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São Paulo
2023
1. Contexto histórico e político do surgimento da TV Tupi
A televisão teve sua invenção firmada nas primeiras décadas do século XX, em
sequência à escalada de avanços tecnológicos que se deram na segunda metade do século
XIX, à vista da Revolução Tecno-Científica. O mundo se encontrava no auge do imperialismo
das nações europeias diante da exploração de territórios e povos da África, Ásia e Oceania. O
desenvolvimento exponencial do capitalismo ocidental implicava buscar matérias-primas e
mão de obra baratas para financiar o desenvolvimento tecnológico e industrial da Europa. Foi
por meio chamado neocolonialismo que países como França, Alemanha, Inglaterra, Bélgica,
Itália, Portugal e Espanha conseguiram um acúmulo de capital necessário para alavancar uma
Revolução Industrial, a qual foi responsável por invenções como a lâmpada incandescente, o
telégrafo, o telefone e a própria televisão.
O primeiro registro da construção de um sistema de televisão viável se deve ao
engenheiro escocês John Baird (1888-1946). Já comprovado na época que o elemento
químico selênio era capaz de converter energia luminosa em energia elétrica, Baird utilizou
desse princípio para criar um dos primeiros modelos de transmissão de imagens de um ponto
a outro. O aparelho, que passou a ser denominado como “televisão mecânica”, foi apresentado
pelo inventor em 1926 para cientistas na Real Instituição da Grã-Bretanha. Posteriormente,
essa tecnologia foi adotada pela BBC (British Broadcast Corporation), mas acabou por cair
em desuso pelo surgimento do modelo de transmissão de imagem por meio eletrônico, que é o
que consolidou a televisão da forma que hoje se conhece. A atribuição da criação desse
modelo ainda levanta discussões, já que tanto o americano Philo Farnsworth (1906-1971)
quanto o russo Vladimir Zworykin (1888-1982) desenvolveram equipamentos televisivos
eletrônicos e disputaram entre si as patentes de suas invenções.
As primeiras transmissões foram feitas na década de 30, e a BBC Londres foi pioneira
na transmissão de um programa de televisão. Mesmo que as transmissões da época tivessem
temáticas de grande interesse do público, o acesso a elas ainda era muito restrito. Sendo uma
tecnologia recente, os custos de arcar com um aparelho televisivo ficavam reservados somente
à elite. Além disso, o rádio ainda era predominante como principal aparelho de informação
nas casas. Nos anos seguintes, os sistemas de televisão começaram a se difundir com mais
popularidade por outros países europeus como França e Alemanha, ainda que as transmissões
viessem a ser interrompidas futuramente devido à Segunda Guerra Mundial e somente a
Alemanha permanecesse com as programações durante o conflito. O regime nazista de Adolf
Hitler se utilizou profundamente da mídia televisiva para realizar a divulgação da propaganda
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partidária nazista e da ideologia do Terceiro Reich. Já próximo ao fim da Segunda Guerra
Mundial, os britânicos e os franceses retornaram com força em seus investimentos dentro do
meio televisivo de transmissão de imagens.
Embora a televisão pública já tivesse sido instalada em partes do território europeu, foi
apenas nos Estados Unidos que o modelo televisivo assumiu caráter de comunicação em
massa. A ideologia do American Way of Life, baseada na idealização de uma sociedade
impulsionada pela liberdade e pelo consumo, alcançou a televisão e essa se transformou em
um grande objeto de desejo pelas famílias estadunidenses, compondo a coleção de
eletrodomésticos produzidos em larga escala. A NBC (National Broadcasting Company), rede
de televisão americana, inaugurou em 1941 e apresentou o formato mercadológico das
transmissões, que garantia anunciantes e patrocinadores para sustentar a exibição. No Brasil,
em pleno período denominado como Era Vargas, o cenário era diferente. Ao passo que o país
presenciava um processo de revisão de sua identidade nacional — movimento conhecido
como Modernismo —, os principais núcleos urbanos eram avassalados pela influência
cultural estadunidense e pela importação de novas tecnologias da comunicação. E não foi
diferente com a chegada da televisão no país: o aparelho foi introduzido ao Brasil pelo
jornalista Francisco de Assis Chateaubriand (1892-1968), apelidado de Chatô, após visitar os
escritórios da Radio Corporation of America (RCA Victor), em Nova York. No território
brasileiro, não havia aparelhos de TV e sequer se tinha amplo conhecimento dessa nova
tecnologia. Assim, o jornalista, dono da cadeia de comunicação Diários Associados, foi
responsável por importar dos Estado Unidos cerca de duzentas televisões às pressas, a fim de
proporcionar ao menos alguma audiência à primeira transmissão brasileira. As TV’s foram
distribuídas por diversos espaços públicos da cidade de São Paulo, como estabelecimentos
comerciais e vitrines de lojas.
