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AGRADECIMENTOS

Ao Doutor MIGUEL MATOS,


Diretor-proprietário da Editora Migalhas, que não poupou esforços nem
recursos, para que esta edição – a primeira revisão e ampliação já na
vigência do Acordo Ortográfico de 2008 – chegasse às mãos dos leitores
com elevada qualidade editorial e zelo gráfico.

À Professora MARIA AUGUSTA BASTOS DE MATTOS,


profunda conhecedora do idioma, que revisou os originais desta edição e
deu preciosas sugestões, quase sempre acatadas por mim, em atuação
diligente e minuciosa, que eu não poderia ter, em razão dos inúmeros
compromissos profissionais da advocacia.

Na pessoa da senhorita ROSANE PROVIDELO,


à equipe da Editora Migalhas, cujo trabalho, como de hábito, transcendeu
os lindes de atuação profissional, significando uma dedicação real, efetiva e
carinhosa a uma empreitada que adotaram como verdadeira missão.

À RITA, à ANA e à CAROLINA,


aquela, querida esposa e imprescindível companheira de vida e de
caminhada já por quase quatro décadas, e estas, preciosas filhas que o
Senhor nos confiou, das quais foram sonegadas significativas horas de
convívio ao longo desse tempo, em prol do melhor resultado para este
material.
DEDICATÓRIAS

Para minha mulher, RITA DE CÁSSIA LELIS SAITO DA COSTA,


companheira de caminhada, que me tem ensinado a realidade das palavras
de Goethe: viajamos não apenas para chegar, mas para viver enquanto
viajamos.

Para nossas filhas, ANA SAITO DA COSTA PEKELMAN RUSU


e CAROLINA SAITO DA COSTA,
preciosos tesouros que nos foram confiados.

Para meu genro, ROBERTO PEKELMAN RUSU,


a quem quero como filho.

Para minha neta, BEATRIZ DA COSTA PEKELMAN RUSU,


que, em cumprimento ao sentido de seu nome, veio para trazer alegria e
felicidade.
PALAVRAS À 6ª EDIÇÃO
JOSÉ MARIA DA COSTA

Após sucessivas tiragens da 5ª edição – a primeira após o Acordo


Ortográfico de 2008 – e isso para fazer frente à generosa aceitação dos
leitores, era forçoso, num primeiro aspecto, revisá-la, para que fosse
escoimada de pequenos erros e fosse aprimorada para também atender às
necessidades surgidas com a nova sistemática do idioma.
Além disso, era preciso dar vazão às centenas de interessantes dúvidas
trazidas por atentos leitores em diálogo com este autor, por via da coluna
Gramatigalhas, publicada semanalmente no jornal eletrônico Migalhas.
O resultado é esta 6ª edição, que vem, assim, revisada e ampliada por
centenas de novos e interessantes verbetes, boa parte direcionada a elucidar
dúvidas sobre a nova sistemática de grafia em vigor na língua portuguesa.
Com a satisfação do dever cumprido e com a alegria de estar
contribuindo com o aperfeiçoamento do idioma é que se traz a lume esta
nova edição.

Ribeirão Preto (SP), 30 de novembro de 2016.


PALAVRAS À 5ª EDIÇÃO
JOSÉ MARIA DA COSTA

A generosa acolhida dos leitores fez esgotar-se a quarta edição desta obra
em pouco mais de dois meses depois de publicada. Porque preparada a
anterior com grande zelo e cuidado durante mais de três anos, esta sai
somente com pequenos ajustes e correções. Além disso, a necessidade
urgente de nova edição faz com que se deixem os acréscimos a verbetes
existentes ou a inserção de novos para uma próxima oportunidade.
Importa, a esta altura, num primeiro plano, lembrar os seguintes
aspectos dos Decretos 6.583, 6.584 e 6.585, todos de 29.09.2008: (i) o
Acordo Ortográfico de 2008 produziria efeitos no Brasil a partir de
1º.01.2009; (ii) seria observado um período de transição entre 1º.01.2009 e
31.12.2012; (iii) nesse interregno, coexistiriam, ambas com validade, a
norma ortográfica antiga e a nova norma estabelecida; (iv) a contar de
1º.01.2013, entretanto, a escrita haveria de obedecer somente à nova norma
estabelecida.
Ora, poucos dias depois de publicada a edição anterior deste Manual, foi
editado o Decreto 7.875, em 27.12.2012, o qual alargou para 31.12.2015, o
período de transição entre os regimes ortográficos, de modo que, durante
esse tempo, “coexistirão a norma ortográfica atualmente em vigor e a nova
norma estabelecida.”
Do cotejo entre os decretos de 2008 e 2012, é possível concluir com
facilidade para esse tempo que se abre à frente: (i) o decreto de 2012 em
nada modificou as regras do Acordo Ortográfico de 2008; (ii) apenas se
alargou de 2012 para 2015 o período de transição entre os sistemas
ortográficos; (iii) durante esse lapso temporal, hão de coexistir validamente
a norma ortográfica antiga e a nova norma estabelecida; (iv) por expressa
previsão da norma por último editada, a partir de 1º.01.2016 somente será
correto escrever pela nova norma estabelecida.
Em última análise, isso quer dizer que a regra editada sobre o assunto
no fim do ano de 2012 em nada alterou a validade e a eficácia do conteúdo
desta obra.

Ribeirão Preto (SP), 21 de fevereiro de 2013.


PALAVRAS À 4ª EDIÇÃO
JOSÉ MARIA DA COSTA

Dez anos passados da primeira edição e cinco da última, vem a lume a 4ª


edição desta obra. Agora, não mais com o nome de Manual de Redação
Profissional, e sim com o título de Manual de Redação Jurídica. E essa
novidade acontece pelas seguintes razões: (i) o novo nome corresponde ao
título que, desde o início, eu pretendia conferir ao livro; (ii) e isso porque,
embora a quase totalidade dos verbetes se destine aos usuários do idioma
em geral, o certo é que o trabalho foi concebido por alguém da área
jurídica, nasceu em meio a peças forenses e foi pensado, de modo
preponderante, para operadores do Direito; (iii) além disso, em decorrência
da classificação catalográfica, o novo título permite que, nas livrarias, a
obra possa ser encontrada, com mais facilidade, nas seções dos livros
jurídicos.
Por outro lado, a premissa da generosa acolhida dos leitores, que fez
com que se publicassem três edições em cinco anos, força a indagação dos
motivos pelos quais uma quarta edição apenas venha a público cinco anos
depois da última. E a resposta é que, iniciadas há mais de um quarto de
século as tratativas para a unificação do idioma pelos países lusófonos, o
Brasil, que, em conjunto com os demais, assumira obrigação escrita em
16/12/1990, no plano interno apenas aderiu oficialmente ao Acordo
Ortográfico da Língua Portuguesa em 2008, quando baixou os diplomas
legais necessários (Decretos 6.583, 6.584 e 6.585, todos de 29/09/2008). E,
por esses decretos: (i) o acordo produziria efeitos no Brasil somente a partir
de 1º/01/2009; (ii) haveria um período de transição entre 1º/01/2009 e
31/12/2012; (iii) nesse lapso temporal, coexistiriam, ambas com validade, a
norma ortográfica então em vigor e a nova norma estabelecida; (iv) a contar
de 1º/01/2013, somente haveria de viger a nova norma estabelecida. Por
isso, ante a coexistência válida da moda antiga e da nova possibilidade de
grafia no período entre 1º/01/2009 e 31/12/2012, é lícito concluir que esta
quarta edição não está sendo entregue em mora aos leitores, já que
publicada antes do termo inicial de vigência exclusiva da nova norma.
O tempo decorrido desde a última edição também tem causas mais
específicas, que, em síntese, podem ser assim alinhadas: (i) o primeiro
pensamento que se teve foi que uma nova edição demandaria apenas uma
revisão do texto, para amoldá-lo às regras do Acordo Ortográfico de 2008;
(ii) logo se esfumou essa primeira impressão, porquanto se percebeu que,
adicionalmente, havia aspectos conceituais a serem alterados em um
número razoável de verbetes que tratavam exatamente das matérias
modificadas (alterações no alfabeto, acentuação gráfica, uso do trema, do
hífen, das maiúsculas e minúsculas, etc.); (iii) além disso, como as edições
anteriores foram alvos de significativos acréscimos, optou-se por uma
reestruturação da obra, a fim de que verbetes que tivessem a mesma
justificativa não repetissem explicações, mas fossem tratados em conjunto e
num só lugar, com a respectiva remissão adicional nos demais; (iv) de igual
modo, para diminuir a extensão da obra, facilitar seu manuseio e continuar
permitindo sua publicação em volume único mesmo com a adição de novos
verbetes, também se optou por outro sistema de referência bibliográfica,
com sua inserção resumida no próprio corpo do texto, sem os anteriores
destaques em notas de rodapé; (v) e, ainda, foram excluídos alguns
verbetes, considerados supérfluos ou desnecessários.
É com essas observações que se entrega esta 4ª edição, sempre contando
com a generosidade dos leitores no que concerne às falhas, inevitáveis em
uma obra deste jaez e extensão, apesar de todo o esforço despendido por
numerosa equipe em seu aperfeiçoamento.

Ribeirão Preto (SP), 14 de julho de 2012.


PALAVRAS À 1ª EDIÇÃO
JOSÉ MARIA DA COSTA

Este autor, por um lado, ministrou aulas de língua portuguesa e de língua


latina por quase três décadas, no antigo ginásio, no colegial, na
universidade e em cursos preparatórios para vestibulares e para concursos.
Por outro lado, mais recentemente, além de inúmeras palestras a operadores
do Direito, passou a trabalhar com questões de Linguagem Forense na
Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, da Universidade de São
Paulo, e em cursos de iniciação e de aperfeiçoamento de juízes da Escola
Paulista da Magistratura, do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.
Mas foi no desempenho da atividade judicante, em decorrência da
leitura de petições, de manifestações e de outras peças processuais, que
passou a ter um contato mais intenso com alguns aspectos da linguagem do
Direito, os quais muitas vezes passam despercebidos a quem escreve:
vocábulos e expressões inexistentes, arcaísmos desnecessários,
estrangeirismos vitandos, circunlóquios viciosos… A par dessas questões
peculiares à linguagem jurídica e forense, ainda houve os lapsos gramaticais
comuns aos demais usuários do idioma: equívocos de grafia, de acentuação
e de crase, erros de conjugação verbal, de concordância, de regência, de
colocação…
No decorrer dos anos de Magistratura, depois de primeiramente anotar
as dúvidas e erros em qualquer fragmento de papel, e após fazer, em
seguida, rápidas observações para uso próprio, o material era guardado em
pasta, mas isso sem preocupação de ordem alguma ou intento premeditado,
talvez apenas com alguma premonição de uso futuro, até porque sempre
subjaz, no íntimo, a admoestação de Carlos Góis: “não é lícito à língua
autorizar solecismos” (1943, p. 124).
Pouco antes da aposentadoria na Magistratura, nasceu a ideia de reunir,
de sistematizar e de aperfeiçoar o material, movido o autor pelo desejo de
produzir obra de fácil manuseio e consulta, capaz de propiciar ao
consulente, de pronto, resposta rápida às indagações e dúvidas mais
corriqueiras.
Em sua elaboração, não teve por alvo realizar trabalho original ou
profundo; buscou, sim, sobretudo, resolver, de modo prático e palatável, os
problemas cotidianos que afetam a vida dos profissionais e acadêmicos de
todas as áreas, que precisam escrever diariamente textos que obedeçam aos
padrões exigidos pelas normas de Redação e de Gramática. Ao mesmo
tempo, procurou fugir às questões de algibeira e aos enigmas aparentes,
convicto de que tais aspectos apenas conduzem a um desperdício de tempo.
Mais do que isso: cuidou de passar bem ao largo do perfil estereotipado do
falso purista da língua e do pretenso gramático, que com frequência se
imagina, figura essa tão engenhosamente esboçada por Eça de Queirós em
Cartas Inéditas de Fradique Mendes e Mais Páginas Esquecidas:
“cabeleira sórdida”, “face chupada pelas ansiedades da prosódia” e “nariz
bem bicudo para picar os galicismos”.
Qual garimpeiro que extrai a gema mais brilhante dos trabalhos de
mérito dos já quase esquecidos estudiosos que escreveram sobre os assuntos
desenvolvidos, socorreu-se o autor com frequência de suas citações, até a
título de merecida homenagem, atento à advertência de Mário Barreto, para
quem não se devem desprezar “os serviços dos gramáticos, que se esforçam
por expurgar, clarificar a língua, conservar as suas tradições, como quem
lava e alimpa a pérola das imundícias que a mancharam” (1954a, p. 94).
Não teve o autor pretensão de ineditismo, mas visou a condensar com
objetividade os reais problemas e contrapô-los a significativos argumentos
que realmente possam, de pronto, resolver as questões. Por buscar um
resultado simples, prático e eficaz, renunciou ao rigorismo científico; por
conseguinte, no afã de solucionar com rapidez o caso concreto, sacrificou
por vezes o requinte da lógica e a argumentação mais profunda.
Acresça-se, a esta altura, em observação que pode ser estendida aos
profissionais de todas as áreas, que um estudo estrutural dos textos forenses
há de revelar-lhes o indisfarçável escopo dialético. Vale dizer: quem escreve
um texto dessa natureza, em última análise, tenta convencer alguém a
respeito de algo. A partir dessa premissa, imprescindível é remoer a
advertência do professor de todos nós, Theotonio Negrão, em momentosa
palestra para acadêmicos de Direito, mas em lição válida para todos,
quando asseverou que “o operador do direito que não consegue ter
linguagem correta não consegue expressar adequadamente seu pensamento”
(Revista de Processo, vol. 49, p. 83). Diante de um tal quadro, pelos
requisitos próprios para a composição de um texto desse jaez, ressoa, em
continuação, o forte ensino de Rui Barbosa de que “aspirar à clareza, à
simplicidade e à precisão sem um bom vocabulário e uma gramática exata
seria querer o fim sem os meios”. É fundamental, em síntese, que o
operador do Direito, o profissional de qualquer área e o estudante, que
precisem escrever um texto que obedeça às regras do padrão culto, não
apenas apliquem as regras de Redação e de Gramática, mas,
verdadeiramente, as tenham como parte integrante de si próprios. Esse
aspecto faz lembrar o grande Guimarães Rosa: “a linguagem e a vida são
uma coisa só. Quem não fizer do idioma o espelho de sua personalidade,
não vive”.
Convicto do fim eminentemente dialético dos textos de profissionais e
acadêmicos e da necessidade de correção aperfeiçoadora de sua linguagem
e do modo de escrever de todos aqueles que precisem produzir um texto
submetido às regras da norma culta, tudo com o intuito de que a
manifestação possa ser veículo fiel do pensamento de seu elaborador, é que
o autor dá a lume esta obra, na despretensiosa tentativa de ser útil e de
auxiliar nas dificuldades mais corriqueiras de Redação e Gramática, desde
já contando com a benevolência do leitor quanto às inevitáveis falhas,
ciente da veracidade do conceito de Kempis, para quem trabalho algum
dessa natureza deixa de ostentar imperfeições que exijam corrigenda.1
Por fim, se, após todo o esforço despendido, o resultado aqui
apresentado ainda não alcançar a perfeição inicialmente colimada, mesmo
assim não haverá motivo para decepção, pois, como lembra Guizot, “em
algumas coisas, pode ocorrer que não se conceda ao homem alcançar o fim
pretendido; sua glória, então, haverá de consistir em haver caminhado”
(Apud RIBEIRO, Júlio, 1908. folha de rosto).

O autor.
josemaria@ajmadvogados.com.br
1 KEMPIS. Omnis speculatio nostra quadam caligine non caret.
APRESENTAÇÃO
EVANILDO BECHARA
Membro da Academia Brasileira de Letras

Data de um século a reclamação de Rui Barbosa: “A vida parlamentar, a


administração e o jornalismo têm sido, em toda a parte (quanto mais entre
nós!), os mais poderosos corruptores da língua e do bom gosto”.
Contra esses maus tratos da linguagem engajou-se um exército de
estudiosos e vernaculistas cuja patriótica ação se tem desenvolvido até
nossos dias, com efetivos esforços – a que não têm faltado certo exagero e
até certo despreparo – no sentido de preservar as excelências e galas da
língua portuguesa.
A essa grei de vernaculistas se veio juntar José Maria da Costa com o
Manual de Redação Jurídica trasladando para o livro sua enorme
experiência de professor de Língua Portuguesa e Língua Latina a alunos de
todos os graus de ensino, com especial atenção aos da área do Direito.
Trata o Manual, em ordem alfabética, de numerosas questões de
linguagem, cujo emprego tem suscitado dúvidas a quantos se preocupam
em falar e escrever com coerência, correção e adequação. Auscultando a
opinião de filólogos, gramáticos, vernaculistas e profissionais do Direito,
José Maria da Costa soube, com segurança, construir uma obra de
extraordinária utilidade, como comprova a aceitação do público, que já
demanda uma nova edição. E outras virão, certamente.

Rio de Janeiro, novembro de 2003.


PREFÁCIO
J. SAULO RAMOS
Advogado, poeta, Consultor Geral da República e Ministro da Justiça (Governo Sarney).

Em todos os tempos, escrever bem foi considerado arte, porque, na falta de


mínimas instruções, incentivos ou praticidade de razões, as pessoas não
conseguiam “passar para o papel” nem mesmo suas mais simples
expressões coloquiais. Daí o sucesso dos filósofos, dos romancistas, dos
poetas, dos velhos jornalistas de editoriais ou dos folhetins, dos doutores
das religiões, e, no fim da fila, dos juristas com suas obras em linguagem
forense e científica, suas postulações, suas sentenças, sua doutrina.
Legisladores não se incluem. Sempre escreveram mal.
Apesar desse conceito, escrever errado era vergonhoso e, em algumas
épocas, mereceu severos castigos. O melhor dos mundos, entre um conceito
e outro, era não escrever, ou fazer igual aos médicos que, obrigados a
escrever receitas, recorriam a rabiscos ininteligíveis, que somente os
farmacêuticos conseguiam ler.
No mundo moderno, houve uma profunda revolução naquela velha
concepção. Além dos escritores, jornalistas, homens de letras, cientistas do
Direito, tratadistas de Medicina, de Física e até de Matemática, em todas as
atividades é preciso escrever e, por óbvio, escrever corretamente. Nas
empresas, nas repartições públicas, nos sindicatos, nas relações comerciais,
industriais, são escritos diariamente milhões de memorandos, cartas,
pareceres, relatórios, comentários, apreciações, avaliações, informações
técnicas ou gerais. Os textos comunicam ordens, orientam decisões,
desenvolvem planejamentos, relatam reuniões, fundamentam sugestões,
justificam opções, compra, venda, transações.
Desde uma simples bula de remédios, ou catálogo de produto
eletrônico, ou termos de garantia de aparelho doméstico ou industrial, até os
complexos contratos entre empresas, ou entre fornecedores e consumidores,
tudo está condicionado a uma redação precisa, clara, competente, tanto sob
o enfoque técnico como jurídico, mas, para ser realmente eficiente, exige a
boa linguagem, sem erros e sem dúvidas. E de fácil entendimento pelas
pessoas comuns do povo, o que continua deixando de fora a legislação.
Nas escolas, a redação passou a ser fundamental em todas as matérias. E
a juventude, além das salas de aulas, passou, do romântico bilhetinho de
namorados, às salas de bate-papo na internet, e está demonstrado que, nesta
modalidade, quem escreve melhor atrai mais as atenções e impõe maior
respeito aos interlocutores. E, desde as escolas em geral, ou vestibulares, até
à plenitude dos cursos universitários, a leitura e a escrita constituem a
essência da formação cultural imprescindível à afirmação e à evolução dos
povos, de sua história e de sua subsistência dentro do sistema de conquistas
a que chamamos de civilização.
Às profissões clássicas, que sempre usaram a escrita como ferramenta
de expressão, acresceram-se outras, sobretudo no mercado da publicidade,
que reclama textos concisos e inteligentes, capazes de dar eficácia à
propaganda comercial. E tanto a publicidade como os romances e a
informação jornalística passaram a ter, na televisão e no cinema, a
ilustração da imagem com força avassaladora na comunicação visual. Mas,
lido pelo locutor ou interpretado por artistas, como alicerce de todos esses
processos, está o texto, e, se foi mal escrito, não há imagem, nem locutor,
nem artista que possa salvá-lo. É verdade que a televisão provocou o
afastamento dos livros, e é lendo que se aprende a escrever. Estamos, pois,
numa fase curiosa: temos que escrever bem sem muita leitura. Mais um
motivo, entre outros, que justifica a utilidade das obras de pronto-socorro
para as questões linguísticas.
A humanidade tem hoje, por necessidade prática e, claro, por aspiração
cultural, verdadeira obsessão: escrever corretamente. Fiz consulta em
programa de pesquisa na internet, digitando a expressão “escrever bem”.
Veio a resposta: no Brasil há 76.900 páginas propondo-se ensinar a escrever
bem. À expressão “escrever corretamente”, respondeu o pesquisador com
10.700 páginas. Usei o Google. Mas outros dão aproximadamente os
mesmos resultados. Pode-se, apenas por isso, verificar o enorme interesse
da coletividade em aprender e saber escrever bem.
Pois melhor do que as quase noventa mil páginas da internet, melhor
que todos os anteriores trabalhos sobre “a arte de escrever”, melhor que
todas as respeitáveis obras até hoje publicadas como orientadores
linguísticos e gramaticais, ou como auxílio e tira-dúvidas da língua
portuguesa, é este formidável livro do Dr. José Maria da Costa, um trabalho
monumental de pesquisa e inteligente organização, em ordem alfabética,
das expressões em português e em brasileiro, tudo bem comentado,
explicado em linguagem simples, com exemplos didáticos, e enriquecido
com citações de outros autores, quase todos os que contribuíram para a
construção da catedral do idioma condensada neste livro.
Quando, portanto, saliento ser este trabalho melhor do que todos os
outros anteriormente publicados, não estou desmerecendo as magníficas
obras dos demais estudiosos da língua, mas apenas salientando que, neste
trabalho, os demais autores tiveram suas obras incorporadas, de forma que
aqui se obtém, em consultas fáceis, não só a resposta para as dúvidas, como
também a informação de como foram tratadas por outros linguistas,
incluídas até as divergências entre eles, mas seguidas da explicação de suas
causas e habilmente sugeridas as melhores soluções. Logo, esta obra é a
melhor, porque reúne, em uma só, o bom de todas, e acrescenta. E como
acrescenta!
ÍNDICE
Para fins de citação em trabalhos acadêmicos, na versão ebook do
Manual de Redação, 6ª edição, foi mantida no índice a numeração de
páginas da versão impressa.

AAL A alface ou o alface?, 53


ABA À baila, À balha ou À bailha?, 53
Abaixo assinado ou Abaixo-assinado?, 53
A baixo ou Abaixo?, 54
Abalroamento, 54
Abater, 54
ABD Abdicar, 54
ABE Abençôo ou Abençoo?, 55
Abertura inaugural – Está correto?, 55
ABO Abolir, 55
Abordar, 55
ABR Abreviatura, Abreviação e Sigla – O que é e Como usa?, 55
Abreviatura no processo, 57
Abrigo, 58
Ab-rogação ou Abrogação?, 58
Ab-rogar ou Abrogar?, 58
Abrupto ou Ab-rupto?, 59
ABS Absolutizar – Existe?, 59
Absoluto, 59
Abster-se, 59
Abstração feita a e Abstração feita de, 59
ABU Abuso, 60
Abuso do gerúndio, 60
ACA Acabamento final – Está correto?, 60
Academia Brasileira de Letras – Considerações importantes, 60
Academia Brasileira de Letras – Delegação legal e autoridade, 61
Academia ou Acadimia?, 63
Acamar, 63
Ação, 63
Ação contra, 63
Ação em face de, 63
Ação fiscalizadora ou Ação fiscalizatória?, 63
A capela ou À capela?, 64
Acareação, 64
A catorze de julho ou Em catorze de julho?, 64
ACE Aceite, Aceitado ou Aceito?, 65
Acento diferencial, 65
Acento diferencial de número, 65
Acento diferencial de timbre, 66
Acento diferencial de tonicidade, 66
Acento prosódico, 67
Acentos – Podem dois em mesma palavra?, 67
Acentuação de palavras unidas por hífen, 67
Acentuação dos monossílabos, 67
Acentuação gráfica, 67
Acentuação gráfica das maiúsculas, 68
Acerca de, Há cerca de ou Cerca de?, 68
Acerto ou Asserto?, 69
ACH Acho, 69
ACO Aconselhar, 69
ACO Acórdão: exarar, prolatar ou proferir?, 70
Acórdão ou Acordam?, 70
Acórdão ou Aresto?, 70
Acórdão recorrido, 70
Acórdão trânsito ou transitado em julgado?, 70
Acordo, 70
Acordo amigável, 71
Acordo Ortográfico – Como citar leis antigas?, 71
Acordo Ortográfico de 2008 – Mudanças na acentuação, 71
Acordo Ortográfico – Quando entra em vigor?, 72
A cores ou Em cores?, 73
Acostar, 73
ACR Acredito, 73
ACU Acudir, 73
A curto prazo ou Em curto prazo?, 73
Acusado, 74
Acusar recebimento, 74
À custa de ou Às custas de?, 75
ADA Adaptar, 75
ADC Ad corpus – com hífen ou sem?, 76
ADE Adentrar, Adentrar em ou Adentrar-se em?, 76
Adequado, 76
Adequar, 76
Aderir, 77
Ad exitum, 78
ADH Ad hoc – com hífen ou sem?, 78
ADI Adimplir, 78
Adir, 79
A disposição ou À disposição?, 79
Aditamento contratual ou Aditivo contratual?, 79
Aditamento de contrato ou Aditamento a contrato?, 80
ADJ Adjetivação desnecessária, 80
Adjetivo, 81
Adjetivos compostos, 81
Adjudicar, 82
ADO A domicílio ou Em domicílio?, 82
A domicílio ou Em domicílio – Caso prático, 82
Adonde, Aonde ou Onde?, 83
ADQ Ad quem – com hífen ou sem?, 83
Ad quem ou Ad quam?, 83
Adquirir, 84
ADR Adrede, 85
Adredemente – Existe?, 85
Ad-rogar, 85
ADV Advérbios em “mente”, 85
Advérbios em “mente” seguidos – Como resolver?, 86
Advertir, 87
Advogada infra-assinada ou Advogada infra-assinado?, 87
Advogada, Patrona ou Patronesse?, 88
Advogado, Ad(e)vogado ou Ad(i)vogado?, 88
ADV Advogado ou Patrono?, 88
Advogado – Que preposição usar?, 89
Advogado – Vossa Excelência ou Vossa Senhoria?, 89
AEG A egrégia ou À egrégia?, 89
AES À esquerda e À direita de, 90
AEX À exceção de ou Com exceção de?, 90
À exceção de – Por que tem crase?, 90
AFA À face de ou Em face de?, 90
A favor ou contra, 90
A fazer – Está correto?, 91
AFE Aferir, 91
Afetar, 92
Afeto, 93
AFI A fim de ou Afim de?, 93
A final ou Afinal?, 93
AFO A folhas vinte e duas – Como é a forma correta?, 94
Afora, 96
Aforar, 96
Aforisma ou Aforismo?, 96
AFR A frente de ou À frente de?, 97
AGE Agente da passiva, 97
A gente foi ou A gente fomos?, 97
AGI Agilizar – Existe?, 98
AGO Agora há pouco – Existe?, 98
AGR Agradar, 98
Agradável de se ler ou Agradável de ler?, 99
Agradecê-lo ou Agradecer-lhe?, 99
Agravar, 99
Agravar retidamente ou Interpor agravo retido?, 100
Agravo de ou por instrumento?, 100
Agravo retido, 101
Agredir, 101
Agronomando – Existe?, 101
Agro-pecuária ou Agropecuária?, 101
A grosso modo ou Grosso modo?, 101
AGU Aguar – Como conjugar?, 101
Aguardamento – Existe?, 101
Aguardo – É correto?, 101
AIN Ainda que, 101
AJU Ajuizar ação contra, 101
Ajuizar ação em face de, 101
Ajuizar demanda – é correto?, 102
ALA Alameda Santos ou alameda Santos?, 102
Alavancar – Existe?, 102
ALE Além dos ou Além de os?, 102
Além e Aquém de, 102
Alerta – Existe no plural?, 102
Al – Existe?, 102
ALG Algarismo arábico – Como ler e empregar?, 103
Algarismo romano – Como ler e empregar?, 103
ALG Algoz, 103
Alguém de nós – sabe ou sabemos?, 103
Alguém de vós – sabe ou sabeis?, 103
Alguma cacofonia, 103
Algum de nós – sabe ou sabemos?, 104
Algum de vós – sabe ou sabeis?, 104
Alguns de nós – sabem ou sabemos?, 104
Alguns de vós – sabem ou sabeis?, 104
Algures, 104
ALH Alhures, 104
ALI Aliás, 104
Aliasmente – Existe?, 104
Álibi, 105
Alimentando – Existe?, 105
Alínea – Como ler seu número?, 106
ALM Alma minha – É cacófato?, 106
ALU Aludido, 106
Aludir, 106
Alugar, 107
Aluga-se uma casa, 107
Aluguel ou Aluguer?, 107
ALV Alvoroço – Como pronunciar o plural?, 108
AM a. m., 108
AMA A maioria dos alunos – faltou ou faltaram?, 108
A maior parte dos alunos – faltou ou faltaram?, 108
Amámos ou Amamos?, 108
Amanhã voltamos ou Amanhã voltaremos?, 109
AMB Ambos, 109
Ambos vocábulos ou Ambos os vocábulos?, 110
AME À medida que, À medida em que ou Na medida em que?, 111
A mesma coisa, 112
A metade de… – foi ou foram?, 112
A meu ver ou Ao meu ver?, 112
AMI Amicus curiae – Qual é o plural?, 112
A mim me parece – É forma correta?, 113
Amiúde, 114
Amiudemente, 114
AMO Amoral ou Imoral?, 114
AMP Ampersand, 114
ANA Analisar, 115
Análise legal-institucional – Qual o plural?, 115
AND Andaime, 115
Andar a ou Andar de?, 115
ANE Anexo, 115
ANG Anglicismo, 116
ANI A nível de, Ao nível de ou Em nível de?, 116
ANO Ano – Como ler seu número?, 117
Anos atrás, 117
Anos vinte ou Anos vintes?, 117
ANS Ansiar, 117
ANS Ansiedade, 117
ANT Anteceder, 118
Antecedido de aviso prévio – É correto?, 118
Antecipa-se as eleições ou Antecipam-se as eleições?, 118
Ante – Com hífen ou Sem hífen?, 119
Antepor – Como conjugar?, 119
Antes de – Atrai o pronome para antes do verbo?, 119
Antes de ou Antes que?, 120
Antes e depois, 120
Antes e durante, 121
Antes que ou Antes de?, 121
Antever – Como conjugar?, 121
Anti – Com hífen ou Sem hífen?, 121
Antiguidade, 122
Antitruste ou Antitrustes?, 122
António ou Antônio?, 122
ANU Anuir, 122
Anunciar, 123
AOA Ao abrigo de, 123
AOE Ao encontro de ou De encontro a?, 123
AOF Ao fato, 123
AOI Ao invés de ou Em vez de?, 123
AOM Ao mesmo tempo que ou Ao mesmo tempo em que?, 124
Ao meu ver ou A meu ver?, 124
AON Aonde, Adonde ou Onde?, 124
Ao nível de, A nível de ou Em nível de?, 125
AOP Ao par, 125
Ao ponto de ou A ponto de?, 125
AOQ Ao que sei ou Pelo que sei?, 125
AOS Aos 4 de julho ou Aos 4 dias do mês de julho?, 125
AOU A ou Lhe?, 125
APA A página dois, 125
Apaniguar, 125
A par de ou Ao par de?, 125
A par e passo – Existe?, 125
A partir de ou Apartir de?,125
Apaziguar, 125
APE Apelação, 125
Apelação – Interpor ou Opor?, 126
Apelado, 126
Apelar, 126
Apelido de família, 126
Apelo, 126
Apenar ou Penalizar?, 126
Apenasmente – Existe?, 127
Apenso, 127
APO Apóia ou Apoia?, 127
Apontar armas!, 127
A ponto de ou Ao ponto de?, 127
Apor – Como conjugar?, 127
APO Após, 127
Apossínclise, 127
Apóstrofe ou Apóstrofo?, 127
APR A pretexto de ou Sob pretexto de?, 127
A princípio ou Em princípio?, 128
À proporção que ou À ção em que?, 128
A própria autobiografia – Está correto?, 128
APU Apud, 128
AQU Àquele, Aquele, Àquilo ou Aquilo?, 128
A quo – com hífen ou sem?, 128
A quo ou A qua?, 128
ARB Árbitro ou Juiz?, 129
ARC Arcaísmo, 130
Arcar, 130
Arco-íris – Qual é o plural?, 131
Ar-condicionado – Qual o plural?, 131
ARE Aresto ou Acórdão?, 131
Aresto ou Arresto?, 131
ARG
Arguir – Como fica sem o trema?, 131
Arguir – Significado e Conjugação, 132
Argumentos que não cabem discutir – Está correto?, 132
ARM Armaram ou Armarão?, 132
ARQ Arqui-inimigo ou Arquiinimigo?, 133
ARR Arraial do Cabo ou arraial do Cabo?, 133
Arras, 133
Arrazoar, 133
Arrear ou Arriar?, 133
Arrendar, 134
Arresto ou Aresto?, 135
Arriar ou Arrear?, 135
Arrizotônicas, 135
Arrolar e Arrulhar, 135
Arrostar, 135
Arruinar, 136
ART Artigo, 136
Artigo de lei – Como ler seu número?, 136
ASC Ascendência ou Descendência italiana?, 136
Ascensão, 137
Às custas de – Existe?, 137
ASE A ser ou A sermos?, 137
ASF Às folhas vinte e duas, 137
ASM As mais das vezes, 137
ASO
A sós ou Às sós?, 137
ASP Aspas, 137
Aspas duplas e Aspas simples, 138
Aspira ao cargo: Aspira-lhe ou Aspira a ele?, 138
Aspirar o(ao) perfume? e Aspirar o(ao) cargo?, 138
Aspira-se aos cargos ou Aspiram-se aos cargos?, 139
Aspira-se os perfumes ou Aspiram-se os perfumes?, 139
ASS Assembléia ou Assembleia?, 139
ASS Assente ou Assentado?, 139
Assentir, 139
Asserto ou Acerto?, 139
Assessor, 139
Assessoria técnica-jurídica ou Assessoria técnico-jurídica?, 139
Assim como, 140
Assinação, 140
Assinalar prazo – Existe?, 140
Assinar prazo, 140
Assiste-se ao espetáculo e Assiste-se o doente, 140
Assistir, 140
Assistir e Gostar de, 141
Assistir razão, 141
Assunto a discutir(-se) – Está correto?, 141
Assuntos que faltam tratar, 141
AST As tantas horas ou Às tantas horas?, 142
ATE Atender os requisitos ou Atender aos requisitos?, 142
Atentar, 142
Atenuar, 143
Até o ou Até ao?, 143
A teor de – Existe?, 143
Ater-se, 144
ATO À toa ou À-toa?, 144
ATR Atração pronominal remota, 144
Através de, 145
Atribuir, 146
ATU Atualizar monetariamente, 146
AUD Audiência a realizar(-se) – Está correto?, 146
AUF Auferimento – Existe?, 147
Auferir, 147
AUM A uma … a duas – É correto?, 147
AUN À unanimidade ou Por unanimidade?, 147
AUT Autenticar ou Autentificar?, 148
Auto – Com hífen ou Sem hífen?, 148
Autópsia ou Necrópsia?, 148
Autorizar, 149
Autor ou autor? Réu ou réu?, 149
Autor ou Requerente?, 149
Autos – Concordância no singular ou no plural?, 150
Autos foi (ou foram) encaminhado(s)?, 151
AVA Aval, 151
Avançar!, 151
A vários meses ou Há vários meses?, 151
Avaro ou Ávaro?, 152
AVE Avenida Paulista ou avenida Paulista?, 152
Averiguar – Pronúncia e Conjugação, 152
A ver ou Haver?, 153
AVI Avisar, 153
AVO Avo, 153
AZU Azul-celeste, 154
BAC Bacharela – Existe?, 154
Bacharelando – Existe?, 155
Bacharel em ou Bacharel de?, 155
BAH Bahia, 155
BAN Banir, 155
BAR Barato, 155
Barbarismos, 155
BAS Bastante – Existe no plural?, 156
Bastantes procuradores – Existe?, 156
Bastar e Faltar – Como concordar?, 156
Bastar de, 157
BAT Bater, Dar e Soar – Como concordar?, 157
BEC Beco do Carmo ou beco do Carmo?, 157
BEL Bela caligrafia, 157
Bel-prazer da vontade – Existe?, 157
BEM Bem, 158
Bem como, 158
Bem no sei, 158
Bem ou Bom?, 158
Bem – Quando usar o hífen?, 158
Bem que, 159
Bem vindo, Bem-vindo ou Benvindo?, 159
BEN Beneficência ou Beneficiência?, 159
Beneficente ou Beneficiente?, 160
Benfeito, Bem-feito ou Bem feito?, 160
BIO Biografar, 160
BIT Bitransitivos indiretos – O que são?, 160
BLO Bloqueamento – Existe?, 160
BOA Boa-fé, Boa fé ou Boafé?, 160
Boa parte dos alunos – faltou ou faltaram?, 161
Boato falso – Está correto?, 161
BOI Bói, 161
BOL Bolso, 161
BOM Bom de se comer ou Bom de comer?, 161
Bom-dia ou Bom dia?, 161
Bom-senso ou Bom senso?, 161
BON Bônus – Qual é seu plural?, 161
BRE Breve alocução – Está correto?, 161
BRI BRICS – Singular ou plural?, 161
BUS Buscou-se soluções ou Buscaram-se soluções?, 162
CAC Caçar ou Cassar?, 162
Cacoepia, 163
Cacófato – O que é?, 163
CAD Cada, 164
Cada um de nós – sabe ou sabemos?, 165
Cadê, 165
CAI Cáiser – Existe?, 165
Cais – Qual é seu plural?, 166
CAL Calcar, 166
CAM Campus, 166
CAN Câncer – Qual é o plural?, 168
Candidatos a, 168
Caneta-tinteiro, 168
CAO Caolho – Como pronunciar o plural?, 168
CAP Capitã, Capitoa ou A Capitão?, 168
Capital, 169
Capítulo – Como ler seu número?, 169
Captar, 169
Captar ou Capitar?, 170
CAR Caráter ou Caractere?, 170
Cardinal, 170
Carecer, 171
Cargo visado – Está correto?, 172
Caro, 172
Caroço – Como pronunciar o plural?, 172
Carta Magna, 172
Carta precatória, 172
Cartas de intimação ou Cartas de intimações?, 172
CAS Casa a alugar(-se) – Está correto?, 173
Casar, 173
Casa vinte e um, 173
Caso seja… e deseja…?, 173
Casos que se tornam necessários enumerar, 174
Casos que tais – É correto?, 174
Cassar ou Caçar?, 174
Castelhanismo, 174
CAT Cateter ou Catéter? E o plural?, 174
Catorze ou Quatorze?, 174
CAV Cavaleiro ou Cavalheiro?, 174
CED Cediço ou Sediço?, 174
Cedilha, 175
CEN Censor – Comum de dois gêneros?, 175
Centigrama, 175
Cento por cento – Existe?, 175
CER Cerca de, Acerca de ou Há cerca de?, 175
Certeza que ou Certeza de que?, 175
Certificar, 176
CES Cessão, Seção, Secção ou Sessão?, 177
CHA Chamar, 177
Chance – Galicismo?, 178
Chantagear ou Chantagiar?, 178
Chassi – Galicismo?, 178
CHE Chefe – Qual o feminino?, 179
Chegada, 179
Chegado ou Chego?, 179
Chegar, 179
Chego ou Chegado?, 180
Chegou a hora do povo decidir, 180
CHO Chovia uma chuva – Existe?, 180
CID Cidadão – Qual é o plural?, 180
CID Cidade, município e comarca – Como distinguir?, 180
CIE Cientificar, 181
CIN Cincoenta ou Cinquenta?, 181
Cingir, 181
Cinquenta ou Cincoenta?, 181
Cinqüenta ou Cinquenta?, 182
CIR Circuito ou Circuíto?, 182
Circularização – Existe?, 182
Circunstâncias que relevam observar – Está correto?, 182
CIT Citação, 182
Citação a realizar(-se) – Está correto?, 182
Citação bibliográfica, 182
Citação com (ou por) hora certa?, 182
Citação de latim, 183
Citação em língua estrangeira, 183
Citação procedida, 183
Citar editaliciamente – Está correto?, 183
Citar latim é perigoso, 183
Cite-se-o – Está correto?, 184
Cite-se o réu – Está correto?, 186
Cite-se os réus ou Citem-se os réus?, 186
CIV Cível ou Civil?, 186
CLA Cláusula – Como ler seu número?, 187
Cláusulas de contrato – Como numerar?, 187
Cláusulas terceira e quarta – Está correto?, 188
CLI Clítoris ou Clitóris?, 189
COA Coação, 189
Co-autor ou Coautor?, 189
COC Co – Com hífen ou sem?, 189
COD Código de (ou do) Processo Civil?, 190
Códigos civil e penal, 190
COE Coerção, 190
COG Cogitar, 190
COI Coisíssima – Está correto?, 190
COL Colação, 190
Colacionar, 191
Colchetes, 191
Colenda Câmara, 191
Colendo – Quando se usa?, 191
Coletivo – Como concordar?, 191
Coligir, 192
Colocação de pronomes, 192
Colocação de pronomes – Atração remota?, 193
Colocação de pronomes e Locuções verbais, 194
Colocação de pronomes e Verbo no infinitivo, 194
Colocação de pronomes – Locução – Infinitivo?, 194
Colocação de pronomes – Próclise ou ênclise?, 195
Color, 195
Colorir, 195
COM Comandante em chefe – Está correto?, 195
COM Com certeza ou Certamente?, 195
Com exceção de ou À exceção de?, 196
Com nós – Existe?, 196
Como e por exemplo – Podem na mesma frase?, 197
Como quando – Está certo?, 197
Como se lê 83,47%?, 198
Como sendo – Está correto?, 198
Como tal ou Como tais?, 198
Com ou sem – Está correto?, 198
Companhia ou Compania?, 200
Comparar, 200
Comparecer, 200
Comparecimento, 201
Compelir, 201
Competente, 201
Compilar, 202
Complemento Nominal – quando se refere a um substantivo, 202
Compor – Como conjugar?, 203
Comprimento ou Cumprimento?, 203
Computar, 204
Com reserva ou Com reservas?, 204
Com ressalva ou Com ressalvas?, 204
Comum de dois, 205
Comum de dois gêneros, 205
Comunicar, 205
Com vós – Existe?, 205
CON Conceber – Galicismo?, 205
Concebeu o ou Concebeu ao?, 206
Concernir, 206
Concertar ou Consertar?, 207
Concerteza ou Com Certeza?, 207
Concessa venia, 207
Concluir, 207
Conclusão, 207
Concluso ou Conclusos?, 208
Concordância com percentuais, 208
Concordância do particípio passado, 208
Concordância do pronome de tratamento, 208
Concordância do verbo ser, 208
Concordância expressa ou Concordância por escrito?, 209
Concordância nominal, 209
Concordância nominal – Um caso interessante, 212
Concordância verbal, 212
Concordância verbal – Caso prático, 213
Concordância verbal – Pronome relativo, 213
Concordância verbal – Símbolo de indeterminação do sujeito, 213
Concordar em gênero, número e grau, 213
Condenação, 214
Condenar, 214
Condena-se os excessos ou Condenam-se os excessos?, 215
CON Condo-hotel ou Condo hotel?, 215
Conduzido, 215
Conferir, 215
Conforme, 216
Conhecer, 216
Conheço todos eles – Está correto?, 217
Conjectura, Conjeitura ou Conjetura?, 217
Conjugação verbal, 217
Cônjuge – Comum de dois ou Sobrecomum?, 218
Conjunção, 218
Conjuntura, 218
Conosco, 219
Conquanto, 219
Consecução dos tempos verbais, 219
Consecutio temporum, 220
Conseguir, 220
Consentâneo, 220
Considerando, 220
Considerar, 220
Consignar, 221
Consigo ou Com você?, 221
Consoante, 222
Consonância, 222
Consorte, 222
Constante, 223
Constar, 223
Constatar – Galicismo?, 224
Constituir, 225
Constranger, 225
Construir, 225
Consulado-geral ou Consulado geral?, 226
Consulesa – Existe?, 226
Consultor-geral ou Consultor geral?, 226
Consumerismo, 226
Conter, 226
Conteste ou Inconteste?, 226
Continuar, 226
Contorno – Como pronunciar o plural?, 226
Contra-arrazoar o recurso ou Contra-arrazoar ao recurso?, 226
Contra – Com hífen ou sem?, 227
Contraditar ou Contradizer?, 227
Contralto, 228
Contraminuta ou Contrarrazões de agravo?, 228
Contra ou a favor, 228
Contra-razões ou Contrarrazões?, 229
Contrariamente ao réu, 229
Contrarrazoar ou Contra-arrazoar?, 229
Contribuir, 230
Controlador-geral ou Controlador geral?, 230
Controle, 230
CON Convergir, 230
Convir, 231
Convocados a comparecer ou Convocados a comparecerem?, 231
Convosco, 231
COO Coordenadora Jurídico – Está certo?, 231
COP Copiar, 231
COR Co-réu, Corréu ou Coréu?, 231
Coro – Como pronunciar o plural?, 232
Coronela – Existe?, 232
Correicional ou Correcional?, 232
Correio ou Correios?, 232
Correlação temporal, 232
Correspondência temporal, 232
Cortou-se-a – Existe?, 232
COT Cota ou Quota?, 232
CPI CPI: as CPI ou as CPIs?, 233
CPI CPI ou C.P.I.?, 234
CRA Crase antes de nomes de localidades, 234
Crase antes de pronomes, 234
Crase antes de pronomes de tratamento, 235
Crase antes de pronomes possessivos, 235
Crase antes de pronomes relativos, 236
Crase antes de siglas, 236
Crase antes de substantivos comuns, 236
Crase antes de substantivos femininos, 237
Crase e palavras ocultas, 237
Crase inexistente, 238
Crase – Nomes comuns do feminino, 238
Crase obrigatória, 238
Crase para evitar ambiguidade, 239
Crase proibida, 239
Crase – Regras gerais, 239
CRE Crêem ou Creem?, 240
Creio-o apto – Existe?, 240
Crenta ou Crente?, 240
Crer – Conjugação e Regência verbal, 241
CRI Crime prescrevido ou Crime prescrito?, 241
CUI Cuida-se de processos ou Cuidam-se de processos?, 241
CUJ Cujo, 242
CUM Cumprimentar em nome ou Cumprimentar na pessoa?, 243
Cumprimento ou Comprimento?, 244
CUR Curador – Cargo ou encargo?, 244
Currículo, 244
CUS Cuspido e escarrado – Está correto?, 244
Custar, 244
Custas, 246
DAC Dactilografar, 246
DAD Dado o, 246
DAF Da falência, 246
DAN Dano moral ou Danos morais?, 247
DAQ Daqui a pouco ou Daqui há pouco?, 247
DAR Dar – Como concordar?, 247
Dar – Como conjugar?, 247
Dar luz ao filho ou Dar à luz o filho?, 247
Dar provimento, 248
Dar-se ao trabalho de ou Dar-se o trabalho de?, 248
Dar uma fugida – é correto?, 248
DAS Dá-se à causa o valor de ou Dá à causa o valor de?, 250
DAT Datado, 250
Datas, 250
Datas – A catorze de julho ou Em catorze de julho?, 251
Datas – Ponto no fim?, 251
Data venia, 251
Data venia – com hífen ou sem?, 251
Datilografar, 251
DE De, 252
DEA De a, 252
DEC Decano ou Décano?, 252
Decigrama, 252
Decisão, 252
Decisão: exarar, prolatar ou proferir?, 252
Decisão recorrida, 252
Declinar – Galicismo?, 252
Decompor – Como conjugar?, 253
De conformidade ou Em conformidade?, 253
Decreto, 253
Decreto Federal ou Decreto federal?, 253
Decreto-lei, 253
De cujus – com hífen ou sem?, 254
De cujus – Qual é o plural?, 254
DED Dedetizar ou Detetizar?, 255
DEE De ele – Está correto?, 255
Dêem ou Deem?, 255
De encontro a ou Ao encontro de?, 255
De eu – Está correto?, 255
DEF De facto ou De fato?, 255
Defender – Galicismo?, 256
Deferimento ou Diferimento?, 256
Deferir o pedido ou Deferir ao pedido?, 256
Deferir ou Diferir?, 256
Defeso, 257
Défice, Deficit ou Déficit?, 258
De forma a ou De forma que?, 258
De formas que – Está correto?, 258
Defronte a ou Defronte de?, 259
DEG Degladiar ou Digladiar?, 259
DEH De há muito, 259
DEI Deixar, 260
Deixe-me ler – Está correto?, 260
DEJ De jeito a ou De jeito que?, 260
DEL Delapidar ou Dilapidar?, 260
Delatar ou Dilatar?, 260
Delegada – Existe?, 260
Delegar, 260
Delinquir, 261
Delistar – Existe?, 261
DEM De maior – Está correto?, 261
De mais a mais – Está correto?, 261
Demais ou De mais?, 261
De maneira a, De maneira a que, De maneira que ou De maneiras
que?, 262
De menor – Está correto?, 262
De modo a ou De modo que?, 262
De modos que, 263
De molde ou De molde a?, 263
Demolir, 263
Dêmos ou Demos?, 263
DEN De nada – Está correto?, 263
Denegrir, 264
Dentre, 264
Dentro a, Dentro de ou Dentro em?, 264
Dentro e fora de, 265
Denúncia, 265
Denúncia da lide ou Denunciação da lide?, 265
Denunciar a lide ou Denunciar à lide?, 266
DEO De ofício, 266
De O Globo – Está correto?, 266
De oitiva, 266
De onde em onde, 266
De onde ou Donde?, 266
De ou Da?, 266
De ouvida, 267
DEP Deparar, 267
Depoimento a prestar(-se) – Está correto?, 268
Depois dele sair, 268
Depois de o, 268
Depor – Como conjugar?, 268
Depor judicialmente, 268
Deprecado e Deprecante, 268
De propósito, 268
Deputada – Existe?, 268
Deputado à Assembleia Legislativa, 268
Deputado à Câmara Federal, 268
Deputado a ou Deputado de?, 268
Deputado – De onde vem?, 268
DEQ De quando em quando, 269
De quando em vez ou De vez em quando?, 269
De que, 269
De regra, Via de regra ou Por via de regra?, 269
De repentemente – Existe?, 269
DER De resto – Galicismo?, 269
Derrogação, 270
Desacolher – Está correto?, 271
DES Desagradar, 271
Desaguar – Como conjugar?, 271
Desapercebido ou Despercebido?, 271
Descendência ou Ascendência italiana?, 272
Desce redondo ou Desce redonda?, 272
Descer para baixo – Está correto?, 272
Desconcerto do mundo, 272
Descrição, Discrição ou Discreção?, 273
Descriminação ou Descriminalização?, 273
Descriminalizar, Descriminar, Discriminar ou Discriminalizar?, 274
Descriminar ou Discriminar?, 274
Desde, 274
Desde há algum tempo – Está correto?, 274
Desde que, 274
De se fazer – Está correto?, 275
De segunda a (ou à) sexta-feira?, 275
Desembargador aposentado é Ex-desembargador?, 275
Desiderato ou Desideratum?, 275
Designar, 276
Desincompatibilizar – Existe?, 276
De somenos, 276
De sorte que – Galicismo?, 276
Despacho alimpador – Existe?, 276
Despacho aludido – Existe?, 276
Despacho: exarar, prolatar ou proferir?, 277
Despacho saneador, 277
Despautério, 277
Despender ou Dispender?, 277
Despensa ou Dispensa?, 277
Despercebido ou Desapercebido?, 278
Desproceder – Existe?, 278
Despronunciar ou Impronunciar?, 278
Despropositadamente ou Despropositalmente?, 278
Desprover ou Improver?, 278
Desprovimento ou Improvimento?, 279
Dês que – Está correto?, 279
Destacar – Galicismo?, 279
Destaque – Neologismo?, 279
Destarte = Dessarte = Dest’arte = Dess’arte?, 280
Deste e Desse, 280
Destituir, 280
Destratar ou Distratar?, 280
Destruir, 281
De + sujeito de infinitivo, 281
DET Detalhar – Galicismo?, 281
Detalhe – Galicismo?, 281
DET Detalhes minuciosos – Está correto?, 281
Deter, 281
Deterioração ou Deteriorização?, 281
Deteriorar ou Deteriorizar?, 281
Deteriorização ou Deterioração?, 282
DEV Devedor fiduciante ou Devedor fiduciário?, 282
Devem fazer ou Devem fazerem?, 282
Devem-se dizer tais coisas ou Deve-se dizer tais coisas?, 282
Devendo as partes aguardar(em)?, 282
Dever de, 283
Dever de indenidade?, 283
De vez, 283
De vez em quando ou De quando em quando?, 283
De vez em vez, 283
De vez que, 283
Devido à chuva ou Devido a chuva?, 284
Devolvam-se os autos ou Devolva-se os autos?, 284
DIA Dia-a-dia ou Dia a dia?, 284
Diabete, Diabetes ou Diabeta?, 284
Dialogar, 285
Diante disto ou Diante disso?, 285
Dia primeiro, 285
DIF Diferimento ou Deferimento?, 285
Diferir ou Deferir?, 285
Difícil de se fazer ou Difícil de fazer?, 285
DIG Digladiar ou Degladiar?, 285
Digna autoridade, 285
Dignar-se, 285
Dignatário ou Dignitário?, 286
DIL Dilação probatória – Está correto?, 286
Dilapidar ou Delapidar?, 287
Dilatar ou Delatar?, 287
DIM Diminuir, 287
DIR Direito, 287
Direito a (ou à) indenização?, 288
Direito e Linguagem científica, 288
Dirigir, 289
DIS Discernir, 289
Discordância verbal, 290
Discreção – Existe?, 290
Discrição ou Discreção?, 290
Discriminação ou Descriminação?, 290
Discriminar ou Descriminar?, 290
Discursos, 291
Dispender ou Despender?, 291
Dispêndio, 291
Dispensa ou Despensa?, 291
Disponibilizar – Existe?, 291
Disputar, 291
Dissílabos átonos – Existe?, 291
DIS Distância, 291
Distinguir, 291
Distratar ou Destratar?, 292
Distrato ou Destrato?, 292
DIT Ditongos éi, ói, éu – Quando acentuar?, 292
DIV Divergir, 292
Divisão das palavras, 292
DOC Doces caseiros ou Doces caseiro?, 292
Do contrato – Latinismo?, 292
Documentação, 292
DOG Do Globo – Está correto?, 292
DOI Dói ou Doi?, 292
Dois adjetivos e um substantivo, 292
Dois autores de mesma obra, 293
Dois terços, 293
DOL Dolo, 293
DOM Domiciliado à Rua Tal ou Domiciliado na Rua Tal?, 293
Domiciliar-se à Rua Tal ou Domiciliar-se na Rua Tal?, 293
Domicílio, 293
Dominialidade – Existe?, 293
DON Dona – Como abreviar?, 293
Donde ou De onde?, 294
DOO Do o ou De o?, 294
DOP Do ponto de vista, 294
DOQ Do que, 294
DOU Douta Curadoria, 294
Doutorando – Existe?, 294
Doutor Saulo Ramos ou doutor Saulo Ramos?, 294
Doutrinas que parecem conveniente esquecer – Está correto?, 295
DUP Dupla atração, 295
Dupla negativa – Está correto?, 295
Duplicata, 295
Duplo particípio, 295
DUR Durante o tempo em que ou Durante o tempo que?, 295
Duro de se roer ou Duro de roer?, 295
DUV Dúvida no indicativo, 295
EBO É bom, 296
ECH É chegado, 296
ECO Eco, 296
EDI Edição extra, 296
Edifício Condeixa ou edifício Condeixa?, 296
Editaliciamente – Está correto?, 296
EDU Educando – Existe?, 296
EEM Êem ou Eem?, 296
EG e. g., 296
EGR Egrégia Câmara, 296
Egrégio, 296
EHO É hora da onça beber água ou É hora de a onça beber água?, 296
EIL Ei-lo, 298
EIO Éi – Ói – Éu ou Ei – Oi – Eu?, 298
EIS Eis que, 298
ELA Elaborar em erro ou Laborar em erro?, 299
Ela tinha, 299
ELE Eleger, 299
Elegido ou Eleito?, 300
Elencar – Existe?, 300
Eles têm ou Eles tem?, 300
ELI Elidir ou Ilidir?, 300
EM Em 4 de julho ou A 4 de julho?, 301
EMA Em aberto – Está correto?, 301
Em absoluto – Galicismo?, 301
E-mail com cópia, 301
E-mail ou emeio?, 302
E mais – Está correto?, 302
Em algures – Está correto?, 302
Em anexo – Está correto?, 302
Em apenso – Está correto?, 303
EMB Embaixadora ou Embaixatriz?, 303
Embargo e Embargos, 304
Embargos à Execução – Interpor ou opor?, 305
Embargos à execução ou Embargos a execução?, 305
Embargos de declaração: interpor ou opor?, 305
Embora, 305
Embora que, 305
Em branco – Está correto?, 305
EMC Em chefe – Existe?, 305
Em conformidade ou De conformidade?, 306
Em consonância, 306
Em cores ou A cores?, 306
EMD Em definitivo – Galicismo?, 306
Em domicílio ou A domicílio?, 306
Em duplicata ou Em duplicado?, 306
EME É-me… – Está correto?, 307
Em epígrafe – Existe?, 307
EMF Em face a ou Em face de?, 307
Em folhas ou A folhas?, 307
Em frente a, Em frente de ou Frente a?, 307
Em função de, 307
EMG Em + gerúndio – É correto?, 308
EMI Eminência ou Iminência?, 308
Eminente ou Iminente?, 308
Emissão ou Imissão?, 309
Emitir ou Imitir?, 309
EMM Em mão ou Em mãos?, 309
EMN Em nível de, A nível de, Ao nível?, 309
Em nome de – É correto?, 309
Em nome ou Na pessoa?, 310
EMO Em o, 310
Em O Estado de S. Paulo, 310
EMO Em ordem a – Anglicismo?, 310
Em ouro – Galicismo?, 310
EMP Em páginas ou A páginas?, 311
Empasse – Existe?, 311
Empecilho ou Impecilho?, 311
Em plena rua – Galicismo?, 311
Empossando – Existe?, 311
Emprego abusivo de “de que”, 312
Emprestar – Dar ou Tomar por empréstimo?, 312
Empréstimo temporário – Está correto?, 313
Em princípio ou A princípio?, 313
EMQ Em que pese a, 313
Em questão – Galicismo?, 314
EMR Em regra – Existe?, 315
EMS Em sede de – Estrangeirismo?, 315
Em seis – Está correto?, 316
Em se tratando de – Estrangeirismo?, 316
Em suspenso – Está correto?, 316
EMT Em torno ou Entorno?, 316
EMU É muito, 316
EMV Em vão, 317
Em vez de o, 317
Em vez de ou Ao invés de?, 317
Em via de ou Em vias de?, 317
ENC Encarar de frente – Está correto?, 317
Encarregar, 317
Encerrada a audiência, 317
Ênclise, 317
Ênclise e hífen, 318
Encontrei ele – Está correto?, 318
ENE É necessário, 318
E nem, 318
ENF Enfarte, Enfarto, Infarte ou Infarto?, 319
Ênfase – Um ou uma?, 319
ENG Engenheirando – Existe?, 319
ENJ Enjôo ou Enjoo?, 319
ENQ Enquanto, 319
Enquanto a mim ou Quanto a mim?, 319
Enquanto que – Galicismo?, 320
ENS Ensinar, 321
ENT Entrar, 321
Entrar e Sair de – Está correto?, 322
Entrar na Justiça – É correto?, 322
Entrar para dentro – Pleonasmo?, 322
Entre – Com hífen ou sem?, 322
Entre eles ou Entre si?, 322
Entre eu e você, Entre você e eu ou Entre mim e você?, 322
Entregue-se os autos da carta precatória – Está correto?, 322
Entre mim e ti – Está correto?, 322
Entre-safra ou Entressafra?, 323
ENT Entre si ou Entre eles?, 323
Entretanto, 323
Entreter-se, 323
Entre ti e mim ou Entre tu e eu?, 323
Entre um a dez livros ou Entre um e dez livros?, 323
Entrever – Como conjugar?, 323
ENX Enxaguar – Como conjugar?, 323
EOU E/ou, 323
É ou São?, 324
EPI Epiceno, 324
EPO É pouco, 325
EPR É preciso, 325
É preferível do que – Está correto?, 325
É proibido – Como concordar?, 325
EQU É que, 326
Equidade – Como se pronuncia?, 326
Equivaler – Como se pronuncia?, 327
ERA Era chegado, 327
Éramos seis – Está correto?, 327
Eram passados, 327
Era o momento do réu falar – Está correto?, 327
Era perto de oito horas – Está correto?, 327
Erário público – Está correto?, 327
ERI Erigir, 327
Erigir-se em – Está correto?, 328
ERR Erros que importam omitir – Está correto?, 328
ESB Esboço – Como pronunciar o plural?, 328
ESC Escola-modelo, 328
Escrever a máquina ou Escrever à máquina?, 328
Escrita e verbalmente ou Escrito e verbalmente?, 328
Esculpido e encarnado, 329
Esculpir ou Insculpir?, 329
Escusável ou excusável?, 329
ESM Esmero, 330
ESP Espanha – Estive em ou na?, 330
Espanholismo, 330
Especial a – Está correto?, 330
Especialidades mineiras ou Especialidades mineira?, 330
Esperto ou Experto?, 330
Espontâneo ou Expontâneo?, 331
Esponte própria, 331
Esposo – Como pronunciar o plural?, 331
Esposo ou Marido?, 331
ESS Esse ou Este?, 332
EST Estabelecer, 332
Estabelecido à Rua Tal ou Estabelecido na Rua Tal?, 332
Estabilitário – Existe?, 332
Estação da Luz ou estação da Luz?, 332
Estada ou Estadia?, 332
Estádio ou Estágio?, 333
EST Estado, 333
Estado da Bahia ou estado da Bahia?, 333
Estados Unidos, 333
Estágio ou Estádio?, 334
Estandardizar – Anglicismo?, 334
Estande, 334
Estar ao abrigo de – Galicismo?, 334
Estar ao fato – Galicismo?, 334
Estar de férias ou Estar em férias?, 334
Estaria se substituindo, Estar-se-ia substituindo ou…?, 334
Estatuir, 335
Estatuto adjetivo civil – Está correto?, 335
Estatuto minorista – Está correto?, 335
Estatuto repressivo – Está correto?, 335
Esteje – Está correto?, 335
Estendimento – Existe?, 335
Estenografar, 336
Este ou Esse?, 336
Estorvo – Como pronunciar o plural?, 336
Estrangeirismos, 336
Estratégia, 337
Estremar ou Extremar?, 337
Estreme ou Extreme?, 337
Estresse, 337
Estupro ou Estrupo?, 337
ETC Etc., 338
Et caterva e Et reliqua caterva, 339
EU Eu, 339
EUF Eu fêcho ou Eu fécho?, 339
Euforia ou Euforismo?, 339
EUG Eu gostaria… ou Eu quero…?, 339
EVE É vedado férias coletivas – Está correto?, 339
EVI Evidência ou Prova?, 339
EVO Evolução favorável – Existe?, 340
EXA Exacerbação de verba, 340
Ex adverso – com hífen ou sem?, 340
Examinando – Existe?, 340
Exarar, prolatar ou proferir sentença? E acórdão? E despacho?, 340
EXC
Exceção feita a, 341
Exceção feita de – Galicismo?, 341
Exceção – Interpor ou Opor?, 342
Exceção ou Excessão?, 342
Exceder, 342
Excelentíssima – Admite crase?, 343
Excelentíssimo – A quem se aplica?, 343
Excelso pretório, 343
Exceto, 343
Exceto com, 345
Excutir, 345
EXE Exempli gratia, 345
Exequatur ou Exequátur?, 345
Exequendo – Existe?, 345
EXI Eximir, 345
Existe em português?, 346
Existir, 346
EXN Ex nunc – com hífen ou sem?, 347
EXO Ex officio, 347
Exordial, 347
Exordial acusatória, 347
EXP Expelir, 347
Expert – Existe?, 347
Expertise – Existe?, 348
Experto ou Esperto?, 348
Expor – Como conjugar?, 348
Expressões de tempo, 348
Expressões latinas, 348
Expulsar, 348
EXT Extinguir, 348
Extinto o processo – Galicismo?, 349
Extorquir, 349
Extra, 349
Extra – Com hífen ou sem?, 349
Extra-pauta ou Extrapauta?, 349
Extremar ou Estremar?, 350
Extreme ou Estreme?, 350
Ex tunc – com hífen ou sem?, 350
EXV Ex vi legis – com hífen ou sem?, 350
FAC Face a, Em face a ou Em face de?, 350
Fácil de se fazer ou Fácil de fazer?, 351
Fac-símile – Latinismo?, 351
FAL Falar ao, no ou por telefone?, 351
Falecer, 351
Falir, 351
Falsos cognatos, 352
Faltam ainda se pronunciar dois desembargadores – Está correto?,
352
Faltar – Como concordar?, 352
FAR Farmacolando – Existe?, 352
FAS Fase inquisitorial – Está correto?, 352
FAT Fato, 352
FAX Fax, 352
FAZ Faz dois meses ou Fazem dois meses?, 352
Fazer, 352
Fazer dinheiro – Estrangeirismo?, 353
Fazer erros – Está correto?, 353
Fazer-se mister – Está correto?, 353
Fazer valer – Galicismo?, 353
FED Fé demais – Cacófato?, 353
FEI Feiúra ou Feiura?, 353
FEL Felicitar, 353
Feliz em ver ou Feliz ao ver?, 354
FEM Fêmeo – Existe?, 354
Feminino dos adjetivos compostos – Regras, 355
FER Férias: uma férias?, 355
Ferir, 355
FIC Ficamos em quatro – Está correto?, 356
Ficar no aguardo – É correto?, 356
FIL Filosofar, 356
FIM Fim de linha, 356
Fim de semana ou Final de semana?, 356
Fim visado – Está correto?, 356
FIS Fiscala – Existe?, 357
Fiscalizar, 357
FLA Flagrância ou Fragrância?, 358
Flagrante ou Fragrante?, 358
FLU Fluido ou Fluído?, 358
Fluir – Como conjugar?, 358
Fluir ou Fruir?, 358
FOI Foi indo – Está correto?, 358
FOL Folha e Página – Qual a diferença?, 358
Folhas, 359
FOM Fomos em seis – Está correto?, 359
FOR Fora, 359
Fora da lei, 359
Formação de adjetivos compostos, 359
Formação de adjetivos – Regras, 360
Formando – Existe?, 360
Fôrma ou Forma?, 360
Formar em Direito ou Formar-se em Direito?, 361
Formas arrizotônicas, 361
Formas de tratamento, 361
Formas rizotônicas, 361
Formulário Ortográfico, 361
Forno – Como pronunciar o plural?, 361
Fortuito ou Fortuíto?, 362
Fórum ou Foro?, 362
FOT Fotografar, 362
FRA Fração, 362
Frágeis, Difíceis e Papéis – Por que o acento?, 362
Fragrância ou Flagrância?, 363
Fragrante ou Flagrante?, 363
França – Estive em ou na?, 363
Francesia, 363
Francesismo, 363
Francesmente – Existe?, 363
Fraude à execução, Fraude de execução ou Fraude contra?, 363
FRE Frente a, Em frente a ou Em frente de?, 364
Freqüência ou Frequência?, 364
FRU Fruir – Como conjugar?, 364
FRU Fruir os bens ou Fruir dos bens?, 365
Fruir ou Fluir?, 366
Frustrar ou Frustar?, 366
FUI Fui eu que ou Fui eu quem?, 366
Fui nascido, 366
FUL Fulano, Beltrano, Sicrano… – Existem outras formas?, 366
FUN Fundamento, 367
FUR Furta-cor, 367
FUT Futuro do pretérito, 367
GAL Galicismo, 368
GAN Ganhado ou Ganho?, 368
Ganhar a rua – Galicismo?, 370
GAR Garagem ou Garage?, 370
GAS Gastado ou Gasto?, 370
GEN Generala – Existe?, 371
General em chefe – Está correto?, 371
Gênero, número e grau, 371
Gênero ou sexo – De onde vem?, 371
Genitor ou Pai?, 373
GER Gerir, 373
Germanismo, 373
Gerúndio abusivo, 373
Gerúndio como adjetivo, 373
Gerúndio demitido por decreto, 373
Gerúndio de telemarketing, 374
Gerúndio encadeado, 375
GOS Gosta-se de um bom vinho – Está correto?, 375
Gosto – Como pronunciar o plural?, 375
GOV Governador-geral ou Governador geral?, 375
GRA Grã, 375
Graças a – Pode ter sentido negativo?, 375
Grafia de nomes próprios, 376
Grafia de porquê, 376
Grama, 376
Gramática: devemos prestar-lhe obediência?, 377
Grã-mestra, Grão-mestra, Grã-mestre ou Grão-mestre?, 377
Grande, 378
Grande maioria – Existe?, 378
Grande número de alunos – faltou ou faltaram?, 378
Grande parte dos alunos – faltou ou faltaram?, 378
Grato – E ponto final?, 378
Gratuito, 379
GRO Grosso modo ou A grosso modo?, 379
GUA Guarda-comida, 380
Guarda-noturno, 380
Guardar o leito – Galicismo?, 380
HAB Habeas corpus, 380
Habeas data, 381
Habitar, 382
Habitat, 382
HAB Habite-se, 383
Habituar, 383
HAC Há cerca de, A cerca de ou Acerca de?, 383
Há cinco anos atrás – Pleonasmo?, 383
HAD Há de ou Há-de?, 384
Há dias que se trabalhava – Está correto?, 384
HAJ Haja vista ou Haja visto?, 384
HAO Hão de, 385
Há ou A?, 385
Há ou Havia?, 385
HAQ Há quem garante ou Há quem garanta?, 385
HAS Hás de, 386
HAU Haurir, 386
HAV Haverá de ou Haverão de?, 386
Haver lugar, 386
Haver mister, 386
Haver ou A ver?, 386
Haver – Quando vai para o plural?, 386
Havia dado – É cacófato?, 388
Havia(m)-se passado vários anos?, 388
Havia ou Haviam?, 389
HEB Hebraísmo, 389
HEI Hei de, 389
Hei-de vencer ou Hei de vencer?, 389
HEL Helenismo, 389
HER Herói ou Heroi?, 389
HIA Hiato, 389
HIF Hífen, 389
Hífen e ênclise, 390
HIP Hiper – Com hífen ou sem?, 390
Hipercorreção, 391
Hipotizar – Existe?, 391
HOJ Hoje é 1º…, 391
Hoje é dois – Está correto?, 391
HOL Holanda – Estive em ou na?, 391
HOM Homófonas, 391
Homógrafas, 391
HOR Hora, 391
Hora do réu falar – Está correto?, 392
Hora extra, 392
HOS Hóspede – Hospital – Hospitaleiro – De onde vêm?, 392
HOU Houveram filósofos – Está correto?, 392
Houve vários alunos – Está correto?, 392
HUM Hum ou Um?, 392
IBE Ibero ou Íbero?, 392
IDE Idéia ou Ideia?, 392
Idem ou Ibidem?, 393
IDO Ídolo tem feminino?, 393
IE i. e., 393
IGR Igreja do Bonfim ou igreja do Bonfim?, 393
ILE Ileso, 393
ILI Ilidir ou Elidir?, 393
ILU Ilustrado órgão do Ministério Público – Está correto?, 393
Ilustríssima – Admite crase?, 394
Ilustríssimo – Aplica-se a entidades?, 394
IMB Imbróglio – Existe em Português?, 394
IME Imerecer – Existe?, 394
Imexível – Existe?, 394
IMI Iminência ou Eminência?, 394
Iminente ou Eminente?, 394
Imissão na posse ou Imissão de posse?, 394
Imissão ou Emissão?, 395
Imitir ou Emitir?, 395
IMO Imoral ou Amoral?, 395
IMP Impactante – Existe?, 395
Impagamento – Existe?, 395
Impagar – Existe?, 395
Impecilho, 396
Impede-nos de ser ou Impede-nos de sermos?, 396
Impedir, 396
Imperativo ou Indicativo, 397
Impetrar – Quando se usa?, 397
Impingir, 397
Implicar, 398
Importar, 399
Imposto – Como pronunciar o plural?, 400
Impresso ou Imprimido?, 400
Improceder – Existe?, 400
Impronunciar ou Despronunciar?, 400
Improver ou Desprover?, 401
Impudico ou Impúdico?, 401
Impugnar, 401
Imputar, 402
IN
In, 402
INA Inacolher – Existe?, 402
Inadimplir – Existe?, 403
Inadmitir – Existe?, 403
Inafastável – Existe?, 403
Inalienar – Existe?, 403
Inaplicar – Existe?, 404
Inaugural acusatória, 404
INC Incendiar, 404
Incerto ou Inserto?, 404
Incipiente ou Insipiente?, 404
Inciso, 405
Incluído ou Incluso?, 405
Inclusive, 405
Incluso, 406
Incontestável, 406
Inconteste ou Incontestável?, 406
INC Incontinenti ou Incontinente?, 407
Incumbir, 408
IND Indedutível – Existe?, 408
Indenizar, 409
Independentemente ou Independente?, 410
Indicativo ou Imperativo?, 411
Indicativo ou Subjuntivo?, 411
Indicativo por Subjuntivo, 411
Índice de indeterminação do sujeito, 412
Indignar-se, 412
Indiscreção ou Indiscrição?, 412
Indispor – Como conjugar?, 412
Induvidar – Existe?, 412
Induzir em erro ou Induzir a erro?, 412
INE Inempregável – Existe?, 413
Inequivocamente ou Inequivocadamente?, 413
Inexigir – Existe?, 413
INF Infarte ou Infarto?, 413
Infazer – Existe?, 413
In fine, 413
Infinitivo, 414
Infinitivo com auxiliar – Como flexionar?, 414
Infinitivo como sujeito – Como concordar?, 414
Infinitivo na voz passiva, 415
Infinitivo precedido pela preposição a, 415
Inflição, 415
Infligir ou Infringir?, 415
Influir, 415
Informar, 415
Infra – Como empregar o hífen?, 416
Infringência, 417
Infringir ou Infligir?, 417
ING Inglaterra – Estive em ou na?, 417
Inglesmente – Existe?, 417
Ingressar com ação – é correto?, 417
Ingressar com ou Ingressar em?, 417
INI Iniciar ou Iniciar-se?, 418
INO Inobstante – Existe?, 418
Inocorrer – Existe?, 419
INQ Inquérito, 419
Inquérito procedido – Está correto?, 419
Inquirir, 419
INS Inserido ou Inserto?, 419
Inserir, 419
Inserto ou Incerto?, 419
Insipiente ou Incipiente?, 419
Ínsito, 419
Insolvabilidade – Galicismo?, 420
Insolvável – Barbarismo?, 420
Insolvência, 420
INS Insolvente, 420
Instância a quo ou Instância a qua?, 420
Instituir, 420
Instrução Normativa ou Instrução normativa?, 420
Insuficiência probatória – Está correto?, 420
INT Inter – Com hífen ou sem?, 420
Interditando – Existe?, 421
Interessado, 421
Interesse, 421
Ínterim, 421
Interpor agravo retido ou Agravar retidamente?, 422
Interpor – Como conjugar?, 422
Interpor – Como é seu complemento?, 422
Interpor ou Opor?, 422
Interpretação literal – Tem importância?, 423
Interrogar, 425
Intervir, 425
Intimação, 425
Intimação a efetivar(-se) – Está correto?, 425
Intimar, 425
Intime-se as testemunhas ou Intimem-se as testemunhas?, 425
Intimem-se-as – Existe?, 425
Intra – Como empregar o hífen?, 427
Intransitivo, 427
Intrínseca validade – Cacófato?, 427
Intuito ou Intuíto?, 427
Invalidar, 427
Inventariante – Cargo ou Encargo?, 427
Inventário, 428
IR Ir, 428
IRA Ir ao encontro de ou Ir de encontro a?, 429
IRE Irei lhes mostrar, Ir-lhes-ei mostrar, ou…?, 429
Ir e voltar de – Está correto?, 429
IRI
Ir indo – Está correto?, 429
IRR Irreprochável – Galicismo?, 430
Írrito, 430
ISS Isso ou Isto?, 430
Isso porque – Como se usa?, 430
Isso posto ou Isto posto?, 431
IST Isto posto ou Posto isso?, 431
ITA Italianismo, 431
ITE Item, 431
JAI Jaime, 431
JAJ Já… já, 431
JAM Jamais nunca – Está correto?, 431
JUD Judiciário ou Justiça?, 432
JUI Juiz, 432
Juíza, 432
Juiz acata pedido do autor, 432
Juiz ad quem, 433
JUI Juiz de direito, 433
Juiz de fato, 433
Juiz de fora, 433
Juiz de paz, 433
Juiz deprecante ou Juiz deprecado?, 433
Juiz de primeira instância, 433
Juiz Diretor do Fórum ou do Foro?, 433
Juiz distrital, 434
Juiz monocrático, 434
Juízo é sinônimo de juiz?, 434
Juiz singular, 434
Juiz substituto, 434
Juiz titular, 434
Juiz – Vossa Excelência ou Vossa Senhoria?, 434
JUL Julgar, 435
Julguei-o incapaz – Está correto?, 435
JUN Júnior, 435
Juniores, 436
Juntada, 436
Juntamente com – Pleonasmo?, 436
Junte-se as cartas ou Juntem-se as cartas?, 437
Junte-se, Cumpra-se e Intime-se, 438
Junto, 438
Junto a, Junto de ou Junto em?, 439
JUR Jurisprudência ou Jurisprudências?, 440
JUS Justapor, 440
Justiça ou Judiciário?, 440
Justiças federal e estadual – Está correto?, 440
Justificando a ilegalidade – É correto?, 440
KNO Know-how ou Norrau?, 441
LAB Laborar em erro ou Elaborar em erro?, 441
LAG Lagoa Mirim ou lagoa Mirim?, 441
LAP Lápis – Qual é seu plural?, 441
LAR Largo da Liberdade ou largo da Liberdade?, 441
LAT Látex ou Latex?, 441
Latim entre aspas, 441
Latinismo, 442
Lato senso, Lato sensu ou Latu sensu?, 442
Lato sensu – com hífen ou sem?, 442
Latrocida – Existe?, 442
LAV Lavrar acórdão? E despacho? E sentença?, 443
LEE Lêem ou Leem?, 443
LEG Legiferante ou Legisferante?, 443
Legiferar ou Legisferar?, 443
LEI Lei, 443
Leiaute, 443
Lei Federal ou Lei federal?, 443
Leis antigas – Como citar?, 443
Lêiser, 443
Leis federal, estadual e municipal – Está correto?, 443
LER Ler, 443
Ler e gostar de – Está correto?, 444
LES Lesionar – Existe?, 444
Leso, 444
LET Letra maiúscula, 444
Letras, 444
Letras maiúsculas e Acento gráfico, 444
LEV Lêvedo ou Levedo?, 444
LHE Lhe, 445
Lhe encaminho ou Encaminho-lhe?, 445
Lhe por Seu, 445
Lhe – Só pode ser objeto indireto?, 446
Lhe – Só se refere a pessoas?, 447
LHO Lho – Existe?, 448
LIC Licença-prêmio, 448
LIN Linguagem científica, 448
Línguas grega e hebraica – Está correto?, 448
LIQ Liquidação e Liquidar, 449
Líquido, 449
LIV Livro a consultar(-se) – Está correto?, 449
LOC Localizado, 449
Localizar, 449
Locução verbal – Como flexionar?, 449
Locuções prepositivas, 449
Locuções verbais, 450
LOG Logografar, 450
LON Longe, 450
Longo prazo – A ou em?, 450
LOU Louvar Deus ou Louvar a Deus?, 450
LUG Lugar incerto e não sabido, 450
LUS Lustre ou Lustro?, 450
MAC Macérrimo, Magérrimo ou Magríssimo?, 451
Macho – Qual o feminino?, 451
Macro-economia ou Macroeconomia?, 452
MAF Má-fé, 452
MAG Magérrimo, Macérrimo ou Magríssimo?, 453
Magríssimo, Macérrimo, Magérrimo?, 453
MAI Maioria de, 453
Maior parte, 453
Maior que ou Maior em?, 453
Mais absoluto – Está correto?, 453
Mais bem ou Melhor?, 453
Mais bom – Está correto?, 453
Mais de, 453
Mais de um – Chegou ou chegaram?, 453
Mais grande ou Maior?, 453
Mais mal ou Pior?, 454
Mais nunca – Está correto?, 455
Mais pequeno – Está correto?, 455
Mais pequeno ou Menor?, 455
MAI Maiúsculas, 455
MAL Mal e parcamente ou Mal e porcamente?, 457
Mal ou Mau?, 457
Mal – Quando usar o hífen?, 457
Maltrato – Existe?, 457
MAN Mandado ou Mandato?, 457
Mandados de citação ou Mandados de citações?, 459
Mandamus – Estrangeirismo?, 459
Mandar, 459
Mandatário – Cargo ou encargo?, 459
Mandato ou Mandado?, 459
Manipular com as mãos – Pleonasmo?, 459
Manter, 459
Manteúda – Existe?, 459
Manusear com as mãos – Está correto?, 459
MAP Mapa-múndi, 459
MAQ Maquiage, Maquiagem, Maquilage, Maquilagem ou Maquilhagem?,
459
Maquiar ou Maquilar?, 460
Maquinar, 460
Maquinaria, Maquinária ou Maquinário?, 460
MAR Marcha ré ou Marcha à ré?, 460
Marechala – Existe?, 460
Marido ou Esposo?, 460
Mar Negro ou mar Negro?, 460
MAS Mas – Como se pronuncia?, 460
Mas contudo – Está correto?, 461
Mas e a vírgula, 461
Mas entretanto, 461
Mas e Porém, 461
Mas – Pode começar a frase?, 461
Mas porém, 463
Mas se esqueceu ou Mas esqueceu-se?, 463
Massivo – Existe?, 464
Mas todavia, 464
MAT Matado ou Morto?, 464
Matar – Qual o particípio: Matado ou Morto?, 464
MAU Mau-caráter – Qual é o seu plural?, 464
Mau ou Mal?, 464
Maus-tratos, 465
Mau-trato – Existe?, 465
MAX Máxime, 465
Máximo, 465
MEA Meado ou Meados?, 465
MED Mediar, 465
Médico em chefe – Está correto?, 466
Medida Provisória ou Medida provisória?, 466
Médio prazo – A ou em?, 466
MEI Meia, 466
Meio, 466
MEI Meio ambiente – Pleonasmo?, 466
Meio-dia e meia ou Meio-dia e meio?, 467
Meio dia ou Meio-dia?, 467
Meios de provas – Admitidos ou admitidas?, 467
Meios suasórios, 467
MEL Melhor, 467
Melhora ou Melhoria?, 467
Melhor boa-fé – Está correto?, 468
Melhor bom-senso – Pleonasmo?, 468
Melhormente – Existe?, 468
Melhor ou Mais bem?, 468
MEM Memorândum – Qual é o plural?, 468
Memorial ou Memoriais?, 469
MEN Menor impúbere, 469
Menos, 470
Menos com e Menos de, 470
MER Mercância ou Mercancia?, 470
Mercê de – Está correto?, 470
Meritoriamente – Está correto?, 471
MES Mês, 471
Mesmo, 471
Mesóclise, 471
Mestra e doutora ou Mestre e doutora?, 471
Mestrando – Existe?, 472
MET Metade de… – foi ou foram?, 472
Metades iguais – Está correto?, 472
Metafonia, 472
Metro, 473
MEU Meu produto ou O meu produto?, 473
MIC Micro ou Micros?, 473
Microssistema, Micro-sistema ou Microsistema?, 473
MIL Milhão, 473
Milhar, 474
Milheiro, 474
Miligrama, 474
Mil ou Um mil?, 474
MIM Mim, 475
MIN Mini-carro ou Minicarro?, 475
Ministério de Educação ou da Educação?, 475
Ministra – Existe?, 475
Ministro Sidnei Beneti ou ministro Sidnei Beneti?, 475
Minúsculas, 475
Minuto, 475
MIO Miolo – Como pronunciar o plural?, 475
MIS Mister, 475
MOD Modéstia à parte ou Modéstia a parte?, 475
Modus agendi, 476
Modus faciendi, 476
Modus vivendi, 476
MOE Mo – Está correto?, 476
MON Monologar, 476
Monopólio exclusivo – Está correto?, 476
Monossílabos tônicos e Monossílabos átonos, 476
Monstro, 476
Montar, 477
MOR Morador à Rua Tal ou Residente na Rua Tal?, 477
Moral – A moral ou O moral?, 477
Morar à Rua Tal ou Morar na Rua Tal?, 477
Morgue – Galicismo?, 478
Morrer – Qual o particípio passado?, 478
Morrido, 478
Morto – Particípio passado de Matar ou Morrer?, 478
MOT Motivos que interessam relatar – Está correto?, 478
MOV Móveis paulistas ou Móveis paulista?, 478
Móveis rústicos ou Móveis rústico?, 478
Mover ação contra – Está correto?, 478
Mover ação em face de – Está correto?, 480
MOZ Mozarela, Muçarela, …?, 480
MUI Mui, 480
Muitas coisas ou Muitas das coisas?, 481
Muita vez – Está correto?, 481
Muitíssimo – Está correto?, 481
Muito, 481
Muito obrigado, 482
Muito poucos – Está correto?, 482
Muitos de nós – sabem ou sabemos?, 482
Muitos de vós – sabem ou sabeis?, 482
MUL Multi-culturais ou Multiculturais?, 482
MUS Músico e Música?, 482
NAC Na conformidade, 483
NAD Nada a opor – Estrangeirismo?, 483
Nada a ver ou Nada haver?, 483
Nada obsta, 483
Nada obstante – Estrangeirismo?, 483
NAI Náilon, 483
NAM Na medida em que – Existe?, 483
Namorar com… – Existe?, 483
NAO Não apenas… como também… merece(m)…?, 484
Não – Com hífen ou sem?, 484
Não encontrou nada – É correto?, 485
Não há comparar – Está correto?, 486
Não há de quê, 486
Não há de ser nada – Está correto?, 486
Não há falar, Não há falar-se, Não há que falar ou …?, 486
Não lhe resta ao credor outro caminho – Está correto?, 486
Não no sei – Está correto?, 486
Não obstante – Está correto?, 487
Não obstante que – Está correto?, 488
Não sabido, 488
NAO Não se deve dizer tais coisas ou Não se devem dizer tais coisas?,
488
Não se o diz – Está correto?, 489
Não se pode dizer tais coisas ou Não se podem dizer tais coisas?, 489
Não só… como…, 489
Não só… mas também, 489
Não somente… mas também, 489
Não só… que também, 489
NAP Na pessoa de – É correto?, 489
Na proporção em que ou À proporção que?, 489
NAQ Na qualidade de – Galicismo?, 489
NAS Nascido em ou Nascido a?, 490
Na(s) pessoa(s) de seu(s) advogado(s)?, 490
NAT Nato ou Inato?, 490
Natural e Residente em – Está correto?, 490
NEC Necessitam-se operários ou Necessita-se de operários?, 490
Necessitar, 491
Necrópsia ou Autópsia?, 491
NEG Negativa dupla – Está correto?, 491
Negro – é pejorativo e racista?, 491
NEM Nem, 493
Nem… nem, 493
Nem pensar nisso! – Está correto?, 493
Nem um nem outro, 493
Nem um ou Nenhum?, 493
NEN Nenhum dos advogados – compareceu ou compareceram?, 493
Nenhum ou Nem um?, 493
Nenhures – Existe?, 494
NEO Neologismo, 494
Neo-pentecostal ou Neopentecostal?, 496
NES Neste ou Nesse?, 496
NIN Ninguém nunca – Está correto?, 496
NIV Nível, 496
NOA No aguardo – É correto?, 496
NOB Nobel – Oxítona ou Paroxítona?, 496
NOC No caso concreto ou No caso em concreto?, 496
NOD No dia 4 de julho, 496
NOE No entanto, 496
No entretanto – Está correto?, 496
No Estado de S. Paulo – Está correto?, 497
NOF No fundo – Galicismo?, 497
NOL No-lo, 497
NOM Nome, 497
Nomear, 497
Nomeou-o depositário ou Nomeou-lhe depositário?, 498
Nome próprio – Com artigo ou Sem artigo?, 498
Nomes compostos, 499
Nomes comuns, 499
Nomes de família, 499
Nomes de meses, 499
NOM Nomes de pessoas, 499
Nomes estrangeiros, 499
Nomes plurais, 499
Nomes próprios, 499
Nomes próprios personativos, 499
Nomes próprios plurais, 500
NOQ No que, 500
No que couber ou No que couberem?, 500
NOR Norma culta, 501
Norrau – Existe?, 502
NOS No sentido de… – Está correto?, 502
Nós nos divertimos ou Nós divertimo-nos?, 503
Nosso produto ou O nosso produto?, 503
NOT Nota de rodapé, 503
Notário, 503
Notificação, 503
Notificação a efetuar(-se) – Está correto?, 504
Notificar, 504
Notifique-se-o – Está correto?, 504
NOV Novel – Oxítona ou Paroxítona?, 504
Noves fora, 504
NUB Nubente, 505
NUM Numeral cardinal – Como ler e empregar?, 505
Numeral ordinal – Como ler e empregar?, 505
Número fracionário, 505
Números cardinais – Como escrever por extenso?, 505
Números – Como ler e Empregar?, 506
Números e sua abreviatura no processo, 508
NUN Nunca dos nuncas – Existe?, 509
Nunca em tempo algum – É correto?, 509
Nunca jamais – Está correto?, 509
Nunca ninguém – Está correto?, 509
NUP Nu-proprietário, 509
OBC Obcecação, Obceção ou Obsessão?, 510
Obceção, Obcecação ou Obsessão?, 510
Obcecar, 510
OBE Obedecer, 510
Obeso, 511
OBJ Objeto direto interno, 511
Objeto direto preposicionado, 511
Objeto(s) do contrato, 512
OBR Obra com dois autores, 512
Obra – Como citar?, 513
Obrigado, 513
Obrigado eu – Está correto?, 513
Obrigado – Meu muito obrigada?, 513
Obrigado você ou Obrigado a você?, 514
Obrigava-o ou Obrigava-lhe?, 514
OBS Obsceno, 515
Obséquio (cé ou zé)?, 516
OBS Obsessão, Obcecação ou Obceção?, 516
Obstar, 516
Obstruir, 517
OBT Obter, 517
OCA O cargo é aspirado – Está correto?, 517
OCU Óculos, 517
ODE O de que – Está correto?, 517
O devedor foi perdoado – Está correto?, 518
ODI Odiar, 519
ODO Odontolando – Existe?, 519
OES O Estado de S. Paulo, 519
OFA O fato de – Está correto?, 520
O fato de o, 520
OFI Oficiala – Existe?, 520
Oficial de registros, 521
Oficiar o ou Oficiar ao?, 521
OGL O Globo, 521
OGR O grosso dos alunos – faltou ou faltaram?, 521
OIT Oitiva, 521
OJU O júri foi assistido – Está correto?, 522
OLH O, Lhe e Dele?, 523
OMA O mais das vezes – Está correto?, 524
OME Omelete – O ou a?, 524
O mesmo, 524
OMI Omissão da conjunção – Está correto?, 526
Omissão da preposição – Está correto?, 526
Omitir texto assim […] – É correto?, 527
OND Onde, Adonde ou Aonde?, 528
ONI Ônibus – Qual é seu plural?, 529
OOO Ôo ou Oo?, 529
OOU O ou Lhe?, 529
OPC Op. cit. – Quando se usa?, 530
OPE Operacionalizar – Existe?, 530
O perfume é aspirado – Está correto?, 530
OPO Opor – Como conjugar?, 530
Opor ou Interpor?, 530
Oportunizar – Existe?, 530
Opor veto – Está correto?, 531
OPT Optar, 531
Optar – Foi optado – É correto?, 531
OQU O quanto antes ou Quanto antes?, 532
O que ele quis é poupar… – Está correto?, 532
ORA Ora, 532
Oração concessiva, 532
Oração substantiva – Separa-se por vírgula da principal?, 532
Orações intercaladas ou interferentes?, 532
Ora… ora, 532
ORD Ordinal, 532
ORI O risco de o, 532
ORT Ortoepia, 532
ORT Ortografia, 533
OSD O(s) de cujus, 534
Os Diários não foram circulados – Está correto?, 534
OSE Os embargos de declaração ou O embargos de declaração?, 535
Os Estados Unidos, 535
OTI Otimizar – Existe?, 535
OUC Ou – Como concordar o verbo?, 535
OUE Ou e Vírgula, 536
OUO Ou… ou, 538
OUS Ou seja, 538
OUT Outiva, 538
Outorga uxória do marido – Está correto?, 538
Outra alternativa – Existe?, 538
Outrem, 539
Outrossim, 539
OUV Ouve-se-o com prazer – Está correto?, 539
Ouvida, 539
Ouvidor-geral ou Ouvidor geral?, 540
OVN Ovni ou Óvni? Ovnis, Óvnis ou Ovni’s?, 540
OVO Ovos caipiras ou Ovos caipira?, 540
OXI Oxítona, 540
PAC Paço da Liberdade ou paço da Liberdade?, 540
PAD Padecer de verossimilhança – é correto?, 541
PAG Pagado ou Pago?, 541
Pagar, 541
Pagar contra recibo – Está correto?, 542
Página dois ou Páginas duas?, 542
Pago ou Pagado?, 542
PAI Paina, 543
Paisano ou A paisano?, 543
PAL Palácio da Justiça ou palácio da Justiça?, 543
Palavra, 543
Palavra bifronte, 543
Palavras atrativas, 543
Palavras com regências diversas, 543
Palavras de mesmo radical, 543
Palavras e Expressões latinas, 543
PAN Pane – Um ou uma?, 544
PAP Papas – Como ler seu número?, 544
Papel em branco – Está correto?, 544
PAR Para, 544
Para baixo e Para cima de, 544
Parabenizar – Existe?, 544
Para compor ou Para comporem?, 544
Para eu ler ou Para mim ler?, 545
Parágrafo – Como ler seu número?, 546
Parágrafo único, 546
Parágrafo único ou § único?, 546
Paralelismo das formas verbais, 547
PAR Para lhe enviar ou Para enviar-lhe?, 547
Paralisar, 547
Para mim e você ou Para eu e você?, 547
Paraninfa – Existe?, 548
Para o lembrar ou Para lembrá-lo?, 548
Pára ou Para?, 548
Para se fazer alguma coisa – Está correto?, 548
Para se o conhecer – Está correto?, 548
Parecer, 549
Parede-meia, 549
Parenta ou Parente?, 550
Parêntese ou Parêntesis?, 550
Parênteses e Ponto, 550
Par e passo ou Pari passu?, 550
Parequema, 550
Pari passu ou Par e passo?, 550
Parônima, 551
Paroxítonas – Quando acentuar?, 551
Parque do Ibirapuera ou parque do Ibirapuera?, 551
Parte de… – foi ou foram?, 551
Partição silábica entre as linhas, 551
Participar, 552
Particípio duplo, 552
Particípio passado, 552
Partícula apassivadora, 552
Partilhar, 553
PAS Passar bem! – Está correto?, 553
Passim, 553
Passos perdidos, 553
PAT Páteo – Existe?, 553
Patronímico, 553
PEC Peça denunciatória – Está correto?, 553
Peça depositária da pretensão punitiva – Está correto?, 553
Peça inaugural – Está correto?, 553
Peça processual – Está correto?, 553
Peça vestibular – Está correto?, 553
PED Pedir para, 553
PEG Pegado ou Pego?, 554
Pegar, 554
Pego (ê) ou pego (é)?, 555
PEL Péla, 555
Pélo, 555
Pêlo ou Pelo?, 555
Pelo que sei, Ao que sei, …?, 556
PEN Pena, 556
Penalizar ou Apenar?, 556
Penalizar – Pode significar impor pena?, 556
Penhor, 556
Penhora, 556
Pensamos, 557
PEN Pênsil, 557
Penso, 557
PEQ Pequeno, 557
Pequeno Vocabulário, 557
PER Per, 557
Perante – Como usar?, 557
Perca – Existe?, 557
Percentagem ou Porcentagem?, 558
Percentual ou Porcentual?, 558
Perdas e danos, 558
Perder de ou Perder para?, 558
Perdoar, 559
Perdoar a alguém por algo – É correto?, 559
Performance – Existe?, 560
Pérfuro, 560
Perícia a fazer(-se) – Está correto?, 561
Peritagem – Está correto?, 561
Perito ou Périto?, 561
Permissa venia, 561
Perquirir, 561
Perseguir, 561
Personagem, 561
Perto de, 562
PES Pesar, 562
Pesquisar, 562
Pessoa humana – Redundância?, 563
Pessoa viva – Redundância?, 563
PET Petição inicial, 563
Peticionar mal e porcamente – Está correto?, 564
PIO Pior, 564
Pior má-fé, 564
PIR Pires – Qual é seu plural?, 564
PIS Pisar a (ou à ou na) grama?, 564
PLA Planejar antecipadamente – Está correto?, 564
Platéia ou Plateia?, 564
PLE Pleito, 564
Plena rua – Galicismo?, 564
Pleonasmo – O que é e Quando pode?, 565
Pleonasmo vicioso, 565
Pletora, 565
PLU Plurais latinos – Como fazer?, 565
Plural de abreviatura – Existe?, 566
Plural de desigualdade social, 566
Plural de letras – Existe?, 566
Plural de modéstia, 566
Plural de nomes de família – Existe?, 566
Plural de nomes estrangeiros – Existe?, 566
Plural de nomes próprios – Existe?, 566
Plural de números – Existe?, 568
Plural de o tônico, 568
PLU Plural de siglas – Existe?, 568
Plural de sobrenomes – Existe?, 568
Plural dos adjetivos compostos, 568
Plural dos substantivos compostos, 568
Plural majestático, 568
Plural redatorial, 569
Plus, 569
PM p. m., 569
POC Poço – Como pronunciar o plural?, 569
POD Podem fazer ou Podem fazerem?, 569
Podem-se dizer tais coisas ou Pode-se dizer tais coisas?, 569
Podem… serem restritas…, 569
Pôde ou Pode?, 569
Poderes legislativo e executivo, 569
Poderiam ensinarem… – Está correto?, 570
Poder legiferante ou Poder legisferante?, 570
POE Poeta – Qual o feminino?, 570
POI Pois – Vírgula antes e/ou depois?, 571
POL Polícia ou Policia?, 572
Polícias civil e militar, 572
Pólo, 572
POM Pombo-correio, 572
PON Ponto, 572
Ponto de interrogação – Quando se emprega?, 572
Ponto de vista, 572
Ponto e parênteses, 572
Ponto e vírgula – Depois de exclamação!?, 572
Ponto e vírgula – Emprego, 573
Pontuação, 574
Pontuação dos numerais, 574
Pontuação: espaço antes?, 575
POR Por acaso, 575
Por baixo e Por cima de, 575
Por cada – Cacófato?, 575
Porcentagem ou Percentagem?, 575
Por cento – Como concordar o verbo?, 576
Porcentual ou Percentual?, 577
Pôr – Como conjugar?, 577
Por completo – Galicismo?, 577
Pôr-de-sol, Por de sol ou …?, 577
Porém, 578
Porém e a vírgula, 579
Porém e Mas, 579
Porém – No meio da frase? E com vírgula?, 579
Por isso ou Porisso?, 580
Por mais que, 580
Por ora ou Por hora?, 580
Pôr ou Por?, 581
Por quanto ou Porquanto?, 581
Por que, Por quê, Porque ou Porquê?, 581
POR Por si só, 583
Por tal – Cacófato?, 583
Portaria – Como ler seu número?, 583
Portuguesmente – Existe?, 583
Porventura ou Por ventura?, 584
Por via de regra, Via de regra ou De regra?, 584
POS Pós-datar ou Posdatar?, 584
Pós-escrito é o mesmo que Post scriptum?, 585
Possessivo, 585
Possível de se conseguir ou Possível de conseguir?, 585
Possuir, 585
Post mortem – Com hífen ou sem?, 585
Posto isso ou Isto posto?, 585
Posto que, 587
Post scriptum, 587
POU Pouco, 587
Poucos de nós – sabem ou sabemos?, 588
Poucos de vós – sabem ou sabeis?, 588
PRA Praça da República ou praça da República?, 588
Praia do Flamengo ou praia do Flamengo?, 588
Prazeroso ou Prazeiroso?, 588
Prazo, 588
PRE Preambular, 588
Precatória, 588
Precatório, 588
Precavejo – Existe?, 588
Precavenham-se – Existe?, 588
Precavenho – Existe?, 588
Precaver – Como conjugar?, 588
Preceder, 589
Precisam-se operários ou Precisa-se de operários?, 590
Precisar, 590
Precisar de, 590
Precisar de falar – Está correto?, 590
Precisa-se de operários – Está correto?, 591
Precluir, 591
Precluso, 591
Preeminente ou Proeminente?, 591
Prefacial, 591
Prefeita – Existe?, 592
Prefeitura Municipal – Existe?, 592
Preferir, 592
Preferível, 593
Prefixo negativo, 593
Preito, 593
Prejuízos acudidos – Está correto?, 593
Prenome, 594
Pré ou Pre? Com hífen ou sem?, 594
Preparar de antemão – Está correto?, 594
Preposição, 594
PRE Preposição antes do pronome relativo, 594
Preposição e Pronome relativo, 595
Preposição – Quando deve ser repetida?, 595
Preposições acidentais, 595
Preposições essenciais, 595
Prequestionamento ou Pré-questionamento?, 595
Prescrever – Como conjugar?, 595
Presidenta ou A Presidente?, 596
Presidir, 597
Pressupor, 597
Pretenção ou Pretensão?, 597
Pretencioso ou Pretensioso?, 597
Pretensão punitiva inaugural – Está correto?, 598
Pretenso, 598
Pretensor, 598
Preterir, 598
Pretérito mais-que-perfeito, 598
Pretexto, 598
Pretório excelso – Está correto?, 598
Prevalente ou Prevalecente?, 598
Prevenir antecipadamente – Está correto?, 599
Prevenir ou Previnir?, 599
Prever antes – Está correto?, 599
Prever com antecedência – Pleonasmo?, 599
Prever – Como conjugar?, 599
Previlégio ou Privilégio?, 599
Prezados Senhores – E as mulheres?, 599
PRI Primeira-ministra – Existe?, 600
Primeira pessoa do plural, 600
Primeiro de maio ou Um de maio?, 600
Primeiro e segundo, 600
Primeiros e segundos, 600
Principal protagonista – Está correto?, 600
Príncipe – Como ler seu número?, 600
Privilégio ou Previlégio?, 600
PRO Problema a debater(-se) – Está correto?, 601
Proceda-se aos inventários ou Procedam-se…?, 601
Proceder, 601
Procedeu-se aos inventários ou Procederam-se aos inventários?, 601
Procedido o inventário – Está correto?, 603
Procedimento, 603
Processe-se-o – Está correto?, 603
Processe-se o recurso – Está correto?, 603
Processo, 603
Processo a despachar(-se) – Está correto?, 603
Próclise, 603
Próclise ou Ênclise?, 604
Próclise ou Mesóclise?, 605
Próclise proibida, 605
Procurador-geral ou Procurador geral?, 605
PRO Produção de provas: Requerer, Pedir, Protestar?, 605
Produtos produzidos – Pleonasmo?, 606
Proemial, 606
Proferir acórdão? E despacho? E sentença?, 606
Professor Evanildo Bechara ou professor Evanildo Bechara?, 606
Pro forma, 606
Progenitor – Pai ou Avô?, 607
Progredir, 607
Proibido, 607
Projétil ou Projetil?, 608
Pro labore, 608
Pró-labore ou “Pro labore”?, 609
Prolatar, 609
Prolatar acórdão? E despacho? E sentença?, 609
Prolator, 609
Promotor: Vossa Senhoria ou Vossa Excelência?, 610
Promover ação contra – Está correto?, 610
Promover ação em face de – Está correto?, 610
Promovidos a, 610
Pronome – Antes ou Depois do verbo?, 610
Pronome apassivador, 610
Pronome átono e Locuções verbais, 610
Pronome combinado, 610
Pronome demonstrativo, 611
Pronome desnecessário – Quando ocorre?, 611
Pronome de tratamento – Diretor de escola, 612
Pronome de tratamento ou Pronome de reverência?, 612
Pronome de tratamento – Para pessoas ou para entidades?, 613
Pronome oblíquo como possessivo, 614
Pronome pessoal, 614
Pronome possessivo – Artigo antes?, 615
Pronome reforçativo, 615
Pronome relativo – Concordância verbal, 615
Pronome relativo – Cujo ou De cujo?, 616
Pronome relativo preposicionado, 616
Pronome relativo – Quando antepor uma preposição?, 617
Pronomes e Locuções verbais, 617
Pronomes e Locuções verbais (principal no gerúndio), 618
Pronomes e Locuções verbais (principal no infinitivo), 620
Pronomes e Locuções verbais (principal no particípio), 622
Pronúncia, 624
Pronunciar, 624
Pronunciar acórdão? E despacho? E sentença?, 624
Propor, 624
Propositadamente ou Propositalmente?, 624
Propositado ou Proposital?, 625
Próprio, 625
Prorrogar – Até, para, por ou para até?, 625
PRO Proscrever – Como conjugar?, 626
Prosódia, 626
Prosseguir, 627
Prosseguir adiante – Está correto?, 627
Protagonismo – Existe?, 627
Protagonista principal – Pleonasmo?, 627
Proteger, 627
Protocolar – Existe?, 627
Protocolizar – Existe?, 628
Prova a produzir(-se) – Está correto?, 628
Prova dos nove ou Prova dos noves?, 628
Proveniente ou Proviniente?, 629
Prover a mantença ou Prover à mantença?, 629
Prover – Como conjugar?, 629
Provimento, 629
Provocar o Judiciário – é correto?, 629
PSE Pseudo-perito ou Pseudoperito?, 629
Pseudoprofessora ou Pseudaprofessora?, 630
PUB Pública-forma, 630
PUD Pudico ou Púdico?, 630
PUG Pugilistico ou Pugilístico?, 631
Pugnar, 631
PUN Puni-lo ou Puní-lo? Conclui-lo ou Concluí-lo?, 631
PUX Puxa-saco – Qual o plural?, 632
QUA Quais de nós – sabem ou sabemos?, 632
Quais de vós – sabem ou sabeis?, 632
Qual, 632
Qual a pontuação adequada?, 632
Qual de nós – sabe ou sabemos?, 633
Qual de vós – sabe ou sabeis?, 633
Qualidade, 633
Qualquer – É sinônimo de nenhum?, 633
Qualquer ônus ou Quaisquer ônus?, 634
Qual seja, 634
Quando de – Está correto?, 634
Quanto antes ou O quanto antes?, 634
Quanto a seu plural ou Quanto ao seu plural?, 634
Quanto possível ou Quanto possíveis?, 634
Quantum, 635
Quase, 635
Quatorze ou Catorze?, 635
QUE Que, 635
Que concorre ou A que concorre?, 635
Quede – Existe?, 636
Quedê – Existe?, 636
Que é de, 636
Quem de nós – sabe ou sabemos?, 636
Quem de vós – sabe ou sabeis?, 636
Quem fez foi (foram) eles?, 636
Quem há de, 637
QUE Quem serve para coisa ou só para pessoa?, 637
Que nem – Está correto?, 637
Que ou De que?, 638
Que ou Quê?, 638
Querer, 638
Quer… quer…, 639
Quer… quer… quer…, 639
Questão, 639
Questão a resolver(-se) – Está correto?, 640
Questionamento, 640
Questionar, 640
Questionário, 640
Questiúncula, 640
Que subscrevem ou Que esta subscrevem?, 640
Que tal, 640
QUI Quinquênio, 640
Quinquídio – Significado e pronúncia, 640
Quite ou Quites?, 640
QUO Quorum, 641
Quorum – Qual é o plural?, 643
Quota ou Cota?, 643
R$0 R$ 0,045 – Como ler?, 643
RAD Radical, 644
RAN Ranger, 644
RAP Raptar, 644
RAT Ratificar ou Retificar?, 644
REA Realizou-se ou Foi realizada?, 644
Reavejo – Está correto?, 645
Reavenho – Está correto?, 645
Reaver – Como conjugar?, 645
Reaveu – Está correto?, 646
Reavi – Está correto?, 646
REC Recém, 646
Recomende-se-o – Está correto?, 646
Re – Com hífen ou Sem hífen?, 646
Reconhecer, 646
Reconvir, 647
Reconvir – Constrói-se com que preposição?, 647
Recorde, 647
Recorrer, 647
Recorrer adesivamente ou Interpor recurso adesivo?, 648
Recuar para trás – Pleonasmo?, 648
Recursar – Existe?, 648
Recurso, 648
Recurso adesivo, 648
Recurso especial – Interpor ou Opor?, 648
Recurso extraordinário – Interpor ou Opor?, 648
Recurso – Interpor ou Opor?, 648
Recursos de apelação ou Recursos de apelações?, 648
RED Redação jurídica – Pode ser em primeira pessoa?, 649
RED Redarguir – Significado, pronúncia e regência, 649
Redator em chefe – Está correto?, 650
Redimir, 650
REF Refém, 650
Referendo ou Referendum?, 650
Reforço de próclise, 650
Refrega, 650
REG Regências diversas, 650
Regência verbal, 651
Registar – Existe?, 651
Registre-se ou Registra-se?, 651
Registro ou Registo?, 652
Regras de abreviatura, 652
Regras de ortografia, 652
Regredir, 653
Regulamento, 653
REI Rei – Como ler seu número?, 653
Reincidir novamente – Pleonasmo?, 653
Reinicializar – Existe?, 653
Reintegração, 653
Reintegrar, 653
Réis ou Reis?, 654
Reivindicar ou Revindicar?, 654
REM Remarcável – Galicismo?, 654
Remediar, 654
Remeter, 654
Remição da pena ou Remissão da pena?, 655
Remição ou Remissão?, 655
Remir, 656
Remissão ou Remição?, 657
Remisso, 657
Remitir, 658
Remontar, 658
REN Renomado – Galicismo?, 658
Renunciar, 658
REP Repartição das palavras, 659
Repercutir – Qual seu uso correto?, 659
Repetição da preposição – Quando deve acontecer?, 660
Repetição das locuções prepositivas, 660
Repetição do artigo, 660
Repetição obrigatória da preposição, 660
Repetir de novo – Está correto?, 660
Repor, 660
Representação de letras, 660
Representante ministerial – Existe?, 660
Reprimenda corporal – Está correto?, 660
Reprochador – Galicismo?, 660
Reprochar – Galicismo?, 660
Reprochável – Galicismo?, 661
Reproche – Galicismo?, 661
REP Réptil ou Reptil?, 661
Reputar, 662
Reputo-o o maior processualista pátrio – Está correto?, 662
REQ Requerente ou Autor?, 662
Requerer, 662
Requer seja expedido ou Requer que seja expedido?, 663
Requisitar, 663
Requisito, 664
Requisitório, 664
RES
Reserva, 664
Residente à Rua Tal ou Residente na Rua Tal?, 664
Residente e domiciliado – Expressão necessária na inicial?, 664
Residir à Rua Tal ou Residir na Rua Tal?, 664
Resilir, 664
Resolução, 665
Respectivo – Qual seu real sentido e uso?, 665
Respeitável decisão – Está correto?, 666
Respeito para com – Está correto?, 666
Responder, 666
Ressabido – Existe?, 667
Ressão – Existe?, 667
Ressarcir, 667
Restar, 668
Restar provado – Está correto?, 668
Restituir, 669
Resto, 669
Resto – É só o que não presta?, 669
Resultar infrutífera – Está correto?, 669
Resultar provado – Está correto?, 669
RET Reter, 671
Reticências, 671
Retificar ou Ratificar?, 671
Retolo – Existe?, 671
Retribuir, 671
Retro – Com hífen ou sem?, 671
Retro-mencionada ou Retromencionada?, 671
Retro ou Retros?, 672
Retrotrair, 672
REU Réu, 672
REV Revelho – Existe?, 673
Rever – Como conjugar?, 673
RIB Ribeirão Preto: quem nasce lá é o quê?, 673
RID Ridicularizar ou Ridiculizar?, 674
RIG Rigorismo – Existe? E rigorosismo?, 674
RIS Risco de morte ou Risco de vida?, 674
RIZ Rizotônicas, 675
ROD Rodapé, 675
ROR Roraima, 675
RUA Rua Caiubi ou rua Caiubi?, 675
Rua tal, número tal, 676
RUB Rubrica, 676
RUI Ruim, 676
SAI Sair para fora – Pleonasmo?, 677
SAL Sala dos Passos Perdidos – O que é?, 677
Salão dos Passos Perdidos – O que é?, 677
Salão dos Passos Perdidos ou salão dos Passos Perdidos?, 677
Salário-mínimo ou Salário mínimo?, 677
Salvante – Existe?, 677
Salvar, 678
Salve!, 678
Salvo, 678
SAN Sanar ou Sanear?, 680
Sanguíneo – O u é pronunciado ou não?, 680
Santo Agostinho ou santo Agostinho?, 680
SAR Sargenta – Existe?, 681
SEC Seção, Secção, Sessão ou Cessão?, 681
Secção, Sessão, Cessão ou Seção?, 681
Secretaria de Educação ou Secretaria da Educação?, 681
Secretário-geral ou Secretário geral?, 681
Século – Como ler seu número?, 681
SED Sede, 681
Sedizente – Galicismo?, 681
SEE Se eu vir ou Se eu vier?, 681
Se evadiu ou Evadiu-se?, 682
SEG Segue embargos ou Seguem embargos?, 682
Seguir, 683
Segunda-feira ou segundafeira?, 683
Segundo o qual – É correto?, 683
Segundos e terceiros – É possível?, 684
SEJ Sejam… sejam, 684
Seja… seja, 684
Seje – Está correto?, 684
SEM Se me não falha a memória ou Se não me falha a memória?, 684
Semi – Com hífen ou sem?, 685
Sem número ou Cem número?, 685
Sem-pão, 685
Sem-partido, 685
Sem-pátria, 685
Sem reserva ou Sem reservas?, 685
Sem-terra ou Sem terra?, 686
Sem-terra – Qual é o plural?, 686
Sem-teto, 686
Sem-vergonha ou Sem vergonha?, 686
SEN Senado Federal ou apenas Senado?, 686
Senador, 687
Senador ao Congresso Nacional – Está correto?, 687
Senão ou Se não?, 687
Sendo que, 688
Senhora dona – Está correto?, 689
Senhor doutor – Está correto?, 689
SEN Sênior, 689
Sentar-se na mesa – Está correto?, 689
Sentença apelada – Está correto?, 689
Sentença a proferir(-se) – Está correto?, 690
Sentença de primeira instância – Pleonasmo?, 690
Sentença: exarar, prolatar ou proferir?, 690
Sentença recorrida – Está correto?, 690
Sentença trânsita ou transitada em julgado?, 690
Sentenciado o feito – Está correto?, 691
SEO Se o, 691
Se-o – Existe?, 691
SEP Se por al não estiver preso – Existe?, 691
SEQ Se – Quando e como pode ser omitido?, 691
Se – Quando é desnecessário?, 692
Seqüência ou Sequência?, 692
Sequer, 692
SER Ser, 693
Ser chegado – Está correto?, 693
Ser – Como concordar?, 693
Ser mister – Está correto?, 694
Ser nascido – Está correto?, 694
Ser pago – Está correto?, 694
Ser passado – Está correto?, 694
Servir, 694
SES Se + se – Existe?, 695
Sessão, Cessão, Seção ou Secção?, 695
SEU Seu dele – Está correto?, 695
Seu nome dele – Está correto?, 696
Seu produto ou O seu produto?, 696
SI Si, 696
SIC Sic, 697
SIG Sigla, 698
Sigla – Como escrever por extenso?, 698
Sigla e Ponto, 698
Siglas – CND’S ou CNDs?, 699
Siglas dos estados brasileiros, 699
Siglas dos Estados – Como escrever?, 699
Siglas pluralizadas, 700
SIL Sílaba, 700
Silabada, 700
Símbolo de indeterminação do sujeito, 700
SIM Símbolos, 700
Simpatizar, 700
Simplicista ou Simplista?, 700
SIN Sinal, 701
Sindicar, 701
SIS Sisa, 701
SIT Site, saite ou sítio?, 701
Sito à Rua Tal ou Residente na Rua Tal?, 701
Situações que não bastam evitar – Está correto?, 701
SIT Situado à Rua Tal ou Residente na Rua Tal?, 701
Situar-se à Rua Tal ou Situar-se na Rua Tal?, 701
SOA Só – Adjetivo ou advérbio?, 701
Soar – Como concordar?, 702
SOB Sob, 702
Sob color de, 702
Sob encomenda ou Sobre encomenda?, 702
Sob hipoteca ou Sobre hipoteca?, 703
Sob número 37 ou Sob o número 37?, 703
Sob o fundamento – Está correto?, 703
Sob o ponto de vista – Está correto?, 704
Sob pretexto de ou A pretexto de?, 704
Sobre – Com hífen ou sem?, 704
Sobrecomum, 704
Sobrenome, 704
Sobrescritar ou Subscritar?, 704
Sobressair, 704
Sobrestar – Como se conjuga?, 705
Sobrestar – Qual é seu complemento?, 705
Sobrevir, 706
Sobrevir – Constrói-se com que preposição?, 706
SOC Sociedade Anônima, 706
Sócio-gerente ou Sociogerente?, 706
SOC Só – Como concordar?, 706
Socorro – Como pronunciar o plural?, 707
SOE Só ele, 707
Soer, 707
SOG Sogro – Como pronunciar o plural?, 707
SOI Soi-disant – Galicismo?, 707
SOJ Soja – Masculino ou feminino?, 707
SOL Soldada ou A Soldado?, 708
Solecismo, 708
Solerte, 708
Solicitar, 708
Solução de continuidade – Está correto?, 708
Solvabilidade – Galicismo?, 709
Solvável – Galicismo?, 709
Solvência – Galicismo?, 709
Solvível – Galicismo?, 709
SOM Somatória ou Somatório?, 709
Somenos, 710
Somos em seis – Está correto?, 710
Sonhar com ou Sonhar em?, 710
SOP Soprano, 710
SOR Sortir ou Surtir?, 711
STA Statu quo ou Status quo?, 711
STR Stricto senso, Stricto sensu ou Strictu sensu?, 712
SUA Sua autobiografia – Pleonasmo?, 712
Sua Excelência ou Vossa Excelência?, 712
Suar, 712
SUB Sub – Com hífen ou sem?, 713
Subida honra, Súbida honra ou Súbita honra?, 713
Subir e descer de – Está correto?, 713
Subir para cima – Pleonasmo?, 713
Súbita honra, 713
Subjuntivo, 713
Subjuntivo ou Indicativo?, 713
Sub-rogação – Como se pronuncia?, 714
Sub-rogação ou Subrogação?, 714
Sub-rogar – Como é seu complemento?, 714
Subscrever – Como conjugar?, 714
Subscritar ou Sobrescritar?, 715
Subsidiar – Como se pronuncia o s?, 715
Subsídio – Como se pronuncia o s?, 715
Subsistência – Como se pronuncia o s?, 715
Subsistir – Como se pronuncia o s?, 716
Substabelecer, 716
Substantivos compostos – Como levar ao plural?, 717
Substituir, 718
Subsume ou Subsome?, 718
Subsumir, 719
Subsunção, 719
SUC Suceder, 719
SUI Suicidar-se – Pleonasmo?, 720
SUJ Sujeito composto de pessoas diferentes, 720
Sujeito composto (núcleos unidos por com), 720
Sujeito composto = verbo no plural, 721
SUM Sumariíssimo ou Sumaríssimo?, 721
SUP Superávit, 722
Superávit positivo – Está correto?, 722
Super – Com hífen ou sem?, 722
Superintendente executivo ou Superintendente executiva?, 722
Superurbanismo, 723
Supor, 723
Supra – Com hífen ou sem?, 723
Supressão da preposição, 723
SUR Surdo-mudo, 723
Surpresa inesperada – Pleonasmo?, 723
Surtir ou Sortir?, 724
SUS Suso, 724
Suspendido ou Suspenso?, 724
Sustentação oral, 724
Suster, 724
TAB Tabelião, 724
Tabeliã ou Tabelioa?, 725
TAC Tachar ou Taxar?, 725
TAL Tal, 725
Tal qual, 725
Talqualmente – Existe?, 726
TAL Talvez, 726
TAM Tampouco ou Tão pouco?, 726
TAN Tangentemente – Existe?, 726
Tanger, 726
Tanto… como, 726
Tanto ou mais do que, 727
Tanto quanto, 727
TAO Tão logo, 727
Tão pouco ou Tampouco?, 727
Tão-somente, Tão somente ou Tãossomente?, 727
Tão-só, Tão só ou Tãossó?, 727
TAP Tapetes persas ou Tapetes persa?, 727
TAQ Taquigrafar, 727
TAR Tarefas que cumprem realizar – Está correto?, 728
TAU Tautologia, 728
TAX Taxar ou Tachar?, 728
TEL Telex – Anglicismo?, 728
TEM Têm ou Tem?, 728
Tempo, 728
Tempo passado ou Tempo futuro?, 728
Tempos derivados, 729
Tempos derivados do infinitivo, 729
Tempos derivados do presente do indicativo, 729
Tempos derivados do pretérito perfeito do indicativo, 729
Tempos primitivos, 729
TEN Tenho realizado ou Tenho realizada?, 730
TEO Teor, 730
TER Ter, 730
Ter a – Galicismo?, 732
Teratológico ou Teratogênico?, 732
Terceiro e quarto, 732
Terceiros e quartos, 732
Ter de ou Ter que?, 732
Ter e haver – Qual a diferença?, 734
Ter lugar – Está correto?, 734
Termos de substabelecimento ou Termos de substabelecimentos?,
735
Ter ou Haver – São sinônimos e equivalentes?, 735
Ter para, 737
Ter por, 737
Ter que ou Ter de?, 737
Terreiro de São Francisco ou terreiro de São Francisco?, 737
Terreno a vender(-se) – Está correto?, 737
TES Testamenteiro – Cargo ou encargo?, 737
Testemunha, 737
Testemunha a ouvir(-se) – Está correto?, 737
Testemunha auricular – Está correto?, 737
Testemunha de ciência própria, 737
Testemunha de oitiva, 737
Testemunha de ouvida, 737
TES Testemunha de ouvida alheia, 737
TEU Teúda – Existe?, 737
TEX Têxtil, 738
TIN Tinha imiscuído-se, Tinha-se imiscuído ou…?, 738
TIR Tirante, 739
TIT Título, 739
Título de obra, 739
TOC Tocantemente – Existe?, 739
TOD Todo, 740
Todo ou Todo o?, 740
Todos dois – Galicismo?, 741
Todos eles, 741
Todos os dois – Galicismo?, 741
TOE To – Existe?, 741
TOR Torna, 742
Tornar a repetir – Pleonasmo?, 742
Tornar-se, 742
TRA Trabalho extra, 742
Tráfego ou Tráfico?, 742
Tranqüilo ou Tranquilo?, 742
Transação, 742
Transacionar – Existe?, 743
Transatlântico, 743
Transgredir, 743
Transigir, 743
Trânsita ou Transitada em julgado?, 744
Transitividade verbal, 744
Transitivo direto, Transitivo direto e indireto e Transitivo indireto,
744
Transladar ou Trasladar?, 744
Translado ou Traslado?, 744
Translineação, 744
Transpor, 744
Trasladar ou Transladar?, 744
Traslado ou Translado?, 744
Tratamento, 745
Tratar-se de, 745
Trata-se de embargos ou Tratam-se…?, 745
Trata-se de processos ou Tratam-se de processos?, 746
Travessa do Comércio ou travessa do Comércio?, 746
Travessão, 746
Trazer à baila ou Trazer à balha?, 746
Trazer à colação, 746
TRE Trema, 746
TRI Tribunais a quo ou Tribunais a quibus?, 747
Tribunal de Justiça – egrégio ou Egrégio?, 747
TUD Tudo a ver ou Tudo haver?, 747
Tudo o que ou Tudo que?, 747
TUE Tu e Você – Podem misturar-se?, 747
TUR Turnê, 747
UAM U’a maneira – Está correto?, 747
U’a mão – Está correto?, 748
UIS Uísque, 748
ULT Ultra – Com hífen ou sem?, 748
UMA Uma e meia, 748
Uma mão – Cacófato?, 748
Uma porção de alunos – faltou ou faltaram?, 748
Uma vez ou outra ou Vez ou outra?, 749
UMC Um como – Está correto?, 749
UMD Um de maio ou Primeiro de maio?, 749
Um dos que, 749
Um dos que – Será ou serão?, 749
UME Um e meio, 749
Um e outro, 750
Um mil ou Mil?, 750
UMO Um ou Hum?, 750
Um ou mais deles – Verbo no singular ou no plural?, 750
UMR Um rebanho de boas ovelhas – sumiu ou sumiram?, 750
UMT Um terço, 750
UNI União Federal ou simplesmente União?, 750
Uniformidade de tratamento, 751
Universidades se comprometem ou Universidades comprometem-se?,
751
USA Usar, 751
USO Uso abusivo – Está correto?, 752
Uso de maiúsculas, 752
Uso do infinitivo, 752
Uso dos tempos verbais, 754
USU Usucapião – Masculino ou feminino?, 754
Usucapir, 755
Usufruir – Como conjugar?, 756
Usufruir os bens ou Usufruir dos bens?, 756
UTI Utilizar, 756
VAI Vai fazer dois meses ou Vão fazer dois meses?, 757
Vai indo – Está correto?, 757
VAN Vanitas vanitatis ou Vanitas vanitatem?, 757
Vantajosidade – Existe?, 757
VAR Varão – Qual o feminino?, 757
Vários de nós – sabem ou sabemos?, 758
Vários de vós – sabem ou sabeis?, 758
Varoa ou Virago?, 758
VEE Vêem ou Veem?, 758
VEM Vem vindo – Está correto?, 758
VEN Venda a vista ou Venda à vista?, 758
Venerando, 758
Venia concessa, 758
Venia concessa – com hífen ou sem?, 758
Venia permissa, 758
VER Verbo e pronome átono – Como combinar?, 758
Verbo intransitivo e Verbo transitivo, 759
Verbos abundantes, 759
Verbos anômalos, 760
Verbos bitransitivos indiretos – O que são?, 760
Verbos com pronomes – Pode-se dispensar o se?, 760
Verbos com regências diversas, 760
Verbos defectivos, 763
Verbo seguido de pronome, 763
Verbos – Existem ou não?, 764
Verbos irregulares e Verbos regulares, 764
Verbos tritransitivos – O que são?, 764
Ver – Como conjugar?, 764
Vereador, 765
Vereadora – Existe?, 765
Vereador da cidade – Está correto?, 765
Veredicto recorrido, 765
Veredicto, Veredito ou Veredíctum?, 765
Ver e gostar de, 766
Versar, 766
Versus – Como concorda o verbo?, 766
VES Vestibulando – Existe?, 767
Vestibular, 767
VET Veto, 767
VEZ Vez ou outra – Está correto?, 767
Vez que – Está correto?, 767
VG v. g., 768
VIA Via, 768
Viabilidade – Galicismo?, 768
Via de regra, De regra ou Por via de regra?, 768
Viajar, 768
VIE Viemos ou Vimos?, 768
VIG Vigário-geral ou Vigário geral?, 768
Viger ou Vigir?, 768
Vigindo ou Vigendo?, 769
Vigiu ou Vigeu?, 769
VIM Vimos ou Viemos?, 769
VIN Vinte – Existe no plural?, 769
VIO Vi-o fechar o cofre ou Vi-lhe fechar o cofre?, 769
VIR Vir, 770
Vir à baila ou Vir à balha?, 771
Vir de – Galicismo?, 771
Vírgula, 772
Vírgula e Etc., 773
Vírgula entre orações, 773
Vírgula e numerais por extenso, 774
Vírgula e orações subordinadas adverbiais, 774
Vírgula e Termos intercalados, 775
Vírgula na escrita e pausa na fala coincidem?, 776
Vírgula nas citações de artigos de lei, 776
Vírgula obrigatória, 777
Vírgula optativa, 777
VIR Vírgula – Pode existir com as orações substantivas?, 778
Vírgula proibida, 779
Vírgula – Questão Prática, 780
Vir ou Vier?, 781
Vírus – Qual é seu plural?, 781
Vir vindo – Está correto?, 781
VIS Visar, 781
Vista, 782
Visto ou Vista?, 782
Vistos etc., Vistos, etc… ou Vistos, etc.?, 783
VIT Vi todos eles – Está correto?, 783
VIV Viva os brasileiros! ou Vivam os brasileiros!?, 784
VOC Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, 785
Vocativo nas petições judiciais, 786
Você – Segunda ou Terceira pessoa?, 786
Vocês e Vós – Podem misturar-se?, 786
VOL Vo-lo, 787
VOLP, 787
Voltar atrás – Existe?, 787
Voltar para trás – Está correto?, 788
VOO Vôo ou Voo?, 788
VOS Vós de cerimônia, 788
Vossa Excelência ou Sua Excelência?, 788
VOT Votarão ou Votaram?, 788
Voto-vista ou Voto vista? E qual é o plural?, 789
VOU Vou indo – Está correto?, 790
Vou ir – É correto?, 790
Vou-me já – Cacófato?, 790
VOZ Voz ativa e Voz passiva, 790
Vozes verbais, 791
Voz passiva e Pronome apassivador, 791
Voz passiva e Verbos não transitivos diretos, 792
Voz passiva pronominal, 793
Voz passiva – Quando é possível?, 793
Voz passiva sintética, 794
Voz passiva sintética – Como reconhecer e diferenciar?, 795
VUL Vulto – É sempre gente morta?, 796
Vultoso ou Vultuoso?, 796
WRI Writ – Estrangeirismo?, 796
XAP Xampu, 796
XER Xerocar, Xerocópia, Xerocopiar, Xerografar, Xerografia e Xeroxar,
796
Xerox ou Xérox?, 796
XIS Xis – Qual é seu plural?, 797
XPT XPTO, 797
ZER Zero grau ou Zero graus?, 797
Zero hora, 797
Zero-quilômetro, 798

SÍMBOLOS E SINAIS

&
Ampersand, 798

Apóstrofo, 798

“”
Aspas duplas, 799

‘’
Aspas simples, 800

*
Asterisco, 800

¸
Cedilha, 800

ANEXO
Uso do hífen com base no prefixo e na letra inicial da palavra seguinte, 803
A
A alface ou o alface?
1. Uma leitora afirma que tem ouvido, com certa frequência, em
restaurantes, pessoas pedindo o alface em vez de a alface. Como até ela
ficou na dúvida, pergunta se o correto é dizer e escrever o alface ou a
alface.
2. Ora, sempre é bom lembrar – até para criar no leitor o hábito de um
salutar raciocínio que se repete – que, quando se quer saber se uma
palavra existe ou não em português, ou mesmo qual é seu gênero, grafia
e/ou pronúncia, ou qual o seu plural quando foge à normalidade, deve-se
tomar por premissa o fato de que a autoridade para listar oficialmente os
vocábulos pertencentes ao nosso idioma e para definir-lhes as demais
peculiaridades e circunstâncias, é a Academia Brasileira de Letras.
3. E essa autoridade, a ABL a exerce por via da edição do Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa.
4. Uma simples consulta ao VOLP (2009, p. 37) mostra que alface é
palavra pertencente ao gênero feminino (a alface, e não o alface).
5. Assim, em reposta à leitora, confiram-se os seguintes exemplos, com a
indicação de sua correção ou erronia entre parênteses: a) “Ele pediu um
alface com tomate” (errado); b) “Ele pediu uma alface com tomate”
(correto).

