Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
!
"
#
$% $$
&%'(&
"
)*+ %
,-
+
.
"$"/0123),%
45 "#
$
&
&%'(&
"
!"#
$
% &
6378901808233368:
!"
# $%
!"#
$
%
&
'
(
)
* (
+
,-'
(
&
&-,./0'
AUTORAS
ANA MARIA ABDUL AHAD
KÊNIA CRISTINA MACHADO LEAL INNOCENTE
LEILA MARIA SUHADOLNIK OLIVEIRA DE PÁDUA ANDRADE
APRESENTAÇÃO
PREFÁCIO
ÍNDICE
INTRODUÇÃO 07
1. ALIMENTAÇÃO E MEMÓRIA: ATO 08
SOCIOCULTURAL
2. COZINHA REGIONAL 10
2.1 Cozinha Regional Mineira 14
3. PASSOS: HISTÓRIA E CULTURA 21
3.1 Receitas Tradicionais das Famílias de Passos 26
CONSIDERAÇÕES FINAIS 44
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 48
AGRADECIMENTOS 50
INTRODUÇÃO
ϳ
1. ALIMENTAÇÃO E MEMÓRIA: ATO SOCIOCULTURAL
ϴ
Partindo desta premissa, torna-se possível afirmar que os pratos típicos
de um povo, e as características da alimentação em si, são importantes
patrimônios culturais e imateriais. De acordo com a UNESCO:
Na cultura oral o conhecimento tem que ser produzido em voz alta, se não
ele logo desaparece; é preciso despender uma grande energia para dizer
repetidas vezes o que é aprendido arduamente através dos tempos. Como
conhecimento valioso à sociedade tem, então, em alta conta àqueles
anciões e anciãs, sábios que se especializam em conservá-lo, conhecendo
e podendo contar as histórias de tempos remotos (2006, p. 13).
ϵ
O historiador, Eric Hobsbawn, em seu célebre livro ''A era dos extremos'',
descreve a morte da memória histórica:
2. COZINHA REGIONAL
ϭϬ
comidas típicas regionais, os quais se tornaram produtos inerentes à um
movimento no qual a alimentação também se transformou inclusive em uma
referência na construção de roteiros turísticos. Isso se deve à percepção de
que o prato típico é vetor de identidades, ou seja, por meio da culinária
regional, há o entendimento da possibilidade do acesso à cultura de forma
mais ampliada através deste saber e fazer, o qual possui uma abrangência
que abarca inúmeros fatores como o ambiental, o antropológico, o religioso,
dentre outros.
ϭϭ
determinar mudanças drásticas na forma de se alimentar. Flandrin e Montanari
discorrem sobre esta fase:
ϭϮ
Espero assim trazer um pouco mais de felicidade para os momentos, hoje
fugazes, em que parentes e amigos se reúnem em torno da mesa. Privilégio
dos que ainda se prendem ainda ao sentimento familiar de unidade e
afeição, infelizmente em declínio nas grandes cidades sob a tirania da
máquina, da velocidade e do lucro (CHRISTO, 1978, p.15).
ϭϯ
Nacional do Patrimônio Imaterial (PNPI), o qual foi instituído o Registro de
Bens Culturais de Natureza Imaterial através do Decreto n. 3.551, de 4 de
agosto de 2000, que desde seu início já conta com 15 registros de
manifestações culturais, dentre estas, três são referentes ao saber-fazer
culinário: o Ofício das Paneleiras de Goiabeiras (ES), o Ofício das Baianas do
Acarajé (BA), e recentemente, o Modo Artesanal de fazer Queijo de Minas,
nas regiões do Serro e das serras da Canastra e do Salitre (MG).
ϭϱ
na sua própria gordura, farinha de mandioca e de milho eram importantes
fontes energéticas do dia a dia dos comensais e dos viajantes. O Feijão
Tropeiro, que é a mistura de feijão, farinha, torresmo, foi inventado para
alimentar os viajantes tropeiros que abasteciam a Capitania das Minas Gerais
com mercadorias. Segundo Abdala (2007) a paçoca e a farofa são exemplos
de conservação, pois esses pratos não perecíveis eram a base de alimentação
dos tropeiros e foram também dos bandeirantes. Cascudo (2004), grande
estudioso da alimentação brasileira, considerou que a farinha de mandioca era
o pão nacional.
Para suprir a demanda, adotou-se a ''cultura de quintal'', importada de
Portugal, onde se extraía a subsistência dos habitantes das Minas Gerais.
Neste cenário quem reinava soberano era o porco, que desempenhou e ainda
desempenha o papel de protagonista da culinária mineira. Este animal
domesticado, que foi trazido pelos portugueses, era alimentado com as sobras
e restos de comidas, e deste se aproveitava todas as partes, desde sua carne
até sua banha. A galinha, ave exótica para indígenas que não a conheciam,
também foi levada para colônia e teve um destaque merecido na cozinha
mineira. Esta era destinada aos doentes e as mulheres de resguardo,
enquanto o frango era mais consumido pela população em geral. Já a carne
de gado era rara, e as que chegavam ao mercado local, oriundas do Norte de
Minas e Bahia, apresentavam características modificadas pelas técnicas de
conservação e eram conhecidas como carne de sol ou serenada, a qual era
salgada e deixada no sereno para desidratar. Também vinha o charque do sul
do Brasil trazido pelos tropeiros.
