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Sebenta de Medicina Legal e Ciências Forenses

2013-2014

“LEGALIZE”
Cravo’s
Faculdade de Medicina de Lisboa 2013/2014

Prefácio:

A Sebenta Medicina Legal e Ciências Forenses – “Legalize” foi concebida com o


intuito de servir de apoio ao estudo dos alunos de medicina, transpondo uma
exposição simplificada das diferentes particularidades desta especialidade médica.

O conhecimento discriminado nas próximas páginas pretende sobretudo


imprimir uma consciencialização à prática correcta na actuação de um médico, não
especialista em Medicina Legal, face às diferentes realidades com implicações
médico-legais dos doentes, sobretudo em ambiente de urgência hospitalar.
Enfatizam-se as implicações futuras na vida do doente, face à atitude médico-legal
acertada e atempada.

O material usado para a sua concretização corresponde a uma sistematização


pessoal da informação após compilação dos diferentes meios de estudo actualmente
disponíveis, por outras palavras, são os meus resumos.

Aconselho a visualização dos exames anteriores bem como respectivas


correcções, é imprescindível a compreensão do objectivo das perguntas do exame!

Agradeço ao Pedro, um irmão “adoptado”, que em seu benefício futuro me incentivou a


transcrever e disponibilizar os meus resumos manuscritos.

Agradeço à FML, a minha segunda casa, que através dos seus Docentes, me descortinou
parte da magia de Medicina e sobretudo à minha família Lisboeta por esta caminhada memorável
que da diferença fez brotar a complementaridade.

Por último, a frase que me relembra a pluralidade de se Ser Médico:

“O médico que só sabe Medicina, nem Medicina sabe” - Prof. Abel Salazar

“LEGALIZE” Cravo’s Márcia Cravo 2


Faculdade de Medicina de Lisboa 2013/2014

Temas Aulas Teóricas:

Tema 1: O médico perante vítimas de agressões – Intervenção médica e médico-legal


em matéria de Direito Penal.

Tema 2: Semiologia das lesões traumáticas produzidas por agentes externos


mecânicos.

Tema 3: O médico perante as vítimas de violência doméstica e maus tratos.

Tema 4: O médico perante vítimas de violência sexual – Crimes contra a liberdade


sexual. & O médico perante vítimas de abusos sexuais infantis – Crimes contra a
autodeterminação sexual.

Tema 5: Verificação e Certificação do óbito.

Tema 6: Noções gerais de asfixiologia.

Tema 7: Agentes externos físicos e químicos.

Tema 8: Intervenção pericial da genética forense.

Tema 9: O médico perante vítimas de acidentes de viação.

Tema 10: O médico perante vítima de acidentes de trabalho.

Tema 11: Toxicologia Forense.

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O médico perante vítimas de agressões – Intervenção médica e médico-legal em


matéria de Direito Penal.

Agressão Física

Chegada ao SU:

Passo 1:

Abordagem Geral do Médico do SU:

- Identificar situações clínicas com implicações médico legais e enquadramento jurídico

- Realizar procedimentos médico-gerais e médico-legais adequados à situação clínica

- Garantir a segurança da vítima

- Sinalizar e encaminhar a vítima para cuidados diferenciados

Abordagem Específica do Médico no SU:

- Garantir a segurança da vítima

- Avaliar o estado geral e comportamental

- Colher anamnese e informações clínicas relevantes

- Realizar exame objectivo completo com avaliação pormenorizada de todas as lesões


e avaliação do nexo de causalidade dessas lesões – realizar relatório médico descritivo
do que foi observado para servir, no futuro, de prova pericial

- Proceder a medidas terapêuticas e medidas profiláticas

- Recolher, acondicionar e conservar amostras biológicas – nomeadamente para


exames toxicológicos de forma a averiguar presença sanguínea de drogas e
estupefacientes.

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- Sinalizar judicialmente o crime e proceder ao encaminhamento para especialidade


Médico-Legal (caso seja essa a vontade da vítima – visto tratar-se de um crime de
natureza SEMI-PÚBLICA – ou seja, o procedimento criminal depende de queixa por
parte da vítima)

*Caso existam feridas perfuro-contundentes realizadas por armas de fogo com


presença de bala no interior do organismo – obrigatório (se for possível remover a
bala) – proceder ao armazenamento da mesma em recipiente próprio com etiqueta
que contém a descrição da bala; o número do processo do doente e as assinaturas de
dois médicos assistentes. Esta deve ser entregue ao médico chefe do serviço de
urgência, que deve guardar a mesma em local pouco acessível – em “cadeia de
custódia” para constituir prova pericial, juntamente com o relatório médico.

Nexo de causalidade médico legal: admissibilidade científica de determinado acontecimento induzir


determinado estado patológico, ou, Existência de relação entre lesões e agente externo causador

Critérios de avaliação do nexo causalidade:

- Adequação entre agente externo e lesão

- Adequação entre lesões e etiologia traumática

- Adequação sede traumática e sede lesão

- Adequação temporal entre acção agente externo e lesões

- Continuidade

-Estado anterior/ Concausas (determinantes de evolução desfavorável – pré-existentes;


concomitantes e supervenientes):

#Nexo necessário (certo, directo e total): induz de forma consistente e irreversível à morte

#Nexo ocasional (parcial): morte dependente de características do individuo

#Nexo adequado (certo e total): directo- lesão induz directamente a morte; indirecto – exemplo:
imobilização induzida pela lesão, desenvolve TEP que conduz à morte

-Exclusão de outras causas

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Passo 2:

Caso a vítima decida realizar queixa crime  Sinalizar crime ao Ministério Público. MP
convoca médico legista para realizar exame pericial. Caso o médico legista não esteja
disponível, deve ser o médico do SU a realizar o exame pericial, segundo ponto 3)
art.159º do Código Penal (descrito na página 8).

Realização de Exame Pericial de Urgência por médico de Medicina Legal para efeitos
de Direito Penal – Avaliação não personalizada em que bem jurídico tutelado é a
integridade física da vítima e cujo objectivo final é a aplicação de sanção ao agressor.

Critérios de avaliação do Dano em Direito Penal:

- Tempo de doença

- Tempo de impossibilidade para trabalho e geral

-Danos permanentes expressos em sequelas somáticas/ funcionais e de saúde

-Situações de perigo de vida

Etapas do Exame Pericial:

- Análise da informação disponível (fornecida pelo médico do SU)

- Realização entrevista clínica (anamnese; antecedentes pessoais e antecedentes


familiares relevantes)

- Realização de exame físico

- Exames Complementares de Diagnóstico

- Interpretação dos dados obtidos Deve conter:

- Preâmbulo
-Realização de Relatório Pericial
- Exposição exaustiva das provas periciais

- Discussão com contextualização das provas

“LEGALIZE” Cravo’s
- Conclusão médica - legal
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Passo 3:

No seguimento do processo da queixa crime, necessária reavaliação médico legal


quando lesões do crime curadas ou consolidadas (lesões consolidadas correspondem a
lesões que por mais intervenções médicas que sejam realizadas não existe evolução
clínica positiva das mesmas) para avaliação em matéria de Direito Civil – Avaliação
personalizada em que o bem jurídico tutelado é a integridade psicofísica da vítima e
cujo objectivo é a reparação integral do dano.

Critérios de Avaliação de Dano em Direito Civil:

- Incapacidade Temporária Parcial ou Absoluta (incapacidade funcional ou dano


corporal verificada desde o acidente/agressão até à cura)

- Incapacidade Permanente (incapacidade funcional ou dano corporal verificada desde


o acidente/agressão até à consolidação das lesões – termo explicado anteriormente)

- Dano Corporal Patrimonial

- Dano Corporal Não Patrimonial

- Dano Estético

- Dano Futuro

- Prejuízo de Afirmação Pessoal

- Dano Juvenil (Provar que o jovem teria muito potencial futuro que poderá ter ficado
comprometido com o acidente/agressão – este dano tem, obviamente que ser muito
bem justificado em tribunal)

O Dano Civil deve ser avaliado, segundo Decreto de Lei nº352/2007 – 23 de Outubro,
através de Tabela de Incapacidades Permanentes. Esta destina-se a ser usada para
avaliação de dano em matéria de direito civil, exclusivamente por médicos legistas ou
médicos de outras especialidades com competência na avaliação de dano corporal.

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LEIS PERTINENTES EM AGRESSÃO FÍSICA

Capítulo III do Código Penal:

Art. 143º - Ofensa à Integridade Física Simples:

1- Quem ofender o corpo ou a saúde de outra pessoa é punido com pena de


prisão até três anos ou com pena de multa
2- O procedimento criminal depende de queixa, salvo quando seja cometida
contra agentes das forças e serviços de segurança, no exercício das suas
funções ou por causa delas.
3- O tribunal pode dispensar da pena quando:
a) Tiver havido lesões recíprocas e se não tiver provado qual dos contendores
agrediu primeiro, ou
b) O agente tiver unicamente exercido retorsão sobre o agressor

Art. 144º - Ofensa à Integridade Física Grave:

1- Quem ofender o corpo ou a saúde de outra pessoa de forma a:


a) Privá-lo de importante órgão ou membro, ou desfigurá-lo grave e
permanentemente;
b) Tirar-lhe ou afectar-lhe, de maneira grave, a capacidade de trabalho, as
capacidades intelectuais, de procriação ou fruição sexual, ou a
possibilidade de utiliza o corpo, os sentidos ou a linguagem;
c) Provocar-lhe doença particularmente dolorosa ou permanente, ou
anomalia psíquica grave ou incurável; ou
d) Provocar-lhe perigo para a vida;

é punido com pena de prisão de dois a dez anos.

