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História da TV no Brasil

Maria Angela
Resumo dos livros para leitura

A TV NO BRASIL
A televisão no Brasil teve seu início marcado pela ação individual de um homem arrojado e bastante
empreendedor: Assis Chateaubriand. Quando trouxe a televisão para o país, em 1950, ele foi motivado por
uma vontade pessoal de trazer "esta maravilha" para o conhecimento dos brasileiros. Não havia condições
objetivas para esta implantação, afinal o Brasil ainda tinha 70% da população vivendo no campo, não havia
profissionais da área de televisão, sendo que a experiência acumulada vinha da área radiofônica.
Chatô, como era conhecido, já iniciava, nesta época, a consolidação do Museu de Arte de São Paulo,
além de ser o dono de uma das maiores cadeias de comunicação do país, os Diários Associados (jornais e
emissoras de rádio). O gênio impetuoso desse homem conseguiu fazer do Brasil o primeiro país da América
Latina e o quarto do mundo a implantar a televisão. Conseguiu ainda levar à falência os Diários Associados,
já que a televisão consumiu quase todos os recursos em um mercado que ainda não tinha condições de
absorver este empreendimento.
Vale ressaltar também que, tecnicamente, o país não tinha um parque industrial compatível com essa
nova tecnologia e os aparelhos de televisão tinham que ser importados. No campo técnico específico do novo
meio também não havia profissionais qualificados, todos vieram do rádio. Daí o formato televisivo tão
verborrágico da televisão no início. Como disse Walter Avancini:

"A televisão no Brasil é muito mais do circo e do rádio que do cinema e do teatro. De dez anos
para cá, a literatura abriu espaço e foi reciclada para essa linguagem específica da televisão.
Mas o básico realmente no nosso comportamento - e quem for mais atento vai perceber - é que
a televisão atende a essas expectativas histriônicas do circo e discursivas do rádio: ela tem
muito gesto e muita palavra. Acho que há um excesso nisso tudo, exatamente porque sua base
de formação, seu nascimento, está condicionada à força desse dois veículos, que existiam por
ser uma extensão do próprio comportamento brasileiro da época: o histrionismo circense e o
parnasianismo do discurso brasileiro do rádio."1

A evolução da televisão brasileira, segundo Sérgio Caparelli, pode ser dividida em duas épocas: a
primeira vai do início dos anos 50 e, principalmente, da segunda metade do Governo de Juscelino Kubitschek
(55/60), até 1964; e, a segunda, no período pós-1964.

"O primeiro período se manifesta com o oligopólio dos Associados; o segundo, pelo oligopólio
da Rede Globo. Naquele, desponta a figura do capitão de indústria (Chateaubriand), dono de
uma empresa administrada ao velho estilo. Neste, a corporação, manobrada por executivos
profissionais que se esforçam por incrementar o poder econômico e político de suas empresas.
Duas organizações diferentes, expressando épocas de expansão do capital.
Além disso o primeiro período se caracteriza pelo capital nacional; o segundo pela entrada de
investimentos estrangeiros na indústria da informação, indicando que a internacionalização do
mercado brasileiro também marca a norte-americanização da indústria cultural, especialmente
no setor da televisão."2

É interessante notar que a televisão surge nos dois pólos economicamente mais desenvolvidos, São
Paulo e Rio de Janeiro. Surge também com uma dependência muito grande dos Estados Unidos, afinal as
empresas que implantam a televisão no país são a RCA (Rádio Corporation of America) e a General Electric,
inclusive fornecendo assistência técnica. A exemplo do modelo radiofônico, a televisão também segue o
esquema privado, em que prevalece o sistema comercial.
Não existem, no Brasil, normas que controlem a concentração da propriedade na radiodifusão, por
isso desde o início ( e até os dias atuais) esse veículo segue a tendência do oligopólio. A rede de comunicação
de Chatô, por exemplo, em seu período de auge (década de 60), tinha 34 jornais, 36 estações de rádio, 28
revistas, 18 emissoras de TV, uma editora, duas agências de notícias, uma agência de publicidade, duas
empresas de gravação, empresas de relações públicas, entre outras.

