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INVESTIGAÇÃO CRIMINAL

Medicina Legal

ÍNDICE

MEDICINA LEGAL

1. Tipos de morte 3
2. Sinais precoces de morte 4
3. Certificado de óbito 4
4. Autópsias 5
5. Identificação do cadáver 7
6. Sinais tardios de morte 8
7. Fenómenos destruidores 13
8. Fenómenos conservadores
15
9. Lesões 16
10. Tipos de lesões 17
11. Contusões 20
12. Ferimentos cortantes-perfurantes-mistos 21
13. Instrumentos mecânicos 22
14. Ferimentos por arma de fogo 23

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Medicina Legal

MEDICINA LEGAL

A Medicina Legal, no seu todo, é uma actividade pluridisciplinar que colabora na


elaboração, codificação e execução das leis. Mas, em particular, a Medicina Legal
Forense ou abreviadamente como Medicina Forense é que em concreto trata das
questões forenses, quer sejam do foro criminal quer do foro civil, sendo considerada
como uma ciência auxiliar da Investigação Criminal.

Não esquecer que em torno da peritagem médica e mais concretamente das suas
conclusões, existem outros peritos relacionados com aspectos administrativos
(segurança social, seguros, pensões diversas, etc.) que se subordinam também à
disciplina médico-legal, no tocante aos processos que lhes dizem respeito.

Num sentido mais restrito, podemos considerar este ramo científico como sendo a
aplicação dos conhecimentos da Medicina na ocasião do procedimento penal.

A Medicina Legal Forense encerra em si as seguintes divisões:

 No estudo de restos mortais, estando o cadáver


TANATOLOGIA inteiro ou em partes do mesmo, visando o
FORENSE esclarecimento das causas da morte, no fundo a
autópsia.

TRAUMATOLOGIA  No estudo das lesões traumáticas resultantes de


FORENSE várias causas: agressões, acidentes, etc.

SEXOLOGIA  No estudo dos crimes sexuais.


FORENSE

TOXICOLOGIA No estudo das questões relacionadas com


FORENSE intoxicações.

 No estudo do estado mental dos indivíduos para


PSIQUIATRIA avaliação do seu grau de imputabilidade.
FORENSE

De referir que o exame feito à vítima centra-se inicialmente na Tanatologia só


intervindo os outros campos da Medicina Forense se a situação o exigir.
TIPOS DE MORTE
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Estatisticamente o fenómeno das causas da morte tem sido tratado ao longo dos
anos e actualmente tem-se como dado adquirido que, em regra, os casos de morte
apresentam-se tipificados da seguinte forma:

NATURAL
(80% dos casos)

ä î Homicídio
MORTE VIOLENTA Suicídio
æ Æ ( 10% dos Acidente
casos )

SUSPEITA
(20% dos casos)

Ä
SÚBITA
( 10% dos
casos )

Considera-se Morte Súbita:

þ A que ocorre num curto espaço de tempo de modo inesperado, em


indivíduo são ou aparentemente são;

þ A que sucede num indivíduo doente, no qual a natureza da doença


ou a sua evolução não faziam prever a morte;

Nestas situações ao médico-legista interessa confirmar a não existência de indícios


presumíveis de morte criminosa, tendo então o consequente procedimento
investigatório de âmbito criminal.

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SINAIS PRECOCES DE MORTE

Na presença de um corpo a confirmação da morte deve ser feita pela pesquisa dos
sinais precoces de morte que representam a cessação das funções vitais e
consequentemente a morte. Saliente-se, que a morte é um fenómeno de difícil
leitura, podendo a vítima estar, em determinadas situações, em morte aparente.

Apesar desta breve abordagem, mesmo não sendo especialistas na área da


Medicina, qualquer agente de autoridade deve saber procurar na vítima os sinais
precoces de morte.

