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Título do Livro:
História do Movimento Negro no Brasil Vol. II: Movimento Negro do Brasil no
Pós-Abolição
Autor:
Guilherme Oliveira da Silva
Produção editorial:
Mariana Paulon, Marielly Agatha Machado, André Chacon
Designer gráfico:
Jéssica Teixeira
Capa:
Matheus Braggion
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CEP 09531-190
E-mail: contato@institutoliberta.com.br
Sumário
Apresentação ................................................................................................................. 6
Introdução ......................................................................................................................... 8
6
Neste texto, Guilherme de Oliveira da Silva percorre as
lutas do povo negro no Brasil após a abolição formal da
escravidão. Se durante a escravidão a população negra
encontrou diversas formas de resistir à violência colonial e
imperial, buscando a criação de territórios livres e
autônomos e lutando pelo fim da escravidão, no
pós-abolição surgiram novas demandas e novas formas de
luta. O autor divide a história do Movimento Negro do Brasil no
pós-abolição em quatro fases: A primeira do início da
república em 1889 até a ditadura do Estado Novo em 1937, a
segunda de 1945 até o início da Ditadura Militar em 1964, a
terceira de 1978, dada a fundação do Movimento Negro
Unificado, até o fim da Ditadura e a última fase que se inicia
nos anos 1980 e segue até os dias atuais.
Boa leitura!
Suze Piza
7
Introdução
8
afro-brasileira.1 Tampouco receberam terras, sendo
obrigados a ocupar moradias e territórios precários e
marginalizados pela sociedade. Em conjunto ao
analfabetismo e falta de moradia, também foi negada a essa
população recém liberta, opções de empregos diferentes dos
trabalhos braçais e exaustivos, aos quais foi condicionada
durante todo o período da escravidão (DOMINGUES, 2001, p.
197- 205). Resumindo, após a abolição a realidade da
população negra pouco mudou.
1 Ver mais em: DÁVILA, Jerry. Diploma de brancura: política social e racial no Brasil (1917-1945). Trad. Claudia
Sant’Ana Martins. São Paulo: Editora Unesp, 2006.
9
As primeiras gerações de pessoas negras livres
passaram a lutar pela inserção no mercado de trabalho, nas
instituições de ensino, na política e nas demais esferas
sociais do Brasil. Ao longo do século XX, cada geração buscou
ferramentas distintas para lutar contra o racismo e ter uma
ascensão econômica. Ao mesmo tempo, tivemos o
desenvolvimento de uma república excludente, que
perpetuou os privilégios de uma minoria da elite,
marginalizando e criminalizando uma maioria populacional
negra e pobre. Na segunda metade do século XX, em um
contexto mundial de eclosão de movimentos sociais, como o
Movimento Feminista e LGBTQ+, temos o surgimento do atual
Movimento Negro brasileiro, que nas últimas décadas foi
responsável por conquistas importantes para a igualdade
étnico-racial do Brasil. O segundo volume do ebook História
do Movimento Negro Brasileiro, tem por objetivo percorrer a
luta da população negra no Brasil pós-abolição, passando
pelo século XX até a atual formação e articulação do
Movimento Negro no século XXI.
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1. O Movimento Negro de 1889 a 1937
11
chamado de associativismo negro.2
2 Ver mais em: SILVA, Mário Augusto Medeiros da; REGINALDO, Lucilene; LARA, Silvia Hunold. As Cores da
Cidadania: Os Clubes Negros do Estado de São Paulo (1897-1952). Projeto de Pesquisa. Campinas: UNICAMP,
2017.
3 Ver mais em: SILVA, Mário Augusto Medeiros da; REGINALDO, Lucilene; LARA, Silvia Hunold. As Cores da
Cidadania: Os Clubes Negros do Estado de São Paulo (1897-1952). Projeto de Pesquisa. Campinas: UNICAMP,
2017.
