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r Cód. Coleção: 0187P1 8043- Cõd. Livro: 0187P180431011L


Titulo da Coleção: HISTÓRIA EM DEBATE L:
Título do Livro: HISTÓRIA EM DEBATE 1
Série: Primeira - Componente. História: ensino médio
. : . Autor(es): RENATO MOCELLIN, ROSIANE DE CAMARGO

wC.
:

Ensino Médio .—w.


História - Ensino Médio

Renato Mocellin
Bacharel em Direito e licenciado em História pela UFPR
Pós-graduado em História da Arte pela PUC-PR
Mestre em Educação pela UFPR
Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná
Professor do Ensino Médio

Rosiane de Camargo
Licenciada em História pela UFPR
Pós-graduada em História do 8rasil
pela Faculdade Bagozzi (PRI
Professora do Ensino Fundamental e do Ensino Médio

4 edição, São Paulo, 2016

( Editora
' do Brasil
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Mocellin, Renato
História em debate, 11 Renato Mocellin, Rosiane de Camargo. —4. ed. -
São Paulo : Editora do Brasil. 2016. - (Coleção história em debate v. 1)

Bibliografia.
ISBN 978-85-10-06159-9 (aluno)
ISBN 978-85-10-06160-5 (professor)

1. História (Ensino médio) 1. Camargo, Rosiane de. II. Titulo. Di.


Série.

16-02895 CDD-907

Índices para catálogo sistemático:


1. História : Ensino médio 907

© Editora do Brasil S.A., 2016


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Direção geral: Vicente Torramano Avanso


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=
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L
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Supervisão de revisão: Dora Helena Feres
Consultoria de iconografia: Tempo Composto Col. de Dados Ltda.
77 i7 '1 .d7 tE, III .171 - 1

Coordenação editorial: Priscilla Ctrcncio na mao), de Chibaru Shiota. no Pavilhão do Japao da 56


Bienal de Arte deVeneza 2015.
Edição: Luis Gustavo Reis
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Editoração) e Sonia Vz
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CARTA AOS JOVENS ESTUDANTES

Somos bombardeados diariamente com centenas de informações. Elas são como ruídos que
nos chegam pelos sentidos e são processados pelo cérebro. Já pensou se todas elas ficassem retidas
na memória? Seríamos como supercomputadores. Mas como isso não é possível, nem necessário,
elas são filtradas e apenas as mais relevantes permanecem.
A disciplina de História é repleta de informações. Elas não são dadas somente para você mem-
orizá-las, mas também para que você possa refletir sobre elas, mudar sua vida e, consequente-
mente, a sociedade em que vive. Esta é a grande mágica da aprendizagem: transforma informações
em conhecimento.
Este livro, por meio da abordagem temática, suscita diversas reflexões. Não são priorizados
dados como nomes, datas e fatos, que podem ser descartados pelo cérebro por não serem significa-
tivos ou até mesmo podem ser acessados na internet e armazenados no computador.
Refletindo acerca dos temas propostos neste material, você será capaz de confrontar a reali-
dade que conhece com outros contextos ou desenvolver uma nova maneira de olhar para a mesma
questão. Nesse processo, poderá aplicaras novas informações históricas à sua realidade e modificá-
-la ou reconstruí-la.
Esperamos que esta coleção, um entre tantos recursos disponíveis de informação, possa
auxiliá-lo nesse caminho.
Que ele seja agradável e proveitoso!

Os autores
Organização do livro
Este livro está
organizado em dez
capítulos. No inicio
de cada capítulo, você
encontrará uma grande
imagem, que representa -
assunto que será
trabalhado e uma -
introducào que inspira 4
e
uma reflexão inicial.

#3C1 Vur
ix LIDIW1 - •-: -,"-, -'-- -- .- r-''.-' -. -

Os principais conceitos são


aprofundados em quadros
que favorecem o estudo e a
compreensão.

A propriedade da terra na Grócua Antiga


O texto principal, Eprt

desenvolvido de
forma clara e objetiva,
começa sempre em
uma nova página,
facilitando sua
localização nas aulas e
no estudo em casa.

t. -

O GLossário, ao trazer a
explicação dos termos -
em destaque, amplia
vocabulário.
Viajando pela história
A seção Viajando Os africanos e a metalurgia
peia história traz
os acontecimentos
organizados
cronologicamente,
facilitando assim
a compreensão do
toma estudado. ' 5 '- ,

Na seção Organizando ideias, em questões que


envolvem análise e interpretação de textos e
imagens, são retomados conceitos e assuntos
desenvolvidos no livro.

Aspectos culturais específicos, relacionados ao


assunto abordado no capitulo, são explorados na
seção Resgate cuLturaL.

De marginal a propa-
ganda estatal

.d N.

Na seção Pausa
para investigação
há atividades
de pesquisa e
análise de temas
cotidianos.
A seçào Debate
interdiscipLinar traz
uma temática tratada
no capítulo que dialoga
com outras disciplinas,
possibilitando a
você relacionar
os diferentes
conhecimentos
escolares entre si.

Questões do Enem e dos


principais vestibulares
do pais você encontra
na seçào Testando seus
conhecimentos.

. ........................

Nas seções Para você


Ler, Para você assistir e
Para você navegar, há
sugestões de livros, filmes e
sites relacionados aos temas
tratados no capítulo.
1 1 Propriedade da terra e relações sociais na Antiguidade
Posse e propriedade

Uso e posse da terra: como tudo começou?

A organização econômica nas sociedades antigas

Debate interdisciplinar: Comércio Transaariano


Testando seus conhecimentos

2 Terra: privilégio e poder 48


Terra: uma questão polêmica 50

A terra na Europa Feudal 51

Um momento de transformações 58

Quando a terra torna-se mercadoria 62

A propriedade coletiva 64

Debate interdisciplinar: Peste bubônica 70


Testando seus conhecimentos 72

3 A propriedade da terra no Brasil 74


Terra no Brasil: de todos ou de poucos? ...................................................................76

As terras do Brasil: colonizar para não perder ..................................................................80

Posse e propriedade de terra no Império ....................................................................83

O quadro fundiário no Brasil Republicano ..........................................................................85

A questão da terra nos governos militares 91

A relação com a terra no campo e no meio urbano 96

Debate interdisciplinar: A agropecuária para exportação 100


Testando seus conhecimentos 102

4 A questão agrária no Brasil ... ................... . 104


Brasil: realidade agrária ..................................................................................................106

Os movimentos messiânicos .............................................................................109

Os movimentos sociais rurais organizados 116

Debate interdisciplinar: Concentração fundiária e agricultura familiar 122


Testando seus conhecimentos 124
5 O trabalho no Brasil até o século XIX .................................................. 126
Oqueétrabalho? . ....................................................................... 128

Trabalho e relações sociais no Brasil Colonial 130

O império do café: da escravidão ao trabalho livre 144

Debate interdisciplinar: A cana-de-açúcar como matéria-prima .............................. 148


Testando seus conhecimentos 150

6 No mundo das fábricas: industrialização e trabalho ...................... 152


Vivendo na era da tecnologia galopante 154

A revolução das máquinas 155

Transformações no mundo do trabalho .......................................................................... 166

No mundo doconsumo ...... ..................................................................... 170

Debate interdiscipLinar: Fontes de energia .............................................................. 172


Testando seus conhecimentos 174

7 Industrialização e urbanização 176


As cidades crescem 178

Mudanças na vida urbana ................................................................................................... 181

Industrialização no Brasil 185

Debate interdisciplinar: O ecossistema urbano ................................................. 194

Testando seus conhecimentos 196

8 O trabalho no Brasil contemporâneo 198


Educação para o trabalho 200

O operário brasileiro 202

O mundo do trabalho no século XX: a construção da cidadania ..................................... 204

Trabalhadores e trabalhadoras do campo 210

O trabalho setorizado 213

Desemprego e mercado informal de trabalho ................................................................................... 216

Debate interdisciplinar: A participação das mulheres no mercado de trabalho 222


Testando seus conhecimentos 224
r 9 Movimentos sociais e cidadania
Movimentos sociais: lutas por cidadania

As lutas sociais no Brasil Republicano

Movimentos socioculturais

Debate interdisciplinar: Diferentes formas de contestar pela forma


Testando seus conhecimentos

L._. 10 Comércio e dinheiro na história 248


Reflexões sobre consumo e valores de compra ........................................................250

Ojogodastrocas 252

Moedae papel-moeda ..........................................................................................................254

Ovalor do dinheiro .....................................................................................................258

História do dinheiro no Brasil . ...................................................................................259

Euro: uma moeda para um continente 262

Apsicologia do dinheiro.......................................................................................................................265

Debate interdisciplinar: O funcionamento da bolsa de valores 266


Testando seus conhecimentos 268

I Referências .............................................................................................................................270
Terra para plantar, tirar o sustento da Os primeiros seres humanos que habitaram
família, construir moradias. Esta tem sido o planeta, que viviam da caça, da pesca e da
historicamente a bandeira de luta de alguns coleta de alimentos, já usavam o que a terra
grupos no Brasil e no mundo. oferecia para sobrevivência.
Ao longo da história, encontramos mui- Quando os seres humanos aprenderam
tas formas de apropriação e uso da terra. a cultivar alimentos e a domesticar animais,

1O )
••fr,
___•f :'. •
4b.' .
;.V .
:

-•;

T2

- .. .
1• • Cena de agricultura:
" arado. Afresco da

7.'
/ J Tomba de Sennedjem
Deir El Medina, Egito.
..
c. 1292-1187a.C.
;. •

k» J v
sua relação com a terra se estreitou ainda rização, a criação de vilas e cidades, além

01 mais, pois desenvolveram novas condições de gerar novas condições de sobrevivência.


de sobrevivência e relacões sociais. Neste capítulo, estudaremos de que forma
O desenvolvimento da agricultura pode as sociedades da Antiguidade se apropriavam
ser considerado uma das maiores revoluções da terra e as relações sociais que eram esta-
da humanidade. A terra usada para o cultivo belecidas em decorrência dessa apropriação.
e criação de animais possibilitou a sedenta-

- -,-.
Posse e propriedade
Vivemos em uma sociedade inserida no
modelo econômico denominado capitalismo.
Ele consiste no modo de produção em que o
capital - conjunto de bens que um indivíduo
ou grupo possui, sob diferentes formas - é
o principal recurso de negociação, podendo
tomar a forma de dinheiro ou crédito.

- '
e

- - -..
T
.
. .. - .. •.. —.• -..:'•
!-
' à /

PromonSo Black Friday realizada por uma rede de hipermercado,


Sio Pau!o ISPI, 2013.

s-
• -. . . .. L.

- 1
Feira livre no baftro d:i C de Janeiro (RJ). 2015.

O termo capital Foi abordado pelo ideó-


logo alemão Karl Marx (181 8-1 883), que o
definiu não somente como um conjunto de
coisas mas também como uma relação sociol,
pois no sistema capitalista é necessário que .s
detentores dos meios de produção encontrem

1
trabalhadores para empregar.
Sendo assim, nesse sistema sociocco-
nômico, três elementos são fundamentais: -
propriedade privada, trabalho assalariado e
lucro, o que faz com que todas as coisas sejam
passíveis de se tornar mercadorias. Profissionais que oferecem serviços

12
A palavra propriedade é derivada de próprio A propriedade da terra variou muito ao longo
e tem o sentido de "pertencer", de "ligar algo a da história. No Egito Antigo, pertencia ao Estado;
alguém de forma restrita, privativa". Ser proprie- na Roma Republicana e Imperial, estava nas mãos
tário é ser dono, possuir um bem, ou seja, é ter de proprietários particulares; já entre os vários
direito de usufruir com exclusividade de alguma povos nômades que viviam no território onde hoje é
coisa, que pode ser um imóvel, uma roupa, uma Brasil, não havia propriedade privada, e sim o uso
empresa ou até mesmo coisas menos palpáveis, coletivo da terra. No Brasil atual, o direito de pro-
como ideias, decisões e pensamentos. priedade é assegurado pela Constituição de 1988.

No modelo econômico capitalista, a terra ou


outras propriedades são mercadorias, portanto,
passíveis de compra e venda.
De acordo com seus conhecimentos, respon-
da às questões a seguir.

Em relação à propriedade no Brasil, podemos - •


:_.
afirmar que seguimos o modelo econômico
capitalista? Explique. -I
r :-.' llitlIwaa ----
As imagens mostram dois tipos diferentes de - '1
propriedades privadas residenciais no Brasil.
Observando-as, você pode afirmar que atual- 1 ..t r
1 liii •- .... ..,i ,
mente todos os brasileiros têm possibilidades J'

iguais de acesso às mesmas propriedades?


Justifique sua resposta. ri çc' pop mes um Saie m (dA) 2015

:ciw de iio pad cem


Diamantina (MD), 2015.

13
Uso e posse da terra:
como tudo começou?

Pilão de calcario. c. 2000-1800 a.0 Localizado no sitio arqueologico de Dilmun. Bahrein.


A Revolução Agrícola possibilitou diversas transforinaçoes na relaçao dos seres humanos com o meio. Uma delas foi o desenvolvimento de ferramentas que os
auxiliaram na produção de alimentos e facilitaram a caça de animais.

Os primeiros grupos humanos que habitaram


o planeta buscavam alimentos onde a natureza os
O primeiro processo civilizatório correspon-
oferecia. Por causa dessa característica, afirma-se
de à Revolucão AgrícoLa, que se desencadeou,
que os primeiros seres humanos já se relacionavam
originalmente, há cerca de 10 mil anos
de modo intenso com a terra, ou seja, retiravam
sobre os povos da Mesopotâmia e do Egito e
dela todo o seu alimento e o que mais fosse neces- se repetiu, mais tarde, por efeito da difusão ou
sário para sua sobrevivência. como desenvolvimentos independentes, na Ín-
Não se sabe com exatidão quando o ser hu- dia (6000 a.(,.), na China (5000 a.C.), na Europa
mano passou de coletor a agricultor, e de caçador a (4500 a.(.), na África Tropical (3000 a.C.) e nas
criador de animais. Mas é claro que esses aconteci- Américas (2500 a.C.).
mentos causaram mudanças profundas e significa- Essa revolução tecnológica desdobrou-se em
tivas na vida desses grupos humanos. Eles marcam dois processos civilizatórios, com OS quais sur-
a passagem do nomadismo ao sedentarismo, ou giram a agricultura e o pastoreio, configurando
seja, os grupos de indivíduos deixaram de migrar em modos de vida tão diferenciados de todos os an-
busca de melhores condições de subsistência para se teriores que cumpre identificá-los, desde suas for-
fixarem um único lugar. mas mais incipientes, como duas novas forma-
Podendo produzir seu alimento, os hominí- ções socioculturais.
deos passaram a constituir grupos maiores e a se RIBEIRO. Darcy. O processo civilizatório:
instalar em locais mais férteis. Isso não quer dizer etapas da evolução socioculturaL. Sio Paulo
Companhia das Letras, 1998. p. 81.
que a atividade agrícola fixou definitivamente
todos os grupos humanos da mesma forma. Acre-
dita-se que eles foram gradativamente se fixando
à terra. A RevoLução AgrícoLa foi uma mudança
lenta, gradual e de grande importância para a es-
Incipiente: principiante, que está no começo.
pécie humana.

14
Leia o texto e depois faça o que se pede Relacione migração com Revolução Agrícola.

A r:.mn foi urna característica im-


Diferencie nomadismo e sedentarismo.
portante do início da Revolução Agrícola. E, por
Levante hipóteses sobre as consequências do
consequência, a difusão cultural também caracte-
sedentarismo para a humanidade.
rizou essa revolução: podemos imaginar nume-
rosos grupos reproduzindo-se e subdividindo-se, Pesquise a existência de povos nômades ou
plantando e criando, invadindo espaços de caça- seminômades atualmente e quais são as
dores e coletores, convivendo entre si ou em guer- principais características da organização
ras, ou ensinando e submetendo os habitantes da desses grupos. Compare-as com as vivên-

região ocupada. cias e a organização da comunidade em

P!NSKY, Jaime. As primeiras civilizações.


que você mora, estabelecendo diferenças e
Sào Pauto: Contexto. 2006. p. 47. semelhanças.

Transumricia: tipo de migração periódica, na qual o ser humano permanece nos locais por pe-
ríodos curtos e claramente determinados por um fator específico.

Pausa para investigação

A Revolução Agrícola só foi possível devido ao da Revolução Agrícola. Façam uma pesquisa
desenvolvimento de novas técnicas e ferramen- sobre ela e apresentem os resultados da forma
tas. Em grupo, escolham alguma ferramenta que acharem mais adequada: cartazes, projeção
(instrumentos feitos de pedra, machadinhos, pés, de stides, apresentação com o uso do computador
cajados, instrumentos cortantes etc.) ou técnica etc. O roteiro a seguir serve tanto para o caso de
de agricultura, (por exemplo, o início do cultivo de o grupo terescolhido uma ferramenta como uma
cereais em terrenos agrícolas) relativa ao período técnica agrícola.

FER RAMENTA TÉCNICA

Quais materiais eram utilizados para Quais materiais eram utilizados


se confeccionar tal ferramenta? para se empregar tal técnica?

De que modo era construída? Como era realizada?

De que forma essa técnica beneficiava


De que forma os seres humanos a utilizavam?
os seres humanos?

Em quais atividades essa ferramenta


Em quais atividades ela era mais utilizada?
era mais utilizada?

Quais foram os resultados mais importantes Quais foram os resultados mais importantes
obtidos com ela? decorrentes do uso dessa técnica?

15
A organização econômica
nas sociedades antigas
Há várias maneiras de estudar a economia nas Essas características são comuns a grande
sociedades antigas. Uma delas segue o modo de parte das sociedades antigas. Nas páginas a seguir
produção asiático, estudado e conceituado pelos serão abordadas algumas dessas sociedades e de-
teóricos alemães Kart Marx (1818-1883) e Friedrich talhadas suas características.
Engets (1820-1895), que relacionaram o termo ao
Egito e à Mesopotâmia antigos. As principais carac-
terísticas desse modo de produção são: Karl Marx e Friedrich Engels toram dois
ausência de propriedade privada da terra, a perisadores alemães contemporâneos que vi-
qual era propriedade do Estado; veram no século XIX. Podemos atribuir a eles
base social constituída pelas comunidades estudo e a produção de obras que buscavam
aldeãs, na qual se combinavam a agricultura e analisar as relações e hierarquias de trabalho
artesanato doméstico, o que assegurava sua dentro do sistema econômico capitalista, va-
autossuficiência; lendo-se principalmente das relações estabe-
papel eminente do poder central, que foi atri- lecidas após a Revolução Industrial na Europa.
buído às exigências especiais de um contexto Entre suas principais publicaçôes escritas em
que impunha a realização de grandes obras coautoria, podemos citar O manifesto comunista
hidráulicas; e A ideologia alemã. O capital, escrito por Marx,
grupo dominante que explorava as comuni- teve seus dois últimos volumes publicados,
dades aldeãs mediante a exigência de tributos após sua morte, por Engels.
pagos em produtos e em trabalho.

1rtirni7indn id

Perguntas de um trabalhador que lê Felipe da Espanha chorou, quando sua Armada


Quem construiu a Tebas de sete portas? Naufragou. Ninguém mais chorou?
Nos livros estão os nomes dos reis. Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos.
Arrastaram eles os blocos de pedra? Quem venceu além dele?
E a Babilônia várias vezes destruída - Cada página uma vitória.
Quem a reconstruiu tantas vezes? Em que casas Quem cozinhava o banquete?
Da Lima dourada moravam os construtores? A cada dez anos um grande homem.
Para onde foram os pedreiros, na noite em que a Quem pagava a conta?
Muralha da China ficou pronta? Tantas histórias
A grande Roma está cheia de arcos do triunfo. Tantas questões.
Quem os ergueu? Sobre quem BRECHT, Bertolt. Perguntas de um trabalhador que lê.
Triunfaram os Césares? A decantada Bizâncio Poemas 1913-1953. 5. ed. Seleção e tradução de Paulo
César de Souza. São Paulo: Eddora 34. 2000. p. 166.
Tinha somente palácios para seus habitantes?
Mesmo na lendária Atlântida 1 Analise o poema e compare as questões leva n-
Os que se afogavam gritaram por seus escravos tadas pelo autor com as características do modo
Na noite em que o mar a tragou. de produção na Antiguidade. A que setores
O jovem Alexandre conquistou a Índia. sociais o autor faz referência? Explique.
Sozinho?
César bateu os gauleses. 2. O tema abordado no poema está presente nos
Não levava sequer um cozinheiro? dias atuais? Justifique.

16 jtI
O Egito Antigo
O Egito está localizado no nordeste da África.
É um extenso oásis ladeado pelos desertos da Arábia
e da Líbia. O país foi organizado ao longo da história
E!
pelos ritmos sazonais do Rio Nilo, que por meio de
suas cheias depositava o aluvião, fertilizando-o.
De acordo com resultados de pesquisas ar-
/
queológicas, houve uma fase na Antiguidade em Mar Mediterrâneo 1
que quase toda a região onde hoje é o Egito era
habitada. Por volta de 10000 a.C., intensificou-se CANAA e 1
/
processo de desertificação, ou seja, a degradação
da terra, que pode ser causada por vários fatores,
como mudanças climáticas e interferência humana
BAIXO
J
no meio ambiente. Esse processo continuou por EGITO • Mênfis

longo período, assim, por volta de 2350 a.C., a Deserto


Base da Arábia
pluviosidade no Egito era bem maior do que é hoje. datib /

No estudo de alguns períodos ou de determi-


nados agrupamentos humanos não é possível para
Vale dos Reis
historiador analisar documentos históricos es- Tebas ' Mar
critos. Nesses casos, a História se apoia em outra Vermelho

ciência para compreender essas sociedades por


Lim-
meio de pesquisas arqueoLógicas. A Arqueologia, !'catarata,.Siena(Assuã)

assim como a História, estuda sistemas sociocul-


ALTO EGITO ,.) N
turais ao longo do tempo, mas tem como particu-
laridade contar predominantemente com informa-
ções provenientes da cultura material produzida
pelos seres humanos. Geralmente, os vestígios 134 28Bkni
materiais são encontrados em escavações feitas 1 13400000
em sítios arqueológicos: além disso, os pesquisa- Legenda
dores utilizam recursos sofisticados de computa- 31 catarata ri Egito
j Conquistas egípcias
ção para datação e catalogação desses materiais. NUBlA durante o Novo Império
'46 cataratã- 11580-715a.C.J
Por cultura material poderíamos entender
' "Napata liii Terras cuitiváxeis
aquele segmento do meio físico que é socialmente - - Limite entre Baixo e
Alto Egito
apropriado pelo homem. Por apropriação social
/ — Expansão máxima do
convém pressupor que o homem intervém, inode- Novo Império

la, dá forma a elementos do meio físico, segundo


propósitos e normas culturais. [ ... ] Assim, o con- Fonte: n A, Atlas histórico básico, 17.
Sác: Patito. Aíca. 2011
ceito pode tanto abranger artefatos, estruturas,
modificações da paisagem, como coisas animadas
(uma sebe, um animal doméstico), e, também, o
Aluvião: sedimento (areia, cascalho e/ou
Próprio corpo, na medida em que ele é passível
lama) trazido pelo fluxo das águas e depositado
desse tipo de manifestação (deformações, mutila-
nos leitos e nas margens de rios. Por conter
ções, sinalações) ou, ainda, os seus arranjos espa-
vários nutrientes, é muito fértil para a agricultura,
ciais (um desfile militar, uma cerimônia litúrgica).
tendo sido importante fator para o desenvolvi-
MENESES, Utpiano Bezerra de. A cultura material no mento das sociedades humanas.
estudo das sociedades antiqas. Revista de História, Sazonal: referente ou próprio de uma esta-
São Pauto. ri. 115, p. 117. i(jL/dez. 1983.
ção ou época do ano.

17
O Rio Nilo começou a adquirir seu curso atual Os excedentes recolhidos eram depositados
há cerca de 10 mil anos, iniciando a formação de um em armazéns pertencentes ao Estado. A distribui-
oásis de 1200 quilômetros de comprimento por 10 ção deles era desigual. A maior quantidade era en-
a 20 quilômetros de largura. Por volta de 5000 a.C., tregue aos altos funcionários, escribas, sacerdotes
caçadores das planícies passaram a trabalhar com e artesãos qualificados. Por último, era dada uma
a agricultura e o pastoreio, lançando os alicerces da pequena porção aos trabalhadores braçais.
economia agrícola do Egito Antigo. Havia intensa organização burocrática para
As terras férteis à margem do Rio Nilo favorece- possibilitar a contagem dos produtos agrícolas e
ram o surgimento de comunidades, principalmente das riquezas em geral. Era também um trabalho
no período de 4000 a 3000 a.C. Por volta de 3200 complexo classificar cada pessoa de acordo com seu
a.C., o rei do Alto Egito subjugou o Baixo Egito, status e colocá-la na lista de distribuições estatais.
submetendo todo o território a uma única autoridade. Os egípcios dedicavam-se à agricultura, ma-
Durante o chamado Antigo Império (3 200- nipulando um complexo sistema de irrigação.
2 300 a.C.), o Estado egípcio exerceu forte controle Cultivavam sobretudo trigo, linho e cevada, res-
sobre as atividades econômicas, de tal forma que pectivamente, para o pão, o vestuário e a cerveja.
podemos afirmar que era o Estado quem dirigia e Dedicavam-se ainda à viticultura e à horticultura.
controlava a economia. A agricultura egípcia contava com um com-
O sistema econômico egípcio era organizado plexo sistema de irrigação, descrito no texto a seguir.
em dois níveis:

O sistema consiste em que a terra ao longo do


[ ... ] o primeiro, e para nós o mais visível, em fun- rio fique dividida em compartimentos - tanque,, -
ção da origem e do caráter das fontes disponíveis, por diques levantados em ângulo reto em relação ao
era o das estruturas econômico-sociais "estatais": curso fluvial; um canal iniciado a montante conduz
baseava-se na extração de excedentes de todas as a água do rio ao tanque, onde canais menores e va-
comunidades locais, tanto urbanas quanto rurais, las a estendem uniformemente por todo o compar-
através do tributo em produtos e de trabalho para timento; outro canal recolhe o excesso de água e o
todos os empreendimentos do Estado - na forma leva a um segundo tanque, ou então de volta ao rio,
de "corveia real", que servia para o trabalho agrá- a jusante. A irrigação de tanque só pode produzir
rio nas terras da Coroa, dos templos e dos gran- urna colheita por ano, porque, quando o rio desce
des funcionários, para as construções públicas, abaixo de certo nível, os canais que alimentam os
para as expedições extrativas enviadas às minas e tanques secam. Mas, com o rico solo do Egito, uma
pedreiras e para a guerra. colheita é o bastante, e o sistema tem a vantagem de
O outro nível, maciçamente camponês, era o canais curtos, da fácil manutenção e lenta obstru-
ção dos canais pelos sedimentos. Isto significa que
de unidades domésticas, ou comunais, em grande
cada aldeia era economicamente independente; ao
parte autossuficientes, possuindo economia e sis-
passo que o trabalho necessário para obtenção de
tema social provavelmente bastante variáveis no
um excedente de alimentos estava folgadarnente
detalle de regiâo a região, já que eram governados
ao alcance de urna pequena unidade social, deixa-
pelos costumes. Na medida em que não afetasse
va realmente urna boa quantidade de tempo livre e
as relações entre o Estado e seus tributários, esta
permitia a especialização artesanal.
vida social e ürsueiudini ia era deixada em paz
pelos funcionários da monarquia. WOOLLEY. Leonard. Os primórdios da civilização.
In: IIAWKES, Jacquetta; WOOLLEY, Leonard. A história da
CARDOSO, Giro Flamarion Santana. Sociedades do Antigo humanidade: desenvolvimento cultural e científico. Buenos
Oriente Próximo. São Paulo: Ática, 1986. p. 68. Aires: Sudamericana Editorial, 1966. v. 1. p. /89.

A4 GtOSS:i
Consuetudirmário: que se fundamenta nos usos e Jusante: direção ou lado para o qual vaza a
costumes, na prática e não nas leis escritas, maré ou para onde corre um curso de água.
Horticultura: atividade agrícola relacionada ao Viticultura: atividade agrícola relacionada ao
cultivo de hortaliças, cultivo de uvas.

18
A pecuária era bastante diversificada, com a e
criação de bois, asnos, carneiros, cabras e porcos.
A partir da invasão dos hicsos (povo semita oriun-
do da Ásia Ocidental), que ocorreu por volta de
1750 a.C., desenvolveu-se a criação de cavalos. Já o
camelo foi domesticado por volta do ano 1000 a.C.
A pesca era largamente praticada no Rio Nilo,
e o consumo de peixe era grande.
Na indústria manufatureira, os egípcios de-
senvolveram a tecelagem do linho, a fiação, a
indústria do couro, do papiro, da madeira, a pro-
dução de vinho, cerveja, pão e tijolos.
O comércio inicialmente baseava-se no es-
cambo. Nas transações mais importantes, usava-
-se um padrão de referência constituído por pesos
de metal, geralmente cobre e prata. O comércio
com lugares mais distantes organizava-se por meio
de expedições ordenadas pelo rei ou pelo templo.

Escambo é a troca direta de mercadorias, ou


seja, troca de bens e serviços por outros bens e
serviços, sendo, portanto, historicamente muito
anterior ao uso do dinheiro. Essa prática ainda é
utilizada por diversas culturas. Entretanto, o es-
cambo tem suas limitações, pois se queremos
trocar gado por trigo, por exemplo, é necessário
que ambos estejam disponíveis para que seja
efetuada a troca.
Escriba medindo plantação do grios. Turnba de Mennati. Necrópole de
Sheikh Abd el-Qurna, Tebas (atual Luxor). Egito. C. séc. XVI -XIV a.C. (detalhe).

Organizando ideias

Leia o texto e responda às questões. fechamento em si mesmo, em parte voluntário, em


[..j o Egito faraônico não realizou, nem de lon- parte acidental.
ge, todas as suas possibilidades econômicas. Sofreu, AYMARD, André; AUBOVER. Jeannine. ln: CROUZET, Maurice.
lOrg.l. História geral das civilizações: o Oriente e a Grécia
em seus homens taboriosos e passivos, os excessos Antiga. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1993. v. 1. p. 47.
dos tributos lançados sobre a produção em favor
dos deuses, grandes divindades, rei-deus e mortos 1. De acordo com o texto, como pode ser anali-

divinizados. Foi economicamente freado no seu sada a economia egípcia?


desenvolvimento normal pela esterilização de seus 2.0 que significa a expressão "fechamento em
metais e produtos preciosos nos tesouros dos tem- si mesmo"? Como essa atitude influenciou o
plos e túmulos. Mas sofreu igualmente com seu desenvolvimento egípcio?

Laborioso: no texto o termo se refere àquele que se esforça, que trabalha muito. Pode referir-se tam-
bém a uma atividade que dê muito trabalho para realizar.

Propriedade da terra e retacões sociais na .Antintiidad 19


A sociedade das pirâmides
A sociedade egípcia era hierárquica e de pouca mobilidade, O faraó - considerado de origem divina - ocu-
pava o topo da pirâmide social, O Estado egípcio tinha um caráter teocrático, o que explica esse modelo
de organização.
Abaixo do faraó,
em ordem decrescente,
vinham os altos fun- _
cionários, os nobres, (Faraó ---_,.
Exercia poder absoluto Altos funcionários
os, guerreiros, os sa- Ocupavam asfunçõesde vizir
sobre a sociedade egípcia,
cer dotes, os escribas, sendo-lhe conferido (primeiro-ministro), chefe da coleta de
carater divino impostos ministro das obra: publicas
os artesãos, os tra (
balhadores comuns,
Nobres Guerreiros 1
os camponeses e, por Parentes do faraó, Defendiam o Império em caso / J\
último, os escravos. comandantesclo exército, de invasão e ajudavam na
chefes administrativos e manutenção da paz.
altos sacerdotes. .
(i) Escribas
Responsáveis pelo registro ' ..
Sacerdotes da vida dos faraós e dos
Responsáveis pelos acontecimentos do Império,
templos, rituais, pelase pelo controle e registro dos ®
atividades religiosas e impostos e finanças. '
festas.
(8) Trabalhadores comuns
prtesãos Trabalhadores livres que
atuavam na construçao e
lI( 11
Trabalhadores
que atuavam conservação de sistemas de ..
na confecção irrigação e obras públicas, em
de artefatos expedições extrativas, minas e
decorativos. pedreiras, no serviço agrícola e 1
artesanal e na guerra. r
® camponeses / . '. •
Trabalhadores rurais, desenvolviam atividades
destinadas à produção de alimentos. 1"

()Escravos
Trabalhavam em lavouras, . .,
construções, afazeres
domésticos, eram artesãos
Ateocracia é um siste-- artistas. Eram escravizados ,
aqueles que nao pagassem
ma de governo cujas politi os impostos cobrados pelo -
cas e (eis sáo pautadas por - Império e estrangeiros
normas religiosas. Nesses g capturados em conflito com
- outros remos.
governos, as açoes podem .
er d finidas por lideres L
®
rE.ligiosos ou as proprias
autor idades governarnen '
tais podem desempenhar
esse pape). .
9

--

20 --
1. Analise o texto a seguir e faça o que se pede A paralisação durou três dias e foi vitoriosa,
pois os artesãos receberam tudo o que pediram
Descrição de Heródoto, grego que visitou o
e voltaram ao trabalho.
Egito no século V a.C.:

{ ... ] não há outros homens, seja no resto do Egito, Texto 2


seja em todo o mundo, que obtenham tantos frutos ALei federal n9 7.783, de 28 de junho de 1989,
da terra com tão pouco esforço; eles não têm de exte- trata a greve nos seguintes termos:
nuar-se para abrir ;cc no solo com o arado nem Art. 1° É assegurado o direito de greve, compe-
para revolvê-lo com a enxada, nem têm qualquer ou- tindo aos trabalhadores decidir sobre a oportuni-
tro trabalho a que os demais homens estão sujeitos dade de exercê-lo e sobre os interesses que devam
para obter uma colheita; o rio enche por si mesmo, por meio dele defender.
alaga os campos e depois volta a baixar; a partir daí
1...1
cada homem semeia seu campo e o deixa entregue Art. 2' Para os fins desta Lei, considera-se le-
aos porcos que, revolvendo a terra com o seu focinho, gítimo exercício do direito de greve a suspensão
recobrem as sementes; os homens esperam despre- coletiva, temporária e pacífica, total ou parcial, de
ocupadarnente a colheita, e então fazem com que os
prestação pessoal de serviços a empregador.
porcos pisoteiem as espigas e colhem os grãos.
[ ... ]
HERÓDOTO. História. Brasília: unB, 1988. p. 93.
Art. 4° Caberá à entidade sindical correspondente
convocar, na forma do seu estatudo, assembléia geral
Qual é o tema abordado no texto?
que definirá as reivindicações da categoria e deliberará
Cite uma diferença entre a agricultura sobre a paralisação coletiva da prestação cie serviços.
praticada no Egito e a atual. Se necessário, Disponível em: vw.ptana1to.gov.br/Ccivi1 03/LEIS/L7783.
htm>. Acesso em: 1ev. 2016.
pesquise as técnicas agrícolas atuais.

2. Leia os textos e faça o que se pede. ai os textos tratam do mesmo tema?

Texto 1 bi Analisando o texto referente ao Egito, as


Em 1152 a.C., no reinado de Ramsés III, traba- reivindicações dos trabalhadores eram
lhadores recusaram-se a continuar uma obra. Re- justificáveis? Explique.
voltados, artesãos sentaram-se em frente ao templo Atualmente os trabalhadores também
e gritaram que não voltariam ao trabalho enquanto
fazem greve em diferentes setores produ-
suas reivindicações não fossem atendidas.
tivos. Explique como são organizadas as
"Não ternos roupas, não temos azeite, não te-
greves no Brasil.
nios nada que comer. Escreva ao faraó. Comunique
o que se passa ao nosso soberano. Escreva também di O que prevê a legislação brasileira sobre o
ao governador, que é o nosso superior, a fim de que direito de greve?
nos mande fornecer o que nos sustenta."
HAGEN, Rose-Marie; HAGEN, Rainer. Egipto: pessoas-deuses-
ei Há diferenciação no direito de greve entre
-faraós. Lisboa: Taschen, 2005. p. 74. os setores público e privado?

Sulco: rachadura ou rastro aberto na terra com o intuito de prepará-la para receber as sementes
do cultivo.

21
ConfLitos e desafios no uso das águas do Nito
O Nilo é um dos rios mais
extensos do mundo. Embora es- 0L
teja diretamente ligado à histó- k uterraneo
ria do Egito, a boda htdíogrfica
ç
do Nilo se estende por 11 países.
Em 1959, período em que o
Egito ainda era colonizado pe-
los britânicos, foi assinado um EGITO
acordo prevendo que o Egito e o
Sudão tinham direito de se apro- Trópico de Cancer
priar de 87% das águas do Nito.
AA
Tal acordo não considerou as
demais regiões banhadas pelo DE &ERT DO SAA RA ,
rio, gerando alguns conflitos.
A Etiópia, por exemplo, vive uma
Caum ERITREIA "
situação paradoxaL Embora o país Asfl1ara
seja a fonte de mais de 80% das iinXn

águas do Nilo, sua população não


tem permissão para utilizar o rio ('DJUTl

na irrigação de suas terras.


Em 1999 alguns países que
do Adus Abeba
se encontram nessa bacia, entre
CENTRP
SUDÃO DO SUL " ETIÓPIA
eles a Etiópia, tentaram estabe- AFRr''n.í.
lecer um acordo, por meio da nJuba
Iniciativa para a Bacia do Nito, soM:uA
para redistribuição das águas Lago AS
mp:iao\
do rio, mas não chegaram a re- QUENHA
- - U NDA°'
sultados concretos, arrastando "OCEANO
OCRAT.ç:. Qui Naurobi
as discussões sobre o direito RUANO INDICO
de utilização do rio até os dias
atuais.

Baciahidrográfica o 286 5721k6


doRioNilo S
..: 1:28600000
Fcige: FAC. A:iiias:aI r
Acessc, k'.v. 216.

A
udrográfica: área de drenagem de uma rede hidrográfica; corresponde a toda a área de
captação de água da chuva e de reservatórios subterrâneos. -

22
O Nilo é responsável por atendera quase toda safios precisam ser superados, principalmente
a demanda por água no Egito. Estimativas apon- os relacionados à poluição e consequente de-
tam que aproximadamente 95% da população gradação do rio.
egípcia está concentrada em uma área que repre- Os resíduos, despejados pelos hotéis de luxo,
senta apenas 5% do território do país. Na maior flutuam no rio poluindo as águas e contaminan-
parte, as cidades grandes e médias do Egito se do a população com bactérias fecais e doenças.
localizam no vale do rio, nas terras férteis do país, Além disso, o turismo predatório e as indústrias
avançando sobre as áreas agrícolas. que descartam dejetos no Nilo aumentam a
O rio é essencial para os egípcios, pois irriga degradação ambiental de um dos rios mais
as plantações, fornece água para as indústrias importantes da história da humanidade.
e abastece a população. Entretanto, alguns de-

r
'1
tulhprs li V'-~ ndoi copos ri iro'uii (lo R io Ni, Min.' [010. (

O Nilo está no centro dos principais debates [ ... j Proietaclo para irrigar 226 mil hectares, o
públicos do Egito. De acordo com as situações projeto I'osbka exigiria para atender esse obieti-
apresentadas, em que temas da agenda do 'o cerca de 5,5 bilhões de metros cúbic(,s de água
país o rio 52 integra? por ano.
RAiSSON. Vrgrik. Atlas dos futurs du monde
Leia o texto e responda às questões. Pano: Robert L0forii. ?iO o.. 1119. Traniacd 'lona).

Como está situado em pleno deserto, o lago a) Que limitações o Egito enfrenta para seu
[Nasser, Ioniiado pela barragem da usina de As- desenvolvimento econômico quanto à dis-
suá] leva a uma perda anual por evaporação de ponibilidade e ao uso sustentável da água?
cerca de 10 bilhões de metros cúbicos de água, algo
prÓximo de 20% do volume que o kgito pode reti- b3 Quais impactos ambientais o Nilo sofre
rar anualmente do Nilo. atualmente?

23
2Viajando peLa história
África na Antiguidade Podemos destacar duas dentre as
inúmeras culturas africanas cujo desenvol-
Os vestígios arqueológicos encon-
vimento esteve intimamente ligado ao Rio
trados na África apontam o continente
Nilo: a cultura egípcia e a cultura núbia.
como berço da civiLização humana, e o
Além da região do Nilo, outras áreas de-
estudo de sua história mostra sua mul-
sempenharam um papel importante na
tiplicidade cultural. Diversos povos afri-
formação e junção dos elementos das
canos foram fundadores de inúmeras
sociedades africanas, como os axumitas,
cidades e remos, distintos entre si em
garamantes, berberes, noks e bantos, ori-
muitos aspectos, como a cultura, as ati-
ginários da região chamada Subsaariana.
vidades econômicas e as regiões em que
Observe a localização dessas sociedades
se instalaram.
no mapa a seguir.

-
EURO!frJ.0

-:
- Mar Mediterrâneo

Berb'
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-'

TrÓqio de Câncer

ASIA

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ATLÂNTICO 1

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Trópico de Çap - Jd ............

- -O -.

s
O 763 1 526km

1: 76300000

Fontes; BLACK. Jeremy. World History atlas. Londres; Dorling Kinclersley. 2008. p. 46-47; OBIFEN, Patrick.
Atlas of world History. Oxford; Oxford University Preso, 2012. p. 23.

A África é apontada como berço da civiLização humana porque, de acordo com as descobertas e
estudos arqueológicos, foi nesse continente que surgiram as primeiras espécies do gênero Homo, que
evoluíram ao longo da história até nossa espécie. Também foi lá que começaram alguns dos maiores
avanços tecnológicos, como o desenvolvimento das técnicas agrícolas e pecuérias, da mineração, da
metalurgia, do comércio, da escrita etc.

24
O Reino de Cuxe

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Pirâmides de Méroe, Sucjâo. 2012. Urim cOis cificcOncias eqipcias recebidas pelos cuxitas foi a construção de piramides.

Este reino, formado na região da Núbia, foi título de Vice-Reino de Cuxe, cujo governante era
contemporâneo ao Egito, sociedade com a qual escolhido pelos faraós egípcios.
manteve intensas relações comerciais e trocas A troca cultural e comercial entre os dois
culturais.
rei nos se intensificou. Os cuxitas passaram a cultuar
Os núbios viviam da agricultura e pecuária,
deuses egípcios, construíram pirâmides, adotaram
conheciam a metalurgia e habitavam uma área rica
a escrita hieroglífica e suas minas de ouro foram
em ouro, incenso, marfim, ébano, óleos, pedras
muito exploradas.
semipreciosas e outras mercadorias de luxo, que
atraíam comerciantes de outras regiões, incluindo Durante a segunda dominação egípcia, uma

a Asia. das cidades núbias, Napata, sobressaiu como centro


Quanto ao regime fundiário e de exploração religioso e de comércio, principalmente devido à pas-
da terra, supõe-se que era composto de uma co- sagem de caravanas que vinham do Mediterrâneo e
munidade aldeã tradicional, numa estrutura em da África Central. Esse desenvolvimento proporcio-
que o governante (nesse caso, uma realeza sagra- nou a retomada do poder da região pelos cuxitas
da aos moldes do Egito) era considerado o único
por volta de 1070 a.C., o que tornou Napata o novo
proprietário da terra.
centro do reino.
Por volta de 2500 a.C., povos núbios fundaram
a cidade de Querma, local de intenso comércio, rea-
lizado principalmente com os egípcios. Essa cidade
Regime fundiário é um regime de distribui-
prosperou e passou a ser chamada de Cuxe, nome
ção de terras por meio do qual se definem as di-
que mais tarde identificaria o reino ali desenvolvido. visas de terras cultiváveis, seus donos e a quem
Estima-se que, a partir de 1952 a.C., essa cabe o cultivo. Esse regime é variável, sendo de-
região tenha sido dominada pelos egípcios, que a terminado de acordo com os costumes e as leis
tornaram sua colônia até por volta de 1750 a.C. de cada sociedade.
e novamente a submeteram em 1500 a.C., sob o

25
A partir de 750 a.C., os cuxitas aumentaram mais ao sul, Méroe, que ficava próxima à sexta
sua área de influência e passaram a dominar o catarata do Nilo. A escolha de Méroe deu-se
Egito, inaugurando a XXV Dinastia da história também pelos recursos econômicos da região.
egípcia. O Egito se tornou o centro de poder, ainda A cidade encontrava-se em uma encruzilhada de
que mantendo Napata como capital do reino. Esse rotas internacionais, o que lhe garantiu amplo
período se estendeu até 663 a.C., quando os assí- crescimento do comércio. Lá havia florestas que
rios expulsaram os cuxitas e dominaram o Egito. permitiam o abastecimento de lenha, o que pos-
No início do século VI a.C., em razão de sibilitou grande desenvolvimento da metalurgia
novas ameaças egípcias a Napata, os cuxitas co- do ferro. O texto a seguir descreve a economia
meçaram a transferir a capital para uma cidade em Méroe.

A posição do reino e os seus recursos fizeram de Méroe um intermediário nos negócios internacionais da An-
tiguidade. Apesar da seca e da raridade de terras cultivadas, a agricultura ocupava a maior parte da população, for-
necendo ao mesmo tempo víveres (trigo, centeio e sobretudo çc completados pelas uvas como pelas lentilhas,
abóboras, melões e pepinos) e o algodão, matéria-prima de um dos artesanatos mais ativos. A adoção da irrigação
foi precoce, atestada desde os fins do século XV a.C., e utilizava em primeiro lugar o kole, máquina acionada pelo
homem [ ... } e depois a sacjia, acionada principalmente pelo búflilo. No coração do reino, a "ilha de Méroe" era pre-
ferencialmente especializada na criação de gado. A agricultura era organizada com base nas comunidades aldeãs, o
que não exclui o trabalho dos escravos nas terras do rei, dos dignitários político-militares e dos templos.

M'BOKOLO, Elikia. África negra: história e civilizações. Salvador: Eduíba: São Paulo: Casa das Áfricas. 2009. p. 85-86.

oe foi o centro de poder do Reino de Cuxe


por cerca de oito séculos. Ao final do século 1
com a expansão do Império Romano e seu domí-
nio das rotas comerciais que passavam pelo Egito
e região próxima, o Reino de Cuxe foi ficando iso-
lado e entrou em decadência, desaparecendo por
volta do século IV. A região da Núbia passou a ser
ocupada por outros povos, entre eles, os axumitas.

. H omem mostra colheita de sorgo. Mali, 2013.


Nos Estados Unidos, na Austrália e em algumas
regiões da América do Sul o sorgo é utilizado
sara alimentar os animais. Além disso, é usado
sara a produção de farinha, álcool, componentes
ridustriais e como auxiliar na agricultura.

26
O Reino de Axum Na agricultura, praticada em terraços nas
laterais das colinas, produziam-se cereais - sobre-
Há alguns indícios da existência axumita
tudo o trigo - e uvas, para a produção de vinho.
desde o século VII a.C., mas foi a partir de 350 d.C.,
Os axumitas também criavam bois, carneiros,
quando dominaram o Reino de Cuxe, que sua pre-
cabras, mulas e burros, além de terem domestica-
sença foi mais marcante.
do elefantes, usados pela corte do rei.
A base econômica dos axumitas era o comér-
No século III d.C., o filósofo persa Mani des-
cio, além da agricultura e da criação de animais. O creveu Axum como um dos quatro remos conhe-
comércio, intensificado principalmente pela proxi- cidos mais importantes, ao lado de Roma, China
midade com o Mar Vermelho, possibilitou grande
e Pérsia.
prosperidade ao reino, de forma que, a partir do
século III, os soberanos axumitas ordenaram a
cunhagem de moedas, o que lhes conferiu grande
importância, conforme descrito no texto a seguir.

A posição do reino de Axum no mundo comer-


cial da época era a de uma potência mercantil de pri-
meiro plano, o que se evidencia pela cunhagem de
moeda própria em ouro, prata ou cobre. Axum foi
o primeiro Estado da África tropical a cunhar moe-
da, que naquele tempo não existia em nenhum dos
países vassalos [ ... j. A cunhagem, em particular da
moeda de ouro, constituía uma medida não apenas
econômica mas também política; através dela o Es-
tad() de Axum proclamava ao mundo sua indepen-
dência e prosperidade, o nome de seus monarcas e
as divisas do reino. O primeiro rei axumita a colocar
em circulação sua própria moeda foi Endybis, na se-
gunda metade do século III.
KOBISHANOV, Y. M. Axum do século 1 ao século IV:
economia, sistema político a cultura. In: MOKHTAR.
Gamal lEdI. História geral da Africa. II: Africa Antiga.
Brasilia: Unesco. 2010. p. 405.

Obelisco de Axum. Etiópia. 2013.


Esse monumento foi construido no século IV como homenagem ao rei Emana,
que conquistou a cidade de Méroe e foi o responsável pela conversão do
reino ao cristianismo, tomando-o cristão em meio a outros remos islâmicos.

Cunhar: ato de imprimir o cunho (uma espé-


cie de fôrma com uma marca personatizadal
em moedas. Nesse processo, o metal aqueci-
do, em estado líquido, é despejado na fôrma
para que as moedas sejam personalizadas.
Sorgo: cereal de origem africana. Em várias
Moeda axumita, com o peniil cio rei Aphílas. século IV. As regiões da Africa, sul da Asia e América Central,
rolas de comercio ao longo do Vale do Nilo fizeram de faz parte da alimentação humana.
Axum um destino para muitos comerciantes e viajantes.

27
Garamantes e berberes: de sal e aprenderam a lapidar pedras preciosas.
Mantinham intensas relações comerciais com
povos do deserto outros povos de fora do deserto.
O Deserto do Saara era habitado por di- Há indícios de que nesse reino havia escra-
versos povos nômades, que utilizavam os oàsis vos, utilizados como mão de obra e também
como pontos de parada e até de moradia como mercadoria para o comércio com fenícios
temporária na passagem das caravanas pelo e romanos.
deserto. Já os berberes eram nativos do deserto,
Um desses grupos, os garamantes, estabe- nômades e pertencentes a várias tribos com ca-
leceu-se em um oásis no Deserto de Fezzãn, por racterísticas culturais e linguísticas semelhan-
volta do século V a.C., e ali fundou um reino que tes. Circulavam na região que hoje corresponde
durou aproximadamente mil anos. à Mauritânia, ao Marrocos, à Argélia, ao Mali,
à Líbia e à Tunísia (área chamada de Magreb).
Entre esses grupos estavam os tuaregues, os aze-
negues, os tamazirtes e os chleuhs.
Por circularem em uma região onde exis-
tiam entrepostos comerciais de povos do Medi-
terrâneo, acabaram criando importantes rotas
comerciais no Deserto do Saara, ficando conhe-
cidos como os mercadores do deserto.
As caravanas berberes eram compostas
de pessoas, animais e muitos produtos, como
peles, marfim, cerâmicas, pedras preciosas e es-
cravos, levados de leste a oeste, nas regiões cen-
tral e norte do território africano, nas chamadas
rotas transaarianas.
Alguns grupos descendentes dos berberes
ainda circulam em caravanas pelo Saara, entre
eles os tuaregues, conhecidos como os "homens
azuis" devido à cor do turbante. Muitos desses
grupos mantêm os costumes de seus antepassa-
dos, como as vestimentas, algumas tradições, o
uso do camelo e a religião islâmica, que se tornou
um dos pontos em comum entre eles.

Lo.aiia de tuaregues no Campo de Marte, em Paris. iIustíaço do Lo Petil


Joumai, Paris, 4 de junho de 1894.

Entreposto: pode ser uma cidade, um esta-


Os garamantes nomearam a capital do reino
belecimento ou um complexo, situado estra-
de Garama ou Germa (atualJarma, na Líbia). So-
tegicamente ao longo de uma rota comercial
breviviam da agricultura, para a qual desenvolve-
ou entre dois importantes centros de trocas,
ram um sistema de irrigação subterrânea bastante
com uma infraestrutura facilitadora da comer-
sofisticado. Graças ao sistema, cultivavam uva,
cialização de mercadorias.
figo, cevada, oliva (para produção de azeite) e
Oásçs: porções de terra que, embora lo-
trigo, e criavam animais. Construíram ainda im-
calizadas no meio do deserto, têm água e
portantes obras de engenharia, desenvolveram a
cobertura vegetal.
metalurgia, a produção de vidro, o refinamento

28
Os bantos alimentos nas regiões de origem. Outra hipótese
é que o desenvolvimento do uso do ferro permitiu-
O termo banto (ou banru) significa "povo" ou -lhes uma superioridade de armamentos que os
"os homens" e não identifica uma etnia, e sim uma levou aos deslocamentos, já que podiam submeter
língua comum. Esse termo é usado para nomear os povos encontrados pelos caminhos. Assim, fa-
entre 300 e 600 línguas aparentadas, ou seja, que
tores como fome e a consequente busca de novas
apresentam uma raiz comum. O termo hoje identi-
áreas agricultáveis e pastagens, assim como epi-
fica os povos (mais de 200 milhões de pessoas) que
demias e guerras, podem ter sido os motivos dos
falam esses idiomas.
contínuos deslocamentos.
Os povos que faziam parte desse grupo
O que se sabe é que não se tratava de uma
habitavam a região central da África, espalhan-
imigração constante. Os grupos bantos, à medida
do-se depois pelo sul do território, onde vivem
que o solo onde estavam apresentava sinais de
até hoje.
Estima-se que a expansão dos bantos para empobrecimento, seguiam adiante e formavam

a região subsaariana tenha se iniciado por volta novas roças e novas aldeias, espalhando-se assim
de 3000 a.C., mas não há consenso entre os his- pelo continente, num processo que durou mais de
toriadores de como isso ocorreu. mil anos. O resultado foi a ocupação de grande
Uma das hipóteses para a expansão desses parte das Áfricas Central, Austral e Oriental por
povos por distâncias tão longas é a escassez de esses grupos.

.Cartago
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-: Mogador.berber
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Garamantes T. IT
Trópico de C Península -
d o 5 a a r a ) Arábica -
-Nuri ','\
Napata /

AXUM -

\ /( h- )I.

OCEANO OCEANO
ATLÂNTICO INDICO

« Kalunij- -- ipata,1

G ode
Deserto de - - O bábue
Trópico de Capricórnio aIpati
Kalahari ' «1--
O(jo,jg
Legenda
—+ Rota de expansão banta 1 -- /
N

—. Possível rota de expansão do uso de ferro - - - --

Regiões ocupadas pelos bantos (500 dc.) 78 1576km


9
Regiões ocupadas pelos bantos (2000 a.C.) 1:78800000 S

Fonte: BLACK, Jípemy Eu.). World history atlas. Lordros: Dorlirio Kindrsky. 2018. p. 1 h5:.

Propiedio du e eLçóe ocene ri.0 Arihiyuidauu 29


Os grupos bantos sobreviviam da agricultura segundo a qual os povos berberes teriam adquiri-
e da criação de gado, além de fazerem uso da me- do esse conhecimento com os fenícios instalados
talurgia, principalmente do ferro. Estima-se que na costa do Mediterrâneo e o transmitido aos
foram responsáveis por disseminar produtos como noks durante suas viagens.
o inhame e a banana (procedentes do Sudeste Asiá-
tico) por diferentes locais da África. Corno quer que tenha sido - o ponto de
O texto a seguir descreve a importância da ex- interrogação é enorme -, o ferro alterou subs-
pansão dos bantos. tancialmente as vidas dos que passaram a conhe-
cê-lo. Tornou-se mais fácil, com machados de
ferro, delTubar as matas; com enxadas de ferro,
A expansão principal dos Bantu foi ampla e
revolver o solo; com foice de ferro, ceifar o sorgo.
rápida, não tendo ocorrido através de fases pro-
Os instrumentos de caça e pesca fizeram-se me-
gressivas, como afirmaram alguns autores. Mas
lhores. Esfolavam-se com maior facilidade os
também não se tratou de uma perambulação de
animais. Abriam-se nos troncos das árvores as
nômades errantes nem de urna conquista militar
grandes canoas. E, com as armas de ferro, aumen-
organizada. Foi um processo notável de coloniza-
tavam o poder de destruição dos guerreiros e o
ção - no verdadeiro sentido da palavra - a explo-
poder de concentração dos chefes.
ração de terras totalmente desocupadas.
SILVA, Alberto da Costa e. A enxada e a Lança:
SUTTON, J. E. G. A África Oriental antes do século VII.
a África antes dos portugueses. Rio de Janeiro:
In: MOKHTAR, Gamal. (Ed.( África Antiga. Brasília: Unesco,
Nova Fronteira, 2006. p. 178.
2010. p. 640. (História Geral da África, II).

Mesmo sendo detentores do conhecimento da


Nok metalurgia do ferro, os noks continuaram a utilizar
Civilização que habitou o norte da atual utensílios de pedra em suas atividades. Fabricavam
Nigéria no século V a.C. e que, já nessa época, ferramentas, lanças, flechas, machados e adornos
dominava a metalurgia do ferro. Estudiosos da para o corpo.
região não chegaram a um consenso se os noks As aldeias nok eram comunidades agrícolas,
desenvolveram esse conhecimento ou o assimila- onde se cultivavam sorgo, milhete, inhame, dendê
ram de outros, mas concordam que eles foram e abóbora. Não há indícios de que criassem
os responsáveis por sua difusão para as regiões algum animal ou praticassem o comércio.
próximas. Por seu amplo legado cultural, a civili-
zação é chamada de cultura nok.
As informações dessa civilização provêm prin-
cipalmente de sua tradição artística, na qual se
destacam as estatuetas de terracota. As esculturas,
na maioria cabeças humanas, apresentam caracte-
rísticas comuns, como olhos arregalados, narinas,
bocas e pupilas marcadas por um furo e cabelos
sempre presos em forma de coque.
É possível que os noks tenham desenvolvido
a metalurgia do ferro, mesmo sem o conhecimen-
to das técnicas metalúrgicas menos complexas,
como a do bronze. A abundância de minério de
ferro na região pode embasar a defesa dessa tese.
Outra possibilidade é que os noks adquiriram em
Méroe o conhecimento da metalurgia do ferro.
Esse conhecimento pode ter sido transmitido Escultura da cultura 00k leita com terracota. século III.
A arte nok beirava o realismo. As feições humanas eram reproduzidas em
por meio de viajantes que utilizavam as rotas que
esculturas que chegavam a 1.20 mdc altura. Nelas, dava-se ênfase à
cruzam a região. Há ainda uma terceira hipótese, cabeça, e até mesmo deformidades físicas eram retratadas.

30
Leia os textos a seguir e faça o que se pede Compõe-lhes o teto de sapé, e, nessa nova aldeota,
instala-se. Abre, ali perto, por derruba e queimada, as
Texto 1
suas roças. Faz os cercados para os animais domésti-
Os camponeses do Vale do Nilo, do Deita à Alta
cos: ovelhas, cabras, alguma vez a vaca. Vai pescar no
Núbia, têm constantemente necessidade de água.
rio, no riacho, no lago, na lagoa. Com anzóis e arpões
Constroem e mantêm diques e canais de irrigação.
de ferro. Com armadilhas, redes e Volta mui-
É necessário dominar a inundação, drenar os ca-
tas vezes da caça com grandes animais - antílopes,
nais, construir diques, proteger habitações, o que
búfalos, porcos selvagens - que mata, graças à lança
explica por que as tribos nómades do neolítico
e à flecha de ponta de ferro, com menor dificuldade
egípcio e núbio se tornaram sedentárias.
do que os vizinhos nômades, que mal pressente. [ ... ]
Os homens tiveram que se agrupar muito cedo
Quando o solo começa a mostrar-se menos fértil
em aldeias e aí fazer funcionar uma organização
ou a caça se torna mais difícil nas redondezas, o
adaptada às suas necessidades.
grupo segue adiante. E, quando o número dos que
BRISSAUD, Jean-Marc. A civitizacão núbia até a conquista o formam aumenta demasiadamente ou dentro dele
árabe. Rio de Janeiro: Editions Ferni, 1978. p. 31.
surge a segue adiante dividido. Ao mudar
Texto 2 de paisagem e ao entrar em contato com culturas
[...] Eram hábeis a trabalhar o ferro. Uma das diferentes daquelas com que seus pais, avós ou bisa-
razões por que transferiram a capital de Napata, no vós haviam cruzado, altera a alimentação, modifica
Norte, para Méroe, no Sul, pode ter sido o miné- hábitos, enriquece o vocabulário e a , troca
rio de ferro e a madeira necessária para a fundição a forma de alguns de seus objetos e assimila novos
encontrados próximos da nova capital. Em volta simbolos de fé e poder.
das ruínas de Méroe ainda se podem ver montes SILVA, Alberto da Costa e. A enxada e a Lança:
a África antes dos portugueses. Rio de Janeiro:
de nos sítios onde trabalharam OS fundi- Nova Fronteira. 2006. p. 226-227.
dores do ferro. Alguns historiadores pensam que
foi de Méroe que as técnicas do trabalho do ferro De acordo com o texto 1, qual era o problema
primeiramente se estenderam até o resto da África enfrentado pelas sociedades nilóticas e como
interior, talvez pelas rotas comerciais que ligavam elas superaram esse entrave?
Méroe às terras do Níger e mais além. Ainda de acordo com o texto 1, pode-se dizer
BASIL, Davidson. A descoberta do passado de África. Lisboa: que o Rio Nilo foi importante para as civiliza-
Sá da Costa Editora, 1981. p. 27.
ções que se formaram a seu redor? Explique.
Texto 3 Os textos 2 e 3 demonstram que o ferro foi
Eis que chega um grupo banto. Algumas famílias. importante para os grupamentos humanos
Ou toda uma linhagem. Limpa o terreno. Corta da Antiguidade. Explique essa importância.
árvores para fazer as casas. Arma-lhes as paredes
De acordo com o texto 3 e as informações an-
como uma gaiola de varas e preenche os vazios com
teriores, descreva a importância da expansão
barro socado.
banta.
2
A
Cizânia: discórdia; desavenca. purezas, que por sua vez formam uma massa cha-
Escória: diversos metais, como o ferro, o chum- mada de escória.
bo, o cobre e o alumínio, são encontrados em forma Pucá: peneira de malha utilizada para pescar
impura na natureza, geralmente oxidados e mistu- Sintaxe: conjunto de regras que ordenam qual-
rados com outras substâncias metálicas. Quando quer tipo de linguagem.
são fundidos, esses metais são separados das im-

Pr'daJ 31
A propriedade da terra na Grécia Antiga
Assim como o Egito foi uma sociedade com- Esparta
plexa e estreitamente relacionada à terra, na Grécia
Localizada na Península do Peloponeso, Es-
Antiga também houve sociedades ligadas à terra.
parta era uma cidade-Estado oligárquica - ou
A pótis grega era um Estado autônomo, go-
seja, cujo poder político se concentrava nas mãos
vernado por leis próprias e sob a proteção de seus
de um pequeno grupo de pessoas - e distingula-se
deuses. Era a cidade-Estado.
por seu caráter militarista.
As formas de propriedade na Grécia Antiga va-
A sociedade espartana era dividida em:
riavam de acordo com a cidade-Estado. Abordare-
espartanos ou esparciatas, que formavam
mos os exemplos tratados no período denominado
o grupo dominante. Viviam para a guerra,
Clássico (séculos V e IV a.C.), nas cidades de Espar-
ocupavam as melhores terras e eram detentores
ta e Atenas, que detinham a hegemonia na região.
da cidadania. O posto de rei era ocupado por
dois membros indicados pelos esparciatas;
PóLis era a forma de Estado mais comum
periecos, que compunham populações livres,
na Grécia. A cidade-Estado englobava uma área
porém sem direitos políticos. Eram campone-
que hoje chamaríamos de urbana e uma
ses, comerciantes e artesãos. Os periecos não
área rural. Cada pólis tinha as próprias leis de
cidadania, cunhagem de moedas, costumes, possuíam as melhores terras e ainda eram
festivais e ritos. As póleis formavam alianças en- obrigados a cultivar parte das terras dos reis
tre si, mas também tendiam a entrar em conflito. espartanos;
hilotas, ou seja, escravos pertencentes ao Estado.
Os hilotas estavam presos à terra, além de serem
obrigados a trabalhar nas terras conquistadas
pelos espartanos;
Até os 30 anos, o espartano servia exclu-
2i L
sivamente ao exército. Ao alcançar essa idade,
-J o adquiria todos os direitos de cidadão espartano,
que, além do voto, contemplava também o direi-
to de casar, de pernoitar em casa, bem como de
Mar
Egeu comprar e vender.
Mesmo com mais de 30 anos, o espartano
continuava a fazer as refeições com seus com-
panheiros: a sissítia. A plenitude dos direitos
7"
cívicos dependia de o indivíduo poder contribuir

Mar para a sissítia, bem como a regularidade de sua


Jõnico presença.

\\

A região que corresponde à Grécia Antiga era constituida


OL
Mar por um conjunto de povos conhecidos como indoeuropeus
de Creta - jÔnios, aqueus, dórios e eólios -, que conipartilhavani
algumas caracteristicas culturais, por exemplo, a lingua.
Mar Me iterrâneo
O 65 130km
Fwte:CBRIFN. PJ:I Ick Atlas 01 world history. NJvaYok: 0x11
1 :65000000
University Press, 2012. p. 41.

Hegemonia: supremacia, domínio de um país, povo ou região sobre outro.

32 i3ulo 1
Entretanto, especialistas acreditam que a
igualdade em Esparta nunca foi total, pois exis-
,-
tiam pessoas mais ricas.

A este igualitarismo nas ocupações deveria


ter correspondido a igualdade de rendimentos.
Fala-se de uma divisão da terra que teria incidi- ê
do na "terra cívica", ou seja, a terra que a cidade , •-

se teria reservado por altura da conquista: cada


um teria o seu clêros de igual valor para todos. 41 1
O direito eminente da cidade permanece, mas
também o dever para ela de proceder, quando
tal se torna necessário, a novas atribuições, a
fim de que o sistema não se degrade [ ... ]. Mas a
igualdade nunca foi total: continuaram a existir
pessoas mais ricas ( ... j. -
AMOUREI TI. Marie-Claire. RUZÈ, Françoise. O mundo Avia, de 1 suo da anis -A v soarIa 2015
grego antigo: dos patácios de Creta à conquista romana.
Lisboa: Dom Quixote, 1993. p. 117.

A Guerra do Peloponeso, ocorrida de 431 a


404 a.C., foi um conflito entre as duas principais
cidades da Grécia Antiga, que se enfrentaram
Em Esparta, kiero (pronuncia-se "klêro"l era com auxílio de cidades aliadas: Atenas con-
um lote, um pedaço de terra atribuído por sor- trolava a Confederação de Delos, enquanto
teio ao cidadão. Esparta estava à frente da Liga do Peloponeso.
Altamente militarizada. Esparta sagrou-se ven-
cedora após 27 anos de conflitos. As sucessivas
O modo de vida espartano alterou-se subs- guerras enfraqueceram as cidades-Estado da
tancialmente após sua vitória sobre Atenas e suas Grécia, abrindo caminho para a invasão ma-
aliadas na Guerra do Peloponeso (431-404 a.C.). cedônica, sob o comando de Filipe II. Seu filho.
A aliança com a Pérsia, responsável por forne- Alexandre, conquistou um grande império,
possibilitando o intercâmbio de culturas entre o
cer recursos para a contratação de mercenários,
Ocidente e o Oriente.
gerou dependência econômica e desequilíbrio
social. O uso de mercenários, o ouro recebido
dos persas, a conquista da hegemonia política e
econômica espartana sobre a Grécia provocaram Atenas
o declínio dos antigos valores, com a introdu-
No Período Clássico, Atenas tornou-se uma
ção na cidade, segundo o historiador Xenofonte
democracia. Os cidadãos (adultos com mais de 18
(ca. 430 a.C.-355 a.C.), do "amor às riquezas".
anos e filhos de pai e mãe atenienses) participa-
Ao dominar cidades ricas, a elite espartana assi-
vam das decisões políticas na Eclésia (Assembleia
milou alguns hábitos, inclusive de valorização de
do Povo).
riquezas, substituindo valores anteriores relacio-
Os cargos públicos eram preenchidos por
nados a uma vida menos opulenta.
meio de eleições ou sorteios e, para que todas
No final do século lVa.C., Esparta estava en-
as pessoas escolhidas participassem, o Estado
fraquecida por causa da diminuição do número
de cidadãos e da concentração da proprieda- pagava uma ajuda de custo, o chamado mischós.

de da terra nas mãos de poucos. Além disso, A base econômica de Atenas era a agricultu-
houve aumento da desigualdade social entre os ra, mas durante esse período o comércio desem-
espartanos. penhou papel muito importante para a economia.

33
Localizada na região da Ática, Atenas se ca-
racterizou pelo predomínio das pequenas e médias
propriedades. Cinco em cada seis cidadãos ate-
nienses possuíam um lote de terra, que variava de
propriedades com menos de 10 hectares a uma
pequena horta. As terras eram exploradas pelos
próprios proprietários, exceto os mais ricos, que
utilizavam trabalho escravo.
Em 403 a.C., apenas 5 mil cidadãos (de um
total de aproximadamente 40 mil) não eram pro-
prietários fundiários. Em geral, os cidadãos eram
Mulher sentada
proprietários por herança, mas a propriedade com suas joias
fundiária e mobiliária era partilhada em partes e seu escravo.
Relevo em
iguais entre irmãos, o que gerava uma divisão dos mármore, séc.
lotes. Também havia um mercado fundiário, com IV a.C. Acervo
do Museu
compra e venda de terrenos. Arqueolôgico
Nacional, Atenas,
Grécia

[...] Na sociedade ateniense evoluída a Quanto à mão de obra, nas diversas auvida-
maior propriedade de que temos notícia não des, predominou a escrava. O escravo ateniense
ultrapassa os 26 hectares. Um dom de 200 pIe- era resultado da pirataria, intensa na Antiguidade,
tros [18 hectares], de que é destinatário o neto e das guerras. Pessoas de qualquer etnia, posição
de Aristides nos finais do século V, parece um social ou capacidade intelectual podiam ser escra-
gesto dispendioso. Além disso, estas proprie- vizadas. O escravo podia ser comprado, vendido,
dades nem sempre são exploradas por um úni- alugado, herdado, doado ou confiscado.
co responsável. Encontramos com facilidade Os escravos eram utilizados no trabalho das
campos em três ou quatro demos, distando
minas e nos serviços domésticos, fornecendo mão
entre si mais de dez quilômetros. Por vezes
de obra básica para a produção em grande escala,
há posses no exterior, heranças familiares no
caso de Címon, por exemplo, mas também
Demos é o termo retórico para designar a
aquisições ilegais no tempo do Império. Com
população de determinada localidade na Grécia
efeito, além das cierúquias, foram adquiridas
Antiga.
certas terras nos territórios das cidades alia-
Após as vitoriosas guerras contra os persas
das, o que se encontra em contradição com )Guerras Médicas), Atenas liderou uma confe-
a prática grega que reserva a propriedade da deração de cidades gregas, a Confederação de
terra apenas aos cidadãos. Certos atenienses Delos, e acabou se impondo econômica, militar
bem colocados aproveitaram-se das dificul- e politicamente sobre as cidades aliadas. Por
dades temporárias dos aliados; perderam es- isso pode ser chamada, nesse período, de Im-
ses bens depois da Guerra do Peloponeso. Em pério Ateniense.
muitos casos, a própria dispersão do patrimô- Cterúquias eram colônias militares estabe-
nio facilitava o arrendamento, frequente, ou a lecidas por Atenas. Ao contrário das colônias
tradicionais, que eram autônomas em relação
exploração por um encarregado ou feitor que
à metrópole, as clerúquias eram um prolonga-
deve ser bem escolhido.
mento da metrópole, sendo os clerucos cida-
Mas os rendimentos são suficientes para a
dãos atenienses.
manutenção do oikos.
O termo oikos nomeia a casa grega, que na
AMOUREITI, Marie-Ctaire; RUZÈ, Françoise. O mundo verdade representava uma unidade produtiva,
grego antigo: dos patácios de Creta à conquista romana. englobando diversos tipos de atividades (agríco-
Lisboa: Dom Quixote, 1993. p. 200. la, têxtil etc.) e as pessoas responsáveis por elas.

34
fosse ela rural ou urbana. Já os trabalhadores O Estado possuía escravos que trabalha-
livres eram numerosos nas atividades de sub- vam como policiais, burocratas, na fabricação de
sistência, na pequena produção mercantil e no moedas e na conservação das ruas. Alguns conse-
comércio. guiam a alforria, por liberdade do proprietário ou
A maioria dos cidadãos possuía pequenas por meio da compra, graças ao pecúlio acumula-
propriedades fundiárias, com extensão entre 3 do com atividades autônomas.
e 5 hectares. A posse de escravos era socialmen- Ocorreram fugas e revoltas de escravos em
te muito difundida, mas cada cidadão tinha um Atenas, mas não em número expressivo, provavelmen-
número relativamente pequeno deles. te por causa da pequena concentração de cativos.

Leia os textos a seguir e faça o que se pede No caso brasileiro, a escravidão não se mani-
festa direta e principalmente em más condições de
Texto 1 vida ou em salários baixos ou insuficientes. O nú-

Descrição da escravidão segundo um discí- cleo dessa relação escravista está na violência em

pulo de Aristóteles: que se baseia, nos mecanismos de rc física e


às vezes também nos mecanismos de coerção moral
A principal e mais essencial forma de proprieda-
de é aquela que é melhor e mais vital para o governo utilizados por fazendeiros e capatazes para subjugar
de uma casa: o ser humano. Assim a primeira coisa trabalhador. Adicionalmente, ela surge quando o
a fazer é adquirir bons escravos trabalhador, por não receber o salário que lhe é de-
Ao lidarmos com escravos, não deveríamos vido e por estar trabalhando em local que representa
permitir que fossem insolentes para conosco, nem confinamento [ ... ], fica materialmente subjugado ao
deixá-los totalmente sem controle [ ... j. patrão e impossibilitado de exercer seu direito de
1-lá três coisas [concernentes aos escravos]: tra- homem livre e igual, que está no direito de ir e vir,
balho, punição e comida [ ... j.
direito de sair de um emprego e ir para outro.
As raças mais adequadas para o trabalho são
MARTINS, José de S. In: FIGUEIRA, Ricardo Rezende.
aquelas que não forem nem covardes demais nem
Pisando fora da própria sombra: a escravidão por dívida no
extremamente corajosas [.... Brasil contemporâneo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
É essencial que cada escravo tenha uma finalida- 2004. p. 3839.
de claramente definida. É tanto justo quanto 'anta-
1. Estabeleça diferenças e semelhanças entre
joso oferecer a liberdade como um prêmio: quando
as definições de escravidão dos textos.
prêmio, e o período em que puder ser atingido,
forem definidos claramente, isto os fará trabalhar
2 Em grupo, procure reportagens e outras fon-
de boa vontade. Também deveríamos deixar que te-
nham filhos que sirvam como reféns; e, como é de tes de informação a respeito da escravidão

costume nas cidades, não deveríamos comprar es- no Brasil. Juntos, estabeleçam diferenças e
cravos das mesmas origens étnicas. semelhanças entre a escravidão grega e os

Aristóleles apud CARDOSO, Oiro Flamarion Santana. Trabalho


casos encontrados na pesquisa.
compulsório na Antiguidade. Rio de Janeiro: Graal, 1984. p. 108.
3. Elaborem dois textos: um em forma de notícia,
Texto 2
denunciando casos de escravidão, e outro
Comentário sobre a escravidão no Brasil nos opinativo, com sugestões para solucionar o
dias atuais: problema.

A
Coerção: é o ato de induzir alguém a fazer algo Pecúlio: acúmulo de uma pequena parte dos
à força, sob ameaça ou intimidação. lucros obtidos com atividades desempenhadas pe-
los escravos.

Propriedade da terra e relações sociais na Antiguid 35


atraídos pela prosperidade de Roma. Como não
TrabaLho e reLações pertenciam a nenhuma das tradicionais famílias
sociaïs na Roma Antiga romanas nem eram protegidos por elas, formaram
uma nova classe social, a chamada plebe.
Na Península Itálica encontram-se as seguin-
Durante a República Romana (509-27 a.C.),
tes regiões: as planícies costeiras (Lácio, Apúlia e
aprofundaram-se os conflitos entre patrícios (de-
Campânia), a planície do Rio Pó ao norte, a cadeia
nominação dada ao filho dos patres - etimologi-
dos Apeninos de norte a sul e, ao extremo norte, os
camente, os parricci são os filhos de senadores) e
Alpes. Os solos em geral são férteis, por isso foram
plebeus (de plebs, que significa "multidão").
disputados por vários povos ao longo da história.
O aumento do endividamento dos plebeus,
Gauleses, italiotas (úmbrios, latinos, sabinos, vols-
somado às constantes promessas de melhorias
cos e samnitas), gregos e etruscos travaram diver-
econômicas e jurídicas não cumpridas pelos pa-
sos embates com o objetivo de dominar a região.
trícios, provocou sucessivos conflitos entre esses
grupos. Para solucionar o problema, os patrícios
elaboraram leis, fizeram uma série de concessões à
o plebe e asseguraram alguns direitos.
RIMET( CELTAS

Verona - -- -
- Agrupamentos .J Defrontavam-se, por um lado, os membros
GUR culturais e políticos ©
GOnovo Spna dominantes da privilegiada nobreza de sangue fundiária e, por
emuscos

Volturru
.Ravena

k E:os
[__J itaiiotas
Cartaginosos
outro, OS cidadãos vu tg ares, cujos direitos políticos
eram limitados e muitos dos quais se encontravam
numa situação econômica dificil. Esse antagonismo
CIusu,n.
refletiu-se na chamada luta de ordens entre os pa-
'5 ,&larAdrinlico
CórseDa 1arqurn,a
Lres e a plebs, um conflito entre patrícios e plebeus
Roma.yzs. . 4Arpi que durou mais de duzentos anos e teve grande
'. ALIRUNCI
Anxu, .5'
repercussão na história dos povos e das tribos da
a OIb,o Ntpolus
Bundro,
Itália dessa época, além de condicionar o futuro da
WCAN?
Pose,don,a. sociedade romana. A primeira fase dessa luta, que
Sardenha
A','ar T,rrnno
• S'ns podemos situar grosso modo no século V e no pri-
LauS.
Mar Jônio meiro terço do século IV a.C,, caracterizou-se pela
N0,a , 'Crotoxa constituição de frentes bem definidas, em que os
plebeus se organizaram como grupo independente
Ho,e,a
Mar Naxot
O—-- L em oposição deliberada ao pairiciado, o que levou a
'Sicilia
SIRACUSA uma reorganização da sociedade tendo por base es-
Ut,ca. GeIu S
Cartago' Coma,rna ses dois grupos. Na segunda fase, entre a década de
O 123 246kox
sessenta do século IV e o início do século III a.C., foi
1: 12300000
alcançado um equilíbrio entre os dois grupos, que
Fonte: PiKH. Atlas da história do mundo -a:: Aj:) F:t:r 1
deu origem a uma nova elite. A organização social
anft 995. o. 89.
arcaica de Roma, que perdera a parte de sua rigidez
inicial com os êxitos obtidos pela plebe durante o sé-
A organização social da Roma Antiga desen-
culo V a.C., dissolveu-se durante esta segunda fase
volveu-se a partir do século VI a.C., quando o povo da contenda, coincidente no tempo com a expansão
estava dividido em grandes famílias denomina- do domínio romano na península itálica.
das gentes. A gens (singular: gens; plural: gentes)
ALFOLDY, Géza. A história social de Roma.
agrupava os descendentes consanguíneos de um Lisboa: Editorial Presenco, 1989. p. 28-29.
antepassado com cultos, túmulos e hábitos tra-
dicionais em comum. A estes se juntaram clientes
(pessoas que tinham deveres para com o líder da
gens e em troca recebiam proteção), que eram tra-
Vulgar: sinônimo de banal, trivial, corriqueiro;
balhadores rurais e estrangeiros protegidos.
no texto, diz respeito aos cidadãos comuns, que não
A partir do século VI a.C., mais e mais arte-
tinham relação com as classes mais abastadas.
sãos, comerciantes e trabalhadores diversos foram

36
LegisLação romana se alguém cometesse um furto à noite e fosse
morto em flagrante, o assassino não seria punido;
Na primeira legislação escrita de Roma - a Lei
se o furto ocorresse durante o dia e o ladrão fosse
das XII Tábuas, de 450 a.C. -, vários dispositivos
flagrado, seria castigado e entregue como escra-
asseguravam os direitos dos proprietários, descri-
vo à vítima. Se o ladrão já fosse escravo, seria
tos a seguir.
castigado e jogado do alto de um precipício.
A legislação permitia que uma pessoa deixasse
A Lei das XII Tábuas representou um grande
um testamento com seus bens e a indicação da
avanço em termos jurídicos. Até então havia o
tutela de seus filhos. direito consuetudinário facilmente manipulado
As terras poderiam ser adquiridas por usucapião
pelos patrícios em defesa de seus interesses. Essa
depois de dois anos de posse, e o que fosse lei pôs fim ao poder excessivo dos cônsutes, que
móvel, depois de um ano. aplicavam castigos à plebe. Apesar de algumas li-
A mulher que residisse um ano na casa de um mitações, essa legislação escrita foi um marco im-
homem como se fosse sua esposa tornaria-se portante na luta dos plebeus por seus direitos.
propriedade dele, salvo se se ausentasse de casa
por três noites.
CônsuL, na República Romana, era a mais
A Lei das XII Tábuas era severa com aque- alta magistratura atribuída a duas pessoas
les que violavam o direito de propriedade. Entre iguais entre si e que exerciam o poder supremo.
outros casos, ela definia que:

Leia a seguir alguns preceitos do Direito domínio a outrem ou aquisição originária feita por
Romano e faça o que se pede. outra pessoa. [ ... j

- Sobre a propriedade MARKY, Thomas. Curso etementar de Direito Romano. São


Pauto: Saraiva, 1995. p. 65 e 85.
A propriedade (dorniniwn, proprietas) é um po-
der jurídico absoluto e exclusivo sobre a coisa Analise as leis romanas sobre o direito à
propriedade. Quais são as principais carac-
- Sobre OS direitos dos proprietários terísticas?
[...] A propriedade confere ao titular o direito de
usar, gozar e dispor da coisa e, no sentido negativo, Busque na Constituição Brasileira atual as
exclui toda e qualquer ingerência alheia, protegen- disposições referentes ao direito à proprie-
do-o, no exercício dos seus direitos, contra dade, ao usucapião e aos casos previstos
por parte de terceiros. para desapropriação. Anote o resultado.
- Sobre a perda dos direitos de propriedade
Perde-se a propriedade: pela extinção; pelo Compare e estabeleça semelhanças e dife-
icef o da coisa; pelo abandono da coisa, com a renças entre as situações descritas nas leis
intenção de não mais querer; pela transferência do da Roma Antiga e nas do Brasil atual.

Corpóreo: que é material, físico, concreto. Turbacão: qualquer ato que direta ou indireta-
Direito consuetudinário: transposição dos cos- mente é contrário à posse ou ao direito de posse
tumes de uma sociedade para leis, quando não há de outrem.
um sistema legislativo definido. Usucapião: aquisição do direito de propriedade
Perecer: no texto aparece com o sentido de fin- de algo móvel ou imóvel por sua posse continuada
dar, deixar de ser ou de existir, acabar. durante certo período de tempo.

37
2 Viajando peLa história
A expansão romana abrangência territorial, envolvendo tantos
Para entender a sociedade romana e e mutáveis interesses dos mais variados
sua organização, precisamos conhecer um grupos sociais e respondendo a circuns-
tâncias diversas, conforme a evolução da
pouco mais da história desse povo.
conjuntura, não pode ser unilateral. Cabe
Os romanos dominaram a Península
lembrar que Roma foi levada, inicialmen-
Itálica após vencer gau teses, etruscos, sam- te, à conquista por necessidades vitais
nitas e outros povos, além de submeterem (defesa nacional, obtenção de terras, ma-
Cartago, importante cidade comercial marí- nutenção de pontos comerciais e estratégi-
tima do norte da África, dominando assim cos importantes, interesses da aristocracia
por recursos provinciais) e, também, por
o comércio no Mar Mediterrâneo. Posterior-
mecanismos ideológicos, tais como o pa-
mente, Roma dominou também a Península
triotismo e a necessidade de glória militar,
Ibérica, a Grécia, a Ásia Menor e o Egito. indispensável para a obtenção da dignida-
de e da autoridade [ ... ].
MENDES, Norma Musco. Roma republicana.
Uma explicação para a formação do São Paulo: Ática, 1988.
p. 42.
império do povo romano, ou hegemonia
sobre as áreas conquistadas e anexadas, fe-
nômeno tão longo no tempo e de grande As intervenções militares atendiam
aos interesses de Roma ou de seus aliados.

