são nativas da Amazônia e de outras partes da América do Sul. Há
evidências também de que cogumelos psicotrópicos e outras plantas
são usadas em diversas culturas para esses objetivos. É claro, esse é
um assunto controvertido, que há muito vem sendo debatido entre os
antropólogos.
Entretanto, como tradicionalmente os xamãs têm utilizado tambores,
chocalhos e outras formas de percussão em suas viagens, eu os
considero um acompanhamento mais eficaz, apropriado e facilmente
adaptável à nossa cultura contemporânea. Enquanto continuarmos a
nos apoiar na prática do xamanismo para nos ajudar a solucionar os
problemas de nossos dias, precisamos ter certeza de que os métodos
utilizados são apropriados e seguros para as pessoas.
Apesar de os xamãs tradicionais desenvolverem seus próprios ritmos
de percussão para acompanhar suas viagens à realidade fora do normal,
o Dr. Michael Harner descobriu que o uso de uma batida de tambor é
a melhor forma de ensinar os iniciantes a viajar. Por esse motivo, o CD
presente neste livro utiliza um único ritmo monótono. Ao longo dos
primeiros doze minutos do som da percussão, eu assobio um pouco e
toco alguns chocalhos, ajudando a preparar o espaço para você.
Assobiar e tocar chocalhos é uma forma de chamar nossos espíritos
auxiliares. Há também períodos mais longos de batidas de tambores
para você escolher: um período de vinte minutos de batidas duplas de
tambores e um de trinta minutos de batidas simples. Eu lhe recomendo
que experimente cada um deles para verificar qual o tempo mais
favorável para você.
Gomo fazer um tambor ou um chocalho
É fácil fazer um chocalho utilizando materiais caseiros simples. Um
ótimo chocalho é feito de alguns grãos de milho ou pequenas pedras
colocadas num recipiente fechado. Trabalhe com materiais cujo som
seja agradável para você e que não irrite seus ouvidos. Gosto do som
de grãos de milho, e muitos dos chocalhos que tenho em casa são feitos
com eles. Entretanto, em caso de necessidade, utilizo um vidro grande
de pílulas ou de vitaminas, cujo som também é eficaz para acompanhar
minha jornada. Você também poderá procurar na natureza algumas
coisas com as quais possa fabricar seu chocalho ou tambor — de fato,
qualquer coisa pode se tornar sagrada se houver uma intenção.
Se resolver comprar um tambor ou um chocalho, procure um som
agradável para você, que o ajude a entrar num estado alterado de
consciência. Algumas pessoas gostam de um tom mais baixo e outras
de um tom mais alto. Todos os tambores e chocalhos têm um som
diferente, portanto, não deixe de experimentá-los antes de comprá-los.
As mudanças no clima podem afetar muito o som de um tambor feito
de pele animal. Por exemplo, a umidade poderá deixar a pele
amolecida, e você não conseguirá obter um som claro.
Tradicionalmente os xamãs usavam um fogo cerimonial para secar o
tambor, quando a pele ficava solta demais para produzir um bom som.
Uma solução moderna é a utilização de um secador de cabelo para
secar a pele do tambor. Caso o clima da sua região seja muito seco e
quente e a pele do tambor ficar muito esticada, o som ficará muito
agudo. Então é importante encontrar uma maneira de umidificar a pele.
O tambor que utilizei no CD é um tambor Remo, feito de pele de fibra.
Esse tipo de material permanece consistente em qualquer clima. Como
os tambores Remo não são feitos de pele animal, também são
adequados para as pessoas que não querem um tambor de pele animal,
por razões filosóficas. Apesar de ser feito com pele sintética, meu
tambor possui um espírito forte, que efetivamente cria vida quando eu
o toco.
Recomendo-lhe que experimente diferentes ritmos e velocidades de
percussão com o tambor ou o chocalho para verificar qual deles produz
uma viagem mais forte para você. Por exemplo, algumas pessoas
acham que precisam de um batida mais lenta, ou então sentem que
estão entrando depressa demais nas suas viagens. Se você encontrar
um ritmo ou uma velocidade que o ajude melhor do que a percussão
que gravei, poderá gravar sua própria percussão para usá-la em suas
viagens. Também sugiro que você experimente as diferenças no som,
usando microfones ou fones de ouvido ao ouvir o CD. Às vezes as
pessoas relatam que um ou outro as ajuda a mergulharem no seu corpo
e se concentrarem mais eficazmente.
A percussão pode ser relaxante, e você poderá cair no sono quando
iniciar a jornada, cansado demais para se concentrar. Se de fato você
cair no sono enquanto estiver viajando, não há nenhum perigo — na
verdade, vai apenas acordar sentindo-se revitalizado!
Retornando da jornada
Certamente você não vai querer ser “assustado” para fora da sua
jornada. Entretanto, o fato é que muitas vezes nosso ambiente é
barulhento, e precisamos aprender a trabalhar com isso. Por meio de
um autotreinamento, já não me deixo distrair pelos sons que ocorrem
à minha volta quando viajo. De fato, eu me aprofundo na jornada
sempre que escuto um barulho, assim não sinto esse barulho como um
obstáculo à minha jornada. Se por acaso eu realmente for “assustada”
para fora de uma jornada e me sentir desorientada, concentro minha
atenção na percussão e retorno ao ponto em que me encontrava antes.
Retornar de uma jornada tem a ver com vontade, intenção e escolha.
Você sempre poderá fazer outra viagem num outro momento, se na
jornada atual não obteve toda a informação de que precisava, ou se
quiser visitar outro campo na realidade fora do normal.
Durante a percussão não falarei com você em nenhum momento.
Entretanto, haverá uma mudança na batida dos tambores, que será o
sinal para você retornar. Se quiser retornar antes do sinal,
simplesmente diga “obrigado” e “adeus” para quem estiver
conversando com você, e acompanhe o recuo dos seus passos. Veja ou
vivencie a si mesmo retornando pelo mesmo caminho, saltando para
fora do local ou da porta de entrada que usou inicialmente para entrar
na realidade fora do normal. Volte ao recinto em que está deitado ou
sentado, tire seus fones de ouvido ou desligue o CD. Você não é
obrigado a esperar o sinal de retorno, entretanto, muitas pessoas
gostam que alguém toque a batida de retorno para elas.
O sinal de retorno começa com quatro séries de sete batidas curtas.
Novamente, diga “obrigado” e “adeus” para quem estiver conversando
com você. Mesmo se não estiver com um espírito auxiliar, diga
“obrigado” e “adeus”. O motivo disso é que a palavra “adeus” sinaliza
à sua psique que algo terminou. Ao dizer “adeus” você sentirá mais
firmeza ao retomar da sua jornada. Lembre-se de que um xamã viaja à
realidade fora do normal e retorna à realidade normal com
concentração e disciplina.
Depois da mudança da batida do tambor para as quatro séries de sete
batidas curtas, você ouvirá uma rápida batida de tambor por cerca de
um minuto. Durante essa rápida batida, acompanhe o recuo dos seus
passos ao seu local de partida e para dentro do recinto em que você
está deitado ou sentado. Então ouvirá uma segunda série de sete
batidas curtas, indicando que sua jornada terminou. Se estiver usando
alguma venda nos olhos retire-a; desligue o CD.
Depois de refletir tranquilamente sobre sua jornada, você poderá fazer
anotações sobre sua experiência. O conselho mais importante que
posso dar a você é ter paciência com todo o processo e ser compassivo
consigo mesmo. Nunca encontrei alguém que não conseguisse viajar.
Entretanto, já encontrei muitas pessoas que tentaram viajar várias
vezes antes de sentirem alguma coisa acontecendo. Eu lhe sugiro que
continue praticando — relaxe, continue respirando no coração, abra
todos os sentidos para além da sua percepção visual, estabeleça uma
intenção e, no momento certo, você estará viajando.
Infelizmente, vivemos numa cultura baseada na gratificação imediata.
No entanto, a jornada xamânica é uma prática espiritual de uma vida
inteira, e que não tem uma destinação — não existe nenhum lugar ao
qual você deverá chegar depois de algumas viagens, ou mesmo depois
de uma vida inteira de viagens. Uma vez eu tive a oportunidade de me
encontrar com um xamã Ulcchi da Sibéria, quando ele foi aos Estados
Unidos para trabalhar com um grupo de alunos. Ele estava com cerca
de noventa anos de idade e havia começado a viajar aos dezessete;
ainda se considerava um “bebê” nesse tipo de trabalho. Esse é um
exemplo perfeito de uma atitude genuína de um xamã diante desse
trabalho que estamos começando a realizar, as viagens xamânicas.
Uma advertência: por favor, não ouça o CD de percussão enquanto
estiver dirigindo!
Capítulo 5
PERGUNTAS MAIS COMUNS SOBRE JORNADA XAMÂNICA