É através da seguinte figura que exemplificamos:

FUNÇÕES VITAIS AUSÊNCIA

NERVOSA Reflexos oculares

RESPIRATÓRIA Movimentos Torácicos

CIRCULATÓRIA Pulso

CERTIFICADO DE ÓBITO

O certificado de óbito é um documento onde ficam registadas as causas da morte


após a observação do cadáver pelo médico competente, desde que não sejam
encontrados motivos para presumir que as causas de morte tenham sido estranhas
à doença.
Considera-se como médico competente para assinar o certificado o médico
assistente, ou seja, o habitual do falecido que o acompanhou na doença ou o
médico que assistiu ao doente nos últimos 7 dias antes da morte.

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Nos casos de morte suspeita é da competência do perito médico a assinatura do


certificado de óbito.
AUTÓPSIAS

A autópsia é um exame médico a um cadáver com o fim de determinar as causas


da morte e classificam-se em:

CLÍNICAS ð Destinadas a estudos clínicos e investigações médicas.

BRANCAS - no caso das mortes súbitas em que não


são encontradas lesões orgânicas que as justifiquem,
presumindo-se como causas naturais.

ì
REGULAMENTARES - nas mortes súbitas de origem
MÉDICO- è aparentemente não criminosa, em que o objectivo é
LEGAIS excluir a possível intervenção criminosa.

î
JUDICIAIS - quando se presume a existência de
acção criminosa, em que o objectivo é identificar a/s
causa/s da morte.

Como se depreende do quadro são as autópsias Médico-legais Judiciais aquelas de


maior interesse para a actividade policial no âmbito criminal, sendo realizadas
Institutos de Medicina Legal.

A autópsia é da competência do/s médico-legista/s e é efectuada em duas fases,


sendo a primeira o exame ao hábito externo e a segunda o exame ao hábito interno,
elaborando no final um relatório.

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Começando pelos dois últimos, já que os componentes do exame ao hábito externo


vão ser depois objecto de estudo mais aprofundado, o exame ao hábito interno
consta da dissecação do cadáver para exame das lesões das cavidades craniana,
torácica e abdominal e vísceras nelas contidas.
Quanto ao relatório é essencialmente constituído por:

© Informação inicial ( nomes dos peritos, data/local da autópsia, notícias );

© Narração detalhada dos elementos observados nos exames dos hábitos


externo e interno;

© Discussão do seu significado;

© Conclusões.

O exame ao hábito externo consta da observação das coberturas ( roupa, outros


vestígios que possam existir ) e do aspecto do próprio corpo, tendo por objectivos:

ª Colher dados que permitam a identificação do cadáver;

ª Registar os sinais tardios de morte com as respectivas características;

ª Proceder ao exame das lesões externas para verificação de vestígios


que indiquem a existência, ou não, de:

Ø Violência externa;

Ø Intenção.

Vejamos agora mais em detalhe cada um dos componentes do exame ao hábito

externo do cadáver.

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IDENTIFICAÇÃO DO CADÁVER

Dos elementos de identificação do cadáver fazem parte:

F FÓRMULA DACTILOSCÓPICA -

recolha das impressões digitais


durante a autópsia em impresso
próprio. Refira-se que em
cadáveres há muito tempo
submersos procede-se ao
enchimento das extremidades
(designadas por "dedeiras") ou
quando inviável, à sua recolha para
tratamento laboratorial.

F FÓRMULA DENTÁRIA - registada em


impresso
próprio,
sendo a sua
análise,
importante
para

determinação da identificação através da


idade, tratamentos, etc., nomeadamente em
casos de desastres em massa, cadáveres
putrefactos, corpos carbonizados, casos de
espostejamento (recuperação da cabeça),
etc.

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F OUTROS ELEMENTOS -

destes salientam-se os sinais congénitos


e as marcas adquiridas (cicatrizes,
patológicas, tatuagens e profissionais).
O estado adiantado de decomposição
obriga a que a identificação se processe
ainda através de outros elementos:
vestuário – adornos ( no caso um anel ),
etc.

Saliente-se ainda no processo de identificação o seguinte:

 Registo do nome e morada do morto, quando conhecidos, e os


nomes das pessoas que encontraram e/ou identificaram o corpo e
de outras testemunhas.