Mar
do
Norte
ORETANHA

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Extensão do Imperio Romano 120 a Cl 3O
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Limites provinciais : 33000000
AFRICA .. ' Màr.
15L & iermeUio
Fonte: BLACK, J/:/-v,- i=d World tiistory atlas. j'c:r/s K::l:::3y, 2008. i 180-1 81

38
Sendo assim, revestia-se a luta de uma aura
de legalidade. Todos os campos são trabalhados
As conquistas trouxeram uma série de por seres humanos, escravos, homens
livres, ou ambos. São trabalhados por
consequências, tais como: grande afluxo
homens livres, quando estas pessoas tra-
de riquezas para Roma; influência da cultu-
balham a sua própria terra, como mui-
ra helenística (fusão da cultura grega com tos pobres fazem com seus filhos, quan-
as culturas orientais); surgimento de uma do eles são lavradores alugados, quando
poderosa classe de comerciantes e milita- as operações agrícolas mais importantes
res enriquecidos pela guerra - os homens como a colheita de vinho ou o corte do
novos ou cavaleiros; a ruína dos pequenos feno são levadas a cabo por meio do
e médios proprietários que não tinham trabalho alugado de homens livres; ou
ainda pelas pessoas que os romanos cos-
condições de concorrer com latifúndios
tumavam chamar "servos por dívidas"
onde trabalhavam escravos, gerando uma
(obaerati) e dos quais mesmo hoje há
grande migração para as cidades e conse- grandes quantidades na Ásia Menor, no
quentemente o barateamento da mão de Egito e na Ilíria.
obra da plebe.
Varrào (116-27 a.C.) apud CARDOSO. Ciro
Flarnarion S. Trabalho compulsório na
Antiguidade. Rio de Janeiro: Graal, 1984. p. 147.
Com as conquistas, a mobilidade so-
cial aumentou bastante. Libertos torna-
vam-se comerciantes e artífices. Comer- O escravo romano podia adquirir a li-
ciantes e empresários podiam acumular berdade de três modos: vontade do gover-
grandes fortunas, transformando-se em
nante, concessão do senhor ou benefício
cavaleiros. Cavaleiros ricos podiam ter
da lei. Chamado de liberto, o escravo que
acesso a altos cargos públicos, inclusive
obtivesse a liberdade não era promovido a
penetrando na aristocracia senatorial.
Eram os homens novos (homiries noviL cidadão, ficando numa situação interme-
Senhoras de
diária entre o escravo e o homem livre. Pompela com
Do ponto de vista do Direito Público, suas escravas.
Aí resco do
liberto podia ser eleitor, mas não podia
A escravidão ser eleito. Já no âmbito do Direito Privado,
século 1 dc.
Acervo do Museu
Arqueológico
O escravismo destacou-se com a liberto estava vinculado, por certas obri- Nacional.
expansão territorial até que, durante o gações, a seu antigo dono. Nápoles. Itália.

Período Republicano (509-27 a.C.), tor-


nou-se o modo de produção dominante.
Para os romanos, o escravo era consi-
derado propriedade e, como tal, não tinha
personalidade jurídica, estando sujeito ao
poder do senhor. Não lhe era permitido o
direito de possuir bens ativos (propriedades ,
materiais) nem passivos (contrair dívidas),
.
%
e não tinha direitos legais relacionados à
família - por exemplo, não poderia deixar
heranças. As causas da escravidão eram o
aprisionamento em guerra, o nascimento
(os filhos de escravos eram também escra-
vos), as dívidas (até 326 a.C.) e a condena-
ção por determinados crimes.

0
Propriedade da terra e relações sociais na Ántiguida: 39
As Lutas sociais Outra grande manifestação em busca de me-
lhorias sociais ocorreu entre 73 e 71 a.C., quando
Como vimos anteriormente, o grande afluxo o gladiador Espártaco liderou uma revolta de es-
de escravos para a Península Itálica, em razão das cravos, que colocou em xeque o poderio romano.
conquistas, provocou o empobrecimento do cam-
pesinato,já que a oferta de mão de obra aumentou.
Esse movimento produziu uma plebe descontente e
miserável que se concentrou em Roma. Para acalmar
essa camada da população, os políticos romanos
procuraram manipulá-la por meio da política "pão e
circo", que consistia em distribuiralimento e entrete-
nimento, pois assim era mais fácil mantero controle.
Em 133 a.C., o político Tibério Graco, após
ser eleito tribuno da plebe, mobilizou o povo para
aprovar uma lei decretando que ninguém poderia
-__ •;- 1 4 .
dispor, nas terras públicas, de propriedades que ul-
trapassassem 500 jeiras (125 hectares). A lei previa
que a área excedente deveria ser expropriada e dis-
tribuída entre os pobres. Os aristocratas reagiram \ );
de imediato colocando obstáculos à aplicação da
lei. Por fim, Tibério foi assassinado, e o projeto
de lei abandonado.
Mais tarde, o irmão de Tibério, Caio Graco, foi
Gladiador lutando contra um tigre. Mosaico em Terranova. Itália.
eleito tribuno da plebe. Ao assumir, dedicou-se a um
sóc. IV dc. Os gladiadores eram guerreiros que lutavam contra animais
amplo programa de reformas objetivando favoreceras selvagens ou contra outros guerreiros com o objetivo de entreter a população
camadas populares. Entre as reformas, propunham-se romana. As lutas aconteciam nos anfiteatros. O mais famoso anfiteatro foi o
Coliseu, que tinha capacidade para cerca de 45 mil espectadores.
a distribuição de terra aos plebeus, o desenvolvimento
agrícola, a venda de cereais a preços baixos etc. Caio
Exércitos romanos foram derrotados. Mais
também fracassou e, para não cair nas mãos dos
e mais escravos incorporaram-se às forças de
inimigos, pediu a um escravo que o matasse.
Espártaco, cuja reputação espalhava-se por toda
Entre 64 e 63 a.C., o patrício Lúcio Sérgio
a República.
Catilina fez uma nova tentativa de instituir políti-
As divergências entre os rebeldes e a reorga-
cas públicas propondo uma série de reformas que
nização das forças romanas mudaram o fluxo dos
favorecia a plebe. Catilina foi fortemente criticado
acontecimentos. A revolta fracassou, e Espártaco e
por seus pares, sobretudo Marco Túlio Cícero, que
milhares de revoltosos foram mortos. Os sobrevi-
representava os interesses da aristocracia senatorial
ventes foram crucificados.
e acabou assassinado.
Após essa revolta, o cônsul - e posteriormente
ditador - Caio Júlio César procurou introduzir leis
Tribuno da plebe era um cargo na hierarquia
para melhorar as condições de vida dos pobres.
da República Romana. Sua criação decorreu das
Não modificou as estruturas econômicas e sociais
lutas entre patrícios e plebeus, remontando ao
nem questionou a escravidão, mas percebeu que
início da fase em que foi instituída a república
em Roma. Era o representante dos plebeus no eram necessárias mudanças políticas, obras públi-
governo aristocrático. cas e melhorias para o povo. Segundo o historia-
dor Michael Parenti, César...

Ab cost;i10
Afluxo: grande quantidade de algo, nesse caso de escravos, em direção a um ponto ou lugar.

40 j)ittJtO 1
[ ... ] ordenou que grandes proprietários de
terras usassem no mínimo um terço de trabalha-
1. Leia o texto a seguir e depois responda às
dores libertos em vez de escravos, regra que di-
minuiria o desemprego, o banditismo e OS lucros questões.
absurdamente altos dos proprietários. Perdoou
A lex agraria de Tibério Graco teria dado a
um ano inteiro de aluguel para moradias modes-
tas e moderadas, concedendo um alívio mais do milhares de famílias desabrigadas uma oportu -
que necessário aos inquilinos pobres. E depositou nidade de viver da terra, aliviando o congestio-
a riqueza de inimigos vencidos no tesouro do Es- namento demográfico de Roma. Teria detido o
tado para ser distribuída como presentes e benefí- despovoamento do campo e reabastecido o es-
cios entre os cidadãos romanos, com cada solda-
toque de pequenos proprietários rurais. Em face
do recebendo cinco mil denários e cada plebeu,
O() denários. da revolta popular contra a posse ilegal da ter-
ra, os oligarcas não podiam facilmente atacar a
PARENTI, Michaet. O assassinato de Jútio César: uma
história popular da Roma Antiga. Rio de Janeiro: lei de Tibério. Por isso atacaram o próprio. Não
Record, 2005. p. 154. perdiam a oportunidade de denunciá-lo como
; oq e ri o, cuja intenção era coroar-
-se rei. Privaram-no dos recursos suficientes
Como outros antes dele, César foi assassinado.
para administrar o programa de reforma agrá-
Aqueles que ordenaram sua morte se apresentaram
ria. O principal autor dessas afrontas era Pú-
como defensores da República, aniquilando um
blio Nasica, um dos maiores proprietários de
tirano. Contudo, alguns historiadores afirmam
que César foi assassinado porque os interesses dos terras públicas, que se ressentia amargamente
optimates estavam sendo prejudicados. de ser obrigado a devolver um pedaço que fos-
se de suas agerpublicus [.]. Tendo roubado a
ager publicus, os grandes proprietários acaba-
ram convencidos de que elas lhes pertenciam
Agerpublicus era o conjunto de bens imóveis
por direito.
pertencentes ao Estado Romano, normalmente
conquistado pela expropriação dos vencidos. PARENTI, Michaet, O assassinato de JúLio César:
uma história popular da Roma Antiga.
Denário foi uma moeda de prata que teve Rio de Janeiro: Record, 2005. p. 75.
ampla circulação em Roma. A partir do período
republicano, um denário equivalia a dez asses Considerando as informações apresen-
de bronze. A palavra dinheiro, em língua portu- tadas no texto, quais eram as possíveis
guesa, é originária do latim denarius. consequências da lei agrária de Tibério
Lex agraria foi a lei de reforma agrária pro-
Graco?
posta por Tibério Graco, que limitava as proprie-
dades dos grandes agricultores a 125 hectares
de terra e determinava que o excedente fosse Com relação ao uso e à posse da terra,
distribuído à população. estabeleça um paralelo entre a lei de
Optimates era o nome dado aos nobres do Tibério Graco e a situação atual no
Senado que se designaram como 'homens me- Brasil. Se necessário, busque informa-
lhores, aqueles que se dedicavam a assegurar
ções relacionadas à legislação agrária
as prerrogativas político-econômicas dos bem-
- nascidos. de nosso país.

Demagogo: quem agrada outros em busca de benefícios pessoais.


Tirano: soberano provido de poderes absolutos.

Propriedade da terra e relações sociais ria Antiguid. 41


2. Leia o trecho a seguir e faça o que se pede ai Por que o autor afirma que os pobres
viviam um presente sem um passado"?
[ ... ] Se os ricos viviam um passado sem presente, Justifique.
os pobres viviam um presente sem um passado. Essa
consciência do do momento perineava a vida b) Os trabalhadores romanos tinham diversas
cotidiana do homem do povo. Forçados a trabalhar opções de lazer. Para os políticos, a estra-
para viver, escravos e pobres, homens e mulheres tégia do pão e circo' servia para acalmar
sentiam, de forma muito mais clara, a significação as multidões. Segundo o autor, o que esses
da percepção e da Essa massa estava pre- espaços de lazer representavam para os
sente nos teatros, flOS anfiteatros, nos bares e nos trabalhadores?
templos. Assistiam a tragédias, a recitais musicais e
poéticos» a diversos gêneros de comédias ...1 assim ci Em sua comunidade, quais são as ativida-
como às lutas de gladiadores e entre homens e feras des praticadas pelos trabalhadores quando
[ ... J. Compunham, ainda, suas próprias canções, tro- estão em período de descanso? Elas se
'as, músicas, danças. assemelham às citadas no texto?
FUNARI, Pedro PauLo A. Ávida cotidiana na Roma Antiga.
São Pauto: Annabtume, 2003. p. 26-27.

do colonato, um sistema de exploração da terra


O coLonato por meio do qual pequenos proprietários de terras
A partir do século III, começou uma profun- foram transformados em colonos. Os colonos não
da crise no Império Romano. Invasões, epidemias, tinham o direito de abandonar as terras nas quais
usurpações, revoltas provinciais, depreciação mo- trabalhavam.
netária, barbarização do exército e mudança de
mentalidade abalaram a vida política e a organiza- Honestiores eram constituídos por grupos
ção militar, bem como as estruturas econômicas e sociais heterogêneos e divididos em diversas
sociais. Contudo, no início do século IV, o Império categorias hierárquicas. Essa subdivisão estava
se reergueu. As fronteiras foram restabelecidas, a relacionada à posse da terra e ao poder.
ordem foi restaurada e as instituições políticas se A camada superior era constituída pela Casa Im-
orientaram para uma monarquia centralizadora perial, a Ordem Senatorial, os principais funcio-
de direito divino, o dominaro. nários administrativos e os militares superiores.
Do ponto de vista social, ampliou-se a di- Abaixo vinham diversos grupos hierárquicos.
ferença entre ricos e pobres. A distinção entre Os humíLiores viviam nas cidades e nos
honestiores e humiliores - poderosos e fracos - territórios rurais. Formavam uma camada
ficou mais intensa que no passado. populacional relativamente homogênea, di-
No governo de Diocleciano (284-305), apro- vidida em diversos grupos com característi-
fundou-se o intervencionismo estatal. Foram cria- cas comuns: obrigações fiscais, participação
das corporações, os trabalhadores não podiam na produção, falta de liberdade na escolha
mudar de profissão e os preços das mercadorias e da profissão, dependência social acentuada,
os salários foram tabelados. O imperadorseguinte, pouco prestígio e elevada pobreza.
Constantino (306-337), consolidou a instituição

Fruição: desírute, sinônimo de gozo.


Gozo: usufruto, livre utilização de algo ou de algum direito.

42
O processo de transformação de n-
E receando que os colonos [ ... j tenham divíduos em colonos ocorreu de diversas
aparentemente recebido a permissão de se formas, e o nascimento era uma das mais
deslocarem e retirarem a seu hei-prazer, comuns: sendo filha de colonos, uma
que esses mesmos colonos fiquem do- criança já adotava a condição dos pais.
ravante ligados à sua terra pelo direito A convenção - acordo entre uma pessoa
do nascimento, e, se bem que pareçam em dificuldade econômica e um dono de
de condição ingênua, que sejam todavia
terra - era outra das razões, assim como a
adsíios à terra na qual nasceram.
prescrição segundo a qual um homem livre
Lei de Teodósio. 393. Código Justiniano. Xl, 51. 1 que cultivasse determinada propriedade
apud CHRISTOL. Michet; NONY. Daniel. Roma e o
seu Império: das origens às invasões bárbaras.
por mais de 30 anos se tornava colono.
Lisboa: Dom Quixote, 1993. p. 285. Outros motivos comuns eram a de-
núncia, por meio da qual os mendigos se
tornavam colonos de quem os denunciasse,
e a iniciativa do Estado, que, de acordo com
suas necessidades, podia reduzir alguém à
condição de escravo ou colono.
Em contrapartida, entre os principais
motivos de extinção dos colonatos, po-
demos citar a compra das terras cultiva-
das pelos colonos, conseguida com suas
economias ou com auxílio externo, e seu
1
ingresso na vida religiosa, fato que os tirava
imediatamente de sua condição.
J:nas da vida rural em Roma nos sõculos II e III. Mosaico de autoria
.. vscOnhcida, 4.9 m x 4.85 m. No centro, rebanho bovino, fazendeiro
rraíido a terra e cavalo bebendo água; nas laterais, cenas de caça.
;ador de flauta e ordenha de cabras.

A terra na Antiguidade esteve sob o controle de poucos. Pode-se dizer que muitos suaram
de poucos. para produzir seu sustento diário. Já uma mi-
No mundo egípcio, pertencia ao Estado. En- noria, que pouco ou nada trabalhava, vivia desse
tretanto, um reduzido grupo social controlava trabalho da maioria, pois detinha a propriedade
esse Estado e expropriava o governo. da terra e o controle do Estado.
Na Grécia, a grande propriedade não foi do-
1. Elabore um quadro que compare as socie-
minante; já o trabalho escravo, sim.
dades descritas neste capítulo quanto à pro-
Em Roma, a concentração fundiária e a ex-
priedade da terra e às relações de trabalho
ploração do trabalho escravo pontuaram a as-
estabelecidas.
censão e a queda da chamada Cidade Eterna.
Resumidamente, na Antiguidade, a terra foi
trabalhada por muitos, mas esteve sob o domínio

Adstrito: atado, unido.

P c;priedade da terra e retações sociais na Antiguida. 43


ffl
Debate interdiscipLinar

COMÉ, RCIO TRANSAARIANO


ntigamente, na África Subsaariana existiam grandes e prósperos impérios que praticavam intenso
comércio entre si. Durante a Idade Média esse comércio estendeu-se para a Europa e o Oriente Médio.

Porém, a abertura de rotas marítimas na costa oeste africana e, muito mais tarde, o estabelecimento de
fronteiras nacionais acabaram com a antiga rede de comércio.

Os preparativos para a Háfsidas


travessia e o uso do camelo A dinastia muçulmana Háfsida dominou grande parte do
Norte da Africa, entre os séculos XIII e XVI, comercializando
As longas travessias pelo Deserto do Saara, especialmente com genoveses, venezianos, florentinos e
feitas em caravanas, requeriam uma logística catalàes. Em troca de vinho, papel, armas e pedras preciosas,
especial para conseguir prever e tentar enviava para a Europa produtos como azeite, trigo, frutas
secas, couro, pele e tecido.
evitar os perigos da viagem - certamente a
utilização do camelo nessa logística foi de
extrema importância. Os primeiros sinais de - Tunísia
Argel
domesticação do camelo foram encontrados
no Norte da Africa, no século III. Oceano Atlântico

Os camelos são mamíferos que vivem


principalmente em desertos, medem até Marrocos
2 metros de altura e pesam em média
650 quilos, podendo chegar a 900 quilos.
Os longos cilios protegem seus olhos das
tempestades de areia e da excessiva luz-
do sol, e suas narinas podem se fechar, - -
evitando a entrada de areia.

Extremamente resistentes, são animais que,


após domesticados, servem para carregar Zaouia
cargas e pessoas. Outra utilidade prática
do camelo refere-se ao fornecimento
de carne e leite para consumo. A
pelagem, que o protege contra o -.
sol e a areia do deserto, é também
aproveitada na confecção de
roupas e tendas.
'1'ombuçt4 3dra ' -
Aoudgh 'II
Graças à gordura e ao tecido
muscular armazenados em sua "
corcova, eles podem ficar sem
beber água e sem comer por dias,
sem que sua saúde seja afetada.
Tombuctu
Antes das jornadas de travessia Mais do que uma próspera cidade
comercial, foi também um centro
do deserto, os camelos eram
cultural, filosófico e religioso, de onde
engordados e hidratados por o lslà se difundia para,yárias regiões.
meses. Missões especiais
localizavam os oásis e levavam
água para as caravanas, já que não
era possível carregar a quantidade de
água necessária para toda a viagem. Indícios
sugerem que tais rotas foram utilizadas
desde os tempos pré-históricos.

44
Benimennes Império Kanem-Bornu Império de Gana
Dinastia que governou Vivenciou seus dias de Existiu entre os séculos VIII
entre os séculos Xlii e glória a partir do século e XI, e tinha como capital
XV o atual território do XIII - quando seu a próspera Kumbi Sateh.
Marrocos, controlando o imperador adotou com 30 mil habitantes. Era
comércio que ocorria em oficialmente a religião responsável por controlar
O bralta r. islâmica - e durou até comércio subsaariano e
meados do século XIX. enviar marfim, ouro e sal
No momento de seu maior O Império Kanem-Bornu para o Norte da Africa,
esplendor, chegaram a era rota obrigatória para Oriente Médio e Europa
dominar importantes as mercadorias que em troca de diversas
cidades do sul da Espanha. atravessavam o continente mercadorias.
Os benimerines tiveram do sul para o norte. Em Suas ruínas estão
constantes confrontos troca de cobre, cavalos e localizadas no que hoje
com os cristãos, sendo armas, seus comerciantes conhecemos como
expulsos da Península forneciam sal, minerais, Mauritânia.
Ihéric em 1340 produtos têxteis e
escravos.
j Egito
Durante muito tempo, o sal
Império do MaLi extraído da região de Bilma
O Teve seu maior período
de expansão entre os
foi a mais difundida moeda
de troca nas transações
séculos XIII e XVII e comerciais transaaria nas.
sobrevivia exclusivamente Dezenas de caravanas
do comércio. Era grande passavam pelo Cairo,
produtor de ouro, sal e no Egito, onde trocavam
cobre; de suas minas diversas mercadorias, tais
veio metade do ouro como tecidos, temperos,
que circulou na Europa armas, ouro e escravos.
r durante o século XIV.
No Império do Mali
chegaram a viver Reino de Axum
aproximadamente 50 O Reino de Axum
milhões de pessoas. desenvolveu-se do século
III ao VII, mantendo
Mar Mediterrâneo controle das rotas das
caravanas comerciais e
Barca
Cairo portos do Mar Vermelho,
por onde passavam os
produtos vindos do sul do
continente africano e do
Oceano Indico rumo ao
Egito e ao Mediterrâneo.

:r" \
No século IV, o monarca
Ezana converteu-se ao
cristianismo, tornando o
reino um dos primeiros
/ Estados cristãos do mundo.
- -- Koufra 1

1 . -

1 Explique o tema central do info-


1
gréfico.

----------- - - - - - -
Qual era a importância do camelo
no comércio transaariano? Por que
era o animal mais adequado para
comércio?

/
3. Um dos remos mostrados no in-
fográfico Vivenciou um conflito
AFRICA expansionista em uma região da
Europa. Que reino foi esse e qual
foi o resultado do conflito?

45
Testando seus conhecimentos Responda no caderno

1. (Fuvest-SP) Sobre o surgimento da agricultura - e seu uso intensivo pelo homem - pode-se afir-
mar que:
foi posterior, no tempo, ao aparecimento do Estado e da escrita.
ocorreu no Oriente próximo (Egito e Mesopotâmia) e daí se difundiu para a Ásia (Índia e Chi-
na), Europa e, a partir desta, para a América.
como tantas outras invenções teve origem na China, donde se difundiu até atingir a Europa e,
por último, a América.
cl) ocorreu, em tempos diferentes, no Oriente Próximo (Egito e Mesopotâmia), na Ásia (Índia e
China) e na América (México e Peru).
e) de todas as invenções fundamentais, como a criação de animais, a metalurgia e o comércio,
foi a que menos contribuiu para o ulterior progresso material do homem.

2. (Enem) Se compararmos a idade do planeta Terra, avaliada em quatro e meio bilhões de anos
(4,5 x 109 anos), com a de uma pessoa de 45 anos, então, quando começaram a florescer
os primeiros vegetais, a Terra já teria 42 anos. Ela só conviveu com o homem moderno nas
últimas quatro horas e, há cerca de uma hora, viu-o começar a plantar e a colher. Há menos
de um minuto percebeu o ruído de máquinas e de indústrias e, como denuncia uma ONG de
defesa do meio ambiente, foi nesses últimos sessenta segundos que se produziu todo o lixo
do planeta!
O texto permite concluir que a agricultura começou a ser praticada há cerca de:
365 anos. c) 900 anos. e( 460000 anos.
460 anos. d) 10000 anos.
3. (Fuvest-SP) Examine estas imagens produzidas no antigo Egito:

Reino Antigo (2575-2134 a.C.) Reino Novo (1550-1070 a.C.)

As imagens revelam
o caráter familiar do cultivo agrícola no Oriente Próximo, dada a escassez de mão de obra e
a proibição, no antigo Egito, do trabalho compulsório.
b) a inexistência de qualquer conhecimento tecnológico que permitisse o aprimoramento da pro-
dução de alimentos, o que provocava Longas temporadas de fome.
cl o prevalecimento da agricultura como única atividade econômica, dada a impossibilidade de
caça ou pesca nas regiões ocupadas pelo antigo Egito.
dl a dificuldade de acesso à água em todo o Egito, o que limitava as atividades de plantio e in-
viabilizava a criação de gado de maior porte.
e) a importância das atividades agrícolas no antigo Egito, que ocupavam os trabalhado-
res durante aproximadamente metade do ano.

46
Responda no caderno

4. (UFRGS) Na África, durante a Antiguidade, S. (Uece) O Reino de Kush foi o berço onde
entre 3000 a.C. e 332 a.C., desenvolveu-se se desenvolveram importantes civilizações
o primeiro Império unificado historicamente e culturas. Teve um papel determinante
conhecido, cuja longevidade e continuidade como elo cultural entre diferentes povos do
ainda despertam a atenção de arqueólogos e Mediterrâneo e aqueles da África subsaa-
historiadores. riana. Dentre suas características destaca-
Esse Império: -se o modo como o rei era eleito e o papel
a) legou à humanidade códigos e compila- da mulher na política. Assinale a afirmação
ções de leis. verdadeira.
bi desenvolveu a escrita alfabética, domi- O Reino de Kush foi o lendário rival da
nada por amplos setores da sociedade. antiga Núbia africana.
ci retinha parcela insignificante do exce- A história de Kush está estreita mente
dente econômico disponível. ligada à história do Egito.
di sustentou a crença de que o caráter ci O Reino de Kush não consta nos rela-
divino dos reis se transmitia exclusiva- tos de Heródoto sobre a África.
mente pela via paterna. d) A economia cuxita foi precária devi-
e) dependia das cheias do rio Nilo para a do à pobreza do solo e à escassez de
prática da agricultura. água.

rPara você Ler j


(ara você navegar
k~
Egito Antigo, de Sophie Desplancques. Porto Ale- Navegar no Egito Antigo. Disponível em: <www.
gre: L&PM, 2009. Aborda a organização política do museu.gu[benkian.pt>. Acesso em: fev. 2016. Esse
Egito Antigo e seus principais soberanos, além de museu virtual reúne mapas, obras de arte e
curiosidades sobre sua cultura, língua e escrita. textos que oferecem informações sobre história,
geografia e cultura do Egito Antigo.
Grécia e Roma, de Pedro Paulo Funari. São Paulo:
Contexto, 2001. Com base na análise e discussão Grécia Antiga. Disponível em: <http://greciantiga.
de temas históricos, essa obra busca reformular e org>. Acesso em: íev. 2016. O portal Graecia
desmistificar visões tradicionais acerca do cotidia- Antiqua contém textos e imagens que reconstroem
no das pessoas comuns, gregos e romanos geral- a história da antiga cultura grega, organizados
mente deixados à margem da História. em páginas destinadas a todos os tipos de pú-
blico, desde iniciantes até acadêmicos. Além de
História da África, de José Rivair Macedo. São Pau- abordar, por exemplo, mitologia, arte, literatura e
lo: Contexto, 2014. Essa obra mostra de forma didá- história, conta com uma revista eletrônica dirigida
tica os diversos povos e explica as diferenças cultu- aos estudiosos de t.etras Clássicas.
rais, sociais e políticas que compõem o continente
africano desde a Antiguidade até os dias atuais.

(ra você assistir U


Gladiador, direção de Ridley Scott. EUA, 2000,
149 mm. Quando o imperador Marco Aurétio
escolhe o general Maximus como seu herdeiro,
desperta a ira de seu filho Commodus. Este en-
tão persegue e mata a família de Maximus, que
é condenado a lutar como gladiador até a morte.
Mas Maximus planeja vingar-se, e para isso se
torna o maior gladiador que Roma já conheceu.

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Qual é a importância da terra para os de animais. É nela que construímos nossa


agrupamentos humanos? Por que histori- moradia, onde se organizam as cidades e se
camente percebemos uma ligação estreita estruturam as sociedades.
entre os seres humanos e a terra, seu uso e No estudo e no entendimento das dife-
sua posse? rentes sociedades no decorrer da história,
Da terra tiramos nossos alimentos, por a relação dos seres humanos com a terra
meio da coleta, da agricultura ou da criação é marcante. Essa relação pode ser pacífica
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ou conflituosa, dependendo das formas de ocidental, também já foi propriedade co-


apropriação e exploração efetivadas pelos letiva em alguns grupos espalhados pelos
grupos humanos. continentes.
Historicamente, quem tinha acesso Neste capítulo abordaremos os princi-
à terra e a tudo o que ela pode oferecer? pais aspectos das mudanças e permanên-
A terra já foi privilégio dos senhores me- cias relativas à terra, essa fonte de vida,
dievais durante a Idade Média na Europa mas também de disputas e poder.
Terra: uma questão poLêmica
No capítulo anterior, estudamos que o dessa transformação, ocorreram também as
desenvolvimento da agricultura, a domesti- primeiras disputas pela posse de terra.
cação de animais, o início das cidades e o Neste capítulo, vamos nos concentrar
surgimento dos Estados organizados fize- na questão da posse e propriedade da terra
ram com que a terra deixasse de ser o local como fonte de produção de alimentos por
que servia ao extrativismo para se tornar meio da agricultura e na relação dela com
fonte de produção de alimentos. Em razão o poder e a ocupação de espaço.

r Organizando ideias

As imagens a seguir mostram partes do processo de produção de alimentos que consumimos


atualmente.

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Plantio do alíace em São José do Rio Preto (SP), 2013. Plantação de milho em Guarapuava (PR). 2014.

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Colheita de toniate em Ouioesie (SP), 2013. Produção e envazamento de suco de laranja. Tabatinga (SP), 2015.

1. Em grupo, converse sobre a relação entre a produção de alimentos e o uso e a posse da terra.
Quem tem acesso à propriedade da terra? Quem cultiva a terra para a produção de alimentos?
Todos os trabalhadores rurais se beneficiam do que produzem? A terra tem sido usada de modo
responsável para evitar sua degradação? Juntos, reflitam sobre essas questões e escrevam um
texto com as conclusões do grupo. Se necessário, busquem informações.

50
Aterra na Europa FeudaL
O uso e a propriedade da terra foram a base
do sistema político, social e econômico que predo- [...j O feudo era terra de um senhor, confiada
minou na Europa ocidental durante o período da a seu vassalo em troca de serviços meritórios, os
História denominado Idade Média. quais incluíam serviços militares, ajuda e con-
selhos. Embora no período inicial, sobretudo,
Quase toda a Europa ocidental, principal-
abundassem os cavaleiros sem terra - homens
mente entre os séculos V e XV, manteve uma rela-
jovens e os filhos mais jovens de famiias nobres
ção estreita com a terra, que passou a determinar
servindo diretamente na corte do senhor e fazen-
as relações econômicas e sociais. Esse período é do parte do seu séquito - o feudo, outorgado por
denominado historicamente de feudalismo. investidura, era a mais desejada forma de manu-
Respeitadas as diferenças regionais, enume- tenção e desde muito cedo se tornou hereditário.
ramos a seguir algumas características do sistema Logicarnente, porém, numa análise das caracte-
feudal. rísticas fundamentais do feudalismo, poderíamos
Grande parte da população vivia presa à terra, colocar a vassalagem antes do feudo, porquanto
se trata de uma sociedade baseada na suserania,
que era cultivada pelos servos para os senhores
numa hierarquia de vassalos e senhores que cul-
no sistema de colonato (semelhante ao siste-
minava no rei ou príncipe. O relacionamento era
ma de colonato romano que vimos no capítulo criado por urna desenvolvida e elevada forma de
anterior), no qual plebeus e ex-escravos assu- encomendação germânica antiga, pela qual um
miram a condição de colonos recebendo uma homem livre se submetia a um outro por um ato
porção de terra dos senhores para o cultivo. de homenagem (as mãos juntas colocadas entre
Na relação de servidão, uns cultivavam a terra as do senhor), confirmando por um juramento
de outros em troca de proteção e sustento. Os sagrado de fidelidade e vassalagem e usualmente
acompanhado pela outorga de um feudo. A ce-
nobres - ou senhores feudais - estabeleciam
rimônia e o vínculo eram solenes, pois eram os
com os servos, a quem confiavam a terra, uma
laços de sociedade em seus níveis superiores e po-
relação de fidelidade e proteção. liticaniente conscientes.
As relações de suserania e vassalagem ocor-
LYON. Henry R. IOrg.I. Dicionário da Idade Média.
riam em várias instâncias. Ao obter o direito
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997. p. 146.
de cultivar as terras de um senhor, que cedia
uma parte de suas terras, o vassalo poderia
dividi-las com outras pessoas. Assim, era pos- lflb1tii1bCo .Concílítimo
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sível que um indivíduo fosse suserano e, ao . .,-. .:.
mesmo tempo, vassalo.

Nas relações de suserania e vassalagem, o


suserano era o senhor que cedia parte de suas
terras para o vassalo; este, por sua vez, adquiria,
por meio do pagamento de taxas e impostos, per-
missào para cultivar as terras cedidas. A relação
Rei Sigisniundo cobra
de vassalagem consistia em um laço contratual seus deveres feudais
que unia dois homens livres: o dom/nus, recebe- com o Conselho de
Constantino, o qual
dor da fidelidade, e o vassalus, aquele que recebe
presidia. Iluininura
sustento de outro. Entre os séculos VIII e IX, pre- de Crônicas
valecia o vínculo pessoal de relações. Somente a dos Concilios de
Constantino,
partir do século Xl indivíduos assumiram as con-
manuscrito de
dições de vassalo para receber um feudo. tJlrich von Richental.
c. 360-1437.

51
2 Viajando peLa história
Para entender o feudalismo
A terra, no sistema feudal, era o determinante político, social e econômico. As regras
eram fixadas de acordo com a posse e o uso. Para entender esse sistema, primeiro vamos
observar como se formou o feudalismo na Europa ocidental.

A Idade Média durou muito tempo: pelo menos imagens onde eles são mostrados desembarcando
mil anos! É verdade que quando falamos de Idade nas costas da Normandia, no norte da França» para
Média pensamos quase sempre no período que vai saquear e destruir o interior. Na verdade, é provável
de 1000 a 1500. Mas ela começou pelo menos cinco que fossem apenas mercadores vindos dos países do
séculos antes, por volta do ano 500, portanto du- norte para comerciar - e alguns deles acabaram se
rante o século V depois de Cristo. [ ... ] instalando na França.
Já no século IV, haviam começado as "grandes como todas as sociedades, a Idade Média é
invasões" por povos que os romanos chamavam de complexa. Por que a chamamos de "feudal"? Antes
"bárbaros". Eles vieram, primeiramente, do norte de tudo porque ela é dominada por "senhores" que
(germânicos e outros povos do norte da Europa) e têm subordinados chamados "vassalos", aos quais
do oeste (celtas), mais tarde, do leste (húngaros e es- eles concedem ("emprestam", se preferirem) terras
lavos). A palavra "invasão" nos faz pensar em bandos que lhes proporcionam uma renda e que são cha-
de bárbaros passando como uma onda e devastando mados de "feudos", daí o nome "feudal".
tudo. Na realidade, eram apenas pessoas que se des- LE 00FF, Jacques. A Idade Média
locavam» pacificarnente, para irem se instalar mais explicada aos meus filhos. Rio de Janeiro:
ao sul. Vejam os vikings: talvez vocês já tenham visto Agir, 2007. p. 13,14 e 53.

-- t

Esse sistema foi denominado feudalismo porque se desenvolveu ao redor dos


feudos, que, em geral, eram grandes propriedades de terra controladas e protegidas por
um soberano.

ReLações sociais no mundo feudaL


1211
A sociedade feudal era dividida basi-
camente em três ordens ou estamentos: o
clero, a nobreza e os servos; a mobilidade
social era praticamente impossível. En-
nobn
tretanto, havia outros grupos sociais nas
servos vilas e cidades - principalmente a partir
do século XII, quando surgiram artesãos e
comerciantes - que transitavam entre esses
grupos e acabavam aproximando-os.
A maior parte do clero formava, com
os nobres, a classe dominante. Como a
religião era determinante na vida das pes-
Representação da pirâmide estamental. soas, o clero tinha muito poder e muita

k. ..
Estamento: forma de divisão na qual a posição social das pessoas é determinada pelo nascimento
ou pela origem familiar.

52 nrítuto 2
influência. A vida cotidiana dos medievos era suporte da estrutura feudal e estavam presos
regulada pelas normas da Igreja Católica, que à terra em uma relação de servidão. Eram deno-
as impunha por meio de seus "representantes minados servos da gleba. Havia também aqueles
divinos", as várias instâncias do clero. Muitos que não estavam ligados à terra, como os arte-
membros do clero eram senhores feudais, pro- sãos, ferreiros, marinheiros, artistas e ceramistas,
prietários de grandes extensões de terra, mas essa entre outros. A maioria dos servos, porém, traba-
descrição não se aplicava a todos os representan- lhava na terra de seus senhores em troca de pro-
tes do clero. teção e sustento.
A segunda ordem na hierarquia feudal era Havia ainda os vilões e os escravos. Os vilões
a dos nobres. Nesse estamento, estavam os pro- eram camponeses livres que tinham o direito
prietários de terra, chamados de senhores feu- de ir e vir entre os domínios de vários senhores.
dais. Sua principal atividade eram as guerras, Possuíam, geralmente, seus próprios instrumentos
pois na relação de vassalagem e suserania tinham de trabalho e animais. Suas obrigações eram es-
a responsabilidade de proteger o feudo e também tabelecidas por contrato, e pagavam algumas
seu suserano, que podia ser um rei ou um nobre. taxas aos senhores. Quanto aos escravos, eram
Na base dessa organização social, são en- pouco numerosos e trabalhavam, na maioria dos
contrados os servos, responsáveis pela realização casos, em serviços domésticos; pertenciam a essa
do trabalho e por tirar da terra o sustento. Eram condição apenas os prisioneiros de guerra.

Na organização feudal, prevaleceram a 2. Analise as imagens na perspectiva das


ligação estreita com a terra e os laços de relações sociais e da importância de cada
suserania e vassalagem. estamento nessa organização social. Se ne-

1 lrIr,r.tiÇiriiir, nIInI nrr4nrr, LJLS


ni, COtOIIICIILLJ
netnrnnntri
cessário, busque mais informações.
1. IUCIILIIILjUC O LfUOI. JIUCIII OC

relaciona cada imagem e o papel de seus


representantes no universo feudal.
Imagem 1 Imagem 2 Imagem 3

1Á IiI-h' '1

t,e trt1rRct1tf ri
Miniatura que mostra a nobreza acompanhando
1 a rainha Isabel 1, Autoria de Scan de Dreux carnpoos ara campo. Iluminura do manuscrito
•,
(1198-1239), publicada na Crônica das Cantigas de Santa Maria, século XIII.
,,, m11r1 Cruzadas.
Papo BooiíSou 235-1 303) ao promulgar
suas leis. Itália, século XIII. Miniatura
manuscrita.

Gleba: porção de terra à qual os servos estavam ligados e por cujo cultivo eram responsáveis.

o
Terra: privitégio e p 53
Feudo: a terra como priviLégio
Nessa sociedade agrária, a terra - elemento- A posse da terra era a principal identificação
-chave de toda a organização - era sinônimo de da posição social dos indivíduos, e tudo girava ao
privilégio e poder, e estava concentrada nas mãos redor do feudo, que tinha autonomia e organiza-
dos senhores feudais. ção própria.

[ ... ] Um feudo consistia apenas em uma aldeia e a várias centenas de acres de terra arável que a circunda-
vam, e nas quais o povo da aldeia trabalhava. Na orla da terra arável havia, geralmente, uma extensão de pra:-
dos, terrenos ormcs, bosques e pastos. Nas diversas localidades, os feudos variavam de tamanho, organização
e relações entre os que os habitavam, mas suas características principais se assemelhavam de certa forma.
Cada propriedade feudal tinha um senhor. Dizia-se coniumente do período feudal que não havia "senhor
,sem terra, nem terra sem senhor". [ ... ] Nessa moradia fortificada (castelo ou casa-grande de fazenda), o senhor
feudal vivia (ou a visitava, já que frequentes vezes possuía vários feudos; alguns senhores chegavam mesmo
a possuir centenas) com sua família, seus empregados e funcionários que administravam a propriedade. j ... J

HuBERMAN, Leo. História da riqueza do homem.


Rio de Janeiro: LTC. 2010. p. 4.

O feudo era dividido em partes, cada uma


com funções determinadas: o manso senhorial, ou
reserva; as terras arrendadas, ou o manso servil; e
as terras comunais.
No manso senhorial, encontravam-se as prin-
cipais construções do feudo: o castelo, os fornos,
os moinhos e a forja. Nessa parte das terras, os
servos trabalhavam alguns dias por semana exclu-
sivamente para seu senhor.
No manso servil, as diversas famílias de cam-
poneses cultivavam a terra para sua subsistência e
entregavam parte da produção ao senhor.
já nas terras comunais, formadas pelas pas-
tagens, florestas e bosques, a posse era coletiva.
Tanto os servos como os empregados domésticos
ou os senhores podiam reti rar lenha, coletar frutos,
ervas medicinais e usar as pastagens, porém a caça
era atividade exclusiva do senhor.
Diversos tributos eram pagos pelos servos aos
senhores nessa relação. Entre eles, podemos listar:
a corveia, prestação de serviço obrigatório de
dois ou três dias semanais no cultivo das terras do
Servos cultivando terra. fluminura representando o mês de
senhor ou na construção de estradas, pontes etc.; julho no livro Les três riches heures du Duc de Berry, século
a talha, que era a entrega de parte da produção XV. Nessa paisagem, vemos o castelo ao fundo, o manso servil
à esquerda e algumas terras comunais à direita,
dos servos para os senhores;
a banalidade, imposto pago pelo uso de equipa-
mentos, como fornos, moinhos, prensa e forja.
Ermo: sinônimo de desabitado, lugar vazio.
As taxas não terminavam com as obrigações Prado: campo de pastagens, geralmente pla-
relacionadas diretamente à produção. Quando no ou que apresenta um leve relevo.
o camponês casava com alguém subordinado a

54
outro senhor, pagava a formariage; e havia ainda manifestações. Entretanto, as condições eram
a mão-morta, uma taxa paga pelos familiares do geralmente aceitas, pois as relações, normas e
servo, quando ele morria, para que pudessem valores que constituem as regras da sociedade
continuar vivendo no local e explorando seu lote. são construídos, assimilados e tornam-se natu-
Os camponeses nem sempre aceitavam essa rais no decorrer de vários séculos e várias gera-
situação pacificamente. Ocorriam muitas revol- ções. Leva-se muito tempo para que mudanças
tas envolvendo depredação de bens dos senhores, ou rupturas dos padrões estabelecidos sejam
queima de documentos, protestos, entre outras efetivadas.

Observe as imagens abaixo e faça o que se pede.


Imagem 1 Imagem 2

L•

II*'
1 . !

Outono. iluminura do Codex


Vindobonensis, c. 1400.

Castio. lUHIiflUO do hvio ConidIação de


crônicas da história dos bretões, séc. XV. Cortando lenha. Ilurninura do Livro das
Horas, c. 1520-1530.

Descreva cada uma das imagens de acordo com o que você sabe sobre o feudalismo.

A imagem 1 representa a atividade-base da economia feudal. Qual era essa atividade?

Procure identificar a qual grupo social pertencem as pessoas da imagem 1. Que critérios você
usou para associé-las a esse grupo?

A quem pertencem as moradias representadas nas imagens 2 e 3?

S. Usando os mesmos critérios hoje, você conseguiria identificar a classe social de um grupo de
pessoas? Explique.

Pausa para investigação


Os servos na sociedade feudal pagavam dãos brasileiros. Juntos, enumerem as taxas
impostos aos senhores pelo uso da terra e dos e indiquem os produtos ou serviços sobre os
maquinários. Atualmente, em todo o mundo, os quais elas incidem. Busquem informações em
cidadãos pagam impostos ao Estado, que são re- órgãos governamentais e de pesquisa sobre o
vertidos em serviços prestados às comunidades. valor aproximado que é pago anualmente em
Em grupo, faça uma pesquisa sobre os impostos.
impostos diretos e indiretos pagos pelos cida-

55
Resgate culturaL

A vida entre os muros que distinguem os mais abastados das demais


camadas sociais, também impulsionam a cons-
Em metrópoles de vários países ocorre um trução de condomínios murados.
fenômeno urbano que se expande diariamente. Os condomínios estão equipados com apa-
Trata-se da construção de grandes condomí- rato sofisticado de segurança e monitoração.
nios residenciais capazes de comportar muitos Os sistemas de proteção contam com alarmes,
indivíduos e estabelecimentos comerciais. câmeras, seguranças armados, além de tec-
Muitos dos moradores desses lugares não nologias e serviços fornecidos por empresas
precisam se deslocar cotidianamente para especializadas nesse ramo, muitas vezes com
outros tocais da cidade, pois nesses espaços assessoria direta do policiamento público ofi-
eles encontram tudo de que precisam para a cial da cidade. É importante lembrar que todas
manutenção da vida social, por exemplo, tra- essas medidas apenas oferecem a sensação
balho, estudo, lazer, consumo, entre outras. de segurança, mas não uma vida isolada dos
males sociais que caracterizam as grandes
metrópoles, como a já citada violência.

•-
r:

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Lugares com essas características não são


recentes na história. Algo parecido com esse
fenômeno urbano ocorreu com os burgos na
Os condomínios fechados não são destinados
Europa ocidental da Idade Média. Quando
à grande parcela da sociedade, ao contrário, esse continente ainda estava sob o domínio do
atendem a um grupo seleto de pessoas que Império Romano do Ocidente, seus habitantes
podem pagar caro por esses imóveis. tinham essa unidade do império para se pro-
Um dos principais motivos que levaram à teger, mas, com o enfraquecimento dele, os
expansão desse modelo de empreendimento foi diversos conflitos internos foram agravados
o sentimento de insegurança social, medo de por guerras contra outros povos.
assaltos e sequestros. Entretanto, a busca por A construção de muros ao redor das cidades
status e pela moradia em locais privilegiados, veio da necessidade de protegeras pessoas das

56
guerras e dos invasores das cidades vizinhas mais próximas. Dentro desses muros eram construí-
das verdadeiras fortalezas de pedra. Foi um período de muita instabilidade social, cujas demandas
careciam dessa autoproteção e vigilância constante.
Várias dessas cidades muradas ainda existem e podem ser visitadas no continente europeu.
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Vst do Carcassonne, A!ido

O que há em comum entre as cidades muradas da Europa medieval e os condomínios residenciais


de hoje é o sentimento de insegurança permanente e a consequente necessidade de providenciar
constantemente mecanismos de vigilância.
Se no Período Medieval havia uma ameaça real de invasão, atualmente é o medo causado pela
violência nas grandes cidades que motiva uma vida atrás de muros e cercas elétricas.
É possível dizer que o fenômeno medieval tinha motivações muito distintas daquelas que alguns
grupos sociais têm hoje, embora o sentimento de medo e insegurança esteja presente em ambos
os casos.

1. Que diferenças e semelhanças há entre o medo que levou à construção de cidades muradas no
Período Medieval e o que leva à construção de condomínios fechados atualmente?

torra: pflviteyio e p 57
Um momento de transformacões
Após o século Xl, quando cessaram as migrações de povos do norte da Europa, ocor-
reu um aumento significativo da população na Europa ocidental, e os senhores feudais
precisaram aumentar a área cultivada para atender à demanda de alimentos e vestuário.
Novas áreas também exigiram mais trabalhadores servis.
As transformações contribuíram para o desenvolvimento de cidades e vilas e para o
fortalecimento das atividades comerciais - uma vez que o aumento da produção gerou
excedentes -, mas pouco modificaram as relações de trabalho. Alguns avanços técnicos
também ajudaram a incrementar a produtividade: um novo tipo de arado, novo modo de
arrear os animais, o sistema de rotação (rodízio de cultivo), entre outros.

Sempre que a paz pôde ser mantida (e a prote- e um esforço coletivo de trabalho, e que propiciou o
ção contra as invasões bárbaras registrou uma subs- florescimento das comunidades.
tancial eficácia no século XI), a economia senhorial A superestrutura da civilização medieval dos sé-
provou ser capaz de sustentar um constante aumen- culos Xli e Xlii baseou-se nessa bem-sucedida eco-
to de população. Seus métodos clássicos de lavoura nomia senhorial, mas em fins do século xiii já eram
baseavam-se no sistema de três campos: a cada ano, evidentes as inadequações em sua organização bási-
em rotação, o trigo era cultivado num campo; num ca. [..j A conversão dos serviços de mão de obra em
outro, a aveia, a cevada, o feijão e as leguminosas, pagamentos monetários ao senhor tinha se genera-
enquanto que um terceiro campo era apenas alquei- lizado, e as tentativas para voltar a impor o serviço
vado; em algumas regiões, era mais comum o siste- feudal contribuíram para a inquietação e as revol-
ma de dois campos, um cultivado e um alqueivado. tas camponesas do final da Idade Média. O siatus
A cada aldeia era anexada uma área de pastagem, do camponês variou muito, e as distinções jurídicas
a qual assegurava a obtenção de forragem para o nem sempre condiziam com a realidade econômica
gado. Mas o fundamental era o arado e a divisão da e social.
terra em faixas, algumas pertencentes ao senhor e
LYON, Henry R. lürg.l. Dicionário da Idade Mádia.
outras aos seus homens, o que conjugava proteção Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997. p. 9-10.

A sociedade feudal era essencialmente agrário da sociedade ocidental. De fato, com a


agrária e caracterizada pelo trabalho servil. da economia mercantil era mais difícil recolTer-se
1. Analise as informações do texto a seguir e à mão de obra escrava (caso em que o trabalhador é
diferencie escravidão, servidão e trabalho mercadoria) ou assalariada (caso em que a força de
assalariado. trabalho é mercadoria). Assim, apresentava-se como
solução natural a mão de obra servil, isto é, produto-
Sem dúvida, porém, o principal tipo de trabalha- res dependentes, sem liberdade de locomoção (de que
dor no feudalismo eram os servos. Contudo, não é fá- goza um assalariado), mas que escapavam à arbitra-
cil acompanhar a passagem da escravidão para a ser- riedade de um senhor (que atingia o escravo).
vidão. Ela se deu lentamente, com variações regionais,
FRANCO JR., Hilário. O feudalismo. São Paulo:
mas sempre acompanhando o caráter cada vez mais Brasiliense. 1991. p. 39.

Arrear: colocararreios. Conjunto de apetrechos Atrofiz: definhamento, decadência, falta de


utilizados na montaria e tração de animais de ação.
grande porte, como os cavalos.

58
Cruzadas
Entre os séculos XI e XIII, na Europa ocidental, foram organizadas diversas expedições
militares de caráter político-religioso, proclamadas em nome da Igreja Católica, cujo ob-
jetivo era a recuperação da propriedade cristã e a defesa da cristandade. Essas expedições
foram denominadas Cruzadas. As Cruzadas também tinham a intenção de retomar o controle
da Palestina, que havia sido ocupada durante a expansão árabe. Assim, pode-se dizer que o
argumento legitimador das Cruzadas foi o combate às expansões árabe e muçulmana.
As expedições, a princípio, receberam grande adesão dos nobres e camponeses.
Os nobres viam nelas a oportunidade de conquistar novas terras e aumentar seus do-
mínios; já os camponeses tinham a chance de se libertar das dívidas contraídas com os
senhores e de garantir o perdão dos pecados.
Como consequência, as /
Cruzadas trouxeram a insti-
tucionalização do comercio
L
externo entre o Onente e a

!P 1'5:
dos foram gradativamente
se transformando em rotas

tos como açúcar, arroz, café f7 ls y' /a


e perfumes e da adoção de
novas práticas financeiras,
como letras de câmbio e .
uso de cheques, muitos as $

pectos culturais do Oriente


4,,
também foram introduzidos
na Europa.
Batalha eillw cruzados e muçulmanos. iIustraço de miguei francesa para o livro Le Roman de Godefroi de
Bouillon, século XIV.

Organizandoideias ..

Leia o texto e faça o que se pede pular, sendo o período de sua maior popularida-
Cruzada: guerra proclamada pelo papa em de o de 1187 a 1250. Atraindo leigos de todas as
nome de Cristo e travada como iniciativa do pró- classes, eram acompanhadas por exercícios peDi-
prio Cristo para a recuperação da propriedade tenciais e litúrgicos que constituíam características
cristã ou em defesa da Cristandade contra inimigos marcantes do culto popular da época. [ ... ]
externos ou internos. LYON. Henry R. tOrg.]. Dicionário da Idade Média.
O movimento das Cruzadas, que era em um Rio de Janeiro: Jorge Zehar Editor, 1997. p. 110-111.
certo sentido uma extensão da guerra que estava
Explique a expressão "violência divinamente
sendo travada contra os muçulmanos na Espanha
e na Sicilia, foi muito influenciado pelo conceito de autorizada, no contexto medieval.
Santo Agostinho de 1-Jipona de violência divina-
mente autorizada [ ... ]. No mundo atual, ainda travam-se batalhas ou
De 1095 até pelo menos 1400, as Cruzadas fo- cometem-se atos de violência em nome da re-
ram uma atividade devocional genuinamente po- ligião? Explique e exemplifique essa situação.

Terra: privitégio e p: 59
A crise do sistema feudaL

A partir do século XIV, o sistema feudal come-


çou a entrar em crise. Vários foram os fatores que As monarquias feudais se caracterizaram
levaram à desagregação do feudalismo; entre eles pelo fortalecimento do poder dos reis, que se
uniram à burguesia crescente - comerciantes
é importante ressaltar:
e banqueiros - visando fortalecer o comércio e
fome e miséria causadas, em parte, pela expan-
derrubar as barreiras impostas pelos feudos.
são demográfica;
mudanças climáticas drásticas;
A peste negra era causada por bactérias e
aumento do comércio interno e, principalmen-
transmitida pelas pulgas dos ratos. Os sintomas
te, externo; eram dores, febre constante e hemorragias,
surgimento das monarquias feudais; além do aparecimento de manchas escuras na
epidemias como a peste negra, que assolou a pele. O conhecimento médico da época não foi
Europa. suficiente para combater a epidemia, que se es-
Oriunda do Oriente, a peste negra, entre 1348 palhou por várias regiões do continente europeu,
e 1351, foi responsável pela morte de cerca de 1/3 dizimando milhares de pessoas.

da população europeia (aproximadamente 20 mi-


lhões de pessoas). A carência alimentar e
as condições higiênicas precárias foram os
principais fatores que contribuíram para a
disseminação da epidemia.
As consequências da peste negra foram
diversas. Entre elas:
carência de mão de obra;
queda dos preços das terras;
proliferação de cultos místicos;
crença de que a epidemia era um
castigo divino, portanto as pessoas
infectadas eram consideradas culpa-
das pela disseminação da doença;
abandono dos doentes e desprezo
pelos infectados;
perda de prestígio da Igreja Católi-
ca dada a contaminação e morte de
muitos clérigos.

O negociante de milho: dono da mercearia. Iluminura de


Domenico Lenzi. sc. XIV. As técnicas agrícolas modernas,
somadas à introdução de novas culturas, promoveram o
desenvolvimento das cidades,

60 lule, 2
viunfo da morte. Atresco de 1445, de autoria desconhecida.
norte é representada por um esqueleto que escolhe
as vítimas montado em uma carcaça de cavalo. Com o
ascimento desordenado das cidades. vieram as epidemias
nmo a peste negra. que se espalhou rapidamente e dizimou
li ande parte da população europeia.

O Ocidente medieval estava despreparado para enfrentar a peste. Por outro lado, a doença coin-
cidiu com o início de importantes mudanças econômicas, sociais e culturais e, em certa medida, até
contribuiu com elas. A enorme 1,valorizou a mão de obra. Os servos já
não estavam tão presos às terras do senhor feudal e muitos deles mudaram-se para as cidades, onde
novos ramos de atividades se desenvolviam.
O comércio, inclusive o marítimo, desenvolveu-se muito, as ciências e as artes progrediram e tudo isso
repercutiu na prática médica. Acabou o tabu em relação aos estudos anatômicos, a medicina tornou-se mais
prática e mais científica. Era a modernidade que tinha inicio e sob o signo dela ainda vivemos.
SCLIAR, Moacyr. Doutor Sinistro. Aventuras na História.
São Paulo: Abril. 3. eU., p. /2-43, no'í 2003.

Pausa para investigação 19

A peste negra devastou a Europa no século Rota percorrida pela peste negra desde sua
XIV. As consequências dessa epidemia foram origem.
profundas e alteraram significativamente di-
versas áreas da atuação humana. Organizem- Regiões mais afetadas pela peste negra, a
-se em pequenos grupos e pesquisem um dos época em que ocorreu o auge do surto e a pro-
temas descritos nos itens de 1 a S. Os grupos porção, em média, das populações dizimadas.
podem utilizar diversas fontes de pesquisa,
Meios de propagação da peste negra, seus efei-
como sites confiáveis, filmes, livros de Histó-
tos sobre o corpo humano e formas de combate
ria, revistas especializadas e obras literárias
mais utilizadas pelos médicos da época.
(romances, novelas, poemas etc.). Por fim, os
resultados da pesquisa de cada grupo devem
Imagens relacionadas à peste negra.
ser apresentados da forma que as equipes
julgarem mais adequada. S. Obras literárias compostas em razão da peste
negra.

A Otossar
Hecatombe: perda de muitas vidas, indepen- Paradoxo: opinião ou conceito que parece con-
dentemente do motivo. trário ao senso comum.

Terra: privitéqio e p 61
Quando a terra torna-se mercadoria
Vimos que o capitalismo começou, no que comunais, que os camponeses também podiam ex-
diz respeito ao tempo, com a desagregação do plorar) e as transformaram em pastagens de ovelhas
feudalismo no fim da Idade Média e, no que diz para a produção de lã, atendendo assim à demanda
respeito ao espaço, na Europa ocidental. Ele gerada pelo crescimento populacional. Esse sistema
marcou a transição da concepção de terra como foi chamado de cercamento.
feudo para a de terra como propriedade.
Além dos cercamentos, surgiram também os
Na Idade Média, a propriedade da terra era
arrendamentos, nos quais os senhores cediam pe-
concedida pelos reis aos nobres, em uma relação le-
daços de terras a camponeses que pudessem pagar
gitimada pelo poder da Igreja Católica. A partir do
por seu uso. O pagamento podia ser em dinheiro ou
século Xl, com o desenvolvimento das atividades co-
produção. Muitos senhores obtiveram grande êxito
merciais e o crescimento das cidades, as estruturas
com o negócio de arrendar terras antes não pro-
feudais começaram a se modificar. Surgiram novos
dutivas. Para os camponeses, essa prática foi uma
grupos sociais, como os burgueses (comerciantes,
oportunidade de mudar de condição social. Diante
banqueiros e artesãos enriquecidos) e os trabalha-
da nova realidade, a terra passou a ter uma caracte-
dores que recebiam pagamento por seu trabalho.
rística mais comercial.
Com o crescimento do mercado, foi preciso
aumentar a produção, o que foi possível por causa Isso não ocorreu da mesma forma em todos
da melhoria dos métodos agrícolas e das novas os lugares, mas foram os primeiros passos da
áreas de cultivo. Assim, terras nunca antes culti- transição do feudalismo para o capitalismo.
vadas, como florestas e pântanos, passaram a ser Aterra, podendo ser vendida, comprada, arrendada
agricu Itáveis. ou trocada livremente como qualquer outro bem ou
Nesse momento, em grande parte da Europa, mercadoria, foi o fator determinante para o fim do
os proprietários cercaram suas terras (incluindo as sistema feudal.

Organizando ideias

Leia os textos a seguir relacionando-os ao tra decidida resistência tanto dos camponeses po-
conteúdo do capítulo e responda às questões. bres, para os quais o aumento das rendas feudais era
insuportável, como também daqueles camponeses
Texto 1 acomodados que não aceitavam as restrições a sua
liberdade de movimentos, à liberdade de comprar e
Estimulados pela crescente demanda de lã, os
vender no mercado, de comprar e vender terras etc.
grandes proprietários iniciam o movimento dos cer-
OLIVEIRA. Carlos Atonso Barbosa de. Processo de
camentos na segunda metade do século XV [ ... ]. Pe- industriaUzação: do capitalismo originário ao atrasado.
los cercamentos, as terras de propriedade campone- Sâo Pauto: Unesp; Campinas: Unicamp, 2003. p. 130- 131.

sa ou do senhor tornavam-se glebas contínuas e OS


grandes proprietários que comandavam essa nova Texto 2
partição, usando de meios legais e ilegais e muitas Nas sociedades primitivas a: era cercada
vezes da violência, arruinavam os camponeses que de tabus, estando vinculada a ritos religiosos e tradi-
ou perdiam suas terras, ou eram obrigados a vendê- cionais específicos. A economia do homem encon-
-las, ou ainda, frequentemente, ficavam com parce- trava-se embutida nas relações sociais. Neste sentido,
las situadas nas piores terras. a construção do mercado envolve a liquidação de
a nobreza atuava no sentido de aumentar as todas as formas orgânicas de vida, com a destruição
cargas feudais e procurava cercear a liberdade dos das relações de vizinhança, parentesco, profissão
camponeses. Nesse movimento, entretanto, encon- e credo I ... J. Ao contrário do que acreditavam os

62
economistas clássicos, a construção do mercado, De que maneira os senhores feudais colocaram
longe de ser um fato "natural", foi um processo em prática a política dos cercamentos? Quais
planejado e controlado centralmente pelo Estado, en- foram as consequências para os camponeses?
volvendo a criação artificial da escassez (cercamento Os camponeses aceitaram a implementação dos
de terras, cobrança de impostos "por cabeça") para cercamentos de forma passiva?
moldar o comportamento dos camponeses europeus Que relação o segundo texto estabelece entre as
[...j segundo a orientação para o trabalho caracterís- trocas comerciais e os costumes dos povos?
tica do "espírito do capitalismo".
Como é possível relacionar os dois textos?
I3ORGES, André. Democracia vs. Eíiciência: a teoria
da escolha pública. Lua Nova, revista de cultura e política.
São Pauto: Cedec. n. 53, p. 166, 2001.

Se a terra é mercadoria que se compra e se


Terra e poder vende, logo muitas pessoas, por falta de recursos
financeiros, não conseguem se tornar proprietárias.
No decurso da história, os seres humanos
Surge, então, uma característica polêmica do
encontraram diferentes maneiras de retirar da
conceito capitalista de propriedade: além de privada,
natureza todos os recursos necessários para sua
é excludente, pois impede o acesso de grande parce-
sobrevivência.
la de produtores a seu meio de produção.
Como vimos, na relação capitalista a terra é
Historicamente, os grupos humanos passaram
uma propriedade, ou seja, pode ser comprada e
a disputar a propriedade da terra. No âmbito agrá-
vendida, assim como pode ser usada para produzir
rio, podemos afirmar que, no sistema capitalista,
e obter um ganho, o lucro. Desse modo, o proprie-
a posse de grandes porções de terras por poucos
tário acumula riquezas explorando a terra.
proprietários, em detrimento do grande número de
Para isso, é preciso haver trabalhadores dispos-
pessoas sem acesso à terra, resulta em altos níveis
tos a vender sua força de trabalho para o proprietário
de desigualdade social. A posse de grandes exten-
e fazer a terra produzir, seja na agricultura, na criação
sões de terra, por sua vez, dá a possibilidade aos
de gado, seja em outras formas de exploração.
proprietários de acumular mais riquezas (a própria
É possível que, ao longo da história, já preva-
terra é uma riqueza, ou seja, uma mercadoria com
lecesse a divisão em classes entre os que trabalha-
valor agregado), além de poder e prestígio na socie-
vam a terra e aqueles que utilizavam o trabalho de
dade, o que só aumenta a discrepância econômica.
outros para isso. Nessa relação, distinta em cada
lugar e período, os produtores geralmente eram os
Pausa para investigação .
camponeses, porém nem sempre eram eles os de- L
tentores dos meios de produção, especificamente Ouvimos diariamente nos meios de comu-
a terra. Por meio desse raciocínio, podemos enten- nicação que as terras no Brasil estão divididas
der a origem agrária das relações capitalistas. em latifúndios, que são propriedades rurais de
O efeito direto da relação entre terra e proprieda- grande extensão, cuja grande parte das terras
de foi poder tomá-la mercadoria sujeita às leis de mer- aproveitáveis não é utilizada para o cultivo, ou
cado, cujo valor se baseia na lei da oferta e da procura. propriedades cuja totalidade de sua extensão
Na propriedade capitalista, os camponeses pas- se destina à produção econômica.
saram a depender do mercado não só para vender Ainda hoje, a relação entre terra e poder
seu produto mas também para ter acesso à terra. continua forte em nossa sociedade. Organi-
zem-se em grupos e pesquisem os conflitos
sociais provocados pela posse da terra. Em
Permuta: troca. seguida, apresentem os resultados.

:::;:;,: :: 63
A propriedade coLetiva
No capitalismo, podem existir outros tipos Logo, a propriedade pública também tem essa
de propriedade, além da privada. Nas cidades, característica.
há praças, parques, hospitais públicos e escolas No entanto, nem toda propriedade coletiva é
municipais, estaduais e federais. Essas e outras uma propriedade pública. Existiram, e ainda existem,
propriedades são públicas, ou seja, todas as pes- sociedades em que a propriedade da terra e de outros
soas podem usufruir dos espaços ou serviços ofe- bens é ou era coletiva. Nesses casos, as propriedades
recidos por elas, que, na maioria das vezes, são visam atender às necessidades de um grupo.
administrados pelos governos. Em algumas dessas organizações, não há in-
No caso dos bens públicos, entende-se tervenção de um poder representativo (Estado) no
que, legalmente, todos os cidadãos são proprie- gerenciamento do bem coletivo.
tários. Esses bens são mantidos com dinheiro Exemplos podem ser vistos no modo de or-
arrecadado dos próprios cidadãos, pelo recolhi- ganização de muitos grupos indígenas em todo o
mento de impostos. mundo e nas comunidades quilombolas espalha-
Consideramos "público" aquilo que pertence das pelo Brasil, além de outros casos como coope-
ou é destinado à população ou ao coletivo. rativas e assentamentos.

Jardim Botanico de
/ Curitiba(PR) 2015.
- O patrimônio publico
p rtenceatodosos
, cidadãos, por isso
' .,_i - oroteger esses bens
cever de todos-
- O .. .sociedadeedo
t-ido

- - . -

O ,- ?--

Horta orgânica
comunitária em
Barra (BA), 2015.
Este é um exempki
de propriedade
coletiva.

64 •pitu(o 2
Leia os textos abaixo e faça o que se pede formas de vida. É o lugar onde enterram seus mortos
Texto 1 e celebram a vida. É o lugar onde produzem e repro-
duzem sua cultura e convivem de forma costurneira
Não é raro ouvir-se dizer que os índios não têm e respeitosa, espiritualmente integrados à natureza.
noção do direito de propriedade. Nada mais falso. Seria Não é mercadoria, nem propriedade privada de pes-
mais correto dizer que o direito de propriedade não soa física ou jurídica. É patrimônio coletivo, de todo
é aplicado da mesma maneira entre os índios como um povo, de seus usos e costumes, e assim a apro-
entre nós e que sofre variações segundo as diversas priação dos seus frutos se dá, igualmente, de forma
sociedades indígenas. Os bens que se destinam a ser coletiva, de forma sustentável, seja no âmbito de uma
consumidos são geralmente de propriedade individual. terra, de urna aldeia, ou de grupos familiares extensos.
Os bens que se destinam à produção de outros bens
Terra: direitos patrimoniais e territoriais. Documento elaborado
podem ser alguns deles de propriedade coletiva e outros
pelas CP Se CP 6 do CONSEA para plená ria de 29 de outubro
de propriedade individual. de 2008. Disponível em: <www4.planalto.gov.br/consea/
A terra, por exemplo, é um bem de produção eventos/plenarias/documentos/2008/direitos-patrimoniais-e-
geralmente possuído coletivamente. [ ... J territoriais-sobre-a-terra-10.2008>. Acesso em: 1ev. 2016.

MELATTI. Julio Cezar. índios do Brasil. São Paulo: Hucitec;


Brasilia: Editora da UnB. 1993. p. 64. Qual é a importância da terra nos territórios
Texto 2 étnico-raciais de acordo com esses textos?

Para os territórios étnico-raciais a terra não é Compare o significado de propriedade da terra


apenas um meio de produção da sua subsistência e
para as comunidades citadas nos textos e para
reprodução física, mas, sobretudo, um patrimônio
o capitalismo. Estabeleça as semelhanças e as
sociocultural. A terra, para eles, é a sua casa, o lugar
onde nascem, crescem e desenvolvem suas diferentes diferenças.

A proposta sociaLista
Outro exemplo de propriedade coletiva da
terra deriva do sociaLismo. somente jurídica ou política), através da interven-
ção dos poderes públicos.
BOBBIO. Norberto; PASQUINO, Cianíranco.
O sociaLismo é uma doutrina de contestação Dicionário de política. 13. ed. Brasília: UNB. 2010.
da prática capitalista e um projeto de constru-
ção de sociedade mais justa. Portanto, ela deve
ser mais igualitária e também dar a cada um De acordo com os pensadores alemães Karl
mais liberdade.
Marx e Friedrich Engeis, a propriedade burguesa
Em geral, o Socialismo tem sido historicamente
definido como programa político das classes tra- deveria ser abolida e todos os bens de uso social
balhadoras que se foram formando durante a Re- deveriam ter caráter coletivo.
volução Industrial. A base comum das múltiplas Essa proposta foi elaborada no século XIX - pe-
variantes do Socialismo pode ser identificada [ ... ] ríodo que corresponde ao auge da industrialização na
numa organização social na qual: a) o direito de Europa ocidental, quando o operariado sofria com
propriedade seja fortemente limitado; b) os prin- a exploração exacerbada e a miséria. Na tentativa de
cipais recursos econômicos estejam sob o contro-
reverter esse quadro, Marx e Engels, no Manifesto
le das classes trabalhadoras; c) a sua gestão tenha
por objetivo promover a igualdade social (e não comunista, divulgaram uma proposta de transfor-
mação estrutural das sociedades capitalistas.

Étnico-raciaL: aquilo que se refere a um grupo social identificado por meio de algumas caracte-
rísticas físicas.

65
O Manifesto comunista foi publicado em Para Marx, ninguém teria uma atividade ex-
fevereiro de 1848. Nele, os autores retratam as di- clusiva na sociedade comunista, todos poderiam
ferentes formas de opressão ao longo da história, aperfeiçoar-se na atividade que quisessem. A so-
destacam a burguesia como nova classe opressora ciedade é que regulamentaria a produção geral,
e anunciam a revolução socialista, que seria iniciada dando a oportunidade de a pessoa fazer diferentes
com a tomada do poder pelo proletariado, como atividades. Marx recusou-se a pormenorizar o que
solução para os problemas do sistema capitalista. seria concretamente o comunismo, já que deveria
Antes de Engels e Marx, já haviam surgido ser o fruto da experiência prática dos indivíduos
outras propostas de criação de comunidades iguali- que o construíssem.
tárias, mas foram esses pensadores que propuseram
de forma mais concreta essas questões. ProLetariado é o conceito utilizado por
Para que se efetivassem as mudanças, os ope- Marx para definir a classe social antagônica
rários deveriam se organizar e realizar uma revolução à classe dos capitalistas (chamada por ele de
socialista. Assim, o protetariado passaria à posição de burguesia). Faziam parte dessa classe os tra-
classe governante no lugar da burguesia e acabaria de baLhadores cuja única forma de sustento era a
vez com todas as desigualdades sociais do capitalismo. venda de sua força de trabalho.
Nessa nova ordem, todos teriam condições de O comunismo é um sistema caracterizado
pela propriedade coletiva dos meios de produção
ter uma vida digna e estabeleceriam um novo estágio
e de troca, o desaparecimento das classes e do
de organização social, o comunismo. Estado. A administração das coisas permitirá a
A proposta comunista define-se como um cada quaL viver consoante as suas necessidades,
regime social com distribuição de riqueza igualitá- sem estaramarradoa um trabalho ea uma situa-
ria e propriedade comum de todos os bens. Seria ção social definidos.
uma sociedade sem classes, na qual todos teriam GÉLÉDAN, Alain; BRÉMOND. Janine. Dicionário econômico
efetivamente os mesmos direitos, sem qualquer tipo e social. Lisboa: Livros Horizonte, 1988. p. 61.
de dominação e opressão.
- -.
Todas as relações de propriedade estiveram sujeitas burguesa? Não é necessário aboli-la. O desenvol-
a uma constante transformação e a uma constante mu- vimento da indústria já a destruiu em boa parte e
dança histórica. Todas as relações de propriedade do continua, dia após dia, a destruí-la.
passado têm sido continuamente sujeitas às mudanças Ou trata-se da propriedade privada da burguesia
históricas. A Revolução Francesa, por exemplo, aboliu a moderna? Mas o trabalho assalariado resulta em algu-
propriedade feudal em favor da propriedade burguesa. ma propriedade para o trabalhador? De forma alguma.
A característica distintiva do comunismo não é Ele cria capital, ou seja, aquele tipo de propriedade que
a abolição da propriedade em geral, mas a abolição explora o trabalho assalariado e que não pode aumen-
da propriedade burguesa. A propriedade privada da tar exceto na condição de gerar um novo suprimento
burguesia moderna é a expressão final e mais completa de trabalho assalariado para nova exploração. [...1
do sistema de produção e de apropriação de produtos, A meta imediata dos comunistas é a mesma de
que é baseado no antagonismo de classes, na explora- todos os outros partidos proletários: a formação do
ção de um homem por outro. Neste sentido, a teoria proletariado em uma classe, a derrubada da supermacia
dos comunistas pode ser resumida em uma sentença: burguesa, a conquista do poder político pelo prole-
abolição da propriedade privada. tariado. Suas conclusões teóricas não estão baseadas
Nós, comunistas, temos sido condenados pelo de modo algum em ideias ou princípios que foram
desejo de abolir o direito de pessoalmente adquirir pro- inventados, ou descobertos, por este ou aquele futuro
priedade como fruto do trabalho do próprio homem, reformador universal. Mas são apenas expressões ge-
quando alega-se que a propriedade é o trabalho de base neralizadas das condições de uma luta de classes que
para a liberdade, a atividade e a independência pessoal. existe de fato, de um movimento histórico que se passa
Propriedade conquistada duramente, dignamen - diante de nossos olhos.
te adquirida e merecida! Está se referindo à proprie- MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto comunista.
dade do pequeno artesão e do pequeno camponês, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2006. p. 32-33.
uma forma de propriedade que precedeu a forma

66 nituto 2
Para Marx e Engeis, após a revolução proletária, algumas medidas deveriam ser tomadas para se
efetivar o novo regime social. Conheça-as a seguir.

Abolição de propriedade em terra e aplicação de todos os aluguéis de terra para fins públicos.

Um imposto de rcnda pesado progressivo ou gradual.

Abolição de todo direito de herança.

Confisco das propriedades de todos os emigrantes e rebeldes.

S. Centralização do crédito nas mãos do Estado, através de um banco nacional com capita! do Estado
e um monopólio exclusivo.

Centralização dos meios de comunicação e transporte nas mãos do Estado.

Extensão de fábricas e de instrumentos de produção possuidos pelo Estado; levar o cultivo à terra
inculta e a melhoria do solo em geral de acordo com um plano comum.

Responsabilidades iguais para todo trabalho. Estabelecer exércitos industriais, em especial para a
agricultura.

Combinar as indústrias de agricultura com a de manufatura; abolição gradual das distinções entre cida-
de e campo, através de uma distribuição mais igual da população no país.

Educação gratuita para todas as crianças em escolas públicas. Abolição do trabalho infantil em fá-
bricas do modo atual. Combinação de educação com produção industrial etc.

Quando, no curso do desenvolvimento, as diferenças de classe tiverem desaparecido e toda a produ-


ção tiver sido concentrada nas mãos dos indivíduos associados, o poder público irá perder o seu caráter
político. O poder político, propriamente chamado, é, meramente, o poder organizado de uma classe para
oprimir outra. Se o proletariado se eleva necessariamente à condição de classe dominante em sua luta
contra a burguesia e, na condição de classe dominante, tira de cena as antigas relações de produção, então
com isto ele tira também de cena a condição para a existência destas classes. E acaba por abolir seu papel
de classe dominante.

No lugar da sociedade burguesa antiga, com suas classes e antagonismos de classe, teremos uma asso-
ciação, na qual o desenvolvimento livre de cada um é a condição para o desenvolvimento livre de todos.
MARX. KarL; ENGELS, Friedrich. Manifesto comunista. 7. ed. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 2001. p. 42-4/4.

Analise as medidas sugeridas por Marx e EngeIs e imagine uma sociedade fundamentada
nesses princípios. Descreva como ela seria.

Algumas das medidas referem-se ao uso e à posse da terra. Explique-as.

Busque informações sobre os partidos políticos brasileiros que defendem a proposta socia-
lista e procure inteirar-se do conteúdo programático que rege o partido. Compare-as com as
proposições descritas aqui.

67
2 Viajando peLa história
As experiências socialistas no século XX
Durante o século XX, alguns países Socialistas Soviéticas (URSS), que chegou
adotaram o regime socialista. A aplicação a ter 15 repúblicas.
dele nos diferentes países precisou adaptar- Após a morte de Lênin, em 1924, Joseph
-se a essas realidades, o que modiflcou a Stalin assumiu o poder de forma centraliza-
proposta original. dora e ditatorial. Seu governo permaneceu
Entre as experiências implantadas pelo até 1953, já no período da chamada Guerra
mundo, algumas já não existem, ou seja, Fria (quando os Estados Unidos da América
esses países não vivem mais sob o socialismo. e a URSS disputavam a soberania mundial).
Vamos conhecer um pouco as expe- As primeiras medidas do novo regime
riências socialistas da Rússia e da China. foram a estatização das fábricas e a reforma
Rússia, 1917: após a queda do czar, agrária, com expropriação dos Latifúndios.
instaurou-se no país um governo provisório. A URSS durou até 1991, quando co-
Por não retirar a Rússia da Primeira Guerra meçou a abertura de sua economia e seu
Mundial, não realizar a reforma agrária desmembramento. Esse fato marcou a en-
e não melhorar as condições de vida dos trada dos países da antiga União Soviética
trabalhadores, esse governo foi derrubado no mundo capitalista.
pelos bolcheviques, e os líderes socialistas
Vladimir Lênin e Liev Trotsky, apoiados Reforma agrária é o conjunto de ações
e fortalecidos pelo movimento operário, adotadas por um governo para promover
implantaram um governo revolucionário. a descentralização da posse de terras.
Com Lênin no comando, as teorias defen- Para realizá-la, algumas medidas podem
didas por Marx e Engels foram parcialmente ser tomadas, como a expropriação dos
colocadas em prática. Latifúndios, que consiste em confiscar
grandes propriedades improdutivas, a fim
Aconteceram reações internas, o que
de que sejam distribuídas para pessoas
culminou em uma guerra civil, que deixou
que não possuem propriedade agrícola.
um saldo de milhões de mortos.
Essas pessoas se tornarão pequenos
Consolidado em 1918, o novo regime proprietá rios e poderão cultivar a terra e
se expandiu por alguns países vizinhos e, em tirar dela seu sustento.
Soviéhcos em
fila para comprar 1922, foi formada a União das Repúblicas
sapatos em
Moscou (URSS),
1987. Na década
de 1980, a
experiência
socialista na
URSS chegava
ao fim. Enquanto
nos países
capitalistas havia
uma quantidade
quase infinita de
produtos para
serem comprados.
na União
Soviética, quase
infinitas eram
as filas para se
conseguir produtos
de primeira
necessidade.

68 . ...
China, 1949: tornou-se socialista sob estrangeiro, o estabelecimento de algumas
a liderança de Mao Tsé-Tung, adotando pequenas empresas privadas no país.
os moldes soviéticos. O novo governante Nas duas últimas décadas do século XX,
realizou reforma agrária, instituiu o regime a China já surgia como uma das grandes
político de partido único e implementou o economias, participando ativamente do
desenvolvimento das indústrias de máqui- comércio mundial, mas permanecendo sob
nas e equipamentos. Mao também criou o regime socialista.
as comunas populares, que eram unidades Além de potência econômica, a China
de produção coletivas onde trabalhavam desponta como potência bélica no século XXI.
milhares de famílias.
Inicialmente, a República Popular da
China mantinha relações comerciais e polí-
A . Trabnhiadorus
ticas apenas com a URSS. Mas, na década urna indústria têxtil.
••? '
de 1960,
essa relação enfrentou divergências Jinjiang, Fujian,

políticas e, principalmente, territoriais. A


partir da década de 1970, a China, pressio-
Á*I China, 2015.
década de 1970,
China iniciou
um processo de
nada por uma população que já totalizava •• .E'._ bertura ecoriôniica.
mais de 1 bilhão de habitantes, iniciou a Ela despontou corno
unia das maiores
lenta abertura ao comércio internacional, economias do
que possibilitou, além da entrada de capital século M.

Em 1961, começou o primeiro movimento Organizem-se em três grupos e pesquisem a


socialista da América: a Revolução Cubana. Revolução Cubana e as tentativas socialistas do
Em outros países, como o Chile, em 1970, e a Chile e da Nicarágua. Em seguida, organizem
Nicarágua, em 1979, também houve movimen- seminários para apresentar suas pesquisas
tos nesse sentido. aos demais alunos.

Organizando ideias
Para os medievos que viveram o feudalismo, a Em qualquer caso, a terra tem sido determinan-
terra era um benefício. Nesse modo de organização, te para a sobrevivência dos grupos humanos desde
não era possível comprar, vender, nem organizar a sedentarização.
movimentos, como os que temos hoje, pela posse
Retome as questões iniciais do capítulo e res-
da terra. O uso e a posse da terra envolviam laços
ponda: Qual é a importância da terra para os
de fidelidade.
Com o advento do capitalismo, a terra se tornou agrupamentos humanos e porque percebemos
mercadoria sujeita às leis de mercado. Pode ser historicamente uma ligação estreita entre os
comprada, vendida, alugada, arrendada, enfim, está seres humanos e ela? Que relações de trabalho
sujeita a todas as relações capitalistas de uma pro- se estabelecem no uso da terra?
priedade privada.
Por outro lado, se a terra estiver sujeita a um gru- Monte um quadro com as principais caracterís-
po, pode ser uma propriedade coletiva. São exem- ticas de cada um dos momentos históricos e as
plos desse uso as propriedades indígenas, as áreas
situações estudadas sobre o uso e a posse da
remanescentes de quilombos (no caso do Brasil) e
terra e as relações sociais estabelecidas.
ainda as terras em países de regime socialista.
2
Terra: privilégio e pod 69
ffl
Debate interdisciptinar

Peste bubônica
A peste bubônica é uma zoonose (doença Siphonaptera ( do grego siphon = tubo, aptera = sem
transmitida por animais) que tem como agente asas). As espécies com maior capacidade vetora
etiológico a bactéria Yersiriia pestis, transmitida, são: Xenopsylla cheopis, Xer7opsylla brasiliensis,
principalmente, pela picada de pulgas contami- Xenopsylla asna.
nadas. Primordialmente, a infecção ocorre em O ciclo de transmissão da doença inicia-se
roedores, mas em determinadas condições pode quando a pulga ingere o sangue do roedor conta-
infectar outros mamíferos (coelhos, cães, gatos), minado, e a bactéria multiplica-se em seu intesti-
até mesmo o ser humano, que é infectado quando no. A pulga, agora infectada, inocula as bactérias
vive em ambientes onde há roedores, reservatórios na corrente sanguínea do novo hospedeiro, que
da doença. Os roedores infectados encontrados pode ser o ser humano ou outro animal. Assim
com maior frequência são: Necromys lasiurus, que uma nova pulga ingere o sangue contaminado
Calomys expulsus e Ratrus ratrus. desse novo hospedeiro o ciclo recomeça.
As pulgas são os vetores (transmissores)
biológicos da peste bubônica e pertencem à ordem
1. A pulga consome o sangue do rato
hospedeiro e adquire a bactéria
Yersinia pestis.

2. As bactérias se
multiplicam no
intestino da pulga.

u/

4. O ser humano se torna um


hospedeiro, desenvolvendo
a peste bubônica. Caso seja -
1
picado por uma nova pulga, 3. A pulga infectada, ao picar
esta se torna um vetor,
um ser humano, transmite
reiniciando o ciclo. a Yersinia pestis, que se
desenvolve nesse novo
hospedeiro.

A proporção entre as dimensões dos elementos


representados bem como as cores usadas não são as reais.

70
Sintomas
O período de incubação da peste bubônica
é de dois a seis dias. Após esse período, inicia-se
o quadro da infecção, com os principais sinto-
mas: febre alta, mal-estar, dor de cabeça, dores
no corpo, calafrios, pulso rápido e irregular e
bubôes. Denomina-se bubões ao inchaço dos
gânglios linfáticos; eles surgem com a inflama-
ção e são considerados o sintoma mais impor-
tante para o diagnóstico.

Diagnóstico
O diagnóstico baseia-se no reconhecimento
dos sintomas seguido por exames laboratoriais.
A peste bubônica pode serconfundida com outras
infecções, como as Doenças Sexualmente Trans-
missíveis (DST). Portanto, é necessária a análise
do sangue do paciente com o objetivo de buscar a
bactéria Yersinia pesris.

Tratamento
A rapidez e a gravidade da evolução da
peste exigem que o tratamento seja iniciado o com os antibióticos, o paciente deve fazer um
mais rápido possível. Os antibióticos são pres- tratamento de suporte, para controlar os sinto-
critos com cautela, pois alguns são contrain- mas à medida que forem surgindo. Como me-
dicados por serem ineficazes contra a Yersinia didas gerais, recomenda-se observar a pressão
pescis, e podem levar o paciente à morte. junto arterial e a função cardíaca.

