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MEDICINA LEGAL

1º semestre de 2017- CEUNSP-Cruzeiro do Sul- Campus Salto


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PERITO- PERICIAPROCESSUAIS PENAIS- LAUDO PERICIAL

PERITO- é o indivíduo que possui conhecimentos técnicos e especializados em, determinada ciência ou
atividade e em razão de\sse conhecimento é chamado a intervir num processo.

Em sentido amplo, podemos dizer que É TÉCNICO que pode ser um profissional da área médica ou outro ramo
não ligado a medicina, tais como, químicos, biólogos, engenheiros, arquitetos, contadores.

O PERITO MÉDICO é aquele que cuida dos assuntos diretamente ligados à ciência médica como necrospsias
(exames cadavéricos ), TAMBÉM CHAMADO DE MÉDICO LEGISTA.

O perito PODE SER : OFICIAL, NOMEADO, E ASSISTENTE TÉCNICO

OFICIAL é o concursado e de carreira. Em São Paulo, os peritos criminais são considerados policiais
pertencentes ao quadro de funcionários da polícia técnico científica,que se compõe do IC – INSTITUTO DE
CRIMINALISTICA E IML- INSTITUTO MÉDICO LEGAL.

PERITO NOMEADO- AD HOC- é aquele nomeado para o ato. Exemplo se a perícia depende de
profissional altamente especializado em determinada ciência ou quando no local dos fatos não existem peritos
oficiais.

ASSISTENTE TECNICO- é uma pessoa de confiança da parte, que tenha conhecimento técnico da perícia a ser
realizada. É indicado pela parte para acompanhar a perícia a ser realizada pelo perito oficial e formular quesitos.

O assistente técnico até o advento da lei 11.690/08, passou também a ser admitido no processo penal, antes
atuava apenas nas perícias cíveis e trabalhistas

NO PROCESSO PENAL: os peritos são designados para realização pelo Superintendente da Polícia
Técnico Científica ou Diretores do IC ou IML.

NO PROCESSO CIVIL: os peritos são nomeados pelo próprio juiz.

NO PROCESSO DO TRABALHO: os peritos são nomeados pelo juiz para o ato.

ESPÉCIES DE PERICIAS PROCESSUAIS PENAIS

NO PROCESSO PENAL, ENCONTRAMOS AS SEGUINTES PERÍCIAS:


1- Exame de Corpo de Delito

2- Exame Necroscópico ou autopsia ou necropsia

3- Exumação para exame cadavérico

4- Exame perinecroscópico

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5- Exame do local do crime

6- Exame grafoténico ou documentoscópico

7- Exame sobre instrumentos do crime

8- Exame residuográfcio

9- Recognição visuográfica do local do crime

10- Reconstituição do crime

1- EXAME DE CORPO DE DELITO -  previsão artigo 6º, VII do CPP, artigo 158, 161,167,168 –

Corpo de delito- é qualquer ente material relacionado a um crime e no qual é possível efetuar um exame
pericial. Exemplificando, em um local em que ocorreu um atropelamento, o corpo de delito será, naturalmente, o
cadáver da vítima.

Exame de corpo de delito direto: é a pericia realizada diretamente sobre a pessoa, coisa ou local.

Exame de corpo de delito indireto: é a perícia realizada por meio de testemunhas (artigo 167 CPP), laudo
médico e outros documentos face a impossibilidade da realização sobre o corpo de delito.

EX: Alguns Quesitos oficiais no exame de corpo de delito – estupro com conjunção carnal:
1- A paciente é virgem?
2- Há vestígio de violência , e se + qual o meio empregador?
3- Da violência resultou para a vítima incapacidade para as ocupações habituais por mais de
30 dias, ou perigo de vida?
4- A vitima é alienada ou debil mental?

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O laudo do Instituto Médico Legal (IML) confirma que o prefeito de Santa Inês, Ribamar Alves (PSB), manteve relações sexual com
a estudante de 18 anos. Ele foi preso em flagrante por estupro e permanece no Centro de Detenção Provisória (CDP) do
Complexo Penitenciário de Pedrinhas, em São Luís.

O resultado do exame revela que a relação sexual não teve vestígios de violência e apontou ainda a existência de uma “ferida
contusa com sangramento discreto na comissura posterior dos lábios”. Foi encontrado ainda “secreção espessa esbranquiçada no
introito vaginal”.

