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6 Cultura e ideologia

Escrever sobre cultura no Brasil significa


Unidade

trabalhar com muitas expressões – como


festas, danças, canções, esculturas, pinturas,
gravuras, literatura, mitos, superstições e
alimentação – presentes no cotidiano das
pessoas e incorporadas ou não pela
indústria cultural.
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Capítulo
Cultura e indústria cultural no Brasil

O que caracteriza nossa cultura?

Na América portuguesa, no século XVI, as culturas


indígenas e africanas não eram reconhecidas pelos
colonizadores e expressavam-se à margem da
sociedade que se constituía sob o domínio lusitano.

Tal sociedade tinha como principal referência a


cultura europeia.
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Capítulo
Cultura e indústria cultural no Brasil

No entanto, as raízes indígenas e africanas impregnaram


nosso cotidiano.
A música brasileira apresenta uma variedade imensa
de ritmos, que são puros ou misturados, cópias ou
(re)elaborações constantes, invenções e inovações,
com os mais diversos instrumentos.

A produção musical brasileira tem


traços de origem marcadamente
africana, indígena, sertaneja e europeia.
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Capítulo
Cultura e indústria cultural no Brasil

Genuínas são as músicas, as danças e a arte plumária


ou a cerâmica dos povos indígenas. As demais
manifestações culturais são fusões, criações de
uma vasta e longa herança de muitas culturas.

Coleção particular
Talvez essa seja a
característica que
podemos chamar
de “brasileira”.

Dança do lundu em representação de Johann


Moritz Rugendas, século XIX. O lundu é um tipo de
música e de dança que mistura ritmos portugueses
com os batuques dos africanos escravizados.
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Capítulo
Cultura e indústria cultural no Brasil

Indústria cultural no Brasil

O desenvolvimento da indústria cultural


no Brasil ocorreu paralelamente ao

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desenvolvimento econômico e teve como
marco a introdução do rádio, na década
de 1920, da televisão, na década de 1950,
e da internet, nos anos 1990.

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Outros campos da indústria cultural,
como cinema, jornais e livros, não são tão
expressivos quanto a televisão e o rádio.
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Cultura e indústria cultural no Brasil

1922  primeira transmissão de


rádio no Brasil, inaugurando uma
fase de experimentação, voltada
principalmente para atividades não
comerciais.

Década de 1930  autorização da


publicidade no rádio. Isso permitiu a
ampliação da difusão. O dinheiro
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arrecadado com a publicidade permitiu


manter a programação no ar.
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Cultura e indústria cultural no Brasil

Décadas de 1930 e 1950  apogeu da audiência


do rádio. Foi nesse período que o Estado passou
a controlar as atividades do rádio.
Durante a ditadura de

Arquivo/AE
Vargas (1937-1945), o
governo fazia sua
propaganda e tentava
desenvolver uma
cultura nacionalista
por meio do rádio. Rio de Janeiro, 1950: programa de auditório da Rádio Nacional
comandado por Emilinha Borba. Os cantores e cantoras mais
conhecidos eram contratados como grandes estrelas das
emissoras de rádio, pois proporcionavam mais audiência
e, consequentemente, mais anunciantes.
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Cultura e indústria cultural no Brasil

Décadas de 1960 e 1970  início da decadência


do rádio. A chegada da televisão, que iniciava
sua programação de modo mais intensivo,
retirava do rádio não só a audiência, mas
também os profissionais e os anunciantes.

A partir de 1985  novo impulso para a


transmissão do rádio, com a introdução das
emissoras FM (que permitiam melhor recepção),
o fim da censura e a disponibilidade de mais
investimentos oriundos da publicidade.
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Capítulo
Cultura e indústria cultural no Brasil

Hoje, muitas rádios são acessadas pela internet,


o que significa uma inovação na recepção dos
programas. Essa união do rádio com a internet
propiciou às emissoras uma nova forma de chegar
a públicos variados, com notícia ou música.
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Cultura e indústria cultural no Brasil

No Brasil, cerca de 85% das emissoras comerciais em


operação estão em mãos de políticos, que usam as
transmissões de acordo com seus interesses ou os de
patrocinadores.

Juca Martins/Olhar Imagem


As rádios comunitárias,
as públicas e mesmo as
piratas podem
desenvolver
uma programação sem as
limitações mencionadas. Rádio comunitária da favela Heliópolis, em São Paulo, fundada
e dirigida por moradores do bairro. Fotografia de 2007.
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Cultura e indústria cultural no Brasil
A televisão brasileira

A televisão chegou ao Brasil no início da década de


1950, quando o jornalista Assis Chateaubriand
inaugurou a primeira emissora brasileira, a TV Tupi,
de São Paulo.
Nos primeiros 20 anos de história, a TV Tupi liderou o
mercado de televisão, enfrentando praticamente desde
o início a concorrência de outras emissoras.
Em 1960, em apenas 4,6% dos domicílios do Brasil havia
um aparelho de televisão. Em 2008, a televisão já estava
em 95,1% dos lares.
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Cultura e indústria cultural no Brasil

Ao longo dos mais de cinquenta anos de história


da televisão no Brasil, o Estado, por intermédio
dos sucessivos governos, influiu diretamente
nessa indústria. Sempre deteve o poder de
conceder e cancelar concessões.

A partir de 1964, com o início do regime militar,


a interferência aumentou de forma quantitativa
e qualitativa. Os militares fizeram investimentos
em infraestrutura para ampliar a abrangência da
televisão e aumentar seu poder na programação.
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Cultura e indústria cultural no Brasil

1968  inauguração do sistema de transmissão de


micro-ondas.
1974  criação de novas estações via satélite.