SINAIS TARDIOS DE MORTE

Os sinais tardios de morte são modificações cadavéricas que permitem determinar o


tempo aproximado da hora da morte, tornando-se tanto mais difícil quanto maior for
o afastamento do momento desta.
São considerados como sinais tardios os constantes do seguinte quadro:

TEMPERATURA - ALGOR MORTIS

RIGIDEZ CADAVÉRICA - RIGOR MORTIS

LIVORES CADAVÉRICOS - LIVOR MORTIS


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AUTÓLISE
ä
FENÓMENOS DE DESTRUIÇÃO à PUTREFACÇÃO
æ
INSECTOS E OUTROS

ä ADIPOCERO
FENÓMENOS DE CONSERVAÇÃO
æ MUMIFICAÇÃO

Passemos agora a abordar mais em pormenor cada um destes sinais tardios de


morte.

TEMPERATURA

Tal como todos os outros sinais pode dar uma indicação aproximada da hora da
morte, através da determinação do arrefecimento do cadáver que acontece,
aproximadamente, entre 1 a 8 horas. Contudo, deve ter-se em atenção, que a
temperatura do cadáver pode sofrer variações importantes em função dos seguintes
factores:
Ä Do local da morte - residência, rua...
Ä Das condições ambientais - frio, calor, imersão em água...
Ä Do próprio cadáver - magro, gordo, agasalhado...
A temperatura pode ser obtida através de dois processos:

ø Temperatura rectal - utilizada pelos peritos médicos através de


termómetro especial;
ø Temperatura da pele - através do contacto do dorso da mão com
determinadas partes do cadáver.

É este último processo, o da temperatura da pele, que é o indicado para os agentes


de autoridade. A temperatura é obtida através do contacto do dorso da mão com a
fronte, peito, abdómen e região inguinal do cadáver, sendo os resultados avaliados
da seguinte forma:
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MORTE TEMPERATURA

Há menos de 1 hora è É idêntica à do observador

É moderadamente mais baixa


Há cerca de 4 horas è
(o dorso da mão sente uma
pele um pouco mais fria)

É sensivelmente fria (o dorso


Há cerca de 8 horas è
da mão sente frio)

De notar que estes valores são indicativos para situações em que a vítima está
completamente vestida, dentro de um quarto com uma temperatura confortável.

RIGIDEZ CADAVÉRICA

A rigidez cadavérica é a rigidez progressiva dos músculos voluntários e involuntários


que aparece após a morte.
Este processo forma-se a partir dos músculos da face e pescoço, passando aos do
tórax e braços, abdómen, pernas e pés, por esta ordem, desaparecendo
gradualmente pela mesma ordem, isto é, os músculos que primeiro são afectados,
são os primeiros a perder o rigor.

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Em geral, o processo está completamente estabelecido entre 12 a 18 horas mas,


diversos são os factores que podem alterar a velocidade deste desenvolvimento.
Assim e por exemplo:

Ä Varia com as condições ambientais;


Ä Quando a temperatura é baixa a rigidez aparece mais precocemente e
desaparece mais lentamente;
Ä Faz-se mais rapidamente em pessoas magras e debilitadas;
Ä É de início mais lenta em indivíduos musculosos.

A rigidez cadavérica pode ser desfeita, motivo porque uma distribuição assimétrica
no corpo permite suspeitar que foi movimentado depois de morto.

A rigidez não deve ser confundida com o Espasmo


Cadavérico, em virtude do primeiro ser, como se
disse, um processo e o espasmo ser uma contractura
imediata de músculos em casos de morte violenta
instantânea sob tensão nervosa.
É característica do espasmo o seu aparecimento
imediato e o facto de permanecer até à putrefacção.

Os resultados da rigidez, de acordo com o esquema, são observáveis da seguinte


forma:

MORTE RIGIDEZ CADAVÉRICA

Começa a manifestar-se:

2 a 4 horas ð * Primeiro nas pálpebras e


músculos da face
* Músculos do pescoço,
membros superiores, tronco
e membros inferiores

12 a 18 horas ð Completa

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Persiste por mais 12 a 18 horas

Desaparece gradualmente na mesma ordem

LIVORES CADAVÉRICOS
Com a morte há a paragem circulatória e a consequente acumulação de sangue nas
zonas mais baixas do corpo por acção da gravidade. Nestas zonas, o corpo adquire
uma coloração purpúrea.