À baila, À balha ou À bailha?


1. Mário Barreto emprega à balha sem problema algum ou explicação
adicional, também não fazendo referência nenhuma à locução à baila:
“Os exemplos, porém, que do nosso admirável Rui Barbosa, trouxe à
balha o meu colega, não merecem o mínimo crédito por não serem
limpas e puras as fontes donde os tirou” (1955, p. 39).
2. Cândido de Figueiredo, por seu lado, opõe-se à expressão à baila, e
assevera que o correto é à balha.
3. Heráclito Graça, por fim, que transcreve a lição do gramático por último
citado, após alongadas considerações e com exemplos de autores
abalizados, dá por corretas ambas as expressões, e conclui: “Vir à baila
ou vir à balha são, portanto, formas idênticas, equivalem-se” (1904, p.
68-71).
4. Também nessa esteira, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa,
da Academia Brasileira de Letras, órgão incumbido oficialmente de
determinar a existência dos vocábulos em nosso idioma, além de sua
grafia oficial, registra baila e balha como formas variantes uma da outra.
E ainda registrava, até sua edição de 2004, bailha como terceira forma
para significar a mesma realidade, o que não foi repetido na edição de
2009 (p. 100-1).
5. E Napoleão Mendes de Almeida traz alongada explicação: baila “é mais
usada, mas é corruptela de balha, designação da divisão de madeira, de
uns cinco palmos de altura, que rijamente se cravava no chão, no centro
da liça, e que servia para impedir que os combatentes fossem de
encontro um do outro e para facultar-lhes que se ferissem unicamente
com as armas. O mantenedor (cavaleiro que combatia com a lança)
vinha à balha ou para quebrar novas lanças com o mesmo aventureiro ou
para acudir ao desafio de outro” (1981, p. 37).
6. Cândido Jucá Filho (1963, p. 93), nesse sentido, vê como mera questão
de opção o emprego de baila ou balha em casos que tais.
7. Corrobora esse entendimento de facultatividade de uso a lição de
Cândido de Figueiredo – que Heráclito Graça havia citado como
contrário – o qual manifesta visível preferência por à balha: “vir à baila
é corruptela de vir à balha”, e, “quando as corruptelas se vulgarizam,…
não é indecoroso subscrevê-las” (1941, p. 277-8).
8. Ante as divergências e discussões entre os gramáticos e a própria
posição oficial sobre o assunto, o melhor é concluir que há liberdade ao
usuário para escolher, indistintamente, entre as duas formas de
expressão, usadas com frequência na locução vir à balha, ou vir à baila,
ou vir à bailha, todas com significado de vir a propósito.
9. Resumindo a questão: são igualmente corretas as expressões trazer à
baila, trazer à balha, vir à baila e vir à balha, com o mesmo sentido de
trazer à discussão ou vir a propósito. Trazer à bailha, entretanto, não está
mais autorizada pelo novo VOLP.

Abaixo assinado ou Abaixo-assinado?


1. Essa expressão pode, num primeiro aspecto, indicar o documento que
diversas pessoas assinam e que serve para ser entregue a alguém com
determinada e específica finalidade ou como prova de adesão coletiva a
determinada causa. Ex.: “Conseguiram milhares de assinaturas em um
abaixo-assinado para descriminação da maconha”.
2. Nesse caso, seus elementos se unem por hífen, como, aliás, se vê no
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira
de Letras, órgão oficialmente incumbido de determinar a correta grafia
dos vocábulos em nosso idioma (2009, p. 3).
3. Com essa acepção, é substantivo composto, e nele, para efeito de flexão,
deve-se reconhecer, isoladamente, que abaixo é advérbio (e, portanto,
elemento invariável), enquanto assinado é palavra de valor adjetivo (e,
assim, variável). Por essa razão, o plural de abaixo-assinado é abaixo-
assinados. Ex.: “Conseguiram milhares de assinaturas em diversos
abaixo-assinados para descriminação da maconha”.
4. Não confundir com a locução adjetiva abaixo assinado, que serve para
indicar a pessoa que subscreve um documento, expressão essa em que
não se usa o hífen e que, por poder indicar pessoa do masculino ou do
feminino, e mesmo do singular ou do plural, pode ter ambos os gêneros e
ambos os números. Nessa flexão, é preciso atentar a que, sendo abaixo
um advérbio, não sofre ele variação alguma. Exs.: a) “O advogado
abaixo assinado vem protestar contra o ocorrido no processo”; b) “A
advogada abaixo assinada vem protestar contra o ocorrido no
processo”; c) “Os advogados abaixo assinados vêm protestar contra o
ocorrido no processo”; d) “As advogadas abaixo assinadas vêm
protestar contra o ocorrido no processo”.
5. Antonio Henriques e Maria Margarida de Andrade (1999, p. 43) fazem
esta advertência: “Estabeleça-se a diferença entre abaixo-assinado
(documento) e abaixo assinado (signatário)”.
6. Para Eliasar Rosa, a expressão abaixo assinado serve, “como locução
adjetiva, para indicar quem subscreve um abaixo-assinado”, e, em tal
caso, “nela não se usa o hífen” (1993, p. 15).
7. Domingos Paschoal Cegalla, de igual modo, manda escrever “sem hífen,
quando a expressão designa os signatários do documento” (1999, p. 2).
8. Em outra obra que escreve solitariamente, Antonio Henriques (1999, p.
5), após fazer tal distinção entre ambas as expressões, acrescenta que,
em se tratando de signatárias mulheres, o plural será abaixo assinadas.
9. Sintetizando a solução para ambos os vocábulos, resuma-se a questão
com ensino de Arnaldo Niskier: “O documento é um abaixo-assinado,
com hífen. Abaixo assinado, sem hífen, é aquele que assina o
documento” (1992, p. 6).

A baixo ou Abaixo?
1. Em lição bem prática, observa Domingos Paschoal Cegalla: “Escreve-se
a baixo (locução adverbial) em oposição a de cima, em frases como: A
cortina rasgou de cima a baixo.”
2. Acrescenta tal autor que, “nos demais casos, grafa-se abaixo (antônimo
de acima)”. Ex.: “O plano foi por água abaixo” (CEGALLA, 1999, p.
1).
3. Veja-se este exemplo de correção quanto ao emprego do vocábulo
adequado em artigo de lei: “No caso da existência dos dispositivos de
proteção a que este artigo se refere, não deverá a diminuição ser tal que
faça o iluminamento cair abaixo dos mínimos prescritos no art. 159”
(CLT, art. 162, parágrafo único, revogado).

Abalroamento
1. Pode-se dizer que abalroamento é o “choque de dois veículos em terra,
águas ou no ar” (Encyclopaedia Britannica do Brasil, 1995, p. 10).
2. Atente-se, por primeiro, a que a grafia de tal vocábulo é com apenas um
r, como convém o som de duplo erre entre uma vogal e uma consoante,
como se dá, similarmente, com enredar e enrolar.
3. Para Celso Pedro Luft (1999, p. 21), pode tal substantivo ser usado com
as preposições com e entre: “O abalroamento de um barco com outro.
Um abalroamento entre barcos.”
4. Francisco Fernandes, porém, vê a possibilidade de construção para esse
substantivo com uma de três preposições: com, de e entre. Exs.: a) “Não
foi possível evitar o abalroamento com o cargueiro”; b) “Causou grande
prejuízo o abalroamento dos dois navios”; c) “O abalroamento entre as
duas barcas não teve graves consequências” (1969, p. 1).

Abater
1. Na consonância com lição de Vitório Bergo, “considera-se galicismo o
emprego do verbo abater no sentido de derrubar, atirar por terra, como
em abater a tiros, a facadas etc.” (1944, p. 9).
2. Caldas Aulete, todavia, sem condenação alguma, traz exemplo
exatamente nesse sentido, sendo abonado por Francisco Fernandes, que
o cita: “Abateram hoje no matadouro cinquenta bois” (FERNANDES,
1971, p. 35).
3. Celso Pedro Luft (1999, p. 22-3) também lhe confere a acepção de
matar, como em abater reses.
Abdicar
1. Tem o sentido de renunciar voluntariamente, de abandonar, de desistir.
2. Quanto à regência verbal, admite indistintamente duas sintaxes: pode ser
construído como transitivo direto ou como transitivo indireto
(preposição de). Exs.: a) “O réu abdicou sua versão inicial sobre o
crime” (transitivo direto). b) “O réu abdicou de sua versão inicial sobre
o crime” (transitivo indireto).
3. A. M. de Sousa e Silva, em observação bem prática, resume a questão:
“Tanto é lícito dizer, por exemplo, ‘abdicou dos seus direitos’ como
‘abdicou os seus direitos’” (1958, p. 17).
4. Observando que “a construção primitiva é com objeto direto” e que, para
Mário Barreto, “alguns dizem abdicar de, sem dúvida por causa da ideia
de separação que o verbo encerra”, reitera Domingos Paschoal Cegalla
(1999, p. 2) que abdicar pode ser usado como intransitivo (à semelhança,
de um modo geral, de todos os verbos normalmente transitivos), como
transitivo direto ou como transitivo indireto. Exs.: a) “Pressionado pelo
povo, o rei decidiu abdicar”; b) “O rei abdicou a coroa em favor de seu
filho”; c) “O imperador Dom Pedro I abdicou da coroa portuguesa em
favor de sua filha”.
5. Essas possibilidades de sintaxe também são referidas por Celso Pedro
Luft (1999, p. 23).

Abençôo ou Abençoo?
Ver Enjôo ou Enjoo? (P. 319)

Abertura inaugural – Está correto?


Ver Pleonasmo – O que é e Quando pode? (P. 565)

Abolir
1. Quanto à conjugação verbal, trata-se de verbo defectivo, caracterizando-
se por não ter as formas em que, de acordo com a conjugação normal do
modelo da terceira conjugação, ao l do radical se seguiria a ou o,
defectividade essa que ocorre no presente do indicativo e nos tempos
dele derivados.
2. Em outras palavras, conjuga-se “nas formas em que a terminação
começa pela vogal e ou pela vogal i” (REIS, 1971, p. 145).
3. Antonio Henriques e Maria Margarida de Andrade (1999, p. 29) também
o inserem no rol dos verbos defectivos, conjugado apenas nas formas
cuja terminação começa com e ou i.
4. Vitório Bergo, de igual modo, sintetiza a conjugação desse verbo do
seguinte modo: “repelem-se as desinências em o, a; admitem-se as em e;
usam-se naturalmente as em i; … como se vê, não há presente do
subjuntivo e, em consequência, imperativo negativo” (1943, p. 81).
5. Em termos bem práticos, não tem ele a primeira pessoa do singular do
presente do indicativo, mas apenas as demais: tu aboles, ele abole, nós
abolimos, vós abolis, eles abolem.
6. No imperativo afirmativo, tem somente as pessoas derivadas do presente
do indicativo: abole tu, aboli vós.
7. Como os problemas mencionados ocorrem apenas no presente do
indicativo e nos tempos daí derivados, já referidos, a defectividade
mencionada não se dá nos outros tempos, que são normalmente
conjugados em todas as pessoas: eu abolia (imperfeito do indicativo), eu
abolirei (futuro do presente), eu aboliria (futuro do pretérito), abolindo
(gerúndio), abolido (particípio), eu aboli (pretérito perfeito do
indicativo), eu abolira (pretérito mais-que-perfeito do indicativo),
quando eu abolir (futuro do subjuntivo), se eu abolisse (imperfeito do
subjuntivo).
8. Para não sobejar dúvida alguma e para que se tenha a real ideia da
frequência com que surgem dificuldades na conjugação, Sousa e Silva
observa que “não se usam, portanto, formas como abulo, abula, abulas”
(1958, p. 17).
9. Por esse verbo, conjugam-se, entre outros, adimplir, banir, colorir,
demolir, extorquir, haurir, delinquir e usucapir.

Abordar
1. Insurge-se Júlio Nogueira contra seu emprego no sentido de aproximar-
se, acercar-se de alguém para falar-lhe, reputando galicismo.
2. Assim, em vez de abordou o amigo, entende tal gramático se deva dizer:
Ele aproximou-se, acercou-se do amigo, dirigiu-se ao amigo.
3. De igual modo, tal autor (NOGUEIRA, 1959, p. 54) reputa galicismo
seu emprego com o significado de tratar, versar, como em abordar um
assunto, abordar uma questão.
4. Cândido Jucá Filho (1981, p. 38) também tem por galicismo o emprego
desse verbo em expressões como abordar uma pessoa e abordar uma
questão.
5. Edmundo Dantès Nascimento (1982, p. 20), em mesma esteira,
lembrando que o termo português é versar, cuidar, tratar, discorrer,
observa que o verbo abordar nesse sentido é estrangeirismo léxico muito
encontrado na linguagem forense.
6. Nessas acepções de achegar-se a alguém ou de tratar (um tema, um
assunto, uma questão), Domingos Paschoal Cegalla, embora
reconhecendo tratar-se de galicismo, procura ter posicionamento mais
flexível, dirigindo-se, todavia, apenas à linguagem coloquial, não àquela
que obedece ao padrão culto.
7. Para ele, em tal caso, “abordar é galicismo de uso corrente, não devendo,
por isso, ser condenado” (CEGALLA, 1999, p. 3).
8. Referindo-se, por sua vez, ao torneio abordar uma questão, anota
Francisco Fernandes que “alguns puristas condenam de galicismo o
verbo abordar quando empregado em frases semelhantes”; mas
complementa que “há exemplos abonados por escritores de boa nota”
(1971, p. 38).
9. De igual modo, Celso Pedro Luft (1999, p. 24), sem comentários
adicionais e sem reservas outras, abona-lhe o emprego, assim no
significado de chegar-se a alguém para interrogá-lo, como na acepção de
versar.
10. Ante a divergência entre os estudiosos – uns aceitando, outros
condenando – invoca-se a liberdade linguística para aceitar como
válidas e corretas as construções em que o verbo abordar tanto tem o
sentido de “achegar-se a alguém”, como a acepção de “tratar um
assunto”.
Abreviatura, Abreviação e Sigla – O que é e Como usa?
1. Abreviatura é a representação de uma palavra por uma ou algumas de
suas letras: art. por artigo, inc. por inciso, par. por parágrafo, decr. por
decreto.
2. Desde logo e para registro, anota-se a lição de José de Nicola e Ernani
Terra: “Não devemos confundir abreviação” (um processo de formação
de palavras que consiste na redução da palavra até o limite que não
prejudique a compreensão) “com abreviatura, que é uma representação
de uma palavra por meio de algumas de suas sílabas ou letras” (2000, p.
14).
3. Quando a abreviatura se dá pela utilização das iniciais das palavras, tem-
se a sigla. Assim, DASP era o antigo Departamento Administrativo do
Serviço Público; I.N.S.S., o Instituto Nacional de Seguridade Social.
4. O Formulário Ortográfico oficial, que traz registradas as reduções mais
correntes, com a explicação de que “uma palavra pode estar reduzida de
duas ou mais formas” (ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, 2009,
p. 865), não mostra, por seu lado, uniformidade. É confuso e deficiente
nesse campo, deixando sem solução diversos problemas.
5. Bem por isso, ante a própria visão oficial mais permissiva, quando se
tiver que abreviar, dever-se-á ter em mente a advertência de Napoleão
Mendes de Almeida: “o que a abreviatura, contração ou sigla deve
objetivar é a clareza; alcançada esta, não cabem objeções” (1981, p. 6).
6. Em outras palavras, o melhor é concluir que ao usuário do idioma assiste
certa liberdade para abreviar as palavras e expressões, guardados
determinados parâmetros e princípios.
7. Estabelecidas tais premissas, algumas regras são de grande utilidade
nessa tarefa de abreviar.
8. Por primeiro, deve-se ter a cautela de, sempre que possível, terminar a
abreviatura em consoante, não em vogal. Ex.: filosofia há de ser
abreviada como filos. ou fil., mas não filo.
9. Se a palavra é cortada num grupo de consoantes, todas estas devem
aparecer na abreviatura. Ex.: a forma abreviada de geografia há de ser
geogr., e não geog.
10. Apesar de ser este o posicionamento tradicional, Regina Toledo
Damião e Antonio Henriques (1994, p. 244), após observarem que, por
“via de regra, substituem-se as letras por um ponto colocado após a
consoante, e após a última consoante dos encontros consonantais”,
como adj. para adjunto e antr. para antropônimo, lembram que “a
ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) determinou o
ponto nas abreviaturas técnicas modernas após a vogal ou depois da
primeira consoante do encontro: ago. (agosto), anu. (anuário), téc.
(técnica), fáb. (fábrica)”.
11. Se na parte constante da abreviatura aparece o acento gráfico da
palavra, deve ele continuar na abreviatura. Ex.: em página, tem-se a
abreviatura pág., jamais pag.
12. Além disso, pelo Decreto-lei 592, de 4/8/38, mantido e seguido pelo
Formulário Ortográfico, as abreviaturas de unidades de medidas de
peso, extensão e tempo hão de ser escritas com inicial minúscula, sem
ponto final e sem o s indicativo do plural. Ex.: grama é g, metro é m, e
hora é h; o plural de gramas é g, de metros é m e de horas é h.
13. O Pequeno Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, em seu
registro de abreviaturas, traz diversos casos, dos quais a expressão
“Departamento Administrativo do Serviço Público” é exemplo típico:
anota-se lá que sua sigla pode ser “D.A.S.P. ou Dasp”; e Napoleão
Mendes de Almeida (1981, p. 6), adicionalmente e com total razão, não
vê inconveniente algum em aceitar também a abreviatura “DASP”.
14. Nas siglas, o mais lógico é não usar o ponto de separação, se as letras
são pronunciadas formando nova palavra, como ARENA (Aliança
Renovadora Nacional, antigo partido político dos tempos da ditadura);
se, todavia, a leitura da sigla se dá em soletração, então o mais
adequado é usar o ponto de separação entre as letras, como em I.N.S.S.
(Instituto Nacional de Seguridade Social).
15. Essa, aliás, é a lição de Cândido de Oliveira: “se lemos letra por letra
(ene, gê, bê), entre elas há ponto (N. G. B.); se as letras formam um
todo significativo, não há ponto: DEA”.
16. Do primeiro caso, para o mesmo autor (OLIVEIRA, C., 1961, p. 77),
são exemplos I.N.S.S. (Instituto Nacional de Seguridade Social) e
P.V.O.L.P. (Pequeno Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa),
enquanto do segundo são MEC (Ministério da Educação e Cultura),
PETROBRAS (Petróleo Brasileiro), SESI (Serviço Social da Indústria)
e UBE (União Brasileira dos Escritores). Observa-se, por importante,
que as siglas não têm acento, motivo por que PETROBRAS e SESI se
escrevem sem ele.
17. Apesar de lição tradicional anterior, Luciano Correia da Silva anota que
o uso constante vem contrariando a regra segundo a qual se utilizam
pontos nas siglas cujas letras se pronunciam separadamente: I.N.P.S.,
O.A.B., segundo tal autor, passou-se a escrever INPS, OAB.
18. Em outra passagem, acrescenta tal autor (SILVA, L., 1991, p. 182 e
323) que “há uma tendência crescente para a eliminação dos pontos nas
siglas em geral: MP (Ministério Público), CPC (Código de Processo
Civil), TJ (Tribunal de Justiça), RT (Revista dos Tribunais), STF
(Supremo Tribunal Federal), STJ (Superior Tribunal de Justiça), CLT
(Consolidação das Leis do Trabalho), MP (Medida Provisória), PM
(Polícia Militar)”.
19. Em mesmo sentido, para Regina Toledo Damião e Antonio Henriques,
as siglas, em casos dessa natureza, podem vir, indiferentemente,
acompanhadas ou não de ponto – MEC ou M.E.C., CIC ou C.I.C. –
acrescentando tais autores que “a tendência moderna é o uso de siglas
sem pontuação” (1994, p. 245).
20. Aires da Mata Machado Filho (1969h, p. 1.453) aconselha a que não se
empregue o ponto nas abreviaturas usadas em matemática: log
(logaritmo), cot (cotangente). Talvez aqui se possa especular tal
ausência pelo fato de que o próprio ponto tem o seu próprio significado
em Matemática.
21. Quanto ao plural das abreviaturas – feita a ressalva já apontada para as
unidades de medida, de peso, extensão e tempo, que são escritas sem
ponto final e sem o s indicativo do plural – a própria ortografia oficial,
em alguns casos, emprega a mesma forma abreviada, sem modificação
alguma, no singular e no plural: assim, determina o uso de ex. por
exemplar ou exemplares, esc. por escudo ou escudos; em outros casos,
porém, usa uma forma para cada número: assim, registra p. ou pág.
para o singular e pág. ou págs. para o plural.
22. Ante tal indefinição oficial, também aqui parece aceitável que, nos
casos comuns, se pluralize ou não a forma abreviada, de acordo com a
melhor conveniência do usuário, que poderá, por exemplo, abreviar
artigos como art. ou arts, incisos como inc. ou incs., colaboradores
como colab. ou colabs.
23. Ainda no que concerne à pontuação, anote-se que, se a palavra
abreviada aparecer em final de período, este não receberá outro ponto
(SACCONI, 1979, p. 236).
24. Parece integralmente aceitável a lição de Napoleão Mendes de Almeida
(1981, p. 298) de que se pluralizam as siglas pelo acréscimo de um s
minúsculo às letras já integrantes delas: CEPs, CICs, RGs.
25. Desse entendimento também é Arnaldo Niskier, para quem “não há
motivos para não marcar o plural das siglas com um s minúsculo”
(1992, p. 111).
26. Regina Toledo Damião e Antonio Henriques também partilham do
mesmo entendimento de que, “com respeito ao plural das siglas, aceita-
se o uso do s (minúsculo) para efeito de pluralização: PMs, INPMs,
MPs” (1994, p. 245).
27. Tal uso de um s minúsculo ao final da sigla, no entendimento de
Edmundo Dantès Nascimento, “é uma solução gráfica sem aprovação
de convenção acerca do assunto, mas que resolve o caso” (1982, p.
208).
28. A junção do s minúsculo à sigla visa a levá-la ao plural. Isso significa
que se deve unir o s sem mais nada, o que seria o caso do apóstrofo.
Aliás, pluralizar pelo acréscimo de um s é como se faz em nosso
idioma. Além disso, só para exemplificar, ninguém pensaria em
escrever o plural de caneta como caneta’s.
29. Não se pode dizer que essa mania seja uma tentativa de americanizar o
modo de escrever o vocábulo, uma vez que, no próprio inglês, quando
o s representa o plural, vem ele unido diretamente ao vocábulo (terms,
translations), e só se emprega o apóstrofo, quando se pretende
expressar a posse entre dois substantivos, com referência a pessoas ou
animais, hipótese em que se usa o esquema “possuidor + apóstrofo (’)
+ possuído”. Exs. a) The country of John > John’s country (O país de
John); b) The car of Mary > Mary’s car (O carro de Mary).
30. Parece interessante sintetizar o que há de mais importante nessa
questão com as seguintes observações: a) uma palavra pode ser
abreviada de uma ou mais formas; b) o modo de tratar o assunto pela
autoridade respectiva não mostra uniformidade, além de ser confuso e
deficiente; c) guardados determinados parâmetros e princípios, fica ao
usuário a liberdade nessa tarefa, desde que haja objetividade e clareza;
d) quando uma sigla é pronunciada como nova palavra, normalmente
não se usa ponto (PETROBRAS), ao contrário do que ocorre quando há
soletração (I.N.S.S.); e) essa regra, porém, não é rígida, e se pode
escrever DASP ou D.A.S.P, e I.N.S.S. ou INSS; f) ressalvadas as
unidades de medida, de peso, extensão e tempo, que são escritas sem
ponto final e sem o s indicativo do plural, as demais abreviaturas
podem ser com s ou sem ele (pode-se abreviar artigos como art. ou
arts, incisos como inc. ou incs., colaboradores como colab. ou
colabs.); g) as siglas podem, sem obrigatoriedade, ser pluralizadas pelo
acréscimo de um s minúsculo (CEPs, CICs), mas sem apóstrofo algum
(CEPs [e não CEP’s] e CICs [e não CIC’s]).
Ver Abreviatura no processo (P. 57) e Sociedade Anônima (P. 706).

Abreviatura no processo
1. Repetindo nesse particular norma do art. 15 do ordenamento processual
anterior, o art. 169, parágrafo único, do Código de Processo Civil, ao
regrar a forma dos atos do processo, estatui de modo taxativo: “É vedado
usar abreviaturas”.
2. No conceito de Pontes de Miranda, “abreviatura é toda grafia que
diminui a palavra, ou locução, ou frase, com elementos dela mesma”,
acrescentando tal autor que o proceder de quem abrevia “indica, sempre,
pressa, economia de tempo, de fadiga”, e, “às vezes, simples amor a
símbolos, a sinais, sem que a intensidade da vida social ou individual a
justifique” (1974, p. 94).
3. Pondera Egas Dirceu Moniz de Aragão, para o caso da determinação do
ordenamento processual em vigor, que “a vedação do uso de
abreviaturas não é absoluta, sendo elas admissíveis nos casos comuns,
como a indicação dos números e datas, assim como, por exemplo, do
mês, pela ordem numérica”.
4. Asseverando que “o que se proíbe é o emprego da abreviatura de
palavras, por tornar difícil, senão impossível, a compreensão, no futuro,
do texto”, justifica ele que “os autores medievais, incluídos os
glosadores, assim como os praxistas portugueses, valiam-se muito das
abreviaturas, que dificultam o entendimento”, adicionando que, “se isso
se aplicasse aos autos de qualquer processo, surgiriam inadmissíveis
dúvidas de interpretação” (ARAGÃO, 1974, p. 62).
5. Por sua vez, Antônio Dall’Agnol – com a ponderação de que a regra
deve “ser interpretada cum grano salis”, já que seu escopo é “evitar
obscuridade” – realça que “existem abreviaturas, no entanto, que já
ganharam foros de cidade na atividade forense, não havendo porque
deixar de usá-las”, uma vez que, “na maioria das vezes, representam
economia de tempo”.
6. E exemplifica o referido autor: “Assim, v. g., Rh (recebi hoje); D.R.A.
(distribua-se, registre-se, autue-se) etc.”.
7. Por fim, complementa: “O que não merece admissão é o uso de
abreviaturas comuns em outras áreas, como na bancária ou na de
contabilidade, por não serem de domínio geral ou específico dos
profissionais do direito e partes” (DALL’AGNOL, 2000, p. 277).
8. Acresce dizer que o art. 15 do Código de Processo Civil de 1939, além
de vedar as abreviaturas, também determinava deverem “ser escritos por
extenso os números e as datas”, regra essa não repetida pelo
ordenamento processual em vigor; assim, não mais existe
obrigatoriedade alguma nesse sentido, devendo o usuário apenas zelar no
sentido de ser claro e de dificultar eventual fraude.
9. Anote-se, por fim, o ensino de Pontes de Miranda, no que concerne à
transgressão do disposto no art. 169, parágrafo único, do Código de
Processo Civil: “o defeito, aparecendo as abreviaturas em atos e termos,
não é sem eventuais remédios: o dos arts. 243 e 245” (1974, p. 94).
10. Isso quer dizer, por um lado, que, “quando a lei prescrever determinada
forma, sob pena de nulidade, a decretação desta não pode ser requerida
pela parte que lhe deu causa” (CPC/1973, art. 243); por outro lado,
quer significar que “a nulidade dos atos deve ser alegada na primeira
oportunidade em que couber à parte falar nos autos, sob pena de
preclusão” (CPC/1973, art. 245).
11. E se acrescente o vetusto princípio de processo segundo o qual não se
decreta nulidade sem prova do prejuízo.
Ver Abreviatura, Abreviação e Sigla – O que é e Como usa? (P. 55)

Abrigo
Ver Estar ao abrigo de – Galicismo? (P. 334)

Ab-rogação ou Abrogação?
1. Vulgarmente, tem o sentido de desuso, anulação, supressão.
2. Em termos de técnica jurídica, com acepção mais específica, quer dizer a
“revogação total de uma lei ou decreto, de uma regra ou regulamento,
por uma nova regra, lei, decreto ou regulamento” (DE PLÁCIDO E
SILVA, 1989, p. 13).
3. Não confundir com derrogação, que quer dizer revogação parcial, nem
com revogação, que é palavra genérica, abrangente de ambos os termos
considerados.
4. Quanto à ortoepia, Evanildo Bechara (1974, p. 46) doutrina que o r deve
ser pronunciado múltiplo e separado, isto é, sem fazer grupo com a
consoante anterior (ab-ro-ga-ção).
5. Desse mesmo sentir é Cândido Jucá Filho (1963, p. 24).
6. No que concerne à ortografia, há de ter o hífen após o prefixo, como,
aliás, se registra no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da
Academia Brasileira de Letras, órgão incumbido oficialmente de
determinar a grafia dos vocábulos em nosso idioma, em sua edição
posterior ao Acordo Ortográfico de 2008, portador de alterações no que
tange ao emprego do hífen (2009, p. 9).
7. Quanto a sua regência, Francisco Fernandes (1969, p. 5) registra deva
ser construído tal vocábulo com a preposição de. Ex.: “A administração
reputa conveniente a ab-rogação total da lei”.
8. Nesse campo, também para Celso Pedro Luft (1999, p. 24), tal vocábulo
rege a preposição de.
Ver Ab-rogar ou Abrogar? (P. 58)
Ab-rogar ou Abrogar?
1. Com hífen é a sua grafia, como, aliás, se registra no Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras,
órgão incumbido oficialmente de determinar a grafia dos vocábulos em
nosso idioma, em sua edição posterior ao Acordo Ortográfico de 2008, o
qual trouxe alterações no que concerne ao emprego do hífen (2009, p. 9).
2. Quanto à ortoepia, à semelhança de ab-rogação, Evanildo Bechara
(1974, p. 46) doutrina que o r deve ser pronunciado múltiplo e separado,
isto é, sem fazer grupo com a consoante anterior (ab-ro-gar).
3. Desse mesmo sentir é Cândido Jucá Filho (1963, p. 24).
4. Quanto a sua exata acepção no campo jurídico, já lembrava Modestino,
jurisconsulto do Direito romano: “ab-roga-se a lei, quando se suprime
inteiramente” (“Abrogatur legi cum prorsus detrahitur”).
5. Não confundir com derrogar, que quer dizer revogar parcialmente, nem
com revogar, que é palavra genérica, abrangente de ambos os termos
considerados.
6. Quanto à regência verbal, Francisco Fernandes (1971, p. 40) preconiza
seu emprego como transitivo direto, com consequente possibilidade de
emprego na voz passiva, tornando-se o objeto direto daquela em sujeito
desta última: “Falamos de sacrifícios abolidos, usanças ab-rogadas, leis
de sangue mudadas em leis de misericórdia” (Camilo Castelo Branco).
7. Conferindo-lhe a possibilidade de emprego com a acepção de fazer
cessar, anular, cassar, revogar, suprimir, abolir, também Celso Pedro Luft
prega a possibilidade de seu emprego como transitivo direto: “Não há
costume que o tempo não ab-rogue” (1999, p. 26).
Ver Ab-rogação ou Abrogação? (P. 58)

Abrupto ou Ab-rupto?
1. Trata-se de adjetivo que tem o significado de íngreme, ou de inopinado,
repentino. Exs.: a) “A cordilheira ali se levanta abrupta”; b) “O
advogado interrompeu o magistrado de modo abrupto”.
2. Apesar de Napoleão Mendes de Almeida (1981, p. 7) enfatizar se deva
pronunciar a-brup-to, e Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 4) também
proponha a mesma pronúncia, por “mais cômoda e natural”, porquanto a
outra, apesar de mais correta, seja “áspera e difícil”, o certo é que
Evanildo Bechara (1974, p. 46), quanto à ortoepia, doutrina que o r deve
ser pronunciado múltiplo e separado, isto é, sem fazer grupo com a
consoante anterior (ab-rupto).
3. Desse último sentir também é Cândido Jucá Filho (1963, p. 24).
4. E, espancando toda e qualquer dúvida, o Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras (2009, p. 9), que é
o veículo oficial indicador das palavras existentes em nosso idioma, de
sua maneira de grafar e mesmo de pronunciar, registra abrupto e ab-
rupto, razão pela qual ambas as formas estão autorizadas, por força do
velho princípio de que essa é a determinação legal.

Absolutizar – Existe?
1. Nos dizeres de Antonio Henriques e Maria Margarida de Andrade, trata-
se de invenção não registrada pelos dicionários, assim como diversos
outros pretensos neologismos, “criados por influência do economês,
como oportunizar, otimizar, calendarizar etc.” (1999, p. 66).
2. Nem dicionaristas mais liberais, como Aurélio Buarque de Holanda
Ferreira, acolhem tal verbo.
3. É conveniente registrar, todavia, que o Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras – que é o veículo
oficial para listar os vocábulos existentes em nosso idioma – registra
normalmente o verbo absolutizar (2009, p. 9), o que implica concluir que
seu uso está perfeitamente autorizado entre nós.

Absoluto
Ver Mais absoluto – Está correto? (P. 453)

Abster-se
Ver Ter (P. 730).

Abstração feita a e Abstração feita de


1. Assim como exceção feita a, essas expressões também são galicismos
sintáticos, cujo emprego é unanimemente condenado pelos gramáticos.
2. Galicismo de construção de frase, seu erro está exatamente na colocação
do sujeito (abstração), o qual, no português moderno, não pode vir antes
do verbo (feita), quando se trata de oração reduzida de particípio.
3. Vale aqui a lição de Carlos Góis e Herbert Palhano (1963, p. 197): “A
anteposição do sujeito em orações reduzidas de particípio constitui
galicismo (isto é, imitação servil da língua francesa)”.
4. Eduardo Carlos Pereira também insere tal expressão no rol dos
galicismos fraseológicos ou sintáticos, daqueles que “são verdadeiras
deturpações da língua, contra os quais devemos estar premunidos”
(1924, p. 260-2).
5. Consoante lembrança de Júlio Nogueira (1939, p. 226), “o sujeito e o
objeto direto das orações reduzidas de particípio passado são pospostos:
‘Acabada a festa’ (depois que a festa acabou); ‘Feitos os preparativos’
(depois que fizeram os preparativos)”; em realidade, em ambas as frases,
festa e preparativos são sujeitos, não objetos diretos, até porque a
extensão do segundo exemplo é depois que os preparativos foram feitos,
ou, na voz passiva sintética, depois que se fizeram os preparativos.
6. Em exposição didática, Carlos Góis não é menos taxativo: “A
anteposição do sujeito em orações reduzidas participiais constitui
galicismo (isto é, imitação servil da língua francesa): Le dinner fini
(terminado o jantar); L’heure sonnée (soada a hora); Huit ans passés
(decorridos oito anos)”.
7. Em outra passagem, tal autor chama a esse solecismo de “barbarismo de
construção” (GÓIS, 1945, p. 26 e 87).
8. Vitório Bergo (1943, p. 120), de igual modo, insere tal estrutura no rol
dos galicismos de construção, daqueles “em que as palavras são
portuguesas, mas a sintaxe (especialmente a colocação e a regência) é
francesa”; e manda substituir a expressão abstração feita a por fazendo
abstração, feita abstração, abstraindo.
9. Em interessante lição, Mário Barreto observa que o Padre Manuel
Bernardes antepôs o sujeito ao particípio em orações absolutas, que
correspondem ao ablativo absoluto latino (“A manhã vinda…”), em
contraposição ao português moderno, em que o particípio vem primeiro
(“Vinda a manhã…”).
10. Acrescentando tal autor (BARRETO, 1955, p. 32-3) que Camões
também empregou tal estrutura, em contrariedade ao que se dá com o
uso moderno, em diversos lugares de Os Lusíadas, admoesta ele que,
quanto aos autores clássicos, não se há de pretender inquinar de
galicismos suas construções dessa natureza: “Não se pode admitir seja
tomada do francês uma colocação de que usaram livremente os mestres
de nossa língua, em tempo que o francês estava longe de preponderar
como entre os modernos prepondera, e os clássicos ‘só liam o latim, o
espanhol e o italiano, línguas mais conformes com a índole da nossa’,
como diz João Ribeiro, apontando… expressões, frases e palavras que
hoje seriam tidas por galicismo imperdoável, não o sendo”.
11. Feitas essas observações, anota-se em sequência, de modo muito
prático, que se opera a correção da sintaxe do exemplo considerado
pela simples alteração de ordem dos termos – feita abstração a – para
que a estrutura se torne regularmente vernácula, assim como se dá em
outras orações: a) “Sentenciado o feito, exauriu-se a função
jurisdicional de primeira instância”; b) “Encerrada a audiência, todos
se retiraram”; c) “Extinto o processo sem julgamento do mérito, só
restava ao patrono apelar da sentença proferida”; e não: a) “O feito
sentenciado, exauriu-se a função jurisdicional de primeira instância”;
b) “A audiência encerrada, todos se retiraram”; c) “O processo extinto
sem julgamento do mérito, só restava ao patrono apelar da sentença
proferida”.
12. As mesmas observações valem para a expressão abstração feita de, fiel
tradução do francês abstraction faite de.
Ver Exceção feita de – Galicismo? (P. 341)

Abuso
Ver De que (P. 269) e Uso abusivo – Está correto? (P. 752)

Abuso do gerúndio
Ver Gerúndio abusivo (P. 373).
Acabamento final – Está correto?
Ver Pleonasmo – O que é e Quando pode? (P. 565)

Academia Brasileira de Letras – Considerações importantes


1. A par da linguagem mais descuidada que se permite no plano coloquial,
na correspondência mais íntima e na conversa familiar entre as pessoas,
existe um modo de escrever e falar próprio dos profissionais de qualquer
área, em suas manifestações oficiais e formais, onde se deve manter um
nível mínimo e comum de fala e escrita, submetido às normas de
Gramática, a que se dá o nome de linguagem formal ou norma culta.
2. De modo específico no que tange à existência, à grafia e ao gênero das
palavras em nosso idioma, a autoridade fica com a Academia Brasileira
de Letras, que edita regularmente o Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, uma espécie de dicionário que lista as palavras reconhecidas
oficialmente como pertencentes ao nosso léxico, bem como lhes fornece
a grafia oficial, muito embora normalmente não lhes comente o
significado.
3. Ao agir assim, a ABL desincumbe-se de uma delegação legal, já que a
vetusta Lei Eduardo Ramos, de n. 726, de 8/12/1900, incumbiu-a de
editar regularmente essa lista oficial dos vocábulos de nosso idioma.
4. Essa é a regra, e a ela se tem prestado obediência. Basta ver que, em
época mais recente, para abolir o trema sobre os hiatos átonos, o acento
circunflexo diferencial de timbre (com a única exceção de pôde) e os
acentos circunflexo e grave nas palavras com sufixo mente ou iniciado
por z, tal se fez por via da Lei 5.765, de 18/12/71. O novo acordo aceita
“fôrma” (com acento), como forma opcional para evitar dúvida.
5. Esse proceder de haver uma autoridade e uma regra a que todos prestam
obediência, entretanto não torna o idioma necessariamente fossilizado ou
estagnado. Os contínuos estudos e as sugestões fundamentadas são alvo
de análise pelas comissões da ABL, e, conforme a necessidade, são
feitas alterações nas novas edições do Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa. Só para se ter uma ideia da atuação dinâmica nesse
campo, em sua edição de setembro de 1998, às mais de 300.000 palavras
já reconhecidas no Português, foram adicionados aproximadamente
6.000 novos termos, em geral relativos ao desenvolvimento científico e
tecnológico, incluindo inovações de Informática.
6. Dizer que, nesse campo, a ABL age por delegação legal significa que
sua palavra é lei, que obriga a todos os usuários da linguagem formal.
Isso, todavia, não a exonera de cometer equívocos. Exemplifica-se: em
sua mais recente edição (5ª – 2009), o VOLP diz que superávit (assim,
com acento gráfico) é um substantivo masculino já regularmente
incorporado ao vernáculo; todavia, embora faça constar deficitariedade e
deficitário, não registra déficit como palavra pertencente a nosso léxico,
mas, apenas e tão somente, a forma aportuguesada défice. Esse mesmo
equívoco continua reproduzido na mais recente edição do VOLP (5ª
edição, 2009).
7. Ante esse quadro, o usuário do idioma poderá escrever normalmente
superávit, que é vocábulo pertencente a nosso léxico. Todavia, quanto a
seu antônimo, deverá ou empregar a forma aportuguesada défice, ou
então usar a forma latina deficit, com duas observações: a) entre aspas,
ou em itálico, negrito ou com sublinha, como se deve grafar, em nossos
textos de linguagem formal, todo e qualquer vocábulo pertencente a
outro idioma; b) sem acento gráfico, que não existia em latim.
8. Além disso, a ABL não é dona da verdade, nem é imune a equívocos
nesse trabalho, nem se posta como tal. Constata-se, a uma rápida
consulta à introdução do VOLP, que a edição de 2004 foi dedicada
exatamente “aos que usam da língua portuguesa como bem comum –
aqui chamados a colaborar no aperfeiçoamento desta coleta, com
achegas, sugestões, críticas, correções”. Nesse campo, como todos das
carreiras jurídicas em relação ao ordenamento jurídico, somos chamados
a seu aperfeiçoamento. Na apresentação da 5ª edição (2009), a ABL
segue nessa mesma linha, agradecendo à contribuição dos lexicógrafos e
à colaboração dos consulentes do VOLP.
9. E não se pense que, quando escrevia minhas decisões na Magistratura, e
hoje, quando escrevo minhas petições, arrazoados e pareceres na
Advocacia, eu esteja sempre de acordo com o que vejo nas
determinações da ABL e na listagem de vocábulos do VOLP. Tenho
minhas divergências (basta ver a questão do superávit e do deficit).
Todavia, como é de praxe no ordenamento jurídico, na vigência da lei,
devemos prestar-lhe obediência. Não posso escolher quais leis sigo e
quais ignoro. Posso não concordar com a placa de contramão naquele
local; mesmo assim, vou prestar-lhe obediência. Posso não concordar
com o limite de velocidade num determinado local; mesmo assim
continuarei obrigado a respeitá-lo. De modo mais específico para o caso
concreto, enquanto não vier nova edição do VOLP, dizendo que, assim
como superávit, também integra nosso léxico o vocábulo déficit (assim,
com acento gráfico, como toda proparoxítona), deverei empregar défice
ou deficit.
10. E mais: não se pode dizer que a obediência a tais parâmetros signifique
cerceamento à liberdade do falante. É difícil encontrar alguém que
defenda a tese de que Padre Vieira ou Rui Barbosa tenham sido
cerceados ou feridos em sua liberdade de expressão, por terem que
obedecer às normas da Gramática. As regras estão aí, e a arte de
escrever está em encontrar a adequada forma de expressão em seus
moldes e limites. Mesmo grandes escritores que têm um modo peculiar
de escrever não ignoram tais regras. Guimarães Rosa, que desconstruiu
como raros o idioma em seu modo peculiar de expressão, conhecia
como poucos os meandros do vernáculo.

Academia Brasileira de Letras – Delegação legal e autoridade


1. Um leitor, após pesquisar, observa que não encontrou lei que delegue à
Academia Brasileira de Letras “a responsabilidade de editar o VOLP,
nem de ditar a ‘grafia oficial’ dos vocábulos da língua pátria”. Por isso,
pede esclarecimentos sobre o assunto.
2. Remontando a cronologia, diga-se que, três anos após sua fundação
(20/7/1897), a Academia Brasileira de Letras se beneficiou com a edição
do Decreto federal 726, de 8/12/1900, pelo qual: a) se autorizava o
Governo a dar permanente instalação à ABL em prédio público, b) se
concedia à ABL franquia postal e c) se determinavam outras
providências.
3. Em homenagem a alguém que sempre procurou o bem da ABL,
incluindo seu reconhecimento como instituição de utilidade pública, tal
decreto acabou sendo também conhecido pelo nome de Lei Eduardo
Ramos. Quanto a esse personagem, acrescente-se que, mesmo sendo
conhecido entre os escritores de sua época e tido como um dos
fundadores da Academia, por nunca fazer campanha em benefício
próprio, só conseguiu entrar na Casa de Machado de Assis no fim da
vida. E mais: faleceu antes de tomar posse.
4. Pois bem. Costuma-se dizer que, desde a Lei Eduardo Ramos, a ABL
tem a incumbência e a delegação legal para listar oficialmente os
vocábulos que integram nosso léxico, bem como fixar sua grafia,
pronúncia, gênero, etc. Independentemente de rigidez e técnica jurídica
sobre a questão, essa posição tem sido assim reconhecida sem
contestações ao longo de décadas.
5. Exatamente com esse perfil de conduta, por iniciativa da ABL e
anuência da Academia de Ciências de Lisboa, para minimizar os
inconvenientes de duas ortografias oficiais da língua portuguesa, foi
aprovado, em 1931, o primeiro acordo ortográfico entre Brasil e
Portugal, o qual, na prática, acabou não produzindo a tão desejada
unificação dos dois sistemas ortográficos.
6. Por não se implementar, na prática, o acordo de 1931, a ABL, em sessão
de 12/8/1943, por votação unânime, aprovou as instruções para a
organização do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (o que se
denominou Formulário Ortográfico). Mais uma vez sem o rigor técnico
do que juridicamente se tem como delegação legal, a ata da respectiva
reunião registrava que esse regramento se fazia “consoante a sugestão do
Sr. Ministro da Educação”.
7. E mais: confirmando esse aspecto de delegação efetiva, mesmo sem o
rigor técnico do vocábulo, a introdução do Pequeno Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa de 1943 assim registrava: “A
Academia Brasileira de Letras recebeu de Sua Excelência o Senhor
Presidente da República a incumbência de elaborar o vocabulário
ortográfico de que tratam os decretos-leis 292, de 23 de fevereiro de
1938, e 5.186, de 13 de janeiro de 1943”.
8. Dois anos depois, ante as divergências dos vocabulários publicados por
ambas as academias, em evidente demonstração da pobreza dos
resultados práticos do acordo de 1943, realizou-se, em 1945, em Lisboa,
novo encontro entre representantes das duas agremiações, o qual
conduziu à chamada Convenção Ortográfica Luso-Brasileira de 1945.
Mais uma vez, contudo, esse acordo não produziu os almejados efeitos,
sendo adotado em Portugal, mas não no Brasil, por ser tido aqui como
inaceitável, porquanto se conservavam consoantes mudas e não
articuladas, já abolidas em nosso país, além de haver radicalismo na
questão da acentuação de certas proparoxítonas (como acadêmico,
gênero e tônico), sobre as quais os portugueses queriam pôr acento
agudo, e não circunflexo.
9. Mais de vinte anos depois, veio a Lei 5.765, de 18/12/1971 (em
Portugal, a lei respectiva foi promulgada em 1973), a qual nada mais fez
do que sacramentar um parecer conjunto da ABL e da Academia de
Ciências de Lisboa sobre as alterações na ortografia da língua
portuguesa. E, no art. 2º dessa lei, constou o registro claro da delegação
à ABL para a incumbência: “a Academia Brasileira de Letras
promoverá, dentro do prazo de dois anos, a atualização do Vocabulário
Comum, a organização do Vocabulário Onomástico e a republicação do
Pequeno Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa nos termos da
presente lei”.
10. Ao depois, porque, apesar dessas iniciativas louváveis, continuavam a
persistir divergências sérias entre os dois sistemas ortográficos, as duas
academias elaboraram em 1975 um novo projeto de acordo, que não foi
levado adiante por razões de ordem política.
11. Por isso, em maio de 1986, houve um novo encontro no Rio de Janeiro,
e nele, pela primeira vez na história da língua portuguesa, se
encontraram representantes não apenas de Portugal e Brasil, mas
também dos novos países africanos lusófonos emergidos da
descolonização portuguesa (só Guiné-Bissau não veio, e o Timor Leste
ainda não era independente). A tentativa de acordo foi abandonada,
porque as propostas foram tidas como drásticas (em um dos itens,
pretendia-se, simplesmente, suprimir o acento em todas as palavras
paroxítonas e proparoxítonas).
12. Anos depois, em 1990, os países lusófonos, em inteligente atitude de
concessões mútuas e de abrangência para aceitar diversidades práticas,
firmaram o chamado Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, e nele,
para o que aqui interessa, alguns aspectos importantes podem ser
observados: a) o Brasil se fez representar, naquela oportunidade, por
seu próprio Ministro da Educação; b) o projeto de texto de ortografia
unificada, pelo lado brasileiro, fora elaborado pela ABL; c) por ser
menos radical que o anterior, o acordo acabou sendo frutífero; d) os
signatários deveriam torná-lo lei em seus respectivos países; e) a
Academia de Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras
seriam as responsáveis pela publicação de um vocabulário ortográfico
comum.
13. Para implementar o referido Acordo Ortográfico, editaram-se, aqui no
Brasil, os Decretos federais 6.583, 6.584 e 6.585, todos de 29/9/2008, e
se aprovou o Protocolo Modificativo ao mencionado acordo, tendo o
art. 2º deste último a seguinte redação: “Os Estados signatários
tomarão, através das instituições e órgãos competentes, as providências
necessárias com vista à elaboração de um vocabulário ortográfico
comum da língua portuguesa, tão completo quanto desejável e tão
normalizador quanto possível, no que se refere às terminologias
científicas e técnicas”.
14. Uma síntese cronológica dessa exposição demonstra que a ABL
sempre foi e continua sendo a instituição incumbida de autoridade
oficial pelo Poder Público brasileiro para organizar, gerir e ditar as
regras sobre ortografia: a) assim, para as normas do Formulário
Ortográfico de 1943, “a Academia Brasileira de Letras recebeu de Sua
Excelência o Senhor Presidente da República a incumbência de
elaborar o vocabulário ortográfico de que tratam os decretos-leis 292,
de 23 de fevereiro de 1938, e 5.186, de 13 de janeiro de 1943”; b)
quando veio a lume a Lei 5.765, de 18/12/1971, que nada mais fez do
que sacramentar um parecer conjunto da ABL e da Academia de
Ciências de Lisboa sobre as alterações na ortografia da língua
portuguesa, seu art. 2º também outorgava delegação clara à ABL sobre
o assunto: “a Academia Brasileira de Letras promoverá, dentro do
prazo de dois anos, a atualização do Vocabulário Comum, a
organização do Vocabulário Onomástico e a republicação do Pequeno
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa nos termos da presente
lei”; c) pelo Acordo de 1990, assinado pelo próprio Ministro da
Educação brasileiro, a Academia de Ciências de Lisboa e a Academia
Brasileira de Letras seriam as responsáveis pela publicação de um
vocabulário ortográfico comum; d) quando da edição dos Decretos
federais 6.583, 6.584 e 6.585, todos de 29/9/2008, com o que se
aprovou o Protocolo Modificativo ao Acordo Ortográfico de 2008, o
art. 2º deste último determinava que os Estados signatários tomariam as
providências necessárias à elaboração de um vocabulário ortográfico
comum da língua portuguesa por intermédio das instituições e órgãos
competentes, o que, no que tange ao Brasil, significa que as
providências a tanto necessárias seriam tomadas pela Academia
Brasileira de Letras; e) assim, na prática e em resumo, ainda que se
entenda, em interpretação restritiva, que a Lei Eduardo Ramos, de
1900, não outorgava delegação legal à ABL, o certo é que tal
incumbência para ditar oficialmente regras sobre ortografia lhe foi
concedida por leis posteriores, e a referida entidade continua detendo,
nos dias de hoje, essa autoridade oficial por delegação do Poder
Público; f) porque a ABL detém delegação legal para ditar normas de
ortografia e porque ela exerce tal autoridade por via do VOLP, a grafia
neste constante é lei e a ela devemos prestar obediência, ainda que com
ela não concordemos pelas mais diversas razões, inclusive de ordem
científica, como, às vezes, acontece com outras leis, às quais, todavia,
continuamos a obedecer.

Academia ou Acadimia?
1. Uma leitora pergunta se, quanto à pronúncia, o correto é academia ou
acadimia.
2. Fixa-se uma primeira regra: a Academia Brasileira de Letras detém a
autoridade para definir qual a escrita correta dos vocábulos pertencentes
ao idioma pátrio. E ela exerce sua autoridade por via da edição do
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa. Nesse ponto, não parece
haver dúvida quanto à extensão do que assim se determina.
3. E se aponta uma segunda regra, segundo a qual também assiste à ABL
estabelecer os aspectos adicionais referentes aos vocábulos pertencentes
ao nosso léxico: pronúncia, categoria gramatical (substantivo, adjetivo,
verbo…), gênero (masculino ou feminino), número (singular ou plural).
4. De modo específico no que concerne à correta articulação das palavras,
entretanto, a indicação vem depois dos respectivos vocábulos, mas
apenas naqueles casos em que possa haver reais dúvidas: adrede (ê),
ileso (ê ou é), obeso (ê ou é), socorros (ó).
5. Não se deve confundir, entretanto, essa questão de erros de pronúncia
(como nos casos apontados, em que é obrigatório seguir o quanto
definido pela ABL por via do VOLP) com a diversidade de enunciação
de determinados sons pelos rincões de toda a extensão territorial do País
(e nisso não há erro algum).
6. Vejam-se alguns exemplos dessa diversidade de pronúncia de certos sons
pelo extenso território nacional, o que não constitui erro algum de
pronúncia ou de Gramática, mas apenas avulta a existência de
peculiaridades locais ou regionais: a) a porta do interior do Estado de
São Paulo não é a mesma porta do carioca; b) o leite quente do paulista
não terá a mesma pronúncia do leite quente do gaúcho; c) a titia do
interiorano de São Paulo não será a mesma titia do paranaense
tradicional; d) a academia pronunciada por um sulista há de virar
acadimia na boca de um célebre maranhense; e) na boca do mesmo
maranhense, poder viraria pudêr.

Acamar
1. Por um lado, é certo que Ronaldo Caldeira Xavier (1991, p. 89), ao
inserir a expressão guardar o leito no rol dos galicismos sintáticos,
aconselha sua substituição por acamar, estar de cama.
2. Edmundo Dantès Nascimento (1982, p. 24), por outro lado, observa que
“acamar significa dispor em camadas” e que a expressão correta, para
aquilo que normalmente se pretende dizer, é estar enfermo, estar de
cama.
3. Apesar da referida lição, o certo é que nossos dicionaristas registram tal
verbo com ambas as acepções, como se pode ver, por exemplo, em
Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (s/d, p. 16).
Ver Guardar o leito – Galicismo? (P. 380)

Ação
Ver Contra ou a favor (P. 228).

Ação contra
Ver Contra ou a favor (P. 228).
Ação em face de
Ver Contra ou a favor (P. 228).

Ação fiscalizadora ou Ação fiscalizatória?


1. Um leitor indaga qual das expressões é correta, já que ambas são
largamente utilizadas no meio jurídico: ação fiscalizadora ou ação
fiscalizatória?
2. Ora, da comparação entre as duas expressões, vê-se que, em suma, o que
o leitor quer saber é qual dos adjetivos existe e está correto em
português: fiscalizador ou fiscalizatório.
3. E, quando se quer saber se uma palavra existe ou não em português,
deve-se tomar por premissa o fato de que a autoridade para listar
oficialmente os vocábulos pertencentes ao nosso idioma é a Academia
Brasileira de Letras.
4. E essa autoridade, a ABL a exerce por via da edição do Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa.
5. Uma simples consulta ao VOLP, contudo, mostra que nele se registra o
adjetivo fiscalizador, mas não fiscalizatório (1999, p. 374).
6. A forçosa conclusão, assim, é que fiscalizatório não existe em nosso
léxico, e seu emprego não está autorizado, e isso porque empregar um
vocábulo inexistente não constitui alternativa válida, que esteja ao
alcance do usuário do idioma.
7. Parece oportuno observar que, sobretudo nos meios jurídicos e forenses,
há uma equivocada tendência de alguns, com pretensão de uma jamais
alcançada erudição, para empregar vocábulos arrevesados e barrocos,
muitas vezes inexistentes, como esse que agora é trazido para análise.
8. O máximo que conseguem, todavia, é um texto de difícil leitura e
compreensão, muito distante do ideal que só a simplicidade consegue
alcançar. E isso além de uma forma incorreta de expressão.

A capela ou À capela?
1. Um leitor pergunta se o correto é escrever “Cantar o hino a capela” ou
“Cantar o hino à capela”.
2. Esclareça-se, de início, que, com a mencionada expressão, quer-se dizer
daqueles cantos em coro, que são executados sem acompanhamento
algum de instrumentos musicais.
3. Ao depois, num primeiro aspecto, importa anotar que o Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, veículo pelo qual a Academia
Brasileira de Letras exerce sua função de listar oficialmente as palavras
que integram nosso idioma, registra, de modo expresso e taxativo, o
vocábulo capela e lhe confere a condição de substantivo feminino
(VOLP, 1999, p. 156).
4. Como, todavia, seguindo o que é usual, não se fixa ali o respectivo
significado, não há certeza se o registro feito se refere à palavra no
sentido da dúvida ora apreciada, ou se capela apenas fica com o
significado de pequena igreja de um só altar.
5. Mas não é só: nesse panorama, a dúvida se torna ainda mais pertinente,
porque nossos dois mais importantes dicionaristas da atualidade se põem
em divergência quanto ao assunto.
6. Assim, Antônio Houaiss não considera o vocábulo já aportuguesado e,
por isso, confere à locução a grafia italiana, tal como é escrita na língua
de origem: a capella (2001, p. 42).
7. Já Aurélio Buarque de Holanda Ferreira aportuguesa a expressão e a
torna parte integrante do vernáculo, escrevendo-a a capela (2010, p.
418).
8. Com essas ponderações, parece possível e oportuno extrair as seguintes
ilações: a) a ABL, que tem autoridade para resolver a questão por meio
do VOLP, deixou-a sem definição, contrariando posição dela própria em
diversos outros vocábulos; b) e, nesse ponto, espera-se da Academia
uma melhor definição sobre a matéria em uma próxima edição do
VOLP; c) ante essa indefinição do órgão oficialmente incumbido, é
possível aceitar as duas posições, tanto a do aportuguesamento da
expressão, como a da sua manutenção no idioma de origem; d) assim,
em primeira possibilidade, pode-se considerar a expressão ainda
estrangeira e não integrada ao vernáculo; e) nesse caso, deve ela ser
escrita como na língua de origem (a capella); f) e, como expressão não
integrante do português, deve ser grafada em itálico, ou negrito, ou entre
aspas, ou sublinhada, para destacá-la das demais que integram nosso
idioma; g) também pela indefinição do órgão oficialmente incumbido de
solucionar a questão, é defensável seu emprego na forma já
aportuguesada; h) nesse caso, porém, contrariamente ao dicionarista que
defende essa posição, deve haver o sinal indicativo da crase no a (à
capela); i) e isso porque o sinal indicativo da crase é obrigatório em toda
locução adverbial formada por palavra do feminino (exatamente o caso
apreciado).
9. De modo prático e direto para a indagação do leitor: ante as
circunstâncias já explicitadas na fundamentação, admitem-se as grafias a
capella e à capela, mas não a capela.

Acareação
1. Trata-se da confrontação entre acusado e testemunhas, entre
testemunhas, entre acusado ou testemunha e a pessoa ofendida, ou entre
pessoas ofendidas, sempre que divergirem, em suas declarações, sobre
fatos ou circunstâncias relevantes (SIDOU, 1990, p. 17).
2. Quanto à regência de tal vocábulo, Francisco Fernandes vê a
possibilidade de ser construído com uma de três preposições: com, de e
entre. Exs.: a) “Teresinha fez um movimento para evitar a acareação
com os soldados”; b) “O tribunal julgou necessária a acareação de
algumas testemunhas” (Caldas Aulete); c) “O juiz procederá à
acareação das testemunhas entre si…” (1969, p. 8).
3. Celso Pedro Luft (1999, p. 26), que lhe dá por sinônimo menos usado
acareamento, também vê a possibilidade de emprego das três citadas
preposições: com, de e entre.
4. Vejam-se alguns exemplos de emprego do mencionado vocábulo em
nossas leis: a) “O juiz pode ordenar, de ofício ou a requerimento da
parte: … II – a acareação de duas ou mais testemunhas ou de alguma
delas com a parte, quando, sobre fato determinado, que possa influir na
decisão da causa, divergirem as suas declarações” (CPC/1973, art. 418,
II); b) “Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a
autoridade policial deverá: … VI – proceder a reconhecimento de
pessoas e coisas e a acareações” (CPP, art. 6º, VI); c) “Aplica-se o
disposto nos §§ 2º, 3º, 4º e 5º deste artigo, no que couber, à realização
de outros atos processuais que dependam da participação de pessoa que
esteja presa, como acareação, reconhecimento de pessoas e coisas, e
inquirição de testemunha ou tomada de declarações do ofendido” (CPP,
art. 185, § 8º).

A catorze de julho ou Em catorze de julho?


1. Na lição de Napoleão Mendes de Almeida, em nossos dias, diz-se, com
naturalidade, “em julho” e “em 1789”, e se pergunta “em que dia?”, de
modo que, para tal autor, não se fala “a julho”, nem “a 1789”, e não se
pergunta “a que dia?”. Por esses motivos, para ele, haver-se-á de dizer
em catorze de julho, e não a catorze de julho (ALMEIDA, 1981, p. 1).
2. Em sentido oposto, alinhando exemplo de Camilo Castelo Branco,
assegura Vitório Bergo que a cinco de maio se trata de “legítima
expressão portuguesa, equivalente a no dia cinco” (1944, p. 29).
3. Eduardo Carlos Pereira (1924, p. 311), de igual modo, sem proceder a
qualquer distinção, exemplifica com “aos vinte de janeiro”. Esse mesmo
autor acrescenta, em lição apropriada para os meios jurídicos, que “na
linguagem forense se diz: Aos 24 dias do mês de abril” (PEREIRA,
1924, p. 232).
4. Júlio Ribeiro, por seu lado, não apenas admite, e em mais de uma
passagem, o uso da preposição a em tais casos, mas chega a preconizar a
omissão do artigo (a 14 de março, a 18 de maio, a 2 de maio, a 4 de
janeiro), acrescentando que, “quando se põe clara a palavra dias, também
se usa do artigo: Aos doze dias do mês de janeiro” (1908, p. 240, 248 e
304).
5. Lembra Alfredo Gomes, sem condenação alguma e com aprovação
implícita, ser “conhecida a ‘fórmula própria de autos e processos
judiciários e outros’: aos dez dias do mês de abril do ano…” (1924, p.
355-356).
6. Partindo de dois exemplos – “Fernando Pessoa nasceu a 13 de junho de
1888” e “Fernando Pessoa nasceu em 13 de junho de 1888” – observa
Arnaldo Niskier, sem quaisquer comentários adicionais, que “as duas
construções estão corretas”.
7. E acrescenta também como possíveis duas outras: a) “… nasceu no dia
13 de junho”; b) “… nasceu aos 13 dias do mês de junho” (NISKIER,
1992, p. 4).
8. Ante as divergências entre os gramáticos, pelo vetusto princípio de que,
na dúvida, há liberdade para o usuário, o melhor é ter como corretas
todas as seguintes expressões: a) “Nasceu em 4 de julho”; b) “Nasceu a 4
de julho”; c) “Nasceu no dia 4 de julho”; d) “Nasceu aos 4 de julho”; e)
“Nasceu aos 4 dias do mês de julho”.

Aceite, Aceitado ou Aceito?


1. Antonio Henriques e Maria Margarida de Andrade ensinam que “o
particípio passado de aceitar é aceitado, aceito, aceite, este em vigor na
linguagem comercial com o sentido de ‘ato pelo qual uma pessoa se
vincula à obrigação cambial, apondo sua assinatura ao título contra ele
sacado’” (1999, p. 31).
2. Em obra que escreveu solitariamente, Antonio Henriques volta a
apresentar aceite como forma de particípio passado de aceitar, “variante
da forma irregular aceito” (1999, p. 5).
3. Heráclito Graça (1904, p. 176) também anota a concomitante existência
e o facultativo emprego dos dois particípios irregulares: aceito e aceite.
4. Vitório Bergo (1943, p. 181) também é daqueles que inserem aceitar
entre os verbos com três particípios passados: aceitado, aceito e aceite.
5. Já para Edmundo Dantès Nascimento (1982, p. 105), o particípio
passado aceite, de uso corrente na linguagem forense, não é forma
correta, mas apenas representa criação popular.
6. Também nos dizeres de Cândido de Figueiredo (1941, p. 133), quanto ao
uso de aceite “como particípio, tem-se usado, mas eu não o aceito”,
complementando tal mestre: “para mim, e também para os mestres
incontestáveis, o particípio irregular de aceitar é aceito”.
7. Contrapondo-se à lição de Cândido de Figueiredo de que aceite não seria
adjetivo ou particípio passado irregular do verbo aceitar, mas um
substantivo, significando o ato de aceitar uma letra de câmbio, Heráclito
Graça é explícito para observar que há diversos escritores dignos de nota
que adotam, escrevem e justificam aceite como adjetivo particípio,
equivalente a aceito e aceitado. Exs.: a) “Emprega-se também a forma
‘aceite’ por ‘aceito’” (Adolfo Coelho); b) “… um sábio em toda a
Europa aceite e lido” (Filinto); c) “D. Luís, aos 23 anos, foi aceite
cavaleiro da ordem de Malta” (Camilo Castelo Branco); d) “Assente e
aceite este grande ultimatum da política portuguesa, que mais há que
fazer?” (Almeida Garrett).
8. E conclui o mencionado gramático: “Não é de admirar e nem para
censurar que exista e seja usada pelos doutos a forma aceite, ao mesmo
passo que a forma aceitado e aceito” (GRAÇA, 1904, p. 11-3).
9. Defendendo-lhe a correção e a vernaculidade, anota Vasco Botelho de
Amaral que “qualquer que seja o emprego que definitivamente venha a
ter no idioma este particípio, coisa certa é que ele já não sai, por vários
motivos e principalmente pela analogia formal que apresenta em relação
a assente, entregue, fixe, etc.” (1939, p. 11).
10. Ante a divergência entre os gramáticos, há de vigorar a amplitude de
possibilidade de seu uso e a consequente aceitação de aceite em tais
circunstâncias, até por aplicação do princípio de que, na dúvida, haverá
liberdade de uso.

Acento diferencial
Ver Acento diferencial de número (P. 65), Acento diferencial de timbre (P.
66) e Acento diferencial de tonicidade (P. 66).

Acento diferencial de número


1. A Lei 5.765, de 18/12/71, entre as alterações a que procedeu nas regras
de nossa ortografia, eliminou o acento diferencial de timbre, que existia
sobre o e e sobre o o das palavras de som fechado (o começo [ê] e o
almoço [ô]), para distingui-las daquelas de som aberto (eu começo [é] e
eu almoço [ó]), perdurando tão somente a exceção pôde (pretérito
perfeito do indicativo do verbo poder) para não ser confundida com a
forma pode (presente do indicativo do verbo poder).
2. Ora, tendo a lei abolido apenas o acento diferencial de timbre, haverão
de perdurar outros acentos diferenciais não taxativamente eliminados,
em virtude do critério da especialidade a ser observado pelos princípios
de hermenêutica aplicáveis. Em verdade, se foi eliminado um caso em
especial, perduram vigendo os demais, que não foram especificamente
abolidos.
3. Em decorrência de tais premissas, o acento diferencial de número há de
continuar existindo na terceira pessoa do plural do presente do indicativo
dos verbos ter, vir e seus compostos, para distinguir tais formas de cada
respectiva terceira pessoa do singular: ele tem, eles têm, ele mantém, eles
mantêm, ele vem, eles vêm, ele reconvém, eles reconvêm.
4. Em segunda conclusão, o acento diferencial de tonicidade, que distingue
o verbo pôr da preposição por também há de continuar existindo por
idêntico motivo.
Ver Acento diferencial de timbre (P. 66) e Acento diferencial de
tonicidade (P. 66).

Acento diferencial de timbre


1. Na primeira metade do século XX, entendeu-se de regulamentar de
modo adequado a acentuação dos vocábulos, advindo daí a regra de usar
o acento diferencial de timbre.
2. Fixou-se, assim, a regra segundo a qual, de duas homógrafas (palavras
escritas de modo igual), haver-se-ia de acentuar o e ou o o daquela que
tivesse o timbre fechado: o comêço, para diferenciar de eu começo; o
almôço, para distinguir de eu almoço.
3. No entender de Júlio Nogueira, “esse desejo de distinguir pelo acento foi
levado ao exagero, exigido, às vezes, por palavras antiquadas,
desconhecidas, regionalismos de pronúncia e até arcaísmos. Tais são os
casos de tôda, fêz, fôr, aquêle(s), nêle(s), sêres, agôsto, vêzes, pêra, etc.”
(1959, p. 130).
4. Pela Lei 5.765, de 18/12/71, que alterou algumas regras de nossa
ortografia, buscou-se uma simplificação nesse campo, motivo por que
não mais se acentuam esse e e esse o das palavras de timbre fechado,
para diferenciá-las dos vocábulos que apresentavam fonemas de timbre
aberto, mantendo-se, pela própria dicção da lei, apenas a exceção pôde
(pretérito perfeito do indicativo), para diferenciar de pode (presente do
indicativo). Exs.: o almoço, eu almoço, o começo, eu começo, deste (de
+ este), deste (verbo dar).
5. Além de manter a situação nos mesmos moldes da Lei 5.765/71, o
Acordo Ortográfico de 2008 passou a contemplar, adicionalmente,
outros casos, em que o acento, contudo, não é obrigatório: “Assinalam-
se com acento circunflexo: (…) Facultativamente, dêmos (1ª pessoa do
plural do presente do conjuntivo), para se distinguir da correspondente
forma do pretérito perfeito do indicativo (demos); fôrma (substantivo),
distinta de forma (substantivo; 3ª pessoa do singular do presente do
indicativo ou 2ª pessoa do singular do imperativo do verbo formar).
6. Em observação importante, sob um outro prisma, para Amini Boainain
Hauy, a Lei 5.765/71, ao abolir o acento circunflexo diferencial “na letra
e e na letra o”, evidenciou um dos “sérios descuidos dos estudiosos da
língua pátria”, já que “os fonemas vocálicos é que se classificam, quanto
ao timbre, em abertos e fechados, não as letras”, sendo essa uma das
“noções elementares no estudo da Fonética” (1983, p. 3).
Ver Acento diferencial de número (P. 65) e Acento diferencial de
tonicidade (P. 66).

Acento diferencial de tonicidade


1. Se analisados com atenção os vocábulos a seguir, ver-se-á que o
primeiro de cada par deles é tônico (pronunciado com força), enquanto o
segundo não tem força própria, mas se ampara, em termos fonéticos, na
força de pronúncia de outro vocábulo na frase: pôr (verbo) e por
(preposição); para (verbo) e para (preposição); pelo ([ê] substantivo) ou
pelo ([é] verbo) e pelo (per + lo); pela ([é] substantivo ou verbo) e pela
(per + la); pera ([ê] substantivo) ou pera ([é] substantivo) e pera (per + a
– arcaico); polo ([ô] substantivo) ou polo ([ó] substantivo) e polo (por +
lo – arcaico). Observem-se os seguintes exemplos para melhor
entendimento prático: a) “É preciso pôr os pingos nos is” (tônico); b) “O
trabalho foi feito por mim” (átono); c) “De repente, o policial para o
trânsito” (tônico); d) “Vou para São Paulo” (átono); e) “O pelo
salientava-se na ponta do nariz” (tônico); f) “O trabalho foi feito pelo
aluno” (átono).
2. A lição anterior ao Acordo Ortográfico de 2008 sobre o assunto era que,
quando houvesse dois vocábulos em tais circunstâncias (um tônico e
outro átono), acentuava-se graficamente aquele que fosse tônico. Poder-
se-ia dizer que esse era um acento diferencial de tonicidade. Assim: pôr
(verbo) e por (preposição); pára (verbo) e para (preposição); pêlo
(substantivo) ou pélo (verbo) e pelo (per + lo); péla (substantivo ou
verbo) e pela (per + la); pêra (substantivo) ou péra (substantivo) e pera
(per + a – arcaico); pôlo (substantivo) ou pólo (substantivo) e polo (por
+ lo – arcaico).
3. Pois bem. Com o advento do Acordo Ortográfico de 2008, algumas
alterações foram introduzidas na grafia de tais vocábulos.
4. Pelo referido acordo, manteve-se expressamente esse acento apenas para
diferenciar pôr (verbo) e por (preposição). Exs.: a) “O trabalho foi feito
por ele” (preposição); b) “É preciso pôr os pingos nos is” (verbo).
5. Para eliminar qualquer possibilidade de dúvida, esse acento não se faz
presente nos compostos de pôr: antepor, apor, decompor, depor, impor,
justapor, recompor, transpor…
6. Além disso, pelo referido acordo, tal acento diferencial de tonicidade foi
abolido dos outros vocábulos acima referidos, de modo que sua atual
grafia é a seguinte: para (verbo) e para (preposição); pelo ([ê]
substantivo) ou pelo ([é] verbo) e pelo (per + lo); pela ([é] substantivo
ou verbo) e pela (per + la); pera ([ê] substantivo) ou pera ([é]
substantivo) e pera (per + a – arcaico); polo ([ô] substantivo) ou polo
([ó] substantivo) e polo (por + lo – arcaico).
Ver Acento diferencial de número (P. 65) e Acento diferencial de timbre
(P. 66).

Acento prosódico
Ver Acentuação gráfica (P. 67).

Acentos – Podem dois em mesma palavra?


1. Um leitor se surpreendeu com a existência de dois acentos agudos em
mesma palavra (salário-de-benefício), pois sempre aprendeu que não
pode haver mais de um acento gráfico em mesmo vocábulo. Por isso,
indaga qual a forma correta: salário-de-beneficio, salário-de-benefício
ou salário de benefício.
2. Independentemente de qualquer comentário sobre a correção do
emprego de hífen no vocábulo trazido para análise, já que esse não é o
fulcro da consulta, é preciso estabelecer uma premissa da mais elevada
importância para considerar a dúvida do leitor: a par da regra geral de
que não se empregam dois acentos gráficos em mesma palavra, também
existe uma outra, segundo a qual elementos unidos por hífen são
considerados vocábulos distintos e autônomos para efeito de acentuação
gráfica.
3. Com essa premissa, vê-se que é apenas aparente a dificuldade do leitor,
uma vez que, se, quando separados, os elementos de uma palavra têm
acento gráfico, continuam com ele após sua união por hífen.
4. Vejam-se alguns exemplos colhidos no dia a dia: açaí-do-pará,
encontrá-lo-ás, salário-família, salário-mínimo.
5. Aproveita-se a oportunidade para uma observação adicional referente a
outros exemplos, como ímã, órfã e órgão. Dois sinais gráficos estão aqui,
efetivamente, em mesma palavra. Ocorre, entretanto, que o til (~) não é
acento gráfico, e sim apenas um sinal diacrítico indicador de nasalização
do som. Desse modo, também aqui não existe contrariedade à regra
segundo a qual não se empregam dois acentos gráficos em uma mesma
palavra.

Acentuação de palavras unidas por hífen


Ver Puni-lo ou Puní-lo? Conclui-lo ou Concluí-lo? (P. 631)

Acentuação dos monossílabos


1. Como indica a própria etimologia, monossílabo é o vocábulo que tem
apenas uma sílaba: pá, pé, pó, tal, me, nos, vos.
2. Todavia, quando se diz “Eu vi o céu”, muito embora a frase se forme de
quatro monossílabos, o certo é que, quanto à pronúncia, o que se tem são
duas palavras – euvi e océu – nas quais as sílabas tônicas são,
respectivamente, vi e céu.
3. Isso se dá, porque alguns vocábulos monossílabos não têm força própria
e são pronunciados de modo fraco – são átonos (eu e o) –, motivo por
que, quando articulados em seu som, penduram-se na pronúncia e na
força da sílaba forte de uma palavra tônica vizinha (vi e céu,
respectivamente).
4. Pela análise das regras de acentuação gráfica, desde logo se vê que não
se acentuam os monossílabos átonos, até porque só se acentuam
graficamente vogais tônicas, e nunca vogais átonas.
5. E, quanto aos monossílabos tônicos, apenas são graficamente acentuados
os que terminam por a(s), e(s), o(s), como, por exemplo, pá(s), pé(s),
pó(s).
6. Por conclusão extraída da própria regra, não são graficamente
acentuados os monossílabos tônicos que tenham qualquer outra
terminação, como, por exemplo, os que findam por i(s) ou por u(s),
como ti e tu, xis e pus.
7. Também não se acentuam os terminados por em ou ens: trem, bens.
8. Cuidado, entretanto, porque pode haver outras razões de acentuação
gráfica, como a dos ditongos, que determina a grafia de céu, réis e dói.
9. Atente-se também para a existência do acento diferencial de número
existente nos verbos ter e vir, na terceira pessoa do plural: ele tem, eles
têm, ele vem, eles vêm.
Ver Acentuação gráfica (P. 67), Paroxítonas – Quando acentuar? (P. 551),
Acento diferencial de número (P. 65) e Acento diferencial de timbre (P.
66).

Acentuação gráfica
1. Uma primeira regra que se pode estabelecer nesse assunto é lembrar a
lição de Luiz Antônio Sacconi no sentido de que “todas as palavras que
apresentam sílaba tônica possuem acento prosódico, que é o acento da
fala. Não se confunde com acento gráfico, que é o sinal usado para
indicar o acento prosódico. As únicas palavras em português que não
possuem acento prosódico são os monossílabos e dissílabos átonos”
(1979, p. 4).
2. Com fundamento em tal observação, anota-se, assim, que júri e juro, por
exemplo, têm ambas o acento prosódico, já que a penúltima sílaba de
cada uma delas é pronunciada com mais força (sílaba tônica); por
convenção que criou as regras de acentuação, todavia, apenas a primeira
das palavras tem acento gráfico.
3. Os acentos gráficos em português são o agudo (´), o grave (`) e o
circunflexo (^).
4. O acento grave, atualmente, serve apenas para indicar a ocorrência de
crase.
5. Veja-se também que o trema (¨) e o til (~), entre outros, não são
chamados acentos, mas sinais diacríticos.
6. A essa altura, importa fazer duas ponderações, frutos da oportuna
observação de Pasquale Cipro Neto e Ulisses Infante: a) em nosso
idioma, “a maioria das palavras não recebe acento gráfico”; b) “o
princípio que presidiu à elaboração das regras de acentuação do
português foi justamente o da economia, reservando os acentos gráficos
para as palavras minoritárias da língua”.
7. Em outra passagem, em levantamento feito em um texto que analisaram,
tais autores traçam o perfil básico da tonicidade das palavras da língua
portuguesa, exemplificando: “as proparoxítonas são pouco comuns, as
paroxítonas são maioria, e as oxítonas ocupam a vice-liderança”.
8. E continuam eles dizendo ser possível “observar que todas as
paroxítonas do texto terminam em a, e e o, e nenhuma recebe acento
gráfico”, o que prova “que as regras foram feitas para evitar a
acentuação das palavras mais comuns na língua”.
9. E conduzem o leitor à própria conclusão, ao asseverarem: “aliás, você
deve ter percebido que, das 106 palavras do texto, apenas oito recebem
algum tipo de acento, incluindo o til, e que só a palavra você apareceu
quatro vezes” (CIPRO NETO; INFANTE, 1999, p. 49 e 54).
10. As regras específicas sobre o emprego dos acentos gráficos estão
espalhadas por verbetes específicos: acento diferencial, acento
diferencial de número, acento diferencial de timbre, acentuação dos
monossílabos, acentuação gráfica das maiúsculas, ditongo, hiato,
monossílabos tônicos e átonos, oxítona, paroxítona, proparoxítona.
Ver também Acentuação gráfica das maiúsculas (P. 68) e Paroxítonas –
Quando acentuar? (P. 551)
Acentuação gráfica das maiúsculas
1. Interessante e oportuna observação faz Antonio Henriques (1999, p. 6),
de grande valia para todos, mas que deveria ter maior penetração
sobretudo nos meios publicitários e na imprensa: “há de se lembrar que
as letras maiúsculas também são acentuadas”: JOSÉ, AUTÓDROMO.
2. E não escapa a tal regra a letra, quando se trata da primeira da palavra,
mesmo que as demais sejam grafadas com minúsculas: Átila, Édson.
Ver Acentuação gráfica (P. 67).

Acerca de, Há cerca de ou Cerca de?


1. Acerca de (com o a inicial ligado) significa sobre, a respeito de. Ex.: a)
“O juiz inquiriu o réu acerca dos objetos furtados”; b) “Antes de se
pronunciar acerca da interdição, examinará pessoalmente o juiz o
arguido de incapacidade, ouvindo profissionais” (CC, art. 450).
2. Não se confunda com sua expressão parônima a cerca de (com o a
inicial separado), que quer dizer perto de, próximo de,
aproximadamente. Ex.: “Os processos em atraso foram distribuídos a
cerca de vinte juízes auxiliares para sentença”.
3. Também se diferencie de sua outra expressão parônima há cerca de,
indicadora de tempo passado, querendo dizer faz mais ou menos. Exs.: a)
“Mudei-me para cá há cerca de dez anos”; b) “Há cerca de dois meses,
o agravo foi interposto”.
4. Sintetizando a solução para todos os casos parecidos, assim se expressa
Arnaldo Niskier: “Acerca de corresponde a sobre; (a) cerca de, a
aproximadamente; há cerca de, a faz aproximadamente” (1992, p. 7).
5. Atento aos cochilos de Gramática cometidos nos livros, nos jornais e nas
revistas, aponta Josué Machado (1994, p. 11) o indevido emprego da
referida expressão no começo da resenha de um livro: “A cerca de dois
mil e setecentos anos…” (quando o correto haveria de ser “Há cerca
de…”).
6. Equívoco de confusão entre tais expressões também se encontra em
publicação feita pela internet pelo Superior Tribunal de Justiça no caso
do Resp 230991/SP, julgado em 3/2/2000, com os seguintes dizeres: “Na
hipótese, apesar de o acórdão hostilizado haver reconhecido a união
estável e a sociedade de fato do casal, entendeu que a recorrente não
possuía direito à meação do imóvel constrito, uma vez que fora
adquirido em período que se teve como início da união estável, ocorrida
acerca de 14 anos”. Corrija-se “… há cerca de 14 anos…”
7. Oportuno, para registro, é salientar que Adalberto J. Kaspary (1996, p.
32) traz à baila interessante observação do dicionarista Caldas Aulete,
fazendo diferenciação de sentido entre acerca de e sobre: “Falar acerca
de um assunto, falar sobre um assunto (a primeira expressão é aplicável
quando se trata a fundo; e a segunda, perfuntoriamente, em roda, sem
entrar em desenvolvimentos)”. Não parece haver, todavia, tal distinção
no linguajar atual.
8. Também é oportuno anotar quanto a concordância verbal, que “o verbo
ser, quando seguido das expressões perto de, cerca de e um numeral,
poderá ficar no singular ou no plural” (TORRES, 1966, p. 150). Exs.: a)
“Era perto de nove horas” (Machado de Assis); b) “Eram perto das duas
horas” (Alexandre Herculano); c) “Era cerca de quatro horas”; d)
“Eram cerca de quatro horas” (José de Alencar).

Acerto ou Asserto?
1. Acerto é, em suma, o antônimo de erro, de equívoco. Ex.: “Procurava o
advogado demonstrar o acerto de sua afirmação em prol do
constituinte”.
2. Já sua parônima asserto significa proposição afirmativa, asserção,
assertiva, e sua sílaba tônica também tem pronúncia fechada (ê). Ex.:
“De acordo com o asserto daquele autor, o interesse processual se forma
de dois elementos: necessidade e adequação.”

Acho
Ver Primeira pessoa do plural (P. 600).

Aconselhar
1. É verbo de comportamento peculiar quanto à regência verbal.
2. Com ele, tanto a coisa quanto a pessoa podem ser, indiferentemente,
objeto direto ou objeto indireto.
3. Assim, são corretas as duas construções seguintes: a) “Aconselharam ao
magistrado maior cautela em sua conduta”; b) “Aconselharam o
magistrado da cautela necessária”.
4. Para Artur de Almeida Torres, assim se resume a lição: “na forma
bitransitiva admite, indiferentemente, acusativo (objeto direto) de coisa e
dativo (objeto indireto) de pessoa ou dativo de coisa e acusativo de
pessoa” (1967, p. 28).
5. O que, entretanto, não se admite é a coexistência de dois objetos diretos
ou dois objetos indiretos em mesma oração (ou seja: a pessoa e a coisa
não podem ser objetos diretos, assim como não podem ser objetos
indiretos em mesma oração). Não são corretas, assim, as seguintes
estruturas: a) “Aconselharam ao magistrado de maior cautela em sua
conduta”; b) “Aconselharam o magistrado maior cautela em sua
conduta”.
6. Nesse sentido é a lição de Domingos Paschoal Cegalla, que recomenda
evitar o cruzamento das duas regências permitidas; vale dizer, não se
devem usar, por exemplo, dois objetos indiretos simultaneamente, como
na seguinte frase por ele citada: “Os médicos lhe aconselharam a mudar
de ares” (1999, p. 8). Equivocado, também, será o emprego
concomitante de dois objetos diretos.
7. E especifica tal autor, em mesma obra e local, as duas regências “que
mais importa conhecer”: a) aconselhar alguém a fazer alguma coisa; b)
aconselhar alguma coisa a alguém. Exs.: i) “Aconselhei Andrião a que
não falasse muito” (Graciliano Ramos); ii) “Rompia em exclamações
contra a mulher que lhe aconselhara dar maior publicidade à sua
desonra” (Camilo Castelo Branco).
8. Também na lição de Antonio Henriques e Maria Margarida de Andrade
(1999, p. 89), há dupla construção possível: a) aconselhar alguém de
alguma coisa; b) aconselhar alguma coisa a alguém.
9. Quanto à preposição a ser usada em sua construção, lecionam Antonio
Henriques e Maria Margarida de Andrade que podem ser em, acerca de e
sobre, arrolando, em abono da segunda, exemplo do art. 135, IV, do
Código de Processo Civil: “Reputa-se fundada a suspeição de
parcialidade quando… aconselhar alguma das partes acerca do objeto
da causa…” (1999, p. 2).
10. Francisco Fernandes (1971, p. 48) também vê a possibilidade de
construção com para ou para que: “… aconselhando-o para que se
dirigisse a Pedro” (Alexandre Herculano).
11. Tal transformação do a em para, nos dizeres de Celso Pedro Luft
(1999, p. 32), resulta da conotação final que o contexto adquire.
12. Seguem a mesma estrutura e construção os verbos avisar, certificar,
informar e prevenir.
13. Vale a pena observar, todavia, a lição de Mário Barreto (1954b, p. 177)
no sentido de que possível uma terceira construção com o verbo
aconselhar, a saber, aquela “em que se omite a preposição, e se usa o
acusativo da pessoa” (isto é, deixa-se de usar a preposição também
com a pessoa), isso, normalmente, quando se tem uma oração
subordinada que deveria vir precedida de preposição, mas esta, por
questão de mero estilo, não de regência, é omitida. De tal emprego traz
o referido autor exemplos de autores insuspeitos: a) “Não faltou quem
o aconselhasse que se valesse do Santo” (Frei Luís de Sousa); b)
“Aconselharam-no que intentasse ação judiciária contra os sócios”
(Camilo Castelo Branco).
14. Esse também é o lembrete de Francisco Fernandes, para quando se
omite a preposição e se usa a pessoa como objeto direto:
“Aconselharam-no que ao menos com os grandes se mostrasse mais
tratável” (1971, p. 48).
15. Vejam-se alguns casos de emprego do verbo estudado em dispositivos
de nossa legislação: a) “A requerimento de qualquer interessado e se
graves razões o aconselharem, pode o juiz determinar a divisão da
coisa comum antes do prazo” (CC, art. 1.320, § 3º); b) “No caso de
execução pelas dívidas referidas neste artigo, o saldo existente será
aplicado em outro prédio, como bem de família, ou em títulos da dívida
pública, para sustento familiar, salvo se motivos relevantes
aconselharem outra solução, a critério do juiz” (CC, art. 1.715,
parágrafo único); c) “Reputa-se fundada a suspeição de parcialidade
do juiz, quando: … IV – receber dádivas antes ou depois de iniciado o
processo; aconselhar alguma das partes acerca do objeto da causa, ou
subministrar meios para atender às despesas do litígio” (CPC/1973,
art. 135, IV); d) “O juiz dar-se-á por suspeito, e, se não o fizer, poderá
ser recusado por qualquer das partes: … IV – se tiver aconselhado
qualquer das partes” (CPP, art. 254, IV); e) “São prerrogativas dos
vogais das Juntas, além das referidas no art. 665: … b) aconselhar às
partes a conciliação” (CLT, art. 667, “b”).

Acórdão: exarar, prolatar ou proferir?


Ver Exarar, prolatar ou proferir sentença? E acórdão? E despacho? (P.
340)

Acórdão ou Acordam?
1. O vocábulo acórdão constitui forma gráfica da substantivação de
acordam, que é a terceira pessoa do plural do presente do indicativo do
verbo acordar, que quer dizer resolver, estar de acordo. Ex.: “O acórdão,
de ofício, fez o réu responder por litigância de má-fé”.
2. Significa decisão proferida em grau de recurso por tribunal coletivo, e a
denominação deriva do fato de que as decisões desses órgãos colegiados,
em sua disposição final, vêm precedidas pela forma verbal acordam.
3. Como toda paroxítona terminada em ão ou com ditongo na última sílaba,
recebe acento gráfico no singular e no plural: acórdão e acórdãos.
4. Antonio Henriques (1999, p. 8-9) conceitua acórdão como “forma verbal
substantivada; trata-se da 3ª pessoa do plural (forma arcaica) do presente
do indicativo do verbo acordar (concordar), cujo significado é
‘julgamento feito pelos tribunais superiores’ (CPC/1973, art. 163, CPP,
arts. 556, 563, 564 e 619)”.
5. Oportuno é diferenciar o substantivo acórdão do verbo acordar na
terceira pessoa do plural do presente do indicativo (acordam), com a
especificação de que os verbos terminados em am são sempre
paroxítonos e se destinam a significar o presente ou o passado dos
verbos, enquanto os terminados em ão são oxítonos e indicam sempre o
futuro. Exs.: a) “O acórdão que decidir por maioria recurso de apelação
sujeita-se a embargos infringentes”; b) “Os integrantes da Turma
Julgadora acordam, nesta oportunidade, em dar pelo provimento do
recurso”; c) “Os integrantes da Turma Julgadora acordaram, na sessão
de ontem, em dar pelo provimento do recurso”; d) “Não se sabe se os
integrantes da Turma Julgadora acordarão, na sessão de amanhã, em
dar pelo provimento do recurso”.
6. Por fim quanto à grafia de sua inicial, veja-se que o inciso XVI, item 49,
do Formulário Ortográfico da Academia Brasileira de Letras – a qual,
nesse campo, age por delegação legal, em cumprimento à vetusta Lei
Eduardo Ramos, de n. 726, de 8/12/1900 – em observação aos § 12,
manda escrever, de modo expresso, com inicial maiúscula, “os nomes
que designam atos das autoridades da República quando empregados em
correspondências ou documentos oficiais”, os quais passa a
exemplificar: “a Lei de 13 de maio, o Decreto-lei 292, o Decreto 20.108,
a Portaria de 15 de junho, o Regulamento 737, o Acórdão de 3 de
agosto, etc.” Mas isso apenas quando se tratar de um acórdão específico
e individuado.
Ver Acórdão ou Aresto? (P. 70)

Acórdão ou Aresto?
1. Embora diversos escritores deem por sinônimas as palavras acórdão e
aresto, o certo é que Antonio Henriques as diferencia e dá a aresto o
conceito de “decisão judicial irreformável tomada pelos tribunais
superiores” (1999, p. 8-9), o que faz concluir que, enquanto passível de
reforma, a decisão colegiada seria acórdão, mas ainda não aresto.
2. Em mesma direção, Edmundo Dantès Nascimento (1982, p. 238)
observa que “tecnicamente não são sinônimos acórdão e aresto,
trazendo, em abono de sua tese, lição de Mendes Júnior: ‘Chamam-se
arestos as decisões judiciais não suscetíveis de reforma, proferidas em
forma de julgamento definitivo pelos tribunais superiores’”.
Ver Arresto ou Aresto? (P. 135)

Acórdão recorrido
Ver Acórdão ou Acordam? (P. 70) e Sentença recorrida – Está correto? (P.
690)

Acórdão trânsito ou transitado em julgado?


Ver Sentença trânsita ou transitada em julgado? (P. 690)

Acordo
1. Francisco Fernandes (1969, p. 13) vê diversas possibilidades de
construção com tal vocábulo: acerca de, com, em, entre, no tocante a,
sobre. Exs.: a) “… recomendei… que diligenciasse, com a maior
brevidade, chegar a acordo com os proprietários, acerca do preço por
que estivessem dispostos a cedê-los…” (Rui Barbosa); b) “Seria
aumentar consideravelmente os vocabulários, o que não está de acordo
com os princípios dominantes da linguagem” (Júlio Nogueira); c)
“Estávamos, portanto, de acordo nos princípios. Onde o não estávamos
era na aplicação” (Rui Barbosa); d) “Nogueira, moderado, desejava um
acordo entre vencedores e vencidos” (Graciliano Ramos); e) “Nem todos
os gramáticos estão de acordo no tocante aos preceitos que a regulam”
(Rui Barbosa); f) “Não existe ainda perfeito acordo entre os autores
sobre a maneira de nomear as ciências que têm seus domínios na
linguagem” (Júlio Nogueira).
2. Vejam-se alguns exemplos de emprego do vocábulo aqui estudado em
dispositivos de nossas leis: a) “Se o título deferir a opção a terceiro, e
este não quiser, ou não puder exercê-la, caberá ao juiz a escolha se não
houver acordo entre as partes” (CC, art. 252, § 4º); b) “Não haverá
compensação quando as partes, por mútuo acordo, a excluírem, ou no
caso de renúncia prévia de uma delas” (CC, art. 375); c) “Ainda que se
não alegue prejuízo, é obrigado o devedor aos juros da mora que se
contarão assim às dívidas em dinheiro, como às prestações de outra
natureza, uma vez que lhes esteja fixado o valor pecuniário por sentença
judicial, arbitramento, ou acordo entre as partes” (CC, art. 407); d) “As
sebes vivas, as árvores, ou plantas quaisquer, que servem de marco
divisório, só podem ser cortadas, ou arrancadas, de comum acordo
entre proprietários” (CC, art. 1.297, § 2º).
Ver Acordo amigável (P. 71).

Acordo amigável
1. Embora de uso frequente nos meios forenses, trata-se de tautologia, de
pleonasmo vicioso a ser evitado, e isso porque configura redundância de
termos, a qual não tem emprego legítimo, por não conferir mais vigor ou
clareza à expressão.
2. Para que se entenda adequadamente o problema, o acordo já traz em si a
ideia de combinação, de ajuste, de acomodação, de conciliação, ideia
essa que também não deixa de residir no vocábulo amigável.
3. E, se verdade é que nem sempre a parte consegue todo o seu intento num
acordo, nem por isso deixa de estar presente nele a ideia de prevenção ou
término de litígio “mediante concessões mútuas” (art. 840 do Código
Civil), o que pressupõe necessariamente ajuste, conciliação.
4. Diga-se, assim, simplesmente alcançar um acordo, e não alcançar um
acordo amigável.
5. Nesse equívoco incidem até mesmo dispositivos de lei, como é o caso do
art. 13, parágrafo único, da Lei 3.924, de 26/6/61, que trata das
desapropriações, ao determinar de modo literal: “À falta de acordo
amigável com o proprietário da área onde situar-se a jazida, será esta
declarada de utilidade pública e autorizada a sua ocupação pelo
período necessário à execução dos estudos…”
Ver Acordo (P. 70).

Acordo Ortográfico – Como citar leis antigas?


1. Um leitor indaga como deve citar leis antigas, agora que o Acordo
Ortográfico está em vigor de modo integral e exclusivo: pela grafia da
época em que foram editadas ou pelas novas diretrizes?
2. Fixe-se, como premissa, que, a contar de 1º/1/2016, somente passou a
ser correto escrever pelas regras determinadas pelo Acordo Ortográfico
de 2008.
3. E a dúvida do leitor diz respeito a saber como deve proceder para a
citação de leis antigas, que foram editadas quando o sistema ortográfico
era diverso daquele que vige na atualidade.
4. Ora, Luís Vaz de Camões escreveu, no original, os primeiros versos de
Os Lusíadas do seguinte modo: “As armas & os barões assinalados, /
Que da Occidental praya Lusitana…” Mas o sistema ortográfico atual
determina que se escreva do seguinte modo: “As armas e os barões
assinalados, / Que da ocidental praia lusitana…“E é desse modo que os
versos são hoje citados e que a referida obra é hoje publicada.
5. De mesmo modo se deve proceder com relação às leis, cuja grafia deve
seguir os padrões ortográficos atuais, quando diversos forem os da época
de sua edição.
6. Para ilustração, vejam-se alguns trechos do Código Comercial de 1850
em sua grafia original: a) “Podem commerciar no Brasil…” (art. 1º,
caput); b) “São prohibidos de commerciar…” (art. 2º, caput); c) “Na
prohibiçãoa do artigo antecedente não se comprehende a faculdade de
dar dinheiro a juro ou a premio, com tanto que as pessoas nelle
mencionadas não fação do exercicio desta faculdade profissão habitual
de commercio; nem a de ser accionista em qualquer companhia
mercantil, huma vez que não tomem parte na gerencia administrativa da
mesma companhia” (art. 3º).
7. E se atente à grafia atual, que deve ser observada nas citações dos
mesmos dispositivos nos dias de hoje: a) “Podem comerciar no
Brasil…” (art. 1º, caput); b) “São proibidos de comerciar…” (art. 2º,
caput); c) “Na proibição do artigo antecedente não se compreende a
faculdade de dar dinheiro a juro ou a prêmio, contanto que as pessoas
nele mencionadas não façam do exercício desta faculdade profissão
habitual de comércio; nem a de ser acionista em qualquer companhia
mercantil, uma vez que não tomem parte na gerência administrativa da
mesma companhia” (art. 3º).
8. Sintetiza-se, por fim, de modo específico para a indagação do leitor: as
leis antigas devem ser hoje citadas pela forma constante das diretrizes
ortográficas atualmente em vigor, e não pela grafia da época em que
foram editadas.

Acordo Ortográfico de 2008 – Mudanças na acentuação


1. Para fixar as mudanças na acentuação trazidas pelo Acordo Ortográfico
de 2008, sem pretensão de exaurir a matéria, passa-se a algumas
reflexões sobre as alterações havidas na acentuação gráfica (e se
aproveita para falar não apenas dos acentos – grave, agudo e circunflexo
–, mas também dos sinais diacríticos, como o trema), em que
significativos aspectos foram modificados.
2. Com o recente acordo, as palavras terminadas em oo não mais recebem o
acento circunflexo, de modo que agora se escreve voo, enjoo e abençoo,
e não mais vôo, enjôo e abençôo.
3. Também não mais se usa o acento circunflexo nos encontros ee, ou seja,
nas terceiras pessoas do plural do presente do indicativo ou do
subjuntivo dos verbos crer, dar, ler e ver e seus compostos (como
descrer, desdar, reler e entrever), de modo que, doravante, a grafia é
creem, deem, leem e veem, e não mais crêem, dêem, lêem e vêem.
4. Para acertar a duplicidade já existente no Brasil e em Portugal, foi criado
um caso de dupla grafia para diferenciação, com a marca optativa do
acento agudo na primeira pessoa do plural do pretérito perfeito do
indicativo dos verbos da primeira conjugação (louvámos, adorámos e
falámos), para opor-se à primeira pessoa do plural do presente do
indicativo (louvamos, adoramos e falamos).
5. O trema desapareceu por completo nas palavras pertencentes ao nosso
idioma, de modo que, agora, a grafia correta é linguiça, sequência e
quinquênio, e não mais lingüiça, seqüência e qüinqüênio. Pelos próprios
termos do acordo, “conserva-se, no entanto, (o trema) em palavras
derivadas de nomes próprios estrangeiros: mülleriano, de Müller;
hübneriano, de Hübner”.
6. O acento diferencial de tonicidade continua a ser usado para diferenciar
pôr (verbo) e por (preposição), porém não mais diferenciar para (verbo)
e para (preposição), pelo ([ê] substantivo) ou pelo ([é] verbo) e pelo (per
+ lo); pela ([é] substantivo ou verbo) e pela (per + la); pera ([ê]
substantivo) ou pera ([é] substantivo) e pera (per + a – arcaico); polo
([ô] substantivo) ou polo ([ó] substantivo) e polo (por + lo – arcaico).
7. Eliminou-se o acento agudo nos ditongos abertos ei e oi de palavras
paroxítonas, de modo que se escreve agora assembleia e jiboia, e não
mais assembléia e jibóia. Permanecem, no entanto, como exceções à
regra, as paroxítonas terminadas em ditongo (esferóideo, tireóideo,
xifóideo) ou em r (destróier, Méier). Nesses casos, se fosse excluído o
acento gráfico, haveria mudança de posição da sílaba tônica.
8. Como, no caso do item anterior, o acento foi eliminado apenas das
palavras paroxítonas, continuam acentuados os vocábulos monossílabos
(como céu, réis e dói) e os oxítonos com tais terminações, como papéis e
herói.
9. Continua valendo a dupla grafia de acento antes de m e n, já que, por
questões de pronúncia, Portugal emprega o acento agudo, enquanto o
Brasil usa o acento circunflexo. Desse modo são igualmente corretos os
acentos dos seguintes vocábulos: académico/acadêmico, génio/gênio,
fenómeno/fenômeno, bónus/bônus.

Acordo Ortográfico – Quando entra em vigor?


1. Uma leitora indaga, de modo bastante simples e direto, quando entram
em vigor as regras introduzidas na escrita do português pelo novo
Acordo Ortográfico. Ou seja: quando passa a ser obrigatório escrever
apenas pelas novas diretrizes.
2. Ora, depois de muitos estudos e discussões, em 12/10/90, em Lisboa,
foram aprovadas as bases para um acordo ortográfico entre os países
lusófonos (que falam o português), a saber, Portugal, Brasil, Angola,
Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe.
Contou-se também com a adesão dos observadores de Galiza. Timor
Leste ainda não era um país independente.
3. Pelo próprio documento de acordo, firmado em 16/10/90, incumbia aos
países signatários a responsabilidade de adotarem as medidas necessárias
para a efetiva entrada em vigor das regras respectivas nos
correspondentes ordenamentos jurídicos.
4. No Brasil, tal se deu por via dos Decretos 6.583, 6.584 e 6.585, todos de
29/9/2008, e por eles: a) o Acordo Ortográfico produziria efeitos em
nosso País a partir de 1º/1/2009; b) seria observado um período de
transição entre 1º/9/2009 e 31/12/2012; c) nesse interregno, coexistiriam,
ambas com validade, a norma ortográfica antiga e a nova norma
estabelecida; d) a contar de 1º/1/2013, a escrita haveria de obedecer
somente à nova norma estabelecida.
5. Antes, porém, de findar-se o prazo acima referido, foi editado o Decreto
7.875, em 27/12/2012, que alargou para 31/12/2015 o período de
transição entre os regimes ortográficos, de modo que, durante esse novo
tempo, coexistiriam a norma ortográfica antiga e a nova norma
estabelecida.
6. Como, antes de findar-se o prazo por último concedido, não houve nova
dilação, conclui-se, de modo óbvio e forçoso, que, por expressa previsão
da norma por último editada, a partir de 1º/1/2016, somente passou a ser
correto escrever pela nova norma estabelecida.
7. Com essas considerações como premissas, passa-se a responder, de
modo objetivo, à indagação da leitora: a) até 31/12/2008, somente era
correto escrever pelas normas anteriormente vigentes; b) entre 1º/1/2009
e 31/12/2015, era correto escrever tanto pelas normas antigas como pelas
novas determinações; c) a contar de 1º/1/2016, contudo, somente passou
a ser correto escrever pelas regras ditadas pelo Acordo Ortográfico.
8. Em síntese e reiteração: o Acordo Ortográfico a) foi aprovado entre os
países lusófonos por acordo firmado em 16/10/1990, b) ingressou no
ordenamento jurídico pátrio em 29/9/2008, c) teve vigência
concomitante com o sistema antigo entre 1º/1/2009 e 31/12/2015 e d)
passou a viger com exclusividade a contar de 1º/1/2016.

A cores ou Em cores?
1. Para Napoleão Mendes de Almeida (1981, p. 2), “é erro grosseiro dizer
televisão a cores”, admitindo tal autor em cores, mas revelando
preferência pelo adjetivo colorido, em expressões como imagens
coloridas, TV colorida, filme colorido, cinema colorido.
2. Já na conformidade com o ensinamento de Domingos Paschoal Cegalla,
“ambas as locuções são corretas: televisor a (ou em) cores, gravura a (ou
em) cores”. Acrescenta tal autor haver “nítida preferência pela primeira
variante”. E pondera, em conclusão: “Há quem afirme que a forma a
cores é galicismo, o que não procede, porquanto o francês, neste caso,
usa a preposição en e não a: une carte postale en couleurs, télévision en
couleurs” (CEGALLA, 1999, p. 9).
3. Em casos dessa natureza, pelo vetusto princípio de que, na dúvida entre
os gramáticos, há liberdade de emprego para o usuário do idioma,
aceitam-se como corretas ambas as expressões.
4. Observa-se, todavia, não parecer adequada a expressão TV colorida
(para significar transmissão em cores), ante a possível confusão com a
cor do próprio aparelho.
Acostar
1. Verbo de frequente emprego nos meios jurídicos e forenses, tem o
sentido de juntar, anexar, e constrói-se com objeto direto (sujeito na voz
passiva) e indireto, este com a preposição a – acostar algo (documentos,
etc.) a. Exs.: a) “Acostou novos documentos aos autos”; b) “A defesa
acostou ao processo as razões recursais, alegando nulidade”
(KASPARY, 1996, p. 35).
2. Reforce-se o entendimento de que, exatamente por ter objeto direto na
voz ativa, é verbo passível de emprego na voz passiva, tornando-se o
objeto direto da voz ativa em sujeito da voz passiva. Ex.: “Foram
acostadas dezenas de depoimentos ao processo de indenização”.

Acredito
Ver Primeira pessoa do plural (P. 600).

Acudir
1. Verbo bastante usado em textos jurídicos e forenses, deve ser observado
pelo prisma da regência verbal, já que é sempre transitivo indireto e se
constrói de acordo com os modelos “acudir a alguém” ou “acudir a
alguém com algo” (no sentido de ajudar, socorrer), ou simplesmente
“acudir a algo” (no significado de atender, assumir). Exs.: a) “O usufruto
extingue-se: … VII – Por culpa do usufrutuário, quando aliena,
deteriora, ou deixa arruinar os bens, não lhes acudindo com os reparos
de conservação” (CC/1916, art. 739, VII); b) “Aplica-se, outrossim, a
disposição do artigo antecedente, quando a gestão se proponha acudir a
prejuízos iminentes, ou redunde em proveito do dono do negócio, ou da
coisa…” (CC/1916, art. 1.340).
2. Pelo primeiro dos exemplos da legislação civil, vê-se que admite tal
verbo que seu objeto indireto seja substituído pelos pronomes lhe, lhes, o
que também se corrobora pelo exemplo de Camilo Castelo Branco: “…
com o propósito de se acolher ao valimento do vizinho, se o pai lhe não
acudisse”.
3. Para registro, porém, anotem-se dois exemplos de abalizados autores, em
que tal verbo se acha no sentido de prestar socorro e vem usado como
transitivo direto (FERNANDES, 1971, p. 50): a) “Acudiam-no os
companheiros” (Euclides da Cunha); b) “Se o não acudissem, tinha-se
afogado” (João Ribeiro).
4. Celso Pedro Luft anota que, nos dias atuais, tal verbo “também ocorre,
mais raro, com objeto direto” (1999, p. 34).
5. Sintetiza-se a questão com duas observações: a) o melhor, em se tratando
de textos que devam submeter-se ao padrão culto, é que se observe a
orientação tradicional da Gramática, usando-o como transitivo indireto;
b) inegável é observar, todavia, que há exemplos respeitáveis de seu
emprego como transitivo direto.
6. Lembra-se, a esse respeito, que os textos de lei costumam obedecer a
essa postura de emprego de objeto indireto como seu complemento:
“Incorrerá na mesma multa o perito que, sem justa causa, provada
imediatamente: a) deixar de acudir à intimação ou ao chamado da
autoridade” (CPP, art. 277, parágrafo único, “a”).
7. Observa-se, contudo, que há casos de opção do legislador por seu
emprego como transitivo direto: “Não constitui crime a entrada ou
permanência em casa alheia ou em suas dependências: … II – a
qualquer hora do dia ou da noite para acudir vítima de desastre ou
quando alguma infração penal está sendo ali praticada ou na iminência
de o ser” (CPM, art. 226, § 3º, II).
Ver Prejuízos acudidos – Está correto? (P. 593)

A curto prazo ou Em curto prazo?


1. Uma leitora quer saber qual é a forma correta: a curto prazo ou em curto
prazo? Ou seja: quer saber que preposição deve empregar antes da
palavra prazo, precedida ou não de um adjetivo como curto, médio ou
longo.
2. Faça-se uma observação inicial sobre a falta de tratamento mais
específico da matéria por parte dos gramáticos. Mas se complemente
com a ponderação de que a verificação do que se dá na prática dos casos
concretos responde suficientemente às dúvidas que surgem em tais
situações.
3. Uma primeira possibilidade verificada no dia a dia é o emprego da
preposição em com expressões dessa natureza. Ex.: “Termino a obra em
curto prazo”. E isso assim acontece, porque uma frase como essa
responde à indagação “Você termina essa empreitada em que prazo?”
4. Acrescentam-se outras frases com estrutura similar: a) “Em médio prazo,
a situação estará equilibrada”; b) “Em longo prazo, não mais haverá
solução”.
5. Esse emprego com a preposição em admite associação com os artigos
definidos o, a, os e as. Exs.: a) “Em contraste com o longo prazo, no
curto prazo temos alguns fatores variáveis e outros fixos, relativamente
ao nível de produção escolhido”; b) “É possível lucrar mais que a
poupança no curto prazo”.
6. Uma segunda possibilidade é o emprego da preposição por, sobretudo
quando se está diante de um prazo determinado. Ex.: a) “Foi contratado
por um prazo de três anos” (HOUAISS; VILLAR, 2001, p. 2.279); b)
“Foi contratado pelo prazo de três anos”.
7. Uma terceira possibilidade é o emprego da preposição a, quando se
utiliza a expressão opondo-se especificamente ao circunlóquio à vista.
Ex.: “Comprei minha televisão a prazo” (FERREIRA, 2010, p. 1.693).
8. Em quarta possibilidade, também se admite o emprego da preposição a,
quando o sentido da expressão é o de um prazo próximo não
especificado, e a função sintática da expressão é a de um adjunto
adverbial. Exs.: a) “A curto prazo não haverá mudanças sensíveis na
economia”; b) “O negócio no início será ruim, mas a longo prazo
poderá tornar-se lucrativo” (HOUAISS; VILLAR, 2001, p. 2.279).
9. Uma quinta possibilidade, de igual modo, se apresenta nos exemplos
práticos, com a preposição de, para um tempo não especificado, em
expressões normalmente associadas a um substantivo (dívida, meta,
objetivo, rendimento, etc.), normalmente com a função sintática de
adjunto adnominal. Exs.: a) “Na tentativa de reorganização da
Economia, o Governo escalonou seus alvos em metas de curto, de médio
e de longo prazo”; b) “Entende-se por passivo de curto prazo…”; c)
“Ele era apenas um especulador de curto prazo”; d) “Os fundos de
investimento de curto prazo têm por objetivo reproduzir as variações
das taxas de juros e das taxas pós-fixadas”.
10. Algumas observações devem ser feitas, em síntese e como fecho, a esta
altura: a) os gramáticos normalmente não se debruçam sobre a análise
das preposições que devam ser empregadas nessas circunstâncias; b)
em vários casos, os empregos observados constituem peculiaridades do
idioma, sem justificativa técnica maior para esta ou aquela construção;
c) um estudo mais aprofundado revela alguma diversidade de conteúdo
semântico entre as expressões, além de diferenças sintáticas entre as
estruturas em tais casos; d) não parece haver razão para condenar o
emprego desta ou daquela forma de expressão.

Acusado
1. Lembra Luís A. P. Vitória que “os puristas não aceitam o termo acusado,
no sentido de réu” (1969, p. 18).
2. Tal, entretanto, não é o que se tem visto nos textos jurídicos e forenses,
em que o mencionado emprego se dá normalmente.
3. E esse emprego indistinto, ao que parece, dá-se com razão, até porque,
se, em termos genéricos, acusação é a “imputação criminal feita a uma
pessoa” (DE PLÁCIDO E SILVA, 1989, p. 80), essa pessoa a quem se
imputa um procedimento desse jaez não deixa de ser o acusado.
4. E, considerado tal fato, não se há de olvidar que tal pessoa contra quem
se move uma ação com o precípuo intuito de atribuir conduta criminal é
também mencionada nos autos e normalmente conhecida como réu.
5. Vejam-se alguns exemplos de emprego do referido vocábulo nesse
sentido por dispositivos de nossa legislação: a) “A denúncia ou queixa
conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas
circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos
quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando
necessário, o rol das testemunhas” (CPP, art. 41); b) “No caso de morte
do acusado, o juiz somente à vista da certidão de óbito, e depois de
ouvido o Ministério Público, declarará extinta a punibilidade” (CPP, art.
62); c) “Reconhecida inicialmente ao júri a competência por conexão ou
continência, o juiz, se vier a desclassificar a infração ou impronunciar
ou absolver o acusado, de maneira que exclua a competência do júri,
remeterá o processo ao juízo competente” (CPP, art. 81, parágrafo
único); d) “No processo por crimes praticados fora do território
brasileiro, será competente o juízo da Capital do Estado onde houver
por último residido o acusado. Se este nunca tiver residido no Brasil,
será competente o juízo da Capital da República” (CPP, art. 88).

Acusar recebimento
1. Com abono de exemplos de autores insuspeitos, observa Antonio
Henriques (1999, p. 9) ser correto o emprego do verbo acusar na
acepção de confessar, avisar, dizer, além do que, para ele, “a
legitimidade da expressão [acusar recebimento] vem de longe com
Garrett e Camilo”. Exs.: a) “Ilustríssimo senhor – acuso a recepção do
ofício de vossa senhoria…” (Almeida Garrett); b) “Os sobrinhos não
acusaram logo o recebimento da carta” (Camilo Castelo Branco).

À custa de ou Às custas de?


1. Na locução prepositiva à custa de, o substantivo custa fica invariável no
singular, sempre com a acepção de trabalho, sacrifício. Exs.: a) “O réu
vivia à custa de sua companheira” (correto); b) “O réu vivia às custas de
sua companheira” (errado); c) “O magistrado venceu à custa de muito
esforço” (correto); d) “O magistrado venceu às custas de muito esforço”
(errado).
2. É bem nesse sentido a lição de José de Nicola e Ernani Terra: “Nessa
expressão a palavra custa, assim como o artigo que a precede, deve
sempre estar no singular” (2000, p. 10).
3. Com propriedade, também leciona Arnaldo Niskier: “Alguém pode viver
à custa dos pais, mas nunca às custas deles” (1992, p. 7).
4. Domingos Paschoal Cegalla, em posição mais liberal, preconiza que “o
uso generalizado legitima a variante às custas de, no sentido de a
expensas de: ‘João vive às custas do pai’” (1999, p. 10).
5. Tal ensino mais liberal, por último referido, entretanto, pode significar
permissão para o emprego coloquial, mas não há de ser expandido para a
norma culta, de uso obrigatório nos textos jurídicos e forenses, nos quais
se verifica normalmente a forma mais pura de correção: a) “Se o fato
puder ser executado por terceiro, será livre ao credor mandá-lo executar
à custa do devedor…” (CC/2002, art. 249, caput); b) “Se, no prazo
fixado, o devedor não satisfizer a obrigação, é lícito ao credor, nos
próprios autos do processo, requerer que ela seja executada à custa do
devedor, ou haver perdas e danos; caso em que ela se converte em
indenização” (CPC/1973, art. 633, caput); c) “A publicação é feita em
jornal de ampla circulação, à custa do condenado, ou se este é
insolvente, em jornal oficial” (CP, art. 73, § 1º, revogado)
6. Atente-se a que, no plural, o vocábulo custas tem o sentido técnico de
despesas processuais. Exs.: a) “Compete à União, aos Estados e ao
Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: … IV – custas dos
serviços forenses” (CF, art. 24, IV); b) Aos juízes é vedado: … II –
receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participação em
processo” (CF, art. 95, parágrafo único, II); c) “As custas e emolumentos
serão destinados exclusivamente ao custeio dos serviços afetos às
atividades específicas da Justiça” (CF, art. 98, § 2º); d) “Prescreve: § 1º
Em um ano: … III – a pretensão dos tabeliães, auxiliares da justiça,
serventuários judiciais, árbitros e peritos, pela percepção de
emolumentos, custas e honorários” (CC, art. 206, § 1º, III).
7. Essa distinção de significados entre o singular e o plural é patente nos
exemplos dados por Cândido Jucá Filho: a) “Consegui-o à custa de
muito bom dinheiro”; b) “Ele foi condenado às custas do processo”
(1963, p. 178).

