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XAMÂNICA
Um guia para principiantes
SANDRA INGERMAN
Jornada xamânica é a arte interior de viajar aos “mundos
invisíveis”, que estão além da realidade normal, para obter
informações sobre as mudanças em qualquer área da sua vida —
desde a espiritualidade e a saúde, até o trabalho e os
relacionamentos. Em Jornada xamânica, Sandra Ingerman extrai o
conteúdo de mais de vinte anos de experiência como estudante e mestre
de xamanismo para compartilhar conosco os ensinamentos essenciais
dessa prática de transformação. Junte-se a ela para conhecer o papel
original do xamã nas sociedades nativas, aprender como encontrar seu
“animal de poder” e outros mestres espirituais e trabalhar com eles,
obtendo a chave para uma viagem bem-sucedida na cultura
contemporânea. Com narrativas fascinantes sobre os resultados
poderosos das viagens xamânicas e muitas respostas a várias
perguntas, esta obra inclui tudo de que você necessita para explorar os
mundos visionários do xamã.
A AUTORA
SANDRA
INGERMAN
Sandra Ingerman é reconhecida mundialmente por trazer para a
cultura moderna, métodos de cura da cultura antiga, adequados às
necessidades de nossos tempos. Autora de diversas obras sobre
jornada xamânica, cura e reversão da poluição ambiental, ela
ministra workshops internacionais utilizando seus métodos
espirituais. É a fundadora da Aliança Internacional para
Professores e Xamãs de Remédios para a Terra. Sandra Ingerman
é terapeuta familiar e de casais e conselheira profissional de saúde
mental no Novo México, com certificação em estresse traumático e
em gerenciamento de estresse traumático agudo. Além do livro
Jornada xamânica — um guia para principiantes, Sandra
Ingerman é autora das obras: Resgate da alma — reencontre os
pedaços da alma que ' você perdeu; Cure pensamentos tóxicos,
editados pela Editora Vida & Consciência, Welcome home:
following your soul's journey home, A fall to Grace e Medicine for
the earth.
INTRODUÇÃO
1 - Nota da Tradução: Halloween — Dia das Bruxas é um evento tradicional e cultural que
ocorre nos países anglo-saxônicos, com especial relevância nos Estados Unidos, Canadá,
Irlanda e Reino Unido, tendo como base e origem as celebrações pagãs dos antigos povos
celtas.
Castaneda 2 chamou de realidade fora do normal, ou que considero um
universo paralelo. Geralmente o xamã fica ouvindo algum tipo de
percussão rítmica, que transporta sua alma a uma realidade fora do
normal. Nessas jornadas, o xamã recolhe informações de espíritos
auxiliares, que se colocam à sua disposição nessa realidade fora do
normal, a fim de o ajudarem nas curas e no repasse de informações
para os pacientes, a respectiva família e a comunidade em geral.
Durante esse workshop aprendi que a prática da jornada xamânica pode
ser utilizada por qualquer pessoa para obter respostas a questões
pessoais, aprender diversos métodos de cura, ajudar pessoas nas suas
comunidades e em questões de nível mundial e global. Quando
encontrei meu espírito auxiliar na minha primeira jornada, percebi que
essa prática não só me ajudaria a enfrentar os desafios da minha vida,
mas também promoveria meu crescimento e minha evolução pessoais.
Desde então, em consonância com minha base em psicoterapia, meu
objetivo têm sido encontrar a melhor maneira de aplicar essa poderosa
técnica tão antiga, e compartilhá-la com as pessoas.
A prática da jornada xamânica é uma forma de nos sentirmos
pessoalmente fortalecidos na nossa vida. Ela nos oferece o caminho
para uma revelação direta, é uma abordagem bastante simples para
obtermos o acesso a uma orientação espiritual. É um meio de sairmos
da nossa racionalidade e expandirmos nossa percepção e nossa
consciência.
Quando começamos a perceber que temos a capacidade de solucionar
nossos problemas sozinhos, isso aumenta nossa autoestima de forma
fundamental. Ir ao encontro do nosso espírito auxiliar nos dá uma
sensação de valorização e de conexão com o espírito que habita todas
Capítulo 1
XAMANISMO: O CAMINHO DA REVELAÇÃO DIRETA
O xamanismo é a prática espiritual mais antiga conhecida pela
humanidade, remontando há cerca de dez mil anos. Apesar de a
palavra “xamã” ser uma palavra siberiana, que designa um curador
espiritual, o xamanismo também foi praticado em partes da Ásia,
Europa, África, Austrália, Groenlândia e entre os nativos da América
do Norte e do Sul, ao longo de toda a história. O fato de esta prática
ter sobrevivido e florescido por dez mil anos demonstra a potência
desse trabalho.