1
AVANCINI, Walter. TV ao vivo - Depoimentos, p. 162.
2
CAPARELLI, Sérgio. Televisão e Capitalismo no Brasil, p. 21.
1
Em 1954 começam a ser fabricados os primeiros aparelhos receptores de fabricação nacional:
Invictus, entretanto com uma produção muito tímida a preponderância era dos aparelhos importados. Em
1958, os aparelhos começam a ser produzidos de maneira mais intensa pela indústria brasileira. Planos de
financiamento possibilitaram a venda de televisores em grande escala, com ofertas a longo prazo.
Simultaneamente novas emissoras foram instaladas, com programas de maior apelo popular.
Em 1951 nasce a TV Tupi do Rio de Janeiro; no final de 1951, a TV Paulista; em 1953, a TV
Record; em 1955, a TV Rio e a TV Itacolomy, de Belo Horizonte; em 1960, TV Excelsior.
Os espetáculos de teatro eram a principal atração das TVs. O GRANDE TEATRO TUPI, na Tupi (
toda segunda). O TV de Vanguarda, também na Tupi (com direção de Walter George Durst) encenou
clássicos como Otelo, de Shakespeare e Henrique IV, de Pirandello. A Tupi estreou em 1953, o programa
infantil Sessão Zig Zag (com teatro infantil, o primeiro foi o Sítio do Picapau Amarelo). Já TV Paulista
optava por uma programação de sketches de cinco minutos e filmes de curta metragem. O problema dos
teleteatros é que o ator vinha com os vícios do teatro: impostação de voz, ignorando os microfones e ainda
expressão facial e corporal exagerada, bem diferente do que deveria ser na TV.
Com a estréia da Record, considerada a mais equipada da América Latina, a música tem um espaço
garantido: Dorival Caymmi e Inezita Barroso. Na linha musical destaque para o programa apresentado por
Blota Júnior: Grandes Espetáculos.
Chega ao Brasil, em 1960, o vídeoteipe, que representou uma economia de operação e de tempo
gasto para as realizações, que ampliou de forma ilimitada a programação a preços menores.

"Ao mesmo tempo em que novas possibilidades se abriam com sua introdução, como a de
permitir que por baixos preços de aluguel as fitas pudessem ser exibidas em várias regiões e
localidades distantes, ao mesmo tempo privava as pequenas localidades e emissoras de
evidenciarem todas as potencialidades dos talentos naturais. Um dos elementos altos do rádio
foi sempre ter propiciado que novos talentos surgidos nas pequenas emissoras se evidenciassem
nos grandes centros, permitindo-lhes, após, desabrocharem na própria cidade de origem, onde
ganhavam familiaridade e vivência com o veículo, depois, com essa bagagem, se afirmarem nas
grandes emissoras."3

É na década de 60 que o grupo de mídia norte-americano Time-Life Corporation busca um sócio


brasileiro para operar emissoras de radiodifusão no Brasil. Entretanto a Constituição brasileira (desde 1946)
vedava a propriedade estrangeira da mídia impressa e eletrônica no país. Este grupo encontrou um sócio em
1962: Roberto Marinho, presidente das empresas Globo.

"A fim de se evitar um conflito com os dispositivos constitucionais, um contrato de


assistência técnica foi assinado, no qual, em resumo a Time-Life transferiria à Globo,
por tempo determinado, moderno suporte técnico para a atividade de radiodifusão. Em
troca, o grupo americano receberia participação nos lucros da nova emissora. A TV
Globo foi inaugurada em 1965 e gradualmente adotou o modelo americano de
administração, tecnologia e programação de radiodifusão."4