Desponta neste momento, conforme Abdala (2007), um jeito único de se
fazer comida nesta região mineira, a qual será caracterizada pela mescla de
culturas: lusitana que introduz os queijos, doces de ovos, açúcar, leite, bolos,
manjares e outras iguarias originárias dos conventos medievais; africana com
suas pimentas, seus feijões, quiabos, bananas e inhames; ameríndia com uma
base alimentar composta pelo uso predominante do milho, ingrediente que foi
ϭϲ
muito utilizado para preparar doces, quitandas e pratos salgados, portanto
estava presente em todas as refeições. Além disso, esse grão servia de
alimentação dos animais dos quintais. Conforme Cascudo (2004, p.111), ''a
convergência e fusão das culinárias indígena, africana e portuguesa levaram
ao brasileiro o complexo alimentar do milho que a industrialização tornou
permanente. Junho, mês de São João é mês de milho, da humilde pipoca ao
bolo artístico.''
Uma vez que, alguns pratos de origem indígena com a base de milho e
mandioca como o escaldado, farofas, pirão, paçocas, foram os primeiros a
serem preparados nestas terras mineiras. Abdala (2007, p.74) salienta que ''a
característica da paçoca é ser pilada. A receita mais simples consiste de carne
assada ou frita socada com farinha de mandioca [...]. No caso de Minas, a
variação poderia ser a utilização de farinha de milho.'' A quitanda conhecida
como cobu ou ''pau-a-pique'' também tem suas raízes nativas, pois os índios
tinham o hábito de assar uma massa de milho enrolada na folha de bananeira.
Há relatos que neste período havia pouca utilização de sal, devido ao seu alto
valor e por ser originário de lugares longínquos. Os que mais sentiam essa
ausência eram os portugueses que estavam acostumados a usar o sal como
tempero, ao contrário dos indígenas e dos negros.
Vale ressaltar que, com a vinda dos negros para exercerem o trabalho
escravo nas minas, a culinária recebeu mais uma influência determinante, pois
estes, ao chegarem ao Brasil, foram obrigados a se adaptarem aos alimentos
fornecidos pela terra, entretanto, em suas bagagens, trouxeram o tempero, o
modo de preparar algumas receitas e ingredientes provenientes da África, os
quais se aclimataram muito bem na região como o feijão andu, o quiabo, o
leite de coco, o dendê, a pimenta, o café, a banana, dentre outros. Segundo
Mascarin:
ϭϳ
e utilizavam técnicas de cozinha adquiridas na África. Esses conhecimentos
culinários na longa duração passaram a fazer parte da cozinha brasileira
(2015, p. 63).
A farinha de milho misturada com água quente era a base das refeições
desses cativos. Tal prato foi denominado de angu de fubá, cuja palavra,
segundo Abdala (2007), é de origem africana e o mesmo era responsável por
fornecer sustância aos trabalhadores braçais.
ϭϴ
Essa predileção pelo feijão com farinha, no contexto da região
mineradora, se manteve nos hábitos alimentares dos habitantes das gerais, e
foi desta mistura de ingredientes que nasceu um prato muito apreciado
chamado tutu à mineira, que utiliza a técnica portuguesa de cozimento, com
acréscimos de alho e toucinho e finalizando com a farinha de mandioca
indígena.
Tendo em vista que, essa culinária híbrida, na qual o indígena foi mestre
por excelência em ensinar como sobreviver nos trópicos utilizando os
alimentos da terra, e devido a isso, os mesmos contribuíram decisivamente
para o desenvolvimento da colonização, e, consequentemente, foram
introduzidos no cardápio nacional; os negros adaptaram os pratos originários
da África com os elementos nativos; e por fim, a presença portuguesa
consagrou definitivamente a composição dos pratos nacionais adicionando
técnicas e fazendo uso de seus ingredientes tradicionais. A ementa lusitana
introduziu a fritura, valorizou o sal e revelou o açúcar aos nativos e negros,
conquistando a todos, pois os escravos, tropeiros, romeiros e sertanejos
consumiam rapadura com farinha como provimento essencial de suas
jornadas. Segundo Abdala (2007), inaugura-se nas Minas Gerais a sobremesa
e a que vai predominar no século do ouro são as compotas de frutas tropicais
colhidas nos quintais, devido a precariedade de gêneros alimentícios deste
período.
Para Abdala (2007) era comum a utilização de muitos vegetais na
alimentação portuguesa, então foi por isso que os colonizadores implantaram
as hortas na colônia mineira e trouxeram inúmeras variedades de plantas
como a famosa couve manteiga, alface, cenoura, hortelã, trigo, arroz, dentre
outras. E as frutas trazidas foram a laranja, limão, cidra, marmelo, figo, manga
e várias outras que enriqueceram a biodiversidade brasileira. Os temperos
trazidos da metrópole foram o alho, a cebola, o coentro, o alecrim, o vinagre,
o louro e as especiarias do oriente. O bacalhau era consumido pelas mesas
abastadas, pois era um produto importado e muito caro.