A este processo, que se inicia com a morte, mas que só


é visível cerca de 2 horas após, chama-se livores
cadavéricos.
Os livores apresentam as seguintes características:
Ö Antes de se fixarem, o que pode acontecer
nas 6 primeiras horas, desaparecem e
aparecem nas zonas pressionadas pelos
dedos;

Ö Não aparecem nas zonas de compressão do


corpo com um objecto;

Ö Depois de fixos permitem verificar se o


cadáver foi deslocado;

Ö Em certas intoxicações a sua cor


pode denunciar a causa da
morte, por exemplo o monóxido
de carbono produz um tom
vermelho cereja.
Ö Em situações de morte precedida
de grandes perdas de sangue,
os livores podem não manifestar-
se.

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Exemplo: Cadáver em posição de decúbito


ventral. As regiões a claro indicam
possíveis áreas de compressão
provocadas pela pressão do peso do
corpo e da estrutura óssea contra o
solo

Exemplos: A localização dos livores varia


consoante a posição do corpo

Os sinais tardios de morte podem e devem ser utilizados, quando existam, para a
determinação aproximada da hora da morte, bem como para verificar se as
modificações que o cadáver apresenta, serão sinais suspeitos que indiciem crime.

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A título de resumo apresenta-se um quadro exemplificativo dos sinais tardios já


estudados:

HORA DA MORTE ALGOR MORTIS LIVOR MORTIS RIGOR MORTIS


0 Temperatura Normal
Começam a surgir
2 Pontos que vão confluindo
Cabeça
Livores não fixados
4 Pele Morna

Fixação de Livores Pescoço


6

Membros Superiores
8 Pele Fria

Membros Inferiores

12

Mais ou Menos
Completo
18

Persiste por cerca de


24 12 a 18 horas

FENÓMENOS DESTRUIDORES
A decomposição de um cadáver é um fenómeno natural composto por factores
externos e internos ao próprio corpo. São estes factores que vão afectar o ritmo de
decomposição, sendo disto exemplo:
Ä A decomposição é em geral mais rápida entre as
temperaturas de 20ºC a 38ºC e retardada para as
temperaturas abaixo e acima destes valores;

Ä Na água a pele fica enrugada ou macerada e destaca-se


em grandes fragmentos;

Ä Nas águas dos portos de rios com grande tráfego, as


lesões mecânicas produzidas pelos barcos, pontes, etc.,
contribuem para a destruição do corpo;

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Ä Nos campos, valas, etc., as mordeduras


de animais ( ratos, peixes ... ) podem
destruir a maior parte da superfície externa
do corpo;

Ä Uma causa infecciosa de morte ou


obesidade, aceleram o processo de
decomposição.

Os principais fenómenos destruidores são os seguintes:

Consiste na morte das células que, devido às enzimas dos


AUTÓLISE à
próprios tecidos, se tornam incapazes de manter a sua
estrutura.

Consiste na destruição por acção das bactérias


existentes nas vias naturais do corpo, em especial nos
PUTREFACÇÃO à
intestinos, sendo os primeiros indícios uma coloração
esverdeada na região da fossa ilíaca direita.

INSECTOS E à Consiste na destruição pela acção dos insectos, desde a


OUTROS deposição dos ovos até à formação de larvas e pela acção
de outros animais.

Para um cadáver encontrado em "situações normais" a decomposição processa-se


da seguinte forma:
Ü Inicia-se pela aparição de uma marca de
coloração esverdeada na região da fossa ilíaca
direita que se difunde depois sobre a superfície do
corpo;

Ü O corpo incha gradualmente com protusão dos


olhos e língua, distorcendo assim os traços
fisionómicos;
Ü As veias superficiais tornam-se evidentes;

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Ü Depois disto, dá-se também a decomposição


progressiva dos órgãos internos, a ruptura das
cavidades internas e o destacamento das
massas musculares dos ossos.

