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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

SETOR DE CIÊNCIAS DA SAÚDE


DEPARTAMENTO DE SAÚDE COLETIVA
ESPECIALIZAÇÃO EM PERÍCIAS MÉDICAS

ED MARCELO ZANINELLI

MODELO DE LAUDO MÉDICO PERICIAL PREVIDENCIÁRIO NA


JUSTIÇA ESTADUAL

CURITIBA
2.021
ED MARCELO ZANINELLI

MODELO DE LAUDO MÉDICO PERICIAL PREVIDENCIÁRIO NA


JUSTIÇA ESTADUAL

Artigo apresentado como requisito parcial à


conclusão do Curso de Especialização em
Perícias Médicas, do Setor de Ciências da
Saúde, Departamento de Saúde Coletiva, da
Universidade Federal do Paraná,
Orientador: Dr Claudio José Trezub

CURITIBA
2.021
Dedico esta monografia à minha esposa Daniele e meus filhos Giovani e
Bruno, que me apoiaram durante todo o tempo em que estive
desenvolvendo este trabalho. Também dedico a todos os meus
professores, em especial, representando todos, ao meu orientador Prof.
Dr. Claudio José Trezub, por seu exemplo, competência e atenção.
“A verdade é filha legítima da Justiça, porque dá a cada um o que é seu.
E isto é o que faz e o que diz a verdade, ao contrário da mentira. A
mentira, ou vos tira o que tendes ou vos dá o que não tendes; ou vos
rouba ou vos condena.” (Padre Antônio Vieira – 1654 – Sermão na Igreja
Maior – São Luis, MA)
RESUMO
Este trabalho apresenta um modelo de laudo médico pericial
previdenciário na justiça estadual com o objetivo de selecionar e
organizar todas as informações coletadas dos documentos médicos e da
avaliação pericial presencial, reunindo-as em um documento médico
legal completo e conclusivo, preenchido de maneira clara e objetiva, pois
se destina a informar a terceiros quanto a uma situação médica
específica, e, portanto, deve ser legível e compreensível. Na perícia médica
previdenciária o laudo pericial é prova decisiva da condição de
incapacidade laborativa, com vistas a assessorar a concessão de um
benefício por incapacidade. O laudo médico é o relato das ocorrências de
história, exame físico e exames complementares, bem como do registro
das explicações e conclusões do perito, além das provas documentais
existentes, com o objetivo de esclarecer a autoridade julgadora quanto ao
cabimento ou não do pleito. Foram analisadas diversas fontes para
confecção de laudos médicos, com tópicos distintos indicados por cada
uma delas, e com a escolha pelas informações mais completas e
representativas que servirão de embasamento para as conclusões e
justificativas a serem dadas nas respostas aos quesitos propostos pelo
juízo e pelas partes.

Palavras-Chave: Prova Pericial. Laudo médico pericial. Previdência


Social. Legislação.
ABSTRACT
This paper presents a model of social security expert report in the
state courts with the objective of selecting and organizing all the
information collected from medical documents and the on-site expert
evaluation, bringing them together in a complete and conclusive medical-
legal document, filled out clearly and objectively, as it is intended to
inform third parties about a specific medical situation, and therefore
must be readable and understandable. In social security medical
expertise, the expert report is decisive proof of the condition of labor
disability, in order to assist in the granting of a disability benefit. The
medical report is the report of the occurrences of history, physical
examination, and complementary exams, as well as the record of the
expert's explanations and conclusions, in addition to the existing
documentary evidence, to clarify the judging authority as to whether or
not the claim is appropriate. Several sources were analyzed for the
preparation of medical reports, with different topics indicated by each of
them, and with the choice of the most complete and representative
information that will serve as a basis for the conclusions and
justifications to be given in the answers to the questions proposed by the
court and by the parts.
Keywords: Expert Testimony. Expert medical report. Social Security.
Legislation.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.......................................................8

1.1 OBJETIVO DA PESQUISA.....................................10

2 METODOS...........................................................11

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA...................................12