Logo, em 18 de setembro de 1950, com o auxílio de empresários, artistas e técnicos,
era realizada a primeira transmissão no Brasil e, assim, nascia a TV Tupi. Nos poucos
televisores existentes no país até então, a estreia exibiu ao vivo a cerimônia de inauguração da
rede brasileira aos milhares de espectadores aglomerados em frente às telas. Além de contar
com a presença de Assis Chateaubriand, a estreia também teve nomes de celebridades da
época, como o apresentador e radialista Homero Silva, a poetisa Rosalina Coelho Lisboa
Larragoit e a atriz Lolita Rodrigues. No início, dada a ausência do videoteipe, que seria
implantado uma década depois, a programação não contava com recortes ou edições e
tampouco era exibida de forma contínua como acontece nos dias de hoje, de modo que eram
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recorrentes os vácuos de conteúdo. Assim, as gravações ao vivo da televisão, em um primeiro
momento, se apropriaram da improvisação característica das artes cênicas.
Por mais que as transmissões tenham iniciado na década de 50, os aparelhos
televisivos apenas se popularizaram massivamente no Brasil a partir de 1970, com a
programação dominada pela emissora. Inevitavelmente, a história da televisão no Brasil se
cruza com a história da TV Tupi. Não existiam parâmetros para a operação da televisão, de
modo que as gravações e transmissões foram adaptadas pela Tupi entre falhas e acertos.
Como consequência, muitos dos modelos ditados pela emissora foram utilizados pelas redes
que surgiram anos depois.
2. Inauguração da TV Tupi
Em 1944, Assis Chateaubriand, também fundador da Rádio Tupi, conheceu um pacote
de investimentos que contava com equipamentos de radiodifusão e algumas câmeras de
televisão em sua visita à sede da RCA Victor. Foi esse primeiro contato com o universo
televisivo que fez o empresário se apaixonar e montar a sua própria emissora no Brasil.
Na época, o mundo assistia à explosão da Segunda Guerra Mundial e Chateaubriand
foi aconselhado a esperar pelo fim do conflito e concentrar esforços apenas na expansão de
seus canais de rádio. No entanto, o jornalista retornou ao Brasil e trabalhou para angariar
patrocinadores para financiar a montagem de sua futura rede de televisão, em troca de
anúncios publicitários. No final do processo, todo o investimento chegou na casa dos cinco
milhões de dólares, equivalente a dezessete milhões de cruzeiros na época. De acordo com
relatos, Chatô escolheu pessoalmente radialistas para participarem de um treinamento a fim de
se tornarem aptos a guiar o lançamento da televisão no Brasil. A organização da equipe
incluía diversos artistas de rádio e teatro, que inicialmente tiveram que trabalhar na base da
improvisação.
Em 18 de setembro de 1950, a TV Tupi foi oficialmente inaugurada como primeira
emissora do Brasil e quarta do mundo. Os membros da equipe ocuparam-se por semanas com
a criação da programação de inauguração, porém não levaram em consideração a necessidade
de se manter uma programação diária, o que intensificou ainda mais os processos
improvisados. Ainda assim, o lançamento teve enorme alcance e as emissoras do grupo foram
se espalhando pelo Brasil. A televisão integrou-se como um elemento quase que essencial na
vida popular e o slogan da rede passou a ser “Onde houver um receptor de TV, há sempre
presente a imagem de um canal Associado”.
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2.1. Estrutura
A TV Tupi foi a primeira emissora de televisão do Brasil e fazia parte da maior
conjuntura de mídias da América Latina na época. Durante o seu auge, contou com mais de
cem emissoras de rádio e TV, jornais e revistas.
Para que a Tupi se consolidasse e alcançasse os números que alcançou, foi necessária
a construção de uma enorme estrutura de equipamentos e estúdios, antes desconhecidos no
Brasil, ao longo dos anos. Essa evolução estrutural da televisão levou tempo e no início de sua
trajetória os equipamentos eram escassos e precários.
Enquanto ainda estava na etapa de buscar financiamento para a abertura da nova
televisão, Assis Chateaubriand convidou especialistas técnicos de empresas parceiras para
analisar as condições topográficas de transmissão de sinal nas cidades de Santos, Jundiaí e
Campinas e, mesmo com contraindicações estruturais, o jornalista insistiu na ideia de realizar
a transmissão a partir da capital paulista para o interior do estado.
