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Guilherme Oliveira da Silva

HISTÓRIA DO MOVIMENTO NEGRO NO BRASIL


VOL. 2
MOVIMENTO NEGRO DO BRASIL NO
PÓS-ABOLIÇÃO

Editora Instituto Conhecimento Liberta


FICHA TÉCNICA

Título do Livro:
História do Movimento Negro no Brasil Vol. II: Movimento Negro do Brasil no
Pós-Abolição

Autor:
Guilherme Oliveira da Silva

Produção editorial:
Mariana Paulon, Marielly Agatha Machado, André Chacon

Coordenação de Design Gráfico:


Eduardo Marinho Júnior

Designer gráfico:
Jéssica Teixeira

Capa:
Matheus Braggion

Curadoria da coleção Identidades, cultura e modernidade:


Suze Piza
© Editora Instituto Conhecimento Liberta, São Caetano, 2022

Todos os direitos garantidos. Qualquer parte desta obra pode


ser reproduzida, transmitida ou arquivada, desde que levados
em conta os direitos do autor.


  
  
   
    


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Editora Instituto Conhecimento Liberta

Alameda Terracota, 215, Conj. 1511

Cerâmica, São Caetano do Sul, SP

CEP 09531-190

Tel: (11) 94172- 8439

E-mail: contato@institutoliberta.com.br
Sumário

Apresentação ................................................................................................................. 6

Introdução ......................................................................................................................... 8

1. O Movimento Negro de 1889 a 1937......................................................... 11

1.1 Associativismo Negro ............................................................................................... 11


1.2 Imprensa Negra .......................................................................................................... 15
1.3 Frente Negra Brasileira ........................................................................................... 18
2. O Movimento Negro de 1944 – 1964 ...................................................... 24
2.1 Teatro Experimental do Negro ........................................................................... 24
3. O Movimento Negro de 1978 – 1985 ...................................................... 30
3.1 Movimento Negro Unificado ................................................................................ 30
3.2 O 20 de Novembro .................................................................................................... 35
4. O Movimento Negro de 1985 - Século XXI ...................................... 40

4.1 O Movimento Negro na atualidade ................................................................. 40


5. Indicações ................................................................................................................... 47

5.1 Movimento Negro nos séculos XX e XXI ...................................................... 47


5.2 Racismo e protagonismo negro brasileiro ......................................... 47
5.3 A luta negra através do rap nacional .................................................. 48
5.4 Intelectuais negros para seguir nas redes sociais .......................... 48
Referências ....................................................................................................................... 49
Sobre o autor ................................................................................................................... 55
Apresentação

História do Movimento Negro no Brasil Vol. 2 faz parte da


coleção Identidades, cultura e modernidade da Editora
Instituto Conhecimento Liberta. Nesta coleção
apresentaremos textos que manifestem e problematizem
questões acerca das identidades e culturas na modernidade
partindo do pressuposto de que as clássicas oposições
convencionadas nas ciências humanas não conseguem dar
conta das complexas dinâmicas socioculturais que
mobilizam o século XXI. Há uma infinidade de formas de
identificação das coletividades que se confrontam nas
fronteiras entre o urbano e o rural, o global e o local, o
universal e o particular conformando a cultura na forma
modernidade.

Como entender e explicar o mundo em que vivemos e


como colaborar para que a produção de um conhecimento,
sempre parcial, possa ser relevante aos vários segmentos da
sociedade de forma que seja possível compreender as
diversas dimensões da cultura nos diversos contextos
geográficos? Quais os recursos epistêmicos disponíveis para
avaliar as dinâmicas de construção das identidades nas
sociedades contemporâneas, sejam as identidades forjadas
no confronto direto do Ocidente com o mundo, em contexto
colonial, sejam identidades internas aos mundos do Sul
Global? Como ressuscitar culturas assassinadas, silenciadas
violentamente pelos saberes constituídos?

6
Neste texto, Guilherme de Oliveira da Silva percorre as
lutas do povo negro no Brasil após a abolição formal da
escravidão. Se durante a escravidão a população negra
encontrou diversas formas de resistir à violência colonial e
imperial, buscando a criação de territórios livres e
autônomos e lutando pelo fim da escravidão, no
pós-abolição surgiram novas demandas e novas formas de
luta. O autor divide a história do Movimento Negro do Brasil no
pós-abolição em quatro fases: A primeira do início da
república em 1889 até a ditadura do Estado Novo em 1937, a
segunda de 1945 até o início da Ditadura Militar em 1964, a
terceira de 1978, dada a fundação do Movimento Negro
Unificado, até o fim da Ditadura e a última fase que se inicia
nos anos 1980 e segue até os dias atuais.

Boa leitura!
Suze Piza

7
Introdução

Em 13 de maio de 1888 a Princesa Isabel assinou a Lei


Áurea, encerrando um período de mais de 300 anos de
escravidão africana no Brasil. Entretanto, o fim da escravidão
não representou o fim das desigualdades entre a população
branca e negra em nosso país.

A Lei Áurea não garantiu nenhum tipo


de direito, não propôs nenhuma
forma de inserção dos
ex-escravizados na sociedade, nem
lhes tornou cidadãos brasileiros. A Lei
apenas libertou os escravizados, que
naquela altura eram a minoria da
população negra no Brasil, sem lhes
dar qualquer possibilidade de
ascensão econômica ou mobilidade
social para melhoria de vida
(LUCINDO, 2020, p. 25-26).

Os negros não receberam direitos políticos entre o fim


da monarquia e início da república, e até a década de 1930
não podiam votar. Durante o regime escravocrata, os
escravizados não podiam ler e escrever, criando gerações e
gerações de pessoas negras analfabetas (GELEDÉS, 2021). No
pós abolição, os negros não foram inseridos em projetos
educacionais, perpetuando o analfabetismo da população

8
afro-brasileira.1 Tampouco receberam terras, sendo
obrigados a ocupar moradias e territórios precários e
marginalizados pela sociedade. Em conjunto ao
analfabetismo e falta de moradia, também foi negada a essa
população recém liberta, opções de empregos diferentes dos
trabalhos braçais e exaustivos, aos quais foi condicionada
durante todo o período da escravidão (DOMINGUES, 2001, p.
197- 205). Resumindo, após a abolição a realidade da
população negra pouco mudou.

Se durante a escravidão a população negra encontrou


diversas formas de resistir à violência colonial e imperial,
buscando a criação de territórios livres e autônomos e
lutando pelo fim da escravidão, no pós-abolição surgiram
novas demandas e novas formas de luta.

Podemos dividir a história do


Movimento Negro do Brasil no
pós-abolição em pelo menos quatro
fases: A primeira do início da
república em 1889 até a ditadura do
Estado Novo em 1937, a segunda de
1945 até o início da Ditadura Militar
em 1964, a terceira de 1978, dada a
fundação do Movimento Negro
Unificado, até o fim da Ditadura e a
última fase que se inicia nos anos
1980 e segue até os dias atuais
(DOMINGUES, 2007, p. 102-119).

1 Ver mais em: DÁVILA, Jerry. Diploma de brancura: política social e racial no Brasil (1917-1945). Trad. Claudia
Sant’Ana Martins. São Paulo: Editora Unesp, 2006.

9
As primeiras gerações de pessoas negras livres
passaram a lutar pela inserção no mercado de trabalho, nas
instituições de ensino, na política e nas demais esferas
sociais do Brasil. Ao longo do século XX, cada geração buscou
ferramentas distintas para lutar contra o racismo e ter uma
ascensão econômica. Ao mesmo tempo, tivemos o
desenvolvimento de uma república excludente, que
perpetuou os privilégios de uma minoria da elite,
marginalizando e criminalizando uma maioria populacional
negra e pobre. Na segunda metade do século XX, em um
contexto mundial de eclosão de movimentos sociais, como o
Movimento Feminista e LGBTQ+, temos o surgimento do atual
Movimento Negro brasileiro, que nas últimas décadas foi
responsável por conquistas importantes para a igualdade
étnico-racial do Brasil. O segundo volume do ebook História
do Movimento Negro Brasileiro, tem por objetivo percorrer a
luta da população negra no Brasil pós-abolição, passando
pelo século XX até a atual formação e articulação do
Movimento Negro no século XXI.

