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FACULDADE DE LETRAS
2022
Em Memória da minha Mãe, Ana Maria.
Em Honra do meu Pai, António Francisco.
“Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.”
Fernando Pessoa.
3
Agradecimentos
Aos meus Pais. À minha Mãe, Ana Maria, por todo o amor, por toda a luz e por toda a
bondade que sempre me transmitiu. Ao meu Pai, António Francisco, por todo o apoio,
por toda a motivação e por toda a força que sempre me incutiu.
Aos restantes membros da família que forma próxima acompanharam este meu trabalho
designadamente, a minha irmã Sílvia e a minha tia Edite, por toda a inspiração e
motivação transmitidas e aos e os meus sobrinhos, Afonso e Catarina, pela alegria que
trouxeram à minha vida.
4
A todos os amigos e colegas de proximidade designadamente, à Isabel e à Joana, que me
transmitiram apoio e confiança ao longo do meu percurso académico.
Ao Universo e a Deus pela coragem, pela luz, pela resiliência e pela força que em mim
incutiram.
5
Resumo
6
Abstract
Heritage and cultural tourism go hand in hand. Nowadays, it is difficult to talk about one
without talking about the other. These, together, allow us to know the history of
civilizations and discover, at the same time, the particularities of the works of art that
mark spaces and historical periods. Thus, it is correct to say that heritage and cultural
tourism depend on each other and together they work in full harmony.
The West region of Portugal concentrates numerous cultural attractions that arouse
curiosity on the part of the most diverse public. History and heritage can be breathed in
every corner of this region. The Parish of Reguengo Grande, located in the Municipality
of Lourinhã, has a significant evolutionary process and has a dynamic heritage set that
combines several heritage elements, including nature, history, art and culture. It is
imperative to recognize, qualify and preserve the historical and cultural heritage of this
Parish. The bet on this action aims to enrich not only the Parish of Reguengo Grande, but
also the Municipality of Lourinhã, in its entirety, through the dissemination of the heritage
of this region. The aim is to show the best that the region has to offer to residents and
tourists. It is important to value, safeguard and preserve the heritage and, at the same time,
share and give life to the stories, legends and memory that we find in this locality.
I am sure that the bet on the patrimonial wealth and the dynamization of the existing
heritage in this Parish is a victory for the inhabitants, for the Municipality and for the
country.
7
Plano de trabalho
8
2.4.2 Vale Cornaga;
2.5 Património Imaterial.
2.5.1 Chafariz Manuelino;
2.5.2 Lendas locais;
2.5.3 Tradição folclórica;
2.5.4 Celebrações anuais;
2.5.5 Maçã Reguengueira;
9
Introdução
10
A visão integradora concebida nesta Dissertação tornará possível a valorização,
salvaguarda e preservação de histórias, lendas e memórias, transmitindo, deste modo, a
munícipes e a visitantes, o que de melhor a região tem para oferecer.
11
Capítulo 1 - A Freguesia de Reguengo Grande: história e origem.
1
Cf. Ana TOMÁS, Nuno VALÉRIO, O Decreto de 6 de novembro de 1836, p. 3.
2
Vide Anexo 1 – Mapa 1.
12
Num estudo realizado por António Ribeiro Lopes sobre a região que atentou,
essencialmente, em aspetos agrónomos, é possível verificar aspetos de ordem geográfica
que caraterizam a Freguesia e que evidenciam que a mesma se encontra “dividida” em
duas zonas distintas. Essa separação ocorre através da estrada municipal que atravessa a
Freguesia.3
3
Cf. António Ribeiro LOPES, Monografia da freguesia de Reguengo Grande (Concelho da Lourinhã), p.
53-54.
4
Ibidem.
5
Idem, p. 55.
13
prolongamento suave para ambos os lados dêsses extremos da
freguesia. Daqui podemos concluir que a freguesia fica situada no
meio duma pequenina cordilheira que separa as duas extensas
planícies citadas.6
6
Ibidem.
7
João Pedro Teixeira Duarte FEVEREIRO, Estudo de unidades sedimentares do jurássico com valor como
património geológico na região de Dagorda-Cesareda-Baleal-Consolação-Paimogo, p. 23.
8
Cf. Octávio MATEUS, Livro de resumos, I Congresso, Planalto das Cesaredas, Introdução ao Planalto
das Cesaredas, p. 3.
14
Planalto das Cesaredas, também conhecido por Cezaredas,
Cesareda e Cezareda, é uma área pouco conhecida do ponto de
vista científico. Trata-se de um maciço calcário jurássico da
Região Oeste de Portugal. A topografia e geomorfologia forma um
planalto, relevo de cume aplanado, em que a nivelação varia
sobretudo entre os 130 e os 170 metros de altitude. A povoação de
Cesaredas encontra-se a 150 m de altitude sendo o ponto mais alto
o talefe das Castelhanas aos 201 metros acima do nível do mar. O
Planalto tem uma área aproximada de 49 km2, divididos por
quatro concelhos (Lourinhã, Bombarral, Óbidos e Peniche), em
que cerca de 80%, com 40 km2, pertence ao concelho da Lourinhã.
Neste planalto predominam as formações do período Jurássico
Médio e Superior (170 a 150 milhões de anos), sendo o calcário
predominante, aparecendo à superfície em afloramentos extensos.9
No Planalto destacam-se vários tipos de fósseis que têm sido encontrados ao longo dos
anos, nomeadamente, as amonites, os corais, os bivalves, os braquiópodes e os
equinodermes.10
9
Ibidem.
10
Cf. Ibidem.
11
Ibidem.
15
Importante também destacar, as quatro bacias hidrográficas para as quais o Planalto drena
água, um recurso imprescindível para qualquer região.12
12
Cf. Idem, p. 4.
13
Ibidem.
14
Cf. António Ribeiro LOPES, Monografia da freguesia de Reguengo Grande (Concelho da Lourinhã), p.
60-61.
16
uma pouca de água, e logo um lavadouro ao qual outros e outros
se vão seguindo. (…) Um dos aproveitamentos dêste rio é o citado.
Além dêsse, outros há como a rega de algumas escassas dezenas
de metros quadrados de terra de milho ou batata, nas propriedades
confinantes com o rio, e que para isso se prestam; nêste caso a
água é elevada do rio por meio de cegonhas. Na última parte dêste
curso de água, dentro da freguesia, há duas ou três nascentes, cujo
débito é importante durante quási todo o ano, que lhe fazem
aumentar consideravelmente o seu volume de águas, e daí o seu
aproveitamento para dois fins. Primeiramente a água é
encaminhada, por meio de calhas de cimento, para fazer mover 5
azenhas, e em seguida aproveitada para regar uns 4ha. de terra
dum fértil vale – a horta da freguesia. Nêste pitoresco vale vêem-
se semeados os mais variados produtos hortícolas e ainda algum
milho. Aqui a terra é disputada cm. a cm. atingindo portanto
valores exorbitantes. Os restantes cursos de água são temporários
e de ínfima importância. Formam-se no inverno em seguida às
chuvas e descem pelos talvegues até ao regato anteriormente
citado.15
15
Ibidem.
16
Cf. António Ribeiro LOPES, Monografia da freguesia de Reguengo Grande (Concelho da Lourinhã), p.
87.
17
sistema jurássico, representado na carta geológica por J3 –
jurássico lusitaniano. Nos limites geológicos desta formação
aparecem: Ao Norte, umas manchas de infralias e triássico.17
Destacam-se também as cerca de cinquenta grutas que têm sido descobertas ao longo do
tempo, nas quais se encontram vestígios da presença humana em tempos remotos. Mais
de uma dezena destas grutas encontram-se identificadas como sítios arqueológicos
classificados, do Paleolítico e do Neolítico.18
Muitas destas grutas têm sido objeto de estudo para vários arqueólogos, geólogos e
paleontólogos. Fruto desses estudos chegam-nos alguns artigos de cariz científico.20
17
Ibidem.
18
Cf. Octávio MATEUS, Livro de resumos, I Congresso, Planalto das Cesaredas, Introdução ao Planalto
das Cesaredas, p. 3-4.
19
Ibidem.
20
Cf. Jean ROCHE, Le Niveau Paléolithique supérieur de la Grotte de Casa da Moura (Cesareda). Cf.
Júlio Roque CARREIRA, João Luís CARDOSO, “Escavações de Nery Delgado no planalto da Cesareda
nas grutas da Lapa Furada e da Malgasta (Peniche): estudo do espólio arqueológico”. Cf. Isabel MATEUS,
Simão MATEUS, “Recinto Megalítico do Casal Leitão, Reguengo Grande (Lourinhã)”. Cf. João Pedro
Teixeira Duarte FEVEREIRO, Estudo de unidades sedimentares do jurássico com valor como património
18
As grutas que se encontram no Planalto são, na sua grande maioria, de difícil acesso. Uma
fração significativa das mesmas não foi ainda investigada pelas mais variadas razões,
sendo que, o impedimento da visita e dos estudo das mesmas, tem que ver, na maioria
dos casos, com o difícil e tenebroso acesso.
São vários os autores que as mencionam nas suas publicações. Habitualmente, estas
publicações são referentes à história local. As observações que os mesmos enumeram são,
por norma, sucintas, no entanto, permitem, sobretudo aos habitantes da região, uma
perceção facilitada acerca das mesmas.21
19
Nas grutas do Planalto têm sido encontrados achados de grande significância histórica e
arqueológica que nos esclarecem dúvidas referentes ao modo de vida do Homem na Pré-
história.
23
Mário Baptista PEREIRA, Lourinhã – Subsídios para uma monografia, p. 155.
24
Ibidem.
25
Ibidem.
20
vestígios de um recinto funerário, um menir com uma gravura antropomórfica e gravuras
rupestres. Este recinto data do Calcolítico inicial.26
26
Cf. Isabel MATEUS, Simão MATEUS, “Recinto Megalítico do Casal Leitão, Reguengo Grande
(Lourinhã)”.
27
Ibidem.
28
Cf. Luís RAPOSO, Livro de resumos, I Congresso, Planalto das Cesaredas, O Planalto das Cezaredas
na Pré-História: lugar sagrado durante a Pré-história?, p. 6.
29
Ibidem.
21
Chegando ao termo da informação que foi possível recolher referente ao período da Pré-
história, transitemos, agora, para o período compreendido entre a Idade Média e Idade
Moderna. Situemo-nos, de momento, entre os séculos XIV e XV, de onde provêm os
primeiros registos oficiais da região do Reguengo Grande.
30
Trata-se de António Lopes Ribeiro, como verificaremos posteriormente.
31
Tal como veremos adiante, Rui Marques Cipriano, Teresa Maria Farto Faria de Sousa e Ana Cristina
Jerónimo, defendem um argumento contrário ao de António Lopes Ribeiro.
32
Cf. António Ribeiro LOPES, Monografia da freguesia de Reguengo Grande (Concelho da Lourinhã), p.
66.
22
Na verdade, segundo reza a história e ainda é tradição entre os
habitantes daquelas localidades, D. Pedro passou ali alguns
tempos dos seus célebres amores com Dona Inês de Castro. Ainda
hoje se pode observar um grande casarão, já arruinado, onde,
segundo dizem, D. Pedro se costumava encontrar, em escondidos
amores, com Dona Inês de Castro. Como privilégio, aos habitantes
daqueles logares, posta a condição de guardarem sigilo sôbre as
suas idas ao Moledo, dava D. Pedro a regalia de os homens válidos
da região só irem à guerra quando êle próprio fôsse. Além disso
os seus forais também eram feitos com a máxima benevolência.33
Na sua argumentação, o autor menciona aspetos lendários que têm sido passados, de
geração em geração, pelos habitantes da região. Aspetos estes que não se afiguram como
sendo passíveis de confirmar pela história. Atentemos no seguinte exemplo: é lenda entre
os habitantes do Concelho da Lourinhã que D. Pedro I e Dona Inês permaneciam numa
habitação que estaria situada na região entre as localidades de Moledo, Paço, Serra d’El
Rey e Reguengo Grande. No entanto, não existem quaisquer vestígios arquitetónicos em
nenhuma das localidades que nos permitam confirmar tal teoria. Os vestígios que
permanecem permitem-nos retirar algumas elações referentes a outros aspetos da história,
mas não nos permitem confirmar esta teoria de que D. Pedro I e Dona Inês teriam
permanecido a viver juntos, em segredo, num edifício específico, em alguma destas
localidades, pelo que devemos entender a argumentação deste autor como sendo dúbia,
uma vez que, a mesma não possui factos históricos suficientes que a sustentem e
comprovem.
33
Ibidem.
34
Cf. Manuela Santos SILVA, O Concelho de Óbidos na Idade Média, p. 75.
23
Mais a sul, dentro dos limites do actual concelho da Lourinhã, fica
a Aldeia de Moledo,35 conhecida – tal como Serra d’ El Rei – por
aí se terem localizado uns paços reais, que a tradição também liga
ao nome e à pessoa de D. Pedro I.36 Não se comparavam, porém,
estes paços de montaria37 como os da Aldeia da Serra: em 1527 já
aqueles eram considerados “antigos”38 e hoje em dia, embora
ainda subsista o topónimo paço ligado a uma herdade de Moledo,
junto à aldeia, nenhum vestígio arquitectónico restou. Ainda assim,
os monarcas concederam também aos habitantes da “aldeã da par
dos nossos paaços de moledo termo da nossa villa d obidos” uma
série de privilégios, bem como a possibilidade de gozarem de
“boos foros hussos e costumes” próprios.39
Como bem sabemos, segundo a toponímia, os “Reguengos” constituem terras que eram
habitadas pelo rei, daí a derivação do nome. O nome da localidade de Reguengo Grande
provém deste facto.
35
Cf. Carta Militar de Portugal. Serviço Cartográfico do Exército, Folha 349 (1/25000) – “Lourinhã”), cit.
por, Manuela Santos SILVA, O Concelho de Óbidos na Idade Média, p. 75.
36
Cf. António Lopes RIBEIRO, Monografia da Freguesia de Reguengo Grande (Concelho da Lourinhã),
p. 18, cit. por, Manuela Santos SILVA, O Concelho de Óbidos na Idade Média, p. 75.
37
Cf. “Povoação da Estremadura no XVI. Século”, p. 252, cit. por, Manuela Santos SILVA, O Concelho
de Óbidos na Idade Média, p. 75.
38
Cf. “Aldea do Moledo e Sã Lourenço, em que estam hus paços antigos del rei noso senhor de mõtaria”
– Ibidem, p. 252, cit. por, Manuela Santos SILVA, O Concelho de Óbidos na Idade Média, p. 75.
39
Cf. “Dom affomso E cetera (…) Nos querendo fazer graça e merçee aos moradores d aldeã da par dos
nossos paaços de moledo termo da nossa villa d obidos. Teemos por bem e confirmamos lhe e outorgamos
lhe todollos priujlegeos liberdades honrras graças e merçees e todos sseus booos foros hussos e custumes
que lhe forom dados e outorgados per os rrex que ante nos forom e de qye sempre husarom e custumarom
ataa ora” – Chanc. D. Afonso V, Lº.7, fol. 102v (1442 – Lisboa, 28 de Maio), cit. por, Manuela Santos
SILVA, O Concelho de Óbidos na Idade Média, p. 75-76.
24
Junto a Moledo ficava uma vasta área reguenga a que já fizemos
menção e que ainda hoje perpetua em dois topónimos,
correspondentes a duas localidades, a memória da sua condição
passado de terra do rei – Reguengo Grande e Reguengo
Pequeno;40
40
Cf. Carta Militar de Portugal. Serviço Cartográfico do Exército, Folha 349 (1/25000) – “Lourinhã”), cit.
por, Manuela Santos SILVA, O Concelho de Óbidos na Idade Média, p. 75-76.
41
Rui Marques CIPRIANO, Vamos falar da Lourinhã, p. 252.
42
Cf. Carta Militar de Portugal, Serviço Cartográfico do Exército, Folha 350 (1/25000) – “Bombarral”, cit.
por, Manuela Santos SILVA, O Concelho de Óbidos na Idade Média, p. 72.
43
Ana Cristina JERÓNIMO, Ruas da Nossa Terra Reguengo Grande, p. 3.
25
No entanto, não podemos afirmar com absoluta certeza que o primeiro rei a ter influência
sobre esta região tenha sido D. Pedro I, uma vez que, em simultâneo, outro monarca é
apontado como tendo sido o fundador da mesma, existindo um hiato entre os dois.
Atentemos nos autores que afirmam que a Freguesia nasceu no reinado de D. João I, com
a Carta de 3 de fevereiro de 1433, proveniente de Coimbra.
O mesmo autor, numa obra conjunta elaborada com Teresa Maria Farto Faria de Sousa,
reitera novamente esta afirmação.46
44
Cf. Anexo 2, Documento 1.
45
Rui Marques CIPRIANO, Vamos falar da Lourinhã, p. 251.
46
Cf. Rui Marques CIPRIANO, Teresa Maria Farto Faria de SOUSA, Património Religioso Edificado do
Concelho da Lourinhã, p. 60.
26
século atinge a maioridade sendo criada como acima se referiu, a
Paróquia de São Domingos do Reguengo Grande.47
Existe, por fim, outro autor que mantem a sua opinião em aberto, uma vez que, não se lhe
afigura plausível uma afirmação concreta sobre a data da fundação da Freguesia. Trata-
se de João Maria Rodrigues, que publicou um artigo dedicado às freguesias do Concelho
da Lourinhã, atentando em cada uma delas.50
47
Ibidem.
48
Cf. Ana Cristina JERÓNIMO, Ruas da Nossa Terra Reguengo Grande, p. 3.
49
Ibidem.
50
Cf. João Maria RODRIGUES, “O Concelho da Lourinhã – As suas 7 freguesias, o seu comércio, a sua
indústria, os seus proprietários e agricultores mais importantes”, p. 28.
27
poente; e a da Lourinhã a 12 para o sul. Da sua fundação é
desconhecida a data e consequentemente quem foi o seu fundador.