4 DISCUSSÃO.........................................................17

5 APRESENTAÇÃO DO MODELO.............................20

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................24

7 REFERÊNCIAS....................................................25
8

1 INTRODUÇÃO
A literatura médica traz, em diversas citações, a definição de
perícia. Segundo o Dicionário Houaiss, etimologicamente peritia é o
conhecimento adquirido pelo uso. Numa definição mais pragmática,
define-se uma perícia como um exame de situações ou fatos, relacionados
a coisas ou pessoas, realizado por um ou mais especialistas na matéria,
com o objetivo de elucidar determinados aspectos técnicos (EPIPHANIO e
VILELA, 2009).
As perícias médicas são parte fundamental em qualquer tipo de
processo: penal, civil, trabalhista e administrativo. E com relação à
finalidade a que se destina, podemos classificar a perícia médica em
judicial ou não judicial, estas destinadas a instrumentalizar processos de
cunho extrajudicial, como os que estão designados em áreas
administrativas.
Nos processos relacionados aos benefícios por incapacidade a
prova pericial é, geralmente, elemento decisivo. Para tal, e para que possa
ser tomada como meio de prova idôneo, a perícia deve revestir-se de
amplo conteúdo e o laudo fundamentado, para possibilitar a discussão
dos elementos que servirão de convencimento ao juiz (SAVARIS, 2.014).
A perícia médica judicial previdenciária, realizada na esfera da
justiça federal ou estadual, relaciona-se aos casos de não concordância
com os resultados da perícia administrativa realizada pela autarquia
federal.
O objeto da perícia judicial previdenciária é verificar a condição de
capacidade ou incapacidade para o trabalho, mediante a emissão de um
parecer técnico conclusivo sobre a necessidade do autor ser assistido
financeiramente por algum dos benefícios assistenciais previstos em lei.
O relatório médico-legal é a descrição mais minuciosa de uma
perícia médica, a fim de responder à solicitação da autoridade judicial
frente ao inquérito (peritia percipiendi). Se esse relatório é realizado pelos
peritos após suas investigações, contando para isso com a ajuda de
outros recursos ou consultas a tratados especializados, chama-se laudo
(GENIVAL VELOSO DE FRANÇA, 2.018).
Em direito, a perícia é um meio de prova em que as pessoas
qualificadas tecnicamente, os peritos, nomeados pelo juiz, analisam fatos
juridicamente relevantes à causa examinada, elaborando um laudo
(FARACO, 2.010).
O laudo pericial deve ser soberano, desde que fundamentado em
elementos científicos objetivos e que encontre subsídio nos achados do
laudo produzido.
9

Na elaboração do laudo médico pericial previdenciário devem ser


observados os ditames do C.F.M. (Conselho Federal de Medicina),
Resolução 2.056/2.013, C.P.C. (Código de Processo Civil), Lei
13.105/2.015, e a Lei 8.213/1.991 de Benefícios da Previdência Social,
sendo que os principais benefícios a serem analisados são as
incapacidades temporárias por auxílio-doença (relacionadas ou não com
o trabalho), incapacidade permanente (aposentadoria por invalidez) e o
pecúlio indenizatório auxílio-acidente.
O laudo médico pericial judicial, nas ações previdenciárias por
incapacidade, deve ser elaborado em obediência aos mesmos princípios
gerais que norteiam a atividade pericial médica, com a particular atenção
à necessidade de oferecer ainda mais esclarecimentos e fundamentação,
pois que deverá ser fator de convencimento à autoridade julgadora.
Na confecção do laudo pericial, o perito deve considerar a inclusão
de alguns tópicos básicos recomendados, como preâmbulo, histórico,
descrição, discussão, conclusão e respostas aos quesitos propostos.
Dentro destes tópicos básicos, há necessidade de organização das
informações apuradas dos dados processuais, circunstância da perícia
(local, data, hora, participantes etc.), objeto da ação, identificação do
periciado, identificação e qualificação do perito, histórico ocupacional e
previdenciário, história mórbida atual, pregressa e familiar, condições e
hábitos de vida, exame físico geral, do estado mental, específico, exames
complementares, comprovantes de tratamentos e outros documentos
relevantes, a discussão e comentários médico-periciais, com citação e
embasamento de literatura e legislação, caracterização da incapacidade,
fixação de datas de início da doença e de incapacidade e da consolidação
das lesões.
Dessa forma, a quantidade de documentos, médicos ou não,
acostados aos autos, torna cada vez mais complexa a tarefa de redigir um
laudo tecnicamente embasado para dar uma qualidade sólida ao objetivo
final do laudo, que é a correta instrução da autoridade judicial na tomada
de decisão sobre o motivo do processo.
É, portanto, um documento escrito, que deve ser completo e
conclusivo, preenchido de maneira clara e objetiva, pois se destina a
informar a terceiros quanto a uma situação médica específica e, portanto,
deve ser legível e compreensível (TREZUB e PATSIS, 2.021).
10