Adaptar
1. No que concerne à conjugação verbal, é preciso atentar às formas
rizotônicas desse verbo (aquelas em que a sílaba tônica está no radical, e
não na terminação, como adapt-o, adapt-as, adapt-a, adapt-am). Nelas,
o radical permanece o mesmo, em conduta típica de verbo regular, sem
qualquer acréscimo de i ou alteração de posicionamento da sílaba tônica.
Essa ocorrência se patenteia no presente do indicativo e tempos
derivados (SACCONI, 1979, p. 21): adapto, adaptas, adapta,
adaptamos, adaptais, adaptam (presente do indicativo); adapte, adaptes,
adapte, adaptemos, adapteis, adaptem (presente do subjuntivo); adapta,
adapte, adaptemos, adaptai, adaptem (imperativo afirmativo); não
adaptes, não adapte, não adaptemos, não adapteis, não adaptem
(imperativo negativo).
2. Mesmo entre as pessoas cultas, há uma tendência equivocada para
introduzir, quer na escrita, quer na pronúncia, a vogal i logo antes do t
que encerra o radical, nas formas rizotônicas, com o deslocamento da
sílaba tônica, pronunciando-se adapito, adapitas…
3. Tal proceder, todavia, é errado, e, quanto a sua conjugação, deve-se
atentar às judiciosas palavras de Otelo Reis (1971, p. 70): além de ser
este um verbo regular, o grupo pt deve ser pronunciado sem vogal
intercalada.
4. Como tal problema se dá somente nas formas rizotônicas, e estas
ocorrem apenas no presente do indicativo e tempos derivados, as
dificuldades não se repetem nos demais tempos e formas.
5. No que tange à regência verbal, os dispositivos de lei mostram, em
realidade, dois verbos: a) um pronominal (adaptar-se), que pede um
objeto indireto (quem se adapta, adapta-se a alguma coisa); b) um outro
não pronominal (adaptar), que pede um objeto direto e um objeto
indireto (quem adapta, adapta algo a alguma coisa). Exs.: i) “Os
interditos referidos nos incisos I, III e IV do art. 1.767 serão recolhidos
em estabelecimentos adequados, quando não se adaptarem ao convívio
doméstico” (CC, art. 1.777); ii) “As associações, sociedades e
fundações, constituídas na forma das leis anteriores, bem como os
empresários, deverão se adaptar às disposições deste Código até 11 de
janeiro de 2007” (CC, art. 2.031); iii) “A petição inicial será indeferida:
… V – quando o tipo de procedimento, escolhido pelo autor, não
corresponder à natureza da causa, ou ao valor da ação; caso em que só
não será indeferida, se puder adaptar-se ao tipo de procedimento legal”
(CPC/1973, art. 295, V); iv) “O memorial descritivo indicará mais: I – a
composição geológica, a qualidade e o valor dos terrenos, bem como a
cultura e o destino a que melhor possam adaptar-se” (CPC/1973, art.
975, § 2º, I); v) “O juiz, antes de suprir a aprovação, poderá mandar
fazer no estatuto modificações a fim de adaptá-lo ao objetivo do
instituidor” (CPC/1973, art. 1.201, § 2º).

Ad corpus – com hífen ou sem?


Ver Post mortem – com hífen ou sem? (P. 585)

Adentrar, Adentrar em ou Adentrar-se em?


1. Significa entrar, penetrar.
2. Quanto à regência verbal, pode, indiferentemente, ter seu complemento
sem preposição ou com a preposição em. Exs.: a) “O réu adentrou o
salão do júri” (transitivo direto); b) “O réu adentrou no salão do júri”
(transitivo indireto).
3. Celso Pedro Luft vê, além disso, a possibilidade de seu emprego com os
dois complementos (um sem preposição e outro com preposição), no
sentido de fazer entrar à força, meter para dentro. Ex.: “Um guarda
adentrou o preso na cela” (1999, p. 35).
4. Além das duas regências mais usuais, Domingos Paschoal Cegalla
(1999, p. 10) ainda lembra a possibilidade de construí-lo como
pronominal mais a preposição em (adentrar-se em). Ex.: “Ele adentrava-
se na mata…” (Viana Moog).
5. Nessa última acepção, Francisco Fernandes (1971, p. 51) também refere
significativo exemplo de Mário Barreto: “À maneira que no país destes
profanos eu me adentrava…”.

Adequado
1. Quanto às possibilidades de sintaxe, Celso Pedro Luft (1999, p. 33)
entende que se pode construir com a preposição a e com a preposição
com (menos usada). Exs.: a) “A única coisa que não era adequada à
normalidade de meus pulmões era o escritório” (Gustavo Corção); b)
“Isto é adequado aos meus negócios (ou com os meus negócios)”
(Cândido Jucá).
2. A essas estruturas, Francisco Fernandes (1969, p. 15) acresce a
possibilidade de construção com a preposição para. Exs.: a) “As leis
devem ser adequadas ao povo para que são feitas” (Mário Barreto); b)
“Linguagem adequada com o assunto”; c) “… a (região) mais adequada
para constituir o poderoso núcleo da futura união” (Visconde de Porto
Seguro).
3. Uma leitura dos nossos principais diplomas legais revela seu emprego
com uma de duas preposições: a ou para. Exs.: a) “O dever do Estado
com a educação será efetivado mediante a garantia de: … VI – oferta de
ensino noturno regular, adequado às condições do educando” (CF, art.
208, VI); b) “A taxa judiciária, se devida, será calculada com base no
valor atribuído pelos herdeiros, cabendo ao fisco, se apurar em processo
administrativo valor diverso do estimado, exigir a eventual diferença
pelos meios adequados ao lançamento de créditos tributários em geral”
(CPC/1973, art. 1.034, § 1º); c) “São requisitos de admissibilidade da
cumulação: … III –que seja adequado para todos os pedidos o tipo de
procedimento” (CPC/1973, art. 292, § 1º, III); d) “A medida cautelar
poderá ser substituída, de ofício ou a requerimento de qualquer das
partes, pela prestação de caução ou outra garantia menos gravosa para
o requerido, sempre que adequada e suficiente para evitar a lesão ou
repará-la integralmente” (CPC/1973, art. 805).
Ver Adequar (P. 76).

Adequar
1. Anote-se, desde logo, que não há uniformidade entre os gramáticos
quanto a sua conjugação, principiando por Eduardo Carlos Pereira
(1924, p. 113), que insere adequar no rol dos verbos defectivos, mas sem
outras explicações ou minúcias.
2. Em posição mais restrita, posta-se Luís A. P. Vitória, para quem “este
verbo só se emprega no particípio passado. Ex.: ‘É este o termo
adequado’” (1969, p. 18). Embora sem invalidar em nada o raciocínio
feito, apenas se observa que, no exemplo dado pelo ilustre gramático,
adequado tem a forma oriunda do particípio passado, mas o vocábulo
está sendo empregado como adjetivo.
3. Para Otelo Reis, também é verbo defectivo, “quase exclusivamente
usado no infinitivo e no particípio. Contudo, entendem alguns autores
que pode ser empregado em todas as formas arrizotônicas” (1971, p. 53).
Explicita-se, para maior facilidade de entendimento, que formas
rizotônicas são aquelas em que a sílaba tônica está no radical (eu
caminho); já formas arrizotônicas são aquelas em que a sílaba tônica
situa-se na terminação, na desinência (nós caminhamos).
4. Em postura ligeiramente menos liberal, Vitório Bergo leciona ser tal
verbo passível de conjugação “nas formas de desinência em a” (1943, p.
80), ensinamento esse que eliminaria a possibilidade de uso das formas
arrizotônicas com desinência em e, como adequei, adequemos…
5. Avançando para maiores possibilidades de seu emprego, Luiz Antônio
Sacconi refere ser possível conjugá-lo em todas as formas arrizotônicas,
muito embora realce tal autor seja ele empregado mais frequentemente
“nas formas nominais: adequar, adequando, adequado” (1979, p. 87).
6. Pasquale Cipro Neto e Ulisses Infante veem-no como passível de
conjugação apenas nas formas arrizotônicas do presente do indicativo
(adequamos, adequais), de modo que, no imperativo afirmativo, só seria
possível conjugar a segunda pessoa do plural (adequai vós);
acrescentam, todavia, que “alguns autores admitem a conjugação do
verbo adequar nas formas arrizotônicas do presente do subjuntivo
(adequemos, adequeis), o que permitiria também a conjugação dessas
mesmas formas do imperativo negativo e da primeira do plural do
imperativo afirmativo” (1999, p. 172).
7. Nessa última esteira de maiores possibilidades, de maneira bem didática,
lembra Geraldo Amaral Arruda (1997, p. 66) que tal verbo “não se usa
nas formas em que o acento incide sobre a sílaba de, que pertence ao
radical”, conjugando-se nas demais formas.
8. José de Nicola e Ernani Terra (2000, p. 20) sintetizam do seguinte modo
as regras acerca desse verbo: a) “no presente do indicativo só apresenta a
primeira e a segunda pessoa do plural: nós adequamos, vós adequais”; b)
“não possui o presente do subjuntivo e o imperativo negativo”; c) “o
imperativo afirmativo só apresenta a segunda pessoa do plural
(adequai)”; d) “nas formas faltantes desse verbo, deve-se utilizar um
sinônimo (adaptar, ajustar, apropriar, etc.) ou uma locução verbal
(estou adequando, vou adequar, etc.)”.
9. Em termos práticos, ante a divergência entre os gramáticos, há de se
adotar a alternativa mais abrangente, permitindo-se que seja empregado
em todas as formas arrizotônicas: adequamos, adequais (presente do
indicativo); adequemos, adequeis (presente do subjuntivo); adequemos,
adequai (imperativo afirmativo); não adequemos, não adequeis
(imperativo negativo).
10. Por não se permitir sua conjugação nas formas rizotônicas, atente-se,
por conseguinte, a que são errôneas determinadas construções de uso
muito corrente nos meios jurídicos, como se dá no seguinte exemplo:
“A solução proposta pelo advogado não se adéqua ao caso concreto”.
11. Em casos desse jaez, sendo defectivo, o verbo deve ser substituído por
um sinônimo: adaptar, aplicar, harmonizar: a) “A solução não se
adapta ao caso concreto”; b) “A solução não se aplica ao caso
concreto”; c) “A solução não se harmoniza com o caso concreto”.
12. Registre-se, contudo, que, apontando em direção mais liberal,
Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 11), por um lado, observa que
“não existem as formas adéqua, adéquam, adéque, adéquem, com e
tônico, que às vezes se ouvem de pessoas que, para evitar uma
discutível cacofonia, estropiam o verbo”; por outro lado, questionando
que, “se dizemos recua, por que não adequa?”, acrescenta tal autor que
“não constitui erro usar as formas rizotônicas adequo, adequas,
adequa, adequam; adeqúe, adeqúes, adeqúem”.
13. Por um lado, a postura do ilustre gramático não se sustenta em termos
científicos, porque não há como colocar em mesmo molde os verbos
adequar (em que o encontro vocálico ua se pronuncia em uma só sílaba
e, assim, tem natureza de ditongo) e recuar (em que o encontro
vocálico se pronuncia em sílabas distintas e, desse modo, tipifica um
hiato) e daí extrair conclusões idênticas; por outro lado, tal dúvida e tal
posicionamento isolado não devem ser seguidos nos textos que devam
submeter-se aos padrões da norma culta, os quais hão de obedecer à
ortodoxia tradicional, que manda não empregar esse verbo nas formas
rizotônicas.
14. Como tais problemas apenas ocorrem no presente do indicativo e
tempos derivados (presente do subjuntivo, imperativo afirmativo e
imperativo negativo), o usuário terá reduzida sua faixa de problemas, já
que a conjugação há de ser regular e integral nos demais tempos e
formas.
15. Esclareça-se, por fim, que, mesmo sendo o u pronunciado em todas as
formas da conjugação – não importando a abrangência com que esta
deva ser considerada – o certo é que o Acordo Ortográfico de 2008
aboliu o trema dos vocábulos vernáculos, de modo que simplesmente
não será empregado tal sinal diacrítico na conjugação de forma alguma
do verbo adequar.
16. Observe-se, adicionalmente, que uma busca em dez das principais
codificações pátrias revela a inexistência de emprego de tal verbo em
regular conjugação; o que normalmente se tem é o adjetivo adequado
(como em estabelecimento adequado) ou no particípio passado (sejam
adequadas ao…).
Ver Adequado (P. 76).

Aderir
1. Quanto à conjugação verbal, aparece um i na primeira pessoa do
presente do indicativo e nas formas dela derivadas: adiro, aderes, adere,
aderimos, aderis, aderem (presente do indicativo); adira, adiras, adira,
adiramos, adirais, adiram (presente do subjuntivo); adere, adira,
adiramos, aderi, adiram (imperativo afirmativo); não adiras, não adira,
não adiramos, não adirais, não adiram (imperativo negativo).
2. Tal verbo não é defectivo, e não apresenta problemas ou irregularidades
nos demais tempos e modos, em que é conjugado normal e regularmente.
3. Na observação de José de Nicola e Ernani Terra, “o e do radical muda
para i na primeira pessoa do singular do presente do indicativo e nas
formas daí derivadas” (2000, p. 20).
4. Como os tempos derivados do presente do indicativo são o presente do
subjuntivo, o imperativo afirmativo e o imperativo negativo, os
problemas apontados não aparecem nas demais formas, tempos e modos,
que são regulares.
5. Por esse verbo se conjugam aferir, advertir, assentir, auferir, compelir,
conferir, consentir, deferir, discernir, divertir, expelir, ferir, impelir,
inserir, investir, preferir, repetir, sentir, servir, vestir, etc.
6. Uma busca nos principais diplomas legais pátrios mostra, por um lado,
seu raro emprego na feitura das leis; por outro lado, vê-se que, quando
usado, normalmente vem no infinitivo, em locução verbal, sem mostrar
flexão alguma. Ex.: “Cada parte interporá o recurso,
independentemente, no prazo e observadas as exigências legais. Sendo,
porém, vencidos autor e réu, ao recurso interposto por qualquer deles
poderá aderir a outra parte” (CPC/1973, art. 500).
7. Garimpou-se, todavia, um raro caso de uso do referido verbo em efetiva
flexão: “Os credores que não comparecerem a alguma reunião para que
tenham sido competentemente convocados, entende-se que aderem às
resoluções que tomar a maioria de votos dos credores que comparecerão;
contanto que, para a concessão ou negação da concordata, se ache
presente o número dos credores exigidos no artigo 848” (CCo, art. 844).

Ad exitum
1. Trata-se de locução latina, que se traduz como “tendo em vista o êxito”,
ou “tendo em vista o sucesso”, muito usada para indicar, nos contratos
de prestação de serviços profissionais de advocacia, a parcela de
remuneração ou ganho do advogado que se vincula ao risco e ao
consequente sucesso da demanda, a qual ele receberá ou não, conforme o
resultado da causa e, eventualmente, na proporção dos resultados
auferidos pelo cliente. Ex.: “Não se pode reputar excessivo aquele
percentual de ad exitum fixado no contrato”.
2. Nesse sentido, contrapõe-se à expressão pro labore, que, em tais
contratos, expressa aquela parcela fixa de honorários, a ser paga pelo
trabalho efetivamente realizado pelo patrono, independentemente do
sucesso da causa.
3. Por se tratar de expressão latina, obrigatório é o uso de aspas, negrito,
itálico, sublinha ou grifo indicador de tal circunstância, além de proibida
a utilização de acento gráfico e de hífen, que não existiam no idioma
original.
4. Não se olvide, nesse sentido, a lição de Edmundo Dantès Nascimento de
que expressões como essa não eram hifenizadas em latim, razão pela
qual “não podem ser em língua nenhuma”, acrescentando tal autor que,
“para quem pretende grafar escorreitamente, não é permitido o hífen em
expressões do latim clássico”.
5. Diversa, estranha e equivocadamente, entretanto, José de Nicola e
Ernani Terra observam que, exatamente por se tratar de uma expressão
latina, uma locução como essa “dever ser grafada com hífen” (2000, p.
122).
6. Ora pela simples razão de que se trata de expressão latina e de que não
havia hífen na língua originária, o melhor é seguir o ensino de Domingos
Paschoal Cegalla, o qual, após observar que “não há consenso quanto ao
uso do hífen” em expressões latinas dessa natureza, realça que “é
preferível dispensá-lo” (1999, p. 188).
Ad hoc – com hífen ou sem?
Ver Post mortem – com hífen ou sem? (P. 585)

Adimplir
1. Originário do latim adimplere (encher, cumprir), é verbo de largo uso
nos meios jurídicos e forenses, assim como seus cognatos inadimplir,
(in)adimplemento, (in)adimplência e (in)adimplente.
2. Quanto à conjugação verbal, é defectivo e se conjuga como abolir, vale
dizer, não tem as formas em que, de acordo com a conjugação normal do
modelo da terceira conjugação, ao l do radical se seguiria a ou o
(HENRIQUES; ANDRADE, 1999, p. 33).
3. Essa também é a lição de Adalberto J. Kaspary (1996, p. 40), o qual
lembra que tal defectividade ocorre no presente do indicativo, no
presente do subjuntivo, no imperativo afirmativo e no imperativo
negativo.
4. Em outras palavras, conjuga-se “nas formas em que a terminação
começa pela vogal e ou pela vogal i” (REIS, 1971, p. 145).
5. Na prática, não tem a primeira pessoa do presente do indicativo mas
apenas as demais: adimples, adimple, adimplimos, adimplis, adimplem.
6. Não é conjugado em pessoa alguma do presente do subjuntivo, que
haveria de derivar da inexistente primeira pessoa do presente do
indicativo.
7. No imperativo afirmativo, apenas tem a segunda pessoa do singular e a
segunda pessoa do plural, derivadas do presente do indicativo: adimple
tu, adimpli vós.
8. Também não tem pessoa alguma do imperativo negativo, que viria
integralmente do presente do subjuntivo.
9. Como tais problemas de defectividade ocorrem apenas no presente do
indicativo e nos tempos daí derivados, é normalmente conjugado nos
outros tempos: eu adimplia (imperfeito do indicativo), eu adimplirei
(futuro do presente), eu adimpliria (futuro do pretérito), adimplindo
(gerúndio), adimplido (particípio), eu adimpli (pretérito perfeito do
indicativo), eu adimplira (pretérito mais-que-perfeito do indicativo),
quando eu adimplir (futuro do subjuntivo), se eu adimplisse (imperfeito
do subjuntivo).
10. Normalmente, tem o significado de cumprir, executar, satisfazer, e, no
que concerne à regência verbal, constrói-se normalmente com objeto
direto: adimplir alguma coisa. Ex.: “Cumpre ainda ao credor: … IV –
provar que adimpliu a contraprestação, que lhe corresponde, ou que
lhe assegura o cumprimento…” (CPC/1973, art. 615, IV).

Adir
1. Em Direito das Sucessões, é verbo usado com o sentido de aceitar.
2. Assim, dizer que o herdeiro adiu a herança significa o mesmo que
mencionar que ele aceitou a herança.
3. Vitório Bergo (1944, p. 13) observa que se trata de verbo defectivo, que
só se conjuga nas formas de desinência em i: adimos, adis (presente do
indicativo); adi vós (imperativo afirmativo); não tem, por conseguinte,
presente do subjuntivo nem imperativo negativo.
4. Não é outra a lição de Luís A. P. Vitória, para quem se trata de “verbo
defectivo, restringindo-se seu emprego apenas às formas em que a
desinência do verbo modelo apresenta i” (1969, p. 18).
5. Alfredo Gomes, com visão mais restritiva acerca de seu emprego,
leciona que esse verbo – que “só tem infinitivo e particípio passado (este
mais usado que aquele) na linguagem corrente” – junta-se a outros,
como delir, empedernir, espavorir, inanir, renhir, revelir, alguns dos
quais “estão quase irremissivelmente perdidos como arcaísmos
pretensiosos” (1924, p. 121).
6. Nesse âmbito da conjugação verbal, o melhor é ter visão mais
ampliativa, seguindo as primeiras lições apontadas, e empregá-lo nas
formas em que aparece i no início da desinência.
7. Como, porém, esses problemas de defectividade apenas ocorrem no
presente do indicativo e tempos derivados (presente do subjuntivo,
imperativo afirmativo e imperativo negativo), é ele normalmente
conjugado nos demais modos, tempos e pessoas: adia (imperfeito do
indicativo), adirei (futuro do presente do indicativo), adiria (futuro do
pretérito do indicativo), adi (pretérito perfeito do indicativo), adira
(pretérito mais-que-perfeito do indicativo), adir (futuro do subjuntivo),
adisse (imperfeito do subjuntivo), adindo (gerúndio), adido (particípio
passado).
8. No que concerne à regência verbal, lembra Eliasar Rosa seu caráter de
transitivo direto, sendo “erro pensar que o verbo adir significa aderir. Por
pensarem assim, muitos escrevem: o herdeiro adiu à (com acento de
crase) herança; os herdeiros não adiram à herança etc.” (1993, p. 21).
9. Em lição adicional, Francisco Fernandes (1971, p. 52) anota a
possibilidade de ser ele empregado como transitivo direto e indireto,
obedecendo à construção “adir uma coisa a outra”. Ex.: “A estas funções
é de mister adir a de reciprocidade” (M. Maciel).

A disposição ou À disposição?
1. Quando se quer saber se o correto é a disposição ou à disposição, deve-
se partir do princípio de que crase é a fusão de duas vogais idênticas, e o
encontro mais corriqueiro dessa natureza é o da preposição a com o
artigo feminino a ou as, com o resultado de à ou às.
2. Mas não se esqueça que, quando se fala em preposição, pensa-se em
uma estrutura sintática, com as partes da oração relacionadas entre si, de
modo que, no caso, não é possível solucionar a indagação posta, por não
se conhecer em que contexto se encontra a expressão discutida.
3. Por isso, para permitir resposta adequada à indagação, formulam-se dois
exemplos: a) “A disposição dele já não era a mesma…”; b) “Ele sempre
estava a disposição dos companheiros…” (O acento indicativo da crase,
em um dos exemplos, foi eliminado de propósito, para efeito de
raciocínio).
4. Ora, na prática, quando se quer saber se há crase antes de um substantivo
comum feminino (como é o vocábulo disposição no caso da consulta), o
melhor é substituir mentalmente tal substantivo feminino por um
correspondente masculino, como, por exemplo: a) “O entusiasmo dele já
não era o mesmo…”; b) “Ele sempre estava ao dispor dos
companheiros…”
5. Feito esse raciocínio simples, então se aplica a seguinte regra geral de
crase: Se, com a substituição, aparece ao ou aos no masculino, há crase
no feminino; se não aparece ao no masculino, não há crase no feminino.
6. E se conclui com as formas corretas para o caso da consulta: a) “A
disposição dele já não era a mesma…”; b) “Ele sempre estava à
disposição dos companheiros…”

Aditamento contratual ou Aditivo contratual?


1. Um leitor indaga se o correto é dizer e escrever aditamento contratual ou
aditivo contratual.
2. O aditamento, nos casos mais comuns, quer dizer a ação de aditar. Exs.:
a) “Ao Poder Executivo é facultado exigir que se proceda a alterações
ou aditamento no contrato ou no estatuto…” (CC/2002, art. 1.129); b)
“Não realizado o aditamento a que se refere o inciso I do § 1º deste
artigo, o processo será extinto sem resolução do mérito” (CPC/2015, art.
303, § 2º); c) “O aditamento a que se refere o inciso I do § 1º deste
artigo dar-se-á nos mesmos autos, sem incidência de novas custas
processuais” (CPC/2015, art. 303, § 3º).
3. Às vezes, aditamento também quer significar o resultado, o próprio
acrescentamento ou respectivo termo dele resultante. Exs.: a) “Ele
carreou aos autos cópia do aditamento celebrado”; b) “Este é o
Aditamento 01/2015 às Instruções 02/2008…”.
4. O aditivo, por sua vez, coincide, em seu conteúdo semântico, com esse
segundo sentido de aditamento, significando, então, o resultado do
acrescentamento ou respectivo termo dele resultante. Exs.: a) “Ele
carreou aos autos cópia do aditivo”; b) “Este é o Aditivo 01/2015 às
Instruções 02/2008…”.
5. O vocábulo aditivo não tem, contudo, o significado primeiro de
aditamento, a saber, o sentido da própria ação de aditar. Desse modo,
seriam incorretos os seguintes exemplos: a) “Ao Poder Executivo é
facultado exigir que se proceda a alterações ou aditivo no contrato ou
no estatuto…”; b) “Não realizado o aditivo a que se refere o inciso I do
§ 1º deste artigo, o processo será extinto sem resolução do mérito”; c)
“O aditivo a que se refere o inciso I do § 1º deste artigo dar-se-á nos
mesmos autos, sem incidência de novas custas processuais”.
Aditamento de contrato ou Aditamento a contrato?
1. Um leitor pergunta se o correto é dizer e escrever aditamento de contrato
ou aditamento a contrato.
2. Embora não seja esse o cerne da indagação, importa observar que, em
termos de conteúdo semântico, num primeiro aspecto, aditamento quer
dizer a ação de aditar. Ex.: “Não realizado o aditamento a que se refere
o inciso I do § 1o deste artigo, o processo será extinto sem resolução do
mérito” (CPC/2015, art. 303, § 2º).
3. Num segundo aspecto, aditamento também quer significar o resultado, o
próprio acrescentamento ou respectivo termo dele resultante. Ex.: “Ele
carreou aos autos cópia do aditamento”.
4. Feitas essas observações e atentando à dúvida da leitora, é oportuno
realçar que, quando se quer saber qual é a preposição que um substantivo
ou adjetivo exige para o complemento que o segue, a questão se situa no
campo da regência nominal.
5. E a resposta para um problema como esse, que se situa no campo da
elaboração das estruturas frasais (sintaxe), vai ser encontrada no modo
como os nossos autores de reconhecido saber utilizaram o idioma.
6. Para não haver um estudo exaustivo e sem resultados práticos em curto
prazo por parte dos interessados em saber como é esta ou aquela
construção, os gramáticos e estudiosos já escreveram obras específicas,
nas quais fizeram verdadeiros levantamentos de como foi tal emprego no
correr dos tempos por parte dos escritores que mais bem cultivaram
nosso idioma.
7. E, assim, no que tange especificamente ao vocábulo aditamento, Celso
Pedro Luft (1999, p. 34) traz informações importantes: a) se o
complemento é a coisa que vai ser dada em acréscimo, então a
construção se faz com a preposição de (assim, aditamento de notas e
observações); b) se, porém, o complemento é a coisa que vai receber o
acréscimo, então a construção se faz com a preposição a (assim,
aditamento ao texto).
8. Ainda segundo exemplos dados pelo mesmo autor, nada impede que se
mesclem as duas construções. Exs.: a) “Aditamento de uma coisa a
outra”; b) “Aditamento de novos dados aos anteriores”; c) “Aditamento
de cláusulas a um contrato”.
9. De modo específico para a indagação da leitora, vê-se que o contrato é a
coisa que vai receber o acréscimo. Desse modo, o correto é aditamento a
contrato.

Adjetivação desnecessária
1. Na apropriada lição de Eliasar Rosa, seria bom eliminar da linguagem
jurídica uma adjetivação “cheia de mesuras e que soa falso sem nada
acrescentar às peças forenses: digna autoridade; douta Curadoria ou
Procuradoria; ilustrado órgão do Ministério Público; egrégia Câmara;
colendo Grupo; venerando acórdão; respeitável decisão ou despacho;
excelso Pretório ou Pretório excelso”.
2. Segundo tal autor, “tudo isso são salamaleques, hoje vazios de
significação verdadeira. Autênticos preciosismos são essas postiças
reverências, sem as quais em nada fica sacrificada a cortesia do
advogado, nem a majestade da Justiça e a dos que a servem com
elevação e dignidade”.
3. E, finalizando sua admoestação, aduz ele que a linguagem forense deve
ser “sóbria e parcimoniosa, clara, nobre, correta e persuasiva, que bem
dispensa o data venia, o datissima venia (!), o concessa venia, o concessa
maxima venia, o permissa venia ou venia permissa etc.” (ROSA, 1993,
p. 98-9).
4. Em realidade, não há razão para se terem certas expressões como
sacramentais e solenes, a ponto de se pensar que, se não empregadas em
sua totalidade, estaria havendo um desrespeito para com a pessoa ou
órgão que se mencionam. Bem por isso, não há motivo para que um
relator seja tratado sempre e necessariamente como culto, um defensor
como nobre, um julgador como ínclito, umas razões de apelação como
doutas.
5. Nessa mesma esteira, sempre é bom não esquecer que se pode discordar
com reverência e polidez, e, por outro lado, a ofensa e o desrespeito
podem muito bem embutir-se em cumprimentos afetados, rapapés,
adulações e lisonjas.
6. Por outro lado, atento ao fato de que muitos conceitos, por seu conteúdo,
repelem um termo qualificador, já que este não os modifica, assevera
Edmundo Dantès Nascimento (1982, p. 229) que os adjetivos, em tais
casos, são inúteis, porquanto os conceitos têm sua própria conotação,
que lhes é conferida pela doutrina e pela lei; e cita ele exemplos dessa
inutilidade: cristalina e indefectível Justiça; apresentar contestação
válida.
7. No que toca especificamente ao linguajar das determinações dos
magistrados, acrescenta Geraldo Amaral Arruda que “não há
conveniência em que o juiz, ao manifestar oficialmente o seu
convencimento, peça licença às partes, usando a expressão data venia ou
outra equivalente, ou, pior, ainda, a aberrante expressão datissima venia”
(1997, p. 11).
8. Registre-se, em outro aspecto, que, quanto ao vocábulo egrégio, Antonio
Henriques o vê como composto do prefixo e (ex) denotador de
afastamento e grex-gregis (rebanho), significando, assim, aquele ou
aquilo “que sai do rebanho, do comum e se distingue da multidão”.
9. E, ressaltando que seu uso normal é antes do substantivo para realçá-lo,
complementa tal autor que ele “ocorre em expressões próprias do Direito
e, em geral, com maiúsculas e sentido superlativo: Egrégio Tribunal,
Egrégia Corte, Egrégio Juiz, Egrégia Câmara e outras” (HENRIQUES,
1999, p. 53).
10. Atente-se, por fim, a que, quanto ao vocábulo egrégio, o art. 3º, caput,
do Regimento Interno do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo
assim estatui: “Têm o Tribunal e todos os seus órgãos o tratamento de
Egrégio…”.

Adjetivo
Ver Adjetivos compostos (P. 81) e Formação de adjetivos – Regras (P. 360).

Adjetivos compostos
1. Em adjetivos compostos (dois elementos unidos por hífen, que fazem,
como um todo, o papel de um adjetivo), o primeiro elemento é sempre
invariável, e o segundo elemento só varia para o plural ou para o
feminino, quando ele próprio é um adjetivo: tratado luso-brasileiro,
convenção luso-brasileira, tratados luso-brasileiros, convenções luso-
brasileiras (SACCONI, 1979, p. 48).
2. Carlos Góis afirma que “a razão da invariabilidade do primeiro elemento
é que o primeiro se acha em função adverbiada ao segundo: é como que
um advérbio acidental” (1943, p. 195).
3. Em outra obra, Carlos Góis e Herbert Palhano (1963, p. 167),
considerando, de igual modo, que o primeiro elemento tem função
adverbial em relação ao segundo, lecionam que deixa aquele de sofrer
qualquer variação: escola médico-cirúrgica, reação físico-química.
4. Como não é difícil concluir, se o segundo elemento do adjetivo
composto não é um adjetivo, fica invariável a expressão toda. Ex.:
vestuário verde-oliva, farda verde-oliva, vestuários verde-oliva, fardas
verde-oliva (SACCONI, 1979, p. 48).
5. Sintetizando as duas importantes regras até agora vistas, Silveira Bueno
assim se expressa: a) “Quando concorrem dois adjetivos, o primeiro
permanece invariável e só o segundo toma a flexão exigida: Olhos azul-
escuros, olhos azul-claros…”; b) “Quando a cor é expressa por
substantivos, claro está que permanecem invariáveis. Exs.: Vestidos
cinzento-pérola, gravatas verde-mar” (1938, p. 184).
6. Anote-se que, apesar de azul-celeste ser formado por dois adjetivos,
lecionam José de Nicola e Ernani Terra (2000, p. 41), muito embora sem
quaisquer outras justificativas, que “não deve ser flexionado nem em
gênero, nem em número”. Exs.: a) “Vimos um carro azul-celeste
estacionado em local proibido”; b) “Vários carros azul-celeste
permaneciam encalhados na concessionária”; c) “Sempre usava blusa
azul-celeste quando ia a festas”; d) “Compraram várias camisas azul-
celeste”.
7. Da mesma posição de invariabilidade desse adjetivo é Aurélio Buarque
de Holanda Ferreira (s/d, p. 170), que confere a azul-celeste os dois
gêneros e os dois números. E o próprio Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de Letras, órgão
oficialmente incumbido de dirimir dúvidas a esse respeito, também
registra posição em mesmo sentido (2009, p. 96).
8. Exceção à regra mencionada é também furta-cor, que faz, no plural,
furta-cores (ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, 2009, p. 388).
9. Do quanto exposto, importa realçar, ante os equívocospráticos, que
vermelho é adjetivo, e violeta é substantivo; assim, mesmo em se
acoplando sem hífen os elementos desses adjetivos compostos, aplicam-
se-lhes as duas primeiras regras enunciadas, motivo por que a formação
de seus plurais é, respectivamente, (raios) infravermelhos e (raios)
ultravioleta (NISKIER, 1992, p. 87).
10. A. M. de Sousa e Silva (1958, p. 299) faz questão de firmar que a
flexão correta, em tais casos, é raios ultravioleta, e não raios
ultravioletas.
11. Ainda sobre ultravioleta e infravermelho, para Luiz Antônio Sacconi
tais vocábulos “não são propriamente adjetivos compostos, mas
derivados; o primeiro não sofre variação; o segundo sim” (1979, p. 48).
12. Já Artur de Almeida Torres (1966, p. 65) aceita, indiferentemente, raios
infravermelho ou infravermelhos e raios ultravioleta ou ultravioletas,
lembrando apenas que, quanto ao último, o professor Pedro A. Pinto,
em carta a ele dirigida, declarava preferir a flexão do plural,
observando tratar-se de “um plural analógico”.
13. Mais uma vez o VOLP (2009, p. 457 e 823), na qualidade de portador
da posição oficial sobre o assunto, indica a possibilidade de variação de
ambos, a saber: raio infravermelho e raios infravermelhos; raio
ultravioleta e raios ultravioletas.
14. Em continuação, se se subentende a expressão cor-de, ou mesmo se ela
vem expressa, o adjetivo, como um todo, fica invariável. Exs.: terno
cinza, capa cinza, ternos cinza, capas cinza; tecido cor-de-rosa, pasta
cor-de-rosa, tecidos cor-de-rosa, pastas cor-de-rosa.
15. O adjetivo azul-marinho é invariável. Ex.: terno azul-marinho,
moldura azul-marinho, ternos azul-marinho, molduras azul-marinho.
16. Para essas hipóteses em que o adjetivo não se flexiona de acordo com o
gênero e número do substantivo modificado, mas toma outra feição por
qualquer motivo, Carlos Góis (1943, p. 187-8), com perspicácia, anota
que, ao invés de concordância nominal, o que se tem é discordância do
adjetivo com o substantivo.
Ver Formação de adjetivos compostos (P. 359), Substantivos compostos –
Como levar ao plural? (P. 717) e Surdo-mudo (P. 723).
Adjudicar
1. Em termos de técnica jurídica, é o verbo para designar a adjudicação e
significa transferir, por sentença, do domínio de uma pessoa para o
domínio de outra os bens que a esta anteriormente pertenciam, seja em
consequência de execução, de sucessão ou de venda (DE PLÁCIDO E
SILVA, 1989, p. 87). Ex.: “Por fundamentado veredicto, o magistrado
adjudicou ao adquirente o imóvel compromissado pelo alienante
desidioso”.
2. Quanto à conjugação verbal, como todos os verbos terminados em car,
troca o c por qu antes de e; assim: adjudico, adjudicas, adjudiquemos,
adjudiqueis…
3. No que tange à regência verbal, Francisco Fernandes (1971, p. 52)
aceita-o como transitivo direto e indireto, exigindo objeto indireto com a
preposição a. Exs.: a) “Adjudicou a maior parte deles (bens) ao
tratamento de Leonor” (Camilo Castelo Branco); b) “Não havia a quem
adjudicar a sucessão” (Rui Barbosa).
4. Esse, também, é o ensinamento de Celso Pedro Luft (1999, p. 36). Exs.:
a) “O juiz lhe adjudicou imóveis e aluguéis do devedor”; b) “Adjudicou-
lhe a posse das terras”.
5. Vejam-se exemplos de emprego do referido verbo em dispositivos legais:
a) “Sendo confusos, os limites, em falta de outro meio, se determinarão
de conformidade com a posse justa; e, não se achando ela provada, o
terreno contestado se dividirá por partes iguais entre os prédios, ou, não
sendo possível a divisão cômoda, se adjudicará a um deles, mediante
indenização ao outro” (CC, art. 1.298); b) “Quando a coisa for
indivisível, e os consortes não quiserem adjudicá-la a um só,
indenizando os outros, será vendida e repartido o apurado, preferindo-
se, na venda, em condições iguais de oferta, o condômino ao estranho, e
entre os condôminos aquele que tiver na coisa benfeitorias mais
valiosas, e, não as havendo, o de quinhão maior” (CC, art. 1.322, caput).

A domicílio ou Em domicílio?
1. Lembra Laurinda Grion que “em domicílio e a domicílio são locuções
que têm emprego diverso; a primeira se usa com verbos ou nomes
estáticos; a segunda, com verbos ou nomes dinâmicos” (s/d, p. 10).
2. Vejam-se, assim, os seguintes exemplos, com a indicação de sua
correção ou erronia: a) “Levam-se compras a domicílio” (correto); b)
“Levam-se compras em domicílio” (errado); c) “Corta-se cabelo em
domicílio” (correto); d) “Corta-se cabelo a domicílio” (errado); e)
“Atende-se em domicílio” (correto); f) “Atende-se a domicílio” (errado).
3. Tendo por objeto de análise a expressão “Entregas em domicílio”, de
igual modo se expressam José de Nicola e Ernani Terra: “Trata-se de
uma expressão correta. Observe que dizemos: entregas em casa, no
escritório, no endereço solicitado. Devemos usar a expressão a
domicílio quando se emprega verbo que indica movimento: levar a
domicílio, enviar a domicílio, ir a domicílio, etc.” (2000, p. 97).
4. Atestando o que ocorre na linguagem coloquial, leciona Domingos
Paschoal Cegalla: “a locução adverbial a domicílio é hoje usada,
indistintamente, com verbos que indicam movimento (como levar,
enviar, etc.), ou não: Levamos encomendas a domicílio; Damos aulas de
violão a domicílio”.
5. E até mesmo acrescenta tal autor: “Embora correta, a locução em
domicílio se divorcia da língua corrente” (CEGALLA, 1999, p. 13).
6. Em outra passagem, todavia, muito embora lembre que “a língua
corrente não faz essa distinção”, mas “usa exclusivamente a domicílio”,
concorda o mencionado autor com o posicionamento doutrinário
anteriormente expendido por outros gramáticos, no que concerne aos
textos que devam submeter-se à norma culta: e leciona que, por um lado,
“a expressão a domicílio complementa verbos que pedem a preposição
a”; por outro lado, “se o verbo exige a preposição em, a expressão
adequada é em domicílio” (CEGALLA, 1999, p. 127). Exs.: a) “Levam-
se encomendas a domicílio”; b) “Leciona-se piano em domicílio”.
7. O melhor, em realidade, parece ser distinguir, de modo efetivo, entre
verbos ou vocábulos de significação estática ou dinâmica: com os
primeiros, usa-se em domicílio; com os segundos, a domicílio.
8. Importa ilustrar, por fim, que, contrariando o tradicional apuro da
linguagem da legislação codificada, o atual Código Civil incide em
equívoco nesse ponto: “Desembarcadas as mercadorias, o transportador
não é obrigado a dar aviso ao destinatário, se assim não foi
convencionado, dependendo também de ajuste a entrega a domicílio…”
(CC/2002, art. 752, caput). Corrija-se: … entrega em domicílio…

A domicílio ou Em domicílio – Caso prático


1. Um leitor afirma não lhe terem sido satisfatórias até hoje as explicações
dadas a respeito das expressões “a domicílio” e “em domicílio”. Em seu
modo de ver, a justificativa de que verbos e vocábulos de significação
estática exigiriam a preposição em, enquanto aqueles de significação
dinâmica pediriam construção com a preposição a, não tem respaldo
efetivo nos casos práticos. Assim, os verbos levar e atender, em seu
modo de pensar, detêm ambos significação dinâmica. Quem atende,
pode atender em seu próprio domicílio, mas também pode deslocar-se
para o domicílio de alguém para atender. Quem leva, também
obviamente se desloca para algum lugar. E pede auxílio para bem
proceder às necessárias distinções.
2. Ora, com as expressões referidas, a lição que se costuma ensinar é a
seguinte: a) a expressão em domicílio é usada com verbos ou nomes
estáticos (“Corta-se cabelo em domicílio”); b) a expressão a domicílio é
empregada com verbos ou nomes dinâmicos (“Levam-se compras a
domicílio”).
3. Vejam-se outros exemplos de verbos ou palavras com sentido dinâmico
e, assim, que exigem o emprego da expressão a domicílio: a) “Ele enviou
a encomenda a domicílio”; b) “Ele ia a domicílio para dar aula de
violão”.
4. E se observem as explicações importantes para o entendimento do leitor:
a) a palavra enviar já tem em si uma significação dinâmica, indicadora
de “movimento em direção a um lugar”; b) o verbo ir tem exatamente
essa mesma dimensão.
5. Vejam-se outros exemplos de verbos ou palavras com sentido estático e,
portanto, que exigem o uso da expressão em domicílio: a) “A
fisioterapeuta atende em domicílio”; b) “Entregas em domicílio”; c) “Ele
dava aulas de piano em domicílio”.
6. E, quanto a tais exemplos, atente-se às seguintes ponderações: a) o ato
de atender, considerado em si próprio, não implica a existência
necessária de um “movimento em direção a um lugar”, não importando
se quem pratica tal ação precisa ir de um lugar a outro para realizá-la; b)
a entrega, em si mesma considerada, também não significa “movimento
em direção a um lugar”, não importando se quem faz a entrega precisa ir
de um lugar a outro para praticar tal ação; c) por fim, o ato de dar aulas,
considerado em si próprio, não significa “movimento em direção a um
lugar”, e não há importância alguma no fato de o professor
eventualmente se deslocar de outro lugar para a prática desse ato.
7. Em síntese: a) é preciso muito cuidado para fazer a distinção entre o que
seja um verbo ou palavra com significação estática ou dinâmica; b) tal
análise deve ser feita com relação estrita ao verbo ou palavra que se
emprega no caso concreto; c) não se pode pensar em outras ilações a
respeito de ter sido necessário qualquer deslocamento do agente até o
local considerado para a prática de tal ação, pois o que efetivamente
importa é a própria ação em si.

Adonde, Aonde ou Onde?


Ver Onde, Adonde ou Aonde? (P. 528)

Ad quem – com hífen ou sem?


Ver Post mortem – com hífen ou sem? (P. 585)

Ad quem ou Ad quam?
1. Um leitor indaga se o correto é instância ad quem ou instância ad quam.
2. Fixem-se, desde logo, três importantes premissas para a expressão: a) Ad
quem é o acusativo singular masculino do pronome relativo latino qui,
quae, quod; b) Tal expressão, embora continue latina, cristalizou-se no
uso vernáculo desse modo, e em geral vem precedida de um substantivo
(normalmente tribunal, instância ou juízo), e serve para indicar a corte de
justiça, o juízo ou tribunal para o qual se recorre; c) Contrapõe-se à
expressão a quo, que aponta o tribunal do qual se recorre. Ex.: “A
competência para analisar o mérito dos recursos, em regra, é do
tribunal ad quem, e não do juízo a quo”.
3. Nesse polêmico problema da flexão das palavras e expressões de outros
idiomas ainda não incorporadas ao vernáculo, desde logo se observa que
não há regramento específico por parte dos órgãos competentes, e,
assim, o que se tenta aqui é solucionar a questão por um raciocínio
cientificamente correto, com o acompanhamento do bom senso que deve
nortear soluções dessa natureza.
4. Parta-se do princípio de que palavras e expressões latinas podem
cristalizar-se no vernáculo de maneiras diversas: a) campus veio na
forma do nominativo (caso latino que serve para desempenhar a função
sintática de sujeito); b) quorum sedimentou-se aqui na forma do genitivo
(caso que serve para exercer a função do antigo complemento restritivo,
hoje adjunto adnominal na maioria dos casos); c) a quo veio na forma do
ablativo, por regência da preposição antecedente (caso que normalmente
serve para desempenhar a função sintática de complemento
circunstancial, hoje adjunto adverbial); d) ad quem, de igual modo por
regência da preposição antecedente, veio no acusativo (caso que
normalmente serve para a função de objeto direto, e aqui, por exigência
da preposição, serve para indicar complemento circunstancial).
5. Como não é de difícil compreensão, essa cristalização do vocábulo
estrangeiro em nosso idioma e seu emprego em estruturas sintáticas
vernáculas normalmente ocorrem: a) sem preocupação de qual seja sua
função sintática na oração em português, b) sem vínculo com a estrutura
sintática do latim, e c) sem ligação com a conduta do vocábulo ou
expressão no idioma de origem.
6. Para melhor didática, considerem-se, em português, os seguintes
exemplos: a) “O tribunal para o qual se recorre…”; b) “A instância
para a qual se recorre…”; c) “Os tribunais para os quais se recorre…”;
d) “As instâncias para as quais se recorre…”.
7. Em todos os exemplos, a estrutura sintática é a mesma em português: a)
qual (com suas variações) é um pronome relativo; b) por conceito e
comportamento, o pronome relativo relaciona-se a um nome
anteriormente mencionado e com ele concorda em gênero (masculino ou
feminino) e número (singular ou plural); c) se o antecedente é tribunal, o
pronome relativo concorda no masculino singular; d) se, porém, o
antecedente é instâncias, o pronome relativo vai para o feminino plural.
8. Se alguém quiser servir-se dos argumentos expendidos para defender
exatamente a variabilidade da expressão da consulta no latim, mesmo
aqui não se pode esquecer que, por coerência, haverá a flexão não
apenas para o feminino, mas também para o plural: a) “O tribunal ad
quem…”; b) “A instância ad quam…; c) “Os tribunais ad quos…”; d)
“As instâncias ad quas…”
9. E não é só: como em latim o vocábulo juízo é do gênero neutro
(judicium, judicii), o pronome relativo haveria de fazer flexão diversa
das já apontadas: a) “O juízo ad quod…”; b) “Os juízos ad quae…”.
10. Veja-se que não faz sentido redigir desse modo, e isso, no mínimo,
pelas seguintes razões: a) um emprego assim exige do usuário do
vernáculo informações que ele normalmente não tem; b) ou seja: exige
dele elementos razoáveis de latim, o que não mais se ensina, a não ser
em cursos de extrema especialização; c) não temos o gênero neutro em
português, o que constituiria dificuldade adicional quando quiséssemos
fazer a concordância com uma palavra que correspondesse a um
vocábulo neutro em latim; d) além disso, também não há
correspondência absoluta de gênero em ambos os idiomas; e) isso quer
significar que um vocábulo feminino em latim pode ter vindo para o
masculino em português, e vice-versa.
11. Assim, com o devido respeito pelos que pensam de modo diverso, a
melhor solução parece obedecer aos seguintes parâmetros, naquilo que
interessa ao caso vertente: a) as palavras e expressões latinas devem
desvincular-se de sua função sintática de origem para efeito de suas
flexões em português, quer quanto ao gênero (masculino e feminino),
quer quanto ao número (singular e plural); b) devem ser empregadas
como vieram sedimentadas para o uso no português, sem variações
como as pretendidas na consulta: i) “O tribunal ad quem…” (correto);
ii) “A instância ad quem…” (correto); iii) “Os tribunais ad quem…”
(correto); iv) “As instâncias ad quem…” (correto); v) “O juízo ad
quem…” (correto); vi) “Os juízos ad quem…” (correto).
12. Qualquer outra solução desrespeita a etimologia, fere os critérios
mínimos científicos e marginaliza o próprio bom senso.
13. Vejam-se exemplos de emprego da referida expressão em dispositivos
de nossas leis: a) “Os recursos serão apresentados ao juiz ou tribunal
ad quem, dentro de cinco dias da publicação da resposta do juiz a quo,
ou entregues ao Correio dentro do mesmo prazo” (CPP, art. 591); b)
“Publicada a decisão do juiz ou do tribunal ad quem, deverão os autos
ser devolvidos, dentro de cinco dias, ao juiz a quo” (CPP, art. 592).

Adquirir
1. Importante é anotar que, em tal verbo, o u não é pronunciado, como,
aliás, bem lembra Silveira Bueno (1938, p. 179).
2. A esse respeito, em lição bem significativa, lembra Vasco Botelho de
Amaral (1948, p. 173) dois aspectos de relevo: a) “algumas pessoas
esforçam-se por uma pronúncia algo complicada, que nada tem que ver
com a perfeita expressão”, já que a pronúncia normal e natural é adkirir;
b) aliás, em ensino mais abrangente, observa-se que a vogal u, precedida
de g ou q, “tende a deixar de proferir-se, tendência essa bem antiga”.
3. Além de não ser pronunciado o u em seu meio, também impensável usar
aqui o trema, mesmo porque tal sinal foi abolido das palavras de nosso
idioma por determinação do Acordo Ortográfico de 2008.
4. Em continuação, importa observar que não há outras dificuldades no que
concerne a sua flexão, já que é regular e conjugado em todas as pessoas,
tempos e modos.
5. Vejam-se alguns exemplos de emprego do mencionado verbo em
dispositivos de nossa legislação: a) “São brasileiros: … II –
naturalizados: i) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade
brasileira, exigidas aos originários de países de língua portuguesa
apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral” (CF, art.
12, II, “a”); b) “Os partidos políticos, após adquirirem personalidade
jurídica, na forma da lei civil, registrarão seus estatutos no Tribunal
Superior Eleitoral” (CF, art. 17, § 2º); c) “Aquele que possuir como sua
área urbana de até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco
anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia
ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja
proprietário de outro imóvel urbano ou rural” (CF, art. 183, caput); d)
“Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião” (CF, art. 191,
parágrafo único).
Ver Trema (P. 746).
Adrede
1. Advérbio de origem latina, quer dizer de caso pensado, de propósito.
Ex.: “Com um plano adrede elaborado, os réus chegaram a juízo para
depor”.
2. Quanto à ortoepia, Evanildo Bechara (1974, p. 45) leciona que seu e
tônico tem som fechado (adrêde).
3. Essa posição também é seguida por Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 18.).
4. Não é de outro entendimento Eliasar Rosa (1993, p. 23).
5. Também Antonio Henriques lembra que “a pronúncia é adrêde” (1999,
p. 10).
6. Atento aos frequentes equívocos da linguagem usual, assim se expressa
Domingos Paschoal Cegalla: “Palavra de uso raro. As poucas vezes que
ouvimos foi com a vogal tônica aberta (adréde), contrariamente ao que
ensinam os dicionários, que lhe registram a pronúncia adrêde” (1999, p.
13).
7. Afastando toda e qualquer possibilidade de dúvida, essa pronúncia
fechada também vem indicada pelo Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, órgão incumbido
oficialmente de determinar a grafia e a pronúncia dos vocábulos em
nosso idioma (2009, p. 24).

Adredemente – Existe?
Ver Advérbios em “mente” (P. 85).

Ad-rogar
Ver Ortoepia (P. 532).

Advérbios em “mente”
1. Busca-se saber se estão corretos os seguintes advérbios: adredemente,
aliasmente, apenasmente, de repentemente, talqualmente,
amiudemente…
2. Parta-se do princípio de que o sufixo mente é formador de advérbios em
português, mas só pode ser acrescentado a adjetivos e que estejam estes
no feminino: a) satisfatória + mente = satisfatoriamente; b) clara +
mente = claramente.
3. Nesse sentido, João Ribeiro lembra que “o português formou advérbios
numerosos com a junção de ‘mente’ a adjetivos femininos… Essa
faculdade já existia com pequena extensão no latim clássico” (1923, p.
139).
4. E esclarece Eduardo Carlos Pereira, em duas passagens de sua obra, que
“a terminação adverbial mente é o substantivo feminino ‘mente’ com a
significação de maneira, intenção. Mais tarde se justapôs ao adjetivo,
perdendo o caráter de substantivo, conservando, entretanto, o adjetivo
sua flexão feminina” (1924, p. 151 e 174).
5. Com essas premissas, analisem-se os vocábulos e expressões
inicialmente referidos: a) “Adrede” é advérbio de origem latina e
significa de caso pensado, de propósito; b) “Aliás”, um vocábulo de
correção, também já é advérbio, sem conotação alguma de natureza
adjetiva; c) “Apenas” é advérbio e significa somente; d) “De repente” é
locução adverbial e significa de súbito; e) “Tal qual” é expressão
destinada a indicar comparação, sem laivo algum de natureza adjetiva; f)
“Amiúde” já é advérbio e tem o significado de repetidas vezes, com
frequência.
6. A partir da simples consideração de como se formam em português os
advérbios em “mente”, já se vê que não podem estar corretos os
pretensos advérbios empregados nos seguintes exemplos, e isso
exatamente porque não têm na base um adjetivo feminino: a) “Nos
fundos, adredemente construído, havia um túnel para a saída dos presos
fugitivos” (errado); b) “A vítima foi ameaçada por seis adolescentes,
aliasmente sete” (errado); c) “Havia apenasmente dois policiais”
(errado); d) “De repentemente, chegaram os policiais e surpreenderam
os larápios” (errado); e) “Ele agiu talqualmente em épocas passadas”
(errado); f) “Ele vinha amiudemente à minha casa” (errado).
7. Corrijam-se os exemplos: a) “Nos fundos, adrede construído, havia um
túnel para a saída dos presos fugitivos”; b) “A vítima foi ameaçada por
seis adolescentes, aliás sete”; c) “Havia apenas dois policiais”; d) “De
repente, chegaram os policiais e surpreenderam os larápios”; e) “Ele
agiu tal qual em épocas passadas”; f) “Ele vinha amiúde à minha casa”.
8. Acrescente-se que Cândido de Figueiredo, em resposta a um consulente
que lhe indagava acerca da correção de aliasmente, respondeu com fina
ironia, trazendo a propósito um outro vocábulo em que, de modo
indevido, foi adicionado mente a um advérbio: “Tire-lhe o sufixo
‘mente’… e o mais está bem: aliás. De outra forma, fica muito
malmente” (1943, p. 60).
9. Por fim, todavia, importa dizer que, em lição que não merece apoio,
obediência ou seguimento, o uso de um dos vocábulos aqui considerados
consta em frase do grande filólogo Mário Barreto: “Mas também se diz
comparar uma pessoa com outra, talqualmente sucedia em latim”
(1954a, p. 316). Corrija-se: … tal qual sucedia…
10. Às observações já feitas, é de se ver que a facilidade de formação de
advérbios com o sufixo mente tem sido causa de alguns exageros, os
quais, como lembra o desembargador e gramático Geraldo Amaral
Arruda, “caracterizam o pouco tirocínio de quem os emprega”.
11. O zelo no uso pode trazer o hábito da correção, como lembra o referido
autor (ARRUDA, 1987, p. 20). Exs.: a) “Requereu, derradeiramente, a
citação do réu” (uso inadequado); b) “Requereu, por derradeiro, a
citação do réu” (uso adequado); c) “Existe, contrariamente ao réu, a
palavra da vítima” (uso inadequado); d) “Existe, contra o réu, a
palavra da vítima” (uso adequado); e) “As testemunhas que depuseram
judicialmente…” (uso inadequado); f) “As testemunhas que depuseram
em juízo…” (uso adequado); g) “O acórdão foi recorrido
extraordinariamente” (uso inadequado); h) “Contra o acórdão se
interpôs recurso extraordinário” (uso adequado); i) “Ele possuía
precariamente o imóvel” (uso inadequado); j) “Ele possuía o imóvel a
título precário” (uso adequado).
Ver Advérbios em “mente” seguidos – Como resolver? (P. 86) e
Tocantemente – Existe? (P. 739)

Advérbios em “mente” seguidos – Como resolver?


1. Além de outras observações que podem ser feitas aos advérbios
terminados em mente, importa resolver a questão de quando vêm
seguidos dois ou mais vocábulos dessa natureza e, assim, definir como
empregá-los em exemplos como os seguintes: a) “Ele discorreu sobre o
assunto pausadamente e exaustivamente”; b) “Ele discorreu sobre o
assunto pausada e exaustivamente”.
2. Para João Ribeiro, “os advérbios em mente, quando ocorrem juntos,
perdem, exceto o último, aquela terminação. Ex.: Discorreu larga e
profundamente. É esse uso clássico. No entanto, hoje em dia se vai
generalizando, talvez por influência francesa, o uso de conservar as
terminações: Discorreu sabiamente, largamente, profundamente” (1923,
p. 205).
3. Luiz Antônio Sacconi, sobre essa última peculiaridade, assevera que,
“querendo ênfase, cada advérbio poderá vir com o sufixo”, lição essa
abonada por exemplo de Rui Barbosa: “Logicamente, juridicamente e
tradicionalmente não há outra maneira legítima de nos exprimir” (1979,
p. 109).
4. Em lição mais extensa, complementa Eduardo Carlos Pereira (1924, p.
352-3) que “se pode suprimir este sufixo, justapondo-o ao último,
quando há mais de um advérbio: ‘Ele falou sábia, erudita e
eloquentemente’. Por ênfase, conserva-se às vezes a terminação em cada
um: ‘Isto foi encomendado sem escarcéu, sem mistério, chãmente,
singelamente’ (Alexandre Herculano)”.
5. Citando exemplo de abalizado autor, anota Sousa e Silva, quanto ao
sufixo “mente” em tais casos, que “a ênfase pode determinar que venha
claro em dois ou mais advérbios sucessivos”. Ex.: “Essas decisões são
perfeitamente, legalmente, constitucionalmente definitivas” (Rui
Barbosa). Segundo tal gramático, Rui “se teria expressado com menos
energia se dissesse: “Essas decisões são perfeita, legal e
constitucionalmente definitivas” (SILVA, A., 1958, p. 182).
6. Na esteira do exemplo de Rui Barbosa, podem ser alinhados excertos de
Eça de Queirós: a) “… fechou sobre mim a portinhola, gravemente,
supremamente como se cerra uma grade de sepultura”; b) “Cruges
respirava largamente, voluptuosamente”.
7. Em lição concordante, observa Artur de Almeida Torres, por primeiro,
que, “concorrendo na frase, sucessivamente, dois ou mais advérbios de
modo, só o último, em regra, recebe o sufixo mente”. Acrescenta tal
autor, em seguida, que “se, porém, a construção tiver sentido enfático,
cada advérbio poderá receber esse elemento sufixal”. E ultima com
muita propriedade: “Em certos casos o adjetivo, geralmente na forma
masculina, é empregado com valor de advérbio: ‘É muito da nossa
língua’, observara Rui, ‘evitar os largos advérbios em mente,
substituindo-os pelos adjetivos adverbialmente empregados: Fácil se vê.
Longo se discutiu. Péssimo se arrazoou’” (TORRES, 1966, p. 128).
8. E de Júlio Ribeiro vem a fundamentada síntese, em que anota, por
primeiro: “Quando se agrupam diversos advérbios terminados em mente,
só o último assume esta desinência, guardando os outros a forma
feminina singular dos adjetivos de que nascem”. Ex.: Lutaram os
paraguaios calorosa, desatinada, loucamente. Em continuação – após
observar que essa regra, que hoje só há no português, já existiu nos
dialetos franceses d’oc e d’oïl, mas não na língua francesa, que
acrescenta a terminação ment “ou só depois do primeiro, ou só depois do
último advérbio” – remata que “os atuais escritores portugueses e
brasileiros já nem sempre respeitam essa regra”, mas “usam por vezes de
todos os advérbios completos”, assim agindo “para dar ênfase à
expressão” (RIBEIRO, Júlio, 1908, p. 314).
9. Nos dias atuais, lembra-se, em mesma esteira, o ensinamento de Arnaldo
Niskier: “Numa sequência de advérbios terminados em mente, de modo
geral, apenas o último recebe o sufixo. Se, porém, quisermos dar ênfase,
podemos acrescentar o sufixo a todos os advérbios” (1992, p. 44).
10. Nos textos legais, a praxe é a supressão do sufixo mente nos demais
advérbios, com sua permanência apenas no último deles: a) “O registro
declarará: II – o modo por que se administra e representa (a
associação ou a fundação) ativa e passiva, judicial e
extrajudicialmente”; b) “As entidades associativas, quando
expressamente autorizadas, têm legitimidade para representar seus
filiados judicial ou extrajudicialmente” (CF, art. 5º, XXI); c) “A
proibição de acumular estende-se a empregos e funções e abrange
autarquias, fundações, empresas públicas, sociedades de economia
mista, suas subsidiárias, e sociedades controladas, direta ou
indiretamente, pelo poder público” (CF, art. 37, XVII); d) “Os
Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por
quaisquer de suas opiniões, palavras e votos” (CF, art. 53); e) “Se o
Presidente da República considerar o projeto, no todo ou em parte,
inconstitucional ou contrário ao interesse público, vetá-lo-á total ou
parcialmente, no prazo de quinze dias úteis, contados da data do
recebimento, e comunicará, dentro de quarenta e oito horas, ao
Presidente do Senado Federal os motivos do veto” (CF, art. 66, § 1º); f)
“O Tribunal encaminhará ao Congresso Nacional, trimestral e
anualmente, relatório de suas atividades” (CF, art. 71, § 4º).
Ver Advérbios em “mente” (P. 85) e Tocantemente – Existe? (P. 739)

Advertir
1. Quanto à conjugação verbal, segue a flexão de aderir, de modo que
aparece um i na primeira pessoa do presente do indicativo e nos tempos
dela derivados: advirto, advertes, adverte, advertimos, advertis,
advertem (presente do indicativo); advirta, advirtas, advirta,
advirtamos, advirtais, advirtam (presente do subjuntivo); adverte,
advirta, advirtamos, adverti, advirtam (imperativo afirmativo); não
advirtas, não advirta, não advirtamos, não advirtais, não advirtam
(imperativo negativo).
2. Não apresenta problemas ou irregularidades nos demais tempos e
modos, em que a flexão segue a conjugação regular.
3. Na observação de José de Nicola e Ernani Terra, “o e do radical muda
para i na primeira pessoa do singular do presente do indicativo e nas
formas daí derivadas” (2000, p. 20).
4. Quanto à regência verbal, Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 13-4) vê
três possibilidades de construção: a) como intransitivo: “Sua função não
é punir, mas advertir”; b) como transitivo direto, correspondendo à
construção advertir alguém ou alguma coisa: “O pai advertiu o filho”,
ou “O governo adverte que agirá com rigor”; c) como transitivo direto e
indireto, correspondendo à sintaxe advertir alguém de alguma coisa:
“Advertiu-a do perigo a que se expunha”.
5. Celso Pedro Luft (1999, p. 39), que se esteia em lição de Mário Barreto e
de Cândido Jucá Filho para admitir a construção advertir alguma coisa a
alguém, refere que tal construção secundária se pauta pelo padrão de
dizer algo a alguém, reforçando que “as construções primárias são
advertir/avisar/informar alguém de algo”.
6. E Francisco Fernandes (1971, p. 54), sem proceder a realce algum ou
restrição, simplesmente refere ambas as possibilidades de sintaxe,
fundado em exemplos de autores abalizados: a) “Mas advertimos ao
leitor que…” (Mário Barreto); b) “A religião advertia os cavaleiros da
vaidade das coisas humanas” (Camilo Castelo Branco).
7. Uma atenta leitura de alguns diplomas legais revela certa variedade de
construções, a começar por aquela que responde ao seguinte raciocínio:
quem adverte, adverte alguém de alguma coisa. Exs.: a) “As testemunhas
serão inquiridas cada uma de per si, de modo que umas não saibam nem
ouçam os depoimentos das outras, devendo o juiz adverti-las das penas
cominadas ao falso testemunho” (CPP, art. 210, caput); b) “O juiz
presidente também advertirá os jurados de que, uma vez sorteados, não
poderão comunicar-se entre si e com outrem, nem manifestar sua
opinião sobre o processo, sob pena de exclusão do Conselho e multa, na
forma do § 2º do art. 436 deste Código” (CPP, art. 466, § 1º); c) “O juiz
presidente advertirá as partes de que não será permitida qualquer
intervenção que possa perturbar a livre manifestação do Conselho e
fará retirar da sala quem se portar inconvenientemente” (CPP, art. 485,
§ 2º); d) “O juiz que conceder a suspensão lerá ao réu, em audiência, a
sentença respectiva, e o advertirá das consequências de nova infração
penal e da transgressão das obrigações impostas” (CPP, art. 703).
8. Nesse caso, se o verbo se emprega na voz passiva, a pessoa passa a ser o
sujeito: “O liberado será advertido da obrigação de apresentar-se
imediatamente à autoridade judiciária e à entidade de observação
cautelar e proteção” (CPP, art. 718, § 2º).
9. Uma segunda construção responde ao seguinte raciocínio: quem adverte,
adverte alguma coisa a alguém. Exs.: a) “O juiz advertirá à testemunha
que incorre em sanção penal quem faz a afirmação falsa, cala ou oculta
a verdade” (CPC/1973, art. 415, parágrafo único); b) “O juiz pode, em
qualquer momento do processo: … II – advertir ao devedor que o seu
procedimento constitui ato atentatório à dignidade da justiça”
(CPC/1973, art. 599, II).
10. Oportuno é registrar casos em que o legislador emprega a primeira
estrutura, mas omite a preposição que inicia o objeto indireto, o que é
comum, quando este é formado por uma oração: “Quando as
expressões injuriosas forem proferidas em defesa oral, o juiz advertirá
o advogado que não as use, sob pena de lhe ser cassada a palavra”
(CPC/1973, art. 15, parágrafo único). Em estrutura completa, assim
seria: … o juiz advertirá o advogado de que não as use…

Advogada infra-assinada ou Advogada infra-assinado?


1. Quando se quer saber se a expressão infra-assinado tem variação para o
feminino (advogada infra-assinada), ou se fica invariável (advogada
infra-assinado), deve-se observar, num aspecto preliminar, que, para o
prefixo infra, o Acordo Ortográfico veio determinar que se usa o hífen,
quando o elemento seguinte começa por a ou por h: infra-acústico,
infra-assinado, infra-atômico, infra-hepático, infra-humano.
2. Se o segundo elemento se inicia por outra vogal, que não a, a junção se
dá sem emprego do hífen: infraescrito, infraocular, infraumbilical.
3. E, se o segundo elemento se inicia por outra consoante, que não h, a
junção também ocorre sem uso de hífen algum, apenas dobrando-se r e
s, conforme a necessidade de manutenção do som: infrabucal,
infracitado, infradotado, infrarrenal, infrassônico, infravermelho.
4. Ainda no aspecto de sua grafia, acresce dizer que tal expressão pode ser
um substantivo composto (como em o infra-assinado) ou um adjetivo
composto (como em o advogado infra-assinado), e, se emprega o hífen
em ambos os casos.
5. De modo específico para a consulta, é de se dizer que, quer como
substantivo, quer como adjetivo, o que se tem estruturalmente em tal
expressão é o prefixo infra (e, portanto, um elemento invariável) e o
adjetivo ou substantivo assinado (e, portanto, ambos elementos
variáveis).
6. Por essa razão, assim se fazem os respectivos plurais: a) o infra-
assinado, a infra-assinada, os infra-assinados, as infra-assinadas; b) o
advogado infra-assinado, a advogada infra-assinada, os advogados
infra-assinados, as advogadas infra-assinadas.

Advogada, Patrona ou Patronesse?


1. Indaga-se qual dos vocábulos é adequado para indicar a pessoa do sexo
feminino que, regularmente inscrita na OAB, defende um cliente em
autos de processo judicial: advogada, patrona ou patronesse?
2. Por um lado, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa – veículo
oficial da Academia Brasileira de Letras para apontar, com força de lei,
quais palavras existem oficialmente em nosso léxico, assim como para
definir qual sua grafia e pronúncia adequadas – em sua edição de 2009
(p. 627), aponta para a existência oficial, em nosso idioma, dos três
vocábulos referidos: patrono (masculino), patrona (feminino) e
patronesse (também feminino).
3. Por outro lado, quando ao conteúdo semântico, se patrono (do latim,
patronus), literalmente, é aquele que protege, que serve de protetor, o
certo é que, na linguagem jurídica, também “designa o advogado que,
em nome de outrem, defende seus interesses num processo, ou numa
demanda, seja na qualidade de autor, ou de réu” (DE PLÁCIDO E
SILVA, 1989, p. 332).
4. Dessas premissas, duas conclusões podem ser extraídas: a) É de integral
juridicidade empregar o vocábulo patrono (no masculino), como
sinônimo de advogado, e os dicionaristas atestam essa acepção de
“advogado, em relação ao cliente” (HOUAISS; VILLAR, 2001, p.
2.151); b) Por outro lado, sendo patrona o normal feminino desse
vocábulo, na há dúvida de que pode ela ser empregada como sinônimo
de advogada.
5. Quanto a patronesse, porém, embora seja vocábulo que integra
oficialmente nosso léxico, nossos dicionaristas lhe conferem outras
significações: a) senhora que organiza ou patrocina festa ou campanha
de beneficência (FERREIRA, s/d, p. 1.047); b) pessoa do sexo feminino
escolhida por turma que cola grau, para receber homenagens na
cerimônia de formatura; c) mulher que dá suporte a pessoa do mundo
das artes (HOUAISS; VILLAR, 2001, p. 2.151).
6. Assim sendo, muito embora exista patronesse como vocábulo integrante
do léxico oficial, o certo é que seu sentido não corresponde ao de
advogada, motivo por que deve ser evitada a palavra nessa acepção.
Ver Advogado ou Patrono? (P. 88)

Advogado, Ad(e)vogado ou Ad(i)vogado?


1. Quando se tem, em determinado vocábulo, p + e, pronuncia-se pe; se p +
i soa, logicamente, pi. P sozinho, todavia, não seguido de vogal alguma
na palavra, não é pe nem pi; constitui apenas um ruído, e não um som,
uma vez que este se caracteriza pela presença de uma vogal: a, e, i, o, u.
2. Deve-se ter em mente essa realidade, quando se está diante de palavras
com consoantes desacompanhadas de vogais: absoluto, administração,
admirar, advogado, captar, optar, pneu, psicologia.
3. Tente o leitor, como exercício, pronunciar, diferenciando, pe, pi e
simplesmente p. Quando notar a diferença, verá, por exemplo, que a
pronúncia não será p(i)neu nem p(e)neu, mas apenas pneu. Em seguida,
tente exercitar-se na pronúncia de outras palavras que tenham consoantes
desacompanhadas de vogais, como as da lista anterior.
4. Quando isso ocorrer, há de verificar, para o caso específico, que não se
pronuncia ad(e)vogado nem ad(i)vogado, mas apenas advogado.
5. Acrescente-se, ainda, que a parte da Gramática que cuida da correta
pronúncia dos vocábulos chama-se ortoepia (ou ortoépia). E Eliasar
Rosa, a respeito de advogado, faz a seguinte advertência: “É comum
ouvir o barbarismo: adevogado. Epêntese viciosa que até advogados
cometem, porque não proferem muito ligeiramente o d, mas lhe
acrescentam, na pronúncia, um e inexistente” (1993, p. 23).
6. Esclareça-se, por oportuno, que epêntese viciosa é a inserção equivocada
de um ou mais fonemas no meio de uma palavra, geralmente para
facilitar a pronúncia.

Advogado ou Patrono?
1. Embora, num primeiro momento, possa parecer que advogado seja termo
mais técnico do que patrono, uma atenta leitura dos principais diplomas
legais mostra efetiva sinonímia entre ambos, apenas sendo muito maior o
número de ocorrências do primeiro do que do segundo.
2. Vejam-se alguns casos de emprego do vocábulo advogado em
dispositivos de nossas leis: a) “O preso será informado de seus direitos,
entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a
assistência da família e de advogado” (CF, art. 5º, LXIII); b) “Todos os
julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e
fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei
limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus
advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do
direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse
público à informação” (CF, art. 93, IX); c) “O sócio pode ser
representado na assembleia por outro sócio, ou por advogado, mediante
outorga de mandato com especificação dos atos autorizados, devendo o
instrumento ser levado a registro, juntamente com a ata” (CC, art.
1.074, § 1º); d) “É defeso às partes e seus advogados empregar
expressões injuriosas nos escritos apresentados no processo, cabendo ao
juiz, de ofício ou a requerimento do ofendido, mandar riscá-las”
(CPC/1973, art. 15, caput); e) “A sentença condenará o vencido a pagar
ao vencedor as despesas que antecipou e os honorários advocatícios.
Esta verba honorária será devida, também, nos casos em que o
advogado funcionar em causa própria” (CPC/1973, art. 20); f) “A parte
será representada em juízo por advogado legalmente habilitado. Ser-
lhe-á lícito, no entanto, postular em causa própria, quando tiver
habilitação legal ou, não a tendo, no caso de falta de advogado no lugar
ou recusa ou impedimento dos que houver” (CPC/1973, art. 36); g) “Nos
crimes de ação privada, o juiz, a requerimento da parte que comprovar
a sua pobreza, nomeará advogado para promover a ação penal” (CPP,
art. 32, caput); h) “Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem
constituir advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do prazo
prescricional, podendo o juiz determinar a produção antecipada das
provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão
preventiva, nos termos do disposto no art. 312” (CPP, art. 366).
3. Também se vejam casos em que, em mesma acepção, foi utilizada a
palavra patrono: a) “Contra o revel que não tenha patrono nos autos,
correrão os prazos independentemente de intimação, a partir da
publicação de cada ato decisório” (CPC/1973, art. 322, caput); b)
“Salvo nos casos previstos nesta Consolidação, a publicação das
decisões e sua notificação aos litigantes, ou a seus advogados,
consideram-se realizadas nas próprias audiências em que forem as
mesmas proferidas” (CLT, art. 834).
Ver Advogada, Patrona ou Patronesse? (P. 88)
Advogado – Que preposição usar?
1. No que concerne à regência nominal (ou seja, que preposição usar após a
palavra advogado), pode-se resumir com a lição de Francisco Fernandes,
para quem, conforme a acepção, há três preposições com as quais pode
tal vocábulo ser construído, a saber, contra, de e em: a) “Tornou-se o
maior advogado contra o totalitarismo”; b) “Procura o eleitor no
deputado o representante e advogado mais dos seus interesses
individuais, que das suas ideias” (Rui Barbosa); c) “Foi ele o incansável
advogado na causa dos oprimidos” (1969, p. 19).
2. Vale acrescentar que, conforme a necessidade e o sentido, nada impede o
uso de mais de um complemento com preposições distintas: a)
“Advogado dos pobres contra os exploradores”; b) “Advogado dos
trabalhadores na defesa dos interesses destes” (LUFT, 1999, p. 36).

Advogado – Vossa Excelência ou Vossa Senhoria?


1. Um leitor quer saber qual forma de tratamento deve utilizar, por escrito
ou oralmente, para dirigir-se a um advogado ou a um presidente de OAB:
Vossa Excelência ou Vossa Senhoria?
2. Ora, para alguns cargos, destina a tradição do idioma um pronome de
tratamento específico: arcebispo (Vossa Excelência), bispo (Vossa
Excelência), cardeal (Vossa Eminência), comandante geral da Polícia
Militar (Vossa Excelência), deputado (Vossa Excelência),
desembargador (Vossa Excelência), embaixador (Vossa Excelência),
general (Vossa Excelência), governador de Estado (Vossa Excelência),
juiz de direito (Vossa Excelência), ministro de Estado (Vossa
Excelência), padre (Vossa Reverendíssima), prefeito (Vossa Excelência),
presidente da República (Vossa Excelência), príncipe (Vossa Alteza),
promotor de justiça (Vossa Excelência), rei (Vossa Majestade), reitor de
universidade (Vossa Magnificência), secretário de Estado (Vossa
Excelência), senador (Vossa Excelência), vereador (Vossa Excelência),
etc.
3. Já para outras autoridades e para as pessoas comuns, não se resguarda
um tratamento específico, e, assim, para elas, o tratamento a ser
destinado é Vossa Senhoria e Ilustríssimo. Seguem-se alguns exemplos:
advogados, comissários de polícia, cônsules, coronéis, diretores de
empresas, secretários de prefeituras, tenentes-coronéis, etc.
4. Respondendo, de modo específico, à indagação do leitor, o tratamento
que se deve destinar aos advogados e a um Presidente da OAB é Vossa
Senhoria e Ilustríssimo.

A egrégia ou À egrégia?
1. Um leitor diz ter dúvida sobre a existência ou não de crase nos seguintes
exemplos: a) “Oficie-se a/à Egrégia 4ª. Vara”; b) “Oficie-se a/à
Meritíssima Juíza”. Não soube determinar se, no caso, há ou não
pronome de tratamento. Encontrou-os como adjetivos em dicionários;
mas também localizou definições como pronomes de tratamento na
internet.
2. Num primeiro aspecto, costuma-se dizer que não há crase antes de
pronomes de tratamento, e isso é verdade. Todavia os pronomes de
tratamento são aqueles típicos, normalmente iniciados por vossa ou sua,
como Vossa Senhoria, Vossa Excelência, Sua Senhoria, Sua Excelência.
Exs.: a) “Dirijo-me a Vossa Senhoria com todo o respeito”; b) “O
advogado dirigiu-se a Sua Excelência em seu gabinete”.
3. Nas frases trazidas pelo leitor, entretanto, o que se tem são palavras
indicativas de um tratamento respeitoso e até mesmo específicas para as
pessoas às quais são dirigidas; mas, tecnicamente falando, são meros
adjetivos e não constituem pronomes de tratamento em sua forma típica,
que venham a ser capazes de vedar o emprego da crase.
4. Feitas essas ponderações como premissas, tem lugar, no caso, a primeira,
geral e importante regra de crase, que manda substituir, no raciocínio
prático, o nome feminino, antes do qual se quer saber se existe ou não a
crase, por um correspondente do masculino (não necessariamente um
sinônimo, mas um vocábulo que mantenha a mesma estrutura sintática).
5. E se, com a substituição, aparece ao no masculino, então há crase no
feminino; se não aparece ao, não há crase no feminino.
6. Veja-se como ficam os exemplos com a substituição, nos casos trazidos
pelo leitor: a) “Oficie-se a Egrégia 4ª. Vara” (feminino); b) “Oficie-se ao
Egrégio 4º Cartório (masculino); c) “Oficie-se a Meritíssima Juíza”
(feminino); d) “Oficie-se ao Meritíssimo Juízo” (masculino).
7. Ou seja: a) com a substituição por um correspondente masculino,
apareceu ao em ambos os casos; b) então há crase no feminino em
ambas as frases; c) “Oficie-se a Egrégia 4ª. Vara” (errado); d) “Oficie-se
à Egrégia 4ª. Vara” (correto); e) “Oficie-se a Meritíssima Juíza”
(errado); f) “Oficie-se à Meritíssima Juíza” (correto).

À esquerda e À direita de
Ver Antes e depois (P. 120) e Com ou sem – Está correto? (P. 198)

À exceção de ou Com exceção de?


1. Após referir que à exceção constitui expressão sinônima de com exceção
de, Vitório Bergo (1944, p. 15) anota que tem ela o abono de bons
escritores, alinhando, em corroboração, exemplo de Alexandre
Herculano: “… não é já digno de reparo que todos estes diferentes tipos
de linhagens, à exceção de um, se guardassem no arquivo destinado à
conservação dos diplomas e registros públicos?”.
2. Arnaldo Niskier (1992, p. 8) também defende a correção de tal estrutura
bem como de sua correspondente com exceção de.
3. Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 14) vê como igualmente corretas
as seguintes expressões: à exceção de e com exceção de.
4. Veja-se um exemplo de uso de uma dessas expressões em nossos textos
de lei: “Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da
personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu
exercício sofrer limitação voluntária” (CC/2002, art. 11).
Ver Exceção feita de – Galicismo? (P. 341)

À exceção de – Por que tem crase?


1. Um leitor faz uma indagação interessante: se as expressões são
equivalentes, a locução à exceção de não seria sem crase, pois em com
exceção de não há artigo, e sim apenas preposição?
2. O raciocínio realizado pelo leitor, em realidade, levou em consideração,
por analogia, a regra geral para a verificação da existência de crase antes
de nomes comuns do feminino. E, por ela, substitui-se o nome comum
do feminino por um nome comum do masculino (“Vou à cidade – Vou ao
centro”), e, se aparecer ao antes do masculino, então há crase no
feminino. E isso assim é, porque, no masculino, quando aparece ao,
existe um a (preposição) e um o (artigo).
3. Mesmo que não tenha sido esse o raciocínio levado a efeito pelo leitor, o
certo é que se deve atentar a uma outra regra específica para o caso da
expressão que deu origem a sua dúvida.
4. É que a crase é obrigatória (i) nas locuções adverbiais, (ii) nas locuções
prepositivas e (iii) nas locuções conjuntivas, quando formadas por
palavras femininas (tais expressões equivalem a advérbios, preposições
ou conjunções). Exs.: a) “Ele saiu às pressas” (locução adverbial); b)
“Ele venceu à custa de muito esforço” (locução prepositiva); c) “Ele
aprendia à medida que estudava” (locução conjuntiva).
5. E, como lembra Domingos Paschoal Cegalla, à exceção de é uma
locução prepositiva, formada por palavra feminina (exceção), a qual
equivale às preposições salvo, fora ou exceto (1999, p. 14). Por isso tem
crase. Ex.: “À exceção da austera Rosa de Carude, toda a gente deu
razão à fidalga” (Camilo Castelo Branco).
6. Em síntese, respondendo diretamente ao leitor, à exceção de tem crase,
porque assim deve acontecer com toda locução prepositiva formada por
palavra no feminino.

À face de ou Em face de?


Ver Face a, Em face a ou Em face de? (P. 350)

A favor ou contra
Ver Antes e depois (P. 120).

A fazer – Está correto?


1. É de uso corriqueiro, na linguagem comum e coloquial, o infinitivo
precedido da preposição a, como nas seguintes expressões: assunto a
discutir, audiência a realizar, casa a alugar, citação a realizar,
depoimento a prestar, intimação a efetuar, livro a consultar, notificação
a efetuar, perícia a fazer, problema a debater, processo a despachar,
prova a produzir, questão a resolver, sentença a proferir, terreno a
vender, testemunha a ouvir… Alguns ainda acrescentam um pronome se
nesses casos: citação a realizar-se, notificação a efetuar-se…
2. No que tange ao nível que se há de manter na norma culta dos trabalhos
jurídicos e forenses, porém, gramáticos e filólogos estão acordes em que
tal estrutura constitui arraigado galicismo sintático (GÓIS, 1943, p. 185).
3. Para alguns, até mesmo configura “francesia de cabelos brancos”, que só
por descuido se encontra, e com determinada frequência, nos que melhor
falam a língua pátria, não se tendo mostrado disposta a norma culta a
tolerá-la, até porque “perfeitamente evitável o vício, sem prejuízo da
naturalidade” (MACHADO FILHO, 1969a, p. 670).
4. Alfredo Gomes (1924, p. 469) é dos que inserem expressão desse jaez no
rol dos galicismos sintáticos.
5. Vitório Bergo, de igual modo, cita-a no rol dos galicismos de estrutura,
daqueles “em que as palavras são portuguesas, mas a sintaxe
(especialmente a colocação e a regência) é francesa” (1943, p. 119-20).
6. Em mesma obra, tal autor, por um lado, especifica que “constitui
galicismo o emprego da preposição a, em vez do relativo que, em frases
como estas: ‘nada tenho a dizer’, ‘nada tenho a fazer’ e outras
semelhantes”.
7. Por outro lado, manda que se imitem escritores exemplares, que usam
construções legítimas: a) “Nada tinha que ver a oposição” (Alexandre
Herculano); b) “Nada tenho que renunciar” (Rui Barbosa).
8. Por fim, reconhece que infelizmente se generaliza a sintaxe por ele
combatida (BERGO, 1944, p. 167).
9. Em outra obra, confirmando tratar-se de sintaxe francesa, o mesmo autor
afiança ser preferível usar que em lugar de a, fundando-se em exemplo
de Machado de Assis: “Das mais insignificantes, pensava ele, há sempre
alguma coisa que extrair” (BERGO, 1944, p. 19).
10. Júlio Nogueira também se posta contra o uso de expressões como
“Tenho muitas coisas a fazer”; e preconiza o uso da preposição que:
“Tenho muitas coisas que fazer” (1959, p. 71).
11. Sem se posicionar, Domingos Paschoal Cegalla, em análise da locução
nada a fazer, apenas refere tratar-se de “expressão calcada no francês,
mas aceita por conceituados gramáticos, ao lado das vernáculas nada
para fazer e nada que fazer” (1999, p. 273).
12. Um primeiro modo de corrigir tais expressões é usar a preposição por,
que tem como uma de suas atribuições apontar o que se deve fazer ou o
que não está feito. Exs.: assunto por discutir, audiência por realizar,
casa por alugar, citação por realizar, depoimento por prestar,
intimação por efetuar, livro por consultar, notificação por efetuar,
perícia por fazer, problema por debater, processo por despachar, prova
por produzir, questão por resolver, sentença por proferir, terreno por
vender, testemunha por ouvir…
13. Um segundo modo de correção consiste em usar a preposição para e
apassivar o verbo pelo acréscimo do pronome se. Assim: assunto para
se discutir, audiência para se realizar, casa para se alugar, citação
para se realizar, depoimento para se prestar, intimação para se efetuar,
livro para se consultar, notificação para se efetuar, perícia para se
fazer, problema para se debater, processo para se despachar, prova
para se produzir, questão para se resolver, sentença para se proferir,
terreno para se vender, testemunha para se ouvir…
14. Um terceiro modo de perfeita correção é empregar a voz passiva
analítica com o emprego da preposição para ou a: assunto para (ou a)
ser discutido, audiência para (ou a) ser realizada, casa para (ou a) ser
alugada, citação para (ou a) ser realizada, depoimento para (ou a) ser
prestado, intimação para (ou a) ser efetuada, livro para (ou a) ser
consultado, notificação para (ou a) ser efetuada, perícia para (ou a)
ser feita, problema para (ou a) ser debatido, processo para (ou a) ser
despachado, prova para (ou a) ser produzida, questão para (ou a) ser
resolvida, sentença para (ou a) ser proferida, terreno para (ou a) ser
vendido, testemunha para (ou a) ser ouvida…

Aferir
1. Quanto à conjugação verbal, aparece um i na primeira pessoa do
presente do indicativo e nos tempos dela derivados: afiro, aferes, afere,
aferimos, aferis, aferem (presente do indicativo); afira, afiras, afira,
afiramos, afirais, afiram (presente do subjuntivo); afere, afira, afiramos,
aferi, afiram (imperativo afirmativo); não afiras, não afira, não
afiramos, não afirais, não afiram (imperativo negativo).
2. Tal verbo não é defectivo, e não apresenta problemas ou irregularidades
nos demais tempos e modos, em que é conjugado normal e regularmente.
3. Na observação de José de Nicola e Ernani Terra, “o e do radical muda
para i na primeira pessoa do singular do presente do indicativo e nas
formas daí derivadas” (2000, p. 20).
4. Vejam-se alguns casos de emprego do referido verbo em dispositivos de
nossa legislação: a) “A partir da citação, a responsabilidade do
possuidor se há de aferir pelas regras concernentes à posse de má-fé e à
mora” (CC, art. 1.826, parágrafo único); b) “O valor da confissão se
aferirá pelos critérios adotados para os outros elementos de prova, e
para a sua apreciação o juiz deverá confrontá-la com as demais provas
do processo, verificando se entre ela e estas existe compatibilidade ou
concordância” (CPP, art. 197); c) “O fornecedor imediato será
responsável quando fizer a pesagem ou a medição e o instrumento
utilizado não estiver aferido segundo os padrões oficiais” (CDC, art. 19,
§ 2º).

Afetar
1. Por primeiro, não há dúvida acerca da vernaculidade desse verbo,
quando tem o sentido de fingir, simular. Ex.: “Afetei suma inclinação às
ciências”.
2. Nesse sentido é a lição de Silveira Bueno (1938, p. 104), o ensino de
Vitório Bergo (1944, p. 16) e a doutrina de Mário Barreto (1954a, p.
120-2), entre outros.
3. Na lição de Silveira Bueno (1938, p. 104), num segundo aspecto, é
completamente equivocado e constitui galicismo seu emprego no sentido
de atingir. Exs.: a) “A paralisação do metrô afeta a vida normal da
população” (errado); b) “A paralisação do metrô aflige a população”
(correto).
4. Domingos Paschoal Cegalla, porém, atesta-lhe a vernaculidade assim no
sentido de lesar, atingir, como no de fingir. Exs.: a) “A doença lhe afetou
o pulmão esquerdo”; b) “Falava alto, afetando destemor” (1999, p. 14-
5).
5. Por seu lado, Vitório Bergo (1944, p. 16), a par de insistir em que, em
português, tal verbo significa exagerar, fingir, requintar, simular, anota,
em sequência, que se vão vulgarizando as acepções francesas de afligir,
impressionar, interessar, tocar, trazendo em corroboração excertos de
autores insuspeitos: a) “O dinheiro é, na sociedade, em vésperas de
políticas revoluções, como o sangue nos organismos afetado por
grandes agentes mórbidos” (Latino Coelho); b) “Esse privilégio vai
afetar não só a fazenda pública mas direitos particulares” (Alexandre
Herculano); c) “Estão sempre prontos a declararem-se afetados da
cólera” (Camilo Castelo Branco).
6. Mário Barreto (1954a, p. 120-22) comunga do ensinamento acerca da
possibilidade de emprego de afetar na acepção de tocar, interessar,
afligir.
7. Um terceiro aspecto concerne ao emprego do verbo afetar (e, por
extensão, do particípio passado afeto) na acepção de incumbir, cometer,
dar comissão a, estar a cargo, pertencer, tocar.
8. Para Edmundo Dantès Nascimento (1982, p. 106), “tal uso não é
Português”, complementando esse autor a lição com exemplos em que
constam os efetivos sinônimos que entende devam ser usados: a) “A
questão foi cometida ao Ministro”; b) “Essa proposta está a cargo da
comissão da Fazenda”.
9. Em outra passagem de mesma obra, tal autor observa que, em Português,
o verbo afetar há de ser substituído, nesses casos, por submeter,
interessar, tocar, sujeitar, respeitar, e ainda pelas expressões dizer
respeito a, tocar a, etc.
10. Bem por isso, reputa viciosa uma construção como “O caso está afeto
ao Congresso”, estrutura essa que ele manda corrigir por “O caso está
sujeito ao Congresso” (NASCIMENTO, 1982, p. 106).
11. Também assim doutrina Luís A. P. Vitória (1969, p. 19) acerca do
particípio passado afeto nesses casos: “Como particípio passado, deve
ser substituído por submetido ou confiado: Assim, diga-se ‘Este
processo está confiado (e não afeto) ao juiz’”.
12. Coincidindo com ensinamento de Napoleão Mendes de Almeida e
Otelo Reis, entre outros, contudo, Francisco Fernandes (REIS, 1971, p.
56) observa, acerca de afetar e sobretudo do particípio passado afeto,
que, apesar da contrariedade dos compêndios em geral, tal forma “é
corrente e parece imprescindível, no sentido em que a impugnam:
‘Afetamos este caso ao tribunal’, ‘A questão foi afeta ao ministro’”.
13. Para resumir, ante a própria diversidade de posicionamentos entre os
gramáticos, há de se ter uma postura de sintaxe mais liberal, que
possibilite o emprego de afetar (e de afeto, adjetivo que é seu particípio
passado, por conseguinte), nas três acepções referidas: a) de fingir,
porque há unanimidade entre os gramáticos acerca da vernaculidade de
seu uso; b) de atingir e de submeter, por força do vetusto princípio de
que, na dúvida entre os gramáticos, o melhor é conferir liberdade de
emprego ao usuário.
14. Vejam-se alguns exemplos de emprego do verbo afetar em dispositivos
de nossas leis: a) “Qualquer alteração na estrutura jurídica da
empresa não afetará os direitos adquiridos por seus empregados”
(CLT, art. 10); b) “Nos casos de urgência ou de acidente, capazes de
afetar a segurança ou regularidade do serviço, poderá a duração do
trabalho ser excepcionalmente elevada a qualquer número de
horas…” (CLT, art. 240, caput); c) “Ressalvadas as disposições legais
destinadas a corrigir as distorções que afetam o acesso da mulher ao
mercado de trabalho e certas especificidades estabelecidas nos
acordos trabalhistas, é vedado…” (CLT, art. 373-A, caput); d) “A
mudança na propriedade ou na estrutura jurídica da empresa não
afetará os contratos de trabalho dos respectivos empregados” (CLT,
art. 448, caput); V) “As circunstâncias que modificam o crédito
tributário, sua extensão ou seus efeitos, ou as garantias ou os
privilégios a ele atribuídos, ou que excluem sua exigibilidade não
afetam a obrigação tributária que lhe deu origem” (CTN, art. 140).
15. E também se vejam alguns casos de emprego do adjetivo afeto por
nossas leis, exatamente no sentido de sujeito, submetido ou confiado:
a) “As custas e emolumentos serão destinados exclusivamente ao
custeio dos serviços afetos às atividades específicas da Justiça” (CF,
art. 98, § 2º); b) “Não adotada a providência descrita no § 1º deste
artigo, o relator no Superior Tribunal de Justiça, ao identificar que
sobre a controvérsia já existe jurisprudência dominante ou que a
matéria já está afeta ao colegiado, poderá determinar a suspensão,
nos tribunais de segunda instância, dos recursos nos quais a
controvérsia esteja estabelecida” (CPC/1973, art. 543-C, § 2º); c)
“Compete à secretaria das Juntas: … i) o desempenho dos demais
trabalhos que lhe forem cometidos pelo Presidente da Junta, para
melhor execução dos serviços que lhe estão afetos” (CLT, art. 711, i).

Afeto
Ver Afetar (P. 92).

A fim de ou Afim de?


1. A fim de é locução que se escreve com os elementos separados, indica
finalidade e é sinônima de com o fim de. Exs.: a) “O juiz estudou com
dedicação, a fim de sentenciar adequadamente o feito”; b) “Não
constituem atos ilícitos: II – a deterioração ou destruição da coisa
alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente”
(CC/2002, art. 188, II); c) “Se no contrato as obrigações couberem a
apenas uma das partes, poderá ela pleitear que a sua prestação seja
reduzida, ou alterado o modo de executá-la, a fim de evitar a
onerosidade excessiva” (CC/2002, art. 480); d) “A renúncia do mandato
será comunicada ao mandante, que, se for prejudicado pela sua
inoportunidade, ou pela falta de tempo, a fim de prover à substituição do
procurador, será indenizado pelo mandatário…” (CC/2002, art. 688); e)
“É lícito ao transportador exigir a declaração do valor da bagagem a
fim de fixar o limite da indenização” (CC/2002, art. 734, parágrafo
único)
2. Atente-se a que, muito embora de grande emprego na linguagem
popular, é errôneo seu uso, quando não indica finalidade. Ex.: “O
advogado estava a fim de tumultuar o processo” (errado).
3. Justificando alongada explanação sobre esse emprego por último
referido, Napoleão Mendes de Almeida assim pondera: “O que nos faz
estender sobre a locução prepositiva é o seu disparatado emprego sem
nenhuma indicação de finalidade em orações como esta de um rapazelho
universitário, proferida talvez por influência de alguma novela de
televisão: ‘Eu estou a fim de ir a uma festa’. É verdade que a fim de
equivale a para, mas a que para equivale? Equivale a para com o
significado de com o fim de: ‘Saiu a fim de tomar ar’. É evidente o
engano do estudante; não pode usar da sinonímia na oração referida”
(1981, p. 2).
4. Também não confundir com afim, adjetivo que significa próximo,
semelhante. Ex.: “Bem se poderia afirmar que eram almas afins”.
5. Não confundir, também com o mesmo vocábulo afim, que, em Direito,
tem o sentido técnico de vínculo civil pelo laço da afinidade, ou seja,
aquele que existe entre um cônjuge e os parentes próximos de seu
consorte (sogro, sogra, genro, nora, cunhados). Exs.: a) “Salvo dolo, a
sub-rogação não tem lugar se o dano foi causado pelo cônjuge do
segurado, seus descendentes ou ascendentes, consanguíneos ou afins”
(CC/2002, art. 785, § 1º); b) “Não podem casar: … II – os afins em linha
reta” (CC/2002, art. 1.521, II); c) “As causas suspensivas da celebração
do casamento podem ser arguidas pelos parentes em linha reta de um
dos nubentes, sejam consanguíneos ou afins, e pelos colaterais em
segundo grau, sejam também consanguíneos ou afins” (CC/2002, art.
1.524); d) “Quem não for parente do menor não poderá ser obrigado a
aceitar a tutela, se houver no lugar parente idôneo, consanguíneo ou
afim, em condições de exercê-la” (CC/2002, art. 1.737).

A final ou Afinal?
1. A final é expressão bastante comum em linguagem jurídica, com o
significado de por último, ao final. Ex.: “O autor requereu, a final, a
condenação do réu ao pagamento de custas e honorários”.
2. Observam Antonio Henriques e Maria Margarida de Andrade que essa
expressão é empregada com o sentido de no final da demanda, por
último, concluído o processo, terminado o processo, e realçam ser ela
“expressão tipicamente restrita ao vocabulário jurídico” (1999, p. 61).
3. Em obra de exclusiva autoria, Antonio Henriques (1999, p. 11) volta a
observar que se trata de “expressão corrente na área jurídica e a ela
restrita” e lhe confere o significado de no final, por último, no fim, no
término da demanda.
4. Vejam-se alguns exemplos de emprego da expressão a final em textos
legais, com seu correto significado: a) “As despesas dos atos
processuais, efetuados a requerimento do Ministério Público ou da
Fazenda Pública, serão pagas a final pelo vencido” (CPC/1973, art. 27);
b) “Incumbe ao curador: … V – prestar contas a final de sua gestão”
(CPC/1973, art. 1.144, V); c) “Apresentados e vistos os embargos,
proferirá o Tribunal a sua sentença, rejeitando-os, ou recebendo-os e
julgando-os logo provados. Todavia, se ao Tribunal parecer que a
matéria dos embargos é relevante mas que não está suficientemente
provada, poderá assinar dez dias para a prova; e findo este prazo, sem
mais audiência que a do Fiscal, os julgará a final” (CCo, art. 851, 1ª
parte).
5. Por outro lado, afinal é advérbio e tem o significado de enfim,
finalmente. Ex.: “O divórcio, afinal, acabou sendo a melhor solução
para aquele casal”.
6. Vejam-se alguns casos de emprego do vocábulo afinal em nossa
legislação: a) “Se nenhum dos condôminos tem benfeitorias na coisa
comum e participam todos do condomínio em partes iguais, realizar-se-
á licitação entre estranhos e, antes de adjudicada a coisa àquele que
ofereceu maior lanço, proceder-se-á à licitação entre os condôminos, a
fim de que a coisa seja adjudicada a quem afinal oferecer melhor lanço,
preferindo, em condições iguais, o condômino ao estranho” (CC, art.
1.322, parágrafo único); b) “A justificação será afinal julgada por
sentença e os autos serão entregues ao requerente independentemente de
traslado, decorridas 48 (quarenta e oito) horas da decisão” (CPC/1973,
art. 866, caput).
7. No caso de alguns dispositivos de lei, fica-se em dúvida acerca da
correção do vocábulo ou expressão que se empregou – se a final ou
afinal: a) “Julgando suficientemente provada a posse, o juiz deferirá
liminarmente os embargos e ordenará a expedição de mandado de
manutenção ou de restituição em favor do embargante, que só receberá
os bens depois de prestar caução de os devolver com seus rendimentos,
caso sejam afinal declarados improcedentes” (CPC/1973, art. 1.051); b)
“Apresentado o preso à autoridade competente, ouvirá esta o condutor e
colherá, desde logo, sua assinatura, entregando a este cópia do termo e
recibo de entrega do preso. Em seguida, procederá à oitiva das
testemunhas que o acompanharem e ao interrogatório do acusado sobre
a imputação que lhe é feita, colhendo, após cada oitiva suas respectivas
assinaturas, lavrando, a autoridade, afinal, o auto” (CPP, art. 304); c)
“Se o interessado não souber ou não puder assinar as suas declarações,
será exigida a presença de três testemunhas, uma das quais assinará por
ele, a rogo, devendo o funcionário ler as declarações, feitas em voz alta,
atestando, afinal, que delas ficou ciente o interessado” (CLT, art. 17, §
2º, revogado).

A folhas vinte e duas – Como é a forma correta?


1. Em expressões dessa natureza, ao menos cinco problemas podem surgir:
a) se é ou não correto o uso do numeral cardinal (vinte e duas), ou se o
adequado é o ordinal (vigésima segunda); b) qual preposição se usa (a
ou em), e também se se emprega apenas a preposição, ou também o
artigo (a ou às); c) se a segunda palavra da expressão fica no singular ou
vai para o plural (folha ou folhas); d) se o numeral fica invariável no
masculino, ou se flexiona em concordância com o substantivo
modificado (vinte e dois ou vinte e duas); e) qual o adequado modo de
abreviar o substantivo da indigitada expressão (fl. ou fls.).
2. De início, quanto ao emprego de números cardinais ou ordinais, ao
lecionar que “por amor da brevidade empregam-se muitas vezes os
numerais cardinais em vez dos ordinais, quando estes são muito
extensos”, opina Alfredo Gomes pela possibilidade do uso de ambos,
“quando queremos designar… a folha de um volume: ‘A folhas
novecentas e trinta e uma do seu dicionário encontrará… o significado
desta palavra’” (1924, p. 356).
3. Para Napoleão Mendes de Almeida, a expressão a folhas vinte e duas é
correta e significa “a vinte e duas folhas do início do trabalho” (1981, p.
2).
4. Vitório Bergo, que cita exemplo de Camilo Castelo Branco, confirma
tratar-se essa de “boa sintaxe, de que se servem excelentes escritores”
(1944, p. 29).
5. Em tais casos, o fato de tomar o numeral cardinal o lugar do numeral
ordinal é considerado estrutura perfeitamente correta por João Ribeiro,
para quem “os ordinais podem ser substituídos por cardinais,
especialmente em números altos” (1923, p. 161).
6. No segundo aspecto fulcral desse problema – de se definir qual
preposição se usa (a ou em), e também se se emprega ou não artigo (a ou
às) – observa-se, desde logo, o posicionamento de Silveira Bueno (1957,
p. 307) de aceitar o uso de ambas as preposições, a e em: “o lugar onde
pode ser indicado pela preposição a ou em – estar à porta, estar na
porta; estar na janela, estar à janela. Em Portugal prefere-se a
preposição a; no Brasil, a preposição em: com a cruz às costas; com a
cruz nas costas”.
7. Eliasar Rosa – além de justificar o emprego de em folhas – refere a
possibilidade concomitante de uso das expressões à folha, às folhas e a
folhas, observando que, “na última forma, não se usa o sinal de crase,
por só estar folhas no plural” (1993, p. 23).
8. Observando que o uso forense consagrou de há muito as expressões a
folhas e de folhas, Geraldo Amaral Arruda anota ser frequente encontrar
a primeira das locuções com o artigo as (às folhas). Aconselha tal autor,
entretanto, ser melhor dizer a folhas, “da mesma forma que nos
referimos a documento de folhas” (ARRUDA, 1997, p. 16-7).
9. Em outra passagem de mesma obra, tal autor, invocando lição de
Napoleão Mendes de Almeida, reitera que “as regras gramaticais
autorizariam também o uso de às folhas ou nas folhas, em determinados
textos”, mas observa que “nada recomenda o abandono da fórmula
tradicional do foro (a folhas), mesmo porque corresponde à outra
locução em que entra a preposição de”. E acrescenta: “de fato, se
escrevemos ‘conforme documento de fls. 10’ (e não ‘das folhas 10’), não
há porque não escrever também ‘documentos juntados a fls.’”.
10. E conclui tal autor ser “preferível, na linguagem forense, manter o uso
tradicional. Mas isso não importa em considerar errôneos outros usos”.
Gramaticalmente, assim, tanto é correto escrever na folha tal como à
folha tal, ou a fls. tais (ARRUDA, 1997, p. 104-5).
11. Quanto ao terceiro problema de tal expressão – de se resolver se a
segunda palavra da expressão fica no singular ou vai para o plural
(folha ou folhas) – além da própria observação advinda dos exemplos
dos demais autores, vale trazer o abono do ensinamento de Luís A. P.
Vitória, que considera corretas ambas as expressões: à folha cinco e a
folhas cinco (1969, p. 179).
12. Nessa mesma esteira é a lição de Silveira Bueno: “Se o sr. admitir que
os cardinais estão empregados pelos ordinais, poderá deixar no singular
o substantivo: … folha vinte e um, isto é, … folha vigésima primeira…
Evidentemente, em tais expressões, ainda que tomemos a forma
plural… folhas, sempre entendemos referir-nos ao singular” (1957, p.
391).
13. No que tange ao quarto problema da expressão – solucionar se o
numeral fica invariável no masculino, ou se flexiona em concordância
com o substantivo modificado (vinte e dois ou vinte e duas) – vê-se
que, por primeiro, Celso Cunha, de modo bem simples, equipara o caso
ao da enumeração de casas, apartamentos, quartos de hotel, cabines de
navio e poltronas de casas de diversão, mandando empregar os
cardinais e justificando que “nesses casos sente-se a omissão da
palavra número”. E exemplifica: folha 8 (CUNHA, 1970, p. 136),
podendo-se notar, em sua explanação, que a palavra folha vem sempre
no singular.
14. De igual modo, refere Edmundo Dantès Nascimento que se diz, na
linguagem forense, a fls. trinta e duas (1982, p. 8).
15. Já para Vitório Bergo se há de dizer folha dois, e não folha duas,
“porquanto o adjetivo determinativo numeral cardinal fica invariável
quando equivale ao ordinal” (1944, p. 181).
16. Aires da Mata Machado Filho, por sua vez, num primeiro momento,
observa que “os numerais cardinais empregados por ordinais ficam às
vezes no masculino, subentendendo-se número”.
17. Escudando-se, a seguir, no magistério de Antenor Nascentes,
complementa, sem cunho algum condenatório de construção diversa,
que tal posicionamento “não é observado na linguagem do foro, em
que se diz: a folhas trinta e uma (MACHADO FILHO, 1969a, p. 554).
18. Evanildo Bechara, nessa mesma esteira, ao tratar do emprego dos
cardinais pelos ordinais, muito embora diga não ocorrer normalmente
sua flexão (página um, figura vinte e um), defende a possibilidade de,
na linguagem jurídica, dizer-se “a folhas vinte e uma”, “a folhas
quarenta e duas” (1974, p. 302).
19. Eduardo Carlos Pereira, a par da observação genérica de que “os
numerais cardinais, empregados pelos ordinais, não recebem flexão
feminina” – página dois, casa vinte e um – acrescenta que, “na
linguagem forense”, se diz a folhas trinta e duas” (1924, p. 232).
20. Luiz Antônio Sacconi observa, por primeiro, que, “a título de
brevidade, usamos constantemente os cardinais pelos ordinais” – casa
vinte e um, página trinta e dois – para complementar, em seguida, que
“os cardinais um e dois não variam nesse caso porque está
subentendida a palavra número”. Por outro lado, sem outras
explicações, acrescenta textualmente que, “na linguagem forense,
vemos o numeral flexionado: a folhas vinte e uma, a folhas trinta e
duas” (SACCONI, 1979, p. 60).
21. Acrescente-se que também Carlos Góis, num primeiro aspecto, assim
leciona: “Deixam de flexionar-se em gênero os adjetivos numerais
cardinais, quando empregados em substituição aos ordinais. Assim
deve dizer-se: ‘Página dois’ – e não ‘Página duas’; ‘Casa trinta e um’
– e não ‘Casa trinta e uma’”. Num segundo aspecto, todavia, excetua
da regra tal gramático o estilo forense, em que justifica ser “corrente
dizer: a folhas vinte e duas, trinta e duas…” (GÓIS, 1943, p. 305).
22. Ainda a respeito da flexão para o feminino ou não em tais casos,
Silveira Bueno (1957, p. 391) resume a questão em duas regras: a)
“Nestas expressões em que entram cardinais que possuem terminações
próprias para ambos os gêneros, como um, uma, dois, duas, manda o
uso que se não faça a concordância da expressão numérica com o
gênero do substantivo, mas com o vocábulo subentendido número.
Assim: página dois, casa trinta e um, e não página duas, casa trinta e
uma”; b) “Admite-se a exceção da linguagem forense onde se dá tal
concordância: folhas vinte e duas”.
23. Para a possibilidade de deixar sem flexão um numeral, em discordância
com o substantivo a que se refere, assim justifica Júlio Nogueira: “em
vista de serem variáveis em gênero somente os numerais um e dois, o
emprego deles, às vezes, também se faz como se fossem invariáveis:
folha um” (1939, p. 204).
24. Quanto ao quinto e último problema que normalmente ocorre com tal
expressão – saber o adequado modo de abreviar o substantivo nela
existente (fl. ou fls.) – não se pode esquecer que o próprio Formulário
Ortográfico oficial, que traz registradas as “reduções mais correntes” e
acrescenta que “uma palavra pode estar reduzida de duas ou mais
formas” (ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, 2009, p. 865 e
870), não mostra uniformidade, é confuso e deficiente nesse campo,
deixando sem solução diversos problemas.
25. Por essa razão, quando se abreviar, deve-se ter em mente a advertência
de Napoleão Mendes de Almeida: “O que a abreviatura, contração ou
sigla deve objetivar é a clareza; alcançada esta, não cabem objeções”
(1981, p. 6).
26. Vale dizer: o melhor é concluir que o usuário do idioma desfruta de
certa liberdade para abreviar as palavras e expressões, guardados
determinados parâmetros e princípios, razão pela qual a abreviatura de
folhas tanto pode ser fl. quanto fls.
27. Registre-se apenas que, a esse respeito, realça Geraldo Amaral Arruda
que a locução a fls., muito usada na linguagem forense, “é uma forma
tradicional e gramaticalmente justificada” (1997, p. 104-5).
28. Quanto a todos os problemas apresentados, assim se podem resumir as
lições referidas: a) tanto se pode usar o numeral cardinal quanto o
ordinal, estando aquele em lugar deste, por amor à brevidade (folhas
vinte e dois ou folha vigésima segunda); b) podem-se usar as
preposições a ou em (indiferentemente) ou mesmo de, conforme o
caso, daí resultando as associações a folha, à folha, a folhas (jamais à
folhas), às folhas, em folhas, na folha, nas folhas, não se devendo
olvidar a possibilidade de existência de de folhas; c) a segunda palavra
da expressão fica no singular ou vai para o plural, indiferentemente
(folha ou folhas); d) no que concerne aos textos jurídicos e forenses, o
numeral da expressão fica invariável no masculino, ou se flexiona,
optativamente, em concordância com o substantivo modificado (vinte e
dois ou vinte e duas); e) quanto ao adequado modo de abreviar o
substantivo da indigitada expressão (fl. ou fls.), fica ao usuário do
idioma a liberdade para abreviar de uma ou de outra forma, apenas com
a ressalva de que não empregará fls. como forma reduzida de folha.
29. As observações feitas neste verbete servem para expressões similares,
como à página dois.
Ver Abreviatura, Abreviação e Sigla – O que é e Como usa? (P. 55)
Afora
1. A primeira classificação gramatical da palavra afora é advérbio, hipótese
em que, na lição de Morais, é o mesmo advérbio fora, antecedido do
mesmo a que entra na composição de outros advérbios (adentro, adiante,
além, até), em metaplasmo às vezes já existente no próprio latim
(MORAIS apud ALMEIDA, 1981, p. 229). Desse caso é a expressão
pelo Brasil afora.
2. Afora também pode ter função prepositiva, caso em que Celso Cunha
(1970, p. 147) observa que é preposição acidental. Vale dizer: em tal
hipótese, pertence normalmente a outra categoria gramatical, mas
exerce, esporadicamente, o papel de preposição.
3. Nesse caso, significa além de, à exceção de, e é sinônima de fora. Exs.:
a) “Afora a vítima, ninguém mais permaneceu na sala de audiências”; b)
“Fora a vítima, ninguém mais permaneceu na sala de audiências”.
4. Exatamente por ser preposição acidental, e não essencial, depois dela se
empregam as formas eu e tu, e não mim nem ti. Ex.: a) “Todos os do
escritório, afora tu, não serão convidados para a festa” (correto); b)
“Todos os do escritório, afora ti, não serão convidados para a festa”
(errado).
5. Edmundo Dantès Nascimento (1982, p. 9) reitera esse entendimento,
asseverando que essa palavra, com função de preposição, pode reger eu e
tu, e que a razão desse emprego está em que tal vocábulo não é
originariamente preposição.
6. Domingos Paschoal Cegalla, por um lado, anota que se escreve uma só
palavra, como em “Ir pelo mar afora, pelo mundo afora, pela vida
afora”. Por outro lado, acrescenta que, “em escritores clássicos,
encontra-se fora em vez de afora”. Ex.: “Saíram pelo mundo fora”. Por
fim, em adendo até agora não observado, desaconselha “usar afora com
o significado de exceto ou além de, em construções como: ‘Abateram
todas as árvores, afora uma palmeira’, ou ‘Ele é dono de cem imóveis,
afora os que possui no exterior’” (CEGALLA, 1999, p. 15).
Ver Fora (P. 359).

Aforar
1. É verbo empregado com frequência em textos jurídicos e forenses na
acepção de propor uma ação em juízo, de protocolar um pedido para
apreciação judicial, de ajuizar. Ex.: “Não dando fruto as tratativas
amigáveis para o recebimento da dívida, o credor aforou ação de
execução contra o devedor”.
2. Por ser verbo transitivo direto, admite emprego na voz passiva. Exs.: a)
“As causas em que a União for autora serão aforadas na seção
judiciária onde tiver domicílio a outra parte” (CF/88, art. 109, § 1º); b)
“As causas intentadas contra a União poderão ser aforadas na seção
judiciária em que for domiciliado o autor…” (CF/88, art. 109, § 2º).
3. Não traz problemas quanto à conjugação verbal, por ser regular e
conjugado em todas as pessoas, tempos e modos.

Aforisma ou Aforismo?
1. Aforisma é palavra inexistente com o sentido que pretendem dar-lhe,
muitas vezes empregada de modo errôneo em arrazoados forenses.
2. Já aforismo, palavra de origem grega, significa um dito, “máxima ou
sentença, que em poucas palavras contém uma regra ou um princípio de
grande alcance” (Encyclopaedia Britannica do Brasil, 1995, p. 67).
3. Anote-se que o vocábulo é masculino. Ex.: “É antigo o aforismo de que
não se há de condenar alguém sem o devido processo legal”.
4. Atente-se, também, ao erro muito comum de se dizer e escrever
aforisma, ao mesmo tempo em que se lhe atribui o gênero masculino (o
aforisma); tal palavra assim não existe.
5. O que, em realidade, existe, é aforisma, vocábulo efetivamente feminino,
de uso na veterinária, a indicar tumor, em regra sanguíneo, que se forma
nos animais, pela ruptura dos vasos.
6. Atento aos frequentes equívocos que se cometem a seu respeito, Eliasar
Rosa, com propriedade, adverte a que “não se diga aforisma, por
influência, talvez, de sofisma, aneurisma etc.” (1993, p. 23).
7. Anote-se, por fim, que o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa,
da Academia Brasileira de Letras, órgão incumbido oficialmente de
determinar a existência dos vocábulos em nosso idioma, registra a
existência tanto de aforisma (como substantivo masculino) como de
aforismo (também como substantivo masculino), sem, contudo precisar-
lhe o sentido ou especificar explicação (2009, p. 27), o que não é da
essência de sua atividade em casos dessa natureza.

A frente de ou À frente de?


1. Uma leitora pergunta se, na frase “Estou à frente dos negócios”, a crase é
correta.
2. Ora, uma primeira, geral e importante regra de crase antes de nomes
comuns do feminino é aquela que manda substituir, no raciocínio para o
caso concreto, o nome feminino, antes do qual se quer saber se existe a
crase, por um correspondente do masculino (não necessariamente um
sinônimo, mas um vocábulo que mantenha a mesma estrutura sintática).
3. E se, com a substituição, aparece ao no masculino, então há crase no
feminino; em caso contrário, não há crase no feminino.
4. Vejamos como fica o exemplo com a substituição, no caso trazido pela
leitora: a) “Estou à frente dos negócios” (feminino); b) “Estou ao lado
dos negócios” (masculino).
5. Melhor explicitando o raciocínio para o caso da consulta: a) com a
substituição por um correspondente, apareceu ao no masculino; b) então
há crase no feminino; c) “Estou à frente dos negócios” (correto); d)
“Estou a frente dos negócios” (errado).

Agente da passiva
1. Da oração “O réu foi condenado pela sentença”, podem-se extrair as
seguintes conclusões no plano da análise sintática: a) o sujeito é o réu; b)
o verbo está na voz passiva, porque o sujeito recebe a ação indicada por
aquele; c) tal voz passiva é analítica (e não sintética), porque o verbo não
é formado por uma só palavra, mas está em locução, e não tem a
partícula se; d) pela sentença é o agente da passiva, porque é o termo
que, na voz passiva, pratica a ação indicada pelo verbo.
2. É bem certo que, nos dias de hoje, é muito mais comum que se forme o
agente da passiva com a preposição por. Exs.: a) “O justo é amado por
Cristo”; b) “O boticário era aborrecido pelas damas”.
3. Anote-se, todavia, que é também correto o emprego – e em épocas
anteriores era muito mais comum – do agente da passiva com a
preposição de. Exs.: a) “O justo é amado de Cristo”; b) “O boticário era
aborrecido das damas” (BARRETO, 1954b, p. 181).
4. Sob o prisma da voz passiva analítica, lembra Artur de Almeida Torres
(1966, p. 94), por um lado, que “no português hodierno não se costuma
expressar o agente quando a passiva é feita com a partícula se. Tal
prática era comum até o tempo de Vieira: ‘Males que se executam pelas
mãos dos homens’”.
5. Em outra passagem, por outro lado, chega mesmo esse autor a afirmar
que “é arcaísmo dizer-se: ‘Constroem-se casas por operários
competentes’” (TORRES, 1966, p. 195).
6. Remate-se com a observação de que através de não serve para indicar o
agente da passiva. Exs.: “O gol foi feito pelo atacante” (correto); b) “O
gol foi feito através do atacante” (errado).
Ver Através de (P. 145), Voz passiva – Quando é possível? (P. 793) e Voz
passiva sintética (P. 794).

A gente foi ou A gente fomos?


1. É bem certo que essas expressões não pertencem à norma culta, motivo
por que deve ser banida dos escritos em que tal padrão se faz mister.
2. Para Antenor Nascentes (1942, p. 90), “a locução a gente vale às vezes,
em estilo familiar, por um pronome da primeira pessoa do plural”. Ex.:
“A gente foi ao teatro”. Todavia, no plano da concordância verbal, é
errada, mesmo no plano coloquial, uma construção como “A gente fomos
ao teatro”, devendo o verbo ficar na terceira pessoa do singular.
3. No que concerne à concordância nominal, nos casos em que seu uso é
permitido, Silveira Bueno observa que tal forma pronominal indefinida
“exige a concordância com o gênero da pessoa que ela representa e não
com o gênero dessa palavra”. Assim, o homem haverá de dizer: “A gente
ficou pasmado”; a mulher, porém, dirá: “A gente ficou pasmada” (1938,
p. 76).
4. Cândido Jucá Filho (1963, p. 326) também partilha da opinião de que se
deve observar, em casos dessa natureza, a concordância por silepse: “A
gente está cansado (se fala um homem)”.
5. O Padre José F. Stringari, por outro lado, lembra que, nesses casos, a
questão da concordância nominal não é tão pacífica, anotando lição de
João Ribeiro, para quem “o sujeito indefinido a gente é sempre
feminino: A gente ficou ofendida, ou aborrecida, e não ofendido ou
aborrecido. Isso é trivialíssimo e não sofre dúvida. Os que não observam
essa concordância cometem grosseiro e inexplicável erro”.
6. Por outro lado, o mesmo padre gramático traz ensino do abalizado
vernaculista Mário Barreto, para quem, “por silepse, poderia dizer-se
corretamente: A gente ficou ofendido ou aborrecido, evidentemente
quando se trata dum homem”.
7. E ultima o autor eclesiástico (STRINGARI, 1961, p. 63-4) com o
estratagema do emprego de se em lugar de a gente, para se verificar com
clareza que a concordância ideológica ou por silepse se faz com
facilidade, preconizando que deve ser a aceita em casos dessa natureza:
“Fica-se ofendido”, “Fica-se calado” (quando quem fala é um homem);
“Fica-se ofendida”, “Fica-se calada” (quando quem fala é uma mulher).
8. No plano histórico, Pedro A. Pinto (1924, p. 300-2) traz as seguintes
ponderações: a) tal construção não é um brasileirismo, mas, “antes,
lusitanismo ou, talvez, latinismo”; b) “na era pré-clássica da língua, em
regra, o sujeito gente levava o verbo ao plural”; c) “nos quinhentistas,
gente ora está com o verbo no singular, ora no plural”; d) esse duplo uso
de concordância se encontra em versos de Camões: i) “Esperam que a
guerreira gente saia” (singular); ii) “O grande estrondo a maura gente
espanta, / Como se vissem hórrida batalha” (plural); e) em períodos
clássicos posteriores, há exemplos dessa convivência sintática em João
de Barros, Camilo e Trindade Coelho.
9. Objete-se, contudo, que o exemplo de Camões, para comprovar a
possibilidade de concordância no plural, não se mostra adequado para
ilustrar o pensamento expresso por quem o citou, uma vez que, em
palavras de significação coletiva que não venham seguidas de termo
especificador, quer quando o verbo se distancia do sujeito, mesmo sendo
um só, quer quando há um segundo verbo, pode este, facultativamente,
ficar no singular, ou ir para o plural.
10. E se finalize dizendo que o melhor, em tais casos, mesmo na linguagem
informal, em que se permite o emprego da referida expressão, é
proceder do seguinte modo: a) deixar o verbo na terceira pessoa do
singular; b) proceder, adicionalmente, à concordância ideológica
quanto ao gênero dos adjetivos. Exs.: i) “A gente está cansado” (se fala
um homem); ii) “A gente está cansada” (se fala uma mulher).

Agilizar – Existe?
Ver Verbos – Existem ou não? (P. 764)

Agora há pouco – Existe?


1. Uma leitora observa que vê e ouve, com frequência, na televisão, o
emprego da expressão agora há pouco. Parece-lhe que, se é agora
(presente), não pode ser há pouco (passado). E indaga qual a forma
correta.
2. Esclareça-se, de início, que agora vem do latim, hac hora, com o sentido
etimológico de nesta hora.
3. Por isso, seu significado mais comum é nesta ocasião, atualmente,
presentemente. Exs.: a) “Agora não posso sair”; b) “A moda agora é
corpo tatuado” (FERREIRA, 2010, p. 75).
4. Ocorre, todavia, que também se confere a essa palavra o conteúdo
semântico de há pouco tempo, há poucos instantes. Exs.: a) “Ele chegou
agora mesmo”; b) “Não posso sair, porque vim agora do trabalho”
(HOUAISS, 2001, p. 118).
5. E, nessa acepção de passado recente, vem com frequência nas formas
ainda agora, ou agora mesmo, ou agorinha, ou mesmo ainda agorinha.
Exs.: a) “Ainda agora usava calças curtas; hoje faz defesas no tribunal”;
b) “Fez o café agora mesmo”; c) “Voltou da rua agorinha”; d) “Chegou
do trabalho ainda agorinha”.
6. Com essas observações como premissas e procurando responder à
indagação da leitora, é de se dizer que, do mesmo modo que há outras
formas reforçativas para agora no sentido de passado recente – ainda
agora, agora mesmo, agorinha e ainda agorinha – nada impede que se
adicione a essa lista a expressão agora há pouco, também no mesmo
sentido de passado próximo.
7. Em outros dizeres, para sintetizar: a) agora não tem apenas o sentido de
presentemente, mas pode também significar um passado recente; b) nada
impede, assim, que, nesse último sentido, a palavra agora venha
reforçada pela expressão há pouco; c) nesse sentido, pode-se até mesmo
dizer que agora há pouco é uma expressão pleonástica; d) mas não se
pode tê-la como errônea ou equivocada, até porque o pleonasmo nem
sempre é vicioso, exatamente como se dá no caso vertente.