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Artigo 159.º Perícia médico-legal e forenses

1- As perícias médico-legais e forenses que se insiram nas atribuições do Instituto


Nacional de Medicina Legal são realizadas pelas delegações deste e pelos
gabinetes médico-legais.
2- Excepcionalmente, perante manifesta impossibilidade dos serviços, as perícias
referidas no número anterior podem ser realizadas por entidades terceiras,
públicas ou privadas, contratadas ou indicadas para o efeito pelo Instituto.
3- Nas comarcas não compreendidas na área de actuação das delegações e dos
gabinetes médico-legais em funcionamento, as perícias médico-legais e
forenses podem ser realizadas por médicos a contactar pelo instituto.

Art.13º - Decreto de Lei 45/2004 – Realização de Perícias Urgentes

1- “Consideram-se perícias médico-legais urgentes aquelas em que se imponha


assegurar com brevidade a observação de vítimas de violência, tendo
designadamente em vista a colheita de vestígios ou amostras susceptíveis de se
perderem ou alterarem rapidamente, bem como o exame do local em
situações de vítimas mortais de crime doloso ou em que exista suspeita de tal;
2- (…) haverá, diariamente, em cada delegação e gabinete médico-legal, um
perito em serviço de escala...

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Semiologia das lesões traumáticas produzidas por agentes externos mecânicos.

Morte Violenta: morte que resulta, directa ou indirectamente, da acção de agentes


externos mecânicos, físicos, químicos ou toxicológicos.

Agentes externos mecânicos:

O que determina o tipo de lesão é a superfície do agente mecânico, assim existem:

1- Lesões Contundentes (Agente superfície plana ou romba)

Tipo de lesão dependente da intensidade e duração da acção; área de superfície e local


da pele atingida.

1.1 – Equimoses/ Hematomas – lesões vasculares e nervosas subcutâneas com


hemorragia difusa no tecido subjacente/ lesões vasculares e nervosas subcutâneas
com colecções hemáticas em locais onde a pele tem tecido mais laxo

- Acção do agente mecânico sob a pele: perpendicular

- Sem solução de continuidade

Características - Rara modelação da lesão

- Espectro equimótico “Le grand du Saulle”: 1º dia: vermelho

2º-3º dia: roxo

4º-6º dia: azul

7º-10º dia: esverdeado

10º-12º dia: amarelo-esverdeado

12º- 17º dia: amarelo

Nota: Equimoses de diferentes cores indicam lesões induzidas em diferentes alturas


temporais que devem fazer o médico suspeitar de agressões físicas repetidas –
violência doméstica.

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1.2 – Erosão/ Escoriação – solução de continuidade da epiderme

- Acção tangencial/Compressão com/sem deslizamento

- Com solução de continuidade

Características - Escoriação modelada (ex: unhas – escoriação modelada em semi – lua/ estigmas
ungueais)

- Acção de baixa intensidade

1.3 – Contundentes/ Contusas - solução de continuidade da pele e tecido celular


subcutâneo
- Acção perpendicular/ Oblíqua

- Com solução de continuidade: bordos irregulares e escoriados; fundo irregular


com pontes de tecido a unir as duas margens e equimose circundante
Características
- Escoriação modelada (= ferida com forma do objecto que a causou)

- Acção de alta intensidade

2- Lesões Cortantes (Agente superfície linear, ex: gume de arma branca)


Ferida Cortante/ Ferida Incisa

- Acção perpendicular com ou sem deslizamento

- Com solução de continuidade com bordos regulares; fundo regular e


Características extremidades afiladas; sem pontes de tecido a unir as margens

- Predomínio do comprimento face à profundidade

3- Lesões Perfurantes (Agente superfície punctiforme, ex: flecha)


Ferida perfurante - Acção perpendicular (ferida circular)/ Acção oblíqua (ferida ovalar)

- Com solução de continuidade com bordos regulares com diâmetro


Características
dependendo do instrumento

- Predomínio da profundidade face ao comprimento


Ferida cortante de defesa activa: na face palmar; defesa passiva: no dorso das
mãos, face cubital do antebraço e face posterior do braço.

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4- Lesões Mistas

4.1 – Corto-Perfurantes (ex: gume e ponta de arma branca)

Ferida cortante e perfurante


- Acção paralela às fibras da pela – ferida mais estreita e linear

- Acção perpendicular às fibras da pele – ferida mais aberta e angulosa


Características - Com solução de continuidade com bordos lisos e regulares com uma
extremidade mais afilada e outra mais romba

- Predomínio da profundidade face ao comprimento

4.2 – Corto-Contundente (ex: machado ou catana)

Ferida cortante mais acção do peso do objecto (contundente)


- Acção perpendicular
Características
- Com solução de continuidade mais “esmagamento” dos tecidos mais profundos

4.3 – Perfuro-Contundente (ex: projéctil de arma de fogo)

- Ferida de Entrada: circular e dependente da distância do disparo: se disparo a


longa distância – múltiplas feridas de entrada/ se a curta distância –equimose
modelada pela arma/ se arma a exercer pressão na pele durante disparo –
contusão estrelada e enegrecida com bordos irregulares
À superfície de - Orla de limpeza: depósitos de resíduos do projéctil

entrada do projéctil - Orla de escoriação

- Orla de equimose

- Orla de tatuagem (presente só em disparos de curta distância): depósitos de


grãos de pólvora não queimados – verdadeira tatuagem; depósitos de fumo –
falsa tatuagem

Sinal de Werkgatner: reprodução na pele da boca da arma

Orifício de Entrada: bordos em bisel na tábua interna


Trajecto da Bala
Orifício de Saída: bordos em bisel na tábua externa

- Lesão circular; oval ou elíptica (dependente do trajecto do projéctil)

Orifício de Saída - Bordos irregulares, sem equimose ou orla de tatuagem

- Podem existir vários orifícios de saída se grande distância do disparo


“LEGALIZE” Cravo’s (fragmentação do projéctil) Márcia Cravo 12
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Morte por Suicídio (Perfuro-Contundente)

- Distância limite do disparo é o alcance máximo do membro superior

- Disparo único

- Locais de atingimento mais comuns: boca; região anterior do pescoço; tórax e


região temporal (lado da mão dominante)

Lesões da Circulação Rodoviária

Carro: Colisão Frontal Condutor: Feridas corto-contundentes do pára-brisas;


feridas contusas moduladas pelo volante no tórax e fraturas
membro inferior

Passageiro da Frente: Lesões hemiface direita e ombro


direito (cinto de segurança)

Passageiro de Trás: Projectado para fora do habitáculo

Colisão Lateral Colisão Esquerda: Lesões predominam no condutor

Colisão Direita: Lesões predominam no passageiro da frente

Lesões semelhantes às da colisão frontal

Colisão Traseira Efeito de chicotamento cervical

Lesões predominam no passageiro de trás

Com Capotamento Desmembramento e/ ou Lesões de arrastamento


(projecção p/ fora do habitáculo)

Asfixia traumática (dentro do habitáculo)

Maior risco de morte

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Motorizada: Projecção Condutor: lesões base crânio; arrastamento ou esmagamento

Passageiro: lesões na região occipital; arrastamento ou


esmagamento

Atropelamento: Fases de atropelamento:

1- Embate (fase constante) – quando existe travagem do carro as lesões no


atropelado verificam-se nas regiões distais dos membros inferiores.
2- Queda ou Projecção para o capô (fase constante) – feridas contundentes de
embate no solo ou feridas corto-contundentes por pára-brisas
3- Arrastamento (mais comum em veículos pesados) – escoriações
4- Esmagamento – lesões moduladas por pneus do veículo

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O médico perante as vítimas de violência doméstica e maus tratos.

Definição de violência doméstica: Não se limita à agressão física, corresponde a


qualquer comportamento que vise subjugar/ controlar outra pessoa, que partilhe ou
tenha partilhado o mesmo espaço doméstico, mediante o uso do medo; humilhação;
agressão física ou verbal.

Tipos de Violência: psicológica, verbal, física, abuso emocional e abuso sexual.

Tipos de vitimização - Directa

- Secundária: resultante da resposta ao crime de determinadas


instâncias, em especial das práticas judiciárias e do aparelho da
justiça e policial

- Vicariante: sofridas por outros que não a vítima (ex: família)

Ciclo Abuso “ The Battered Women”: Génese da Tensão  Fase da Agressão  Fase
Arrependimento

Abordagem no SU: Agressão Física

Chegada ao SU:

Passo 1:

Abordagem Geral do Médico do SU:

- Identificar situações clínicas com implicações médico legais e enquadramento jurídico

- Realizar procedimentos médico-gerais e médico-legais adequados à situação clínica

- Garantir a segurança da vítima (Avaliar Risco – Plano de Protecção)

- Sinalizar e encaminhar a vítima para cuidados diferenciados

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Abordagem Específica do Médico no SU:

- Garantir segurança da vítima

- Avaliar estado geral e comportamental/ psicológico

- Colher anamnese e informações clínicas relevantes

- Realizar exame objectivo completo com avaliação pormenorizada de todas as lesões


e avaliação do nexo de causalidade dessas lesões – realizar relatório médico descritivo
do que foi observado para servir, no futuro, de prova pericial

Equimoses de diferentes cores indicam lesões induzidas em diferentes espaços temporais que
devem fazer o médico suspeitar de agressões físicas repetidas – violência doméstica.

- Proceder a medidas terapêuticas e medidas profiláticas

- Recolher, acondicionar e conservar as amostras biológicas

-Sinalizar judicialmente o crime e proceder ao encaminhamento para especialidade


Médico-Legal e apoio psicossocial (crime de natureza PÚBLICO – implica que o
seguimento do processo judicial dispensa queixa por parte da vítima). Segundo o art.
242º do Código Penal, o médico do SU é obrigado a denunciar o crime, ver pág. 18)

Passo 2:

Obrigatório sinalizar crime ao Ministério Público – não depende de queixa da vítima.