10
1. O Movimento Negro de 1889 a 1937

1.1. Associativismo Negro

Após a abolição, a população negra se viu às margens


da política republicana, que não buscou construir espaços
educacionais, de cultura e lazer para a população negra, ou
permitir sua inserção nos espaços criados para brancos, nem
buscou lhe dar os direitos básicos de cidadania, algo
essencialmente destinado à população branca.

Enquanto um grande contingente populacional de


ex-escravizados e seus descendentes se inseriram em uma
vida de alcoolismo, vícios e crimes, diante de uma realidade
de exclusão socioeconômica, uma parte da população negra
passou a se articular para reivindicar igualdade para a
comunidade (DOMINGUES, 2007, 102-103).

No início do século XX, ser cidadão no Brasil estava


diretamente ligado a valores cívicos, que envolviam
educação, práticas religiosas e uma vida digna longe dos
vícios. Os articulistas, nome dado aos negros que se
mobilizaram nesse período para reivindicar direitos a
população negra, entendiam que para a população negra
conseguir cidadania e direitos, deveriam “edificar a raça” se
aproximando do padrão de vida da população branca. Para
eles era necessário, portanto, que os negros abandonassem
a vida de vícios e crimes, se esforçassem para ter bons
costumes, e aprendessem a ler e escrever, levando assim
uma vida digna de respeito que possibilitaria uma inclusão
social (LUCINDO, 2020, p. 25-26).

Os articulistas, entretanto, não enxergavam essa


mudança da população negra através de políticas sociais do
Estado, sobretudo porque estamos nos referindo a um
período em que não existiam políticas públicas pensadas
para as camadas sociais vulneráveis. A solução, para essa
primeira geração de negros libertos, era a união da
população negra em espaços autônomos, nos quais
conseguiriam juntos elevar o nível de civilidade da população
negra no Brasil. Com esse objetivo, nesse período são criados
grêmios, clubes recreativos, festas, eventos, jornais e vários
outros espaços de sociabilidade, fortalecendo o que é

11
chamado de associativismo negro.2

Embora existisse desde o período da escravidão, foi


entre o final do século XIX até meados da década de 1930 que
o associativismo negro se desenvolveu. Nas mais diversas
regiões do Brasil surgiram iniciativas que visavam criar
espaços seguros de lazer, cultura e educação para toda a
comunidade negra, cumprindo um papel que o Estado se
recusou a fazer. Esses espaços foram fundamentais para a
articulação política da população negra no pós-abolição.

No Rio de Janeiro, tivemos a fundação do Centro da


Federação dos Homens de Cor, e em Pelotas no então estado
do Rio Grande, a Sociedade Progresso da Raça Africana,
ambas criadas em 1891. No estado de São Paulo, o grêmio
recreativo mais antigo foi o Clube 28 de Setembro, fundado
em Jundiaí, no interior do estado em 1895. Na sequência
tivemos o surgimento de diversos clubes, como a Sociedade
Beneficente 13 de Maio (1901), o Clube 13 de Maio dos Homens
Pretos (1902), o Centro Literário dos Homens de Cor (1903), a
Sociedade Propugnadora 13 de Maio (1906), o Centro Cultural
Henrique Dias (1908), o Grupo Dramático e Recreativo
Kosmos (1908), a Sociedade União Cívica dos Homens de Cor
(1915), a Associação Protetora dos Brasileiros Pretos (1917), o
Centro Cívico Palmares (1926) e o Grêmio Recreativo Familiar
Flor de Maio (1928). Em Minas Gerais tivemos o Clube Mundo
Velho em Sabará (1894), Clube 28 de Setembro (1904) da
cidade de Pouso Alegre, o Clube Cutubas (1925) da cidade de
Leopoldina, a Associação Santarritense José do Patrocínio
(1932) da cidade de Santa Rita do Sapucaí, a Legião Negra de
Uberlândia (1935), e a Associação Cultural, Beneficente e
Recreativa José do Patrocínio (1952) da cidade de Belo
Horizonte. Em Lages, Santa Catarina, criou-se o Centro
3
Cívico
Cruz e Souza (1918) (DOMINGUES 2007, p. 103.). Embora os
lugares citados acima sejam essencialmente das regiões
sudeste e sul, há ainda diversos outros espaços do
associativismo negro criados na região nordeste brasileira,
antes inclusive da abolição (CAMPOS, 2020, p. 01-18).

2 Ver mais em: SILVA, Mário Augusto Medeiros da; REGINALDO, Lucilene; LARA, Silvia Hunold. As Cores da
Cidadania: Os Clubes Negros do Estado de São Paulo (1897-1952). Projeto de Pesquisa. Campinas: UNICAMP,
2017.
3 Ver mais em: SILVA, Mário Augusto Medeiros da; REGINALDO, Lucilene; LARA, Silvia Hunold. As Cores da
Cidadania: Os Clubes Negros do Estado de São Paulo (1897-1952). Projeto de Pesquisa. Campinas: UNICAMP,
2017.

12
Através dos nomes das associações, clubes e grêmios, é
possível perceber o discurso político e as formas de
identificação da população negra nesse período. Não era
comum, por exemplo, a utilização de “negro” para
identificação étnica, utilizava-se “homens de cor” ou
“homens pretos”. Outra coisa perceptível é a importância que
essa geração deu para as leis abolicionistas. O primeiro
grêmio negro do estado de São Paulo referenciou em seu
nome a data da lei do ventre-livre (28 de setembro de 1871) e
da lei do sexagenário (28 de setembro de 1885), assim como
temos o mesmo nome em um clube criado em Minas Gerais
em 1904. E pelos menos quatro clubes fundados em São
Paulo, homenagearam o 13 de maio, data da abolição
assinada em 1888. Essas escolhas das datas abolicionistas
demonstram que a população negra nesse período
reconhecia a abolição da escravidão como uma 4
importante
conquista de sua própria luta e da luta de seus ancestrais
pela igualdade (SILVA, 2017, p.19-20).

Nesses clubes e grêmios eram organizados bailes e


festas, promovidas atividades artísticas e projetos
educacionais feitos pela população negra para a própria
população negra. Eram também organizadas formas de
arrecadação de dinheiro para ajudar pessoas da
comunidade, ofertados cursos profissionalizantes, entre
diversas outras atividades.

13
O associativismo negro foi
fundamental para a organização da
população negra após a abolição,
pois diante do abandono do Estado,
foram criadas formas de
sociabilidade que possibilitavam
lazer, educação e assistência. Sem 7

dúvidas essa foi uma das mais


importantes redes de articulação
social da população afro-brasileira
no pós-abolição, sendo fundamental
para a construção do Movimento
Negro Brasileiro.

Ainda hoje alguns desses clubes seguem em


funcionamento, como a Sociedade Beneficente 13 de Maio em
Piracicaba e o Clube 28 de Setembro em Jundiaí, ambos no
interior de São Paulo.

Clube 28 de Setembro em Jundiaí, o grêmio negro mais antigo do estado de São Paulo. Foto: Acervo
Maurício Ferreira. Fonte: Tribuna de Jundiaí, 2021.

14
8

Anúncio da festa da Sociedade Beneficente 13 de Maio em Piracicaba, 1928. Foto: O Patrocínio, 7 set. 1928. Fonte:
LUCINDO, 2020, p. 235.

1.2 Imprensa Negra

No início do século XIX, com a vinda da Família Real ao


Brasil, tivemos o surgimento da imprensa brasileira. Em um
4

país composto por mais da metade da população de origem


africana, escravizada e analfabeta, a imprensa se tornou um
veículo de comunicação de uma minoria populacional
branca e de elite, pois ainda entre a população branca, eram
poucos os que sabiam ler e escrever. Contudo, nesse mesmo
período, diversas pessoas negras conseguiram se
alfabetizar, inserindo-se na imprensa.