ϭϵ
Havia a predominância do alimento cozido e o uso de todas as sobras
no cotidiano das cozinhas mineiras, pois, de acordo com Abdala:
De modo que, essa oposição entre cozido e assado é elucidada por Lévi-
Strauss (1968, p.400-401, apud ABDALA, 2007, p. 77) em que ''o cozido evoca
a conservação integral do alimento e seu suco, ao passo que o assado é
acompanhado de perda. Esse é aristocrata, marca o ponto culminante do
banquete, o outro é popular, econômico, evoca a cozinha caseira, íntima.''
Logo, de maneira geral, a cozinha do século XVIII foi responsável pela
origem dos pratos que se conhecem hoje. No século XIX, época do declínio
da extração do ouro, em que a sociedade mineira abandonou as cidades para
viver no campo, houve poucas alterações no cardápio típico, exceto pela
fartura que marcou esses novos tempos nas fazendas e ampliou o receituário,
mas sem acrescentar muitas novidades ao cardápio do período anterior,
conforme Abdala (2007). As poucas modificações foram a maior
disponibilidade do arroz que neste momento começa a fazer dupla com o feijão
e se tornam, consequentemente, símbolos da culinária nacional e que
perduram até hoje.
Com a criação de gado, começa haver abundância de leite, o qual serão
produzidos seus derivados como o queijo artesanal, a manteiga, a coalhada
que irão incrementar as receitas de quitandas mineiras. A carne de vaca se
tornou mais comum nas mesas, dando origem a famosa ''vaca atolada'', prato
feito com costela bovina e mandioca. Outro produto que veio para ficar e caiu
ϮϬ
no gosto dos mineiros foi o café coado no bule feito no fogão à lenha, que a
partir deste momento torna-se presente nos seus hábitos, o consumindo
acompanhado de quitandas.
Para Friero (1982) apud Abdala (2007) a definição de quitandas, que
consta no livro Feijão, Angu e Couve, é toda pastelaria caseira que eram
servidas com chá à noite ou na merenda da tarde. O café veio substituir ou
acompanhar o chá conforme ocorria sua expansão no território mineiro. As
principais quitandas eram biscoitos de polvilho assados ou fritos, brevidades,
roscas, sequilhos, bolos, broinhas de fubá e de amendoim e as mães-bentas
e o pão de queijo. Já Câmara Cascudo (2004) discorre que os bolos,
brevidades e beilhós (bolinho frito) foram trazidos pelos portugueses ao Brasil.
Porém, como na colônia não foi possível cultivar a farinha trigo devido ao
clima, e era um produto caro e de difícil acesso, os colonos foram obrigados a
se adaptarem e substituí-la pela goma de mandioca e pelo milho, adaptação
que deu origem a inúmeras receitas originais da terra. Abdala (2007) ressalta
que essa pastelaria caseira era própria dos períodos de fartura, e não de
carência, ou seja, para preparação de quitandas era necessário os excedentes
e não as sobras. Daí chega-se à conclusão que essas receitas começaram a
ser colocadas em prática a partir do momento em que há o declínio da
extração de ouro e, devido a isto, o centro da economia mineira começa a girar
em torno das fazendas.
Ϯϭ
tropical de altitude e a vegetação, na sua fase original ou nativa, era
predominantemente composta pelo domínio do Cerrado.
Seu contexto histórico se inicia a partir do começo do século XVIII, com
a descoberta de ouro pelos bandeirantes nos "Sertões de Jacuy'', cuja região
situa-se na fronteira com o estado de São Paulo, onde o Rio Sapucaí
desembocava no Rio Jeticahy, posteriormente denominado pelos
conquistadores de Rio Grande. No entanto, antes desta invasão das bandeiras
paulistas, a terra era habitada por indígenas da etnia dos Caiapós.
ϮϮ
É impossível saber quem eram. Viviam aí, no meio do mato, procurando
ouro nos ribeirões [...]. No começo não tinha criação alguma, a não ser um
ou outro cachorro que acompanhavam seus donos. Depois vieram as
galinhas. Mais tarde os porcos. Semeavam algum feijão. Plantava alguma
mandioca e um pouco de milho. Mas passavam o dia todo procurando ouro.
Nesses primeiros anos não havia mulheres nas faisqueiras. Só mais tarde é
que vieram. Algumas eram negras fugidas dos quilombos da redondeza.
Depois vieram outras, em geral mulatas, acompanhando novos faiscadores
(1990, p. 32-33).
A vida era sempre a mesma rotina, lenta e calma. Só havia novidade quando
chegava um faiscador novo; ou quando passava algum tropeiro ou
aventureiro, rumo ao Desemboque. Aí sempre paravam, para dar água aos
animais, contar e ouvir as novidades, saber dos caminhos à frente. Em geral
se comia alguma coisa. O tropeiro quase sempre comia toucinho. O morador
cozinhava mandioca. Comiam com farinha socada no pilãozinho de madeira.
O pilão, aliás, era um dos objetos indispensáveis. Depois, o tropeiro seguia
viagem e a vida voltava ao que era (GRILO, 1990, p. 34).