1981  acordo da Embratel com as redes Bandeirantes


e Globo para permitir a transmissão da programação
dessas emissoras a todo o Brasil. Os sinais podiam ser
captados por antenas parabólicas.

1985/86  lançamento dos dois primeiros satélites


brasileiros.
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Cultura e indústria cultural no Brasil

Renata Mello/Olhar Imagem


O projeto de integração
nacional pretendido pelo
regime militar, alicerçado
numa política cultural
específica, alcançou êxito
graças à televisão.
Parabólicas em palafita no rio Negro, Amazônia, em 2006.
Durante o regime militar,
as redes de televisão – que eram privadas – obedeciam
fielmente às determinações do Estado. Os programas
passavam a impressão de que o governo militar era
legítimo e vivíamos em uma democracia.
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Cultura e indústria cultural no Brasil

A maior beneficiária desse modelo foi a Rede Globo.


Fundada em 1965, cresceu apoiada nas relações
amistosas com o regime militar. O programa de maior
audiência foi a telenovela, que se tornou um “produto
cultural brasileiro”.

Agência O Globo
O modelo de televisão
estabelecido pela ditadura
sobreviveu ao regime
militar e ganhou ainda
mais poder. A televisão
converteu-se, enfim, em Regina Duarte em cena da novela Selva de Pedra, da Rede
fonte de poder político. Globo, levada ao ar entre 1972 e 1973.
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Capítulo
Cultura e indústria cultural no Brasil

As relações entre o Estado e


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as emissoras modificaram-se
apenas na década de 1990,
quando os investimentos
públicos diminuíram, a censura
foi abolida e o mercado se
alterou com a introdução da
transmissão a cabo.
Como o rádio, a televisão é controlada pelo poder
público por meio das regulamentações e também
da propaganda oficial.
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Cultura e indústria cultural no Brasil
A programação da televisão

Marcelo Franco/EXTRA/Agência O Globo


A televisão é, no Brasil, o principal
veículo de difusão cultural e de
informação.

A influência da televisão no dia a


dia dos brasileiros é preocupante,
pois existem graves problemas
relacionados à informação e à
formação de opinião.
Juliana Paes, atriz, em Caminho das Índias, exibida pela
Rede Globo em 2009. No período em que a telenovela
esteve no ar, vestimentas indianas ganharam as ruas.
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Capítulo
Cultura e indústria cultural no Brasil
É possível uma televisão diferente?
De acordo com o filósofo brasileiro Renato Janine
Ribeiro, deve-se levar em conta a importância que
a televisão tem no Brasil, pois ela

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dá para a sociedade uma pauta de
conversa.
A TV também desempenha um
papel na reflexão do Brasil atual,
principalmente por meio das
novelas, que levam aos
telespectadores algumas questões
pouco discutidas ou até silenciadas.
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Capítulo
Cultura e indústria cultural no Brasil

Janine Ribeiro deixa claro que alguns


assuntos não são discutidos nas novelas,
como as questões sociais, a
desigualdade de classes e o

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autoritarismo do patrão sobre
o empregado, por exemplo.
Uma alternativa para melhorar a programação da TV
estaria na criação de mecanismos de democratização
dos meios de comunicação, como a concessão de canais
para instituições de caráter público que pudessem
transmitir informação e cultura.
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Capítulo
Cultura e indústria cultural no Brasil
A inclusão digital
O acesso à internet no Brasil ainda é bastante restrito,
o que constitui mais um aspecto das desigualdades no
país.
Dados de pesquisa realizada em 2006 pelo Comitê Gestor
da Internet no Brasil (CGIBr) mostram que somente 33,3%
dos brasileiros já tiveram contato com a internet.

Laerte, 2004.
Entre os mais ricos,
95% já acessaram a
rede; entre os mais
pobres, apenas 12,2%.
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Cultura e indústria cultural no Brasil

A indústria cultural no Brasil desenvolveu boa parte de


sua trajetória à sombra de governos autoritários ou sob
regras rígidas, mas sempre houve brechas nas quais se
pôde veicular conteúdos críticos e de boa qualidade.
Pode-se dizer, assim, que
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existe um potencial de
liberdade em cada meio de
comunicação. Nesse processo,
a internet caracteriza-se como
um meio que proporciona uma
liberdade sem igual.
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Cultura e indústria cultural no Brasil
Exercícios

1. O grafite reproduzido abaixo foi produzido nos Estados


Unidos pelo grupo Street Art Workers, integrante do
projeto Mídia de quem?, que critica o conteúdo dos
programas televisivos.

Street Art Workers


Qual é a crítica expressa no grafite?
Você acha que ela se aplica ao
Brasil? Justifique.
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Cultura e indústria cultural no Brasil

2. Junte-se aos colegas da classe e dividam-se em cinco


grupos. Cada um deverá pesquisar um destes ritmos da
música brasileira:
chorinho
maxixe
frevo
samba
um ritmo indígena

Procurem registrar:
a) as origens do ritmo;
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Cultura e indústria cultural no Brasil

b) os instrumentos utilizados;
c) os principais músicos, compositores
e intérpretes desse ritmo;
d) eventos – como festas regionais, religiosas, etc. – aos
quais esse ritmo possa estar relacionado.

Apresentem o trabalho para a classe, acrescentando


informações que considerarem importantes.
Se possível, gravem músicas do ritmo pesquisado para
que os colegas as ouçam ou indiquem um site onde as
gravações podem ser escutadas.

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