Em 1947, Chateaubriand viajou novamente para os Estados Unidos para realizar a
compra dos equipamentos de transmissão e decidiu investir em uma versão atualizada de um
transmissor mais potente. Além disso, uma equipe foi aos estúdios da National Broadcasting
Company (NBC) para acompanhar os trabalhos da rede como forma de preparação técnica,
enquanto engenheiros da RCA vieram ao Brasil para projetar a instalação da nova emissora
brasileira.
No dia da primeira transmissão, a TV Tupi contava com apenas duas câmeras de
gravação. Um dos equipamentos quebrou, fazendo com que toda a atração preparada para a
inauguração precisasse ser readaptada para a gravação com apenas um equipamento. A
história narrada sobre o corrido, contada pelo ator e diretor Lima Duarte, era de que o próprio
Chateaubriand teria quebrado a câmera ao arremessar uma garrafa de champanhe no
equipamento. Nessa primeira fase, ainda experimental da TV, a emissora não operava às
terças-feiras, já que o dia era destinado para a manutenção e revisão dos equipamentos
utilizados.
2.2. Pioneirismo
O pioneirismo da TV Tupi se deu em diversos aspectos: foi com ela que o Brasil teve
seu primeiro telejornal, a primeira transmissão ao vivo e também a primeira telenovela. O
telejornal pioneiro do país foi ao ar no dia 20 de setembro de 1950, na segunda noite de
existência da emissora. Nomeado “Imagens do Dia”, o jornal não possuía um horário fixo de
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exibição, mas costumava ir ao ar entre 21h30 e 22h00. A abertura “Boa noite. Está no ar a
televisão do Brasil!” foi a primeira frase da televisão brasileira, dita por Sonia Maria Dorce,
caracterizada como indígena, e acompanhada pela logomarca de um pequeno indígena. Com
um estilo mais radiofônico, as locuções eram feitas em OFF’s, apresentando imagens narradas
por Ruy Rezende e comentadas por Maurício Loureiro Gama. A linguagem adotada por
Gama, que estabelecia uma espécie de “diálogo” entre apresentador e telespectador, foi
inovadora e ainda se reflete nas produções jornalísticas atuais.
Apesar do grande avanço conquistado com o televisionamento do primeiro telejornal
do país, foi somente 10 anos depois (1960) que ocorreu a primeira transmissão ao vivo. A
determinação da emissora em realizar uma transmissão ao vivo levou à cobertura da
inauguração de Brasília, em 21 de abril de 1960. A inviabilidade do uso de satélites fez com
que a TV Tupi de São Paulo recorresse ao uso de aviões para a realização da transmissão - ao
todo, 3 aeronaves foram usadas, sendo duas delas da Vasp (Viação Aérea São Paulo) e uma da
FAB (Força Aérea Brasileira). Foram distribuídos entre São Paulo e Brasília, de modo que o
sinal era transmitido de um avião para outro por meio de ondas. As imagens captadas em
Brasília eram transmitidas para cada aeronave sucessivamente, até alcançarem a antena
principal da emissora em São Paulo e serem exibidas para o restante da região. Os esforços
por trás desse mecanismo resultaram em mais uma conquista pioneira da Tupi: a transmissão
em tempo real de um acontecimento histórico como a inauguração da atual capital brasileira.
a) As raízes da teledramaturgia
Em 20 de dezembro de 1951 foi estreada a primeira telenovela brasileira. “Sua Vida
Me Pertence” passou a ser transmitida pela TV Tupi às 20h, todas as terças e quintas-feiras. A
novela contou com apenas 15 episódios, todos apresentados ao vivo, já que o videotape só
chegou no Brasil na década seguinte, e foi a responsável por exibir o primeiro beijo da
televisão brasileira, protagonizado por Vida Alves e Walter Forster, também escritor da
telenovela.
No ano seguinte, o programa TV de Vanguarda foi estreado. Era exibido a cada quinze
dias no horário nobre de domingo e tratava-se de um teleteatro que abordava grandes enredos
da dramaturgia. Foi nele que revelou-se a primeira geração de grandes atores e diretores, a
partir da apresentação de peças como Romeu e Julieta, Hamlet e Crime e Castigo. Grandes
nomes do teatro brasileiro estiveram presentes nos palcos da TV de Vanguarda, como Bibi
Ferreira, Fernanda Montenegro, Ítalo Rossi e Cacilda Becker. Atores que, mais tarde,
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marcaram a teledramaturgia do país também fizeram parte do elenco, como Laura Cardoso e
Tony Ramos. O programa permaneceu no ar por 15 anos e, no início, contava com um
apresentador para introduzir as histórias de cada episódio.