MP convoca médico legista para realizar exame pericial de URGÊNCIA (APENAS SE
HOUVER AGRESSÃO FÍSICA). Caso o médico legista não esteja disponível, deve ser o
médico do SU a realizar o exame pericial, segundo ponto 3) art.159º do Código Penal
(descrito na página 8).

Realização de Exame Pericial de Urgência por médico de Medicina Legal para efeitos
de Direito Penal – Avaliação não personalizada em que bem jurídico tutelado é a
integridade física da vítima e cujo objectivo final é a aplicação de sanção ao agressor.

“LEGALIZE” Cravo’s Márcia Cravo 16


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Critérios de avaliação do Dano em Direito Penal:

- Tempo de doença

- Tempo de impossibilidade para trabalho e geral

-Danos permanentes expressos em sequelas somáticas/ funcionais e de saúde

-Situações de perigo de vida

Etapas do Exame Pericial:

- Análise da informação disponível (fornecida pelo médico do SU)

- Realização entrevista clínica (anamnese; antecedentes pessoais e antecedentes


familiares relevantes)

- Realização de exame físico

- Exames Complementares de Diagnóstico

- Interpretação dos dados obtidos

- Critérios de diagnóstico: relativos ao objectivo da agressão; à direcção da agressão;


aos antecedentes de outras agressões à mesma pessoa; aos antecedentes de
agressões a outras vítimas do meio familiar ou doméstico; ao risco de repetição de
agressões; às circunstâncias ambientais que condicionaram a agressão e às
circunstâncias pessoais dos protagonistas da agressão.

- Avaliação do Risco: Gravidade das lesões físicas e repercussões psíquicas; Prognóstico


da gravidade no tempo (a curto, médio e longo prazo) e Prognóstico de risco vital.

- Avaliar necessidade de apoio psicossocial


Deve conter:

- Preâmbulo

-Realização de Relatório Pericial - Exposição exaustiva das provas periciais

- Discussão com contextualização das provas


“LEGALIZE” Cravo’s Márcia Cravo 17
- Conclusão médica - legal
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Abordagem em MGF:

Violência nas relações de intimidade: Qualquer comportamento numa relação íntima


que cause danos físicos, psicológicos ou sociais aos indivíduos nessa mesma relação.

 Posição Privilegiada: acompanhamento regular e continuado; abordagem


centrada no doente e na família e actuação abrangente – permitem um
reconhecimento precoce de situações de risco e de situações “mascaradas”
 Primeiro contacto da vítima
 Papel preventivo primário

Na consulta de MGF:

1. Identificar indicadores clínicos de violência (isolamento social; idas múltiplas às


consultas; inconsistências nas histórias ou acompanhante excessivamente
atento); indicadores clínicos de violência na gravidez (baixo peso, aborto, falta
de cuidado pré-natal ou hemorragia ante-parto)
2. Identificar sinais e sintomas de maus tratos físicos (hematomas e equimoses;
lesões genitais, cabeça e pescoço; DST’s ou dores crónicas) e psíquicas (insónia;
depressão; ideação suicida; perturbações ansiedade ou abuso álcool e drogas)
3. Avaliar plausibilidade das explicações face à suspeita
4. Proceder a registo clínico completo e pormenorizado das lesões observadas
5. Tratar as lesões
6. Sinalizar e encaminhar para equipa médico-legal; segurança social e apoio
psicológico

Segundo o art. 242º do Código Penal, o médico do SU é obrigado a denunciar o


crime e o seu relatório médico deverá servir de prova pericial, caso solicitado pela
Autoridade Competente.

Quer na abordagem em SU ou em MGF, desde que denunciado pelo médico


assistente, o crime será avaliado em matéria de Direito Penal e em matéria de Direito
Civil.

“LEGALIZE” Cravo’s Márcia Cravo 18


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LEIS PERTINENTES EM VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

Artigo 242.º - Denúncia obrigatória


1 - A denúncia é obrigatória, ainda que os agentes do crime não sejam
conhecidos:
b) Para os funcionários, na acepção do artigo 386.º do Código Penal, quanto
a crimes de que tomarem conhecimento no exercício das suas funções e por
causa delas.

Artigo 152º Violência doméstica


1 – Quem, de modo intenso ou reiterado, infligir maus tratos físicos ou
psíquicos, incluindo privações da liberdade e ofensas sexuais:
a. Ao cônjuge ou ex-cônjuge;
b) A pessoa de outro ou do mesmo sexo com quem o agente mantenha
ou tenha mantido uma relação análoga à dos cônjuges, ainda que sem
coabitação;
b. A progenitor ou descendente comum em 1º grau; ou
c. A menor ou pessoa particularmente indefesa, em razão de idade,
gravidez ou dependência económica, que com ele coabite;
é punido com pena de prisão de 1 a 5 anos, se pena mais grave lhe não couber
por força de outra disposição legal.

“LEGALIZE” Cravo’s Márcia Cravo 19


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Artigo 152º Maus tratos


1 — Quem, tendo ao seu cuidado, à sua guarda, sob a responsabilidade da sua
direcção ou educação ou a trabalhar ao seu serviço, pessoa menor ou
particularmente indefesa, em razão de idade, deficiência, doença ou gravidez,
e:
a) Lhe infligir, de modo reiterado ou não, maus tratos físicos ou psíquicos,
incluindo castigos corporais, privações da liberdade e ofensas sexuais,
ou a tratar cruelmente;
b) A empregar em actividades perigosas, desumanas ou proibidas; ou
c) A sobrecarregar com trabalhos excessivos; é punido com pena de prisão
de um a cinco anos, se pena mais grave lhe não couber por força de
outra disposição legal.
2- Se dos factos previstos nos números anteriores resultar:
a) Ofensa à integridade física grave, o agente é punido com pena de prisão
de dois a oito anos;
b) A morte, o agente é punido com pena de prisão de três a dez anos.

Artigo 159.º Perícia médico-legal e forenses – PÁGINA 8

Art.13º - Decreto de Lei 45/2004 – Realização de Perícias Urgentes – PÁGINA 8

“LEGALIZE” Cravo’s Márcia Cravo 20


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O médico perante vítimas de violência sexual – Crimes contra a liberdade sexual & o
médico perante vítimas de abusos sexuais infantis – Crimes contra a
autodeterminação sexual.

Crime contra a liberdade sexual (idade>16 anos): agressão sexual contra indivíduos
com discernimento para decidir acerca da sua vontade de praticar determinado acto
sexual.

Crime contra a autodeterminação sexual (idade<16 anos): agressão sexual contra


indivíduos sem discernimento para decidir acerca da sua vontade de praticar
determinado acto sexual. Mesmo que não seja contra a vontade do indivíduo é crime,
sendo considerada uma prática que afecta negativamente o desenvolvimento da
personalidade.

Abordagem no SU: Violência Sexual

Chegada ao SU:

Passo 1:

Abordagem Geral do Médico do SU:

- Conhecer enquadramento jurídico, epidemiológico e principais tipos de violência


sexual

- Identificar sinais e sintomas de abuso/violência sexual

- Executar procedimentos médico-gerais e médico-legais adequados à situação clínica

- Garantir a segurança da vítima (Avaliar Risco – Plano de Protecção)

- Sinalizar e Encaminhar a vítima para cuidados diferenciados (médico-legais; apoio


psicológico) – dependente da vontade da vítima. Excepções: a violência sexual a
vítimas com idade <14 anos e a agressão da qual resulta suicídio ou morte da vítima,
independente da idade – são considerados crimes de natureza PÚBLICA.

“LEGALIZE” Cravo’s Márcia Cravo 21


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Abordagem Específica do Médico no SU:

- Se vítima necessitar de cuidados médicos urgentes ou estiver inconsciente, primeiro


passo  Intervenção terapêutica (PRIORIDADE) com precaução de não contaminar
vestígios periciais

- Garantir segurança da vítima

- Avaliar Estado Geral e Comportamental

- Colher anamnese e informações clínicas relevantes

- Proceder a medidas terapêuticas e medidas profiláticas (gravidez e DST’s)

- Restante procedimento dependente de:


NÃO: Avaliar situação clínica e esperar 24/72h para
encaminhar vítima a avaliação pericial por médicos
legistas, no sentido de evitar vitimização secundária
Agressão há < 72h?

72h corresponde ao tempo de


preservação do esperma SIM: Realizar exame objectivo completo e sumário
sem contaminar vestígios periciais

Informar a vítima de medidas a tomar para não


contaminar vestígios periciais (ver pág. 23)

Contactar equipa médico legal para realizar


exame pericial de urgência

Se não for possível colaboração de Médico


Legista em < 24h, deve ser o médico do SU a
realizar exame pericial e colheita de amostras
biológicas!