LAi
Leia a notícia abaixo e faça o que se pede. esse são mais comuns do que se imagina: "A cada
ano, há uma média de sete casos de peste bubônica
Caso de peste bubônica é confirmado nos
nos Estados Unidos".
Estados Unidos
II ... ]
Não, não é coisa do seu livro de história. Ao contrário
ViLAVERDE, Carohna. Caso de peste bubônica é confirmado
do que muita gente acredita, ainda existem casos de nos Estados Unidos. Superinteressante. 18jun. 2012.
Disponivel em: <super.abrit.combilbtogslsuperhtog/caso-de-
peste bubônica no mundo. Na semana passada, au-
peste_bubonica-e-coriíirmado nos estados- unidos!>.
toridades de saúde dos Estados Unidos confirmaram Acesso em: te',. 2016.
um caso da doença no estado de Oregon. Também
Pensando a respeito da forma de transmissão
conhecida como Peste Negra, a doença foi respon-
da peste bubônica e de seus hospedeiros, ex-
sável por dizimar milhões de pessoas da população
plique como o homem entrou em contato com
europeia do século 14. a bactéria causadora da doença na situação
O caso confirmado é o de um homem dc Prinevilie, descrita.
no estado de Oregon (EUA), que teria sido mordido
por um gato de rua ao tentar tirar um rato morto da Nesse caso específico, qual foi o papel do
boca do animal. Segundo o site Dvice, casos como gato no ciclo de transmissão?

71
Testando seus conhecimentos Responda no caderno

1. (Enem) A Peste Negra dizimou boa parte representa a unificação nacional e as-
da população europeia, com efeitos sobre o segura a imediata centralização do po-
crescimento das cidades. O conhecimento der político.
médico da época não foi suficiente para con- deriva da falência dos grandes impérios
ter a epidemia. Na cidade de Siena, Agnolo di da Antiguidade e oferece uma alternati-
Tura escreveu: va viável para a destruição dos poderes
"As pessoas morriam às centenas, de dia e de políticos.
noite, e todas eram jogadas em fossas cober- ci impede a manifestação do poder real e
tas com terra e, assim que essas fossas ficavam elimina os resquícios autoritários her-
cheias, cavavam-se mais. E eu enterrei meus dados das monarquias antigas.
cinco filhos com minhas próprias mãos [...] E di constitui um novo quadro de alianças e
morreram tantos que todos achavam que era o jogos políticos e assegura a formação
fim do mundo." de Estados unificados.
TURA, Agnolo di. The ptague in Siena: an Itatian chronicte. e) ocupa o espaço aberto pela ausência de
In: BOWSKY, Wittiam M. The btack death: a turning point in poderes centralizados e permite a cons-
history? NewYork: HRW, 1971 (com adaptaÇões).
trução de uma nova ordem política.
O testemunho de Agnolo di lura, um so-
3. )UFPeI-RS)
brevivente da Peste Negra, que assolou a
Europa durante parte do século XIV, sugere
que
ai o flagelo da Peste Negra foi associado
ao fim dos tempos.
a Igreja buscou conter o medo da mor-
te, disseminando o saber médico.
a impressão causada pelo número de
mortos não foi tão forte, porque as víti-
mas eram poucas e identificáveis. ?F41 fltI 11fL1ttOt.Ufl1tfl1B1U
Ilustraçao m s(euft XV use represento os sonos prescniVs su vccn sob
di houve substancial queda demográfica a fiscalizaçào de um agente do senhor.
na Europa no período anterior à Peste.
Durante o feudalismo europeu, esse tipo
e) o drama vivido pelos sobreviventes era
causado pelo fato de os cadáveres não de obrigação, que era cumprida através de

serem enterrados. trabalho gratuito nas terras senhoriais, era


denominada
2. (Vunesp)
talha. di comitatus.
Observemos apenas que o sistema dos feudos, a
banalidades, e) corveia.
feudalidade, não é, como se tem dito frequente-
ci mão-morta. E) I.R.
mente, um fermento de destruição do poder. A
feudalidade surge, ao contrário, para responder 4. (Faap-SP) As cruzadas no Oriente Médio
aos poderes vacantes. Forma a unidade de base (séculos XI-Xffl) tiveram profunda reper-
de uma profunda reorganização dos sistemas de cussão sobre o feudalismo porque, entre
autoridade [ ... ]. outros motivos,
IJacques Lo Goff. Em busca da Idade Média, 2008.1 a) diminuíram o prestígio da Santa Sé, em
virtude da separação das igrejas cristãs
Segundo o texto, o sistema de feudos de Roma e de Bizâncio.

72
Responda no caderno

b) impediram os contatos culturais com O texto trata de um período em que


civilizações refinadas como a bizantina os fundamentos do sistema feudal
e a árabe. coexistiam com novas formas de or-
ci aceleraram o comércio e o desenvol- ganização política e econômica, que
vimento de manufaturas, promovendo produziam alterações na hierarquia
crescimento de uma nova camada social e nas relações de poder.
social. o excesso de metais nobres na Europa
di desintegraram o sistema de comércio provocava abundância de moedas, que
com o Oriente, gerando a decadência dos circulavam apenas pelas mãos dos
portos de Veneza, Gênova e Marselha. grandes banqueiros e dos comercian-
e) estimularam a expansão da economia tes internacionais.
agrária, que minou a economia mone- ci o anseio popular por liberdade e igual-
tária dos centros urbanos. dade social mobilizava e unificava os
S. (Fuvest-SP) trabalhadores urbanos e rurais e en-
A cidade é [desde o ano 10001 o principal lugar volvia ativa participação de membros
das trocas econômicas que recorrem sempre do baixo clero.
mais a um meio de troca essencial: a moeda. dia Igreja romana, que se opunha ao
[.] Centro econômico, a cidade é também um acúmulo de bens materiais, enfrentava
centro de poder. Ao lado do e, às vezes, contra o forte oposição da burguesia ascendente
poder tradicional do bispo e do senhor, frequen- e dos grandes proprietários de terras.
temente confundidos numa única pessoa, um e) as principais características do feuda-
grupo de homens novos, os cidadãos ou burgue- lismo, sobretudo a valorização da terra,
ses, conquista "liberdades", privilégios cada vez haviam sido completamente superadas
mais amplos. e substituídas pela busca incessante
do lucro e pela valorização do livre-
Jacques Le Goft. São Francisco de Assis. Rio de Janeiro:
Record, 2010. Adaptado. - comercio.

rpara você Ler j (ssistir


A Idade Média explicada aos meus filhos, de Ja- O sétimo selo, direção de Ingmar Bergman. Sué-
cques Le Goff. Rio de Janeiro: Agir, 2007. Escrito cia, 1959, 96 mm. O filme aborda o retorno de um
de maneira simples e direta, em forma de diálogo cavaleiro das Cruzadas que encontra sua vila de-
entre um pai e seus filhos, essa obra apresenta vastada pela peste negra. A Morte, representada
as principais características e curiosidades da por uma figura humana, aparece para levá-lo, mas
idade Média, os maiores problemas enfrentados cavaleiro se recusa a morrer, pro pondo um jogo
na época e também a vasta produção artística e de xadrez para a Morte na tentativa de prorrogar
literária do período. seus dias.
Cruzada, direção de Ridley Scott. EUA, Reino
As revoluções russas e o socialismo soviético,
Unido, Espanha e Alemanha, 2005, 205 mm. Após
de Daniel Aarão Reis Filho. São Paulo: Unesp,
perder pai, filho e esposa, um cavaleiro decide
2003. A Revolução Russa de 1917 foi o ápice do
lutar para salvar seu povo e defender Jerusalém
processo revolucionário idealizado por socialis-
de ataques de inimigos que tentam conquistá-la.
tas e comunistas em busca de uma mudança
O filme narra a batalha entre cristãos e muçul-
radical na estrutura da sociedade. Essa obra exa-
manos durante o século XII.
mina os acontecimentos que Levaram à revolução
e explica a formação da União Soviética, a Guerra
Fria e o desaparecimento da URSS.

Terra; pnv1egio e podr 73


'(pFUI
in Rr

Quando Pero Vaz de Caminha deparou- do-a aproveitar, dar-se-á nela tudo" Assim
-se com a imensidâo de terras em que os po- o escrivão da frota de Pedro Álvares Cabral
vos indígenas viviam, encantou-se e enviou descreveu as terras que hoje formam o Bra-
uma carta ao rei de Portugal contando a ma- sil no primeiro relato escrito sobre o local
ravilha encontrada do outro lado do mar. ao qual chegaram em 1500. É a descrição de
Em tal maneira é graciosa que, queren- uma terra onde 'se plantando, tudo dá".
L

rj

A partir daquele ano, o destino das ter- Essas reflexões ainda causam discus-
ras que hoje formam o Brasil passou para sões e geram disputas entre aqueles que têm
as mãos da Coroa portuguesa, e foi o início a posse ou a propriedade da terra e os que
de uma polêmica que diz respeito a quem buscam o direito de ter um pedaço de chão
deve ou pode ser o dono da terra e como para morar, fazer a terra produzir e tirar dela
essa terra pode ser explorada para produzir seu sustento. É a respeito disso que vamos
e render. falar neste capítulo.
Terra no Brasil: de todos ou de poucos?
Muitas dúvidas surgem quando pensamos máxima fixada por lei, ou que, mesmo não ex-
na posse da terra, o que nos faz questionar sobre cedendo as dimensões fixadas, é mantido inex-
quem, por direito, deveria ter acesso a ela. plorado. Já a Constituição de 1988 substituiu a
No Brasil, a relação dos habitantes com a terra denominação de latifúndio pelo termo "grande
mudou muito desde o início da colonização. Se antes propriedade improdutiva", tornando a produtivi-
os indígenas tiravam da terra seu sustento básico, por dade da terra um conceito básico para os critérios
meio da coleta de alimentos, pesca e caça de subsis- de reforma agrária no Brasil.
tência, com a chegada dos portugueses essa relação
mudou, passando a ser mais exploratória. A ativida-
O Estatuto da Terra determina como deve
de agrícola em larga escala para exportação, com a
ser organizada a ocupação, o uso e as relações
implantação de grandes propriedades agrícolas des- agrárias no Brasil. Por meio dele se estabele-
tinadas à monocultura, foi gradativamente se espa- cem os direitos e os deveres relacionados aos
lhando, e pouco a pouco as paisagens e a relação imóveis rurais com o objetivo de promover a re-
com a terra foram transformando-se. forma agrária e desenvolver a produção agrícola.

1 QuaL é a parte que Lhe


cabe neste latifúndio?
Cada brasileiro desprovido da propriedade
da terra ou de outros bens, como uma moradia,
por exemplo, sonha e luta para realizar esse desejo.
Esse sonho, que às vezes parece impossível, encon-

14 Imo ;
.' '
tra respaldo e garantia na Constituição Federal.
Observe o que ela determina:

Art. 5' Todos são iguais perante a lei, sem dis-


1 driuIi Salathé Plantaçao de cate c 825 833. tinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
Agita tinta 11.1 cm 168cm brasileiros e aos estrangeiros residentes no País
a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
Antes de começarmos a estudar a estrutura
igualdade, à segurança e à propriedade, nos ter-
agrária no Brasil e a concentração da posse da
mos seguintes:
terra, é preciso esclarecer que nem toda grande
propriedade de terra é um latifúndio. Esse termo XDUI - é garantido o direito de propriedade;
se refere às grandes propriedades rurais com pro- XXIII - a propriedade atenderá a sua função
porção de terras não cultivadas, exploradas com social;
técnicas de baixa produtividade. Entretanto, cos- XXIV - a lei estabelecerá o procedimento
tuma-se usar o termo para definir todas as grandes para desapropriação por necessidade ou utilidade
extensões de terra de propriedade privada. pública, ou por interesse social, mediante justa e
Ao longo da história do Brasil, o latifúndio prévia indenização em dinheiro, ressalvados os
casos previstos nesta Constituição;
teve seu conceito associado a uma grande proprie-
XXV - no caso de iminente perigo público, a
dade rural com caráter exportador, extrativista,
autoridade competente poderá usar de proprie-
monocultor e escravocrata.
dade particular, assegurada ao proprietário inde
O Estatuto da Terra, de 1964, define por nização ulterior, se houver dano;
latifúndio o imóvel rural que excede a dimensão

76
Analisando a lei, fica claro que todos têm
XXVI — a pequena propriedade rural, assim direito à propriedade. Mas no Brasil, que é um
definida em lei, desde que trabalhada pela famí-
país capitalista, assim como em muitos outros
lia, não será objeto de penhora para pagamento
países, a terra é uma mercadoria. Portanto, para
de débitos decorrentes de sua atividade produti-
ter acesso a ela é preciso dispor de capital para
va, dispondo a lei sobre os meios de financiar o
seu desenvolvimento. comprá-la. Nesse caso, outros fatores entram
em questão, como a má distribuição de renda,
BRASIL. Constituição 11988L Constituição da República
Federativa do Brasil. Disponivet em: .zwww.plana[to.gov.br/
que dificulta ou impossibilita os desprovidos de
ccivit_03/constituicao/ConstituicaoCom pilado. htm>. recursos financeiros de ter condições para ad-
Acesso em: 1ev. 2016.
quirir sua terra.

1.. Analise as imagens e descreva-as, associan- terra mostrado em cada imagem. Procure
do-as com seu conhecimento sobre posse e identificar em qual ou quais imagens a terra
propriedade de terras no Brasil. está sendo usada para gerar lucros e qual
é a importância de cada uma delas para o
2. Elabore hipóteses sobre que relações de
desenvolvimento econômico de nosso país.
trabalho podem ocorrer com base no uso da

t

- c•

ç....... ' .' '.'•• .......-i'


---- :t
Extração de minério de ferro da Mina de Brucutu, em São Gonçalo do
Cu:
, em Costa Rica (MS), 2013
Rio Abaixo (MB), 2015.

L.
.'" ,.

irflj ? . .r
. .".

! t
-
Moradias próximas à Praia do Maçarico, Salinõpolis (PA), 2013. Seríaria ilegal localizada em uma ieserva iridigena ria Floresta
Aniazonica. Nova Esperançado Piriá (PA). 2013.

77
2 Viajando pela história
A reLação do nativo com a terra antes da chegada
dos portugueses
Antes da chegada dos portugueses nas A relação desses povos com a terra era
terras que atualmente correspondem ao a base de sua sobrevivência. Não havia a
Brasil, outros habitantes viviam por aqui. A propriedade privada da terra. Os que pra-
história desses grupos vem sendo resgatada ticavam a agricultura utilizavam o terreno
com o auxilio da Arqueologia, já que eles durante algumas colheitas, abandonando-o
não deixaram documentos escritos. por vários anos, para que ele recuperasse a
fertilidade. Isso era possível devido à grande
disponibilidade de terras, aliada à baixa
No Brasil meridional, por volta de 6500 a.C., grupos densidade demográfica.
horticultores começaram a plantar milho, algodão, amen-
A divisão de terras em propriedades
doim e nongos. Esses primeiros horticultores criaram
teve início com a colonização portuguesa
também uma cerâmica utilitária, pequena e escura, cuja
a partir do século XVI.
função era o armazenamento.
O início da domesticação de plantas e a relação com
os vegetais, corno o araçá e a pitanga, bem corno o achado A propriedade da terra
de instrumentos ligados ao seu processamento (o quebra- em Portugal.
-coquinho, por exemplo) demonstram a existência de um
sofisticado conhecimento sobre coleta e preparação de Já em Portugal, de onde vieram os
alimentos. colonizadores, a propriedade privada da
Essa relação com o meio ambiente permitiu aos pri- terra tinha uma longa história. No século
meiros habitantes da "terra dos papagaios" disporem de XII, quando Portugal iniciou seu processo
diferentes nichos ecológicos e desenvolverem estratégias de centralização política, as grandes pro-
alimentares que tinham uma relação estreita com o mun- priedades eram raras. Paulatinamente,
do que o cercava. porém, o rei foi concentrando poderes e
Os portugueses encontraram os descendentes desses domínios territoriais.
grupos. Gente que seguia praticando a agricultura, a cole-
ta, a caça e a pesca e que tinha a capacidade de deslocar-se
com grandes facilidades através das inatas. {... [...} Do patrimônio do rei - o mais
vasto do reino, mais vasto que o do clero
1)1-E PRIORE, Mary; VENÂNCIO, Renato Pinto. O Livro de ouro da
e, ainda no século XIV, três vezes maior
História do BrasiL. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001. p. 30 e 32.
que o da nobreza - fluíam rendas para
sustentar os guerreiros, os delegados mo-
nárquicos espalhados no país e o embrião
dos servidores ministeriais, aglutinados
na corte. Permitia, sobretudo, a dispensa
de largas doações rurais, em recompensa
aos serviços prestados pelos seus caudi-
lhos recrutados, alguns, entre aventurei-
ros de toda a Europa.
dp # ' FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formação
E-statueta antropomorfa d; do patronato potitico brasileiro. São Pauto: Globo.
cultura Santarém, c.1000 a 2004. p. 19.
1400,23cm x 28cm

A
Porongo: fruto oco com casca grossa, utilizado na confecção de cuias de chimarrão
e berimbaus. É bem semelhante à cabaça.

78
Uma grave crise de abastecimento em Portu- Na legislação que vigorou em Portugal e seus
gal, relacionada à crise que assolava a Europa e domínios do século XVI ao XIX, a pena de degredo
à epidemia de peste negra no século XIV, fez com era imposta a pessoas que cometiam certos deli-
que o rei Fernando 1 instituísse, em 1375, o regime tos. Os degredados eram enviados para fora da
de sesmarias, que visava ao aumento da produção vila ou termo, para Castro-Marim, para as galés,
agrícola por meio do cultivo da terra. A Lei das para o Brasil, a Índia ou a África.
Sesmarias impunha a todos os proprietários que Além desses casos, também eram punidos
se dedicassem ao cultivo, e o filho ou neto de la- com a pena de degredo crimes como feitiçaria, he-
vradores era também obrigado a trabalhar no cul- resia e apostasia. Eram passíveis ainda de tal pena
tivo da terra. O regime de sesmarias de Portugal delitos aparentemente não tão graves, como cortar
também previa a expropriação de terras no caso árvores frutíferas, comprar colmeias e matar as abe-
de não cultivo. lhas, jogar ou vender dados ou cartas, entre outros.
Também oTribunal do Santo Ofício impunha
pena de degredo para delitos de natureza religiosa
[...j a Lei das Sesmarias (1375) visa a restau-
ou moral: cristãos-novos, bígamos, sodomitas,
ração cia cultura cerealífera que estava a ser aban-
padres transgressores, visionários, blasfemadores
donada em proveito de outras mais lucrativas.
e impostores diversos.
Os grandes beneficiários eram os proprietários
A Lei das Sesmarias também foi aplicada no
nobres e os grandes lavradores, e todo o peso da
Brasil, mas bastante modificada. As terras da Amé-
reconversio tentada (e aliás não conseguida) re-
rica eram consideradas virgens, não se levando em
caía sobre a população trabalhadora dos campos,
consideração se eram ou não povoadas pelos na-
compelida ao trabalho obrigatório por salário ta-
tivos. Já o termo "sesmeiro", antes designador do
belado. E tudo isso era motivo de mal-estar e de
funcionário que doava as terras, passou a nomear
deviro não só entre o rei e o povo, mas entre
o titular da doação.
grandes e pequenos.
Devido à abundância de terras, desde o início
SARAIVA, José Hermano. História concisa de Portugal. da colonização não se impôs no Brasil a restrição
Lisboa: Pubticações Europa-América, 2005. p. 117. da extensão. Somente no século XVII a legislação es-
tipulou limites mais precisos para as terras a serem
Acrescente-se que, segundo a Lei das Sesma- doadas.
rias, aquele que fosse apanhado a mendigar sem O requerente a receber uma sesmaria deveria ter
licença, fingir-se de religioso ou vadiar seria obri- recursos para explorá-la. A partir de 1795, um alvará
gado a prestar serviço na lavoura, sob pena de ser condicionava explicitamente a extensão da terra
enviado para o degredo. concedida ao número de escravos do candidato.

A l.ossar':
Apostasia: ato de mudar de religião, abandonar Desvairo: tem o mesmo significado que discor-
uma crença. dância, desunião.
Degredo: termo utilizado para o que hoje cha- Reconversão: mudança de algo para a forma em
mamos de exílio. que se encontrava anteriormente.

Organizando ideias

De acordo com as informações expostas até O que motivou a criação da Lei das Sesma-
agora, responda às questões a seguir. rias em Portugal? Explique como funcionava
essa lei.
1. De que forma os indígenas habitantes do ter-
ritório que constitui o atual Brasil exploravam De que forma essa lei foi aplicada na América
suas terras? Portuguesa?
2
79
As terras do BrasiL: coLonizar
para não perder
A organização político-administrativa do Bra- Nessa época, Portugal era um Estado absoLu-
sil teve início por meio da divisão do território em tista, e as capitanias eram concessões do poder pú-
capitanias hereditárias. blico a particulares. Na Carta de Doação estavam
O sistema de capitanias hereditárias já havia os dispositivos que regulamentavam os direitos e
sido adotado pelos portugueses nas ilhas atlânticas deveres do donatário: aplicar a justiça, cobrar os
e objetivava colonizar o território com pouco ônus impostos devidos à Coroa, nomear funcionários,
para a Coroa, já que os gastos ficavam por conta fundar vilas e distribuir sesmarias.
dos donatários, ou seja, aqueles a quem a capitania Aqueles que recebiam as doações eram em
era concedida. Além da colonização, esse sistema geral pessoas da pequena nobreza, recompensa-
visava à proteção do território, pois era preciso en- das por serviços prestados à Coroa portuguesa.
frentar a crescente ameaça externa. Dessa forma, os O sistema não deu os resultados esperados, pois
cerca de 5 mil quilômetros da costa foram divididos alguns donatários nem chegaram a se estabelecer
em 15 lotes, com largura que ultrapassava 300 qui- no Brasil. Outros, principalmente devido a pro-
lômetros, nomeadas de capitanias hereditárias. blemas de recursos financeiros, não foram bem-
-sucedidos. Apenas as capitanias de Pernambuco
e São Vicente foram as que efetivamente
prosperaram. Muitos capitães donatá-
rios se valeram do sistema de sesmarias
adotado em Portugal para administrar
as terras recebidas.
No Brasil, as sesmarias passaram a
designar os lotes de terra doados pelos
donatários das capitanias a quem es-
tivesse disposto a cultivá-los. Assim,
sesmeiro deveria dispor de recursos
para comprar instrumentos agrícolas e
escravos para levar adiante as planta-
ções de cana-de-açúcar.
Após a criação do governo-geral
(1548), as capitanias hereditárias con-
tinuaram existindo, e foram criadas
também as capitanias reais (Rio dejanei-
ro, Sergipe, Paraíba, Rio Grande, Ceará,

Estado absoLutista desenvol-


veu-se na Europa nos séculos XVI e
XVI.
Caracterizou-se por ser a forma
de governo em que o poder é cen-
tralizado na figura do monarca e
transmitido hereditariamente. O ab-
solutismo assumiu formas diferen-
tes, dependendo do Estado onde foi
Luís Teixcira. Carta do Brasil. In: Roteiro de todos os sinais que há na costa do Brasil, aplicado.
c. 1586. Manuscrito colorido, 55,5 Cm x 50,2 cm.

80
Maranhão e Pará). Somente na administração do
Marquês de Pombal (1750-1777) é que foi extinto Bahia, até o rio Sergipe, bem como os vales dos
o sistema das capitanias hereditárias. afluentes do São Francisco.

Os capitães donatários e os governadores- COSTA, Nelson Nery. O começo do Piauí: os primórdios e a


-gerais distribuíram sesmarias em diversas regiões segunda metade do século XVII. Teresina: Instituto
Civitas, 2006. p. 175.
do país, e o tamanho delas era proporcional aos
recursos de quem as receberia. Dessa forma, al-
gumas famílias e sesmeiros mais ricos acabaram
conseguindo propriedades de maiores exten-
sões, desencadeando a formação dos latifúndios
no Brasil.

-
i . •)5 .,,
..

Casa da Torre de Garoa D Avila, Mata de São Joao (BA). 2015.


Preservar o patrimonio histonco e também uma forma de preservar a
identidade cultural de uma população. Como um grande acervo, o patrimônio
é o registro de acontecimentos e fatores rnemoréveis da história de um
grupo, cidade ou região.

Para citar outro exemplo, vamos ao sul,


onde no atual Rio Grande do Sul, no começo do
século XVIII, foram distribuídas sesmarias a tropei-
- -. ...• ,• ros e militares, os quais estabeleceram estâncias,
Mapa das sesmarias concedidas entre Paraty e Mambucaba. Rio de que, apesar de também desenvolverem ativida-
Janeiro. Desenho feito com nanquim, 28.8 cm x 26,8 cm.
des rurais, estavam mais ligadas à pecuária que à
agricultura. As sesmarias concedidas no sul eram
Dessas famílias, podemos citar Garcia D'Ávila, terras devolutas, que mediam em geral três léguas
que chegou à colônia em 1549, com o governador por uma légua (cerca de 13 mil hectares).
Tomé de Sousa, e recebeu uma sesmaria na proxi-
midade de Salvador. Ele edificou a Casa da Torre,
também conhecida como Castelo D'Ávila, de onde Terra devoluta, também conhecida como
partiram várias expedições ao sertão. terra devolvida, é toda terra no território nacio-
nal não utilizada pelo poder público — nem ins-
crita entre seus bens — e que não foi incorpora-
A expansão colonial dirigiu-se ao Rio São da ao patrimônio privado. Com o fim do sistema
Francisco e para aí correm a Casa da Torre e seus das capitanias hereditérias, em 1759, as terras
sucessores. Eles obtiveram, entre 1632 e 1651, que não haviam sido doadas aos sesmeiros —
diversas léguas na margem deste rio. Formaram ou as sesmarias devolvidas à Coroa portugue-
um verdadeiro domínio feudal, além do próprio sa pela falta de cultivo — e as terras adquiridas
castelo que tinham construído no litoral baiano, com a expansão do território passaram a com-
edificando a Torre de Tatuapara. Tratava-se de por uma parcela das terras públicas, chamada
glebas imensas que ocupavam o litoral norte da de terras devolutas.

81
Havia uma diferença entre o processo de concessão de sesmaria no nordeste e no Rio
Grande do Sul:

[ ... ] Enquanto j ...1 na área açucareira a capitalização prévia era um requisito básico para
a obtenção da terra, no Rio Grande este não era critério definidor. Embora não se desprezan-
do a ocorrência da disponibilidade de recursos por parte dos futuros estancieiros, sesmarias
eram concedidas como retribuição a serviços militares prestados.
PESAVENFO. Sandra Jatahy. História do Rio Grande do SuL. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1997. p. 15.

A economia colonial brasileira era baseada clima deprimente e do solo quimicamente pobre.
na plantação de um só produto, a cana-de- A mesma economia latifundiária e escravocrata que
-açúcar. O sistema agrário com base na cultura tornou possível o desenvolvimento econômico do
exclusiva de um produto agrícola é denominado Brasil, sua relativa estabilidade em contraste com
monocultura. as turbulências nos países vizinhos, envenenou-o e
Há muitas críticas a respeito desse sistema, perverteu-o nas suas fontes de nutrição e de vida.
[ ... ] Terra de alimentação incerta e vida dificil
por causa dos males ambientais e socioeconômi-
é que foi o Brasil dos três séculos coloniais. A som-
cos advindos dessa forma de exploração da terra.
bra da monocultura esterilizando tudo. Os grandes
Leia a seguir a crítica feita pelo sociólogo brasi-
senhores rurais sempre endividados. As saúvas, as
leiro Gilberto Freyre em seu livro Casa-grande &
enchentes, as secas dificultando ao grosso da popu-
senzala, publicado originalmente em 1933.
lação o suprimento de víveres.
O luxo asiático, que muitos imaginam genera-
No caso da sociedade brasileira o que se deu foi
lizado ao norte açucareiro, circunscreveu-se às fa-
acentuar-se, pela pressão de uma influência econô-
mílias privilegiadas de Pernambuco e Bahia. E este
mico-social - a monocultura - a deficiência das fon-
mesmo um luxo mórbido, doentio, incompleto. Ex-
tes naturais de nutrição que a policultura teria talvez
cesso em umas coisas, e esse excesso à custa de dívi-
atenuado ou mesmo corrigido e suprido, através de
das; deficiências em outras. Palanquins forrados de
esforço agrícola regular e sistemático.
seda, mas telha-vã nas casas-grandes e bichos caindo
Muitas daquelas fontes foram por assim dizer
na cama dos moradores.
pervertidas, outras estancadas pela monocultura,
pelo regime escravocrata e latifundiário, que em vez FREVRE, Gilberto. Casa-grande & senzala.
So Paulo: Global, 2005. p. 96. 100-101.
de desenvolvê-las abafou-as, secando-lhe a esponta-
neidade e a frescura. Nada perturba mais o equilí-
Qual é a crítica feita por Gilberto Freyre?
brio da natureza que a monocultura, principalmente
quando é de fora a planta que vem dominar a região Busque informações que comprovem ou não
[ ... j. a afirmação do autor: "A sombra da monocul-
Na formação da nossa sociedade, o mau regi- tura esterilizando tudo".
me alimentar decorrente da monocultura, por um
lado, e por outro da inadaptação ao clima, agiu O texto relaciona a monocultura ao mau regi-
sobre o desenvolvimento físico e sobre a eficiência me alimentar na região açucareira. Explique
econômica do brasileiro no mesmo mau sentido do essa questão.

82
I J1II ii is] iii [:11 Ti [4 r
terra no Império
A crise do sistema colonial, impulsionada pelo
surgimento de um novo conceito de propriedade LEI N5 601, DE 18 DE SETEMBRO DE 1850.
pautado nas noções econômicas da classe burgue- [..j Dispõe sobre as terras devolutas no Impé-
rio, e acerca das que são possuídas por titulo de
sa - que tomava a frente das relações comerciais
sesmaria sem preenchimento das condições legais,
pós-Revolução Francesa -, provocou mudanças na
bem como por simples titulo de posse mansa e
economia e na política coloniais, transformando até pacifica; e determina que, medidas e demarcadas
mesmo as relações entre colônias e metrópoles e as primeiras, sejam elas cedidas a titulo oneroso,
aumentando a liberdade de comércio e consequen- assim para empresas particulares, como para o
temente a autonomia de regiões antes submetidas estabelecimento de colonias de nacionaes e de ex-
ao domínio de países europeus. trangeiros, autorizado o Governo a promover a
No Brasil, às vésperas da emancipação políti- colonisação extrangeira na ft)nrla que se declara.
D. Pedro II, por Graça de Deus e Unanime
ca, foi promulgada a Resolução de 17 de julho de
Acciamação dos Povos, Imperador Constitucio-
1822, que pôs fim ao sistema de sesmarias e reco-
nal e Defensor Perpetuo do Brasil: Fazemos saber
nheceu a posse da terra como registro fundamental
a todos os Nossos Subditos, que a Assembléa Ge-
para a aquisição da propriedade. ral Decretou, e Nós queremos a Lei seguinte:
D. Pedro 1 acreditava que o reconhecimento do Art. 10 Ficam prohibidas as acquisições de ter-
direito de posse resolveria o problema da terra. Mas ras devolutas por outro titulo que não seja o de
não foi o que aconteceu, pois os grandes proprie- compra. [ ...I
tários, que controlavam a econonia, a política e o Disponível em: <sm.planaltogov.br/ccviI_03/Leis/LIM/
judiciário, ignoraram a lei e expulsaram os posseiros. LIM601 .htm>. Acesso em: 1ev. 2016.

Em 1850, foi aprovada a Lei de Terras, determi-


nando que as terras públicas deveriam servendidas,
e não doadas, estabelecendo normas para legalizar Em 1850 também entrou em vigor a lei que
a posse e o registro da propriedade. Aparentemente, proibia o tráfico de escravos. Outras leis, como a
a medida visava a uma solução para o problema do Ventre Livre (1871) e a dos Sexagenários (1885),
do acesso à posse da terra; contudo, analisando o eram indícios de que a utilização de escravos estava
contexto daquele período, essa legislação objetivava próxima de acabar. Assim, durante os 38 anos que
impedir que imigrantes, brasileiros pobres, possei- durou o processo que pôs fim à escravidão, ou seja,
ros e ex-escravos adquirissen terras, conservando, entre a Lei de Terras (1850) e a Abolição da Escrava-
dessa forma, os privilégios de acesso à terra, uma tura (1888), o governo imperial criou mecanismos
vez que, se não tivessem acesso à propriedade da para substituira mão de obra escrava, dificultando
terra, os mais pobres constituiriam a mão de obra o acesso à propriedade, à terra.
assalariada necessária para
suprir a demanda nos latifúndios
espalhados pelo Brasil. Por isso,
as terras devolutas deveriam ser
vendidas por preços elevados
e, para legalizar a compra em
cartório, era preciso pagar uma -
taxa à Coroa brasileira.

Nicola Anton o E ccliine0i Fazenda Montalto,


1481 Oleo Sobre lela. 47 cm 07 cm.

83
As dificuldades de acesso à terra geraram, ainda no século XIX, uma série de conflitos entre proprie-
tários e a população rural empobrecida. Políticos com uma visão progressista diagnosticaram o problema
e buscaram soluções.já em 1884,0 escritorabolicionistajoaquim Nabuco (1849-1910) propunha uma
reforma agrária, e até mesmo o imperador D. Pedro II afirmou ser necessário distribuir terras para os
ex-escravos.
Foi encontrada uma carta da princesa Isabel, datada de 1889, na qual a herdeira do trono defende a
concessão de terras a ex-cativos. As práticas sugeridas no documento não foram efetivadas.

Paço Isabel Corte midi


Caro Snr. Visconde de Santa Victória
Fui informada por papai que me coilocou a par da intenção e do envio dos fundos de seo Banco em forma
de doação como indenização aos ex-escravos libertos em 13 de Maio do anno passado, e o sigilo que o Snr.
pidio ao prezidente do gabinete para não provocar maior reacção violenta dos escravocratas. [ ... ]
Com os fundos doados pelo Snr. teremos oportunidade de coliocar estes ex-escravos, agora livres, em
terras suas proprias trabalhando na agricultura e na pecuária e deilas tirando seos proprios proventos. Fiquei
mais sentida ao saber por papai que esta doação significou mais de 2/3 da venda dos seos bens, o que demons-
tra o amor devotado do Snr. pelo Brazil. Deus proteja o Snr. e todo a sua família para sempre!
Agradeço vossa ajuda de todo meo coração e que Deos o abençoe!
Mando minhas saudações a Madame la Vicomtesse de Santa Victória e toda a família.
Muito d. coração
Isabel.
Trecho de carta escrita pela princesa Isabel para o visconde de Santa Vitória em 11 de agosto de 1889.
A carta se encontra no acervo do Memorial Visconde de Mauá.

A Lei de Terras de 1850 acelerou a incor- das terras devolutas que provocou a valorização, mas
poração de terras devolutas ao patrimônio a grilagem - isto é, a venda das terras devolutas por
privado. Na ânsia em incorporar novas terras, parte de particulares que delas se apropriavam.
grandes proprietérios praticavam diversas SILVA, Ligia Maria Osório. A apropriação territorial na primeira
República. In: SILVA, Sergio S.; SZMRECSÁNYI, Tamás IOrg.I.
arbitrariedades.
História econômica da Primeira República. São Paulo: Edusp:
Os = já haviam feito a sua aparição em imprensa Oficial, Hucitec, 2002. p. 166.
cena desde a promulgação da Lei de 1850. Durante
toda a segunda metade do século, estiveram em ação, Segundo o texto, um dos maiores problemas
falsificando títulos de propriedade para depois es- relacionados à posse de terras na segunda me-
pecular com as terras. Em função disso, o preço das tade do século XIX era a grilagem. Sendo assim,
terras subira vertiginosamente. Na região de Arara- responda às questões a seguir.
quara, em termos reais o preço aumentara sete vezes
e meia entre os períodos de 1885-1889 e 1890-1894. Por que a grilagem acontecia?
Assim a valorização da terra, que era um dos objeti-
vos da lei de 1850, acabou ocorrendo em São Paulo, Quais eram as consequências da grilagem
mas por um efeito perverso desta. Não foi a venda quanto ao acesso à terra?

GriLeiro: pessoa que tenta, por meio de falsa documentação, apossar-se de terras.

84
O quadro fundiário no Brasil
Repu bLicano
Durante o império, o Brasil era um Estado quantias monetárias. Logo, coronéis com grande
centralizado. Quem nomeava o presidente de poder, eleições fraudadas e diferentes formas de
uma província era o imperador. Os republica- mandonismo local acentuavam o grau de explora-
nos procuraram seguir o exemplo dos Estados ção e manipulação das populações interioranas.
Unidos da América (EUA), e o Brasil (Estados
Unidos do Brasil) tornou-se uma República Fe-
[...j Assim, ao invés de trazer uma contri-
derativa em 1889. As antigas províncias torna-
buição à solução do problema agrário, a fim de
ram-se Estados, os quais passaram a gozar de
atenuar a pressão das classes menos favorecidas,
maior autonomia. que necessitavam de terras para cultivar, a cons-
Nesse período, na Europa, avançava o libe- tituição dificultou o acesso à propriedade da terra
ralismo econômico, que consistia num conjunto às mesmas. Em leis posteriores à constituição, o
de teses pautadas no ideal de livre concorrência sistema de compra e venda da terra foi fortalecido
de mercados, com o objetivo de adequar a eco- com a adoção do registro da propriedade, consa-
grado pelo Código Civil de 1916 em seu artigo
nomia ao sistema capitalista que vinha se con-
530, este admitia a aquisição da propriedade pela
solidando. Tais teses modificaram também a
transcrição da transferência de contrato de com-
noção de propriedade, uma vez que defendiam a
pra e venda no Registro de Imóveis, por acessão,
propriedade privada, que, nessa lógica, também
por usucapião e por herança.
se tornava foco de transações econômicas. Foi a
ANDRADE, Manuel Correia de. In: SILVA, S. 5.;
partir daí que a terra passou a se enquadrar como SZMRECSÁNYI, T. lOrg.l. História econômica da
propriedade e também ser vista como produto de Primeira Repúbtica. São Paulo: Edusp;
Imprensa Oficial; Hucitec. 2002. p. 148.
troca e venda.
No que diz respeito à posse de terra no Brasil,
o artigo 64 da Constituição Federal de 1891 esta-
Nas primeiras décadas da república, acelerou-
belecia que:
-se o processo de transferência das terras devolu-
tas para o domínio das oligarquias rurais. Em São

[...j Pertencem aos Estados as minas e terras Paulo, em função da economia cafeeira, a proprie-
devolutas situadas nos seus respectivos territó- dade latifundiária aumentou. O acesso à terra es-
rios, cabendo à União somente a porção do ter- tava muito longe de ser democratizado.
ritório que for indispensável para a defesa das Os que sofriam com essa estrutura fundiária
fronteiras, fortificações, construções militares e muitas vezes se rebelavam. Os conflitos entre tra-
estradas de ferro federais. bal hadores, posseiros, pequenos proprietários e
grandes senhores de terra foram muitos.
Disponível em: .zwww.planalto.gov.br/ccivil_03/
Conslituicao/Constituicao91.htm>. Acesso em: fev. 2016.

Mandonismo consiste no hábito de abuso do


mando. Neste caso, refere-se a uma caracterís-
Cabe lembrar que nesse período as oligar-
tica política do período no qual o chefe político,
quias dominaram a vida política, uma vez que geralmente o coronel, tinha o controle de algum
os oligarcas eram os donos das maiores porções recurso, em geral a posse de terra, e exercia
de terras e regulamentavam, assim, a produção domínio pessoal e arbitrário sobre a população
agrícola brasileira, o que os tornava detentores local.
do controle econômico do país e de grandes

85
1. No período da República Velha, a .•; . '

terra estava concentrada nas mãos


das oligarquias rurais que exerciam
dominacão econômica e politica so-
;•.:
bre os trabalhadores pobres.
Nesse contexto, muitos artistas,
intelectuais e escritores voltaram
sua atenção para o homem do cam-
po, suas mazelas e características
culturais. Surgia, assim, a figura
do caipira. No quadro reproduzido lha
ao lado, ele foi retratado pelo pintor
Almeida Júnior.

ai Descreva minuciosamente a pin- .


tura chamando a atenção para os
detalhes da figura humana e do
ambiente onde ela foi retratada. .. -

José Ferraz de Almeida Júnior.


Caipira picando fumo, 1893
Óieo sobre tela. 2,02 m x 1.41 M.

b) Que relação do homem com a terra o pintor enfatizou? Responda usando elementos do quadro.

ci Que relação do homem com a passagem do tempo o pintor enfatizou? Justifique sua resposta.

di Qual é a situação econômica do personagem retratado no quadro? Destaque elementos da


composição que colaboraram para sua resposta.

O Código Civil de 1916 admitia a aquisição da propriedade pela transcrição da transferência de


contrato de compra e venda, por acessão, por usucapião e por herança.

ai Explique cada uma dessas formas de adquirir terras.

b) Formule hipóteses sobre quem, sob essas condições legais, conseguiria adquirir terras naquela
época.

A legislação brasileira atual permite usucapião. Pesquise quais são as determinações legais para
usufruir dessa forma de aquisição de terras.

86
A Era Vargas e a questão
da terra
No que dizia respeito à propriedade da terra,
O Golpe de 1930, comandado por Getúlio
a Constituição de 1934 representava um grande
Vargas, representou um momento de mudança em
avanço:
relação a velhas práticas republicanas.
A Crise de 1929 fez com que grande parte da
[ ... J
produção de café destinada à exportação não ti-
Art. 113 [...J
vesse compradores, o que desencadeou uma grave 17) É garantido o direito de propriedade, que
recessão para as oligarquias cafeeiras. Com o não poderá ser exercido contra o interesse social
início do governo Vargas, a administração do país, ou coletivo, na forma que a lei determinar. A de-
antes dividida entre os grandes proprietários de sapropriação por necessidade ou utilidade pú-
terras, passou a ser centralizada, o que também blica far-se-á nos termos da lei, mediante prévia
e justa indenização. Em caso de perigo iminente,
ajudou a pôr fim ao grande poderio dos oligarcas.
como guerra ou comoção r: iTE:, poderão as
A partir daí, a aceleração dos processos de indus-
autoridades competentes usar da propriedade
trialização e urbanização no Brasil e a crescente
particular até onde o bem público o exija, ressal-
participação da burguesia na vida política foram vado o direito à indenização ulterior.
gradativamente transformando o panorama eco- 1...i
nômico nacional.
Disponível em <www.ptanatto.gov.br/ccivil 03lconstituicao/
constituicao36.htm>. Acesso em: 1ev, 2016.

/ A Constituição estabeleceu ainda que o traba-


lho agrícola deveria ser regulamentado, e a União,
em cooperação com os estados, deveria criar co-
lônias agrícolas. Consagrava o usucapião e a obri-
gatoriedade de as empresas agrícolas manterem
escolas para os filhos dos trabalhadores rurais.
A década de 1930 caracterizou-se por uma
grande efervescência ideológica. Partidária do
pensamento socialista, a Aliança Nacional Liber-
tadora (ANL) foi fechada por Vargas. O fracasso
da chamada Intentona Comunista provocou o de-
sencadeamento de uma violenta onda repressiva.

Intestino: interno, íntimo.

Durante a Primeira Guerra Mundial, a economia norte-americana encontrava-se em pleno desenvolvi-


mento, uma vez que os Estados Unidos exportavam produtos industrializados e gêneros alimentícios em
grande escala para a Europa. Após o fim da guerra e a reconstrução das cidades europeias, na década
de 1920, os níveis de importação dos produtos estadunidenses por parte da Europa diminuíram muito, o
que causou um grande acúmulo de estoques alimentícios e de produtos industrializados nos Estados
Unidos. Vários investidores que aplicavam em empresas norte-americanas com ações na Bolsa de
Valores de Nova York passaram a ter grandes prejuízos com a queda dos lucros, o que provocou a que-
bra da Bolsa, fato também conhecido como Crise de 1929. Como muitos países mantinham relações
comerciais com os Estados Unidos, a crise se espalhou por diversos continentes.

87
14) o direito de propriedade, salvo a desa-
propriação por necessidade ou utilidade pública,
FOLHA DA MANHÃ mediante indenização prévia. O seu conteúdo e
os seus limites serão os definidos nas leis que lhe
Mv[J1eniosubversivoeffl Pernambuco e no RTo6randedoNorte regularem o exercício; [ ... J
O fio Orando do Norte afilado por um movi- DECRETADO O ESTADO DE S100. PARA
TODO O PÃO. POR 30 DIAS Disponve1 em: .zwww.ptariaLto.gov.br/ccivi_03/Constituicao/
Menlo suhversivo de caracter extremista
Constituicao37.htm>. Acesso em: fev. 2016.

É importante lembrar que a maioria dos po-


1000 0000 LII 000\0001u, DI I0.0000S IA
III 000lI\O 01101. lUEI O LI 10, - líticos e dos que controlavam o Poder Judiciário
eram latifundiários ou defendiam os interesses do
latifúndio. Grupo de trabalhadores organizados
pressionavam o governo a cumprir os dispositi-
vos constitucionais. As dificuldades de acesso aos
-
::. "------'---
...........................................
- meios de comunicação, a repressão nos mais va-
-- riados níveis e o controle do campesinato impe-
diam avanços que conduzissem à reforma agrária.
. - No Brasil rural, difundia-se a exploração, apesar de
leis 'protegerem" o homem do campo.
--

Matéria da Folha da Manhã a respeito da Intentona Comunista.


28 nos. 1935. 0 R ri;l' L8i
Em obras que se tornaram clássicos, intelec-
tuais como Sérgio Buarque de Holanda (Raízes do
Brasil), Caio Prado Júnior (Formação do Brasil
contemporâneo) e Gilberto Freyre (Casa-grande &
senzala) denunciaram o latifúndio como o grande
responsável pelas mazelas do país.
Em 1937, deixou de vigorar a democrática
Constituição de 1934, ao ser instaurado o regime
político do Estado Novo e outorgada a nova
Constituição, que ficou conhecida como a "pola-
quinha" por ser parecida com a autoritária Consti-
Manifestação na Esplanada do Castelo em apoio a Getúlio Vargas. Rio de
tuição da Polônia.
Janeiro (RJ), 1940.
No que dizia respeito à propriedade, o artigo
122, item 14, praticamente repetia o que estava na
Constituição de 1934.
rPausa para investigação
Pesquise o que a atual Constituição afirma
I...1 DOS DIREITOS E GARANTIAS INDI- sobre a posse da terra. Em seguida, compare-
VIDUAIS -a com as Constituições de 1934 e 1937. Por
Art. 122 - A Constituição assegura aos brasi-
fim, debata com os colegas e o professor a
leiros e estrangeiros residentes no País o direito à
liberdade, à segurança individual e à propriedade, relação erltre a garantia da posse da terra e
nos termos seguintes: [ ... ] a produção agrícola.

88 tuto3
enquanto a União das Repúblicas Socialistas Sovié-
A terra e o bem-estar ticas (URSS) liderava as nações que buscavam im-
sociaL plantar o socialismo.
No Brasil, o Partido Comunista foi colocado
No período de 1946 a 1964, presidentes, go-
na ilegalidade, seus parlamentares cassados, e o
vernadores, prefeitos e parlamentares voltaram a
país atrelou-se à política externa norte-america-
ser eleitos por meio de voto.
na. No campo, aqueles que defendiam a reforma
Em seu artigo 147, a Constituição de 1946
agrária eram classificados de comunistas. De fato
estabelecia que "o uso da terra será condicionado
havia diversos grupos comunistas que lutavam
ao bem-estar social" e, no parágrafo 16 do artigo
pela reforma agrária, mas nem todos que ansia-
141, afirmava "garantir o direito de propriedade,
vam por reforma agrária eram adeptos do comu-
salvo o caso de desapropriação por necessidade
nismo. Mesmo com dificuldades e limitações, os
ou utilidade pública, ou por interesse social, me-
trabalhadores rurais se organizaram. Em 1955,
diante prévia e justa indenização em dinheiro".
em Pernambuco, as Ligas Camponesas começa-
Como era preciso pagar para desapropriar, pouca
ram a atuar.
coisa foi realizada.
As ligas expandiram-se por todo o Brasil, e a
Logo após a Segunda Guerra Mundial, iniciou-
luta pela terra intensificou-se em regiões como o
-se a chamada Guerra Fria. De um lado os Estados
norte e o oeste do Maranhão e de Mato Grosso.
Unidos, liderando os países na maioria capitalistas,

Com o fim da Segunda Guerra Mundial e As Ligas Camponesas eram os instrumen-


a aceleração do processo de industrialização, tos de mobilização da população rural, com in-
que trouxe consigo novos problemas sociais e termédio do Partido Comunista, que atuavam na
a necessidade de rever a organização estatal reivindicação pelos direitos dos trabalhadores as-
vigente na época, surgiu na Europa o conceito salariados de grandes propriedades rurais, assim
de Estado de bem-estar sociaL, com a finali- como dos pequenos produtores agrícolas.
dade de regulamentar a atividade econômica Antes de 1945 já existiam organizações de tra-
e assegurar a geração de riquezas, revertidas balhadores com o nome de uniões, irmandades e
em padrões dignos de infraestrutura, moradia, associações. Após 1945, no Paraná, foram criadas
saúde, educação para a população, o que no as Ligas Camponesas de Aguas das Petotas, de
longo prazo também garantiria a manutenção Centenário do Sul, de Guaraci, de Maringá e de
do poder de compra do povo. Água de Mandacaru. Todas foram precursoras das
Ligas Camponesas criadas por Francisco Julião
em Pernambuco.

Deputado Francisco
Julião discursando para
integrantes das Ligas L..
Camponesas, 31 out. 1961.

A l)rcDrieuad CL] teruz, no Bro 89


Em março de 1963, no governo de João Gou-
lart, entrou em vigor o Estatuto do Trabalhador a ser discutido no Congresso ainda em meados
Rural, que levava ao campo os direitos já conquis- da década de 1950, sua aprovação só se deu em
tados pelos trabalhadores urbanos. Em poucos es- uma conjuntura especial: o Congresso [ ... ] vinha
sofrendo pressões tanto do governo, que queria
tados a legislação foi realmente aplicada. O então
ver aprovadas alterações constitucionais que pos-
governador de Pernambuco, Miguel Arraes de Alen-
sibilitariam a realização de uma ampla reforma
car, procurou aplicar os dispositivos do Estatuto e agrária no país, quanto dos movimentos sociais,
sofreu forte oposição dos grandes proprietários. com ocupações de terras, greves e protestos cam-
No bojo das Reformas de Base do presidente poneses, além da mobilização de setores urbanos.
João Goulart - uma série de reformas institucio- Ao mesmo tempo que estendeu direitos e esti-
nais, como a tributária, a urbana e a bancária -, mulou a criação de sindicatos no campo, o gover-
encontrava-se a reforma agrária. no, por meio de uma série de portarias, redefiniu
e ampliou o sentido da categoria trabalhador ru-
ral, incluindo produtores autônomos, pequenos
[...] O Estatuto tornava extensivos ao campo proprietários, posseiros, arrendatários e trabalha-
direitos que OS trabalhadores urbanos haviam já
dores autônomos.
incorporado décadas antes, como a obrigatorie-
dacle do registro em carteira de trabalho, salário GRYNSZPAN, Mano. Da barbárie à terra prometida: o campo
mínimo, repouso semanal e férias remuneradas, e as lutas sociais na história da República. In: DOMES,
licença-maternidade, indenização em caso de Angola de Castro lCoordj. A repúbtica no Brasil.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira; CP000, 2002. p. 133.
dispensa, entre outros. Embora tivesse começado

Organizando ideias

Entre 1954 e 1955, o escritor João Cabrai de Viverás, e para sempre


Meio Neto elaborou o poema Morte e vida severi- na terra que aqui aforas:
na. Leia parte desse poema a seguir e depois faça e terás enfim tua roça.
o que se pede.
Aí ficarás para sempre,
Essa cova em que estás, livre do sol e da chuva,
com palmos medida, criando tuas VH5.
é a cota menor
MELO NETO, João Cabrat de. Assiste ao enterro de um traba-
que tiraste em vida.
lhador de eito e ouve o que dizem do morto os amigos que o le-
É de bom tamanho, varam ao cemitério. In: Morte e Vida Severina. Rio de Janeiro:
nem largo nem fundo, Alfaquara, 1994. © by herdeiros de João Cabrat de Meto Neto.
é a parte que te cabe
neste latifúndio. Na visão do autor, o camponês só tem acesso à
Não é cova grande. terra em um momento da vida. Que momento
é cova medida, é esse?
é a terra que querias Na terceira e na quarta estrofes, o autor utiliza
ver dividida.
as expressões 'cova medida e "cova grande
É uma cova grande
para teu pouco defunto'. Qual é a relação entre
para teu pouco defunto, elas?
mas estarás mais
Pode-se afirmar que o poema denuncia o não
que estavas no mundo.
acesso do camponês à terra. Discorra sobre o
1...i
assunto.

Ancho: algo grande, amplo.


Saúva: espécie de formiga que utiliza folhas cortadas e outras substâncias para cultivar o fungo com
que se alimenta. É considerada uma das pragas agrícolas mais funestas do Brasil.

90
A questão da terra nos governos
miLitares
Com o Golpe de 1964, as organizações que
lutavam pela reforma agrária e defendiam os tra- onde habita, ou, quando as circunstâncias re-
gionais, o aconselhem em zonas previamente
balhadores rurais foram desmanteladas.
ajustadas na forma do disposto na regulamen-
O Estatuto da Terra, promulgado em no- tação desta Lei;
vembro de 1964, visava modernizar a agricultura b) zelar para que a propriedade da terra desem-
brasileira desenvolvendo uma política agrária nos penhe sua função social, estimulando planos
moldes capitalistas. para a sua racional utilização, promovendo a
justa remuneração e o acesso do trabalhador
aos beneficios do aumento da produtividade e
LEI N- 4.504, DE 30 DE NOVEMBRO DE ao bem-estar coletivo. [ ... ]
1964. E ... ]
Disponível em: <weiw.planatto.gov.br/ccivil_03/Leis/
Art. 1 Esta Lei regula OS direitos e obrigações 14504.htm>. Acesso em: fev. 2016.

concernentes aos bens imóveis rurais, para os fins


de execução da Reforma Agrária e promoção da Os governantes militares sabiam que era neces-
Política Agrícola. sário resolver os problemas agrários do país. Para
§ l Considera-se Reforma Agrária o conjunto de
isso foram criados dois órgãos, o Instituto Brasileiro
medidas que visem a promover melhor distribui-
de Reforma Agrária (Ibra), que deveria cuidar da re-
ção da terra, mediante modificações no regime de
forma das estruturas agrárias, e o Instituto Nacional
sua posse e uso, a fim de atender aos princípios
de justiça social e ao aumento de produtividade. de Desenvolvimento Agrícola (Inda), encarregado
§ 2 Entende-se por Política Agrícola o conjun- da política de colonização. Em 1969 ocorreu a fusão
to de providências de amparo à propriedade da dos dois institutos, dando origem ao Instituto Na-
terra, que se destinem a orientar, no interesse da cional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
economia rural, as atividades agropecuárias, seja Já a Constituição de 1967 estabeleceu que
no sentido de garantir-lhes o pleno emprego, seja as indenizações seriam disponibilizadas em títulos
no de harmonizá-las com o processo de indus- da Dívida Pública. O valor da indenização deveria
trialização do país.
levar em conta o que fora declarado no Imposto
Art. 2 É assegurada a todos a oportunidade de
Territorial Rural, acrescido de correção monetária
acesso à propriedade da terra, condicionada pela
sua função social, na forma prevista nesta Lei. e do valor das benfeitorias.
§ 1 A propriedade da terra desempenha inte- Em tese, a legislação permitia ao Estado que
gralmente a sua função social quando, simulta- desapropriasse grandes extensões de terra, só
neamente: que não foi isso o que aconteceu, pois ao longo
favorece o bem-estar dos proprietários e dos do Regime Militar reforçou-se o poder do latifún-
trabalhadores que nela labutam, assim como dio. Muitas terras deixaram de ser propriedade de
de suas famiias;
mantém níveis satisfatórios de produtividade;
assegura a conservação dos recursos naturais; O !ncra foi fundado com o objetivo de imple-
observa as disposições legais que regulam as mentar a reforma agrária, promover o acesso
justas relações de trabalho entre os que a pos- à terra por meio da criação e implantação de
suem e a cultivem. assentamentos rurais sustentáveis, do geren-
§ 2' É dever do Poder Público: ciamento da estrutura fundiária no Brasil e da
a) promover e criar as condições de acesso do regularização fundiária das terras públicas, ten-
trabalhador rural à propriedade da terra eco- do tais políticas o foco de reduzir a pobreza e a
nomicamente útil, de preferência nas regiões violência no campo e promover a igualdade.

91
poucos "coronéis" e passaram a ser propriedade A política de ocupar terras devolutas ou po-
de empresas nacionais e multi nacionais. voadas por indígenas na região amazônica foi
Se de um lado os avanços tecnológicos bastante controversa. Conflitos entre indígenas,
possibilitavam o aumento da produtividade, do posseiros e jagunços a serviço de latifundiários
outro aceleravam o êxodo rural e aprofundavam causaram muitas mortes, além de intensa destrui-
o declínio das pequenas propriedades agrícolas, ção da floresta.
pois a mecanização dos processos agrícolas e a Nesse panorama de incentivo ao desenvolvi-
instalação de grandes empresas produtoras de mento agrícola, desmatamento e ocupação maciça
alimentos no meio rural resultaram na substi- de territórios indígenas viu-se necessária a criação
tuição da mão de obra dos trabalhadores rurais de áreas protegidas, as chamadas reservas. Tem
por tecnologias agrícolas que começavam a ser sido consenso entre muitos autores apontar como
utilizadas na época. Isso provocou um aumento primeira área protegida do Brasil o Parque Nacio-
significativo do êxodo de pessoas dos campos nal de ltatiaia, criado em 1937, no Rio de Janeiro,
em direção às cidades com o intuito de conseguir e a primeira reserva indígena o Parque do Xingu,
novo meio de sustento. No Paraná, por exemplo, localizado ao norte de Mato Grosso e criado em
certos municípios tiveram um acentuado decrés- 1961, no governo deJânio Quadros, sendo resul-
cimo populacional, enquanto a grande proprie- tado de vários anos de luta política por uma área
dade avançava num ritmo avassalador. de preservação do ambiente e da cultura indígenas.

Posseiros durante ocupação de terras em Duque de Caxias (HJ), 1964.

Organizando ideias
Reflita a respeito da criação dos órgos pú- 1. O que explica a criação de institutos como o
blicos brasileiros responsãveis por lidar com Ibra, o Inda e, depois, o lncra?
questões relacionadas à terra e responda às
questões a seguir. 2 Qual é a relação entre a modernização dos
campos e o êxodo rural?

92 ipítuto 3
2 Viajando pela história
O Parque Indígena do Xingu
Localizado na região nordeste do estado de Mato chamada Marcha para o Oeste. Era o período
Grosso, o Parque Indígena do Xingu (PIX), que abriga da Segunda Guerra Mundial e havia o temor
diversas etnias indígenas, foi o primeiro território de invasões estrangeiras nesses locais ainda
legalmente demarcado no Brasil, tornando-se re- pouco habitados.
ferência de diversidade cultural e ambiental. A expedição foi comandada inicialmente por
A criação do parque data de 1961 resultado de militares, contando com a participação dos irmãos
um longo histórico de lutas, expedições e discus- Orlando, Cláudio e Leonardo Villas Bôas, que logo
sões sobre sua viabilidade. estabeleceram contato com alguns povos, entre
eles xavantes, tupis, aruaks, karibs e jês. Parte
desses povos estava em grande decréscimo popu-
RR lacional, principalmente devido ao contato com do-
enças transmitidas por colonos que circulavam pela
região antes da chegada dos irmãos Villas Bôas.
A expedição Roncador-Xingu chegou ao fim em
1948, mas os irmãos Villas Bôas iniciaram uma
nova empreitada com a expedição Xingu-Tapajós,
então como representantes do Serviço de Prote-
ção ao Índio (SPI) do Alto Xingu, órgão criado pelo
marechal Cândido Rondon.
A realidade dos povos indígenas levou os irmãos
Villas Bôas a permanecer na região por cerca de
20 anos, onde desenvolveram um programa de
proteção que assegurou a posse das terras aos
indígenas, além de assistência médica necessária
para enfrentar as doenças que comprometiam a
sobrevivência dos indígenas.

19

19600000

Piano estratégico de recursos hidricos dos afiuentes da margem direita do


f fl: )
rio Amazonas 2n() exco4vnA4ênc:a N,ic/y1a d '.uan. . 23-24

A partir da década de 1940, durante o governo de


Getúlio Vargas, foram intensificadas as expedições
que culminaram na criação da área indígena.
Em 1941 teve início a expedição Roncador-
-Xingu, que adentrou por regiões ainda inex-
Os irmãos Crtudio e Oriando Villas Bôas no i)OSto avançado de Serra
ploradas dos estados de Mato Grosso e Goiás do Cachinibo da Expedição Roncador-Xingu, no Rio das Mortes. Serra
buscando demarcar a região no contexto da do Cachimbo (PA), 1951.

93
Os diálogos para a implementação do parque O debate entre o governo brasileiro, indíge-
começaram em 1952. A proposta encaminhada ao nas, ambientalistas e grupos da sociedade civil
governo previa um modelo novo de proteção aos concentra-se nos impactos que serão causados
povos indígenas com a criação de áreas demar- pela construção da hidrelétrica, entre eles desma-
cadas. Naquele ano, Orlando ViElas Bôas, Darcy tamento, alagamento e destruição de elementos
Ribeiro, Hetoísa Alberto Torres e o brigadeiro culturais e ambientais que são fundamentais para
Raymundo Vasconcellos Aboim apresentaram ao a identificação cultural e sobrevivência dos povos
vice-presidente, Café Filho, um anteprojeto de lei indígenas.
para a criação do Parque Nacional do Xingu, com
apoio do marechal Rondon. A polêmica Usina
As negociações terminaram em 19 de abril de de Belo Monte
1961, quando o Congresso Nacional aprovou a
Com o intuito de promover a aceleração do cres-
criação do Parque Nacional do Xingu. Orlando e
cimento econômico no Brasil, em 1975 foi proposto
Cláudio VilIas Bôas foram nomeados os primei-
projeto de construção da Usina Hidrelétrica de
ros diretores do parque, que também ficou sob a
Belo Monte, no Rio Xingu (PA). Durante décadas
tutela do Serviço de Proteção ao Índio, do Museu
projeto enfrentou resistência de populações
Nacional (RJ), do Instituto Oswaldo Cruz e de al-
indígenas e ambientalistas, que condenaram (e
guns outros órgãos.
ainda condenam) o empreendimento. Em 2000, a
Embora a demarcação do parque não tenha
concessionária de energia Eletronorte, orientada
contemplado todas as aspirações dos irmãos
pelo governo federal, assumiu o projeto de cons-
Villas Bôas, representou um grande avanço na
trução da usina, retomando os estudos na região.
proteção e na garantia dos direitos territoriais dos
A concessão somente foi assinada em 2010, e as
indígenas, num período em que não havia esse
obras tiveram início em 2011.
tipo de legislação.

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-
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- - -

Vista aerca do canteuo de oba


Kuai up. Pique f1igoiia 1)0 Xi(uiju MT). 2014. proximo a Altarnira (PA) 2012

Atualmente os grupos indígenas que habitam A proposta de construção da Usina Hidrelétrica


essa região enfrentam algumas batalhas, entre de Belo Monte tem como justificativa o grande
elas a construção de hidrelétricas em rios que crescimento demográfico previsto para o Brasil,
desembocam no Xingu, que podem comprometer que demandaria o aumento da produção energéti-
a preservação cultural e ambiental desses povos. ca para atender à expansão econômica, mantendo
Uma das questões mais polêmicas é a construção a competitividade industrial do país.
da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, cujo objetivo Entretanto, muitos aspectos devem ser levados
é aumentar a produção energética do país. em consideração no que diz respeito à execução

94
da obra da usina, uma vez que, como qualquer Dessa forma, a grande discussão se refere ao
projeto energético de grande porte, apresenta valor dado às culturas tradicionais e à preservação
impactos positivos e negativos. Sendo assim, do meio ambiente, além dos graves conflitos rela-
apesar de atender à crescente demanda por ener- cionados à posse de terras, uma vez que o desen-
gia no país e possibilitar sua produção de forma volvimento esperado para a região atrai também
renovável, a execução do projeto de Belo Monte grandes produtores agrícolas. Embora os relatórios
também causaria graves impactos ecológicos e ambientais afirmem que não haverá grave impacto
sociológicos sobre os ribeirinhos e os indígenas ambiental, a grilagem de terras ameaça as popula-
da região do Xingu. ções cultural e economicamente ligadas à região.
O debate entre o governo brasileiro e muitos Houve várias manifestações e debates, mas a
ambientalistas e estudiosos da cultura indígena diz complicada discussão vai muito além da constru-
respeito não só ao desmatamento e ao alagamento ção da usina e diz respeito também à distância da
da área do Parque do Xingu para a construção da população urbana no que se refere aos conflitos
usina hidrelétrica, mas também à identificação de posse de terras no campo e à preservação das
cultural de vários povos tradicionais com as áreas culturas tradicionais.
que serão utilizadas para a construção e sua de- A construção da usina está prevista para ter-
pendência dessas áreas para a sobrevivência. minar em 2019.

Como forma de compensaçao as grandes transforma, o s L 1


fotografia vemos as casas construidas para moradores que seriam removidos das palafitas do Rio lgarape Ambe em Altamira (PA). 2014.

Pausa para investigação 19

Nos últimos anos ocorreram várias ma- Busquem informações sobre o posiciona-
nifestações e debates sobre a Usina de Belo mento de alguns grupos de mídia a respeito
Monte. As discussões vão muito além da da questão. O que tem sido escrito e falado
construção em si, abrangendo o desconheci sobre a usina?
mento da população que vive nas cidades sobre
os conflitos pela posse de terras no campo Pesquisem as opiniões e ações de grupos
e a preservação das culturas tradicionais. indígenas, ambientalistas e estudiosos sobre
Com base nessa questão, forme um grupo a construção da usina.
com os colegas e, juntos, busquem informações
Concluído o trabalho, apresentem o que fize-
sobre a Usina de Belo Monte. Vejam, a seguir,
ram em sala de aula e finalizem redigindo um
como proceder.
texto opinativo da turma sobre esse tema.
1. Pesquisem os dados sobre andamento, exe-
cução, dados financeiros [custo) e impactos
ambientais causados pela obra.
01
A propriedade da terra no B 95
A reLação com a terra no campo
e no meio urbano
A Constituição de 1988 trouxe grandes avan- Paralelamente à Constituição de 1988, foi
ços para a área social. Ela possibilitou que uma discutida uma nova Lei Agrária (Lei n° 8.629/93),
reforma agrária pudesse realmente ser viabilizada, que reclassificou as propriedades rurais em peque-
e estabeleceu que a propriedade deve cumprir uma na propriedade - todo imóvel rural com área com-
função social.. preendida entre 1 e 4 módulos fiscais - e média
propriedade, que são imóveis com área entre 4 e
15 módulos fiscais.
Entende-se por função sociaL o uso racional
As propriedades também foram classifica-
e consciente da terra pelo proprietário, que deve
respeitar o meio ambiente, cumprir a legislação das como produtivas e improdutivas, tendo como
trabalhista e fazê-la produzir. São vários pa- base as médias regionais de produção.
rágrafos detalhando como, em linhas gerais, a Com essa classificação, fica fácil utilizar o cri-
questão agrária deveria ser encaminhada. Den- tério básico de desapropriação, que é o não cum-
tre eles, destacamos os artigos a seguir. primento da função social. Ou seja, a lei permite a
[ ... ] Art. 188. A destinação de terras públicas e desapropriação para reforma agrária.
devolutas será compatibilizada com a política agrí-
Entretanto, mesmo com o crescimento dos
cola e com o plano nacional de reforma agrária.
movimentos dos trabalhadores rurais, especial-
lA alienação ou a concessão, a qualquer títu-
lo, de terras públicas com área superior a dois mil e mente o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
quinhentos hectares a pessoa fisica ou jurídica, ain- Terra (MST), os sucessivos governos têm atuado
da que por interposta pessoa, dependerá de prévia de forma tímida na execução da reforma agrária.
aprovação do Congresso Nacional. Enquanto isso acontece, o Brasil permanece como
§ 2 Excetuam-se do disposto no parágrafo an-
um dos países com maior concentração da pro-
terior as alienações ou as concessões de terras pú-
priedade fundiária.
blicas para fins de reforma agrária.
Art. 189. Os beneficiários da distribuição de Portanto, hoje há uma legislação que torna,
imóveis rurais pela reforma agrária receberão títu- em tese, a terra mais acessível. Contudo, na prá-
los de domínio OU de concessão de uso, inegociá- tica prevalecem as grandes propriedades e falta
'eis pelo prazo de dez anos. ainda muito a ser percorrido para que realmente
I
[ ... os trabalhadores rurais possam desfrutar do bene-
Art. 190. A lei regulará e limitará a aquisição ou o
fício de ter terra "pra plantar e pra colher".
arrendamento de propriedade rural por pessoa físi-
Paralelos aos problemas relacionados à posse
ca ou jurídica estrangeira e estabelecerá os casos que
dependerão de autorizaçâo do Congresso Nacional. da terra no campo estão aqueles de aquisição e
Art. 191. Aquele que, nâo sendo proprietário de propriedade de terra no meio urbano. Assim como
imóvel rural ou urbano, possua como seu, por cin- a legislação brasileira assegura o direito à posse de
co anos ininterruptos, sem oposição, área de terra, terra aos trabalhadores rurais, também assegura o
em zona rural, não superior a cinquenta hectares,
direito à terra, entendida por moradia, no ambien-
tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua
te urbano. No entanto, assim como no campo,
famiia, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a
propriedade, E ... ] na cidade a legislação não é posta totalmente em
voga devido a diversos fatores, como o grande
Disponive em: <wwv.pLanaLto.gov.br/cciv03/constituicao/
Constituicaocompilado.htm>. número de pessoas e o crescimento desordenado.
Acesso em: fev. 2016.

Módulo fiscal: unidade de medida de uma área, fixada diferentemente para cada município e que corres-
ponde à área mínima necessáriaa uma propriedade rural para que sua exploração seja economicamente viável.

96 _51pUtu 5
Como resultado das dificuldades de acesso à poucos abrindo espaço para que as pessoas sem
moradia na cidade, principalmente devido ao alto acesso à terra se organizassem em busca da possi-
preço dos imóveis, surgiram vários movimentos bilidade de aquisição de propriedades.
reivindicatórios, que lutam pelo cumprimento das
leis relativas a moradias urbanas. Os movimentos sociais podem ser defini-
Muitos dos trabalhadores urbanos que não dos como uma organização da sociedade civil
conseguiram acesso à moradia nas cidades acaba- em busca da garantia de seus direitos ou contra
ram unindo-se aos movimentos de sem-teto como as injustiças sociais. Desse modo, a sociedade
alternativa à falta de propriedade. pressiona o Estado por políticas públicas que
assegurem melhorias para toda a população; os
Nesse panorama de organização fundiária
empregadores por melhores condições de traba-
surgiram os movimentos sociais organizados com
lho e renda; e a própria sociedade para que as
o intuito de lutar pelo direito de todos à proprie- mudanças se efetivem na maneira de pensar e
dade e ao uso da terra, uma vez que a própria de- nas práticas sociais de cada um.
ficiência da distribuição agrária no Brasil foi aos

co;tÇ.

iuvunnh . inoiadia !azeii mandestacão na região central da cidade de São Paulo (SP). 2015.

Nos últimos dois séculos, a sociedade bra- direito à cidadania, concentrando-se, em especial,
sileira, sobretudo as camadas populares, organi- na escravidão, na cobrança de impostos, nas legis-
zou-se em movimentos para reivindicar direitos lações que não beneficiavam a população e nem
que são (ou deveriam ser) garantidos por lei. No aos camponeses na sua busca por terra. Estudare-
século XIX, esses movimentos eram mais isolados e mos esses aspectos no próximo capítulo.
tinham como foco principal o desenvolvimento e o

Organizando ideias -
De acordo com o exposto neste capítulo sobre O que essa classificação permite?
posse de terras no campo e no meio urbano,
responda às questões a seguir. Quais são os motivos que fizeram surgir os
movimentos de sem-teto nas cidades?
L De que forma as propriedades rurais são
classificadas?

97
Resgate cultural

dessas populações nas cidades resulta, prin-


As popuLações indígenas cipal.mente, de duas situações: a área urbana
nas cidades cresceu e encontrou as terras ocupadas por

A divulgação dos dados do Censo 2010 a res- indígenas; alguns membros desses povos mi-
peito da população indígena provocou diversos graram para a cidade em busca de melhores
debates públicos. Foi revelado que mais de 320 condições de vida. Em ambas, o fato de viver na
mil indígenas viviam em áreas urbanas (36% cidade, e mesmo de exercer atividades típicas
do total de indígenas recenseados); a imensa de não indígenas, não exclui o reconhecimento
maioria, quase 300 mil, fora de terras indíge- como indígena.
nas. Muitas pessoas interpretaram que deveria Eu não queria que eles [meus filhos] passassem pelo
haver uma revisão da política de homologação que eu passei. Vivendo de roça, trabalhando em cima

de terras para os povos indígenas, já que uma das serras, sendo que as terras melhores os posseiros que

parte dessa população vive nas cidades, o que tinham. Então chega uma hora que a gente planta e vê
morrer por causa do sol. Aí a gente cai em desespero. E
significaria um abandono de sua identidade
é obrigado a tentar a sorte na terra dos outros.
indígena.
Esse raciocínio revela algumas represen- Bino (do povo pankararu( apud Comissão Pró-índio de
São Pauto. Índios na cidade de São Pauto. São Pauto:
tações que permeiam as relações entre indí- CPI -SP. p. 10. Disponívet em: .zwwi.cpisp.org.br/pdf/
genas e não indígenas no Brasil. A presença indiosl.pdf». Acesso em. Íev. 2016.

Manifestação de membros das comunidades guaranis do município de São Paulo, em luta polo reconhecimento de suas terras ancestrais e sua
demarcação, no centro de São Paulo (SP). 2014.

98
Em vez de revisar a política de acesso dos O tekoha guasti compõe uma mesma unidade políti-
povos tradicionais à terra devido à migração para ca e de participação em rituais religiosos. [...1
as cidades, é preciso intensificar os esforços de A Colônia Agrícola Nacional de Dourados
identificação e homologação da posse das terras (GAND) foi implantada em trezentos mil hecta-
indígenas e oferecer condições de permanência res, divididos em lotes familiares de trinta becta-
na terra.
res, que se sobrepuseram a grande parte do terri-
Em Dourados (MS), por exemplo, a Terra
tório do tekohaguasu Kanindeju. Nesse processo,
Indígena Dourados, criada em 1917 e homolo-
muitas comunidades foram expulsas de suas ter-
gada em 1965,
convive atualmente com diversos
ras tradicionais, provocando um trauma em suas
loteamentos urbanos na vizinhança - a cidade
histórias, sempre rememorado nas narrativas de
cresceu bastante nas últimas décadas, che-
gando aos limites da área indígena. Observe a seus líderes atuais.

imagem a seguir. PEREIRA, Levi Marques. A atuação do órgão indigenista

. "• oficiaL brasiLeiro e a produçâo do cenário muttiétnico da


- °c z
e !4 ,*
Reserva Indígena de Dourados, MS. Disponível em: 'w'.'
anpocs.org/porfatJindex.php?oplioncomdocman&task=doc_.
details&gid-'8809& ltemid456>. Acesso em: 1ev. 2016.

Observe a imagem e responda à questão.


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FT Dourad9s
i/- 0
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r
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«
?\ . ......
Fotografia de satelile da cidade de Dourados (MS) 2015

Recentemente o elevado número de suicí-


dios entre os kaiowás, em Mato Grosso do Sul,
causou comoção em todo o país. Do ponto de
vista de algumas lideranças indígenas, como
o cacique Getúlio Juca de Oliveira, da Terra
Cruzamento das ruas Espirito Santo com Almorés, Bairro de Lourdes Belo
Indígena Dourados, a saída para essa crise é a Horizonte (MC) 2015
expansão das terras indígenas. Sua argumen-
I. As ruas do centro da cidade de Belo Ho-
tação leva em consideração a territorialidade
rizonte têm um forte simbolismo: as que
de seu povo.
vão de leste a oeste têm nome de nações
No modelo de territorialidade kaiowá, o tekoha indígenas; já aquelas no sentido norte-sul
guasu corresponde ao território compartilhado por têm nome de estados e capitais do Brasil.
diversas comunidades que ocupam áreas contíguas Por que esses encontros" são simbólicos?
e que mantêm entre si fortes relações de alianças. O que eles representam?

A propriedade da terra no Bras) 99


Debate interdiscipLinar

A agropecuária para ainda assim, algumas implicações da produção


agropecuária para exportação são comuns aos
exportação dois períodos, como a utilização de terras muitos
extensas, o que favorece a concentração fundiá-
O termo "agronegócio" é frequentemente
ria, e a construção de estruturas de transporte da
utilizado para atribuir à produção agropecuária
produção até portos marítimos.
de exportação um caráter de" modernidade" e efi-
Grande parte das linhas férreas em uso hoje
ciência. No entanto, colocar um grande número
no país foi construída com esse propósito: levar
de instituições públicas e setores econômicos a
produtos agropecuários e da mineração até os
serviço dos interesses dos exportadores de pro-
portos, de onde são transportados em navios
dutos primários não é um fato novo na história até o país consumidor. Em São Paulo, por exem-
brasileira, assim como não é novidade o uso de PIO, a construção da maior parte da estrutura
técnicas e tecnologias modernas: a produção ca- ferroviária está ligada à cultura do café, embora
navieira levada a cabo nas terras sul-americanas também fosse utilizada para o transporte de
pelos portugueses contava com técnicas moder- passageiros.
nas naquele período. Observe no mapa a seguir como ocorre o
Diferentemente do Período Colonial, a eco- deslocamento da produção de soja, um dos prin-
nomia do país atualmente é bastante diversificada; cipais itens de exportação do país.

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Fonte: Atlas do espaço rural brasileiro. Rio de Janeiro: 18GE, 2011. . 166.

100
O preço da soja é regulado em um merca- necessária para viabilizar um negócio que, após
do mundial, o que ajuda a explicar por que sua algum tempo, deixa de ser funcional e demanda
produção e transporte são atividades bastan- novos investimentos em nova infraestrutura. No
te lucrativas. Elas demandam soluções cada vez exemplo da soja, a infraestrutura mais conso-
mais eficientes, o que implica um movimento da lidada no país serve à produção tradicional no
produção no território brasileiro. Sul, que é distante da área onde atualmente se
As áreas tradicionais de produção de soja, produz o maior volume desse produto. Há, por-
nos estados do Sul, foram se expandindo rumo tanto, uma grande demanda dos produtores de
à Amazônia, por Mato Grosso do Sul, Goiás e soja para que o Estado ofereça novas rotas de
Mato Grosso, que atualmente é o estado respon- escoamento do produto - o capital aplicado na
sável pelo maior volume de soja produzida no infraestrutura é, em grande parte, oriundo do
país. Ocorre que as estruturas de transporte dos Estado, não dos produtores, que são os princi-
grãos não se alteraram no mesmo ritmo do deslo- pais beneficiados.
camento das áreas de produção: no mapa é pos- O texto a seguir destaca um corredor de esco-
sível observar que os portos de São Paulo e dos amento da soja. Localize-o no mapa da página 100.
estados sulistas ainda são os principais destinos
O corredor Noroeste movimenta soja em grão pro-
da soja exportada.
duzida na Chapada dos Parecis (noroeste de Mato Gros-
Um aspecto geográfico da produção ca-
so) e na região de Vilhena em Rondônia. A produção
pitalista muito interessante para se analisar em
segue pela rodovia Cuiabá-Porto Velho (BR 163 1364),
relação à agropecuária é o grande volume de ca-
passa pela hidrovia do Madeira (rios Madeira e Amazo-
pital empregado na construção da infraestrutura
iias) até o porto de Itacoatiara (Rio Amazonas), equipado
com terminais graneleiros privados [ ... ]. Calcula-se que
o uso desse itinerário proporciona uma economia de
aproximadamente US$ 23,50 por tonelada em relação
a rotas tradicionais (para o sul).
CASTILLO, Ricardo; VENCOVSKY. Vilor Pires. A soja nos cerrados
brasiLeiros: novas regiões. novo sistema de movimentos. ComCi-
ência, 10 abr. 2004. Dispon(vet em: :www.comciencia.br/200404/
reporLa9ens/16.shLrnl>. Acesso em: fev. 2016.

Os autores apresentam dados de 2004 que


mostram o caminho mais vantajoso para levar os
grãos até os navios: de Mato Grosso seguem de
caminhão até Rondônia e de lá, via rio, até um
porto fluvial.

1. A construção de infraestrutura de transpor-


tes para escoamento de monoculturas pela
Amazônia implica prejuízos ambientais?
Quais?

2 Qual é o papel das vias de transporte no


movimento das culturas de exportação?
r;i,sI çjr: lu rIo . ,iI do si Msu,uo Iulsi VOho (KOl 2014.

. 101
Responda no caderno
Testando seus conhecimentos

1. lVunesp) mão de obra, encorajando a imigração de "traba-


lhadores pobres, moços e robustos" e tentando fixá-
O Brasil colonial foi organizado como urna em-
-los nas fazendas de café. Se os imigrantes tivessem
presa comercial resultante de uma aliança entre
de comprar terras e os preços fossem mantidos em
a burguesia mercantil, a Coroa e a nobreza. Essa
alta, eles seriam obrigados a trabalhar alguns anos
aliança refletiu-se numa política de terras que in-
antes de poderem comprar seu próprio lote,
corporou concepções rurais tanto feudais como
A Lei de Terras foi aprovada em 18 de setembro de
mercantis.
1850, duas semanas após a aprovação da lei contra
(Emilia Violti da Costa. Da Monarquia à República, 1987.) o tráfico de escravos.

A afirmação de que "O Brasil colonial foi Adaptado de Lestie Bethelt e José Murilo de Carvalho. .0 Brasil
organizado como uma empresa comercial da Independência a meados do século XIX". In: Bethell, Leslie
)Org.). História da América Latina: da Independência a 1870, vol.
resultante de uma aliança entre a burguesia III. Sào Paulo: Edusp; Imprensa Oticial, 2001. p. 753-754, 766.
mercantil, a Coroa e a nobreza" indica que a
colonização portuguesa do Brasil Como se dava o acesso à terra antes e

desenvolveu-se de forma semelhante depois da promulgação da Lei de Terras


às colonizações espanhola e britânica de 1850?
nas Américas, ao evitar a exploração De que maneira a Lei de Terras de 1850
sistemática das novas terras e privile- buscou promover o trabalho livre?
giar os esforços de ocupação e povoa- 3. )UFMG) O golpe político-militar de 1964 acar-
me nto. retou transformações na economia brasilei-
implicou um conjunto de articulações ra originadas das mudanças nas relações de
políticas e sociais, que derivavam, entre trabalho, das novas necessidades do desen-
outros fatores, do exercício do domínio volvimento capitalista no país e das mudan-
político pela metrópole e de uma políti- ças na conjuntura internacional.
ca de concessões de privilégios e varita- Todas as alternativas apresentam indicado-
gens comerciais, res corretos das transformações na econo-
cl alijou, do processo colonizador, os seto- mia brasileira pós-64, EXCETO:
res populares, que foram impedidos de
A abertura do país às empresas muI-
se transferir para a colônia e não pude-
tinacionais a partir da abolição das
ram, por isso, aproveitar as novas opor-
restrições à remessa de lucros para o
tunidades de emprego que se abriam,
exterior.
dl incorporou as diversas classes sociais
A adoção de uma nova política salarial e
existentes em Portugal, que mantive-
a implantação do Fundo de Garantia por
ram, nas terras coloniais, os mesmos
Tempo de Serviço )FGTS) substituindo o
direitos políticos e trabalhistas de que
sistema de estabilidade no emprego.
desfrutavam na metrópole.
cl A consolidação do setor industrial na-
e) alterou as relações políticas dentro de
cional através da elevação dos salários
Portugal, pois provocou o aumento da
urbanos e do aumento da oferta e do
participação dos burgueses nos assun-
consumo de bens não duráveis.
tos nacionais e eliminou a influência da
A elevação do volume de impostos e a
aristocracia palaciana sobre o rei.
consequente falência de um grande nú-
2. (Unicamp-SP) Na década de 1840, com a perspec- mero de pequenas e médias empresas.
tiva do fhn do tráfico negreiro, o governo brasileiro A expansão da indústria petroquímica,
começou a interessar-se por fontes alternativas de siderúrgica e do alumínio, realizada sob

102
Responda no caderno

patrocínio do Estado, com a participa- a condição de proprietário de terras e


ção de conglomerados nacionais e es- de homens garantia a preponderância
range i ros. dos senhores de engenho na sociedade
4. (Unaerp-SP) Em 1534, o governo português colonial.
concluiu que a única forma de ocupação a autoridade dos senhores restringia-se
do Brasil seria através da colonização. Era aos seus escravos, não se impondo às
necessário colonizar, simultaneamente, todo
comunidades vizinhas e a outros pro-
extenso território brasileiro. Essa coloniza-
prietários menores.
ção dirigida pelo governo português se deu
através da: cl as dificuldades de adaptação às áreas
criação da Companhia Geral do Comér- coloniais levaram os europeus a orga-
cio do Estado do Brasil. nizar uma sociedade com mínima di-
criação do sistema de governo-geral e ferenciação e forte solidariedade entre
câmaras municipais. seus segmentos.
criação das capitanias hereditárias. d) as atividades dos senhores de engenho
dl montagem do sistema colonial.
não se limitavam à agroindústria, pois
e) criação e distribuição das sesmarias.
controlavam o comércio de exportação,
S. (Cesgranrio-RJ) 'O senhor de engenho é tí- tráfico negreiro e a economia de abas-
tulo a que muitos aspiram, porque traz con-
tecimento.
sigo o ser servido, obedecido e respeitado
e) o poder político dos senhores de en-
de muitos. O comentário de Antonil, es-
crito no século XVIII, pode ser considerado genho era assegurado pela metrópole
característico da sociedade colonial brasilei- através da sua designação para os mais
ra porque: altos cargos da administração colonial.

rPara você Ler jrPara você assistir


Agricultura ilustrada: liberalismo e escravis- Terra de QuiLombos - Uma dívida histórica,
mo nas origens da questão agrária brasileira, direção de Murilo Santos. Brasil, 2003, 45 mio.
de Fernando A. Lourenço, Campinas: Unicamp, O documentário aborda a dificuldade que as
2001. Conheça as conexões entre o pensamento comunidades quilombolas do município de Al-
liberal-escravista, os projetos de melhoramen- cântara IMÁ] sofrem para ter acesso às áreas
to da lavoura brasileira no século XIX e as lutas cultiváveis depois da implantação do Centro de
travadas pelos trabalhadores em busca de dig- Lançamentos de Foguetes de Alcântara (CLA].
nidade e cidadania. BeLo Monte, anúncio de uma guerra, direção de
André D'Elia. Brasil, 2012, 104 mm. o documen-
rPara você navegar tário conta a história da Usina Hidrelétrica de
Belo Monte, que o governo começou a construir
no coração da Amazônia. Reunindo depoimen-
e Incra. Disponível em: <www.incra.gov.br>. Aces- tos favoráveis e contrários à construção da usi-
so em: fev. 2016. O site tem por objetivo infor- na, esse filme independente apresenta os basti-
mar as pessoas sobre as ações do instituto e a dores da obra mais polémica planejada no país.
situação agrária brasileira, além de fornecer
acesso a publica ções, atendimento ao público,
entre outros serviços.