FENÓMENOS CONSERVADORES
São considerados de excepcionais o aparecimento das circunstâncias de
conservação dos cadáveres, pois, este tipo de situações são raras e pontuais.

Os fenómenos conservadores são os seguintes:

Substância semelhante ao sebo, devido à


transformação do tecido adiposo por acção da
ADIPOCERO à
humidade, atingindo normalmente, apenas partes do
corpo, sendo a face e as nádegas as mais conservadas.

Ocorre quando o corpo é deixado exposto ou inumado


num local quente e seco, verifica-se uma rápida
MUMIFICAÇÃO à
desidratação, o que impede a putrefacção (caso dos
recém-nascidos abandonados).
- fenómeno de mumificação.

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LESÕES

As lesões encontradas no corpo podem ser internas ou externas e têm que ser
explicadas quanto à maneira como foram produzidas, o seu tipo, distribuição pelo
corpo e ainda, o possível mecanismo das causas. Este trabalho é feito pelos peritos
médico-legistas que do exame efectuado concluem pela presunção, ou não, da
intenção de matar.

No exame das lesões externas da vítima devem ser considerados no seu conjunto
os seguintes elementos:

ð Lesões ........................à Forma, extensão, direcção;


ð Localização ................à Com precisão;
ð Número .......................à Multiplicidade por armas;
ð Instrumento ................à Meios: objectos e/ou armas;
ð Circunstâncias ...........à Ex: disparo a curta distância, violência...

Através do exame das lesões determina-se a causa da morte:

Constam dos certificados de óbito,


è CAUSA PRINCIPAL aparecendo codificadas para
TERMOS avaliação das estatísticas.
MÉDICO-LEGAIS
è Os termos médico-legais não são
CAUSAS ACESSÓRIAS sinónimos dos termos jurídicos.

Quando o ferimento produz


CAUSA invariável e constantemente a
NECESSÁRIA morte em quaisquer condições.
Ex: ferimentos que lesam órgãos
ì essenciais às funções vitais.
TERMOS
JURÍDICOS
î Quando o ferimento, só por si,
não é suficiente para produzir a
morte, existindo outras causas
CAUSA concorrentes que contribuem
OCASIONAL para a morte.
ACIDENTAL Ex: ferimento conspurca-se,
produz tétano e morre.

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Como exemplo apresentam-se conclusões, possíveis de serem de uma Autópsia


Judicial a uma mulher encontrada morta:

ð A morte resultou de ferimentos no útero;

ð Os ferimentos foram causa necessária de morte;

ð Não há lugar à causa ocasional visto existir a anterior;

ð Os ferimentos denotam haver sido feitos por instrumento perfurante;

ð Os ferimentos foram feitos com a presumível intenção de interromper a


gestação.

TIPOS DE LESÕES

Na sua actividade quotidiana o homem vai sofrendo lesões que face à sua
gravidade, assim têm, ou não, recuperação, podendo chegar ao ponto de ser
irreversíveis e mesmo mortais.

Enquanto vivo, as lesões de menor gravidade são recuperadas, apresentando, face


ao seu tipo, processos de evolução.

Para a actividade médico-legal e policial, têm interesse, porventura, as lesões


sofridas ainda antes de um possível acto criminoso, mas principalmente aquelas
que foram inerentes ao acto.

Quanto ao seu tipo, vamos considerar as seguintes lesões:

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São lesões provocadas pela


ESCORIAÇÕES Ø
destruição das camadas
superficiais da pele, pela acção
de um instrumento, não indo para
além da epiderme

- Ou "nódoas negras", são lesões


que resultam duma acção
contusa sofrida em vida,
provocando hemorragias
EQUIMOSES Ø
subcutâneas.
- São em geral mais frequentes
nas crianças, nos velhos, mais
nas mulheres e pessoas gordas
que nos homens e magros.
- As equimoses antes da morte tem as bordas menos
nítidas, ao passo que depois da morte têm as bordas de
limite nítidas e bem definidas.