Ao longo do XIX, tivemos a criação de vários jornais


escritos e veiculados por e para pessoas negras. No Rio de
Janeiro (RJ) tivemos: O Homem de Cor ou O Mulato, Brasileiro
Pardo, O Cabrito e o Lafuente, fundados em 1833. Em Recife
(PE), surgiu O Homem: Realidade Constitucional ou
Dissolução Social, em 1876. Posteriormente foram fundados A
Pátria - Orgam dos Homens de Cor em 1889 e O Progresso -
Orgam dos Homens de Cor em 1899, ambos em São Paulo. Na
região sul tivemos O Exemplo, surgido em Porto Alegre (RS)
em 1892 (PINTO, 2006, p.12-13). Esses jornais dão início a um
movimento que foi se fortalecendo no pós-abolição e
adquirindo cada vez mais importância política a nível
nacional: a Imprensa Negra brasileira.
4 Ver mais em: JARDIM, Trajano Silva; BRANDÃO, Iolanda Bezerra dos Santos. Breve histórico da imprensa no
Brasil: Desde a colonização é tutelada e dependente do Estado. Hegemonia – Revista Eletrônica de Relações
Internacionais do Centro Universitário Unieuro. Brasília, número 14, 2014, pp. 131-171.

15
Se da década de 1880 até os anos 1930 o Associativismo
Negro foi uma importante forma de organização social e
cultural, promovendo o fortalecimento de vínculos e criando
espaços seguros para a população negra, a Imprensa Negra
foi a grande porta-voz do associativismo e uma das
ferramentas de comunicação de maior relevância para a
população negra de modo geral.

A despeito das barreiras encontradas


pela população negra para se
alfabetizar, os jornais escritos e
direcionados para essa população se
tornaram um grande símbolo de
resistência, desconstruindo
pensamentos racistas que
desvincularam pessoas negras da
intelectualidade. Mais do que isso, os
jornais se tornaram espaços para a
transmissão de ideias, para a
denúncia de racismo, para
divulgação e promoção social e
cultural das comunidades negras. Os
jornais da Imprensa Negra
apresentavam exemplos positivos de
negros bem-sucedidos, tentavam
instruir quais seriam os melhores
comportamentos para a população
negra, e afirmavam a importância
dessa população para a construção
do país.
16
Havia um forte sentimento de pertencimento e unidade
dentro dos jornais, de valorização da comunidade e
conscientização social (LUCINDO, 2020, p. 70).

Em São Paulo a Imprensa Negra se fortaleceu nas


primeiras décadas do século XX, com a criação de jornais
como: O Baluarte (1903) O Menelick e O Xauter (ambos de
1916), O Alfinete (1918), A Liberdade (1919), O Getulino (1923), O
Cosmos (1924), O Clarim da Alvorada
5
(1924) O Patrocínio
(1925), e A Voz da Raça (1933). Esses jornais divulgavam as
atividades dos clubes sociais e grêmios negros, sendo um
importante mecanismo de articulação entre a comunidade.
Até 1930, contabiliza-se a existência de, pelo menos, 31 desses
jornais circulando em São Paulo. Houve também a existência
6

de jornais negros em Minas Gerais e no sul do Brasil.

A Imprensa Negra sofreu forte


repressão a partir de 1937 durante a
Ditadura do Estado Novo de Getúlio
Vargas, mas ela continuou sendo um
importante veículo de articulação do
movimento negro, ao longo da
segunda metade do século XX,
estando viva ainda hoje.

5 N Ver mais em: CARVALHO, Gilmar Luiz de. A Imprensa Negra Paulista entre 1915 e 1937: características,
mudanças e permanências. Dissertação de Mestrado. São Paulo: USP, 2009;
6 Ver mais em: DOMINGUES, Petrônio. Uma história não contada. Negro, racismo e branqueamento em São
Paulo no pós-abolição. São Paulo: SENAC, 2004;

17
Em 1996, foi fundada a Revista Raça Brasil, primeira
revista brasileira sobre cultura afro. Nos últimos anos, foram
7

criadas várias mídias digitais da Imprensa Negra, estando


presente em plataformas como FaceBook, Youtube,
Instagram e Twitter. Destaco o Portal Geledés: Instituto da
Mulher Negra, o Alma Preta Jornalismo, o Mundo Negro, o
Blogueiras Negras e o Correio Nagô. A Imprensa Negra, sem
8

dúvidas, representa uma das organizações mais marcantes


criadas pelo Movimento Negro do Brasil, estando há mais de
100 anos articulando informações, transmitindo ideias,
promovendo e divulgando eventos e conectando pessoas
negras de todo o país.

Redação do Jornal Clarim da Alvorada, 1932. Fonte: Fundação Palmares, 2019.

1.3 Frente Negra Brasileira

Durante o período da escravidão, o conceito de


cidadania no Brasil não abarcava pessoas negras. Nas
primeiras décadas da República, a população negra,
correspondente a mais de 50% da população brasileira,
também não foi considerada cidadã.

7 REVISTA RAÇA BRASIL. Disponível em: https://revistaraca.com.br.


8 PORTAL GELEDÉS. Disponível em: https://www.geledes.org.br. ALMA PRETA JORNALISMO. Disponível em:
https://almapreta.com. Mundo Negro. Disponível em: https://mundonegro.inf.br. BLOGUEIRAS NEGRAS.
Disponível em: http://blogueirasnegras.org. CORREIO NAGÔ. Disponível em: https://correionago.com.br.

18
A constituição de 1891 e as
constituições seguintes das décadas
de 1930, 1940 e 1960, consideravam
como critério para votar apenas
pessoas alfabetizada
(CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS, 2005).
Isso excluía automaticamente mais
da metade da população negra.
Considerando que poucos negros
podiam votar, a representação
política desse grupo também foi
muito pequena, sendo sempre eleitos
políticos brancos que defendiam os
interesses socioeconômicos da elite
brasileira, ocasionando constantes
manutenções de privilégios sociais.

Na década de 1930, em meio ao desenvolvimento do


associativismo, tivemos a criação do primeiro partido político
formado pela população negra no Brasil: A Frente Negra
Brasileira (DIAS, 2019, p. 108-124).

Considerada a organização política sucessora do


Centro Cívico Palmares, em 1931 surgiu em São Paulo a Frente
Negra Brasileira (FNB), a organização política e social do
Movimento Negro mais importante da primeira metade do
século XX (GOMES, 2011, p.140). A FNB teve cerca de 60 filiais e
grupos homônimos em diversos estados (Rio de Janeiro,
Minas Gerais, Espírito Santo, Pernambuco, Rio Grande do Sul e
Bahia). Até então, as organizações políticas da população
negra eram regionais, mesmo havendo diálogos a nível

19
nacional e internacional, não havia uma mobilidade
interestadual de um mesmo grupo. A Frente Negra em pouco
tempo arregimentou milhares de “pessoas de cor”, sendo
responsável por converter, pela primeira vez, o Movimento
Negro Brasileiro em um movimento de massa. Pelas
estimativas de um de seus dirigentes, a FNB chegou a superar
20 mil associados (DOMINGUES, 2007, p. 106). Considerando
que na época a população brasileira era estimada em 40
milhões de pessoas, a quantidade de pessoas filiadas à
Frente Negra era enorme.

É importante destacar a participação das mulheres


negras na FNB. Em algumas filiais existiam o “Núcleo de
Senhoras” ou “Diretoria Feminina”, e também foram criados
dois organismos internos com um recorte de gênero: as
Rosas Negras e a Cruzada Feminina (DOMINGUES, 2007,
p.357-359).

20
A Frente Negra contou também com a
participação de Laudelina de Campos
Melo, pioneira na luta dos direitos das
trabalhadoras domésticas, em sua
maioria mulheres negras. Laudelina
fez parte desse movimento do
associativismo negro entre os anos
1920 e 1930, ajudando a fundar o Clube
13 de Maio em Santos e
posteriormente a Frente Negra
Brasileira. Ela também foi
responsável pela criação da primeira
associação de empregadas
domésticas do Brasil e após a
ditadura militar rearticulou sua
associação em um importante
sindicato de empregadas em
Campinas, interior de São Paulo. A
atuação de Laudelina é um
significativo exemplo da importância
das mulheres negras na construção
da Frente Negra Brasileira e para a
articulação do Movimento Negro de
modo geral (TOMAS, 2020, p. 11-12).

