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A HISTÓRIA DO CARNAVAL

NA TELEVISÃO BRASILEIRA

Gerson Brisolara
A HISTÓRIA DO CARNAVAL
NA TELEVISÃO BRASILEIRA

Gerson Brisolara
SUMÁRIO

. Prefácio

. Introdução

. 1º Capítulo: Os Primórdios (Anos 50 e 60)


 TV Tupi, a pioneira das transmissões de carnaval
 TV Continental e a revolução do videoteipe
 O controverso carnaval de 1960
 Carnaval do Rio Quatrocentão

. 2º Capítulo: Do Preto e Branco a TV Coloriu (Anos 70)


 Mudanças no palco
 Formato da transmissão
 Júri Oficioso, ou... “Júri da Globo”
 Rede Tupi – “Cobertura total”

. 3º Capítulo: A Era da Televisão – Anos 80 (1ª Parte -


1980-1983)
 A emissora dos festivais de músicas carnavalescas
 Rio Dá Samba e João Roberto Kelly
 “O sapatão está na moda...”
 Mais de mil palhaços no salão
 Surgem o Gala Gay e Roberta Close
 O desfile é na avenida
 Samba da Garoa
 SBT entra na folia
 Programação Normal e o Melhor do Carnaval
 Reprise dos desfiles
 Qualidade nas transmissões ao vivo
 Júri oficioso do carnaval da Globo (1980-1983)
 Carnaval 80 na TVE – 80 horas no ar

. 4º Capítulo: Aconteceu, Virou Manchete – Anos 80 (2ª


Parte: 1984-1987)
 A TV do ano 2000
 Televisão de Primeira Classe (1983 - 1988)
 Os 110 dias entre a maquete e a realidade: a polêmica
construção do Sambódromo e o carnaval de 1984
 Exclusividade da Bloch e boicote global
 Rede Globo: programação normal. E o melhor do
Carnaval?
 Festival Manchete/Riotur de música carnavalesca
 Strip tease e contagem regressiva
 1984 – Goleada do Carnaval da Manchete
 Dez, nota dez!
 Supercampeonato
 1985 – O Carnaval da Democracia
 1986 – Guerra é guerra
 1987 – Nasce o “pool” no carnaval e a guerra das
logomarcas

. 5º Capítulo: Na Tela da TV no Meio Desse Povo (Virada


Anos 80/90)
 O carnaval é do povo
 Saída de Alexandre Garcia
 Vinhetas hollywoodianas
 Pode preparar o seu confete que este ano na avenida
tem Manchete – CARNAVAL 89
 Após o réveillon, tudo é carnaval na Globo
 Na TV Globo é que a gente leva fé
 A Voz do Carnaval
 Olha o “Feras do Carnaval” aí gente!
 100 versus 1.000 – CARNAVAL 1990
 Não tem pra ninguém...
 A Casseta cai no samba
 Fantasia
 Luxo e originalidade abriam a cobertura de carnaval
 Equipe de craques
 “Requentando os Tamborins”
 1991 - Carnaval Brasil enfrenta a Globeleza
 O desfile do Acesso que só a Manchete exibiu
 O carnaval da Pauliceia entra definitivamente na tela
 O Carnaval Globeleza e o Carnaval Campeão – 1992
 Tantos Carnavais

. 6º Capítulo: O Canto Dessa Cidade É Meu! (Anos 90)


 Manchete e a Era IBF (1992 – 1993)
 Manchete e os programas de apelo popular
 Carnaval Axé 1993
 Baianidade Nagô
 A guerra das cervejas
 Alô, você!
 Debate global, modelo Manchete
 Susto com a prisão dos patronos
 Interminável chuva na Terra da Garoa
 Paranauê, Paraná...
 Especiais de samba-enredo
 A volta da Manchete à Sapucaí, o samba de São Paulo
em rede nacional via Rede Globo e o carnaval na selva
 Carnaval de Manaus
 Toda nudez carnavalesca será castigada
 Band volta a transmitir Carnaval do RJ
 O fenômeno Tiazinha
. 7º Capítulo: Enfim, o Carnaval da Liberdade (Anos 2000)
 O canto do cisne e a permanente Quarta-feira de Cinzas
da Manchete
 Enfim, a falência
 A TV do ano 2000 que morreu em 1999
 O Carnaval do Povão
 O carnaval da Lesga e a volta de Paulo Stein à narração
dos desfiles
 Jorge Perlingeiro é Samba de Primeira
 Carnaval dos 500 anos
 Globo e o Carnaval no Terceiro Milênio
 Carnaval ganha nova tecnologia na TV Globo
 O livro de história da Pauliceia
 Equipes de transmissão na terra da garoa
 Globo News na cobertura carnavalesca
 Silvio Santos vem aí...
 O SBT Repórter exibiu um programa especial mostrando
os bastidores do desfile da Tradição 2001
 Sábado das Campeãs é na tela da Band

. 8º Capítulo: É o Teu Futuro que Me Seduz (Anos 2010)


 A era da folia digital
 Outros polos carnavalescos
Carnaval de Porto Alegre

TV Piratini

TV Guaíba

TV Bandeirantes

TVE RS

RBS TV

Carnaval de Florianópolis

Carnaval de Vitória
Carnaval de Uruguaiana

 O rock n’ roll entrou no carnaval


Unidos do Caralho a Quatro

 Okay, okay!
Green Ass

 O maior espetáculo da tela


 Que série eu vou maratonar?
 A aventura carnavalesca do SBT
 Bandeirantes, o canal da folia
Salvador

Recife, Olinda, Bezerros e Nazaré da Mata

Desfile das Escolas de Samba – Acesso RJ, Acesso SP,


Campeãs SP e Campeãs RJ

 TV Brasil faz ampla cobertura do carnaval


Bahia

Desfile do Grupo de Acesso de SP

Suspensão momentânea da cobertura e retomada

 Um carnaval Sem Censura, com certeza


 Musa do Carnaval no Caldeirão
 Globo – Da inovação tecnológica à desidratação das
vinhetas
2010

2011

2012

2013

Desfiles em São Paulo

Desfiles cariocas

G1

TV Globo Internacional

2014
2015

2016

Desfile em SP

Desfile da Série A do Rio de Janeiro

Desfile do Grupo Especial do Rio de Janeiro

2017

Anhembi

Série A

Especial

2018

Vinhetas com os sambas-enredo

2019

2020

. 9º Capítulo: Como Será o Amanhã?


 Disputas virtuais de samba-enredo
Série A

Transmissão das finais de escolhas de samba pela Globo ou


“sonhar não custou nada”

O Especial tá on

Sampa também em conexão

 A casa mais vigiada do Carnaval de SP


 Liga-SP reexibe 34 desfiles durante o Carnaval 2021
 Olha o Boi com Abóbora
 Modelo de transmissão
 Globo: Programação do “novo normal” e o melhor do
carnaval
Sai a Globeleza entra a Brahma

Na tela da TV, só que sem o povo


 Na Band, nada de muvuca
 A era das lives e o #fiqueemcasa
 Melhoria na qualidade das transmissões on-line
 O meu destino será como Deus quiser...

. 10º Capítulo: Carnaval Te Amo. Na Vida És Tudo pra


Mim
 Carnaval em abril: Rio e SP adiam desfiles de escolas de
samba para feriado de Tiradentes devido a aumento de
casos de Covid
Desfiles e horários na capital fluminense

Datas dos desfiles no Sambódromo da Sapucaí

Ordem de Desfile do Grupo Especial do Rio

Desfiles da Intendente Magalhães

Datas dos desfiles no Sambódromo do Anhembi

Ordem de Desfile do Grupo Especial de São Paulo

 Globo muda programação de fevereiro e abril após


adiamento dos desfiles.
Reflexo no mercado publicitário

 Rio Carnaval – Minidesfile das escolas do Grupo


Especial na Cidade do Samba.
 Temporada de ensaios técnicos na Sapucaí com
transmissão “oficial” ao vivo
Transmissão do ensaio técnico da Série Ouro do Rio ao vivo
com padrão de TV

 Voz feminina no tema do Carnaval Globeleza


O “fim” da personagem Globeleza

RJTV1 Série Enredo e Samba

Barracões

 A consolidação da transmissão multiplataforma global


Multishow vira alvo de críticas em cobertura das campeãs
na Sapucaí

A volta de mais um campeão de audiência

Desfile da Série Ouro garante audiência histórica à Globo

Grupo Especial do Rio registra picos de 25 pontos de


audiência na madrugada

Desfiles de Carnaval de São Paulo perdem público na TV

Recorde regional

 Medição da audiência da TV
 Valor do ponto de audiência para a temporada 2022
 TV Alerj transmite Carnaval da Estrada Intendente
Magalhães
Ordem dos desfiles da Série Prata

 TV Cultura transmite Desfile das Campeãs do Carnaval


SP 2022
Ordem e horários do Desfile das Campeãs SP

 Outros polos carnavalescos pelo país em 2022


Carnaval de Vitória

Carnaval em Corumbá

Carnaval em Manaus

Carnaval de Niterói

Carnaval no Distrito Federal

Carnaval em Porto Alegre

 Até amanhã, se Deus quiser, eu volto novamente pra lhe


ver...

. Apêndice – Glossário (sucinto e básico) de uma cobertura


jornalística de TV
. Referências
Agradecimento:
Agradeço a Deus e ao meu Pai Oxalá por me darem a força e a
saúde de permitir a publicação desta obra.

Dedicatória:
À memória de meus pais, Aly Paris Brisolara e Maria da
Conceição Brisolara, que me deixaram como herança a
possibilidade do estudo formal e de uma excelente educação
vinda de berço;
Ao meu irmão Gilson Brisolara, pela pronta parceria de todas
as horas;
À minha mulher, companheira e cúmplice Cris Valentin, pelo
carinho, pelo amor e pelo cuidado de sempre;
Aos meus familiares pelo apoio sempre com torcida
permanente;
Ao jornalista Marco Maciel e aos colegas e amigos do site
Sambario por acreditarem e aprovarem a iniciativa;
A todos os jornalistas e profissionais de imprensa que contam
a história do dia a dia da folia;
A todos os citados no livro que eu conheço e não conheço que
ajudaram a escrever a história do carnaval na televisão;
A todos que por ventura gostam e torcem por mim.
Orelha 1:
A História do Carnaval na Televisão Brasileira procura
unir em seu conteúdo jornalismo, história e carnaval. O
autor segue uma ordem cronológica, que se inicia com o que
classifica de “primórdios”, envolvendo uma espécie de pré-
história dos desfiles, com a realização do primeiro concurso
de escolas de samba no Rio de Janeiro, em 1932, promovido
pelo jornal Mundo Sportivo, de Mario Rodrigues Filho (em um
período bem anterior ao surgimento da televisão no Brasil). A
obra explora o pioneirismo da TV Tupi, que teve o privilégio
de televisionar pela primeira vez um desfile de escolas de
samba, ainda nos anos 50; a simpatia da classe média pelo
carnaval na década de 60; o surgimento da televisão colorida
nos anos 70 e o início da hegemonia da TV Globo na
cobertura da folia; a superequipe da TV Educativa no início
dos anos 80; a inauguração do Sambódromo da Sapucaí em
1984, a cobertura exclusiva da legendária TV Manchete e o
boicote global; a guerra publicitária das cervejas nos anos 90;
os carnavais de Salvador, de Manaus e de São Paulo exibidos
em rede nacional; a falência do canal do Grupo Bloch e a
exclusividade da Família Marinham a partir dos anos 2000; a
era da folia digital ditada pela internet; o aparecimento da
Covid-19 em 2020 e as incertezas com o cenário sanitário
mundial; a necessária reinvenção do segmento carnavalesco a
partir da pandemia (lives e ensaios virtuais); o triste ano de
2021 sem carnaval, e a retomada em 2022 com os carnavais
adiados para o mês de abril.
Orelha 2:

GERSON BRISOLARA é capricorniano, jornalista


formado pela UFRGS, apaixonado por música, carnaval,
literatura, cinema e gente alto-astral. Nos meios de
comunicação, já passou por várias redações atuando como
repórter, redator, produtor, editor, assessor de imprensa e
apresentador: Ulbra TV, Rádio Bandeirantes, Jornal do
Comércio, Correio do Povo, Rádio da Universidade, TV
Pampa, Rádio Guaíba, Rede Metodista de Educação do Sul e
Governo do Estado do Rio Grande do Sul.
No carnaval atua como jurado, temista, colaborador do
portal online Sambario, folhetim Kazumba e apresentador do
programa carnavalesco “Bandeira do Samba”, levados ao ar
na Rádio Saldanha e na Rádio Reação FM, além do site
Carnaval Enfoco. Participa de transmissões de desfiles de
escolas de samba desde 1996.
Em sua monografia de conclusão de curso abordou
estudo de caso da cobertura da TV Manchete no carnaval
carioca nas décadas de 80 e 90.
Prefácio (espera pelo texto de Haroldo Costa)
Introdução

Poucos meses antes de começar a Copa do Mundo de


Futebol 2018, na Rússia, descobri por acaso um rico material
de pesquisa feito pelo jornalista Felipe dos Santos Souza
intitulado A História das Copas do Mundo na Televisão
Brasileira, postado pelo site Trivela. Enquanto eu lia a
fantástica série de reportagens, eu imaginava: que legal seria
se houvesse um material semelhante que descrevesse a
história do carnaval na TV brasileira.
Com a pulga já devidamente instalada atrás da orelha,
resolvi pesquisar sobre. E o que encontrei na web não foi
muito auspicioso: uma série de páginas esparsas sobre
carnaval na televisão, muitas com narração fragmentada,
qualidade de texto duvidosa, sem sequência lógica ou
cronológica, informações desencontradas e checagem
questionável. Com isso, a luz da inspiração me iluminou: se
ninguém fez, quem sabe então eu faço?
Como eu gosto de carnaval desde sempre e acompanho
os desfiles das escolas de samba pela telinha desde a mais
tenra infância (minha lembrança mais remota é ter assistido
o desfile da escola de samba Beija-Flor de Nilópolis de 1977,
em uma manhã de carnaval, na casa de meus avós em
Pelotas em um televisor preto e branco com seis para sete
anos de idade). Taí a primeira vantagem que eu poderia
aproveitar para alavancar a obra: minha memória televisiva
carnavalesca que, modéstia à parte, sempre foi e segue sendo
muito boa.
Outra condição que me favorece é que no período de
carnaval eu sempre tive a mania de colecionar todo tipo de
impresso que saía sobre a folia (jornais, revistas, panfletos,
etc). Com a aquisição do aparelho videocassete, no final dos
anos 80, gravar a programação carnavalesca diretamente da
TV passou a ser não apenas um passatempo, mas um objeto
de estudo, pesquisa e registro, além de uma questão de honra
carnavalesca.
Um amigo jornalista de longa data, Nelson Furtado,
também gaúcho e radicado há muitos anos na Alemanha,
ainda nos tempos de estudante, em que cursávamos a
Faculdade de Comunicação na Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, ficou surpreso ao saber que, em 1994, eu já
dispunha de cerca de meia centena de fitas VHS sobre a folia
com mais de duzentas horas de gravação captadas
diretamente da tevê: ʺGerson, tu já tens o que fazer quando
chegar a hora da tua aposentadoriaʺ, comentou ele de forma
bem-humorada. A coleção e o acervo foram só aumentando. E
isso já tem quase trinta anos!
De lá pra cá, a fita VHS ficou obsoleta, o aparelho de
videocassete também. Vieram os videodiscs (DVD΄s) que
também ficaram arcaicos, assim como os players de DVD.
Chegamos na era das plataformas digitais de streaming –
YouTube, Vime e outros que tais e há bastante conteúdo
armazenado em nuvem.
Resolvi topar o desafio que eu mesmo propus. Para isso,
decidi: mãos à obra! Dos anos 70 para cá eu até me virava.
Acionaria minha memória afetiva infantil, tinha à minha
disposição meu material colecionado de jornais e revistas
desde a década de 80, minhas fitas VHS e DVDs que venho
compilando desde os anos 90 e 2000 e um bom material de
internet disponível a partir dos anos 2010.
Só que uma dúvida permeava. E os primórdios? Como
seria pesquisar esta pré-história televisiva? Encontrar
informações sobre esses verdadeiros períodos Paleolítico,
Mesolítico e Neolítico, anteriores à revolução proporcionada
pelo videotape? Estou falando das décadas de 50 e 60, época
em que eu sequer era nascido ou mesmo planejado...
Posso dizer que muitas vezes tenho sorte e que coisas
boas acontecem sempre, pois obtive farto conteúdo de
pesquisa e informação de boa qualidade caindo no meu colo
na hora certa. “Deus ajuda os bão!”, como diria um texto do
cineasta e escritor carioca Arnaldo Jabour (1940 - 2022).
Escrevi a série sobre a história televisiva do carnaval em
nove capítulos para o portal Sambario, do jornalista, amigo e
grande parceiro e “cumpadi” (apelido pelo qual nos
chamamos mutuamente) Marco Maciel. O material cobre
desde os primórdios das primeiras transmissões, nos anos
50, até os dias de hoje.
Quando comecei a escrever os textos, em janeiro de
2019, minha ideia era postar dois capítulos por semana. Ledo
engano! O furo era bem mais embaixo: havia muita pesquisa
para fazer e muito, mas muito texto para escrever, sem falar
nas imagens captadas na internet para ilustrar (dando os
devidos créditos, evidentemente). Ao todo, a série online
demorou mais de três anos para ficar pronta. Nesse meio
tempo o planeta foi assolado pela pandemia da Covid-19,
dando novos contornos à reportagem.
Após pingar o ponto final na redação do último capítulo
para o conjunto de textos para o Sambario eu admito que
bateu uma “depressão pós-parto”: passei a sentir falta de
seguir pesquisando, organizando e escrevendo a série. E
resolvi que essa história poderia ser ampliada e quem sabe
render um bom livro, abordando e misturando bons assuntos
como carnaval, televisão, história, jornalismo, comunicação e
memória. Talvez esse possível livro fosse interessante a
alguém ou alguns.
Resolvi então escrever o livro que eu gostaria de ler.
Aliás, isso sempre me motiva: pesquisar e produzir conteúdo
sobre assuntos inéditos, que instigam, sobre temas que se
mantêm obscuros e que despertem a curiosidade de quem for
ler.
A ideia era fazer algo simples, sem a pretensão de um
trabalho científico, acadêmico. Nada de tese ou dissertação. E
sim um trabalho feito como se fossem memórias de alguém
que assistiu muita coisa de carnaval pela TV e que também
pesquisou muito para contar aquilo que nem mesmo o
próprio autor sabia e/ou se lembrava.
E nesse trabalho eu destaco dois momentos importantes
e emblemáticos. O primeiro aconteceu no mês de julho de
2014, quando tive a oportunidade e o privilégio de conviver
durante dois dias com Fernando Pamplona, em uma visita
que o velho carnavalesco e sua esposa Zeni fizeram a Porto
Alegre. Depois de quase duas décadas, Pamplona voltara à
capital gaúcha especialmente para palestrar em um curso
sobre tema enredo que eu ajudava a organizar. Fiz o convite
pessoalmente a ele, que aceitou de imediato.
O segundo momento aconteceu em uma live do
Sambario levada ao ar no dia 22 de fevereiro de 2021 (está
disponível no canal do Sambario no YouTube). Tive a honra
de receber ao vivo um elogio do lendário narrador Paulo
Stein, eterno âncora do Carnaval da Manchete, sobre a série
da história do carnaval na TV. Nesta hora me senti
recompensado e pensei: valeu a pena! Aproveitei a deixa, falei
da minha intenção em transformar o conjunto de textos
online em um livro e, no ar, fiz o convite para o próprio Paulo
Stein escrevesse o prefácio do futuro livro.
Infelizmente, quis o destino que o Paulo Stein partisse
antes do combinado, um mês após ter concedido a entrevista
para o Sambario, provavelmente a última de sua vida. O
narrador foi uma das centenas de milhares de vidas perdidas
para a Covid-19 no Brasil. No entanto, a fala de Stein foi
reproduzida na contracapa, como uma homenagem e também
uma espécie de “prefácio informal” para o livro.
Eu costumo dizer que eu não fui “baixinho” da Xuxa
(termo usado pela apresentadora Xuxa Meneghel para se
referir às crianças que assistiam e participavam do programa
infantil Xou da Xuxa, exibido pela TV Globo nas manhãs da
segunda metade da década de 80). Mas, sim, fui baixinho de
Fernando Pamplona, de Paulo Stein, de Haroldo Costa, de
José Carlos Rego... Enfim, eu fui “baixinho” das transmissões
da TV Manchete. Principalmente da cobertura de carnaval.
Eu não perdia nada.
O trabalho está aí. Espero que gostem.
Gerson Brisolara
Contracapa:
“Em primeiro lugar, parabéns a vocês pelo trabalho, sobre o
carnaval, o site (Sambario). Eu, de vez em quando, já dava
uma olhada, já tinha tido a oportunidade de ver algumas
coisas. Quero destacar aqui o trabalho do Gerson: um trabalho
de pesquisa muito bom, muito bacana, que vale a pena. Eu
recomendo as pessoas entrarem no site e lerem ali. Vai lendo
aos poucos. É um trabalho de pesquisa, que traz muita
informação importante sobre a televisão no carnaval. A história
do carnaval tem muitas coisas, muito legal.”
PAULO STEIN
Live 22/2/2021 – YouTube/SambarioSite
(https://youtu.be/Vemco1YH2QU)

Foto: Reprodução
CAPÍTULO 1 – OS
PRIMÓRDIOS

O surgimento do concurso das escolas de samba no Rio de


Janeiro; cobertura da imprensa antes da televisão; o início
das transmissões televisivas nos anos 50; TV Tupi; TV
Continental; TV Globo

Vejam essa maravilha de cenário


É um episódio relicário
Que o artista, num sonho genial
Escolheu para este carnaval
E o asfalto como passarela
Será a tela
Do Brasil em forma de aquarela
“Aquarela Brasileira” (Silas de Oliveira) – Samba-enredo da
GRES Império Serrano 1964 reeditado em 2004.
impossível falar sobre as transmissões de desfile

É de escolas de samba pela televisão e não


retroceder a um período pré-telinha e também não
mencionar a imprensa escrita.
A primeira Escola de Samba surgiu no ano de 1926,
criada por um grupo de sambistas do Largo do Estácio,
antigo e tradicional reduto de admiradores do carnaval e das
rodas de samba no Rio de Janeiro. O mentor, o compositor
Ismael Silva (1905 – 1978), também alegava para si a autoria
do termo “Escola de Samba”. O nome escolhido para dar à
entidade foi Deixa Eu Falar (ou Deixa Falar), a primeira de
muitas outras que surgiram logo depois.
Em 1932, o jornal Mundo Sportivo – considerado o
primeiro jornal inteiramente dedicado ao esporte do Brasil –,
de propriedade do jornalista pernambucano Mário Rodrigues
Filho (1908 – 1966), irmão do também jornalista, escritor e
dramaturgo Nelson Rodrigues (1912 - 1980), decidiu
organizar e patrocinar o primeiro desfile competitivo de
Escolas de Samba do Carnaval do Rio de Janeiro, na Praça
Onze. Mário Filho foi uma figura emblemática do cenário
cultural carioca. O nome oficial do Estádio do Maracanã,
“Estádio Jornalista Mário Filho”, foi dado em reconhecimento
pelo seu apoio à construção da arena,
A vencedora do primeiro concurso competitivo das
escolas de samba foi a Estação Primeira de Mangueira (em
resultado contestado). O Mundo Sportivo encerrou suas
atividades antes do carnaval seguinte, mas o sucesso de
público fez com que o jornal O Globo assumisse a
organização do evento em 1933. Novamente a campeã do
concurso foi a Mangueira, seguida da Unidos do Salgueiro em
segundo e da Unidos da Tijuca em terceiro lugar no
campeonato.
O ano de 1935 estabelece o ponto inicial dos concursos
oficiais das escolas de samba da cidade do Rio de Janeiro.
Com o reconhecimento, as entidades carnavalescas
ingressam no calendário oficial do carnaval carioca, ganham
a sigla GRES (grêmio recreativo escola de samba) e o direito
de recebimento de uma verba de ajuda para a confecção dos
seus carnavais, chamada subvenção.
Nas décadas de 40 e 50 do século 20, as Escolas de
Samba completam o ciclo de formação e constituem suas
“espinhas vertebrais” básicas compostas pelo enredo, samba-
enredo, alegorias e fantasias. Esses itens dão identidade
própria às Escolas de Samba.

Rede Tupi, a pioneira das transmissões dos desfiles


na TV

A primeira emissora de televisão a operar no Brasil foi a


TV Tupi. Inaugurado em 18 de setembro de 1950 pelo
jornalista e empresário Assis Chateaubriand, o Chatô (1892 -
1968). O canal tinha sua matriz geradora na cidade de São
Paulo. Chatô também controlava vários outros veículos de
comunicação, formando um grande conglomerado, os Diários
Associados.
A Tupi operou no canal 3 VHF analógico da inauguração
até o ano de 1960. A partir de 1960 passou a operar no canal
4 com os prefixos ZYE 439 (1970-1977) e ZYB 855 (1977-
1980) até seu fechamento, em 18 de julho de 1980, quando a
Tupi SP e mais seis concessões da Rede Tupi de Televisão
foram cassadas.
A TV Tupi São Paulo foi emissora cabeça da Rede, que
operou por quase trinta anos. A TV Tupi Rio de Janeiro
entrou no ar pouco tempo depois da inauguração coirmã
paulistana, em 20 de janeiro de 1951. A Tupi Rio foi a
segunda emissora de TV a ser inaugurada no Brasil.
A emissora carioca operava no canal 6 VHF na cidade do
Rio de Janeiro, antes capital federal do Brasil e,
posteriormente, Estado da Guanabara. A sede ficava no
Edifício dos Diários Associados, na Avenida Venezuela, na
zona central do Rio, onde também ficaram as rádios Tupi e
Tamoio. Em 1955 a TV mudou-se para o luxuoso prédio do
antigo Cassino da Urca.
A primeira transmissão de televisão dos Desfiles das
Escolas de Samba do Rio de Janeiro que se tem notícia
aconteceu em 1955. A TV Tupi Rio exibiu a apresentação das
19 agremiações que desfilaram no tablado (ainda não havia o
nome de passarela) montado na Avenida Rio Branco, no
centro do Rio.
A edição do jornal Diário da Noite do dia 19 de fevereiro
de 1955 (sábado) noticiava uma programação especial de
Carnaval pela Tupi: a cobertura teria início marcado às 20
horas do dia seguinte (domingo, dia 20 de fevereiro). Na
segunda, dia 21, o canal transmitiria o Baile do Theatro
Municipal a partir das 23 horas. E na terça-feira, dia 22 de
fevereiro, às 20 horas, a emissora exibiria o Desfile das
Sociedades.
Pela ordem de desfile do dia 20 de fevereiro se
apresentaram as seguintes escolas:

1ª Unidos do Cabuçu (“A Queda da Monarquia”)


2ª Unidos do Salgueiro (“Glória aos Mártires da
Independência”)
3ª Índios do Acaú (“Os Amores da Marquesa de
Santos”)
4ª União do Catete (“Riquezas Vegetais do Nosso
País”)
5ª Unidos da Tijuca (“Sinhá Moça”)
6ª Floresta do Andaraí – não desfilou
7ª Paraíso do Tuiuti (“Apoteose a Edgar Roquete
Pinto”)
8ª Império da Tijuca (“Símbolos de Nossa Pátria”)
9ª Estação Primeira de Mangueira (“As Quatro
Estações do Ano ou Cânticos à Natureza”)
10ª Acadêmicos do Salgueiro (“Epopeia do Samba”)
11ª Império Serrano (“Exaltação a Caxias”)
12ª Unidos da Capela (“Saudações aos Primeiros
Heróis que Lutaram pela Independência”)
13ª Vai se quiser (“Exaltação a D. João VI – Abertura
dos Portos”)
14ª Portela (“Uma Festa Junina no Mês de
Fevereiro”)
15ª Beija-Flor de Nilópolis (“Páginas de Ouro da
Poesia Brasileira”)
16ª Unidos da Congonha (“Exaltação à Bahia”)
17ª Aprendizes de Lucas (“Homenagem ao Fruto
Proibido”)
18ª Unidos do Indaiá (“Uma Noite de Samba no
Museu Nacional de Belas Artes”)
19ª Caprichosos de Pilares (“Retirada da Laguna”)
20ª Filhos do Deserto (“Inferno Verde”)

A primeira transmissão dos desfiles de escolas de samba


pela televisão aconteceu em caráter muito precário em termos
de tecnologia, muito diferente do que assistimos hoje em dia.
O mesmo Diário da Noite, que anunciou a cobertura da
Tupi no carnaval de 1955, criticou a jornada em sua edição
de 24 de fevereiro, na coluna “TV em
Revista”, (cuja autoria é desconhecida):
CARNAVAL – Preparou a TV Tupi atraente roteiro para os dias de Carnaval.
Entretanto, pelo que vimos, a tele-emissora Associada ainda não se encontra
tecnicamente preparada para tal empreendimento de tamanha envergadura. Em verdade,
porém, não nos foi possível ver a transmissão de Baile do Municipal, como nos préstitos
na Avenida. Vimos, sim, o concurso das Escolas de Samba e duas reportagens de rua.
Durante o mencionado concurso, sofremos aqui a falta de nitidez de imagem, e mesmo
uma certa desordem na exibição das Escolas. Não fosse a promessa da TV Tupi,
teríamos comparecido à Avenida Presidente Vargas, para, pessoalmente, ver a famosa
iniciativa do Departamento de Turismo. Mas de qualquer maneira, sempre aproveitamos
algo da transmissão pela televisão.

No livro TV Tupi do Rio de Janeiro, Uma Viagem Afetiva,


o autor, Luis Sergio Lima e Silva (1950 - 2014), descreve o
clima das transmissões do carnaval carioca pela TV Tupi na
década de 50.

Outro evento que anualmente mexia com a cidade era a transmissão do carnaval feita
pela televisão. Ao se reportar a esse tempo, vale registrar que não só a folia momesca
era outra, como também era outro o panorama das emissoras de TV da época,
inicialmente só a Tupi transmitia, mas depois as TVs Rio, Continental, Excelsior e
Globo passaram também a transmitir e a disputar a audiência do telespectador. O
carnaval não se resumia somente aos desfiles das escolas de samba, havia os grandes
bailes de hotéis e clubes, como o do Copacabana Palace, Quitandinha, Monte Líbano,
Fluminense, e o mais famoso de todos: o baile do Teatro Municipal.

Ricardo Kathar, que entrara na Tupi em 1962 com a


disposição plena do aprendizado, fez de tudo: segurou cabo
de câmera, foi assistente, diretor de imagem, coordenador e
diretor, desenvolvendo nas transmissões de carnaval um
trabalho dedicado, que lhe deu destaque e prestígio. Era uma
operação de guerra, em tempos de pouca tecnologia e
modestos equipamentos. Mas o resultado era sempre um
grande acontecimento, devido principalmente aos
profissionais envolvidos por trás e na frente das câmeras.
Os apresentadores, atores e repórteres da casa
comandavam a cobertura com alegria e empatia, como
Lourdes Mayer, Murilo Nery, Corrêa de Araújo, Hilton Gomes,
Hilton Abi-Rian, Zélia Hoffman, Tânia Scher e Íris Letieri,
entre muitos outros.
Mas uma cantora se destacou na função: Dircinha
Baptista (1922 - 1999). Revelando-se uma repórter
absolutamente espontânea e divertida, suas intervenções “em
cima do lance” eram uma atração à parte. A cantora chegava
a brigar no ar com colegas de outras emissoras para dar o
furo de reportagem, que sempre era seu. Enfática, Dircinha
narrava para o público de casa as condições desconfortáveis
que se submetia levar a melhor informação.
Profissional dos primórdios da TV Tupi, Ricardo Khatar
conta, no livro de Lima e Silva:
Nós éramos românticos, ingênuos. Não acredito que o público de casa ficasse virando o
seletor para ver quem ia informar primeiro a vitória do Clóvis Bornay ou do Evandro de
Castro Lima no Concurso de Fantasias. A Dircinha era muito querida, então ela
conseguia entrar na sala do júri, e furava o esperado resultado final do concurso de
fantasias em primeira mão. A Tupi se firmou nas transmissões, que tinham um apelo
comercial muito forte. Todas as nossas coberturas eram patrocinadas. Os equipamentos
eram modestos, mas recebíamos reforço das outras emissoras afiliadas, principalmente
de São Paulo que era bem equipada, e nos mandava o caminhão de externa, mais
câmeras e também técnicos.

“Tecnologicamente”, prossegue Khatar, “a televisão


evoluiu muito, óbvio. Mas, sua essência, acredito ser a
mesma. A Tupi foi a escola da televisão. Nós éramos
amadores. De uma certa maneira, estávamos plantando,
iniciando todo um processo”, conclui o veterano profissional.
Kathar permaneceu na Tupi até seu fechamento em 1980.
Depois trabalhou na TV Educativa do Rio, mas sua motivação
foi diminuindo, até que, formando-se em Direito, se tornou
advogado e depois Procurador da União.
Provavelmente não haja registro das primeiras
transmissões de desfiles realizadas pela TV Tupi nos anos 50.
Grande parte dos programas de televisão da primeira década
de existência da televisão se perdeu no tempo. Como não
existia videoteipe (VT) e tudo era transmitido ao vivo, as
recordações só são possíveis graças à memória de muitos
pioneiros e das raríssimas gravações que ainda resistem ao
tempo.
No final dos anos 50, com o advento do VT, passaria a
ser possível a gravação. Isso facilitou muito as produções,
principalmente das séries e novelas. Mas como as fitas eram
muito caras e, a televisão ainda estava longe de ter as verbas
milionárias como tem hoje em dia, a palavra de ordem era
reutilizar. Assim, mais uma vez, muita coisa se perdeu no
tempo.
E para piorar a situação, trágicos acidentes castigaram
as emissoras de televisão nos anos 60 e 70. Locais com uma
quantidade absurda de cabos, fios, lâmpadas e material
cenográfico seria um prato cheio para o fogo. E realmente foi!
Nos anos 60 e 70 quase todas as emissoras tiveram
momentos de “chamas”.
A TV Record sofreu três incêndios (1960, 1966 e 1967).
A TV Excelsior, dois (1967 e 1970). A TV Tupi, dois sinistros
(1972 e 1978), mas sem grandes proporções. A TV Globo,
quatro (1969, 1970, 1971 e 1976). A TV Cultura, um (1965).
A TV Bandeirantes também teve seus estúdios, equipamentos
e fitas queimadas em 1969. Em 1978 um incêndio destruiu
os estúdios da TVS de Silvio Santos (a emissora viria se
tornar o SBT a partir de 1981).
Um novo golpe à memória audiovisual brasileira
aconteceu em 29 de julho de 2021. Um incêndio atingiu um
dos galpões da Cinemateca Brasileira, na Vila Leopoldina, em
São Paulo. Materiais importantes para a memória pública
podem ter sido perdidos de maneira irrecuperável com o
incêndio. Roteiros, arquivos em papel, cópias de filmes e
equipamentos antigos que pegaram fogo seriam usados na
montagem de um museu para contar a história do cinema
brasileiro.
No total, cerca de quatro toneladas de documentos e 2
mil rolos de filmes estavam guardados no local. Dados
preliminares indicam que no depósito estavam os cinejornais,
o acervo da TV Tupi, o material do Canal 100, os primeiros
registros de filmes do Brasil e os negativos do curso de
cinema da Escola de Comunicação e Artes da USP. Três salas
no total foram atingidas pelo incêndio.
No galpão consumido pelas chamas, na Vila Leopoldina,
estariam os arquivos da TV Tupi, as primeiras câmeras que
chegaram ao Brasil no início do século 20, trazidas pelos
barões do café, cópias de filmes da época do cinema mudo e
até mesmo registros da participação da Força Expedicionária
Brasileira (FEB) na Segunda Guerra Mundial. Todos os
arquivos da Tupi podem ter sido consumidos pelo fogo.

Anos 60 – TV Continental e a revolução do


videoteipe

Chegamos à década de 60, fase marcante para as


Escolas de Samba. Primeiro porque é nessa época em que se
ampliam as transmissões por outras emissoras de televisão.
O período também marca o início dos governos militares no
Brasil, que interfere na relação da classe média da sociedade
com as entidades carnavalescas. Acuada diante da repressão
militar da época, a classe média se sente atraída para os
ensaios e desfiles com o chamado “povão”.
A TV Continental (1959 - 1972) passou a transmitir os
Desfiles das Escolas de Samba do grupo especial do Rio de
Janeiro no ano de 1960. A emissora operava no canal 9 VHF
na cidade do Rio de Janeiro, antes capital federal do Brasil e,
posteriormente, Estado da Guanabara. A sede ficava no
bairro de Laranjeiras.
Fundada pelos irmãos Berardo (Carlos, Murilo e Rubens
Berardo, este eleito deputado federal), o canal pertencia às
Organizações Rubens Berardo, que controlava também as
rádios Metropolitana e Continental, esta última em Campos
dos Goytacazes. A TV Continental foi a terceira emissora
inaugurada na cidade, logo após a inauguração da TV Tupi e
da TV Rio, nos canais 6 e 13, respectivamente.
A Continental teve seu auge logo no início, um ano após
começar a operar. Em 1960, contava com um cast de artistas
do porte da cantora Elizeth Cardoso (1920 - 1990) ou dos
cantores Agnaldo Rayol e Ivon Cury (1928 - 1995). Para o
carnaval daquele ano não havia condições técnicas de se
transmitir a apresentação das entidades ao vivo, na íntegra,
por ser um evento bastante longo. Notícias coletadas na
época davam informação de que os desfiles ultrapassavam 15
horas de duração! A solução foi recorrer aos flashes, como se
fazia no rádio, e também como em anos anteriores na Tupi, já
que ainda não havia no Brasil as transmissões via satélite.
Tudo isso graças a uma verdadeira revolução chamada
videoteipe. O equipamento, mais conhecido como VT, surgiu
nos Estados Unidos em 1956, no formato quadruplex.
Tratava-se de uma fita de material plástico, muito fina, com
uma cobertura de partículas magnéticas usadas para
registrar imagens televisivas. A estreia do videoteipe no Brasil
aconteceu em 1959, em uma transmissão realizada no Hotel
Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, pela própria TV
Continental.
O novo equipamento facilitou e barateou a produção
para a televisão, já que os programas podiam ser gravados e
editados previamente, e transmitidos posteriormente. O VT
também permitiu que o mesmo programa passasse a ser
enviado e colocado no ar por várias emissoras espalhadas
pelo Brasil. As primeiras imagens podiam ser gravadas
antecipadamente, mas ainda não havia a possibilidade de
editá-las. Isso só viria acontecer em setembro de 1960, com a
entrada no ar dos teleteatros exibidos no programa TV de
Vanguarda, da TV Tupi.
Voltando ao carnaval de 1960 e à TV Continental, os
cinegrafistas com suas pesadas câmeras RCA TK-11
captavam momentos dos desfiles das escolas e corriam para o
estúdio da emissora para que as cenas fossem exibidas
durante a programação normal.
“Fique de olho no nove” era o slogan da emissora. Foi o
início também do estilo “programação normal e o melhor do
carnaval”, que tanta ojeriza provoca nos aficionados pela
festa, que querem assistir pela telinha tudo ao mesmo tempo
agora.
E que privilégio os telespectadores tiveram naquele ano
de 1960! O público televisivo acompanhou (lembrando:
através de flashes) diretamente da Avenida Rio Branco, o
desfile da Portela do presidente Natalino José do Nascimento,
o Natal (1905 - 1975), com “Rio, Capital Eterna do Samba”
(do compositor Walter Rosa); Acadêmicos do Salgueiro – dos
carnavalescos Fernando Pamplona (1926 - 2013) e Arlindo
Rodrigues (1931 - 1987), cenógrafos e professores da Escola
de Belas Artes do Rio de Janeiro – com “Quilombo dos
Palmares” (composição de Anescarzinho, Noel Rosa de
Oliveira e Walter Moreira); Império Serrano, com “Medalhas e
Brasões” (da legendária dupla Silas de Oliveira e Mano Décio
da Viola) e a Aprendizes da Boca do Mato, com o samba “Rui
Barbosa na Conferência de Haia”, de autoria de um jovem
compositor nascido em 1938 na cidade de Duas Barras,
chamado Martinho José Ferreira, sargento-datilógrafo do
Exército Brasileiro, que viria a ser muito conhecido alguns
anos depois ao ingressar na ala de compositores da Unidos
de Vila Isabel.

O controverso carnaval de 1960

O desfile de carnaval de 1960 foi transmitido pelas TVs


Continental, Rio e Tupi. A folia daquele ano seria a última a
ter o Rio de Janeiro como Capital da República e trouxe
mudanças para o desfile das escolas de samba.
Pelo fato de os desfiles em 1959 terem terminado por
volta das 13 horas da segunda-feira de carnaval, dia 9 de
fevereiro, a Associação das Escolas de Samba do Brasil
(AESB) resolveu dividir as escolas em três grupos.
O Primeiro Grupo, ainda chamado Supercampeonato,
com as doze principais escolas, foi realizado na Avenida Rio
Branco, na área central da cidade. Um grupo intermediário,
ou Segundo Grupo – chamado oficialmente de “Campeonato
Câmara do Distrito Federal” – contou com a participação das
últimas colocadas no Supercampeonato anterior e das
primeiras classificadas no campeonato da Praça Onze em
1959. Essas escolas desfilaram na Avenida Presidente
Vargas, num tablado armado entre a Rua Uruguaiana e
Avenida Rio Branco.
O desfile do grupo inferior, ou Terceiro Grupo, com as
demais entidades, foi chamado de “Campeonato
Departamento de Turismo e Certames", e aconteceu também
na Praça Onze.
A apuração das notas do julgamento do
Supercampeonato aconteceu no dia 03 de março, quinta-
feira. A informação de que, de acordo com o regulamento,
todas as escolas, com exceção dos Acadêmicos do Salgueiro,
perderiam pontos por terem atrasado o início de seus desfiles
gerou uma enorme briga, envolvendo sambistas, funcionários
do Departamento de Turismo e a polícia presente.
O responsável pelo atraso de Portela e Mangueira não
havia sido a direção dessas escolas, mas sim a organização
do desfile. A imprensa da época descreve que a chuva ajudou
a tumultuar toda a Av. Rio Branco e que a má organização
permitiu que a pista fosse invadida diversas vezes. Ocorreu
até um tumulto envolvendo as TVs que tentavam transmitir o
espetáculo e a pancadaria do policiamento contra os
espectadores. Ao perceber que a violência estava sendo
gravada, os policias passaram a espancar os cameramen,
aumentando ainda mais a confusão em pleno desfile.
Acalmados os ânimos, resolveu-se apurar somente os
pontos positivos, deixando a questão dos pontos negativos
para uma ocasião posterior. Dessa forma, a Portela foi
declarada campeã, lugar que caberia ao Salgueiro, caso o
regulamento fosse aplicado. No dia seguinte, em nova
reunião, as cinco primeiras colocadas (Salgueiro, Portela,
Mangueira, Império Serrano e Unidos da Capela) decidiram
em consenso anular o julgamento e dividir entre elas, em
partes iguais, a premiação do concurso. O carnaval de 1960
teve, portanto, CINCO campeãs!
Nesse ano os desfiles das escolas de samba da cidade do
Rio de Janeiro ainda não chamavam a atenção da classe
média da sociedade, que só teve seu interesse despertado
para esse tipo de evento, a partir do momento em que
começou a se ver na tela da televisão, a ser representativo
dentro daquela realidade, desfilando com caras fantasias de
destaques no alto dos carros alegóricos, e até mesmo fazendo
parte da direção de harmonia das agremiações, pois muitos
ajudavam financeiramente a escola (comprando comida para
o barracão, por exemplo).
É também em 1960, que essa nova demanda com a
participação dos meios de comunicação de massa acabou
levando a construção de arquibancadas para assistir ao
desfile (antes o público era separado apenas por corda das
Escolas), o que foi um passo para a cobrança de ingressos de
lugares para os admiradores das escolas assistirem aos
desfiles, o que acabou acontecendo mais precisamente no ano
de 1962.

Carnaval do Rio Quatrocentão

O carnaval de 1965 foi celebrado de 27 de fevereiro a 3


de março e marcou a comemoração dos cariocas pelos 400
anos da cidade do Rio de Janeiro. Tornou-se o primeiro
registro jornalístico da TV Globo, antes mesmo de sua
inauguração, em abril daquele ano.
Sob a direção de Roberto Farias (1932 - 2018), a equipe
de jornalismo global, ainda em fase experimental, mostrou a
festa do povo nas ruas, o desfile das escolas debaixo de
chuva, as beldades nos bailes do Theatro Municipal e o
lança-perfume, depois proibido. O material foi exibido pelo
Jornal Nacional na noite do dia 2 de janeiro de 2015, ano em
que a Cidade Maravilhosa completou 450 anos, e a TV Globo
comemorou seu cinquentenário.
Os 26 minutos de imagens, registrados em filme 16 mm,
passaram por um processo de restauro. Um laboratório
francês com experiência na recuperação de filmes antigos
concluiu que a tarefa não seria possível, mas uma equipe do
Rio de Janeiro aceitou o desafio. Foi um trabalho artesanal
que demorou um ano para ser concluído. A única cópia não
tinha condições de rodar em uma máquina porque tinha
deformado e perdido as faixas nas laterais. Foi necessário
refazer 312 metros de borda e mais de 50 mil perfurações.
Caso contrário, não poderia ser digitalizado.
Enquanto a estrela global subia, a estrela continental
começava a entrar em decadência. Apesar de a TV
Continental possuir um elenco estelar e ter marcado época
em cobrir o carnaval, a emissora logo entrou em crise.
Salários atrasados e uma precariedade técnica e artística se
refletiam na tela. O quadro se agravava: atores esqueciam os
textos, cenários caíam, lâmpadas estouravam no palco.
Em 1970, a Continental entra em falência e dois anos
depois o Dentel (Departamento Nacional de
Telecomunicações), antigo órgão executivo do Ministério das
Comunicações, extinto com a criação do super Ministério da
Infraestrutura, em 1990, pelo Governo Collor, cassa a
concessão da empresa.
As transmissões no canal 9 carioca só voltariam a partir
de 1982, quando o canal se constitui na TV Record Rio de
Janeiro, de Silvio Santos. Em 1987, ainda sob o comando de
Sílvio e integrando o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT),
muda de nome para TV Copacabana, assumindo no mesmo
ano o nome definitivo TV Corcovado, que em 1992 é vendida
para as Organizações Martinez, passando esse canal a ser a
Rede OM Rio, atual CNT Rio.
Outro meio audiovisual que divulgava o carnaval era o
Canal 100, um cinejornal fundado pelo produtor e cineasta
carioca Carlos Niemeyer (1920 - 1999) no ano de 1957. O
Canal 100 era exibido nas salas de cinemas, antes do filme
principal. Durante cinco décadas o cinejornal foi exibido
semanalmente por todo o Brasil e realizava, sobretudo,
documentários cinematográficos de eventos importantes do
país e do futebol.
Em meados da década de 70 a televisão a cores chega ao
Brasil e, como consequência disso, uma revolução estética na
transmissão dos desfiles das Escolas de Samba. É nessa
década que surge também o mecenato do jogo do bicho, uma
nova interferência nas escolas, muito comum até hoje no
interior das grandes agremiações.
CAPÍTULO 2 – DO PRETO E
BRANCO A TV COLORIU
(ANOS 70)
A transmissão em cores chega ao Brasil; as mudanças no
palco do carnaval afetam o formato da transmissão; as
coberturas da Globo e da Tupi

Do preto e branco
O homem coloriu
A TV evoluiu
Pintou uma aquarela nessa tela
Qual será o fim dessa novela?
“Quem Te Viu, Quem TV” (Adilson Magrinho, Jairo Bráulio,
Claudinho e Mário Carabina) – Samba enredo da GRES Leão
de Nova Iguaçu 1991.
o dia 19 de fevereiro de 1972 os brasileiros

N puderam, pela primeira vez, acompanhar uma


transmissão pública de TV em cores. O marco na
história televisiva do país teve como palco a
Festa da Uva, em Caxias do Sul, na serra do Rio
Grande do Sul.
O então presidente Emílio Garrastazu Médici (1905 -
1985) inaugurou o evento, que teve transmissão comandada
pelo Canal 10, a TV Difusora de Porto Alegre (atual Band RS),
e difundida pela Embratel para todo o Brasil, através do
sistema oficial de televisão analógico adotado no país, o
sistema PAL-M – híbrido dos sistemas norte-americano NTSC
(de resolução de tela) e europeu PAL (de codificação de sinais
de cor).
A visita do presidente Médici à Festa da Uva durou uma
hora, tempo de exibição do evento. Depois desta transmissão,
as emissoras se ajustaram ao novo padrão e, em março do
mesmo ano, elas inauguraram suas programações coloridas.
Como boa parte da população não tinha o aparelho de
televisão em cores, muita gente se reunia na frente das lojas
de eletrodomésticos para acompanhar a novidade. As pessoas
ficaram surpresas ao ver que os novos aparelhos não vinham
mais com a antena externa, já que os novos televisores
tinham o dispositivo interno. Em alguns municípios, os
prefeitos chegaram a comprar aparelhos para que a
população acompanhasse a transmissão.
Os leitores mais atentos puderam perceber a data: 19 de
fevereiro de 1972. Era o Sábado de “Enterro dos Ossos”.
Quem viveu à época deve se lembrar de que a Festa da Uva
aconteceu dias após a comemoração do carnaval, ocorrido de
12 a 15 do mesmo mês. E por que foi escolhido um festejo da
imigração italiana para ser transmitido em cores para todo o
país em detrimento do carnaval, tido e havido como o “maior
espetáculo visual do planeta”, no qual o visual é exuberante,
cheio de cores e brilho em profusão? A resposta é pura e
simples: adulação ao então vigente regime político no país e
uma boa dose de bairrismo.
O professor e jornalista gaúcho Sérgio Reis (1938 -
2018) – que trabalhou na primeira transmissão de TV em
cores no Brasil – contava, em suas palestras, que o então
Presidente Médici, gaúcho de Bagé, iria cumprir agenda
oficial na Festa da Uva em 1972. Como o presidente não era
muito afeito ao carnaval e na semana seguinte aos festejos de
Momo, viajaria ao Rio Grande do Sul, seu estado natal, os
assessores de seu gabinete decidiram dar uma puxadinha no
saco presidencial, fazendo com que a primeira transmissão
televisiva colorida acontecesse em território gaúcho. Ou seja,
por uma questão de poucos dias, o carnaval de 1972 deixou
de ser um marco histórico das telecomunicações no Patropi.
Segundo o jornalista Walter Clark (1936 - 1997) em sua
autobiografia, O campeão de audiência, o evento foi realmente
escolhido por influência do então ministro das
Comunicações, o engenheiro militar caxiense Higino Corsetti
(1919 - 2004), pois o Brasil já tinha condições técnicas de
fazer transmissões a cores mesmo antes do evento em Caxias
do Sul.
A transmissão estava programada para acontecer no
Carnaval do Rio de Janeiro, mas as emissoras do centro do
país não apresentaram, em tempo hábil, as condições
técnicas necessárias. A Festa da Uva ocorria na mesma
época. A TV Difusora, com sede em Caxias do Sul, era a
única que dispunha de modernos equipamentos para
transmitir o evento em cores, diretamente da Avenida
Sinimbu, no centro da cidade serrana. O fato do Gen. Médici
ser gaúcho também foi fator que favoreceu a escolha.
O surgimento da TV colorida fez com que as emissoras
dessem mais espaço ao desfile de carnaval. Num primeiro
momento aumentaram a duração dos flashes direto das ruas
e salões. Depois passaram a transmitir os desfiles na íntegra.
Também na década de 70 começou a ser formatado o
estilo das transmissões e de narração dos desfiles de
carnaval. O formato consagrado deriva das transmissões
esportivas: há um narrador com função semelhante à do
narrador de futebol, aquele que narra todas as ações. Há
também o comentarista (um ou mais), geralmente indivíduo
com trajetória reconhecida no campo do carnaval ou
acadêmico, estudioso externo ao campo que, primeiro, fez
dele seu objeto de estudo e, depois, tomando esse estudo
como legitimador, passa a interferir no valor simbólico das
produções sequentes ao momento inicial em que estudou o
campo. Por fim, também é importante a atuação dos
repórteres de pista, que descrevem os acontecimentos
corriqueiros, os imprevistos, no que a informação sobre a
quebra de um carro alegórico ou sobre a aproximação do
limite do tempo de desfile se assemelha à informação sobre
uma lesão de um jogador de futebol.
Muitas vezes, os profissionais escolhidos para atuar nas
transmissões de carnaval atuam cotidianamente na esfera
esportiva. Exemplos latentes disso são as escolhas da Rede
Globo para a apresentação do carnaval carioca, que já contou
com Léo Batista (anos 70 e 80), Fernando Vanucci (1951 -
2020) e Galvão Bueno (anos 80 e 90), Cléber Machado (anos
2000), Luís Roberto e Glenda Kozlowski (anos 2010) e, mais
recentemente, Alex Escobar.
Na TV Manchete, o âncora absoluto e símbolo das
transmissões televisivas de carnaval da emissora foi Paulo
Stein (1947 - 2021), conhecido pela atuação no jornalismo
esportivo no rádio e televisão e que esteve presente durante
todo o período que a TV da Família Bloch acompanhou o
carnaval, entre 1984 e 1998. Em 1992, o também narrador
esportivo José Carlos Araújo (na época na Rádio Globo)
dividiu a narração dos desfiles com Stein.
Na última vez que a TV Bandeirantes transmitiu ao vivo
os desfiles das escolas de samba do grupo Especial do Rio de
Janeiro, em 1999, o comandante foi Luciano do Vale (1947 -
2014), locutor esportivo, radialista, apresentador de televisão
e empresário, que narrou várias Copas do Mundo e Jogos
Olímpicos. Também na Band, Vanucci e José Luiz Datena,
profissionais especializados nas coberturas esportivas, foram
os apresentadores das transmissões dos desfiles do grupo de
acesso do Rio, na primeira década do século 21.

Mudanças no palco

A década de 1970 foi o período no qual o Desfile das


Escolas de Samba do Rio de Janeiro teve seu lugar de
apresentação modificado. Após se exibirem, em suas origens,
na histórica Praça Onze e passarem por palcos como a
tradicional Avenida Rio Branco, as agremiações viveram
tempos áureos na Candelária e na Avenida Presidente
Vargas, de 1963 a 1973.
O espaço da Presidente Vargas, entre a Candelária e o
Campo de Santana, marcou uma época de ouro dos desfiles,
que foram um dos pontos altos das comemorações do IV
Centenário do Rio de Janeiro, em 1965. Assim, as escolas de
samba ganharam espaço na tela da TV e passaram a ter a
sua trilha sonora gravada e comercializada.
Em 1972, reconhecendo a grandeza e importância do
espetáculo, o jornal O Globo instituiu o Estandarte de Ouro,
premiando os sambistas que se destacaram. Os desfiles da
época também se destacaram pela consolidação da temática
afro-brasileira nos enredos, por sambas memoráveis que
ganharam projeção nacional e pelo maior apuro visual de
fantasias e alegorias, convivendo em harmonia com o brilho
de passistas e destaques.
Quando tudo indicava que as agremiações haviam
encontrado o palco ideal para seus desfiles, a construção do
metrô carioca, que transformou a Presidente Vargas num
vasto canteiro de obras, impossibilitou a realização do
concurso de 1974 no local, exigindo a mudança para um
novo palco.
A Avenida Presidente Antônio Carlos, no Centro, foi
escolhida como nova passarela dos desfiles. O local abrigou
os concursos de 1974 e 1975, com o público acomodado em
arquibancadas mais altas e os cortejos ocorrendo da Praça
Quinze em direção à Avenida Beira-Mar. Produzindo alegorias
de dimensões bem maiores que a média das concorrentes, o
carnavalesco do Salgueiro, João Jorge Trinta, popularmente
conhecido como Joãosinho Trinta (1933 - 2011), foi quem
melhor soube explorar a nova posição dos espectadores,
contribuindo para levar a escola ao bicampeonato.
Em 1976, em meio ao avanço das obras do metrô e
algumas críticas de sambistas à nova avenida – como as
reclamações sobre o local de concentração, que era invadido
pelo público e dificultava a organização e saída das escolas -,
a prefeitura decidiu levar o espetáculo de volta à Presidente
Vargas. O trecho escolhido foi o início da avenida, com
concentração na área do Mangue – que dá nome ao canal e à
antiga zona de prostituição que existia no local – e dispersão
na altura da antiga Praça Onze. A decisão, no entanto,
proporcionou situações inusitadas, como a concentração das
escolas no alto do Viaduto dos Marinheiros.
O desfile de 1977 foi mantido no mesmo local. Para
corrigir os problemas do ano anterior, houve a inversão do
seu sentido, com concentração na Praça Onze e dispersão no
Mangue.
Em 1978, os desfiles foram transferidos para a Rua
Marquês de Sapucaí, uma via da Cidade Nova, transversal à
Presidente Vargas e próxima à região da antiga Praça Onze. A
medida provocou uma série de desapropriações e demolições
no local. Quanto ao cortejo, ficou decidido que se daria no
sentido Catumbi-Presidente Vargas, para facilitar o
escoamento dos sambistas em direção à Central do Brasil.
Já o carnaval de 1979 teve a Sapucaí novamente como
palco, mas devido a protestos dos moradores do bairro do
Catumbi, incomodados com a agitada concentração, e à
dificuldade das escolas em se armarem nas ruas estreitas do
local, a prefeitura decidiu inverter o sentido do desfile para o
carnaval de 1980. Mas, se por um lado, a nova concentração
na Presidente Vargas agradou, a dispersão no Catumbi
permanece como um desafio à segurança e mobilidade dos
desfilantes.

Formato da transmissão

A primeira transmissão colorida de Carnaval pela TV


Globo aconteceu em 1973. As várias escolas de samba
desfilavam todas no mesmo dia. Naquele ano foram dez no
Grupo Especial, pela ordem de apresentação:

1 – Unidos do Jacarezinho (“Ameno Resedá”)


2 – Tupy de Braz de Pina (“Assim Dança o Brasil”)
3 – Em Cima da Hora (“O Saber Poético da Literatura de Cordel”)
4 – Portela (“Pasárgada, o Amigo do Rei”)
5 – Imperatriz Leopoldinense (“ABC do Carnaval”)
6 – Acadêmicos do Salgueiro (“Eneida, Amor e Fantasia”)
7 – Estação Primeira de Mangueira (“Lendas do Abaeté”)
8 – Unidos de Vila Isabel (“Zodíaco no Samba”)
9 – Mocidade Independente de Padre Miguel (“Rio Zé Pereira”)
10 – Império Serrano (“Viagem Encantada Pindorama Adentro”)

O evento, interminável, começou por volta das 18 horas


do domingo e terminou somente na manhã de segunda, sem
interrupções. A maratona era tão longa que os narradores se
revezavam.
A grade de programação da TV Globo no Carnaval nos
anos 1970 era bem diferente da atual, que se consolidou nos
anos 1990. Mas, apesar de longa, a transmissão dos desfiles
já apresentava formato parecido com o que temos hoje.
José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, que durante
quatro décadas foi o todo-poderoso executivo da Rede Globo,
o homem que “inventou” a televisão brasileira tal conhecemos
hoje e que ainda ditou um padrão de excelência que colocou a
produção televisiva nacional como uma das melhores do
mundo. No entanto, o ex-vice-presidente de operações da
Rede Globo, cargo que ocupou até a virada do século 20,
admitia que sabia muito pouco de carnaval e nem tinha a
dimensão da importância de uma escola de samba.
Bonifácio Sobrinho se aproximou da folia no final da
década de 60, quando conheceu o cenógrafo e carnavalesco
Arlindo Rodrigues, que era funcionário da TV Globo. Em fins
de 1973, Boni e o diretor de TV, Régis Cardoso (que anos
mais tarde viria a ser presidente do Salgueiro), queriam que
Arlindo fizesse os figurinos e os cenários da novela Os Ossos
do Barão. O carnavalesco se desculpou, mas alegou estar
atarefado com a produção do enredo “A Festa do Divino”, da
Mocidade Independente de Padre Miguel para o carnaval de
1974.
O mega-chefe Boni ficou uma arara com a recusa do
artista e, alegando que a Globo era prioridade, ameaçou
demitir Arlindo, propondo que o carnavalesco optasse entre
trabalhar para o carnaval ou seguir trabalhando na emissora.
O cenógrafo levou os dois executivos globais ao barracão da
Mocidade e lhes deu uma aula sobre o tema da escola e o uso
criativo dos materiais, da criação das alas, a ordem dos
desfiles, além de mostrar desenhos, figurinos, prospectos e
toda a parafernália carnavalesca.
A partir daquela explanação didática, o carnaval
arrebatou mais um folião: Boni não apenas desfilou na verde
e branco de Padre Miguel com a camiseta de “Diretoria”,
como passaria a participar dos ensaios e discussões sobre o
enredo, passando a integrar o “núcleo duro” da Mocidade.
A Globo, que até então se concentrava mais nos bailes
de carnaval, passou a se dedicar de forma mais contundente
à transmissão do desfile das escolas de samba. Sob o
comando de Boni e graças a Arlindo Rodrigues.
Em 1975, a TV Globo batizou o evento de “Carnaval
Colorido”. Na sexta de carnaval, no dia 7 de fevereiro, o
Jornal Nacional mostrou como seria a folia em todas as
partes do Brasil e exibiu flashes do baile do Clube Tamoio. No
dia seguinte (8), sábado de Carnaval, foi exibido ao vivo, às
23h, o concurso de fantasias do Hotel Nacional do Rio de
Janeiro.
A programação global no domingo (9) se deu da seguinte
forma: o Programa Silvio Santos começou às 11h30,
praticamente com uma edição especial sobre a data, com
direito ao animador cantando suas tradicionais marchinhas.
A atração foi interrompida às 15h e às 17h para boletins ao
vivo, denominados “Plantão do Carnaval”. A revista eletrônica
Fantástico daquele dia começou às 17h50 e teve apenas 10
minutos, com um resumo das notícias do dia.
A transmissão do desfile começou às 18 horas. Antes de
cada escola, era apresentado um pequeno documentário com
a história da agremiação e seus destaques para aquele ano.
Esse formato durou até bem pouco tempo atrás. A narração
foi dividida entre Berto Filho (1940 – 2016), Carlos Campbell,
Haroldo Costa, Luís Carlos Miéle (1938 – 2015) e Luiz Lobo,
que se revezavam devido ao grande número de horas do
evento.
Os comentaristas foram o musicólogo e historiador
Mozart de Araújo (1904 - 1988), que analisava baterias e
melodias; o jornalista e escritor Sérgio Cabral, falando de
harmonias e evoluções; o cenógrafo Mauro Monteiro (? –
2012), sobre fantasias, alegorias e adereços; Macedo Miranda
Filho (1950 – 2008), avaliando mestres-salas, porta-bandeiras
e comissões de frente; e o narrador Luiz Lobo, que também
avaliava enredos e letras de samba.
No carnaval de 1975 desfilaram (pela ordem): Unidos de
Lucas, União da Ilha do Governador, Unidos de Vila Isabel,
Unidos de São Carlos, Mocidade Independente de Padre
Miguel, Portela, Mangueira, Em Cima da Hora, Império
Serrano, Salgueiro, Imperatriz Leopoldinense e Beija-Flor. Os
resultados foram divulgados uma semana depois. O Salgueiro
venceu com o enredo “As minas do Rei Salomão”, de
Joãosinho Trinta.
Durante 15 horas e 5 minutos, a TV Globo (que no Rio
de Janeiro opera no canal 4) mostrou realmente o melhor do
Carnaval, com uma transmissão moderna, ritmada, a léguas
de distância do blá-blá-blá geral de antes, com direito a cenas
do desfile em slow-motion (câmera lenta) e do replay.
Completando a programação, a emissora também exibiu
os concursos de fantasia do Hotel Glória e do Theatro
Municipal do Rio, na segunda (10), e do Clube Sírio Libanês,
na terça (11). A transmissão dos concursos de fantasias, que
depois se transformou em uma tradição do Carnaval da
Manchete, nos anos 1980 e 1990, há alguns anos não
encontra mais espaço na grade das emissoras televisivas,
infelizmente.
Nos anos 70, os desfiles (principalmente a partir da
segunda metade da década), passaram a ser exibidos na
íntegra. Enquanto a escola estivesse na avenida, não havia
nenhum tipo de interrupção para anúncios comerciais. Os
reclames aconteciam em breaks, nos intervalos das
apresentações entre uma escola e outra. Os desfiles
adentravam a madrugada. Naquela época, cada escola tinha
um tempo máximo de 90 minutos de apresentação. Não
obstante, o encerramento da transmissão se dava sempre
próximo (ou mesmo após) o meio-dia do dia seguinte.
E foi nessa época que o Grupo Especial (chamado de
Grupo 1 ou Primeiro Grupo) começou a inchar. Se em 1973,
a elite do carnaval carioca abrigava dez escolas, a categoria
especial recebeu 14 agremiações participantes em 1976, fruto
principalmente de dois anos consecutivos sem rebaixamento.
Se para quem acompanhava na telinha, no conforto da sala
de casa, o cortejo de dez, doze ou quatorze agremiações era
um bálsamo para os olhos, para quem desfilava, assistia das
arquibancadas pouco confortáveis, julgava nas cabines ou
trabalhava na organização, essa festa interminável poderia
significar um tormento terrível.
A televisão se consolidava como um meio de
comunicação parceiro do carnaval, e os artistas e artesãos da
folia perceberam isso e tentaram tirar proveito, tanto
plasticamente quanto na concepção dos desfiles. A
semidesconhecida Beija-Flor de Nilópolis impressionou a
todos em 1976, com o enredo “Sonhar com Rei Dá Leão”. Ao
levar para a passarela a história do jogo do bicho, a escola
rompia com uma tradição de enredos que faziam propaganda
do regime militar, e contava com o gênio criativo de
Joãosinho Trinta, além do apoio financeiro do bicheiro Aniz
Abraão David.
Com sua concepção teatral, J30 foi um dos artistas que
mais souberam adaptar a criação carnavalesca às sucessivas
mudanças de palco da “ópera popular” e à consolidação da
televisão divulgando as imagens do carnaval via satélite.
Outros artistas criadores, como Arlindo Rodrigues,
Fernando Pinto (1945 - 1987) e Maria Augusta Rodrigues,
também souberam tirar proveito da presença da tevê para
impor a marca de seu trabalho: Arlindo levava enredos
históricos com um apuro nas alegorias e sofisticação nas
fantasias; Fernando Pinto imprimiu a estética tropicalista no
carnaval, e Maria Augusta levou os temas cotidianos para a
avenida, os chamados “enredos abstratos”.
Em 1978, Hilton Gomes (1924 - 1999) e Léo Batista
iniciaram uma dobradinha na narração, através de
revezamento, que marcou a história dos carnavais da Globo.
Gomes foi um dos principais apresentadores da
emissora, tendo estado na bancada da primeira edição do
Jornal Nacional, junto com Cid Moreira. Dono de um belo
vozeirão grave, mas de estilo formal, foi apresentador oficial
do Festival Internacional da Canção (o FIC durou de 1966 a
1972, num total de sete edições), além de ter narrado jogos
de futebol e várias entrevistas como enviado internacional.
Já Léo Batista tinha um estilo completamente oposto ao
de Hilton Gomes: narrador e noticiarista esportivo, Léo se
destacava pela descontração. Nos anos 70 foi apresentador
dos programas Globo Esporte, Gols da Rodada do Fantástico,
Esporte Espetacular e ainda informava os resultados
semanais da Loteria Esportiva, acompanhado pela Zebrinha,
uma personagem criada pelo desenhista Borjalo (1925 -
2004).
As transmissões também eram um retrato da deficiência
de tecnologia no carnaval. Não havia sonorização ao longo da
avenida. As escolas desfilavam apenas ao som do carro de
puxadores e da bateria em acústico.
O início dos desfies mostravam sempre as primeiras alas
cantando o samba a capella, com a voz do puxador sendo
escutada ao longe, assim como o som da bateria e dos
instrumentos de corda. À medida que a escola ia evoluindo e
adentrando a passarela é que passava a se ouvir
gradativamente o canto do intérprete, a batida dos ritmistas e
as palhetadas dos cavaquinhos, as harmonias dos violões 6
cordas e a “baixaria” (ou a linha de baixos das músicas) com
frases de contraponto à melodia principal feitas pelos violões
7 cordas.
Era um tempo em que todos os componentes
precisavam realmente cantar, senão havia o risco de
“atravessar”. A expressão “atravessar o samba” é quando uma
parte da escola está cantando um trecho do samba enquanto
outra parte canta outro trecho diferente em função do atraso
do som devido à distância. Ou quando, por qualquer falha
(técnica ou humana), a bateria provoca um desentrosamento
entre ritmo e canto. O problema do som precário ao longo da
avenida só foi solucionado após a inauguração do
sambódromo em 1984.

Júri Oficioso, ou... “Júri da Globo”

Em 1976, a TV Globo fez com que seus comentaristas


atribuíssem – de forma não oficial – notas aos quesitos,
fazendo uma apuração paralela. Estava instituído o Júri
Oficioso, ou simplesmente, o “Júri da Globo”, como ficou
conhecido. Os especialistas foram os mesmos do Carnaval
Colorido do ano anterior.
Para a transmissão de 1978, a Globo convidou mais dois
grandes nomes ligados à música para fortalecer o júri
oficioso: o produtor e pesquisador Ricardo Cravo Albin para
falar sobre evolução e harmonia, e o maestro e compositor
Guio de Moraes – que substituiu Mozart de Araújo – para
analisar samba e bateria.
O expediente de utilizar o “Júri da Globo” na
transmissão se manteve até o carnaval de 1988. Após isso, a
emissora continuou com os comentaristas, mas sem atribuir
notas.

TV Tupi – Cobertura Total

A Rede Tupi de Televisão também tinha uma tradição


de programação carnavalesca. Como vimos, foi o primeiro
canal de tevê a transmitir os desfiles das escolas de samba,
no ano de 1955.
Na segunda metade da década de 70, já nos seus
estertores, a rede de televisão exibia programas especiais
sobre marchinhas carnavalescas, promovia festivais de
músicas de carnaval e também exibia desfiles.
Na cobertura do carnaval de 1979 as vinhetas da Tupi
eram produzidas com direito a marchinhas carnavalescas,
uma delas gravada por Moacyr Franco. Era o básico que se
podia fazer naquela época: a transmissão de bailes
carnavalescos e os desfiles das escolas de samba. Assim, a
Tupi inovou com a ousadia de transmitir simultaneamente os
desfiles do carnaval de São Paulo e do Rio de Janeiro
mobilizando oito equipes de reportagem, sendo quatro para
cada cidade. A transmissão teve o comando do teatrólogo
Plínio Marcos (1935 - 1999), direção de jornalismo de Heitor
Augusto (1932 - 2013) e direção artística de Antonino Seabra
(1933 - 2010).
A última transmissão televisiva da folia pela Tupi
aconteceu em 1980. Com o slogan “Cobertura Total”, o canal
exibiu os desfiles das dez escolas do Grupo Especial na
passarela da Rua Marquês de Sapucaí no dia 17 de fevereiro
(domingo). Pela ordem de desfile: Império Serrano; Unidos de
São Carlos; Unidos de Vila Isabel; Acadêmicos do Salgueiro;
Beija-Flor; Mocidade Independente de Padre Miguel; Estação
Primeira de Mangueira; Portela; União da Ilha do Governador
e Imperatriz Leopoldinense.
O canal do conglomerado de Chatô inovou ao transmitir
também o desfile das campeãs, naquele ano realizado no dia
23 de fevereiro.
A narração do primeiro carnaval dos anos 80 foi com o
locutor esportivo José Cunha (1940), mineiro que fez história
nos anos 70 e 80, narrando os jogos do campeonato carioca
de futebol pela TVE-RJ. Dono de uma voz rouca e forte,
Cunha foi criador de diversos e divertidos jargões esportivos,
como por exemplo, em vez de gritar “gol”, Cunha gritava tá
láááá... O narrador dizia que não gritava gol, “porque o
telespectador não é cego”. E dê-lhe frases para identificar os
jogadores, como “Taí o Zanatta”, “Taí o Cláudio Adão”, “tá aí
o abafa” (na hora de um cruzamento do time atacante para a
grande área do adversário), “Tá láááá (na hora da feitura do
gol de uma das duas equipes)... Din-na-mi-te! Vasco da Gama
TRÊS. Flamengo UM”. Assim mesmo, com essa entonação no
placar. José Cunha carregava essa irreverência também ao
narrar um desfile de carnaval: - “É, minha gente. Tá aí a
Portela!”.
O radialista e ator Osmar Frazão se revezava na
ancoragem da transmissão com José Cunha. Nas reportagens
e eventuais comentários, um rapaz chamado Jorge
Perlingeiro, jovem comunicativo, enlouquecido por samba e
carnaval e que apresentava um quadro em um programa de
TV (como veremos em capítulo mais à frente), e que desde
aquela época usava como bordão a expressão “só se for
agora”.
O carnaval de 1980 aconteceu de 16 a 19 de fevereiro e
o Desfile das Campeãs foi realizado no sábado posterior,
conhecido como “enterro dos ossos”. Dias antes, os
funcionários da TV Tupi estavam em greve, de 11 até 16 de
fevereiro. Os profissionais encerraram a greve exatamente no
sábado de carnaval.
O desfile das campeãs contou com a participação de seis
escolas: as três que ao final da apuração empataram com o
mesmo número de pontos e foram declaradas vice-campeãs
(Mocidade, Vila Isabel e União da Ilha) e as três que
empataram em primeiro lugar e foram promulgadas campeãs
(Beija-Flor, Imperatriz e Portela). Pela ordem, tiveram seus
desfiles televisionados União da Ilha, Vila Isabel, Mocidade,
Portela, Imperatriz (que desfilou sem alegorias) e Beija-Flor.
Os torcedores da Imperatriz, os chamados “gresilenses”,
devido à sigla GRESIL – Grêmio Recreativo Escola de Samba
Imperatriz Leopoldinense – ficaram tão emocionados com o
primeiro título da Rainha de Ramos que depenaram as
alegorias e adereços dos carros alegóricos para levar como
lembrança do campeonato. Mal eles teriam ideia de que, na
década seguinte, vencer o carnaval se tornaria algo rotineiro
para a nação leopoldinense.
Por esta época, ainda havia dois programas dedicados
ao samba na Tupi: o primeiro era o Rio Dá Samba,
apresentado pelo músico e compositor João Roberto Kelly e
que logo em seguida migraria para a TV Bandeirantes.
O segundo programa, na verdade, começou como um
quadro do Programa Aérton Perlingeiro, um show de auditório
exibido nas tardes de sábado e comandado pelo apresentador
e radialista Aérton Perlingeiro (1921 - 1992). O show era
dividido em seções, sendo que uma delas, voltada ao samba,
era apresentada por seu filho, Jorge. Este quadro
posteriormente deu origem ao programa Samba de Primeira.
Em 18 de julho daquele ano, a concessão da emissora
foi cassada por problemas financeiros e administrativos e a
TV Tupi fechou as portas.
A década seguinte inicia com quatro emissoras de
alcance nacional que se mostravam interessadas em
transmitir os desfiles de escolas de samba e ainda dedicavam
generosas parcelas da programação aos eventos de carnaval.
E também viu o nascimento daquela que é considerada a
maior e a melhor televisão que cobriu a folia neste país e fez
os brasileiros sonharem carnaval durante 14 anos.
CAPÍTULO 3 – O CARNAVAL
NA ERA DA TELEVISÃO
(ANOS 80 – 1ª PARTE)
Quatro emissoras de alcance nacional se interessam em
transmitir os desfiles de escolas de samba; carnaval toma
parte da programação televisiva; a TV Educativa dedica ao
carnaval 80 horas no ar; nasce a TV Manchete

Indiscutivelmente
É a era da televisão
O tão distante presente se faz presente
E satisfaz nossa visão
Até a lua lá no céu
Nos chega via Embratel
“Com a boca no mundo, quem não se comunica, se
trumbica” (Aluísio Machado e Beto Sem Braço) – Samba
enredo da GRES Império Serrano 1987.
m tempos que impera o monopólio de apenas

E um canal de televisão ser detentora exclusiva dos


direitos de transmissão do carnaval carioca, é
difícil acreditar que já houve uma época em que a
festa na Rua Marquês de Sapucaí era exibida
simultaneamente por quatro emissoras de alcance nacional.
Sim, na virada dos anos 1970 para 1980, o carnaval
carioca era disputado e exibido pelas televisões Globo,
Bandeirantes, Tupi (que já agonizava com sua crise
financeira) e pela TV Educativa do Rio. E a TV Cultura
começava a mostrar o carnaval feito na terra da garoa.
A representatividade dos desfiles na Sapucaí era ainda
mais intensa naquela época, gerando impactos fortíssimos no
telespectador. Não havia internet e/ou outras formas de
consumir, de casa, a festa no Rio de Janeiro. As revistas
semanais de circulação nacional também forneciam uma
cobertura farta e recheada de fotos, principalmente as
revistas Manchete, Fatos e Fotos e Cruzeiro.
As televisões começavam com informações meses antes
da folia. Algumas emissoras ainda promoviam concursos de
marchinhas e músicas carnavalescas. Outras mantinham em
sua grade de programação shows de auditório nos quais
samba e carnaval eram o carro-chefe. Mas é claro que o ápice
da festa acontecia na semana do carnaval, com a exibição de
bailes carnavalescos, concursos de fantasias e os desfiles das
escolas de samba, além de flashes da folia nas outras regiões
do país.
A década de 80 iniciou com os telespectadores
assistindo sair do ar a TV Tupi, primeira emissora de
televisão a operar no Brasil e aquela que fazia a “Cobertura
Total” do carnaval.
A Tupi foi a pioneira a realizar transmissão dos desfiles
de escolas de samba na televisão, no ano de 1955. Nas
décadas de 50 e 60, o canal exibia trechos dos desfiles do
carnaval carioca em seus telejornais, além de também ter
surfado na onda dos festivais de música.

Apoio aos festivais de músicas carnavalescas

Em 1967, o Museu da Imagem e do Som (MIS), solicitou


à TV Tupi que realizasse um festival de música de carnaval.
Então foi ao ar o programa Concurso de Música
Carnavalesca, produzido pela Tupi do Rio de Janeiro e
exibido em todo o Brasil, com direção de Ricardo Cravo Albin.
O vencedor do certame foi o compositor Zé Ketti (1921 -
1999), com a célebre música “Máscara Negra”. O sucesso foi
tanto que a marca General Eletric (GE) batizou seu novo
modelo de televisor, na época, como Máscara Negra.
A Tupi realizaria seis edições do Concurso de Músicas
de Carnaval, em parceria com a Secretaria de Turismo do Rio
de Janeiro (ainda não havia a Riotur – Empresa de Turismo
do Município do Rio de Janeiro S.A., fundada em 14 de julho
de 1972). Para perceber o porte desse festival, basta lembrar
que uma das divas da canção e ex-Rainha do Rádio, a
cantora Dalva de Oliveira (1917 - 1972), ressurgiu no país
com a música “Bandeira Branca” (de Max Nunes e Laércio
Alves), terceiro lugar no Festival de Carnaval da TV Tupi em
1971.
Os últimos suspiros momescos da Tupi se deram em
1980. No início do ano, em conjunto com a Riotur, a emissora
promoveu o Festival da Alegria, seu derradeiro concurso de
músicas de carnaval. A apresentação ficou a cargo de Jorge
Perlingeiro e da jovem atriz Monique Alves (1962-1994). A
trilha de abertura era a marcha-rancho “Abre-Alas”, sim o
consagrado clássico de autoria da maestrina Chiquinha
Gonzaga (1847 - 1935), considerada a primeira música de
carnaval da história, composta em 1899.
O júri do Festival da Alegria era composto por nomes
célebres, como o agitador cultural e “maestro” da Banda de
Ipanema, Albino Pinheiro (1934 - 1999); as cantoras e
compositoras Dona Ivone Lara (1922 - 2018) e Lecy Brandão;
o compositor Herivelto Martins (1912 - 1992); o ator Jorge
Coutinho; o cantor Jorginho do Império; o carnavalesco
Clóvis Bornay (1916 - 2005) e o diretor de televisão Wilton
Franco (1930 - 2012).
O Festival da Alegria revelou e premiou duas músicas
que se tornaram estrondosos sucessos e que até hoje são
lembradas, tendo recebido diversas regravações. De autoria
de Neguinho da Beija-Flor, interpretada pelo próprio
compositor, a música “O campeão”, tornou-se seu maior
sucesso fora do universo dos sambas de enredo, sendo
cantada nos estádios de futebol do país, unificando todas as
torcidas, que sempre modificam uma parte da letra:
“Domingo, eu vou ao Maracanã / Vou torcer pro time que sou
fã...). A música obteve o terceiro lugar no festival, recebendo o
Troféu Lamartine Babo e mais a importância de 15 mil
cruzeiros.
A outra música, “É preciso muito amor”, composta por
Noca da Portela e Tião de Miracema, obteve o primeiro lugar
no festival. Após ter arrebatado o concurso, o samba, cujo
refrão diz: “Porque senão ela chora / e diz que vai embora / Ô,
diz que vai embora...” fez um retumbante sucesso nas rádios
e nos programas de televisão, sendo posteriormente gravado
pelo sambista amazonense Chico da Silva, nos anos 80, e
regravado pelo sambista carioca Dudu Nobre, na primeira
década dos anos 2000.
Após a realização do Festival da Alegria – que era
apresentado semanalmente nas noites de sábado, nos meses
de janeiro e fevereiro –, Jorge Perlingeiro liderou uma vigília
dos funcionários da TV Tupi tentando, sem sucesso, salvar a
emissora, o emprego dele e de seus colegas. A vigília se
encerrou dias antes do carnaval daquele ano e a emissora
transmitiu os desfiles do Grupo Especial e das Campeãs.
Assim foi a cobertura para o último Carnaval do canal:
vencida pela crise financeira, a Tupi fechou as portas e teve
seu transmissor lacrado em 18 de julho de 1980.

Rio Dá Samba e João Roberto Kelly


Apesar de nunca ter sido líder de audiência no segmento
carnavalesco, a TV Bandeirantes, no início dos anos 80,
mantinha uma excelente programação que privilegiava,
sobretudo, o pré-carnaval.
Quando o compositor e apresentador João Roberto Kelly
assumiu a presidência da Riotur em 1980, levou para a Band
seu Programa João Roberto Kelly, que já apresentava há dez
anos, inicialmente na TV Rio e depois na Tupi. O show, antes
transmitido apenas para o estado do Rio de Janeiro, passou a
ter abrangência nacional e foi batizado de Rio Dá Samba,
nome de um espetáculo musical que o artista percorria em
diversas cidades brasileiras.
Kellinho (como João Roberto Kelly era conhecido no
meio artístico) reproduzia o clima do show que o animador
apresentava nas casas noturnas, que seguia a mesma linha
preconizada por Oswaldo Sargentelli (1923 - 2002) desde o
final dos anos 60 nas suas três boates no Rio: Sambão
(1969), Sucata (1970) e Oba-Oba (1973). O programa era uma
espécie de teatro de revista rebolado com um elenco de
belíssimas mulatas oriundas das escolas de samba. A atração
consistia na parte musical, com astros e estrelas convidados
interpretando sambas e marchinhas de carnaval, um bloco
formado por entrevistas e uma parte com a tradicional canja
solo do apresentador. O Rio Dá Samba logo apresentou
elevados índices de audiência nas tardes de sábado.
Ao assumir a Riotur com a promessa de fazer do
carnaval de 1981 o “maior carnaval da história da cidade do
Rio de Janeiro”, João Roberto Kelly não poupou esforços em
divulgar a nossa mais grandiosa festa popular. O formato do
Rio Dá Samba rezava pela mesma cartilha dos famosos
programas de auditório da época, como a Buzina do
Chacrinha, Clube do Bolinha e Programa Carlos Imperial,
todos com um elenco de dançarinas. As atrações,
predominantemente musicais, ora se apresentavam ao vivo –
acompanhadas pela banda formada especialmente para o
programa, o Grupo Buraco Quente – ora dublavam com
playback. Personalidades do carnaval (intérpretes, passistas,
destaques, dirigentes, carnavalescos e outros personagens
famosos) eram habituées do programa.
Mas o grande barato do Rio Dá Samba era mostrar toda
a preparação das escolas de samba do Rio de Janeiro e de
Niterói para o carnaval, desde o anúncio dos enredos,
divulgação das ordens de desfiles e a apresentação dos
sambas enredo concorrentes.

“O sapatão está na moda...”

Falando em Chacrinha, o anárquico apresentador


Abelardo Barbosa (1917 - 1988), comandava dois programas
na Band, entre 1979 e 1982: Discoteca do Chacrinha, nas
noites de terças ou quartas-feiras, e Buzina do Chacrinha, aos
domingos. A “Buzina” promovia disputa de calouros e
concursos inesperados como “A Criança Mais Bonita do
Brasil” ou “O Negro Mais Bonito do Brasil”. Ou gincanas
esdrúxulas, como prêmios para quem levasse a maior cobra
(serpente) ao programa.
Já a “Discoteca” apresentava os sucessos musicais do
momento. Em 1982, o comunicador voltou para a Globo, a
convite de Boni, para comandar um novo programa, o
Cassino do Chacrinha, que estreou em 6 de março daquele
ano. O último programa foi gravado e exibido em 2 de julho
de 1988. Chacrinha havia falecido dois dias antes, vítima de
câncer de pulmão.
Todos os anos, o Velho Guerreiro lançava marchinhas
de carnaval que ficaram famosas e que tocavam à exaustão
em seus programas (fosse tempo de carnaval ou não), como
“Maria Sapatão” “Menino Gay” e “Bota a Camisinha”
(assinadas por João Roberto Kelly), e ainda “Break, break”,
“Marchinha da Severina” e “Eu Tô Cheio de Mulher”.
Em 1987, o apresentador foi homenageado pelo Império
Serrano, com o enredo “Com a boca no mundo: quem não se
comunica se trumbica”, de onde retirarmos o trecho que abre
este capítulo. Chacrinha fechou o desfile, no alto de um carro
alegórico, cercado de suas chacretes e acompanhado da
jurada Elke Maravilha (1945 - 2016) e do seu assistente de
palco, Antônio Pedro de Souza e Silva, o “Russo” (1931 -
2017).