1.1 OBJETIVO DA PESQUISA

Não existe um modelo único para laudos periciais, pelo que, tanto
peritos como instituições podem desenvolver formulários próprios,
conforme sua especificidade.
Isso já existe na justiça federal, em varas trabalhistas e na própria
autarquia federal, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS),
responsável pela análise administrativa inicial dos pedidos de benefícios
por incapacidade.
A própria Associação Brasileira de Medicina Legal e Perícias
Médicas realizou, no final do ano de 2.020, prova para obtenção de título
de médico especialista, sendo o principal peso na valoração dos
resultados (classificação dos candidatos) a uniformização das
informações que deveriam estar contidas nos respectivos laudos médicos.
No intuito de tornar o laudo pericial nesta área mais claro e
cientificamente respaldado, completo e de fácil interpretação para juízes
e advogados, objetiva-se, com este estudo, disponibilizar um modelo
organizado, que respeite as normas da legislação vigente e com todas as
informações necessárias para correta conclusão processual pelos
magistrados.
11

2 MÉTODO DA PESQUISA

Realizou-se um estudo descritivo e propositivo de um modelo de


laudo médico pericial, com levantamento acadêmico (revisão
bibliográfica) sobre o tema perícias médicas, laudo médico pericial e os
temas relacionados à modalidade previdenciária, incluindo os principais
e consagrados livros textos nacionais, artigos científicos publicados,
orientações dos principais órgãos de classe, como Conselho Federal de
Medicina (em suas Resoluções e Pareceres) e Código de Ética Médica,
Associação Brasileira de Medicina Legal e Perícias Médicas, Leis do
Código do Processo Civil, Lei de Benefícios da Previdência Social, entre
outros.
12

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Segundo o Código do Processo Civil (CPC), em seu artigo 473, os


princípios fundamentais que devem nortear o laudo pericial estão bem
estruturados e assim dispostos:
Artigo 473 - O laudo pericial deverá conter:
I – a exposição do objeto da perícia;
Consiste na análise da Petição Inicial do processo e verificação da
causa de pedir. No caso de perícia médica, se o pedido está sendo de um
acidente ou de uma doença ocupacional e, nessa última, qual ou quais
as patologias estão sendo alegadas.
II – a análise técnica ou científica realizada pelo perito;
Deverá analisar de forma clara, objetiva e concisamente,
demonstrando em linguagem simples, porém com embasamento
científico, como chegou à sua conclusão pericial. Não cabe embasamento
simplesmente fundamentado na opinião pessoal do perito.
III – a indicação do método utilizado, esclarecendo-o e demonstrando ser
predominantemente aceito pelos especialistas da área do conhecimento da
qual se originou;
O perito deve demonstrar, através de critérios técnicos, os motivos
que o fizeram chegar à conclusão de presença ou ausência de nexo, da
sua capacidade laboral e como fez para caracterizá-la quanto à
magnitude, duração e abrangência.
IV – resposta conclusiva a todos os quesitos apresentados pelo juiz, pelas
partes e pelo Ministério Público;
Devem contemplar exatamente o que foi perguntado. Devem evitar
expressões como vide laudo, prejudicado e não pertinente, que não sejam
seguidas da explicação detalhada.
- Parágrafo 1º- No laudo, o perito deve apresentar sua fundamentação em
linguagem simples e com coerência lógica, indicando como alcançou suas
conclusões.
O perito deve trazer ao laudo suas fontes de pesquisa, indicando
um raciocínio lógico, sem exageros na linguagem técnica e com um
sequenciamento de informações encadeado para obter suas conclusões.
-Parágrafo 2º- É vedado ao perito ultrapassar os limites de sua designação,
bem como emitir opiniões pessoais que excedam o exame técnico ou
científico do objeto da perícia.
13