21
A FNB manteve entre suas principais atividades: escola,
grupo musical e teatral, time de futebol, departamento
jurídico, oferecendo ainda serviço médico e odontológico,
cursos de formação política, de artes e ofícios, além de
publicar o jornal A Voz da Raça.

A Frente Negra Brasileira se oficializou enquanto partido


político em 1936, tendo como intenção disputar as eleições
seguintes reunindo os votos da população negra a nível
Brasil. Infelizmente no ano seguinte iniciou-se a Ditadura do
Estado Novo de Getúlio Vargas, muito inspirada nas ideias
nazifascistas de Hitler e Mussolini.

Vargas fechou partidos políticos e instituições


democráticas, cassou mandatos, perseguiu, torturou e
matou diversos opositores ao seu governo, e a Frente Negra
Brasileira foi um dos partidos extintos nesse período (GOMES,
2011, p.140).

O Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP),


também foi responsável por censurar e fechar inúmeros
jornais criados durante o associativismo negro. Essa onda de
censuras prejudicou imensamente o processo de
organização política da população negra, mas não
conseguiu acabar com sua mobilização, muito pelo
contrário.

A existência de uma Frente Negra organizada a nível


nacional enquanto partido político, foi um forte indicativo de
que a população negra não mais iria aceitar ser sub
representada politicamente. Cada vez mais as organizações
negras lutaram para ingressar no sistema político, para
garantir saúde, educação e lazer para uma população
desamparada pelo Estado, enfrentando o racismo estrutural
da sociedade brasileira. A FNB deixou um importante legado
de luta, de construção política e mobilização. Ainda hoje, no
século XXI, enxergamos uma enorme desigualdade política
entre pessoas brancas e negras. Um exemplo disso é a
composição da Câmara dos Deputados. Apesar de 54% da
população brasileira ser negra, apenas 25% dos deputados
eleitos em 2018 foram negros (HAJA, 2018).

22
Em 2020, tivemos uma conquista histórica no que diz
respeito à inserção e representação política de pessoas
negras no Brasil. Foi decidido pelo Tribunal Superior Eleitoral
(TSE), que a distribuição dos recursos do Fundo Especial de
Financiamento de Campanha (FEFC) e do tempo de
propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão será
proporcional ao total de candidatos negros que o partido
apresentar para a disputa eleitoral (TRIBUNAL SUPERIOR
ELEIOTRAL, 2020). Durante as eleições, na maioria dos
partidos, candidaturas negras recebiam menos verba e
menos tempo de propaganda eleitoral do que candidaturas
brancas. Isso refletia na visibilidade e na quantidade de votos
recebidos, sempre favorecendo políticos brancos. A decisão
de tornar as verbas e tempo de propaganda proporcionais,
vai de encontro com uma pauta histórica da população
negra e sua luta por representação política.

Frente Negra Brasileira (FNB), São Paulo, 1935. Movimento negro fundado em outubro de 1931, a FNB lutava
contra o racismo e foi reconhecida como partido político em 1936, tendo permanecido como tal somente até
1937, até a instauração do Estado Novo. Foto: Acervo IPEAFRO. Fonte: Itaú Cultural.

Cabeçalho do quarto exemplar do jornal brasileiro A Voz da Raça lançado pela Frente Negra Brasileira em 1933.
Reprodução: A Voz da Raça (SP) - 1933 a 1937. Fonte: Hemeroteca Digital Brasileira - Banco Nacional Digital.

23
2. O Movimento Negro de 1944 – 1964

2.1. Teatro Experimental do Negro

Em 1944, no fim do período da ditadura varguista, surgiu


no Rio de Janeiro uma das mais importantes manifestações
artísticas e políticas do Brasil, o Teatro Experimental do Negro
(TEN). O objetivo inicial do TEN era formar um grupo de teatro
apenas com atores e atrizes negras, fazendo peças que
trouxessem indivíduos negros como protagonistas, com
temáticas relacionadas a história e cultura afro (DOMINGUES,
2007).

A marginalização da população negra era refletida


também no meio artístico. As manifestações culturais
negras, como samba e capoeira, tanto quanto as religiões de
matrizes africanas, foram proibidas por lei até a década de
1930 (SERAFIM, 2011, p. 1-17). As práticas culturais
afro-brasileiras eram vistas como inferiores e incivilizadas, e
os artistas negros por sua vez, marginalizados. No teatro, no
cinema e nas outras expressões artísticas em voga na
primeira metade do século XX, havia pouca oportunidade de
atuação para negros, e quando havia, era sempre para
papéis secundários ou representações estereotipadas.

O Teatro Experimental do Negro


buscou romper com o apagamento
artístico de pessoas negras, através
da representação positiva do negro
no palco. Entretanto, o que
inicialmente era para ser apenas um
grupo teatral, tornou-se uma grande
organização do Movimento Negro.

24
Aos poucos, o TEN adquiriu um caráter muito mais
amplo. Entre as principais ações do grupo, nos anos 1940 e
1950, tivemos a publicação do jornal Quilombo (1948), o
oferecimento de curso de alfabetização e cursos de corte e
costura para a população negra, a fundação do Instituto
Nacional do Negro, o Museu do Negro e a organização do I
Congresso do Negro Brasileiro.

O TEN também promoveu a eleição da Rainha da Mulata


e da Boneca de Pixe, importantes concursos que visavam a
valorização estética das mulheres negras (SILVA, 2017, p.
106-114). Posteriormente, realizou o concurso de artes
plásticas que teve como tema Cristo Negro, com repercussão
na opinião pública (IPEAFRO). O TEN foi responsável por lutar
pelos direitos civis dos negros, atuando para a criação de
uma legislação antidiscriminatória para o país (DOMINGUES,
2007, p. 109).

Caty Silva, eleita “Boneca de Pixe” em 1950. Reprodução: Jornal do Quilombo. Fonte: Ipeafro.

O Teatro Experimental do Negro também foi responsável


por lançar a carreira daquela que ficou conhecida como a
Primeira Dama Negra do Teatro Brasileiro: Ruth de Souza.
Nascida no Rio de Janeiro, em 1921, Ruth de Souza era filha de
empregada doméstica e se apaixonou pela dramaturgia
acompanhando sua mãe ao cinema.

25
Em 1945 ela entrou no TEN, atuando ao lado de Abdias e
dezenas de atores e atrizes negras. No mesmo ano, se tornou
a primeira atriz negra a encenar no Theatro Municipal do Rio
de Janeiro, no espetáculo “O Imperador Jones”. Em 1948, Ruth
recebeu uma bolsa de estudos e passou um ano estudando
na Universidade de Howard, nos Estados Unidos, universidade
historicamente negra e responsável por formar parte da
intelectualidade afro-americana. Retornando ao Brasil, Ruth
teve uma carreira incrível.

Em 1953, seu papel na novela Sinhá Moça lhe rendeu a


indicação de melhor atriz no Leão de Ouro em Veneza,
tornando-se a primeira atriz brasileira a receber tal
indicação. Além de atuar em inúmeros filmes, entre as
décadas de 1950 e 1960, Ruth se tornou a primeira atriz negra
a protagonizar uma novela da Globo, em 1969 (GOMES;
LAURIANO; SCHWARCZ, 2021, p. 521-522).

Em um país extremamente racista e


machista, Ruth foi uma mulher negra
que se consagrou no teatro, na
televisão e no cinema, sendo uma das
artistas mais importantes da história
brasileira, e uma inspiração para
gerações e gerações de artistas
negros.

26
Ruth de Souza com outros atores do TEN, Aguinaldo Camargo e José Maria Monteiro (fundo) em “O Filho
Pródigo”, de Lúcio Cardoso (Teatro Ginástico, Rio de Janeiro), 1947. Fonte: Ipeafro (2018).

Ainda hoje, se fizermos uma linha do tempo sobre a


representação de pessoas negras no teatro, cinema e
televisão nas últimas décadas, vamos perceber uma grande
maioria de mulheres negras no papel de empregadas
domésticas ou situação de vulnerabilidade, e homens negros
no papel de criminosos e viciados em álcool e drogas, sempre
atuando como coadjuvantes e não protagonistas. As poucas
novelas que tiveram uma maioria de elenco negro eram
novelas que falavam sobre escravidão, muitas vezes de
forma problemática romantizando um período histórico
violento (ARAUJO, 2000).