Além da Vanguarda, outros programas conquistaram o público da TV Tupi e
tornaram-se grandes sucessos de audiência e permanência no ar: Sítio do Picapau Amarelo,
Alô Doçura, Clube dos Artistas e o célebre telejornal Repórter Esso, que permaneceu no ar
por dezoito anos.
Além disso, o noticiário foi responsável pela cobertura completa da Guerra da Coréia
em 1950, com a participação e o envio de correspondentes de guerra. A credibilidade e
relevância do programa se consolidaram de tal maneira que a população só acreditava em uma
informação se ela fosse noticiada pelo Repórter Esso. Para Luciano Klockner, autor do livro O
Repórter Esso: A Síntese Radiofônica Mundial que Fez História: “Não tinha como mirar a
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lupa para os cinco minutos do Repórter Esso, mas os blocos onde ele estava inserido tinham
uma elevação de audiência de 25%, chegando a registrar aumento de 50% durante a Segunda
Guerra”, relata o jornalista para o site da Agência Brasil. Slogans como “O primeiro a dar as
últimas” e “Testemunha ocular da história” refletiam o prestígio e a popularidade da figura de
Esso para a população brasileira.
Com o fim da Segunda Guerra (1945), o noticiário passou a introduzir anúncios
nacionais e regionais gradativamente, a depender do estado em que transmitia. Apesar de
menos “heróicas”, as notícias ainda mobilizavam a audiência, demonstrando a força do
programa. Foi com a chegada da ditadura militar, em 1964, que o ilustre Repórter Esso passou
a perder essa força.
Em 1° de abril do mesmo ano, uma das edições do programa sofreu censura e não foi
ao ar em São Paulo. O cenário político conturbado vivido no Brasil e o aumento da
concorrência com outras emissoras em ascensão levaram à instabilidade do Esso, que teve sua
última transmissão de rádio no dia 31 de dezembro de 1968 e na televisão em 1970. Após 27
anos, encerrava-se um legado que carimbou profundamente as estruturas do jornalismo no
país, na voz emocionada de Roberto Figueiredo.
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administrativo. Os associados disputavam por influência dentro do grupo e tentaram até
mesmo depor João Calmon, ato impedido por Chateaubriand.
O adeus de Chatô foi em 14 de abril de 1968, aos 75 anos de idade, e sua morte
acirrou ainda mais as divergências no administrativo. Fernando Chateaubriand tentou anular
judicialmente a doação das ações e quotas feita por seu pai, e, dois anos depois, foi
substituído no condomínio, também recorrendo à justiça para ser reintegrado.
A divergência envolvendo a escolha do canal gerador da TV Tupi, principalmente
entre João Calmon (presidente do Condomínio Associado) e Edmundo Monteiro
(vice-presidente do Condomínio e diretor-presidente dos Diários e Emissoras Associados de
São Paulo), terminou com ambas as emissoras, TVs Tupi carioca e paulista, no papel de
transmissoras, o que gerou gastos desnecessários à rede. No meio das diretorias da TV Tupi e
de suas afiliadas divididas, a montagem de uma rede nacional no final dos anos 1960,
necessária para a divisão de gastos e crescimento da Rede Tupi de Televisão, foi dificultada e
tornou-se realidade apenas em 1974.
No mesmo ano, a TV Tupi - Canal 6 do Rio de Janeiro deixou de ser geradora de
programas via satélite para as afiliadas e passou a ser mais uma retransmissora da TV Tupi –
Canal 4 de São Paulo, a nova única geradora da rede. Essa mudança foi fruto do ganho de
influência de Edmundo Monteiro, que recebeu autonomia do Condomínio para administrar a
redistribuição de funções de mando, e, principalmente, pela péssima situação financeira da
Tupi do Rio, com um déficit de Cr$ 100 milhões e salários permanentemente atrasados, que
prejudicava toda a rede com os constantes processos contra a emissora repercutindo nos
jornais e outras canais do grupo Associado.
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do acordo, todos os funcionários pararam as atividades e a TV Tupi SP recorreu à Embratel
para garantir que a programação nacional fosse gerada pela Tupi do Rio.
No início de outubro, a Tupi voltou a ser gerida pelo Canal 4 de São Paulo, quando foi
firmado um acordo que garantia os direitos dos trabalhadores. Nesse mesmo ano, a TV Tupi
teve bons resultados de Ibope, fruto do trabalho como superintendente de Produção e
Programação de Walter Avancini, que tinha a visão de fazer uma televisão popular,
inteiramente voltada para o brasileiro. Com a saída de Avancini, a Rede Tupi movimentou-se
para apressar a elaboração da nova programação de 1980, que ganhou o slogan “80 Ano 30”,
em comemoração aos 30 anos da emissora. Entretanto, os planos não foram concretizados, já
que a crise da empresa se acirrou, culminando em uma greve de atores em janeiro de 1980.