O exame não apontou lesões corporais externas e constatou que a genitália externa está compatível com o desenvolvimento
normal, além de rupturas himenais antigas. Laudo foi atestado pela médica legista Márcia Sandra de Castro Moraes.

“Quando ele foi deixá-la em casa, a conduziu a um motel, sem sua anuência. No motel, pediu que ele não tirasse sua roupa, mas
ele não atendeu e que não ofereceu mais resistência porque ficou com medo do que pudesse acontecer. Informa que ele a forçou a
praticar sexo vaginal sem proteção e que sua última relação sexual havia sido aos 14 anos de idade”, relatou a estudante.

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2- EXAME NECROSCÓPICO - artigo 162 e 165 CPP

Consiste no exame externo e interno, com a abertura do corpo, tanto da cabeça, cranio, quanto do tórax da
pessoa morta, por um perito médico legista.

Perito médico legista

DIFERENÇA ENTRE NECROPSIA E AUTOPSIA:


“PSIA”= REPRESENTA ANÁLISE.
AUTOPSIA “AUTO” – AUTOANALISE = ANALISE DE SÍ PRÓPRIO
NECROPSIA- NECRO VEM DE MORTO- = ANALISE DO MORTO

A perícia que envolve o exame cadavérico (NECROPSIA) somente pode ser efetuada após 6 (seis) horas
depois do óbito. Salvo se os peritos, pela evidencia dos sinais de morte, julgarem que possa ser feita antes
daquele prazo, o que deve ser declarado e constado do laudo.

Havendo casos de morte aparente, como nas hipóteses de catalepsia ou estados letárgicos provenientes de
síncope (desmaio, perda da consciência), de ingestão de tóxicos, da histeria (anestesias, paralisias histéricas)
e de outras causas, procura se evitar que o exame interno seja procedido, pelo fato da vítima poder estar viva.

Nos casos de morte violenta, perícia se presume pelo simples exame externo do cadáver, e também
dispensa a observância das 06 horas.

Também por vezes é necessário o exame interno para se apurarem circunstâncias como o número de
disparos efetuados; a trajetória dos projéteis etc.

EM SÃO PAULO- EXISTEM DOIS ORGÃOS QUE REALIZAM EXAMES CADAVÉRICOS: O IML- E O SVO
(SISTEMA DE VERIFICAÇÃO DE ÓBITO)

O IML é um órgão estadual= encarrega-se de exames cadavéricos realizados sobre morte violentas e
criminosas.

E o SVO , é municipal, e analisa as mortes naturais e a esclarecer, mas sem sinais evidentes de violência.
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O que é catalepsia?
(Ricardo Santoro Nogueira, Brasília, DF)
É um distúrbio que impede o doente de se movimentar, apesar de continuarem funcionando os sentidos e as
funções vitais (só um pouco desaceleradas). A pessoa fica parecendo uma estátua de cera. Se ela estiver sentada e alguém
posicionar seu braço para cima, ela permanecerá assim enquanto durar o surto, afirma o neurocientista Ivan Izquierdo, da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O ataque cataléptico pode durar de minutos a alguns dias e o que
mais aflige quem sofre da doença é ver e ouvir tudo o que acontece em volta, sem poder reagir fisicamente. As causas,
porém, ainda são um mistério, apesar de não faltarem hipóteses e especulações. A origem do problema pode ser tanto
externa como um traumatismo craniano , quanto congênita má formação em alguma região cerebral, diz o neurologista
Vanderlei Cerqueira Lima, do Hospital Albert Einstein, em São Paulo.
Já o psiquiatra Marcio Versiani, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), afirma que se trata de uma
manifestação de esquizofrenia ou histeria, no segundo caso geralmente ligada a choques emocionais. Além disso, ocorre
em pacientes com distúrbios do sono e pode, ainda, ser um tipo de manifestação de epilepsia, em que a pessoa fica imóvel
em vez de ter convulsões. Todo mundo já ouviu lendas tenebrosas sobre pessoas que teriam sido dadas como mortas e
enterradas vivas durante um surto de catalepsia, mas isso é altamente improvável. Se, de fato, ocorreu algo parecido, só
pode ter sido em um passado muito remoto. Hoje em dia existem exames e equipamentos que confirmam o óbito sem
margem de dúvida, diz Vanderlei.
 