12
Através dos nomes das associações, clubes e grêmios, é
possível perceber o discurso político e as formas de
identificação da população negra nesse período. Não era
comum, por exemplo, a utilização de “negro” para
identificação étnica, utilizava-se “homens de cor” ou
“homens pretos”. Outra coisa perceptível é a importância que
essa geração deu para as leis abolicionistas. O primeiro
grêmio negro do estado de São Paulo referenciou em seu
nome a data da lei do ventre-livre (28 de setembro de 1871) e
da lei do sexagenário (28 de setembro de 1885), assim como
temos o mesmo nome em um clube criado em Minas Gerais
em 1904. E pelos menos quatro clubes fundados em São
Paulo, homenagearam o 13 de maio, data da abolição
assinada em 1888. Essas escolhas das datas abolicionistas
demonstram que a população negra nesse período
reconhecia a abolição da escravidão como uma 4
importante
conquista de sua própria luta e da luta de seus ancestrais
pela igualdade (SILVA, 2017, p.19-20).
13
O associativismo negro foi
fundamental para a organização da
população negra após a abolição,
pois diante do abandono do Estado,
foram criadas formas de
sociabilidade que possibilitavam
lazer, educação e assistência. Sem 7
Clube 28 de Setembro em Jundiaí, o grêmio negro mais antigo do estado de São Paulo. Foto: Acervo
Maurício Ferreira. Fonte: Tribuna de Jundiaí, 2021.
14
8
Anúncio da festa da Sociedade Beneficente 13 de Maio em Piracicaba, 1928. Foto: O Patrocínio, 7 set. 1928. Fonte:
LUCINDO, 2020, p. 235.
15
Se da década de 1880 até os anos 1930 o Associativismo
Negro foi uma importante forma de organização social e
cultural, promovendo o fortalecimento de vínculos e criando
espaços seguros para a população negra, a Imprensa Negra
foi a grande porta-voz do associativismo e uma das
ferramentas de comunicação de maior relevância para a
população negra de modo geral.
5 N Ver mais em: CARVALHO, Gilmar Luiz de. A Imprensa Negra Paulista entre 1915 e 1937: características,
mudanças e permanências. Dissertação de Mestrado. São Paulo: USP, 2009;
6 Ver mais em: DOMINGUES, Petrônio. Uma história não contada. Negro, racismo e branqueamento em São
Paulo no pós-abolição. São Paulo: SENAC, 2004;
17
Em 1996, foi fundada a Revista Raça Brasil, primeira
revista brasileira sobre cultura afro. Nos últimos anos, foram
7
18
A constituição de 1891 e as
constituições seguintes das décadas
de 1930, 1940 e 1960, consideravam
como critério para votar apenas
pessoas alfabetizada
(CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS, 2005).
Isso excluía automaticamente mais
da metade da população negra.
Considerando que poucos negros
podiam votar, a representação
política desse grupo também foi
muito pequena, sendo sempre eleitos
políticos brancos que defendiam os
interesses socioeconômicos da elite
brasileira, ocasionando constantes
manutenções de privilégios sociais.
19
nacional e internacional, não havia uma mobilidade
interestadual de um mesmo grupo. A Frente Negra em pouco
tempo arregimentou milhares de “pessoas de cor”, sendo
responsável por converter, pela primeira vez, o Movimento
Negro Brasileiro em um movimento de massa. Pelas
estimativas de um de seus dirigentes, a FNB chegou a superar
20 mil associados (DOMINGUES, 2007, p. 106). Considerando
que na época a população brasileira era estimada em 40
milhões de pessoas, a quantidade de pessoas filiadas à
Frente Negra era enorme.
20
A Frente Negra contou também com a
participação de Laudelina de Campos
Melo, pioneira na luta dos direitos das
trabalhadoras domésticas, em sua
maioria mulheres negras. Laudelina
fez parte desse movimento do
associativismo negro entre os anos
1920 e 1930, ajudando a fundar o Clube
13 de Maio em Santos e
posteriormente a Frente Negra
Brasileira. Ela também foi
responsável pela criação da primeira
associação de empregadas
domésticas do Brasil e após a
ditadura militar rearticulou sua
associação em um importante
sindicato de empregadas em
Campinas, interior de São Paulo. A
atuação de Laudelina é um
significativo exemplo da importância
das mulheres negras na construção
da Frente Negra Brasileira e para a
articulação do Movimento Negro de
modo geral (TOMAS, 2020, p. 11-12).