Porém, da etimologia da palavra Reguengo, deduz-se que é
povoação muito antiga, pois que já no tempo dos reis das Astúrias,
eram assim designadas todas as terras, de património real e que
tinham ido à coroa por direito de conquista, confisco, herança ou
escambo, etc. Vários soberanos doaram bens reguengos a igrejas,
mosteiros e vassalos que queriam favorecer ou premiar; às
propriedades rurais dava-se o nome de reguengueiras e também se
denominavam reguengos os fóros, direitos ou regalias que em
qualquer território, vila, cidade ou concelho ou couto se pagavam
à coroa, e a que se dava o nome de direitos reais. Deste modo,
parece evidente que esta povoação provém de época mui remota e
que foi do património real.51
Até ao momento, apenas um dos autores, António Ribeiro Lopes, contraria a tese que os
demais seguem e nos remete para D. Pedro I. Conforme vimos, a sua teoria funde factos
históricos e factos lendários, o que a torna bastante dúbia. Contrariamente, a arguição
elaborada pelos demais autores, remetendo-nos para D. João I, afigura-se bastante
plausível, uma vez que, os mesmos sustentam os seus argumentos numa Carta Régia e
em factos históricos. Perante tais descobertas, cabe-me ressalvar que, sob o meu ponto de
vista, a Freguesia de Reguengo Grande nasceu no reinado de D. João I, em pleno século
XV, no ano de 1433, conforme evidenciam os registos históricos analisados.
Transitemos, assim, para o século XVI, século no qual terá nascido, oficialmente, a
Paróquia de São Domingos, sendo este o santo patrono da Freguesia.52
Os autores Teresa Maria Farto Faria de Sousa, Rui Marques Cipriano e José Carlos
Fonseca, elaboram uma obra, referente ao património religioso edificado no Concelho da
51
Ibidem.
52
Cf. Teresa Maria Farto Faria de SOUSA, Rui Marques CIPRIANO, José Carlos FONSECA, Património
Religioso Edificado do Concelho da Lourinhã – Cruzes, Cruzeiros, Nichos e Capelas, p. 76.
28
Lourinhã, onde reiteram a sua afirmação, acrescentando, contudo, o ano de 1524, que
constitui a data de nascimento da Paróquia de São Domingos.53
Não obstante, também Ana Cristina Jerónimo, reafirma a data de criação da Paróquia, no
entanto, situa-a no ano de 1525.55
Deste modo, não é possível afirmar com absoluta certeza o ano em que foi fundada a
Paróquia, uma vez que, diferentes autores nos indicam duas datas distintas. Perante a
indicação dos anos de 1524 e 1525 como sendo a data de fundação desta paróquia, cabe-
me ressalvar que não me é possível afirmar com absoluta certeza em qual destes anos a
mesma terá nascido. No entanto, afirmo, perante as evidências históricas, que a mesma
nasceu, com certeza, em pleno século XVI.
53
Cf. Ibidem.
54
Ibidem.
55
Cf. Ana Cristina JERÓNIMO, Ruas da Nossa Terra Reguengo Grande p. 3.
56
Ibidem.
29
O lugar do Reguengo Grande, conforme se verifica no censo
realizado em 1527, tinha 28 vizinhos, a que corresponde entre 84
a 112 habitantes. Segundo o Padre Carvalho, na “Corografia de
Portugal”, quando trata da vila e termo de Óbidos, a Freguesia do
Reguengo Grande tinha 100 vizinhos em 1712, ou seja, cerca de
300 a 400 habitantes, abrangendo a freguesia os lugares do
Reguengo Pequeno e Zambujeira.57
Do século XVI, transitemos para o século XVIII, para o ano de 1758. É de salientar a
falta de informação encontrada sobre a região, entre o século XVI e o século XVIII. Até
onde me foi possível indagar, nenhum autor se debruçou sobre a história da Freguesia no
período decorrido entre estes três séculos. Começamos por ter informação acerca da
fundação da Freguesia que data do século XV e, seguidamente, encontramos informação
respeitante ao século XVI, ano de nascimento da Paróquia de São Domingos. A
informação sequente que me foi possível recuperar, já se situa no século XVIII, e diz
respeito às Memórias Paroquiais.
No século XVIII, destaco o ano de 1757, uma vez que, me foi possível encontrar uma
referência respeitante à Paróquia de São Domingos neste mesmo ano. Mário Batista
Pereira cita uma obra de Paulo Dias Niza. O excerto citado dá-nos informação acerca do
funcionamento da Paróquia e da sua ligação a Óbidos.58
57
Cf. Rui Marques CIPRIANO, Vamos falar da Lourinhã, p. 253.
58
Cf. Paulo Dias de NIZA, Portugal Sacro-Profano, Lisboa, 1757, cit. por, Mário Baptista PEREIRA,
Lourinhã – Memórias da sua região, p. 124.
59
Cf. Ibidem.
30
Situemo-nos, de seguida, no ano seguinte, o ano de 1758, do qual datam as Memórias
Paroquiais. Tratemos, assim, de recordar em que consistiu este acontecimento, de
inegável importância histórica para todas as regiões do País. As Memórias Paroquiais
dizem respeito ao inquérito efetuado no ano de 1758 sob ordem de Sebastião José de
Carvalho e Melo.60
60
Cf. https://digitarq.arquivos.pt/details?id=4238720
61
Cf. https://digitarq.arquivos.pt/details?id=4238720
62
Cf. https://digitarq.arquivos.pt/details?id=4242887
63
Cf. Anexo 3 – Documento 1.
64
Cf. https://digitarq.arquivos.pt/details?id=4238720
31
Esta colecção é constituída pelas respostas elaboradas pelos
párocos ao interrogatório, através do qual se pretendia obter
informações sobre as paróquias, abrangendo a totalidade do
território continental português. Apesar de a exaustividade das
respostas não ser constante, apresentam-se, na generalidade, de
forma sequencial aos pontos do interrogatório (que está dividido
em três partes relativas à localidade em si, à serra, e ao rio)
fornecendo dados de carácter geográfico (localização, relevo,
distâncias), administrativo (comarca, concelho, dimensão, e
confrontações), e demográfico (número de habitantes), sendo
possível obter informações sobre a estrutura eclesiástica e
vivência religiosa (orago, benefícios, conventos, igrejas, ermidas,
imagens milagrosas, romarias), a assistência social (hospitais,
misericórdias, irmandades), as principais actividades económicas
(agrícola, mineira, pecuária, feira), a organização judicial
(comarca, juiz), as comunicações existentes (correio, pontes,
portos marítimos e fluviais), a estrutura defensiva (fortificações,
castelos ou torres), os recursos hídricos (rios, lagoas, fontes),
outras informações consideradas assinaláveis (pessoas ilustres,
privilégios, antiguidades), e quais os danos provocados pelo
terramoto de 1755.65
Após uma leitura e análise detalhada do documento onde se encontram as respostas a este
inquérito referentes a esta Freguesia, eis a minha apreciação acerca deste documento:
65
Cf. https://digitarq.arquivos.pt/details?id=4238720
32
em caso de existência de crimes, uma vez que, esses eram julgados à luz dos direitos
régios. Ressalva também a existência do Hospital das Caldas da Rainha e o facto de que
ao mesmo eram feitos tributos, sendo que, estes passavam pela entrega de todo o grão que
era cultivado. Seguidamente, menciona o número de vizinhos e o número de fogos que
constituíam a Freguesia. Salienta que a mesma se encontra localizada por entre penhascos
de pedra, nos quais era possível retirar cantaria. Menciona também os restantes Casais
que integram a Freguesia, na época, sendo eles: os Casais das Fontelas, os Casais do
Serrano, os Casais do Leitão, os Casais da Rencada e a Quinta e Vila Viçosa. Em
seguimento, fala-nos acerca da Paróquia, dizendo que a mesma se situava dentro do lugar,
pelo que se entende que a mesma se situaria dentro da própria aldeia de Reguengo Grande.
Dá-nos a indicação de que existiriam três altares dedicados a São Domingos, orago da
Paróquia, sendo que, ressalva ainda a existência de um altar-mor onde se encontravam o
Santíssimo Sacramento, a imagem de São Domingos e a imagem de São Sebastião. Em
seguimento, destaca também o altar-mor onde se encontravam a Nossa Senhora do
Rosário, a Nossa Senhora dos Remédios e o Santo Amaro. Salienta ainda a existência da
Irmandade das Almas. No âmbito da Paróquia menciona também a ligação com o Colégio
Patriarcal, afirmando que o pároco da Igreja de Santa Maria da Vila de Óbidos e os
Reverendos Beneficiados dessa mesma igreja, recebiam uma renda dos habitantes que
correspondia a oitenta alqueires de trigo, cinquenta e seis almudes de vinho, trinta
alqueires de cevada e doze alqueires e meio de trigo, sendo que, estes últimos eram pagos
pelos Reverendos que eram Beneficiados e que tinham um rendimento contingente por
parte da Igreja. Ressalva ainda a existência de uma horta cultivada pelos mesmos no valor
de cem mil reis. De seguida, menciona os principais bens alimentares que eram
produzidos pelos moradores desta Freguesia, dizendo-nos que a produção que era
realizada com maior abundância era a do pão (trigo) e a da fruta, em específico, a da
maçã. Este fruto é descrito e apelidado como sendo a “maçã da sorte”. A produção da
mesma ocorria durante quase todo o ano e o pároco indica-nos que todos os dias eram
expedidas várias cargas da mesma para Lisboa, uma vez que, as mesmas eram muito
apreciadas pelo Rei. Menciona que a Freguesia se encontra a dez léguas e meia de
distância da cidade de Lisboa. Por fim, conclui o seu relato dizendo que o Terramoto
33
ocorrido no ano de 1755 não causou danos significativos, mencionando que apenas se
verificou a ocorrência de fendas nas paredes de algumas casas.66
Finda a informação referente ao período decorrido entre a Idade Média e a Idade
Moderna, transitemos, assim, para o espaço temporal que nos situa entre a Idade Moderna
e a Atualidade.
Foi me possível localizar um texto transcrito a partir de um documento que data de 1764
que se refere à falta de mantimentos na região durante esse período.67 Remeto o mesmo
para o Anexo 4 – Documento 1.68 Datado do ano de 1764, este documento evidencia a
falta de mantimentos nessa época. No mesmo é mencionada a escassez de alguns bens
alimentares, nomeadamente, a carne. O povo suplica por ajuda, pedindo ao rei que este
lhe conceda uma provisão anual deste alimento, para que o mesmo seja assegurado aos
pobres, aos doentes e à restante população.69
66
Cf. Dicionário Geográfico de Portugal, Volume 31, Nº 55, p. 311. Cf. António Lopes RIBEIRO,
Monografia da freguesia de Reguengo Grande (Concelho da Lourinhã), p. 67-68. Cf. Anexo 3 –
Documento 2.
67
Cf. ANTT, Des. do Paço, Estremadura e Ilhas, Maço 5 nº 9, cit. por, Mário Baptista PEREIRA, Lourinhã
– Memórias da sua região, p. 121.
68
Cf. Anexo 4 – Documento 1.
69
Cf. Ibidem.
70
Cf. Ângela OLIVEIRA, João Pedro TORMENTA, Ricardo PEREIRA, “Os Combates de Óbidos e a
Batalha da Roliça”, p. 12-20.
34
napoleónico na Península, e, apoiados pelas fôrças inglêsas
comandadas por Artur Wellesley, derrotam os franceses na célebre
Batalha da Roliça (17 de Agosto de 1808). Pois bem. Esta batalha
da Roliça, que marca o comêço de mais um gesto de revolta contra
o domínio estrangeiro em Portugal, desenrolou-se no limite. Este
da freguesia de Reguengo Grande. Aí ainda se pode actualmente
admirar uma grande Cruz, que se ergue num môrro mais alto,
como padrão da soberania e independência legítima de Portugal.71
Apesar de tal facto não estar diretamente relacionado com a Freguesia de Reguengo
Grande, o mesmo afigura-se como sendo relevante tendo em conta a proximidade
geográfica entre estas localidades e atentando também nas memórias que deixou nos
habitantes de ambas as localidades e nas lendas que foram surgindo que, posteriormente,
tratarei de analisar.
71
António Ribeiro LOPES, Monografia da freguesia de Reguengo Grande (Concelho da Lourinhã), p. 69.
72
João Maria RODRIGUES, “O Concelho da Lourinhã – As suas 7 freguesias, o seu comércio, a sua
indústria, os seus proprietários e agricultores mais importantes”, p. 29.
35
Francesa. A propósito desta Batalha, que se desenvolveu no limite
da freguesia do Reguengo Grande foi erguida uma grande Cruz no
monte mais alto, com o padrão da soberania e independência
Legítima de Portugal.73
Recordemos também a elação que estabeleci anteriormente acerca do hiato existente entre
o século XVI e o século XVIII. Após a notícia acerca do nascimento da Paróquia no ano
de 1524/1525, as memórias históricas de 1808 acerca das Invasões Francesas, são o
conteúdo seguinte que os autores analisam. Evidenciando, assim, a não existência de
investigação histórica acerca da região no período decorrido entre os séculos XVI e
XVIII. Avançando no espaço temporal, foi me possível recuperar a transcrição de um
documento que trata do ano de 1813 e diz respeito a uma Doação Inter Vivos que se
realizou na Freguesia.74 Remeto a transcrição do mesmo para o Anexo 3 – Documento
275.
De igual modo, foi-me possível transcrever três documentos que dizem respeito a Autos
de Juramento realizados na Freguesia de Reguengo Grande que datam de 183876. Remeto
os mesmos para os seguintes anexos: Anexo 4 – Documento 377, Anexo 4 – Documento
4,78 e Anexo 4 – Documento 579.
73
Ana Cristina JERÓNIMO, Ruas da Nossa Terra Reguengo Grande, p. 3-5.
74
Cf. ANTT, Des. do Paço, Torres Vedras, Maço 611 nº13, cit. por, Mário Baptista PEREIRA, Lourinhã
– Memórias da sua região, p. 121.
75
Cf. Anexo 4 – Documento 2.
76
Cf. ANTT, Maço 26, Doc. 366, cit. por, Mário Baptista PEREIRA, Lourinhã – Subsídios para uma
monografia p. 30. Cf. ANTT, Maço 26, Doc. 375, cit. por. Mário Baptista PEREIRA, Lourinhã – Subsídios
para uma monografia, p. 31. Cf. ANTT, Maço 26, Doc. 382, 383, Mário Baptista PEREIRA, Lourinhã –
Subsídios para uma monografia, p. 33.
77
Cf. Anexo 4 – Documento 3.
78
Cf. Anexo 4 – Documento 4.
79
Cf. Anexo 4 – Documento 5.
36
no Concelho da Lourinhã. Encontramos autores que nos confirmam que a Freguesia
pertenceu ao Concelho de Óbidos até ao ano de 1836 e que nos desvendam as
particularidades da administração da mesma.
Sendo, assim, uma região que se encontrava sob a tutela das Rainhas de Portugal, uma
vez que, estas eram donatárias das propriedades do Termo de Óbidos.
80
Rui Marques CIPRIANO, Vamos falar da Lourinhã, p. 251.
81
Idem, p. 252.
82
Manuela Santos SILVA, O Concelho de Óbidos na Idade Média, p. 7.
37
Alguns autores, indicam-nos, inclusive, as particularidades desta regência e dos termos
aos quais a Freguesia se encontrava sujeita.83
83
Cf. Ana Cristina JERÓNIMO, Ruas da Nossa Terra Reguengo Grande, p. 4. Cf. Manuela Santos SILVA,
O Concelho de Óbidos na Idade Média, p. 72-73.
84
Ana Cristina JERÓNIMO, Ruas da Nossa Terra Reguengo Grande, p. 4.
85
“Os melhores exemplos encontram-se, naturalmente, nas Inquirições mandadas fazer pelos monarcas dos
Séculos XIII e XIV que, não nos permitindo saber o peso da tributação senhorial privada nos dão indicações
completas sobre aquela que os monarcas exigiam nas suas terras.”, Cf. Manuela Santos SILVA, O Concelho
de Óbidos na Idade Média, p. 73.
86
“Normalmente o rei possuía os seus oficiais locais – mordomos ou vigários – e os seus oficiais regionais
– almoxarifes ou recebedores” Cf. Manuela Santos SILVA, O Concelho de Óbidos na Idade Média, p. 73.
Cf. José MATTOSO, Identificação de um País. Ensaio sobre as origens de Portugal, Volume II, p. 75-76,
cit. por, Manuela Santos SILVA, O Concelho de Óbidos na Idade Média, p. 73. Cf. José MATTOSO,
38
demonstra. No entanto, os reguengueiros ficavam inteiramente
sujeito ao Senhor (Rei) da terra que trabalhavam.87 Uma das
queixas que os magistrados concelhios obidenses apresentavam
frequentemente ao monarca respeitava precisamente ao facto do
julgamento de feitos crimes de habitantes dos reguengos situados
no termo do município caber ao almoxarife e não aos juízes da
vila,88 havendo mesmo em algumas épocas juízes próprios dos
locais que pertenciam ao Senhorio da Coroa, nomeados ora pelo
Rei ora pela Rainha, quando Senhora dessas terras,89 ou ainda
pelos próprios reguengueiros, se bem que nestes casos actuassem
sob o olhar atento do almoxarife.90
História de Portugal, A Monarquia Feudal – (1096-1480), Volume II, p. 271-272, cit. por, Manuela Santos
SILVA, O Concelho de Óbidos na Idade Média, p. 73.
87
“Noção muito cara a José Mattoso que analisa nas suas obras a abrangência deste domínio do Senhor Rei
quer sobre os reguengueiros quer sobre os pequenos proprietários alodiais, normalmente designados por
herdadores em diversas das suas obras; Cf. Identificação de um País, p. 69 e segs., cit. por, Manuela Santos
SILVA, O Concelho de Óbidos na Idade Média, p. 73.