Um dos mais belos aspectos da jornada xamânica é o princípio da
revelação direta. A prática da jornada xamânica nos ajuda a afastar os
véus que separam os mundos visíveis dos invisíveis e obter o acesso a
informações e energias que podem ajudar o nosso despertar e a
recuperação da nossa totalidade integrada. Um xamã é um homem ou
mulher que interage diretamente com os espíritos para tratar dos
aspectos espirituais das doenças, realizar o resgate de almas, obter
informações divinas, ajudar os espíritos de pessoas falecidas na sua
passagem para o Além, e realizar uma grande variedade de cerimônias
para a comunidade. Os xamãs assumiam muitos papéis nas
comunidades tribais, eles atuavam como curadores, médicos,
sacerdotes, psicoterapeutas, místicos e contadores de histórias.
Tradicionalmente, a prática do xamanismo visava resultados práticos
que deviam ser obtidos pelo xamã. Numa cultura xamânica tradicional
havia um único indivíduo ou diversas pessoas que assumiam o papel
de xamã. Ele era consultado por caçadores e coletores da tribo para
identificar as fontes de alimento. Se o xamã fosse incapaz de adivinhar
com exatidão o local em que poderiam encontrar alimentos, a tribo não
sobreviveria. Esperava-se também que o xamã realizasse curas para as
doenças dos membros da comunidade. Mais uma vez a sobrevivência
da tribo era amplamente dependente das habilidades espirituais do
xamã.
O xamanismo nos ensina que tudo o que existe está vivo e possui um
espírito, e que estamos ligados à Terra e a tudo o que vive por meio da
nossa interconectividade espiritual. Assim como a física quântica
descreve um campo de energia que interliga toda vida, os xamãs
também falam de uma rede de vida que interliga tudo que existe. Na
cultura contemporânea, muitos de nós sentem um profundo anseio de
vivenciar a unidade com essa rede de vida e curar a sensação de
isolamento. Quando viajamos a uma realidade fora do normal, em
nossas jornadas xamânicas, aprendemos a nos comunicar com os
espíritos das árvores, plantas, animais, insetos, aves, peixes, répteis e
rochas, assim como o espírito dos elementos terra, ar, água e fogo.
Vivenciamos diretamente a rede da vida.
Como somos parte da natureza, temos uma profunda necessidade de
nos ligarmos aos ciclos e ritmos naturais. Imagine como seria
exaustivo caminhar contra o fluxo de um rio todos os dias da sua vida.
Na verdade, nós nos desligamos dos ciclos e ritmos da lua e das
estações do ano, e muitas vezes realmente caminhamos contra o fluxo
da vida. Acredito que em parte essa é a causa de alguns males atuais,
como fadiga crônica, depressão e diversas outras doenças, tanto
psicológicas quanto físicas, tão comuns hoje em dia. Os espíritos
auxiliares têm muito a nos ensinar sobre a recuperação do equilíbrio e
da harmonia em nossa vida, com a ligação aos ciclos da natureza e da
vida, e a unidade com o mundo natural.
Na prática do xamanismo há uma grande variedade de cerimônias
realizadas para venerar os ciclos da natureza e os ciclos da nossa vida,
e trabalhar com eles, assim como a previsão de acontecimentos e a
interpretação de sonhos — para a obtenção da visão interior, da cura e
do aumento de energia. O xamanismo também pode nos ensinar o valor
de uma prática espiritual regular e da ajuda a outras pessoas, o que traz
a nossa vida um autêntico senso de significado e um objetivo.
Finalmente, o xamanismo nos dá a capacidade de obtermos o acesso a
forças poderosas que nos ajudam a criar o mundo em que queremos
viver — a criá-lo para nós e para os outros.
Os xamãs curam a doença emocional e física trabalhando com o
aspecto espiritual da doença. O papel tradicional do xamã tem sido a
realização de cerimônias. Depois de dez mil anos, os xamãs
tradicionais ainda fazem parte da vida e da prática comunitária na
Sibéria, Ásia, Austrália, África e América do Norte e do Sul. A técnica
da jornada xamânica que você aprenderá neste livro é apenas uma das
cerimônias que os xamãs utilizam para estabelecer uma comunicação
com o mundo espiritual.