Cabe ao perito respeitar o motivo para o qual foi incumbido pela


autoridade judicial e direcionar seus esclarecimentos através de
conclusões obtidas no estrito estudo técnico dos fatos apresentados.
-Parágrafo 3º- Para o desempenho de sua função, o perito e os assistentes
técnicos podem valer-se de todos os meios necessários, ouvindo
testemunhas, obtendo informações, solicitando documentos que estejam
em poder da parte, de terceiros ou em repartições públicas, bem como
instruir o laudo com planilhas, mapas, plantas, desenhos, fotografias ou
outros elementos necessários ao esclarecimento do objeto da perícia.
Há liberdade, para os profissionais que atuarão no auxílio das
partes e do Juízo, de obter todos os materiais possíveis para seu
esclarecimento e fundamentação de suas conclusões.
Outra importante fonte de consulta sobre o tema é a Resolução do
Conselho Federal de Medicina nº 2.056/2013.
O Conselho Federal de Medicina, pela Resolução do CFM
nº2.056/2.013 (publicada no D.O.U. de 12 nov. 2013, Seção I, p. 162-3):
Capítulo XII das Perícias Médicas e Médico-Legais), além de disciplinar a
fiscalização e autorização de funcionamento dos serviços médicos, trata
também dos roteiros de história clínica (anamnese) a serem adotados em
todo o Brasil, bem como dos roteiros para perícias médicas.
Artigo 55. É fundamental, nos procedimentos periciais, a observância do
princípio do visum et repertum (ver e registrar), de forma que o laudo
pericial possa ser objeto de análise futura, sempre que necessário.
Observa-se aqui a necessidade de não desperdiçar nenhuma
informação obtida com a análise pericial. Dados positivos e negativos
devem ser registrados, uma vez que podem ser úteis em análises futuras,
para esclarecimentos adicionais que possam ser solicitados.
Artigo 56 Os relatórios periciais (laudos) poderão variar em função da
natureza e das peculiaridades da perícia (civil, criminal, administrativa,
trabalhista ou previdenciária; transversal, retrospectiva ou prospectiva;
direta ou indireta); entretanto, sempre que possível, deverá ser observado
o roteiro abaixo indicado.
Na confecção do laudo, independente de sua finalidade, deve ser
seguido um roteiro com as informações mais abrangentes obtidas de
todos os documentos analisados e da própria avaliação presencial do
periciado.
Artigo 58. Fica definido como roteiro básico do relatório pericial o que
segue abaixo:
a) Preâmbulo
14

Uma auto apresentação do perito, na qual informa sobre sua qualificação


profissional na matéria em discussão;
b) Individualização da perícia
Com detalhes objetivos sobre o processo e as partes envolvidas;
c) Circunstâncias do exame pericial
Uma descrição objetiva dos procedimentos realizados (entrevistados,
número de entrevistas, tempo despendido, documentos examinados,
exames complementares etc.);
d) Identificação do examinado
Constando o nome e qualificação completa da pessoa que foi alvo dos
procedimentos periciais;
e) História da doença atual
Contendo o relato do adoecimento, início, principais sinais e sintomas,
tempo de duração e forma de evolução, consequências, tratamentos
realizados, internações e outras informações relevantes;
f) História pessoal
Uma síntese da história de vida do examinado, com ênfase na sua relação
com o objeto da perícia, se houver;
g) História psiquiátrica prévia (em perícias psiquiátricas)
O relato dos contatos psiquiátricos prévios e, em especial, tratamentos e
hospitalizações;
h) História médica
A descrição das doenças clínicas e cirúrgicas atuais e prévias, incluindo
tratamentos e hospitalizações;
i) História familiar
O registro das doenças prevalentes nos familiares próximos;
j) Exame Físico
Uma descrição da condição clínica geral do examinado;
k) Exame do estado mental (em perícias psiquiátricas e neurológicas)
A descrição de funções psíquicas do examinado.
l) Exame e avaliações complementares
A transcrição dos achados laboratoriais e de resultados de exames e
testes aplicados;
m) Diagnóstico positivo
15