Mais de mil palhaços no salão

A Band também foi pioneira na transmissão de bailes


pré-carnavalescos. A folia dos salões na emissora iniciava
geralmente dois sábados antes do carnaval, com a exibição ao
vivo do tradicional Baile “Uma Noite nos Mares do Sul”,
diretamente do luxuosíssimo Ilha Porchat Clube, instalado na
cidade de São Vicente, no litoral sul do estado de São Paulo.
O clube era presidido pelo advogado e empresário
paranaense Odárcio Ducci (1942 - 2016), que também
marcou presença na televisão, tendo sido apresentador do
Miss Brasil durante 15 anos e de atrações de auditório
transmitidas diretamente do Ilha Porchat Clube pela TV Mar
(retransmissora da antiga TV Manchete) em um programa
que apresentava em parceria com Helô Pinheiro, a eterna
"Garota de Ipanema", imortalizada na canção de Tom Jobim e
Vinícius de Moraes.
No entanto, quem comandava as transmissões do Mares
do Sul era Edson Cury (nascido Edson Cabariti em 1936 e
falecido em 1998), um ex-repórter esportivo que um dia, em
meados dos anos 60, foi convocado às pressas para substituir
Chacrinha na TV Excelsior. Além de bom humor, o repórter
tinha silhueta roliça, o que lhe rendeu o apelido de “Bolinha”,
como ficou nacionalmente conhecido. Outra característica do
apresentador era sempre vestir espalhafatosas camisas
estampadas. A partir daí e nos vinte anos seguintes, Edson
Bolinha Cury se tornou apresentador de seu programa
próprio, o impagável Clube do Bolinha. Odárcio era, inclusive,
jurado do quadro de calouros do programa.
Durante quase cinco décadas o Ilha Porchat foi o clube
número um da Baixada Santista, com 40 mil metros
quadrados de área e badaladas festas que chegavam de 40 a
50 mil pessoas – eram 29 mil na piscina e 11 mil na sede,
segundo o próprio Ducci.
O que não deixava de ser curioso era que o Baile dos
Mares do Sul era uma festa carnavalesca na qual faltava
justamente o principal ingrediente da folia: músicas de
carnaval! As orquestras contratadas a polpudos cachês
executavam tudo o que era sucesso na música nacional e
internacional: pop, rock and roll, trilhas de filmes, músicas
de novela e até alguma coisa da MPB mais tradicional.
O que menos se escutava nos bailes do Ilha era
justamente o ziriguidum e o telecoteco. Pierrôs apaixonados,
alalaôs, chiquitas bacanas, auroras, mulatas bossa nova,
turmas do funil, mamãe eu quero, piratas da perna de pau,
pega no ganzê, bandeiras brancas, xinxins e acarajés,
bumbuns de fora pra chuchu, trens das onze, entre outras,
eram “ausência garantida” nas partituras dos músicos do
badalado baile e passavam ao largo dos ricos salões e das
piscinas de dimensões olímpicas.
De natureza comportada e requintada (o traje indicado
nos convites RSVP eram black-tie ou roupas com motivos
tropicais, valendo até mesmo camisas polo, bermudas,
sarongues, shortinhos e vestidos), o Mares do Sul contrastava
com outros bailes que seriam realizados nos dias posteriores
em solo carioca. A festa em São Vicente reunia também
várias figuras emblemáticas do cenário político e artístico,
brasileiro e mundial, como Mário Covas, João Baptista
Figueiredo, Paulo Maluf, José Maria Marin, Marta Rocha,
Adriane Galisteu, Helô Pinheiro, Xuxa, Agnaldo Rayol,
Agnaldo Timóteo, Pelé, Moacyr Franco, João Saad, Jair
Rodrigues, Ângela Maria, Roberto Carlos, Thelma Lipp
(transex paulista que “rivalizou” as atenções com Roberta
Close nos anos 80), entre outros.
A transmissão dos bailes pela TV Bandeirantes era
sempre confusa e barulhenta, muitas vezes se tornava
cômica. Ninguém ouvia ninguém: nem o repórter, nem o
convidado e muito menos o telespectador entendiam coisa
alguma.
Um caso que se tornou pitoresco aconteceu em 1983 na
transmissão de um baile carioca por uma equipe de
reportagem da Band formada pelo então novato apresentador
Otávio Mesquita e pela bela e jovem jornalista e aspirante a
atriz chamada Cristina Prochaska. Durante a festa no Scala,
casa de espetáculos do Rio de propriedade do empresário
Chico Recarey, um diretor gritava para o cameraman pelo
ponto eletrônico enquanto Otávio entrevistava Cristina:
“fecha na Prochaska, fecha na Prochaska!”.
Quanto mais o diretor implorava para o cinegrafista dar
um close no rosto de Cristina, mais o profissional responsável
pelo manuseio da câmara, confuso e “bêbado” (segundo
relatos de Mesquita), fazia zoom nas partes íntimas de uma
passista que rebolava quase nua em cima de uma mesa do
salão. A cena se tornou histórica na TV, embora não tenha
registro em vídeo do ocorrido.
Um repórter em especial que sofreu com a barulheira e o
empurra-empurra foi o radialista Emílio Surita. Apresentador
de programas de videoclipes (Superspecial, em 1984) ou de
prêmios (Batalha 85, ao lado da já mencionada Cristina
Prochaska) Surita passava entrevistando foliões bêbados e
garotas seminuas por horas a fio. Até Sandra Annenberg, na
época uma jovem e iniciante atriz de quinze anos de idade,
apresentadora do programa Show do Esporte ao lado de
Luciano do Valle e de Juarez Soares (1941 - 2019) e do
infantil TV Criança, fez parte da equipe carnavalesca na
Band, antes de se transferir para a Rede Globo em 1988.
Outro pioneirismo da empresa da família Saad foi
faturar com a venda de fitas de vídeo no pós-carnaval. A
Band fazia uma compilação dos melhores momentos dos
bailes carnavalescos em VHS e comercializava após a quarta-
feira de cinzas.

Surgem o Gala Gay e Roberta Close

A TV Bandeirantes apresentava na semana anterior e


nos dias de carnaval os tradicionais bailes carnavalescos
cariocas: Baile do Champagne, Baile das Panteras, Vermelho
e Preto (do Flamengo), Baile da Cidade Maravilhosa, Baile das
Atrizes, Uma Noite em Bagdá (no Monte Líbano) e um que
acontecia na noite de Terça-Feira Gorda de Carnaval que
chamava muito a atenção do público e se tornou ícone devido
os altos índices de audiência: o Gala Gay.
O Baile Gala Gay era herdeiro direto de outra festa que
iniciou “marginal” e que depois se tornou até ponto turístico
carnavalesco: o Baile dos Enxutos, que nos anos 60 e 70 era
realizado no Cine São José, na Praça Tiradentes, no centro do
Rio. Promovida por homossexuais (“enxutos”, segundo a gíria
da época), a festa tinha desfile de fantasias de luxo e
originalidade vestidas por travestis.
No início dos anos 80, o Gala Gay se tornou o mais
famoso baile gay do país e gerava uma grande audiência para
a emissora. Na porta do baile, realizado na casa de eventos
Scala Rio, repórteres entrevistavam transformistas e drag
queens sem pudor e sem economizar nos closes. Por mais
contraditório que pareça, numa época em que a homofobia
era predominante, o Gala Gay era o momento de maior
interesse televisivo no carnaval.
Com tanta projeção na mídia, o baile acabou no centro
de uma polêmica. Um belo dia, um cara bem espertinho
resolveu fazer uma pesquisa, e concluiu que o nome do baile
– conhecido inclusive em diversos outros países – não tinha
dono. O esperto foi até um cartório e registrou o nome, como
sendo de sua autoria, com a intenção de cobrar do
empresário Chico Recarey, que era o dono da casa de
espetáculos, pelo uso do nome.
A atitude imoral do indivíduo gerou uma tremenda
polêmica na época, que se apropriou do nome da festa só
para obter lucro. Com isso, o nome do baile não pôde ser
mais usado sem a autorização do detentor da marca. No
entanto, no ano seguinte, os organizadores foram ainda mais
espertos e rebatizaram o baile, que passou a chamar-se
“Grande Gala G”. Anos mais tarde, o evento recebeu o nome
definitivo de Baile Scala Gay, ferrando de vez com o sagaz
medíocre que tentou lucrar com o sucesso alheio.
Otávio Mesquita, Rogéria e Monique Evans levavam
divertimento e alegria ao público com impagáveis reportagens
nos bailes carnavalescos, principalmente no Grande Gala G.
Nascido na cidade de Guarulhos em 1959 e formado em
jornalismo pela Universidade Unip/Objetivo, Otávio Mesquita
começou trabalhando na área comercial da Rede
Bandeirantes de Televisão. Dono de um bom humor e
irreverência, após o sucesso na transmissão de 1983, a do
“fecha na Prochaska”, Mesquita enveredou para a
apresentação de programas. Autônomo, criou e produziu seu
próprio programa, o Perfil, em várias emissoras, inicialmente
na Band, depois na Manchete, SBT, Record e novamente
SBT.
O estilo de Otávio era completamente “sem filtro”,
ousado para a época. “Nossa, já participei de tantas gafes.
Uma delas foi entrar no banheiro do Baile Gala Gay e flagrar
um monte de mulheres fazendo xixi de pé”, afirmou Mesquita,
aos risos, em entrevista a Danilo Gentili no programa Agora é
Tarde, da Band, em 2012.
Ícone gay, Rogéria (1943 - 2017) foi a primeira travesti a
fazer sucesso na televisão brasileira. Devido ao carinho e
respeito que dizia receber do público, Rogéria se definia como
a “travesti da família brasileira”. A artista foi jurada de
inúmeros programas de auditório, como o Cassino do
Chacrinha. Como atriz, participou de novelas na TV Globo.
Nascida Astolfo Barroso Pinto, na cidade de Cantagalo
(RJ), Rogéria começou a se vestir de mulher aos 14 anos. Seu
nome artístico foi dado pelo público, em 1964, após participar
de um concurso de fantasias no Teatro República, no Rio. Já
adulta, foi maquiadora de atores na extinta TV Rio. Em um
dos trabalhos, foi incentivada por Fernanda Montenegro a se
tornar artista. Recebeu incentivos da atriz Bibi Ferreira, que
a colocou no espetáculo “Roque Santeiro”, na década de 60.
A modelo Monique Evans fundou o posto de rainha da
bateria, inaugurando o principal cargo da monarquia
carnavalesca e até hoje o mais cobiçado posto entre as
mulheres na passarela, elevando a temperatura e acelerando
o coração dos ritmistas. O enredo era “Mamãe Eu Quero
Manaus”, do carnavalesco Fernando Pinto, que rendeu o
segundo lugar à Mocidade Independente de Padre Miguel no
Carnaval de 1984.
Segundo Monique, ela era jurada do Cassino do
Chacrinha e modelo da Dijon, grife de jeans de propriedade do
empresário Humberto Saade (1939 - 2017), quando surgiu o
convite para desfilar pela primeira vez. A beldade soube que
iria à frente da bateria no dia do desfile.
Monique já era modelo de sucesso quando foi alçada ao
cargo. Seus reinados foram de vanguarda: em 1985, arrancou
a estrela prateada que cobria os seios, espalhou glitter e
inaugurou a era do topless na Sapucaí; em 1991, desfilou
grávida da filha, Bárbara Evans. Em 1997, à frente da
Acadêmicos da Grande Rio, encerrou essa fase. Em 2014,
Evans desfilou na Mocidade para comemorar os 30 anos de
Sapucaí.
Voltando ao Gala Gay, em 1982, após vencer um
concurso interno no próprio baile, o de “Miss Brasil Gay”,
surgiu uma personalidade que ganhou uma dimensão
nacional: Roberta Close. Na flor de seus 18 anos, quando a
belíssima morena de 1,80m e curvas estonteantes apareceu
perante as câmeras ostentando a faixa de “mais belo travesti
do Brasil” (naquela época não se utilizava o termo “trans” e o
gênero utilizado era “o” travesti, no masculino), Roberta (cujo
nome em cartório civil era Luiz Roberto Gambini Moreira)
chamou a atenção do país inteiro, chegando a ser
considerada “a mulher mais bonita do Brasil”. Foi a partir
dessa época que se sucederam as inúmeras aparições na
imprensa. A bela passou a gerar admiração e curiosidade,
além de ser presença frequente em programas de TV,
entrevistas, revistas de fofoca e habituée no carnaval e não
apenas no Gala Gay, mas também nos desfiles da Sapucaí.
Pode-se dizer que o auge do sucesso de Roberta Close
aconteceu quando a revista Playboy estampou-a na capa de
sua edição de maio de 1984. Pela primeira vez, na história da
publicação, a principal atração não era uma mulher
cisgênero, mas uma mulher transgênero. Roberta voltou a
aparecer na Playboy, em março de 1990, na edição Nº 176
(que trazia Luma de Oliveira como modelo de capa), desta vez
completamente nua, mostrando o seu corpo após a cirurgia
de redesignação sexual, realizada em Londres, no ano
anterior.
O desfile é na avenida

Com o mesmo slogan da cobertura que a TV Tupi fez em


1980, a Bandeirantes anunciou para 1981 o seu “Carnaval
Cobertura Total”. O canal transmitiu ao vivo e durante mais
de doze horas, diretamente da Marquês de Sapucaí, as
escolas de samba do Grupo 1-A (Grupo Especial) do Rio no
domingo de carnaval, dia 1º de março, para todo o país. Pela
ordem, com seus respectivos enredos:

1 Unidos da Tijuca (“Macobeba - O que dá pra rir, dá pra


chorar”)
2 Unidos de Vila Isabel (“Dos jardins do Éden à era de
Aquarius”)
3 Estação Primeira de Mangueira (“De Nonô a JK”)
4 Império Serrano (“Na terra do pau-brasil, nem tudo
Caminha viu”)
5 Beija-Flor de Nilópolis (“Carnaval do Brasil, a oitava das
sete maravilhas do mundo”)
6 Portela (“Das maravilhas do mar, fez-se o esplendor de
uma noite”)
7 Acadêmicos do Salgueiro (“Rio de Janeiro”)
8 União da Ilha do Governador (“1910, burro na cabeça”)
9 Imperatriz Leopoldinense (“O teu cabelo não nega”)
10 Mocidade Independente de Padre Miguel (“Abram alas
para a folia, aí vem a Mocidade”).

A Band transmitiu os desfiles do Grupo Especial com


uma equipe para lá de enxuta, com apenas dois
apresentadores e a participação de uma especialista para
tecer os comentários: Maria Augusta, professora da Escola de
Belas Artes do Rio de Janeiro e ex-carnavalesca da União da
Ilha do Governador, escola-sensação nos anos de 1977, 1978
e 1979, era apresentada como “analista”. Aliás, Maria
Augusta passou o tempo todo tecendo críticas pesadas aos
desfiles das escolas, em especial à apresentação da Beija-
Flor.
A ancoragem da transmissão foi do ator e apresentador
Murilo Nery (1923 - 2001) junto com um jovem narrador
esportivo que vinha se destacando desde o ano anterior,
quando a Band comprou os direitos de transmissão das
provas de Fórmula 1. Seu nome: Carlos Eduardo dos Santos
Galvão Bueno. E até que o rapaz se saiu bem: enquanto
Murilo e Maria Augusta estavam na cabine no centro da
pista, Galvão ficava em uma cabine no início do desfile, junto
à concentração, com uma narração sóbria, abastecendo os
telespectadores de informações e chamando as reportagens
para entrarem no ar.
Carismático, Galvão Bueno foi contratado pela Rede
Globo poucos meses depois do carnaval. Seu primeiro
trabalho na Vênus Platinada foi a narração da partida entre o
Flamengo e Club Jorge Wilstermann, da Bolívia, pela Copa
Libertadores da América, no dia 13 de outubro de 1981. O
locutor esportivo viria novamente a emprestar sua voz a uma
transmissão carnavalesca no ano de 1985, já pela Globo.
A transmissão da Bandeirantes em 1981 pecou por não
ter uma boa direção de imagens. Cortes abruptos, exibição
das imagens por poucos segundos, planos fechados (ou no
máximo, médios), imagens se repetindo, sem se ter uma
noção do todo da escola. Enquadramento dos fundos dos
carros e os destaques e componentes sendo mostrados de
costas.
Assim como a Globo, a Band também exibia, antes de
cada desfile, uma pequena reportagem com a história da
agremiação, entrevista com dirigentes, carnavalescos e
destaques, além de abordar o tema-enredo e mostrar o
samba-enredo para aquele ano na voz do intérprete. Quando
a escola ainda não arrancava ou se demorava muito no setor
de concentração, a emissora paulista mostrava imagens do
desfile da escola do ano anterior, o que, de certa, forma
provocava uma confusão para quem sintonizasse o canal
naquele momento.

Samba da Garoa

Nos intervalos dos desfiles da Sapucaí – que em função


dos costumeiros atrasos poderia demorar até uma hora entre
uma escola e outra – a Band também exibiu, ao vivo, flashes
generosos dos desfiles do Grupo Especial de São Paulo
(naquela época chamado de Grupo 1), e que eram realizados
na noite de domingo de carnaval, na Avenida Tiradentes. Pela
ordem, se apresentaram, no Carnaval de 1981:

1 Renascença da Lapa (“Viva Nova Canaã”)


2 Cabeções de Vila Prudente (“Do Iorubá ao Reino de Oyó”)
3 Pérola Negra (“Quem não pode, pode. No 1º de Abril ou A
visita do Reino de Mentira ao País da Verdade”)
4 Camisa Verde e Branco (“Amor, Sublime Amor”)
5 Barroca Zona Sul (“Uma hora na Amazônia”)
6 Rosas de Ouro (“Do caminho do mar à Ilha do Tesouro”)
7 Vai-Vai (“Acredite se quiser”)
8 Imperador do Ipiranga (“Acaiaca - A Sacerdotisa do Sol”)
9 Nenê de Vila Matilde (“Axé - Sonho de Candeia”)
10 Mocidade Alegre (“Visungo, Canto de Riqueza”)
A narração dos desfiles de São Paulo ficou a cargo de
Edson Garcia, com comentários do cantor e intérprete
Denílson Benevides (1945 – 2017), artista que fez parte da
formação do grupo Nilo Amaro e Os Cantores de Ébano e que
foi puxador de samba nas escolas de samba Vai-Vai,
Renascença da Lapa e Mocidade Alegre.
No dia seguinte (2 de março), a Bandeirantes transmitiu
somente para o Rio de Janeiro “a partir das 9:15 da noite”,
segundo chamada durante os intervalos da programação, as
escolas do Grupo 1-B (Segundo Grupo). Pela ordem:

1 União de Jacarepaguá (“Mauricéia em noite de festa”)


2 Acadêmicos de Santa Cruz (“Amazonas, verde que te
quero verde”)
3 Caprichosos de Pilares (“Amor, sublime amor”)
4 Unidos do Cabuçu (“De Daomé a São Luis, a pureza Mina
Jêje”)
5 Arranco do Engenho de Dentro (“Ou isto ou aquilo”)
6 Império da Tijuca (“Cataratas do Iguaçu”)
7 Arrastão de Cascadura (“Rudá, o deus do amor”)
8 Unidos de Bangu (“É hoje, a história do carnaval”)
9 Lins Imperial (“Meu padim Pade Ciço”)
10 Unidos de Lucas (“O imperador de Parada de Lucas”)
11 Unidos de São Carlos (“Quem diria, da monarquia à
boemia ao esplendor da Praça Tiradentes”)
12 Império do Marangá (“Dos balões aos aviões”)

Na segunda de Carnaval e na terça-feira Gorda (dias 2 e


3 de março) o restante da rede acompanhou programação
especial com flashes da folia em todo o Brasil, concursos de
fantasias e bailes carnavalescos. No ano seguinte, a cobertura
de carnaval da Band seria mais acanhada em comparação
com os dois anos anteriores.
O período pré-carnavalesco de 1982 parecia promissor e
gerou expectativa com a estreia do programa de João Roberto
Kelly – agora já rebatizado com o nome do compositor e
apresentador – que era exibido aos sábados, por volta das 14
horas. O antigo Rio Dá Samba retornava à grade de
programação após a virada do ano.
No entanto, reformulações acordadas com a direção da
emissora, tornaram o programa mais calcado em executar
músicas que estavam nas paradas de sucesso (fosse samba
ou não), reduzindo consideravelmente o espaço para o
segmento carnavalesco. Não por acaso, o último Programa
João Roberto Kelly pela Rede Bandeirantes foi ao ar no dia 20
de fevereiro de 1982, Sábado de Carnaval, e não mais
retornou. A cobertura de carnaval da emissora se limitou a
inserts nos noticiosos jornalísticos, apresentando o melhor da
folia de norte a sul do país.
Para a cobertura de 1983, a batida carnavalesca da
Band foi diferente. A Globo cada vez mais desenvolvia uma
atraente e intensa programação de carnaval a partir dos
principais telejornais da emissora, passando por programas
especiais e até mesmo inserções nas novelas. A cada semana
que o carnaval se aproximava a programação global ganhava
mais recheio. Com isso, a emissora da família Saad resolveu
apostar numa cobertura com bailes, concursos de fantasias e
nos desfiles, escalar o que havia de melhor entre os
especialistas de carnaval.
Quase toda equipe que cobriu a maratona de carnaval
pela TV Educativa do Rio de Janeiro no ano anterior acabou
migrando para a Band. Analistas do quilate de Fernando
Pamplona, Albino Pinheiro, além da remanescente Maria
Augusta. As reportagens ficaram a cargo de Cristina Rego
Monteiro, Sandra Moreira e Hilton Abi-Rihan.
O SBT entra na folia

A tevê do Homem do Baú também deu seus primeiros


gritos de carnaval praticamente logo depois de inaugurada.
Em 19 de agosto de 1981, cinco anos após a fundação da
TVS Rio de Janeiro, Silvio Santos inaugura o Sistema
Brasileiro de Televisão (SBT), formado pelas emissoras de São
Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Belém, sendo que estas
duas últimas só entraram no ar posteriormente. A
denominação TVS era usada apenas quando as emissoras
locais não estavam em rede, do contrário usavam a marca
SBT.
A praça de São Paulo passa a ser a sede e a fonte
geradora da programação da rede. De 1981 a 1996 o SBT era
localizado na cidade de São Paulo, na Rua Dona Santa
Veloso, 575, no distrito de Vila Guilherme (antes sede da TV
Excelsior e atualmente Igreja Bíblica da Paz).
O SBT dos primeiros tempos aproveitou muitos artistas,
emissoras próprias, afiliadas e programas da Tupi, tanto para
cumprir acordos trabalhistas com os antigos funcionários da
rede falida quanto pela necessidade de iniciar suas operações
já com um conjunto de programas estruturado. Com atrações
populares, especialmente os programas de auditório
comandados por Gugu Liberato, Raul Gil, Moacyr Franco, J.
Silvestre, Flávio Cavalcanti e pelo próprio Silvio Santos, o
SBT caiu no gosto do telespectador de renda mais baixa.
Na linha infantil, o grande sucesso era o programa do
palhaço Bozo. Nessa época o canal começou a exibição de
telenovelas, tanto sucessos estrangeiros, como “Los ricos
también lloran” (Os Ricos Também Choram) em 1982,
“Cristina Bazán” em 1983 e “Chispita” em 1984, quanto
produções próprias que seguiriam uma linha semelhante.
E desde o princípio o SBT também deu privilégio ao
carnaval. Em 13 de janeiro de 1982, estreava o programa “A
Maravilhosa Música Brasileira”, no qual mostrava os sambas-
enredos de São Paulo e Rio de Janeiro com as presenças das
escolas de samba para o Carnaval de 1982. O programa era
conduzido pelo produtor cultural, empresário e apresentador
de TV, Oswaldo Sargentelli, com suas tradicionais mulatas da
atração, dentre elas Solange Couto, que se tornaria
nacionalmente conhecida muito tempo depois como atriz.
Em 1983, o SBT cobriu o seu primeiro carnaval. No dia
12 de fevereiro, a emissora iniciava a transmissão de “Os
Grandes Bailes do Carnaval 83”, com duração de quatro
horas, durante as madrugadas do Carnaval, com os melhores
salões da folia tanto no Rio de Janeiro quanto em São Paulo.
Os bailes do Palmeiras, Clube Arakan e Juventus, em São
Paulo, e Vermelho e Preto/Flamengo e Sírio-Libanês, no Rio
de Janeiro, contavam com unidades fixas de transmissão.
A TV do “Patrão” também cobriu os desfiles do carnaval
paulistano nos anos de 1983 e 1984. A logomarca da
emissora também estava estampada na capa dos LP’s com os
sambas de enredo do Grupo 1 nestes dois anos.
Em 1983, a ordem dos desfiles das escolas e seus
respectivos enredos no Grupo 1, na Avenida Tiradentes era:

1 Pérola Negra (“Português, Papagaio e Cia”)


2 Flor da Vila Dalila (“Exaltação ao Criador”)
3 Nenê de Vila Matilde (“Gosto é gosto e não se discute”)
4 Imperador do Ipiranga (“Ymembuy”)
5 Unidos do Peruche (“O criador de ilusões”)
6 Mocidade Alegre (“Ilusão do Fantástico Eldorado”)
7 Rosas de Ouro (“Nostalgia”)
8 Camisa Verde e Branco (“Verde que te quero verde”)
9 Barroca Zona Sul (“75 anos de imigração japonesa ou
Reino do Sol Nascente”)
10 Vai-Vai (“Se a moda pega”)

Em 1984 o SBT deu bis e transmitiu novamente o


desfile das escolas do Grupo 1. Uma pena que os desfiles de
1983 e 1984 de São Paulo, que foram transmitidos ao vivo
pelo SBT (assim como boa parte do acervo da emissora), se
perderam nas enchentes da Vila Guilherme.
O SBT ficaria à margem da folia por alguns anos,
retornando com mais força duas décadas depois quando o
animador Silvio Santos fora enredo da GRES Tradição, em
2001, e quando passou a ter uma cobertura efetiva de
carnaval com o SBT Folia. Mas isso é assunto para mais
adiante...

TV CULTURA

Nos anos 80, a TV Cultura redescobria o carnaval,


sendo uma das primeiras emissoras a transmitir os desfiles
paulistanos.
Com uma ampla cobertura a Cultura gravou toda a
folia, que acontecia na Avenida São João, garantindo à
emissora um caráter comercial exclusivo para transmitir os
carnavais de São Paulo. Isso tudo dez anos antes da
construção do sambódromo do Anhembi!

GLOBO

A TV Globo entrou a década de 80 cada vez mais


exuberante em sua programação carnavalesca. Desde o
período pré-carnaval a emissora dava um carinho especial
para reportagens abordando a folia em todo o território
nacional.
Nesta época, a cobertura do carnaval na Globo se
estabeleceu de três formas: com flashes durante a
programação; entradas ao vivo nos telejornais da emissora e
transmissões ao vivo nos fins de noite, nas madrugadas e no
começo da manhã, dos desfiles das escolas de samba do Rio
de Janeiro e São Paulo, além das apurações destes dois
desfiles. Durante as transmissões nos períodos citados, havia
ainda entradas ao vivo ou gravadas de outras cidades, como
Salvador (BA), Recife e Olinda (PE).

Programação Normal e o Melhor do Carnaval

O esquema de cobertura do carnaval da “Vênus


Platinada” iniciado nos anos 70 é redefinido pela valoração
que um determinado público considera interessante em “ver”,
o que estaria na contrapartida da racionalização do tempo da
programação dedicada ao festejo. Ora, a Globo é a maior rede
de tevê do Brasil e emissora líder de audiência no segmento
televisivo – meio de comunicação de massa, que leva em
consideração um público grande, anônima e heterogênea.
Para a emissora, o carnaval é tratado como “entretenimento”,
não como jornalismo, daí o porquê de a cobertura
carnavalesca estar vinculada à Central Globo de Produção, e
não à Central Globo de Jornalismo.
O mais significativo, no entanto, é a sugestão quanto à
existência de um Carnaval organizado capaz de compactuar
um mesmo padrão estético chave à proposta da emissora,
segundo o imperativo do extremado cuidado simultâneo com
o áudio e a imagem – o chamado “padrão Globo de
qualidade”, um conjunto de parâmetros que passa a orientar
a programação da empresa no sentido de oferecer imagens
homogêneas e vistosas. Assim, é apresentado o binômio
plano geral & detalhes como a novidade técnica introduzida
para cobrir os desfiles de fantasias de luxo, mas sobretudo da
transmissão do grande Desfile de Escolas de Samba,
destacados por sua crescente suntuosidade.
Em 1976, a Globo montou uma equipe de 232
profissionais para transmitir o espetáculo, contando com dez
câmeras, das quais duas eram portáteis e apoiadas por dois
caminhões de externa (espécie de pequenos estúdios de TV,
dotados de equipamentos para emitir as imagens produzidas)
que estavam estacionados nas proximidades da pista de
desfile. O objetivo do emprego de todo esse aparato era
mostrar os detalhes e planos gerais do espetáculo. Em 1977 a
Globo lança o slogan que por mais de uma década definiu
sua cobertura de carnaval: “programação normal e o melhor
do carnaval”.
É clara a sugestão no slogan quanto ao fato de o Desfile
interagir organicamente com a programação televisual, tanto
no que se refere à unidade estética e expressiva como a
concatenação com os objetivos mercadológicos da empresa –
o padrão Globo de qualidade obedeceu ao princípio de
eficiência técnico-burocrática e à consolidação de uma
posição de destaque no mercado publicitário nacional.
Nos carnavais de 1980 a 1983, a programação da TV
Globo consistia na cobertura dos desfiles do Grupo Especial
(que aconteciam no Domingo de Carnaval), que começava por
volta das 20 horas, logo após o Fantástico, que tinha sua
edição reduzida dos 120 minutos originais para 30 minutos.
A emissora exibia antes da apresentação de cada escola, uma
reportagem com entrevistas com dirigentes, carnavalescos,
compositores e baluartes, mesclando cenas gravadas no
barracão durante a construção das alegorias ou dos ateliers,
durante a confecção das fantasias.
A seguir, era apresentado um clipe no qual aparecia
somente a imagem do puxador da respectiva escola cantando
o samba-enredo nos estúdios da TV Globo. O cantor aparecia
envolto em um efeito de imagem em forma de círculo e com
enquadramento de plano fechado/close-up, enquanto ao
fundo transcorriam imagens em tempo real da entrada da
escola, com acompanhamento musical – os músicos não
apareciam em cena.
A duração do clipe oscilava de acordo com o tempo que
se tinha livre até a entrada da escola na passarela. Variava de
míseros 47 segundos (como foi o caso de David Corrêa e o
samba da Portela de 1980) até cinco minutos ou três
passadas inteiras do samba (no caso de Roberto
Ribeiro/Império Serrano em 1980, e Sobrinho/Unidos da
Tijuca em 1981). Essa prática de exibir clipes (depois
chamados de “vinhetas”) do samba-enredo antes da
apresentação propriamente dita da escola perdurou na TV
Globo até o carnaval de 1988.

Reprise dos desfiles

Além da transmissão ao vivo dos desfiles, a Globo


também instituiu a reprise dos melhores momentos das
apresentações das escolas no dia seguinte, de forma
compacta em um programa com duas horas de duração.
Assim, os desfiles do Grupo Especial, que aconteciam na
noite de Domingo, ganhavam uma reprise na tarde de
Segunda, às 14h30.
Os desfiles das escolas da segunda divisão (também
nominada Segundo Grupo ou Grupo 1-B) que antes da
inauguração do Sambódromo e da divisão dos desfiles do
Grupo Especial em dois dias ocorriam nas noites de Segunda,
poderiam também ser revistos no compacto exibido na tarde
de Terça-Feira, igualmente por volta das 14h30, entre os
programas “Vale a Pena Ver de Novo” (reprise de novelas
antigas do acervo da Globo) e a “Sessão Aventura” (exibição
de filmes com censura livre à tarde). A saber, a Globo
transmitia ao vivo as escolas do Segundo Grupo apenas para
o Rio de Janeiro para, no dia seguinte, exibir o compacto em
rede nacional. E assim foi em 1979, 1980 e 1983.

Qualidade nas transmissões ao vivo

Gradativamente, a TV Globo foi aperfeiçoando o modo de


transmissão. Se nos anos 70, a emissora mostrava o início da
escola ainda sem a sonorização completa, com as primeiras
alas cantando o samba sem escutar a voz do puxador e sem
ouvir o acompanhamento da bateria (que estavam ainda no
meio da escola), nos anos 80, houve o início da correção
desses detalhes.
A transmissão teve um ganho expressivo de qualidade,
pois o som passou a ser captado diretamente da mesa de
sonorização oficial da avenida. A Globo também sempre
priorizou exibir os desfiles de cada escola na íntegra, não
havendo interrupção para propagandas comerciais enquanto
a agremiação estivesse na avenida. Os anúncios eram (e até
hoje são) mostrados nos intervalos das apresentações entre
uma escola e outra.
Até a década de 80 o espaço de tempo entre uma escola
terminar seu desfile e a seguinte iniciar a sua apresentação
chegava a durar 30 minutos, pois não havia tanto rigor com a
cronometragem e perda de pontos administrativos. Assim,
nos intervalos entre uma escola de samba e outra, a emissora
aproveitava para mostrar como estava o carnaval em vários
pontos do país, exibindo flashes da festa em Salvador,
Olinda, Recife, São Paulo e em alguns bailes de salão.
Como o tempo de desfile de cada escola era de 90
minutos, a Globo começou a espalhar repórteres na
concentração para ir captando os primeiros momentos da
escola entrando na avenida, já que a transmissão
propriamente dita, “ala a ala” iniciava quando a agremiação
já tinha em torno de 20 minutos de desfile.
Os jornalistas passaram então a entrevistar não só os
componentes da escola que adentravam a passarela, mas
políticos, celebridades (do samba ou não), além do público
presente nas arquibancadas. No entanto, nessa época, a
Globo ainda não mostrava os intérpretes dando o grito de
guerra e nem as primeiras passadas do samba com o “pedal”
(o ritmista que faz a marcação do samba apenas com o surdo
no andamento certo para servir de base para os intérpretes e
todos os outros ritmistas, antes da bateria “virar” ou “subir”).
A exibição do grito de guerra do intérprete passou a se dar a
partir das transmissões da TV Manchete.
Após alguns minutos de entrevistas na concentração e à
beira da pista, era exibida a reportagem previamente gravada
sobre os preparativos da escola e o clipe com o intérprete
mostrando o samba em até três passadas completas. O
método ajudou a transmissão a ganhar dinamismo, pois,
após tudo isso, os âncoras e os comentaristas já podiam
transmitir o desfile quando a escola já se encontrasse quase
na metade de seu percurso. Ao término do desfile, o Júri da
Globo tecia suas análises, enquanto eram reprisadas imagens
da passagem da escola.
Falando sobre esse exacerbado tempo de desfile, quem
iniciou a moralização dos horários das apresentações das
escolas de samba foi o jornalista e produtor Antônio José
Lemos de Carvalho, mais conhecido como Antônio Lemos
(1931 - 2011).
Lemos (que trabalhava na Super Rádio Tupi, foi diretor
do Império Serrano e anos depois chegou à presidência da
verde e branco da Serrinha) foi nomeado pela Riotur em 1980
como coordenador dos Desfiles das Escolas de Samba. Foi o
profissional que mais tempo permaneceu no cargo (até 1990).
Antes de sua coordenação, os desfiles na Sapucaí não tinham
horário para começar e muito menos para acabar.
Essa disciplina militar no cumprimento de horários
estabelecida por Antônio Lemos submeteu controle aos
desfiles e colaborou com as tevês, que passaram a ter uma
definição clara quanto à duração das transmissões na
avenida.

Júri oficioso do carnaval da Globo (1980-1983)

Os âncoras da transmissão da TV Globo entre 1981 e


1983 seguiam sendo Hilton Gomes e Léo Batista, que
ganharam a companhia do ator, escritor e produtor de
espetáculos Haroldo Costa, que destacava “os pontos altos”
de cada escola, fazendo uma visão geral do desfile. O
jornalista Luiz Lobo também ancorava os desfiles,
principalmente na fase em que a Globo passou a destacar a
escola durante a concentração.
O júri extraoficial, ou o “Júri da Globo” seguia sendo
uma das atrações da transmissão, devido a algumas posições
polêmicas e controversas dos comentaristas, por vezes,
“pesando a caneta” na hora de atribuir as notas. Os “jurados”
do Carnaval da Globo eram:
Carlos Alfredo de Macedo Miranda (1950-2008, jornalista e
produtor audiovisual), que atribuía notas para Enredo;
Dalal Achcar, bailarina, dava notas para os quesitos
Evolução e Mestre-Sala e Porta-Bandeira.
Guio de Moraes, maestro, compositor e arranjador, que
“julgava” Bateria e Conjunto.
Mauro Monteiro (cenógrafo, na época, funcionário da TV
Globo), que comentava os quesitos Fantasia e Alegorias.
Ricardo Cravo Albin, jornalista e musicólogo, que analisava
Harmonia.
Sérgio Cabral (jornalista, escritor e compositor), que
analisava os quesitos Samba-Enredo e Comissão de Frente.

TV EDUCATIVA

Pode-se afirmar, sem medo de errar, que, dentre todas


as emissoras de televisão no país, a que fez a cobertura mais
completa e ousada de carnaval no início da década de 80 foi a
TV Educativa do Rio de Janeiro (TVE-RJ).
Inaugurada no dia 5 de novembro de 1975, a emissora
tinha cunho educativo e público, e era mantida pela
Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto,
fundação educativa que também controla, até hoje, a Rádio
MEC. A TVE foi idealizada por Gilson Amado (1908 - 1979),
professor e radialista que se destacou por ser um dos
pioneiros em usar a televisão e o rádio como instrumentos
pedagógicos com fins educativos de âmbito nacional no
Brasil.
No dia 3 de dezembro de 1979, entrou no ar a Rede de
Televisão Educativa, composta por 20 emissoras. A
programação sempre teve cunho cultural, com programas
musicais e que tinham a preocupação com a memória
nacional. A grade também abrigava seriados da
teledramaturgia infantil, séries de conteúdo pedagógico,
telecursos e programas que ensinavam o idioma inglês
através de músicas.
Desde então se observou uma predominância de
programas culturais e informativos, aumentando o
distanciamento do objetivo primordial que era a educação à
distância. Com o falecimento de Gilson Amado, o então
ministro da Educação, Eduardo Portela (1932 - 2017),
nomeou Emanuel Carneiro Leão para a direção da TVE, que
tornou a programação ainda mais eclética e voltada para o
grande público.
Dentro deste ambiente cultural (e sediada na capital
mundial do carnaval), para a TVE-RJ passar a transmitir
carnaval foi um pulo. Professor da Escola de Belas Artes e
cenógrafo do Theatro Municipal do Rio, Fernando Pamplona
decidiu abandonar a função de carnavalesco após o
desastrado e sabotado desfile do Salgueiro de 1978. Prometeu
a si mesmo e à esposa, Zeni, que jamais seria carnavalesco
num desfile.
Nascido no Rio, mas tendo morado desde os quatro anos
de idade com a família na cidade de Xapuri, no Acre, onde
cursou o ensino primário, Pamplona já era funcionário da
TVE-RJ desde o início das operações da emissora em 1975.
Anos antes, o carnavalesco produziu João da Silva, uma
telenovela instrutiva, que misturava teledramaturgia com
curso supletivo de primeiro grau (hoje ensino fundamental),
exibida simultaneamente pela TV Rio, TV Tupi, TV Cultura,
TVE e pela Rede Globo. A telenovela foi reconhecida,
ganhando o Prêmio Japão, o maior troféu internacional de
radiodifusão educativa.
Fernando Pamplona, que iniciou no carnaval no
Salgueiro no final da década de 50 em 14 anos ajudou a
vermelho e branco a levantar cinco títulos (1960, 1963, 1965,
1969 e 1971). Afastou-se da escola após o carnaval de 1972,
quando o Salgueiro apresentou “Minha Madrinha, Mangueira
Querida”, enredo em que resolveu prestar homenagem à
Estação Primeira de Mangueira, escola madrinha do
Salgueiro. O desfile não foi muito feliz, e o Salgueiro ficou em
quinto lugar. Após um período em que Maria Augusta (1973),
Joãosinho Trinta (1974 e 1975) e Edmundo Braga (1976)
foram os carnavalescos da escola, Pamplona retornou ao Sal
para o carnaval de 1977, com um enredo sobre a cozinha
brasileira.
No ano seguinte, a então emergente Beija-Flor já havia
ingressado definitivamente no rol das grandes escolas, com o
bicampeonato de 1976-77 comandado por Joãosinho, aluno
mais aplicado de Pamplona. A escola de Nilópolis era
favoritíssima ao tri. J30, já alçado à condição de gênio do
carnaval, lançou uma frase que se tornou célebre: “quem
gosta de miséria é intelectual, pobre gosta é de luxo”.
A Beija-Flor foi uma das primeiras escolas a anunciar o
enredo para o carnaval de 1978: “A Criação do Mundo na
Tradição Nagô”, que contaria o mito da formação do universo
sob a ótica da cultura iorubá. Já o Salgueiro passava por
uma grave crise política e financeira, que se refletiram
naquele mesmo desfile de 1978. Mesmo assim, para quebrar
o jejum de dois anos sem campeonato, a vermelho e branco
resolveu também apostar na tradição de seus vitoriosos
carnavais afro (como “Quilombo dos Palmares”, em 1960, e
“Bahia de Todos os Deuses”, de 1969) e também no talento de
Fernando Pamplona, que havia sido mestre do próprio J30.
Como uma espécie de duelo particular entre os dois
carnavalescos, Pamplona resolve que faria o mesmo enredo
anunciado pela coirmã: surge então “Do Iorubá à Luz, a
Aurora dos Deuses”.
A chuva, que caiu poucas horas antes, danificou as
alegorias da escola na concentração. Homens armados teriam
ameaçado o carnavalesco Fernando Pamplona e seus
auxiliares, responsáveis pelos carros: o jovem Renato Lage e
Stössel Cândido. Os profissionais foram impedidos de
consertarem os danos, o que gerou a desconfiança de
sabotagem contra a escola. O Salgueiro atrasou o começo do
desfile e havia a expectativa de que a escola não levasse os
cinco pontos de bônus pela concentração.
Com 147 pontos e obtendo o sexto lugar, o Salgueiro por
pouco não foi rebaixado. A sétima colocada, Império Serrano,
com 139, juntamente com Unidos de Vila Isabel (8ª), Arrastão
de Cascadura (9ª) e Arranco do Engenho de Dentro (10ª)
caíram para o Segundo Grupo.
Como uma espécie de prêmio de consolação, a
Acadêmicos do Salgueiro arrebatou o Estandarte de Ouro de
Samba-Enredo, magistralmente composto por Renato de
Verdade. Depois da sabotagem ao desfile do Sal, Fernando
Pamplona prometeu a si mesmo e à esposa Zeni que jamais
seria carnavalesco num desfile. Cumpriu, embora tenha
escrito posteriormente outros enredos para o Império
Serrano, como, por exemplo, “Bumbum Paticumbum
Prugurundum” (1982). Após ter se aposentado como
carnavalesco, Pamplona iniciou um inesquecível trabalho
como comentarista nas coberturas de TV, como na TVE
(1980-1982), TV Bandeirantes (1983) e, principalmente na TV
Manchete (1984-1997).

Carnaval 80 na TVE – 80 horas no ar

Após ter se aposentado como carnavalesco, Fernando


Pamplona iniciou um inesquecível trabalho como
comentarista nas coberturas de TV. Valendo-se da condição
de servidor da TVE, apresentou um ousadíssimo projeto para
a emissora, no qual previa que a mesma transmitiria 80
horas ininterruptas de programação carnavalesca durante a
folia de 1980.
Em seu livro Escolas de Samba do Rio de Janeiro, Sérgio
Cabral dedica um capítulo a uma entrevista com Pamplona,
no qual o autor responsabiliza o salgueirense pela melhor
cobertura já feita no carnaval brasileiro por uma emissora de
tevê, quando Pamplona (que também já havia trabalhado na
TV Globo) comandou a equipe da TVE-RJ. Ao que o cenógrafo
e produtor respondeu:
- Foi em 1980. O slogan da TV Globo era “Programação
Normal e o Melhor do Carnaval”. Ou seja: interessava para a Globo
apenas o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro.
Apresentava também, por razões contratuais, o desfile de fantasia.
Aí fizemos aquela loucura de botar a TVE oitenta horas no ar,
mostrando o carnaval de todo o Brasil.
Além de Pamplona, participaram daquela transmissão:
Albino Pinheiro (1934 - 1999), Amaury Monteiro, José Carlos
Rego (1935 – 2006), José Luiz Furtado, Luís Lobo, Mister Eco
(apelido do jornalista baiano Eustórgio Antônio de Carvalho
Júnior, polêmico jurado do Programa Flávio Cavalcanti na TV
Tupi na década de 70), Sérgio Cabral, Valdinar Ranulfo, entre
outros.
Pamplona relatou no livro de Cabral que a TVE venceu a
Globo por “quarenta a vinte no Ibope”. A cobertura educativa
abordou não só as escolas do grupo especial, mas também do
segundo grupo, além de dar um espaço imenso ao carnaval
de todo o país, do Amazonas ao Rio Grande do Sul. “Depois
do carnaval, os jornais dedicaram páginas inteiras pra gente”,
frisou o ex-carnavalesco.
A transmissão da TVE em termos de direção de imagens
era menos caótica do que a da Band, por exemplo, mas ainda
longe do profissionalismo perfeccionista e, às vezes, um
pouco frio da Globo. Não havia efeitos especiais e outros
requintes na cobertura educativa, que se fundamentava
principalmente nas entrevistas pouco antes das escolas
entrarem na passarela e nas análises e no entendimento dos
especialistas. Era basicamente, uma roda de conversa dos
comentaristas com as imagens das escolas passando pela
tela.
Dentro das oitenta horas de cobertura de carnaval, a
TVE transmitiu ao vivo o desfile do Grupo Especial (que na
época era chamado de Grupo 1-A), no Domingo, e também do
Grupo 1-B, na Segunda-Feira. As reapresentações dos
desfiles das duas categorias foram exibidas nas tardes de
segunda-feira e da Terça-Feira Gorda, respectivamente.
Durante o dia, ainda reapresentava os melhores momentos
dos Desfiles de Carnaval por todo o Brasil. À noite, a partir
das 19 horas, iniciava a cobertura ao vivo dos desfiles de
carnaval do Rio de Janeiro, São Paulo, Niterói, Porto Alegre,
etc.
No ano seguinte, a TVE repetiu a operação. Para o
carnaval de 1981, foram reservadas oitenta e uma horas
dedicadas à cobertura da folia. Novamente Fernando
Pamplona estava no comando da transmissão, juntamente
com seu belo time de analistas, com exceção de Sérgio
Cabral, que havia sido contratado para ser jurado extraoficial
da TV Globo.
Em 1982, a ousadia educativa avançava: a duração da
cobertura da folia atingia oitenta e duas horas (três dias e
meio) de transmissões ininterruptas. O slogan da emissora
era: “TVE 82, o melhor da televisão”. Os trabalhos foram
abertos já na noite de sexta-feira, dia 15 de fevereiro, com
musicais dedicados às marchinhas e aos sambas dos antigos
carnavais.
No sábado, dia 16, a TVE apresentou programas
especiais intercalados com boletins sobre o carnaval do país.
No dia seguinte, Domingo, dia 17, a TVE abriu as
transmissões ao vivo da elite do carnaval carioca, o Grupo 1-
A, às 18 horas, se estendendo até o final da manhã do outro
dia. Pela ordem: Vila Isabel, Unidos de São Carlos, União da
Ilha, Mangueira, Salgueiro, Beija-Flor, Unidos da Tijuca,
Portela, Mocidade Independente, Imperatriz Leopoldinense,
Império da Tijuca e Império Serrano.
O desfile do Grupo 1-B, na Segunda de Carnaval, dia
18, também teve início às 18 horas, diretamente da Marquês
de Sapucaí, terminando por volta das nove da manhã do dia
seguinte. Pela ordem: União de Jacarepaguá, Unidos da
Ponte, Unidos de Lucas, Lins Imperial, Unidos de Bangu,
Acadêmicos de Santa Cruz, Império do Marangá, Arrastão de
Cascadura, Unidos do Cabuçu, Arranco do Engenho de
Dentro, Em Cima da Hora e Caprichosos de Pilares.
Uma segunda equipe também estava presente na
Avenida Rio Branco, a partir das 18h, para cobrir os desfiles
das escolas do Grupo 2-B. Pela ordem: Unidos de Padre
Miguel, União de Rocha Miranda, Império de Campo Grande,
Unidos da Vila Santa Tereza, Unidos da Zona Sul,
Acadêmicos do Cachambi, Unidos de Cosmos e União de Vaz
Lobo.
Para fechar o carnaval carioca de 1982, na Terça-Feira
Gorda, dia 19 de fevereiro, a produção jornalística da
emissora novamente dividiu a equipe em duas: a primeira
acompanhou desde as 18 horas, na Sapucaí, o desfile dos
blocos carnavalescos. A outra, no mesmo horário, só que na
Avenida Rio Branco, cobriu a apresentação dos ranchos.
A transmissão ousada da TV Educativa, que foi uma
verdadeira maratona carnavalesca (considerada, na época,
uma loucura sem precedentes), só teria paralelo dois anos
depois, com o primeiro carnaval transmitido por uma
emissora surgida no bairro da Glória, no Rio de Janeiro.

TUPI
Narração: José Cunha e Osmar Frazão

Reportagens: Jorge Perlingeiro

BANDEIRANTES
Narração: Galvão Bueno e Murilo Nery (RJ) e Edson Garcia
(SP).
Apresentadores: Bolinha, Chacrinha e João Roberto Kelly.
Comentários: Albino Pinheiro, Fernando Pamplona e Maria
Augusta Rodrigues (RJ) e Denílson Benevides (SP).
Reportagens: Cristina Prochaska, Cristina Rego Monteiro,
Emílio Surita, Hilton Abi-Rihan, Monique Evans, Otávio Mesquita,
Rogéria, Sandra Annenberg e Sandra Moreira.

GLOBO
Narração: Hilton Gomes, Léo Batista e Luiz Lobo.
Comentários: Carlos Alfredo de Macedo Miranda, Dalal
Achcar, Guio de Moraes, Haroldo Costa, Mauro Monteiro, Ricardo
Cravo Albin e Sérgio Cabral.
Reportagens: Carlos Mendes, Leila Cordeiro, Luiz Eduardo
Lobo, Maria Regina Martinez, Mario Jorge Guimarães e Ricardo
Pereira.

TV EDUCATIVA
Narração: Fernando Pamplona, Luiz Lobo.
Comentários: Albino Pinheiro, Mister Eco, Sérgio Cabral e
Valdinar Ranulfo.

Reportagens: Amaury Monteiro, José Carlos Rego e José Luiz


Furtado.
CAPÍTULO 4 – ACONTECEU,
VIROU MANCHETE (ANOS 80 – 2ª
PARTE)
Nasce a TV Manchete; a polêmica construção do
Sambódromo e o carnaval de 1984; primeiro round Manchete
versus Globo; exclusividade da Bloch e boicote global da folia;
surge o “pool” entre as emissoras que transmitem o carnaval

Aconteceu, virou Manchete por aí


É a Cabuçu que homenageia
O menino de Kiev na Sapucaí (...)
Oh senhor Adolpho Bloch
Ainda ajuda a cultura nacional
Com a imprensa, falada e televisada
Mostra os costumes desta terra tão amada

“Aconteceu, virou Manchete” (Ney do Cabuçu, Jadir,


Carlinhos Madureira e Roberto Gamação) – Samba-enredo da
SERES Unidos do Cabuçu 1991.
uem tem mais de 35 anos, é um aficionado por

Q carnaval e ainda suspira de saudosismo pelo


capricho e carinho com que eram dedicados as
transmissões da maior festa popular brasileira
volta e meia repete o refrão: que saudade da Manchete!
Assistir carnaval pela emissora da família Bloch era ao
mesmo tempo um ato político e religioso. Político por ser uma
alternativa à transmissão da toda poderosa TV Globo:
perfeccionista sim, mas com um quê de frieza e
distanciamento. E uma religião, pois quem se ligava na
Manchete acompanhava (ou tinha a intenção de acompanhar)
a programação carnavalesca do primeiro ao último minuto.
A entrada no ar da emissora da Rua do Russell, no
bairro carioca da Glória, provocou um verdadeiro turbilhão
na cena televisiva brasileira. A Manchete incomodou sim a
Rede Globo e a fez sair da zona do conforto.
Conforme escreveu Elmo Francfort, no livro Rede
Manchete – Aconteceu, Virou História, a emissora foi um
cometa que passou pela história. “A Manchete deixou bem
claro na história da televisão que aqui esteve para se
transformar em uma grife de televisão de qualidade, de
credibilidade, profissionalismo, capricho, criatividade e
ousadia. Esteve na busca eterna de seus ideais, na superação
dos limites e também acabou abusando. Promoveu a cultura
e o debate em suas coberturas, mas passou da mais
tecnológica emissora do país à que precisava mais
urgentemente da renovação dos seus equipamentos (...)”.
Ao contrário do SBT, que almejava a “liderança absoluta
no segundo lugar”, a Manchete queria incomodar o ibope
provando que era possível produzir uma programação
sofisticada, diferenciada, classe A para o público brasileiro. E
por alguns rounds conseguiu vencer a queda de braço
televisiva. Afinal, a Manchete queria ser a emissora do século
XXI, a TV do novo milênio.
A TV do ano 2000

A Rede Manchete apresentou-se como “a TV do ano


2000”, seu primeiro slogan. Com mais de 70 anos de idade,
Adolpho Bloch (1908 - 1995) era contra a ideia de se
aventurar em um novo meio. Dizia que seu negócio era o
mercado editorial, onde já fazia sucesso, e acreditava que
uma emissora de televisão representaria desperdício de
dinheiro. Foi depois de muitas discussões que chegou à
conclusão de que era necessário entrar na mídia eletrônica,
seguindo o caminho percorrido por todos os tradicionais
veículos impressos.
Partiu para a concorrência dos canais e ganhou.
Também se enveredou nas ondas do rádio, comprando a
Rádio Federal AM do Rio de Janeiro, que seria transformada
em Manchete AM, e outras emissoras em capitais brasileiras.
Em 1981, após ganhar as concessões, Adolpho Bloch
começou a tirar do papel os projetos da Rede Manchete.
Aplicou dinheiro na compra de um terreno de 300 mil metros
quadrados no bairro carioca de Água Grande e pediu ao
amigo Oscar Niemeyer que projetasse um segundo prédio no
terreno, ao lado do Edifício Manchete (Rua do Russel, 804).
Em 1982, teve início a construção do prédio da
televisão, com entrada pelo número 766. Os dois prédios
pareciam um único por causa da mesma altura e do estilo da
fachada, em aço e vidros escuros. Foram encomendados
também outros projetos para as demais sedes da Manchete
em São Paulo, Fortaleza, Belo Horizonte e Recife. Ainda
estava sendo negociado com Niemeyer o projeto da
construção de um centro de produção da TV Manchete na
Barra da Tijuca (que seria batizado de A Cidade da TV),
englobando uma área de 100 mil metros quadrados, que seria
inaugurado em 1985, que acabou não se concretizando.
Bloch desembolsou 50 milhões de dólares para o
desenvolvimento inicial da rede, sendo 27 milhões para a
compra de equipamentos, 12 milhões para aquisição de
filmes e o restante em pessoal e demais despesas, cifras
altíssimas mesmo para os dias de hoje. O investimento em
filmes representava o maior lote de superproduções já
adquirido pela televisão brasileira até aquela data. Eram
filmes que só poderiam ser exibidos três vezes no espaço de
dois anos.
O Teatro Adolpho Bloch foi desativado para se
transformar em auditório da televisão. O show inaugural
seria realizado ali, com direção do cineasta Nelson Pereira dos
Santos (1928 – 2018), considerado o pai do Cinema Novo
brasileiro. A Manchete firmou alguns acordos na ocasião,
fechando parcerias com as principais agências de notícias
internacionais para reforçar seu telejornalismo. Firmou
contrato também com sua primeira afiliada, a TV Pampa de
Porto Alegre.
A agência de publicidade DPZ ficou responsável pela
criação do icônico logotipo da nova emissora: o M de
Manchete era composto de cinco esferas e quatro cilindros,
cada esfera significando uma das cinco emissoras da rede.
Bloch poderia perder os canais se não colocasse a
programação no ar dentro de dois anos após a assinatura das
concessões. Começou então uma corrida contra o relógio, até
mesmo porque os cuidados no planejamento da Manchete
atrasavam a estreia.
Na sexta-feira, 13 de maio de 1983, às 15h27, a Rede
Manchete gerava seu primeiro sinal de teste, prometendo o
mais perfeito padrão de imagem, uma qualidade
incomparável com a dos demais canais. Por essa razão,
Rubens Furtado anunciou à mídia que primeiro entrariam no
ar os canais do Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte.
Os de Fortaleza e Recife entrariam até outubro por causa de
problemas técnicos a serem solucionados.
É divulgada a data de 29 de maio às 19 horas para a
grande estreia. Duas semanas antes, a inauguração foi
transferida para o domingo seguinte, 5 de junho, para que
tudo estivesse funcionando nos mínimos detalhes. Bloch
começou, então, uma divulgação maciça das emissoras nas
publicações do grupo. Só a Revista Manchete, na semana da
inauguração, publicou três anúncios com o logo da emissora,
dois no rodapé e um de duas páginas, em cores, anunciando
a estreia da TV Manchete. Na semana seguinte, um encarte,
dentro da revista, mostrava tudo sobre a inauguração,
fornecendo razões para que a Manchete fosse assistida.
Estava tudo pronto para que a moderna e sofisticada
“televisão do ano 2000” entrasse no ar.
A TV Manchete entrou no ar, oficialmente, em 5 de
junho de 1983, às 19 horas. Entrou o top de 8 segundos e
surgiu Adolpho Bloch, sem áudio. Sua imagem saiu do ar,
dando lugar ao primeiro comercial da emissora. A imagem foi
um espaço vazio e escuro, onde aos poucos aparece um
homem de smoking, carregando em cada uma das mãos uma
lata de Lubrax-4 (óleo lubrificante da Petrobrás), e anunciou:
“Lubrax-4 saúda a entrada da TV Manchete”. O comercial
retornou à programação inaugural nos intervalos seguintes.

Televisão de Primeira Classe (1983 - 1988)

A TV Manchete começou a se consolidar, ainda no ano


de 1983, como uma nova opção de qualidade na televisão
brasileira, e se manteve, entre altos e baixos nessa sua
primeira fase, até 1988.
Os destaques dessa época foram programas como o
musical Bar Academia (com Walmor Chagas), o infantil Clube
da Criança (com Xuxa Meneghel e depois com Angélica), os
jornalísticos Conexão Internacional (com Roberto D’Ávilla) e
Jornal da Manchete, a revista eletrônica Programa de Domingo
e o programa de clipes musicais FM TV (um dos pioneiros do
gênero na televisão brasileira).
O FM TV, que durou de 1984 a 1986, teve entre os
apresentadores o radialista Marco Antônio (que se tornaria
conhecido depois como Marcão Rodrigues), na época com
apenas 18 anos de idade; um jovem humorista de nome João
Kleber; e uma atriz novata chamada Patrícia Pillar, que recém
havia estreado em cinema, contracenando com o compositor
Djavan no filme “Para Viver um Grande Amor” (1983). O
programa, aliás, reuniu profissionais de elevadíssimo nível na
produção e na parte técnica: a abertura, feita em design
gráfico, fora criada pelo carnavalesco Renato Lage; a
produção era de Marlene Mattos (que depois viria a ser
produtora dos programas da Xuxa); a direção-geral de
Maurício Sherman (1931 – 2019), e o redator responsável
pelas falas dos apresentadores era Paulo Coelho. Sim, ele
mesmo, o “mago” e imortal da Academia Brasileira de Letras.
As vinhetas de abertura e encerramento tinham como trilha
sonora a música “Borderline”, sucesso de uma emergente
cantora norte-americana de nome Madonna.
Do lado esportivo, estreava o Manchete Esportiva, com
Paulo Stein e Márcio Guedes, e o Toque de Bola, aos
domingos, com os dois apresentadores e mais uma dupla:
Alberto Léo (1950 - 2016), e João Saldanha (1917 - 1990).
Na teledramaturgia, a TV Manchete contratou autores,
atores e diretores, muitos vindos da Tupi, da Globo e do
núcleo da Bandeirantes. Foram produzidas minisséries. A
primeira foi Marquesa de Santos (1984), com Maitê Proença e
Gracindo Júnior, que alcançou média de 7 pontos, colocando
a Manchete apenas atrás da Globo e SBT, no Ibope.

Os 110 dias entre a maquete e a realidade: a


polêmica construção do Sambódromo e o carnaval de
1984
Primeiro ato. Durante anos a fio, entre os meses de
setembro e outubro, a Marquês de Sapucaí começava a
receber as arquibancadas para o Carnaval. Eram feitas de
tubos pela empresa responsável chamada Mills. As
estruturas permaneciam montadas até abril, para logo após
haver o desmonte. Eram milhões de cruzeiros gastos pelos
cofres públicos com o monta-e-desmonta.
Em março de 1983, assume o Governo do Rio de Janeiro
o gaúcho Leonel Brizola (1922 - 2004). A menor de suas
preocupações era o carnaval de 1984. O novo mandatário
encontrara um Estado falido, pois o governador biônico
anterior – Chagas Freitas (1914 - 1991) – tinha deixado uma
bomba-relógio: a paridade dos aposentados, que até então
recebiam muito menos do que os servidores da ativa.
Paridade que começava (por coincidência ou não) justamente
no primeiro mês de governo do primeiro governador eleito
pelo voto depois da ditadura.
Foi um baque e tanto na folha de pagamentos, resolvido
com a criatividade possível: o pagamento, que era no início do
mês passou para o final e os cargos comissionados – perto de
15 mil – a serem preenchidos, ficavam retidos na burocracia
real e na inventada, porque Brizola passou a só nomear
quando o indicado tinha currículo completo, inclusive com
foto 3×4, o que adiava, adiava… e economizava um ou dois
salários.
Além disso, dias antes da posse de Brizola, o Banco do
Estado tinha acabado de ser forçado a assumir o aval dos
empréstimos – impagáveis – feitos para construir o Metrô do
Rio de Janeiro.
E como desgraça pouca é bobagem, tomava conta do
país uma onda de saques, feita por provocadores e que se
alastrava com as condições de extrema miséria do nosso
povão. E o carnaval, onde entra?
Os meses de agosto e setembro chegaram e o tempo
para os preparativos do carnaval seguinte encurtava. Por
determinação do governo, não haveria mais a instalação das
arquibancadas. Brizola sabia do potencial turístico,
econômico e cultural do carnaval carioca – que rende milhões
para os cofres públicos –, mas queria estancar o desperdício
de dinheiro público com o monta-e-desmonta das
arquibancadas da Sapucaí. Como seria isso? Com a
construção de um palco definitivo para o carnaval com
arquibancadas fixas e perpétuas.
Segundo ato. Entra em cena o Bloco do Desvario: à
ousadia de Brizola, juntam-se a teimosia do vice-governador
Darcy Ribeiro (1922 - 1997), a genialidade de Oscar Niemeyer
(1907 - 2012) e a competência de um engenheiro calculista
chamado José Carlos Sussekind, que era quem tinha de fazer
acontecer os delírios da trinca.
A Passarela do Samba foi da maquete à realidade em
exatos 110 dias.
Foi uma verdadeira saga, uma epopeia. A construção do
Sambódromo daria um enredo que poderia gerar um
autêntico samba-lençol dos anos 50 e 60, ao estilo das letras
quilométricas de Silas de Oliveira (1916 - 1972), Geraldo
Babão (1926 - 1988), Candeia (1935 - 1978) ou Padeirinho da
Mangueira (1927 - 1987).
O final do ano no Rio de Janeiro foi chuvoso e
atrapalhou demais a fase das fundações, já complexa porque
o terreno era pouco sólido e ali embaixo passava um rio. Mas
como a maioria das estruturas era pré-moldada fora dali, e
apenas os suportes laterais e intermediários era concretados
no local, as coisas de fato aconteceram. No dia a dia quem
tocava a obra era o arquiteto João Otávio Brizola, sob a
orientação de Sussekind, que apertava as empreiteiras: se a
obra não andasse, não haveria pagamento.
Terceiro ato. O desafio político. Brizola passou a ser
tratado como um louco pela mídia, que jogava o governador
contra a opinião pública, alegando que a obra não iria sair e
que era uma inutilidade. E o fogo – nada amigo – partia dos
lados do Jardim Botânico. Uma charge, publicada pelo jornal
O Globo, retratava Brizola como Odorico Paraguassu, o
folclórico prefeito da novela “O Bem Amado”, de autoria do
dramaturgo Dias Gomes (1922 - 1999), e o Sambódromo
correspondia ao cemitério de Sucupira, jamais inaugurado
por falta de mortos.
Os críticos da época diziam que o arco da Praça da
Apoteose iria cair. Quando não caiu, disseram que ninguém
conseguiria ouvir o samba, por causa do eco. Houve até quem
admitisse que a pista fosse afundar, porque havia – e há – um
rio passando abaixo. Para quem acha que fake news é
invenção da turma das redes digitais da segunda década do
século 21 é porque não sabe os apuros pelos quais Brizola
passou.
Com uma área construída de 85 mil metros quadrados,
dos quais 55 mil m² sustentados por estruturas pré-
moldadas in loco, o Sambódromo consumiu 17 mil m³ de
concreto. O arquiteto Oscar Niemeyer o definia como uma
“estrutura leve, intencionalmente repleta de vãos, para ser
ocupada pelo povo”. Uma obra imponente.
A pista de concreto da Marquês de Sapucaí mede 700
metros de extensão e 13 metros de largura. A capacidade,
quando de sua inauguração em 1984, era de 60 mil
espectadores. Após a reforma ocorrida em 2012, foi ampliada
para 72.500 pessoas. A estrutura serviu para a canalização
de um canal que passava pela região do Sambódromo e era
alvo constante de enchentes.
A obra também ajudou a readequar o trânsito da cidade
do Rio de Janeiro na região. Tudo construído entre o final de
outubro de 1983 e o final de fevereiro de 1984. Naquele ano,
o desfile das escolas de samba ocorreu no dia 2 de março –
data considerada como a da inauguração oficial do
Sambódromo.
O projeto original idealizado por Darcy Ribeiro consistia
que a Passarela do Samba servisse ao carnaval enquanto
Sambódromo. Fora do período momesco, os camarotes do
complexo carnavalesco cediam lugar aos Centros Integrados
de Ensino Público (CIEP), um projeto pedagógico visionário e
revolucionário no Brasil de assistência em tempo integral a
cinco mil crianças, incluindo atividades recreativas e
culturais para além do ensino formal – dando concretude aos
projetos idealizados décadas antes pelo educador Anísio
Teixeira (1900 - 1971), o criador da escola pública no Brasil.
Uma ousadia que a elite jamais perdoou.

Exclusividade da Bloch e boicote global

A perseguição implacável ao Governo Brizola (1983 -


1987) por parte da Rede Globo jamais cessou. Como diria o
samba “O boi dá bode”, que os compositores Djalma Branco e
Hércules Caruso fizeram para a Estácio de Sá desfilar no
Carnaval de 1988: “boicote em qualquer lugar”. Era boicote à
obra, à inauguração do complexo, amedrontamento da
população espalhando notícias inverídicas (as hoje
propaladas fake news) pondo em xeque a segurança da
estrutura e das pessoas que, naquele ano, iriam assistir ao
primeiro desfile das escolas de samba na nova passarela.
Outro boicote teria sido que, com a construção da
Passarela do Samba, o carnaval teria uma importante
mudança e uma nova configuração: até então, os desfiles do
Grupo Especial eram realizados somente no domingo de
Carnaval, com longa duração. A nova configuração oferecia
desfiles no domingo e na segunda, como acontece até hoje.
A versão que ficou para a história foi de que a Globo não
concordou com a mudança, que atingiria a sua indelével e
“imexível” grade de programação. Em especial, afetaria o
principal telejornal da emissora (Jornal Nacional) e o principal
produto da casa no que dizia respeito à audiência (a novela
das oito). Assim, a desistência do canal da família Marinho
fez com que a TV Manchete – com menos de um ano de
existência – adquirisse os direitos exclusivos de transmissão
dos desfiles de Carnaval do Rio de Janeiro. Pela primeira vez
em quinze anos, o principal espetáculo audiovisual popular
do país estava fora da TV Globo.
No entanto, não foi “apenas” isso. A questão envolvia
muito mais do que apenas a mudança na programação.
Conforme ocorriam as negociações de direitos de
transmissão, houve atritos entre a Globo, na pessoa do todo
poderoso superintendente José Bonifácio de Oliveira
Sobrinho, o Boni, e o vice-governador Darcy Ribeiro, homem
forte do governo estadual e um dos pais do Sambódromo.
A Globo não acreditava em Carnaval de dois dias e
discordava da proposta de cálculo de pontos para definir a
escola campeã e de aspectos como a Praça da Apoteose, pelo
absurdo que ela representaria se utilizada como proposto.
Darcy a havia imaginado como um local no qual as escolas,
após desfilarem, fariam uma espécie de giro e passariam por
dentro de si mesmas.
A discordância foi um dos motivos para a Globo não
fazer questão de transmitir os desfiles naquele ano. Além
disso, questões internas de produção, como equipamento
comprometido com a produção de outras atrações, espaços
comerciais já vendidos para uma grade que não considerou
os desfiles quando negociada e a percepção de que o
investimento no Carnaval daquele ano poderia não
compensar.
Os direitos exclusivos da transmissão do carnaval
carioca de 1984 custaram à Manchete a quantia de 210
milhões de cruzeiros.
Houve boatos na época de que a Globo na última hora
tentou dividir a transmissão, mas foi tarde demais. Segundo
Boni em O Livro do Boni, a Manchete “passou a perna” na
empresa do Jardim Botânico:

“O governo, com o Sambódromo na mão, assumiu a negociação dos direitos. A coisa


foi engrossando e, pressionado, achei uma saída: combinei com o Moysés Weltman
(então diretor de programação da Manchete), que ele compraria o Carnaval sozinho e
depois repassaria a minha parte. Esse compromisso foi assumido pedra e cal, depois
dele ter consultado o Adolpho Bloch. Uma vez assinado o contrato, no entanto, o
Weltman não me atendia mais, e o Bloch não respondia nenhum telefonema do dr.
Roberto Marinho, que declarou guerra ao Adolpho Bloch. Ficamos fora do Carnaval”.

A posição pública da TV Globo foi de desdém e alegou


“motivos técnicos” para declinar da transmissão.
Internamente, porém, a emissora líder lamentou o incidente.
Ao abrir mão da transmissão dos desfiles das escolas de
samba, a Globo decidiu cobrir o Carnaval com entradas
jornalísticas ao longo da programação. Os repórteres sempre
citavam o manjado slogan: “Rede Globo: programação normal
e o melhor do Carnaval”. Todavia, essa programação não foi
tão normal assim. Foram escalados, principalmente, filmes
arrasa-quarteirão para tentar fazer frente ao que era
mostrado pela concorrente na Sapucaí.

Rede Globo: programação normal. E o melhor do


Carnaval?

Na noite de domingo, 4 de março, primeira dos desfiles,


foram ao ar na TV Globo o Fantástico e em seguida o filme
Bonnie & Clyde – Uma Rajada de Balas, na sessão Cinema
Especial. Na sequência, Adorável Pecadora, com Marilyn
Monroe, no Domingo Maior.
Tanto o Fantástico quanto o filme estrelado por Faye
Dunaway e Warren Beatty perderam feio para a Manchete.
Foi a primeira vez que a revista eletrônica dominical criada
em 1973 perdeu de ponta a ponta. Mas só na praça do Rio;
no resto do Brasil, a Globo não só venceu como registrou
índices melhores do que os de 1983, com o próprio Carnaval.
Ao passo que a TV Manchete, aos oito meses no ar,
atingia 69% da audiência carioca contra 8% da Globo. Já pela
madrugada de segunda-feira, a Coruja Colorida exibiu o filme
Os Aventureiros do Ouro, com Lee Marvin.
Na segunda-feira, dia 5, a Globo exibiu normalmente a
novela das 20h, “Champagne”, de Cassiano Gabus Mendes.
Logo depois, reprisou o Roberto Carlos Especial de 1983 e
exibiu o filme “Os Doze Condenados”, também com Lee
Marvin. Depois veio “Síndrome da China”, com Jane Fonda,
Jack Lemmon e Michael Douglas, na Coruja Colorida. Pela
primeira vez foi adotado no desfile o esquema de divisão em
duas noites, em vigor até hoje.
Na terça-feira, dia 6 de março, depois da novela foi a vez
da reprise de um especial de Elba Ramalho. O show “Coração
Brasileiro” havia sido exibido anteriormente em dezembro de
1983. O Cinema Especial teve como atração outro filme com
Faye Dunaway, “Rede de Intrigas”, que contava no elenco com
William Holden, Peter Finch e Robert Duvall.
Na manhã da segunda e da terça de Carnaval, com os
desfiles ainda em andamento, os números foram
impressionantes. A favor da Manchete, claro. A jovem
emissora cravou 38 pontos na segunda e 58 na terça (com o
desfile da Mangueira, que homenageava o compositor
Braguinha). Só para ilustrar, na Globo ia ao ar na mesma
hora, por volta de 8h30, o programa infantil “Balão Mágico”.
Pouco lembrada hoje, “Voltei pra Você”, de Benedito Ruy
Barbosa, foi a única das três novelas exibidas pela Globo a
ganhar da Manchete na segunda e na terça de Carnaval de
1984. Atração das seis da tarde, a história do amor de Pedro
(interpretado por Paulo Castelli) e Liliane (vivida por Cristina
Mullins) em meio às disputas de terras em Minas Gerais
marcou 39 pontos na média dos dois dias em questão, ao
passo que a Manchete ficou em 27 – no horário em que a
Manchete reprisava, em compacto, os desfiles das noites
anteriores no Sambódromo do Rio de Janeiro.
Na segunda, a novela das sete, "Transas e Caretas", de
Lauro César Muniz, perdeu para a Manchete no Rio por 40 a
29. O Jornal Nacional e “Champagne” registraram 28 contra
46 da concorrente, que colocava no ar o desfile da noite. Logo
após, Roberto Carlos e o começo do filme renderam 15 pontos
contra 56 da Manchete. A situação melhorou para a Globo na
noite de terça-feira, quando a média se elevou para 44 com as
novelas no ar. No entanto, havia ainda pela frente a
apuração, realizada na noite da terça. “Foi uma lavada”, como
o próprio Boni admitiu em seu livro:

“No Rio, a Manchete deitou e rolou na audiência, mas, no resto do Brasil,


sem Carnaval, a programação da Globo cresceu em relação aos anos anteriores.
Essa é a verdade completa da história. O Brizola, de forma demagógica, tentou
inventar que a Globo quis boicotar o Sambódromo. Uma infantilidade. Não
iríamos perder o evento por causa disso.”

Desde então, nunca mais a TV Globo deixou de


transmitir o Carnaval, não raro com exclusividade.
“Queremos dar um show. Não somos nem um pouco
modestos”, disse o próprio Moisés Weltman (1932 - 1985),
diretor de programação da TV Manchete e que foi mencionado
por Boni no livro do ex-superintendente global. As palavras
do executivo da televisão dos Bloch foram transcritas pela
revista Veja de 18 de janeiro de 1984. Na reportagem, a Globo
foi esnobe. “Carnaval não é coisa que prenda o telespectador
na cadeira”, disse João Carlos Magaldi, então diretor de
comunicação da Globo. Uma pitada de recalque para quem
durante quase 15 anos transmitiu o espetáculo praticamente
na íntegra.
A transmissão do carnaval de 1984 pela TV Manchete
teve narração de Paulo Stein e comentários de Fernando
Pamplona, Haroldo Costa, Sérgio Cabral, Albino Pinheiro,
José Carlos Rego, Maria Augusta, entre outras feras,
oriundas da transmissão da TV Bandeirantes, feita no ano
anterior, e da revolucionária equipe das 80 horas de carnaval
da TVE-RJ (1980 - 1982), como vimos no capítulo anterior. A
direção ficou por conta de Weltman, Maurício Sherman e
Mauro Costa (1939 - 2011).
A Rede Manchete dedicou toda a sua programação ao
Carnaval, transmitindo os desfiles e os bailes, passando
compactos durante o dia, fazendo debates e programas
especiais. O slogan era “Carnaval Total, Carnaval Brasil”. Mas
dois fatos marcaram bastante o período pré-carnavalesco da
Manchete: um festival de música e um strip-tease.

Festival Manchete/Riotur de música carnavalesca

A chegada da TV Manchete também reativou (ou


reacendeu) os festivais de músicas carnavalescas. Entre o dia
4 de dezembro 1983 e a 2 de fevereiro de 1984, sempre às
quartas-feiras, das 22h15 à meia-noite e 15 minutos, foi
realizado o 1º Festival Manchete/Riotur de Músicas de
Carnaval, uma promoção da emissora com a Empresa de
Turismo da Cidade do Rio de Janeiro.
O concurso consistia em selecionar seis músicas em
cada uma das cinco eliminatórias (4, 11 e 18 de dezembro e 1
e 8 de janeiro). As três semifinais (15, 22 e 29 de janeiro),
classificavam cinco músicas cada. As etapas classificatórias
(gravadas) aconteceram no Teatro Adolpho Bloch. A grande
final aconteceu foi transmitida ao vivo, no dia 2 de fevereiro,
no Teatro João Caetano, no Rio. Todas as fases do Festival
foram apresentadas por Jacyra Lucas, Luis Santoro,
Terezinha Sodré e Roberto Canázio.
O júri do Festival Manchete/Riotur também era formado
por nomes importantes do cenário cultural carioca: Albino
Pinheiro; Haroldo Costa; Maurício Sherman; Arlindo
Rodrigues; Ivã Paulo da Silva (Maestro Carioca, 1910-1989);
os jornalistas Eli Halfoun (1946 - 2016) e Tarlis Batista (1939
- 2002); a cantora Emilinha Borba (1923 - 2005); o produtor
e compositor Hermínio Bello de Carvalho; o produtor artístico
Guilherme Araújo (1936 - 2007); o músico Antônio Adolfo; o
apresentador, produtor e polemista de marca maior Carlos
Imperial (1935-1992), e os compositores Herivelto Martins e
Alcyr Pires Vermelho (1906-1994), que se revezaram na
presidência de honra do júri nas etapas classificatórias. A
música vencedora da primeira edição foi “Vagalume”, uma
marcha-rancho composta por Braguinha (1907 - 2006) e
César Costa Filho, que foi também foi o intérprete.
O Festival Manchete/Riotur ainda teve mais duas
edições, realizadas em 1985 e 1986. Os concursos tiveram
total apoio e entusiasmo de Adolpho Bloch, que até concorreu
em 1985, com a marcha “Rainha de Sabá”, feita em parceria
com Carlos Cruz e Carlos Heitor Cony, defendida por
Emilinha Borba. No entanto, a vitória foi para o samba
“Sorria, o Carnaval Chegou”, de Mauro Diniz, Cleber Augusto
e Sereno, interpretado pelo conjunto vocal As Gatas.

Strip tease e contagem regressiva

Outro fato que marcou época no pré-carnaval de 1984 e


na história da propaganda brasileira envolveu uma das
estrelas do primeiro time da recém-inaugurada TV Manchete.
A jornalista Íris Lettieri já tinha uma trajetória
consagrada no segmento da comunicação. Primeira mulher a
atuar como locutora de telejornais no País já no final dos
anos 50, Íris é dona de uma voz de inconfundível timbre
grave e aveludado, com uma dicção perfeita, passando uma
sensação de tranquilidade e até mesmo sensualidade.
Anos depois se tornou “a voz do aeroporto”, pois desde a
década de 1970 é a locutora oficial do Aeroporto
Internacional do Galeão, no Rio de Janeiro, do Aeroporto
Internacional de Guarulhos, em São Paulo, entre outros.
Íris Lettieri foi uma das primeiras apresentadoras do
Jornal da Manchete, em 1983, que em seus primeiros meses
era transmitido por três horas. Ela apresentava, junto com
Jacyra Lucas, as notícias de cultura e entretenimento. Em
1984 Íris passou a entrar no ar, como apresentadora do
Manchete Panorama, e ainda participou do Programa de
Domingo, da mesma Rede Manchete.
Tendo como mote uma contagem regressiva de 30 dias
para o carnaval de 1984, a BR Distribuidora convidou Íris
Lettieri para estrelar uma série de comerciais do óleo
lubrificante da companhia. Todo dia, assim que acabava o
Jornal da Manchete, entrava o filme “Lubrax Informa: faltam
tantos dias pro Carnaval 84”.
A bem-humorada peça publicitária consistia em
aproveitar a aura de sensualidade que a dona daquela voz
emprestava ao imaginário popular, simulando um strip-tease.
A locutora, que a um mês do carnaval aparecia sentada em
uma bancada de estúdio de TV completamente vestida, tirava
uma peça de roupa a cada dia que passava, informando com
uma voz quente que faltavam “tantos” dias para o carnaval
84.
Assim, Irís foi tirando os brincos, a echarpe, o colar, o
tailleur, os óculos, os sapatos, as meias, a blusa...
Quando faltava apenas um dia para o carnaval, Íris –
que tinha 42 anos de idade, e estava no auge de sua beleza
madura – apareceu sentada em uma cadeira giratória de
escritório simulando estar nua, com o encosto da cadeira
virado para frente tapando-lhe o corpo.
Finalmente, no dia do início da folia, o comercial inicia
com a apresentadora em um enquadramento fechado –
aparecendo apenas sua cabeça – olhando em direção à
câmera perguntando ao telespectador: “Sabe quantos dias
faltam para o Carnaval 84? Nenhum.” A câmera abre o
enquadramento e ela aparece em um estúdio de TV vestida
com uma fantasia de carnaval dançando ao ritmo de uma
batucada em playback. Um dos comerciais clássicos da
história da propaganda brasileira.

Goleada do Carnaval da Manchete

A TV Manchete foi com tudo para cima da concorrência.


Da TV Globo, em especial. O canal do conglomerado da
Família Bloch fez uma cobertura que mobilizou 1.200
profissionais. Foram planejadas 84 horas de Carnaval na
programação, entre cobertura jornalística, transmissões e
reprises dos desfiles, programas com os tradicionais bailes de
clubes e concursos de fantasias. Na verdade, foram 110 horas
de transmissão, iniciadas na sexta-feira à noite e se
estendendo até às cinco e meia da manhã de quarta-feira de
Cinzas.
A Manchete acompanhava a chegada dos integrantes
das escolas e dos espectadores à Marquês de Sapucaí. Logo
depois, exibia os desfiles e, durante o dia seguinte, reprisava-
os no aquecimento para os próximos. Fora os pequenos
trechos rememorados a título de indicação das melhores
apresentações por jurados e comentaristas convidados.
“Esquentando os Tamborins” foi um dos nomes criados na
ocasião para os programas carnavalescos. Este título foi
posteriormente reaproveitado.
Dos 1,2 mil profissionais envolvidos, entre
apresentadores, comentaristas, equipes de reportagem,
produtores, editores de imagem, técnicos de som e
profissionais de externa, havia repórteres espalhados por
todo o complexo do sambódromo, inclusive na Praça da
Apoteose, para verificar como as escolas desenvolveriam suas
evoluções no espaço inovador. A qualidade da imagem era
garantida graças à geração da Empresa Brasileira de
Telecomunicações (Embratel), criada em 16 de setembro de
1965 pelo então presidente militar Castelo Branco, como
empresa de economia mista de controle estatal. Era a
Embratel a responsável pelas comunicações via satélite no
Brasil, e a expressão “via Embratel” tornou-se sinônimo de
transmissões de satélite no país, especialmente através da
televisão.
Na tarde do dia 2 de março de 1984, sexta-feira, data
que marcou a inauguração do Sambódromo e o início da
maratona carnavalesca da Manchete, foi exibido um especial
de 15 minutos sobre a Passarela do Samba. A vinheta de
abertura mostrava uma gaivota branca voando ao pôr do sol e
aterrissando no Sambódromo, formando o arco da Praça da
Apoteose. Muito se comentava, à época, que o arco da
Apoteose se assemelhava à letra M, e que seria uma
estilização da letra inicial de Manchete, em homenagem à
emissora que aderiu em primeira hora o primeiro desfile no
concreto da Sapucaí.
À noite, a cobertura teve início com a transmissão dos
desfiles do Grupo 1-B (atual Série Ouro, a “segunda divisão”
do carnaval carioca). A honraria de ser a primeira escola de
samba a desfilar na recém-inaugurada Passarela do Samba
coube ao Império do Marangá, que apresentou o enredo
“Águas Lendárias”. O início do desfile, previsto para as 21
horas, teve 45 minutos de atraso devido ao engarrafamento
no Rio. A escola, criada em 1957 no bairro de Jacarepaguá,
na zona oeste da cidade, não resistiu à profissionalização das
agremiações carnavalescas e foi extinta após o desfile de
1999.
Ao Império do Marangá, as escolas que se seguiram:
Arrastão de Cascadura, que contou uma lenda triste, a da
Marabá, que morreu flechada por seu amor no “Conto
Lendário de Marabá”, escrito por Monteiro Lobato e adaptado
por Jacy Inspiração; a São Clemente estreava no Grupo 1-B e
trouxe o criativo enredo “Não Corra, Não Mate, Não Morra – O
Diabo está Solto no Asfalto”, que introduzia o personagem de
Zeca Passista, um operário atropelado na rua, mas que não
morre e tem um sonho com placas de trânsito servindo de
alegorias.
Outra escola que estreava no Grupo 1-B era a
Acadêmicos do Engenho da Rainha, com o enredo “Ô Tucá
Juê”, que mostrava a chegada das congadas ao país e as
origens das danças de origem africana em solo brasileiro.
Quinta escola a desfilar, Unidos do Jacarezinho levou para a
avenida o enredo metalinguístico e onomatopaico
“Ziguezagueando no Zunzum da Fantasia”, que se ocupava
do processo de criação das fantasias usadas pelos
componentes. Uma das homenageadas no Carnaval 84 foi a
cantora Beth Carvalho, pela Unidos de Cabuçu, que
apresentou o enredo “A Enamorada do Samba”, contando a
vida da cantora nascida no bairro da Gamboa.
“Acima da Coroa de Um Rei Só Um Deus” foi o enredo
da Acadêmicos de Santa Cruz, que falava das entidades do
candomblé e da umbanda. Um samba alegre e contagiante foi
“Atrás do Trio Elétrico”, apresentado pela Unidos de Bangu. O
ano orwelliano de “1984” serviu de enredo à escola de samba
Paraíso do Tuiuti, anunciando que as mazelas descritas no
livro distópico de George Orwell não ocorreriam num país
como o Brasil. Décima escola a desfilar, a Lins Imperial
contava a história do dinheiro no enredo “Só Vale Quem
Tem”. A Em Cima da Hora alegrou a avenida com seu samba
forte, apresentando como enredo a rotina da maioria de seus
componentes: “33, Destino: D. Pedro II”. A Unidos de Lucas
encerrou o desfile do Grupo I-B com o enredo “Dança Brasil”,
onde mostrou todas as danças folclóricas brasileiras.
No dia seguinte teve início à era que dividiu o desfile das
escolas de samba do Grupo Especial no Carnaval do Rio de
Janeiro em duas noites, no domingo e na segunda (dias 3 e 4
de março). Em 1984, cada noite teve uma campeã. O Desfile
das Campeãs realizado no sábado seguinte promoveu um
tira-teima, chamado de Supercampeonato.
A Unidos da Tijuca pisou na passarela às 21 horas do
domingo, dia 3 de março, com o enredo “Salamaleikum, a
epopéia dos insubmissos malês” sobre a Revolta dos Malês,
que aconteceu na Bahia, em janeiro de 1835. Depois, a
Império da Tijuca apresentou “9.215”, o número da lei que,
em 30 de abril de 1946, extinguiu os cassinos no Brasil. A
Caprichosos de Pilares já dava o toque de irreverência que
marcou a escola durante a década de 80, com “A Visita da
Nobreza do Riso a Chico Rei, Num Palco Nem Sempre
Iluminado”.
O enredo “Skindô, Skindô” marcava o retorno do
carnavalesco Arlindo Rodrigues à Acadêmicos do Salgueiro,
depois de 12 anos afastado da escola. União da Ilha do
Governador mostrou os ditos populares em “Quem pode,
pode, quem não pode...”. A Portela homenageou três de seus
grandes ícones (Paulo da Portela, Natal e Clara Nunes) em
“Contos de Areia”. O Império Serrano encerrou o primeiro dia
de desfiles com “Foi Malandro, É”, contando fatos ao longo da
História em que o jeitinho brasileiro e a malandragem fizeram
a diferença.
Na segunda noite, a antiga Unidos de São Carlos
(rebatizada como Estácio de Sá) abria os desfiles falando de
máscaras, com “Quem é Você?”. Unidos da Ponte abordou as
“Oferendas” nas religiões de matriz africana. Depois foi a vez
da Mocidade Independente de Padre Miguel, com “Mamãe Eu
Quero Manaus”, delírio tropicalista do carnavalesco Fernando
Pinto. A Unidos de Vila Isabel veio com um enredo
metalinguístico no qual homenageou os construtores e
artesãos da folia e trabalhadores de barracão, com “Pra Tudo
Se Acabar na Quarta-Feira”, com direito até a samba
antológico de autoria de Martinho da Vila.
Não tão rica ou favorita ao título como em anos
anteriores, a Imperatriz Leopoldinense também surfou na
onda de enredos críticos da década de 80 e apresentou “Alô
Mamãe”, desenvolvido por Rosa Magalhães e Lícia Lacerda,
que teve o cantor e político Agnaldo Timóteo (1936 - 2021) no
abre-alas em forma de telefone. O enredo nacionalista “O
Gigante em Berço Esplêndido” foi o fio condutor do desfile da
Beija-Flor de Nilópolis. E o encerramento, com um desfile
realmente apoteótico, coube à Estação Primeira de Mangueira
e o tema “Yes, Nós Temos Braguinha”.