Do ponto de vista do xamã, são três as causas mais comuns para as
doenças. Primeiro, uma pessoa pode ter perdido a energia, o que a
levou a ter depressão, doenças crônicas ou uma série de problemas.
Nesses casos, o xamã viaja para restaurar a energia perdida dessa
pessoa. Ou então, uma pessoa pode ter perdido parte da sua alma ou
essência, produzindo a perda da alma, o que às vezes acontece durante
um trauma emocional ou físico, como acidentes, cirurgias, abusos,
traumas de guerra, desastres naturais ou outras circunstâncias
traumáticas. Essa perda da alma resulta em dissociação, Síndrome de
estresse pós-traumático, depressão, doença, problemas de deficiência
imunológica, vícios, tristeza sem fim ou coma. O papel do xamã é
buscar, por meio da realização de uma cerimônia de recuperação da
alma, as partes dela que desapareceram e foram perdidas devido ao
trauma. Da perspectiva de um xamã, a terceira causa de doença seria
algum bloqueio espiritual ou energia negativa assimilada pelo cliente,
devido à perda da sua energia ou alma. Esses bloqueios espirituais
também causam doenças, geralmente numa região específica do corpo.
O papel do xamã é extrair e remover essas energias maléficas do corpo.
Outras cerimônias realizadas por xamãs incluem a acolhida de crianças
que chegam ao mundo, a celebração de casamentos e o auxílio às
pessoas no momento da morte, na transição do corpo ao espírito. Os
xamãs também trabalham para estimular o crescimento das lavouras,
para ajudar as pessoas na interpretação de sonhos, e no
aconselhamento daquelas que estão passando por dificuldades.
Os xamãs são encarregados das cerimônias de iniciação realizadas por
ocasião das transições de uma fase da vida a outra, como, por exemplo,
a iniciação das crianças à vida adulta. Os xamãs contam histórias sobre
o significado da vida, e mostram como os espíritos podem nos ajudar
a encontrar nosso caminho quando nos sentimos perdidos nas
circunstâncias da nossa vida. Eles podem neutralizar encantamentos
ou energias negativas e restaurar o significado da comunidade,
eliminando a desarmonia e o desequilíbrio, e também realizam
cerimônias de luto, quando ocorre a perda de um membro da
comunidade. Os xamãs também leem sinais e presságios para escolher
os momentos mais auspiciosos para a realização de certas atividades,
como a caça e as celebrações.
Eles conseguem entender os ciclos da natureza, os ciclos das estações
do ano e as fases da lua, e o modo como as estrelas se movimentam
pelo céu. Conseguem ler os sinais que chegam com essas mudanças e
movimentações. Comunicam-se com os espíritos do clima e mantêm a
harmonia e o equilíbrio nas suas comunidades.
Normalmente existe mais do que um xamã numa comunidade. Xamãs
diferentes são conhecidos por suas respectivas áreas de especialidade
espiritual. Por exemplo, alguns xamãs podem ser conhecidos por seus
grandes êxitos em determinadas cerimônias de cura, como o resgate de
almas, enquanto outros são conhecidos por suas habilidades
divinatórias.
Ao longo do tempo, a prática do xamanismo foi se adaptando em
resposta a diferentes necessidades culturais e à mudança dos tempos.
Atualmente, há um forte retorno do xamanismo no Ocidente, com uma
ampla diversidade de pessoas integrando as práticas xamânicas à sua
vida, entre as quais, estudantes, donas de casa, professores,
psicoterapeutas, advogados, enfermeiras, médicos, políticos
e cientistas. Eu acredito que uma das principais razões desse retorno é
que as pessoas querem ter acesso às suas próprias orientações
espirituais. Não queremos mais entregar nosso poder a figuras de
autoridade, aceitas socialmente. Sabemos que somos os únicos a ter,
verdadeiramente, o poder de mudar nossa vida.