Segundo nosografia preconizada pela Organização Mundial da Saúde,


oficialmente adotada pelo Brasil;
n) Comentários médico-legais
Os esclarecimentos sobre a relação entre a conclusão médica e as normas
legais que disciplinam o assunto em debate;
o) Conclusão
Uma frase curta e direta que sintetiza todo o pensamento do perito.
p) Resposta aos quesitos.
Com respostas claras, concisas e objetivas;
Já a Associação Brasileira de Medicina Legal e Perícias Médicas,
ABMLPM, estabeleceu critérios para avaliação dos candidatos ao título
de especialista em perícia médica e medicina legal e, para tanto, ficou
determinado que a confecção do Laudo deverá conter, minimamente, o
seguinte ordenamento: Preâmbulo, Quesitos, Histórico, Descrição,
Discussão, Conclusão, Respostas aos quesitos.
Ao candidato condicionou-se que o texto atenderá os fundamentos
da norma culta da língua portuguesa, os critérios da construção
linguística como a coesão e coerência textual, a logicidade argumentativa
e a cabal demonstração de sólidos conhecimentos da área de atuação da
especialidade escolhida pelo candidato.
Segundo o Manual Técnico de Perícia Médica Previdenciária, do
INSS, da DIRSAT (Diretoria de Saúde do Trabalhador) de março de 2.018,
estes são os elementos do laudo médico pericial no benefício por
incapacidade no INSS:
O laudo médico pericial deve ser composto dos seguintes elementos:
I - identificação;
II - forma de filiação;
III - histórico previdenciário;
IV - anamnese (histórico ocupacional, queixa principal, história da
doença atual, incluindo o registro de documentação médica apresentada
e tratamento realizado/proposto, história patológica pregressa, história
psicossocial e familiar);
V - exame físico;
VI - diagnóstico (CID);
VII - considerações médico-periciais;
VIII - fixação das datas de início da doença e da incapacidade;
16

IX - verificação da isenção de carência;


X - caracterização dos Nexos Técnicos Previdenciários; e
XI - conclusão médico-pericial.

Esses critérios, de um modo geral, são os mesmos indicados na


maioria das principais fontes consultadas e utilizadas no embasamento
acadêmico da formação do médico perito (GENIVAL VELOSO DE
FRANÇA, 2.018; TREZUB E PATSIS, 2.021; EPIPHANIO E VILELA, 2.009;
BUONO E BUONO NETO, 2.008).
17

4 DISCUSSÃO

A perícia médica é o principal meio de prova nas ações que versam


sobre capacidade ou incapacidade laboral.
Fornecer à autoridade julgadora esclarecimentos sobre a matéria
específica, com base em conhecimentos científicos, será o principal meio
responsável pela formação do convencimento do juízo.
Mesmo considerando que o magistrado não está subordinado ao
laudo pericial, sua importância é inegável, ao ponto de a prova pericial
assumir características de prova decisiva (C.P.C. – Lei 13.105 de
16/03/2.015: Art. 479 e 480).
Outros meios de prova também são utilizados, como depoimento
testemunhal de fatos e circunstâncias e documentos escritos, mas o
relatório pericial é o precípuo subsídio que auxilia o juízo em sua tomada
de decisão.
Cabe ao juiz apreciar a prova pericial de acordo com o disposto no
art. 371 do C.P.C., indicando na sentença os motivos que o levaram a
considerar ou deixar de considerar as conclusões do laudo, levando em
conta a metodologia utilizada pelo perito.
Apesar de a convicção do magistrado não estar total nem
absolutamente vinculada ao resultado da perícia médica, sua influência
na formação do convencimento do juiz é substancial. (LEAL e MILAGRES,
2.012).
Cabe ao perito, ao confeccionar o laudo, adequar todo
conhecimento técnico da matéria específica com as inúmeras
informações contidas nas manifestações das partes, que fazem parte do
processo.
Uma adequada organização das informações coletadas na perícia
médica, reunidas no texto do laudo, em sequência lógica e encadeada
com as informações técnicas obtidas pela revisão científica auxilia
sobremaneira nas conclusões e justificativas dadas as respostas dos
quesitos propostos.
Definidos os tópicos a serem preenchidos pelas informações que
serão coletadas, deve-se saber quais serão as fontes a serem consultadas.
A primeira fonte de informação é a inicial do processo. Nela
encontra-se o que o propositor da ação dá como sua versão dos fatos, e
apresenta seus documentos. Nem sempre contempla, de modo completo,
o informe médico do problema do litígio.
18