Etapas do Exame Pericial: (local apropriado)

- Preenchimento de Consentimento Informado

- Análise da informação disponível (fornecida pelo médico do SU)

“LEGALIZE” Cravo’s Márcia Cravo 22


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- Realização entrevista clínica:

1- História do Evento (data, hora, local e circunstâncias do evento/ descrição do


agressor/ natureza dos contactos físicos/ uso de arma ou objectos de imobilização/
uso de drogas/ modo como roupa foi removida e eventuais lesões infligidas ao
agressor

2- Antecedentes pessoais (gerais e ginecológicos) e familiares relevantes

- Exame Objectivo (geral + ginecológico):

Geral:

1. Roupas: assinalar se roupas estavam rasgadas e guardar para constituir provar


(* se molhadas, secar primeiro e depois preservar em saco de papel)
2. Sinais vitais; avaliação de lesões ou vestígios na cabeça, pescoço, membros
superiores, tronco e membros inferiores
3. Recolha de amostra de raspado bucal – análise de DNA
4. Recolha de amostra de raspado subungueal (sobretudo se vítima arranhou
agressor)
5. Recolha de amostras biológicas (esperma, saliva ou sangue) de região
interglútea

Ginecológico:

1. Recolha de amostra de exsudado dos genitais externos


2. Escovagem de pêlos púbicos
3. Exame com espéculo: a avaliar lesão parede vaginal; a presença de corpos
estranhos e colheita de amostra de exsudado colo útero (+ importante)

- Exames Complementares de Diagnóstico:

Recolha de outras amostras biológicas

# Sangue (β- HCG; Serologia VIH; VHB; VHC, VDRL e doseamento de drogas

#Pesquisa de Neisseria; Clamydia e Trichomonas no exsudado vaginal

“LEGALIZE” Cravo’s Márcia Cravo 23


Faculdade de Medicina de Lisboa 2013/2014

#Urina (doseamento de drogas e medicamentos)

- Interpretação dos dados obtidos

- Realização de relatório médico-legal (com parâmetros especificados anteriormente)

- Reavaliação da vítima às 2 semanas da agressão para: avaliação da evolução das lesões; do


cumprimento da terapêutica e das consequências emocionais da agressão. E ainda, reavaliação
da contracção de DST’s e realização de teste da gravidez.

Medidas de prevenção à contaminação de vestígios periciais (abordado anteriormente pág.21)

- Não comer, beber ou fumar

- Não lavar boca nem dentes

- Não tomar banho ou lavar órgãos genitais

- Não mudar de roupa

- Não lavar as mãos nem cortar as unhas

- Não se pentear

- Não urinar nem defecar (caso não seja possível, a vítima deve defecar e urinar para recipientes
próprios de preservação das amostras biológicas)

Passo 3:

O crime será avaliado:

- em matéria de Direito Penal – Avaliação não personalizada em que o bem jurídico


tutelado é a integridade psicofísica da vítima e cujo objectivo é a reparação integral do
dano.

- em matéria de Direito Civil - Avaliação personalizada em que o bem jurídico tutelado


é a integridade psicofísica da vítima e cujo objectivo é a reparação integral do dano.
Através da Tabela de Incapacidades Permanentes (abordada na página 6).

“LEGALIZE” Cravo’s Márcia Cravo 24


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LEIS PERTINENTES EM VIOLÊNCIA SEXUAL

Segundo o capítulo V do Código Penal:

Secção I “Crimes contra a liberdade sexual”

Artigo 163.º Coacção sexual

1- Quem, por meio de violência, ameaça grave, ou depois de, para esse fim, a ter
tornado inconsciente ou posto na impossibilidade de resistir, constranger outra
pessoa a sofrer ou a praticar, consigo ou com outrem, acto sexual de relevo é
punido com pena de prisão de 1 a 8 anos.
2- Quem, por meio não compreendido no número anterior e abusando de
autoridade resultante de uma relação familiar, de tutela ou curatela, ou de
dependência hierárquica, económica ou de trabalho, ou aproveitando-se de
temor que causou, constranger outra pessoa a sofrer ou a praticar acto sexual
de relevo, consigo ou com outrem, é punido com pena de prisão até dois anos.

Artigo 164.º Violação

1- 1 — Quem, por meio de violência, ameaça grave, ou depois de, para esse fim, a ter
tornado inconsciente ou posto na impossibilidade de resistir, constranger outra
pessoa:
a) A sofrer ou a praticar, consigo ou com outrem, cópula, coito anal ou coito oral;
ou
b) A sofrer introdução vaginal ou anal de partes do corpo ou objectos; é punido
com pena de prisão de três a dez anos.
2- — Quem, por meio não compreendido no número anterior e abusando de autoridade
resultante de uma relação familiar, de tutela ou curatela, ou de dependência
hierárquica, económica ou de trabalho, ou aproveitando-se de temor que causou,
constranger outra pessoa:

“LEGALIZE” Cravo’s Márcia Cravo 25


Faculdade de Medicina de Lisboa 2013/2014

a) A sofrer ou a praticar, consigo ou com outrem, cópula, coito anal ou coito oral;
ou
b) A sofrer introdução vaginal ou anal de partes do corpo ou objectos; é punido
com pena de prisão até três anos.

Secção II “Crimes contra a autodeterminação sexual”

Artigo 171.º Abuso sexual de crianças

1- 1 —Quem praticar acto sexual de relevo com ou em menor de 14 anos, ou o levar a


praticá-lo com outra pessoa, é punido com pena de prisão de um a oito anos.
2- — Se o acto sexual de relevo consistir em cópula, coito anal, coito oral ou introdução
vaginal ou anal de partes do corpo ou objectos, o agente é punido com pena de prisão
de três a dez anos.
3- — Quem:
a. Importunar menor de 14 anos, praticando acto previsto no artigo 170.º;
4- ou
a. Actuar sobre menor de 14 anos, por meio de conversa, escrito, espectáculo ou
objecto
5- pornográficos; é punido com pena de prisão até três anos.
6- — Quem praticar os actos descritos no número anterior com intenção lucrativa é
punido com pena de prisão de seis meses a cinco anos.

Artigo 173.º Actos sexuais com adolescentes

1- 1 — Quem, sendo maior, praticar acto sexual de relevo com menor entre 14 e 16 anos,
ou levar a que ele seja por este praticado com outrem, abusando da sua inexperiência,
é punido com pena de prisão até dois anos ou com pena de multa até 240 dias.
2- — Se o acto sexual de relevo consistir em cópula, coito oral, coito anal ou introdução
vaginal ou anal de partes do corpo ou objectos, o agente é punido com pena de prisão
até três anos ou multa até 360 dias.

“LEGALIZE” Cravo’s Márcia Cravo 26


Faculdade de Medicina de Lisboa 2013/2014

Artigo 177.º Agravação

1- 1 — As penas previstas nos artigos 163.º a 165.º e 167.º a 176.º são agravadas de
um terço, nos seus limites mínimo e máximo, se a vítima:
a. For ascendente, descendente, adoptante, adoptado, parente ou afim até
ao segundo grau do agente; ou
b) Se encontrar numa relação familiar, de tutela ou curatela, ou de
dependência hierárquica, económica ou de trabalho do agente e o crime
for praticado com aproveitamento desta relação.
2- — As penas previstas nos artigos 163.º a 167.º e 171.º a 174.º são agravadas de
um terço, nos seus limites mínimo e máximo, se o agente for portador de doença
sexualmente transmissível.
3- — As penas previstas nos artigos 163.º a 168.º e 171.º a 174.º são agravadas de
metade, nos seus limites mínimo e máximo, se dos comportamentos aí descritos
resultar gravidez, ofensa à integridade física grave, transmissão de agente
patogénico que crie perigo para a vida, suicídio ou morte da vítima.
Tradução: violação 5 anos de prisão, agravamento até 10 anos.

Artigo 178.º Queixa

1- O procedimento criminal pelos crimes previstos nos artigos 163.º a 165.º, 167.º, 168.º
e 170.º depende de queixa, salvo se forem praticados contra menor ou deles resultar
suicídio ou morte da vítima.
2- — O procedimento criminal pelo crime previsto no artigo 173.º depende de queixa,
salvo se dele resultar suicídio ou morte da vítima.
Crime público: <14 anos

Artigo 159.º Perícia médico-legal e forenses – PÁGINA 8

Art.13º - Decreto de Lei 45/2004 – Realização de Perícias Urgentes – PÁGINA 8

“LEGALIZE” Cravo’s Márcia Cravo 27


Faculdade de Medicina de Lisboa 2013/2014

VERIFICAÇÃO DO ÓBITO.

Quem Verifica?
MORTE EM HOSPITAIS:
NATURAL 1- Verificação por médico assistente ou por primeiro médico a
assistir o doente após a morte

NÃO NATURAL/ 1 – Verificação por médico assistente ou por primeiro médico a assistir
CAUSA IGNORADA o doente após a morte

2- Preenchimento do Boletim de Informação Clínica, que deve conter:

a) Identificação do doente
b) Identificação do médico e número da ordem dos médicos
c) Local, hora e data do óbito
d) Informações clínicas e observáveis relevantes (causa que
determinou internamento; período de internamento; resultados
da observação clínica e dos ECDD; evolução clínica e
antecedentes relevantes para diagnóstico de etiologia médico
legal.

3 – Comunicar ao Director hospital que comunica ao Ministério Público


(MP), que por sua vez, decide sobre a realização de autópsia.
MORTE EM MEIO NÃO HOSPITALAR:

 Em ambiente doméstico, morte por causa natural ou conhecida, deve ser


verificada por médico de família que acompanha o doente.

 Na rua, deve ser a autoridade judicial convocada ao local que avalia se está
perante causa de morte natural ou causa de morte violenta/ ignorada

Em caso de morte violenta ou de causa ignorada, autoridade judicial convoca


comparência urgente ao local de perito médico-legal para avaliação pericial urgente.
Este faz a verificação do óbito, através de preenchimento de papel timbrado, caso não
tenha comparecido, anteriormente, outro médico ao local que tenha verificado o
óbito.

“LEGALIZE” Cravo’s Márcia Cravo 28


Faculdade de Medicina de Lisboa 2013/2014

AUTÓPSIA: Segundo art. 18 45/2004 (página 33), a autópsia deve ser sempre realizada,
após verificação da morte, em caso de morte violenta ou de causa ignorada, salvo se
informações clínicas acompanhadas de outros elementos relevantes, permitam, com
segurança, concluir a inexistência de suspeita de crime. Nestas situações o MP
dispensa autópsia.