Outra diferença importante entre as duas fases da implantação e consolidação da TV no Brasil é que
o segundo período se caracteriza por mudanças na sociedade brasileira. Em primeiro lugar, marca o fim do
populismo e a internacionalização do mercado interno por um papel preponderante do Estado na vida
nacional, pela nova ideologia da Segurança Nacional.
Com a nova política econômica, os capitais estrangeiros começam a chegar em grande volume ao
país, na perspectiva do lucro rápido. A indústria eletro-eletrônica, a indústria mecânica e também a indústria
cultural. A reorganização da antiga produção industrial - agora com novas técnicas produtivas, agora em
setores mais dinâmicos como indústria química, automobilística - traz consigo uma reorganização
administrativa, tecnológica e financeira que implicam em uma reordenação das formas de controle político e
social, segundo Sérgio Caparelli. A televisão vai desempenhar, nesta fase, um papel importante para a
legitimação das novas tendências, em especial para a divulgação das idéias vindas dos Estados Unidos, país
que serve de parâmetro às tendências do desenvolvimento econômico.

3
FEDERICO, Maria Elvira Bonavita, História da Comunicação: Rádio e TV no Brasil, p. 87.
4
ALMEIDA, André Mendes de. Mídia eletrônica - seu controle nos EUA e no Brasil, p. 115.
2
A Telenovela

A novela é um gênero dramático nascido do folhetim francês do Século XIX, chegou ao Brasil
pelas ondas do rádio até chegar à TV, em 1950. As primeiras telenovelas brasileiras eram inspiradas e
adaptadas das histórias em série difundidas pela TV argentina com grande sucesso. Antes das telenovelas se
firmarem, o gênero que predominava era o teleteatro.
Foi principalmente por intermédio das radionovelas cubanas e mexicanas, que a telenovela firmou-se
como gênero dramático. Em 1951 é veiculada a primeira novela da TV brasileira: "Sua Vida me Pertence",
pela TV Tupi de São Paulo, que era transmitida duas vezes por semana, com duração de 15 minutos e teve
duração de três meses. Foi nesta telenovela que o telespectador assistiu o primeiro beijo da televisão, dado por
Walter Foster na atriz Vida Alves. O protagonista foi Walter Foster, quem inclusive escreveu e dirigiu a
novela.
A chegada do vídeoteipe, em 1960, favoreceu este gênero, já consagrado no rádio mas ainda tímido
na televisão. A nova tecnologia permitiu maior criatividade na gravação, na edição e no ritmo, fazendo com
que a produção brasileira mais tarde se tornasse uma das melhores do mundo.
As telenovelas passaram, então, a ocupar um espaço garantido na programação diária. As mais
variadas tramas foram levadas às telas da TV. Um dos maiores sucessos foi "O Direito de Nascer" (TV Tupi -
1968/69), que repetiu os altos índices de audiência que conseguira no rádio.
As telenovelas têm uma relação direta com a TV Excelsior, que transmitiu a primeira telenovela
diária: "2-5499 Ocupado", estrelada por Tarcísio Meira e Glória Menezes (1963), com o patrocínio da
Colgate-Palmolive. Foi o investimento da fábrica de sabonetes - que já vinha dando apoio às soap-operas
norte-americanas (daí sua denominação) que permitiu a produção do texto do argentino Alberto Migré.
A Excelsior foi responsável por grandes sucessos do gênero, como "Ambição" e "A Deusa Vencida",
que marcaram o início da carreira de Ivani Ribeiro como autora de novelas. Revelou ainda grandes
intérpretes, como Stênio Garcia, Juca de Oliveira e Mauro Mendonça.
Em meio aos inúmeros dramalhões que comoviam os telespectadores, a TV Tupi apresentou uma
novela revolucionária pela inovação temática e interpretativa: "Beto Rockfeller" (1968/69), de Bráulio
Pedroso. Luís Gustavo, em um estilo de interpretação mais natural, viveu um jovem ambicioso, sem dinheiro,
que se faz passar por rico para conseguir um casamento de interesses. Sem nenhuma das qualidades até então
indispensáveis a um herói, "Beto Rockfeller" foi um grande sucesso, consagrando-se como o primeiro anti-
herói da televisão brasileira.
Para fortalecer sua teledramaturgia, que não proporcionava bons índices de audiência, já que o
público dividia-se entre as novelas da Tupi e da Excelsior, a Globo chamou para dirigir este núcleo a autora
Glória Magadan, profissional cubana com larga experiência no assunto. Seu método foi encomendar aos
novelistas brasileiros adaptações das novelas latinas. Foi a precursora de Janete Clair. Vale a pena citar um
depoimento de Glória Magadan sobre telenovela: "A única função da telenovela é entreter. Porque se
pensarmos em fazer algo de caráter mais elevado corremos o risco de não sermos entendidos, nem de
atingirmos a grande massa. A telenovela é um produto a ser vendido comercialmente, como uma
geladeira. Não literatura, nem sub-literatura. É um produto industrial".
Próximo da década de 70, as novelas brasileiras tornaram-se o centro da programação da Globo. Às
primeiras produções, "Véu de Noiva" (69) e "Irmãos Coragem" (70/71), seguiu-se uma verdadeira invasão do
gênero. Ás 18 horas, uma novela romântica, geralmente baseada em obras da literatura brasileira, como por
exemplo: "Senhora", "A Moreninha", "A Escrava Isaura". Às 19 horas, temas mais leves, com um toque de
humor: "Estúpido Cupido", "Te Contei?", "Feijão Maravilha" e, às 20 horas, novelas mais "sérias", como
"Cavalo de Aço" (1973).
Este período representa o auge da ditadura militar, instaurada no país a partir de 1964. O controle da
censura estendia-se às novelas: cuidava de esvaziar-lhes qualquer mensagem política, real ou suposta, e
preservar os valores morais da sociedade.
O fim da década de 70, com o sucesso assegurado e sem ameaças, a Globo ousou um pouco mais,
apresentando seriados brasileiros com temáticas até então impensáveis. Foi o caso de "Malu Mulher", "Carga
Pesada" e "Plantão de Polícia". Algumas minisséries, igualmente inovadoras, receberam os anos 80: "Quem
Ama Não Mata", "Avenida Paulista" e outras. Novos tempos anunciavam-se, prenunciando a abertura
política. A censura começa a reduzir sua atuação, entretanto a Rede Globo não seguiu uma perspectiva mais
arrojada, não buscou inovações. O controle oficial deixa de existir, entretanto uma auto-censura mantém o
padrão moral e conservador da empresa.
Vale citar que a primeira novela colorida da televisão foi "O Bem Amado", de Dias Gomes,
veiculada em 1972. Com Paulo Gracindo e Sandra Bréa.