Dez, nota dez!

A apuração das notas, que a rigor deveria ser apenas


um procedimento burocrático para verificar qual foi a melhor
escola, virou um momento marcante da festa. A leitura das
notas, sobretudo a da máxima, está tão incorporada à
coreografia do carnaval que é difícil imaginar que alguém
tenha inventado algo que hoje parece tão natural.
Mas nem sempre foi assim. O bordão “Dez, nota dez!”,
anunciado com entonação grandiloquente, surgiu na quarta-
feira de cinzas do carnaval de 1984. Seu criador foi o
polêmico e controverso Carlos Imperial (1935 - 1992), amado
por uns e odiado por milhões, bem como ele gostava. Imperial
na época era vereador no Rio e foi designado pelo governo de
Leonel Brizola para comandar a Comissão de Carnaval dos
primeiros desfiles no local idealizado por Oscar Niemeyer.
O biógrafo Denílson Monteiro descreve como foi em seu
livro, não por acaso intitulado Dez! Nota Dez! Eu Sou Carlos
Imperial, lançado em 2008:
(...) Na Quarta-feira de Cinzas, por volta das 17h, Imperial, guiado pelo leal Russão, se
dirigiu ao Maracanãzinho, onde seria realizada a apuração do Carnaval de 1984. As
notas seriam lidas por ele, que pontualmente às 18 horas deu início ao trabalho. O
ginásio Gilberto Cardoso ficava bem próximo do morro da Mangueira. Por isso, os
torcedores da Estação Primeira se encontravam em número muito maior que as demais.
A escola já iniciou o primeiro quesito com nota máxima, o que fez com que Imperial
optasse por improvisar uma mudança na forma como estava conduzindo a apuração.
Decidido a mexer com a plateia, anunciou com sua garganta privilegiada:
– Estação Primeira de Mangueira: dez! Nota dez!
Os mangueirenses entraram em êxtase. Percebendo que a maneira diferente de anunciar
o resultado havia agradado, Imperial repetiu a fórmula com as notas máximas das
demais agremiações. Simultaneamente, por toda a cidade o que se ouvia naquele cair de
tarde era um novo bordão que se alastrava como um vírus. Em todos os lugares as
pessoas procuravam imitar a voz radiofônica de Carlos Imperial:
– Dez! Nota dez!
A apuração terminou com a Portela de Imperial e seu enredo “Contos de Areia” campeã
do desfile de domingo e Mangueira como a campeã de segunda. O Gordo deixou o
Maracanãzinho como coadjuvante que por alguns minutos roubou a cena, algo que
sempre o agradava bastante. Na rua, as pessoas o reconheciam e gritavam:
– Lá vai o “Dez! Nota Dez”. (…)

O bordão foi tão marcante que, no ano seguinte, “Dez,


nota dez!” foi escolhido como título do enredo da Unidos da
Ponte, que desfilou (e venceu) o Grupo 1-B.
Este foi um dos últimos legados de Carlos Imperial.
Jornalista, produtor e compositor, também foi apresentador
de TV, radialista, jurado de programa de auditório, Rei da
Pilantragem, cafajeste assumido, gozador, irreverente, bon
vivant, mulherengo (tinha predileção por mulheres muito
jovens e bonitas, às quais chamava de “lebres”), agitador
cultural e vereador no Rio por duas legislaturas, pelo PDT,
sendo que em 1984 foi o mais votado da cidade. Um
personagem marcante na cultura brasileira, que morreu no
final de 1992, aos 56 anos.

Supercampeonato
Muito já foi falado, dito e escrito sobre o
Supercampeonato do Carnaval de 1984. Para não cansar os
leitores, serei mais sucinto.
Após uma “trégua” de dois dias – quinta e sexta – sem
tanta ênfase ao carnaval, a Manchete voltou com tudo no
sábado, dia 10 de março, para transmitir o
Supercampeonato.
A ordem do desfile, que terminou ao amanhecer do
domingo, dia 11, foi: Santa Cruz (vice do Grupo 1-B);
Cabuçu (campeã do 1-B); Caprichosos (3º lugar de Domingo);
Beija-Flor (3º lugar de Segunda); Império Serrano (vice de
Domingo); Mocidade (vice de Segunda); Portela (campeã de
Domingo) e Mangueira (campeã de Segunda). O resultado do
desfile foi o inverso da ordem de desfile, com a Mangueira se
sagrando supercampeã e a TV Manchete conquistando o
coração dos carnavalescos.
Podemos afirmar que o carnaval de 1984 terminou, de
fato, em 24 de julho de 1984. Esta data marcou o final e o
início de uma nova era: foi neste dia em que as entidades
carnavalescas do Grupo 1-A fundaram a Liga Independente
das Escolas de Samba da Cidade do Rio de Janeiro, a Liesa.
Sob a presidência de Castor de Andrade (1926 - 1997),
patrono da Mocidade Independente de Padre Miguel, a Liesa
significava uma ruptura em relação à Associação das Escolas
de Samba da Cidade do Rio de Janeiro (AESCRJ) e tinha
como objetivo gerenciar os desfiles e repartir os lucros
(vendas dos ingressos, comercialização dos discos de samba-
enredo e direitos de transmissão de TV) entre as agremiações.
A cada ano, as escolas promovidas do Grupo de Acesso
para o Especial se filiavam à LIESA, e as rebaixadas se
desfiliavam, para voltar a integrar a AESCRJ, entidade que
organizou os desfiles da segunda divisão das escolas de
samba do carnaval do Rio de Janeiro até 1994. No ano
seguinte, a categoria passou a ser gerida pela efêmera Liga
Independente das Escolas de Samba do Grupo de Acesso
(Liesga), retornando a posse à AESCRJ entre os anos de 1996
e 2008.
De 2009 a 2012, a “segundona”, agora rebatizada de
Grupo A, foi organizada pela Liga das Escolas de Samba do
Grupo de Acesso (LESGA), que em seguida trocou de nome
para Liga das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (LIERJ) e
organizou o carnaval da categoria entre 2013 e 2020.
Atualmente, a Liga Independente do Grupo A do Rio de
Janeiro (LIGA RJ), criada em 29 de abril de 2019, é a
entidade carnavalesca que organiza a Série Ouro, novo nome
do segundo grupo do Carnaval Carioca.
A AESCRJ, fundada no ano de 1953 e que até 2013
administrava os grupos B, C, D e E, que equivalem à terceira,
quarta e quinta e sexta divisões do Carnaval Carioca,
respectivamente, foi extinta em 2015.

1985 – O Carnaval da Democracia

Depois da exclusividade marcante da TV Manchete em


1984, os telespectadores tiveram a opção de três emissoras
com grandes profissionais envolvidos na cobertura. As
televisões Globo e Bandeirantes também transmitiram os
desfiles.

Band

A Band adotou dois slogans repetidos ao longo da


transmissão: “o melhor carnaval do Brasil!” – e “Rede
Bandeirantes – Mudando a Fantasia”. Na apresentação dos
desfiles na Sapucaí, estavam Albino Pinheiro e Elke
Maravilha (1945 - 2016). Quando não estava na avenida, a
Band também dedicava ampla cobertura aos bailes pré e
carnavalescos.
Durante uma semana (da noite da terça-feira anterior ao
carnaval até a Terça-Feira Gorda) a emissora se dedicava a
transmitir ao vivo as inúmeras festas realizadas no Canecão,
no Scala Rio, e nos clubes Monte Líbano e Sírio-Libanês:
Baile do Diabo (América FC), Vermelho e Preto (CR
Flamengo), Baile da Cidade, Baile das Panteras, Baile do
Champagne, Baile do Pão de Açúcar, e o baile responsável
pela maior audiência televisiva da cobertura carnavalesca da
TV Bandeirantes, o Gala Gay, com os impagáveis repórteres
Otávio Mesquita, Rogéria e Monique Evans.
A transmissão dos bailes geralmente iniciava após as 23
horas e adentrava a madrugada até por volta das 4h.

Manchete

Na Manchete, a chamada carnavalesca da emissora era


“Rede Manchete Pede Passagem”. A cobertura consistiu em
dar seguimento ao estilo realizado no ano anterior, mantendo
praticamente a mesma equipe com Stein, Pamplona & Cia
que brilhara e comandara a maratona televisiva e
carnavalesca em 1984.
Para se livrar do prejuízo, em 1985, a Rede Globo
decidiu transmitir o desfile da Sapucaí, em conjunto com a
Manchete. As duas emissoras combinaram todos os detalhes.
Deveriam ter a mesma imagem 15 minutos após a entrada de
cada escola na passarela e entre o final de um desfile e esses
15 minutos, as duas tinham o direito de colocar o que
quisessem no ar. Foi assim que muitos carnavais da
Manchete, com direção de Mauro Costa, surpreenderam a
Globo com matérias, comentários e flashes dos principais
bailes, pois havia repórteres espalhados em todos os pontos.
Gina Masello, que participou de alguns carnavais como
assistente de produção, lembra que carnaval para a TV
Manchete era sinônimo de Ibope. Todo mundo preferia dar
entrevista pra Manchete em vez da TV Globo. Nos intervalos,
quando entravam reportagens em camarotes, na porta do
Scala, nas filas do Gala Gay, no Monte Líbano, em São Paulo,
e em outras partes do Brasil, a audiência oscilava entre as
duas. Foi assim que a Globo teve de se adaptar a esse novo
formato de jornalismo.

Globo

E o grande desígnio da TV Globo em 1985 era de se


redimir com sua audiência após o equívoco de um ano antes
ter preterido o carnaval. Era uma questão de honra recuperar
o prestígio no meio carnavalesco e o padrão de qualidade
para a festa, apesar de que a TV Manchete já ter estabelecido
um novo paradigma para o carnaval.
Com os ventos da redemocratização, o horizonte
desejado era o do sucesso da Nova República. Vivia-se a
expectativa da posse de Tancredo Neves (1910 - 1985),
primeiro presidente civil desde 1964. Com isso a chamada da
cobertura carnavalesca global era “Caia na folia. É o Carnaval
da democracia”.
Na cobertura dos desfiles, a Globo resgatou a antiga
programação de apresentar o Fantástico com apenas meia
hora de duração e iniciar a transmissão direto da Sapucaí em
torno das 20 horas. A emissora do Jardim Botânico carioca
mostrou os dois dias do Grupo Especial. Para quem havia
reclamado no ano anterior da divisão em dois dias devido ao
prejuízo à sua programação, a Globo se viu em apuros.
O desfile de domingo começou com atraso. A Em Cima
da Hora, que retornava ao primeiro grupo nove anos depois
de ter desfilado com o épico samba “Os Sertões”, levou à
avenida novamente a situação dos nordestinos, desta vez, os
que deixavam a região em busca de uma vida melhor no Rio
de Janeiro. Seguiram-se após: Cabuçu, Império da Tijuca,
Salgueiro, União da Ilha (novo atraso antes de começar a
desfilar), Vila Isabel, Mangueira e Mocidade, que entrou na
avenida às 8h25.
Mas o caos mesmo aconteceu na segunda-feira. A São
Clemente abriu o segundo dia de desfile com uma hora de
atraso. Houve uma gigantesca demora na entrada da segunda
escola, a Acadêmicos de Santa Cruz, devido ao choque de
uma das alegorias com um carro da Beija-Flor, causando um
enorme transtorno. A verde e branco da Zona Oeste levou
mais de duas horas para adentrar na avenida.
A terceira escola, a Estácio de Sá, entrou na passarela
por volta da meia-noite e passou sem problemas. Parecia que
a noite havia se normalizado. Qual o quê! Depois do desfile da
Estácio, mais atraso: o carro abre-alas da Imperatriz
Leopoldinense quebrou na armação, e não havia quem
conseguisse retirá-lo para a passagem das demais alegorias.
O Império Serrano, que estava pronto, aceitou inverter a
ordem do desfile. Mais duas horas de espera até a verde e
branco da Serrinha conseguir entrar... às quatro e meia da
manhã! Enquanto o Império não entrava, a Manchete
chamava outras praças carnavalescas e recorria às
transmissões dos bailes para ocupar o tempo de espera.
E o que fez a Globo enquanto aguardava a retomada do
desfile? A emissora, que é conhecida por seguir rigidamente
sua grade de programação, teve que recorrer a exibir
desenhos animados durante a madrugada e até um episódio
inteiro do seriado “O Incrível Hulk”. Durante os intervalos
comerciais, repórteres entravam ao vivo direto da Sapucaí
através de flashes com boletins atualizando a situação no
sambódromo.
Retomada a programação, a Globo exibiu Império
Serrano (que entrou por volta das 04h30), Imperatriz (iniciou
a apresentação às seis da manhã), Beija-Flor (que já
enfrentava um atraso de seis horas, havia se preparado para
desfilar à noite, e começou a apresentação com o sol forte das
8h da manhã). Por volta das dez da manhã, entrou em cena a
Caprichosos de Pilares, e já passava das 12h30 de terça-feira
quando a Portela finalmente iniciou seu desfile, que
encerraria a interminável empreitada.
Na quarta-feira, Globo e Manchete transmitiram a
apuração, com mais um show de Carlos Imperial na
divulgação das notas “dez, nota dez”. Uma novidade é que,
em 1985, tanto Globo quanto Manchete mostraram o Desfile
das Campeãs.
Depois da apuração dos votos, e da definição da grande
campeã do Carnaval do Rio de Janeiro (que na ocasião foi a
Mocidade, com o enredo “Ziriguidum 2001”), as seis melhores
escolas de samba se prepararam para voltar ao Sambódromo
no sábado seguinte, para o Desfile das Campeãs.
Em 1985, já abolido o Supercampeonato e os desfiles
novamente unificados, a Liesa decidiu que, em todo sábado
imediatamente posterior ao carnaval, aconteceria o Desfile
das Campeãs, evento tão eletrizante quanto os de domingo e
segunda, no qual os componentes das escolas estão
orgulhosos, emocionados e mais soltos, comemorando e
vendo seu trabalho ser reconhecido. As cinco primeiras
colocadas no Grupo 1-A (Mocidade, Beija-Flor, Vila Isabel,
Portela e Caprichosos), mais a campeã e a vice do Grupo 1-B
(Ponte e Unidos da Tijuca, essas duas com acesso garantido à
elite do carnaval brasileiro no carnaval do ano seguinte)
tiveram a honra de participar do Desfile das Campeãs.
Naquele ano houve espaço ainda para uma convidada de
fora da cidade do Rio de Janeiro. A escola de samba
paulistana Nenê de Vila Matilde, campeã no seu certame em
1985, foi convidada a desfilar com a nata do carnaval carioca,
sendo até hoje a primeira e única escola de São Paulo a
desfilar na Sapucaí.
A ordem de desfile do dia das campeãs de 1985 ficou
assim:

1) Unidos da Tijuca, vice-campeã do Grupo 1-B


2) Ponte, campeã do Grupo 1-B
3) Caprichosos, 5ª colocada Grupo 1-A
4) Portela, 4ª colocada do Grupo 1-A
5) Vila Isabel 3ª colocada do Grupo 1-A
6) Beija-Flor, vice-campeã do Grupo 1-A
7) Nenê de Vila Matilde, campeã do carnaval de São Paulo
8) Mocidade, campeã do Grupo 1-A

A Nenê passou pela Passarela do Samba entre a Beija-


Flor de Nilópolis e a Mocidade Independente de Padre Miguel,
com o enredo “O Dia que o Cacique Rodou a Baiana Aí Ó”.
A Manchete começou as transmissões desde as 18 horas
direto do sambódromo da Marquês de Sapucaí, apresentando
os desfiles das oito entidades na íntegra. A Globo exibiu
primeiro o Jornal Nacional e o capítulo da novela-sensação do
horário das 20h, “Corpo a Corpo”. Logo depois é que passou a
transmitir ao vivo da Passarela do Samba.

1986 – Guerra é guerra

O carnaval de 1986 ganhava em inovação e tecnologia.


Eram instalados relógios eletrônicos na pista de desfiles do
Sambódromo, para marcar o tempo de cada escola.
O desfile passava a ser linear, com a construção de
cadeiras de pista na local da antiga Praça da Apoteose.
A Globo promovia o carnaval com reportagens nos
telejornais nos meses que antecediam os desfiles. Quando a
data se aproximava, as chamadas se intensificavam durante
os intervalos da programação. Outro canal muito importante
de divulgação do carnaval na emissora global era o Cassino
do Chacrinha. Logo após o lançamento do disco de samba-
enredo, o Velho Guerreiro convidava as escolas de samba
para mostrarem seus hinos no auditório do programa
vespertino, o que geralmente acontecia a partir do mês de
dezembro.
Já a Manchete, com seu “Carnaval Total”, teve uma
sacada genial que conquistou a todos os amantes do carnaval
e influenciou até mesmo a concorrência e cuja consequência
até hoje está presente: as chamadas “vinhetas carnavalescas”
durante os intervalos da programação, utilizando um
expediente muito simples.
A produção ainda era incipiente. Com uma locução em
off em cima da imagem de uma passista em estúdio em
chroma key, a Manchete convidava o telespectador: “aprenda
a letra do samba-enredo de sua escola”. E a seguir soltava o
áudio da gravação original do samba-enredo (primeira
passada) com a letra aparecendo em legendas no rodapé da
tela e trechos de cenas do desfile do ano anterior da
respectiva escola. Cada audição durava, em média, dois
minutos e meio. Uma ousadia e tanto para a época.
Ousadia que a ferrenha concorrência da Globo não
poderia suplantar, haja vista que 150 segundos é
considerado muito tempo em termos comerciais e que a líder
audiência não teria como despender em sua programação. E
assim, em 1986 e 1987, a Manchete fez com que seu público
telespectador amante do carnaval aprendesse a letra do
samba de sua escola nos intervalos da programação do canal.
Só dois anos depois, em 1988, que a Globo adotou o
mesmo sistema para apresentar o samba-enredo das escolas
durante os intervalos comerciais. Ainda assim não chegava
ao atrevimento da rival, de dois minutos e meio. Quando
muito, a Globo podia disponibilizar, no máximo, um minuto e
meio do áudio do samba nos intervalos de sua programação –
o que significaria a execução da primeira parte da letra do
samba até mais ou menos o “refrão do meio” do samba.
Chega o carnaval e estava tudo certinho para a
transmissão dos desfiles. A TV Globo iria exibir os dois dias
do Grupo Especial e novamente o Sábado das Campeãs. A TV
Manchete, como de praxe, cobertura total dos bailes,
concursos de fantasias e desfiles das escolas de samba
(Grupo Especial, no domingo e na segunda, e o Grupo 1-A,
que naquele ano, aconteceu na Terça-feira Gorda).
Até aí, tudo beleza. Só que não combinaram com os
russos. No caso, com o russo Adolpho Bloch, dono do Império
Manchete, nascido em Jitomir, lugarejo a 140 quilômetros da
capital Kiev, na Ucrânia. Mas quando Bloch nasceu sua
cidade natal pertencia a outro império, o Império Russo.
A TV Manchete preparou uma surpresa para toda a
audiência, inclusive para a concorrência. A emissora da Rua
do Russel colocara nas cercanias da Sapucaí, próximo à área
de concentração, um gigantesco painel luminoso com o
logotipo da Manchete. O M em neon não parou de brilhar e de
piscar uma só vez durante os quatro dias de transmissão. A
marca visual da Manchete ficava visível pela TV toda vez que
o enquadramento das câmeras mostrava a pista em plano
aberto, com a letra M brilhando em cima da escola em desfile.
Um verdadeiro acinte, que colocou a Globo em polvorosa para
tentar “esconder” ou, no mínimo, “maquiar” a logomarca da
rival.
No Carnaval 86, a Globo transmitiu ao vivo os desfiles
das escolas de samba do Grupo 1-A (Especial), nos dias 9 e
10 de fevereiro; mostrou em compacto os melhores momentos
dos desfiles do Grupo 1-A, nas tardes dos dias 10 e 11;
transmitiu a apuração do carnaval, no dia 13, e o Desfile das
Campeãs, no dia 15 de fevereiro.
A Manchete fez a transmissão ao vivo dos desfiles das
escolas de samba do Grupo 1-A, nos dias 9 e 10 de fevereiro;
do Grupo 1-B, no dia 11; da apuração, no dia 13 de fevereiro,
e do Desfile das Campeãs, no dia 15 de fevereiro. Também
exibiu bailes carnavalescos e concursos de fantasias de luxo e
originalidade.

1987 – Nasce o “pool” no carnaval e a guerra das


logomarcas

No mundo corporativo, “pool” é um acordo temporário


entre duas ou mais empresas para a execução de
determinado projeto, gerando uma caixa única e rateando
posteriormente os lucros entre as partes.
Nos meios de comunicação, um pool de imprensa
envolve representantes de todos os tipos de mídia que se
“associam” para cobrir um evento. O material é utilizado
igualitariamente dado a todos no mesmo momento.
Resumindo: sem favorecimento à emissora A ou B.
Aparentemente.
Em 1987, a disputa entre as televisões Globo e
Manchete na cobertura carnavalesca se acirrava cada vez
mais. A fim de apaziguar a agressividade dos ânimos, ambos
canais assinaram um acordo de cooperação para a
transmissão do carnaval de 1987: o famoso pool. Ficou
definido que a Globo era responsável pela imagem e a
Manchete pelo áudio. No entanto, até no acordo de
cooperação se encontraram brechas para manter a rivalidade
e a individualidade de cada empresa.
Um confronto de logotipos marcava a entrada do
Sambódromo. A televisão da Família Marinho queria dar uma
resposta à altura àquele letreiro luminoso e acintoso com o
símbolo da concorrente no carnaval do ano anterior. E fez um
painel ainda maior do que o M em neon da Manchete.
Já a emissora da Família Bloch disponibilizou mil
funcionários na Passarela do Samba e levou novidades como
a câmera-robô – com grua e controle remoto – que garantia os
melhores closes e dispensava a presença de um cameraman
nos lugares onde isso era impossível, e um helicóptero para
fornecer imagens aéreas da Avenida.
Neste primeiro tempo da peleja carnavalesca, a
inovadora Manchete arrancou vencendo e manteve uma
vantagem nos primeiros anos de sua rival. Mas a Globo é um
império de comunicação e um império sempre contra ataca,
como veremos no capítulo seguinte.

MANCHETE
Narração: Paulo Stein
Comentários: Albino Pinheiro, Fernando Pamplona, Haroldo Costa,
José Carlos Rego, Maria Augusta, Roberto Barreiras e Sérgio Cabral.
Reportagens: Adelzon Alves, Carla Ramos, Carlos Alberto Torres,
Eliane Furtado, Geraldo Carneiro, Marcos Uchôa, Tarlis Batista, Xico
Teixeira, entre outros.
CAPÍTULO 5 – NA TELA DA TV NO
MEIO DESSE POVO... (ANOS
80/90)

Segundo round Manchete versus Globo; exclusividade global


em 1988; vinhetas hollywoodianas; pode preparar o seu
confete; o glamour dos concursos de fantasias; o humor no
carnaval; carnaval da Pauliceia; Mulata Globeleza

Lá vou eu
Lá vou eu
Hoje a festa é na avenida
No carnaval da Globo
Feliz, eu tô de bem com a vida
“Carnaval Globeleza” (Jorge Aragão e Franco) – Tema da
cobertura carnavalesca da TV Globo desde 1991.
eber do próprio veneno é uma expressão popular

B que significa ser prejudicado pelas próprias


atitudes, como fazer algum mal para alguém e
depois sofrer o mesmo mal. Guardadas as
devidas proporções, podemos fazer este
comparativo sobre o que aconteceu com a TV Manchete no
carnaval de 1988.
Como vimos no capítulo anterior, em apenas três anos,
a Manchete havia caído nas graças dos carnavalescos. A
emissora havia se transformado na namoradinha do
carnaval, no xodó da folia, a “estação primeira” da maior festa
popular do país, como diria um de seus slogans. Ao ponto de
várias personalidades ligadas ao carnaval (dirigentes,
destaques) preferirem conceder entrevista à Manchete em
detrimento à Rede Globo.

O carnaval é do povo

Pois bem. O segundo semestre do ano de 1987


transcorria normalmente e a TV Manchete contabilizava seus
dividendos de prestígio pela cobertura ampla que vinha
fazendo da folia. E o canal já estudava como iria fazer no
próximo ano, no carnaval que marcaria o ano do centenário
da abolição da escravatura. Eis que, de repente, estourou
uma bomba pelos lados da Rua do Russel.
O empresário da área de música e de desportos, Marcos
Lázaro (1925 - 2003), fora agente artístico de artistas do porte
de Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Wanderléa, Elis Regina e
Chico Buarque nos anos 60 e 70. Considerado um dos
introdutores do conceito de show biz no Brasil, Lázaro havia
comprado os direitos de exclusividade na transmissão do
carnaval carioca junto à Liesa e à Riotur, e depois revendido
para a TV Globo. Segundo se especulou na época, o negócio
foi da ordem de 800 mil dólares.
Começou um corre-corre para tentar reverter a situação
e incluir a Manchete na cobertura dos desfiles da Sapucaí. A
emissora da Família Bloch chegou a promover um debate em
rede nacional e em horário nobre entre os jornalistas
carnavalescos da casa (Paulo Stein, Tarlis Batista, etc) e a
direção da Liesa – na época presidida por Ailton Guimarães
Jorge, o Capitão Guimarães – para tentar sensibilizar as
partes e liberar a transmissão à TV Manchete.
O ex-carnavalesco e comentarista da Manchete,
Fernando Pamplona, em entrevista ao jornal Verve, na edição
de número 8, de fevereiro de 1988, chamou Marcos Lázaro de
“atravessador e testa-de-ferro”.
Em fevereiro de 1988, a Rede Globo impetrou uma
medida judicial buscando impedir que duas emissoras
transmitissem o desfile, garantindo assim à emissora do
Jardim Botânico a transmissão exclusiva. Ordem contrária
na mão, a Manchete precisou desmanchar todos os
equipamentos na sexta-feira, dia 12, véspera do início dos
desfiles. Mas ainda aguardava, ao menos judicialmente, que a
qualquer momento a decisão pudesse ser revogada.
A Manchete colocou várias chamadas ao longo da
programação prometendo uma cobertura de 150 horas de
transmissão de carnaval em todo o Brasil na esperança de
reverter a decisão judicial. A rede anunciava “blocos, frevo, o
fricote (sic) da Bahia, os bailes de salão, os concursos de
fantasia”, enfim, o carnaval de norte a sul. Mas deixava no ar
se haveria ou não a tradicional transmissão dos grupos 1-A
(no domingo e na segunda) e 1-B (no sábado).
As chamadas de divulgação começaram a ir ao ar logo
após a manifestação judicial. Por este motivo, o locutor fala
em “grito de guerra” e que “o carnaval é do povo, o carnaval é
nosso”. O único samba-enredo presente na trilha da chamada
da Manchete era o samba da Portela para o carnaval daquele
ano, “Na Lenda Carioca, os Sonhos do Vice-Rei”, dos
compositores Neném, Mauro Silva, Isaac, Luizinho e
Carlinhos Madureira, com destaque para o sintomático refrão
Briga, eu, eu quero briga / Hoje eu venho reclamar...
Houve até espaço para um improvisado jingle feito de
última hora, com uma crítica velada à exclusividade da
concorrência e à não liberação da transmissão para a TV da
empresa Bloch:

Amigo obrigado
Por tantos carnavais
A coisa hoje está mudada
Sua pele bronzeada
Não respeitam mais
Com certeza vamos sorrir de novo
O carnaval é do povo
O carnaval é do povo (8x)

A Manchete então recorreu a uma medida prosaica. Para


ajudar a preencher as prolongadas 150 horas de
programação carnavalesca anunciada, a emissora abriu os
arquivos e pôs em reprise – praticamente na íntegra – os
desfiles desde a inauguração da Passarela do Samba, em
1984. O nome do programa era Escolas de Samba, uma
edição comentada dos carnavais passados.
E nos intervalos, além de manter atualizado de hora em
hora o noticiário carnavalesco Jornal do Carnaval, o canal
informava aos telespectadores que estava fazendo todos os
esforços possíveis para garantir a transmissão ao vivo dos
desfiles do carnaval carioca de 1988.
No entanto, a emissora passou os quatro dias de
carnaval sem transmitir os desfiles ao vivo. A decisão só foi
revertida na manhã de quarta-feira de Cinzas, liberando a
Manchete de ao menos exibir a apuração do carnaval. Os
profissionais da rede estavam a postos de plantão para que,
no momento em que a apelação fosse deferida, todos os
equipamentos fossem montados para a transmissão do maior
espetáculo da terra.
Se por um lado a Manchete não tinha o desfile das
escolas de samba, que era seu carro-chefe da cobertura de
carnaval, por outro lado, a emissora resolveu alavancar a
audiência com outro produto que dava bastante ibope: os
bailes de salão. E exagerando (para não dizer apelando) na
sensualidade e na nudez dos foliões. A luxúria estava no ar e
isso incomodou o Congresso Nacional e até alguns colegas
gabaritados da empresa.

Saída de Alexandre Garcia

A nudez excessiva no Carnaval teria sido o principal


motivo pelo qual o jornalista Alexandre Garcia deixou a
Manchete em 1988.
Nos anos 1980, o jornalista gaúcho nascido em
Cachoeira do Sul foi diretor da TV Manchete em Brasília (DF).
Era responsável por uma das maiores audiências do canal na
época: “Crônica da Semana”, quadro exibido no Programa de
Domingo, que mostrava os bastidores do poder de maneira
diferenciada, com humor e sagacidade.
Garcia havia sido um dos fiadores para a conquista da
concessão da Manchete. Com muito prestígio entre os
políticos, o jornalista havia sido porta-voz do governo de João
Figueiredo (1918 - 1999), entre 1979 e 1980.
No Carnaval de 1988, perdendo a guerra com a Globo e
ficando sem os direitos de transmissão dos desfiles das
escolas de samba do Rio de Janeiro, a Manchete compensou
fazendo a cobertura ao vivo de salões de bailes.
No entanto, como destacou o Jornal do Brasil da edição
de 26 de fevereiro, a Manchete “mostrou seios e bumbuns em
profusão, ganhando alguns pontos no Ibope, mas também
provocando a ira quaresmal do Ministério das Comunicações,
que ameaça multá-la”.
As cenas mostradas no Carnaval não desapontaram
somente o governo. Garcia, de acordo com a reportagem,
considerou o trabalho da empresa “uma baixaria”. O
comentarista ficou muito irritado quando, para compensar o
transtorno causado, a direção da TV Manchete pediu para ele
gravar uma mensagem do então presidente José Sarney para
a campanha em favor das vítimas da enchente do Rio. “Isso é
hipocrisia e demagogia. Vão fazer a campanha para limpar a
barra e evitar a punição por causa do Carnaval. Eu não entro
nessa. E não trabalho mais nesta empresa”, disse o
jornalista.
Alexandre Garcia não pôde nem se despedir, de acordo
com o JB. Foi impedido de entrar no Jornal da Manchete.
“Disseram que não tinham confiança no que eu ia dizer",
contou o jornalista. E a demissão se consumou.
Sua saída foi muito conturbada, com direito a proibição
de entrar no ar e até mesmo no prédio da extinta rede de TV.
“O porteiro da emissora tinha ordem expressa para não
deixar Alexandre entrar no prédio sem antes avisar",
informou a reportagem do Jornal do Brasil.
A Globo ficou de dona do campinho no carnaval de
1988. Nem foi preciso batizar a cobertura televisiva da folia
daquele ano. Era apenas “Carnaval 88”.
Além dos direitos exclusivos de transmissão do Grupo 1-
A, elite carnavalesca do Rio de Janeiro, no domingo e na
segunda-feira de carnaval, a Globo ainda transmitiria, no
sábado, para o estado do Rio de Janeiro, os desfiles do Grupo
1-B, a segunda divisão do carnaval carioca, cuja campeã e a
vice ascenderiam para a primeira divisão no ano seguinte.
Para a praça de São Paulo, o canal exibiria as escolas de
samba do Grupo Especial paulistano. A Plim-Plim estava
realmente como o diabo e Momo gostavam.
A novidade da Globo naquele ano foram as vinhetas com
a apresentação dos sambas-enredo das escolas de samba do
Grupo 1-A, iniciativa descaradamente “influenciada” (alguns
dirão que foi copiada) da Manchete, que implantara a ideia
em 1986. Em se tratando de uma emissora que tinha no
comando das operações um homem extremamente criativo,
chamado José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, a ideia foi
obviamente melhorada, e recebeu uma produção digna dos
mais requintados filmes de Hollywood.
Dois anos após a Manchete, a Globo adotou o mesmo
sistema para apresentar o samba-enredo das escolas dos
grupos 1-A e 1-B durante os intervalos comerciais. O
esquema foi feito também na praça de São Paulo, com
vinhetas das escolas de samba paulistanas. Ao contrário da
concorrente, que apresentava o áudio do samba com imagens
de carnavais anteriores durante dois minutos e meio (a média
de uma passada inteira de um samba enredo), a Plim Plim
exibia um clipe especialmente produzido para ser usado como
chamada com cerca de 90 segundos de duração.
Era levado aos estúdios da Central Globo de Produção
um grupo de sambistas de cada escola, incluindo o intérprete
principal, uma pequena bateria, casal de mestre-sala e porta-
bandeira, passistas, baianas, destaques de fantasias, etc. Era
gravada a participação desse grupo-show com o puxador
cantando em playback e, na pós-edição, eram inseridas
imagens do desfile do ano anterior. Além, é claro, da letra do
samba em formato de legenda, que aparecia no rodapé da
tela.
Eram feitas duas versões do clipe de cada escola: uma,
com duração de um minuto e meio do áudio do samba, que
era exibida nos intervalos da programação, o que significa a
execução da primeira parte da letra do samba até o “refrão do
meio”. A outra versão (estendida, que mostrava a íntegra da
letra do samba, com o áudio que abrangia a primeira passada
do samba), era exibida durante a transmissão dos desfiles,
geralmente antes da apresentação de cada escola.
A partir daí, as demais emissoras passaram a copiar
esse formato de clipe, proposto pela Globo. Até a Manchete se
rendeu.
A Globo, no entanto, foi modificando o formato a cada
ano. Os anos foram passando e, atualmente, o clipe foi
transformado em uma vinheta de 30 segundos, no qual se
escuta quando muito o refrão e os primeiros versos da letra.
No sábado, dia 13 de fevereiro, às 20:30, a Globo exibiu
capítulo inédito da novela “Mandala”, novela-sensação da
época, escrita por Dias Gomes (1922 - 1999) e que contava
com Vera Fischer, Nuno Leal Maia e Felipe Camargo no
elenco.
Às 21:20, iniciou-se a transmissão do Desfile das
Escolas de Samba do Grupo 1-B (2º Grupo), que se
apresentaram, pela ordem: Tupy de Brás de Pina (“E Agora,
José?”), Paraíso do Tuiuti (“Filho de Branco é Menino, Filho
de Negro é Moleque”), Império da Tijuca (“Nosso Sinhô, Rei
do Samba”), Arranco (“Pra Ver a Banda Passar”),
Acadêmicos do Engenho da Rainha (“De Sete em Sete,
Pintando o Sete”), Lins Imperial (“Primavera é Tempo de
Saudade, Tributo a Zinco e Caxambu”), Unidos do
Jacarezinho (“Parabéns Pra Vocês”), Acadêmicos de Santa
Cruz (“Como se Bebe nesta Terra”), Independentes de
Cordovil (“Burle Marx”) e Unidos de Lucas (“Na Ginga do
Samba, Aí Vem Ataulfo”).
No domingo, dia 14, logo após o Fantástico, a Globo
transmitiu, diretamente da Marquês de Sapucaí, a primeira
noite do Grupo 1-A. Pela ordem: Unidos da Tijuca (“Templo
do Absurdo – Bar Brasil”), Mocidade Independente de Padre
Miguel (“Beijim, Beijim, Bye Bye Brasil”), União da Ilha do
Governador (“Aquarilha do Brasil”), Imperatriz
Leopoldinense (“Conta Outra que Essa Foi Boa”), São
Clemente (“Quem Avisa Amigo É”), Estácio de Sá (“O Boi Dá
Bode”), Acadêmicos do Salgueiro (“Em Busca do Ouro”),
Portela (“Na Lenda Carioca, os Sonhos do Vice-Rei”).
A segunda noite teve mais oito escolas, cujos desfiles
foram ao ar após a novela “Mandala”. Por ordem de
apresentação: Tradição (“O Melhor da Raça, o Melhor do
Carnaval”), Caprichosos de Pilares (“Luz, Câmera e Ação”),
Beija-Flor (“Sou Negro, do Egito à Liberdade”), Unidos do
Cabuçu (“O Mundo Mágico dos Trapalhões”), Unidos da
Ponte (“O Bem Amado Paulo Gracindo”), Unidos de Vila
Isabel (“Kizomba, Festa da Raça”), Império Serrano (“Pára
com Isto, Dá Cá o Meu”), Estação Primeira de Mangueira
(“100 Anos de Liberdade, Realidade ou Ilusão?”).
O carnaval de 1988 também encerrou o ciclo do Júri da
Globo. Foi o último ano que os especialistas convidados
concederam as notas oficiosas. Na cobertura do grupo
especial participaram como avaliadores informais:
- Márcio Antonucci (1945 - 2014), cantor, músico e
produtor, ex-integrante da dupla Os Vips, que fez muito
sucesso na Jovem Guarda. Márcio dos Vips “julgou” bateria
durante a transmissão;
- Jorge Aragão, cantor e compositor, analisou o quesito
samba enredo;
- Billy Acioli, ex-carnavalesco do Paraíso do Tuiuti, ficou
com os quesitos harmonia e evolução;
- Antônio Carlos Athayde, diplomata, jornalista e um
dos fundadores do Bloco Clube do Samba, julgou enredo e
conjunto;
- Lena Frias (1944 - 2004), jornalista e pesquisadora de
MPB, avaliou Comissão de Frente e Mestre-Sala e Porta-
Bandeira.
Por último, a figurinista Marília Carneiro, à época
trabalhando na TV Globo, julgou os quesitos fantasias e
alegorias e adereços.
Os comentaristas nos desfiles do Grupo 1-B foram o
ator e produtor cultural Jorge Coutinho e o radialista e
compositor Rubem Confete.
A transmissão exclusiva do carnaval de 1988 pela
Globo, como não poderia deixar de ser, foi um sucesso.
Restou à TV Manchete exibir a apuração e o aceno da
emissora líder de audiência de que poderia transmitir o
Sábado das Campeãs.
No entanto, no dia 20 de fevereiro caiu uma chuva
torrencial no Rio de Janeiro, provocando destruição em
diversos pontos do estado. O caso mais grave aconteceu no
bairro de Santa Teresa, no centro do Rio, onde toneladas de
pedra e terra rolaram sobre a Clínica Santa Genoveva,
soterrando cerca de 40 pessoas, entre funcionários e
pacientes, sendo a maioria das vítimas formada por idosos.
As principais vias da cidade ficaram alagadas.
Ao todo, as chuvas torrenciais provocaram 273 mortes
no estado, sendo 78 na capital fluminense. O número de
desabrigados chegou a 22 mil. Esse triste cenário fez com que
a Liesa cancelasse definitivamente o Sábado das Campeãs.
Com isso, o mítico carnaval “Kizomba”, da campeã Vila
Isabel, foi literalmente um desfile único. Quem viu, viu.
Quem não viu, não terá uma segunda chance.
Como as campeãs não iriam se reapresentar devido às
chuvas que assolaram a cidade do Rio de Janeiro, a Globo
resolveu então exibir no início da tarde de sábado, dia 20 de
fevereiro, logo após o Jornal Hoje, um supercompacto com os
melhores momentos do primeiro e segundo lugares dos
grupos 1-A e 1B, na ordem em que as agremiações se
apresentariam no dia das vencedoras na Sapucaí:
Jacarezinho, Arranco do Engenho de Dentro, Mangueira e
Vila Isabel.

Pode preparar o seu confete que este ano na avenida


tem Manchete – CARNAVAL 89

Era questão de honra a Manchete reagir. Única


emissora a estar presente no sambódromo, no ano de 1984,
não poderia pagar o vexame de, após não mostrar os desfiles
na avenida, em 1988, ficar novamente de fora do ponto alto
do carnaval da Sapucaí pelo segundo ano consecutivo. E foi o
que a emissora fez. Reagiu.
Após o turbulento ano da exclusividade global, Liesa e
as duas emissoras de TV chegaram a um consenso, fizeram
as pazes e voltaram novamente a transmitir os desfiles dos
grupos 1-A e 1-B em pool.

Após o réveillon, tudo é carnaval na Globo

A Globo começava a falar de carnaval logo após ter


concluído a programação especial de fim de ano, que incluía
os especiais de Natal de Roberto Carlos e de Xuxa, Missa do
Galo e filmes de primeira linha não exibidos ao longo do ano.
Uma baixa muito importante para a Globo para o
carnaval e até hoje sentida foi a morte do apresentador
Abelardo Barbosa e o fim de seu Cassino do Chacrinha. Desde
que voltara a ocupar as tardes de sábado na Rede Globo, em
1982, Chacrinha dedicava um espaço considerável para o
carnaval, ora convidando as escolas de samba para
divulgarem seus sambas-enredo, ora executando suas
impagáveis marchinhas carnavalescas durante o programa.
O “Cassino” por si só já era um ambiente carnavalesco,
festivo e colorido, com várias personalidades do meio
participando do programa na condição de jurados
convidados, como Luiza Brunet, Monique Evans, Elke
Maravilha (que chamava Chacrinha de “Painho”) e até o
radialista Edson Seraphin de Santana, que fazia o gênero
mal-humorado e que era sempre recebido com vaias pela
plateia do Teatro Fênix. Edson Santana (que tratava
Chacrinha pela alcunha de “Guerreiro”) foi o Rei Momo oficial
da cidade do Rio de Janeiro durante 11 carnavais
consecutivos, entre 1972 e 1982.
Já doente, Chacrinha chegou a ser substituído, a partir
de 11 de junho de 1988, pelo humorista João Kléber. O
último Cassino do Chacrinha foi levado ao ar no dia 2 de
julho de 1988. O comunicador morreu em 30 de junho de
1988, vitimado por um câncer de pulmão.
Mas logo após a virada do ano, a Globo já iniciava a
inclusão das vinhetas dos sambas para o carnaval de 1989
nos intervalos da programação.
Desta vez, a Globo preferiu um formato mais simplista.
Saíram as superproduções hollywoodianas do ano anterior,
para entrar em cena apenas o intérprete e o casal de mestre-
sala e porta-bandeira da escola em estúdio, tendo ao fundo o
logotipo da emissora e a execução do samba em playback.

Na TV Globo é que a gente leva fé

Além dos clipes com a letra dos sambas, a Rede Globo


encomendou um jingle para anunciar as transmissões do
carnaval de 1989, que incluía os Desfiles das Escolas de
Samba do Rio de Janeiro e de São Paulo – este pela segunda
vez na emissora.
A peça publicitária tinha como base a melodia do
belíssimo (porém, pouco lembrado) samba da Mangueira de
1983, “Verde que Te Quero Rosa”, dos compositores Heraldo
Faria, Flavinho Machado e Geraldo Neves.
A letra foi adaptada para a cobertura global e a gravação
e o clipe tiveram a interpretação da voz maior de Jamelão
(1913 - 2008). Isso dois anos antes do surgimento do jingle
“Globeleza”, que viria caracterizar o Carnaval da Globo a
partir de então.

A Globo é, é
Samba no pé, no pé
Na TV Globo é que a gente leva fé
A Globo é, é
Samba no pé, no pé
Quem sabe, sabe e vai dizer como é que é
(Vem Brasil)
Brasil, tá na hora
Vem pra avenida sambar
Explode a bateria noite afora
Que o povo todo vai desfilar
Esquece a tristeza, cante com a gente
São mais de 20 anos que beleza
Na Globo o carnaval é bem mais quente
É tempo de sorrir, cantar
É a voz do povo, chama que arde
É a Rede Globo, felicidade
(Com a gente)
Com a gente
Na alegria e na tristeza
Vendo um tempo novo
No raiar do sol do nosso povo
(É tempo!)
É tempo de alegria
Suando em pleno verão
Do nascer do dia
A Globo é o estandarte
De um povo cheio de emoção
É tempo de sorrir, cantar
Na Rede Globo o carnaval vai arrasar
É tempo de sorrir, cantar
A Globo é sabedoria popular

Como podemos notar, o jingle tinha uma letra


provocativa e essa provocação tinha endereço certo. Claro, só
poderia ser a Rua do Russel.
A Globo rogava para si a expertise no comando das
transmissões carnavalescas, pedindo a cumplicidade do
público, haja vista as expressões “na Globo é que a gente leva
fé”, e “quem sabe, sabe e vai dizer como é que é”. A letra do
samba adaptado também frisava que não era de hoje que a
emissora estava ao lado dos carnavalescos, pois “são mais de
vinte anos, que beleza”.
Por fim, a Plim-Plim garantia ao público a excelência na
transmissão (Na Rede Globo o carnaval vai arrasar) e que a
emissora sabia exatamente o que o povo queria (a Globo é
sabedoria popular).
Uma superequipe da Central Globo de Jornalismo foi
convocada para a cobertura da festa: na ancoragem da
transmissão estavam Léo Batista e William Bonner
(concentração) e Eliakin Araújo e Fernando Vanucci
(descrição do desfile). Na reportagem, nomes como Beatriz
Becker, Fátima Bernardes, Glória Maria, Leila Cordeiro,
Marcelo Rezende (1951 - 2017), Maurício Kubrusly, Sandra
Moreyra (1954 - 2015) e Valeria Monteiro (acompanhando os
vip’s pelos camarotes da Sapucaí), entre outros.
No lugar do polêmico e controverso Júri Oficioso, a
Globo optou por dois nomes de peso e de respeito dentro do
espectro do samba e da música popular brasileira: Lecy
Brandão e Paulinho da Viola foram contratados como
comentaristas dividindo o cargo com o veterano Sérgio
Cabral.
Primeira mulher a ingressar na ala de compositores da
Estação Primeira de Mangueira, Lecy concorreu na quadra
diversas vezes. No entanto, nunca venceu uma disputa na
verde e rosa. Por uma briga ocorrida meses antes do carnaval
de 1987 com o então presidente Carlinhos Dória (1943 -
1987), que na ocasião também demitiu o diretor de Harmonia
da escola, Xangô da Mangueira (1923 - 2009), a cantora
anunciou que não desfilaria pela escola. Logo em seguida ela
foi convidada a comentar o carnaval pela TV Globo.
Na condição de comentarista, Lecy Brandão sempre
destacava a aparição dos sambistas na telinha. Também
evitava termos como “morro”, “vila” ou “favela”, locais que a
mangueirense preferia chamar de “comunidades”, ajudando a
popularizar a expressão.
A cantora e compositora foi comentarista dos Desfiles
das Escolas de Samba do Rio de Janeiro pela TV Globo até
1993. Após uma pausa de seis anos, a artista voltou a
comentar o carnaval carioca em 2000 e 2001. Entre 2002 e
2010 comentou os Desfiles das Escolas de Samba de São
Paulo pela mesma emissora. Por ter assumido uma cadeira
como deputada estadual na Assembleia Legislativa de São
Paulo em 2011, a Globo não permitiu sua participação na
cobertura. Desde então, Lecy (que até o momento foi eleita em
três legislaturas) está de fora das transmissões Globeleza.
Levado à Portela, em 1963, pelo diretor de bateria Oscar
Bigode, Paulinho da Viola causou boa impressão logo no
primeiro encontro com os integrantes da azul e branco de
Oswaldo Cruz, ao firmar parceria com cantor e compositor
Casquinha (1922 - 2018) no samba “Recado”. Três anos
depois, a Portela se sagrou campeã do Carnaval ao desfilar
com o samba-enredo “Memórias de um Sargento de Milícias”,
composto pelo próprio Paulinho, que logo foi alçado ao cargo
de presidente da ala de compositores.
Insatisfeito com o gigantismo das escolas de samba
tradicionais, nas quais os sambistas estavam perdendo a voz
para pessoas estranhas ao meio, Paulinho deixa de desfilar
com a Portela após Carlos Teixeira Martins, o Carlinhos
Maracanã (1926 - 2020), assumir a presidência da escola logo
depois da morte de Natal da Portela, em 1975.
O cantor então se alia ao compositor Antônio Candeia
Filho (1935 - 1978) e a outros sambistas na fundação da
mítica Escola de Samba Arte Negra Quilombo. No entanto, o
autor de “Foi Um Rio que Passou na Minha Vida” sempre
manteve laços afetivos com setores da Portela, principalmente
com a Velha Guarda, que sempre participou de seus shows e
da gravação de seus discos.
Paulinho da Viola começou a comentar o carnaval na TV
Globo formando dupla com Lecy Brandão em 1987.
Permaneceu na cobertura da emissora ininterruptamente até
1994. Com a saída de Carlinhos Maracanã da presidência da
azul e branco, Paulinho volta a desfilar com a Portela no
carnaval de 1995, após 20 anos de ausência da avenida.
O carnaval também marcou a estreia de Fausto Silva na
Vênus Platinada. Depois do grande sucesso como
apresentador do programa Perdidos na Noite, exibido entre
1985 e 1988 pela TV Bandeirantes, o début do apresentador
na nova casa se deu em fevereiro de 1989.
Durante a transmissão carnavalesca, o ex-radialista
esportivo comandava o “Camarote do Faustão” e entrevistava
foliões famosos e anônimos que passavam pela Sapucaí, no
Rio de Janeiro. No mês de março do mesmo ano, Faustão se
apropriou de vez das tardes de domingo da Globo, estreando
o “Domingão”, programa de auditório que ficou no ar por 32
anos, até o dia 13 de junho de 2021, quando o apresentador
encerrou seu ciclo na emissora.
Em um dos vídeos mais curiosos, Faustão entrevistou
um anão vestido de jacaré, um dos destaques da Unidos do
Jacarezinho. Brincando, o comunicador fez perguntas para o
folião, como “você ganha por desfile ou mordida?” e “qual sua
profissão fora d'água?”.
Já a TV Manchete iniciou bem cedo a cobertura
“Carnaval Brasil” para 1989. No mês de outubro de 1988,
estreavam dois programas que marcaram época na emissora
e prosseguiram nos anos seguintes: Feras do Carnaval e
Esquentando os Tamborins.

A Voz do Carnaval

Ator, escritor, produtor cultural e apaixonado pelo


samba e pelo Salgueiro, Haroldo Costa esteve presente em
toda história da TV Manchete, sendo o principal comentarista
do Carnaval da emissora, trabalhando ao lado de Fernando
Pamplona, Maria Augusta e Paulo Stein na locução e
comentários dos desfiles da Sapucaí. Haroldo apresentou
diversos boletins e programas: Na Passarela do Samba,
inicialmente com direção de Nelson Pereira dos Santos, em
que fez uma série de reportagens resumindo a história de
cada escola; Botequim do Samba, Feras do Carnaval (que
também teve a apresentação de Neguinho da Beija-Flor
durante muitos anos), Jornal do Carnaval e Debates de
Carnaval.
A estada na Manchete possibilitou a Haroldo Costa o
seu retorno à teledramaturgia em 1989. O ator começou a
carreira profissional na década de 40, no Teatro Experimental
do Negro, companhia teatral fundada por Abdias Nascimento
(1914 - 2011). Teve como colegas de grupo nomes que fariam
história na própria Globo, como Ruth de Souza (1921 - 2019),
Grande Otelo (1915 - 1993) e Milton Gonçalves. Seria no
teatro, inclusive, que teria seu primeiro êxito profissional.
Haroldo Costa viveu o protagonista da peça Orfeu da
Conceição, e foi o primeiro ator negro a atuar no Theatro
Municipal do Rio. A partir de 1989, o artista enfileirou
atuações em novelas de sucesso como “Kananga do Japão”
(1989), “Pantanal” (1990) e “A História de Ana Raio e Zé
Trovão” (1991).
Mas o prato principal fornecido por Haroldo Costa era o
marcante Esquentando os Tamborins. Através de boletins
diários de três minutos de duração, o programa mostrava a
preparação das escolas de samba para o Carnaval.
Esquentando os Tamborins fazia a alegria dos amantes das
escolas de samba na saudosa Rede Manchete.
Com o fim da Manchete, o artista criou a Haroldo Costa
Produções Artísticas, e foi recontratado pela Rede Globo para
comentar o Carnaval carioca e participar do núcleo de
teledramaturgia, nas produções de seriados e minisséries.

Olha o “Feras do Carnaval” aí gente!

Outro programa que fez muito sucesso e que marcou


época na cobertura televisiva da TV Manchete foi o Feras do
Carnaval, cuja apresentação ficava a cargo do mais famoso
intérprete do carnaval carioca.
O soldado do Corpo de Bombeiros Luís Antônio Feliciano
Marcondes, conhecido em Nova Iguaçu como “Neguinho da
Vala” começou sua trajetória no carnaval na noite de 29 de
fevereiro de 1976. O público presente à passarela instalada
no Mangue assistiu surpreso e estupefato a uma pouco
conhecida escola de samba vinda da Baixada Fluminense.
A agremiação da cidade de Nilópolis apresentava um
enredo sobre o jogo do bicho. O povão nas arquibancadas
ficou muito impressionado com a interpretação de um jovem
de pouco mais de 25 anos e, com uma voz potente, cantava
“Sonhar com Rei Dá Leão”, um animado samba de sua
autoria e, volta e meia, gritava ao microfone, como se
apresentasse a sua até então semiobscura escola de samba
ao público: olha a Beija-Flor aí, gente! Bem, depois daquele
desfile, Luís Antônio se tornou Neguinho da Beija-Flor.
Juntos, Neguinho e a gigante Beija-Flor de Nilópolis,
conquistaram 13 campeonatos no Grupo Especial e
incontáveis vices. Em seis oportunidades a escola desfilou
com sambas de sua autoria. Até hoje, o intérprete foi
agraciado com cinco Estandartes de Ouro (1985, 2002, 2003,
2009 e 2013).
Na apresentação do Feras do Carnaval, Neguinho da
Beija-Flor era muito elogiado pela simpatia à frente das
câmeras e espontaneidade dentro do estúdio. Com um
formato idêntico ao do Esquentando os Tamborins, o
programa mostrava os bastidores do carnaval através de
boletins diários de três minutos cada, entrevistando
intérpretes, mestres-salas, porta-bandeiras, mestres de
bateria, carnavalescos e diretores. Também era comum o
“Feras” dar voz a artistas anônimos como componentes de ala
das baianas, ritmistas e funcionários dos barracões.
Para marcar posição que estava irremediavelmente de
volta ao carnaval, a Manchete lançou um jingle histórico, que
passou a ser marca registrada do carnaval da empresa:

Vem, fique com a gente


Nesta cobertura genial (ge-ni-al)
Nossa turma animada está toda preparada
Vai ser o melhor carnaval
E no meio da avenida
A Manchete em ação
A moçada reunida
Explodindo de alegria
Vai cantar com emoção
Pode preparar o seu confete
Que este ano na avenida tem Manchete

Apesar de, nos carnavais seguintes, a Manchete ter


lançado outros jingles para marcar a cobertura da folia, o
samba “Pode Preparar o seu Confete” (de autoria não
identificada) se tornou uma espécie de hino definitivo da
programação carnavalesca da emissora.
Antecipando a folia de 1989, a TV Manchete exibiu, em
quatro sábados, de 7 a 28 de janeiro daquele ano, uma
excelente iniciativa de incentivo à música e à dança de
carnaval, mas que infelizmente foi descontinuada pela
emissora: o 1º Festival Manchete de Sambas-Enredo e de
Passistas.
O certame foi gravado ao vivo, no Teatro João Caetano,
no centro do Rio, durante o “Seis e Meia” – projeto popular
musical que vigorou entre as décadas de 70 e 80, idealizado e
dirigido por Albino Pinheiro.
O festival consistia em escolher o melhor intérprete, os
melhores passistas masculino e feminino e o melhor samba
do ano entre as dezoito escolas do Grupo Especial. Cada
agremiação subia representada ao palco do teatro pelo
respectivo puxador, um cantor de apoio (opcional), músicos
no acompanhamento de base (cavaquinho e violão), uma
minibateria e dois casais de passistas. O coro ficava a cargo
do conjunto vocal As Gatas.
Formado pelas cantoras Dinorah Lemos (1936 - 2006),
Zenilda Barroso (1935 - 2012), Zélia (1941 - 2017) e
Francinete, a única remanescente da fase inicial do grupo
que permanece viva, o grupo gravou os corais nas faixas de
todos os discos de samba-enredo entre 1968 e 2003. As
Gatas também eram convidadas para auxiliar os intérpretes
na avenida. A Beija-Flor, escola que elas desfilaram pela
primeira vez em 1977, era a mais frequente.
A cada sábado eram apresentadas no programa de tevê
de quatro a cinco escolas. As performances eram comentadas
pelo jornalista José Carlos Rego.
Apenas Mangueira, Beija-Flor e Imperatriz não enviaram
seus intérpretes principais. Considerados hors-concours (fora
de concurso), Jamelão, Neguinho e Dominguinhos do Estácio
(os três, à época, eram contratados de gravadoras) não
compareceram às apresentações, sendo substituídos,
respectivamente, por Sobrinho, Gilson Bacana e Preto Joia.
Os demais canários estavam lá: Rixxa (Salgueiro), Sylvio
Paulo e Espanhol (Arranco), J. Leão (Caprichosos), Bira
Haway (Estácio de Sá), Paulo Samara (Império Serrano), Ney
Vianna (Mocidade), Dedé (Portela), Geraldão (São Clemente),
Candanda (Tradição), Quinho (União da Ilha), Aroldo Melodia
(Ponte), Nêgo (Unidos da Tijuca), Gera (Vila Isabel), Di Miguel
(Cabuçu) e Carlinhos de Pilares (Jacarezinho).
A final foi exibida na quarta-feira de Cinzas, dia 8 de
fevereiro. O festival premiou em sua primeira e única edição a
obra “Liberdade, Liberdade, Abre as Asas Sobre Nós”, dos
compositores Niltinho Tristeza, Preto Joia, Vicentinho e
Jurandir, como o melhor samba do ano.
Peço perdão aos leitores, mas vou ficar devendo os
nomes dos vencedores do festival nas categorias intérprete,
passista masculino e passista feminino. A memória do
escriba já não é a mesma de 30 anos atrás e, naquela época,
este então futuro jornalista ainda não dispunha de aparelho
de videocassete.

100 versus 1.000 – CARNAVAL 1990

Em 1990, o duelo Globo versus Manchete prosseguia no


auge, sem sinal de trégua por nenhuma das partes. Desta vez
era cem versus mil.
Novamente as duas emissoras transmitiram no sábado
de carnaval as escolas do Grupo 1-B e no domingo e na
segunda, o grupo 1-A. Os carnavalescos e a audiência
televisiva agradeciam.

Não tem pra ninguém...

Na comemoração de seus 25 anos de fundação, o braço


televisivo das organizações comandadas pela família Marinho,
surgido em 1965, lançava uma das campanhas mais
memoráveis da história da emissora. O slogan era “Globo 90
é nota 100”. A campanha contava com o elenco da TV Globo,
formado por artistas e jornalistas, cantando uma música cujo
refrão dizia: Não tem pra ninguém / A Globo 90 é nota 100.
Em 1989 uma jovem estudante negra de 18 anos de
idade disputou o título de Garota de Ipanema. Era a única
negra entre as candidatas. Ficou apenas em quarto lugar,
mas com a sua simpatia e alegria no samba, encantou o
público e os jurados do concurso, entre eles estava Hans
Donner, designer austríaco radicado no Brasil, que convidou
a garota a estrelar a vinheta de carnaval da Rede Globo em
1990.
“A Globo faz escola, no Carnaval deita e rola”, anunciava
a primeira vinheta de carnaval que a modelo Valéria Valenssa
protagonizou. Criada por Donner (com quem Valéria viria a
casar anos depois), a chamada ganhou o nome de Globeleza
no ano seguinte, quando foi apresentada a música “Samba da
Globo”, composta por Jorge Aragão e José Franco Lattari
(1952 – 2007), compositor da União da Ilha do Governador, e
cantada pelo intérprete Quinho, recém egresso também da
tricolor insulana e contratado pelo Salgueiro.
Em 1993, Valéria apareceu sozinha na vinheta e
recebeu o título de “Globeleza”, nome pelo qual também ficou
popularizado o jingle da cobertura.

A Casseta cai no samba

Em 1990, a turma do Casseta & Planeta estreou na


frente das câmeras da Globo no carnaval, com muita
irreverência e criatividade.
Debochadamente, a galera surgida da união das turmas
de duas publicações do Rio de Janeiro – a revista Casseta
Popular e o tabloide Planeta Diário – se autointitulava como
“a turma da genitália desnuda”, expressão que constava no
regulamento da Liga Independente das Escolas de Samba, no
qual cada escola deveria “impedir a apresentação de pessoas
que estejam com a genitália desnuda (à mostra), decorada
e/ou pintada”.
A proibição aconteceu porque no ano anterior, a modelo
e escritora Enoli Lara foi para a avenida completamente nua,
tendo apenas um véu como adereço durante o desfile da
União da Ilha do Governador, que apresentou o enredo “Festa
Profana”, sobre a história do Carnaval.
No “Camarote do Casseta”, os humoristas Roberto Adler,
o Beto Silva; Cláudio Besserman Viana, o Bussunda (1962 -
2006), Cláudio Manoel Mascarenhas Pimentel dos Santos;
Helio Antônio do Couto Filho, o Hélio de La Peña; Hubert de
Carvalho Aranha; Marcelo Garmatter Barretto, o Marcelo
Madureira, e Reinaldo Figueiredo, praticamente repetiram o
que Fausto Silva fez no ano anterior: entradas ao vivo nos
intervalos entre os desfiles das escolas de samba
entrevistando celebridades, sambistas e rainhas de baterias.
O improviso das perguntas e as piadas com os artistas
renderam boas gargalhadas.
No entanto, na batalha pelo ibope carnavalesco, se a
Globo havia avisado que não tinha pra ninguém, pois em 90
era nota 100, a Manchete devolveu a provocação de forma
exponencial.
A emissora da família Bloch pegou a nota cem da
concorrente e multiplicou pela nota dez (conceito máximo de
um quesito de carnaval) e criou o Carnaval Nota Mil. Daí o
slogan: “Carnaval Brasil, na Manchete é nota mil”.

Fantasia

Outro ponto alto das transmissões televisivas eram os


concursos de fantasias. A TV Manchete desde 1984 exibia o
famoso Concurso Oficial de Fantasias do Rio de Janeiro,
realizado no Hotel Glória. Era uma transmissão externa fácil
de fazer porque o hotel ficava a menos de 200 metros do
edifício sede da Rede Manchete, na Rua do Russel.
O concurso foi criado em 1975, e desde o primeiro ano,
já despontava a figura de Clóvis Bornay com suas fantasias
cheias de pompa. Os concursos aconteciam sempre no
Sábado de Carnaval, pela manhã. A apresentação era feita
sempre por um casal de jornalistas: Ronaldo Rosas e Jacyra
Lucas, no início, e Augusto Xavier e Paula Barthel, nos
últimos anos de cobertura.
O roteiro obrigatório dos concorrentes era andar em
linha reta pelo salão tangenciando a mesa do júri, parar no
final e se exibir para o público que assistia ao desfile. Davam
voltas e mostravam todo traje enquanto o apresentador falava
quem desfilava, o nome do criador da fantasia, material que
era confeccionado e, sobretudo, seu significado – em alguns
casos, uma tarefa complicada. Os concorrentes se
apresentavam embalados ao som da gravação de uma trilha
sonora instrumental – geralmente ao som de órgão e bateria
eletrônica.
Os nomes das fantasias eram curiosos e extensos, como
“Glória, Glória, Aleluia a um Imperador Bizantino”, “Perua
Pavoneante Bailando em Versalhes”, “Esplendor e Glória de
Marte, Deus da Guerra” ou o “Pão Nosso de Cada Dia”. Havia
cinco categorias: Originalidade Masculina e Feminina, Luxo
Feminino e Masculino e Fantasia Show.
Um dos símbolos dessa fase áurea dos concursos de
fantasia do Glória era sem dúvida Clóvis Bornay, uma figura
tradicional do universo carnavalesco. Museólogo no Museu
Histórico Nacional, o artista foi carnavalesco das escolas de
samba Acadêmicos do Salgueiro, em 1966; Unidos de Lucas e
Unidos de Vila Santa Tereza, em 1967; Unidos de Lucas em
1968 e 1969; Portela em 1969 e 1970; Mocidade
Independente de Padre Miguel em 1971 e 1972, e Unidos da
Tijuca e Unidos do Viradouro – na época desfilando em
Niterói – em 1973. Com a Portela ganhou o campeonato de
1970 com o enredo “Lendas e Mistérios da Amazônia”, que foi
reeditado pela própria escola no carnaval de 2004.
Bornay introduziu inovações como a figura do destaque,
que é uma pessoa luxuosamente fantasiada sendo conduzida
do alto de um carro alegórico. Após se tornar celebridade,
viajou o mundo com suas fantasias. Alguns de seus trabalhos
foram expostos no Brasil e são acervo de outros museus no
exterior. Ganhou tantas vezes, que não permitiram que
concorresse mais, pois tiraria a chance dos outros
candidatos. A organização do concurso criou uma categoria
específica para ele: hors-concours (fora de concurso). Clóvis
Bornay virou hors-concours do Hotel Glória.
O Concurso de Fantasias do Hotel Glória teve 34 edições
até 2008, ano em que, após 86 anos de atividade e 50 anos
como propriedade da família de Eduardo Tapajós, o hotel foi
vendido ao empresário Eike Batista, mas desde 2013 está
abandonado. Triste fim de um imóvel que foi conhecido por
ter abrigado o primeiro cinco estrelas do País e que hospedou
19 presidentes da República.

Luxo e originalidade abriam a cobertura de carnaval

A TV Manchete também exibiu outros certames que


consagravam os grandes artistas e suas criações fantásticas,
mostradas ao vivo, em primeira mão, em rede nacional de
televisão, para abrir os festejos do Carnaval.
Era assim nos hotéis Tamoio e Le Méridien, e nos clubes
Monte Líbano, Metropolitan, Federal e Sírio e Libanês. Um
nome que se destacava como apresentador dos concursos de
fantasias era do carnavalesco Oswaldo Jardim (1960 – 2003).
Ator, engenheiro e cenógrafo, Jardim trabalhou como
assistente de Arlindo Rodrigues na TV Manchete. Apresentou
concursos de fantasias na mesma emissora onde atuou 14
anos como cenógrafo. Era considerado o “Rei da Espuma”,
devido a sua habilidade de trabalhar com o referido material
na confecção de esculturas e adereços.
O carnavalesco assinou trabalhos na Estácio de Sá
(1986), Império Serrano (1989), Unidos do Jacarezinho
(1990), Unidos da Tijuca (1991, 1992, 1995, 1998 e 1999),
Unidos de Vila Isabel (1994 e 2000) e Estação Primeira da
Mangueira (1996 e 1997). Em 2000, já com a saúde
debilitada, Oswaldo Jardim ganhou o prêmio Estandarte de
Ouro como Personalidade do Carnaval. Sua morte precoce,
aos 44 anos, vítima de complicações causadas por Hepatite
C, até hoje é sentida pelos amantes do carnaval.

Equipe de craques

Enquanto a TV Globo agregava qualidade na cobertura


de carnaval, a Manchete – para provar que era “nota mil” –
também reforçava consideravelmente seu time de
comentaristas para a transmissão dos desfiles.
O jornalista Roberto Barreira Vasconcellos (1944 - 2002)
dedicou boa parte da vida às publicações voltadas ao público
feminino. Por mais de três décadas trabalhou na Bloch
Editores, servindo às revistas “Ele e Ela”, “Pais e Filhos” e
“Amiga”.
Barreira foi correspondente da empresa em Paris e na
Itália, onde fez cursos de editoração para lançar a revista
“Desfile”. O jornalista ajudou muitas modelos em início de
carreira a se tornarem celebridades, como Xuxa Meneghel e
Luiza Brunet. Nascido em Belém do Pará, o convidado
comentava sobre figurinos e alegorias e tinha um olho clínico
para identificar tecidos e adereços.
Outro craque que se agregou à cobertura Carnaval
Brasil era um mestre do ritmo e um gênio das tiradas bem
humoradas. Nilton Delfino Marçal, o Mestre Marçal (1930 -
1994), havia dirigido a bateria da Portela por mais de 20
anos. Logo após o desfile de 1986 foi expulso da escola pelo
presidente Carlinhos Maracanã. Mesmo tendo sido agraciado
com o prêmio Estandarte de Ouro de melhor bateria do
Carnaval daquele ano, Marçal estava proibido pela diretoria
até mesmo de frequentar a quadra da escola.
Depois da Portela, regeu os batuqueiros da Unidos da
Tijuca. Logo na estreia, em 1987, a escola que havia descido
para o Grupo 1B no ano anterior, foi campeã da categoria,
empatada com a Tradição. Ambas agremiações, das
comunidades do Borel e do Campinho, ganharam o direito de
voltar para o grupo especial.
O consagrado diretor permaneceria ainda na amarelo
ouro e azul pavão tijucana por mais dois carnavais (1988 e
1989). Paralelamente a isso, Mestre Marçal já tinha seis
discos de carreira lançados, fazia shows, participava de
gravações em estúdio e também integrava o time de músicos
nos shows de Chico Buarque.
Marçal havia decidido dar um tempo de comandar
ritmistas e focar na sua carreira fonográfica. Após parar logo
depois do carnaval de 89, foi convidado a ser comentarista
pela TV Manchete. Na cobertura do Carnaval 90 fez duras
críticas ao desfile, aos sambas e também à falta de técnica
dos instrumentistas. Suas análises recheadas de bom humor
e sarcasmo se tornaram marca registrada, mas também se
tornaram alvo de polêmica. Os ácidos comentários geraram
desentendimentos com algumas escolas. O artista ainda
permaneceria na equipe da Manchete em 1991 e 1992.
Para 1991, devido às reclamações, descontentamentos e
até intimidações de vários carnavalescos, dirigentes e da
própria Liesa às análises proferidas pela equipe, a TV
Manchete advertiu alguns comentaristas, sobretudo Marçal e
Fernando Pamplona. O mestre de bateria absorveu o “cartão
amarelo” e maneirou nas críticas nos anos seguintes. Já
Pamplona, no entanto, resolveu se afastar do carnaval –
alegando que fora até ameaçado de morte – retornando
apenas em 1994.
Após o carnaval de 1991, a então emergente Unidos do
Viradouro (detentora de 18 títulos no Carnaval de Niterói)
contratou Mestre Marçal para dividir o comando da bateria
com Paulinho Botelho, diretor egresso da Caprichosos de
Pilares. A inusitada parceria gerou uma saia curta. No
carnaval de 90 Marçal criticou abertamente o desempenho da
bateria da escola de Pilares e o comando de Mestre Paulinho
– na época, uma estrela em ascensão no mundo do samba.
Com divergências entre os dois e muitas brigas, Mestre
Marçal, após um ensaio, foi vaiado na quadra da escola e,
consequentemente, pediu demissão ao presidente José Carlos
Monassa Bessil (1940 - 2005) após três meses de trabalho.
Marçal acabou voltando para a TV Manchete para comentar
pelo terceiro ano consecutivo o carnaval pela emissora.
Outra atração proporcionada por Mestre Marçal foram
suas pérolas, frases de efeito e tiradas bem-humoradas que
ajudaram a tornar a transmissão mais leve:
Alô, bateria! – expressão utilizada como cumprimento
aos amigos mais chegados. Também podia ser usada como
uma advertência.
De hora em hora, uma colher de chá – frase de efeito,
utilizada em qualquer circunstância, mas sem um significado
próprio.
Estou vendo vários ritmistas tocarem caixa e tarol
em cima do ombro. Meu irmão, o que se toca em cima do
ombro é violino... Vou mandar eles (sic) tocarem um
surdo de marcação em cima do ombro. Aí é que eu quero
ver... – muito crítico e conservador em relação às baterias,
com visão de quem regeu ritmistas por mais de três décadas,
Mestre Marçal desferia pesadas críticas aos batuqueiros que
insistiam em tocar instrumentos como taróis e caixas de
guerra posicionando em cima dos ombros. Também não era
adepto do que ele chamava de “modernidades” nas baterias,
como as paradinhas, cadências marcheadas e ritmos
acelerados.
Eu moro em cima do sapato – significa uma pessoa
andarilha ou que não tem rumo certo. Também pode
significar alguém que age impetuosamente, que faz as coisas
sem planejamento ou programação.
Eu não posso perder esse emprego – frase utilizada
em diversas situações para justificar a própria presença na
referida ocasião. No caso de Marçal, na transmissão da TV
Manchete.
Eu quero mais é que o mundo se acabe em barranco,
que é para eu morrer escorado – expressão que significa
não querer fazer nada, nenhum esforço, só querer sossego ou
moleza.
Juntou pé com cabeça – significa algo desconexo, fazer
alguma coisa que não faz o menor sentido. Equivalente ao
“sem pé nem cabeça”.
Ô sorte! – Bordão consagrado pelo amigo e baterista
Wilson das Neves (1936 - 2017), que repetia sempre, nas
mais diversas situações. A autoria da expressão, entretanto, é
atribuída ao cantor Roberto Ribeiro (1940 - 1996), quando
este descobriu que Das Neves também era, assim como ele,
do Império Serrano. A partir dali, sempre que os dois (Roberto
e Wilson) se encontravam, diziam em uníssono “Ô sorte”.
Passarinho que anda com morcego aprende a
dormir de cabeça pra baixo – expressa de maneira
metafórica o poder da influência de se relacionar com outros
indivíduos, o que pode ser em casos específicos influências
negativas. O equivalente a “olhe com quem você anda” ou
“cuidado com os amigos que tem”.
Quem dorme de favor não tem direito a esticar as
pernas – denota que quem está em uma posição inferior não
pode querer obter vantagem ou ter conforto.
Quem esquenta a cabeça é fósforo – frase bem
humorada que representa que não devemos nos preocupar
com coisas à toa.
Quem não pode com o tempo não inventa moda –
indica que quem não quer arcar com as consequências de
uma ação, não a pratique; quem não quer enfrentar as
dificuldades de uma situação, não se meta nela. A frase
consta no livro “O Cortiço”, de Aluísio de Azevedo
(originalmente publicado em 1890).
Se a onça morrer, o mato é nosso – significa que basta
alguém com autoridade estar ausente para que seus
subordinados aproveitem no sentido de fazer tudo aquilo que
não fariam caso o chefão estivesse presente. Equivalente ao
“os gatos saem, os ratos tomam conta.
Se não é pelo acompanhamento musical, não tem
Pavarotti que sustente – Marçal dizia essa frase
considerando a importância de se confiar em bons músicos
para fazer o instrumental com qualidade para o cantor
colocar a voz.
Tem que deixar o cavalo correr na pista de grama –
quando explicava que algo (no desfile) deveria fluir sem
complicações ou transtornos; em paz; no macio,
tranquilamente.
Vamos comer esse mingau pela beirada do prato –
expressão bastante popular que quer dizer “ir aos
pouquinhos”. Aprendemos com nossas avós que mingau
quente deve ser comido pelas beiradas, para não queimar a
boca.
O bicho tá pegando – um dos bordões mais repetidos e
característicos de Mestre Marçal. Quer dizer que a situação
está difícil, complicada, tensa ou perigosa.

Outro craque do time galáctico do “Carnaval Nota Mil”


foi, sem dúvida, José Carlos Rego (1935 – 2006), integrante
de primeira hora do Carnaval da TV Manchete desde 1984 até
1997. Jornalista, escritor e pesquisador de carnaval, Zé
Carlos, como era chamado pela equipe, iniciou sua carreira
em jornais estudantis e sindicais na década de 50.
Em 1957, integrou o corpo de jurados para o desfile do
carnaval, realizado pela primeira vez na Avenida Rio Branco.
Por essa época, Rego trabalhou como repórter carnavalesco
para o jornal Diário Carioca e, no ano seguinte, transferiu-se
para o periódico Última Hora, de Samuel Wainer (1910 -
1980), no qual atuou como repórter policial e se destacou na
cobertura das escolas de samba.
José Carlos Rego era também apaixonado pelo Império
Serrano, sobre o qual fez pesquisas de caráter antropológico
que não chegou a expor em livro, como a de que a agremiação
se formou e cresceu em torno das relações de casamento e
parentesco sanguíneo e afim entre as famílias Santos e
Oliveira, envolvendo mais de 250 integrantes de ambas.
Morador do bairro de Lins de Vasconcellos e vizinho da
quadra da Unidos do Cabuçu, Zé Carlos pertenceu à ala de
compositores da escola, sendo um dos autores do samba-
enredo “A Lenda do Dragão Dourado” junto com os parceiros
Taú Silva e Jacó, no carnaval de 1982.
Seu grande furo de reportagem foi apresentar à justiça o
assassino de Odylo Costa Neto (morto em 1963, aos 18 anos),
cujo pai, Odylo Costa Filho (1914 - 1979), foi o renovador da
imprensa brasileira.
Um dos maiores conhecedores do universo do samba
carioca, Zé Carlos deixou para a posteridade pelo menos um
trabalho original e único (infelizmente hoje muito raro de se
encontrar): o livro “Dança do Samba – Exercício do Prazer”
(1996), da Aldeia Editora, no qual nominou e descreveu 156
coreografias da dança e do ritmo, em depoimentos de cerca
de uma centena de passistas famosos.
Jurado do Estandarte de Ouro desde sua primeira
edição em 1972 até 2005, José Carlos Rego faleceu vítima de
um acidente vascular cerebral aos 70 anos, em plena quarta-
feira de Cinzas de 2006.

“Requentando os Tamborins”

Até no humor e na paródia ao carnaval havia


competição entre Globo e Manchete. Se a turma do Casseta e
Planeta fazia a alegria na transmissão do Plim-Plim, a
Manchete respondia com a verve e o talento do músico,
humorista e radialista Serginho Leite (1955 - 2011).
Na Manchete, Serginho apresentou por duas
temporadas (1990 e 1991) o quadro Requentando os
Tamborins, esquetes que entravam no ar nos intervalos
comerciais da programação carnavalesca da emissora.
Serginho Leite trabalhou durante três décadas como
locutor de rádio e se tornou popular no programa Show de
Rádio, da Jovem Pan. Ele era conhecido pelas imitações de
celebridades, como Agnaldo Timóteo, Cauby Peixoto, Maguila,
Paulinho da Viola, Pelé, e por paródias que criava
acompanhado do violão.
Outros trabalhos do locutor e humorista que se
tornaram conhecidos foram os jingles e comerciais para rádio
e TV do personagem Bom de Boca, da Cepacol, do Tigre Tony,
do Sucrilhos Kellogg's, e do elefante Jotalhão, do molho de
tomate Cica.

1991 - Carnaval Brasil enfrenta a Globeleza

O carnaval de 1991 mantinha Globo e Manchete em pé


de igualdade de transmissões, com as duas emissoras se
esmerando de apresentar a melhor qualidade em termos de
programação carnavalesca.
O “Carnaval Brasil” da emissora da família Bloch seguia
expandindo seus domínios: Rio, São Paulo, Nordeste e o Sul.
A Globo, naturalmente acostumada à liderança de audiência,
nomeava sua cobertura de “Carnaval Globeleza”, igualmente
ampliando seu poder de transmissão.
Ainda sobre a música-tema “Globeleza”, uma
curiosidade: durante algum tempo a ideia da Central Globo
de Produção era renovar a cada ano a voz do cantor na
gravação do samba, ficando a cargo do intérprete titular da
escola campeã do carnaval anterior.
Assim, em 1991, a primeira gravação do jingle Globeleza
ficou a cargo do carismático Quinho (à época no Salgueiro),
muito devido ao seu inesquecível desempenho no carnaval de
1989, com “Festa Profana”, na União da Ilha.
Depois, a emissora tentou, a cada ano, fazer com que o
intérprete da campeã do carnaval gravasse o tradicional tema
musical. Iniciativa essa que não chegou a se concretizar
plenamente.
Entre 1991 e 2018 (último ano em que o samba foi
gravado na versão original), seis puxadores puseram a voz na
obra de autoria de Jorge Aragão e Franco, na transmissão
carioca: Quinho, Paulinho Mocidade, Dominguinhos do
Estácio, Preto Joia, Neguinho da Beija-Flor e Tinga, além do
cantor Diogo Nogueira.
A voz do intérprete da Beija-Flor foi a que mais apareceu
(onze edições da cobertura Globeleza), seguido de
Dominguinhos do Estácio, com interpretação em sete
ocasiões. O cantor Diogo Nogueira apareceu em três edições.
Curiosamente, dois intérpretes que foram campeões com
suas escolas neste período jamais cantaram oficialmente o
jingle Globeleza: Jamelão (vencedor com a Mangueira em
1998 e 2002) e Wander Pires (pelo título com a Mocidade em
1996).
1991 – voz de Quinho (Salgueiro)
1992 – Paulinho Mocidade (Mocidade)
1993 – Dominguinhos do Estácio (Estácio de Sá)
1994 – Coral de estúdio, pois a campeã de 1993,
Salgueiro, tinha como intérprete Quinho, que já gravara a
primeira versão do samba.
1995 – Preto Joia (Imperatriz Leopoldinense)
1996 – Dominguinhos do Estácio, na época sem escola
(mesma gravação de 1993). Depois, o cantor foi contratado
para ser apoio na Imperatriz.
1997 e 1998 – coral de estúdio
1999 a 2003 – Dominguinhos do Estácio
2004 a 2006 – Neguinho da Beija-Flor
2007 – Tinga (Unidos de Vila Isabel)
2008 e 2009 – Neguinho da Beija-Flor
2010 a 2012 – Diogo Nogueira
2013 a 2018 – Neguinho da Beija-Flor
2019 e 2020 – Coral de estúdio

O desfile do Acesso que só a Manchete exibiu

Em 1991, a Unidos do Cabuçu resolveu homenagear


Adolpho Bloch, empresário e dono de um império das
comunicações, com o enredo “Aconteceu, Virou Manchete”,
do carnavalesco Paulo Afonso de Lima.
No entanto, este foi o único desfile do grupo 1-B de 91
que foi mostrado pela TV. A Globo havia comprado os direitos
do Grupo de Acesso, mas inexplicavelmente não transmitiu. A
Manchete, no domingo de carnaval, à tarde, lançou na TV a
reprise do desfile da Cabuçu, que fora a nona escola a
desfilar no sábado – já no amanhecer do domingo.
Naquele ano, em retribuição pela homenagem ao chefão
da casa, a presidente da Cabuçu, a professora e jornalista
Therezinha Monte, foi convidada a participar da cobertura de
carnaval da TV Manchete como integrante do time de
comentaristas.