88
Cf. Chanc. D. João I, Lº.2, fols. 95v-96 (1395 -1395 – Coimbra, 3 de Janeiro); Chanc. D. Afonso V, Lº.2,
fols. 18-19 (1439/40 – Lisboa, Dezembro/Janeiro), cit. por, Manuela Santos SILVA, O Concelho de Óbidos
na Idade Média, p. 73.
89
Cf. Chanc. D. Afonso V, Lº.2, fols.18-19, cit. por, Manuela Santos SILVA, O Concelho de Óbidos na
Idade Média, p. 73.
90
“Veja-se a carta de povoamento do Reguengo de Vale Benfeito: “E mando que aJades aluazil e
Moordomo de uosso / E aquelles que apelardes deuedes apelar ao meu almoxarife d obidos” – Núcleo
Antigo nº. 315, fol. 45 (1295 – Santarém, 19 de Janeiro)” cit. por, Manuela Santos SILVA, O Concelho de
Óbidos na Idade Média, p. 73.
91
Cf. Almanach da Folha de Torres Vedras, cit. por, Mário Baptista PEREIRA, Lourinhã – Subsídios para
uma monografia, p. 86.
92
Cf. Anexo 4 – Documento 6.
39
(Lourinhã, S. Mamede e Bombarral); quem são os responsáveis por diversos serviços,
tais como o correio, o telégrafo, a escola, a paróquia e quem é o regedor da localidade;
menciona, por fim, os nomes dos agricultores com maior importância para a região e
quem são os principais comerciantes da mesma.
40
Capítulo 2 - Património regional da Freguesia de Reguengo Grande.
São escassos os autores que se debruçaram sobre o património da região. Os que o fizeram
estabeleceram elações muitíssimo sucintas e breves. Assim sendo, tratei de analisar este
património com a máxima atenção procurando, desta forma, colmatar as lacunas
informativas existentes acerca do mesmo. No Património Religioso existente na
Freguesia encontramos a Igreja Matriz de São Domingos, a Capela do Cemitério, a Capela
de Nossa Senhora de Fátima, a Capela de São Sebastião, a Capela do Nicho do Senhor
Jesus dos Aflitos e o Nicho de Nossa Senhora dos Caminhos.
93
Vide Anexo 5 – Património Religioso – Igreja Matriz de São Domingos.
41
transfiguraram o seu interior. A capela-mor de reduzidas
dimensões está separada da nave central por um arco de volta
perfeita, assente em colunas toscanas e encontra-se num plano
superior ao da nave da Igreja. O coro alto é sustentado por quatro
colunas monolíticas, duas adossadas às paredes, estando as outras
a ladear o corredor central, com as pias de água benta embutidas
nos fustes. A fachada principal tem frontão circular, rematado por
cruz, ladeada por cunhais em cantaria, rematadas por pináculos.
A torre sineira do lado esquerdo, um pouco recuado à frontaria,
tem as quatro esquinas em cantaria, tendo sido acrescentada na
altura, numa das obras de restauro, para colocarem o relógio. Na
esquina do lado direito, a meia altura, observa-se um bonito
relógio de sol do século XVIII.94
Não obstante, não podemos falar deste templo religioso sem falarmos, em simultâneo, da
Capela do Cemitério, uma vez que, a história de ambas se funde. A Capela do Cemitério
parece remontar ao século XVI. Atentarei na mesma, de forma mais pormenorizada, no
tópico que lhe corresponde. É consensual por parte dos vários autores que a mencionam,
que a Igreja Matriz não corresponde à primeira igreja a ser erguida nesta localidade. Os
demais autores argumentam dizendo que a primeira igreja a ser erguida nesta localidade
é a Capela do Cemitério.95 Diz-se também entre o povo desta localidade que, por baixo
da Igreja Matriz existirá um cemitério e que a mesma foi construída por cima do mesmo.
94
Teresa Maria Farto Faria de SOUSA, Rui Marques CIPRIANO, Património Religioso Edificado do
Concelho da Lourinhã, p. 61.
95
Cf. Rui Marques CIPRIANO, Vamos falar da Lourinhã, p. 252-254. Cf. Ana Cristina JERÓNIMO, Ruas
da Nossa Terra Reguengo Grande, p. 4. Cf. Teresa Maria Farto Faria de SOUSA, Rui Marques CIPRIANO,
Património Religioso Edificado do Concelho da Lourinhã, p. 62
42
alto é sustentado por colunas cilíndricas monolíticas, com pias de
água benta embebidas nos fustes.96
Relativamente à Igreja Matriz é também de salientar que a mesma tem sido alvo de
diversas transformações ao longo dos anos. Alterações essas que fizeram com que muito
património se perdesse. Afirma-se entre a população da aldeia, que terá existido um
grande incêndio em meados dos anos 50 do presente século. No entanto, a memória
coletiva dos habitantes não é suficiente para nos conceder informações mais
pormenorizadas. Após tal ocorrência, a Igreja terá sido reabilitada sob a orientação e
responsabilidade de vários párocos. Diz-se que a mesma continha pinturas de elevado
valor artístico98, no entanto, não me foi possível confirmar essa afirmação, uma vez que,
não me foi possível encontrar qualquer registo referente às mesmas.
96
Cf. Ana Cristina JERÓNIMO, Ruas da Nossa Terra Reguengo Grande, p. 4.
97
Idem, p. 4.
98
Cf. João Maria RODRIGUES, “O Concelho da Lourinhã – As suas 7 freguesias, o seu comércio, a sua
indústria, os seus proprietários e agricultores mais importantes”, p. 29. Cf. Teresa Maria Farto Faria de
SOUSA, Rui Marques CIPRIANO, Património Religioso Edificado do Concelho da Lourinhã, p. 61.
99
João Maria RODRIGUES, “O Concelho da Lourinhã – As suas 7 freguesias, o seu comércio, a sua
indústria, os seus proprietários e agricultores mais importantes”, p. 29.
43
É de salientar que esta Igreja se encontrava filiada com a Igreja de Santa Maria de Óbidos.
Realço que a mesma esteve encerrada entre os anos de 1912 e 1926. No que diz respeito
à arte sacra e à paramentaria, foi-me possível percecionar que a Igreja possuía elementos
de elevada significância e beleza, elementos que se perderam nestes 14 anos em que a
mesma esteve encerrada.100 Alguns dos elementos que não se perderam101 encontram-se,
atualmente, na Sé Patriarcal de Lisboa.102
100
Cf. Ana Cristina JERÓNIMO, Ruas da Nossa Terra Reguengo Grande, p. 4-5.
101
Cf. Rui Marques CIPRIANO, Vamos falar da Lourinhã p. 254.
102
Cf. Ana Cristina JERÓNIMO, Ruas da Nossa Terra Reguengo Grande, p. 4-5. Cf. Rui Marques
CIPRIANO, Vamos falar da Lourinhã p. 254.
103
Ana Cristina JERÓNIMO, Ruas da Nossa Terra Reguengo Grande, p. 4-5.
44
Em 1928 é visitada por D. Manuel Gonçalves Cerejeira, então
Arcebispo de Metilene e auxiliar do Patriarca de Lisboa, sendo
esta a primeira visita pastoral à Freguesia do Reguengo Grande,
depois da reabertura ao culto da sua Matriz. A Igreja de S.
Domingos do Reguengo Grande era bastante rica em arte sacra e
paramentaria. Com o seu encerramento muito se perdeu,
nomeadamente paramentos, livros litúrgicos e o arquivo. Dos seus
paramentos salvaram-se: uma dalmática branca e uma dalmática
vermelha, do Século XVII; um paramento branco e um véu de
ombros, do Século XVIII; dois frontais brancos do Século XVII; um
pano de púlpito do Século XVII/XVIII; um pano de púlpito do
Século XVII e dois pavilhões de sacrário, um do Século XVIII e
outro do Século XVI. Deste último está assim descrito no respetivo
inventário: “Pavilhão de Sacrário de seda verde lavrada de
algodão de tom cinza, com desenho de florão com pássaros e uma
coroa, desenho muito marcado de contorno retilíneo. Trata-se
possivelmente de tecido espanhol do Século XVI, constituindo
amostra de extraordinário interesse para a iconografia do tecido.
Não teria sido, decerto, pavilhão, mas sim aproveitado de outra
peça para este fim. Dado o interesse de que se reveste, encontra-
se presentemente guardado na Sala dos Paramentos da Sé
Patriarcal de Lisboa.”.104
Resta-me afirmar que a minha opinião é consensual com a dos demais autores, uma vez
que, situo o ano de fundação da Igreja Matriz no século XVII. A Capela do Cemitério
apresenta-se como um elemento mais complexo de datar, como poderão constatar no
ponto seguinte que lhe é dedicado.
104
Rui Marques CIPRIANO, Vamos falar da Lourinhã, p. 254.
45
2.1.2 Capela do Cemitério.105
105
Vide Anexo 5 – Património Religioso – Capela do Cemitério.
106
Rui Marques CIPRIANO, Vamos falar da Lourinhã, p. 252.
107
Teresa Maria Farto Faria de SOUSA, Rui Marques CIPRIANO, Património Religioso Edificado do
Concelho da Lourinhã, p. 62.
108
Rui Marques CIPRIANO, Vamos falar da Lourinhã p. 253-254.
46
Atualmente este templo sagrado encontra-se bastante degradado pelos danos naturais da
passagem do tempo. A crença é a de que a mesma seria bastante mais imponente na sua
época, mas que a passagem do tempo a foi degradando, sendo que, atualmente, o que
resta dela é apenas a capela-mor.109 Acredita-se, por entre o povo, que se realizavam, em
tempos antigos, Romarias na Capela do Cemitério. Diz-se também que vinham pessoas
em peregrinação, vindas de longe, e que existia uma cruz, perto da Capela, que indicava
o caminho para a mesma. Trata-se de uma memória lendária que é difícil de comprovar,
mas que, ainda assim, enriquece a história deste templo religioso. Por fim, tendo em
consideração todos os elementos analisados, parece-me que a mesma datará,
efetivamente, do século XVI. Ressalvo, no entanto, a não existência de documentação
histórica que o comprove totalmente, apesar da crença nesta afirmação ser bastante
expressiva e convicta.
109
Cf. Rui Marques CIPRIANO, Vamos falar da Lourinhã, p. 252-254. Cf. Ana Cristina JERÓNIMO, Ruas
da Nossa Terra Reguengo Grande, p. 4. Cf. Teresa Maria Farto Faria de SOUSA, Rui Marques CIPRIANO,
Património Religioso Edificado do Concelho da Lourinhã, p. 62.
110
Vide Anexo 5 – Património Religioso – Capela de Nossa Senhora de Fátima.
47
grade da comunhão da Igreja Matriz. A iluminação é feita por
janelas com vidros de cor.111
A fundação desta Capela é bastante recente, sendo que, a mesma data do ano de 1995.112
Estamos perante um templo religioso que mantem intactas as suas caraterísticas originais
de construção e que, em grande medida, se assemelha à Capela de São Sebastião,
conforme veremos de seguida. Em ambas predomina a simplicidade, a exaltação de Nossa
Senhora de Fátima e de Jesus Cristo Crucificado e também a azulejaria em tons de branco
e azul. Ressalvo, em nota final, que a mesma não faz parte do conjunto de templos
religiosos que se encontram sobre a alçada do Patriarcado de Lisboa.
111
Cf. Rui Marques CIPRIANO, Vamos falar da Lourinhã, p. 252-254. Cf. Ana Cristina JERÓNIMO, Ruas
da Nossa Terra Reguengo Grande, p. 4. Cf. Teresa Maria Farto Faria de SOUSA, Rui Marques CIPRIANO,
Património Religioso Edificado do Concelho da Lourinhã, p. 62.
112
Cf. Teresa Maria Farto Faria de SOUSA; José Carlos FONSECA; Rui Marques CIPRIANO, Património
Religioso Edificado do Concelho da Lourinhã – Cruzes, Cruzeiros, Nichos e Capelas, p. 65.
113
Vide Anexo 5 – Património Religioso – Capela de São Sebastião.
114 Cf. Teresa Maria Farto Faria de SOUSA; José Carlos FONSECA; Rui Marques CIPRIANO, Património
Religioso Edificado do Concelho da Lourinhã – Cruzes, Cruzeiros, Nichos e Capelas, p. 64.
48
largura da frontaria abre-se um alpendre de uma só água que
encosta à torre sineira que se levanta no lado Norte e que sobressai
da fachada e mesmo do alpendre. O interior tem silhar de azulejos
azuis e brancos. Foi inaugurada a 19 de Novembro do ano 2000,
dia em que se realizou a festa do Padroeiro.115
Num trabalho conjunto entre a Comissão de Festas desta localidade e alguns habitantes
da terra, nomeadamente Jerónimo Andrade, Francisco Ribeiro, José Claúdio, José Silvano
e José Alfredo, e em articulação com o desenhador do projeto, Hernâni Santos,
proveniente da entidade DesenhoOeste, foi erguida esta Capela. A mesma foi alvo de
Bênção por parte do Bispo D. Manuel Clemente, na época, Bispo auxiliar do Patriarcado
de Lisboa, no ano de 2002. São notórias as semelhanças entre esta Capela e a anterior,
apesar de as mesmas terem origens de criação distintas. Ressalvo, em nota final, que a
presente Capela pertence ao Patriarcado de Lisboa.
Transitemos para o Nicho do Senhor Jesus dos Aflitos. O mesma data do ano de 1937 e
encontra-se localizado na aldeia de Reguengo Grande.117
115 Ibidem.
116
Vide Anexo 5 – Património Religioso – Nicho do Senhor Jesus dos Aflitos.
117
Cf. Teresa Maria Farto Faria de SOUSA; José Carlos FONSECA; Rui Marques CIPRIANO, Património
Religioso Edificado do Concelho da Lourinhã – Cruzes, Cruzeiros, Nichos e Capelas, p. 63.
118
Ibidem.
49
O Nicho foi mandado erguer por João Marques, habitante da região, com o intuito de que
o Santo Senhor Jesus dos Aflitos protegesse esta localidade e a sua população. A atual
construção tal e qual a vemos, não corresponde à construção original, uma vez que, a
mesma foi alvo de alterações. Na construção original, o Nicho encontrava-se virado para
a população e a entrada era feita através de escadas que se encontravam posicionadas
lateralmente. Alguns anos após a construção do edifício, não se sabe precisar quantos ao
certo, o Nicho foi intervencionado e, consequentemente, alterado. Este, deixou de estar
virado para a aldeia e a entrada passou a fazer-se pela sua única porta de entrada, tal e
quando a observamos, atualmente.
O Nicho que vemos atualmente, do qual não se sabe precisar quem terá sido o autor, não
corresponde ao original que foi inicialmente construído, uma vez que, o mesmo foi alvo
de intervenções há alguns anos, não sendo possível precisar quantos. No Nicho original,
podíamos contemplar imagem de Nossa Senhora que também era apelidada de “Santinha
119
Vide Anexo 5 – Património Religioso – Nicho de Nossa Senhora dos Caminhos.
120
Cf. Teresa Maria Farto Faria de SOUSA; José Carlos FONSECA; Rui Marques CIPRIANO, Património
Religioso Edificado do Concelho da Lourinhã – Cruzes, Cruzeiros, Nichos e Capelas, p. 78.
121
Ibidem.
50
Preta” devido à tonalidade escurecida que apresentava. Essa imagem foi,
inesperadamente, roubada e devolvida por duas vezes consecutivas, sendo que, na última
vez que foi roubada já não voltou a ser devolvida. Na intervenção realizada foi construído
um muro à volta do Nicho e foi colocado um painel de azulejos, elaborado pela empresa
Aveirarte, com uma imagem de Nossa Senhora com o Menino Jesus nos braços, onde
pode ler-se “Santa Maria Rogai por nós”.
122
Vide Anexo 5 – Património Memorial – Cruzeiro da Restauração da Nacionalidade.
123
Cf. Teresa Maria Farto Faria de SOUSA; José Carlos FONSECA; Rui Marques CIPRIANO, Património
Religioso Edificado do Concelho da Lourinhã – Cruzes, Cruzeiros, Nichos e Capelas, p. 77.
51
vertical inferior, travessa dos braços horizontais e braço vertical
superior. Na face anterior da base e na face posterior encontram-
se, respectivamente, as seguintes inscrições: “FUNDAÇÃO MCXL
RESTAURAÇÃO MDCXL REGUENGO GRANDE” e “XXI VII
MCMXL OFERTA DO POVO”.124
Trata-se de um elemento patrimonial bastante modesto que, ainda assim, possui uma
valorosa presença memorial, de elevado significado para os habitantes desta Freguesia.
O Monumento de Homenagem aos Mortos da Guerra Colonial foi mandando erguer pelo
antigo Presidente da Junta de Freguesia, o Sr. Domingos Jerónimo Martins Carneiro.
Apesar de se saber que a construção do mesmo terá sido posterior ao ano de 1998, não se
sabe precisar com completa exatidão o ano em que o mesmo terá sido fundado. A obra
foi encomendada à Empresa Rochapa Mármores, sediada em São Bartolomeu dos
Galegos, aldeia vizinha também pertencente ao Concelho da Lourinhã. Neste monumento
observamos a inscrição de quatro nomes distintos, nomes estes que se tratam de habitantes
da Freguesia que faleceram na Guerra Colonial. No mesmo pode ler-se: “Homenagem/
Joaquim Domingos Santos Oliveira/ Angola – Maio – 1964/ Frutuoso Braz Ferreira/
Angola – Agosto – 1964/ Jorge Macieira Santos/ Moçambique – Setembro – 1970/ José
João Marques Agostinho/ Guiné – Maio – 1973/ Mortos na Guerra Colonial”.
124
Ibidem.
125
Vide Anexo 5 – Património Memorial – Monumento de Homenagem aos Mortos da Guerra Colonial.
126
Vide Anexo 5 – Património Memorial – Monumento de Homenagem ao ex-autarca Domingos Carneiro.
52
dedicou-se também à melhoria da qualidade de vida dos habitantes que nela residem. O
ex-autarca faleceu em março de 2020. De tão estimado ser, a atual Presidente da Junta,
Ana Isabel Barros, decidiu erguer um monumento memorial em sua homenagem. O
mesmo foi inaugurado a 20 de maio de 2022. Também em forma de homenagem o Largo
da Junta de Freguesia passou a chamar-se “Largo Domingos Jerónimo Martins Carneiro”.