3
Em 1974 começa a exportação de telenovelas. A Globo exporta para o Uruguai "O Bem Amado".
Depois vende para outros países da América Latina as novelas "Pecado Capital" (75) e "Escrava Isaura" (76).
A primeira telenovela brasileira a entrar no mercado europeu foi "Baila Comigo", em 1984, vendida
para a TF1 da França. Era uma versão de 55 capítulos, porque nas novelas que são exportadas são retiradas as
cenas redundantes, as cenas regionais e o merchandising. Hoje elas têm por volta de 70 capítulos. Atualmente
a TV Globo exporta suas novelas para 176 países.

O significado econômico da telenovela


Por que se investe tanto em telenovelas? Porque a telenovela preenche longos períodos da
programação e mantém o público atento e interessado. As histórias fluem lentamente, criando suspense diário,
motivando os telespectadores a retomarem a trama no dia seguinte e seduzindo-o, assim, até o último capítulo.
É impossível entendermos o fenômeno telenovela sem levarmos em consideração seu significado
econômico. Hoje, a telenovela é o produto mais rentável da TV brasileira, que paga quase todo o restante da
programação. Inclusive é por isso que as telenovelas brasileiras estão em todo mundo. Podem ser vendidas a
um custo mais baixo porque já saem pagas daqui. É o mesmo processo dos enlatados norte-americanos.
Exemplo: Roque Santeiro, produzida em 1985, teve um gasto de US$ 2 milhões, com um custo por
capítulo de US$ 10 a 15 mil. Mas o custo por inserção de um comercial na novela das oito é de US$ 20 mil.
Além do merchandising. Na Globo, cada ação custa 20 a 30% mais que um minuto de comercial. E são feitos
mais ou menos 20 contratos por novela, com 5 a 6 inserções por contrato, todo mês.
Obs: Ação de merchandising - envolve o ator.
Sinal de merchandising - só o produto.
Curiosidade: A TV Globo descobriu que a trilha sonora podia ser um produto mercadológico independente da
própria novela. Daí criou a Som Livre em 1971 e lançou o primeiro LP de novela: "O Cafona".