Em contrapartida, recentemente tivemos o surgimento


de inúmeros grupos de teatro e dança formados por pessoas
negras, uma representação cada vez mais qualitativa e
quantitativa de negros na televisão, no cinema e nos
streamings, além de um número cada vez maior de diretores
e autores negros nas mídias. Todas essas conquistas podem
ser consideradas frutos da atuação do TEN, que há décadas
atrás, utilizou o teatro como ferramenta de transformação
social e luta antirracista.

O grande nome por trás do Teatro Experimental do


Negro, e também uma das mais importantes figuras do
Movimento Negro Brasileiro, foi Abdias do Nascimento. Em
sua longa carreia como ativista do Movimento Negro, Abdias
foi ator, poeta, escritor, dramaturgo, artista plástico,
professor universitário e político (GOMES; LAURIANO;
SCHWARCZ, 2021, p. 22-23).

27
Perseguido durante a Ditadura Militar
entre os anos 1960 e 1970, Abdias do
Nascimento deu aula em diversas
universidades, como a Universidade
Estadual de Nova York e a
Universidade de Yale. Também foi
professor da Universidade de Ifé, na
Nigéria. Nesse período, Abdias
conviveu com líderes do Movimento
Negro norte americano e escreveu
uma de suas principais obras: O
Genocídio do Negro Brasileiro, no qual
denunciava o racismo estrutural e a
marginalização da população negra
(NASCIMENTO, 1978). Ao retornar do
exílio, em 1981, foi deputado federal e
senador. Abdias foi um dos
responsáveis pela fundação do
Movimento Negro Unificado, o qual
deu início a atual estrutura do
Movimento no Brasil.

28
Como deputado, Abdias apresentou projetos de lei para
enquadrar o racismo como crime, transformar o 20 de
novembro no Dia Nacional da Consciência Negra, incluir a
história e cultura africana e afro-brasileira nos currículos
escolares e criar cotas raciais no serviço público e nas
empresas privadas, sendo 20% para homens negros e 20%
para mulheres negras. Posteriormente, como senador,
Abdias voltou a apresentar os projetos que previam a criação
de cotas raciais e a mudança dos currículos escolares.
Também redigiu propostas para garantir mais direitos às
comunidades quilombolas, endurecer a legislação contra o
racismo e obrigar o Ministério Público a agir em casos de
ataque à dignidade da população negra (NASCIMENTO, 2014).

Todas essas importantes propostas de Abdias foram


vetadas na época, mas posteriormente foram retomadas por
outros políticos e aprovadas. Se hoje temos a
obrigatoriedade do ensino de história e cultura africana e
afro-brasileira em sala de aula, o enquadramento do
racismo enquanto crime e cotas étnico-raciais em concursos
públicos e universidades, sem dúvidas é devido a importante
luta de Abdias do Nascimento.

Campanha de Abdias do Nascimento para vereador em 1950. Abdias chamava a atenção para a falta de
pessoas negras na política. Reprodução: Jornal do Quilombo. Fonte: Ipeafro (2018).

29
3. O Movimento Negro de 1978 – 1985

3.1 Movimento Negro Unificado

Entre 1964 e 1985, o Brasil passou por uma violenta


ditadura militar, responsável pela cassação de direitos
políticos, violações de direitos humanos e forte perseguição
aos movimentos sociais, que naquele período estavam
eclodindo no mundo todo. Em um contexto externo, no pós
Segunda Guerra, o mundo seguia na polarização entre Direita
versus Esquerda, Estados Unidos versus União Soviética e
fortes transformações sociais.

No continente africano, intensas lutas promoviam


processos de independência da colonização europeia na
maioria dos países (VISENTINI, 2008, p. 123-137). Nos Estados
Unidos, o Movimento Negro marchava pelas cidades do
interior e da capital norte-americana, exigindo direitos civis e
o fim da segregação racial, ou pegando em armas para se
defender da violência policial, encabeçados por Martin Luther
King, Malcolm X, Panteras Negras entre outros (PEREIRA, 2019,
p.34-57). No Brasil, em plena Ditadura, tivemos o surgimento
do Movimento Negro Unificado (MNU), sendo responsável por
moldar o atual formato de luta e articulação do Movimento
Negro do Brasil (GOMES, 2017, p.32-33).

30
Durante a Ditadura, a articulação
política da população negra, assim
como movimentos sindicais,
artísticos e outras formas de
organização política e social, era
vista como subversiva pelo governo
militar, cujo objetivo era exterminar
da sociedade brasileira tudo aquilo
que se configurasse como uma
ameaça comunista. Além de
inúmeros partidos, sindicatos e
entidades serem fechados ou caírem
na ilegalidade, muitos políticos,
artistas e intelectuais foram exilados
do Brasil, pois corriam o risco de
prisão, tortura e morte. Este
infelizmente acabou sendo o destino
de muitos que ficaram no Brasil.
Estima-se que a Ditadura foi
responsável pela morte de 475
militantes e pela tortura de cerca de
20 mil pessoas (COMISSÃO DA
VERDADE, 2009). A polícia militar
atuava como um forte braço
repressor do Estado, e a população
negra era diretamente atingida pela
ditadura nesse período.
31
Em 1978 a polícia torturou e assassinou um operário
negro em São Paulo, chamado Robson Silveira da Luz. Na
mesma época, quatro jovens negros foram impedidos de
entrar para o Clube de Regatas Tietê, um dos mais
importantes clubes esportivos de São Paulo na época. Esses
acontecimentos foram o estopim para uma enorme
articulação entre a comunidade negra, que estava cansada
de tanta opressão e injustiça. Nas palavras da jornalista e
militante negra, Neusa Maria Pereira:
Não tínhamos mais forças para minimizar um
único arranhão em nossas existências feridas.
Éramos jovens, queríamos um Brasil mais negro e
justo. Nossa paciência esgotara-se. Há muito que
desejávamos gritar em praça pública nossa
indignação contra uma sociedade que violava
nossa alegria de viver e nossa esperança em dias
melhores, negando os direitos básicos de um ser
humano. Precisávamos mostrar que éramos
gente. Se ninguém estava enxergando, então um
grupo de negros e negras destemido, tomado
pelo espírito de Zumbi, retomaria a luta dos
quilombos (PEREIRA, 2019, p. 28).

No dia 7 de julho de 1978, reuniram-se na praça Ramos


de Azevedo, centro de São Paulo, cerca de 2 mil pessoas, entre
membros da Câmara de Comércio Afro-Brasileira, o Centro
de Cultura e Arte Negra, a Associação Recreativa Brasil
Jovem, a Afrolatino América, a Associação Casa de Arte e
Cultura Afro-Brasileira, a Associação Cristã Beneficente do
Brasil, o Jornegro, o Jornal Abertura, o Jornal Capoeira, a
Company Soul e a Zimbabwe Soul.

Diversos intelectuais que marcaram a história do


Movimento Negro do Brasil também estavam presentes,
como Abdias do Nascimento, Lélia Gonzales, Hamilton
Cardoso, Eduardo de Oliveira, Milton Barbosa, Neusa Maria
Pereira, entre muitos outros. Esse grupo de pessoas marchou
pelo centro de São Paulo com placas e faixas que diziam
“Abaixo o racismo”, “Abaixo 500 anos de opressão”, “Contra a
repressão policial”, “Negro é gente”, entre outras palavras
que denunciavam a violência racial no país. Este
acontecimento é conhecido como a fundação do Movimento
Negro Unificado.

32
Identidade visual do Movimento Negro Unificado. Fonte: MNU.

Uma das fundadoras do MNU, e também uma das


intelectuais mais relevantes do século XX, ao lado de Abdias
do Nascimento, foi Lélia Gonzalez. Contrariando as
estatísticas de mulheres negras que passaram a vida
atuando em trabalhos braçais, Lélia se formou em História e
Geografia na UERJ em 1958 e em 1962 graduou-se em
Filosofia.