Pode, numa determinada situação de uma queixa crime contra a integridade física,
o investigador ter que, sumariamente, aquilatar da data da produção das lesões. É
que a suposta vítima pode afirmar que o crime ocorreu em determinado dia e a
coloração do ferimento apontar em sentido contrário. Relembra-se que a
determinação e interpretação da lesão é da competência exclusiva do perito
médico-legal. Contudo, para a análise e correlação dos factos, poderá ser
importante para o agente que proceda à investigação, ter capacidade para
interpretar a coloração apresentada pela ferida com a sua antiguidade.

Assim, apresentamos um quadro, transposto de estudos médico-legais e de


aplicação genérica, pois cada pessoa tem características próprias.

ELEMENTOS CROMÁTICOS PARA AVALIAR A ANTIGUIDADE DE UMA EQUIMOSE

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CRONOLOGIA ( DIAS ) TONALIDADE CROMÁTICA

1º Avermelhada

3º Violácea

4º Azul esverdeada

9º Amarelada

Entre o

12º e o 18º  Desaparecimento

- É uma colecção de sangue numa


cavidade neoformada (ex: "olho negro"),
HEMATOMAS Ø
podendo não se manifestar à superfície
da pele ou revelar-se mais tarde em
locais diversos dos traumatizados.

CONTUSOS
ì

São soluções de continuidade


na pele que permitem presumir
FERIMENTOS Ø è CORTANTES
a natureza do instrumento que
os produziu.

PERFURANTES

CONTUSÕES

São ferimentos que consistem na dilaceração dos tecidos, com bordas irregulares,
provocado pelo impacto duma superfície. As contusões são de diversos tipos:
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§ Escoriações cutâneas;

LESÕES EXTERNAS § Feridas contusas;

§ Arrancamento e laceração dos


tecidos.

§ Equimoses e hematomas;

LESÕES INTERNAS § Fracturas ósseas;

§ Luxações de articulações;

§ Rotura de órgãos internos.

As contusões podem surgir em diversas partes do corpo e consoante o local onde


acontecem, provocar lesões irreversíveis que podem causar a morte da vítima,
mesmo não sendo visíveis os seus sinais exteriores.

Vejamos, sumariamente, os locais mais importantes do organismo em que as


contusões podem provocar a morte.

Na Cabeça

INTRA CRANIANAS
* Hematomas
CRÂNEO * Lesões Meningo-Encefálicas
Fracturas - Manifestam-se por
vezes com hemorragias
externas ( canais auditivos, COURO CABELUDO
fossas nasais ... ), podendo ser: * Ferimentos Contusos
* Directas * Escalpe
* Indirectas
* Múltiplas

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FERIMENTOS CORTANTES - PERFURANTES - MISTOS

Este tipo de ferimentos apresentam, quase na sua totalidade, combinações de


ferimentos que, face às suas características, assim podem indiciar homicídio,
suicídio ou ainda acidente.

Destes, salientam-se os Ferimentos de Defesa que podem surgir em mortos por


homicídio e que permitem avaliar qual o grau de resistência que a vítima opôs ao
criminoso. Face à forma de oposição da vítima em relação ao criminoso, assim os
ferimentos são designados por:

Defesa Activa - Indicam que a


vítima ofereceu
resistência ao
homicida,
lutando,
localizando-se
os ferimentos,
sobretudo, nas
pregas digitais e
palma da mão.
Defesa Passiva - Indicam que a
vítima tomou uma posição essencialmente de protecção,
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localizando-se os ferimentos, sobretudo, no dorso da mão e face


externa do antebraço.
Nas situações de suicídio podem
aparecer uns ferimentos característicos,
que são designados por Golpes de
Tentativa e que são pequenos golpes
superficiais (1 a 2 cm) que indicam ter a
vítima experimentado a lâmina do
instrumento antes de se consumar o
acto, e ainda, por vezes, cicatrizes de
tentativas anteriores.