Todos os meus sentidos estarão envolvidos, durante a minha


jornada?
No início você sentirá que um ou dois dos seus sentidos ficarão mais
fortes. Algumas pessoas são mais clarividentes, o que quer dizer que
enxergam cenas, imagens e símbolos em suas jornadas. Outras são
mais clariaudientes, quer dizer, ouvem mensagens dos seus espíritos
auxiliares na forma de palavras ou vozes. Outras são mais
clarissensíveis, sentem a informação no seu corpo. E muitas pessoas
são uma combinação do que foi descrito. No meu caso, geralmente sou
clariaudiente, e dependo, em ampla escala, das mensagens telegráficas
que recebo dos meus espíritos auxiliares. Também enxergo, sinto,
cheiro e apalpo as coisas nas minhas viagens, apesar de que essas
sensações são menos pronunciadas.
Na literatura xamânica muitas vezes você encontrará o termo “visão
xamânica”. Os xamãs enxergam com seu coração e não com seus olhos.
Do mesmo modo, os espíritos entram em contato conosco por meio do
nosso coração, não da nossa mente. Entretanto, devido ao enorme
volume de filmes, programas de televisão e computadores na nossa
cultura, nós nos tornamos muito concentrados na visão. Como
resultado, um dos meus maiores desafios ao ensinar a jornada
xamânica, é fazer com que as pessoas não esperem assistir às suas
viagens como se estivessem assistindo a alguma coisa na televisão ou
no cinema. Imagine só nunca ouvir vozes, músicas ou sons da natureza.
Imagine nunca sentir os perfumes, o sabor da comida, ou tocar e sentir
outra pessoa. A vida fica muito rica quando todos os sentidos estão
envolvidos, e o mesmo é válido nas nossas viagens xamânicas.
Infelizmente, as pessoas nos meus workshops às vezes acham que não
estão viajando, a menos que tenham alguma experiência visual. Assim,
eu as encorajo a despertar todos os sentidos quando entram na
realidade fora do normal.
Segundo a minha experiência, o sentido mais forte para as pessoas na
realidade normal, passa a ser o mais fraco na realidade fora do normal.
Por exemplo, acho que muitos artistas não visualizam suas viagens, em
vez disso eles obtêm grande parte das suas informações por meio das
sensações ou da audição. Apesar de isso ser diferente do que esperam,
o positivo é que de repente o sentido menos desenvolvido na realidade
normal, tem uma oportunidade de se tornar mais vivo e forte por meio
da jornada.
Quando você começa a viajar, parte do desafio é descobrir quais os
seus sentidos mais fortes na realidade fora do normal e confiar na
experiência das suas viagens, mesmo que elas contradigam suas
expectativas. Depois que já estiver realizando viagens por algum
tempo, perceberá que nelas você está vendo, ouvindo, sentindo e
cheirando da mesma forma que na vida normal. Além disso, suas
capacidades intuitivas na realidade normal crescem, porque seus
sentidos ficam muito envolvidos (e portanto, tornam-se mais apurados)
ao longo da jornada. Em outras palavras, ao longo da jornada você
desenvolverá sua linguagem própria, única, e que poderá não ser a
mesma com que vivência sua realidade normal, apesar dos benefícios
poderem ser repassados para sua vida cotidiana.
Existem diferentes tipos de jornada. Algumas pessoas vivenciam um
encontro, ou se veem passeando com seus espíritos auxiliares numa
jornada. Outras se sentem do lado de fora da jornada e observando-se
dentro dela, como se fosse um filme. E outras ainda se sentem fundidas
com seu animal de poder ou seu mestre, passando a viajar num estado
de fusão, mais do que de separação. Essa é uma forma poderosa de
viajar, pois quando nos fundimos com nosso animal de poder, espírito
protetor ou mestre, ligamo-nos ao poder do Universo. É uma
experiência muito terapêutica. A maioria de nós descobre que saltamos
para a frente e para trás entre diferentes tipos de interação, dependendo
da natureza da jornada e do nosso nível de experiência.
Também é importante lembrarmos que tudo o que acontece numa
jornada é parte da resposta à sua pergunta. Você quer ter consciência
do seu ambiente, enxergando, ouvindo, sentindo ou tocando. Muitas
pessoas só se concentram nas respostas que seus animais de poder ou
mestres lhes dão, mas o clima na sua jornada também poderá ser parte
da resposta à sua pergunta. Saber se o Sol está brilhando no céu, ou se
é noite ou dia, também podem ser respostas.
Como nossos espíritos auxiliares se comunicam conosco?
Nas nossas jornadas xamânicas, os espíritos nos passam informações
de diversas formas. Uma delas é a mensagem telepática. Você poderá
se ver ou se sentir com seu animal de poder, espírito protetor ou
mestre, e ouvir uma mensagem, apesar de não ver seus lábios se
movendo. Ou então os espíritos poderão mostrar-lhe símbolos em
resposta às suas perguntas. Ou poderão levá-lo a algum lugar para
presenciar uma cena que de certa forma responda à sua pergunta. Mas
a forma mais usada pelos espíritos auxiliares para se comunicarem
conosco é a metáfora, um método de ensino comum a todas as tradições
espirituais.
Um exemplo disso é o idioma aramaico — o idioma de Jesus — que
era muito metafórico e poético. Quando a Bíblia foi traduzida do
aramaico para o grego e depois para o inglês, as metáforas foram
traduzidas literalmente, muitas vezes mudando todo o significado das
palavras. Um exemplo é que no aramaico não há nenhuma palavra para
designar “bem” ou “mal”. As palavras mais próximas a isso no
aramaico seriam “maduro” e “imaturo”, referindo-se ao modo como
tudo é parte de um processo constante, orgânico. Mas quando a Bíblia
foi traduzida para o grego e para o inglês, as palavras escolhidas para
representar “maduro” e “imaturo” foram “bem” e “mal”. Essa má
tradução interferiu de tal forma na evolução da cultura judaico - cristã,
que a natureza humana foi percebida como algo separado dos ciclos
naturais das coisas em processos de maturação.
Quando uma resposta é dada, literalmente existe apenas uma estrada
para se trilhar. Mas quando os espíritos se comunicam por meio de
uma metáfora, há muitos níveis possíveis de ensinamento e
significado. Sinto que os espíritos estão tentando nos estimular a
expandir as percepções de nós mesmos e das nossas situações,
oferecendo-nos orientações. Além disso, as metáforas e a poesia tecem
juntas muitas tramas, que nos ensinam como tudo está interligado.
Há alguns anos tive uma forte experiência numa jornada que me
ensinou a importância da linguagem metafórica. Eu havia viajado até
meu animal de poder e perguntado a ele do que eu precisava na minha
vida. Ele me disse que eu deveria trabalhar mais no jardim. Achei essa
resposta muito estranha, porque na época eu viajava muito e também
morava num país com uma terra muito pouco fértil. Mas quando tinha
tempo entre as minhas viagens, eu praticava jardinagem. Mas quando
o verão terminou, de repente percebi que eu havia cometido um engano
ao interpretar aquela resposta literalmente. Finalmente percebi que
meu animal de poder quis me remeter à imagem do jardim como uma
metáfora, para que eu prestasse atenção ao modo como estava nutrindo
o jardim da minha vida e do meu corpo. Ele também estava me pedindo
para considerar como eu estava ensinando as pessoas e trabalhando
com meus clientes. Será que eu estava plantando sementes de amor,
esperança e inspiração nas minhas palestras e aulas? Ou estava
plantando sementes de medo? Ele estava me pedindo para enxergar
todas as minhas palavras como sementes e considerar que tipo de
planta estava crescendo a partir das minhas palavras.
Na minha jornada seguinte, ele disse que estava imaginando quanto
tempo eu levaria até entender o verdadeiro significado da sua
orientação. Por outro lado, ele observou que minha real atividade na
jardinagem era uma coisa boa para mim — portanto, não era uma total
perda de tempo! No entanto, ele explicou que na jornada original
estava tentando apresentar um quadro da minha vida que fosse mais
amplo do que o jardinzinho diante da minha casa. Ele estava tentando
me mostrar que muitas pessoas estão com medo e desesperadas, o que
enfatiza a importância de se contar histórias que inspirem amor e
esperança. Tradicionalmente os xamãs eram os psicólogos de suas
comunidades, eles conheciam as histórias que poderiam curar seus
clientes. Meu animal de poder estava me pedindo para sempre contar
histórias de cura nas minhas aulas, na minha prática clínica e na minha
vida — o que era uma lição muito valiosa.
Minha experiência me ensinou que nossos espíritos auxiliares estão
sempre tentando estimular nosso crescimento e nossa expansão. Estão
sempre tentando inspirar-nos a fazer escolhas positivas e viver vidas
plenas e significativas. Estão sempre tentando alertar-nos contra a
nossa desconexão da natureza e dos mundos invisíveis, pois muitos de
nós estão presos às crenças limitadoras da realidade normal. Uma das
técnicas que eles usam é a metáfora, que nos força a um processo de
interpretação. As metáforas nos fazem sair das caixinhas em que nos
enfiamos com as interpretações literais, e nos pedem para enxergarmos
um quadro bem mais amplo da nossa vida. Eu ainda estaria mexendo
nas plantas do meu jardim se não tivesse refletido mais profundamente
sobre a orientação que recebi.
Qual a linguagem que devo usar para fazer as perguntas aos
meus espíritos auxiliares?
Pela minha experiência, aprendi que existem dois fatores- chave para
uma jornada bem-sucedida: criar uma forte intenção e fazer as
perguntas certas. Os melhores tipos de pergunta a serem feitas
começam com as palavras quem, onde ou como.
Quando você começa a viajar, o ideal é fazer uma pergunta em cada
jornada. Certifique-se de que sua pergunta não tenha um “e” ou um
“ou”, o que a transformaria em duas perguntas. Veja bem, se os seus
espíritos auxiliares lhe derem respostas simbólicas, você não saberá a
qual pergunta estão respondendo. Você poderá pensar que seu espírito
auxiliar terminou de responder a primeira parte e está partindo para a