A autópsia médico-legal nunca é dispensada em mortes por acidente de trabalho ou


acidente de viação, no sentido de investigar etiologia médico-legal.

Processo de Morte:

1. Período Agónico – Fase 1 Corresponde ao período de tempo em que se


desenvolvem mecanismos da morte – alterações irreversíveis das funções
vitais.
2. Período de Morte Somático –Fase 2 Corresponde ao período de tempo em
que cessam irreversivelmente as funções vitais.

Nesta fase, aparecimento dos Sinais Negativos de Vida:


- Ausência de resposta a estímulos dolorosos
- Ausência de batimentos cardíacos
- Ausência de movimentos respiratórios

3. Período de Morte Intermédio – Fase 3 Corresponde ao período de tempo


em que se manifestam as alterações cadavéricas consecutivas à cessação das
funções vitais.

Nesta fase, aparecimento dos Sinais Positivos de Morte(Precoces + Tardios):


Precoces:
- Arrefecimento Cadavérico (até igualar a temperatura ambiente)
- Desidratação Cadavérica: - Diminuição peso corporal

- Apergaminhamento cutâneo

- Desidratação das mucosas

- Opacificação do globo ocular (após 6h) e aparecimento de


“LEGALIZE” Cravo’s mancha negra na esclerótica – Sinal de Sommer
Márcia e Larcher29
Cravo
Faculdade de Medicina de Lisboa 2013/2014

- Livores Cadavéricos (manchas roxas/azul púrpura em zonas de maior declive –


dependendo da posição). Aparecem 2/4 h após a morte e tornam-se fixas/
independentes da posição a partir das 10/12h

* Caso a distribuição dos livores não seja consentânea com a posição do cadáver pode
significar que o cadáver foi mobilizado após estabelecimento das alterações post-mortem

- Rigidez Cadavérica (Flacidez primária; Rigidez máxima após 24h e Flacidez


secundária após 36h)

Tardios:

- Putrefacção (processo de fermentação pútrida de origem bacteriana),


constituída por 4 Períodos:

1. Período Cromático (inicio às 24h após a morte): inicia-se com uma mancha verde na
fossa ilíaca direita (por degradação do pigmento da hemoglobina) e dissemina-se pela
face, tórax, abdómen e membros.

2. Período Enfisematoso (inicio às 72h após a morte): gigantismo dos membros, face,
abdómen e órgãos genitais masculinos, devido ao processo de decomposição orgânica
induzido pelas bactérias com produção de gases. Neste período os corpos flutuam.

3. Período Liquefação ((inicio às 3 semanas após a morte): formação de pasta liquefeita


devido à dissolução pútria o cadáver.

4. Período Esquelético (processo final): apenas ficam intactos as estruturas ósseas;


dentes; cabelos e pêlos.

4. Período de Morte Absoluta – Fase 4 Corresponde ao período de tempo em que


cessa toda e qualquer actividade biológica

“LEGALIZE” Cravo’s Márcia Cravo 30


Faculdade de Medicina de Lisboa 2013/2014

Entomologia Cadavérica:

Princípio da entomologia: A destruição da matéria orgânica resulta da acção de grupos


de insectos que actuam sequencialmente, por uma ordem determinada, sendo que
cada grupo de insectos cria condições, durante semanas ou meses, que atraem
sucessivamente o grupo seguinte de insectos.

Identificando o grupo de insectos predominante é possível estimar a data do óbito.

Verificação do Óbito em Morte Cerebral:

Definição de Morte Cerebral: individuo que se encontra em coma profundo por lesão
irreversível, com ausência de funções mediadas pelo SNC e com restantes funções
mantidas por meios extraordinários de suporte.

Implica ainda, obrigatoriamente:

- Conhecimento da causa da morte cerebral e irreversibilidade da mesma;

- Estado de coma com ausência de resposta motora a estímulos dolorosos;

- Ausência de respiração espontânea;

- Confirmar ausência de alterações térmicas, hemodinâmicas, endócrinas e ainda a


ausência de fármacos depressores do SNC ou bloqueadores neuromusculares, causas
reversíveis que poderiam justificar o coma profundo.

A verificação é obrigatoriamente realizada por dois médicos com mais de cinco anos
de experiência que não podem constituir a equipa de colheita de órgãos.

Segundo Decreto de Lei 12/93 – são dadores de órgãos, todos os cidadãos nacionais,
apátridas e estrangeiros residentes em Portugal, excepto se registados no RENNDA.

“LEGALIZE” Cravo’s Márcia Cravo 31


Faculdade de Medicina de Lisboa 2013/2014

CERTIFICAÇÃO DO ÓBITO.

A certificação do óbito corresponde à emissão de documento onde constam as


causas de morte. Desde 2014, obrigatório em formato digital SICO.

Quem Certifica?
- MORTE EM HOSPITAIS:
NATURAL 1- Certificado de óbito deve ser preenchido pelo médico que
verificou a morte.

NÃO NATURAL/ 1- Se Ministério Público autorizar a autópsia, deverá ser o médico


CAUSA IGNORADA legista que a realiza a preencher o Certificado de óbito.

- MORTE EM MEIO NÃO HOSPITALAR:

 Na rua, deve ser a autoridade judicial convocada que avalia se está perante
causa de morte natural ou causa de morte violenta/ ignorada

Em caso de morte violenta ou de causa ignorada, autoridade judicial convoca


comparência urgente ao local de perito médico-legal para avaliação pericial urgente.
Este faz a verificação do óbito e após a autópsia, realiza o preenchimento do
Certificado de Óbito.

 Em casa, morte natural com apanhamento de médico assistente, este é que


preenche certificado de óbito.

Processo de Preenchimento do Certificado do Óbito:

1- Identificação do Falecido
2- Causa da Morte
a. Parte I
a) Causa Directa – doença/lesão que provocou directamente a morte
b) Causa Intermédia – doença/ estado mórbido que constitui condição antecedente directa ou
indirectamente relacionada com a causa directa de morte, ou a que identifica agente externo
que produziu as lesões mortais
c) Causa Básica – doença ou lesão que iniciou a cadeia de acontecimentos patológicos que
conduziram directamente à morte, ou como as circunstâncias do acidente ou violência que
produziram a lesão fatal.
d) Causa Orgânica – doença, estado mórbido ou qualquer circunstância que antecede/origina
“LEGALIZE” Cravo’s
causa básica Márcia Cravo
ou que desencadeou todas as causas indicadas em a), b) e c). 32
Faculdade de Medicina de Lisboa 2013/2014

b. Parte II – outros estados mórbidos ou factores fisiológicos que


contribuíram para o falecimento mas que não estão mencionados em I
3- Local, Data e Hora da morte
4- Inclui todos os estados mórbidos ou fisiológicos que contribuíram para a morte
e que não estão mencionadas na Parte I
5- Identificação do Médico

Nunca mencionar como causa de morte Mecanismos de Morte – mecanismos


pelos quais as causas provocaram a morte (ex: hemorragia). Apresentam pouca
especificidade, na medida em que um mesmo mecanismo pode ser desencadeado
por diferentes causas de morte.

Exemplos Preenchimento:

Morte de causa Natural:

e) Causa Directa – Ruptura de Varizes Esofágicas (NÃO HEMORRAGIA)


f) Causa Intermédia – Hipertensão Portal
g) Causa Básica – Cirrose Hepática
h) Causa Orgânica – Etilismo crónico

Morte Violenta:

i) Causa Directa – Fractura do crânio com laceração cerebral


j) Causa Intermédia – Projéctil de arma de fogo (agente externo)
k) Causa Básica – Suicídio (etiologia médico-legal)
l) Causa Orgânica – Patologia psiquiátrica

“LEGALIZE” Cravo’s Márcia Cravo 33


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LEIS PERTINENTES EM VERIFICAÇÃO E CERTIFICAÇÃO DO ÓBITO

Artigo 14.º Verificação e certificação do Óbito

A verificação e certificação dos óbitos é da competência dos médicos, no termo da lei.

Lei nº 141/99 de 28 de Agosto

Artigo 4.º

1. A verificação da morte compete ao médico a quem, no momento, está


cometida a responsabilidade pelo doente ou que em primeiro lugar
compareça, cabendo-lhe lavrar um registo sumário de que conste:

a. A identificação possível da pessoa falecida, indicando se foi feita por


conferência de documento de identificação ou informação verbal;

b. A identificação do médico pelo nome e pelo número de cédula da


Ordem dos Médicos;

c. O local, a data e a hora da verificação;


d) Informação clínica ou observações eventualmente úteis.

2.
Em estabelecimentos de saúde públicos ou privados o registo da verificação
da morte deve ser efectuado no respectivo processo clínico.

3. Fora dos estabelecimentos de saúde o registo pode ser efectuado em papel


timbrado do médico, de instituição ou outro, sendo entregue à família ou à
autoridade que compareça no local.

“LEGALIZE” Cravo’s Márcia Cravo 34


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NOÇÕES GERAIS DE ASFIXIOLOGIA.

Existem três fases inerentes ao processo de asfixia:

1- Dispneia Inicial: verifica-se perda de consciência em 15-20 segundos.


2- Fase Convulsiva: o aumento de CO2 intracelular induz convulsões tónico-
clónicas
3- Dispneia Tardia: movimentos inspiratórios reflexivos – apneia.

Tipos de Asfixia: Mecânica e Química.