Agradar
1. Trata-se de verbo que precisa ser observado pelo prisma da regência
verbal.
2. No sentido de acariciar, é transitivo direto. Exs.: a) “Ele agradou o
cãozinho”; b) “Ele agradou-o”.
3. Já no sentido de ser agradável, é transitivo indireto. Exs.: a) “O resultado
do processo não agradou ao perdedor”; b) “O resultado do processo não
lhe agradou”.
4. Com o verbo desagradar, observam-se as mesmas regências (SILVA, A.,
1958, p. 26). Exs.: a) “Ele desagradou o cãozinho”; b) “Ele desagradou-
o”; c) “O resultado do processo desagradou ao perdedor”; d) “O
resultado do processo lhe desagradou”.
5. Muito embora já tenha sido usado, no último sentido, também com
objeto direto, anota Francisco Fernandes que “a construção com objeto
direto é hoje desusada” (1971, p. 60).
6. Acerca dessa mesma questão, assim observa Celso Pedro Luft (1999, p.
43-4): a) também ocorre a construção como transitivo direto, “sintaxe
geralmente impugnada por gramáticos e puristas”; b) nesse sentido, “já
foi transitivo direto”, como se vê em Vieira (“o agradavam”) e Bernardes
(“agradá-lo”); c) “a velha regência está voltando por analogia com
contentar”, como o empregam Jorge Amado (“… sentia vontade de
agradar os outros negrinhos…”), José Lins do Rego (“… fez o possível
para agradá-la”) e Graciliano Ramos (“Preciso meter a cara no estudo
e agradar minha mãe”).
7. Apesar da divergência entre os gramáticos, o que melhor parece, no que
tange aos textos que devam submeter-se à norma culta, é obedecer à
distinção de regência inicialmente formulada.
Ver Voz passiva – Quando é possível? (P. 793) e O, Lhe e Dele? (P. 523)

Agradável de se ler ou Agradável de ler?


1. Uma expressão como agradável de se ler – que serve de modelo a tantas
outras de mesma estrutura – é errada e deve ser corrigida para agradável
de ler.
2. Para justificar sua correção, basta que se atente à lição de José de Nicola
e Ernani Terra (2000, p. 91): “Em construções em que o infinitivo é
precedido de preposição de e por adjetivos como agradável, fácil, difícil,
possível e semelhantes é errado utilizar-se o pronome se, já que, nessas
construções, o infinitivo já tem sentido passivo”. Exs.: a) “Isso é fácil de
fazer” (= de ser feito); b) “Aquilo é difícil de conseguir” (= de ser
conseguido); c) “Trata-se de obra agradável de ler” (= de ser lida); d)
“Aquele é um projeto possível de desenvolver” (= de ser desenvolvido).
3. A essas expressões, como o modelo e os outros exemplos lançados pelos
ilustres gramáticos, podem-se acrescentar muitas outras: a) bom de se
comer (corrija-se: bom de comer); b) duro de se roer (corrija-se: duro de
roer)…
4. Oportuno é acrescentar valiosa lição de Domingos Paschoal Cegalla para
tais casos: “Se o infinitivo vier seguido de complemento, é preferível
dispensar a preposição de depois de difícil [ou mesmo depois de outro
adjetivo]: Hoje é difícil conseguir um bom emprego” (1999, p. 122).
Ver A fazer – Está correto? (P. 91) e Uso do infinitivo (P. 752).

Agradecê-lo ou Agradecer-lhe?
1. A dúvida que se põe é se, quando se quer agradecer a uma pessoa, diz-se
agradecê-lo ou agradecer-lhe?
2. Vale sempre lembrar, como princípio básico, que o estudo do
relacionamento entre as palavras na frase diz respeito a uma parte da
Gramática denominada sintaxe (do grego sin = conjunto + taxe =
construção).
3. E o capítulo específico da Gramática que trata das preposições exigidas
pelo verbo para iniciar seu complemento (ou mesmo ausência de
preposição) chama-se regência verbal.
4. Em nosso idioma, as questões de construção, ou seja, de sintaxe, são
solucionadas pelo uso que nossos melhores autores, desde Camões
(1524-80), fizeram do idioma pátrio. E a expressão melhores autores
deve abranger aqueles escritores que empregaram o vernáculo com
apuro e zelo.
5. Buscar, porém, na obra literária dos nossos melhores autores, como foi o
emprego da regência do verbo agradecer é como procurar agulha em
palheiro.
6. Mas isso não é necessário, pois, de um modo geral, estudiosos e
gramáticos já realizaram preciosos estudos nesse sentido, compilaram
milhares de exemplos e sistematizaram, em monografias merecedoras de
aplausos, grande parte da sintaxe de vocábulos dessa natureza.
7. De modo específico para os limites da indagação, ensina Domingos
Paschoal Cegalla que o verbo agradecer “constrói-se com objeto
indireto de pessoa” (e pede a preposição a). Ex.: “Ele agradeceu ao
doutor e saiu” (1999, p. 16).
8. Feita essa observação de que o verbo agradecer, nesse sentido, pede
objeto indireto com a preposição a, caminha-se mais um passo. Os
pronomes pessoais oblíquos átonos o, a, os e as servem para funcionar
como objetos diretos, enquanto os pronomes lhe e lhes servem para
substituir objetos indiretos. Exs.: a) “O juiz sentenciou o caso”; b) “O
juiz sentenciou-o”; c) “O documento pertence aos autos”; d) “O
documento pertence-lhes”.
9. Com essas premissas, parece não haver dúvida, assim, quanto ao acerto
ou erronia dos exemplos trazidos como dúvida, para quando se quer
agradecer a uma pessoa: a) “Ele quis agradecer o autor” (errado); b)
“Ele quis agradecê-lo” (errado); c) “Ele quis agradecer ao autor”
(correto); d) “Ele quis agradecer-lhe” (correto).
Ver O, Lhe e Dele? (P. 523)

Agravar
1. Verbo muito usado nos meios jurídicos com o sentido específico de
interpor recurso de agravo (KASPARY, 1996, p. 49), pode ser usado
como intransitivo (sem complemento), como transitivo indireto mais a
preposição de (quando se quer referir ao objeto do agravo), ou como
transitivo indireto mais a preposição para (quando se quer mencionar o
destino do agravo).
2. Além dessas possibilidades, nada impede seja ele construído com ambos
os complementos. Exs.: a) “Não satisfeito com a decisão, a parte
interessada agravou (intransitivo)”; b) “A parte interessada agravou da
decisão (o complemento é o objeto do agravo)”; c) “A parte interessada
agravou para o Tribunal competente” (o complemento é o destino do
agravo); d) “A parte interessada agravou da decisão para o Tribunal
competente” (os complementos são o objeto do agravo e o seu destino).
3. À semelhança de apelar e recorrer, deve-se condenar a regência agravar
a, como no exemplo: “A parte interessada agravou da decisão ao
Tribunal competente” (FERNANDES, 1971, p. 60-1).
4. Também por analogia com tais verbos e com aludir – os quais, embora
transitivos indiretos, admitem construção na voz passiva – é de se aceitar
a forma passiva do particípio de tal verbo em expressões como despacho
agravado, decisão agravada, ou mesmo parte agravada. Ex.: “O Tribunal
reformou o despacho agravado”.
5. Interessante anotar, num primeiro aspecto, que nossas leis, sobretudo os
códigos de processo, não empregam o verbo agravar nesse sentido, mas
preferem locuções tais como interpor agravo, caber agravo ou mesmo
haver recurso de agravo.
6. Também oportuno é observar que nosso legislador emprega, sim, com
frequência, tal verbo na acepção de piorar, de tornar mais oneroso ou
mais grave. Exs.: a) “Qualquer cláusula, condição ou obrigação
adicional, estipulada entre um dos devedores solidários e o credor, não
poderá agravar a posição dos outros sem consentimento destes” (CC,
art. 278); b) “O segurado perderá o direito à garantia se agravar
intencionalmente o risco objeto do contrato” (CC, art. 768); c) “Pelo
resultado que agrava especialmente a pena, só responde o agente que o
houver causado ao menos culposamente” (CP, art. 19); d) “Pelos
resultados que agravam especialmente as penas só responde o agente
quando os houver causado, pelo menos, culposamente” (CPM, art. 34).
Ver Agravar retidamente ou Interpor agravo retido? (P. 100)
Agravar retidamente ou Interpor agravo retido?
1. Agravar retidamente é expressão equivocada, que deve ser substituída
por interpor agravo retido.
2. A facilidade com que o sufixo mente se presta à formação de advérbios
de modo tem dado margem a abusos e equívocos, originando invenções
reprováveis como essa.
3. A esse respeito, lembra Geraldo Amaral Arruda: “importa que não se
considere que a concisão recomende sempre substituir as locuções por
verbos simples”, já que, “em muitos casos a substituição pode ser
inócua, em outros ela é menos expressiva e em outros ainda pode ser
inaceitável ou descabida”.
4. E continua tal autor: “esta última hipótese ocorre quando ao verbo segue
um nome a que se junta um adjetivo restritivo, formando ambos um
novo conceito, como é o caso de… agravar retidamente”.
5. Por fim, leciona ele, em síntese, não ser “cabível que se troque interpor
agravo retido por agravar retidamente” (ARRUDA, 1997, p. 65 e 80).
6. Aproveitando-se das mesmas premissas, diz o mencionado autor em
outra passagem: “não se pode substituir interpor recurso adesivo por
recorrer adesivamente” (ARRUDA, 1997, p. 65 e 80).
Ver Advérbios em “mente” (P. 85) e Agravar (P. 99).

Agravo de ou por instrumento?


1. Um leitor observa que a legislação fala em agravo de instrumento; mas
indaga se não seria correto dizer e escrever agravo por instrumento.
2. Ora, de modo específico para o agravo – uma modalidade de recurso em
processos judiciais – Francisco Fernandes vê possibilidades de
construção com as preposições de e em: “agravo de petição” e “agravo
no (em + o) auto do processo” (FERNANDES, 1969, p. 25). Nesse
mesmo sentido é o ensino de Celso Pedro Luft (1999ª, p. 40-1).
3. O dicionarista Antônio Houaiss refere apenas a possibilidade de
construção com a preposição de: agravo de petição e agravo de
instrumento (2001, p. 119).
4. Já quanto à legislação codificada, anota-se que o Código de Processo
Penal não emprega a palavra agravo em nenhum de seus dispositivos, e o
Código de Processo Penal Militar o faz por duas vezes, ambas para a
expressão agravo de instrumento.
5. A Consolidação das Leis do Trabalho refere cinco vezes agravo de
instrumento e outras cinco, agravo de petição.
6. E o Código de Processo Civil de 1973 dentre outros empregos do
vocábulo agravo, emprega dez vezes a expressão agravo de instrumento.
7. Ante esse quadro, é de relevo resumir, por um lado, que em nenhum
código vigente aparece o circunlóquio agravo por instrumento. E apenas
uma única vez se registra que, nesse recurso, “será admitida sua
interposição por instrumento” (CPC/1973, art. 522, caput).
8. Todavia, quando se encontra tal expressão, ainda que por uma única vez
no direito posto, importa observar que ela vem exatamente para
explicitar qual seja a realidade do agravo em um caso concreto: um
recurso que, a par do tipo retido, admite, na hipótese versada, sua
interposição por instrumento.
9. Nesse quadro, se é verdade, por um lado, que os gramáticos, a tradição
jurídica e o direito posto não têm usualmente contemplado a perífrase tal
como trazida pelo leitor, uma adequada análise gramatical da realidade
demonstra, por outro lado, que nem por isso ela se alheia do leque das
possibilidades gramaticais de uso.
10. Com essas reflexões, passa-se a responder ao leitor: a) é certo que a
única forma dessa expressão encontrada nas leis atualmente em vigor é
agravo de instrumento; b) também é certo que a perífrase agravo por
instrumento não encontra registro nem entre os gramáticos e estudiosos
do assunto, nem na tradição do nosso Direito; c) encontra-se, todavia,
embora por uma única vez, ao se falar desse recurso, a perífrase
“interposição por instrumento” (CPC-1973, art. 522, caput); d) e uma
detida análise gramatical e sintática mostra nela uma explicação
adequada de tal modalidade de agravo e, por consequência, patenteia a
própria correção do intento do leitor; e) isso quer dizer, em suma, que,
a par da expressão consagrada pelos estudiosos do idioma e do Direito
(agravo de instrumento), nada impede que o referido recurso também
seja denominado agravo por instrumento; f) a circunlocução por último
referida, aliás, traz com clareza até maior do que a expressão
consagrada o intuito do complemento preposicionado (isto é, explicitar
que se trata de um agravo cuja interposição se dá por instrumento).

Agravo retido
Ver Agravar (P. 99) e Agravar retidamente ou Interpor agravo retido? (P.
100)

Agredir
Ver Prevenir ou Previnir? (P. 599)

Agronomando – Existe?
Ver Alimentando – Existe? (P. 105)

Agro-pecuária ou Agropecuária?
1. Quando se quer saber se as palavras iniciadas por agro devem ser
escritas com hífen ou sem (agro-pecuária ou agropecuária?), deve-se
observar, por primeiro, porque é importante, que o radical agro (do
latim, ager, agri, que significa campo) forma, como primeiro elemento,
diversos vocábulos em nosso idioma.
2. Quanto ao mais, como geralmente ocorre com os prefixos e falsos
prefixos terminados por vogal, apenas em duas hipóteses se usa o hífen:
a) quando o elemento seguinte se inicia por h (agro-habitação, agro-
hegemonia, agro-humanidade); b) quando o elemento seguinte se inicia
pela mesma vogal com que se encerra o prefixo (agro-obsessão, agro-
oligarquia).
3. Desse modo, acopla-se diretamente à palavra seguinte, sem
intermediação de hífen, quando iniciada esta por outra vogal, que não a
que encerra o prefixo: agroaçucareiro, agroalimentar, agroecologia,
agroexportador, agroindústria.
4. Continua valendo a regra de junção direta, mesmo que o elemento
seguinte se inicie por consoante: agrobiologia, agroclimático, agrodoce,
agrofabril, agrogeografia, agrologia, agromanufatura,
agrometeorologia, agronegócio, agropecuária, agroquímica, agrovila.
5. Apenas para a hipótese de ser o segundo elemento iniciado por r ou s,
dobram-se tais consoantes para continuidade do som originário:
agrorreprogramação, agrorrepública, agrorressocialização, agrossocial,
agrosservidores.

A grosso modo ou Grosso modo?


Ver Grosso modo ou A grosso modo? (P. 379)

Aguar – Como conjugar?


1. Modernos gramáticos lecionam que este verbo, quanto à pronúncia, deve
seguir averiguar, o que, segundo eles, significa que se deva pronunciar:
aguo (ú), aguas (ú)…
2. Outros – como, por exemplo, Otelo Reis – entendem que aguar,
enxaguar e desaguar devem seguir a pronúncia geral do povo: águo,
águas…, águe… Ou seja: o u se pronuncia sempre como na palavra
água.
3. Independentemente de discussões anteriores, porém, o Acordo
Ortográfico de 2008 admite a dupla pronúncia para aguar e derivados,
em algumas formas do presente do indicativo, do presente do subjuntivo
e também do imperativo. Isso significa que, por um lado, estão corretas
as formas águo, águas, água, águam, águe, águes, águem (com o a
pronunciado com mais força e o acento gráfico na primeira sílaba); por
outro lado, também estão corretas as formas aguo, aguas, agua, aguam,
ague, agues, aguem (com o acento tônico recaindo sobre o u, na segunda
sílaba, mas sem acento gráfico).
4. Observe-se, por fim, que, em decorrência do Acordo Ortográfico de
2008, não mais se usa o trema em nenhuma de suas formas, já que
abolido esse sinal das palavras do nosso idioma.
5. E se acrescente que por esse modelo também se conjugam desaguar e
enxaguar.

Aguardamento – Existe?
Ver Existe em português? (P. 346)
Aguardo – É correto?
Ver Ficar no aguardo – É correto? (P. 356)

Ainda que
Ver Indicativo por Subjuntivo (P. 411).

Ajuizar ação contra


Ver Contra ou a favor (P. 228).

Ajuizar ação em face de


Ver Contra ou a favor (P. 228).

Ajuizar demanda – é correto?


Ver Entrar na Justiça – é correto? (P. 322)

Alameda Santos ou alameda Santos?


Ver Rua Caiubi ou rua Caiubi? (P. 675)

Alavancar – Existe?
1. Para saber se o verbo alavancar existe, basta uma consulta ao
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela Academia
Brasileira de Letras, e este vai mostrar que tal vocábulo integra
oficialmente nosso idioma (2009, p. 34).
2. Acresce dizer que a ABL, entidade que edita o VOLP, tem, por
delegação da lei, a autoridade oficial e a incumbência para listar as
palavras pertencentes ao nosso idioma, assim como para determinar-lhe
a grafia e fixar-lhe a pronúncia.
3. Em outros dizeres, se um vocábulo se encontra registrado na referida
obra, significa que ele existe oficialmente em nosso idioma e deve ser
empregado com a grafia e a pronúncia ali especificadas.
4. Por outro lado, se uma palavra lá não se encontra, não está autorizado
seu emprego nos textos que devam submeter-se à norma culta. Essa é a
lei, e qualquer problema adicional há de ficar para discussões teóricas,
no plano científico, sem interferência imediata no seu emprego.
5. Observa-se, em adição, que nada impede que, em determinada
oportunidade, a ABL altere posicionamento anterior e passe a incluir no
VOLP determinado vocábulo que, até então, ali não constava. Isso, aliás,
acontece a cada nova edição da mencionada obra.

Além dos ou Além de os?


Ver É hora da onça beber água ou É hora de a onça beber água? (P. 296)

Além e Aquém de
Ver Antes e depois (P. 120) e Com ou sem – Está correto? (P. 198)

Alerta – Existe no plural?


1. Tradicionalmente se tem considerado alerta apenas um advérbio e,
assim, tem-se preconizado seu emprego invariável. Ex.: “Estamos todos
alerta”.
2. Reforçando esse ensino, observa Evanildo Bechara que “há uma
tendência para se usar deste vocábulo como adjetivo, mas a língua
padrão recomenda se evite tal prática” (1974, p. 302).
3. Assim também é a lição de Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 201): “fica
invariável, porque não é adjetivo, mas advérbio”, muito embora anote tal
autor, na língua popular, “uma forte inclinação para a flexão da palavra”.
4. E Luís A. P. Vitória (1969, p. 22): “Quando alerta for advérbio, manter-
se-á invariável: ‘As sentinelas mantinham-se alerta’ (e não alertas)”.
5. Reiterando a lição de que “não tem cabimento a flexão alertas”, apenas
excepcionando tal possibilidade quanto se trata de substantivo – “soaram
dois alertas” – Sousa e Silva colheu exemplo de erronia em um
vespertino: “Os observatórios de todo o mundo estão alertas, e os
canhões telescópicos, apontados contra o infinito, aguardam a noite”
(SILVA, A., 1958, p. 28).
6. Repetindo esse ensino tradicional da Gramática, observam José de
Nicola e Ernani Terra (2000, p. 26), por um lado, que “alerta é advérbio,
portanto não deve variar”; por outro lado, atestando o que vem
ocorrendo na linguagem coloquial, com os efeitos sendo espraiados para
a própria linguagem literária, acrescentam que é “comum, no entanto,
mesmo em bons autores, encontrar o emprego dessa palavra como
adjetivo, variando, portanto”.
7. E Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 18-9) anota que “na língua de
hoje é mais empregado como adjetivo, portanto variável, no sentido de
vigilante, atento”. Exs.: a) “Temos de estar alertas…” (Oto Lara
Resende); b) “Fingia-se absorvida, porém seus ouvidos estavam alertas”
(Menotti Del Picchia); c) “Todos os seus sentidos estão alertas”
(Adonias Filho).
8. Ora, apesar de considerado um advérbio pelo ensino tradicional, o certo
é que o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia
Brasileira de Letras, órgão incumbido oficialmente de determinar a
natureza dos vocábulos em nosso idioma, a par de advérbio, também
permite, de modo expresso, seu emprego como adjetivo (2009, p. 37).
9. Disso resulta a obrigatoriedade de também ser aceita sua flexão como
tal. Exs.: a) “Estamos todos alerta” (correto); b) “Estamos todos alertas”
(correto); c) “As sentinelas mantinham-se alerta” (correto); d) “As
sentinelas mantinham-se alertas” (correto); e) “Os observatórios de todo
o mundo estão alerta” (correto); f) “Os observatórios de todo o mundo
estão alertas” (correto); g) “Temos de estar alerta” (correto); h) “Temos
de estar alertas” (correto); i) “Fingia-se absorvida, porém seus ouvidos
estavam alerta” (correto); j) “Fingia-se absorvida, porém seus ouvidos
estavam alertas”.
10. No plano da regência, Celso Pedro Luft (1999, p. 43) vê a possibilidade
de construção com uma de três preposições, a saber, a, contra e para:
a) “Sensibilidade muito alerta ao sofrimento humano”; b) “Pessoa
alerta contra imprevistos”; c) “No olhar a expressão de quem está
alerta para aquele chamamento”.

Al – Existe?
1. Trata-se de variante neutra arcaica do pronome indefinido outro,
significando outra coisa.
2. Eduardo Carlos Pereira, que lhe dá por sinônima exatamente a expressão
outra coisa, insere esse vocábulo entre aqueles que “desapareceram do
uso vivo da língua”.
3. Em lição ministrada em outra passagem de sua obra, explicita o
mencionado autor que tal forma “arcaizou-se no falar comum; aparece
apenas nos prolóquios populares e na linguagem literária” (PEREIRA,
1924, p. 97 e 314).
4. Raramente utilizado, encontra-se, contudo, sedimentado em
determinadas expressões da linguagem forense. Ex.: “Solte-se o réu, se
por al não estiver preso”.
5. Nos dizeres de Laudelino Freire (1937b, p. 113), “al, pronome, que
significa outra coisa, é arcaico. Revivem-no, todavia, de quando em
quando escritores ilustres. No ‘Colombo’, escreveu Porto Alegre: ‘Mas a
vossa mudez al me desperta’. Nas ‘Cartas de Inglaterra’, Rui: ‘Quando
por al não valha (e creio que não vale), valerá pelo menos como voz de
rebate ao país acerca do perigo, a que o reduz o aniquilamento da sua
marinha de guerra’”.
6. De acordo com Sílvio Elia, “provém de alid, forma poética e popular por
aliud” (1967, p. 285).
7. Cândido Jucá Filho (1981, p. 40), lembrando sua natureza de pronome,
observa que Mário Barreto “usa este arcaísmo”, abonando-se com Rui
Barbosa, e acrescenta que “também Castilho o agasalha: ‘E o que al
fizer, que trema’”.
8. É curioso anotar que esse vocábulo constava do Vocabulário Ortográfico
da Língua Portuguesa, em sua quarta edição (2004, p. 30); foi,
entretanto, excluído da quinta edição, sem justificativa alguma ou
explicação.

Algarismo arábico – Como ler e empregar?


Ver Números – Como ler e Empregar? (P. 506)

Algarismo romano – Como ler e empregar?


Ver Números – Como ler e Empregar? (P. 506)
Algoz
1. Significa carrasco, verdugo.
2. Sua única observação importante concerne à ortoepia (modo de
pronunciar), já que há dúvida quanto ao timbre de seu o tônico, quer no
singular, quer no plural.
3. Evanildo Bechara (1974, p. 45) entende que, tanto no singular (algoz)
quanto no plural (algozes), sua pronúncia se dá com o o fechado (algôz e
algôzes).
4. Também assim entendem José de Nicola e Ernani Terra (2000, p. 27).
5. De igual modo pensa Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 19): “É
fechado o timbre da vogal o: algoz (ô), algozes (ô). Embora
predominante, é incorreta a pronúncia algóz, algózes, com o aberto. Essa
prosódia viciosa se deve talvez à influência de outras palavras
terminadas em -oz, com o aberto, que são a maioria (cf. atroz, veloz,
albatroz, feroz, etc.)”.
6. Apesar de tão ilustres e uniformes lições desses gramáticos, o certo é que
o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia
Brasileira de Letras, órgão incumbido oficialmente de determinar a
grafia e a pronúncia dos vocábulos em nosso idioma, com palavra de
autoridade, registra como possíveis ambas as pronúncias (ó ou ô), tanto
para o singular (algóz/algôz) quanto para o plural (algózes/algôzes), de
forma que ambos os modos de pronunciar estão legalmente autorizados
(2009, p. 39).

Alguém de nós – sabe ou sabemos?


1. Em expressões como alguém de nós, alguém de vós, algum de nós,
algum de vós, cada um de nós, cada um de vós, qual de nós, qual de vós,
quem de nós, quem de vós, o que se tem, em suma, é uma mesma
estrutura, que precisa ser analisada quanto à concordância verbal.
2. Em tais expressões, duas observações são de extrema importância: a)
nesse sujeito, há dois pronomes (alguém e nós ou vós); b) a primeira
expressão pronominal (alguém, algum, cada um, qual, quem) está no
singular.
3. Quando se tem uma expressão dessa natureza, em que o primeiro
pronome está no singular, a concordância do verbo se faz, sempre e tão
somente, na terceira pessoa do singular: a) “Alguém de nós sabe o que
fazer?”; b) “Alguém de vós sabe o que fazer?”; c) “Algum de nós sabe o
que fazer?”; d) “Algum de vós sabe o que fazer?”; e) “Cada um de nós
sabe o que fazer?”; f) “Cada um de vós sabe o que fazer?”; g) “Qual de
nós sabe o que fazer?”; h) “Qual de vós sabe o que fazer?”; i) “Quem de
nós sabe o que fazer?”; j) “Quem de vós sabe o que fazer?”
4. Assim, são erradas as seguintes construções, em que se busca a
concordância com o segundo de tais pronomes: a) “Alguém de nós
sabemos o que fazer?”; b) “Alguém de vós sabeis o que fazer?”; c)
“Algum de nós sabemos o que fazer?”; d) “Algum de vós sabeis o que
fazer?”; e) “Cada um de nós sabemos o que fazer?”; f) “Cada um de vós
sabeis o que fazer?”; g) “Qual de nós sabemos o que fazer?”; h) “Qual
de vós sabeis o que fazer?”; i) “Quem de nós sabemos o que fazer?”; j)
“Quem de vós sabeis o que fazer?”
5. Não confundir com expressões como alguns de nós (em que o primeiro
pronome está no plural), cujo sistema de concordância é diverso.

Alguém de vós – sabe ou sabeis?


Ver Alguém de nós – sabe ou sabemos? (P. 103)

Alguma cacofonia
Ver Cacófato – O que é? (P. 163)

Algum de nós – sabe ou sabemos?


Ver Alguém de nós – sabe ou sabemos? (P. 103)

Algum de vós – sabe ou sabeis?


Ver Alguém de nós – sabe ou sabemos? (P. 103)

Alguns de nós – sabem ou sabemos?


1. Em expressões como alguns de nós, alguns de vós, muitos de nós,
muitos de vós, poucos de nós, poucos de vós, vários de nós, vários de
vós, quais de nós, quais de vós…, o que se tem, em suma, é uma mesma
estrutura, que precisa ser analisada quanto à concordância verbal.
2. Em tais expressões, duas observações são de extrema importância: a)
nesse sujeito, há dois pronomes (alguns e nós ou vós); b) a primeira
expressão pronominal (alguns, muitos, poucos, vários, poucos) está no
plural.
3. Quando se tem uma expressão dessa natureza, em que o primeiro
pronome está no plural, a concordância do verbo se faz,
indiferentemente, com o primeiro ou com o segundo pronome: a)
“Alguns de nós sabem o que fazer?”; b) “Alguns de nós sabemos o que
fazer?”; c) “Alguns de vós sabem o que fazer?”; d) “Alguns de vós sabeis
o que fazer?”; e) “Muitos de nós sabem o que fazer?”; f) “Muitos de nós
sabemos o que fazer?”; g) “Muitos de vós sabem o que fazer?”; h)
“Muitos de vós sabeis o que fazer?”; i) “Poucos de nós sabem o que
fazer?”; j) “Poucos de nós sabemos o que fazer?”; k) “Poucos de vós
sabem o que fazer?”; l) “Poucos de vós sabeis o que fazer?”; m) “Vários
de nós sabem o que fazer?”; n) “Vários de nós sabemos o que fazer?”; o)
“Vários de vós sabem o que fazer?”; p) “Vários de vós sabeis o que
fazer?”; q) “Quais de nós sabem o que fazer?”; r) “Quais de nós
sabemos o que fazer?; s) “Quais de vós sabem o que fazer?”; t) “Quais
de vós sabeis o que fazer?”
4. Não confundir tais expressões observadas com outras como alguém de
nós, alguém de vós, algum de nós, algum de vós, cada um de nós, cada
um de vós, qual de nós, qual de vós, quem de nós, quem de vós, em que o
primeiro pronome está no singular. Quando assim acontece, o verbo
concorda, sempre e tão somente, na terceira pessoa do singular.

Alguns de vós – sabem ou sabeis?


Ver Alguns de nós – sabem ou sabemos? (P. 104)

Algures
1. É advérbio que significa em algum lugar, em alguma parte. Ex.: a)
“Posicionamento doutrinário divergente, você o encontrará algures”; b)
“Eu mesmo me lembro de já ter lido algures uma complexa exposição
sobre o fenômeno” (Vivaldo Coaraci); c) “Estimava mesmo que o filho
estivesse em Coimbra, ou algures, longe da quinta” (Eça de Queirós); d)
“Não foi este o próprio vocábulo empregado por ela; já lá disse algures
que D. Carmo não possuía o estilo enfático” (Machado de Assis).
2. Vasco Botelho de Amaral, realçando que se trata de vocábulo “ainda
muito empregado”, esclarece ser caso muito curioso “de muita gente não
reparar bem no significado deste advérbio” e empregar em algures, o que
é rematado erro, já que tal expressão em algures equivaleria a em em
alguma parte, com a preposição repetida indevidamente.
3. Complementa, todavia, tal autor ser perfeitamente correto dizer “venho
de algures” ou “foi para algures” (AMARAL, 1943, p. 14).
4. Contrapõe-se a nenhures, que quer dizer em nenhum lugar.
5. Não confundir com alhures, que tem o sentido de em outro lugar.

Alhures
1. É advérbio, que tem o sentido de em outro lugar. Ex.: a) “Se não estava
aqui, estava alhures”; b) “Estabeleci comigo mesmo o compromisso de
não mais, aqui ou alhures, mencionar-lhe o nome” (Ciro dos Anjos); c)
“Tornou ao piano; era a vez de Mozart, pegou de um trecho e executou-
o do mesmo modo, com a alma alhures” (Machado de Assis).
2. Muito embora alguns dicionários o ponham no rol dos arcaísmos, Vasco
Botelho de Amaral (1943, p. 14) observa que “este advérbio, apesar de
posto no rol dos esquecidos, bom serviço literário fará a quem gostar ou
necessitar de variar a expressão”, complementando que se trata de
expressão de real bom gosto.
3. Nesse sentido, é de se trazer a observação de que o Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras,
órgão incumbido oficialmente de determinar a existência dos vocábulos
em nosso idioma, registra-o normalmente, sem restrição alguma, o que
implica concluir que seu uso continua sendo de integral regularidade
(2009, p. 39).
4. Não confundir com algures, que significa em algum lugar, nem com
nenhures, que quer dizer em nenhum lugar.

Aliás
1. Trata-se de advérbio que tem por significado primeiro de outro modo,
noutras circunstâncias. Ex.: “Foi o que eu fiz; aliás morreria”.
2. É muito mais usado, porém, como denotativo de correção, com o sentido
de digo, isto é, a saber, ou melhor. Ex.: “A vítima foi ameaçada por seis
adolescentes, aliás sete” (JUCÁ FILHO, 1963, p. 47).

Aliasmente – Existe?
Ver Advérbios em “mente” (P. 85).

Álibi
1. Álibi é advérbio oriundo do latim, que significa etimologicamente em
outro lugar e quer dizer basicamente uma prova de estar alguém em
lugar diverso daquele em que outrem afirma estar. Ex.: “Ante tão
comprovado álibi, o réu não teria como praticar o crime”.
2. Em técnica jurídica, basicamente com esse sentido, é a “prova exibida
por uma pessoa, mediante a qual se evidencia o seu afastamento ou
ausência de local determinado, na hora em que ali se consumou o delito
ou fato criminoso de que é acusado, demonstrando, assim, a
impossibilidade material de que o houvesse praticado e seja por ele
responsabilizado” (DE PLÁCIDO E SILVA, 1989, p. 132).
3. Evanildo Bechara (1974, p. 59) fixa uma primeira e importante
premissa: ela é proparoxítona, de modo que a sílaba pronunciada com
mais força é a antepenúltima.
4. Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 16) também a insere no rol das
proparoxítonas e lhe põe normalmente o acento gráfico: álibi.
5. Já para Eliasar Rosa (1993, p. 24): a) apesar de proparoxítono, tal
vocábulo é “inacentuado, pois se trata de um latinismo”; b) por pertencer
a idioma estrangeiro, deve-se escrever “sublinhando-o, ou em grifo, ou
aspado, ou em caracteres diferentes”; c) “já era tempo de ser
aportuguesado, escrevendo-se álibi, como se fez com ínterim, grátis,
récipe, réquiem, etc.”; d) entre outras vantagens, “decorreria disto o
evitar-se a silabada alibi” (com pronúncia forte na última sílaba).
6. Aires da Mata Machado Filho (1969h, p. 1.434) repete o entendimento
de que: a) é palavra latina, b) proparoxítona e, por pertencer a outro
idioma, c) deve ser sublinhada.
7. Observam Regina Toledo Damião e Antonio Henriques que, nos textos
submetidos aos padrões da norma culta, tal vocábulo “aparece com e
sem acento” (1994, p. 56).
8. Mais recentemente, assim leciona Arnaldo Niskier: “Escreva álibi
aportuguesado, isto é, com acento agudo no a” (1992, p. 8).
9. Para resumir, é importante dizer que, na atualidade, a questão encontra-
se oficialmente solucionada, porquanto o Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras (2009, p. 39) –
órgão encarregado de registrar oficialmente quais os vocábulos que
integram o nosso léxico e qual sua correta escrita –, já o registra
incorporado ao nosso léxico e lhe atribui acento gráfico, como a toda e
qualquer proparoxítona (álibi).
10. E assim, porque o VOLP tem força de lei, fica resolvida a questão, não
havendo possibilidade alguma de discussões adicionais acerca da real
escrita do mencionado vocábulo.

Alimentando – Existe?
1. Alimentando é palavra formada como gerundivo latino e significa aquele
que há de ser alimentado, que é credor de alimentos. Exs.: a) “A pessoa
obrigada a suprir alimentos poderá pensionar o alimentando, ou dar-lhe
hospedagem e sustento, sem prejuízo do dever de prestar o necessário à
sua educação, quando menor” (CC, art. 1.701, caput); b) “É competente
o foro: … II – do domicílio ou da residência do alimentando, para a
ação em que se pedem alimentos” (CPC/1973, art. 100, II).
2. No que tange a esse e a outros vocábulos de estrutura similar, pode-se
dizer que alguns entraram em nosso léxico – quer na língua culta, quer
no linguajar jurídico – por influência erudita: colendo (de collere =
cultuar), despiciendo (de despicere = desprezar), dividendo, educando,
exequendo, interditando, multiplicando, vitando (de vitare = evitar).
3. Já outros deles se formaram por analogia, como bacharelando (de
bacharel, do francês bachelier, ou bacheler) e vestibulando (sem
correspondente em latim).
4. Luciano Correia da Silva (1991, p. 77) – que lembra a criação e a
existência de outras palavras “à imagem dos gerundivos latinos”, como
“intangendas roupas” de Castilho, “branco véu das confessandas” de
Alphonsus de Guimaraens e “não murchandas flores” de Machado de
Assis – transcreve lição de Gladstone Chaves de Melo, o qual “censura a
criação abusiva de gerundivos como farmacolando, engenheirando,
etc.”.
5. Também se posicionando contrariamente à vernaculidade e à
possibilidade de uso de um dos vocábulos assim formados, diz
Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 293), com referência a
odontolando, tratar-se de um “brasileirismo forjado para designar a
pessoa que vai se graduar em odontologia”, e acrescenta ser “palavra
formada por analogia com doutorando e bacharelando, que se justificam
por terem base verbal (doutorar-se, bacharelar-se). Mas conclui tal autor:
“Odontolando não deriva de verbo algum, pois não existe odontolar-se.
É, portanto, vocábulo mal formado, como também o são: farmacolando,
agronomando, vestibulando, etc.”.
6. Apesar da oposição de tal autor e de outros quanto à existência de
diversas dessas palavras e à própria possibilidade de seu uso no
vernáculo, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da
Academia Brasileira de Letras (2009, p. 31, 40, 296, 316, 364, 544, 592
e 839), que é o veículo oficial indicador das palavras existentes em nosso
idioma, registra normalmente palavras como agronomando (aquele que
cursa Agronomia, ou está para nela graduar-se), alimentando (aquele que
é credor de alimentos), doutorando (aquele que cumpre créditos e
escreve tese para obter o título de doutor), engenheirando (aquele que
cursa Engenharia, ou está para nela graduar-se), farmacolando (aquele
que cursa Farmácia, ou está para nela graduar-se), mestrando (aquele
que cumpre créditos e escreve dissertação com vistas à obtenção do
título de mestre), odontolando (aquele que cursa Odontologia, ou está
para nela graduar-se), vestibulando (aquele que presta exames
vestibulares para ingresso em cursos universitários)…
7. Dessas lições, parece que se podem extrair duas importantes conclusões:
a) apesar da objeção de alguns, a autoridade oficial da ABL, por via do
VOLP, permite o normal emprego de todos esses vocábulos acima
listados; b) a própria premissa lançada por quem tem delegação oficial
para listar as palavras existentes em nosso idioma permite que,
respeitadas as regras da respectiva formação, se criem validamente
outros vocábulos em idênticas circunstâncias.

Alínea – Como ler seu número?


Ver Números – Como ler e Empregar? (P. 506)

Alma minha – É cacófato?


1. Antes da leitura do que se contém neste verbete, deve-se ter em atenção
as observações do verbete Cacófato.
2. De modo mais específico sobre a questão, é certo que, negando a
existência de cacófato na referida expressão, em defesa do célebre “alma
minha” de Camões (“Alma minha gentil, que te partiste…) sai Luiz
Antônio Sacconi, dizendo não haver nosso maior poeta épico cometido
cacófato no Soneto 19 de suas Líricas, “porque, no seu tempo (século
XVI), não corria a palavra maminha”.
3. E remata o referido gramático com a observação de que, se “fosse ela
corrente na época, o grande poeta saberia encontrar outra fórmula para
exprimir seus nobres sentimentos. Ou disso ele não seria capaz?…”
(SACCONI, 1979, p. 270).
4. De Cândido Jucá Filho também é a seguinte admoestação: “é tolice
condenar no Camões aquele alma minha do célebre soneto. E a razão é
porque no século XVI não corria vocábulo algum que assim soasse. De
alma minha (na acepção de meu bem) ainda usava Vieira… para traduzir
o latim anima mea” (1954, p. 44).
5. Para Josué Machado (1994, p. 44), por um lado, “é exagero –
cacofatomania – preocupar-se com sons inocentes como os gerados por
encontros como por tal, ela tinha ou alma minha…; por outro lado,
“sempre é possível evitar o encontro duro ou desagradável de sílabas”, o
que, normalmente, é viável de dois modos: “ou substituindo palavras ou
trocando-as de lugar”.
6. Ainda no que concerne a esse primeiro verso do conhecido soneto de
Camões, Mário Barreto (1954a, p. 179), invocando ensinamento de
Andrade Ferreira, lembra, por seu lado, que se deve afastar dele toda e
qualquer invectiva de cacofonia, porquanto “alma minha era então
tomada pelos poetas como uma expressão afetuosa, pois a vemos
repetida pelos melhores daquela idade, que de modo algum insistiriam
num defeito de estilo”.
Ver Cacófato – O que é? (P. 163)

Aludido
Ver Despacho aludido – Existe? (P. 276) e Aludir (P. 106).

Aludir
1. Tal verbo é transitivo indireto e pede a preposição a. Exs.: a) “O
advogado aludiu ao cerceamento de defesa”; b) “Os traslados a que
aludem os dois artigos anteriores…” (Rui Barbosa).
2. Cândido Jucá Filho lembra que se encontram exemplos, “ainda que
raros”, de construção transitiva direta, como o seguinte, de Epifânio:
‘Camões alude os trabalhos que passou no mar’” (1981, p. 40).
3. Tal, contudo, é exemplo que não se há de seguir, por ser esporádico e
não contar com o aval da quase totalidade dos gramáticos.
4. Francisco Fernandes (1971, p. 69), aliás, refere que tal regência é “pouco
encontradiça hoje”, além de “condenada”.
5. Deve-se atentar, em acréscimo, à precisa lição de Vitório Bergo (1944, p.
20), que a corrobora com exemplo de Machado de Assis: “Não obstante
ser relativo (entenda-se transitivo indireto) e construir-se com a
preposição a, o verbo aludir não admite como objeto indireto o pronome
dativo lhe, que se substitui pelo caso reto preposicionado. Assim, em vez
de aludir-lhe, diz-se aludir a ele: ‘A mulher pensava na travessura do
filho; não a referiu ao marido, pediu à vizinha que não aludisse a ela e,
de noite, só pregou olho tarde’”.
6. Celso Pedro Luft (1999, p. 51), de igual modo, é categórico para dois
aspectos: a) conferir-lhe a natureza de transitivo indireto; b) vedar a
possibilidade de emprego do pronome lhe como seu complemento.
7. Em mesmo sentido é o ensino de Domingos Paschoal Cegalla (1999, p.
21): a) “é verbo transitivo indireto”; b) “não admite o pronome
complemento lhe”.
8. Vejam-se, dentre os muitos, alguns exemplos de emprego do referido
verbo em nossa legislação: a) “O Tribunal de Contas da União efetuará
o cálculo das quotas referentes aos fundos de participação a que alude o
inciso II” (CF, art. 161, parágrafo único); b) “Violado o direito, nasce
para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela prescrição, nos
prazos a que aludem os arts. 205 e 206” (CC, art. 189); c) “O acordo,
porém, só produz efeito, quando constar de contrato escrito e aludir
expressamente a determinado negócio jurídico” (CPC/1973, art. 111, §
1º); d) “O juiz não admitirá a recusa: … II – se o requerido aludiu ao
documento ou à coisa, no processo, com o intuito de constituir prova”
(CPC/1973, art. 358, II); e) “Não se deferirá o compromisso a que alude
o art. 203 aos doentes e deficientes mentais e aos menores de 14
(quatorze) anos, nem às pessoas a que se refere o art. 206” (CPP, art.
208); f) “A intimação pessoal, feita pelo escrivão, dispensará a
aplicação a que alude o § 1º” (CPP, art. 370, § 3º); g) “Em igual prazo, o
empregador enviará cópia da aludida comunicação aos sindicatos
representativos da respectiva categoria profissional, e providenciará a
afixação de aviso nos locais de trabalho” (CLT, art. 139, § 3º); h) “A
duração de trabalho cumulativo a que alude o presente artigo não
poderá exceder de 10 (dez) horas” (CLT, art. 235, § 1º).
Ver Agente da passiva (P. 97), Despacho aludido – Existe? (P. 276), Ser
nascido – Está correto? (P. 694), Voz passiva – Quando é possível? (P. 793)
e Voz passiva sintética (P. 794).

Alugar
1. Trata-se de palavra bifronte, porque indica relações duplas, posições
recíprocas, com sentido ora ativo de dar em aluguel, ora passivo de
receber em aluguel.
2. Aires da Mata Machado Filho (1969f, p. 213) – que atribui tal
designação de bifronte a Mário Barreto – também vê em vocábulos dessa
natureza termos de significação ora ativa, ora passiva.
3. Na primeira hipótese, significa dar em aluguel. Ex.: “O proprietário
aluga o imóvel ao inquilino”.
4. No segundo caso, tem o sentido de receber em aluguel. Ex.: “O inquilino
aluga o imóvel do proprietário”.
5. Como se vê, o uso adequado da preposição salva os equívocos que
possam aparecer em tais casos.
6. Fundado em exemplos de autor insuspeito, Vitório Bergo (1944, p. 20)
repete essa lição de que “este verbo pode usar-se nos dois diversos
sentidos de dar ou tomar de aluguel”. Exs.: a) “E alugou uma mansarda,
que mobilou” (Camilo Castelo Branco); b) “O interesse grande que
punha em alugar as casas pelo dobro da sua renda” (Camilo Castelo
Branco).
7. Cândido Jucá Filho (1981, p. 40), em apreciação sobre a obra de Mário
Barreto, também confirma a existência e o emprego dos dois sentidos
para esse verbo no mencionado autor: “dar de aluguer” e “tomar de
aluguer”.
8. Regina Toledo Damião e Antonio Henriques (1994, p. 234) também
estão de acordo em que tal verbo é bifronte, vale dizer, assume o duplo
aspecto tanto no sentido ativo de dar em aluguel como no sentido
passivo de receber por aluguel.
9. Antonio Henriques (1999, p. 13), em obra que escreveu sozinho, de igual
modo dá esse verbo como bifronte: “significa dar de aluguel (sentido
ativo) e pagar de aluguel (sentido passivo)”.
10. Celso Pedro Luft (1999, p. 51) também lhe admite as duas
possibilidades de emprego: dar em aluguel ou tomar de aluguel.
11. Francisco Fernandes (1971, p. 69), por seu lado, embora lhe admita tal
dupla sintaxe – “dar ou tomar de aluguer” – atentando aos problemas
que podem surgir no dia a dia, preconiza outro modo de uso, fundando-
se em lição de Stringari: “Para evitar ambiguidade de sentido, usa-se o
circunlóquio dar de aluguel e tomar de aluguel em vez do simples
alugar, que tem dois sentidos opostos”.
12. Uma consulta aos principais códigos pátrios revela que o legislador
sempre emprega o verbo alugar na acepção de dar em aluguel – e não
no sentido de tomar em aluguel – como se pode constatar pelos
seguintes exemplos: a) “Deliberando a maioria sobre a administração
da coisa comum, escolherá o administrador, que poderá ser estranho
ao condomínio; resolvendo alugá-la, preferir-se-á, em condições
iguais, o condômino ao que não o é” (CC, art. 1.323); b) “Resolvendo o
condômino alugar área no abrigo para veículos, preferir-se-á, em
condições iguais, qualquer dos condôminos a estranhos, e, entre todos,
os possuidores” (CC, art. 1.338); c) “Quando o uso consistir no direito
de habitar gratuitamente casa alheia, o titular deste direito não a pode
alugar, nem emprestar, mas simplesmente ocupá-la com sua família”
(CC, art. 1.414); d) “Na mesma pena do § 1º incorre quem, com o
intuito de lucro direto ou indireto, distribui, vende, expõe à venda,
aluga … original ou cópia de obra intelectual ou fonograma
reproduzido com violação do direito de autor, … ou, ainda, aluga
original ou cópia de obra intelectual ou fonograma, sem a expressa
autorização dos titulares dos direitos ou de quem os represente” (CP,
art. 184, § 2º); e) “É unicamente considerada mercantil a compra e
venda de efeitos móveis ou semoventes, para os revender por grosso ou
a retalho, na mesma espécie ou manufaturados, ou para alugar o seu
uso…” (CCo, art. 191, segunda parte, revogado).

Aluga-se uma casa


Ver Voz passiva e Pronome apassivador (P. 791).

Aluguel ou Aluguer?
1. Conquanto aluguel seja mais recente, com seu plural aluguéis, também é
correta a forma mais antiga aluguer, que tem por plural alugueres.
2. Observam José de Nicola e Ernani Terra que “ambas as formas são
aceitas como corretas”, esclarecendo que aluguel “é de uso mais comum
no Brasil”, ao passo que aluguer “é muito empregada em Portugal e na
linguagem jurídica”.
3. E reiteram tais autores que “aluguel faz o plural aluguéis e aluguer,
alugueres” (NICOLA; TERRA, 2000, p. 29).
4. Luís A. P. Vitória (1969, p. 23), embora dê preferência, sem justificativas
adicionais, a aluguel, aceita que “são formas variantes, portanto
admissíveis ambas”.
5. Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 21), entre aluguel e aluguer, faz
sua opção para o emprego cotidiano: “prefira-se a primeira forma. A
segunda (aluguer) é restrita à linguagem forense”.
6. Acresça-se que Rui Barbosa (1949, p. 329), ao fazer comentários acerca
da redação do art. 1.191 do Projeto do Código Civil, aceitou
indiferentemente ambas as variantes; por sugestão sua, entretanto,
acabou vingando aluguer na redação definitiva do art. 1.190 do Código
Civil de 1916.
7. E, sistematicamente, o Código Civil de 1916 emprega as formas aluguer
e alugueres (arts. 178, § 10, IV, 776, II, 1.192, II, 1.193, 1.195, 1.196,
1.201, 1.202, 1.205, 1.214, 1.252, 1.566, VI).
8. Nessa mesma esteira de dupla possibilidade de emprego, esclarece
Silveira Bueno que, assim como em outros vocábulos, as duas
consoantes finais, l e r, substituem-se indistintamente, e ambas as formas
são igualmente aceitas e corretas; apenas acrescenta ele que, no caso, “a
grafia com r já vai cedendo lugar à grafia com l” (1938, p. 25).
9. Dirimindo qualquer dúvida para a atualidade, registra ambas as formas o
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela Academia
Brasileira de Letras, órgão incumbido de atestar oficialmente quais os
vocábulos que integram nosso léxico (2009, p. 44), o que implica
asseverar que o emprego de ambas as formas está oficialmente
autorizado.
10. Quanto aos demais textos de lei – além do Código Civil de 1916 já
referido –, há alguns casos de emprego das formas aluguer e alugueres
(Decreto-lei 3.200, de 19/4/41, art. 7º, parágrafo único; Decreto-lei
7.661, de 21/6/45, art. 44, VII; Lei 5.478, de 25/7/68, art. 17; Lei
8.245, de 18/10/91, art. 69).
11. Quer em tempos antigos, todavia, quer em tempos modernos, tem-se
dado preferência às formas aluguel e aluguéis (Código Comercial, arts.
87, 96, 97, 99, 100, 113, 116, 228, 230, 470, 764; Código de Processo
Civil, arts. 585, IV, e 723; Lei 4.504, de 30/11/64, art. 91, XI, a; Lei
6.091, de 15/8/74, arts. 2º, caput, e 5º, IV; Estatuto da Criança e do
Adolescente, art. 77; Lei 8.245, de 18/10/91, arts. 6º, parágrafo único,
9º, III, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 23, 24, 25, 26, 32, 38, 42, 43, 44, 49, 50,
58, 59, 62, 64, 67, 68, 69, 70, 72, 73, 78, 85; Lei 8.383, de 30/12/91,
arts. 1º, 72 e 74).
12. Prova definitiva da preferência do legislador moderno pela forma
aluguel – em detrimento de aluguer – reside no Código Civil de 2002,
o qual, contrariamente a seu antecessor, registra, apenas e tão somente
as primeiras, jamais as últimas (cf. arts. 206, § 3º, I, 567, 569, II, 572,
574, 575, 582, 964, VI, 1.415, 1.467, II, 1.507, § 1º).

Alvoroço – Como pronunciar o plural?


Ver Metafonia (P. 472).

a. m.
1. É a abreviatura internacional da expressão latina ante meridiem, que
significa antes do meio-dia.
2. Contrapõe-se a p. m., que é forma abreviada de post meridiem, também
expressão latina, que quer dizer após o meio-dia.
3. As letras de tal abreviatura vêm sempre escritas em minúsculas.
Ver p. m. (P. 569).

A maioria dos alunos – faltou ou faltaram?


Ver Coletivo – Como concordar? (P. 191)

A maior parte dos alunos – faltou ou faltaram?


Ver Coletivo – Como concordar? (P. 191)

Amámos ou Amamos?
1. Um leitor indaga se as recentes modificações na Ortografia passaram a
obrigar o uso do acento agudo na forma verbal amámos (pretérito
perfeito) para distingui-la de amamos (presente do indicativo).
2. Ora, contrariamente ao que muitos pensam, o Acordo Ortográfico de
2008 não veio para simplificar a escrita; seu objetivo maior foi justificar
as escritas de Brasil e Portugal, ou, talvez, sistematizá-las, mediante a
permissão de emprego de formas distintas usadas em ambos os países.
3. Assim, para acertar a duplicidade de pronúncias dos dois países, criou
ele a dupla possibilidade de grafia, mediante a diferenciação, pelo acento
agudo, da primeira pessoa do plural do pretérito perfeito do indicativo
dos verbos da primeira conjugação (louvámos, adorámos e falámos),
formas essas pronunciadas de modo aberto em Portugal, para opor-se à
primeira pessoa do plural do presente do indicativo (louvamos,
adoramos e falamos).
4. Vale lembrar que, no Brasil, com raras exceções de usuários que tiveram
contatos prolongados com Portugal, não se faz distinção de pronúncia
entre a primeira pessoa do plural do presente do indicativo e a primeira
pessoa do plural do pretérito perfeito do indicativo, de modo que ambas
são aqui pronunciadas com som fechado.
5. Mas, em termos do que é a situação após o Acordo Ortográfico de 2008,
sintetize-se a questão com duas observações: a) O acento ocorre no
pretérito perfeito, mas não no presente do indicativo; b) Tal acento é
facultativo, e não obrigatório.
6. Com essas premissas, confiram-se, quanto à grafia, os seguintes
exemplos, com a indicação de sua correção ou erronia entre parênteses:
a) “Será que hoje amamos os inimigos?” (correto); b) “Será que hoje
amámos os inimigos?” (errado); c) “Será que, no passado, amamos os
inimigos?” (correto); d) “Será que, no passado, amámos os inimigos?”
(correto).

Amanhã voltamos ou Amanhã voltaremos?


1. Um leitor faz as seguintes considerações: a) quanto ao emprego do
presente do indicativo em lugar do futuro do presente, entende ser
correto dizer “Voltamos após os comerciais”, por se tratar de
continuidade do ato; b) mas acredita ser errada a frase “Voltamos
amanhã”; c) e reputa, ainda, muito pior e equivocado dizer “Voltamos na
próxima semana”. Indaga, por fim, o que é correto em tais casos.
2. Ora, a primeira regra sobre o uso do presente do indicativo é aquela
segundo a qual esse tempo denota uma declaração que pode ser de três
tipos: a) ou se verifica no momento em que se fala (“Ocorre-me, neste
exato momento, uma ideia interessante”); b) ou acontece habitualmente
(“A Terra gira em torno do Sol”); c) ou representa uma verdade
universal (“O homem é mortal”).
3. Todavia, a par dessas possibilidades usuais, além de outras excepcionais
não especificadas, o certo é que também se emprega o presente do
indicativo em lugar do futuro do presente do indicativo, como no
seguinte exemplo: “Amanhã eu vou à cidade” (BECHARA, 1974, p.
273-4).
4. Embora alguns autores falem na permissão de uso do presente apenas
“para indicar um futuro próximo”, como em “Subo hoje e volto na
segunda-feira” (MELO, 1970, p. 283), o certo é que eles acabam sendo
contrariados na prática, muitas vezes, por citações de autores célebres do
idioma, que eles próprios invocam.
5. É o que se dá, por exemplo, com Celso Cunha (1970, p. 218), que fala
em emprego do presente do indicativo “para marcar um fato futuro, mas
próximo”, porém traz em abono uma frase de Machado de Assis que lhe
contraria, na íntegra, o ensino: “Vou arranjar as malas, e amanhã
embarco para a Europa; vou a Roma, depois sigo imediatamente para a
China”.
6. Diante dessas considerações, assim se responde ao leitor: a) o presente
do indicativo pode, sim, ser empregado em lugar do futuro do presente;
b) muito embora alguns gramáticos queiram restringir esse uso aos casos
em que se está diante de um futuro próximo, a escrita dos melhores
escritores demonstra que essa limitação efetivamente não existe; c)
assim, de modo prático e concreto, os exemplos arrolados pelo leitor
estão todos corretos ([i] “Voltamos após os comerciais”, [ii] “Voltamos
amanhã” e [iii] “Voltamos na próxima segunda-feira”); (d) não parece
haver erro até mesmo em um exemplo ainda mais radical: “Ainda nos
encontramos na eternidade”.

Ambos
1. Em grego, latim e português, tal palavra significa dois, um e outro. Ex.:
“Quando passei, vi dois guardas; e, ao voltar, ambos ainda lá se
achavam”.
2. Nesse sentido, ensinam os gramáticos (RIBEIRO, João, 1923, p. 23) que
tal forma “indica a dualidade natural ou habitual: ambas as mãos, as
mãos ambas; os dous ambos (no italiano ambedue)”.
3. Verificada a dualidade natural ou habitual do vocábulo ambos, é de se
ver, em complementação, o ensino de José de Sá Nunes: “se alguém
empregou a frase ambos os dois ou ambos de dois, em vez de macular
seus escritos, o que fez foi ataviá-los com gemas clássicas do mais
subido valor” (1938, p. 192).
4. Ernesto Carneiro Ribeiro, em lição transcrita pelo filólogo referido,
também anota que “as expressões pleonásticas ambos os dois, ambos e
dois, ambos de dois, muito em voga entre os antigos, são ainda hoje […]
empregadas por alguns escritores de nota” (RIBEIRO, João, 1923, p.
193).
5. Heráclito Graça (1904, p. 446) defende a correção de tal sintaxe e anota
que a empregaram Herculano, Castilho e Garrett.
6. Quanto a ambos de dois, vale trazer a registro a lição de João Ribeiro, de
que se trata de “locução clássica, usada uma vez em Camões: ‘De ambos
de dous a fronte coroada’” (1923, p. 23).
7. E a expressão ambos os dois, para Laudelino Freire (1937b, p. 128),
“tida por muitos como indefensável tolice, é de cunho clássico, e usada
tem sido por escritores de primeira ordem”, arrolando ele próprio
exemplos de abalizados autores: … “O certo é que ambos os dois
monges caminhavam juntos” (Alexandre Herculano).
8. Sousa da Silveira complementa que “ambos os dois ainda em autores
modernos não é muito raro” (SILVEIRA apud NUNES, 1938, p. 192).
9. Veja-se, nesse sentido, o exemplo de Rui Barbosa, em sua Réplica:
“Ambas as formas são gramaticais? São-no ambas as duas” (BARBOSA
apud NUNES, 1938, p. 197).
10. Ressalvada a circunstância do pouco uso da expressão por último
referida em nossos dias, Sousa e Silva leciona, em acréscimo, que “não
é expressão condenável e dela fizeram uso grandes escritores” (1958,
p. 30).
11. Realce-se que, para Silveira Bueno (1938, p. 216), não apenas é correta
a expressão ambos os dois, mas também a expressão ambos de dois,
trazendo tal autor, para sua confirmação, o abono de escritores
abalizados. Exs.: a) “O certo é que ambos os dous monges caminhavam
juntos” (Alexandre Herculano); b) “De ambos de dous a fronte coroada
/ ramos não conhecidos e erva tinha” (Camões); c) “Quebradas tivesse
eu as pernas ambas de duas quando casei com este moinante” (Camilo
Castelo Branco).
12. Mesmo em nossos dias, Pasquale Cipro Neto e Ulisses Infante veem
perfeita possibilidade de utilização das “formas enfáticas ambos os
dois, ambos a dois, ambos de dois, a ambos dois” (1999, p. 313).
13. Em posição mais restritiva, após anotar que ambos “é dual, e traz, de
ordinário, a ideia de par”, Eduardo Carlos Pereira refere que “as
expressões clássicas de ambos os dois, ambos de dois, ambos e dois,
são arcaicas, se bem que em alguns escritores modernos se leia ainda
ambos os dois” (1924, p. 312).
14. Luiz Antônio Sacconi, após, de igual modo, realçar em ambos a
natureza de numeral dual, “porque sempre se refere a dois seres”, e
depois de anotar que se trata de locução pleonástica, aduz que ela,
ainda em nossos dias, “pode ser usada, porém, com discrição” (1979, p.
61).
15. Júlio Nogueira (1959, p. 31-2), por seu lado, juntando em mesma
observação as expressões ambos os dois, ambos de dois e ambos e
dois, anota que “vários autores têm justificado tais locuções
pleonásticas nesta ou naquela forma”; mas continua: “o melhor é não
usar nenhuma delas. Além do mais só as emprega hoje quem se quer
pavonear com indumentos clássicos extravagantes”.
16. Cândido de Oliveira lembra que o vocábulo ambos admite várias
construções – ambos dois, ambos os dois, ambos e dois, ambos a dois –
mas observa que, “na linguagem comum, todavia, tais expressões
foram abandonadas e somente empregamos ambos” (s/d, p. 25).
17. Também José de Nicola e Ernani Terra discordam da possibilidade de
emprego moderno da referida expressão pleonástica: “embora muito
utilizada, tanto pelo povo, quanto por escritores antigos, evite o uso das
expressões ambos os dois e ambos de dois, uma vez que o numeral
ambos, que significa um e outro, deve ser empregado para substituir a
expressão os dois” (2000, p. 30).
18. De modo muito específico para o campo jurídico, observam Regina
Toledo Damião e Antonio Henriques que, em Direito, emprega-se a
expressão ambos os dois, que conserva “o sentido antigo de reforço da
ideia para traduzir a unidade de propósito, v. g., na denúncia” (1994, p.
227).
19. Em resumo: quer por seu caráter enfático, que nem sempre faz parte da
expressão moderna, quer pela normal ausência de um polimento
estilístico maior de grande parte dos textos de nossos dias, ainda que
elaborados sob a orientação da norma culta, há de se cuidar para que,
no emprego da referida expressão – sem dúvida permitido pela
Gramática – não incida o usuário no pedantismo, quando não no
pernosticismo. Assim, mesmo se quiser usar de alguma das expressões
mais elaboradas, é melhor proceder a seu emprego com parcimônia.
20. Vale acrescer que uma busca nas dez codificações mais importantes do
país, incluindo o vetusto Código Comercial de 1850, mostra que o
legislador jamais quis fazer uso de qualquer das possibilidades mais
literárias e elaboradas do mencionado vocábulo, mas sempre o
emprega ou sozinho (ambos ou ambas), ou seguido de um substantivo
(ambos os cônjuges ou ambas as casas).

Ambos vocábulos ou Ambos os vocábulos?


1. São trazidos, para análise, os seguintes exemplos, com um pedido de
definição de qual está correto: a) “Ambos vocábulos estão corretos?”; b)
“Ambos os vocábulos estão corretos?”
2. O que se nota com facilidade, pela leitura dos exemplos encontrados em
nossos melhores autores, é que a palavra ambos, quando vem seguida de
um substantivo, exige o emprego do artigo os, as. Ex.: a) “… ambas as
mãos…” (João Ribeiro); b) “Ambas as formas são gramaticais?” (Rui
Barbosa).
3. Mesmo quando se emprega a expressão pleonástica, o artigo vem
inserido na expressão. Exs.: a) “O certo é que ambos os dois monges
caminhavam juntos” (Alexandre Herculano); b) “Ambas as formas são
gramaticais? São-no ambas as duas” (Rui Barbosa).
4. À falta de exemplos autorizados, nos melhores autores, que dispensem o
emprego do artigo em tal situação, o melhor é assim resumir: a) “Ambos
vocábulos estão corretos?” (errado); b) “Ambos os vocábulos estão
corretos?” (correto).
5. Vejam-se, dentre muitos, alguns exemplos de emprego do mencionado
vocábulo em dispositivos de nossas leis: a) “Ocorrendo a vacância nos
últimos dois anos do período presidencial, a eleição para ambos os
cargos será feita trinta dias depois da última vaga, pelo Congresso
Nacional, na forma da lei” (CF, art. 81, § 1º); b) “Se ambas as partes
procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para anular o negócio,
ou reclamar indenização” (CC, art. 150); c) “… se, por culpa do
devedor, ambas as prestações se tornarem inexequíveis, poderá o credor
reclamar o valor de qualquer das duas, além da indenização por perdas
e danos” (CC, art. 255, segunda parte); d) “… Em ambos os casos não
haverá direito a indenização suplementar” (CC, art. 420); e) “Não
convindo os dois no preço da obra, será este arbitrado por peritos, a
expensas de ambos os confinantes” (CC, art. 1.329); f) “O homem e a
mulher com dezesseis anos podem casar, exigindo-se autorização de
ambos os pais, ou de seus representantes legais, enquanto não atingida
a maioridade civil” (CC, art. 1.517, caput); g) “O requerimento de
habilitação para o casamento será firmado por ambos os nubentes, de
próprio punho, ou, a seu pedido, por procurador, e deve ser instruído
com os seguintes documentos…” (CC, art. 1.525, caput).

À medida que, À medida em que ou Na medida em que?


1. Afirme-se, de início, que à medida que é a única forma de locução
conjuntiva com ideia de proporção, de modo que se deve evitar toda
outra forma de expressão para essa finalidade. Assim: a) o a inicial tem
acento grave indicativo de crase; b) não se inicia pela preposição em; c)
não se intercala a preposição em nessa expressão. Exs.: a) “O advogado
ficava mais tenso, à medida que se aproximava o fim da audiência”
(correto); b) “O advogado ficava mais tenso, a medida que se
aproximava o fim da audiência” (errado); c) “O advogado ficava mais
tenso, à medida em que se aproximava o fim da audiência” (errado); d)
“O advogado ficava mais tenso, na medida em que se aproximava o fim
da audiência” (errado).
2. Nessa função de locução conjuntiva com ideia de proporção, Arnaldo
Niskier leciona que, apesar de ser “expressão muito utilizada,
equivocadamente, em discursos”, o certo é que “à medida em que não
existe” (1992, p. 9).
3. Não diverge desse ensino Domingos Pascoal Cegalla: “é incorreta a
variante à medida em que” (1999, p. 24).
4. Também observam Pasquale Cipro Neto e Ulisses Infante: “deve-se
evitar a forma à medida em que” (1999, p. 550).
5. Não difere o ensino de José de Nicola e Ernani Terra: “Não existe a
expressão à medida em que” (2000, p. 11).
6. Além disso, também observa Domingos Pascoal Cegalla que “é errado
usar na medida em que para substituir à medida que ou à proporção que”
(1999, p. 274).
7. Vejam-se, assim, os seguintes casos de emprego correto da expressão à
medida que em nossos dispositivos de lei: a) “Se não houver conjunção
entre os colegatários, ou se, apesar de conjuntos, só lhes foi legada
certa parte do usufruto, consolidar-se-ão na propriedade as quotas dos
que faltarem, à medida que eles forem faltando” (CC, art. 1.946,
parágrafo único); b) “Quando a penhora recair sobre dívidas de dinheiro
a juros, de direito a rendas, ou de prestações periódicas, o credor
poderá levantar os juros, os rendimentos ou as prestações à medida que
forem sendo depositadas, abatendo-se do crédito as importâncias
recebidas, conforme as regras da imputação em pagamento”
(CPC/1973, art. 675); c) “Quando a arrecadação não terminar no
mesmo dia, o juiz procederá à aposição de selos, que serão levantados à
medida que se efetuar o arrolamento, mencionando-se o estado em que
foram encontrados os bens” (CPC/1973, art. 1.146).
8. Mas, aqui e acolá, escapam equívocos no emprego dessa expressão,
mesmo em textos de lei: “Os sócios podem resolver, por maioria de
votos, antes de ultimada a liquidação, mas depois de pagos os credores,
que o liquidante faça rateios por antecipação da partilha, à medida em
que se apurem os haveres sociais” (CC, art. 1.107). Corrija-se: “… à
medida que se apurem os haveres sociais”.
9. Veja-se este outro equívoco: “A assembleia geral poderá resolver, antes
de ultimada a liquidação, mas depois de pagos os credores, que o
liquidante faça rateios por antecipação da partilha, à medida em que se
apurem os haveres sociais” (art. 72 da Lei 5.764, de 16/12/71, que
instituiu o regime das cooperativas). Corrija-se para “… à medida
que…”
10. Também o Provimento 759/01, de 23/8/01, do Conselho Superior da
Magistratura do Estado de São Paulo, ao extinguir o Setor de Cartas
Precatórias Cíveis da Capital, mediante desativação gradual, mandou
que as cartas precatórias existentes no Setor fossem nele cumpridas, até
que se completasse a desativação definitiva, e complementou em seu
art. 4º, caput: “Na medida em que se esgotarem as cartas precatórias
em andamento no Setor, os servidores ali lotados serão remanejados
pela Presidência do Tribunal de Justiça, segundo o interesse do serviço
judiciário”. Corrija-se: “À medida que…”
11. Embora observem que “muitos autores não reconhecem essa forma
como legítima”, Pasquale Cipro Neto e Ulisses Infante atestam a
existência e a correção da expressão na medida em que, observando
que ela “exprime relação de causa e equivale a porque, já que, uma vez
que”. Exs.: a) “O fornecimento de combustível foi interrompido na
medida em que os pagamentos não vinham sendo efetuados”; b) “Na
medida em que os projetos foram abandonados, a população carente
ficou entregue à própria sorte” (1999, p. 550).
12. Exatamente nesse sentido, conforme lição de José de Nicola e Ernani
Terra, a expressão na medida em que existe em nossa sintaxe, mas
“corresponde a tendo em vista que” (2000, p. 11).
13. Também importa realçar, com Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 24
e 274), que a expressão na medida em que pode ser correta, quando o
vocábulo medida indica quantidade, e o que é pronome relativo, e não
parte de locução conjuntiva, como não é difícil perceber em exemplos
por ele coligidos em autores insuspeitos: a) “A rigor, tal cordialidade
não existe na medida em que é apregoada” (Viana Moog); b) “A regra
da igualdade não consiste senão em quinhoar desigualmente aos
desiguais, na medida em que se desigualam” (Rui Barbosa); c) “A
expansão da lavoura algodoeira não pôde produzir-se em São Paulo
na mesma medida em que se produziu noutras terras” (Sérgio Buarque
de Holanda).
14. Hêndricas Nadólskis e Marleine Paula Marcondes Ferreira de Toledo
também dão por correta essa expressão nesse sentido, conforme
exemplo específico: “A implantação do sistema desenvolveu-se na
medida em que fora planejada” (1998, p. 75).
15. Veja-se um exemplo de correção no emprego dessa expressão por
último referida em dispositivo de lei: “Se o prejuízo sofrido pela
pessoa transportada for atribuível à transgressão de normas e
instruções regulamentares, o juiz reduzirá equitativamente a
indenização, na medida em que a vítima houver concorrido para a
ocorrência do dano” (CC, art. 738, parágrafo único).
16. De um modo geral, as observações aqui feitas servem integralmente,
quando, em vez de medida, se tem a palavra proporção.

A mesma coisa
Ver O mesmo (P. 524).

A metade de… – foi ou foram?


Ver Metade de… – foi ou foram? (P. 472)

A meu ver ou Ao meu ver?


1. A meu ver tem o significado de no meu conceito, na minha opinião,
segundo penso. Ex.: “A proposta do diretor, a meu ver, não faz sentido”.
2. É verdade que, numa rápida pesquisa, os exemplos encontrados nos bons
autores, gramáticos e dicionaristas apontam para um só emprego: a meu
ver, e não ao meu ver. Exs.: a) “Isso, a meu ver, é asneira”
(FIGUEIREDO apud FERNANDES, 1971, p. 595); b) “A meu ver, ele é
honesto” (HOUAISS; VILLAR, 2001, p. 2.843).
3. Ocorre, porém, que, em nosso idioma, os pronomes possessivos,
tradicionalmente, admitem de modo facultativo o emprego do artigo
antes de si. Exs.: a) “Meu trabalho é cansativo” (correto); b) “O meu
trabalho é cansativo” (correto); c) “Ele pintou nossa casa” (correto); d)
“Ele pintou a nossa casa” (correto).
4. Sendo optativo o emprego do pronome possessivo em tais casos, à falta
de regra gramatical específica que diga o contrário, não parece haver
motivo para tratar diferentemente as expressões a meu ver e ao meu ver,
de modo que são igualmente corretos os seguintes exemplos: a) “A
proposta do diretor, a meu ver, não faz sentido”; b) “A proposta do
diretor, ao meu ver, não faz sentido”.
5. O acerto dessa dupla possibilidade de uso se confirma, quando se nota a
mesma ocorrência em outra expressão bastante similar, com dois modos
corretos de emprego: a) “Em meu modo de ver, a proposta do diretor
não faz sentido”; b) “No meu modo de ver, a proposta do diretor não faz
sentido”.

Amicus curiae – Qual é o plural?


1. Um leitor diz ter lido, como plural da expressão amicus curiae, a
expressão amici curiae. E indaga se isso é correto.
2. Essa é uma expressão latina (pronuncia-se amícus cúrie), que significa,
na origem, amigo da corte e foi introduzida em nosso ordenamento para
significar a intervenção de entidades que, mesmo não sendo partes, se
munem de representatividade adequada para contribuir com elementos
significativos em questões de direito em demanda que diga respeito a
controle de constitucionalidade.
3. Quanto a seu plural, as opiniões se dividem: a) alguns querem que a
expressão fique invariável, e, assim, que se reconheça seu plural apenas
pela anteposição do artigo ou outro vocábulo que indique tal
circunstância (o amicus curiae, os amicus curiae); b) outros querem que,
além do artigo, também o primeiro vocábulo da expressão vá para o
nominativo plural latino (o amicus curiae, os amici curiae). Essa última
posição é majoritária, e desse modo é que o próprio Supremo Tribunal
Federal manda pluralizar a expressão em seu site. Dicionários jurídicos
ingleses adotam idêntica postura.
4. Em realidade, quanto ao polêmico e tormentoso problema da
pluralização de palavras e expressões de outros idiomas ainda não
incorporadas ao vernáculo, desde logo se observa não haver regramento
específico por parte dos órgãos competentes, e, assim, o que se tenta
aqui é equacionar o assunto por um raciocínio cientificamente correto,
com o acompanhamento do bom-senso que deve nortear soluções dessa
natureza.
5. Com essa observação, fixa-se a premissa de que palavras e expressões de
outros idiomas podem cristalizar-se no vernáculo de maneiras diversas:
a) campus veio na forma do nominativo singular (caso latino que serve
para vestir a função sintática de sujeito); b) quorum sedimentou-se aqui
na forma do genitivo plural (caso que serve para exercer a função do
antigo complemento restritivo, hoje adjunto adnominal); c) a quo veio na
forma do ablativo singular por regência da preposição antecedente (caso
que normalmente serve para desempenhar a função sintática de
complemento circunstancial, hoje adjunto adverbial); d) ad quem,
também por regência da preposição antecedente, veio no acusativo
singular (que, normalmente, serve para desempenhar a função de objeto
direto).
6. E, como não é difícil compreender nem observar, mesmo para aqueles
que não possuem rudimento algum do latim, essa cristalização do
vocábulo estrangeiro em nosso idioma e seu emprego em estruturas
sintáticas vernáculas normalmente ocorrem do seguinte modo: a) não há
preocupação alguma sobre qual seja a função sintática de tal palavra na
oração em português; b) no vernáculo, não se estabelece vínculo algum
com a estrutura sintática em latim; c) não se procede a ligação alguma
com a conduta ou a flexão do vocábulo ou expressão no idioma de
origem.
7. Em continuação, para facilitar o raciocínio no caso concreto,
considerem-se, em português, os seguintes exemplos, com a
especificação da função sintática da palavra amicus neles empregada: a)
“O amicus curiae apresentou sua manifestação” (sujeito); b) “O
Ministro questionou o amicus curiae” (objeto direto); c) “O Ministro
questionou os amicus curiae (objeto direto); d) O Ministro deu a palavra
ao amicus curiae” (objeto indireto); e) “O Ministro deu a palavra aos
amicus curiae”; f) “A manifestação dos amicus curiae foi precisa e
concisa” (adjunto adnominal).
8. Partindo-se do princípio de que não se há de pretender flexionar pela
metade a palavra ou expressão no idioma de origem (ou seja, mandando-
a para o plural na língua de origem, mas apenas no caso latino em que se
cristalizou no vernáculo), e considerando-se que, além da variação em
gênero e número, o latim ainda tem a flexão dos substantivos em caso (a
ser determinada pela função sintática que o vocábulo exerce na oração),
forçoso é concluir que, se alguém quer levar o vocábulo amicus para o
plural latino nos exemplos acima, também deve, por coerência, alterá-lo
quanto ao caso, de acordo com a função sintática que o vocábulo exerce
na oração. E, assim, veja-se o resultado desastroso nos exemplos
anteriormente formulados: a) “O amicus curiae apresentou sua
manifestação” (sujeito); b) “O Ministro questionou o amicum curiae”
(objeto direto); c) “O Ministro questionou os amicos curiae (objeto
direto); d) O Ministro deu a palavra ao amico curiae” (objeto indireto);
e) “O Ministro deu a palavra aos amicis curiae”; f) “Foi precisa e
concisa a manifestação dos amicorum curiae” (adjunto adnominal).
9. Não é difícil perceber as implicações desse raciocínio: a) um emprego
assim requer do usuário do vernáculo uma informação que ele
normalmente não tem; b) ou seja: exige dele conhecimentos razoáveis de
latim, que já não é ensinado em nossas escolas faz um bom tempo; c)
além disso, a par de não haver gênero neutro em português, também não
há correspondência absoluta de gênero em ambos os idiomas; d) isso
significa que um vocábulo feminino em latim pode ter vindo para o
masculino em português, e vice-versa.
10. E não é só: a adoção do critério aqui combatido exige coerência, de
modo que deveria dar algum tipo de solução parecida para a seguinte
frase: “A nova ombudsman da Folha manifestou-se veementemente
contra a opinião do jornal”. Vale dizer: deveria fazer as adaptações
necessárias, conforme se tratasse de feminino ou de plural.
11. Por isso, com o devido respeito por aqueles que pensam de modo
diverso – e são maioria, além de contar, entre nós, com o aval do
próprio Supremo Tribunal Federal em seu site – , a melhor solução
para a pluralização de tais palavras ou expressões estrangeiras em
português parece obedecer aos seguintes parâmetros: a) devem
desvincular-se de sua função sintática de origem para efeito de sua
flexão em português, quer quanto ao gênero (masculino ou feminino),
quer quanto ao número (singular ou plural), quer mesmo quanto ao
caso (nominativo, vocativo, genitivo, dativo, ablativo e acusativo); b)
devem ser empregadas, assim, como acabaram por sedimentar-se em
português, sem variações, adaptações ou tentativas de acertamento em
nosso idioma; c) apenas sua pluralização em português deve obedecer
aos critérios de nosso idioma (normalmente com o acréscimo de s); d)
no caso de amicus, como já existe o s no singular, o reconhecimento do
plural se dá pela flexão de outra palavra que se agrega a tal substantivo
(o amicus, os amicus).
12. Vejam-se, assim, as seguintes frases, quando se segue esse critério: a)
“O amicus curiae apresentou sua manifestação”; b) “Os amicus curiae
apresentaram suas manifestações”; c) “O Ministro questionou o
amicus curiae”; d) “O Ministro questionou os amicus curiae”; e) “O
Ministro deu a palavra ao amicus curiae”; f) “O Ministro deu a
palavra aos amicus curiae”; g) “A manifestação do amicus curiae foi
precisa e concisa”; h) “A manifestação dos amicus curiae foi precisa e
concisa”.
13. Qualquer outra solução – sempre com o devido respeito pelos que
pensam de modo diverso – afronta a etimologia, fere os critérios
mínimos científicos e marginaliza o próprio bom-senso, além de fazer
do emprego de vocábulos e expressões dessa natureza, no vernáculo,
uma armadilha e um tormento adicional gravíssimo para o usuário
médio do idioma.

A mim me parece – É forma correta?


1. É correta a repetição, em pleonasmo, de um pronome pessoal oblíquo
átono por um tônico. Exs.: a) “A mim me parece que o recurso é
intempestivo”; b) “A ela, não lhe ficou a ideia de que estavam dizendo a
verdade”.
2. Na lição de Vitório Bergo, trata-se de construção irrepreensível, apesar
de pleonástica, e isso porque “o pleonasmo deixa de considerar-se vício
para classificar-se como figura desde que, sem tornar deselegante a frase,
contribua para dar maior relevo à ideia” (1944, p. 183).
3. Mário Barreto, em corroboração, leciona que “uma boa coleção de
pleonasmos possui a língua portuguesa na combinação das formas
pronominais, tônicas e atônicas, podendo o pronome absoluto preceder o
pronome conjunto complemento: dá-lhe a ele; a mim parece-me que…;
parece-me a mim que…; a ti não te faço mal; a mim basta-me a
satisfação de ter descoberto estas pérolas; a ele eu não lhe disse nada;
ele disse-mo a mim….” (1954a, p. 264).
4. Nas palavras de Laudelino Freire, “é de boa linguagem reforçar o
pronome objeto com o pronome oblíquo correspondente, ou com o
pronome ele, precedidos um e outro da preposição a. Exs.: Mato-me a
mim; Sirva-lhes a eles de castigo” (1937b, p. 98).
5. A autoridade de Vasco Botelho de Amaral, de igual modo, não deixa
dúvidas acerca da possibilidade de emprego de pleonasmos dessa
natureza: “Parece-me a mim, deu-nos a nós, falou-lhe a ele e similares
não devem proscrever-se, porque tal condenação privaria o idioma de
construções espontâneas, corretas, portuguesíssimas que se topam
amiúde nas mais brilhantes páginas”.
6. E arrola tal gramático (AMARAL, 1943, p. 38) exemplos de insuspeitos
autores: a) “Me dês a mim certíssima resposta” (Camões); b) “Parecia-
me a mim que se haviam de levantar todos, e irem-se lançar aos pés de
Cristo” (Padre Antônio Vieira); c) “A mim não se me pega nada”
(Almeida Garrett); d) “Quem me diz a mim que a grenha ruça não vai ao
pé de nós?” (Antônio Feliciano de Castilho).
Ver Pleonasmo – O que é e Quando pode? (P. 565)

Amiúde
1. Amiúde é advérbio de origem latina e significa frequentemente,
repetidamente. Ex.: “O réu ia amiúde divertir-se com os fregueses do
bar da esquina”.
2. Ora, em termos de técnica gramatical, é de se ver que, formador de
advérbios em português, o sufixo mente só pode ser acrescentado a
adjetivos no feminino: satisfatória + mente = satisfatoriamente;
criteriosa + mente = criteriosamente.
3. João Ribeiro lembra que “o português formou advérbios numerosos com
a junção de mente a adjetivos femininos… Essa faculdade já existia com
pequena extensão no latim clássico” (1923, p. 139).
4. Observa também Eduardo Carlos Pereira, em duas passagens de sua
obra, que “a terminação adverbial mente é o substantivo feminino mente
com a significação de maneira, intenção. Mais tarde se justapôs ao
adjetivo, perdendo o caráter de substantivo, conservando, entretanto, o
adjetivo sua flexão feminina” (1924, p. 151 e 174).
5. Com base em tais postulados, vê-se, assim, que, por já ser um advérbio,
amiúde não é passível de receber acréscimo desse sufixo adverbial,
sendo errôneo o emprego em formas como: “O réu ia amiudemente
divertir-se com os fregueses do bar da esquina”.
6. Dessa mesma categoria são erros como adredemente, apenasmente, de
repentemente.
7. Observando que tal vocábulo se origina da locução adverbial ad +
minute ou ad + minutum, lembra Sílvio Elia, a propósito de sua grafia:
“Pode-se escrever amiúde numa palavra só,… ou [com ligeira variação
gráfica] em duas palavras, a miúdo. O sentido é o mesmo” (1967, p. 200
e 297).
8. O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia
Brasileira de Letras, órgão incumbido de listar oficialmente as palavras
existentes em nosso idioma e sua respectiva grafia, corrobora esse último
entendimento e registra as duas possibilidades: a miúde e amiúde (2009,
p. 49).
Ver Advérbios em “mente” (P. 85) e Tocantemente – Existe? (P. 739)

Amiudemente
Ver Advérbios em “mente” (P. 85).

Amoral ou Imoral?
1. Amoral não tem acepção alguma de contrariedade aos bons costumes,
mas quer dizer algo simplesmente afastado de qualquer preocupação
com a moralidade. Ex.: “Não repassar às crianças e aos jovens
princípios de espiritualidade é criar uma geração de ateus e amorais”.
2. Já sua parônima imoral significa contrário aos bons costumes, desonesto,
devasso, libertino. Ex.: “Mesmo não sendo crime, o incesto é imoral”.
3. Nesse sentido é a síntese de Luís A. P. Vitória (1969, p. 24): a) “Amoral
– que é destituído de moralidade. Ex.: ‘Esse indivíduo é um amoral’.
Não confundir com imoral, cujo significado é: contrário à moral,
desonesto. Ex.: ‘À polícia compete reprimir as práticas imorais’”.
4. Essa também a lição de José de Nicola e Ernani Terra (2000, p. 30): a)
“utiliza-se amoral quando queremos fazer referência àquele que não é
nem contrário nem conforme à moral, ou para designar algo a que falta
moral”; b) “imoral deve ser empregado com o sentido de contrário à
moral”.
Ver Moral – A moral ou O moral? (P. 477)

Ampersand
1. Trata-se de palavra inglesa para designar o sinal gráfico &, abreviatura
do latim et (que significa e).
2. Observa Domingos Paschoal Cegalla que “Millôr Fernandes propôs a
denominação portuguesa sinal tironiano, por ter sido inventado por
Tirônio, secretário de Cícero, este último um político e orador latino”
(1999, p. 24).
3. Luciano Correia da Silva relata haver lido artigo de Fernando Sabino em
que havia a explicação de que o símbolo & significaria etc.
4. Explica, todavia, tal autor (SILVA, L., 1991, p. 159): “O sinal & não é
forma reduzida de etc., como lhe informaram. Na verdade, este símbolo
é apenas o entrelaçamento de et (e + t), herança latina de um costume
gráfico medieval. Daí é que veio a forma curiosa do nosso uso
comercial: Simões & Filhos, isto é, Simões e Filhos e não ‘Simões etc.
Filhos’”.

Analisar
1. Para bem se guardar a escrita em casos dessa natureza, duas regras de
ortografia devem ser consideradas: a) Se se tem de acrescentar a um
radical o sufixo izar inteiro para formar um verbo, grafa-se com z: fiscal,
útil (primitivas) fazem fiscalizar, utilizar (derivadas); b) No caso da
observação anterior, porém, se já existe s no radical, é ele aproveitado na
palavra nova: análise, pesquisa, catálise (primitivas) fazem analisar,
pesquisar, catalisar.
2. No vocábulo ora estudado, porque a palavra primitiva é análise, onde já
existe s, a derivada há de ser analisar.
Ver Ortografia (P. 533) e Regras de ortografia (P. 652).

Análise legal-institucional – Qual o plural?


1. Quando se pergunta qual o plural de uma expressão como essa, a dúvida
não está no substantivo análise, cujo plural é de fácil obtenção, mas no
circunlóquio legal-institucional, uma expressão que vale por adjetivo (a
qualificar análise), composta por dois elementos unidos por hífen, o que,
então, significa um adjetivo composto.
2. Ora, num adjetivo composto, duas regras gerais são de grande
importância para fazer o plural ou o feminino: a) o primeiro elemento é
sempre invariável; b) o segundo elemento só varia se ele próprio é um
adjetivo.
3. Assim, vejam-se alguns casos em que o segundo elemento é um adjetivo,
com suas variações: tratado luso-brasileiro, tratados luso-brasileiros,
convenção luso-brasileira, convenções luso-brasileiras.
4. E também se confiram casos em que o segundo elemento não é um
adjetivo: uniforme verde-mar, uniformes verde-mar, farda verde-mar,
fardas verde-mar.
5. No caso específico da dúvida trazida pelo leitor, o último elemento
(institucional) é adjetivo, e, assim, o plural se forma do seguinte modo:
aspecto legal-institucional, aspectos legal-institucionais, análise legal-
institucional, análises legal-institucionais.

Andaime
Ver Roraima (P. 675).

Andar a ou Andar de?


1. Uma leitora indaga qual a diferença entre as expressões andar a e andar
de, como nos seguintes exemplos: a) “Andar a cavalo”; b) “Andar de
jegue”.
2. Ora, no sentido de se conduzir ou ser conduzido, ou de se fazer
transportado, o verbo andar admite, em alguns casos, construção com a
preposição a, e, em outros, com a preposição de. Exs.: a) “Andar a pé”;
b) “Andar a cavalo”; c) “Andar de carro”; d) “Andar de avião”; e)
“Andar de jegue”.
3. Nesses casos, entretanto, tais preposições não são intercambiáveis – vale
dizer, não podem ser empregadas uma em lugar da outra – , de modo que
não encontram respaldo nas regras de Gramática as seguintes
expressões: a) “Andar de pé”; b) “Andar de cavalo”; c) “Andar a carro”;
d) “Andar a avião”; e) “Andar a jegue”.

Anexo
1. Do prisma da concordância nominal, trata-se de adjetivo e, assim,
concorda em gênero e número com o substantivo modificado. Exs.: a)
“Segue anexo o documento”; b) “Segue anexa a fotocópia”; c) “Seguem
anexos os documentos”; d) “Seguem anexas as fotocópias”.
2. De Domingos Paschoal Cegalla é a preciosa síntese: “Esta palavra não é
advérbio e sim adjetivo, devendo, por isso, concordar em gênero e
número com o substantivo a que se refere” (1999, p. 25).
3. Os vocábulos apenso e incluso são seus sinônimos e obedecem à mesma
concordância.
4. Quanto a sua regência, Francisco Fernandes (1969, p. 36) o faz
construir-se com a preposição a. Ex.: “É justamente na edição anexa ao
meu parecer…” (Rui Barbosa).
5. Esse também o posicionamento de Celso Pedro Luft (1999, p. 51),
estampado facilmente nos exemplos que oferece: a) “Coisas anexas uma
à outra”; b) “Órgãos anexos à boca”; c) “Anexa à religião anda a boa
intenção”; d) “Parecer a que estão anexos os documentos”; e) “Livraria
anexa à Faculdade”.
6. De Domingos Paschoal Cegalla ainda vem a preciosa observação de que
anexo “não deve ser usado como particípio de anexar, em vez de
anexado. Diga-se, portanto: O documento foi anexado (e não anexo) ao
processo” (1999, p. 25).
7. Vejam-se alguns exemplos de emprego do mencionado adjetivo em
dispositivos de lei: a) “Enquanto lei complementar não disciplinar o
disposto nos incisos I e III do § 3º do art. 156 da Constituição Federal, o
imposto a que se refere o inciso III do caput do mesmo artigo: I – terá
alíquota mínima de dois por cento, exceto para os serviços a que se
referem os itens 32, 33 e 34 da Lista de Serviços anexa ao Decreto-Lei
406, de 31 de dezembro de 1968” (CF, art. 88, I); b) “O boletim
individual a que se refere este artigo é dividido em três partes
destacáveis, conforme modelo anexo a este Código, e será adotado nos
Estados, no Distrito Federal e nos Territórios…” (CPP, art. 809, § 3º,
primeira parte); c) “As repartições competentes do Ministério do
Trabalho, Indústria e Comércio manterão, para os fins do artigo
anterior, um registro especial, anexo ao dos jornalistas profissionais…”
(CLT, art. 313, § 1º); d) “As medidas de segurança são pessoais ou
patrimoniais. As da primeira espécie subdividem-se em detentivas e não
detentivas. As detentivas são a internação em manicômio judiciário e a
internação em estabelecimento psiquiátrico anexo ao manicômio
judiciário ou ao estabelecimento penal, ou em seção especial de um ou
de outro” (CPM, art. 110).
Ver Em anexo – Está correto? (P. 302)

Anglicismo
1. O nome genérico para o vício de linguagem consistente em usar
vocábulos, expressões e construções alheias ao idioma é barbarismo.
2. Quando a invasão de palavras provém do inglês, dá-se ao vício o nome
de anglicismo. É o caso de performance, de emprego não autorizado no
idioma pelo Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (editado pela
Academia Brasileira de Letras, que tem a delegação para listar
oficialmente os vocábulos pertencentes ao idioma), palavra essa que
pode perfeitamente ser substituída por desempenho.
3. Tecnicamente, para João Ribeiro, anglicismos “são palavras tomadas
inutilmente da língua inglesa” (1923, p. 245).
4. Carlos Góis também dá, como exemplo desse vício de linguagem
consistente na imitação servil da língua inglesa, “a anteposição do
adjetivo qualificativo ao substantivo quando contrária ao gênio da
língua: Seleto Hotel por Hotel Seleto; Moderno Bar por Bar Moderno;
Parque Cinema por Cinema Parque” (1945, p. 40-1).
5. Esclareça-se que, quando regular e oficialmente recebida a palavra nova
de outro idioma pelo Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa,
editado pela Academia Brasileira de Letras – onde se verifica a realidade
de existência aceita do vocábulo em nosso idioma – diz-se, estar diante
de um neologismo. Foi o que se deu recentemente com diversos
vocábulos de tecnologia e informática recolhidos pelo VOLP, como
acessar, deletar e inicializar.
Ver Estrangeirismos (P. 336).

A nível de, Ao nível de ou Em nível de?


1. Ao que tudo indica, a nível de é expressão que, por modismo, foi
equivocada e indevidamente introduzida entre nós por tradutores do
inglês.
2. Não tem ela, a bem da verdade, os sentidos que lhe querem conferir, e
são errôneas as seguintes construções: “reunião a nível de
desembargadores”, “discussão a nível de Órgão Especial”; em tais
casos, o correto é dizer: “reunião de desembargadores”, “discussão da
alçada do Órgão Especial”.
3. O erro é tão comum, que, em 1998, foi realizado um congresso em uma
capital do Amazonas com o seguinte título: “O Direito Ambiental e seu
Reflexo a Nível Internacional”; a correção de tal título, sem dúvida, há
de ser: “O Direito Ambiental e seu Reflexo no Âmbito Internacional”,
ou, simplesmente, “O Direito Ambiental e seu Reflexo Internacional”.
4. Domingos Paschoal Cegalla a reputa “locução em voga, porém inútil”
(1999, p. 26).
5. Geraldo Amaral Arruda, que lhe condena o emprego, entende que tal
expressão deve ter sido criada “fora da língua portuguesa”, realçando
que ela “não tem a aprovação dos conhecedores da língua” (1997, p. 87-
8).
6. O erro é tão corriqueiro que, facilmente encontrável nos textos jurídicos,
pode ser exemplificado com excerto de brilhante processualista
moderno, o qual, ao tratar da questão do acesso à Justiça, o juntou, em
mesma frase, a outro não menos sério (em sede de), dizendo que a
expressão considerada, mais do que um princípio, “é a síntese de todos
os princípios e garantias do processo, seja a nível constitucional ou
infraconstitucional, seja em sede legislativa ou doutrinária e
jurisprudencial”.
7. José de Nicola e Ernani Terra (2000, p. 12) veem nesse emprego “um
modismo linguístico, uma expressão desnecessária” e aconselham se
evite seu emprego, observando, em acréscimo, que “existe, porém, a
expressão ao nível, que significa à mesma altura”. Ex.: “Santos está ao
nível do mar”.
8. Josué Machado, por um lado, é veemente, ao observar que “a nível de
em português quer dizer rigorosamente lhufas”. E complementa tal autor
com a observação de que “a ideia que essa expressão… tenta exprimir
ou não existe ou exprime-se em português por em, no, na, na área, na
esfera, no âmbito, entre etc.”. E exemplifica ele próprio que a nível
caseiro se pode substituir simplesmente por em casa; a nível nacional,
por na esfera, em âmbito nacional; a nível laboratorial, por no
laboratório; programa a nível nacional, por programa nacional; a nível
de ministério, por entre ministros, na esfera ministerial, no ministério
(MACHADO, 1994, p. 27).
9. Por fim, de se atentar à síntese de Arnaldo Niskier sobre o assunto:
“Essa expressão não existe na língua portuguesa; o que existe
(significando à mesma altura) é ao nível de, como em ao nível do mar.
Sempre será possível, com um pouco de esforço, substituir (ou até
eliminar simplesmente) o modismo a nível de; afinal, reunião a nível de
diretoria é apenas uma forma incorreta de dizer reunião de diretoria”.
10. Analisando um outro exemplo, explicita tal autor que contatos a nível
de governo melhor ficaria como contatos entre os governos (NISKIER,
1992, p. 10).
11. Napoleão Mendes de Almeida também observa a existência da
expressão ao nível de para significar à mesma altura. E exemplifica:
“… ultrajes que extinguem no indivíduo o sentimento de honra e o
rolam ao nível dos cães” (1981, p. 204).

Ano – Como ler seu número?


Ver Números – Como ler e Empregar? (P. 506)

Anos atrás
Ver Há cinco anos atrás – Pleonasmo? (P. 383) e Pleonasmo – O que é e
Quando pode? (P. 565)

Anos vinte ou Anos vintes?


1. Josué Machado anota que, na substantivação, não há motivo para
abandonar os numerais sem flexão para o plural. Exs.: a) “As eleições
dos anos noventas serão diferentes com as urnas eletrônicas”; b) “Os
ladrões do Congresso transformavam cincos em cinquentas”; c) “Os
noves do baralho foram marcados”.
2. Excepciona tal autor, porém, que “só não se flexionam em número os
numerais cardinais terminados em s (dois, três, seis, dezesseis), em z
(dez) e mil” (MACHADO, 1994, p. 71); não é, todavia, por exceção, que
não se flexionam tais palavras em número, mas que, por exemplo, ao
menos as primeiras, à semelhança de outros substantivos terminados por
s, como pires e ônibus, têm a mesma forma no singular e no plural.
3. De Vitório Bergo (1943, p. 191) também é a lição de que as palavras
substantivadas seguem geralmente as regras normais de flexão para o
plural, segundo a sua terminação, como é o caso de os noves.
4. Para Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 285), por um lado, “numerais
substantivados terminados por fonema vocálico formam o plural como
os substantivos: dois uns, quatro setes, prova dos noves fora, dois cens”;
por outro lado, ficam invariáveis os que finalizam por fonema
consonantal: ‘No teste, João tirou quatro seis e dois dez”.
5. Bem por isso, de modo específico para o caso, há de se dizer anos vintes,
e não anos vinte, como tem sido de corriqueira audiência.
6. É bastante comum encontrar equívocos dessa natureza em textos
jurídicos e forenses, como se pode comprovar pelo seguinte excerto de
aresto de um de nossos tribunais superiores: “A Constituição
republicana dos oitenta deu um novo passo no que concerne à
organização familiar” (RT, vol. 667, p. 20). Corrija-se: “A Constituição
republicana dos oitentas deu um novo passo no que concerne à
organização familiar”.

Ansiar
1. Veja-se, de início, que, quanto à ortografia, há de se escrever ansiar,
sendo errada a forma anciar.
2. No que concerne à conjugação verbal, o certo é que, quando terminam
em iar, normalmente se têm verbos regulares, os quais seguem o modelo
anunciar.
3. São, todavia, exceções a essa regularidade de conjugação mediar, ansiar,
remediar, incendiar e odiar – pode-se guardar a sigla MARIO –, que
têm por modelo este último.
4. Tais verbos mudam o i da penúltima sílaba em ei nas formas rizotônicas:
anseio, anseias, anseia, ansiamos, ansiais, anseiam (presente do
indicativo); anseie, anseies, anseie, ansiemos, ansieis, anseiem (presente
do subjuntivo); anseia, anseie, ansiemos, ansiai, anseiem (imperativo
afirmativo); não anseies, não anseie, não ansiemos, não ansieis, não
anseiem (imperativo negativo).
5. Vale sintetizar os problemas de conjugação desse verbo com as
observações de Vitório Bergo: “recebe um e eufônico nas formas
rizotônicas, que só se manifestam no presente do indicativo e do
subjuntivo e, portanto, no imperativo” (1943, p. 142-3).
6. Como tais problemas ocorrem apenas nas formas rizotônicas, e estas
aparecem somente no presente do indicativo e tempos derivados, não
apresenta o mencionado verbo dificuldades de flexão nos demais tempos
(formas arrizotônicas), em que é regular: ansiava (imperfeito do
indicativo), ansiarei (futuro do presente), ansiaria (futuro do pretérito),
ansiei (pretérito perfeito do indicativo), ansiara (pretérito mais-que-
perfeito do indicativo), ansiar (futuro do subjuntivo), ansiasse
(imperfeito do subjuntivo), ansiando (gerúndio), ansiado (particípio).
7. Não confundir com os verbos terminados por ear, como nomear, os
quais recebem um i intermediário nas formas rizotônicas: nomeio,
nomeias, nomeia, nomeamos, nomeais, nomeiam (presente do
indicativo); nomeie, nomeies, nomeie, nomeemos, nomeeis, nomeiem
(presente do subjuntivo); nomeia, nomeie, nomeemos, nomeai, nomeiem
(imperativo afirmativo); não nomeies, não nomeie, não nomeemos, não
nomeeis, não nomeiem (imperativo negativo).
8. Quanto à regência verbal, no sentido de desejar ardentemente, Francisco
Fernandes ensina que esse verbo pode ser empregado como transitivo
direto ou como transitivo indireto (com preposições de e por). Exs.: a)
como transitivo direto: “O seu coração anseia um confidente” (Camilo
Castelo Branco); b) como transitivo indireto (de): “Fazia tempo que
ansiava de lhe falar à puridade” (Padre Stringari); c) como transitivo
indireto (por): “Anseia pela hora…” (Camilo Castelo Branco).

Ansiedade
1. Significa desejo ardente, inquietude. Ex.: “Em sua ansiedade, eles
acabaram atrapalhando o resgate”.
2. Atente-se a sua ortografia, pois é errada a forma anciedade.
3. A mesma observação vale para seus cognatos ânsia, ansiar, ansioso.

Anteceder
1. Quanto à regência verbal, Sousa e Silva (1958, p. 32) vislumbra dupla e
indiferente possibilidade de construção de tal verbo: como transitivo
direto e como transitivo indireto. Exs.: a) “… o diretor que antecedeu o
réu na empresa falida…”; b) “… o diretor que o antecedeu na empresa
falida…”; c) “… o diretor que antecedeu ao réu na empresa falida…”;
d) “… o diretor que lhe antecedeu na empresa falida…”
2. Celso Pedro Luft (1999, p. 57-8), com base em lembrete de Artur de
Almeida Torres, até mesmo traz à colação exemplo de Rui Barbosa com
as duas regências em mesma frase: “A criação de ‘honorável’ devia
anteceder a de ‘honorabilidade’, como natural é que a da raiz anteceda
à palavra dela resultante”.
3. Em mesmo sentido é a posição de Francisco Fernandes (1971, p. 79),
que se abona com autores abalizados: a) “As duas orações, a que se
refere aquele ‘o’, vêm após ele em vez de o antecederem” (Rui Barbosa);
b) “Outra coisa mui diversa é analisá-la (a frase) juntamente com a que
lhe antecede” (José de Sá Nunes).
4. Domingos Paschoal Cegalla também entende possível construí-lo tanto
com objeto direto quanto com objeto indireto, exemplificando tais
complementos com pronomes: “O prefeito criticou a gestão do que o (ou
lhe) antecedera”.
5. Quanto à frequência de seu emprego, todavia, realça o mesmo
gramático: “mais usado com objeto direto, mas também é lícito construí-
lo com objeto indireto” (CEGALLA, 1999, p. 27).
6. Nos textos de lei, na acepção de preceder, de vir antes, aparece
normalmente como transitivo indireto, sob a construção anteceder a
alguém em algo. Exs.: a) “O direito de nomear tutor compete ao pai, à
mãe, ao avô paterno e ao materno. Cada uma destas pessoas o exercerá
no caso de falta ou incapacidade das que lhes antecederam na ordem
aqui estabelecida” (CC/1916, art. 407); b) “… um deles tiver antecedido
aos outros na prática de algum ato do processo ou de medida a este
relativa…” (CPP, art. 83).
7. Atente-se, contudo, ao fato de que seu sinônimo preceder não segue a
mesma construção.

Antecedido de aviso prévio – É correto?


1. Tendo encontrado, na prática, uma frase que lhe parece equivocada, uma
leitora indaga se há pleonasmo vicioso no seguinte exemplo: “É legítimo
o corte no fornecimento de energia elétrica por razões de ordem técnica
ou de segurança das instalações, desde que antecedido de aviso prévio”.
Em seu modo de entender, há pleonasmo vicioso, porque aviso prévio já
significa comunicação antecipada.
2. Em verdade, sem necessidade de aprofundados questionamentos, a
expressão aviso prévio realmente já tem o sentido de comunicação
antecipada. E, no caso trazido pelo leitor, seu conteúdo vem claramente
repetido pela palavra antecedido.
3. Antes de responder diretamente a indagação da leitora, todavia, fazem-se
algumas ponderações teóricas a título de premissas: a) expressões que se
repetem quanto ao sentido são chamadas tecnicamente de pleonasmos
(do grego pleonasmós = superabundância); b) o pleonasmo pode ser de
estilo, quando usado intencionalmente para conferir à expressão mais
vigor, intensidade ou clareza; c) nesse caso, ele não apenas é aceito, mas
constitui verdadeiro ornamento do estilo; d) é o que se dá em expressões
como “Isso eu vi com meus próprios olhos” e “Tinha a testa enrugada,
como quem vivera vida de contínuo pensar”; e) em outros casos, o
pleonasmo pode ser vicioso, a ser, portanto, evitado, quando significa
uma repetição que em nada robustece a expressão; f) é o que se dá em
exemplos como “subir para cima”, “descer para baixo”, “entrar para
dentro” e “sair para fora”.
4. Com essas considerações teóricas e genéricas, podem-se extrair as
seguintes conclusões para o caso da consulta: a) a expressão antecedido
de aviso prévio tem evidente conotação pleonástica e redundante, até
porque aviso prévio já significa comunicação antecedente; b) a repetição
das expressões, no caso, em nada robustece o vigor, a intensidade ou a
clareza do texto; c) está-se, por consequência, diante de um pleonasmo
vicioso; d) como tal, constitui vício da linguagem e deve ser evitado; e)
um primeiro modo de correção será “desde que antecedido de aviso”; f)
um segundo será “desde que haja aviso prévio”.

Antecipa-se as eleições ou Antecipam-se as eleições?


1. Um leitor indaga se é correto o verbo no singular no seguinte exemplo:
“Assim, antecipa-se as eleições antes que os problemas cheguem à
classe baixa”.
2. Num caso como esse, para saber qual a forma correta, é importante
verificar qual a função do se e o próprio comportamento da estrutura
sintática como um todo, no que tange à concordância verbal.
3. Para facilitar o entendimento prático da questão, pode-se dizer que, em
frases como essa, em que há um se acoplado ao verbo, deve-se ver em
qual de dois modelos o exemplo se encaixa e, então, extrair as
conclusões mais adequadas.
4. Um primeiro modelo é “Aluga-se uma casa”, no qual se acham presentes
os seguintes aspectos: a) Pode-se dizer o exemplo de outra forma –
“Uma casa é alugada”; b) É, portanto, o que denominamos uma frase
reversível; c) Em casos como esse, o exemplo está na voz passiva
sintética, já que a outra forma (“Uma casa é alugada”), mais
esparramada, é a voz passiva analítica; d) Em termos técnicos, o se é
uma partícula apassivadora, pois é por ele que o exemplo se torna voz
passiva; e) O sujeito do exemplo é uma casa; f) Porque o sujeito é uma
casa, quando se diz casas, o verbo deve ir para o plural, já que a regra
geral de concordância verbal determina que o verbo concorda com o seu
sujeito; g) O correto, então, no plural, é “Alugam-se casas”, e não
“Aluga-se casas”.
5. Essa, aliás, é uma construção muito comum nos meios jurídicos, de
modo que se há de zelar pela concordância adequada no plural, e não no
singular, em casos como os que seguem: a) “Buscaram-se soluções para
o conflito”; b) “Citem-se os réus”; c) “Devolvam-se os autos”; d)
“Entreguem-se os autos da carta precatória”; e) “Intimem-se as
testemunhas”; f) “Processem-se os recursos”.
6. Um segundo modelo é “Gosta-se de um bom vinho”, do qual se podem
extrair as seguintes ilações: a) O exemplo não pode ser dito de outra
forma (ninguém pensaria em dizer “Um bom vinho é gostado”); b) Não
é, portanto, uma frase reversível; c) Nesse caso, o exemplo não está na
voz passiva, muito menos na voz passiva sintética; d) O se, no exemplo,
não é partícula apassivadora, mas símbolo (ou índice) de indeterminação
do sujeito; e) O sujeito da oração não é um bom vinho, mas é
indeterminado; f) Seria impossível considerar um bom vinho o sujeito,
porquanto, como bem lembra Sousa e Silva, “o sujeito é membro
regente, não pode vir regido de preposição” (SILVA, A., 1958, p. 264);
g) Em tais circunstâncias, pela própria estrutura sintática apontada, se,
em vez de um bom vinho, se diz bons vinhos, o sujeito não se altera, mas
continua indeterminado; h) Exatamente porque, ao se pluralizar o
referido termo, não se altera o sujeito, não há razão alguma para
modificar o verbo; i) O correto, então, no plural, é “Gosta-se de bons
vinhos”, e não “Gostam-se de bons vinhos”.
7. Também é comum essa construção nos meios jurídicos, de modo que se
há de atentar à concordância adequada no singular, e não no plural, em
casos como os que seguem: a) “Trata-se de embargos à execução”; b)
“Proceda-se aos inventários”; c) “Obedeça-se aos princípios legais”.
Oportuno lembrar que o traço comum, nesses casos, é a existência de
uma preposição antes do termo que se seria levado a pensar ser o sujeito
(de embargos, aos inventários, aos princípios).
8. Com as ponderações feitas, volta-se ao exemplo da consulta –
“Antecipa-se as eleições”, do qual se podem extrair as seguintes
conclusões: a) Pode-se dizer o exemplo de outra forma – “As eleições
são antecipadas”; b) É, portanto, o que se chama uma frase reversível; c)
Nesse caso, o exemplo está na voz passiva sintética; d) O se é o que se
chama partícula apassivadora; e) O sujeito do exemplo é as eleições; f)
Porque o sujeito é as eleições e está no plural, o verbo deve ir para o
plural, para obedecer à regra geral de concordância verbal de que o
verbo concorda com o seu sujeito; g) O correto, assim, no plural, é
“Antecipam-se as eleições”, e não “Antecipa-se as eleições”.
Ver Voz passiva – Quando é possível? (P. 793) e Voz passiva sintética (P.
794).

Ante – Com hífen ou Sem hífen?


1. Um leitor indaga como ficou o uso do hífen após o Acordo Ortográfico
de 2008, nas palavras precedidas pelo prefixo ante. Assim: antebraço ou
ante-braço?
2. Antes de resolver a questão, é de suma importância ver que o prefixo
ante traz em si o sentido de anterioridade (como em antemanhã), e,
assim, não deve ser confundido com anti, que indica a ideia de ação
contrária (como em antiaérea).
3. Feita essa observação, anota-se que apenas em duas hipóteses se usa o
hífen com o prefixo ante: a) quando o elemento seguinte se inicia por h
(ante-hipófise, ante-histórico); b) quando o elemento seguinte se inicia
pela mesma letra que termina o prefixo (ante-estreia).
4. Antes de outra consoante, que não seja h, tal prefixo acopla-se
diretamente à palavra seguinte, sem hífen: antebraço, antecâmara,
antedatar, anteface, antegozo, antejulgar, anteporta, anteprojeto,
antevisão.
5. De igual modo, junta-se sem hífen, quando o elemento seguinte se inicia
por outra vogal, que não a mesma que finaliza o prefixo: anteagora,
antealvorada, anteislâmico.
6. Para a hipótese de ser o segundo elemento iniciado por r ou s, dobram-se
tais consoantes para continuidade do som originário: anterreforma,
anterrepublicano, antessala, antessentir, antessinistro.

Antepor – Como conjugar?


Ver Pôr – Como conjugar? (P. 577)

Antes de – Atrai o pronome para antes do verbo?


1. Uma leitora indaga qual a frase correta quanto à colocação do pronome:
“Antes de me manifestar” ou “Antes de manifestar-me”?
2. Ora, a expressão antes de é uma locução prepositiva (vale dizer, duas ou
mais palavras que funcionam como preposição), de modo que a pergunta
da leitora busca saber se a preposição é uma daquelas palavras que
atraem ou não para antes do verbo o pronome pessoal oblíquo átono.
3. Observada a circunstância de que o verbo do exemplo está no infinitivo,
traz-se para análise, por primeiro, o ensino de Cândido de Figueiredo,
segundo o qual “as preposições pertencem à categoria das partículas que
influem geralmente na colocação dos pronomes pessoais atônicos,
atraindo-os” (1937, p. 320).
4. Exemplos colhidos pelo referido autor em abalizados escritores de nosso
idioma, entretanto, revelam que a colocação do pronome, nesses casos –
contrariamente a sua própria lição – é facultativa (ora antes do verbo, ora
depois dele). Exs.: a) “Até chegou a me dar casa…” (Machado de
Assis); b) “… obriga o procurador a respeitar-lhe as cláusulas” (Rui
Barbosa); c) “… era bastante para sacudir-me da Tijuca” (Machado de
Assis); d) “Chamou-me um escravo para me servir o doce” (Machado de
Assis); e) “Ficou Maria Henriqueta livre por se ver livre do suborno da
mãe” (Camilo Castelo Branco); f) “Senhor, morro por unir-me
convosco” (Padre Manuel Bernardes); g) “Gastei pouco tempo em dizer-
lhe…” (Machado de Assis); h) “… não faltaria Deus em lhe dar um bom
dia” (Padre Antônio Vieira).
5. Eduardo Carlos Pereira, por sua vez, observa que, “junto aos infinitivos
puros, em geral, e aos regidos da preposição a”, a regra de
posicionamento do pronome oblíquo átono é a ênclise (pronome após o
verbo): a) “Foi bom dizer-lhe toda a verdade” (infinitivo puro); b) “Ele
estava acostumado a sofrê-la todos os dias” (infinitivo regido pela
preposição a).
6. Justifica tal gramático que tal generalização da ênclise se deu pela
“necessidade de evitar o hiato, provocado às vezes pela próclise”, como,
por exemplo (PEREIRA, 1924, p. 253), em “acostumado a a sofrer”
(por acostumado a sofrê-la”).
7. Resumindo o que antes se expôs, de modo específico para a dúvida
trazida pela leitora, a conclusão que se pode extrair é a de que, com o
infinitivo preposicionado, o pronome pessoal oblíquo átono pode vir,
indiferentemente, antes ou depois do verbo. Exs.: a) “Antes de me
manifestar, quero respirar um pouco” (correto); b) “Antes de manifestar-
me, quero respirar um pouco” (correto).

Antes de ou Antes que?


1. Antes de rege palavras ou verbos nas formas nominais. Exs.: a) “Antes
das quatro, o réu já estava acordado”; b) “Antes de morrer, o detento
feriu um policial”.
2. Na lição de José de Nicola e Ernani Terra, “antes de é locução
prepositiva e deve ser usada antes de palavras ou orações reduzidas”.
Exs.: a) “Antes de outras questões, devo dizer que não concordo”; b)
“Abasteceu o carro antes de viajar” (2000, p. 32).
3. Antes que, por sua vez, é locução destinada a ligar orações. Ex.: “A
testemunha saiu, antes que ocorresse alguma desgraça”.
4. Para José de Nicola e Ernani Terra, “antes que é locução conjuntiva e
deve ser usada antes de orações desenvolvidas”. Ex.: “Saia rapidamente
antes que chova” (2000, p. 32).
Ver É hora da onça beber água ou É hora de a onça beber água? (P. 296)

Antes e depois
1. É bastante comum, nos arrazoados jurídicos e nos julgados, como de
resto nos textos redigidos com obediência à norma culta, que neles se
encontrem frases como as seguintes: a) “Há nos autos elementos a favor
e contra a tese dos apelantes”; b) “O réu foi procurado antes e durante
as férias forenses”; c) “O réu foi procurado antes e depois das férias
forenses”.
2. Lembrando que tal modo de expressar-se “não é Português”, observa
Edmundo Dantès Nascimento que “o nome ou pronome regidos por duas
ou mais preposições devem estar claros junto de cada uma delas”,
motivo por que, no entender do referido autor, as frases corretas devem
trazer o nome repetido desta maneira: a) “Há nos autos elementos a
favor da tese dos apelantes e contra ela”; b) “O réu foi procurado antes
das férias e durante elas”; c) “O réu foi procurado antes das férias
forenses e depois delas”.
3. Essa, ainda na lição de tal autor (NASCIMENTO, 1982, p. 158-60), a
construção que normalmente se vê nos clássicos: a) “Os gritos da vítima
antes da luta e durante a luta continuavam a repercutir” (Machado de
Assis); b) “… o que em Deus e por Deus se começa…” (Tomé de Jesus).
4. Estabelecendo, em continuação, importante princípio, assinala tal autor
que “não há erro, quando se empregam locuções preposicionais
terminadas com a mesma preposição formadora da locução” –
geralmente a e de e, raramente, com – de modo que é correta a expressão
“… antes e depois das férias…” (as locuções preposicionais, no caso,
são antes de e depois de, ambas terminadas com a mesma preposição
de).
5. E complementa ele que, se, em tais casos, as locuções denotam certa
antinomia, usa-se a preposição final apenas no segundo nome: a) “Os
inimigos estavam além e aquém da fronteira”; b) “O réu foi procurado
antes e depois das férias”; c) “… que gozou de mais segura paz de
quantos houve dentro e fora de Israel” (Padre Antônio Vieira); d) “À
esquerda e à direita da praça, havia inúmeros manifestantes”; e) “Por
baixo e por cima do feno, havia sinais da violência dos policiais”; f) “Os
bombeiros passavam para baixo e para cima da ponte, à procura de
outros corpos” (NASCIMENTO, 1982, p. 158-60).
6. De modo específico para antes e depois de, o que se tem, em realidade,
são duas locuções preposicionais – antes de e depois de – ambas
terminadas pela mesma preposição de, hipótese em que o melhor é
permitir, sem discussões adicionais, o emprego da estrutura abreviada.
7. Já na expressão antes e durante, o que se tem é antes de (uma locução
preposicional terminada pela preposição de) e durante (uma preposição
já por si, sem nenhuma outra que a termine), hipótese em que o
ensinamento anterior, em tese, não se aplica, por não haver duas
locuções preposicionais terminadas por mesma preposição.
8. A esse respeito, Vitório Bergo teceu as seguintes observações: “Vê-se e
ouve-se com frequência esta expressão com um complemento comum.
Observe-se, porém, que não se diz durante da festa, e sim durante a
festa. Isto é sinal de que, para a preposição durante, não fica bem o
complemento da festa, bem empregado em relação a antes e depois.
Diga-se, portanto, antes e depois da festa e durante ela – ou – durante a
festa, antes e depois dela” (BERGO apud KASPARY, 1996, p. 366).
9. Apesar de todas essas procedentes observações e corretas proibições
técnicas, Adalberto J. Kaspary (1996, p. 366-7), em apreciando o que se
pratica na linguagem literária, observa que, independentemente de qual
ou quais sejam as preposições ou locuções preposicionais, há “uma
acentuada preferência pela construção abreviada, isto é, de complemento
comum para as preposições diversas, em que pese às críticas dos
gramáticos tradicionais”. E arrola tal autor exemplos de autores
insuspeitos: a) “Venho cansado demais para dizer tudo o que ali se
passou antes, durante e depois da comida” (Machado de Assis); b) “… o
país, decapitado moralmente, às mãos do governo, pela supressão do
escrutínio presidencial na metrópole brasileira, sob um assalto de
escruchantes, associados à política, antes, durante e após a infame
rapinagem” (Rui Barbosa).
10. As mesmas observações valem para outras expressões de mesma
estrutura, como a favor ou contra.
11. No que tange aos textos de lei, é interessante anotar que –
contrariamente à expectativa de obediência à regra mais conservadora
– a preferência se dá para a construção abreviada (mesmo
complemento para preposições ou locuções prepositivas de regências
diversas), e não para a construção desdobrada (cada preposição com
seu próprio complemento), muito embora haja casos de ambos os
empregos. Exs.: a) “Considera-se inexistente a aceitação, se antes dela
ou com ela chegar ao proponente a retratação do aceitante” (CC/1916,
art. 1.085); b) “A reconciliação em nada prejudicará os direitos de
terceiros, adquiridos antes e durante a separação, seja qual for o
regime de bens” (Lei 6.515, de 26/12/77, art. 46, parágrafo único); c)
“Os juízes e jurados que forem corrompidos para julgarem, ou
ordenarem, ou pronunciarem em matéria criminal, a favor ou contra
alguma pessoa, antes ou depois da acusação, serão condenados a
prisão maior de oito a doze anos…” (CP português, art. 319º); d) “É
proibida, sob pena de desobediência, a publicação não autorizada pelo
juiz de quaisquer atos ou documentos dum processo… antes, durante
ou depois da audiência de discussão e julgamento, quando esta for
secreta” (CPP português, art. 74º).
Ver Com ou sem – Está correto? (P. 198)

Antes e durante
Ver Antes e depois (P. 120).

Antes que ou Antes de?


Ver Antes de ou Antes que? (P. 120)

Antever – Como conjugar?


Conferir Ver – Como conjugar? (P. 764)

Anti – Com hífen ou Sem hífen?


1. Um leitor indaga qual a forma correta, quanto ao hífen, após o Acordo
Ortográfico de 2008: anticrise ou anti-crise?
2. Antes de resolver a questão, é de suma importância ver que o prefixo
anti traz em si a ideia de ação contrária (como em antiaérea), e, assim,
não deve ser confundido com ante, que indica a ideia de anterioridade
(como em antemanhã).
3. Feita essa observação importante, anota-se que apenas em duas hipóteses
se usa o hífen com o prefixo anti: a) quando o elemento seguinte se
inicia por h (anti-herói, anti-higiênico, anti-humanista); b) quando o
elemento seguinte se inicia pela mesma letra que termina o prefixo (anti-
imperialista, anti-industrial, anti-israelita).
4. Antes de outra consoante, que não seja h, acopla-se diretamente à
palavra seguinte, sem hífen: antibritânico, anticapitalista, anticrise,
antidemocrático, antiferrugem, antigovernista, antipatriota.
5. De igual modo, junta-se sem hífen, quando o elemento seguinte se inicia
por outra vogal, que não a mesma que finaliza o prefixo: antiabortivo,
antialérgico, antiamericano, antieconômico, antiescravista,
antioxidante.
6. Para a hipótese de ser o segundo elemento iniciado por r ou s, dobram-se
tais consoantes para continuidade do som originário: antirradical,
antirreformista, antirreligioso, antirruído, antissemita, antissocial,
antissubmarino.
7. Aqui vale encartar a pérola de um aluno de Direito que, em prova
escrita, registrou pacto antinupcial para significar aquele contrato que os
nubentes celebram antes do casamento, previsto pelo Código Civil, para
fixar regime de bens diverso do normalmente estabelecido pela lei, além
de avençar outras cláusulas de convivência matrimonial; com a
expressão do referido aluno, todavia, o máximo que tais noivos
poderiam querer seria solenizar um pacto de jamais se casarem, por
avessos à celebração de um casamento.

Antiguidade
1. Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 19) arrola o vocábulo entre aqueles nos
quais o u é pronunciado ou não facultativamente, situação essa de que
resultava a conclusão de que o emprego do trema também era optativo:
antigüidade ou antiguidade.
2. Arnaldo Niskier traz síntese portadora de significativo relevo: “Existem
as duas formas: com e sem trema; consequentemente, pode-se
pronunciar ou não o u. Quando a referência for ao período histórico,
devemos grafá-las com a letra inicial maiúscula” (1992, p. 19).
3. Dirimindo qualquer dúvida para a atualidade, registra ambas as formas o
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela Academia
Brasileira de Letras, órgão incumbido de registrar ambas as pronúncias
oficialmente o modo de grafar as palavras em Português (2009, p. 64). O
trema, entretanto, foi abolido pelo Acordo Ortográfico de 2008.
4. Anota-se, apenas para registro, a profecia de Vasco Botelho de Amaral
de que, no futuro, “deve vir a prevalecer a pronúncia gui, e não güi”, até
porque “a vogal u, precedida de g, q, n, e seguida de vogal, tende a
deixar de proferir-se em português” (1943, p. 59).