segunda, quando na verdade ele está lhe dando mais informações para
complementar a resposta à sua primeira pergunta. Até que você se
acostume com a linguagem dos seus espíritos auxiliares, é melhor fazer
uma pergunta por jornada. Você sempre poderá realizar outra jornada,
para fazer outra pergunta.
À medida que for adquirindo experiência, você conseguirá fazer mais
de uma pergunta por jornada. Nesse aspecto, eu me sinto muito à
vontade com a forma de comunicação usada pelos meus espíritos
auxiliares, o que me dá a possibilidade de conversar por bastante
tempo com eles. Entretanto, será preciso mais tempo e prática para
você alcançar esse nível.
Quando você está pedindo ajuda para tomar uma decisão importante,
o ideal é fazer perguntas que resultarão no máximo possível de
informações. Um simples “não” ou “sim” como resposta não vão
ajudá-lo a refletir sobre uma decisão difícil. Da mesma forma, uma
pergunta como “eu devo” ou “não devo” não é o ideal. Por exemplo, é
muito comum as pessoas perguntarem aos seus espíritos auxiliares se
devem ou não casar-se com alguém. Se você apresentar essa pergunta
sob a forma de “eu devo”, seu animal de poder poderá responder-lhe
“sim”, dando a impressão de que o casamento será feliz. Mais tarde,
se o seu casamento for infeliz, você vai se perguntar por que foi
orientado a aceitá-lo. No entanto, seus espíritos auxiliares podem ter
visto o casamento como uma oportunidade de aprender lições
importantes, apesar de dolorosas. É importante compreender que,
apesar dos nossos espíritos auxiliares nos protegerem dos danos, eles
não nos protegerão das duras lições que às vezes precisamos aprender
na vida. Por outro lado, se você perguntou: “O que eu aprenderei ou
vivenciarei se me casar com essa pessoa?”, e seu animal de poder
respondeu: “Você aprenderá o que é traição”, essa resposta teria lhe
dado uma compreensão bem mais clara do que aconteceria no seu
casamento — e se você escolheria ou não trilhar esse caminho.
Durante uma de minhas jornadas mais memoráveis, encontrei minha
mestre Isis que me perguntou: “Você sabe qual é o seu problema?”.
Fiquei muito surpresa com essa pergunta tão abrupta e respondi: “Não,
qual é o meu problema?”. Ela respondeu: “Você não vê a vida como
uma aventura”.
Então eu contei a ela que tinha algumas preocupações bastante sérias
que poderiam estar atrapalhando minha visão da vida.
Compartilhei com ela uma lista de preocupações, incluindo o medo de
ser uma pessoa sem-teto na cidade de Nova York. Crescer em Nova
York sempre foi para mim uma preocupação subjacente, sobre a qual
meus amigos gostavam de me provocar.
Ela olhou para mim e depois se afastou. Então olhou para trás e fixou
seu olhar diretamente no meu, dizendo: “Isso seria uma aventura
incrível!”.
Se você pensar a respeito, realmente seria uma aventura, mas talvez
não uma aventura que eu escolheria voluntariamente. No entanto, a
visão dela era típica dos espíritos que se encontram na realidade fora
do normal — eles enxergam a vida humana como uma bela aventura
cheia de oportunidades de aprendizado e crescimento, que podem ser
encontradas até nas circunstâncias mais inesperadas.
As perguntas usando “por quê” às vezes são boas, apesar de nem
sempre serem respondidas diretamente. Por exemplo, quando você faz
uma pergunta como: “Por que o meu ser querido teve de morrer
naquele acidente?”, você poderá receber uma resposta pouco clara.
Algumas coisas pertencem ao mistério da vida e não podem ser
respondidas, ou talvez não sejam adequadas para a sua compreensão.
Certamente isso não quer dizer que você não possa fazer perguntas
usando “por quê”. Simplesmente é importante entender que às vezes
há limitações nas respostas que você receberá.
Também é muito difícil obter respostas exatas para as perguntas em
que se usa a palavra “quando”. Lembre-se que quando você está
viajando fora do tempo, ele assume um significado diferente e muitas
vezes misterioso na realidade fora do normal. É por esse motivo que
as profecias sobre o tempo são frequentemente imprecisas e pouco
claras, o que também pode ser verdade para as respostas que você
recebe ao perguntar quando alguma coisa acontecerá.
Como eu interpreto minhas viagens?
Apesar de algumas mensagens serem óbvias e diretas, muitas vezes as
viagens estão cheias de símbolos que podem ser difíceis de decifrar.
Como o xamanismo é um sistema de revelação direta, ninguém poderá
interpretar suas viagens, a não ser você mesmo.
Se você não entendeu o significado de um símbolo ou de uma metáfora,
eis algumas sugestões. Tente fazer mais perguntas sobre o que ocorreu
durante a jornada para ver se surge alguma nova informação. Por
exemplo: “Como a presença do Sol tem relação com a minha
pergunta?” ou “Como a paisagem que vi se relaciona com a minha
pergunta?”. Trabalhe com cada um dos elementos mais claros
presentes na sua jornada, para descobrir como eles podem fornecer
mais informações em resposta à sua pergunta. Outra técnica útil é
escrever no seu diário ou falar em voz alta durante um fluxo de
consciência, até sua psique revelar a resposta. Muitas vezes, o processo
de reflexão sobre a informação que lhe foi fornecida pode clarear as
coisas. Também lhe recomendo, quando você se sentir confuso, que
viaje até seus espíritos auxiliares e lhes peça que forneçam a
informação de que precisa em outro formato, mais fácil para a sua
compreensão.
Estou fantasiando minhas jornadas?
O desafio mais comum enfrentado pelos novatos na prática da jornada
xamânica é o medo de estarem fantasiando suas viagens — de que tudo
está apenas acontecendo na sua imaginação e, portanto, é irrelevante.
A maioria de vocês que está lendo este livro provém de uma sociedade
que os ensinou que os reinos invisíveis não existem. Ensinaram-lhes
que só é real aquilo que você consegue enxergar, ouvir, tocar e cheirar,
e que o resto existe somente na sua imaginação. Depois de tantos anos
baseando sua percepção da realidade no que é tangível, é muito
desconcertante ouvir alguém dizer que você pode viajar a uma
realidade fora do normal e pedir conselhos e orientações a seres
espirituais invisíveis. Essa pergunta vem à tona para quase todas as
pessoas, quando começam a praticar a jornada xamânica.
Quando crianças, muitos de nós sentíamo-nos à vontade com nossa
capacidade de nos comunicarmos com seres amorosos e carinhosos em
mundos invisíveis. No entanto, assim que crescemos e passamos a
acreditar apenas na realidade física, nosso relacionamento com o
mundo invisível se dissolve.
Mas muitos de nós almejamos redescobrir os mundos invisíveis e nossa
interligação com todos os seres visíveis e invisíveis. Num nível
profundo, todos nós sabemos que há mais coisas na vida do que posses
materiais, e que nem tudo o que a sociedade nos ensina ou que
vivenciamos com nossos cinco sentidos é verdadeiro.
Muitos anos atrás eu lecionava num workshop introdutório à jornada
xamânica, em que a questão da imaginação foi muito enfatizada. As
pessoas sempre me perguntavam de diversas maneiras: “Será que estou
fantasiando minha jornada?”. Durante um intervalo, uma brasileira
aproximou-se de mim para me contar que ficara surpresa com a
quantidade de pessoas preocupadas com essa questão. Ela crescera
numa cultura em que existe uma forte crença nos espíritos, e para ela
não havia dúvidas de que os espíritos eram “reais”. No entanto,
certamente quando eu era pequena, meus pais não conversavam sobre
animais de poder e espíritos auxiliares durante o jantar, e a maior parte
dos pais dos participantes do workshop também não!
Minha experiência mostrou-me que a melhor maneira de avaliar a
veracidade das jornadas xamânicas é verificando seus resultados. Se
você mantiver a prática de realizar viagens xamânicas com
regularidade, começará a obter resultados úteis e benéficos a partir da
orientação que receber. Lembre-se de que tradicionalmente o
xamanismo foi um sistema orientado aos resultados, e é importante
para você avaliar os seus resultados regularmente. A pergunta
importante que deve fazer a si mesmo é: “Recebo informações que
trazem algo positivo à minha vida?”.
Quando você começa a ver resultados significativos, sua mente começa
a se acalmar, e eventualmente você perceberá que não está mais
preocupado se tudo está acontecendo apenas na sua imaginação ou não.
No entanto, quando você tenta lutar contra sua mente ou suas crenças
enquanto está viajando, passará a maior parte do tempo num diálogo
interno e ficará distraído demais para receber qualquer informação
mais clara. Quando minha mente analítica interfere durante minha
jornada, eu simplesmente concordo com o que ela tem a dizer, e depois
continuo viajando. O que eu lhe recomendo é que dê uma oportunidade
para a jornada revelar-lhe seus benefícios ao longo do tempo, pois isso
vai satisfazer sua mente analítica.
Na nossa cultura muitas vezes as pessoas se esquecem de “ser mais
leves” quando realizam uma prática espiritual. A nossa tendência é
levar as coisas muito a sério, exercendo muita pressão sobre nós
mesmos. Os xamãs e curadores tradicionais estão sempre rindo.
Quando somos sérios demais nas nossas viagens e na nossa vida, nós
nos desligamos do nosso potencial criativo. Com o tempo você
descobrirá, nas suas jornadas, que seus espíritos auxiliares possuem
bastante senso de humor e estão sempre tentando deixá-lo mais leve.
Quando comecei a viajar, meu animal de poder sempre procurava
ambientes divertidos para me ensinar a fazer perguntas adequadas.
Lembro-me de que em uma dessas viagens fui ao Mundo Inferior para
encontrá-lo. Quando apareci na floresta de pinheiros em que ele vivia,
ele estava usando um uniforme muito engraçado de garçom, com luvas
de um branco imaculado. Indicou-me uma pequena mesa redonda
decorada com uma toalha branca engomada e um pequeno vaso de
flores. Puxou uma cadeira para mim e estendeu-me um cardápio. Abri
o cardápio e fiquei surpresa com o que vi lá dentro. Havia duas colunas