Na rota do ouro, na busca pelas catas nos leitos dos rios e ribeirões, foram
surgindo os arraiais. Uma das primeiras indicações de colonização
permanente era a construção de uma capela, de pau a pique ou de troncos
de palmeira e reboco. A capela era normalmente a primeira construção a
ganhar telhas. As vendas brotavam por toda parte. A reunião dos arraiais
mineiros vizinhos formou as atuais cidades, encarapitadas em morros e
colinas (DIAS, 2012, p. 37).
Ϯϯ
Entretanto, a partir de meados até o final do século XVIII, começou a
ocorrer a escassez do ouro a qual acarretou a decadência da mineração. De
acordo com Dias (2012, p.54) ''a população de Minas, colonizada a partir de
seu centro, viu-se forçada a buscar outros lugares e outras formas de ganhar
a vida''. Nas principais áreas da mineração não era possível desenvolver
novas atividades devido à má qualidade do solo. Os habitantes, em sua
maioria, abandonaram esta região, em busca de terras e pastos mais férteis
no sul da província, para praticarem a pecuária e agricultura, e assim a
economia mineira se ruralizou.
Ϯϰ
quitandas e doces deliciosos. Dias narra com detalhes a comida típica das
roças:
Ϯϱ
3.1 Receitas Tradicionais das Famílias de Passos
Ϯϲ
Quitandas
Quando uma visita chega a uma casa mineira no meio da tarde, esta é
a hora do anfitrião receber os que estão de passagem da melhor forma
possível, então são ofertados aos mesmos, aquele cafezinho preto passado
na hora acompanhado de pão de queijo, roscas, broas, sequilhos e as mais
variadas preparações feitas para agradar quem as degusta.
Lembro-me quando minha mãe entrava para a cozinha para preparar suas
deliciosas receitas, que reunia toda a família para degustar as maravilhas
feita pela mão de fada da minha mãe, que usava o fogão de lenha. Eu e
meus irmãos adorávamos sentar envolta da mesa para ver a minha mãe
preparar seus quitutes. Quando mamãe ia preparar a marmota, era uma
risada só, pois não sabíamos o que era marmota, depois de assada, que
delícia. Servia a marmota com um delicioso chá de figo.
MARMOTA
INGREDIENTES MODO DE PREPARO
1 1/2 copo de polvilho Bata tudo na mão ou no liquidificador. Levar para
1/2 copo de água assar em uma assadeira redonda em forno bem
1/2 copo de óleo quente. Não precisa untar a forma.
2 ovos
Sal a gosto
1 copo de queijo
Ϯϳ
ROSCA DE CANELA
INGREDIENTES MODO DE PREPARO
1 copo de leite Misture todos os ingredientes em uma
1 colher de sopa de canela tigela, exceto a farinha. Em seguida vá
1 1/2 copo de açúcar acrescentar a farinha de trigo e sovar
1/2 copo de óleo bastante. Depois deixe descansar até
1 pitada de sal dobrar de tamanho e por fim, enrole a
2 colheres de sopa de fermento rosca e coloque para assar em forno
biológico médio.
1 kg de farinha de trigo
Minha mãe fazia rosca de batata doce roxa, rosca rainha, tareco de
torresmo, biscoitão de polvilho, bolos de fubá e de milho [...].
TARECO
INGREDIENTES MODO DE PREPARO
1/2 prato de torresmo frito a Bater as gemas e misturar com o torresmo
gosto moído na peça fina da máquina de moer sem
1/2 prato de açúcar cristal dente. Acrescentar o açúcar, o sal e o polvilho
1 prato de polvilho azedo e sovar bem. Fazer bolinhas e achatá-las.
12 gemas Levar ao forno até corar.
1 colher de café de sal
Forrozinho, bolo de Fubá, pudins, biscoitos, são as coisas que aprendi com
mamãe. A receita caseira que hoje não se faz mais é o bolo de fubá assado
na caçarola no fogão de lenha com uma forma de brasa colocada em cima,
e tem muitas outras receitas que não se fazem mais.
Ϯϴ
FORROZINHO
INGREDIENTES MODO DE PREPARO
5 gemas Misture todos os ingredientes e amasse
2 xícaras de chá de leite até ao ponto de abrir com o rolo. Depois
8 xícaras de farinha de trigo misture uma lata de doce de leite com
2 tabletes de fermento biológico coco ralado e espalhe em cima da massa
(2 colheres de sopa) aberta e enrole como rocambole. Corte os
3 colheres de sopa de açúcar tubinhos iguais o forrozinho e coloque
1 colher de café de sal para assar em forno médio.