21
A FNB manteve entre suas principais atividades: escola,
grupo musical e teatral, time de futebol, departamento
jurídico, oferecendo ainda serviço médico e odontológico,
cursos de formação política, de artes e ofícios, além de
publicar o jornal A Voz da Raça.
22
Em 2020, tivemos uma conquista histórica no que diz
respeito à inserção e representação política de pessoas
negras no Brasil. Foi decidido pelo Tribunal Superior Eleitoral
(TSE), que a distribuição dos recursos do Fundo Especial de
Financiamento de Campanha (FEFC) e do tempo de
propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão será
proporcional ao total de candidatos negros que o partido
apresentar para a disputa eleitoral (TRIBUNAL SUPERIOR
ELEIOTRAL, 2020). Durante as eleições, na maioria dos
partidos, candidaturas negras recebiam menos verba e
menos tempo de propaganda eleitoral do que candidaturas
brancas. Isso refletia na visibilidade e na quantidade de votos
recebidos, sempre favorecendo políticos brancos. A decisão
de tornar as verbas e tempo de propaganda proporcionais,
vai de encontro com uma pauta histórica da população
negra e sua luta por representação política.
Frente Negra Brasileira (FNB), São Paulo, 1935. Movimento negro fundado em outubro de 1931, a FNB lutava
contra o racismo e foi reconhecida como partido político em 1936, tendo permanecido como tal somente até
1937, até a instauração do Estado Novo. Foto: Acervo IPEAFRO. Fonte: Itaú Cultural.
Cabeçalho do quarto exemplar do jornal brasileiro A Voz da Raça lançado pela Frente Negra Brasileira em 1933.
Reprodução: A Voz da Raça (SP) - 1933 a 1937. Fonte: Hemeroteca Digital Brasileira - Banco Nacional Digital.
23
2. O Movimento Negro de 1944 – 1964
24
Aos poucos, o TEN adquiriu um caráter muito mais
amplo. Entre as principais ações do grupo, nos anos 1940 e
1950, tivemos a publicação do jornal Quilombo (1948), o
oferecimento de curso de alfabetização e cursos de corte e
costura para a população negra, a fundação do Instituto
Nacional do Negro, o Museu do Negro e a organização do I
Congresso do Negro Brasileiro.
Caty Silva, eleita “Boneca de Pixe” em 1950. Reprodução: Jornal do Quilombo. Fonte: Ipeafro.
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Em 1945 ela entrou no TEN, atuando ao lado de Abdias e
dezenas de atores e atrizes negras. No mesmo ano, se tornou
a primeira atriz negra a encenar no Theatro Municipal do Rio
de Janeiro, no espetáculo “O Imperador Jones”. Em 1948, Ruth
recebeu uma bolsa de estudos e passou um ano estudando
na Universidade de Howard, nos Estados Unidos, universidade
historicamente negra e responsável por formar parte da
intelectualidade afro-americana. Retornando ao Brasil, Ruth
teve uma carreira incrível.
26
Ruth de Souza com outros atores do TEN, Aguinaldo Camargo e José Maria Monteiro (fundo) em “O Filho
Pródigo”, de Lúcio Cardoso (Teatro Ginástico, Rio de Janeiro), 1947. Fonte: Ipeafro (2018).
27
Perseguido durante a Ditadura Militar
entre os anos 1960 e 1970, Abdias do
Nascimento deu aula em diversas
universidades, como a Universidade
Estadual de Nova York e a
Universidade de Yale. Também foi
professor da Universidade de Ifé, na
Nigéria. Nesse período, Abdias
conviveu com líderes do Movimento
Negro norte americano e escreveu
uma de suas principais obras: O
Genocídio do Negro Brasileiro, no qual
denunciava o racismo estrutural e a
marginalização da população negra
(NASCIMENTO, 1978). Ao retornar do
exílio, em 1981, foi deputado federal e
senador. Abdias foi um dos
responsáveis pela fundação do
Movimento Negro Unificado, o qual
deu início a atual estrutura do
Movimento no Brasil.