com diferentes perguntas. Meu animal de poder disse que a pergunta
que eu pretendia fazer estava errada. Eu ainda nem havia feito a
pergunta a ele, por isso obviamente ele estava muito sintonizado com
a minha intenção antes mesmo que eu falasse qualquer coisa. Então ele
me explicou que as perguntas escritas no cardápio eram as mais
adequadas, e que eu poderia escolher uma pergunta da coluna A e outra
da coluna B para fazer a ele durante a minha jornada. Acho isso um
exemplo maravilhoso de como os espíritos podem nos ensinar, usando
o humor e a brincadeira, o que nos ajuda a manter a prática mais
prazerosa.
Quais os desafios que poderei encontrar ao realizar minhas viagens?
Muitas pessoas se deparam com a pergunta: “Será que estou viajando
corretamente?”. Lembre-se, não há uma maneira certa de viajar, por
mais que sua experiência seja correta para você. É importante respeitar
e dar valor às suas experiências únicas. Talvez você precise de algum
tempo e paciência para isso, mas as recompensas são grandes.
Outro desafio comum é a necessidade de vivenciar a jornada
visualmente, mais do que com os outros sentidos. A forma de lidar com
isso é abrir conscientemente todos os seus sentidos na realidade fora
do normal. Se você não estiver vivenciando nada de forma visual,
simplesmente preste atenção no que estiver ouvindo, sentindo,
cheirando ou provando, e fique relaxado para receber as informações
de outro modo.
Já mencionei anteriormente como as pessoas na nossa cultura tendem
a interpretar literalmente tudo o que acontece numa jornada. Isso pode
mudar todo o significado da jornada. Preste atenção nas metáforas.
Expanda a sua consciência para incluir o grande quadro que seus
espíritos auxiliares estão tentando lhe mostrar.
Uma das maiores queixas dos viajantes xamânicos é que eles não
conseguem parar a tagarelice da sua mente enquanto viajam. Muitas
vezes, quando saímos para realizar algum trabalho espiritual, nossa
mente nos desafia com infinitas distrações. De repente, você poderá
perceber que está pensando no que vai vestir para ir trabalhar, ou no
que vai comer, ou fazendo listas mentais de todas as coisas que poderia
estar realizando naquele momento.
Repetir a intenção da jornada várias vezes poderá fazê-lo voltar e
focalizar sua mente novamente. Sugiro que você também dedique
alguns momentos do dia para viajar quando sua mente estiver
tranquila, e não cheia de distrações. Novamente eu lhe sugiro que tente
dançar ou cantar um pouco antes de realizar a jornada, para tranquilizar
sua mente e colocá-lo no espaço emocional correto para viajar.
Outra forma de acalmar a mente é envolver-se numa atividade física
durante a jornada — como dançar ou cantar suas viagens enquanto elas
estão acontecendo. No meu caso, eu gosto de batucar e cantar minhas
viagens em voz alta. A fim de me defender da minha tagarelice mental,
eu simplesmente fico tamborilando para mim mesma, o que parece
levar-me mais fundo nas minhas viagens. Nas culturas xamânicas
tradicionais, muitas vezes o xamã representa sua jornada para a
comunidade dançando, cantando ou recitando em voz alta tudo o que
ocorre. O xamã poderá contar onde o grupo está viajando, quais os
espíritos que estão encontrando, quais as mensagens que estão sendo
comunicadas, e qual o trabalho de cura que está sendo feito. Você
poderá também tentar movimentar-se livremente ou dançar enquanto
estiver viajando, em vez de ficar sentado ou deitado, se isso puder
ajudá-lo a se concentrar.
Quando devo viajar?
O melhor momento para realizar uma jornada é quando você quer fazer
uma pergunta clara ou quando precisa de ajuda. Quando as pessoas
começam a viajar, muitas vezes ficam excitadas com a prática e
querem viajar constantemente. No entanto, quero aconselhá-lo a não
criar uma prática baseada na formulação de diversas perguntas,
anotações, para depois não aplicar essas orientações na sua vida. Em
outras palavras, não faça uma coleta de informações espirituais sem
depois integrar nenhuma delas à sua vida.
A frequência das suas jornadas vai ficando mais clara para você com
o passar do tempo, e poderá ser cíclica. Às vezes você sentirá que
precisa de mais tempo entre as viagens para integrar as informações,
enquanto outras vezes você integrará as informações mais rapidamente
e já estará preparado para sua próxima jornada quase imediatamente.
Quando se tratar de uma questão emocional ou física específica, você
poderá precisar viajar várias vezes antes de notar uma mudança. E se
não estiver obtendo resultados positivos sobre a questão, precisará
buscar ajuda externa. Às vezes, quando você está muito ligado
emocionalmente ao desfecho de uma questão, talvez não consiga
afastar-se suficientemente dela a fim de obter uma orientação
espiritual mais clara. Isso também é verdadeiro quando você se
encontra num determinado estado emocional em relação a um ente
querido ou um membro da família. Nesses casos, precisará encontrar
alguém em quem confia para realizar a jornada em seu lugar.
Eu viajo muito quando estou escrevendo ou trabalhando num projeto
criativo. Meus espíritos auxiliares são uma fonte constante de
inspiração para mim enquanto eu escrevo. Recomendo-lhe que tente
viajar quando está trabalhando num projeto específico, a fim de pedir
a um espírito auxiliar que lhe dê apoio.
Também é importante ter consciência de que, na sua prática de viajar,
você passará por diversos ciclos. Em determinadas semanas e meses
suas viagens poderão ser fortes e claras. Em outras épocas, você poderá
passar por fases em que não perceberá qualquer informação sensorial
nas suas viagens. Isso é normal, e pode durar várias semanas ou meses.
Todos nós somos parte da natureza, e esses ciclos a que estamos
submetidos são naturais. Na nossa cultura, sempre queremos estar
“ligados”. Não respeitamos mais o incrível ciclo de gestação
necessário para a regeneração que traz a nova vida. As plantas não
florescem 365 dias por ano. Desse mesmo modo, às vezes entramos
num processo profundo de germinação e gestação. Durante esse
período ainda podemos realizar viagens para os outros, mas para nós
as “cortinas vão se fechar” por algum tempo. Se isso acontecer, é
importante não ficarmos frustrados ou acharmos que nossos espíritos
auxiliares nos abandonaram. Eles continuam ajudando você por meio s
invisíveis. Continue viajando e verificando as coisas de tempos em
tempos. Eventualmente suas viagens voltarão a ser o que eram e vão
se tornar fortes e claras novamente.
Como posso saber quando devo ir ao Mundo Inferior ou ao
Mundo Superior?
Acho que quando as pessoas aprendem a viajar, muitas vezes elas se
sentem mais atraídas a um dos mundos do que a outros. Algumas
pessoas acham mais fácil viajar ao Mundo Inferior e mais difícil chegar
ao Mundo Superior. Para outras, o contrário é verdadeiro. Muitas
pessoas se sentem à vontade viajando nos dois mundos.
Frequentemente isso muda com o tempo, de acordo com o que você
está elaborando naquele momento. Seu estilo de viajar pode evoluir, e
os mundos nos quais se sente à vontade podem mudar. É importante
permanecer flexível.
Com o desenvolvimento da sua experiência, você descobrirá que seus
animais de poder e mestres se especializam em diversas áreas. Saberá
a quais espíritos auxiliares deverá recorrer em relação aos diversos
tipos de perguntas e pedidos de ajuda. Na minha prática, meu animal
de poder geralmente está à disposição para meus clientes e para mim,
apesar de meus mestres fornecerem as melhores informações no que
se refere aos meus escritos e às questões globais mais amplas. Muitos
praticantes de xamanismo trabalham com seus mestres em forma
humana, quando atendem seus clientes. Por meio das jornadas
regulares, você começará a identificar qual o animal de poder ou
mestre a que deverá recorrer para certos tipos de perguntas ou
questões. Descobrirá que diversos espíritos auxiliares possuem
diversas especialidades. Mesmo quando seus espíritos auxiliares
demonstraram possuir determinadas especialidades, é bom viajar ao
encontro de diferentes espíritos para pedir suas opiniões sobre a
mesma questão — muitas vezes eles compartilharão com você
perspectivas diversas e valiosas.
Lembre-se de que seus animais de poder e mestres podem mudar com
o tempo. Ele poderão permanecer com você durante anos, ou então um
dia, quando pedir diferentes tipos de ajuda, você descobrirá que outros
espíritos auxiliares estão se apresentando. Durante suas viagens, você
poderá movimentar-se entre os diversos mundos tanto quanto quiser.
Se estiver viajando ao Mundo Inferior e quiser ir ao Mundo Superior,
simplesmente suba até lá. Da mesma forma, você pode viajar do
Mundo Superior para o Mundo Inferior, se assim o desejar. Seus
animais de poder e mestres podem viajar entre todos os três mundos,
portanto, não há limitações quanto aos lugares aonde poderá ir e os
seres que poderá encontrar.
Procure o elemento surpresa em suas jornadas. Muitas vezes você
encontrará espíritos dispostos a ajudá-lo, cujas identidades vão até
surpreendê-lo. Receberá respostas e auxílios de formas inesperadas. O
elemento surpresa das minhas viagens é amplamente o que me manteve
tão envolvida na minha prática xamânica ao longo dos últimos vinte
anos.
Pense na prática das suas jornadas xamânicas como um trabalho que
está em desenvolvimento. Ele se aprofundará e crescerá à medida que
você for dedicando mais tempo a ele. A chave é a prática contínua e o
desenvolvimento de um relacionamento de confiança com seus
espíritos auxiliares, que acontecerá naturalmente com o passar do
tempo.
Permita que suas viagens sejam fluidas e orgânicas. Explore diferentes
níveis em ambas as direções. Permaneça aberto ao encontro de novos
espíritos auxiliares que possam ajudá-lo. Seja um aventureiro! Aceite
o amor, a sabedoria e a cura que seus espíritos auxiliares e o Universo
estão querendo partilhar com você.