Ϯϵ
PAU A PIQUE
INGREDIENTES MODO DE PREPARO
2 xícaras de chá de fubá Coloque todos os ingredientes numa
480 ml de água panela, menos os ovos. Leve ao fogo alto
1 xícara de manteiga e cozinhe, mexendo sempre, até formar
1 xícara de leite um angu grosso. Deixe esfriar. Junte os
1 xícara de açúcar ovos um a um e vá batendo até a massa
1 pitada de sal ficar homogênea. No meio de cada
1 colher de erva-doce retângulo de folha de bananeira coloque
4 ovos uma colher de sopa da massa e enrole no
Para embrulhar: 80 retângulos sentido do comprimento sem apertar.
de 6 x 12 cm de folhas de Coloque numa assadeira e leve ao forno
bananeira passadas em água pré-aquecido à 180°. Deixar assar por
fervente. cerca de 30 minutos ou até as folhas
ficarem douradas. Rende 80 unidades
Eu fui criada na fazenda com o meu pai, minha mãe e meus seis irmãos.
Tive uma infância e adolescência muito feliz e com muita fartura. Minha mãe
fazia muitas quitandas no forno à lenha, mas de tudo o que ela quitandava,
o que eu mais amava era o pão de queijo que ela fazia e tinha um gostinho
de amor de mãe que até hoje eu me lembro com saudades.
ϯϬ
PÃO DE QUEIJO DA DIVINA MÃE
INGREDIENTES MODO DE PREPARO
1 kg de polvilho azedo Em uma vasilha bem grande coloque o
1 colher de sopa de sal polvilho e sove bastante, acrescente o
1 1/2 copo de leite morno para leite morno e sove mais um pouco. Faça
sovar um buraco no centro da vasilha e despeje
1 1/2 copo de óleo muito quente o leite fervido com o óleo e faça um
para escaldar anguzinho e sove mais. Coloque os ovos
1/2 copo de leite para fazer um e mexa bastante, misture o queijo ralado
anguzinho no centro do polvilho e vai colocando leite até a massa
4 ovos caipira amolecer. Para enrolar é necessário untar
500 g de queijo ralado (meia as mãos com óleo. Leve ao forno pré-
cura) aquecido a uma temperatura de 260°.
Rende aproximadamente 60 unidades.
Minha mãe tinha pensão e eu ajudava na limpeza da casa que era muito
grande, ia no armazém comprar alguma coisa que faltava e colhia também
feijão. Minha mãe preparava a refeição, almoço e janta, e fazia muitos doces
e quitandas deliciosas. O fogão era à lenha [...].
ϯϭ
BREVIDADE
INGREDIENTES MODO DE PREPARO
1/2 Kg de polvilho Sovar bem o polvilho, a parte, bata os ovos inteiros
2 1/2 de açúcar com açúcar na mão ou na batedeira até dobrar de
8 ovos caipira ou mais tamanho e adquirir uma cor mais esbranquiçada.
Em seguida, adicione os ovos batidos no polvilho e
amasse bem esta mistura. Unte uma forma redonda
com buraco no meio e deixe assar em forno quente
por 50 minutos.
BOLACHINHAS DE NATA
INGREDIENTES MODO DE PREPARO
1 ovo Misture todos os ingredientes e vá adicionando
1 xícara de nata farinha de trigo até dar o ponto de enrolar. Fazer
5 colheres de sopa de trancinhas e assar em forno médio.
açúcar
1 colher de sal
amoníaco
1 colherinha de baunilha
Farinha de trigo
ϯϮ
BOLO NA BRASA (BORORÓ)
INGREDIENTES MODO DE PREPARO
3 xícaras de fubá Em uma travessa, misture bem os ovos,
1 xícara de farinha de trigo coalhada, óleo e a erva-doce. Adicione o
2 xícaras de açúcar açúcar, fubá e farinha e bata bem até a
4 ovos massa ficar bem misturada. Coloque a
1/2 colher de chá de erva- massa dentro de uma panela de ferro forrada
doce com folha de bananeira. A panela é colocada
1 xícara de óleo na taipa do fogão de lenha e coberta com
1 xícara de coalhada uma chapa de aço com brasa em cima. O
1 colher rasa de sopa de bolo fica pronto em 20 minutos. O segredo do
bicarbonato bolo está na temperatura da brasa, tanto a
debaixo como a de cima.
O que eu me lembro da minha mãe é ela fazendo angu doce, canjica, arroz
doce, paçoca de amendoim, paçoca de carne seca, tudo socado no pilão.
Antes só usava rapadura para adoçar as coisas, não existia açúcar refinado.
Café com rapadura era muito bom. O que fazia os bolos crescerem era o
bicarbonato, pois não usava fermento químico. Antes fazia bolo de fubá
assado na caçarola com brasa por cima. Não usava a palavra bolo e sim
bororó.
ϯϯ
BISCOITO DE POLVILHO FRITO
INGREDIENTES MODO DE PREPARO
4 copos de Colocar o polvilho em uma bacia. Colocar óleo e o leite
polvilho em panela para ferver. Despejar essa mistura sobre o
1 copo de leite polvilho e mexer até esfriar. Acrescentar o ovo e sal e
1 copo de óleo amassar até a massa atingir o ponto de enrolar. Se a
1 ovo massa estiver dura, colocar mais um pouco de leite.
1 pitada de sal Colocar para fritar em óleo frio para não espirrar.
Minha mãe gostava de fazer doces como o de goiabada que ela guardava
em caixas de madeira e a gente comia o ano inteiro. Ela também fazia um
doce de queijo que ficava delicioso, mas infelizmente não aprendemos esta
receita.