28
Como deputado, Abdias apresentou projetos de lei para
enquadrar o racismo como crime, transformar o 20 de
novembro no Dia Nacional da Consciência Negra, incluir a
história e cultura africana e afro-brasileira nos currículos
escolares e criar cotas raciais no serviço público e nas
empresas privadas, sendo 20% para homens negros e 20%
para mulheres negras. Posteriormente, como senador,
Abdias voltou a apresentar os projetos que previam a criação
de cotas raciais e a mudança dos currículos escolares.
Também redigiu propostas para garantir mais direitos às
comunidades quilombolas, endurecer a legislação contra o
racismo e obrigar o Ministério Público a agir em casos de
ataque à dignidade da população negra (NASCIMENTO, 2014).
Campanha de Abdias do Nascimento para vereador em 1950. Abdias chamava a atenção para a falta de
pessoas negras na política. Reprodução: Jornal do Quilombo. Fonte: Ipeafro (2018).
29
3. O Movimento Negro de 1978 – 1985
30
Durante a Ditadura, a articulação
política da população negra, assim
como movimentos sindicais,
artísticos e outras formas de
organização política e social, era
vista como subversiva pelo governo
militar, cujo objetivo era exterminar
da sociedade brasileira tudo aquilo
que se configurasse como uma
ameaça comunista. Além de
inúmeros partidos, sindicatos e
entidades serem fechados ou caírem
na ilegalidade, muitos políticos,
artistas e intelectuais foram exilados
do Brasil, pois corriam o risco de
prisão, tortura e morte. Este
infelizmente acabou sendo o destino
de muitos que ficaram no Brasil.
Estima-se que a Ditadura foi
responsável pela morte de 475
militantes e pela tortura de cerca de
20 mil pessoas (COMISSÃO DA
VERDADE, 2009). A polícia militar
atuava como um forte braço
repressor do Estado, e a população
negra era diretamente atingida pela
ditadura nesse período.
31
Em 1978 a polícia torturou e assassinou um operário
negro em São Paulo, chamado Robson Silveira da Luz. Na
mesma época, quatro jovens negros foram impedidos de
entrar para o Clube de Regatas Tietê, um dos mais
importantes clubes esportivos de São Paulo na época. Esses
acontecimentos foram o estopim para uma enorme
articulação entre a comunidade negra, que estava cansada
de tanta opressão e injustiça. Nas palavras da jornalista e
militante negra, Neusa Maria Pereira:
Não tínhamos mais forças para minimizar um
único arranhão em nossas existências feridas.
Éramos jovens, queríamos um Brasil mais negro e
justo. Nossa paciência esgotara-se. Há muito que
desejávamos gritar em praça pública nossa
indignação contra uma sociedade que violava
nossa alegria de viver e nossa esperança em dias
melhores, negando os direitos básicos de um ser
humano. Precisávamos mostrar que éramos
gente. Se ninguém estava enxergando, então um
grupo de negros e negras destemido, tomado
pelo espírito de Zumbi, retomaria a luta dos
quilombos (PEREIRA, 2019, p. 28).
32
Identidade visual do Movimento Negro Unificado. Fonte: MNU.
33
uma única entidade. A partir da fundação do MNU, o
Movimento Negro deixou de ser feito por ações de grupos
individuais e se tornou uma articulação coletiva a nível
nacional, na qual se juntam diversas entidades, coletivos,
partidos e indivíduos (DOMINGUES, 2007, p. 114-115).
Movimento Negro Unificado em sua comemoração de 40 anos em 2018, durante o Fórum Social em Salvador
(BA). Fonte: MNU (2018).