 
3- EXUMAÇÃO PARA EXAME CADAVÉRICO: PREVISTO NO ARTIGO 163 cpp

INUMAR= ENTERRAR

EXUMAR = DESENTERRAR O CORPO

A exumação, ato de desenterrar cadáveres, acontece nos casos em que as autoridades policiais ou de
Justiça levantam novos fatos no decorrer de investigações de cunho criminal e que podem ajudar na
elucidação de um crime. O profissional responsável por executar este tipo de perícia é o perito médico
legista, em um trabalho conjunto com peritos de odontologia e antropologia legal e auxiliares técnicos de
perícia.

Para a exumação, a autoridade deve providenciar para que, em dia e hora previamente marcados, se
realize a diligência, da qual se deve lavrar auto circunstanciado (art. 163).

Havendo dúvida sobre a identidade do cadáver exumado, deve proceder se ao reconhecimento (melhor
seria dizer identificação) pelo Instituto de Identificação e Estatística ou repartição congênere. Os peritos
deverão lançar mão dos elementos que dispuserem: impressões digitais, palmares ou plantares,
fotografias, radiografias, fichas dentárias, retratos falados etc. Pode ser feito o reconhecimento, também,
pela inquirição de testemunhas, parentes ou pessoas que conheciam o de cujus. Em ambos os casos deve
lavrar se o auto de reconhecimento e de identidade, no qual se descreve o cadáver, com todos os sinais e
indicações. É o que se determina no artigo 166, que, no parágrafo único do CPP.

 
QUESITOS OFICIAIS PARA EXAME CADAVÉRICO

1- SE HOUVE MORTE;
2- QUAL A CAUSA DA MORTE?
3- FOI PRODUZIDA POR MEIO DE VENENO, FOGO, EXPLOSIVVO, ASFIXIA OU TORTURA, OU
POR OUTRO MEIO INSIDIOSO (CONDUTA TRAIÇOEIRA) E CRUEL

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4- EXAME PERINECROSCÓPICO- Encontra-se previsto nos artigos 164 e 169 CPP. Exame realizado por
peritos criminais no local de crime em volta do cadáver. Limita-se ao exame externo.

Peri= periferia

Os peritos criminais têm atribuição para exame do local e instrumentos do crime, devendo efetuar o
exame perinecroscópico para orientação de seus trabalhos, fotografando o corpo na posição em que for
encontrado, bem como todas as lesões externas e vestígios deixados no local do crime, em obediência ao art.
164 do Código de Processo Penal. 

Peritos criminais

Ainda na cena do crime, o perito faz um exame perinecroscópico: análise externa do cadáver e do que está ao
seu redor. O local e a posição em que o corpo está e o tipo de lesões visíveis fornecem indícios a ser
complementados pela autópsia. Habitualmente, isto é feito quando do exame do local do crime.

Para isso, a autoridade providenciará imediatamente para que não se altere o estado das coisas no local onde
houver sido praticada a infração até a chegada dos peritos, que podem instruir seus laudos,
necroscópicos ou quaisquer outros, não só com fotografias, mas desenhos ou esquemas elucidativos.
É o que dispõe o artigo 169. Também para representar as lesões encontradas no cadáver, os peritos, quando
possível, devem juntar ao laudo do exame provas fotográficas, esquemas ou desenhos, devidamente
rubricados (art. 165).

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5-EXAME DO LOCAL DO CRIME -Art.171 a 173 do CPP. Consiste numa perícia genérica destinada a analise
do local, sempre que nele ocorrer um ilícito penal que tenha deixado vestígios de interesse para a
investigação policial.

Entende-se por “crime” toda a ação ou omissão ilícita, culpável e tipificada na norma penal como tal. A
existência de um crime pressupõe três elementos: a vítima, o criminoso e o local em que se desenrolaram os
acontecimentos. É o que ele denominou de triângulo do crime.

Local de crime: é a região do espaço em que ocorreu um evento delituoso. É “toda área onde tenha ocorrido
qualquer fato que reclame as providências da polícia”.