Ela desenvolveu inúmeras pesquisas e publicações que


refletiam sobre a opressão histórica da população
afro-brasileira, fazendo recorte de gênero sobre as mulheres
negras. Lélia foi uma das primeiras intelectuais negras a
contestar o racismo da intelectualidade branca, que excluía
a relevância histórica da população negra nas pesquisas de
História, Geografia e Sociologia, considerando os negros
apenas como mão de obra escravizada. Foi uma grande
articuladora do MNU, atuando ativamente até sua morte, em
1994 (SANTOS, 2020, p. 29-30).

O Movimento Negro Unificado existe até hoje,


atravessando um período de mais de 40 anos de luta e
ativismo político. Sua fundação é considerada um marco
para o Movimento Negro Brasileiro, pois ele alterou a
concepção do próprio Movimento. Até então, todas as
organizações negras do Brasil eram realizadas por entidades
isoladas ou por grupos regionais, como foi o caso dos
grêmios e clubes sociais. Até mesmo a Frente Negra Brasileira
que teve um alcance nacional, era, no limite, constituída por

33
uma única entidade. A partir da fundação do MNU, o
Movimento Negro deixou de ser feito por ações de grupos
individuais e se tornou uma articulação coletiva a nível
nacional, na qual se juntam diversas entidades, coletivos,
partidos e indivíduos (DOMINGUES, 2007, p. 114-115).

O Movimento Negro se tornou plural, aglutinando pautas


antirracistas do movimento estudantil, do movimento
feminista, do movimento operário, de partidos políticos
progressistas, e de movimentos artísticos, culturais e
religiosos. Passaram a ser organizados grandes eventos,
encontros, marchas, passeatas e protestos, no qual inúmeras
entidades se reúnem com os mesmos objetivos em comum:
denunciar e lutar contra o racismo e garantir direitos à
população negra. Houve também nesse processo, uma
articulação maior em torno de ideias marxistas,
aproximando o Movimento Negro a partidos de esquerda e a
luta revolucionária anticapitalista (GONZALEZ, 1982).

Movimento Negro Unificado em sua comemoração de 40 anos em 2018, durante o Fórum Social em Salvador
(BA). Fonte: MNU (2018).

34
3.2 O 20 de Novembro

Como mencionado no capítulo do associativismo, as


primeiras gerações de negros no pós-abolição, buscaram as
datas das leis abolicionistas como referência de luta e
promoção da igualdade racial. Entre o final do século XIX até
a década de 1930, inúmeros grêmios, clubes e organizações
negras homenagearam as datas 28 de Setembro e 13 de Maio
em seus nomes. Entretanto, no decorrer das décadas
seguintes, a população negra percebeu que as leis
abolicionistas não trouxeram uma efetiva melhora na
qualidade de suas vidas, não sendo, portanto, uma referência
de luta a ser celebrada. Em 1998, quando a Abolição
completou 110 anos, o então senador Abdias do Nascimento
declarou que:
No dia 13 de maio de 1888, negros de todo o país
puderam comemorar com euforia a liberdade
recém-adquirida, apenas para acordar no dia 14
com a enorme ressaca produzida por uma dúvida
atroz: o que fazer com esse tipo de liberdade?
Para muitos, a resposta seria permanecer nas
mesmas fazendas, realizando o mesmo trabalho,
mas sob piores condições. Não sendo mais um
investimento, o negro agora era livre para
escolher a ponte sob a qual preferia morrer
(WESTIN, 2021).

A insatisfação da população negra com sua exclusão


social, articulada a nova perspectivas marxistas e
pan-africanistas de luta, fizeram com que na segunda
metade do século XX, o Quilombo dos Palmares e seu último
líder, Zumbi, fossem reconhecidos como as principais
referências de luta e resistência negra no Brasil
(NASCIMENTO, 2002).

35
Se durante o Império e Primeira
República, a história de Palmares foi
ignorada, ou exaltada no ponto de
vista heroico do bandeirante
Domingos Jorge Velho, responsável
por destruir Palmares, a partir da
década de 1970, Palmares foi
retomado como símbolo
revolucionário da população negra.
Naquele momento, não era mais
interessante buscar símbolos e datas
que fizessem referências ao
protagonismo branco, como exaltar o
“ato nobre” da Princesa Isabel, ou
mesmo ter como exemplo de luta
pessoas negras que se articularam
com as esferas políticas e sociais
brancas de forma pacífica. Era
preciso retomar narrativas de
grandes lutas, de construção de
espaços autônomos, de pessoas
negras que ousaram pegar em armas
para lutar contra aqueles que
oprimiam. E o Quilombo dos Palmares
foi escolhido pelo Movimento Negro
por representar tudo isso.

36
Em 20 de Novembro de 1695, Zumbi dos Palmares foi
assassinado pelas forças coloniais, marcando o fim da
existência da maior organização política africana da história
do Brasil. Em 1971, uma organização negra do Rio Grande do
Sul, chamada Grupo Palmares, sugeriu utilizar o 20 de
Novembro como um marco da história afro-brasileira, e um
símbolo de luta a ser utilizado nacionalmente (ZORZI, 2020,
p.469-487). O idealizador do 20 de Novembro foi o poeta
gaúcho Oliveira Silveira, um nome importante para o
Movimento Negro gaúcho e brasileiro de modo geral. A
sugestão do Grupo Palmares foi levada adiante, e em 1978,
dada a fundação do MNU, o 20 de Novembro se tornou o Dia
Nacional da Consciência Negra (OLIVEIRA, 2012, p.1-8).

A oficialização e inclusão do 20 de Novembro como data


oficial do calendário nacional foi e ainda é, fruto de muita luta
do Movimento Negro. Essa luta envolve disputas políticas
sobre narrativas de heróis nacionais e a valorização da
história e cultura africana e afro-brasileira em sala de aula e
na sociedade de modo geral. A data só foi oficialmente
instituída em âmbito nacional mediante a lei nº 12.519, de 10
de novembro de 2011, sendo feriado em cerca de mil cidades
em todo o país e através de decretos estaduais nos estados
de Alagoas, Amazonas, Amapá, Mato Grosso e Rio de Janeiro.
No restante do país, onde as leis estaduais não aderiram à
Consciência Negra, é de responsabilidade de cada câmara
de vereadores decidir se haverá feriado no município. Muitas
cidades brasileiras não aderiram ao 20 de Novembro por não
reconhecerem a importância do protagonismo negro para a
sociedade brasileira.

Ainda hoje, o 20 de Novembro é atacado por pessoas e


grupos racistas, que tentam deslegitimar a importância da
data, de Zumbi dos Palmares, ou argumentar que se existe o
dia da Consciência Negra, também deveria existir o dia da
Consciência Branca.

37
A existência de uma data nacional
pensada para refletir o protagonismo
negro na sociedade e pensar em
ações antirracistas, é uma demanda
criada por um longo processo
histórico de opressão da população
negra, não sendo justificável que
tenha uma data para refletir sobre a
população branca, que sempre
ocupou um lugar de privilégios na
sociedade. Basta olharmos para o
calendário oficial para percebermos
que a maioria dos feriados nacionais,
estaduais e municipais,
homenageiam pessoas brancas e
momentos históricos protagonizados
por pessoas brancas. Isso também é
refletido nos espaços públicos.
Quando andamos por uma cidade, o
que fica perceptível é que a maioria
das ruas, avenidas, bairros, praças e
monumentos, homenageiam
pessoas brancas. A construção de
Zumbi e de Palmares enquanto
símbolos de luta, é também uma
tentativa de representar melhor
indivíduos negros e dar visibilidade
para momentos históricos
protagonizados pela população
negra.
38
Abdias do Nascimento e importantes ativistas do Movimento Negro em 1983 na Serra da Barriga, onde se
localizava o Quilombo dos Palmares. Fonte: Ipeafro (2021).