Antitruste ou Antitrustes?
1. Um leitor indaga se, no plural, se deve dizer autoridades antitrustes ou
autoridades antitruste?
2. Uma consulta ao Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (2009,
p. 65) mostra os seguintes verbetes com as seguintes indicações: a)
antiprático – adj.; b) antipopular – adj. 2g.; c) antitraça – adj. 2g. 2n.
3. Essas especificações mostram que antiprático é um adjetivo, o qual, por
falta de outra indicação excepcional, tem sua normal variação em gênero
(masculino e feminino) e número (singular e plural). Ou seja: projeto
antiprático, medida antiprática, projetos antipráticos e medidas
antipráticas.
4. Já antipopular é também um adjetivo cuja forma serve para os dois
gêneros (ou seja, não varia, quanto à forma, do masculino para o
feminino), mas não há indicação específica quanto ao número, o que
implica dizer que varia do singular para o plural. Assim: projeto
antipopular, medida antipopular, projetos antipopulares e medidas
antipopulares.
5. Por fim, antitraça é um adjetivo que tem a mesma forma para os dois
gêneros e para os dois números. Assim: remédio antitraça, cortina
antitraça, remédios antitraça e cortinas antitraça.
6. Nesse raciocínio, você também constatará que os adjetivos com prefixo
anti, cujo elemento seguinte é um substantivo, têm todos a mesma forma
de comportamento: anticaspa, antichoque, antifurto, antigreve,
antirroubo, antirruído, antitanque, antitraça, antitruste…
7. Importa observar que o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa é
editado pela Academia Brasileira de Letras, a qual, em cumprimento à
vetusta Lei 726, de 8/12/1900, tem a responsabilidade legal de editá-lo e
a autoridade para definir tais aspectos gramaticais no idioma.
8. Vê-se, assim, que são corretas as seguintes formas: projeto antitruste,
autoridade antitruste, projetos antitruste, autoridades antitruste…

António ou Antônio?
1. Um leitor de nome Antônio ouviu dizer que António é a grafia correta do
seu nome após as recentes modificações em nossa ortografia e indaga se
isso corresponde à realidade ou não.
2. Não se deve esquecer, quanto aos fatos da língua, que uma palavra como
a da consulta, em que a sílaba tônica vem logo antes de um som nasal
(normalmente antes de m ou n), é pronunciada de modo fechado (ô) no
Brasil, mas com timbre aberto (ó) em Portugal.
3. Ante tal realidade, ao sistematizar a duplicidade de pronúncias dos dois
países, o Acordo Ortográfico de 2008, querendo legalizar a ambas
perante a ortografia, determinou que “levam acento agudo ou acento
circunflexo as palavras proparoxítonas, reais ou aparentes, cujas vogais
tônicas/tónicas grafadas e ou o estão em final de sílaba e são seguidas
das consoantes nasais grafadas m ou n, conforme o seu timbre é,
respectivamente, aberto ou fechado nas pronúncias cultas da língua”.
4. Vejam-se alguns exemplos dessa correta duplicidade de grafias:
acadêmico/académico, anatômico/anatómico, cênico/cénico,
cômodo/cómodo, fenômeno/fenómeno, gênero/género,
topônimo/topónimo, Amazônia/Amazónia, Antônio/António,
blasfêmia/blasfémia, fêmea/fémea, gêmeo/gémeo, gênio/gênio,
tênue/ténue.
5. Duas observações precisam ser fixadas: a) Em todas essas palavras,
sempre há um acento obrigatório; b) O que se põe ao usuário é a opção
de empregar o acento circunflexo (^) ou o acento agudo (´), conforme a
pronúncia do país.

Anuir
1. Trata-se de verbo de frequente emprego nos meios jurídicos, tendo o
sentido de concordar. Ex.: “Anuí de boa vontade ao pedido” (Rui
Barbosa).
2. É verbo de conjugação regular, de modo que não apresenta problemas
maiores quanto a sua flexão.
3. No que concerne à sintaxe, de acordo com a lembrança de Luís A. P.
Vitória, “esse verbo pede a regência a ou em. Ex.: ‘Ele anuiu ao meu
desejo; eu anuí em conversar’” (1969, p. 27).
4. Celso Pedro Luft também vê essa dupla possibilidade de uso de
preposições: “Anuir a (ou em) dar seu apoio” (1999, p. 58).
5. E Francisco Fernandes, que concorda com essa dupla possibilidade de
regência, acrescenta observação de real importância: “Este verbo não
admite a forma pronominal lhe; assim, não se diz anuir-lhe, mas anuir a
ele, a ela” (1971, p. 80).
6. Já Domingos Paschoal Cegalla, sem explicações adicionais ou
fundamentação maior, anota que “seu complemento requer a preposição
a, se for um substantivo, e as preposições em ou a, se for uma oração
infinitiva: ‘Anuí à solicitação dele’; ‘Todos anuíram ao nosso convite’;
‘Anuímos em adiar a viagem’; ‘Eles anuíram a repetir a música’” (1999,
p. 28-9).
Anunciar
1. Quanto à conjugação verbal, trata-se de verbo regular.
2. As dificuldades que poderia apresentar sua flexão encontram-se no
presente do indicativo e tempos derivados: anuncio, anuncias, anuncia,
anunciamos, anunciais, anunciam (presente do indicativo); anuncie,
anuncies, anuncie, anunciemos, anuncieis, anunciem (presente do
subjuntivo); anuncia, anuncie, anunciemos, anunciai, anunciem
(imperativo afirmativo); não anuncies, não anuncie, não anunciemos,
não anuncieis, não anunciem (imperativo negativo).
3. Serve de modelo para todos os verbos terminados por iar, menos mediar,
ansiar, remediar, incendiar e odiar, que têm regime próprio e seguem a
flexão deste último (pode-se pensar na sigla MARIO).

Ao abrigo de
Ver Estar ao abrigo de – Galicismo? (P. 334)

Ao encontro de ou De encontro a?
1. A expressão ir ao encontro de tem o sentido de encontrar-se com, sair ao
caminho, ir ter com quem vem. Ex.: “Os magistrados saíram ao
encontro do Presidente, que chegava”.
2. Num sentido figurado, quer dizer aproximar-se, concordar, entender de
mesmo modo. Ex.: “Esses argumentos vêm ao encontro da tese
defendida pela sentença”.
3. Já a expressão ir de encontro a significa colidir. Ex.: “Em trágico
acidente, o carro da princesa foi de encontro à coluna do túnel”.
4. Num sentido figurado, quer dizer contrariar, estar em contradição,
discordar, opor-se. Ex.: “A sentença haveria de ser reformada, uma vez
que a parte dispositiva ia frontalmente de encontro aos argumentos
expostos na fundamentação”.
5. Atento aos frequentes equívocos que ocorrem no uso dessas expressões,
assim observa Domingos Paschoal Cegalla: “Não confundir ir ao
encontro de com a expressão de sentido oposto ir de encontro a, como
fez certo acadêmico num de seus romances: ‘Ronaldo ia de encontro a
Uchoa bem preparado’. O escritor quis dizer que o moço Ronaldo ia
encontrar-se com o pai da namorada, bem preparado para pedi-la em
casamento” (1999, p. 221).
6. Comentando as palavras de um cronista desportivo, Sousa e Silva
também manda corrigir o exemplo “A Prefeitura fora de encontro ao
desejo do povo” para “A Prefeitura fora ao encontro do desejo do
povo”. E acrescenta com propriedade: “Ir de encontro ao desejo do povo
é contrariar a vontade do povo, o inverso, portanto, do que se quis
dizer” (1958, p. 113).
7. Edmundo Dantès Nascimento (1982, p. 83), em mesma esteira, faz a
distinção entre ambas as expressões, observando que são “empregadas
muita vez sem acerto”, e dá-lhes o exato significado: de encontro – em
sentido contrário; ao encontro – em sentido favorável”. E exemplifica: a)
“Vir ao encontro da tese –favoravelmente”; b) “Vir de encontro à tese –
desfavoravelmente”.
8. Atestando a existência de “frequentes vacilações no emprego de duas
locuções de sentido oposto” e atento ao que deva ser observado nesse
campo, nos dias de hoje, Celso Pedro Luft (1999, p. 201) adverte com
propriedade, no que concerne a textos que devam submeter-se às regras
da norma culta: “mantenha-se a rigorosa distinção”.

Ao fato
Ver Estar ao fato – Galicismo? (P. 334)

Ao invés de ou Em vez de?


1. Ao invés de é expressão que merece cuidado, pois significa ao contrário
de. Ex.: “Ao invés de ficar quieto, ele começou a falar em voz alta”.
2. Já em vez de tem o significado de em lugar de. Ex.: “Em vez de
português, procure estudar matemática”.
3. Alguns autores, como Napoleão Mendes de Almeida (1981, p. 26),
defendem a possibilidade de que esta última expressão seja utilizada em
lugar da primeira, mas não o inverso.
4. Também nesse sentido leciona Josué Machado: “Em vez de quer dizer
em lugar de; ao invés de significa ao contrário de. No entanto, em vez de
pode substituir ao invés de, mas ao invés de não pode substituir em vez
de” (1994, p. 182).
5. Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 29) vai ainda mais longe, para
simplesmente ter ambas as expressões como intercambiáveis: a) “A
locução ao invés, a rigor, só é cabível para expressar oposição, em frases
antitéticas”; b) “De acordo com esse critério, não seria lícito empregar
ao invés de por em vez de, ou em lugar de, em frases que denotam
substituição”; c) Todavia “só um gramaticalismo estreito poderia
condenar o emprego de ao invés de” em frases que denotem substituição,
“nas quais a dita locução representa um caso de evolução semântica
natural, sancionado pela língua de hoje”.
6. Outros gramáticos, entretanto, como Vitório Bergo (1944, p. 141),
insistem na tradicional diferenciação entre ao invés de, com o sentido de
ao contrário de, e a locução em vez de, com o significado de em lugar
de.
7. Desse posicionamento também é o Padre José F. Stringari, para quem “a
locução ao invés de não tem parentela nenhuma com em vez de”. E traz
tal autor em corroboração exemplos de autores dos mais abalizados
(STRINGARI, 1961, p. 60): a) “Em vez de livro, prometeu-lhe o Espírito
Santo” (Camilo Castelo Branco); b) “Nada aqui pomos que seja por nós
inventado; muito ao invés disto, nos ativemos à exposição do mestre
universal do espiritismo” (Carlos de Laet).
8. Também Edmundo Dantès Nascimento (1982, p. 83), com a
corroboração de exemplos significativos, faz a distinção: em vez de
“significa mera substituição”, enquanto ao invés de traz a “ideia de
oposição” e é “semelhante a ao revés de”: a) “Absolveu, ao invés (ao
revés) de condenar” (oposição); b) “Condenou a dois anos em vez de
três” (substituição).
9. Geraldo Amaral Arruda (1997, p. 82) partilha do posicionamento
diferenciador – ao invés de quer dizer ao contrário de, enquanto em vez
de significa em lugar de – motivo por que aconselha tal autor: “convém
não confundir uma locução com a outra”.
10. Também lembrando ser “comum a troca entre as expressões
parônimas” e que não se há de confundir ao invés de com em vez de,
observam Regina Toledo Damião e Antonio Henriques que “ao invés
só deve ser usada quando presente estiver a ideia de oposição, de ser
contrário a” (1994, p. 60).
11. Nesse mesmo sentido é a doutrina de Arnaldo Niskier: “ao invés de só
se usa quando há ideias opostas, contrárias; quando as alternativas não
são opostas, utiliza-se em vez de” (1992, p. 32).
12. Reiterando o ensinamento de que “importa não confundir ao invés de
com em vez de” e guardando a primeira para o significado de ao
contrário de, e a segunda para em lugar de, Sousa e Silva recolhe
significativo trecho de um parecer jurídico: “O horário de trabalho
verificado era de oito horas, com intervalo comum de duas para
refeição e descanso, ao invés de seis horas consecutivas conforme
afirma o autuante”. E manda que se corrija para “… e não de seis
horas consecutivas…”, justificando que “não se pode dizer que um
determinado espaço de tempo seja o contrário de outro prazo
qualquer”. Tal autor ainda vai mais adiante, em consideração à seguinte
notícia de jornal: “Mas D. Paula, ao invés de fazer as cuecas com um
bico, fez com dois bicos, estragando, assim, o material fornecido pela
empresa”. Comentando tal passagem, refere ele que “não há oposição
entre os dois modelos de cuecas. São diferentes, mas não são opostos.
O correto seria: “Mas D. Paula, em vez de fazer as cuecas…” (SILVA,
A., 1958, p. 33-4).
13. Para resumir, apesar da permissão sentida em alguns autores, o que
mais comumente se vê, nos textos elaborados em obediência à norma
culta, é a observância da distinção entre as referidas expressões: ao
invés de se usa para indicar oposição; já em vez de se emprega nos
casos em que se quer significar mera substituição. O máximo que se
pode permitir, com alguns gramáticos, será aceitar que se empregue em
vez de em lugar de ao invés de; mas não o contrário.
14. Nem mesmo, porém, os textos de lei escapam de equívocos dessa
natureza. O Código de Processo Penal, no art. 28, assim registra: “Se o
órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a denúncia,
requerer o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer peças
de informação…” Ora, é fácil percepção que não há no texto a ideia de
oposição, de contrariedade, motivo por que melhor seria corrigir o
exemplo do seguinte modo: “Se o órgão do ministério público, em vez
de apresentar a denúncia, requerer o arquivamento do inquérito
policial ou de quaisquer peças de informação…”

Ao mesmo tempo que ou Ao mesmo tempo em que?


1. Na conformidade com ensinamento de Domingos Paschoal Cegalla, ao
mesmo tempo que “é a locução correta e não ao mesmo tempo em que”.
Exs.: a) “Os soldados cantavam hinos, ao mesmo tempo que
marchavam”; b) “As suas curas eram mais baratas e mais rápidas, ao
mesmo tempo que as ofertas dos doentes escasseavam nos templos
pagãos” (Alexandre Herculano).
2. E carreia tal gramático lição complementar de que “a preposição em tem
cabimento nas expressões desde o tempo em que e no tempo em que”.
Exs.: a) “No tempo em que não havia luz elétrica, a iluminação das ruas
era a gás”; b) “Ouço falar dele desde o tempo em que eu era estudante”
(CEGALLA, 1999, p. 30).

Ao meu ver ou A meu ver?


Ver A meu ver ou Ao meu ver? (P. 112)

Aonde, Adonde ou Onde?


Ver Onde, Adonde ou Aonde? (P. 528)

Ao nível de, A nível de ou Em nível de?


Ver A nível de, Ao nível de ou Em nível de? (P. 116)

Ao par
Ver A par de ou Ao par de? (P. 125)

Ao ponto de ou A ponto de?


Ver A ponto de ou Ao ponto de? (P. 127)

Ao que sei ou Pelo que sei?


1. Edmundo Dantès Nascimento condena o uso de a para formular
locuções como essa, inserindo-a no rol dos estrangeirismos sintáticos.
2. Observa ele que “o correto é o emprego de por”.
3. E finaliza com a conclusão de que se deve dizer pelo que sei, em vez de
ao que sei (NASCIMENTO, 1982, p. 16).

Aos 4 de julho ou Aos 4 dias do mês de julho?


Ver A catorze de julho ou Em catorze de julho? (P. 64)

A ou Lhe?
Ver O ou Lhe? (P. 529)

A página dois
Ver A folhas vinte e duas – Como é a forma correta? (P. 94)

Apaniguar
Ver Averiguar – Pronúncia e Conjugação (P. 152).

A par de ou Ao par de?


1. Em seu sentido que causa os maiores problemas de uso, a expressão a
par de significa inteirado de, ou, ainda, ao lado de. Exs.: a) Ex.: “O juiz
não estava a par das tratativas de acordo realizadas pelas partes”; b) “É
permitido estipular no contrato dotal: … II – que, a par dos bens dotais,
haja outros, submetidos a regimes diversos” (CC/1916, art. 287, II).
2. Atento aos problemas com tal expressão na linguagem forense,
Edmundo Dantès Nascimento registra, por um lado, que Cândido de
Figueiredo entende ser correta a expressão ao par com o significado de
estar ciente, e que o mesmo dicionarista “não consigna a locução ao par
para significar igualdade de preço, que dicionários mais velhos
registram”.
3. Complementa, contudo, tal autor (NASCIMENTO, 1982, p. 137), e com
inteira razão: “cremos que, no estado atual da língua, deve ser feita a
distinção entre a par e ao par”; vale dizer: a par destina-se ao sentido de
estar ciente; já ao par fica para o significado de igualdade de preço.
4. Lembrando que “a expressão ao par de é própria da linguagem das
operações de câmbio”, observam Regina Toledo Damião e Antonio
Henriques que “inconveniente é o emprego com a significação de estar
ciente, situação em que a expressão correta é a par” (1994, p. 60).
5. José de Nicola e Ernani Terra (2000, p. 12) fazem exatamente a mesma
distinção: por um lado, “a par é usado, normalmente, com o sentido de
estar bem informado, ter conhecimento”; já “ao par é usado para indicar
equivalência cambial”. Exs.: a) “Após a confissão, ficamos a par de
tudo”; b) “O dólar e o marco estão ao par” (isto é, têm o mesmo valor).
6. Resumindo: a) a par não é expressão sinônima de ao par, que é locução
adjetiva para indicar a equiparação entre ações e seu valor venal ou de
câmbio em diferentes países; b) bem por isso, é errado dizer: “O juiz não
estava ao par das tratativas de acordo realizadas pelas partes”.

A par e passo – Existe?


Ver Pari passu ou Par e passo? (P. 550)

A partir de ou Apartir de?


1. Uma leitora pergunta qual a forma correta da expressão: a partir de ou
apartir de.
2. Ora, para uma adequada resposta à leitora, é oportuno encartar a
expressão num exemplo concreto e continuar com a indagação: a) “Os
preços daquelas peças de roupa estavam uma pechincha: a partir de
cinquenta reais”; ou b) “Os preços daquelas peças de roupa estavam
uma pechincha: apartir de cinquenta reais”?
3. Se pensarmos em substituir a expressão que causou a dúvida por outra
que lhe seja sinônima, a situação há de se resolver com facilidade: a
começar de, a contar de, a iniciar de, a principiar de. Com essa
substituição, constata-se que a referida locução, em todos os casos, é
composta por uma preposição mais um verbo no infinitivo.
4. Depois desse raciocínio, confiram-se as formas da expressão nos
exemplos abaixo: a) “Os preços daquelas peças de roupa estavam uma
pechincha: a partir de cinquenta reais” (correto); b) “Os preços
daquelas peças de roupa estavam uma pechincha: apartir de cinquenta
reais” (errado).

Apaziguar
Ver Averiguar – Pronúncia e Conjugação (P. 152).

Apelação
1. No que concerne à regência nominal, Francisco Fernandes aponta para a
possibilidade de construção com as preposições de e para: com a
primeira se busca indicar a decisão da qual se recorre; com a segunda se
quer significar o órgão para o qual se recorre. Exs.: a) “A apelação da
sentença não deu o resultado que se esperava”; b) “O advogado não
aconselha a apelação para o Supremo Tribunal” (1969, p. 40).
2. Vale a pena anotar, nesse campo, a observação que, em outra obra, o
mesmo autor faz para o verbo de mesmo radical: “Apelar a alguém ou a
alguma coisa é regência condenada pelos mestres” (FERNANDES,
1971, p. 83).
3. De se observar, todavia, que, na primeira obra citada, o mesmo filólogo
(FERNANDES, 1971, p. 40-1), para apelo, preconiza exatamente as
mesmas preposições: a e para. Exs.: a) “O apelo à mendicidade dos
arruinados, ou dos ávidos, não lhe prostituirá o civismo” (Rui Barbosa);
b) “… não havia apelo senão para a toga judiciária” (Rui Barbosa).
4. Celso Pedro Luft, para apelação, também vê apenas a dupla
possibilidade de construção com as preposições de e para. Exs.: a)
“Apelação para a Santa Sé das sentenças interlocutórias injustas”
(Alexandre Herculano); b) “Apelação das penas para a Sé Apostólica”
(Camilo Castelo Branco).
5. Observe-se, todavia, que, em lição mais permissiva para o vocábulo
apelo, tal gramático vê diversas possibilidades de construção: a, para,
em favor de (LUFT, 1999, p. 56).

Apelação – Interpor ou Opor?


Ver Interpor ou Opor? (P. 422)
Apelado
Ver Aludir (P. 106), Apelação (P. 125), Apelar (P. 126), Despacho aludido –
Existe? (P. 276) e Voz passiva – Quando é possível? (P. 793)

Apelar
1. O verbo apelar é transitivo indireto quer quando se refere ao objeto da
apelação (preposição de), quer quando concerne ao órgão para o qual se
recorre (preposição para), nada impedindo, até mesmo, que se usem
concomitantemente os dois objetos indiretos, ou, também, que seja o
verbo empregado intransitivamente: a) “A parte vencida apelou da
sentença”; b) “A parte vencida apelou para o tribunal”; c) “A parte
vencida apelou da sentença para o tribunal”; d) “O réu não poderá
apelar sem recolher-se à prisão…” (CPP, art. 594).
2. Acresça-se a lição de José de Sá Nunes (1938, p. 122), escudado em
exemplos de autores insuspeitos: “apela-se para alguém ou para alguma
coisa, e apela-se de alguém ou de alguma coisa para alguém ou para
algo. Apelar a alguém ou a alguma coisa é solecismo sáfio”. Exs.: a)
“Não faço escrúpulo em apelar deste decreto” (Rui Barbosa); b) “Viúvo
e órfão, apela para os últimos corações generosos da Espanha”
(Alexadre Herculano); c) “… apelando de uma corruta maioria
parlamentar para a nação” (Rui Barbosa); d) “Por que não apelar da
sentença para o mesmo rei?” (Padre Antônio Vieira).
3. Celso Pedro Luft, no sentido técnico jurídico de interpor recurso de
apelação, apenas vê a possibilidade de construção com essa estrutura
tradicional: “O advogado vai apelar da sentença para a instância
superior” (1999, p. 61).
4. Nesse mesmo sentido é a lição de Francisco Fernandes: “Apelar a
alguém ou a alguma coisa é regência condenada pelos mestres” (1971, p.
83).
5. Atento aos frequentes erros cometidos em sua regência, observa Luís A.
P. Vitória que “este verbo rege a preposição para e não como
comumente se vê, a preposição a. Ex.: ‘Apelo para Vossa Excelência’”
(1969, p. 28).
6. Também Arnaldo Niskier lembra que se há de dizer “apele para, e não
apele a, que é regência condenada pelos gramáticos” (1992, p. 101).
7. Vitório Bergo (1943, p. 211), de igual modo, insere tal verbo no rol
daqueles que merecem especial cuidado quanto à regência: apelar para, e
não apelar a.
8. Em lição válida para o emprego coloquial, mas não jurídico, do verbo
apelar, observa Domingos Paschoal Cegalla que “dar-lhe complemento
regido da preposição a é sintaxe considerada incorreta, porém frequente
na língua de hoje e já aceita por gramáticos de renome”, dentre os quais
Celso Pedro Luft e Cândido Jucá Filho.
9. O próprio Cegalla, porém, em lição que parece ser a mais apropriada,
complementa seu ensinamento: “Na linguagem jurídica se diz ‘apelar de
uma sentença para instância superior’, ou simplesmente, ‘apelar da
sentença’, isto é, interpor recurso, recorrer a um tribunal superior ao que
deu a sentença” (1999, p. 31).
Ver Sentença apelada – Está correto? (P. 689)

Apelido de família
Ver Nome (P. 497) e Plural de nomes próprios – Existe? (P. 566)

Apelo
Ver Apelação (P. 125).

Apenar ou Penalizar?
1. Apenar é verbo derivado do vocábulo polissêmico pena.
2. Este vocábulo pode ter os seguintes significados: a) castigo – sentido em
que forma o verbo apenar (condenar a pena, aplicar a pena). Ex.: “O juiz
apenou o réu”; b) dó, piedade – sentido em que forma o verbo penalizar
(causar pena). Ex.: “A situação das crianças penalizou o advogado”; c)
pluma – sentido em que forma os verbos empenar (criar penas ou
enfeitar com penas) e depenar ou despenar (tirar as penas ou, na gíria,
extorquir dinheiro astuciosamente). Exs.: i) “O frango, enfim, está
empenando”; ii) “Antes de ser trinchado, o peru deve ser despenado”;
iii) “Depenaram o coitado no cassino”; d) e ainda pode ter o significado
de sacrifício, como no maravilhoso poema de Fernando Pessoa: “Tudo
vale a pena / Se a alma não é pequena”.
3. É frequente o uso do verbo penalizar em lugar do verbo apenar, ambos,
como se pode observar, com significados diversos.
Ver Penalizar ou Apenar? (P. 556)

Apenasmente – Existe?
Ver Advérbios em “mente” (P. 85).

Apenso
1. Do prisma da concordância verbal, é palavra de valor adjetivo e, assim,
concorda em gênero e número com o substantivo modificado. Exs.: a)
“Segue apenso o documento”; b) “Segue apensa a fotografia”; c)
“Seguem apensos os documentos”; d) “Seguem apensas as fotocópias”.
2. Os vocábulos anexo e incluso são seus sinônimos e seguem a mesma
construção.

Apóia ou Apoia?
Ver Ditongos éi, ói, éu – Quando acentuar? (P. 292)

Apontar armas!
Ver Avançar! (P. 151)

A ponto de ou Ao ponto de?


1. A ponto de é a expressão correta – e não ao ponto de – quando se quer
significar prestes a ou na iminência de. Exs.: a) “Ante o teor dos
depoimentos, o réu estava a ponto de explodir” (correto); b) “Ante o teor
dos depoimentos, o réu estava ao ponto de explodir” (errado).
2. Com base em lição de Cegalla, lembra Laurinda Grion que se usa ao
ponto de quando se quer indicar um local. Ex.: “Retornamos ao ponto de
partida” (s/d, p. 15).

Apor – Como conjugar?


Ver Pôr – Como conjugar? (P. 577)

Após
1. Ensina Sousa e Silva que “a este vocábulo não devemos associar a
preposição a”.
2. E continua: “É erro dizer ou escrever após ao jogo, após às refeições etc.
O correto é após o jogo, após as refeições” (SILVA, A., 1958, p. 35).

Apossínclise
Ver Se me não falha a memória ou Se não me falha a memória? (P. 684)

Apóstrofe ou Apóstrofo?
1. Um leitor pergunta se, após as recentes alterações em nosso sistema
ortográfico, continua existindo o apóstrofo e, em caso positivo, como
fica seu emprego em expressões como a seguinte: D’Os Lusíadas ou De
Os Lusíadas?
2. Ora, fixe-se, em termos genéricos, que o apóstrofo (’) é um sinal
diacrítico que continua existindo em nosso sistema após as recentes
alterações na ortografia.
3. De modo específico para o caso da consulta, ele é empregado para
separar graficamente as contrações ou aglutinações de preposições
referentes a nomes próprios (obras literárias ou artísticas, nomes de
empresas ou entidades…): d’Os Lusíadas, d’Os Sertões, n’O Estado de
São Paulo.
4. A par dessa possibilidade de grafia, é importante observar
adicionalmente que nada impede que essas escritas sejam substituídas
por empregos de preposições íntegras: De Os Lusíadas, de Os Sertões,
em O Estado de São Paulo.
5. Observa-se, contudo, com base em lição de Napoleão Mendes de
Almeida (1981, p. 204-5), que não há como fugir do apóstrofo, tal como
aparece nas combinações acima referidas, de modo que equivocadas as
grafias Dos Lusíadas, Dos Sertões ou Do Estado de São Paulo.
6. É importante, por fim, frisar e distinguir que o apóstrofo é um símbolo
gráfico empregado para indicar a supressão de uma vogal. Ex.: copo
d’água. Assim, cabe não confundi-lo com apóstrofe, que “é a
interrupção que faz o orador ou escritor para se dirigir a pessoas ou
coisas presentes ou ausentes, reais ou fictícias” (CEGALLA, 1990, p.
525).

A pretexto de ou Sob pretexto de?


1. A pretexto de é locução prepositiva empregada no sentido de com o fim
aparente de, dando como razão ou desculpa. Exs.: a) “O advogado
procrastinava o andamento do processo, a pretexto de ouvir
testemunhas”; b) “Encerrou o expediente mais cedo, a pretexto de que
precisava encontrar-se com um amigo”.
2. Sob pretexto de é outra locução prepositiva exatamente com o sentido da
anterior e de igual correção. Exs.: a) “O advogado procrastinava o
andamento do processo, sob pretexto de ouvir testemunhas”; b)
“Encerrou o expediente mais cedo, sob pretexto de que precisava
encontrar-se com um amigo”.
3. Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 376-7) atesta a vernaculidade, a
correção e o mesmo sentido de ambas as expressões.
4. Confirma-se correção da expressão a pretexto de com o fato de que o
Código Civil de 1916 – cuja redação foi tão longamente discutida por
Rui Barbosa e Ernesto Carneiro Ribeiro – determina, no art. 927,
segunda parte (em redação não repetida pelo art. 416 do Código Civil de
2002), quanto à pena convencional, que “o devedor não pode eximir-se
de cumprimento, a pretexto de ser excessiva”.
5. Na legislação codificada atual, também se encontra um exemplo da
expressão a pretexto de: “Achando-se a documentação em ordem, não
pode o comprador recusar o pagamento, a pretexto de defeito de
qualidade ou do estado da coisa vendida, salvo se o defeito já houver
sido comprovado” (CC, art. 529, parágrafo único).
6. Na legislação, também se encontra exemplo da expressão sob pretexto
(não, porém, sob pretexto de: “Nenhuma autoridade estranha à mesa
poderá intervir, sob pretexto algum, em seu funcionamento, salvo o juiz
eleitoral” (Código Eleitoral, art. 140, § 2º).

A princípio ou Em princípio?
1. A princípio significa inicialmente, antes de tudo. Ex.: “A princípio,
quero alegar a inocência do acusado”.
2. Não confundir com a expressão em princípio, que quer dizer em tese.
Ex.: “Em princípio, todos devem ser considerados inocentes, nos termos
do art. 5º, LVII, da Constituição Federal” (NICOLA; TERRA, 2000, p.
12).
3. Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 2) também faz essa diferença: em
princípio significa “em tese, teoricamente, antes de qualquer
consideração”, e tal expressão “não deve ser confundida com a locução a
princípio (= no começo, inicialmente)”. Exs.: a) “Com o seu pensamento
concordava, em princípio, a diplomacia inglesa” (Álvaro Lins); b) “A
princípio, tudo parecia um mar de rosas, mas não tardaram a surgir
dificuldades”.

À proporção que ou À ção em que?


Ver À medida que, À medida em que ou Na medida em que? (P. 111)

A própria autobiografia – Está correto?


1. Esta é mais uma daquelas expressões equivocadas e redundantes,
portadora de tautologia, ou pleonasmo vicioso.
2. O prefixo auto já confere à palavra autobiografia o significado de
biografia de si próprio.
3. Diga-se, portanto, tão somente, a autobiografia, sem o adjetivo própria,
ou então a própria biografia.

Apud
1. Vocábulo latino, que significa junto de, em (um autor) e que se emprega
antes do nome de um autor e/ou de uma obra, para indicar que a citação
é indireta. Ex.: “Já lecionava Mário Barreto (apud Adalberto J.
Kaspary) que não se deve dizer com ou sem ardor, mas com ardor ou
sem ele”.
2. Muito embora não haja acento gráfico – exatamente porque não havia
acento no Latim – a pronúncia de tal vocábulo é paroxítona (ápud).

Àquele, Aquele, Àquilo ou Aquilo?


1. Ocorre o acento indicativo da crase nesse pronome sempre que a palavra
que o antecede exige a preposição a, não importando o fato de ser
masculino ou plural o substantivo a que se refere. Exs.: a) “Dirijo-me
àquele tribunal”; b) “Dirijo-me àquela corte”; c) “Dirijo-me àqueles
tribunais”; d) “Dirijo-me àquelas cortes”.
2. Essa observação vale para todos os pronomes similares, de mesmo
radical: aquela, aqueles, aquelas, aquilo, aqueloutro.

A quo – com hífen ou sem?


Ver Post mortem – com hífen ou sem? (P. 585)

A quo ou A qua?
1. Um leitor relata que um estudioso do Direito e das Letras apontou como
erro o uso da expressão a quo, quando a referência se faz a uma palavra
do feminino. E indaga se assiste ou não razão a tal professor.
2. Fixem-se, desde logo, três importantes premissas para a expressão da
consulta, que significa, em síntese, a instância, o juízo ou tribunal do
qual se recorre: a) A quo é o ablativo singular masculino ou neutro do
pronome relativo latino qui, quae, quod; b) Tal expressão, embora
continue latina, cristalizou-se no uso vernáculo desse modo, e em geral
vem precedida de um substantivo (normalmente instância, juízo ou
tribunal); c) Contrapõe-se à expressão ad quem, que aponta o tribunal
para o qual se recorre. Ex.: “A competência para analisar o mérito dos
recursos, em regra, é do tribunal ad quem, e não do juízo a quo”.
3. Com essas ponderações, anota-se que o leitor traz à baila o polêmico e
tormentoso problema da flexão das palavras e expressões de outros
idiomas ainda não incorporadas ao vernáculo, para o que, desde logo se
observa, não há regramento específico por parte dos órgãos competentes,
e, assim, o que se tenta aqui é solucionar a questão por um raciocínio
cientificamente correto, com o acompanhamento do bom-senso que deve
nortear soluções dessa natureza.
4. Parta-se do princípio de que palavras e expressões de outros idiomas
podem cristalizar-se no vernáculo de maneiras diversas: a) campus veio
na forma do nominativo (caso latino que serve para desempenhar a
função sintática de sujeito); b) quorum sedimentou-se aqui na forma do
genitivo (caso que serve para exercer a função do antigo complemento
restritivo, hoje adjunto adnominal na maioria dos casos); c) a quo veio
na forma do ablativo por regência da preposição antecedente (caso que
normalmente serve para desempenhar a função sintática de complemento
circunstancial, hoje adjunto adverbial); d) ad quem, também por regência
da preposição antecedente, veio no acusativo (que normalmente serve
para desempenhar a função de objeto direto).
5. Como não é de difícil compreensão, essa cristalização do vocábulo
estrangeiro em nosso idioma e seu emprego em estruturas sintáticas
vernáculas normalmente ocorrem: a) sem preocupação de qual seja sua
função sintática na oração em português; b) sem vínculo com a estrutura
sintática do latim; c) sem ligação com a conduta do vocábulo ou
expressão no idioma de origem.
6. Para melhor didática, considerem-se, em português, os seguintes
exemplos: a) “O tribunal do qual se recorre…”; b) “A instância da qual
se recorre…”; c) “Os tribunais dos quais se recorre…”; d) “As
instâncias das quais se recorre…”.
7. Em todos os exemplos, a estrutura sintática é exatamente a mesma: a)
qual é um pronome relativo; b) o pronome relativo, por conceito e
comportamento, relaciona-se a um nome anteriormente mencionado e
com ele concorda em gênero (masculino ou feminino) e número
(singular ou plural), concordância essa que é perceptível quando o
pronome é qual, já que o que é invariável; c) assim, se o antecedente é
“tribunal”, o pronome relativo concorda no masculino singular; d) se,
porém, o antecedente é “instâncias”, o pronome relativo vai para o
feminino plural.
8. Se alguém quiser servir-se dos argumentos expendidos para defender
exatamente a variabilidade da expressão da consulta no latim, mesmo
aqui não se pode esquecer que, por coerência, haverá a flexão não
apenas para o feminino, mas também para o plural: a) “… o tribunal a
quo…”; b) “… a instância a qua…”; c) “… os tribunais a quibus…”; d)
“… as instâncias a quibus…”
9. E se vejam as implicações desse raciocínio: a) um emprego assim exige
do usuário do vernáculo uma informação que ele normalmente não tem;
b) ou seja: exige dele conhecimento razoável de latim; c) além disso,
além de não termos o gênero neutro em português, também não há
correspondência absoluta de gênero em ambos os idiomas; d) isso quer
significar que um vocábulo feminino em latim pode ter vindo para o
masculino em português, e vice-versa; e) nesse quadro, variar o
antecedente de um pronome relativo em latim por seu antecedente em
português pode ser equivocado, ante o fato de que o gênero em latim
pode ser outro.
10. Assim, com o devido respeito pelos que pensam de modo diverso, a
melhor solução parece obedecer aos seguintes parâmetros para o
emprego de expressões dessa natureza em português: a) as palavras e
expressões latinas não devem ter acentos gráficos ou hifens, já que
estes não existiam na língua de origem; b) devem ser grafadas em
itálico, negrito, com sublinha ou entre aspas; c) devem desvincular-se
de sua função sintática de origem para efeito de suas flexões em
português, quer quanto ao gênero (masculino e feminino), quer quanto
ao número (singular e plural); d) devem ser empregadas como vieram
sedimentadas para o uso no português, sem variações como as
pretendidas na consulta: i) “… o tribunal a quo…”; ii) “… a instância
a quo…; iii) “… os tribunais a quo…”; iv) “… as instâncias a quo…”
11. Qualquer outra solução desrespeita a etimologia, fere os critérios
mínimos científicos e marginaliza o próprio bom senso, além de tornar
o emprego em português um tormento adicional gravíssimo para o
usuário médio do idioma.
12. Vejam-se alguns exemplos de emprego da referida expressão em
artigos de lei: a) “Os recursos serão apresentados ao juiz ou tribunal
ad quem, dentro de cinco dias da publicação da resposta do juiz a quo,
ou entregues ao Correio dentro do mesmo prazo” (CPP, art. 591); b)
“Publicada a decisão do juiz ou do tribunal ad quem, deverão os autos
ser devolvidos, dentro de cinco dias, ao juiz a quo” (CPP, art. 592).

Árbitro ou Juiz?
1. Uma leitora indaga se quem apita uma partida de qualquer modalidade
esportiva é juiz ou árbitro.
2. Ora, para começo, importa observar que, num sentido genérico, as
palavras árbitro e juiz costumam ser sinônimas e intercambiáveis,
significando aquele que se põe ou é posto para dirimir questões, como se
pode ver em boas traduções da Bíblia. Exs.: a) “Pecando o homem
contra o próximo, Deus lhe será o árbitro” (1 Samuel 2:25); b) “Quem te
pôs por príncipe e juiz sobre nós?” (Êxodo 2:14).
3. Mesmo com essa ambivalência, porém, o certo é que, normalmente,
árbitro costuma ser um vocábulo mais empregado para as hipóteses em
que sua escolha se faz por vontade das partes para resolver uma questão,
enquanto juiz se reserva para designar aquele que tem o poder de julgar
por determinação da lei.
4. Já para a indagação da leitora, contudo, o certo é que, quando se faz
referência à pessoa que, em uma modalidade esportiva, é encarregada de
verificar a ocorrência de faltas e aplicar o regulamento, pode-se
empregar qualquer dos dois vocábulos, indistintamente, e essas duas
possibilidades podem ser verificadas em dois dos nossos mais
importantes dicionaristas da atualidade.
5. Assim, Antônio Houaiss, num primeiro aspecto, vê o árbitro como
“aquele que faz cumprir, numa competição ou disputa, as regras
estabelecidas para a modalidade de esporte que está sendo praticada”. Já
num segundo aspecto, quando trata do juiz, aplica exatamente as
mesmas palavras para designar encarregado de cumprir as regras em
uma modalidade esportiva (2001, p. 276 e 1.690).
6. E Aurélio Buarque de Holanda Ferreira também vê o árbitro como
“aquele que dirige um jogo ou prova esportiva, com direito de decisão
quanto ao seu desenvolvimento ou aos fatos disciplinares”. E, num
segundo aspecto, ao tratar do vocábulo juiz, fala, até mesmo, de maneira
específica do juiz de linha, para significar o bandeirinha de um jogo de
futebol (2010, p. 191 e 1.216).
7. Com essas ponderações, e agora respondendo diretamente à leitora,
pode-se dizer, em suma, que aquele que apita uma partida de qualquer
modalidade esportiva tanto pode ser árbitro como juiz.

Arcaísmo
1. Júlio Nogueira conceitua-o como o “uso de palavras e expressões que já
caíram em esquecimento: alhures, nenhures, a sabendas, sob color, al
etc.” (1939, p. 242).
2. Artur de Almeida Torres o inclui entre os barbarismos (“emprego de
palavras ou frases estranhas à língua, quer em sua forma, quer em sua
ideia”), conceituando-o como o “emprego de palavras ou expressões
antiquadas ou obsoletas: cuidança por cuidado; conteúdo (como
adjetivo); ‘Eu o perdoo’ por ‘Eu lhe perdoo’; ‘Ele o obedece’ por ‘Ele
lhe obedece’; ‘Eu me despido’ por ‘Eu me despeço’”.
3. Tal autor, entretanto, acrescenta que “o arcaísmo nem sempre é um vício
de linguagem”, e traz em corroboração significativo ensinamento de Rui
Barbosa: “Guardadas as leis, talvez indefiníveis, mas sentidas e
instintivas do bom gosto, as da propriedade e conveniência no escolhê-
los, as da moderação no usá-los, as da oportunidade no tentá-los, as do
tato no expô-los, de modo que a frase, onde se insinuam, ou encravam,
lhes alumie e patenteie o sentido, insigne serviço fazem os bons
escritores à sua língua, reempossando-a no gozo de vocábulos e torneios
antigos deixados esquecer por injustos desprezos” (TORRES, 1966, p.
221-2).
4. Indagando se o escritor pode valer-se de formas antiquadas, o Padre José
F. Stringari não hesita em responder logo que sim, justificando: “Não
raro imprime à frase sainete todo especial o emprego de palavras e giros
arcaicos, quando se faz dentro dos limites do bom gosto, com boa mão e
de jeito que o texto em que se eles metem os explique e faça logo
compreender. Louvor merece aquele que se esforça de ressuscitar e
reflorir fórmulas que andam reluzidas pelo mugre do olvido. Desoxidá-
las e dar-lhes novamente carta de correntias não é marear a pureza da
língua, senão aformoseá-la; não é desservir, senão servir, e bem, o
idioma pátrio. Não é outro o pensar de Rui Barbosa. E foi esta a prática
do nosso Coelho Neto” (1961, p. 9-10).
5. Trata-se do contrário de neologismo.

Arcar
1. Apesar de muitos dicionários apenas registrarem a acepção de arquear,
curvar-se, ou então lutar, pelejar, como o da Melhoramentos
(Encyclopaedia Britannica do Brasil, 1995, p. 178), Aurélio Buarque de
Holanda Ferreira (s/d, p. 127-8) refere a possibilidade de emprego do
verbo arcar com o sentido de fazer face, enfrentar, dando como exemplo
“Arcar com responsabilidades”.
2. O significado trazido pelo dicionarista por último citado justifica a
possibilidade do emprego que frequentemente se encontra na parte
dispositiva das sentenças judiciais: “Por vencido, arcará o réu com as
custas e despesas do processo”.
3. Importante observar, todavia, que, quanto à regência verbal, Celso Pedro
Luft (1999, p. 68), na acepção referida, apenas confere a tal verbo a
possibilidade de ser transitivo indireto, correspondendo à construção
arcar com, e Francisco Fernandes (1971, p. 92), em sua indispensável
obra, também lhe atribui, nessa acepção, a possibilidade de construção
como transitivo indireto.
4. Estabelecida tal premissa de sua transitividade indireta, pelas próprias
regras de passagem da voz ativa para a voz passiva (o objeto direto da
voz ativa torna-se o sujeito da voz passiva, de modo que somente verbos
transitivos diretos podem ter voz passiva), conclui-se que o verbo arcar,
no sentido de responsabilizar-se, por ser transitivo indireto, não pode ser
empregado na voz passiva.
5. São errôneas, assim, frases não raro encontradas em textos forenses: a)
“As custas e os honorários serão arcados pelo réu”; b) “As despesas
arcadas pelo autor serão reembolsadas pela parte vencida”.
6. Para a correção desses exemplos, ou se substitui o verbo arcar por um
sinônimo que admita voz passiva (pagar, desembolsar, reembolsar), ou
então se usa o próprio exemplo, mas na voz ativa: a) “Arcará o réu com
as custas e os honorários”; b) “As despesas com que o autor arcou serão
reembolsadas pela parte vencida”.
7. Por oportuno, anote-se que o Código de Processo Civil, ao tratar dos
ônus da litigância de má-fé e da sucumbência nos processos, não usa o
verbo arcar, mas emprega sistematicamente o verbo responder, também
aparecendo esporadicamente o verbo pagar: a) “Responde por perdas e
danos aquele que pleitear de má-fé como autor, réu ou interveniente”
(CPC/1973, art. 16); b) “Se um litigante decair de parte mínima do
pedido, o outro responderá, por inteiro, pelas despesas e honorários”
(CPC/1973, art. 21, parágrafo único); c) “Concorrendo diversos autores
ou diversos réus, os vencidos respondem pelas despesas e honorários em
proporção” (CPC/1973, art. 23); d) “Nos juízos divisórios, não havendo
litígio, os interessados pagarão as despesas proporcionalmente aos seus
quinhões” (CPC/1973, art. 25).

Arco-íris – Qual é o plural?


1. Um leitor diz haver encontrado em fontes diferentes plurais também
diversos para a palavra arco-íris. E indaga qual o plural correto: os arcos-
íris ou os arco-íris?
2. Para se saber qual a forma correta de tal vocábulo no plural, uma
consulta à mais recente edição do Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa (ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, 2009, p. 75) vai
mostrar que, ao lado do registro do substantivo masculino arco-íris, está
a indicação de seu plural: arcos-íris.
3. E a razão técnica para essa flexão no plural reside no fato de que arco-
íris é um substantivo composto, e seus dois elementos formadores são,
por sua vez, também substantivos. Quando assim ocorre, o primeiro
substantivo varia no plural.
4. Resolvida a questão da formação do plural de tal substantivo composto,
oportuno é observar, acerca dos tira-dúvidas e dicionários, que, não
importando a grande contribuição que possam prestar aos usuários da
língua portuguesa, se houver alguma desavença entre eles e o VOLP, a
razão há de estar sempre com este último, no que concerne à existência,
flexão e modo de ser e de escrever dos vocábulos em nosso idioma, já
que ele é o veículo oficial para resolver questões dessa natureza.

Ar-condicionado – Qual o plural?


1. Uma leitora indaga qual o plural de ar condicionado. E complementa sua
indagação: por quê?
2. Ora, sempre é bom lembrar – até para criar no leitor o salutar hábito de
um raciocínio que se repete – que, quando se quer saber se uma palavra
existe ou não em português, ou mesmo qual é sua grafia e/ou pronúncia,
ou qual o seu plural quando foge à normalidade, deve-se tomar por
premissa o fato de que a autoridade para listar oficialmente os vocábulos
pertencentes ao nosso idioma e para definir-lhes as demais
peculiaridades e circunstâncias, é a Academia Brasileira de Letras.
3. E essa autoridade, a ABL a exerce por via da edição do Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa.
4. Uma simples consulta ao VOLP mostra que, para o vocábulo trazido
pela leitora, determina ele os seguintes aspectos: a) a grafia é ar-
condicionado (assim com hífen, e não como foi trazido pela leitora, sem
ele); b) por se tratar de vocábulo com certo grau de dificuldade, também
traz seu plural, que é ares-condicionados (2009, p. 75).
5. A razão de se fazer o plural desse modo é que, em substantivos
compostos (como esse, que tem dois elementos unidos por hífen),
quando formados por elementos variáveis (no caso, um substantivo [ar] e
um adjetivo [condicionado]), ambos vão para o plural.

Aresto ou Acórdão?
Ver Acórdão ou Acordam? (P. 70)

Aresto ou Arresto?
Ver Arresto ou Aresto? (P. 135)

Arguir – Como fica sem o trema?


1. Um leitor parte da seguinte frase: “Como argui bem, não?” E aduz que,
com a eliminação do trema e do acento que direcionavam determinados
aspectos da conjugação desse verbo, levada a efeito pelo Acordo
Ortográfico de 2008, não mais se sabe de quem foi a arguição: a) se
minha no passado, b) ou de terceira pessoa no presente. E pergunta como
resolver, sem que se precise recorrer ao contexto.
2. Ora, quanto à pronúncia e à grafia desse verbo, um primeiro ponto
precisa ser observado: o u soa em todas as formas, seja átona ou tônica a
referida vogal.
3. Também um segundo aspecto carece de realce: o trema, que era
empregado sobre o u, quando átono, foi abolido pelo Acordo Ortográfico
de 2008 (arguimos, arguistes e arguiram, e não mais argüimos,
argüistes, argüiram).
4. Por fim, um terceiro item exige anotação específica: o acento agudo, que
era usado nas formas rizotônicas seguidas de e ou de i, também foi
abolido pelo mesmo acordo (arguis, argui e arguem, e não mais argúis,
argúi e argúem).
5. Com isso se confirma a base de onde partiu o leitor para sua dúvida, no
que concerne à existência de pronúncias e tempos diversos, mas de
forma gráfica idêntica: a) “Como eu argui (üí) bem no debate que ontem
tivemos!”; b) “Como ele argui (úi) bem nos debates de que agora
participa!”
6. E, assim, forçoso é dar-lhe inteira razão: quando se diz Como argui bem,
não?, não se sabe se: a) eu debati ontem, b) ou se ele está debatendo
agora.
7. É que, com a eliminação do trema no primeiro caso (argüi) e do acento
agudo no segundo (argúi), o Acordo Ortográfico acabou por criar uma
possibilidade de confusão, já que duas pronúncias diferentes e tempos
diversos de um mesmo verbo acabam por corresponder a uma só e
mesma escrita.
8. A solução, assim, será verificar a existência de outras palavras ou
elementos indicadores no contexto, pelos quais se possa identificar em
que tempo e pessoa está o verbo. E, se o contexto não ajudar, ou o leitor
não quiser valer-se do contexto, não há como realmente saber.

Arguir – Significado e Conjugação


1. No tocante ao sentido, o verbo arguir significa censurar, combater com
argumentos, examinar, questionar. Ex.: “O magistrado arguiu a
testemunha acerca dos fatos da denúncia”.
2. Assim é a lição de José de Nicola e Ernani Terra: “Significa repreender,
censurar, examinar interrogando. Na linguagem jurídica é utilizado no
sentido de impugnar com argumentos” (2000, p. 37).
3. Quanto à pronúncia e grafia, três pontos precisam ser observados: a) o u
soa em todas as formas do verbo, seja átona ou tônica a referida vogal
(REIS, 1971, p. 133); b) o trema, que era empregado sobre o u, quando
átono, foi abolido pelo Acordo Ortográfico de 2008 (arguimos, arguistes
e arguiram, e não mais argüimos, argüistes e argüiram); c) o acento
agudo, que era usado nas formas rizotônicas seguidas de e ou de i,
também foi abolido pelo mesmo acordo (arguis, argui e arguem, e não
mais argúis, argúi e argúem).
4. Lembrando Carlos Góis e Herbert Palhano (1963, p. 113), dos verbos
terminados em guir, apenas arguir e redarguir têm o u pronunciado.
5. Como todo verbo terminado em uir, só pode dar origem à terminação ui
na segunda e terceira pessoas do singular do presente do indicativo. Vale
dizer: diferentemente dos verbos terminados em uar (como averiguar),
são errôneas as grafias com e em tais situações. Assim: arguis (ú) e
argui (ú), e não argues (ú) e argue (ú).
6. Com essas observações – e fixado o aspecto de que, com as alterações
trazidas pelo Acordo Ortográfico de 2008, os problemas passam a ser
exclusivamente de pronúncia, já que eliminados os de grafia – têm-se,
em seguida, as suas formas até hoje mais problemáticas, que se situam
no presente do indicativo e tempos derivados (para facilitar a pronúncia,
a vogal tônica encontra-se sublinhada em cada uma das formas): arguo,
arguis, argui, arguimos, arguis, arguem (presente do indicativo); argua,
arguas, argua, arguamos, arguais, arguam (presente do subjuntivo);
argui, argua, arguamos, argui, arguam (imperativo afirmativo); não
arguas, não argua, não arguamos, não arguais, não arguam (imperativo
negativo).
7. Nos demais tempos, o u também é sempre pronunciado, mas de forma
átona, e – repita-se – sem trema, que foi abolido: arguia (pretérito
imperfeito), arguirei (futuro do presente), arguiria (futuro do pretérito),
argui (pretérito perfeito), arguira (pretérito mais-que-perfeito do
indicativo), arguisse (imperfeito do subjuntivo), arguir (futuro do
subjuntivo), arguindo (gerúndio), arguido (particípio).
8. Essas observações sobre o verbo arguir se aplicam, em sua inteireza, ao
verbo redarguir.
9. Nos textos legais e forenses, o verbo arguir apresenta dificuldade
específica, quando tem o sentido de acusar, tachar de, em que é
construído com a estrutura arguir alguém (ou algo) de alguma coisa.
Exs.: a) “A transmissão errônea da vontade por instrumento, ou por
interposta pessoa, pode arguir-se de nulidade nos mesmos casos em que
a declaração direta” (CC/1916, art. 89); b) “Só se pode arguir de
sonegação o inventariante depois de encerrada a descrição dos bens…”
(CC, art. 1.996); c) “As partes poderão também arguir de suspeitos os
peritos, os intérpretes e os serventuários ou funcionários de justiça…”
(CPP, art. 105); d) “Quando o documento for oferecido antes de
encerrada a instrução, a parte o arguirá de falso…” (CPC/1973, art.
391).

Argumentos que não cabem discutir – Está correto?


Ver Infinitivo como sujeito – Como concordar? (P. 414)

Armaram ou Armarão?
1. Um leitor, narrando que tem lido modos de escrita que contrariam o que
ele aprendeu, pergunta como se deve escrever no pretérito perfeito: “Eles
se amaram no passado” ou “Eles se amárão no passado”?
2. Duas observações devem ser feitas para os verbos da primeira
conjugação (terminados em ar), na terceira pessoa do plural do pretérito
perfeito do indicativo: a) são formas paroxítonas (ou seja, a sílaba forte é
a penúltima da palavra), e não oxítonas (vale dizer, a sílaba forte não é a
última da palavra); b) sua grafia é com am no final, e não com ão.
3. Vejam-se os seguintes exemplos: a) “Ontem eles armaram uma cilada
para o inimigo (correto); b) “Ontem eles armarão (ou mesmo armárão)
uma cilada para o inimigo” (errado).
4. Importa observar que já houve um tempo em que essas grafias se
confundiram no idioma. Veja-se, assim, o seguinte trecho da primeira
estrofe do poema Os Lusíadas, de Camões, tal como constou em sua
primeira edição (1572): “Passaram, ainda além da Taprobana / … / E
entre gente remota edificarão / Novo Reino, que tanto sublimarão.”
5. Quanto a esse trecho, podem-se tecer as seguintes considerações: a)
nessa época, era corrente, para o pretérito perfeito do indicativo, a grafia
com ão; b) coexistia ela com a grafia hoje aceita com exclusividade
(am); c) nos dias de hoje, a atualização ortográfica faz o trecho ser
escrito do seguinte modo: “Passaram, ainda além da Taprobana / … / E
entre gente remota edificaram / Novo Reino, que tanto sublimaram.”
6. Nosso Código Comercial, que já data de 1850, também mostra esse
mesmo aspecto: “Na prohibição do artigo antecedente não se
comprehende a faculdade de dar dinheiro a juro ou a premio, com tanto
que as pessoas nelle mencionadas não fação do exercicio desta
faculdade profissão habitual de commercio…” Atualize-se a indigitada
grafia, juntamente com as demais correções: “Na proibição do artigo
antecedente não se compreende a faculdade de dar dinheiro a juro ou a
prêmio, contanto que as pessoas nele mencionadas não façam do
exercício desta faculdade profissão habitual de comércio…”
7. Para complementar a resposta e eliminar, de uma vez por todas, a dúvida
do leitor, também se fazem duas observações para esses mesmos verbos
da primeira conjugação na terceira pessoa do plural, mas agora no futuro
do presente do indicativo: a) são formas oxítonas (ou seja, a sílaba forte
é a última da palavra), e não paroxítonas (vale dizer, a sílaba forte não é
a penúltima da palavra); b) sua grafia é com ão no final, e não com am.
8. Vejam-se os seguintes exemplos: a) “Tudo indica que esses dois se
amarão num futuro próximo” (correto); b) “Tudo indica que esses dois
se amaram num futuro próximo” (errado).
9. Apenas para refletir: a observação dos fatos demonstra que esse é um
erro cuja ocorrência vem crescendo com o passar dos tempos, bem
possivelmente devido à falta de cuidado com que vem sendo tratado o
ensino do português na educação de base.

Arqui-inimigo ou Arquiinimigo?
1. Antes de se resolver a indagação de qual a forma correta (arqui-inimigo
ou arquiinimigo), observa-se que o prefixo grego arqui tem o significado
de algo excelso ou posição superior e forma diversos vocábulos em
nosso idioma.
2. Quanto ao mais, como geralmente ocorre com os prefixos e falsos
prefixos terminados por vogal, apenas em duas hipóteses se usa o hífen:
a) quando o elemento seguinte começa com h, como em arqui-hipérbole;
b) quando o elemento seguinte principia com a mesma vogal que termina
o prefixo: arqui-inimigo, arqui-inteligente.
3. Desse modo, acopla-se diretamente à palavra seguinte, sem
intermediação de hífen, quando iniciada esta por outra vogal, que não a
que encerra o prefixo: arquiabade, arquiavô, arquiepiscopal,
arquiescriba, arquioligarca.
4. Continua valendo a regra de junção direta, mesmo que o elemento
seguinte se inicie por consoante: arquibactéria, arquichanceler,
arquidiocese, arquifonema, arquiginásio, arquimarechal, arquinave,
arquipirata, arquitesoureiro, arquivulgar.
5. Apenas para a hipótese de ser o segundo elemento iniciado por r ou s,
dobram-se tais consoantes para continuidade do som originário:
arquirrival, arquirromântico, arquissacerdote, arquissenador,
arquissinagoga.

Arraial do Cabo ou arraial do Cabo?


Ver Rua Caiubi ou rua Caiubi? (P. 675)

Arras
1. Expressão que se introduziu no vocabulário comercial dos gregos
(arrabon) e dos romanos (arrhabo) pelos mercadores fenícios,
compreendem o dinheiro dado como sinal e garantia de um contrato,
notadamente o de compra e venda, assegurando a execução deste, e se
tendo a firmeza de seu ajuste definitivo (DE PLÁCIDO E SILVA, 1989,
p. 195). Exs.: a) “Chegando ao acordo quanto à promessa de compra, o
adquirente entregou as arras”; b) “O sinal, ou arras, dado por um dos
contraentes, firma a presunção de acordo final, e torna obrigatório o
contrato” (CC/1916, art. 1.094); c) “Podem, porém, as partes estipular o
direito de se arrepender, não obstante as arras dadas” (CC/1916, art.
1.095, 1ª parte); d) “Se o que deu arras der causa a se impossibilitar a
prestação, ou a se rescindir o contrato, perdê-las-á em benefício do
outro”.
2. Pertencendo ao rol dos nomes plurais, deve-se atentar às regras de
concordância verbal, pois, se tal termo funciona como sujeito, sempre
leva o verbo para o plural. Ex.: “Salvo estipulação em contrário, as
arras em dinheiro consideram-se princípio de pagamento” (CC/1916,
art. 1.096).

Arrazoar
1. Em Direito, tem o sentido técnico de expor as razões, explicitar os
motivos, ou justificar as alegações por meio de petição específica (em
geral um recurso), hipóteses em que é empregado, sem dificuldades
adicionais, ora como intransitivo, ora como transitivo direto. Exs.: a) “Se
houver assistente, este arrazoará, no prazo de três dias, após o
Ministério Público” (CPP, art. 600, § 1º); b) “Se o apelante declarar, na
petição ou no termo, ao interpor a apelação, que deseja arrazoar na
Superior Instância, serão os autos remetidos ao Tribunal ad quem…”
(CPP, art. 600, § 4º); c) “A parte poderá, ao arrazoar o recurso ou em
petição avulsa, requerer, fundamentadamente, que o julgamento obedeça
ao disposto neste artigo” (CPP, art. 476, parágrafo único).
Ver Contra-arrazoar o recurso ou Contra-arrazoar ao recurso? (P. 226) e
Contra-razões ou Contrarrazões? (P. 229)

Arrear ou Arriar?
1. Arrear tem dois significados principais: o de lançar arreios em um
animal e o de colocar enfeites em. Exs.: a) “O empregado arreou o
melhor cavalo para a viagem do patrão”; b) “A dama arreou-se com o
melhor vestido”.
2. Quanto à conjugação verbal, como todo verbo terminado por ear, recebe
um i intermediário nas formas rizotônicas: arreio, arreias, arreia,
arreamos, arreais, arreiam (presente do indicativo); arreie, arreies,
arreie, arreemos, arreeis, arreiem (presente do subjuntivo); arreia,
arreie, arreemos, arreai, arreiem (imperativo afirmativo); não arreies,
não arreie, não arreemos, não arreeis, não arreiem (imperativo
negativo).
3. Como as formas rizotônicas apenas aparecem no presente do indicativo e
tempos derivados, todos acima referidos, esse verbo não apresenta
dificuldades de conjugação nos demais tempos e modos, em que é
regular e onde não aparece vogal adicional alguma: arreava (pretérito
imperfeito do indicativo), arrearei (futuro do presente), arrearia (futuro
do pretérito), arreei (pretérito perfeito), arreara (pretérito mais-que-
perfeito), arrear (futuro do subjuntivo), arreasse (imperfeito do
subjuntivo), arreando (gerúndio), arreado (particípio).
4. Já sua parônima arriar significa abaixar, ceder. Ex.: “Por defeito no
alicerce, o prédio arriou”.
5. Quanto à conjugação verbal, como normalmente se dá com os verbos
terminados por iar, arriar é verbo regular, e as dificuldades que sua
flexão poderia apresentar encontram-se no presente do indicativo e
tempos derivados: arrio, arrias, arria, arriamos, arriais, arriam
(presente do indicativo); arrie, arries, arrie, arriemos, arrieis, arriem
(presente do subjuntivo); arria, arrie, arriemos, arriai, arriem
(imperativo afirmativo); não arries, não arrie, não arriemos, não
arrieis, não arriem (imperativo negativo).
6. Otelo Reis, em preciosa obra, faz questão de registrar ambos os verbos:
“arrear, que significa enfeitar, adornar, ou então pôr arreios a um animal,
e arriar, que significa abaixar, pôr abaixo a carga, etc. O segundo parece
ter provindo da linguagem técnica de náutica” (1971, p. 60).
7. Reputando necessário distinguir entre tais verbos e suas acepções, o
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira
de Letras, fugindo a seu normal proceder e a suas finalidades, acaba por
precisar cada um dos sentidos: enquanto arrear significa aparelhar, arriar
quer dizer abaixar (2009, p. 79 e 80).
8. Por fim, embora alargando um pouco o fulcro dos verbetes aqui
considerados, fazem-se três observações importantes quanto à
conjugação verbal: a) os verbos terminados em ear recebem um i
intermediário nas formas rizotônicas; b) os verbos terminados em iar são
regulares, de modo que não recebem acréscimo algum dessa natureza; c)
desse último item excepcionam-se cinco verbos (mediar, ansiar,
remediar, incendiar e odiar [conhecidos pela sigla MARIO]), os quais,
embora terminem por iar, recebem um i intermediário nas formas
rizotônicas, como se, em tais formas, fossem terminados por ear
(medeio, anseias, remedeia, odeiam…).
9. Vale, adicionalmente, registrar a preciosa observação de Júlio Nogueira:
“Não há na língua um só verbo terminado em eiar. O que há são verbos
em ear e iar” (1959, p. 99).
10. Essa também é a posição de Carlos Góis e Herbert Palhano: em verbos
com essa terminação, “é erro grave escrever no infinitivo eiar” (1963,
p. 112).
11. Em mesmo sentido, a lição de Otoniel Mota: é errôneo em português
escrever-se passeiar, guerreiar, “porque não há um sufixo verbal eiar,
mas ear” (1916, p. 68).

Arrendar
1. Trata-se de palavra bifronte, porque indica relações duplas, posições
recíprocas, com sentido ora ativo, ora passivo.
2. Aires da Mata Machado Filho (1969f, p. 213), que invoca ensino de
Mário Barreto, também vê em tal vocábulo termo de significação ativa e
passiva.
3. Numa primeira hipótese, significa dar em arrendamento. Ex.: “O
proprietário arrendou o imóvel ao forasteiro”.
4. No segundo caso, tem o sentido de receber em arrendamento. Ex.: “O
forasteiro arrendou do proprietário o imóvel discutido nos autos”.
5. Como se vê, o uso adequado da preposição salva os equívocos que
possam surgir em tais casos.
6. Antonio Henriques e Maria Margarida de Andrade estão acordes quanto
à dupla significação que tem esse verbo: “dar de arrendamento, tomar de
arrendamento” (1999, p. 42).
7. Cândido Jucá Filho (1981, p. 44), em apreciação sobre a obra de Mário
Barreto, também confirma a existência e o emprego dos dois sentidos
para esse verbo: dar de renda e tomar de renda.
8. Regina Toledo Damião e Antonio Henriques (1994, p. 234) também
concordam em que tal verbo é bifronte, vale dizer, que assume ele tanto
o sentido ativo de dar em arrendamento como o sentido passivo de
receber por arrendamento.
9. A um consulente que lhe indagava se “arrendei umas casas” não
produziria “equívoco sobre se sou inquilino ou senhorio”, respondeu
Cândido de Figueiredo pela afirmativa, mas justificou: “o verbo tem essa
dupla significação “dar de arrendamento e tomar de arrendamento.
Quem quer evitar o equívoco, recorre ao circunlóquio: ‘dei ou tomei de
arrendamento’…” (1941, p. 46).
10. Francisco Fernandes, que, de igual modo, aceita a característica
bifronte de tal verbo, traz importante nota: “Para evitar ambiguidade,
costuma-se usar a expressão dar de arrendamento ou tomar de
arrendamento, conforme o caso” (1971, p. 97).
11. Não é diverso o posicionamento de Celso Pedro Luft (1999, p. 72): a)
pode ter o sentido de dar em arrendamento: “Arrendou as terras a uns
colonos”; b) também pode ser usado na acepção de tomar de
arrendamento: “Arrendei de um fazendeiro um sítio para os fins de
semana”; c) para o caso de haver ambiguidade, “a oposição regencial
a/de resolve o problema mais economicamente”.

Arresto ou Aresto?
1. Arresto é termo muito usado nos meios forenses e tem o significado de
apreensão autorizada pela Justiça. Ex.: “Em decisão fundamentada, o
juiz da causa determinou o arresto dos bens do devedor”.
2. Antonio Henriques (1999, p. 9), por um lado, considera-o “apreensão
judicial, como medida preventiva, de bens do devedor para garantir o
pagamento de dívida líquida e certa”; por outro lado, com supedâneo em
lição de José Pedro Machado, explicita que “o termo remontaria ao latim
tardio adrestare com possível influência do antigo francês arrester
(arrêter)”.
3. É importante não confundir com sua parônima aresto, que significa
acórdão, decisão coletiva de um tribunal. Ex.: “Com o retorno dos autos
do tribunal, o juiz da comarca determinou o cumprimento do venerando
aresto”.
4. Embora diversos autores afirmem a sinonímia entre aresto e acórdão,
Antonio Henriques conceitua aresto como a “decisão judicial
irreformável tomada pelos tribunais superiores” (1999, p. 8-9).
5. Em mesma direção, Edmundo Dantès Nascimento (1982, p. 238): a)
observa que “tecnicamente não são sinônimos acórdão e aresto”; b) traz,
em abono, lição de Mendes Júnior: “Chamam-se arestos as decisões
judiciais não suscetíveis de reforma, proferidas em forma de julgamento
definitivo pelos tribunais superiores”.
6. Assim, em síntese, enquanto acórdão é, genericamente, a decisão
colegiada dos tribunais, o aresto é a decisão colegiada de um tribunal
que não mais se apresente como suscetível de reforma.
7. Nem mesmo os textos de lei escapam ao cometimento de deslizes no
emprego de palavras dessa natureza, bastando ver que, para o art. 23 do
Decreto-lei 70, de 21/11/66, que instituiu a cédula hipotecária, a Coleção
das Leis da União registrou aresto, quando, em realidade, queria
significar arresto.
8. Quanto à pronúncia, além do fato de que o e é aberto (é) em ambos os
vocábulos, é oportuno acrescentar que, em aresto, o r é pronunciado
como em arisco (desconfiado), enquanto, em arresto, ele é pronunciado
como em arrisco (que significa eu ponho em risco).
Ver Acórdão ou Acordam? (P. 70)

Arriar ou Arrear?
Ver Arrear ou Arriar? (P. 133)

Arrizotônicas
Ver Formas arrizotônicas (P. 361).

Arrolar e Arrulhar
1. Um leitor indaga qual a melhor pronúncia para o verbo arrolar no
sentido de arrulhar na terceira pessoa do plural do presente do indicativo:
eles arrolam (ó) ou eles arrolam (ô)?
2. Observado o fato de que arrulhar não traz problema algum quanto à
conjugação ou à pronúncia, já que é integralmente regular, uma primeira
distinção a ser feita, em sequência, é que, normalmente, o verbo arrolar
significa fazer um rol, fazer uma relação, enquanto arrulhar quer dizer
produzir arrulhos, que é o som de alguns pássaros, como as pombas e as
rolas.
3. Ocorre, todavia, que arrolar também pode significar arrulhar. Ou seja:
arrolar tanto significa fazer um rol, fazer uma relação, como também
produzir arrulhos, como as pombas e as rolas.
4. O que se dá, porém, é que, independentemente do sentido que tenha,
arrolar, seguindo os demais verbos da língua portuguesa terminados em
olar, tem sempre o som aberto nas formas rizotônicas (ó). Exs.: a) “Os
advogados arrolam (ó) as testemunhas”; b) “Os pássaros arrolam (ó) no
beiral da casa”.

Arrostar
1. Verbo frequentemente usado em arrazoados jurídicos com o significado
de enfrentar, defrontar, admite regência variada.
2. Sousa e Silva (1958, p. 37) vislumbra a possibilidade de construí-lo ou
como transitivo direto, ou com a preposição a, ou com a preposição com,
ou, por fim, como pronominal, caso em que também exige a preposição
com. Exs.: a) “O réu arrostou o perigo”; b) “O réu arrostou ao perigo”;
c) “O réu arrostou com o perigo”; d) “O réu arrostou-se com o perigo”.
3. Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 37), que o considera normalmente
transitivo direto (“Nas selvas eles arrostavam constantes perigos”),
observa que, “por ênfase, pode-se antepor ao complemento a preposição
com: arrostar com o perigo, arrostar com o inimigo”.
4. Francisco Fernandes (1971, p. 99) abre ainda mais as possibilidades de
construção: como transitivo direto, como transitivo indireto (com as
preposições a e com) e pronominal (com as preposições a e com). Exs.:
a) “O incêndio lavra por todas as classes, todos o evitam, e raros
ousarão arrostá-lo” (Rui Barbosa); b) “Arrostaram
desassombradamente àquele cometimento” (Caldas Aulete); c) “Arrostar
com os perigos” (Mário Barreto); d) “Arrostar-se ao inimigo” (Antônio
de Morais Silva); e) “Ousou ele arrostar-se com o imperador” (Rui
Barbosa).
5. Celso Pedro Luft (1999, p. 74) acrescenta dois aspectos ao ensino de
Francisco Fernandes: a) também vê a possibilidade de sua sintaxe com a
preposição contra: “Não teve forças para arrostar contra os inimigos”
(Laudelino Freire); b) “a forma despronominada é a mais usada hoje”.

Arruinar
1. Verbo regular, de frequente emprego no sentido de causar ruína a, de
estragar, de destruir, de causar perda ou dano. Exs.: a) “A bebida arruína
a saúde e a família”; b) “O jogo arruinou o milionário”.
2. Merece cuidado especial sua conjugação nas formas rizotônicas, em que
a vogal tônica é o i, o qual – de acordo com a 4ª alínea da observação 43
do Formulário Ortográfico – deve ser acentuado graficamente, por estar
sozinho na mesma sílaba, formando hiato com a vogal anterior.
3. Atente-se, assim, a sua conjugação no presente do indicativo e tempos
derivados: arruíno, arruínas, arruína, arruinamos, arruinais, arruínam
(presente do indicativo); arruíne, arruínes, arruíne, arruinemos,
arruineis, arruínem (presente do subjuntivo); arruína, arruíne,
arruinemos, arruinai, arruínem (imperativo afirmativo); não arruínes,
não arruíne, não arruinemos, não arruineis, não arruínem (imperativo
negativo).
4. Como tais formas rizotônicas apenas ocorrem no presente do indicativo
e tempos derivados, nem haverá hiato, nem o i será tônico, nem se fará
presente acento gráfico algum nas demais formas: arruinava (pretérito
imperfeito do indicativo), arruinarei (futuro do presente), arruinaria
(futuro do pretérito), arruinei (pretérito perfeito do indicativo),
arruinara (pretérito mais-que-perfeito do indicativo), arruinar (futuro
do subjuntivo), arruinasse (imperfeito do subjuntivo), arruinando
(gerúndio), arruinado (particípio).
Para maiores informações sobre sua acentuação gráfica, ver Hiato (P.
389).

Artigo
1. Num primeiro aspecto, quando há dois termos precedidos de uma
preposição que a ambos se refere, pode-se usar o artigo antes de ambos
os substantivos, ou deixá-los ambos sem artigo, conforme o desejo do
usuário e a própria especificação de sentido buscada na frase. Exs.: a)
“Entre o réu e a vítima, estava a testemunha”; b) “Entre réu e vítima,
estava a testemunha”.
2. Em tais casos, o que não se pode fazer é antepor o artigo apenas a um
dos substantivos, e isso porque, ante o paralelismo estabelecido entre
eles, ou se determinam ambos os elementos, ou se deixam ambos
indeterminados. Exs.: a) “Entre o réu e vítima, estava a testemunha”
(errado); b) “Entre réu e a vítima, estava a testemunha” (errado).
3. Sob um outro aspecto, é de se atentar na lição de Sousa e Silva: se ao
artigo definido se seguem dois ou mais substantivos, “e o primeiro está
no singular, vai o artigo no singular: ‘o segundo, terceiro e quinto
parágrafos’ (e nunca ‘os segundo, terceiro e quinto parágrafos’)”.
4. Em algum tratado científico, o referido gramático (SILVA, A., 1958, p.
22) pinçou uma passagem em que foi transgredida essa regra: “Note-se o
desenvolvimento desses elementos sempre no ângulo formado pelas
segunda e terceira porções do duodeno, na parte intrapancreática” (devia
ser “pela segunda e terceira porções”).
Ver Números – Como ler e Empregar? (P. 506), Omissão da preposição –
Está correto? (P. 526) e Preposição – Quando deve ser repetida? (P. 595).

Artigo de lei – Como ler seu número?


Ver Números – Como ler e Empregar? (P. 506)

Ascendência ou Descendência italiana?


1. Os dicionários registram, sem maior dificuldade, que ascendente
significa antepassado ou antecedente, enquanto descendente tem o
sentido de póstero, de posterior, de vindouro.
2. E, quanto à etimologia, ascender significa subir, enquanto descender
guarda o sentido de descer.
3. Buscando alguma razão para justificar o conteúdo semântico de tais
vocábulos em relação a sua etimologia, o que parece mais lógico é
verificar que, quando se quer representar graficamente, em uma folha de
papel, uma sucessão de gerações, o centro de referência é posto em
algum lugar físico da página. Os pais são colocados imediatamente
antes, os avós os precedem, e assim por diante. Já os filhos são postos
imediatamente depois, seguidos dos netos…
4. Quando se termina uma tarefa dessa natureza, tem-se a árvore
genealógica, ou seja, o apontamento das origens e da sequência de uma
família. Quando, porém, se analisa a representação gráfica, percebe-se
que, diferentemente de uma árvore normal, que nasce da terra e segue
para o alto, uma árvore genealógica nasce do alto e segue em direção
oposta.
5. Assim, quando se parte em direção aos antepassados, ascende-se, sobe-
se na árvore genealógica; já quando se caminha rumo aos pósteros,
descende-se, ou desce-se, quer em linha reta (quando um se origina de
outro), quer em linha colateral (quando se verifica a existência de algum
relacionamento familiar, mas um não provém do outro).
6. Feitas essas ponderações, parte-se para a consideração do fato da
consulta: a primeira-dama, Marisa Letícia, obteve a cidadania italiana, e
a notícia do jornal veio com a manchete Descendência italiana, quando,
no entender de um leitor, deveria vir Ascendência italiana.
7. Ora, uma mesma realidade de fato pode ser expressa de dois modos
igualmente corretos: a) “Marisa Letícia tem ascendência italiana”; b)
“Marisa Letícia descende de italianos”. No primeiro caso, consideram-
se os ascendentes em relação a ela; no segundo caso, ela é posta como
descendente de seus antepassados.
8. E a manchete segue em mesmo caminho: ascendência italiana estaria
pressupondo o raciocínio de que “Marisa Letícia tem ascendência
italiana”; já descendência italiana estaria levando em conta o fato de
“Marisa Letícia descende de italianos”.
9. Resuma-se: ambas as manchetes são corretas, com a observação de que
partem de enfoques diferentes. O que, em realidade, não se pode dizer,
ao menos com a estruturação do texto, é que Marisa Letícia tem
descendência italiana.

Ascensão
1. Tem o sentido de elevação, promoção, subida. Ex.: “Comemorava-se,
naquela oportunidade, sua ascensão ao cargo de desembargador”.
2. Observe-se a ortografia desse vocábulo, assim como a de seus cognatos:
ascendência, ascendente, ascender, ascensorista.

Às custas de – Existe?
Ver À custa de ou Às custas de? (P. 75)

A ser ou A sermos?
Ver Para compor ou Para comporem? (P. 544)

Às folhas vinte e duas


Ver A folhas vinte e duas – Como é a forma correta? (P. 94)

As mais das vezes


1. Em apreciação sobre a obra de Mário Barreto, que emprega tal
expressão, anota Cândido Jucá Filho (1981, p. 44) que essa sintaxe “é
tão boa quanto o mais das vezes”.
2. Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 38 e 295) também dá como
sinônimas ambas as locuções adverbiais: as mais das vezes e o mais das
vezes, conferindo-lhes a acepção de quase sempre, ou em geral, ou
geralmente.

A sós ou Às sós?
1. O adjetivo só pode variar em número. Exs.: a) “O réu estava só”; b) “O
réu e o advogado estavam sós”.
2. Já a locução adverbial a sós é invariável. Ex.: a) “O advogado tinha o
direito constitucional de ficar a sós com seu cliente por alguns
instantes”; b) “O advogado e o réu tinham o direito constitucional de
ficar a sós”.
Ver Só – Como concordar? (P. 706)

Aspas
1. Do gótico haspa, também conhecidas por comas ou vírgulas dobradas
(às vezes em forma de cunhas), são sinais (“” ou ‘’) com que,
normalmente, se abrem e fecham citações, sendo bastante oportunas
algumas considerações para seu uso.
2. Quando, dentro do trecho já entre aspas, há necessidade de novas aspas,
estas são simples (NADÓLSKIS; TOLEDO, 1998, p. 51). Ex.: Deu nos
jornais: “O articulista defende, como forma de melhoria nas relações
jurídicas, uma assim chamada ‘globalização’ das leis”.
3. Se o sinal de pontuação pertence à citação, fica ele dentro das aspas,
como o ponto de interrogação no seguinte exemplo: Por que você não
disse “Eu vou?”.
4. Se, porém, pertence o sinal de pontuação ao autor, fica ele depois das
aspas, como é o caso do ponto final no seguinte exemplo. Ex.: Como já
dizia Hipócrates, traduzido por Sêneca, “a arte é longa, e a vida é
breve”.
5. Nas palavras de Celso Cunha, “quando a pausa coincide com o final da
expressão ou sentença que se acha entre aspas, coloca-se o competente
sinal de pontuação depois delas, se encerram apenas uma parte da
proposição; quando, porém, as aspas abrangem todo o período, sentença,
frase ou expressão, a respectiva notação fica abrangida por elas” (1970,
p. 284).
6. Para Luiz Antônio Sacconi, “o ponto vem após as aspas”, se “não foram
estas que deram início ao período”. Ex.: Napoleão disse: “Do alto destas
pirâmides quarenta séculos vos contemplam”.
7. Complementa, todavia, tal autor (SACCONI, 1979, p. 244 e 248) com a
observação de que “as aspas aparecem depois da pontuação somente
quando abrangem todo o período”. Ex.: “O Brasil espera que cada um
cumpra o seu dever.”
8. Interessante lembrete ainda vem do mesmo gramático acerca dos trechos
de outros autores, empregados, por exemplo, na elaboração dos
arrazoados jurídicos: “se a citação ou a transcrição não começar com a
palavra inicial, colocar-se-ão reticências logo após a abertura das aspas.
Da mesma forma, devem ser usadas as reticências no final, antes do
fechamento das aspas, se a intenção é não terminar a referida citação ou
transcrição” (SACCONI, 1979, p. 247).
9. A esse respeito, assim se expressa Josué Machado: “Quando a pausa
coincide com o final da expressão ou sentença que se acha entre aspas,
coloca-se o competente sinal de pontuação depois delas, se encerram
apenas uma parte da proposição; quando, porém, as aspas abrangem todo
o período, sentença, frase ou expressão, a respectiva notação fica
abrangida por elas” (1994, p. 66).
10. Ainda para a ordem de colocação entre as aspas e o ponto, Cândido de
Oliveira estabelece duas regras: a) “Primeiro ponto final e por último
aspas, se toda a declaração (o período inteiro, da maiúscula inicial ao
ponto final) estiver entre aspas”; b) “Primeiro aspas e depois ponto
final, se somente a parte derradeira do período receber aspas” (1961, p.
67).
11. As palavras e expressões estrangeiras, de igual modo, devem vir entre
aspas, permitindo-se também explicitar tal circunstância com o uso de
grifo equivalente, sublinha, itálico ou negrito. Ex.: “O magistrado
negou liminar ao pedido, fundado na inexistência do ‘periculum in
mora’”.
12. Veja-se, nesse sentido, o ensino de Eduardo Carlos Pereira em
corroboração ao fato de que se escrevem “sublinhadas ou em grifo as
palavras de língua estrangeira, que se intercalam no discurso” (1924, p.
48).
13. Artur de Almeida Torres também observa a possibilidade de emprego
das aspas, “quando se deseja chamar a atenção do leitor para certos
vocábulos que devem ser postos em evidência: Aquele ‘sim’ me
confortou” (1966, p. 245).
14. Ensina, ainda, Luciano Correia da Silva que “não se usam aspas nas
atribuições nominais ou dos epônimos: Fundação Roberto Marinho,
Rodovia Castelo Branco, EEPSG Horácio Soares, Fundação
Educacional Miguel Mofarrej, Fórum João Mendes Júnior”.
15. Em critério aparentemente diverso, todavia, em outra passagem, manda
que se usem tais sinais “em nomes de livros, jornais, obras de arte…”,
como, por exemplo, “Folha de S. Paulo” (SILVA, L., 1991, p. 179 e
197).
16. Considere-se, também a observação de Hêndricas Nadólskis e Marleine
Paula Marcondes Ferreira de Toledo (1998, p. 51) no sentido de que,
em tais hipóteses, em vez de empregar aspas, pode-se optar pelo
destaque gráfico do negrito ou do itálico, a que se pode acrescer
também a sublinha. Exs.: a) Não se demonstrou o “fumus boni juris”;
b) Não se demonstrou o fumus boni juris; c) Não se demonstrou o
fumus boni juris; d) Não se demonstrou o fumus boni juris.
17. O ideal seria observar a questão das aspas duplas e aspas simples, com
o acréscimo de que, ante o elemento complicador dos nomes dos
órgãos de imprensa, sejam eles escritos em itálico. Ou, em termos mais
práticos: “Eu falei: ‘Mas me importa a restauração da minha honra. A
Veja está fazendo um verdadeiro linchamento.’ Ele respondeu:
‘Roberto, na Veja não tenho nenhuma ação, porque a Veja é tucana’.
Eu falei: ‘Mas O Globo e a Globo estão repetindo o linchamento.’ Ele
falou: ‘No Globo eu falo por cima. Dá para segurar.’ Retirar a
assinatura foi o meu maior erro. Depois que fiz isso, recrudesceu o
noticiário contra o PTB. Eu entendi que foi uma armadilha do Zé
Dirceu para mim. Recrudesceu o noticiário, e eu vi claramente a mão
do governo.”
Ver Parênteses e Ponto (P. 550).

Aspas duplas e Aspas simples


Ver Aspas (P. 137).

Aspira ao cargo: Aspira-lhe ou Aspira a ele?


Ver Aspirar o(ao) perfume? e Aspirar o(ao) cargo? (P. 138)

Aspirar o(ao) perfume? e Aspirar o(ao) cargo?


1. Aspirar é um verbo que tem suas peculiaridades quanto ao complemento
que pede, de modo que precisa ser estudado sob o prisma da regência
verbal.
2. No sentido de sorver, cheirar, é verbo transitivo direto. Exs.: a) “Ele
aspira o suave perfume da flor”; b) “Ele aspira-o” (SILVA, A., 1958, p.
38).
3. Já na acepção de almejar, pretender, é transitivo indireto (e pede a
preposição a). Ex.: “O jovem advogado aspira ao cargo de magistrado”.
4. Realce-se, contudo, que, como transitivo indireto, esse verbo não admite
lhe como complemento, devendo-se usar a ele. Exs.: a) “O jovem
advogado aspira-lhe” (errado); b) “O jovem advogado aspira a ele”
(correto).
5. Nesse sentido, atente-se à lição de Laudelino Freire (s/d, p. 7): “Na
língua portuguesa existem verbos cujos complementos indiretos são
representados pela forma a ele em lugar de lhe. Isso ocorre, entre outros,
com assistir (estar presente), aspirar (desejar), recorrer (pedir auxílio),
que, recusando a forma lhe, têm os seus objetos indiretos expressos pela
forma a ele”.
6. Celso Pedro Luft (1999, p. 76) formula três significativas observações
acerca de sua regência, na acepção de almejar, pretender: a) “embora
invariavelmente condenado pelos gramáticos, o regime direto se insinua,
vez por outra, na pena de escritores contemporâneos”, configurando
“inovação regencial sob a pressão semântica dos sinônimos desejar,
querer, pretender, etc., todos transitivos diretos”; b) todavia, “em nível
culto, registro formal, recomenda-se a sintaxe originária aspirar a…”; c)
“as regências com para e por são raras”.
7. Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 39), porém, nesse último aspecto,
a par de nem referir a possibilidade de construção com a preposição
para, assim leciona: “É desaconselhada a regência aspirar por alguma
coisa. Diga-se, por exemplo: ‘Certos cargos públicos são muito
cobiçados, mas os que a eles (e não por eles) aspiram nem sempre têm
espírito público’”.
8. Em decorrência da associação com o pronome se, vejam-se as
ponderações que se podem fazer com relação ao exemplo “Aspira-se o
suave perfume”: a) o verbo aspirar, nesse caso, é transitivo direto; b)
porque a frase é reversível (pode-se dizer “O suave perfume é
aspirado”), o se é partícula apassivadora; c) o sujeito de uma oração com
essa estrutura é o suave perfume; d) o núcleo desse sujeito é perfume; e)
quando se diz os suaves perfumes, o que vai para o plural é o próprio
sujeito da oração; f) se o sujeito vai para o plural, então o verbo também
há de ir para o plural, concordando com o seu sujeito; g) a forma correta,
assim, é “Aspiram-se os suaves perfumes”.
9. Em decorrência da mesma associação com o pronome se, vejam-se as
ponderações que podem ser feitas com respeito ao exemplo “Aspira-se
ao elevado cargo”: a) o verbo aspirar, nesse caso, é transitivo indireto; b)
se o verbo é transitivo indireto e, por conseguinte, o termo que o segue
vem com preposição, esse é um sinal claro de que a frase não é
reversível (não se pode dizer, portanto, “Ao elevado cargo é aspirado”);
c) em tal situação, o se não pode ser partícula apassivadora, mas é
símbolo de indeterminação do sujeito; d) o sujeito de um exemplo como
esse, por forçosa conclusão, é indeterminado; e) porque assim é, quando
se leva ao plural a expressão elevados cargos, não é o sujeito que se
pluraliza, até porque ele continua indeterminado; f) se o sujeito de uma
oração dessa natureza não vai para o plural, não há razão para pluralizar
o verbo; g) o plural da oração, portanto, será “Aspira-se aos elevados
cargos”.
Ver, nesta ordem, Voz passiva – Quando é possível? (P. 793), Voz passiva
e Pronome apassivador (P. 791) e Gosta-se de um bom vinho – Está
correto? (P. 375)

Aspira-se aos cargos ou Aspiram-se aos cargos?


Ver Aspirar o(ao) perfume? e Aspirar o(ao) cargo? (P. 138)

Aspira-se os perfumes ou Aspiram-se os perfumes?


Ver Aspirar o(ao) perfume? e Aspirar o(ao) cargo? (P. 138)

Assembléia ou Assembleia?
Ver Ditongos éi, ói, éu – Quando acentuar? (P. 292)

Assente ou Assentado?
1. Para Edmundo Dantès Nascimento, o particípio passado assente,
frequentemente empregado na linguagem forense, não é forma correta,
mas apenas representa criação popular.
2. Segundo tal autor, “o verbo assentar tem um único particípio passado –
assentado”, já que “o particípio irregular – assento – substantivou-se”.
3. E ultima ele que “a frase correta é: ‘Ficou assentado que devolveria em
dobro…’” (NASCIMENTO, 1982, p. 105).
4. Já Vitório Bergo (1943, p. 181) insere o verbo assentar no rol daqueles
que têm dois particípios passados: assentado e assente.
5. Ante tal discussão entre os gramáticos, o melhor é ampliar a
possibilidade de expressão, viabilizando-se o emprego da forma em
epígrafe.

Assentir
Ver Aderir (P. 77).

Asserto ou Acerto?
Ver Acerto ou Asserto? (P. 69)

Assessor
1. Tem o significado de ajudante, assistente, auxiliar. Ex.: “Os assessores
procuravam resolver o embaraço que a situação causara ao
desembargador”.
2. Oportuno é atentar a sua ortografia, assim como à de seus cognatos:
assessoramento, assessorar, assessoria.

Assessoria técnica-jurídica ou Assessoria técnico-jurídica?


1. Numa expressão como a que é trazida para análise, tem-se um
substantivo (assessoria) que recebe a qualificação de dois adjetivos
(técnica e jurídica).
2. Quando dois adjetivos qualificam um substantivo ao mesmo tempo, é
comum e correto que tais adjetivos venham unidos por hífen: tratado
luso-brasileiro, parecer técnico-jurídico. Mas nada impede que estejam
separados, de modo que são igualmente corretas as seguintes expressões:
tratado luso e brasileiro, parecer técnico e jurídico.
3. Quando dois adjetivos unidos por hífen se referem a um mesmo
substantivo, tecnicamente se tem o que se denomina um adjetivo
composto, o qual possui um modo próprio de variar em gênero
(masculino ou feminino) e número (singular ou plural).
4. Num adjetivo composto, o primeiro elemento é sempre invariável, e o
segundo elemento só varia para o plural ou feminino, quando ele próprio
é um adjetivo. Exs.: tratado luso-brasileiro, convenção luso-brasileira,
tratados luso-brasileiros, convenções luso-brasileiras (SACCONI, 1979,
p. 48). E ainda: olho castanho-claro, cabeleira castanho-clara, olhos
castanho-claros, cabeleiras castanho-claras, assessor técnico-jurídico,
assessoria técnico-jurídica.
5. Explicite-se, ademais, que, se o segundo elemento do adjetivo composto
não é um adjetivo, fica invariável a expressão toda. Exs.: vestuário
verde-oliva, farda verde-oliva, vestuários verde-oliva, fardas verde-
oliva.
6. De modo específico para as expressões inicialmente referidas, veja-se o
que é correto e o que não o é: a) assessoria técnico-jurídica (correto); b)
assessoria técnica-jurídica (errado). Também estariam corretas as
expressões assessor técnico e jurídico e assessoria técnica e jurídica.

Assim como
Ver Bem como (P. 158).

Assinação
1. O verbo assinar tem corriqueiramente, em termos jurídicos e forenses, o
significado de marcar, de assinar prazo.
2. E o substantivo que corresponde a tal verbo, no exato sentido de
designação de prazo, de aprazamento, é assinação. Ex.: “Não havendo
preceito legal nem assinação pelo juiz, será de cinco (5) dias o prazo
para a prática de ato processual a cargo da parte” (CPC/1973, art.185).
Ver Assinar prazo (P. 140).

Assinalar prazo – Existe?


1. Trata-se de expressão equivocada, quando se quer dizer fixar prazo.
Ver Assinar prazo (P. 140), que é a forma correta.
Assinar prazo
1. Constando nos dicionários o sentido de fixar, é o verbo assinar
empregado nessa significação com frequência nos textos de lei, desde as
Ordenações Filipinas, passando pelo Regulamento 737, de 1850: a) “O
juiz ordenará ao autor que promova a citação de todos os litisconsortes
necessários, dentro do prazo que assinar, sob pena de declarar extinto o
processo” (CPC/1973, art. 47, parágrafo único); b) “Quando o autor
recusar o nomeado, ou quando este negar a qualidade que lhe é
atribuída, assinar-se-á ao nomeante novo prazo para contestar”
(CPC/1973, art. 67); c) “… dentro do prazo assinado pelo relator, caber
á ao juiz ou juízes prestar as informações” (CPC/1973, art. 119); d) “…
assinará o prazo de três dias, sucessivamente, a cada uma das partes,
para prova de suas alegações” (CPP, art. 145, II).
2. Repete-se seu emprego em diversos outros dispositivos, como, por
exemplo, nos arts. 146, 183, § 2º, 187, 241, V, 491, 632, 642, 656,
parágrafo único, 834, caput, 838, 911, 1.091, I, e 1.188, parágrafo único,
do Código de Processo Civil, além do art. 331, parágrafo único, do
Código de Processo Penal.
3. Antonio Henriques e Maria Margarida de Andrade (1999, p. 42)
pesquisaram-lhe o emprego nos meios jurídicos e fixaram-lhe os
significados de estabelecer, marcar prazo, determinar assistência a um
ato judicial.
4. Lembra com muita propriedade Geraldo Amaral Arruda que, “ante o uso
reiterado do verbo assinar, com o sentido de marcar ou fixar (prazo), não
se pode entender como tantos cometem a impropriedade de escrever
assinalar o prazo” (1997, p. 153).
Ver Assinação (P. 140).

Assiste-se ao espetáculo e Assiste-se o doente


Ver Concordância verbal – Símbolo de indeterminação do sujeito (P.
213).

Assistir
1. É verbo que deve ser estudado sob o prisma da regência verbal,
devendo-se atentar, já de início, à sábia ponderação do Padre José F.
Stringari: “muito cuidado exige o emprego do verbo assistir, pois muda
de regência em se lhe mudando o sentido” (1961, p. 86).
2. Tem quatro significados, com peculiaridade de construção para cada
qual deles.
3. No sentido de prestar ajuda, é transitivo direto. Exs.: a) “A enfermeira
assiste o doente”; b) “A enfermeira assiste-o”.
4. No significado de presenciar, ver, é transitivo indireto, pede a preposição
a, e não admite lhe como complemento. Exs.: a) “O estagiário assiste a
vários debates e audiências”; b) “O estagiário assiste a eles”.
5. Vale ao caso a oportuna lição de Laudelino Freire: “Na língua
portuguesa existem verbos cujos complementos indiretos são
representados pela forma a ele em lugar de lhe. Isso ocorre, entre outros,
com assistir (estar presente), aspirar (desejar), recorrer (pedir auxílio),
que, recusando a forma lhe, têm os seus objetos indiretos expressos pela
forma a ele” (s/d, p. 7).
6. No sentido de pertencer, caber, é transitivo indireto e admite lhe como
complemento. Exs.: a) “Este direito assiste ao vencedor”; b) “Este
direito lhe assiste”.
7. Na acepção pouco usada de morar, residir, é intransitivo e pede por
complemento um adjunto adverbial de lugar. Ex.: “Os rapazes assistem
em humilde pensão”.
8. De Júlio Nogueira (1939, p. 192) é preciosa síntese acerca das regências
mais comuns de tal verbo: “no sentido de estar presente, requer a
preposição a: ‘assistirás à cerimônia’, ‘assistiremos ao baile’. No
sentido de prestar assistência, requer objeto direto: ‘qual o médico que
assiste este doente?’. No sentido de morar, residir, exige uma relação de
lugar: ‘el-rei assiste em Lisboa’. No sentido de ter um direito, atribuição
etc., pede a preposição a: ‘não assiste esta faculdade aos candidatos’
(ou a forma pronominal correspondente: ‘não lhes assiste…’)”.
9. Nos textos de lei, tem-se verificado a observância da distinção entre os
significados de tal verbo, correspondendo a uma igual distinção entre as
regências.
10. Assim, no significado de auxiliar, tem sido empregado como transitivo
direto (admitindo ser usado na voz passiva). Exs.: a) “O herdeiro do
depositário é obrigado a assistir o depositante na reivindicação…”
(CC/1916, art. 1.272); b) “Quando a prova do fato depender de
conhecimento técnico ou científico, o juiz será assistido por perito,
segundo o disposto no art. 421” (CPC/1973, art. 145); c) “Compete aos
pais, quanto à pessoa dos filhos menores: … V – Representá-los, até os
dezesseis anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após essa idade,
nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento”
(CC/1916, art. 384, V); d) “O herdeiro do depositário, que de boa-fé
vendeu a coisa depositada, é obrigado a assistir o depositante na
reivindicação, e a restituir a comprador o preço recebido” (CC/1916,
art. 1.272); e) “O adquirente ou o cessionário poderá, no entanto,
intervir no processo, assistindo o alienante ou o cedente” (CPC/1973,
art. 42, § 2º); f) “São atribuições do Departamento Penitenciário
Nacional: … III – assistir tecnicamente as unidades federativas na
implementação dos princípios e regras estabelecidos nesta Lei” (Lei
7.210/84, art. 72, III).
11. Por outro lado, no sentido de ver, presenciar, tem-se observado a
construção como transitivo indireto (preposição a). Exs.: a) “A
anulação do casamento contraído com infração do n. XI do art. 183 só
pode ser requerida pelas pessoas que tinham o direito de consentir e
não assistiram ao ato” (CC/1916, art. 212); b) “É defeso a quem ainda
não depôs assistir ao interrogatório da outra parte” (CPC/1973, art.
344, parágrafo único); c) “São requisitos essenciais do testamento
público:… II – Que as testemunhas assistam a todo o ato” (CC/1916,
art. 1.632, II); d) “A certidão deve conter: … III – os nomes das
testemunhas, que assistiram ao ato, se a pessoa intimada se recusar a
apor a nota de ciente” (CPC/1973, art. 239, parágrafo único);
12. Na acepção de caber, pertencer, tem sido construído como transitivo
indireto (preposição a), estrutura essa que admite o emprego de lhe em
substituição ao nome. Exs.: a) “Ao possuidor de má-fé serão
ressarcidas somente as benfeitorias necessárias; mas não lhe assiste o
direito de retenção pela importância destas, nem o de levantar as
voluptuárias” (CC/1916, art. 517); b) “Ao proprietário prejudicado, em
tal caso, assiste o direito de indenização pelos danos, que de futuro lhe
advenham…” (CC/1916, art. 567, parágrafo único); c) “Apresentado o
laudo que reconheça a gravidez, o juiz, por sentença, declarará a
requerente investida na posse dos direitos que assistam ao nascituro”
(CC/1916, art. 878); d) “A toda empresa ou indivíduo que exerçam
respectivamente atividade ou profissão… assiste o direito de ser
admitido no Sindicato da respectiva categoria…” (CLT, art. 540).
13. Desse modo, vê-se que “Assisto ao filme” é regência correta e significa
que eu vejo o filme na qualidade de espectador; já “Assisto o filme”
também é regência correta, mas significa, em última análise, que
auxilio em sua produção, em sua confecção.
Ver, nesta ordem, Voz passiva – Quando é possível? (P. 793), Voz passiva
sintética (P. 794), Agente da passiva (P. 97), Concordância verbal –
Símbolo de indeterminação do sujeito (P. 213), O júri foi assistido – Está
correto? (P. 522), Ser nascido – Está correto? (P. 694), Voz passiva e
Pronome apassivador (P. 791) e Gosta-se de um bom vinho – Está
correto? (P. 375)

Assistir e Gostar de
Ver Verbos com regências diversas (P. 760).

Assistir razão
1. Quando se diz “assistir razão”, o verbo assistir tem o significado de
pertencer, caber.
2. Em oração com tal verbo na mencionada acepção, razão será o sujeito, e
o referido verbo será transitivo indireto, de modo que exigirá um
complemento preposicionado, um objeto indireto. Exs.: a) “A razão
assiste ao réu”; b) “O direito assiste ao vencedor”.
3. Em sentido prático, basta ver orações em que se empreguem os
sinônimos referidos: a) “A razão pertence ao réu”; b) “O direito cabe ao
vencedor”.
4. É importante acrescentar que, em tal sentido, diferentemente de outros
de seus significados, assistir admite lhe como complemento. Exs.: a) “A
razão assiste-lhe”; b) “O direito assiste-lhe”.
5. Ante tais ponderações conceituais, será equivocado o emprego de tal
verbo, no mencionado sentido, como transitivo direto: “Assiste razão o
requerente”. Corrija-se: “Assiste razão ao requerente”.
6. Acrescente-se, por fim, que a questão aqui estudada não concerne à
harmonização do verbo no singular ou no plural, adaptando-se ao
sujeito; em outras palavras, não se trata de concordância verbal. O
assunto diz respeito, isto sim, ao tipo de complemento que o verbo
exige: a) sem preposição?; b) com preposição? Vale dizer, a questão
concerne à regência verbal.

Assunto a discutir(-se) – Está correto?


Ver A fazer – Está correto? (P. 91)

Assuntos que faltam tratar


Ver Infinitivo como sujeito – Como concordar? (P. 414)

As tantas horas ou Às tantas horas?


1. Nesse assunto, é importante partir de três princípios gerais: a) crase é a
fusão de duas vogais idênticas; b) o encontro mais corriqueiro dessa
natureza é o da preposição a com o artigo feminino a ou as, daí
resultando à ou às; c) costumeiramente se fala em uso da crase, mas a
crase é o fenômeno da fusão de duas vogais idênticas, e o que se usa é o
acento indicativo da existência de crase.
2. Além disso, é preciso lembrar que, quando se fala em preposição, pensa-
se em uma estrutura de linguagem, com as partes da oração relacionadas
entre si, o que obriga a concluir que, no caso da consulta, não é possível
responder, desde logo, à indagação tal como formulada, com a locução
assim isolada, e isso por não se conhecer em que contexto se acha a
expressão discutida.
3. Por isso, para permitir resposta adequada e didática à indagação,
formulam-se os seguintes exemplos: a) “O choque se deu as duas
horas…”; b) “O choque se deu as tantas horas…”; c) “As duas horas
primeiras, após o acidente, foram as piores…”; d) “As tantas horas de
atraso para o início do espetáculo não correspondem à verdade” (O
acento indicativo da crase, mesmo se devido, foi eliminado de propósito,
para efeito de raciocínio).
4. Ora, afastando as discussões teóricas e fixando o raciocínio num patamar
prático, em busca de resolver efetivamente o problema, anota-se que,
quando se quer saber se há crase antes de um substantivo comum
feminino (como é o vocábulo horas no caso da consulta), o melhor é
substituir mentalmente esse substantivo feminino por um correspondente
masculino: a) “O choque se deu aos dois minutos do segundo tempo…”;
b) “O choque se deu aos tantos minutos…”; c) “Os dois minutos
primeiros, após o acidente, foram os piores…”; d) “Os tantos minutos de
atraso para o início do espetáculo não correspondem à verdade”.
5. Feito esse raciocínio simples, então se conclui com a seguinte regra geral
de crase: se, com a substituição, aparece ao ou aos no masculino, há
crase no feminino.
6. E se discriminam os exemplos, com sua forma correta quanto ao
emprego do acento indicativo da crase no caso da consulta: a) “O choque
se deu às duas horas…”; b) “O choque se deu às tantas horas…”; c) “As
duas horas primeiras, após o acidente, foram as piores…”; d) “As tantas
horas de atraso para o início do espetáculo não correspondem à
verdade”.

Atender os requisitos ou Atender aos requisitos?


1. Uma leitora indaga qual a forma correta nos seguintes exemplos: a)
“Atender os requisitos legais”; b) “Atender aos requisitos legais”.
2. Ora, quando se indaga sobre qual é o tipo de complemento que um
determinado verbo pede, a dúvida situa-se no domínio da regência
verbal.
3. Francisco Fernandes considera transitivo direto o verbo atender, quando
tem o sentido de escutar atentamente ou acolher com atenção ou cortesia
(1971, p. 106-7). Exs.: a) “Não querem que eu atenda o cliente”; b)
“Tive a ingenuidade de atendê-lo”.
4. Considera-o, porém, transitivo indireto, quando usado no sentido de
prestar atenção ou levar em consideração. Exs.: a) “Atendeu aos meus
clamores”; b) “Atendeu aos pedidos”.
5. No caso da dúvida trazida pela leitora, Domingos Paschoal Cegalla
entende que o verbo deva ser construído com objeto indireto. Ex.: “Os
novos carros devem atender a todas as exigências de segurança” (1999,
p. 41).
6. Celso Pedro Luft, talvez tendo em vista a proximidade de sentido que
existe em tais acepções, tem-no, indistintamente, como transitivo direto
ou transitivo indireto, quando traz o significado de dar ou prestar
atenção, de responder, de ser atencioso com, ou de cuidar, ou, mesmo, de
servir (1999, p. 82). Exs.: a) “Atender o conselho” ou “Atender ao
conselho”; b) “Atender o telefone” ou “Atender ao telefone”; c) “Atender
o doente” ou “Atender ao doente”.
7. Também Napoleão Mendes de Almeida, sem fazer distinções quanto a
seu significado, admite que esse verbo seja construído, indiferentemente,
com objeto direto ou com objeto indireto (1981, p. 31-2).
8. Ante a divergência de entendimento entre os gramáticos, o melhor é
aceitar como corretas ambas as construções: a) “Atender os requisitos
legais”; b) “Atender aos requisitos legais”.

Atentar
1. Com tal verbo, no sentido de observar bem, Sousa e Silva (1958, p. 40)
vê três possibilidades de construção: a) como transitivo direto (“O réu
atentou o que lhe disse o magistrado”); b) com a preposição em (“O réu
atentou no que disse o magistrado”); c) com a preposição para (“O réu
atentou para o que disse o magistrado”).
2. No Código Civil, o que se vê é a construção atentar em, como se nota no
art. 1.456: “No aplicar a pena do art. 1.454, procederá o juiz com
equidade, atentando nas circunstâncias reais, e não em probabilidades
infundadas, quanto à agravação dos riscos”.
3. Celso Pedro Luft (1999, p. 82-3) também preconiza a possibilidade de
sua construção com a preposição a. Ex.: “Atentar aos pormenores”.
4. Além do sentido de observar bem, de prestar atenção, lembra Luís A. P.
Vitória (1969, p. 35) a possibilidade de seu uso na acepção de cometer
atentado, em que pede a regência contra. Ex.: “Atente no que diz; o
criminoso atentou contra a minha integridade física”.
5. Tal observação também é feita por Francisco Fernandes (1971, p. 107),
que lembra trecho de Rui Barbosa: “A renúncia ao direito de alegar a
nulidade por meio dos recursos ou ações competentes atenta contra a
ordem pública”.

Atenuar
1. Quanto a sua ortografia, como todo verbo terminado em uar, dá origem
à terminação ue. Assim: atenues, atenue.
2. Diferentemente dos verbos terminados em uir (como possuir), não tem
forma alguma com a terminação ui, sendo errôneas as flexões atenuis,
atenui.
3. Nas palavras de Cândido de Oliveira, alertado pelos comuns equívocos
cometidos nesse campo, “é com ue a primeira, segunda e terceira
pessoas do singular do presente do subjuntivo dos verbos em uar: cultue,
cultues, habitue, preceitues” (1961, p. 65).
4. Quanto à conjugação verbal, trata-se de verbo regular, flexionado em
todas as pessoas, tempos e modos.

Até o ou Até ao?


1. Até é preposição, e até a, locução prepositiva, ambas sinônimas,
equivalentes e igualmente corretas. Exs.: a) “Ele caminha até o portão”;
b) “Ele caminha até a porta”; c) “Ele caminha até ao portão”; d) “Ele
caminha até à porta”.
2. Segundo magistério de Laudelino Freire, ambas “são formas hoje de uso
frequente e indistinto, sem que o emprego de uma importe sentido
diverso do da outra” (1937a, p. 29).
3. Para entendimento do que, historicamente, ocorreu, ensina Otoniel Mota:
“No começo da língua, a preposição até era empregada sozinha…
Depois, como essa preposição veio a ter a significação de mesmo,
expressões havia em que surgiam dúvidas. Por exemplo: ‘O homem foi
derrubando tudo, até a casa’. Isto pode significar: foi derrubando tudo
até chegar a casa, ou foi derrubando tudo, mesmo a casa. Lançou-se mão
de um recurso: ajuntou-se a até a preposição a – um puro expletivo – e
desfez-se a dúvida” (MOTA apud MACHADO FILHO, 1969h, p. 1390).
4. Já invocando ensinamento de Epifânio Dias, esclarece Eduardo Carlos
Pereira (1924, p. 363) que “até o século XVII sempre se disse até, e não
(com a preposição a) até a; no século XVII principia a aparecer até a”.
5. Para José de Sá Nunes, todavia, desde os mais antigos clássicos de nosso
idioma se empregam tais formas indiferentemente.
6. E acrescenta tal autor: “Outrora, prevaleciam as primeiras, e hoje
preponderam as últimas” (1938, p. 85).
7. Preconizando a possibilidade de uso indistinto de ambas as construções,
lembra Silveira Bueno (1938, p. 210), por sua vez, que o emprego da
preposição é mais antigo, enquanto o emprego da locução prepositiva é
mais moderno, “porém correto”.
8. Na lição de Cândido de Figueiredo, “até ao é a forma hoje mais usual, e
autorizada por bons escritores modernos; mas até o é mais portuguesa e
preferida por mestres antigos e alguns modernos” (1948, p. 285).
9. Ante o entendimento dos doutos e a simplicidade da questão retratada,
não parece ter procedência a observação de Arnaldo Niskier: “Há um
evidente exagero na formulação até a; no entanto, a grande maioria dos
gramáticos (tão rígidos em outras questões) consideram-na correta.
Recomendamos o uso de até simplesmente, que basta e soa melhor,
embora não possamos considerar errado o uso de até a. Na língua
portuguesa existe o que chamamos de eufonia. Quando soar feio aos
nossos ouvidos, prefira a outra forma. Por isso, ficamos com ‘Vá até o
colégio’” (1992, p.13).
10. Em realidade, ante a própria permissão evidenciada pelo ensino dos
gramáticos, tem aqui aplicação o vetusto princípio de que, na dúvida
(ou mesmo na duplicidade de estruturas possíveis entre os doutos),
deve-se permitir ao usuário liberdade de emprego.

A teor de – Existe?
1. Não registram os gramáticos e dicionaristas a possibilidade de emprego
vernáculo da expressão a teor de com o significado de conjunção
conformativa.
2. Deve ela ser substituída, em tais casos, por como, conforme, consoante,
nos termos de, de conformidade com…
3. Vejam-se, assim, os seguintes exemplos, com a indicação de sua
correção ou erronia: a) “A extinção do processo sem julgamento do
mérito é a solução adequada para o caso, a teor do art. 267 do Código
de Processo Civil” (errado); b) “A extinção do processo sem julgamento
do mérito é a solução adequada para o caso, de conformidade com o
art. 267 do Código de Processo Civil” (correto).
4. Geraldo Amaral Arruda assevera não conhecer justificativa alguma para
essa locução, que não lhe parece vernácula, nem é encontrada em
nenhum bom escritor, devendo ter sido criada, segundo ele, “à maneira
da condenada expressão a nível de, fora da língua portuguesa” (1997, p.
87).
5. Em anotações pessoais, fotocopiadas e entregues a novos juízes, quando
de uma de suas palestras, o mesmo desembargador e gramático refere
que “com frequência tem aparecido a locução a teor de, com força de
conjunção conformativa. Melhor substituí-la por como, conforme,
consoante, nos termos de, de conformidade com, etc.”
6. Reitera tal autor que “essa locução se assemelha à também reprovada
locução a nível de, que também não se ajusta à sintaxe portuguesa.
Nunca encontrei a locução a teor de em texto de bom autor vernáculo,
mas li em textos espanhóis a tenor de”.
7. Não foi encontrado exemplo algum de seu emprego quando consultados
os dez mais importantes códigos e compêndios da legislação pátria.

Ater-se
Ver Ter (P. 730).

À toa ou À-toa?
1. Quanto a saber se o correto, atualmente, é à toa ou à-toa, deve-se
observar, primeiro, que, antes do Acordo Ortográfico, assim era o ensino
acerca da referida expressão: a) Quando modificava um verbo, um
adjetivo ou um outro advérbio, tal expressão, que é uma locução
adverbial e tem o significado de a esmo, sem rumo, escrevia-se com
acento grave e sem hífen. Ex.: “O réu pôs-se a caminhar à toa, ainda
com a arma na mão” (OLIVEIRA, C., 1961, p. 84); b) Quando
modificava um substantivo, a expressão, que é locução adjetiva e tem o
sentido de frívolo, impensado, inútil, insignificante, de baixa moral,
escrevia-se com acento grave e com hífen. Ex.: “Era um filmezinho à-
toa, baseado em um livrinho também à-toa”.
2. Pois bem. Com a chegada do Acordo Ortográfico, que alterou
significativamente o emprego do hífen, ambas as expressões passaram a
ser escritas sem hífen, de modo que, na atualidade, não mais se escreve,
em caso algum, tal expressão com hífen.
3. Essa grafia sem hífen é a que traz o Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa editado após referidas alterações em nosso idioma, quer para
a locução adverbial, quer para a locução adjetiva (2009, p. 89).
4. Verifiquem-se, portanto, os exemplos inicialmente dados, com a grafia
correta da mencionada expressão na atualidade: a) “O réu pôs-se a
caminhar à toa, ainda com a arma na mão” (locução adverbial); b) “Era
um filmezinho à toa, baseado em um livrinho também à toa” (locução
adjetiva).

Atração pronominal remota


1. Carlos Góis (1945, p. 100-1), em estudo sobre os casos de próclise: a)
observa que, se entre a palavra atrativa e o verbo “mediar outra oração,
que os afaste e distancie, dá-se então a ênclise (a distância ou
afastamento fez cessar a atração)”; b) busca tal autor corroboração em
exemplo de Machado de Assis: “Poderá fazer crer ao leitor que, durante
aqueles dias em que a perdemos de vista, tornara-se Guiomar uma
criatura desditosa”.
2. Para Cândido de Figueiredo, em tais casos, “o pronome pessoal atônico
[ou seja, átono], que deveria ser proclítico, por o atrair uma partícula
anterior, nos aparece muitas vezes enclítico, por ficar longe da referida
partícula”. Ex.: “… cordas que, se acaso tremem e vibram, apagam-se,
fundem-se…” (João Ribeiro).
3. Buscando uma explicação plausível para essa ocorrência, justifica tal
autor (FIGUEIREDO, 1937, p. 383-4): “a inobservância rigorosa da
construção é atenuada sensivelmente pela distância entre as partículas
que normalmente se atraem”.
4. Falando dos itens de exceção das regras de colocação de pronomes e
enfocando, de modo específico, “as principais causas que perturbam a
colocação normal dos pronomes oblíquos”, refere Artur de Almeida
Torres (1966, p. 182), entre estas, “a distância em que o pronome se acha
das palavras acima mencionadas (palavras atrativas), que ficam como
que esquecidas”, o que, pelos exemplos por ele coligidos, acarreta o
emprego da ênclise. Exs.: a) “Vozes humanas que, apelidando-se pela
calada das horas mortas, levantam-se…” (Júlio Ribeiro); b) “… cuja
substância vai-se por qualquer rasgão” (Rui Barbosa); c) “Durante uns
dois meses, que o general demorou-se na província” (Camilo Castelo
Branco); d) “Asseguro-vos que, se me falece ambição para aceitar os
vossos votos contradizendo as minhas opiniões, sobeja-me avareza”
(Alexandre Herculano).
5. Para Evanildo Bechara (1974, p. 327), no caso de vocábulos ou de uma
oração que se intercalem na subordinada, “exigindo uma pausa antes do
verbo, o pronome átono pode vir enclítico”, mesmo em havendo,
distante, alguma palavra normalmente atrativa, para o que se observa a
regra genérica de que não se põe pronome oblíquo átono logo após
vírgula. Ex.: “Mas a primeira parte se trocou por intervenção do Tio
Cosme, que, ao ver a criança, disse-lhe entre outros carinhos…”.
6. De acordo com o próprio verbo auxiliar da locução, empregado pelo
gramático por último referido (“pode vir”), e pelo que se verifica do uso
normal em textos que se subordinam ao padrão culto da língua,
referendado por exemplos de autores abalizados e insuspeitos, o mais
adequado é considerar que, em situações desse jaez, o pronome pode vir
em uma de duas posições: a) ou em próclise, por observância da atração
da palavra respectiva, ainda que remota; b) ou em ênclise, com base na
realidade mais direta e palpável de que, objetivamente, não há, próxima,
palavra alguma atrativa.
7. Assim, estão corretos todos os seguintes exemplos, no que concerne à
colocação do pronome pessoal oblíquo átono: a) “Poderá fazer crer ao
leitor que, durante aqueles dias em que a perdemos de vista, tornara-se
Guiomar uma criatura desditosa” (Machado de Assis); b) “Poderá fazer
crer ao leitor que (…) se tornara Guiomar uma criatura desditosa”; c)
“… cordas que, se acaso tremem e vibram, apagam-se, fundem-se…”
(João Ribeiro); d) “… cordas que (…) se apagam…”; e) “Vozes
humanas que, apelidando-se pela calada das horas mortas, levantam-
se…” (Júlio Ribeiro); f) “Vozes humanas que (…) se levantam…”; g)
“Asseguro-vos que, se me falece ambição para aceitar os vossos votos
contradizendo as minhas opiniões, sobeja-me avareza” (Alexandre
Herculano); h) “Asseguro-vos que (…) me sobeja avareza”; i) “Mas a
primeira parte se trocou por intervenção do Tio Cosme, que, ao ver a
criança, disse-lhe entre outros carinhos…” (Machado de Assis); j) “Mas
a primeira parte se trocou por intervenção do Tio Cosme, que (…) lhe
disse entre outros carinhos…”.

Através de
1. A primeira observação que se há de fazer é que deve sempre haver, na
referida expressão, a preposição de, e até mesmo configura galicismo
sintático sua omissão, como, aliás, lembra Vitório Bergo em seu
ensinamento: “É francesa a construção de frase em que entre através sem
a preposição de” (1944, p. 36). Exs.: a) “A notícia se modificou através
dos tempos” (correto); b) “A notícia se modificou através os tempos”
(errado).
2. Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 268.) é de idêntico parecer, quanto à
obrigatoriedade de emprego da preposição de, sob pena de galicismo.
3. Em tal erro incidiu Eça de Queirós, quase sempre modelar no vernáculo,
ao dizer, em Bilhetes de Paris: “Através a folhagem copada… não logrei
perceber…”.
4. Ao comentar o vicioso hábito de empregar através sem o
acompanhamento da preposição de – como em através o século, através
a multidão, através o vidro… – Laudelino Freire observa que “tal modo
de escrever é inadmissível, por ser estranho à nossa língua. Próprio é da
francesa, onde a locução prepositiva à travers nunca pede a preposição
de, exceto se o de for partitivo… No português, pelo contrário, é de rigor
o emprego da preposição de depois de através…” (1937a, p. 81).
5. Também anotando que através o, com artigo e sem preposição, constitui
“inútil e intolerável galicismo, cópia servil do francês travers le”, Aires
da Mata Machado Filho acrescenta que o erro é prolífero, pois agora
surge, na fala comum, o através à, “com preposição e artigo fundidos no
a craseado”.
6. E esclarece tal autor que o vício inicial, em que marginalizada a
preposição, à semelhança de muitos outros em nosso idioma, ocorre
“pela falta da comezinha noção de gramática elementar de que a locução
prepositiva termina em preposição” (MACHADO FILHO, 1969b, p.
736).
7. Também Eliasar Rosa anota que “dizer através o, através a é falar como
os franceses. Em bom Português, usa-se a preposição de” (1993, p. 32).
8. Para Cândido de Figueiredo, “quem escreve através os campos, através
os séculos, etc., macaqueia o francês” (1943, p. 186).
9. Ronaldo Caldeira Xavier (1991, p. 89) também insere a expressão
através o no rol dos galicismos sintáticos e aconselha sua substituição
por através de.
10. Sousa e Silva, sem maiores preocupações teóricas, assim aconselha: “É
erro dizer através o Brasil, através os séculos, através a Idade Média
etc. Digam assim: através do Brasil, através dos séculos, através da
Idade Média etc.” (1958, p. 42).
11. Para Edmundo Dantès Nascimento (1982, p. 84), em interessante
aspecto, essa expressão, por um lado, “não rege nome de pessoa”; por
outro, “exige a preposição de”.
12. Num segundo aspecto, quanto a seu exato sentido, principia-se com
ensinamento de Antonio Henriques: a) “Empregar-se-á quando houver
ideia de penetração de um lado a outro, por dentro de, ao longo de, no
decurso de”; b) “Não havendo o sentido anteriormente mencionado,
não se deve usar através de, que se substituirá por mediante, por meio
de, com, por, por intermédio de” (1999, p. 26).
13. Em seu divertido modo de observar os lapsos veiculados pela mídia,
aponta Josué Machado que “ouvimos e lemos várias vezes que a
declaração do presidente (da República) foi feita através do porta-voz.
Para o presidente falar através do porta-voz terá de fazer mais um
orifício no pobre cidadão que porta a voz dele, porque a locução
prepositiva através de tem sentido de transpassagem, de travessia.
Através da vidraça, através de rios e montanhas, da cerração, do tempo,
dos anos, dos planos econômicos” (1994, p. 60).
14. Como se vê, por seu próprio significado, deve-se evitar sempre a
expressão para significar adjunto adverbial de meio ou de instrumento,
hipóteses em que pode ser substituída sem problemas e simplesmente
por mediante, por meio de, por ou de. Exs.: a) “Provou por
testemunhas” (correto); b) “Provou através de testemunhas” (errado);
c) “Deduz-se desses argumentos que o réu há de ser condenado”
(correto); b) “Deduz-se através desses argumentos que o réu há de ser
condenado” (errado).
15. De Afrânio do Amaral (apud NASCIMENTO, 1982, p. 115) advém
preciosa síntese sobre a questão: “É impróprio o emprego, entre nós
cada vez mais frequente, da locução prepositiva através de, para indicar
instrumento ou veículo, em lugar de mediante, por meio de, em frases
como estas: ‘Chegaram a termo através de um convênio’, ‘Pode violar
esses preceitos proibitivos através de atos de direito’, ‘O médico
salvou a cliente através de uma injeção’. Tal emprego não se estriba no
exemplo de nossos mestres. O sentido certo daquela locução, que
apenas denota passagem ou travessia, é de por entre, de lado a lado, ao
correr ou no decurso de. Exs.: a) ‘… laços que se prolongam através
das eras’ (Alexandre Herculano); b) ‘Muito longe, através da
montanha’ (Coelho Netto); c) ‘Os seres sucedem-se através das
vicissitudes’ (F. de Castro); d) ‘Através dos tempos, os vocabulários
sofrem modificações’ (Laudelino Freire)”.
16. Com supedâneo nessas premissas, extrai Edmundo Dantès Nascimento
a ilação de que “constitui vício usar através de regendo nome de pessoa
ou indicando meio”, como em “Conseguiu através do deputado”, ou
“Pagou através de cheque” (1982, p. 17-8).
17. Tal vício é bastante comum, e Vasco Botelho de Amaral observa
textualmente, no que toca ao emprego da expressão para iniciar
adjuntos adverbiais de meio ou de instrumento: “Esta mania do através
tenho-a notado em muita gente que fala e escreve difícil” (1943, p.
225).
18. Apenas para registro – já que se destina a observação à linguagem
coloquial, não merecendo extensão para o padrão culto, onde se há de
observar o posicionamento até agora explicitado – posta-se o
posicionamento mais liberal e até permissivo de Domingos Paschoal
Cegalla: “Está generalizado o emprego desta locução no sentido de por
meio de, por intermédio de. Por isso, não há senão legitimá-lo” (1999,
p. 43).
19. Análise gramatical das leis civil e processual civil, por seu lado,
confirma o adequado uso de outras preposições – jamais do emprego
errôneo da locução prepositiva considerada neste verbete – para os
adjuntos adverbiais de meio ou de instrumento.
20. Assim, o art. 530 do Código Civil de 1916 registra que se adquire a
propriedade imóvel pela transcrição, pela acessão, pelo usucapião e
pelo direito hereditário.
21. De igual modo, o art. 221 do Código de Processo Civil discrimina que
a citação se fará pelo correio, pelo oficial de justiça ou por edital.
22. Uma análise de outros dispositivos da lei processual confirma o
emprego reiterado da preposição por: arts. 222, 223, 231, 232 e 233 do
Código de Processo Civil, dentre outros (citação pelo correio, citação
por edital).
23. Também se utiliza a expressão por meio de, como no art. 224 (citação
por meio de oficial de justiça).
24. Já o art. 404 emprega a preposição com e fala em provar com
testemunhas.
25. E o art. 664 usa a preposição mediante, ao dizer: “Considerar-se-á feita
a penhora mediante a apreensão e o depósito dos bens…”
26. Acresça-se que através de não serve para indicar o agente da passiva.
Exs.: “O gol foi feito pelo atacante” (correto); b) “O gol foi feito
através do atacante” (errado).
27. Em apreciação de excertos de arrazoados jurídicos e textos forenses,
Geraldo Amaral Arruda colecionou uma série de exemplos de emprego
equivocado da expressão para introduzir agente da passiva ou adjunto
adverbial de meio ou de instrumento: através de escritura pública,
materialidade presente através dos autos, através de seu procurador,
através da avença, foi provado através do atestado, furto através de
arrombamento, aquisição de domínio através de usucapião, sentença
reformada através de apelação.
28. Tais expressões, em verdade, deveriam ser corrigidas do seguinte
modo: por escritura pública, materialidade presente nos autos, por seu
procurador, pela avença, foi provado pelo atestado, furto com
arrombamento, aquisição de domínio por usucapião, sentença
reformada em apelação (ARRUDA, 1997, p. 14-5).
29. Erro dessa natureza também se encontra na Resolução 18/2007, do
Conselho Nacional do Ministério Público, a qual, ao regulamentar o
art. 9º da Lei Complementar 75/93 e o art. 80 da Lei 8.625/93,
disciplinando, no âmbito do Ministério Público, o controle externo da
atividade policial, determinou, em seu art. 3º, b, que tal controle
externo será exercido, “em sede de controle concentrado, através de
membros com atribuições específicas…”. Corrija-se, apenas no que
concerne a tal aspecto: “por meio de membros…”, ou “por intermédio
de membros…”, ou, ainda, “por via de membros”, ou, ainda,
similarmente ao que consta na alínea imediatamente anterior: “por
membros…”

Atribuir
1. Quanto à ortografia, como todo verbo terminado em uir, só pode dar
origem à terminação ui na segunda e terceira pessoas do singular do
presente do indicativo: atribuo, atribuis, atribui.
2. Diferentemente dos verbos terminados em uar (como continuar), são
errôneas as grafias com e em tais situações: atribues, atribue.
3. Nas palavras de Cândido de Oliveira, atento aos frequentes equívocos
cometidos nesse campo, “é com i a segunda e terceira pessoas do
singular do presente do indicativo dos verbos terminados em uir: aflui,
fruis, retribui, retribuis, contribui, contribuis, influi, influis” (1961, p.
64).