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3.2 O 20 de Novembro
35
Se durante o Império e Primeira
República, a história de Palmares foi
ignorada, ou exaltada no ponto de
vista heroico do bandeirante
Domingos Jorge Velho, responsável
por destruir Palmares, a partir da
década de 1970, Palmares foi
retomado como símbolo
revolucionário da população negra.
Naquele momento, não era mais
interessante buscar símbolos e datas
que fizessem referências ao
protagonismo branco, como exaltar o
“ato nobre” da Princesa Isabel, ou
mesmo ter como exemplo de luta
pessoas negras que se articularam
com as esferas políticas e sociais
brancas de forma pacífica. Era
preciso retomar narrativas de
grandes lutas, de construção de
espaços autônomos, de pessoas
negras que ousaram pegar em armas
para lutar contra aqueles que
oprimiam. E o Quilombo dos Palmares
foi escolhido pelo Movimento Negro
por representar tudo isso.
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Em 20 de Novembro de 1695, Zumbi dos Palmares foi
assassinado pelas forças coloniais, marcando o fim da
existência da maior organização política africana da história
do Brasil. Em 1971, uma organização negra do Rio Grande do
Sul, chamada Grupo Palmares, sugeriu utilizar o 20 de
Novembro como um marco da história afro-brasileira, e um
símbolo de luta a ser utilizado nacionalmente (ZORZI, 2020,
p.469-487). O idealizador do 20 de Novembro foi o poeta
gaúcho Oliveira Silveira, um nome importante para o
Movimento Negro gaúcho e brasileiro de modo geral. A
sugestão do Grupo Palmares foi levada adiante, e em 1978,
dada a fundação do MNU, o 20 de Novembro se tornou o Dia
Nacional da Consciência Negra (OLIVEIRA, 2012, p.1-8).
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A existência de uma data nacional
pensada para refletir o protagonismo
negro na sociedade e pensar em
ações antirracistas, é uma demanda
criada por um longo processo
histórico de opressão da população
negra, não sendo justificável que
tenha uma data para refletir sobre a
população branca, que sempre
ocupou um lugar de privilégios na
sociedade. Basta olharmos para o
calendário oficial para percebermos
que a maioria dos feriados nacionais,
estaduais e municipais,
homenageiam pessoas brancas e
momentos históricos protagonizados
por pessoas brancas. Isso também é
refletido nos espaços públicos.
Quando andamos por uma cidade, o
que fica perceptível é que a maioria
das ruas, avenidas, bairros, praças e
monumentos, homenageiam
pessoas brancas. A construção de
Zumbi e de Palmares enquanto
símbolos de luta, é também uma
tentativa de representar melhor
indivíduos negros e dar visibilidade
para momentos históricos
protagonizados pela população
negra.
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Abdias do Nascimento e importantes ativistas do Movimento Negro em 1983 na Serra da Barriga, onde se
localizava o Quilombo dos Palmares. Fonte: Ipeafro (2021).
39
4. O Movimento Negro de 1985 - Século XXI
40
(São Paulo, 1988), o Centro de Articulação de Populações
9
41
Nesse momento surge o Instituto Steve Biko, criado na
Bahia, no ano de 1992, o Pré-Vestibular para Negros e
Carentes (PVNC) (fundado no Rio de Janeiro, em 1993), o
Curso do Núcleo de Consciência Negra da Universidade de
São Paulo e o EDUCAFRO (ambos criados em São Paulo,
respectivamente, nos anos de 1994 e 1997), o curso Zumbi dos
Palmares (no Rio Grande do Sul, em 1995), e vários outros pelo
interior do Brasil (ENCARNAÇÃO, 2011, p. 10-11). Atualmente
existem centenas de cursinhos populares, que seguem
atuando para a inclusão de pessoas negras e em situação de
vulnerabilidade social no ensino superior.