BíJ; 103
, ..

EL Estudar os movimentos sociais rurais ainda acontecem muitas formas de luta e re-
que permearam e ainda permeiam a traje- sistência em torno da posse e do uso da terra,
tória histórica do Brasil é também estudar a e outros movimentos permanecem buscando
história da concentração fundiária em nosso soluções para os problemas e conflitos liga-
vasto território. dos ao campesinato brasileiro e para a terra
11

Em razão da estrutura fundiária brasi- que lhe cabe neste latifúndio', parafraseando
leira, organizada em grandes propriedades, o poeta João Cabral de MeIo Neto.
Li L

:-----

1 4 Tc AO

Iflt:
9L.._URà1it
Debater a questão agrária no Brasil é ocorrem muitas formas de luta em torno do
atual e pertinente. O espaço rural está, his- uso e da posse da terra.
toricamente, assolado por problemas so- Neste capítulo abordaremos os movi-
ciais não só dos que o habitam e sobrevivem mentos sociais rurais e apresentaremos um
de sua exploração, mas de toda a sociedade pouco da luta, da vida e das mazelas do ho-
brasileira, já que uma das bases da economia mem do campo.
do país é a agricultura. Ocorreram e ainda
BrasiL: reaLidade agrária
A questão agrária - conjunto de problemas pró- urgente de realizar reformas de base, como a social
prios do desenvolvimento do capitalismo no campo (redistribuição de rendas e erradicação da miséria,
- está diretamente relacionada às transformações ou seja, medidas que possibilitem o bem-estar
nas relações de produção, ou seja, como produzir. social a todos) e a agrária, que precisa ser acom-
Também envolve a maneira pela qual se organizam panhada de programas de incentivo ao produtor.
trabalho e a produção, o nível de renda e emprego
dos trabalhadores rurais e a produtividade das pes- Êxodo rural, é, basicamente, o deslocamen-
soas que vivem nas áreas rurais. to de pessoas da zona rural (campo) para a zona
A questão agrária no Brasil apresenta várias urbana (cidade). Ocorre quando os habitantes do
dimensões: a concentração de terras; a expulsão campo buscam melhores condições de vida. Os
de mão de obra; problemas sociais; conflitos so- principais motivos desse movimento migratório
são busca de emprego com boa remuneração,
ciais e agrários; camponeses sem terra.
mecanização da produção rural, fuga de desastres
Os problemas do campo ainda estão presen-
naturais (secas, enchentes etc.) e necessidade de
tes na vida de quem habita as áreas rurais, como infraestrutura e serviços (hospitais, transportes,
pequenos proprietários, trabalhadores assalaria- educação etc.). Esse deslocamento gera ou agrava
dos e boias-frias, relacionando-se, de forma geral, os problemas sociais dos centros urbanos, como
com todos os que não têm acesso à propriedade desemprego e favelização, pois nem sempre esses
da terra. Entre esses problemas estão a pobreza e centros têm estrutura para receber os migrantes.
desemprego causados por diversos fatores e que,
muitas vezes, levam a constantes migrações para
a cidade, num fenômeno conhecido como êxodo
ruraL Observe nos gráflcos ao lado a porcentagem
da população residente nas zonas urbanas e nas
rurais nas últimas sete décadas.
Mas qual seria a solução para que os traba-
lhadores do campo permanecessem trabalhando
L c 1,1950 1960
.
1970
0
1980

em seu local de origem, com sua sobrevivência ga-


rantida e ainda contribuindo na produção agrope-
cuária do país? Rural

Urbana
De acordo com estudiosos das questões so- 1991 7000 2010 -- -.

cioeconômicas do Brasil, há uma necessidade


Fonte SCL, 1

Organizando ideias

1.. Em grupo, conversem sobre reforma agrária as respostas dadas: mídia, senso comum,
e respondam aos seguintes questionamen- leituras diversas etc.
tos: O que é reforma agrária? Qual é sua
importância e necessidade? Quem ganha 3. Analisem as informações dos entrevistados,
e quem perde com ela? Quais mudanças comparando-as com as opiniões do grupo.
podem ocorrer na estrutura agrária e eco- Quais são os pontos comuns e divergentes?
nômica? Com base nas respostas dos entrevistados,
vocês consideram que a mídia influencia na
2. Depois, entrevistem algumas pessoas sobre formação de opinião das pessoas com relação
assunto, procurando saber de onde provêm ao assunto abordado? Como isso ocorre?

106
Viajando peLa história

Palmares e a questão agrária


No contexto colonial e imperial, destaca-se a luta dos escravos fugidos que forma-
vam os quilombos, onde, com base em uma economia e cultura paralelas, estabeleciam
uma nova forma de sobrevivência e resistência à escravização.

Esses quilombos tinham tamanhos e se estru- seu núcleo convergiam elementos igualmente opri-
turavam de acordo com seu número de habitantes. midos na sociedade escravista: fugitivos do serviço
Os pequenos quilombos possuíam uma estrutura militar, criminosos, índios, mulatos e negros mar-
muito simples: eram grupos armados. As lideran- ginalizados. Tinham, igualmente, contato com os
ças, por isto, surgiam no próprio ato da fuga e da grupos de bandoleiros e guerrilheiros que infesta-
sua organização. Os grandes, porém, já eram muito vam as estradas. Muitas vezes, através desses grupos,
mais complexos. O de Palmares chegou a ter cerca eram informados da aproximação de expedições
de vinte mil habitantes e o de Campo Grande, em punitivas contra eles. Em Sergipe, de forma espe-
Minas Gerais, cerca de dez mil ou mais. [ ... J cial, os quilombolas eram auxiliados pelos escravos
Isto exigia uma organização muito mais comple- das senzalas que muitas vezes os escondiam quando
xa [ ... J. Aparentemente o quilombo era um grupo eles faziam incursões aos engenhos. Esta solidarie-
defensivo. No entanto, em determinados momen- dade constante foi responsável pela prolongada vida
tos, tinha necessidade de atacar a fim de conseguir desses quilombos, os quais, à aproximação dessas
artigos e objetos sem OS quais não poderia sobrevi- expedições, já haviam se retirado do local, levando,
ver, especialmente pólvora e sal. Fazia igualmente quase sempre, o produto das suas roças e manti-
sortidas para conseguir mulheres e novos membros mentos produzidos pela economia quiombola.
para o reduto. Convém notar, porém, que o qui-
MOURA, Clóvis. Os quitombos e a rebelião negra.
lombo, além de não ser completamente defensivo, São Paulo: Bras1iense, 1994. p. 17.
nunca foi, também, uma organização isolada. Para o

O exemplo maior é o Quilombo dos Palmares


(1597-1694), localizado na Serra da Barriga, no atual
estado de Alagoas (que na época fazia parte da capi-
tania de Pernambuco). Nesse local, viviam escravos
fugidos, indígenas e pessoas pobres. Ali era praticada
a agricultura de produtos como mandioca, batata,
milho e fumo, assim como a criação de animais. Além
disso, armas e ferramentas eram fabricadas por meio
de técnicas de metalurgia trazidas da África.
Todas as terras desse reduto eram usadas comu-
nitariamente. Eram distribuídas às famílias ou grupos
de acordo com o número decomponentes de cada um,
para que nelas fossem plantados produtos necessários
à subsistência de todos os habitantes do quilombo.

À
Reduto: lugar que serve de refúgio. -
No texto refere-se ao Quilombo dos
Palmares. Joan Blaeu e Georg Marcçjraf. Detalhe do mapa Praefecwrae
Paranambucae pars Meridionalis. em Atlas Maior, 1647.

107
A base do trabalho agrícola era a policultura, Palmares pode ser considerado a maior ma-
explorada de forma cooperativa e comunitária. nifestação de resistência e organização política,
O excedente da produção era dividido entre econômica e militar contra o escravismo no Brasil.
membros da comunidade para as épocas de festas Por toda a sua estrutura - formada por vários
ou ainda armazenado para períodos de escassez mocambos, que ocupavam um território extenso
ou de guerra. Havia também a troca de artigos e tinham uma organização de governo própria -,
com pequenos produtores vizinhos por itens não Palmares transformou-se em uma espécie de
produzidos pela comunidade. confederação de quilombos, denominada por
estudiosos do tema como República dos Palmares.

Forme uma dupla com um colega e, juntos, por parentesco) procuravam terras devolutas nas
leiam o texto a seguir e façam o que se pede. franjas das fronteiras econômicas de ocupação. [ ... J
Também é importante acompanhar a trajetória de
Podemos reconstituir a história dos quilom- ocupação fundiária em algumas regiões realizada
bos no Brasil articulando - para além do protesto por negros (não necessariamente libertos do 13 de
escravo - as lutas de acesso, direito e manutenção maio), posteriormente expulsos por movimentos
à posse e uso da terra e a gestação de culturas econômícos e especulativos rurais. [...]
originais no mundo rural. Nas complexas expe- No contexto da importância que a questão agrá-
riências históricas que envolvem OS quilombos, ria tem assumido no Brasil é fundamental articulá-
recuperam -se inómeras comunidades negras -la com outras questões e movimentos sociais. [ ... ].
rurais, destacando a base da memória geracional É fundamental incluir no debate sobre a questão
e comunitária, inclusive no processo de formação/ agrária no Brasil a questão étnica, especialmente
transformação e até destruição das mesmas. Muitas as experiências do cativeiro - com os quilombos/
dessas comunidades rurais negras nasceram de mocambos e formas de protesto de ocupação de
processos de doações de lotes de terras aos escravos terra - e aquelas do pós-emancipação, com as co-
(apesar de não terem o título das mesmas), outras munidades remanescentes e outras tantas "terras
de movimentos migratórios do pós-abolição, no de pretos". Destacamos finalmente a recuperação
qual grupos de negros (via de regra organizados da história dos quilombos como importante ca-
pítulo das lutas em torno do acesso à terra - face
importante da luta pela cidadania - no Brasil, sua
dimensão étnica e as reconstruções culturais.
PINSKY. Jaime; PINSKY. Carta Bassanezi Orgi.
História da cidadania. Sào Pauto: Contexto, 2005. p. 463.

Analisem as informações do texto sobre a ca-


racterização dos quilombos como movimento
agrário. Anotem suas conclusões.

Pesquisem as comunidades remanescentes de


quilombos: o que são; onde estão localizadas;
qual é a relação dessas comunidades com o
uso da terra; quais leis amparam essas comu-
nidades; como são organizadas. Apresentem o
resultado em sala de aula.

ovoad o;
de, rnuUeres quitombolas socanco p;o.
ti

108
Os movimentos messiânicos
Alguns movimentos ocorridos após a Lei de explorados constantemente, e epidemias, como a
Terras e até meados do século XX, como Canu- da varíola, completavam um quadro já desolador.
dos, na Bahia (1893-1897), e Contestado, entre
o Paraná e Santa Catarina (191 2-1916), são cha-
O advento da República em nada alterou a rela-
mados de messiânicos por terem sido comanda-
ção do poder público central com o sertão nordes-
dos por líderes religiosos. Tiveram como causa
tino. Em 1898-1900, urna seca de produção inferior
principal o alto grau de miserabilidade das popu-
à dos "três setes" [1877-1879] encontrou o governo
lações camponesas. federal com urna posição bem clara: o presidente
Na segunda metade do século XIX, o Brasil Campos Sales julgava vantajoso "encaminhar a
passou por mudanças que fariam o país iniciar o populaçâo da zona rural onde a seca se manifes-
século XX em grave crise econômica. Nem a Pro- tou para regiões de outros estados que oferecessem
clamação da República, nem a Abolição da Escra- condições para utilizar a aptidão dos migrantes em
vatura trouxeram grandes alterações na estrutura trabalhos produtivos". Urna postura também ado-
socioeconômica do país - com a descentralização tada por outros governos que consideravam mais
do poder e o apoio do governo às oligarquias de econômico pagar a migração de sertanejos para
outras regiões do que um programa de transfonna-
cada estado, o coronelismo tornava-se cada vez
ção do Nordeste em área produtiva. [ ... ]
mais forte. O cenário político que se institucionali-
zou envolvia eleições arranjadas, voto não secreto VILLA, Marco Antônio. Que braseiro, que fornalha.
Nossa História, Rio de Janeiro, Vera Cruz,
e fraudes constantes.
ano 2. n. 18, abr. 2005, p. 16.

Canudos: o beato, sua Nesse contexto, surgiu a figura de Antônio


terra e sua gente Vicente Mendes Maciel, chamado Conselheiro,
um trabalhador que, após se encantar com as pre-
gações e as obras de caridade executadas por um
padre, optou por dedicar-se aos estudos religiosos
católicos e divulgá-los entre a população pobre.

rrO Conselheiro escutava os problemas das pessoas e


procurava consolá-las e ajudá-las da forma que lhe
fosse possível, o que lhe rendeu um número cres-
r1
cente de seguidores.
Com o passar dos anos, à medida que aumen-
W Ef e tou a quantidade de seguidores de Conselheiro,
despertaram também seus inimigos: os latifundiá-
rios, cujos empregados abandonavam as fazendas
para seguir o beato, e os padres, que tinham seu
prestígio diminuído pelas pregações de um leigo.
D. Urpia. Vista de Canudos, 1897. Litogravura.

A partir da segunda metade do século XIX,


quando o café tomou o lugar do açúcar como prin- Beato: fanático religioso, muito devoto a al-
cipal produto de exportação, o nordeste deixou de guma religião.
ser o polo econômico do país. Com a instauração Leigo: que não pertence a determinada pro-
da república, a autonomia dos municípios abriu ca- fissão ou não conhece alguma atividade, arte
minho para que os poderosos locais - os coronéis ou religião específica. No texto, tem o sentido
- cobrassem pesados impostos dos habitantes. de alguém que possui conhecimentos sobre
Ex-escravos e sertanejos, sem terras para religião, mas não tem ordens sacras.
plantio devido aos latifúndios e às secas, eram

Movimentos sociais rurais no Brasi, 109


Antônio Conselheiro propunha a criação de as autoridades. Mais tarde, um contingente de 80
uma comunidade que não estivesse submetida homens foi enviado. A tropa, entretanto, decidiu
nem às autoridades civis, nem às religiosas - uma não lutar, temendo nova derrota. Alguns políticos
comunidade que representasse a esperança de da época também apoiaram Conselheiro, devido
uma vida melhor, mais justa. Assim, em 1874, ele a seu grande apelo popular, e ele foi, por algum
e seus seguidores se fixaram perto da vila de ltapi- tempo, deixado em paz pelas autoridades.
curu de Cima, no sertão da Bahia, e fundaram o
Arraial do Bom Jesus. Conselheiro então passou a A comunidade de Canudos
ser conhecido como o mais influente pregador do
Em termos defensivos, a escolha do local para
sertão nordestino.
fundar a comunidade de Canudos foi estratégica.
Chegar até lá era difícil, pois o terreno tinha gran-
[ ... ] Essa influência passa a ter registro no des desníveis, o solo estava ressequido, a vegetação
sul-su(leste a partir de 1877, quando a Folhinha retorcida (caatinga) e o sol era escaldante. Além
Laemmert, do Rio de Janeiro, chama a atenção disso, não havia nenhuma cidade nas imediações,
de seus leitores para o surgimento do profeta ser- e a estrada de ferro de Queimadas ficava a 200
tanejo. Os incidentes que a partir de então mar-
quilômetros de distância.
carão sua existência obrigam (de alguma forma)
A vida em Canudos era simples, como trabalho
diferentes setores da inteligência brasileira a apre-
ciarem o significado sociopolítico desse fenôme- igualmente repartido entre todos, assim como o
no. Pequenos e grandes intelectuais emitem seus
Crco de2 ,.-
pareceres acerca da trajetória e dos propósitos do *emb-o Iii o,-
peregrino. [...} O alto clero católico, a oficialidade
do exército, os diferentes jornais e seus pequenos
atores, os jornalistas, foram mobilizados pelo es-
tranho pregador e sua Troia de Taipa.

SAMPAIO, Wilson Correia; DAMASCENO, Maria Neida.


:
Antônio Conselheiro nos sertões de Euctides da Cunha:
7 .. ,
um enfoque gramsciano. Maceió: Edufal. 2005. p.3l. 1-' •-'---

(5 '
Em 1893, Antônio Conselheiro e seus seguido-
res estabeleceram-se em uma fazenda abandonada LP, 2;

às margens do Rio Vaza-Barris, no norte da Bahia, <cr


r<
conhecida como Canudos. Nessa época, tanto a N,
Plc) / edos dos
Igreja Católica quanto as autoridadesjá conheciam
Conselheiro e seu prestígio perante o povo. Nesse
.7
-
:
.
mesmo ano, ele reuniu seus seguidores e aconse-
lhou-os a não pagar os impostos, que haviam sido /•. .'-

publicados em editais expostos pelos muros e pa-


redes da cidade, por considerá-los abusivos. Em
sinal de protesto e incentivada por Conselheiro, a c0tumt)*
--.-e
'2

e
- •'-';:

+ 't
/
c
população arrancou e queimou os editais.
1 '1
Temerosas de que a manifestação se espa-
AAA ,.ep.toteSe' e
lhasse para outras localidades, as autoridades
enviaram um grupo para prender o líder do pro-
.1.1,.l.
til - ..........
- :
£
. .
testo. O encontro entre policiais e os seguidores
de Conselheiro se deu em Masseté, entre as loca-
lidades de Tucano e Cumbe, mas a resistência foi

À - .e',.I ( -'.
ttt
ttnt
-.
--

tão grande que os soldados fugiram. Este seria o


Mapa de Canudos e cercanias elaborado pelo cel. Siqueira de
primeiro confronto entre Antônio Conselheiro e Menezes. c. 1897.

110
fruto dele. A comunidade contava com pessoas ca- A terceira expedição, embora fosse ainda muito
pacitadas para lidar com a terra e com outros ofí- maior que a segunda, também foi derrotada. Assim,
cios. A terra pertencia a todos, e lá eram cultivados a destruição de Canudos tornou-se uma questão de
milho, mandioca, fejão, abóbora e melancia. O que honra para os opositores. A partir desse combate,
sobrava era armazenado ou vendido em localidades o ministro da Guerra passou a se encarregar da
vizinhas. Também se criava gado, principalmente missão de destruir a comunidade e acabar com os
cabras, cuja pele era curtida e vendida. Em forjas, "fanáticos". Arregimentou cerca de 5 mil homens,
eram fabricados os instrumentos necessários para a que depois, devido às baixas, receberiam o reforço de

lavoura: foices, facões etc. mais soldados, todos fortemente armados, contando

Havia ainda carvão, salitre e enxofre, o que pos- ainda com o auxílio de canhões.

sibilitava a produção de pólvora. Ninguém pagava im-


postos, o consumo de álcool era proibido, não havia
mendigos, desocupados (todos tinham de trabalhar)
nem prostituição, e as mulheres eram respeitadas.

A Guerra de Canudos
Conselheiro era um homem profundamente
religioso, que repudiava o casamento civil e a separa-
ír
ção entre Igreja e Estado - coisas que haviam surgido 1.

com a república. Por essa razão, os políticos da época


consideravam Canudos um reduto monarquista. Essa
visão, entretanto, é parcial: tanto a Igreja quanto ogo-
verno tinham interesses comuns com os fazendeiros e,
muitas vezes, confundiam-se com eles. A comunidade
de Conselheiro havia atingido um grau de autonomia
que era difícil para coronéis, latifundiários, políticos
e a própria Igreja Católica aceitarem. A "subversão"
tinha de ser contida, pois o exemplo poderia se alas-
trar e os poderosos temiam perder seu espaço e seus
direitos de exploração. Para os grupos dominantes, '.•-."'.
Canudos era uma grande ameaça. Faltava apenas um
Igreja Velha (de Santo Antônio), destruida durante a Guerra de
pretexto para ser combatida. Canudos, em 24 de agosto de 1897. Fotografia de Flávio de Barros.
O pretexto veio com um incidente relacionado
à compra de madeira para a construção da igreja de Com a chegada dos reforços e o cerco cada

Canudos. Antônio Conselheiro havia comprado a vez mais fechado a Canudos, a comunidade sofria

madeira de um coronel da cidade dejuazeiro (BA) e com a fome, a sede e o número bastante reduzido

já havia pagado por ela. Entretanto, na data marcada de guerrilheiros. O bombardeio a Canudos ficou

para a entrega, a madeira não chegou. Indignado, cada vez mais intenso. Antônio Conselheiro morreu

Conselheiro mandou avisar ao coronel que sua gente em 22 de setembro de 1897, provavelmente em

buscaria a madeira. Então se espalhou o boato de que decorrência de um ferimento. A partir de então,

a gente de Canudos invadiriajuazeiro. Assim, o gover- a luta perdeu seu caráter militar e transformou-se

nador da Bahia deu ordens para que fosse organizada em uma "caçada humana". Canudos foi derrota-

a primeira expedição punitiva contra a comunidade. da em 5 de outubro de 1897 e, no dia seguinte, as

Essa expedição foi derrotada antes mesmo de poucas casas que restaram foram queimadas.

chegar ao arraial - assim como a segunda. Esta última


derrota não repercutiu apenas na Bahia, mas tornou- A Lc:
-se um escândalo nacional, abalando principalmente Curtido: preparado, amaciado.
os republicanos, que faziam questão de atribuira Ca- Edital: neste caso, aviso oficial do governo.
nudos uma tentativa de restauração da monarquia.

111
O repórter Euclides da Cunha, autor de Os ser-
tões, não escondeu o espanto diante da resistência Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha era
dos sertanejos: um engenheiro desligado do serviço militar que
escrevia artigos na imprensa. Em 14 de março
de 1897 redigiu um artigo sobre a derrota de
Canudos não se rendeu. Exemplo único em
Antônio Moreira César perante os seguidores
toda a História, resistiu até o esgotamento com-
de Antônio Conselheiro. Graças a esse texto,
pleto. Jc: palmo a palmo, na precisão
foi convidado para cobrir a Guerra de Canudos
integral do termo, caiu no dia 5, ao entarde-
para o jornal O Estado de S. Paulo.
cer, quando caíram os seus últimos defensores,
Euclides foi para o interior da Bahia e pre-
que todos morreram. Eram quatro apenas: um
senciou o final do conflito. Com base em suas
velho, dois homens feitos e uma criança, na
anotações e depois de consultar as mais diver-
frente dos quais rugiam, raivosamente, cinco
sas fontes, escreveu Os sertões, obra publica-
mil soldados. Caiu o arraial a 5. No dia 6 acaba-
da em 1902.
ram de o destruir desmanchando-lhe as casas,
5.200, cuidadosamente contadas.

CUNIIA. Euclides da. Os sertões. Os Sertões


São Pauto: AbriL. 2003. p. 433.

Na verdade, alguns moradores do antigo


reduto conseguiram fugir. Todavia, diversos 1: .1 .. ,L Ii
prisioneiros foram executados pelos soldados
do Exército brasileiro, que também violentaram
mulheres aprisionadas.

Frontispício da primeira edição de Os sertões.


publicada em 1902, de Euclides da Cunha.

Expugnar: conquistar, vencer, tomar para si.

- .."',, •

De acordo com as informações sobre Ca-


nudos, responda às questões a seguir.

Quais eram as condições sociais na época


do aparecimento de Antônio Conselheiro?
ur flo 4 ,j anudo.
Velho (BA 201.3
O que Canudos representava na visão:
Em 1910 unia nova Canudos foi construída sobre as ruínas de Belo Monte e
posterromiente. em 1950, iniciou-se a construção de unia barragem no local.
da população local?
Bem proxrmo a essa barragem surgiu o vilarejo Cocorobó. Em 1969 Canudos
foi inundada sob as águas do açude de Cocorobó, ficando somente o vilarejo
fora das águas, hoje chamado de Canudos Velho. Em õpoca de estiagem as
dos republicanos?
rumas da segunda Canudos podem ser vistas dentro do açude.

112
A guerra sertaneja na As causas do conflito
região do Contestado Em 1906, um grupo estrangeiro comandado
por Percival Farquhar, empresário norte-americano,
De 1912 a 1916 ocorreu outro violento conflito por meio da empresa Brazil Railway Company,
camponês na região entre o Paraná e Santa Catarina. adquiriu a permissão para construir a estrada de
O local desse conflito compreendia uma área ferro entre São Paulo e Rio Grande do Sul - a fer-
de 48000 km2, rica em erva-mate e intensamen- rovia atravessaria a região contestada.
te disputada por paranaenses e catarinenses. Em A Brazil Railway conseguiu do governo brasi-
razão dessa disputa, o local foi "contestado" pelos leiro a concessão de 15 km de terra de cada lado
dois estados até 1916, quando a disputa jurídica dos trilhos. Além dessas terras marginais, uma em-
pela região terminou: 20000 km2 couberam ao presa subordinada à Brazil Railway (a Southern
Paraná e os outros 28000 km2 a Santa Catarina. Brazil Lumber & Colonization Company) adquiriu
A Guerra do Contestado não Foi, entretanto, 180 mil hectares próximos da cidade de Canoi-
um conflito entre paranaenses e catarinenses, e nhas, em Santa Catarina. Com a exploração das
sim uma reação dos sertanejos a uma ordem social serrarias, a Lumber tornou-se a maior madeireira
considerada injusta. da América do Sul. Os moradores das regiões cedi-
O cenário sociopolítico e econômico do sul do das à empresa foram sendo expulsos, e seus títulos
Brasil no início do século XX para o camponês não de posse foram declarados nulos.
divergia muito daquele encontrado pelos sertanejos Nessa época era frequente a passagem de
no norte e nordeste. Os camponeses sulistas con- monges e beatos que atravessavam o interior dos esta-
viviam com semelhante miséria e opressão, sendo dos sulinos fazendo novenas, benzendo, dando recei-
também explorados pelos coronéis da região. tas e assistindo religiosamente o povo, que os recebia
A atividade econômica consistia na criação como santos. José Maria de Santo Agostinho (na ver-
de gado bovino e no cultivo de erva-mate. Exis- dade, Miguel Lucena Boaventura) era um deles.
tia ainda uma agricultura de subsistência - a roça
cabocla, baseada na agricultura de milho, feijão,
José Maria não era um curandeiro vulgar. Sabia
abóbora, melancia etc. -, que empregava métodos
ler e escrever e, havia muito, possuía uns cadernos
de cultivo precários.
nos quais anotava as propriedades medicinais -
comprovadas pela prática e pela experiência popu-
lar - de numerosas plantas da flora de Serra-Acima.
Ao mudar-se para o raicho do capataz, instituiu a
"Farmácia do Povo". Todos que tinham recursos
pagariam, no mínimo, dois-mil réis pela consulta.
Utilizar-se-iam dos fundos assim consegui-
dos para socorrer os mais necessitados. Esperan-
do serem atendidos, os enfermos faziam filas no
consultório improvisado; ele os atendia até bem
tarde da noite.
Ao entrar um paciente, José Maria, depois de
ouvi-lo e examiná-lo, consultava os seus cader-
nos. Um dos secretários que o auxiliava copiava
então a receita, que era entregue ao doente por es-
crito [ ... ]. Circulavam na área rezas manuscritas a
cuja materialidade se atribuía uma força sobrena-
;
tural, e, cozidas em patuás, serviam para "fechar o
Agncultor vedfica pantacao de erva-mate. Boa Ventura de São Roque (PR), 2014. corpo" e outros fins igualmente benéficos.
No Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no Paraná o mate é parte da cesta
básica. como forma de valorizar a cultura local. QUEIROZ. Mauricio Vinhas de, Messianismo e conflito
Além de ser consurnida como chimarrão - ou tereré -, a erva-mate é muito social. São Pauto: Ática, 1981. p. 81-82.
importante na indústria de refrigerantes e chás, tanto no mercado interno
quanto no externo.

113
Em um clima de grande efervescência mís- as tropas do Regimento de Segurança do Paraná
tica, os camponeses expulsos de suas terras co- partiram para Irani e atacaram o grupo liderado
meçaram a formar comunidades, que mais tarde pelo monge. Na luta, José Maria foi baleado e
se tornariam redutos. Nos redutos predominava morto. João Gualberto, cercado por uma multi-
igualitarismo, excetuando os bens pessoais. dão enfurecida, tentou fugir, mas foi assassinado
Eram considerados bens pessoais os cavalos, as no episódio conhecido como a Batalha dos
armas e o dinheiro que cada um trazia consigo. Campos de Irani.
Os alimentos eram partilhados pelos membros Após o combate, os sertanejos se dispersa-
da comunidade. ram e, na região contestada, difundiu-se a crença
de que o monge ressuscitaria e comandaria o Exér-
O início dos confLitos cito Encantado de São Sebastião, dando início a
uma Guerra Santa.
Por atrair multidões de seguidores, o monge O sebastianismo já existia no Brasil desde o
José Maria acabou provocando a ira de coronéis século XVII, quando o rei português D. Sebastião
locais, que então o acusaram de monarquista desapareceu na África combatendo os mouros.
como pretexto para persegui-lo. Entre os sertanejos do Contestado havia a crença
Por precaução, em 1912, o monge retirou- em São Sebastião - protetor dos fracos e oprimi-
-se para Irani, que à época ficava em território dos, santo da guerra -, que se tornou o santo pro-
sob jurisdição do Paraná. Assim que se espalhou tetor daqueles deserdados.
a notícia de que José Maria estava em terras pa- No município de Curitibanos, os coronéis e
ranaenses, políticos e imprensa começaram a as empresas estrangeiras continuavam expulsan-
afirmar que, por trás do monge, escondiam-se do os sertanejos. Perdizes Grande - local onde se
manobras do governo catarinense para se apos- reuniam os seguidores do monge - tornou-se o
sar de terras do Paraná. reduto mais importante dos adeptos da "santa
Sob o comando do coronelJoão Gualberto, religião".

oo
/ ..
PARANA /
1

/ Serra da Fa,
alma o
f PPCO •Calmon

\ ' .Irani Í, Caçador


'r-- eira SANTCATARÍA 27 S
Curit b'aos
RIO Urug1 •CampdsNovos Area do Paraná
FlSçianopolis pretendida por
jages Santa Catarina

/ . Areade
Santa Catarina
N - ) pretendida
pelo Paraná
RIO GRANDE DO SUL
OCEANO Área da Guerra
1
ATLÂNTICO do Contestado

148 g -.---.-- Ferrovia

Fonte: A ONSO, Lcurdo 100. O Contestado. Sc Pato: Ática, Í 994.

114
Os ataques similar à de Bom Sossego - este chegou a ter 2 mil
moradores. Os sertanejos ocuparam ainda a Vila
O governo catarinense organizou logo um
Nova deTimbó, em território paranaense.
ataque ao reduto Taquaruçu, em 1913, porém sem su-
O movimento sertanejo atingiu o auge em 1914.
cesso. O segundo ataque resultou na morte de muitos
Os rebeldes continuavam obtendo novas vitórias em
camponeses e na destruição do reduto. Entretanto,
ataques a fazendas e vilas, além de numerosas ade-
ao contrário do que se imaginava, o massacre deTa-
sões: Canoi nhas, Papanduvas, ltaiópolis, Caçador,
quaruçu só aumentou a radicalização dos sertanejos,
Calmon, São João, Curitibanos, Salseiro, Iracema e
tornando-se o estopim de uma violenta guerra civil.
Moema, que também sofreram duros ataques.
Por divergências internas, antes do massacre
No entanto, em agosto de 1914, o general
de Taquaruçu, um grande número de pessoas
Setembrino de Carvalho, militar de grande pres-
deslocou-se para Caraguatá, aumentando a quan-
tígio perante o Exército nacional, foi designado
tidade de integrantes desse outro reduto. As forças
para assumir a Xl Região Militar. Em outubro,
governamentais mais uma vez se prepararam para
atacar, mas, como os sertanejos da região apoiavam iniciou-se uma nova ofensiva militar. Setembri-

os rebeldes, as tropas foram enviadas em direção no ordenou o cercamento da área contestada,

oposta à do reduto. Dentro da mata, uma sucessão vencendo os sertanejos pela fome e pela sede.
de emboscadas levou à retirada das tropas. Em janeiro de 1915, cerca de 3 mil sertanejos
Após essa vitória, o otimismo tomou conta renderam-se às forças legalistas. Muitos foram
dos sertanejos. Nessa época, diversos sertanejos assassinados.
mudaram-se para os campos de Bom Sossego em Em fins de 1915, a rebelião sertaneja foi con-
Pedras Altas, a nordeste de Caraguatá. tida, restando apenas pequenos grupos esparsos.
No Vale do Timbozinho formou-se também Em 1916, Adeodato - o último chefe sertanejo -
o reduto de São Sebastião, cuja organização era foi preso.

M
ÍI
Organizando ideias
Por que se afirma que a Guerra do Contestado tinha caráter messiânico?

Retome os dois exemplos de movimentos sociais messiânicos e identifique semelhanças e dife-


renças na organização, nos motivos de luta, nos objetivos a serem alcançados e na intervenção
da força pública.

115
Os movimentos sociais
rurais organizados
De 1940 a 1955 ocorreram muitos conflitos governamentais (rodovias, exploração de miné-
e revoltas populares em vários estados brasileiros. rios) e da iniciativa privada, que apropriavam e
Dentre eles, destacaram-se a luta dos posseiros de desapropriavam terras, até mesmo ignorando as
Teófilo Otoni (MG), de 1945 a 1948; a Revolta populações indígenas e caboclas da região.
de Dona "Nhoca" (MA), em 1951; a Revolta de
Trombas e Formoso (GO), de 1952 a 1958; a re-
volta do Sudoeste do Paraná, em 1957; e a luta
arrendatária em Santa Fé do Sul (SP), em 1959.
Esses conflitos regionais arregimentaram muitas
pessoas e mostraram a gravidade das questões li-
gadas ao homem do campo.
Já os anos entre 1950 e 1964 foram marca-
dos pelos movimentos camponeses organizados.
Nesse período destacaram-se a União de Lavrado-
res e Trabalhadores Agrícolas do Brasil (Ultabs),
as Ligas Camponesas e o Movimento dos Agricul-
tores sem Terra (Master), com atuação direta no
Rio Grande do Sul, onde os camponeses, apoiados
pelo líder político Leonel Brizola, ocupavam terras Concentraçau ra ouvir Pontes e
por meio da desapropriação. Francisco Julião, do PCB. Recife (PE). 28 set. 1970.

Com a implantação do Regime Militar em Os conflitos por terra na área foram acir-
1964, ocorreram repressões - assim como em rados, gerando violentos embates, que resulta-
todos os setores da sociedade urbana - aos movi- ram em mortes, queima de plantações e até das
mentos camponeses. Muitos líderes foram presos, casas de muitos posseiros. Em 1975 foi criada,
exilados ou assassinados. Os sindicatos rurais, pela Igreja Católica, a Comissão Pastoral da Terra
as Ligas Camponesas e o Master acabaram. Os (CPT), que teve papel relevante na denúncia de ar-
poucos sindicatos que restaram tinham caráter bitrariedades cometidas contra os camponeses e
assistencialista, ou seja, serviam apenas para dar no apoio e assessoramento a esses trabalhadores.
alguma assistência social aos camponeses e não A CPT tinha ligação com a Teologia da Li-
para lutar a favor de seus direitos. bertação (TdL), movimento que surgiu em 1971,
Na década de 1970 surgiu uma nova forma quando o padre peruano Gustavo Gutiérrez es-
de luta pela terra, a dos posseiros da região ama- creveu o livro Teologia da Libertação. A TdL
zônica contra fazendeiros e empresas internacio- surgiu como uma resposta à opressão dos regimes
nais que tentavam expulsá-los de suas terras. militares na América Latina, buscando maior enga-
Nesse período, vários trabalhadores de diver- jamento dos grupos cristãos na política, com o ob-
sas regiões do Brasil migraram para a Amazônia, jetivo de lutar por melhorias nas condições de vida
motivados pelas propagandas de terras em abun- da população, espalhando-se para diversas regiões
dância às margens das rodovias Transamazônica, pobres e marginalizadas do globo. No Brasil, seus
Cuiabá-Santarém e Cuiabá-Porto Velho. Muitos maiores expoentes foram o teólogo Leonardo Boff
dos atraídos para a região eram fazendeiros ou e o bispo Dom Paulo Evaristo Arns, que lutaram
empresários, na maioria do sul do país, que com- contra a Ditadura Militar, reivindicando melhores
pravam títulos de terras com incentivos do go- condições de vida para a população brasileira,
verno. Também havia os grandes investimentos tanto na cidade quanto no campo.

116
Em relação à política agrária, o Período Mi- A Liga da Galileia, como era chamada, des-
litar foi marcado pelo Estatuto da Terra - que na pertou no filho do proprietário do engenho a des-
prática nunca se efetivou - e pela criação do Ibra, confiança de que a organização dos agricultores
como estudamos no capítulo anterior. Efetivamen- pudesse pôr em risco a utilização dessas terras
te, ocorreram algumas desapropriações e assenta- para pecuária, uso que seria mais rentável para
mentos visando resolver conflitos ou colonização ele. Assim, nessa e em outras propriedades, visan-
de áreas desabitadas. do deslocar esses foreiros e tornar a terra mais lu-
Analisando a conjuntura histórica do Brasil crativa, os proprietários impuseram um aumento
desde o Período Militar, pode-se perceber que os generalizado no preço do foro, o que teve como
assentamentos ocorridos foram resultado de lutas consequência imediata a mobilização dos cam-
constantes de organizações dos trabalhadores rurais poneses para uma luta comum contra o aumento
em sindicatos e movimentos. do imposto e contra as ameaças mais diretas de
expulsão.
Para defendê-los na Justiça, a SAPPP pro-
As Ligas Camponesas curou Francisco Julião de Arruda (membro do
As Ligas Camponesas foram associações Partido Socialista Brasileiro - PSB), advogado e
de trabalhadores rurais criadas inicialmente no deputado do Recife, que havia criado em 1945
Paraná e em São Paulo, que depois se estende- uma declaração de princípios em defesa dos traba-
ram pelos estados de Pernambuco, Paraíba, Rio lhadores rurais, a "Carta aos foreiros de Pernam-
de Janeiro, Goiás e por outras regiões do Brasil. buco". A pendência durou até 1959, quando foi
Existiram no período de 1945 a 1964 e faziam aprovada a desapropriação do engenho, fato que
parte de uma nova forma de luta rural: um movi- deu notoriedade a esses camponeses e a Francis-
mento organizado, no qual os camponeses pas- coJulião, representando também a vitória de uma
saram a compor uma classe unida na luta pela liga camponesa na luta pela reforma agrária. Isso
terra. Sob o lema "Reforma agrária na lei ou fortaleceu as lideranças dessa e de outras ligas que
na marra", as ligas atuaram em vários estados haviam se organizado no período.
brasileiros.
No estado de Pernambuco, no início da
década de 1950, muitos dos antigos engenhos
que sustentaram a economia no Brasil Colonial
estavam nas mãos de foreros. Dessa forma, os
agricultores usavam as terras desses engenhos em
troca de um foro, um tipo de aluguel.
Em Pernambuco, surgiu uma liga campo-
nesa no Engenho Galileia, em Vitória de Santo
Antão. Nessa propriedade estavam 140 famílias
de foreiros, distribuídas nos 500 hectares da fa-
zenda. No dia 1° de janeiro de 1955 foi criada a
Sociedade Agrícola e Pecuária de Plantadores de
Pernambuco (SAPPP), que tinha objetivos assis-
tenciais, como dar um enterro digno aos lavrado-
res, oferecer assistência educacional e de saúde e caiiiponuses durante itesapropriação do Engenho Galilcia, em Vitoria de
Santo Antâo (PE). 5jun.1960.
comprar adubo para melhorar a produção. Foi
escolhido como presidente de honra o próprio
dono do engenho, Oscar de Arruda Beltrão.
Essa união foi chamada de "liga" em alusão Foreiro: pessoa que faz uso de propriedade
a outras que haviam se formado anos antes, sob a por meio de contrato e pagamento de imposto.

orientação do Partido Comunista.

117
A partir de 1959, surgiram cada vez mais um partido político, o Movimento Revolucioná-
ligas espalhadas por estados como Paraíba e rio Tirad entes.
Paraná, chegando a existir, em 1961, comitês das As Ligas Camponesas representaram um
ligas em pelo menos dez estados, o que caracteri- grito de alerta e de protesto das populações cam-
zava a organização política do movimento. Entre ponesas para a situação em que viviam.
os núcleos, um dos maiores era o da Liga do Sapé, Após a implantação do Regime Militar em
na Paraíba, onde em 1962 seu líder, João Pedro 1 964,Julião e outros líderes foram presos e conde-
Teixeira, foi assassinado a mando do proprietário nados, o que contribuiu para esvaziar e desagregar
local. Esse acontecimento fortaleceu ainda mais o movimento. Entretanto, as reivindicações bási-
a liga, que pouco tempo depois chegou a congre- cas permaneceram vivas nos sindicatos rurais que
garem torno de 10 mil membros. surgiram e atuaram entre 1965 e 1983.
Também em 1962 foi criado o jornal A Liga,
usado como porta-voz do movimento. Ainda na-
quele ano, houve a tentativa de constituição de

Atuação das Ligas Camponesas Nesse sentido, convém lembrar que a utiliza-
De um modo geral, as associações criadas ti- ção do termo "camponês" parece ter sido fator
nham caráter civil, voluntário, e por isso mesmo de autoidentificação e de unidade para designar
dependiam de um estatuto e de seu registro em categoria tão ampla em oposição a um adver-
cartório. Para constituir legalmente uma liga, sário comum, politicamente denominado pelas
bastava aprovar um estatuto, registrá-lo na cida- lideranças como "o latifúndio improdutivo e
de mais próxima e lá instalar a sua sede. Como decadente". Sendo as camadas representadas ba-
disse um jornalista da Paraíba, "a liga começa na sicamente dependentes da produção direta em
feira, vai para o tabelião e ganha o mundo". terra cedida, alugada ou própria (minifúndios),
As finalidades das ligas eram prioritariamen- podemos compreender por que se aglutinaram
te assistenciais, sobretudo jurídicas e médicas, e em torno de reivindicações ligadas à posse e ao
ainda de autodefesa, nos casos graves de ameaças usufruto imediato da terra. [ ... ]
a quaisquer de seus membros. [ ... ] As lideranças CAMARGO, Aspásia. Ligas Camponesas.
In: Dicionário histórico-biográfico brasiLeiro.
pretendiam também, a médio e longo prazos,
Disponivel em <www.ígv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/
fortalecer a consciência dos direitos comuns, verbete- tema tico/ligas-ca m po nesas>.
que compreendiam a recusa em aceitar contratos Acesso em: íev. 2016.
lesivos, tais como o cumprimento do "cambão"
(dia de trabalho gratuito para aqueles que culti- Sobre a atuação das Ligas Camponesas e
vavam a terra alheia) e outras prestações de tipo com base no texto apresentado responda às
"feudal". [ ... j
questões a seguir.
As ligas falavam em nome de uma ampla e
diversificada categoria de trabalhadores que in- O que as Ligas Camponesas pretendiam
cluía foreiros, :,n;, arrendatários e peque- oferecer?
nos proprietários, que produziam uma cultura
de subsistência e comercializavam os excedentes Qual era a importância, no âmbito da criação
produzidos em terra própria ou em terra alheia. das Ligas Camponesas, do termo "camponês'?

Meeiro: pessoa que trabalha na terra de outrem e reparte o resultado com o proprietário.

118 apítuto 4
2 Viajando pela história
obter grandes lucros com a venda ilegal da
Chico Mendes e
madeira.
os conflitos amazônicos A destruição da floresta, praticada
ainda hoje, foi combatida por um grupo
Na região amazônica, um dos prin-
de seringueiros a partir da década de 1970,
cipais conflitos pela terra ocorreu entre os
liderados por Chico Mendes, um seringuei-
seringueiros e os latifundiários. Os seringuei-
ro que residia no centro urbano de Xapuri,
ros trabalham retirando o látex (substância
Acre, e envolveu-se em organizações de tra-
usada na fabricação da borracha) da casca
balhadores e na política.
da seringueira, uma árvore encontrada na Na década de 1980, Chico Mendes
Amazônia. Essa atividade é considerada utilizou a política para defender os serin-
extrativista e, por isso, depende da preser- gueiros. Elegeu-se vereador de sua cidade,
vação da floresta. Por outro lado, os fazen- foi diretor do Sindicato dos Seringueiros de
deiros da região recorrem ao desmatamento Xapuri, colaborou na fundação do Parti-
para abrir terrenos usados para a criação de do dos Trabalhadores (PT) e desenvolveu
gado e o cultivo de monoculturas, além de ações que denunciaram a destruição da

Os seringueiros, confrontados com a expansão to, era para dizer a todo mundo que "vocês terão que
da criação de gado e com a transferência de títulos nos matar para nos tirar daqui".
de propriedade da floresta em que trabalhavam, O problema dessa estratégia era que os latifun-
criaram um método de resistência que alcançava re- diários ricos também reivindicavam o direito de de-
sultados cada vez melhores, o empate. O empate era fender sua terra pela força. No clima fora da lei que
um confronto organizado entre os seringueiros e os imperava na fronteira, não é de surpreender que os
trabalhadores enviados pelos fazendeiros para der- grandes proprietários, reagindo aos empates, apelas-
rubar a floresta [ ... ] A funçâo do empate era, em pri- sem cada vez mais para capangas armados a fim de
meiro lugar, trazer esses trabalhadores para o outro defender seus direitos.
lado, fazê-los entender que estavam tirando comida
MAX\NELL, Kenneth. O guardião da floresta. Nossa História,
da boca de companheiros. Era também um manifes- Rio de Janeiro, Vera Cruz, ano 1, n. 3. jan. 2004, p. 57-58.
-
-

floresta para entidades internacionais. Per-


correndo o Brasil e o exterior, chamou a
Em grupo, busquem informações sobre confl.itos
atenção do mundo para a Amazônia, con-
de terra ocorridos na região amazônica.
seguindo até uma visita da Organização
Cada grupo selecionará um dos conflitos entre os en-
das Nações Unidas (ONU) ao Acre.
contrados e fará uma pesquisa mais completa buscando
Suas atitudes incomodaram os lati-
o maior número de detalhes sobre o fato, o desfecho e
fundiários da região, que encomendaram
as possíveis consequências do conflito. No caso de ter
seu assassinato em 1988.
havido mortes, descubram se alguém foi responsabili-
O assassinato de Chico Mendes, noti-
zado, se houve julgamento e qual foi a repercussão na
ciado pela mídia brasileira e pela mídia in-
mídia. Essas informações são encontradas em perló-
ternacional, trouxe apoio mundial à causa
dicos (jornais e revistas impressos) ou na internet. Em
dos seringueiros e ampliou o debate sobre
um trabalho escrito, organizem a notícia seguida de
a necessidade de haver Unidades de Con-
considerações e conclusões do grupo.
servação - áreas naturais a serem protegi-
Apresentem resumidamente o resultado em
das pelo Estado - no país. sala de aula.
2
,. ................. »-. 119
O Movimento dos TrabaLhadores Rurais sem Terra
Para entender o Movimento dos Trabalhadores à terra, mas no suporte das famílias militantes
Rurais sem Terra (MST), é preciso ter claro quem durante os processos de ocupação e na conti-
são considerados "sem-terra". O conceito refere-se nuidade do auxílio após o assentamento;
aos camponeses que trabalham na agricultura sem, a universalização da luta por meio do lema
contudo, ser proprietários da terra que cultivam - ou "Reforma agrária: uma luta de todos", que
seja, um grupo heterogêneo de trabalhadores rurais busca agregar toda a sociedade.
que têm a vida e o trabalho ligados ao meio rural. O MST é considerado polêmico, princi-
O MST tem origem nas reivindicações por palmente no que se refere a uma das formas de
terra na Região Sul do Brasil na passagem da luta: a ocupação de fazendas avaliadas como
década de 1970 a 1980. Formalmente, o MST foi improdutivas para forçar a desapropriação.
criado no Primeiro Encontro Nacional de Traba- Ocupação ou invasão? Militantes, participantes
lhadores sem Terra, realizado de 21 a 24 de janeiro e simpatizantes denominam de ocupação, ao
de 1984, em Cascavel (PR), que tinha como obje- passo que proprietários rurais e oponentes ao
tivo básico a luta pela terra, pela reforma agrária e movimento chamam de invasão, incluindo aí a
por uma sociedade mais igualitária e justa. criminalização do ato. São dois pontos de vista
Algu mas características distinguem essa or- de uma mesma questão.
ganização dos demais movimentos sociais rurais: Para o MST, as ocupações fazem parte da
a forma mais radical de luta que envolve ocu- estratégia de pressão para realização dos as-
pações de áreas consideradas improdutivas e sentamentos e efetivação da reforma agrária. A
passíveis de desapropriação; palavra de ordem neste caso é "Ocupar, resistir
as dimensões de atuação que incluem outros e produzir" (lema do encontro nacional realiza-
aspectos, como educação, saúde, cultura, do em 1989). São escolhidas para ocupação as
enflm, direitos humanos de todas as ordens. terras consideradas improdutivas, pelo fato de
Em muitos casos, os integrantes participam de não atenderem ao artigo da Constituição Federal
ações de outros movimentos como apoiadores; de 1988 que estabelece uma função social para
a organização como uma empresa social as propriedades, ou seja, devem ser utilizadas
focada não só no problema imediato de acesso para produção ou extração de bens. Se nada é

Invasão da Fazenda Annoni. Pontão (RS), 1986.

120
produzido na terra, ela não atende à Constitui- mais violentas, como a contratação de pistolei-
ção, podendo ser ocupada por trabalhadores que ros, seguranças e jagunços para expulsar os "in-
a façam produzir. Nesses casos, os ocupantes vasores", e dessa maneira os conflitos se acirram.
aguardam acampados na fazenda até a desapro- Atualmente o MST atua em quase todos os
priação, que deve ser efetivada pelo governo, e a estados da federação, possuindo vários assenta-
criação de um assentamento. mentos, com cooperativas de produção. Na área
Já os proprietários das terras definem o ato
da educação, o movimento investe em escolas
como invasão, argumentando serem os donos
nos assentamentos e fecha convênios com univer-
de fato e de direito (têm título de propriedade).
sidades para graduação de assentados.
Segundo essa visão, os integrantes do MST, ao
Quanto às formas de luta, a mais visível é
entrar em uma propriedade particular sem au-
a ocupação; porém, são usadas também outras
torização, estão invadindo-a. Os proprietários
estratégias, como marchas por rodovias, jejuns
tomam as medidasjurídicas possíveis, das quais a
principal é um pedido na Justiça de reintegração e greves de fome, ocupação de prédios públicos,

de posse, na maioria das vezes concedido. acampamento nas capitais, vigílias e manifesta-

Entretanto, nem sempre os fazendeiros ou ções nas grandes cidades. O MST continua sua
os integrantes do MST aguardam passivamente a luta, governo após governo, para atingir as mu-
decisão judicial. É comum a tomada de medidas danças almejadas.

-a.-

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;, :d- .:..•

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r - --•-- . -.
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- .- .--- - -- --
A, 1mnto do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra - Eh Vive Londrina (PR). 2012

Organizando ideias
1. Com base nas informações do texto e em Escreva um texto esboçando sua opinião
seus conhecimentos sobre o assunto, e justificando-a com argumentos. Depois,
analise a questão: 'Invasão ou ocupação. debata o assunto em sala de aula.

ur3i no B 121
~o Debate interdiscipLinar
Concentração fundiária e agricultura famiLiar
A cada Censo Agropecuário do IBGE percebem-se alterações significativas nos dados sobre terras
agropecuárias no Brasil. Em 2006, 45% das áreas ocupadas por estabelecimentos agropecuários estavam
nas mãos de 1% dos proprietários.
As figuras a seguir representam graficamente a estrutura fundiária do país; observe-as.

Quantidade de estabeLecimentos agropecuários (2006)


O Brasil tinha, em 2006, 4920617 estabelecimentos dedicados à agricultura
e/ou à pecuária.

11 Menos de 10 ha
Espaço ocupado peLos estabeLecimentos agropecuários (2006) De lOa 100 ha
Os estabelecimentos dedicados à agricultura e/ou à pecuária ocupavam, DelOOal000ha
em 2006, mais de 333 milhões de hectares de área. Mais de 1 000 ha -

:s0:. B.. k H: v:oau Aolcw: . . :,a ;.sp'o 26


Acesso em: 1ev. 2016.

Essa proporção já foi mais elevada: em


1920, mais de 63% do espaço ocupado pela 'l
agropecu ária no país eram terras com mais
63,4
de 1 000 hectares. Por outro lado, também - --.-----------.-

já foi mais baixa: em 1970, pouco menos de


509
40% do espaço agropecuário era formado 45,1 45,1
437 450
por estabelecimentos com mais de 1 000 44' ---.,--------

39,5
hectares. O gráfico ao lado nos mostra esse
interessante sobe e desce.
20.0-

Fonte: Ssleria !BGE de RectteraçoAulomá8ca.


DIs6onvel em: <mmw,siCra,ibge.gov.brAda/íesau6as,
ca!default.as0?o.2&=Pe3>. Acesso em: Les. 2016 1 -

1920 1940 1950 1960 1970 1980 1985 1995 2006

122
Todos esses dados revelam uma profunda feijão (sendo 77% do feijão-preto, 84% do feijão-fradi-
concentração das terras em nosso país: há um nho, caupi, de corda ou macáçar e 54% do feijão-de-
pequeno número de proprietários com grandes -cor), 46% do milho, 38% do café (parcela constituída
extensões de terras. Uma comparação: em 2006, por 55% do tipo robusta ou conilon e 34% do arábica),
47 mil estabelecimentos agropecuários brasilei- 34% do arroz, 58% do leite (composta por 58% do leite
ros com mais de 1 000 hectares correspondiam de vaca e 67% do leite de cabra), possuía 59% do plantel
aproximadamente aos territórios de Colômbia e de suínos, 50% do de aves, 309/o dos bovinos, e produ-
Equador. zia 2 1 % do trigo. A cultura com menor participação da
Um dos muitos desafios relacionados a nossa agricultura familiar foi a soja (16%), um dos principais
estrutura fundiária é a produção da agricultura fa- produtos da pauta de exportação brasileira.
miliar, que é praticada em pequenas propriedades, FRANÇA, Caio Galvão de et ai. O Censo agropecuário 2006
com uso predominante da força de trabalho da e a agricultura familiar no Brasil. Brasilia: Ministério do
Desenvolvimento Agrário. 2009. p. 26. iNead Debate, 18.1
família proprietária da terra. A maior parte dos
alimentos consumidos cotidianamente pelos bra- O gráfico a seguir apresenta a proporção de
sileiros sai de estabelecimentos familiares. estabelecimentos agropecuários por região, des-
[ ... ] destaca a participação da agricultura familiar tacando a participação da agricultura familiar no
em algumas culturas selecionadas: produzia 87% da número e no espaço ocupado pelas propriedades.
produção nacional de mandioca, 70% da produção de Observe-o.

ur :ooeste
Nordeste
Sudeste
sul
:Atura
familiar

For:t: Ss:m FBGE oí iecuperação Automalica. Dsponivei era: <vawi..Sd(a.ib(je.gov.bF/bda'pesquisasica'default.asp?o- 2& n#3:,
Accr:...... 2.

De acordo com o gráfico observa-se que no cional, é proporcionalmente menor do que nas
Nordeste, no Sudeste e no Sul há um grande demais regiões.
número de propriedades dedicadas à agrope- A agricultura familiar ocupa uma parte peque-
cuária - em proporção muito maior do que no na das terras rurais em todas as regiões, mas é
Norte e no Centro-Oeste -, mas a área ocupada especialmente diminuta no Centro-Oeste - essa
por essas propriedades, em relação ao total na- é a região que concentra as terras mais extensas.

Atividadesl
Em que regiões os estabelecimentos agropecuários são mais numerosos? E, quanto à área ocupada,
que regiões se destacam? O que se pode afirmar a respeito da estrutura fundiária brasileira com
base nessas informações?
Qual é o principal papel da agricultura familiar no abastecimento do país? Como isso contribui
para o debate a respeito da reforma agrária?

. .. 123
Testando seus conhecimentos Responda no caderno

1. )Unifesp) Aquilo não era urna campanha, era uma )UFFS-SC) O Movimento dos Trabalhadores
charqueada. Não era a ação severa das leis, era a Rurais Sem Terra )MST) nasceu da premis-
vingança. Dente por dente. Naqueles ares pairava, sa de que a luta pela terra tem de ser de
ainda, a poeira de Moreira César, queimado; de- massa. É um dos mais inovadores fenô-
via-se queimar. Adiante, o arcabouço decapitado menos políticos da América Latina, à me-
de Tamarindo; devia-se degolar. A repressão tinha dida que busca enfrentar os problemas do
dois polos - o incêndio e a faca... Ademais, não campo atacando as causas estruturais.
havia temer-se o juízo tremendo do futuro. A 1-lis- Comparando com outros movimentos so-
tória não iria até ali. ciais, o MST apresenta como característica
Euciides da Cunha. Os sertões.
própria:
A luta permanente pela reforma agrá-
Essa passagem do livro ria acima de qualquer luta política, visto
a) revela a preocupação que os protago- que, para o Movimento, a conquista da
nistas de ambos os lados tinham com terra pela ocupação representa uma vi-
relação às implicações políticas de suas tória na luta pela vida digna.
ações. A luta pela revolução socialista, pois,
bi denuncia mais do que a crueldade de para o MST, a ocupação é a forma de
ambos os lados, o sentimento de impu- enfrentamento ao capital para criar as
nidade entre as forças da repressão. condições necessárias de se promover
mostra que ambos os lados em luta esta- a revolução.
vam determinados a destruir o adversário A ocupação de terras preferencialmen-
para não deixar provas de sua conduta. te produtivas, pois o sustento do Movi-
critica veladamente a ausência de interes- mento ocorre pela ajuda daqueles que
se por parte da opinião pública e da im- já foram beneficiados pela conquista de
prensa com relação ao episódio relatado. seu pedaço de terra.
indica que o autor, por acompanhar de A produção de alimentos saudáveis - li-
longe os acontecimentos, deixou-se vres de agrotóxicos - pois, para o MST, a
levar por versões que exageraram a luta pela vida digna passa por uma ali-
crueldade da repressão. mentação saudável de todos assentados.
Constrói, por trás das suas lutas carac-
2. (Fatec-SP) Leia duas descrições de agentes terísticas, um movimento propriamente
sociais muito presentes no campo brasileiro. político que alcança as raízes do siste-
1. Pessoas que se apropriam ilegalmente ma de poder, ao agrupar populações
de extensas porções de terra, obtendo cujo conflito incide nos alicerces de um
frequentemente títulos de propriedade sistema - o direito da propriedade.
fa Is i fica dos.
6. )UFPR) Sobre o movimento do Contestado,
II. Pessoas que cultivam pequenos lotes
ocorrido de 1912 a 1916, considere as afir-
de terra, em geral há muitos anos, sem
mativas abaixo:
possuir título de propriedade.
No início do movimento, o monge José
As descrições 1 e II correspondem, respecti-
Maria, sua principal liderança, foi mor-
vamente, a
to, mas suas orientações continuaram a
grileiros e posseiros. exercer influência sobre os participantes.
jagunços e grileiros. Esse movimento acabou por agregar di-
peões e parceiros. ferentes segmentos sociais, como pos-
empreiteiros e boias-f rias. seiros e sitiantes expulsos de suas ter-
agregados e empresários. ras, e comunidades negras e caboclas.

124
Responda no caderno

O movimento do Contestado tinha carac- Uma defendia a adoção das teses da guerra
terísticas mU.enares e messiânicas, mas de guerrilhas e a outra, representada por
também políticas, de contestação social. Francisco Julião e contrária a esta estratégia,
Apesar do cunho contestatório, a sim- tentou, sem sucesso, unificar novamente a
patia para com a República é uma ca- direção do movimento. Com base nessa afir-
racterística continuamente presente no mação é possível dizer que, no decorrer dos
movimento do Contestado. anos 1960:
Uma das principais causas do movimen- a organização dos movimentos sociais no
to foi o fato de os sertanejos ou caboclos campo foi aprimorada a partir da funda-
- terem sido expulsos de suas terras pela ção de sindicatos rurais evangélicos.
estrada de ferro construída na região. os trabalhadores rurais brasileiros de-
Assinale a alternativa correta. ram início a uma estratégia de ocupa-
Somente as afirmativas 3, 4 e 5 são ver-
er- ção em massa das grandes fazendas,
dadeiras.
dade ras. por todo o Brasil.
Somente as afirmativas 1 e 4 são verda- os trabalhadores do campo foram víti-
deiras. mas do "perigo comunista", dependendo
cl Somente as afirmativas 1, 2, 3 e 5 são do Golpe Militar de 1964 para libertá-los
verdadeiras. e reestruturá-los com base em acam-
Somente as afirmativas 2 e 3 são verda- pamentos rurais.
deiras. dJ os movimentos sociais no campo brasi-
Somente as afirmativas 1, 2, 4 e 5 são leiro passaram a ser conduzidos e orien-
verdadeiras. tados pela União Democrática Ruralista.
S. LUFF-RJ) A partir de 1961, as Ligas Cam- e) a organização dos trabalhadores rurais
ponesas - formas de organização dos traba- brasileiros passou a ser disputada por
lhadores rurais - entraram em crise interna, duas novas forças políticas: a Igreja e o
devido a divergências entre suas lideranças. Partido Comunista Brasileiro ÍPCB).

A história da luta peLa terra e o MST. de Mitsue fronteira entre os estados do Paraná e Santa
Morissawa. São Paulo: Expressão Popular, 2001. Catarina. Sertanejos e coronéis da região dispu-
O livro narra a luta dos seres humanos pela ter- tavam as terras para cultivaras ervas nativas do
ra e, de forma didática, conta a história de di- mate, típicas da região.
versos movimentos messiânicos e espontâneos,
organizados depois da Proclamação da Repúbli-
ca, trazendo para o aluno a questão da estrutura
agrária no Brasil.
r ara você assistir

O Contestado - Restos mortais, direção de Syl-


Belo Monte - Uma história da Guerra de Canu-
vio Back. Brasil, 2012, 118 mm. O filme retrata
dos, de José Rivair Macedo e Mário Maestri. São
Paulo: Expressão Popular, 2004. O livro procura a guerra sertaneja na região do Contestado, na
resgatara história da comunidade de Belo Mon- qual os camponeses chamados de 'pelados
te e da Guerra de Canudos discutindo as formas enfrentaram as tropas estaduais e federais.
de participação popular no Brasil, a liderança de Guerra de Canudos, direção de Sérgio Rezende.
Conselheiro e o contexto histórico da guerra. Brasil, 1997, 119 mm. Enquanto o movimento de
Os guerrilheiros do Contestado, de Renato Antônio Conselheiro se torna um problema para
Mocellin. São Paulo: Editora do Brasil, 2011. a recém-proclamada república, uma família luta
A Guerra do Contestado foi um violento con- para defender seu lar, apesar de ter opiniões
flito camponês que ocorreu de 1912 a 1916 na conflitantes sobre Conselheiro.

soc:is ïurais no U: 125


L R

Em toda a história da humanidade, o tra- esse poder com o objetivo de organizar, reunir
balho esteve presente como referência da re- técnicas e conhecimentos para intervir no am-
laço entre os seres humanos e a natureza. biente, impondo modificações com o intuito de
O trabaLho representa, portanto, o poder hu- satisfazer a seus desejos e necessidades.
mano de transformar a natureza. As socieda- Neste processo de desenvolvimento das
des, em diferentes tempos e espaços, usaram relações do ser humano com o ambiente
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(natural e social), nem todas as atividades Neste capítulo abordaremos o conceito


humanas têm seu valor admitido como traba- de trabalho e estudaremos o mundo do traba-
lho, e algumas ocupações acabam adquirindo lho no Brasil desde a coLonização até o século
mais prestígio que outras, o que na sociedade XIX.
capitalista é traduzido em diferenciação de
remunera çã o.
O que é trabalho?
LI

Helinton e E. Monn. Interior de um engenho de cana em Pernambuco, 1854. Litografia.

Na sociedade capitalista, o trabalho tem ca-


ráter essencial para a sobrevivência pautada no pOSSeS. A Partir daí, essa ideia de trabalhar como
consumo, e o sustento das famílias depende in- ser torturado passou a dar entendimento não só ao
fato de tortura em si, mas também, por extensão, às
tegralmente dos resultados e das remunerações
atividades físicas produtivas realizadas pelos traba-
oriundos do trabalho.
lhadores em geral: camponeses, artesãos, agricul-
Mas o que significa trabalho? tores, etc. Tal sentido foi de uso comum na Anti-
guidade e, com esse significado, atravessou quase
Nos dicionários, trabalho tem vários signifi-
toda a Idade Média. Só no século XIV começou
cados, entre eles "esforço incomum", o que leva a ter o sentido genérico que hoje lhe atribuímos,
à associação com algo penoso, difícil, cansativo. qual seja, o de "aplicação das forças e faculdades
Isso se explica pela origem da palavra. (talentos, habilidades) humanas para alcançar um
determinado fim". Com a especialização inerente
às atividades humanas, imposta pela evolução cul-
A palavra "trabalho" tem sua origem no vo- tural da humanidade, a palavra trabalho tem hoje
cábulo latino tripaliu - denominação de um ins- uma série de diferentes significados [ ... J.
trumento de tortura formado por três (tri) paus
BRAGATTQ, Rosane Dalpiva. Educação e o trabalho no con-
(paliu). Desse modo, originalmente, "trabalhar" texto capitalista do desenvolvimento sustentável. Revista
significava ser torturado no tripaliu. Quem eram Desenvolvimento Regional. Ampére, Famper, v. 1, p. 61 -62.
iutísot. 2011 Disponível em: <www.lamper.com.br/arquivos/
os torturados? Os escravos e os pobres que não po-
revist.selelr-onica/ó-a-educacno-e-o-trabatho-no-contexto-
diam pagar os impostos. Assim, quem "trabalha- capilalista-do-desenvotvimenlo-suslenlavel 1418911670.
va", naquele tempo, eram as pessoas destituídas de pdt>. Acesso em: 1ev. 2016.

128
Leia o texto a seguir e, com base nele e nas imagens, faça o que se pede.

Trabalho
[ ... j A noção designa em primeiro lugar, em oposição à de jogo, brincadeira, uma atividade penosa e obriga-
tória; a dupla tradição grega e cristã torna-o, aliás, um sofrimento e uma punição e até uma maldição (Bíblia).
Mas a filosofia irá perceber depois que o trabalho define o homem: recusa ao mesmo tempo da animali-
dade e do dado da natureza [ ... ], o objetivo do trabalho é satisfazer as necessidades fundamentais do homem,
do qual constitui uma atividade específica, pois - como mostra Marx - "o que distingue desde o princípio o
pior arquiteto da abelha mais experiente, é o fato de ele ter construido a cela dentro de sua cabeça antes de
construí-Ia na colmeia".
DIJROZOI. Gérard. Dicionãrio de FiLosofia.
Campinas: Papirus, 1993. p. 472.

ai Quais são as questões que envolvem o trabalho?


b) Como o trabalho está relacionado com a organização das sociedades? Formule hipóteses.
Analise as imagens a seguir e explique em que medida elas são fruto do trabalho.

'

1 9
!'
...., •,'.'

___
Utensílio domE1stFuo usado para ralar alimentos
141/. Oleo soore tId. 70c111 9 um

rírmul assiste ir Lelevisao Ilir sala de estar. 3m Caetano do Sul (SP). 2013.

10 Brasil até o sécuo ) 129


TrabaLho e reLações sociais
no BrasiL CoLoniaL
No Brasil, durante os períodos colonial e im- de obra indígena foi largamente utilizada em todos
penal, é possível perceber que houve um grande os trabalhos.
desprezo pelo trabalho, principalmente o braçaL. No entanto, a opção pelos africanos garantiu
Ainda é perceptível essa visão nos dias atuais, lucro aos traficantes de escravos e a consequente
porque se valoriza muito mais o trabalhador inte- sustentação da economia brasileira por mais de
lectual do que os trabalhadores ditos braçais. três séculos.

Organizando ideias
Uma digna ociosidade sempre pareceu mais
excelente, e até mais nobilitante, a um bom por-
Com base nas informações do texto a se-
tuguês, ou a um espanhol, do que a luta insana
guir, responda às questões.
pelo pão de cada dia. O que ambos admiram
como ideal é urna vida de grande senhor, exclusi- Tal ótica mercantil, escravocrata, que orientou
va de qualquer esforço, de qualquer preocupação processo de colonização do Brasil, se sobrepôs a
[...1. O que entre eles predornina é a concepção outra concepção de trabalho, que foi desestrutu-
antiga de que o ócio importa mais que o negócio rada com a presença do colonizador; a cultura e
e de que a atividade produtora é, em si, menos cotidiano do indígena. Para o índio, o trabalho
valiosa que a contemplação e o amor. está perfeitamente integrado ao seu universo, por
HOLANDA, Sérgio Buarque de. isso não é tarefa, obrigação sujeita a horários; o
Raízes do Brasil. São Pauto: trabalho é uma manifestação tão positiva quan-
Companhia das Letras. 2005. p. 38. to o ócio, a festa, o ritual funerário. A divisão do
trabalho tem como base as diferenças sexuais: aos
homens compete a derrubada da mata, a caça, a
No que diz respeito à mão de obra, os por- pesca; às mulheres, o plantio, a colheita, a confec-
tugueses, inicialmente, optaram pela escravização ção de objetos; a educação das crianças pertence
dos povos nativos e, em seguida, dos africanos. à comunidade. Essa estrutura social no entanto
Durante o primeiro século de colonização, a mão foi, com maior impacto, destruída pela força da
escravidão: o índio foi usado como derrubador de
mata pelo branco e a índia, como cozinheira.
TOLEDO, Vera Vilhena de; GANCHO,
Nas sociedades em que é grande a discre-
Cândida Vilares. O trabalho escravo. In:
pância entre os grupos sociais, o trabaLho bra- KIJPSTAS, Mércia Org.l. O trabalho em debate.
çal, considerado desprovido de arte ou necessi- São Pauto: Moderna, 1997. p. 59.
dade de inspiração, é definido como o trabalho
das classes mais pobres. Ao longo da história De acordo com o texto, qual é o conceito de
ocidental, os trabalhadores braçais eram con- trabalho para as sociedades indígenas?
siderados desprovidos de disciplina, capazes
apenas de cumprir ordens e desempenhar ati- Esse conceito está presente na sociedade
vidades que as classes mais altas consideravam
brasileira atual? Explique.
indignas de realizar.

Nobilitante: que engrandece, enobrece, concede privilégios de nobreza.


ócio: nesse contexto, refere-se a reflexão, contemplação.

130 ;pítu10 5
Trabalhadores escravizados na produção açucareira
Na história do trabalho no Brasil Colonial e e instrumentos de trabalho, entre outros artefatos
no Brasil Imperial, o trabalho escravo predominou necessários à colônia.
nos canaviais, nos engenhos, na extração do ouro, A possessão portuguesa nos primeiros tempos
na produção do café e em vários outros serviços da colonização era essencialmente rural, tendo a
urbanos e rurais. Entretanto, é preciso acrescentar fazenda como instituição principal, ao redor da qual
que nesses períodos havia ainda a mão de obra era formada toda a estrutura social. As cidades eram
dos homens livres e pobres, que também trabalha- apenas uma continuação desse universo.
ram em vários setores da economia. A base da economia era a monocultura do
A mão de obra escrava foi o grande susten- produto cultivado inicialmente, a cana-de-açúcar
táculo do sistema colonial implantado no Brasil no nordeste brasileiro. Assim, o engenho de açúcar
a partir de 1530. Nesse sistema, um conjunto de constituía o centro da vida social e econômica das
regras estabelecido entre colônia e metrópole pau- regiões onde existia a lavoura açucareira.
tava as relações comerciais. No acordo estabeleci-
do, a colônia (Brasil)
ficava responsável por
enviar para a metropo- : --
le (Portugal) os produ-
tos por ela extraídos ou
produzidos. Esta, por
sua vez, era responsá-
vel por fornecer os pro-
dutos manufaturados

Henry Koster. Engenhn


de cana, 1816. Gravur:
colorida. 16,5cm x 22,5 cm.

A palavra engenho faz referência direta ao capela, centro religioso extensivo aos vizinhos:
maquinário usado para moer a cana-de-açúcar, a escola, onde religiosos ensinavam as crianças
porém, naquele contexto, passou a designar a ler e escrever: a serraria, usada para produzir
todo o complexo da unidade rural, tanto na par- móveis e objetos de madeira: e a olaria, onde
te produtiva quanto na social. Era composto de eram produzidas telhas e tijolos.
diversas construções: a casa grande, residência Todas essas construções garantiam a autos-
do proprietário Isenhor do engenhol, que pode suficiência desse complexo. Assim, os bens de
ser classificada como o centro do poder social consumo eram produzidos no próprio local. Além
e econômico desse complexo; a senzala, onde disso, todo tipo de trabalho necessário para mo-
eram alojados os escravizados: as edificações vimentar o engenho era realizado principalmente
ligadas à produção do açúcar Imoenda, casa por escravos, incluindo o ofício de capitão do mato,
das caldeiras, casa de purgar, caixaria etc.): a responsável pela captura de escravos fugitivos.

131
Além da questão econômica, o engenho desmatar, plantar, colher, moer, cozinhar, pu rgar,
representou a ocupação militar das terras lito- embalar, transportar e abastecer os navios que
râneas, principalmente no nordeste, pois entre partiriam para a Europa com o chamado "ouro
suas funções estava a de proteção, o que levava doce dos canaviais".
os proprietários a construir fortificações que ser-
Entre as várias funções desempenhadas pelos
viam como defesa da colônia contra possíveis in-
escravos, a de mestre de açúcar era uma das mais
vasões estrangeiras.
importantes. Esse especialista era o responsável
Outra função também desempenhada pelo
pelas operações de aprimoramento do caldo e por
engenho era a religiosa, pois a capela, construção
zelar pela qualidade do açúcar.
que não podia faltar nesse complexo, era de certa
forma um polo atrativo dos fiéis católicos que ha- O trabalho começava no amanhecer e se es-

bitavam as proximidades. tendia até a noite. Mulheres e crianças também


Diante disso, o engenho tinha papel de suma trabalhavam nos engenhos. As mulheres atuavam
importância nessa estrutura. no corte da cana, na moenda e principalmente em
O funcionamento do engenho era bastante serviços feitos na casa grande. Já as crianças eram
complexo e envolvia o trabalho de muitos homens, responsáveis por conduzir os carros de boi que le-
mulheres e crianças escravizados e livres. O obje- vavam a cana para a casa da moenda, além de au-
tivo era produzir açúcar de qualidade para ser xiliar em pequenos trabalhos domésticos.
exportado para a Europa e gerar lucros aos envol-
Mas não era apenas nas etapas de produção
vidos no comércio.
e nas casas grandes que os escravos atuavam. Pe-
O número de trabalhadores nos engenhos de-
quenos trabalhos eram realizados cotidianamente,
pendia do tamanho da propriedade, mas também
como consertar cercas, abrir fossos, poços e estra-
da demanda para exportação do açúcar. Alguns
das, prover lenha para a casa grande, reparar os
engenhos concentravam mais de 200 trabalhado-
res livres e escravos, esses últimos faziam a maior barcos e carros de boi, pastorear o gado, cuidar

parte das atividades. da lavoura e do pomar e ainda providenciar parte


Eram os escravos que participavam de todo de seus próprios alimentos em pequenas hortas,
o processo de produção do açúcar. A eles cabia cultivadas nas horas de folga.

1T. . .

v!

--

1 - r
(

1 T

i, OlÍ,1
Johann Moniz Rugendas. Moenda de açúcar. 1835. Gravura. 19,9cm x 26.2 um.

132 '
O francês Louis-François de Toilenare via- Dois negros colocados em frente às bocas alimen-
jou ao Brasil em 1816 e retornou à Europa em tam o fogo com lenha verde; outros transportam as
1818. Em "Notas dominicaís", ele descreveu as fôrmas para a casa de purgar, que é também dirigida
impressões que teve: por um mulato livre. Este tem sob suas ordens dois
homens para a refinação e dois outros para esgotar
Aqui, nada de apatia; tudo é trabalho, atividade;
mel que vai juntar-se em um reservatório comum.
nenhum movimento é inútil, não se perde urna só
Esta dependência é silenciosa e escura, necessitando
gota de suor.
de urna temperatura fresca; comunica com a em que
[ ... J Os edificios cercam um grande pátio [...J. Vê-
se despejam as fôrmas contendo o açúcar acabado. Ali
-se em primeiro lugar uma extensa construção ao rés
os pães cristalizados e . são quebrados; sepa-
do chão, tendo em frente uma galeria sustentada por
ram-se as qualidades, e espalha-se o açúcar, para secar
colunas; é a senzala dos negros, deserta durante as lio-
ainda, sobre duas plataformas móveis que podem ser
ras de trabalho. Veem-se apenas errar sob o
recolhidas com facilidade em caso de mau tempo; de-
urna ou duas negras que acabam de dar à luz; são dis-
pois pUa-se e encaixota-se o açúcar, sendo esta a últimiha
pensadas do trabalho por alguns dias; amamentam OS
operação. É o administrador geral do engenho que tem
filhos concebidos na escravidão, que serão escravos e
a inspeção imediata desta dependência. (...1
que o senhor poderá vender amanhã.
Da senzala domina-se a planície onde se cultiva BRUNO, Ernaní Silva (Or'y.). Os canaviais e os mocambos:
a cana. O calor é de 27 a 280, o sol, abrasador; vejo Paraíba. Pernambuco e Alagoas. São Pauto: Cutirix, 1959. p. 55.

expostos aqui ao seu ardor trinta negros e negras


curvados para a terra, e excitados a trabalhar por
um feitor armado de um chicote que pune o menor
repouso; ali oito negros vigorosos cortam as canas
que cinco raparigas enfeixam; os carros, atrelados
de quatro bois, vão e vêm dos canaviais ao engenho;
outros carros chegam da mata carregados de lenha
para as fornalhas. Tudo é movimento.
Próximo à senzala acha-se o engenho; assenta
sobre um terraço e o seu teto repousa sobre pilares;
oito cavalos, estimulados pelos gritos de quatro mo-
leques, fazem-no girar.
[...1 São cinco raparigas negras que apresentam a
cana (vi também empregar negros neste :) aos Jean-Baptiste Debret Engenho manual que faz caldo de cana. 1822
cilindros verticais da moenda; ...j o seu trabalho é Aquarela. 17.6cm . 24.5 cm.
penoso, muito menos, porém, do que o campo, por-
quanto estão ao abrigo do sol. De acordo com as informações do texto, faça
[ ... J que se pede a seguir.
O edifício que encerra a moenda contém igual- Como funcionava a ordem de trabalho no
mente a importante dependência das caldeiras, onde engenho? Descreva asfunções e quem ficava
é cozido o caldo e se forma o açúcar. O mestre refi- responsável por elas.
nador é um homem livre; tem às suas ordens cinco
Que classificação era utilizada para dividir o
negros robustos que vivem, corno ele, em meio de
trabalho nos engenhos?
um vapor ardente; agitam o mel com grandes colhe-
res. O fogo das fornalhas é alimentado dia e noite e Levante hipóteses para o fato de os cargos de
mantido durante os cinco meses que dura a safra. chefia serem ocupados por homens livres.

A..
ALpendre: teto saliente que cobre a entrada de Purgar: no sentido aplicado no texto, eliminar
um edifício para abrigo do sol ou da chuva, as impurezas.
Mister: ocupação, trabalho.

0 trabalho no Brasil até o sáculo 133


cobrador de rendas - encarregava-se dos trâmi-
Os homens livres na tes da moagem da cana dos lavradores ligados
sociedade açucareira ao engenho por arrendamento, bem como pelo
recebimento da renda paga pelos arrendatários;
Para entender o que significava ser um tra-
mestre de açúcar - controlava os processos téc-
balhador livre na sociedade açucareira, é preciso
nicos do engenho, acompanhava a produção
contrapô-lo ao escravo. Os trabalhadores só
desde a moagem até o cozimento do açúcar,
podiam ser entendidos como livres na medida em
garantindo a qualidade e a produção.
que existiam trabalhadores escravizados.
Outros trabalhadores fixos e remunerados
Os trabalhadores livres executavam, no fabrico
ainda faziam parte desse complexo: os purgadores
do açúcar, tarefas mais técnicas, mais especializa-
(supervisores do processo de clarificação do açúcar);
das, que eram desconhecidas pelos escravos.
os levadeiros (responsáveis pelo controle da força da
Mas isso não foi sempre assim. À medida que
água para o funcionamento da moenda); o cirurgião
outros menos especializados ou escravizados apren-
(responsável por cuidar da saúde dos escravizados);
diam essas técnicas, esses trabalhadores livres iam
caldeireiro de escumar (cuja tarefa era limpar o
sendo substituídos.
caldo no processo de decoada); o banqueiro (que
Eram diversas as especializações necessárias
substituía o mestre de açúcar no período noturno);
para fazer funcionar os engenhos. Com a demanda
escrivão (controlava os estoques de alimentos,
crescente e a necessidade de produção em larga
tecidos, ferramentas, por meio de livros de controle);
escala foi necessário organizar as unidades açuca-
e o solicitador (procurador do engenho em deman-
reiras de acordo com os padrões das manufaturas
das de posse ou rendas). Os dois últimos eram mais
da época. Essa organização seguia uma rígida
comuns em engenhos dos jesuítas, que primavam
hierarquia, na qual o senhor de engenho era o
por controle e organização administrativa.
administrador.
Dentre os trabalhadores remunerados,
destacavam-se os seguintes:
feitor-mor - tinha como função gerenciar
ou ser o capataz do engenho. Cabia-lhe
controle de todos os trabalhadores
que estivessem de algum modo ligados à
produção do açúcar. Todas as tarefas de
orientação, produção, controle e discipli-
na estavam sob sua alçada. Era ainda o
responsável direto pelos escravos, caben-
do-lhe a decisão de afastamento em caso
de doença, por exemplo. Mas geralmente
não podia tomar decisões sem o aval do
senhor do engenho;
caixeiro do engenho - era o responsável
pela negociação e transporte dos pro-
dutos do engenho. Cabia a ele receber o
açúcar, providenciar o armazenamento
no porto e o embarque nos navios no pro-
cesso de exportação para a Europa;

Johann Moniz Rugendas. Capitão- do- rnt


gravura em Viagem pitoresca através do
Brasil. 1 83

134 • iiufti
Além desses trabalhadores fixos, constantes nas es- à habilidade, a remuneração era diferenciada quer se
criturações dos engenhos e nas descriçôes dos cronis- tratasse de artesão mestre ou aprendiz. Os índios rece-
tas, concorriam para a produção trabalhadores pagos biam remuneração menor que os brancos e os negros
por dia ou empreitada:carpna, ;os (para o forros. E OS negroS, mesmo se profissionais habilita-
serviço de calafetagem dos barcos), ferreiros, pedrei- dos, recebiam menos que os aprendizes brancos.
ros, tacheiros (para refazer os tachos de cobre) etc.
FERLINL Vera Lucia Amarei. A civilização do açúcar: séculos
Na documentação colonial nota-se diferenciação dos XVI e XVIII. São Paulo: Brasiliense. 1991. p. 56-57.
pagamentos em relação à habilidade e à raça. Quanto

Os indígenas, em menor escala, eram utiliza- era atuar como capitão do mato, ou seja, caçador
dos em tarefas mais simples, como a limpeza do de escravos fugidos.
terreno. Em engenhos administrados por jesuítas Apesar de haver diversos trabalhadores livres
era comum encontrar indígenas recebendo remu- nesse universo, a mão de obra motriz era o traba-
neração pelo trabalho. Outra função dos indígenas lhador escravizado.