127
Vide Anexo 5 – Património Memorial – Brasão da Freguesia.
53
2.3.1 Museu.128
No presente momento, apesar do espaço estar encerrado, estão a ser feitos trabalhos de
conservação e restauro de forma a assegurar a manutenção e a durabilidade das peças. É
também necessária uma intervenção urgente no que diz respeito ao acervo documental.
O inventário existente apresenta-se como incipiente. O mesmo necessita de ser
reformulado e organizado de acordo com as normas científicas da inventariação
128
Vide Anexo 5 – Património Civil – Museu.
54
museológica. Estas ações constituem o primeiro passo para que esta instituição possa, um
dia, reabrir apresentando uma nova dinâmica.
Um pouco por toda a Freguesia de Reguengo Grande é possível observar aquilo que
designo por Arquitetura vernacular. Por este termo, entenda-se que o que aqui destaco é
o modelo e os materiais de construção antigos típicos desta localidade, composto por
casas de habitação, instalações de uso agrícola, entre outros. Apesar de já serem escassas,
uma vez que, a maioria das casas atuais já apresentam um caráter moderno, ainda é
possível observar algumas habitações, em diferentes estados de conservação, nas quais é
possível visualizar o modelo de construção de outrora. Em pleno coração da aldeia de
Reguengo Grande, destaco uma habitação que se localiza na Estrada do Fortim. Esta é
facilmente identificável, uma vez que, se trata de uma construção que se mantém intacta
e na qual são notórios os traços e os materiais de construção de tempos antigos. Destaco
também as ruínas da única casa de habitação que existiu no Vale Cornaga. Do
conhecimento existente, tudo indica que aquela terá sido a única a ser construída naquele
vale, onde predominavam as azenhas. Com o intuito de manter esta memória viva, a Junta
de Freguesia construiu um protótipo exemplificativo que se encontra junto da sede da
mesma. O mesmo cumpre o propósito de ilustrar a Arquitetura vernacular desta região.
129
Vide Anexo 5 – Património Civil – Mural da História de Portugal.
130
Vide Anexo 5 – Património Civil – Arquitetura vernacular.
55
2.3.4 Chafariz.131
2.3.5 Azulejos.132
Ao longo do curso do Rio Galvão encontramos painéis de azulejos que datam do ano de
2001. Os azulejos foram produzidos pela empresa Azulefa – Azulejos e Faianças, sediada
em Pombal, sob ordem do antigo Presidente da Junta de Freguesia, o Sr. Domingos
Jerónimo Martins Carneiro. Tratam-se de azulejos em tons de branco e azul, que
encontramos integrados nos muros que ladeiam o rio. Nestes muros existem painéis de
dimensões significativas e outros nos quais se aplicou apenas um azulejo. Os azulejos têm
em si representados cenários campestres. No conjunto destes azulejos destacam-se
aqueles que são um único azulejo, e não um painel completo, onde estão representados
os frutos típicos da região (maçãs, peras, ...). No painel de azulejos que encontramos no
início do rio, existe uma breve descrição da Freguesia, sendo que, a mesma foi redigida
pelo antigo presidente da Junta, onde pode ler-se “Homenagem à fauna flora, artes e
ofícios, outrora praticados pela população.”. No lado oposto do curso de água,
encontramos outro painel onde pode ler-se “A aldeia de Reguengo Grande nasceu a 3 de
fevereiro de 1433. A Freguesia foi criada em 1525, sob a invocação de S. Domingos.
Pertenceu ao Concelho de Óbidos até 6 de novembro de 1836. O Vale Cornaga onde
meandra o Rio Galvão era uma zona vital de desenvolvimento. Hoje, selvagem na sua
vegetação e penhascos altaneiros concorrem para uma beleza ímpar. São testemunho real
as azenhas em ruínas, pontes romanas e fontes. Da flora, carrasqueiros, oliveiras,
medronheiros e vegetação vária, são elementos de beleza. As lavadeiras exerciam os seus
usos e costumes nas águas cristalinas do rio e era ver os passeantes deleitarem-se com a
água pura das suas fontes.”, sendo esta descrição da autoria do antigo presidente.
131
Vide Anexo 5 – Património Civil – Chafariz.
132
Vide Anexo 5 – Património Civil – Azulejos.
56
2.3.6 Pontes.133
É no interior da aldeia de Reguengo Grande, junto do curso de água do Rio Galvão, que
encontramos a primeira ponte que aqui destacarei. A mesma é designada por “Ponte
Primeiro de Maio 1976”. Esta permite que se faça a travessia para cada um dos lados do
Rio. Seguidamente, cabe-me ressalvar a presença de pontes medievais no Vale Cornaga.
Até ao ano de 1999 eram ainda visíveis quatro pontes medievais. Com as cheias que
ocorreram no ano anteriormente mencionado, uma destas pontes acabou por ceder. No
lugar onde a mesma permanecia, atualmente encontramos uma ponte de madeira, de
construção recente, que foi construída com o intuito de manter a possibilidade de travessia
entre as margens em questão. Resistem ainda à passagem do tempo, as restantes três
pontes medievais que podemos contemplar no percurso do Vale Cornaga.
2.3.7 Azenhas.134
O Vale Cornaga é, desde que existe memória, reconhecido pela presença das azenhas que
em tempos de outrora lhe davam vida. Estes moinhos de água eram uma parte
fundamental da economia local e da subsistência da população. Os mesmos moíam
cereais, como o trigo e o milho, que eram a base da alimentação da população em tempos
em que os principais bens alimentares ainda eram escassos, em quantidade, nesta região.
Atualmente ainda é possível observar seis das azenhas que nele existiram, sendo que,
algumas se encontram em maior estado de degradação do que outras. Cinco destas
azenhas são propriedade privada, assim sendo, apenas uma delas é propriedade da Junta
de Freguesia que a comprou e tem procurado revitalizar a mesma com o intuito de a voltar
a colocar em funcionamento.
2.3.8 Lavadouros.135
133
Vide Anexo 5 – Património Civil – Pontes.
134
Vide Anexo 5 – Património Civil – Azenhas.
135
Vide Anexo 5 – Património Civil – Lavadouros.
57
uma vez que, os mesmos permitiam e higienização das vestes do povo. Sendo mais ou
menos arcaicos, estes eram utilizados um pouco por todo o país. Atentando na história da
Freguesia de Reguengo Grande sabe-se, e é ainda visível nos dias de hoje, que estes
lavadouros se encontram no Vale Cornaga, local de elevada importância para o
desenvolvimento desta localidade. Era precisamente neste local que se procedia à
lavagem do vestuário da população local. Tal ato era possível, pois a água do Rio Galvão,
seguindo o seu curso, passava pelas levadas e, através das mesmas era, de forma natural,
encaminhada para estes lavadouros que, em bom rigor, se apresentam como grandes
blocos de pedra que serviam para o efeito pretendido, ainda que, de forma um pouco
arcaica, como bem sabemos. Atualmente ainda podemos contemplar estes lavadouros no
Vale Cornaga, conforme mencionado anteriormente, sendo estes importantes elementos
representativos das vivências e dos tempos antigos.
2.3.9 Moinhos.136
136
Vide Anexo 5 – Património Civil – Moinhos.
137
Cf. Mário Baptista PEREIRA, Lourinhã – Os moinhos do seu concelho.
138
Cf. Idem, p. 44-47.
139
Cf. Idem, p. 78-81.
58
Reguengo Grande 16 moinhos. Todos eles são propriedade privada, sendo que, por esse
motivo, nenhum deles se encontra sobre tutela da Junta de Freguesia. Foi-me possível
visitar o exterior de 13 deles. Sendo que, um deles se encontra nas Fontelas, dois
encontram-se no Casal Serrano e dez encontram-se na localidade de Reguengo Grande.
Ressalvo que não me foi possível visitar os três moinhos restantes, uma vez que, os
mesmos se encontram em propriedade privada, na qual se inserem também as casas dos
proprietários, o que impossibilita esta visita.
O Rio Galvão é um elemento natural que se encontra nesta localidade e que, por si só, é
merecedor de destaque, uma vez que, o mesmo foi um forte potenciador do
desenvolvimento da aldeia e da Freguesia de Reguengo Grande. Apesar deste Rio não ter
origem no centro da localidade, o mesmo percorre toda a aldeia até ao Vale Cornaga.
Seguindo o seu curso de água, mais adiante o mesmo conflui com o Rio Real, antes de
chegar à Lagoa de Óbidos. A sua existência afigurou-se deveras importante para a
vitalidade desta localidade, pois a sua água era utilizada pela população para consumo
próprio, para fins domésticos e também para a produção agrícola. Inicialmente, o Rio era
ladeado por terra batida. Com a passagem do tempo foi alvo de diversas intervenções que
visavam o melhoria da aldeia. Segundo a memória dos habitantes da aldeia, as primeiras
intervenções no Rio Galvão terão decorrido nas décadas de 50/60. Foram construídos os
muros que o ladeiam e também foram construídas pontes, ao longo do curso da água, que
permitem a travessia dos habitantes para ambas as margens. A última intervenção
significativa data do ano de 2001, ano esse em que foram colocados os painéis de azulejos
mencionados anteriormente.
140
Vide Anexo 5 – Património Natural – Rio Galvão.
59
2.4.2 Vale Cornaga.141
141
Vide Anexo 5 – Património Natural – Vale Cornaga.
142
“Próximo de Reguengo Grande, a paisagem começa a mudar. Os afloramentos calcários e os núcleos de
mato avultam no seio de um terreno de tipo cársico. À saída da povoação (no sentido do Bombarral) poderá
ser realizado um passeio a pé, aproveitando antigos caminhos entre muros de pedra. Se o fizermos teremos
oportunidade de conhecer mais de perto a vegetação característica das áreas calcárias. No início de Março
poucas são as plantas em flor. Entre elas destacam-se as bocas-de-lobo (Antirrhinum majus), o jacinto-dos-
campos (Hyacinthoides hispanica) e espécies do género Erodium. Com o avançar da Primavera começam
a desenvolver-se ou a florir variadíssimas plantas, das quais destacamos duas espécies de orquídeas – o
satirião-menor (Anacamptis pyramidalis) e a erva-do-homem-enforcado (Aceras anthropophrum) -,
cistáceas, a aroeira (Pistacia lentiscus), o carrasco, o trovisco-fêmea (Daphne gnidium), o lavapé
(Cheirolophus) (…)”, António PENA, Lourinhã: um roteiro natural do concelho, p. 59.
60
de trilhos que permitem aos visitantes concretizar experiências únicas e diferenciadas de
cada vez que o visitam.
Permanece viva por entre os habitantes desta localidade, a memória de um antigo chafariz
bastante ornamentado e oponente. Diz-se, por entre histórias e memórias que contam os
habitantes desta aldeia, que esse chafariz era igual ao que existe na localidade da
Columbeira, Freguesia da Roliça, sendo que o mesmo data do século XVI e se insere no
estilo Manuelino. Conta-se que o chafariz da aldeia havia sido destruído nas décadas de
50/60 quando foram realizadas intervenções de manutenção junto do Rio Galvão. Assim,
tudo indica que este chafariz Manuelino se encontre subterrado por baixo da atual estrada
de alcatrão que se encontra junto do Rio.
No que às Lendas locais diz respeito, foi-me possível percecionar algumas delas. As mais
populares são mencionadas por alguns autores, sendo que, a primeira diz respeito à
143
“ (…) o património cultural, como realidade complexa, tem de ser devidamente considerado – desde o
código genético e do genoma humano, até às tradições, às comunidades, às instituições mediadoras, aos
hábitos e costumes, num conjunto vasto do que designamos por património imaterial (o modo como os
artesãos trabalham, como a culinária e a gastronomia se desenvolvem, como as pessoas e as comunidades
se relacionam), passando pelos vestígios arqueológicos, pelos monumentos, pelo modo de organização das
populações e das cidades, mas também pela valorização da criação contemporânea e pela busca de uma
relação equilibrada nesse diálogo entre o que hoje temos e queremos e aquilo que recebemos de quem nos
precedeu.”, Guilherme d’Oliveira MARTINS, Património Cultural - Realidade Viva, p. 40.
144
Vide Anexo 5 – Património Imaterial – Chafariz Manuelino.
61
origem do nome da localidade de Cesaredas; a segunda tem que ver com D. Pedro I e D.
Inês de Castro; a terceira encontra-se relacionada com as Invasões Francesas. Foi-me
possível ainda, percecionar uma nova lenda que diz respeito à maldição do Nicho do
Senhor Jesus dos Aflitos, sendo que esta não foi abordada por nenhum autor.
145
Cf. João Maria RODRIGUES, “O Concelho da Lourinhã – As suas 7 freguesias, o seu comércio, a sua
indústria, os seus proprietários e agricultores mais importantes”, p. 29. Cf. Rui Marques CIPRIANO, Vamos
falar da Lourinhã, p. 241.
146
João Maria RODRIGUES, “O Concelho da Lourinhã – As suas 7 freguesias, o seu comércio, a sua
indústria, os seus proprietários e agricultores mais importantes”, p. 29.
147
Rui Marques CIPRIANO, Vamos falar da Lourinhã, p. 241.
62
A segunda lenda, proveniente do século XIV, está relacionada com D. Pedro I e D. Inês
de Castro. Conforme mencionado por mim anteriormente, tem subsistido à passagem do
tempo, a lenda que nos diz que D. Pedro I teria vivido o seu amor proibido com D. Inês
de Castro na localidade de Moledo. A informação torna-se difusa uma vez que além desta
aldeia, são mencionadas outras como Paço, Atouguia da Baleia, Serra d’El Rey, entre
outras. Conforme vimos anteriormente, a crença é que os habitantes da região, inclusive
os habitantes dos Reguengos, teriam sido beneficiados com privilégios sob ordem de D.
Pedro I, em troca de que os mesmos guardassem segredo acerca da sua localização. Diz-
se também que o monarca terá dispensado os homens de irem à guerra, dizendo mesmo
que estes só teriam de ir quando ele próprio fosse.148 A lenda149 mantém-se viva nas
localidades acima situadas e nos respetivos concelhos nas quais as mesmas se integram.
A lenda seguinte, deriva de um acontecimento histórico que teve lugar no século XIX, as
Invasões Francesas.150 Conforme mencionado anteriormente, este acontecimento deixou
marcas na região e nos seus habitantes.
148
Cf. Ana Cristina JERÓNIMO, Ruas da Nossa Terra Reguengo Grande, p. 6.
149
“Segundo reza a história, o rei D. Pedro I passou ali alguns tempos dos seus célebres amores com Dona
Inês de Castro. Em 1940, ainda se podia observar um grande casarão, já arruinado, onde, segundo dizem,
D. Pedro se costumava encontrar, em escondidos amores, com Dona Inês de Castro. Como privilégio aos
habitantes destes lugares, que guardavam sigilo sobre as idas ao Molêdo, dava D. Pedro a regalia de os
homens válidos da região só irem à guerra quando ele próprio fosse. Além disso os seus forais também
eram feitos com a máxima benevolência.”, ibidem, p. 6.
150
Cf. António Lopes RIBEIRO, Monografia da freguesia de Reguengo Grande (Concelho da Lourinhã),
p. 69 Cf. Ana Cristina JERÓNIMO, Ruas da Nossa Terra Reguengo Grande, p. 6.
63
mandavam-no pronunciar a palavra “areia”; se carregava demais
no “r” era francês e como tal tinha morte imediata…151
A quarta e última lenda por mim percecionada diz respeito ao Nicho do Senhor Jesus dos
Aflitos e à maldição que o santo terá lançado sobre a população após se ter ressentido
com a mesma. Decorria o ano de 1999 quando parte da aldeia de Reguengo Grande ficou
submersa devido à elevada precipitação que se fez sentir. A abundância de precipitação
fez com que o Rio Galvão transbordasse e a água do mesmo inundasse inúmeras casas
atingindo um metro e meio de altura danificando, assim, várias habitações. Diz-nos a
lenda que este fenómeno das cheias de 1999 teria sido um castigo trazido por parte do
Senhor Jesus dos Aflitos tendo em conta a decisão decorrida anteriormente, de alterar o
posicionamento do Nicho, deixando este de estar direcionado para a população.
151
António Lopes RIBEIRO, Monografia da freguesia de Reguengo Grande (Concelho da Lourinhã), p.
69
152
Ana Cristina JERÓNIMO, Ruas da Nossa Terra Reguengo Grande, p. 6.
64
Antunes.153 Este grupo foi fundando no ano de 1987 e desde aí que atua um pouco por
todo o Concelho da Lourinhã. Existe a memória de que, em tempos de outrora, existiu
também um outro grupo folclórico que deu início a esta tradição na Freguesia de
Reguengo Grande. Trata-se de um grupo que é presença assídua em todas as festividades
e celebrações que se realizam nesta Freguesia e nas restantes localidades que integram o
Concelho da Lourinhã.
Anualmente têm lugar na Freguesia de Reguengo Grande diferentes celebrações nas quais
se destacam as festas em honra dos santos patronos da localidade e a feira anual.
A primeira celebração é a festa anual em honra de Nossa Senhora de Fátima, que decorre
na localidade de Fontelas, local onde lhe foi construída uma capela, conforme vimos
anteriormente. Esta celebração tem lugar no último fim de semana do mês de junho.
A segunda celebração é a festa anual em honra de São Domingos, santo patrono desta
localidade, que decorre na aldeia de Reguengo Grande. A mesma realiza-se todos os anos
no segundo fim de semana do mês de agosto.
A terceira celebração é a festa anual em honra de São Sebastião, que decorre na localidade
de Cesaredas, aldeia na qual lhe foi dedicada uma capela, conforme referido
anteriormente. A mesma celebra-se no terceiro fim de semana do mês de novembro.