A leitura da contestação, apresentada pela parte requerida, no mais


das vezes, traz maiores informações, mas também deve ser vista com
cautela, uma vez que também trará alegações e documentos
vislumbrados como importantes por uma parte parcial no processo.
São colhidos dados dos documentos próprios do periciado como
identidade, C.P.F., carteira de trabalho por tempo de serviços, carteira
nacional de habilitação, endereço, e outras informações como formação
escolar e profissão.
Serão apresentados documentos médicos como atestados, receitas,
comprovantes de tratamentos, prontuários de internamento hospitalar,
exames complementares, laudo periciais prévios, seja de avaliações
judiciais anteriores ou de perícias previdenciárias, laudos
profissiográficos, ergonômicos, comunicados de acidentes de trabalho,
entre outros.
E, finalmente, a perícia presencial, com adequada anamnese,
pormenorizado exame físico específico, e avaliação de documentos e
exames trazidos pelo Autor, completarão as informações que vão
preencher os demais tópicos constituintes do laudo.
Em seu entremeio serão acrescentadas anotações oriundas de
pesquisas sobre o tema na literatura acadêmica, ou da experiência
profissional do perito, que servirão de embasamento para tomada de
conclusões e justificativas para respostas aos quesitos.
Considerando que o laudo será lido pela autoridade judicial, mas
também poderá ser analisado pelo assistente técnico, no caso, também
médico, deve-se ter cuidado para intercalar formas de descrição:
denotativa, que se preocupa em simplesmente descrever o que se observa
(registra a ocorrência) e é direcionada para o leitor médico, e a conotativa,
estabelece uma decodificação dos dados para qualquer leitor, assinala
seu significado e o interpreta.
São algumas regras importantes citadas por EPIPHANIO e VILELA,
2.009 ao fazer a sua redação: preocupar-se com o leitor, evitar negativas
na frase, uso palavras simples, não poupar adjetivos na descrição, evitar
ser prolixo, revisar o texto, estudar o assunto e concentrar-se na
conclusão.
O conhecimento, e o estudo, da matéria em questão auxiliarão na
fundamentação da conclusão, que encerra tudo que foi relatado no corpo
do laudo e levará a todas as justificativas das respostas dos quesitos
apresentados, lembrando os principais pontos a serem esclarecidos como
o próprio diagnóstico positivo, a capacidade e incapacidade laboral, nexo
causal, datas técnicas (início da doença e início da incapacidade,
consolidação das lesões) e potencial laboral residual (reabilitação
profissional).
19

Não existe um modelo único para laudos periciais, pelo que, tanto
peritos como instituições podem desenvolver formulários próprios,
conforme sua especificidade.
Um laudo médico pericial padronizado, existente desde o ano de
2.009, em algumas cidades da região sul (de abrangência do Tribunal
Regional Federal da 4ª Região), foi adotado como modelo padronizado de
laudo médico para perícias previdenciárias, cuja experiência tem
recebido aprovação sistemática, tanto por parte dos peritos como dos
magistrados, pois tem se mostrado ferramenta prática, que resultou em
melhora da qualidade das perícias, e na facilitação e compreensão da
prova pericial pelo julgador e pelas partes (TREZUB e PATSIS, 2.021)
Este instrumento padronizado, integrado pelo processo eletrônico
(e-Proc), com a perícia realizada totalmente na forma eletrônica, gera
insatisfação de alguns autores, que sentem que o modelo de software
para confeccionar um laudo retira-lhe a liberdade de escrever em uma
pequena caixa de texto, e engessa sua forma de justificar as conclusões.
A própria autarquia federal, INSS, possui um modelo próprio de
preenchimento pelos peritos dos dados obtidos na avaliação pericial
presencial, sendo considerado muito resumido, sem embasamento, e sem
conter todas as informações necessárias para o entendimento das suas
conclusões.
Independente do modelo a ser adotado, o papel do perito é
transformar todas as informações técnicas em texto. Em um texto o mais
completo possível e com embasamento científico consistente para ser
utilizado pelo juiz como fonte de informação para que sejam esclarecidas
as questões relacionadas ao objeto da ação.
20