Marcha Zumbi contra o Racismo, pela Cidadania e pela Vida. Brasília, 1995. Reprodução: Geledés Instituto da
Mulher Negra - Acervo Cultne. Fonte: Google Aarts and Culture
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A falta de ensino de história africana em sala de aula
afetava inclusive a autoestima da população negra, que ao
abrir os livros didáticos, viam que as únicas pessoas
parecidas com elas dentro dos livros encontravam-se em
situação de violência. A lei 10.639/03 tem sido responsável
por transformar a educação em ferramenta de luta
antirracista, mostrando em sala de aula que para além de
escravizados, a população negra descende de reinos,
impérios e sociedades com grande acúmulo de
conhecimentos arquitetônicos, científicos, militares e
tecnológicos (PINTO, 2005).
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Em 2002, o Rio de Janeiro foi o primeiro estado brasileiro
a reservar vagas para estudantes negros nos vestibulares
das universidades estaduais. Em 2003, a UERJ foi pioneira na
implementação do programa de cotas em seu processo
seletivo e em 2004, a UnB, em Brasília, tornou- se a primeira
universidade federal a utilizar sistemas de cotas. Desde
então, o número de instituições de ensino superior,
municípios e estados que utilizam cotas aumentou
gradativamente. Em 2012, foi aprovada a lei federal 12.711, que
prevê cotas nas instituições federais de ensino superior e em
2014 a lei 12.990, que garante cotas em cargos públicos na
Administração Pública Federal.
12 Ver mais em: Coalizão Negra por Direitos. Disponível em: https://coalizaonegrapordireitos.org.br.
45
também tem sido uma forte aliada do Movimento nos últimos
anos. Diversos canais e páginas das redes sociais são
utilizados como plataforma de luta antirracista, promovendo
debates e reflexões para toda a sociedade.
47
5.3 A luta negra através do rap nacional
AD Junior - @adjunior_real
Carla Akotirene - @carlaakotirene
Djamila Ribeiro - @djamilaribeiro1
Guilherme Oliveira - @gui_oluko
Joice Berth - @joiceberth
Levi Kaique - @levikaiquef
Nátaly Neri - @natalyneri
Rede de Historiadores Negros - historiadorxsnegrxs
Roger Cipó - @rogercipo
Silvio Almeida - @silviolual
48
Referências Bibliográficas
49
DIAS, Matheus Felipe Gomes. A Frente Negra Brasileira:
Institucionalização, Contestação e Fascismo. In: Práxis
Comunal. Belo Horizonte: Vol. 2, N. 1, 2019.
50
FERREIRA, Maurício. Clube 28 de Setembro carrega histórias
de resistência e luta contra a discriminação racial em
Jundiaí. In: Tribuna de Jundiai, 2021. Disponível em:
https://tribunadejundiai.com.br/mais/sextou-com-s-de-sa
udade/clube-28-de-setembro-carrega-historias-de-resist
encia-e-luta-contra-a-discriminacao-racial-em-jundiai/.
Acesso em: 10 jun. de 2022.
51
NASCIMENTO, Abdias do. O quilombismo: documentos de
uma militância pan-africanista. 2. ed. Brasília- Rio de Janeiro:
Fundação Palmares - OR Editor Produtor, 2002.
52
SERAFIM, Jhonata Goulart. AZEREDO, Jeferson Luiz de. A
(des)criminalização da cultura negra nos Códigos de 1890 e
1940. Criciúma: Amicus Curiae v.6, n.6, (2009), 2011.
53
WESTIN, Ricardo. Senador Abdias Nascimento, uma vida
dedicada à luta contra o racismo. In: El Pais, 2021. Disponível
e m :
https://brasil.elpais.com/brasil/2021-05-10/senador-abdias
-nascimento-uma-vida-dedicada-a-luta-contra-o-racism
o.html. Acesso em: 10 jun. de 2022.
ZORZI, José Augusto. Um feriado a Zumbi: a tentativa de
reconhecimento do 20 de Novembro em Porto Alegre
(2001-2003). Revista do Corpo Discente do Programa de
Pós-Graduação em História da UnB EM TEMPO DE HISTÓRIAS.
Brasília-DF, n. 36, p. 469-487, jan./jun. 2020.
54
Sobre o autor
E-mail: g264919@dac.unicamp.br
55