Falamos de celebrações religiosas que mantêm, até aos dias de hoje, uma grande
autenticidade. Tratam-se de datas nas quais a população da Freguesia e do Concelho se
reúnem e prestam devoção às santidades nas quais creem. Estas celebrações permitem
também uma fruição de caráter popular que se espelha através dos momentos de dança,
canto e de confeção e degustação da comida típica da região. É também importante
mencionar que se mantém o costume, a nível local, de se realizar um peditório para o qual
a população contribui, que tem como objetivo assegurar a realização da festa do ano
seguinte e também a manutenção financeira destes espaços.
153
Cf. https://agc.sg.mai.gov.pt/details?id=577230
65
tipos artigos. Encontramos também produtores locais que procuram vender bens
alimentares caraterísticos da região.
No seio do Património Imaterial, saliento por fim, um produto endógeno da região que
tem sido alvo de grande destaque dentro e fora do Concelho. Trata-se da Maçã
Reguengueira, fruto que deriva da tradicional Maçã Reineta, que tão bem conhecemos.154
A mesma é afamada na região, sendo de destacar que esta se encontra evidenciada nas
respostas ao inquérito das Memórias Paroquiais, tendo a mesma sido referida como sendo
a “maçã da sorte”.155
154
Cf. António Lopes RIBEIRO, Monografia da freguesia de Reguengo Grande (Concelho da Lourinhã),
p. 142-148.
155
Cf. Dicionário Geográfico de Portugal, volume 31, nº 55, p. 311, cit. por, António Ribeiro LOPES,
Monografia da freguesia de Reguengo Grande (Concelho da Lourinhã), p. 67-68.
156
Ibidem.
157
Cf. António PENA, Lourinhã: um roteiro natural do concelho, p. 7.
66
Em pleno século XXI, surgiu um doce típico regional ao qual foi dado o nome de
“Reguengo”. O mesmo é confecionado numa Pastelaria da aldeia, designada Natinhas do
Céu, e foi registado pela mesma. Trata-se de um doce típico que tem como ingrediente
principal a Maçã Reguengueira. A sua fama tem vindo a aumentar entre os residentes e
os turistas que visitam a região.
67
Capítulo 3 - Divulgação Patrimonial: criação de um modelo de comunicação
patrimonial in situ.
Comunicar o património histórico e artístico faz parte das funções de qualquer historiador
de arte e património. Para que tal suceda, é necessário que o mesmo domine o estado da
arte e que desenvolva um modelo que lhe permita comunicar o património. Perante a
investigação desenvolvida, procedi à construção de um modelo de comunicação
patrimonial, bastante versátil, na medida em que, o mesmo se aplica ao património da
Freguesia de Reguengo Grande, mas poderá aplicar-se também noutras localidades que
apresentem um património idêntico, com as devidas adaptações necessárias.158 O presente
modelo assenta na investigação histórica, na inventariação e valorização patrimonial e na
criação de roteiros patrimoniais que visam a comunicação deste património.
PATRIMÓNIO CULTURAL
158
“O património de uma povoação, freguesia ou concelho não se reduz aos seus monumentos. Devemos
distinguir património arqueológico, artístico, etnográfico, sem esquecer que a própria terra, a paisagem, a
fauna e a flora naturais são também património a estudar e a proteger (…)”, Jorge de ALARCÃO,
Introdução ao estudo da história e património locais, p. 25.
159
“Quando falamos de património cultural, há a tentação de pensar que falamos de coisas do passado,
irremediavelmente perdidas num canto recôndito da memória coletiva. Puro engano! Referimo-nos à
memória viva, seja ela monumentos, sítios, tradições, seja constituída por acervos de museus, bibliotecas e
arquivos, bem como tradições, línguas e dialetos, a natureza ou a paisagem e a comunicação digital. Mas
fundamentalmente tratamos de conhecimentos ou de expressões da criatividade humana…?”, Guilherme
d’Oliveira MARTINS, Património Cultural - Realidade Viva, p. 33.
68
A valorização do património cultural passa, primeiramente, pela compreensão do
mesmo.160 Só é possível apostar no futuro quando compreendemos o valor do passado.161
Os elementos patrimoniais encontram-se repletos de história e de memória e quem por
convicção acreditar que se tratam de elementos perdidos no tempo engana-se, pois
estamos perante organismos vivos cuja essência não se dissipa com o passar dos
séculos.162
160
“A preocupação fundamental é a de pensar na noção património cultural comum e de construir um
conceito de responsabilidade partilhada – envolvendo o património construído e material, o património
imaterial, mas igualmente a criação contemporânea.”, idem, p. 34-35.
161
“Importa deixar claro que, desde as suas origens, o conceito cultural de património se apresenta mais
fecundo e dinâmico e não centrado no passado. Etimologicamente, «património» tem a sua origem em duas
palavras latinas, patres e munus, que significam «pais» e «serviço», ou seja, trata-se de uma ação posta ao
serviço do que recebemos dos nossos pais. Desde o início dos anos 30, entrou-se num momento de viragem
no tocante ao reconhecimento da importância do dever de proteger o património como elemento crucial da
vida cultural. Estamos perante a capacidade criadora da humanidade perante a natureza – daí a etimologia
baseada no verno latino colo, colis, colere, colui, cultum que significa «cultivar» e «cuidar», que se aplica
quer no cultivar dos campos (agricultura) que no cultivar do espírito (cultura).”, idem, p. 18.
162
“Definido ao longo do tempo pela ação humana, o património cultural, longe de se submeter a uma visão
estática e imutável, tem de ser considerado como «um conjunto de recursos herdados do passado»,
testemunha e expressão de valores, crenças, saberes e tradições em contínua evolução e mudança. O tempo,
a História e a sociedade estão em contacto permanente. Nada pode ser compreendido e valorizado sem esse
diálogo extremamente rico.”, idem, p.7.
163
“A novidade resulta sempre desse diálogo entre o que recebemos e o que criamos. E a cultura situa-se
no ponto de encontro e de saída – não em confronto com a natureza, mas de complemento relativamente a
ela. A terra, as casas, os lugares, as regiões, os povos, as nações têm um espírito, sempre feito de diferenças
e de interdependência. Eis porque se tornou importante, em nome da dignidade da pessoa humana e da
procura de um «património ou herança comum», considerar, em ligação com o reconhecimento de um
«código genético cultural», os valores que o homem intui na sua experiência individual e social e que,
depois, reelabora racionalmente, com ideias de proporção e de ordem, com vista à realização do bem
comum, segundo o que exigem os valores da pessoa e a conservação e desenvolvimento da cultura.”,
Guilherme d’Oliveira MARTINS, Ao Encontro da História – O Culto do Património Cultural, p. 83-84.
69
HISTÓRIA E MEMÓRIA
A História e a Memória afiguram-se como sendo dois elementos que se entrelaçam e que
caminham lado a lado e não podemos falar de comunicação patrimonial sem atentar nestes
dois conceitos.164 Quando se pensa em comunicar o património cultural, terá sempre de
se ter em mente a estreita ligação entre estes dois elementos, uma vez que, os mesmos se
fundem e funcionam em completa harmonia.165 A História encontra-se repleta de
Memória.166
164
“Quando falamos de respeito mútuo entre culturas e das diversas expressões da criatividade e da tradição,
estamos a considerar o valor que a sociedade atribui ao seu património cultural e histórico ou à sua memória
como fator fundamental para evitar e prevenir o «choque de civilizações», mas, mais do que isso, para criar
bases sólidas de entreajuda e de entendimento. Impõem-se, deste modo, o reconhecimento mútuo do
património inerente às diversas tradições culturais que coexistem no continente e uma responsabilidade
moral partilhada na transmissão do património às futuras gerações. E não esqueçamos o contributo do
património cultural para a sociedade e o desenvolvimento humano, no sentido de incentivar o diálogo
intercultural, o respeito mútuo e a paz, a melhoria da qualidade de vida e a adoção de critérios de uso
durável dos recursos culturais do território.”, Guilherme d’Oliveira MARTINS, Património Cultural -
Realidade Viva, p. 8.
165
“E não se diga que o património é constituído pelos marcos de pedra ou pelos grandes monumentos da
arquitetura – o património cultural é constituído por pedras mortas e por pedras vivas, por monumentos e
tradições, o património imaterial, mas também pela natureza, pela paisagem e pela criação contemporânea,
pelo valor acrescentado que adicionamos ao que recebemos das gerações que nos antecederam. A
identidade exige a compreensão da memória, da vivência, da receção e da entrega, do receber e do dar.
Uma identidade viva tem de ser disponível, aberta, rigorosa e apta a receber e a dar.”, Idem, p. 13.
166
“A importância turística dos monumentos e dos aglomerados urbanos históricos, a par da sua
importância cultural, impõe a sua salvaguarda e protecção não só porque constituem a memória de um povo
mas também porque constituem uma atracção turística, muitas vezes, única.”, Licínio CUNHA, Introdução
ao Turismo, p. 269.
70
elemento patrimonial para que, posteriormente, se possa proceder à criação dos conteúdos
que visam a comunicação e explanação dos elementos patrimoniais.167
A IMPORTÂNCIA DA INVENTARIAÇÃO
167
“O presente das coisas passadas é a memória; o presente das coisas presentes é a vida, e o presente das
coisas futuras é a espera. A nossa relação com a Cultura apenas pode ser entendida, assim, a partir da
História, das diferenças, da complexidade e do pluralismo, da responsabilidade e da capacidade criadora.”,
Guilherme d’Oliveira MARTINS, Património Cultural - Realidade Viva, p. 30.
168
“Constituindo o Património Cultural um conjunto de bens móveis e imóveis, que se revestem de interesse
artístico, arquitectónico, paisagístico, histórico, etnológico, etnográfico, científico, bibliográfico e
arquivístico, o respectivo inventário deve assentar em três ideias base: Inventário e protecção, que
pressupõe uma estreita ligação com a política de protecção, encarando-a como o primeiro passo para o
conhecimento e avaliação do património e como ponto de partida de toda a política de classificação.
Inventário e planeamento de território, entendido como o utensílio de trabalho mais adequado aos
responsáveis das autoridades locais e regionais, contribuindo, desse modo, para a constituição de uma
importante dinâmica do planeamento do território. A sua ligação à paisagem, ao urbanismo, à arquitectura,
à arqueologia, com as respectivas inter-relações, contribuem para uma melhor compreensão de um sítio
cultural, incluindo componentes morfo-históricas, valores de conjunto, tipologias representativas da
actividade humana, que interessa considerar em qualquer política de gestão do território. Inventário e
conhecimento científico deve ser encarado como uma técnica de registo exaustivo, cujo objectivo é a
constituição de um verdadeiro conhecimento científico implicando, na maior parte dos casos, a divulgação
de apenas uma parte dos arquivos reunidos.”, Teresa MARQUES, “Inventário do Património Cultural: a
política da necessidade e a necessidade de uma política” in Património Edificado, Novas Tecnologias,
Inventários, p. 133
169
“O papel do inventário na integração do património deve ser entendido a partir de uma concepção do
património como um conjunto de valores, como um elemento de um processo integrado na transformação
do território, a que se junta um outro factor de igual importância: a educação desde os primeiros tempos da
escola, que possibilita a transmissão do conhecimento e, consequentemente, uma mudança de mentalidade
71
VALORIZAÇÃO PATRIMONIAL
DIVULGAÇÃO PATRIMONIAL
gerada por esse valor acrescentado, ou seja, de “recuperar o património no coração das pessoas”, já que ele
faz parte da nossa história e, consequentemente, da nossa identidade.”, idem, p. 141.
170
“No fundo, temos o dever de estar atentos ao valor dinâmico do que recebemos e do que legamos – seja
memória genética, seja perceção virtual do passado, seja reminiscência histórica… Quando falamos de
património cultural, é de atualização criadora que cuidamos – pelo que não é apenas o passado que importa,
mas sim uma responsabilidade presente que renova e atualiza a fidelidade à herança recebida.”, Guilherme
d’Oliveira MARTINS, Património Cultural - Realidade Viva, p. 10.
171
“Para defender, proteger ou preservar um testemunho arqueológico ou um monumento, temos de
considerar o valor histórico e patrimonial, mas também a relação que a sociedade tem com esse elemento.”,
idem, p. 26.
172
“ (…) a arte e o património podem ser utilizados como instrumentos de aprendizagem da cidadania –
aprendizagem que entendemos ou definimos desta maneira: processo de aquisição de uma arte de viver em
sociedade com responsabilidade e cordialidade, com espírito crítico e reivindicativo, ciente dos seus direitos
e dos seus deveres, respeitador das diferenças e das divergências, aberto à resolução pacífica dos conflitos
e defensor dos valores democráticos.”, Manuel BARBOSA, Luís TEIXEIRA, Rui DUARTE, Educar para
a cidadania através da arte e do património, p. 15.
173
“(…) um monumento histórico, um lugar, uma tradição têm de ser defendidos e preservados não só
porque representam um sinal de presença e de vida de quem nos antecedeu, mas também porque contribuem
72
podemos seguir para atingir este objetivo. Atentando no conteúdo e no teor da minha
investigação e, consequentemente, da minha Dissertação, a construção de um roteiro
patrimonial aliado à projeção de um Centro de Interpretação da Freguesia, afiguram-se
como sendo elementos adequados para concretizar a divulgação. Através de uma rota e
de uma explanação adequada dos conteúdos patrimoniais, atinge-se, assim, o propósito
da comunicação patrimonial.
O modelo construído aplica-se a esta Freguesia, mas poderá, inclusive, aplicar-se a outras
localidades que apresentem um património semelhante, conforme mencionado
anteriormente. Este afigura-se como sendo um transmissor de conhecimento passível de
adaptação com a passagem do tempo.
decisivamente para enriquecer a nossa vida e a nossa existência – alimentando ainda os desígnios de
futuro.”, Guilherme d’Oliveira MARTINS, Património Cultural - Realidade Viva, p. 44.
73
Capítulo 4 - O futuro da Freguesia: proposta de programa de divulgação e fruição
do património cultural para residentes e turistas.
O roteiro que seguidamente apresentarei visa, efetivamente, espelhar uma visão global da
história da Freguesia de Reguengo Grande e apresentar aqueles que são os seus valorosos
elementos patrimoniais. Estamos perante várias secções patrimoniais, entre as quais se
destacam: o Património Religioso, o Património Memorial, o Património Civil, o
Património Natural e o Património Imaterial, conforme explicitado anteriormente.
Cada uma das rotas que seguidamente serão apresentadas atenta nas especificidades de
cada secção patrimonial, procurando valorizar cada elemento que constitui o património
cultural desta Freguesia. Cada um destes elementos será devidamente abordado em cada
rota. Este modelo de comunicação permite, assim, comunicar o património a turistas que
visitem a região e também aos residentes que nela habitam, conforme mencionado na
secção número três da presente Dissertação.
A aposta nestas iniciativas culturais permite trazer uma nova vida dinâmica a freguesias
como a Freguesia de Reguengo Grande. Localidades detentoras de elementos
patrimoniais que carecem de uma comunicação eficaz do mesmo.175 Trata-se de reavivar
174
“No que respeita ao turismo a zona Oeste é das regiões com uma diversidade enorme, principalmente
no que diz respeito ao seu litoral, onde podemos observar a existência de arribas fósseis, flora, fauna,
história, cultura e gastronomia. Aliando-se ainda a particularidade de se inserir na zona Centro do país.”,
Liliana RODRIGUES, Planalto das Cesaredas e o Turismo, Livro de resumos, I Congresso, Planalto das
Cesaredas, p. 9.
175
“A cultura assume-se cada vez mais como uma forma de lazer, como uma opção de ocupação de tempos
livres, à disposição de uma sociedade mais instruída e com mais rendimento disponível. Assiste-se a uma
consciência mais generalizada da importância da cultura como factor de desenvolvimento das sociedades.”,
74
histórias e memórias, criar novos postos de trabalho e impulsionar o desenvolvimento
local. Todos os aspetos mencionados se afiguram como sendo benéficos para a localidade
e para a população que nela habita.
Rotas:
Alexandra Rodrigues GONÇALVES, Francisco RAMOS, Carlos COSTA, O museu como pólo de atracção
turística, p. 78.
75
Rota 2 – Rota do Património Religioso: Capela de São Sebastião (Cesaredas) + Capela
de Nossa Senhora de Fátima (Fontelas).
A Rota 2 prevê também, tal como a Rota 1, a observação do Património Religioso. Esta
rota tem a duração de 1 hora e destina-se a ser feita de automóvel. O percurso tem início
no Museu Rural de Reguengo Grande e o mesmo terminará também nesse local. Tendo
em atenção a distância a que se situam a Capela de São Sebastião (Cesaredas) e a Capela
de Nossa Senhora de Fátima, a mesma foi pensada para ser feita de automóvel, de forma
que a distância não fosse um motivo de impedimento de se visitarem estes templos. O
ponto de encontro será o Museu Rural de Reguengo Grande, onde será feita uma nota
introdutória acerca do conteúdo da rota. Seguidamente, o primeiro ponto de paragem será
a Capela de Nossa Senhora de Fátima, que se encontra na localidade de Fontelas. Em
sequência, o nosso segundo e último ponto será a Capela de São Sebastião, que se
encontra na localidade de Cesaredas. Em ambos os templos, será feita, primeiramente,
uma introdução acerca da sua história. De seguida, analisaremos as caraterísticas
arquitetónicas que definem estes edifícios, prestando a atenção devida aos pormenores
que os caraterizam. Em sequência, analisaremos o interior das capelas, atentando no altar-
mor e nas santidades que neles se encontram. Seguidamente, falaremos acerca das
devoções particulares de cada um destes templos, atentando no santo patrono de cada um
deles. Observar-se-á a via-sacra presente em cada uma das capelas e também os azulejos
e os demais pormenores que as caraterizam. A rota será finalizada com uma reflexão geral
realizada junto do Museu Rural.