O carnaval da Pauliceia entra definitivamente na tela

O carnaval de São Paulo já era mostrado localmente aos


paulistanos pela TV Cultura nos anos 70 e 80, e pelo SBT,
em rede nacional, no início dos anos 80, como vimos no
Capítulo 3 desta série.
A Globo inicialmente começou a transmitir ao vivo os
desfiles do grupo especial diretamente da Avenida Tiradentes
para a cidade de São Paulo a partir de 1987. Por questões
mercadológicas, o desfile das escolas de samba da terra da
garoa passou a acontecer no sábado de carnaval, fugindo da
concorrência com o grupo especial das coirmãs cariocas, que
desde 1984 se realizava no domingo e na segunda.
Em 1994, o desfile do grupo especial de São Paulo
ganha transmissão em rede nacional e, desde 2000 a
apresentação da elite do carnaval paulistano também foi
dividida em dois dias. Mas veremos isso no decorrer do
próximo capítulo.
Voltemos a 1991. O sambódromo de São Paulo era
inaugurado em regime de urgência, depois de dois meses e
meio de obras. Teve atraso de até quatro horas no dia do
desfile. Choveu tanto que a concentração ficou inundada. As
arquibancadas de alvenaria não puderam ser construídas, e o
jeito foi montar as de madeira. A iluminação também não
estava pronta.
Mas os sucessivos problemas não importavam, afinal, a
casa era nova, permanente. O carnaval paulistano finalmente
ganhou a sua passarela definitiva, o Polo Cultural e Esportivo
Grande Otelo, mais conhecido como Sambódromo do
Anhembi, na zona norte.
Com projeto arquitetônico inicial do mesmo Oscar
Niemeyer – que também havia criado o Sambódromo da
Marquês de Sapucaí, no Rio –, o Anhembi era o que faltava
para a profissionalização do carnaval paulistano, segundo
dirigentes da folia na época. A licitação para o início das
obras foi aprovada somente em junho de 1990. O custo, à
época, era orçado em 9 milhões de dólares.
O complexo cultural começou a ser construído ainda na
gestão da então prefeita Luiza Erundina. Foi inaugurado em
1 de fevereiro de 1991 para apenas 10 mil pessoas e
arquibancadas móveis. O espaço só foi totalmente concluído
em 1997, durante o mandato municipal de Celso Pitta (1946 -
2009).
No primeiro carnaval, as arquibancadas tinham espaço
para 25 mil pessoas. Hoje, a capacidade total é de 29.199,
contando camarotes, mesas e cadeiras de pista. Com 530
metros de extensão e 14 de largura, a passarela do Anhembi
não é só o palco das escolas. Recebe shows, feiras e até
mesmo eventos automobilísticos, como a Fórmula Indy,
realizada no local entre 2010 e 2013.
Dez escolas desfilariam no sábado de Carnaval pelo
Grupo Especial pela glória de ser a primeira campeã do
Sambódromo. Em 9 de fevereiro de 1991, a escola de samba
Passo de Ouro entrava para a história como a primeira a
fazer um desfile oficial no Sambódromo do Anhembi, com
“Cabeças e Plumas”, um inusitado enredo que falava sobre
personagens históricos que foram decapitados.
Na sequência, desfilaram: Águia de Ouro homenageando
os imigrantes italianos com o enredo “São Paulo, Pátria Mia”;
Nenê de Vila Matilde, com “É Tudo Mentira, Será que É?”,
sobre as mentiras que foram aceitas como verdade ao longo
da história; Vai-Vai destacou o talento da raça negra nas
artes com “O Negro em Forma de Arte” e a Mocidade Alegre
falou sobre os vários planos econômicos em “A História se
Repete”.
Quinta escola a desfilar, Rosas de Ouro, com “De Piloto
de Fogão a Chefe da Nação”, falou sobre as conquistas da
mulher três décadas antes da palavra “empoderamento” se
tornar moda; Unidos do Peruche apresentou um desfile bem
humorado com “Quem Não Arrisca Não Petisca”; Barroca
Zona Sul entrou na avenida para confirmar sua ascensão
demonstrada desde 1988, quando voltou ao Grupo Especial,
com o enredo “Vestindo a Moda”.
O enredo da Leandro de Itaquera – “Querem Acabar
Comigo” também seguiu a linha crítica da coirmã Mocidade
Alegre. Para encerrar o Carnaval de 1991, o Camisa Verde e
Branco tentava o bicampeonato com o enredo “Combustível
da Ilusão”, que contava a história da cerveja.
A Globo transmitiu os desfiles de São Paulo de 1991
com apenas um narrador e um comentarista no ar. Lecy
Brandão comentou as transmissões do início ao fim,
acompanhada por Carlos Tramontina e Cléber Machado, que
se alternaram na narração.
Já a Manchete, como não iria transmitir o grupo 1-B do
Rio de Janeiro, se preparava para fazer a primeira grande
transmissão do Carnaval paulistano, mobilizando para isso
150 funcionários.
Nesse período, surgiu uma ideia que não só passaria a
valorizar a festa, mas mudaria o Carnaval de São Paulo visto
pela televisão: o diretor Luiz Francfort, na época na TV
Manchete, sugeriu à prefeitura que pintasse o chão de branco
para valorizar a imagem. “Eu via a transmissão do Rio de
Janeiro e achava grandioso. E quando entrava São Paulo, era
aquela coisinha, uma escolinha de samba. Mas não era. De
repente, eu bati os olhos e achei: puxa, é o chão que tira a
grandeza da coisa! Cresceu muito a transmissão do Carnaval
por causa dessa pintura”, explicou Francfort no livro
Aconteceu, virou história.

O Carnaval Globeleza e o Carnaval Campeão – 1992

Em fevereiro de 1992 seria travado mais um round na


disputa momesca entre as estações de televisão. De um lado,
o Carnaval Globeleza. Do outro, o Carnaval Campeão.
Como um boxeador jovem e ainda na flor da idade, a
Manchete arrancava ainda mais cedo e prometia uma
cobertura ainda mais completa: além da transmissão do
Grupo Especial, voltava, após intervalo de um ano, à
transmissão das escolas do Grupo de Acesso, no dia 29 de
fevereiro. Lógico que os demais carros-chefes do carnaval da
emissora (bailes de salão e concursos de fantasias) se
mantinham na programação.
A chamada do Carnaval da Manchete considerava que
seria um “carnaval campeão”. A gravação da música-tema, na
voz de Carlinhos de Pilares (1942 - 2005), contava com uma
letra provocativa:

- O Brasil samba na Manchete! (grito de guerra)

Este ano a história se repete


O Brasil samba na Manchete
Você vai ver passarela colorida
Sua escola na avenida
A galera toda emocionar
E assim como por encanto
A avenida vira um manto
Com as cores do seu coração
Você vai entrar com a gente
Onde o samba rola quente
Nos mistérios da concentração
Camarote, arquibancada
Pode ver, não paga nada
A Manchete é do povão
Brilho, cores e fantasias
Um close nas mulheres mais bonitas
Como é de lei, pinta o replay
E o coração palpita
E de ala em ala vou brincando
A tristeza não tem vez
Neste reino da alegria
O meu corpo se agita
Ao sentir a ilusão
De ser mais um na bateria
Olé, olá, olê, olê
Nós estamos ligadinhos em você
Olé, olá, olê, olê
Fora da Manchete não tem nada a ver

Segundo a letra do jingle, a intenção da emissora era


que o telespectador tivesse a visão e a sensação de ser um
componente de uma escola de samba em pleno desfile. E no
refrão final, um recado em forma de provocação: fora da
Manchete não tem nada a ver, numa clara alusão ao slogan
da Plim-Plim consagrado no ano anterior: “Globo e você, tudo
a ver”.
A volta do Grupo de Acesso foi saudada com
comemoração: 1992 foi um ano em que a categoria estava
“inchada”, e recebeu em um só dia 14 escolas (pela ordem):
Unidos de Campinho; Acadêmicos da Rocinha; Acadêmicos
do Engenho da Rainha; Unidos de Lucas; Arranco; Unidos da
Ponte; Lins Imperial; Acadêmicos do Grande Rio; São
Clemente; Independentes de Cordovil; Unidos do Cabuçu;
Unidos do Jacarezinho; Império da Tijuca e Império Serrano.
A equipe, que já contava com Paulo Stein, José Carlos
Rego, Roberto Barreira, Mestre Marçal e Therezinha Monte,
recebeu mais dois belos reforços. Para revezar com Paulo
Stein a ancoragem da transmissão, foi escalado o
talentosíssimo radialista José Carlos Araújo. E antes do
desfile propriamente dito, Adelzon Alves comandava o
“Botequim do Samba”, que depois ganhou o nome definitivo
de Botequim da Manchete.
José Carlos Araújo, conhecido também como
“Garotinho” (não confundir com o ex-governador do Rio, e
também radialista Anthony Garotinho) é um locutor esportivo
e apresentador de televisão bastante conhecido por seus
trabalhos em rádios na cidade do Rio de Janeiro. Carioca,
nascido em 1940, Garotinho Araújo trabalhou em
praticamente todas estações de rádio na Cidade Maravilhosa:
Globo, Nacional, Bradesco Esportes FM, BandNews FM,
Transamérica, Super Rádio Tupi e Antena 1 Rio. Na TV, teve
experiências na TVE Brasil, CNT, Band e SBT, além de uma
breve passagem pela TV Manchete em 1992.
O jornalista, radialista e produtor Adelzon Alves é um
patrimônio da música nacional. Conhece todos os nomes,
datas e contextos, nos mínimos detalhes. O paranaense de
Cornélio Procópio, nascido em 1939, vivenciou boa parte
deste processo de perto numa época em que as rádios tinham
muito mais apelo cultural e popular. Em 1966 foi lançado seu
programa “Amigo da Madrugada”, na Rádio Globo, onde
iniciou um movimento de valorização do compositor do morro
e recebeu em seu estúdio Cartola, Nelson Cavaquinho, Silas
de Oliveira, Geraldo Babão, Paulinho da Viola, Martinho da
Vila, dentre tantos outros artistas consagrados. Foi produtor
de discos da cantora Clara Nunes, entre eles, Alvorecer,
lançado em 1974.
Na TV Manchete, Adelzon era o bartender do “Botequim
do Samba”. A emissora montava um bar no início do
Sambódromo, ideia que foi copiada nos anos 2000 pela
Globo, primeiro como “Esquina do Samba” e depois como
“Camarote da Globo”. Por lá o jornalista entrevistava os
sambistas das escolas antes de se apresentarem, como
passistas, cidadãos sambas, destaques, etc.
No Botequim, Adelzon pedia aos intérpretes que
cantassem o samba-enredo em ritmo mais lento do que iriam
mostrar na avenida, no intuito de valorizar a melodia e
destacar a letra. Nos anos seguintes, Adelzon ganhou a
companhia do sambista Jorge Aragão na condução do
Botequim e do grupo Samba Som Sete, que fazia o
acompanhamento musical dos intérpretes.
O Samba Som Sete foi formado no início da década de
70, na quadra da então Escola de Samba Unidos de São
Carlos, hoje GRES Estácio de Sá. Era composto pelos
músicos Carlos da Silva Pinto, o Beloba (percussão); Paulinho
“Galeto” Soares (voz e cavaquinho), Betão (surdo e agogô),
Mangueirinha (percussão), Duda (banjo e voz), Paraguaçu
(pandeiro e voz) e Luizinho (baixo e violão).
O grupo teve oito discos lançados e seus músicos
gravaram e acompanharam a fina flor do samba: Alcione,
Almir Guineto, Beth Carvalho, Ismael Silva, Martinho da Vila,
Neguinho da Beija-Flor, Rildo Hora, Zeca Pagodinho, além de
terem participado da gravação de vários discos das escolas de
samba do grupo especial.
E quem não se lembra do samba que nas transmissões
fazia a transição da passarela para o Botequim, com o
seguinte refrão:

Se liga na Manchete
Se liga na Manchete
Tem Botequim, tem Adelzon
Samba Som Sete
Se liga na Manchete
Se liga na Manchete
Tem Botequim, Jorge Aragão
Samba Som Sete

Desde então o “Botequim” se tornou uma tradição


dentro da programação carnavalesca da Manchete. Ia ao ar
no pré-carnaval, apresentando os sambas enredo das escolas,
com a presença dos intérpretes, com o auxílio luxuoso do
Grupo Fundo de Quintal e a apresentação de Oswaldo
Sargentelli (1924 - 2002).
A atração também acontecia antes das escolas iniciarem
o desfile, com os puxadores ou a ala de compositores dando
uma canja acompanhados pelo Samba Som Sete.

Tantos Carnavais

Tantos Carnavais foi uma série de especiais de carnaval,


que ia ao ar aos domingos pela TV Manchete. A atração
durou duas temporadas, em 1991 e 1992, num misto de
jornalismo com números musicais.
O programa recebia vários convidados especiais no palco
do estúdio da emissora. A apresentação ficava a cargo do
cantor Jair Rodrigues (1939 - 2014), que também cantava
acompanhado por músicos da pesada, como Wilson das
Neves (1936 – 2017, bateria), Márcio Hulk (cavaquinho),
Jorge Simas (violão), Paulinho da Aba (1945 – 2017, no
pandeiro), Trambique (1945 – 2016, surdo), Agrião
(tamborim), Alexandre de La Peña (violão 6 cordas), Josimar
Gomes Carneiro (violão 7 cordas) e Mazinho Ventura
(contrabaixo).
Além de muitas cenas gravadas em externa, tal qual
reportagem, a edição de Tantos Carnavais também
privilegiava imagens de arquivo das revistas Bloch.
A rivalidade carnavalesca entre as TVs Globo e
Manchete parecia infinita. A cada ano, os dois impérios de
comunicação disponibilizavam um arsenal de atrações em
suas respectivas programações para abastecer os amantes da
folia.
No entanto, o decorrer da década de 90 mostraria que
haveria caminhos diferentes para as duas tevês. Tanto para o
bem quanto para o mal. Uma terceira emissora de televisão,
oriunda do norte do Paraná, pede passagem no circuito
carnavalesco e finca sua bandeira obtendo êxito. As duas
principais cervejarias do país entram em uma guerra de
marketing e escolhem o carnaval como o front favorito. E o
sotaque soteropolitano, de mansinho, vai invadindo os lares e
“roubando” a audiência com muito axé. É o que veremos no
capítulo 6 da saga da História do Carnaval na TV Brasileira.

GLOBO

Narração: Eliakin Araújo (até 1989), Fernando Vanucci, Hilton


Gomes, Léo Batista e William Bonner.
Comentários: Lecy Brandão, Paulinho da Viola e Sérgio
Cabral.
Reportagens: André Luiz Azevedo, Beatriz Becker, Carlos
Dornelles, Casseta & Planeta, Fátima Bernardes, Fausto Silva, Glória
Maria, Leila Cordeiro (até 1989), Marcelo Rezende, Sandra Moreyra,
Sergio Gregory e Valeria Monteiro.

MANCHETE

Narração: Paulo Stein, Eliakin Araújo (a partir de 1990) e José


Carlos Araújo (em 1992).
Comentários: Albino Pinheiro, Beth Carvalho, Fernando
Pamplona, Haroldo Costa, José Carlos Rego, Maria Augusta, Mestre
Marçal, Roberto Barreira, Sérgio Cabral e Therezinha Monte.
Reportagens: Ana Maria Badaró, Eliane Furtado, Leila
Cordeiro (a partir de 1990), Martha Correa, Milena Ciribelli, Sonia
Pompeu e Tharlis Batista.
CAPÍTULO 6 – O CANTO DESSA
CIDADE É MEU! (ANOS 90)

Manchete e a Era IBF; o Carnaval Axé e a baianidade nagô; a


guerra das cervejas; a prisão dos patronos; o retorno da
Manchete à Sapucaí; o samba de São Paulo em rede nacional
via Rede Globo; o carnaval na selva; a Rede OM/CNT entra
na folia; Band volta a transmitir o Carnaval do Rio de
Janeiro.

Mil voltas o mundo tem


Mas tem um ponto final
Eu sou o primeiro que canta
Eu sou o carnaval
“O Canto da Cidade” (Daniela Mercury e Tote Gira) – a
canção foi a terceira mais ouvida do país em 1992.
pós um decênio de carnaval marcado por uma

A nova ordem imposta pela TV Manchete que


colocou o carnaval praticamente 24 horas na
telinha, logo após a virada dos anos 80/90, houve
uma mexida no cotidiano das transmissões
carnavalescas no decorrer da década noventista.
Além disso, os próprios festejos de Momo mostravam
outra cara: um novo sotaque, desta vez nordestino (mais
precisamente soteropolitano) e cheio de dengo se ajuntava à
turma da folia um ritmo um pouco diferente dos sambas de
enredo ouvidos nas passarelas construídas em concreto.
Ouviram de Salvador, às margens da Bahia de Todos os
Santos, um ritmo mais frenético, igualmente percussivo, mas
que ganhava a sonoridade de guitarras distorcidas e teclados
sintetizadores.
O merchandising também desembarcava com força (e
muita espuma) e em doses superlativas no carnaval
brasileiro. A guerra comercial dos anúncios de TV elegeu a
cerveja, a bebida estival preferida dos brasileiros para brindar
a batalha carnavalesca.
E mais uma emissora resolve entrar no seleto rol da
mídia eletrônica que passa a apoiar o carnaval. E desta vez, é
um canal com sotaque sulista que finca seu estandarte nas
plagas da Sapucaí para apoiar as entidades do grupo de
acesso.
A TV Globo segue na manutenção de sua programação
clássica de carnaval, mas a Manchete deixa as passarelas do
samba um pouco de lado e resolve investir no carnaval de rua
promovido pelo povo baiano. Há quem diga que seria o início
do fim da televisão da família Bloch.
Bem-vindos, finalmente, à década de 90 na história do
carnaval na TV brasileira.
Manchete e a Era IBF (1992 – 1993)

Desde o início de suas operações, a Manchete passou


por crises que eram provocadas por altos gastos em produção
de conteúdo. No entanto, em 1992, o canal passou por sua
primeira grande crise quando estreou sua nova grade de
programação e investiu pesado na telenovela Amazônia.
A megaprodução, escrita por Denise Bandeira e Jorge
Duran, e dirigida por Tizuka Yamasaki e Marcos
Schechtman, foi levada ao ar de 10 de dezembro de 1991 a
29 de junho de 1992, às 21h30, substituindo A História de
Ana Raio e Zé Trovão.
Amazônia reuniu um superelenco de astros e estrelas
que contava, entre outros nomes, com Marcos Palmeira,
Cristiana Oliveira, Júlia Lemmertz, Leonardo Villar (1923 -
2020), Jussara Freire, Antônio Abujamra (1932 - 2015), José
de Abreu e Antônio Petrin nos papéis centrais. Noticiou-se na
época que a Rede Manchete teria investido 20 milhões de
dólares na obra, com o intuito de repetir o sucesso provocado
por Pantanal (novela exibida pela própria emissora em 1990),
um fenômeno da teledramaturgia brasileira. A trama era
uma adaptação do livro de Márcio de Souza, Galvez, o
Imperador do Acre, com o enredo se passando entre os
séculos 19 e 20.
No entanto, o que Amazônia gerou foi uma produção
complicadíssima e um fiasco em termos de audiência,
registrando apenas 2 pontos no Ibope.
Audiência em queda, enormes prejuízos em seu
faturamento e dívidas acumuladas nos anos anteriores. Este
era o cenário desolador da emissora. Logo na estreia da Rede
Manchete, em 1983, Adolpho Bloch investiu 50 milhões de
dólares na estrutura e programação da emissora. Todo esse
investimento, no entanto, não alcançou os resultados
esperados.
Manchete e os programas de apelo popular

Em 1986, portanto, três anos depois da entrada da


Manchete no ar, já havia sido contabilizado um prejuízo de
34 milhões de dólares. Diante desse quadro, a administração
Bloch decidiu investir ainda mais na emissora, buscando
mais recursos e investindo em atrações para as classes mais
populares.
O sucesso adquirido com as atrações infantis,
principalmente com a exibição de seriados japoneses
tokusatsu (termo em japonês para filmes ou séries que fazem
um uso forte de efeitos especiais) a partir de 1988, trouxeram
recursos para a TV Manchete, fundamentais para a
manutenção da rede e para investimentos em outras
atrações.
A teledramaturgia, pelo fato de estar em alta nos anos
de 1989 a 1991, também permitiu o crescimento da Rede
Manchete e foi nessa época que houve os sucessos
supracitados como Kananga do Japão (1989), Pantanal
(1990) e A História de Ana Raio e Zé Trovão (1991).
No entanto, à medida que a Manchete alcançava bons
resultados no campo da teledramaturgia, mais a empresa
investia nesse segmento. É por esse motivo que se
compreende o fato de o prejuízo de Amazônia ter atravancado
tanto a rede. A baixa audiência da novela não só afetou o
faturamento da emissora, mas a deixou sem verbas para se
investir em outras produções.
Dentro desse quadro, sem condições financeiras para
investir e com uma dívida crescente, Adolpho Bloch decidiu
vender a Rede Manchete, em junho de 1992. A compradora
foi a Indústria Brasileira de Formulários (IBF), presidida pelo
empresário Hamilton Lucas de Oliveira.
Hamilton Lucas de Oliveira nasceu em São Paulo, em
1950. Sua família trabalhava no ramo gráfico e desde jovem
também passou a trabalhar na gráfica de sua família,
chamada Triunfo. A empresa se especializou em imprimir
formulários contínuos, usados em contabilidade bancária e
empresarial e bilhetes de loteria.
A estratégia para o crescimento da gráfica consistia na
aquisição de pequenas gráficas em dificuldade financeira.
Logo depois de comprá-las, a família de Hamilton investia
nelas para sanar as dívidas e, a partir do momento em que
começassem a dar lucros, integravam o grupo gráfico. Foi
desse modo que, unidas as empresas, formou-se a IBF de
Hamilton que em 1992 adquiriu a Rede Manchete de
Televisão.
Passaram para as mãos de Hamilton Lucas as cinco
geradoras que compunham a TV Manchete (emissoras em
São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife e Fortaleza)
e as rádios que também pertenciam ao grupo Bloch. O
proprietário da IBF comprou por 70 milhões 49% da TV
Manchete e passou, pelo acordo, a administrar a emissora de
televisão. O controle dos outros 51% do conglomerado
midiático seria repassado após a quitação de todas as
parcelas estipuladas no acordo de venda.
Diante da grave crise econômica herdada da
administração Bloch, logo no mês de julho de 1992 (com
dívidas estimadas em mais de 150 milhões de dólares), a IBF
demitiu 670 funcionários. Nessa época o único destaque da
programação foi o programa Clodovil Abre o Jogo,
apresentado pelo estilista Clodovil Hernandes (1937 - 2009).
A Manchete decidiu apostar então suas últimas fichas
em uma telenovela que gerasse polêmica, mas que não fosse
apelativa, mantendo a imagem de emissora classe A. Para
isso, reuniu os escritores José Louzeiro, Regina Braga, Eloy
Santos e Alexandre Lydia, propondo escrever uma releitura
tragicômica sobre o processo de impeachment que o então
presidente Fernando Collor de Mello enfrentava. O título
escolhido foi O Marajá — palavra-chave muito utilizada em
sua campanha nas eleições presidenciais de 1989.
Marajá é o título dado aos príncipes feudais da Índia.
Atualmente, a denominação é meramente honorífica. No
Brasil, o termo ganhou outro significado: trata-se de
funcionário público ou de empresa pública cujo salário e
demais vantagens são exorbitantemente altos. Esta foi uma
das principais motivações da campanha do então candidato
Collor de Mello: acabar com a corrupção na máquina pública
e as mamatas que supostamente funcionários públicos
tiravam vantagem.
Com direção de Marcos Schechtman (que depois viria a
dirigir as novelas O Clone e Caminho das Índias, na Globo), a
produção tinha a jornalista Mariana, interpretada pela atriz
Julia Lemmertz, como protagonista, revelando os bastidores
do poder. O presidente Elle era uma reprodução quase
perfeita de Fernando Collor: o ator era Hélcio Magalhães, que
apesar da formação como jornalista, trabalhava há três anos
como sósia do presidente, fazendo comícios e campanhas
publicitárias.
Além de Collor, outros nomes presentes durante o
impeachment foram parodiados; Rosane Collor, a primeira-
dama, foi parodiada como Ella, interpretada por Vânia Bellas.
Walter Francis interpretou PC, em referência a PC Farias
(1945 - 1996).
A gravação de O Marajá aconteceu entre o final de 1992
e o início de 1993. Logo que ficou pronta, a novela já
começou a ser anunciada na programação em chamadas
durante os intervalos comerciais.
Mesmo sem citar o nome de Collor, o presidente recém-
saído do poder se ofendeu com a obra e recorreu à justiça.
Com estreia programada para as 21h30 de 26 de julho de
1993, a emissora só foi informada que o recurso de Collor
tinha sido aceito às 18h do mesmo dia.
Uma correria no departamento jurídico se instaurou.
Enquanto tentavam cassar a liminar, o Jornal da Manchete se
estendeu por mais 20 minutos, esperando algum parecer.
Entretanto, a liberação só poderia ser feita depois do
julgamento, que duraria no mínimo 60 dias. Sem ter como
preencher a programação, antecipou a minissérie que
passaria após a estreia de O Marajá, frustrando a audiência
que, curiosa, esperava pela nova novela.
A liberação só ocorreu em 1994 com acordos de cortes
em cenas com referências claras ao ex-presidente.
Porém, Adolpho Bloch não teve interesse em exibir após
os cortes, alegando que os problemas arranjados com a
família Collor e com o Supremo Tribunal Federal só trariam
ainda mais problemas a emissora, que já estava sendo
pautada para haver a cassação de sua concessão. A novela O
Marajá até hoje continua inédita.
Quanto ao paradeiro das fitas da novela: está à espera
da realização de leilão, assim como o acervo de mais de 25
mil fitas da Rede Manchete. Quando o Grupo Bloch decretou
falência, em 2000, o arquivo de imagens estava guardado sob
condições precárias na sede do conglomerado, que se
localizava no bairro carioca da Glória. Mais tarde, foi
removido para um galpão no Rio e, de lá, para um depósito
na Zona Leste paulistana, onde se mantém desde então.

Carnaval Axé 1993

Na época em que a Rede Manchete amargava uma bela


crise, graças à IBF, ela não transmitiu (pela segunda vez em
sua história) os desfiles das escolas de samba do Rio de
Janeiro. Então, foi pra Bahia mostrar o carnaval de Salvador.
Paulo Stein comandou a transmissão da folia soteropolitana
em 1993.
Como não possuía expertise com o carnaval baiano, a
Manchete se uniu com uma emissora local, a TV Aratu. O
canal baiano foi inaugurado sem nome em 15 de março de
1969, como a segunda emissora de televisão do estado da
Bahia, que até então só possuía a TV Itapoan, fundada em
1960 pelos Diários Associados. Quatro meses depois de
fundada que a emissora passou a se chamar TV Aratu, que
remete ao crustáceo que habita os manguezais do Recôncavo
baiano. O logotipo da emissora é um galo, ave símbolo da
capoeira, e razão pela qual a mesma é conhecida como
“emissora do galinho”.
Inicialmente filiada à Rede Globo, a Aratu passou a
retransmitir o sinal da Rede Manchete a partir de 1987 até o
ano de 1995. Esta foi a primeira emissora a transmitir o
carnaval de Salvador em rede nacional em conjunto com a
Rede Manchete no especial “Carnaval Axé” em 1993, e
também foi a primeira a transmiti-lo em alta definição em
2010.
Eduardo Ramos, que era um dos diretores da TV
Manchete, conta no livro Rede Manchete – Aconteceu, Virou
História – que, na fase IBF, ele e Jayme Monjardim fizeram a
primeira grande transmissão do Carnaval da Bahia, que
intitularam de “Carnaval Axé”:

“A Globo havia garantido a exclusividade dos carnavais do Rio e São Paulo.


Eram tradicionais os flashes de Carnaval da Bahia. Mas a transmissão como um
evento, a Manchete foi a primeira. Eu fui para a Bandeirantes por causa do
Carnaval da Bahia. Na época, a Band rivalizava com a Manchete nessa cobertura,
mas até então só na parte jornalística. Em 93 nós entramos com o que existe no ar
hoje, essa transmissão de quatro dias diretos, 24 horas, fizemos isso naquela
época. No ano seguinte, a Bandeirantes me chamou pra fazer. E o de 94, eu fiz
pela Band.”

A experiência do Carnaval da Bahia deu tão certo, que a


partir de 1994, a TV Bandeirantes praticamente desistiu de
fazer a cobertura dos desfiles do Rio e de São Paulo (com
exceção de 1999, como veremos mais adiante) e transformou
a festa baiana em uma tradição, transmitida ano após ano,
levando o nome de “Band Folia”.
A cobertura do carnaval baiano se deu em três grandes
pontos: no Campo Grande, na Praça Castro Alves e na Barra.
Clodovil Hernandes fazia entrevistas ao vivo a bordo de um
saveiro. O estilista trabalhou na transmissão durante dois
dias. No terceiro, desistiu. Tânia Rodrigues, que na época era
apresentadora do programa Almanaque, assumiu o comando.
Além de Jayme Monjardim e Eduardo Ramos, o evento teve
direção geral de Nilton Travesso.
A equipe da Manchete envolveu cerca de 200
profissionais. Na sexta-feira, dia 19 de fevereiro, às 17h, a
emissora exibiu o desfile do bloco As Acadêmicas, em
Salvador. No sábado, domingo, segunda e terça, as
transmissões do carnaval na capital baiana tinham início ao
meio-dia.

Baianidade Nagô

“Axé”. O que seria exatamente isso? Um dos conceitos


mais aceitos é de que o axé seria uma geleia geral musical
surgida no estado da Bahia na década de 1980, durante as
manifestações populares do carnaval de Salvador, que
mistura frevo pernambucano, forró, maracatu, samba-de-
roda, pagode, reggae e ritmos afro caribenhos, como o
calypso.
A palavra “axé” é uma saudação religiosa usada no
candomblé e na umbanda. Para simplificar, vamos dizer que
o termo significa energia sagrada.
Expressão corrente no circuito musical soteropolitano, o
vocábulo foi anexado à palavra da língua inglesa music em
1987 pelo jornalista baiano Hagamenon Brito para formar um
termo que designaria pejorativamente aquele tipo de música
dançante com aspirações internacionais, surgida no estado a
partir do disco Magia, do cantor e compositor Luiz Caldas,
lançado em 1985.
Na época, o estilo foi visto como algo depreciativo, mas,
depois, foi aprovado pelos produtores e artistas do gênero.
Com o impulso da mídia, o “axé music” rapidamente se
espalhou pelo país todo com a realização de carnavais fora de
época, as micaretas, e fortaleceu-se como indústria,
produzindo sucessos durante todo o ano.
O Carnaval Axé da Manchete retratou um momento em
que a música baiana se mantinha na crista da onda no país.
Passavam na telinha artistas que viviam o auge do sucesso
em todo o país, como Daniela Mercury, Carlinhos Brown,
Chiclete Com Banana, Cheiro de Amor (com Márcia Freire
como cantora principal), Banda Mel – hoje Bamdamel – e
Banda Beijo (do então vocalista Netinho).
Daniela Mercury, aliás, se tornava uma espécie de
embaixadora do axé devido ao sucesso de “O Canto da
Cidade”, escolhida para ser a primeira música de divulgação
do álbum de mesmo nome. O single começou a ser tocado
nas rádios de Salvador em 14 de agosto de 1992 e se tornou
um dos maiores hits da cantora na história do país. Ainda
hoje, segundo o Escritório Central de Arrecadação (Ecad,
instituição responsável por centralizar toda a arrecadação e
distribuição dos direitos autorais de execução pública
musical no Brasil), é das canções mais regravadas e
executadas em casas noturnas, festas e programas de rádio e
televisão.
“O Canto da Cidade” é vista como a música que
consolidou não só a carreira da cantora como também o
gênero axé em todas as regiões do Brasil. Segundo Arthur
Menezes, blogger do site Hot 100 Brasil e pesquisador
paulistano que compilou uma lista dos maiores sucessos
radiofônicos do país em cada ano desde 1902, a canção foi a
terceira mais ouvida no país em 1992, ficando atrás apenas
de “The One”, do cantor inglês Elton John, e “End Of The
Road”, do grupo vocal norte-americano Boyz II Men.
A audiência que não morava na Bahia viu em
primeiríssima mão a fama até então regional de nomes como
Ricardo Chaves e Margareth Menezes, e das bandas Asa de
Águia, Timbalada e Eva, esta última que tinha nos vocais
uma bonita morena de voz de contralto chamada Ivete
Sangalo.
O telespectador se requebrou com os tonitruantes
tambores dos blocos afro Olodum, Ilê-Aiyê, Muzenza e
Araketu, que mandavam ver ao som do samba-reggae, cuja
criação é atribuída ao músico Antônio Luís Alves de Souza,
nascido em Salvador, mais conhecido como Neguinho do
Samba (1955 - 2009).
O grande público passou a ver e ouvir falar em uma das
principais atrações do Carnaval de Salvador: os trios
elétricos, cujos nomes esbanjavam criatividade, tais como
Crocodilo, Papa-Léguas, Camaleão, Os Internacionais e Sabor
de Amor.
O folião televisivo pôde rever ainda artistas de sucesso
da geração anterior à onda axé – pioneiros do ritmo
anteriormente conhecido como “deboche” ou “fricote” – como
Luiz Caldas, Sarajane, Gerônimo, Cid Guerreiro e Banda
Reflexu’s.
A cobertura da Manchete também acompanhou ao vivo
as apresentações dos “velhos” Novos Baianos Moraes Moreira
(1947 - 2020), Pepeu Gomes e Baby Consuelo; dos sempre
ícones Caetano Veloso e Gilberto Gil, do bloco de afoxé Filhos
de Gandhy e o trio elétrico de Dodô e Osmar.
Tudo sob as bênçãos do “Buda Nagô”, apelido dado por
Gilberto Gil a Dorival Caymmi (1914 - 2008) que, com sua
calma, cabelos brancos e ares de vovô bonachão
personificava uma espécie de Oxalá carnavalesco da folia
baiana.
A Prefeitura de Salvador concentrou seus investimentos,
cerca de 3 milhões de dólares (conforme publicou o jornal
Folha de São Paulo, na edição de 14 de fevereiro de 1993), em
infraestrutura, saneamento, decoração e segurança. Segundo
o Executivo Municipal soteropolitano, o movimento no
período da festa foi da ordem de 50 milhões de dólares,
gerado por gastos com hotéis, alimentação e venda de
passagens de avião.
Em termos de comparação, na mesma edição da FSP, a
Prefeitura do Rio investiu 8 milhões na organização da folia
carioca, sendo que 65% do total foi tragado na preparação do
Sambódromo para o desfile das escolas de samba. Conforme
a coordenação do Carnaval do Rio, as cifras geradas no
período foram de 200 milhões de dólares.

MANCHETE

Narração: Paulo Stein.

Apresentadores: Clodovil Hernandez e Tânia Rodrigues.


Comentários: Cristóvão Rodrigues.
Reportagens: Carlinhos Brown, Isana Pontes, Maria Manso,
Otávio Mesquita e Rosana Hermann.

A guerra das cervejas

Nos anos 90 tornou-se acirrada a rivalidade e o


antagonismo entre aquelas que, na época, eram as duas
principais marcas de cervejas brasileiras e que há décadas
fazem parte do imaginário popular – a rigor desde que a
propaganda começou a se massificar no país, a partir dos
anos 50/60.
Os bons bebedores se dividiam em opinar qual era a
melhor. A paulista Antarctica, cujo rótulo continha o pinguim
e a faixa azul? Ou a preferência iria para o outro rótulo, o
rubro, com a caneca espumante da popular e carioquíssima
Brahma Chopp?
E o fenômeno passou a se repetir às vésperas do início
de cada verão. A eterna disputa entre as duas marcas
extrapolou, ao longo dos anos, o campo puramente
“cervejístico”.
Na década de 90, a disputa publicitária entre as
cervejarias tomou ares de batalha campal. Foi chamada
mesmo de “guerra das cervejas”. As agências responsáveis
pela imagem de cada uma das marcas disputavam copo a
copo o mercado nacional.
O confronto Brahma versus Antarctica passou a ser
jargão nos meios empresarial e jornalístico para classificar
concorrência acirrada, na qual uma ação sempre
correspondia a uma reação semelhante, numa cadeia
interminável de campanhas, filmes, outdoors, promoções e
eventos.
Em 1992, a guerra de malte e lúpulo chegou até o
Carnaval do Rio de Janeiro. Naquele ano, a Antarctica
resolveu enfrentar a hegemonia da Brahma, que mantinha
um luxuoso camarote para recepcionar celebridades no
Sambódromo da Marquês de Sapucaí, o “Camarote Número
1”, o espaço mais famoso do carnaval brasileiro.
Durante muitos anos, o Camarote da Brahma na
Sapucaí funcionou anexo à fábrica que a cervejaria possuía e
que foi derrubada em 2011 para as obras de ampliação do
Sambódromo do Rio.
Mas o que a Antarctica havia montado do outro lado da
avenida do samba não fez feio e conquistou admiradores e,
principalmente, a mídia.
No ano seguinte, a briga se intensificou. A empresa
paulista responsável pela “paixão nacional” voltou sua mira
para o Carnaval de Salvador e foi anunciante máster da
cobertura carnavalesca da Manchete de 1993, com a exibição
exaustiva de comerciais estrelados pela principal contratada,
a musa Daniela Mercury, nos intervalos da programação.
Já a companhia carioca autodenominada de “número
um” puxou a serpentina para o lado da Globo e se tornou
anunciante máster da programação carnavalesca da Plim
Plim, com total monopólio na Marquês de Sapucaí e direito a
jingle gravado por outra cantora nordestina e também expert
em ritmos festivos e arretados: a paraibana Elba Ramalho.
Curiosidade: apesar de ter sido fundada na cidade do
Rio de Janeiro e ser anunciante da Globo na transmissão do
grupo especial do carnaval carioca em 1993, a Brahma só se
tornaria parceira comercial da Liesa no ano seguinte, quando
sua logomarca estampou a capa dos discos dos sambas de
enredo do Primeiro Grupo nos anos de 1994 e 1995. Antes
disso, a cervejaria parceira da Liga era a paulista Kaiser,
como podemos observar a logo da empresa nas capas dos
discos de 1989 a 1993.
O cessar-fogo entre os dois principais concorrentes do
setor cervejeiro se deu em de julho de 1999 quando o
mercado foi surpreendido com a notícia da fusão entre
Brahma e Antarctica, movimento que resultou na formação
da AmBev, ou Companhia de Bebida das Américas.

Alô, você!
Uma das marcas registradas das transmissões do
carnaval da TV Globo nos anos 80 e 90 foi sem dúvida o
jornalista, locutor e comentarista esportivo Fernando Vanucci
(1951 - 2020). O mineiro de Uberaba já era um rosto
conhecido do público em rede nacional desde 1977 quando,
aos 26 anos de idade, passou a trabalhar no Rio de Janeiro,
na Central Globo de Jornalismo.
Na TV Globo apresentou vários jornais: Globo Esporte,
RJTV, Esporte Espetacular, Jornal Nacional, Jornal Hoje,
Fantástico, Gols do Fantástico, entre outros. Em 1985, já com
duas Copas do Mundo nas costas (cobriu os torneios da
Argentina, em 1978, e da Espanha, em 1982), Vanucci foi
escalado para a cobertura carnavalesca da Globo. Foi um dos
narradores do Carnaval da Globo de 1985 a 1999.
Enquanto esteve na emissora do Jardim Botânico
carioca, o apresentador encarnava um tipo bem-humorado e
criava frases de efeito e bordões que caíram nas graças do
grande público, quebrando o rígido padrão Globo com sua
informalidade.
Quem não se lembra de frases como não tem lero-lero
nem vem cá que eu também quero? Ou tudo em nome da
alegria? Várias expressões de sua autoria figuraram no
vocabulário popular, como esse até eu faria para aquele gol
fácil perdido pelo atacante. Sem falar do schlap, que criou
para o gol de cabeça. “Nas peladas de rua, para mim, esse era
o barulho da cabeça batendo na bola: schlap”, explicava.
Além, é lógico, do mais célebre: alô, você, como é bom
estarmos juntinhos de novo. O inefável bordão foi utilizado até
como caco de empolgação pelo cantor Maurício Cem, puxador
de samba no desfile da União da Ilha do Governador, em
1993. Enquanto conduzia a escola entoando o samba-enredo
“Os Maiores Espetáculos da Terra” (de Bicudo, Djalma Falcão
e Guará da Empresa), o intérprete insulano de vez em quando
largava um “alô você” no microfone ao longo da avenida, ao
que era prontamente respondido com outro “alô você” direto
da cabine da transmissão pelo âncora da Rede Globo,
Fernando Vanucci, autor original do bordão.
O apresentador era casado desde 2001 com a
amazonense Alessandra Terra. Entretanto, nas décadas de 80
e 90, o jornalista tinha fama de galã e conquistador.
Mesmo com 1,69 m de altura, uma calvície pronunciada
e uma barriguinha persistente, Vanucci teve inúmeras
namoradas. Pelo menos três delas foram musas nos anos 80
e 90 e estamparam a capa da revista Playboy: Suzane
Carvalho, Marcella Prado e Marinara Costa. Todas com
alguma participação destacada em carnaval.
Suzane Carvalho foi capa da revista masculina em 1982
e atuou em três novelas da TV Globo, além de filmes, peças
de teatro e programas de comédia. Depois, se dedicou ao
automobilismo, correndo na F-3, Stock Car e Indy Lights.
Após deixar as pistas, se tornou dona de um centro de
treinamento de pilotos. Pouca gente sabe, mas Suzane é
jornalista formada pela Faculdade de Comunicação Social da
PUC do Rio de Janeiro em 1982. Apresentou bailes de
Carnaval e de Réveillon da TV Bandeirantes (1988-1993) e
desfilava sempre pela Beija-Flor, sua escola de coração.
Marcella Prado foi uma das “Garotas do Fantástico” e
duas vezes capa da Playboy em 1987. Além de Vanucci,
namorou o piloto de F-1 Ayrton Senna (1960 - 1994), de
quem se suspeitou da paternidade de uma filha. Marcella
abandonou a fama em meados dos anos 90, deixou o país e
entrou para a Igreja. A musa desfilou pela Beija-Flor em 1988
e pela Grande Rio em 1993.
Marinara Costa foi musa dos anos 90 e tirou a roupa
para seis capas de revistas masculinas. Participou de novelas
e seriados da TV Globo e, no auge da fama, chegou a ser
candidata a deputada federal em 2002. Integrou o elenco do
lendário show “Básico Instinto” (1993), produzido pelo cantor
e escritor carioca Fausto Fawcett, no qual colocava mulheres
lindas e loiras dançando no palco, com a participação de
músicos e das musas-vocalistas Regininha Poltergeist, Kátia
Bronstein, além da própria Marinara, conhecida como
“Explode Coração”. Ex-modelo e policial civil, Marinara fez a
Sapucaí babar em 1992 ao desfilar pela Beija-Flor e, no ano
seguinte, pela Grande Rio. Passado o período de fama,
passou a levar uma vida fitness e atuar em igreja. Com
Vanucci, a beldade teve uma filha chamada Júlia, que hoje é
psicóloga.
Voltando ao apresentador, em 1998, após entrar no ar
ao vivo mastigando uma bolacha em plena apresentação do
Esporte Espetacular, Fernando Vanucci foi para a geladeira
global, de onde saiu para narrar o seu último carnaval em
1999. Após isso, foi demitido da emissora na qual trabalhou
por mais de 20 anos.
Vanucci trabalhou ainda na Band (1999 – 2001), Rede
Record (2002), RedeTV! (2003 – 2011) e em agosto de 2014
passou a fazer parte da equipe da Rede Brasil de Televisão,
onde era editor de esportes. Em abril de 2019, sofreu um
infarto que o deixou muito debilitado, tendo que passar por
duas angioplastias e colocado um marca-passo. O jornalista
ainda enfrentou uma depressão. Um novo infarto, no dia 24
de novembro de 2020, causou a morte do querido
apresentador, que estava internado no Pronto Socorro
Central, em Barueri, São Paulo.

Debate global, modelo Manchete

O carnaval de 1993, a exemplo de cinco anos antes, foi


transmitido com exclusividade pela TV Globo. Certamente, a
emissora da Família Marinho se inspirou e se espelhou
novamente no modelo Manchete para compor a programação
carnavalesca.
Dois domingos antes do carnaval, o canal global
organizou um debate reunindo os 14 carnavalescos das
escolas de samba do Grupo Especial, um expediente que a
televisão da Família Bloch já fazia nos anos 80, geralmente
sob o comando de Paulo Stein e Fernando Pamplona.
Sob a mediação de Fátima Bernardes, participaram do
programa, que foi ao ar à noite, logo após o Fantástico:
Alexandre Louzada (Acadêmicos do Grande Rio), Chiquinho
Spinoza (Estácio de Sá), Ilvamar Magalhães (Estação Primeira
de Mangueira), Luis Fernando Reis (Caprichosos de Pilares),
Maria Augusta Rodrigues (Beija-Flor de Nilópolis), Mário
Borriello (Acadêmicos do Salgueiro), Mario Monteiro (Portela),
Max Lopes (Unidos do Viradouro), Oswaldo Jardim (1960 -
2003, Unidos de Vila Isabel), Renato Lage (Mocidade
Independente de Padre Miguel), Roberto Szaniecki (Unidos da
Ponte), Rosa Magalhães (Imperatriz Leopoldinense), Sylvio
Cunha (1952 - 2022, União da Ilha do Governador), Carlos
Fernandes, o “Xangai” (1952 - 2013, Unidos da Tijuca), e o
presidente da Liesa, Capitão Airton Guimarães Jorge. Os
debatedores foram Albino Pinheiro e Sérgio Cabral,
comentaristas da emissora na cobertura, que teve patrocínio
da cervejaria Brahma.
O debate teve alguns momentos de tensão, por exemplo,
quando Fátima Bernardes perguntou a Chiquinho Spinoza e
Mario Monteiro quem era o verdadeiro responsável pelo
campeonato da Estácio de Sá no ano anterior. Mário iniciou o
trabalho no enredo “Pauliceia Desvairada”, mas depois deixou
a escola. Chiquinho Spinoza, até então um figurinista que
estava na equipe, assumiu o trabalho no barracão e finalizou
várias alas e alegorias.
Outro momento que gerou controvérsia no debate foi
quando os artistas foram questionados se também se
consideravam coautores dos sambas-enredo, já que a obra
musical se originava de uma sinopse elaborada pelos
profissionais. Quase a totalidade dos carnavalescos se
declarou favorável à coautoria e que por isso mereceriam
receber os mesmos direitos autorais juntamente com os
compositores.
No domingo seguinte, uma semana antes do carnaval,
foi a vez dos presidentes das escolas do Especial formarem
uma mesa-redonda para discutir o carnaval. O programa, que
também foi levado ao ar após o Fantástico, contou com a
participação de Acyr Pereira Alves (1943 - 2002, Estácio de
Sá); Aniz Abraão David, o Anísio (Beija-Flor); Castor de
Andrade (1926 - 1997, Mocidade); Edson Tessier (Ponte);
Fernando Leandro (1927 - 2000, Caprichosos); Giovanni
Riente (União da Ilha); Helinho Oliveira (diretor de carnaval
da Grande Rio, representando o presidente Jaider Soares);
José Carlos Monassa (Viradouro); Luiz Pacheco Drummond, o
Luizinho (1940 - 2020, Imperatriz); Waldemiro Garcia, o Miro
(1927 - 2004, Salgueiro); Nelson Nunes Alves (Unidos da
Tijuca); Olício Alves dos Santos (Vila Isabel); Paulo Miranda
(diretor de carnaval da Portela, representando o presidente
Carlinhos Maracanã), e Roberto Firmino dos Santos (? -
2012, Mangueira).

GLOBO – RIO DE JANEIRO

Narração: Fátima Bernardes e Fernando Vanucci.

Comentários: Albino Pinheiro, Jorge Aragão, Lecy Brandão e


Sérgio Cabral.

Reportagens: Gloria Maria, Marcello Rezende, Mauricio


Kubrusly e Sandra Moreyra.
Repórter Camarote Nº 1: Kátia Maranhão.

Susto com a prisão dos patronos


Poucos meses depois do carnaval de 1993 um fato
surpreendeu o país e até ameaçou a viabilidade dos desfiles
para 94.
Na tarde de 21 de maio os 14 maiores banqueiros de
jogo do bicho do Rio foram condenados a seis anos de prisão,
pena máxima para o crime de formação de quadrilha ou
bando armado. Muitos deles conhecidos por serem patronos
de entidades carnavalescas: Anísio, Capitão Guimarães,
Carlinhos Maracanã, Castor de Andrade, Luizinho, Paulinho
de Andrade (1951 – 1998, filho de Castor), Miro Garcia,
Waldemir Paes Garcia (1962 – 2004, o Maninho, filho de
Miro) e Antônio Petrus Kalil (1925 - 2019, o Turcão), benfeitor
da Estácio de Sá.
Os outros bicheiros presos foram: Emil Pinheiro (1923 –
2001, ex-presidente do Botafogo), Haroldo Rodrigues Nunes
(1929 - 2010, o Haroldo Saens Peña; José Caruzzo Escafura,
o Piruinha; José Petrus, o Zinho (irmão de Turcão), e Raul
Correa de Mello (1909 – 1997, o Raul Capitão).
A sorte dos contraventores começou a mudar quando o
promotor Luiz Carlos Cáffaro reuniu provas de que dezenas
de policiais militares haviam sido punidos pela corporação
por envolvimento com os bicheiros. A partir daí, ele sustentou
a tese de que os bicheiros formavam uma quadrilha para
corromper funcionários públicos.
Os “corretores zoológicos” respondiam no mesmo
processo por associação para tráfico de drogas e crime de
tortura. Nas alegações finais, Cáffaro pediu a exclusão desses
crimes por não ter provas. Foi o pulo do gato para levar a
cúpula do bicho à cadeia.
A prisão dos bicheiros aconteceu durante uma
audiência, uma semana antes de a sentença ser anunciada.
Por saber que havia o risco de alguns, ou até mesmo todos,
não comparecerem no dia da leitura da sentença, a juíza
Denise Frossard usou de uma estratégia. Do lado de fora
havia vários seguranças dos bicheiros que estavam armados.
Bastou a prisão de um deles para comprovar que, mesmo
respondendo a processo, os bicheiros ainda formavam uma
quadrilha.
A sentença, no entanto, fora modificada pelo Supremo
Tribunal Federal (STF), que reduziu a pena para a metade.
Por meio de recursos, advogados conseguiram excluir o crime
de bando armado. Quase cinco anos depois, todos já estavam
soltos. O primeiro contraventor a deixar a cadeia foi Raul
Capitão, por questões de saúde, apenas dois meses depois de
condenado. Em seguida, em 24 de maio de 1995, foram
libertados Paulinho de Andrade e Turcão, e em 9 de setembro
do mesmo ano, foi a vez de Anísio deixar a cadeia.
Mesmo com a maioria de seus patronos presos, as
escolas mantiveram os preparativos para os desfiles de 1994
e o carnaval na Sapucaí aconteceu. Desde a prisão da
chamada cúpula do jogo do bicho o comportamento dos
contraventores modificou bastante.
Antigamente, os bicheiros transitavam em todos os
meios, apareciam em colunas sociais, programas de TV,
tinham princípios éticos definidos e, espantosamente,
contavam com o apoio da população. As pessoas gostavam
deles, não os enxergavam como indivíduos fora da lei, muito
por conta das práticas clientelistas. Desde a prisão de 93, o
comportamento dos bicheiros modificou profundamente.
Muitos se tornaram reclusos, evitando badalações e holofotes,
apesar de seguirem no comando dos negócios.
A ligação do jogo do bicho com o carnaval começou por
volta dos anos 1930, através de Natal da Portela. Após perder
um braço por causa de um acidente de trem, Natal perdeu o
emprego e foi trabalhar como apontador de bicho. Em pouco
tempo, virou gerente de banca e, depois, conseguiu montar a
sua própria, vindo a se tornar banqueiro de jogo do bicho,
controlando toda a área de Madureira.
Com a morte de seu grande amigo Paulo Benjamin de
Oliveira, o Paulo da Portela (1901 - 1949), Natal, como forma
de homenageá-lo, resolveu investir dinheiro na Portela para
que ela pudesse se transformar em uma grande escola de
samba, criando aí a figura do bicheiro patrono.
Como forma de se legitimar perante a sociedade, os
demais banqueiros de jogo do bicho passaram a seguir o
exemplo de Natal, vinculando-se às escolas de samba de suas
respectivas áreas de atuação, o que posteriormente também
seria usado, segundo alguns, como forma de lavagem de
dinheiro da contravenção.

Terra da Garoa e uma interminável chuva

Após quase uma década transmitindo apenas para o


estado de São Paulo, a TV Globo decidiu que em 1994
também iria transmitir ao vivo em rede nacional os desfiles
das escolas de samba do Grupo Especial da cidade de São
Paulo, direto do Sambódromo do Anhembi, na noite de
sábado de carnaval.
E a Vênus Platinada valorizou bastante a folia
paulistana no período pré-carnavalesco, exibindo reportagens
nos telejornais locais, debates e até a participação dos
sambistas em um Globo Repórter às vésperas do carnaval.
Com cerca de 80% de seu projeto concluído, o
sambódromo do Anhembi foi palco de uma interminável
chuva que acompanhou 10 das 12 escolas do Grupo
Especial. Destaques impedidos de subir pelos bombeiros,
muitas alegorias quebradas na concentração e uma chuva de
atas de penalidade marcaram o carnaval vencido pela Rosas
de Ouro e que revelou uma nova grande escola; a vice-
campeã Gaviões da Fiel.
A narração da folia paulistana ficou a cargo de William
Bonner e Mariana Godoy.
Passaram pela tela da Globo as seguintes escolas e
enredo, na ordem em que desfilaram: Unidos de São Miguel
(“Encontro das Nações Africanas no Brasil”); Primeira da
Aclimação (“O Vinho da Verdade”); Unidos do Peruche (“O
Reino de Oyó Visto Pelos Olhos de Xangô”); Mocidade
Alegre (“Somos Todos Irmãos”); Leandro de Itaquera (“Tietê,
Um Rio de Verdade”); Acadêmicos do Tucuruvi (“Calçadas
Musicais”); Rosas de Ouro (“Sapoti”); Camisa Verde e
Branco (“Eternamente Jovem”); Vai-Vai (“Inã Gbe: Pegando
Fogo”); Nenê de Vila Matilde (“Pira-ique, Mistério e Magia”);
Barroca Zona Sul (“Nas Ocas da Barroca o Índio Viu Quem
Invadiu”) e Gaviões da Fiel (“A Saliva do Santo e o Veneno
da Serpente”).

GLOBO – SÃO PAULO

Narração: Mariana Godoy e William Bonner.


Reportagens: Alberto Gaspar, Brito Jr., César Augusto, César
Tralli, Graziela Azevedo, José Roberto Burnier, Maria José Sarno,
Mario Rezende e Neide Duarte.

Paranauê, Paraná...

Com as atenções da Manchete voltadas para o carnaval


baiano, a Globo em 1993 novamente se viu dona do
campinho na Sapucaí – assim como cinco anos antes, nos
desfiles em homenagem ao centenário da Abolição da
Escravatura em 1988. Ao menos no Grupo Especial.
No entanto, quem reinou em 1993 nas duas noites de
desfile das escolas do Grupo de Acesso foi uma quase
anônima emissora fundada no Paraná, que tinha Galvão
Bueno como narrador, apresentador e diretor de esportes, e
que no ano anterior exibira sozinha os jogos da Taça
Libertadores da América.
A Rede OM foi uma emissora criada no estado do Paraná
pelo empresário e político José Carlos Martinez (1948 - 2003),
que tinha o sonho de erguer uma TV nacional de relevância
fora do eixo Rio-São Paulo.
A emissora, fundada em março de 1992, logo em
seguida compra os direitos de exibição da Libertadores,
dando a sorte de registrar a histórica campanha do São Paulo
FC, treinado por Telê Santana (1931 - 2006). O torneio foi
uma das duas grandes cartadas da emissora baseada no
Paraná.
O outro investimento que mexeu com o mercado foi a
contratação de Galvão Bueno, em abril daquele ano. O
profissional havia deixado o posto de narrador número 1 da
TV Globo em nome de um projeto para comandar o
departamento de esporte da nova empresa.
No final do mesmo ano, a OM fechou um contrato com a
TV Gazeta de São Paulo, da propriedade da Fundação Cásper
Líbero, celebrando um fornecimento de programação entre as
duas redes, com a parceria OM/Gazeta.
No início de 1993, a Rede OM anunciou a transmissão
com exclusividade dos desfiles das 16 escolas de samba do
Grupo de Acesso, cobrindo a lacuna deixada pela Manchete
(que se bandeou para Salvador) e pela TV Globo (cujo
interesse maior era mostrar o Grupo Especial). Estava no ar o
projeto “Carnaval de Primeira”.

REDE OM (1993) / CNT (1994 a 1997)

Apresentação: Cristina Rego Monteiro (1993 e 1994) e


Claudinho Mil (1996 e 1997).
Comentários: Dominguinhos do Estácio (1993), João Roberto
Kelly (1997), Jorge Coutinho (1993), Jorginho do Império (1994 a
1997), Lecy Brandão (1996), Max Lopes (1996) e Tárcio Santos.
Reportagens: Claudio Starec, Glauce Tolomei, Helena Alves,
Luciano Zarur, Pedro Pontes e Wania Lopes.
Repórter Especial: Paulo Silvino.

Em seu primeiro carnaval, a OM/Gazeta escalou a


jornalista Cristina Rego Monteiro para ser a âncora da
transmissão. Os jornalistas da casa fizeram as reportagens
na avenida. O toque de irreverência na cobertura ficava a
cargo do humorista Paulo Silvino (1939 - 2017), apresentado
como “repórter especial”.
Para os comentários, um time de luxo, que tinha na
escalação o intérprete Dominguinhos do Estácio (1941 -
2021), na época defendendo o microfone número 1 da GRES
Estácio de Sá, e o ator e produtor cultural Jorge Coutinho
(que já havia sido comentarista na Globo, nos anos 80). Nos
quatro anos seguintes o sambista Jorginho do Império
reforçara o time. A camisa 10 da equipe era, sem dúvida, do
cracaço do jornalismo carnavalesco Tárcio Santos (1949 -
2019).
Jornalista e radialista, Tárcio se notabilizou por grandes
coberturas em diversas editorias, como de competições
esportivas (entre 1987 e 2002) e a primeira visita do Papa
João Paulo II ao Brasil, em 1981. Foi no Carnaval, no
entanto, que acabou ganhando prestígio, sendo apontado
como um dos principais repórteres e comentaristas
especializados.
O jornalista participou de coberturas do carnaval, como
coordenador de equipe, comentarista e repórter, na Rádio
Nacional (de 1977 a 2004) e na CNT (de 1993 a 1995). Atuou
em diversas rádios, como Tupi, Manchete e Roquette Pinto e
também teve passagens por emissoras de televisão, como a
extinta TV Rio. Até pouco antes de falecer, Tárcio Santos
mantinha uma coluna no site Galeria do Samba, chamada
“Ensaio Geral”.
No dia 19 de fevereiro (sexta-feira), a TV exibiu os
desfiles: Mocidade Unida de Jacarepaguá (“Dona Zica e
Dona Neuma, Enredos de Verdade”); Acadêmicos do
Cubango (“Do Fogo às Águas, Recriando a Terra”);
Arrastão de Cascadura (“Quem Canta Seus Males
Espanta”); Império Serrano (“Um Ato de Amor”); Acadêmicos
da Rocinha (“Tristão e Isolda, Uma Ópera no Asfalto”); São
Clemente (“O Pão Nosso de Cada Dia”); Unidos do
Jacarezinho (“Mangueira, Beleza que a Natureza Criou”) e
Tradição (“Não Me Leve a Mal, Hoje é Carnaval”).
A segunda noite de transmissão do Grupo de Acesso
pela OM (sábado, dia 20 de fevereiro) teve as escolas Arranco
(“Acredite Se Quiser”); Lins Imperial (“No Mundo
Encantado de Beto Carrero”); Império da Tijuca (“Vitis
Vinífera, o Império é uma Uva”); Unidos do Cabuçu (“De
Quadrinho em Quadrinho, Lá Vai Meu Recado... Maurício
de Souza”); Unidos de Lucas (“O Galo Cantou e Lucas
Saboreou”); Acadêmicos de Santa Cruz (“Quo Vadis, Meu
Negro de Ouro”); Leão de Nova Iguaçu (“O Que É Que a
Baixada Tem?”) e Acadêmicos do Engenho da Rainha
(“Ciranda, Cirandinha, Vamos Todos Sonhar”).
Logo após o carnaval de 93, houve uma reformulação na
emissora e o nome Rede OM Brasil deixa de ser utilizado,
dando lugar à Central Nacional de Televisão, com as iniciais
CNT. A emissora, que desde sua transformação em rede
nacional ambicionava o terceiro lugar em audiência, detecta a
necessidade de se alavancar economicamente.
A CNT contratou nomes de peso nacional para a sua
programação. Clodovil Hernandez, o humorista João Kleber, a
jornalista Leila Richards (egressa da Rede Manchete) e a
apresentadora infantil Mariane (ex-SBT) aportam no novo
canal e passaram a apresentar seus programas direto da sede
em Curitiba.
No carnaval, a CNT investiu seu foco na cobertura do
desfile das escolas do Grupo 1 (formado pelas subcategorias
A e B). De 1994 a 1997, ainda com o nome “Carnaval de
Primeira”, a emissora curitibana realizou uma transmissão
enxuta, modesta e até certo ponto convencional, mas não
errou, ou melhor, não se expôs demais, e os tropeços da
narração acabaram assimilados com bom humor pelos
integrantes da equipe e pela própria audiência.
Em 1995, devido a alguns não rebaixamentos, tapetões
e participação de escolas convidadas, o Grupo A teve 19
escolas participando da disputa, promovida pela Liga
Independente das Escolas de Samba do Grupo de Acesso
(LIESGA), presidida por Paulo de Almeida, que havia sido
dirigente da Caprichosos de Pilares.
Depois dos desfiles, a LIESGA foi extinta e o grupão de
acesso de 95 passou ao comando da Associação das Escolas
de Samba da Cidade do Rio de Janeiro (AESCRJ). O
conglomerado de entidades carnavalescas foi dividido em
duas subcategorias: grupo de acesso A e grupo de acesso B.
Para o carnaval de 1996, o Grupo de Acesso A ficou
composto por 10 escolas – as que chegaram entre o 3º e o 10º
lugar em 95 mais as duas rebaixadas do Especial. O desfile
passou a ocorrer no sábado. Já o desfile do Acesso B passou
a acontecer na sexta-feira (um dia antes do sábado de
carnaval) e foi formado por 12 escolas – as que chegaram
entre o 11º e o 19º lugar do Acesso no ano anterior mais as
três primeiras colocadas do antigo grupo B e que a partir de
então se tornaria o Acesso C. Complicado, né? Coisas dos
cartolas do nosso carnaval...
Em 1996, a CNT exibiu seguintes desfiles, ao vivo,
diretamente da Passarela do Samba da Marquês de Sapucaí:
GRUPO A (sábado, 17 de fevereiro):

1)Em Cima da Hora (“Yara Cigana, Canta, Dança e


Toca, é Rio, é Rua, é Carioca”)
2)Acadêmicos do Engenho da Rainha (“Anjo Azul”)
3)Arrastão de Cascadura (“As Icamiabas”)
4)Vizinha Faladeira (“Elba Popular Brasileira”)
5)Acadêmicos do Cubango (“Dos Brasões do Reino de
Portugal, ao Esplendor da Bandeira Nacional”)
6)Unidos do Cabuçu (“Do Reclame ao Merchandising,
a História da Propaganda no Brasil”)
7)Acadêmicos de Santa Cruz (“Ribalta – Luz, Sonho e
Ilusão”)
8)São Clemente (“Se a Canoa Não Virar, a São
Clemente Chega Lá”)
9)Acadêmicos da Rocinha (“Bahia Com Muito Amor”)

Observação: a escola de samba Unidos de Villa Rica, que


seria a última a desfilar pelo Grupo A, com o enredo “A
Lavagem do Bonfim”, não desfilou e foi automaticamente
rebaixada para o Grupo B em 1997.

GRUPO B (sexta-feira, 16 de fevereiro):

1)Acadêmicos da Abolição (“Quem é que Faz a Alegria


do Povo?”)
2)Acadêmicos de Vigário Geral (“Fica o Dito Pelo Não
Dito”)
3)Acadêmicos do Dendê (“Prédio Roubado, Ponha-se
na Rua... Ora Pois, Pois!”)
4)Leão de Nova Iguaçu (“Tudo Isto Quer Dizer Brasil”)
5)Mocidade Unida de Jacarepaguá (“Quilombo dos
Palmares, um Paraíso Negro”)
6)Arranco (“Ser Brasil, Ser Brasileiro”)
7)Canários das Laranjeiras (“Aruanda, um Sonho de
Zumbi”)
8)Unidos do Jacarezinho (“Vapt Vupt, 44 Anos de
Cultura, Humor e Fantasia”)
9)Difícil é o Nome (“João, Nosso João”)
10)Lins Imperial (“Méier, Ponto de Encontro de Cantos
e Encantos”)
11)Unidos de Lucas (“Rua da Carioca, a Mais Carioca
do Rio”)
12)Independentes de Cordovil (“Que Rei Sou Eu?”)

A Mocidade Unida de Jacarepaguá passou pela Sapucaí


com apenas um surdo e com faixas retratando a dor e o
sofrimento dos moradores da Cidade de Deus, castigados por
uma grande enchente atingindo por completo toda a
comunidade e, consequentemente, o carnaval da escola.

Especiais de samba-enredo

Em 1996 e 1997, a CNT exibiu semanas antes dos


desfiles programas especiais com os sambas enredos das
escolas dos grupos A e B. Em formato clássico, esses
especiais tinham pitadas dos antigos programas Cassino do
Chacrinha, Clube do Bolinha e Rio Dá Samba. Os intérpretes
das escolas cantavam o samba em playback e entravam em
cena acompanhados pelos casais de mestre-sala e porta-
bandeira e seus respectivos pavilhões.
O cenário do programa remetia aos motivos
carnavalescos, com muito confete e serpentina e um corpo de
baile formado por belíssimas mulatas, a maioria oriunda das
escolas de samba do Rio de Janeiro.
A apresentação nos dois anos ficou a cargo de Jorginho
do Império que, após algumas idas e vindas do seu Império
Serrano, estava de volta à verde e branco da Serrinha, desta
vez como intérprete principal.
Em 1997, a CNT transmitiu na sexta-feira, dia 7 de
fevereiro, pelo Grupo B, as seguintes escolas de samba (pela
ordem de desfile): Mocidade Unida de Vicente de Carvalho;
Boi da Ilha do Governador; Difícil é o Nome; Lins Imperial;
Unidos de Lucas; Acadêmicos de Vigário Geral; Unidos do
Jacarezinho; Acadêmicos do Engenho da Rainha; Canários
das Laranjeiras; Unidos da Villa Rica; Arrastão de Cascadura
e Acadêmicos do Cubango.
Já no sábado, dia 8, de fevereiro, a emissora exibiu, pelo
Grupo A (na ordem de apresentação):
Acadêmicos do Dendê (“Do Pasto, Fantasia, do Gado,
Alegoria”);
Arranco (“Chico Anísio, 50 Anos de Humor”);
Vizinha Faladeira (“Lan, a Cara Alegre e Colorida do
Rio”);
São Clemente (“A São Clemente Botafogo na
Sapucaí”);
Unidos da Ponte (“Da Lata de Lixo ao Luxo da Lata”);
Unidos do Cabuçu (“Todas as Marias de Nossa
Terra”);
Em Cima da Hora (“Sérgio Cabral, a Cara do Rio”);
Caprichosos de Pilares (“Do Tambor ao Computador”);
Tradição (“Os Balangandãs”)
Império da Tijuca (“A Coroa do Perdão na Terra de
Oyó”).
Após os desfiles de 1997, a Rede CNT interrompeu suas
coberturas carnavalescas. A emissora passava por uma crise
financeira, que teve início em 1994. Em 1989, seu
proprietário, o empresário e deputado José Carlos Martinez
(na época dono da TV Paraná Canal 6), apoiou a campanha
de Fernando Collor.
Logo depois da vitória eleitoral, o Canal 6 começou a ter
grandes investimentos do governo Collor. E a TV Paraná foi
lançada como rede nacional de televisão (como vimos, na
Rede OM).
Mas com o impeachment de Collor em 1992, a CNT ficou
sem sustentação, e procurou outra parceria. Desta vez foi
com o banqueiro José Eduardo de Andrade Vieira, dono do
Banco Bamerindus. Mas esta nova parceria não durou muito.
Com a crise do banco em 1994, e a venda para o HSBC em
1997, a emissora afundou em dificuldades. E, para completar
o quadro já complicado, o dono da CNT, José Carlos
Martinez, morreu em um acidente de avião em 2003.
A Rede CNT ainda prosseguiria, mas com poucos
programas de peso, e com quase todos os seus horários
vendidos para igrejas. A emissora só retornou às
transmissões carnavalescas em 2002, através de um projeto
televisivo capitaneado por Jorge Perlingeiro, como veremos
mais adiante.

A volta da Manchete à Sapucaí, o samba de São Paulo


em rede nacional via Rede Globo e o carnaval na selva
As Empresas Bloch retomaram o controle da TV
Manchete no final de 1993. E com o retorno do Dr. Adolpho,
ressurgiu também o carnaval da Manchete.
Em 1994, Globo e Manchete dividiram as transmissões
do Grupo Especial do Rio de Janeiro, nas tradicionais noites
de domingo e segunda-feira. Mas as duas emissoras
trouxeram novidades aos súditos do Rei Momo no sábado de
carnaval daquele ano.
A Globo mostrara pela primeira vez, em rede nacional, o
desfile das escolas de samba de São Paulo. E a Manchete, em
vez de exibir também o carnaval da Pauliceia (o qual a
emissora já tinha expertise por ter mostrado o espetáculo no
ano da inauguração do sambódromo paulistano em 1991) ou
as escolas do Grupo A – àquela altura já a cargo da CNT –
resolveu inovar e foi para o Amazonas transmitir o carnaval
de Manaus.

Carnaval de Manaus

A transmissão da folia amazonense pela TV Manchete foi


realizada em fevereiro de 1994, com o patrocínio da Zona
Franca de Manaus, tanto que na parte inferior da tela
apareciam desenhos que simbolizavam os produtos por lá
vendidos.
No ano anterior, a TV Bandeirantes fora até o
Sambódromo da capital amazonense (que ainda não estava
totalmente edificado – apenas o setor conhecido como
“ferradura” e dois lances de arquibancada) e exibira em rede
nacional flashes dos desfiles, com destaque aos trechos da
apresentação da Mocidade Independente de Aparecida –
maior detentora de títulos do carnaval de Manaus – narrados
por José Luiz Datena.
Para promover a folia manauara, a Manchete exibiu nas
semanas que antecederam o carnaval uma vinheta nos
intervalos da programação com uma modelo morena,
provavelmente nascida no Amazonas, de feições miscigenadas
(uma espécie de “Globeleza Cabocla”), que tinha o corpo
pintado, portava alguns adereços indígenas e sambava em
frente ao chroma-key (uma técnica de efeito visual utilizado
em vídeos em que se deseja substituir o fundo por algum
outro vídeo ou foto), ao som do samba-jingle da cobertura
gravado na voz de Neguinho da Beija-Flor. O intérprete
carioca não aparecia no vídeo.
A transmissão também contou com o apoio do Governo
do Estado do Amazonas, na época, gerido pelo governador
Gilberto Mestrinho (1928 - 2009), lendário cacique do PMDB
que fez história ao ser amado e tratado pelo povo como “Boto
Navegador”. Postumamente, seu nome foi incorporado ao
suntuoso Sambódromo de Manaus, cuja inauguração oficial
aconteceu justamente em 1994. Havia até uma cobertura,
que desabou pouco tempo depois.
Segundo dados que constam no site da Secretaria de
Cultura do Estado do Amazonas (2020), o Centro de
Convenções Professor Gilberto Mestrinho, tem 146 mil metros
quadrados, pista de 405 metros de comprimento e
capacidade para 80 mil pessoas. O colosso baré já sediou
shows religiosos, regionais, nacionais e internacionais, além
dos desfiles das escolas de samba, o Carnaboi (festa que é
uma mistura de carnaval com as toadas, ritmo do folclore
amazonense, realizada após o tradicional desfile de escolas de
samba, geralmente na Segunda-Feira Gorda), os desfiles
escolares e militares no mês de setembro, e o Boi Manaus
(uma espécie de micareta de boi-bumbá), realizado no mês de
outubro, nas comemorações do aniversário da capital do
Amazonas. No complexo cultural também funciona o Liceu de
Artes e Ofícios Claudio Santoro, escola de artes com oferta de
um extenso leque de cursos gratuitos.
Noticiou-se na época que para o primeiro desfile no novo
sambódromo o governo amazonense chegou a pagar um
cachê de 7 mil dólares para a globeleza Valéria Valenssa
aparecer como madrinha da escola de samba Sem
Compromisso.
Liderada por Paulo Stein e Fernando Pamplona, a
equipe da Manchete desembarcou no coração da Amazônia
disposta a transmitir ao vivo para todo o país, no dia 12 de
fevereiro, a noite principal do carnaval de Manaus. A
reportagem ficou a cargo dos jornalistas locais.
Foram 12 horas de transmissão do desfile das escolas
do Grupo Especial. A cobertura se deu através de pool
formado com a Rádio e Televisão Cultura do Amazonas.
Segundo dados da Empresa Amazonense de Turismo,
cerca de 150 mil pessoas assistiram aos desfiles no carnaval
de 1994. A transmissão da Manchete fazia questão de frisar
que a entrada para o público era gratuita.
Doze câmeras mostraram os desfiles dos mais diversos
ângulos. Uma estação geradora foi montada no Sambódromo.
Um timão gigante, símbolo da gestão Gilberto Mestrinho, foi
instalado no centro de convenções e era sempre focado pela
cobertura da TV Manchete.
Antes de cada desfile, era exibida uma reportagem com
a respectiva escola de samba e apresentado o referido samba
enredo na voz de seus intérpretes e compositores no
Botequim da Manchete instalado no sambódromo, também
sob o comando de Adelzon Alves. Uma curiosidade: após a
escola ter iniciado o desfile, a apresentação das escolas não
podia ser interrompida para reportagens, que foram
apresentadas nos intervalos de uma agremiação para outra.
O escritor e pesquisador do carnaval amazonense Daniel
Sales, no livro É Tempo de Sambar: História do Carnaval de
Manaus (2008), conta que a Manchete em sua transmissão
pecou pela falta de experiência e semiprofissionalismo dos
que ali estavam cobrindo a festa e que não conheciam as
peculiaridades do povo de Manaus e de seus sambistas e
torcedores.

“Quando as câmeras focavam alguém bocejando ou somente observando


‘quietamente’ o desfile, não retratava uma singularidade do desfile de Manaus –
as torcidas. Quando, por exemplo, desfila a Vitória Régia, nem um chiado se
ouve na torcida da Aparecida. Quando desfila a Reino Unido, silêncio na Vitória
Régia e na Aparecida e assim por diante (...). Em Manaus se age no Sambódromo
como acontece nos estádios de futebol. Então o certo era mostrar em close o
rosto dos torcedores da Aparecida, da Vitória Regia, Sem Compromisso, etc,
quando as suas escolas estavam passando naquele momento e não nas horas dos
desfiles dos grêmios opostos, pouco interessados no sucesso dos oponentes, é
claro.”

Pelo visto, o carnaval de Manaus herdou um


comportamento parecido como o que ocorre no Festival
Folclórico de Parintins, onde a torcida de um boi tem que
ficar em silêncio durante a apresentação do outro – a
manifestação de uma torcida durante a apresentação do boi
adversário (ou “contrário”, como é chamado no festival) pode
acarretar perda de pontos.
A TV Manchete exibiu as seguintes agremiações na
transmissão feita na noite do dia 12 de fevereiro de 1994, no
sambódromo de Manaus:

1) A Grande Família (escola convidada – enredo: “A


Lenda do Guaraná”)
2) Balaku Blaku (“No Mundo das Nuvens: Venha Voar
Comigo”)
3) Reino Unido da Liberdade (“A Saga do Sonho
Perdido Contra os Guardiões do Medo”)
4) Mocidade Independente da Aparecida (“Parque dos
Anjos, Faz de Conta que Assim Será”)
5) Sem Compromisso (“Tempos de Guerra, Sonho de
Paz”)
6) Vitória Régia (“Dos Tambores de Mestre Antão ao
Ecoar de Uma Nação”)
7) Primos da Ilha (“Brasil, Cem Anos de Futebol”)

Tão logo se encerrou a transmissão do carnaval de


Manaus, Stein e Pamplona retornaram ao Rio de Janeiro para
na noite seguinte participarem da cobertura do Grupo
Especial carioca.
Além dos tradicionais bailes e concursos de fantasias, a
Manchete voltava a transmitir programas especiais
recordando os antigos carnavais da Era Sambódromo.
Na madrugada de sexta para sábado de carnaval, a
emissora exibiu a primeira parte de Recordar é Viver,
programa gravado com mais de duas horas de duração em
que a Manchete fez relembrar os carnavais que fizeram a
história da Passarela do Samba, reunindo trechos dos
desfiles entre os anos de 1984 a 1992 das escolas que
disputavam o Grupo Especial.
A segunda parte de Recordar é Viver foi ao ar na tarde
do sábado. O especial teve a apresentação de Carla
Cavalcante, comentários de José Carlos Rego e a produção da
jornalista Norma Ajara. Na verdade, este foi um programa
requentado. O mesmo especial já tinha sido apresentado
durante a programação carnavalesca da emissora em 1992,
com o nome de Tantos Carnavais, reunido os melhores
momentos das escolas do Especial entre os anos de 1984 e
1991. Em 94, a equipe de jornalismo da Manchete apenas
inseriu os trechos dos desfiles de 92, já que a emissora não
exibira a folia carioca em 93.

Toda nudez carnavalesca será castigada


Na falta de assunto mais relevante para discutir como
melhorar as condições de saúde, da educação, segurança
pública, transportes ou habitação da população – itens que,
pelo jeito, iam muito bem ao país na década de 90 –
parlamentares discutiam em Brasília diferentes formas de
exercer um controle sobre a programação de TV. Suas
Excelências estavam temerosas, já que as redes Globo e
Manchete se preparavam para mais uma cobertura de
Carnaval carregada de cenas de nudez e erotismo.
Com câmeras espalhadas pelo Sambódromo, a
cobertura, já nas chamadas de divulgação, prometia os
tradicionais closes nas partes íntimas das personalidades que
dispensam fantasias na avenida. “Os cameramen são
instruídos para não fechar no bumbum das mulheres, mas,
no calor da cobertura, eles se empolgam”, disse, na época,
Fernando Barbosa Lima (1933 - 2008), diretor-geral da
Manchete. A declaração consta na reportagem “Tesourando o
Carnaval”, da Folha de São Paulo, edição de 15 de fevereiro
de 1998.
Esses closes, que já se tornaram marca registrada do
Carnaval na TV, incomodaram a então deputada federal
Marta Suplicy (PT-SP), autora de projeto que previa a criação
de um órgão em defesa do telespectador.
“A nudez faz parte dessa festa, que é uma grande
manifestação de sensualidade. Só não gosto quando os
cameramen focalizam apenas determinadas partes,
apresentando o corpo da mulher como um objeto
fragmentado. Isso é de muito mau gosto”, afirmava. “Sou
contra a censura, mas quero que a sociedade possa ser
representada por uma comissão que a escute e defenda seus
direitos na condição de espectador”, concluiu a ex-
parlamentar petista, também na mesma edição da FSP.
Outro projeto que pretendia limitar as cenas de nudez
nos carnavais era de autoria do então deputado federal
Antônio Henrique da Cunha Bueno (PPB-SP). Ele sugeria a
utilização de um dispositivo eletrônico que permitia ao
usuário bloquear a recepção de programas que contenham
cenas de nudez, sexo e violência no seu televisor.
A avalanche de cenas de nudez na época de folia era
justificada pelas emissoras como um cumprimento das regras
do jogo. “Simplesmente mostramos o Carnaval como ele é,
mas procuramos fazer uma transmissão dentro dos padrões
aceitáveis de comportamento. Não existe nenhuma orientação
para botar todo mundo nu no vídeo”, destacava Pedro Paulo
Couto, então diretor de produção do Carnaval da Globo, em
entrevista à Folha de São Paulo na edição de 15 de fevereiro
de 1998.
Na mesma reportagem da Folha, a ex-mulata Globeleza,
Valéria Valenssa, então no auge da forma, aos 26 anos, que
aparecia sambando nua na vinheta de Carnaval da emissora,
dizia que não dava para cortar a nudez da festa. “O Brasil
tem mulheres lindíssimas, e essa é a melhor época do ano
para mostrar isso”, comentou na matéria jornalística.
“Sempre vou nua. Apenas mudo a pintura no meu corpo”,
concluiu a modelo, que anos depois se converteria à religião
evangélica e abandonaria o carnaval.
Francy Mourão, a modelo morena que aparecia nua na
vinheta de Carnaval da Manchete, na época com 22 anos,
dizia que tudo é uma questão de profissionalismo. “Em
trabalhos assim, a nudez deve ser encarada como uma forma
de expressão, principalmente quando é Carnaval”, afirmava.
Como já era de se esperar, a Sociedade Brasileira de
Defesa da Tradição, Família e Propriedade, conhecida pela
sigla TFP, condena a postura das emissoras nesse período. A
TFP é uma organização civil de inspiração católica
tradicionalista fundada no Brasil em 1960 pelo paulista
Plinio Corrêa de Oliveira (1908 - 1995). A entidade é pautada
na tradição católica e no combate às ideias maçônicas,
socialistas e comunistas. “Durante a festa, as emissoras
costumam ultrapassar todos os limites possíveis no que se
refere às cenas de nudez, constituindo tal ostentação um
verdadeiro insulto à instituição da família e, sobretudo, uma
gravíssima ofensa aos mandamentos”, segundo declaração do
assessor de imprensa da entidade, Paulo Henrique Chaves.
Fernando Barbosa Lima lembrou, na reportagem da
Folha de São Paulo, que a maioria das atrações de Carnaval
exibidas na emissora atende aos pedidos do telespectador.
“Pessoalmente, não gosto de transmitir o baile gay. Mas é
impressionante o número de pessoas que a cada ano
telefonam para a emissora perguntando se nós vamos exibi-
lo”, contou. “É uma questão de gosto”, salientou o diretor-
geral da Manchete.

Band volta a transmitir Carnaval do RJ

Após uma ausência de mais de uma década na Sapucaí,


a TV Bandeirantes viria a exibir os desfiles do Sambódromo
do Rio no ano de 1999. De certa forma, preenchendo a lacuna
deixada pela Manchete (veremos a extinção da TV Manchete
mais adiante) que, como alternativa de transmissão, a
emissora da família Saad pisou forte na avenida com a
cobertura conhecida como “Band Folia”.
Band Folia é a cobertura do carnaval no Brasil feita pela
Rede Bandeirantes. Feita anualmente desde 1993, com um
período de hiato entre 1995 e 1998, a cobertura se baseia na
transmissão ao vivo e em flashs dos blocos de carnaval em
Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro, durante a programação
e nos telejornais. Como parte da programação de expectativa
que antecede a festa, a emissora exibe ao longo da
programação o Boletim Band Folia. Na cobertura regular,
algumas das afiliadas da Band pelo país fazem a cobertura
sob suas marcas locais.
No Carnaval de 1999, a Band transmitiu com
exclusividade, no sábado, dia 13 de fevereiro, os desfiles das
11 escolas de samba do Grupo 1, pela ordem:

1- Cabuçu (“O Meu Cabelo Não Nega”)


2- Jacarezinho (“Jacarezinho Canta e se Encanta
com os Mistérios do Senhor da Luz”)
3- Santa Cruz (“Abraham Medina em Noite de Gala”)
4- Império da Tijuca (“No Palco da Alegria, Molejão é
Rei Nesta Folia”)
5- Villa Rica (“Sargentelli, Lenda Viva do
Ziriguidum”)
6- Unidos da Tijuca (“O Dono da Terra”)
7- Em Cima da Hora (“Horas, Eras de Glórias e
Outras Histórias”)
8- Porto da Pedra (“E na Farofa do Confete, Tem
Limão, Tem Serpentina”)
9- Cubango (“Tempero, uma Pitada na História”)
10- Estácio de Sá (“No Passo do Compasso, a Estácio
no Sapatinho”)
11- Ponte (“O Samba é a Minha Voz”)

Nos dias 14 e 15 (domingo e segunda), o canal


paulistano exibiu, em pool com a Globo, as 14 escolas do
Grupo Especial. A ordem de desfile foi:

Domingo
1- São Clemente (“A São Clemente Comemora e Traz
Rui Barbosa Para os Braços do Povo”)
2- União da Ilha (“Barbosa Lima, 101 Anos do
Sobrinho do Brasil”)
3- Portela (“De Volta aos Caminhos de Minas Gerais”)
4- Salgueiro (“Salgueiro é Sol e Sal nos Quatrocentos
Anos de Natal”)
5- Vila Isabel (“João Pessoa, Onde o Sol Brilha Mais
Cedo”)
6- Império Serrano (“Uma Rua Chamada Brasil”)
7- Viradouro (“Anita Garibaldi, Heroína das Sete
Magias”)

Segunda-feira

1- Tradição (“Nos Braços da História, Jacarepaguá,


Quatro Séculos de Glórias”)
2- Grande Rio (“Ei, Ei, Ei, Chatô é Nosso Rei!”)
3- Caprichosos (“No Universo da Beleza, Mestre
Pitanguy”)
4- Mangueira (“O Século do Samba”)
5- Mocidade (“Villa-Lobos e a Apoteose Brasileira”)
6- Beija-Flor (“Araxá, Lugar Alto Onde Primeiro se
Avista o Sol”)
7- Imperatriz (“Brasil Mostra a Sua Cara em...
Theatrum Rerum Naturalium Brasiliae”)

BAND
Narração: Astrid Fontenelle e Luciano do Valle.
Comentários: Alexandre Medeiros, Jorge Aragão e Silvia
Poppovic.