Atualizar monetariamente
Ver Advérbios em “mente” (P. 85).

Audiência a realizar(-se) – Está correto?


Ver A fazer – Está correto? (P. 91)
Auferimento – Existe?
1. Quando se quer saber se uma palavra existe ou não em português, deve-
se tomar por premissa o fato de que a autoridade para listar oficialmente
os vocábulos do nosso idioma é a Academia Brasileira de Letras.
2. E essa autoridade, a ABL a exerce por via da edição do Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa.
3. Ora, uma simples consulta ao VOLP mostra que, a par do verbo auferir,
não se registra nenhum substantivo correspondente: nem auferimento,
nem auferição ou algo similar. Tais substantivos, por conseguinte, não
existem em nosso léxico.
4. Em tais circunstâncias, se se quer usar um substantivo com esse
significado, a solução é buscar um verbo sinônimo de auferir, que tenha
um substantivo correspondente.
5. E, assim, partindo do princípio de que auferir normalmente tem o sentido
de colher, ganhar ou obter, tem-se, por consequência, que os
substantivos correspondentes podem ser colheita, ganho ou obtenção. A
alternativa é escolher, nesse rol, o vocábulo que mais se amolda à
acepção pretendida pelo contexto.
6. E não se pode olvidar a possibilidade que sempre existe de
substantivação dos infinitivos: o colher, o ganhar, o obter e, portanto, o
auferir.

Auferir
1. Quanto à conjugação verbal, aparece um i na primeira pessoa do
presente do indicativo e nos tempos dela derivados: aufiro, auferes,
aufere, auferimos, auferis, auferem (presente do indicativo); aufira,
aufiras, aufira, aufiramos, aufirais, aufiram (presente do subjuntivo);
aufere, aufira, aufiramos, auferi, aufiram (imperativo afirmativo); não
aufiras, não aufira, não aufiramos, não aufirais, não aufiram
(imperativo negativo).
2. Não apresenta problemas ou irregularidades nos demais tempos e
modos: auferia (imperfeito do indicativo), auferirei (futuro do presente),
auferiria (futuro do pretérito), auferi (pretérito perfeito), auferira
(pretérito mais-que-perfeito do indicativo), auferir (futuro do
subjuntivo), auferisse (imperfeito do subjuntivo), auferindo (gerúndio),
auferido (particípio).
3. Para sintetizar os problemas de sua flexão, assim anotam José de Nicola
e Ernani Terra, “o e do radical muda para i na primeira pessoa do
singular do presente do indicativo e nas formas daí derivadas” (2000, p.
20).

A uma … a duas – É correto?


1. Um leitor indaga se as expressões a uma e a duas são corretas em frases
como a seguinte: “Essa é a única interpretação do art. 65 da Lei
8.884/94. A uma, porque a conjunção ‘assim como’ não encerra
natureza disjuntiva, mas conjuntiva. A duas, porque é princípio basilar
na hermenêutica que a norma não possui expressões inúteis…”.
2. Ora, em realidade, há algumas estruturas – e corretas – que são
encontradas quase que com exclusividade nos textos jurídicos e forenses.
3. Essa, trazida pelo leitor, é uma delas, empregada para listar, em
sequência, as justificativas de uma afirmação que se faz em um
determinado contexto, seguindo invariavelmente este raciocínio: a) de
início, faz-se uma afirmação geral (no caso da consulta, “Essa é a única
interpretação do art. 65 da Lei 8.884/94”); b) tal afirmação geral pode
vir seca ou seguida de circunlóquios, como “por diversos motivos” ou
“por diversas razões”; c) em seguida, precedendo uma primeira
justificativa, lança-se a expressão a uma; d) e se enfileiram as demais
razões, introduzidas pelas expressões a duas, a três…
4. Com a observação específica de que a frase trazida pelo leitor é correta,
veja-se também uma variação, exemplo de tantas outras, todas elas, de
igual modo, estruturadas em português escorreito: “Essa é a única
interpretação do art. 65 da Lei 8.884/94, e isso por razões específicas. A
uma, porque a conjunção ‘assim como’ não encerra natureza disjuntiva,
mas conjuntiva. A duas, porque é princípio basilar na hermenêutica que
a norma não possui expressões inúteis…”.

À unanimidade ou Por unanimidade?


1. Uma leitora indaga qual a forma correta da expressão: à unanimidade ou
por unanimidade.
2. De modo bem simples, a observação do que acontece nos casos em que a
decisão se dá pelo oposto da unanimidade mostra o que se deve ter por
correto no caso da dúvida da leitora: diz-se aprovado por maioria, e não
à maioria.
3. Assim, do mesmo modo, o correto é dizer por unanimidade, e não à
unanimidade. Exs.: a) “Por unanimidade, negaram provimento ao
recurso” (correto); b) “À unanimidade, negaram provimento ao recurso”
(errado).
4. Nas codificações mais conhecidas do direito pátrio, apenas foi
encontrado um exemplo no Código de Processo Civil de 1973: “A
petição inicial será elaborada com observância dos requisitos essenciais
do art. 282, devendo o autor: … II – depositar a importância de 5%
(cinco por cento) sobre o valor da causa, a título de multa, caso a ação
seja, por unanimidade de votos, declarada inadmissível, ou
improcedente” (art. 488).
5. No mesmo sentido da tese aqui esposada, foram encontrados quatro
exemplos no Código Civil português de 1966: a) “Enquanto não se
ultimarem as partilhas, podem os sócios retomar o exercício da
actividade social, desde que o resolvam por unanimidade” (art. 1.019º,
1); b) “A convocatória deve indicar o dia, hora, local e ordem de
trabalhos da reunião e informar sobre os assuntos cujas deliberações só
podem ser aprovadas por unanimidade dos votos” (art. 1.432, 2); c) “As
deliberações que careçam de ser aprovadas por unanimidade dos votos
podem ser aprovadas por unanimidade dos condóminos presentes desde
que estes representem, pelo menos, dois terços do capital investido, sob
condição de aprovação da deliberação pelos condóminos ausentes, nos
termos dos números seguintes” (1.432, 5).

Autenticar ou Autentificar?
1. Autenticar significa, em termos jurídicos, comprovar legalmente a
veracidade de alguma coisa ou de algum documento, conferindo-lhes o
valor de original. Ex.: “De posse dos documentos originais, o tabelião
autenticou as fotocópias”.
2. Embora possa parecer esdrúxulapara alguns, o Vocabulário Ortográfico
da Língua Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de Letras, órgão
que detém a delegação oficial para listar os vocábulos existentes em
nosso idioma, em sua recente edição de 2009, registra a palavra
autentificar (ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, p. 86).
3. De igual modo, a referida obra, em mesmo local, registra como
existentes e intercambiáveis os vocábulos autenticação e autentificação.
Ver Protocolar – Existe? (P. 627)

Auto – Com hífen ou Sem hífen?


1. Auto é prefixo grego, que tem normalmente o sentido de por si próprio
ou de si mesmo: autocrítica, autofalência, autogestão.
2. Pelas regras determinadas pelo Acordo Ortográfico de 2008, apenas se
emprega o hífen, com esse prefixo, em duas hipóteses: a) quando o
elemento seguinte se inicia por h (auto-hemoterapia, auto-hipnose); b)
quando o elemento seguinte se inicia pela mesma letra que termina o
prefixo (auto-observação, auto-organizar-se).
3. Antes de outra consoante, que não seja h, acopla-se diretamente à
palavra seguinte, sem hífen: autobiografia, autocolonização,
autodeterminação, autogoverno, autolesão, automedicação,
autonomear-se, autopiedade, autotutela.
4. De igual modo, junta-se sem hífen, quando o elemento seguinte se inicia
por outra vogal, que não a mesma que finaliza o prefixo: autoacusação,
autoagressão, autoelogio, autoestima, autoimunizar, autointoxicação.
5. Para a hipótese de ser o segundo elemento iniciado por r ou s, dobram-se
tais consoantes para continuidade do som originário: autorrealização,
autorregulamentação, autossuficiência, autossugestão.
6. Acresce dizer que, como substantivo, auto tem, no singular, acepção
específica na linguagem forense e “indica todo termo ou toda narração
circunstanciada de qualquer diligência judicial ou administrativa, escrita
por tabelião ou escrivão, e por estes autenticada” (DE PLÁCIDO E
SILVA, 1989, p. 247); auto de corpo de delito, auto de infração, auto de
partilha, auto de penhora.
7. Nessa acepção, não confundir com autos, no plural, que tem o sentido de
conjunto ordenado de peças de um processo, de materialização dos
documentos em que se corporificam os atos do procedimento.

Autópsia ou Necrópsia?
1. Em termos de análise de seus elementos integrantes, autópsia (ou
autopsia) vem do grego: auto (por si mesmo ou pessoalmente – no caso,
não quer significar de si mesmo) + psia (ação de ver ou examinar).
Significa, em suma, analisar por si mesmo ou analisar pessoalmente. E
aqui já se verifica que não quer dizer examinar a si próprio.
2. Necrópsia (ou necropsia) também vem do grego: necro (morte, morto ou
cadáver) + psia (ação de ver ou examinar).
3. Para Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 46), autópsia é um “termo
usado impropriamente em Medicina Legal, em vez de necropsia, que é a
perícia feita em cadáver para apurar a causa do óbito (causa mortis)”.
4. Por outro lado, leciona Eliasar Rosa que necropsia é “neologismo criado
para substituir autópsia, que, entretanto, não vingou” (1993, p. 98).
5. Quanto à prosódia da primeira das palavras mencionadas – ou seja, no
que tange à correta pronúncia e localização da sílaba tônica no vocábulo
– veja-se que o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, em sua
edição de 2004, registrava autópsia, mas não autopsia (p. 87). Já em sua
edição de 2009, registra tanto autópsia como autopsia (p. 93), de modo
que ambas as formas são atualmente corretas.
6. Quanto ao segundo dos termos, o VOLP de 2004 registrava apenas
necropsia, mas não necrópsia (ACADEMIA BRASILEIRA DE
LETRAS, p. 549). De igual modo, em sua edição de 2009, há o registro
de ambas as formas – necropsia e necrópsia (ACADEMIA
BRASILEIRA DE LETRAS, p. 577) – e, assim, ambas as formas estão
igualmente autorizadas.
7. Sempre é bom lembrar que, ao editar o Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa, a Academia Brasileira de Letras age por delegação
legal, de modo que sua palavra é a própria lei, no que concerne aos
aspectos de sua incumbência.
8. Por outro lado, embora necrópsia (ou necropsia) tenha conteúdo
etimológico mais preciso, nada impede em nosso idioma o emprego de
autópsia (ou autopsia). Os vocábulos coexistem no idioma e se prestam a
expressar o mesmo significado e a mesma realidade.

Autorizar
1. No que tange à regência verbal, lembra Geraldo Arruda que esse verbo
pede objeto direto de pessoa e objeto indireto de coisa, razão por que
sintetiza: “O sujeito da ação autoriza alguém a algo, ou para algo” (1997,
p. 54). Ex.: “O juiz autorizou o réu a sair da audiência”.
2. Francisco Fernandes (1971, p. 112) repete tais caminhos de sintaxe e
acrescenta a possibilidade de seu emprego pronominal seguido pela
preposição com, no sentido de justificar-se, abonar-se, sempre devendo
ser lembrada a circunstância de que o objeto direto da voz ativa pode ser
empregado como sujeito da voz passiva. Exs.: a) “Uma palavra que a
autorizasse a caluniar-me” (Camilo Castelo Branco); b) “Autorizei o
soldado para sair da trincheira” (Stringari); c) “Herculano autoriza-se
com a Crônica dos Cônegos Regrantes” (Camilo Castelo Branco); d)
“Emendou o meu substitutivo, autorizando-se com o Código Civil
português, art. 1.588” (Rui Barbosa).
3. De modo bem didático, alinha Domingos Paschoal Cegalla algumas
construções corretas: a) “Ele autorizou a viagem do filho”; b) “Ele
autorizou o filho a viajar”; c) “Ele autorizou o filho a que viajasse”; d)
“Ele o autorizou a viajar”; e) “Ele o autorizou a que viajasse”.
4. Em continuação, aponta o mesmo autor algumas construções incorretas:
a) “Ele autorizou-lhe a viajar”; b) “Ele autorizou a que o filho viajasse”
(CEGALLA, 1999, p. 46).
5. Em realidade, o erro do primeiro de tais exemplos reside no fato de que
foram empregados dois objetos indiretos (lhe e a viajar), em
contrariedade à regra geral de que, normalmente, não há dois objetos
indiretos para um mesmo verbo; já o equívoco do segundo exemplo está
no fato de que, sendo o correto “Ele autorizou o filho a que viajasse”,
vê-se com facilidade que, no exemplo errôneo, o filho deixou de ser o
objeto direto de autorizou e passou a ser o sujeito de viajasse,
desfazendo, de modo indevido, a construção de complementos
preconizada pelos gramáticos para o verbo autorizar.
Autor ou autor? Réu ou réu?
1. Quando se busca saber se expressões como autor e réu, em autos de
processo, devem ser escritas com inicial maiúscula ou não, deve-se
dizer, em resposta, que uma leitura atenta do Formulário Ortográfico –
um conjunto de instruções para a organização do Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, aprovadas unanimemente pela
Academia Brasileira de Letras na sessão de 12/8/43 – evidencia que ele
não traz regras específicas para o mencionado assunto.
2. Duas diretrizes sobre o emprego de maiúsculas, porém, podem ser
fixadas: a) Cada língua tem seu sistema de uso das maiúsculas iniciais
das palavras: no alemão, por exemplo, todo substantivo se escreve com
inicial maiúscula, o que não se dá no português; b) Em nosso idioma, o
Acordo Ortográfico de 2008 trouxe algumas regras para emprego de
maiúsculas ou minúsculas, mas nelas não há elementos que solucionem a
questão da consulta.
3. E, ante o que se acaba de dizer, conclui-se, por primeiro, que não há
obrigatoriedade de escrita com maiúsculas para os referidos vocábulos.
4. Luciano Correia da Silva, porém, assim aconselha: “é de boa ética tratar
as partes, no processo, escrevendo-se-lhes os nomes com inicial
maiúscula: o Requerente, o Exequente, o Executado, o Executado, o
Autor, o Réu, etc. (1991, p. 206)”
5. Em verdade, quando se escrevem tais nomes com inicial maiúscula, não
deixa de haver demonstração de um respeito adicional e uma
cordialidade para com a parte adversária.
6. Deve-se atentar, contudo, para não haver abuso de tal expediente, sob
pena de se tornar esse emprego corriqueiro e sem brilho, incapaz, assim,
de conferir a proeminência e o relevo pretendidos.
7. Por fim, acresce dizer que o Código de Processo Civil adota a regra de
iniciais minúsculas para os integrantes do processo, partícipes ou nele
envolvidos de alguma forma: juiz (art. 2º), autor (art. 4º), curador
especial (art. 9º), réu (art. 13), advogado (art. 15), opoente (art. 57),
oposto (art. 58), nomeado (art. 65), nomeante (art. 66), denunciado (art.
71), denunciante (art. 72), chamado (art. 78), recorrente, litisconsorte e
recorrido (art. 501)
8. Quanto às instituições, todavia, a lei as traz com iniciais maiúsculas,
como se pode ver em diversos dispositivos da Constituição Federal:
Assembleia Nacional Constituinte (preâmbulo), República Federativa do
Brasil, Estado, Município e Distrito Federal (art. 1º), Congresso
Nacional (art. 5º, LXX, “a”), União (art. 21), Defensoria Pública (art.
21, XIII), Distrito Federal (art. 21, XIV), Assembleia Legislativa (art.
27), Câmara Municipal (art. 28, XI), Supremo Tribunal Federal (art. 36,
XII), Poder Legislativo (art. 44), Poder Judiciário (art. 68), Câmara dos
Deputados (art. 70, IV), Tribunal de Contas da União (art. 73).
Ver Réu (P. 672).

Autor ou Requerente?
1. Quando se quer saber qual a diferença de uso entre os vocábulos
Requerente e Autor, deve-se observar, de início, que, por um lado, se
presencia, na atualidade, um crescente avanço da ciência processual, a
qual, em aprimoramento da técnica de redação, leva ao abandono de uma
terminologia genérica e à busca de vocábulos que indiquem, de modo
específico para o caso da consulta, uma real e específica posição do
interessado no processo.
2. Por outro lado, e até mesmo em decorrência da ponderação anterior, os
tempos modernos exigem o abandono de uma tradição anacrônica e
nitidamente extemporânea, como a que pretende perpetuar termos como
Suplicante e Suplicado, resquícios de uma vassalagem, oriundos dos
tempos da Casa de Suplicação, que os séculos já esqueceram.
3. Ante essas duas premissas, inegável é concluir desde logo que o
vocábulo Requerente é termo totalmente genérico e não guarda em si
elemento algum de técnica processual, que possa conferir-lhe sentido
específico ou posicionamento num determinado feito.
4. De modo mais claro, veja-se que, se Requerente é aquele que requer,
tanto o Autor como o Réu podem, numa específica petição, ser o
Requerente da providência a que visa o mencionado pedido. Vale dizer:
empregar Requerente numa petição não serve, de modo algum, para
clarear a situação, nem para indicar a efetiva posição processual da
pessoa referida.
5. Já Autor é aquele que promove uma ação judicial civil ou uma denúncia
penal; e Réu, em contraposição, “é aquele contra quem se promove ação
judicial (sentido civil) ou aquele contra quem se move denúncia por fato
criminoso (sentido penal)” (HENRIQUES, 1999, p. 175). São termos
genéricos e corretos para indicar os lados envolvidos em determinada
medida judicial.
6. Em outros dizeres: aquele que promove uma ação sempre pode ser
chamado de Autor; e aquele contra quem se ajuíza a demanda sempre
pode ser chamado de Réu, independentemente das especificidades. Não
importa, assim, que a ação seja de conhecimento, de execução ou
cautelar. Não importa, nem mesmo, se se trata de ação ou de contra-ação
(como autor de embargos à execução, ou autor de reconvenção). Trata-se
de terminologia genérica aceita sem problemas maiores.
7. Adicionalmente, é de se dizer que esse Autor pode ser especificado de
acordo com a modalidade da medida judicial manejada: em execução é o
Exequente; em ação desconstitutiva de título judicial ou extrajudicial é o
Embargante; em reconvenção é o Reconvinte; em mandado de segurança
é o Impetrante.
8. E aquele contra quem se manejam tais providências judiciais também
podem ser assim especificados: Executado, Embargado, Reconvindo,
Impetrado.
9. De modo específico para o caso da consulta, assim se resume: a)
Requerente é vocábulo que se deve evitar em petições judiciais, porque,
longe de se amoldar à técnica processual, constitui generalidade que
confunde (nada impede, por exemplo, que o próprio Réu de determinada
ação seja o requerente de alguma providência em certa petição); b) Autor
é termo técnico genérico, que pode ser usado para indicar todo aquele
que promove uma ação judicial civil (não importando sua
especificidade) ou uma denúncia penal; c) nada impede que haja o
emprego de termos mais específicos que se amoldem à medida judicial
manejada: Autor (para ações de conhecimento em geral), Exequente,
Embargante, Reconvinte, Impetrante.

Autos – Concordância no singular ou no plural?


1. Um leitor indaga se, com a palavra autos, a concordância de outros
vocábulos que a ela se referem deve ser feita no singular ou no plural.
Assim: “Analisando os autos, nele (ou neles) verifiquei…” A essa
dúvida do leitor, podem-se adicionar outras, como “Os autos foi
arquivado” ou “Os autos foram arquivados”?
2. Autos são o conjunto ordenado das peças de um processo, a
materialização dos documentos em que se corporificam os atos do
procedimento. Ex.: “O que não está nos autos não está no mundo”.
3. É errôneo o uso de processo para significar tal conjunto ordenado de
peças, já que processo, em realidade, configura instituto complexo,
formado assim pela relação jurídica processual que se estabelece entre as
partes e o Estado-juiz, como pelos atos por eles praticados na forma,
sequência e prazos determinados na lei.
4. Trata-se de palavra só usada no plural, devendo-se, assim, atentar à
concordância verbal, quando desempenhar a função de sujeito, caso em
que levará o verbo para o plural. Ex.: “Os autos foram retirados de
cartório pelo advogado”.
5. Também importante é atentar à concordância, quando se empregar um
verbo seguido de se como partícula apassivadora: “Retiraram-se os
autos”, e não “Retirou-se os autos”.
6. Não confundir com auto, no singular, que, em acepção mais estrita na
linguagem forense, indica todo termo ou toda narração circunstanciada
de qualquer diligência judicial ou administrativa, escrita por tabelião ou
escrivão, e por estes autenticada, como auto de corpo de delito, auto de
infração, auto de partilha, auto de penhora.
7. Assim, de modo específico para os exemplos da consulta que motivou
estas explicações: a) “Analisando os autos, nele verifiquei…” (errado);
b) “Analisando os autos, neles verifiquei…” (correto); c) “Os autos foi
arquivado” (errado); d) “Os autos foram arquivados” (correto).
Ver Voz passiva – Quando é possível? (P. 793), Voz passiva sintética (P.
794) e Vozes verbais (P. 791).

Autos foi (ou foram) encaminhado(s)?


1. Um leitor busca saber qual das duas expressões é correta: a) “Os autos
do processo foi encaminhado ao tribunal”; b) “Os autos do processo
foram encaminhados ao tribunal”.
2. Autos são o conjunto ordenado das peças de um processo, a
materialização dos documentos em que se corporificam os atos do
procedimento. Ex.: “O que não está nos autos não está no mundo”.
3. É errôneo o uso de processo para significar tal conjunto ordenado de
peças, já que processo, em realidade, configura instituto complexo,
formado assim pela relação jurídica processual que se estabelece entre as
partes e o Estado-juiz, como pelos atos por eles praticados na forma,
sequência e prazos determinados na lei.
4. Trata-se de palavra só usada no plural, devendo-se, assim, atentar à
concordância verbal, quando desempenhar a função de sujeito, caso em
que levará o verbo para o plural. Ex.: “Os autos foram retirados de
cartório pelo advogado”.
5. Também importante é atentar à concordância, quando se empregar um
verbo seguido de se como partícula apassivadora: “Retiraram-se os
autos”, e não “Retirou-se os autos”.
6. Não confundir com auto, no singular, que, em acepção mais estrita na
linguagem forense, indica todo termo ou toda narração circunstanciada
de qualquer diligência judicial ou administrativa, escrita por tabelião ou
escrivão, e por estes autenticada, como auto de corpo de delito, auto de
infração, auto de partilha, auto de penhora.
7. Assim, de modo específico para os exemplos da consulta que motivou
essas explicações: a) “Os autos do processo foi encaminhado ao
tribunal” (errado); b) “Os autos do processo foram encaminhados ao
tribunal” (correto).
Ver Voz passiva – Quando é possível? (P. 793), Voz passiva sintética (P.
794) e Vozes verbais (P. 791).

Aval
1. Dado como vocábulo originário do francês valoir (valer, ter mérito),
restringe-se seu emprego à terminologia do Direito Cambiário, para
significar “a garantia que é dada por terceiro, estranho ao título (letra de
câmbio, nota promissória, duplicata, cheque), pela qual se prende à
obrigação cambial, isto é, fica vinculado solidariamente ao título
avalizado, pelo compromisso que assume de pagar a importância que
nele se contém, quando não a pague o devedor, que é por ele garantido”
(CEGALLA, 1999, p. 257).
2. Embora muitos façam grande confusão, não há sinonímia nem
equivalência entre aval e fiança, no mínimo pelas seguintes razões: a) o
aval é próprio do Direito Cambiário, constituindo garantia prestada por
terceiros em títulos cambiais (letra de câmbio, nota promissória,
duplicata, cheque), enquanto a fiança é um contrato acessório de
garantia, também prestada por terceiros, mas própria do Direito Civil,
pela qual “uma pessoa se obriga por outra, para com o seu credor, a
satisfazer a obrigação, caso o devedor não a cumpra” (CC/1916, art.
1.481); b) o aval só pode ser dado no próprio título cambiário, sob pena
de deixar de ser obrigação cambiária para o avalista, enquanto a fiança
pode ser dada em outro documento qualquer, que não aquele em que
haja a constituição da dívida garantida, apenas não se podendo olvidar
que imprescindível seja ela prestada “por escrito” (CC/1916, art. 1.483),
sob pena de invalidade; c) o garantidor casado pode prestar aval sem a
presença do cônjuge, mas não a fiança, que exige a anuência conjugal,
qualquer que seja o regime de bens (CC/1916, 235, III).
3. Também não se deve confundir aval com endosso, já que aquele é
sempre uma garantia, enquanto este “designa o ato pelo qual a pessoa,
proprietária de um título de crédito, o passa para outrem, conferindo-lhe
os direitos que lhe competiam” (DE PLÁCIDO E SILVA, 1989, p. 247).
4. No que concerne à forma de tal vocábulo, Carlos Góis e Herbert Palhano
(1963, p. 56), sem registrar o plural avais, dão-lhe avales por plural.
5. Luiz Antônio Sacconi, por seu lado, registra-lhe ambos os plurais avais e
avales – apenas observando que “avais corre no Brasil; avales em
Portugal” (1979, p. 34).
6. Espancando, contudo, toda e qualquer dúvida, o Vocabulário Ortográfico
da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras (2009, p. 93),
que é o veículo oficial indicador das palavras existentes em nosso
idioma, registra ambos os plurais – avais e avales – razão pela qual
ambos estão oficialmente autorizados, até por força do velho princípio
de que essa é a determinação legal.

Avançar!
1. Nessa expressão, o infinitivo está sendo usado em lugar do imperativo e
com o sentido de avancem!
2. É correto seu emprego, podendo-se apontar outros exemplos corriqueiros
da mesma estrutura: a) “Apontar armas!”; b) “Passar bem!”; c) “Nem
pensar nisso!”

A vários meses ou Há vários meses?


1. Profunda distinção se deve fazer entre ambas as palavras – a e há –, que
têm natureza e significado diversos.
2. Há é forma do verbo haver e, para o que aqui interessa, indica tempo
passado. Ex.: “Há vários meses os autos estão conclusos para
sentença”.
3. A é preposição e, para o que concerne a estes comentários, serve para as
expressões indicativas de tempo futuro. Ex.: “Daqui a dois dias, a
sentença deverá ser publicada”.
4. Observe-se que não se usa o verbo haver (nem há, por conseguinte), se o
verbo é futuro, motivo por que equivocada é a construção: “O advogado
chegará daqui há duas horas”.
5. A distinção que ora se faz não é supérflua, tanto assim que Josué
Machado, atento aos cochilos da imprensa, flagrou, publicada num
jornal de São Paulo, a expressão “daqui há algum tempo” (1994, p. 10).
6. A par das observações feitas, deve-se atentar, todavia, para que não se
confundam as seguintes frases, ambas corretas, mas com significados
estanques: a) “O advogado chegou a tempo para a audiência” (isto é,
em tempo, com tempo); b) “O advogado chegou há tempo para a
audiência” (vale dizer, faz tempo).
Ver Consecução dos tempos verbais (P. 219) e Há ou Havia? (P. 385)

Avaro ou Ávaro?
1. Quanto à prosódia, quando significa avarento, trata-se de vocábulo
paroxítono (BECHARA, 1974, p. 58).
2. Avaro, deve-se, assim, pronunciar com mais força a penúltima sílaba
(va), de modo que rima com raro e com preparo.
3. Não confundir com ávaro (proparoxítona e graficamente acentuada), que
tem por variante ábaro, como bem registra o Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, órgão incumbido
oficialmente de determinar a existência dos vocábulos em nosso idioma,
além de sua grafia oficial (2009, p. 93), nome esse de um povo de
origem uralo-altaica, que assolou a Europa durante três séculos e foi
destruído por Carlos Magno no século VIII.

Avenida Paulista ou avenida Paulista?


Ver Rua Caiubi ou rua Caiubi? (P. 675)

Averiguar – Pronúncia e Conjugação


1. Nesse verbo, o u é sempre pronunciado, esteja ele em sílaba forte ou
não.
2. Para Otelo Reis (1971, p. 56-7), essa sílaba tônica jamais seria a terceira
(ri), de modo que errôneo seria pronunciar averíguo, para rimar com
ambíguo. Esse posicionamento, todavia, como se verá mais adiante,
encontra-se superado pelas determinações advindas do Acordo
Ortográfico de 2008.
3. Podem-se sintetizar os problemas desse verbo do seguinte modo: a) o u é
sempre pronunciado, quer quando tônico (averigue [ú]), quer quando
átono (averiguemos); b) não mais se usa o trema, porquanto foi
integralmente abolido das palavras de nosso idioma pelo Acordo
Ortográfico de 2008; c) também porque abolido pelo novo acordo, não
mais se emprega o acento agudo nas formas rizotônicas seguidas de e
(averigue, averigues e averiguem, e não mais averigúe, averigúes e
averigúem).
4. Como as formas problemáticas (rizotônicas) se encontram no presente
do indicativo e tempos derivados, segue a respectiva relação, com o
cuidado de sublinhar a vogal tônica de cada forma para a facilitação da
leitura: averiguo, averiguas, averigua, averiguamos, averiguais,
averiguam (presente do indicativo); averigue, averigues, averigue,
averiguemos, averigueis, averiguem (presente do subjuntivo); averigua,
averigue, averiguemos, averiguai, averiguem (imperativo afirmativo);
não averigues, não averigue, não averiguemos, não averigueis, não
averiguem (imperativo negativo).
5. A alternância entre u fraco e forte apenas ocorre nos tempos referidos no
item anterior; nos demais, o u é sempre fraco: averiguava (imperfeito do
indicativo), averiguarei (futuro do presente), averiguaria (futuro do
pretérito), averiguei (pretérito perfeito do indicativo), averiguara (mais-
que-perfeito do indicativo), averiguar (futuro do subjuntivo),
averiguasse (imperfeito do subjuntivo), averiguando (gerúndio),
averiguado (particípio).
6. Interessante é anotar que, quase um século atrás, Silveira Bueno, além da
maneira normalmente então ensinada, também aceitava a seguinte
conjugação do presente do indicativo: averíguo, averíguas, averígua…
(1938, p. 56).
7. Pois bem: tal posicionamento solitário quanto à flexão do mencionado
verbo foi expressamente acolhido pelo Acordo Ortográfico de 2008
(ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, 2009, p. XXIV), quando
determinou que “os verbos do tipo de aguar, apaniguar, apaziguar,
apropinquar, averiguar, desaguar, enxaguar, obliquar, delinquir e afins,
por oferecerem dois paradigmas, ou têm as formas rizotônicas
igualmente acentuadas no u mas sem marca gráfica (a exemplo de
averiguo, averiguas, averigua, averiguam; averigue, averigues,
averigue, averiguem; enxaguo, enxaguas, enxagua, enxaguam; enxague,
enxagues, enxague, enxaguem, etc.; delinquo, delinquis, delinqui,
delinquem; mas delinquimos, delinquis) ou têm as formas
rizotónicas/rizotônicas acentuadas fónica/fônica e graficamente nas
vogais a ou i radicais (a exemplo de averíguo, averíguas, averígua,
averíguam; averígue, averígues, averígue, averíguem; enxáguo,
enxáguas, enxágua, enxáguam; enxágue, enxágues, enxágue, enxáguem;
delínquo, delínques, delínque, delínquem; delínqua, delínquas, delínqua,
delínquam)”.
8. O verbo averiguar serve de modelo para apaniguar e apaziguar.

A ver ou Haver?
Ver Nada a ver ou Nada haver? (P. 483)
Avisar
1. Peculiar é sua construção, no que tange à regência verbal.
2. Tanto a coisa quanto a pessoa podem ser, indiferentemente, objeto direto
ou objeto indireto.
3. O que não pode ocorrer, entretanto, é a existência simultânea, em mesma
frase, de dois objetos diretos ou de dois objetos indiretos.
4. Por isso, são corretas as duas construções seguintes: a) “Avisaram ao
Corregedor o fato ocorrido”; b) “Avisaram o Corregedor do (ou sobre
o) fato ocorrido”.
5. Não são, todavia, corretas as seguintes estruturas: a) “Avisaram ao
Corregedor do fato ocorrido”; b) “Avisaram o Corregedor o fato
ocorrido”.
6. Tais frases são errôneas, porquanto a primeira tem dois objetos indiretos,
e a segunda, dois objetos diretos.
7. Para sintetizar, na lição de Antonio Henriques e Maria Margarida de
Andrade (1999, p. 89), tal como se dá com todos os verbos de sentido
afim de informar, há aqui dupla construção possível: a) avisar alguém de
alguma coisa; b) avisar alguma coisa a alguém.
8. É certo que Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 47) objeta que a
construção avisar a alguém alguma coisa, como em “Avisou aos pais
que ia pescar”, ou “Aviso-lhe que tome cuidado”, constitui sintaxe que
“não tem compromisso com a boa norma sintática” e apenas é admitida
“na linguagem despreocupada, informal”.
9. Tal, entretanto, não é o posicionamento de Celso Pedro Luft, que lança
as seguintes observações: a) “a construção originária é avisar alguém
(avisá-lo) de algo”; b) já a construção avisar algo a alguém (avisar-lhe
algo) “deve-se à semântica de dizer ou comunicar e já tem boa tradição
na língua”; c) “pesquisa de Lessa mostra a preferência dos modernistas
pela construção originária”; d) “ainda ocorre avisá-lo contra… e avisá-lo
sobre…, por interferência dos traços semânticos de cautela e assunto,
respectivamente” (1999, p. 90).
10. E Francisco Fernandes, abonando-se com exemplos de autores
insuspeitos, acrescenta que “a sintaxe mais usada é avisar alguém de
alguma coisa; todavia há exemplos autorizados de avisar alguma coisa
a alguém”. Exs.: a) “Não fazia senão avisar ao reino e ao rei que se
prevenissem” (Padre Antônio Vieira); b) “Avisei-lhe o sobredito meio”
(Stringari); c) “Já avisei a V. Sa. que a Mitra de Évora caiu sobre D.
Domingos de Gusmão” (Sousa Lima).
11. Também seguem a mesma construção os verbos aconselhar, certificar,
informar, notificar, prevenir.

Avo
1. Para significar “fração de unidade”, avo é nada mais nada menos do que
um substantivo fictício tirado da terminação de oitavo. Ex.: “A cada qual
dos herdeiros tocou um doze avo da fazenda”.
2. Eduardo Carlos Pereira (1924, p. 88) realça essa natureza de
“substantivo fictício da terminação de oitavo”, lembrando que, em
castelhano, assume ele o caráter de sufixo, como em centavo e onceavo.
3. Só se usa com denominadores acima de 10 e que não sejam potência de
10: 21 trinta avos, 80 noventa e nove avos; porém oitenta décimos, cem
milésimos, um sétimo, um nono (e não um sete avo nem um nove avo).
4. Na conformidade com lição de João Ribeiro, “na ciência matemática
adotou-se na leitura das frações o sufixo avos, do termo oitavo, para
designar o divisor de 11 para cima: quinze avos” (1923, p. 22 e 137).
5. Para Otoniel Mota, essa terminação “se generalizou por se acreditar que
havia aí duas palavras: oito + avos” (1916, p. 38).
6. Apesar, entretanto, de se dizer um oitavo (e não um oitavos), autores há,
como o dicionarista Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (s/d, p. 167) e
os gramáticos Cândido Jucá Filho (1963, p. 87) e Gladstone Chaves de
Melo (1970, p. 127), que, mesmo quando o numerador é um, aceitam
pluralizar o denominador. Ex.: “A cada qual dos herdeiros tocou um
doze avos da fazenda”.
7. Em mesmo posicionamento, Eduardo Carlos Pereira (1924, p. 312)
exemplifica com denominador plural, mesmo tendo apenas uma unidade
no numerador: um onze avos.
8. Por outro lado, lembrando que “a concordância com as frações
ordinárias se faz com o numerador”, observa Edmundo Dantès
Nascimento (1982, p. 8 e 64) que se diz um oitavo, um doze avo e dois
doze avos.
9. Também lembrando lição de Edmundo Dantès Nascimento no sentido de
que necessária a concordância com o numerador em tais casos, assevera
Antonio Henriques (1999, p. 124) que “haveria um erro no art. 1º, § 1º,
da Lei 4.090, de 13 de julho de 1962”, que registra: “A gratificação
corresponderá a 1/12 avos da remuneração devida em dezembro por
mês de serviço, do ano correspondente”.
10. E o próprio Edmundo Dantès Nascimento observa que “o descuido no
uso desta palavra ocorre na concordância de número”, acentuando que,
“evidentemente, se dizemos um terço, um quarto… um décimo, temos
de dizer um doze avo, um quinze avo, um quarenta avo”.
11. Em sequência, buscando conceito de Caldas Aulete, recorda que o
numerador numa fração “é o número que indica as partes da unidade
que nela se contêm”, e o “denominador indica em quantas partes está
dividida a unidade”, e que “a concordância é feita sempre com o
numerador da fração. Ex.: um décimo, dois décimos; um vinte avo, dois
vinte avos”.
12. Por fim, buscando a origem do vocábulo, repete tal autor lição já
mencionada de que “a palavra avo parece ser simplesmente o sufixo do
ordinal que por analogia se foi aplicando a todos; assim se dizia três
oitavos e pareceu que se devia dizer: doze avos, dezesseis avos, etc.;
por fim o sufixo adquiriu o valor de parte. Vem ao apoio desta
explicação o fato de os sufixos dos outros cardinais que se empregam
para significar parte não aparecerem com clareza, assim em quarto,
quinto, sexto, sétimo, nono, décimo, não há sufixos que se prestem a
formações analógicas: o contrário se dá com o sufixo avo em oitavo”
(NASCIMENTO, 1982, p. 116).
13. Nos textos legais encontrados – como o já referido art. 1º, § 1º, da Lei
4.090, de 13/7/62 – não tem havido a fixação na ideia de que, no caso,
o numerador é um e que a normal flexão seria avo, de modo que se tem
empregado no plural (avos) mesmo quando o numerador é um, como
se vê no próprio Código Civil de 1916: “Presume-se que a referência às
dimensões foi simplesmente enunciativa, quando a diferença
encontrada não exceder de um vinte avos da extensão total enunciada”
(CC/1916, 1.136, parágrafo único).
14. E, tendo escapado tal aspecto da própria polêmica entre Rui Barbosa e
Ernesto Carneiro Ribeiro, além de não se poder olvidar o uso
generalizado em meio aos usuários da norma culta, não parece haver
possibilidade de condenação de emprego dessa estrutura, devendo-se
aplicar o vetusto princípio de que, se há fundada discussão entre os
gramáticos, deve-se permitir liberalidade quanto ao uso.
15. Por fim, de oportuna lembrança é que tal vocábulo, em flexão normal
de número, tem sido empregado como substantivo, para significar coisa
pequena, insignificância, bagatela, pequena porção, quantidade
diminuta. Exs.: a) “Tenho mais amor e aferro ao meu avo de soberania,
que me dá o direito de julgar do que à outra fraçãozinha, que me
puder caber na repartição trimilionesimal da majestade legislativa”
(Almeida Garrett); b) “Aqui se surpreendia a fazer o cálculo rancoroso
dos avos de responsabilidade” (Fialho de Almeida).

Azul-celeste
Ver Adjetivos compostos (P. 81).
B
Bacharela – Existe?
1. Em obra mais antiga, Silveira Bueno (1938, p. 94) entende que bacharel
é comum de dois, de modo que a mesma forma seria usada no masculino
e no feminino, apenas se alterando o artigo: o bacharel, a bacharel.
2. Também optando por considerá-lo comum de dois gêneros, Geraldo
Amaral Arruda (1997, p. 145-6) vê no feminino bacharela uma “solução
inferior”, uma forma “de evidente formação popular e de caráter
jocoso”, lembrando que Caldas Aulete lhe dá o significado de mulher
palradora ou sabichona.
3. Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 31), por seu lado, sem comentários
adicionais, insere-o entre os vocábulos que têm um feminino próprio:
bacharela.
4. Cândido Jucá Filho (1981, p. 46), de igual modo, esclarece que Mário
Barreto emprega o feminino bacharela.
5. Também Luís A. P. Vitória (1969, p. 39) confere-lhe o feminino
bacharela.
6. Cândido de Oliveira (s/d, p. 34) tem igual proceder.
7. Em outra obra, Cândido de Oliveira, após observar que, até há pouco, a
maioria de nomes dessa natureza era considerada comum de dois
gêneros, acrescenta textualmente que é “de lei, assim para o
funcionalismo federal como estadual, e de acordo com o bom-senso
gramatical, que nomes designativos de cargos e funções tenham flexão:
uma forma para o masculino, outra para o feminino”.
8. Por essas razões, em seu exemplário, ao masculino bacharel contrapõe
ele o feminino bacharela (OLIVEIRA, C., 1961, p. 133).
9. Duas décadas após a obra acima referida, Silveira Bueno, por um lado,
traz antigo ensinamento de J. Silva Correia, diretor da Faculdade de
Letras de Lisboa: “Nos últimos tempos têm surgido numerosas formas
femininas, que a língua de épocas não distantes desconhecia, – e que são
como que o reflexo filológico do progresso masculinístico da mulher, –
hoje com franco acesso a carreiras liberais, donde outrora era
sistematicamente excluída”.
10. Por outro lado, também aduz tal autor curiosa lição de Lebierre: “Os
gramáticos preceituam que os substantivos designativos de certas
profissões, a maior parte das vezes exercidas por homens, conservem a
forma masculina para a maioria de tais substantivos”.
11. Em seguida, conclui ele próprio, alterando posição que esposara vinte
anos antes: “Os gramáticos, que defenderam a conservação, no
masculino, dos nomes de cargos outrora exercidos por homens e já
agora também por senhoras, não tinham razão porque tais nomes são
meros adjetivos como escriturário, secretário, deputado, senador,
prefeito, podendo concordar com o sexo da pessoa que tal cargo exerce
e não com o gênero dos nomes de tais profissões”. E preconiza que se
diga bacharela, se tal posto é entregue a uma senhora (BUENO, 1957,
p. 382-3).
12. Domingos Pachoal Cegalla (1999, p. 49) aceita tanto a existência de
uma forma específica para o feminino (o bacharel e a bacharela) como
a permanência do substantivo como comum de dois gêneros (o
bacharel e a bacharel): “Aurélio dá o feminino bacharela, forma usada
por Ciro dos Anjos, em seu romance Abdias… Todavia, não nos parece
incorreto não flexionar em gênero o substantivo em foco e escrever: ‘A
bacharel em Direito Eunice Paiva é viúva?’ (Luís Fernando Furquim)”.
13. Dirimindo dúvidas acerca da possibilidade de emprego do feminino
bacharela, é de se anotar que se encontra ele registrado no Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras,
que é veículo oficial indicador das palavras existentes em nosso
idioma, estando autorizado, por conseguinte, seu normal emprego
(2009, p. 98). Anote-se, todavia, que apenas se registram as formas
bacharel para o masculino e bacharela para o feminino, de modo que
não está formal e oficialmente autorizada a forma a bacharel para o
feminino (como se fosse comum de dois gêneros).

Bacharelando – Existe?
1. Apesar da oposição de alguns no que concerne a sua existência e a
possibilidade de seu uso, esse vocábulo vem registrado no Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras,
que é o veículo oficial indicador das palavras existentes em nosso idioma
(2004, p. 98).
2. Está oficialmente autorizado, por conseguinte, seu normal emprego,
quando se quer designar aquele que vai bacharelar-se.
Ver Alimentando – Existe? (P. 105)

Bacharel em ou Bacharel de?


1. Uma leitora indaga se o certo é “bacharel em Direito” ou “bacharel de
Direito”?
2. Ora, quando se quer saber qual preposição um substantivo ou adjetivo
exigem para seus complementos, a questão se situa no campo da
regência nominal.
3. E, para um problema como esse, que se localiza na esfera da elaboração
das estruturas frasais (sintaxe), a resposta encontra-se no modo como os
nossos autores de reconhecido saber utilizaram o idioma.
4. Para não haver um trabalho exaustivo e sem resultados práticos em curto
prazo pelos interessados, os gramáticos e estudiosos do idioma já
escreveram obras específicas, nas quais fizeram verdadeiros
levantamentos de como foi tal emprego no correr dos tempos por parte
dos nossos mais abalizados escritores.
5. No que concerne ao vocábulo bacharel, tais estudiosos fazem importante
distinção: a) quando se quer dizer a área em que houve a graduação, diz-
se bacharel em (assim, bacharel em Filosofia (CEGALLA, 1999, p. 49),
bacharel em Direito (FERNANDES, 1969, p. 68)); b) quando se quer
indicar o lugar em que houve a graduação, diz-se bacharel por (assim,
bacharel pela Universidade de São Paulo (LUFT, 1999a, p. 80)); c) mas
não há registro, entre os modos aceitos pelos gramáticos e estudiosos do
assunto, da possibilidade de emprego da expressão bacharel de, para
indicar a área em que houve a graduação, de modo que se deve evitar tal
expressão.
6. Complemente-se com a observação de que nada impede que se juntem
os dois complementos e as duas estruturas aceitas pelos estudiosos:
bacharel em Direito pela Universidade de São Paulo.

Bahia
1. Nome de um estado brasileiro.
2. Muito embora o adjetivo seja baiano, e o substantivo comum seja baía,
permanece essa grafia estranha no substantivo próprio, que originou a
explicação indignada de Napoleão Mendes de Almeida: “O h é bastardo
à luz da ortografia de 43 e da de 45, e só um decreto de 1931 do estado
baiano e a pessoal injunção do chefe da delegação brasileira do sistema
de 45, natural desse estado, é que ainda nos impingem essa vileza
gráfica; tivesse ele nascido no Piauí, estaríamos até agora sujeitos a
‘Piauhy’…?” (1981, p. 37).
Para observar-lhe a ausência de acentuação gráfica, ver Hiato (P. 389).

Banir
Ver Abolir (P. 55).

Barato
1. É palavra que precisa ser observada quanto a concordância nominal.
2. Se modifica um verbo, tem valor de advérbio e é invariável. Exs.: a) “O
terno custou barato”; b) “A roupa custou barato”; c) “Os ternos
custaram barato”; d) “As roupas custaram barato”.
3. Se, porém, modifica um substantivo, tem valor de adjetivo e concorda
com a palavra modificada. Ex.: a) “Um terno barato sai com mais
facilidade da prateleira”; b) “Uma roupa barata sai com mais facilidade
da prateleira”; c) “Ternos baratos saem com mais facilidade da
prateleira”; d) “Roupas baratas saem com mais facilidade da
prateleira”.
4. As mesmas observações valem para caro.
Ver Bastante – Existe no plural? (P. 156)
Barbarismos
1. “Chamam-se barbarismos as expressões tiradas de outras línguas e que
constituem vício quando os vocábulos estranhos não são indispensáveis”
(RIBEIRO, João, 1923, p. 245).
2. Dando-lhe por um dos casos a hipótese de peregrinismo, que conceitua
como o emprego de “palavras estrangeiras, quando há na língua
expressão equivalente”, complementa Júlio Nogueira (1939, p. 240-1)
com outras modalidades de barbarismos: emprego de palavra com
significação que não possui (intemerato, que é íntegro, puro, por
intimorato, que significa destemido); pronúncia errônea (galfo por garfo,
bicicreta por bicicleta); prosódia errada (púdico por pudico).
3. Tal vocábulo tem por sinônimo, em determinada extensão, a palavra
estrangeirismos, que se especifica, conforme a língua, em anglicismo,
castelhanismo ou espanholismo, francesismo ou galicismo,
italianismo…

Bastante – Existe no plural?


1. Um leitor indaga se a palavra bastante pode ser usada no plural, como
em “Tenho bastantes coisas a dizer-lhe”, ou se tal vocábulo não sofre
variação nesse sentido.
2. Num primeiro aspecto, se modifica um verbo, um adjetivo ou um outro
advérbio, a palavra tem valor de advérbio e, por conseguinte, é
invariável. Exs.: a) “Ele trabalha bastante”; b) “Ela trabalha bastante”;
c) “Eles trabalham bastante”; d) “Elas trabalham bastante”; e) “Ele está
bastante cansado”; f) “Ela está bastante cansada”; g) “Eles estão
bastante cansados”; h) “Elas estão bastante cansadas”, i) “Ele está
bastante bem”; j) “Eles estão bastante bem”.
3. Nesse sentido, observando que tal palavra “não varia quando modifica
adjetivo ou particípio”, Sousa e Silva manda corrigir para o singular o
seguinte exemplo que colheu em uma revista médica: “Foram realizadas
duas punções esternais, com resultados bastantes concordantes” (1958,
p. 46).
4. Num segundo aspecto, se modifica um substantivo, tem valor de adjetivo
e concorda com a palavra modificada. Exs.: a) “Havia bastante gente à
espera do réu”; b) “Havia bastantes repórteres à espera do réu”.
5. Nessa última situação, Eduardo Carlos Pereira classifica-o como adjetivo
determinativo indefinido, categoria essa que conceitua como “o adjetivo
que determina o substantivo de modo vago” (1924, p. 88).
6. Nessa categoria de adjetivo – e, portanto, de vocábulo variável e
concordante com o substantivo – situa-se a expressão bastante
procurador, muito empregada nos meios forenses, para indicar um
suficiente procurador. Exs.: a) “… nomeia o Dr. João da Silva como seu
bastante procurador…”; b) “… nomeia os Drs. João de Souza e José da
Silva como seus bastantes procuradores…”
7. Em lição abrangente também de outros vocábulos – como muito, pouco,
tanto e quanto – asseveram Carlos Góis e Herbert Palhano, por um lado,
que tais palavras são pronomes indefinidos, quando vêm modificando
um substantivo e “neste caso são variáveis em gênero e número”.
8. Acrescentam eles, por outro lado, que tais palavras são advérbios,
quando vêm modificando o verbo, o adjetivo, ou outro advérbio; “neste
caso, são invariáveis” (GÓIS; PALHANO,1963, p. 123-4).
9. Parece oportuno observar que Napoleão Mendes de Almeida condena
seu uso como adjetivo que modifica um substantivo, na significação de
“em grande quantidade”. Por conseguinte, reputa ele errada uma frase
como “Encontrei bastantes conhecidos na cidade” (1981, p. 38). Mas
não oferece alternativas de solução.
10. Tal rigor, porém, parece ser solitário, e esse posicionamento radical não
vem tendo acolhida entre os gramáticos, que consideram correto tal
emprego.

Bastantes procuradores – Existe?


Ver Bastante – Existe no plural? (P. 156)

Bastar e Faltar – Como concordar?


1. Em observação conjunta para os dois verbos, já que portadores de
mesma peculiaridade, anota Vitório Bergo que, “ao contrário do que
ensina um ou outro autor, os verbos bastar e faltar não ficam invariáveis
nas expressões de suficiência ou carência” (1943, p. 65). Isto é: palavras
bastam, rendimentos não bastam, palavras faltam, pessoas não faltam.
2. Em tais casos, em realidade, o que se dá é o seguinte: a) tais verbos têm
normalmente seus respectivos sujeitos; b) muito comumente, porém,
com eles, as orações têm seus termos em ordem invertida; c) com isso,
tem-se a falsa ideia de que não há sujeito; d) pela regra básica de
concordância verbal, todavia, tais verbos devem concordar normalmente
com seus sujeitos. Exs.: i) “Para falar ao vento bastam palavras” (Padre
Antônio Vieira); ii) “Não lhe bastam os rendimentos da quinta”
(Bluteau); iii) “Faltam palavras para expressar todo este sentimento”;
iv) “Não faltavam pessoas que se opusessem a tal empreitada”.
3. Atento aos costumeiros equívocos quanto a seu emprego em tais casos,
reitera essa lição Domingos Paschoal Cegalla, quando assim observa
sobre o verbo bastar: “São frequentes os erros de concordância no uso
deste verbo quando anteposto ao sujeito, como na seguinte frase de um
jornal carioca: ‘Como não bastasse tantos fatores negativos, a pesquisa
ainda mostra que…’. O sujeito ‘fatores’ exige o verbo no plural:
bastassem” (1999, p. 51).
4. Já para a expressão bastar de, o gramático por último referido traz a
seguinte lição: “é invariável a expressão basta de equivalente a chega:
Basta de promessas!” (CEGALLA, 1999, p. 51).

Bastar de
Ver Bastar e Faltar – Como concordar? (P. 156)

Bater, Dar e Soar – Como concordar?


1. No que respeita à concordância verbal, com referência às horas, os
verbos bater, dar e soar podem ser construídos de dois modos.
2. Em primeira possibilidade de construção, a palavra relógio é o sujeito, e
a hora funciona como objeto direto. Exs.: a) “O relógio deu uma hora”;
b) “O relógio deu duas horas”; c) “Os relógios deram uma hora”; d) “Os
relógios deram duas horas”; e) “O relógio bateu uma hora”; f) “O
relógio bateu duas horas”; g) “Os relógios bateram uma hora”; h) “Os
relógios bateram duas horas”; i) “O relógio soou uma hora”; j) “O
relógio soou duas horas”; k) “Os relógios soaram uma hora”; l) “Os
relógios soaram duas horas”.
3. Em segunda possibilidade de estrutura, o número de horas faz a função
sintática de sujeito, enquanto o relógio passa a ter a função sintática de
adjunto adverbial de lugar, não importando a ordem em que se colocam
os termos na oração: a) “No relógio deu uma hora”; b) “No relógio
deram duas horas”; c) “Nos relógios deu uma hora”; d) “Nos relógios
deram duas horas”; e) “No relógio bateu uma hora”; f) “No relógio
bateram duas horas”; g) “Nos relógios bateu uma hora”; h) “Nos
relógios bateram duas horas”; i) “No relógio soou uma hora”; j) “No
relógio soaram duas horas”; k) “Nos relógios soou uma hora”; l) “Nos
relógios soaram duas horas”.
4. Vale sintetizar com a lição de Mário Barreto (1954a, p. 320-1), para
quem tais verbos podem, nessa estrutura, empregar-se: a) “Como
transitivos (diretos) e com a palavra relógio como sujeito”. Exs.: “Nisto,
deu três horas o relógio da botica” (Camilo Castelo Branco); b) “Toma-
se como sujeito o número que designa a hora, com o que o verbo dar
passa a significar soar”. Ex.: “Nove horas deram há muito” (Almeida
Garrett).

Beco do Carmo ou beco do Carmo?


Ver Rua Caiubi ou rua Caiubi? (P. 675)

Bela caligrafia
1. Na conformidade com lição de Domingos Paschoal Cegalla, “a ideia de
belo já está expressa na palavra caligrafia, de origem grega, que significa
bela escrita”.
2. Bem por isso, complementa tal autor, “é redundante o adjetivo bela
aplicado a caligrafia. Embora o sentido etimológico esteja praticamente
obliterado, será melhor dizer bela escrita ou bonita letra em vez de bela
caligrafia”. (CEGALLA, 1999, p. 52)
3. No campo jurídico, ver equívocos similares em acordo amigável, pessoa
viva e sentença de primeira instância.
Ver Acordo amigável (P. 71), Pessoa viva – Redundância? (P. 563) e
Sentença de primeira instância – Pleonasmo? (P. 690)
Bel-prazer da vontade – Existe?
1. Tendo encontrado, na prática, uso que lhe parece equivocado, uma
leitora indaga se a expressão bel-prazer pode ser associada à palavra
vontade, como na expressão “a bel-prazer da vontade do prefeito”.
2. Ora, a expressão bel-prazer (bel, no caso, é forma apocopada de belo),
conforme lição dos dicionaristas, já significa arbítrio, talante, vontade
própria (FERREIRA, 2010, p. 300).
3. Cândido Jucá Filho realça seu uso mais comum em “expressões
possessivas como ‘a seu bel-prazer’”, mas também exemplifica com
caso de outro emprego, em que não se faz presente o pronome
possessivo: a) “Fi-lo a meu bel-prazer”; b) “Procedeu a bel-prazer de
Fulano” (1963, p. 100).
4. Com isso, já solucionando um aspecto da indagação da leitora, pode-se
dizer, com base no que já foi explicado, que estaria correto o exemplo
com a seguinte formulação: “Não podemos ficar aqui esperando, a bel-
prazer do Prefeito”.
5. Antes de ingressar no segundo aspecto, porém, com os olhos voltados
para a circunstância de que bel-prazer e vontade são sinônimas, fazem-se
algumas ponderações teóricas, a título de premissas: a) expressões que se
repetem quanto ao sentido são chamadas tecnicamente de pleonasmos
(do grego pleonasmós = superabundância); b) o pleonasmo pode ser de
estilo, quando usado intencionalmente para conferir à expressão mais
vigor, intensidade ou clareza; c) nesse caso, ele não apenas é aceito, mas
constitui verdadeiro ornamento do estilo; d) é o que se dá em casos como
“Isso eu vi com meus próprios olhos” e “Tinha a testa enrugada, como
quem vivera vida de contínuo pensar”; e) em outros casos, o pleonasmo
pode ser vicioso, quando significa uma repetição que em nada robustece
a expressão; f) é o que se dá em exemplos como “subir para cima”,
“descer para baixo”, “entrar para dentro” e “sair para fora”.
6. Com essas considerações teóricas e genéricas, podem-se extrair, em
segundo aspecto para o caso da consulta, as seguintes ilações: a) a
expressão “a bel-prazer da vontade” tem evidente conotação pleonástica
e redundante, até porque bel-prazer já significa vontade, arbítrio ou
talante; b) a repetição das expressões em nada robustece o vigor, a
intensidade ou a clareza do texto; c) sem necessidade de maiores
considerações, está-se diante de um pleonasmo vicioso; d) como tal,
constitui equívoco da linguagem e deve ser evitado.

Bem
Ver Mais mal ou Pior? (P. 454) e Bem como (P. 158).

Bem como
1. No que diz respeito a concordância verbal, lembra Artur de Almeida
Torres que, “quando dois sujeitos vêm ligados por bem como, o verbo
concorda, em regra, com o primeiro”. Exs.: a) “Este interessante
capítulo, bem como os subsequentes, encerra fatos conhecidos de
muitos” (Alexandre Herculano); b) “O Sol, bem como os outros corpos
celestes, não é imutável” (Camilo Castelo Branco).
2. O gramático referido realça o aspecto de que “são raros os exemplos em
que, no caso dessa regra, o verbo aparece no plural” (TORRES, 1966, p.
151).
3. Já Domingos Paschoal Cegalla, em lição mais liberal, que amplia para a
expressão assim como, anota, com respeito a uma expressão como essa,
a possibilidade de emprego optativo do verbo no singular ou no plural:
“no singular, quando se quer destacar o primeiro núcleo”; “no plural,
quando se quer referir o conteúdo verbal a ambos os núcleos do sujeito”.
4. E complementa: “Observe-se que no primeiro caso o segundo elemento
do sujeito é colocado entre vírgulas”. Exs.: a) “O urso-polar, assim como
outros animais marinhos, se alimenta de peixes”; b) “O urso-polar bem
como a foca se alimentam de peixes” (CEGALLA, 1999, p. 29).
5. O melhor entendimento parece ser o do gramático por último referido, o
qual, no plano da sintaxe, aceita, com a expressão bem como, a optativa
concordância do verbo no singular ou no plural.
6. Em lição para um outro aspecto da questão, no que tange a possibilidade
de uso das conjunções aditivas (que estabelecem mera ligação entre as
orações coordenadas), além das típicas e e nem, lembra Geraldo Amaral
Arruda a existência de várias outras que podem exercer essa função,
como é o caso de bem como e assim como. Ex.: “O possuidor de boa-fé
tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis, bem
como, quanto às voluptuárias, se lhe não forem pagas, a levantá-las,
quando o puder sem detrimento da coisa…” (CC/1916, art. 516).
7. Observa, entretanto, tal autor, que, “embora útil, ou até necessário, o uso
dessas locuções na redação de textos de leis, esse recurso não parece
conveniente nos demais textos jurídicos, como alegações ou sentenças”.
8. E acrescenta que “principalmente é preciso cuidado em não se abusar de
um recurso cujo uso pode ser necessário à redação clara de dispositivos
legais mais complexos, mas nem sempre será estilisticamente
conveniente aos escritos do juiz ou do advogado” (ARRUDA, 1997, p.
107).
Ver E nem (P. 318) e Nem… nem (P. 493).

Bem no sei
Ver Não no sei – Está correto? (P. 486)

Bem ou Bom?
Ver Mau ou Mal? (P. 464)

Bem – Quando usar o hífen?


1. Uma leitora, com o advento das novas regras de ortografia, diz ter
dúvidas sobre o emprego ou não do hífen com o advérbio bem, quando
este é o primeiro elemento de uma palavra. Por exemplo, bem-afiada ou
bem afiada?
2. Por um lado, é importante observar que o Acordo Ortográfico de 2008,
quanto ao uso do hífen, teve em mira os seguintes objetivos: a) diminuir
ao máximo seu emprego, quer pela junção dos elementos sem hífen
(corréu e contrassenso), quer por sua separação em vocábulos distintos,
mas sem hífen (à toa, dia a dia e pôr de sol); b) especificar melhor as
regras para seu uso; c) conferir sistematização mais lógica a seu
emprego.
3. Apesar das boas intenções e das estudadas tentativas nesse sentido,
porém, o certo é que, no que tange ao advérbio bem, não foram fixados
critérios objetivos, que pudessem solucionar, de maneira clara e simples,
as questões práticas, sem que o usuário venha a se encontrar
frequentemente às voltas com dúvidas.
4. De modo prático, para bem esclarecer a dúvida da leitora, observa-se,
desde logo, que a Academia Brasileira de Letras é quem detém a
autoridade para listar, oficialmente, não apenas as palavras existentes em
nosso idioma, mas também seu modo de escrever, e ela exerce essa
autoridade por meio da edição do Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa.
5. E uma consulta à mais recente edição do VOLP, entretanto, evidencia
que a grafia dos vocábulos precedidos de bem não se reveste de critérios
objetivos nem de coerência.
6. Assim, num primeiro aspecto: a) em algumas palavras, foram separados
os elementos por hífen (bem-acabado, bem-acostumado, bem-amado,
bem-apanhado, bem-dotado, bem-estar, bem-humorado, bem-sucedido);
b) em outras, de modo facultativo, foram juntados os elementos sem
hífen, com a transformação de bem em ben (bem-dizer ou bendizer, bem-
querer ou benquerer); c) em outras, por fim, por ausência de
especificação dos vocábulos na lista oficial, o certo é que, pelas regras
gerais de grafia, os elementos devem ser escritos de modo separado e
sem hífen (bem adestrado, bem assado, bem considerado e bem falado).
7. Com essas observações, num segundo aspecto, quando, em comparação
com bem, se consideram os vocábulos precedidos de mal, também se
nota a falta de coerência do VOLP, o qual, por exemplo, registra mal-
aconselhado, mal-assado e mal-assimilado, mas não registra seus
antônimos, os quais, em obediência às regras de grafia, deverão ser
escritos em elementos separados e sem hífen (bem aconselhado, bem
assado e bem assimilado), do que deflui, claramente, uma confusão
geral.
8. E, assim, respondendo especificamente à indagação da leitora, como o
VOLP não registra o vocábulo da consulta com hífen, isso quer dizer que
tal palavra entra na vala comum daquelas cujos elementos se escrevem
separadamente, sem hífen algum: bem afiada. Não importa se a
expressão é “a faca estava bem afiada”, ou se é “não encontrei nenhuma
faca bem afiada”.
9. Por fim, duas ponderações adicionais precisam ser feitas: por um lado,
como já se disse, o VOLP (editado pela ABL) é a palavra oficial em
termos de grafia das palavras em nosso idioma, e a ele devemos prestar
obediência, de modo que, na dúvida, a solução é consultá-lo; por outro
lado, lembra-se que resta a esperança de que a ABL, em futura edição do
VOLP, busque um foco mais preciso e critérios mais objetivos e
coerentes com vistas à solução deste problema.

Bem que
Ver Indicativo por Subjuntivo (P. 411).

Bem vindo, Bem-vindo ou Benvindo?


1. Um leitor indaga qual a forma correta, quanto ao hífen, após o Acordo
Ortográfico de 2008: Bem vindo, bem-vindo ou benvindo?
2. Nunca é demais reforçar, como introdução, que a maioria dos gramáticos
estavam acordes em que o emprego do hífen era assunto que carecia de
um sério e profundo trabalho de sistematização e simplificação. Longe
de clarear definitivamente a situação e de atender às expectativas,
todavia, o que o recente Acordo Ortográfico fez foi complicar ainda
mais o que já era difícil.
3. Mas tentemos solucionar a questão trazida pelo atento leitor, usando as
ferramentas de que dispomos.
4. Pelo Acordo Ortográfico, usa-se o hífen com a palavra bem, quando o
segundo elemento da palavra composta começa por vogal ou h. Exs.:
bem-apanhado, bem-aventurado, bem-estar, bem-humorado.
5. Não se apresse o leitor. Apesar da conclusão que pretenda extrair em
sequência, vai-se logo observando como continua o Acordo: o advérbio
bem pode ou não aglutinar-se ao segundo elemento, quando o segundo
elemento da palavra composta começa por consoante: Exs.: bem-casado,
bem-comportado, bem-criado, bem-disposto, bem-dotado, bem-falante,
bem-mandado, bem-nascido, bem-sucedido, bem-vestido; por outro
lado, benfazejo, benfeitor, benquerença.
6. Só pelo teor do Acordo – o qual, sem estabelecer critérios reais e
seguros, afirma, de modo fluido e inconsistente, que o advérbio bem
pode ou não aglutinar-se ao segundo elemento – já se vê a total
impossibilidade de fixar uma regra que solucione os problemas do hífen
em hipóteses como essa.
7. Num caso como esse – em que se constata a ausência total de critérios
mínimos para um raciocínio de convicção e certeza – a única saída é
consultar o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, que é uma
espécie de dicionário que lista as palavras reconhecidas oficialmente
como pertencentes à língua portuguesa, bem como lhes fornece a grafia
oficial.
8. Também conhecido pela sigla VOLP, é organizado e publicado pela
Academia Brasileira de Letras, a qual tem a delegação e a
responsabilidade legal de editá-lo, em cumprimento à Lei Eduardo
Ramos, de n. 726, de 8/12/1900.
9. Pois bem. Em sua quinta edição, de 2009, a primeira após o Acordo
Ortográfico, o VOLP faz constar bem-vindo (ACADEMIA
BRASILEIRA DE LETRAS, p. 113), forma essa que já era assim
trazida, em 2004, pela quarta edição (ACADEMIA BRASILEIRA DE
LETRAS, p. 106).
10. Apenas para ilustração histórica e verificação de como também pode
mudar a grafia oficial dos vocábulos no idioma – e tudo de acordo com
a determinação e a autoridade da Academia Brasileira de Letras,
advinda de delegação legal –, anota-se que, na segunda edição do
VOLP, de 1998, hoje superada, permitiam-se as duas formas, bem-
vindo e benvindo (p. 101).

Beneficência ou Beneficiência?
1. Beneficência é substantivo, que significa caridade, filantropia, como na
expressão Sociedade Portuguesa de Beneficência.
2. Observe-se que não há um i antes do e, sendo, desse modo, incorreta a
grafia beneficiência.
3. A mesma observação vale para o adjetivo, que é beneficente, e não
beneficiente, e significa aquele que beneficia, que favorece. Ex.: “As
senhoras da sociedade organizaram um chá beneficente”.
4. Para ambos, é assim sem o i intermediário o registro do Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de
Letras (2009, p. 113) e veículo incumbido de fornecer a grafia oficial das
palavras em nosso idioma.
5. Equívocos como beneficiência e beneficiente, de acordo com Domingos
Paschoal Cegalla, são “barbarismos explicáveis por contaminação
fonética de benefício” (1999, p. 53). Importa explicitar que o fato de ser
explicável não justifica nem torna correto o barbarismo.

Beneficente ou Beneficiente?
Ver Beneficência ou Beneficiência? (P. 159)

Benfeito, Bem-feito ou Bem feito?


1. Um leitor encontrou a seguinte frase: “Enquanto há jornal, o importante
é que seja benfeito”. E indaga se a forma correta é benfeito ou bem feito,
até porque, ao consultar o Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de Letras, deu ele
exatamente com benfeito, ali discriminado especificamente como
adjetivo, posição essa que os dicionários ainda não acataram.
2. Estabeleça-se uma importante premissa: a Academia Brasileira de Letras
detém a delegação legal para listar oficialmente os vocábulos que
integram nosso léxico, bem como para determinar qual sua grafia
correta. E ela o faz por meio da edição do Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa.
3. Ora, ao tempo em que se responde a esta consulta, a última edição
escrita do VOLP é a de 2009, e nela realmente se registra benfeito como
um adjetivo e também como um substantivo (p. 113).
4. Com a observação de que, em algumas épocas, a par da disponibilização
escrita do VOLP em livro específico, a ABL também faculta ao leitor a
consulta on-line em seu site, anota-se que, no instante em que se elabora
esta resposta ao leitor (dezembro de 2015), a edição virtual do VOLP,
retificando sua última posição escrita, registra benfeito apenas e tão
somente como substantivo, e não mais como adjetivo. E é a esse novo
posicionamento oficial que se deve prestar obediência.
5. Abrindo-se um parêntese, louve-se a atitude da ABL, a qual, na
dedicatória da edição de 2009, chama os usuários da língua “a colaborar
com achegas, sugestões, críticas e correções” no aperfeiçoamento de tal
obra. Trata-se de posicionamento de quem entende o idioma como ser
vivo e mutável, compreende a necessidade de eventuais modificações no
curso do tempo, vê que seu trabalho é passível de equívocos e se põe em
atitude de verdadeira humildade, com a disposição de corrigi-los. Essa
alteração em seu banco eletrônico de dados põe isso em evidência.
6. Respondendo, a seguir, na prática, à indagação do leitor: a) na
atualidade, existe benfeito em nosso léxico, mas apenas como
substantivo; b) seu emprego como adjetivo não atende aos padrões de
correção do idioma; c) também não encontra respaldo a forma bem-feito;
d) o adjetivo, assim, deve obedecer à grafia bem feito.
7. Confiram-se, portanto, os exemplos a seguir, com a indicação, entre
parênteses, de sua correção ou erronia: a) “Enquanto há jornal, o
importante é que seja benfeito” (errado); b) “Enquanto há jornal, o
importante é que seja bem-feito” (errado); c) “Enquanto há jornal, o
importante é que seja bem feito” (correto).
8. Em adendo, sem querer causar confusão ou polêmica, acrescenta-se que,
contrariando a postura da ABL, a) o dicionário Houaiss não registra
benfeito como substantivo e dá bem-feito (com hífen) como forma
correta para o adjetivo (2001, p. 431); b) o dicionário Aurélio também
não faz constar benfeito como substantivo, mas aponta benfeito (em uma
só palavra) como adjetivo (2010, p. 303).
9. Ou seja: a) ambos se opõem à ABL, ao ignorarem benfeito como
substantivo; b) e ambos dela divergem quanto ao adjetivo, um por
preconizar a forma bem-feito (com hífen), e outro por lecionar a grafia
benfeito (em uma só palavra).
10. Ante esse quadro, é oportuno ressalvar que, sem desprezo algum pelo
utilíssimo trabalho prestado pelos dicionaristas ao idioma, quando há
divergência entre algum deles e o VOLP, a razão deve ser creditada
sempre a este último, que é a palavra de quem detém a autoridade
oficial para definir aspectos linguísticos dessa natureza.

Biografar
Ver Datilografar (P. 251).
Bitransitivos indiretos – O que são?
Ver Ingressar com ou Ingressar em? (P. 417)

Bloqueamento – Existe?
Ver Existe em português? (P. 346)

Boa-fé, Boa fé ou Boafé?


1. Um leitor indaga qual a forma correta, quanto ao hífen, após o Acordo
Ortográfico de 2008: Boa-fé, boa fé ou boafé?
2. Pelo Acordo, emprega-se o hífen nas palavras compostas por
justaposição, cujos elementos constituam uma nova unidade morfológica
e de sentido, mantendo o acento próprio: sócio-gerente, arco-íris, afro-
luso-brasileiro.
3. Excepciona o Acordo, em sequência, os compostos em que se perdeu a
noção da composição, os quais devem ser grafados como palavra única:
paraquedas, girassol, passatempo, etc.
4. Como se vê, o Acordo deixou de fixar critérios seguros, pois manda
empregar hífen nas palavras cujos elementos constituam nova unidade
morfológica e de sentido, mas excepciona os compostos em que se
perdeu a noção de composição e não dá critério algum para solução real
e segura do problema.
5. Em outras palavras, indaga-se: a expressão aqui referida constitui nova
unidade morfológica e de sentido (boa-fé), ou é um composto em que se
perdeu a noção de composição (boafé), ou, ainda, para os critérios do
Acordo Ortográfico, nem mesmo chega a ser uma nova unidade
morfológica e de sentido (boa fé)?
6. Ante esse quadro, é forçoso concluir: por critérios técnicos do Acordo
Ortográfico, é total a impossibilidade de fixar uma regra que solucione
os problemas do hífen em hipóteses como a da consulta.
7. Num caso como esse, a única saída é consultar o Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, que é uma espécie de dicionário que
lista as palavras reconhecidas oficialmente como pertencentes à língua
portuguesa, bem como lhes fornece a grafia oficial.
8. Esse é o único recurso, porque, também conhecido pela sigla VOLP, ele
é organizado e publicado pela Academia Brasileira de Letras, a qual tem
a delegação e a responsabilidade legal de editá-lo, em cumprimento à
Lei Eduardo Ramos, de n. 726, de 8/12/1900.
9. Pois bem. Em sua quinta edição, de 2009, a primeira após o Acordo
Ortográfico, o VOLP apenas fez constar, como correta, a expressão boa-
fé (ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, p. 124), forma essa, aliás,
que já constava do mesmo modo na quarta edição, de 2004, a última
antes da vigência do Acordo (ACADEMIA BRASILEIRA DE
LETRAS, p. 116).
10. Com essas ponderações, vê-se que boa-fé é a única grafia correta para a
mencionada expressão em nosso idioma na atualidade.

Boa parte dos alunos – faltou ou faltaram?


Ver Coletivo – Como concordar? (P. 191)

Boato falso – Está correto?


Ver Pleonasmo – O que é e Quando pode? (P. 565)

Bói
Ver Formação de adjetivos – Regras (P. 360) e Neologismo (P. 494).

Bolso
Quanto a seu plural, ver Plural de o tônico (P. 568).

Bom de se comer ou Bom de comer?


Ver Agradável de se ler ou Agradável de ler? (P. 99)

Bom-dia ou Bom dia?


1. Uma leitora – talvez em dúvida suscitada pelas alterações trazidas
quanto ao emprego do hífen pelo Acordo Ortográfico de 2008 – indaga
qual a forma correta de se escrever na atualidade: bom-dia ou bom dia?
2. A questão precisa ser equacionada em seus devidos termos, para que não
haja confusões.
3. Num primeiro aspecto, não há hífen algum, quando bom é apenas um
adjetivo que qualifica a palavra dia. Exs.: a) “Um bom dia era seguido
de um mau dia”; b) “Bons dias eram seguidos de maus dias”.
4. Num segundo aspecto, também não há hífen, quando se quer significar a
própria saudação dita por alguém. Exs.: a) “Bom dia! disse ele com voz
de acordar quarteirão”; b) “Bons dias! disse ele com voz de acordar
quarteirão”.
5. Num terceiro aspecto, tem hífen, quando significa o próprio substantivo
composto indicador da saudação. Exs.: a) “Cumprimentou-o com um
bom-dia caloroso”; b) “Distribuía bons-dias calorosos a todos os
transeuntes”.
6. Num quarto aspecto, tem hífen, quando significa uma planta trepadeira.
Exs.: a) “Ela plantou bom-dia na entrada da casa”; b) “Ela plantou
bons-dias na entrada e nos fundos da casa”.
7. Esclarece-se, por fim, que, embora registre com hífen a expressão (2009,
p. 126), o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, veículo da
Academia Brasileira de Letras para dizer oficialmente o modo de grafar
os vocábulos do vernáculo, não registra os pormenores das
especificações acima.

Bom-senso ou Bom senso?


1. Um leitor indaga qual a forma correta de escrever: bom-senso ou bom
senso?
2. É sempre bom lembrar que o órgão encarregado de definir oficialmente
o modo de grafar as palavras em nosso idioma é a Academia Brasileira
de Letras, e ela exerce essa autoridade por via da edição do Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa.
3. E uma consulta à última edição do VOLP, já posterior ao Acordo
Ortográfico de 2008, revela que nele se registra, como modo correto de
escrever, a forma bom-senso (ACADEMIA BRASILEIRA DE
LETRAS, 2009, p. 126).
4. Acrescenta-se que, em mesmo local, se registram outras palavras com a
mesma razão de emprego do hífen: bom-bocado, bom-moço e bom-tom.
5. Uma última observação é importante e se faz necessária: como o VOLP
(editado que é pela ALB) é a palavra oficial em termos de grafia das
palavras em nosso idioma, é a ele que devemos prestar obediência, de
modo que a solução, na dúvida, é consultá-lo.

Bônus – Qual é seu plural?


Ver Ônibus – Qual é seu plural? (P. 529)

Breve alocução – Está correto?


Ver Pleonasmo – O que é e Quando pode? (P. 565)

BRICS – Singular ou plural?


1. Um leitor indaga se BRICS é singular ou plural e como se deve fazer a
concordância com ele.
2. Em 2001, o economista inglês Jim O’Neill cunhou a sigla BRIC para
indicar um bloco econômico que seria representado por Brasil, Rússia,
Índia e China, conceito esse que somente em 2006 viria a dar origem a
um efetivo agrupamento de políticas externas desses quatro países. Em
2011, formalmente convidada, a África do Sul passou a fazer parte do
grupo, oportunidade em que o S (de South Africa – seu nome em inglês)
passou a integrar a sigla em seu formato atual (BRICS).
3. Num primeiro aspecto introdutório, importa observar que, tecnicamente,
BRICS é um acrônimo (HOUAISS, 2001, p. 71), vale dizer, é uma nova
palavra formada pela inicial de cada um de seus países integrantes
(Brasil, Rússia, Índia, China e South Africa).
4. Num segundo aspecto, realce-se que o s significa a presença da África
do Sul, de modo que ele não é um indicador de pluralização, e, assim,
não se deve grafá-lo com letra minúscula, como fazem alguns (BRICs), e
sim com maiúscula (BRICS).
5. Uma cuidadosa análise de seu uso mostra dois significados bem distintos
em que a palavra BRICS é empregada: a) às vezes, para indicar o bloco
em consideração conjunta e atuação como um todo; b) outras vezes, no
sentido da individualidade de cada um de seus países, embora
considerados como partes do bloco.
6. Ora, quando se quer pôr em relevo o sentido de bloco e de consideração
e atuação conjunta, a harmonização dos termos em concordância (verbo,
artigo, adjetivo, etc.) se faz no singular: a) “O que faz o BRICS?”; b)
“Desde sua criação, o BRICS tem expandido suas atividades”; c) “O
BRICS defende a reforma das Nações Unidas e de seu Conselho de
Segurança”; d) “… VI Cúpula do BRICS…”; e) “… entre as vertentes
mais promissoras do BRICS…”; f) “… membros do BRICS…”; g) “… a
coordenação política entre os membros do BRICS…”; h) “O BRICS está
aberto à cooperação e ao engajamento”; i) “Este é o histórico do
BRICS”; j) “O BRICS passou a constituir uma nova entidade político-
diplomática”; k) “Foram aprofundados os dois pilares de atuação do
BRICS”; l) “… primeiro ciclo de Cúpulas do BRICS…”; m) “…
estabelecimento do Conselho Empresarial do BRICS…”; n) “…
garantias às exportações do BRICS…”; o) “Os mandatários do BRICS
encontraram-se com lideranças africanas…”.
7. Já quando se quer destacar a individualidade de seus países integrantes,
mas sempre na acepção de partícipes do bloco, a concordância dos
termos referentes ao mencionado acrônimo se faz no plural: a) “… com
relação à coordenação dos BRICS em foros e organismos
internacionais…”; b) “Os BRICS aprofundam seu diálogo sobre as
principais questões da agenda internacional”; c) “Desde 2009, os
Chefes de Estado e de Governo dos BRICS procuram uma saída para
esse desafio”; d) “… os Bancos de Desenvolvimento dos BRICS…”.
8. Em síntese, respondendo de modo mais direto à indagação do leitor,
pode-se dizer: a) BRICS é um acrônimo que às vezes representa o bloco
em sua atuação conjunta, e outras vezes quer significar a presença
individualizada de cada qual desses integrantes, mas sempre em relação
ao todo formado pelo bloco; b) se o que se quer é destacar a atuação do
bloco, então se faz a concordância do verbo e dos outros termos
relacionados a tal palavra no singular; c) já quando se quer pôr em relevo
a atuação de cada país, embora no contexto do bloco, então se faz a
concordância do verbo e desses outros termos no plural; d) e ambas as
concordâncias são sintaticamente corretas, de modo que a distinção fica
para o plano do conteúdo semântico.
Buscou-se soluções ou Buscaram-se soluções?
1. Trata-se de sintaxe errada, em que o verbo da voz passiva sintética
(buscou) não concordou com o seu sujeito (soluções).
2. O correto é: “Buscaram-se soluções para o conflito”.
Ver Voz passiva e Pronome apassivador (P. 791).
C
Caçar ou Cassar?
1. Caçar quer dizer perseguir animais ou pessoas para aprisionar ou matar.
Ex.: “A polícia caçou os criminosos durante dias”.
2. Quanto à conjugação verbal e à ortografia, como todos os verbos
terminados em çar, o c perde a cedilha antes de e: cace, cacemos, cacei.
3. Já sua parônima cassar tem o significado de tornar nulo ou sem efeito,
cancelar. Ex.: “O tribunal cassou a liminar concedida em primeira
instância naquele mandado de segurança”.
4. Talvez pela própria necessidade de distinção entre os sentidos, o
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira
de Letras, fugindo a seu normal proceder e a suas finalidades, acaba por
fazer a distinção: enquanto caçar significa perseguir ou apanhar animais,
já cassar significar anular (2009, p. 141 e 169).
5. Vejam-se alguns exemplos de correto emprego do verbo cassar em nossa
legislação: a) “Nos casos de dissolução da pessoa jurídica ou cassada a
autorização para seu funcionamento, ela subsistirá para os fins de
liquidação, até que esta se conclua” (CC, art. 51, caput); b) “Ao Poder
Executivo é facultado, a qualquer tempo, cassar a autorização
concedida a sociedade nacional ou estrangeira que infringir disposição
de ordem pública ou praticar atos contrários aos fins declarados no seu
estatuto” (CC, art. 1.125); c) “Quando as expressões injuriosas forem
proferidas em defesa oral, o juiz advertirá o advogado que não as use,
sob pena de lhe ser cassada a palavra” (CPC/1973, art. 15, parágrafo
único); d) “Mantida a decisão e admitido o recurso, poderá o Supremo
Tribunal Federal, nos termos do Regimento Interno, cassar ou reformar,
liminarmente, o acórdão contrário à orientação firmada” (CPC/1973,
art. 543, § 4º).

Cacoepia
Ver Ortoepia (P. 532).

Cacófato – O que é?
1. Genérica e tecnicamente, cacófato ou cacofonia “é um vício resultante
do encontro de vocábulos que, no conjunto, se prestam à formação de
termo inconveniente” (RIBEIRO, João, 1923, p. 246).
2. Na visão rígida de Alfredo Gomes (1924, p. 471), basta o vocábulo
pouco fino, formado pelo encontro do final de uma palavra com o
começo da outra, para configurar o cacófato, como é o caso de fica cá,
cama minha, uma mão.
3. Em posição intermediária, para Júlio Nogueira (1939, p. 241), “é a
formação ocasional de palavras ridículas ou pouco decentes pelo
encontro de sílabas finais de uma com o começo de outra: ela trina, já
que tinhas, alma minha, já sinto, nunca pus, vez passada (vespa
assada)”.
4. Eduardo Carlos Pereira (1924, p. 263) assevera que cacofonia “consiste
na junção de duas palavras de modo tal que se forme uma outra de
sentido torpe ou ridículo”.
5. Júlio Ribeiro (1908, p. 328), por seu lado, para a tipificação da
cacofonia, exige o “encontro de duas palavras que produza uma terceira
de significação baixa ou torpe”.
6. Independentemente dessa discussão – se há necessidade de formação de
uma palavra baixa e torpe, ou se basta um resultado sonoro pouco fino –
o certo é que, modernamente, só se considera cacófato o som ridículo ou
obsceno, verdadeiramente inaceitável, proveniente da união das sílabas
finais de uma palavra com as iniciais da que lhe vem a seguir. Ex.: “Vou-
me já, porque já está pingando” (em realidade, a pessoa do exemplo se
vai apenas porque a chuva já começou).
7. O que se entende modernamente é que, se o cacófato é erro, não se deve
cair no exagero da cacofatomania, que é o escrúpulo ridículo, que busca
espreitar sua ocorrência em qualquer trecho ou encontro de sílabas.
8. A gramática atual, em verdade, não considera erros dessa natureza
expressões como alguma cacofonia (macaco), alma minha (maminha),
ela tinha (latinha), fé de mais (fede mais), por cada (porcada), por tal
(portal), uma mão (mamão).
9. Com propriedade, lembra Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 270) que,
“modernamente, só se considera cacofonia se a palavra produzida for
chula, obscena, realmente ridícula e inaceitável”, acrescentando que “a
gramática atual já não condena, portanto, estes encontros: ela tinha,
nosso hino, por cada, uma mala”.
10. Nesse sentido, basta ver que o art. 183, VII, do Código Civil de 1916,
ao discriminar os impedimentos dirimentes absolutos, refere que não
pode casar “o cônjuge adúltero com o seu corréu por tal condenado”.
O encontro por tal nem sequer foi lembrado na polêmica entre Rui
Barbosa e Ernesto Carneiro Ribeiro.
11. Analisando a expressão por conveniente (porco) do art. 436 do Código
Civil de 1916, refere também Luciano Correia da Silva que, para a
existência do cacófato, “não basta que o encontro seja apenas
desagradável: é necessária a torpeza, a obscenidade, ou a contundente
grosseria”, razão pela qual “associações como a vista no destaque (por
+ con) não representam cacofonia”.
12. Nessa linha, para o referido autor – que lembra, de passagem, que “os
escritores portugueses nunca se preocuparam muito com certas
dissonâncias, que para muitos guardiões do vernáculo seriam
cacofonias” – de agrupamentos como intrínseca validade e por tal,
“uns podem ser malsoantes, desagradáveis; outros nem a isso chegam”.
E continua ele, em lição firme e sem meias palavras, que “cacofonia
mesmo haverá em vou-me já, lá trina, provoca gado, garfo deu, tifo
deu” (SILVA, L., 1991, p. 86).
13. Antonio Henriques e Maria Margarida de Andrade (1999, p. 139)
apontam como “malsoante colocação pronominal” a estrutura “se as
não satisfizer” existente no art. 45 do Código Civil brasileiro de 1916.
E ao comentarem a estrutura “a não possa guardar”, existente no art.
1.270 do Código Civil de 1916 – por eles reputada “infeliz colocação
pronominal” – observam também que “a questão do cacófato é relativa
e que muitos dos assim chamados cacófatos receberam a chancela do
uso, inevitáveis que são”, muito embora seja “preferível evitá-los”
(1999, p. 126).
14. Em outra obra escrita solitariamente, Antonio Henriques também anota
que “tempo houve em que a preocupação dos gramáticos
(gramatiqueiros) era colecionar cacófatos. Hoje, sabe-se de encontros
inevitáveis de sílabas que não mais despertam a atenção, e já disse
alguém que o cacófato e ridículo; mais ridícula é a caça ao cacófato”
(1999, p. 30).
15. Artur de Almeida Torres, por um lado, aduz para cacofonia o rígido
conceito de “encontro de palavras que formem outra de sentido torpe,
ridículo ou desagradável: ‘Já sinto as minhas aflições’; a boca dela;
‘Ele só tem uma mão’; ‘intrínseca validade’”. Por outro lado, ressalva
a existência de cacófatos “que não são passíveis de censura, já porque
aparecem em frases feitas, e sem sucedâneos perfeitos (da nação, de
balde, por tal), já pela sua habitualidade nas páginas de nossos maiores
escritores (alma minha, como elas, as não). Por fim, exatamente para
esses últimos casos, refere a advertência de Rui Barbosa, para quem
encontros dessa natureza têm de ser tolerados, porque “a lei da
necessidade obriga as exigências da eufonia à condição fatal de
transigir” (TORRES, 1966, p. 223).
16. Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 60), por um lado, observa que
“evitar os cacófatos não deve tornar-se preocupação obsessiva de quem
fala ou escreve, tanto mais porque alguns há que são inevitáveis”; por
outro lado, como “convém evitá-los o mais possível”, aconselha três
estratégias simples para a vida prática: a) “substituir por sinônimos as
palavras geradoras de cacofonias”; b) “mudar essas palavras de lugar
na frase”; c) “alterar a estrutura da frase”.
17. Em mesma esteira, adverte Napoleão Mendes de Almeida (1981, p. 45
e 61) ser infundado o escrúpulo de se evitarem encontros tais como “no
novo processo”, “no nosso caso” ou “uma mão”, sendo totalmente
desnecessárias construções como “em o novo processo”, “em o nosso
caso” ou “u’ a mão”.
18. A respeito do último aspecto observado, entretanto, Cândido Jucá Filho
(1963, p. 233) fala tão somente em questão de preferência e aponta
exemplo de Ernesto Carneiro Ribeiro, que fala “em o número II do art.
46”.
19. Acresça-se que Rui Barbosa (1949, p. 437), em observações ao art.
1.675, II, do Projeto do Código Civil, intentando garimpar vício na
expressão última moléstia (mamo), dizia que ela não soava bem a
ouvidos afinados, mas receava fazer alegação nesse sentido, já que
poderia “ver invocada em honra do projeto a alma minha de Camões”.
20. Mesmo assim, a sugestão acabou acarretando mudança de redação,
como se vê do art. 1.668, II, do Código Civil de 1916: moléstia de que
faleceu.
21. No campo dos textos de lei, o art. 35, § 4º, do Código Civil de 1916, ao
tratar do domicílio das pessoas jurídicas, registra a passagem “no
tocante às obrigações contraídas por cada uma das suas agências”;
Rui Barbosa refutou todas as objeções de cacófato, e até mesmo
argumentou que não se pronuncia por (ô), mas pur, o que evita, no
caso, qualquer sonância incômoda (BARBOSA apud SILVA, L., 1991,
p. 86).
22. O mesmo Código Civil de 1916, no art. 1.270, também registra: “Ao
depositário será facultado, outrossim, requerer depósito judicial da
coisa, quando por motivo plausível, a não possa guardar”; não há
notícia de invectivas fundadas e frutíferas contra a expressão a não.
23. Por outro lado, o Código Comercial, no art. 43, de igual modo, estatui:
“A fiança será conservada por inteiro, e por ela serão pagas as multas
em que o corretor incorrer, e as indenizações a que for obrigado, se as
não satisfizer”. Também não há notícia de críticas à expressão as não
no referido dispositivo.
24. Partindo-se de um exemplo como havia dado, pode-se sintetizar a
questão do seguinte modo: a) O encontro de sons na expressão havia
dado não é dos mais agradáveis ao ouvido; b) É certo que dele resulta
uma sonoridade pouco elegante; c) Pode haver, até mesmo, quem
entreveja nesse encontro de sons alusão à homossexualidade; d)
Também indisputável que uma simples alteração de havia por tinha
bastaria para evitar a confusão; e) Em termos de um conceito moderno
do que seja cacófato, porém, não parece haver como condenar seu
redator por esse motivo cacófato.
Ver Alma minha – É cacófato? (P. 106)
Cada
1. Cada é pronome que só se deve usar acompanhado de substantivo, vale
dizer, que só deve ser empregado como pronome adjetivo: cada homem,
cada mulher (MELO, 1970, p. 132 e 279).
2. Na lição de Eduardo Carlos Pereira, configura “um distributivo
invariável, que se une com qual, para formar o pronome cada qual, e
com um na forma composta cada um, que raramente vem acompanhada
de substantivo claro” (1924, p. 315).
3. Evanildo Bechara, por seu lado, reforça que “é condenado o emprego de
cada em lugar de cada um nas referências a nomes expressos
anteriormente” (1974, p. 269).
4. Essa lição, de igual modo, é seguida por Luiz Antônio Sacconi (1979, p.
68). Exs.: a) “Os livros custam dez reais cada” (errado); b) “Os livros
custam dez reais cada um” (correto).
5. Também Cândido de Oliveira – lembrando que sempre se deve dizer
cada um, cada uma – exemplifica que o correto é: “Vendo frango a cem
cruzeiros cada um”; e não: “Vendo frango a cem cruzeiros cada” (s/d, p.
46).
6. De acordo com o ensinamento de Júlio Nogueira (1939, p. 224), dois
aspectos são de significativo relevo para o emprego do vocábulo aqui
considerado: por primeiro, “cada é sempre anteposto ao nome – cada
cousa em seu lugar”; ao depois, “não é correto o emprego de cada em
fim de frase – vendo a dez mil réis cada. Diga-se: cada um, cada par,
cada jogo, cada peça etc”.
7. Lembrando que “cada um é pronome e não se confunde com o adjetivo
cada”, reitera Edmundo Dantès Nascimento que o emprego de cada em
expressões como “Vendeu animais a Cr$ 1.000,00 cada” é erro,
devendo-se dizer cada um, ou usar um nome: “Vendeu a Cr$ 1.000,00
cada animal” (1982, p. 82).
8. Nessa mesma esteira se dá a lição de José de Nicola e Ernani Terra: “O
pronome indefinido cada não deve ser utilizado desacompanhado do
substantivo ou numeral, portanto é incorreto dizer: ‘Os livros custaram
vinte reais cada’; ‘Vendia frangos a dois reais cada’” (2000, p. 52).
9. Para Júlio Nogueira (1959, p. 56), seu uso é galicismo “no fim da frase,
com elipse de outra palavra: a Cr$ 5,00 cada (par, unidade, metro etc.).
É a tradução do chaque, já errôneo em francês, nessa construção. Diga-
se: a Cr$ 5,00 cada um (par, dúzia, jogo etc.)”.
10. Édison de Oliveira (s/d, p. 107) resume a questão em dois aspectos: por
um lado, “o normal é empregar a palavra cada seguida de substantivo”;
por outro, a locução cada um ou cada uma “não deve ser seguida de
substantivo”. Exs.: a) “Haverá um defensor para cada réu”; b)
“Haverá um defensor para cada um”.
11. “Pode referir-se a substantivo no plural, precedido de um numeral,
indicando nesse caso um conjunto, um grupo: cada dez pacotes, cada
cem pessoas” (MELO, 1970, p. 279).
12. Também observando que o pronome indefinido cada pode não apenas
referir-se à unidade num grupo de seres, mas também “a um conjunto
deles”, anota Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 60) que, em tal
caso, o verbo concorda no plural. Ex.: “Cada três livros custavam 60
reais”.
13. Com Sousa e Silva (1958, p. 51), pode-se fazer o seguinte resumo: a)
nunca se usa essa palavra como pronome (“Custa dez cruzeiros cada
um”, e não “Custa dez cruzeiros cada”); b) com o mesmo sentido de
cada um, emprega-se às vezes cada qual; c) é lícito dizer cada dois,
cada três; d) quando o substantivo está no singular, dispensa-se o
numeral, no português moderno (cada livro, cada pena, e não cada um
livro, cada uma pena; porém se diz cada dois livros, cada duas penas).
14. Em termos gramaticais, a combinação cada um ou cada qual vale como
substantivo. Exs: a) “Cada um é senhor de seus atos”; b) “Cada qual
tem o ar que Deus lhe deu” (Machado de Assis).
15. Quanto a concordância verbal, o verbo fica no singular, quando os
núcleos do sujeito vem determinados pelo distributivo cada (GÓIS,
1943, p. 39), até porque os substantivos assim designados normalmente
indicam gradação. Ex.: “Cada era, cada geração, cada povo exprime o
sentimento” (Rui Barbosa).

Cada um de nós – sabe ou sabemos?


Ver Alguém de nós – sabe ou sabemos? (P. 103)
Cadê
1. Na expressão interrogativa que é de?, subentende-se a palavra feito, e é
integralmente correto o seu uso, ficando a locução invariável, mesmo
que acompanhada de palavra no plural. Exs.: a) “Que é das provas
técnicas, e que é dos exames periciais?”; b) “Que é da roseira que nós
dois plantamos?”; c) “Que é de os processos que nos mostram a certeza
dos crimes?” (Tomás Antônio Gonzaga).
2. Vitório Bergo assim lecionava: “Fórmula exata de pergunta, resumo de
que é feito de…?, que se deve empregar em vez de quedê” (1944, p.
201). Ex.: “Que é dos tempos em que Aspásia ensinava retórica aos
oradores?” (Machado de Assis).
3. E assim era o ensino de Júlio Nogueira: “Esta palavra estranha, que se
ouve a cada momento, principalmente no falar nortista, é apenas uma
corrutela da frase interrogativa: Que é de?, a saber: Que é feito de? O
cadê já é uma segunda transformação, sendo a primeira quede. Quede o
livro? Que é de? Quanto ao grosseiro cadê, não deve ter representação
alguma, cabendo antes expungi-lo de vez da nossa linguagem” (1959, p.
27).
4. Também observando que a expressão correta é que é de, esclarece
Domingos Paschoal Cegalla que quedê, quede e cadê são variantes da
expressão originária cujo “uso deve restringir-se à fala familiar” (1999,
p. 343).
5. Para Luís A. P. Vitória (1969, p. 46), “eis um vício de linguagem que
toma vulto nos meios populares. Cadê, quedê, são corruptelas de que é
de. Diga-se pois: que é (feito) do papel, e não cadê (quedê) o papel?”.
6. E assim observam José de Nicola e Ernani Terra: “cadê é forma variante
de quede. Embora muito utilizadas, sobretudo na linguagem coloquial,
tais expressões devem ser evitadas na linguagem culta, devendo ser
substituídas por que é de, ou ainda onde está” (2000, p. 52).
7. Anote-se, por fim, por um lado, que o Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, órgão
oficialmente incumbido de listar as palavras pertencentes a nosso léxico,
registra cadê como sinônima de que é de (VOLP, 2009, p. 143).
Acrescente-se, por outro lado, que o melhor é deixar seu emprego para a
fala familiar, preferindo o uso de que é de para os textos que devam
submeter-se à norma culta.
Ver Que é de (P. 636).

Cáiser – Existe?
1. Um leitor indaga qual a razão – se é que existe – para que o Dicionário
Aurélio inclua a forma cáiser como nome do imperador da Alemanha,
adaptação essa que não encontrou em outros dicionaristas, como
Michaellis, Caldas Aulete e Figueiredo. E resume: “o sr. Aurélio gosta
de neologismos, ou esse uso tem alguma base racional?”.
2. Veja-se, por primeiro, quanto à etimologia, que, entre os romanos, um
imperador ou príncipe tinha o título de caesar (pronuncia-se césar); na
Rússia, seu equivalente era czar; na Alemanha, kaiser.
3. Uma consulta ao Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa mostra
que nele se registram os três seguintes vocábulos como pertencentes ao
nosso léxico: cáiser, césar e czar (ACADEMIA BRASILEIRA DE
LETRAS, 2009, p. 144, 180 e 239).
4. Ora, a Academia Brasileira de Letras, entidade que edita o VOLP, tem,
por delegação da lei, a incumbência para listar oficialmente as palavras
pertencentes ao nosso idioma, assim como para determinar-lhes a grafia
e fixar-lhes a pronúncia. Desse modo, em termos oficiais, legem
habemus, razão pela qual está autorizado o uso do mencionado
vocábulo.
5. Importante acréscimo se há de fazer: nossos dicionaristas, por mais
respeitados que sejam e por melhores serviços que tenham prestado ao
idioma, não são autoridades oficiais no assunto da consulta. Bem por
isso, se suas lições contrariam o VOLP ou dele divergem, a este (e não
àqueles) se deve prestar obediência, independentemente, até mesmo, de
eventuais incoerências ou imperfeições que se possam apontar nos
critérios por ele seguidos. Vale aqui a observação que se faz acerca da
lei: pode-se, em tese e no plano da Ciência, discuti-la, questionar seus
critérios, sua própria justiça; mas, na prática, incumbe segui-la e prestar-
lhe obediência.
Cais – Qual é seu plural?
Ver Ônibus – Qual é seu plural? (P. 529)

Calcar
1. Consoante lição de Edmundo Dantès Nascimento, “constitui
estrangeirismo o emprego do verbo calcar no sentido de apoiar-se,
basear-se, fundar-se, abordoar, estear-se, fundar-se, firmar, estribar-se,
amparar-se, escorar, arrimar, encostar-se, suster, especar”.
2. Exemplifica tal autor erro dessa natureza, ao referir que se usam, de
modo inadequado, frases como convencimento “calcado no art. 158 do
Código de Processo Civil” (NASCIMENTO, 1982, p. 118).
3. A correção, segundo ele, se faz pela substituição do verbo por um dos
seus mencionados sinônimos: “convencimento apoiado no art. 158 do
Código de Processo Civil”.

Campus
1. Um leitor indaga qual deve ser o plural de campus: os campus ou os
campi?
2. Parta-se do princípio de que campus é palavra de origem latina, vinda até
nós pelo inglês, com o significado de conjunto de edifícios e terrenos de
uma universidade.
3. Um primeiro problema que apresenta esse vocábulo concerne à
acentuação gráfica: se considerado integrante de nosso idioma, leva
acento (câmpus), como os demais paroxítonos terminados em us (como
bônus, ônus e vírus); se, porém, tido como ainda integrante do latim,
então não tem acento, que não existia naquele idioma.
4. Um segundo problema em sua grafia concerne a seu plural: alguns,
independentemente de a considerar ou não palavra de nosso idioma,
querem que se subordine ao critério básico de pluralização do vernáculo,
de modo que, como já termina por s, então se reconhece seu plural pelo
emprego do artigo no plural – o campus (ou o câmpus) e os campus (ou
os câmpus); outros, porém, reputando o vocábulo ainda integrante do
latim, fazem seu plural como no latim (os campi).
5. Para mostrar a divergência que há entre nossos gramáticos nessa matéria,
veja-se, num primeiro sentido, a posição de Domingos Paschoal Cegalla
(1999, p. 63), aconselhando a que se prefira, no singular, a forma
aportuguesada câmpus e que se lhe dê por plural os câmpus, à
semelhança de bônus, ônibus e ônus.
6. Já como exemplo da segunda posição, atente-se às observações de José
de Nicola e Ernani Terra: “sem acento por se tratar de palavra latina. O
plural é campi” (2000, p. 53).
7. O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela
Academia Brasileira de Letras, que é o órgão oficial para definir quais os
vocábulos que integram nosso léxico, em edição de 1999, considerava
tal palavra ainda integrando o latim, e a registrava sem acento (campus),
especificando-lhe, por plural, campi (p. 135).
8. Já sua quarta edição (2004) não repetiu a observação da edição anterior,
nem mesmo fez constar a palavra campus, ausência essa que obrigava
concluir que tal vocábulo continuava pertencendo ao latim, e não ao
nosso léxico, de modo que persistiam integralmente as observações já
formuladas.
9. Por fim, em sua edição de 2009, o VOLP voltou a registrar
expressamente tal vocábulo como integrante do latim, mas não lhe
especificou o plural (ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, p. 861).
10. Partindo dessa posição oficial da autoridade máxima do vernáculo para
questões dessa natureza, uma primeira conclusão é que, nos dias atuais,
o vocábulo ainda integra o latim, o que permite, desde logo, extrair
duas observações necessárias: a) não tem acento gráfico, que não existe
no idioma de origem; b) deve a palavra ser grafada entre aspas, em
negrito, itálico, com sublinha ou qualquer outro modo de realce,
indicador de tal circunstância.
11. Quanto ao segundo aspecto da questão, no que concerne ao polêmico e
tormentoso problema da pluralização de palavras e expressões de
outros idiomas, ainda não incorporadas ao vernáculo, desde logo se
observa não haver regramento específico por parte dos órgãos
competentes, e, assim, o que se tenta aqui é solucionar a questão por
um raciocínio cientificamente correto, com o acompanhamento do
bom-senso que deve nortear soluções dessa natureza.
12. Parta-se do princípio de que palavras e expressões de outros idiomas
podem cristalizar-se no vernáculo de maneiras diversas: a) campus veio
na forma do nominativo (caso latino que serve para vestir a função
sintática de sujeito); b) quorum sedimentou-se aqui na forma do
genitivo (caso que serve para exercer a função do antigo complemento
restritivo, hoje adjunto adnominal na maioria dos casos); c) a quo veio
na forma do ablativo por regência da preposição antecedente (caso que
normalmente serve para desempenhar a função sintática de
complemento circunstancial, hoje adjunto adverbial); d) ad quem,
também por regência da preposição antecedente, veio no acusativo
(que normalmente serve para desempenhar a função de objeto direto).
13. E, como não é difícil compreender nem observar, essa cristalização do
vocábulo estrangeiro em nosso idioma e seu emprego em estruturas
sintáticas vernáculas normalmente ocorrem do seguinte modo: a) sem
preocupação de qual seja sua função sintática na oração em português;
b) sem vínculo com a estrutura sintática do latim; c) sem ligação com a
conduta ou a flexão do vocábulo ou expressão no idioma de origem.
14. Em continuação, para melhor didática, considerem-se, em português,
os seguintes exemplos, com a especificação da função sintática da
palavra campus neles empregada: a) “O campus da universidade foi
fechado” (sujeito); b) “Visitei o campus daquela universidade” (objeto
direto); c) “A universidade precisa de um campus mais moderno”
(objeto indireto); d) “O perfil do campus não é o mais adequado para
as necessidades atuais” (adjunto adnominal); e) “Os campus da
universidade foram fechados” (sujeito); f) “Visitei os campus daquelas
universidades” (objeto direto); g) “As universidades precisam de
campus mais modernos” (objeto indireto); h) “O perfil dos campus não
é o mais adequado para as necessidades atuais” (adjunto adnominal).
15. Partindo do princípio de que não se pode pretender flexão pela metade
no idioma de origem, e considerando que, além da variação em gênero
e número para os substantivos, o latim ainda tem a flexão em caso (a
ser determinada pela função sintática que o vocábulo exerce na
oração), forçoso é concluir que, se alguém quer levar o vocábulo
campus para o plural, deve também, por coerência, alterá-lo quanto ao
caso, de acordo com a função sintática que o vocábulo exerce na
oração. E, assim, veja-se o resultado: a) “O campus da universidade foi
fechado” (sujeito); b) “Visitei o campum daquela universidade” (objeto
direto); c) “A universidade precisa de um campo mais moderno”
(objeto indireto); d) “O perfil do campi não é o mais adequado para as
necessidades atuais” (adjunto adnominal); e) “Os campi da
universidade foram fechados” (sujeito); f) “Visitei os campos daquelas
universidades” (objeto direto); g) “As universidades precisam de
campis mais modernos” (objeto indireto); h) “O perfil dos camporum
não é o mais adequado para as necessidades atuais” (adjunto
adnominal).
16. Não é difícil perceber as implicações desse raciocínio: a) um emprego
assim exige do usuário do vernáculo uma informação que ele
normalmente não tem; b) ou seja: exige dele conhecimentos razoáveis
de latim, que já não é ensinado em nossas escolas faz um bom tempo;
c) além disso, a par de não termos o gênero neutro em português,
também não há correspondência absoluta de gênero em ambos os
idiomas; d) isso significa que um vocábulo feminino em latim pode ter
vindo para o masculino em português, e vice-versa.
17. Por isso, com o devido respeito pelos que pensam de modo diverso, a
melhor solução parece obedecer aos seguintes parâmetros para o
emprego de expressões dessa natureza em português: a) as palavras e
expressões latinas não devem ter acentos gráficos, já que estes não
existem na língua de origem; b) devem ser grafadas em itálico, negrito,
com sublinha ou entre aspas, como é usual com respeito aos vocábulos
que integram outros idiomas; c) devem desvincular-se de sua função
sintática de origem para efeito de sua flexão em português, quer quanto
ao gênero (masculino ou feminino), quer quanto ao número (singular
ou plural); d) devem ser empregadas como vieram sedimentadas para o
uso no português, sem variações, adaptações ou tentativas de
acertamento em nosso idioma; e) sua pluralização em português deve
obedecer aos critérios de nosso idioma (normalmente com o acréscimo
de s); f) no caso de campus, como já existe o s no singular, o
reconhecimento do plural se dá pela flexão de outra palavra que se
agrega a tal substantivo (o campus, os campus).
18. Vejam-se, na prática, os exemplos anteriormente postos e a variação
adequada do substantivo observado: a) “O campus da universidade foi
fechado” (sujeito); b) “Visitei o campus daquela universidade” (objeto
direto); c) “A universidade precisa de um campus mais moderno”
(objeto indireto); d) “O perfil do campus não é o mais adequado para
as necessidades atuais” (adjuto adnominal); e) “Os campus da
universidade foram fechados” (sujeito); f) “Visitei os campus daquelas
universidades” (objeto direto); g) “As universidades precisam de
campus mais modernos” (objeto indireto); h) “O perfil dos campus não
é o mais adequado para as necessidades atuais” (adjunto adnominal).
19. Qualquer outra solução – sempre com o devido respeito pelos que
pensam de modo diverso – desrespeita a etimologia, fere os critérios
mínimos científicos e marginaliza o próprio bom-senso, além de tornar
o emprego de vocábulos e expressões dessa natureza, no vernáculo, em
um tormento adicional gravíssimo para o usuário médio do idioma.

Câncer – Qual é o plural?


1. Mesmo tendo suas próprias regras em português, a formação do plural
acaba sofrendo influência, em alguns casos, da forma e da pronúncia na
língua de origem.
2. Essa observação explica, por exemplo, o fato de que cão, mão e pavão,
em português, fazem, no plural, cães, mãos e pavões. É que, em latim,
seus plurais são, respectivamente, canes, manus e pavones.
3. Com essas ligeiras observações, anote-se que o normal, em português, é
que paroxítonas cuja vogal tônica seja o, terminadas em r, no singular,
recebam, no plural, a terminação eres, e passem a proparoxítonas:
revólver (revólveres), pulôver (pulôveres), câncer (cânceres).
4. Em abono dessa posição, importa observar que o Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, em sua edição de 2004, trazia, para o
singular câncer-em-couraça, o plural cânceres-em-couraça (p. 146). O
registro desse vocábulo não se repete na edição de 2009, em razão das
modificações de emprego do hífen, que faz com que tal palavra
composta não mais conste da referida obra. Permanecem válidos, porém,
o princípio e a lição.
5. Em resumo: o plural de câncer é cânceres.

Candidatos a
1. Interessante observação registra Luís A. P. Vitória acerca da referida
expressão: “Quando a essa expressão se seguir o nome designativo de
uma profissão, esse nome fica no singular. Ex.: ‘Estão chamando todos
os candidatos a motorista (e não motoristas)’”.
2. E complementa tal autor: “Da mesma forma dir-se-á: ‘Foram todos
promovidos a sargento’; ‘Estes capitães foram todos promovidos a
major’” (VITÓRIA, 1969, p. 47).
3. Também Luciano Correia da Silva observa que “os nomes indicativos
dos cargos ficam no singular: ‘candidatos a vereador’; ‘candidatos a
deputado ou a senador’” (1991, p. 176).
4. Observe-se que, em nenhum exemplo acima, ocorre a crase, por falta de
artigo. O a que antecede o designativo de profissão é tão somente
preposição. Além disso, os nomes que lhe vêm depois são masculinos,
circunstância essa que, por si só, impede a possibilidade de ocorrência da
crase.
Ver Crase – Regras gerais (P. 239).

Caneta-tinteiro
Ver Substantivos compostos – Como levar ao plural? (P. 717)

Caolho – Como pronunciar o plural?


Ver Metafonia (P. 472).

Capitã, Capitoa ou A Capitão?


1. Não há, em tese, razão alguma para se estranhar que, se a função de
capitão é desempenhada por uma mulher, será ela uma capitã, ou uma
capitoa, a exemplo de consulesa, coronela, delegada, deputada,
generala, marechala, ministra, paraninfa, prefeita, primeira-ministra,
sargenta e vereadora.
2. O vocábulo capitão, assim (quer indique o posto militar imediatamente
inferior ao de major, quer signifique o jogador que, dentro de campo,
lidera os demais companheiros), tem formas distintas: uma para o
masculino (o capitão) e duas outras para o feminino (a capitã e a
capitoa).
3. Em decorrência dessas considerações, portanto: a) não se deve dizer, no
feminino, a capitão, como se fosse comum de dois gêneros; b) o
substantivo, no feminino, não fica invariável com aparência de
masculino; c) não se há de reconhecer a flexão para o feminino apenas
pela alteração do artigo.
4. Cândido de Oliveira, após observar que, até há pouco, a maioria de
nomes dessa natureza era considerada comum de dois gêneros,
acrescenta textualmente que “é de lei, assim para o funcionalismo
federal como estadual, e de acordo com o bom senso gramatical, que
nomes designativos de cargos e funções tenham flexão: uma forma para
o masculino, outra para o feminino” (1961, p. 133).
5. A ojeriza de alguns para com o emprego de forma feminina em tais
casos talvez se explique pela circunstância lembrada por Mário Barreto
de que, “na língua jocosa, é que dos nomes de cargos sói derivar-se um
feminino para designar a mulher do que o desempenha, como almiranta,
generala, coronela, delegada…” (1954b, p. 188).
6. Silveira Bueno, por um lado, traz antigo ensinamento de J. Silva Correia,
diretor da Faculdade de Letras de Lisboa: “Nos últimos tempos têm
surgido numerosas formas femininas, que a língua de épocas não
distantes desconhecia, – e que são como que o reflexo filológico do
progresso masculinístico da mulher, – hoje com franco acesso a carreiras
liberais, donde outrora era sistematicamente excluída”. Por outro lado,
também aduz tal autor curiosa lição de Lebierre: “Os gramáticos
preceituam que os substantivos designativos de certas profissões, a
maior parte das vezes exercidas por homens, conservem a forma
masculina para a maioria de tais substantivos”. Por fim, adota ele o
seguinte ensino: “Os gramáticos, que defenderam a conservação, no
masculino, dos nomes de cargos outrora exercidos por homens e já agora
também por senhoras, não tinham razão, porque tais nomes são meros
adjetivos, como escriturário, secretário, deputado, senador, prefeito,
podendo concordar com o sexo da pessoa que tal cargo exerce e não com
o gênero dos nomes de tais profissões” (1957, p. 382-3).
7. Para que se avaliem as profundas alterações havidas em muito pouco
tempo acerca da ascensão profissional da mulher, com a consequente
necessidade de emprego de novos vocábulos, basta que se veja que,
mesmo na segunda metade do século XX, ainda lecionava Artur de
Almeida Torres haver “certos femininos que são meramente teóricos, e
cujo conhecimento não oferece nenhuma utilidade prática”, ponderação
essa que tal autor complementava dizendo que “esses femininos só
servem para sobrecarregar inutilmente a memória do estudante”. E,
dentre tais substantivos que reputava inúteis, arrolava o mencionado
gramático (TORRES, 1966, p. 59), por exemplo, capitoa (de capitão),
aviatriz (de aviador) e anfitrioa (de anfitrião).
8. Édison de Oliveira lembra os diversos casos de vocábulos femininos que
o povo evita usar, “quer em virtude de preconceito de que se trata de
funções ou características próprias do homem, quer por considerá-los
mal sonoros ou exóticos”, e acrescenta que se hão de empregar tais
femininos, “que a gramática já ratificou definitivamente” (s/d, p. 158).
9. Por fim, anota-se que o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa,
editado pela Academia Brasileira de Letras (2009, p. 158-9), aponta para
a existência de capitão para o masculino e de duas formas para o
feminino: capitã e capitoa. E, até mesmo contrariamente a sua tendência
normal, explicita que, quando se tratar de “posto militar”, admite os dois
femininos (capitã e capitoa). Ora, a ABL tem delegação legal – e a
exerce por via do VOLP – para oficialmente dirimir dúvidas e firmar
posição de obrigatória aceitação com respeito à existência ou não de
vocábulos em nosso idioma, além de outros aspectos, entre os quais sua
correta flexão em gênero.
10. E se acrescente: os plurais são, respectivamente, capitães, capitãs e
capitoas.
11. A outros vocábulos se aplicam as mesmas observações quanto à
formação do feminino: a) se a função de cônsul é desempenhada por
uma mulher, será ela uma consulesa, como registra o Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa (2009, p. 212); b) assim também
com a função de coronel, fato esse nada incomum em nossos dias, após
a permissão de militância feminina na polícia, que será exercida, então,
por uma coronela, como preconiza Cândido de Oliveira (1961, p. 133)
e como registra o VOLP (2009, p. 221), não se devendo levar em conta
a objeção de Geraldo Amaral Arruda (1997, p. 145-6), para quem “o
substantivo coronela lembra um ordenança referindo-se à esposa do
coronel” e tal forma constitui “solução inferior”, por conter “conotação
depreciativa ou jocosa”; c) se uma mulher desempenha a função de um
soldado, será ela uma soldada (ABL – VOLP, 2009, p. 763); d) o
mesmo se diga para delegada (VOLP, 2009, p. 248), e) para deputada
(VOLP, 2009, p. 251), f) generala (VOLP, 2009, p. 399), g) marechala
(VOLP, 2009, p. 528), h) ministra (VOLP, 2009, p. 553), i) paraninfa
(VOLP, 2009, p. 620), j) prefeita (VOLP, 2009, p. 673), k) primeira-
ministra (VOLP, 2009, p. 675), l) sargenta (VOLP, 2009, p. 743) e m)
vereadora (VOLP, 2009, p. 837), entre outros.
Ver Oficiala – Existe? (P. 520) e Poeta – Qual o feminino? (P. 570)

Capital
1. Este vocábulo é um substantivo que tem uma significação no masculino
e outra no feminino: a) “Para constituir a empresa, o capital não era
suficiente” (o capital-dinheiro); b) “A testemunha deixou a capital e
mudou-se para o interior” (a capital-cidade).
2. Ainda pode ser adjetivo com o significado de essencial, fundamental:
Isto é de capital importância.
Ver Maiúsculas (P. 455).

Capítulo – Como ler seu número?


Ver Números – Como ler e Empregar? (P. 506)

Captar
1. No que concerne à ortografia das formas de sua conjugação verbal, é
preciso atentar a suas formas rizotônicas, nas quais o radical permanece
o mesmo, em conduta típica de verbo regular que é, sem qualquer
acréscimo de i ou alteração de posicionamento da sílaba tônica
(SACCONI, 1979, p. 21): capto, captas, capta, captamos, captais,
captam (presente do indicativo); capte, captes, capte, captemos, capteis,
captem (presente do subjuntivo)…
2. Mesmo entre as pessoas cultas, há uma tendência equivocada a
introduzir, quer na escrita, quer na pronúncia, uma vogal logo após o t
que encerra o radical, nas formas rizotônicas, pronunciando-se capito,
capitas…
3. Como a ocorrência de formas rizotônicas apenas se dá no presente do
indicativo, presente do subjuntivo, imperativo, afirmativo e imperativo
negativo, a dificuldade apontada não acontece nos demais tempos.