“A Grande Greve”, como foi chamada a paralisação de janeiro de 1980 liderada pelo
ator Rubens de Falco e por Atílio Riccó, foi marcada pelo encerramento do histórico
Departamento de Teledramaturgia, com a demissão de todos os atores por justa causa.
Posteriormente, dada a falta de novelas para produzir, os estúdios da Vila Guilherme e da
Central de Produção do Sumaré foram desativados. Nesse momento a geração da rede voltou
a ser feita pela TV Tupi do Rio de Janeiro. A situação dos trabalhadores no Rio era mais
amena, já que esses recebiam salários com atrasos entre 10 e 15 dias, fato que passou a ser
considerado “normal”. Por outro lado, a sede carioca pagava parte de suas contas com
recursos da Rádio Tupi e tinha outras dívidas com os funcionários.
Após as demissões sob alegação de que a greve era ilegal, o Sindicato dos Radialistas
planejou uma nova greve a fim de legalizá-la. A movimentação fez com que a direção da Tupi
negociasse o pagamento do salário atrasado dos funcionários. Novamente, a previsão de
pagamento não foi cumprida e, em uma mesa de conciliação com um procurador da Justiça do
Trabalho, foi estabelecido um prazo de 72 horas para a empregadora pagar os salários, prazo
que se encerrava em 30 de abril. O que aconteceu em seguida foi a faísca para a revolta dos
funcionários: a TV Tupi de São Paulo os pagou com cheques sem fundo. Com a adesão de
dois terços dos 968 funcionários, foi declarada a greve geral, interrompendo o programa que
estava no ar no momento. A última fala do jornalista Saulo Gomes: “Senhores
telespectadores, neste instante a TV Tupi de São Paulo encerra suas atividades” marcou o fim
do Isto É São Paulo e da própria emissora paulista.
Mesmo com a declaração pelo Tribunal Regional do Trabalho de que a greve geral era
legal, os trabalhadores precisavam de uma solução breve. Por isso, o Sindicato dos Radialistas
organizou uma greve de fome em Brasília, com o intuito de chamar a atenção das autoridades.
A ideia era estimulada pelo apelo da visita do Papa João Paulo II ao Distrito Federal. Dos 73
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funcionários que saíram de São Paulo para participar da mobilização em Brasília, 2 tiveram
problemas de saúde. Além deles, quatro funcionários da emissora foram a óbito durante o
curso da greve-geral, “todos vítimas do estresse e do nervosismo que passaram com a falta de
compromisso de alguns dirigentes da empresa”, segundo relato de José Rabelo.
O Estado garantiu que arcaria com os salários atrasados, cuja soma seria
posteriormente cobrada do novo concessionário dos canais e, assim, a greve de fome chegou
ao fim, mas a greve-geral continuou. Depois de muitas deliberações e a desistência de todos
os empresários convidados a estudar a possibilidade de assumir os canais da Rede Tupi, o
governo chegou à conclusão de que a perempção era o único caminho para resolver o
problema dos funcionários da televisão pioneira no Brasil.
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declínio melancólico. Após a lacração das emissoras da S/A Rádio Difusora de São Paulo, a
Rádio Tupi de São Paulo lutou para se manter no ar por três anos, mas enfrentou uma
profunda crise financeira em 1980. Após a falência da Rádio Difusora em 1981, a Tupi AM
passou a operar como massa falida e sua direção, a fim de resolver suas pendências
trabalhistas, vendeu espaços da programação para igrejas evangélicas. Em 1984, após
esforços para transferir a concessão a outro grupo, a rádio foi declarada falida e encerrou suas
operações depois de 47 anos.
4. Conclusão
É inegável que a trajetória da Rede Tupi emerge como um capítulo crucial na história
da televisão brasileira, marcando pioneirismo e inovação. Seu papel na consolidação da
cultura televisiva, na promoção da diversidade de programação e no lançamento de talentos
que se tornaram ícones, contribuiu para moldar a identidade da televisão no Brasil. Apesar das
dificuldades que culminaram em seu encerramento, a Rede Tupi, na TV e no rádio,
permanece viva na memória coletiva, recordando da audácia e do espírito visionário que
impulsionaram o desenvolvimento da mídia televisiva no país.
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