76
Brasão da Freguesia, ao Monumento de Homenagem aos Mortos da Guerra Colonial e ao
Monumento de Homenagem ao ex-autarca Domingos Carneiro, uma vez que, os mesmos
se encontram posicionados lado a lado, no mesmo local. Perante elementos patrimoniais
que evidenciam a memória de um povo, procuraremos enaltecer os pormenores que
caraterizam este património. Em sequência, prosseguiremos para o Cruzeiro da
Restauração, onde procederemos à apresentação do mesmo. Seguidamente, dirigir-nos-
emos de volta ao Museu Rural, onde se fará uma nota final que concluirá esta rota.
A Rota 4 prevê a observação do Património Civil. Esta rota tem a duração de 1 hora e
destina-se a ser feita a pé. O percurso tem início no Museu Rural de Reguengo Grande e
o mesmo terminará também nesse local. No Museu Rural trataremos de efetuar a abertura
desta rota. Começaremos precisamente por enaltecer e dar a conhecer a história deste
Museu, elemento este que preza a comunicação, a proteção e a salvaguarda do património,
através da exposição, da manutenção e do cuidado de diversos objetos que caraterizam e
espelham a história local desta região. Seguidamente, atentaremos no protótipo do
modelo da antiga casa típica da localidade, construído sob comando da Junta de
Freguesia. Em sequência, caminharemos pela aldeia de Reguengo Grande, onde
procuraremos observar a Arquitetura vernacular que, todavia, subsiste, atentando com
maior atenção numa habitação localizada na Estrada do Fortim, habitação esta que se
mantém num razoável estado de conservação e através da qual é possível caraterizar e,
em simultâneo, observar os materiais e as técnicas de construção de tempos antigos.
Seguiremos em direção ao Mural da História de Portugal, local onde atentaremos nas suas
particularidades. A rota terá a sua conclusão junto do Museu Rural, onde será feito um
balanço geral, em forma de síntese, acerca da mesma.
77
Rota 5 – Rota dos Moinhos: Moinhos (Reguengo Grande).
78
Rota 7 – Rota do Património Natural e do Património Civil: Vale Cornaga
(Lavadouros, Pontes Medievais e Azenhas).
79
Rota 9: Rota do Património Imaterial: Chafariz Manuelino + Lendas Locais + Tradição
Folclórica + Degustação do doce regional, “Reguengos”.
Estas rotas afiguram-se como sendo elementos de elevada importância, uma vez que, será
no decurso das mesmas que se irá comunicar o património a munícipes e a visitantes.
Tratam-se de roteiros adequados a todas as faixas etárias, incluindo, as escolas do
Concelho da Lourinhã, sendo estas também um público a ter também em atenção.
A narrativa global, que desde o início é mencionada, encontra-se espelhada em cada uma
destas rotas, nas quais os elementos patrimoniais se encontram integrados em secções e
interligados entre si mesmos atentando, assim, nas particularidades de cada um e na visão
globalizante do seu todo.
80
4.2 Criação de um centro de interpretação da Freguesia de Reguengo Grande.
Atualmente são cada vez mais os Centros de Interpretação que surgem um pouco por todo
o nosso país. Os mesmos funcionam numa simbiose perfeita com os Museus.176 Tratam-
se de instituições culturais que visam a salvaguarda, a proteção, a comunicação e a
divulgação do património.177 O que os distingue, primeiramente, é o estatuto legal de cada
um deles e, em segundo lugar, os mesmos distinguem-se pela forma como comunicam os
demais elementos patrimoniais que possuem, uma vez que, a narrativa adotada por cada
um deles se apresenta como sendo distinta. A uni-los encontra-se a missão da salvaguarda,
da proteção e da valorização do património.178
176
“A discussão sobre os museus, o turismo e o território parte de uma clarificação do conceito de museu
actual e da emergência de novos paradigmas na sociedade, aos quais o museu do futuro não pode ficar
indiferente, sobretudo, como forma de potenciar a sua atracção junto do público turista, mas também se se
pretende afirmar como equipamento de lazer.”, Alexandra Rodrigues GONÇALVES, Francisco RAMOS,
Carlos COSTA, O museu como pólo de atracção turística, p. 79.
177
“A problemática da preservação, conservação, gestão e valorização dos bens culturais, ocupa e preocupa,
de modo crescente, um largo conjunto de actores económicos e sociais em Portugal. Efetivamente, desde o
último quartel do séc. XX que a salvaguarda dos testemunhos históricos das civilizações, passados e
presentes constitui uma das actividades centrais dos agentes culturais (…)”, Sandra, LAMEIRA, A
Preservação, Conservação e Valorização do Património Cultural em Portugal, p. 12.
178
“La museografía, que trata de los museos en todos sus aspectos, nace del perfeccionamiento de los
detalles técnicos para la mejor valoración de la obra. De aquí su vinculación directa y evidente con la
historia del arte. El museo tiene como finalidad principal conservar la obra y, por consiguiente, amparar las
tradiciones artísticas.”, J. A. García MARTÍNEZ, Introducción a la Historia del Arte, p. 99.
179
“A diversidade cultural e a pluralidade de pertenças obrigam, deste modo, a recusar as identidades
fechadas, uma vez que estas só ganham pleno sentido quando abertas e disponíveis para dar e receber, e
para assegurarem um permanente diálogo entre a tradição e a modernidade. Tradição significa transmissão,
dádiva, entrega, gratuitidade. Modernidade representa o que em cada momento acrescentamos à herança
81
Centro de Interpretação da Freguesia de Reguengo Grande? É precisamente nessa minha
proposta que seguidamente atentarei.
Primeiramente, há que salientar que, ao reabilitar este espaço estamos a trazer uma nova
vida e a criar uma nova dinâmica nesta localidade. Este espaço receberá pessoas vindas
de várias zonas do país e também de países estrangeiros o que, por si só, é benéfico uma
82
vez que, proporciona uma fusão de culturas e uma transmissão de conhecimento entre
turistas e residentes.180
Em segundo lugar, há que realçar que ao renovarmos esta instituição estamos também a
criar novas profissões nesta localidade e, consequentemente, novos postos de trabalho.181
Em simultâneo, estamos também a impulsionar a economia e o desenvolvimento local,182
o que se afigura como sendo positivo para toda a região.183
Em terceiro lugar, importa mencionar que estaríamos a revitalizar um espaço que visa a
proteção do património, sendo que, é importante ter em mente que o património se
encontra suscetível à passagem do tempo e, como tal, o mesmo necessita de ser
devidamente conservado, pois caso tal não aconteça, corre o risco de se perder para
sempre.184 Estamos a falar de objetos e de memórias que carecem de conservação e de
180
“O turismo deve assim desenvolver-se em harmonia com a defesa e salvaguarda do património cultural,
contribuindo para a sua valorização e reconhecimento.”, Guilherme d’Oliveira MARTINS, Património
Cultural - Realidade Viva, p. 72.
181
“… a existência de diversas potencialidades a nível turístico no concelho, que lhe advêm não só da sua
localização privilegiada como do património natural e edificado aí existente, reforça o peso destas
actividades. Nota-se assim uma grande importância das actividades de serviços e turismo, fundamental não
só pela sua própria importância e dimensão como pelo seu potencial empregador (…)”, Mário,
BAIRRADA, Paulo MADRUGA, Paula RATO, Conceição MORENO, José Luís ALBUQUERQUE,
Maria Alberto BRANCO, Pedro COSTA, Perspectivas para o Desenvolvimento da Zona da Lourinhã, p.
73.
182
“Segundo os últimos estudos, a zona Oeste tem uma previsão de crescimento em turismo de natureza,
trazendo nomeadamente a esta região do planalto das Cesaredas uma excelente posição. Oferecendo como
tal uma vasta atração de turismo de natureza, ambiental, cultural, histórico, arqueológico, ecoturismo,
geoturismo e ainda actividades com trecking, sight-seeing e espeleologia. Culminando assim numa nova
realidade no aparecimento de novos postos de trabalho, novas inovações de turismo e na recuperação de
determinadas profissões.”, Liliana RODRIGUES, Planalto das Cesaredas e o Turismo, Livro de resumos,
I Congresso, Planalto das Cesaredas, p. 9.
183
“A cultura tem ganho uma dimensão estratégica e os museus, não raramente promovem actividades
turísticas que estão na base de economias locais e regionais.”, Alexandra Rodrigues GONÇALVES,
Francisco RAMOS, Carlos COSTA, O museu como pólo de atracção turística, p. 79.
184
“Configurando-se como direito a usufruir por indivíduos e colectividades, o património também implica
um conjunto de deveres de cidadania. O conhecer, o cuidar e o preservar são alguns desses deveres –
eventualmente indutores de outras obrigações e de outros comportamentos cívicos. Conhecer, compreender
83
cuidados, uma vez que, a história não se repete e, uma vez perdidos, será impossível
recuperá-los.185
Tanto o património material como património imaterial terão lugar nesta instituição.186 A
narrativa construída permitirá evocar e representar ambos, atentando nas particularidades
de cada um deles.
Esta Dissertação tem como propósito, desde o início, contar aquela que é a história da
Freguesia de Reguengo Grande e enaltecer e valorizar o seu património. A utilidade e a
relevância deste trabalho de investigação prendem-se com o facto de o mesmo ter
construído uma narrativa global que permite comunicar a história e o património desta
localidade através de uma visão integradora que une e articula todos os elementos
patrimoniais. O modelo de comunicação construído permite efetuar esta comunicação, de
forma inequívoca, alcançando todas as gerações. Este feito afigura-se como sendo um
passo em direção ao futuro. Tal como o título deste trabalho indica, trata-se de valorizar
o passado e apostar no futuro e esse foi, desde sempre, o meu principal objetivo.
e cuidar do património pode ser assim uma “escola de cidadania” (…)”, Manuel BARBOSA, Luís
TEIXEIRA, Rui DUARTE, Educar para a cidadania através da arte e do património, p. 16.
185
“O «dever de não esquecer» é extensível a todo o legado histórico. A memória do que nos antecedeu
deve ser preservada. O valor do património cultural, material e imaterial exige a aceitação da verdade dos
acontecimentos, positivos e negativos, para que possamos ganhar em experiência, pelo «trabalho de
memória».”, Guilherme de Oliveira MARTINS, Património Cultural - Realidade Viva, p. 27-28.
186
“Uma obra de arte, uma catedral ou uma choupana tradicional, um conto popular, as danças e os cantares,
a língua e os dialetos, as obras dos artesãos, a culinária ancestral – eis-nos perante expressões de valores
que põem em contacto a História e a existência individual, a razão e a emoção, que constituem a matéria-
prima de uma cultura de paz.”, idem, p. 9.
84
Bibliografia
BARBOSA, Manuel, TEIXEIRA, Luís, DUARTE, Rui, Educar para a cidadania através
da arte e do património, Um projecto de investigação-acção com alunos da Escola EB 2
e 3 de Vila Pouca de Aguiar, Universidade do Minho, Braga, 2001.
CALABRESE, Omar, Como se lê uma obra de arte, Edições 70, Lisboa, 2015.
85
CASANOVAS, Luís Efrem Elias, Conservação Preventiva e Preservação das Obras de
Arte, Condições-Ambiente e Espaços Museológicos em Portugal, Edições Inapa, Santa
Casa da Misericórdia de Lisboa, Lisboa, 2008.
CARDOSO, João Luís, MEDEIROS, Sérgio, MARTINS, Filipe, “150 anos depois: uma
rara placa de xisto decorada encontrada na gruta da Casa da Moura (Óbidos)”, Revista
Portuguesa de Arqueologia, Volume 21, 2018.
ECO, Umberto, Como Se Faz uma Tese em Ciências Humanas, 1977, Editorial Presença,
2019, (21ª Edição, 1ª Edição: 1977).
86
FERRO, Mafalda, Turismo em Portugal. Passado. Presente. Que Futuro? Lisboa:
Fundação António Quadros Edições, 2012.
JERÓNIMO, Ana Cristina, Ruas da Nossa Terra Reguengo Grande, Centro Social e
Paroquial de Reguengo Grande, Reguengo Grande.
LUÍS, Maria dos Anjos, Vivências religiosas e comportamentos sociais: Visitas Pastorais
ao concelho da Lourinhã no século XVII, Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras,
Departamento de História, 2009.
LUÍS, Maria dos Anjos, Vivências religiosas e comportamentos sociais: Visitas Pastorais
ao concelho da Lourinhã nos séculos XVII e XVIII, Câmara Municipal da Lourinhã,
Várzea da Rainha Impressores, S.A, 2013.
87
MARTÍNEZ, J. A. García, Introducción a la Historia del Arte, Editorial Nova, Buenos
Aires, 1962.
OLAIA, Inês, Território e poder entre duas vilas da Estremadura: Aldeia Galega e
Alenquer na Idade Média, Departamento de História, Universidade de Lisboa, Faculdade
de Letras, Lisboa, 2019.
88
PEREIRA, Paulo, Arte Portuguesa - História Essencial, 3ª Edição, Círculo de Leitores e
Temas e Debates, Maia, 2011.
PINHO, Elsa Garrett, FREITAS, Inês da Cunha, Normas de Inventário. Artes Plásticas e
Artes Decorativas, Lisboa, Instituto Português de Museus, 1999.
RAMOS, Rui, SOUSA, Bernardo Vasconcelos e, MONTEIRO, Nuno Gonçalo, História
de Portugal, 8ª Edição, A Esfera dos Livros, Lisboa, 2015.
RAU, Virgínia, Para a história da população portuguesa dos séculos XV e XVI
(resultados e problemas de métodos), Estudos de História Medieval, Lisboa, 1965.
SILVA, José Custódio Vieira da, LAGE, Isabel, Paços Medievais Portugueses, 2ª Edição,
IPPAR, Lisboa, 2002.
89
SMITH, Robert C., A investigação na história da arte, Fundação Calouste Gulbenkian,
Lisboa, 2000.
SOUSA, Teresa Maria Farto Faria de; CIPRIANO, Rui Marques, Património Religioso
Edificado do Concelho da Lourinhã, Escola E.B. 2, 3 Dr. João das Regras e Centro de
Estudos Históricos da Lourinhã, Lourinhã, 2001.
SOUSA, Teresa Maria Farto Faria de; FONSECA, José Carlos; CIPRIANO, Rui
Marques, Património Religioso Edificado do Concelho da Lourinhã – Cruzes, Cruzeiros,
Nichos e Capelas, Escola E.B. 2, 3 Dr. João das Regras e Centro de Estudos Históricos
da Lourinhã, Lourinhã, 2003.
VARELA, José de Sousa, Notas sobre a Lourinhã e o seu concelho, 1ª Edição, Sociedade
do Progresso Industrial, Torres Vedras, 1937.
90
Recursos eletrónicos
Carta Estratégica, (Em Linha). Lourinhã: Aspiring Geoparque Oeste. (Consult. 10 Dez.
2021). Disponível em
https://www.geoparqueoeste.com/upload_files/client_id_1/website_id_6/AGO/Cartaestr
ategica.pdf
91
Anexo Documental
Índice de Anexos
Anexo 1:
Anexo 2:
Anexo 3:
Anexo 4:
92
Documento 4 - Transcrição de um documento de 1838 designado “Auto de Juramento”.
Documento transcrito por Mário Baptista Pereira na sua obra Lourinhã – Subsídios para
uma monografia, p. 31.
93
Anexo 1.
187
Cf. https://www.google.pt/maps/@39.2872662,-9.2451766,14z?hl=pt-PT
94
Anexo 2.
“D. João por graça de Deus Rey de Portugal e do Algarve a todos os Corregedores, Juizes
e Justiças Oficiais, e pessoas e outros quaisquer que esta houverem de ver por qualquer
guiza que seja, que esta Carta for mostrada ou o treslado dela em pública forma, feito por
autoridade da Justiça, onde sabedes que nos vendo com os Caseiros das Ordens e Fidalgos
e de outras pessoas que nos… hão privilégios porque sejam escusados de muitos encargos
e por esta razão se despovoavam os nossos reguengos e herdades, querendo nós fazer
graça e mercê aos que os nossos reguengos e herdades lavrarem, temos por bem e
mandamos que todos aqueles que lavrarem corporalmente em nossas quintas e casais
encabeçados e outras herdades, não lavrarem senão as nossas, enquanto assim em elas
morarem, sejam escusados de pagarem quaisquer peitas e fintas e talhas e emprestidos,
nem em outros nenhuns encargos dos concelhos onde assim morarem e em o mesmo de
irem com presos, nem com dinheiros e de servirem em todos os outros encargos de
Concelhos. E outro sim, de serem Tutores, nem Curadores de nenhumas pessoas e de
haverem nenhum ofícios contra sua vontade. E outro sim, mandamos e defendemos, que
nenhum de qualquer estado e condição que seja, não pouse com eles, nem lhes seja
tomado seu pão, nem vinho, nem roupa, nem palha, nem lenha, nem galinhas, nem outra
nenhuma coisa do seu, nem gados, contra a sua vontade, sob pena de nossos encoutos e
de seis mil soldos, que mandamos que pague para nós, qualquer que lhes contra esta for.
E, porém, mandamos a Vós Corregedores e Juizes e Justiças que lhes façades, assim mui
bem cumprir e guardar e não consintades que lhes nenhum contr ele vá em nenhuma guiza
que seja e não o querendo vós assim fazer contra este nosso mandado, por esta carta
mandamos a qualquer Tabelião que os empraze perante nós, que no dia que nos assim
emprazar a quinte dias primeiros e seguintes, pareçedes perante nós a dizerdes qual é a
razão porque lhes não guardades a dita nossa Carta pela guiza que em ela é conteúda e
nos faça perto de como vos emprazara e do dia do aparecer para volo estranha, como
nossa mercê por vos al nom façades. E em testemunho disto, lhe mandamos dar esta nossa
Carta.
95
Dante em Coimbra, três dias de Fevereiro. El-Rei o mandou por Rui Lourenço, Deão de
Coimbra, Licenciado em Degredos, e por João Afonso, Escolar em Leis, seu vassalo,
ambos do seu Desembargo.
188 Transcrito por Rui Marques CIPRIANO, Vamos falar da Lourinhã, p. 251-252.
96
Anexo 3.