Reportagens: Fábio Behrend, Glauce Tolomei, Guilherme


Menezes, Lúcia Soares, Márcia Prado e Monica Ferreira.

A cobertura da Band durou mais de 50 horas em quatro


noites de desfiles na Marquês de Sapucaí, incluindo o Desfile
das Campeãs. A narração foi de Luciano do Valle (1947 -
2014), mantendo a tradição das emissoras reservarem a
ancoragem da transmissão carnavalesca a um experiente
locutor esportivo.
A jornalista e apresentadora Astrid Fontenelle, recém-
egressa da MTV Brasil, era uma espécie de copiloto da nave
Band Folia, o braço direito de Luciano durante a
transmissão. Fazendo a linha descolada e neófita em
carnaval, mesmo tendo nascido no Rio, Astrid se colocava no
lugar do telespectador que não tinha muito conhecimento
carnavalesco e fazia perguntas básicas aos comentaristas
como por que a ala das baianas é obrigatória nas escolas, por
que o casal de mestre-sala e porta-bandeira não samba, qual a
função da comissão de frente, qual a diferença de intérprete e
puxador de samba, etc.
A jornalista Silvia Poppovic era uma das comentaristas
da transmissão. À época apresentando no canal um
programa que levava seu nome e que foi pioneiro nos
programas de debates na televisão brasileira, cabia a Silvia
também fazer reportagens com as celebridades televisivas e
do samba que visitavam a cabine da Band.
Os comentários mais abalizados referentes aos desfiles
ficavam a cargo de convidados, como o sambista e compositor
Jorge Aragão e do jornalista e escritor carioca Alexandre
Medeiros.
Egresso da TV Manchete, onde apresentou o Botequim
do Samba por quatro anos, Aragão fazia a linha do sambista
empático ao carnaval, apesar do artista não ter um currículo
muito ativo nos desfiles. Enaltecia os esforços das
agremiações e de seus componentes em estarem na avenida,
“após um ano de trabalho intenso”, além da virtude dos
compositores dos sambas.
Jornalista com passagens pelas redações do Jornal do
Brasil, O Globo, O Dia, além da própria Band, cabia a
Alexandre Medeiros fazer os comentários mais objetivos nos
desfiles. Analisava, sobretudo, questões mais técnicas de
cada apresentação, como a qualidade plástica, a evolução, o
conjunto visual, projetava quais eram as reais postulantes ao
título e também municiava o telespectador com informações
sobre os bastidores e o pré-carnaval de cada escola.

O fenômeno Tiazinha

Se a TV Globo mantinha a mulata Valeria Valenssa


sambando nua nas vinhetas da programação Globeleza, e
uma modelo loira representava o Carnaval da Manchete, a
Bandeirantes contra-atacou pesado e escalou o fenômeno
Tiazinha para aparecer nas telinhas e ser a marca visual do
Band Folia 99.
A paulistana Suzana Alves (nascida na Freguesia do Ó
em 1978) aos 19 anos se transformou em um fenômeno na
televisão ao interpretar a personagem Tiazinha no Programa
H, apresentado por Luciano Huck quando de sua passagem
pela TV Bandeirantes, entre outubro de 1996 e setembro de
1999. Na atração, a morena encarnava uma jovem sensual,
com um visual sadomasô light, que vestia lingerie, máscara
de Mulher-Gato, salto alto e chicotinho. Em pouco tempo,
Tiazinha se tornou um ícone pop, levando as plateias de
adolescentes (e de muitos marmanjos também) à loucura.
A jovem realizava jogos com os garotos da plateia, nos
quais eles tinham que responder corretamente as perguntas
ou pagar a prenda estipulada por ela – que ia desde algumas
chicotadas até depilar alguma parte do corpo do rapaz.
Teve início, então, a “Era Tiazinha” na qual a artista
conquistou uma legião de fãs, configurando em símbolo
sexual. A Band não perdeu tempo e aproveitou o produto
criado pela casa e colocou Tiazinha nas vinhetas da cobertura
carnavalesca da emissora.
Aproveitando o momento de auge da popularidade do
personagem, o presidente Nésio Nascimento (1948 - 2022), da
escola de samba Tradição, demonstrou um extremo senso de
oportunidade e contratou Suzana Alves para ser a rainha de
bateria da agremiação e assim atrair os olhares do público
para a azul e branco do Campinho. A aparição da Tiazinha na
passarela do Sambódromo à frente dos ritmistas provocou
uma aglomeração jamais vista de fotógrafos e cinegrafistas
para captar a performance da moça no desfile.
Depois do carnaval e ainda aproveitando o ponto alto da
carreira, Tiazinha estampou a capa da Playboy, em março de
1999, sendo a segunda edição mais vendida da história da
revista, superando o marco de 1 milhão de cópias. Em 2000,
ela fez outra capa, também com vendas expressivas.
Depois de muito sucesso, Suzana Alves resolveu
aposentar a personagem. Mas, antes de virar a página da
carreira completamente, lançou o CD Tiazinha Faz a Festa e
a série de TV As Aventuras de Tiazinha, em que deixava para
trás o posto de símbolo sexual e encarnava uma heroína. O
seriado ficou no ar até março de 2000, quando Suzana não
renovou seu contrato com a Band, alegando que queria
deixar de interpretar a Tiazinha antes que se tornasse
decadente no imaginário do público.
A TV Bandeirantes também transmitiu o Desfile das
Campeãs, no sábado seguinte ao carnaval, com a mesma
equipe de apresentadores, comentaristas e repórteres. Aliás,
1999 foi o último ano em que a campeã e a vice do Segundo
Grupo participaram do desfile comemorativo. Naquele ano, a
Unidos da Tijuca levou o título do então Acesso A, e subiu
com a vice, Porto da Pedra – ambas desfilaram no sábado.
A participação da campeã da Série A no Desfile das
Campeãs é um desejo permanente de muitos da comunidade
do samba, desde que a Liesa deixou de convidar, por
questões legais, as vencedoras do acesso.
No próximo capítulo, veremos como foi a primeira
década do século 21, resgatando o canto do cisne da
emissora que mais esteve ao lado dos carnavalescos na
história, o surgimento do projeto que retomou as
transmissões do grupo de acesso, o carnaval dos 500 anos e
o drible que uma emissora aplicou no monopólio para
valorizar a escola que homenageava o “Homem do Baú”.
CAPÍTULO 7 – ENFIM, O
CARNAVAL DA LIBERDADE
(ANOS 2000)

O canto do cisne da TV Manchete; o Carnaval do Povão; a


volta de Paulo Stein à narração dos desfiles; Jorge Perlingeiro
é Samba de Primeira; o carnaval dos 500 anos do
Descobrimento; a folia ganha nova tecnologia; Sílvio Santos
vem aí; Sábado das Campeãs é na tela da Band.

Desperta Brasil, eu quero é paz


Tristeza nunca mais
Se alguém cuidar da juventude
Oh Pátria Mãe Gentil
Outros quinhentos serão nos anos 2000
“Carnaval à Vista – Não fomos catequizados, fizemos
carnaval” (Pedrinho, J. Mendonça, Messias e Mingau) –
Samba-enredo da GRES Acadêmicos do Grande Rio 2000.
ode parecer um título um pouco ufanista. E

P certamente é. Mas como esperança é a profissão


do brasileiro, era esse o sentimento que corria no
país para a chegada do ano 2000. Comemoravam-
se os 500 anos do Descobrimento e começava a
contagem regressiva para a chegada do século 21 e do
esperado terceiro milênio. O refrão do samba da Grande Rio
tentava retratar essa sensação de virada de chave, de “agora
vai”.
No lado carnavalesco televisivo, as coisas paravam de
acontecer e de virar manchete. A TV Globo se tornaria
definitivamente a detentora exclusiva dos direitos de
transmissão dos desfiles do grupo especial.
O carnaval do grupo de acesso tinha resgatado a sua
valorização com a CNT. E o patrão do SBT acaba gerando a
maior audiência à principal concorrente justamente durante
um desfile de carnaval.

O canto do cisne e a permanente Quarta-feira de


Cinzas da Manchete

Desde seu início, a TV Manchete passou por crises que


foram provocadas por altos gastos em produção de conteúdo.
Em 1992, como vimos anteriormente, o canal passou por sua
primeira grande crise, que resultou na venda das empresas
do grupo Bloch para a Indústria Brasileira de Formulários
(IBF) e, no ano seguinte, na devolução da Rede Manchete de
Rádio e Televisão ao empresário Adolpho Bloch.
O conglomerado Manchete entra o ano de 1998 com os
primeiros sinais de desgaste: a novela Mandacaru dava
baixos lucros e os programas jornalísticos estavam
desgastados. Aliada a isso, a situação econômica do Brasil e
do mundo não era estável desde a crise asiática de outubro
de 1997, com as taxas de juros em alta. As dívidas da
emissora aumentavam cada vez mais à medida que não eram
pagas.
Ainda assim, a Manchete ainda teria fôlego profissional
e financeiro para transmitir mais um carnaval, o derradeiro
de sua trajetória. Porém, com uma formatação e personagens
bem diferentes daqueles que reinaram na era de ouro da
emissora.
Em 1997, com o slogan “Rede Manchete, Estação
Primeira do Carnaval”, a empresa tentava deixar clara a
superioridade na cobertura. Os preparativos já eram
mostrados desde outubro do ano anterior, quando
começaram a ir ao ar os já esperados boletins Esquentando
os Tamborins e Feras do Carnaval.
O multifacetado agitador cultural Oswaldo Sargentelli
(1923 - 2002) ancorou o Botequim da Manchete, um programa
com os sambas de enredo do Carnaval 97 que reuniu os
intérpretes de doze das 16 escolas da primeira divisão do Rio.
Estiveram presentes no programa: Alexandre D’Mendes
(Acadêmicos da Rocinha), Claudio Tricolor (Acadêmicos de
Santa Cruz), David do Pandeiro (1959 - 2020, Estácio de Sá),
Dominguinhos do Estácio (1940 - 2022, Viradouro), Eraldo
Caê (Mangueira), Ito Melodia (União da Ilha), Nego (Grande
Rio), Neguinho (Beija-Flor), Preto Joia (Imperatriz), Serginho
do Porto (Unidos da Tijuca), Wander Pires (Mocidade) e
Wantuir (Porto da Pedra).
Os cantores que foram ausências na gravação (por
razões desconhecidas): Gera e Jorge Tropical (Vila Isabel),
Jorginho do Império (Império Serrano), Quinho (Salgueiro) e
Rixxa (Portela). O acompanhamento musical ficou a cargo do
conjunto Barato Maior.
O Botequim do Samba teve ainda a participação mais do
que especialíssima das “mulatas que não estão no mapa” –
grupo de passistas femininas que trabalhavam nos shows de
Sargentelli.
E ainda houve uma eleição para escolher a Musa do
Carnaval naquele ano. O telespectador telefonaria e optaria
entre uma mulata, uma morena e uma loira, e ainda
concorria a vários carros zero quilômetro do modelo Fiat Palio
e um automóvel importado na final.
A vencedora da disputa foi a loira Marcela Leite, 18 anos
de idade à época, e que adotou o nome artístico Marcela Milk.
Em 1996, ela vencera o concurso Garota de Ipanema, título
esse que, segundo ela, não lhe abriu as portas para nenhum
trabalho.
Após vencer a eleição de Musa do Carnaval 97 da
Manchete, Marcela foi capa da revista Ele & Ela. A jovem se
formou em jornalismo, tornou-se empresária do ramo da
moda e de calçados, e foi casada com Jayder Soares, patrono
da escola de samba Acadêmicos do Grande Rio. Atualmente,
a loira identifica-se como designer de festas.
Além da escolha da musa do Carnaval 97, a Manchete
trouxe como novidade também o retorno da transmissão do
desfile das escolas de samba de São Paulo, que já fizera em
1991, ano da inauguração do Sambódromo do Anhembi.
No início de fevereiro de 1998 estrearam as chamadas
para o Carnaval 98, com a loira Simara Marques e a mulata
Franci Mourão, que dançavam ao som do samba “Aconteceu,
virou Manchete”, na voz de Neguinho da Beija-Flor. A vinheta
trazia a inscrição “Carnaval da Copa”, marca da cobertura
daquele ano, em referência à Copa do Mundo de Futebol
disputada na França.
Enquanto isso, Martinho da Vila apresentava Botequim
do Samba Especial. O programa contou com a presença de
Dona Ivone Lara (1922 – 2018), Lecy Brandão, Grupo Molejo,
entre outros artistas.
A exemplo do ano anterior, uma edição do Botequim do
Samba reuniu novamente os cantores das 14 escolas do
Grupo Especial do Rio. O Grupo Fundo de Quintal foi
convidado para fazer o acompanhamento musical.
Desta vez, todas as escolas se fizeram representadas
pelos seus intérpretes, titulares ou não: Gilson Bakana
(Beija-Flor), Jackson Martins (1972 – 2004, Caprichosos de
Pilares), Nego (Grande Rio), Preto Joia (Imperatriz), Eraldo
Caê (Mangueira), Wander Pires (Mocidade), Rogerinho
(Portela), Wantuir (Porto da Pedra), Quinho (Salgueiro),
Taroba (Tradição), Rixxa (União da Ilha), Serginho do Porto
(Unidos da Tijuca), Gera (Vila Isabel) e Dominguinhos
(Viradouro).
No sábado, dia 21 de fevereiro, com início às 21 horas, a
emissora exibiu os desfiles do Grupo A, ao vivo, com
exclusividade, direto da Sapucaí. Pela ordem de
apresentação:

1ª) Acadêmicos do Cubango (“Nausicaa – A Odisseia


Cubanga nos Verdes Mares”)
2ª) Lins Imperial (“Búzios : o Paraíso da
Humanidade”)
3ª) Acadêmicos da Rocinha (“Tá na Ponta da Língua”)
4ª) Império da Tijuca (“Elymar Superpopular”)
5ª) São Clemente (“Maiores São os Poderes do Povo!
Se Liga na São Clemente!”)
6ª) Em Cima da Hora (“Quem é Você, Zuzu Angel? Um
Anjo Feito Mulher”)
7ª) Império Serrano (“Sou o Ouro Negro da Mãe
África”)
8ª) Acadêmicos de Santa Cruz (“O Exagerado Cazuza
nas Terras de Santa Cruz”)
9ª) Unidos da Ponte (“Quem Pode, Pode. No Pagode se
Sacode”)
10ª) Estácio de Sá (“Cem Anos de Cultura – Academia
Brasileira de Letras”)
No período de carnaval, a programação da TV Manchete
que por anos foi de dedicação exclusiva à folia, reduziu
drasticamente seus espaços para a festa. Para exemplificar,
eis abaixo a grade da emissora no Domingo de Carnaval, dia
22 de fevereiro de 1998:

07h00 - As Campeãs da Sapucaí


08h00 - Debate de Carnaval
10h00 - Olimpíadas de Inverno - Nagano 98: Cerimônia
de Encerramento (VT completo)
12h30 - LBV
13h00 - Domingo Milionário: Domingo no Palco
14h45 - Domingo Milionário: Perdidos na Tarde
16h30 - Domingo Milionário: Programa J. Silvestre
18h30 - Domingo Milionário: Corrida Milionária
19h00 - Programa de Domingo Especial
19h30 - Carnaval da Manchete: Desfiles das Escolas de
Samba do Rio de Janeiro (ao vivo)

A ordem de desfile do domingo no Grupo Especial foi


esta:
1ª) Caprichosos de Pilares (“Negra Origem, Negro Pelé,
Negra Bené”)
2ª) Acadêmicos do Salgueiro (“Parintins, a Ilha do Boi-
Bumbá: Garantido X Caprichoso, Caprichoso X
Garantido”)
3ª) Unidos de Vila Isabel (“Lágrimas, Suor e
Conquistas no Mundo em Transformação”)
4ª) Acadêmicos do Grande Rio (“Prestes, o Cavaleiro
da Esperança”)
5ª) Unidos do Porto da Pedra (“Samba no Pé e Mãos ao
Alto, Isto É Um Assalto”)
6ª) Mocidade Independente de Padre Miguel (“Brilha no
Céu a Estrela Que Me Faz Sonhar”)
7ª) Portela (“Os Olhos da Noite”)

Na segunda-feira de Carnaval, dia 23, a Manchete


alcançou 13 pontos no Ibope em São Paulo e 12 no Rio,
conquistando o segundo lugar em audiência. As escolas se
apresentaram na seguinte ordem:

1ª) Tradição (“Viagem Fantástica ao Pulmão do


Mundo”)
2ª) Estação Primeira de Mangueira (“Chico Buarque da
Mangueira”)
3ª) Imperatriz Leopoldinense (“Quase no Ano 2000”)
4ª) Unidos do Viradouro (“Orfeu, o Negro do
Carnaval”)
5ª) Beija-Flor de Nilópolis (“O Mundo Místico dos
Caruanas nas Águas do Patu-Anu”)
6ª) Unidos da Tijuca (“De Gama a Vasco, a Epopeia da
Tijuca”)
7ª) União da Ilha do Governador (“Fatumbi, a Ilha de
Todos os Santos”)
O início do segundo dia de desfile foi transmitido apenas
pela Manchete, a partir das 20 horas, já que a Globo ainda
exibia a novela “Por Amor”. Os desfiles da Tradição e da
Mangueira – que se sagrou campeã, terminando empatada
com a Beija-Flor –, só a emissora do Grupo Bloch transmitiu
integralmente.
A apoteose, na quarta-feira de Cinzas, realizada na
transmissão do Baile Gala Gay, levou a TV Manchete ao
primeiro lugar no horário das 23 horas às duas horas da
madrugada, ficando 13 contra 8 pontos da Globo em São
Paulo (no Rio, a concorrente ganhou por 11 a 10).
A última transmissão carnavalesca da TV Manchete foi
enxuta em termos de equipe: Paulo Stein na ancoragem e
mais os comentários de Haroldo Costa, Roberto Barreira e de
Luiz Lobo, jornalista egresso da Rede Globo e que trabalhou
em diversas coberturas de desfiles de carnaval pelo canal
global nos anos 70 e 80.

MANCHETE

Narração: Paulo Stein.


Comentários: Haroldo Costa, Luiz Lôbo e Roberto Barreira.

Reportagens: Débora Gelwan, Eliane Peixoto, Felipe Peña,


José Ilan, Márcia Prado, Nathércia Mota, Solange Bastos e Tarlis
Batista.
Reportagens Especiais: Andrea Guerra (com entradas ao vivo
diretamente dos bailes de salão no Rio) e Eduardo Barazal (com
entradas ao vivo do Anhembi, no sábado, durante o carnaval de São
Paulo).

Em 1998 já não havia mais o convívio tradicional de


Fernando Pamplona, José Carlos Rêgo, Maria Augusta ou de
Adelzon Alves. Ou as presenças de Sérgio Cabral e Albino
Pinheiro, que se revezavam de emissora, ora na Manchete ora
na Globo. E nem a participação de convidados eventuais,
como a presidente da Unidos da Cabuçu, Therezinha Monte,
ou a cantora Beth Carvalho (1946 - 2019), como houvera em
1991.
A própria reportagem durante a transmissão teve que
contar com um número reduzido de profissionais, apesar de
ter mantido ainda as vozes características de veteranos como
Tarlis Batista (1940 - 2002) e Solange Bastos.
Nascido no subúrbio de Pilares, zona norte da cidade do
Rio de Janeiro, Tarlis Batista foi um jornalista que construiu
quase toda sua carreira na Editora Bloch, como jornalista
esportivo. É dele todo o trabalho de pesquisa do
documentário “Pelé Eterno”, de Aníbal Massaini Neto, lançado
em 2004. Para a revista Manchete, Tarlis cobriu as Copas da
Argentina (1978) e Espanha (1982). Escreveu nas revistas
Gente, da Argentina; Sétimo Céu, Fatos & Fotos e Amiga, dos
Bloch. Era uma figura muitas vezes folclórica, um repórter
obstinado. Seus companheiros na Manchete diziam que tinha
a fama de se enredar em matérias fáceis e de conseguir
reportagens impossíveis.
Tarlis Batista conseguira uma façanha que nenhum
outro repórter brasileiro obtivera: a de se aproximar do cantor
Frank Sinatra (1915 - 1998), em janeiro de 1980, quando o
astro aqui desembarcou para uma lendária apresentação no
estádio do Maracanã.
Sinatra, que reconhecidamente não era figura fácil para
jornalistas, gostou tanto do bom papo e da cara de pau de
Tarlis que, além de abrir seu camarim, posou para várias
fotos a seu lado, que foram devidamente autografadas por
“The Voice”. Of course.
O jornalista carioca acompanhou Frank Sinatra em
vários outros momentos durante a temporada no Rio e fez
matérias exclusivas no hotel que hospedou o norte-americano
e seu staff.
Também na TV Manchete, Tarlis Batista criou o
programa Amigos e data desse tempo seu bom
relacionamento com Pelé, Zico e outros craques do futebol,
além de entrevistas com cantores famosos, como Julio
Iglesias. Mais tarde, tornou-se assessor de imprensa da Beija-
Flor de Nilópolis.
Solange Bastos também era bastante identificada com o
Grupo Bloch enquanto esteve na empresa. Nascida em 1952,
no Rio de Janeiro, começou a carreira nos Diários Associados
em 1971, já formada em jornalismo.
Por motivos políticos, na época da ditadura, Solange
saiu do Brasil em 1973 e refugiou-se no Chile, em seguida na
Argentina e na França. Regressou ao Brasil cinco anos
depois, às vésperas da anistia, e retornou ao jornalismo em
Maceió, como repórter e apresentadora de TV.
Ao voltar para o Rio de Janeiro, esteve na fundação da
TV Manchete, em 1983, onde foi repórter da “Operação
Antártica III”. Em decorrência desse trabalho, Solange Bastos
foi convidada para integrar a equipe do programa Globo
Repórter, da Rede Globo, onde permaneceu até 1987.
Retornou à Manchete, a convite do diretor Jayme Monjardim,
para ajudar a reestruturar o Programa de Domingo, que
passou a adotar uma linguagem de cinema, ao gosto de
Jayme, como ele o fez na novela Pantanal.
De 1993 a 1994, Solange Bastos foi âncora do programa
Bate-Boca, um talk-show em rede nacional, marcado por
variedade de temas e espontaneidade da apresentadora e dos
participantes. Em 1998, a jornalista colaborou com a
cobertura da Copa do Mundo de Futebol, na França.
Desde 2002, Solange está à frente da Família Bastos
Produções, empresa de produções culturais, que já publicou
vários livros e produziu documentários, curtas e médias-
metragens, com abordagens ligadas ao ecoturismo e aos
direitos humanos. Em setembro de 2015, lançou seu segundo
livro-reportagem de divulgação científica, Na Rota dos
Arqueólogos da Amazônia, 13 Mil Anos de Selva Habitada.
A TV Manchete ainda transmitiu o Desfile das Campeãs,
em 1998, quando se apresentaram, pela ordem, na Marquês
de Sapucaí:

1- São Clemente (vice-campeã do Grupo A, com 178


pontos)
2- Império Serrano (campeã do Grupo A, com 180 pts)
3- Viradouro (5º lugar do Grupo Especial, com 262,5
pts)
4- Portela (4º lugar do Grupo Especial, com 264 pts)
5- Imperatriz (3º lugar do Grupo Especial, com 269,5
pts)
6- Beija-Flor (campeã do Grupo Especial, com 270 pts)
7- Mangueira (campeã do grupo Especial, com 270 pts).

Enfim, a falência

Após o carnaval de 1998, a situação da TV Manchete se


tornou ainda mais crítica. A emissora tentou mudanças. A
primeira delas consistiu em uma grande reformulação dos
noticiários da Rede. Esforçou-se também em novidades na
programação, como a contratação de nomes como Claudete
Troiano, Salomão Schvartzman (1931 - 2019), Celso
Russomanno, Magdalena Bonfiglioli, Otávio Mesquita,
Virgínia Novick e Sérgio Mallandro.
A outrora carioquíssima Manchete dava lugar a uma
televisão com uma cara paulistana e nomes identificados com
São Paulo, além de uma programação com maior apelo
popular, nitidamente para concorrer com Record e SBT.
Mesmo com essas mudanças na programação – algumas
até bem-sucedidas – os juros das dívidas cresciam a tal ponto
que as mesmas superaram o patrimônio da própria emissora.
Processos judiciais conturbados envolvendo a direção da
Manchete, a Igreja Renascer em Cristo, o Banco Pactual e o
Grupo DCI, de Hamilton Lucas de Oliveira, também
marcaram este momento da história da empresa, que estava
em dívida crescente e cada vez mais atrasava os pagamentos
de seus funcionários.
Vários protestos e greves eclodiram, ao passo de cortes
de transmissão fossem impostos diretamente pelos
funcionários. Vários interessados pela compra da rede
surgiram no ano de 1998. Entretanto, nenhum se
concretizou. O Jornal da Manchete, marca da emissora desde
o ano de inauguração, deixou de ser exibido durante algum
tempo devido à grave crise que assolou o Grupo Bloch.
No início de 1999, Pedro Jack Kapeller (o “Jaquito”,
sobrinho de Adolpho Bloch), presidente do Grupo Bloch e
dono da Rede Manchete de Televisão, surpreendeu a todos os
envolvidos e os que acompanharam a crise da Rede
Manchete, afirmando que assinou contrato com a produtora
Renascer Gospel Comunicação Produções Ltda., pertencente
à Fundação Renascer, administrada pela igreja evangélica
Renascer em Cristo, tornando-se a parceira da Rede
Manchete.
Em 9 de janeiro, é anunciado que apenas a Rede Globo
irá transmitir o Carnaval carioca de 1999. Uma transmissão
pela TV Manchete iria contrariar os princípios da igreja que
agora era a sua controladora. Por este mesmo motivo, a
Manchete deixa de transmitir o evento que virou símbolo da
rede.

A TV do ano 2000 que morreu em 1999


O aparente sucesso inicial da parceria entre a TV
Manchete e a Renascer em Cristo deu lugar a um grande
fracasso, com polêmicas e calote por parte da Igreja. Com a
situação totalmente fora de controle, a TV Ômega, de
Amílcare Dallevo, presente na programação da emissora,
tramitou com o Grupo Bloch o processo de compra da rede e
se comprometeu a regularizar toda a sua situação até o
momento, desde a quitação das dívidas até o pagamento de
salários atrasados. Era o fim da Rede Manchete de Televisão.
Em 10 de maio de 1999 a emissora transmitia pela
última vez como Rede Manchete. No dia 11, no horário do
Jornal da Manchete, foi lida uma carta oficializando a venda
das operações da rede para a TV Ômega LTDA. Alguns meses
depois, em novembro, a fase de transição termina e a Rede
Manchete encerra definitivamente as suas operações e dá
lugar à RedeTV!, de Amílcare Dallevo, inaugurada
oficialmente em 5 de novembro de 1999.
Ironicamente, a TV Manchete não conseguiu chegar aos
anos 2000, do qual tanto falou em seu início – seu slogan era
“A televisão do ano 2000”, em 1983.

O Carnaval do Povão

Inexplicavelmente, os desfiles do Grupo A (o equivalente


à segunda divisão do carnaval carioca) não foram exibidos
por canais abertos em 2000 e nem 2001. Quando tudo daria
a crer que a TV Bandeirantes iria abraçar em definitivo a
transmissão do grupo de acesso, a emissora paulistana recua
e torna a voltar suas forças para o carnaval nordestino.
Foi uma lástima nenhum canal ter se interessado em
cobrir o Grupo A, pois essa categoria contou com desfiles
bem interessantes nos dois anos em que ficou “invisível” aos
olhos da audiência televisiva.
Em 2000, por exemplo, a Sapucaí viu o surgimento da
escola de samba Inocentes de Belford Roxo, que, treze anos
depois, viria a estrear no Grupo Especial; o ótimo desfile do
Império Serrano, que se sagrou campeão com o enredo “Os
Canhões de Guararapes”, retornando em grande estilo aos
seus tradicionais enredos épicos sobre a História do Brasil
(ou temas “capa-e-espada”, como diria Fernando Pamplona);
e a surpreendente apresentação da Paraíso do Tuiuti, que
encerrou os desfiles do Grupo A naquele ano. Mesmo
empatando com o mesmo número de pontos com a Em Cima
da Hora (195,5 pontos), a azul e amarelo do bairro de São
Cristóvão garantiu o vice-campeonato e a segunda vaga para
o Especial no carnaval seguinte.
Já em 2001, a Passarela do Samba viu o ex-bloco Boi da
Freguesia desfilar como a escola de samba Boi da Ilha do
Governador com “Orun-Ayiê” (composição de Aloísio Villar,
Paulo Travassos, Clodoaldo Silva e Silvana da Ilha), um dos
mais belos sambas-enredo da primeira década do século 21,
merecedor legítimo do prêmio Estandarte de Ouro da
categoria.
Percebendo uma ótima oportunidade para valorizar um
carnaval que ainda guardava resquícios de espontaneidade,
autenticidade e com sambas de qualidade artística muitas
vezes superior aos do Grupo Especial, o radialista e
apresentador Jorge Perlingeiro resolveu apostar no carnaval
do Grupo A. Foi uma das maneiras encontradas de ajudar a
evitar a decadência da divisão de acesso.

CNT
Narração: Arlênio Lívio Gomes e Jorge Perlingeiro.
Comentários: Elke Maravilha, Jorge Aragão, Maria Augusta,
Marlene Paiva, Max Lopes, Milton Cunha e Miro Ribeiro.
Reportagens: Bárbara Campelo, Hilton Abi-Rihan e Paulo
Corrêa.
Após acertar uma parceria com a CNT, que estava de
fora do carnaval desde 1997, Perlingeiro capitaneou a
transmissão do Grupo de Acesso do Rio de Janeiro de 2002 a
2008, numa cobertura intitulada “Carnaval do Povão”, que
fazia valer o seu nome, afinal, tratava-se de uma cobertura
bastante informal. Um formato que a Globo por anos tentou
implementar e que também foi claramente inspirado na
configuração que a antiga TV Manchete levava, com sucesso,
ao ar e que a consolidou no mundo do carnaval.
Parafraseando o Salgueiro, a transmissão da CNT não
era nem melhor, nem pior. Era apenas bastante “original”
(diferente). Na primeira edição do Carnaval do Povão, em
2002, estiveram Marlene Paiva (1935 - 2015), uma das mais
premiadas destaques do carnaval brasileiro; a carnavalesca
Maria Augusta Rodrigues, a atriz e eterna jurada de
programas de calouros Elke Maravilha (1945 - 2016), e o
radialista Arlênio Lívio Gomes (1942 - 2003), coapresentador
da transmissão junto com o próprio Jorge Perlingeiro.
No dia 9 de fevereiro (sábado), a CNT transmitiu ao vivo
e com exclusividade direto da Marquês de Sapucaí a
apresentação do Grupo A. Os desfiles estavam previstos para
começar às 19h, mas em decorrência da forte chuva que caiu
na cidade do Rio de Janeiro, houve um atraso de cerca de
meia hora, mas a equipe do Carnaval do Povão iniciou a
cobertura pontualmente no horário previsto.
Pela ordem, foram estas as escolas que entraram na
Passarela do Samba, com seus respectivos enredos:
1- União de Jacarepaguá (“Asas: Sonho de Muitos,
Privilégio de Poucos, Tecnologia de Todos”)
2- Acadêmicos da Rocinha (“Na Rocinha, O Povo é
Sempre Notícia”)
3- Leão de Nova Iguaçu (“Do Esplendor Diamantino
aos Sonhos Dourados de Juscelino”)
4- União da Ilha do Governador (“Folias de Caxias: de
João a João... É o Carnaval da União”)
5- Unidos de Vila Isabel (“O Glorioso Nilton Santos...
Sua Bola, Sua Vida, Nossa Vila”)
6- Unidos da Villa Rica (“Sou Rio, Sou Grande, Sou
Villa Rica do Norte”)
7- Estácio de Sá (“Nos Braços do Povo, na Passarela
do Samba... 50 anos de O Dia”)
8- Boi da Ilha do Governador (“Boi da Ilha é
Holambra, a Tulipa Brasileira”)
9- Império da Tijuca (“Vossa Excelência: Feijão Com
Arroz”)
10- Unidos da Ponte (“De Minas para o Brasil, o
Mártir da Nova República”)
11- Acadêmicos de Santa Cruz (“Papel – Das origens à
Folia – História, Arte e Magia”)
12- Paraíso do Tuiuti (“Arlindo, Arlequins e
Querubins: um Carnaval no Paraíso”).
A transmissão dos desfiles de 2003 reuniu Jorge
Perlingeiro na apresentação, com comentários dos
carnavalescos Max Lopes e Milton Cunha, além de Elke
Maravilha e Miro Ribeiro, que faria a cobertura do SBT anos
mais tarde, em 2012.
Em 2005, o Carnaval do Povão contou com o sempre
presente Jorge Aragão, que, àquela altura, chegava à quarta
emissora diferente, já tendo participado das transmissões
carnavalescas pelas televisões Globo, Manchete e
Bandeirantes, em anos anteriores.
Perlingeiro sempre convidava estrelas carnavalescas
para participação especial nas transmissões. Em 2008,
durante o desfile da Estácio de Sá (ʺA História do Futuroʺ), a
consagrada porta-bandeira da Beija-Flor, Selminha Sorriso,
por exemplo, deu a honra de sua presença na transmissão. A
sambista aproveitou para falar um pouco sobre o período em
que bailou na vermelho e branco do Morro de São Carlos,
ganhando, inclusive, o título do carnaval de 1992, com o
enredo “Pauliceia Desvairada”.
No entanto, o Carnaval do Povão também pecava em
muitos aspectos técnicos. Do samba-enredo das agremiações,
por exemplo, pouco ou quase nada era ouvido. Muito por
conta do próprio apresentador e dos comentaristas, que não
paravam de falar um só minuto. Outro aspecto: a qualidade
da imagem, em comparação com Globo e Bandeirantes, era
bem precária.
E não foram poucas as vezes que Perlingeiro “esquecia”
que estava acontecendo um desfile de carnaval para fazer
demoradas entrevistas com autoridades políticas e
patrocinadores. Sabemos que é sempre bom e aconselhável
fazer uma média com o prefeito do Rio, com o secretário
municipal de Turismo e apoiadores comerciais, mas em plena
transmissão, causava muita irritação insistir com conversas
longas e enfadonhas em vez de mostrar o espetáculo na
avenida.
Esse desprazer sentido pela audiência foi observado pelo
jornalista Marco Maciel, responsável pelo site Sambario, no
editorial nº 11, de 12 de fevereiro de 2008.

A sensação de quem ligou a TV para acompanhar a já tradicional transmissão da CNT


dos desfiles das escolas do Grupo A certamente foi de um vazio no ar: cadê o samba?
Ouvia-se apenas um abafado sussurro do carro de som, enquanto a equipe do Carnaval
do Povão, principalmente Jorge Perlingeiro e Milton Cunha, falava pelos cotovelos. O
volume do samba só aumentava e melhorava consideravelmente quando Perlingeiro
anunciava a letra na tela. Aí o samba-enredo era ouvido perfeitamente. Porém, era só
Perlingeiro reassumir o microfone para o som do samba diminuir. Evidente que a
intenção de Perlingeiro é boa, mas a transmissão da CNT também em termos de
imagem deixa muito a desejar em relação à Globo e até à Bandeirantes. E depois, o fato
da cabine do Carnaval do Povão ser filmada inúmeras vezes com convidados e
patrocinadores puxando o saco do apresentador dá a impressão de que o próprio
Perlingeiro quer ser o dono do espetáculo, e não as escolas na Marquês de Sapucaí. Vale
lembrar da enfadonha entrevista com o prefeito César Maia no desfile de 2007, que
perdurou durante quase uma hora. Tanto que o desfile da Cubango no ano passado só
passou a ser mostrado da metade pro final (...) Que a Jorge Perlingeiro Produções deixe
o som do samba mais audível no próximo ano, se não for pedir muito.

O carnaval da Lesga e a volta de Paulo Stein à


narração dos desfiles

O ano de 2009 foi o último que a CNT exibiu os desfiles


do Grupo A. No entanto, sem o comando de Jorge Perlingeiro
e também sem a marca “Carnaval do Povão”. Depois de anos
de parceria com o apresentador e locutor oficial da apuração
do carnaval da Liesa, a transmissão finalmente mudou de
mãos.
A Liga das Escolas de Samba do Grupo de Acesso
(Lesga), entidade fundada em 2008 para gerenciar os desfiles
do Grupo A, assumiu o comando da transmissão, mas não
fechou com o apresentador. Para a cobertura dos desfiles da
categoria, foram chamados jornalistas que estavam no
imaginário do público que acompanha o trabalho jornalístico
dos desfiles.
Para a narração, foi convocado ninguém mais ninguém
menos do que Paulo Stein, que durante 14 anos (1984 -1998)
foi a voz do carnaval da lendária Rede Manchete. O locutor
retornou uma transmissão carnavalesca (que viria a ser a
última) depois de 11 anos.
Nas reportagens, lá estava a voz inconfundível de
Ronaldo Rosas, apresentador de jornais da mesma Rede
Manchete, que durante vários anos participou da cobertura
dos desfiles nos noticiários da emissora.
A Lesga comprou o horário da CNT para mostrar os
desfiles das dez escolas do Grupo A, cuja intenção era ter 16
câmeras e quatro comentaristas. A direção da transmissão foi
de outro nome seminal ligado à Manchete: Mauro Costa
(1939 - 2011), que foi diretor de jornalismo da emissora dos
Bloch na época de Paulo Stein. Costa era o responsável por
dirigir a transmissão de carnaval da Manchete.
Na quinta-feira anterior ao desfile, no dia 19 de
fevereiro, a CNT exibiu um programa de uma hora de
duração, também apresentado por Stein, com os preparativos
das escolas, composto por pequenas reportagens, de três a
quatro minutos, pré-gravadas, para cada escola. A emissora
não transmitiu a apuração da categoria, pois isso não estava
no contrato assinado entre a Lesga e a CNT.
No entanto, as coisas não saíram exatamente do jeito
combinado. Em vez de estar dentro de uma cabine no
Sambódromo com a visão para a passarela, como é de praxe
nesses casos, Paulo Stein fez a transmissão inteira dos
desfiles dentro do caminhão da externa da emissora, em uma
espécie de off tube (quando o locutor não está no local do
evento, e sim, no estúdio, vendo as imagens a partir de um
monitor para fazer a narração).
“Não era para ter sido desse jeito”, declarou o narrador
em entrevista ao site GGN. “O presidente da Lesga (Reginaldo
Gomes, que também fora presidente da Inocentes de Belford
Roxo) tinha acertado uma cabine, segundo ele, num
camarote. Só sei que quando cheguei lá não tinha a tal
cabine e o jeito foi fazer dentro do caminhão de externa. Não
teve o mesmo espaço e o conforto de um estúdio, mas na
televisão a narração e os comentários têm que ser feitos em
cima das imagens que estão sendo mostradas. Quando
estamos no local trabalhamos com um olho na tela e o outro
na pista. Quando acontece um fato expressivo fora do que
está sendo mostrado você tem que explicar e dizer por que
não está sendo mostrado”, explicou.
A CNT exibiu o Grupo A na noite do dia 21 de fevereiro,
no sábado de Carnaval, ao vivo e com exclusividade, direto da
Sapucaí, as seguintes escolas, pela ordem de apresentação:
1- São Clemente (“O Beijo Moleque da São Clemente”)
2- Estácio de Sá (“Que Chita Bacana”)
3- Inocentes de Belford Roxo (“Do Rio Grande do Sul
ao Rio de Janeiro a Inocentes Canta: Brizola, a Voz do
Povo Brasileiro”)
4- Paraíso do Tuiuti (“O Cassino da Urca”)
5- Império da Tijuca (“O Mundo de Barro de Mestre
Vitalino”)
6- União da Ilha do Governador (“Viajar é Preciso –
Viagens Extraordinárias Através de Mundos Conhecidos
e Desconhecidos)
7- Acadêmicos da Rocinha (“Tem Francesinha no
Salão. O Rio no Meu Coração!”)
8- Renascer de Jacarepaguá (“Como Vai, Vai Bem?
Veio a Pé ou Veio de Trem?”)
9- Acadêmicos de Santa Cruz (“S.O.S. Planeta Terra –
Santuário da Vida”)
10- Caprichosos de Pilares (“No Transporte da Alegria.
Me Leva Caprichosos a Caminho da Folia”).
Além de Paulo Stein, a cobertura do “Carnaval da Lesga”
pela CNT também contou com a participação do radialista
Miro Ribeiro, do carnavalesco Max Lopes e de Fernando
Ribeiro, o “Cabeção”, comunicador da Rádio FM O Dia, nos
comentários.
O carnaval da Lesga de 2009 foi a última transmissão
carnavalesca que Paulo Stein narrou em televisão. O locutor
esportivo faleceu no dia 27 de março de 2021, após ficar
quatro dias internado em decorrência de complicações da
Covid-19.

CNT / LESGA
Narração: Paulo Stein
Comentários: Fernando “Cabeção” Ribeiro, Max Lopes e Miro
Ribeiro.
Reportagens: Bárbara Campelo, Fernando Reski, Miguel
Ângelo e Ronaldo Rosas.

Em 2010, os direitos de transmissão do grupo de acesso


voltaram às mãos da TV Bandeirantes, como veremos mais
adiante.

Jorge Perlingeiro é Samba de Primeira

Após ter saído da TV Tupi devido ao fechamento da


estação, Jorge Perlingeiro peregrinou com seu programa
Samba de Primeira de forma independente e com variações de
horários e de formatos, por várias emissoras, como a TV
Corcovado e a TV Bandeirantes carioca até aportar na CNT,
em 2002. Em determinado período, o programa atingiu um
certo status cult.
Perlingeiro apresentou o programa, aos sábados, às 23
horas, até fevereiro de 2015, quando a atração foi retirada da
grade da CNT. Foram 43 anos comandando o Samba de
Primeira, sempre alugando o horário na emissora e bancando
o custo todo.
O motivo da parada, segundo o locutor oficial da
apuração do Grupo Especial carioca, foi a dificuldade em
arrumar parceiros comerciais. “Não estou parando porque
quero. Estou sendo obrigado, eu estou pagando para
trabalhar”, afirmou ao Jornal Extra, em dezembro de 2014.
Jorge chegava a desembolsar mais de R$ 70 mil por
programa.
Torcedor assumido e apaixonado pela Unidos de Vila
Isabel (escola que foi dirigente), o experiente comunicador
tem uma agência de produção artística, Jorge Perlingeiro
Produções, e seguiu fazendo eventos. “Até batizado de
cachorro”, brinca. Carioca, nascido em 1945, nunca parou de
trabalhar. Prosseguiu comandando a apuração do carnaval
carioca, a cada Quarta-Feira de Cinzas.
De novembro de 2015 a abril de 2017, Perlingeiro esteve
contratado pela Rádio Globo, onde levou seu programa no
horário entre 15h e 16h. Devido a mudanças no formato da
emissora, acabou dispensado.
Quase dois anos depois, em janeiro de 2020, Jorge
Perlingeiro voltou ao rádio pela Rádio Mania FM, indo ao ar
todos os sábados, das 12h às 14h. Reestreou o Samba de
Primeira durante a abertura oficial do Carnaval de Rua do Rio
de Janeiro com a entrega da chave da cidade ao Rei Momo. A
apresentação do programa em estúdio foi interrompida em
março de 2020 devido à pandemia do novo corona vírus.
Em assembleia realizada em 18 de março de 2021, Jorge
Perlingeiro foi eleito por aclamação como o novo presidente da
Liesa, para o triênio 2021/2024, sucedendo ao economista
Jorge Castanheira.
Multimídia, Perlingeiro estreou no dia 21 de março de
2022, no canal do YouTube, o “Só Se For Agora Podcast”,
recebendo em entrevista o conselheiro e ex-presidente da
Liesa, Ailton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães. Com 50
anos de carreira, o comunicador se reinventa, ao utilizar um
novo canal para falar para um novo público.
“Como todo idoso (Jorge completou 77 anos em janeiro de
2022), ainda sou muito ligado às mídias tradicionais”,
afirmou em entrevista ao site do Jornal Extra, durante o
feriado de carnaval em fevereiro de 2022. “Mas, hoje em dia,
internet é tudo. Os podcasts fazem sucesso com os mais
jovens. O ‘Só Se For Agora’ é uma forma de eu me atualizar.
Estou muito entusiasmado com essa nova proposta, que será
um desafio pra mim”, concluiu o atual presidente da Liesa,
que admite que é resistente à modernidade.
O “glossário” de Jorge Perlingeiro:

“Elegante que nem filho de alfaiate”: Diz-se do


convidado que está bem vestido. Pode ser usada a variação
“Mais cheiroso do que filho de barbeiro” ou “Mais bonito do
que dinheiro novo”.
“Me engana que eu gosto”: é o microfone usado para o
artista cantar em playback.
“Não viu o Dilúvio, mas pisou na lama”: Expressão
usada por Perlingeiro para brincar com os amigos que já
conhece há muitos anos.
“Só se for agora”: Principal bordão do comunicador. A
expressão é usada em diversos momentos para anunciar uma
atração que vai se apresentar ou algo que será feito
imediatamente. Equivale a “Vamos nessa” ou “Bora lá”.

Carnaval dos 500 anos

Em 2000, as escolas de samba do Rio fizeram um


carnaval temático. A direção da Liesa e as agremiações
decidiram que todos os 14 enredos do Grupo Especial teriam
ligação com algum período da história brasileira, em
homenagem aos 500 anos do Descobrimento.
A Liga organizou uma lista de 21 temas históricos,
atendendo a um pedido da Prefeitura do Rio, que ofereceu R$
7,5 milhões (R$ 500 mil de ajuda extra para cada agremiação)
para a confecção dos desfiles, caso as escolas concordassem
em incluir o desfile da Sapucaí no calendário das
comemorações dos 500 anos. Proposta aceita prontamente
pelos sambistas. Das 21 sugestões, nove foram aproveitadas
nos enredos.
A TV Globo reformulou sua equipe de transmissão, com
a narração sendo dividida entre o jornalista Pedro Bial (pela
primeira e única vez em uma cobertura de carnaval) e a
jornalista Glória Maria. Os comentários foram de Ricardo
Cravo Albin e Haroldo Costa.

Globo e o Carnaval no Terceiro Milênio

Um sofisticado estúdio foi construído no Sambódromo


do Rio para os narradores do desfile carioca, em 2001. A
estrutura suspensa por cima dos camarotes era transparente,
facilitando a visão que Glória Maria e o estreante em
cobertura carnavalesca, o narrador esportivo Cléber
Machado, tinham do espetáculo e permitindo que eles fossem
vistos pelo público.
Em 2002, um segundo estúdio foi construído, no nível
do chão da avenida, onde ficaram os comentaristas Haroldo
Costa, Ivo Meirelles e Lecy Brandão, enquanto Cleber
Machado e a jornalista Maria Beltrão (estreando como
âncora) ficaram no estúdio suspenso. No mesmo ano foi
criada a “Esquina do Samba”, um estúdio onde o
apresentador Luciano Huck e o sambista Dudu Nobre faziam
entrevistas com personalidades de destaque no Sambódromo.
Em 2003, Maria Augusta volta à transmissão de
carnaval pela TV, formando o time de comentaristas com
Haroldo e Ivo. Em 2004, troca-troca entre Meirelles e Dudu
Nobre. O compositor mangueirense se tornou repórter na
Esquina do Samba enquanto Dudu estreava na função de
comentarista.
Em 2006, uma alteração na estrutura na transmissão:
além das cabines transparentes abrigando locutores e
comentaristas, um estúdio no início da passarela, ao lado da
concentração e em frente ao Setor 1, foi montado para servir
de base à cobertura jornalística durante os desfiles, sob o
comando do jornalista Márcio Gomes.
Para a cobertura Globeleza do ano seguinte, Maria
Beltrão e Cléber Machado estiveram acompanhados dos
comentaristas Haroldo Costa, Maria Augusta, Dudu Nobre e
do carnavalesco Chico Spinoza, estreante em cobertura de
TV, durante a transmissão do Rio de Janeiro. A humorista
Cláudia Rodrigues e o ator André Marques participaram da
festa na Esquina do Samba e no camarote especial.
Os telejornais de rede e os locais fizeram ampla
cobertura dos dias de folia. O Jornal Nacional exibiu também,
de 5 a 9 de fevereiro, uma série de cinco reportagens sobre os
tambores do Brasil. O repórter Maurício Kubrusly percorreu
vários estados brasileiros em busca de aspectos comuns às
diferentes manifestações regionais com os instrumentos de
percussão. A série mostrou a identidade nacional no
carnaval, sem desprezar as particularidades da festa em cada
região.

Carnaval ganha nova tecnologia na TV Globo

Uma câmera suspensa a 17 metros do chão, para cobrir


praticamente toda a extensão da avenida, foi uma das
novidades na transmissão dos desfiles do Grupo Especial do
Rio de Janeiro no Carnaval 2008. A camcat percorreu toda
extensão da Marquês de Sapucaí, presa a cabos sustentados
por guindastes, para mostrar ao público as escolas de samba
desde o início dos desfiles até a apoteose.
A tecnologia possibilitou ao telespectador uma visão
geral do desfile, como nunca foi mostrado antes. A câmera
dava giros de 360 graus e também destacou detalhes das
alegorias em diferentes ângulos, segundo explicou à época
Aloysio Legey, diretor geral das transmissões do Rio e de São
Paulo.
A captação dos desfiles foi toda feita com câmeras HD.
Isso quer dizer que em São Paulo, onde o sistema digital já
tinha começado a operar, o telespectador assistiu à primeira
transmissão de Carnaval em alta definição da TV brasileira.
No total, 1.600 pessoas – entre engenheiros, jornalistas,
técnicos etc. – estiveram envolvidas nas transmissões das
duas cidades.
No Rio de Janeiro, 52 câmeras foram distribuídas pela
Marquês de Sapucaí. Entre elas, o Globocop (frota de
helicópteros que a emissora utiliza para realizar coberturas
ao vivo, principalmente sobre o trânsito), o trilho que percorre
os prédios dos camarotes, uma grua que, pela primeira vez,
ficou no segundo recuo da bateria, e as câmeras do
jornalismo.
Na tela, os recursos criados pela editoria de arte do
jornalismo e pela direção artística da transmissão foram mais
uma vez temáticos. A equipe de arte gráfica produziu
personagens em 3D, de acordo com o enredo de cada
agremiação, para apresentar as escolas e entrar em replays
durante o desfile de cada uma. No total, 26 bonecos – 14 em
São Paulo e 12 no Rio de Janeiro.
Outros grafismos foram usados em demonstrações de
batimentos cardíacos e na apresentação das letras dos
sambas, além das inserções virtuais, como os fogos de
artifício e os nomes das escolas.
Para o carnaval 2009, a Globo teve uma equipe de 2.200
profissionais envolvidos nas transmissões dos desfiles das
escolas de samba do Rio de Janeiro e de São Paulo. No Rio, a
jornalista Glenda Kozlowski fez sua estreia na narração da
festa, estando na bolha de vidro, ao lado de Cléber Machado.
Os desfiles foram todos captados e exibidos em alta
definição. O jornalismo global mobilizou cerca de duzentas
pessoas na cobertura do Sambódromo carioca.
GLOBO – RIO DE JANEIRO (equipes de
2000 a 2009)

Narração: Cléber Machado, Glenda Kozlowski, Glória Maria,


Maria Beltrão, Pedro Bial.
Comentários: Chiquinho Spinoza, Dudu Nobre, Haroldo Costa,
Ivo Meirelles, Lecy Brandão, Maria Augusta, Ricardo Cravo Albin.

Reportagens: Ana Luiza Guimarães, Ana Paula Araújo, André


Luiz Azevedo, Arnaldo Duran, Ari Peixoto, Bette Lucchese, Edimílson
Ávila, Edney Silvestre, Eduardo Tchao, Flávia Jannuzzi, Flávio
Fachel, Gabriela de Palhano, Hélter Duarte, Isabela Scalabrini,
Leilane Neubarth, Lília Teles, Maria Paula Carvalho, Mariana Gross,
Mila Burns, Mônica Sanches, Renata Capucci, Roberto Kovalick,
Sandra Moreyra, Tatiana Nascimento e Vinícius Dônola.
Estúdio de Jornalismo na Concentração: Márcio Gomes.
Esquina do Samba: André Marques, Cláudia Rodrigues,
Danielle Suzuki, Dudu Nobre, Ivo Meirelles, Luciano Huck.
Camarote Vip (2008): Sarah Oliveira

O livro de história da Pauliceia

Em São Paulo, o ano de 2000 também prometia ser um


marco na história do Carnaval da Pauliceia. E não só pela
realização do desfile temático sobre os 500 anos do
Descobrimento do Brasil. Pela primeira vez, os desfiles do
Grupo Especial seriam realizados em duas noites, como já
acontecia no Rio de Janeiro desde a inauguração do
Sambódromo da Sapucaí, em 1984.
A divisão principal paulistana seria formada pelo
número recorde, até então, de 14 agremiações. Até o dia do
sorteio da ordem dos desfiles, não havia se chegado a um
consenso sobre quais seriam exatamente os dias do Grupo
Especial.
A ideia inicial era de que fossem no sábado e no
domingo, batendo de frente, assim, com a primeira noite do
primeiro grupo do Rio de Janeiro. Essa proposta era levada
em conta porque uma corrente dentro da Liga-SP acreditava
que colocar os desfiles na sexta-feira provocaria o caos na
Marginal Tietê, ao lado do Sambódromo do Anhembi. Além de
ser um dia útil, é um dia em que muitos paulistanos
resolvem sair para o litoral para aproveitar o feriado.
Por fim, optou-se por fazer os desfiles na sexta e no
sábado, colocando a abertura no primeiro dia para as 22h30,
evitando assim maiores transtornos no horário de pico, e
garantindo o televisionamento da TV Globo em rede nacional,
como vinha ocorrendo desde 1994.
A Liga-SP também resolveu intervir na questão dos
enredos. A imposição de temas não se limitou a obrigar as
agremiações a falar sobre os quinhentos anos de Brasil. A
história brasileira foi dividida em 14 partes e caberia a cada
uma das escolas contar uma parte.
Mais do que isso: os desfiles seriam cronológicos, como
se fossem capítulos de um livro. Ou seja: a agremiação que
abrisse o Carnaval ficaria com a primeira parte, a que viesse
em seguida com a segunda e assim sucessivamente.
Em 3 de março de 2000 (sexta-feira), o livro da história
do Brasil enfim foi aberto com o desfile da campeã do Grupo
de Acesso de 1999, a Tom Maior. A escola, no entanto, teve
que esperar vinte minutos para iniciar o desfile “Brasil…
Amor à primeira vista”. O motivo: as apresentações estavam
marcadas para as 22h30, mas a Globo só abriu a sua
transmissão às 22h50. Quando a emissora carioca enfim
entrou com imagens diretas do Anhembi, o cronômetro foi
disparado e o Carnaval de 2000 de São Paulo teve início.
Assim, a Tom Maior ficou encarregada de falar sobre os
primeiros anos após a chegada dos portugueses, de 1500 a
1520, e o Camisa Verde e Branco pegou o período de 1520 a
1580.
Na sequência, a Mocidade Alegre, abordou os anos de
1580 a 1654, enquanto a Águia de Ouro narrou os anos entre
1654 a 1700.
A Leandro de Itaquera, de 1700 a 1730, abrangeu o ciclo
do ouro, e a X-9 Paulistana sobre o ciclo do café, de 1730 a
1770.
Encerrando a primeira noite de desfiles, por escolha
própria, a Gaviões da Fiel contou os anos que antecederam a
chegada da Família Real, de 1770 a 1807.
Na noite de sábado, dia 4, o Morro da Casa Verde ficou
com o período de 1807 a 1840 (formação do Brasil Reino a
Portugal, Independência do Brasil e Abdicação de D. Pedro I),
enquanto a Unidos do Peruche contou o que ocorreu no
Brasil de 1840 até 1889, ano da proclamação da República.
A escola de samba Imperador do Ipiranga contou a
história da República Velha (1889-1930), enquanto a Nenê de
Vila Matilde falou sobre a Era Vargas nos anos entre 1930 e
1945.
A Rosas de Ouro ficou com os anos anteriores ao Golpe
Militar (1945-1964), ao passo que a Tucuruvi contou a
história dos anos de chumbo, que duraram de 1964 a 1984.
Por fim, também escolhendo sua posição de desfile, a
outra campeã de 1999, Vai-Vai, abordou sobre os anos mais
recentes, no período entre 1984 e 2000.

Equipes de transmissão na terra da garoa

Cleber Machado comandou as transmissões na TV


Globo no ano 2000, que pela primeira vez transmitiu as
apresentações de São Paulo na íntegra. O narrador esportivo
esteve acompanhado no comando por Mariana Godoy. Os
comentários ficaram a cargo do jornalista Maurício Kubrusly,
conhecido pelas suas famosas matérias especiais para o
Fantástico. Nas reportagens, o destaque ficou por conta da
irreverência do jornalista alagoano Márcio Canuto que, na
arquibancada, representou personagens históricos contados
nos desfiles, de Pedro Álvares Cabral a Getúlio Vargas.
Em São Paulo, Britto Júnior foi o apresentador nos anos
de 2001 e 2002, juntamente com a jornalista Mariana Godoy
e comentários de Maurício Kubrusly.
No ano de 2003, mudança na dupla de narradores.
Assumem a transmissão dos desfiles das escolas de samba de
São Paulo, o carismático Chico Pinheiro e a talentosa
jornalista Renata Ceribelli, formando um dos casais mais
afinados que a transmissão televisiva de carnaval já teve.
Chico e Renata narraram juntos os desfiles paulistanos até
2009. Para os comentários, Kubrusly ganhou a companhia da
cantora e compositora Lecy Brandão, já experiente em
coberturas carnavalescas.

GLOBO SÃO PAULO (equipes de 2000 a


2009)

Narração: Britto Júnior, Chico Pinheiro, Cléber Machado,


Mariana Godoy e Renata Ceribelli.
Comentários: Lecy Brandão e Maurício Kubrusly.
Reportagens: Alberto Gaspar, Britto Júnior, César Tralli,
Ernesto Paglia, Fabiana Scaranzi, Flávia Freire, Graziela Azevedo,
Kelly Varraschim, Márcio Canuto, Mariana Kotscho e Rodrigo
Vianna.

Globo News na cobertura carnavalesca


Em 2006, a Globo News passou a dar mais atenção à
folia. Na semana do Carnaval, de sexta a segunda (do dia 24
a 27 de fevereiro), os jornais Em Cima da Hora e Jornal das
Dez tiveram entradas ao vivo dos camarotes da Globo News,
montados nos sambódromos carioca e paulista. A festa em
outros estados, como Bahia e Pernambuco, também foi
mostrada através das equipes de reportagem espalhadas pelo
Brasil.
Para a cobertura, as edições noturnas do Em Cima da
Hora tiveram 30 minutos de duração das 18h até às 02h da
madrugada de sexta e de sábado, e até às 03h da madrugada
de domingo e de segunda.
Em São Paulo, Veruska Donato ancorou a transmissão
com entrevistas ao vivo e entrada da reportagem nas áreas de
concentração e dispersão do sambódromo paulista.
No Rio de Janeiro, a cobertura ficou a cargo dos
jornalistas Sidney Rezende e Luciana Ávila, que estiveram em
contato com os repórteres distribuídos pela Marquês de
Sapucaí. Logo após o carnaval daquele ano Sidney estreou
seu site de notícias, o Portal SRZD.
Na terça-feira, dia 28, pela manhã, a Globo News
transmitiu ao vivo a apuração dos desfiles das escolas de
samba de São Paulo. A apuração carioca também foi exibida
ao vivo no dia seguinte, quarta-feira, à tarde.

GLOBONEWS SP

Apresentação: Veruska Donato


Reportagens: Carla Lopes, Elizabeth Pacheco, Heloísa Torres,
Renata Ribeiro e Ricardo Lessa.

GLOBONEWS RJ
Apresentação: Luciana Ávila e Sidney Rezende.
Reportagens: Ana Paula Campos, Fernanda Grael, Leila
Sterenberg, Marina Araújo, Rafael Coimbra e Raquel Novaes.

Silvio Santos vem aí...

O SBT ficou de fora da folia por cerca de uma década e


meia. Mas foi a partir da homenagem que a escola de samba
Tradição fez ao empresário Silvio Santos em 2001 que a
emissora da Anhanguera ressuscitou ao carnaval.
A Rede Globo foi obrigada a conviver com a figura de seu
maior concorrente por 80 minutos no domingo de Carnaval,
durante o primeiro dia de apresentação do Grupo Especial. A
“Caçulinha do Campinho” apresentou o enredo “O Homem do
Baú – Hoje é Domingo, é Alegria. Vamos Sorrir e Cantar”. No
desfile, entretanto, não foi mostrado o logotipo do SBT
justamente para evitar possíveis atritos com a Globo,
detentora dos direitos de transmissão do evento. “Nós
estamos contando a história do Silvio Santos, e não da
emissora. Mostrar o símbolo significaria fazer propaganda do
SBT”, afirmou à época o carnavalesco da Tradição, Orlando
Júnior.
Pelo contrato de transmissão do Carnaval, a Globo
pagaria cerca de R$ 8 milhões ao ano às escolas de samba
até o ano de 2004.
A logomarca da emissora concorrente não foi exibida,
mas a figura de Sílvio Santos esteve presente em mais de um
carro alegórico. As estrelas do SBT também foram destaque
no desfile da Tradição, como os apresentadores Gugu
Liberato (1959 - 2019), Hebe Camargo (1929 - 2012), Carlos
Massa, o Ratinho, e o elenco do programa humorístico “A
Praça é Nossa”. O folclórico locutor Lombardi (Luiz Lombardi
Netto, 1940 - 2009) deu o grito de guerra da agremiação do
Campinho (“Isto sim é a Tradição!”) no início do desfile.
Em programa gravado e levado ao ar no dia 25 de
fevereiro (domingo de Carnaval), Sílvio Santos confirmou que
desfilaria na Sapucaí. No domingo seguinte, no dia 04 de
março, o apresentador agradeceu à Tradição e ao público que
prestigiou e torceu pelo sucesso do desfile. O SBT Repórter
exibiu um programa especial mostrando os bastidores do
desfile da Tradição no carnaval de 2001.
No período pré-carnavalesco de 2001, a Globo não
contemplava com a devida frequência a exibição do samba da
Tradição em horário nobre nas vinhetas do carnaval
Globeleza. No entanto, o clipe com o samba assinado pelos
compositores Lourenço (1959 - 2017) e Adalto Magalha (1945
- 2016) era mostrado constantemente nos intervalos da
programação do SBT nos meses anteriores ao carnaval. Na
hora do desfile, o povo já conhecia muito bem a letra, o que
certamente ajudou bastante a escola do Condor de
Campinho.
Além do samba da Tradição, o SBT também passou a
exibir trechos das diversas marchinhas de carnaval gravadas
por Sílvio Santos ao longo dos tempos. A execução acontecia
às vésperas e também no período de Carnaval, sempre nos
intervalos comerciais.
Sucessos como “Transplante de Corinthiano” (1968), “A
Bruxa Vem Aí” (1971), “Marcha da Furunfa” (1982), dos
célebres versos Furunfar é muito bom / furunfar é bom demais
/ quem furunfou, furunfou / quem não furunfou não furunfa
mais; “Pipoca” (década de 80) e “A Pipa do Vovô Não Sobe
Mais”, eleita como a 8ª Melhor Marchinha de Carnaval de
Todos os Tempos pela Revista Veja em 2011.
A maioria das músicas foi composta pelo casal Manoel
Ferreira (1930 – 2016) e Ruth Amaral. Autores das
marchinhas, Manoel e Ruth foram casados durante 55 anos e
juntos fizeram mais de duzentas canções de estrofes curtas e
frases bem-humoradas.
Dez anos depois do apoteótico desfile em homenagem a
Sílvio Santos o “canal do Patrão” passou a ter uma cobertura
específica carnavalesca. O SBT Folia começou a mostrar
inicialmente o carnaval de Salvador. Em 2012, a emissora
paulista passou a transmitir o desfile das campeãs de São
Paulo e do Rio de Janeiro, como iremos abordar no próximo
capítulo.

Sábado das Campeãs é na tela da Band

Depois de ter retomado o gostinho pela transmissão dos


desfiles das escolas de samba em 1999, a TV Bandeirantes
manteve o bloco na rua em 2000. Ou melhor, o bloco na
Sapucaí.
Por força de contrato, a TV Globo passou a ser a
detentora dos direitos exclusivos de transmissão ao vivo nos
dois dias de Grupo Especial no sambódromo do Rio. Coube
então à Band a transmissão dos Desfiles das Campeãs, no
sábado posterior ao Carnaval, no encerramento da cobertura
Band Folia – caracterizada desde 1993 em apresentar o
Carnaval de Salvador.
Apesar de ser sido criado na década de 1950, o Desfile
das Campeãs como conhecemos atualmente foi instituído na
década de 1980, no Rio de Janeiro, no qual as seis melhores
escolas de samba do Grupo Especial desfilam novamente no
sambódromo, no final de semana seguinte ao carnaval. Este
desfile não possui caráter competitivo, é apenas uma espécie
de festa para coroar as melhores escolas do ano, na qual os
foliões podem desfilar mais despreocupados com os quesitos.
Durante a década de 90 e na primeira década do século
XXI, também participava do Desfile das Campeãs na Marquês
de Sapucaí como convidada a sociedade carnavalesca italiana
Cento Carnevale D'Italia. A entidade europeia ficou famosa
por jogar ursos de pelúcia de seu carro alegórico para as
arquibancadas do sambódromo carioca, desfilando ao som de
músicas carnavalescas italianas.
Por treze anos, entre 1999 e 2011, a Band transmitiu o
Desfile das Campeãs do Rio de Janeiro. O locutor Fernando
Vannucci, contratado pela emissora paulista depois da
demissão da Globo, foi o âncora entre os anos de 2000 a
2002, dividindo a função com Astrid Fontenelle, que
permaneceu no canal até o carnaval de 2005.
Além de Vanucci e Astrid, também ancoraram o desfile
das campeãs pelo Band Folia os narradores Luciano do Valle
(em 2003 e 2006) e José Luiz Datena (2007 a 2009).
Entre os comentaristas convidados, participaram da
cobertura os jornalistas e escritores Alexandre Medeiros
(2000 a 2003) e Roberto M. Moura (2005); os cantores e
compositores Jorge Aragão (2000, 2001 e 2005) e Arlindo
Cruz (2006 e 2009); a jornalista Márcia Peltier (2001); os
carnavalescos Milton Cunha (2002, 2003, 2005, 2006 e
2009), Fernando Pamplona (2004) e Mario Borriello (2004), e
a dançarina e apresentadora Adriana Bombom (2005).
Artistas também eram convidados para fazer
reportagens “especiais” durante a transmissão, como Otávio
Mesquita e Elke Maravilha (2001-2002) e Preta Gil (2004).
O ano de 2004 foi o último que assistimos Fernando
Pamplona em uma cobertura de carnaval. Após ter se
demitido no ar no encerramento do segundo dia de desfile do
Grupo Especial do Rio no carnaval de 1997, ainda pela TV
Manchete, o veterano carnavalesco foi se afastando cada vez
mais da folia.
Pamplona se dizia cansado da “mesmice” dos desfiles,
da excessiva mercantilização da festa, do marcheamento no
andamento dos sambas-enredo e do formato da transmissão
de carnaval pela televisão – o qual sempre foi um crítico
contumaz – que, a seu ver, favorecia a exibição de mulheres
seminuas e de pseudocelebridades em detrimento dos
verdadeiros sambistas. Quando questionado se ainda
acompanhava os desfiles, afirmava que durante o período de
carnaval preferia viajar para longe do Rio e, de preferência,
sem nenhum televisor ligado por perto.
Mesmo tendo se tornado avesso à folia, topou participar
da transmissão do desfile das campeãs pela Band, dividindo
os comentários com o também carnavalesco (e igualmente
salgueirense) Mario Borriello, sob a ancoragem de Astrid
Fontenelle. Na transmissão, vimos e ouvimos o velho
Fernando Pamplona de sempre, criticando o andamento dos
sambas e o formato de desfile, além de enaltecer os artistas
de sua geração, como Arlindo Rodrigues (1931 - 1987) e
Joãosinho Trinta (1933 - 2011). No entanto, teceu generosos
elogios ao nome que emergia naquele ano: o carnavalesco
Paulo Barros, responsável por levar a até então inofensiva
Unidos da Tijuca a um inédito e inesperado vice-campeonato.
Em 2005, outro grande estudioso da cultura popular
fazia sua derradeira participação em coberturas de carnaval.
Roberto M. Moura (1947 - 2005) foi jornalista, crítico musical,
produtor cultural, professor, escritor e mestre em
Comunicação e Cultura pela ECO/UFRJ. Integrou o grupo do
Bandfolia no desfile das campeãs do Rio juntamente com
Astrid, Milton Cunha, Jorge Aragão e Adriana Bombom.
Autor de várias obras sobre música e carnaval, Moura
trabalhou no semanário O Pasquim nos anos 70 e foi morador
da Praça Onze, no centro do Rio. Também fazia parte do júri
do Estandarte de Ouro do jornal O Globo, além de ser
comentarista da TVE e colunista do jornal Tribuna da
Imprensa.
Grande estudioso de samba e comunicação, assuntos
sobre os quais fazia conferências no Brasil e no exterior,
Roberto Moura morreu em outubro, poucos meses depois da
transmissão da Band, aos 58 anos, no Rio de Janeiro, de
falência múltipla dos órgãos após ter contraído febre
maculosa.
De 2007 a 2011, a TV Bandeirantes também mostrou o
desfile das campeãs de São Paulo. Na terra da garoa, o evento
acontecia entre a noite da sexta-feira seguinte ao Carnaval e
a madrugada de sábado (para não competir com o desfile no
Rio).
Além das cinco escolas com melhor colocação,
participam do desfile das campeãs em São Paulo também as
duas agremiações promovidas do Grupo de Acesso, algo que
não acontece no Rio de Janeiro desde 1999.
O jornalista Fernando Vieira de Mello foi o apresentador
do desfile das campeãs no sambódromo do Anhembi desde o
primeiro ano da transmissão da Band em 2007. Participaram
da cobertura como convidados o músico Oswaldinho da
Cuíca, a passista Roberta Kelly (Rainha do Carnaval de SP
em 2007 e Rainha de Bateria da Nenê de Vila Matilde), além
da jornalista Silvia Poppovic, como comentarista.

BAND DESFILE CAMPEÃS RJ (equipe de


2000 a 2009)
Narração: Astrid Fontenelle, Fernando Vanucci, José Luiz
Datena e Luciano do Valle.

Comentários: Adriana Bombom, Alexandre Medeiros, Arlindo


Cruz, Fernando Pamplona, Jorge Aragão, Márcia Peltier, Mario
Borriello, Milton Cunha e Roberto M. Moura.
Reportagens: Aline Pacheco, Che Oliveira, Cristiana Gomes,
Elke Maravilha, Fábia Belém, Fábio Behrend, Jaqueline Silva,
Krishma Carreira, Luciana do Valle, Mariana Procópio, Mônica
Ferreira, Otávio Mesquita, Preta Gil, Sandro Gama e Sérgio Costa.
BAND DESFILE CAMPEÃS SP (equipe de
2007 a 2009)
Narração: Fernando Vieira de Mello.
Comentários: Oswaldinho da Cuíca, Roberta Kelly e Sílvia
Poppovic.

Reportagens: Eleonora Pascoal, Márcio Campos, Nadja


Haddad e Ticiana Villas-Boas.

Em seguida, vamos abordar a folia televisiva entre os


anos 2010 e 2020. Nesse período, o carnaval perdeu cada vez
mais espaço na tevê aberta, mas ganhou fôlego na internet.
Outros polos carnavalescos emergiram e passaram a
serem vistos em rede nacional. A emissora que se
especializou em cobrir os bastidores do carnaval. A “TV do
Patrão” voltou a mostrar os festejos de Momo.
Após três décadas, rede pública de televisão volta a fazer
ampla cobertura do carnaval. E uma emissora musical que
abordava o carnaval com muito humor dedicando até uma
programação especial para o período.
CAPÍTULO 8 – É O TEU FUTURO
QUE ME SEDUZ (ANOS 2010)

O carnaval perde espaço na tevê aberta, mas ganha fôlego na


internet; outros polos carnavalescos passam a serem vistos
em rede nacional; o canal especializado nos bastidores do
carnaval; SBT retorna aos festejos de Momo; rede pública de
televisão volta cobrir os desfiles após três décadas; emissora
musical aborda o carnaval com muito humor.

A cada ponto é uma arte que reluz


É o teu futuro que me seduz
Clareando humanidades serás a guia
Criatura iluminada eu serei
Enriquecido de sabedoria
“Há um ponto de luz na imensidão” (Dinoel Sampaio,
Itinho e Neguinho da Beija-Flor) – Samba-enredo da GRES
Beija-Flor de Nilópolis 1992.
segunda década do século XXI inicia com uma

A constatação: o carnaval perdeu espaço na tevê


aberta, em comparação com a programação que
existia nos anos 70, 80 e 90. O mundo mudou,
também mudou o interesse das pessoas no
evento e a própria festa também se modificou.
A partir dos anos 2010 a tevê deixou de realizar festivais
de músicas de carnaval e de exibir concursos de fantasias. A
caixinha mágica parou de transmitir de forma ininterrupta os
tradicionais bailes de salão. Sobrou até para a
comercialização dos discos de samba-enredo, cujas vendas
despencaram. Interessante que todos esses aspectos
entraram em declínio (ou decadência) quando a TV deixou de
promovê-los.
Mas a festa também mudou. Afinal, as novas gerações
não foram criadas ouvindo marchinhas de carnaval no rádio
nem assistindo as chanchadas musicais da Atlântida. Muitos
jovens, além dos atuais quarentões e cinquentões, não
conhecem as obras de Lamartine Babo (1904 - 1963),
Braguinha (1907-2006), Haroldo Lobo (1910 - 1965), Zé Keti
(1921 - 1999), Mario Lago (1911 - 2002) ou Mirabeau (1924 -
1991). Sequer viram atuar em películas em preto e branco
nas salas de cinema astros como Grande Otelo (1915 - 1993),
Oscarito (1906 - 1970), Zé Trindade (1915 - 1990) ou Eliana
Macedo (1926 - 1990), nas charmosas e brejeiras produções
das companhias cinematográficas Atlântida e da Vera Cruz.
Já não temos mais os grandes ícones dos concursos de
fantasias, como os eternos hors-concours Clóvis Bornay (1916
- 2005), Mauro Rosas (1934 - 1992), Jésus Henrique (? –
1994), Evandro de Castro Lima (1920 - 1985), o professor
Júlio Machado, o “Xangô do Salgueiro” (1939 - 2007),
Olegária dos Anjos (1933 - 2012), Walyria Miranda (1936 -
2011), e nem a vedete, atriz e humorista Wilza Carla (1935 -
2011), personagens que sempre investiram recursos, tempo e
criatividade para confeccionar luxuosas fantasias e contribuir
para o engrandecimento dos desfiles.
O tempo passou e os bailes de carnaval também.
Ficaram em algum salão no século passado mulheres
seminuas, homens enlouquecidos de desejo, orquestras com
40 músicos, confete, purpurina, glamour e cocaína, que em
alguns eventos reinavam mais que o Rei Momo. Dependendo
do baile, claro.
E a lista dos bailes era grande: Theatro Municipal,
Copacabana Palace, Clube Federal, Circo Louco da boate
Régine’s, Vermelho e Preto, Baile das Estrelas Sugarloaf, no
Pão de Açúcar, Baile da Cidade no Canecão, Baile do Hawaii,
Baile do Fluminense, Baile do Diabo (do América Futebol
Clube) e os bailes das Panteras e Gala Gay na icônica casa
Scala Rio, do “rei da noite” dos anos 80 e 90, Chico Recarey
(ou Re-ca-rey, como cantava o intérprete Sobrinho (1951 –
2018) no samba “Trinca de Reis”, que a Mangueira
apresentou em 1989.
Houve um tempo em que o disco com os sambas de
enredo das principais escolas do Carnaval do Rio de Janeiro
era tão esperado no fim do ano quanto o álbum anual do
cantor Roberto Carlos. O auge artístico e comercial dos long
plays (LPs) com os sambas das agremiações cariocas
aconteceu nas décadas de 1970 e 1980. Durante os anos 80,
a venda dos discos de sambas-enredo ultrapassava
facilmente a marca de 1 milhão de cópias, tendo atingido um
recorde em 1989 de 1,3 milhão e discos vendidos.
Na década de 90, o gênero era hit nas emissoras de
rádio, tocando mais do que as atuais “sofrências” sertanejas.
Em reportagem publicada no jornal Folha de São Paulo, de 6
de fevereiro de 1997, os sambas-enredo das escolas do grupo
especial do carnaval do Rio tocavam, em média, 50 vezes por
dia nas principais rádios cariocas na semana que antecedeu
o desfile, segundo medição da Rádio Link, empresa que fazia
pesquisa de execução das músicas nas emissoras de rádio.
A estimativa da antiga gravadora BMG-Ariola (atual
Universal Music), distribuidora do disco em 1997, era que a
vendagem do disco do carnaval daquele ano, atingisse 600
mil cópias, sendo que os CDs eram responsáveis por 82% das
vendas, com o restante sendo dividido igualmente entre LPs e
fitas cassete. No ano anterior, os CDs representavam 50%.

A ERA DA FOLIA DIGITAL

O Brasil se conectou à rede mundial de computadores


em 1990. Em maio de 1995, teve início a abertura da Internet
comercial no Brasil. Em tempos pré-Internet, era comum o
aficionado pelo carnaval só tomar conhecimento do samba-
enredo oficial, dos temas desenvolvidos pelas escolas de
samba e dos intérpretes de cada uma, na ocasião em que o
disco de vinil (LP) era lançado nas lojas, geralmente às
vésperas do Natal (em torno de 60 dias antes dos três dias de
folia).
A ideia do enredo de uma escola só poderia ser explicada
superficialmente através do encarte do disco com o título do
tema e a letra do samba de enredo. Os demais detalhes só
eram conhecidos de fato no dia do desfile. Os próprios
habitantes da cidade do Rio de Janeiro só ficavam a par dos
sambas concorrentes e das notícias das escolas se
frequentassem as respectivas quadras. E não era por mistério
nem para gerar expectativa. A divulgação é que era incipiente
mesmo.
Não havia uma imprensa especializada em carnaval.
Quando muito, uma ou outra rádio abria espaço para as
notícias da folia, como a Super Rádio Tupi, Rádio Globo,
Rádio Manchete e a Tropical FM, uma estação de rádio com
sede na cidade do Rio de Janeiro, e outorga em São Gonçalo.
A Tropical FM operava no dial FM 104.5 MHz, sendo fundada
no início da década de 1980 pelo radialista Armando Campos.
A emissora, extinta em 1999, tinha programação popular e
ficou muito famosa por ser a “rádio do samba”, por lançar
artistas do gênero e apoiar as escolas de samba.
A mídia contava com jornalistas e profissionais do meio,
que eram “especializados” no evento. O Carnaval possuía
praticamente apenas uma semana, se encerrando na Quarta-
Feira de Cinzas.
Com a Internet, o simpatizante pode saber das
novidades das escolas muito antes da data do Carnaval. Na
esteira da nova mídia, surgem os sites especializados na folia
e o acompanhamento on-line, passo a passo, instantâneo, em
tempo real, de toda a movimentação do carnaval. Ou seja,
após o advento da internet sabemos o antes, o bem antes, o
durante, o depois e o bem depois. A pretensa especialização
midiática em carnaval passa a existir. A academia se rende ao
jornalismo carnavalesco. Surgem cursos, graduações e até
pós-graduações. Rei Momo surge com todo o seu esplendor
stricto sensu e lato sensu.
Passamos a ouvir os sambas-enredo concorrentes de
diversas escolas, debater em fóruns de discussão e redes
sociais, escolher e comprar fantasias, ler as sinopses dos
enredos; “baixar” (fazer downloads) os sambas de todas as
épocas e de todas as localidades possíveis e imagináveis, ver
fotos e vídeos de desfiles atuais e antigos, conhecer detalhes
da história das escolas e os integrantes da diretoria de cada
uma; conferir as opiniões de colunistas especializados, etc.
Os sites fazem a cobertura do Carnaval durante todos os
365 dias por ano. São noticiadas, cotidianamente, as
atividades das escolas mesmo em época distante dos desfiles.
É possível sabermos das movimentações do mercado do
Carnaval, como a “dança das cadeiras”, como é chamado o
troca-troca nas escolas de carnavalescos, intérpretes,
mestres-salas, porta-bandeiras, rainhas de bateria, diretores
de bateria, etc.
Em pouquíssimos cliques ficamos por dentro dos
anúncios dos enredos no momento em que eles são
confirmados, chamadas para eventos nas quadras das
escolas, como shows, feijoadas, exposições, apresentações
dos protótipos das fantasias e premiações. Nos grupos de
whats app, pululam informações sobre a cobertura de
eleições internas nas escolas de samba, anúncios de cortes
de sambas nas eliminatórias, cobertura de ensaios técnicos,
comunicados das Ligas, entre outras atividades.
No Rio de Janeiro e em São Paulo, os sites e portais
carnavalescos ainda não possuem permissão para transmitir
na íntegra os desfiles dos grupos especiais nos dias de
carnaval na Sapucaí e no Anhembi. Ou seja, não estão
autorizados a permanecerem na pista de desfile, prerrogativa
ainda restrita à rede de televisão até agora detentora dos
direitos de transmissão dos dois certames.

OUTROS POLOS CARNAVALESCOS

Como vimos anteriormente, Manaus foi o quarto polo


carnavalesco a ser exibido em rede nacional, depois de Rio,
São Paulo e Salvador. Não contabilizamos os carnavais de
Recife e de Olinda, pois apesar de terem uma cobertura
telejornalística muito forte, estas duas cidades
pernambucanas ainda não tiveram seus festejos exibidos
nacionalmente na plenitude durante a programação
televisiva.
Outras cidades também vêm se destacando em
transmissões de desfiles de carnaval:

Carnaval de Porto Alegre


O Carnaval da capital gaúcha é originário de uma festa
realizada nas ruas chamada Entrudo, que consistia em jogar
“limão de cheiro” (uma bola de cera do tamanho de um limão,
cheia de água perfumada), uns nos outros. Os mais afoitos
atiravam ovos e farinha nas “vítimas”.
Após várias fases em que foi liberado e proibido devido
muitas vezes à violência e brigas provocadas pelos “limões de
cheiro” e outros materiais menos nobres e – até mais
orgânicos – jogados entre o populacho, o Entrudo começa a
entrar na fase de decadência por volta do ano de 1870. Inicia
o surgimento das Grandes Sociedades (como Esmeralda e
Venezianos) que mudam e dominam o carnaval até mais ou
menos 1900.
De acordo com historiadores, como Heitor Carlos Sá
Britto Garcia, o carnaval do povão de Porto Alegre surgiu nos
bairros pobres como o Areal da Baronesa (atualmente bairro
Cidade Baixa) e Colônia Africana (que compreendia o atual
bairro Rio Branco) na década de 1930.
Já nos anos 50, sob o patrocínio da empresa de bebidas
Pepsi-Cola (patrocinador do carnaval de Porto Alegre entre os
anos de 1955 e 1962), iniciam as primeiras coberturas
carnavalescas através do rádio. Na década de 70, com um
estilo de desfilar e de se apresentar já sob forte influência do
carnaval do Rio de Janeiro, o carnaval de Porto Alegre passa
a ser transmitido pelas emissoras de tevê locais, como TV
Gaúcha (atual RBS TV), TV Difusora (atual Band RS), TV
Piratini e TV Educativa.

TV Piratini
Em 20 de dezembro de 1959, foi inaugurada a primeira
emissora de televisão no Rio Grande do Sul. A TV Piratini
Canal 5 era integrada ao Grupo Diários Associados, empresa
de propriedade do empresário Assis Chateaubriand, e
retransmitia a programação da Rede Tupi além de gerar
programas locais. A sede foi instalada num terreno no Morro
Santa Tereza, na zona sul de Porto Alegre.
E o samba tinha espaço na emissora, com um programa
chamado TV Samba, apresentado pelo radialista Sayão
Lobato (1941 - 2011), no início da década de 70. Era um
programa de auditório, misto de “Discoteca do Chacrinha”
com “Silvio Santos Show”, onde o samba era destaque.
A TV Piratini foi extinta em 18 de julho de 1980 após o
cancelamento da concessão da Rede Tupi em São Paulo. O
canal em que operava – canal 5 VHF – desde 1981 pertence
ao SBT Porto Alegre. O prédio dos estúdios passou a ser
utilizado pela TVE-RS, emissora estatal gaúcha.

TV Guaíba
A TV Guaíba, canal 2 de Porto Alegre, foi fundada em 10
de março de 1979 por Breno Caldas (1910 - 1989), filho do
jornalista Francisco Antônio Vieira Caldas Júnior (1868 -
1913), o fundador da Companhia Jornalística Caldas Júnior
e do jornal Correio do Povo. O desfile de escolas de samba de
Porto Alegre foi transmitido ao vivo pela emissora nos anos de
1989, 1990 e 1991. A TV Guaíba também exibia bailes pré-
carnavalescos, como o tradicional Baile Verde e Branco,
promovido pelo Teresópolis Tênis Club.
Entre os apresentadores desta época, destacavam-se o
radialista Andi Ferreira Alves, o comunicador e produtor de
eventos Jorginho JG, os jornalistas Antônio Carlos Cortes e
Fernando Vieira, este último, responsável pela apresentação
dos bailes de carnaval na emissora. Nas reportagens, Sérgio
Zamel e Bibo Nunes, atualmente deputado federal pelo RS.
Bibo na época era apresentador de programas de clipes
musicais, dicas de festas e entretenimento voltado para o
público jovem. Na cobertura da TV Guaíba, ele geralmente
entrevistava parceiros comerciais nos intervalos dos desfiles.
Jorge Miranda Gomes, o Jorginho JG (1952 - 2012), era
um conhecido radialista em Porto Alegre, participando em
coberturas na então TV Difusora. Na TV Guaíba criou o
famoso programa Concentração, abordando MPB e carnaval.
Antônio Carlos Cortes é um radialista e advogado
conhecido por ser ativista militante da causa negra. Fundou,
no início dos anos 70, em Porto Alegre, o grupo Palmares,
formado por universitários negros que ajudaram a instituir o
20 de Novembro como Dia da Consciência Negra.
Fernando Vieira (1948 - 2020) foi um jornalista,
radialista e apresentador de televisão. Trabalhou 17 anos na
TV Guaíba, entre 1978 e 2005. Seus programas tratavam de
assuntos ligados à sociedade, ao cotidiano e à música. Na
Guaíba, era um grande incentivador dos bailes de carnaval.
Transmitiu, durante mais de uma década o Baile Verde e
Branco, promovido pelo Teresópolis Tênis Clube, na época,
um dos mais badalados eventos pré-carnavalescos da capital
gaúcha. Vieira foi o criador da Festa Nacional da Música,
lançada em 1981 como Festa Nacional do Disco, um evento
realizado em Porto Alegre por 11 edições e três na Serra
Gaúcha.