Capítulo 6
REALIZANDO SUA PRIMEIRA JORNADA XAMÂNICA
Neste capítulo farei o resumo de três viagens. Eu lhe sugiro que as
experimente, uma por uma, para iniciar sua prática. Em todas as
práticas, comece colocando o CD para tocar.
A Jornada ao Mundo Inferior
Sua primeira jornada será ao Mundo Inferior, para encontrar seu
animal de poder e desenvolver um relacionamento com ele.
Visualize-se num local na natureza que você já tenha visitado na
realidade normal, e onde exista uma abertura natural na terra. Pode ser
um tronco de árvore com raízes profundas na terra, o centro de um
vulcão, um buraco no solo, uma abertura numa caverna, ou um corpo
d'água como um lago, um córrego, um rio ou uma cachoeira que você
poderá atravessar. Como já mencionei antes, se for melhor para você
ver a si mesmo descendo por um elevador ou por um túnel de metrô,
também pode ser.
Veja a si mesmo entrando pela abertura, e depois num espaço de
transição de algum tipo, geralmente um túnel. Siga pelo túnel até
alcançar uma luz, e quando sair ao Mundo Inferior, preste atenção na
paisagem à sua volta e veja se há algum animal nas proximidades.
Se houver um animal por perto, pergunte-lhe: “Você é meu animal de
poder?”. Formule uma pergunta simples, cuja resposta é sim ou não,
assim terá uma percepção imediata da forma como seu animal de poder
pretende comunicar-se com você. Seu animal de poder poderá
responder-lhe telepaticamente, ou levá-lo a algum lugar, ou mostrar-
lhe algo que contenha uma mensagem para você. Se ele for mesmo seu
animal de poder, comece estabelecendo um relacionamento com ele,
fazendo-lhe uma pergunta ou pedindo-lhe que o guie numa excursão
por aquele nível do Mundo Inferior. Por exemplo, você poderá
começar perguntando qual o ensinamento que aquele animal em
particular está lhe trazendo, e se isso será benéfico para você. Ou
então, se ele não for seu animal de poder, prossiga na sua jornada até
localizar o animal que o seja efetivamente.
Tente permanecer na jornada com seu animal de poder até ouvir o
tambor de aviso para que você volte. Ou então, se quiser voltar antes
da batida de retorno, refaça seus passos de volta ao recinto em que está
sentado ou deitado, abra os olhos e desligue o CD.
Se a sua experiência for diferente daquela que descrevo aqui em
minhas orientações, siga-a e descarte minhas orientações. Por
exemplo, algumas pessoas descobrem que não passaram pelo túnel,
que entraram diretamente no Mundo Inferior. Ou então, encontraram
um mestre em vez de encontrar um animal de poder no Mundo Inferior.
Não limite suas jornadas tentando adaptar-se às minhas orientações.
Elas simplesmente pretendem fornecer uma diretriz geral para você
iniciar sua prática. Deixe-se levar pela sua experiência única, enquanto
tudo está acontecendo.
Para visitar níveis mais profundos do Mundo Inferior, procure novas
aberturas na terra que vão levá-lo a profundidades maiores. Há muitos
níveis mais profundos no Mundo Inferior, e mais elevados no Mundo
Superior. Da mesma forma como você começou, poderá continuar
viajando, procurando novas entradas na terra e descendo de um nível
a outro, mais profundo.
A Jornada ao Mundo Intermediário
Antes de começar sua jornada ao Mundo Intermediário, lembre-se de
estabelecer uma intenção clara e um objetivo para a sua jornada.
Quando você viaja ao Mundo Intermediário, está viajando na paisagem
da sua realidade física, apesar da sua experiência poder ser bastante
diferente daquela que ocorre quando você simplesmente sai da sua casa
pela porta da frente. Primeiro, você encontrará os espíritos invisíveis
dos seres que compartilham do seu ambiente, como os espíritos da
terra, das rochas, dos animais e das plantas. Segundo, você será capaz
de viajar rapidamente pelo espaço, sem permanecer limitado ao seu
corpo físico.
Para viajar pelo Mundo Intermediário, veja a si mesmo saindo da porta
da frente da sua casa e viajando pela realidade física, a fim de procurar
um objeto perdido ou talvez visitar um local com o qual você queira
entrar em contato. Numa jornada ao Mundo Intermediário você poderá
aprender muita coisa comunicando-se com os espíritos da natureza, e
também com os elementos água, ar, terra e fogo.
Você também poderá viajar ao Sol, às estrelas e a outros planetas do
nosso sistema solar, e cada um deles poderá ensiná-lo a recuperar o
equilíbrio e viver em sintonia com nossos ciclos naturais. No Mundo
Intermediário também podemos ter acesso às fadas, devas e elfos,
conhecidos como espíritos elementais. Você também poderá
encontrar-se com os guardiões da floresta. Em suma, as viagens
importantes ao Mundo Intermediário são aquelas que nos possibilitam
descobrir os espíritos dos seres invisíveis que estão à nossa volta o
tempo todo, mas que não notamos na realidade normal.
Ao ouvir a batida de tambor para o retorno, refaça seus passos de volta
ao recinto em que está deitado ou sentado, abra os olhos e desligue o
CD. Ou, se você preferir concluir a jornada antes de ouvir a batida do
retorno, simplesmente refaça seus passos de volta ao recinto em que
está viajando, abra os olhos e desligue o CD.
A Jornada ao Mundo Superior
Sua primeira jornada ao Mundo Superior terá como objetivo encontrar-
se com um mestre em forma humana.
Com essa intenção em mente, comece vendo a si mesmo num
determinado lugar da natureza que vai ajudá-lo a viajar para cima. Por
exemplo, você poderá ver a si mesmo subindo numa árvore, numa
corda ou escada, saltando do topo de uma montanha, subindo por um
tornado ou um redemoinho, escalando um arco-íris, subindo pela
fumaça de um fogo ou por uma chaminé, ou então encontrando um
pássaro que possa levá-lo. Poderá também pedir ao seu animal de poder
que o leve para cima. Qualquer coisa que possa levá-lo ao Mundo
Superior é adequada.
Você passará por uma transição — algo como uma nuvem ou uma
camada de névoa — que indicará a sua entrada no Mundo Superior.
Depois de passar por essa transição, chegará ao primeiro nível do
Mundo Superior. Se ainda estiver vendo planetas e estrelas ao viajar
para cima, é porque ainda não chegou. Você só saberá que chegou ao
Mundo Superior por causa da sensação de ter passado através de algum
tipo de umbral permeável, após o qual a paisagem vai se modificar.
Preste atenção se há algum mestre esperando ali para saudá-lo. Em
caso positivo, pergunte: “Você é meu mestre?”. Se obtiver uma
resposta ou um gesto positivo, faça a ele uma pergunta que seja
importante para você, como por exemplo, a forma de obter ajuda para
um problema emocional ou físico. Você também poderá pedir ao seu
mestre que lhe mostre o Mundo Superior. Caso seu mestre não esteja
esperando por você no primeiro nível, continue procurando-o nos
diferentes níveis do Mundo Superior até encontrar alguém que diga ser
seu mestre ou sua mestra.
Você também poderá continuar viajando para níveis mais elevados,
procurando um meio de subir mais — preste atenção em alguma coisa
que possa lhe servir como meio de transporte. Como no caso do seu
animal de poder, a conversa inicial com seu mestre vai lhe revelar
como eles se comunicam com você e os dons que obterá.
Quando ouvir a batida de retorno, refaça seus passos de volta ao recinto
em que está viajando, abra os olhos e desligue o CD. Ou então, se
preferir concluir a jornada antes de ouvir a batida de retorno,
simplesmente refaça seus passos de volta ao recinto em que está
deitado ou sentado, abra os olhos e desligue o CD.
Por favor, preste atenção: Os animais de poder e os mestres em forma
humana vivem nos Mundos Inferior e Superior. Depois de completar
suas primeiras jornadas, você poderá inverter o processo, encontrar um
mestre em forma humana no Mundo Inferior ou um animal de poder
no Mundo Superior.