INSTRUMENTOS MECÂNICOS

Quanto aos vestígios deixados pelos instrumentos em materiais não orgânicos, já foi
feita referência em apontamentos anteriores.
Abordemos então a sua tipologia recorrendo ao seguinte quadro:

- São aqueles que actuam por contacto sobre uma


Ø superfície do corpo. Ex: martelo, garrafa, soco, bengala,
CONTUNDENTES
veículo em movimento (atropelamento) ...

- São aqueles que começam a actuar sobre uma linha do


CORTANTES Ø corpo.
Ex: lâminas de barba, facas, navalhas ...

- São aqueles que actuam em profundidade no corpo.


PERFURANTES Ø Ex: agulhas, estiletes ...

CORTO-CONTUNDUNTES
Ø Ex: Machados, sabres, catanas, sachos ...
reúnem em
CORTO-PERFURANTES simultâneo as
MISTOS Ø Ex: Punhais, faca de cozinha, canivetes … característic
as dos dois
PERFURO-CONTUNDENTES instrumentos
Ø Ex: Ponteira de guarda-chuva, dentes de
ancinho ...

- São aqueles que actuam por esfacelamento ou


DILACERANTES Ø esfarelamento dos tecidos.
Ex: Verrumas, tenazes, rodas dentadas ...

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FERIMENTOS POR ARMAS DE FOGO

Um ferimento provocado por projéctil disparado


por arma de fogo, apresenta em regra, três
elementos que o identificam:

Ü Orifício de Entrada

As características do orifício de entrada são variáveis, pois, dependem:

ª Do local do corpo perfurado;

ª Da distância do disparo;

ª Do tipo de arma e munição;

ª De eventuais ricochetes;

ª Da direcção (apresentando formas circulares ou ovais, consoante o


ângulo de incidência com o alvo).

O orifício de entrada pode apresentar:

- Orla de chamuscamento - devido à acção do cone de chama da arma;

- Orla de limpeza - devido às impurezas inerentes ao disparo (cano sujo,


óleos...) que ficam retidas no ferimento;

- Orla de contusão - é devida ao impacto do projéctil e visível cerca de 6


horas após a morte;

- Tatuagem - é originada pela pólvora não queimada, negro fumo e pela


chama, ficando gravada na pele;

- Hemorragias - em regra, apresenta pequenas hemorragias.


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Ü Trajecto ou Canal de Penetração

O trajecto seguido por um projéctil pode ser único ou múltiplo. Neste último
caso, devido à fragmentação do projéctil ou ao ricochete nos ossos.
Recorde-se que, os trajectos múltiplos são também típicos no tiro de
caçadeira.

Ü Orifícios de Saída

O orifício de saída pode não existir, em virtude do projéctil ter ficado retido
dentro do corpo numa estrutura dura que se opôs ao seu avanço, ou ainda,
por perda de velocidade e poder de penetração.
Quando existe, distingue-se do orifício de entrada pelas seguintes
características:

Ö Maiores dimensões (regra geral);


Ö Contornos irregulares (normalmente);
Ö Hemorragias maiores;
Ö Saída de esquírolas ósseas, tecido adiposo;
Ö Inexistência de orlas.

DISTÂNCIA DOS DISPAROS

A precisão da distância a que foi feito um determinado disparo com arma de fogo é
de difícil determinação. No caso das caçadeiras, ainda que por comparação dos
alvos, é possível por aproximação lá chegar, sendo, de qualquer forma uma
distância média aquela a que os peritos determinam.

No caso concreto da Medicina Legal, o conceito de distância do disparo, depende


da interpretação das do orifício de entrada do ferimento.

Neste nosso estudo vamos considerar os disparos como:

ä De contacto
ä À queima roupa
Disparos à A curta distância
æ A longa distância
æ De caçadeira

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Disparo "de contacto"

É aquele que acontece com a boca do cano da arma


encostada ao alvo (0 cm).

O aspecto e os sinais característicos do ferimento


de entrada são:

w Eventual Estampagem da boca do cano da arma na pele,


sobretudo com armas automáticas e semi-automáticas;
w Orifício estrelado de contornos irregulares e
lacerados, em regra maior que o de saída;
w Negro de fumo nas bordas do orifício;
w Queimadura ou chamuscamento das bordas da ferida,
cabelo, pelos...
w Em "cavidade fechada", aos efeitos destrutivos do
projéctil juntam-se os produzidos pela expansão dos
gases provenientes do disparo.