O Exame do local do crime é realizado para crimes como incêndio (busca identificar a causa e a origem do
incêndio para saber se foi acidental ou criminoso), furto qualificado pelo arrombamento ou pela escalada
(deve descrever o percurso realizado pelo criminoso ou o dano provocado no obstáculo à coisa furtada).

É REALIZADO O EXAME DO LOCAL DO CRIME PARA TODOS OS CRIMES QUE DEIXAM VESTÍGIOS
SEM QUE EXISTA CADÁVER.
SE HOUVER CADÁVER HÁ A NECESSIDADE DO EXAME PERINECROSCÓPICO NO LOCAL DO CRIME.

Art. 171 – Nos crimes cometidos com destruição ou rompimento de obstáculo a subtração da
coisa, ou por meio de escalada, os peritos, além de descrever os vestígios, indicarão com que
instrumentos, por que meios e em que época presumem ter sido o fato praticado.
Art. 172 – Proceder-se-á, quando necessário, à avaliação de coisas destruídas, deterioradas ou
que constituam produto do crime.
Parágrafo único – Se impossível a avaliação direta, os peritos procederão à avaliação por meio
dos elementos existentes nos autos e dos que resultarem de diligências.
Art. 173 – No caso de incêndio, os peritos verificarão a causa e o lugar em que houver começado,
o perigo que dele tiver resultado para a vida ou para o patrimônio alheio, a extensão do dano e o
seu valor e as demais circunstâncias que interessarem à elucidação do fato.

6-EXAME GRAFOTÉCNICO OU DOCUMENTOSCÓPICO- art.174 CPP

É o exame realizado sobre documento sobre o qual recaiam suspeitas de crime de falsidade ou para apurar
autoria de eventual fraude patrimonial (estelionato)

O exame é realizado: comparação de letras ou com outros documentos autênticos.

A policia judiciária colhe o material e a polícia científica analise e faz a pericia.

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7- EXAME SOBRE OS INSTRUMENTOS DO CRIME- Artigos 6º do CPP, 172 e 175 do CPP.

É realizado sobre todo e qualquer e qualquer INSTRUMENTO APREENDIDO QUE POSSA TER
ENVOLVIMENTO COM O CRIME. Pode ser para atestar a funcionabilidade do instrumento ou colher
vestígios.

8- EXAME RESIDUOGRÁFICO- Não existe previsão na lei processual.

O exame residuográfico destina-se a revelar, dentre outras substâncias, a presença de micro partículas
de chumbo nas mãos das pessoas que fizeram uso de arma de ou são suspeitas de tê-lo feito.

É muito utilizado em confrontos entre policiais e criminosos a fim de evidenciar uma legitima defesa.

9- RECOGNIÇÃO VISUOGRAFICA DO LOCAL DO CRIME

O delegado de polícia anota as informações de relevância para a investigação em documento próprio


(denominado recognição visuográfica do local do crime) descreve dados como temperatura, localização,
ferimentos e outros dados considerados relevantes para o deslinde do crime.

Não é considerada prova pericial, assemelha-se a um exame perinecroscópico (local em volta do


cadáver), mas não é formalizada em laudo pericial, e pode ser feitos em crimes diversos dos contra a vida.

Pergunta: HAVENDO EXAME DO LOCAL DO CRIME OU EXAME PERINECROSCÓPICO (LOCAL EM


VOLTA DO CADÁVER FEITO PELOS PERITOS), QUAL A FINALIDE DA RECOGNIÇÃO VISUOGRÁFICA
DO LOCAL DO CRIME ( FEITA PELO DELEGADO)?
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Nem sempre a impressão obtida por um perito criminal é a mesma que a autoridade policial. O ideal seria que
peritos e delegados trabalhassem juntos e formalizassem um único documentos, pois o perito visa provar a
materialidade do crime ou de alguma circunstância deste, enquanto, o delegado busca no exame do local
pistas e evidências que apontem a autoria e a dinâmica do crime.

10- RECONSTITUIÇÃO DO CRIME- ARTIGO 7º cpp

É um aprova pericial mais utilizada em crimes contra a vida e de grande repercussão.

É a reprodução simulada dos fatos, desde que não se contrarie a moralidade e os bons costumes.