Capítulo 7
JORNADAS DIVINATÓRIAS E DE CURA

Jornadas divinatórias Um dos papéis tradicionais do xamã era o


de vidente, captando informações para os indivíduos e a
comunidade como um todo. Como videntes, alguns praticantes do
xamanismo ainda captam informações para clientes e a
comunidade em que vivem, apesar de muitos não se sentirem à
vontade realizando viagens para outras pessoas. Em vez disso, eles
preferem usar as viagens xamânicas para ter acesso a orientações
que os ajudem nos próprios problemas. Seus espíritos auxiliares
são uma fonte maravilhosa quando se trata de responder a
questões referentes aos seus relacionamentos, à saúde ou ao
trabalho. Você também poderá pedir informações que o ajudem a
crescer e a evoluir, num sentido mais amplo. Por exemplo, você
poderá fazer uma pergunta do tipo: “O que eu preciso focalizar na
minha vida neste momento?”.
Eis outros exemplos de perguntas que podem inspirar viagens
divinatórias:
— Como posso curar meu corpo?
— Como posso curar meu relacionamento?
— Mostre-me minha nova vida (se você estiver numa fase de
transição).
— Como posso me preparar para...?
— O que posso fazer para dissolver a tensão na minha família
e no meu ambiente de trabalho?
— Como posso ajudar uma pessoa querida, um amigo, um
animal ou o país em que vivo? (Escolha apenas um assunto de cada
vez).
— Onde devo procurar uma casa?
— Por favor, ajude-me a encontrar um novo emprego.
— O que aprenderei fazendo essa escolha?
— Qual é causa básica do meu medo? (Ou então escolha outra
questão ligada à sua vida).
Para obter uma informação divinatória numa jornada, inicie-a com uma
pergunta clara aos seus espíritos auxiliares. Escolha qual dos seus
espíritos auxiliares você gostaria que respondesse à sua pergunta, e
viaje ao local em que costuma encontrá-los. É claro que você poderá
fazer a pergunta a mais de um dos seus espíritos auxiliares.
Simplesmente vá ao seu encontro nos locais habituais da realidade fora
do normal, e faça sua pergunta a todos os que deseja que respondam.
Isso é que se conhece como jornada divinatória.
Antigamente eu não tinha muita sorte ao comprar carros usados, pois
estava constantemente levando-os ao mecânico. Quando aprendi a
viajar, eu ia ao encontro do meu animal de poder e perguntava-lhe qual
era o problema do meu carro, antes de levá-lo ao mecânico. Meu
mecânico sabia que eu não tinha conhecimentos de mecânica de
automóveis. Na época eu não conseguia nem abastecer no posto de
gasolina sem ajuda de alguém. A primeira vez em que apareci na
oficina dizendo ao mecânico o que achava que estava errado com o
meu carro, ele deu risada. Quando fui buscar o carro depois que o
conserto ficou pronto, ele disse espantado: “Você estava certa!”.
Isso continuou ao longo do tempo. Sempre que eu levava o meu carro
à oficina, eu apresentava um diagnóstico, e eu estava certa. Finalmente
meu mecânico perguntou-me o que eu estava fazendo para descobrir
com antecedência os problemas do carro. Não sabia o que dizer. Mas
finalmente eu me abri e contei-lhe que realizava jornadas xamânicas e
que meu animal de poder se enfiava debaixo do carro para fazer testes
e obter um diagnóstico e fornecia-me as informações de que eu
precisava. Depois disso, sempre que eu levava meu carro para
consertar, o mecânico me perguntava antes o que meu animal de poder
havia me dito a respeito.
Barbara tinha uma amiga que decidira deixar seu marido. Essa amiga
pediu a Barbara que viajasse para fazer a pergunta: “Aonde eu devo ir
depois que deixar o meu marido?”. Barbara viu a amiga numa região
surpreendentemente próxima ao local em que ela vivia atualmente, por
isso pediu a outra pessoa que viajasse para fazer a mesma pergunta. A
outra pessoa obteve a mesma resposta que Barbara, então ela pediu à
amiga que reconsiderasse sua decisão de deixar o marido. A amiga de
Barbara decidiu discutir os problemas com o marido, e atualmente o
relacionamento entre os dois é bastante saudável.
Depois de adquirirem muita experiência em viajar, algumas pessoas
decidem usar as jornadas xamânicas para obter informações para
amigos, clientes e suas comunidades. Entretanto, antes de se
disponibilizar desse modo, você precisa ter certeza de que está obtendo
bons resultados nas suas próprias jornadas xamânicas. Não se esqueça
de que quando os xamãs não eram capazes de obter informações sobre
as fontes de alimentação para suas comunidades, ou de produzirem a
cura para os membros da sua tribo, a comunidade não conseguia
sobreviver. A prática do xamanismo sempre esteve baseada em
resultados práticos e precisos.
Se você alcançou um nível em que gostaria de viajar para pedir
orientações para seus amigos, sua família ou os membros da sua
comunidade, por favor, leve em consideração os seguintes aspectos
éticos. Primeiro, é vital que você tenha permissão para viajar em nome
de outra pessoa. Vivemos numa cultura que nos encoraja a tentar
ajudar as pessoas, caso elas queiram ou não. Em vez disso, acho que
precisamos respeitar as escolhas dos outros, as formas como cada um
de nós, individualmente, aprende, cura-se e cresce. As pessoas não se
curam nem crescem enquanto não estiverem preparadas para isso. Não
funciona querer empurrar a cura para os outros.
A informação é uma forma de cura, então, por favor, espere até que
alguém peça sua ajuda antes de interferir na sua vida. Para que
aconteça uma cura bem-sucedida, a pessoa deve estar pronta para obtê-
la.
Além disso, se você estiver com algum problema com alguém no
trabalho, ou com quem estiver se relacionando, não é apropriado viajar
e perguntar: “Qual é o problema dessa pessoa?”. Isso seria uma
intromissão na vida de alguém, sem a sua permissão — uma forma de
espionagem na realidade fora do normal. Em vez disso eu realizaria a
jornada e perguntaria: “Como posso curar esse relacionamento?”. Qual
o comportamento que devo adotar ou a mudança que devo realizar para
resolver essa situação? Qual a lição que devo aprender?”. A chave para
uma jornada bem-sucedida é manter o foco em si mesmo, e não ficar
procurando o que poderia estar acontecendo com outra pessoa — a
menos que ela peça isso a você.
Há uma exceção a essa regra que é preciso esclarecer. Quando era uma
psicoterapeuta e atendia pacientes, ocasionalmente eu usava a jornada
xamânica para dar um suporte ao meu diagnóstico. Por exemplo,