Capítulo 2
OS TRÊS MUNDOS
Capítulo 3
ANIMAIS E MESTRES DE PODER
3 - N. da R.: estegossauro — animal pré-histórico cujo nome significa “lagarto telhado”, viveu
entre 152 à 145 milhões de anos atrás e recebeu esse nome porque se pensava que suas
Atualmente existem muitos livros sobre o simbolismo espiritual de
diferentes animais. Como o xamanismo é baseado na revelação direta,
o melhor é não depender da interpretação de outra pessoa sobre os
animais que você encontrar nas suas jornadas. Se você não conseguir
reconhecer, pela aparência ou comportamento, a espécie de animal que
encontrar, poderá recorrer a um livro sobre animais para identificá -lo.
Entretanto, consultar um livro sobre a simbologia do espírito de um
animal em particular não vai ajudá-lo a descobrir as qualidades
espirituais únicas que o animal está lhe oferecendo. Para obter essa
informação, o melhor é perguntar diretamente ao animal quais as
dádivas, as qualidades e o apoio que ele está lhe trazendo.
Nos meus workshops, muitas vezes ouço alunos relatarem que numa
jornada um elefante se ofereceu a eles para ser seu animal de poder.
Quando os alunos perguntaram o que ele poderia lhes ensinai', eles me
contaram que o elefante respondeu: “Estou tentando ensiná-los a serem
mais leves”. Entretanto, nenhum livro de simbologia vai lhe dizer que
o elefante representa a mensagem “seja mais leve”!
Eu, pessoalmente, recebi um ensinamento muito poderoso sobre isso
no fim dos anos oitenta, quando estava viajando bastante e dando
aulas. Muitas vezes as pessoas que frequentam meus workshops e
palestras me trazem algum presente. No entanto, houve um
determinado período em que recebi uma forte mensagem por meio de
uma série de presentes que, a princípio, não entendi direito. Para
começar, cheguei um dia num workshop e recebi dois presentes que
representavam uma coruja — uma pena de coruja e um amuleto de
coruja. Os amuletos provêm da tribo Zuni e são pequenas estatuetas
entalhadas em madeira, imbuídas do poder de um determinado animal.
Achei estranho receber dois presentes relativos à coruja, pois eu nunca
comentara com ninguém que a coruja seria um espírito auxiliar para
4 - N. da R.: Albert Einstein (1879-1955) foi um físico alemão radicado nos Estados Unidos
mais conhecido por desenvolver a teoria da relatividade. Ganhou o Prêmio Nobel da Física
de 1921 pela correta explicação do efeito fotoelétrico.
5 - N. da R.: Hildegard von Bingen — foi educada desde 1106 no convento de
Disibodenberg. Em 1114 ingressou na ordem, que se regia por Regula Benedicti (Regras
de São Bento de Nursia) tornando-se sua abadessa a partir de 1136. Autora de várias obras
musicais de temática religiosa incluindo Ordo Virtutis, uma espécie de ópera que relata um
diálogo de um grupo de freiras com Deus; e de livros de medicina: Liber simplicis medicinae,
que fala sobre plantas, animais e minerais de uso terapêutico e Liber compositae medicinae,
que aborda a natureza, causas e sintomas das doenças com base na fisiologia
microscópica.
realizo workshops e faço palestras em congressos.
Assim como no caso dos animais de poder, os mestres são uma fonte
de cura e de sabedoria na nossa vida. Por exemplo, Nancy, uma das
minhas alunas, foi curada por meio de um trabalho constante com seu
mestre. Ela sofrerá abusos quando criança, e por esse motivo tinha
muitas depressões, para as quais estava tomando fortes medicamentos.
Quando começou a fazer as viagens xamânicas, encontrou o seu
mestre, que era o rei Jaime IV, da Escócia. Como Nancy era professora
de escola, decidiu fazer algumas pesquisas para saber mais a respeito
da vida do rei Jaime. Encontrou muitos livros sobre a vida dele, e, ao
longo da pesquisa, descobriu que ele também havia sofrido abusos
quando criança, por parte do pai. Ela soube que ele havia se curado,
superando seus traumas de infância, e então percebeu que também
poderia se curar. Ao ler sua história e viajar ao seu encontro, Nancy
finalmente conseguiu deixar o passado para trás, livrar-se da depressão
e também dos antidepressivos.