“Para além do índice alfabético das localidades que remete para os volumes e fólios onde
se encontram as respostas dos párocos, contém também um prólogo onde é feito um
historial da documentação, e a transcrição do interrogatório ou inquérito a que os párocos
responderam, que é o seguinte:
“1. Em que província fica, que bispado, comarca, termo e freguesia pertence?
5. Se tem termo seu, que lugares ou aldeias compreende, como se chamam, e quantos
vizinhos tem?
6. Se a paróquia está fora do lugar, ou dentro dele, e quantos lugares, ou aldeias tem a
freguesia, todos pelos seus nomes?
7. Qual é o orago, quantos altares tem, e de que santos, quantas naves tem; se tem
irmandades, quantas, e de que santos?
10. Se tem conventos, e de que religiosos, ou religiosas, e quem são os seus padroeiros?
12. Se tem casa de Misericórdia, e qual foi a sua origem, e que renda tem; e o que houver
notável em qualquer destas cousas?
13. Se tem ermidas, e de que santos, e se estão dentro, ou fora do lugar, e a quem
pertencem?
97
14. Se acode a eles romagem, sempre, ou em alguns dias do ano, e quais são estes?
15. Quais são os frutos da terra que os moradores recolhem em maior abundância?
16. Se tem juiz ordinário, etc., câmara, ou se está sujeita ao governo das justiças de outra
terra, e qual é esta?
18. Se há memória e que florescessem, ou dela saíssem, alguns homens insignes por
virtudes, letras, ou armas?
20. Se tem correio, e em que dias da semana chega e parte; e, se o não tem, de que correio
se serve, e quanto dista a terra onde ele chega?
21. Quanto dista da cidade capital do bispado, e quanto de Lisboa, capital do reino? Se
tem algum privilégio, antiguidades, ou outras cousas dignas de memória?
22. Se há na terra, ou perto dela alguma fonte, ou lagoa célebre, e se as suas águas tem
alguma especial qualidade?
23. Se for porto de mar, descreva-se o sítio que tem por arte ou por natureza, as
embarcações que o frequentam e que pode admitir?
24. Se a terra for murada, diga-se a qualidade de seus muros; se for praça de armas,
descreva-se a sua fortificação.
25. Se há nela, ou no seu distrito algum castelo, ou torre antiga, e em que estado se acha
ao presente?
27. E tudo o mais que houver digno de memória, de que não faça menção o presente
interrogatório?
1. Como se chama?
2. Quantas léguas tem de comprimento, e quantas de largura; onde principia, e onde
acaba?
3. Os nomes dos principais braços dela?
98
4. Que rios nascem dentro do seu sítio, e algumas propriedades mais notáveis delse; as
partes para onde correm, e onde fenecem?
5. Que vilas e lugares estão assim na serra, como ao longo dela?
6. Se há no seu distrito algumas fontes de propriedades raras?
7. Se há na serra minas de metais, ou canteiras de pedra, ou de outros materiais de
estimação?
8. De que plantas, ou ervas medicinais é a serra povoada, e se se cultiva em algumas
partes, e de que géneros de frutos é mais abundante?
9. Se há na serra alguns mosteiros, igrejas de romagem, ou imagens milagrosas?
10. A qualidade do seu temperamento?
11. Se há nela criações de gados, ou de outros animais, ou caça?
12. Se tem alguma lagoa, ou fojos notáveis?
13. E tudo o mais que houver digno de memória?
99
15. Se tem pontes de cantaria, ou de pau, quantas e em que sítio?
16. Se tem moinho, lagares de azeite, pisões, noras ou outro algum engenho?
17. Se tem algum tempo, ou no presente, se tirou ouro das suas areias?
18. Se os povos usam livremente das suas águas para a cultura dos campos, ou com
alguma pensão?
19. Quantas léguas tem o rio, e as povoações por onde passa, desde o seu nascimento até
onde acaba?
20. E qualquer outra.
21. cousa notável que não vá neste interrogatório.”189
Índice Geográfico das Cidades, Vilas e Paróquias de Portugal (…), Memórias Paroquiais, Volume 44,
189
100
Anexo 3.
“Respostas aos interrogatorios, que ha poucos dias me chegaram acerca desta terra
chamada o lugar de Reguengo Grande escritas por mim o Padre Manoel Pereyra dos Reys
Parocho no mesmo lugar abaixo asignado.
He Terra da Rainha nossa Senhora tem juiz Privativo, que a governa excepto em causas
crimes, o qual juiz he dos direitos Reayas da V.ª das Caldas a cujo hospital he tributaria
pagando quartos de todo o gram que cultiva dentro de… marcaçoens por cuja rezão tem
pervilegio ainda de varias coizas.
Tem cento e trinta vezinhos e quatro centos… e de fora trinta fogos e cento…
Esta cituada em valle quazi todo Penhasco de pedra, de que se tira muita cantaria, e não
se descobre della senam os cazais da Fontella que distarâm hum tiro de…
A Parochia esta dentro do lugar, e tem os Casais da Fontella, que constam de doseseis
vezinhos = Os Cazais do Serrano, que constam de sete vezinhos = Cazal do Leitam: Casal
da Rencada: Cazal da… = Quinta de Villa Viçosa.
O Orago da freguesia de Sam Domingos tem tres altares: o Altar Mor com Santissimo
Sacramento e Sam Domingos e Sam Sebastiam e… e um de Nossa Senhora do Rosario e
outro de Nossa Senhora dos Remedios e Santo Amaro, e so tem a Irmandade das Almas.
101
rendimento contigente da pasta da Igreja, e hum aorta que… aos curas importara tudo em
sem mil reys.
Os frutos que os moradores colhem com maior abundância sam pam e especialmente
frutas de maçans de sorte que quazi em todo o anno vam em todos os dias muitas cargas
para a Cidade de Lisboa, e tam boa estimação que dellas se faz o provimento na… do Ex.
REY nosso Senhor pelas nam achar em Colares tam boas o condutor que tem obrigação
de dallas quazi em todo o anno.
190
Transcrito por António Lopes RIBEIRO, Monografia da freguesia de Reguengo Grande (Concelho da
Lourinhã), p. 67-68.
102
Anexo 4.
“Dizem os moradores do lugar do Reguengo Grande, termo da vila de Óbidos (Em 1839
pertencia ao concelho de Óbidos e em 1852 ao da Lourinhã) que pela grande necessidade
que padessem pela falta mantimentos do dito Povo, principalmente de mantimentos de
carne, de carne por não haver açougue senão na vila e por esta ficar a légua e meia distante
e padecer aquele Povo grande detrimento, principalmente, os doentes por ser muito
grande os detrimentos que experimentam por ser mais de cento e sessenta vizinhos, razão
por que recorrem os suplicantes a V. Magde. para que lhe conceda a Graça de Provisão
para poderem nomear para marchante a Sebastião Monteiro para que este se obrigue a dar
carne todo o ano ao dito Povo pelo preço que correr na mesma vila para remédio dos
doentes e mais Povo pela falta de mantimentos daquela terra, o que poderá informar a
Câmara da mesma vila, portanto,
191 Transcrito por Mário Baptista PEREIRA, Lourinhã – Memórias da sua região, p. 121.
103
Anexo 4.
“Diz Joaquim da Vaza César da Cunha, da vila de Torres Vedras que sua tia D. Maria
Honória César Palhano da vila da Lourinhã lhe fizera por escritura pública, constante do
documento junto, doação inter vivos com trespasse do domínio e posse de um prazo em
fateusim, foreiro do Hospital da vila das Caldas em 6 alqueires de trigo, situado no limite
do Reguengo Grande com obrigação estipulada na mesma escritura junta. E como para a
devida validade da dita doação se precisa confirmação de V.A.R., por isso é que o
suplicante
Despacho: Ao suplicante se há-de passar carta de insinuação de doação de bens que valem
698$100 reis. Lisboa, 27/9/1813.
192 Ibidem.
104
Anexo 4.
Ano do Nascimento de N. S. Jesus Cristo de 1838 aos seis dias do mês de Maio do dito
ano, pela uma da tarde, nesta vila da Lourinhã, na Secretaria da Administração deste
concelho apareceram os regedores das paróquias da Administração de S. Miguel do
Vimeiro, São Lourenço dos Francos, Senhora da Conceição da Moita dos Ferreiros, São
Domingos do Reguengo Grande, Espírito Santo do Moledo, São Lourenço dos Galegos
perante o Administrador do mesmo Concelho, Juiz da Vara, Cesar de Faro Nobre e
Vasconcelos. Igualmente o escrivão desta Administração para o fim de se prestar o
juramento de ter assinado pelo decreto de 10 de Abril deste ano, o que se fez, pondo cada
um sua mão direita sobre os Santos Evangelhos dizendo as palavras seguintes:
Do que assim feito e concluído se mandou fazer este auto que (vai) por todos assinado.
Eu Francisco António, escrivão da Administração que o escrevi e assinei.
105
(Maço 26, Doc. 366)193
193 Transcrito por Mário Baptista PEREIRA, Lourinhã – Subsídios para uma monografia, p. 30.
106
Anexo 4.
Regedor – Santos
107
Anexo 4.
108
Anexo 4.
“REGUENGO GRANDE
AGRICULTORES
João Maria do Nascimento, João Maria Rodrigues, João Maria da Silva Marques, José
Antonio Pereira, José Bernardino, José Maria da Silva, Manuel Francisco Marques,
Patricio Venancio Pereira.
COMMERCIANTES
João Maria Rodrigues Junior, José Antonio Pereira, José Maria de Carvalho, Silvano
Marcelino.
196
Idem, p. 86.
109
Anexo 5: Fichas de Inventário do Património da Freguesia de Reguengo
Grande.197
197
A organização do Inventário segue o plano da Dissertação.
110
Caraterização: Património Religioso
História: A Igreja Matriz de São Domingos data do século XVII. A mesma tem como
santo patrono São Domingos de Gusmão, fundador da Ordem dos Dominicanos. Este
monumento foi alvo de várias intervenções o que nos indica que o que observamos
atualmente, no seu interior, não é o mesmo que observaríamos no século XVII. Diz-se
que existiriam frescos de elevado apreço artístico neste templo, no entanto, não existe
nenhum registo que prove a sua existência. Atualmente no seu interior podemos observar
que a mesma apresenta apenas uma nave, uma capela-mor, um coro alto e uma pia
batismal. A parte exterior do monumento, parece manter-se idêntica aquela que seria a
sua apresentação em séculos antigos. Nela encontramos um relógio de sol, do século
XVIII, uma torre sineira e um painel de azulejos, brancos e azuis, com a figura de Nossa
Senhora de Fátima.
111
Legenda: Vista da fachada principal da Igreja Matriz de São Domingos, Reguengo Grande.
112
Legenda: Vista do interior da Igreja Matriz de São Domingos, pormenorizando o altar,
Reguengo Grande.
113
Legenda: Vista interior da Igreja Matriz de São Domingos, pormenorizando o coro alto,
Reguengo Grande.
114
Legenda: Imagem da pia batismal, Igreja Matriz de São Domingos, Reguengo Grande.
115
Legenda: Imagem pormenorizada de São Domingos, Igreja Matriz de São Domingos, Reguengo
Grande.
116
Legenda: Imagem pormenorizada de São Sebastião, Igreja Matriz de São Domingos, Reguengo
Grande.
117
Legenda: Imagem pormenorizada de Nossa Senhora de Fátima, Igreja Matriz de São Domingos,
Reguengo Grande.
118
Legenda: Imagem pormenorizada do Sagrado Coração de Jesus, Igreja Matriz de São
Domingos, Reguengo Grande.
119
Caraterização: Património Religioso
História: A Capela do Cemitério, também conhecida por “Antiga Igreja Velha”, encontra-
se no centro do Cemitério desta localidade. A mesma parece remontar ao século XVI e
diz-nos a lenda que esta terá sido a antiga igreja matriz da Freguesia de Reguengo Grande.
O que resta deste templo sagrado é apenas a capela-mor. A mesma foi pintada já no século
XXI e o seu interior encontra-se praticamente vazio contendo apenas a figura de Jesus
Cristo Crucificado e uma estatueta de Nossa Senhora de Fátima. Os traços que nos
indicam a data da sua fundação assentam na estrutura e nas caraterísticas deste
monumento. No exterior destaca-se a cruz de pedra que se encontra no cimo da Capela.
120
Legenda: Vista do alçado lateral da Capela do Cemitério, Reguengo Grande.
121
Legenda: Vista da fachada principal pormenorizando a cruz de Cristo, Capela do Cemitério,
Reguengo Grande.
122
Legenda: Imagem pormenorizada do altar da Capela do Cemitério, Reguengo Grande.
123
Caraterização: Património Religioso
História: A Capela de Nossa Senhora de Fátima foi construída em 1995. A mesma foi
erguida por ordem da Dra. Maria Adelaide Lisboa, à data, Governadora Civil de Lisboa
e tem como santa patrona Nossa Senhora de Fátima. Estamos perante um templo que
apresenta traços modernos. Do mesma destacam-se a única nave que apresenta, o altar-
mor, os azulejos brancos e azuis que ladeiam as paredes laterais da Capela, a calçada
portuguesa que reveste o pavimento e os vitrais coloridos que iluminam a iluminam. No
exterior podemos observar a torre sineira e um painel de azulejos, brancos e azuis, com a
imagem de Nossa Senhora de Fátima.
124
Legenda: Vista da fachada principal da Capela de Nossa Senhora de Fátima, Fontelas,
Reguengo Grande.
125
Legenda: Vista do interior da Capela de Nossa Senhora de Fátima, pormenorizando o altar-mor,
Fontelas, Reguengo Grande.
126
Legenda: Vista do interior da Capela de Nossa Senhora de Fátima, Fontelas, Reguengo Grande.
127
Legenda: Imagem pormenorizada do altar-mor da Capela de Nossa Senhora de Fátima,
Fontelas, Reguengo Grande.
128
Legenda: Vista lateralizada do interior da Capela de Nossa Senhora de Fátima, Fontelas,
Reguengo Grande.
129
Legenda: Vista lateralizada do interior da Capela de Nossa Senhora de Fátima, Fontelas,
Reguengo Grande.
130
Legenda: Imagem Pormenorizada de Nossa Senhora de Fátima e dos Pastorinhos Jacinto e
Francisca, Capela de Nossa Senhora de Fátima, Fontelas, Reguengo Grande.
131
Legenda: Imagem pormenorizada de Jesus Cristo Crucificado, Capela de Nossa Senhora de
Fátima, Fontelas, Reguengo Grande.
132
Legenda: Imagem pormenorizada de São Pedro, Capela de Nossa Senhora de Fátima, Fontelas,
Reguengo Grande.
133
Legenda: Imagem pormenorizada do Menino Jesus de Praga, Capela de Nossa Senhora de
134
Caraterização: Património Religioso
História: A Capela de São Sebastião foi erguida no ano 2000. Anteriormente, este edifício
era a escola primária desta localidade. No ano de 2000, estando a escola já desativada, a
população mandou erguer a Capela tendo o projeto sido desenvolvido pelo Sr. Hernâni
Luís Henriques Santos. A mesma tem como santo patrono São Sebastião. Estamos perante
um monumento com caraterísticas de construção aproximadas às da construção atual,
uma vez que, o mesmo foi construído em pleno século XXI. No seu interior destacam-se
a frontaria, os azulejos brancos e azuis, que ladeiam as paredes do interior da Capela e
um óculo. No exterior destacam-se um painel de azulejos, brancos e azuis, com a imagem
de Nossa Senhora de Fátima e a torre sineira.
135
Legenda: Vista da fachada principal e lateral do exterior da Capela de São Sebastião, Cesaredas.
136
Legenda: Vista aproximada da fachada principal do exterior da Capela de São Sebastião,
Cesaredas.
137
Legenda: Vista do interior da Capela de São Sebastião, Cesaredas.
138
Legenda: Imagem aproximada de São Sebastião, Capela de São Sebastião, Cesaredas.
139
Legenda: Imagem aproximada de Jesus Cristo Crucificado, Capela de São Sebastião, Cesaredas.
140
Legenda: Imagem aproximada de Nossa Senhora de Fátima, Capela de São Sebastião,
Cesaredas.
141
Legenda: Imagem aproximada do Sagrado Coração de Jesus, Capela de São Sebastião,
Cesaredas.
142
Caraterização: Património Religioso
História: O Nicho de Nosso Senhor Jesus dos Aflitos data de 1937. O mesmo foi
mandando erguer pelo Sr. João Marques, habitante da região, com o intuito de que o Santo
Senhor Jesus dos Aflitos protegesse esta localidade e a sua população. A construção de
origem deste Nicho não corresponde à construção que encontramos atualmente. Na
primeira construção o Nicho encontrava-se virado para a população e a entrada no mesmo
fazia-se por uma escada lateral. Anos mais tarde, o Nicho foi modificado e deixou de
estar virado para a aldeia sendo também que, a entrada passou fazer-se diretamente
através da porta do mesmo e as escadas laterais deixaram de existir. No interior do Nicho
encontramos a imagem de Jesus Cristo na Cruz. No exterior destaca-se a cruz de pedra
existente no cimo do monumento.
143
Legenda: Vista pormenorizada da fachada do Nicho do Senhor Jesus dos Aflitos, Reguengo
Grande.
144
Legenda: Vista pormenorizada da janela do Nicho do Senhor Jesus dos Aflitos, Reguengo
Grande.
145
Legenda: Imagem pormenorizada de Jesus Cristo Crucificado, Nicho do Senhor Jesus dos
Aflitos, Reguengo Grande.
146
Caraterização: Património Religioso
História: O Nicho de Nossa Senhora dos Caminhos apresenta uma história bastante
peculiar. Não se sabe quem o mandou erguer, no entanto, sabe-se que o mesmo foi alvo
de uma intervenção e que a construção tal e qual como a vemos agora apresenta traços
diferentes da original. Na primeira construção, a estrutura do Nicho era de menor
dimensão. Nela encontrava-se presente uma pequena estátua de Nossa Senhora dos
Caminhos. A mesma foi roubada e devolvida por duas vezes, no entanto, na terceira e
última vez em que foi roubada já não foi devolvida. Na sequência desses episódios foi
construído um pequeno muro à volta do Nicho, tornando a sua estrutura de maior
dimensão, e foi colocado um painel de azulejos, azuis e brancos, com a imagem de Nossa
Senhora com o Menino Jesus ao colo, onde pode ler-se “Santa Maria Rogai por nós.”.