quando eu sentia que o paciente e eu começávamos a girar ao redor de
questões básicas sem conseguirmos identificá-las nem progredir, eu
pedia ao meu animal de poder que identificasse os problemas
subjacentes. Nessa situação, meu paciente vinha me ver para receber
ajuda — e ele esperava que eu usasse todas as minhas ferramentas para
ajudá-lo da melhor forma possível. Portanto, no contexto das
profissões de ajuda, eu acredito que seja ética a utilização das jornadas
xamânicas como ferramentas para um diagnóstico. No entanto,
analisar alguém na realidade fora do normal quando essa pessoa não
pediu sua ajuda, não é considerado apropriado.
Finalmente, você também não vai querer pedir aos seus espíritos
auxiliares que enviem uma cura — de qualquer tipo — para alguém
que não a pediu. Mais uma vez, é importante manter o decoro e os
limites apropriados na sua prática do xamanismo.
Viagens de cura
Nas culturas xamânicas tradicionais, o xamã abordava a dimensão
espiritual da doença intervindo na realidade fora do normal, em
benefício dos seus clientes. Nesses casos, o cliente não viajava por si
mesmo.
Entretanto, como atualmente muitos de nós temos acesso aos próprios
espíritos auxiliares por meio das jornadas xamânicas, vale a pena pedir
ao seu animal de poder ou mestre que realize uma cura para você, c aso
necessite dela. A cura pode assumir inúmeras formas, dependendo da
natureza do problema e do modo como seu espírito auxiliar trabalha.
Para realizar uma jornada de cura, comece formando uma ideia clara
do problema ou da enfermidade que precisa de cura. Decida qual dos
seus espíritos auxiliares você gostaria de consultar para obter a cura, e
realize a jornada para onde costuma encontrá-los na realidade fora do
normal. Você perceberá que ao pedir a cura, não importa a quem, esse
alguém não vai realizá-la por si mesmo, mas indicará outro espírito
auxiliar mais capacitado para aquele problema específico.
Por exemplo, Larry estava tendo problemas estomacais. Não conseguia
digerir a comida e tinha fortes dores. Foi consultar vários médicos, que
não conseguiam encontrar a origem do seu problema. Ele viajou ao
encontro do seu mestre, que era seu bisavô, e pediu ajuda. Seu mestre
disse-lhe que se deitasse no chão da sua casa. No início, Larry sentiu -
se flutuando, depois se sentiu inundado de amor incondicional e de luz,
vivenciando uma paz como nunca vivenciara antes. Quando retornou
da jornada, sentiu-se livre da dor pela primeira vez em meses. Realizou
uma série de jornadas para descobrir como poderia manter sua saúde
em longo prazo. Desde essa época, ele tem seguido as orientações e o
conselho do seu bisavô, e continua com uma vida bastante saudável.
Como o xamanismo trabalha com o aspecto espiritual da doença, ele
também pode se combinar a um tratamento clínico e psicológico
tradicional. Em muitas culturas nativas, os xamãs e os médicos
trabalham juntos para realizar o tratamento.
Connie recebera um diagnóstico de câncer de mama. Ela decidiu fazer
uma mastectomia e se submeter a algumas doses de radiação, seguindo
o conselho dos médicos. Em conjunto com o tratamento clínico
tradicional, viajou até se encontrar com um beija- flor e pediu ajuda.
Resolveu combinar o trabalho xamânico ao dos sonhos. O beija-flor
instruiu-a para que fizesse visualizações dos seios e os pintasse com
imagens de cura. Então, em uma semana ela recebeu uma ajuda
financeira para realizar workshops sobre seu método de cura para
mulheres que haviam sido diagnosticadas com câncer de mama.
Dale trabalhava numa empresa, onde estava constantemente em
conflito com outro trabalhador. Realizou uma jornada e perguntou ao
seu animal de poder o que deveria fazer. Este lhe disse que pegasse
duas pedras e as pintasse de duas cores diferentes, e depois as
guardasse no bolso. Foi o que ele fez, e sem nenhuma outra intervenção
os problemas com seu colega de trabalho foram resolvidos em pouco
tempo. Esse é um exemplo de como um ritual misterioso, que não pode
ser analisado pela nossa mente racional, produz transformações e
curas.
Numa jornada, um desmembramento é um meio clássico de cura
espiritual. Um animal como um urso ou uma águia, ou uma força da
natureza como o vento, desmonta o seu corpo até os ossos. As partes
doentes do corpo são retiradas e você é reconstruído com partes sadias.
É muito comum as pessoas sofrerem um desmembramento quando
pedem uma cura. Apesar de parecer estranho, elas relatam que passam
por uma forte sensação de paz e de amor durante a experiência.
Por exemplo, o coração de Susan estava partido com a perda de um
membro da família, então ela viajou ao encontro de seu animal de
poder, que era um cavalo, para pedir a cura. O cavalo chamou o urso
para realizar um desmembramento. O urso a rasgou e retirou seu
coração, depois a fechou com um coração restaurado. Susan sentiu um
grande alívio depois dessa jornada.
O desmembramento também pode ser entendido como uma iniciação
da pessoa num caminho espiritual. Seu corpo e seu ego, que a mantêm
separada do poder do Universo, é temporariamente retirado, para que
ela se lembre de que não é simplesmente um corpo, mas um ser
espiritual conectado à vida como um todo. Quando passa por uma
experiência profunda dessa unidade, muitas vezes ela retorna com
habilidades de cura, ou uma habilidade mais profunda de trabalhar com
a espiritualidade.
Quando você realiza uma jornada de cura e sente que a cura obtida fo i
benéfica, certamente desejará repetir a jornada para aprofundar os
resultados.
Entretanto, se a cura não foi eficaz, você precisará da ajuda de um
terapeuta da realidade normal que não esteja tão pessoalmente ligado
ao resultado.
Outra jornada de cura visa encontrar um local de repouso nos Mundos
Inferior ou Superior, onde você possa simplesmente relaxar e deixar
para trás o cansaço do seu dia de trabalho. Essa espécie de jornada
pode ser bastante restauradora. Você poderá viajar simplesmente com
essa intenção, e voltar com as energias renovadas.
Há muitas outras técnicas xamânicas avançadas com o objetivo de
curar pessoas, mas elas extrapolam o escopo deste programa.
Entretanto, existem muitos workshops realizados no mundo todo para
quem quer aprender essas técnicas xamânicas de cura. Faça consultas
no site Google para obter mais informações.