Outra aluna, chamada Isabel, estava planejando passar férias com o
marido no Havaí. Ela viajou até o seu mestre e perguntou-lhe se havia
algo de que precisava saber antes de partir para as férias. Seu mestre
lhe disse que ela deveria levar uma corda. Isabel ficou muito surpresa
com a resposta, pois não estava planejando carregar nenhuma mochila
nem escalar montanhas. Contou ao marido e a alguns amigos sobre o
conselho que havia recebido na jornada, e todos eles deram risada; mas
de qualquer maneira ela decidiu levar a corda, e colocou-a na mala.
Quando chegou ao Havaí, Isabel foi caminhar com o marido numa
trilha bastante popular, numa região em que chovia muito, por isso
havia muitos pontos de lama escorregadia. Num determinado ponto da
trilha eles escorregaram e ficaram presos, e Isabel usou a corda para
sair do lugar com segurança.
Da mesma forma com que a coruja entrou na minha vida quando eu
precisei de ajuda, este exemplo mostra como um espírito auxiliar deu
um conselho para proteger alguém de um evento futuro. Essas
experiências nos mostram que somos amados e cuidados por nossos
espíritos auxiliares.
Relacionando-se com os seus espíritos auxiliares
Os animais de poder, espíritos protetores e mestres são conhecidos
como espíritos auxiliares. Às vezes os espíritos auxiliares vão se
mostrar a você como cansados ou doentes. É importante se lembrar de
que eles são apenas espíritos, não ficam cansados nem doentes. Eles
podem apenas estar representando o seu estado físico ou emocional.
Podem também o estar submetendo a um teste para ver se você vai lhes
dar assistência ou amor. Seria uma demonstração de lealdade e
compromisso em relação a eles, à luz de tudo que dão a você.
Os animais de poder e os espíritos protetores não ficam com ciúmes
uns dos outros. Às vezes numa jornada, você poderá ver dois dos seus
animais de poder lutando. É importante lembrar que são espíritos, e
numa viagem, quando eles se mostram lutando uns contra os outros,
provavelmente estão representando algo que acontece na sua vida e ao
qual você precisa prestar atenção. Pergunte-lhes o que estão tentando
comunicar por meio deste comportamento, para que você possa receber
a mensagem que estão tentando lhe transmitir.
É importante encontrar um animal de poder ou espírito protetor em
quem você possa confiar, que possa ser seu guia nas aventuras na
realidade fora do normal, e que responda às suas perguntas. Se
encontrar ou sentir um espírito e não tiver certeza se ele é um auxiliar
para você, deve evitá-lo, assim como espantaria um réptil ou inseto
que não quer ver por perto enquanto está passeando no bosque. Viajar
é muito seguro, mas é importante ter certeza de sempre possuir o
controle total sobre o local em que está viajando e com quais espíritos
está interagindo.
Geralmente os xamãs chamam seus animais de poder e seus mestres
por meio da canção e da dança ritual. É considerada uma oferta
generosa convidar os espíritos auxiliares a passarem através do nosso
corpo, pois eles são desencarnados e incapazes de vivenciar o prazer
da realidade física por si mesmos. Essa prática é uma maneira que os
xamãs encontraram de se conectarem com o poder de seus espíritos
auxiliares e honrá-los, permitindo-lhes que dancem por meio de seus
corpos.
Eu o aconselho a procurar a melhor maneira de honrar seus espíritos
auxiliares, do seu próprio jeito. Ao fazer isso, perceberá que eles
permanecem com você por mais tempo, do que se ignorar sua presença
e suas tentativas de ajudá-lo na sua vida espiritual. Uma maneira de
honrar seus espíritos auxiliares é escrever um poema sobre eles ou
desenhar o retrato deles. Às vezes, quando viajo à realidade fora do
normal, eu trago uma cestinha de piquenique para meus espíritos
auxiliares e os alimento. Durante essas viagens, minha intenção é
simplesmente agradecer-lhes, sem lhes perguntar nada nem lhes pedir
ajuda. Essa é minha maneira de agradecer por toda ajuda que me deram
ao longo dos meus 20 anos de viagens. Não há nada, nenhum acordo
intercultural, que o impede de compartilhar a identidade dos seus
espíritos auxiliares com os outros. Entretanto, em algumas culturas,
todos na comunidade conhecem a identidade dos espíritos protetores
de cada pessoa. Eu gostaria de lhe sugerir que viaje até seus espíritos
auxiliares e pergunte-lhes pessoalmente se o que sentem é o melhor.