- Anóxa Anóxia
Asfixia Mecânica
- Anóxia Circulatória

1- Anóxia Anóxia:

Obstrução da passagem de ar para os alvéolos - Sufocação

1.1 - Confinamento (ambiente confinado com níveis reduzidos de O2 e elevados de CO2)

# sem alterações visiveis no hábito externo e hábito interno

Etiologia médico – legal: Acidental

1.2 – Compressão Torácica (impede gradualmente realização de movimentos respiratórios)

# Hábito externo: máscara equimótica acima do local da compressão (resulta da


confluência de petéquias)

# Hábito interno: congestão visceral acima do local da compressão e hemorragias


petequiais

Etiologia médico – legal: Acidental ou homicida

1.3 – Obstrução dos Orifícios Respiratórios

 Com as mãos

# Hábito externo: estigmas ungueais e lesões traumáticas esqueléticas

# Hábito interno: lesões traumáticas nos tecidos moles

“LEGALIZE” Cravo’s Márcia Cravo 35


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Etiologia médico – legal: Homicida

 Interposição com objecto maleável

# sem alterações visíveis no hábito externo e hábito interno

Etiologia médico – legal: Acidental e homicida

1.4 – Obstrução das Vias Aéreas

1.4.1 – Edema da Glote 1.4.2 – Engasgamento

# sem alterações visíveis no hábito externo # sem alterações visíveis no hábito externo

# Hábito Interno: edema da laringe # Hábito Interno: edema da laringe

Etiologia médico – legal: Acidental Etiologia médico – legal: Acidental

1.4.3 - Soterramento 1.4.4 – Aspiração

# Hábito Externo: partículas # sem alterações visíveis no hábito externo

# Hábito Interno: partículas nos brônquios # Hábito Interno: visualização do aspirado


e bronquíolos nos alvéolos

Etiologia médico – legal: Acidental e suicida Etiologia médico – legal: Acidental, suicida e
homicida

2-Anóxia Circulatória:

Constrição do pescoço induz morte por: mecanismo vascular, mecanismo asfíxico,


mecanismo vagal e lesão vertebro-basilar

2.1 – Enforcamento (Força actuante é o peso do corpo)

# Hábito Externo:
- Sulco submandibular em V invertido

- Crista Hemorrágica: equimoses no sulco

- Lesões modeladas do laço

- Congestão acima do local da constrição

- Protusão da língua

- Livores (localização dependente do peso do corpo)

“LEGALIZE” Cravo’s Márcia Cravo 36


Faculdade de Medicina de Lisboa 2013/2014

# Hábito Interno - Linha Argentina: escoriações do sulco

- Lesões de Amussat: laceração da íntima carotídea

- Fractura do osso hióide e dos cornos superiores da cartilagem tiroideia

- Congestão generalizada

- Manchas Tardieu: hemorragias sub-pleurais e sub-epicárdicas

Etiologia médico – legal: SUICIDA, acidental (auto-erotismo) e homicida

2.2 – Estrangulamento (Força actuante independente do peso do corpo)

- Presença de laço fixo e força actuante externa permanente

# Hábito Externo - Sulco submandibular horizontal

- Crista Hemorrágica: equimoses no sulco

- Lesões modeladas do laço

# Hábito Interno - Fractura do osso hióide e dos cornos superiores da cartilagem tiroideia

- Infiltração hemorrágica dos tecidos moles

- Hemorragias petequeais na mucosa laríngea

Etiologia médico – legal: HOMICIDA (crimes sexuais e a recém-nascidos), acidental


(auto-erotismo) e suicida

2.3 – Esganadura (Constrição do pescoço com as mãos)

# Hábito Externo - Escoriações/ equimoses modeladas pelos dedos

- Estigmas ungueais

# Hábito Interno - Fractura do osso hióide e dos cornos superiores da cartilagem tiroideia

- Infiltração hemorrágica dos tecidos moles

- Hemorragias petequeais na mucosa laríngea

- Infiltração hemorrágica dos tecidos moles


Etiologia médico – legal: Homicida
- Hemorragias petequeais na mucosa laríngea

“LEGALIZE” Cravo’s Márcia Cravo 37


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- Anóxa Anémica
Asfixia Química
- Anóxia Histotóxica

3 – Anóxia Anémica

3.1 por hemorragia

# sem alterações visíveis no hábito externo e hábito interno

Etiologia médico – legal: Dependente da etiologia hemorrágica

3.2 por Intoxicação por monóxido de carbono


# Hábito Externo: livores vermelho-carminado
# Hábito Interno: sangue vermelho-carminado e partículas negras de fumo
Etiologia médico – legal: Acidental ou Suicida

4 – Anóxia Histotóxica – por administração de Cianetos


- Inibição da respiração celular em consequência do bloqueio enzimático
# Hábito Externo: livores rosados
# Hábito Interno: irritação da mucosa das vias aéreas superiores e lesões caústicas da
mucosa esófago-gástrica
Etiologia médico – legal: ACIDENTAL, homicida ou suicida

MORTE POR AFOGAMENTO

O afogamento induz morte por: anóxia e alterações hidroelectrolíticas

Existem dois tipos de classificações de morte por afogamento: com submersão ou sem
submersão e por outro lado, afogamento em água doce ou água salgada.

“LEGALIZE” Cravo’s Márcia Cravo 38


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Água Salgada: O pulmão realiza trocas hidroelectrolíticas com a corrente sanguínea,


originando Edema Agudo do Pulmão; Hemoconcentração com hiperclorémia e
hipernatrémia - MORTE LENTA!

Água Doce: O pulmão realiza trocas hidroelectrolíticas com a corrente sanguínea,


originando Hipervolémia com hemodiluição; Hipercaliémia que induz alterações do
ritmo cardíaco com paragem cardio-respiratória – MORTE RÁPIDA!

# Hábito Externo:

 Sinais de Permanência na Água

- Precoces - Roupa e cabelos molhados

- Vestígios residuais (ex: algas; areia)

- Cutis Anseriana (“pele de galinha”)

- Retracção da pele do pénis, escroto e mamilos

- Livores rosáceos

- Tardios - Embranquecimento da pele

- Maceração palmar e plantar

- Aparecimento de adipocera

 Sinal de Afogamento: Cogumelo de Espuma- espuma constituída por água, muco e


surfactante de bolhas finas, viscosas e aderentes à mucosa. A espuma é exteriorizada
pela boca e narinas no cadáver, por aumento da pressão do tórax e pelo processo de
putrefacção.

 Sinais de Putrefacção Cadavérica

# Hábito Interno - Corpos estranhos na via aérea e digestiva

- Espuma na traqueia e brônquios

- Pulmões distendidos, volumosos e esponjosos

- Coração hipertrofiado por aumento da quantidade de sangue no V.D.

- Preenchimento do estômago com água

- Estase sanguínea hepática

“LEGALIZE” Cravo’s Márcia Cravo 39


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AGENTES EXTERNOS FÍSICOS E QUÍMICOS.

Destacam-se quatro agentes externos: térmicos (calor e frio), eléctrico e radioactivo.

Queimaduras:

1º grau: Eritema/ rubor com vasodilatação (edema subepitelial)


- Fogo
2º grau: Flictena (vesículas subepidérmicas de líquido seroso)
- Líquidos em ebulição
3º grau: Escara (necrose com atingimento tecido celular
- Metais ao rubro subcutâneo)
1.Calor
- Gases e vapores 4º grau: Carbonização:
- Insolação - Evaporação da água (aumento da pressão intracraniana e visceral com
fratura da calote craniana e evisceração, respectivamente)
- Hiperpirexia
- Coagulação proteica (retracção muscular e fratura óssea)

 Fogo
 Líquido em Ebulição

Origina queimaduras em salpicos em 1º, 2º ou 3º grau.

 Metais ao Rubro

Origina queimaduras modeladas em 1º, 2º ou 3º grau.

 Gases e Vapores

Origina queimaduras de grande extensão em 1º e 2º grau.

 Insolação

Origina desidratação e queimaduras em 1º, 2º ou 3º grau.

 Hiperpirexia

2. Frio

Exposição ao frio pode desencadear queimaduras:

- Localizadas: em 1º, 2º ou 3º grau – frieiras.

- Sistémicas: por hipotermia.

“LEGALIZE” Cravo’s Márcia Cravo 40


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3. Electricidade

3.1 – Corrente Eléctrica (corrente alterna – C.A. ou corrente directa – C.D.)

Gravidade do electrotrauma depende da natureza, voltagem, frequência, intensidade e


percurso da electricidade no corpo.

Processo de Metalização da pele: a migração iónica e a electrólise ocorrem com a migração


dos iões ácidos dos tecidos de carga negativa que se combinam com os metais do eléctrodo,
formando sais que se difundem nos tecidos, penetrando o metal directamente na pele.

Lesões consoante intensidades das correntes:


- C.A. < 25ma e C.D. >25 e < 28ma  sem lesões

- C.A. > 25 e < 80ma e C.D. > 80 e <300ma  perda de consciência; arritmias ou
espasmo respiratório

- C.A > 80-100ma e C.D. >300ma-3amp  Fibrilhação Ventricular Irreversível

- >3amp Paragem Cardíaca Imediata


Avaliação das características da morte por agente físico externo mediado por Electricidade:
- Necessária avaliação por 2 peritos – técnico de electricidade e médico legista
- Avaliar: hora de morte e características do local (material do solo…); Exame de superfície
corporal (roupa e hábito externo); Exame ao hábito interno; Informações relevantes da vítima
(profissão, horário de trabalho, condições fisiológicas,…) e avaliar vestuário do momento da
morte.

3.2 – Electricidade Atmosférica:

Síndrome de Fulguração: complicações imediatas e tardias

- Complicações imediatas: perda da consciência; surdez e queimaduras cutâneas.

- Complicações tardias: EAM; hemorragias cerebrais e cataratas.