TV Bandeirantes
Assim como sua matriz paulista, a TV Bandeirantes de
Porto Alegre (ou Band-RS) não é tão assídua no carnaval e
marca uma presença bissexta na folia.
Na virada dos anos 70 para os 80, a então TV Difusora
(seu nome original) fazia a cobertura básica do carnaval da
capital gaúcha, principalmente nos telejornais locais. Entre
1981 e 1982, o comunicador e produtor cultural Delmar
Barbosa Pavão (1945 - 2010) apresentou o programa Roda de
Samba e, a seguir, o Concentração, com notícias sobre os
preparativos para os desfiles.
Desde a década de 70, Delmar foi muito atuante no
carnaval e no mundo do samba de Porto Alegre. Cantor e
músico do conjunto de samba Café, Som & Leite, foi sua
iniciativa que possibilitou na gravação do primeiro LP de
sambas-enredos do carnaval de Porto Alegre, em 1979.
Quando foi dirigente da Associação das Entidades
Carnavalescas (AECPARS) idealizou e organizou o Festival de
Samba Enredo, uma competição popular entre as escolas
para indicar os melhores sambas-enredo do carnaval em cada
categoria. Também criou o Grupo Extra, depois chamado
Grupo de Acesso (o equivalente à quarta divisão do carnaval),
na década de 80.
O multifacetado Delmar Barbosa trabalhou como diretor
de carnaval das escolas de samba Estado Maior da Restinga,
Acadêmicos da Orgia, Praiana e União da Tinga, entre outras.
Foi o compositor do samba “Festa de Batuque”, junto com
Paulo da Silva Dias, o Jajá, apresentado pela Bambas da
Orgia para o carnaval de 1995, sendo considerado, pela
comunidade carnavalesca, um dos melhores sambas daquela
safra e como obra legendária em Porto Alegre. Barbosa foi
ainda produtor musical, redator do jornal “Ensaio Geral”,
radialista da Rádio Princesa e apresentador de TV.
Após um hiato de quase 20 anos, a Band RS voltou a
transmitir um desfile de carnaval da capital gaúcha, em
2001. Após o carnaval de 2000, o contrato entre a Associação
das Entidades Carnavalescas e a RBSTV não foi renovado e a
transmissão com os direitos exclusivos coube à TV
Bandeirantes.
O desfile das escolas de samba de POA acontecia, à
época, na noite da Terça-Feira Gorda. Além das imagens irem
para todo o estado do Rio Grande do Sul, flashes bem
generosos eram exibidos para todo o Brasil durante a
cobertura carnavalesca “Band Folia”. O desfile dos
Imperadores do Samba (escola campeã daquele ano), por
exemplo, fora transmitido ao vivo e na íntegra por cerca de 30
minutos ininterruptos para todo o país.
Em 2003, nova parceria de exclusividade entre a
empresa de comunicação e a Associação das Entidades
Carnavalescas. A Band TV – assim como suas emissoras de
radiojornalismo Band AM e Band FM, que também entraram
na programação carnavalesca – repetiu o sucesso, obtendo os
primeiros lugares na audiência.
No pré-carnaval, a emissora retomou após duas décadas
o programa Concentração. Exibido nas noites de domingo, no
horário das 23 horas, a atração reunia sambistas,
carnavalescos e jornalistas especializados, com entrevistas,
debates e reportagens ao vivo direto das quadras das escolas,
com apresentação de Antônio Carlos Cortes. Após isso, a
emissora só voltaria a transmitir o Carnaval de Porto Alegre
quatorze anos depois.
Em 2017, pela primeira vez, os desfiles da capital
gaúcha aconteceram “fora de época”, no dia 25 de março, 15
dias depois da data litúrgica. Mais de cem profissionais
trabalharam para colocar no ar, em TV, rádio e internet, o
carnaval de Porto Alegre.
A narração ficou a cargo do narrador esportivo Paulo
Brito e da apresentadora Regina Lima (ambos egressos da
RBS TV), com comentários do jornalista André Machado e a
participação especial do carnavalesco carioca Paulo Barros. A
Band alcançou o 1º lugar na audiência no RS por vários
momentos durante a cobertura da folia e foi um dos assuntos
mais comentados na internet.

TVE RS
A TV Educativa de Porto Alegre (também conhecida
como TVE RS), de modo bissexto, também contou com uma
programação carnavalesca. A emissora pertence ao Governo
do Estado do Rio Grande do Sul e foi inaugurada em 29 de
março de 1974. Nos seus primórdios, a programação era
produzida em parceria com a Pontifícia Universidade Católica
do Rio Grande do Sul (PUCRS).
Um dos programas pioneiros a tratar do carnaval foi o
Comunicação, exibido no primeiro ano em que a TVE foi ao
ar. A atração era apresentada pelo ator e diretor Odilon Lopez
(1941 - 2001), que apesar de ter nascido em Minas Gerais, foi
um dos pioneiros da cinematografia do Rio Grande do Sul.
Além de ter sido um dos principais repórteres do início da
televisão local, Odilon cobriu em 1961 o movimento
conhecido como Campanha da Legalidade, capitaneado pelo
então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola (1922
- 2004), que colocou o povo na rua para defender a posse do
vice-presidente João Goulart (1919 - 1976), após a renúncia
de Jânio Quadros (1917 - 1992).
Odilon Lopez também foi o primeiro cineasta negro a
dirigir um longa-metragem de ficção na cena gaúcha: Um é
Pouco, Dois é Bom, lançado em 1970.
Nos anos 80, Waldemar de Moura Lima, conhecido como
“Pernambuco”, professor da rede pública de ensino, ativista
da causa negra e agitador cultural, apresentou programas
que registravam ensaios nas quadras das escolas de samba e
desfiles na avenida principal.
Em 1989, a TVE fez uma série de programas sobre o
“Carnaval na Santana”, evento em que havia desfiles não
competitivos numa região descentralizada na capital gaúcha –
a Rua Santana, localizada no bairro de mesmo nome – e era
organizado por Maria de Lourdes Vasconcelos Bravo, a Dona
Maria Bravo (1930 – 2009).
Nos anos de 1992 e 1993, a TVE exibiu programas no
período do pré-carnaval, com apresentação de Antônio Carlos
Côrtes. No ano de 2005, a TVE transmitiu o Desfile das
Campeãs do carnaval de Porto Alegre. Esta foi a primeira (e
até agora única) vez que uma emissora exibiu o evento, com
apresentação de João Carlos Machado Filho, com
comentários do jornalista Gerson Brisolara e de Vanessa
Garcia, rainha do carnaval de POA em 1999.
A TVE voltaria a transmitir o carnaval de Porto Alegre
nos anos de 2012 a 2015. Como o grupo especial era
exclusivo da RBS, a tevê estatal se especializou na exibição
dos grupos Intermediário (equivalente à segunda divisão),
Acesso (correspondente à terceira divisão) e os desfiles das
duas Tribos Carnavalescas remanescentes.
Em fevereiro de 2014, ano de comemoração de seus 40
anos de fundação, a emissora fez no carnaval a primeira
transmissão oficial em alta definição (HD). Estiveram na
cobertura vários nomes ligados ao carnaval de Porto Alegre,
como os carnavalescos Sérgio Peixoto (1951 - 2016) e Silvio
Oliveira e a porta-bandeira Kizzy Pereira. Em 2016, sob nova
gestão, a TVE sofreu um grande corte de gastos e a
transmissão do Carnaval de Porto Alegre foi cancelada.
Após cinco anos, o público carnavalesco porto-alegrense
pôde ter novamente acompanhar o seu carnaval em tevê
aberta. Em março de 2022, a TVE selou acordo com a Cubo
Play, produtora oficial dos desfiles da capital gaúcha para
transmitir o evento (que aconteceu fora de época, no mês de
maio), no Complexo Cultural do Porto Seco.

RBS TV
O Grupo RBS (sigla para Rede Brasil Sul) sempre
valorizou muito as manifestações populares em seus espaços,
muito por conta de seu fundador, o empresário e
comunicador Maurício Sirotsky Sobrinho (1925 - 1986),
admirador confesso do carnaval. O jornal Zero Hora, a Rádio
Gaúcha e a TV Gaúcha/Canal 12 (que em 1983 recebeu a
atual nomenclatura de RBS TV) dedicavam um precioso
espaço para ao evento.
A TV Gaúcha passou a transmitir os desfiles das escolas
de samba de Porto Alegre a partir da segunda metade dos
anos 70, quando o evento acontecia na Avenida Perimetral.
Ao longo desse tempo, a transmissão de carnaval contou com
a participação de vários jornalistas renomados dos canais da
empresa (jornal, rádio e TV), como Maria do Carmo Bueno,
Paulo Brito, Paulo Sant’Ana, Maurício Saraiva, João Bosco
Vaz, Regina Lima, Cláudio Brito, Luiz Armando Vaz e Renato
Dorneles.
Paulo Sant’Ana (1939 – 2017) foi um cronista, delegado
de polícia, escritor e comentarista esportivo, um dos
profissionais que mais simbolizavam a RBS. Torcedor
fanático do Grêmio, também tinha adoração confessa pelos
Imperadores do Samba. Foi homenageado pela escola de
samba Acadêmicos da Orgia, em 1993, com o enredo “O
menestrel da cultura popular, Francisco Paulo Sant'Ana”.
A transmissão também reunia nomes célebres ligados à
folia porto-alegrense em participação especial, como o
comunicador Antônio Carlos Cortes; o advogado criminalista
Luiz Matias Flach, ex-presidente da antiga Empresa Porto-
alegrense de Turismo (Epatur); o compositor e percussionista
Giba-Giba (1940 - 2014), um dos fundadores da Academia de
Samba Praiana; o radialista Leandro Maia; o jornalista César
Lucena; o professor e ativista cultural Waldemar
“Pernambuco”, e o músico e compositor Joaquim Lucena.
Em 2013, já consagrada com o nome de RBS TV,
transmitiu pela primeira vez o Carnaval de Porto Alegre em
alta definição (HD). O telespectador que não estivesse no
estado do Rio Grande do Sul pôde acompanhar a transmissão
através do site especial do G1RS. Mais de 250 profissionais,
entre reportagem, produção e técnica garantiram que o
público assistisse com exclusividade aos desfiles das escolas
de samba do Grupo Especial em duas noites de transmissão
ao vivo do Complexo Cultural do Porto Seco.
A RBS TV não exibiu os desfiles de 2015. A primazia foi
repassada à TV COM, canal comunitário do mesmo
conglomerado midiático, inaugurado em 1995 e que operava
nos canais 36 UHF analógico e 36 da operadora de TV a cabo
NET.
No entanto, a transmissão ao vivo do evento pela TV
COM gerou muitas reclamações dos dirigentes das Escolas de
Samba e de grande parte do público telespectador de
carnaval. Ao contrário do que vinha acontecendo em anos
anteriores, os desfiles não foram exibidos por tevê aberta.
Também houve críticas sobre a qualidade dos programas e
produtos apresentados pelo canal comunitário antes da
transmissão do carnaval, com clipes e vinhetas.
A última transmissão do carnaval da capital gaúcha pela
RBS TV aconteceu em 2016. A cobertura teve 12 câmeras,
uma grua e uma steadicam (sistema em que a câmera é
acoplada ao corpo do operador por meio de um colete no qual
é instalado um braço dotado de molas, e serve para
estabilizar as imagens produzidas, dando a impressão de que
a câmera flutua), distribuídas entre largada e dispersão. Mais
de 180 profissionais estiveram envolvidos na transmissão.
A RBS optou por não mais realizar a cobertura
carnavalesca devido ao fato de que em 2014 as primeiras
escolas a desfilarem não apresentaram o desempenho de
qualidade televisiva esperado, fazendo com que o índice de
audiência, que nos demais anos era de 19, 4%, caísse para
15%.
Da década de 70 até 2016, a RBS TV somente não
transmitiu os desfiles em 1984 (quando a determinação da
Rede Globo para suas afiliadas era “programação normal e o
melhor do carnaval”), e nos anos de 2001 e 2003, período
cujos direitos de exclusividade ficaram com a Band RS.

TV PIRATINI
Apresentador: Sayão Lobato (programa TV Samba).
TV GUAÍBA
Narração: Andi Ferreira Alves e Antônio Carlos Cortes.

Comentários: Jorginho JG.


Reportagens: Bibo Nunes, Fernando Vieira e Sérgio Zamel.

BAND RS
Narração: Paulo Brito e Regina Lima.

Comentários: André Machado e Paulo Barros (convidado


especial).
Reportagens: Evandro Hazzy, Filipe Peixoto, Ico Thomaz,
Ticiano Kessler.

TVE
Narração: Waldemar Moura Lima “Pernambuco” (anos 80),
João Carlos Machado (2005) e Newton Pinto (2012 a 2015).
Comentários: Gerson Brisolara e Vanessa Garcia (2005); Alice
Schreiner e Oswaldo Ferreira dos Reis (2012); Armando Borges
Sampaio, o “Pinha”, Kizzy Pereira e Sérgio Peixoto (2014).
Reportagens: Clarissa Lima, Fernanda Carvalho, Nelson Silva,
Oswaldo Niluk Júnior, o “Piá”, Taís Baldasso e Vinicius Machado.

RBS TV
Narração: Antônio Carlos Cortes, Maria do Carmo Bueno,
Maurício Saraiva, Paulo Brito e Regina Lima.

Comentários: César Lucena, Cláudio Brito, Giba-Giba,


Joaquim Lucena, Leandro Maia, Luiz Armando Vaz, Paulo
Sant’Anna, Renato Dorneles, Waldemar Pernambuco.
Reportagens: André Azeredo, Cristiane Silva, Eduarda Streb,
Isabel Ferrari, Júlio César Santos, Luciano Potter, Manoel Soares.

Carnaval de Florianópolis
A competição entre as agremiações carnavalescas em
Florianópolis acontece na Passarela Nego Quirido e tem
capacidade para 22 mil pessoas. O complexo leva o nome de
um antigo sambista da capital catarinense, Juventino João
dos Santos Machado, fundador da escola de samba
Embaixada Copa Lord.
Localizada no bairro da Prainha, o sambódromo da Ilha
da Magia foi inaugurado em 1989, na gestão do prefeito
Edison Andrino. Fazem parte dos desfiles escolas de Floripa e
de outros municípios da região metropolitana, como Palhoça
e São José. Além do grupo especial, existe o grupo de acesso,
que desfila em outros dias ou logo antes do grupo especial.
O desfile das escolas de samba de Floripa era
transmitido pela RBS TV Florianópolis para todo o estado de
Santa Catarina até 2016. A crise financeira que afetou o
Grupo RBS e culminou na venda da parte catarinense, que
virou a NSC TV, fez com que a Liga das Escolas de Samba da
capital catarinense (LIESF) procurasse outro canal que
pagasse o que foi exigido.
Assim, em 2017 e 2018, a RICTV Florianópolis
transmitiu o desfile, e além de mostrar para todo o estado,
exibiu também em cadeia nacional pela Record News.
Após ter voltado em 2019 para a afiliada local da Rede
Globo, agora chamada NSC TV Florianópolis, a RICTV – agora
chamada NDTV – retomou a exclusividade em 2020. A
transmissão foi feita pela NDTV Florianópolis, assim como
aconteceu em 2017 e 2018, com o antigo nome.

NDTV
Narração: Dino Montêz.
Comentários: André Calibrina e Cristiana Tramonte.

Reportagens: Amanda Santos.


Carnaval de Vitória

O Carnaval de Vitória é um evento cultural, que tem


como seu ponto alto os desfiles de escolas de samba,
realizados uma semana antes do Carnaval de São Paulo e
Rio, na passarela do samba Walmor Mirada, popularmente
conhecida como “Sambão do Povo”, em Vitória, com 388
metros de pista e capacidade de lotação interna de 15 mil
pessoas.
É também chamado de Carnaval do Espírito Santo ou
Carnaval Capixaba, uma vez que nele participam várias
escolas das cidades de Vila Velha, Cariacica, Serra e não
apenas da capital, Vitória.
Os desfiles começaram a serem exibidos regionalmente
pela TVE, sendo em parceria com a Prefeitura de Vitória e a
TV Gazeta, na internet, além da afiliada da Rede
Bandeirantes no Espírito Santo, a TV Capixaba. Na internet,
o site SRZD transmitiu os desfiles em 2012.
De 2013 a 2015, a Band mostrou ao vivo para todo o
Brasil o desfile do grupo especial capixaba realizado no
sábado anterior ao período de carnaval.
Em 2016 a Record News passa a transmitir os desfiles,
sendo o Grupo de Acesso somente para o ES e o Grupo
Especial, em rede nacional. Em 2017 não houve transmissão
nacional, ficando a cargo da Record News Espírito Santo e da
TV Capixaba uma transmissão local apenas para o território
espírito-santense.
A partir de 2018 a TV Gazeta (afiliada da Rede Globo)
comprou os direitos e a exclusividade, onde o desfile do
Grupo A, passou a ser exibido no portal GShow e só no
sábado, com o desfile do Grupo Especial, pela TV aberta e
portal G1. Com essa mudança, TVE, TV Capixaba e Record
News ES perderam os direitos de transmissão.
Em 2020, segundo dados oficiais da Prefeitura de
Vitória, o poder público repassou R$ 2,3 milhões para as
escolas de samba. O carnaval capixaba movimentou 16
milhões de reais na economia local, entre turismo, geração de
emprego e renda para quem trabalha.
Para o carnaval pós pandemia de 2022, o evento seria
realizado nos dias 19, 20, 21 de fevereiro, no Sambão do
Povo. No entanto, em janeiro, a prefeitura municipal de
Vitória em conjunto com lideranças da Liga Independente das
Escolas de Samba do Grupo Especial (Liesge) decidiu adiar a
festa, levando em consideração o agravamento do cenário que
a pandemia do coronavírus e epidemia da gripe apresentavam
à época. As festas de ruas permaneceram canceladas no
feriado de Carnaval em vista da impossibilidade de controle
do número de pessoas em desfiles e blocos.
Os desfiles das escolas de samba do Carnaval de Vitória
2022 foram adiados para os dias 7, 8 e 9 de abril. Na TV, os
desfiles do Grupo Especial de Vitória de sexta-feira (8) e
sábado (9) foram exibidos pela TV Gazeta, afiliada da Globo
no Espírito Santo, para todo o estado, a partir das 23h10. Na
internet, o G1 transmitiu para todos os cantos do mundo a
partir das 22h. Toda a transmissão contou com uma equipe
de aproximadamente 170 profissionais dos setores de
jornalismo, operação, programação, tecnologia, engenharia,
comunicação, comercial, marketing e terceirizados.
.

No sábado (9), a transmissão será encabeçada pela TV


Gazeta, em transmissão aberta para todo o Espírito Santo, a
partir das 23h10, depois do "BBB". O g1 também vai
transmitir os desfiles de sábado pela internet.
Para as imagens, serão 18 câmeras e um drone. O
estúdio em vidro foi montado na dispersão do sambódromo.
André Falcão e Carol Monteiro serão os apresentadores
de sexta para o G1.
Mário Bonella e Daniela Abreu serão os apresentadores
de sábado para TV e G1.
O time de comentaristas é formado por Jace Theodoro,
Marcus Vinicius Santana, Iamara Nascimento e Gleidson
Santos.
Haverá repórteres na concentração, na dispersão, no
meio de pista e na arquibancada.
O desfile do Espírito Santo é o terceiro maior do país e
40 mil pessoas assistem nas arquibancadas e camarotes. A
edição de 2022 será o primeiro desfile das escolas de samba
do país após o início da pandemia da Covid-19.

O editor-chefe da TV Gazeta, Bruno Dalvi, falou sobre os


diferenciais da transmissão deste ano.
"Pela primeira vez a TV Gazeta vai transmitir aos
telespectadores a visão que os jurados têm com uma câmera
estrategicamente localizada na cabine onde eles ficam. Essa
mudança é fundamental porque é exatamente em frente ao
jurados que as agremiações fazem a apresentação dos
quesitos que são avaliados, como a comissão de frente, as
bossas da bateria, a apresentação do Mestre Sala e Porta
Bandeira, etc. Com a câmera na cabine dos jurados, também
vamos levar ao público mais conteúdo. Para isso, a
preparação para a transmissão começou bem antes do
carnaval, com a produção do conteúdo do que as escolas de
samba vão levar para a Sambão do Povo", disse.
Para Bruno, a missão é levar um espetáculo para os
expectadores.
"O desfile das escolas de samba é o maior evento que a
TV transmite ao vivo. Levar até a casa das pessoas um
espetáculo desse tamanho, que evolve tanta gente e tantos
sonhos é um desafio imenso, mas que nós adoramos encarar.
O planejamento começa meses antes, porque é preciso deixar
tudo pronto com antecedência: desde o posicionamento de
câmeras e repórteres na avenida até a logística para que toda
a estrutura montada funcione corretamente. E, este ano, vai
ser especial. Foram dois anos de pandemia, e estamos
precisando de alegria e celebração. Por isso, assim com os
foliões, nós também estamos com muita vontade de fazer o
melhor", explicou Dalvi.

Carnaval de Uruguaiana

Um dos maiores eventos que acontecem na cidade de


Uruguaiana, na região da fronteira oeste do Rio Grande do
Sul, é o carnaval. A folia uruguaianense ficou conhecida por
ser fora de época, desde o ano de 2005, motivada por uma
ação judicial contra a mais antiga e uma das mais
tradicionais agremiações: Os Rouxinóis. Ação esta que
impossibilitou a escola de cores verde e branco, fundada em
15 de janeiro de 1953, de realizar seus ensaios, o que
motivou o adiamento dos desfiles, passando a ser realizados
em março em vez de fevereiro daquele ano.
O que era limão se transformou em limonada. Com a
medida, aumentou o tempo que as escolas tinham para
organizarem seus desfiles e a construção de alegorias.
Também possibilitou a participação de celebridades das
escolas de samba do Rio de Janeiro, o que gerou também
muito interesse por parte de turistas brasileiros, uruguaios e
argentinos.
Não é incomum se notar reservas de leitos de um ano
para o outro. O reflexo disso é que, geralmente a um mês dos
desfiles não há disponibilidade de vagas nos mais de 1,6 mil
leitos dos hotéis no município. Bares, restaurantes e
lanchonetes costumam ter um grande movimento de clientes
na época do carnaval temporão.
O Carnaval de Uruguaiana se destaca pela participação
de vários sambistas do Rio de Janeiro e de Porto Alegre que,
por causa da data, podem estar no evento que se tornou
destaque no calendário do Rio Grande do Sul. O corpo de
jurados várias vezes também foi composto por integrantes
cariocas. A festa conta com seis escolas de samba no Grupo
Especial e mais duas no Grupo de Acesso.
A primeira transmissão do carnaval fora de época de
Uruguaiana aconteceu em 2009, pela TV COM, canal
comunitário do grupo gaúcho RBS.
Os veículos do conglomerado midiático (portal clicRBS,
Rádio Gaúcha e a própria TV COM) realizaram uma cobertura
especial da folia uruguaianense, que foi realizada de 5 a 7 de
março (quinta, sexta e sábado) na Passarela do Samba, na
avenida Presidente Vargas. Nos dois primeiros dias a TV COM
exibiu flashes dos desfiles. No sábado, dia 7, o público pôde
acompanhar a festa ao vivo com exclusividade pela emissora,
a partir das 21h.
A cobertura da TV COM em 2009 foi ancorada pelo
jornalista esportivo Maurício Saraiva, com comentários de
Cláudio Brito e Vinícius Brito. A RBS TV Uruguaiana, através
do telejornal local, Jornal do Almoço, fez a cobertura de todos
os detalhes das noites do Carnaval e dos acontecimentos do
sambódromo. Na ocasião, a emissora comunitária assinou
um contrato que garantiu ao Grupo RBS os direitos de
transmissão do Carnaval de Uruguaiana até 2017. O
documento foi firmado entre representantes da empresa,
Prefeitura de Uruguaiana, comissão de carnaval e escolas de
samba.
No entanto, o canal exibiu os desfiles de carnaval na
cidade até o ano de 2013, quando transmitiu em parceria
com o site local SambaSul, que acompanha o carnaval da
cidade desde 2010. Devido a mudanças ocorridas no Grupo
RBS, a TV COM foi extinta em 23 de novembro de 2015.
Desde então, o carnaval de Uruguaiana tem sido
transmitido através de áudio e vídeo por rádios, web rádios e
plataformas digitais.
De 2014 até 2020 as transmissões aconteceram pelas
rádios Jovem Hits (pelo dial e pelo canal do Youtube), Ação,
Arquibancada, Charrua, Interativa, pelo portal Sambasul
(página no Facebook) e pela TV Fronteira, no canal 20 na
grade da NET, que transmitiu para os assinantes da
operadora a cabo em 2016.
Uruguaiana decidiu não realizar o tradicional Carnaval
Fora de Época em 2022. Os motivos: falta de recursos das
escolas de samba da cidade e por causa dos riscos implícitos
da pandemia com perspectivas de uma nova onda da Covid-
19.
A decisão foi tomada em reunião entre a Prefeitura e a
Associação das Escolas de Samba do Primeiro Grupo de
Uruguaiana (ASESGRU) realizada na segunda quinzena do
mês de novembro de 2021. Foi o segundo cancelamento
consecutivo da festa na cidade fronteiriça.
Além disso, os prazos resumidos para elaboração e
montagem de enredos e a ausência de empresas privadas
interessadas em investir no evento inviabilizaram a realização
da programação prevista para os dias 17 a 19 de março de
2022.

TVCOM
Narração: Maurício Saraiva.
Comentários: Celso Duarte, Cláudio Brito e Vinícius Brito.
Reportagens: Franciele Alonso, Manoel Soares, Mateus Koelzer
e Vanessa Backes.
Reportagens site Sambasul: Arthur Bittencourt e Gláucio
Guterres (2013).

O ROCK N’ ROLL ENTROU NO CARNAVAL

Entre 1995 e 1998, a MTV Brasil, até então uma


emissora predominantemente roqueira, abriu as portas para
o Carnaval. Com um programa chamado Carnaval é Legal, a
rede de televisão musical convocava roqueiros da época para
regravar ao vivo famosas marchinhas de carnaval do país em
versão rock, ska, reggae e outras batidas. A seleção de
bandas era variada e incluía nomes que estrelavam na
programação da MTV brasileira em cada um dos anos.
Os shows eram exibidos em formato drops (pílulas)
durante a programação normal da emissora durante o
Carnaval. Então, a qualquer momento o telespectador poderia
ligar seu tubo de raios catódicos e dar de cara com os
metaleiros da banda paulista de heavy-metal Viper tocando
“Mamãe Eu Quero”, de autoria de José Luís Rodrigues
Calazans, o “Jararaca” (1896 - 1977) – da dupla Jararaca &
Ratinho – e Vinícius Paiva, ou os rappers da banda carioca
Planet Hemp se divertindo com “Nêga do Cabelo Duro”, de
David Nasser (1917 - 1980) e Rubens Soares. Ou até os
mineiros do grupo Virna Lise tocando a clássica “Jardineira”,
de Benedito Lacerda (1903 - 1958) e Humberto Porto (1908 -
1943).
O programa se estendeu por quatro anos e tinha a
produção de Cesar Gavin, que por muitos anos foi produtor
musical da emissora. O canal de Cesar no Youtube tem
várias dessas apresentações em vídeo do “Carnaval É Legal”.
A MTV Brasil dedicava alguns programas especiais para
a festa de Momo. Além do Carnaval é Legal, a tevê também
exibia jornalístico Grande Hora MTV (1994–1998), às
segundas, terças e quartas de carnaval, às 19h15. O
jornalista Edgar Picolli (um dos VJs mais conhecidos do canal
musical) ia ao Rio cobrir os bailes e procurar lances
engraçados. O programa semanal de debates Barraco MTV,
apresentado entre 1996 e 2000 (inicialmente por Astrid
Fontenelle e depois por Soninha Francine), também rendeu
assuntos carnavalescos, como a exploração da nudez no
Carnaval.

Unidos do Caralho a Quatro


Uma das marcas até hoje lembradas da extinta MTV
Brasil foi o grupo humorístico Hermes e Renato. A trupe era
formada por Adriano Pereira, Bruno Sutter, Fausto Fanti
(1978 - 2014), Felipe Fagundes Torres, Marco Antônio Alves e
posteriormente Gil Brother. Criativos e anárquicos, os seis
rapazes tinham um programa de humor que levava o próprio
nome do grupo que foi veiculado na emissora de 1999 a 2009
(com um breve retorno no ano de 2013) antes da MTV se
tornar canal a cabo.
Se o Casseta & Planeta juntava o humor nonsense com
a sátira ao cotidiano, a turma do Hermes e Renato
satirizaram sem meias-palavras (até com termos de baixo
calão, normalmente proibidos na tevê aberta) os mais
variados assuntos. As paródias que o H&R fazia eram ácidas
e impagáveis, sempre zoando com os próprios clichês da
televisão, pegando aí desde a estética dos anos 1970 até o
formato dos telejornais e as novelas.
E entre os deboches que mais deram certo estão as
paródias musicais e autorais. Ou seja, não é que eles apenas
trocavam uma letra por outra. Eles pegavam os chavões
característicos do tipo de música que seria o alvo e colocavam
letras e melodias inéditas em cima.
E fizeram isso brilhantemente com diversos gêneros,
como o heavy metal, por meio da Massacration, uma banda
criada dentro do programa. Ou ainda com o electro, no
Também Sou Hype, uma sátira de bandas de Indie Pop e com
o axé, no clipe “Pira Pirô”, do fictício grupo Coração Melão.
O carnaval não podia ficar de fora da sátira dos caras. O
sexteto “cometeu” uma das mais engraçadas sátiras
carnavalescas de todos os tempos, com o melhor samba-
enredo que a Geração Y conheceu: “Unidos do Caralho a
Quatro”.
Eis o inacreditável samba-enredo da fictícia escola de
samba Unidos do Caralho a Quatro:

Unidos do Caralho a Quatro


Compositores: Fausto Fanti, Adriano Pereira, Felipe
Torres, Marco Antônio Alves e Bruno Sutter.
Intérprete: Marcos Fuinha

Esse samba é de autoria de Hermes e Renato

E eu, Marcos Fuinha (Grande Fuinha!)

Valeu!

Desde os tempos mais primórdios

O caralho tá aí (tá aí! tá aí!)

Arrombando as vaginas, apavorando as meninas

(De quê, Fuinha?)

De família (Mas que lindo!)

Desde os tempos mais primórdios

O caralho tá aí, tá aí! tá aí!

Roliço e veiudo

Pentelhudo e cabeçudo
Na Sapucaí

(Alô meu povo caralhense! É isso aí...)

Desde os tempos mais primórdios

O caralho tá aí, tá aí! tá aí!

Arrombando as vaginas,

Apavorando as meninas (De quê, de quê)

De família, ôh

Desde os tempos mais primórdios

O caralho tá aí, tá aí! tá aí!

Roliço e veiudo

Pentelhudo e cabeçudo

Na Sapucaí

Caraaaalho (ôô), piroca e mijão

Rola, trolha, cabeção (que lindo! que lindo!)

Pemba, vara ou linguiça

Pirulito, banana ou salsicha

Mulher gosta é de dinheiro

Arreia a calça e mostra o pau

Unidos do Caralho a Quatro

Abalando o Carnaval

A minha rola é instrumento de trabalho

Quem gostou, gostou

Quem não gostou vai pro caralho

Essa é a nossa bateria... essa é a bateria

Da Unidos do Caralho a Quatro (ei! ei! ei! ei! ei!)

Bate palma quem quiser


A forma da canção é um autêntico samba-enredo, com
arranjo e melodia no capricho, numa paródia cínica e bem
humorada com o gênero musical de avenida.
Entre 2006 e 2010, o H&R participou do “Carnaval na
MTV”. A emissora musical literalmente “pulava” o evento:
nada de samba e batuques. Uma alternativa para quem não
queria saber de folia. Neste período, nos dias de carnaval, o
canal transmitia clipes temáticos, de sexta-feira até a manhã
da quarta-feira de Cinzas.
Mas a trupe do Hermes & Renato invadia de surpresa a
programação para apresentar marchinhas criadas pelo
próprio grupo. Na verdade, vinhetas de cerca de 30 segundos.
Essas canções carnavalescas foram reunidas em um CD, O
Carnaval do Hermes e Renato, com 13 faixas hilárias. O
álbum encontra-se disponível nas plataformas de streaming.
Entre as músicas do disco, títulos como “Bichinha
Pobre”, “Baranga”, “Bunda do Meu Pai”, “Seu Polícia”,
“Charles Bronson”, a hiper aleatória “Rei Momo Operou o
Estômago”, além, claro, do sambão mega-hit “Unidos do
Caralho a Quatro”.

OKAY, OKAY!

A Rede TV foi a sucessora da concessão da TV


Manchete. No entanto, não herdou o mesmo estilo de
transmissão e divulgação do carnaval. Ao contrário.
Desde 2001, a emissora se tornou famosa por mostrar
lances que não aparecem nas grandes redes, com uma
cobertura especial chamada de “Bastidores do Carnaval”,
trazendo toda a movimentação antes, durante e depois dos
desfiles das escolas de samba de São Paulo e do Rio de
Janeiro.
Ao longo dos quatro dias de folia, os apresentadores
Nelson Rubens e Flávia Noronha, comandam a transmissão
ao vivo, diretamente dos estúdios da Rede TV, em Osasco
(SP). A dupla é a mesma que faz dobradinha no TV Fama, um
programa diário sobre televisão e fofocas de celebridades em
formato de telejornal exibido em horário nobre na emissora.
Flávia Noronha, nascida na capital paulista em 1983, se
formou no curso de Jornalismo em 2007, pelas Faculdades
Integradas Alcântara Machado. Tendo trabalhado na TV
Band, Play TV e Band News, Flávia foi contratada pela Rede
TV em 2008. Apareceu primeiramente como a “garota da
previsão do tempo” nos telejornais da emissora e, depois,
como apresentadora de programas esportivos. Em 2010,
cobriu pela primeira vez os “Bastidores do Carnaval”, ao lado
de Nelson Rubens. Depois da cobertura, foi convidada para
apresentar o TV Fama, onde ficou até junho de 2021, quando
deixou a RedeTV.
Já Nelson Rubens é o decano entre os jornalistas
brasileiros especializados em celebridades, televisão e
bastidores. Nascido em Guararapes, cidade do interior de São
Paulo, no ano de 1937, atua na imprensa há quase seis
décadas. Foi jurado dos programas do Chacrinha e do quadro
“Show de Calouros” de Sílvio Santos. Passou pelos programas
Aqui e Agora, do SBT; Note e Anote, da TV Record; na Rádio
Record; no programa Mulheres, da TV Gazeta, e no A Casa é
Sua, com Leonor Corrêa, na Rede TV. O jornalista também já
foi colunista da extinta revista Amiga, da Bloch Editores, e
jurado do Troféu Imprensa.
Nelson é dono dos famosos bordões “ok, ok”, “eu
aumento, mas não invento” e “vou destilar o meu veneno”. O
jornalista passou a apresentar o TV Fama em 2001. No ano de
2021, foi afastado da apresentação e passou a desempenhar
a função de colunista, no quadro “Central da Fofoca”.
Em 2020, artistas como Andréa de Nóbrega, Núbia
Ólliver, Agnaldo Timóteo, Léo Áquila, Geisy Arruda e
Veridiana Freitas formaram o time de comentaristas especiais
da cobertura. Toda a equipe de repórteres do TV Fama se
posiciona na concentração e na dispersão dos sambódromos
do Anhembi e da Sapucaí, registrando os flagras e
entrevistando as celebridades e convidados nos camarotes.

Green Ass
Porém, um dos momentos mais marcantes (e, por que
não dizer, constrangedores) do carnaval brasileiro e da
história da Rede TV foi protagonizado por uma modelo
chamada Ju Isen. A jovem loira, que em 2015 ganhou o
apelido de “Musa das Manifestações” ao protestar contra o
governo de Dilma Rousseff, acabou mostrando mais do que
devia durante a cobertura de carnaval em 2017.
Na ocasião, a subcelebridade estava dando uma
entrevista ao vivo a Leo Áquila, durante os “Bastidores do
Carnaval”, e falava sobre a pintura corporal de cor verde que
estava usando. Como estava completamente nua, usando
apenas um tapa-sexo, Ju acabou mostrando mais do que
devia quando, a pedido da repórter, se agachou de costas
para a câmera.
Depois de mostrar seu ânus, algo que jamais passou
pela cabeça dos apresentadores Nelson Rubens e Flávia
Noronha, a loira acabou ficando conhecida como “mulher do
cu verde”, deixando então de ser conhecida pelas suas
manifestações pró-impeachment da ex-presidente Dilma. No
ar, Flávia soltou apenas a exclamação “opa!” após ver a
imagem, e a cena acabou viralizando nas redes sociais.

O MAIOR ESPETÁCULO DA TELA

Todos os anos o Canal Brasil prepara uma programação


dedicada ao Carnaval, e em especial, ao samba. Com uma
duração que varia de cinco a quinze dias, o canal pago exibe
a “Mostra Carnaval”, composta por documentários, curtas e
longas-metragens sobre blocos de rua, desfiles, shows
musicais com sambistas e a festa do Rei Momo em geral.
O Canal Brasil é um canal de televisão por assinatura
que estreou em 18 de setembro de 1998. Teve origem para
aproveitar a incumbência criada pelo Decreto 2.206, de 1997,
que obrigava todos os prestadores de serviços de TV a cabo
brasileiros a incluir na sua grade pelo menos um canal
dedicado a “obras cinematográficas e audiovisuais brasileiras
de produção independente”.
Com sede no Rio de Janeiro, o canal é resultado de uma
associação da Globosat com a empresa Grupo Consórcio
Brasil (GCB), formada pelos cineastas André Saddy, Aníbal
Massaini Neto, Luiz Carlos Barreto, Marco Altberg, Patrick
Siaretta, Paulo Mendonça, Roberto Farias (1932 - 2018) e
Zelito Vianna.
Entre as produções cinematográficas dedicadas ao
carnaval, a programação do Canal Brasil já exibiu:

Bateria Nota 10, curta-metragem de Alexandre


Iglesias, produzido em 2007, sobre a bateria da Mocidade
Independente de Padre Miguel.

Moro no Brasil, documentário do finlandês Mika


Kaurismäki, de 2005, em que mostra, através de uma viagem
de jipe, uma tribo indígena em Pernambuco, investiga o forró
em Caruaru, passeia com Silvério Pessoa e parte para a
Bahia, para depois mergulhar no samba do Rio.
Pra Quem Gosta de Samba, show com artistas
consagrados e nomes da nova geração que se uniram para
interpretar os maiores sucessos da carreira no ritmo mais
brasileiro de todos.
Memória em Verde e Rosa, documentário dirigido por
Pedro Von Krüger (2016) que conta a história da Estação
Primeira de Mangueira a partir de depoimentos de alguns dos
principais nomes responsáveis por transformar a escola em
um verdadeiro patrimônio da cidade e do país.
Moacyr Luz e O Samba do Trabalhador, coprodução
do Canal Brasil com direção de Max Pierre e Darcy Bürger,
que mostra um show de roda de samba gravado ao vivo em
São Paulo.
O Próximo Samba, documentário de Marcelo
Levandoski, que acompanhou a preparação da Mangueira
para o desfile de 2016, que levou à avenida o enredo vencedor
do ano: “Maria Bethânia, a Menina dos Olhos de Oyá”.
Orquestra Imperial Ao Vivo, gravado durante um show
no palco do Teatro Rival (RJ).
Ó Paí Ó, filme de Monique Gardenberg (2007).
Alcione – Eterna Magia, show gravado no Rio de
Janeiro (2013), que reúne amigos e sucessos da cantora
maranhense.
Vai-Vai: 80 anos nas ruas, filme dirigido por Fernando
Capuano (2011) que narra a história de uma das mais
antigas e importantes escolas de samba paulistanas através
de depoimentos de membros históricos e figuras da música
brasileira.
Daniela Mercury – O Axé, a Voz e o Violão, show
gravado no Teatro Castro Alves, em Salvador, em 2015, que
marcou os 25 anos do lançamento do primeiro disco da
cantora baiana.
Orfeu, produção de Cacá Diegues (1999).
As Pastoras – Vozes Femininas do Samba, dirigido
por Juliana Chagas e lançado em 2018.
82 Minutos, filme de 2015 dirigido por Nelson Hoineff
(1948 - 2019), que desvenda o que há por trás da construção
dos desfiles da Marquês de Sapucaí.

QUE SÉRIE EU VOU MARATONAR?

Para o carnaval de 2019 a Netflix, provedora global de


filmes e séries de televisão via streaming com sede em Los
Gatos, Califórnia (EUA), escalou a ex-Globeleza Valéria
Valenssa para promover maratonas de séries durante o
período da folia, em fevereiro daquele ano. Eterna musa do
Carnaval da TV Globo entre 1991 e 2004, a agora ex-passista
“virou a casaca” e mostrou samba no pé na Netflix.
Em vez dos desfiles das escolas de samba, a ideia foi
incentivar o público que não é apreciador do ziriguidum a
acompanhar pela plataforma, maratona de séries como
Russian Doll e Stranger Things. No universo dos serviços de
streaming, “maratonar” significa consumir qualquer produto
de entretenimento (em especial séries de TV, de maneira
continuada, sem parar e num curto período de tempo).
Na vinheta da Netflix, Valéria aparecia vestindo um
pijama trabalhado em detalhes coloridos, similares à pintura
corporal que ela usava nos tempos do Carnaval da Globo. A
sambista troca a Sapucaí pelo sofá e pela cama, e gira um
controle remoto na mão, como se fosse um pandeiro.
Na vida eu sou rainha / meu trono é o sofá / e até
deitada eu vou sambar, anunciava o samba-enredo na peça
publicitária bem-humorada criada pela produtora, que cita
ainda as premiadas séries Narcos e La Casa de Papel.
E Valéria Valenssa declarou, à época da gravação da
propaganda, que já estava em clima de Netflix mesmo. A ex-
musa, convertida à religião evangélica, declarou que passou o
Carnaval de 2019 nos Estados Unidos, ao lado dos filhos
João Henrique e José Gabriel.

A AVENTURA CARNAVALESCA DO SBT

Os direitos de transmissão das escolas do Acesso e dos


Desfiles das Campeãs de Rio e São Paulo sempre rodaram por
várias emissoras. Já foram da CNT, Cultura, Band e até o
canal a cabo Viva já transmitiu a folia. Mas, em 2012, o SBT,
emissora de Silvio Santos, fez uma parceria com a TV Globo
para transmitir esses desfiles que a emissora líder de
audiência não tinha interesse em transmitir. À época, o canal
do seriado Chaves e das novelas mexicanas vinha de uma
experiência bem sucedida do carnaval de Salvador em 2011 e
decidiu ampliar sua cobertura.
O SBT Folia mostrou o desfile das escolas cariocas do
Grupo de Acesso de 2012 (o último sob o comando da
LESGA), além dos desfiles das campeãs de São Paulo e do Rio
de Janeiro. Foi a primeira experiência do SBT em uma
transmissão do tipo. Para isso, a emissora preparou uma
série de especiais em seus telejornais sobre os mais diversos
temas ligados à festa e uma vinheta reunindo dois grandes
nomes do carnaval carioca: Neguinho da Beija-Flor e
Dominguinhos do Estácio.
O diretor da cobertura foi Laércio Roma, que, durante a
coletiva de imprensa, afirmou que o SBT Folia daquele ano
buscaria levar ao público muita informação de qualidade. Ele
também criou o slogan “SBT Folia, carnaval é alegria”.
A primeira transmissão foi a do Grupo de Acesso do Rio
de Janeiro, no sábado de carnaval. O SBT escalou como
âncoras o jornalista Carlos Nascimento e a cantora e
apresentadora Eliana. A cobertura começou mais cedo para o
Rio de Janeiro, já na primeira escola, a Paraíso do Tuiuti. Em
rede nacional, começou com a Acadêmicos da Rocinha,
segunda da noite.
Nascimento, por já ter mais experiência com coberturas
ao vivo, atuou de maneira natural, enquanto Eliana mostrou-
se um pouco mais desconfortável. Compreensível, afinal a
cantora que começou a carreira gravando discos infantis
nunca havia tido uma experiência igual a esta antes. Ancorar
um programa, mesmo que ao vivo, por horas, é muito
diferente de cobrir o desfile das escolas de samba por
aproximadamente oito horas durante a madrugada, ainda
mais quando não se tem afinidade com o tema.
Os comentários ficaram por conta de Miro Ribeiro, João
Wlamir e Arlindo Grund. Conhecido no meio carnavalesco,
Miro Ribeiro é radialista e jornalista. Arlindo Grund é um
respeitado estilista, enquanto João Wlamir é um coreógrafo
famoso por ter sido bailarino solista do Teatro Municipal do
Rio de Janeiro. Os dois últimos já eram contratados do SBT à
época.
Importante destacar que Wlamir é também jurado do
carnaval desde 1997 do quesito Comissão de Frente. Em
2012, passou a julgar o extinto quesito Conjunto. Ficou na
função até 2014. Em 2015 e 2016 voltou a ser julgador de
Comissão de Frente. Na equipe, ainda havia, entre outros, os
repórteres Simone Queiroz, Isabele Benito e Rogério Forcolen,
cobrindo os bastidores das escolas.
A segunda cobertura do SBT foi o desfile das campeãs
de São Paulo. Os jornalistas César Filho e Analice Nicolau
ficaram responsáveis pela apresentação. Nos comentários, o
coreógrafo Carlinhos de Jesus e o produtor musical Arnaldo
Saccomani (1949 - 2020). A cobertura ainda contou com
reportagens de Marcelo Torres, Celito Esteves, entre outros.
Para essa cobertura, o SBT alugou equipamentos com a
TV Cultura. Foi uma ajuda mútua das duas emissoras, visto
que a Cultura transmitiu normalmente o Acesso de São
Paulo, pelo qual o SBT não se interessou e repassou para a
emissora pública paulista, que cedeu unidades móveis de alta
definição e alguns técnicos para a transmissão do canal de
propriedade de Sílvio Santos.
Para a cobertura do desfile das campeãs do Rio de
Janeiro – o último da safra carnavalesca de 2012 – saiu
Eliana e entrou a jornalista Karyn Bravo. O time com os três
comentaristas do Acesso foi mantido, bem como Carlos
Nascimento na apresentação.
O mesmo esquema foi mantido em relação aos demais
dias em que o SBT transmitiu os desfiles. Foi possível
perceber mais claramente a diferença na cobertura da
emissora para a tradicional da Globo.
A mais sentida foi quanto ao momento de início da
descrição “ala a ala” do desfile: enquanto o SBT pegava desde
quando a escola adentra na pista, a Globo espera a escola
chegar pelo menos no terceiro módulo de julgamento, que se
localizava no Setor 8 até o ano de 2016.
A cobertura do SBT, mesmo com falhas, mostrou-se
bem intencionada e com alguns acertos. Mesmo sem
experiência em eventos do tipo e sem a tradição de exibir os
desfiles todos os anos, o canal de Silvio Santos se esforçou
para levar o melhor possível para o seu telespectador e isso
merece ser levado em conta.
Na Bahia, Celso Portiolli, Karyn Bravo, André Vasco,
Helen Ganzarolli e Lígia Mendes fizeram a festa nos circuitos
Barra Ondina e Campo Grande. E Léo Sampaio, apresentador
e especialista em carnaval baiano, trabalhou como
comentarista.
A parceria de transmissão do SBT em Salvador se deu
com a TV Aratu, firmada desde 2011. A emissora baiana
exibe localmente o Carnaval baiano desde 1970 e é a pioneira
na cobertura da festa soteropolitana.
SBT
Narração: Carlos Nascimento e Eliana (RJ); Analice Nicolau e
César Filho (SP). Celso Portiolli e Karyn Bravo (Salvador).
Comentários: Arlindo Grund, João Wlamir e Miro Ribeiro (RJ);
Arnaldo Saccomani e Carlinhos de Jesus (SP). Léo Sampaio
(Salvador).

Reportagens: Isabele Benito, Rogério Forcolen e Simone


Queiroz (RJ); Celito Esteves e Marcelo Torres (SP). André Vasco,
Helen Ganzarolli e Lígia Mendes (Salvador).

BANDEIRANTES, O CANAL DA FOLIA

Nenhum outro evento anual ocupa tanto espaço na


grade da Band quanto o carnaval. São cerca de 60 horas ao
vivo, em HD, dedicadas à folia e 80 câmeras distribuídas
entre São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Recife e Olinda.
Quase 500 profissionais estão envolvidos na megacobertura
Band Folia, que começa na noite de sexta-feira (véspera do
sábado de Carnaval) e se estende até a madrugada da quarta-
feira de Cinzas.

Salvador

A Band foi a primeira emissora a descobrir o Carnaval


de Salvador, em 1993. Em 2010, a emissora montou um
estúdio de 112 metros quadrados no badalado circuito Barra-
Ondina.
Os âncoras das noites baianas foram Patrícia
Maldonado e Betinho (locutor da Band FM, apresentador do
programa Micareta Axé Band), com participações especiais de
vários artistas da Bahia.
A Band mostrou ainda a movimentação dos convidados
vips nos camarotes e a passagem dos trios à tarde no estúdio
da emissora no circuito oficial de Campo Grande, sob o
comando de Nadja Haddad e Nélio Jr. Na reportagem, Érico
Aires e Carolina Rosa.

Recife, Olinda, Bezerros e Nazaré da Mata

O ano de 2010 marcou o terceiro ano que a Band


mostrou ao Brasil o carnaval de Recife e Olinda, em
Pernambuco. As transmissões de Olinda, onde a Band tem
um estúdio, aconteceram à tarde com Lorena Calabria e Luiz
Megale, este conhecido âncora da Band News FM.
À noite, direto do estúdio montado na Praça Rio Branco,
também conhecida como Marco Zero, no lado leste do Centro
Histórico de Recife, foi a vez da Band mostrar a folia da
capital pernambucana, com Nivaldo Prieto, Renata Fan (sexta
e sábado) e Luize Altenhofen (domingo, segunda e terça).
Destaque para a transmissão exclusiva a partir das 13
horas do sábado, do Galo da Madrugada, maior bloco
carnavalesco do mundo. Na ancoragem desse evento
estiveram Luciano do Valle e Flávia do Valle.
A Band também mostrou flashes do carnaval
pernambucano nas cidades de Bezerros, no domingo, e
Nazaré da Mata, na segunda.
Conhecido como “A folia do Papangu”, o carnaval de
Bezerros, a 100 quilômetros de Recife, é o maior do agreste e
o único temático do Brasil. Na festa, a diversão dos
moradores é brincar fantasiados e de máscaras. É uma
tradição que dura quase um século.
Já Nazaré da Mata (município distante 70 quilômetros
da capital pernambucana) tem atrativo especial porque é a
capital estadual do Maracatu.
A reportagem destas duas cidades ficou a cargo de
Ricardo Neves, Beto Café e Rodrigo Leitão.

Desfile das Escolas de Samba – Acesso RJ, Acesso


SP, Campeãs SP e Campeãs RJ

O fundador da Band, João Jorge Saad (1919 - 1999), já


foi, inclusive, homenageado no carnaval paulistano. O enredo
da escola de samba Nenê de Vila Matilde, em 2007, foi “A
Águia Radiante Com o Pioneiro das Comunicações: João
Jorge Saad – 70 Anos de Conquistas e Realizações”.
Em 2010, os direitos do Grupo de Acesso do Rio de
Janeiro voltaram às mãos da Band, que já havia transmitido
o desfile em 1999. Sérgio Costa e Adriane Galisteu
apresentaram os desfiles, com comentários de Miro Ribeiro.
No mesmo ano, a emissora transmitiu o Acesso de São Paulo
(com apresentação de Fernando Vieira de Mello), o desfile das
campeãs do Rio (apresentado por José Luiz Datena e Adriane
Galisteu, e comentários de Milton Cunha) e o desfile das
campeãs de São Paulo (com, novamente, Fernando Vieira de
Mello, além de Silvia Poppovic e comentários de Eliana de
Lima).
Em 2011, ano que marcou a última transmissão da
Band na Sapucaí, a emissora levou para o desfile de Acesso
no Sambódromo carioca o mesmo time de apresentadores e
comentarista: Sérgio Costa, Adriane Galisteu e Miro Ribeiro.
Houve uma incrementada na transmissão: uma pequena
reportagem que Galisteu fez nos barracões das escolas,
mostrando um pouco do trabalho realizado.
A Band transmitiu ainda o desfile de acesso de São
Paulo em 2011 e os das campeãs dos dois estados. Luciano
Faccioli e Silvia Poppovic comandaram os trabalhos de São
Paulo.
Depois disso, a Band focou a sua transmissão da folia
nos carnavais do Nordeste, além do carnaval de Vitória até
2015. Como vimos anteriormente, em 2012, o Acesso do Rio e
os desfiles das campeãs ficaram para o SBT, enquanto o
Acesso de São Paulo ficou para a TV Cultura.
Em 2013, com a criação da Série A, a Globo passou a
transmiti-la para o Rio de Janeiro, com os demais desfiles
(acesso SP e campeãs SP e RJ) ficando à mercê. Em 2014, o
Viva, canal a cabo Globosat, transmitiu esses desfiles. Foi
uma cobertura esforçada, com bons comentaristas, mas que
não se repetiu. Em 2015, a Globo transmitiu os desfiles das
campeãs através do portal G1.

BAND
Narração: Adriane Galisteu, José Luiz Datena e Sérgio Costa
(RJ); Fernando Vieira de Mello, Luciano Faccioli e Silvia Popovic (SP);
Betinho, Nadja Haddad, Nélio Jr e Patrícia Maldonado (Salvador);
Lorena Calabria, Luiz Megale, Luize Altenhofen, Nivaldo Prieto e
Renata Fan (Olinda); Flávia do Valle e Luciano do Valle (Recife).
Comentários: Ivo Meirelles, Milton Cunha e Miro Ribeiro
(sábado das campeãs RJ); Eliana de Lima, Moisés da Rocha e
Oswaldinho da Cuíca (sábado das campeãs SP).
Reportagens: Carolina Rosa e Érico Aires (Salvador); Beto
Café, Ricardo Neves e Rodrigo Leitão (Bezerros e Nazaré da Mata).

TV BRASIL FAZ AMPLA COBERTURA DO CARNAVAL

Em 2016 uma nova emissora veio se somar às


coberturas carnavalescas na televisão. A TV Brasil, rede
pública de televisão do Executivo brasileiro e gerida pela
Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), passou a fazer
ampla cobertura da folia.
O anúncio da cobertura carnavalesca da TV Brasil
aconteceu no mês de janeiro daquele ano. A emissora pública
preparou uma cobertura especial da folia nos Carnavais do
Brasil, com transmissões ao vivo, direto de Salvador, sob o
comando da apresentadora do programa Estúdio Móvel,
Liliane Reis, numa parceria com a TVE Bahia.
O jornalismo também pôs o bloco na rua mostrando
reportagens sobre os preparativos da folia, os detalhes do
Carnaval pelos quatro cantos do país com reportagens
produzidas pelas equipes próprias e das emissoras da Rede
Pública de Televisão.

Bahia
Em parceria com a TVE Bahia, a TV Brasil mostrou o
que havia de melhor no Carnaval de Salvador. Com postos de
transmissão ao vivo no Campo Grande, no Pelourinho e nos
estúdios da TVE, além das equipes de reportagem
percorrendo a cidade, as emissoras da rede pública
apresentam a diversidade do carnaval baiano.
A transmissão começou na quinta, dia 4 de fevereiro, às
23h, com os desfiles dos trios pipocas com Ivete Sangalo e Bel
Marques no comando. Na Bahia, “pipoca” é o folião que não
desfila e nem pula dentro do bloco, e sim que pula na rua,
nas laterais dos blocos acompanhando os trios e blocos pelas
laterais. O folião pipoca escolhe o som de seu agrado e sai
pulando atrás. A mais ingênua das jogadas quando se segue
o trio elétrico é ir colecionando beijos na boca, conforme o
bloco avança.
Na sexta (5), a transmissão da TV Brasil prosseguiu no
mesmo horário das 23 horas. Já no sábado (6), a cobertura
acompanhou desde a saída do bloco afro Ilê Aiyê, do bairro do
Curuzu, até sua chegada ao Campo Grande.
No domingo, segunda e terça-feira de carnaval, a folia
começou à tarde, às 14 horas, e seguiu até a noite, por volta
das 19 horas, quando a emissora exibiu o programa Samba
na Gamboa.
As transmissões ao vivo do carnaval baiano voltaram às
20 horas no domingo e terminaram quando os relógios
marcaram uma hora da manhã. Na segunda e na terça-feira,
os festejos de rua entraram mais tarde, às 22 horas, com
encerramento à uma hora da manhã.
Na tela, apresentadores da emissora baiana se
revezaram durante os dias de alegria para mostrar os mais
bonitos momentos da festa e entrevistar quem vive, pensa,
curte e trabalha o carnaval do estado.

Desfile do Grupo de Acesso de SP


Mas, a novidade daquele ano é que a TV Brasil também
transmitiu pela primeira vez um desfile de escolas de samba.
Na noite de domingo, dia 7 de fevereiro, o canal apresentou o
Grupo de Acesso do Carnaval paulistano, para todo o Estado
de São Paulo, com a participação das nove agremiações que
disputavam a categoria no Sambódromo do Anhembi. No
comando da transmissão estiveram os jornalistas Gustavo
Minari e Rodrigo Vianna.

A ordem de desfile foi:

1- Barroca Zona Sul “Bakhita”


2- Tom Maior “Travessias de Milton Nascimento.
Todo Artista Tem de Ir Aonde o Povo Está”
3- Colorado do Brás “Transformando a Química da
Vida”
4- Morro da Casa Verde “Mvemba-a-Nizinga, Dom
Afonso I – Um Rei Cristão no Império Africano do Congo”
5- Camisa Verde e Branco “Nas Águas Sagradas de
Oxum, Iemanjá e Oxalá, Camisa Verde Dá um Banho de
Alegria”
6- Mancha Verde “Mato Grosso, Uma Mancha Verde
no Coração do Brasil”
7- Imperador do Ipiranga “A Imperador Reluz
Esperança com Don Quixote De La Mancha”
8 - Leandro de Itaquera “Rainhas de Todos Nós,
Mulheres Guerreiras! Ê, Baiana... Com Suas Bênçãos, a
Leandro Conta sua História e Celebra o Centenário do
Samba”
9 - Independente Tricolor “O Que Conta no Faz de
Conta?”

A cereja do bolo para a TV Brasil foi transmitir na sexta


(12) e no sábado (13), com exclusividade, a emoção dos
Desfiles das Campeãs, em São Paulo e no Rio de Janeiro,
para todo o Brasil. A apresentação dos dois eventos foi da
jornalista Liliane Reis e os convidados da transmissão
comentam o resultado dos Carnavais paulista e fluminense.
Tanto no Sambódromo do Anhembi quanto na Marquês de
Sapucaí, a reportagem entrevistou destaques, carnavalescos e
diretores das escolas vitoriosas.
A emissora pública entrou em acordo com a Rede Globo
para transmitir pela primeira vez os desfiles das escolas de
samba campeãs da capital carioca. O canal da Família
Marinho embora tenha os direitos de exibição, historicamente
não vinha realizando a cobertura desde o início dos anos 90
por achar que prejudica a sua audiência.
Confira como foi a Programação Especial de Carnaval da
TV Brasil em 2016:
Quinta-feira 04.02
23h: Carnavais do Brasil - Ao vivo - Salvador com TVE
Bahia.

Sexta-feira 05.02
23h: Carnavais do Brasil - Ao vivo - Salvador com TVE
Bahia.

Sábado 06.02
12h30: Programa Especial – Cidade do Samba com a
escola Embaixadores da Alegria.
22h: DOC Especial – Trieletrizado (2013), documentário
de 55 minutos, dirigido por Jorge Alfredo, com Armandinho
Macedo, Clarindo Silva, Gerônimo Santana, Carlinhos Brown,
Ivete Sangalo, Margareth Menezes, Bell Marques, Aicha
Marques, Zeca de Abreu, Lázaro Torres, Mirella Mattos,
Annalu Torres, Edvana Santana e Nonato Freire.
23h: Carnavais do Brasil - Ao vivo - Salvador com TVE
Bahia.

Domingo 07.02
14h: Carnavais do Brasil - Ao vivo - Salvador com TVE
Bahia.
19h: Samba na Gamboa - Diogo Nogueira homenageia
Jovelina Pérola Negra.
20h: Carnavais do Brasil - Ao vivo - Salvador com TVE
Bahia.
20h50: Desfile do Grupo de Acesso do Carnaval de São
Paulo (apenas para o estado de SP).
Segunda-feira 08.02

14h: Carnavais do Brasil - Ao vivo - Salvador com TVE


Bahia.
19h: Samba na Gamboa - Diogo Nogueira recebe Saulo
Fernandes e Armandinho.
22h: Carnavais do Brasil - Ao vivo - Salvador com TVE
Bahia.

Terça-feira 09.02
14h: Carnavais do Brasil - Ao vivo - Salvador com TVE
Bahia.
19h: Samba na Gamboa - Diogo Nogueira homenageia
Dona Ivone Lara.
22h: Carnavais do Brasil - Ao vivo - Salvador com TVE
Bahia.

Sexta-feira 12.02
21h55: Desfile das Campeãs do Carnaval de São Paulo
(para todo o Brasil).

Sábado 13.02
21h25: Desfile das Campeãs do Carnaval do Rio de
Janeiro (para todo o Brasil).

Em 2017, a TV Brasil novamente apresentou o Desfile


das Campeãs do Carnaval do Rio de Janeiro com
exclusividade, direto da Marquês de Sapucaí. Sob o comando
da jornalista Luciana Barreto e do radialista Tiago Alves, a
transmissão recebeu especialistas em carnaval que
comentam o resultado da apuração na Apoteose e ilustraram
o espetáculo das seis agremiações que retornaram ao
sambódromo carioca.
A emissora pública recebeu a visita de vários
convidados, que analisaram as escolas que participaram do
Desfile das Campeãs, como a sambista Nilcemar Nogueira (na
época Secretária de Cultura do Rio de Janeiro), as cantoras
Dorina e Dayse do Banjo, o historiador Luiz Antonio Simas,
os jornalistas Anderson Baltar, Fred Soares, Leonardo Bruno,
Fábio Fabato e Bárbara Pereira, os carnavalescos Max Lopes
e Maria Augusta, a pesquisadora Raquel Valença, e o
intérprete Jorginho do Império.

Eis a ordem do Desfile das Campeãs do Carnaval do Rio


de Janeiro em 2017, no dia 4 de março:

1 - Beija-Flor - Sexta colocada


2 - Grande Rio - Quinta colocada
3 - Mangueira - Quarta colocada
4 - Salgueiro - Terceira colocada
5 - Mocidade - Vice-campeã (*)
6 - Portela – Campeã

* Em reunião extraordinária na noite do dia 5 de abril, a


Liesa decidiu dividir o título do Carnaval 2017 entre Portela e
Mocidade Independente de Padre Miguel. A Liga resolveu
acatar um recurso impetrado pela verde e branco de Padre
Miguel denunciando um erro do julgador Valmir Aleixo, que
avaliou o quesito enredo baseado em um roteiro do desfile
que havia sido alterado.
Suspensão momentânea da cobertura e retomada

Em janeiro de 2019, com a chegada ao poder de Jair


Bolsonaro à Presidência da República, a TV Brasil anunciou
que não transmitiria o Carnaval naquele ano. Há três anos o
canal vinha fazendo a cobertura de uma das festas mais
populares do Brasil, exibindo os desfiles do grupo de acesso
de São Paulo, no domingo, e as campeãs paulistanas e
cariocas, na sexta-feira e no sábado, depois de Cinzas.
Internamente, o que se disse, foi que o cancelamento da
transmissão fez parte do corte de custos. No entanto, as
imagens dos eventos eram cedidas pela TV Globo.
Em 2020, a TV Brasil retomou a programação especial
carnavalesca. No entanto, não apresentou os desfiles das
escolas de samba do grupo de acesso de São Paulo nem a
noite das campeãs cariocas e paulistanas.
A emissora preferiu exibir uma programação especial
durante os dias de folia, com mais de 15 horas de
apresentações musicais de Salvador e do Recife em rede
nacional.
A faixa “TV Brasil no País do Carnaval” foi ao ar de
sábado (22 de fevereiro) até terça-feira (25 de fevereiro), entre
21 horas e uma da manhã. O destaque foram as
transmissões de shows com a TVE Bahia e a TV Pernambuco,
canais parceiros da rede pública de TV.
Em Salvador, a emissora acompanhou desfile de trios
nos circuitos Campo Grande e Barra-Ondina, além de shows
no Pelourinho. Já do Recife, foram mostradas as
apresentações do Marco Zero, Praça do Arsenal e Festival
RecBeat.
Os programas de linha da TV Brasil também tiveram
edições temáticas. O Sem Censura abriu a festa na sexta (21),
às 18 horas, com o intérprete e compositor Neguinho da
Beija-Flor. O bamba soltou a voz em composições marcantes
de samba-enredo e conversou sobre sua trajetória com os
apresentadores Vera Barroso e Bruno Barros.
A garotada se divertiu no baile infantil “Ó Abre Alas”, do
programa Música Animada. No palco, o especial trouxe a
dupla Jujuba e Ana Nogueira com os artistas do grupo
Samba Lelê em um espetáculo vibrante. O programa foi ao ar
no sábado (22), às 11 horas. No mesmo dia, às 18 horas,
outra atração do canal, o Viralizando, levou um papo com
personalidades da folia.
A TV Brasil ainda apresentou outras performances de
ícones da música nordestina como Elba Ramalho em um
show contagiante com clássicos do forró na sexta (21), às
22h30, na faixa Verão Show, e resgatou um show histórico de
Moraes Moreira, o espetáculo “50 Carnavais”, no sábado (22),
às 18h30, gravado em 1998 pela antiga TVE do Rio de
Janeiro, na casa noturna de shows Ballroom, inaugurada em
1995 e extinta em 2005. O lugar, que recebia shows de
artistas alternativos, ficava no bairro Humaitá, no Rio.

TV BRASIL
Narração: Liliane Reis, Luciana Barreto e Tiago Alves (RJ e
Salvador); Gustavo Minari e Rodrigo Vianna (SP).

UM CARNAVAL SEM CENSURA. COM CERTEZA

A antiga TVE (depois TV Brasil) não transmitia os


desfiles do grupo especial do Rio de Janeiro desde 1982, mas
no período pré-carnavalesco brindava os amantes da folia
com gostosas entrevistas e debates sobre a folia no programa
Sem Censura.
O programa estreou na então TVE Brasil em 1º de julho
de 1985, apresentado por Tetê Muniz. O país recém havia
saído do período militar e o então diretor da emissora,
Fernando Barbosa Lima (1933 - 2008), teve a ideia de criar
um programa que refletisse o clima da época.
A atração inicialmente debatia pautas de interesse do
estado do Rio de Janeiro, mas após a chegada da jornalista
Leda Nagle, em 1996, passou a discutir temas e a receber
convidados de relevância nacional. E foi no período de Leda
que, “com certeza” (para usar o bordão frequentemente usado
pela apresentadora), o Sem Censura abriu maior espaço para
o Carnaval.
Semanas antes dos desfiles, a produção convidava
dirigentes, carnavalescos e intérpretes das escolas de samba
do Rio, que se apresentavam diariamente (ou semanalmente)
em rodízio.
Leda, que ficou 20 anos no comando da atração (entre
1996 e 2016), sempre foi uma grande incentivadora da
presença da comunidade carnavalesca no Sem Censura.
Enquanto dirigentes e carnavalescos debatiam os rumos da
festa e os preparativos dos desfiles de suas respectivas
escolas, os intérpretes entoavam o samba-enredo do ano,
geralmente acompanhados por músicos das próprias
agremiações ou convidados pela produção.
No dia seguinte à apuração das notas e conhecidos os
campeões do carnaval, o programa realizava uma edição
especial debatendo os resultados e chamando a audiência
para o Sábado das Campeãs.
Inicialmente exibido na faixa das 16 horas, o Sem
Censura foi um dos primeiros programas da televisão
brasileira que deu espaço para a interação com os
telespectadores, que inicialmente podiam telefonar ou enviar
recados por fax. Logo depois, com o avanço da tecnologia, a
interação se deu através de envio de e-mails e mensagens nas
redes sociais.
Além dos convidados ilustres, o Sem Censura contava
com a participação de debatedores fixos com um time
formado por grandes nomes do jornalismo e entretenimento.
Os jornalistas Artur da Távola (1936 - 2008), Sérgio Noronha
(1932 - 2020), Arthur Xexéo (1951 - 2021), Haroldo Costa e o
carnavalesco Milton Cunha foram alguns dos nomes que
colaboraram com o vespertino.
No time de debatedores fixos, também esteve por vários
anos um jovem jornalista com elevadas ambições e intenções
políticas. Filho de um dos grandes intelectuais da cultura no
Brasil, o rapaz era um dos mais destacados debatedores do
programa: comunicativo, muito carismático e com
posicionamentos centrados e sensatos. Estamos falando de
Sérgio Cabral Filho, cujo pai, Sérgio Cabral, é um
reconhecido crítico de música e arte, um dos fundadores do
jornal O Pasquim, e que foi comentarista de carnaval pela TV
por inúmeras vezes.
Cabral Filho foi integrante do Sem Censura a partir da
década de 90. Elegeu-se três vezes deputado estadual no Rio
de Janeiro. Deixou a bancada do programa em 2001.
Concorreu ao Senado pelo Rio de Janeiro nas eleições de
2002, e se elegeu com 4,2 milhões de votos.
Após assumir o governo do Estado do Rio de Janeiro
pela primeira vez, em janeiro de 2007, Sérgio Cabral Filho foi
um dos primeiros entrevistados pelo Sem Censura naquela
temporada. Em outubro de 2010, foi reeleito governador,
ainda no primeiro turno, com mais de 66 por cento dos votos
válidos. Renunciou ao cargo em 3 de abril de 2014,
almejando concorrer a uma vaga no Senado.
Em 2016 Sérgio Cabral Filho foi preso na Operação Lava
Jato e tornou-se réu por corrupção passiva, lavagem de
dinheiro e evasão de divisas. Desde 2018 encontra-se preso
no pavilhão Bangu 8 do Complexo Penitenciário de Gericinó,
na zona oeste da cidade do Rio de Janeiro. As penas de
Cabral somam mais de 280 anos de prisão. Em 2009, o ex-
governador havia sido considerado um dos 100 brasileiros
mais influentes pela Revista Época.
Mesmo após a saída de Leda Nagle do comando do
programa, no início de 2017, o Sem Censura seguiu dando
relativo destaque para o carnaval no período que antecedia os
desfiles. Em 6 de março de 2017, com a apresentação de Vera
Barroso e com a colaboração dos repórteres multimídia
Bruno Barros e Kamyla Abreu, o programa reestreou
completamente reformulado. A tradicional bancada foi
substituída por um sofá vermelho, o cenário foi modificado e
a interatividade ganhou bastante espaço no novo formato.
Em 13 de novembro de 2020, a direção da EBC decidiu
pela extinção do programa e a equipe foi transferida para o
Agro Nacional. O retorno do Sem Censura à grade da TV Brasil
aconteceu em março de 2021, reformulado e com exibição
semanal, às segundas-feiras, 21h30, com apresentação da
jornalista Marina Machado, diretamente de Brasília.

MUSA DO CARNAVAL NO CALDEIRÃO

Após ter feito grande sucesso na Band entre os anos de


1996 e 1999 com o Programa H, o apresentador Luciano
Huck foi contratado pela TV Globo e estreou o Caldeirão em 8
de abril de 2000. O programa foi exibido nas tardes de
sábado até 28 de agosto de 2021, quando o apresentador foi
transferido para o comando de um novo programa dominical
da Globo, substituindo o Domingão do Faustão.
Em 2003, o Caldeirão do Huck passou a produzir uma
competição que reunia passistas, rainhas e madrinhas de
bateria entre representantes das escolas de samba que
desfilavam no grupo especial do Rio de Janeiro e de São
Paulo: era o concurso “Musa do Carnaval”. A TV Globo
sempre teve a tradição de usar os meses de janeiro e fevereiro
pra promover o carnaval através de várias produções
referentes aos desfiles das escolas de samba e o “Musa” ia ao
ar na atração comandada por Huck nesse período.
Jurados convidados pelo programa elegiam aquelas que
mostraram mais carisma, beleza e samba no pé. As
vencedoras foram (ano e respectiva escola que
representavam):

2003: Iketula, Porto da Pedra;


2004: Silvana Beleza, Grande Rio;
2005: Jaqueline Faria, Portela;
2006: Mel Brito, Caprichosos de Pilares;
2007: Carla Cristina, Beija-Flor;
2008: Renata, do Camisa Verde e Branco, foi eleita a
Musa de São Paulo em 2008, concorrendo com Cristiane, do
Salgueiro, que se sagrou Musa do Caldeirão naquele ano.
A partir de 2009, o quadro ganhou novo formato, e as
concorrentes cariocas e paulistas passaram a disputar o
concurso separadamente. As vencedoras a partir de então
foram:

2009: Suellen, Portela (RJ) e Gaby Viana, Acadêmicos do


Tucuruvi (SP);
2010: Carol, Unidos da Tijuca (RJ) e Lyllian, Vai-Vai
(SP);
2011: Luana Bandeira, Salgueiro (RJ) e Andressa
Sobrinho, Rosas de Ouro (SP);
2012: Evelyn Bastos, Mangueira (RJ) e Janaína, Vai-Vai
(SP);
2013: Daiana Laia, Vila Isabel (RJ) e Cinthia, Império de
Casa Verde (SP);
2014: Bruna, Pérola Negra (SP) e Rafaela, Salgueiro (RJ);
2015: Dedê, Portela (RJ) e Tarine (SP), X9 Paulistana;
2016: Layza Santiago, Mangueira (RJ) e Michele Silva,
Unidos do Peruche.

Em 2017, o concurso não se saiu bem na audiência.


Portais especializados na crítica televisiva, como o “Na
Telinha”, do Uol, e o “TV Foco”, do IG, apontaram um
rendimento abaixo da média da final da atração na Grande
São Paulo, marcando menos de 12 pontos, os piores dados do
programa no primeiro trimestre do ano passado. Naquele
ano, as campeãs foram Viviane Silveira Ramos, da Portela, no
Rio, e Vanessa Alves, da Águia de Ouro, em São Paulo.
Em 2018, após 15 edições, a Globo suspendeu o
concurso. A alegação principal da emissora carioca foi de que
o Carnaval daquele ano foi no começo de fevereiro (entre os
dias 9 e 14 de fevereiro), o que limitaria o tempo de produção
da competição. No entanto, o Carnaval de 2016, por exemplo,
começou no dia 5 de fevereiro, mais cedo que em 2018 e
houve o quadro “Musa” normalmente.
O fato marcou a constante queda de audiência no que se
refere ao carnaval. Não houve desinteresse da Globo pelo
produto, e sim o descaso do público que assiste televisão com
algo ligado ao carnaval. A Globo abrir mão do concurso não é
a causa, mas a consequência do enfraquecimento das escolas
junto às pessoas. O quadro foi extinto dali então.
Apesar de inicialmente haver a boa intenção de colocar o
carnaval na grande mídia global, o concurso remetia a uma
imagem muito longe da realidade das quadras. Quase como
regra, as passistas eram entrevistadas com perguntas cheias
de malícias, de apelo sexual e duplo sentido. Algumas das
meninas tiravam de letra, outras aparentavam certo
constrangimento, mas a imagem de “pedaço de carne” sempre
parecia prevalecer ao samba no pé.
Algumas beldades bem conhecidas do samba ganharam
ainda mais fama no concurso “Musa do Carnaval”, como a
rainha de bateria da Mangueira, Evelyn Bastos, vencedora em
2012. Ex-rainha de bateria da Caprichosos, Mel Brito ganhou
em 2006. Ketula Mello, musa da Imperatriz Leopoldinense,
levou em 2003, quando ainda era realeza na Porto da Pedra.
A final do concurso de 2011 teve ares de final de contos
de fada: a musa da Viradouro, Luana Bandeira, além de levar
o título para casa, foi convidada no ar, pelo próprio
apresentador Luciano Huck, para ser a nova “coleguinha”,
como eram chamadas as integrantes da equipe de assistentes
de palco do Caldeirão.

GLOBO – DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA À


DESIDRATAÇÃO DAS VINHETAS

A segunda década do século 21 começou com um


carnaval em que a TV Globo acenava com algumas
novidades, incluindo muita inovação tecnológica, transmissão
multiplataforma (com a festa podendo ser acompanhada nos
canais da Rede Globo em diferentes dispositivos quando e
onde as pessoas quiserem), maior integração da chamada
“Esquina do Samba”, imagens em 3D e novos comentaristas.
A emissora tem mobilizado, ao longo dos últimos anos,
cerca de dois mil profissionais na transmissão e trabalhando
com o que há de melhor e de mais avançado em termos de
tecnologia.
Entre as novidades: estúdio todo envidraçado em
formato de bolha, localizado no alto dos sambódromos;
dezenas de câmeras ao longo da avenida (algumas capazes de
gravar 2.800 frames por segundos); seis gruas e seis
caminhões de unidades móveis de transmissão (sendo um
apenas para o áudio).
A cobertura de carnaval também utiliza os helicópteros
usados pelo jornalismo, o Globocop, mandando imagens de
toda a avenida; câmeras ligadas a micro links, um
equipamento que permite que repórter e cinegrafista entrem
ao vivo sem estar conectados a cabos; uma dezena de
microfones posicionados nos recuos das baterias para captar
todo o ritmo e a cadência das escolas de samba, além de um
microfone especial, posicionado ao centro do recuo captando
o áudio em 5.1 canais para transmitir os detalhes de cada
instrumento da bateria, e outra dezena de microfones
distribuídos nas arquibancadas para captar a emoção do
público.
A Globo também seguiu investindo nos já tradicionais
telões interativos nos Estúdios Globeleza, com tecnologia
touch screen para a exibição dos melhores momentos dos
desfiles, mensagens de internautas, links com repórteres de
outros estados e notas dos telespectadores para as escolas.
Enfim, ao todo a cada ano são utilizadas cerca de 50
toneladas de equipamentos e aproximadamente oito
quilômetros de cabos.
Com a chegada do Globoplay (plataforma digital de
streaming de vídeos sob demanda), o público passou a poder
assistir, gratuitamente e de qualquer lugar do Brasil, a
cobertura ao vivo da festa. O acesso se dá na internet, com
acesso por meio do Globoplay, seja pelo aplicativo ou no
navegador do dispositivo (TV smart, computador, notebook,
tablet ou aparelho smartphone celular).
Mas ao longo dos anos seguintes, em contraste com a
exuberância pirotécnica ostentada pela emissora, a
divulgação da cobertura e da Globeleza foi, aos poucos, sendo
“desidratada”, muito por culpa da chegada de conceitos
politicamente corretos e também por uma forte política de
corte de gastos no canal.
A mulata musa do Carnaval da emissora, de corpo
escultural e que sambava sozinha e completamente nua em
rede nacional, passou a aparecer usando diferentes roupas e
ainda acompanhada de outros dançarinos.
Além de reduzir despesas com a folha de salários dos
funcionários, a Globo também cortou verbas em produções e
acabou sobrando para as tradicionais vinhetas de Carnaval.
A partir de 2018, nada de intérpretes, ritmistas, rainhas,
passistas ou casais de mestre sala e porta-bandeira. As
apresentações dos sambas-enredo das agremiações tanto do
Rio quanto de São Paulo passam a ser através de um clipe
que incluem parcas imagens do último desfile da agremiação
e a respectiva letra na tela como legenda.
A justificativa global foi de que estava lançando “um
novo conceito”, em que o samba-enredo “passa a ser o
protagonista”. Para os anos seguintes, a solução foi ainda
mais frustrante, pois nem as imagens de desfiles anteriores
passou a ter. Os sambas passaram a tocar míseros 30
segundos com o recurso Lyric Vídeo, no qual a música toca
ao fundo e a letra aparece simultaneamente na tela, alguns
efeitos gráficos ao fundo, como por exemplo, baianas virtuais.

2010

No ano de 2010, o período Globeleza teve início no dia 3


de janeiro (um domingo), quando a Rede Globo começou a
exibir os clipes de Carnaval, com a letra dos sambas e
imagens dos integrantes das escolas de samba. As gravações
aconteceram no mês anterior, em shows realizados no Rio de
Janeiro e em São Paulo.
Na cobertura daquele ano, narradores, comentaristas e
convidados especiais estiveram reunidos em um único espaço
– a Esquina do Samba – durante as transmissões dos desfiles
das agremiações do Rio de Janeiro e de São Paulo. A partir
das 23 horas de sexta-feira, dia 12 de fevereiro, o
telespectador pôde assistir ao espetáculo em alta definição
com o início dos desfiles de São Paulo.
No domingo e na segunda-feira (14 e 15), foi a vez do
Grupo Especial do Rio de Janeiro. Em circuito fechado, no
sambódromo carioca, a Rede Globo exibiu imagens captadas
em 3D, como teste para futuras transmissões com o uso da
nova tecnologia em televisão. A direção do Núcleo Globeleza
foi de Roberto Talma (1949 - 2015) e de José Bonifácio
Oliveira, o Boninho.
O novo cenário permitiu maior mobilidade aos
apresentadores, que antes ficavam restritos à área do estúdio
de vidro erguido na avenida. Os narradores passaram a ter
liberdade para se movimentar e conversar com convidados e
comentaristas.
A Globo contou com sete câmeras ligadas a micro links,
um equipamento que permite que repórter e cinegrafista
entrem ao vivo sem estar conectados a cabos. No total, 60
jornalistas, entre repórteres, repórteres cinematográficos,
editores e produtores, participaram da cobertura do Carnaval
na Marquês de Sapucaí.
Outra novidade em 2010 foi a estreia do locutor
esportivo Luís Roberto de Múcio na transmissão do desfile
carioca. Desde o início do ano, ele e a jornalista Glenda
Kozlowski, a dupla de narração, estiveram mergulhados nos
preparativos para o Carnaval 2010, frequentando barracões e
ensaios de escolas de samba.
O jornalista Chico Pinheiro também estreou em nova
função. Ele foi o anfitrião do estúdio na Esquina do Samba,
tanto no Rio de Janeiro quanto em São Paulo. Em espaço
próximo aos locutores, Chico recebeu convidados, além de
interagir com os comentaristas da Rede Globo. No Rio de
Janeiro, o grupo foi formado pelo escritor Geraldo Carneiro, a
coreógrafa Deborah Colker, o cantor e compositor Pedro Luís
e o jornalista Haroldo Costa.
Com a participação de Chico Pinheiro na Esquina do
Samba, o ano de 2010 marcou o reencontro de Cléber
Machado com o Carnaval de São Paulo. O locutor dividiu a
apresentação ao lado de Mariana Godoy.
O produtor musical Guto Graça Mello e a coreógrafa
Fernanda Chamma se juntaram a Geraldo Carneiro e Lecy
Brandão para fazer parte do time de comentaristas da
transmissão em São Paulo. O repórter Maurício Kubrusly
comandou a cobertura na dispersão, recebendo as escolas de
samba no momento em que elas cruzarem a linha de
chegada. Outros 15 repórteres trabalharam nos dois dias de
folia para mostrar todos os detalhes dos desfiles na capital
paulista.
Antes do desfile de cada agremiação, a Rede Globo
exibiu documentários de seis minutos, produzidos
especialmente para a transmissão, contando a história de
cada samba-enredo a ser apresentado. No Sambódromo, o
boxe da bateria ganhou iluminação especial.

2011

Mais dois mil profissionais trabalharam na transmissão


do Carnaval 2011 da Rede Globo. A equipe de jornalismo da
emissora acompanhou de perto a folia por todo o país: os
desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro e de São
Paulo, os blocos de rua, a festa em Salvador, Manaus e
Recife, e onde mais o Carnaval esteve. A tecnologia foi o
destaque do ano.
Os desfiles das escolas de samba foram captados e
exibidos em alta definição. E, pela primeira vez, os desfiles do
Rio foram produzidos em 3D e exibidos para todo o país
através do canal 701 da operadora de TV a cabo NET. Glenda
Kozlowski e Luis Roberto foram os narradores da transmissão
dos desfiles das escolas de samba do grupo especial no Rio de
Janeiro. No intervalo entre os desfiles, a transmissão passou
para as mãos de Ana Paula Araújo, que comandou a
cobertura jornalística do Estúdio Globeleza.
Em toda a passarela do samba da Sapucaí, mais de 40
câmeras, incluindo cinco sem fio e imagens aéreas do
Globocop, captaram, ao vivo, os detalhes dos desfiles.
Na capital paulista, a narração dos desfiles do Carnaval
2011 ficou por conta de Cléber Machado e Mariana Godoy. E
Chico Pinheiro comandou o estúdio interativo.
A Rede Globo mostrou os desfiles das escolas de samba
de São Paulo nos dias 4 e 5 de março (sexta e sábado). No
primeiro dia, a exibição do carnaval paulistano teve início
após o Globo Repórter e, no sábado, depois do Big Brother
Brasil. A apuração aconteceu na terça-feira, dia 8,
transmitida ao vivo após o Vale a Pena Ver de Novo.
O portal G1 transmitiu em tempo real os desfiles do Rio
de Janeiro e de São Paulo e suas respectivas apurações. Sua
página especial de Carnaval trouxe uma cobertura completa
com notícias, fotos e vídeos dos desfiles das escolas de
samba, programação dos blocos de rua e trios elétricos das
principais capitais do país. Um catálogo de vídeos mostrou os
melhores momentos dos desfiles além de momentos
históricos com as campeãs de outros carnavais.