Percebi que alguns dos meus espíritos auxiliares concordam em
compartilhar sua identidade com o público, então escrevo e falo sobre
eles nas minhas palestras. Meu animal de poder principal, porém,
disse-me que seria melhor manter sua identidade em segredo. Por outro
lado, às vezes é benéfico compartilhar a identidade dos seus espíritos
auxiliares, a fim de explicar sua prática espiritual para os outros. De
qualquer maneira, eu lhe recomendo que peça permissão a eles.
Os animais de poder e mestres vivem nos Mundos Inferior e Superior.
Você pode realizar jornadas exploratórias como parte da sua prática
xamânica para encontrar diferentes animais de poder e mestres em
diferentes níveis dos Mundos Inferior e Superior. Os animais de poder
e mestres conseguem viajar entre todos os mundos, e podem
acompanhá-lo nas suas viagens xamânicas, onde quer que você vá.
Você também pode chamá-los para o Mundo Intermediário quando
sentir necessidade da sua proteção ou da sua ajuda.
Por exemplo, digamos que você está se sentindo nervoso antes de ir a
um encontro meio complicado. Com uma intenção clara, chame seus
animais de poder e seus mestres e peça-lhes que permaneçam com você
durante o encontro para ajudá-lo e orientá-lo, e assim diminuir sua
ansiedade. Ou então, se você pretende dirigir o seu carro numa rodovia
e está se sentindo nervoso, pode chamar seus espíritos auxiliares e
pedir-lhes sua proteção e sua ajuda para voltar para casa em segurança.
Eu uso esta técnica frequentemente na minha vida diária. Por exemplo,
fico muito nervosa quando estou num avião, e passo muito tempo
viajando em aviões. Quando subo no avião, faço uma meditação
silenciosa para ajudar-me a relaxar. Em silêncio, eu peço a todos meus
animais de poder, mestres e espíritos auxiliares que fiquem comigo
para garantir um voo seguro e ameno até o avião chegar ao seu destino.
Também peço para todos os animais de poder, mestres e espíritos
auxiliares da tripulação e dos outros passageiros para que se
aproximem, a fim de garantirem um voo seguro e suave para todos. De
uma perspectiva xamânica tudo está vivo e possui um espírito, por esse
motivo eu também chamo os animais de poder e os espíritos auxiliares
do próprio avião, para que estejam presentes, a fim de garantirem um
voo seguro.
O relacionamento com nossos espíritos auxiliares também nos protege
do fenômeno, bastante comum, do esgotamento. Energeticamente,
quando você estabelece um contato mais próximo com outras pessoas,
poderá “captar” seus sentimentos e pensamentos. Poderá até sentir que
uma pessoa está “sugando” sua energia porque precisa de apoio ou de
ajuda. O xamanismo nos oferece meios para estarmos totalmente
presentes diante dessa pessoa, sem assumirmos seu sofrimento num
nível energético, o que poderia nos levar ao esgotamento ou ao
adoecimento. Nessa situação, uma prática xamânica clássica é pedir
silenciosamente ao seu animal de poder ou ao seu mestre que o
preencham com poder e fortaleçam seus limites, antes do seu encontro
com alguém que está necessitado. Desse modo, você não ficará
vulnerável à troca invisível que ocorre no nível energético, em que o
material de outra pessoa é transferido para você. Para permanecer
energeticamente intacto, você poderá também usar esse método antes
de entrar num recinto lotado ou sair para uma rua cheia de gente.
Essa técnica de chamar seus espíritos auxiliares ao Mundo
Intermediário não deve ser usada para iniciar uma jornada no meio do
seu dia — ou quando você está ocupado nas atividades da sua vida
cotidiana. Há momentos em que é apropriado realizar a jornada, e
outros não. De fato, os xamãs tradicionais realizam cerimônias e rituais
antes da viagem, e são muito decididos quanto ao momento
que escolhem para viajar à realidade fora do comum a fim de entrar
em contato com seus espíritos auxiliares. As pessoas que não
conseguem seguir a disciplina de entrar ou sair deliberadamente da
realidade fora do normal não estão mais praticando o xamanismo, estão
entrando no mundo da psicose. As pessoas psicóticas não sabem em
que mundo estão inseridas. Em comparação, uma jornada xamânica é
sempre deliberada, proposital e intencional.