3.3. Ondas Electromagnéticas

4. Radiação

Actua por radionecrose celular.

A longo prazo induz o desenvolvimento de tumores, esterilidade e malformações.

“LEGALIZE” Cravo’s Márcia Cravo 41


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Agentes Químicos Externos

Definição de Agentes Químicos: Substâncias que ao entrar em contacto com a pele e mucosas
exerce efeito de necrose celular.

As substâncias químicas reproduzem queimaduras químicas em 2º ou 3º grau que se


apresentam com contornos nítidos e com o mesmo grau em toda a sua extensão.

“LEGALIZE” Cravo’s Márcia Cravo 42


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INTERVENÇÃO PERICIAL DA GENÉTICA FORENSE.


Definição: disciplina da biologia que estuda os genes, a hereditariedade e a sua variação para o
tribunal; ou

Ciência que se dedica ao estudo de sangue e amostras biológicas com o objectivo de identificar
indivíduos através do seu perfil de DNA.

A genética forense actua em:

a) Direito Civil - investigação biológica e filiação;


- investigação biológica e identificação de desconhecidos (Ex: em
desastres de massa)

b) Direito Penal - investigação criminal e ofensas corporais

a) em Direito Civil

História do Poder de Paternidade:

Segundo art. 4/83, a paternidade assentava na existência de relações sexuais entre a mãe e o
pretenso pai no período da concepção e na fidelidade da mãe ao pretenso pai.

Em 26 de Julho de 1991, exames de sangue tendem a prova directa da paternidade biológica,


apesar de prevalecer, em Tribunal, a prioridade face aos laços emocionais
comparativamente aos biológicos.

Implicações: - Análises de DNA sempre obrigatórias de ambas as partes

- Recusa à realização de determinado exame, esta constitui prova em Tribunal

- Financiamento das análises pelo Sistema Judiciário

Consequências: - Autoridade não é obrigada a recorrer sempre aos exames médicos periciais

- Autoridade não tem que aceitar um resultado de um teste que não autorizou

- Salvaguarda de laços familiares

Para estabelecimento de paternidade, considerar verdade social/laços familiares e verdade


biológica.

Técnicas de avaliação de verdade biológica: - Sensível e Especifico

1. STR (Single Strand Nucleotide) Autossómicos - Fácil interpretação

- Kits comerciais multiplex


*não codificam informação genética

*indivíduos não relacionados apresentam nº de STR’s diferentes para o mesmo loci

“LEGALIZE” Cravo’s Márcia Cravo 43


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STR Autossómicos permitem avaliar paternidade quando conhecimento esclarecido da


identidade maternal, para tal:

Avaliar STR do pretenso pai, da mãe e do filho. Se resultado igual ou superior a


três incompatibilidades, conclui-se exclusão do pretenso pai.

Caso número de incompatibilidades <3, calcular Probabilidade de Paternidade=


contribuição do pretenso pai/ (frequência do alelo na população + contribuição do pretenso
pai). Contudo, para fiabilidade do cálculo, 3 condições obrigatórias: relação mãe/filho
verdadeira; probabilidade de pretenso pai 50% e ainda pretenso pai sem grau de parentesco
com pai biológico.

2. STR’s Específicos Cromossoma Y


STR’s Específicos Cromossoma Y permitem avaliar filiação de pais falecidos - Baixa Taxa Mutação

e comparar familiares da mesma linhagem materna - Fácil Avaliação

- Sem recombinação

3. STR’s Específicos Cromossoma X


STR’s Específicos Cromossoma X permitem avaliar binómio pai/filha na ausência de mãe e
através da genética da avó paterna, na ausência de pai

4. STR DNA Mitocondrial


- Não se recombina
STR DNA Mitocondrial permitem realizar estudo da linhagem
Materna - Elevado nº de cópias

- Elevada taxa mutações sem


sistemas de reparação

b) em Direito Penal

5. STR’s Específicos Cromossoma Y


6. STR’s Específicos Cromossoma Y permitem identificar agente de crime sexual

*Aconselha-se a leitura do tema Desastres de Massa em outra fonte bibliográfica.

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O médico perante as vítimas de Acidente de Viação

Agressão Física

Acidentado SOBREVIVE – Papel Médico no SU:

Passo 1:

Abordagem Geral do Médico do SU:

- Identifica situações clínicas com implicações médico legais e enquadramento jurídico


para apuramento de responsabilidades em Direito Civil e Penal

- Realizar procedimentos médicos gerais e médico legais adequados à situação clínica

- Garantir a segurança da vítima

- Sinalizar e Encaminhar a vítima para cuidados diferenciados

Abordagem Específica do Médico no SU:

- Garantir segurança da vítima

- Avaliar Estado Geral e Comportamental

- Colher anamnese e informações clínicas relevantes

- Realizar exame objectivo completo com avaliação pormenorizada de todas as lesões


e avaliação do nexo de causalidade dessas lesões (ver página 5) – realizar relatório
médico descritivo do que foi observado para servir, no futuro, de prova pericial

- Proceder a medidas terapêuticas e medidas profiláticas

- Recolha, acondicionamento e conservação de amostras biológicas – nomeadamente


a exames toxicológicos para averiguar presença sanguínea de drogas e estupefacientes

“LEGALIZE” Cravo’s Márcia Cravo 45


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-Sinalização judicial do crime e encaminhamento para especialidade Médico-Legal :

A avaliação pelo Médico Legista deve ser realizado em curto prazo de tempo após a
entrada e estabilização do acidentado no S.U. para apuramento de responsabilidade
pelo dano em Direito Penal. Em matéria de Direito Penal – Avaliação não
personalizada em que o bem jurídico tutelado é a integridade psicofísica da vítima e
cujo objectivo é a reparação integral do dano.

Critérios de avaliação do Dano em Direito Penal:

- Tempo de doença

- Tempo de impossibilidade para trabalho e geral

-Danos permanentes expressos em sequelas somáticas/ funcionais e de saúde

-Situações de perigo de vida

 O Médico-Legista só reavalia o acidentado após cura ou consolidação das lesões


(lesões que por mais intervenções médicas que sejam realizadas não existe evolução
clínica positiva das mesmas) para apuramento de responsabilidade pelo dano em
Direito Civil. Deve fazê-lo conjuntamente com informações transmitidas pelo médico
que acompanhou o acidentado.

Em matéria de Direito Civil – Avaliação personalizada em que o bem jurídico tutelado


é a integridade psicofísica da vítima e cujo objectivo é a reparação integral do dano.

Critérios de Avaliação de Dano em Direito Civil:

- Incapacidade Temporária Parcial ou Absoluta (incapacidade funcional ou dano corporal


verificada desde o acidente/agressão até à cura)

- Incapacidade Permanente (incapacidade funcional ou dano corporal verificada desde o


acidente/agressão até à consolidação das lesões – termo explicado anteriormente)

- Dano Corporal Patrimonial

- Dano Corporal Não Patrimonial

- Dano Estético

“LEGALIZE” Cravo’s Márcia Cravo 46


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- Dano Futuro

- Prejuízo de Afirmação Pessoal

- Dano Juvenil (Provar que o jovem teria muito potencial futuro que poderá ter ficado
comprometido com o acidente/agressão – este dano tem, obviamente que ser muito bem
justificado em tribunal)

O Dano Civil deve ser avaliado, segundo Decreto de Lei nº352/2007 – 23 de


Outubro, através de Tabela de Incapacidades Permanentes. Esta destina-se a ser usada
para avaliação de dano em matéria de direito civil exclusivamente, por médicos
legistas ou médicos de outras especialidades com competência na avaliação de dano
corporal.

Agressão Física

Acidentado MORRE – Papel Médico no SU:

1 – Verificação por médico assistente ou por primeiro médico a assistir o doente após a morte

2- Preenchimento do Boletim de Informação Clínica, que deve conter:

e) Identificação do doente
f) Identificação do médico e número da ordem
g) Local, hora e data do óbito
h) Informações clínicas e observáveis relevantes (causa que determinou internamento; período de
internamento; resultados da observação clínica e ECDD; evolução clínica e antecedentes
relevantes para diagnóstico de etiologia médico legal.

3 – Comunicar ao Director hospital que comunica ao Ministério Público (MP), que por sua vez, decide
sobre a realização de autópsia.

4 – Médico Legista realiza autópsia com objectivo de:

- Apurar responsabilidade em matéria de Direito Penal e Civil;


- Determinar a causa da morte;
- Avaliar Nexo de Causalidade e Tipificar as lesões decorridas do acidente;
- Reconstituir cenário e circunstâncias do acidente;
- Colher amostras toxicológicas (álcool, estupefacientes e medicamentos)

“LEGALIZE” Cravo’s Márcia Cravo 47


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- Em casos de detioração corporal que não permita a identificação visual do sujeito


acidentado, colheita de DNA para identificação individual

A autópsia médico-legal nunca é dispensada em mortes por acidente de trabalho ou


acidente de viação, no sentido de investigar etiologia médico-legal.

* Lesões na Circulação Rodoviária discriminadas na página 13.

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O médico perante as vítimas de Acidente de Trabalho

Acidente de Trabalho

Seguradora avalia dano através da Tabela Nacional de Incapacidades e propõe


Incapacidade Permanente Parcial (IPP) com correspondente indemnização do dano

Para compreensão da Tabela Nacional de Incapacidades e da quantificação da IPP aconselha-


se a visualização dos slides da aula.

Se Sinistrado não concordar com a indemnização pode iniciar Processo Judicial para
contrapor a proposta da seguradora:

1- Tribunal convoca Médico Legista para realização de exame singular pericial ao


Sinistrado e propõe IPP de acordo com o constatado na sua avaliação

Caso Seguradora e Sinistrado em desacordo com a nova IPP proposta pelo Médico
Legista, o Tribunal convoca Junta Médica.