2012

A vinheta Globeleza em 2012 entrou no ar no dia 15 de


janeiro (domingo) na Rede Globo, pela primeira vez em alta
definição. A carioca Aline Prado interpretava, pelo sétimo ano,
a personagem que marca o início da contagem regressiva
para o Carnaval.
A TV Globo mobilizou uma grande operação para a
cobertura do Carnaval. Cerca de três mil profissionais
trabalharam na transmissão dos desfiles das escolas de
samba do grupo especial de São Paulo e do Rio de Janeiro,
além de cobrir os blocos de rua, as festas em Salvador e em
Recife, e acompanhar de perto onde o carnaval estiver
acontecendo. Em todos os telejornais da programação, as
últimas notícias e todos os ângulos da festa que mobiliza o
país.
Na capital paulista, novamente Cléber Machado e
Mariana Godoy narraram os dois dias de desfiles (17 e 18 de
fevereiro) direto de um estúdio-bolha posicionado no alto do
sambódromo. Na transmissão, foram usadas 30 câmeras ao
longo da avenida, sete gruas e quatro caminhões de unidades
móveis de transmissão.
No recuo da bateria, dez microfones foram posicionados
para captar todas as batidas do coração das escolas de
samba. E ao longo das arquibancadas mais dez microfones
foram usados para levar a emoção do público que estava
assistindo as escolas na avenida. Ao todo foram necessárias
50 toneladas de equipamentos.
A festa carioca aconteceu nas noites de domingo e
segunda, dias 19 e 20 de fevereiro. A dupla Luis Roberto e
Glenda Kozlowski transmitiu o carnaval direto da Esquina do
Samba, montada no início da Marques de Sapucaí.
A transmissão carioca contou com uma equipe de dois
mil profissionais. Na avenida, Renata Capucci e Flavio Fachel
estiveram posicionados na armação. Nas arquibancadas
populares, Mariana Gross e Vandrey Pereira levaram toda a
emoção do público que acompanhou os desfiles.
Localizado na dispersão da Praça da Apoteose, o Estúdio
Globeleza entrou em ação ao final da apresentação de cada
escola de samba. Ana Paula Araújo comandou um time de
comentaristas para debater quais foram os destaques, os
melhores momentos e os problemas da agremiação que
acabara de passar.
Para essa tarefa, ela recebeu a sambista Teresa Cristina,
o jornalista Haroldo Costa, a cantora Fernanda Abreu e os
atores Eri Johnson e Hélio De La Peña. Além dos
comentaristas, Ana Paula Araújo também teve a companhia
de convidados especiais, gente ligada à música e ao samba,
para esquentar o bate-papo sobre os destaques do carnaval.

2013

A Rede Globo mobilizou uma grande operação para a


cobertura do carnaval 2013. Cerca de dois mil profissionais
trabalharam nas transmissões dos desfiles das escolas de
samba do Rio de Janeiro e São Paulo, além de cobrir os
blocos de rua, as festas em Salvador e Recife, acompanhando
de perto onde o carnaval esteve acontecendo.
Em todos os telejornais da programação, o telespectador
pôde conferir as últimas notícias e todos os ângulos da festa
que mobiliza o país.

Desfiles em São Paulo


Na capital paulista, a folia começou na sexta-feira, dia 8
de fevereiro. Cléber Machado e Mariana Ferrão, que naquele
ano estreou na transmissão, narraram os dois dias de
desfiles para todo o Brasil, exceto o para o estado do Rio de
Janeiro. Os jornalistas, que antes apresentavam de uma
cabine localizada no alto do sambódromo, desceram e
narraram de uma cabine no mesmo nível da avenida.
Localizada próximo ao recuo da bateria, os âncoras puderam
se aproximar do desfile durante a transmissão e mostrar a
perspectiva de quem participa da festa.
Ao final do desfile, próximo à dispersão do Anhembi,
ficou o estúdio Globeleza. Com telão interativo dentro do
estúdio de vidro para exibição de melhores momentos,
mensagens de internautas, links com repórteres de outros
estados e notas dos telespectadores para as escolas, o
jornalista Chico Pinheiro fez comentários sobre os desfiles e
recebeu como convidados especiais o ator Ailton Graça, o
compositor Celso Viáfora e as cantoras Negra Li e Paula Lima.
Durante os dois dias de desfiles, um time de 17
repórteres esteve envolvido na cobertura do carnaval, levando
todas as informações da transmissão de São Paulo. Na
transmissão, foram usadas 34 câmeras ao longo da avenida.
Uma delas, a super slow, com capacidade de gravar 2.800
frames por segundos. Também foram utilizadas seis gruas
além de seis caminhões de unidades móveis de transmissão
(sendo um apenas para o áudio), e ainda o Globocop, que fez
imagens de toda a avenida.
Os desfiles das escolas de samba de São Paulo foram
exibidos logo após o Globo Repórter, e no sábado, dia 9 de
feveriro, após o Big Brother Brasil 13. Na terça-feira, dia 12,
foi transmitida para todo o Brasil (menos para o estado do
Rio de Janeiro), a apuração dos desfiles paulistanos, logo
após a novela “Da Cor do Pecado”.

Desfiles cariocas

Em 2013, pela primeira vez, a festa carioca começou na


TV Globo já na sexta-feira, dia 8 de fevereiro, após o Globo
Repórter, quando foram exibidos, com exclusividade para
todo o estado do Rio de Janeiro, os desfiles da Série A. No
sábado, dia 9, depois do BBB13. Os outros estados do país
assistiram, nestes dias, aos desfiles das agremiações do
Grupo Especial de São Paulo.
Nos dois dias da Série A, os jornalistas Alex Escobar e
Mariana Gross comandaram a festa de 19 escolas de samba
(pela ordem): Estácio de Sá, Império Serrano, Viradouro,
Tradição, Porto da Pedra, Caprichosos de Pilares, Rocinha,
Renascer de Jacarepaguá, Jacarezinho, Santa Cruz, Unidos
da Vila Santa Tereza, União do Parque Curicica, Alegria da
Zona Sul, União de Jacarepaguá, Tuiuti, Cubango, Sereno de
Campo Grande, Império da Tijuca e Unidos de Padre Miguel.
Desde novembro os âncoras visitaram as escolas e
comunidades para conhecer de perto suas histórias, seus
enredos e acompanhar de perto os preparativos para os
desfiles. Durante os desfiles, Mariana e Escobar receberam,
na Esquina do Samba, o músico Arlindo Cruz e os
carnavalescos Milton Cunha e Chico Spinoza para comentar o
desempenho das agremiações.
No domingo e na segunda-feira, dias 10 e 11, Glenda
Kozlowski e Luis Roberto levaram o espetáculo do Grupo
Especial do Rio de Janeiro para todo o país. Reunida pela
quarta vez consecutiva nesta transmissão, a dupla narrou a
festa da Esquina do Samba. Desde dezembro, os dois
jornalistas visitaram os barracões na Cidade do Samba para
entrevistar carnavalescos, componentes das escolas e
conhecer de perto o que cada agremiação estava preparando
para levar à avenida naquele ano.
Localizado na dispersão da Apoteose, o Estúdio
Globeleza entrou, mais uma vez, em ação ao final da
apresentação de cada escola de samba do grupo especial
carioca, sob o comando da apresentadora Ana Paula Araújo,
que recebeu um time de comentaristas para debater quais
foram os destaques, os melhores momentos e os possíveis
problemas da agremiação que acabou de passar. Para essa
tarefa, Ana Paula contou com a participação da cantora
Fernanda Abreu, do ator Eri Johnson e dos sambistas Teresa
Cristina e Pretinho da Serrinha.
A transmissão do Grupo Especial do Rio de Janeiro
contou com 40 câmeras, o Globocop, duas gruas, um trilho e
uma câmera especial adaptada para captar imagens e,
principalmente, os sons do coração das escolas: as baterias.
Os desfiles das escolas de samba do grupo especial
carioca foram exibidos no domingo, dia 10, logo após o
Fantástico, e na segunda, dia 11, após o BBB13.
Na segunda e na terça-feira, a Rede Globo exibiu um
compacto dos melhores momentos do dia anterior logo depois
do Jornal Hoje. Na quarta-feira de Cinzas, dia 13, a apuração
foi transmitida após a reexibição da novela “Da Cor do
Pecado”.

G1

O portal G1 contou com uma página especial para o


Carnaval, reunindo informações sobre a festa em onze
estados brasileiros. A cobertura, em parceria com afiliadas da
TV Globo e emissoras locais, levou aos internautas todas as
notícias sobre os ensaios dos principais blocos e escolas de
samba, venda de ingressos para bailes e desfiles, esquemas
de trânsito e o calendário completo com horário e local de
concentração das festas de rua em cada região.
O site também transmitiu ao vivo os desfiles das escolas
de samba dos grupos Especial do Rio e de São Paulo. Os
principais blocos de rua cariocas e o desfile das escolas da
série A do Rio também puderam ser conferidos ao vivo pelo
G1.
Os estados que fizeram parte da cobertura foram:
Amazonas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Maranhão, Minas
Gerais, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul
e São Paulo. O internauta pôde acessar a cobertura completa
do Carnaval no endereço http://g1.globo.com/carnaval.

TV Globo Internacional
A TV Globo Internacional levou a folia brasileira além
das fronteiras do país.
Os desfiles das escolas de samba do grupo especial do
Rio de Janeiro e de São Paulo, assim como os melhores
momentos do Galo da Madrugada, chegaram às casas de 600
mil assinantes do canal internacional que estão em 118
países nos cinco continentes.

2014

O Carnaval 2014 na TV Globo envolveu cerca de dois mil


profissionais nas transmissões dos desfiles das escolas de
samba do Rio de Janeiro e São Paulo, além de cobrir os
blocos de rua, as festas em Salvador e Recife.
Nas capitais paulista e carioca, a folia começou na
sexta, dia 28 de fevereiro. Chico Pinheiro e Monalisa Perrone,
que naquele ano estreou na transmissão, narraram os dois
dias de desfiles do Grupo Especial de São Paulo para todo o
Brasil, exceto o para o estado do Rio de Janeiro, que conferiu
pelo segundo ano consecutivo, a transmissão dos desfiles da
Série A, com Alex Escobar e Mariana Gross, repetindo a
dobradinha no comando da festa, que teve a apresentação de
17 escolas de samba.
Na transmissão de São Paulo, foram usadas 32 câmeras
ao longo da avenida. Uma delas, a hiper slow, com
capacidade para gravar 2.600 frames por segundos. Seis
gruas e sete caminhões de unidades móveis de transmissão e
ainda o helicóptero global com imagens aéreas de toda a
avenida foram utilizados.
No domingo e na segunda, dias 2 e 3 de março, Luis
Roberto teve a companhia de Fátima Bernardes no comando
da transmissão do desfile do Grupo Especial do Rio. E,
estreando na cobertura do carnaval, Tiago Leifert entrava em
ação ao final da apresentação de cada escola de samba do
Grupo Especial carioca, no “Lounge Globeleza”, conversando
com personalidades que se destacaram no desfile que
acabava de passar.
A transmissão do Grupo Especial carioca contou com 40
câmeras, o Globocop, duas gruas, um trilho – que conduz as
câmeras acima da arquibancada da Apoteose caminhando
entre as escolas ao longo do desfile – e uma câmera especial
adaptada para captar imagens e os sons das baterias.
A transmissão dos desfiles do Grupo Especial de São
Paulo e da Série A do Rio começou logo após o Globo Repórter,
na sexta, e, depois do BBB14, no sábado. Os desfiles das
escolas de samba do Grupo Especial do Rio no domingo
foram exibidos como de praxe na sequência do Fantástico e,
na segunda, depois do BBB14.
Na segunda e na terça, dias 2 e 3 de março, a Globo
exibiu um compacto dos melhores momentos do dia anterior
no início da tarde, depois do Vídeo Show e do Jornal Hoje,
respectivamente.

2015

Fátima Bernardes e Luís Roberto repetiram a


dobradinha do ano anterior e voltaram a narrar os desfiles do
Grupo Especial no Rio de Janeiro. A dupla comandou do
Estúdio Globeleza montado na dispersão da Apoteose,
acompanhada dos comentaristas Milton Cunha, Eri Johnson
e Pretinho da Serrinha. Tiago Leifert também retornou ao
“Lounge Globeleza”.
Os desfiles das escolas de samba do Grupo Especial
carioca foram exibidos no domingo, dia 15 de fevereiro, após
o Fantástico e, na segunda, dia 16, logo depois do BBB15.
Na capital paulista, a transmissão teve início na sexta-
feira, dia 13, com Chico Pinheiro e Monalisa Perrone à frente
da narração pelo segundo ano consecutivo. Chico havia
completado, na ocasião, 15 anos de cobertura do carnaval.
Do Estúdio Globeleza montado no Anhembi, os narradores
tiveram a companhia dos comentaristas Celso Viáfora, Paula
Lima e mais o compositor Alemão do Cavaco.
Já o público do Rio conferiu, pelo terceiro ano
consecutivo, a transmissão dos desfiles da Série A. Alex
Escobar e Mariana Gross também reprisaram a tabelinha na
narração. Nos dias 13 e 14 de fevereiro, sexta-feira e sábado,
os dois receberam, na Esquina do Samba, Chico Spinoza,
Arlindo Cruz e Pretinho da Serrinha para um papo
descontraído e com todos os detalhes sobre o que acontece na
avenida.
Quarenta câmeras estiveram espalhadas pela avenida
mais o Globocop, duas gruas e um trilho para câmeras
instalado acima da arquibancada da Praça da Apoteose, além
da câmera especial adaptada para captar o som das baterias.

2016

A Globo colocou na rua seu bloco de mais de dois mil


profissionais para mostrar ao público o que as escolas de
samba prepararam para os desfiles de carnaval,
principalmente nos desfiles do Rio de Janeiro e de São Paulo.
A grade de programação da TV Globo entrou no ritmo da
folia incluindo vários programas da emissora, como os
matinais Como Será? e É de Casa (em pleno sábado de
carnaval com links da folia em diversas cidades); Caldeirão do
Huck, Estrelas (com Angélica), Domingão do Faustão
(apresentando o quadro especial “Passistas Mirins”), Mais
Você, Encontro Com Fátima Bernardes e o Tá no Ar: a TV na
TV.
Desfile em SP
Em Sampa, Chico Pinheiro e Monalisa Perrone
ancoraram a transmissão na sexta-feira, dia 5 de fevereiro, e
no sábado, dia 6. Celso Viáfora, Alemão do Cavaco e Ailton
Graça integraram o time de comentaristas.

Desfile da Série A do Rio de Janeiro


Também na sexta e no sábado de carnaval, o público da
Cidade Maravilhosa conferiu a transmissão dos desfiles das
escolas de samba da Série A. Pelo quarto ano consecutivo,
Alex Escobar e Mariana Gross repetiram o comando na
narração dos desfiles, com os comentários de Chico Spinoza e
Pretinho da Serrinha.
A novidade daquele ano foi que os desfiles da Série A
passaram a ser transmitidos do mesmo estúdio do Grupo
Especial. Milton Cunha foi para a Sapucaí também na sexta e
no sábado como repórter especial, para interagir com os
integrantes das escolas e fazendo muita festa e informação.

Desfile do Grupo Especial do Rio de Janeiro


No domingo e na segunda-feira, dias 7 e 8, Fátima
Bernardes e Luis Roberto comandaram a transmissão do
desfile do Grupo Especial do Rio. Repetindo o expediente dos
dois últimos carnavais, a dupla esteve no estúdio com os
comentaristas Milton Cunha, Eri Johnson e Pretinho da
Serrinha.
Cerca de um mês antes da festa, Fátima e Luis Roberto
deram início às entrevistas e à grande pesquisa que os
ajudou na preparação para a transmissão, como conversas
longas e minuciosas com carnavalescos, coreógrafos, mestres
de bateria, puxadores e diretores de harmonia, entre outros.
Tiago Leifert participou da transmissão pelo terceiro ano
consecutivo, recebendo personalidades que se destacaram em
cada um dos desfiles, à medida que as agremiações chegavam
à dispersão.
As transmissões dos desfiles da Série A do Rio – assim
como das escolas de samba de Sampa – aconteceram na
sexta e no sábado, logo após o BBB16. Na sexta, os
programas Lista Negra, Jornal da Globo e Homeland –
Segurança Nacional não foram exibidos, enquanto no sábado,
as atrações Amor e Sexo e Altas Horas saíram da grade para
ceder espaço ao carnaval.
Os desfiles do Grupo Especial carioca foram exibidos no
domingo logo após o Fantástico e, na segunda, depois do
BBB16. No domingo, não houve rodada do futebol. Na
segunda os telejornais Hora Um, Bom Dia Praça e Jornal da
Globo não foram ao ar.

2017

A novidade da cobertura carnavalesca global para a folia


de 2017 começou a ser sentida já no lançamento da vinheta
do Carnaval Globeleza, no dia 9 de janeiro. A peça
publicitária abordou uma celebração aos vários ritmos do
carnaval no país. Frevo, maracatu, axé, bumba meu boi e a
festa tradicional de avenida estiveram representados no
vídeo.
Em vez da modelo Erika Moura (pelo terceiro ano
consecutivo na pele da Globeleza) encarnar a mulata
personagem da cobertura sambando nua e solitária, a musa
apareceu acompanhada por cinco dançarinos, na coreografia
de Wilson Aguiar, com figurinos específicos de diferentes
regiões do país, criados por Rita Comparato. A vinheta de
pouco mais de 30 segundos tinha edição picotada, com cortes
sucessivos, para que os estilos aparecessem quase ao mesmo
tempo.
Para aquele ano, a Globo preparou para mais de 50
horas de transmissão ao vivo, apenas na TV. Cerca de 2.500
profissionais trabalharam na exibição dos desfiles do Rio de
Janeiro e de São Paulo.
Na internet a cobertura foi ainda maior. Pelo Globoplay,
o país inteiro pôde assistir, gratuitamente, à transmissão ao
vivo das principais festas do Brasil, direto do Rio de Janeiro,
São Paulo, Recife e Salvador.

Anhembi
Nas noites de sexta-feira, dia 24 de fevereiro, e sábado,
dia 25, a cor e a criatividade das escolas do grupo especial da
capital paulista ganharam a tela da TV Globo (com exceção
do estado do Rio). Pelo quarto ano consecutivo, Chico
Pinheiro e Monalisa Perone repetiram a narração da festa, e
pela terceira vez contaram com o apoio do time de
comentaristas formado por Celso Viáfora, Ailton Graça e
Alemão do Cavaco.

Série A
Ainda em 2017, Mariana Gross ganhou a companhia de
Carlos Gil no comando das transmissões das escolas de
carnaval da Série A, nos dias 24 e 25 (apenas para o estado
do RJ), com a parceria do cantor Mumuzinho e de Leandro
Vieira, carnavalesco campeão pela Mangueira em 2016, nos
comentários.
Titular na cobertura carnavalesca há bastante tempo
como repórter, Carlos Gil havia narrado o desfile das escolas
campeãs do Rio para o G1 no ano anterior. Já Mariana é foliã
declarada e apaixonada por carnaval e desempenha várias
funções na cobertura: além de narrar pelo quinto ano
consecutivo os desfiles da Série A carioca, atuou como
repórter na cobertura da arquibancada popular nos dias de
desfile do Grupo Especial e ainda apresentou a apuração do
Rio.

Especial
No domingo e na segunda-feira de Carnaval, dias 26 e
27 de fevereiro, o Brasil todo se uniu para assistir aos desfiles
do Grupo Especial do Rio. Naquele ano de 2017, Fátima
Bernardes ganhou a companhia do apresentador esportivo
Alex Escobar na condução da transmissão. Milton Cunha e
Pretinho da Serrinha completaram o time, comentando os
desfiles.
As equipes da Globo em São Paulo e no Rio iniciaram a
cobertura do carnaval em dezembro de 2016, mostrando a
preparação dos blocos e também das escolas de samba. À
medida que se aproximava a festa, os telejornais locais
cediam mais espaço para essa manifestação em suas
coberturas, envolvendo os ensaios, trazendo a história das
agremiações e acompanhando o que estava acontecendo pela
cidade.
Em Sampa, o Bom Dia SP e o SPTV 2ª Edição ganharam
especiais sobre personagens das escolas de samba, os
sambas-enredo e as novidades do carnaval 2017.
Na Cidade Maravilhosa, o RJTV 1ª Edição criou a escola
de samba do telejornal, batizada de “Acadêmicos do RJ”. Em
dezembro, a apresentadora Mariana Gross e o carnavalesco
Milton Cunha reuniram um time de craques do Carnaval, que
rodou o Grande Rio em um ônibus personalizado em busca
de pessoas que têm habilidade para atuar como mestre-sala e
porta-bandeira, ritmista, intérprete, baiana, rainha de bateria
e passista masculino para desfilar pela escola de samba
telejornalística no Sambódromo do Rio de Janeiro, no dia 18
de fevereiro, sábado anterior ao Carnaval, com transmissão
ao vivo pelo RJ TV 2ª Edição.
Pelo Globoplay, o público pôde assistir, de graça e de
qualquer lugar do Brasil, a transmissão ao vivo da festa no
Rio, em São Paulo, Recife e Salvador. Essa foi a primeira vez
que a Globo teve quatro sinais ao vivo simultâneos
transmitidos pela plataforma. Quem perdeu os desfiles das
Escolas de Samba pôde acompanhar depois.
As íntegras das apresentações do Grupo Especial e da
Série A do Rio, e do Grupo Especial de São Paulo ficam
disponibilizadas na internet. O público também pôde assistir
a trechos dos eventos das duas cidades, além de Salvador e
de Recife.

2018

A TV Globo começou a divulgar no dia 7 de janeiro


(domingo), durante intervalo do Fantástico, a sua tradicional
vinheta Globeleza para anunciar o Carnaval de 2018. Como
no ano anterior, a dançarina Érika Moura, que protagonizou
o vídeo pelo quarto ano consecutivo, não mais aparece nua, e
sim revezando entre trajes típicos e um maiô colorido,
recortado na barriga, mas sem cavas e decote.
Para os internautas, a Globo apenas “reciclou” a vinheta
já usada em 2017. “Reprise do ano passado”, “Parabéns Rede
Globo. Só não precisava ser a mesma do ano passado. Tava
esperando coisa nova”; e “Gente, o negócio tá feio mesmo,
hein, nunca vi uma vinheta ser repetida” foram alguns dos
comentários deixados no vídeo divulgado pela emissora no
seu perfil do Instagram.
Em comunicado enviado à imprensa no dia seguinte, dia
8, a Globo afirmou que “a vinheta consolida o conceito
lançado no ano passado, de dar mais espaço aos ritmos das
festas tradicionais do país, à diversidade do povo brasileiro e
à riqueza cultural do evento”. Segundo a emissora, neste ano
(2018) foram adicionados elementos “como máscaras de baile,
bonecos de Olinda e bois de Parintins”.

Vinhetas com os sambas-enredo


A Rede Globo também decidiu alterar o formato das
vinhetas com os sambas-enredo. Não houve uma produção
especial. A emissora passou a utilizar a letra do samba como
legenda e alguns efeitos especiais gráficos surgindo na tela e
o samba como trilha sonora.
A TV Globo dedicou mais de 50 horas ao Carnaval 2018.
Além das apresentações das escolas de samba, houve
dezenas de entradas ao vivo e reportagens especiais, falando
do frevo ao axé e passando pelos blocos de rua.
Nas noites de sexta-feira e sábado, dias 9 e 10 de
fevereiro, as escolas de samba do Grupo Especial de SP
ganharam a tela da Globo. Chico Pinheiro e Monalisa Perrone
repetiram, pelo quinto ano consecutivo, a narração da festa,
que foi exibida para quase todo o país.
Mariana Gross e Carlos Gil comandaram novamente a
transmissão dos desfiles das escolas de samba da Série A do
Rio de Janeiro, também nos dias 9 e 10. Este foi o segundo e
ao mesmo tempo último ano de Gil como narrador dos
desfiles da Série A. Semanas depois, o jornalista embarcaria
para o Japão, onde passou a ser correspondente da Globo na
terra do sol nascente. Os comentaristas foram o carnavalesco
Leandro Vieira e a porta-bandeira Lucinha Nobre, que
estreou na função.
No domingo e na segunda-feira, dias 11 e 12 de
fevereiro, foi a vez dos desfiles do Grupo Especial do Rio.
Fátima Bernardes e Alex Escobar seguiram juntos na
narração pelo segundo ano consecutivo. Milton Cunha e
Pretinho da Serrinha completaram o time, comentando os
desfiles.
A transmissão da apuração dos resultados aconteceu na
quarta-feira, dia 14, às 14h30, com apresentação de Mariana
Gross e comentários de Milton Cunha. Desta vez a campeã foi
conhecida um pouco mais cedo devido a partida de futebol
entre Real Madrid x PSG, pela Liga dos Campeões da Europa,
marcada para as 16h45.

2019

A cobertura televisiva carnavalesca global acompanhou


todos os detalhes da festa, que começou oficialmente na
sexta-feira, dia 1 de março. Além dos desfiles das escolas de
samba de São Paulo e do Rio de Janeiro, houve quadros
temáticos em programas e flashes do jornalismo ao longo de
toda a programação, com a cobertura da folia em diversas
cidades de Norte a Sul.
Nas noites de sexta, e de sábado, dia 2, as escolas do
Grupo Especial de Sampa invadiram a tela da Globo. Chico
Pinheiro e Monalisa Perrone comandaram, pelo sexto ano
consecutivo, a transmissão da festa para todo o país, exceto
Rio de Janeiro. Os comentaristas novamente foram o ator
Aílton Graça e os músicos Celso Viáfora e Alemão do Cavaco.
Para o Rio de Janeiro, nesses dois dias, a Globo
transmitiu os desfiles da Série A. O fato novo foi a estreia de
Pedro Bassan, que apresentou a festa em parceria com a
veterana Mariana Gross. O jornalista já cobria a festa como
repórter havia sete anos. Leandro Vieira e Lucinha Nobre
repetiram a participação como comentaristas.
As transmissões, tanto do grupo especial da capital
paulista quanto da Série A carioca, começaram depois do Big
Brother Brasil 19.
No domingo, dia 3, e na segunda-feira, dia 4, foi a vez do
show das escolas do Grupo Especial do Rio. Pelo terceiro ano
consecutivo, Fátima Bernardes e Alex Escobar comandaram a
cobertura, ao lado de Pretinho da Serrinha e de Milton
Cunha, nos comentários.
A novidade do ano foi a localização do Estúdio Globeleza
na Sapucaí, que ficou ao lado do portão de encerramento, na
dispersão. Assim, âncoras e comentaristas puderam
entrevistar os destaques das escolas minutos após o
encerramento de cada apresentação.
A transmissão dos desfiles do Grupo Especial do Rio no
domingo começou logo após o Fantástico. Na segunda, a
apresentação dos desfiles da elite do carnaval carioca na
Globo teve início depois do BBB19.
Na tarde de terça-feira, dia 5, Carlos Tramontina
apresentou a transmissão da apuração dos desfiles do Grupo
Especial de São Paulo. Na tarde de quarta-feira, dia 6, foi a
vez de Mariana Gross capitanear a apuração do Grupo
Especial carioca.

2020

Transcorria o segundo semestre do ano de 2019 quando


a TV Globo anunciou, no mês de setembro, a renovação de
contrato com a Liesa para a compra dos direitos de
transmissão dos desfiles das escolas do Grupo Especial do
Rio de Janeiro no domingo e na segunda-feira de Carnaval
por um período de seis anos.
“A parceria das Escolas de Samba do Rio com a Globo
tem sido fundamental para manter viva uma das maiores
expressões da cultura brasileira”, afirmou à época Jorge
Castanheira, então presidente da entidade carnavalesca. “É
com este investimento dos direitos de transmissão que as
Escolas de Samba começam a estruturar todo o seu desfile”,
concluiu o dirigente.
Vale lembrar que o dinheiro que a emissora pagou a
cada escola de samba, cerca de R$ 2 milhões, foi a primeira
verba a cair na conta das agremiações.
Além da compra dos direitos de transmissão, o
investimento do império midiático global incluiu o
acompanhamento das equipes de jornalismo meses antes dos
desfiles, como definição dos enredos, escolha dos sambas e o
trabalho nos barracões das escolas em reportagens e séries
especiais nos telejornais locais e nacionais.
Como tem acontecido tradicionalmente ao longo das
últimas décadas, além dos desfiles do Grupo Especial do Rio,
a Globo também detém os direitos para a transmissão dos
desfiles das escolas de samba de São Paulo para todo o país
(exceto para o Rio de Janeiro) nas noites de sexta-feira e
sábado e, para o Rio, os desfiles da Série A. Na terça-feira de
Carnaval a emissora acompanha a apuração dos desfiles de
São Paulo e, na quarta-feira de Cinzas, a apuração do Rio de
Janeiro.
Assim, o enfoque da cobertura do Carnaval Globeleza foi
“o melhor do Carnaval 2020 em todas as plataformas da
Globo”. E realmente foi uma folia multiplataforma
mobilizando toda equipe de jornalismo da empresa e suas
afiliadas.
Os canais Globo, Globoplay, G1 e GloboNews fizeram
transmissões especiais mostrando blocos nas ruas de várias
capitais, desfiles das grandes escolas de samba, trios
elétricos em Salvador, tradição e mistura de ritmos em Recife
e Olinda.
Nas noites de sexta, dia 21 de fevereiro, e de sábado, dia
22, teve início o espetáculo das escolas de samba nos
sambódromos da Sapucaí e do Anhembi. A transmissão dos
desfiles na TV Globo começou depois do Big Brother Brasil 20.
O portal G1 e a plataforma Globoplay acompanharam a
movimentação nos Sambódromos desde o início da noite.
Na transmissão do Grupo Especial paulistano, que a
Globo exibe para todo o Brasil, menos Rio de Janeiro, uma
novidade: a jornalista Michelle Barros se juntou a Chico
Pinheiro e aos comentaristas Aílton Graça, Celso Viáfora e
Alemão do Cavaco. Cerca de 450 profissionais e 30 câmeras
mostraram todos os detalhes da festa.
Já a capital carioca nas noites de sexta e sábado
acompanhou os desfiles da Série A. O comando coube à
dupla Pedro Bassan e Mariana Gross, com comentários de
Lucinha Nobre e do jornalista Leonardo Bruno, que estreava
na cobertura global.
No domingo, dia 23, depois do Fantástico, foi a vez do
Grupo Especial do Rio, em transmissão para todo o Brasil. O
G1 e o Globoplay começaram a transmitir desde o início da
festa.
Pelo quarto ano seguido, Fátima Bernardes e Alex
Escobar apresentaram os desfiles no domingo e na segunda,
ao lado dos comentaristas Milton Cunha e Pretinho da
Serrinha. Mais de mil profissionais estiveram no
Sambódromo e 30 câmeras estiveram espalhadas ao longo da
passarela.
Um detalhe: em função da engessadíssima grade de
programação, desde 2017 a Globo tem mostrado os desfiles
do Grupo Especial do Rio ao vivo e na íntegra apenas a partir
da segunda escola. As agremiações que abrem o desfile tanto
no domingo quanto na segunda-feira podem ser vistas em
tempo real somente pelo G1 e pelo Globoplay. Na TV Globo,
cabe aos telespectadores ver uma reprise das primeiras
escolas em forma de compacto logo após o desfile da última
entidade de cada respectivo dia.
Para o carnaval de 2020, a Liesa fez mudanças no
regulamento: reduziu em cinco minutos o tempo mínimo de
máximo de desfile. A apresentação de cada agremiação
passou a ser de 60 a até 70 minutos, no máximo.
Diminuiu-se também o número de alegorias (de cinco
para quatro carros) e de cabines de jurados, encurtando de
quatro para três o número de paradas para exibição aos
julgadores, para se adequar não só à modernidade, como
também a um pedido antigo que a Globo fazia para as
apresentações na Sapucaí caberem melhor na sua grade de
programação.
Os dias de conhecer os campeões do Carnaval
permanecem sendo na terça e na quarta. A Globo transmitiu
a apuração do desfile paulista apenas para o estado de São
Paulo, na tarde de terça, dia 25. No Carnaval carioca, os
envelopes com as notas foram abertos na quarta-feira de
Cinzas, dia 26, para todo o país. As equipes de reportagem
foram distribuídas pelas quadras das escolas de samba mais
cotadas aos títulos para acompanhar toda a emoção dos
integrantes.
E no sábado, dia 29, o melhor do carnaval carioca voltou
a desfilar em clima de consagração. A página especial de
Carnaval do portal G1 (https://g1.globo.com/carnaval/2020)
e Globoplay transmitiu, ao vivo, a partir das 21h30, o Desfile
das Campeãs do Rio, com apresentação de Diego Haidar,
comentários de Daniel Targuetta e participação de Milton
Cunha direto da Sapucaí.
No Globoplay e no G1 também foi possível acompanhar,
ao vivo e de graça, o melhor do Carnaval do Rio, de São
Paulo, dos trios elétricos de Salvador, dos blocos mais
tradicionais de Pernambuco pelas ruas e ladeiras de Recife e
Olinda, além do carnaval de rua de Belo Horizonte e
Maranhão. As íntegras dos desfiles das escolas do Rio e de
São Paulo ficam disponíveis no Globoplay para quem quiser
rever sua escola favorita na plataforma de streaming.
GLOBO RIO DE JANEIRO (equipes de 2010
a 2020)
Narração: Alex Escobar, Carlos Gil, Fátima Bernardes, Glenda
Kozlowski, Luiz Roberto, Mariana Gross e Pedro Bassan; Diego
Haidar (Portal G1 – Desfile das Campeãs 2020).
Comentários: Arlindo Cruz, Chico Spinoza, Deborah Colker,
Eri Johnson, Fernanda Abreu, Geraldo Carneiro, Haroldo Costa,
Helio de La Peña, Leandro Vieira, Leonardo Bruno, Lucinha Nobre,
Milton Cunha, Mumuzinho, Pedro Luís, Pretinho da Serrinha e
Teresa Cristina; Daniel Targuetta (Portal G1 – Desfile das Campeãs
2020).
Reportagens: Alex Escobar, Ana Carolina Raimundi, Ana Luiza
Guimarães, André Curvello, André Luiz Azevedo, Ari Peixoto, Bette
Lucchese, Carlos De Lannoy, Carlos Gil, Carol Barcellos, Danilo
Vieira, Diego Haidar, Edmilson Ávila, Fábio Judice, Fernanda Graell,
Flávia Jannuzzi, Flavio Fachel, Gabriela de Palhano, Hélter Duarte,
Isabella Scalabrini, Lília Teles, Márcio Gomes, Mariana Gross, Milton
Cunha, Mônica Sanches, Mônica Teixeira, Paulo Renato Soares,
Pedro Bassan, Régis Rösing, Renata Capucci, Renato Ribeiro, Sandra
Moreyra, Silvana Ramiro, Susana Naspolini, Tatiana Nascimento,
Tiago Eltz e Vandrey Pereira.
Estúdio Globeleza: Ana Paula Araújo.

Lounge Globeleza: Tiago Leifert.

GLOBO SÃO PAULO (equipes de 2010 a


2020)
Narração: Chico Pinheiro, Cléber Machado, Mariana Ferrão,
Mariana Godoy, Michelle Barros e Monalisa Perrone.
Comentários: Ailton Graça, Alemão do Cavaco, Celso Viáfora,
Chico Pinheiro, Fernanda Chamma, Geraldo Carneiro, Guto Graça
Mello, Lecy Brandão, Maurício Kubrusly, Negra Li e Paula Lima.

Reportagens: Abel Neto, Alan Severiano, Alberto Gaspar,


André Azeredo, Carla Modena, César Menezes, Daiana Garbin, Fábio
Turci, Fernando Rocha, Filippo Mancuso, Gloria Vanique, Graziela
Azevedo, Izabella Camargo, Jose Roberto Burnier, Marcio Canuto,
Maria Júlia Coutinho, Mariana Ferrão, Maurício Kubrusly, Michelle
Barros, Michelle Loreto, Monalisa Perrone, Nathalia Ariede, Patrícia
Taufer, Phelipe Siane, Renata Ribeiro, Rodrigo Alvarez, Sabina
Simonato, Tiago Eltz, Veruska Donato e Walace Lara.

Logo após o final do carnaval de 2020 o mundo


conheceu uma doença surgida na China com graves
consequências no contexto universal. No dia 11 de março, a
Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou pandemia do
novo coronavírus, chamado de Sars-Cov-2.
A doença provocada pelo vírus ganhou o nome de Covid-
19, uma doença infecciosa que atingiu esse patamar por
afetar um grande número de pessoas espalhadas pelo
mundo. Na semana em que a OMS decretou a pandemia,
havia mais de 118 mil infecções em 114 nações, sendo que
4.291 pessoas tinham perdido a vida.
Com isso, o cenário carnavalesco virou do avesso:
desfiles fora de época cancelados em várias cidades, quadras
de ensaios fechadas, eventos suspensos, trabalhadores
(principalmente os da área artística e de eventos) sem
trabalho. Algumas escolas recorreram às lives, além de
feijoadas e rodas de sambas virtuais. Houve até disputas de
samba-enredo on line. O que se esperar do carnaval nos
próximos anos?
CAPÍTULO 9 – COMO SERÁ O
AMANHÃ?

O carnaval de 2021 é cancelado devido a pandemia da Covid-


19; disputas virtuais de samba-enredo; o samba entra na
onde dos realities shows; programação do “novo normal” e o
melhor do carnaval; a era das lives e o #fiqueemcasa; Seleção
do Samba.

Como será o amanhã


Responda quem puder
O que irá me acontecer
O meu destino
Será como Deus quiser
“O Amanhã” (João Sérgio) – Samba-enredo da GRES
União da Ilha do Governador 1978.
m tweet. Foi através de um texto de 280

U caracteres no seu perfil da rede social Twitter, no


dia 21 de janeiro, que o prefeito da cidade do Rio
de Janeiro, Eduardo Paes (DEM), anunciou o
cancelamento dos desfiles de carnaval
programados para julho de 2021.
Previstos para o mês de fevereiro, blocos de rua e
desfiles na Sapucaí haviam sido adiados, e a prefeitura
estudava se poderiam ser realizados no meio do ano, caso a
pandemia do novo coronavírus estivesse sob controle.
Em uma sequência de postagens nas suas redes sociais,
o prefeito disse “ser impossível” preparar a cidade para a
festa fora de hora, mesmo com a vacinação contra a Covid-19
em curso.
Pelo calendário litúrgico cristão, o carnaval 2021 estava
previsto para acontecer de 13 a 16 de fevereiro (de sábado a
terça). Mas, por causa da pandemia, os desfiles na Sapucaí e
os blocos autorizados haviam sido inicialmente adiados para
julho.
“Nunca escondi minha paixão pelo carnaval e a visão
clara que tenho da importância econômica dessa
manifestação cultural para nossa cidade. No entanto, me
parece sem qualquer sentido imaginar a essa altura que
teremos condições de realizar o carnaval em julho”, destacou
Paes.
“Essa celebração exige uma grande preparação por parte
dos órgãos públicos e das agremiações e instituições ligadas
ao samba. Algo impossível de se fazer nesse momento. Dessa
forma, gostaria de informar que não teremos carnaval no
meio do ano em 2021”, completou o chefe do executivo
municipal carioca.
Segundo declarou Eduardo Paes, com todos vacinados,
o carnaval “deve voltar a acontecer em 2022”. Parece até uma
ironia do destino: enquanto Marcelo Crivella, seu antecessor
no Palácio da Cidade, em quatro anos fez de tudo para
terminar com a festa, coube justamente a Eduardo Paes, um
reconhecido apaixonado por carnaval, ter que descartar a
realização da folia em 2021.
A suspensão da festa foi mais um golpe duro nas
agremiações carnavalescas que se encontravam com sua
receita parada desde março de 2020 por conta de uma
pandemia que passou a assolar o mundo inteiro e que trouxe
consequências desastrosas para todos os segmentos da
economia, especialmente o de entretenimento.
Em São Paulo, o prefeito Bruno Covas (1980 - 2021), do
PSDB, em julho de 2020, decidiu adiar o carnaval de rua e os
desfiles das escolas de samba de 2021 da capital paulista
devido à pandemia do coronavírus. A nova data ainda não
havia sido definida, mas, no caso dos desfiles, a Liga das
Escolas de Samba de São Paulo chegou a propor que a festa
fosse realizada em julho.
A data da folia paulistana estava mantida até a sexta-
feira de carnaval, quando Covas, em 12 de fevereiro, também
confirmou o cancelamento da festa no Sambódromo do
Anhembi, três semanas depois das postagens de Eduardo
Paes.

DISPUTAS VIRTUAIS DE SAMBA-ENREDO

Por conta de todas as restrições impostas pelas


autoridades de saúde, as escolas de samba resolveram inovar
na escolha de samba-enredo para o carnaval inicialmente
previsto para 2021, mesmo sem a certeza da realização do
espetáculo.
Muitas agremiações acabaram recorrendo aos concursos
virtuais. A transição para o meio digital teve como objetivo
evitar as aglomerações, desautorizadas pelos protocolos
sanitários oficiais.

Série Ouro

A largada foi dada pela Unidos de Padre Miguel. Em


abril de 2020, a escola da agora rebatizada Série Ouro (antiga
Série A, a segunda divisão do carnaval do Rio de Janeiro)
definiu o formato de sua disputa, ao divulgar o enredo Iroko –
É Tempo de Xirê, que conta a história da Árvore-Orixá.
Após um calendário de cinco lives (apresentação das
obras concorrentes, duas eliminatórias, semifinal e final) a
UPM foi a primeira a escolher o samba-enredo após ter
repensado o formato do concurso. O hino, de autoria de
Chacal do Sax, Sidney Myngal, Jota Ilhabela, Felipe Mussili,
Alexandre Rivero, Júnior Diniz e Gabriel Simões, foi escolhido
em live realizada na quadra em Vila Vintém, zona oeste do
Rio, no dia 1 de agosto de 2020 e transmitida pela internet no
canal da escola no YouTube.
Após a UPM outras escolas da Série A também
escolheram sambas em disputas digitais em suas quadras
transmitidas pelo canal Fitamarela em parceria com os
respectivos canais de cada escola: Acadêmicos do Cubango
(Onilé Cubango), Império da Tijuca (Samba de Quilombo: a
Resistência Pela Raiz) e Império Serrano (“Mangangá”). A
Unidos do Porto da Pedra (O Caçador Que Traz Alegrias)
lançou seus sambas concorrentes na internet, e concluiu o
processo de escolha em fevereiro de 2021.
A Acadêmicos do Cubango chegou a realizar disputa
virtual de sambas para o tema Onilé Cubango, sobre
divindade feminina no Candomblé, que representa a “senhora
da terra”. No entanto, no mês de junho de 2021, anunciou a
troca do enredo para uma homenagem à atriz Chica Xavier
(1932 - 2020), com o título O Amor Preto Cura: Chica Xavier, a
Mãe Baiana do Brasil. Como as eliminatórias e a final
aconteceram em um período em que a vacinação contra a
Covid 19 avançava e o governo do Rio de Janeiro autorizou
uma gradual abertura de eventos nas quadras, a verde e
branco de Niterói abriu as portas de sua sede com todos os
protocolos sanitários sendo obedecidos, incluindo exigência
de uso de máscara e comprovação de estar em dia com a
imunização contra o coronavírus.
A União da Ilha do Governador inicialmente anunciou
que iria reeditar o enredo Fatumbi, a Ilha de Todos os Santos,
apresentado no Carnaval 1998, quando obteve a 9ª colocação
no Grupo Especial. No entanto, a direção da tricolor insulana
decidiu por um enredo inédito para o desfile de 2022, O
Vendedor de Orações. A Ilha foi a última escola da Série Ouro
a escolher o samba e o anúncio do enredo aconteceu em
agosto de 2021. A Ilha designou o samba vencedor dois
meses depois, no dia 12 de outubro, dia de Nossa Senhora de
Aparecida, a santa padroeira do Brasil.
Outras seis escolas optaram por não realizar disputa de
samba e decidiram por encomendar o hino às suas alas de
compositores ou a autores convidados. Foi o caso da Lins
Imperial em Mussum Pra Sempris – Traga o Mé Que Hoje Com
a Lins Vai Ter Muito Samba no Pé!, em homenagem ao
sambista e eterno trapalhão Antônio Carlos Bernardes
Gomes, o Mussum (1941 – 1994); Unidos da Ponte (Santa
Dulce dos Pobres – O Anjo Bom da Bahia); Unidos de Bangu
(Deu Castor na Cabeça!); Acadêmicos do Sossego (Visões
Xamânicas); Inocentes de Belford Roxo (A Meia-Noite dos
Tambores Silenciosos), e Acadêmicos de Vigário Geral
(Pequena África: da Escravidão ao Pertencimento, Camadas de
Memórias Entre o Mar e o Morro).
Dois pavilhões decidiram pela reedição de sambas
anteriormente já levados à avenida: Em Cima da Hora e
Estácio de Sá.
A ECDH optou por reapresentar o enredo 33, Destino
Dom Pedro II, que conferiu à agremiação do bairro de
Cavalcanti, em 1984 (ano da inauguração do sambódromo da
Sapucaí), o Estandarte de Ouro de Melhor Samba no antigo
Grupo 1B e o terceiro lugar na segunda divisão, fazendo com
que a entidade retornasse ao Grupo Especial no ano seguinte.
Já a vermelha e branca do bairro do Estácio resolveu
novamente homenagear o Clube de Regatas Flamengo. O
rubro-negro virou samba em 1995, quando o berço do samba
comemorou o centenário da fundação do clube carioca. Desta
vez, com Cobra-Coral, Papagaio Vintém, Vesti Rubro Negro Não
Tem Pra Ninguém, a letra foi readaptada para celebrar o ano
de 2019, um dos mais vitoriosos da história do Mengão.
A Acadêmicos de Santa Cruz demorou em decidir se
haveria disputa virtual ou se iria recorrer à encomenda de
samba. A escola, que no Carnaval de 2022 definiu
homenagear o ator, diretor e produtor Milton Gonçalves, com
o enredo Axé Milton Gonçalves! No Catupé da Santa Cruz,
preferiu encomendar o samba aos compositores Samir
Trindade, Júnior Fionda, Elson Ramires e Rildo Seixas.

O Especial tá on

Mesmo ainda sem a garantia da realização do carnaval


em 2021, algumas escolas do Grupo Especial iniciaram no
mês de novembro de 2020 as eliminatórias dos concursos de
samba enredo com transmissão pela internet. Foi o caso dos
Acadêmicos do Salgueiro, com o enredo Resistência.
Portela (Igi Osè Baobá) e Mocidade Independente de
Padre Miguel (Batuque ao Caçador) deram início às
respectivas eliminatórias na segunda quinzena de janeiro de
2021.
No entanto, após a Prefeitura do Rio ter anunciado no
dia 21 de janeiro o cancelamento dos desfiles previstos para o
mês de julho, as agremiações anunciaram a suspensão das
disputas por tempo indeterminado.
Na contramão das coirmãs, a Estação Primeira de
Mangueira e a Imperatriz Leopoldinense decidiram continuar
os concursos virtuais e ocupar o mês tradicionalmente
carnavalesco de fevereiro com uma folia possível de se
realizar. Por meio de lives, as escolas realizaram as
apresentações dos sambas concorrentes levando Carnaval
para as casas dos foliões.
A Rainha de Ramos realizou no dia 7 de fevereiro uma
live em sua quadra com a apresentação dos 15 sambas
concorrentes ao enredo Meninos Eu Vivi... Onde Canta o
Sabiá, Onde Cantam Dalva e Lamartine, em homenagem ao
cenógrafo, figurinista e carnavalesco Arlindo Rodrigues (1931
- 1987). A transmissão se deu através do canal da verde e
branca no YouTube e da produtora Fitamarela.
Já a Mangueira marcou para os dias 14, 15 e 16 de
fevereiro, respectivamente, domingo, segunda e terça de
Carnaval, o “Viradão da Verde e Rosa”. O evento já estava
programado para o mês, mas teve sua data adaptada por
conta dos dias de Carnaval. A live aconteceu sem público,
transmitida de forma gratuita pelo canal da verde e rosa no
Youtube. Na programação, a escola apresentou clássicos do
repertório mangueirense e também as composições inscritas
na disputa de sambas do enredo Angenor, José e Laurindo,
iniciando o processo de seleção de escolha do samba oficial.
As demais escolas Unidos do Viradouro (Não Há Tristeza
Que Possa Superar Tanta Alegria), Beija-Flor de Nilópolis
(Empretecer o Pensamento É Ouvir a Voz da Beija-Flor),
Paraíso do Tuiuti (Soltando os Bichos), Unidos da Tijuca
(Waranã, a Reexistência Vermelha), Acadêmicos do Grande
Rio (Fala, Majeté! Sete chaves de Exu) e Unidos de Vila Isabel
(Canta, Canta, Minha Gente! A Vila É de Martinho!)
inicialmente disponibilizaram as obras concorrentes apenas
na internet e aguardavam datas de disputa.
A Paraíso do Tuiuti desistiu do desfile anteriormente
anunciado para 2021 sobre defesa dos animais (Soltando os
Bichos) e no dia 10 de abril, em live que celebrou os 69 anos
de fundação da escola, o carnavalesco Paulo Barros divulgou
o novo enredo da escola para o carnaval de 2022. Tratava-se
de Ka Ríba Tí Ye – Que Nossos Caminhos Se Abram, enredo de
temática afro sobre “histórias de luta, sabedoria e resistência
negra”.
Outra escola que trocou de tema foi a São Clemente. A
amarelo e preto decidiu homenagear o ator e humorista Paulo
Gustavo (1978 - 2021), uma das milhares de vítimas da
Covid-19 no país. A agremiação mudou o enredo, que antes
seria Ubuntu, palavra africana que significa humanidade e
que traz em sua essência a busca pelo bem-estar coletivo,
para Minha Vida É Uma Peça, fazendo referência ao
espetáculo e filme “Minha Mãe é Uma Peça”, um dos maiores
sucessos da carreira do artista.

Sampa também em conexão

Na Pauliceia, várias escolas também recorreram aos


concursos virtuais para a escolha de seus sambas para o
carnaval pós-pandemia. A maioria das disputas on-line teve
início no mês de agosto de 2020.
As primeiras agremiações da capital paulista a escolher
seus hinos no formato digital foram a Mancha Verde (Planeta
Água), Colorado do Brás (Carolina, a Cinderela Negra do
Canindé) e a Unidos do Peruche (Água, Divinas Bênçãos), esta
última disputa o Grupo de Acesso 2, o equivalente à terceira
divisão do carnaval paulistano.
Também realizaram eliminatórias e finais através de
transmissões pela internet as escolas de samba Rosas de
Ouro (Sanitatem), Mocidade Alegre (Quelémentina Cadê
Você?), Barroca Zona Sul (A Evolução Está na Sua Fé. Saravá
Seu Zé!), Camisa Verde e Branco (Na Fé do Trevo, Eu Te
Benzo. Na Fé do Trevo, Te Curo. Rezadeiras) e Leandro de
Itaquera (No Ecoar dos Tambores e no Feitiço da Leandro – De
Dahomé às Terras da Encantaria, o Cortejo da Rainha Jeje e
os Segredos de Xelegbtá).
No início de agosto de 2021, a Dragões da Real desistiu
do enredo O Dia em que a Terra Parou, título inspirado em
uma música do cantor e compositor Raul Seixas, e um dos
enredos inspirados pela pandemia de Covid-19. A ideia era
imaginar um cenário quase apocalíptico, em que as pessoas
passassem a valorizar gestos e atividades esquecidas no ritmo
frenético da vida pré-pandemia. Semanas depois, a escola
anunciou como tema Adoniran, uma homenagem ao sambista
e compositor paulista Adoniran Barbosa (1910 - 1982). O
samba da Dragões foi encomendado aos compositores Thiago
SP, Léo do Cavaco, Renne Campos, Marcelo Adnet, Darlan
Alves, Rodrigo Atração, Alemão do Pandeiro, Wanderley
Monteiro, Paulo Senna, André Carvalho e Tigrão, trupe que
havia vencido a disputa para o enredo previsto para 2021 e
posteriormente suspenso.
Algumas agremiações de São Paulo optaram por fazer
grandes espetáculos no formato drive-in transmitidos por
lives, seguindo todos os protocolos sanitários estipulados pela
OMS, como foram os casos da campeã do carnaval de São
Paulo em 2020, Águia de Ouro (Águas de Oxalá), Gaviões da
Fiel (Basta!) e Vai-Vai, que assim lançou o enredo Sankofa,
cujo samba só foi escolhido no mês de agosto de 2021.
Houve escolas que preferiram escolher o samba através
de audições internas com os setores da escola e divulgar os
hinos nas redes sociais, como foi o caso de Acadêmicos do
Tatuapé (Preto Velho Canta a Saga do Café num Canto de Fé)
e Tom Maior (O Pequeno Príncipe no Sertão).
E como de costume, também houve espaço para os
sambas encomendados. Acadêmicos do Tucuruvi apresentou
o samba Carnavais… De Lá Pra Cá o que Mudou? Daqui Pra
Lá o que Será?, de autoria de Diego Nicolau, Marcelo Chefia,
Rodrigo Minuetto, Rodolfo Minuetto e Leonardo Bessa,
através de uma live-show.
Já a Unidos de Vila Maria optou por não fazer um
concurso para o enredo O Mundo Precisa de Cada um de Nós.
A Vila é Porta-Voz e recorreu a um samba encomendado que
foi lançado no mês de julho de 2020 pelas redes sociais da
entidade. A obra foi assinada pelos compositores Dudu
Nobre, Zé Paulo Sierra e Diego Nicolau.
Última escola do grupo especial de São Paulo a divulgar
o tema para o carnaval de 2022, o Império de Casa Verde
resolveu se inspirar no influenciador digital Carlinhos Maia.
O enredo escolhido, O Poder da Comunicação: Império, o
Mensageiro das Emoções, tem como principal homenageado o
humorista, empresário e influencer alagoano, detentor de
mais de 22 milhões de seguidores na rede social Instagram. O
anúncio aconteceu em uma live realizada em setembro e
transmitida direto da nova quadra da escola, localizada na
Zona Norte de São Paulo, que também foi apresentada para o
público. O foco para o carnaval do “Tigre” foi a forma como
Carlinhos se comunica, considerado um dom e uma forma de
falar da história da humanidade. O samba, encomendado
pela diretoria da escola, teve a assinatura de André Diniz,
Claudio Russo, Diego Nicolau, Samir Trindade, Fabiano
Sorriso, Darlan Alves e Marcelo Casa Nossa.

A CASA MAIS VIGIADA DO CARNAVAL DE SP


Que tal ficar isolado em uma casa e ser vigiado por
milhares de pessoas? Bem, não estamos falando de reality
show como o Big Brother Brasil, da Rede Globo, e muito
menos de A Fazenda, da TV Record. Trata-se de outro
programa de realidade que teve como objetivo entreter os
apaixonados pelo carnaval paulistano: Carnaval Wall, o
primeiro programa do gênero voltado para o samba.
O Carnaval Wall, batizado como o “reality show do
samba”, reuniu na primeira temporada 14 personalidades
das agremiações do grupo especial de São Paulo, em uma
dinâmica que contou com provas individuais e em grupo,
sendo que ao final de cada episódio, todos eram avaliados
pelos expectadores através de uma votação on-line.
Os selecionados para a competição foram: Bruna
“Negreska” de Jesus, musa da Tom Maior; Brunetty Montila,
destaque da Império de Casa Verde; Daniel Oliveira, mestre-
sala da Saudosa Maloca; Flávia Capela, musa da Gaviões da
Fiel; Isadora Salles, rainha juvenil do Carnaval SP e princesa
de bateria da Dragões da Real; Jhonata Henrique, passista da
Nenê de Vila Matilde; João Arruda, passista da Vai-Vai;
Kakáh Morena, destaque da Imperador do Ipiranga; Rafael
Paulo “Mestre Rafa”, diretor de bateria da Rosas de Ouro;
Robério Theodoro, 1° Rei Momo Magro SP, coreógrafo da
comissão de frente da Pérola Negra e Rei da Mocidade Alegre;
Rodolfo Massera, destaque e profissional de ateliês; Ruhanan
Lucas, mestre-sala da Colorado do Brás; Sérgio Cordeiro,
integrante da comissão de frente da Mocidade Unida da
Mooca, e Waleska Gomes, porta-bandeira da Acadêmicos do
Tucuruvi.
A grande vencedora da primeira edição do reality show
do samba foi Bruna Negreska. A musa da Tom Maior
disputou a preferência do público com Waleska Gomes, que
ficou em segundo lugar. Além delas, foram para a última
etapa Isadora Salles e Rodolfo Massera. Os quatro
acumularam maior pontuação no decorrer do programa e
fizeram a grande final. O resultado foi anunciado em uma
transmissão ao vivo no canal oficial do programa no
YouTube, na noite de 30 de março, uma terça-feira.
Na primeira temporada foram realizados 16 episódios,
gravados ao longo de quatro semanas, em uma casa na
cidade de Mairiporã, na região da grande São Paulo. O super
vencedor ganhou uma viagem de cruzeiro com acompanhante
(para ser usufruída após o abrandamento da pandemia), R$ 5
mil em dinheiro e um prêmio surpresa.
O programa teve início no dia 16 de fevereiro, com
transmissão via YouTube e no site do programa
(www.carnavalwallsp.com.br). A modelo e atriz Mariana
Rodrigues, musa do Vai-Vai, foi a apresentadora da atração.

LIGA-SP REEXIBE 34 DESFILES DURANTE O


CARNAVAL 2021

Uma maratona de desfiles para prender os saudosos do


carnaval de avenida na frente das telas dos computadores,
celulares e TVs Smart durante os quatro dias do carnaval no
calendário cristão. É o que prometeu a Liga Independente das
Escolas de Samba de São Paulo (Liga-SP) para suprir o vazio
de desfiles no Anhembi em 2021.
Sem a agenda do pré-Carnaval e sem o Desfile das
Escolas de Samba, fevereiro ficou vazio. Por isso, a Liga-SP
reexibiu 34 desfiles nos dias 12, 13, 14 e 15 de fevereiro,
datas em que o espetáculo das agremiações ocuparia o
sambódromo do Anhembi em 2021. A ação foi transmitida ao
vivo pelo canal do YouTube e redes sociais da entidade
organizadora do Carnaval, em ordem e horário sorteados para
o próximo desfile oficial.
A partir das 23h15 do dia 12 de fevereiro (sexta-feira), a
transmissão teve Acadêmicos do Tucuruvi e avança pela
madrugada com Colorado do Brás, Mancha Verde, Tom
Maior, Unidos de Vila Maria, Acadêmicos do Tatuapé e
Dragões da Real.
No sábado (13), às 22h30, foi a vez da reexibição dos
desfiles com Vai-Vai, e depois Gaviões da Fiel, Mocidade
Alegre, Águia de Ouro, Barroca Zona Sul, Rosas de Ouro e
Império de Casa Verde, fechando o grupo Especial.
Já no domingo (14), a campeã do Acesso II, Morro da
Casa Verde, abriu a transmissão, às 21h. Em seguida, foram
reexibidos os desfiles do Camisa Verde e Branco, Mocidade
Unida da Mooca, Independente Tricolor, Estrela do Terceiro
Milênio, X-9 Paulistana, Leandro de Itaquera e Pérola Negra,
que encerrou o grupo de Acesso.
Brinco da Marquesa iniciou a transmissão ao vivo dos
desfiles do grupo de Acesso II na segunda-feira (15), às 20h.
A programação avançou a madrugada com Camisa 12,
Uirapuru da Mooca, Primeira da Cidade Líder, Unidos de
Santa Bárbara, Torcida Jovem, Nenê de Vila Matilde, Unidos
do Peruche, Imperador do Ipiranga, Amizade Zona Leste,
Tradição Albertinense e Dom Bosco de Itaquera.
A reexibição dos desfiles marcou a comemoração dos 30
anos de inauguração do sambódromo do Anhembi. As
próprias agremiações elegeram desfiles que passaram pela
Avenida nos últimos 30 Carnavais.

OLHA O BOI COM ABÓBORA

Olha o boi com abóbora


Ele vai chifrar
O bicho tá solto
Pode te pegar
(Dodô Marujo e Zeca do Varejo)
Esse é um dos refrães do saboroso samba-enredo da
simpaticíssima GRES Em Cima da Hora do Carnaval de
1981, Boi Bumbá com Abóbora, dos compositores Dodô
Marujo e Zeca do Varejo. O enredo, na época, propunha uma
sátira em que o carnavalesco Ney Roriz criticava os desfiles
das grandes escolas de samba por serem muito parecidos
entre si e sem mostrarem novidades.
Já “boi com abóbora” é um jargão do meio carnavalesco
que significa que um samba é ruim, confuso, medíocre, de
má qualidade. Também é o nome de um canal no YouTube
mantido pelo carnavalesco André Rodrigues e pelos
jornalistas e escritores Fabio Fabato e João Gustavo Melo
que, com muita descontração, foca na paixão pelas escolas de
samba.
Pois o canal Boi Com Abóbora exibiu desfiles históricos
das escolas de samba do Grupo Especial nos dias em que o
Grupo de Acesso passaria pela Avenida, 12 e 13 de fevereiro,
a partir das 21h. Era a transmissão “Boi Beleza”, em uma
óbvia referência ao Carnaval Globeleza.
Os carnavais que passaram na Sapucaí voltaram para
uma disputa de tira-teima como se estivessem desfilando ao
vivo. E, tal qual uma transmissão de televisão, cada ala e
carro alegórico receberam comentários ao vivo.
As apresentações ocorreram na ordem do último sorteio
da Liesa e os 40 julgadores convidados deram nota nos
tradicionais dez quesitos da folia real (samba, bateria,
mestre-sala e porta-bandeira, comissão de frente, harmonia,
evolução, conjunto, alegorias e adereços, fantasias e enredo).
Na Quarta-Feira de Cinzas (dia 17), haveria a apuração para
a escolha da grande campeã virtual.
No júri de convidados, nomes como os jornalistas Any
Cometti (G1), Eugênio Leal (ESPN e Fox Sports), João Paulo
Saconi (O Globo), Lucas Prata Fortes (Revista Época), Pedro
Ivo Almeida (UOL e ESPN), Pedro Willmesdorf (O Globo),
Rafael Moraes (O Estado de São Paulo) e Rômulo Tesi (Band),
além de sambistas como Eryck Quirino, Leonardo Bessa e
Milena Wainer, entre outros. Na presidência do corpo de
jurados, o jornalista Rodrigo Hilário, que já integrou o júri
oficial do carnaval carioca.
Além dos mapas oficiais com quatro graus por quesito,
um prêmio especial, nos moldes do Estandarte de Ouro
promovido pelo jornal O Globo, também seria entregue para
as melhores apresentações. A pesquisadora Rachel Valença, o
jornalista Aydano André Motta e o professor Felipe Ferreira,
idealizador do Centro de Referência do Carnaval (UERJ),
lideraram um debate e o julgamento da premiação.

MODELO DE TRANSMISSÃO

Após votação com internautas, foram eleitos 12 desfiles


concorrentes de todas as escolas de samba do Grupo
Especial. O detalhe é que nenhum deles terminou campeão
em seus anos de origem. Todos foram exibidos com um som
ambiente e com nova narração e análises, como se estivessem
acontecendo de verdade.
A apresentação ficou a cargo de Fabato, com
comentários de Rodrigues, Melo e dos produtores culturais
Adriano Machado, Thayssa Menezes e Thiago Lacerda. A
programação do “Boi Beleza” ficou assim estabelecida:

Sexta-feira (dia 12), a partir das 21h:

1- Imperatriz Leopoldinense 1996 (Imperatriz


Leopoldinense Honrosamente Apresenta Imperatriz
Leopoldina);
2- Mangueira 2017 (Só Com a Ajuda do Santo)
3- Salgueiro 2007 (Candaces)
4- São Clemente 2015 (A Incrível História do Homem que
Só Tinha Medo…Fernando Pamplona)
5- Viradouro 1998 (Orfeu, o Negro do Carnaval)
6- Beija-Flor 1986 (O Mundo É Uma Bola)

Sábado (dia 13), a partir das 21 horas:

1- Tuiuti 2018 (Meu Deus, Meu Deus, Está Extinta a


Escravidão?)
2- Portela 1995 (Gosto Que Me Enrosco)
3- Mocidade Independente 1997 (De Corpo e Alma na
Avenida)
4- Unidos da Tijuca 2004 (O Sonho da Criação e a
Criação do Sonho: a Arte da Ciência Tempo do Impossível)
5- Grande Rio 2006 (Amazonas: Delírios e Verdades do
Eldorado Verde)
6- Vila Isabel 1993 (Gbalá, Viagem ao Templo da
Criação)

Terça-feira (dia 16), a partir das 19 horas:

- Live com a entrega dos prêmios especiais (no canal Boi


com Abóbora do YouTube)

Quarta-feira (dia 17), às 16 horas:


- Apuração dos resultados.
No entanto, teve gente que não gostou nada da
brincadeira. A alegria foi interrompida na madrugada do
domingo, dia 14. O “Boi Beleza”, que alcançou recorde de
audiência na sexta, dia 12, teve sua live no YouTube
derrubada por intermédio da TV Globo. Motivo: direitos
autorais relativos aos desfiles históricos que estavam sendo
exibidos.
Com isso, o canal “Boi com Abóbora” teve sua conta na
rede social suspensa por tempo indeterminado. A live, que
transmitia a segunda noite de desfiles históricos de escolas
do Grupo Especial, caiu no momento em que começou o
programa Desfile Número 1 Brahma – o especial de Carnaval
da TV Globo quando ainda faltavam as apresentações de
Unidos da Tijuca de 2004 e Vila Isabel de 1993. A
transmissão da Liga SP, que exibia desfiles marcantes de São
Paulo, fez uma pausa na sua live durante o programa da
Globo e retomou a transmissão depois que acabou.
O canal do Boi foi restabelecido na terça-feira, dia 16,
com o anúncio dos vencedores do Duju de Ouro – uma versão
do Estandarte de Ouro, do jornal O Globo, só que
patrocinado pela marca de geleia de pimenta Duju. Os
jurados elegeram os melhores em categorias especiais. A Vila
Isabel venceu como melhor escola.
A leitura das notas foi realizada na Quarta-Feira de
Cinzas, dia 17, como manda a tradição. A Imperatriz
Leopoldinense de 1996 ficou com o título do Boi Beleza 2021.
No mês de julho do mesmo ano, os organizadores do canal
promoveram o “Boi Careta”, a versão micareta do Boi Beleza,
desta vez com a participação de 17 agremiações, contando as
12 do Grupo Especial mais cinco convidadas: União da Ilha,
Império Serrano, Caprichosos de Pilares, Estácio de Sá e
Porto da Pedra.
GLOBO: PROGRAMAÇÃO DO “NOVO NORMAL” E O
MELHOR DO CARNAVAL

Aos 44 minutos do 2º tempo, a detentora dos direitos


exclusivos de transmissão dos dois principais desfiles de
escolas de samba no Brasil deu um alento aos amantes da
folia. A TV Globo anunciou no dia 9 de fevereiro (portanto, 4
dias antes do carnaval no calendário cristão) a exibição de
um programa reunindo os melhores momentos dos 30
desfiles que marcaram a história do carnaval. Para curtir em
casa, sem aglomerar.
Foram apresentados 15 desfiles em compacto no
sábado, dia 13 de fevereiro, após o programa Altas Horas, e
15 compactos de cortejos no domingo, dia 14, depois do
BBB21.
A escolha dos sambas foi feita por curadores
especializados com apoio das ligas do Rio e de São Paulo,
além das próprias escolas de samba. A apresentação ficou a
cargo do ator Ailton Graça e do carnavalesco Milton Cunha,
com direção de Boninho.
Durante as duas madrugadas, o público pôde eleger os
melhores desfiles de todos os tempos, de cada estado, por
uma votação no portal GShow, cujo resultado foi anunciado
ao final da transmissão de domingo, com os vencedores
sendo: Gaviões da Fiel (2003, São Paulo) e Beija-Flor (1989,
Rio de Janeiro).
Assim, a Globo não deixou o carnaval passar em branco.
Foi a única emissora de televisão aberta do país que acenou
com algo do gênero no período da folia. No entanto, o
compacto da participação histórica das escolas de São Paulo
e do Rio de Janeiro deixou muito a desejar

Sai a Globeleza entra a Brahma


O programa não teve a costumeira marca “Carnaval
Globeleza” e se chamou Desfile Número 1 da Brahma. O
projeto foi feito pela TV Globo em conjunto com a agência de
publicidade Africa e a cervejaria Brahma.
Foi o come back do modelo “programação normal e o
melhor do carnaval”, o velho slogan global surgido na década
de 70 como vimos anteriormente, adaptado aos tempos da
pandemia. A expressão poderia ser atualizada como
“programação do novo normal e o melhor do carnaval”.
No entanto, os compactos não agradaram e recaiu sobre
o canal uma enxurrada de críticas e muitas reclamações dos
sambistas das escolas de samba. As redes sociais ficaram
lotadas de críticas e frustrações ao trabalho da emissora
global.
O principal alvo foi a questão do som. A TV Globo não
utilizou o áudio original da pista dos desfiles. Colocou o
playback (processo de sonorização que utiliza uma gravação
prévia de trilha sonora) com a versão dos sambas no CD. Em
São Paulo, como os sambas são gravados no esquema “ao
vivo” não ficou tão esquisito, mas os desfiles do Rio de
Janeiro a qualidade deixou a desejar.
Outro problema verificado foi a questão da imagem. Em
2002, a emissora começou a captar o Carnaval em alta
definição. No entanto, ainda que a qualidade de imagem
impressione mesmo nos desfiles dos anos 80, desfiles como o
da Vai-Vai de 2008 ainda apareceu no especial com cortes
nas laterais, sem a expansão da tela na proporção 16:9 do
HD (a proporção típica do cinema que migrou para a tela da
TV digital).
Os apresentadores Ailton Graça e Milton Cunha foram
colocados num cenário pobre de chroma-key de cores
berrantes e em movimento. Faltou naturalidade aos diálogos
e os comentários enxertados durante os desfiles como se
feitos ao vivo pecavam pela superficialidade. Ou seja, tudo
muito forçado.
Quem esperava curtir sua escola se deparou com todo
tipo de desfile grandioso reduzido a um compacto mal
ajambrado, com cortes aleatórios na edição, ausência do som
original e uma desconexão entre imagem e áudio. Para piorar,
faltou pesquisa e faltaram informações básicas sobre cada
desfile, como por exemplo, quem ganhou e quem perdeu em
cada ano mostrado.
Confira a lista dos desfiles históricos que a Globo
reprisou:
Desfiles de São Paulo:
1. Águia de Ouro 2020 – “O Poder do Saber”
2. Mancha Verde 2019 – “Oxalá Salve a Princesa”
3. Mocidade Alegre 2014 – “Andar Com Fé Eu Vou…
Que a Fé Não Costuma Falhar”
4. Acadêmicos do Tatuapé 2018 – “Maranhão: Os
Tambores Vão Ecoar na Terra da Encantaria”
5. Unidos de Vila Maria 2017 – “Aparecida, a Rainha do
Brasil – 300 anos de Amor e Fé no Coração do Povo
Brasileiro”
6. Dragões da Real 2017 – “Dragões Canta Asa Branca”
7. Rosas de Ouro 2005 – “Mar de Rosas”
8. Tom Maior 2009 – “Uma Nova Angola Se Abre Para o
Mundo. Em Nome da Paz, Martinho da Vila Canta a
Liberdade”
9. Império de Casa Verde 2005 – “Brasil, se Deus É Por
Nós, Quem Será Contra Nós”
10. Barroca Zona Sul 2020 – “Benguela, a Barroca
Clama a Ti, Teresa”
11. Gaviões da Fiel 2003 – “Cinco Deusas Encantadas
na Corte do Rei”
12. Colorado do Brás 2019 – “Hakuna Matata, Isso é
Viver”
13. Vai-Vai 2008 – “Vai-Vai Acorda Brasil”
14. Acadêmicos do Tucuruvi 2011 – “Oxente, o Que
Seria da Gente Sem Essa Gente? São Paulo, Capital
do Nordeste”.
Desfiles Rio de Janeiro:
1. Salgueiro 1993 – “Peguei Um Ita no Norte”
2. Mocidade Independente 1990 – “Vira, Virou! A
Mocidade Chegou”
3. Viradouro 1998 – “Orfeu, o Negro do Carnaval”
4. Beija-Flor 1989 – “Ratos e Urubus, Larguem a Minha
Fantasia”
5. Portela 2017 – “Quem Nunca Sentiu o Corpo Arrepiar
Ao Ver Esse Rio Passar”
6. Unidos da Tijuca 2010 – “É Segredo”
7. Imperatriz Leopoldinense 1989 – “Liberdade!
Liberdade! Abra as Asas Sobre Nós”
8. Mangueira 2016 – “Maria Bethânia, a Menina dos
Olhos de Oyá”
9. Vila Isabel 1988 – “Kizomba, Festa da Raça”
10. Mocidade Independente 1985 – “Ziriguidum 2001
11. Beija-Flor 2011 – “A Simplicidade de um Rei”
12. Grande Rio 2017 – “Ivete do Rio ao Rio”
13. Viradouro 2020 – “Viradouro de Alma Lavada”
14. Império Serrano 2004 – “Aquarela Brasileira”
(reedição do samba de 1964)
15. São Clemente 2019 – “E o Samba Sambou...”
(reedição do samba de 1990)
16. Paraíso do Tuiuti 2018 – “Meu Deus, Meu Deus,
Está Extinta a Escravidão?”.

Na tela da TV, só que sem o povo

A TV Globo também preparou para o período


carnavalesco do calendário litúrgico cristão uma programação
com muitas lives, não necessariamente carnavalescas. Nos
quatro dias de folia virtual, foram exibidos pelo canal
Multishow e na plataforma Globoplay shows on-line de
artistas como a cantora baiana Maria Bethânia, e de suas
conterrâneas divas da axé music e da MPPB (Música Pra
Pular Brasileira) Claudia Leitte (apesar da loira ter nascido
em São Gonçalo-RJ), Ivete Sangalo, e Daniela Mercury.
A folia no streaming também contou com apresentações
da cantora Preta Gil nas redes sociais da artista, com
participação de nomes como Bell Marques, Péricles, Jota
Quest, Alcione, Mumuzinho e Tereza Cristina.
Curiosamente, em novembro de 2020, Preta se
posicionou contra a realização do Carnaval em 2021 por
causa da pandemia do novo coronavírus. “Comemorar o quê
com tanta gente doente?”, declarou em entrevista ao
jornalista Zeca Camargo, no UOL. A filha de Gilberto Gil foi
uma das primeiras pessoas no país a contrair a Covid-19.
“Acho que adiar o carnaval não é uma boa opção. O melhor é
cancelar”, ressaltou Preta Gil.

NA BAND, NADA DE MUVUCA

Assim como a Globo não teve a cobertura do “Carnaval


Globeleza” no ano de 2021, a concorrente Band, também não
ofereceu para o público televisivo a tradicional “Band Folia”
em rede nacional. No entanto, o carnaval carioca não ficou de
fora da tela da emissora.
“Casa Verão do Samba” foi um programa em
homenagem ao carnaval carioca apresentado pelo
carnavalesco Leandro Vieira, também responsável pela
direção artística ao lado de Bruno de Paula. O mote da
campanha do programa era “Sambe em casa, nada de
muvuca”. A atração foi ao ar na semana que seria o Carnaval,
entre os dias 15 e 19 de fevereiro, na Band Rio, às 13h30, no
canal da emissora no YouTube.
Entre os artistas confirmados estiveram Xande de
Pilares, Bira Presidente, Moacyr Luz, Pedro Luis, Marina Íris
e o Cordão do Boitatá. Os convidados recordaram sambas
que marcaram a história de cada um no Carnaval, além dos
principais sucessos das respectivas carreiras.

ERA DAS LIVES E O #fiqueemcasa

As lives não são novidade, mas ganharam novas


proporções com o advento do novo coronavírus. A pandemia
de Covid-19 colocou o mundo inteiro em quarentena, pois até
a chegada da vacina, a única alternativa efetiva no combate à
doença era o distanciamento social.
Naturalmente, essa situação mudou a forma como as
pessoas passaram a interagir e consumir entretenimento.
Passamos a viver em plena era da lives musicais, graças a
movimentos como o #fiqueemcasa e protocolos extremos de
confinamento como o lockdown.
Plataformas como Instagram e YouTube já ofereciam o
recurso de transmissão ao vivo, mas foi durante a pandemia
que elas explodiram. Empresas de todos os portes,
instituições de ensino, músicos, artistas e outros
profissionais começaram a fazer shows on-line por redes
digitais com o objetivo de não congelar totalmente sua rotina,
não perder contato com o público e arrecadar recursos para
ajudar na recuperação dos danos causados pela pandemia.
Diante de apresentações que foram fenômenos de
acessos simultâneos e arrecadação milionária de doações,
esse recurso provou ser de grande poder, tanto para o
público, quanto para o transmissor e empresas envolvidas.
A era das lives foi concretizada graças aos números
incríveis alcançados. No ano de 2020, o Brasil teve quatro
das cinco maiores audiências mundiais do YouTube, segundo
informações da mega plataforma de compartilhamento de
vídeos. O tenor italiano Andrea Bocelli foi o único artista
internacional a ocupar o ranking pelo show transmitido no
Domingo de Páscoa diretamente da vazia Catedral de Milão,
na Itália, com pico de 2,8 milhões de pessoas.
Segundo a classificação do YouTube, o primeiro lugar foi
ocupado pela cantora de música sertaneja Marília Mendonça
(1995 – 2021), com pico de visualizações de 3,3 milhões, no
dia 8 de abril de 2020. Logo em seguida aparecem na lista a
dupla Jorge & Mateus, também do gênero sertanejo, com pico
de 3,2 milhões de views; o já citado Andrea Bocelli; o cantor
mineiro Gusttavo Lima, com 2,7 milhões, e o show promovido
pela dupla Sandy & Júnior, filhos de Xororó (da dupla
Chitãozinho e Xororó), com pico de 2,5 milhões de
visualizações.

Melhoria na qualidade das transmissões on-line

Devido à pandemia, as escolas de samba despertaram


para o potencial das lives carnavalescas e mergulharam de
cabeça na realização de transmissões com mais e melhor
qualidade do que havia antes.
A verdade é que até 2019 as agremiações não davam
tanta atenção e importância às transmissões das
eliminatórias e finais de samba-enredo. Esses eventos
acabavam se tornando coberturas jornalísticas dos sites e
portais especializados em carnaval, que acompanhavam ao
vivo, minuto a minuto e com as armas que tinham.
O público carnavalesco só tinha acesso ao que acontecia
nas quadras porque a imprensa de carnaval cobria muitas
vezes em locais que não davam as devidas condições de se
obter boa imagem, bom áudio e com rápida velocidade da
conexão de internet.
Em 2020, houve uma virada de chave e as escolas de
samba perceberam o quanto era importante levar ao público
uma transmissão de mais qualidade, até para possível
monetização com as plataformas de streaming. Com isso,
nove entre 10 escolas de samba passaram a ter o auxílio
luxuoso e a assinatura de qualidade de produtoras de vídeo
como a Fitamarela.
O samba Fita Amarela, de Noel Rosa (1910 - 1937), é
uma das obras mais gravadas e mais emblemáticas do
cancioneiro brasileiro. Inspirados na música de Noel,
profissionais de comunicação, audiovisual, cultura e artes,
teatro, fotografia e artes visual batizaram de Fitamarela, uma
produtora de vídeo especializada em livestreaming e
audiovisual.
A empresa surgiu no Rio de Janeiro em 2003, ano em
que, paralelo às gravações da MPB, foram dirigidos também
vídeos institucionais da Petrobras.
No final de 2016 a produtora carioca passou a se
dedicar exclusivamente à música brasileira, com foco na
música de raiz, produzindo e gerando conteúdo ao vivo como
shows e lives, além de gravar videoclipes, vídeos
institucionais, documentários, ações publicitárias, cases,
vídeos para Web, entre outros serviços.
Outras produtoras de conteúdo audiovisual também se
destacam no segmento carnavalesco principalmente pelos
refinados e ultraproduzidos clipes de sambas enredo, como a
ImaginaRio Comunicação e Marketing e a Leme Filmes.
Porém, as duas empresas ainda não haviam ingressado no
ramo das lives carnavalescas.

SELEÇÃO DO SAMBA
No final do mês de setembro de 2020, logo após a
plenária da Liesa que decidiu pelo adiamento para o mês de
julho de 2021 dos desfiles que aconteceriam em fevereiro,
uma alegria fugaz animou os foliões telespectadores e
internautas.
Gabriel David, diretor da Beija-Flor e filho do presidente
da escola de Nilópolis, Anísio Abraão David, teve a ideia de
um projeto de transmissão por lives para as 12 escolas do
Grupo Especial apresentarem as escolhas de seus sambas-
enredos na TV Globo.
Na ocasião, o projeto já havia sido aprovado pela
emissora e restava apenas a definição de data e de qual seria
a plataforma da transmissão (canal fechado ou streaming).
Devido à pandemia de Covid-19, a escolas de samba
fecharam suas quadras e paralisaram todo o processo de
produção do carnaval, gerando queda na receita das
agremiações. A intenção era de que as escolas recebessem
algum valor pelos direitos de transmissão e pudessem
atenuar as perdas devido à pandemia.
A estimativa inicial de data que a Globo e as escolas de
samba estudava seriam entre os meses de novembro de 2020
e janeiro de 2021. Com o tweet do prefeito Eduardo Paes, que
anunciou o cancelamento dos desfiles programados para o
meio do ano, tanto a emissora quanto as escolas recuaram e
a ideia do programa foi adiada. No dia 19 de julho de 2021, o
presidente da Liesa, Jorge Perlingeiro, confirmou a retomada
do programa.
A produção foi feita em parceria com a holandesa
Endemol, especializada em reality shows. A ideia foi fazer um
programa no estilo talent show, mas sem a participação do
público. O objetivo era mostrar para quem não faz parte do
mundo do Carnaval, de forma didática, e respeitando os
rituais da tradição cultural, como funciona o processo de
escolha de um samba-enredo.
A atração foi dividida em quatro episódios com as finais
das escolas, sendo três agremiações por episódio; e mais um
episódio final com a exibição de todos os sambas vencedores.
Cada programa teve 63 minutos de duração, exibido na
madrugada de sábado, após o Altas Horas, indo ao ar
aproximadamente à uma e quinze da manhã. O programa
teve o título provisório de “Desafio do Samba”, depois alterado
em definitivo para Seleção do Samba.
Para a apresentação foi escolhido o narrador esportivo
Luís Roberto, que foi âncora dos desfiles carnavalescos entre
os anos de 2010 e 2016. Na composição do elenco do Seleção
do Samba, foram escalados o carnavalesco Milton Cunha e a
cantora Teresa Cristina. A ambientação do cenário utilizou
esculturas das alegorias dos desfiles de 2020 e a comissão
julgadora foi composta pela diretoria de cada escola de
samba.

No final do mês de agosto, funcionários da TV Globo


fizeram uma visita técnica nos barracões da Cidade do
Samba Joãosinho Trinta, onde foram realizadas as gravações.
As agremiações cederam adereços e esculturas de alegorias
para compor o cenário.
Como os sambas vencedores seriam anunciados durante
as gravações, a emissora concluiu que seria difícil manter em
segredo os resultados e liberou as escolas para divulgarem
seus sambas escolhidos logo após as gravações. A decisão
causou polêmica e dividiu as opiniões do público. Pelas redes
sociais, sambistas questionaram o fato de conhecerem o
resultado final semanas antes de o programa ir ao ar.
As gravações do Seleção do Samba foram realizadas
entre os dias 27 de setembro e 1 de outubro de 2021. As
escolas gravaram suas finais, sendo três escolas por dia, uma
em cada turno, segundo o cronograma das gravações:
Grav.: 28 Set (terça-feira) / Exibição 16 Out (sábado)
 Estação Primeira de Mangueira (manhã)
 São Clemente (tarde)
 Mocidade Independente de Padre Miguel (noite)

Grav.: 29 Set (quarta-feira) / Exibição 23 Out 2021


(sábado)
 Imperatriz Leopoldinense (manhã)
 Unidos de Vila Isabel (tarde)
 Acadêmicos do Salgueiro (noite)

Grav.: 30 Set (quinta-feira) / Exibição 30 Out 2021


(sábado)
 Unidos da Tijuca (manhã)
 Portela (tarde)
 Acadêmicos do Grande Rio (noite)

Grav.: 01 Out (sexta-feira) / Exibição 06 Nov 2021


(sábado)
 Paraíso do Tuiuti (manhã)
 Beija-Flor (tarde)
 Unidos do Viradouro (noite)

Exibição 13 Nov 2021 (sábado)


 Apresentação dos 12 sambas-enredo vencedores

As gravações foram realizadas durante a pandemia,


seguindo um rígido protocolo sanitário. Uma equipe sanitária,
presente no local, verificou as medidas estabelecidas pelas
autoridades municipais, realizando testes de Covid-19 nas
pessoas envolvidas na produção. Para evitar aglomeração,
poucos sambistas foram designados para a gravação, sendo
proibida a presença de outro público.
Na formação da bateria no palco, foram permitidas três
fileiras com cinco ritmistas cada, sendo o total de quinze
componentes, além do diretor da bateria. Cada agremiação
teve o direito de levar seis convidados, incluindo os jurados
que escolheriam os sambas. As escolas também levaram os
compositores das parcerias concorrentes; o intérprete oficial
mais dois cantores auxiliares; o primeiro casal de mestre-sala
e porta-bandeira; dois passistas; duas baianas; e a rainha de
bateria.
A Globo disponibilizou testes PCR para os componentes
das entidades envolvidas na gravação. Cada samba finalista
se apresentou por vinte minutos, sendo que, no programa, foi
exibida apenas uma passada de cerca de três minutos de
cada samba.
As obras vencedoras, que foram divulgadas pelas
agremiações após as gravações do programa na Cidade do
Samba ocorridas no final de setembro, foram liberadas nas
plataformas de áudio streaming momentos antes da estreia. A
cada semana, três áudios das escolas cujo programa iria ao
ar, ficavam disponíveis nas plataformas digitais Spotify,
Deezer, Amazon Music, Apple Music, Tidal, Resso e Youtube
Music. No último programa, foi divulgado o EP completo com
os 12 sambas do Grupo Especial.
A estreia do Seleção do Samba na Rede Globo chegou a
registrar 6 pontos de audiência medida em tempo real para a
grande São Paulo, chegando ao pico de 1,2 milhão de TVs
ligadas assistindo o programa. Em média, a emissora
costuma atingir entre 4 a 5 pontos no Ibope nesta faixa de
horário.
Outro fator importante foi em relação ao alcance no
meio digital. Com grande repercussão no Twitter, o primeiro
episódio do Seleção do Samba entrou na lista dos 10
assuntos mais comentados no mundo, se posicionando em
oitavo lugar no Trend Topics Global com mais de 90 mil
tuítes registrados no mundo inteiro. No Brasil, liderou o
ranking de assunto mais mencionado por 4 horas
consecutivas.
Após o sucesso do programa no Rio, a Globo decidiu
gravar também uma versão com as 14 escolas de samba do
Grupo Especial do carnaval de São Paulo. Apresentador dos
desfiles de São Paulo desde 2003, o jornalista Chico Pinheiro
foi escalado para apresentar a versão paulistana do Seleção
do Samba. Com isso, o programa ganhou mais dois episódios,
cada um com sete escolas de São Paulo.
As gravações do Seleção do Samba São Paulo foram
realizadas entre os dias 27 de setembro e 1 de outubro. As
escolas gravaram suas participações, sendo três escolas por
dia, igualmente uma em cada turno. A atração foi exibida nas
madrugadas dos dias 13 e 20 de novembro (sábado), após o
Altas Horas.