PAMONHA ASSADA
INGREDIENTES MODO DE PREPARO
6 espigas de milho verde (mole) Bater o milho com os ovos no
1 prato raso de sobremesa de liquidificador até ficar bem fino. Colocar
açúcar em uma tigela o milho batido, açúcar,
1 prato de sobremesa cheio de manteiga derretida, canela, noz moscada,
queijo ralado (queijo mais sal, queijo com um pouco de leite. A
fresco) massa é mais mole e a forma deve ser
5 ovos inteiros caipira untada com óleo.
6 colheres de sopa de manteiga
de leite
1 colher de chá de canela em pó
1 colher de chá de noz moscada
ralada bem fina
1 colher de chá de sal
ϯϰ
1 colher de sopa de fermento
químico ou bicarbonato
Quitutes
Eu era uma menina muito danada, pois tudo que minha mãe fazia eu queria
aprender. Daí aprendi tudo que ela fazia como o queijo, linguiça, polvilho e
tudo mais [...].
ϯϱ
PAÇOCA DE CARNE-SECA
INGREDIENTES MODO DE PREPARO
1 kg de carne Picar a carne em pedaços pequenos, salgá-la e
fraudinha colocar no sol e no sereno por três dias. Depois retire
1 kg farinha de milho o excesso sal da carne e frite em gordura quente.
Pimenta e sal a Colocar a carne em pilão com bastante tempero e
gosto adicionar a farinha de milho. Socar até virar uma
paçoca.
Fui criada na fazenda e meu serviço era costurar, tirar leite da vaca. Eu tinha
que levantar cinco horas da manhã para dar conta do meu serviço. Eu
lembro da minha mãe cozinhando cada coisa gostosa, e coisas que nunca
mais comi como broto de abóbora refogada (cambuquira), umbigo de
banana, cururu, ora pro nóbis [...]
ϯϲ
CARNE CHEIA
INGREDIENTES MODO DE PREPARO
3 Kg de pernil do lombo Corte a carne de porco em um pedaço de 15 cm,
Alho tempere e deixa curtir o tempero até no outro dia.
Sal e pimenta a gosto Faça um buraco no meio da peça. Reserve a carne
Toucinho retirada deste buraco para o recheio. Moer esta
carne reservada, adicionar um pouco de toucinho
em pequenos pedaços para que este recheio não
fique seco, tempere com sal, pimenta e alho. Em
seguida coloque esta carne moída dentro do
buraco da peça e costure a abertura do pedaço de
carne. Coloque um pouco de banha de porco na
panela para esquentar, em seguida ponha o
pedaço de carne para fritar um pouco e depois
adicione água para cozinhar. A hora que secar bem
a água, deixe a peça apertar (fritar) mais um pouco
para dourar. Conservar imersa na banha de porco.
Na minha casa quem falava mais alto era o fogão de lenha, onde a minha
mãe fazia muitas receitas gostosas, saudáveis e ricas em vitaminas que nos
fortalecia. Minha mãe fazia um guisado de carne com legumes que até hoje
faço para os filhos e netos.
ϯϳ
GUISADO
INGREDIENTES MODO DE PREPARO
1 kg de carne serenada Salgar um quilo de carne com 30 g de sal,
(seca no varal) espalhando uniformemente. Deixe a carne
Legumes (batata, descansar por cinco horas e depois pendure ao sol
cenoura, chuchu) por mais três horas. Em seguida pendure a carne
Folhas de Taioba no varal para passar duas noites no sereno. Depois
Couve bem picadinha deste processo, cortar a carne em tirinhas, refogar
Tempero a gosto com alho, cebola, e os temperos que gostar. Após
refogar a carne, adicione os legumes, a couve e
colocar um pouco de água para cozinhar. Por fim,
pôr uma colher de fubá para engrossar o molhinho
e cobrir o guisado com folhas de taioba picada.
Vivi no sítio até os dez anos com minha vó paterna e aprendi a culinária com
ela. A comida que ela fazia era simples feita com os ingredientes de lá,
colhidos e preparados na hora.
ϯϴ
Doces
Para coroar a rica culinária mineira, suas refeições são encerradas com
os doces divinos e tradicionais, que desde os tempos do ciclo do ouro, vêm
proporcionando um prazer inigualável aos que destes provam. No princípio da
colonização, as compotas de frutas da terra e os doces feitos nos tachos de
cobre eram produzidos por motivo de conservação, assim poderiam ser
consumidos durante o ano inteiro; hoje se tornou um item obrigatório no
cardápio das gerais, e são sempre acompanhados pelo queijo fresco, para
deleite dos apreciadores da arte do açúcar.
Pode-se afirmar que, talvez por insuficiência árabe reforçada pelo contato
com os trópicos orientais, a cozinha portuguesa que se transmitiu ao Brasil
ϯϵ
foi uma cozinha muito chegada ao açúcar; e, dentro dela, a doçaria ou a
confeitaria que os brasileiros herdaram dos portugueses, e aqui vêm
desenvolvendo, foi, desde os inícios dessa transmissão de valores, uma
doçaria ou confeitaria açucaradíssima (2007, p. 44).