5 APRESENTAÇÃO DO MODELO

O modelo proposto segue uma formatação baseada em tópicos


principais e itens.
Foram considerados tópico principais: Preâmbulo, Histórico,
Descrição, Discussão, Conclusão e Respostas aos quesitos apresentados.
Alguns tópicos principais possuem itens para serem preenchidos:
no Preâmbulo – Circunstâncias da Perícia, Identificação e Objeto da
Perícia; Histórico – Histórico Ocupacional, Histórico Previdenciário,
História da Patologia Atual, História Mórbida Pregressa, História Mórbida
Familiar e Condições e Hábitos de Vida; na Descrição – Exame físico geral
e do estado mental, Exame físico específico, Exames complementares e
Documentos médicos relevantes.
A Discussão também deve possuir itens importantes na sua
construção: Resumo Clínico, Diagnóstico, Sobre a(s) Patologia(s), Nexo
Causal/Concausal, Capacidade Laboral e Datas Técnicas
Previdenciárias.
Os tópicos Conclusão e Respostas ao quesitos apresentados não
possuem itens para preenchimento.
Anexos e Outros dados, assim como a Finalização do laudo fazem
parte do conteúdo de complementação e encerramento do laudo.

Apresentação dos constituintes do modelo de Laudo Médico Pericial


Previdenciário na Justiça Estadual.

CONSTITUINTES DO MODELO DE LAUDO MÉDICO PERICIAL


PREÂMBULO
Circunstâncias da Perícia
Data e local da perícia, nome do perito, número e partes do
processo, presença de assistente(s) técnico(s).
Identificação
Nome completo do periciado, data de nascimento, idade,
naturalidade, RG e CPF, carteira nacional de habilitação (validade e
categoria), endereço e grau de formação escolar.
Objeto da Perícia
Motivo da ação.
21

HISTÓRICO (Anamnese)
Histórico Ocupacional
Histórico e experiências trabalhistas com descrição sumária das
atividades laborais.
Histórico Previdenciário
Emissão de comunicado de acidente de trabalho, CAT, com
detalhes como data do acidente, descrição e classificação internacional
de doenças, CID.
Períodos de afastamento do trabalho com a qualificação do
benefício recebido e o motivo.
História da Patologia Atual
Desde o início dos sintomas, ou a data do evento acidentário,
diagnóstico(s), formas de tratamento realizadas, evolução, novas
abordagens, sintomas atuais e recursos em utilização.
História Mórbida Pregressa
Condições médicas prévias ou sem correlação direta com os dados
da história da patologia atual.
História Mórbida Familiar
Histórico de doenças com potencial de relação com sua moléstia
atual.
Condições e Hábitos de Vida
Estado civil, filhos, pessoas que compartilham sua residência.
Vícios como álcool, drogas ou tabagismo.
Prática de atividades físicas ou outros hobbies.
DESCRIÇÃO
Exame Físico Geral e do Estado Mental
Condições gerais do periciado e do estado mental, incluindo
vestimenta, estado nutricional, características pessoais, curso de
raciocínio e memória, humor, peso, altura, predominância de lado
corporal (dextro ou sinistrodominante)

Exame Físico Específico

Direcionado para a especialidade que predomina nas suas queixas


e é o principal objeto da ação.
22

Exames Complementares

Acostados aos Autos e apresentados na avaliação presencial com


transcrição de datas e conclusões.

Documentos Médicos Relevantes

Atestados (incluindo Atestados de Saúde Ocupacional,


Demissional ou Admissional), receituários, comprovantes de
tratamentos, laudos periciais prévios, laudos ergonômicos, relatórios de
internamento e de cirurgia, relatório de alta hospitalar, boletim de
ocorrência, entre outros.

DISCUSSÃO

Com parágrafos curtos sendo sugerido um resumo do caso,


diagnóstico positivo, comentários fisiopatológicos sobre a doença e
história natural, e seu tratamento com suas consequências, nexo
causal/concausal, capacidade x incapacidade para o labor, classificação
da Incapacidade (parcial/total, definitiva/temporária e
uni/multi/omniprofissional) e datas previdenciárias (data do início da
doença, data de início da incapacidade e data de consolidação das lesões)

CONCLUSÃO

Parágrafos curtos, concisos com o resultado dos principais tópicos


que foram considerados na discussão.