Captar ou Capitar?
1. Há, em Português, um número considerável de palavras que têm grafia e
pronúncia parecidas, mas sentido totalmente diverso uma da outra. São
as palavras parônimas.
2. Para não sair da esfera do Direito, citam-se alguns exemplos: deferir
(conceder) e diferir (diferenciar, postergar); deferimento (anuência,
aprovação) e diferimento (adiamento, prorrogação); delatar (denunciar)
e dilatar (aumentar, prorrogar); eminente (ilustre) e iminente (que está
prestes a acontecer); flagrante (no ato) e fragrante (perfumado); infligir
(aplicar) e infringir (transgredir); ratificar (confirmar) e retificar
(corrigir).
3. Ainda como exemplos de palavras parônimas, citam-se captação (o ato
de obter) e capitação (que significa imposto), substantivos esses de que
derivam os respectivos verbos: captar (que significa apreender) e capitar
(que quer dizer impor capitação ou exigir imposto).
4. Derivada do latim (caput, capitis, que significa cabeça), capitação
constitui forma de tributo cobrada pelo número de cabeças, ou seja, pelo
número de pessoas dependentes de um senhor.
5. No Brasil colonial, a Lei de Capitação, de autoria de Alexandre de
Gusmão, irmão do Padre Bartolomeu de Gusmão, data de 1734/1735 e
foi revogada em 1750/1751. Acrescente-se que, entre os mais de cem
quilombos formados em Minas Gerais entre 1695 e 1790, diversos dos
povoados eram habitados não apenas por negros alforriados e escravos
fugidos, mas também por brancos pobres, que fugiam exatamente do
sistema tributário da capitação. E ainda se diga que, à época de
Tiradentes, a capitação coexistia com o sistema de cobrança de um
quinto do ouro processado nas casas de fundição, que tinha por endereço
os cofres do rei de Portugal.
Caráter ou Caractere?
1. Caráter pode ter diversos significados: a) conjunto de características de
alguém (“Seu caráter agressivo dificulta-lhe os relacionamentos”); b)
qualidade de alguma pessoa (“Ele é alguém de caráter”); c) cunho (“Ele
escreveu uma obra de caráter científico”).
2. Já caractere (é) significa qualquer dígito numérico, letra de alfabeto ou
código de controle (“Ele não conseguiu localizar o processo pela
internet, por falta de um caractere em seu número”).
3. Embora etimologicamente sejam variações de um mesmo vocábulo (do
grego caraktér pelo latim charactere), modernamente se passou a fazer a
distinção, conforme o sentido, sobretudo em decorrência de seu grande
uso advindo do progresso da informática.
4. Corroborando o fato de que essa distinção é recente, vale lembrar antiga
observação de Cândido de Figueiredo a um funcionário de escola que
exigia de seus inspecionados que fizessem sempre a distinção prosódica
entre caráter, para significar feição moral, e caracter (é), para indicar a
letra, obrigando também a distinção no plural – carácteres e caracteres
(é) – consoante as acepções: “Sob a forma de caráter, há apenas um
vocábulo, e as várias acepções de um vocábulo não influem
absolutamente nada na sua prosódia” (1943, p. 244).
5. Pois bem. Nos últimos tempos, tem-se a seguinte situação nas sucessivas
e recentes edições do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa,
publicado pela Academia Brasileira de Letras, que é o órgão
oficialmente incumbido de listar as palavras existentes em português,
bem como sua correta grafia e prosódia: a) em sua segunda edição
(1998), apresentava as formas carácter e caráter, mas não caracter (é)
nem caractere (é), e fazia remissão entre aquelas, como sinônimas,
apontando para ambas o plural caracteres (p. 141-2); b) em sua quarta
edição (2004), eliminou carácter, acrescentou caractere (é), mas indicou
o plural caracteres apenas na última (p. 154-5); c) em sua quinta edição
(2009), já em conformidade com o Acordo Ortográfico de 2008,
manteve exatamente a postura da edição anterior, a saber, não trouxe
caracter (é) nem carácter, e sim caractere e caráter, e apontou o plural
caracteres apenas nesta última (p. 160-1).
6. Ante um tal quadro, a questão pode ser assim sintetizada para os dias de
hoje: a) no singular, há caráter e caractere (é), mas não existem carácter
nem caracter (é); b) o plural de ambas é caracteres (SACCONI, 1979, p.
34.), com o e tônico também com timbre aberto (é), não importando a
acepção que o vocábulo possa ter; c) em caractere e em caracteres, o c é
regularmente pronunciado.
7. Adicionalmente, como interessante observação, vale anotar que o
substantivo composto mau-caráter faz, no plural, maus-caracteres,
como, aliás, registra o VOLP (2009, p. 534), não importando que o som
do vocábulo possa não ser dos melhores (NISKIER, 1992, p. 73).

Cardinal
Ver Números – Como ler e Empregar? (P. 506)

Carecer
1. Ao comentar o Projeto do Código Civil, Rui Barbosa insurgiu-se contra
o emprego de tal verbo na significação de precisar, necessitar, fazendo-o
ao menos quando teve em consideração duas passagens: a) “… sem ficar
privado dos meios de que carecer à sua sustentação” (art. 406, II); b)
“não carece o sócio do concurso dos outros…” (art. 1.388).
2. E ponderou: “É reprovável o uso de carecer toda vez que se não puder
substituir por não ter. Carece-se daquilo que se não tem” (BARBOSA,
1949b, p. 159 e 374).
3. Sua observação acabou sendo acatada pelo legislador, como se observa
da redação definitiva dos arts. 399 e 1.388 do Código Civil: a) “… sem
desfalque do necessário ao seu sustento”; b) “… não necessita o sócio
do concurso dos outros”.
4. Cândido Jucá Filho, também nessa esteira, por um lado, observa que
Mário Barreto “se mostra complacente com o barbarismo condenado,
aliás, por Cândido de Figueiredo”, complementando que tal mestre “cita
exemplos não muito valiosos de Arnaldo Gama”.
5. Em seguida, esclarece tal autor (JUCÁ FILHO, 1981, p. 49) que o
próprio Mário Barreto, porém, em outra obra, “censura uma escritora
patrícia por usar tal barbarismo numa tradução”.
6. Já Vasco Botelho de Amaral anota que, “apesar de um ou outro exemplo
em contrário, é predominante na prosa clássica antiga a acepção de não
ter não possuir”.
7. E, observando que Morais, em seu dicionário, registra o sentido
condenado por alguns, apenas acrescenta que, “evidentemente, não deve
abusar-se de carecer, a ponto de, como acontece hoje em dia, quase se
olvidarem as expressões precisar, ter precisão ou necessidade,
necessitar, haver mister, fazer preciso, etc.” (AMARAL, 1939, p. 15).
8. Francisco Fernandes (1971, p. 136), todavia, aponta para a integral
possibilidade do uso desse verbo nos sentidos apontados, colecionando
excertos de abalizados autores. Exs.: a) “Assim que robustecem, já têm
brios de seu, já do homem não carecem” (Antônio Feliciano de
Castilho); b) “O mais hábil dos homens carecerá sempre de um ‘quid’,
um fluido, alguma coisa” (Machado de Assis); c) “são os pobres os que
mais de vós carecem” (Ernesto Carneiro Ribeiro).
9. Segundo apropriada lição de Laudelino Freire (s/d, p. 35), “nada autoriza
admitir, como quer Cândido de Figueiredo, que carecer na acepção de
precisar é erro, visto que carecer de só se emprega quando pode ser
substituído por não ter. Tal restrição excluem-na a língua erudita e a
vulgar, ficando de pé a sinonímia, ainda reconhecida pela grande
autoridade de Carneiro Ribeiro”.
10. Artur de Almeida Torres (1967, p. 66), após referir o posicionamento
de Rui Barbosa e de Cândido de Figueiredo no sentido de que no
mínimo duvidosa a sinonímia entre carecer e precisar ou necessitar,
aduz lições contrárias de Ernesto Carneiro Ribeiro (que vê em tal
equivalência apenas uma “ampliação do sentido primitivo do
vocábulo”) e de João Ribeiro (para quem “falta e necessidade são
coisas que sempre andam juntas”), para, por fim, concordar, ele
próprio, com tal ensinamento mais abrangente, trazendo a corroboração
de abalizados autores, e isso ora com o emprego da preposição de, ora
sem ela: a) “Careço de ouvir-lhe a decisão final” (Antônio Feliciano de
Castilho); b) “Os manuscritos de Silvestre careciam de serem
adulterados para merecerem a qualificação de romance” (Camilo
Castelo Branco); c) “Carecendo instruir-me, procurei racionalizar o
meu espírito” (Monte Alverne).
11. Em um de seus escritos, João Ribeiro repreendeu, num primeiro
momento, a José de Alencar por haver empregado o verbo carecer na
acepção de precisar; ao depois, suavizou a repreensão, explicando, com
integral aplicação a nossos dias, a modificação semântica: “Como falta
e necessidade são coisas que sempre andam juntas, a translação do
sentido era inevitável” (RIBEIRO apud BARRETO, 1954b, p. 219).
12. Independentemente da polêmica entre os mestres, todavia, parece
aconselhável aceitar um posicionamento mais liberal e extensivo na
atualidade – quer por força da autoridade daqueles que assim pensam,
quer em virtude do uso, que não pode ser marginalizado em casos
desse jaez, quer pelo próprio princípio de que, na dúvida, deve-se
conceder liberdade ao usuário – e isso para ambas as finalidades: a)
para se aceitar o emprego de carecer também com o sentido de precisar
ou necessitar; b) para se darem por corretas suas estruturas como
transitivo direto ou transitivo indireto, construído, assim, tal verbo com
a preposição de, ou sem ela.
13. Acrescenta-se, nessa esteira, a lição de Francisco Fernandes, com
exemplo extraído do próprio Rui Barbosa: “Tendo por complemento
um verbo no infinitivo, pode usar-se com a preposição oculta”. Ex.:
“As companhias de transportes urbanos careciam duplicar os veículos
e as linhas para satisfazer às necessidades da população” (Rui
Barbosa).
14. Em mesmo sentido, a lição do Padre Jose F. Stringari (1961, p. 45-6),
para o qual também se pode dizer carecer algo ou carecer de algo
(sendo o verbo, portanto, assim transitivo direto como transitivo
indireto), assertiva essa para cuja corroboração tal estudioso da
linguagem traz exemplo de Antônio Feliciano de Castilho: “Nas
paredes, … pode o curioso menos instruído ler por cima os primeiros
capítulos da História portuguesa, pois que neles, à semelhança de
quadros, se representam os vários lanços da jornada de Ourique, sem
inscrições; nem as carecem, tanta é a viveza da pintura!”.

Cargo visado – Está correto?


Ver Fim visado – Está correto? (P. 356)

Caro
1. É palavra que precisa ser observada quanto a concordância nominal.
2. Se modifica um verbo, tem valor de advérbio e é invariável Exs.: a) “O
terno custou caro”; b) “A roupa custou caro”; c) “Os ternos custaram
caro”; d) “As roupas custaram caro”.
3. Se, porém, modifica um substantivo, tem valor de adjetivo e concorda
com a palavra modificada. Ex.: a) “Um terno caro não sai com
facilidade da prateleira”; b) “Uma roupa cara não sai com facilidade da
prateleira”; c) “Ternos caros não saem com facilidade da prateleira”; d)
“Roupas caras não saem com facilidade da prateleira”.
Ver Bastante – Existe no plural? (P. 156)

Caroço – Como pronunciar o plural?


Ver Metafonia (P. 472).

Carta Magna
1. Historicamente, Magna Carta (ou Carta Magna) foi um documento
imposto em junho de 1215 pelos nobres ingleses rebelados contra o rei
João Sem Terra, com o intuito de dar um basta aos atos arbitrários reais,
mediante a edição de um corpo de leis a que o rei deveria prestar
obediência. Tinha por alvo distinguir entre realeza e tirania. Significou
um símbolo da soberania e foi de fundamental importância para o
progresso constitucional da Inglaterra e de outros países cujo sistema de
lei e de governo tem base nas convenções inglesas.
2. Por significar a base legal de sustentação do ordenamento de um país, a
expressão passou a abranger, por extensão, o modo como são conhecidas
as diversas constituições em todo o mundo.
3. Em si mesma, a expressão Carta Magna quer apenas dizer diploma
maior ou suprema legislação. Por não se tratar de expressão técnica, seu
uso não se restringe necessariamente às constituições outorgadas, nem se
vincula com exclusividade à lei federal, de modo que não há problema
algum em se dizer, por exemplo, a Carta Magna do Estado de São Paulo,
querendo referir-se à Constituição do Estado de São Paulo.
4. Em termos gramaticais, denominar uma Constituição Federal de Carta
Magna é uma figura de linguagem, mais especificamente uma
antonomásia (espécie de metonímia, que consiste em designar um ser
por um seu atributo notório ou acontecimento a que se ligue).
5. Em razão da precisão técnica que deve ter a linguagem jurídica (Direito
é ciência, não arte), alguns autores criticam o que reputam emprego
desnecessário de figuras de linguagem, apontando que adornos dessa
natureza não significam correção do texto jurídico, mas apenas uma
quebra da rigidez do intelectivo dessa linguagem pelo emocional.
6. Assim, no entender desses autores, seria inconveniente substituir os
termos e as locuções técnicas e precisas de um texto dessa espécie por
sinônimos, a pretexto de evitar repetições. Mais precisamente, um uso
assim incorreria no risco da impropriedade de expressão e mesmo de
descambar para o pernosticismo.
7. Dessa mesma modalidade de equívoco, por exemplo, seria substituir as
expressões técnicas petição inicial (ou inicial) e denúncia por peça
inaugural, exordial, exordial acusatória, vestibular, peça depositária da
pretensão punitiva, peça denunciatória, requisitório ministerial, petição
de intróito, peça preambular, peça incoativa, peça increpatória, peça ovo,
etc.
8. Em termos bem práticos, parecem aconselháveis quatro aspectos: a)
lembrar que o Direito é uma ciência e tem uma linguagem técnica, à qual
sempre se deve procurar ater o usuário, de modo que os termos técnicos
devem ter preferência; b) lembrar que muitas dessas expressões são de
mau gosto (ou não o é peça ovo?) e que a maioria delas não expressa
efetivamente o que se quer dizer; c) observar que um texto cheio de
penduricalhos dessa ordem faz lembrar determinadas mulheres
preparadas para eventos, as quais estão longe de ser consideradas
bonitas, de bom gosto e bem produzidas; d) ter a certeza de que um
projeto de simplificação da linguagem jurídica, com o afastamento
excessivo de determinadas expressões e construções, é um objetivo que
todo usuário deve ter para a vida toda.
9. Com essas observações, não parece de mau gosto referir a Constituição
Federal como Carta Magna; o que se deve evitar é o excesso. Aconselha-
se ao usuário da linguagem jurídica, todavia, fixar, como meta de vida,
um projeto de simplificação de seu texto jurídico e de gradativa
obediência à terminologia técnica.

Carta precatória
Ver Precatória (P. 588).

Cartas de intimação ou Cartas de intimações?


1. Uma leitora indaga se o correto é dizer cartas de intimação ou cartas de
intimações, ou, ainda, termos de substabelecimento ou termos de
substabelecimentos.
2. Ora, quando se está diante de uma expressão como cartas de intimação,
podem-se fazer as seguintes considerações: a) por um lado, há mais de
um documento ou carta; b) por outro lado, entretanto, sua destinação é
para uma só e mesma finalidade (o ato de intimar); c) ou seja, em
síntese, busca-se a intimação de mais de uma pessoa; d) então o correto é
deixar o último termo no singular, não importando se diversas são as
pessoas a serem intimadas (sempre cartas de intimação); e) quando se
estende um pouco mais a expressão, tem-se a confirmação dessa
realidade: cartas para a intimação de diversas pessoas.
3. Outras expressões de estruturação similar se submetem a essas mesmas
considerações, quer venha a especificação antes, quer depois: a) termos
de substabelecimento; b) mandados de citação; c) intimação dos
interessados.
4. Vejam-se alguns exemplos em nosso Código de Processo Civil de 1973,
que estão a confirmar essas conclusões: a) “O juiz ordenará ao autor que
promova a citação de todos os litisconsortes necessários” (art. 47,
parágrafo único); b) “Salvo nos casos expressos em lei, é essencial a
citação dos interessados” (art. 862, caput); c) “… o autor requererá […]
a citação dos que disputam…” (art. 895); d) “Recebida a petição inicial,
ordenará o juiz a citação dos requeridos para contestar a ação…” (art.
1.057, caput); e) “O interessado, ao requerer a abertura da sucessão
provisória, pedirá a citação pessoal dos herdeiros presentes…” (art.
1.164, caput).
Casa a alugar(-se) – Está correto?
Ver A fazer – Está correto? (P. 91)

Casar
1. Quanto a regência verbal, no sentido de unir-se a alguém por casamento,
pede necessariamente a preposição com, mas pode, indiferentemente, ser
pronominal ou não (SILVA, A., 1958, p. 53).
2. Assim, são igualmente corretos os seguintes exemplos: a) “O agente do
crime contra os costumes casou com a vítima, do que decorreu a
extinção de sua punibilidade”; b) “O agente do crime contra os
costumes casou-se com a vítima, do que decorreu a extinção de sua
punibilidade”.
3. Na origem, o emprego de tal verbo dispensava o pronome,
posicionamento esse também preferido pelos autores mais antigos, como
se vê nos provérbios, que são o “arquivo da linguagem castiça e natural”,
nos dizeres de Aires da Mata Machado Filho (1969b, p. 734). Ex.:
“Quem casa, quer casa”.
4. Rui Barbosa, em sua Réplica, faz extensa coletânea de tais brocardos,
sempre com a forma casar.
5. Acrescenta, ainda, Aires da Mata Machado Filho (1969a, p. 647) que,
“embora a segunda variante (uso do verbo pronominal) não mereça
censura, a outra leva a melhor na elegância e na vernaculidade genuína”,
realçando que, em tais casos, mesmo ocorrendo a possibilidade de
empregar verbos com o pronome ou sem ele, “a forma preferível é
sempre a que dispensa o pronome”, e isso porque “supera a concorrente
em elegância e concisão”.
6. Rápida análise de alguns dispositivos do Código Civil de 1916 revela,
por um lado, a predileção do codificador pela forma mais concisa, vale
dizer, sem pronome, bastando conferir os arts. 180, 181, 183, 196, 201,
258, 269 e 276; a par delas, porém, também se apresentam alguns casos
de emprego da forma pronominal, como atestam os arts. 214, 225 e 236.
7. Artur de Almeida Torres (1967, p. 67), após lecionar que, “na acepção
de ligar por meio do casamento, unir, reveste ou não, facultativamente, a
forma pronominal”, lembra que Rui Barbosa “gostava mais de usar o
verbo desacompanhado do pronome, pela superioridade, evidente ao
ouvido, que a sua brevidade lhe dá”, complementando que da mesma
opinião era Cândido de Figueiredo, o qual asseverava de forma taxativa:
“Por mim, dispenso o pronome”.
8. Atente-se a que namorar não lhe segue a regência: não admite
preposição alguma e é transitivo direto.

Casa vinte e um
Ver A folhas vinte e duas – Como é a forma correta? (P. 94)

Caso seja… e deseja…?


1. Em português, existem normas de correlação, de correspondência
temporal ou, ainda, de consecução dos tempos verbais (em latim, com
regras mais rígidas, consecutio temporum), as quais determinam a
harmonização a ser observada para o emprego das formas dos verbos.
2. Por essas normas é que, na prática, assim se redigem os seguintes
exemplos, guardando a correlação dos tempos (ou seja, o uso primeiro
de um tempo exige que o segundo verbo siga para um determinado
tempo específico): a) “Se é clara, a lei dispensa interpretação”; b) “Se a
lei for clara, dispensará interpretação”; c) “Se a lei fosse clara,
dispensaria interpretação”.
3. Atente-se, todavia, ao seguinte exemplo: “Caso você seja de alguma
destas cidades e deseja se cadastrar como correspondente…” Apenas
em termos de análise de fato, seja está no presente do subjuntivo, e
deseja está no presente do indicativo. Atente-se, ademais, a uma outra
forma desse mesmo exemplo: “Caso você seja de alguma destas cidades
e (caso) deseja se cadastrar como correspondente…”
4. Ora, o mesmo caso (conjunção subordinativa condicional) que rege o
primeiro verbo (seja) e exige que ele seja posto no presente do
subjuntivo, rege também o segundo verbo (deseja) e não permite que ele
seja flexionado para o presente do indicativo (deseja), mas exige que
seja também conjugado no presente do subjuntivo (deseje).
5. Assim, veja-se a forma equivocada e a forma correta do exemplo: a)
“Caso você seja de alguma destas cidades e deseja se cadastrar como
correspondente…” (errado); b) “Caso você seja de alguma destas
cidades e deseje se cadastrar como correspondente…” (correto).

Casos que se tornam necessários enumerar


1. É de construção errada.
2. Procede-se a sua correção da seguinte forma: “Casos que se torna
necessário enumerar”.
Para melhor entendimento, ver Infinitivo como sujeito – Como
concordar? (P. 414)

Casos que tais – É correto?


1. Um leitor pergunta, de modo direto, se é correta a expressão em casos
que tais.
2. Ora, como lembra Arnaldo Niskier, em expressões dessa natureza, o
vocábulo tal varia de acordo com o substantivo com o qual se relaciona
(1992, p. 59).
3. E Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 345), de modo literal, confirma
que se deve “fazer concordar tal com o substantivo a que se refere”.
Exs.: a) “Que tal a foto?”; b) “Que tais as fotos?”.
4. E, assim, concluindo de modo específico para o caso da consulta, vejam-
se as formas corretas: a) “Em caso que tal…”; b) “Em casos que tais…”.

Cassar ou Caçar?
Ver Caçar ou Cassar? (P. 162)

Castelhanismo
Ver Espanholismo (P. 330).

Cateter ou Catéter? E o plural?


1. Um leitor indaga qual das formas é correta: cateter ou catéter? Ou seja:
oxítona (com a última sílaba sendo pronunciada com mais força), ou
paroxítona (com pronúncia mais forte na penúltima sílaba)?
2. Ora, sempre é bom lembrar – até para criar no leitor o hábito de um
raciocínio que se repete – que, quando se quer saber se uma palavra
existe ou não em português, ou mesmo qual é sua grafia e/ou pronúncia,
deve-se tomar por premissa o fato de que a autoridade para listar
oficialmente os vocábulos pertencentes ao nosso idioma e para definir-
lhes as demais peculiaridades e circunstâncias, é a Academia Brasileira
de Letras.
3. E essa autoridade, a ABL a exerce por via da edição do Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa.
4. Uma simples consulta ao VOLP mostra que nele se registra cateter (sem
acento algum e, portanto, com a pronúncia mais forte na última sílaba),
mas não catéter (2009, p. 171).
5. Em complementação, adverte Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 66)
que, no plural, tal palavra é paroxítona (pronunciada catetéres).
6. E não se olvide, entretanto, que não há razão alguma para acento gráfico
nem no singular, nem no plural.

Catorze ou Quatorze?
1. A forma do numeral cardinal equivalente a um conjunto de uma dezena
de membros mais quatro membros tanto pode ser catorze quanto
quatorze. Exs.: a) “Oito mais seis são catorze”; b) “Seis mais oito
também são quatorze”.
2. O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia
Brasileira de Letras, órgão incumbido oficialmente de determinar a
existência dos vocábulos em nosso idioma, além de sua grafia oficial,
registra ambas as formas como corretas (2009, p. 172 e 690).
3. Apenas por questão de uso mais frequente entre nós, observa Édison de
Oliveira (s/d, p. 22) que catorze é a forma preferida no Brasil.

Cavaleiro ou Cavalheiro?
1. Cavaleiro é aquele que cavalga, que anda a cavalo. Ex.: “Naquele
torneio de equitação, o cavaleiro passou por sobre o obstáculo, mas o
cavalo não”.
2. Seu feminino é cavaleira ou amazona.
3. Já sua parônima cavalheiro significa homem cortês, de sentimentos
nobres. Ex.: “As damas eram atendidas antes dos cavalheiros”.
4. Seu feminino é dama.
5. Talvez por reputar tão oportuna a diferenciação, o Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras,
órgão incumbido oficialmente de determinar a existência dos vocábulos
em nosso idioma, além de sua grafia oficial, mesmo contrariamente a seu
proceder de não especificar o sentido das palavras, acaba por apontar de
modo expresso a distinção de sentido entre os vocábulos: cavaleiro é
montador, enquanto cavalheiro é homem bem-educado (2009, p. 173).

Cediço ou Sediço?
1. Um leitor relata haver encontrado, em texto de determinado jurista, a
grafia sediço – e não cediço, como é o costume – com o significado de
corriqueiro, e indaga acerca da maneira correta de escrever o vocábulo.
Acrescenta que um conhecido dicionarista, embora apontando cediço
como forma correta, defendeu também a possibilidade de emprego de
sediço.
2. Observe-se, por primeiro, que não há consenso acerca da origem do
mencionado vocábulo, e há base histórica para afirmar seu étimo com c
ou com s inicial, como bem explica Antônio Houaiss em seu dicionário
(2001, p. 665).
3. Não se esqueça, entretanto, que o Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de Letras, ordena que se
escreva cediço (2009, p. 160) e não apresenta possibilidade alguma da
grafia sediço.
4. Acresça-se que a Academia Brasileira de Letras é o órgão que detém a
delegação legal para determinar oficialmente a grafia das palavras em
nosso léxico. Sua maneira de entender, assim, é a palavra oficial no
idioma, e, desse modo, descabe toda e qualquer discussão acerca de
outras possibilidades de uso dos mencionados vocábulos na atualidade.
5. Também é oportuno observar que os autores literários, por mais
considerados que sejam, podem eventualmente polemizar a grafia mais
adequada para um vocábulo e até mesmo aportuguesar a seu modo
palavras e expressões estrangeiras. Apesar de instigar a discussão
científica, sua postura, todavia, para nada servirá perante a posição
oficial manifestada pela ABL em seu VOLP. Quando muito, tal conduta
poderá servir para fornecer elementos para futura mudança de postura
por parte da ABL, que poderá, eventualmente, proceder à respectiva
inclusão em edição futura do VOLP.

Cedilha
1. E a forma diminutiva, em português, da forma espanhola ceda, a qual,
nos dizeres de Napoleão Mendes de Almeida, “é hoje representada por
um pequeno c virado para trás, que se sotopõe ao c, que então se
denomina cê cedilhado”.
2. Acrescentava o saudoso gramático que “não se deve dizer cê-cedilha”
(ALMEIDA, 1981, p. 51).
3. A 5ª edição do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, editado
pela Academia Brasileira de Letras, órgão incumbido oficialmente de
determinar a existência dos vocábulos em nosso idioma, além de sua
grafia oficial, no entanto, registra o vocábulo cê-cedilha, assim como cê-
cedilhado (2009, p. 174), motivo pelo qual se autoriza o emprego de
ambas as formas.
4. Importante é observar que apenas se emprega o cê cedilhado antes de a,
o e u (caçar, caçoar, açúcar), jamais antes de e ou de i (cacemos,
cacique), motivo por que, nos verbos da primeira conjugação terminados
em çar, o c perde a cedilha antes do e: abrace, cacemos.
5. Por outro lado, por idêntico motivo, nos verbos da segunda conjugação
terminados em cer, o c recebe cedilha antes de a e de o: mereça,
apareço.

Censor – Comum de dois gêneros?


1. Ao indagar se a palavra censor é comum de dois gêneros, o leitor, em
síntese, quer saber: a) se censor é forma do masculino, tendo censora
como forma do feminino?; b) ou se a forma é uma só (censor),
diferenciada apenas pelo artigo que a antecede (o censor e a censor)?
2. Esclareça-se, desde logo, tecnicamente, que, quando se tem a mesma
palavra para o masculino e para o feminino, diferenciando-se o gênero
apenas pelo artigo que a antecede, isso é o que se chama de comum de
dois ou comum de dois gêneros: o pianista, a pianista, o selvagem, a
selvagem.
3. E, quando se quer solucionar uma dúvida a esse respeito, deve-se tomar
por premissa o fato de que a Academia Brasileira de Letras detém a
autoridade para definir oficialmente as peculiaridades das palavras de
nosso idioma concernentes à grafia, pronúncia, gênero, número,
categoria gramatical, etc.
4. E essa autoridade, a ABL a exerce por via da edição do Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa.
5. Feitas essas observações a título de premissas, acrescenta-se que uma
simples consulta ao VOLP mostra que a palavra censor é dada como
pertencente ao gênero masculino (2009, p. 177), o que implica concluir
que seu feminino há de ser formado de outro modo, que não pela simples
anteposição de um artigo feminino. Ou seja, o vocábulo censor não é
comum de dois gêneros.
6. Em outras palavras, o feminino de o censor há de ser apenas a censora,
sem outra possibilidade.

Centigrama
Ver Grama (P. 376).

Cento por cento – Existe?


1. Muito embora seja pouco usada, constitui expressão tão correta quanto
cem por cento. Ex.: “Ele está correto cento por cento”.

Cerca de, Acerca de ou Há cerca de?


Ver Acerca de, Há cerca de ou Cerca de? (P. 68)

Certeza que ou Certeza de que?


1. Um leitor indaga qual a forma correta: “tenho certeza que” ou “tenho
certeza de que”.
2. Ora, porque certeza é um substantivo (ou nome), o que se quer saber, em
última análise, é se o nome certeza exige seu complemento com a
mencionada preposição ou não.
3. Esclarece-se, também por oportuno, que, em termos técnicos, o estudo
acerca dessa exigência de preposição ou não para o complemento de um
nome está a cargo de um capítulo da Gramática denominado regência
nominal.
4. Autores ilustres já estudaram em minúcias substantivos como certeza, e
um deles, Francisco Fernandes (1969, p. 81-2), coletou, entre
conceituados usuários de nosso idioma, construções desse substantivo
com as preposições de e em. Exs.: a) “… como se tivesse a certeza da
minha ida…” (Camilo Castelo Branco); b) “Assegura-lhe … a certeza
do triunfo…” (Rui Barbosa); c) “Não há nenhuma certeza nas coisas do
mundo” (Fr. D. Vieira).
5. Celso Pedro Luft também verificou a existência do emprego da
preposição sobre em tais casos: a) “Só os policiais da linguagem têm
certeza absoluta sobre o que é correto no falar e no escrever”; b)
“Nenhum homem tem certeza sobre suas próximas ações e reações”
(1999, p. 95).
6. Os exemplos dados até agora, contudo, são casos em que o complemento
de certeza é apenas um substantivo: “certeza da ida…, certeza do
triunfo…”. A indagação do leitor, porém, é mais profunda: certeza que
ou certeza de que…? Ou seja, quer saber como fica a estrutura, quando o
que vem depois não é apenas um substantivo, mas uma oração. E isso
pede uma análise um pouco mais detida.
7. Bem por isso, vamos formular um exemplo completo, para facilitar a
compreensão didática da dúvida e encaminhar a solução do problema:
“Ele tinha certeza de que não haveria condenação”. E desde logo se
acrescente que esse período composto pode ser transformado em um
período simples, com uma só oração: “Ele tinha certeza da impunidade”.
8. Em termos de análise sintática do referido período composto, tem-se
uma primeira oração (Ele tinha certeza), que é a oração principal. Em
seguida, tem-se uma segunda oração (de que não haveria condenação), a
qual, porque completa sintaticamente uma outra, é uma oração
subordinada. Como faz o papel de um substantivo (impunidade), então
ela é uma oração subordinada substantiva. Além disso, porque
impunidade é um complemento nominal, a oração correspondente
também exerce a mesma função sintática. Em conclusão, aí vai seu nome
completo: oração subordinada substantiva completiva nominal.
9. Já que não há dúvida, no caso, quanto à correção da expressão certeza de
que, pode-se dizer que a dúvida do leitor, em termos mais técnicos, há de
ser formulada do seguinte modo: é correto excluir a preposição que
antecede uma oração subordinada substantiva completiva nominal?
10. Ante esse quadro, invoca-se a lição de Domingos Paschoal Cegalla
(1999, p. 68): “Omitir a preposição de, neste caso, não constitui erro; a
tradição da língua o permite. Todavia, em linguagem apurada,
recomenda-se o uso do nexo prepositivo. Essa recomendação estende-
se ao emprego de outros nomes, como certo, impressão, medo, etc.”
Exs.: a) “Estou certo de que houve fraude”; b) “Tinha-se a impressão
de que as plantas definhavam”; c) “Tínhamos medo de que
arrombassem a porta”.
11. Partindo do princípio de que o próprio gramático citado não condenou
a omissão da preposição no caso referido, vê-se que está autorizado o
usuário a usar ambas as formas, e, assim, volta-se ao exemplo da
consulta, devidamente complementado para entendimento mais
didático: a) “Ele tinha certeza de que não haveria condenação”
(correto); b) “Ele tinha certeza que não haveria condenação” (correto).

Certificar
1. Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 68) assevera que “a regência
correta é certificar alguém de alguma coisa”, não recomendando tal autor
a regência certificar alguma coisa a alguém.
2. Francisco Fernandes (1971, p. 141), entretanto, em indispensável
monografia sobre o assunto, refere exemplo do Padre Antônio Vieira
exatamente com a estrutura condenada pelo gramático já referido:
“Quando Cristo apareceu a el-rei D. Afonso Henriques, e lhe certificou
que queria fundar e estabelecer nele e na sua descendência um novo
império”.
3. De igual modo, Celso Pedro Luft (1999, p. 113-4) aceita as duas
construções, e observa que certificar alguém de algo é a “sintaxe
originária”, enquanto certificar algo a alguém é a “sintaxe evoluída”.
4. Ante o princípio de que na dúvida se há de conferir liberdade de
emprego ao usuário, é de se seguir a lição de Antonio Henriques e Maria
Margarida de Andrade: quando tiver o sentido de avisar, informar, tornar
certo, o verbo certificar tem dupla construção possível: a) certificar
alguém de alguma coisa; b) certificar alguma coisa a alguém (1999, p.
89). Exs.: a) “O advogado certificou o juiz da impossibilidade de
comparecimento do réu”; b) “O advogado certificou ao juiz a
impossibilidade de comparecimento do réu”.
5. Desse modo, também se dirá, fazendo-se a substituição pelos pronomes:
a) “O advogado certificou-o da impossibilidade de comparecimento do
réu”; b) “O advogado certificou-lhe a impossibilidade de
comparecimento do réu”.
6. Observe-se, contudo, que não são corretas as seguintes estruturas, que
têm ou dois objetos diretos ou dois objetos indiretos: a) “O advogado
certificou o juiz a impossibilidade de comparecimento do réu”; b) “O
advogado certificou ao juiz da impossibilidade de comparecimento do
réu”.
7. Em outras palavras, com tal verbo, tanto a coisa quanto a pessoa podem
ser, indiferentemente, objeto direto ou objeto indireto (SILVA, A., 1958,
p. 53). Reitere-se, todavia, que o que não pode ocorrer é a existência
simultânea, em mesma frase, de dois objetos diretos ou dois objetos
indiretos.
8. Por isso, são corretas as duas construções seguintes: a) “Certificaram ao
Corregedor o fato ocorrido”; b) “Certificaram o Corregedor do fato
ocorrido”. Não são, todavia, corretas as seguintes estruturas: a)
“Certificaram ao Corregedor do fato ocorrido”; b) “Certificaram o
Corregedor o fato ocorrido”.
9. Também seguem a mesma construção os verbos aconselhar, avisar,
participar (no sentido de avisar), prevenir.

Cessão, Seção, Secção ou Sessão?


1. Cessão significa o ato de ceder, a transferência por concessão. Ex.:
“Outorgou o herdeiro a um estranho uma escritura de cessão de direitos
hereditários”.
2. Vejam-se alguns exemplos de seu uso em nossas leis: a) “… a cláusula
proibitiva da cessão não poderá ser oposta ao cessionário de boa-fé, se
não constar do instrumento da obrigação” (CC, art. 286, caput); b) “Não
sendo a escritura ou letra de risco passada à ordem, só pode ser
transferida por cessão, com as mesmas formalidades e efeitos das
cessões civis, sem outra responsabilidade da parte do cedente, que não
seja a de garantir a existência da dívida” (CCo, art. 636); c) “O disposto
no artigo anterior não se aplica quando a pessoa jurídica adquirente
tenha como atividade preponderante a venda ou locação de propriedade
imobiliária ou a cessão de direitos relativos à sua aquisição” (CTN, art.
37, caput).
3. Sua parônima seção ou secção significa repartição ou departamento, ou
ainda amputação, corte operatório, ato de serrar ou cortar. Exs.: a) “Ela
fez as compras mais vultosas na seção de armarinhos daquela loja”; b)
“No acidente, houve secção da medula entre as vértebras”.
4. Na esteira de outros dicionaristas, Aurélio Buarque de Holanda Ferreira
(s/d, p. 1.279) refere seção como variante de secção.
5. Napoleão Mendes de Almeida, porém, procura reservar o último
vocábulo apenas para a significação de amputação, corte operatório, ato
de serrar, cortar (1981, p. 291): “No acidente, houve secção da medula
entre as vértebras”.
6. O uso geral, todavia, tem reconhecido seção e secção como palavras
sinônimas, e, espancando toda e qualquer dúvida, o Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de
Letras, órgão oficialmente incumbido de regrar, com autoridade, o uso
dos vocábulos em nosso idioma, aponta uma como variante da outra e
lhes confere a ambas o significado de corte e parcela (2009, p. 745), o
que significa que a sinonímia entre ambas é real e efetiva.
7. Atente-se também ao emprego de seção em dispositivos de nossas leis:
a) “Cientificado da escolha o credor, vigorará o disposto na seção
antecedente” (CC, art. 245); b) “Aplicam-se à reconvenção, à oposição,
à ação declaratória incidental e aos procedimentos de jurisdição
voluntária, no que couber, as disposições constantes desta seção”
(CPC/1973, art. 34); c) “Para os efeitos desta seção, equiparam-se aos
consumidores todas as vítimas do evento” (CDC, art. 17).
8. Veja-se, ainda, o uso de secção em nossas leis, comprovando sua
sinonímia com seção: a) “Aplicam-se à reconvenção, à oposição e aos
procedimentos de jurisdição voluntária, no que couber, as disposições
constantes desta secção” (CPC/1973, art. 34, revogado); b) “Proceder-
se-á ao inventário e partilha de acordo com as regras desta secção”
(CPC/1973, art. 1.031, revogado); c) “Aplicam-se subsidiariamente a
esta secção as regras das secções antecedentes” (CPC/1973, art. 1.038,
revogado); d) “A pena de reclusão e a de detenção devem ser cumpridas
em penitenciária, ou, à falta, em secção especial de prisão comum” (CP,
art. 29, caput, revogado); e) “Onde não há estabelecimento adequado, a
medida detentiva, segundo a sua natureza, é executada em secção
especial de outro estabelecimento” (CP, art. 89, revogado).
9. Por fim, sua outra parônima, sessão, significa reunião ou o lapso de
tempo que dura uma reunião. Ex.: “A câmara de vereadores levou três
sessões para aprovar o projeto”.
10. Esse vocábulo também é de largo emprego em nossas leis: a) “O
Curador fiscal, os administradores, e todos os credores presentes por
si ou por seus procuradores assinarão termo no processo da quebra,
de que se dão por intimados de todos os despachos do Tribunal do
Comércio, que no mesmo forem proferidos em sessão pública…” (CCo,
art. 843); b) “Das decisões do Juiz comissário, haverá recurso de
agravo para o Tribunal do Comércio, devendo ser interposto no
peremptório termo de cinco dias, e decidido no primeiro dia de Sessão
do mesmo Tribunal depois da sua interposição” (CCo, art. 907); c)
“Decorrido o prazo, com informações ou sem elas, será ouvido, em 5
(cinco) dias, o Ministério Público; em seguida o relator apresentará o
conflito em sessão de julgamento” (CPC/1973, art. 121); IV) “Se não
for relator nem revisor, o juiz que houver de dar-se por suspeito,
deverá fazê-lo verbalmente, na sessão de julgamento, registrando-se
na ata a declaração” (CPP, art. 103, § 1º).

Chamar
1. Eduardo Carlos Pereira (1924, p. 210), muito embora reconheça ser mais
frequente uma construção como “Chamei-o sábio”, observa ser comum
entre os clássicos a construção “Chamei-lhe sábio”.
2. Em realidade, em expressões dessa natureza, quatro são as possibilidades
de construção, todas corretas: a) “Chamei-o sábio”; b) “Chamei-o de
sábio”; c) “Chamei-lhe sábio”; d) “Chamei-lhe de sábio”.
3. Veja-se nesse sentido a lição de Laudelino Freire, para quem, com o
verbo chamar, além de outros, o predicativo pode vir ligado ao verbo por
preposição, como, no caso, de, consoante exemplo dado por ele mesmo:
“Chamei-lhe de fútil” (1937b, p. 52-3).
4. E Francisco Fernandes (1971, p. 142), com o respaldo de significativos
exemplos de autores abalizados, abona as quatro construções: a) “E
gostam… de que os homens os chamem mestres” (Cândido de
Figueiredo); b) “Chamou de ‘esperdiçado’ o idioma” (Rui Barbosa); c)
“Chama-se a isto vista dobrada” (Mário Barreto); d) “No norte do
Brasil chamam ao diabo de cão, o cão do inferno” (João Ribeiro).
5. Celso Pedro Luft (1999, p. 114-5) também defende a quádrupla
possibilidade de regência do verbo chamar nesse sentido, apenas
observando, esteado na autoridade de Antenor Nascentes, que “as formas
com lhe dão a fala um tom lusitano”, ao passo que “genuinamente
brasileiras são as formas com o, a”.

Chance – Galicismo?
1. Durante muito tempo, o vocábulo chance, de uso frequente entre nós, foi
considerado galicismo desnecessário, até porque podia ser perfeitamente
substituído por oportunidade.
2. Exatamente nessa consonância, o Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de Letras, que é o órgão
oficial para definir quais vocábulos integram nosso léxico, até sua edição
de 1999, registrava-o como pertencente ao idioma francês (1999, p.
161).
3. A partir da edição de 2004 (p. 175), todavia, o VOLP passou a registrar
o vocábulo como incorporado ao português, o que se repetiu em edição
posterior (2009, p. 182), razão pela qual seu uso está perfeita e
oficialmente autorizado entre nós, e não se entremostra possibilidade
alguma de discussão a respeito.

Chantagear ou Chantagiar?
1. Um leitor indaga qual a forma correta: chantagear ou chantagiar?
2. Nunca é demais lembrar que o órgão encarregado de definir oficialmente
o modo de grafar as palavras em nosso idioma é a Academia Brasileira
de Letras, e ela exerce essa autoridade por via da edição do Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa.
3. E uma consulta à última edição do VOLP, já posterior ao Acordo
Ortográfico de 2008, revela que nele se registra, como modo correto de
escrever, apenas a forma chantagear, não chantagear (2009, p. 182).
4. É oportuno esclarecer que, como ocorre com os demais verbos
terminados em ear, chantagear recebe um i intermediário nas formas
rizotônicas (ou seja, naquelas em que a sílaba tônica está no radical do
verbo, e não na terminação): chantageio, chantageias, chantageia,
chantageamos, chantageais, chantageiam (presente do indicativo);
chantageie, chantageies, chantageie, chantageemos, chantageeis,
chantageiem (presente do subjuntivo); chantageia, chantageie,
chantageemos, chantageai, chantageiem (imperativo afirmativo);
chantageies, chantageie, chantageemos, chantageeis, chantageiem
(imperativo negativo).
5. Como as formas rizotônicas apenas ocorrem nos tempos já referidos, a
mencionada peculiaridade não se repete nos demais tempos:
chantageava (pretérito imperfeito do indicativo); chantagearei (futuro
do presente do indicativo); chantagearia (futuro do pretérito do
indicativo); chantageei (pretérito perfeito do indicativo); chantageara
(pretérito mais-que-perfeito do indicativo); chantagear (futuro do
subjuntivo); chantageasse (imperfeito do subjuntivo); chantageando
(gerúndio); chantageado (particípio).
6. Acrescenta-se que, em mesmo local do VOLP, se registram outras
palavras com o mesmo radical, de modo que vale a pena transcrevê-las
para observação pelo leitor: chantageação, chantageado, chantageador,
chantageamento, chantageável, chantagem, chantagismo, chantagista,
chantagístico.
7. Uma última observação é importante e se faz necessária: como o VOLP
(editado que é pela ALB) é a palavra oficial em termos de grafia das
palavras em nosso idioma, é a ele que devemos prestar obediência, de
modo que a solução, na dúvida, é consultá-lo.

Chassi – Galicismo?
1. É transliteração do correspondente vocábulo francês, estando a palavra
já integrada a nosso linguajar comum.
2. Significa arcabouço, armação básica, estrutura. Ex.: “Encontrou-se o
chassi do automóvel furtado”.
3. Atente-se a que não se usa a forma chassis no singular. Ex.: “Encontrou-
se o chassis do automóvel furtado” (errado).
4. Forma regularmente seu plural chassis, assim como saci faz sacis.
5. Esta é a síntese de José de Nicola e Ernani Terra: “palavra proveniente
do francês (chassis), já devidamente aportuguesada. O plural é chassis”
(2000, p. 59).
6. Atento a frequência com que ocorre o erro, observa Arnaldo Niskier, de
modo específico, que se deve dizer “o chassi e não o chassis” (1992, p.
20).
7. O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela
Academia Brasileira de Letras, órgão oficial para definir quais vocábulos
integram nosso léxico e qual sua possibilidade de flexão, faz constar
chassi como forma já aportuguesada da palavra, mas apenas
esclarecendo tratar-se de substantivo masculino (2009, p. 176).

Chefe – Qual o feminino?


1. Cândido Jucá Filho (1963, p. 140) confere a tal vocábulo, por feminino,
a forma chefa.
2. Cândido de Oliveira (1961, p. 133-4), após observar que, até há pouco, a
maioria de nomes dessa natureza era considerada comum de dois
gêneros, acrescenta textualmente que “é de lei, assim para o
funcionalismo federal como estadual, e de acordo com o bom-senso
gramatical, que nomes designativos de cargos e funções tenham flexão:
uma forma para o masculino, outra para o feminino”; e, em seu elenco,
ao masculino chefe contrapõe ele o feminino chefa, exemplificando,
mais à frente, com “a chefa do Serviço de Assistência”.
3. A ojeriza de alguns para com o emprego de forma feminina em tais
casos talvez se explique pela circunstância lembrada por Mário Barreto
de que, “na língua jocosa, é que dos nomes de cargos sói derivar-se um
feminino para designar a mulher do que o desempenha, como almiranta,
generala, coronela, delegada…” (1954b, p. 188).
4. Apesar de todas essas considerações, o Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de Letras, órgão
oficial para definir quais vocábulos integram nosso léxico e qual sua
possibilidade de flexão, fez constar que o vocábulo pertence a ambos os
gêneros, tendo, assim, a mesma forma no masculino (o chefe) e no
feminino (a chefe), como convém a um substantivo comum de dois
gêneros (2009, p. 183).
5. Não registra ele, contudo, a forma chefa, motivo pelo qual legem
habemus, devendo-se prestar obediência a tal determinação legal.
Ver Chefe – Qual o feminino? (P. 179), Oficiala – Existe? (P. 520), Poeta –
Qual o feminino? (P. 570) e Presidenta ou A Presidente? (P. 596)

Chegada
1. É substantivo que, do mesmo modo que o verbo chegar, pede a
preposição a, quando se quer indicar o destino. Ex.: “Fez um belo
discurso quando de sua chegada a São Paulo”.
2. Incorreta é a construção com a preposição em (SILVA, A., 1958, p. 55).
Ex.: “Fez um belo discurso quando de sua chegada em São Paulo”
(errado).
3. Esse é, sem qualquer concessão, o entendimento de Francisco Fernandes
(1969, p. 82) em sua preciosa monografia, em que alinha significativos
exemplos de autores insuspeitos: a) “Sebastião de Melo… aligeirou
quanto pôde a sua chegada a Lisboa” (Camilo Castelo Branco); b) “À
sua chegada a Lisboa, … o Imperador do Brasil não viu a roda de si
senão personagens de caráter oficial” (Fialho de Almeida).
4. É certo que Celso Pedro Luft (1999, p. 96-7) refere que “há também
chegada em algum lugar no português brasileiro”; o próprio autor,
todavia, complementa que tal se dá na fala, motivo por que, para o que
aqui interessa, sua lição nesse sentido não há de ser estendida para os
textos que devam submeter-se à norma culta.

Chegado ou Chego?
1. Chego não é o particípio passado de chegar, mas chegado.
2. É errôneo, assim, seu emprego no seguinte exemplo: “Eles tinham chego
ao fórum com atraso”; sua correção há de ser: “Eles tinham chegado ao
fórum com atraso”.
3. Pasquale Cipro Neto e Ulisses Infante (1999, p. 175) lembram
exatamente esse aspecto, de que tal verbo, na língua culta, apresenta
apenas o particípio passado regular (chegado).
Ver Chegar (P. 179).

Chegar
1. É verbo que possibilita algumas considerações sobre regência verbal.
2. No significado de atingir (lugar para onde se caminha), pede a
preposição a. Ex.: “Chegou ao tribunal para assistir ao julgamento”.
3. Apesar de muito usada, é incorreta, nesses casos, a construção com a
preposição em. Ex.: “Chegou no tribunal para assistir ao julgamento”
(errado).
4. Em preciosa observação para os verbos ir e chegar, assim leciona Júlio
Nogueira: “Existe a tendência viciosa de construir estes verbos com a
preposição em e suas combinações. O certo, porém, é fazê-lo com a
preposição a” (1959, p. 102).
5. Para Sousa e Silva também, chegar em casa “não é regência autorizada”
(1958, p. 55).
6. Atento aos frequentes erros que ocorrem em seu emprego, assim também
observa Luis A. P. Vitória (1969, p. 53): “Este verbo deve ser regido pela
preposição a. Exs.: a) ‘O automóvel chegou à barreira (e não na
barreira)’; b) ‘Chegando à estação, embarquei imediatamente (e não
chegando na estação)’; c) ‘Ela chegou tarde ao teatro (e não no teatro)’;
d) ‘O avião chegou tarde a S. Paulo (e não em S. Paulo)’”.
7. Esse, de igual modo, é o posicionamento de Francisco Fernandes (1971,
p. 143) em conhecida obra.
8. Celso Pedro Luft, por seu lado, aponta os seguintes aspectos: a) “no
Brasil, entretanto, usa-se muito a preposição em”, como, por exemplo,
chegar em casa, e não chegar a casa; b) tal fato é corroborado nos
escritores modernos por pesquisas de Antenor Nascentes, Cândido Jucá
Filho e Luís Carlos Lessa; c) consoante lição de Sílvio Elia, “já se tolera
o chegar em, na língua escrita”; d) mas conclui o próprio Celso Pedro
Luft: “mesmo assim, penso que em texto escrito culto formal melhor se
ajusta o chegar a” (1999, p. 116).
9. Acerca da observância da sintaxe clássica nos textos legais, assim é a
conclusão de Adalberto J. Kaspary: “A regência do verbo chegar com a
preposição a foi a única que encontramos nos textos legais pesquisados,
não nos aparecendo nenhuma com a preposição em” (1996, p. 80).
Ver Chegado ou Chego? (P. 179)

Chego ou Chegado?
Ver Chegado ou Chego? (P. 179)

Chegou a hora do povo decidir


Ver É hora da onça beber água ou É hora de a onça beber água? (P. 296)

Chovia uma chuva – Existe?


1. Um leitor indaga a respeito da existência e da correção da seguinte
estrutura sintática: “Chovia uma triste chuva de resignação”.
2. Por facilidade didática e de raciocínio, veja-se, por primeiro, o exemplo
“Ele viveu”: a) Há o sujeito (ele) e o verbo (viveu); b) O verbo não tem
complemento, e é bastante em si na estruturação sintática; c) Por isso,
ele se chama verbo intransitivo.
3. Considere-se, a seguir, outro exemplo: “Ele viveu uma vida tranquila”:
a) Há o sujeito (ele), o verbo (viveu) e um complemento sem preposição
(uma vida tranquila); b) O verbo, contrariamente a suas características
normais, apresenta um complemento; c) Assim, o verbo é, no caso,
transitivo direto, e uma vida tranquila é seu objeto direto.
4. Acrescente-se que, como esse objeto direto traz uma ideia de pleonasmo
(repetição do significado já contido no próprio verbo), costuma-se
chamá-lo de objeto direto interno. Outros exemplos ilustram essa
ocorrência de verbos normalmente intransitivos, que às vezes se
apresentam com objetos diretos internos: a) “Sonhei um sonho…”; b)
“Dancei uma dança…”; c) “Ele dormiu o sono dos justos”; d) “Ele viveu
uma vida de cão”; e) “… e rir meu riso…”; f) “Morrerás morte vil”.
5. Com essas considerações, torne-se ao exemplo da consulta – “Chovia
uma triste chuva de resignação”: a) Como os demais verbos que indicam
fenômenos meteorológicos, chovia é impessoal, de modo que essa é uma
oração sem sujeito; b) Chovia é um verbo normalmente intransitivo; c)
No caso, porém, ele, excepcionalmente, se apresenta como transitivo
direto; d) Seu objeto direto é uma triste chuva de resignação; e) Como a
ideia do objeto direto já se acha contida no próprio verbo, então se tem,
por força do pleonasmo, um objeto direto interno.

Cidadão – Qual é o plural?


1. Embora muita gente boa erre, o plural correto é cidadãos, e não cidadães.
Ex.: “Os cidadãos cumpridores de seus deveres acabaram sendo os mais
prejudicados”.
2. Oportuno é acrescentar que o Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de Letras, órgão oficial
para definir quais vocábulos integram nosso léxico, bem como suas
possibilidades de flexão, confere a tal vocábulo dois femininos: cidadã e
cidadoa (2009, p. 188).

Cidade, município e comarca – Como distinguir?


1. Um leitor indaga, em suma, qual a diferença entre cidade, município e
comarca.
2. Para bem entender as diferenças e formular as distinções, o melhor é, por
primeiro, ver o real significado de cada um desses vocábulos, mesmo
sem pretensão de precisão terminológica.
3. Cidade pode ser conceituada como uma aglomeração humana localizada
em uma área geográfica circunscrita, com casas próximas entre si,
destinadas à moradia e/ou a atividades culturais, mercantis, industriais,
financeiras e a outras não relacionadas com a exploração direta do solo.
Para ser considerada como tal, é preciso ter um número mínimo de
habitantes e uma infraestrutura que atenda minimamente às necessidades
de sua população. Do latim civitas, civitatis, quer dizer, em síntese, a
reunião dos cidadãos. Se pequena demais, chama-se povoado; se um
pouco maior, vila; se de tamanho mais significativo, então é cidade. Sua
acepção (como zona e ambiente urbanos) opõe-se à de campo (zona
rural). A maior cidade do Brasil é São Paulo, considerado, para essa
classificação, o critério da população.
4. Já o município é um espaço territorial político dentro de um estado ou
unidade federativa. Cada estado da federação se divide territorialmente
em municípios, e a exceção fica com o Distrito Federal e com o
arquipélago de Fernando de Noronha, este, um distrito estadual de
Pernambuco. Em termos de organização política, pela Constituição de
1988, o Município alcançou o patamar de terceiro ente da federação,
precedido pela União e pelos Estados. Detém ele personalidade jurídica,
e é ele quem cobra os impostos e responde por eventuais danos ao
munícipe, aciona o contribuinte inadimplente e estabelece as leis e
posturas municipais por via de seus agentes políticos. De acordo com
dados do IBGE para 2014, o município menos populoso do País era
Serra da Saudade, em Minas Gerais, com 822 habitantes. O mais
populoso era São Paulo, no Estado de São Paulo, com aproximadamente
doze milhões de habitantes. Em termos de extensão territorial, o maior
município brasileiro era Altamira, no Estado do Pará, com 159.695 km2,
sete vezes maior do que o Estado de Sergipe, com apenas 21.910 km2.
5. Por fim, a comarca é a extensão territorial em que um juiz de direito de
primeira instância exerce sua jurisdição. Corresponde ela, assim, à
jurisdição de um tribunal judicial de primeira instância, quer com
competência genérica, quer com competência especializada (cível,
criminal, etc.). Seu conceito remete a um critério estritamente judiciário.
6. Postos esses conceitos como premissas, mesmo sem pretender exaurir o
assunto, podem-se fazer algumas ponderações adicionais, com vistas a
fixar melhor as diferenças entre essas três entidades: a) no conceito de
cidade, avulta a natureza urbanística, enquanto no de município, há o
relevo para o aspecto político e administrativo e, por fim, na comarca,
reside o ponto de vista judiciário; b) a cidade tem zona urbana, enquanto
o município apresenta zona urbana e zona rural, e a comarca não se
preocupa com esse critério de consideração; c) um município detém
personalidade jurídica, mas não a cidade nem a comarca; d) a cidade é a
sede do município e pode ser a sede de uma comarca; e) uma comarca
pode abranger mais de uma cidade e mais de um município; f) um
município pode abranger mais de uma cidade, mas não mais de uma
comarca; g) uma cidade não abrange mais de um município nem mais de
uma comarca; h) uma cidade pode não ser limítrofe de outra, mas todos
os municípios brasileiros fazem fronteira uns com os outros; i) todas as
comarcas fazem fronteira umas com as outras, muito embora seus limites
não coincidam com os dos municípios.

Cientificar
1. Quanto a regência verbal, Francisco Fernandes (1971, p. 145) apenas
refere exemplos da estrutura cientificar alguém de algo.
2. Celso Pedro Luft, todavia, lembrando exemplo de Napoleão Mendes de
Almeida, observa, a par da sintaxe originária cientificar alguém de algo,
a possibilidade de existência da construção cientificar alguma coisa a
alguém, acrescentando tratar-se de “inovação sintática devida ao traço
semântico comunicar”, que admite tal estrutura.
3. Acrescenta que tal inovação “também atingiu os verbos avisar, certificar
e informar”.
4. E complementa: “em linguagem escrita culta formal, preferível a sintaxe
originária cientificá-lo de…” (LUFT, 1999, p. 119).
5. E Domingos Paschoal Cegalla, além da forma pronominal, que
corresponde a sintaxe cientificar-se de alguma coisa, admite a
possibilidade de ser a pessoa o objeto direto, enquanto a coisa, o objeto
indireto, de modo que há as duas construções possíveis: cientificar
alguém, cientificar alguém de alguma coisa. Exs.: a) “Devemos
cientificá-lo”; b) “Cientifiquei o diretor da minha decisão”.
6. Sem outras explicações, desaconselha ele a construção cientificar algo a
alguém (CEGALLA, 1999, p. 72).
7. Ante a divergência entre os doutos, o melhor é aplicar o vetusto
princípio in dubiis libertas e permitir ao usuário o emprego de qualquer
das sintaxes referidas: a) cientificar-se de alguma coisa; b) cientificar
alguém de algo; c) cientificar alguma coisa a alguém.

Cincoenta ou Cinquenta?
Ver Cinquenta ou Cincoenta? (P. 181)

Cingir
1. Verbo de larga utilização nos meios forenses, em seu sentido mais
comum significa limitar-se, restringir-se. Ex.: “Em sua sustentação oral,
o advogado cingiu-se aos argumentos já constantes dos autos”.
2. Em sua conjugação verbal, apresenta problemas de ortografia.
3. Diferentemente dos verbos cujo radical termina em j – consoante essa
que tem o mesmo som antes de todas as vogais (viajo, viajas, viajemos,
viajeis, viajem) – os verbos terminados em gir, para continuidade do som
da consoante final do radical, precisam da representação gráfica j antes
de a ou de o.
4. Assim: cinjo, cinges, cinge, cingimos, cingis, cingem (presente do
indicativo); cinja, cinjas, cinja, cinjamos, cinjais, cinjam (presente do
subjuntivo); cinge, cinja, cinjamos, cingi, cinjam (imperativo
afirmativo); não cinjas, não cinja, não cinjamos, não cinjais, não cinjam
(imperativo negativo).
5. Segue as mesmas regras de flexão de dirigir.
6. É conjugado em todas as pessoas, tempos e modos.

Cinquenta ou Cincoenta?
1. A forma correta do cardinal equivalente a cinco dezenas é cinquenta (o u
é pronunciado, mas não há trema, o qual foi abolido em tais casos pelo
Acordo Ortográfico de 2009).
2. Porque o u é pronunciado e sem trema, assim também acontece nas
formas derivadas: cinquentão, cinquentenário, cinquentona.
3. Observe-se que cinquenta é a única forma registrada pelo Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de
Letras, órgão oficialmente incumbido de definir quais vocábulos
integram nosso léxico, bem como seu modo correto de grafar (2009, p.
191.).
4. É errônea e inexistente, assim, a forma cincoenta, não havendo motivo
algum para seu emprego na grafia por extenso do referido numeral.
5. Veja-se um exemplo de emprego correto do vocábulo em nossa
legislação: “Aquele que exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente e
sem oposição, posse direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de
até 250m² (duzentos e cinquenta metros quadrados) cuja propriedade
divida com ex-cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar,
utilizando-o para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o
domínio integral, desde que não seja proprietário de outro imóvel
urbano ou rural” (CC, art. 1.240-A).

Cinqüenta ou Cinquenta?
Ver Trema (P. 746).

Circuito ou Circuíto?
1. A força da pronúncia incide sobre o u, não sobre o i, e sua divisão
silábica é cir-cui-to (com ditongo), não cir-cu-í-to (com hiato).
2. Reitere-se, assim, que são incorretas a grafia e a pronúncia circuíto
(SACCONI, 1979, p. 18).
3. Não há razão alguma para acento gráfico, de modo que não se há de
grafar circuíto.
4. Idêntica observação pode ser feita para fortuito, gratuito e intuito.
Ver Fluido ou Fluído? (P. 358)

Circularização – Existe?
1. Um leitor, de tanto ver repetida a palavra em correspondência enviada a
sua empresa de advocacia, indaga se existe o termo circularização com o
sentido de relatório de processos para auditoria.
2. Ora, por força da mais que centenária Lei Eduardo Ramos, de n. 726, de
8/12/1900, a autoridade para listar oficialmente os vocábulos existentes
em nosso idioma está com a Academia Brasileira de Letras, e ela o faz
por intermédio da edição do Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, uma lista de tais palavras, com ligeiras especificações de
categoria gramatical, gênero e, muito raramente, de sentido ou outra
observação adicional.
3. No caso da consulta, uma leitura do VOLP revela que existe o vocábulo
circulação, bem como circularidade, mas não se arrola ali a palavra
circularização (2009, p. 192).
4. Como o VOLP – editado que é pela ABL, a qual tem a delegação legal
para listar oficialmente os vocábulos de nosso léxico – não registra
circularização, então só se pode concluir que ele não existe em nosso
idioma, e seu emprego não está, portanto, autorizado.

Circunstâncias que relevam observar – Está correto?


Ver Infinitivo como sujeito – Como concordar? (P. 414)

Citação
1. Em termos de técnica processual, citação é o “ato pelo qual o réu é
chamado a juízo para, querendo, defender-se da ação contra ele
proposta” (SIDOU, 1990, p. 101). Ex.: “Após acurada análise da
petição inicial, determinou o juiz a citação do réu”.
2. Não confundir com intimação ou notificação, atos processuais a ela
assemelhados, mas integralmente diversos em natureza.
3. É comum ver, nos meios forenses, o uso de expressões como procedida
a citação, procedida a intimação, procedido o inventário, procedida a
penhora.
4. A esse respeito, contudo, anota-se que o verbo proceder, dentre seus
significados, tem o sentido de dar início, em que é transitivo indireto,
exigindo a preposição a. Exs.: a) “O magistrado procedeu ao inventário
dos bens deixados pelo falecido”; b) “O juízo procedeu à citação do
réu”.
Ver A fazer – Está correto? (P. 91), Obra com dois autores (P. 512),
Palavras e Expressões latinas (P. 543) e Voz passiva – Quando é possível?
(P. 793)

Citação a realizar(-se) – Está correto?


Ver A fazer – Está correto? (P. 91)

Citação bibliográfica
Ver Obra com dois autores (P. 512).

Citação com (ou por) hora certa?


1. Uma consulta aos principais autores de obras que tratam de regência
nominal, como Francisco Fernandes, Celso Pedro Luft e Domingos
Pascoal Cegalla, mostra que eles não se ocupam de tratar qual a
preposição a ser empregada após o vocábulo citação.
2. Os autores de manuais de redação dirigidos diretamente aos operadores
do Direito, que foram aqui consultados, também não se manifestam a
esse respeito.
3. Ora, a citação, em apertada síntese, é o ato processual pelo qual se dá
notícia oficial ao réu de que contra ele foi ajuizada uma ação, e isso para
que, em querendo, ele possa defender-se no processo (CPC/1973, art.
213) no prazo de quinze dias (CPC/1973, art. 297), contados, em suma,
da juntada aos autos do documento portador da referida citação
(CPC/1973, art. 241).
4. Uma atenta leitura do Código de Processo Civil revela que a citação
(CPC/1973, art. 221) é feita por três meios específicos: pelo correio
(CPC/1973, art. 221,1, e 222/223), pelo oficial de justiça (CPC/1973, art.
221, 11, e 224/230) e por edital (CPC/1973, art. 221, III, e 231, 233). Em
todos esses casos, como normalmente se dá com os adjuntos adverbiais
de meio ou de instrumento, a preposição empregada é por.
5. Num caso específico de citação por oficial de justiça, entretanto, prevê a
lei que, “quando, por três vezes, o oficial de justiça houver procurado o
réu em seu domicílio ou residência, sem o encontrar, deverá, havendo
suspeita de ocultação, intimar a qualquer pessoa da família, ou em sua
falta a qualquer vizinho, que, no dia imediato voltará, a fim de efetuar a
citação, na hora que designar” (CPC/1973, art. 227).
6. Em seguida, dispõe a lei que, em cumprimento ao que se referiu,
voltando o oficial, se não encontrar o citando, dará por feita a citação nas
condições e circunstâncias que especifica (CPC/1973, art. 228). É o que
se denomina citação com hora certa (CPC/1973, art. 229).
7. É preciso ficar claro, entretanto, que a citação com hora certa não é um
dos meios de citação (que são pelo correio, por oficial de justiça e por
edital [CPC/1973, art. 221]), mas, apenas e tão somente, uma
modalidade de citação por oficial de justiça (CPC/1973, arts. 227/229).
Em outras palavras, a citação poderia ser feita com calma ou com
exasperação, com truculência ou com lhaneza, assim como também pode
ser feita, nos termos da lei, com hora certa.
8. Em resumo: para os meios previstos para a citação, a lei emprega a
preposição por; para um modo específico de proceder à citação por um
dos meios, emprega a preposição com.

Citação de latim
Ver Citar latim é perigoso (P. 183) e Palavras e Expressões latinas (P. 543).

Citação em língua estrangeira


1. Um leitor indaga se, ao escrever uma palavra em língua estrangeira, num
texto manuscrito, o correto é grafá-la entre aspas ou sublinhá-la, uma vez
que não é possível fazê-lo em itálico em tais circunstâncias.
2. A par de outros usos que possam ter as aspas, o itálico, o negrito e a
sublinha, o certo é que também são eles empregados para grafar um
vocábulo ou expressão que não pertençam ao nosso idioma.
3. E se esclarece, adicionalmente, que não há hierarquia, preferência ou
maior correção nesse rol, de modo que assiste ao usuário do idioma optar
pelo recurso que lhe convier na respectiva redação.
4. Vejam-se, assim, os seguintes exemplos, todos igualmente corretos
perante nosso idioma: a) Devem-se evitar palavras e expressões
estrangeiras desnecessárias, como “à vol d’oiseau” ou “performance”,
que podem ser substituídas por vocábulos vernáculos, como, por
exemplo, superficialmente e desempenho; b) Devem-se evitar palavras e
expressões estrangeiras desnecessárias, como à vol d’oiseau ou
performance, que podem ser substituídas por vocábulos vernáculos,
como, por exemplo, superficialmente e desempenho; c) Devem-se evitar
palavras e expressões estrangeiras desnecessárias, como à vol d’oiseau
ou performance, que podem ser substituídas por vocábulos vernáculos,
como, por exemplo, superficialmente e desempenho; d) Devem-se evitar
palavras e expressões estrangeiras desnecessárias, como à vol d’oiseau
ou performance, que podem ser substituídas por vocábulos vernáculos,
como, por exemplo, superficialmente e desempenho.

Citação procedida
Ver Citação (P. 182).

Citar editaliciamente – Está correto?


1. Uma frase frequentemente usada em textos jurídicos e forenses é “O réu
foi citado editaliciamente”.
2. É, todavia, de expressão equivocada, que deve ser substituída por “O réu
foi citado por edital”.
3. A facilidade com que o sufixo mente se presta à formação de advérbio de
modo tem dado margem a abusos e equívocos, originando invenções
reprováveis como essa.
4. A esse respeito, lembra Geraldo Amaral Arruda: “importa que não se
considere que a concisão recomende sempre substituir as locuções”, já
que, “em muitos casos a substituição pode ser inócua, em outros ela é
menos expressiva e em outros ainda pode ser inaceitável ou descabida”.
5. E continua tal autor: “nem sempre é apropriada a redução de uma
locução adverbial a um advérbio terminado em mente, pois os advérbios
com essa terminação têm significado claro (ou meio apagado) de modo”,
e “de qualquer maneira provocam uma distorção na ideia que deveria ser
expressada” (ARRUDA, 1997, p. 65 e 80).
Ver Advérbios em “mente” (P. 85).
Citar latim é perigoso
1. A consulta específica busca saber qual a forma correta: vanitas vanitatis
ou vanitas vanitatem.
2. Na Bíblia, há um livro denominado Eclesiastes, palavra de significado
incerto, normalmente traduzida como “o pregador”, de autoria também
incerta, mas normalmente atribuída ao rei Salomão, em razão de que as
experiências nele referidas se parecem muito com as dessa figura bíblica.
3. Principia do seguinte modo, no capítulo 1, versículos 1-3: “Palavras do
pregador, filho de Davi, rei em Jerusalém. Vaidade de vaidades, diz o
pregador; vaidade de vaidades, tudo é vaidade. Que proveito tem o
homem, de todo o seu trabalho, com que se afadiga debaixo do sol?”
4. O trecho a ser considerado é “vaidade de vaidades, tudo é vaidade”, ou,
mais especificamente, a expressão “vaidade de vaidades” ou, ainda,
“vaidade das vaidades”.
5. Ora, o latim é uma língua declinada, o que significa que a terminação de
uma palavra varia conforme a função sintática que ela exerce na oração:
sujeito é nominativo; complemento restritivo (alguns casos de adjunto
adnominal) é genitivo; objeto indireto é dativo; complemento
circunstancial (casos de adjunto adverbial) é ablativo; objeto direto é
acusativo.
6. E se anote que os diversos casos têm terminações diferentes. Só para
exemplificar com a palavra rosa: rosa é nominativo; rosae (pronuncia-se
róse) é genitivo; rosam é acusativo; rosarum é genitivo plural; rosis é
dativo plural; rosas é acusativo plural.
7. De modo específico para o caso da consulta, em que não se pôs dúvida
sobre a primeira palavra – vanitas (pronuncia-se vânitas), vamos ater-
nos ao efetivo foco do problema. Imaginem-se duas formas da
expressão: vaidade de vaidade e vaidade das vaidades. Em ambos os
casos, de vaidade ou das vaidades (de vaidades é variação que não se
altera em latim, onde não havia os artigos o, a, os, as) são um
complemento restritivo (em português, adjunto adnominal), o que
significa que o vocábulo, em latim, vai para o genitivo (singular ou
plural, conforme o caso).
8. Assim, verificado o fato de que vanitas pertence à terceira declinação, se
se quer o singular do adjunto adnominal, tem-se vanitas vanitatis; se o
plural, vanitas vanitatum.
9. Viu-se, porém, que o sentido do texto de Eclesiastes 1:2 é vaidade de
vaidades ou vaidade das vaidades, de modo que a citação correta do
latim, no caso, não é vanitas vanitatem nem vanitas vanitatis, mas
vanitas vanitatum. Aliás a Vulgata de São Jerônimo (342 [?] / 420) –
versão da Bíblia para o latim vulgar no século IV – assim traduziu o
mencionado trecho: vanitas vanitatum omnia vanitas (em português,
vaidade das vaidades, tudo é vaidade).
10. Acrescente-se, ademais, que, tecnicamente, assim como em português
é correto dizer tanto vaidade de vaidade como vaidade de (das)
vaidades, em latim se pode dizer vanitas vanitatis ou vanitas vanitatum.
Jamais, porém, vanitas vanitatem, que não quer dizer coisa alguma.
11. Nunca se canse de repetir que citar latim é algo perigoso e complicado,
sobretudo em tempos como o nosso, em que de há muito não é ele
ensinado nas escolas, a não ser em pequena dose e em um ou outro
curso universitário de línguas. Quer pela falta de estudo, quer pela
complexidade de uma língua declinada, se não se tem certeza do que se
está citando, melhor não citar. Referir a expressão em português não é
desdouro para ninguém e evita os aborrecimentos de uma citação mal
feita.

Cite-se-o – Está correto?


1. Quando se diz “Cite-se o réu”, percebe-se que, à semelhança de “Aluga-
se uma casa”, o que se tem é uma frase reversível, que pode ser dita de
outro modo: “O réu seja citado”; ou: “Que o réu seja citado”.
2. E, do mesmo modo como se dá na frase com que é comparada, podem-se
extrair aqui as seguintes conclusões: a) o exemplo está na voz passiva
sintética; b) o se é partícula apassivadora; c) o sujeito é o réu.
3. Transposta a lição para o exemplo considerado, conclui-se que o
pronome final o, que há na frase “Cite-se-o”, há de ser sujeito, sendo de
forçosa ilação que só pode ser ele do caso reto (ele), jamais do caso
oblíquo (o ou lhe).
4. A forma correta, assim, é “Cite-se ele”, jamais “Cite-se-o”.
5. Ante essas considerações, conclui-se, de igual modo, serem plenamente
equivocadas outras expressões de uso corrente, tais como não se o diz,
para se o conhecer, não se a vê, ouve-se-o com prazer, cortou-se-as.
6. Na lição de Eduardo Carlos Pereira, “o uso geral dos bons escritores
antigos e modernos não autoriza a combinação destas formas (o, a, os,
as) com o reflexivo se” (1924, p. 317).
7. Lembra a respeito Evanildo Bechara que “a língua padrão rejeita a
combinação se o, apesar de uns poucos exemplos na pena de literatos”
(1974, p. 257).
8. Recordando lição de Otoniel Mota, observa Pedro A. Pinto (1924, p. 56)
que à língua repugnam as formas se o e se a, porque não é possível,
logicamente, “encaixar um acusativo ao lado de outro, que é o reflexo
se”.
9. Embora simples, também é firme a lição de Antenor Nascentes a
respeito: “É incorreta a combinação de se com os pronomes o, a, os, as”
(1942, p. 90).
10. Não menos incisivo é o ensinamento de Júlio Nogueira: “Não se
pospõem as variações o, a, os, as, ao pronome se. São solecismos
grosseiros frases como: ‘Deve-se admirar aquele homem pelo cérebro;
não se o deve admirar como político’ … A correção é simples: basta
suprimir as formas o, a, os, as, com o que nada perde a clareza da
frase: ‘Deve-se admirar aquele homem pelo cérebro; não se deve
admirar como político’… Pode-se igualmente adotar a forma
determinada, pessoal: ‘Devemos admirar aquele homem pelo cérebro;
não o devemos admirar como político’” (1959, p. 85).
11. Domingos Paschoal Cegalla arrola diversos exemplos dessas
sequências pronominais condenadas (se o, se a, se os, se as). Exs.: a)
“O quadro ficou exposto muito tempo, mas não se o vendeu”; b) “A
vida fica mais leve, quando se a encara com fé e amor”; c) “Se esses
livros são medíocres, por que se os compram?”.
12. E ele próprio dá a solução para corrigi-las: “Para que essas frases
fiquem corretas, basta eliminar os pronomes oblíquos o, a, os, as, e
construir ‘mas não se vendeu’ ou ‘mas não foi vendido’…”
(CEGALLA, 1999, p. 366-7).
13. Leciona Artur de Almeida Torres que “o pronome se nunca se combina
na mesma frase com o pronome o, a, os, as. É erro dizer-se: ‘Ele
apareceu quando menos se o esperava’. Corrija-se: ‘Ele apareceu
quando menos se esperava’ ou ‘Ele apareceu quando menos o
esperávamos’” (1966, p. 84).
14. Para Edmundo Dantès Nascimento, a junção de se + o é erro “mais
comum do que se pensa”.
15. E, insistindo na impossibilidade desse emprego, observa ele que “em
tal caso ou o se seria sujeito, ou os pronomes o, a, os, as, o seriam, o
que é um absurdo diante do espírito da língua”.
16. Asseverando configurar “impossibilidade à luz do Português”, manda
ele que se corrija, “colocando em lugar dos pronomes o, a, os, as, uma
palavra que possa ser sujeito” (NASCIMENTO, 1982, p. 19).
17. Sousa e Silva (1958, p. 266-7), após reiterar a erronia de combinações
dessa natureza, assevera que “há muitas maneiras vernáculas de redigir
semelhantes frases”, especificando algumas delas: a) empregar o verbo
na voz ativa, na terceira pessoa do plural, e sem sujeito explícito: “não
o fizeram” em vez de “não se o fez”; b) usar o verbo na voz ativa, na
primeira pessoa do plural (se o permitir o sentido): “não devemos fazê-
lo” em lugar de “não se o deve fazer”; c) passar o verbo para a voz
passiva analítica com o auxiliar ser, vindo claro o sujeito: “ele não foi
feito” por “não se o fez”; d) flexionar o verbo na voz passiva com o
auxiliar ser, ficando o sujeito oculto: “não foi feito”; e) juntar ao verbo
a partícula apassivadora e o pronome pessoal reto (se daí não resultar
ambiguidade): “não se fez ele”; f) utilizar o verbo com partícula
apassivante e sem sujeito explícito (se a frase não se tornar obscura ou
anfibológica): “Esperávamos a nova lei, mas não se decretou”.
18. Ronaldo Caldeira Xavier (1991, p. 89) insere a expressão “não se o
viu” no rol dos galicismos sintáticos e aconselha sua substituição por
“não foi visto”.
19. Eduardo Carlos Pereira insere construções em que se une o se e o o,
como na frase considerada, no rol dos galicismos fraseológicos ou
sintáticos, daqueles que “são verdadeiras deturpações da língua, contra
os quais devemos estar premunidos” (1924, p. 260 e 262).
20. Também Mário Barreto (1954b, p. 275) assevera que tal construção,
por mais que se pretenda justificar, “é um grosseiro atentado contra a
índole da língua”, uma incorreção que não acha amparo nos
gramáticos.
21. Em complementação feita em outra obra, lembra o mesmo autor que há
determinadas frases francesas construídas com on que podem, em
princípio, conduzir o usuário a uma tradução errada, por meio da
junção que ora se repele: On la porte sur son lit, on le reconduisit chez
lui, on l’appela pour diner, on la traitait avec bonté, on ne le trouva pas,
on ne les voit pas comme ils sont. Nem por isso, todavia, o conhecido
filólogo incide nas construções vitandas (leva-se-a para a cama, levou-
se-o para casa…), já que manda traduzir assim tais frases: levam-na
para a cama, levaram-no para casa, chamaram-na para jantar,
tratavam-na com bondade, não o encontraram, não se vêem como eles
são (BARRETO, 1954a, p. 115-6).
22. De modo bem específico para o que normalmente ocorre na linguagem
jurídica e forense, partindo da frase sacramental “Recomende-se-o na
prisão”, encontradiça em sentenças criminais, Geraldo Amaral Arruda
(1997, p. 57) observa que “essa construção não suporta análise
sintática”, alinhando, para refutá-la, os seguintes argumentos: a)
podem-se dizer duas frases completas nesses casos: “Recomende-se o
réu na prisão” ou “Seja o réu recomendado na prisão”; b) “nesses
casos aparecem o sujeito (o réu) e o predicado formado com o verbo na
passiva pronominal, ou na passiva analítica, formada pelo verbo de
ligação e o predicativo, acrescido do adjunto adverbial”; c) “se se
pretender substituir o sujeito réu por um pronome, só poderá sê-lo por
um pronome do caso reto”, até porque “a função de sujeito da oração
somente pode ser exercida por um substantivo (no caso, réu), ou por
um pronome reto (no caso, ele), ou por algum pronome
demonstrativo”; d) por isso, por uma de duas maneiras há de ser
corretamente escrito o exemplo no caso concreto: “Recomende-se ele
na prisão” ou “Seja ele recomendado na prisão”.
23. Da mesma forma, não é correta qualquer frase em que haja
combinações semelhantes: “Intime-se-a”, “Notifiquem-se-os”,
“Processem-se-as”.
24. E, quanto à construção citem-se eles – uma das correções viáveis da
construção condenada – vale lembrar a lição de Vitório Bergo: “A
muitos afigura-se errônea esta construção, em que o pronome reto ele
parece estar em função de objeto direto. Tal não se dá, entretanto, pois
ele é sujeito paciente, apenas colocado em ordem inversa” (1944, p.
168). Equivale tal frase a “(que) ele seja citado”.
25. E, se pode parecer estranho dizer “Citem-se eles”, por se afigurar
foneticamente repugnante a combinação, continua sendo inegável que,
no campo sintático, o verbo está na voz passiva, e o sujeito tem que ser
do caso reto; além disso, nada impede a utilização da forma analítica:
“Sejam eles citados”.
26. Por argumento de autoridade, acresça-se o lembrete de Aires da Mata
Machado Filho (1969i, p. 185) de que a questão ficou cabalmente
elucidada no sentido exposto após memorável polêmica entre Mário
Barreto e Melo Carvalho.
27. E alhures aquele gramático (MACHADO FILHO, 1969h, p. 1.361-2) –
após reiterar que “erro grave é a combinação binária do pronome se aos
oblíquos o, a, os, as (em função de acusativo), em frases de voz
reflexo-passiva” – transcreve precisa lição do primeiro polemista:
“sendo o pronome oblíquo o, a, os, as objeto direto dos verbos
transitivos diretos supra; sendo passiva a voz verbal (se viu igual a foi
vista; se esperava igual a era esperado, etc.), tais construções levariam
à absurdeza de revestir o sujeito da oração o caso oblíquo (acusativo) o,
a, os, as, perdendo a retilidade (sua principal característica) inerente ao
nominativo”.
28. Vale observar que os clássicos evitam tal construção errônea de dois
modos: a) Ou omitem simplesmente o pronome o, a, os, as. Ex.: “Ou
não se busca o confessor, ou, se se busca…” (Padre Manuel
Bernardes). b) Não omitem o pronome, mas o levam, e corretamente,
ao caso reto (ele, ela, eles, elas). Ex.: “Um crime, só um crime, pode
unir-nos… E por que não se cometerá ele?” (Alexandre Herculano).
29. Sintetize-se tal processo de correção com o ensinamento de Gladstone
Chaves de Melo: “Nos casos em que supostamente tivesse cabida a
junção, ou se cala o pronome acusativo, ou emprega-se o pronome reto,
construção essa mais rara, porém certa, porque se terá entendido a frase
como passiva e, então, o ele ou ela serão sujeito da oração (1970, p.
266)” Exs.: a) “Venha esse pão e ponha-se na balança” (Padre Manuel
Bernardes); b) “Um crime, só um crime… e por que não se cometerá
ele?” (Alexandre Herculano).
30. Adicione-se o resumo de Eduardo Carlos Pereira (1924, p. 96) de que
se e o “não se encontram jamais na mesma frase”, motivo por que “é
incorreto dizer-se: Eles se o arrogam”.
31. E ultime-se com Silveira Bueno (1938, p. 136-7), cuja contundência, a
esse respeito, é perceptível a uma perfunctória análise: “A combinação
do reflexivo se com as formas oblíquas o, a, os, as, é assunto
completamente liquidado por Mário Barreto em duas das suas ótimas
obras: Novos Estudos e De Gramática e de Linguagem. No primeiro
livro aqui citado, provou exaustivamente que frases como esta – Onde
se o encontra – são absolutamente contrárias ao cunho, à sintaxe
portuguesa. Houve um tal snr. Melo Carvalho que saiu a campo, a fim
de defender a vernaculidade, a correção de tal uso, citando em seu
abono Rui Barbosa. Foi muito infeliz porque teve pela frente não só
Mário Barreto, na segunda obra citada, não só o dr. Pedro Pinto, mas o
próprio Rui Barbosa que, em carta dirigida a Mário Barreto, deserta da
companhia de Melo Carvalho. Depois de tudo isto, quem vier ainda
com a pretensão de defender tal erro, que dê com a cabeça na pedra
para ver se a endireita”.

Cite-se o réu – Está correto?


Ver Cite-se-o – Está correto? (P. 184) e Voz passiva e Pronome
apassivador (P. 791).

Cite-se os réus ou Citem-se os réus?


Ver Junte-se as cartas ou Juntem-se as cartas? (P. 437)

Cível ou Civil?
1. De início, importa observar que o Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de Letras, órgão oficial
para definir quais vocábulos integram nosso léxico, faz o normal registro
de cível e de civil, de modo que ambas as palavras existem oficialmente
em nosso idioma (2009, p. 195).
2. Com a atenção voltada para o primeiro vocábulo, leciona Napoleão
Mendes de Almeida (1981, p. 55-6) que, apesar de gramaticalmente
correta, a palavra cível é mal formada em português, por contrariar as
regras de derivação do latim.
3. Para Antonio Henriques, “forma-se por analogia com os paroxítonos
cultos em ível: crível, horrível, terrível; é, assim, forma divergente”.
4. Ensina tal autor (HENRIQUES, 1999, p. 33), com base em lição de
Franco de Sá, condenatória do vocábulo por barbarismo, que se trata “de
um termo de amplitude maior (do que civil), abrangendo o Direito Civil,
Comercial e Trabalho e distingue-se das ações criminais”.
5. Cândido de Oliveira faz outra distinção entre tais vocábulos: cível é o
“relativo ao Direito Civil”, e civil é o que “diz respeito às relações dos
cidadãos entre si” (1961, p. 33).
6. Nos textos jurídicos e forenses, cível é termo aceito como
gramaticalmente correto, indicador daquilo que respeita ao Direito Civil,
do que se julga estar de acordo com as leis civis: causa cível, juízo cível,
vara cível.
7. Já civil basicamente se emprega em oposição ao que é criminal: processo
civil, ação civil, condenação civil.
8. Também se usa este último vocábulo para distinguir alguém de um
militar, de um religioso, ou mesmo para desvinculá-lo de outrem com
caracteres, condições ou relações peculiares: guerra civil, exército civil,
casamento civil, emprego civil (não oficial, nem público).
9. Na consonância com ensino de Antonio Henriques (1999, p. 33), civil
“prende-se ao latim civilis, da raiz de civis (cidadão)” e “refere-se, pois,
aos cidadãos e ao que se relaciona com eles”, regulando-se “pelo Direito
Civil propriamente dito, excluindo-se o Direito do Trabalho, Direito
Comercial e Penal”.

Cláusula – Como ler seu número?


Ver Números – Como ler e Empregar? (P. 506)

Cláusulas de contrato – Como numerar?


1. Um leitor viu que o Manual de Redação da Presidência da República
estabelece que, na redação das leis, a numeração dos artigos deve ser
ordinal até o artigo nono e cardinal nos posteriores. E sua dúvida é se, na
elaboração dos contratos em geral, as cláusulas também devem obedecer
ao mesmo critério.
2. Antes de responder ao leitor, fazem-se algumas considerações mais
abrangentes, para que possa haver um melhor entendimento da resposta
a ser dada à dúvida por ele trazida, e isso sem esquecer que, no que
concerne à elaboração e à redação das leis e de seus dispositivos, a
matéria está regulada pela Lei Complementar nº 95, de 26/02/98,
inclusive para determinar que os artigos, parágrafos, incisos, alíneas e
itens seguirão “numeração ordinal até o nono e cardinal a partir deste”
(art. 10).
3. Abrangendo a designação dos papas, reis e séculos, ensina Domingos
Paschoal Cegalla: “usam-se numerais ordinais de um a dez e cardinais de
onze em diante” (1999, p. 367).
4. Sintetiza-se essa posição com ensino de José de Nicola e Ernani Terra:
“na indicação de papas, reis, séculos, capítulos, partes de obra, usam-se
os numerais ordinais até décimo (inclusive). A partir daí, usam-se os
cardinais” (2000, p. 134).
5. Para representar uma segunda posição, começa-se com o ensino de Celso
Cunha (1970, p. 136), para quem se usa “o ordinal até nove, e o cardinal
de dez em diante” (artigo nono, artigo dez), e isso sempre que o numeral
vier depois do substantivo” (1970, p. 262).
6. Em mesmo sentido, de acordo com Eliasar Rosa, “usam-se os numerais
ordinais do 1º ao 9º, inclusive. Do art. 10 em diante empregam-se os
cardinais. Dir-se-á: art. 1º, art. 10, art. 2º, art. 11 etc.” (1993, p. 103).
7. Em terceira posição, Artur de Almeida Torres (1966, p. 81) faz uma
distinção: a) “Nas séries de reis e papas e na designação de séculos ou
capítulos, usamos do ordinal até dez, e do cardinal de onze em diante”:
Luís Décimo, Luís Onze, Pio Décimo, Pio Onze, século décimo, século
onze, capítulo décimo, capítulo onze; b) “Na numeração de artigos de
leis empregamos o ordinal até nove, e o cardinal de dez em diante: artigo
primeiro, artigo nono, artigo dez”.
8. Também Pasquale Cipro Neto e Ulisses Infante (1999, p. 312) bifurcam
o problema e duplicam as soluções: a) por um lado, “para designar
papas, reis, imperadores, séculos e partes em que se divide uma obra,
quando o numeral vem depois do substantivo, utilizam-se os ordinais até
décimo e a partir daí os cardinais”: Pio 9º (nono), Pio 10º (décimo), Pio
11 (onze); b) por outro lado, “para designar leis, decretos e portarias
utiliza-se o ordinal até nono e o cardinal de dez em diante”: artigo 1º
(primeiro), artigo 9º (nono), artigo 10 (dez).
9. Buscando remediar a divergência entre os autores e as dificuldades de
emprego no caso concreto, ensina Vitório Bergo (1944, p. 212) – em
lição que há de ter integral aceitação nos casos concretos – que, na
generalidade dos casos, se há de empregar o numeral ordinal até nove
(século nono); o seguinte pode ser século décimo ou dez; daí por diante,
usa-se o cardinal (século onze).
10. Em continuação, diga-se que, por brevidade e simplificação, tem-se
defendido o uso indiscriminado dos cardinais, em vez dos ordinais, na
enumeração de séries de objetos e de partes em que se dividem os
diplomas legais, como capítulos, artigos, parágrafos, incisos. Exs.:
capítulo dois, artigo dez.
11. Nesse campo, Eduardo Carlos Pereira (1924, p. 250) leciona que “os
cardinais pospõem-se ao substantivo quando por brevidade se
empregam pelos ordinais” (página dois, casa vinte e um, por página
segunda e casa vigésima primeira).
12. Ainda na lição desse mesmo autor, quando se trata de “longas séries,
como as páginas de um livro ou as casas de uma rua, emprega-se pelo
ordinal o cardinal, que se conserva invariável”, exemplificando ele
próprio: “página vinte e dois, por vigésima segunda; casa trinta e um,
por trigésima primeira” (PEREIRA, 1924, p. 312).
13. E complementa: “a título de brevidade, usamos constantemente os
cardinais pelos ordinais” – casa vinte e um, página trinta e dois – com
a complementação de que “os cardinais um e dois não variam nesse
caso porque está subentendida a palavra número” (PEREIRA, 1924, p.
312).
14. Também lembra Edmundo Dantès Nascimento (1982, p. 9): “por
brevidade na série de objetos, artigos, cláusulas de lei, capítulos,
parágrafos, empregam-se os cardinais. Art. 321, Lei n. 322, casa 21, fls.
41, capítulo 1, cláusula 2, etc.”. E complementa: a) “neste caso não
variam os numerais um e dois”; b) diz-se na linguagem forense: “aos
20 dias do mês de maio”, “a fls. trinta e duas”.
15. Reitere-se, contudo, que essa possibilidade de uso do cardinal pelo
ordinal tem como regra primeira a de que o numeral posponha-se ao
substantivo, motivo por que se há de atentar à necessidade de correção
de um giro muito frequente em tomadas de depoimentos de policiais: a)
78º DP (leia-se: septuagésimo oitavo Distrito Policial) (correto); b) DP
78 (leia-se: Distrito Policial setenta e oito – subentendendo-se número
setenta e oito) (correto); c) 78 DP (leia-se: setenta e oito Distrito
Policial) (errado).
16. Em interessante observação nesse sentido, também acrescentam José
de Nicola e Ernani Terra (2000, p. 54-5): “O numeral anteposto ao
substantivo deve ser lido como ordinal, concordando com esse
substantivo. Já o numeral posposto ao substantivo deve ser lido como
cardinal, concordando com a palavra número, que se considera
subentendida”: III Salão do automóvel (terceiro), II Maratona
Estudantil (segunda), VIII Copa do Mundo (oitava), casa 2 (dois),
apartamento 44 (quarenta e quatro).
17. Ainda quanto ao que se dá com os textos legais, interessante
observação final vem de Adalberto J. Kaspary: “Ao contrário do que se
observa nos documentos legais do Brasil, em que os artigos são
numerados por meio de algarismos ordinais do primeiro ao nono, e por
meio de algarismos cardinais do décimo em diante, na legislação
codificada de Portugal todos os artigos vêm numerados por meio de
algarismos ordinais: art. 64º, art. 1.689º, etc.” Mas excepciona tal
autor: “No texto da Constituição da República Portuguesa, adota-se a
numeração articular empregada no Brasil” (1996, p. 12).
18. Com essas explicações, pode-se responder ao leitor do seguinte modo:
a) se anteposto ao vocábulo cláusula, o numeral será sempre ordinal
(1ª Cláusula, 9ª Cláusula, 11ª Cláusula, 20ª Cláusula); b) se posposto
ao vocábulo cláusula, o numeral normalmente também será ordinal de
1 a 9 (Cláusula 1ª, Cláusula 9ª) e cardinal de 11 em diante (Cláusula
11, Cláusula 20); c) quanto ao número 10, nesse caso, exatamente
porque há divergência entre os autores, o melhor é permitir que se
empregue tanto o ordinal quanto o cardinal (Cláusula 10 ou Cláusula
10ª); d) por brevidade e simplificação, também é possível o uso
indiscriminado dos cardinais, quando pospostos aos respectivos
substantivos em tais casos, mesmo que o número seja inferior a dez
(capítulo 2, art. 7, § 2, alínea 2, seção 1, cláusula 2); e) nesse último
caso, a leitura do numeral se faz no masculino (alínea dois, seção um,
cláusula dois); f) ainda nesse caso, não é possível o uso do cardinal
pelo ordinal, se o numeral preceder o substantivo (78º DP se lê
septuagésimo oitavo distrito policial, ou distrito policial setenta e oito
[subentendendo a palavra número], mas não setenta e oito distrito
policial ou setenta e oito DP).
Ver Números cardinais – Como escrever por extenso? (P. 505), Primeiro
de maio ou Um de maio? (P. 600), Pontuação dos numerais (P. 574) e
Segundos e terceiros – É possível? (P. 684)

Cláusulas terceira e quarta – Está correto?


1. É usual, na linguagem forense, vir um substantivo no plural modificado
por dois adjetivos no singular, correspondentes às partes em que se
decompõe o plural ou às espécies em que se decompõe o gênero
expresso pelo substantivo. Exs.: a) “As cláusulas terceira e quarta do
contrato resolvem o assunto”; b) “Para julgar o feito em primeira
instância, deram-se por incompetentes as justiças federal e estadual”; c)
“As questões ambientais vêm tendo solução nas leis federal e estadual”.
2. Júlio Ribeiro, de igual modo, muito embora ressalve a opinião de outros
autores, assevera ser “vicioso empregar um substantivo no plural e fazer
concordar com ele adjetivos no singular” (1908, p. 243).
3. Júlio Nogueira, embora reconheça a existência de muitos exemplos de
tal construção em autores insuspeitos, como Padre Manuel Bernardes,
Antônio Feliciano de Castilho e Camilo Castelo Branco, também afiança
ser “preferível não usar no plural um substantivo acompanhado de dois
ou mais adjetivos do singular, quando com estes se discriminam espécies
nomeadas genericamente pelo mesmo substantivo”. E leciona ser mais
adequado dizer “a literatura brasileira e a portuguesa”, e não “as
literaturas brasileira e portuguesa” (NOGUEIRA, 1939, p. 202).
4. Na lição de Laudelino Freire, de igual modo, “não deve um substantivo
do plural ser acompanhado de adjetivos no singular, uma vez que é ao
adjetivo que cabe concordar com o substantivo”. Para tal autor integrante
da Academia Brasileira de Letras em seu tempo, não é correto, assim,
dizer “as línguas grega, hebraica, latina e espanhola”, nem “as afeições
conjugal, filial e paternal”, nem “as idades viril e madura”, mas sim “a
língua grega, a hebraica, a latina e a espanhola”, “a afeição conjugal, a
filial e a paternal”, “a idade viril e a madura”. Acrescenta ele que “sem
o artigo estas frases seriam igualmente corretas: ‘a língua grega,
hebraica, latina, etc.’”. E complementa com a observação de que,
“contra esta regra, deparam-se-nos exemplos de grandes escritores, que,
não a respeitando, infringem a hierarquia gramatical, subordinando o
substantivo ao adjetivo” (FREIRE, 1937b, p. 58).
5. Observando, contudo, ser construção oriunda do latim, Carlos Góis
(1943, p. 195-7) abona integralmente a concordância nominal referida,
contando com o respaldo de Mário Barreto e de Rui Barbosa, além da
corroboração de preciosos exemplos de Padre Manuel Bernardes,
Camilo Castelo Branco e Camões.
6. Eduardo Carlos Pereira também observa com precisão: “É comum vir
um substantivo no plural com dois ou mais adjetivos no singular, os
quais exprimam as partes em que se decompõe o plural” (1924, p. 231).
7. Atento a essa divergência, por anotar que alguns gramáticos – como
Júlio Ribeiro e Eduardo Carlos Pereira – discordam dessa construção,
Carlos Góis (1943, p. 195-7), já citado, também acrescenta que, se se
preferir evitar tal estrutura, isso há de ser um processo fácil: basta
“colocar o substantivo no singular modificado pelo primeiro adjetivo e
repeti-lo depois, representado por um pronome demonstrativo
modificado pelo segundo adjetivo”. Ex.: “As questões ambientais vêm
tendo solução na lei federal, na estadual e na municipal”.
8. Rebatendo os autores que condenam tal concordância, assim agindo sob
o argumento de que “em português não é o substantivo que concorda
com o adjetivo, mas o inverso”, abona Luiz Antônio Sacconi (1979, p.
203) a referida estrutura, justificando com o argumento de que “tal
construção já se observava no próprio latim”.
9. Também Vitório Bergo leciona ser “prática dos clássicos” a
concordância de um substantivo no plural com dois adjetivos no
singular. Ex.: “… a nobreza e povo desta vila se opôs aos estados
eclesiástico e secular da cidade de Braga” (Frei Luís de Sousa).
Ressalva, contudo, tal autor em continuação (BERGO, 1943, p. 59):
“Opõem-se a esta sintaxe alguns autores, que alegam ser ela contrária à
lógica, uma vez que torna o substantivo como subordinado ao adjetivo.
Assim é que dão preferência a este torneio, também clássico: “… no
campo, traça a divisória entre a classe média e a rica” (Rui Barbosa).
10. Sousa e Silva (1958, p. 22), por sua vez, de modo taxativo, afiança que
“dois ou mais adjetivos no singular podem modificar um substantivo
no plural”, acrescentando que Mário Barreto demonstrou que “já no
latim há exemplos dessa sintaxe, que alguns mestres impugnam sem
razão”.
11. Vale, a respeito, mesmo para uma visão ampliada de possibilidades de
uso da expressão, o ensinamento de Eliasar Rosa (1993, p. 103) acerca
de como proceder à presença ou à ausência do artigo em tais casos:
“Ou se diz assim – Os Códigos Civil e Penal – ou, então, O Código
Civil e o Penal. Não é recomendável a construção: O Código Civil e
Penal”.
12. Óbvio está que, ante a divergência de estruturas, manifestada por tão
excelsas autoridades do vernáculo, optativo é o emprego ao usuário
comum da norma culta nos dias atuais, aqui incluído o operador do
Direito.
Ver Números – Como ler e Empregar? (P. 506) e Primeiro e segundo (P.
600).

Clítoris ou Clitóris?
1. Um leitor indaga qual das palavras é a correta, já que ambas são
largamente utilizadas no meio jurídico: clítoris ou clitóris?
2. Ora, sempre é bom lembrar – até para criar no leitor o salutar hábito de
um raciocínio que se repete – que, quando se quer saber se uma palavra
existe ou não em português, deve-se tomar por premissa o fato de que a
autoridade para listar oficialmente os vocábulos pertencentes ao nosso
idioma é a Academia Brasileira de Letras.
3. E essa autoridade, a ABL a exerce por via da edição do Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa.
4. E uma simples consulta ao VOLP mostra que nele se registram ambas as
formas: clítoris e clitóris (2009, p. 197).
5. A forçosa conclusão, assim, é que ambas as formas existem em nosso
léxico, e o emprego de ambas está autorizado ao usuário do idioma.

Coação
1. Em sentido vulgar, significa o ato de coagir, constranger, forçar. Ex.: “A
Câmara de Vereadores aprovou a lei sob coação da comunidade”.
2. Em Direito privado, configura vício do consentimento, previsto pelo art.
147, II, do Código Civil de 1916, capaz de tornar anulável o ato jurídico,
podendo, nesse sentido, ser conceituado como “a pressão física ou moral
exercida sobre alguém para induzi-lo à prática de um ato” (MONTEIRO,
1983, p. 200).
3. Em Direito criminal, se irresistível, configura uma das hipóteses de
exclusão da culpabilidade, sendo punível, em tal caso, apenas o autor da
coação (cf. art. 22 do Código Penal).
4. Não se confunda – muito embora tal ocorra com frequência na prática –
com coerção, que implica não o ato de coagir, mas a capacidade de agir,
o poder de agir.

Co-autor ou Coautor?
Ver Co-réu, Corréu ou Coréu? (P. 231)

Co – Com hífen ou sem?


1. O prefixo co sempre se acopla à palavra seguinte diretamente, sem
intermediação de hífen: cobeligerante, cocontratado, codemandante,
cofundador, cogerência, cotutor.
2. Não se abre exceção nem mesmo para a hipótese de ser o elemento
seguinte iniciado por vogal: coacusado, coadministrador, coapelante,
coarrendante, coautor, coeditor, coeducador, coexistência, coigual,
coindicação, counívoco.
3. Vale ressaltar que a exceção também não se abre (i) nem se a vogal é a
mesma que termina o prefixo (coobrigar, cooperação, coordenação), (ii)
nem mesmo se é o elemento seguinte começa com h, já que, nessa
hipótese, o segundo elemento (a) perde o h, (b) e o prefixo a ele se junta
sem hífen (coabitar, coerdeiro).
4. Para a hipótese de ser o segundo elemento iniciado por r ou s, dobram-se
tais consoantes para permanência do som do vocábulo original:
correferência, correlação, corresponsabilidade, corréu, cossecante,
cossegurador, cossignatário.

Código de (ou do) Processo Civil?


1. Um leitor indaga se é correta a expressão Código do Processo Civil, ou
se apenas se deve dizer Código de Processo Civil.
2. Por um lado, é sabido que a Lei 5.869/73 e suas alterações posteriores
vieram para regrar o processo civil – expressão e assunto que constituem
algo definido.
3. Uma rápida consulta aos títulos de artigos escritos sobre a matéria revela
ser sempre determinado tal processo (ou processo civil) pela existência
do artigo definido masculino o: a) “Anotações sobre a Efetividade do
Processo” (Luiz Rodrigues Wambier e Teresa Arruda Alvim Wambier);
b) “Efetividade do Processo e Técnica Processual” (José Carlos Barbosa
Moreira); c) “O Processo Civil no Limiar de um Novo Século” (Moniz
de Aragão); d) “Função Social do Processo” (Calmon de Passos).
4. Com essas observações, não deixa de ser aceitável a ideia de se falar
num Código do Processo Civil, o que significaria exatamente um
conjunto de normas destinadas a reger o processo civil como um todo.
5. Por outro lado uma simples leitura da parte introdutória da Lei 5.869/73
mostra que por ela se instituiu “o Código de Processo Civil”. Essa é a
expressão e esse é o nome dado pelo legislador ao conjunto de regras
que constituem tal codificação, de modo que é assim que se deve
mencionar a legislação codificada.
6. Essa, ademais, é a tradição do nosso direito: apenas para conferir, o
Decreto-lei 1.608, de 18/9/39, falava também de um Código de Processo
Civil, e o Decreto-lei 3.689, de 3/10/41 mencionava um Código de
Processo Penal.
Códigos civil e penal
Ver Cláusulas terceira e quarta – Está correto? (P. 188)

Coerção
1. Em sentido vulgar, significa o ato de coagir, a repressão.
2. No plano jurídico, porém, é a força que emana da soberania do Estado e
é capaz de impor o respeito a norma legal. Ex.: “Na possibilidade de
aplicar uma pena e que reside a força de coerção da lei”.
3. Não se confunda – apesar de sua intensa ocorrência no sentido vulgar –
com coação, que quer dizer não a capacidade de coagir, não o poder de
coagir, mas o próprio ato de coagir.

Cogitar
1. No âmbito da regência verbal, Sousa e Silva (1958, p. 58) vê como mais
comum a construção desse verbo com a preposição de, mas, fundado em
exemplo de Rui Barbosa, afiança ser igualmente correto o emprego da
preposição em. Exs.: a) “O magistrado ainda não cogitara do assunto”;
b) “A comuna de Paris cogitou em queimar a biblioteca da cidade”.
2. Além dessas duas possibilidades, Francisco Fernandes (1971, p. 150)
também observa seu emprego como verbo intransitivo: “Era assim que
João das Mercês ia cogitando” (Machado de Assis).
3. De igual modo, Celso Pedro Luft (1999, p. 122-3) preconiza a
possibilidade de uso de todas essas sintaxes, acrescentando também a
viabilidade de seu emprego com objeto direto: cogitei, cogitei isso,
cogitei disso, cogitei nisso.
4. Exatamente por admitir sintaxe como transitivo direto, admite
construção na voz passiva: “Delito nunca até agora cogitado” (Antonio
de Morais Silva).

Coisíssima – Está correto?


1. É comum ouvir-se tal palavra, sobretudo na expressão coisíssima
nenhuma; mas tal emprego é tecnicamente equivocado.
2. O superlativo absoluto sintético, em realidade, é grau privativo de
adjetivos (que encerram a ideia de qualidade), jamais de substantivos
(palavras que dão nomes aos seres); e coisa é sabidamente um
substantivo, não podendo, por conseguinte, sofrer tal variação em grau
(não se diz, por exemplo, sapatíssimo, camisíssima ou calcíssima).
3. Nessa esteira, lembrando que “só os adjetivos qualificativos, em rigor,
admitem graus de significação” – e mesmo assim nem todos – Eduardo
Carlos Pereira observa que “no estilo familiar comunica-se muitas vezes
a energia à expressão, dando-se esta forma superlativa a certos adjetivos
determinativos e, até, a certos substantivos: muitíssimo, mesmíssimo,
pouquíssimo, coisíssima nenhuma” (1924, p. 94).
4. Apesar da concessão do ilustre gramático, todavia, é de se ver que ela,
mesmo assim, dá-se apenas no estilo familiar, de modo que prevalece a
regra inicial para a norma culta, que é o veículo normal de comunicação
a ser observado nos meios jurídicos e forenses.
5. Apesar dessas considerações técnicas, o Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de Letras, que é
órgão oficial para definir quais vocábulos integram nosso léxico, fez
constar tal vocábulo em seus registros (2009, p. 202).
6. E, em termos oficiais, legem habemus, razão pela qual está autorizado o
uso do mencionado vocábulo, sobretudo na expressão coisíssima
nenhuma: tal autorização legal, todavia, não significa que o mencionado
vocábulo deva ser usado na linguagem formal.
Ver Muitíssimo – Está correto? (P. 481)

Colação
1. Do latim collatio, de conferre (com o sentido de ajuntar, trazer
conjuntamente), é também conhecida como conferência. Exs.: a) “Só o
valor dos bens doados ou dotados entrará em colação” (CC/1916, art.
1.792, § 2º); b) “Não virão também à colação os gastos ordinários do
ascendente com o descendente” (CC/1916, art. 1.793); c) “As doações
remuneratórias de serviços feitos ao ascendente também não estão
sujeitas à colação” (CC/1916, art. 1.794).
2. No Código Civil de 1916 (arts. 1.785/1.795), indica o ato pelo qual o
herdeiro é obrigado a trazer à massa comum da herança, ou dos bens do
defunto, as doações por este feitas em vida, a fim de concorrer a eles
com os demais herdeiros, em condições de igualdade.
3. Sua finalidade é conferir tratamento igual aos herdeiros, sob o
pressuposto de que o ascendente, ao doar em vida, apenas pretendeu
antecipar ao herdeiro o quinhão que futuramente lhe tocaria na herança
(DE PLÁCIDO E SILVA, 1989, p. 453).
4. Advirta-se, por oportuno, que pode o autor da herança, cumpridos
determinados requisitos, dispensar a colação, se, de modo expresso,
quando da doação, declarar que os bens doados saiam de sua metade
disponível (CC/1916, art. 1.788).
Ver Trazer à colação (P. 746).

Colacionar
1. Muito embora seja vocábulo registrado no Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras (2009, p. 202),
órgão incumbido por lei para determinar quais vocábulos pertencem
oficialmente ao vernáculo, Geraldo Amaral Arruda insurge-se contra o
emprego desse neologismo, por ele reputado rebarbativo e desnecessário
para quem conheça a boa linguagem, “a qual tem recursos legítimos do
verbo conferir e da locução trazer à colação”.
2. E continua tal autor sob um outro aspecto: “O mau uso do neologismo
colacionar provocou um outro equívoco nos que costumam usar palavras
novas sem conferir o seu significado nos dicionários. De fato, tem
havido quem ‘corrija’ esse colacionar para colecionar, e diga que ‘nas
alegações a parte colecionou farta jurisprudência’, em vez de ‘a parte
trouxe à conferência (ou à colação) farta jurisprudência’” (ARRUDA,
1997, p. 82-3).
3. Apesar da objeção do ilustre gramático e jurista citado, o certo é que,
sendo o VOLP o órgão oficial para registro das palavras pertencentes ao
idioma, legem habemus, razão pela qual seu emprego está oficialmente
autorizado. Aliás, nesse sentido, os textos legais e forenses estão cheios
de exemplos conformes à norma culta e, portanto, plenamente
defensáveis.
Colchetes
1. No que concerne à pontuação, e de se anotar que, se se apresenta a
necessidade de emprego interno de parênteses, os parênteses externos
são substituídos por colchetes. Ex.: “A quantia pedida [R$1.000.000,00
(um milhão de reais)] acabou sendo o valor atribuído à causa.”

Colenda Câmara
Ver Adjetivação desnecessária (P. 80) e Egrégio (P. 296).

Colendo – Quando se usa?


Ver Tribunal de Justiça – egrégio ou Egrégio? (P. 747)

Coletivo – Como concordar?


1. Gramaticalmente, conceitua-se o coletivo como o substantivo que,
embora no singular, designa um agrupamento de várias pessoas, animais
ou coisas: povo, rebanho, laranjal.
2. E, desde logo se diga também que se equiparam a coletivo, para os
efeitos aqui considerados, expressões partitivas, em que a primeira parte
constitui um agrupamento, enquanto, na segunda parte, vem um termo
especificador: a maior parte dos alunos, a maioria dos alunos, boa parte
dos alunos, grande número de alunos, grande parte dos alunos, metade
dos alunos, o grosso das falcatruas, uma porção de alunos…
3. Em casos assim, de expressões no singular, mas com a acepção de
pluralidade ou de coletivo, pode ocorrer uma de duas situações: a) ou tal
expressão de sentido coletivo está sozinha (a maior parte); b) ou tal
expressão se faz acompanhar de um termo especificador no plural (a
maior parte dos alunos).
4. Algumas observações gerais podem ser bastante úteis, no que tange à
concordância verbal nesses casos.
5. Como primeira regra, pode-se fixar que, se não há termo especificador
do coletivo ou palavra assemelhada, o verbo fica no singular. Exs.: a) “O
povo votou contra o projeto”; b) “O rebanho ficou retido do outro lado”;
c) “O laranjal fracassou em produção”; d) “A maior parte faltou”; e)
“Metade faltou”; f) “Uma porção faltou”.
6. Por reflexo dessa regra, já se vê que são erradas construções como as
seguintes: a) “O povo votaram contra o projeto”; b) “O rebanho ficaram
retido do outro lado”; c) “O laranjal fracassaram em produção”; d) “A
maior parte faltaram”; e) “Metade faltaram”; f) “Uma porção
faltaram”.
7. Como segunda regra, pode-se estabelecer que, se há termo especificador
do coletivo, e este está no singular, a concordância é facultativa no
singular ou no plural (SACCONI, 1979, p. 205). Exs.: a) “Um povo de
miseráveis não constitui verdadeira nação” (correto); b) “Um povo de
miseráveis não constituem verdadeira nação” (correto); c) “Um rebanho
de ovelhas de raça ficou do outro lado” (correto); d) “Um rebanho de
ovelhas de raça ficaram do outro lado” (correto); e) “Um laranjal de
frutas de qualidade fracassou em produção” (correto); f) “Um laranjal
de frutas de qualidade fracassaram em produção” (correto); g) “A maior
parte dos alunos faltou” (correto); h) “A maior parte dos alunos
faltaram” (correto); i) “Metade dos alunos faltou” (correto); j) “Metade
dos alunos faltaram” (correto); k) “O grosso dos alunos faltou”
(correto); l) “O grosso dos alunos faltaram” (correto); m) “Uma porção
de alunos faltou” (correto); n) “Uma porção de alunos faltaram”
(correto).
8. Essa regra é resumida de modo bastante claro por Artur de Almeida
Torres: “se o sujeito for um coletivo partitivo, acompanhado de
determinativo no plural, o verbo poderá ficar no singular ou no plural”.
Exs.: a) “Um bando de lavadeiras molhava, batia e torcia a roupa”
(Júlio Dinis); b) “… uma série de questões que não passam de
conjeturas” (Alexandre Herculano).
9. E lembra tal gramático que Alexandre Herculano, “num mesmo período,
usou dos dois tipos de concordância: ‘Uma nuvem de frechas partiu do
alto dos muros; grande porção dos assassinos de Nuno Gonçalves
misturaram o próprio sangue com o sangue do homem leal’” (TORRES,
1966, p. 156-7).
10. Pasquale Cipro Neto e Ulisses Infante partilham desse entendimento e
lembram que, “nesses casos, o uso do verbo no singular enfatiza a
unidade do conjunto; já a forma plural confere destaque aos elementos
que formam esse conjunto” (1999, p. 481-2).
11. E, por concernir a questão à concordância verbal – assunto esse em que
a regra primeira é a de que o verbo concorda com o seu sujeito – Carlos
Góis (1943, p. 120), em interessante, arguta e muito apropriada
observação, à possibilidade de flexão do verbo no plural em tais casos
– concordando com o complemento, e não no singular, ou seja, com o
núcleo do sujeito, ao qual, em exegese estritamente técnica, deveria
seguir – confere o nome não de concordância verbal, mas de
discordância verbal.
12. Importa acrescentar, todavia, que a ambivalência de concordância dá-se
no plano sintático, pois, quanto ao sentido, nada é indiferente, e, como
lembra Aires da Mata Machado Filho (1969h, p. 1.336), “reside a
decisão no ambiente expressional, também chamado contexto”. Assim,
“se o primeiro plano da expressão coube ao coletivo, deixa-se estar o
verbo no singular; se convém ao complemento no plural, irá para esse
número”.

Coligir
1. Verbo de grande uso nos meios forenses, em seu sentido mais comum
significa reunir em coleção, ajuntar. Ex.: “Em sua sustentação oral, o
advogado coligiu ensinamentos dos melhores doutrinadores”.
2. Em sua conjugação verbal, apresenta problemas de ortografia.
3. Diferentemente dos verbos cujo radical termina em j – consoante essa
que tem o mesmo som antes de qualquer das vogais (viajo, viajas,
viajemos, viajeis, viajem) – os verbos terminados em gir, para
continuidade do som da consoante final do radical, precisam da
representação gráfica j antes de a ou de o.
4. Assim: colijo, coliges, colige, coligimos, coligis, coligem (presente do
indicativo); colija, colijas, colija, colijamos, colijais, colijam (presente
do subjuntivo); colige, colija, colijamos, coligi, colijam (imperativo
afirmativo); não colijas, não colija, não colijamos, não colijais, não
colijam (imperativo negativo).
5. Tais problemas ocorrem apenas no presente do indicativo e nos tempos
daí derivados, de modo que todos os demais tempos e modos são
grafados com g: coligia (imperfeito do indicativo), coligirei (futuro do
presente do indicativo), coligiria (futuro do pretérito do indicativo),
coligi (pretérito perfeito do indicativo), coligira (pretérito mais-que-
perfeito do indicativo), coligisse (imperfeito do subjuntivo), coligir
(futuro do subjuntivo), coligindo (gerúndio), coligido (particípio).
6. Feitas essas observações, é de se ver que coligir é conjugado em todas as
pessoas, tempos e modos.

Colocação de pronomes
1. Expressão também conhecida como topologia pronominal, significa, em
Gramática, o estudo da colocação do pronome pessoal oblíquo átono na
frase, considerado em relação ao verbo.
2. Por ser átono (sem autonomia sonora), tal pronome depende do verbo
por ele completado, cingindo-se a questão a verificar onde a sonoridade
melhor aconselha seu posicionamento.
3. Se o pronome átono vem antes do verbo, diz-se que há próclise. Ex.: “O
advogado não se conteve em audiência”.
4. Se o pronome átono vem no meio do verbo, diz-se que há mesóclise.
Ex.: “Realizar-se-á o júri de acordo com a designação anterior”.
5. Se o pronome átono vem depois do verbo, diz-se que há ênclise. Ex.:
“Conteve-se o advogado apesar das ofensas do causídico adversário”.
6. Porque o emprego desta ou daquela colocação depende da eufonia, há
quem diga, como Antenor Nascentes, que “o uso da próclise e o da
ênclise, isto é, da colocação anterior ao verbo e da posterior, no tocante
aos pronomes pessoais oblíquos, regula-se exclusivamente pelo ouvido”
(1942, p. 152).
7. Fundado em tal posicionamento, assevera, em sequência, o referido
gramático: “Em matéria de colocação de pronomes não há certo nem
errado; há elegante e deselegante” (NASCENTES, 1942, p. 153).
8. Em termos genéricos – até para se ter a real dimensão da divergência
que, nesse assunto, grassa entre os gramáticos, sobretudo pela
diversidade de entonação entre a pronúncia brasileira e a portuguesa para
alguns deles, a posição considerada normal dos pronomes átonos é a
ênclise (depois do verbo), mas J. Mattoso Câmara Jr., em lição transcrita
por Geraldo Amaral Arruda (1997, p. 60), tem opinião diferente, pois
afirma que “o gênio da língua, para o português (do Brasil) não favorece
a ênclise; e a próclise é geral, em princípio”.
Ver Atração pronominal remota (P. 144), Colocação de pronomes e Verbo
no infinitivo (P. 194), Ênclise (P. 317), Mesóclise (P. 471), Próclise (P. 603),
Próclise ou Ênclise? (P. 604), Pronomes e Locuções verbais (P. 617), Se me
não falha a memória ou Se não me falha a memória? (P. 684) e Verbo
seguido de pronome (P. 763).

Colocação de pronomes – Atração remota?


1. Um leitor alinha três exemplos: a) “Contou-nos que o amava ainda
depois de tudo”; b) “Contou-nos que, depois de tudo, o amava ainda”; c)
“Contou-nos que, depois de tudo, amava-o ainda”. Fundamenta que, no
primeiro exemplo, a próclise foi usada por existência de uma daquelas
palavras que atraem o pronome átono para antes do verbo. Refere, ao
depois, que, no segundo exemplo, também se usou a próclise por
atração, embora entre a palavra atrativa e o pronome exista um termo
intercalado. Anota, por fim, que, no terceiro exemplo, não houve
atração. E indaga se, neste último, a colocação pronominal está correta
ou errada.
2. Verificada a premissa de que, em razão da eufonia, há palavras que
atraem o pronome pessoal oblíquo átono para antes do verbo (palavras
negativas, advérbios, pronomes relativos, pronomes indefinidos,
conjunções subordinativas), a indagação (que, no caso, diz respeito
apenas aos dois últimos exemplos) pode ser resumida do seguinte modo:
quando se intercala, após palavra atrativa, outra palavra, ou expressão,
ou mesmo oração (no caso, a expressão intercalada é “depois de tudo”),
continua aquela primeira exercendo sua normal força de atração?
3. Carlos Góis (1945, p. 100-1), em estudo sobre os casos de próclise,
observa que, se entre a palavra atrativa e o verbo “mediar outra oração,
que os afaste e distancie, dá-se então a ênclise (a distância ou
afastamento fez cessar a atração)”, buscando tal autor corroboração em
exemplo de Machado de Assis: “Poderá fazer crer ao leitor que, durante
aqueles dias em que a perdemos de vista, tornara-se Guiomar uma
criatura desditosa”.
4. Para Cândido de Figueiredo (1937, p. 383-4), em tais casos, “o pronome
pessoal atônico, que deveria ser proclítico, por o atrair uma partícula
anterior, nos aparece muitas vezes enclítico, por ficar longe da referida
partícula”. Ex.: “… cordas que, se acaso tremem e vibram apagam-se,
fundem-se” (João Ribeiro).
5. Buscando uma explicação plausível para essa ocorrência, justifica tal
autor: “a inobservância rigorosa da construção é atenuada sensivelmente
pela distância entre as partículas que normalmente se atraem”.
6. Falando dos itens de exceção das regras de colocação de pronomes e
enfocando, de modo específico, “as principais causas que perturbam a
colocação normal dos pronomes oblíquos”, refere Artur de Almeida
Torres (1966, p. 182), entre estas, “a distância em que o pronome se acha
das palavras acima mencionadas (palavras atrativas), que ficam como
que esquecidas”, o que, pelos exemplos por ele coligidos acarreta o
emprego da ênclise. Exs.: a) “Vozes humanas que, apelidando-se pela
calada das horas mortas, levantam-se…” (Júlio Ribeiro); b) “… cuja
substância vai-se por qualquer rasgão” (Rui Barbosa); c) “Durante uns
dois meses, que o general demorou-se na província” (Camilo Castelo
Branco); d) “Asseguro-vos que, se me falece ambição para aceitar os
vossos votos contradizendo as minhas opiniões, sobeja-me avareza”
(Alexandre Herculano).
7. Na conformidade com lição de Evanildo Bechara (1974, p. 327), no caso
de vocábulos ou de uma oração que se intercalem na subordinada,
“exigindo uma pausa antes do verbo, o pronome átono pode vir
enclítico”, mesmo em havendo, distante, palavra normalmente atrativa,
para o que se observa a regra genérica de que não se põe pronome
oblíquo átono logo após vírgula. Ex.: “Mas a primeira parte se trocou
por intervenção do Tio Cosme, que, ao ver a criança, disse-lhe entre
outros carinhos…”
8. De acordo com o próprio verbo auxiliar da locução, empregado pelo
gramático por último referido (“pode vir”), e pelo que se verifica do uso
normal em textos que se subordinam ao padrão culto da língua,
referendado por exemplos de autores abalizados e insuspeitos, o mais
adequado é considerar que, em situações desse jaez, o pronome pode vir
em uma de duas posições: a) em próclise, por observância da atração da
palavra respectiva, ainda que remota; b) em ênclise, com base na
realidade mais direta e palpável de que, objetivamente, não há, próxima,
palavra alguma atrativa.
9. Bem por isso, o exemplo citado de Machado de Assis também poderia
ter sido escrito na estrita conformidade com as normas das palavras
atrativas – no caso um pronome relativo com ligação direta de sentido
com o verbo e o pronome átono – em atração pronominal remota.
10. Assim, no caso, será também correto dizer: “Mas a primeira parte se
trocou por intervenção do Tio Cosme, que, ao ver a criança, lhe disse
entre outros carinhos…”
11. E, de modo bem prático, no caso da consulta que motivou estas
considerações, estão corretos ambos os exemplos: a) “Contou-nos que,
depois de tudo, o amava ainda”; b) “Contou-nos que, depois de tudo,
amava-o ainda”.

Colocação de pronomes e Locuções verbais


Ver Pronomes e Locuções verbais (P. 617).

Colocação de pronomes e Verbo no infinitivo


1. Para o verbo no infinitivo, existe, por um lado, a lição de Cândido de
Figueiredo de que “as preposições pertencem à categoria das partículas
que influem geralmente na colocação dos pronomes pessoais atônicos,
atraindo-os” (1937, p. 320).
2. Exemplos colhidos pelo autor referido em abalizados escritores de nosso
idioma, entretanto, revelam que seu emprego, em última análise, é
facultativo, ora antes do verbo, ora depois dele. Exs.: a) “Até chegou a
me dar casa…” (Machado de Assis); b) “… obriga o procurador a
respeitar-lhe as cláusulas” (Rui Barbosa); c) “… era bastante para
sacudir-me da Tijuca” (Machado de Assis); d) “Chamou-me um escravo
para me servir o doce” (Machado de Assis); e) “Ficou Maria
Henriqueta livre por se ver livre do suborno da mãe” (Camilo Castelo
Branco); f) “Senhor, morro por unir-me convosco” (Padre Manuel
Bernardes); g) “Gastei pouco tempo em dizer-lhe…” (Machado de
Assis); h) “… não faltaria Deus em lhe dar um bom dia” (Padre Antônio
Vieira).
3. Eduardo Carlos Pereira, por sua vez, observa que, “junto aos infinitivos
puros, em geral, e aos regidos da preposição a”, a regra de
posicionamento do pronome oblíquo átono é a ênclise: a) “Foi bom
dizer-lhe toda a verdade” (infinitivo puro); b) “Ele estava acostumado a
sofrê-la todos os dias” (infinitivo regido pela preposição a).
4. Justifica o mencionado gramático que tal generalização da ênclise se deu
pela “necessidade de evitar o hiato, provocado às vezes pela próclise”,
como, por exemplo, em “acostumado a a sofrer” (por acostumado a
sofrê-la).
5. Em outra lição, assegura o mesmo autor que, “quando a negativa
modifica o infinito, é facultativa a próclise”.
6. Acrescenta ser mesmo “mui comum entre os clássicos e entre escritores
portugueses antepor-se o pronome oblíquo ao advérbio não”.
7. E remata que, “ainda que menos comum, encontra-se a posposição” do
pronome à palavra de valor negativo, “que, em geral, é preferida no falar
dos brasileiros”. (PEREIRA, 1924, p. 253).
Ver Colocação de pronomes (P. 192).