A Junta Médica é composta pelo Médico Legista em representação do Tribunal; por um


Cirurgião Plástico em representação da seguradora e pelo Médico Assistente (MGF) do
Sinistrado.

O Médico Assistente pode recursa-se a representar o Sinistrado caso apresente


justificação considerada válida em Tribunal, contudo caso tenha acompanhado o
doente durante o processo do acidente de trabalho é obrigado a realizar relatório
médico com a sua avaliação médica.

Dano em Direito do Trabalho – Avaliação funcional em que o bem jurídico tutelado é a


integridade produtiva da vítima e cujo objectivo é a avaliação da redução da
capacidade de ganho. Critérios de avaliação do Dano em Direito do Trabalho são
equivalentes aos critérios de avaliação do Dano em Direito Civil – discriminados na
página 46.

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LEIS PERTINENTES EM VERIFICAÇÃO E CERTIFICAÇÃO DO ÓBITO

Lei 98/2009 – 4 de Setembro

Secção II

8º artigo – Delimitação do Acidente de Trabalho

1- É acidente de trabalho aquele que se verifique no local e no tempo de trabalho e produza


directa ou indirectamente lesão corporal, perturbação funcional ou doença de que resulte
redução na capacidade de trabalho ou de ganho ou a morte.

2- Para efeitos do presente capítulo, entende-se por:


a) «Local de trabalho» todo o lugar em que o trabalhador se encontra ou deva dirigir-se em
virtude do seu trabalho e em que esteja, directa ou indirectamente, sujeito ao controlo do
empregador;
b) «Tempo de trabalho além do período normal de trabalho» o que precede o seu início, em
actos de preparação ou com ele relacionados, e o que se lhe segue, em actos também com ele
relacionados, e ainda as interrupções normais ou forçosas de trabalho

9º artigo – Extensão do Conceito

Considera-se também acidente de trabalho o ocorrido:

a) No trajecto de ida para o local de trabalho ou de regresso deste, nos termos referidos no
número seguinte;

b) Na execução de serviços espontaneamente prestados e de que possa resultar proveito


económico para o empregador;

c) No local de trabalho e fora deste, quando no exercício do direito de reunião ou de


actividade de representante dos trabalhadores, nos termos previstos no Código do Trabalho;

d) No local de trabalho, quando em frequência de curso de formação profissional ou, fora do


local de trabalho, quando exista autorização expressa do empregador para tal frequência;

e) No local de pagamento da retribuição, enquanto o trabalhador aí permanecer para tal


efeito;

“LEGALIZE” Cravo’s Márcia Cravo 50


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f) No local onde o trabalhador deva receber qualquer forma de assistência ou tratamento em


virtude de anterior acidente e enquanto aí permanecer para esse efeito;

g) Em actividade de procura de emprego durante o crédito de horas para tal concedido por lei
aos trabalhadores com processo de cessação do contrato de trabalho em curso;

h) Fora do local ou tempo de trabalho, quando verificado na execução de serviços


determinados pelo empregador ou por ele consentidos.

2 - A alínea a) do número anterior compreende o acidente de trabalho que se verifique nos


trajectos normalmente utilizados e durante o período de tempo habitualmente gasto pelo
trabalhador:

a) Entre qualquer dos seus locais de trabalho, no caso de ter mais de um emprego;

b) Entre a sua residência habitual ou ocasional e as instalações que constituem o seu local de
trabalho;

c) Entre qualquer dos locais referidos na alínea precedente e o local do pagamento da


retribuição;

d) Entre qualquer dos locais referidos na alínea b) e o local onde ao trabalhador deva ser
prestada qualquer forma de assistência ou tratamento por virtude de anterior acidente;

e) Entre o local de trabalho e o local da refeição;

f) Entre o local onde por determinação do empregador presta qualquer serviço relacionado
com o seu trabalho e as instalações que constituem o seu local de trabalho habitual ou a sua
residência habitual ou ocasional.

3 - Não deixa de se considerar acidente de trabalho o que ocorrer quando o trajecto normal
tenha sofrido interrupções ou desvios determinados pela satisfação de necessidades
atendíveis do trabalhador, bem como por motivo de força maior ou por caso fortuito.

4 - No caso previsto na alínea a) do n.º 2, é responsável pelo acidente o empregador para cujo
local de trabalho o trabalhador se dirige.

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Toxicologia Forense

Objectivo da Toxicologia Forense:

-Pesquisar e quantificar substâncias consideradas tóxicas ao organismo no sentido de


investigar etiologia médico-legal da intoxicação para fins judiciais.

Ou

-Avaliar situações em que a acção do agente externo tóxico provocou dano ou morte,
em sede de:

Em Direito Penal – intuito de prejudicar a saúde de outro (Crime de ofensa à


integridade física simples ou grave – pág.8/9 ; Crime de homicídio pelo resultado de
negligência); intuito de causar a morte de outro (Homicídio qualificado);
Inflação/Crime (Condução sob efeito de álcool, Abuso de drogas, uso de dopping em
desporto).

Em Direito Civil – Acidente doméstico; Intoxicação medicamentosa.

Em Direito do Trabalho – Acidente de trabalho.

Etiologia Médico-Legal:

1. Acidental (Ac. Domésticos, Ac. Trabalho, Picadas de Animais, Intoxicações


Medicamentosas e Terapêuticos)

2. Suicida (Intenção Auto-destrutiva)

3. Homicida (Ofensas à Integridade Física; Homicídio)

4. Abuso de Drogas (Relacionada com a consequência do Abuso ou Overdose –


directamente relacionado com Abuso de Drogas)

Agente tóxico: substância que provoca no organismo alterações em elementos


bioquímicos essenciais à vida. Ex: álcool (volátil); paratião (pesticidas);alumínio (metais
pesados); opióide/ cocaína (drogas).

Substância Venenosa: toda a substância que pelas suas características, concentrações


e quantidades, quando administrada a um individuo sejam susceptível de lhe provocar
dano.

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Agente Químico: substância química que quando em contacto com a pele ou mucosas
exerce efeito de necrose celular, originando queimadura química.

Aguda: exposição de pequena duração, em dose única ou dose múltipla,


num curto espaço de tempo e com rápida absorção do tóxico.
Manifestações clínicas: aparecimento rápido com rápida resolução ou
morte.

Tipo de Intoxicações: SubAguda: exposições frequentes ou repetidas.


Manifestações clínicas: aparecimento em dias/semanas após inicio do
consumo.

Crónica: exposição repetida durante um longo espaço de tempo.


Manifestações clínicas: aparecimento após acumulação de pequenas
doses de tóxico ou da adição dos efeitos das diferentes exposições.

Toxicocinética engloba:

# Absorção: avalia as circunstâncias da administração do tóxico

# Distribuição (Sinais + Sintomas): permite realizar diagnóstico clínico

# Biotransformação (modificação da sustância a nível celular com formação de


metabolitos): permite pesquisa através de exames analíticos específicos

# Eliminação: permite confirmação da intoxicação através da detecção dos metabolitos


excretados

 ÁLCOOL:

Etiologias de Intoxicação Aguda: Acidentes de viação; acidente de trabalho; acidente


doméstico.

Pode existir morte associada a intoxicação aguda do álcool.


1ª: Depressão dos centros mais superiores da vida psíquica que regulam o
comportamento, a razão e a autocrítica. Euforia e alt. da visão
Acidente de Viação e Acidente de Trabalho

Evolução dos Efeitos 2ª: Depressão dos centros nervosos de origem mais primitiva.
Excitabilidade e exaltação de impulsos sexuais.
Do Álcool Crimes de ofensas corporais, sexuais e de Homicídio.

a Nível Cerebral 3ª: Depressão dos centros motores medulares. Diminuição da percepção
sensorial e motora com lentificação da fala e incoordenação da marcha.
Quedas acidentais, Desacatos e Acções suicidas.

4ª: Depressão dos centros protuberanciais. Coma e Paragem Respiratória.


Morte por intoxicação etílica e Acidentes Domésticos.
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 INTOXICAÇÃO MEDICAMENTOSA: tranquilizantes, hipnóticos e antidepressivos

Medicamento: todas as preparações farmacêuticas que contêm uma substância/


associação de substâncias que de algum modo contribui para melhorar a saúde.

Etiologia médico-legal:

1. Acidental: troca inadvertida de medicação; incompatibilidade com outro


medicamento ou erro na administração

2. Suicida (ausência de sinais de violência)

Nestas situações a realização da autópsia permite a confirmação da etiologia médico-


legal e a determinação da causa directa e intermédia de morte.

 ABUSO DE DROGAS:

Droga: substância química de origem natural, semi-sintética ou artificial, susceptíveis


de consumo com fins não terapêuticos.

Actuação a nível do SNC: Dependência:

- Efeitos directos: euforia, - Dependência Física: via metabólica


hiperexcitabilidade e delírio/alucinação
+
- Efeitos indirectos: angústia,
- Dependência Psíquica: vínculo
ansiedade, insónia e perda de memória
comportamental

Induz: Isolamento social, desajustamento de integração em sociedade e dificuldade de


relacionamento afectivo

Etiologia médico-legal:

1. Directa: Overdose

2. Indirecta/Relacionada com consumo:

2.1.Natural: por risco aumentado a infecções e lesões cardíacas e pulmonares

2.2.Violenta: por aumento de exposição a acidentes, suicídio e homicídio

 INTOXICAÇÕES POR PESTCIDAS

Pesticida: substância utilizada para destruir fauna/flora que prejudica agricultura

Etiologia médico-legal: Acidental; Suicida e Homicida

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