39
4. O Movimento Negro de 1985 - Século XXI

4.1. O Movimento Negro na atualidade

Após a Ditadura Militar, o Movimento Negro ampliou sua


articulação política a nível nacional, realizando importantes
conquistas para a população negra. Com a constituição de
1988, o Brasil passou a ter leis mais democráticas e plurais,
que tentavam se afastar do período de violação de direitos
humanos da Ditadura. Uma das conquistas mais importantes
da Constituição de 1988, foi a criação da Fundação Cultural
Palmares, a primeira instituição pública voltada para
promoção e preservação dos valores culturais, históricos,
sociais e econômicos decorrentes da influência negra na
formação da sociedade brasileira. A Fundação Cultural
Palmares tem como objetivo o comprometimento com o
combate ao racismo, a promoção da igualdade, a
valorização, difusão e preservação da cultura negra no Brasil.

Além da Fundação Palmares, a partir dos anos 1980,


foram criadas as primeiras secretarias, coordenadorias e
pastas governamentais a nível federal, estadual e municipal
voltadas para a população negra. Em São Paulo tivemos a
criação do Conselho de Participação e Desenvolvimento da
Comunidade Negra (1984), no Rio de Janeiro foi criada a
Secretaria Extraordinária de Defesa e Promoção das
Populações Afro-Brasileiras (1991) e em Brasília foi a
Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial
(2003), vinculada ao Ministério de Direitos Humanos (GOMES,
2017, p. 34-35). Neste período, também surgiram diversas
entidades organizadas por comunidades negras, em projetos
sociais que ficaram conhecidos como Organizações não
Governamentais (ONGs) (ENCARNAÇÃO, 2011, p.10).

Assim como os clubes e grêmios negros da primeira


metade do século XX, a partir dos anos 1980, as ONGs foram
as grandes responsáveis por desenvolver trabalhos culturais,
educacionais e prestar assistência a comunidades
marginalizadas e periféricas. Algumas das organizações
mais importantes criadas nesse período são: a Casa Dandara
(Belo Horizonte, 1987), o Geledés - Instituto da Mulher Negra

40
(São Paulo, 1988), o Centro de Articulação de Populações
9

Marginalizadas (CEAP), (Rio de Janeiro, 1989), o Centro de


Estudos de Relações Trabalho e Desigualdade (CEERT), (São
Paulo, 1990),10 a Criola (Rio de Janeiro, 1992), entre outros.
11

Na década de 1990, surgiram


iniciativas do Movimento Negro para
a construção de cursinhos
pré-vestibular, voltados para
estudantes autodeclarados negros. A
educação sempre foi uma pauta
central para a população negra,
sobretudo no pós-abolição, quando
foram criados projetos de
alfabetização nos clubes e grêmios. A
partir dos anos 1990, os cursinhos
pré-vestibular tiveram como objetivo
proporcionar condições para o
ingresso de pessoas negras nas
universidades, visto que o ensino
regular das escolas públicas,
sobretudo em regiões periféricas,
tinha qualidade muito inferior as
escolas particulares, das quais saiam
a esmagadora maioria de jovens
brancos universitários.

9 Site oficial do Geledés: https://www.geledes.org.br; (acesso em 22 de março de 2022);


10 Site oficial do CEERT: https://ceert.org.br; (acesso em 22 de março de 2022);
11 Site oficial da Criola: https://criola.org.br; (acesso em 22 de março de 2022);

41
Nesse momento surge o Instituto Steve Biko, criado na
Bahia, no ano de 1992, o Pré-Vestibular para Negros e
Carentes (PVNC) (fundado no Rio de Janeiro, em 1993), o
Curso do Núcleo de Consciência Negra da Universidade de
São Paulo e o EDUCAFRO (ambos criados em São Paulo,
respectivamente, nos anos de 1994 e 1997), o curso Zumbi dos
Palmares (no Rio Grande do Sul, em 1995), e vários outros pelo
interior do Brasil (ENCARNAÇÃO, 2011, p. 10-11). Atualmente
existem centenas de cursinhos populares, que seguem
atuando para a inclusão de pessoas negras e em situação de
vulnerabilidade social no ensino superior.

O Movimento Negro passou a reivindicar cada vez mais


compromisso do governo com a luta antirracista. No
aniversário de 300 anos da morte de Zumbi, em 20 de
novembro de 1995, foi realizada uma das maiores marchas
até então organizadas pela população negra, a Marcha
Zumbi contra o Racismo, pela Cidadania e pela Vida em
Brasília. A marcha foi responsável por reunir mais de 30 mil
pessoas, que exigiam reforma agrária, direitos trabalhistas e
acesso à educação (SOARES, 2016, p.74)

Marcha Zumbi contra o Racismo, pela Cidadania e pela Vida. Brasília, 1995. Reprodução: Geledés Instituto da
Mulher Negra - Acervo Cultne. Fonte: Google Aarts and Culture

Nos anos 2000, diversas reivindicações históricas do


Movimento Negro foram efetivadas. Em 2001, ocorreu em
Durban, África do Sul, a III Conferência Mundial de Combate
ao Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância
Correlata. Durante a conferência, o Brasil se comprometeu a
criar práticas efetivas de combate ao racismo e a
discriminação racial. Em 2003, tivemos a implementação da
Lei 10.369, que tornou obrigatório o ensino de história e cultura
africana e afro-brasileira em sala de aula (BRASIL, 2003).
42
A inclusão de História afro nas
escolas, promoveu a elaboração de
materiais didáticos que rompem com
estereótipos construídos por
perspectivas eurocêntricas, que por
muito tempo negligenciaram a
participação das sociedades
africanas na História, inferiorizando
esses grupos e negando-lhes o
reconhecimento de sua importância.
Reduzidos a termos depreciativos e
classificados como menos
civilizados, por muito tempo as
únicas referências aos povos
africanos em livros didáticos, além
do Egito Antigo, eram em assuntos
relacionados à escravização. Nessa
lógica, a contribuição dos africanos
na formação da sociedade brasileira
se configurava apenas enquanto
serviço braçal forçado, ignorando a
complexidade dessas populações e
suas significativas contribuições
para a história do Brasil.

43
A falta de ensino de história africana em sala de aula
afetava inclusive a autoestima da população negra, que ao
abrir os livros didáticos, viam que as únicas pessoas
parecidas com elas dentro dos livros encontravam-se em
situação de violência. A lei 10.639/03 tem sido responsável
por transformar a educação em ferramenta de luta
antirracista, mostrando em sala de aula que para além de
escravizados, a população negra descende de reinos,
impérios e sociedades com grande acúmulo de
conhecimentos arquitetônicos, científicos, militares e
tecnológicos (PINTO, 2005).

Também nos anos 2000 tivemos outra importante


conquista: a criação das cotas étnico-raciais. Com grande
pressão do Movimento Negro, começaram a ser
implementados programas de ações afirmativas em todo o
Brasil. De forma resumida, as cotas têm por objetivo reservar
uma quantidade de vagas para pessoas negras em cursos de
faculdades, universidades e concursos públicos, visando
assim a diminuição das desigualdades socioeconômicas
historicamente consolidadas na sociedade brasileira
(BELLINTANI, 2006). Desde que a escravidão foi abolida no
final do século XIX, nenhuma lei federal foi criada ao longo de
mais de 100 anos para incluir a população negra nas
instituições de ensino e mercado de trabalho. Conforme
mencionado ao longo do livro, o fim da escravidão não
significou um rompimento das desigualdades entre a
população negra e branca, e ao longo do tempo a população
negra, majoritariamente analfabeta, sem acesso a moradia e
educação de qualidade, foi marginalizada sem grandes
oportunidades de ascensão social.

Os clubes sociais, as ONG’s e demais projetos criados


pela população negra, tiveram grande importância para
diminuir o analfabetismo e proporcionar uma melhoria de
vida dos negros de modo geral. Mas ainda assim, havia uma
carência de políticas públicas voltadas para a população
negra. Nos Estados Unidos, outro país fortemente marcado
pela discriminação e segregação racial, as cotas existem
desde a década de 1970, sendo responsável por ampliar
significativamente o acesso de pessoas negras no ensino
superior. A experiência norte-americana serviu de inspiração
para a criação das leis de cotas no Brasil.