É uma simulação teatral das própria versão das partes (vítima, testemunhas e acusados). É uma prova que
auxilia nas investigações.

LAUDO PERICIAL

O laudo pericial é uma variedade de prova, cuja produção carece de fundamentos técnicos e científicos, e que
tem por finalidade determinar uma garantia a respeito da dinâmica, autoria e materialidade de certos fatos e de
seus efeitos. Este documento é confeccionado por peritos, limitando-se a abranger o campo técnico e com
alegações objetivas, sem haver qualquer opinião ou caráter subjetivo.

O Perito deve ter a cautela de redigir o laudo da forma mais objetiva possível, pois o juiz declara os efeitos
jurídicos dessas circunstâncias descritas pelo perito e das conclusões destas tendo como base este documento.

O Perito analisa fatos e origina um julgamento alicerçado em seu livre convencimento, levando em conta, porém
a indispensabilidade de se apoiar em argumentação técnica e científica e o princípio da racionalidade.

O propósito do documento pericial é afugentar as imprecisões e incertezas sobre estabelecidos fatos e sobre as
suas implicações práticas. O Perito não manifesta um julgamento ou parecer jurídico, entretanto, sua atuação
deve considerar os efeitos jurídicos que a prova pericial fornecerá.

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O laudo pericial é algo fundamental no processo, e será verificado e interpretado pelo juiz como instrumento de
convencimento. A compreensão do laudo é imprescindível, sua redação deve ser transparente e esclarecedora, é
importante que todos possam traduzi-lo sem dificuldades. Deve atender aos quesitos formulados pelas partes e
concluir enfatizando considerações importantes. Em anexo devem ser lançados os dados utilizados, os
documentos consultados, fotografias e outros elementos de interesse não relacionados no corpo do Laudo.

 "Art. 436. O juiz não está adstrito ao laudo pericial, podendo formar a sua convicção com outros
elementos ou fatos provados nos autos".

Caso o juiz estivesse adstrito ao laudo, o perito se colocaria, naquele laudo pericial na posição de juiz, sendo na
verdade que está subordinado a este e não possui poder de penalizar. No entanto, ainda que o juiz não esteja
adstrito ao laudo, o mesmo deve declarar o motivo de não acatar a conclusão pericial.

EXEMPLO – Laudo Pericial (Morte por Arma de Fogo)


PROTOCOLO no: 0000/0000.
REQUISIÇÃO no: 0000/0000.
CONTROLE S.L.L. no . 0000/0000
OBJETO: Exame Pericial em local de morte.
LOCAL: Beco X, em frente ao no 0000 - Porto Alegre/RS.
SOLICITAÇÃO: 0a DP, às 6h10min de 00/00/0000.
ATENDIMENTO: Às 6h55min de 00/00/0000.
VÍTIMA: Homem, negro, desconhecido.
OCORRÊNCIA no: 0000/0000.
CIOSP no: . 0000000
PAPILOSCOPISTA: XXXXXXXXXXXXXXX.
FOTÓGRAFO: XXXXXXXXXXXX.
FOTOS no 0000/0000.

ILMO. SR. DELEGADO DE POLÍCIA,


M.D. TITULAR DA XXXXXXXXXX DP DE PORTO ALEGRE.
Senhor Delegado:
Aos xxxx dias do mês de xxxxx do ano de xxxxxx, o Diretor do Departamento de Criminalística, XXXXXXXXXXXXXXX,
atendendo à solicitação dessa Delegacia de Polícia, formulada por intermédio da comunicação no 0000000 do Centro
Integrado de Operações de Segurança Pública (CIOSP), recebida às 6h10min daquele mesmo dia, referente à ocorrência no
0000/0000, incumbiu ao Perito Criminalístico Décio de Moura Mallmith de realizar exames técnico-periciais no local de
ocorrência de morte que se desenrolou no endereço constante na epígrafe, resultando no Laudo Pericial a seguir relatado.
Para análise do conteúdo deste trabalho e seu contexto com os correspondentes anexos, foi designada a Perita
Criminalística Andréa Brochier Machado.

I - CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Ao chegarmos no endereço constante no quadro vestibular, às 6h55min daquela mesma manhã, aguardavam-nos policiais
militares pertencentes ao 0o BPM da Brigada Militar, coordenados pelo Soldado PM XXXXXXX, responsáveis pela
guarnição, isolamento e preservação do sítio da ocorrência. Presentes, também, policiais civis lotados na 0a DP, que
constituíam a equipe volante da Polícia Civil para aquela região da cidade, entre os quais o Inspetor de Polícia XXXXXX,
além do Delegado de Polícia XXXXX, da Delegacia de XXXXXX, e do Delegado de Polícia XXXXXXX,
representando o CIOSP, os quais implementavam as diligências de praxe. As primeiras informações davam conta de que
um homem, até então desconhecido, havia sido encontrado morto naquele local, tratando-se possivelmente de um homicídio
por tiros de arma de fogo.

II - DADOS DO LOCAL

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Tratava-se do leito carroçável do Beco XX, na Vila XXXXX, em Porto Alegre/RS (fotos 1 a 4). O sítio da ocorrência situava-se
em vila popular de alta densidade demográfica, de fácil acesso e de mediana dificuldade de localização. Nossos interesses
criminalísticos voltavam-se,especialmente, para a parte da via em frente ao no 000, local em que se encontrava o cadáver
(fotos 1 e 2).

III - DADOS DA VÍTIMA


Em decúbito ventral, sobre chão batido que compunham o leito do beco, jazia um cadáver humano, do sexo masculino, de
tez negra e de boa compleição. Trazia as pernas estendidas e levemente entreabertas, enquanto o braço direito flexionava-
se às costas e o esquerdo flexionava-se sob o abdômen (fotos 3 e 4). Seus cabelos eram pretos, curtos e encarapinhados.
Vestia cueca preta, camiseta laranja, sob uma jaqueta de nylon preta e estava descalço (fotos 2 a 4). Não portava consigo
documentos ou qualquer outro objeto capaz de o identificar e, tampouco, foi reconhecido pelos policiais que nos
acompanhavam e nem pelos moradores do entorno do local do fato. Tratava-se de um desconhecido aparentando cerca de
35 anos de idade (foto 7).

IV - VESTÍGIOS DA OCORRÊNCIA
IV.1 - Na vítima
Verificamos, preliminarmente, que o corpo da vítima encontrava-se em estado adiantado de rigidez cadavérica, não sendo
mais possível avaliar a temperatura corporal ao simples toque. Aduzimos, por isto, tratar-se de óbito ocorrido há
aproximadamente 6 horas, conforme apregoam os compêndios de Medicina Legal.
Prosseguindo, à luz do exame perinecroscópico, constatamos os seguintes ferimentos pérfuro-contusos:

a) Um produzido pela passagem de projetil oriundo de tiro de arma de fogo, na região maxilar inferior esquerda (foto 8, seta);
b) Um resultante da passagem de projetil emanado de cano de arma de fogo na porção esquerda da região nasal (foto 10,
seta);
c) Um resultante da entrada de projetil emanado de cano de arma de fogo no lado esquerdo da região bucal (foto 11);
d) Um resultante da passagem de projetil emanado de cano de arma de fogo na região escapular direita (fotos 12 e 13, setas);
e) Um resultante da penetração de projetil oriundo de cano de arma de
fogo na região raquidiana lombar (fotos 12 e 14, setas) e;
f) Um resultante da passagem de projetil emanado de cano de arma de fogo na região hipocondríaca direita (fotos 15 e 16,
setas).
Na região temporal direita, próximo à orelha, notava-se uma protuberância cuja consistência e formato assemelhavam-se a
de um projetil ejetado de cano de arma de fogo e que teria ali, no subcutâneo, se alojado (foto 9, seta). Dos ferimentos
pérfuro-contusos descritos fluíra grande quantidade de sangue, o qual manchava a face e o corpo da vítima, especialmente
nas regiões contíguas aos aludidos ferimentos, bem como embebia deste mesmo tecido orgânico a camiseta e a jaqueta
que vestia (fotos a 13, 15 e 16).
IV.2 - No local
Examinando o local, notamos uma extensa mancha de sangue no leito do beco, a qual se iniciava sob o cadáver e fluía
acompanhando o declive natural do terreno (fotos 1 a 5). Junto aos pés do cadáver observamos um par de meias brancas
(fotos 1, 3, 4 e 6), as quais por certo usava antes de ser perpetrado o crime.
Constatamos no chão do beco, a cerca de 0,7m dos pés da vítima e no sentido de crescimento dos numerais da via, um
fragmento de liga endurecida de chumbo, componente de projétil próprio para o uso em arma de fogo (fotos 6 e 20, setas).
Encontramos, ainda, outro projetil de liga endurecida de chumbo, de formato cilindro ogival, componente de munição de
calibre .38 SPL ou assemelhado, utilizado em revólver do mesmo calibre (fotos 17 e 18, setas). Este projetil localizava-se no
chão do beco a, aproximadamente, 5,5 m dos pés do cadáver, medindo-se do modo já referenciado. Tanto o projetil, como o
fragmento de projetil descritos, depois de acurada análise e de serem perpetuados fotograficamente (foto 25),
foram entregues aos policiais civis que nos acompanhavam. A cerca de 1,5m à direita da cabeça da vítima, notava-se no
chão batido do beco uma marca semelhante às produzidas pelo tangenciamento de projetil oriundo de tiro de arma de fogo
(fotos 5 e 19, setas). Idêntica marca observamos, também no chão do beco, a aproximadamente 12m dos pés do cadáver,
medindo-se no sentido de crescimento dos números da via (fotos 21, 22 e 24, setas). No muro localizado a cerca de 2,5m
desta última marca, percebemos um orifício cujas características eram similares aos produzidos pela penetração de projetil
originário de tiro de arma de fogo (fotos 21 a 23, setas). Como a marca no solo direcionava-se para este orifício, é razoável
supor que ambas foram produzidas por um mesmo projetil disparado por cano de arma de fogo.
Todavia, não logramos êxito em encontrar este suposto projetil, apesar de não pouparmos esforços na sua busca.

V – CONCLUSÃO

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Por tudo o que vimos e estudamos da ocorrência e alicerçados nos ferimentos existentes na vítima, assim como nos
vestígios materiais encontrados no local, induzimos tratar-se de um homicídio perpetrado por tiros de arma(s) de fogo. O
desfecho fatal ocorreu, com boa margem de certeza, no entorno do local, senão no próprio local, em que a vítima jazia. Há
que se salientar que, possivelmente, a vítima fora perseguida até aquele local pelo(s) seu(s) algoz(es), fato que justificaria as
marcas de tangenciamento de projetis que encontramos no chão do beco. Também, é razoável supor que tanto a calça
quanto os calçados da vítima tenham sido furtados imediatamente após o crime, restando no sítio da ocorrência apenas as
meias brancas, conforme descrito no corpo deste trabalho. Assim, geraram-se os vestígios materiais que descrevemos,
analisamos e consignamos neste Laudo Pericial.

VI - CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não foi necessária a intervenção técnica do Papiloscopista XXXXXXXXXX, o qual, entretanto, nos auxiliou durante toda a
execução da perícia.
Nada mais havendo, digno de registro, sendo-nos dado a observar na ocasião, deixamos o local, e tudo que nele havia,
inclusive o projetil e o fragmento de projetil encontrados, aos cuidados dos policiais mencionados, solicitando-lhes que
aguardassem o recolhimento do cadáver ao Departamento Médico Legal, a fim de que restasse competentemente definida
a causa do êxito letal e demais fenômenos relacionados com o mesmo e ora, talvez, aqui não descritos.
Este Laudo Pericial foi elaborado em quatro (04) folhas impressas somente no anverso, a última assinada e as demais
rubricadas pelos signatários, e contém vinte e cinco (25) fotografias, também rubricadas pelos signatários, elaboradas pelo
Fotógrafo Criminalístico XXXXXXXXXX e registradas neste Departamento sob o no 0000/0000.

Porto Alegre, 00 de XXXXXX de 0000.


Décio de Moura Mallmith,
Perito Criminalístico,
Relator.
Andréa Brochier Machado,
Perita Criminalística,
Revisora.
Visto da Chefia
Controle S.L.L. no 0000/0000.

Referências:

BINA, Ricardo. Medicina Legal . São Paulo: Saraiva

CROCE, Delton, JR, Delton. Manual de Medicina Legal, 8ª ed. São Paulo: Saraiva

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