O MEU DESTINO SERÁ COMO DEUS QUISER...

Foliões de todo o Brasil estiveram em contagem


regressiva para uma data que não tinha previsão de chegada.
Quando seria o próximo Carnaval? Em 2022 ou 2023? O que
sabemos é que em 2021 infelizmente não foi.
Com a pandemia do novo coronavírus, as cidades onde
ocorrem as principais festas, desfiles de escolas de samba ou
apresentação de blocos de rua cancelaram ou suspenderam
os eventos para não causar aglomeração e evitar a
proliferação da Covid-19.
A certeza é de que em fevereiro, mês previsto para o
Carnaval, entre os dias 13 e 16 em 2021, a festa não
aconteceu em polos importantes do país como Belo Horizonte,
Florianópolis, Manaus, Olinda, Porto Alegre, São Paulo,
Salvador, Santos, Recife, Rio de Janeiro, Vitória ou
Uruguaiana. O povo teve que se contentar com as exibições
de desfiles antigos que a tevê e a internet proporcionaram.
Sob o ponto de vista econômico, a não realização dos
festejos, foi um baque na chamada cadeia produtiva do
carnaval. Segundo a Riotur (Empresa de Turismo do
Município do Rio de Janeiro), o carnaval de 2020 atraiu 2,1
milhão de turistas. Gerou uma receita de R$ 4 bilhões. A taxa
de ocupação hoteleira foi de 93%, 2,3 pontos percentuais a
mais do que no ano anterior.
De acordo com o SindRio (Sindicato de Hotéis, Bares e
Restaurantes do Rio), o crescimento do faturamento no
período foi 5% maior do que em 2019. Nos estabelecimentos
da orla, o incremento chegou a 15%.
Para além do turismo, o carnaval representa uma fonte
de renda para trabalhadores informais que se sustentam por
meio da venda de cervejas, acessórios, fantasias. É
importante para profissionais autônomos como músicos,
produtores, fotógrafos e artistas performáticos.
Cancelar a festa massacrou ainda mais os setores já
profundamente prejudicados pela pandemia. Afinal, “não é só
folia”. O fato é de que havia a expectativa de que o próximo
carnaval fosse o melhor de todos os tempos. Parafraseando o
título do enredo da Unidos da Viradouro para assim que os
desfiles fossem confirmados, “não há tristeza que possa
suportar tanta alegria”. No entanto, transcorria o ano de
2021 e a festa seguia sem uma data determinada. Até que,
enfim, chegou o ano de 2022.
CAPÍTULO 10 – CARNAVAL TE
AMO. NA VIDA ÉS TUDO PRA
MIM!

Carnaval em abril: Rio e SP adiam desfiles devido aumento de


casos de Covid; Globo muda programação após adiamento;
Reflexos no mercado publicitário; Temporada de ensaios
técnicos na Sapucaí com cobertura “oficial” ao vivo; Voz
feminina no tema do Carnaval Globeleza; Consolidação da
transmissão multiplataforma global; Medição da audiência da
TV; Carnaval da Estrada Intendente Magalhães; TV Cultura
comanda o Desfile das Campeãs do Carnaval SP; Outros
polos carnavalescos pelo país em 2022; Até amanhã, se Deus
quiser, eu volto novamente pra lhe ver...

Encostei os lábios suavemente


E te beijei na alegria sem fim
Carnaval te amo
Na vida és tudo pra mim
“Não Há Tristeza que Possa Suportar Tanta Alegria”
(Felipe Filósofo, Fabio Borges, Ademir Ribeiro, Devid
Gonçalves, Lucas Marques e Porkinho) – Samba-enredo da
GRES Unidos do Viradouro 2022.
ano de 2022 se iniciava otimista. O Brasil já

O aplicava a terceira dose de reforço da vacina


contra o coronavírus na população e os números
indicavam uma significativa redução na
ocupação de leitos de UTI Covid-19 no país. O
panorama gerava uma expectativa de que após dois anos
finalmente os desfiles de escola de samba voltassem a
acontecer no período de carnaval conforme o calendário
cristão, de 26 de fevereiro a 1 de março.
No entanto, no dia 19 de janeiro, o Brasil registrou pela
primeira vez desde o início da pandemia mais de 200 mil
casos conhecidos de Covid em 24 horas, com registro de alta
no número de mortes. Era a manifestação da variante
Ômicron. Com isso, a média móvel de casos em sete dias
chegou a 100.322 – a maior marca registrada até então,
superando pela primeira vez o patamar de 100 mil
diagnósticos diários, atingindo uma variação de +487%,
indicando tendência de alta nos casos da doença.
Diante do cenário de aumento de casos e internações
por Covid-19 em ambas as capitais, os prefeitos de São
Paulo, Ricardo Nunes (MDB), e do Rio de Janeiro, Eduardo
Paes (DEM), decidiram adiar os desfiles carnavalescos para o
feriado de Tiradentes, em 21 de abril. A decisão foi tomada
após reunião virtual conjunta no dia 21 de janeiro.
O concurso do grupo especial da capital paulista estava
marcado, até aquela data, para 25 e 26 de fevereiro (sexta e
sábado). Já no Rio, seriam realizados em 27 e 28 (domingo e
segunda) do mesmo mês. Os desfiles foram adiados, mas o
carnaval de rua (blocos, bandas, trios elétricos, etc)
continuou suspenso.
Os governos municipais das duas capitais declararam
que foi uma decisão difícil, mas que não havia condições
sanitárias para a realização do carnaval na data prevista.
“Abril é muito mais seguro. É difícil que a variante Ômicron
avance até lá. Não há possibilidade de fazer Carnaval a
qualquer custo”, declarou o secretário da saúde carioca,
Daniel Soranz. Já o titular da pasta da Saúde de São Paulo,
Edson Aparecido, ressaltou a possibilidade de fazer um
controle sanitário do público nos sambódromos e, assim,
reduzir a possibilidade de contágio.
As ligas das escolas de samba das duas capitais
concordaram e acataram a decisão. “Jamais ficaríamos felizes
em colocar as pessoas em risco”, declarou Sidnei Carrioulo,
presidente da Liga-SP. Em nota, a Liesa disse que esse
cenário já era previsto e que a decisão tomada foi “prudente”.
Em ambos os casos, todos os ingressos já adquiridos para os
desfiles seriam válidos para a nova data.

Desfiles e horários na capital fluminense

A prefeitura do Rio de Janeiro publicou no Diário Oficial


do Município na edição do dia 11 de fevereiro de 2022 as
datas dos desfiles das escolas de samba, adiados para abril
em razão da alta de casos de Covid-19.
Ficou estabelecido que o carnaval da Marquês de
Sapucaí começasse nos dias 20 e 21 de abril (quarta e
quinta), com os desfiles das escolas da Série Ouro (antiga
Série A ou segunda divisão). Já as datas das agremiações do
Grupo Especial passou para os dias 22 e 23 de abril, sexta-
feira e sábado.
No domingo (24 de abril), foi a vez das escolas mirins. A
apuração das notas dos jurados ficou para a tarde do dia 26
de abril, uma terça-feira. O desfile das campeãs do Grupo
Especial encerrou a programação da Marquês de Sapucaí no
dia 30 de abril (sábado).

Datas dos desfiles no Sambódromo da Sapucaí


20/4 (quarta-feira) – Série Ouro – Liga RJ
21/4 (quinta-feira) – Série Ouro – Liga RJ
22/4 (sexta-feira) – Grupo Especial – Liesa
23/4 (sábado) – Grupo Especial – Liesa
24/4 (domingo) – Desfile das Crianças
26/4 (terça-feira) – Apuração
30/4 (sábado) – Campeãs – Liesa

Ordem de Desfile do Grupo Especial do Rio:

6ª feira (22.abr.2022):

21h30 – Imperatriz
22h30 – Mangueira
23h30 – Salgueiro
0h30 – São Clemente
1h30 – Viradouro
2h30 – Beija-Flor

Sábado (23.abr.2022):

21h30 – Paraíso do Tuiuti


22h30 – Portela
23h30 – Mocidade
0h30 – Unidos da Tijuca
1h30 – Grande Rio
2h30 – Vila Isabel

Os desfiles da Avenida Intendente Magalhães, na zona


norte da cidade, também tiveram o calendário publicado.
A prefeitura divulgou, ainda, as datas de apresentação
do Terreirão do Samba, no Centro do Rio: dias 20, 21, 22, 23
e 30 de abril.

Desfiles da Intendente Magalhães


20/4 (quarta-feira) – Federação de Blocos
21/4 (quinta-feira) – Grupo de Avaliação – Superliga
22/4 (sexta-feira) – Grupo Bronze – Superliga
29/4 (sexta-feira) – Grupo Prata – Superliga
30/4 (sábado) – Grupo Prata – Superliga
1º/5 (domingo) - Grupo B+C - Livres

Datas dos desfiles no Sambódromo do Anhembi

Já a Liga de SP, ao divulgar o novo calendário para o


Carnaval da capital paulista, ignorou o Carnaval do Rio. Com
isso, os principais desfiles de cada cidade ficaram marcados
para os mesmos dias, 22 e 23 de abril de 2022, sendo que a
Liesa definiu suas datas antes da liga paulistana.
O calendário dos Grupos de Acesso de São Paulo ficou
para os dias 16 (Acesso 2, a terceira divisão) e 21 de abril
(Acesso 1, a segunda divisão), no Sambódromo do Anhembi.
A apuração das notas ficou para o dia 26 de abril.
Ordem de Desfile do Grupo Especial de São Paulo:

6ª feira (22.abr.2022):

23h15 – Acadêmicos do Tucuruvi


00h20 – Colorado do Brás
01h25 – Mancha Verde
02h30 – Tom Maior
03h35 – Unidos de Vila Maria
04h40 – Acadêmicos do Tatuapé
05h45 – Dragões da Real

Sábado (23.abr.2022):

22h30 – Vai-Vai
23h35 – Gaviões da Fiel
0h40 – Mocidade Alegre
1h45 – Águia de Ouro
2h50 – Barroca Zona Sul
3h55 – Rosas de Ouro
5h00 – Império de Casa Verde

GLOBO MUDA PROGRAMAÇÃO DE FEVEREIRO E ABRIL


APÓS ADIAMENTO DOS DESFILES
Com o adiamento dos desfiles do Carnaval de 2022 no
Rio de Janeiro e em São Paulo para o mês de abril, a TV
Globo confirmou a transmissão para as novas datas. Mas os
preparativos para os desfiles das escolas de samba
começaram bem antes. Isso incluiu uma organização da
Globo, detentora dos direitos de transmissão da competição
de ambas as cidades.
Em fevereiro, o público pôde conferir os melhores
momentos do programa Seleção do Samba, exibido meses
antes, em outubro. A ideia é que o público não ficasse órfão
de programação de Carnaval durante fevereiro, já que os
feriados estão mantidos ao redor do país.
Nos dias 26 e 27, a Globo escolheu transmitir momentos
marcantes do programa Seleção do Samba, com direito a
destaque das músicas escolhidas pelas escolas do Rio. Já nos
dias 28 de fevereiro e 1º de março, a transmissão ficou por
conta dos sambas-enredo das escolas de samba de São
Paulo.
Nos dias 20 e 21 de abril, os desfiles das agremiações do
Grupo de Acesso do Rio foram transmitidos apenas para a
cidade do Rio de Janeiro.
Já nos dias 22 e 23 de abril, como acontecem as
apresentações das escolas do Grupo Especial tanto de São
Paulo quanto do Rio, a decisão foi manter o desfile principal
do Rio aparecendo nas televisões em caráter nacional. A
transmissão da elite do carnaval paulistano ficou restrita
apenas ao estado de São Paulo.

Reflexo no mercado publicitário

O carnaval fora de época não rendeu bons frutos


comerciais para a TV Globo. Apenas uma cota foi vendida
para a transmissão. A emissora bem que buscou negociar as
outras até o último momento, sem sucesso. Um prejuízo que
pode superar R$ 200 milhões.
Ao todo, a empresa da Família Marinho colocou no
mercado seis cotas comerciais pelo valor de R$ 42,2 milhões
cada. A expectativa era faturar R$ 253 milhões apenas com
essa venda. Mas apenas a cervejaria Ambev, que expôs a
marca Brahma, comprou um espaço.
O principal motivo de rejeição foram as datas reduzidas
de exposição. Por causa do adiamento de fevereiro para abril,
os patrocinadores só tiveram dois dias de desfiles, em vez dos
quatro usuais – já que as escolas de São Paulo e Rio tomaram
a avenida nos mesmos horários em 22 e 23 de abril. A Globo
não reduziu o preço da tabela na hora de negociar as cotas
em relação ao que havia cobrado em 2019 e 2020 e exigiu o
valor de quatro dias para uma exposição de apenas dois.
A emissora tentou de todas as formas vender o pacote
comercial. No mês de fevereiro, ofereceu descontos para quem
comprasse a cota do Carnaval, além de uma exposição extra
na reprise do programa Seleção do Samba, que ocupou as
datas tradicionais dos desfiles. Novamente, o mercado
publicitário não aderiu.
Outro ponto decisivo foi o horário. Os desfiles só
começaram na TV aberta após as 23 horas, depois da reta
final do BBB 22. E as datas coincidiram com o feriado
prolongado de Tiradentes, o que, para o temor do mercado,
poderia acarretar que a audiência esperada fosse a mais
baixa dos últimos tempos. No entanto, não foi, como veremos
mais adiante.

RIO CARNAVAL – MINIDESFILE DAS ESCOLAS DO GRUPO


ESPECIAL NA CIDADE DO SAMBA
A Cidade do Samba recebeu em fevereiro, no fim de
semana da data que seria o carnaval tradicional (dias 26 e
27), o “Rio Carnaval”. O evento consistiu em um minidesfile
das 12 escolas do Grupo Especial, que serviu como prévia do
que aconteceria na Sapucaí, no mês de abril, nova data das
apresentações por conta da pandemia.
Antes de cruzarem a pista montada especialmente para
o espetáculo, integrantes das agremiações se apresentaram
no palco com sambas-enredo de anos anteriores. No céu,
fogos estouraram a cada entrada, enchendo a festa de mais
cores e brilho. Na apresentação da festa, o comentarista e ex-
carnavalesco Milton Cunha.
Cada escola levou um contingente de 150 sambistas,
entre integrantes da comissão de frente, baianas, passistas,
ritmistas, casais de mestres-salas e porta-bandeiras, baianas,
velha guarda, intérprete e equipe de acompanhamento.
Depois de uma apresentação no palco, onde os cantores
lembraram sambas que marcaram época na Avenida, foram
realizados minidesfiles na pista que circunda a praça central
do complexo de produção de alegorias e fantasias. A
passarela ganhou o mesmo tratamento da nova pista do
Sambódromo, com pintura, sirenes, iluminação cênica, o
tradicional cordão do arrasta-povo e direito à queima de fogos
na entrada de cada uma.
O público, calculado em torno de 5.300 pessoas, se
espalhou ao longo da pista, nas praças e na grande tenda,
onde eram realizados os shows com intérpretes, passistas e
casais de mestres-salas e porta-bandeiras. Na entrada, todos
tiveram que apresentar comprovante de vacinação em dia, de
acordo com os protocolos e calendário da Secretaria
Municipal de Saúde.
“Graças à abertura do Rio Carnaval 2022, o Carnaval
não passou em branco no Rio de Janeiro”, declarou Hélio
Motta, vice-presidente da Liesa, responsável por comandar o
evento realizado na Cidade do Samba.
Os minidesfiles de abertura do Rio Carnaval 2022
tiveram o acompanhamento e transmissão por lives e flashes
de sites e blogs especializados em carnaval, como SRZD,
Carnavalesco e Rádio Arquibancada, entre outros.

TEMPORADA DE ENSAIOS TÉCNICOS NA SAPUCAÍ COM


TRANSMISSÃO “OFICIAL” AO VIVO

Pela primeira vez, os ensaios técnicos no sambódromo


da Sapucaí foram transmitidos ao vivo no canal oficial da
Liesa/Rio Carnaval no YouTube, no endereço eletrônico
(https://bit.ly/RIOCARNAVALAOVIVO).
Nos cinco domingos de evento (13, 20, 27 de março, 3 e
10 de abril), os amantes do Carnaval de todo o mundo
puderam conferir online a programação da passarela do
samba carioca, que antecedeu os desfiles das 12 Escolas do
Grupo Especial na Avenida.
Com Milton Cunha de apresentador, direto do estúdio
instalado no sambódromo, a transmissão contou ainda com
entrevistas e comentários durante os intervalos das escolas.
A geração das imagens foi da produtora carioca de
audiovisual Fitamarela, empresa que firmou parceria com a
Liesa para a transmissão dos ensaios preparatórios para o
grande desfile.
Nos ensaios técnicos as escolas ensaiam completas,
usando camisas com a logomarca de seus enredos. As
agremiações levam para o sambódromo as alas da
comunidade, baianas, bateria, crianças, comissão de frente,
casais de mestres-salas e porta-bandeiras, como num desfile
oficial. Só não apresentam alegorias e fantasias.

Transmissão do ensaio técnico da Série Ouro do Rio ao


vivo com padrão de TV
Os ensaios técnicos das entidades da Série Ouro
também tiveram qualidade elevada na transmissão do evento.
As escolas ensaiaram durante cinco sábados na Sapucaí
(quatro em março e um no mês de abril).
A transmissão ao vivo direto do sambódromo carioca
pôde ser acompanhada no canal do site CN1 Brasil no
YouTube. Durante a apresentação, os internautas tiveram a
oportunidade de interagir e concorrer a diversos prêmios com
a marca CN1 Brasil.
A narração foi de Thiago Cânepa, com comentários de
Waldir Tavares e reportagem de Henrique Sathler. Além da
participação especial dos profissionais das três escolas que
desfilaram a cada sábado e diretores da LigaRJ, durante toda
a programação.
Projetada e fabricada especialmente para atender os
eventos carnavalescos, a Unidade Móvel Broadcast foi um dos
destaques da transmissão. A unidade móvel era equipada
com câmeras robóticas de altíssima definição controladas
remotamente.
Segundo o CN1 Brasil, o canal contou ainda para a
transmissão dos ensaios técnicos com o switcher (mesa de
corte e seleção de imagens) mais completo do mercado, capaz
de transmitir, gravar, editar e inserir gráficos, vinhetas e
recursos avançados ao vivo, para diversos canais
simultaneamente.
Os números da produção empregada no projeto
impressionam. Ao todo, foram utilizadas 12 antenas de
transmissão com capacidade de transmitir sinal para internet
ou TV aberta sem latência em até 8k. Geradores, placas de
energia solar de 1710W, baterias estacionárias de 1440 Ah,
com autonomia de dezesseis horas de funcionamento
ininterrupto.
Mais de 50 profissionais foram envolvidos no projeto, no
Brasil e no exterior, para manter a qualidade de transmissão
em larga escala.
Criado em 2018, o CN1 Brasil, portal especializado em
Carnaval, fez a primeira cobertura jornalística em 2020.
Segundo os administradores do site, com apenas quatro
profissionais credenciados, e mesmo assim atingiram a marca
de milhão de leitores nos quatro dias de carnaval.

VOZ FEMININA NO TEMA DO CARNAVAL


GLOBELEZA

Pela primeira vez desde 1990, os versos marcantes do


tema do Carnaval Globeleza foram gravados e veiculados na
televisão pela voz de uma mulher. A cantora Teresa Cristina
foi escalada para cumprir a missão em 2022: cantar o samba
que anuncia a cobertura e a transmissão da TV Globo dos
desfiles de carnaval do Rio de Janeiro e de São Paulo.
A canção, composta por Jorge Aragão e Franco, ficou
famosa ao longo dos anos nas vozes de vários intérpretes de
carnaval, entre eles, Quinho, Paulinho Mocidade,
Dominguinhos do Estácio, Preto Joia, Tinga, Neguinho da
Beija-Flor e do cantor Diogo Nogueira. A divulgação do jingle
com a voz feminina de Teresa Cristina teve início em 22 de
março na programação da emissora.
A vinheta de 2022 trouxe imagens emblemáticas de
desfiles passados, centrada na interpretação da cantora para
o samba, que marcou o reencontro do público com os desfiles
das escolas de samba, após o hiato pandêmico.
Um dia após a divulgação da versão da sua música tema
para o Carnaval 2022, a Rede Globo passou a inserir entre os
intervalos da programação a exibição das vinhetas-clipes dos
sambas de enredo que embalaram os desfiles das escolas do
Rio e de São Paulo.
De certa forma, os clipes do carnaval global retomou o
formato de anos anteriores. Com cerca de 30 segundos de
execução do samba enredo em playback (um trecho da letra
ou o refrão de cabeça), apareciam no vídeo intérpretes, uma
fração da bateria com alguns ritmistas, rainhas de bateria,
passistas e os casais de mestre-sala e porta-bandeira, além
da respectiva letra do samba na parte inferior da tela como
legenda.

O fim da personagem Globeleza

A TV Globo também surpreendeu a todos os fãs do


carnaval da emissora. Após cerca de 30 anos de tradição, a
Plim-Plim decidiu acabar com a famosa personagem
“Globeleza”.
A primeira vez que a personagem Globeleza apareceu na
programação da emissora foi em 1990, em um comercial
criado pelo designer austríaco Hans Donner. A sambista que
interpretou o papel por mais tempo, Valéria Valenssa, ficou
no posto por 14 carnavais.
Em 2022, a emissora decidiu que a vinheta contasse
com imagens de desfiles passados das escolas de samba.
Antes, a emissora já havia abolido a ideia de deixar a
sambista completamente nua, coberta apenas por pinturas
corporais. Nas últimas edições, Erika Moura, Globeleza desde
2015, aparecia vestida com figurinos.

RJTV1 Série Enredo e Samba


A 45 dias dos desfiles das escolas de samba, a TV Globo
começou a exibir a temporada do quadro “Enredo e Samba”,
no RJTV 1ª Edição. No comando da série desde 2014, o
comentarista e ex-carnavalesco Milton Cunha, na companhia
de Mominho (personagem virtual com quem interage), conta
detalhes dos enredos das doze escolas do Grupo Especial do
Rio de Janeiro, além de apresentar os sambas que
embalaram os foliões nas quadras no pré-carnaval e, claro,
na Sapucaí.
Em “Enredo e Samba”, Cunha antecipa os elementos
que fazem parte dos desfiles de cada escola, como carros
alegóricos, fantasias, seus símbolos, além de conversar com
carnavalescos, coreógrafos e com algumas personalidades
que se destacam na avenida. Claro, sempre com muita
irreverência, deboche, bom humor, mantendo a energia
sempre elevada, que são as características do apresentador.
A temporada 2022 de “Enredo e Samba” foi ao ar de 7 a
21 de março no jornal RJTV1, com as seguintes reportagens:

07/03 – VT de abertura do carnaval (com Milton Cunha)


08/03 – Viradouro
09/03 – Salgueiro
10/03 – Mocidade
11/03 – Tuiuti
12/03 – Vila Isabel
14/03 – Unidos da Tijuca
15/03 – Grande Rio
16/03 – Portela
17/03 – Beija-Flor
18/03 – São Clemente
19/03 – Imperatriz
21/03 – Mangueira

Barracões

Após mostrar “Enredo e Samba”, foi a vez da Globo Rio


exibir regionalmente, na sequência, a temporada de outra
atração tradicional do pré-carnaval: o programete
“Barracões”, também no RJTV 1 ª Edição.
De 28 de março a 12 de abril, a jornalista Mariana
Gross trocou o estúdio do RJTV1 pela Cidade do Samba. Ela
apresentou o telejornal direto do complexo que reúne os
barracões das escolas do Grupo Especial. Uma escola foi
destacada por dia, uma espécie de “pocket desfile, um grande
esquenta para o carnaval, encerrando o jornal com samba”,
salientou a jornalista.
“Barracões” foi exibido de 28 de março a 12 de abril de
2022 no jornal RJTV1 (apenas para o estado do Rio de
Janeiro), com as seguintes reportagens:

28/03 – Viradouro
29/03 – Beija-Flor
30/03 – Tuiuti
31/03 – Imperatriz
01/04 – Grande Rio
05/04 – Salgueiro
06/04 – Mangueira
07/04 – Mocidade
08/04 – São Clemente
11/04 – Portela
12/04 – Vila Isabel

A CONSOLIDAÇÃO DA TRANSMISSÃO
MULTIPLATAFORMA GLOBAL

A novidade na transmissão dos desfiles das escolas de


samba do grupo especial do Rio de Janeiro pela TV Globo
(além do carnaval fora de época, no mês de abril) ficou por
conta da estreia de Maju Coutinho na apresentação, ao lado
de Alex Escobar (em seu nono carnaval como âncora das
transmissões). A dupla teve a companhia de Milton Cunha e
do músico Pretinho da Serrinha, nos comentários. A direção
da transmissão do Rio neste ano foi feita pelo núcleo de J.B
de Oliveira, o Boninho, que também dirige o reality show Big
Brother Brasil.
Nos dias 22 e 23 de abril (sexta-feira e sábado),
entraram na avenida as escolas do Grupo Especial do Rio,
com transmissão em rede. Os desfiles da elite do carnaval
carioca foram exibidos após o BBB 22, para todo país, com
exceção de São Paulo, que assistiu no mesmo horário aos
desfiles de São Paulo. O site G1 e a plataforma Globoplay
transmitiram ao vivo e na íntegra os dois desfiles
concomitantemente.
Na sexta-feira (22) entraram na avenida Imperatriz
Leopoldinense, Mangueira, Salgueiro, São Clemente,
Viradouro e Beija-Flor. Após a passagem da última escola, o
início do desfile da Imperatriz foi exibido. Por conta dos
desfiles, os programas Globo Repórter, Sessão Globoplay,
Jornal da Globo, Conversa com Bial e Corujão não foram ao
ar.
No dia 23 (sábado), a TV Globo exibiu os desfiles de
Paraíso do Tuiuti, Portela, Mocidade Independente, Unidos da
Tijuca, Grande Rio e Vila Isabel. Após a passagem da última
escola, a TV Globo mostrou o início do desfile da Paraíso do
Tuiuti. Foram canceladas as exibições do Altas Horas,
Supercine e Corujão.
Nos dias 20 e 21 de abril (quarta e quinta-feira), a TV
Globo exibiu apenas para o Rio de Janeiro, os desfiles da
Série Ouro do carnaval carioca com apresentação de Mariana
Gross (nove anos como narradora da categoria) e Pedro
Bassan (na apresentação do grupo de acesso desde 2019).
Nos comentários, o jornalista e escritor Leonardo Bruno e a
porta-bandeira Lucinha Nobre.
No primeiro dia da Série Ouro (20), depois do BBB 22, o
público assistiu os desfiles de Unidos da Ponte, Porto da
Pedra, União da Ilha, Unidos de Bangu e Acadêmicos do
Sossego. E, após a passagem da última escola, o canal exibiu
os melhores momentos da Em Cima da Hora e da Acadêmicos
do Cubango. Por conta dos desfiles, Que História é Essa
Porchat?, Jornal da Globo, Conversa com Bial, Corujão I e
Hora Um não foram exibidos para o Rio de Janeiro.
No segundo dia da Série Ouro (21), a TV Globo exibiu os
desfiles de Acadêmicos de Santa Cruz, Unidos de Padre
Miguel, Acadêmicos de Vigário Geral, Império da Tijuca e
Império Serrano. Após a passagem da última escola, foram
levados ao ar os melhores momentos de Lins Imperial,
Inocentes de Belford Roxo e Estácio de Sá. Antes da
apresentação do Bom Dia Rio, na quinta e na sexta-feira, os
cariocas assistiram ainda a reprise do programa A Roda:
Samba.
Nos mesmos dias 22 e 23, a transmissão dos desfiles do
Grupo Especial paulistano, apenas para o estado de São
Paulo, teve comando de Chico Pinheiro e Michelle Barros,
com comentários de Ailton Graça e Celso Viáfora. A exibição
do primeiro dia de desfiles (sexta-feira) teve início depois do
BBB 22. Desfilaram: Acadêmicos do Tucuruvi, Colorado do
Brás, Mancha Verde, Tom Maior, Unidos de Vila Maria,
Acadêmicos do Tatuapé e Dragões da Real. Por conta do
carnaval, não houve exibição do Globo Repórter, Sessão
Globoplay, Jornal da Globo, Conversa com Bial, Corujão I, II e
III.
No sábado (23), também após o BBB 22, foi a vez de Vai-
Vai, Gaviões de Fiel, Mocidade Alegre, Águia de Ouro, Barroca
Zona Sul, Rosas de Ouro e Império da Casa Verde invadirem
a avenida. Com isso, a Globo suspendeu as exibições do Altas
Horas, Supercine, Corujão I, II e da Santa Missa.
Uma semana após apresentar os desfiles do carnaval
paulistano, o jornalista e apresentador Chico Pinheiro se
desligou da TV Globo. Em comum acordo com a emissora,
Pinheiro encerrou um ciclo de 32 anos de jornalismo diário
no canal e vinte anos dedicados à folia.
Na terça-feira, dia 26, a apuração do resultado dos
desfiles seguiu o mesmo modelo nos dois principais polos
globais: a definição da escola campeã do Rio de Janeiro foi
transmitida em rede pela TV Globo, a partir das 16 horas,
com apresentação de Mariana Gross e comentários de Milton
Cunha.
Enquanto isso, na mesma data e mesmo horário, o
público de São Paulo acompanhou a votação da eleita do
carnaval paulistano. No comando da transmissão estiveram
Michelle Barros e o apresentador do telejornal regional SPTV
2ª Edição, também chamado de SP2, Carlos Tramontina.
Nesse dia, “O Cravo e a Rosa” e “O Clone” – novelas
reexibidas no Vale a Pena Ver de Novo – e o filme da Sessão
da Tarde não foram exibidos.
Casualmente, em duas semanas a Globo perdeu o trio
de apresentadores envolvidos com o carnaval de SP. Após a
demissão de Chico, foi a vez de Michelle Barros e Carlos
Tramontina anunciarem suas saídas da Rede Globo logo
depois da apuração das escolas de samba.
Por parte de Tramontina, a informação divulgada nas
redes sociais aconteceu duas horas após ele ter apresentado
a apuração das escolas de samba no Carnaval paulistano. O
jornalista saiu da emissora depois de 43 anos de atividades
profissionais dedicadas à TV Globo.
No caso de Michelle, ela contou – através de sua conta
no Instagram – que pediu demissão no dia 12 de maio. A
apresentadora e repórter se despediu da Globo após ter
trabalhado na casa por 12 anos.
O Globoplay contou com sinais extras para alcançar
todo Brasil e para que qualquer pessoa pudesse assistir ao
desfile que preferir. A plataforma também disponibilizou a
apresentação de todas as escolas de samba na íntegra no
VOD (vídeo sob demanda), gratuitamente, para não-
assinantes logados.
A cobertura multiplataforma incluiu ainda o G1, que fez
a transmissão na íntegra dos desfiles e da apuração do
carnaval do Rio (Série Ouro e Grupo Especial) e de São Paulo
(Grupo Especial). O site ainda ofereceu cobertura em tempo
real, com matérias, trechos em vídeos dos melhores
momentos dos desfiles, galeria de fotos e o Prêmio Globeleza,
no qual o público elegeu seus desfiles preferidos do Rio e de
São Paulo, pela página http://g1.com.br/carnaval.
A Globo News também não ficou de fora da folia. O hiato
pandêmico foi tema do documentário Chegou o Carnaval, que
foi exibido pelo canal no domingo, dia 17 de abril, às 23
horas. A produção da Globo ouviu personalidades do samba
como Neguinho da Beija-Flor, Selminha Sorriso, Milton
Cunha, Rosa Magalhães e Moacyr Luz, além do prefeito
Eduardo Paes.
Chegou o Carnaval mostrou as incertezas que cercavam
a realização dos desfiles este ano, e também como as escolas
de samba e seus componentes enfrentaram a pandemia e
buscaram superar esse momento para retomar a sua maior
paixão – o Carnaval. O material é uma produção original da
Globo.

Multishow vira alvo de críticas em cobertura das Campeãs


na Sapucaí

Pela primeira vez, o Multishow transmitiu ao vivo o


Desfile das Campeãs do Rio de Janeiro. No entanto, o canal
virou alvo de muitas críticas e foi detonado na web após
equipe despreparada dar vexame em cobertura na Sapucaí,
na noite do dia 30 de abril.
Os apresentadores oficiais da cobertura do Multishow
foram o ex-carnavalesco Milton Cunha e a porta-bandeira
Lucinha Nobre. Ambos participaram da transmissão pela TV
Globo, entre os dias 20 e 23 de abril. Milton no Grupo
Especial e Lucinha na Série Ouro.
O canal convidou atores e humoristas para trabalhar
como repórteres no evento. Participaram a comediante
Isabelle Marques (na pele da personagem Briti, do
humorístico Tô de Graça), além do ator e influencer Pedroca
Monteiro, a atriz Cacau Protásio, a modelo e colunista de
moda Laura Vicente, e a ex-BBB e influenciadora digital Mari
Gonzalez.
Pedroca Monteiro e Mari Gonzalez viraram chacota nas
redes sociais, por conta das constantes gafes que cometeram
ao vivo, por não terem estudado o básico para desenvolver
uma boa cobertura da festa para os telespectadores que
acompanhavam os desfiles de casa. Vale ressaltar que
nenhum dos dois é jornalista e, no caso, deixaram bem claro
que não possuem qualquer aptidão para desempenhar tal
função.
Em determinado momento da passagem de uma das
escolas, Pedroca se enfiou no meio de uma das alas em que
os componentes estão fantasiados de antílopes. No entanto,
sem ter conhecimento sobre a origem das fantasias, o dublê
de ator e influencer circulou sem rumo ao lado dos
integrantes e cometeu o grotesco erro de dizer que “se
identificou com a ala dos veados”.
Mari Gonzalez não ficou atrás e cometeu um erro mais
grave ainda. A ex-BBB teve a coragem de perguntar ao
Martinho da Vila como ele estava se sentindo por ser
homenageado pela Portela. A ex-sister se confundiu toda ao
citar outra escola e deixou o sambista perplexo e sem
palavras. Mari, que deve ter sido chamada atenção pela
produção no ponto em seu ouvido, ainda remendou: “Na
Portela não, eu falei errado. Na Vila… Perdão, Martinho. É
que a Portela tá passando”, tentou justificar.
Em outro momento, a beldade atrapalhou o carro de
som do Salgueiro ao tentar entrevistar Emerson Dias, um dos
puxadores da agremiação. O cantor ignorou o pedido da
“repórter”, mas ela insistiu e ele precisou interromper
rapidamente o canto para dizer pra ela que não podia parar
no meio da letra.
Outra gafe histórica na transmissão do Desfile das
Campeãs pelo Multishow partiu da ex-modelo e
influenciadora Laura Vicente. A colunista de moda teve a
coragem de perguntar ao experiente Milton Cunha se o carro
abre-alas vinha sempre na frente. Laura, que confessa ser
completamente alheia ao Carnaval, nem precisa entender
bem sobre os desfiles das escolas para saber que o próprio
nome da alegoria já diz tudo.
Nas redes sociais, muitos internautas acharam um
verdadeiro desrespeito com o samba, com o Carnaval e com
as escolas o tamanho despreparo da equipe que fez a
cobertura do evento pelo Multishow. Muitos amantes do
Carnaval carioca classificaram a conduta do grupo de
convidados como “vergonhosa” e uma falta de respeito com a
festa e com o público que assistia tudo de casa.
A volta de mais um campeão de audiência

A apuração das notas das escolas de samba do Grupo


Especial do Rio de Janeiro, com transmissão pela TV Globo,
rendeu à emissora a maior audiência da faixa das 16h03 às
18h39 desde novembro de 2021.
A contagem que consagrou a Acadêmicos do Grande Rio
como campeã do Carnaval carioca pela primeira vez marcou
29 pontos no Rio e 59% de participação entre os televisores
ligados. Ao todo, foram mais 11 pontos (61%) de audiência e
mais 17 pontos de participação no comparativo com a média
da faixa das quatro terças-feiras anteriores.
Os números se aproximam à boa audiência alcançada
pela reedição da telenovela “Pantanal”, que estreou no dia 28
de março de 2022 com 28 pontos e que atingiu os 30 pontos
nos capítulos das primeiras semanas de exibição.

Desfile da Série Ouro garante audiência histórica à Globo

A transmissão dos desfiles da noite da Série Ouro pela


TV Globo rendeu os maiores números no Rio de Janeiro em
22 anos. A cobertura do Carnaval marcou 16 pontos de
média e 59% de participação entre as TVs ligadas, um
crescimento de 7 pontos (78%) em relação ao saldo das
quatro semanas anteriores no horário.
Essa foi a maior audiência da faixa da madrugada
(meia-noite às 6h) de uma sexta para um sábado desde 2000.
No sábado (23), a transmissão bateu 14 pontos, com 52% de
participação entre as TVs ligadas na Grande Rio, um
crescimento de 75% (ou 6 pontos) em relação à média da
faixa calculada nas quatro semanas anteriores.
Segundo a Kantar Ibope, cada ponto equivale neste ano
a 205.755 pessoas na Grande São Paulo, 124.692 pessoas na
Grande Rio de Janeiro e 713.821 pessoas nas 15 praças
aferidas no PNT.
As escolas de samba da Série Ouro do Carnaval do Rio
de Janeiro garantiram à TV Globo a melhor madrugada de
2022. A transmissão, restrita às afiliadas cariocas da
emissora, anotou 11,5 pontos de média e picos de 25,1
pontos na região metropolitana, os maiores índices da
temporada.
Vice-líder, o SBT ficou com 1,7 ponto na conjugação dos
resultados dos programas A Praça é Nossa, The Noite,
Operação Mesquita, Escolinha do Golias, Ó, Coitado, Conexão
Repórter e SBT Brasil. A TV Record marcou 1,1 ponto.
Grupo Especial do Rio registra picos de 25 pontos de
audiência na madrugada

Os primeiros desfiles do Grupo Especial do Carnaval do


Rio de Janeiro deixaram a TV Globo muito à frente das rivais
na madrugada de sexta-feira (22). Entre 0h e 4h, a festa na
Sapucaí atingiu média de 16,9 pontos e picos de quase 26,
contra 1,5 do SBT e 1,2 da Record.
À zero hora de sábado (23), a Globo tinha 25,6 dos 47,4
pontos possíveis, contra 3,7 da Record. À 1h, a folia batia o
SBT por 20 a 2 pontos, e o total de aparelhos ligados era de
35,9. Às duas horas da manhã, com 27,1% dos aparelhos
ligados, o Carnaval era dono de 17 pontos de audiência,
contra 1,2 ponto do The Noite, que exibia um especial com o
grupo de humoristas Hermes & Renato, que tinha um
programa na antiga MTV Brasil.

Desfiles de Carnaval de São Paulo perdem público na TV


Ao contrário dos desfiles do Rio de Janeiro que,
transmitido em rede nacional bateu recordes históricos de
ibope, mesmo realizado fora de época, o Carnaval de São
Paulo perdeu audiência na transmissão da TV Globo. Por
serem realizados dessa vez nos dias 22 e 23 de abril, mesma
data do RJ, os desfiles paulistanos foram exibidos apenas
regionalmente para o estado de São Paulo.
O primeiro dia de transmissão dos desfiles das escolas
de samba paulistas, na sexta-feira, dia 22, teve 18% menos
audiência do que o registrado em 21 de fevereiro de 2020.
Segundo o jornal Folha de São Paulo, considerando
apenas a região da Grande São Paulo, o saldo da noite de
sexta (22) para sábado (23) foi de 8 pontos de média, com
35% de participação entre os televisores ligados.
Para termos de comparação, em 2020, a audiência
marcou 10,6 pontos de média no primeiro dia do evento, e
11,3 pontos no sábado, ante 9,3 do sábado (23) deste ano,
também na Grande SP.
Em relação às quatro semanas anteriores à transmissão
da vez, houve crescimento de 13% na faixa da madrugada de
sábado para domingo, da meia-noite às 6h, tendo sido o
maior placar do horário desde agosto de 2021, quando a TV
Globo transmitia as Olimpíadas de Tóquio.
No Rio, a transmissão iniciada na sexta, dia 22 de abril,
alcançou 16 pontos de média e 59% de participação entre as
tevês ligadas. Ou seja, um crescimento de 7 pontos (78%) em
relação ao saldo das quatro semanas anteriores no horário. E
foi a maior audiência da faixa da madrugada (meia-noite às
6h) de uma sexta para um sábado desde 2000.
Já no sábado, dia 23, a transmissão fez 14 pontos, com
52% de participação entre as TVs ligadas na região do Grande
Rio, um crescimento de 75% (ou 6 pontos) em relação à
média da faixa calculada nas quatro semanas anteriores.
Recorde regional

Embora a audiência do Carnaval do Rio tenha sido


recorde na região em 22 anos, o espetáculo ficou sem
transmissão na TV da Grande São Paulo, segmento de maior
público do país.
Dos 713.821 espectadores a que corresponde 1 ponto no
Painel Nacional de TV mensurado pela Kantar Ibope, quase
29% estão na Grande São Paulo, onde cada ponto em 2022
equivale a 205.755 pessoas. Já 1 ponto de audiência na
região do Grande Rio corresponde hoje a 124.692
espectadores.
Os moradores da Grande SP só puderam acompanhar
os desfiles da Sapucaí, que normalmente rendem boa
audiência na região, por meio do sinal do streaming na
plataforma GloboPlay.

MEDIÇÃO DA AUDIÊNCIA DA TV

A Kantar Ibope Media é a empresa responsável pela


medição de audiência na TV brasileira. Atualmente, a
pesquisa abrange treze regiões metropolitanas, Manaus e o
Distrito Federal.
Os números são captados pelo Peoplemeter, um
“medidor de pessoas” ou medidor de audiências. Trata-se de
um aparelhinho criado na década de 1990. É um dispositivo
desenvolvido pela empresa Audits of Great Britain, que
permite medir passivamente a audiência dos canais de TV ou
rádio.
Além da soma bruta da audiência, estipulada em
pontos, a Kantar Ibope Media projeta o share (número que
representa, em porcentagem, a participação de determinado
programa ou emissora no total de televisores ligados dentro
de uma faixa horária), o alcance (quantos telespectadores são
impactados naquela atração, dia, mês, ano ou temporada) e o
perfil do público (gênero, renda, idade).
Essas estatísticas ajudam as emissoras a comercializar
ações de merchandising, intervalos comerciais, etc.

VALOR DO PONTO DE AUDIÊNCIA PARA A


TEMPORADA 2022

Grande São Paulo: 1 ponto = 74.666 domicílios e


205.755 indivíduos
Grande Rio De Janeiro: 1 ponto = 47.601 domicílios e
124.692 indivíduos
Grande Belo Horizonte: 1 ponto = 20.542 domicílios e
55.282 indivíduos
Grande Porto Alegre: 1 ponto = 16.334 domicílios e
40.462 indivíduos
Grande Salvador: 1 ponto = 12.813 domicílios e 35.591
indivíduos
Grande Recife: 1 ponto = 12.529 domicílios e 36.186
indivíduos
Grande Fortaleza: 1 ponto = 12.193 domicílios e 36.995
indivíduos
Grande Curitiba: 1 ponto = 11.628 domicílios e 31.945
indivíduos
Distrito Federal: 1 ponto = 9.335 domicílios e 27.604
indivíduos
Grande Goiânia: 1 ponto = 8.682 domicílios e 24.166
indivíduos
Grande Campinas: 1 ponto = 8.035 domicílios e 22.328
indivíduos
Grande Belém: 1 ponto = 7.241 domicílios e 22.726
indivíduos
Grande Vitória: 1 ponto = 6.673 domicílios e 18.457
indivíduos
Manaus: 1 ponto = 6.247 domicílios e 20.547 indivíduos
Grande Florianópolis: 1 ponto = 4.302 domicílios =
11.084 indivíduos
Painel Nacional de Televisão (PNT): 1 ponto = 258.821
domicílios = 713.821 indivíduos.

GLOBO RIO DE JANEIRO (EQUIPE 2022)


Narração: Alex Escobar, Maju Coutinho, Mariana Gross e
Pedro Bassan; Milton Cunha (Multishow – Desfile das Campeãs).
Comentários: Leonardo Bruno, Lucinha Nobre, Milton Cunha
e Pretinho da Serrinha; Cacau Protásio, Isabelle Marques, Laura
Vicente, Mari Gonzalez e Pedroca Monteiro (Multishow – Desfile das
Campeãs).
Reportagens: Alexandre Hendersen, Chico Regueira, Danilo
Vieira, Diego Haidar, Erick Rianelli, Fábio Judice, Fernanda Graell,
Lívia Torres, Marina Araújo, Paulo Renato Soares, Pedro Basan,
Pedro Figueredo, Priscila Chagas e Rogério Coutinho.
Camarote Nº 1 Brahma: Érico Brás.

GLOBO SÃO PAULO (equipe 2022)


Narração: Chico Pinheiro e Michelle Barros.
Comentários: Ailton Graça e Celso Viáfora.
Reportagens: Bernardo Bortolotto, Cristina Mayumi, Filipe
Gonçalves, Laura Cassano, Luiza Vaz, Marcelo Pereira, Mariana
Aldano, Patrícia Falcoski, Rômulo D'Avila e Tiago Scheuer.

TV ALERJ TRANSMITE CARNAVAL


DA ESTRADA INTENDENTE MAGALHÃES

O Carnaval da Intendente Magalhães de 2022 teve


cobertura ao vivo da TV Alerj, canal pertencente à Assembleia
Legislativa do Estado do Rio de Janeiro.
Os desfiles da Série Prata, que projetam as duas escolas
de samba vencedoras para a Série Ouro, foram transmitidos
nos dias 29 e 30 de abril, com apresentação da repórter
Mônica Puga e Fernando Cesar, e comentários dos radialistas
Fernando Cabeção e Ludmila de Aquino. A programação da
emissora é exibida na tevê aberta pelo canal 10.2; na Net pelo
canal 12 e pelo canal da Alerj no YouTube.
A emissora mobilizou cerca de 80 profissionais para
trabalhar na equipe de cobertura ao vivo (fato inédito na
programação da Casa), com oito câmeras, para levar ao
público os melhores momentos dos desfiles.
Os repórteres da TV Alerj também acompanharam os
bastidores das escolas que desfilaram na Série Prata para
entender o processo de preparação de um desfile. Pela
primeira vez o carnaval mais popular do Rio, realizado na
Estrada Intendente Magalhães, no bairro de Campinho (zona
norte da cidade do Rio), foi veiculado por uma emissora de
televisão. A parceria da TV Alerj com a Superliga
Carnavalesca do Brasil garantiu alcance nacional à folia da
Intendente Magalhães.
Ao todo, desfilaram 25 agremiações, onze no primeiro
dia (29) e 14 no segundo (30), com 45 minutos de desfile para
cada escola. Além da transmissão na íntegra realizada com
oito câmeras, a equipe de repórteres entrou com flashes nos
intervalos.
O compacto de cada escola ficou disponível no canal de
Youtube da emissora. “Nunca na história da TV Alerj foi feita
uma transmissão como essa”, exclamou o diretor da tevê,
Luciano Silva. O canal do Youtube da TV Alerj pulou de 39
mil para mais de 42 mil inscritos. “Nosso principal objetivo é
esse: aproximar ainda mais o Poder Legislativo da
população”, concluiu Silva.
A cobertura do “Carnaval da Intendente” teve também a
participação de sambistas: o mestre de bateria Thiago Diogo,
o mestre-sala Marquinho Rodrigues, o pesquisador e
percussionista André Bonatti, o ex-diretor de Carnaval da
Imperatriz Leopoldinense, Wagner Araújo, o repórter do site
Carnavalesco Guilherme Ayupp, o radialista André
Gasparetty (filho do saudoso cantor Aroldo Santos, que foi
homenageado no desfile da Série Prata pela Unidos de Villa
Rica) e o intérprete Leonardo Bessa.
O “Carnaval da Intendente” fez parte da estratégia da TV
Alerj de ampliar a grade de programação com oferta de
informação, entretenimento e cultura, alcançando nichos de
interesses pouco explorados, do popular ao erudito, passando
também pelo esporte.

Ordem dos desfiles da Série Prata

Sexta-feira, 29 de abril, a partir das 21h45:


1º Arame de Ricardo
2º Sereno de Campo Grande
3º Independente da Praça da Bandeira
4º Raça Rubro-Negra
5º Arranco do Engenho de Dentro
6º Independentes de Olaria
7º Renascer de Jacarepaguá
8º Império da Uva
9º Acadêmicos da Diversidade
10º Difícil é o Nome
11º Botafogo Samba Clube

Sábado, 30 de abril, a partir das 20h:


1º Alegria da Zona Sul
2º Acadêmicos da Rocinha
3º Unidos de Villa Rica
4º Caprichosos de Pilares
5º União de Jacarepaguá
6º Leão de Nova Iguaçu
7º Unidos de Vila Santa Tereza
8º Unidos de Vila Kennedy
9º União de Maricá
10º União do Parque Curicica
11º Rosa de Ouro
12º Acadêmicos da Abolição
13º Parque Acari
14º Unidos do Jacarezinho

TV ALERJ (equipe 2022)


Narração: Fernando Cesar e Mônica Puga.
Comentários: Fernando Cabeção e Ludmila de Aquino.
Convidados: André Bonatti, André Gasparetty, Guilherme
Ayupp, Leonardo Bessa, Marquinho Rodrigues, Thiago Diogo e
Wagner Araújo.
Reportagens: Fernanda Nogueira, Fernando Oliveira, Marcela
Buzelin, Natália Pugliese, Paulo Victor Viviani, Priscilla Leão e Rui
Guilherme.

TV CULTURA TRANSMITE DESFILE DAS CAMPEÃS DO


CARNAVAL DE SÃO PAULO 2022

O desfile das campeãs do Carnaval de São Paulo 2022


teve transmissão pela TV Cultura. A cobertura ao vivo pela
emissora pública paulista começou na sexta-feira, dia 29 de
abril, às 22 horas, logo após o Jornal da Cultura.
O cortejo contou com as cinco primeiras colocadas do
Grupo Especial (Mancha Verde, Mocidade Alegre, Império de
Casa Verde, Tom Maior e Unidos de Vila Maria), a campeã e
vice-campeã do Grupo de Acesso 1 (Estrela do Terceiro
Milênio e Independente Tricolor) e a vencedora do Grupo de
Acesso 2 (Nenê de Vila Matilde).
Diretamente do estúdio da TV Cultura montado no
Sambódromo do Anhembi, os apresentadores Adriana Couto,
Cunha Jr. e Cris Guterres comandaram a transmissão e
receberam convidados e integrantes das escolas de samba
para comentar os desfiles.
Já com as reportagens, Adriana Cimino, Rafael Cortez e
Rodrigo Leitão mostraram os bastidores do evento,
principalmente na concentração e dispersão das agremiações.
A equipe de comentaristas foi composta pela cantora
Fabiana Cozza, o diretor de harmonia Edison Paulino, o
sociólogo e sambista Tadeu Kaçula, o diretor de carnaval
Judson Sales e o figurinista Chico Spinosa.
Ordem e horários do Desfile das Campeãs SP:

1- Nenê de Vila Matilde (21h30)


2- Independente Tricolor (22h20)
3- Estrela do Terceiro Milênio (23h10)
4- Mocidade Alegre (00h00)
5- Unidos de Vila Maria (01h00)
6- Tom Maior (02h00)
7- Império de Casa Verde (03h00)
8- Mancha Verde (04h00)

TV CULTURA SP (equipe 2022)


Narração: Adriana Couto, Cris Guterres e Cunha Jr.
Comentários: Chico Spinosa, Edison Paulino, Fabiana Cozza,
Judson Sales e Tadeu Kaçula.
Reportagens: Adriana Cimino, Rafael Cortez e Rodrigo Leitão.

OUTROS POLOS CARNAVALESCOS PELO PAÍS EM 2022

Carnaval de Vitória

Os desfiles de sexta-feira (dia 8 de abril) e sábado (dia 9)


das escolas de samba de Vitória, no Sambão do Povo, foram
transmitidos pelo site G1 e pela TV Gazeta. Antes, na quinta
(dia 7), os desfiles foram iniciados pelas escolas do Grupo B:
Barreiros, Eucalipto, União Jovem Itacibá, Mocidade Serrana
e Tradição Serrana.
Na sexta, a transmissão começou a partir das 22 horas,
para o Brasil e para o mundo, pelo G1. A avenida recebeu as
escolas pertencentes ao Grupo A: Independentes de São
Torquato, Chega Mais, Mocidade da Praia, Rosas de Ouro,
Pega no Samba e Império de Fátima. Para as agremiações dos
Grupos A e B, o tempo mínimo de apresentação foi de 45
minutos e o máximo de 55 minutos.
No sábado, o comando ficou a cargo da TV Gazeta,
emissora afiliada à TV Globo, em transmissão aberta para
todo o Espírito Santo, a partir das 23h10, depois do BBB 22.
O G1 também transmitiu os desfiles de sábado pela internet.
As escolas do Grupo Especial tiveram tempo mínimo de 52
minutos e o máximo de 62 minutos de apresentação.
Esta foi a ordem de desfile do Grupo Especial do
Carnaval Capixaba no Sambão do Povo:

22h - Unidos de Jucutuquara


23h12 - Imperatriz do Forte
00h24 - Novo Império
1h36 - Independentes de Boa Vista
2h48 - Mocidade Unida da Glória (MUG)
4h - Unidos da Piedade
5h12 - Andaraí

Toda a cobertura contou com uma equipe de cerca de


170 profissionais dos setores de jornalismo, operação,
programação, tecnologia, engenharia, comunicação,
comercial, marketing e terceirizados. Para as imagens, foram
utilizadas 18 câmeras e um drone. Um estúdio em vidro foi
montado na dispersão do sambódromo. Repórteres foram
deslocados para a concentração, na dispersão, no meio de
pista e na arquibancada.
Na apresentação para o G1 na sexta-feira, os jornalistas
André Falcão e Carol Monteiro. No sábado, os apresentadores
Mário Bonella e Daniela Abreu ficaram no comando da
transmissão de sábado para a TV Gazeta e site G1. O time de
comentaristas foi formado por Gleidson Santos, Iamara
Nascimento, Jace Theodoro e Marcus Vinicius Santana.
O desfile de Vitória é considerado o terceiro maior do
país. Quarenta mil pessoas assistiram nas arquibancadas e
camarotes.

TV GAZETA E G1-ES (2022)


Narração: André Falcão, Carol Monteiro, Daniela Abreu e Mário
Bonella.
Comentários: Gleidson Santos, Iamara Nascimento, Jace
Theodoro e Marcus Vinicius Santana.

Carnaval em Corumbá

Após dois anos sem festa, o Carnaval de Corumbá (a


420 km de Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul)
teve seis dias de festa em 2022, ocorridos em 18, 19, 21, 22,
23 e 24 de abril, na Ferradura do Porto Geral da cidade. A
comemoração contou com desfile das escolas de samba,
blocos, concursos de fantasias e até rodas de samba.
Em parceria inédita com o site Imprensa MS, o portal
Capital do Pantanal transmitiu ao vivo, todas as atrações do
Carnaval de Corumbá, que passaram pela Avenida General
Rondon, mais conhecida como passarela do samba durante
os dias de folia na Cidade Branca.
O acesso ao vivo dos desfiles das escolas de samba e dos
blocos pelo site esteve disponível para acesso em
computador, tablet ou celular. A novidade valorizou o maior
carnaval da região Centro-Oeste, que através da transmissão
online pôde ser contemplado de qualquer lugar do país.
O desfile das entidades filiadas à Liga Independente das
Escolas de Samba de Corumbá (LIESCO) aconteceu na sexta
e no sábado, dias 22 e 23 de abril, na Avenida General
Rondon.
Na sexta, passaram pela passarela do samba as
seguintes agremiações: Caprichosos de Corumbá, Mocidade
Independente da Nova Corumbá, Acadêmicos do Pantanal,
Império do Morro, Estação Primeira do Pantanal.
No sábado, dia 23, foi a vez da Marquês de Sapucaí,
Unidos da Major Gama, A Pesada, Unidos da Vila Mamona e
Imperatriz Corumbaense.

Carnaval em Manaus

Devido à pandemia da Covid-19, as escolas de samba de


Manaus iriam se apresentar nos dias 17, 18 e 19 de março,
em lives, inicialmente sem a presença de público. Em seguida
o governo do Amazonas mudou a regra e autorizou a
presença de até três mil pessoas na plateia por noite.
As apresentações foram no Centro Convenções de
Manaus, o Sambódromo. A TV A Crítica fez a transmissão
das lives, sempre a partir das 20 horas.
A festa gerou renda para trabalhadores, como
costureiras, artistas, cabeleireiros, maquiadores,
profissionais da segurança, motoristas de aplicativos entre
outros profissionais autônomos. Pesquisa divulgada em 2019,
em parceria com a Universidade Federal do Amazonas
(UFAM), mostrou a importância do carnaval enquanto evento
popular na cadeia produtiva da cultura e na geração de
renda.
Cerca de 10 mil postos de trabalho, sendo 4,5 mil
somente nos galpões dos grupos Especial e Acesso, foram
gerados naquele ano. O que denota essa importância do
Estado no apoio a esses eventos.
A folia começou às 20 horas do dia 17 de março (quinta-
feira), com a apresentação das nove escolas do Grupo de
Acesso B: Leões do Barão de Açú, Gavião do Parque, Meninos
Levados, Império do Mauá, Legião de Bambas, Ipixuna,
Unidos da Coophasa, Unidos da Cidade Nova e Balaku Blaku.
Neste dia a transmissão foi feita pelo Facebook e YouTube
dos canais do Governo do Amazonas.
As nove agremiações do Grupo de Acesso A realizam a
live-show no dia 18 (sexta-feira), com início também às 20
horas: Mocidade Independente da Raiz, Império do Hawai,
Beija-Flor do Norte, Acadêmicos da Cidade Alta, Sem
Compromisso, Presidente Vargas, Dragões do Império,
Tradição Leste e Mocidade Independente do Coroado. A TV
Encontro das Águas transmitiu os shows.
Já o Grupo Especial, com oito escolas, encerrou as
transmissões ao vivo, no dia 19 de março (sábado), pela TV A
Crítica: Vila da Barra, Primos da Ilha, Andanças de Ciganos,
Reino Unido da Liberdade, Mocidade Independente de
Aparecida, A Grande Família, Unidos do Alvorada e Vitória
Régia.
Cada escola levou uma alegoria e destaques como casal
de mestre-sala e porta-bandeira, bateria, puxador de samba,
passistas e alas, com número de integrantes reduzido de até
300 pessoas. As entidades começaram o desfile pela
concentração, com evolução em frente ao palco da
apresentação montado na área do recuo da bateria.
O tempo máximo de desfile de cada agremiação foi de
até 30 minutos para os Grupos de Acesso e 40 minutos para
as escolas do Grupo Especial.
Para viabilizar as lives, as escolas tiveram que obedecer
a rígidos protocolos de saúde como prevenção à Covid-19. A
Fundação de Vigilância em Saúde – Dra. Rosemary Costa
Pinto (FVS-RCP) realizou testes em todos os integrantes 48
horas antes das apresentações. O acesso ao Sambódromo só
foi permitido com o resultado do teste negativo. Os foliões das
escolas tiveram que apresentar a carteira de vacinação com o
ciclo completo de imunização contra a Covid-19.

Carnaval de Niterói

Os desfiles das entidades carnavalescas em Niterói


aconteceram no Caminho Niemeyer (um conjunto de
equipamentos culturais e centro cultural projetados pelo
arquiteto Oscar Niemeyer, nos bairros litorâneos da cidade),
nas noites de 21 a 24 de abril. Ao todo, foram mais de 24
horas de cobertura ao vivo da festa, com transmissão pelos
canais digitais da Prefeitura Municipal de Niterói (Facebook,
Instagram e YouTube).
No dia 21 de março (quinta) teve início o tradicional
desfile das agremiações da cidade. Pela ordem de
apresentação, representando o grupo B: Amigos da Ciclovia,
União da Engenhoca, Bafo do Tigre, Império de Arariboia,
Banda Batistão, Bem Amado, Paraíso do Bonfim, Balanço do
Fonseca, Cacique da São José e Tá Rindo Porquê?
No sábado, dia 23, pelo Grupo Principal, desfilaram a
escola de samba Sábia, Alegria da Zona Norte, Mocidade de
Icaraí, Magnólia Brasil, Experimenta da Ilha, Folia do
Viradouro, Unidos da Região Oceânica e Souza Soares.
O Grupo C encerrou o evento no dia 24 de abril
(domingo), com Império do Charitas, União do Maruí,
Independente do Boaçu, Grilo da Fonte, Barro Vermelho,
Fora de Casa, Garra de Ouro, Unidos do Castro, Galo de
Ouro e Grupo dos 15.
A equipe de transmissão do carnaval de Niterói contou
com as apresentadoras Aline Santos e Verônica Souza,
Suzana Moura (analista especializada em carnaval), e a social
media Daniele Erthal, que comandou um quadro sobre os
comentários nas redes sobre os desfiles. O quarteto esteve em
um estúdio de vidro montado na passarela do samba.
Duas repórteres e três social media também
participaram da cobertura, acompanhando os bastidores e os
melhores momentos da folia. Quinze câmeras e um drone
atuando na passarela do samba foram utilizados na
cobertura do evento.

Carnaval no Distrito Federal

O carnaval de rua de 2022 em Brasília foi oficialmente


cancelado devido à extensão da pandemia da Covid-19. Mas,
graças ao projeto Apoio das Atividades Carnavalescas
Permanentes, da Secretaria de Cultura e Economia Criativa
(Secec), os integrantes da Liga Carnavalesca dos Trios,
Bandas e Blocos Tradicionais (LCTBBT) e da União das
Escolas de Samba do Distrito Federal (Uniesb) comandaram a
folia por meio de lives no mês de março.
A ação cultural permitiu que a população mantivesse o
contato com a alegria da festa ao mesmo tempo em que
garantisse renda para esse segmento da economia criativa.
Um chamamento público da Secec, no segundo semestre do
ano passado, designou R$ 3,95 milhões para as duas
propostas: LCTBBT (R$ 1,2 milhão) e Uniesb (R$ 2,95
milhões), gerando 4,5 mil empregos diretos e indiretos e
quebrando um jejum de sete anos sem verba pública para as
agremiações das escolas de samba do DF, que pisou pela
última vez na avenida no carnaval de 2014.
Com cronograma de lives até o mês de maio de 2022, o
projeto Brasília tem Cultura Carnavalesca – Atividades
Carnavalescas Permanentes nas Escolas de Samba de
Brasília reuniu até março de 2022 um público de 19 mil
espectadores em 13 lives, com dois mil postos de trabalho,
dos quais 1,5 mil são destinados a pessoas negras.
Esta foi a programação online que celebrou o encontro
dos blocos tradicionais no Carnaval 2022, no mês de março,
em Brasília:
 3 de março (quinta): Galinho de Brasília recebe Asé
Dudu.
 4 de março (sexta): Bloco dos Raparigueiros recebe
Menino de Ceilândia.
 10 de março (quinta): Menino de Ceilândia recebe
Bloco dos Raparigueiros.
 13 de março (domingo): Liga dos Blocos
Tradicionais.
 17 de março (quinta-feira): Pacotão recebe
Baratona.
 18 de março (sexta): Galinho de Brasília recebe Asé
Dudu.
 25 de março (sexta): Asé Dudu recebe Galinho de
Brasília.
As lives foram transmitidas e se encontram disponíveis
no Canal Encontros dos Blocos Tradicionais – YouTube.

Carnaval em Porto Alegre

O colorido das escolas de samba de Porto Alegre também


esteve de volta à Passarela do Samba Carlos Alberto Barcellos
Roxo, no Complexo Cultural do Porto Seco. A última vez que
a capital gaúcha teve seus desfiles de carnaval transmitidos
pela televisão foi em 2017. Em 2022, a transmissão ao vivo se
deu graças a uma parceria entre as escolas de samba e a
produtora gaúcha de vídeos Cubo Filmes juntamente com a
TVE-RS.
� A festa popular aconteceu pela quarta vez fora de
época, nos dias 6, 7 e 8 de maio, com desfile das escolas das
séries Ouro (o equivalente à primeira divisão ou Grupo
Especial), Prata (segunda divisão) e Bronze (terceira divisão).
A Cubo Filmes é proprietária da CuboPlay – uma
plataforma de vídeos streaming – em que os foliões e
internautas podem assistir a todos os sambas enredo que
desfilaram no Porto Seco, na seção de clipes, além de
acompanhar o evento do Festival de Sambas Enredo,
realizado em abril, que também fez parte da programação do
portal, que também disponibiliza podcasts referentes ao
carnaval gaúcho.
A TVE foi parceira da Cubo Filmes na cobertura dos
desfiles de Porto Alegre. A emissora pública gaúcha
retransmitiu em tevê aberta, no canal 7.0, o sinal da Cubo
Play durante os desfiles, criando sua cobertura alinhada à
transmissão das plataformas digitais da produtora.
Os interessados também puderam assistir pela internet,
na plataforma da Cubo (www.cuboplay.com.br) e nas redes
sociais da Rádio ABC FM 103,3 (Facebook e YouTube)
No dia 6 (sexta) os desfiles começaram pelas escolas da
Série Prata, que tiveram 50 minutos de apresentação cada:
Os Comanches (tribo carnavalesca convidada), Unidos da Vila
Mapa, Copacabana, Realeza, Academia de Samba Praiana,
Unidos de Vila Isabel, União da Tinga e Academia de Samba
Puro.
No sábado (dia 7), a transmissão teve início às 21 horas.
As escolas da Série Ouro tiveram tempo máximo de 60
minutos de apresentação. A ordem de desfile da elite do
carnaval porto-alegrense no Complexo Cultural do Porto Seco
foi esta:
21h – Fidalgos e Aristocratas
22h10 – Acadêmicos de Gravataí
23h20 – União da Vila do IAPI
0h30 – Império do Sol
1h40 – Bambas da Orgia
2h50 – Estado Maior da Restinga
4h – Imperadores do Samba
5h10 – Imperatriz Dona Leopoldina
6h20 – Império da Zona Norte

No dia 8 de maio, em pleno domingo de Dia das Mães, a


passarela do samba Carlos Alberto Barcellos Roxo recebeu as
escolas pertencentes à Série Bronze: Cohab-Santa Rita,
Protegidos da Princesa Isabel, Unidos do Guajuviras,
Mocidade da Lomba do Pinheiro, Acadêmicos da Orgia e
Filhos de Maria. Cada uma teve um tempo máximo de
apresentação de 40 minutos. Antes do desfile da categoria
Bronze, as escolas de samba Filhos da Candinha e Império
dos Herdeiros passaram na pista de eventos na condição de
agremiações convidadas.
Na apresentação da transmissão única, o jornalista
Cláudio Brito. Nos comentaristas, o jornalista Renato
Dornelles, a porta-bandeira Isabel Cristina e o mestre-sala
Alexandre Figueroa. O time de repórteres foi composto por
Dani Pitta, Elias Costa, Israel Ávila, Renato Araujo e Vinícius
Brito.
Toda a cobertura contou com uma equipe de mais de
80 profissionais. Para as imagens, foram utilizadas 16
câmeras e dois drones. Um estúdio em vidro foi montado
junto à área de concentração da avenida. Repórteres foram
deslocados para a concentração, na dispersão, no meio de
pista e na arquibancada.
A produtora Cubo Play em parceria com a TVE e Rádio
ABC asseguraram mais de 25 horas de transmissão dos
desfiles da capital gaúcha.
Na noite de sábado, dia 7 de maio (noite do desfile da
elite das escolas de samba), o público total estimado no
Complexo do Porto Seco foi de 12 mil pessoas, entre pagantes
e componentes das escolas.

CUBO PLAY / TVE-RS


Narração: Cláudio Brito.
Comentários: Alexandre Figueroa, Isabel Cristina e Renato
Dornelles.
Reportagens: Dani Pitta, Elias Costa, Israel Ávila, Renato
Araujo e Vinícius Brito.
ATÉ AMANHÃ, SE DEUS QUISER, EU VOLTO
NOVAMENTE PRA LHE VER...*

E finalmente fez-se a luz e o carnaval. Um carnaval que


não chegava nunca, precedido por um interminável período
pré-carnavalesco que demorou dois anos e dois meses (ou 26
meses) para acontecer.
No capítulo 9 desta série, escrito em fevereiro de 2021,
estávamos em contagem regressiva para uma data que ainda
não tínhamos certeza se aconteceria. Não sabíamos se o
próximo Carnaval seria em 2022 ou mesmo se atrasaria para
2023.
O fato é que conseguimos contar mais um capítulo da
história do carnaval na televisão brasileira. A telinha ganhou
a preciosa companhia da internet e dos canais digitais. Não
apenas acompanhamos a folia por televisores (Smart, LED/
LCD, tela plana ou 4K ou 8K). Mas também por
computadores, smartphones, notebooks e tablets. A história
televisiva tem sido ampliada.
E notamos evoluções interessantes no Carnaval de
2022. Vimos uma ampla cobertura de categorias que até
então não eram vistas com o devido carinho (Carnaval da
Intendente Magalhães e ensaios técnicos da Série Ouro)
receberem transmissões com requinte e apuro técnico. Na
impossibilidade de realizar carnaval na data do calendário
litúrgico, recorreu-se a uma parada simbólica – o minidesfile
na Cidade do Samba – com direito a cobertura na mídia.
Quer um aquecimento melhor do que esse?
Em outros polos carnavalescos, as cidades que
acreditaram e estimularam a cultura popular mesmo
prepararam uma força-tarefa para visibilizar suas folias para
o maior público possível.
No caso do primeiro carnaval do país (Rio de Janeiro), a
audiência bateu recordes históricos de ibope. Quem sabe se
São Paulo (o segundo maior polo carnavalesco) tivesse revisto
suas datas e, não coincidindo com a folia carioca, os
resultados de audiência não teriam sido ainda melhores? É
uma reflexão que pode servir de lição: quem sabe um
passinho para trás hoje pode significar várias passadas à
frente amanhã.
Coisa boa ter terminado o carnaval 2022 com a última
escola de samba passando na Sapucaí (Unidos de Vila Isabel)
homenageando seu baluarte maior, o Rei Martinho da Vila,
cantando a plenos pulmões que a “vida vai melhorar”.
Bom, terminado mais um carnaval, o calendário
carnavalesco não para. A “dança das cadeiras” já começou
tão logo foram concluídas as apurações de notas: o
tradicional rodízio entre as escolas de carnavalescos,
intérpretes, casais de mestre-sala e porta-bandeira, diretores
de carnaval, mestres de bateria, coreógrafos de comissão de
frente e até a troca na presidência das escolas devido às
eleições nas entidades.
A cada ano que passa, Rei Momo tem um novo encontro
marcado conosco. Agora, rogamos que seja sempre ou no mês
de fevereiro ou março. Sem pandemias ou motivos de força
maior. Sim, o próximo carnaval está logo aí. E muitas
histórias televisivas ou não hão de serem contadas. E,
parafraseando o cantor e compositor Noel Rosa, outra
legenda de Vila Isabel: “até amanhã se Deus quiser...”
* verso do samba-enredo “Noel Rosa e os Poetas da Vila nas
Batalhas do Boulevard”, de J. Albertino – Unidos de Vila Isabel,
Carnaval de 1982.
APÊNDICE

Glossário (sucinto e básico) de uma cobertura


jornalística de TV

Como vimos no capítulo 2, o estilo das transmissões e


de narração dos desfiles de carnaval começou a ser formatado
na década de 70.
O padrão consagrado deriva das transmissões
esportivas: há um locutor (apresentador ou âncora) com
função semelhante à do narrador de futebol – a figura do
jornalismo esportivo encarregada de relatar os eventos de
certame. Há também o comentarista (também chamado
analista ou especialista), que tem o papel de contextualizar a
notícia, apresentando uma visão sobre os fatos, com
observações e análises que ajudam o cidadão a compreendê-
lo e formar uma opinião acerca do assunto. Geralmente é um
indivíduo com trajetória reconhecida no campo do carnaval
ou acadêmico.
Também citamos como importante a atuação dos
repórteres de pista, de avenida ou de passarela. Repórter é o
nome atribuído ao jornalista que exerce a função de apurar
informações para produzir reportagens e veicular notícias e
acontecimentos como informações da concentração, do
decorrer do desfile, da movimentação do público nas
arquibancadas e camarotes e da aproximação do contingente
da escola em direção à dispersão.
Uma cobertura jornalística é o ato de um repórter ou
uma equipe de reportagem (que no caso da televisão) que
pode ser composta por câmeras, assistentes, fotógrafos,
motoristas, enfim, todos aqueles que trabalham em um
veículo de comunicação ir até o local de um fato ocorrido ou
até mesmo a um evento para apurar informações com o
objetivo de produzir uma matéria.
Algumas nomenclaturas:

APRESENTADOR / ÂNCORA: É o profissional


responsável por conduzir a transmissão, apresentar, chamar
e interage com os repórteres e com os comentaristas. Cabe a
ele anunciar durante a transmissão a entrada das escolas de
samba, ler a ordem dos desfiles e a ficha técnica de cada
agremiação, chamar o som da avenida, pedir para colocar na
tela a letra do samba-enredo, lê os anúncios comerciais,
promoções de merchan ou os destaques da programação da
emissora. Quando houver a chegada de um entrevistado na
cabine é quem apresenta e faz a primeira pergunta ao
convidado, e passa a palavra quando houver outros
entrevistadores.
COMENTARISTA: Profissional encarregado de fazer a
análise do desfile, geralmente emitindo opiniões ou
informações exclusivas.
REPÓRTER: É o que pesquisa a informação. É o
responsável por trazer aos telespectadores as mais recentes
notícias. A reportagem é a principal fonte de matérias
exclusivas do telejornalismo, e a busca constante da isenção
jornalística é a melhor forma de passar as informações para
que o telespectador possa tirar suas próprias conclusões
sobre o fato relatado. O repórter deve desenvolver a
compreensão da imagem, lembrando-se da regra de que
imagem e palavras andam juntas e, portanto, o conflito entre
elas deve ser evitado, uma vez que distrai o público; mas, se
ainda assim ocorrer, prevalece o poder da imagem.
- PRODUÇÃO: É o setor responsável pelo apoio na
transmissão. Abastecem o restante da equipe
(apresentadores, comentaristas e repórteres) com informações
que são primeiramente verificadas antes de ir ao ar. Os
produtores dão o apoio na cabine, encaminhando convidados,
fornecendo algum material que estejam distribuindo na
avenida, sugerindo entrevistados, etc. O produtor é o
responsável por boa parte das condições materiais e do
conteúdo do noticiário do rádio ou da TV. Ele funciona como
elo entre jornalistas e técnicos, e acompanha a edição do
programa desde o início. Além disso, participa do switcher, ou
da técnica, é responsável pela organização do script e dos VTs
e coordena a preparação do programa dentro e fora do
estúdio, sempre atento às condições necessárias para que o
programa vá ao ar. É ele quem está envolvido na organização
e apresentação do evento (telejornal ou cobertura do certame
ao vivo).
- EQUIPE DE APOIO
REPÓRTER CINEMATOGRÁFICO: É o profissional
responsável pela captação, fotografia, áudio e linguagem das
imagens das reportagens do telejornalismo e/ou programas
de produção. Em televisão, a imagem é fundamental. O
público vê as notícias através do olhar do repórter
cinematográfico. Portanto, é importante que esse profissional
tenha a sensibilidade ideal para captar os momentos que
realmente interessam. Há, por vezes, a ideia de que um
Repórter Cinematográfico é o mesmo que um Operador de
Câmara. Embora com semelhanças, têm perfis distintos. Um
operador de câmara tem menos autonomia para tomar
decisões, pois segue as orientações de um diretor de imagens.
Já o repórter cinematográfico tem mais liberdade no seu
trabalho, pois não recebe orientações diretas. Apesar disso,
pode ter de agir em função de dicas precisas do colega
Repórter de TV ou até do Produtor de Informação.
EDITOR DE IMAGEM: jornalista que acompanha as
edições (montagens) das matérias que chegam das externas.
Trabalha em parceria com o operador de VT – profissional da
área técnica (não jornalista) que opera os equipamentos de
edição (vídeo tape, mesas de som, softwares de edição de
vídeo). Subordinado ao editor-chefe (em muitas emissoras, o
editor de texto acumula a função de editor de imagem).
MOTORISTA: Profissional responsável por transportar
pessoas e equipamentos de acordo com a programação. O
condutor atende a requisições de transportes de acordo com
sua habilitação, atende a eventos, responsável por abastecer
o veículo no término do atendimento, manobrar e organizar
os veículos no estacionamento. Durante a cobertura
jornalística, é responsável por conduzir a equipe até o local
do evento e levar de volta para a sede da emissora ou deixar
os demais profissionais em casa, conforme acordo. O
motorista tem que estar atento se necessário fazer algum
“frete” durante as noites de desfiles.
SETOR TÉCNICO: De uma maneira geral, os
profissionais do setor técnico são os responsáveis por levar e
manter a transmissão no ar com imagem e áudio de
qualidade. Instalam e desinstalam todo o equipamento no
estúdio, verificam os microfones para o âncora, comentaristas
e repórteres. O setor também pode englobar uma equipe
especializada de engenharia (pessoas responsáveis por
aquisição, instalação, funcionamento adequado, supervisão e
manutenção dos equipamentos técnicos).
Também pode ser composta por uma equipe embora
capacitada nos aspectos técnicos, não precisa ser
necessariamente formada por engenheiros, mas, em geral, é
composta pelo pessoal da produção com treinamento técnico:
- artista gráfico digital (ou editor
videográfico/videografista): profissional que processa os
elementos gráficos para utilização no ar.
- diretor de fotografia
- diretor de iluminação
- diretor de imagens
- editor de vídeo (opera os equipamentos de edição na
pós-produção)
- operador de gravador de vídeo
- operador de vídeo
- operador do gerador de caracteres (GC)
- operadores de câmera
- técnico (operador) de áudio
SEGURANÇA PRIVADA: Refere-se a um conjunto de
práticas e atividades executadas por empresas com o objetivo
de detectar e inibir atividades criminosas, gerando proteção a
pessoas, bens e patrimônios. Trata-se de um serviço
geralmente contratado para resguardar ambientes públicos,
empresas e áreas residenciais. No caso de uma emissora de
comunicação, durante uma cobertura ao vivo de longa
duração, trata-se do profissional responsável por zelar e
guarnecer o estúdio de TV ou a cabine da rádio durante o
período de transmissão ao vivo e no turno inverso de
trabalho. Atendem e controlam acessos (zeladoria), realizam
pequenas emergências, operações de monitoramento com
sistemas de segurança, rondas, e, alguns casos, escolta
armada treinada.

DINÂMICA / ESCALA
Considerando uma jornada de 12 horas de transmissão:
Revezamento de apresentadores em períodos de três
horas na divisão do comando. Atenção: NUNCA deixar o
apresentador/âncora sozinho durante a transmissão, pelo
menos sempre um comentarista na cabine.
Repórteres: Dividem-se nas áreas de concentração, meio
de pista, galera na arquibancada, dispersão e entorno da
passarela (notícias sobre trânsito, postos avançados de
primeiros socorros, segurança pública e corpo de bombeiros).
Produtores: Número de produtores a defnir. Suporte aos
repórteres, apoio na cabine/estúdio de transmissão.

UM PEQUENO ROTEIRO DE TRANSMISSÃO

APRESENTADOR/ÂNCORA – Faz a abertura da


transmissão. Ambienta e contextualiza o evento. Ao longo da
cobertura, vai fornecendo informações gerais sobre os
desfiles. Passa para a reportagem, chamando cada um,
respectivamente.
REPÓRTER – Dá boa noite ao apresentador e aos
telespectadores. Apresenta-se e diz em qual parte da
passarela de desfile irá atuar (Concentração/Meio da
Pista/Dispersão/Arquibancada). A dinâmica poderá
acontecer em duas situações: ou é solicitado pelo
apresentador/âncora ou o repórter pede a palavra quando
tiver uma informação relevante. O repórter sempre finaliza a
entrada com o slogan da transmissão. É a deixa para devolver
ao apresentador/âncora.
APRESENTADOR/ÂNCORA – Passa para os
comentaristas, apresentando cada um, dizendo o nome e o
quesito ou módulo que vai comentar, respectivamente.
COMENTARISTAS – Cada um dá boa noite ao
apresentador/âncora e aos telespectadores à medida que vão
sendo chamados. Iniciam falando sobre as suas expectativas
para o desfile, principalmente no quesito ou módulo que vão
comentar. O comentarista é livre para dar qualquer tipo de
opinião, ao mesmo tempo em que é o total responsável pela
mesma. A dinâmica do comentarista é a mesma do repórter:
ou é solicitado pelo apresentador/âncora ou pede a palavra
quando for fazer alguma consideração.
EVITAR:
Ao Repórter, É PROIBIDO “atropelar” o
apresentador/âncora ou quem quer que esteja no ar. Se o
repórter tiver alguma informação, abra o microfone e apenas
diga a área de onde fala – “Concentração” ou “Dispersão”, etc
– e aguarde a vez de falar. O repórter também deve estar
atento a toda a movimentação do carnaval e estar em
condições a falar assim que requerido pelo
apresentador/âncora.
Ao Comentarista, É PROIBIDO também “atropelar” o
apresentador/âncora ou quem quer que esteja no ar. Por
estar ao lado do apresentador na cabine ou estúdio, é só
sinalizar ao mesmo e aguardar a vez de falar. O comentarista
não precisa mencionar o slogan da transmissão.
NÂO EXISTE:
De o apresentador/âncora chamar o repórter e o mesmo
não estiver pronto em seu posto de trabalho ou mesmo dizer
que não há nada para falar ou “nenhuma novidade por aqui”.
ANÚNCIOS COMERCIAIS (CAIXINHA)
O apresentador/âncora lê a caixinha comercial no início,
nos intervalos entre uma escola e outra e ao final da
transmissão. Sempre que um repórter ou comentarista
encerra sua participação, o apresentador/âncora também lê
os anúncios comerciais, promoções ou programação da
emissora. Ler os comerciais sempre é um bom recurso para
evitar momentâneos “vazios” no ar durante a transmissão. Os
repórteres e os comentaristas podem sentir isso como uma
deixa para entrar com novas informações.

Escola ao entrar na Avenida


Antes do início do desfile da escola, geralmente a
organização de carnaval emite sinais sonoros com o
espaçamento de alguns minutos. Após o terceiro é disparado
o cronômetro e a passarela é liberada para a agremiação.
Quando a agremiação estiver se armando na
concentração, o apresentador/âncora passa a palavra para o
repórter que cobre o setor. Neste momento, o setorista fica à
vontade para entrevistar as personalidades da escola e
fornecer informações ou notícias de última hora (fantasias
que estão confeccionadas pela metade, comissão de frente
que atrasou, etc).
Cabe também à reportagem privilegiar a “agenda
positiva”: integrantes de uma mesma família que vão desfilar
juntos na mesma escola de samba; entrevistar a baiana mais
velha, destacar a presença de jovens na bateria, conversar
com o(a) coreógrafo(a) da comissão de frente ao destacar os
exaustivos períodos de ensaios, destaques com suas fantasias
luxuosas, a beleza e a presença de celebridades, rainhas,
madrinhas e musas da escola, etc.
Quando o áudio do carro de som for liberado para a
avenida, cessam as entrevistas e os comentários. A
preferência fica total para a fala do presidente da escola, para
o grito de guerra do intérprete, para a primeira passagem
inteira do samba e a entrada (subida) da bateria.
Após isso, o apresentador/âncora retoma a transmissão,
situando o ouvinte sobre o desfile e a escola de samba e
passa novamente a bola para a reportagem que está na
concentração. Logo em seguida, entram os comentaristas
explicando o enredo, como vai vir a escola, etc.
Depois de percorrido um terço do tempo de desfile, o
apresentador/âncora repassa para o repórter do meio de
pista e assim seguem no bate-papo. Durante a apresentação
da escola de samba é recomendável liberar durante duas ou
três passadas da letra do samba e o som da avenida para o
telespectador “sentir” como está passando a agremiação.

Repórter de arquibancada, uma espécie de “coringa”


O repórter de arquibancada é o que vai distensionar a
transmissão. É o responsável que vai dar um “respiro” na
cobertura, entrevistando a “galera” e ir atrás dos fatos mais
pitorescos e inusitados durante o desfile.
O jornalista que atua como repórter de arquibancada
deve estar sempre preparado para entrar no ar e o
apresentador/âncora o chama para tornar mais leve a
transmissão. Pode ser bastante utilizado nos intervalos entre
uma escola e outra, mas sua entrada não pode exceder 1
minuto.
Referências

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prepara podcast em seus 50 anos de carreira: ‘O ‘Só se for
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perlingeiro-prepara-podcast-em-seus-50-anos-de-carreira-so-
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XAVIER, Ricardo. A história da TVE. PróTV, Museu da TV.
Disponível em <http://www.museudatv.com.br/> Acesso em
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