44
Em 2002, o Rio de Janeiro foi o primeiro estado brasileiro
a reservar vagas para estudantes negros nos vestibulares
das universidades estaduais. Em 2003, a UERJ foi pioneira na
implementação do programa de cotas em seu processo
seletivo e em 2004, a UnB, em Brasília, tornou- se a primeira
universidade federal a utilizar sistemas de cotas. Desde
então, o número de instituições de ensino superior,
municípios e estados que utilizam cotas aumentou
gradativamente. Em 2012, foi aprovada a lei federal 12.711, que
prevê cotas nas instituições federais de ensino superior e em
2014 a lei 12.990, que garante cotas em cargos públicos na
Administração Pública Federal.

Apesar de muitas críticas negativas sobre as cotas, que


consideram uma ação preconceituosa e excludente, as cotas
se tornaram uma importante conquista da população negra,
pois entre 2010 e 2019, o número de pessoas negras no ensino
superior teve um aumento de quase 400% (COSTA, 2020).
Muitos argumentam que as cotas diminuem a oportunidade
de pessoas brancas, ou que elas desconsideram a
inteligência de pessoas negras que poderiam passar nos
vestibulares apenas por mérito. Mas na verdade, as cotas
têm por objetivo diminuir a enorme desigualdade que
perpassa questões estruturais como: acesso à educação
básica de qualidade, alimentação, moradia, saúde, emprego
e segurança. Não se trata de desconsiderar o intelecto de
pessoas negras, e sim reconhecer que historicamente a
população negra esteve à margem da sociedade por conta
da omissão do Estado que durante décadas não se
preocupou em promover oportunidades de vida digna para
os ex-escravizados e seus descendentes (GOMES, 2017,
p.114-115).

Atualmente o Movimento Negro está presente em


diversos setores e instituições da sociedade, na área da
saúde, educação, cultura, política entre várias outras. Uma
das articulações mais importantes realizadas nos últimos
anos pelo Movimento, foi a fundação da Coalizão Negra Por
Direitos. Fundada em 2019, a Coalizão reúne mais de 250
organizações do Movimento Negro de todo o Brasil, que
somam forças para lutar contra o racismo, garantindo a
existência de um país mais justo e igualitário. A internet
12

12 Ver mais em: Coalizão Negra por Direitos. Disponível em: https://coalizaonegrapordireitos.org.br.

45
também tem sido uma forte aliada do Movimento nos últimos
anos. Diversos canais e páginas das redes sociais são
utilizados como plataforma de luta antirracista, promovendo
debates e reflexões para toda a sociedade.

Evento discute a agenda de demandas, proposições e as estratégias de incidência da Coalizão rumo às


eleições em 2022 - ASCOM Coalizão Negra. Fonte: Brasil de Fato, 2021.

Ainda hoje são grandes os desafios do Movimento Negro


em nosso país. Apesar de importantes avanços e conquistas,
o Brasil continua sendo um país extremamente racista e
violento para a população negra. Durante toda a história do
país, pessoas negras se organizaram individualmente e
coletivamente, para lutar contra a opressão, exigindo o
direito de existirem de forma plena e livre.

É fundamental que cada vez mais toda a sociedade


brasileira possa refletir sobre o racismo, sobre a
desigualdade e diversidade de nosso país,
conscientizando-se sobre a importância de respeitar e
valorizar a população negra. Somente através da
conscientização coletiva e do reconhecimento dos privilégios
e desigualdades existentes em nossa sociedade,
conseguiremos de fato transformar o Brasil em um país livre
de racismo, preconceitos e opressões. Ninguém deve ser
oprimido pelo tom de pele, pelo cabelo ou por qualquer outra
característica genética. Que a história, a trajetória e a luta do
Movimento Negro Brasileiro possam cada vez mais inspirar
ações individuais e coletivas, construindo um país mais justo
e igualitário para todas as pessoas, independente da
identidade étnica.
46
5. Indicações

5.1 Movimento Negro nos séculos XX e XXI

O NEGRO da Senzala ao Soul. Direção e produção do


Departamento de Jornalismo da TV Cultura de São Paulo.
Brasil. 1977, 45 min. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=5AVPrXwxh1A. Acesso
em: 10 jun. de 2022.

ÔRÍ. Direção de Raquel Gerber. Produção de Ignácio Gerber,


Raquel Gerber. Brasil e Angola. 1989, 93 min. Disponível em:
https://canalcurta.tv.br/filme/?name=ori. Acesso em: 10 jun.
de 2022.

EMICIDA: AMARELO – É Tudo Pra Ontem. Direção: Fred Ouro


Preto. Produção: Laboratório Fantasma. Brasil. 2020.
Disponível em: https://www.netflix.com/br/title/81354431.
Acesso em: 10 jun. de 2022.

5.2 Racismo e protagonismo negro brasileiro

A NEGAÇÃO do Brasil. Direção de Joel Zito Araújo. Produção:


Casa de Criação. Brasil, 2000, 92 min. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=EvNPhyS863o. Acesso
em: 10 jun. de 2022.

CIDADE de Deus. Direção de Fernando Meirelles e Kátia Lund.


Produção: O2 Filmes e Globo Filmes. Brasil, 2002, 130 min.
Disponível em:
https://globoplay.globo.com/cidade-de-deus/t/5vXVkLJN1R
/. Acesso em: 10 jun. de 2022.

BRANCO Sai, Preto Fica. Direção de Adirley Queirós. Produção:


Cinco da Norte. Brasil. 2014, 93 min. Disponível em:
https://www.netflix.com/br/title/80103378. Acesso em: 10 jun.
de 2022.

M8 - Quando a morte socorre a vida. Direção: Jeferson De.


Produção: Buda Filmes, Migdal Filmes. Brasil. 2019, 84 min.
Disponível em: https://www.netflix.com/br/title/81362674.
Acesso em: 10 jun. de 2022.

47
5.3 A luta negra através do rap nacional

Racionais MC’s. Sobreviventes no Inferno (1997). Disponível


em: https://www.youtube.com/watch?v=fVQ3YYnic2o.
Acesso em: 10 jun. de 2022.

Emicida. Mandume ft. Drik Barbosa, Amiri, Rico Dalasam,


Muzzike, Raphão Alaafin. Disponível em:
youtube.com/watch?v=mC_vrzqYfQc. Acesso em: 10 jun. de
2022.

Djonga. Olho de Tigre (Prod. Malive/Slim). Disponível em:


https://www.youtube.com/watch?v=0D84LFKiGbo. Acesso
em: 10 jun. de 2022.

Rincon Sapiência. Ponta de Lança. Disponível em:


https://www.youtube.com/watch?v=vau8mq3KcRw. Acesso
em: 10 jun. de 2022.

Preta Rara. Audácia. Disponível em:


https://www.youtube.com/watch?v=F0vaedHpHps&list=PLi7
cdzJNbZ4bZR1AnVBhRFKsgjPo8XPcV. Acesso em: 10 jun. de
2022.

Luana Hansen. Negras em Marcha. Disponível em:


https://www.youtube.com/watch?v=p6kRqzpoo3k. Acesso
em: 10 jun. de 2022.

Bia Ferreira. Cota Não é Esmola. Disponível em:


https://www.youtube.com/watch?v=QcQIaoHajoM. Acesso
em: 10 jun. de 2022.

5.4 Intelectuais negros para seguir nas redes sociais

AD Junior - @adjunior_real
Carla Akotirene - @carlaakotirene
Djamila Ribeiro - @djamilaribeiro1
Guilherme Oliveira - @gui_oluko
Joice Berth - @joiceberth
Levi Kaique - @levikaiquef
Nátaly Neri - @natalyneri
Rede de Historiadores Negros - historiadorxsnegrxs
Roger Cipó - @rogercipo
Silvio Almeida - @silviolual

48
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mas acesso é desigual. In: Agência Brasil. Disponível em:
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Pós-Graduação em História da UnB EM TEMPO DE HISTÓRIAS.
Brasília-DF, n. 36, p. 469-487, jan./jun. 2020.

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Sobre o autor

Guilherme Oliveira da Silva

Mestrando em História Social da África na Unicamp.


Bolsista FAPESP. Graduado em História Licenciatura pela PUC
Campinas.

E-mail: g264919@dac.unicamp.br

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