Telejornalismo
O telejornalismo esteve presente já na inauguração da TV Tupi, em 18 de setembro de 1950.
Apresentado, sem nenhuma técnica específica, conseguiu alterar seu formato logo no segundo dia de
apresentação, como conta o Maurício Loureiro Gama:
O Repórter Esso foi o grande marco na história da televisão - 1952/1970 (anteriormente no rádio).
Cada emissora de TV tinha o seu apresentador e apresentava o seu telejornal, com grande destaque para as
notícias internacionais. Foi o primeiro a usar o recurso do Lead (que, quem, como, onde, quando e por que). O
Gontijo Teodoro era o locutor da Tupi-SP. Havia outros telejornais como o Telejornal Pirelli e Reportagens
Ducal (TV Rio). Vale lembrar os arrojados repórteres das décadas de 50 e 60: Tico-Tico e Carlos Spera (com
grandes coberturas internacionais).
O Jornal de Vanguarda inovou o telejornalismo que se apresentava basicamente com o locutor lendo
as notícias e uma cortina ao fundo com uma cartela com o nome do patrocinador. O Jornal de Vanguarda
convida jornalistas como Millôr Fernandes, Sérgio Porto e veicula um estilo bastante arrojado, mais livre,
diferente do formato norte-americano. Ele utilizava o recurso do sombra (locutor com silhueta) e de
ilustrações que mexiam a boca.
O Jornal Nacional, da Rede Globo, foi lançado em 1º de setembro de 1969 como parte de uma
estratégia da emissora, como conta Carlos Eduardo Lins da Silva:
"Para que tivesse uma audiência uma audiência garantida , ficaria espremido entre duas
telenovelas, já então o gênero mais popular e com uma fórmula que se mostraria imbatível ao
longo dos anos: às 19 horas, um enredo mais leve e bem-humorado e às 20 horas outro mais
adulto e dramático. No meio delas, um telejornal que desse à dona-de-casa o tempo certo para
colocar o jantar na mesa e ao chefe de família a chance de inteirar-se, mesmo que
superficialmente, dos principais assuntos do dia."5
Ele apresenta algumas novidades, como o jornal em rede nacional, a preocupação com o "agora"
(sem informações mais aprofundadas) e um estilo de apresentação pretensamente objetivo. Os critérios de
seleção das notícias sempre levava em consideração (até os dias atuais) o seu apoio aos governos no poder.
Vale citar um depoimento, feito em 1973, do então presidente General Médici:

5
SILVA, Carlos Eduardo Lins da. Muito Além do Jardim Botânico, p. 35.
4
"Sinto-me feliz, todas as noites, quando ligo a televisão para assistir ao jornal. Enquanto as
notícias dão conta de greves, agitações, atentados e conflitos em várias partes do mundo, o
Brasil marcha em paz, rumo ao desenvolvimento. É como seu eu tomasse um tranqüilizante,
após um dia de trabalho".6