GELEIA DE MOCOTÓ
INGREDIENTES MODO DE PREPARO
2 Kg de mocotó Cozinhar o mocotó até dissolver dos ossos. Deixar
1 rapadura esfriar e depois coar na peneira juntamente com o
400 g de açúcar leite para ''lavar'' o mocotó. Em seguida, pegar a
queimado para inteirar sobra da peneira, colocar no liquidificador e bater
3 litros de leite para com o mesmo leite. Colocar em um tacho o mocotó
lavar com leite e deixar ferver um pouco e adicionar a
Cravo e canela a gosto rapadura picada e o açúcar e deixar ir apurando e
mexendo o tempo todo com uma colher de pau. O
ponto é a hora que estiver desgrudando do tacho.
Tirar do fogo e bater forte para dar ponto de
enformar. Por fim, untar a forma com manteiga e
despejar a geleia e no outro dia já pode
desinformar.
Na minha casa minha mãe era bem prendada na cozinha. Ela fazia
pamonha, goiabada, doce de leite, pé de moleque, arroz doce e eu aprendi
com ela.
ϰϬ
PÉ-DE-MOLEQUE
INGREDIENTES MODO DE PREPARO
3 litros de leite Torre o amendoim, tire a pele e passe na máquina
1 kg de açúcar de moer carne. Leve o leite e o açúcar no fogo,
1 kg de amendoim quando estiver fazendo o puxa na vasilha com
torrado e moído água, desliga o fogo e coloca o amendoim e bata
1 pitadinha de até começar a açucarar. Em seguida colocar numa
bicarbonato para não assadeira o doce e quando esfriar corte em
deixar o leite talhar pedaços.
BALA DE MEL
INGREDIENTES MODO DE PREPARO
2 litros de leite Coloque no tacho os ingredientes (menos a
3 copos (americanos) manteiga), inclusive o bicarbonato para o leite não
de açúcar cristal talhar. Quando começar a ferver, ponha um pires
1 pitada de bicarbonato (prato pequeno) dentro do tacho para não
1 xícara de mel derramar. Nesta fase, ferva mais ou menos duas
1 colher de manteiga horas em fogo baixo. Começando a engrossar,
retire o prato e mexa sem parar até o ponto de bala
dura (pingue um pouco dela numa xícara com
água). Desligue o fogo e despeje a bala em um
prato fundo untado com manteiga e faça as
bolinhas e embrulhe-as em papel celofane
transparente. Obs. Se na hora que esfriar, estiver
muito dura, coloque 20 segundos no micro-ondas.
ϰϭ
Aluna: Stela Maria Araujo Amorim, 69 anos, Cabo Verde-MG.
Tudo que minha mãe fazia era muito gostoso, mas os doces eram feitos para
vender. Nós raspávamos os tachos com colheres e ficávamos muito felizes
[...].'
CAJUZINHO
INGREDIENTES MODO DE PREPARO
1/2 kg de amendoim Coloque no tacho o açúcar e as gemas e leve ao
triturado fogo e mexa até que o fundo do tacho esteja
1/2 kg de açúcar aparecendo. Acrescente o amendoim, mexendo
12 gemas até despregar. Despejar em uma travessa, deixa
1 colher de sopa rasa esfriar e logo enrolar em forma de caju, passe no
de manteiga açúcar refinado e de o acabamento com cravo ou
amendoim.
Esta receita me lembra muito a minha saudosa mãe que tinha na horta um
pé de figo e quando chegava no mês de dezembro, época de colher a fruta,
era uma festa, pois mamãe fazia um tacho bem grande de figo em calda e
também cristalizava alguns.
ϰϮ
DOCE DE FIGO
INGREDIENTES MODO DE PREPARO
1 kg de figo Limpar o figo com areia limpa bem fina. Colocar
1 prato fundo de açúcar dentro de um saco branco em recipiente com água
bem cheio e esfregar bem até que fique bem lisinho. Limpe e
Água o quanto basta raspe com a faca os cabos e corte em cruz sem
Cravo da índia deixar soltar as partes. Em um tacho de cobre,
coloque as frutas e água suficiente para cozer. A
parte, faça uma calda com 2 1/2 copos de água e
açúcar, deixe ferver até o açúcar dissolver e
reserve. Depois de cozido, deixar esfriar os figos
cobertos com um pano sem deixar entrar ar. Após
esfriar, escorrer os figos e colocá-los na calda e
ferver um pouco, desligar o fogo e deixar
descansar. Repetir esse processo por mais duas
vezes.
ϰϯ
DOCE DE CIDRA
INGREDIENTES MODO DE PREPARO
1 prato raso de cidra Ralar a cidra e depois colocá-la em um saco branco
ralada junto com um punhado de sal em uma bacia com
1 prato raso de açúcar água até cobrir o saco e depois ir trocando a água
Cravo e canela em pau por três dias. No terceiro dia levar em água corrente
e ir esfregando até sair o amargor da fruta. A parte,
fazer a calda do açúcar. Juntar a cidra e levar ao
fogo, mexendo sempre até aparecer o fundo do
tacho. Adicionar a canela e o cravo, a gosto.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
ϰϰ
algumas não foram anotadas e, consequentemente, foram esquecidas para
sempre.