Em grupos, busquem informações sobre as Tracem um panorama geral, nos dias de hoje,
usinas de produção de açúcar e álcool atuaL sobre esse cultivo, que foi tão importante no
mente: onde estão localizadas, como são as Período Colonial. Relacionem as permanências
relações de trabalho e produção (trabalhadores e mudanças na exploração do trabalho ligadas
fixos ou nO; mecanização ou trabalho manual), à lavoura de cana-de-açúcar e apresentem toda
quais são os principais problemas de trabalho a pesquisa aos colegas.
Ligados a essa produção, qual é o papel desses
dois produtos obtidos da cana-de-açúcar na
economia interna e de exportação.

1
e
6
-

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1
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r- r - -

1!• P,, r"b' .?j. ' - —

Usr. .. oara:so tSP

A fMossarL.
CaLafate: é um operário que calafeta, ou seja, tapa buracos e fendas em assoalhas, cascos de barcos etc.
Carapina: carpinteiro, pessoa que trabalha montando, construindo, armando e reparando estruturas
de madeira.
Decoada: processo que consiste em coar o excedente da solução utilizada para a limpeza dos tachos e
materiais do engenho. Essa solução recebia o nome de lixívia, e nela eram utilizadas basicamente cinzas
e soda cáustica, como na preparação de sabão caseiro.

0 trabalho no Brasil até o século X 135


Já nos séculos XVIII e XIX, o uso do trabalho
Nem só na produção do escravo se diversificou ainda mais. No período
açúcar trabaLhavam da mineração em Minas Gerais ou em Goiás, os

os escravos escravos trabalhavam nas atividades agropecuá-


rias que sustentavam os arraiais. Eram usados na
A produção açucareira entre o final do criação de gado no sertão nordestino, no tropei-
século XVI e o século XVII foi, sem dúvida, o rismo, nas lavouras de subsistência e em várias
pilar de sustentação da economia colonial. Em atividades comerciais. No tropeirismo, os escravos
meados do século XVII, as plantações de cana- faziam o trabalho mais pesado e lidavam direta-
-de-açúcar no Caribe tiraram mercado do pro- mente com as mulas carregadeiras (que levavam
duto brasileiro. Mas é importante ressaltar que as cargas no lombo).
o trabalho escravo não era utilizado apenas na
produção do açúcar.
Na agricultura, a mão de obra escrava foi Tropeirismo é um termo utilizado para de-
usada nas plantações de fumo, cereais, mandioca, signar o transporte de gado na região do Rio
entre outras. Grande do Sul no Período Colonial, bem como o
Mesmo no auge da produção açucareira, no transporte de mercadorias para as regiões mi-
neradoras e, posteriormente, para São Paulo e
Recôncavo Baiano (importante polo açucareiro),
Rio de Janeiro.
eram encontrados muitos homens e mulheres
Como prática econômica, o tropeirismo teve
escravizados exercendo funções de estivadores,
início nos séculos XVII e XVIII, com o período
barqueiros, vendedores, aprendizes e mestres em
da mineração. Porém, os tropeiros já existiam
artesanato, além de diversos serviços domésticos.
desde o século XVI no interior do nordeste, onde
Esse panorama era semelhante ao encontra- havia a criação de animais e o comércio destes
do no Rio de Janeiro, em Pernambuco e em várias com os senhores de engenho.
outras regiões litorâneas.

1. • ,
.. —.;:a~: '
--

ri irupeiros pobcs CrU S rio Paulo, 1823 qurrr

136
Nos centros urbanos, os escravos prestado- É possível observar que o trabalho dos
res de serviços podiam ser escravos de ganho, ou escravos era utilizado na maioria das atividades
seja, trabalhavam por conta própria e entrega- produtivas comerciais e industriais, tanto na área
rural quanto na urbana.
vam parte do ganho a seu senhor. No setor de
serviços, podiam ser encontrados escravos rea-
lizando tarefas de carpinteiros, barbeiros, sapa- O escravo também deixou sua marca em ati-
'idades de cunho mais industrial. [.] muitos na-
teiros, alfaiates, ferreiros, marceneiros, latoeiros,
vios negreiros foram construídos no Brasil. De
estivadores, caixeiros, entre muitos outros ofí-
fato, pelo menos desde o século XVII, estaleiros
cios urbanos. As mulheres escravizadas também brasileiros fabricavam vários tipos de embarca-
tinham diversos trabalhos, com destaque para ções, tanto comerciais quanto militares. E o tra-
balhador escravo esteve envolvido nessa indústria
os serviços de ama de leite, doceiras, vendedoras
naval desde o início. A pesca e o refino de óleo
ambulantes ou, como eram chamadas, "negras
da baleia também dependiam essencialmente da
de tabuleiro" (essa atividade era na maior parte mão de obra escrava. A atividade baleeira encon-
feminina), enfermeiras e prostitutas. trava-se implantada desde a Paraíba, no norte, até
a Ilha de Santa Catarina, no sul. Além disso, em
Essa presença nos meios comerciais permitiu
quase todo o Brasil, dezenas de milhares de escra-
aos escravos um convívio mais direto com pes-
'as passavam os dias fiando, tecendo (principal-
soas livres. Além disso, os escravos de ganho con- mente fios e tecidos de algodão) transformando
seguiam, com mais facilidade que os escravos de panos em roupas. Junto com as mulheres forras e
engenhos, recursos econômicos para compra de livres sustentavam uma indústria doméstica que
ganhou enorme proporção, como ocorreu em
sua alforria. Como trabalhavam entregando parte
Minas Gerais durante o século XIX.
do ganho ao senhor, usavam o restante para a so-
LIBRY, Douglas Cote: PAIVA, Eduardo França.
brevivência e procuravam poupar dinheiro para a A escravidão no Brasil: relações sociais, acordos e
compra da liberdade. conhilos. São Pauto: Moderna. 2005. p. 32.

liemy Chataberlain. Largo da Glõria. 1822.Apa tinta colorida. 19.9cm x 27,6 cm.

Caixeiro: antigo termo utilizado para se referir aos vendedores.


Estivador: trabalhador responsével por estocar mercadorias em portos e navios.
Latoeiro: aquele que trabalha na fabricação de latas.

0 trabalho no Brasil até o século >: 137


Leia o texto a seguir, relacione com o mapa e mais isoladas, nau sogentros de primeira necessida-
faça o que se pede. de, como também até artigos importados. 1...]
A atividade tropeira propiciou oportunidade de
I'ropeirismo enriquecimento e ascensio social, sobretudo com
uso continuado de determinados locais -- princi-
é inquestiomivel o papel (k) tropeiro, tanto
palmente as pousadas. Estas se transformaram em
no desenvolvimento do comércio, transporte de car-
posições fixas incorporando a presença dos mais va-
gas e tropas, quanto nas relações sociais e humanas
riados prestadores de serviços, tais como ferreiros,
que desenhariam a arquitetura dos caminhos, prin-
artífices especializados no cuidado do couro, agua-
cipalmente, no sul do Brasil. Influenciando, inclusi-
deiros, invernadas de pasto, celeiros, cordoeiros, en-
'e, no surgimento de muitas cidades que viceJaram tre outros.
no largo das rotas.
SIlVA. 1 o.' César Kreps da. Ir: SCOR 1 FGAGNA. Adalberto et aI.
() tropeiro nao foi apenas um desbravador. Mui-
OrgL Paraná espaço e memória: diversos olhares histórico-
to mais do que trazer a pmdução local ou comboiar -geográlicos. Cuntiba Bagozzi, 2005. P. 108-109.
tropas para os mercados, levou para as localidades

OCEANO
A TLÂNT/CO

Legenda
- Antigas caminhos de
abastecimento das vilas
rande Região aurilera
0266 532 trm Região diamantitera
__________ - Fronteira do Tratado
Buenos 1:26600000 de Ultrecht (171317151
Aires

Fonte: CAIA-OS os és. COSI 1040Ff Vriai Atlas histórico do BrasiL 14,

Relacione o texto ao mapa das rotas tropeiras.


De acordo com o texto, qual era a importância do tropeirismo na economia colonial?

LL

Vicejar: tornar-se opulento, crescer.

138
A atividade mineradora também estava ba-
O trabalho escravo seada na exploração do trabalho dos africanos
nas minas escravizados por meio do lucrativo tráfico e co-
mércio de pessoas.
Entre o final do século XVII e a primeira
Há diferenças entre a escravidão dos engenhos
década do século XVIII, com a descoberta de minas e a das minas. Nesta última, os escravos estavam
de ouro no interior da colônia, ocorreu a maior mi- sob constante supervisão de capatazes. Após o tér-
gração dentro da América Portuguesa. Em cerca mino de cada tarefa eram revistados, pois sempre
de dez anos, uma multidão originária de diversas havia o risco de que ocultassem ouro ou diamante.
partes do território colonial português, compos- Mesmo assim, eles desenvolveram formas de ocultar
ta de homens brancos europeus ou americanos, ouro ou outros metais preciosos nos cabelos, nas
africanos escravizados, indígenas e mestiços, fez unhas ou na boca. Essas eram as formas que encon-
crescer repentinamente os arraiais e vilas que se traram para acumular recursos e comprar a alforria.

formavam ao redor das minas. Essa região era, na As condições de trabalho eram muito piores
que as do engenho, fazendo com que os escravos
época, parte da capitania de São Vicente, poste-
não suportassem muito mais que cinco anos de
riormente elevada a capitania de Minas Gerais.
vida nessa atividade. As mortes
prematuras eram causadas por
doenças relacionadas com as
condições do trabalho e por
acidentes. Os acidentes mais
comuns nas lavras de ouro
ou de diamantes eram o rom-
pimento das escoras de con-
tenção das barragens, o que
causava afogamento ou soter-
ramento dos trabalhadores.
Os cativos trabalhavam
durante horas dentro da água,
expostos a baixas temperaturas
ou em cavernas (cavidades) sob
a terra, sujeitos à umidade e à
falta de oxigênio. A alimentação
era pouca, deficiente e de baixo
teor nutritivo, o que obrigava
os trabalhadores a furtar mais
alimentos ou mesmo usaro que
obtinham de ganhos em suas
horas de folga para comprá-los.
A essas condições de tra-
balho e alimentação, acres-
centem-se a precariedade
dos alojamentos e a reduzida
oferta de vestuário. Todas
essas circunstâncias ocasio-
navam doenças e um número
bastante grande de óbitos.

Cados Juhâo. Extração de diamantes, c.1 776.


Aquarela, 37,1 cm x 26,6 cm.

isbLho no Brasd até o sécuto Y 139


Além do trabalho nas minas, os escravos rea-
Por trabalharem o dia todo, em regiões de lizavam tarefas ligadas ao transporte, ao comércio
clima frio, com os pés metidos dentro da água, as - principalmente ambulante - e à construção de
doenças mais comuns eram as respiratórias.
obras públicas, como pontes, chafarizes e edifícios.
Luís Gomes Ferreira, médico-cirurgião que
Como a extração de ouro de aluvião era sazonal,
viveu nas Minas e atendeu aos doentes da região,
principalmente os escravos, procurou adaptar os sendo interrompida durante o período das chuvas, a
conhecimentos da medicina europeia ao ambien- escravaria era usada também na produção agrícola
te tropical. [ ... ] de produtos de primeira necessidade para consu-
Preste atenção às recomendações do l)r. Luís mo próprio e abastecimento dos centros urbanos,
Gomes Ferreira, publicadas no seu livro Erário extremamente carentes de gêneros alimentícios.
mineral, em 1735: Além de alimentos, plantavam e fiavam
"E se em Portugal se recomenda que as san-
algodão, criavam gado, porcos e galinhas e, em
grias se não façam com excesso, onde os man-
alguns casos produziam, em pequenos engenhos,
timentos são de boa substância; que sucederá
nestas Minas, e em todo o Brasil onde são tão aguardente e rapadura. O desenvolvimento dessas
diferentes; e dos pretos com muita maior razão atividades foi de grande valia quando, a partir de
porque habitam sempre ou quase sempre den- 1760, houve o esgotamento do ouro de aluvião e a
tro da água, e depois que entram a trabalhar an- região precisou de novas fontes de renda. A partir
dam expostos ao rigor da chuva, do frio e do sol; desse período, a região das minas passou a ser
ruins coberturas, nuns camas, e ruim tratamento, um centro de produção agropecuário e de tecidos
como todos sabem, OS que habitam nestas partes,
usados para abastecer outras partes do país.
se por citadas razões, e pelos maus sucessos que
dela via, nunca fui devoto de mandar sangrar, se-
não com muita cautela." O declínio da mineração do ouro de aluvião
não significou o abandono do emprego da mão
GONÇALVES. Andréa Lsly; KANIOR. iris. O trabalho em
de obra escrava no século XIX; pelo contrário,
Minas colonial. Sào Pauto: Atual, 1996. p. 16-17.
a província de Minas Gerais alcançou a maior
concentração de cativos da escravidão moderna,
excetuando-se Cuba, Haiti e Estados Unidos. Em
Sangria é um tratamento médico originado há 1872, dezesseis anos antes da abolição da escrava-
milhares de anos, com registros histéricos de uti- tura, Minas Gerais apresentaria em seu território
lização por diversos povos. Consiste na retirada de cerca de 370 mil escravos, dos quais a grande par-
parte do sangue do paciente, tendo como objetivo te estava empregada em atividades agropecuárias.
a cura ou alívio de alguns sintomas de doenças.
GONCALVES, Andréa Listy; KANTOR. Íris, O trabalho em Mi-
nas colonial. SSo Paulo: Atual. 1996. p. 34.

Os escravos de ganho ou alu-


gados da sociedade mineradora
realizavam diversas atividades de
comércio e prestação de serviços
nos centros urbanos. O comércio
era a atividade principal das mu-
lheres, que vendiam diversos tipos
de produtos com seus tabuleiros,
nas ruas e em pequenos estabe-
lecimentos comerciais denomi-
nados "vendas". Esse comércio
ambulante auxiliava no abasteci-
mento de gêneros alimentícios nas
Jean-Bapliste Debret Negra com tatuagens vendendo cajus 1827. Aquarela. 15.7 cru x 21.6 cm. regiões de mineração.

140
A economia aurífera também auxiliou no Mais do que simplesmente sobreviver no sis-
desenvolvimento da indústria da construção civil, tema, os escravos buscaram formas de garantir
na qual mestres, arquitetos e artistas realizavam alguns direitos, constituir família e negociar limi-
seus trabalhos nos canteiros de obras. Esses tes para a dominação senhorial.
trabalhadores estavam sujeitos a uma rígida
legislação controlada pelas câmaras municipais.
Tal legislação determinava quem poderia abrir
lojas, quais seriam as condições de trabalho a
seguir, os preços a serem praticados e a quais
leis estaria sujeito o proprietário do estabeleci-
mento comercial. O artesanato era proibido aos
escravos, porém muita mão de obra de cativos
foi usada na construção de igrejas e outras obras
de cunho artesanal.
Apesar da violência do sistema escravista,
muitos escravos não aceitaram pacificamente
as imposições, resistindo a elas. Incendiavam
plantações, assassinavam senhores e feitores,
empreendiam fugas individuais e coletivas. Abor-
tos e suicídios também eram frequentes, além
de pequenas ações de resistências no cotidiano.
Uma gama de negociações e conflitos pauta-
ram a relação entre senhores e escravos. Quando Antãnio Francisco Lisboa . Aloijdinno. Pastor de pres6pio 1 1)1.
os acordos eram quebrados, seja por intransi- Madeira talhada e policromada.
Vários escravos trabalhavam como auxiliares dos artistas na
gência do senhor ou impaciência dos escravos, contecçáo de obras de arte, esculturas e outros objetos. O artista
os conflitos se estabeleciam. Antônio Francisco Lisboa, conhecido como Aleijadinho, chegou a
dividir parte do que recebia coro um de seus escravos.

Leia o texto abaixo e faça o que se pede ros, atendendo às necessidades de abastecimento
dos gêneros alimentícios nas áreas mineradoras.
Os trabalhos de fiação e tecelagem eram feitos Lado a lado, forras e escravas de ganho ofereciam
por escravas de várias idades, incluindo as crianças, seus quitutes nas lavras, ruas e vielas das cidades.
em geral sob a supervisão da dona da fazenda. Os te- Pelo contato cotidiano com os mineradores, foram
cidos mais rústicos eram destinados à confecção das inúmeras vezes acusadas de colaborar no contra-
roupas dos escravos, enquanto os mais finos, como bando de ouro e diamantes, a ponto de as autori-
o linho em São João dei Rey, eram exportados para dades proibirem a presença das negras de tabuleiro
outras capitanias. nas lavras.
Muitas mulheres faziam parte das irmandades GONÇALVES. Andréa 1 isly: KAN1OR, Íris. O trabalho em
religiosas, compondo frequentemente as diretorias Mines colonial. Sáo Paulo: Atual. 1996. p. 23.
dessas associações. Possuíam escravos e desempe-
1.. Qual era o trabalho das mulheres nas Minas
nhavam papéis como chefe de família. Também
eram padeiras, doceiras, costureiras, tecelãs, rendei- Gerais? E qual foi a importância desse trabalho?
ras, lavadeiras, roceiras, parteiras; enfim, realizavam
todo tipo de trabalho doméstico. 2. Pesquise o que eram as irmandades reli-

Parte do produto desses trabalhos era comer- giosas no Brasil Colonial e explique como
cializada nas ruas em pequenas vendas e tabulei- atuavam na vida dos escravizados.

0 trabalho no Brasil até o século X 141 IIIIIIIIIIIIIIIIIIN


2 Viajando pela história
Os africanos e a metaLurgia
Uma das grandes contribuições dos povos africanos foi a metalurgia, porque alguns
grupos étnicos podem ser considerados os pioneiros no domínio do processo metalúrgico, no
Brasil Colonial. O povo banto, por exemplo, conhecia profundamente o processo metalúrgi-
co, o que era uma grande vantagem em guerras contra grupos rivais. Esse avanço possibilitou-
-lhes o domínio de parte do noroeste do continente.
Outro exemplo de desenvolvimento metalúrgico é o povo iorubá, que manipulava o
cobre e o estanho e trouxe esse conhecimento para o Brasil. Estima-se que na região da
África Subsaariana (ao sul do Deserto do Saara) alguns grupos aprenderam a manipular
o ferro e forjar armas e utensílios entre os séculos V e VLI a.C. Essa técnica só foi domi-
nada na Europa muitos séculos depois. Os portugueses só vieram a conhecer a enxada
de ferro ao entrar em contato com os ganenses
e nigerianos.
Outro dado importante é o domí-
nio de outras habilidades vindas com
os grupos escravizados, por exemplo,
ofícios nas áreas da marcenaria, car-
.. pintaria, ferraria, construção (es-
f tradas, pontes, barcos etc.), pesca,
olaria etc.
-
Esses conhecimentos valo-
-—
rizaram a mão de obra escrava.
Identificando as várias e decisivas
. contribuiçoes dos povos africa-

nos para o desenvolvimento do
trabalho e da cultura brasileira,
tendo consciência desses fatos,
é possível romper com a ideia
de que o escravo trabalhava
única e exclusivamente na
lavoura.

Cabeça de Oba fabricada com


latão e ferro no Século XVI.
República do Benin.

142
Os grupos africanos apresentavam uma relação especial com o metal, principalmente, o ferro. O valor
atribuído a ele se distingue da cultura europeia que o considerava unicamente utilitário, um material sem
beleza estética. Vale notar que a África passou diretamente da Idade da Pedra para a do Ferro, sem passar pelo
período denominado Idade do Bronze. Em outros locais e culturas, a tecnologia do bronze (formado por ligas
de cobre com outros metais como estanho ou zinco) antecedeu a do ferro. Isso porque o cobre é encontrado
na natureza pronto para ser trabalhado. O ferro, por sua vez, exige temperaturas de fusão muito mais altas e
se encontra na natureza quase sempre misturado a outros elementos, o que significa que precisa ser extraído e
depurado para ser utilizado. No continente africano, o surgimento e desenvolvimento dessas duas tecnologias
ocorreram no mesmo período.
Os típicos artefatos confeccionados pelos grupos africanos eram: enxadas, machados, enxós e pontas de
lança. Esses artefatos tinham, além de uma função utilitária, um caráter simbólico. A enxada poderia ser
apenas uma ferramenta ou simbolizar uma oferenda mortuária, um dote, um talismã protetor representando
autoridade, saúde, status social, e fazer parte de rituais secretos.
Um dos prováveis motivos de o ferro estar relacionado a papéis sociais é que apenas alguns indivíduos
escolhidos recebiam de seus antecessores os conhecimentos da metalurgia. Conhecimentos que acreditavam
terem sido passados pelos próprios deuses aos ancestrais daquele grupo.
CAMPOS, Guadalupe do Nascimento. Transferência de tecnologia para o Brasil por escravos africanos.
Disponível em: <www.arqueologia-iab.com.br/publicalions/download/14 >. Acosso em: 1ev. 2016.

Leia o texto a seguir e faça o que se pede O Brasil, diferente de outros países, como os
Estados Unidos ou o Peru, teve como única forma
Os conhecimentos técnicos e tecnológicos tive-
de trabalho o escravismo [.] realizado quase apenas
ram sempre difusao por todo o continente africano
com mão de obra africana. Assim, os africanos ocu-
devido às rotas de comércio entre os diversos paí-
param muitos dos campos da produção, como fonte
ses africanos e entre as diversas regiões do mundo
de conhecimento da base técnica e tecnológica.
antigo. [ ... ]
As imigrações forçadas de africanos para o traba-
A compreensão do fio da história africana é ne-
lho compulsório [ ... j fizeram com que o Brasil tenha
cessária para entendimento do desenvolvimento de
recebido uma imensa diversidade de conhecimentos
conhecimentos técnicos, profissionais e científicos
contidos na mão de obra africana de diferentes con-
nas diversas regiões africanas, que constituíram um
dições geográficas. Todos os ciclos de produção do
capital cultural significativo e fundamental para a
Brasil eram de domínio de conhecimento de diver-
colonização do Brasil, sob o domínio português na
sas regiões africanas.
forma do escravismo criminoso da mão de obra
CUNHA JR., Henrique. Tecnotogia africana na formação
africana.
brasileira. Rio de Janeiro: Ceap, 2010. p. 11, 15,17 e 20.
O acervo de conhecimentos que possibilitou a
empresa de produção colonial portuguesa no Brasil Explique a afirmação do autor de que a tecno-
é majoritariamente africano. [ ... ] logia que se desenvolveu no Brasil no Período
A colonização do Brasil tem como peculiaridade Colonial era de domínio africano.
que os portugueses desenvolveram agriculturas tro-
Pesquise o que é 'capital cultural" e, com
picais e realizaram a exploração de recursos naturais
base no que você descobriu, explique por que
que não eram do conhecimento europeu. O conhe-
capital cultural africano foi importante na
cimento africano viabilizou a colonização europeia
colonização do Brasil.

o
nos trópicos.

'O SOLUtO 143


O império do café: da escravidão
ao trabaLho Livre
Ao final do século XVIII e início do século Entretanto, um problema novo se fazia pre-
XIX, com a decadência da mineração, houve um sente: as pressões internacionais cada vez mais
reaquecimento da produção agrícola no território fortes e frequentes exigindo o fim do tráfico de
brasileiro. Isso não quer dizer que durante a mi- escravos. Em 1850 foi proibido o tráfico interna-
neração não houvesse produção agrícola, mas o cional, elevando vertiginosamente o preço dos es-
foco era a extração do ouro e de pedras preciosas. cravos. A solução encontrada para suprir a mão
São Paulo, por exemplo, sempre manteve a produ- de obra cada vez mais escassa foi o tráfico interno
ção agrícola, durante toda a fase mineradora, até entre as províncias do Império, além do uso pelos
mesmo servindo como centro de abastecimento cafeicultores de trabalhadores assalariados vindos
de vários lugares. da Europa.
De modo geral, a exportação dominou esse Na segunda metade do século XIX, estima-se
renascimento agrícola. Houve um retorno da pro- que o centro-sul era detentor de dois terços da po-
dução açucareira, além do cultivo de arroz, algo- pulação escrava de todo o Brasil. O tráfico interno,
dão, cacau e café, entre outros itens, visando ao porém, não era suficiente para atender à deman-
mercado internacional. De todas as culturas cita- da de mão de obra necessária à lavoura cafeeira, e
das, a mais lucrativa e que melhor se adaptou ao com isso a imigração europeia para a cafeicultura
solo e clima brasileiros foi o café. tornou-se cada vez mais intensa.
Já nas primeiras décadas do século XIX, o café
havia se espalhado pelo Vale do Paraíba, no Rio
de Janeiro. Depois, propagou-se pelas províncias
de São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo e, mais
tarde, pelos estados do Paraná, de Santa Catarina
e do Rio Grande do Sul. Assim, a cafeicultura foi
dominando a paisagem do centro-sul brasileiro.
Nesse contexto, continuava a mão de obra escrava
a sustentar a economia nacional.

Jean-Baptiste Debret. Desmatamento de uma floresta, c. 1816-1831.


Aquarela. 26cm x 30cm. A produção agricola modificou a paisagem do
centro-sul do Brasil. Grandes áreas de florestas foram cortadas e queimadas de S. Feele ne 3 il: íees, Fee este e antes de
para dar lugar aos cai ezais. a cidades e a ferrovias. A imagem acima é um partir, loUicto em italiano publicado pelo governo da provincia de São Paulo com
registro de como esse processo se deu na Mata Allântica. conselhos aos imigrantes que pretendiam se estabelecer na província, 1886.

144
Havia fazendas em que conviviam trabalha-
Ao longo do século XIX a política imigrantista dores livres imigrantes e escravos. Isso gerou um
no Brasil assumiu três modalidades básicas: a) a conflito de interesses, pois para o fazendeiro era
política de núcleos coloniais, financiada pelo governo
melhor empregar os escravos nas atividades ou na
imperial e baseada na distribuição de lotes que se-
parte mais rentável da produção. Dessa forma, os
riam explorados pelo trabalho familiar; b) a política
das colônias de parceria, financiada por particulares imigrantes ficavam com menos possibilidade de
e com ônus para os imigrantes; c) e a política de ganho, o que inviabilizava o pagamento de suas dí-
subvenção, sob a responsabilidade dos governos pro- vidas e aumentava a dependência deles em relação
vinciais e imperial, que subsidiavam parcialmente aos fazendeiros. Era quase um regime de servidão,
os custos da vinda dos imigrantes e que acabou ao qual ficavam atrelados por não terem como
sendo a que prevaleceu. Entre 1860 e 1869 o Brasil saldar suas dívidas.
recebeu 108.187 imigrantes; entre 1870 e 1879, Com o risco iminente do fim da escravidão,
193.431; e, entre 1881 e 1930, 3.964.300, sendo os cafeicultores começaram a introduzir o salário
36% de imigrantes italianos, 29% de portugueses,
como forma de pagamento pela força de trabalho
14% de espanhóis e 3% de japoneses.
A legislação sobre o trabalho no Brasil teve seu utilizada. Perceberam que dessa forma podiam in-
primeiro instrumento em uma lei de 1830. Em vestir menos dinheiro antecipado do que na compra
1837, a Lei n° 108, de 11 de outubro, dispôs sobre de escravos, pois o assalariado primeiro produzia e
o trabalho dos estrangeiros. Foi esse instrumento depois recebia pela produção, enquanto o escravo
legal que abriu a possibilidade de entrada de traba- demandava um valor alto de investimento anterior
lhadores estrangeiros, que vai ter, nos anos 1840, a qualquer trabalho realizado.
um primeiro e frustrado capítulo como resultado
das iniciativas de Senador Vergueiro, pioneiro na
importação de mão de obra estrangeira.
Com efeito, o processo de constituição do
mercado de trabalho foi tão lento e complexo
quanto o processo de abolição da escravidão. Se
a abolição foi gradual - 1850, fim do tráfico inter-
nacional; 1871, Lei do Ventre Livre; 1885, Lei dos
Sexagenários; 1888, Lei Áurea -, a regulamenta-
ção das relações de trabalho também o foi, com
a promulgação de leis em 1830, 1837 e 1879 que
buscaram estabelecer o marco legal das relações
de trabalho livre.
A lei de 1879 buscou atingir três objetivos bá-
sicos: a locação de serviços propriamente ditos,
a parceria agrícola e a parceria pecuária. Essa lei
abriu caminho para a consolidação do regime de
parceria no Brasil, o que permitiu, a partir da dé-
cada de 1880, a significativa entrada de imigrantes
estrangeiros, sobretudo para atender à demanda
de mâo de obra da lavoura cafeeira.
Com a efetiva participação do governo da
província de São Paulo no processo mediante o
financiamento do transporte e a instalação dos
imigrantes, é que a imigração alcançou o caráter
massivo que teve entre 1885 e 1930.
PAULA, João Antônio. O processo econômico. In: CAR-
VALHO. José Murilo de (Coord.). A construção nacional:
1830-1889. Rio de Janeiro: Objetiva. 2012. p. 200-201. v. 2. £
tCoteçào História do Brasil Nação: 1808-2010).
Imigrantes amontoando e abanando o café colhido em fazenda no interior do
estado de São Paulo, c. 1898.

O nabalho no 3rast ate o ecu10 XL 145


Leia os textos abaixo e faça o que se pede.

Texto 1 Texto 2

A abolição Os colonos eram contratados na Europa e enca-


c;om a abolição da escravatura, a maioria dos li- minhados para fazendas de café. Tinham sua viagem
bertos preferia deslocar-se para as cidades, onde se paga, bem como o transporte até as fazendas. Essas
aglomerava em certas áreas, vivendo de expedientes despesas, assim como o necessário à manutenção, en-
e morando pelos arredores em casebres ou travam como adiantamento até que pudessem susten-
E ... ] tar-se pelo próprio trabalho. Atribuía-se a cada famiia
Para os ex-escravos, a liberdade correspondia, uma porção de cafeeiros na proporção da sua capaci-
antes de tudo, ao direito de se deslocar livremente, dade de cultivar, colher e beneficiar. Era-lhes faculta-
de trabalhar onde, quando e para quem quisessem. doo plantio de víveres necessários ao próprio sustento
Recusar-se a trabalhar nas mesmas condições ante- entre as filas de café, enquanto as plantas eram novas.
riores representava o direito de livrar-se da situação Quando isso não era mais possível, podiam plantar
passada e usufruir por algum tempo a liberdade, em locais indicados pelos fazendeiros. Em caso de
negando a opressão que por muito tempo haviam alienação de parte dos víveres caberia ao fazendeiro a
vivido. ...j metade. Vendido o café, obrigava-se este a entregar ao
Além da pesada herança da escravidão que o ne- colono a metade do lucro líquido, deduzidas todas as
gro carregava, ele ainda se viu preterido pelo incen- despesas como beneficiamento, transporte, comissão
tivo que foi dado à vinda de milhares de imigrantes de venda, impostos etc. Sobre os gastos feitos pelos fa-
europeus para substituí-lo. 1...] zendeiros em adiantamento aos colonos, cobravam-se
A maioria dos libertos que rumaram para as juros de 6%, que corriam a partir da data do adianta-
cidades em busca de emprego encontrava poucas mento. Os colonos eram considerados solidariarnente
oportunidades. No Nordeste as oportunidades eram responsáveis pela dívida. Aplicava-se na amortização
ainda menores devido à crônica estagnação da eco- pelo menos metade dos seus lucros anuais.
nomia; no Sul, por sua vez, tinham de competir com O colono obrigava-se a cultivar e manter o cafezal
imigrantes europeus, mais bem preparados para limpo, e a concorrer em comum, com o serviço corres-
sobreviver ao mundo urbano. Assim, OS brasileiros pondente à quantidade de café entregue, para o traba-
de classe pobre, que abrangiam a vasta maioria dos lho que o mesmo exigia até entrar no mercado. Devia
negros, tinham inúmeras dificuldades e chances mí- conduzir-se disciplinadamente. Não podia abandonar
nimas de ascensão social e econômica. [ ... J. a fazenda sem previamente comunicar essa intenção
CARMO, Paulo Sérgio do. História e ética do trabalho no e saldar primeiramente todos os compromissos. Em
Brasil. São Paulo: Moderna, 1998. p. 59 e 61. caso de dúvida entre os contratantes, era indicada a
autoridade local para decidir do
COSTA, Emilia Viotli da. Da senzala à colônia. São Paulo:
Fundaçào Editora da lJnosp, 1988. p. 126.

Qual era a situação dos ex-escravos com relação ao trabalho?

Como eram os contratos de trabalho dos imigrantes?

Escreva um texto sobre a transição do trabalho escravo para o trabalho assalariado.

Choça: cabana, choupana geralmente construída com ramos e folhas de árvores.


Dissídio: divergência de opinião.

146
Desde a idade Média, a Europa LLStOU inventos, lavouras ainda era transportada em lombo de burro
puxados por animais, parecidos com os trens mo- até o porto do Rio de Janeiro, en lão O principal do
dernos, mas foi a partir do final do século 18, com país. Em 1835, foi aprovada uma lei do regente Dio-
a Revolução industrial, que surgiu a primeira má- go Antonio Feijó autorizando o governo a conceder
quina a vapor. Em 1804, o inglês Richard l'revithick favores a quem se dispusesse a construir "um cami-
construiu unia locomotiva, que movia uni trem por nho de ferro ligando o Rio de Janeiro às províncias
15 km. Em 1830, foi inaugurada a primeira linha, de São Paulo e Minas Gerais". A oferta atraiu vários
ligando Liverpool e Manchester. Dez anos depois, a aventureiros, mas foi com a entrada em cena do em-
Inglaterra já contava com unia rede nacional, com presário Irineu Evangelista de Sousa, o futuro Barão
10 mil km, e tinha transportado 400 mil pessoas. de Maná, que a ideia começou a sair do papel.
Enquanto isso, o império brasileiro tentava re- Souza já era então o homem mais rico do Brasil.
cuperar o tempo perdido. A extração do ouro em Deu o impulso fundamental não apenas às ferrovias
Minas Gerais cii trara em decadência, enquanto no país como iluminou o Rio de Janeiro com lam-
crescia a exportacão do café. Mas a produção da piões a gás e iniciou a exploração da Amazônia. [ ... J

- T4
....... .. - ,

. .,/ '... .

Cerimonia de inauguraçúo da Impei cl Companhia de Navmgaçao a Vapor e Estrada de Ferro de Petropots em 30 de abril 554 Mustraçeo
publicada oiiginalmente no London Illustrated News, em 1858.

Sua ideia era uma linha ligando o Vale do Paraíba, foi em 30 de abril de 1$54, meses depois da viagem
um polo produtor de café, ao porto de Estrela, no experimental.
extremo da Baía de Guanabara, ao pé da região ser- RODRIGUES. Atexandre. Trem bom. Aventuras na História,
rana do Rio. 132. cd., p. 36-41, jun. 2014. Créditos: Alexandre Rodriques,
Caras, Abril. Disponivet em: <http://guiadoesttidanto.ahrit.com.
1...] br/nventuras-historia/conheca-bistoru primeirasterrovias-
Não foi um trabalho fácil. Desmoronamentos brasiteiras-787671.shtml>. Acesso em: íev. 2016.

causados pelas chuvas atrasavam o trabalho e sur- Relacione o texto à imagem e expUque a im-
tos de febre atingiam os operários. A inauguração portância das ferrovias para o Brasil.
oficial da E.F. Mauá, batizada assim pelo imperador.

0 trabalho no Brasil até o século 147


5~ Debate interdisciplinar
Extração do caldo: a cana preparada é moída
A cana-de-açúcar como em rolos de moenda, que separam o caldo da
matéria-prima fibra (bagaço).
Tratamento do caldo: para a remoção das im-
Muito importante para o agronegócio brasi-
purezas grossas, o caldo é inicialmente peneira-
leiro, a cana-de-açúcar pode ter dois destinos na in-
do (tratamento físico) e, para a clarificação do
dústria: produção de açúcar e produção de etanol.
caldo, são necessários tratamentos químicos,
como a calagem, na qual o leite de cal é adicio-
Produção de açúcar
nado, facilitando a precipitação das impurezas.
A produção do açúcar da cana-de-açúcar O leite de cal é formado da hidratação da cal
envolve várias etapas, que começam logo na re- virgem, segundo a reação:
cepção da matéria-prima. Nessa fase, o produto
CaO + H Ca(OH),
é pesado e amostras são retiradas para avaliar
cal virgem água leite de ca
sua qualidade. As outras etapas estão descritas
a seguir. Evaporação: com a evaporação, a quantidade de
Lavagem: a cana-de-açúcar deve ser bem lavada água removida é cerca de 80% em peso do caldo,

para serem removidos possíveis resíduos e im- o que acarreta a formação de um xarope.
purezas, como pedras, seixos, areia e terra. Cristalização: o xarope formado após a evapo-
Preparação para moagem: após a lavagem, ração é cristalizado em tanques de cozimento, o
a cana precisa ser preparada para a moagem. que resulta no melaço e no açúcar.
Nesta etapa, o material é picado, facilitando a Secagem: o melaço é utilizado na produção do
próxima etapa, de extração do caldo. álcool, e o açúcar passa pelas etapas de eva-
poração e resfriamento, até a temperatura de
ensaque, provocadas por uma corrente de ar
formada por um ventilador.
Estocagem: o açúcar é então pesado e estocado
em condições ideais de umidade e temperatura.

UM II ..

•0
' -
.'. ,.-

LIir±r: naom da cana-de-açúcar em usina de Caniiiiiiau e cirregado t;cin açucar em um ammazerim de usina açucareira.
produçdo de acuca. Valparaiso ISPI, 2014. Valparaiso (SP). 2014.

148
Produção do etanoL
O etanol é um composto
orgânico de fórmula molecular
C,HOH, pertencente à classe
dos alcoóis. Pode ser obtido de
diferentes processos. No Brasil,
a matéria-prima de maior sig-
nificância nessa produção é a
cana-de-açúcar. O caldo extraído
da cana é tratado e, após a for-
mação do melaço passa pelas
etapas de produção do álcool,
descritas a seguir.
Fermentação: a transforma-
ção da matéria-prima em ál-
cool é realizada por microrga-
nismos, principalmente leve-
duras da espécie Saccharomyces
cereviseae. Eles produzem as
enzimas que agem nos açúca- e: ooduçâo de acucar e
res (glicose) para a produção de álcool e gás car- etanol na cidade de Vaipararso (SP), 2014.

bônico, num processo denominado fermentação


alcoólica:
A fermentação alcoólica é um processo usado
2CHÇ0H + 2C0? + energia
na produção de álcool para diferentes finalidades,
gitcose ilcool gis carbônico
como solventes de tintas, bebidas alcoólicas etc.
Destilação: o processo de fermentação produz Quando produzido do bagaço da cana-de-açúcar,
um vinho que precisa ser destilado para que o é utilizado sobretudo como combustível, denomi-
álcool seja separado dos demais componentes. nado bioetanol. O bioetanol é um produto reno-
Essa destilação é baseada no ponto de ebulição vável e limpo, cujo uso contribui para a redução
de cada componente. Assim, o vinho é aqueci- do efeito estufa e da poluição do ar, pois gera
do e a separação dos líquidos ocorre do menor menor quantidade de resíduos que os combus-
ponto de ebulição para o maior. tíveis fósseis, como a gasolina. O Brasil é um de
Retificação e desidratação: após a destilação, seus maiores produtores, perdendo somente para
o álcool ainda apresenta certa quantidade de os Estados Unidos, que utilizam o milho como
água, motivo pelo qual precisa ser desidratado. matéria-prima.

Por meio de estudos recentes, pesquisadores 1. Realize uma pesquisa sobre a produção
de diversos países desenvolveram uma nova desse novo combustível e produza um texto
etapa na transformação da cana-de-açúcar em explicando as vantagens do investimento no
combustível, resultando na produção do etanol bioetanol e por que ele é mais benéfico ao
de segunda geração ou bioetanol. A produção meio ambiente que o etanol.
do bioetanol é considerada mais rentável e
ecologicamente correta que a do etanol.

149
Testando seus conhecimentos Responda no cadernc

1 (U FM G) Congregando segmentos variados da po- 3. (Enem) Sabe-se o que era a mata do Nordeste, an-
pulação pobre ou dirigindo-se às áreas de minera- tes da monocultura da cana: um arvoredo tanto e
ção, onde se concentravam enormes contingentes tamanho e tão basto e de tantas prumagens que
de escravos, as vendeiras e negras de tabuleiro se- não podia homem dar conta. O canavial desvirgi-
riam constantemente acusadas de responsabili- nou todo esse mato grosso do modo mais cru: pela
dade direta no desvio de jornais, contrabando de queimada. A fogo é que foram se abrindo no mato
ouro e diamantes, prática de prostituição e ligação virgem os claros por onde se estendeu o canavial
com os quilombos. civilizador, mas ao mesmo tempo devastador.
FIGUEIREDO, Luciano. O avesso da memória: cotidiano e FREYRE. G. Nordeste. São Paulo: Global, 2004 (adaptado).
trabalho da mulher em Minas Gerais no século XVIII.
Rio de Janeiro: José Olympio, 1993. Analisando os desdobramentos da atividade
A partir da leitura e análise desse trecho, é canavieira sobre o meio físico, o autor salien-
correto afirmar que a escravidão nas Minas ta um paradoxo, caracterizado pelo(a)
Gerais se caracterizava por: demanda de trabalho, que favorecia a
um perfil rural e patriarcal, o que fazia escravidão.
com que as cativas e as forras ficas- modelo civilizatório, que acarretou da-
nos ambientais.
sem reclusas, em casa, sob controle
rudimento das técnicas produtivas, que
masculino.
eram ineficientes.
uma comunidade igualitária, o que se
dE natureza da atividade econômica, que
expressava na liberdade com que os ne-
concentrou riqueza.
gros circulavam pelas ruas.
e) predomínio da monocultura, que era
uma grande diversidade de formas de
voltada para exportação.
exploração do trabalho escravo, situa-
ção característica de um contexto mais 4. EU FS C) Estávamos na horta da minha casa, e o pre-
urbano. to andava em serviço; chegou-se a nós e esperou.
d) uma relativa flexibilidade, o que se ex- - É casado, disse eu para Escobar. Maria onde está?
pressava no livre trânsito dos comer- - Está socando milho, sim, senhor.
ciantes entre as cidades e os quilombos. - Você ainda se lembra da roça, Tomás?
- Alembra, sim, senhor.
2. (UFSCar-SP) A gravura ilustra diferentes fa- - Bem, vá-se embora.
ses da produção do açúcar no Brasil colonial. Mostrei outro, mais outro, e ainda outro, este Pe-
dro, aquele José, aquele outro Damião...
- Todas as letras do alfabeto, interrompeu Escobar.
Com efeito, eram diferentes letras, e só então re-
parei nisto; apontei ainda outros escravos, alguns
com os mesmos nomes, distinguindo-se por um
apelido, ou da pessoa, como João Fulo, Maria
Gorda, ou de nação como Pedro Benguela, Antô-
nio Moçambique...
E estão todos aqui em casa? Perguntou ele.
- Não, alguns andam ganhando na rua, outros es-
Engenho 1 Ci or ! ete f i li 1 lo
tão alugados. Não era possível ter todos em casa.
Identifique essas fases. Nem são todos os da roça; a maior parte ficou lá.
Escreva sobre o papel exercido pela pro- - O que me admira é que D. Glória se acostumasse
dução açucareira na organização econô- logo a viver em casa da cidade, onde tudo é aperta-
mica e social da Colônia. do; a de lá é naturalmente grande.

150
Responda no caderno

- Não sei, mas parece. Mamãe tem outras casas que contribuíam em muito para o au-
maiores que esta; diz porém que há de morrer mento de sua riqueza.
aqui. As outras estão alugadas. Algumas são bem 16. A extinção da escravidão garantiu me-
grandes, como a da Rua da Quitanda... lhores condições de vida aos africanos
ASSIS. Machado de. Dom Casmurro. e seus descendentes, uma vez que a
São Paulo: FTD, 1991. p. 145. eles eram garantidas as vagas nas in-
dústrias emergentes no Brasil.
No diálogo acima, Escobar e Bentinho con-
32. Durante o período de introdução da
versam sobre os escravos da família deste.
cultura cafeeira no Brasil, o trabalho
Sobre o período da escravidão no Brasil, é
escravo já não era mais utilizado.
correto afirmar que:
S. (Fuvest-SP) A imigração de italianos (desde
A presença dos escravos no Brasil Im- final do século XIX) e a de japoneses (des-
perial podia ser percebida em diferen- de o início do século XX), no Brasil, estão
tes atividades, desde os trabalhos nas associadas a:
lavouras até serviços domésticos nas uma política nacional de atração de mão
casas de fazenda e centros urbanos. de obra para a lavoura e às transforma-
Os escravos eram trazidos da África, ções sociais provocadas pelo capitalismo
provenientes de uma única região. Isto na Itália e no Japão.
facilitou a socialização entre os grupos interesses geopolíticos do governo brasi-
de escravos trazidos ao Brasil. leiro e às crises industrial e política pelas
04. A submissão ao senhor latifundiário quais passavam a Itália e o Japão.
era incontestada. Prova disso é a ine- uma demanda de mão de obra para a
xistência de fontes históricas que pro- indústria e às pressões políticas dos fa-
vem a resistência dos escravos às pés- zendeiros do sudeste do país.
simas condições de vida às quais eram uma política nacional de fomento demo-
submetidos. gráfico e a um acordo com a Itália e o Ja-
08. A concentração da propriedade nas pão para exportação de matérias-primas.
mãos de poucos foi uma característi- acordos internacionais que proibiram o
ca do período-de escravidão no Brasil. tráfico de escravos e à política interna
Um grande proprietário de terras tam- de embranquecimento da população
bém podia possuir imóveis urbanos brasileira.

rPara você Ler para você navegar


Museu da imigração. Disponível em: .chttp://
AçúcarecoLonização,deVera Lúcia AmaralFerlini. museudaimigracao.org.br:>. Acesso em: fev. 2016.
São Paulo: Alameda, 2010. Nesse livro, a autora O Museu da Imigração do Estado de São Paulo
mostra como a produção açucare/ra escravista tem o objetivo de resgatar a história das pessoas
barrou o desenvolvimento de uma camada de que chegaram ao país como novos trabalhado-
pequenos e médios proprietárias que dependiam res e preservar a memória da Hospedaria de
do grande proprietário para processar o açúcar ou Imigrantes, que durante 91 anos forneceu aloja-
comprar sua produção de subsistência. mento e outros serviços aos recém-chegados. O
si te disponibiliza informações sobre as atividades
Desclassificados do ouro: a pobreza mineira no
do museu e também acesso a exposições virtuais,
século XVIII, de Laura de Melto e Souza. Rio de
fotografias e vídeo.s.
Janeiro: Graal, 2004. A autora discorre sobre a vida
de milhares de pessoas que viviam na região das
minas, mostrando como a miséria, a [ome, a falta de
moradia e várias outras dificuldades caracterizavam
cotidiano dos que migraram para ela na esperança
de uma vida melhor

1.) o L:aso oe o 151


19

1
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Unha de produção de
indústria automobilística
em Wuhan, China, 2014.

Imagine-se em uma grande I.oja de ção. Essa relação iniciou-se com o advento da
departamentos. À sua frente, aparelhos de industrialização, na segunda metade do sécu-
som, televisores, computadores de vários lo XVIII, e revolucionou o cotidiano de homens,
model.os, tamanhos e funções; roupas de mulheres e crianças, que passaram a conviver
diferentes tecidos e cores; e tudo do que você com as máquinas, a rotina das fábricas e todos
precisa para sua comodidade diária. os problemas e soluções que acompanharam
Todos esses produtos são resultado da essa nova realidade. A partir de então, ocor-
relação entre o trabalho humano e a produ- reram mudanças cada vez mais aceleradas.
- -
U

I LL14 -
1; -
iM; t.ha44''v

—. FM ri,

/ . .

Á Revoluçõo Industrial consolidou uma Neste capítulo, vamos observar as trans-


nova maneira de produção de materiais: o formações na vida e no pensamento de pessoas
modo capitalista. Originou também novos acostumadas com a produção de uma peça por
grupos sociais, entre eles os operários e os vez, a manufatura, e que de repente se veem
empresários industriais. Com todas essas al- diante da produção em série, a maquinofatura.
terações e mudanças, a Revolução Industrial
pode ser considerada um momento ímpar na
história da humanidade.
Vivendo na era da tecnologia galopante
A história da humanidade é marcada, entre das pessoas, que têm à disposição novos produtos
outros fatores, pela evolução tecnológica. A ca- ou modelos inéditos para antigas invenções e co-
pacidade de criar instrumentos de acordo com meçam a ser consumidoras de tudo isso.
a necessidade é uma das características do ser Algumas inovações parecem supérfluas à pri-
humano desde os tempos remotos até a sociedade meira vista, mas depois são assimiladas como se
capitalista atual. não pudéssemos mais viver sem elas. Assim, a cada
Por sua vez, a tecnologia, cada vez mais avan- momento, são "inventadas" novas necessidades
çada e aperfeiçoada, passou a moldar os costumes para o ser humano.

L
Snurodorie usado
em 2015.

a il

Maquina de esciever manual utihzada iVokhook usado em 2015.


em 1978

r Pausa para investigação

Investigue em seu círculo de convivéncia Ifa- e) os produtos trocados constantemente pelo


miliares, amigos, vizinhosl quais são os produtos entrevistado em razão das inovações nos
que não faziam parte do cotidiano de cada um e modelos e funções.
que agora parecem imprescindíveis.
2. Com o resultado, analise: Todos os produ-
1. Converse com pessoas de diferentes faixas tos disponíveis atualmente são realmente
etá rias e identifique: necessários para nossa sobrevivência?
a) os produtos mais citados e sua real utilização; Qual é o papel da tecnologia atualmente?
bi os produtos adquiridos e pouco ou nada Há relação entre o avanço tecnológico e o
usados pelo entrevistado; aumento dos níveis de consumo? Explique.
cl os produtos que as pessoas possuíam e
Apresente o resultado do trabalho ao profes-
agora não possuem mais, mas sentem íalta;
sor e aos colegas, depois promovam um debate
dl os produtos que o entrevistado considera
em sala de aula.
necessários e que ainda não possui;

154 f
A revoLução das máquinas
A Revolução Industrial é um dos episódios é o capitalista, e não o trabalhador. Desse modo, o
mais marcantes na trajetória da humanidade, em trabalho passou a ser apenas uma mercadoria que
razão de inovações como a produção em série e trabalhador vende e pela qual recebe um valor, a
aumento da oferta de bens de consumo. Elas remuneração.
possibilitaram o surgimento do navio a vapor, das Com a Revolução Industrial, as oficinas ar-
locomotivas e depois dos carros, encurtando dis- tesanais deram lugar ao sistema fabril, no qual a
tâncias e facilitando o comércio. máquina passou a homogeneizara produção reali-
A Revolução Industrial também trouxe novos zada pelo ser humano e a divisão social do trabalho
atores para a cena trabalhista: o operário (tra- foi acentuada. Os camponeses foram, aos poucos,
balhador fabril responsável pela produção) e o deixando o campo por causa da transformação
empresário industrial (proprietário do capital, da economia agrária medieval em agricultura ca-
das máquinas e da fábrica). pitalista; os antigos feudos tornaram-se grandes
Ocorreu, então, a separação entre capital e tra- propriedades com produção destinada ao mercado
balho, pois o proprietário dos meios de produção que vinha se formando.
Ocorreu, então, uma grande migração de tra-
balhadores rurais para os centros urbanos, que
Em síntese, a Revolução Industrial, foi um procuraram se inserir na nova forma de trabalho
período de transformações econômicas e so- instituída nas fábricas. Com o aumento da popula-
ciais caracterizadas pela aceleração do proces-
ção, as cidades incharam modificando o modo de
so produtivo e pela consolidação da produção
vida. Começou a faltar alojamentos, vagas de traba-
capitalista. Tal processo liquidou os resquícios
lho, produtos alimentícios e equipamentos publicos
da produção fundamentada nas relações feu-
dais e consolidou definitivamente o modo de urbanos. Todos esses fatores, somados à nova dis-
produção capitalista. ciplina do trabalho nas fábricas, tornaram insalubre
dia a dia nos centros urbanos.

Fabrica de tecidos inglesa com


teares mecânicos. Gravura em
madeira. c. 1840.

A.
Equipamentos públicos urbanos: bens de utilidade pública destinados à prestação de serviços neces-
sários ao funcionamento da cidade, como abastecimento de água e serviço de esgotos.
Remuneração; pagamento recebido por serviços prestados.

No mundo das tabiicas ind s u1ojcao som 155


O aumento da produção, resultante A Revolução Industrial iniciou-se na
do trabalho nas fábricas, possibilitou o Inglaterra, que apresentava condições fa-
barateamento dos custos das mercado- voráveis à industrialização. Apesar de apre-
rias produzidas, o que foi essencial para sentar deficiências em vários setores - como
que mais pessoas tivessem acesso aos educação, estudos científicos e políticas
produtos industrializados, instituindo-se públicas -, a Inglaterra já havia se ade-
assim um amplo mercado consumidor. quado às demandas específicas da indus-
Indústria
siderúrgica
A necessidade de aumentara produção - e trialização por meio de algumas medidas,
em Sheffield. consequentemente a produtividade -, em como o direcionamento de suas atividades
Inglaterra
Ilustracão
razão da expansão de mercados, fez com agrícolas ao mercado. Além disso, adotou
de autoria que muitos empresários adotassem as ino- como política governamental os ideais libe-
desconhecida.
século XIX.
vações técnicas. rais, cujas metas eram o lucro privado e o
desenvolvimento econômico.

5
Relacionado a esses fatores está o
fortalecimento da burguesia, formada
pelos donos das fábricas, que passou a
controlar os processos econômicos du-
rante a Revolução Industrial. A instituição
dessa nova classe, o importante comércio
colonial que criou a indústria algodoeira
e continuava a alimentá-la, a descoberta
de ricas jazidas de carvão, a consolidação
do sistema bancário e as novas invenções
e inovações técnicas desenharam, aos
poucos, os primeiros traços do que viria
a ser a sociedade industrial.

Analise o texto a seguir e, com base nas in- fossem muito pequenos e localizados para exercer a
formações anteriores, faça o que se pede. mesma influência revolucionária mundial dos comple-
xos britânicos. Mas parece claro que até mesmo antes
Sob qualquer aspecto, este foi provavelmente o
da revolução a Grã Bretanha já estava, no comércio e
mais importante acontecimento na história do mun-
na produção per capita, bastante à frente de seu maior
do, pelo menos desde a invenção da agricultura e das
competidor em potencial, embora ainda comparável a
cidades. E foi iniciada pela Grã-Bretanha. É evidente ele em termos de comércio e produção totais.
que isto não foi acidental. Se tivesse que haver uma
disputa pelo pioneirismo da Revolução Industrial no HOOSBAWM, Eric. A Era das RevoLuções: 1789-1848.
Sào Paulo: Pz e ferra, 2011. P. 60-61.
século XVIII, só haveria de fato um concorrente a dar a
largada: o grande avanço comercial e industrial de Por-
O autor afirma que a Revolução Industrial 'foi
tugal à Rússia, fomentado pelos inteligentes e nem um
pouco ingênuos ministros e servidores civis de todas provavelmente o mais importante acontecimen-
as monarquias iluminadas da Europa, todos eles tão to na história do mundo, pelo menos desde a
preocupados com o crescimento econcmico quanto os invenção da agricultura e das cidades". Levante
administradores de hoje em dia. Alguns pequenos Es- hipóteses que justifiquem essa afirmação.
tados e regiões de fato se industrializaram de maneira
bem impressionante, como por exemplo a Saxônia e Por que o autorafirma que o pioneirismo inglês
a diocese de 1.iège, embora seus complexos industriais não foi acidental?

156
2 Viajando pela história
Antes da Revolução maquinismo. Ocorreram avanços na metalurgia
e na agricultura e a difusão na Europa de inventos
Industrial vindos do Oriente, como a bússola, a pólvora,
novos relógios, óculos, imprensa, instrumentos
Da Pré-História até hoje, o ser humano
de navegação etc. Há de se destacar, ainda, a
tem realizado descobertas e produzido diversos
inventos. siderurgia, que tornou o ferro mais abundante e
menos caro.
Na Antiguidade, por exemplo, os egípcios
A partir do século XV, com o mercantilismo, a
se destacaram na Medicina, na Astronomia e na
mecânica e a técnica industrial passaram a ser valo-
Engenharia, e os gregos flzeram descobertas e in-
rizadas. Multiplicaram-se os inventos e aumentou
ventos importantes, como ferramentas, utensílios
número de pessoas interessadas nos progressos
e instrumentos de guerra e navegação.
técnicos, principalmente os relacionados à tecela-
Séculos mais tarde, os árabes desenvolveram
gem, mineração e metalurgia.
novas técnicas de observação e medição das posi-
ções dos planetas, impulsionando as descobertas
astronômicas. O mercantiLismo era uma política comercial
Os chineses, por sua vez, que já haviam atingido com o objetivo de extrair excedentes comerciais
para as monarquias acumularem posses e ouro.
um estágio avançado em suas descobertas muitos
Na Inglaterra, porém, esse sistema apresentou
séculos antes de Cristo, desenvolveram modernos
um caráter mais comercial, uma vez que as posses
sistemas de observação planetária para a implan-
adquiridas serviram para sustentar as atividades
tação de novas técnicas agrícolas, além de terem econômicas, abrindo novos mercados externos
feito progressos na área da Matemática por meio de para exportação e estabelecendo monopólios co-
fórmulas e cálculos aritméticos e geométricos. merciais por meio dos processos de colonização.
Outro grande impulso tecnológico ocorreu a
partir dos séculos XIV e XV, quando a diminuição
da população - em razão da fome, das epidemias e
das guerras - fez surgir a necessidade de aprimorar

E KCSa aos veluos o loa pai dobrt UuOly. 596.


Cobra 3i em

CoonuiI:, Globo tcuestrc ;ooda Detalhe.


A bússola, o astrolábio e as caravelas foram primordiais para que ocorressem as Grandes Astrolabio feito por Muhanhivad ai Bailou. o
Navegações oceánicas, responsáveis pela mudança no mapa do mundo conhecido até entáo. quarto mais antigo conhecido, século XVIII.

,lJ cas. indostriotizacão e trab 157


No período de transição do feudalismo para campo passou a abastecer a cidade, em escala
capitalismo (séculos X\/ a XVIII), consolidou- maior, de produtos agrícolas e mão de obra.
-se na Europa o Estado Nacional Moderno, de No plano social, a burguesia e os setores da
caráter absolutista e centralizador. Por meio do nobreza beneficiaram-se muito com essas mudan-
mercantilismo e com o objetivo de gerar e acumu- ças, enquanto a situação dos trabalhadores, de
lar capital, os governos passaram a interferir mais forma geral, continuou difícil.
na economia, incentivando a construção naval, o O comércio tornou-se o setor mais dinâmi-
protecionismo e a produção nacional. Por meio da co da economia. Com as Grandes Navegações e
navegação, era possível alcançar novos territórios a formação dos impérios coloniais, foi possível a
e expandir as reservas de ouro e os mercados, o constituição de um mercado mundial, cujo impul-
que garantia a comercialização da produção, por so alcançou todo o sistema produtivo europeu, do
maior que fosse, e, de certa forma, justificava as qual os grandes Estados Nacionais se aproveita-
políticas protecionistas. Os avanços na econo- ram para se edificarem. Foi nessa época que, pela
mia rural possibilitaram o aumento da produção, primeira vez na história, ocorreu um intercâmbio,
que estimulou a concentração urbana, porque em escala planetária, de pessoas e mercadorias.

'l9anizandoideias
Leia o texto e depois faça o que se pede procedências diversas, que eram subordinados pelos
portugueses e mestiços que nelas nasciam. [ ... ]
Os três principais objetivos que levaram às ex-
Foi ali, com plantas importadas e tecnologias
plorações marítimas: comerciar ouro, encontrar
adaptadas às possibilidades do novo meio ambiente,
caminho alternativo para as Índias e converter
que os empresários portugueses elaboraram o mode-
ao catolicismo os povos encontrados, conheceram
lo de produção econômica do engenho produtor de
sucessos e fracassos. O ouro africano trouxe muita
açúcar, que estaria na base da exploração colonial dos
riqueza para Portugal no início do século XVI, mas
territórios americanos ocupados a partir de meados
logo acabou. No século XVII outros países, como
do século XVI. Os portugueses foram pioneiros não
Holanda, Inglaterra e França, passaram a navegar
só na exploração da costa africana e no estabeleci-
no Atlântico e no Índico e a contestar os monopó-
mento de certos tipos de relação com as populações
lios portugueses, assim como os espanhóis. Quanto
locais, sendo depois seguidos por ingleses, franceses
à conversão dos pagãos, foi o objetivo menos reali-
e holandeses, mas também na montagem de um sis-
zado, mesmo que alguns povos tenham se conver-
tema de produção de açúcar, baseado no trabalho es-
tido, em situações muito particulares, nas quais foi
cravo, que se espalhou por toda a América.
importante a persistência de alguns missionários.
SOUZA, Marina de MeUo. África e BrasiL africano. São Pauto:
1...i Atica, 2007. p. 53-56.
Na exploração da costa africana, os portugue-
De acordo com o texto, quais eram os prin-
ses se enraizaram em alguns ]ugares, como as ilhas
cipais objetivos das explorações marítimas?
do Cabo Verde e de São Tomé, criando sociedades
Eles foram alcançados?
onde antes ninguém morava. Nessas ilhas reprodu-
ziram a experiência com o plantio da cana sacarina Relacione o período das Grandes Navegações
e a montagem do engenho de açúcar que já haviam com o início da mundialização da economia.
realizado nas ilhas dos Açores e da Madeira, arqui-
pélagos colonizados por portugueses que para lá Analise, com base no texto, a frase do his-
migraram. Mas, se nessas ilhas a população foi for- toriador Serge Gruzinski: "A aceleração, a
mada por portugueses, nas ilhas africanas a popu- intensificação e a diversificação dos contatos
lação foi constituída basicamente por africanos, de são os traços essenciais da globalização".

158
Uma era de inventos construídas; porém, a de George Stephenson era
superior a todas.
e mudanças Iniciava-se a revolução nos transportes, com
a construção de diversas ferrovias, bem como o
O vapor, como fonte de energia, já era co-
aperfeiçoamento da locomotiva.
nhecido havia muito tempo. Os estudos de vários
teóricos e a necessidade de extrair água das minas
fizeram com que Thomas Newcomen (1663-1729)
desenvolvesse a máquina a vapor, que passou a ser
usada para o esgotamento das minas e mais tarde
para diversas outras atividades.
James Watt (1736-1819), ao consertar uma
máquina de Newcomen, fez uma série de inovações,
simplificando-a e tornando-a mais eficiente. Essa
nova máquina, além de continuar bombeando as
minas, passou a ser utilizada para a fabricação de
papel, em moinhos e na produção de tecidos, entre
outras utilidades.
A origem das estradas de ferro encontra-se nos Locomotiva Rocket. criada por Stephenson e escolhida em competiçto para
vagonetes utilizados nas minas de carvão, desde o ser utilizada na ferrovia Liverpool & Manchester Railway. Gravura de autoria
desconhecida, 1859.
século XVI, onde o minério era transportado em pe-
quenos carros de mão em pranchas paralelas. Mais
tarde, no começo do século XVIII, havia muitos A força do vapor também foi aplicada em
trilhos assentados em minas de carvão e o minério barcos. Em 1807, o barco a vapor de Robert Fulton
era transportado em vagões puxados por cavalos. navegou de Nova York a Albany pelo Rio Hudson.
Nas duas primeiras décadas do século Mais tarde, a utilização de hélices e rodas propul-
XIX, a energia a vapor passou a ser aplicada no soras tornaram os navios a vapor mais seguros e
transporte ferroviário. Várias locomotivas foram mais rápidos.

A grande era das invenções modernas divide- industrial, pode conseguir-se, em pouco tempo,
-se em duas fases distintas. A primeira, entre 1700 um impressionante avanço, se empresários e artí-
e 1850, foi dominada pelo carvão, o ferro e o va- fices habilidosos tiverem a vontade e a capacidade
por, e testemunhou a transição da oficina para a de reconhecer e aplicar novas ideias e invenções
fábrica e da empresa individual para a companhia
úteis. Durante a fase pioneira da industrialização
por ações. A segunda, coincidindo com a apari-
britânica, as principais invenções a chamar a ima-
ção das grandes firmas e monopólios, de 1850
ginação do mundo foram a máquina a vapor, as
em diante, está associada, acima de tudo, com o
aço, a eletricidade, o motor de combustão interna novas máquinas têxteis e os novos processos de
e a síntese de novas substâncias. Ambas as fases fabricação do aço.
demonstram que, embora o avanço em tecnolo- HENDERSON, Wittiam Otto. A Revotução Industrial.
gia não possa por si próprio levar ao progresso São Pauto: Edusp; Lisboa: Verbo, [s.d.]. p. 35.

Aí Glossário
Esgotamento: ato ou efeito de acabar, utilizar um recurso até o fim. No sentido utilizado no texto,
o termo se refere à extração de égua e minérios, não significando necessariamente sua retirada por
completo.

No mundo das fábricas: industrialização e trabalh 159


O setor têxtiL propiciando uma série de melhoramentos na
fiação e tecelagem ao mecanizar o processo.
A produção de algodão nas colônias Em 1765, James Hargreaves (1720-1778)
impulsionou a indústria têxtil inglesa, uma desenvolveu sua máquina de fiar - a Spinning
vez que cabia à Inglaterra beneficiar o algo- Jenny -, com vários fusos, o que aumentou
dão produzido pelas colônias americanas. muito a produção. Com essa fiandeira múl-
Essas relações entre metrópole e colônia, tipla manual, o operário pôde controlar oito
por um lado, fizeram crescer a produção e fusos e, logo depois, 80 ou mais.
importação de tecidos ingleses e, por outro, O comerciante Richard Arkwright
estimularam o desenvolvimento colonial. (1732-1792) inventou, em 1769, uma má-
quina que dava ao fio a torcedura necessá-
A indústria algodoeira foi assim lançada, como um ria, possibilitando seu uso tanto na trama
planador, pelo empuxo do comércio colonial ao qual es- quanto na teia.
tava ligada; um comércio que prometia uma expansão O tear mecânico inventado por Edmund
não apenas grande, mas rápida e sobretudo imprevisível,
Cartwright(1743-1 823), em 1784, apresen-
que encorajou o empresário a adotar as técnicas revo-
tava várias limitações e só passou a ser usado
lucionárias necessárias para lhe fazer face. Entre 1750 e
1769, a exportação britânica de tecidos de algodão au- largamente depois de aperfeiçoamentos no
mentou mais de dez vezes. Assim, a recompensa para o uso da energia hídrica e, consequentemente,
homem que entrou primeiro no mercado com as maio- do vapor no funcionamento das máquinas,
res quantidades de algodão era astronômica e valia os que as tornou mais potentes e possibilitou
riscos da aventura tecnológica.
aumento do volume de produção e o ba-
1-1013S13AWM, Eric. A Era das Revoluções: 1789-1848. rateamento dos produtos finais.
São Paulo: Paz e Terra. 2011. p. 68.
A indústria da tecelagem foi uma das
impulsionadoras da industrialização. Com
No setor têxtil, ocorreram muitas ino- os impérios coloniais, os produtos europeus
vações ao longo do século XVIII, das quais tinham mercado garantido. Foi assim que
podemos destacar as descritas a seguir. a Inglaterra, por exemplo, estabeleceu mo-
Em 1733, John Kay (1704-1780) in- nopólio no comércio em diferentes regiões
ventou a laçadeira volante ou mecânica, da América 1 tina e com a Índia.

'.0
lrileric.i de 011:
tecelagem na
Inglaterra, SéC. Xl
O setor tdxtii
uni dos grandu
beneficiados pela
industrialização.
empregava
largamente a mão
de obra feminina.

160 tufo 6
1. Descreva como as três invenções das imagens abaixo colaboraram para a expansão do capitalismo
e interferiram no cotidiano dos trabalhadores.

Lacadera Spinrrinp Jenny,


inventada por Janres Hargeaves
em 1765.

Maquete representativa do tear


mecânico Jacquwd. riveatado por
Josepir Marie Jacquard em 1801

i_r)r;oo:va es ceia
peio er.percieiro britàuco
George Stephenson, 1814.

No mundo das fábricas: industrialização e trahalh 161


escala e a possibilidade de trabalho ininterrupto
Operário, o novo das máquinas tornavam as jornadas dos operários
trabalhador cada vez mais longas. Assim, eles chegavam a ter
Como vimos, a Revolução Industrial intro- jornadas de até 16 horas.
duziu novos personagens na vida cotidiana: os A maior dificuldade de adequação dos
operários e os burgueses. Os operários eram os operários era a disciplina das fábricas. Todo o
donos da força de trabalho, da mão de obra; tra- tempo era dividido em tarefas predeterminadas,
balhavam nas fábricas em troca de remuneração. assim como o início e o término das atividades
Já os burgueses eram os proprietários das fábricas e os intervalos, além da supervisão constante e
e controlavam o capital por elas produzido. rigorosa de capatazes, que mantinham sob in-
As grandes transformações nas relações de tensa vigilância os trabalhadores e as atividades
trabalho e as diferenças entre as novas classes desempenhadas.
surgidas no período pós-Revolução Industrial cria- Do mesmo modo que os homens e as mu-
ram um panorama de reorganização nas relações lheres, as crianças também faziam todo tipo de
comerciais, na vida urbana e nas relações sociais trabalho. Nas fábricas, eram submetidas ao mesmo
seculares do Período Medieval. regime de trabalho dos adultos. Em alguns setores,
Apesar de as máquinas terem aparentemente a mão de obra infantil era priorizada, por exemplo,
simplificado a forma de realizar o trabalho, elas a maioria do trabalho nas minas era feito por crian-
também aumentaram a quantidade de horas traba- ças, que, por serem pequenas, podiam se deslocar
lhadas,já que a necessidade de produção em larga pelas estreitas galerias subterrâneas.

Em dupla, leia o texto e compare a realidade física de urna criança criada com boas condições de
descrita da época da Revolução Industrial com vida. Mas com essa idade é enviado para a fábrica.
a atual do Brasil. Depois façam o que se pede [ ... j Um industrial escocês perseguiu a cavalo um
a seguir e conversem com os demais colegas operário de 16 anos, que fugira, e trouxe-o de volta
[ ... ] batendo-lhe com um chicote.
sobre as conclusões a que chegaram após
comparar os dois tempos históricos. ENGELS, Fnedrich. A situação da classe trabalhadora na
Inglaterra. São Paulo: Global, 1986. p. 165 e 174.

() resultado inevitável é a alteração da ordem so-


cial que existe, precisamente porque é imposta, ten- Atualmente, no Brasil, pode ocorrera situação
do consequências muito ruins para os operários [ ... ]. descrita no texto relacionada às crianças cujos
Quando uma mulher passa cotidianamente doze ou pais trabalham fora? Justifique sua resposta.
treze horas na fábrica e o homem também trabalha
o que acontece com as crianças? Crescem entre- Hoje, como um casal que trabalha o dia inteiro
gues a si próprias, como a erva daninha [ ... ]. É por fora de casa pode cuidar dos filhos pequenos?
isso que se multiplicam, de maneira alarmante, nos Nesse sentido, há algum amparo aos pais
distritos industriais, os acidentes de que as crianças por parte dos governos atuais? Explique e
são vítimas por estarem abandonadas. [..j As mu- exemplifique.
lheres voltam à fábrica muitas vezes três ou quatro
dias após o parto. [ ... j O filho de um operário, que Elabore uma tabela comparativa destacando
cresceu na miséria, entre as privações e desgraças da as semelhanças e as diferenças entre os acon-
existência, na umidade, no frio e com falta de aga-
tecimentos descritos no texto e a realidade
salhos, aos nove anos está longe de ter a resistência
atual do Brasil.

Capataz: chefe de determinado grupo de tra- Jornada: termo utilizado para designar as horas
b a Eh adores. de um dia de trabalho.

162 /
O tempo do trabalho moldando ao ritmo e à necessidade de produção
das máquinas.
A Revolução Industrial também alterou decisi- A vida nas fábricas também proporcionou uma
vamente as formas de divisão e marcação do tempo. nova maneira de observar e usar o tempo. O tempo
Antes de existirem as fábricas, o tempo das das fábricas era determinado pelo relógio, as horas
pessoas estava relacionado à natureza e era contro- marcadas definiam o tempo que devia ser gasto no
lado pelo Sol e pela sucessão das estações do ano. trabalho, na alimentação e no descanso.
O relógio já existia, mas pouco representava para Foi com o surgimento das fábricas e, conse-
um camponês que acordava com o raiar do sol e quentemente, com a necessidade de controlar o
dormia quando ele se punha. tempo de trabalho dos empregados que se inau-
Mas se antes, no ambiente do campo, o gurou o "tempo do relógio".
"tempo humano" era marcado pelos ritmos con-
-
siderados naturais, depois da Revolução Industrial
tempo passou a ser marcado pelos processos da
máquina. Dessa forma, as pessoas deixaram de
dormir, trabalhar, descansar e se divertir no período
que achassem necessário, e passaram a fazer todas
El
as atividades no tempo predeterminado pela produ-
ção e marcado pelo relógio, sempre pautado pelo
ritmo de trabalho das fábricas.
A tal processo chamamos de "mecanização do
tempo", uma vez que, nas fábricas, o tempo foi se Desde setembro de 2012, o ponto eletrônico biométrico tornou-se
obrigatório para empresas com niais de dez empregados.

O que mudou no século XV, com os descobri- O engenho subiu às alturas das torres, mas lá
mentos? permaneceu encastelado porque pouca gente com-
As transformações foram profundas. Alteram as preendia a divisão do dia em tantas partes iguais.
concepções de tempo e de espaço. Um novo enge- O crescimento das cidades permitiu um uso
nho simboliza muito bem esta passagem: o relógio. urbano do tempo. O comércio, diversamente da
Dividir o espaço que separa um (lia do outro em 24 agricultura, favoreceu a organização de uma vida
partes iguais é um exercício matemático que exige ritmada, marcada pelas horas. No transcorrer do
uma nova forma de percepção da natureza. século XV observamos que, cada vez mais, dois tem-
O espírito da modernidade está muito bem re- pos conviveram paralelamente: o tempo da igreja,
presentado pela criação dessa máquina, que hoje é regido pelo sino, pela oração, dom inseparável do
capaz de tirani2ar a vida de todos nós. De início, ela homem, e o tempo laico, organizado matematica-
despertou muita desconfiança. Ninguém supunha mente pelo relógio, pelos mercadores, passível de
ser necessário obedecer uma máquina em detrimen- expropriação. [ ... J
to da luz, (P1C tão sabiamente dividia o dia e a noite,
verão e o inverno. O relógio, ainda destituído de SILVA, Janice Theodoro da. Descobrimento e colonização.
poder, foi usado como ornamento. Sõo Paulo: Atic, 1989. p. 26 e 28.

Organizando ideias
Considerando as relações de trabalho que Tempo é dinheiro.
se iniciaram com a Revolução Industrial e a
O tempo é precioso.
necessidade de controlar o tempo nas fábricas,
escreva um pequeno texto argumentativo com É preciso ganhar tempo.

base nas expressões seguintes, surgidas depois Apresente exemplos cotidianos para comple-
da industrialização. mentar o texto.

mUIIÍiO das fábricas: industrializacão e trabail 163


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imagem de satélite
do trecho finai da
Avenida Pauhsta.

Circuitos de Lazer
na Avenida Pau Lista Irdh :
São Paulo é uma metrópole constituída
pelo ritmo da indústria. A instalação de
fábricas na cidade foi o principal motor
do acelerado crescimento demográfico
paulistano.
No espaço paulistano há várias marcas
dessas transformações. Na Avenida Pau-
lista, por exemplo, encontramos alguns
poucos exemplos de construções do início
do século XX, quando a região florescia
como local de residência de famílias de
r —.---— / 20fl
C; escraui Eduardo Lqes e Sua barc;: í.» ni(ia Paulista. P. P
cafeicultores. À medida que São Paulo
se industrializou, os casarões cederam Também aumentou a quantidade de artistas se
espaço a torres de escritórios e sedes apresentando ao longo da avenida. O escritor Eduardo
de instituições financeiras e industriais. Lages, por exemplo, divulga sua publicação em banca
Também na Paulista encontramos ati- na calçada.
vidades relacionadas ao chamado tempo
livre. Essas atividades correspondem,
em uma sociedade urbano-industrial, a para urna população cujo cotidiano não se caracteriza exata-
possibilidades de repor a energia despen- mente pelo gozo pleno dos direitos de cidadania."
dida no trabalho. Elas são, no entanto,
MAGNANI, José Guilherme Cantor. Quando o campo é a cidade.
muito mais do que isso, tratando-se de: o: MAGNANI, José Guiiherme Cantor, TORRES, Lilian de
Lucca lOrg.). Na metrópole: textos de antropologia urbana. 3. ed.
"[... antigas e novas formas de entreteni- São Paulo: Edusp. 2008. p. 31 -32.

mento e encontro, de estabelecer, revigorar e


exercitar aquelas regras de reconhecimento e AAvenida Paulista concentra alguns serviços de lazer
lea'dade que garantem a rede básica de socia- especializados da metrópole, como cinema, literatura
bilidade. O que não é de pouca importância e esportes. Parte dos cinemas de rua estão na região,

164

'•:::.

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4 1!.
...• s

Casaran antigo na Avenida Paulista Sao Paulo (SP) 2015 Movimentaçao na Avenida Paulista quando esta fechada para veículos e
aborta o- n rdestroa aos dom:ncros São Paulo SN 2015
O Palacete Franco de Melio foi construído em
Em 2015, a inauguração de pista exclusiva para
1905 para ser a residência paulistana de uma fa-
mília de cafeicultores de Lavínia (SP). Esse imóvel bicicletas, patins e skates, assim como a abertu-
é tombado por instituição estadual de protecão ra da avenida aos domingos para pedestres, fez
ao patrimônio histórico, mas sofre com a falta de crescer o número de pessoas que buscam na
manutenção. Paulista lugares para praticar esporte.

oferecendo uma seleção de filmes com menor 1. O tempo livre é uma conquista dos trabalhado-
capacidade de atração de grandes multidões, que res: trabalhar menos horas e ter o descanso
frequentam, em geral, os cinemas dos shopping remunerado são direitos sociais. O descanso
centers. também interessa aos empregadores, pois o
Na Paulista, o fluxo de pessoas ligadas aos repouso é necessário para o melhor desempe-
serviços de lazer é muito mais numeroso aos nho dos trabalhadores nas empresas. Nesse
domingos, quando boa parte dos trabalhadores sentido, a formação de um setor de serviços
pode descansar. No entanto, o lazertambém for- relacionado ao uso do tempo livre, contando,
ma um segmento econômico bastante lucrativo, inclusive, com um elevado número de empre-
que está integrado ao variado setor de serviços gados, também pode ser entendido como uma
da metrópole. contradição? Justifique sua resposta.

No mundo rtns icibricas: industrialização e trabalho 165


E. Transformações no mundo do trabaLho
A Revolução Industrial modificou também a cada operário ficaria responsável por uma única e
noção de trabalho e nossa relação com ele, uma repetitiva tarefa. Taylor também sugeriu que fosse
vez que o ritmo de trabalho fabril, pautado na estabelecida uma meta de produção e que houvesse
produção das máquinas, promoveu o que podemos a premiação aos trabalhadores que superassem a
chamar de "automatização do trabalho humano". meta determinada.
Nos processos de trabalho que envolviam a mo-
dificação de diferentes matérias-primas, a força Os principais distúrbios começaram em
humana foi substituída pela força da máquina Nottingham, em março de 1811. Uma grande
movida a vapor, que posteriormente passou a ser manifestação de malharistas, "gritando por tra-
movida a eletricidade. balho e um preço mais liberal", foi dissolvida
O uso das máquinas modificou também o pelo Exército. Naquela noite, sessenta armações
contato dos trabalhadores com os produtos feitos de malha foram destruidas na grande vila de Ar-
nold por amotinados que não tomaram nenhu-
por eles. Assim, se antes um artesão participava de
ma precaução em se disfarçar e foram aplaudidos
todas as etapas da confecção de uma peça, com o
pela multidão. Por várias semanas os distúrbios
surgimento das máquinas e fábricas, ele passou a ter continuaram, principalmente à noite { ... ].
contato apenas com determinadas fases do processo
THOMPSON. E. P. A formação da classe operária inglesa:
de beneficiamento dos produtos. O objetivo desse
a força dos trabalhadores. v. 3.
processo era intensificar cada vez mais a quantidade Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997. p. 125.
produzida, o que tornava o trabalho repetitivo e
isolava o trabalhador em atividades únicas e prees-
Essa mudança foi rapidamente incorporada
tabelecidas. Além disso, aumentava gradativamente
por várias empresas norte-americanas, incluindo
as jornadas de trabalho dos operários.
a fábrica de automóveis de Henry Ford (1863-
Contra essas modificações, operários ingleses
1947), em Detroit.
reagiram realizando diferentes manifestações e
organizando associações para discutir e lutar para
mudar essa situação. Os trabalhadores descobri-
ram que, unidos em prol de objetivos comuns,
compunham uma força que poderia ser capaz de
modificar as estruturas.
Na segunda fase da Revolução Industrial, depois
de 1850, surgiram novas fontes de energia, como a
eletricidade e o petróleo, que modificaram significa-
tivamente as relações de trabalho e produção.
Entre o final do século XIX e o início do
século XX, o sistema fabril, em amplo desenvol-
vimento, tinha a seguinte meta: racionalizar e
controlar melhor o tempo dos operários e, com
isso, garantir maior produtividade e, ao mesmo
tempo, eliminar desperdícios e reduzir custos de
produção para aumentar os lucros. Mas como
fazer tudo isso funcionar?
Nesse contexto, foram difundidas as ideias de
um engenheiro norte-americano chamado Frederick
WinslowTaylor (1856-1915). Ele estudou cuidado-
samente todos os aspectos relacionados aos traba- L :aa c montagem c:. :!:. m Wilys Uvera:id co Btas. São bemado do
lhadores e propôs uma divisão do trabalho na qual Campo (SP), 1960

166
Henry Ford foi um dos primeiros Para Ford, a fábrica ideal para que
industriais a adotar o taylorismo e a in- esse sistema funcionasse deveria ser grande
troduzir em sua fábrica a linha de mon- e centralizada. Nela deveriam ser produ-
tagem. Nesse processo, os veículos eram zidos todos os componentes necessários
colocados em uma esteira rolante que se para a montagem do produto. Os fun-
deslocava entre os trabalhadores, possibi- cionários deveriam ser bem remunerados,
litando a cada um realizar parte do todo para que pudessem produzir mais e ter pos-
da produção. Assim começou o modelo de sibilidade de comprar o que produziam.
produção fordista, que se expandiu pelo Ao colocar suas ideias em execução,
mundo e dominou as grandes indústrias Ford conseguiu tornar o automóvel símbo-
até a década de 1970. lo da indústria ocidental.

De acordo com o texto apresentado sobre a dentemente um cio outro, e sem que nenhum deles
divisão do trabalho na fabricação de alfinetes, tivesse sido treinado para esse ramo de atividade,
responda às questões. certamente cada um deles não teria conseguido fa-
bricar 20 alfinetes por dia [.1.
Um operario desenrola o arame, um outro o en-
SMITH. Adam. A riqueza das nações.
direita, um terceiro o corta, um quarto faz as pontas,
São Paulo: Nova Cultural. 1996. p. 66.
um quinto o afia nas pontas para a colocação da ca-
beça do alfinete; para fazer uma cabeça de alfinete
requerem-se 3 ou 4 operações diferentes; montar a
ai Qual característica do capitalismo está

cabeça já é uma atividade diferente, e alvejar os al- citada no texto?


finetes é outra; a própria embalagem dos alfinetes
b) A que conclusão Adam Smith chegou ao
também constitui uma atividade independente. As-
sim, a importante atividade de fabricar um alfinete analisar a fabricação dos alfinetes?
está dividida em aproximadamente 18 operações
distintas { ... J. cl Adam Smith publicou esse livro em 1776.
Por conseguinte, essas 10 pessoas conseguiram Podemos relacionar a divisão de trabalho
produzir entre elas mais do que 48 mil alfinetes por no processo de fabricação de alfinetes com
dia. ..j Se, porém, tivessem trabalhado indepen- a fábrica de Henry Ford? Explique.

Analise o cartum e responda às perguntas.

VOU ,YÇ ,APOST,R AMAN4 G 5A9G O VOU P2R


- ,. 40,AR O PI!I 171A Llt'4RA 2
l7 SCO&RlR O $TOU
P2P42O lÁ 30 iOS!

[o1
o1
oT1p o

ai Qual é a crítica que o cartunista faz ao taylorismo? Justifique sua resposta.

bi O cartum Trank e Ernest' começou a ser publicado em 1972 e continua até os dias atuais.
A tirinha acima foi publicada no JornaL do BrasiL, em 19 de janeiro de 1997. Em sua opinião,
na década de 19900 taylorismo ainda era um tema polêmico a ponto de ser alvo de críticas
em um jornal? Justifique sua resposta.