Capítulo 8
OUTRAS JORNADAS

Apresentei a você algumas ideias de viagens divinatórias e de curas


pessoais. Também o encorajei a se encontrar com os espíritos de
animais, pássaros, plantas, árvores, insetos, peixes e répteis com os
quais compartilhamos esta Terra maravilhosa. O que se segue é
uma lista de sugestões de outros tópicos que você poderá explorar
nas suas jornadas xamânicas. Sinta-se à vontade para acrescentar
o que quiser a essa lista e criar seus próprios tópicos.
Jornadas de interpretação
• Peça a interpretação de um sonho. Você poderá formular sua
pergunta assim: “O que preciso saber sobre o meu sonho?”.
• Faça a pergunta: “Qual é a mensagem ou o significado de
um símbolo que apareceu na minha jornada e que não consegui
entender?”.
• Faça a pergunta: “Qual é o significado da previsão ou do
sinal que recebi quando estava passeando em meio à natureza?”.
• Faça a pergunta: “Qual é a lição ou o dom que me foi
destinado nesses tempos difíceis?”.
Jornadas para conhecer a sua história
• Peça para encontrar-se com um ancestral.
• Peça para lhe mostrarem os dons e pontos fortes da
linhagem ancestral que você carrega ao longo da sua vida. Muitas
vezes enfatizamos apenas o que não recebemos das nossas famílias.
Por meio do processo de sobrevivência do mais capacitado,
carregamos certos dons ao longo de toda nossa linhagem familiar.
Preste atenção nos pontos fortes de ambos os lados da sua família,
tanto da sua mãe quanto do seu pai. Esse tipo de jornada têm sido
especialmente terapêutico para pessoas que foram adotadas ou que não
sabem muita coisa sobre suas raízes ancestrais.
• Peça para lhe mostrarem um mito de criação ou uma
história, para saber como você e o mundo ao seu redor foram criados.
• Peça para se encontrar, nos Mundos Inferior ou Superior,
com o espírito de um ente querido falecido, para terminar alguma
conversa interrompida. Essa é uma boa maneira de resolver seus
sentimentos em relação a alguém que já morreu.
Jornadas para ajudar a restaurar a harmonia e o equilíbrio da
sua vida, depois de obter ajuda espiritual, psicológica ou médica
• Faça a pergunta: “Quais as mudanças que preciso realizar
na minha vida para permanecer saudável o tempo todo ou para ajudar
o meu processo de cura?”.
• Faça a pergunta: “Como posso ajudar a minha energia
criativa a criar um presente e um futuro positivos para mim?”.
• Faça a pergunta: “O que poderia trazer o significado e a
paixão de volta à minha vida?”.
• Faça a pergunta: “Quais seriam as atividades simples que eu
poderia realizar ao longo do dia para transformar a energia da minha
raiva, meu medo, minha tristeza ou minha frustração?”.
• Faça a pergunta: “Qual é o meu mito pessoal ou história de
vida que não me serve mais?”.
Jornadas para se conectar com o mundo natural
• Viaje para se encontrar com o mundo natural.
• Viaje até um cristal ou outro objeto e descubra como ele
quer ser usado.
• Viaje para se encontrar com o espírito do país ou da cidade
em que você vive, e conheça sua energia. Você poderá viajar até o
espírito do local em que vive, ou de um local que deseja conhecer
melhor.
• Viaje até a lua para conhecer os seus ciclos e como eles
afetam você.
• Viaje para saber como você é afetado pelas diferentes
estações do ano.
• Viaje para saber como poderá organizar sua vida de modo a
entrar em sintonia com os ciclos da natureza.
• Viaje até um corpo d’água para conhecer seus poderes.
• Viaje até as estrelas para conhecê-las melhor.
• Viaje até os espíritos dos insetos ou roedores que estão
invadindo sua casa ou seu jardim, e negocie com eles.
• Viaje para conhecer os espíritos do clima.
• Viaje para se encontrar com os espíritos da terra, do ar, da
água e do fogo.
• Viaje para conhecer o poder do Sol e saber por que sua
energia é necessária para o desenvolvimento da vida.
Jornadas para obter instruções para a criação e a realização de
cerimônias
• Peça a definição de uma cerimônia que você possa realizar
para a liberação e a transformação do medo e da raiva, ou de um
bloqueio da sua criatividade.
• Peça a definição de uma cerimônia que você possa realizar
para ajudá-lo na manifestação de um sonho ou desejo.
• Peça a definição de uma cerimônia que você possa realizar
para celebrar uma transição de vida como a puberdade, a menopausa,
o casamento ou uma mudança na carreira.
• Peça a definição de uma cerimônia que você possa realizar
para o luto ou o adeus a um ente querido.
• Peça a definição de uma cerimônia que você possa realizar
para homenagear alguém da sua família ou alguém com quem você
trabalhe.
• Peça a definição de uma cerimônia que você possa realizar
para trazer alegria ou saúde à sua vida.
• Peça a definição de uma cerimônia que você possa realizar
para homenagear a mudança das estações do ano.
Jornadas para o esclarecimento de questões sociais
• Viaje para pedir ajuda na resolução de um conflito com
algum ente querido, amigos, família ou colegas de trabalho.
• Viaje para pedir um encontro com o animal de poder da
empresa ou organização em que está empregado. Pergunte ao animal
como ele poderia ajudá-lo a restaurar o equilíbrio e a harmonia no
ambiente em que você trabalha.
• Viaje para pedir ajuda em projetos criativos.
• Viaje para pedir um encontro com o animal de poder de
alguém das suas relações ou da sua família.
• Viaje para perguntar a respeito do poder das palavras, e
como a vibração e a intenção proveniente das palavras que
pronunciamos podem produzir cura e paz.
• Viaje para perguntar como você poderá ajudar a curar uma
ferida social.
• Viaje para descobrir como você poderá ser útil e ajudar a
curar os problemas ambientais ou globais.
Jornadas exploratórias
• Viaje para explorar e vivenciar a paisagem em diferentes
níveis dos Mundos Inferior e Superior.
• Viaje para se encontrar com diversos espíritos auxiliares nos
diversos níveis dos Mundos Inferior ou Superior. Verifique quais as
mensagens ou informações que eles querem transmitir a você.

Capítulo 9
INTEGRANDO SUA PRÁTICA À COMUNIDADE

Em todo o mundo formaram-se grupos de pessoas que realizam


jornadas juntas e depois compartilham suas experiências, dando
umas às outras um forte senso de comunidade e o dom de obterem
o testemunho dos companheiros de jornada. Na maioria dos
grupos, os membros viajam em função dos seus próprios assuntos
e dos assuntos de outros. Quando você pede a outros que viajem
para você, muitas vezes consegue obter novas e úteis informações
que não receberia pessoalmente.
Alguns grupos viajam coletivamente em função de um assunto, como
por exemplo, uma questão global ou algum aspecto ligado a eventos
atuais. Por exemplo, como lidar com as mudanças climáticas na
comunidade ou uma questão social com a qual todos estão
preocupados. Muitos grupos perguntarão como celebrar uma mudança
de estação ou a fase atual da lua, ou criar rituais em conjunto na
comunidade. Cada membro do grupo receberá uma única parte da
informação, que poderá ser juntada às outras para inspirar e educar o
grupo todo. Também poderão existir similaridades e sincronicidades
entre as respostas, o que representará a existência de algo importante.
Muitas pessoas bem-intencionadas que viajam relatam que é difícil
comprometerem-se com um grupo que realiza viagens uma vez por
semana. A resposta que obtive é que se encontrar uma vez por mês é
suficiente, funciona melhor e resulta num nível mais consistente de
atendimento. Também percebi que os grupos que permanecem juntos
por mais tempo são os que realizam viagens uns para os outros, assim
como para a comunidade e para se informarem sobre as questões
globais. Esses grupos tornam-se verdadeiras comunidades, nas quais
são tratadas questões individuais assim como questões que afetam o
grupo inteiro.
Eu gostaria de fazer uma advertência para aqueles que decidem realizar
viagens num grupo. Por favor, não compare a informação que você
recebe com as informações dos outros membros do grupo. Às vezes
isso produz um sentimento de inveja entre membros do grupo que
desejam que suas viagens sejam como as de outra pessoa. É importante
respeitar seu estilo único de realizar viagens — assim como o estilo de
outra pessoa — em vez de achar que um estilo é mais avançado do que
outro.
Se você é novato na técnica, deverá considerar a possibilidade de
compartilhar este programa com alguns amigos, como forma de criar
um grupo na sua comunidade. Depois poderá realizar jornadas sozinho
e, talvez, encontrar-se com algum grupo a cada duas semanas.
A jornada xamânica é uma incrível ferramenta para obter a cura e a
orientação na nossa vida. Com a ajuda de nossos espíritos, podemos
ser orientados no sentido de criar uma vida plena de significado,
alegria e paixão. Começamos a despertar do encanto que nos têm
dominado, quer dizer, somos apenas o que parecemos ser no mundo
material. Começamos a nos envolver numa dança com a vida e nos
ciclos da vida. Aprendemos a mudar, passando de uma vida de medo e
sobrevivência a outra, em que começamos a florescer.
Você está envolvido pelo amor do Universo e os espíritos auxiliares.
Abra o seu coração ao amor, à sabedoria e à cura que eles têm a lhe
dar. Ao fazer isso, você não mudará apenas a sua vida; as mudanças
de consciência obtidas por meio das viagens xamânicas podem também
transformar o mundo.

BAIXAR CD COM TOQUE DO TAMBOR XAMÂNICO:


https://drive.google.com/open?id=0B8S91Mmj85NsOFhuLVJFOGN2
c0E
CD
12 minutos 20 minutos 30 minutos

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