Quando você começar a praticar a jornada regularmente, perceberá que
os espíritos auxiliares com quem trabalha lhe dão todos os tipos de
assistência. E claro que você precisa assumir a responsabilidade pelas
escolhas que faz na vida. Seus espíritos auxiliares não vão fazer tudo
por você. Entretanto, você perceberá que eles podem realmente ajudá-
lo no caminho que vai levá-lo à evolução da sua alma.
Capítulo 4
PREPARANDO-SE PARA A JORNADA
Capítulo 6
REALIZANDO SUA PRIMEIRA JORNADA XAMÂNICA
Neste capítulo farei o resumo de três viagens. Eu lhe sugiro que as
experimente, uma por uma, para iniciar sua prática. Em todas as
práticas, comece colocando o CD para tocar.
A Jornada ao Mundo Inferior
Sua primeira jornada será ao Mundo Inferior, para encontrar seu
animal de poder e desenvolver um relacionamento com ele.
Visualize-se num local na natureza que você já tenha visitado na
realidade normal, e onde exista uma abertura natural na terra. Pode ser
um tronco de árvore com raízes profundas na terra, o centro de um
vulcão, um buraco no solo, uma abertura numa caverna, ou um corpo
d'água como um lago, um córrego, um rio ou uma cachoeira que você
poderá atravessar. Como já mencionei antes, se for melhor para você
ver a si mesmo descendo por um elevador ou por um túnel de metrô,
também pode ser.
Veja a si mesmo entrando pela abertura, e depois num espaço de
transição de algum tipo, geralmente um túnel. Siga pelo túnel até
alcançar uma luz, e quando sair ao Mundo Inferior, preste atenção na
paisagem à sua volta e veja se há algum animal nas proximidades.
Se houver um animal por perto, pergunte-lhe: “Você é meu animal de
poder?”. Formule uma pergunta simples, cuja resposta é sim ou não,
assim terá uma percepção imediata da forma como seu animal de poder
pretende comunicar-se com você. Seu animal de poder poderá
responder-lhe telepaticamente, ou levá-lo a algum lugar, ou mostrar-
lhe algo que contenha uma mensagem para você. Se ele for mesmo seu
animal de poder, comece estabelecendo um relacionamento com ele,
fazendo-lhe uma pergunta ou pedindo-lhe que o guie numa excursão
por aquele nível do Mundo Inferior. Por exemplo, você poderá
começar perguntando qual o ensinamento que aquele animal em
particular está lhe trazendo, e se isso será benéfico para você. Ou
então, se ele não for seu animal de poder, prossiga na sua jornada até
localizar o animal que o seja efetivamente.
Tente permanecer na jornada com seu animal de poder até ouvir o
tambor de aviso para que você volte. Ou então, se quiser voltar antes
da batida de retorno, refaça seus passos de volta ao recinto em que está
sentado ou deitado, abra os olhos e desligue o CD.
Se a sua experiência for diferente daquela que descrevo aqui em
minhas orientações, siga-a e descarte minhas orientações. Por
exemplo, algumas pessoas descobrem que não passaram pelo túnel,
que entraram diretamente no Mundo Inferior. Ou então, encontraram
um mestre em vez de encontrar um animal de poder no Mundo Inferior.
Não limite suas jornadas tentando adaptar-se às minhas orientações.
Elas simplesmente pretendem fornecer uma diretriz geral para você
iniciar sua prática. Deixe-se levar pela sua experiência única, enquanto
tudo está acontecendo.
Para visitar níveis mais profundos do Mundo Inferior, procure novas
aberturas na terra que vão levá-lo a profundidades maiores. Há muitos
níveis mais profundos no Mundo Inferior, e mais elevados no Mundo
Superior. Da mesma forma como você começou, poderá continuar
viajando, procurando novas entradas na terra e descendo de um nível
a outro, mais profundo.
A Jornada ao Mundo Intermediário
Antes de começar sua jornada ao Mundo Intermediário, lembre-se de
estabelecer uma intenção clara e um objetivo para a sua jornada.
Quando você viaja ao Mundo Intermediário, está viajando na paisagem
da sua realidade física, apesar da sua experiência poder ser bastante
diferente daquela que ocorre quando você simplesmente sai da sua casa
pela porta da frente. Primeiro, você encontrará os espíritos invisíveis
dos seres que compartilham do seu ambiente, como os espíritos da
terra, das rochas, dos animais e das plantas. Segundo, você será capaz
de viajar rapidamente pelo espaço, sem permanecer limitado ao seu
corpo físico.