No mundo das fábricas: industrializacão e trah 167


Do fordismo ao toyotismo
O modelo produtivo fordista começou a perder força na década de 1970 e, mais
ainda, na década de 1980, diante da revolução tecnológica da microetetrônica. Com
a robótica e a consequente automação industrial, aliada à crise de capital financeiro
norte-americano e europeu, criou-se um panorama favorável ao modelo japonês aplica-
do na fábrica Toyota.
Esse modelo, conhecido como toyotismo, previa uma produção em menor escala,
com estoques mínimos e menos padronizada, visando à fabricação de produtos mais
personalizados e com mercado garantido. Diminuiu a divisão entre trabalho intelectual e
manual, fazendo com que o trabalhador fosse qualificado para desempenhar diferentes
tarefas no processo produtivo, tornando-se multifuncional.

K.
Microetetrônica: ramo da eletrônica que trata da criação, desenvolvimento e fabricação de componentes
e circuitos eletrônicos miniaturizados.
Robótica: ramo educacional e tecnológico que trabalha com sistemas mecânicos controlados por
circuitos integrados, tornando-os motorizados. Ela engloba o estudo e desenvolvimento de computa-
dores e robôs.

168 ;apítutoó
Atualmente, com as recentes descobertas e modifica-
ções tecnológicas, vivemos uma nova etapa de produção, in-
timamente ligada à tecnologia e à informação.
De acordo com o conteúdo estu-
O fluxo de capitais e mercadorias é mais dinâmico e
dado, responda às questões.
acelerado, e os processos de produção tornaram-se cada vez
mais globais, com etapas às vezes realizadas em diferentes Em que o toyotismo difere do
partes do mundo. A tecnologia de telecomunicações possi- fordismo?
bilita a troca de informações cada vez mais rápida, o mesmo
O que promoveu a mudança de
acontece com as transações econômicas, que não necessitam
um tipo de produção para outro?
de deslocamento para serem realizadas. O transporte, etapa
importante do processo industrial, também foi dinamizado e
modernizado, com a tecnologia atrelada ao aparato logístico
e a uma infraestrutura que abrange portos, aeroportos e ro-
dovias, fazendo com que o escoamento da mercadoria seja
cada vez mais rápido e integrado. Por causa dessas modifica-
ções, é possível, por exemplo, que um produto tenha peças de
diferentes partes do globo e seja montado no Brasil.

;. :7 ' :/ÃJ.-.-- ri
-
'':' -- •.
k
v-

eni lnha cc mofltagem. Onnaing. França. 2015.

Pausa para investigação

Um dos problemas constantes, principal- brasileiros referentes aos aspectos a seguir.


mente nos períodos de crise econômica, é o Motivo da perda do emprego: automação na
empresa; falta de qualificaÇão técnica; fecha-
desemprego. Existe relação entre os modelos
mento da empresa; crise econômica; outros
de produção e o desemprego? Para responder a
fatores.
essa questão, forme uma dupla com um colega Tipo de empresa em que trabalhava e a que mo-
e, juntos, busquem notícias de jornal e dados delo produtivo estava sujeito.
estatísticos sobre o desemprego. Com esses Apresentem os resultados das entrevistas
dados, analisem a situação dos desempregados em sala de aula.

No mundo das tábricas: industriatizacão e trai. . 169


[.11 DII.]ii1!iiTiII'
E
Consumimos diariamente diversos produtos industríali-
zados. Alguma vez você já pensou em quem os inventou? De
onde surgiram as calças jeans, os computadores e tantos
Outros produtos consumidos diariamente por milhares de
pessoas em todo o mundo?
Vamos conhecer alguns desses inventos revolucionários.

Comida enlatada: o ser humano tem buscado, ao longo


do tempo, novas formas de melhorar a conservação dos ali-
mentos. A iniciativa que deu mais certo foi a invenção da
comida enlatada, idealizada na França, em 1809, com o intui-
to de conservar alimento para as frentes de batalha na época
do governo de Napoleão Bonaparte. A técnica se difundiu
pelo mundo e continua sendo utilizada até hoje, facilitando o
dia a dia da sociedade tecnológica.

Cal ças jeans: Levi Strauss (1830-1 902), nascido na Ale-


manha, mudou-se para Nova York aos 16 anos. Era vende-
dor de roupas até 1853, quando mudou-se para a Califórnia
com intenção de aproveitar a febre do ouro na região. Co-
meçou vendendo tecidos grossos de algodão para cobertura
de tendas e vagões. Percebeu que os mineiros precisavam de
calças mais duráveis para trabalhar e contratou um alfaia-
te para produzir roupas com o tecido de algodão de trama
grossa. Com o tempo, passou a tingir as calças com índigo e
patenteou seu "invento".

Computador: os primeiros computadores começaram


a ser elaborados depois da Segunda Guerra Mundial e eram,
basicamente, grandes máquinas capazes de fazer cálculos
imensos em poucos segundos.Já os computadores pessoais,
como os que possuímos em casa, surgiram na década de
1970 e foram popularizados pela dupla SteveJobs (1955-
2011) e Steve Wozniak (1950- ), fundadores de uma em-
presa que modiflcou os rumos da informática ao produzir
computadores com teclados integrados, capazes de gerar
gráficos coloridos e fazer todo tipo de cálculos. Aos poucos,
o conceito de computador pessoal se expandiu e outras em-
presas investiram nesse setor, que hoje é um dos mais lucra-
tivos do mercado.

P' 1,nw0 conputaco pessoa! pwduzdo


e! empresa de Johs e Woziiak em 1984.

170 luiu6
1. A industrialização e as novas tecnologias que jamais pus na boca, nesta vida.
trouxeram mudanças para o mundo do con- Em minha camiseta, a marca de cigarro
sumo. Antigas invenções são constantemente
que não fumo, até hoje não fumei.
Minhas meias falam de produtos
renovadas, criando novas necessidades. Sobre que nunca experimentei,
essa questão, leia o texto a seguir, converse mas são comunicados a meus pés.
com um colega e depois faça o que se pede. Meu tênis é proclama colorido
de alguma coisa não provada
[ ... j É difícil pensar um aspecto de vida urbana por este provador de longa idade.
hoje que não seja, de alguma forma, investido pela Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,
indústria. A indústria está nos milhares de objetos minha gravata e cinto e escova e pente,
que existem à nossa volta, na velocidade dos carros meu copo, minha xícara,
e aviões, na rapidez que as estradas avançam distri-
minha toalha de banho e sabonete,
buindo produtos por todo o mundo. meu isso, meu aquilo,
A indústria também está na raiz da escravidão do desde a cabeça ao bico dos sapatos,
fOSSO tempo - nossos dias, semanas, meses, tomados
são mensagens,
pela noção de tempo útil e produtivo. Nas grandes letras falantes,
metrópoles industriais de hoje não há tempo para o gritos visuais,
ócio e para o devaneio. ordens de uso, abuso, reincidências.
É também manifestação da indústria a homogenei- costume, hábito, premência,
.ação de nossa sociedade - somos uma multidão usando indispensabilidade,
jeans, tênis e T-shi ris e em nossas casas não falta a TV.
e fazem de mim homem-anúncio itinerante,
ROLNIK, Raquel. O que é cidade. São Paulo escravo da matéria anunciada.
Brasiliense, 1995. p. 71-72 Estou, estou na moda.
ai Explique o que você entende por homo- É doce estar na moda,
ainda que a moda
geneização da sociedade.
seja negar minha identidade,
bi Relacione indústria, consumismo e homo- trocá-la por mil, açambarcando
todas as marcas registradas,
geneização da sociedade.
todos os logotipos do mercado.
cl Com otempo, algumas marcas tornaram- Com que inocência demito-me de ser
-se tão fortes no mercado que se trans- eu que antes era e me sabia
tão diverso de outros, tão mim mesmo,
formaram em sinônimos do produto que ser pensante sentinte e solitário
fabricam. Por exemplo, ao comprar lâmina com outros seres diversos e conscientes
de barbear, muitas pessoas pedem gilete. de sua humana, invencível condição.
Entretanto, gilete é o nome da lâmina de Agora sou anúncio,
barbear inventada por King Camp Gillette.
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
De forma semelhante, muitas outras mar- de ser não eu, mas artigo industrial,
cas nomearam o produto. Cite outros casos peço que meu nome retifiquem.
e levante hipóteses que procurem explicar Já não me convém o título de homem.
por que isso acontece. Meu nome novo é coisa.
Eu sou a coisa, coisainente.
2 Junte-se a alguns colegas e forme um peque- ANDRADE. Carlos Drummond de. Eu, etiqueta. In: Corpo.
São Paulo: Companhia das Letras. 2015. Graa
no grupo. Em seguida, leiam juntos o poema
Drummond WMN.carlosdrummond.com.br.
e façam o que se pede.
a) Qual tema é tratado no poema?
Eu, etiqueta bi O que leva o narrador do poema a abdicar
Em minha calça está grudado um nome de seu nome e mesmo do título de homem?
que não é meu de batismo ou de cartório, Discutam como isso está relacionado aos
um nome... estranho. efeitos da industrialização iniciada na In-
Meu blusão traz lembrete de bebida glaterra no século XIX.

171
~M Debate interdiscipLinar
Fo es de energ*ia
A energia é essencial para a vida e para o crescimento econômico do país. Por meio dela, obtemos luz e calor.
A maior parte da energia que utilizamos vem dos combustíveis fósseis, como petróleo, carvão e gás natural.
Esses recursos naturais levaram milhões de anos para se formar e podem se esgotar; por essa razão, cada vez
um número maior de países investe em tecnologias que utilizam a energia limpa e renovável adquirida do Sol,
do vento, da água e até mesmo do interior da Terra.

E a produção de energia elétrica


por meio da reação nuclear, feita
de forma controlada. E comum
discutir se essa tecnologia
deve ou não ser utilizada e
como utilizá-la, pois seus
resíduos são altamente
contaminantes.
H

Os combustíveis fósseis
- carvão, gás natural e
petróleo são o resultado da
-

sedimentação de plantas e animais


que viveram há milhões de anos
e permaneceram depositados no
fundo dos estuários e pântanos.
Os fósseis são a principal fonte de
energia das sociedades industriais.
Sua combustão libera na atmosfera
a maioria dos gases que provocam a
chuva ácida e o efeito estufa.

É gerada por turbinas ou rodas O Sol fornece para a Terra


motrizes em uma grande altura. grande quantidade de
Sua principal desvantagem é que energia e parte dela pode
a construção de reservatórios, ser usada para aquecer as
canais e barragens modifica o moradias e para produzir
ecossistema. eletricidade.

172
É a transformação da energia naturalmente produzida É a energia elétrica obtida por meio dos
pelo vento em energia útil. A energia eólica se forma com movimentos das marés. Para isso utilizam-se
a radiação solar em áreas de alta e de baixa pressão, os desníveis do solo abaixo da água e
provocando grandes deslocamentos de correntes de ar. instalam-se barragens e geradores. A água é
A força do vento é um dos recursos mais promissores represada durante o período de maré alta num
para a obtenção de energia, pois é renovável e de baixo reservatório instalado no oceano e, no período
impacto ambiental. de maré baixa, é liberada para movimentar as
Á turbinas.

É obtida do calor que há entre a crosta terrestre


e o manto superior da Terra. Para isso, é feita a
perfuração do solo onde há grande quantidade
de vapor e água quente, depois ambos são
drenados até a superfície da Terra. Então, o
vapor é transportado para uma central elétrica
geotérmica, onde a energia da água e do vapor
será transformada em energia elétrica por um
gerador.

1%. ••• ,'


A utilização do hidrogênio como fonte de
energia é muito promissora, mas o processo de
produção ainda nào foi plenamente dominado.
A energia do hidrogênio é obtida por meio da
combinação entre hidrogênio e oxigênio. Essa
junção produz exclusivamente vapor de água e
Ik libera energia, que é convertida em eletricidade.
Contudo, quando o hidrogênio é queimado com
ar, que tem em sua constituição cerca de 68%
¼. de nitrogênio, alguns áxidos de nitrogênio são
A formados, ou seja, passa a existir uma pequena
quantidade de poluição. Ainda assim, a queima
de hidrogênio produz menos poluentes para a
atmosfera do que os combustíveis fósseis.

Os biocombustíveis mais utilizados são etanol


e biodiesel, obtídos das culturas agrícolas, por
exemplo, sementes oleaginosas, cana-de-
-açúcar ou cereais. Espera-se que futuramente
seja possível substituir a totalidade ou grande
parte da gasolina ou diesel por biocombustível.

Pesquise qual é a principal fonte de energia


utilizada na sua cidade.
Energia proveniente de recursos biológicos,
como madeira, resíduos agrícolas e esterco.
Pesquise na internet ou na biblioteca da escola as
O gás metano produzido durante o processo
principais vantagens do uso da biodigestão. biodigestor pode ser utilizado para cozinhar ou
para gerar eletricidade.

173
Testando seus conhecimentos Responda no caderno

1. (UFF-RJ) Para que o conhecimento tecno- poderosa com que trabalhava. Umas tantas cente-
lógico tivesse o êxito de hoje foi preciso que nas de operários na fábrica, umas tantas centenas
ocorressem, no tempo, alterações radicais de cavalos-vapor de energia. Sabe-se até ao mais
que abriram caminho para a introdução de pequeno pormenor aquilo que a máquina é capaz
novas relações de mercado e novas formas de fazer.
de transportes. Não existe qualquer mistério na máquina,
porém, no mais mesquinho dentre esses homens
Assinale a alternativa que melhor identifica existe um mistério jamais decifrado. O dia clareou e
momento inicial da Revolução Industrial: mostrou-se lá fora, apesar das luzes brillantes do in-
a utilização da máquina a vapor, que terior. As luzes apagaram-se e o trabalho continuou.
propiciou o desenvolvimento das fer- Lá fora, nos vastos pátios, os tubos de escapamento
rovias, integrando áreas de produção do vapor, os montes de barris e ferro-velho, os
aos mercados, aumentando o consumo montículos de carvão ainda acesos, cinzas, por toda
e gerando lucros; parte, amortalhavam o véu da chuva e do nevoeiro.
O trabalho continuou até a sineta tocar o meio-
a revolução política de 1688, que ga-
-dia. Mais barulho de sapatos nas calçadas. Os tea-
rantiu a vitória dos interesses dos
res, as rodas e as mãos paravam durante urna hora.
proprietários agrícolas em aliança com
Stephen saiu do calor da fábrica para o frio e a umi-
os trabalhadores urbanos que contro- dade da rua molhada. Vinha cansado e macilento.
lavam as manufaturas; Dando as costas ao seu bairro e aos companheiros,
os cercamentos, que modificaram as levando apenas um naco de pão, dirigiu-se à colina,
relações sociais no campo, gerando onde residia o seu patrão numa casa vermelha com
novas formas de organização da pro- persianas pretas, cortinas verdes, porta de entrada
dução rural e mantendo os vínculos negra, onde se lia Bounderby, numa chapa de cobre.
tradicionais de servidão; Charles Dickens. Tempos difíceis.
o desenvolvimento da energia eólica, So Paulo: Clube do Livro, 1969.
produzindo um crescimento industrial
que manteve as cidades afastadas do Identifique o contexto histórico descrito
fantasma das doenças provocadas pelo no texto.
uso do carvão; A partir da interpretação do texto, es-
a máquina a vapor, que promoveu o creva sobre os aspectos econômicos e
desenvolvimento de novas formas de sociais do contexto histórico citado.
organização da produção agrícola e 3. (UFRN) Refletindo sobre os resultados da
levou ao crescimento dos transportes Revolução Industrial inglesa do século XVIII,
marítimos na Europa Ocidental, atra- historiador Eric Hobsbawm escreveu:
vés de investimentos estatais.
Saber se a Revolução Industrial deu à maioria
2. (UFSCar-SP) Os palácios de fada eram um dos britânicos mais ou melhor alimentação, 'es-
incêndio de luzes, antes que a pálida madrugada tuário e habitação, em termos absolutos ou rela-
deixasse ver as monstruosas serpentes de fumo tivos, interessa, naturalmente, a todo [estudioso].
espraiando-se sobre Coketown. Um barulho Entretanto, ele terá deixado de apreender o que a
de sapatos pesados na calçada, um tilintar de Revolução Industrial teve de essencial, se esquecer
sinetas e todos os elefantes melancolicarnente que ela não representou um simples processo de
loucos, polidos e oleados para a rotina diária, adição ou subtração, mas sim uma mudança social
recomeçavam a sua tarefa. Stephen, atento e fu nclamental.
calmo, debruçava-se sobre o seu tear, formando
HOBSBAWM, Eric. Da Revolução Industrial
como os outros homens perdidos naquela flo- inglesa ao imperiaLismo. Rio de Janeiro:
resta de máquinas um contraste com a máquina Editora Forense-Universitária, 1983. p. 74.

174
Responda no caderno

A mudança referida resultou na: 4. (Enem)


crescente formação de sindicatos de
orientação socialista, fundamentados
nas aspirações políticas e sociais da
classe média inglesa.
ruína dos grandes proprietários de ter-
ras, a partir do deslocamento do eixo
econômico, do campo para a produção lEVES. E. Engraxate. Dispe:uvei &nl: h1ip:/sv''.qrafar.
fabril de natureza urbana. blogspot.com.Acessci em: 15 1ev. 2013.

melhoria da ordem social existente, em Considerando-se a dinâmica entre tecnolo-


virtude da significativa remuneração do gia e organização do trabalho, a represen-
trabalho feminino em relação à remu- tação contida no cartum é caracterizada pelo
neração do homem adulto. pessimismo em relação à
a) ideia de progresso.
dl nova condição do proletariado, destituí-
bi concentração do capital.
do de qualquer fonte de renda digna de
cl noção de sustentabilidade.
menção além do salário em dinheiro
dl organização dos sindicatos.
que recebe por seu trabalho.
e) obsolescência dos equipamentos.

uma forma de parar o envelhecimento humano aos


25 anos. No entanto, é preciso pagar pelo tempo
(ía você Ler
extra ou então morrer em um ano. Um homem,
acusado injustamente de homicídio, precisa com-
Revolução Industrial, de Francisco M. P. Teixeira.
prar tempo para provar sua inocência.
São Paulo: Atica, 2004. Os personagens princi-
pais, o advogado Anthony Sim pson e o repórter
Gregore Chamber, apresentam de forma didática
rpara você navegar
as décadas de 1830 e 1840, fundamentais para a
Revolução Industrial e a consolidação do capita- Museu da Indústria. Disponível em: <www.
(ismo na Europa. museudaindustria.org>. Acesso em: 1ev. 2016. O
objetivo do silo é estudar, conservar e divulgar o
patrimônio arqueológico-industrial da cidade do
rara você assistir Porto, em Portugal, desde o início do processo
de industrialização até os dias de hoje. E possível
Tempos modernos, direção de Charles Chaplin. navegar pelo acervo e pelas exposições do museu.
EUA, 1936, 87 mm. Um operário é levado à loucura
Museu das Invenções. Disponível em: <www.
por sua rotina de trabalho frenética e, então, envia-
museudasinvencoes.com.br>. Acesso em: 1ev.
do a um sanatório onde se cura da crise nervosa.
2016. Por meio de sua coleção de objetos, que
Entretanto, perde o emprego e se depara com uma
alia utilidade e praticidade no dia a dia aos
sociedade em crise, operá rios em protesto, agitações
fundamentos científicos, o sito pretende mostrar o
comunistas, desemprego e pobreza.
quanto a ciência pode ser divertida. Pode-se fazer
O preço do amanhã, direção de Andrew Niccol. um tour virtual pelo museu, acessar o calendário
EUÂ, 2011, 109 mm. Em um futuro cuja moeda de eventos, ler depoimentos de quem o visitou e
mais preciosa é o tempo, cientistas encontram as curiosidades sobre o mundo das invenções.

No i:oí;du :ícos, fl S'LZ.O e 175


Área
Andirá (PR),2014.

Com a Revolução Industrial, as cidades antigas marcaram o processo de construção


desenvolveram-se de modo acelerado, o de grandes civilizações, mas tinham carac-
que provocou mudanças na vida e na organi- terísticas diferentes das cidades industriais.
zação da população, gerando o fenômeno de A formação e o crescimento das cida-
urbanização. Isso não quer dizer que não ha- des, um fenômeno econômico e social ligado
via cidades antes desse período. As cidades aos processos de industrialização, foram
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acontecimentos novos e marcantes na his- provoca nos espaços e nas relações sociais
tória humana. da população, tendo como foco o desen-
Neste capítulo, analisaremos a influên- volvimento econômico e social gerado pela
cia da industriaEizaço no desenvolvimen- mecanização da produção e pelo desenvol-
to urbano e as inúmeras mudanças que ela vimento dos centros urbanos já existentes.
£ As cidades crescem

fau Jsco. nmis (AM'. 20' 1

Com a industrialização, grande parte Dessa forma, a população urbana cresceu


da população mundial passou a conviver rapidamente na Europa durante os séculos
em grandes cidades, espaços altamente XVIII e, principalmente, XIX.
urbanizados, modernização dos meios de Desde esse período, as cidades pas-
transporte, áreas com grande concentra- saram a ser locais de concentração de
ção de fábricas ou comércio, poluição e pessoas, principalmente vindas do campo.
especialização de mão de obra. Essa aglomeração mudou as relações so-
Esses fenômenos, porém, são relativa- ciais e exigiu adaptações estruturais para
mente recentes na história da humanida- atender à nova população. Assim, a in-
de, pois surgiram no decorrer do século dustrialização mudou o perfil das cidades
XVIII. Antes disso, quase toda a popula- em todos os aspectos, do econômico ao
ção mundial vivia no campo executan- arquitetônico, passando também pelas re-
do trabalhos e tarefas relacionados ao lações sociais.
espaço rural. As poucas cidades que havia A maioria das pessoas de classes mais
eram espaços em que predominavam a pobres passou a trabalhar nas fábricas e a
produção artesanal e o comércio. se aglomerar em moradias nas áreas indus-
No século XIV, período de crise do trializadas, movimento que, aos poucos,
feudalismo na Europa, em razão dos ar- fez inchar os centros urbanos e gerou dis-
rendamentos e cercamentos das terras, os cussões a respeito do aproveitamento do
camponeses buscaram moradia e trabalho espaço e da circulação nas cidades.
nos centros urbanos. Esse processo foi de- Um exemplo foi a reforma de Paris,
terminante para a concentração da pro- promovida pelo Estado e realizada sob o
priedade nas mãos de alguns e gerou um comando do barão Haussmann, então
excedente de pessoas sem trabalho, que re- prefeito da cidade. Diante do novo cenário
sultou em mão de obra barata e abundan- urbano, a reforma visava acabar com as
te, interessante à indústria em expansão. moradias operárias localizadas no centro

178 .rJ:ui i
para que fossem construídos grandes bu- Por promover mudanças tão pro-
Levares, que ao mesmo tempo retirariam fundas e importantes na organização das
a população mais pobre de circulação no sociedades, podemos afirmar que a era
centro e instaurariam um novo momento da industrialização foi um período de re-
na vida pública, relacionado à circulação volução. A Revolução Industrial iniciou um
de pessoas - das classes mais abastadas -, processo de transformações estruturais,
que passaram a ter melhor acesso ao co- não só na produção de mercadorias como
mércio, inaugurando uma área que ser- também na organização e no funciona-
viria de símbolo e modelo para o espaço mento dos centros urbanos e nas relações
público na modernidade. sociais e políticas entre os cidadãos.

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A
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Map. J i:p:uiu (;u.-; Ls de Paris elaborado pelo barao Georges Hauss:u,no, 1 uih4.

[ ... ] Primeiro foram os enormes engenhos de numa escala jamais conhecida. A Grosstadt, gran-
ferro e madeira impulsionados pelo vapor. Hoje são de cidade, aglomeração urbana de centenas de mi-
as máquinas de aço comandadas por programas de lhares, de milhões de habitantes é produto desse
computador. Embora a cidade das chaminés e do processo. [ ... ] Urbanização cio planeta significa que,
apito das fábricas seja diferente da cidade automa- mesmo não estando dentro de uma cidade, somos
tizada, a presença da indústria é um elemento es- atingidos por seus projéteis. Isso se dá sobretudo em
sencial de ambas. O que aconteceu com as cidades função de uma revolução nos transportes - e hoje
quando passaram a abrigar as grandes indústrias foi, nas comunicações - decorrente da introdução da
sem dúvida, uma revolução que alterou decidida- máquina no processo de circulação de bens, merca-
mente o caráter e a natureza da aglomeração urbana. dorias e informações. [ ... ]
Antes de mais nada, com a industrialização da ROLNIK, Raquel. O que é cidade. São Paulo:
produção assistimos a um processo de urbanização Brasiliense, 1995. p. 72-73.

A ossarc
BuLevar: via de trânsito larga, geralmente arborizada, planejada com intenções paisagísticas.

tndustrializaçGo e urbanic 179


Leia os textos a seguir e depois faça o que Texto 2
se pede.
[... 1 A cidade era sem dúvida o mais impressio-
Texto 1 nante símbolo exterior do mundo industrial, ex-
ceção feita à estrada de ferro. A urbanização cresceu
1...] A indústria mudou-se para as áreas das minas
rapidamente depois de 1850. Na primeira metade
de carvão, e quase que da noite para o da lugares sem
do século, somente a Inglaterra tinha tido uma taxa
importância se tornaram cidades, e antigas vilas pas-
anual de urbanização superior a 0,20 pontos [ ... j,
saram a cidades. Em 1770 a população rural da Ingla-
embora a Bélgica praticamente atingisse aquele
terra era de 40%; em 1841 caíra para 26%. Os números
nível. Mas entre 1850 e 1890 até a Austro-Hungria,
relativos ao crescimento das cidades revelam a história:
Noruega e a Irlanda urbanizavam-se àquela taxa
[ ... ]. Dizer que a concentração de pessoas em cida-
des era "o mais impressionante fenômeno social
Manchester 35 000 353 000 do atual século" era dizer o óbvio. Para os nossos
padrões ainda era modesta - pelo final do século
Leeds 53000 152000 pouco mais de uma dúzia de países havia atingido a
Birmingham 23000
taxa de concentração urbana da Inglaterra e do País
181 000
de Gales em 1801. Porém todos (exceto Escócia e
Sheftield 66000 111 000 Holanda) já haviam atingido esse nível em 1850.
HOBSBAWM, Eric. A Era do Capital: 1848-1875. Sào Paulo:
Paz e Terra, 2007. p. 293.
[...] Nassau Senior, economista de renome, pas-
sou por Manchester em 1837, e assim descreveu o Relacione a industrialização com o cresci-
que viu: "Essas cidades, pois pela extensão e pelo nú- mento das cidades no século XIX.
mero de habitantes são cidades, foram construídas sem
qualquer consideração pelo que não fosse a vantagem De acordo com o texto 1, quais eram as con-
imediata do construtor especulador... Num lugar en- dições ambientais e de saúde nas cidades
contramos toda uma rua seguindo o curso de um ca- naquele período? Qual era a causa dessa
nal, porque dessa forma era possível conseguir porões situação?
mais profundos, sem o custo de escavações, porões
destinados não ao annazenamento de mercadorias ou Explique a afirmação do texto 2: 'Dizer que
de lixo, mas a residências de seres humanos. Nenhuma a concentração de pessoas em cidades era
das casas dessa rua esteve isenta de cólera. Em geral, o mais impressionante fenômeno social do
as ruas desses subúrbios não têm pavimentação, e pelo atual século' era dizer o óbvio.
meio corre uma vala ou há um os fundos
das casas quase se encontram, não há ventilação nem Quais são os fatores que impulsionam o cres-
esgotos, e famílias inteiras moram num canto de porão cimento das cidades atualmente? Busque
OU numa informações e as compare com a situação
HUBERMAN. Leo. História da riqueza do homem. descrita nos textos. Apresente o resultado
Rio de Janeiro: LTC, 2010. p. 166. aos colegas.

Água-furtada: é a calha dos telhados, mas pode definir também o espaço entre o forro e o telhado,
conhecido como sótão.
Monturo: amontoado de lixo ou esterco.

180
Mudanças na vida urbana
A industrialização e o consequente aumento
populacional causaram grandes mudanças na vida entre si, sendo que um deles, naturalmente, era
a cozinha. Em 1894, 20% da população de Saint-
urbana. As condições sanitárias das cidades euro-
-Etienne, 19% da de Nantes, 16% da de LilIe, Lyos,
peias do século XIX eram péssimas, geralmente
Angers ou Limonges morava em casa de um único
elas não dispunham de abastecimento de água ou
aposento. [...] No recenseamento de 1906, 26% das
serviços de esgoto. Essa situação era comum em pessoas que moram em cidades com mais de 5 mil
qualquer parte da cidade, tanto nos bairros bur- habitantes ocupam uni cômodo com, no mínimo,
gueses como nos operários. A poluição também se mais duas pessoas, 36% dividem o aposento com
tornava um problema cada vez maior nas socie- outra pessoa, ou pelo menos resulta uma média de
dades ind ustrializadas. mais de uma pessoa por peça. [ ... ]
PROST. Anloine. Fronteiras e espaços do privado.
lo: PROS, Antoine; VINCENT, Gérard. História da vida
No início do século XX e até o começo dos privada: da Primeira Guerra a nossos dias. Sim Pauto:
anos 1950, havia um grande contraste sepa- Companhia das Letras, 2009. v. 5. p. 54 e 56.

rando os lares burgueses e os populares. Os primei-


ros eram amplos: salas de visitas, uma cozinha e
O crescimento desordenado das cidades eu-
dependências de empregada(s), um quarto para
ropeias, bem como os problemas urbanos decor-
cada membro da família, e muitas vezes alguns
aposentos a mais. O "stibu[o e os corredores rentes dele, era um prenúncio dos problemas que
garantiam a independência desses diversos es- se tornariam comuns a todas as grandes cidades
paços. A essas residências amplas, a essas casas do mundo nos séculos XX e XXI: bairros sem in-
"burguesas", opunham-se as moradias populares. fraestrutura básica, local de trabalho distante dos
Os operários e camponeses se aglomeravam em bairros residenciais, degradação ambiental, segre-
habitações de um ou dois cômodos. E ... ] gação social (desigualdades sociais e econômicas)
As moradias urbanas não apresentavam urna
e violência urbana. Esses são alguns exemplos de
distribuição interna uniforme. 1...] Muitas vezes ti-
problemas característicos a muitas das grandes
nham também apenas um cômodo, ou dois ligados
concentrações urbanas do planeta.

-
1

N. Currier e J. M. Ives. Cidade de Nova York.


1876. Litografia colorida.

Vestíbulo: pequeno cômodo das casas burguesas destinado a guardar os casacos e acessórios das visitas.

Industriatizacão e urbanizacã;.. 181


Paris também era um centro urbano com
Londres e Paris: grandes contrastes, onde a opulência e a po-
exemplos de urbanização breza coexistiam numa cidade que crescera rápida

e miséria no século XIX e desordenadamente.

Londres e Paris são dois exemplos do cres-


cimento urbano que se acentuou no século XIX.
Respeitadas as diferenças no processo de indus-
trialização de cada uma, essas cidades tinham uma
característica comum: a aglomeração de pessoas.
Londres era uma cidade populosa e tomada
pela fumaça das fábricas, símbolo da Revolução In-
dustrial. Nela havia diversos tipos de pessoas, das
mais abastadas economicamente às mais miseráveis.
Pode-se descrevê-la como um palco onde a opu-
lência e a pobreza faziam o contraste da vida dos
cerca de 2,5 milhões de personagens urbanos.
Nas ruas principais dessa metrópole no século
XIX, era comum haver uma multidão de pessoas se
acotovelando entre diversas carruagens e carroças.
da Londres:
unia peregrinação, de Gustave Dore, 1876.
[ ... ] Nas casas, até os porões são usados corno
lugar de morar e em toda parte acumulam-se de-
tritos e água suja. [ ... ] Neste centro de Londres, nu-
merosas ruelas de casas miseráveis entrecruzam-se 2

com as ruas largas das grandes mansões e os be-


los parques públicos; essas ruelas lotadas de casas
abrigam crianças doentias e mulheres andrajosas
j:
e sernimortas de fome.
As péssimas condições de moradia e a super-
população são as duas anotações constantes sobre 4

os bairros operários londrinos.


BRESCIANI. Maria SteUa M. Londres e Paris no século XIX:
-
espetáculo da pobreza. São Pauto: Brasiliense, 2004. p. 25. Rua Chaniplaiíi ar . E de, ri aiS a a amoitoam -se em ruas de
terra sem estrutura de saneamento basico.

Na metade do século, após uma epidemia de có- hesitamos em penetrar neste dédalo onde já se aco-
lera, vários documentos administrativos municipais tovelam mais de um milhão de homens, onde o ar
são unânimes ao considerar o crescimento dasme- viciado de exalações insalubres eleva-se, formando
do e caótico da cidade e de sua população como uma nuvem infecta que basta para obscurecer o sol
causa das péssimas condições de moradia na parte an- quase por completo. A maioria das ruas dessa mara-
tiga de Paris. Um observador em 1849 assim descreve vilhosa Paris são na verdade tão somente condutos
a cidade [ ... ]: "um amontoado de casas desalinhadas sujos sempre úmidos de água pestilenta. ... ... E
encimado por um céu sempre nebuloso, mesmo nos BRESCIANI. Maria Stella M. Londres e Paris no século XIX:
dias mais belos. Somos tomados de um medo súbito, espetáculo da pobreza. São Paulo: Brasiliense, 2004. p. 75.

Andrajoso: aquele que usa trapos para se ves- Desmesurado: aquele ou o que ultrapassa as
tir, maltrapilho, medidas usuais, 9rande, enorme.
- Dédalo: confusão, complicaçêo.

182
Além de moradias precárias, onde se aglome- era possível separar as atividades da burguesia das
ravam as classes pobres em geral, havia também as atividades da criadagem por meio da construção
moradias burguesas, constituídas por palacetes ou de grandes e numerosos cômodos e corredores,
casas grandes (essas em maior número) localiza- aumentando, apesar da convivência próxima, o
das em áreas privilegiadas da cidade. Nessas áreas, abismo entre as classes.

Pausa para investigação

1. Analise as imagens e busque informações atualizadas sobre a situação de Londres e Paris hoje.
Compare as semelhanças entre essas cidades no século XIX e nos dias atuais.

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•• . -- Rua Regent, conhe ida
T por seu intenso
.omércio. Londres,
inglaterra, 2014.

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Rua Dejean, conhecida


por seu comércio, Paris,
França, 2013. -

industria1izaço e urbanizaçã 183


Leia o texto a seguir, observe a fotografia e voltarão a se encontrar. Permanecer incógnito, dissol-
faça o que se pede. 'ido no movimento ondulante desse viver coletivo;
ter suspensaa identidade individual, substituída pela
A multidão, sua presença nas ruas de Londres e
condição de habitante de umgrande aglomerado
Paris do século XIX, foi considerada pelos contem-
urbano; ser parte de uma potênçja ic
porâneos como um acontecimento inquietante. Mi-
temida; perder, enfim, parcela dos atributos humanos
lhares de pessoas deslocando-se para o desempenho
e assemelhar-se a
do ato cotidiano da vida nas grandes cidades com-
põem um espetáculo que, na época, incitou ao fascínio BRESCIANI, Maria StetIa M. Londres e Paris no século XIX:
o espetáculo da pobreza. São Paulo: Brasiliense. 2004.
e ao terror. Gestos automáticos e reações instintivas p. 10-11. grifo nosso)
em obediência a um poder invisível modelam o fer-
vilhante desfile de homens e mulheres e conferem Relacione as impressões do texto a respeito da
à paisagem urbana uma imagem frequentemente multidão com a imagem. É possível perceber
associada às ideias de caos, de turbilhão, de ondas, semelhanças? Quais?
inspiradas nas forças incontroláveis da
Explique a parte sublinhado no texto e a as-
natureza. Figuras d :, indecifráveis para além
socie ao fenômeno da urbanização.
de sua forma exterior, só se deixam surpreender por
um momento no cruzar de olhares que dificilmente

v --
Pedestres no intenso
comércio do calçadâo da
rua João Fernandes Neto.
4 Belford Roxo (Ri), 2014.

Espectro: imagem fantasiosa e ilusória. Metáfora: emprego de palavra fora de seu sen-
Fugidio: habituado a fugir No texto refere-se a tido normal, por efeito de analogia (comparação).
pessoas que desaparecem rapidamente. No texto refere-se a situações urbanas tão desar-
IndiscerníveL: que não se pode distinguir de ranjadas que se assemelham com fenômenos na-
outra coisa; que é pouco claro e evidente. turais de grande impacto.

184
IndustriaLização Segundo pesquisas feitas pelo historiador
Caio Prado júnior, em 1881 havia pouco mais de
200 estabelecimentos industriais no Brasil, en-
no Brasil quanto em 1907 eles já passavam de 3 250.
A imigração foi um dos aspectos que fa-
No século XIX, o Brasil ainda era essencial- voreceram o desenvolvimento industrial, pois
mente agrícola. Praticamente toda a movimen- imigrante era ao mesmo tempo consumidor
tação financeira girava em torno da cafeicultura para essa indústria e, principalmente, sua mão
de exportação. Nesse período, houve o fim do de obra.
tráfico de escravos, e os envolvidos no comércio Além de fatores como mão de obra, mercado
escravista buscaram outras formas de atuação, consumidor e comércio, ressalta-se a presença
principalmente na indústria, o que expandiu as de casas bancárias, pois esses estabelecimentos
atividades industriais do Brasil. constituíram o mercado de capital para a indús-
Além do capital excedente gerado pelo fim tria em expansão. Dessa forma, o capital cafeeiro
do tráfico e da renda que provinha da agricultura, não foi diretamente investido na indústria, mas o
havia a chamada Tarifa Alves Branco, instituída investimento do sistema bancário foi decisivo para
em 1844 por um decreto assinado pelo ministro a industrialização. A ligação entre café e indústria
da Fazenda, Manuel Alves Branco. A Tarifa regu- reside no fato de que o sistema bancário era sus-
lamentava as exportações e estabelecia altas taxas tentado pelo capital cafeeiro.
alfandegárias para importação, causando um
aumento significativo no preço de alguns produ-
tos vindos de fora e protegendo, desse modo, a O crescimento industrial paulista data do
produção nacional. As taxas variavam entre 30%, início do período posterior à abolição, embora
se esboçasse desde a década de 1870. Originou-
para mercadorias não produzidas no país, e 40 a
-se de pelo menos duas fontes inter-relaciona-
60%, para produtos já fabricados internamente.
das: o setor cafeeiro e os imigrantes. A última
Essa tarifa prevaleceu até a década de 1850.
fonte diz respeito não apenas a São Paulo mas
Nesse contexto favorável, alguns setores também a outras áreas de imigração» notada-
industriais começaram a se desenvolver, como mente o Rio Grande do Sul.
os de tecidos, de produtos alimentícios, de Os negócios do café lançaram as bases para
calçados e de cerveja, além de empresas pres- primeiro surto da indústria por várias razões:
tadoras de serviços de transporte, iluminação em primeiro lugar, ao estimular as transações em
moeda e o crescimento da renda, criou um mer-
etc. O capital excedente também foi utilizado
cado para produtos manufaturados; em segundo,
para implantação de bancos e seguradoras e na
ao promover o investimento em estradas de ferro»
construção de estradas de ferro.
ampliou e integrou esse mercado; em terceiro» ao
A atividade industrial no Brasil, a exemplo de desenvolver o comércio de exportação e impor-
outros lugares pelo mundo, foi decisiva para as tação, contribuiu para a criação de um sistema
grandes mudanças ocorridas nas cidades a partir de distribuição de produtos manufaturados; em
do século XIX. Por concentrar população (mão de quarto, ao promover a imigração» assegurou a
obra e mercado consumidor), além das atividades oferta de mão de obra. Por último» o café for-
econômicas (infraestrutura), o centro urbano necia, através das exportações, os recursos para se
importar a maquinaria industrial. Os imigrantes
passou a ser um facilitador para o desenvolvimento
surgem nas duas pontas da indústria, como do-
industrial, e isso determinou as alterações desse
nos de empresas e operários. Além disso, vários
espaço e das relações sociais. deles foram técnicos especializados. A história
Até o final do século XIX, os estabelecimentos (los trabalhadores estrangeiros é parte da história
industriais no Brasil eram poucos; o primeiro surto dos imigrantes.[ ... J
industrial ocorreu nas décadas de 1880 e 1890, FAUSTO. Bons. História concisa do BrasiL. São Paulo:
principalmente na região formada pelos estados Edusp. 2011. p. 161-162.

de São Paulo, Rio de janeiro e Minas Gerais.

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19

Vista do bairro operado do Brás a pariir do Palácio dos 1ridustrAs. Ao fundo, prédio do Moinho Matarazzo. São Pauio (SP), c. 1910.

Um aspecto importante sobre a urbani- urbanos, infraestrutura básica e essencial para


zação nesse período é que ela foi causa e conse- a instalação das indústrias; e consequência
quência da indústria. Causa porque estava em porque a industrialização trouxe em seu bojo as
andamento a eletrificação dos grandes centros mudanças urbanas.

Pausa para investigação


..

Com objetivo de estimular a industrialização, o governo brasileiro passou a incentivar a impor-


tação de bens de capital para o setor industrial. Esse processo acentuou-se a partir de 1935, com
a assinatura de um tratado de comércio com os Estados Unidos. Por esse acordo alguns produtos
[café, borracha, cacau) brasileiros passaram a ter vantagens na exportação em troca da redução de
20% a 60% na importação de artigos norte-americanos, como máquinas e equipamentos industriais.

1. Em dupla, pesquise quais são os setores industriais que mais crescem hoje no Brasil e compare-os
com o crescimento industrial do início do século XX. Depois, juntos, tragam as informções encon-
tradas para a sala de aula.

A Gi.ossári€
Bens de capital: são equipamentos, máquinas, ferramentas etc. utilizados na produção de outros bens
ou serviços.

186 i.'i10 7
IndustriaLização e crescimento urbano
em São Paulo
O processo de industrialização foi de- construções da cidade de São Paulo. Ainda
terminante para o aumento da população representando os primeiros sinais da urba-
urbana. As cidades foram aos poucos se nização crescente, em 1900 foi inaugurada
adaptando à nova realidade e cada vez mais a primeira linha de bonde elétrico.
exigiam mudanças estruturais para com- Assim como Londres e Paris, São
portar o novo contingente populacional. Era Paulo era cenário de contrastes. Se de um
preciso abrir ruas e implementar serviços, lado as renovações urbanas podiam ser
como energia elétrica, água, esgoto etc., vistas e aproveitadas pelos moradores dos
extremamente necessários ao bem-estar da bairros de classes mais abastadas, de outro,
população crescente nas cidades. nas vilas e nos bairros operários, a vida era
Em São Paulo, no final do século XIX, precária tanto nas condições de trabalho
já era possível observar melhorias urbanas, quanto em suas habitações. O crescimento
como a iluminação pública a gás (substi- industrial e urbano foi responsável pelo
tuindo o lampião a querosene) e os bondes surgimento dos bairros operários - no
puxados por animais. Em 1877, instalou-se entanto, as inovações não chegavam até
o serviço municipal de água e esgoto; e é de eles. Nesses locais, havia alta concentração
1886 o primeiro código que determinava demográfica e condições de vida e saúde
os sistemas de loteamento, arruamento e muito precárias.

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Bonde elétrico cercado por vacas na rua da Liberdade, cm So Paulo (SP), c. 1935.
No início do século XX, conviveram em São Paulo cenários opostos: o antigo e o moderno, a riqueza e a pobreza, o urbano e o rural.

i Gtosár»c
Código: conjunto de leis.

Industriatização e urbaniz.açãc 187


n
Outro exemplo da segregação dos grupos italianos e japoneses, são exemplos de bairros ou
sociais mais pobres foi a constituição dos guetos áreas que, desde seu surgimento, se caracterizaram
urbanos, regiões que concentravam a população de pela preservação da cultura dos imigrantes. Diante
baixa renda e, de certa forma, serviam como abrigo dos avanços industriais na cidade, geradores de
para as práticas culturais desses trabalhadores. mudanças e modernizações, os descendentes de
Em São Paulo, osguetos foram formados pelos imigrantes puderam, nesses bairros, manter parte
imigrantes. Bixiga e Liberdade, respectivamente de das tradições de seus antepassados. UC

Leia o texto abaixo e responda às questões 1. Explique a urbanização de São Paulo respon-
dendo às questões.
Nos bairros operários e pobres das grandes ci-
dades ou capitais brasileiras não havia saneamento Em que época as melhorias urba nas citadas
básico, fiscalização, rede de esgotos, água encanada, foram criadas?
sendo os poços construídos muito próximos das
fossas; tudo isso e as habitações inadequadas ftziam Quais foram os principais impactos causa-
com que ali a contaminação fosse maior e a mor- dos por elas?
talidade infantil mais alta que nos outros bairros.
Todas as classes sociais foram igualmente
Se adicionarmos o dado da alimentação insuficiente
beneficiadas? Por quê?
ou deficiente, não causa espécie que entre o opera-
riado e seus filhos fossem mais elevados os índices 2. De que forma podemos associar os termos
de febre tifoide, disenteria, sarampo, lepra, menin- urbanização, industrialização, imigração e
gite cerebroespinhal, tuberculose. [ ... ]
tradições culturais?
DECCA, Maria Auxiliadora Gu7zo de. Indústrias, trabalho e
cotidiano - Brasil: 1889 a 1930. São Paulo: Atual, 1991. p. 57.

todos, grande parte da população sobrevivia


Rio de Janeiro: vendendo, nas ruas, os mais diversos produtos,
a urbanização como galinhas, quitutes caseiros, vassouras,

da capitaL federaL verduras, leite ou artesanato. Era um vaivém de


pessoas anunciando seus produtos e criando
O Rio de Janeiro, no início do século XX, era uma música urbana composta de pregões. Ainda
a capital da República, o centro do poder político hoje é possível encontrar vendedores ambulantes
no Brasil. Mas o cenário da cidade era composto anunciando seus produtos de casa em casa pelas
de ruas estreitas, sujas e sem esgoto. Quanto ao ruas da cidade.
tráfego, alguns bondes elétricos circulavam, mas No início do século XX, com o sucesso da
a maior parte dos transportes era de bondes pu- produção e exportação do café brasileiro, o Rio
xados por tração animal e muitas carroças. Inú- de Janeiro, cidade portuária e de posição econô-
meros vendedores ambulantes movimentavam-se mica e política privilegiada, passou a se desen-
pelas ruas, pois, como não havia emprego para volver rapidamente, uma vez que, por causa de

Gueto: denominação de um bairro ou região de Pregão: anúncio em voz alta de objetos levados
uma cidade onde vivem os membros de urna etnia a público com intuito de vendê-los.
ou qualquer outro grupo minorilário.

188 apítulo7
sua numerosa população, dispunha de de "sem-moradia" buscou lugar para se
vasto mercado consumidor, além de mão abrigar e reconstruir suas habitações.
de obra abundante. Além das moradias, os quiosques
Assim como São Paulo e outras ci- também foram fechados e demolidos.
dades, o Rio de janeiro cresceu de maneira Essas medidas provocaram enorme des-
rápida e desordenada. Muitas pessoas contentamento popular, que se traduzia
chegavam em busca de trabalho e oportu- em frases escritas nos jornais da época,
nidades, mas era difícil alojar tanta gente como esta: "O próximo governo, devemos
e oferecer-lhes condições igualitárias de ir procurá-lo num hospício".
educação, saúde e moradia. É desse período
o surgimento de cortiços.
Entre o final do século XIX e começo Na passagem do século XIX para o XX, o Rio de Ja-
do século XX, o Brasil passou por um neiro era uma cidade com saneamento básico precário
período de reordenação governamental, e vários focos de doenças, como tuberculose, varíola e
diante do qual as obrigações e os deveres febre amarela. Nesse contexto, durante o mandato do
do Estado para com a população foram presidente Rodrigues Alves, sob o comando do então
restabelecidos de acordo com os novos prefeito do Rio de Janeiro, Pereira Passos, foi iniciado
moldes surgidos com a Proclamação da um processo de reforma da cidade, que incluía a demo-
República. lição dos cortiços do centro para a construção de largas
Nesse panorama, o quadro urbanís- avenidas, seguindo o modelo da reforma de Paris. Essa
tico de falta de moradias e deficiência dos reforma ficou conhecida como bota abaixo e, somada à
serviços públicos essenciais, como água, campanha de vacinação contra a varíola, motivou várias
esgoto e coleta de lixo, entre outras maze- manifestações populares contra o governo carioca.
las, fez com que o presidente da República,
Rodrigues Alves (que governou de 1902 a
1906), ao assumir o governo,
estabelecesse como meta prin-
cipal o saneamento da cidade
do Rio de Janeiro.
Para isso, tomou medi-
das radicais: diversos cortiços -
e casebres foram derrubados
em uma operaçao que ficou
conhecida como bota abaixo. -
Imagine a cena: uma grande
if
quantidade de demolidores
percorrendo ruas, demolin-
do habitações e, com isso, -

expulsando os moradores
para regiões mais distantes.
Essa é uma das origens dos '

subúrbios e das favelas ca-


riocas, onde uma população Avenida Central, Rio de Janeiro (RJ), 1905. Fotografia de Augusto Malta

A :ossr,
Cortiço: habitação coletiva destinada à mora- Quiosque: armação de madeira onde eram
dia de pessoas pobres. vendidos café, cachaça e quitutes diverso5.

Industrialização e urbanizacâc 189


Demolições, construção de novas ruas, Assim, teve início o episódio chamado de
alargamento dasjá existentes e novos prédios Revolta da Vacina (que será abordada no Ca-
- apesar de todo esse esforço, somente obras pítulo 9, "Movimentos sociais e cidadania"),
de engenharia não conseguiriam resolver os quando a população e os grupos de oposição
problemas da cidade. Era preciso também ao governo fizeram manifestações violentas
sanear a cidade e controlar as epidemias. com tumultos e danos ao patrimônio num
Para isso, o diretor da saúde pública e médico claro descontentamento generalizado.
sanitarista, Oswaldo Cruz, programou várias Pelo fato de o Rio de janeiro ter sido
medidas na tentativa de acabar com ratos e formado como cidade portuária, os pro-
mosquitos, que eram os grandes transmis- gressos urbanos gerados pela industria-
sores de doenças, como peste bubônica lização chegaram, aos poucos, à cidade
e febre amarela. Entre as medidas, a que e foram, assim, contribuindo para sua
causou maior polêmica foi a vacinação obri- transformação. Entretanto, os grupos mais
gatória contra a varíola, uma vez que a popu- pobres, em que se incluem os operários,
lação do Rio dejaneiro não sabia muito bem não eram os mais beneficiados com as
para que servia a vacina e não se sentia segura transformações resultantes do progresso
com a ideia de entrar em contato com uma industrial, ficando sempre à margem do
doença para adquirir imunidade contra ela. desenvolvimento econômico e social.

Observe a charge e responda às questões.

Ui)a :oLa Inds[)ensveL IIustraçiu pubIcada fia evsta O Maflio, 1908.


A cJa,oe retrata a política sanitarista do presidente RodriquesAlves fio Rio de Janeiro liderada pelo u:-ílOx 0't

Como é a relação, explicitada pela charge, entre o Estado e a favela?

A qual operação a charge se refere? Como ela ficou conhecida?

Quas foram as consequências da operação satirizada na charge para a população da cidade do Rio
de Janeiro no começo do século? Justifique.

190
Brasil. industriaL e urbano
A industrialização no Brasil foi determinante XX, a construção de novos polos industriais para pro-
para o crescimento da população urbana em re- mover o desenvolvimento econômico e tecnológico
lação à população rural. A urbanização provocou em áreas que antes não tinham atividades industriais
mudanças nas condições gerais de vida da população. relevantes. Um exemplo foi a criação da Zona Franca
As indústrias têm buscado instalar-se em áreas de Manaus, em 1967, com o intuito de estimular o
mais afastadas dos centros urbanos. Alguns fatores, desenvolvimento econômico da região amazônica.
como espaço físico e vantagens oferecidas pelos O incentivo à criação de áreas industriais foi,
governantes (isenção ou redução de impostos), são aos poucos, melhorando as condições econômicas
decisivos para isso. Mas é certo que a instalação de e os níveis de consumo em regiões mais afastadas e
uma indústria provoca aumento populacional, pois que antes não tinham atividades econômicas expres-
atrai trabalhadores que também são consumidores sivas, como o interior dos estados de Minas Gerais,
de produtos e serviços. Santa Catarina e Ceará, que se destacam respecti-
Desse modo, o governo brasileiro passou a in- vamente pelos centros metalúrgicos, produção me-
centivar, principalmente na segunda metade do século cânica e de alimentos embutidos e produção têxtil.

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Fábrica de bebidas industrializadas no bairro das Flores, Manaus (AM). 2014

Pausa para unvestigacão

Em grupo, faça uma pesquisa sobre os mais afetam a vida cotidiana e o que podemos
principais problemas enfrentados pela popu- fazer para solucioná-los. Tragam o resultado
lação do município onde vocês moram. Juntos, para a sala de aula. Juntem os resultados e
incluam na pesquisa as soluções propostas escrevam uma carta a um vereador ou à Câ-
pelos órgáos governamentais para resolver os mara Municipal apresentando os problemas
problemas. Depois, analisem quais problemas levantados e as soluções apontadas.

Industriatizacão e urbaniz: 191


Resgate cuLturaL

() que é periferia?] f resistência. Poi.quc aqui


CuLtura de periferia a gente tem que ter coragem, né? Pra batalhar pelo
Abordar a periferia quase sempre inclui um nosso sustento; levantar cedo pra ir trabalhar no
convite a analisar o centro. É um convite irre- centro (la cidade, em outros lugares. Aqui a arte
sistível, porque leva a uma lista interminável de também tá crescendo cada dia mais. Querendo ou
ausências sentidas pela população que vive na não, a arte começa aqui na periferia. '1cm muita
periferia: equipamentos urbanos, saneamento gente oue tem dom, que sabe fazer muita coisa legal.
básico, transporte coletivo de qualidade, entre Entrevista de listo Rafael Mondes, morador de Orreisnases,
muitos outros itens. ern São Paulo, para o docurnenidria O que é periferia?.
,l ri:,
A concentração desses equipamentos com-
poria, assim, o centro? Os centros antigos das
grandes cidades apresentam essas concen-
trações e abrigam milhões de pessoas vivendo
nas ruas, em cortiços e outras habitações com
precárias condições. Do ponto de vista da inte-
gração social, a população que vive nas ruas é
mais periférica do que aquela que se instalou
nos loteamentos clandestinos periféricos.
Já temos significados distintos para o termo:

Periferia. s.f. 1. espaço ao redor do centro


onde há escassez de equipamentos urbanos e
de investimentos em infraestrutura. 2. situação
de marginalidade em relação à vida social.

Exibição do filme Batalha do Pessinhu ira quadra da Vila Olrmpica da


Há quem defina periferia não pelo que falta,
Gamboa. Rio de Janeiro (RJ), 2013.
e sim pelo que há de mais singular: a cultura
de periferia. Conheca um relato:

darau do Chades
realizado no coreto
Parque da
az, ria Viradinha

IuIturai, São Paulo


5P). 2015.

192
Embora haja a necessidade de transitar onde se voltam os olhares, as atençoes, OS interes-
pelo centro, principalmente devido aos ses e OS corpos.
empregos formais, há um destaque para O desejo é o centro do mundo. O desejo é o que
as manifestações artísticas. O grafite, por esta dentro do oco do oco do corpo do mundo.
exemplo, arte muito desenvolvida em São VERUNSCHK, Michetiny. O centro do mundo é aonde véo
Paulo, é uma expressão da cultura do hip- os seus pés. O resto é periférico. Continuum ltaú Cuttural.
Sào Paulo. n. 26. p. 6, jun.!jut. 2010. Disponivel em: <wns,itau
-hop que se originou em Nova York e ganhou cutturat.org.br/materiacontinuuni/junho-jutho-2010-o-cen-
espaço nas periferias de cidades em todo o tro-do-murrdo-e-aonde-vao-seus-pes-oresto-e-periíerico/>.
Acesso em: iev. 2016.
mundo. Onde é o centro, então?

O centro do inundo é aonde vão OS seus O texto da poetisa pernambucana Micheliny


pés. O resto é periférico. Verunschk traz um convite diferente para ana-
O corpo é o que cstut no centro dc tudo. () centro lisarmos a relação centro- periferia: eta propõe
é o ponto de converg&ncia. E para onde se voltam pensarmos nas pessoas como seu próprio
OS olhares, as atenções, os interesses e os corpos. O centro de existência - o periférico é o que não
corpo é o centro do mundo. (.) corpo é o que esti está em nós.
dentro do OCO do oco do mundo. 1 Com base no que foi abordado e nos mapas
a seguir, elabore uma definição de periferia
Uni corpo é a periferia de outro corpo. O centro que considere a escala de análise: nacional,
de tudo é o desejo. regional e municipal.
O desejO é o ponto de convergência. l para

Número Número
de cinemas ê de teatros

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MS 700 MS

O 603 1206kn, 30
1 60300000
Número de cinemas
C Número de teatros "> /
Fonte: DABÉNE, Olivier; LOUAULT, Frédéric. Atlas du Brésil: promesses et déf is d'une puissance êmergente. Paris: Autremont, 2013. p. 49.

IndustriaLização e urbanização 193


Debate interdisciplinar

ur
Nas áreas urbanas, onde vivem aglomeradas dezenas de milhares de pessoas, há
mudanças drásticas no sot.o e na paisagem que podem aI.terar até o clima da região.
No entanto, isso não significa o completo desaparecimento da fauna e da flora locaL Mesmo
que animais e plantas nativas seiam extintos, outras espécies consequem
adaptar-se tão plenamente aos sistemas urbanos que se tornam
dependentes do ser humano.

i microclima da cidade ú mwido de cirneno


A grande concentração de concreto nos O cimento e o ar viciado das cidades
espaços que antes eram verdes, assim tornam o ambiente propício a
como os gases tóxicos emitidos pelos determinadas espécies; algumas se
carros e fábricas, cria um novo e distinto tornam pragas e consequentemente um
microclima urbano com características problema para os humanos que moram
próprias. nessas localidades.
ILHA DE CALOR
Nas grandes cidades, as temperaturas são em média 1,5°C mais altas do que nas
áreas ao redor delas. A noite, quando a temperatura cai, o concreto Libera o calor
acumulado durante o dia, e a diferença de temperatura pode ser de até 5 °C para as
regiões ao redor.

UMIDADE
Geralmente é mais baixa,
embora as chuvas sejam
mais intensas e o volume
de água, maior.

RADIAÇÃO SOLAR
Costuma ser entre 150
20% mais baixa, uma vez
que o céu é geralmente
coberto por partículas de
CO2 e vapor de água.

VENTOS
A forte ação dos ventos
torna as paredes de
concreto até 20% mais PARQUES E PRAÇAS
fracas do que o habitual. São os ambientes
que contêm a maior
QUALIDADE DO AR biodiversidade das cidades.
O ar das grandes cidades Neles convivem espécies
contém excessiva introduzidas com outras
quantidade de poluentes nativas. São utilizados
e substâncias nocivas à também como escala por
saúde. aves migratórias.

194
480 mft fÇ
Esse é o número de hectares que
NASÂLTURAS
Aves e morcegos
Estratégias de sobrevivênda
Certamente a cidade oferece benefícios
constroem ninhos em
as grandes cidades ° para muitas espécies, por exemplo,
telhados, coberturas
e janelas. Assim, o clima mais estavel e a ausencia de
equivaLente a 4% da
apropriam-se de - grandes predadores. No entanto, por ser
superfície de nosso pLaneta.
alturas as quais nao
um ambiente artificial, são necessárias
teriam acesso em .
seu meio natural, varias estrategias para essas espécies
:: .... Espécies como insetos sobreviverem.
e roedores também
utilizam os edifícios FLEXIBILIDADE NA DIETA
,j para viver e procriar.
Muitas especies incorporam novos habitos
alimentares e, frequentemente, a base da
alimentação passa a ser o lixo orgénico descartado
CONCRETO ESTERIL' pelos humanos
O concreto seco OCONTATOCOMOSERHUMANO
neo impede o
E comum que muitas espécies peicam o medo
desenvolvimento da
e entrem em contato com o ser humano Ao
vida Varias espécies
estabelecer esse contato fisico como no caso
de plantas crescem
- - dos pombos a margem de seguranca para a
em rachaduras e
sobrevivencia da especie se reduz
furos Elas aproveitam
a agua acumulada APRENDIZAGEM - NOVOS COMPORTAMENTOS
nesses espacosea
E comum alguns animais aprenderem a rasgar
grande quantidade de
sacos de lixo para conseguir comida.
,,::::::::::::: '::::::::::; ' microrganismos.

/ Campeões de adaptação
Algumas espécies adaptaram-se tão bem
via leu
à vidana que :r:mpart: da
paisagem de quase todas as cidades do
1 :
POMBOS E PARDAIS

Estao nas principais cidades, constroem ninhos


nos centros urbanos e alimentam-se de sobras da
alimentação humana.

:': i MORCEGOS
-
Embora sejam temidos por causa de sua
, Ii, ',, .,•, aparencia e habitos noturnos, eles controlam
r" de forma eficaz a populacão dos incômodos
. mosquitos.
i
SUBSOLO RATOS
É habitado por numerosas colônias de
insetos e ratos, que à noite saem para se São habitantes do subsolo e se alimentam de
alimentar. É possível encontrar ainda grande baratas e do que os seres humanos desperdiçam.
-.. variedade de fungos, bactérias e vermes. ARANHAS

, Muitas espécies conseguiram adaptar-se à vida


..
urbana. Algumas constroem suas teias dentro das
É o número de crias que uma ratazana casas e se alimentam de insetos.
pode ter ao Longo de sua vida. BARATAS, FORMIGAS ETRAÇAS

Essas espécies estão totalmente adaptadas às


cidades onde vivem. Elas se alimentam das sobras
do que é produzido pelos seres humanos.
1. Em grupo, faça uma pesquisa sobre os importantes MOSQUITOS
impactos ambientais vivenciados em uma grande Estão bem adaptados ao ser humano e
cidade em razão da intensa urbanização. Junto, regís- alimentam-se de seu sangue. É praticamente
impossivei erradica-los.
trem todas as informações em folhas avulsas. Cada
grupo deverá apresentar suas impressões aos demais.

o iirhoni; 195
Testando seus conhecimentos Responda no caderno

1. (Unicamp-SP) São Paulo, quem te viu e quem urbanização fundamentada no setor ter-
te vê! Tinhas então as tuas ruas sem calçamen- ciário, com alto nível de informalidade.
to, iluminadas pela luz baça e amortecida de uns favelização nas periferias, com predo-
lampiões de azeite; tuas casas, quase todas térreas, mínio de empregos no setor industrial
tinham nas janelas umas rótulas através das quais de base.
conversavam os estudantes com as namoradas; os metropolização em um ponto do terri-
carros de bois guinchavam pelas ruas carregan-
tório, com população absorvida pelo se-
do enormes cargas e guiados por míseros cati-
tor quaternário.
vos. Eras então uma cidade puramente paulista,
hoje és uma cidade italiana! Estás completamente 3. (Ufam) Na primeira metade do século XIX
transformada, com proporções agigantadas, pos- a nova ordem capitalista mundial deu um
suindo opulentos e lindíssimos prédios, praças novo ritmo à expansão dos mercados e
vastas e arborizadas, ruas todas calçadas, cortadas dos sistemas de trocas internacionais. A
por diversas linhas de bonde, centenas de casas
parte que coube ao Brasil foi a de ampliar
de negócios e a locomotiva soltando seus sibilos
sua participação no consumo de produtos
progressistas.
manufaturados através de importações em
Adaptado de Alfredo Moreira Pinto,
A cidade de São Paulo em 1900. São Paulo:
detrimento de concentrar seus esforços no
Governo do Estado de São Paulo, 1979, p. 8, 10.1 aumento da produção agrícola exportadora,
cujo principal produto era o café. Sobre a
Cite duas transformações mencionadas
economia cafeeira ao longo do século XIX
no texto que marcam a oposição entre
podemos depreender:
atraso e progresso.
De que formas a economia cafeeira Constituindo-se numa economia tipi-
contribuiu para as transformações ob- camente baseada em relações de pro-
servadas pelo autor? dução escravista, a economia cafeeira
vale-paraibana e fluminense em muito
2. EUerj) De Karl Marx a Max Weber, a teoria so- ressentiu com as limitações cada vez
cial clássica acreditava que as grandes cidades do mais fortes ao tráfico negreiro;
futuro seguiriam os passos industrializantes de
O café foi a grande mola propulsora
Manchester, Berlim e Chicago - e, com efeito,
de ocupação do oeste paulista e sul do
Los Angeles, São Paulo e Pusan (Coreia do Sul)
aproximaram-se de certa forma dessa trajetória. Mato Grosso, constituindo a base eco-
No entanto, a maioria das cidades do hemisfério nômica do povoamento dessas regiões;
sul se parece mais com Dublin na época vito- Ao contrário da economia açucareira, o
riana, que, como enfatizou o historiador Emmet café exigia vultosos investimentos em
Larkin, não teve igual em meio a "todos os mon- capital e mão de obra por parte dos cafei-
tes de cortiços produzidos pelo mundo ocidental cultores que só conseguiam um retorno
no século XIX, uma vez que os seus cortiços significativo após cinco anos de cultivo;
não foram produto da Revolução Industrial".
Juntamente com o fumo e o charque, o
Adaptado de DAVIS, Mike. PLaneta favela.
São Paulo: Boitempo. 2006.
café foi a base da expansão ferroviá ria no
sudeste brasileiro;
De forma diferente do que ocorreu nos paí-
eI Com a diminuição da mão de obra
ses desenvolvidos, o crescimento das cida-
escrava nos cafezais do Rio de Janeiro
des na maior parte dos países subdesenvol-
os grandes proprietários fluminenses
vidos está relacionado ao processo de
optaram pelo sistema de colonato, que
a) periferização da atividade industrial, com consistia no trabalho assalariado exe-
intensos fluxos pendulares. cutado por imigrantes nordestinos.

196
Responda no caderno

4. (Enem) S. tEnem)
Ao deflagrar-se a crise mundial de 1929, a situa- A humanidade conhece, atualmente, um fenô-
ção da economia cafeeira se apresentava como se se- meno espacial novo: pela primeira vez na história
gue. A produção, que se encontrava em altos níveis, humana, a população urbana ultrapassa a rural no
teria que seguir crescendo, pois os produtores ha- mundo. Todavia, a urbanização é diferenciada entre
viam continuado a expandir as plantações até aque- os continentes.
le momento. Com efeito, a produção máxima seria DURANO. M. F. et aI. Atlas da mundialização: compreender
alcançada em 1933, ou seja, no ponto mais baixo da espaço mundial contemporâneo. São Paulo: Saraiva, 2009.

depressão, como reflexo das grandes plantações de No texto, faz-se referência a um processo es-
1927-1928. Entretanto, era totalmente impossível pacial de escala mundial. Um indicador das
obter crédito no exterior para financiar a retenção diferenças continentais desse processo es-
de novos estoques, pois o mercado internacional de pacial está presente em:
capitais se encontrava em profunda depressão, e o Orientação política de governos locais.
crédito do governo desaparecera com a evaporação Composição religiosa de povos origi-
das reservas. na is.
FURTADO, C. Formação econômica do Brasil. São Paulo cl Tamanho desigual dos espaços ocu-
Cia. Editora Nacional. 1997 (adaptado)
pados.
Uma resposta do Estado brasileiro à conjun- Distribuição etária dos habitantes do
tura econômica mencionada foi o (a) território.
atração de empresas estrangeiras. Grau de modernização de atividades
reformulação do sistema fundiário. econômicas.
incremento da mão de obra imigrante.
desenvolvimento de política industrial.
financiamento de pequenos agricultores.

rpara você ter j


Tempos difíceis, de Charles Dickens. São Paulo: Oliver Twist, direção de Roman Potansky. EUA,
Boitempo Editorial, 2014. A obra retrata a socie- 2005, 130 mm. Oliver Twist é um dos muitos ór-
dade inglesa no final do século XÍX criticando os fãos que sofrem com a fome e o trabalho escra-
meios de produção fabris, a intensa urbanização vo na Inglaterra viloriana. Depois de ser vendido
e a desigualdade econômica e social da época. A para um coveiro, foge dos maus-tratos e vai para
crítica à mentalidade e aos modos de produção Londres. Lá, entra para um exército de prosti-
capitalista fez da obra um clássico da literatura tutas e marginais treinados para roubar nas
inglesa. ruas, mas seu maior sonho ainda é encontrar
um homem bondoso para ser seu pai.
O que é cidade, de Raquel Rolnik. São Paulo:
Brasiliense, 2012. Há muitos tipos de cidade, Os miseráveis, direção de Tom Hooper. EUA/
mas o que todas elas têm em comum? Esse Alemanha, 2012, 158 mm. Baseado na clássica
livro busca responder a essa pergunta anali- obra de Victor Hugo, o musical narra a história de
sando a organização de diversos tipos de ci- Jean Valjean, Javert, Fantine e Cosette durante
dade através dos tempos. Além disso, discute a Revolução Liberal de 1830 na França. O filme
a estrutura das metrópoles capitalistas, suas apresenta aspectos da sociedade francesa do
origens e problemas. século XIX, como a injustiça e o abandono social,
trabalho compulsório, a desigualdade econômica
e os problemas provocados pela urbanização,
como a falta de moradia e as péssimas condi-
ções sanitárias.

ÍdUI:IÜItL3CaÚ c, wijj:u:. 197


40

É-

i MANTUKA

LIMPA

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No Brasil, de 1500 a 1888, a mão de sociedade ainda influenciada pela mentali-


obra escrava foi a base de sustentação da dade escravocrata.
economia. Com a abolição da escravidão, Foi nesse contexto que surgiram as in-
a sociedade brasileira passou por muitas dústrias e, com elas, os operários, uma nova
transformações nas relações de trabalho e categoria de trabalhador urbano. O país, até
produção. Imigrantes de diversos lugares então essencialmente rural, tornou-se cada
do mundo vieram trabalhar e viver em uma vez mais urbano.

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Com isso, mudou a forma de organização thores condições laborais, melhores satrios,
laboral e teve início a generalização do traba- enfim, mais direitos aos trabalhadores.
lho assalariado. As relações trabalhistas foram Este capítulo aborda as mudanças profun-
transformadas, e os trabalhadores passaram a das ocorridas na organização do trabalho no
questionar situações que os prejudicavam. Em decorrer do século XX e início do século XXI.
todo o país, surgiram reinvindicações por me-
10 Educação para o trabaLho
Com o surgimento das fábricas no Brasil, no delimitados e que pudesse servigiado dentro e fora
final do século XIX, a educação para o trabalho do espaço de trabalho para garantir a manuten-
tornou-se importante. Era preciso implantar uma ção da ordem. Esse trabalhador, o operário fabril, O
nova disciplina de trabalho, com o objetivo de não deveria sujeitar-se mais ao senhor, e sim ao
habituar o trabalhador ao ritmo de produção das dono da fábrica, mas em troca de um salário. É o
fábricas. Para tanto, era necessário reeducar as momento de transição do trabalho escravo para
pessoas por meio de políticas de valorização do remunerado, no qual homens livres ou libertos
trabalho. tornaram-se assalariados.
Toda essa mudança pressupunha a
criação de um conjunto de valores éticos
que levassem o trabalhador assalariado
a se submeter à nova organização do
trabalho. Era preciso agilidade, atenção,
regularidade e obediência. Nesse sen-
tido, muitas fábricas foram planejadas
para alcançar esses objetivos; por exem- 41'S 4L
pio, foram construídos grandes galpões
com janelas somente no alto das pare- ..L-• . ,,
des, evitando assim que os funcionários
desviassem a atenção do serviço.
O fim do regime escravista e o novo
espaço de trabalho, a fábrica, exigiam
um trabalhador diferente: mais discipli- .-.,
nado e silencioso, cumpridor de horários Fr:c
o
O
Orjanizando ideias ... O
Leia o texto a seguir e responda às questões. Por que o trabalho era considerado ordena-
dor da sociedade? Analise essa questão com
Era preciso, sempre que possível, insistir-se em
base na visão do trabalho que estava sendo
que o trabalho era o elemento ordenador da socie-
construída no início da república.
dade, a sua "lei suprema". Já que a sociedade oferecia
tudo ao cidadão, garantindo-lhe segurança, direitos
Aconceituacão de trabalho construída naque-
individuais, liberdade, honra etc., ele teria de saldar
le momento ainda é válida para a sociedade
uma dívida permanente para com ela retribuindo
atual? Justifique.
com o seu trabalho. Sobre os debates realizados em
1888 no Rio de Janeiro, a propósito do projeto de No século XIX e início do século XX, o trabalho
repressão à ociosidade, assim afirmava um deputado: era visto como um pagamento feito em troca
É preciso que tenham todos uma ocupação, dos benefícios e infraestrutura oferecidos pelo
porque V. Exa. sabe que, desde que o indivíduo res- Estado à população. Atualmente, de que forma
pira, como que contrai uma dívida com a sociedade, pagamos os benefícios oferecidos pelo Estado?
a qual só pagará com o traballo."
CARMO. Paulo Sérgio do. História e ética do trabalho
no Brasil. São Pauto: Moderna. 1998. p. 106.

200
2 Viajando pela história
todas as atividades relativas às plantações.
Os trabaLhadores Livres Cabia ao homem o sustento de toda a fa-
Para entender as relações de trabalho mília, e à mulher, além do cuidado da casa
após a abolição da escravidão, é preciso e dos filhos, a manutenção da horta de
retomar um pouco a história do Brasil no subsistência e a criação de animais como
século XIX. porcos e galinhas. A mulher imigrante intro-
Durante todo o período escravocrata, duziu uma nova personagem nesse universo:
já havia trabalhadores livres, porém eles es- a dona de casa, responsável pelo funciona- Operarias da
tavam integrados a uma ordem maior: a re- mento completo do lar e de seus arredores, Tecelagem
Mariarigela,
lação senhor-escravo. Esses trabalhadores e não mais a "senhora", sombra do senhor das Indústrias
estavam mais sujeitos à troca de trabalho de escravos. Ambas, porém, tinham algo Reunidas F.
Matarazzo. São
por favores do que por salário ou dinheiro. em comum: fora do casamento, não havia
Paulo (SP). década
Com a chegada dos imigrantes, houve espaço para ela trabalhar. de 1920.Ao longo
uma gradativa mudança na forma de enten- A mentalidade de que o trabalho re- do século XIX,
o universo do
der o trabalho. Inicialmente, as dificuldades munerado não era apropriado às mulheres trabalho feminino
foram grandes, pois o padrão vigente, do começou a mudar lentamente com o adven- alterou-se
lentaniente, e a
trabalho escravo, era sujeitar-se aos mandos to das fábricas, nas quais não só homens, mulher passou a
do senhor. Foi dessa forma que os imigran- mas mulheres e crianças passaram a fazer desempenhar um
papel fundamental
tes foram recebidos, o que causou dificul- parte de um novo grupo de trabalhadores: na manutenção
dades de adaptação e arregimentação de os operários fabris. da economia
doméstica.
novos trabalhadores estrangeiros.
Em 1870, o Estado assumiu o fi-
nanciamento da vinda de mão de obra, e
parte da imigração passou a ocorrer em
regime de colonato, no qual os imigrantes
eram assalariados e tinham direito a um
pedaço de terra a ser cultivada para dela
tirar sua subsistência. Surgiu, então, uma
nova categoria de trabalhadores rurais no
Brasil: as famílias produtoras.
Dessa nova realidade, surgiu uma con-
cepção diferente de trabalho. Os imigrantes
trabalhavam em família: pai, mãe, fllhos e
agregados produziam igualmente, fazendo

Organizando ideias -
De acordo com seus conhecimentos, responda O que eles encontraram ao chegar aqui?
às questões.
De que forma eles começaram a trabalhar?
1 Que sistema de relação de trabalho vigorava no
Quais impactos a chegada deles causou nas
Brasil até o século XIX? Em que ele se baseava?
relações de trabalho?

2. Sobre os imigrantes que chegaram ao Brasil 3. Em que diferiam e em que se assemelhavam


no século XIX: as esposas dos senhores de escravos e as
dos imigrantes?
2
201
Õffl O operário brasileiro
A produção fabril requeria um operário trei-
nado, disciplinado, ágil e apto a aprender e obe- Greve é a interrupção coletiva e proposital do
trabalho por parte dos trabalhadores assalaria-
decer, e não um trabalhador capacitado apenas
dos, geralmente com o intuito de reivindicar salá-
tecnicamente, como concebemos hoje. Na sele-
rios mais altos e condições melhores de trabalho.
ção de operários, valiam mais as regras morais do
que a capacidade técnica do indivíduo.
A visão do trabalho como moralizador da
sociedade e do indivíduo originou a ideologia que Por causa dessa situação de opressão, o ope-
opõe trabalhador e vadio. rariado se organizou em uniões de trabalhadores,
Os trabalhadores das fábricas eram predomi- mais tarde chamadas de sindicatos, que opu-
nantemente imigrantes, sobretudo espanhóis e ita- nham resistência usando as armas que possuíam.
As greves sempre foram de grande expressão na
lianos. Eram indivíduos recém-aportados no Brasil
luta operária. [ ... j
que ao chegarem às cidades encontraram nas
As greves não buscavam apenas o aumento de
fábricas possibilidades de trabalho. Muitos deles
salário, também tinham como objetivo o atendi-
dominavam habilidades industriais adquiridas em mento a outras reivindicações operárias, como o
seus respectivos países de origem. estabelecimento de um salário mínimo para cada
Os imigrantes europeus trabalhavam de 10 a categoria profissional, a diminuição da jornada
14 horas por dia, incluindo, muitas vezes, sábados e de trabalho, melhores condições de trabalho, me-
domingos. As poucas leis que regulavam as relações lhores condições de higiene dentro da fábrica ou
de trabalho não eram cumpridas. Os salários eram a aprovação de uma lei que garantisse férias anuais
rernuneraclas.
muito baixos, o que obrigava mulheres e crianças a
PETTA, Nicotina Luiza de. A fábrica e a cidade até 1930.
trabalhar para ajudar no sustento da casa. Não havia
São Pauto: Atual, 1995. p. 24.
garantias trabalhistas, como aposentadoria, nem se-
guros contra acidentes ou doenças, e o trabalhador
que faltasse, mesmo doente ou lesionado
por acidente de trabalho, não recebia sa-
lário. Assim, muitos trabalhavam doentes
e até em condições de invalidez.
O que os patrões não perceberam
de início é que a maioria desses operários
europeus também eram mais conscien-
tes de seus direitos. Diante das condições
sub-humanas a que eram expostos, inau-
guraram uma forma de reivindicação até
então desconhecida por aqui: a greve.
Nas primeiras décadas do século XX, .
vários movimentos grevistas, liderados
geralmente por imigrantes, eclodiram
nos centros industriais. Grevistas no Largo do Palacio. Sdo Paido iSP), 1917.

No universo fabril prevalecia uma divisão


sexual do trabalho. Os homens eram responsáveis
Invalidez: incapacidade de realizar um traba-
por atividades braçais, que exigiam mais força, e
lho por condições de saúde adversas,
pelo manejo direto das máquinas. Às mulheres
Vadio: indivíduo que não tem ocupação co-
nhecida. cabiam atividades manuais, como a tecelagem e a
costura.

202 .rtoS
Mulheres trabalham Ciii coniecc:
São Paulo (SP). e. 1Ç:

Nas primeiras décadas do século XX, o Às mulheres que necessitassem trabalhar, era
trabalho feminino era entendido pela sociedade permitido socialmente desempenhar apenas funções
brasileira como uma extensão das tarefas reali- consideradas femininas, que fossem uma extensão
zadas no lar. Para a ideologia vigente na época, das tarefas do lar, como costurar e cozinhar.
as mulheres somente poderiam trabalhar para Havia ainda uma norma social segundo a qual
complementar a renda, como um requisito para a as mulheres não poderiam andar à noite desacom-
sobrevivência, não sendo admitida a possibilidade panhadas. No entanto, por causa do horário de
de que a mulher pudesse ter um desenvolvimento trabalho, muitas mulheres saíam das fábricas após
profissional. escurecer, sendo, com isso, vítimas de agressões.

L_orgo ideias
Leia o texto a seguir, junte-se a alguns co- internalizam, justifica os diferenciais de salário e a
legas e elaborem hipóteses para responder às manutenção da segregação ocu pacional.
questões. MORAES, Maria Lygia Quartim. Cidadania no teminino.
Durante muitas décadas, as mulheres que tra- In: PINSKY, Jaime; PINSKY, Carta Bassanezi Org.). História
da cidadania. São Pauto: Contexto, 2005. p. 4,97.
balhavam fora de casa eram suspeitas de não serem
"honestas", vale dizer, castas e recatadas. Quando as
Por que o texto afirma que no passado as
mulheres de classe média quiseram trabalhar tive-
mulheres que trabalhavam fora de casa não
ram de ouvir que "estavam tirando o trabalho dos
eram consideradas honestas?
chefes de família". Assim, o trabalho remunerado
manteve-se por longo tempo reprovado moral men- Por que se dizia que as mulheres usurpavam
te, pois submetia a mulher a urna condição conside- os empregos dos chefes de família?
rada "imprópria a seu sexo".
Pode-se afirmar que a inserção da mão de obra Atualmente persiste a ideia de que trabalho

feminina na esfera produtiva depende tanto das doméstico é "coisa de mulher"? Explique.

condições e das exigências do mercado quanto da


No século XXI as mulheres ainda convivem
maior ou menor disponibilidade dada pela situa-
com preconceitos no trabalho e com remu-
ção familiar. A ideologia de que o trabalho remu-
neração inferior? Justifique.
nerado da mulher é sempre um "complemento" ao
do marido, crença que muitas mulheres ainda hoje

0 trabalho no Brasil contemporâi. 203


O mundo do trabaLho no sécuLo XX:
a construção da cidadania
Durante a Primeira República (até 1930), os
trabalhadores urbanos no Brasil estavam organi- As primeiras leis
zados de acordo com a divisão do trabalho e a es-
tratificação profissional. A classe operária nascente trabalhistas no Brasil
reunia-se em sindicatos, ligas, associações, partidos
etc. para manifestar seu descontentamento e fazer
reivindicações por meio de jornais, panfletos e greves.
Os assalariados deixavam de ser espectadores
e passavam a agir como atores políticos. Os pa-
trões também se uniram, contando com a força
policial para debelar as manifestações e prender as
lideranças. Os estrangeiros eram considerados lí-
deres dos operários e desordeiros, por isso muitos
foram deportados, expulsos ou presos.
Entre 1917 e 1920, no período de escassez
pós-Primeira Guerra Mundial, a situação econô-
mica do país penalizava sobretudo os operários,
que não tinham condições dignas de sobrevivência
em razão do aumento do custo de vida. Essa fase
foi marcada por muitas mobilizações e greves.
Foi nesse período que começaram a surgir
importantes leis relacionadas ao trabalho.

..