RESPOSTAS AOS QUESITOS OFERTADOS PELAS PARTES E PELO


JUÍZO

Claras, objetivas, afirmativas ou negativas, segundo raciocínio


desenvolvido no tópico discussão.

Anexos e Outros Dados

Documentação fotográfica, referências bibliográficas pertinentes e


utilizadas no texto e formação com experiências profissionais do perito
(breve currículo).

Finalização do Laudo

Fechamento dos trabalhos, número de páginas, disponibilidade


para esclarecimentos e assinatura.
23

MODELO DE LAUDO MÉDICO PERICIAL PREVIDENCIÁRIO NA


JUSTIÇA ESTADUAL

PREÂMBULO
. Circunstâncias da Perícia
. Identificação
. Objeto da Ação
HISTÓRIA
. Histórico Ocupacional
. Histórico Previdenciário
. Histórico da Patologia Atual
. História Mórbida Pregressa
. História Mórbida Familiar
. Condições e Hábitos de Vida
DESCRIÇÃO
. Exame Físico Geral e do Estado Mental

. Exame Físico Específico

. Exames Complementares
. Documentos Médicos Relevantes
DISCUSSÃO
. Resumo Clínico
. Diagnóstico
. Sobre a(s) Patologia(s)
. Nexo Causal/Concausal
. Capacidade Laborativa
. Datas Técnicas Previdenciárias
CONCLUSÃO
RESPOSTA AOS QUESITOS APRESENTADOS
Anexos e outros dados
Finalização do laudo
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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Uma vez determinada a correta sequência e os principais tópicos


necessários para confecção do laudo médico pericial busca-se nos
documentos acostados aos Autos e na avaliação pericial presencial
elementos que irão preencher cada ítem dos tópicos para iniciar a
discussão, onde se encontrarão com o adequado embasamento técnico
para tomada de decisões a servirem de base para as justificativas dos
quesitos a serem respondidos.
A apresentação de modelos organizados de coleta e inserção dos
dados tornam-se de grande utilidade para o correto embasamento e
demonstração das conclusões para as partes e ao juízo, maiores
interessados no deslinde do feito.
Considerando a importância e o peso da prova pericial, sustentada
na confecção do laudo médico pericial, quanto mais completo e embasado
for este laudo consequentemente menor chance para impugnações das
partes, retrabalho por parte do perito, e maior agilidade na confecção da
sentença final pelo juiz.
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7 REFERÊNCIAS

EPIPHANIO, E.B.; VILELA, J.R.P.X. Perícias médicas: teoria e prática.


Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2.009.
SAVARIS, J.A. Direito processual previdenciário. (5ª edição) Curitiba:
Alteridade Editora, 2014. p. 272-273.
FRANÇA, G.V. Medicina Legal. (11ª edição) Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2.017.
FARACO, SR. Perícias em DORT. (2ª edição) São Paulo: LTr, 2.010.
CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. Resolução nº 2.056/2013 –
Brasilia/DF. Publicada no D.O.U. de 12 nov. 2013, Seção I, p. 162-3
BRASIL. Lei 13.105 de 2.015. Código do Processo Civil (CPC).
BRASIL. Lei 8.213 de 1.991. Lei dos Benefícios da Previdência Social.
TREZUB, C.J.; PATSIS, K.S. Perícia Médica Previdenciária. Benefícios
por Incapacidade. 4ª edição Revisada atualizada e ampliada.
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MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL, INSS. Manual de
Procedimentos em Benefícios por Incapacidade Volume I, Diretrizes
de Apoio à Decisão Médico-Pericial em Ortopedia e Traumatologia;
Diretoria de Saúde do Trabalhador DIRSAT, dezembro de 2.010.
MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL, INSS. Manual Técnico de
Perícia Médica Previdenciária/Instituto Nacional do Seguro Social –
Brasília, 2018.
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(3ª edição) São Paulo: LTr Editora LTDA, 2.008.
LEAL, LPFF; MILAGRES, A. A importância do laudo pericial médico na
formação do entendimento do juízo. Revista Saúde, Ética & Justiça.
v.17, n.2, p. 82-90, 2.012.

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