Disparo "à queima roupa"

É aquele que acontece com a boca da arma até 1 cm do alvo.

Os sinais característicos do ferimento de entrada são:

w Orifício de bordos regulares;

w Orla de chamuscamento devido


ao cone de fogo da arma;

w Orla de negro fumo.

Disparo "a curta distância"

POLÍCIA DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE Pá gina 26


INVESTIGAÇÃO CRIMINAL
Medicina Legal

É aquele que acontece quando a boca do cano da arma se encontra a uma


distância de 1 a 75 cm do alvo.

Os sinais característicos do ferimento de entrada apresentam:

w Orifício circular ou oval (consoante o ângulo de incidência do disparo da


arma com o alvo) de bordas regulares;

w Orla de limpeza , que nem sempre aparece ( pode o cano da arma estar
limpo e/ou a interposição do vestuário filtrar as sujidades );

w Orla de contusão que se torna visível cerca de 6 horas após a morte;

w Tatuagem que é típica destes ferimentos, sendo formada por negro de


fumo ( lavável em disparos até 45 cm) e grãos de pólvora não queimada .

O aspecto do ferimento de entrada é o seguinte:

ORIFÍCIO CIRCULAR
TIRO PERPENDICULAR
ORLA DE LIMPEZA

ORLA DE CONTUSÃO

TATUAGEM

TIRO OBLÍQUO
ORLA DE CONTUSÃO

DIRECÇÃO DO DISPARO

ORLA DE LIMPEZA

ORIFÍCIO OVAL

Disparo a "longa distância"

É aquele que acontece a mais de 75 cm, distância


considerada entre a boca do cano da arma e o alvo.
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INVESTIGAÇÃO CRIMINAL
Medicina Legal

O ferimento de entrada apresenta os seguintes sinais característicos:


w Orifício circular ou oval de bordas regulares;

w Orla de contusão semelhante aos disparos a curta distância, só que sem


tatuagem.

O aspecto deste ferimento é o seguinte :

TIRO ORIFÍCIO CIRCULAR


PERPENDICULAR
ORLA DE CONTUSÃO

ORIFÍCIO OVAL

TIRO OBLÍQUO DIRECÇÃO DO DISPARO

ORLA DE CONTUSÃO

Disparo "de caçadeira"

O aspecto característico do ferimento de entrada varia em função da distância do


disparo, do tipo de projéctil usado e do comprimento do cano. Assim:

w Em tiro muito próximo do corpo, o chumbo entra


como marca única originando um orifício de
entrada grande, com queimaduras, lacerações e
escurecimento da pele;
w As "buchas" do cartucho, no caso de não se terem
desfeito, podem actuar como projéctil e serem
encontradas no interior do ferimento, incrustadas
na pele perto do ferimento de entrada, ou como
corpo em ignição e provocar queimaduras. Podem
ainda estar mais ou menos perto da vítima, quando não a atinjam;

w Em tiros mais distantes, os ferimentos de


entrada apresentam trajectos múltiplos
devido à dispersão do chumbo.

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INVESTIGAÇÃO CRIMINAL
Medicina Legal

w Armas com canos mais curtos provocam uma maior dispersão.

Refira-se, que os ferimentos por armas de fogo podem ser confundidos com
aqueles que são produzidos por instrumentos mecânicos, sendo de extrema
importância para a Investigação Criminal a definição de qual o meio que foi utilizado
na produção destes. De entre os instrumentos que podem dar origem a ferimentos
semelhantes aos produzidos por projécteis de armas de fogo salientam-se :

Ä Os instrumentos perfurantes;

Ä Os instrumentos perfuro - contundentes (Ex: picadores de gelo ... )

Em determinadas situações os ferimentos provocados por estes instrumentos,

podem apresentar também "Orla de contusão” (devido à força do impacto do

instrumento com o corpo).

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