Humorismo
Os programas humorísticos começaram a se fortalecer dentro da televisão a partir dos anos 60,
embora também tenha tido seu espaço garantido desde o dia da inauguração da TV com a "Escolinha do
Ciccilo". Mas a partir da década de 60 Manoel da Nóbrega transferiu-se com sua "Praça da Alegria" (que
havia sido lançado em 1957) da Tupi para a Record, e nesta emissora, sentado em seu inesquecível banco e
com seu indispensável jornal, conversava com tipos excêntricos e engraçados, representados por Ronald
Golias, Simplício, Zilda Cardoso, Chocolate e outros.
A "Família Trapo" foi outro programa que muito alegrou o público da TV Record, que assistia as
trapalhadas de uma família composta pelo pai, um imigrante italiano (Otelo Zeloni), a mãe, uma senhora
bonita e ciumenta (Renata Fronzi), um filho intelectual (Ricardo Corte Real), uma filha "moderninha"
(Cidinha Campos), um mordomo desastrado (Jô Soares) e um cunhado trapalhão que não podia ouvir falar em
trabalho (Ronald Golias).
Além destes programas de sucesso vale citar "A Grande Família", escrita por Oduvaldo Viana Filho,
que retratava o cotidiano de uma classe média-baixa. "A Grande Família", destoava do resto dos programas da
Globo, inclusive no aspecto visual, pois a imagem-padrão da emissora era inadequada às condições da família
apresentada. Mesmo assim manteve-se no ar por dois anos e meio; a morte de Vianinha foi a justificativa que
se esperava para eliminar a "ovelha negra", apesar de todo o sucesso.

Programas de Auditório e Musicais


Marcaram época os musicais "Desfile de Melodias", "Antártica no Mundo dos Sons" e aquele que
alcançou enorme audiência: "Música e Fantasia", inspirado em peças clássicas, estreou em 1954. O "Clube
dos Artistas" estreou nos primeiros meses do advento da TV, tendo o Homero Silva como apresentador (no
final: Airton e Lolita Rodrigues).
A partir de 1965 a Record inicia uma programação que contribui para a elevação de seus índices de
audiência: os programas musicais. Nas tardes de Domingo era veiculado o programa "Jovem Guarda",
comandao por Roberto Carlos e Wanderléia. Vale destacar também "O Fino da Bossa", apresentado por Elis
Regina e Jair Rodrigues.

Considerações finais
O modelo televisivo adotado pelo Brasil não permitiu uma política de concessões mais democrática,
impossibilitando uma maior participação da sociedade neste processo. A história da TV no país é
marcada por acordos entre proprietários de emissoras e o governo federal. O modelo privado, voltado para o
consumo, mantém uma programação dirigida principalmente ao entretenimento. A TV pública, como o caso
da Cultura, do governo do estado de São Paulo, representa uma exceção neste cenário.
As concessões (autorizações para geração) e permissões (autorizações para retransmissão) das
emissoras de TV abertas no Brasil ainda são submetidas a documentos legais que referem-se ao Código
Brasileiro de Telecomunicações (1962) e ao Regulamento dos Serviços de Radiodifusão (1963) e a diversos
decretos do governo federal.
Até 1988, a legislação que regulamentava as concessões de rádio e televisão no Brasil atribuía ao
presidente da República um poder total de decisão. A Constituição de 88, entretanto, determinou que os
pedidos deveriam passar pelo Congresso Nacional. No final de dezembro de 1996 o governo baixou o Decreto
nº 2.108/96, estabelecendo que as concessões de rádio e televisão deveriam submeter-se à licitações públicas.
É interessante ainda uma referência às TVs por assinatura, que são TVs com programação exclusiva
para os clientes que pagam para ter acesso ao serviço. A televisão por assinatura foi regulamentada no Brasil
em 1988. Nesse período, as concessões eram limitadas e não permitiam a geração de programação própria,
apenas a reprodução do que era gerado pelas emissoras. A TVA, empresa do Grupo Abril é a pioneira no
ramo de TV por assinatura (surge em 1991 e tem um crescimento em 94, com o lançamento da DirecTV). A
TV por assinatura fica disponível a partir de 91 (somente por intermédio de parabólicas e receptores de
microondas), mas é em 93 que a TV a cabo surge, com duas operadoras, Multicanal e Net Brasil (Globosat).
Em 1994, o Senado aprova a Lei da TV a Cabo. Ela obriga as operadoras a reservar seis canais para
uso do Senado, Câmara, Assembléias legislativas, Universidades e Comunidades.