Manifestaçao de trabalhadores poi ucasido do Dia do Trabalho na Praça o t

Sé. Sao Paulo (SP) 1 maio 1915

204
A imagem ao lado é a reprodução de um folheto que
circulou em São Paulo em 1919. Com base nele, res- eder5o Operaria de Suo Paul,'

p0n da às questões. 4o tiperariodo em ceral


ii IV1IÇI70 floh/clili já coiiieçoi I4jtiiis
Qual e o teor do documento apresentado7 ,
ro!adijx 1/.' (raDn/,',aiIweu; e as deporlaçüo.s clii JOOS-
xii ihi ix 1ara rios pela policia de Rio já se luz .iee/fr.
2 Quais sã o as a legacões para a greve7 iJCu?i/)(/hJSFii#Si.OSPiM/ll
u/,,.jj,y,pv ,iperariaa e a GRÊFE M41 em slgi,a/
iuom.ro, ço,,frj todas as lotam/as li/maus e 8r4Vra-
3. De acordo com o contexto apresentado, as alegações piei/ia/es tle iji,e alie riclitoas as csses apeirlos.

para a greve eram legítimas? Explique. 4J!'e"e poisl


í Crew, Cera1 em toda o Estado de S. Pau/e paro
faui/ir ,a,ler os fOSSOS direi/os menosprezada pela
classe C4PÍT.4LISTÃ, liuJfl&'UEZ.4 e CtEBO O(]FERNRMENTÃL
Tra/iiii/,adore.s, ,mi-ros para san/es Junca!
Fira a so/ln'onledane n'os ira/ja//iadorosl
camaradas: proles/emfls /mm a//o contra báus estas
/nt;,mios que in/ra iuis são pra//mudas; curtas de
que iiliui ro/IaieI,,oS ao truil>ah/iu enquanto os nossos
coaip/rniieirõs ililil breu; real/la/tios ii 1/uni/ai/e e
osseguruidos poi' porte dos imitares i:Üifl/IgIOi/Iixr ii di-
rei/O riu rcuniáo e 1/rue pe/Isaujeuio. r:w,lrixu,i aos
qauvmhur a ,;oli.sillu/çiio da PaiS
Viva a Gréue GeraU

-_.. - 1T!Í
Scx1aFcira Que uiueni ualle jo Iraaitio
à Tes/eraçúo Lipuiaria
5.J,• s, a.La&iu,Adere, m

O trabaLhismo de o movimento operário lutava não só por direitos


trabalhistas mas também por direitos sociais e
GetúLio Vargas políticos, com os quais o governo poderia não
Após o golpe de 1930, com a ascensão de concordar. Assim, ao legislar a favor dos traba-
Getúlio Vargas ao poder, houve no país a implan- lhadores, conteve e diminuiu a mobilização da
tação de uma legislação trabalhista. luta operária.
Em 1930, foi criado o Ministério do Tra- Por outro lado, a partir de 1931, os sindi-
balho, Indústria e Comércio, que, nos primeiros catos sofreram forte controle estatal. Eles foram
anos de ação, apresentou um projeto que previa definidos como órgãos técnicos e consultivos, que
a regulamentação de várias reivindicações dos tra- deveriam colaborar com o poder público, e passa-
balhadores sobre jornada de trabalho, trabalho fe- ram a ser aprovados e subordinados ao Ministério
minino e de menores, salário mínimo, Carteira de do Trabalho. Assim, o sindicato passou de órgão
Trabalho e sindicalização. Esse projeto culminou de luta em favor dos trabalhadores a um tipo de
na aprovação, em 1943, da Consolidação das Leis agência ministerial.
do Trabalho (CLT), um grande avanço em termos Toda a ideologia trabalhista construída em
de legislação, mesmo considerando que foi conce- torno da figura do presidente Vargas fez com que a
bida em um período político ditatorial. classe trabalhadora deixasse para trás as conquistas
Essa lei foi considerada inovadora, apesar de anteriores a 1930, entre as quais sua identidade
muitos de seus benefícios já terem sido concedidos política. O termo getuhsmo, como sinônimo de tra-
a uma pequena parcela do operariado. Entretanto, balhismo, ainda está presente na política brasileira.
naquele contexto político, o Estado fez parecer O que facilitou sobremaneira essa política assisten-
que era um ato de enorme generosidade e que se cialista foi a propaganda constante do governo e a
preocupava, literalmente, em conceder benefícios entrada de migrantes oriundos do espaço rural, para
à classe operária. O Estado já havia percebido que os quais não havia nenhuma legislação. Portanto,

- 205
para esses trabalhadores, todas
as "doações" de benefícios tra-
balhistas feitas pelo governo eram
vistas como protetoras, e não
como repressivas.
A ideologia criada pelo go-
verno Vargas colocou o trabalho
como centro da vida de qualquer
cidadão. Não era apenas um
meio de sobrevivência, e sim um
símbolo de honestidade e digni-
dade, personificado na Carteira
de Trabalho.
Na época do Estado Novo
(1937-1945), Getúlio Vargas
modificou sua abordagem em
relação às questões sociais, pois
percebeu que a massa de tra- Comemoração do Dia do Trabalho, São Paulo SP). 1 maio 1944. Vargas, que visitava a capital paulista.
foi recebido por unia multidão de trabalhadores no Estadio do Pacaembu. Em seu discurso, ele elogiou
balhadores recém-chegada do
caráter pacífico do trabalhador brasileiro.
campo e que vivia em péssimas
condições nas cidades representava um grande de rua. Nesse período, ele legalizou os sindicatos e
risco ao se organizar em greves e manifestações desenvolveu uma política trabalhista.

De acordo com o texto, faça o que se pede Por causa disso, muita coisa foi revogada ou mo-
dificada na CLT, mas quando foi lançada ela preten-
O shopping das leis
dia dar conta de toda legislação trabalhista, como
[ ... ] Até hoje Getúlio Vargas é criticado e elogia- um shopping center que tem todos os tipos de lojas.
do por causa dessa CLT.
CARNEIRO, Pauto. Um panorama das conquistas sindicais, lo:
Uns dizem que ele copiou tudo do modelo auto-
KUPSTAS, Márcia {Org.J. O trabalho em debate. São Pauto:
ritário italiano. Outros dizem que ele quis dar antes
Moderna, 1997. p. 96-97.
que os sindicatos iriam conquistar na raça. Outros
ainda acham que, mesmo com seus defeitos, ela foi Pode-se afirmar que as opiniões sobre o tra-
um passo importante na evolução das leis trabalhistas. balhismo no período em que Getúlio Vargas
O fato é que surgiram novas tecnologias e novas
foi presidente do país são todas positivas?
profissões, também novos governos com suas ideias
originais. Naquela época não existiam técnicos em Justifique.
computador ou metroviários, por exemplo. Em
compensação, existiam tipógrafos e chapeleiros, que Explique a comparação do autor entre CLT e
hoje já não existem mais. shopping cen ter.

Pausa para investigação


O Ministério Público do Trabalho e a Justiça do Trabalho são órgàos governamentais responsá-
veis por questões relativas ao trabalho. Pesquise a atuação desses órgâos e apresente o resultado
aos colegas.

206
Resgate cultural

De marginal, a propa- A partir de 1930, o samba ganhou outra


conotaçào e se transformou em importante
ganda estatal. mercadoria da indústria cultural. Além disso,
O samba foi duramente reprimido nos pri- passou a servir de instrumento de propaganda
meiros anos da república no Brasil. Na década do governo Vargas, que se utilizava da música
de 1920, por exemplo, quem fosse pego vagando para incentivaro trabalho e os "bons costumes".
pelas ruas com violão nas costas era encami-
nhado para a delegacia e poderia ser preso por
vadiagem.
Na época em que Donga e Wilson Batista,
dois grandes sambistas do início do século XX,
gravaram seus sambas, os encontros para ouvir
esse ritmo eram reprimidos pela polícia por
serem considerados 'desacato à ordem públi-
ca, e seus compositores eram considerados
exemplos de "vadiagem'.
Baile de carnavui. São Paulo (SP), 1936.

Os músicos populares passaram a desfrutar


de um novo papel na sociedade, amplamente
reconhecido pela população e pelo Estado.
Entretanto, suas produções musicais foram
PELo o influenciadas pela ideologia do Estado Novo.
TELEPHONE r 1 De gênero marginalizado, o samba passou a
r ser instrumento de propaganda do governo.
5arnbu Curnovc]e5co
iiRAiO SUCSFSS'J -
Até Wilson Batista, defensor da malandragem,
ressaltou a importância do trabalho. Em parceria
LINESTO DOS S.NTOS
..
com Ataulfo Alves, ele compôs o samba O bonde
São Januá rio (1941): 'Quem trabalha é que tem
- j
razão / Eu digo e não tenho medo de errar / O
bonde São Januário/Leva mais um operário/Sou
eu que vou trabalhar".

Donga gravou o que é considerado o primeiro samba. Ele


1. Embora perseguido até 1930, o samba se
foi registrado com o nome Pelo telefone, em 1916. tornou um dos gêneros musicais mais ouvi-
dos no Brasil e um dos símbolos da cultura
Muitos compositores de samba retratavam
nacional. Reúna-se com um coLega e, juntos,
em suas canções a situação dos trabalhadores,
respondam às questões a seguir.
que, de tão ruim, perdia em benefícios para
Qual é a origem do samba no Brasil?
malandragem. A música Lenço no pescoço
(1933), de Wilson Batista, por exemplo, exalta Quais estilos de samba se desenvolveram
a figura do malandro, concluindo: "Sei que eles no Brasil? Escolham um desses estilos e
falam do meu proceder / Eu vejo quem traba- façam um texto que explique suas princi-
lha andar no miserê / Eu sou vadio porque tive pais características.
inclinação / Eu me lembro era criança / Tirava O samba ainda é utilizado como meio de
samba-canção". propaganda política? Explique.

- .: 207
O trabaLho e as Lutas sociais
A CLT criada por Vargas negava aos traba- como câncer e HIV. A medida acabou com a estabi-
lhadores o direito à organização, pois impunha lidade de emprego que os trabalhadores adquiriam
aos sindicatos amplo controle governamental.
Entretanto, a classe operária não se deteve
diante dessas restrições e, durante o governo
após dez anos de trabalho na mesma empresa. Isso
porque, antes da CLT, em 1943, todo trabalhador
que fosse demitido no primeiro ano de serviço, cha-
o
Dutra (1946-1951), retomou vigorosamente as mado período de experiência, não recebia nenhuma
lutas em defesa de seus direitos e interesses. Foi indenização; porém, se ele fosse dispensado sem
um período marcado por muitas greves, sempre justa causa depois de trabalhar dez anos, teria direi-
duramente reprimidas pelo Estado. to a uma indenização, que era calculada com base
na remuneração do trabalhador e na quantidade
[...J De uma forma ou de outra, a luta ope- de anos trabalhados. Com o surgimento do FGTS,
rária retornada em 1945 se estendeu até o golpe trabalhador passou a optar pelo regime de esta-
militar de 1964. Os trabalhadores obtiveram bilidade ou pelo fundo de garantia. Conforme mais
algumas vitórias significativas, tais como o dé- pessoas optaram pelo FGTS, tornaram-se comuns
cimo terceiro salário, em 1962, e um reajuste as demissões e contratações de novos funcionários
salarial de 80% em 1963, após uma greve em
com salários mais baixos.
São Paulo que envolveu diversas categorias
Em 1966 foi criado ainda o Instituto Nacio-
profissionais e mobilizou cerca de 700 mil tra-
balhadores. nal de Previdência Social (INPS), que agregava no
Com o golpe militar de 1964, o sindicalismo mesmo órgão vários institutos de aposentadoria
voltou a ser alvo de repressâo. As diretorias sin- e pensões. Assim, o governo centralizou também
dicais mais combativas foram cassadas e substi- os serviços de saúde. Essa medida foi um grande
tuídas por interventores [ ... J. avanço em termos de cidadania, porém atendia
[ ... ] Aconteceram, assim, centenas de prisões apenas aos trabalhadores com registro na Cartei-
e dernissões [ ... ]. Espalhou-se o medo entre os
ra de Trabalho e Previdência Social (CTPS). Autô-
trabalhadores, desarticulando o movimento sin-
nomos, empregados domésticos e trabalhadores
dical, até então combativo. {... Foram anos de
duro silêncio das classes operária e camponesa. rurais, que ainda não tinham direito ao registro,

E ... ].
só foram beneficiados pela Previdência Social a
partir do início da década de 1970.
GERAB, Wittiarn Jorge; ROSSI. Waidemar.
Indústria e trabalho no Brasil: Limites e desafios.
São Paulo: Atual, 1997. p. 60.

Durante a Ditadura Militar (1964-1985),


os direitos sociais foram alterados significativa-
mente. Em relação aos direitos trabalhistas, além
da intervenção direta nos sindicatos, o governo CTPS é um documento necessário para
ae a pessoa possa prestar serviços
passou a definir os reajustes salariais alegando a LIfldiversas áreas, como comércio,
necessidade de combater a infLação e incentivar o :distria, agricultura etc. Esse documento
a garantia legal de acesso aos direitos
crescimento econômico. tiabalhistas: seguro-desemprego,
Em 1966, foi criado o Fundo de Garantia beneficios da Previdência Social e FGTS.
do Tempo de Serviço (FGTS), um fundo em que
empregador deposita mensalmente 8% do valor A infLação é um desequilíbrio econômico cau-
do salário do funcionário em uma conta bancária. sado por uma alta geral dos preços decorren-
Esse valor, atualmente, pode ser retirado em caso te principalmente do alto poder de compra dos
de demissão sem justa causa, morte, compra de consumidores em relação à quantidade de bens
imóvel para moradia ou acometimento de doenças e serviços à disposição deles.

208
Também na década de 1970,
as cidades pau- Na Constituição de 1988,
que marca o resta-
listas de Santo André, São Bernardo do Campo belecimento do Estado democrático no Brasil, os
e São Caetano do Sul (ABC), uma das regiões direitos trabalhistas foram ampliados com a fixação
mais industrializadas do Brasil, encontravam-se às do salário mínimo, o abono de férias e a garantia de
voltas com movimentos sindicais e grevistas. Foi não intervenção do poder público nos sindicatos.
nessa região que ressurgiu o movimento operário. A "Constituição Cidadã", como foi chamada, am-
Trabalhadores de grandes fábricas, como Ford e pliou a garantia de direitos sociais, mas nem todos
Volkswagen, fizeram amplas paralisações buscando se tornaram efetivos. Atualmente, ainda prevalece
autonomia sindical, melhores salários e condições a desigualdade social, além de várias mazelas que
de trabalho, além de lutar pela mobilização e orga- atingem a maior parte dos trabalhadores brasileiros.
nização da classe. Foi o surgimento do
"novo sindicalismo".
Com esse movimento voltaram
à cena as centrais sindicais e surgiu o IL.
Partido dos Trabalhadores (PT). A partir
de 1979, outras categorias começaram
.. Liij"\ JJE
a aderir aos movimentos grevistas,
EXFL'çffl7
espalhando paralisações por todo o
país. Cobradores de ônibus, lixeiros,
funcionários públicos, bancários, entre
outros, começaram a perceber a força
da organização e da greve e cruzaram os
braços como forma de buscar mudanças
trabalhistas e sociais. A anistia política e
o fim da Ditadura Militar também foram
Muitidao de trabalhadores durante assembleia na greve dos nietalúrgicos, no estado da Vila
reivi ndicações desses movimentos. Euclides. em São Bernardo do Campo (SP), 1979.

Organizandoideias
Leia o texto a segir e faça o que se pede implantação do FG'l'S que, novamente, vai significar
UITI corte e uin novo "arrebanhamento", dando início

Durante o século XX, foram vários os ciclos de a uma nova estratégia de controle dos trabalhadores:
"arrebanhamento" de trabalhadores, seguidos de a flexibilização do trabalho, descoberta muito tempo
períodos de crescimento de suas lutas e encerrados antes que isso viesse a ser a moda mundo afora.
pelos cortes abruptos das regras do jogo. Perseguidos, [ARA. Francisco. TrabaLho, educação, cidadania: reflexões a
os imigrantes europeus, em grande parte anarquistas, partir de educação entre trabalhadores. Rio de Janeiro:
foram substituidos, na década de 40, por novas levas Capina; Ceris; Mauad, 2003. p. 32-33.

de trabalhadores vindos diretamente da roça, sob a O que o autor quis dizer com o uso do termo
proteção da nova legislação do trabalho, do salário
arrebanhamento?
mínimo e da estabilidade no emprego. ...]
Em princípios dos anos 60, de novo o crescimen-
Explique a estratégia de controle dos traba-
to da maré libertária se faz sentir: ligas camponesas,
lhadores durante a Ditadura Militar citada no
lutas operárias, campanhas de alfabetização e de
texto.
valorização da cultura popular, lutas pelas reformas
de base e crescimento do movimento estudantil - na
Tendo em vista o caráter repressor da Ditadura
esteira das vitoriosas revoluções chinesa e cubana.
Mas a ditadura militar traria um basta a esta Militar brasileira, o que significava a implanta-
escalada e esse ciclo da luta dos trabalhadores teria ção de novas leis trabalhistas que beneficias-
seu fim com a intervenção nos sindicatos e com a sem, de certa forma, os trabalhadores?

0 trabalho no Brasil contemporá 209


TrabaLhadores e trabaLhadoras
do campo
Os camponeses ou trabalhadores rurais no evidentes as permanências. Isso se deve principal-
Brasil atual não podem ser descritos apenas de mente à estrutura fundiária vigente no Brasil desde
uma maneira, pois há aspectos econômicos e rea- o Período Colonial. Predomina ainda o latifúndio
lidades sociais em todo o país que os diferenciam. monocultor, que agrega trabalhadores fixos e vo-
Eles podem ser assalariados, com ou sem cartei- lantes, usa maquinários com mais tecnologia e faz
ra assinada; trabalhadores volantes (boias-frias); grandes investimentos próprios ou obtidos no sis-
contratados; fazendeiros; pequenos agricultores. tema financeiro (bancos). Entretanto, há também
Enfim, o trabalhador rural hoje, diferentemente as roças, cuja produção é realizada por meio do
daquele do início do século XX, não é mais o cam- emprego de pouco ou nenhum maquinário, de
ponês recluso ao espaço rural, isolado no interior; pouco ou nenhum financiamento externo (cré-
ele está interligado ao meio urbano. ditos para investimento obtidos em bancos) e da
A agroindústria e a interdependência entre mão de obra familiar.
os espaços urbano e rural transformaram as re- No campo ocorrem, ainda, relações de traba-
lações e a definição do trabalho no campo. Os lho entre os proprietários dos meios de produção,
produtos rurais são industrializados e beneficia- sobretudo a terra, e os que vendem sua força de
dos para chegar às cidades, e o camponês é um trabalho ou atuam de outras formas. Entre os não
consumidor de produtos como tratores - usados proprietários estão os parceiros, arrendatários e
para produção - ou itens como eletrodomésti- assalariados. Parceiros são os que pagam pelo uso
cos, parabólicas e outras tecnologias carregadas da terra ao proprietário com parte da produção.
de valores urbanos. Os arrendatários pagam uma espécie de aluguel
Se no modo de viver e sobreviver do traba- pelo uso da terra, geralmente em moeda corren-
lhador rural podem ser listadas várias mudanças, te, ao proprietário.Já os assalariados vendem sua
no que se refere ao trabalho no espaço rural são força de trabalho em troca de remuneração em

01 2014.

210 pítuto 8
dinheiro e podem ser classificados quanto à forma No universo rural, a mão de obra feminina
de pagamento (mensal, diária ou por tarefa) ou sempre esteve atuante. No entanto, assim como
de acordo com o tempo de contrato: permanen- no meio urbano, as mulheres conviveram e ainda
tes (mantêm vínculo trabalhista mais longo com convivem com o preconceito e a discriminação de
empregador) e temporários (boias-frias - con- gênero.
tratados por curtos períodos, principalmente para A história das trabalhadoras rurais é também
plantio e colheita). um relato de luta por direitos, pela inserção no
Até a década de 1960, mais da metade da mercado de trabalho, pela igualdade de oportu-
população brasileira morava no meio rural. Entre- nidades e remuneração digna. As trabalhadoras
tanto, esse enorme contingente não era atendido rurais, assim como as urbanas, mobilizam-se e
pela legislação trabalhista, ou seja, a situação dos fazem debates e ações para modificar suas condi-
trabalhadores rurais permanecia inalterada. Além ções de vida e de trabalho.
de não haver legislação específica, ainda prevale- Desde a década de 1970, as mulheres parti-
cia uma antiga questão social: lavradores sem terra cipam ativamente da luta pelo acesso à terra. Nos
eram espotiados pelos grandes latifundiários. Um assentamentos, elas são produtoras rurais ativas,
exemplo foi a questão previdenciária, que, embora tanto no cultivo do solo quanto nos embates com
tenha sido criada em 1932 e unificada em 1966, só proprietários e policiais, buscando sempre a igual-
passou a incluir os trabalhadores rurais em 1971. dade de direitos. Antes do censo demográfico de
A luta dos trabalhadores ganhou reforço com 1991, era difícil precisar o número de trabalhado-
crescimento das Ligas Camponesas a partir das ras rurais, uma vez que a maioria delas se declara-
décadas de 1940 e 1960, com a criação da Co- va dona de casa. Durante esse censo, foi feito um
missão Pastoral da Terra, em 1975, pela Conferên- apelo para que elas declarassem sua profissão, com
cia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), e com objetivo de acabar com a ideia de que não havia
a formação do Movimento dos Trabalhadores participação ativa dessas mulheres no trabalho
Rurais Sem Terra (MST), em 1984, intensificando fora do lar. Nos levantamentos feitos no século XXI,
os esforços pela posse e uso da terra. a atuação da mulher no meio rural está mais escla-
recida, como podemos verificar no gráfico a seguir.

8- - - -

718

651
:16

5,73

4,6
44 4,45 4,41
4,21
4,09 4,04
3,95
4-
336 Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicilios 200112011.
3- 1 Disponivel em:
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 <http://seriesestatisticas.ibge.gov.br/
series.aspx?no=7&op=0&vcodigo=P0
Homem Mulher 300&t=sexo-area-rural>.
- - Acesso em: fev. 2016.

AS Gtossr.
Espoliado: privado de aLgum direito por meio de atos violentos ou fraude.

0 trabalho no Brasil contemporân.: 211


Recentemente, surgiu uma alternativa à produ- são deixados de lado, com o objetivo de produzir
ção monocultora e às relações tradicionais de tra- alimentos livres de pesticidas químicos e em peque-
balho no campo: os alimentos orgânicos. Ainda em na escala, procurando, desse modo, mudar o con-
fase inicial, a agricultura orgânica representa uma ceito de produção em grandes quantidades. O não
forma de resistência ao sistema empresarial. Em um uso de tecnologia e equipamentos pesados para
movimento contrário à mecanização, esse tipo de a produção desses alimentos, apesar de pequena o
produção ganha cada vez mais espaço no merca- em porcentagem quando comparado à produção
do. Os grandes maquinários e produtos químicos mecanizada, aponta para a possibilidade de pro-
duzir de maneira diferente,
6 • • ou seja, com o trabalho de
poucas pessoas, geralmente
associadas por laços fami-
liares. Assim, consegue-se
:
. produzir alimentos, mesmo
que em menor quantidade,
i:ft apoiando-se em relações de
trabalho diferentes.

O
Colheita de morangos orgârricos
1 em Londrina (PR). 2014.

Organizando ideias
Os movimentos das mulheres rurais prática: a politização do cotidiano doméstico; o fim
do isolamento das mulheres no seio da família; a
I)urante muito tempo se pensou que seria muito
abertura de caminho para que se considere impor-
difícil mobilizar as mulheres trabalhadoras, porque
tante a reflexão coletiva; a definitiva integração das
se considerava irregular e provisória sua inserção no
mulheres nas lutas sociais e seu papel de destaque
mercado de trabalho. Também prevalecia a convic-
na própria cultura sindical.
ção de que elas fossem as principais depositárias e
GIULANI. Paota Cappeltin. Os movimentos de trabalhadoras e a
reprodutoras dos valores patriarcais dominantes na sociedade brasileira. Ir): DEL PRIORE. Mary Orgi. História das
sociedade rural brasileira. No entanto, vários estu- mulheres no BrasiL. SSo Pauto: Contexto, 2001. p. 645 e 649.
dos, de acadêmicos e de militantes, mostram que
Em dupla, responda às questões a seguir.
tais ideias já não correspondem à realidade. Em pri-
meiro lugar, a participação produtiva dessas mulhe- Qual foi a contribuição dos movimentos das
res é massiva e marcada por uma longa jornada de mulheres trabalhadoras rurais na luta por
trabalho mal remunerado. Em segundo lugar, suas mudanças para todas as mulheres?
mobilizações já têm ganho visibilidade, através de
Ao expor que antes se acreditava que seria
manifestações, protestos e abaixo-assinados que re-
difícil mobilizar as mulheres em razão da baixa
clamam o respeito à legislação, o acesso à previdên-
cia social e também o direito de participar ativamen- participação delas no mercado de trabalho, a
te de seus sindicatos. autora demonstra as ideias referentes a elas.
[..j Que mentalidade é essa? Como a mulher é
As mulheres têm contribuído para que algumas vista? Quais são as mudanças e permanências
transformações importantes possam ser postas em hoje, em relação a essa mentalidade?

212
O trabaLho setorizado
Ao longo do século XX, as em-
presas e os trabalhadores respon-
sáveis pelas atividades econômicas
do Brasil se organizaram em três
grupos, chamados de setores de
atividade econômica e classifica-
dos de acordo com o tipo de tra-
balho que realizam: setor primário,
secundário e terciário.
O setor primário engloba as
atividades agrícola, pecuária e de -
extração. Éo setor de produção de
matérias-primas para a indústria. -
Os negócios importantes nesse .- - -
4IL) L,
setor sao a agricultura o agrone- «
gócio, a pesca, a silvicultura e toda
"-
área relacionada à mineração e às -
indústrias pedreiras.
IN
O setor secundário transfor-
..
ma produtos naturais produzidos
pelo setor primário em produtos
de consumo. A indústria de trans- Lrrçu 1) 1acaus
Es.e e um exemplc de produçao no setor prirnarro.
formaçao e a construçao civil sao
atividades desse setor. países desenvolvidos, esse é o setor que gera a
O setor terciário engloba a prestação de maior parte da renda.
serviços e envolve atividades relacionadas com Na História do Brasil, a atividade prioritária
comércio, saúde, transporte e educação. Nos passou do setor primário (até o século XIX) para
o secundário; e, desde meados
do século XX, o setor terciário
:4 1 está em evidência. Arquitetos,
engenheiros, mestres de obra
&t .
e pedreiros são exemplos de
-
profissionais que compõem

ÁF o setor terciário.
No setor de serviços estão
bancários servidorespúblicos,

1' administradores, contabilistas,


educadores, funcionários da
saúde (médicos, enfermeiros
etc.), técnicos de vários ramos
(por exemplo, informática),
garçons etc. Abrange um sem-
-número de profissionais que
dão suporte ao comércio e à
1r:ro:rihadorrs faLeci reparo em turbina na Usina Hidrelétrica de Furnas. São José da Barra fMG), 2013.
Esse d um exemplo de trabalho no setor secundário. indústria.

213
Os funcionários públicos (ou
servidores públicos) formam uma
categoria à parte no setor terciário.
Dessa categoria fazem parte civis
e militares que trabalham para a
administração pública, em regime
diferenciado dos demais traba-
lhadores da iniciativa privada. No
serviço público, a estabilidade é
garantida, ou seja, o funcionário
não pode ser demitido, salvo ex-
ceções previstas em lei. A remune-
ração desses profissionais é paga
diretamente pelo Estado. Entre
esses servidores estão professores
de escolas públicas, médicos de
hospitais públicos, policiais, bom-
beiros e todos os demais servidores
;
necessários ao atendimento da Y

população nas esferas municipal,


estadual e federal.
Durante muito tempo, esses
setores não dialogavam entre si e
englobavam sempre as mesmas
atividades predeterminadas. En-
tretanto, com o avanço tecnoló- -
gico e o aparecimento de novas
atividades empresariais e de ramos
mais "modernos" da economia,
e levando em conta o avanço da a- --

globalização e da interligação de
diversos países e empresas em
razão das novas formas de produ-
ção e comércio, as barreiras entre ProfeSsor;,
Esse é um exempi a de trabalho no setor terciário.
os setores, assim como as barreiras
espaciais, foram perdendo forças. passou a constituir outro segmento, o da logística.
Um exemplo da atual interligação entre os Outro exemplo é o crescente surgimento das
setores é a crescente mundialização dos processos organizações não governamentais (ONGs) no ter-
produtivos, em que o produto de um país é feito com ceiro setor, com o intuito de suprir a carência de
mão de obra de outro lugar e quase todas as peças prestação de serviços fundamentais ao desenvolvi-
de sua fabricação vêm de diferentes partes do globo, mento social, especialmente nas partes mais pobres
sendo muitas vezes vendido em um mercado distante do globo. As ONGs integram serviços e países na
do lugar onde foi produzido. A própria venda desse arrecadação de recursos e na execução de seus obje-
produto, por sua vez, exprime essa mudança, uma tivos, originando o que poderia ser denominado de
vez que o comércio também mudou com o avanço setor à parte dentro do setor terciário. Esse "setor" é
tecnológico, podendo ser realizado pela internet e apoiado cada vez mais pela iniciativa privada, pro-
contar com o avanço e o incremento da tecnologia curando melhorar os sistemas de benfeitorias sociais
no serviço de entregas, que, nessa metamorfose, das empresas e reduzir o pagamento de impostos.

214
Com o objetivo de otimizar as iniciativas que fins lucrativos. Elas oferecem serviços que visam
envolvem o desenvolvimento da sociedade civil, ao desenvolvimento e à melhoria da qualidade de
as diferentes responsabilidades são divididas en- vida da sociedade civil.
tre setores. Esse último setor, por sua vez, costuma ser
Ao primeiro setor são destinadas as questões auxiliado pelo terceiro setor, que é formado
sociais de responsabilidade do governo. Ele agre- por organizações privadas e não governamen-
ga os interesses públicos e pode ser exemplifi- tais sem fins lucrativos, cujo objetivo é suprir as
cado por órgãos governamentais, como ministé- carências da sociedade não resolvidas pelo go-
rios, secretarias e autarquias. verno. São representantes desse setor as funda-
O segundo setor é formado pela livre- ções, entidades beneficentes, ONOs e entidades
-iniciativa, ou seja, por empresas privadas com fila ntrópicas.

Apesar de esse processo


avançar rapidamente e atingir
praticamente todos os países ,1 •

do globo, em cada lugar os


setores evoluíram em tempos
diferentes levando em conta
111 Ii
as atividades econômicas pra-
ticadas e as necessidades dos
mercados internos e externos.

Apresentaçao de jovens da ONG Atitude Social


na Favela Santa Marta, no bairro de Botafogo,
Rio de Janeiro (RJ), jul. 2013. O objetivo da
ONG Atitude Social é criar oportunidades de
desenvolvimento humano, trabalhando pela
inclusão de crianças e jovens em situação
de alta vulnerabilidade social. Ela oferece
atividades como oficinas de leitura, artes,
audiovisual e música.

Alguém já lhe perguntou qual profissão você Depois, com os colegas que escolheram
escolheu ou escolherá para sua vida? Você a mesma profissão, pesquisem dados mais
também já fez essa pergunta a alguém? concretos sobre ela. Se possível, entrevistem
Escolha uma profissão com a qual você se duas pessoas que tenham essa profissão para
identifique e anote informações sobre ela: ta- constatar se a realidade corresponde aos dados
refas desenvolvidas, remuneração, mercado de da pesquisa.
trabalho, tempo de estudo etc. Não se preocupe Para finalizar apresentem o resultado em
nesse momento com dados exatos, mas sim em sala de aula e conversem sobre os aspectos
levantar hipóteses. comuns às profissões escolhidas.
Em sala de aula, apresente sua escolha e
verifique quais foram as profissões mais es-
colhidas pela turma.

O trabalho no Brasit contemporãnL. 215


Desemprego e mercado
informaL de trabaLho
O desemprego é um problema grave que interdependência entre os países aumentou (e
afeta não só o Brasil e os países em desenvolvi- ainda aumenta) progressivamente. A relação cada
mento, mas também nações mais ricas, como vez maior entre as economias dos países faz com
Estados Unidos, Japão e algumas potências que os níveis de inflação e crescimento de uma
europeias. economia influam diretamente em outros mer-
Como reflexo do avanço tecnológico, que cados a ela relacionados. Esses fatores alteram
facilitou a transição de informações e com- diretamente as relações comerciais, de trabalho
partilhamento de capitais de investimento, a e os mercados financeiros ao redor do globo.

[ ... ] A mudança drástica na base tecnológica e seus lucros para setores da sociedade, organizando
na organização dos negócios, em escala planetária, assim uma redistribuição de recursos na forma de
ocorreu [ ... ] dada sua rapidez e alcance, de um modo serviços de saúde, educação, moradia, infraestrutura,
que se esquivou a quaisquer controles, fiscaliza- seguro social, lazer e cultura, o que caracterizou a
ções, debates ou avaliações, suas fases, operações, fórmula mais equilibrada de prática democrática,
rumos ou consequências não foram discutidos em chamada "Estado de bem-estar social". No mesmo
quaisquer foros internacionais, nem sequer pelos sentido, as organizações operárias, OS sindicatos e
governos e pelas sociedades diretamente afetados as associações da sociedade civil atuavam tanto para
por elas. Nem essa transformação foi condicionada pressionar corporações a reconhecer os direitos e
por qualquer mudança nas leis ou regras básicas assegurar as garantias conquistadas pelos traba-
que regem os sistemas econômicos ou deu ensejo lhadores, como para pressionar o Estado a exercer
a que novas normas fossem criadas com o fim de seu papel de proteção social, amparo às populações
responder aos seus efeitos. Tudo se passou como carentes, redistribuição de oportunidades e recursos,
se os órgãos políticos ou as instâncias decisórias contenção dos monopólios e contrapeso ao poder
existentes em nada contassem. econômico. Assim, sociedade e Estado se tornaram
Esse processo revela que as grandes corporações aliados no exercício de controle das corporações e
ganharam um poder de ação que tende a prevalecer numa partilha mais equilibrada dos benefícios da
sobre os sistemas políticos, os parlamentos, os tribu- prosperidade industrial.
nais e a opinião pública. O quadro institucional que Com a globalização, porém, essa situação mudou
definiu a estrutura das sociedades democráticas mo- por completo. As grandes empresas adquiriram um
dernas, baseadas na divisão entre OS três poderes, mais tal poder de mobilidade, redução de mão de obra e
a ação vigilante da opinião pública, informada em capacidade de negociação - podendo deslocar suas
especial pela atividade fiscailizatória da imprensa livre, plantas para qualquer lugar onde paguem os me-
já não dá conta de controlar um poder econômico nores salários, os menores impostos e recebam os
que escapa aos seus limites institucionais históricos. maiores incentivos -, que tanto a sociedade como o
Pode-se dizer que desde a Revolução Científico- Estado se tornaram seus reféns. O tripé que susten-
-Tecnológica até os anos 70, a tendência histórica tava a sociedade democrática moderna foi quebrado.
foi que os Estados nacionais controlassem a econo- SEVCENKO, Nicolau. A corrida para o século XXI:
mia e as grandes corporações, impondo-lhes um no Ioopda montanha-russa. São Paulo:
sistema de taxação pelo qual transferiam parte dos Companhia das Letras. 2001 p. 30-31.

Um exemplo claro foi a crise do mercado A partir da crise de 2008, os mercados fi-
financeiro em 2008, que começou nos Estados nanceiros e as relações comerciais foram se rea-
Unidos, afetou diretamente a economia de nações justando em todo o mundo, e vários países, que
com as quais mantinham relações comerciais estrei- antes não ocupavam posição econômica muito
tas e espalhou-se ao redor do globo, acarretando significativa, passaram a despontar em novos
inflação e aumento do desemprego a vários países. setores da economia mundial. Foi um período

216
de ascensão para nações como o Brasil - que se desenvolvimento de novastecnologias. Ao mesmo
destacou na extração e produção de combustí- tempo, houve diminuição da atividade econômica
veis, por exemplo - e a Índia - que sobressaiu no nos países desenvolvidos.

TÂXASOEDESEMPREGODAPOPULACÀQ(EM%)

Países 2005 2006 2007 2003 2009 2010 2011 2012 2013

União Europeia 9,6 8,5 - 7.4 9 9,5 9,5 10,3 10,5

Áustria 5,2 4,9 4,4 3,8 4,8 4,5 4,2 4,4 4,9

Bélgica 8.4 8,1 7.5 7 7,9 8,5 7,7 7.6 8.8

Alemanha 11,7 - 7.1 7.8 7.5 7,6 6 5,5 5.3

Dinamarca 5,7 3,8 2,8 1,9 4,3 4,2 6 6 6

Grécia 9,9 9,2 8,3 7,7 9,4 12 17,3 24,3 27,9

Espanha 9,2 8,1 8,3 13,9 18,1 20 21.7 25.1 26,3

Finlândia 8,4 7 6,9 6,4 8,2 8,4 7,8 7,8 8,1

França 9,9 8.7 7,9 7,4 9.1 9,5 9,3 10.3 10,2

Croácia - 18 11.8 13,7 16,1 17.6 17.7 19.1 21,6

Hungria 7.2 7,4 7,3 7,8 10 10,7 10.9 10.9 10,5

Irlanda 4.3 4,3 4,6 6,1 11,8 13,7 14,4 14,7 13,5

Itália 7,7 7 6,2 6,8 7,8 8,4 8,4 10,6 12,4

Luxemburgo 4,5 4,1 4.4 4,5 5,7 5,5 5,9 6 4,9

Polônia 18,2 14,9 12.8 9,8 11,8 11,8 12,4 12,8 10.3

Portugal 7,6 7,6 8 7,6 9.5 10,7 12.7 15.7 16.8

Romênia 5,9 6,1 4,1 4,4 7,8 8,2 5,1 5,6 7,3

Eslovênia 10,1 9,6 7,7 6,7 9,2 10,6 11,8 12 13,1

Eslováquia 11,7 10,2 8,4 7,7 114 13,5 13,5 13,6 14,4

Reino Unido 4,7 2,9 5,3 5,6 7,6 7,9 8,1 8 7,2

Japão 4,4 4,1 3,8 4 5,1 5,1 4,6 4,4 4,1

Noruega 4.6 3,5 2,5 2,6 3,2 3,6 3,3 3,2 3,6

Turquia 9,3 10,2 10,2 10,7 14,1 12,4 9.8 9,2 9,3

Estados Unidos 5,1 4,8 4,6 7,2 9.3 9,7 9 8,1 7,3

Índia 8,9 7,8 7,2 6,8 10,7 10,8 9,8 8,5 8,8

Brasil 9,8 9,6 9,3 7,9 8,1 7 6 5,5 5,7

Fonte: ::5x Mi,i'J.

U U1íÚ ítO Ü:;i o:eporrn. 217


Esse movimento retraiu muitas economias de em 2015, a taxa de desemprego manteve-se por
países desenvolvidos, causando grandes mudanças volta 25% da população economicamente ativa.
econômicas e aumento da inflação e dos níveis Um sinal significativo da gravidade da crise
de desemprego, o que provocou, consequente- portuguesa pôde ser percebido no número de
mente, grandes mudanças sociais, especialmente pessoas que deixaram o país. Calcula-se que, entre
na Europa, cuja economia unificada na Zona do 2010 e 2015, 485 mil portugueses, especialmen-
Euro foi vertiginosamente afetada pela crise. O te jovens, migraram para outros países. Mesmo
aumento dos níveis de desemprego, por sua vez, foi os que estavam empregados não tinham muito
desencadeador de uma grave crise social, geradora a comemorar, pois os salários eram baixos; e a
de muitos conflitos e manifestações populares. perspectiva de aumentos reais, remota.
Portugal, por exemplo, sofreu grandes impac- Os países europeus mais afetados pela crise
tos da crise e passou por transformações significa- econômica foram Grécia, Portugal, Espanha e
tivas. Os sucessivos governos portugueses foram Irlanda. Entretanto, os efeitos da crise aparece-
pressionados por organismos internacionais a ram em outras regiões, onde foi possível observar
adotar medidas de austeridade a fim de reestruturar principalmente o aumento da criminalidade, da
a economia. Essas medidas incluíam a redução dos xenofobia, do desemprego, de pedintes nas ruas
gastos públicos, corte de salários e aumento das e do fluxo de pessoas que deixaram o continen-
horas de trabalho, provocando graves problemas te em busca de melhores condições de vida em
sociais. Embora apresentasse pequenas melhoras outros lugares.

- •T Fita de candidatos em busca de


emprego na cidade de Sintra. Portugal,
- jul.20l3.

M ossário
Austeridade: nesse sentido, rigorosa redução dos gastos públicos.

o governo brasileiro desenvolve, há décadas, trabalhos de promoção do emprego. Por meio de


diversos programas, o Estado estimula a criação e a rnanutençào de postos de trabalho em muitas
áreas, bem como promove a proteção aos desempregados.
Em grupo, pesquise quais programas estão em vigor atualmente e como eles funcionam. Apre-
sentem os resultados por meio de seminário.

218
2 Viajando peLa história
nos Estados Unidos e países da Europa, as
O combate ao remunerações já não eram suficientes para
desemprego a manutenção de boas condições de vida.

Até o século XX, tanto no Brasil como No panorama atual é possível obser-
var novas formas de análise dos fenômenos
em outros países do mundo, o desemprego
relacionados ao desemprego, que dizem
era um fator ligado apenas à pobreza.
mais respeito a situações regionais ou
Com a crise financeira decorrente da
individuais de inserção social do que aos
quebra da bolsa de valores de Nova York
índices de desemprego.
em 1929, o desemprego passou aserconsi-
Isso ocorre porque o surgimento de
derado um problema social e involuntário,
um novo mercado de trabalho, paralelo
resultante do modo de funcionamento do
ao tradicional, estabelece, aos poucos,
sistema. Definiu-se então que, para o com-
novas relações entre o trabalho e a manu-
bate do desemprego, seria necessária uma
tenção das condições básicas para a vida
intervenção pública, o que originou a tese
em sociedade.
de que o Estado deveria ser o responsável
As mudanças referentes ao que enten-
por administrar esse problema gerado pelo
demos por desemprego e as relações entre
mercado.
ele e a obtenção de condições básicas de
A partir desse momento, o desempre-
sobrevivência, passando pelo amparo do
go passou a ser alvo da política econômica
Estado e pelas transformações das ocupa-
dos países industrializados, uma vez que as
ções e relações de trabalho, foram se trans-
novas práticas de incentivo à atividade eco-
formando junto com nossos conceitos de
nômica institucionalizaram gradativamente
emprego e pertencimento a um grupo social
a ideia de direito ao trabalho.
fechado, seja ligado à ocupação, seja à renda
Ao longo do século XX, entretanto,
proveniente dela.
conceito de desempre-
go passou por inúmeras
mudanças, grande parte
oriunda das transformações
relacionadas ao mercado
de trabalho e às diferen-
tes estatísticas relativas ao
desemprego, sempre pau- -
tadas na cada vez mais
k 14 r
exigida especialização dos
trabalhadores.
Na década de 1980
I
desemprego voltou a ser
fator secundário, uma vez
que se percebeu a dissocia-
ção entre as noções de de-
semprego e pobreza. Apesar
da gradativa diminuição Escola do Serviço Nacional de Aprendizagem Indusinai - Soir Cpna $10. 20 15.
O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) foi criado em 1942 por Gekiho Vargas. com o
dos níveis de desemprego intuito de atender à necessidade de formação de mão de obra para a indústria de base.

00
-, 219
A terceirização No Brasil, as taxas de desempregados têm
variado de acordo com o crescimento econômi-
A década de 1990, no Brasil, foi marcada co do país. O desemprego atinge grande parte da
pela abertura da economia ao mercado externo. população, especialmente os jovens e os habitan-
Com isso, vários países, como a China, começa-
tes da periferia dos grandes centros urbanos. Os
ram a vender produtos mais baratos no mercado
subempregados, ou trabalhadores do mercado
brasileiro, que passaram a concorrer com os arti-
informal, não são considerados nas estatísticas
gos produzidos pelas empresas nacionais. A forte
do desemprego, pois realizam, mesmo que precá-
concorrência gerou uma série de falências em em-
presas brasileiras e, consequentemente, o aumen- ria ou temporariamente, algum tipo de atividade

to do desemprego. re mune rad a.


Devido à competição econômica, intensifica- Há muitos casos de trabalhadores informais.
da pela globalização, as empresas tiveram que fazer Alguns trabalham por conta própria, sem montar
constantes e rápidas alterações, tanto nos produtos uma empresa, como os vendedores ambulantes ou
como nos métodos administrativos, para continuar as revendedoras de produtos por catálogo. Outros
disputando consumidores. Para que isso se efetivas- trabalham temporariamente, como os contratados
se, foi preciso também um novo tipo de trabalhador
por lojas de shopping no período de festas de fim
- mais flexível, adaptável e em permanente capaci-
de ano. Há, ainda, os trabalhadores autônomos,
tação -, e não mais aquele que sabia fazer apenas
que prestam algum tipo de serviço a empresas sem
uma parte da produção e a repetia continuamente.
o registro oficial em carteira e acertam as condições
Da parte do empregador, vieram as pressões
que forçaram mudanças na legislação trabalhista ou de trabalho por contrato, podendo pagar a Previ-

subteríúgios para desonerar a folha de pagamento. dência Social por conta própria, o que lhes permite
Um exemplo é a terceirização: para não ter o ônus desfrutar alguns benefícios dos trabalhadores regis-
dos encargos trabalhistas, as empresas contratam trados, como a aposentadoria.
serviços de terceiros, pessoas físi-
cas ou jurídicas. Serviços de lim-
peza e conservação, negociados
para execução temporária em vez
da contratação de um ou mais
trabalhadores fixos, representam
bem o serviço terceirizado. Nessa
relação de trabalho, o presta-
/
dor de serviços, muitas vezes
trabalhador temporário, acaba
abrindo mão de seus direitos e \
benefícios_sociais em troca da \.
manutençao do emprego. Esse
fator também contribui para o
aumento do número de traba-
2
ri

lhadores sem carteira assinada,


promovendo a informalidade.
Trabalhadoras do setor têxtil. lbirã (SP). 2013.
As costureiras são exemplo de profissionais que sofrem com a terceirização.

A 'i(;ssric
Desonerar: livrar-se de ônus, do pagamento Subterfúgio: pretexto para evitar cumprir uma
de encargos. obrigação.

220
Há os prestadores de serviços na área de essa questão é bastante complicada e de solu-
consertos, as domésticas diaristas, os auxiliares ção em longo prazo. No Brasil, algumas medidas
na construção civil e mais um grande número de foram adotadas com esse objetivo, como a nacio-
trabalhadores que sobrevivem fazendo pequenos nalização das empresas instaladas em nosso terri-
"bicos", serviços eventuais e temporários. Essa classe tório, a diminuição da cobrança de impostos para
de trabalhadores, até pouco tempo atrás, não tinha empresas estrangeiras e a regularização de novas
amparo legal que regulamentasse o pagamento de profissões urbanas.
benefícios ou impostos, mas a orga-
nização de movimentos de reivindi-
caçao fez com que fossem instituidas '-
obrigações a seus empregadores. Um
exemplo dessa luta foi a instituição dos & V:
direitos dos empregados domésticos,
que passou a fixar o pagamento de -
£t E'
salário mínimo, férias e décimo tercei- 4 FOTO
ro à classe, além de outros benefícios - - OURO
ADVOGADO
já obrigatórios para outras classes de
trabalhadores.
Como resolver o problema de
desemprego e subemprego? Uma das
alternativas é o crescimento econômi-
co que, em certa medida, depende de
mudanças na política econômica e da
realização de reformas urgentes e ne-
cessárias, como a tributária e a social,
além da reforma agrária. Portanto, Homem-placa em So Pau!o (SO). 2015.

Analise a letra da cançâo e faça o que se pede Salário é pouco, não dá pra nada
Desempregado também não dá
Trabalhador E desse jeito a vida segue sem melhorar

Está na luta, no cori.e-corre, no dia a dia Trabalhador


Marmita é fria mas se precisa ir trabalhar Trabalhador brasileiro
Essa rotina em toda firma começa às sete da manhã Garçom, garçonete, jurista, pedreiro
Patrão reclama e manda embora quem atrasar Trabalhador brasileiro
Trabalhador Trabalha igual burro e não ganha dinheiro
Trabalhador brasileiro Trabalhador brasileiro
1)entista, frentista, polícia, bombeiro Trabalhador
Trabalhador brasileiro SEU JORGE. América Brasil. EMI. 2007, faixa 2.

Tem gari por aí que é formado engenheiro


Como o compositor retrata o trabalhador
Trabalhador brasileiro
brasileiro?
Trabalhador

E sem dinheiro vai dar um jeito Você considera que essa abordagem mostra
Vai pro serviço a realidade de todos os trabalhadores brasi-
É compromisso, vai ter problema se ele faltar leiros? Justifique.

0 trabalho no Brasil (:oniernoç' 221


Debate interdiscipLinar

A participação das mulheres no mercado de trabalho


A luta das mulheres pela igualdade de direi- Essa situação vem se modificando rapida- O
tos está ligada ao crescimento da força de traba- mente. Hoje, cerca de metade das trabalhadoras
lho feminina. Os dados sobre a participação das brasileiras completou a educação básica (acumu-
mulheres no mercado de trabalho poderiam até lando, portanto, mais de 11 anos de estudo). Entre
mesmo ser usados como um indicador da situa- aquelas que completam quatro anos de Ensino
ção feminina nos diversos países do mundo: nas Superior, a taxa de atividade - ou seja, de exercício
nações em que há uma grande inserção das mu- profissional remunerado - ultrapassa 80%.
lheres em atividades profissionais remuneradas,
pode-se encontrar um maior número de movimen-
tos feministas pela conquista de direitos sociais.
Grande parte das mulheres vê o trabalho re-
munerado como um caminho para a conquista ,
de sua emancipação: exercer uma atividade remu- T.
nerada traz resultados financeiros - o que influen-
cia a divisão de poder entre mulheres e homens ,
além de ampliar as relações sociais, com grande
impacto sobre o papel social da mulher.
A inserção das mulheres no mercado de tra-
balho traz repercussões sociais, pois exige que
sejam estabelecidas políticas públicas de cuida-
do e educação das crianças, como o acesso a
creches e escolas de Educação Infantil e a am-
pliação da licença de trabalho aos pais. Também
há repercussões na organização das famílias,
como a demanda por uma divisão igualitária de
responsabilidades no cuidado com a residência
e os filhos.
Ocupar postos de trabalho não é tarefa
fácil para elas. Embora grande parte das mulhe-
res mais pobres exerça atividade remunerada há
bastante tempo, a principal inserção feminina se
dava, até algumas décadas atrás, sobretudo em
L
atividades informais, como limpeza, preparo de
comida e cuidado com crianças. TrabaUiadra ;cs (i ri:3rja ,iiassoI 2014

Os dados da página ao lado estão organizados em torno de algumas questões ligadas à partici-
pação das mulheres no mercado de trabalho. Elabore respostas às questões propostas utilizando
os dados como base para os argumentos.

Que desafios quanto ao mercado de trabalho fazem parte da vida das mulheres brasileiras?

222
QUANTAS MULHERES EXERCEM TRABALHO REMUNERADO?

Mulheres ti 4496 remunerado eiS


trabalho
O que isso
representa?
42 Ç /0
mais e em 2013.
idade. dos trabdliadores
brasileiros eram
mulheres em
549

QUE MUDANÇAS DEMOGRÁFICAS


1960 Filhos/Mulher ESTÃO RELACIONADAS
isso A ESSE CRESCIMENTO?
Em média.

41
2000- . . - apenas
2010-.....
A fecundidade As ami
f •l•ias
2,9%
caiu das pessoas
estão .. formavam
menores uma família
em 2013.

COMO SE CARACTERIZA A FORÇA DE TRABALHO FEMININO?


A contribuição financeira
71,3 - A taxa de atividade geral das
1 32% mullieresem2ol3
38,8% 1
Escolaridade
das mulheres
D era de
5,6%fh entre
D 10,5% as que têm mais
L±L_ das famílias economicamente
brasileiras ativas. de 12 anos de estudo
Até De Mais
da renda das famílias
contam com
rendimento
das mulheres
D 3 4a
anos 10
de
11
valor sobe para
7,6%
vinham do trabalho no orçamento. anos anos
feminino em 2013.

A MATERNIDADE CONCORRE COM A CARREIRA?


Taxas de atividade feminina de acordo com a idade do último filho vivo (2009)

'liii I• ,I 1*1. u'ia


Menos de De 2 De 4 De 7 Mais
de2anos a4anos a7anos al4anos del4anos
Forte. IBSE; Orga O progresso das mulheres no Brasil 2003-2010. - 0ep. 0'1,J Mr,llieres. 2011 Dsponivei em: <htlp://oriurriullreres.org,
br/mo-content'themcsvibocc.m irrri/:dkl:llresSO.lxi>. Ac:ess) ciii: fv. ?0. 6.
223
Testando seus conhecimentos Responda no caderno

)UFPeI-RS) Apesar de o Brasil ter atingido 3. )PUC-SP) No Brasil, a CLI - Consolidação


um patamar de crescimento econômico sig- das Leis do Trabalho - foi criada pelo de-
nificativo com o desenvolvimento do setor creto 5452, de 1943, em meio ao governo de
secundário da economia, as condições de Getúlio Vargas, para reunir e sistematizar as
subdesenvolvimento continuam castigando a leis trabalhistas existentes no país. Tais leis
sociedade brasileira. Isso dá ao país um perfil representaram a
de subdesenvolvimento industrializado. Com conquista evidente do movimento ope-
base nas informações anteriores e em seus rário sindical e partidariamente organi-
conhecimentos, é correto afirmar que: zado desde 1917, defensor de projetos
a) o Brasil, mesmo não tendo supera- socialistas e responsável pela ascen-
do a situação de subdesenvolvimento, são de Vargas ao poder.
industrializou-se, apoiado na iniciativa
participação do Estado como árbitro na
de milhões de trabalhadores e na ex-
mediação das relações entre patrões e
tensa abertura do mercado externo aos
trabalhadores de 1930 em diante, per-
produtos brasileiros.
mitindo a Vargas propor a racionaliza-
bi imensa parcela da população brasilei-
ção e despolitização das reivindicações
ra continua excluída da participação
trabalhistas.
na renda auferida com a ampliação da
produção industrial e do consequente ci inspiração notadamente fascista, que
crescimento econômico. orientou o Estado Novo desde sua im-
ci o Brasil possuiu o referido perfil apenas plantação em 1937, desviando Vargas
no período pré-industrial, antes que o das intenções nacionalistas presentes
intervencionismo estatal preparasse as no início de seu governo.
bases para a implantação da verdadei- di atuação controladora do Estado bra-
ra revolução industrial brasileira. sileiro sobre os sindicatos e associa-
di a nova industrialização, por causa da ções de trabalhadores, permitindo a
atual vocação agrícola do Brasil, é Vargas criar, a partir de 1934, o primei-
parcial, pois o parque industrial é in- ro partido político de massas da histó-
completo e está em processo de suca- ria brasileira.
teamento desde meados dos anos 1970. e) pressão norte-americana, que se tor-
e) a implantação da industrialização bra- nou mais clara após 1945, para que Var-
sileira não resultou em uma profunda gas controlasse os grupos anárquicos e
crise agrária, pois não se fez acompa- socialistas presentes nos movimentos
nhar de transferência da população do operário e camponês.
campo para a cidade.
4. (U E RJ) A carteira profissional
)Vunesp) Depois de muitos movimentos
operários; lutas e reivindicaç ões trabalhis- Por menos que pareça e por mais trabalho que
tas, os sindicatos foram legalizados: dê ao interessado, a carteira profissional é um
no decurso da Revolução Paulista de 1924. documento indispensável à proteção do traba-
através do Ato )nstitucional número 5 de lhador.
1968. Elemento de qualificação civil e de habilitação
ci no Governo Provisório de Vargas 11930- profissional, a carteira representa também um
-1934). título originário para a colocação, para a inscri-
dl durante a Campanha do Contestado. ção sindical e, ainda, um instrumento prático do
e) nos primórdios da República Oligárquica. contrato individual de trabalho.

224
Responda no caderno

A carteira, pelos lançamentos que recebe, configu- ([nem) A partir de 1942 e estendendo-se até o
ra a história de uma vida. Quem a examina logo final do Estado Novo, o Ministro do Trabalho,
verá se o portador é um temperamento aquietado Indústria e Comércio de Getúlio Vargas falou
ou versátil, se ama a profissão escolhida ou ainda aos ouvintes da Rádio Nacional semanalmente,
não encontrou a própria vocação. Se andou de fá- por dez minutos, no programa "Hora do Brasil'
brica em fábrica, como uma abelha, ou permane- O objetivo declarado do governo era esclarecer
ceu no mesmo estabelecimento, subindo a escala os trabalhadores acerca das inovações na legis-
profissional. Pode ser um padrão de honra. Pode lação de proteção ao trabalho.
ser uma advertêflcja COMES, A. C. A invenção do trabathismo.
Rio de Janeiro: IuPERJ/vértice. São Pauto: Revista dos
ALEXANDRE MARCONDES FILHO
Tribunais, 1988 (adaptado).
Texto impresso nas Carteiras de
Trabalho e Previdência SociaL.
Os programas Hora do Brasil' contribuí-
Alexandre Marcondes Filho foi ministro do ram para
trabalho do governo de Getúlio Vargas, entre conscientizar os trabalhadores de que
1941 e 1945. Seu texto, impresso nas car- os direitos sociais foram conquistados
teiras de trabalho, reflete as políticas públi- por seu esforço, após anos de lutas
cas referentes à legislação social que vinha sindicais.
sendo implementada naquela época. Duas promover a autonomia dos grupos
características dessa legislação estão indi- sociais, por meio de uma linguagem
cadas em: simples e de fácil entendimento.
garantia da estabilidade de emprego / estimular os movimentos grevistas,
liberdade de associação que reivindicavam um aprofunda-
previsão de assistência médica / inten- mento dos direitos trabalhistas.
sificação do controle sindical consolidar a imagem de Vargas como
cl proibição do trabalho infantil / regula- um governante protetor das massas.
mentação do direito de greve aumentar os grupos de discussão po-
d) concessão de férias remuneradas/ qua- lítica dos trabalhadores, estimulados
lificação do trabalhador rural. pela palavra do ministro.

rPara você assistir .


aravocê navegar
Ministério do Trabalho e Emprego. Disponível
I
Domésticas, direção de Nando Olival e Fernan- em: <www.mte.gov.br>. Acesso em: 1ev. 2016. O
do Meireltes. Brasil, 2001 90 mm. O filme conta Portal do Trabalho e Emprego reúne informa-
a história de cinco mulheres: Cida, Roxane, Qui- ções sobre como se organiza o Ministério do
téria, Raimunda e Créo. Embora tenham sonhos Trabalho e Emprego e como são estabelecidas
muito diferentes, todas vivem a mesma realida- e regulamentadas as relações de trabalho no
de: trabalham como empregada doméstica na Brasil, além de fornecer canais de comunicação
metrópole de São Paulo. entre a população e o Ministério.
Que horas eLa volta?, direção de Anna Muylaert. Texto da CLT. Disponível em: <www.ptanatto.gov.br/
Brasil, 2015, 111 min. O filme narra as relações ccivilO3/decreto-lei/del5452compilado.htm>. Acesso
entre uma empregada doméstica e uma famí- em: 1ev. 2016. Disponibiliza o texto completo
lia de classe média paulistana. Quando a filha da Consolidação das Leis do Trabalho, com as
da doméstica chega a São Paulo para prestar normas que regulam as relações de trabalho
vestibular, passando a morar com a mãe e os entre empregador e empregados, seus direitos
patrões, as relações entre todos ganham outra e deveres.
dimensão.

O aa U:o nu c:'r.n 225


-'.i. ' '

-
1

'1
...
.,,'... J
''t';•

.ii.4 àí, : •
o.
'a
1

A ideia de que "a união faz a força" nos igualdade de direitos e de oportunidades para
remete a várias questões, entre elas as ações as mulheres, os idosos, as crianças, os ho-
empreendidas por associações e grupos or- mossexuais e os afrodescendentes.
ganizados em prol de um objetivo comum. So muitos os exemplos de união de
Dessa união de forças e ideais é que pessoas em luta por um mundo melhor, por
surgem movimentos como o sindicalismo, avanços trabalhistas, por igualdade, por justi-
as uniões estudantis, os grupos que buscam ça e pela preservação do meio ambiente.
-- - " - - -

2k w
.
-

_______ ••:•.- ____

IIj IIII __ -

Esses grupos usam a voz para protestar historicamente por grupos sociais, organizados
contra as mazelas da sociedade e buscam ou não, e as lutas para conquistar seus direitos,
ações para sanar ou diminuir as agruras que mostrando que ser cidadão envolve participar
afetam os cidadãos. e não se omitir; enfim, fazer sua parte para
Neste capítulo, abordaremos os movi- construir uma sociedade igualitária e ideal
mentos sociais urbanos no Brasil, buscando para todos.
visualizar e discutir as ações empreendidas
Movimentos sociais: lutas por cidadania
As ações e as lutas que envolvem os cidadãos são comuns
na História do Brasil. Elas mostram a participação da socie-
dade na busca por avanços que possibilitem a todos uma vida Em dupla, responda às questões
digna e justa. É a constante batalha por uma vida melhor. a seguir.
Da união de forças por diferentes ideais é que surgem
os movimentos sociais, como o sindicalismo, as uniões es- No município em que vocês
tudantis, os grupos que buscam igualdade de direitos e de moram há movimentos sociais
oportunidades para mulheres, idosos, crianças, homosse- organizados? Que ações eles
xuais, afrodescendentes, entre outros. Enfim, são muitos os empreendem em suas lutas?
exemplos de pessoas que lutam, em conjunto, por um mundo Como vocês avaliam a organiza-
melhor, por avanços trabalhistas, por igualdade e justiça, pelo ção e a ação desses grupos?
meio ambiente etc.
Procurem mais informações so-
Os movimentos fazem uso de diferentes estratégias para
bre algum movimento social do
realizar suas ações, tais como denúncias, manifestações,
município em que vocês vivem.
ações judiciais etc. Hoje os meios de comunicação e informa-
Tragam o resultado para a sala de
ção, principalmente as redes sociais, são cada vez mais utili-
aula e apresentem aos colegas.
zados, ampliando a circulação da informação e agregando
pessoas de diferentes lugares.

' ÍNTERN! L GA IVIOLfltIi -


3ffS ESTÃO NAS RUAS!!!
EM LUTA CONTRA A VIOLÊNCIA,
PELA IGUALDADE, LIBERDIIE E POR MAIS DIREITOS!
-u-

Passeata para celebrar o Dia Internacional


da Mulher e protestar contra o machismo
e a homofobia. São Paulo (SP), 2014.

228
2 Viajando pela históra
Os movimentos sociais no Brasil. CoLonial
e Imperial
Historicamente, podemos elencar uma série
de manifestações da população civil brasileira.
Esses movimentos são, na maioria das vezes,
rebeliões e lutas contra a ordem vigente. Eles
mostram conflitos urbanos e rurais muito impor-
tantes, e demonstram a luta contínua da socieda-
de em busca de seus direitos.
No Brasil Colonial e Imperial, as problemáticas
que regiam os movimentos estavam relacionadas aos
altos impostos, às legislações vigentes e às mudanças
no regime político (lutas pela independência e movi-
mento republicano, por exemplo). Eram, de forma
geral, movimentos sociais com projeto político e or-
ganização pouco delineados, o que transformava,
!f.
em muitos casos, essas lutas em atos revolucionários
isolados ou em insurreições desordenadas.
Para avaliar esses movimentos, é preciso con-
. :-..:._ -•.
siderar as dificuldades de comunicação, as dis- ..
tâncias, o desenvolvimento socioeconômico do
período e a diversidade dos grupos sociais que se
juntavam nessas manifestações. A não unidade era
fator determinante para que o governo conse-
guisse debelar as lutas.
Entre os séculos XVI 1 e XIX ocorreram vários mo-
Antônio Parreiras. Beckman no sertão do Alto do Mearim. s. d. Oleo sobre tela.
vimentos populares. Veja a seguir alguns exemplos.
Revolta da Cachaça (Rio dejaneiro, 1660-1661) Guerra dos Mascates (Pernambuco, 1710-
- contra a tributação da cachaça (aguardente), 1 711) - é considerada o primeiro movimento
que afetava diretamente os setores populares da colonial em que houve propostas separatistas.
sociedade, e contra os benefícios concedidos pelo Foi um conflito entre senhores de engenho de
governador do Rio dejaneiro aos próprios paren- Olinda e comerciantes portugueses do Recife
tes. Os chefes da revolta foram presos e mortos. (os mascates).
Revolta de Beckman (Maranhão, 1 684)- traduz
sentimento de insatisfação dos colonos do
São consideradas nativistas as revoltas re-
Maranhão contra a Companhia de Comércio, gionais contra a intensificação do domínio portu-
que proibia a escravização de indígenas. Culmi- guês. Esses movimentos não almejavam a inde-
nou com a expulsão dos jesuítas e a tomada do pendência, e sim o abrandamento da exploração.
poder pelos irmãos Beckman. No entanto, Por- São consideradas separatistas as revoltas
tugal não reconheceu o governo dos Beckman, regionais que buscavam a separação local de
nomeando outro governador e acabando com Portugal. Não eram movimentos de indepen-
dência do Brasil, mas sim da região em confli-
a revolta. A escravização indígena foi proibida
to, pois ainda não existia uma ideia de nação. de
e os jesuítas puderam retornar ao Maranhão. É
Brasil como um todo.
considerada uma revolta nativista.

Movimentos sociais urbanos no Bra 229


Guerra dos Emboabas (Minas Gerais, 1708- algumas das muitas revoltas ocorridas durante
1709) - conflito entre paulistas e reinóis (por- os períodos Colonial e Imperial.
tugueses e outros), ocorrido pela disputa das A imagem a seguir refere-se a um desses
terras onde ocorreria a extração do ouro nas movimentos.
Minas Gerais.
Esses e outros movimentos -como a Conjura- rr
ção Mineira (Minas Gerais, 1789), a Conjura-
ção Baiana (Bahia, 1799), a Conspiração dos
Suassunas (Pernambuco, 1801), a Revolução
Pernambucana (1817), a Confederação do
Equador (Pernambuco, 1824), a Balaiada - An Inalo Parreiras (1860-
(Maranhão, 1830-1841), a Cabanada (Per- L ' /) Bênção das
jrevoIuQao
bandeiras
nambuco, Maranhão, Alagoas e Piauí, 1832),
a Cabanagem (Pará, 1835), a Guerra dos —100 j:
Farrapos (Rio Grande do Sul, 1835-1 845), a
- '" --
rnanibucana de 1817
o ultimo movimento
Sabinada (Bahia, 1837) e a Revolução Praiei- - - revolta anterior à
ra (Pernambuco, 1847-1849) - exemplificam - epeadência do Brasil.

Leia o texto a seguir e responda às questões. apoio mobilizada no calor dos acontecimentos. Mas
[...] Os movimentos tinham a dificuldade de se a falta de clareza, de politização, de projetos claros, de
estabelecer ou de permanecer no poder, sendo em ambiguidades das alianças, aguçadas pelas contradi-
maior ou menor tempo massacrados, nas várias re- ções das camadas médias, fizeram com que as cama-
giões do país, pelas forças da legalidade colonial ou das populares fossem sempre as mais reprimidas. [ ... ]
imperial. As alianças de classe existentes eram tênues A não unidade das ações durante o período de
e contraditórias. Homens brancos livres (pequenos 1800-1850 propiciava às elites dominantes o desmon-
produtores ou comerciantes) almejavam diminui- te das lutas [ ... ]. As rebeliões usualmente escapavam
ção dos impostos e liberdade para a comercializa- ao controle daqueles que as arquitetavam e tomavam
ção; soldados e outros militares queriam aumentos caráter popular, revestindo-se de grande violência, de
de soldos; padres e religiosos queriam a não restri- ambos os lados, devido ao ódio e a paixões envolvi-
ção a seus trabalhos, então perseguidos pelas leis das, mas também devido à não existência de canais
pombalinas; índios trabalhadores, como no Pará, e formas civilizadas de negociar e encaminhar con-
queriam a liberdade de viver segundo seus costumes flitos. A democracia era uma ideia e não unia prática.
e cultura; negros alforriados queriam empregos etc.
GOHN. Mar- ia da Glória. História dos movimentos e Lutas
Ou seja, a realização dos desejos passava por cami- construção da cidadania dos brasileiros. São Pauto:
sociais: a
nhos diferentes. Então as conspirações eram eficazes Edições Loyola, 2003. p. 23 o 25.

para -àriar as ações, já que a insatisfação era geral, Quais eram os objetivos dos grupos envolvidos
mas na hora de gerenciar o poder - após detonada a em movimentos sociais durante os períodos
Revolução, o motim ou a revolta - tinha-se grande Colonial e Imperial?
dificuldade de dar sentido e direção às lutas.
as massas populares não estiveram excluídas Qual era a participação popular nesses movi-
dos movimentos e das lutas do período. Ao contrário, mentos?
em alguns casos, como na Cabanagem no Pará e na
Revolução Praieira em Pernambuco, elas participaram Por que a maioria desses movimentos acabava
como grupo de frente e não apenas como massa de sem atingir seus objetivos principais?
Ü

230 rotulo
18 As lutas sociais no Brasil Republicano
No início do século XX, os movimentos sociais No entanto, havia uma questão que dificulta-
no Brasil adquiriram novas características. Devido va o objetivo desses perlódicos: no início do século
à nova estrutura de trabalho centralizada na indús- XX, a maior parte da população era analfabeta,
tria, os problemas sociais das cidades passaram a sobretudo os trabalhadores. Dessa maneira, outra
ocupar a pauta principal das lutas, dos embates e frente de luta do anarcossindicalismo foi investir
das manifestações públicas organizadas. na educação.
As lutas sociais urbanas tornaram-se cada vez
mais acirradas e com focos bem definidos. Hoje, os
[ ... j Os ideais do movimento político chega-
movimentos sociais defendem questões que envol- ram ao Brasil trazidos principalmente por imi-
vem reivindicações trabalhistas ou temáticas, como grantes espanhóis e italianos. Organizando-se
educação, gênero (mulheres, homossexuais), etnia, em sindicatos e federações, sua principal atuação
meio ambiente, problemas sociais graves (violên- se dava junto à nascente classe dos trabalhadores
cia, moradia), além de ações solidárias. Podemos urbanos. Mas num país com 85% de analfabetos,
era difícil fazer circular a propaganda anarquista
pensar numa infinidade de temas que envolveram,
nos meios populares e operários. Jornais e bole-
e ainda envolvem, a população brasileira em movi- tins tinham que ser lidos em voz alta para que os
mentos de luta durante todo o século XX, e que se métodos de luta fossem apreendidos. Para am-
estendem pelo século XXI. pliar a conscientização e a participação dos tra-
Nas primeiras três décadas do século XX, a balhadores, era preciso criar espaços educativos
questão trabalhista deu o tom das discussões. Foi próprios. Nas escolas anarquistas, os operários e
suas proles teriam acesso ao conhecimento for-
o período de organização, consolidação e mobi-
mal - devidamente temperado pela ideologia do
lização do anarcossindicatismo, da criação de
movimento. Com o apoio financeiro de sindi-
vários sindicatos e da eclosão de inúmeras greves. catos e federações, elas se espalharam pelo país.
Nesse contexto, o governo brasileiro combateu as E ... '
manifestações com dureza. A questão social era, MORAES, José Damiro. Anarquismo no curriculo. Revista
literalmente, tratada como caso de polícia. de História da Biblioteca Nacional. 5 ago. 2009. Disponívet
em: <www.revistadehistoria.com.br/secao/educacao/
É importante destacar a existência, nessa
anarquismo-no-curriculo>. Acesso em: 1ev. 2016.
época, de uma imprensa operária no Rio dejaneiro
e em São Paulo. Em periódicos como O Socialista,
A Terra Livre e Avante, os trabalhadores buscavam O Estado brasileiro agia por meio de leis
se unir e formar um movimento operário forte e restritivas, principalmente contra os imigrantes,
combativo. que eram vistos como agitadores e organizado-
res de manifestações e greves. Quase não havia
O anarquismo diz respeito a um tipo de ar- políticas sociais de caráter nacional que aten-
ranjo social em que a população não se subor- dessem a essa nova leva de cidadãos que habita-
dinaria à gestão de governos e a leis preconce- vam as cidades.
bidas. A ideia é que as pessoas se organizariam O quadro urbano nas classes menos favoreci-
por si mesmas para gerir as instituições que das economicamente era de miséria, agravado por
achassem necessárias ou criariam novas for-
doenças como febre amarela, peste bubônica e
mas de educação, gestão de recursos finan-
varíola. Foram várias as lutas e os movimentos so-
ceiros, saúde etc. ,Assim, o anarcossindicaLismo
é uma vertente do anarquismo que vê, na or- ciais desencadeados na Primeira República (1889-
ganização de sindicatos, a possibilidade de 1930). Veja os exemplos a seguir.
transformação da sociedade nos moldes de Greve dos cocheiros (São Paulo-Santos, 1903)
sua ideologia. - a greve foi motivada pela promulgação de
novos impostos sobre os animais.

R: 231
Revolta da Vacina (Rio de Janeiro, 1904) - in- O objetivo era a derrubada do presidente da
surreição popular cuja motivação foi a cam- República e a fundação de uma nova república.
panha de vacinação em massa imposta pelo Revolta da Chibata (Rio deJaneiro, 1910) - os
governo, que não se preocupou em informar marinheiros se revoltaram contra os castigos
a população sobre os efeitos da vacinação. As impostos a eles pela Marinha (chibata, palma-
manifestações não eram contra a utilidade da tória, tronco etc.).
vacina, e sim contra a maneira truculenta com Movimento no Sertão do Cariri (Ceará, 1913)
que essa medida foi imposta à população. Não - liderado pelo padre Cícero, tinha como obje-
se sabia ao certo qual seria a reação da vacina tivo depor o governador do Estado por causa
no corpo, e isso provocou o medo de que, ao do intervencionismo do governo federal na po-
serem vacinadas, as pessoas acabassem adoe- lítica local.
cendo em vez de adquirir resistência. Sem levar Levante do Forte de Copacabana (Rio de Ja-
isso em consideração, o governo previa multas, neiro, 1922) - revolta militar contra fraudes
demissões e outras represálias a quem se recu- eleitorais.
sasse a ser vacinado.

[ ... J constituiu-se numa das maiores demons-


trações de resistência dos grupos populares do
país contra a exploração, discriminação e o tra-
tamento espur a que eram submetidos pela ad-
ministração pública nessa fase da nossa história.
SEVCENKO, Nicolau. A Revolta da Vacina.
São Paulo: Scipione. 1993. p. 11.

Revolta da Escola Militar (Rio de Janeiro, 1904)


- essa manifestação ocorreu entre jovens oficiais
da Escola Militar durante a Revolta da Vacina.
-
A Revolta da Chibata. marinheiros do couraçado Sio
Rio de Janeiro (RJ). 1910.
Espúrio: algo não legítimo, indigno.

--a

*
4

==RaJ),
durante a Revolta da Vacina
ern 1904,

232 ítulo9
Como anteontem, repercutiram-se ontem as cor- tes, fazendo junção com outro piquete que ali se
rerias e arruaças dos dois dias anteriores. Como na achava postado.
véspera, tiveram princípio no largo de S. Francisco. Noticia publicada no jornal Gazeta de Noticias em 13 nov. 1904.
Desde que se manifestou o conflito, deu-se a in- Disponível em: <www1.uot.com.hr/rionosjornais/rj10.htm>.
Acesso em: fev. 2016.
tenrenção da força armada, segundo ordem do Dr.
Chefe de Polícia, que, por intermédio de seus dele- Com base nas informações da notícia do jornal,
gados, determinara que a intervenção só se desse em elabore um texto considerando as seguintes
caso de conflito ou atentado à propriedade. questões: A revolta da vacina foi um movimento
Na rua do 'Teatro, do lado de Teatro São Pedro, popular? Houve violência durante a revolta?
estava o o um de cavalaria da polícia. Qual foi a reação do governo? Qual é o posi-
Ao aproximar-se o grupo de populares, a gritos e a cionamento do jornal a respeito do conflito?
vaias, a força tomou posição em linha, pronta a agir, Analisem e descrevam a charge no contexto
caso fosse necessário. A movimentação do piquete socioeconômico do período.
de cavalaria aterrorizou um tanto os populares que
recuaram. Depois, julgando talvez que a cavalaria se O texto mostra uma das formas como a Re-
opusesse à passagem, avançaram hosti- volta da Vacina foi noticiada pelos jornais da
lizando a força a pedradas. O comandante da força época. Com base em seus conhecimentos,
mandou avançar também, dando-se o choque. [...] escreva um texto jornalístico narrando essa
r000cio mais ou menos o ânimo popular naquele
revolta do ponto de vista da população.
trecho, seguiu a força a formar na praça 'I'iraden-

Z .&,J
k1
11 . -L J 1 kT_-.-- -, '- --

Charge publicada em 1904 sobre a rebeliâo popular conhecida corno Revolta da Vacina. que era contra a
obrigatoriedade da vacinação antivariola. instituída pelo médico Oswaldo Cruz. Revista O Malho, n. 111 1904.

A
Piquete: grupo de pessoas que se reúne em determinado local com o intuito de barrar alguma mani-
festação ou motim.
Postar: colocar em uma posição, posicionar, ficar parado.
ResoLuto: corajoso, valente, decidido.
Serenado: que se acalmou, que se tranquilizou.

Movimentos sociais urbanos no Bro 233


TrabaLhadores: uni-vos

/••.
4 .:

Operários na fabricação de ferraduras na década de 1910, São Paulo (SP).

A instauração de um mercado de trabalho os socialistas reformistas ou democráticos,


livre no Brasil ocorreu no final do século XIX, após que, por meio da fundação de partidos, alme-
a Abolição da Escravatura. Nessa nova ordem de javam participar da vida política e elaborar leis
de cunho trabalhista. Esse grupo opunha-se e
trabalho, surgiu a classe operária. Homens, mu-
lutava contra a organização capitalista;
lheres e crianças que trabalhavam nas indústrias
os anarquistas, que, assim como os socia-
no início do século XX estavam sujeitos a péssi- listas, faziam forte e direta oposição ao ca-
mas condições de vida e de trabalho, a baixos sa- pitalismo. Lutavam por uma sociedade sem
lários e a longas jornadas nas fábricas. classes, sem Estado e sem propriedade priva-
Nesse contexto, surgiram diversos grupos da dos meios de produção.

de luta em prol dos interesses dos trabalhadores.


Os trabalhistas eram chamados de amare-
Entre eles, podemos citar: (os pelos grupos mais revolucionários, provavel-
os trabalhistas ou "amaretos", que lutavam mente pela característica mais conservadora,
por melhores condições de vida e de trabalho e atuando no espaço da legalidade. Essa denomi-
naçáo também os diferenciava dos socialistas.
pregavam o sindicalismo assistencial, sem lutas.
chamados de vermelhos, e dos anarquistas, que
Por serem de cunho conservador, não questio- usavam uma bandeira preta.
navam a organização capitalista;

234
[ ... ] Organizando-se, num primeiro momento, tário, ou sej a, os operários se organizavam nos sindi-
principalmente, em entidades beneficentes, o ope- catos, que se aglutinariam em ligas e federações sem
rário buscava formas de sanear uma vida repleta de perder a autonomia, para finalmente federarem-se
f: una econômica, recorrendo a essas associações numa confederação. [ ... ]
que funcionavam como um poio de ajuda mútua. Outra importante forma de organização dos
Com a entrada de imigrantes, basicamente italia- operários no período estudado foram as ligas de
nos, portugueses e espanhóis, aportaram no país bairros.
também militantes que já desenvolviam atividades Essas ligas surgiram como forma de canalizar as
de organização operária de caráter revolucionário, diversas reclamações que a classe operária expres-
trazendo então, às terras tropicais, ideias sociais que sava naquele momento de grande penúria. Tinham
já tinham enorme repercussão na Europa, como o como fins imediatos melhorar as condições de vida e
socialismo marxista, o anarquismo e sua vertente de trabalho do operariado, mas também lutar contra
sindical, o anarcossindicalismo. [ ... J
o trabalho de menores de 14 anos e pela igualdade
Os historiadores e cientistas sociais classificam
de salários de homens e mulheres.
os operários do início do século passado como sen-
PAULA. Amir EL Hakim de. Os operários pedem passagem!
do organizados majoritariamente sob a ideologia
- A geograFia do operário na cidade de São Paulo [1900191 71.
anarcossindicalista, o que significaria a predomi- São Paulo, 2005. Dissertação IMestrado em Geografial -
nância no-, meios operários de ideias de cunho liber- Universidade de São Paulo. p. 90-93.

Entre 1917 e 1920, ocorreram nas cidades manifestações operárias em vários países, além de
do Rio de Janeiro e de São Paulo as maiores mo- acordos internacionais que reconheciam a questão
bilizações e greves do início do século. Nesse pe- social relativa aos operários como um problema ur-
ríodo, o país foi afetado pelas consequências da gente, entendendo que os Estados constituídos de-
Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o custo de veriam buscar soluções imediatas e conciliatórias.
vida havia aumentado significativamente e afetava Na década de 1920, normas e leis foram cria-
drasticamente a sociedade, incluindo a classe ope- das para regulamentar e garantir alguns benefícios
rária. Além desse contexto interno, pode-se acres- aos trabalhadores. São exemplos dessa normatiza-
centar a influência externa. Na Europa, fervilhavam ção: a lei de férias, de 1925, que garantia 15 dias
de descanso anual remunerado aos
trabalhadores urbanos; e o Código de
Menores de 1927, que proibia o tra-
balho de menores de 14 anos e ainda
-
determinava jornada de 6 horas para
os trabalhadores menores de 18 anos.
- Mas essas determinações nem
sempre eram respeitadas. Os repre-
sentantes patronais se uniam e in-
terferiam diretamente na elaboração
7 , das leis por meio de pressão política
ou, em muitos casos, simplesmente
Passeata n qrevn ......cuu. a Ladeira do Carne e caminho do bairro do
as ignoravam.
Brás. São Paulo (SP), 1917.

AE Gossáric
Penúria: miséria, estado de extrema pobreza.

urbanos no Brr 235


Em junho de 1917, aconteceu uma das mais Essas armas eles vo-las deram para garantir o
famosas greves da cidade de São Paulo. Esse seu direito de esfomear o povo. [...j
movimento mobilizou cerca de 30 mil trabalha- Sair para a rua, baixando o facão e
dores dos setores têxtil e gráfico, sendo consi- disparando tiros sobre um povo que se ergue, cons-
derada a maior manifestação social e política ciente, protestando contra a fome, é iidigno e vil, e
urbana da Primeira República (1889-1930). é a este papel que agora vos querein forçar os gover-
O texto a seguir é parte de um manifesto nantes. Resta à vossa consciência responder.
dirigido aos soldados durante a referida greve. O que ides fazer?
Com base nele, responda às questões. Âpud CARONE, Edgard. Movimento operário no Brasil
11877-1944). São Paulo: Difei, 1984. p. 106 106.
Soldados! não deveis perseguir os vossos irmãos
de miséria. Vós também sois da grande massa po- Quais foram os argumentos usados para con-
pular, e, se hoje vestis a farda, voltareis a ser amanhã vencer os soldados a não reprimir a greve?
os camponeses que cultivam a terra, OU OS Operários
Quais eram as justificativas para a greve?
explorados nas fábricas e oficinas.
Compare-as com as justificativas atuais para
A fome reina nos nossos lares e os nossos filhos
greves de trabalhadores fabris e estabeleça
nos pedem pão! Os n: patrões contam,
semelhanças e diferenças.
para sufocar as nossas reclamações, com as armas
de que vos armaram, ó soldados!

A
Escangacado: expressão popular utilizada no texto com o sentido de desenfreado, desesperado.
Pernicioso: maléfico, maligno.

Manifestações de
trabalhadores '- - :e
1
Todos os anos temos notícias de greves, paralisa-
ções e passeatas em diferentes setores da sociedade.
Essas manifestações ocorrem em todas as partes do
país, por diferentes motivos. Ainda que não participemos
k
II~t`
~IÍ'-1

delas diretamente, elas fazem parte de nosso cotidiano


e nos afetam não só no que diz respeito aos serviços a
nós prestados como também por representarem a luta
pela democracia e, principalmente, pela igualdade de
direitos para todos.
O conceito de greve já esclarece por que essas
manifestações ocorrem. Quando um grupo de traba-
lhadores tem alguma reivindicação a fazer, como me-
ST4
lhores salários, mudanças de jornada ou de condições
de trabalho, pressão contra demissões, e não consegue
um acordo com os patrões ou com o governo, recorre
ftri
Ass e, wI)JeÍa de fi onceos dos O reles paro definir iarmuleçio
à parada total ou parcial de suas atividades, portempo (i3 greve. São Paulo (SP). 2015.

236
determinado ou não. Às vezes, a forma de pressão As greves atingem direta ou indiretamente a
é a paralisação do trabalho por algumas horas ou população, principalmente quando ocorrem em
manifestações como as passeatas. Assim, por meio serviços essenciais, como transporte coletivo e
desse recurso legal, os trabalhadores procuram ser serviços públicos (previdência, polícias, hospitais
ouvidos e ter suas reivindicações atendidas. etc.), só para citar alguns casos.

Leia os textos a seguir e faça o que se pede Ministério Público do Trabalho (MPT). A unidade
terceirizada pela empresa na cidade de Samambaia,
Texto 1
no 1)istrito Federal, também sofreu denúncias de
Garis entram em greve no Rio de Janeiro trabalhadores muçulmanos, contratados para o
O sindicato de Garis do Rio de Janeiro anunciou abate H, vendidas a seguidores do islã.
na noite desta quinta-feira (12) que vai entrar em Unia das denúncias foi feita por um jovem afe-
greve após ter rejeitado a proposta de aumento de gão que, depois de ter sido ameaçado de morte pelo
3% apresentada pela Prefeitura do Rio. f..j Talebã por se recusar a pagar propinas, abandonou
I)e acordo com Antônio Carlos Silva, que é vice- sua cidade natal e pagou cinco mil dólares a uma
-presidente do sindicato, cerca de mil funcionários gangue de tráfico humano para pedir refúgio e rei-
estiveram presentes à assembleia que definiu o início niciar a vida no Brasil.
da greve.
"Amanhã (sexta) todos os funcionários vão parar, Ao chegar no país, ele foi levado para um tra-
não é possível receber uma proposta de aumento balho escravo em uma prestadora de serviços para
desse nível. Nós somos trabalhadores, lutamos pelo a Sadia, em Samambaia. O emprego consistia em
nosso salário e estamos indignados com esses valo- degolar com uma faca 75 frangos por minuto pelo
res oferecidos. Queremos negociar, mas desde que método halal, selo requerido pelos países de maioria
apresentem valores condizentes com a realidade." islâmica que importam a carne brasileira. O salário:
700 reais por Inês.
Entre as exigências dos grevistas estão o aumento
de 7,7%, além de 40% de acréscimo no adicional de VAZ, Tatiana. Refugiados denunciam maus-tratos em fábrica
da Sadia. Exame, São Pauto, 26 jan. 2012. Abrit Comunicações
insalubridade. Eles também reivindicam um vale- S.A. Disponívet em: <exame.abrit.com.br/gestao/noticias!
-alimentação de R$ 27 por dia. refugiados-denunciammaus-tratos-em-fabrica-da-sadia>.
Acesso em: fev. 2016.
FOLHAPRESS. Garis entram em greve no Rio de Janeiro.
DisponíveL em: <.wwwl .folha.uot com.br/cotidiano/201 5/03/ t Analise as notícias por dois ângulos: como ci-
1602171 -garis-entram-em-greve- no- rio-de-janeiro.shtmL>.
Acesso em: fev. 2016.
dadão atingido pela greve e como trabalhador
em situação degradante.
Texto 2
2 Reflita e opine sobre sua ação e reação nos dois
Refugiados denunciam maus-tratos em casos: Como você se sentiria e reagiria como
fábrica da Sadia cidadão diante da greve citada na reportagem?
[ ... J As condições de trabalho de duas fábricas E como você se sentiria e agiria se fosse um
da Sadia (BRFoods), no Paraná, são alvo de uma in- dos trabalhadores descritos na segunda re-
vestigação de trabalho escravo de estrangeiros pelo portagem? Registre sua opinião no caderno.