Para viajar pelo Mundo Intermediário, veja a si mesmo saindo da porta
da frente da sua casa e viajando pela realidade física, a fim de procurar
um objeto perdido ou talvez visitar um local com o qual você queira
entrar em contato. Numa jornada ao Mundo Intermediário você poderá
aprender muita coisa comunicando-se com os espíritos da natureza, e
também com os elementos água, ar, terra e fogo.
Você também poderá viajar ao Sol, às estrelas e a outros planetas do
nosso sistema solar, e cada um deles poderá ensiná-lo a recuperar o
equilíbrio e viver em sintonia com nossos ciclos naturais. No Mundo
Intermediário também podemos ter acesso às fadas, devas e elfos,
conhecidos como espíritos elementais. Você também poderá
encontrar-se com os guardiões da floresta. Em suma, as viagens
importantes ao Mundo Intermediário são aquelas que nos possibilitam
descobrir os espíritos dos seres invisíveis que estão à nossa volta o
tempo todo, mas que não notamos na realidade normal.
Ao ouvir a batida de tambor para o retorno, refaça seus passos de volta
ao recinto em que está deitado ou sentado, abra os olhos e desligue o
CD. Ou, se você preferir concluir a jornada antes de ouvir a batida do
retorno, simplesmente refaça seus passos de volta ao recinto em que
está viajando, abra os olhos e desligue o CD.
A Jornada ao Mundo Superior
Sua primeira jornada ao Mundo Superior terá como objetivo encontrar-
se com um mestre em forma humana.
Com essa intenção em mente, comece vendo a si mesmo num
determinado lugar da natureza que vai ajudá-lo a viajar para cima. Por
exemplo, você poderá ver a si mesmo subindo numa árvore, numa
corda ou escada, saltando do topo de uma montanha, subindo por um
tornado ou um redemoinho, escalando um arco-íris, subindo pela
fumaça de um fogo ou por uma chaminé, ou então encontrando um
pássaro que possa levá-lo. Poderá também pedir ao seu animal de poder
que o leve para cima. Qualquer coisa que possa levá-lo ao Mundo
Superior é adequada.
Você passará por uma transição — algo como uma nuvem ou uma
camada de névoa — que indicará a sua entrada no Mundo Superior.
Depois de passar por essa transição, chegará ao primeiro nível do
Mundo Superior. Se ainda estiver vendo planetas e estrelas ao viajar
para cima, é porque ainda não chegou. Você só saberá que chegou ao
Mundo Superior por causa da sensação de ter passado através de algum
tipo de umbral permeável, após o qual a paisagem vai se modificar.
Preste atenção se há algum mestre esperando ali para saudá-lo. Em
caso positivo, pergunte: “Você é meu mestre?”. Se obtiver uma
resposta ou um gesto positivo, faça a ele uma pergunta que seja
importante para você, como por exemplo, a forma de obter ajuda para
um problema emocional ou físico. Você também poderá pedir ao seu
mestre que lhe mostre o Mundo Superior. Caso seu mestre não esteja
esperando por você no primeiro nível, continue procurando-o nos
diferentes níveis do Mundo Superior até encontrar alguém que diga ser
seu mestre ou sua mestra.
Você também poderá continuar viajando para níveis mais elevados,
procurando um meio de subir mais — preste atenção em alguma coisa
que possa lhe servir como meio de transporte. Como no caso do seu
animal de poder, a conversa inicial com seu mestre vai lhe revelar
como eles se comunicam com você e os dons que obterá.
Quando ouvir a batida de retorno, refaça seus passos de volta ao recinto
em que está viajando, abra os olhos e desligue o CD. Ou então, se
preferir concluir a jornada antes de ouvir a batida de retorno,
simplesmente refaça seus passos de volta ao recinto em que está
deitado ou sentado, abra os olhos e desligue o CD.
Por favor, preste atenção: Os animais de poder e os mestres em forma
humana vivem nos Mundos Inferior e Superior. Depois de completar
suas primeiras jornadas, você poderá inverter o processo, encontrar um
mestre em forma humana no Mundo Inferior ou um animal de poder
no Mundo Superior.
Capítulo 7
JORNADAS DIVINATÓRIAS E DE CURA
Capítulo 8
OUTRAS JORNADAS
Capítulo 9
INTEGRANDO SUA PRÁTICA À COMUNIDADE