6
Idem, p. 39.
5
O momento atual

Desde início de dezembro de 2007 estamos vivendo uma nova era na televisão brasileira coma
criação da EBC – Empresa Brasileira de Comunicação, mas está sofrendo desde 2019.
TV Pública não é o mesmo que TV governamental ou estatal, embora a confusão sejas natural pelo
fato de não termos, no Brasil, uma TV pública que realmente corresponda a este conceito. TV Pública é
aquela que não se pauta pela lógica econômico-comercial da TV privada e que não é, também, subordinada ao
poder político, seja ele de partidos, governos e poderes, mesmo que seu financiamento dependa muito do setor
público. Quando faz isso, o Estado está devolvendo aos cidadãos uma parcela dos impostos na forma de um
serviço de comunicação independente, voltado para a cidadania. Neste sentido, a TV Pública deve ser vista
como uma instituição da sociedade civil, que participa do gerenciamento de seu conteúdo e de sua
programação através de um organismo de representação forte e com efetivos para exercer este papel. No caso
da TV Brasil, o Conselho Curador. Com algumas variações, este é o instrumento de controle social usado em
todas as experiências internacionais bem sucedidas de TV Pública, em que se destacam os países da Europa
Ocidental. E assim surgiram experiências bem sucedidas como a da BBC (Inglaterra), TVE (Espanha),
RAI (Itália), RTP (Portugal), entre tantas outras. Os EUA também têm sua TV Pública, a rede PBS,
que congrega mais de 350 emissoras do campo público. No Brasil, a TV nasce como concessão do Estado
à iniciativa privada, embora o presidente Vargas tenha planejado uma TV Nacional que não chegou a
implantar. O regime militar criaria depois uma constelação de emissoras estatais (federais e estaduais) que
nunca ganharam caráter público efetivo. Após a redemocratização, a discussão continuou interditada por
obstáculos como a onda privatizante e pela força da TV comercial, base do argumento de que não precisamos
de mais uma televisão.
Bibliografia
1. SILVA, Carlos Eduardo Lins da. Muito Além do Jardim Botânico. São Paulo: Summus, 1985.
2. CAPARELLI, Sérgio. Televisão e Capitalismo no Brasil. Porto Alegre: LPM, 1982.
3. ALMEIDA, André Mendes de. Mídia eletrônica - seu controle nos EUA e no Brasil. Rio de Janeiro:Forense,1993.
4. AVANCINI, Walter. TV ao vivo - Depoimentos. São Paulo: Brasiliense, 1988.
5. FEDERICO, Maria Elvira Bonavita, História da Comunicação: Rádio e TV no Brasil. Rio de Janeiro: Vozes.
6. MAIA, Marta. História da televisão no Brasil. Apostila produzida pela professora citada.
7. SIMÕES, Inimá. A Nossa TV Brasileira. Ed SENAC: SP, 2004.
8. VIDIGAL, Liana. TV por Assinatura. Texto produzido para a disciplina Diferenças entre o Modelo Brasileiro e Britânico de
Radiodifusão, ministrada pelo professor Laurindo Lalo Leal Filho, no curso de pós-graduação da ECA/USP, no 2º semestre de 98.

Sites interessantes para quem deseja ver mais sobre TV Brasileira:

http://www.ebc.tv.br

Hoje já temos várias associações preocupadas com este controle social da televisão. (ONGS, associações,
entidades): www.eticanatv.com.br ou pelo telefone: 0800.619.619 (quem financia baixaria é contra a
cidadania) - câmera dos deputados federais.
www.tver.org.br - grupo “TV e responsabilidade social”
www.observatoriodaimprensa.com.br
www.senado.gov.br/ccs (Conselho de Comunicação Social)
www.midiativa.org Centro Brasileiro de mídia para crianças e adolescentes.
www.andi.org.br Agência de Notícias dos Direitos da Infância

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