Halat: termo frequentemente utilizado para denominar os alimentos produzidos de acordo com a Lei
islâmica, referindo-se especificamente no texto ao abate de animais para consumo.

Movimentos sociais urbanos no Br• 237


Movimentos sociocuLturais
Os movimentos sociais urbanos não são ho-
mogêneos e não se restringem a uma problemáti- em nível local de moradia, lutando por bens de
ca. É preciso, porém, diferenciar os movimentos de
consumo coletivo, nos setores de infraestrutura
urbana, saúde, educação, transportes, habitação
luta especificamente urbanos daqueles que podem
etc.; e movimentos sociais com problemáticas
ser classificados como socioculturais.
específicas sem serem de classe, tais como os mo-
Os movimentos sociais urbanos são direcio- vimentos feministas, ecológicos, dos negros, ho-
nados a problemáticas urbanas, como moradia, mossexuais, pacistas etc. [ ... ]
infraestrutura, transportes, ou seja, referem-se
GOHN, Maria da Glória. Movimentos sociais e Luta pela
ao uso e à posse do solo, à habitação, aos ser- moradia. São Paulo: Edições Loyola, 1991. p. 9.
viços e bens coletivos de uso ou de consumo no
espaço urbano.
Esses movimentos vêm ganhando força e
Os movimentos socioculturais também são
espaço nas ruas e na mídia, principalmente após
movimentos de luta e construção da cidadania,
a década de 1990. São novas lutas sociais que en-
mas isso é feito por meio da discussão de outros
volvem diferentes camadas da população e podem
temas, como: inclusão; desenvolvimento sustentá-
ser organizadas por entidades político-partidárias,
vel; igualdades de gênero, etária, étnica etc.
organizações sindicais, ONGs, associações religio-
sas ou outras organizações coletivas.
O Brasil registrou, a partir dos anos 70, como Essas lutas buscam transformações estruturais
vários outros países da América Latina, o surgi- na sociedade por meio de mudanças político-sociais
mento ou ressurgimento de um grande número de
e de uma nova mentalidade sociocultural. Em suma,
movimentos sociais. Foram movimentos de clas-
o objetivo é efetivar a cidadania plena para todos,
se: sindicais, urbanos e rurais; movimentos com
caráter de classe, a partir das camadas populares, por intermédio de uma ordem coletiva que prevê
uma sociedade livre da exclusão social.

.,'•
1
w.greenr'

11

238 :ut[o
Leia os textos a seguir. Depois, forme uma A solidariedade volta a ser amálgama mobiliza-
dupla com um colega e, juntos, façam o que dor dos grupos sociais. A participação política dos
se pede. cidadãos se dá na esfera dos iguais. Ainda que haja
diferenças de classes entre os participantes de um
Texto 1
movimento ou ação coletiva, e interesses quanto a
Mais do que a criação de uma sociedade política fins a serem atingidos, é na condição de um carente
justa ou a abolição de todas as formas de dominação de um direito social, ou de um tratamento discrimi-
e exploração, o principal objetivo da democracia natório, que se estabelece a relação de reciprocidade
deve ser permitir que indivíduos, grupos e coletivi- interna nos movimentos.
dades se tornem sujeitos livres, produtores de sua FERREIRA, Nilda Teves. Cidadania: uma questão para edu-
história, capazes de reunir em sua ação o universa- cação apud GOHN, Maria da Glória. História dos movimentos
e Lutas sociais: a construção da cidadania dos brasileiros. São
lismo da razão e as particularidades da identidade
Paulo: Loyola. 2003. p. 208-209.
pessoal e coletiva.
TOURAINE. Atam. O que é a democracia? Pelrópolis: Vozes.
Definam o que são os movimentos sociocul-
1996. p. 263. tu ra is.
Texto 2
Estabeleçam uma relação entre movimentos
[ ... J Reivindica-se a participação na sociedade
culturais e democracia.
- civil e política - no mercado de bens e produtos
de consumo, mas reivindica-se a manutenção dos Debatam sobre o conceito de cidadania fun-
valores culturais. Não se aceita ter de mudar de damentado na noção do direito à igualdade
rei igião, nacionalidade, padrão cultural, ou alterar na diferença, ou seja, baseado não apenas no
qualquer aspecto da identidade, para poder partici- direito inerente aos seres humanos - o direito
par do mundo atual. [ ...I à vida - mas também no direito à autonomia
[..j Numa sociedade terrivelmente segmentada e e determinação no que se refere a orientação
fragmentada, onde as diferenças sociais são marcan- sexual, gênero, etnia, idade, religião, política
tes, onde há fome e miséria, ao lado do luxo e da os- etc. Em seguida, respondam às questões.
tentação, e o mundo do consumo impera como valor
básico na estruturação da vida das pessoas, o fato de ai Até que ponto as discussões e Lutas dos
elas reivindicarem o direito a ter direitos, sobretudo movimentos sociais classistas ou sociocul-
aquilo que a sociedade oferece para apenas alguns, e turais causam mudanças na sociedade?
o fato do ressurgimento de campanhas de solidarie-
bi Os benefícios conseguidos nessas lutas
dade, são fatos históricos marcantes e promissores.
atingem todos os cidadãos? Explique.
A concepção de cidadania que resulta desse ce-
nário busca corrigir diferenças instituidas, desta-
ci Qual é o papel de cada cidadão na busca
cando o valor da igualdade. da democracia inclusiva?

Movimentos no BrasiL do sécuLo XXI


No século XXI, muitos movimentos reivindica- básicos, aos quais nem todos têm acesso, princi pai-
tórios estão relacionados a problemas do espaço mente as populações de bairros mais afastados dos
urbano ou a estruturas criadas e sustentadas nele, centros. Assim, as manifestações e os movimentos
uma vez que a maioria da população brasileira vive sociais se organizam em torno de questões relacio-
na cidade. O grande número de pessoas convivendo nadas à falta de moradia e à melhoria nos serviços
nas cidades gera aumento da demanda por serviços de educação, saúde, segurança e transporte.

239
Além dos problemas inerentes à vida urbana, Apesar de a maioria das manifestações ser
outras questões, que escapam à delimitação de feita por meio de passeatas, que levam centenas,
um espaço, geram manifestações, às vezes, de nível e muitas vezes milhares, de pessoas às ruas, não
nacional. Elas nem sempre têm por objetivo cobrar existe só essa forma de protesto. Há outras manei-
algo dos governantes, e sim chamar a atenção da ras de cobrar dos governantes os direitos dos cida-
população para algumas questões importantes, dãos, por exemplo, a Arte, por meio de pinturas,
como o racismo, a implantação de cotas nas uni- grafite, músicas, fotografia, filmes, entre outros.
versidades, a preservação da cultura e das terras Vale ressaltar que nem sempre o objetivo
indígenas, entre outros. dessas manisfestações é cobrar os governantes, mas
sim a própria população, que, por meio de peque-
nas mudanças de comportamento, pode contribuir
As políticas sociais revelam o empenho de
para que as necessidades coletivas sejam satisfeitas.
uma sociedade em afirmar um patamar de ci-
As manifestações populares já foram res-
vilidade. Por que civilidade? Porque demons-
ponsáveis por muitas mudanças no Brasil. Por
tra o que esta sociedade vem assegurando para
todos os seus cidadãos. Nós conhecemos o pa- meio delas, os representantes políticos que elege-
drão de civilidade de uma sociedade pelo que mos tanto ganham respaldo da população para
ela faz, o que ela propõe para as suas crianças aprovar projetos que beneficiam os cidadãos
e seus velhos. Em outras palavras, como esta como são cobrados e pressionados para atende-
sociedade no presente se relaciona com a his- rem às reivindicações dela.
tória, o passado e o futuro. Então, quando dis- Vale ressaltar que não só os políticos podem e
cutimos política social, temos que sair dessa
devem agir por nós; também podemos sugerir pro-
visão corriqueira de só olhar qual é o progra-
jetos de lei, pois nossa Constituição garante esse
ma, o que está sendo feito imediatamente, mas
entender que por trás daquela ação está em direito. Entre as conquistas provenientes da ação
jogo um padrão de civilidade que esta socieda- direta da população, temos o exemplo da Lei da
de está construindo. Ficha Limpa, que torna inelegível todo candidato

SPOSATI, A. A Constituicão de 1988 e o percurso das


que já tenha sido cassado ou que tenha renuncia-
políticas sociais públicas no Brasil. tn: LOPES, J. R. (Org.i. do para evitar cassação, tirando, assim, das listas
O processo de democratização na sociedade brasileira:
de candidatos, aqueles que tenham sido julgados
20 anos de luta pela cidadania. São Pauto: Sesc;
Nepps-Unitau, 1999. p. 10. e considerados culpados por crimes eleitorais,
mesmo que exista a possibilidade de recorrer.

2 -- '

:JUNcS durants protusiu cintra a 1501 rjaIIicçno o iconarjienlo de escolas estaduais, proposta pelo Governo do Estado. Stin Pauto 1SPt, 2015.

240 :
Esse tipo de iniciativa geralmente ocorre por meio de
abaixo-assinados. Para ser considerado legítimo, o abaixo-
-assinado deve ter a assinatura de, no mínimo, um por
cento do eleitorado nacional, ter sido distribuído por pelo
menos cinco estados e conseguir, no mínimo, três décimos
por cento do número de eleitores de cada um desses esta-
dos. Parece complicado, mas com o surgimento de diversos
sires especializados na organização de abaixo-assinados,
esse processo tem sido cada vez mais facilitado.
A Lei da Ficha Limpa foi criada por meio de iniciativa
popular com o objetivo de combater a corrupção eleitoral.

[ ... ] Dentre aqueles que não podem ter a can- união estável para evitar caracterização de
didatura registrada segundo a Lei da Ficha Limpa, inelegibilidade;
destacam-se: os demitidos do serviço público em decorrên-
os condenados por corrupção eleitoral; cia de processo administrativo ou judicial;
os ocupantes de cargos i?ív que abdi- a pessoa física e os dirigentes de pessoa jurí-
carem de seus mandatos para escaparem de dica responsável por doações eleitorais tidas
processo por violar dispositivo da Constitui- por ilegais;
ção Federal, de Constituição estadual ou de lei os magistrados e os membros do Ministério
orgânica; Público que forem aposentados compul-
os condenados à suspensão dos direitos po- soriamente por decisão u ou
líticos por ato de improbidade admi- que tenham perdido o cargo por sentença
nistrativa; ou que tenham pedido :.:1:çí ou apo-
os excluídos do exercício da profissão, por de- sentadoria voluntária na pendência de pro-
cislc) do órgão profissional competente, em cesso administrativo disciplinar.
decorrência de infração ético-profissional;
Disponível em <wi.tse.jus.br/eleicoes/processo-
os condenados em razão de terem desfeito eteitorat-brasileiro/registro-de-candidaturas/
ou simulado desfazer vínculo conjugal ou de lei-da -íicha -timpa>. Acesso em: 1ev. 2016.

AG
Doloso: que tem doto, intenção consciente de Exoneração: demissão.
cometer um ato criminoso. Sancionar: aprovar, confirmar.
Eletivo: nesse caso, refere-se ao cargo conse-
guido por meio de eleição.

Organizando ideias

Quais são as diferentes formas de manifes- têm poder efetivo para concretizar as novas
tação social? demandas? Explique.

Que relação existe entre movimentos reivindi- Sobre qual assunto você faria um abaixo-
catórios e urbanização no Brasil do século XXI? -assinado? Debata com os colegas sobre os
assuntos mais urgentes e importantes que
Podemos afirmar que a população é obriga- vocês acham que deveriam ser discutidos
da a se submeter aos políticos, pois só eles pela sociedade brasileira.

Movimentos sociais urbanos no 241


Resgate cutturat

Entre a arte e o Os nomes para essa atividade são vários: gra-


fite, graffiti, lambe-lambe, arte de rua, pichação,
vandaLismo intervenção urbana. Muitas pessoas consideram
Ao andar pelas várias cidades espalhadas grafite exemplo das artes plásticas populares,
pelo mundo, é comum se deparar com manifes- outras estão convictas de que é vandalismo.
tações culturais da juventude, que de diferentes No Afeganistão, país do Oriente Médio
maneiras expõe suas ideias, contesta e ocupa marcado por conflitos, guerra, intervenções
espaços. Às vezes, esses espaços são praças militares e extremismo religioso, duas grafi-
e ruas; outras, paredes e muros, onde fazem, teiras, Shamsia e Malina, apagam as marcas
por exemplo, seus grafites. da guerra, os muros quebrados, os prédios
A intervenção por meio do grafite é uma destruídos pelas bombas com spray e rolos de
prática crescente em diferentes lugares do tinta. Grafitam para mostrar para o mundo que
mundo, inclusive em cidades como Nova York, Afeganistão não é apenas um país devastado
São Paulo, Cidade do Cabo e Londres. Os ar- pela guerra, bem como para incentivar outras
tistas estão ganhando espaço e expondo suas mulheres afegãs a lutar por seus direitos e
obras em museus, galerias de arte, murais exigir igualdade em uma país marcado pelo
a céu aberto e nos vários espaços públicos machismo.
e privados. Até há pouco tempo, o grafite era Por questões de segurança, ambas fazem
considerado sinônimo de pichação e não tinha grafites apenas em lugares fechados e aban-
espaço nas discussões sobre arte. donados ou quando são convidadas. Um dos
riscos que correm é serem apedrejadas por
extremistas religiosos que não concordam com
determinadas práticas e costumam hostilizar
mulheres nas ruas.

bombardeado. Cabul. Afeganistão. 2012.


Malina costumava sair durante a madrugada para fazer suas
1
intervenções, carregadas de mensagens políticas, pelas ruas de
Chaiipwii. CUve. Mujer cnn Trigrillo. grafite considerado Kandalrar, uma das cidades mais perigosas do Afeganistão. Sofreu
Patrimônio Mundial pela Unesco. Valparaíso, Chile, 2015. ameaças de grupos extremistas, seu pai foi agredido na rua e precisou
A cidade de Valparaiso tem registros artísticos em diferentes espaços. e se refugiar na Índia por alguns meses.
jovens e renomados grafiteiros são incentivados pelo governo a deixar O grafite ainda divide opiniões ao redor do mundo - com maior ou
suas intervenções pela cidade menor grau de valorização, dependendo do país.

242
No Brasil, por vezes, os grafiteiros precisam outros aspectos do cotidiano. Em qualquer am-
prestar contas às autoridades policias quando biente em que estiver exposto - muros, prédios,
são abordados por estarem desenhando em pa- galerias, museus etc. - o grafite combina a suti-
trimônios públicos ou privados. No entanto, várias leza da arte e a afiada pincelada da crítica social.
pessoas convidam esses artistas para pintarem
painéis decorativos, paredes e quadros, tanto nas
repartições públicas como em empresas.

-
O (Jíalite do aFLuia Paulo flo, 10 porLdo de uma cucola CIII Sdu Pdulo,
representa uma critica à Copa do Mundo realizada no Brasil. São Paulo
(SP). 2014. Nele um garoto chora ao constatar que em seu prato há
apenas uma bola de futebol. A fotografia desse grafite espalhou-se por
Grafite feito pelo artista Leandro Tick. Rio de Janeiro (RJ), 2015. várias partes do mundo e virou capa de renomados jornais e revistas
Na cidade do Rio de Janeiro, o grafite foi reconhecido oficialmente pela internacionais.
prefeitura como arte urbana. Uma série de iniciativas foi tomada para
estimular a população a refletir sobre a importância do grafite, incluindo a Para alguns, o grafite é uma expressão artís-
criação de murais em vários pontos da cidade onde os grafiteiros podem
expor suas pinturas.
tica; para outros, uma forma de vandalismo.
Elabore um texto no qual defenda um dos
Algumas escolas brasileiras estão imple- dois pontos de vista e, em seguida, debata o
mentando o grafite como curso ou atividade assunto com os colegas.
complementar durante os anos do Ensino
Fundamental e Médio. O objetivo é estimular os Pesquise alguns tipos de grafite procurando
alunos a desenvolver inclinações artísticas, além identificar elementos plásticos, como formas,
de conhecer as técnicas dessa arte, destacando- cores e dimensões. Em seguida, escolha um
-a como arte urbana e elemento Importante para tema contra o qualvocê considera possívelfa-
a composição estética das cidades. zer um protesto e desenvolva, com esse tema,
Os grafiteiros retratam temas como violência, um projeto de um grafite a seraplicado em um
miséria, racismo, esporte, intolerância, sexuali- dos muros da escola, levando em consideração
dade, consumismo, solidariedade, amor e tantos o que foi observado durante a pesquisa.

Movimentos sociais urbanos no Bra. 243


JDebate interdisciplinar
Diferentes formas de contestar peLa forma
Muito além de algo para ser apreciado, a Ao utilizar objetos comuns, como notas de
arte pode e tem sido usada para contestar a rea- dinheiro, moedas, garrafas, Cildo Meireles dia-
lidade. É possível encontrar pintores, escultores, loga com os ready-made de Marcel Duchamp,
escritores, atores, cineastas e outros artistas que que inovou o conceito de obra de arte ao colocar
utilizaram sua criatividade e técnica para estimu- objetos do dia a dia nas exposições. Cildo, no
lar reflexões a respeito da sociedade, da própria entanto, foi além: ao intervir nesses objetos e os
arte ou, ainda, para protestar por meio de suas devolver à circulação, proporcionou o contato
criações. das pessoas com sua obra fora dos ambientes
Em determinadas épocas, sobretudo durante consagrados para a exposição, criticando, ainda,
regimes totalitários, alguns desses artistas codifi- mercado de arte.
cavam em sua arte o inconformismo com o siste-
ma e os desejos de mudança. Outros, no entanto,
expressavam-se abertamente e eram perseguidos,
presos e até exilados. Em outros momentos, a arte
é utilizada como forma de cobrar o governo ou
provocar o próprio povo para que este reflita e
critique o contexto em que está inserido.

CiLdo MeireLes e a
arte engajada
Um dos artistas brasileiros mais conhecidos
pelas obras engajadas é o carioca Cildo Meireles.
Durante a Ditadura Militar, ele criou obras de
cunho político que faziam críticas tanto ao regime
quanto ao capitalismo. As obras Tiradentes - to-
tem-monumento ao preso político, Inserções em
circuitos ideológicos: Projeto Coca-Cola e Quem
matou Herzog? são seus principais trabalhos da As 'u..Lolziwl;ctsim tuxtcs como 'Yankeesgo home!" com
década de 1970. linfa branca. Como eram retomáveis e as frases provocativas só eram
vistas nitidaniente com o fundo escuro do liquido que as preenchia, elas
voltavam para a fábrica sem que se percebesse a intervenção. Depois de
81066 ( BANCO CENTRAL DO BRASIL reenvasilhadas, elas eram novamente distribuídas no mercado e, desse modo,
02.1?? Cildo Meireles alcançava um grande número de consumidores do produto.
-
- ,-
o
N ,

uj
UElC
Paulo Bruscky e a
contestação da arte
--
812165 Já o pernambucano Paulo Roberto Barbosa
021477
Bruscky dedicou-se à arte conceitual. Questionan-
Em Quem niatou Herzog?, o artista carimbou em notas de cruzeiro a do o próprio campo artístico, desenvolveu projetos
mesma frase. Essas notas eram recolocadas no mercado e circulavam
mantendo o anonimato do artista. A obra questionava a morte do em fotocópias, filme-instalações e videoarte. Além
jornalista Viadimir Herzog, cujo corpo foi encontrado pendurado pelo de utilizar objetos do cotidiano, Bruscky voltou-se
próprio cinto em uma cela do DOl-CODI em 25 de outubro de 1 975. Com
esse tipo de arte. Cildo podia mandar seu recado, mantendo o anonimato
para as inovações tecnológicas, incorporando-as
para a própria segurança. a seu trabalho.

244
O artista é a principal referência para a arte Com o advento da internet, esse tipo de mani-
postal no Brasil, tendo organizado exposições festação perdeu um pouco de força, e o desafio dos
em 1975 e 1976. Numa época em que boa parte artistas contemporâneos adeptos da arte postal é
da correspondência era feita por cartas, Bruscky unir seu conceito com as possibilidades oferecidas
e seus companheiros as utilizaram para criticar e pelas novas mídias e tecnologias.
ironizar tanto a Ditadura Militar quanto o próprio
campo da arte, tal qual fizeram Marcel Duchamp Ár ----Àdir r
e Cildo Meireles.
'5 QftflIIJ pwmA PAULO BRUSCKY
ç -•*Jpj )NE FRT$
Arte pelos correios A tWt>tyi.OP ShQt,J
ORyl 5T€T

A arte postal (ou mall arr, em inglês) utiliza


9v LOi(QO(W1LH

correio como meio de divulgação da mensagem


do artista. Nesse tipo de manifestação, os artistas
enviam objetos, cartões ou revistas que vão pas-
sando de destinatário em destinatário. Em alguns
casos, estes são estimulados a fazer interferências
no objeto antes de passá-lo adiante. oo
. AlTIlM RADIIJM RE1FATLJ
Uma das propostas da arte postal é a difu- EREA
são sem a mediação dos agentes pertencentes
ao sistema artístico. Desse modo, o objeto e sua
, AMER!CALATNA
- 1
mensagem podem circular livremente de mão em
Arte postal, No envelope d possivel obsi,'r nicIvanções do artista.
mão sem precisar do aval de um "especialista"
No canto inferior, vê-se um carimbo com uin:i neveira e a inscrição
no assunto. "arte correio'.

Observe a fotografia de uma instalação do ar- Faça uma pesquisa a respeito da obra procu-
tista plástico Cildo Meireles. rando descobrir quais materiais foram usados
e qual é sua relação com o título escolhido pelo
artista,

Considerando o tema proposto, o que esses


materiais poderiam simbolizar no contexto da
obra de arte em questão?

Os materiais escolhidos pelo artista poderiam


ser substituídos por outros e passar a mesma
mensagem?

A temática escolhida pelo artista tem relação


com os dias de hoje?

Mmvreles Missão-missões: como construir uma catedral,


1987 Instalação: moedas, hóstias e ossos.

e1 245
Testando seus conhecimentos Responda no caderno

(Unicamp-SP) ponto de partida para reivindicações crescentes


Emboaba: nojie indígena que significa "o estran- [••j, É que na realidade se tratava de lutas mais
geiro' atribuído aos forasteiros pelos paulistas, ou menos espontâneas, isoladas umas das outras,
primeiros povoadores da região das minas. Com sucedendo-se por força de um estado de espírito
a descoberta do ouro em fins do século XVII, mi- extremamente combativo que se generalizava en-
llares de pessoas da colônia e da metrópole vie- tre as massas."
ram para as minas, causando grandes tumultos. PEREIRA, Astrogildo. A formação do PCB.
Rio de Janeiro: Vitória, 1962. p. 32.
Formaram-se duas facções, paulistas e emboabas,
que disputavam o governo do território, tentando A partir do texto, indique o que for correto.
impor suas próprias leis.
O movimento operário na V República
Adaptado de Maria Beatriz Nizza da Silva Icoordi.
Dicionário da História da Colonização Portuguesa no apresentava limitações; uma delas é a
Brasil. Lisboa: Verbo, 1994, p. 285. pauta dominantemente economicista.
Sobre o período em questão é correto afir- As Limitações do movimento operário an-
mar que: tes de 1930 explicam-se pela hegemonia
ai As disputas peto território emboaba co- anarquista e anarcossindicatista em meio
locaram em confronto paulistas e mi- à classe operária.
neiros, que Lutaram pela posse e explo-
A preocupação econômica predominante
ração das minas.
negligenciava as questões da luta pelo
bi A região das minas foi politicamente
poder estatal e drenava sua energia numa
convulsionada desde sua formação, em
luta por interesses imediatos.
fins do século XVII, o que explica a resis-
tência local aos inconfidentes mineiros. 08. Os cientistas sociais são unânimes em
ci A luta dos emboabas ilustra o processo considerar o movimento operário deste
de conquista de fronteiras do império período como revolucionário.
português nas Américas, enquanto na 16. A orientação anarquista desconsiderava
África os portugueses se retiravam de-
a necessidade de organização político-
finitivamente no século XVIII.
-partidária das classes subalternas.
di A monarquia portuguesa administra-
va territórios distintos e vários sujeitos (Unicamp-SP) Na repressão à greve de 1917,
sociais, muitos deles em disputa entre em São Paulo, o Comitê de Defesa dos Direi-
si, como paulistas e emboabas, ambos tos do Homem do Rio de Janeiro denunciou:
súditos da Coroa. "Todos os componentes do Comitê de Defesa
Proletária e os membros mais ativos dos sin-
(UFPA) "Não há dúvida que outras muitas das
dicatos, das ligas, dos centros e dos periódicos
reivindicações pelas quais lutavam as massas tra-
libertários foram agarrados e encarcerados. As
balhadoras, nessa época (antes de 1930), foram
oficinas em que fazia o semanário A Plebe foram
alcançadas, total ou parcialmente. Mas é um fato
invadidas, tendo siclo o seu diretor preso. Para
que a natureza e o volume das vitórias alcançadas
não estavam em proporção com o vulto e a ex- muitos presos, foi preparada a expulsão do terri-
tensão do movimento geral. Mais ainda - as rei- tório nacional"
vindicações formuladas, por aumento de salários, Adaptado de Paulo Sérgio Pinheiro: Michael Hall,
A classe operária no Brasil, 1889-1930.
por melhores condições de trabalho etc., consti-
Documentos. v. II. São Paulo: Brasiliense,
tuíam como que um fim em si mesmo e não um 1981. p. 265-266.

246
Responda no caderno

Qual foi a importância da greve de 1917 Logo revelou-se o que realmente era, o jogo de
em São Pauto? cena a esconder uma luta pelo poder entre o cre-
A partir do texto, identifique as formas dor urbano e o devedor rural."
de repressão adotadas pelo governo de Evaldo Cabral de Metio. A fronda dos mazombos.
São Pauto: Companhia das Letras. 1995, p. 123.
São Pauto contra a greve de 1917.
ci Qual o papel da imprensa operária nas O autor refere-se:
primeiras décadas do século XX no ao episódio conhecido como a Aclama-
Brasil? ção de Amador Bueno.
à chamada Guerra dos Mascates.
4. (FGV-SP) "A confrontação entre a loja e o enge-
nho tendeu principalmente a assumir a forma de ci aos acontecimentos que precederam a
uma contenda municipal, de escopo jurídico-ins- invasão holandesa de Pernambuco.
titucional, entre um Recife florescente que aspi- di às consequências da criação, por Pom-
rava à emancipação e uma Olinda decadente que bal, da Companhia Geral de Comércio
procurava mantê-lo numa sujeição irrealista. Essa de Pernambuco.
ingênua fachada municipalista não podia, contu- ei às guerras de Independência em Per-
do, resistir ao embate dos interesses em choque. nambuco.

Peões, direção de Eduardo Coutinho. Brasil,


(Para você Ler 2004, 85 mm. O filme conta a história dos me-
talúrgicos do ABC paulista que fizeram parte do
Anarquistas graças a Deus, de Zélia Gattai. movimento grevista de 1979 e 1980. A narrativa
São Paulo: Companhia das Letras, 2009. Nes- mostra os sofrimentos e as recompensas trazi-
sa obra, Zélia Gattai, filha de anarquistas vindos dos pelo trabalho nas fábricas, o efeito da mdi-
de Florença para o Brasil, conta as memórias tância política nas famílias e comenta a situação
de sua infância e adolescência vividas junto aos atual e os rumos que o país tomou desde então.
imigrantes italianos que chegaram à capital
paulista em busca de seus ideais.
rPara você navegar
Movimentos sociais no início do século XXI, de
Maria da Gloria Gohn. Petrópolis: Vozes, 2003. Fundação Oswaldo Cruz. Disponível em: <www.
A autora traça um panorama da trajetória dos íiocruz.br>. Acesso em: íev. 2016. A Fundação
movimentos sociais no Brasil, tanto demandas Oswaldo Cruz contribui para a saúde e o desen-
vindas do passado como a questào da terra e os volvimento social por meio da geração e difusão
novos movimentos surgidos no início do século. do conhecimento científico e tecnológico. O site
traz informações, notícias e editais dos cursos
oferecidos pela Fundação, além do acesso ao
rPara você assistir repositório institucional e a diversas bibliotecas
virtuais.
Sonhos tropicais, direção de André Sturm. Bra- Instituto Observatório SociaL. Disponível em:
sil, 2002. 120 mm. O filme conta a história de <www.observatoriosocial.org.br>. Acesso em:
Eslher, uma polonesa que chega ao Brasil acre- íev. 2016. O Instituto Observatório Social é um
ditando em uma falsa promessa de casamento, centro de pesquisas cujo objetivo é produzir
que a obriga a tornar-se prostituta para sobrevi- conhecimento para o mundo do trabalho, con-
ver Enquanto isso, o médico sanitarista Oswaldo tribuindo para a ação sindical, o diálogo social
Cruz, que voltou da França no mesmo navio que e o desenvolvimento sustentável. O site reúne
Esther, inicia sua ascensão na medicina por meio notícias e dá acesso a bibliotecas e a projetos
de suas ideias inovadoras para a saúde pública. desenvolvidos pelo instituto.

iiuvrinto suciis Ur1JUS HO 247


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Vivemos em uma sociedade de consumo, O dinheiro, no decorrer da história, pode


influenciados pela mídia e por crescentes ne- ser visto como um fator de intermediação das
cessidades reais ou artificiais. Muitas vezes relações econômicas e sociais. Cada socieda-
compramos objetos de que náo precisamos de, em diferentes tempos, cria formas dife-
com dinheiro que no temos, contando com a rentes de dinheiro e também ideias diferentes
facilidade de crédito. sobre seu valor, seu uso e sua importância.
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(1746-1799).

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Em relação ao aspecto mais evidente seja, desde o escambo, passando por dife-
dessa questão, que é o de possibilitar trocas rentes moedas de troca utilizadas em diver-
de bens, mostraremos neste capítulo como sas sociedades, até os modernos cartões de
o dinheiro surgiu e se desenvolveu desde o crédito na sociedade globalizada.
início das relações comerciais na história, ou
, .
- /- .•
- .••,- •
19 RefLexões sobre consumo e vaLores
de compra

Alunos da Escola de Comunicação e Artes da O voiad quoo aitulaoo Cegos' como foima Oe protesto contra o consumismo do
lado de fora de um shoppingcenterem Natal, Rio Grande do Noite, 2013.

Para entender melhoro conceito de dinhei- presente nas sociedades antes mesmo do surgi-
ro, é necessário ter em mente - e devidamente mento do capitalismo. Inicialmente o consumo
separados - dois de seus aspectos principais. mi- - esteve associado a necessidades básicas e também
cialmente, o aspecto tangívet, que é a utilização do supérfluas. Dessa maneira, ao longo da história,
dinheiro para garantir desde as necessidades mais diferentes mercadorias tiveram valor material atri-
básicas - como moradia, alimentação, saúde e edu- buído por relações de troca.
cação - até os desejos mais supérfluos. O dinheiro Portanto, o valor material atribuído a diversos
"compra" entretenimento, na forma de entradas para produtos pode nos dizer muito sobre as culturas que
cinema, teatro, torneios de futebol, parques de diver- os utilizavam. Algumas formas de obter mercadorias
são, restaurantes etc., o que facilita sua associação e produtos nos são familiares, outras podem parecer
com a felicidade, conferindo-lhe aspectos hitang íveis exóticas e improváveis.
- de um valor muitíssimas vezes maior que seu valor Os astecas (civilização pré-colombiana
"real". Além da possibilidade de comprar conforto que teve seu apogeu no começo do século XVI)
material, a riqueza pessoal é associada ainda a poder, utilizavam o cacau como meio de troca. já os
status, sucesso e até mesmo inteligência - conscien- incas (povo que habitou a região andina, num
temente ou não, as pessoas associam ao dinheiro território que se estendia do atual Equador ao
valores que, na realidade, nada têm a ver com ele. norte do Chile) viveram praticamente sem utilizar
O dinheiro é um objeto representativo cuja im- instrumentos de troca, produzindo para consumo
portância está diretamente relacionada a conceitos próprio quase tudo o que era necessário. Mas,
ligados ao consumo, como riqueza, fortuna, capital. mesmo nessas comunidades, eventualmente
O consumo, por sua vez, é uma prática antiga, surgia o comércio.

IntangíveL: o que não tem existência física. TangíveL: o que tem existência física, como objetos.

250 pítuto 10
A atividade comercial que certos povos
periféricos teriam eventualmente praticado
limitava-se, com frequência, a transações
esporádicas para as quais as balas de coca e
as balTas de sal serviam às vezes como me-
dida. Ela se reduzia, mais frequentemente
ainda, a simples operações de troca. Emi-
nentemente marginal no conjunto da vida
econômica, o comércio não podia levar à
formação de grandes mercados nem à cria-
ção de uma verdadeira moeda.
rAVRE. Henri. A civilização inca.
Rio de Janeiro: Jorge 7ahnr. 7004. p. /,[).

No Oriente Médio, na região onde hoje


é o Iraque, o pão foi utilizado como padrão Retrato de
uma mulher.
de troca. Assim ocorreu também com o sal e
Pintura em painel
outras especiarias, como a pimenta. de madeira, sec. iii,
A partir de 550 a.C., o sal, que antiga- Fayum (Egito).

mente era utilizado na conservação dos ali-


mentos, foi largamente aceito como forma
de pagamento, dando origem, inclusive, à
palavra salário.
O gado também foi muito utilizado
como moeda de troca, urna vez que apre-
sentava vantagens como reprodução e lo-
comoção próprias. Assim como o sal, foi
tão importante para o comércio que origi-
nou palavras presentes até hoje em nosso
vocabulário, corno pecúnia e pecúlio (que --

::2
respectivarnente significam "dinheiro" e
"dinheiro acumulado"), ambas derivadas
de pacus ("gado"). A palavra capital deriva
do latim capira, que significa "cabeça". Mulher com
Além desses, metais e pedras precio- joias. séc. W.
Desde a
sas, na forma de joias, foram utilizados Antiguidade, as
como meio de troca e de guardar riquezas, pedras e os metais
. ..
.., . , . .. preciosos são
tanto em sociedades antigas quanto nas fonte de riqueza
contemporâneas. e ostentação.

Organizando ideias . . .... ... 2


Reflita a respeito do consumo e dos valores de 2. O dinheiro foi, ao longo da história, a única
compra e responda às questões a seguir. forma de mediação nas relações econômicas?
Justifique sua resposta.
1 Por que o dinheiro é tão valorizado na socie-
dade atual?

- 251
O jogo das trocas
Nos primórdios do desenvolvimento das ci-
vilizações, quando a domesticação de rebanhos
era a atividade principal, gado, carneiros e até ca-
meios foram utilizados como bens de troca. Mais
tarde, com o cultivo de lavouras, vegetais e plantas
também se converteram em valores de troca.
:•..
Desde aproximadamente 4000 a.C., excedentes 1
agrícolas e produtos manufaturados (especialmente
têxteis de lã) eram trocados por produtos diversos,
como madeira, cobre, estanho, pedras duras, ouro,
E
prata etc. Apesar de haver comércio privado, os pa-
lácios e templos tinham forte atuação em todas as
atividades econômicas, incluindo o comércio.
Tábua suméria uni cerâmica com contabíhdade de cabras e ovelhas,
Como ainda não havia moeda cunhada, a c. 2350 a.C.
cevada e os metais (prata e cobre, principalmente)
povos antigos devem ter notado que uma forma
funcionavam como padrão de valor e unidade de
intermediária de troca, como o uso de metais
conta nas transações. Tendo por base essas padro-
preciosos, era imprescindível. Se em um ano um
nizações, os mesopotâmicos exploraram rotas co-
grupo produzisse muito trigo, poderia trocar
merciais diversas, alcançando regiões longínq uas,
o excedente por ouro ou prata e guardar esses
como as cidades da Índia e da Ásia Menor.
metais para adquirir gado quando este estivesse
Ao longo da história da Mesopotâmia, a re-
disponível.
gulamentação dos negócios e a importância dos
Assim, os metais preciosos começaram a ser
mercados variaram. Para contornar alguns dos
utilizados como valor de troca, pois eram muito
problemas do escambo, por volta de 3000 a 2000 mais convenientes do que plantações ou gado para
a.C., os primeiros povos mesopotâmicos inicia- manter ou guardar riquezas: além de não serem
ram a prática de depositar seus grãos nos celeiros perecíveis, eram mais fáceis de transportar. Até a
dos templos. Os recibos de depósito eram usados invenção da moeda, entretanto, esses metais eram
como métodos de pagamento. Assim, os bancos pesados para determinar seu valor, e cada quanti-
foram "inventados" antes das moedas - e muito dade de metal, literalmente, "valia quanto pesava".
antes do papel-moeda a que normalmente cha- No entanto, você pode estar pensando: Não
mamos de dinheiro. Acredita-se que a invenção da era complicado, a cada operação, pesar o metal?
escrita, na Mesopotâmia (3100 a.C.), tenha sido E quem garantia que o metal utilizado na troca
justamente motivada pela necessidade de manter era puro? Essas certamente foram preocupações
a contabilidade gerada pelo comércio. da época, tanto que, por volta de 2250-2150 a.C.,
Provavelmente pelas limitações da prática do líderes capadócios (da Capadócia, Turquia) come-
escambo - que requer coincidência de necessidades çaram a garantir o peso e a qualidade de lingotes
- e pelas dificuldades de armazenamento de de prata, tornando-os mais aceitáveis como ins-
grandes quantidades de grãos e rebanhos, esses trumento de troca.

O conceito de banco é originário da Babilônia,


na Mesopotâmia. Os bancos eram templos e
palácios onde se guardavam com segurança os A.,
valores - inicialmente depósito de grãos e gado, Lingote: barra ou lâmina de metais fundidos
e, mais tarde, metais preciosos. para facilitar seu manuseio e armazenamento.

252
Outra evidência da tentativa de regulamentar as opera-
Aos babilônios, povo que ocu-
ções financeiras é o famoso Código de Hamurábi, que incluía
pou extensão territorial na Ásia e no
sentenças sobre as operações bancárias. Esse documento, re-
Oriente Médio, é creditada a elabora-
ferente a diversos assuntos econômicos, sociais, religiosos e fa- ção de um dos primeiros dizeres a res-
miliares, registra várias tradições e valores dos mesopotâmicos. peito de matéria comercial. Trata-se
O Código de Hamurábi, no entanto, não é de fato um do Código de Hamurábi [ ... ], com
código, mas uma série de sentenças sobre variadas questões. disposições sobre empréstimo a juro,
Hamurábi pretendia com seu "código" ensinar os reis e juízes contratos de depósito, de sociedade e
vindouros ajulgar e decidir como ele. Assim, o Código de Hamu- de comissão.
rábi não é um conjunto completo de leis em vigor na Mesopo- PIMENTEL, Carlos Barbosa.
Direito comerciaL: teoria e questões.
tâmia, e sim um conjunto de decisões consagradas pelo tempo. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. p. 3.

t!.

dc cc sdicdo cc:rccciaL

Organizando ideiâs

No dicionário, a palavra banco é definida nessa pesquisa e no debate que deverá ser
como "instituição que recebe depósitos de di- realizado depois: Como os bancos sobrevivem?
nheiro e efetua empréstimos, além de prestar De quem é o dinheiro usado por eles? Qual é o
outros serviços de natureza financeira. Entre papel deles na economia? Por que eles inves-
esses serviços estão: depósitos, emissão de tem em publicidade e marketing?
cheques e cartões, transferências de valores, Juntos, apresentem o resultado em sala
pagamentos, empréstimos, cofres e câmbio. de aula e promovam um debate sobre o papel
Em grupo, analise o papel dos bancos na dos bancos na economia brasileira e em nossa
economia. Algumas questões são importantes sociedade.

253
[::1 [.1:1:1 II iii sj iil.111r
A troca de bens ou serviços por moedas
é uma convenção social, iniciada provavel- Tal como conhecemos, a moeda é um
mente no século VII a.C., possível graças à fato tardio. À avaliação em boi, cavalo ou
mulher, para aquilo que possuía valor ele-
cunhagem de pequenas moedas de prata na
vado, somavam-se os metais pesados em
Grécia e na Lídia.
lingotes, talentos, tripeças, machado de
De acordo com o historiador grego duplo guine, caldeiros, o mais das vezes em
Heródoto, os lídios (povo que habitava a dracmas, ou seja, a quantia de seis óbolo.
região da atual Turquia) foram os primeiros Mas a ideia de uma unidade de metal raro
a cunhar moedas, em torno de 687 a.C., e (eléctron), de ouro ou prata com um peso
a vender mercadorias a varejo. A "invenção" sempre igual e marcada com indicação do
das moedas é atribuída aos lídios porque as valor e identificação do poder público que
utilizadas por eles eram muito similares às
a garante, esta ideia nasceu na Lídia no ter-
ceiro quartel do século VII, tendo-se sem
que conhecemos hoje: tinham formas arre-
dúvida transmitido em primeiro lugar às
dondadas e traziam selos de deuses ou reis
cidades gregas da Ásia Menor, para atingir
marcando sua autenticidade. o continente grego apenas no último quar-
Essas moedas foram rapidamente co- tei do século VI a.C.
piadas pelos gregos, persas, macedônios e, Mas as razões do aparecimento da
mais tarde, pelos romanos. Elas eram de moeda não podem ser descobertas nas ne-
ouro, prata e bronze, e tinham um valor cessidades do comércio: as primeiras mo-
inerente, ou seja, diretamente proporcional edas não podem servir para as trocas co-
muns, na ausência de moedas divisionárias;
ao valor dos metais de que as moedas eram
não circulam praticamente fora da cidade
feitas, portanto seu valor variava, de acordo
de origem, excetuando as que são emitidas
com as mudanças de valor a que os metais por países ricos em metais preciosos.
estavam sujeitos nas relações de troca. Portanto é a necessidade política que
corresponde esta criação: soldo dos mner-
cenários, financiamento das obras públi-
cas, regulamentação das oferendas feitas
às divindades, talvez também facilitação
do controle das prestações devidas à ci-
dade, multas ou taxas. Todas estas razões
poderão ter desempenhado o seu papel.
O que nos reconduz à Assembleia: seme-
lhante medida política teria que ser deci-
dida pela coletividade.
AMAURETTI. Marie-Claire; RUZÉ, Françoise.
O mundo grego antigo: dos palácios de
Creta à conquista romana. Lisboa: Pubticações
Dom Quixote, 1993. p. 87.

A partir de 640 a.C. foram confec-


cionadas, também na Lídia, moedas de
electrum, um amálgama natural de ouro e
prata. Da Lídia, os electruns se espalharam
para as cidades gregas da Ásia Menor e
depois para as ilhas gregas e a Grécia conti-
nental. Em 546 a.C., o rei Creso, da Lídia, foi

254 :itulo 10
capturado pelos persas, e o uso de moedas se espa- em diversas sociedades. No Egito, por exemplo,
lhou também pelo Império Persa. Diferentemente durante o Império dos Ptolomeus (323-30 a.C.),
dos gregos, entretanto, os persas preferiam cunhar grãos eram muito usados como valor de troca, e os
moedas de ouro. celeiros do Estado funcionavam como bancos. De
Na Grécia, o uso da moeda difundiu-se lar- fato, os ptolomeus transformaram o depósito local,
gamente, tornando-se um emblema cívico das os celeiros, em um sistema integrado de giro, com
cidades-Estado. Em Atenas, havia o dracma, feito um banco central em Alexandria. Pagamentos eram
de prata, e ainda uma rede bancária que desem- feitos de uma conta a outra sem o uso de moedas.
penhou um papel importante na economia grega: Mesmo na Europa, em 55-54 a.C., durante
com o grande desenvolvimento das atividades co- a invasão da Bretanha - apesar de algumas tribos
merciais, os cambistas facilitavam as transações ao celtas já cunharem as próprias moedas de ouro,
possibilitar pagamentos a distância pela emissão de prata, bronze e de ligas de cobre e estanho -,Júlio
letras de crédito e ordens de pagamento, além de César notou que os britânicos ainda usavam espa-
receber depósitos e efetuar empréstimos. das em transações comerciais.
Na Grécia, o Estado estava presente na fis- O papel-moeda é uma "invenção" ainda mais
calização dos negócios, procurando controlar os recente. A utilização de pedaços de couro de aproxi-
preços. Em alguns casos, eram criados monopó- madamente 1 pé quadrado (30 cm2), com as bordas
lios de certas mercadorias. pintadas, surgiu na China, em 118 a.C. Esta pode
O costume de estampar moedas se desen- ser considerada a primeira forma documentada de
volveu entre as nações gregas, e com Alexandre, o papel-moeda. Mas as primeiras cédulas de papel
Grande, começaram a ser utilizados bustos de impe- apareceram somente nos anos 806-82 1 da Era Cristã,
radores e reis, o que deixou para a posteridade um também na China, durante o reinado de Hien Tsung.
método de traçar linhagens inteiras de imperadores, Apesar de terem sido amplamente utilizadas desde o
como é o caso do denário romano, preservado por século IX até o século XV (período durante o qual a
séculos, que serve como registro histórico de várias produção de notas aumentou muito, ocasionando a
famílias de césares. desvalorização da moeda), a partir de 14550 papel-
A palavra moeda começou a ser utilizada em -moeda caiu em desuso e praticamente desapareceu
390 a.C., pelos gauleses, que atacaram Roma. Os por vários séculos - para depois ressurgir na Europa.
romanos, avisados do ataque a tempo de esvaziar
suas reservas, construíram um templo à deusajuno
(Hera), também chamada de Moneta, a deusa da 6-9Fs
,/ ;• /
"advertência", em sinal de gratidão. De moneta, ».
derivam as palavras money("dinheiro", em inglês) ?(n 'jérO jij..t. tE

e moeda.
LY-ARTIGUERIA
Mas não devemos suporque a moeda tenha se IN OsOPt'O
espalhado ou sido utilizada de forma praticamente 1•. /

universal, como atualmente. Muitas das formas


mais antigas de dinheiro continuaram sendo usadas Dinheiro de papel para duas liras (antiga unidade monetária da Itália). 1848.

Organizando ideias

De acordo com o assunto abordado até agora, Qual foi o impacto do desenvolvimento comer-
responda às questões seguintes. cial na economia grega?

1. Como se media o valor das moedas na Anti- Qual é a importância das moedas gregas e
guidade? romanas para um historiador atual?

Comércio e dinheiro na histón: 255 -


2 Viajando pela história
O comércio no O desenvoLvimento
do comércio a partir
Império Romano
da Idade Média
A medida que Roma se expandiu, as
Com a queda do Império Romano do
atividades comerciais se multiplicaram,
Ocidente, a Europa fragmentou-se em diver-
os romanos tornaram-se homens de ne-
sos remos germânicos, que se caracteriza-
gócios e a vida financeira ganhou impor-
vam pela instabilidade política e pela curta
tância. O comércio romano era realizado
duração. Por vários séculos, na chamada
por via terrestre e marítima. As estradas
Alta Idade Média, houve retração das ativi-
facilitavam o escoamento das mais diver-
dades comerciais, e a economia monetária,
sas mercadorias.
mesmo não desaparecendo, declinou de
Foi no decorrer do império que os
maneira acentuada.
banqueiros se firmaram. Os cambistas
A partir do século Xl, com o aumento
eram responsáveis pela comprovação e
da produção agrícola e a diminuição dos
taxação de moedas.
conflitos bélicos, além das Cruzadas, ocor-
reu na Europa Ocidental um vertiginoso
[ ... ] I)esde o século li de nossa era, acolhiam os de- renascimento do comércio e das cidades,
pósitos e faziam empréstimos de fundos. Instalados desenvolvendo-se uma economia mone-
em Roma desde o fim do século IV a.C., os operado- tária. Os ducados de Veneza, os florins
res financeiros, frequentemente antigos escravos gregos de Florença e o solidus de Bizâncio foram
libertos, recebiam depósitos de fundos, que empresta-
moedas de grande aceitação.
vam a juros, embolsavam o dinheiro dos clientes e lhes
propunham seiços financeiros. A função dos cobradores
era idêntica àquela dos banqueiros. Também recebiam o
dinheiro dos clientes, à comissão de 1%. No século II,
,.,
essa divisão foi eliminada.
VANOYEKE, Viotaine. O complexo universo das finanças.
História Viva - Grandes temas, So Paulo, n. 8. p. 71.

-;' ..1,.
.4
Graças à estabilidade política e sua
'.1. .y..
moeda forte, Roma foi, durante longo perío- ':
•. .,i- 4•'__
do, a potência hegemônica do mundo antigo.
Mercadorias de todo tipo eram distribuídas
Soildusde ouro que repeseiit o inipodo Constantino VII, século X.
de acordo com a lei da oferta e da procura.
Respeito aos contratos, boa-fé e mercadorias Ser comerciante na Idade Média era
bem contadas e pesadas faziam a prosperida- exercer uma profissão perigosa e difícil: os
de das atividades comerciais. caminhos estavam repletos de salteadores,
e os conhecimentos náuticos e geográficos
eram precários. Apesar das adversidades, o
Na história, cambista era quem se dedicava a trocar
moedas de diferentes localidades por moedas locais. comércio conheceu, do século Xl ao XIII, um
Eram responséveis também pelo fornecimento dos surto espetacular. A vida mercantil penetrou
comprovantes de depósito e pelas chamadas letras de
câmbio. Faziam empréstimos e emitiam títulos de pa- A.. oss
gamento e depósito, entre outras atividades. Salteador: ladrão, assaltante.

256 .f)IJV) W
em quase todo o mundo ocidental, aumen- No século XIV, o feudalismo entrou
tando o uso da moeda, favorecendo novas em crise. A Grande Fome (1315-1317), a
atividades industriais e formando novas Peste Negra (1348-1351)e as guerras mar-
mentalidades. caram esse século caracterizado por enor-
Um sério obstáculo à acumulação de mes dificuldades materiais. Um dos fatores
capital era a condenação da usura pela que contribuíram decisivamente para pôr
Igreja Católica. Usura era tudo aquilo em xeque o sistema feudal foi o esgotamen-
pedido em troca de um empréstimo, além to das minas de prata e ouro da Europa.
do bem emprestado. Diante do renasci- A expansão comercial europeia, inicia-
mento do comércio e das necessidades pre- da no século XV, veio suprir essas carências,
mentes de um novo tipo de economia, a primeiro com metais preciosos oriundos da
Igreja procurou suavizar as proibições mais África e, depois, da América. No mundo
radicais, e até fez vistas grossas em muitos moderno, alguns países, especialmente
casos. Pregava-se ainda o justo preço, ou Espanha e Portugal, viam no acúmulo de
seja, o preço de um produto devia ser cor- metais preciosos a força de uma nação.
respondente ao seu custo efetivo, acrescido O metalismo foi uma das características da
de uma pequena soma, relativa às necessi- doutrina econômica depois chamada de
dades básicas de sobrevivência do produtor. mercantiLismo.

! Podemos considerar o mercantiLismo


um conjunto de medidas econômicas
colocadas em prática durante o período
de transição do feudalismo para o ca-
pitalismo. Apresentava como elemento
básico uma rigorosa intervenção do
Estado na economia e guiava-se por
alguns princípios característicos: meta-
lismo, balança comercial favorável, pro-
tecionismo e concessão de monopólios.

Premente: algo urgente, que remete


a necessidades imediatas.

:ientin Massys. O cambista e sua mulher. 1514.


D!eo sobre painel. 71 cm x 68 cm.

[organizando ideias .
Tendo como base os assuntos abordados no Quais aspectos da sociedade da Alta Idade
texto teórico, faca o que se pede. Média diferiam da romana, dificultando as
transações comerciais?
1.. Comente o famoso ditado Todas as estradas
levam a Roma. O que foi o mercantilismo?
00
Comércio e dinheiro na histõí, 257
O valor do dinheiro
Muito tempo se passou desde o início do uso
de moedas até os dias atuais, e as grandes mudan-
ças nas relações comerciais foram aos poucos se
refletindo na representatividade do dinheiro, que,
assim como as diferentes mercadorias, foi mudan-
do de aspecto com o avanço tecnológico e ganhan-
do novos perfis. Os valores a ele atribuídos também
variaram de acordo com as transações econômicas.
Se no século XIX o valor atribuído ao papel-
Ák
-moeda tinha relação com o valor do ouro, no
século XX, devido ao crescimento econômico dos
Estados Unidos, foi o dólar que passou a regular
a economia mundial e estabelecer os valores de
diferentes moedas utilizadas ao redor do globo.
Atualmente o dinheiro em forma de moeda
e papel-moeda passa cada vez menos por nossas
.)
mãos. Essa forma de dinheiro está sendo rapi-
damente trocada por cartões de crédito e débito
emitidos pelos bancos - que têm valor somente ••• 'i.
porque estão sujeitos a contratos estabelecidos
com os clientes. Além disso, o avanço tecnológico
transforma rapidamente as relações comerciais,
possibilitando compras pela internet e transações
comerciais eletrônicas realizadas somente com os
dados da conta bancária, além do fácil acesso a Ci anças brnrcriirdo com notas dc ri arco rdcmao dosva orizactas duranto a
tudo isso por meio de celulares. República de Weimar. Alemanha, 1923.
O valor do dinheiro é estabelecido justa-
mente por sua aceitação e medido pelo valor dos
Déficit público é a relação negativa entre o
tens ou serviços pelos quais o portador (o dono
que um governo arrecada e o que ele gasta, e
do dinheiro) pode trocá-lo como pagamento.
contribui para que ocorra hiperinftação, uma
Um exemplo histórico do momento em que
vez que o aumento das dívidas do Estado faz
o dinheiro, garantido pelo governo, praticamente com que os impostos e os preços de produtos
deixou de ter valor é o da Alemanha, em 1923. cresçam astronomicamente, provocando a des-
O país, derrotado na Primeira Guerra Mundial valorização da moeda.
e sujeito ao Tratado de Versalhes - pelo qual se
comprometeu a pagar uma gigantesca dívida de
guerra -, aumentou drasticamente seu déficit pú-
bLico, o que contribuiu para uma hiperinfLaào.
T Pausa para investigação -
Para que a Alemanha pudesse se estabilizar nova- No mundo todo utilizam-se várias moedas.
mente, uma vez que o governo não conseguia ga- Algumas, como o dólar, são aceitas em quase
rantir a manutenção do valor simbólico impresso todos os países. Em dupla, pesquise quais são
no papel-moeda, foi necessária uma reforma mo- as moedas mais valorizadas, onde são utiliza-
netária no país, acompanhada de empréstimos das e qual é a cotação delas em relação ao real.
norte-americanos. Juntos, elaborem um quadro comparativo.

258
História do dinheiro no BrasiL
Antes da chegada dos portugueses, os povos utilizadas como valor de troca foram o pau-brasil,
indígenas que aqui viviam não tinham contato com os cauris, os tecidos de algodão, entre outros.
dinheiro. Eles viviam de caça, coleta de alimentos Aos poucos as moedas portuguesas foram
e, em alguns casos, de lavouras de produtos bá- introduzidas na economia, uma vez que o aumen-

sicos, como a mandioca, e nunca necessitaram to da expressividade dos produtos brasileiros no


mercado trouxe para o Brasil moedas vindas não
manter relações comerciais entre si.
só de Portugal como de diversos países. Essas
Depois da chegada dos portugueses, as ativi-
moedas eram trazidas tanto pelos colonizadores
dades comerciais começaram e a exploração e o co-
quanto por comerciantes e invasores de nossos
mércio de produtos brasileiros - como o pau-brasil,
domínios territoriais.
a cana-de-açúcar e, mais tarde, os minérios - gerou
As moedas portuguesas, especificamente,
a necessidade de um sistema de trocas de merca-
eram cunhadas em ouro, prata e cobre. Por serem
dorias. A própria relação entre os portugueses e os provenientes de diferentes reinados, receberam di-
povos indígenas, por si só, fez surgir a necessidade versos nomes, de acordo com as regiões que realiza-
do estabelecimento de um sistema de escambo. vam o comércio, como vintém, cruzado, português,
Durante muito tempo o escambo foi a base são vicente, entre outros.
da economia no Brasil. Mesmo após a introdução Em razão do contato entre os mercadores de
do uso de moedas por parte dos portugueses, o vários locais do globo e os produtos brasileiros, no
comércio continuou sendo realizado por meio da Brasil não circulavam apenas as moedas portugue-

troca de mercadorias. As primeiras mercadorias sas, mas também espanholas e holandesas, intro-
duzidas de acordo com as relações comerciais. O
uso das moedas espanholas se difundiu no Brasil a
partir da União Ibérica (1580-1640); no entanto,
ao fim desse período, passaram a ser carimbadas
com o intuito de restringir seu uso. Já a moeda ho-
landesa, conhecida como soldo, foi introduzida no
Brasil depois da invasão holandesa do nordeste,
por volta da década de 1650.
À medida que as capitanias hereditárias iam se
desenvolvendo no Brasil, foi surgindo a necessidade

Cauri é um dos nomes dados ao que conhe-


cemos por búzios. Antes da utilização de moedas
nas transações econômicas, ele foi largamente
utilizado como valor de troca. Sendo originário
do Sudoeste da Índia, com a intensificação das
relações comerciais, espalhou-se pela China e
África, chegando ao Brasil, onde, além de ser
utilizado como instrumento de troca, passou a
integrar os oráculos da cultura afro-brasileira.

Lopo Homem (com Pedro e Jorge Reinei). Terra Brasilis. mapa do Atlas
Miliar, 1515-1519. Manuscrito iluminado sobre pergaminho, 41.5 cm x 59 cm.
O pau-brasil era uma mercadoria tão importante para o comércio português no
século XVI que foi retratado em diversas produções cartográficas da época.

• .: 259
de cunhar mais moedas, o que abriu ca- que passou a ser utilizada no período foi o
minho para a implantação das casas da mil-réis, um múltiplo do real, impresso por
moeda. As primeiras se desenvolveram nos diferentes bancos particulares.
atuais estados da Bahia, Rio de janeiro, Per- A padronização das moedas veio com a
nambuco e Minas Gerais. Vários tipos de criação do cruzeiro (1942), moeda impressa
moedas entraram em circulação, sendo a pelo governo federal, que passou a ser o res-
primeira chamada de moeda, que foi substi- ponsável pela impressão do dinheiro.
tuída pelo vintém. Depois vieram as patacas, Entretanto, a instabilidade econômica
a dobra de oito escudos, os dois vinténs e o foi aos poucos fazendo com que a inflação
dobrão, entre outras. dos países aumentasse, e, assim, surgiu
Além das moedas, especialmente no a necessidade da troca de moeda para
período da mineração, as barras de ouro tentar estabilizar o quadro, fenômeno que
eram muito utilizadas como valor monetá- ocorreu muitas vezes. Desse modo, nossa
rio, chegando a ser criado, inclusive, o certi- moeda foi trocada diversas vezes, sempre
ficado de barras de ouro, que acompanhava com o intuito de conter o avanço do au-
as barras produzidas nas casas de fundição. mento de preços.
Surgiu então o Plano Real, plano eco-
nômico criado em 1994, durante o governo
de Itamar Franco, cujo objetivo era estabi-
lizar a inflação e implantar várias reformas
econômicas. Foi idealizado por uma equipe
de economistas, sob a liderança do então
ministro da Fazenda Fernando Henrique
Moeda de
20 000 rêis, Cardoso, que, posteriormente, tornou-se
cunhada com presidente da República.
a imagem de
D. Pedro II, 1849.
Até hoje o real é a moeda corrente
no Brasil. Com sua implantação, os níveis
O reaL de inflação, que subiam vertiginosamente
principalmente durante a década de 1980 e
Apesar de conhecermos por real nossa
começo de 1990, foram estabilizados como
moeda atual, a unidade monetária utilizada
planejado, o que possibilitou o equilíbrio
no Brasil desde a época da colônia já era
chamada de real, sendo a contagem dos va- das contas públicas.
lores monetários feita em réis (plural popu- Apesar disso, a implantação do real
lar de real). teve algumas consequências negativas para
A partir do século XIX, o crescimento a economia brasileira. Para estabilizá-la,
econômico do Brasil exigiu que o dinheiro por exemplo, foi necessário privatizar di-
em circulação fosse distribuído por todo o versos setores estatais, liquidar ou vender
país. Surgiu então a necessidade de emissão a maioria dos bancos pertencentes aos
de dinheiro em maior escala. Assim, o papel governos dos estados e negociar as dívidas
como forma de moeda foi aos poucos to- dos estados e municípios por meio de mé-
mando o lugar das moedas, pois era mais todos rigorosos.
cômodo carregar valores monetários altos Mesmo assim, fazendo um balanço
em papel que em moedas de metal. A moeda da implantação do real, podemos obser-
var um efeito muito positivo. Afinal, houve
estabilização da inflação, correção mone-
Casa da moeda é o local onde se produzem moedas
e cédulas de dinheiro. Cada país tem sua própria casa da tária, crescimento econômico, criação de
moeda, mas, caso haja necessidade de ajuda na produ- mais empregos, modernização das indús-
ção, é aceita a utilização da casa de outros países. trias locais e, consequentemente, aumento
do poder aquisitivo das famílias brasileiras.

260
(7 r

20 1

29 j
1 1994
real

;
1993
cruzeiro real

:0

1 -
1989
#.I CKUZAOOSM'O'

cruzado novo

01970
cruzeiro 1oo
cruzeiro
Mfl 1
inoc
---
--
cruzado

1942
cruzeiro

Com retaço à história do dinheiro no Brasil, Qualfator propiciou, no Brasil, o uso de papel-
responda às questões a seguir. -moeda?

O que era o sistema de escambo? Como ele Observe a linha do tempo. Quantas vezes o
funcionava na América Portuguesa? Brasiltrocou sua moeda desde 1942? Por que
isso aconteceu?
Nos primeiros séculos da colonizaçào, qual foi
a relaçào entre a presença de moedas estran- De acordo com o texto, qual foi a importância
geiras na América Portuguesa e o comércio? da adoção do Plano Real?

Comércio e dinheiro na h 261


is Euro: uma moeda para um continente
O euro, moeda oficial da maioria dos países Surgiu assim a Comunidade Econômica Eu-
da União Europeia, foi lançado em 2002, porém ropeia (CEE), uma entidade supranacional que era
a intenção e o percurso de criação de uma moeda responsável por garantir na prática as determina-
única para os países da Europa surgiram muito ções do Tratado de Roma, ou seja, estabelecer um
antes. mercado e impostos alfandegários externos comuns,
Com o fim da Segunda Guerra Mundial e a uma política conjunta para a agricultura, políticas
forte ascensão econômica dos Estados Unidos, comuns para o movimento de mão de obra e para
dólar passou a ser a moeda de referência da os transportes e organizar instituições comuns para
maioria dos países industrializados. A Europa, desenvolvimento econômico. A partir daí, a CEE
que sofria com a destruição causada pela guerra passou a ser formada pelas seguintes instituições:
e a consequente desvalorização de suas moedas, Conselho da União Europeia: principal instância
foi diretamente influenciada pela força da eco- decisória da CEE, sediada em Bruxelas, Bélgica;
nomia norte-americana. Comissão Europeia: instituição executiva da
Nesse panorama, a proposta de maior in- CEE, sediada em Bruxelas, Bélgica;
tegração entre os países europeus parecia ser a Parlamento Europeu: instituição legislativa da
melhor alternativa para recuperar a economia do CEE, sediada em Estrasburgo, França;
continente, devastado pela guerra. Algumas me- Tribunal de justiça da União Europeia: tribunal
didas foram tomadas com esse objetivo. da CEE, sediado em Luxemburgo;
Entre elas, podemos citar a proposta da Tribunal de Contas Europeu: tribunal respon-
criação de uma união europeia entre as empresas sável pelas contas da organização, sediado em
de mineração e aço, a Comunidade Europeia do Luxemburgo.
Carvão e do Aço, formada por Alemanha Ocidental,
Bélgica, França, Itália, Luxemburgo e Países Baixos. A ssário
Mais tarde, os dirigentes desses países optaram por
Supranacional: pode ser um acordo, uma lei ou
unir-se no campo econômico em geral, e também
qualquer outro poder colocado acima do governo
no campo social e político, o que culminou na cria- de um país.
ção do Tratado de Roma, em 1957, cujo objetivo
era melhorar as políticas
econômicas por meio da
eliminação das barreiras 21 . -
comerciais e da circulação 1
de trabalhadores e dinheiro "- à I
entre os países da Europa. ' Ji a.
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LUU?JuuJuTJU.Ui
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Cerimonia de assinatura do
Tratado de Roma em 25 de
março de 1957, por França -

Luxemburgo Y -..

262
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FINLANDIAO, \
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OCEANO NORUEGA
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Membros da União Europeia que utilizam o euro como moeda j MALTA
CHIPRE
O 365 730 km
Membros da União Europeia que não utilizam o euru cenomoj
1 36500 000

Fonte: European Bank Cerilral

Com o passar dos anos, a comunida- fazer parte da União Europeia: Eslováquia, Li-
de expandiu-se para outros países europeus, tuânia, Polônia, República Tcheca, Hungria,
tendo a adesão da Irlanda, do Reino Unido e Eslovênia, Letônia, Estônia, Chipre e Malta e,
da Dinamarca, em 1973; da Grécia, em 1981; em 2007, mais dois países integram o grupo:
e de Portugal e da Espanha, em 1986. Romênia e Bulgária.
Em 1992, por meio doTratado de Maas- já o euro só se constituiu como moeda
tricht, foi estabelecida a criação da União Eu- única em 1999 e, em 2002, passou a circu-
ropeia, formada por um grupo de países que lar em 11 países: Alemanha, Áustria, Bél-
partilhava de um mercado comum. Assim, gica, Espanha, Finlândia, França, Irlanda,
a CEE foi transformada em União Europeia Itália, Luxemburgo, Países Baixos e Portu-
(UE), instituição que estabeleceu uma única gal. Assim como na União Europeia, alguns
cidadania europeia, permitindo aos cidadãos países entraram posteriormente na chama-
dos países-membros residir e circular livremen- da zona do euro: Grécia (2001), Eslovênia
te nos demais países da comunidade, além de (2007), Chipre e Malta (2008), Eslováquia
uma moeda única, o euro. (2009) e Estônia (2011).
A Comunidade Europeia foi oficialmen-
te instituída em 1993, com 12 Estados-mem-
bro: Bélgica, Dinamarca, França, Alemanha, E conhecida como zona do euro a
Grã-Bretanha, Grécia, Irlanda, Itália, Luxem- área que abrange os países que, além
burgo, Holanda, Portugal e Espanha. Em de participar da UE, utilizam a mesma
1995, aderiram ao grupo Finlândia, Austria e moeda, o euro.
Suécia. Em 2004, mais dez países passam a

263
Com a crise econômica de 2008, a Europa se desestabili-
Na economia, estado de atenção zou, pois, sem uma política fiscal comum, os países acabaram se
significa que um país está passando endividando na tentativa de manter o mesmo ritmo econômico.
por uma situação de crise, como foi o Isso aconteceu porque, antes da criação da moeda única, havia
caso da Grécia em 2008. Os governos
muita diferença entre a economia de alguns países.
decretam estado de atenção com o in-
O país que primeiro decretou estado de atenção foi a
tuito de manifestar a necessidade de
Grécia, que, na tentativa de manter o mesmo nível das polí-
ajuda econômica de outros países.
ticas sociais dos outros países, adquiriu vários empréstimos,
contraindo uma dívida que ultrapassava os 100% de seu PIB.
Sendo assim, nem todo dinheiro arrecadado pelo país por
meio de impostos seria suficiente para pagar a dívida.
Junte-se a outros colegas e A crise se espalhou por outros países, como irlanda,
formem grupos, de maneira que Espanha e Portugal, e as regiões cuja economia não foi tão
cada um pesquise a situação dos desestabilizada passaram a injetar dinheiro nos cofres da UE,
seguintes países: Irlanda, Grécia, numa tentativa de conter as falhas orçamentais. Além disso, o
número de refinanciamento de grandes dívidas cresceu rapi-
Espanha, Portugal, Itália e Alema-
damente, provocando a desconfiança de que elas não seriam
nha. O roteiro a seguir pode servir
pagas, o que dificultou os empréstimos e aumentou ainda mais
de orientação para a pesquisa,
o recesso do bloco econômico.
ainda que outros temas possam
Uma consequência disso foi a implantação de pacotes de
ser propostos por vocês ou pelo
estímulo ao mercado financeiro, que, apesar da intenção de
professor: Quando o país entrou
levantar a economia dos países da UE, propuseram algumas
em crise? Houve o pedido formal
medidas polêmicas, como o aumento dos impostos e o corte de
de ajuda externa? Quanto dinheiro programas sociais. Esse panorama culminou em diversos pro-
foi emprestado? Qual é o índice testos por parte da população europeia, além da quebra da
atual de desemprego e qual foi seu unidade política, uma vez que diversos líderes políticos foram
nível mais alto? Como a população destituídos de seus cargos.
encarou a situação? Quais setores Entretanto, apesar da crise, a possibilidade de abolição do
foram os mais afetados?A crise foi euro foi descartada, pois isso interferiria negativamente nas re-
resolvida? Os resultados devem ser lações econômicas da União Europeia, valorizando as moedas
apresentados em seminários. de alguns países específicos (como o marco alemão) e aumen-
tando o preço dos produtos exportados por eles. Isso causaria
uma crise ainda maior, relacionada à diminuição da produção
e comercialização de produtos, o que aumentaria os níveis de
desemprego.
Dessa forma, por mais que a situação econômica europeia
passe por um período crítico, sendo Grécia, Portugal e Espanha
os países mais afetados, todos os esforços estão voltados para
a manutenção da moeda única e a estabilização econômica.

"Organizando ideias
De acordo com as informações anteriores O que motivou a primeira proposta de uni-
sobre a União Europeia e a zona do euro, faça o ficação dos países europeus?
que se pede. Como ocorreu a crise econômica da zona do
1. Identifique as etapas que levaram à criação euro?
da atual União Europeia. Por que o fim do euro seria negativo para a
economia europeia?

264
10 A psicoLogia do dinheiro
O que é o dinheiro para você? Faça um esforço ao qual pertenço ou gostaria de pertencer o
para entender como o dinheiro afeta sua vida: Quais possuem?
são suas crenças e atitudes sobre dinheiro? Você se O preço que vou pagar realmente é equivalente
sente melhor quando compra um produto (roupas, ao valor utilitário do produto? Se você tiver
sapatos e outros tens) que o identificam com o grupo dúvida, faça outra pergunta: Há outro produ-
ao qual você pertence ou gostaria de pertencer? to, com exatamente a mesma função técnica e
Em torno do dinheiro há um aspecto psicoló- qualidade, por preço menor?
gico muito explorado por profissionais nas áreas de Lembre-se de que a qualidade do produto não
vendas, marketinge propaganda, embora de modo tem nada a ver com a propaganda que diz "este é
às vezes tão sutil que nem sequer percebemos como o melhor".
nossas crenças sobre o dinheiro são manipuladas Certamente, nem todas as questões relacio-
para nos tornar consumidores compulsivos. Todos nadas ao dinheiro são de caráter emocional ou psi-
precisamos sobreviver - e o dinheiro tem uma finali- cológico. Mas é importante entender que, apesar
dade clara nessa tarefa de sobrevivência. Mas pense de todos precisarmos de certa quantia de dinheiro
quanto dinheiro é necessário realmente para sobre- para sobreviver, ou seja, para prover nossas neces-
viver, e quantas outras coisas nosso grupo social sidades básicas, vivemos em uma sociedade em
nos faz acreditar que são necessárias apenas para que o dinheiro está frequentemente associado a
que possamos "pertencer" a ele ou sermos felizes. valores que ele de fato não pode comprar. Status
De acordo com as teorias de aprendizado e prestígio são influências muito antigas no com-
social (todas as coisas que assimilamos com o grupo portamento humano. Numa sociedade capitalista
ao qual pertencemos), assim como aprendemos a como a nossa, as pessoas mostram seu status pela
cultura, os modos e as crenças religiosas das gera- forma como se vestem, carros que dirigem, casas
ções anteriores à nossa, também aprendemos a nos onde moram, viagens que fazem, lugares que visi-
relacionar com o dinheiro. tam e pessoas com quem se relacionam.
Antes de fazer uma compra, faça a si mesmo Por isso, procure lembrar-se todos os dias de
as perguntas a seguir. quem você é - de seu valor como pessoa - e do valor
Por que este item é necessário? individual das outras pessoas - nada tem a ver com
Qual é o apelo ou o interesse que este produ- dinheiro. Uma vez que realmente acredite nisso, você
to realmente tem para mim? Ou eu o estou será muito mais livre e seguro, pois não precisará ser
comprando porque outras pessoas no grupo escravo do dinheiro ou das aparências para viver.

Organizandoideias
Para finalizar todas as reflexões feitas neste capítulo sobre dinheiro e poder de compra, pense
sobre as questões abaixo.

1. Você já se perguntou quem é você neste mundo do consumo? Para tanto, pense: Você compra
suas roupas, sapatos e outros artigos de acordo com o que o grupo social ou seus amigos
consideram importante? Quanta influência têm a TV, a internet e as revistas nas suas decisões
financeiras? Você se considera crítico em relação ao que consome, ou compra e/ou gostaria
de comprar as mesmas coisas que todos seus amigos?

Agora elabore uma redação sobre a atuação do dinheiro em sua vida e na do grupo em que você
está inserido. O título da redação será: Dinheiro: para que dinheiro?

Comércio e dinheiro na histár 265


~fl Debate interdisciplinar
além da garantia da entrega do produto (caso
O funcionamento da necessário). Mais tarde ela começou a englobar
bolsa de valores ações (partes de uma empresa) e controlar as ne-
A bolsa de valores foi criada por causa da gociações feitas com essas ações.
necessidade de haver um órgão que regulasse a A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa)
compra e venda de mercadorias como gado, café, é a única no Brasil autorizada a oferecer esse tipo
açúcar e ouro, para que os compradores e vende- de serviço. Ela foi fundada em 23 de agosto de
dores não tivessem prejuízo na comercialização, 1890 e é a terceira maior do mundo.

Movimentação do mercado de ações na Bovespa. São Paulo (SP), 2015

Como nosso mercado ainda não é grande o Quando uma empresa pretende expandir seu
suficiente para ser controlado por mais de uma capital e aumentar sua aceitação no mercado, ela
instituição e devido às dificuldades impostas pelos pode, entre outras coisas, negociar uma parte dela
órgãos reguladores - Comissão de Valores Mone- - uma ação - no mercado flnanceiro. Hoje, toda
tários (CVM) -, temos apenas uma bolsa de valo- empresa que quiser participar do mercado de ações
res em todo o país. Além disso, a criação de outras deve passar por um rigoroso processo de reestrutu-
bolsas de valores no Brasil traria benefícios às corre- ração da gestão e de controles internos para cum-
toras, pois geraria concorrência aos preços ofere- prir exigências contábeis.
cidos pela Bovespa nas negociações.
Atualmente, as negociações feitas na bolsa
de valores são separadas em dois tipos, descritos
a seguir.
Ações: constituem partes de uma empresa. São
as mais negociadas hoje pela bolsa e represen- Para ingressar
tam grande fatia do lucro obtido. no mercado
de ações.
Derivativos: são os produtos que podem ser
flecessarr
negociados na bolsa, como café, boi e milho. definir quanis
partes
Diferentemente das ações, os derivativos podem
empresa ser.
ter entrega física. negociadas

266
Como funciona a bolsa Por que as ações sobem e caem?
de valores? Assim como no mercado comum, a lei da
Se você estava pensando na gritaria e no oferta e da procura também funciona no mer-
caos que estão presentes nos filmes, enganou-se! cado financeiro. Quando muitas pessoas come-
O chamado pregão viva-voz foi encerrado em se- çam a comprar e não há ninguém para vender, o
tembro de 2005 e, em seu lugar, entrou o pregão preço segue caindo até que as compras voltem a
virtual: toda aquela movimentação de pessoas deu acontecer e regularizem os negócios, gerando um
lugar a negociações feitas via computador. Hoje prejuízo para os vendedores. Mas outros fatores
uma negociação é realizada por corretoras, e suas externos podem afetar o sobe e desce das ações,
ordens são enviadas para a bolsa a fim de serem e notícias podem abalar o desempenho do mer-
avaliadas e computadas. Então, para dar início a cado em determinada área. Um exemplo é o pré-
uma negociação, basta se cadastrar em uma das -sal, que, quando descoberto, fez subir ações nas
inúmeras corretoras localizadas no país. O número áreas petrolíferas, gerando lucro pra quem vendeu
de negociações supera 1 milhão por dia! na alta. Outro fator que pode alterar o mercado,
Quando uma pessoa (chamada de parte) mas com menor intensidade, é a influência de
deseja comprar alguma coisa por determinado grupos na compra e venda de ações, já que muitas
preço e encontra outra pessoa (contraparte) que pessoas seguem as tendências desses grupos reali-
deseja vendê-la pelo mesmo preço, está instituído zando operações de mesmo porte. Muito cuidado
um negócio, que é fechado quando a compra e a e bastante informação são necessários para obter
venda são realizadas. Na bolsa de valores, funcio- algum sucesso nesse mercado.
na da mesma maneira, mas as corretoras agem
como intermediadoras, ou seja, para solicitar a
compra de determinada ação, deve-se entrar em

N'
contato com uma corretora, que vai procurar uma
ação com melhor preço para ser vendida, a fim de
4
gerar lucro para o contratante.
Suponhamos que uma ação que custa R$ 1,00
fechou seu valor no dia a R$ 1,05, então ela teve
uma alta de 5% em relação ao valor anterior. Mas,
se o valor da mesma ação fechou a R$ 0,95, dizemos
" Os investidores
devem estar
sempre atentos
à alta e baixo
no mercado
de ações.

que ela teve uma queda de 5%.

1. As empresas Romapri e Luga, ambas


atuantes na área de telecomunicações,
disponibilizaram ações na bolsa de valores
no mesmo dia.

Durante o mês, o mercado de telecomuni-


cações elevou todas as ações em 5%, mas,
devido a uma gestão ruim, a empresa Luga
teve queda de 9% em suas ações. Por sua
D valcu ckrs vez, a Romapri teve uma alavancada de
notas das
4% graças ao anúncio da adoção de novas
ações varia de
acoido com a tecnologias para atender o mercado.
nompra e venda Sabendo que o preço da ação da Romapri
das mesmas
Ao longo de no início do mês era de R$ 12,00 e o da
um mesmo Luga R$ 14,00, calcule quanto cada em-
dd uma ação
tem diferentes presa lucrou ao término do mês.
l)íeÇ°S.

o' 267
Testando seus conhecimentos Responda no caderno

1. (PUC-RS) Responder à questão sobre o pe- b) a oferta de crédito consignado, a venda


ríodo pré-colonial, brasileiro, com base no por cartão de crédito e a proliferação
texto a seguir: dos sistemas bancários de autoatendi-
Da primeira vez que viestes aqui, vós o fi- mento.
zestes somente para traficar. [ ... J Não recusáveis ci a troca pessoal de produtos usados, a
tomar nossas filhas e nós nos julgávamos felizes realização de compra por moeda cor-
quando elas tinham filhos. Nessa época, não fa- rente e a venda por cartão de crédito.
láveis em aqui vos fixar. Apenas vos contentá-
o escambo, a realização de compra
veis com visitar-nos uma vez por ano, perma-
por moeda corrente e a restrição de
necendo, entre nós, somente durante quatro ou
crédito ao consumo pessoal.
cinco luas [rneses]. Regressáveis então ao vosso
país, levando os nossos gêneros para trocá-los o escambo, a doação de bens e dinhei-
com aquilo que carecíamos." ro para programas sociais e a restrição
MAESTRI, Mário. Terra do Brasil: a conquista no ato da compra ao uso de moeda
lusitana e o genocídio tupinambá. corrente.
São Paulo: Moderna, 1993. p. 86.
3 )Enem)
O texto anterior faz alusão ao comércio que
Na produção social que os homens realizam,
marcou o período pré-colonial brasileiro eles entram em determinadas relações indis-
conhecido por pensáveis e independentes de sua vontade; tais
mita. relações de produção correspondem a um está-
escambo. gio definido de desenvolvimento das suas forças
ci encomienda. materiais de produção. A totalidade dessas rela-
di mercantilismo. ções constitui a estrutura econômica da socieda-
e) corveia. de - fundamento real, sobre o qual se erguem as
superestruturas política e jurídica, e ao qual cor-
2 (Unesp) Leia o texto. respondem determinadas formas de consciência
As bases materiais e políticas do mundo atual social.
têm permitido uma revolução nas formas de cir-
MARX, K. Prefácio à Crítica da economia política.
culação de dinheiro, criando assim novos modos fl: MARX. K; ENGELS. E. Textos 3. São Pauto:

de acumulação [ ... ). Novos instrumentos finan- Edições Sociais, 1977 (adaptadol.

ceiros são incorporados ao território na forma de Para o autor, a relação entre economia e po-
depósitos e de créditos ao consumo. A sociedade, lítica estabelecida no sistema capitalista faz
assim, é chamada a consumir produtos financei- com que
ros, como poupanças de diversas espécies e mer-
o proletariado seja contemplado pelo
cadorias adquiridas com dinheiro antecipado.
processo de mais-valia.
Com isso o sistema financeiro ganha duas vezes,
o trabalho se constitua como o funda-
pois dispõe de um dinheiro social nos bancos e
mento real da produção material.
lucra emprestando, como próprio, esse dinheiro
cl a consolidação das forças produtivas
social para o consumo.
seja compatível com o progresso hu-
Mitton Santos e Maria Laura Silveira. O Brasil:
território e sociedade no início do século XXI, 2001.
mano.
dl a autonomia da sociedade civil seja
São exemplos do processo de expansão do
proporcional ao desenvolvimento eco-
sistema financeiro no território brasileiro:
nó mico.
a) a troca pessoal de produtos usados, a e) a burguesia revolucione o processo
oferta de crédito consignado e a pro- social de formação da consciência de
liferação dos sistemas bancários de classe.
autoatendimento.

268
Responda no caderno

4. (Enem) Brasil, Alemanha e China. A oficina é oferecida


O jovem espanhol Daniel se sente perdido. Seu por uma universidade espanhola.
diploma de desenhista industrial e seu alto co-
GUILAYN. P. Na Espanha, universidade ensina a emigrar.
nhecimento de inglês devem ajudá-lo a tomar O GLobo. 17fev. 2013 ladaptadol.
um rumo. Mas a taxa de desemprego, que supe-
A situação ilustra uma crise econômica
ra 52% entre os que têm menos de 25 anos, o
que implica
desnorteia. Ele está convencido de que seu fu-
turo profissional não está na Espanha, como o a) valorização do trabalho fabril.
de, pelo menos, 120 mil conterrâneos que emi- bi expansão dos recursos tecnológicos.
graram nos últimos dois anos. O irmão dele, que cl exportaçãode mão de obra quatif cada.
é engenheiro-agrônomo, conseguiu emprego dl diversificação dos mercados produtivos.
no Chile. Atualmente, Daniel participa de uma e) intensificação dos intercâmbios estu-
"oficina de procura de emprego" em países como dantis.

barata no chamado Terceiro Mundo e a devas-


tação do meio ambiente. Entre os entrevista-
rPara você ler j
dos, estão presidentes de corporações como
a Nike e a IBM, além de personalidades como
História da riqueza do homem, de Leo Huberman.
Noam Chomsky e Michael Moore.
São Paulo: LTC, 2010. Tendo corno foco a saga da
economia mundial, o autor explora os agentes
históricos que impulsionaram o desenvolvimento rPara você navegar
da sociedade desde a Idade Média, passando pelo
nazifascismo, até chegar á nova era iniciada pela
Casa da Moeda. Disponível em: <www.casada
Segunda Guerra Mundial.
moeda.gov.br>. Acesso em: 1ev. 2016. A Casa da
Moeda do Brasil é uma empresa estatal cuja
função é garantir o fornecimento de cédulas,
rpara você assistir E11
moedas, selos, passaportes e outros itens de
segurança para todo o país. O portal dá aces-
O senhor das armas, direção de Andrew Niccol. so a informações históricas e atuais, além de
EUA, 2005, 122 min. Yuri Orlov é um Ira ficanle manter canais de comunicação entre o público
de armas que, enquanto atua nas mais perigo- e a Casa da Moeda.
sas zonas de guerra do planeta, precisa des-
pistar um agente da Interpol - que está à sua Museu da Numismática. Disponível em: <www.
procura - e seus clientes, alguns dos grandes itauculturat.org.br/numismatica/omuseu.htm>. Acesso
ditadores do planeta. em: fev. 2016. O Museu Herculano Pires tem um
dos maiores acervos de peças metálicas, como
The corporation, direção de Jennifer Abbott moedas, medalhas e condecorações, objetos
e Mark Achbar. Canadá, 2003, 145 mm. O fil- que se relacionam diretamente com a história
me examina o poder das grandes corporações do país. E possível agendar visitas individuais ou
no mundo atual, a exploração de mão de obra guiadas para conhecer o acervo do museu.

Ccinerc:io e dinheiro na ilistof 269


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