Em relação aos ingredientes: o milho, o polvilho, o feijão, a carne de
porco, os derivados do leite e os ovos reinam soberanos na cozinha típica de
Minas. Os acompanhamentos dos pratos principais são conhecidos como
''misturas'', geralmente são folhas e legumes refogados, como a couve,
almeirão, chuchu, abóbora, quiabo, jiló, dentre outros. Antigamente se comia
muito a taioba, serralha, cururu, beldroega, ora pro nóbis, broto de abóbora
(cambuquira), umbigo de bananeira, macaúba e atualmente são poucos da
nova geração que os conhece.
No que tange as quitandas, boa parte das alunas disseram que comiam
''bororó'' conhecido também como bolo na brasa, feito em uma panela de ferro
no fogão à lenha com brasas em cima e embaixo. O famoso bolinho de fubá
enrolado na folha da bananeira, pau a pique, foi também frequentemente
citado como memória afetiva da infância. Já os doces de antes eram feitos
com doce de leite puro, as caldas de açúcar com as gemas eram a base das
mais variadas receitas de guloseimas, mas agora se usa muito o leite
condensado industrializado. Muitas frutas eram encontradas facilmente na
região, no entanto, estão cada vez mais raras ou até mesmo desapareceram,
tais como o marmelo, a laranja da terra, cidra, figo.
Um dos entraves encontrados durante o percurso investigativo, o qual é
pertinente ser apontado, está relacionado às medidas dos ingredientes das
receitas, pois, antigamente, além das mesmas serem transmitidas através da
escrita, eram também repassadas pela forma oral. Daí o motivo da não
padronização das proporções que compõem as preparações deste caderno,
fato, é este, resultante da dificuldade de se coletar dados precisos acerca
desta constatação. Tendo em vista que, todas as entrevistadas fizeram o
seguinte relato ao afirmarem que aprenderam com suas mães a elaborarem
RVSUDWRV³SRUUXPR´RXVHMDQHVWHFRQWH[WRQmRhá uma medida exata dos
elementos que os compõem, e sim uma sensibilidade apurada acrescida de
ϰϱ
um toque de intuição para que a alquimia do sabor se faça presente. Para elas,
o que vale neste quesito é a percepção, o olhar sobre a iguaria que está se
preparando, para saber qual a quantidade necessária de cada componente
como também o ponto certo da receita.
Em suma, o século XVIII, influenciado pelas três etnias que compõe a
base da formação da região: indígena, portuguesa e africana, foi responsável
pela origem de diversos pratos típicos que são preparados até hoje. A
decadência da mineração e a transição para o campo deixou marcas
inconfundíveis na identidade do povo das gerais, pois suas raízes rurais
promoveram o florescimento de uma de suas características mais pungentes,
que é a afamada hospitalidade mineira, pautada na abundância dos gêneros
alimentícios os quais eram ofertados aos que estavam de passagem, com
intuito de agradar e demonstrar cordialidade. Neste período, a culinária se
reinventa e amplia seu receituário devido a fartura encontrada nas roças. A
partir deste momento, a cozinha se tornará o recinto principal da casa, na qual
haverá o estreitamento dos vínculos e a consolidação das relações sociais.
Logo, este espaço culinário torna-se palco, onde, ao pé de um fogão à lenha,
o núcleo familiar e as visitas se reúnem para prosear, contar os famosos
''causos'' e anedotas das antigas fazendas.
Hoje, mesmo com toda a modernidade, a culinária típica mineira com
suas fabulosas receitas ainda resiste e se expande, alcançando todos espaços
dentre e fora do estado. Há ainda muitos pratos tradicionais que perduram nos
dias atuais, contudo, alguns estão se perdendo devido ao menosprezo
dominante para com o passado, a presença cada vez mais marcante da
mulher no mercado de trabalho, que gera a falta de tempo para produção de
uma alimentação caseira mais saudável e artesanal e, por fim, a invasão de
comidas instantâneas industrializadas nos lares brasileiros. Daí é que vem a
relevância deste estudo, cuja proposta se pautou no levantamento e na
catalogação de receitas de família para compor um caderno de resgate das
memórias, partindo da premissa de que o estado de Minas Gerais possui uma
ϰϲ
diversidade cultural muito grande, que se manifesta em diversas formas,
dentre elas, se destaca sua rica culinária, composta por inúmeros pratos
típicos os quais merecem ser reconhecidos como patrimônio imaterial e
preservados para posterioridade, e dessa maneira, contribuir com novas ideias
e projetos a serem socializados com a comunidade em geral.
ϰϳ
REFERÊNCIAS
DA MATTA, Roberto. O que faz o Brasil, Brasil? Rio de Janeiro: Rocco, 1986.
HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve século XX. 2.ed. São Paulo:
Editora Companhia das Letras, 1995.
ϰϴ
LE GOFF, Jaques. História e Memória. 4.ed. Campinas: Editora da
UNICAMP, 1996.
ϰϵ
AGRADECIMENTOS
SOBRE AS AUTORAS
ϱϬ