147
Legenda: Vista do Nicho de Nossa Senhora dos Caminhos, Reguengo Grande.
148
Legenda: Vista aproximada do Nicho de Nossa Senhora dos Caminhos, Reguengo Grande.
149
Legenda: Imagem aproximada do painel de azulejos presente no Nicho de Nossa Senhora dos
Caminhos, Reguengo Grande.
150
Legenda: Imagem aproximada no Nicho original, antes de ser intervencionado, Nicho de Nossa
Senhora dos Caminhos, Reguengo Grande.
Autoria da imagem: Imagem cedida pela Junta de Freguesia de Reguengo Grande, na pessoa de
Ana Isabel Barros, Presidente da Junta.
151
Caraterização: Património Memorial
152
Legenda: Imagem aproximada do Cruzeiro da Restauração da Nacionalidade, Reguengo
Grande.
153
Legenda: Imagem aproximada da inscrição no Cruzeiro da Restauração da Nacionalidade,
Reguengo Grande.
154
Caraterização: Património Memorial
155
Legenda: Vista do Monumento de Homenagem aos Mortos da Guerra Colonial, Reguengo
Grande.
156
Legenda: Vista aproximada do Monumento de Homenagem aos Mortos da Guerra Colonial,
Reguengo Grande.
157
Caraterização: Património Memorial
158
Legenda: Vista do Monumento de Homenagem ao ex-autarca Domingos Carneiro, Reguengo
Grande.
159
Legenda: Vista aproximada do Monumento de Homenagem ao ex-autarca Domingos Carneiro,
Reguengo Grande.
160
Caraterização: Património Memorial
161
Legenda: Vista do Brasão da Freguesia, Reguengo Grande.
162
Legenda: Vista aproximada do Brasão da Freguesia, Reguengo Grande.
História: O Museu Rural de Reguengo Grande foi nasceu a 23 de maio de 1999, através
de um projeto cofinanciado pelo programa comunitário LEADER II. Trata-se de um
espaço expositivo, promovido pela Junta de Freguesia, que se manteve em funcionamento
durante alguns anos e que, atualmente, se encontra encerrado. Ao entrar no Museu,
enquanto o mesmo se encontrou em funcionamento, contemplando da esquerda para a
direita, encontrávamos as seguintes exposições: A arte do Sapateiro (utensílios), A arte
da Costura (máquinas), Utensílios domésticos (pratos, chávenas…), Objetos agrícolas,
As comunicações (telefones antigos), A Escola (objetos escolares), Os fósseis
(encontrados na Freguesia).
164
Legenda: Vista da fachada principal do Museu Rural, Reguengo Grande.
165
Caraterização: Património Civil
166
Legenda: Vista do Mural da História de Portugal, Reguengo Grande.
167
Legenda: Vista do Mural da História de Portugal, Reguengo Grande.
168
Legenda: Vista do Mural da História de Portugal, Reguengo Grande.
169
Legenda: Imagem pormenorizada da tabela identificativa do Mural da História de Portugal,
Reguengo Grande.
170
Caraterização: Património Civil
Datação: Século XX
171
Legenda: Vista aproximada da antiga casa típica da localidade – arquitetura vernacular,
172
Legenda: Vista pormenorizada da porta e da janela da antiga casa típica da localidade –
173
Caraterização: Património Civil
174
Legenda: Vista aproximada do protótipo da antiga casa típica da localidade, Reguengo Grande.
175
Caraterização: Património Civil
Designação: Chafariz
História: O Chafariz que atualmente podemos contemplar é o segundo que foi construído
na localidade. O mesmo terá sido erguido em simultâneo com as obras de intervenção que
foram feitas junto ao Rio Galvão já em pleno século XXI, depois do ano 2000. Trata-se
de um chafariz muito simples, de caráter moderno.
176
Legenda: Vista aproximada do Chafariz, Reguengo Grande.
177
Caraterização: Património Civil
Designação: Azulejos
História: É junto do Rio Galvão que encontramos painéis de azulejos que embelezam a
aldeia. Os painéis foram colocados no ano de 2001, sob ordenação do Sr. Domingos
Jerónimo Martins Carneiro, presidente da Junta de Freguesia nessa data. Os azulejos
foram produzidos pela empresa Azulefa – Azulejos e Faianças, sediada em Pombal. Os
mesmos encontram-se expostos nas laterais dos muros que ladeiam o curso de água do
Rio Galvão. Tratam-se de azulejos em tons de azul e branco, que têm em si representados
os produtos endógenos da região, tais como a maçã reguengueira e a pera rocha e também
as principais atividades agrícolas, artes e ofícios da Freguesia, em tempos antigos.
Destacam-se dois painéis de azulejos que contêm dizeres acerca da localidade. No início
do Rio encontramos um destes painéis onde pode ler-se “Homenagem à fauna flora, artes
e ofícios, outrora praticados pela população.”. No fim do mesmo encontramos outro
painel onde pode ler-se “A aldeia de Reguengo Grande nasceu a 3 de fevereiro de 1433.
A Freguesia foi criada em 1525, sob a invocação de S. Domingos. Pertenceu ao Concelho
de Óbidos até 6 de novembro de 1836. O Vale Cornaga onde meandra o Rio Galvão era
uma zona vital de desenvolvimento. Hoje, selvagem na sua vegetação e penhascos
altaneiros concorrem para uma beleza ímpar. São testemunho real as azenhas em ruínas,
pontes romanas e fontes. Da flora, carrasqueiros, oliveiras, medronheiros e vegetação
vária, são elementos de beleza. As lavadeiras exerciam os seus usos e costumes nas águas
cristalinas do rio e era ver os passeantes deleitarem-se com a água pura das suas fontes.”.
178
Legenda: Vista aproximada dos azulejos junto do Rio Galvão, Reguengo Grande.
179
Legenda: Vista aproximada dos azulejos junto do Rio Galvão, Reguengo Grande.
180
Legenda: Vista aproximada dos azulejos junto do Rio Galvão, Reguengo Grande.
181
Legenda: Vista aproximada dos azulejos junto do Rio Galvão, Reguengo Grande.
182
Caraterização: Património Civil
Designação: Pontes
História: Em pleno coração do Vale Cornaga encontramos três pontes que remontam a
tempos antigos. Outrora, poderão ter existido mais, mas no limite da Freguesia, no Vale
Cornaga apenas se encontram intactas três delas. Tratam-se de pontes que parecem
remontar à Época Medieval apesar de, muitas vezes, serem denominadas pelos habitantes
locais como sendo pontes românicas.
183
Legenda: Vista aproximada de uma das pontes medievais, Vale Cornaga, Reguengo Grande.
184
Legenda: Vista aproximada de uma das pontes medievais, Vale Cornaga, Reguengo Grande.
185
Caraterização: Património Civil
186
Legenda: Vista aproximada da Ponte Primeiro de Maio 1976, Reguengo Grande.
187
Legenda: Vista pormenorizada da tabela identificativa da Ponte Primeiro de Maio 1976,
Reguengo Grande.
188
Caraterização: Património Civil
Designação: Azenhas
História: É em pleno Vale Cornaga que encontramos as tão famosas Azenhas que, em
tempos de outrora, eram a força motriz que permitia a moagem dos cereais, como trigo e
o milho, sendo estes, em tempos antigos, mas não muito longínquos, a base da
alimentação da população. Destacam-se seis Azenhas que se encontram intactas e
destacam-se também as ruínas de outras que padeceram aos efeitos naturais da passagem
do tempo. Todas as Azenhas que avistamos no Vale Cornaga encontram-se sobre o
domínio da propriedade privada, com exceção de uma que foi comprada pela Junta de
Freguesia, que tem como intuito reabilitá-la e voltar a colocá-la em funcionamento.
189
Legenda: Vista de uma das azenhas e de uma das pontes medievais, Vale Cornaga, Reguengo
Grande.
190
Legenda: Vista aproximada de uma das azenhas, Vale Cornaga, Reguengo Grande.
191
Legenda: Vista aproximada de uma das azenhas, Vale Cornaga, Reguengo Grande.
192
Caraterização: Património Civil
Designação: Lavadouros
Datação: (?)
193
Legenda: Vista aproximada dos Lavadouros, Vale Cornaga, Reguengo Grande.
194
Legenda: Vista aproximada dos Lavadouros, Vale Cornaga, Reguengo Grande.
195
Legenda: Vista aproximada dos Lavadouros, Vale Cornaga, Reguengo Grande.
196
Legenda: Vista aproximada dos Lavadouros, Vale Cornaga, Reguengo Grande.
197
Caraterização: Património Civil
Designação: Moinhos
Coordenadas:
Moinho 1 – Rua 5 de Janeiro – Fontelas. Coordenadas 39.279408, -9.223458.
Moinho 2 – Moinho do Viso – Reguengo Grande. Coordenadas 39. 285124, -9.225235.
Moinho 3 – Casal da Curtinha – Reguengo Grande. Coordenadas 39. 29113, -9.22709.
Moinho 4 – Rua Alto dos Poleirais – Reguengo Grande. Coordenadas 39. 29010, -
9.21978.
Moinho 5 – Rua do Alto da Boiça – Reguengo Grande. Coordenadas 39. 29092, -9.21899.
Moinho 6 – Rua do Alto da Boiça – Reguengo Grande. Coordenadas 39.29127, -9.21846.
Moinho 7 – Rua do Alto da Boiça – Reguengo Grande. Coordenadas 39.29171, -9.21849.
Moinho 8 – Moinho do Alto da Boiça – Reguengo Grande. Coordenadas 39.292396, -
9.217155.
Moinho 9 – Rua 25 de abril – Reguengo Grande. Coordenadas 39.291641, -9.215019.
Moinho 10 – Rua 25 de abril – Reguengo Grande. Coordenadas 39. 291112, -9.214781.
Moinho 11 – Rua dos Moinhos - Casal Serrano. Coordenadas 39. 283714,-9.210476.
Moinho 12 – Rua dos Moinhos – Casal Serrano Coordenadas 39. 283714,-9.210476.
Moinho 13 – Moinho do Eucalipto – Reguengo Grande. Coordenadas 39. 285092, -
9.215564.
198
Legenda: Moinho 1 - Vista aproximada. Rua 5 de Janeiro, Fontelas.
199
Legenda: Moinho 2 - Vista aproximada. Moinho do Viso (turismo de habitação). Reguengo
Grande.
200
Legenda: Moinho 3 - Vista aproximada. Casal da Curtinha, Reguengo Grande.
201
Legenda: Moinho 4 - Vista aproximada. Rua Alto dos Poleirais, Reguengo Grande.
202
Legenda: Moinho 5 - Vista aproximada. Rua do Alto da Boiça, Reguengo Grande.
203
Legenda: Moinho 6 - Vista aproximada. Rua do Alto da Boiça, Reguengo Grande.
204
Legenda: Moinho 7 - Vista aproximada. Rua do Alto da Boiça, Reguengo Grande.
205
Legenda: Moinho 8 - Vista aproximada. Rua do Alto da Boiça, Reguengo Grande.
206
Legenda: Moinho 9 - Vista aproximada. Rua 25 de Abril, Reguengo Grande.
207
Legenda: Moinho 10 - Vista aproximada. Rua 25 de Abril, Reguengo Grande.
208
Legenda: Moinho 11 - Vista aproximada. Rua dos Moinhos, Casal Serrano.
209
Legenda: Moinho 12 - Vista aproximada. Rua dos Moinhos, Casal Serrano.
210
Legenda: Moinho 13 - Vista aproximada. Moinho do Eucalipto (em ruínas), Reguengo Grande.
211
Caraterização: Património Natural
212
Legenda: Vista do Rio Galvão, Reguengo Grande.
213
Legenda: Vista do Rio Galvão, Reguengo Grande.
214
Caraterização: Património Natural
215
Legenda: Vista da entrada do Vale Cornaga, Reguengo Grande.
216
Legenda: Vista do percurso do Vale Cornaga, Reguengo Grande.
217
Legenda: Vista do percurso do Vale Cornaga, Reguengo Grande.
218
Legenda: Vista do percurso do Vale Cornaga, Reguengo Grande.
219
Legenda: Vista do percurso do Vale Cornaga, Reguengo Grande.
220
Legenda: Vista do Vale Cornaga, Reguengo Grande.
221
Legenda: Vista das ruínas arqueológicas presentes no percurso do Vale Cornaga, Reguengo
Grande.
222
Caraterização: Património Imaterial
223
Legenda: Imagem antiga do Chafariz Manuelino (século XVI), Reguengo Grande.
Autoria da imagem: Imagem cedida pela Junta de Freguesia de Reguengo Grande, na pessoa de
Ana Isabel Barros, Presidente da Junta.
224
Legenda: Chafariz Manuelino (século XVI). Columbeira.
225
Caraterização: Património Imaterial
226
Caraterização: Património Imaterial
História: Na região Oeste de Portugal, são vários os locais que se encontram assinalados
como tendo sido em tempos locais de permanência ou de passagem de D. Pedro I e D.
Inês de Castro. Apesar de não se saber muito sobre a presença deste popular casal na
localidade de Reguengo Grande, sabe-se que o mesmo passou e habitou em freguesias
vizinhas. Tal parece ter sido o suficiente para criar a lenda entre os habitantes de
Reguengo Grande. Diz-nos o povo que o rei D. Pedro I terá concedido benefícios e
privilégios aos habitantes desta localidade para que os mesmos não revelassem que o
mesmo ali passara e permanecia. Não obstante, diz-nos também a sabedoria popular que
o monarca terá dispensado os homens de irem à guerra, fazendo-lhes a promessa de que
eles só teriam de lutar quando ele próprio tivesse de o fazer também. Alguns dos
habitantes mais antigos indicam-nos ainda uma casa, junto do Rio Galvão, que terá sido
o local onde D. Pedro I pernoitava, junto da sua amada, e onde alimentava os seus cavalos.
227
Caraterização: Património Imaterial
História: A celebre Batalha da Roliça, que se realizou no âmbito das Invasões Francesas,
perto de Reguengo Grande, trouxe-nos uma lenda que permanece até aos dias de hoje.
Diz-se entre os habitantes mais antigos da localidade que, terminadas as Invasões e as
batalhas, qualquer cidadão francês que, por mero acaso, fosse encontrado nesta localidade
era imediatamente condenado à morte, sendo o mesmo deitado a um poço. Para que não
restassem dúvidas de que se tratava de um cidadão francês, os habitantes ordenavam que
o mesmo dissesse a palavra “areia” e, caso o mesmo pronunciasse a letra “r” de forma
acentuada, isso significava que o mesmo era de nacionalidade francesa e, por isso, era um
inimigo que teria como destino final a morte.
228
Caraterização: Património Imaterial
História: Em 1937 foi erguido o Nicho do Senhor Jesus dos Aflitos na localidade de
Reguengo Grande. O mesmo foi idealizado com o intuito de que o Senhor Jesus dos
Aflitos protege os habitantes desta localidade. Em dado momento, foram feitas obras e o
monumento foi modificado deixando, assim, de estar direcionado para a povoação. O ano
de 1999 ficou marcado pela ocorrência de um fenómeno na localidade: as cheias. O rio
transpôs o seu caudal e inúmeras habitações ficaram danificadas uma vez que a água
atingiu um metro e meio de altura. Propagou-se a lenda por entre os habitantes da aldeia
de que este fenómeno terá ocorrido fruto de uma maldição ordenada pelo Senhor Jesus
dos Aflitos, como forma de castigo pelo Nicho onde o mesmo se encontra ter deixado de
estar colocado em direção da povoação.
229
Caraterização: Património Imaterial
230
Caraterização: Património Imaterial
231
Caraterização: Património Imaterial
História: A tão bem conhecida Maçã Reineta cresce de forma abundante na Freguesia de
Reguengo Grande desde os primórdios da sua História. O cultivo deste fruto sempre foi
uma atividade agrícola e económica com grande expressão nesta localidade. A qualidade
da mesma tornou-a numa dos ex-libris da região sendo a mesma mencionada várias vezes
em documentos históricos. Este fruto é conhecido e apelidado pelos habitantes desta
localidade como Maçã Reguengueira ou “Maçã da Sorte”.
232
Índice
Agradecimentos ……………………………………………………………………... p. 4
Resumo ……………………………………………………………………………… p. 6
Abstract ……………………………………………………………………………… p. 7
Introdução ………………………………………………………………………… p. 10
233
2.3.1 Museu; ……………………………………………………………………... p. 54
2.3.2 Mural da História de Portugal; …………………………………………….. p. 55
2.3.3 Arquitetura vernacular; …………………………………………………….. p. 55
2.3.4 Chafariz; …………………………………………………………………… p. 56
2.3.5 Azulejos; …………………………………………………………………… p. 56
2.3.6 Pontes; ……………………………………………………………………... p. 57
2.3.7 Azenhas; …………………………………………………………………… p. 57
2.3.8 Lavadouros; ………………………………………………………………... p. 57
2.3.9 Moinhos; …………………………………………………………………… p. 58
2.4 Património Natural. ……………………………………………………………. p. 59
2.4.1 Rio Galvão; ………………………………………………………………… p. 59
2.4.2 Vale Cornaga; ……………………………………………………………… p. 60
2.5 Património Imaterial. …………………………………………………………... p. 61
2.5.1 Chafariz Manuelino; ……………………………………………………….. p. 61
2.5.2 Lendas locais; ……………………………………………………………… p. 61
2.5.3 Tradição folclórica; ………………………………………………………… p. 64
2.5.4 Celebrações anuais; ………………………………………………………... p. 65
2.5.5 Maçã Reguengueira; ……………………………………………………….. p. 66
Bibliografia. ……………………………………………………………………….. p. 85
234