Colocação de pronomes – Locução – Infinitivo?


1. Um leitor, trazendo uma questão de concurso, indaga em qual das
alternativas o pronome pessoal oblíquo poderia ser colocado em duas
outras posições: a) Eles queriam-me enganar; b) Não te prejudicarei
nunca; c) Deixei de cumprimentá-lo; e, d) Creio que ele não te dará
explicações.
2. Quando se tem a frase “O réu quer dizer-nos alguma coisa”, tem-se uma
locução verbal composta por um verbo auxiliar (quer) e um principal no
infinitivo (dizer); e a questão é saber qual a posição em que há de estar
corretamente colocado o pronome pessoal oblíquo átono (nos): antes do
auxiliar (“O réu nos quer dizer alguma coisa”), entre o auxiliar e o
principal (“O réu quer-nos dizer alguma coisa”), ou após o principal (“O
réu quer dizer-nos alguma coisa”).
3. Em realidade, muito embora seja mais comum a colocação antes do
auxiliar ou depois do principal, Eduardo Carlos Pereira (1924, p. 252-3),
para os casos normais, lembra a possibilidade genérica das três
colocações do pronome átono: antes do auxiliar, após o auxiliar e após o
principal. Exs.: a) “A testemunha nos pode esclarecer a verdade”; b) “A
testemunha pode-nos esclarecer a verdade”; c) “A testemunha pode
esclarecer-nos a verdade”.
4. Se o pronome começa a frase, vedada está a possibilidade de vir ele
antes do auxiliar, sob pena de contrariar princípio básico de colocação de
pronomes oblíquos átonos, segundo o qual eles não começam frase.
Exs.: a) “O magistrado lhe queria falar” (correto); b) “Lhe queria falar
o magistrado” (errado).
5. Se há palavra atrativa antes da locução, não se coloca o pronome entre o
auxiliar e o principal. Exs.: a) “O magistrado não lhe quer falar”
(correto); b) “O magistrado não quer-lhe falar” (errado); c) “O
magistrado não quer falar-lhe” (correto).
6. Se o auxiliar está no futuro do presente ou no futuro do pretérito, valem
as regras já referidas, apenas com a ressalva de que, com essas formas
verbais, nunca se dá a ênclise ao auxiliar, mas mesóclise ao auxiliar: a)
“O magistrado dever-lhe-ia falar toda a verdade” (correto); b) “O
magistrado deveria-lhe falar toda a verdade” (errado).
7. Em um outro aspecto, anota Édison de Oliveira que “o pronome oblíquo
não pode ficar solto entre dois verbos”, motivo por que está errada a
construção “O fato vai se repetir”.
8. Segundo tal autor, para corrigir expressões dessa natureza, “reúne-se o
pronome oblíquo à forma verbal anterior”: “O fato vai-se repetir”
(OLIVEIRA, E., s/d, p. 119).
9. Com essas reflexões, pode-se afirmar, em resposta ao leitor, que a
alternativa correta é a primeira.
10. E se podem fazer as seguintes variações, com a indicação de seu acerto
ou erronia entre parênteses: a) “Eles me queriam enganar” (correto); b)
“Eles queriam-me enganar” (correto); c) “Eles queriam enganar-me”
(correto); d) “Me queriam enganar” (errado); e) “Eles queriam me
enganar” (errado); f) “Eles não me queriam enganar” (correto); g)
“Eles não queriam-me enganar” (errado); h) “Eles não queriam me
enganar” (errado); i) “Eles não queriam enganar-me” (correto); j)
“Eles me quererão enganar” (correto); k) “Eles querer-me-ão
enganar” (correto); l) “Eles quererão-me enganar” (errado); m) “Eles
quererão me enganar” (errado); n) “Eles quererão enganar-me”
(correto); o) “Eles não me quererão enganar” (correto); p) “Eles não
querer-me-ão enganar” (errado); q) “Eles não quererão-me enganar”
(errado); r) “Eles não quererão me enganar” (errado); s) “Eles não
quererão enganar-me” (correto).

Colocação de pronomes – Próclise ou ênclise?


1. Um leitor pensou, refletiu, discutiu e não chegou a conclusão nenhuma.
E indaga qual a forma correta de colocação do pronome: a) “Nos autos
do processo cujo trâmite dá-se por esta Vara…”; b) “Nos autos do
processo cujo trâmite se dá por esta Vara…”?
2. Ora, em tese, um pronome pessoal oblíquo átono pode-se colocar em três
posições na frase: a) antes do verbo, ou seja, em próclise (“Não me
amole!”); b) no meio do verbo, ou seja, em mesóclise (“Dir-se-á que não
trabalhamos”); c) após o verbo, ou seja, em ênclise (“Deram-me notícia
falsa”).
3. Ainda antes de discutir o mérito da questão, em raciocínio que sempre
deve ser repetido em tais circunstâncias, é preciso observar os seguintes
aspectos no exemplo dado: a) o verbo é dá; b) o pronome, cuja
colocação está sendo discutida, é o se; c) o verbo está num tempo
simples (ou seja, não é composto, nem é locução verbal); d) o verbo não
está no futuro do presente, nem no futuro do pretérito, de modo que está
totalmente descartada a possibilidade de ocorrência de mesóclise, e,
assim, restam, na prática, apenas as possibilidades de próclise e de
ênclise.
4. Com essas premissas, visto que se tem, no caso, um verbo num tempo
simples, deve-se atentar aos seguintes aspectos: a) o lugar natural do
pronome, nesses casos, é em ênclise; b) esse pronome apenas é atraído
para a colocação em próclise, quando há, logo antes do verbo, alguma
daquelas chamadas palavras atrativas; c) as palavras atrativas são (i) as
negativas, (ii) os advérbios, (iii) os pronomes relativos, (iv) os pronomes
indefinidos e (v) as conjunções subordinativas; d) no caso da dúvida
trazida pelo leitor, trâmite é um substantivo e não se encaixa em
nenhuma dessas categorias (é oportuno lembrar que cujo – um pronome
relativo – não é levado em consideração, porque não é a palavra que vem
imediatamente antes do verbo); e) se é assim, conclui-se que, no caso,
não há palavra atrativa alguma; f) então não há motivo de próclise, e a
colocação natural é em ênclise.
5. Acresce observar, adicionalmente, que, na frase do leitor, que não está
completa, a dúvida surge na segunda oração: “… cujo trâmite se dá por
esta Vara…” E se faz pequena alteração, que em nada altera a essência
da análise, do que resulta a oração “O trâmite se dá por esta Vara”. Dela
se podem extrair as seguintes ilações: a) o sujeito é trâmite, e o verbo é
dá; b) não há palavra atrativa logo antes do verbo; c) o exemplo está na
ordem direta (sujeito + verbo + complementos).
6. E, quando se tem essa situação – a) exemplo na ordem direta e b)
ausência de palavra atrativa antes do verbo – , então, além da ênclise,
também se faculta o emprego da próclise.
7. Em resumo para o leitor, está correto o primeiro exemplo por ele trazido
– “Nos autos do processo cujo trâmite dá-se por esta Vara…” – e isso
pelas seguintes razões: a) o verbo está num tempo simples; b) esse
tempo simples não é futuro do presente nem futuro do pretérito, o que
afasta a possibilidade, mesmo em tese, de ocorrência da mesóclise; c)
não há palavra atrativa logo antes do verbo; d) nesse quadro, a ênclise é
o lugar natural de localização do pronome.
8. Além disso, também está correto o segundo exemplo trazido pelo leitor:
“Nos autos do processo cujo trâmite se dá por esta Vara…” – e isso
pelos seguintes motivos, que se acrescem às conclusões extraídas para o
exemplo anterior: a) por um lado, não há palavra atrativa alguma antes
do verbo; b) por outro lado, o exemplo está na ordem direta; c) nesses
casos, além da ênclise (que é a localização natural do pronome), também
se faculta a possibilidade de emprego da próclise.
9. Apenas se acrescenta que, em casos como os trazidos pelo leitor, a
ênclise é mais usada em Portugal; no Brasil, a preferência é pela
próclise.

Color
Ver Sob color de (P. 702).

Colorir
Ver Abolir (P. 55).

Comandante em chefe – Está correto?


Ver Em chefe – Existe? (P. 305)

Com certeza ou Certamente?


1. Um leitor indaga se é correta a expressão com certeza, tão empregada
nos dias de hoje, ou se é mais adequada a palavra certamente.
2. Em termos históricos, sobre um exemplo como “Ele falava de modo
humilde”, podem-se fazer as seguintes considerações: a) tal frase pode
ser alterada para “Ele falava de mente humilde” (em latim, mens, mentis,
que significa pensamento); b) ou, então, “Ele falava de humilde mente”;
c) com o passar dos tempos, a palavra mente passou a ser considerada
como mero sufixo do adjetivo em tais casos (CEGALLA, 1999, p. 258);
d) e a palavra resultante dessa junção passou a ser empregada como um
advérbio (humildemente).
3. No português atual, quanto à estrutura e formação, esse assunto passa
pelo seguinte raciocínio: a) parte-se, de início de adjetivos como sábio,
cristalino e humilde; b) flexionando-se tais adjetivos para o feminino,
surgem sábia, cristalina e humilde (este último adjetivo é uniforme, ou
seja, tem a mesma forma para o masculino e para o feminino); c) a esses
adjetivos no feminino, acrescenta-se o sufixo mente; d) chega-se, então,
aos advérbios (normalmente de modo) sabiamente, cristalinamente e
humildemente.
4. De modo específico para a indagação do leitor: a) imagine-se o exemplo
“Ele vai à festa com certeza”; b) essa frase equivale a dizer “Ele vai à
festa de modo certo”; c) ou, ainda, “Ele vai à festa certamente”; d) todas
essas expressões são igualmente corretas, e nada se pode apontar de
equívoco em nenhuma delas.
5. Com essas ponderações como premissas, uma primeira observação: não
se deve impingir reprovação alguma ao emprego do circunlóquio com
certeza. Ele não é novidade no idioma, nem modismo. Para comprovar a
realidade dessa afirmação, lembram-se aqui os versos de antiga canção
da inesquecível Amália Rodrigues: “É uma casa portuguesa, com
certeza! Com certeza, é uma casa portuguesa!”.
6. Uma segunda observação: o fato de se constatar, atualmente, um real
abuso no emprego dessa expressão, capaz de sugerir uma indicação de
maior moderação na fala, não é motivo para sua condenação, como se
fosse um equívoco. Já os latinos diziam que o abuso não pode impedir o
uso (abusus non tollit usum), e o provérbio se aplica ao caso com
perfeição.
7. Uma terceira e última observação: embora com frequência seja objeto de
indagação dos leitores, afirme-se com todas as letras: não existe a grafia
concerteza em nosso léxico.

Com exceção de ou À exceção de?


Ver À exceção de ou Com exceção de? (P. 90)

Com nós – Existe?


1. Precedidos da preposição com, os pronomes nós e vós formam conosco
e convosco.
2. Permanecem, contudo, as formas com nós e com vós, se tais pronomes
vêm seguidos de outros, todos, mesmos, próprios ou oração adjetiva
(BECHARA, 1974, p. 95). Exs.: a) “O juiz falou com nós” (errado); b)
“O juiz falou conosco” (correto); c) “O juiz falou com nós todos”
(correto); d) “Ele não falou justamente com nós, que lhe demos tanto
apoio” (correto).
3. A tal lista de palavras que não deixam o pronome submeter-se à
aglutinação, Júlio Nogueira (1930, p. 184) acrescenta ambos: com nós
ambos, e não conosco ambos.
4. Esses vocábulos que acarretam a mencionada aglutinação são
denominados por Luiz Antônio Sacconi “palavras reforçativas” (1979, p.
66).
5. Atente-se à síntese de Antenor Nascentes: “Embora regidos da
preposição com os pronomes nós e vós assumam as formas nosco,
vosco, deixam de assumi-las quando modificadas por todos, outros,
mesmos, próprios, ambos. Assim dir-se-á: com nós mesmos, com vós
todos etc.” (1942, p. 89).
6. Para Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 78), “diz-se com nós quando
esse pronome vem seguido de palavra reforçativa ou de numeral”. Exs.:
a) “Terá de entender-se com nós mesmos”; b) “Preocupamo-nos mais
com ele do que com nós próprios”; c) “Discutia e brigava com nós
todos”; d) “Ele saiu com nós duas”.
7. Para Edmundo Dantès Nascimento, “não se empregam por eufonia as
formas conosco e convosco seguidas de mesmo ou próprio” (1982, p. 9).
8. Também é oportuno citar a lição de Vitório Bergo no sentido de que,
“não só por uma questão de eufonia, senão também, ao que parece, pela
conveniência de assinalar a autonomia do pronome vós, confundido na
forma composta, prefere-se a combinação com vós quando vem ele
modificado por adjetivo”. Excepciona, contudo, tal gramático (BERGO,
1944, p. 66.): “há também exemplos, embora raros, daquela
reminiscência do ablativo latino seguida de determinativo”, alinhando
exemplos, que realça serem raros, de abalizados autores: a) “Queria ver-
vos mais generoso convosco mesmo” (Camilo Castelo Branco); b) “E, se
o valor de vossos amadores houver de ser igual convosco mesma…”
(Camões).
9. Assim também para Silveira Bueno: “Não há erro algum em dizer…
conosco mesmos, conosco próprios, expressões tão corretas quanto com
nós mesmos, com nós próprios. É, porém, mais eufônica a separação:
com nós mesmos, com nós próprios. Note bem: ambas as maneiras são
corretas; esta última é apenas mais harmoniosa” (1957, p. 308-9).
10. Também após ensinar, por um lado, que “os pronomes pessoais
oblíquos, quando regidos pela preposição com, assumem as formas
comigo, contigo, consigo, conosco, convosco”, o gramático Sílvio Elia
complementa, por outro lado, que, “modificados por atributo ou oração
relativa,… decompõem-se conosco e convosco em com nós e com
vós”. Em seguida, entretanto, invocando lição de Sousa da Silveira,
realça ele que “tal regra não é absoluta, pois, em tais casos, também se
encontra o emprego de conosco e convosco, inclusive em Camões”
(ELIA, 1967, p. 150).
11. Ante a divergência entre os estudiosos, fica-nos a liberdade de
empregar, em tais casos, a forma aglutinada (conosco e convosco) ou a
forma analítica (com nós e com vós).
12. Sob outro aspecto, em interessante observação, adverte Sousa e Silva
que “as formas comigo, contigo e consigo não se decompõem nunca”
(1958, p. 82): comigo mesmo, contigo mesmo, consigo mesmo.
Ver Conheço todos eles – Está correto? (P. 217) e Pronome pessoal (P. 614).

Como e por exemplo – Podem na mesma frase?


1. Argumentando que como e por exemplo querem transmitir ambas a ideia
de exemplificação, uma leitora indaga se não seria redundante, e,
portanto, equivocado, empregá-las juntas.
2. Comece-se por dizer que assiste razão à leitora quanto à constatação de
fato no sentido de que como e por exemplo acabam trazendo em si a
ideia de exemplificação, o que lhes confere um aspecto de efetiva
repetição.
3. Ocorre, todavia, que o pleonasmo – esse é o nome técnico em análise
estilística para tal redundância – pode apresentar duas facetas de cunho
diametralmente oposto.
4. Por um lado, se houver mera repetição, que não represente realce algum
para o estilo nem adorno para a linguagem, será um pleonasmo vicioso,
o qual deverá ser evitado. É o caso de expressões corriqueiras na
linguagem coloquial, como entrar para dentro, sair para fora, subir
para cima, descer para baixo.
5. Por outro lado, se dessa repetição se originar um reforço ou realce para a
linguagem, então se estará diante de um pleonasmo de estilo, o qual,
longe de significar um equívoco a ser evitado, constituirá um adorno do
estilo a ser explorado. Confiram-se os seguintes exemplos: a) “Vi com
meus próprios olhos toda aquela cena horripilante”; b) “Ele viveu uma
vida de heroísmo e, por isso, morreu de morte gloriosa”.
6. Como não é difícil perceber, nessa matéria não há meio-termo, de modo
que, se o usuário do idioma empregar um pleonasmo, ou estará no céu
ou no inferno quanto ao estilo e à linguagem. O critério de aferição será
saber se a redundância por ele utilizada constitui adorno ou vício.
7. Assim, no caso trazido pela leitora, que é muito discutido entre os
estudiosos, a questão é exatamente definir se o emprego de como e por
exemplo em mesma frase significa adorno ou vício.
8. Para melhor entendimento, tome-se o seguinte texto: “A efetiva punição
dos culpados, como, por exemplo, no caso da Petrobrás, há de
estabelecer um novo paradigma para o julgamento dos futuros casos de
corrupção no País”.
9. No exemplo dado, considerem-se os seguintes aspectos: a) a frase, tal
como está, com a indigitada repetição, quer significar que a Petrobrás é
apenas um exemplo; b) ou seja, fica ao leitor a sugestão para que
complete toda uma lista de outros casos de corrupção que se põem no
horizonte do Judiciário brasileiro, como o do BNDES, o dos Fundos de
Pensão, etc.; c) sem a expressão por exemplo, essa sugestão não há de
ficar tão clara; d) isso quer dizer que a presença dela representa um
reforço para a linguagem, e não desnecessária repetição; e) em outras
palavras, é um adorno para o estilo, não um equívoco; f) ou seja, é um
pleonasmo de estilo, não um pleonasmo vicioso; g) desse modo, seu
emprego está integralmente autorizado ao usuário do idioma.
10. Ultima-se com a observação de que a análise deve ser feita em cada
caso, pois pode ocorrer que essa mesma expressão, em outro exemplo,
venha a significar apenas uma repetição desnecessária e constitua nada
menos do que um pleonasmo vicioso.

Como quando – Está certo?


1. Uma leitora encontrou a seguinte frase: “Estou apaixonado como
quando eu era adolescente”. E indaga se essa construção está correta,
com o emprego da expressão como quando.
2. Ora, toma-se, como exemplo didático de explicação, uma citação do
Marquês de Maricá – “O medo é a arma dos fracos, como a bravura é a
dos fortes” – a cujo respeito se podem tecer as seguintes ponderações: a)
esse período é formado por duas orações; b) a primeira delas é “O medo
é a arma dos fracos”; c) a segunda, “como a bravura é a dos fortes”; d)
não é difícil perceber que a segunda oração representa um elemento de
comparação em relação à primeira; e) e, porque a segunda oração
estabelece uma relação de dependência em relação à primeira, diz-se que
o período é composto por subordinação; f) nesse período, a primeira é a
oração principal; g) como a segunda oração está em relação de
dependência quanto à primeira, diz-se que ela é uma oração subordinada;
h) e, porque, na relação assim estabelecida, tal segunda oração constitui
um termo de comparação em relação à primeira, diz-se que ela é uma
oração subordinada adverbial comparativa; i) apenas se complementa ser
bastante comum que a conjunção como introduza orações subordinadas
comparativas.
3. Com essas ponderações genéricas, passa-se ao exemplo trazido pela
leitora, de uma canção de Talles Roberto – “Estou apaixonado como
quando eu era adolescente”: a) nele, a oração subordinada comparativa é
“como quando eu era adolescente”; b) por um lado, como é a conjunção
que a introduz; c) por outro lado – e aqui reside a peculiaridade da
questão – tal oração subordinada traz em si a ideia de tempo; d) é fácil
perceber essa ideia de tempo, ao se ler o trecho sem a conjunção
comparativa, a saber, “quando eu era adolescente”; e) não há erro algum
na junção, para o caso, das palavras como e quando.
4. Acrescenta-se, até para confirmar tal conclusão, um verso de Chico
Buarque de Holanda: “Amou daquela vez, como se fosse a última”.
Nesse trecho podem-se fazer observações similares: a) a oração
subordinada comparativa é “como se fosse a última”; b) por um lado,
como é a conjunção que a introduz; c) por outro lado – e aqui reside a
peculiaridade desse novo exemplo – tal subordinada traz em si a ideia de
condição; d) é fácil perceber essa ideia de condição, ao se ler o trecho
sem a conjunção comparativa, a saber, “se fosse a última”; e) também
aqui, não há erro algum na junção das palavras como e se.

Como se lê 83,47%?
1. Há diversas regras importantes e interessantes para a leitura dos
numerais e para sua escrita por extenso, como, por exemplo, a que
determina a interposição da conjunção e entre as centenas e as dezenas e
entre estas e as unidades. Em decorrência dela é que o número 2.662.385
é lido e escrito por extenso do seguinte modo: dois milhões seiscentos e
sessenta e dois mil trezentos e oitenta e cinco.
2. No caso das consultas, o mais lógico é pensar, por primeiro, na
existência de um modo mais conceitual e apurado de dizer e escrever: a)
83,47%: oitenta e três inteiros e quarenta e sete centésimos por cento; b)
0,3%: três décimos por cento.
3. A par desse modo mais clássico, também se posta um outro mais
simples, direto e igualmente correto: a) oitenta e três vírgula quarenta e
sete por cento; b) zero vírgula três por cento.
4. Observe-se, porém, o que, de fato, se dá nesses casos: de cada cem
unidades, estou-me referindo a 83,47 delas no primeiro caso e a três
décimos de unidade no segundo caso. Por isso é que digo o número e
acrescento a expressão por cento. Vê-se, porém, com facilidade, que não
faz sentido substituir tal expressão pelo adjetivo percentual, o qual
serviria para dar uma qualidade e não para indicar que os números
referidos são extraídos de um lote de cem unidades.
5. Observe-se, por fim, que, obedecidas certas regras mínimas de correção,
não parece adequado entender que as normas de Gramática devam vir
para atrapalhar as questões e o próprio viver quotidiano, e sim, muito
mais, para ordenar o modo de escrever e falar, a fim de que a escrita e a
fala sejam efetivos instrumentos para transmissão das ideias

Como sendo – Está correto?


1. É corriqueiro, em textos jurídicos e forenses, o emprego de frases como
a que segue: “Muitos o consideram como sendo o maior civilista pátrio”.
2. Muito embora seja de uso comum essa expressão em casos que tais, é ela
errônea e desnecessária, devendo ser eliminada.
3. Para Domingos Paschoal Cegalla, é “recheio inútil em frases” (1999, p.
78).
4. Proceder-se-á à correção, na prática, por um de dois modos: a) “Muitos o
consideram o maior civilista pátrio”; b) “Muitos o consideram como o
maior civilista pátrio”.
5. Em outras palavras, o predicativo pode vir ou não precedido de como em
tais casos, mas não se usa o sendo.
6. Aires da Mata Machado Filho (1969a, p. 616), por seu lado, mostra sua
preferência pela simples justaposição das palavras, sem emprego de
como, justificando com a elegância na fala.
7. Tal construção vale para diversos outros verbos de mesma estrutura, os
quais, de modo similar, exijam predicativo do objeto: a) “Creio-o apto
(ou como apto) para o trabalho”; b) “Julguei-a incapaz (ou como
incapaz) para a função”; c) “Reconheço-a minha inspiradora (ou como
inspiradora) daquela obra”; d) “Reputo-o o maior processualista (ou
como o maior processualista) vivo do país”.

Como tal ou Como tais?


1. Um leitor, dizendo-se em dúvida quanto ao emprego da expressão como
tal, indaga qual forma é correta entre as duas frases seguintes: a) “As
pessoas que proferem esses discursos, embora não sejam ignorantes,
preferem agir ‘como tal’”; b) “As pessoas que proferem esses discursos,
embora não sejam ignorantes, preferem agir ‘como tais’”.
2. Ora, um dos possíveis empregos da palavra tal é seu uso como pronome
demonstrativo, exatamente como ocorre no caso trazido pelo leitor.
3. E, assim, veja-se o que acontece, se, com esse pensamento, se tenta
substituir o vocábulo tal por um outro pronome demonstrativo: a) “As
pessoas que proferem esses discursos, embora não sejam ignorantes,
preferem agir ‘como este’” (errado); b) “As pessoas que proferem esses
discursos, embora não sejam ignorantes, preferem agir ‘como estes’”
(correto).
4. Com esse raciocínio, não é difícil constatar o que é certo e o que é errado
com a expressão trazida pela dúvida do leitor: a) “As pessoas que
proferem esses discursos, embora não sejam ignorantes, preferem agir
‘como tal’” (errado); b) “As pessoas que proferem esses discursos,
embora não sejam ignorantes, preferem agir ‘como tais’” (correto).

Com ou sem – Está correto?


1. É bastante comum, nos arrazoados jurídicos e nos julgados, como, de
resto, nos textos redigidos com obediência a norma culta, que se
encontrem frases como a seguinte: “A audiência prosseguirá com ou sem
o réu”.
2. A questão que se põe é definir se se pode usar tal construção abreviada
(empregando-se o mesmo complemento para duas preposições), ou se de
rigor será estender a expressão, de modo que cada qual das preposições
venha acompanhada do termo por ela regido: “A audiência prosseguirá
com o réu ou sem ele”.
3. Retratando teoria assente entre outros gramáticos, observa Vitório Bergo
que as preposições com e sem, “por serem antônimas, não podem convir
a um só termo, em frases como com e sem chapéu, com ou sem apoio.
Em rigor se deve dizer – com chapéu e sem ele, com apoio ou sem ele”
(BERGO apud KASPARY, 1996, p. 368).
4. Nessa mesma esteira, posiciona-se Mário Barreto: “Sendo, pois, as
preposições com e sem contrárias, não podem convir a um só termo,
descuido que se comete em exemplos tais como com ou sem apoio, com
ou sem ardor, com ou sem prática, etc. Pode-se trabalhar com ardor ou
sem ardor, mas trabalhar com ou sem ardor a um tempo é de todo em
todo impossível. Diga-se, pois, com ardor ou sem ele, que não
pecaremos contra a sintaxe…” (BARRETO apud KASPARY, 1996, p.
368).
5. Em mesmo sentido, lembrando que dizer com ou sem o réu “não é
Português”, Edmundo Dantès Nascimento observa que “o nome ou
pronome regidos por duas ou mais preposições devem estar claros junto
de cada uma delas”, motivo por que a frase correta deve trazer o nome
repetido do seguinte modo: “A audiência prosseguirá com o réu ou sem
ele”.
6. Essa, aliás – prossegue tal autor (NASCIMENTO, 1982, p. 158-60) – a
construção que normalmente se vê nos clássicos: a) “… não sei se com
razão ou sem ela…” (Padre Antônio Vieira); b) “… o mesmo nome com
a mesma corrupção ou sem ela” (Arrais).
7. Também de Laudelino Freire é a seguinte observação: “é solecismo – e
assim pensa Mário Barreto – construir as frases referindo a um só termo
as preposições com e sem, que exprimem sentido absolutamente
contrário”.
8. E continua tal autor: “Não se pode admitir, por ser absurdo, que alguém
trabalhe com ou sem ardor, ao mesmo tempo; leia com ou sem atenção;
ande com ou sem alamares, etc.”
9. Em seguida, arrola ele exemplos de autores insuspeitos, advertindo que
estes, em tal passo, “não são de imitar”: a) “Perde incontinenti essa
soberania logo que se resolve, com ou sem vontade, a receber e aceitar
a forma republicana” (Carlos de Laet); b) “Também tinha retratos velhos
e gravatas baratas, com e sem caixilho” (Machado de Assis).
10. Aconselha, em continuação, que se sigam autores por ele tidos como
corretos: a) “Com fundamento ou sem ele achei essa filiação” (Antônio
Feliciano de Castilho); b) “As ouvintes, com vontade ou sem ela,
davam anéis, cruzes e arrecados” (Camilo Castelo Branco).
11. Por fim, teoriza o mencionado gramático: “Nos casos em que duas
preposições diversas… regem um mesmo nome, a regra não é calar o
termo com a primeira preposição e expressá-lo só com a segunda, mas
vir cada preposição junto ao consequente que se lhe segue
imediatamente: expressam-se as preposições e reproduz-se o termo”
(FREIRE, 1937b, p. 121-2).
12. Em posição contrária aos autores anteriormente citados, entretanto,
posta-se Epifânio da Silva Dias: “quando duas preposições pertencem
para um mesmo substantivo, por intermédio de uma conjunção
copulativa, ou disjuntiva, diz-se, v. g.: vir com chapéu ou sem chapéu,
com chapéu ou sem ele, com ou sem chapéu” (DIAS apud KASPARY,
1996, p. 368).
13. Nessa mesma corrente contrária à proibição da sintaxe abreviada,
lembra Edmundo Dantès Nascimento (1982, p. 158-60) que Rui
Barbosa, na crítica ao Projeto do Código Civil, escreveu a seguinte
frase: “Aceitar por ele heranças, legados ou doações sem ou com
encargos”, e que Ernesto Carneiro Ribeiro, em sua Tréplica, ao criticar
a construção, fê-lo apenas para dizer que “na expressão de nossas
ideias e sempre o positivo que prevalece a negativa”, de modo que,
“encontrando, talvez, erro maior na ordem de pensamento, não atentou
(Carneiro Ribeiro) para a antinomia de com e sem”, aspecto esse, aliás,
que o gramático da polêmica com Rui Barbosa ressaltara em seu livro
Serões Gramaticais.
14. Observando, em mesma esteira, tratar-se de suposto erro, o emprego de
duas preposições desse jaez para a regência de um mesmo substantivo,
Sousa e Silva (1958, p. 78), transcrevendo lição de Epifânio Dias, é
taxativo: “Quando duas preposições pertencem a um mesmo
substantivo, por intermédio de uma conjunção copulativa, ou
disjuntiva, diz-se, v. g.: vir com chapéu ou sem chapéu, com chapéu ou
sem ele, com ou sem chapéu”.
15. Ante essa divergência entre os gramáticos, por aplicação do próprio
princípio de que, na dúvida, há liberdade de uso (in dubio, pro
libertate), podem-se estabelecer as seguintes posições: a) são aceitas
como corretas ambas as construções – assim a resumida como a
desdobrada; b) não há ordem obrigatória entre as preposições, de modo
que não é de rigor que a conjunção de acepção positiva preceda à de
sentido negativo.
16. No que tange à preferência do legislador, Adalberto J. Kaspary, nos
textos legais que conferiu, encontrou um certo equilíbrio, mas com
preferência pela construção abreviada – oito exemplos, contra seis da
construção desdobrada.
17. Exemplificou com casos de construção abreviada na lei: a) “Ninguém
será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade
provisória, com ou sem fiança” (CF/1988, art. 5º, LXVI); b) “Entram
na comunhão: … II – Os (bens) adquiridos por fato eventual, com ou
sem o concurso de trabalho ou despesa anterior” (CC/1916, art. 271,
II).
18. Também trouxe exemplos de casos com construção desdobrada
(KASPARY, 1996, p. 369): a) “Decorrido o prazo, com informações ou
sem elas, será ouvido, em cinco (5) dias, o Ministério Público…”
(CPC/1973, art. 121); b) “… e com carga ou sem ela seguirá para ele
(o porto de destino)…” (C. Com., art. 606).
19. Captando outro ângulo de consideração e outra dúvida que pode surgir
no assunto, observa Luciano Correia da Silva que “tal emprego (de
com ou sem) já foi censurado como anglicismo (with or without). No
entanto, há de ser acolhido como expressão legítima, nada obstante
que, em português se sucedam duas preposições, apesar da semelhança
com a sintaxe inglesa” (1991, p. 64).
Ver Antes e depois (P. 120).

Companhia ou Compania?
1. Observa Silveira Bueno que “tanto a pronúncia compania quanto a
maneira de escrever compania sem h são inteiramente erradas” (1938, p.
57).
2. De igual modo, lembra Luiz Antônio Sacconi que, para a pronúncia de
tal palavra, “o nh soa” (1979, p. 18).
3. Pense-se nos cognatos acompanhar, companha, companheiro, e se
acertará, no caso, a pronúncia do dígrafo nh, tal como em grunhir e
renhido.
4. A razão do erro de pronúncia, em tal caso, parece ser o julgamento
equivocado das pessoas no sentido de que teria havido a supressão do h
na ortografia oficial, o que efetivamente não se dá, já que o Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de
Letras, órgão oficial para definir quais vocábulos integram nosso léxico
e qual sua efetiva grafia, fez constar em seu rol apenas companhia, e não
compania (2009, p. 206).
5. E Júlio Nogueira (1959, p. 25), de modo técnico, registra, “nas classes
mais ignorantes”, a ocorrência desse erro de pronunciar essa palavra
“sem a palatização, quando tem de ser feita”.
6. Apesar da restrição do equívoco a um restrito número de usuários, feita
pelo referido gramático, o certo é que hoje parece tal equívoco de
pronúncia abranger um número muito maior de pessoas, não apenas nas
“classes mais ignorantes”.

Comparar
1. No que concerne à regência verbal, Mário Barreto (1954a, p. 316)
leciona que tal verbo pode ser construído tanto com a preposição a
quanto com a preposição com: a) “Neste sentido, o nosso idioma pode
comparar-se ao hebraico” (Camilo Castelo Branco); b) “Mas também se
diz comparar uma pessoa com outra”.
2. Celso Pedro Luft (1999, p. 127) concorda com a dupla possibilidade de
regência: a) comparar alguma coisa (ou alguém) a outra; b) comparar
alguma coisa (ou alguém) com outra.
3. Francisco Fernandes (1971, p. 154), por seu lado, não apenas admite as
construções referidas, mas adiciona a possibilidade da estrutura
“comparar alguma coisa (ou pessoa) e outra”, arrolando significativo
exemplo: “Vigília comparava a águia e o pavão, e elegeu a águia”
(Machado de Assis).
4. Atentando-se ao vetusto brocardo que confere liberdade de uso quando
os gramáticos divergem, é de se concluir que viável é o emprego de
qualquer das construções, vale dizer, com as preposições a ou com e com
a conjunção e.

Comparecer
1. Quanto à regência verbal, anota Domingos Paschoal Cegalla (1999, p.
79) que “o termo complementar do verbo comparecer é regido de uma
das preposições: a, em, ante e perante”, especificando tal autor: a) “usa-
se a preposição a antes de substantivos abstratos: comparecer a uma
reunião, a um encontro, às aulas, às sessões, etc.”; b) “a preposição em é
mais adequada antes de substantivos concretos (nomes de lugares):
comparecer no escritório, na escola, na secretaria”; c) “antes de tribunal
(órgão judicial) e de nomes de autoridades, empregar-se-á ante ou
perante: comparecer ante (ou perante) um tribunal; comparecer perante
o rei, o juiz, etc.”.
2. No que tange a seu emprego nos textos legais, Adalberto J. Kaspary,
após acurada pesquisa, observa que, se vem tal verbo seguido da palavra
juízo, o comum é que se construa com a preposição em. Exs.: a) “Além
dos deveres enumerados no art. 14, compete à parte: I – comparecer em
juízo, respondendo ao que lhe for interrogado” (CPC/1973, art. 340, I);
b) “O juiz, ao deferir o requerimento, ordenará a intimação do
interessado para comparecer em juízo, a fim de ser interrogado” (CPP,
art. 551).
3. Se, contudo, tal verbo não vem seguido pela palavra juízo, a regência
habitual é comparecer a. Exs.: a) “O réu será citado para comparecer à
audiência, que não se realizara em prazo inferior a dez (10) dias
contados da citação” (CPC/1973, art. 278); b) “Nenhum desconto será
feito nos vencimentos do jurado sorteado que comparecer às sessões do
júri” (CPP, art. 430).
4. O mesmo autor, todavia, localizou na legislação exemplos da sintaxe
comparecer em, muito embora não sendo tal verbo seguido da palavra
juízo. Exs.: a) “(Os presidentes das entidades sindicais)…
comparecerão nos locais onde se tornar necessária a sua presença”
(CLT, art. 282); b) “O réu não é obrigado a comparecer no
julgamento…” (CPP português, art. 547º); c) “Se o réu não comparecer
na audiência de julgamento…” (CPP português, art. 548º).
5. Também há, em textos legais, exemplos da construção comparecer
perante (KASPARY, 1996, p. 85/87). Exs.: a) “O interditando será
citado para, em dia designado, comparecer perante o juiz…”
(CPC/1973, art. 1.181); b) “… poderá o empregado comparecer,
pessoalmente ou por intermédio de seu sindicato, perante a Delegacia
Regional ou órgão autorizado, para apresentar reclamação” (CLT, art.
36).
Ver Comparecimento (P. 201).

Comparecimento
1. Quanto à exigência de complementação desse substantivo, Celso Pedro
Luft (1999, p. 105) vê as possibilidades de construção com a e com em.
2. Esse também é o entendimento de Francisco Fernandes (1969, p. 91).
3. Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 79), por seu lado, anota que o
substantivo comparecimento “segue as regências do verbo comparecer”,
o que significa que seu complemento “é regido de uma das preposições
a, em, ante e perante”, com as seguintes especificações: a) “usa-se a
preposição a antes de substantivos abstratos: comparecimento a uma
reunião, a um encontro, às aulas, às sessões, etc.”; b) “a preposição em é
mais adequada antes de substantivos concretos (nomes de lugares):
comparecimento no escritório, na escola, na secretaria”; c) “antes de
tribunal (órgão judicial) e de nomes de autoridades, empregar-se-á ante
ou perante: comparecimento ante (ou perante) um tribunal;
comparecimento perante o rei, o juiz, etc.”.
4. A lição do gramático por último referido para o verbo comparecer,
todavia, no que tange às distinções e a especificação de uso, é
desmentida pelo próprio uso nos textos forenses.
5. Assim, parece mais adequado não proceder as distinções que ele faz,
aceitando apenas a ampliação das possibilidades de sintaxe para
construção com as preposições ante e perante.
Ver Comparecer (P. 200).

Compelir
1. Significando coagir, forçar, obrigar, quanto à conjugação verbal, é verbo
irregular, aparecendo um i na primeira pessoa do presente do indicativo e
nos tempos dela derivados: compilo, compeles, compele, compelimos,
compelis, compelem (presente do indicativo); compila, compilas,
compila, compilamos, compilais, compilam (presente do subjuntivo);
compele, compila, compilamos, compeli, compilam (imperativo
afirmativo); não compilas, não compila, não compilamos, não
compilais, não compilam (imperativo negativo).
2. Não apresenta problemas ou irregularidades nos demais tempos e
modos, nos quais sempre aparece um e, jamais um i: compelia
(imperfeito do indicativo), compelirei (futuro do presente), compeliria
(futuro do pretérito), compeli (pretérito perfeito), compelira (pretérito
mais-que-perfeito), compelir (futuro do subjuntivo), compelisse
(imperfeito do subjuntivo), compelindo (gerúndio), compelido
(particípio).
3. Na observação de José de Nicola e Ernani Terra, “o e do radical muda
para i na primeira pessoa do singular do presente do indicativo e nas
formas daí derivadas” (2000, p. 20).
4. Não confundir, em certas formas, com a conjugação do verbo compilar,
que tem o sentido de coligir, reunir.

Competente
1. Em crítica ao art. 110 do Projeto do Código Civil – onde se inseria a
expressão “representantes competentes do poder público” – Rui Barbosa
(1949, p. 64) sugeriu a supressão do adjetivo com a seguinte observação:
“Que aproveita o adjetivo competentes? Sem competência para
representar, ninguém juridicamente representa”.
2. Sua sugestão foi acatada pelo legislador, que suprimiu o mencionado
adjetivo, como se nota na redação definitiva do art. 105 do Código Civil
de 1916: “representantes do poder público”.
3. Geraldo Amaral Arruda (1997, p. 11) também vê como “modelo de
superfluidade” o emprego do adjetivo em expressões como competente
mandado ou competente formal de partilha, acrescentando ser melhor
“determinar a natureza do mandado (mandado de averbação, mandado
de retificação etc.)”.
4. Anote-se, todavia, que o Dicionário da Melhoramentos, seguido nesse
passo por Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, entre os significados do
vocábulo, arrola próprio, adequado, respectivo (Encyclopaedia
Britannica do Brasil, 1995, p. 455).
5. No caso apontado por Rui Barbosa, por um lado, poder-se-ia até mesmo
reputar desnecessário o adjetivo; mas, por outro lado, seria de se indagar
se o sentido intentado pelo Projeto do Código Civil não era exatamente o
outro apontado pelos dicionaristas, vale dizer, a significação de
respectivo.
6. Atente-se a que Gladstone Chaves de Melo (1970, p. 265), em passagem
de seus ensinamentos gramaticais, acaba por empregar o adjetivo na
última acepção, corroborando, assim, esse último entendimento: “É
bastante frequente na língua literária repetir-se, por meio do pronome
pessoal competente, preposicionado ou não, o objeto direto ou indireto
da frase”.
7. De Josué Machado também se pode alinhar significativo exemplo:
“Quando a pausa coincide com o final da expressão ou sentença que se
acha entre aspas, coloca-se o competente sinal de pontuação depois
delas, se encerram apenas uma parte da proposição; quando, porém, as
aspas abrangem todo o período, sentença, frase ou expressão, a
respectiva notação fica abrangida por elas” (1994, p. 66).
8. Ainda do próprio Rui Barbosa vem outro exemplo, anotado por
Francisco Fernandes (1971, p. 107): “A renúncia ao direito de alegar a
nulidade por meio dos recursos ou ações competentes atenta contra a
ordem pública”.
9. Em resumo, não parece ter maior fundamento a condenação de uso do
indigitado vocábulo em tais circunstâncias.
10. Nos textos de lei, encontramos, por vezes, o emprego do referido
vocábulo na acepção de respectivo, como se vê do art. 61, § 2º, da Lei
4.380, de 21/8/64, que regulamentou diversos aspectos dos contratos
imobiliários: “As escrituras no entanto consignarão obrigatoriamente
que as partes contratantes adotam e se comprometem a cumprir as
cláusulas termos e condições a que se refere o parágrafo anterior
sempre transcritas verbo ad verbum (o texto original traz,
erroneamente, verbum ad verbum) no respectivo cartório ou oficio
mencionado inclusive o número do livro e das folhas do competente
registro”.
11. O art. 32, caput, da Lei 4.591, de 16/12/64 (que dispõe sobre o
condomínio em edificações e incorporações imobiliárias), ao referir as
obrigações e os direitos do incorporados, também assim registra: “o
incorporador somente poderá negociar sobre unidades autônomas
após ter arquivado, no cartório competente de Registro de Imóveis, os
seguintes documentos…”

Compilar
1. Tem o sentido de coligir, reunir. Ex.: “O advogado compilou acórdãos
de todo o país, contrários àquela decisão”.
2. É verbo regular, devendo-se, para sua flexão, apenas acrescentar ao
radical compil as terminações próprias de um modelo da primeira
conjugação, como, por exemplo, amar.
3. Assim: compilo, compilas (presente do indicativo), compile (presente do
subjuntivo), compilei (pretérito perfeito), compilara (pretérito mais-que-
perfeito), compilar (futuro do subjuntivo), compilasse (imperfeito do
subjuntivo), compilava (imperfeito do indicativo), compilarei (futuro do
presente), compilaria (futuro do pretérito), compilando (gerúndio),
compilado (particípio).
4. As observações a seu respeito se fazem mais necessárias, para que não se
confundam certas formas com a conjugação do verbo compelir, que tem
o sentido de coagir, forçar, obrigar.

Complemento Nominal – quando se refere a um substantivo


1. Um leitor parte do seguinte exemplo: “O ato foi uma reação específica
às ações da Anistia Internacional, que vinha denunciando e cobrando
esclarecimentos sobre violações de direitos humanos, como torturas,
desaparecimentos e assassinatos de opositores”. E indaga se, nesse
exemplo, “de opositores pode ser considerado complemento dos termos
assassinato, desaparecimentos e torturas, ou só pode ser considerado
complemento do último termo, ou seja, complemento tão somente do
termo assassinatos”.
2. Louve-se, desde logo, o nível da questão trazida pelo leitor. Há
indagações sem maior complexidade, que clamam por soluções também
simples, como as de acentuação ou grafia. Mas questões como essa –
atinente a uma das mais difíceis funções sintáticas, que é o complemento
nominal representado por expressão preposicionada que inteira o sentido
de um substantivo – demonstram, por si sós, o nível de formação
gramatical do leitor que as formula.
3. De início, vejam-se dois exemplos, aqui dados para melhor
entendimento da questão: a) O amor de mãe é elemento básico para um
crescimento saudável; b) O amor à mãe é um sentimento cuja
recompensa a Bíblia registra.
4. Nesses dois casos, pode-se afirmar que de mãe e à mãe são duas
expressões precedidas de preposição (de e a), as quais completam
substantivos (amor, em ambas as situações).
5. Ora, quando uma expressão preposicionada completa um substantivo, o
que se tem, no plano da sintaxe, ou é um complemento nominal, ou é um
adjunto adnominal. E distinguir qual seja sua função, nesses casos, não é
algo tão simples.
6. O segredo é raciocinar do seguinte modo: se a expressão preposicionada
é o alvo, destinatário ou paciente do que diz o substantivo cuja
significação é por ela inteirada, então ela é um complemento nominal.
Na prática, quando se diz amor à mãe, a expressão à mãe é o alvo ou o
destinatário do amor. Então esse termo é um complemento nominal.
7. Já quando se diz amor de mãe, o circunlóquio de mãe não é alvo,
destinatário ou paciente – e sim autor – do amor. Então ela não é
complemento nominal, mas adjunto adnominal. No plano da morfologia,
diz-se que ela é uma locução adjetiva, a qual, com frequência, pode até
mesmo ser substituída por um adjetivo. No caso, amor de mãe é o
mesmo que amor materno ou amor maternal. Mas pode acontecer que,
mesmo sendo tecnicamente uma locução adjetiva, não tenha ela um
adjetivo equivalente.
8. Acrescente-se que um substantivo pode ter em mesma frase tanto um
adjunto adnominal como um complemento nominal, como se dá no
seguinte exemplo: O amor de Jesus às criancinhas merece reflexão. Por
um lado, de Jesus é adjunto adnominal de amor; por outro, às
criancinhas é complemento nominal também de amor.
9. Importa, ainda, observar que o substantivo inteirado pelo complemento
nominal normalmente corresponde a um verbo transitivo: a) amor de
mãe significa amar a mãe; b) reação às ações quer dizer reagir às
ações; c) violação de direitos situa-se no mesmo campo de significado
de violar direitos; d) tortura de opositores tem a ver com torturar
opositores; e) assassinato de opositores pode transformar-se em
assassinar os opositores.
10. Voltemos, então, ao exemplo do leitor. Já no começo da frase, podemos
encontrar dois outros casos que merecem consideração: a) reação às
ações; b) violações de direitos. Em ambos, as expressões em realce i)
são preposicionadas, ii) inteiram o significado de um substantivo, e iii)
são os alvos, destinatários ou pacientes do que dizem os substantivos
inteirados por elas. Tais expressões, por conseguinte, são
complementos nominais.
11. Em seguida, centremo-nos em considerar o excerto “torturas,
desaparecimentos e assassinatos de opositores”. Pelo sentido que
transparece claramente, podemos especificar melhor, tornando-a três
expressões: a) torturas de opositores; b) desaparecimentos de
opositores; c) assassinatos de opositores. Em todas elas, de opositores
i) é uma expressão preposicionada, ii) que inteira o sentido de
substantivos (torturas, desaparecimentos e assassinatos) e iii) é o alvo,
destinatário ou paciente do que diz o substantivo completado por ela.
Tais expressões, por conseguinte, são complementos nominais.
12. Por fim, no plano sintático, respondendo especificamente à indagação,
tal como lançada pelo leitor, podem-se lançar as seguintes conclusões:
a) por um lado, é possível considerar, para os dois primeiros casos, que
os substantivos são completados por uma expressão preposicionada
oculta, a saber, de opositores, a qual se repete, de modo silencioso, em
nossa mente, quando perpassamos por cada qual das expressões; b)
também não há empecilho algum a se reputar que se está diante de um
caso em que três substantivos são inteirados, em sua significação, por
um mesmo complemento nominal; c) não se pode, todavia, ter a
expressão de opositores como complemento nominal apenas de
assassinatos, sob pena de se deixar no vazio e sem adequada
complementação o sentido dos demais substantivos, a saber, torturas e
desaparecimentos, que, como não é difícil perceber, clamam por uma
complementação, quer no campo da significação, quer na esfera da
sintaxe.

Compor – Como conjugar?


Ver Pôr – Como conjugar? (P. 577)

Comprimento ou Cumprimento?
1. Comprimento significa grandeza, tamanho, dimensão longitudinal de um
objeto, extensão de uma linha. Exs.: a) “O comprimento do tapete da
sala de audiências é assustador”; b) “As disposições deste artigo não
abrangem as aberturas para luz ou ventilação, não maiores de dez
centímetros de largura sobre vinte de comprimento e construídas a mais
de dois metros de altura de cada piso” (CC, art. 1.301, § 2º).
2. Já sua parônima cumprimento quer dizer gesto ou expressão, que se fala
ou escreve, como saudação ou cortesia, ou mesmo o ato de cumprir.
Exs.: a) “Em cerimonioso cumprimento, o advogado estendeu a mão ao
juiz”; b) “Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de
fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou,
se procedente o pedido, determinará providências que assegurem o
resultado prático equivalente ao do adimplemento” (CPC/1973, art. 461,
caput).
3. Vejam-se alguns exemplos de emprego do vocábulo cumprimento em
nossa legislação: a) “Cada um dos credores solidários tem direito a
exigir do devedor o cumprimento da prestação por inteiro” (CC, art.
267); b) “O que estipula em favor de terceiro pode exigir o cumprimento
da obrigação” (CC, art. 436, caput); c) “É irrevogável o mandato que
contenha poderes de cumprimento ou confirmação de negócios
encetados, aos quais se ache vinculado” (CC, art. 686, parágrafo único);
d) “Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de
dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em
cumprimento de ordens ou instruções suas” (CC, art. 1.198, caput); e)
“No silêncio do testamento, o cumprimento dos legados incumbe aos
herdeiros e, não os havendo, aos legatários, na proporção do que
herdaram” (CC, art. 1.934, caput); f) “As ações em que o ausente for réu
correm no foro de seu último domicílio, que é também o competente
para a arrecadação, o inventário, a partilha e o cumprimento de
disposições testamentárias” (CPC/1973, art. 97); g) “A carta tem caráter
itinerante; antes ou depois de lhe ser ordenado o cumprimento, poderá
ser apresentada a juízo diverso do que dela consta, a fim de se praticar
o ato” (CPC/1973, art. 204).
4. Não havendo discussões entre os gramáticos no que tange à distinção
entre tais vocábulos, anote-se, para significativo registro, com Júlio
Nogueira, que essa diferenciação constitui “distinção meramente
convencional, sem base etimológica” (1959, p. 33).
5. Melhor explicitando: a uma indagação que lhe era feita acerca da
diferença entre tais palavras, respondia Cândido de Figueiredo que “as
duas formas têm ambas a mesma origem. Veja o latim complere. Mas,
como há sempre conveniência em evitar homografias, adotou-se a forma
comprimento para designar a qualidade daquilo que é comprido; e
cumprimento, para designar o ato de cumprir qualquer preceito, qualquer
dever” (1948, p. 27-8).
6. De qualquer modo, não se pode deixar de ter em mente que o
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira
de Letras, órgão incumbido oficialmente de determinar a existência dos
vocábulos em nosso idioma, além de sua grafia oficial, o qual
normalmente não traz o significado das palavras, faz questão de, no
caso, distinguir claramente: a comprimento confere o significado de
extensão; a cumprimento atribui o sentido de execução (2009, p. 207 e
236).
7. Dessa distinção oficial do VOLP decorre a certeza da necessidade de se
proceder obrigatoriamente à mencionada distinção nos dias atuais.
Computar
1. Domingos Paschoal Cegalla considera-o verbo defectivo, preconizando
que não seja ele conjugado nas “três pessoas do singular do presente do
indicativo” nem, por consequência de derivação, “na segunda pessoa do
singular do imperativo afirmativo” (1999, p. 80).
2. Otelo Reis (1971, p. 76) partilha do mesmo entendimento quanto à
defectividade nas referidas pessoas.
3. Tais autores, evidentemente, são levados a tal posicionamento por
questões de eufonia, para evitar um lembrete sonoro de prostituta, tanto
que ambos referem que os verbos disputar, imputar e reputar são
conjugados em todas as pessoas.
4. Razões de eufonia, entretanto, não devem ser acatadas, no caso, para
vedar- lhe a conjugação nas pessoas referidas, ausência de conjugação
essa que teria por supedâneo uma equivocada tentativa de ver um
cacófato inexistente, ante a evidente e fácil distinção a ser feita na
própria fala.
5. Se assim não se pensar, também o verbo disputar haveria de entrar no rol
de tal defectividade, já que, conforme anedota antiga dos tempos da
ditadura, em momento de descontração, em que os palacianos tentavam
formar uma mesa de jogo, alguém teria indagado ao Presidente da
República da época, conhecido por sua cultura não muito extensa: “O
senhor disputa, Presidente?”. E ele teria respondido: “Digo. E digo
palavrões muito piores, se os senhores insistirem!”
6. Em sequência de sua lição, lembra Otelo Reis que se encontra em alguns
livros que o verbo computar “faz cômputo, cômputas, etc. (com acento
tônico na primeira), o que não é verdade. O substantivo é que se
pronuncia cômputo” (1971, p. 77).
7. Em prol de sua conjugação integral, é de se anotar que os escritores
clássicos não ostentavam repulsa alguma ao emprego das formas
condenadas pelos gramáticos referidos, como se pode observar em
significativos excertos: a) “Oh! Em Corinto computa-os por legiões”
(Antônio Feliciano de Castilho); b) “Em uma carta ao rei o Duque de
Alba computa em oitocentas cabeças o número das execuções…”
(Ramalho Ortigão).
Com reserva ou Com reservas?
1. Quando empregada a expressão com o verbo substabelecer, é giro
errôneo no plural, devendo permanecer no singular. Exs.: a) “O
advogado firmou o substabelecimento com reserva de poderes”
(correto); b) “O advogado firmou o substabelecimento com reservas de
poderes” (errado).
2. O máximo que se pode entender com o plural é o caso de o advogado
substabelecente fazer restrições à conduta ou ao saber jurídico do novo
patrono: “Em se tratando daquele advogado a quem iria transferir a
condução da causa, o patrono originário substabeleceu com reservas”.
Ver Substabelecer (P. 716).

Com ressalva ou Com ressalvas?


1. Uma leitora, que trabalha como revisora de português no TSE, indaga
qual é a forma correta para os processos de prestação de contas em
eleições: aprovação com ressalva ou aprovação com ressalvas?
2. Ora, uma prestação de constas de um candidato em eleições pode ter um
de três resultados: a) ser aprovada; b) ser rejeitada; c) ser aprovada com
ressalva.
3. No que concerne à última possibilidade, a ressalva significa que a
aprovação ocorreu, mas ficou uma observação que evidencia a existência
de alguma irregularidade, embora esta não tenha sido reputada capaz de
inviabilizar a aprovação.
4. Imagine-se, por hipótese, um rol não exaustivo de irregularidades que
podem ser encontradas em uma prestação de contas: a) um pequeno
atraso na apresentação final delas; b) omissão de prestação parcial,
embora sem comprometimento do resultado final; c) inocorrência, em
dez dias a contar da emissão do respectivo CNPJ, da abertura de conta
bancária por onde transitassem os recursos para a campanha eleitoral; d)
detecção de impropriedades que, todavia, não impediram o efetivo
exame contábil e financeiro dos gastos havidos durante a campanha.
5. E, em um caso concreto e específico, a) ou pode ser detectada apenas
uma dessas situações, que constitua uma irregularidade, mas não impeça
a aprovação; b) ou, então, podem ser encontradas duas ou mais delas,
com idêntico resultado final.
6. Se encontrada apenas uma dessas irregularidades, as contas serão
aprovadas com ressalva; se, porém, mais de uma dessas irregularidades
for detectada, então as contas serão aprovadas, mas com ressalvas. Vale
dizer: para cada irregularidade se atribuirá uma ressalva.

Comum de dois
1. Ou comum de dois gêneros, é o substantivo que tem uma só forma para
o masculino e para o feminino, fazendo-se a distinção pelo artigo que o
precede ou por outro determinativo acompanhante. Exs.: virtuoso
artista, virtuosa artista, o selvagem, a selvagem.
2. Para Eduardo Carlos Pereira, “é o apelativo, que, com uma só forma,
admite os dois gêneros gramaticais, determinados respectivamente pelo
sexo que se quer indicar” (1924, p. 68).
3. Nas palavras de Cândido de Oliveira, é o “substantivo que tem uma
única forma para ambos os gêneros, e a distinção é feita com a variação
do artigo, adjetivo ou pronome” (1961, p. 132).
4. Não confundir com o epiceno, que é o substantivo de um só gênero, em
que a distinção dos sexos se faz pelo acréscimo dos adjetivos macho e
fêmeo (cobra macha, jacaré fêmeo).
5. Também se faça a distinção do sobrecomum, que é o substantivo de um
só gênero, relativo a seres de ambos os sexos, sem distinção por artigo
ou por acréscimo de determinativo acompanhante (a criança, o
indivíduo, a testemunha).
Ver Macho – Qual o feminino? (P. 451) e Poeta – Qual o feminino? (P. 570)

Comum de dois gêneros


Ver Comum de dois (P. 205).

Comunicar
1. No que tange à regência verbal, lembra Geraldo Arruda que esse verbo
“pede objeto direto de coisa e objeto indireto de pessoa”, razão por que
sintetiza: “Comunicar algo a alguém”.
2. Lembrando em seguida o próprio princípio que norteia a possibilidade
de flexão de exemplos para a voz passiva (segundo o qual o objeto direto
da voz ativa passa a ser sujeito na voz passiva), continua tal autor: “Com
o verbo comunicar ocorre que o objeto direto (de coisa) pode ser
transformado em sujeito; mas o mesmo não ocorre com o objeto
indireto, que deverá sempre continuar como objeto indireto”. Exs.: a)
“Quando o finado for estrangeiro, será também comunicado o fato à
autoridade consular” (CPC/1973, art. 1.152, § 2º); b) “Não sendo
encontrada a pessoa ou coisa procurada, os motivos da diligência serão
comunicados a quem tiver sofrido a busca” (CPP, art. 247); c) “…
documento que não tiver sido comunicado à parte contrária…” (CPP,
art. 475).
3. Por fim, observa o atento autor que um equívoco vem sendo cometido
com esse verbo (ARRUDA, 1997, p. 54-5): “Andam pondo o verbo
comunicar na voz passiva com o objeto indireto de pessoa transformado
em sujeito”. Exs.: a) “Os interessados foram comunicados da notícia”
(errado); b) “A notícia foi comunicada aos interessados” (correto).
4. Em mesma esteira, anota Arnaldo Niskier que a pessoa não pode ser o
objeto direto, motivo pelo qual “você pode comunicar algo a alguém,
mas é incorreto dizer ele comunicou o delegado…” (1992, p. 104).
5. Também Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 81) lembra que “a
construção correta é comunicar alguma coisa a alguém”, e que é
incorreta qualquer construção que torne a pessoa o objeto direto.
6. Os textos legais evidenciam a exata obediência a tais ditames da
Gramática: alguém comunica alguma coisa a alguém. Exs.: a) “Se a
aceitação, por circunstância imprevista, chegar tarde ao conhecimento
do proponente, este comunicá-lo-á imediatamente ao aceitante…”
(CC/1916, art. 1.082); b) “Passada em julgado a sentença, a que se
refere o parágrafo anterior o escrivão comunicará ao réu o resultado do
julgamento” (CPC/1973, art. 219, § 6º); c) “Qualquer funcionário
público federal, estadual ou municipal, ou representante legal de
associação sindical, poderá comunicar à autoridade competente do
Ministério do Trabalho as infrações que verificar” (CLT, art. 631); d) “O
piloto, quando julgar necessário mudar de rumo, comunicará ao capitão
as razões que assim o exigem…” (C. Com., art. 539).
7. Pela própria estruturação de passagem do exemplo da voz ativa para a
voz passiva, o objeto direto da primeira será o sujeito da segunda: Ex.:
“Na vigência do estado de defesa. I – a prisão por crime contra o
Estado, determinada pelo executor da medida, será por este comunicada
imediatamente ao juiz competente…” (CF/1988, art. 136, § 3º, 1).

Com vós – Existe?


1. Pode ser forma correta de expressão, dependendo das circunstâncias.
Ver Com nós – Existe? (P. 196)

Conceber – Galicismo?
1. Mário Barreto reprova, por galicismo, o emprego desse verbo no sentido
de expressar, assim doutrinando: “Com razão tacham os puristas de
afrancesada a aplicação do verbo conceber para denotar a forma com que
se expressa o conceito, ou seja, quando se emprega em vez de escrever,
redigir, expressar etc. Não se pode negar ser mui diferente o conceber
do expressar o conceito”.
2. E transcreve tal autor exemplo da “censurada acepção” encontrado em
Camilo Castelo Branco, “quando traduz irreflexivamente do francês” a
obra O Romance de um Rapaz Pobre: “… enquanto eu decifrava com
dificuldade as linhas tortuosas da carta, concebida nos seguintes
termos…” (BARRETO, 1955, p. 21-3).
3. Francisco Fernandes também observa que, “em construções como ‘Um
bilhete concebido nestes ou parecidos termos’, significando redigir,
expressar, o emprego do verbo conceber é considerado galicismo”
(1971, p. 156).
4. Este verbo ainda pode produzir um curioso cacófato: “Estes argumentos,
como os concebo, são irrefutáveis.”

Concebeu o ou Concebeu ao?


1. Um leitor indaga, em síntese, qual das duas construções é correta: a)
“Concebeu o Príncipe da Paz”; b) “Concebeu ao Príncipe da Paz”.
2. Antes de responder diretamente ao leitor, formulam-se dois exemplos
para uma melhor explanação didática: a) “O juiz sentenciou o processo”;
b) “O documento pertence aos autos”.
3. Quanto ao primeiro exemplo – “O juiz sentenciou o processo” – podem-
se fazer as seguintes considerações: a) o complemento (o processo) não
está precedido de preposição obrigatória; b) a ação passa (ou transita)
para o verbo diretamente (isto é, sem auxílio obrigatório de preposição);
c) por isso o verbo se chama transitivo direto; d) também por isso, o
complemento verbal (o processo) é um objeto direto.
4. No segundo exemplo – “O documento pertence aos autos” – podem-se
extrair as seguintes conclusões: a) o complemento (aos autos) está
precedido de preposição obrigatória; b) a ação passa (ou transita) para o
verbo indiretamente (ou seja, com o auxílio obrigatório de preposição);
c) por isso o verbo se chama transitivo indireto; d) também por isso, o
complemento verbal (aos autos) é um objeto indireto.
5. Ocorre que determinadas expressões – como adorar ao Criador, amar a
Deus e louvar ao Senhor – apresentam um verbo transitivo direto, mas
estes têm, com frequência, seus objetos diretos precedidos de
preposições não obrigatórias, e isso pelas seguintes razões: a) por ênfase,
reverência e respeito (“Ele ama a Deus sobre todas as coisas”); b)
porque o complemento vem representado por um pronome oblíquo
tônico (“Nem ele entende a nós, nem nós, a ele”); c) para evitar confusão
de sentido, principalmente em casos de inversão dos termos da oração
(“A Abel matou Caim”).
6. Nesses casos, é importante não esquecer: a) mesmo com objetos diretos
preposicionados, os verbos continuam transitivos diretos, de modo que
não passam a transitivos indiretos; b) de igual forma, o complemento é
objeto direto preposicionado, e não objeto indireto.
7. Para quem, nesses casos, tem dificuldade exatamente em reconhecer
qual é a transitividade do verbo, é bom lembrar, em termos bem práticos,
que o verbo transitivo direto normalmente admite passagem para a voz
passiva, enquanto o transitivo indireto, por via de regra, não a admite.
8. Assim, o exemplo “O juiz sentenciou o processo” admite ser
transformado em “O processo foi sentenciado pelo juiz”. Já o exemplo
“O documento pertence aos autos” não admite passagem para a voz
passiva, o que é sinal inconfundível de que pertencer não é transitivo
direto.
9. Do exemplo do leitor, já ligeiramente reformulado para maior facilidade
didática – “Ela concebeu o Príncipe da Paz” – podem-se extrair as
seguintes conclusões, a partir das ponderações já feitas nos itens
anteriores: a) ela é o sujeito e Príncipe da Paz é o objeto direto; b) o
verbo é transitivo direto; c) afirma-se, sem dúvida, que o verbo é
transitivo direto, quando se percebe que o exemplo pode ser passado
para a voz passiva (“O Príncipe da Paz foi concebido por ela”); d) o
exemplo assim formulado é correto e tem seu objeto direto normal; e)
por uma questão de ênfase, reverência e respeito, entretanto, também se
pode dizer “Ela concebeu ao Príncipe da Paz”; f) nesse caso, tem-se um
objeto direto preposicionado; g) como já se viu, o verbo, no exemplo,
continua sendo transitivo direto.

Concernir
1. Lembra Domingos Paschoal Cegalla que tal verbo “segue a conjugação
de aderir” (1999, p. 81).
2. Também para Adalberto J. Kaspary, ele “flexiona-se como aderir; o e do
radical muda-se em i na primeira pessoa do singular do presente do
indicativo e derivados” (1996, p. 94).
3. Em termos práticos, assim fica a flexão dos referidos tempos: concirno,
concernes, concerne, concernímos, concernis, concernem (presente do
indicativo); concirna, concirnas, concirna, concirnamos, concirnais,
concirnam (presente do subjuntivo); concerne, concirna, concirnamos,
concerni, concirnam (imperativo afirmativo); não concirnas, não
concirna, não concirnamos, não concirnais, não concirnam (imperativo
negativo).
4. Não apresenta problemas ou irregularidades em outros tempos, em que é
verbo regular: concerni (pretérito perfeito), concernira (pretérito mais-
que-perfeito), concernir (futuro do subjuntivo), concernisse (futuro do
subjuntivo), concernia (imperfeito do indicativo), concernirei (futuro do
presente), concerniria (futuro do pretérito), concernindo (gerúndio),
concernido (particípio).
5. Por outro lado, atente-se à observação de Otelo Reis, que o conjuga
normalmente em todas as pessoas, tempos e modos, muito embora
complemente ser ele “quase exclusivamente usado nas terceiras pessoas”
(1971, p. 136).
6. Em posição um pouco diversa, não se olvide a lição de Celso Cunha
(1970, p. 214) no sentido de que tal verbo é desusado no particípio e,
consequentemente, nos tempos compostos.
7. Seu normal sentido é dizer respeito a, referir-se a, ter relação com. Exs.:
a) “Esta admoestação não lhe concerne, mas a seu colega”; b) “No que
concerne aos estudos, a situação não é muito boa”.

Concertar ou Consertar?
1. Indaga-se se existe equívoco na frase: “… concertando o que deve ser
concertado (p. ex. crédito imobiliário), mas sem aumentar impostos”.
Ou seja: seria concertando e concertado, ou consertando e consertado?
Em resumo: a) existem as formas concertar e consertar?; b) em caso
positivo, qual a diferença entre ambas?
2. Em termos históricos, lembra-se que concertar vem do latim concertare,
ou certare, que originalmente tinha a ideia de lutar, mas com vistas a pôr
em alguma ordem, enquanto em consertar residia com clareza a ideia de
restaurar, de reparar.
3. Apesar dessa clara diferença de significado na origem, passou a não
haver, no evolver de nosso idioma, distinção entre tais vocábulos, e essa
situação perdurou até 1913, quando se publicou a segunda edição do
dicionário de Cândido de Figueiredo (FIGUEIREDO apud HOUAISS;
VILLAR, 2001, p. 785).
4. Na atualidade, entretanto, o Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de Letras ordena que se
escreva concertar, quando se quer o significado de harmonizar, e se use
consertar, quando se pretende o conteúdo semântico de restaurar, de
reparar (2009, p. 208 e 212). Essa distinção se espraia para todos os
vocábulos pertencentes às respectivas famílias etimológicas:
concertabilidade e consertabilidade, concertado e consertado,
concertador e consertador, concertamento e consertamento, concertante
e consertante, concertável e consertável, concerto e conserto.
5. Vale a pena observar que a Academia Brasileira de Letras é o órgão que
detém a incumbência da lei para determinar oficialmente a grafia das
palavras em nosso léxico, de modo que sua maneira de entender é a
palavra oficial no idioma. Por isso descabe toda e qualquer discussão
acerca de outras propostas de uso dos mencionados vocábulos na
atualidade.
6. Com essas considerações, vejam-se as grafias corretas em exemplos
práticos: a) “Ouvi um esplêndido concerto de violões”; b) “O conserto
desse sapato é simplesmente inviável, ante seu estado de deterioração”.
7. Anote-se, adicionalmente, que, em determinadas situações, um mesmo
exemplo pode admitir as duas grafias, conforme o significado que se
queira atribuir ao vocábulo. Exs.: a) “O presidente precisa concertar o
discurso de seus ministros” (se é que precisa harmonizar a fala dos
ministros); b) “O presidente precisa consertar o discurso de seus
ministros” (se é que deve retificar ou reparar-lhes a fala).
8. Também se acrescente que palavras como concertar e consertar – que
têm a mesma pronúncia, mas grafias diversas – são denominadas
homófonas (homo = igual + fonas = som).
9. Não confundir com homógrafas, que são palavras de mesma grafia, mas
de pronúncia diferente. Exs: a) pôde (pretérito perfeito) e pode (presente
do indicativo); b) colher (verbo) e colher (substantivo).
10. De igual modo, também não confundir com as parônimas, que são
palavras de grafia e pronúncia apenas parecidas, mas de sentido
integralmente diverso, como arrear e arriar, deferir e diferir,
eminência e iminência.

Concerteza ou Com Certeza?


Ver Com certeza ou Certamente? (P. 195)

Concessa venia
Ver Adjetivação desnecessária (P. 80).

Concluir
1. Quanto a sua ortografia, como todo verbo terminado em uir, só pode dar
origem à terminação ui na segunda e terceira pessoas do singular do
presente do indicativo: concluis, conclui.
2. Diferentemente dos verbos terminados em uar (como continuar), são
errôneas as grafias com e em tais situações: conclues, conclue.
3. Atentos aos frequentes equívocos que ocorrem nos meios jurídicos,
assim observam Antonio Henriques e Maria Margarida de Andrade: “Os
verbos em uir (concluir, possuir, estatuir etc.) têm um i na terceira
pessoa do singular do presente do indicativo e não e, como aparece até
em modelos de procuração” (1999, p. 53).
Ver Conclusão (P. 207) e Concluso ou Conclusos (P. 208).

Conclusão
1. Citando lição de Pedro Nunes, conceitua Adalberto J. Kaspary a
conclusão como “ato, consistente em termo, por meio do qual os autos
são submetidos ao juiz da causa, para que neles profira uma decisão”
(1996, p. 97).
2. De Plácido e Silva não diverge desse conteúdo, ao referir ser este um
vocábulo indicativo do “ato ou termo processual, mediante o qual o
escrivão envia os autos conclusos ao juiz, seja para despacho
interlocutório, seja para a sentença” (1989, p. 487-8).
3. Não se confunde com vista, que é a entrega dos autos a alguém dos
demais interessados no processo (advogados, representante do
Ministério Público). Ou seja: enquanto os autos seguem com vista para
os demais operadores do processo, como os advogados das partes e dos
terceiros (CPC/1973, arts. 40, II, 493, 518, 531, 542, 864, 1.000 e 1.002)
e o representante do Ministério Público (CPC/1973, arts. 83, I), seguem
eles em conclusão para o juiz da causa, quer em primeira instância, quer
em segunda (CPC/1973, arts. 141, IV, a, 159, § 2º, 323, 549, caput).
4. Releva notar, entretanto, que, nos tribunais, apenas se fala em conclusão
para o juiz relator do processo (CPC/1973, art. 549), enquanto os demais
integrantes de uma turma julgadora, quando não se sentem aptos a
proferir seus votos, têm vista dos autos (CPC/1973, art. 555, § 20).
5. Em mais de um dispositivo, é ele empregado por nossa legislação
processual: a) “Os termos de juntada, vista, conclusão e outros
semelhantes constarão de notas datadas e rubricadas pelo escrivão”
(CPC/1973, art. 168); b) “Distribuídos, os autos subirão, no prazo de
quarenta e oito (48) horas, à conclusão do relator, que, depois, de
estudá-los, os restituirá à secretaria com o seu visto” (CPC/1973, art.
549).
Ver Concluir (P. 207) e Concluso ou Conclusos (P. 208).

Concluso ou Conclusos?
1. Uma leitora indaga se, quando a secretária encaminha os autos do
processo à conclusão, usa-se concluso ou conclusos.
2. Ora, concluso, no caso, é apenas e tão somente um adjetivo, e este, como
tal, concorda em gênero (masculino ou feminino) e número (singular ou
plural) com o substantivo por ele modificado.
3. Assim, vejam-se os seguintes exemplos, todos corretos: a) “O feito foi
concluso ao Magistrado para sentença”; b) “Os autos foram conclusos
ao Magistrado para apreciação das preliminares”; c) “A carta
precatória foi conclusa ao Magistrado para determinar seu
cumprimento”; d) “As cartas precatórias foram conclusas ao
Magistrado para devolução à origem”.
4. Na linguagem do foro, embora particípio passado irregular de concluir,
tal vocábulo “especificou-se como adjetivo e tem curso na linguagem
jurídica na expressão ‘autos conclusos’, a saber, autos que sobem para o
despacho do juiz” (HENRIQUES, 1999, p. 36). Exs.: a) “Incumbirá ao
serventuário remeter os autos conclusos no prazo de vinte e quatro (24)
horas…” (CPC-1973, art. 190); b) “Conclusos os autos, o juiz mandará
processar a exceção…” (CPC-1973, art. 308); c) “Encerradas as
diligências, os autos serão conclusos ao juiz para homologação do
laudo” (CPP art. 528); d) “Impugnados os embargos, serão os autos
conclusos ao relator e ao revisor pelo prazo de quinze (15) dias para
cada um, seguindo-se o julgamento” (CPC-1973, art. 534, parágrafo
único); e) “Tratando-se de apelação, de embargos infringentes e de ação
rescisória, os autos serão conclusos ao revisor” (CPC-1973, art. 551).
5. No caso do exemplo trazido à apreciação pela leitora: “Os autos do
processo foram conclusos ao Juiz”.
Concordância com percentuais
Ver Por cento – Como concordar o verbo? (P. 576)

Concordância do particípio passado


1. Regra de capital importância para flexionar ou não o particípio passado é
assim expressa por Alfredo Gomes: “O particípio passado empregado
como adjetivo ou com os auxiliares ser ou estar é sempre variável;
empregado, porém, com os auxiliares ter ou haver, é invariável”. Exs.:
a) “As armas eram feitas de pedaços de metal”; b) “As autoridades
estavam insatisfeitas com o resultado do inquérito”; c) “Até as
presidiárias tinham feito suas armas”; d) “Até as presidiárias haviam
feito suas armas”.
2. O mesmo autor, em seguida, lembra que ter ou haver “admitiam flexão,
o que ainda se verifica até o décimo sexto século”, exemplificando com
excertos de Camões: a) “… nobres cavaleiros, que tanto mar e terra têm
passadas”; b) “… depois de ter pisada longamente / co’os delicados pés
a areia ardente”; c) “Da determinação que tens tomada não tornes por
detrás…”
3. Por fim, tal gramático – após anotar que, em francês, “a variabilidade do
particípio só é possível e dá-se de acordo com o objeto direto quando
este precede o particípio” – observa que, “em português, quer o objeto
direto preceda, quer siga o particípio, a concordância era possível até o
século 16º” (GOMES, 1924, p. 388-9).

Concordância do pronome de tratamento


1. No que respeita à concordância nominal, o pronome de tratamento
concorda com o sexo da pessoa representada. Exs.: a) “Vossa Excelência,
senhor juiz, é muito corajoso”; b) “Vossa Excelência, senhora juíza, é
muito corajosa”; c) “Vossas Excelências, senhores juízes, são muito
corajosos”; d) “Vossas Excelências, senhoras juízas, são muito
corajosas”.
2. Quanto à concordância verbal, embora se trate de pronome da segunda
pessoa (pessoa com quem se fala), o pronome de tratamento, mesmo
precedido de vossa, leva o verbo e demais pronomes para a terceira
pessoa (na prática, substitui-se mentalmente por você). Exs.: a) “Vossa
Excelência foi traído por seus próprios argumentos” (correto); b) “Vossa
Excelência fostes traído por vossos próprios argumentos” (errado).

Concordância do verbo ser


Ver Ser – Como concordar? (P. 693)

Concordância expressa ou Concordância por escrito?


1. Um leitor indaga se está correto usar a expressão concordância expressa
e por escrito, ou se deve apenas dizer concordância expressa, ou, ainda,
concordância por escrito.
2. Quando se trata com as questões de Direito, o termo concordância tem a
acepção de manifestação de vontade séria e definitiva, em virtude da
qual a pessoa, consentido com os desejos de outrem, vincula-se a uma
obrigação (DE PLÁCIDO E SILVA, 1989, p. 520).
3. Sem concordância, ou seja, sem manifestação de vontade, não se há de
falar em efeitos de um ato perante o Direito. Em outras palavras, o
brocardo “quem cala consente” não tem valia no ordenamento, pois
quem não manifesta sua vontade não consente necessariamente com
coisa alguma.
4. Por isso, num primeiro aspecto, não se pode falar em uma concordância
presumida, ou um consentimento por omissão, que se haveria de deduzir
ou de supor simplesmente porque a pessoa que deveria consentir não
vem opor-se a que o ato se pratique, ou não declara que não concorda.
Por isso, o Direito Contratual pede efetivo consentimento, ou seja,
concordância verdadeira, que exatamente se opõe à pretensa
concordância presumida.
5. Para o que interessa no caso, podem-se ver dois grupos de efetiva
concordância, ambos aceitos pelo ordenamento jurídico, conforme o
critério que se empregue e o fim que se pretenda: a) concordância tácita
e concordância expressa; b) concordância escrita e concordância não
escrita.
6. A concordância tácita decorre da evidência resultante da prática de atos
que comprovem a intenção de consentir ou de anuir à prática do ato, ou
de aprová-lo.
7. Já a concordância expressa – que àquela se contrapõe – funda-se em
declaração expressa, escrita ou verbal, mas manifesta e inequívoca.
8. Quando a lei não exige, para a validade do ato praticado, que o
consentimento seja expresso, o consentimento tácito tem a mesma valia.
Por outro lado, quando a lei exige que o consentimento se dê de modo
expresso, este não pode dar-se de outro modo.
9. Além disso, pode haver a concordância escrita, vale dizer, em papel ou
documento passado e assinado pela pessoa, ou passado por outrem e por
ela somente assinado. É o que se dá nos contratos formais.
10. Já a concordância verbal – que se opõe à anterior – é aquela que se dá
de viva voz. É válida, quando a lei não exige que seja dada por escrito,
como se dá nos contratos consensuais.
11. De tudo o que se observou, nota-se que, opondo-se à concordância
tácita, a concordância expressa é modalidade genérica de
consentimento, que tanto pode ser verbal, como pode ser escrita.
12. E, assim, para finalizar, nada impede que haja uma concordância
expressa e verbal, contraposta a uma concordância expressa e escrita.
Ou seja: nada há de incorreto na expressão concordância expressa e por
escrito.

Concordância nominal
1. É a harmonização em gênero (masculino ou feminino) e número
(singular ou plural) entre o adjetivo ou palavra de valor adjetivo (artigo,
numeral, pronome adjetivo) e o substantivo a que se refere.
2. Para Carlos Góis (1943, p. 25), as primeiras (denominadas palavras
regidas ou subordinadas) acomodam- se à flexão da última (denominada
palavra regente ou subordinante). Exs.: a) “Apenas um alto morro ruiu”;
b) “Apenas uma alta montanha ruiu”; c) “Os dois altos morros ruíram”;
d) “As duas altas montanhas ruíram”.
3. Para os problemas mais corriqueiros, a primeira regra de capital
importância sobre o assunto é que, quando um mesmo adjetivo (a tanto
equivalendo as demais palavras de valor adjetivo) qualifica dois ou mais
substantivos e vem depois deles, pode o adjetivo ir para o plural ou
concordar com o substantivo mais próximo. Exs.: a) “O aluno e a aluna
estudiosos saíram” (correto); b) “O aluno e a aluna estudiosa saíram”
(correto); c) “A aluna e o aluno estudioso saíram” (correto).
4. Se a concordância se faz no plural, não se olvide a lição de Júlio
Nogueira de que, “havendo mais de um nome de gêneros diversos,
predomina, para o efeito da concordância, o masculino, como já
acontecia em latim: ‘pai e mãe carinhosos’, ‘amor e amizade
verdadeiros’” (1939, p. 201).
5. Ainda para os problemas mais frequentes, uma segunda regra que se
pode enunciar é a de que, quando um mesmo adjetivo qualifica dois ou
mais substantivos e vem antes deles, concorda, por regra, com o mais
próximo. Exs.: a) “Ele provocou intensa luta e desconforto” (correto); b)
“Ele provocou intenso desconforto e luta” (correto); c) “Ele provocou
intensos luta e desconforto” (errado); d) “Ele provocou intensos
desconforto e luta” (errado).
6. É preciso cuidado, já que muitas vezes, sobretudo porque distam um do
outro o vocábulo modificado e o adjetivo ou outra palavra modificadora,
esquecem-se equivocadamente alguns de proceder à regular
concordância, erro esse que se dá até mesmo com textos de lei.
7. Assim: “O direito à guarda de veículos nas garagens ou locais a isso
destinados nas edificações ou conjuntos de edificações será tratado
como objeto de propriedade exclusiva, com ressalva das restrições que
ao mesmo sejam impostas por instrumentos contratuais adequados, e
será vinculada à unidade habitacional a que corresponder…” (art. 2º, §
1º, da Lei 4.591, de 16/12/64, que dispôs sobre o condomínio em
edificações e as incorporações imobiliárias). Naquilo que tem interesse
para o caso concreto, corrija-se o texto para: “O direito… será tratado…
e será vinculado”.
8. Veja-se, em mesma esteira, um outro equívoco: “Nos contratos do
sistema de consórcio de produtos duráveis, a compensação ou a
restituição das parcelas quitadas, na forma deste artigo, terá
descontada, além da vantagem econômica auferida com a fruição, os
prejuízos que o desistente ou inadimplente causar ao grupo” (art. 53, §
2º, da Lei 8.078, de 11/9/90, que dispôs sobre a proteção ao
consumidor). Faça-se a correção do seguinte modo: “… a compensação
ou a restituição das parcelas quitadas… terá descontados… os
prejuízos”, porque, em última análise, terá os prejuízos descontados.
9. Também segue o mesmo molde de equívoco o seguinte dispositivo: “O
Banco Nacional da Habitação poderá operar em: I – prestação de
garantia em financiamento obtido, no país ou no exterior, pelas
entidades integrantes do Sistema Financeiro da Habitação, destinados a
execução de projetos de habitação de interesse social” (art. 24, I, da Lei
4.380, de 21/8/64, que regulamentou os contratos imobiliários). Assim
deve ser sua correção: “… prestação de garantia em financiamento…
destinado a execução…”.
10. Segue o mesmo modelo de erro um outro dispositivo: “Ficarão sujeitos
à prévia aprovação do Banco Nacional da Habitação: a) as alterações
dos estatutos sociais das sociedades de crédito imobiliário; b) a
abertura de agências ou escritórios das referidas sociedades; c) a
cessação de operações da matriz ou das dependências das referidas
sociedades” (art. 37 da Lei 4.380, de 21/8/64, que regulamentou os
contratos imobiliários). Se se antepuserem os núcleos do sujeito, será
fácil a correção: As alterações, a abertura e a cessação ficarão
sujeitas…
11. Mais um exemplo a ser evitado: “As modificações, os acréscimos e os
melhoramentos de edifício em construção, bem como os acabamentos
especiais e partes complementares das respectivas unidades
autônomas, Inclusive decoração permanente, serão consideradas
partes integrantes da obra, para efeito de tributação…” (art. 29 da Lei
4.864, de 29/11/65, que criou medidas de estímulo à construção civil).
Sendo modificações, acréscimos, melhoramentos, acabamentos e partes
os substantivos modificados, e havendo entre eles alguns nomes do
gênero masculino, determina a regra geral de concordância nominal
que o adjetivo vá para o masculino plural; por conseguinte, serão
considerados, e não serão consideradas.
12. Veja-se também: “Se o agente usa de violência, incorre também nas
penas a esta cominada” (art. 90, § 10, da Lei 5.471, de 1º/12/71, que
dispõe sobre proteção de bens imóveis financiados). A ordem direta
dirime dúvidas e determina o modo de concordância entre o adjetivo e
o substantivo (Se o agente usa de violência, incorre nas penas
cominadas a esta).
13. E não é só: “As diferenças apuradas nas revisões dos encargos mensais
serão atualizadas com base nos índices contratualmente definidos para
reajuste do saldo devedor e compensados nos encargos mensais
subsequentes” (art. 40, § 2º, da Lei 8.692, de 28/7/93, que definiu os
planos de reajustamento das prestações de financiamento de imóveis).
Uma simples busca pelo substantivo modificado por compensados
definirá sua concordância: “As diferenças apuradas… serão
atualizadas.., e compensadas…”
14. Mais ainda: “É vedada a aplicação de reajustes aos encargos mensais
inferiores aos índices de correção aplicadas à categoria profissional
do mutuário” (art. 8º, § 3º, da mesma Lei 8.692, de 28/7/93). Também
da junção entre o adjetivo modificador (aplicadas) e o substantivo
modificado (índices) deflui a automática correção: índices de correção
aplicados.
15. Observe-se, ainda, este outro dispositivo: “Descumprir, dolosa ou
culposamente, os deveres inerentes ao pátrio poder ou decorrente de
tutela ou guarda…” (art. 249 da Lei 8.069, de 13/7/90, que dispôs
sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente). Basta que, de igual
modo, se contraponham o adjetivo modificador e o substantivo
modificado, para que se tenha a automática correção: deveres…
decorrentes.
16. E mais: “… poderá o expropriando requerer o levantamento de oitenta
por cento da indenização depositada, quitado os tributos e publicados
os editais…” (art. 6º, § 10, da Lei Complementar 76, de 6/7/93, que
dispôs sobre desapropriação). Reflexão similar às anteriores
evidenciará a correção: quitados os tributos.
17. Mais um exemplo: “Quando o casamento se seguir a uma comunhão
de vida entre os nubentes, existentes antes de 28 de junho de 1977”
(art. 45 da Lei 6.515, de 26/12/77, que instituiu o divórcio). O sentido
do dispositivo revela que o adjetivo sublinhado refere-se a comunhão,
que é singular, e não a nubentes, que é plural; assim, existente, e não
existentes.
18. E outro: “O prazo dos contratos de parceria, desde que não
convencionados pelas partes, será no mínimo de três anos…” (art. 96,
I, da Lei 4.504, de 30/11/64, que dispôs sobre o Estatuto da Terra).
Atenta leitura do dispositivo revela que o substantivo modificado é
prazo, e não contratos; o adjetivo em flexão, assim, há de ser
convencionado, e não convencionados.
19. Mais outro: “Estas citações e intimações devem ser feitas pela
imprensa, publicadas no jornal oficial do Estado e no ‘Diário Oficial’
para o Distrito Federal, e nos periódicos indicados pelo juiz, além de
afixados nos lugares de estilo, e na bolsa da praça do pagamento” (art.
36, caput, segunda parte, do Decreto 2.044, de 31/12/1908, que definiu
e regulamentou a letra de câmbio e a nota promissória). Sendo citações
e intimações os substantivos modificados, o adjetivo há de ser, assim,
afixadas, não afixados.
20. Mais um: “Em qualquer caso de internação de toxicômanos em
estabelecimentos públicos ou particular, a autoridade sanitária
comunicará o fato à autoridade policial competente e bem assim ao
representante do Ministério Público” (art. 29, § 8º, do Decreto-lei 891,
de 25/11/38, que aprovou a lei de fiscalização de entorpecentes). Se
estabelecimentos é o substantivo, o adjetivo que o modifica há de ser
particulares, e não particular. Além disso, não se poderia pretender, no
caso, interpretar a sintaxe com a mesma estrutura de uma expressão
como justiças federal e estadual, quer porque o sentido do texto aponta
para mais de um estabelecimento público e mais de um
estabelecimento particular, diferentemente da hipótese de apenas uma
justiça federal e uma justiça estadual, quer porque, no caso da
expressão considerada, não haveria sentido em deixar públicos no
plural, e manter particular sem flexão de número, no singular.
21. Adicione-se mais um exemplo: “Enquanto não se criarem os
estabelecimentos referidos neste artigo, serão adaptados, na rede já
existente, unidades para aquela finalidade” (art. 9º, § 1º, da Lei 6.368,
de 21/10/76, que dispôs sobre medidas de prevenção e repressão ao
tráfico ilícito e uso indevido de substâncias entorpecentes ou que
determinem dependência física ou psíquica). A simples justaposição
mental entre o adjetivo modificador e o substantivo modificado
determina automática correção: … serão adaptadas… unidades…
22. E outro: “Os índios, enquanto não integrados, não estão obrigados a
inscrição do nascimento. Este poderá ser feito em livro próprio do
órgão federal de assistência aos índios” (art. 50, § 2º, da Lei 6.015, de
31/12/73, que dispôs sobre os registros públicos). Procure-se o
substantivo modificado (inscrição, e não nascimento), e se terá o modo
correto de dizer: Esta poderá ser feita.
23. Acrescente-se outro: “Nas escrituras, lavradas em decorrência de
autorização judicial, serão mencionadas, por certidão, em breve
relatório, com todas as minúcias que permitam identificá-los, os
respectivos alvarás” (art. 224 da mesma Lei de Registros Públicos). Tal
equívoco, existente na publicação oficial, pode ser facilmente corrigido
pela simples aproximação entre o adjetivo modificador (mencionadas)
e o substantivo modificado (alvarás): mencionados, portanto.
24. Observe-se mais este caso: “Às plantas serão anexadas o memorial e
as cadernetas das operações de campo, autenticadas pelo agrimensor”
(art. 278, § 2º, também da Lei de Registros Públicos). Ora, se memorial
e cadernetas são os substantivos modificados, havendo entre eles um
masculino, a soma só pode resultar um masculino plural; anexados, por
conseguinte.
25. Repete-se o problema no art. 13 do Decreto 61.867, de 7/12/67, que
regulamenta os seguros obrigatórios: “São excluídas da
obrigatoriedade prevista no artigo anterior os bens e mercadorias
objeto de viagem internacional”. Da soma dos substantivos
modificados (bens e mercadorias) só pode resultar o adjetivo excluídos.
26. Mais um: “A exigência constante do art. 22 da Lei 4.947, de 6 de abril
de 1966, não se aplica às operações de crédito rural proposta por
produtores rurais e suas cooperativas…” (art. 78, caput, do Decreto-lei
167, de 14/2/67, que dispôs sobre os títulos de crédito rural). O adjetivo
proposta modifica operações; corrija-se, então, para propostas.
27. E outro: “Nas ações possessórias, a participação do cônjuge do autor
ou do réu somente é indispensável nos casos de composse ou de ato
por ambos praticados” (art. 10, § 2º, do Código de Processo Civil). A
simples reflexão de qual seja o substantivo modificado por praticados
(que é ato) evidencia a necessidade de correção do texto oficial:
praticado.
28. E outro ainda: “No caso de serem instalados outros Tribunais
Regionais Federais, os seus presidentes escolherão os cinco que
integrarão o Conselho, observados a forma e o critério a serem por
este estabelecido” (art. 3º, § 2º, da Lei 8.472, de 14/10/92, que dispôs
sobre a composição e a competência do Conselho da Justiça Federal).
Referindo-se o adjetivo tanto a forma como a critério, forçosa é sua
concordância com a soma de ambos: estabelecidos.
29. Veja-se mais um exemplo: “O locatário fica obrigado ao pagamento
das despesas referidas no parágrafo anterior, desde que comprovadas
a previsão e o rateio mensal…” (Lei 8.245, de 18/11/91, art. 23, § 2º),
que dispõe sobre as locações dos imóveis urbanos e os procedimentos a
elas pertinentes). Corrija-se, com a observação de que, no caso, o
adjetivo qualifica dois substantivos e vem antes deles: “… comprovada
a previsão e o rateio…”
30. E não se esqueça um próximo: “Os juízes que integrem os Tribunais de
Alçada somente concorrerão às vagas no Tribunal de Justiça
correspondente à classe dos magistrados” (art. 100, § 4º, da Lei
Complementar 35, de 14/3/79, que dispôs sobre a Lei Orgânica da
Magistratura Nacional). Verificado o substantivo modificado (vagas) e
o adjetivo modificador (correspondente), fácil é corrigir:
correspondentes.
Ver Alerta – Existe no plural? (P. 102), Cláusulas terceira e quarta – Está
correto? (P. 188), Concordância do particípio passado (P. 208),
Concordância do pronome de tratamento (P. 208), Dois adjetivos e um
substantivo (P. 292), Perdas e danos (P. 558) e Plural majestático (P. 568).

Concordância nominal – Um caso interessante


1. Um leitor indaga qual a forma correta: a) “A importância será corrigida
pelo IGPM, acrescida dos juros de 1% ao mês…”; b) “A importância
será corrigida pelo IGPM, acrescido dos juros de 1% ao mês…”; c) “A
importância será corrigida pelo IGPM, acrescidos dos juros de 1% ao
mês…”.
2. Sem maiores esforços de exegese, vê-se que o significado é o seguinte:
a) existe uma determinada importância; b) essa importância será
corrigida pelo IGPM; c) após tal correção, a importância será acrescida
dos juros ali referidos; d) não é o IGPM que será acrescido; e) é, sim, a
importância, já corrigida pelo IGPM, que será acrescida dos juros
referidos.
3. Ora, se é a importância – já corrigida pelo IGPM – que será acrescida
dos juros mencionados, então a própria realidade de sentido já
determinou o modo da concordância nominal: “A importância será
corrigida pelo IGPM, acrescida dos juros de 1% ao mês…”.

Concordância verbal
1. É a harmonização do verbo com o seu sujeito, o que se dá em número
(singular ou plural) e pessoa (primeira, segunda ou terceira).
2. Algumas observações gerais podem ser de grande utilidade.
3. Nesses casos, como lembra Carlos Góis (1943, p. 25), o verbo
(denominado palavra regida ou subordinada) acomoda-se à flexão do
sujeito (denominado palavra regente ou subordinante).
4. Assim, se o sujeito é simples, a concordância se faz em número e pessoa
com o núcleo do sujeito. Exs.: a) “Eu encontrei o livro”; b) “Os rebeldes
saíram às ruas”; c) “A pintura dos três prédios exigiu dois meses”; d)
“Aconteceram, por aqui casos interessantes”; e) “Os consertos do
edifício demoraram mais do que o previsto”.
5. Se o sujeito é composto e anteposto ao verbo, concorda este com a soma
daquele. Ex.: “A citação e a penhora foram anuladas”.
6. Se o sujeito é composto posposto, o verbo pode concordar no plural ou
com o núcleo mais próximo. Exs.: a) “Foram anuladas a citação e a
penhora” (correto); b) “Foi anulada a citação e a penhora” (correto); c)
“Foi anulado o edital e a citação” (correto).
7. Para esse último caso, vale observar com João Ribeiro que, “embora
concorram muitos sujeitos, sempre foi primor e liberdade de estilo deixar
o verbo no singular desde que este os precede na frase” (1923, p. 149).
8. Diversos casos peculiares, porém, exigem cuidados especiais, devendo-
se atentar para os verbetes específicos, nomeados ao final.
9. Muitas vezes, sobretudo porque o sujeito vem posposto ao verbo, ou dele
distante, ou mesmo porque se acoplam adjuntos no plural a um núcleo de
sujeito no singular, esquecem-se equivocadamente alguns de proceder à
regular concordância, como se dá até mesmo com textos de lei.
10. Assim, por exemplo: “Prescrevem em 6 (seis) meses, contados da
expiração do prazo de apresentação, a ação que o art. 47 desta lei
assegura ao portador” (art. 59 do Decreto-Lei 7.357, de 2/9/85, que
dispôs sobre o cheque e deu outras providências). Corrija-se o texto
para: “Prescreve.., a ação” (porque, na ordem direta, a ação prescreve).
11. Em mesma esteira: “A existência de ônus fiscais ou reais, salvo os
impeditivos de alienação, não impedem o registro, que será feito com
as devidas ressalvas…” (art. 32, § 50, da Lei 4.591, de 16/12/64, que
regulou o condomínio e as incorporações imobiliárias). Proceda-se à
seguinte correção: “A existência… não impede o registro…”
12. Em mesmo erro incide este outro dispositivo: “O valor nominal da
letra imobiliária, para efeitos de liquidação do seu principal e cálculo
dos juros devidos, será o do valor reajustado da Unidade-Padrão de
Capital no momento do vencimento ou pagamento do principal ou
juros, no caso do título simples, ou esse multiplicado pelo número de
Unidades-Padrão de Capital a que correspondem a letra, no caso de
título múltiplo” (art. 52, § 4º, da Lei 4.380, de 21/8/64, que
regulamentou os contratos imobiliários). A mera colocação do exemplo
em ordem direta determina automática correção: “… a que a letra
corresponde…”
13. E ainda: “Ao mutuário, cujo aumento salarial for inferior à variação
dos percentuais referidos no caput e § 1º do artigo anterior, fica
assegurado o reajuste das prestações mensais em percentual idêntico
ao do respectivo aumento salarial, desde que efetuem a devida
comprovação perante o agente financeiro” (art. 2º da Lei 8.100, de
5/12/90, que dispõe sobre reajuste de prestações em contratos de
financiamento de imóveis). Uma simples pergunta para se localizar o
sujeito de efetuem revelará que ele (o mutuário) desempenha tal função
sintática; assim, efetue, e não efetuem.
14. Veja-se este outro dispositivo: “Dentro do prazo marcado pelo juiz, os
credores comerciais e civis do falido e, em se tratando de sociedade, os
particulares dos sócios solidariamente responsáveis, são obrigados a
apresentar, em cartório, declarações por escrito, em duas vias, com a
firma reconhecida na primeira, que mencionem as suas residências ou
as dos seus representantes ou procuradores no lugar da falência, a
importância exata do crédito, a sua origem, a classificação que, por
direito, lhes cabe, as garantias que lhes tiverem sido dadas, e as
respectivas datas, e que especifique, minuciosamente, os bens e títulos
do falido em seu poder…” (art. 82, caput, do Decreto-lei 7.661, de
21/6/45, que instituiu a Lei de Falências). Uma simples procura por seu
sujeito (declarações) determinará automática concordância do verbo:
especifiquem.
Ver A gente foi ou A gente fomos? (P. 97), Bastar e Faltar – Como
concordar? (P. 156), Bem como (P. 158), Concordância do pronome de
tratamento (P. 208), Discordância verbal (P. 290), É muito (P. 316), É que (P.
326), Haver – Quando vai para o plural? (P. 386), Hoje é dois – Está
correto? (P. 391), Nem… nem (P. 493), Número fracionário (P. 505), Obra
com dois autores (P. 512), Ou – Como concordar o verbo? (P. 535), Perto de
(P. 562), Plural majestático (P. 568), Porcentagem ou Percentagem? (P. 575),
Por cento – Como concordar o verbo? (P. 576), Só – Como concordar? (P.
706), Todo ou Todo o? (P. 740), Um e meio (P. 749) e Viva os brasileiros! ou
Vivam os brasileiros!? (P. 784)

Concordância verbal – Caso prático


1. Um leitor indaga se, no texto “Desde sempre, países fazem negócios
com quem lhes convêm”, o verbo está correto, ou deveria ser convém.
2. Antes de responder, anota-se, sem maiores discussões, já que esse não é
o centro de nossas preocupações por agora, que, em termos de grafia, o
verbo convir, na esteira dos demais compostos de vir, é escrito do
seguinte modo: ele convém (singular), eles convêm (plural).
3. Em continuação, se o que se quer saber é se o verbo fica no singular ou
vai para o plural, então é preciso anotar que a questão é de concordância
verbal, o que exige que se defina qual o sujeito do verbo convir na
oração a que ele pertence.
4. E, assim, também sem preocupações excessivas com a teoria, lança-se
mão de uma indagação bastante simples para definir qual o sujeito do
verbo convir na oração mencionada: o que é que convém?
5. E a resposta é bastante clara e objetiva: fazer negócios. Um sujeito
oracional, qe exige o verbo no singular.
6. E também para maior facilidade de raciocínio, põe-se a oração sob
análise em sua ordem direta: … [fazer negócios] convém-lhes (ou
mesmo convém a eles).
7. Em termos práticos e objetivos, traça-se o seguinte roteiro para o
exemplo do leitor: a) para definir se convir fica no singular ou vai para o
plural, deve-se verificar qual é o seu sujeito; b) e isso porque a primeira
e básica regra nesse assunto determina que o verbo concorda com o seu
sujeito em número (singular ou plural) e pessoa (primeira, segunda ou
terceira); c) no caso, o raciocínio lógico mostra que o sujeito de convir é
oracional e está oculto (porque mencionado na oração anterior), a saber,
fazer negócios; d) o exemplo todo seria “Desde sempre, países fazem
negócios com quem [fazer negócios] lhes convém” (ou convém a eles);
e) o sujeito oracional determina o verbo no singular, de modo que a
forma correta é convém; f) o usuário do exemplo foi levado a erro,
porque se viu iludido por um lhes no plural logo antes do verbo; g)
ocorre, todavia, que esse lhes é o objeto indireto, e não o sujeito do
verbo analisado.

Concordância verbal – Pronome relativo


Ver Pronome relativo – Concordância verbal (P. 615).

Concordância verbal – Símbolo de indeterminação do sujeito


1. Atente-se, por primeiro, ao estudo específico de assistir quanto à
regência verbal, no que concerne a dois de seus sentidos.
2. No sentido de prestar ajuda, é transitivo direto. Exs.: a) “A enfermeira
assiste o doente”; b) “A enfermeira assiste-o”.
3. No significado de presenciar, ver, é transitivo indireto, pede a
preposição a, e não admite lhe como complemento. Exs.: a) “O
estagiário assiste a vários debates e audiências”; b) “O estagiário
assiste a eles”.
4. Fixada essa questão de sua regência, sobretudo no que concerne a essas
duas acepções noticiadas, atente-se à associação de tal verbo com o
pronome se: a) para a hipótese de transitivo direto, tal partícula é
pronome apassivador; b) para o caso de ser o verbo transitivo indireto, é
ela índice de indeterminação do sujeito.
5. Exatamente por essas razões, “Assiste-se o doente” e “Assiste-se ao
espetáculo” fazem no plural, respectivamente, “Assistem-se os doentes”
e “Assiste-se aos espetáculos”.
Ver, nesta ordem, Voz passiva – Quando é possível? (P. 793), Voz passiva
sintética (P. 794), Agente da passiva (P. 97), Assistir (P. 140), O júri foi
assistido – Está correto? (P. 522), Ser nascido – Está correto? (P. 694), Voz
passiva e Pronome apassivador (P. 791) e Gosta-se de um bom vinho –
Está correto? (P. 375)

Concordar em gênero, número e grau


1. Das expressões livro bonito, livrinho bonito, livrão bonito, livro
bonitinho, livro bonitão, livros bonitos, gravuras bonitas, todas corretas
em português, podem-se extrair algumas conclusões importantes: a) os
substantivos e os adjetivos têm seu estado normal: livro, gravura, bonito;
b) podem apresentar, também, em nosso idioma, uma forma que os
apequene (livrinho, gravurinha, bonitinho), que é seu grau diminutivo,
ou uma forma que os aumente (livrão, gravurona, bonitão), que é seu
grau aumentativo; c) quando se observam as expressões livro bonito,
livros bonitos, gravura bonita e gravuras bonitas, vê- se que o adjetivo
se flexiona para o masculino ou feminino (gênero) e para o singular ou
plural (número), sempre acompanhando fielmente o substantivo por ele
modificado; d) tecnicamente se diz, em tal caso, que o adjetivo concorda
com o substantivo por ele modificado em gênero e número.
2. Uma análise adequada do comportamento do adjetivo em tais
circunstâncias revela ser ele, em verdade, uma sombra do substantivo,
acompanhando-o em sua flexão, motivo por que, em sentido figurado,
quando alguém concorda integralmente com a opinião ou com o modo
de pensar de outrem, costuma-se dizer que “Fulano concorda em gênero
e número com Beltrano”.
3. Da análise das expressões livrinho bonito, livrão bonito, livro bonitinho
e livro bonitão, todavia, extrai-se a forçosa conclusão de que o adjetivo
não concorda em grau com o substantivo por ele modificado (em
livrinho bonito, por exemplo, o substantivo está no grau normal,
enquanto o adjetivo está no grau diminutivo).
4. Só por isso já se nota que incorreta é a expressão que muitos empregam
para significar concordância total de uma pessoa com outra: “Fulano
concorda com Sicrano em gênero, número e grau”.
5. Esse é um erro que talvez remonte aos velhos tempos em que se
estudava latim, língua essa em que o adjetivo, além de gênero e número,
também concorda em caso (nominativo, vocativo, genitivo, dativo,
ablativo ou acusativo) com o substantivo modificado, motivo por que é
correto, então, dizer, pensando na língua ancestral: “Fulano concorda
com Sicrano em gênero, número e caso”. Por ignorância, alguns
mudaram caso, que desconheciam, para grau, que aplicaram
erroneamente. E o erro se perpetuou.
6. Como, todavia, são raros os que, nos dias de hoje, entendem um pouco
de latim, talvez seja melhor dizer apenas gênero e número, muito embora
não esteja errado o emprego, na mencionada frase, da expressão gênero,
número e caso.
7. Dizer, porém, “concordar em gênero, número e grau” é impropriedade
que não encontra respaldo em manual algum de Gramática.

Condenação
1. É palavra de grande uso nos meios forenses, tanto no campo civil quanto
no campo penal, hipóteses em que surgem problemas quanto à regência
nominal.
2. Em conhecida obra, Francisco Fernandes mostra que tal substantivo se
constrói com a preposição a (1969, p. 96). Ex.: “Por nossas leis
normais, não pode haver condenação à morte nem à prisão perpétua”.
3. Para Celso Pedro Luft (1999, p. 113-4), o mencionado vocábulo se
presta à construção condenação de alguém a alguma coisa. Ex.: “A
condenação do criminoso a 10 anos de prisão, à morte”.
4. Não conta, como se vê, com o beneplácito dos referidos gramáticos a
construção com a preposição em, devendo dar-se, assim, por errôneo o
seguinte exemplo: “Ele sofreu condenação no pagamento das custas
processuais”.
5. Atente-se, por fim, à circunstância de que diferem condenação e
condenar no que tange às preposições que podem iniciar seus
complementos.
Ver Condenar (P. 214).

Condenar
1. É verbo muito usado nos meios jurídicos, como se dá no caso da parte
dispositiva das sentenças criminais que estipula a pena e das cíveis que
fixa os ônus da sucumbência processual.
2. Há problemas de sintaxe a serem resolvidos a seu respeito.
3. No que tange à regência verbal, conforme lição de Francisco Fernandes
em indispensável obra, o objeto indireto desse verbo pode ser construído
com as preposições a ou em (1971, p. 158), lição essa repetida, com
significativos exemplos, por Cândido Jucá Filho (1963, p. 156). Exs.: a)
“… condenarem… os hereges ao último suplício” (Alexandre
Herculano); b) “Condenado em quinze anos de degredo para Cabo
Verde”.
4. Nesse exato sentido também é a lição de Vitório Bergo (1944, p. 61), o
qual, de modo expresso, dá como corretas ambas as expressões
seguintes: condenar às custas e condenar nas custas.
5. No que concerne aos textos de lei, é de se dizer, por primeiro, que o
Código de Processo Civil emprega, indiferentemente, ora a, ora em,
como se pode verificar nos exemplos seguintes: a) “A sentença
condenará o vencido a pagar ao vencedor as despesas que antecipou…”
(art. 20, caput); b) “O juiz, ao decidir qualquer incidente ou recurso,
condenará nas despesas o vencido” (art. 20, § 1º); c) “… o tribunal…
condenará o juiz nas custas” (art. 314); d) “A apelação será recebida…
só no efeito devolutivo, quando interposta de sentença que… condenar à
prestação de alimentos” (art. 520, II); e) “… o juiz… condenará o
devedor a constituir um capital…” (art. 602, caput); f) “… o juiz
mandará avaliar o custo das despesas necessárias e condenará o
contratante a pagá-lo” (art. 636, parágrafo único); g) “É defeso ao juiz
proferir sentença, a favor do autor, de natureza diversa da pedida, bem
como condenar o réu em quantidade superior ou em objeto diverso do
que lhe foi demandado” (art. 460).
6. Em outros diplomas legais também se encontra esse verbo com as
mesmas construções: condenar alguém em algo, condenar (alguém) a
algo, além de condenar alguém por algo. Exs.: a) “A sentença ou
acórdão, que julgar a ação, qualquer incidente ou recurso, condenará
nas custas o vencido” (CPP art. 804); b) “A sentença que condenar o
devedor à realização de uma prestação em dinheiro ou outra coisa
fungível é título bastante para o registro de hipoteca…” (CC português,
art. 710º, 1); c) “O Estado indenizará o condenado por erro
judiciário…” (CF/1988, art. 5º, LXXV); d) “Não podem ser eleitos para
cargos administrativos ou de representação econômica ou profissional,
nem permanecer no exercício desses cargos … IV – os que tiverem sido
condenados por crime doloso enquanto persistirem os efeitos da pena”
(CLT, art. 530, IV).
7. Atente-se, por fim, ao fato de que condenar e condenação diferem no
que concerne às preposições que podem introduzir seus complementos.
Ver Condenação (P. 214).

Condena-se os excessos ou Condenam-se os excessos?


1. Em uma frase como “Condena-se o excesso”, em que há um se acoplado
ao verbo, pode-se fazer o seguinte raciocínio: a) Pode ser dita de outra
forma: “O excesso é condenado”; b) Por permitir essa transformação,
pode-se dizer que é uma frase reversível; c) Serve de modelo para todas
as outras, também reversíveis, que tenham o se unido ao verbo desse
modo.
2. Em uma frase reversível dessa natureza, são corretas as seguintes
afirmações: a) o exemplo está na voz passiva sintética; b) o se é partícula
apassivadora; c) o sujeito é o excesso (sujeito, e não objeto direto).
3. Após tal raciocínio, basta lembrar: a) a regra geral de concordância
verbal determina que o verbo concorda com o seu sujeito; b) assim, se o
sujeito está no plural, o verbo também irá para o plural; c) deve-se dizer,
então: “Condenam-se os excessos”.
4. Atente-se a que essa é uma construção muito comum nos meios jurídicos
e forenses, de modo que se deve zelar por sua concordância adequada,
no plural, e não no singular, como nos seguintes casos: a) “Buscaram-se
soluções para o conflito”; b) “Citem-se os réus”; c) Intimem-se as
testemunhas; d) “Devolvam-se os documentos”; e) “Arquivem-se os
autos”; f) “Processem-se os recursos”; g) “Tomem-se por termo as
primeiras declarações”.
Ver Voz passiva – Quando é possível? (P. 793) e Voz passiva sintética (P.
794).

Condo-hotel ou Condo hotel?


1. Uma leitora, encontrando em textos jurídicos o termo condo-hotel,
indaga qual a grafia correta desse vocábulo em português: condo-hotel
ou condo hotel?
2. Observe-se, de início, quanto a seu conceito, que, nascido no
ordenamento jurídico dos Estados Unidos e lá de igual modo conhecido
como hotel condo e também contel, trata-se de uma estrutura que,
legalmente, é um condomínio, mas, na prática, é operada com os
parâmetros de um hotel.
3. Já quanto ao uso em português, também se anota, por um lado, que, tanto
na edição escrita de 2009 quanto na edição on-line disponível ao tempo
de confecção desta resposta (janeiro de 2016), não se registra essa
expressão entre as palavras listadas pelo Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de Letras, que é o
órgão que detém a delegação para dizer oficialmente quais são os
vocábulos integrantes de nosso idioma.
4. Pode ser, todavia, que, mesmo com a inexistência oficial da palavra, se
queira trazer o vocábulo para o vernáculo, ante a necessidade de
emprego de um neologismo para a especificação técnica acima referida,
causada pela falta de um termo equivalente em nosso idioma.
5. Nesse caso, parece adequado, em primeira conclusão, empregar o
conceito de juntar os segmentos integrantes da expressão, e isso porque a
palavra resultante constitui entidade diversa daquilo que significa cada
um de seus elementos componentes.
6. E, assim, fixada a ideia de que se hão de juntar os dois elementos em um
só vocábulo, também parece adequado, em segunda conclusão, aplicar a
mesma regra geral de quando o elemento inicial (um prefixo ou um falso
prefixo) termina por vogal, e o elemento seguinte se inicia por h: usa-se
o hífen e mantém-se o h.
7. Desse modo, se o intento é empregar em português a palavra trazida pela
leitora em sua dúvida, e isso na condição de um neologismo plenamente
defensável, a grafia que parece integralmente adequada pelas regras de
nosso idioma é condo-hotel.

Conduzido
1. Geraldo Amaral Arruda observa ser de mau vezo dizer que “motoristas
de ônibus e caminhões, prevalecendo-se do tamanho e peso dos seus
conduzidos, dirigem displicentemente…”
2. De acordo com tal autor, “melhor será dizer veículos e deixar
conduzidos para a linguagem coloquial da Polícia” (ARRUDA, 1997, p.
9).

Conferir
1. Quanto à conjugação verbal, aparece um i na primeira pessoa do
presente do indicativo e nos tempos dela derivados: confiro, conferes,
confere, conferimos, conferis, conferem (presente do indicativo); confira,
confiras, confira, confiramos, confirais, confiram (presente do
subjuntivo); confere, confira, confiramos, conferi, confiram (imperativo
afirmativo); não confiras, não confira, não confiramos, não confirais,
não confiram (imperativo negativo).
2. Tal verbo não é defectivo e não apresenta problemas ou irregularidades
nos demais tempos e modos, em que é conjugado normal e regularmente.
3. Na observação de José de Nicola e Ernani Terra, “o e do radical muda
para i na primeira pessoa do singular do presente do indicativo e nas
formas daí derivadas” (2000, p. 20).

Conforme
1. Para Carlos Góis (1943, p. 206-7), tal palavra pode ser a) advérbio
(significando conformemente, em conformidade com), b) conjunção
(com o sentido de como), c) preposição (quando é sinônima de segundo)
e d) adjetivo (com a significação de resignado, conformado, concorde).
Exs.: i) “Os índios foram resgatados conforme a dita lei” (advérbio); ii)
“Conforme for a estação, tal será a colheita” (conjunção); iii) “Ele se
vestia conforme a moda” (preposição); iv) “As disposições contratuais
foram lidas e achadas conformes” (adjetivo).
2. O problema que pode surgir, normalmente, diz respeito ao caso em que
tal vocábulo se insere no rol dos “adjetivos usados eventualmente como
preposição” (PEREIRA, 1924, p. 153).
3. Importante é verificar que, quando empregado como adjetivo, pelas
regras da concordância nominal, harmoniza-se em gênero e número com
o substantivo modificado, podendo, assim, ir normalmente para o plural.
Ex.: “Sendo glosadas as despesas por ilegais ou por não conformes ao
testamento, remover-se-á o testamenteiro, perdendo o prêmio deixado
pelo testador” (CC/1916, art. 1.759).
4. Sob um outro aspecto, refere Celso Cunha (1970, p. 147) que, quando
preposição, talvez por sê-lo apenas acidentalmente, depois dela se
empregam as formas eu e tu. Ex.: “Conforme tu mesmo, a tese contrária
não tem condições de prosperar”.
5. Em mesmo sentido, para Edmundo Dantès Nascimento (1982, p. 9), essa
palavra, com função de preposição, pode reger eu e tu, observando tal
autor que a razão desse emprego está em que tal vocábulo não é
originariamente preposição.
6. Silveira Bueno, em interessante observação, esclarece um aspecto
adicional no sentido de que há “liberdade de usar a preposição simples
conforme ou a locução prepositiva conforme a” (1938, p. 65).
7. Nesse sentido também é a lição de Eliasar Rosa, para quem tal palavra
“pode ter, ou deixar de ter, após si, a preposição a. Tanto se pode dizer
que o juiz decidiu conforme a lei, como se pode dizer: conforme à lei”
(1993, p. 43).
8. Assim, estão igualmente corretos os exemplos a seguir: a) “O advogado
atuou conforme a lei”; b) “O advogado atuou conforme à lei”; c) “O
advogado atuou conforme o ordenamento jurídico”; d) “O advogado
atuou conforme ao ordenamento jurídico” (PEREIRA, 1924, p. 363).
9. Quando seguido de preposição, ampliando as possibilidades, Domingos
Paschoal Cegalla dá como corretas a construção com a preposição a
(preferível) ou com: “As cópias estavam conformes ao (ou com o)
original” (1999, p. 83).
10. Também estendendo o leque das opções de sintaxe, Carlos Góis e
Herbert Palhano (1963, p. 189) assinalam a possibilidade de construir
tal palavra com uma de duas preposições: a ou com. Exs.: a) “Cópia
conforme ao original” (Caldas Aulete); b) “Estar conforme com a sua
sorte” (Domingos Vieira).
11. Perfeita, nesse sentido, é a síntese de Cândido Jucá Filho (1954, p.
146), que exemplifica sua lição com significativas variações de um
mesmo e abalizado autor, Alexandre Herculano: “Conforme a alterna
com o simples conforme… Também existe conforme com”. Exs.: a)
“… para ser executado conforme os desejos do moribundo”; b)
“Brando o acho eu, e mais que conforme a direito”; c) “… no caso de
uma resolução conciliar conforme com as condições propostas”.
12. A tais possibilidades, Celso Pedro Luft (1999, p. 117) acrescenta a
sintaxe com a preposição em: a) “Resgatados conforme a lei”; b)
“Índios resgatados conforme à dita lei” (Padre Vieira); c) “Conforme
com a natureza das coisas e com o modo de conceber do entendimento
humano” (Mário Barreto); d) “Oráculos conformes em anunciar a sua
vinda” (Rebelo da Silva).
13. E Francisco Fernandes (1969, p. 99) ainda amplia para incluir a
possibilidade de construção com a preposição para: a) “Muitas vezes
me esforcei por averiguar que governo era mais conforme à razão”
(Mário Barreto); b) “É mais conforme, sim senhor, com o latim”
(Cândido de Figueiredo); c) “E também se formos diferentes na
afeição, ficaremos conformes nas vontades” (Dic. de Fr. D. Vieira); d)
“O braço mais robusto de Crimilde apenas era o instrumento cego
movido por todas as vontades, conformes para morrer” (Alexandre
Herculano).
14. Uma leitura dos dispositivos mais conhecidos da legislação revela a
preferência do legislador pela construção sem preposição: a) “conforme
as circunstâncias” (CC, art. 24); b) “conforme o disposto” (CC, art. 44,
§ 3º); c) “conforme a boa-fé e os usos do lugar” (CC, art. 113); d)
“conforme a natureza dela e as circunstâncias” (CC, art. 569, I).
15. Apenas excepcionalmente se encontra o emprego com a preposição a:
“conforme aos ditames de boa-fé” (CC, art. 128).
Ver De conformidade ou Em conformidade? (P. 253)

Conhecer
1. Em termos jurídicos, significa o ato pelo qual um juiz ou tribunal analisa
e examina a pretensão aforada, posta à sua apreciação, e profere decisão
interlocutória, sentença ou acórdão.
2. Em tais casos, o verbo é normalmente transitivo indireto e pede a
preposição de, como se verifica nos exemplos seguintes, extraídos do
Código de Processo Civil: a) “O juiz conhecerá de ofício, em qualquer
tempo e grau de jurisdição,… da matéria…” (art. 267, § 3º); b) “É lícito
formular mais de um pedido em ordem sucessiva, a fim de que o juiz
conheça do posterior, em não podendo acolher o anterior” (art. 289); c)
“São requisitos de admissibilidade da cumulação: …que seja
competente para conhecer deles o mesmo juízo” (art. 292, § 1º, II); d)
“Com exceção do compromisso arbitral, o juiz conhecerá de oficio da
matéria enumerada neste artigo” (art. 301, § 4º); e) “Depois da
contestação, só é lícito deduzir novas alegações quando: … competir ao
juiz conhecer delas de oficio” (art. 303, II) f) “O juiz conhecerá
diretamente do pedido, proferindo sentença..” (art. 330, caput).
3. Em outros diplomas legais, também se faz presente essa mesma sintaxe.
Exs.: a) “Além de outros casos previstos nesta Constituição, a Câmara
dos Deputados e o Senado Federal reunir-se-ão em sessão conjunta
para: … IV – conhecer do veto e sobre ele deliberar” (CF/1988, art. 57,
§ 3º, IV); b) “Só à autoridade judiciária brasileira compete conhecer
das ações relativas a imóveis situados no Brasil” (LICC, art. 12, § 1º); c)
“Todavia, o juiz ou o Tribunal do Comércio, que conhecer de uma
causa…” (C. Com., art. 19); d) “No processo criminal, não se conhecerá
de arguição de nulidade de sentença declaratória de falência” (CPP, art.
511); e) “E vedado aos órgãos de Justiça do Trabalho conhecer de
questões já decididas…” (CLT, art. 836).
4. Contrariando essa sintaxe praticamente unânime de verbo transitivo
indireto em tais casos, Adalberto J. Kaspary (1996, p. 103), em obra
indispensável, aponta, na legislação, exemplo de regime direto, em que o
objeto direto vem representado por pronome relativo: “E defeso ao juiz
exercer as suas funções no processo contencioso ou voluntário: … III –
que (de que conheceu…) conheceu em primeiro grau de jurisdição,
tendo-lhe proferido sentença ou decisão” (CPC/1973, art. 134, III). Com
a devida vênia do ilustre autor, entretanto, o exemplo dado também pode
ser interpretado como um daqueles casos de oração subordinada, em que
se omite a preposição inicial sem alteração do regime do verbo.

Conheço todos eles – Está correto?


1. Se precedido de todo ou só, lecionam alguns que o pronome pessoal do
caso reto pode funcionar como objeto. Exs.: a) “Vi só ele no fórum”; b)
“Vi todos eles no fórum”.
2. Nesse sentido é o ensinamento de Evanildo Bechara: “o pronome ele, no
português moderno, … aparece como objeto direto, quando precedido de
todo ou só..” (1974, p. 254).
3. Em realidade, talvez por influência de um exemplo como “Ele falou com
nós todos”, em que a presença da palavra reforçativa todos faz com que
se diga com nós e não conosco, como seria normal se esta última não
existisse (“Ele falou conosco”), alguns são levados a dizer algo como
“Conheço todos eles”.
4. Os casos, entretanto são diversos, e não se há de fazer confusão entre
eles, devendo permanecer o exemplo aqui apreciado na vala dos casos
comuns.
5. Siga-se, nesse passo, a lição de Luís A. P. Vitória: “diga-se conheço-os
todos. Ocupando eles o lugar do objeto direto, deverá ser substituído
pelo caso objeto que é os” (1969, p. 58).
6. Também Domingos Paschoal Cegalla, por uma lado, abre espaço para,
na linguagem coloquial informal, “usar os pronomes eles e elas como
objeto direto, quando precedidos de todos(as): Nós recolhemos todos
eles”.
7. Por outro lado, observa o referido autor que “tal permissão, todavia, não
se estende ao padrão mais elaborado de expressão, pois na língua culta
se dirá: Nós os recolhemos todos” (CEGALLA, 1999, p. 397-8).
Ver Com nós – Existe? (P. 196) e Pronome pessoal (P. 614).
Conjectura, Conjeitura ou Conjetura?
1. Apresentando todas as três formas (conjectura, conjeitura e conjetura),
conforme registra o VOLP (ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS,
2009, p. 211), quer dizer suposição, maneira de prever. Exs.: a) “Naquele
difícil momento de decisão de rumoroso caso, estava o magistrado
entregue a suas conjecturas”; b) “A ciência se baseia em fatos, não em
conjeituras”; c) “Todas as conjeturas serão sopesadas na análise do
caso”.
2. Não confundir com sua parônima conjuntura, que significa reunião de
circunstâncias, oportunidade, lance difícil.

Conjugação verbal
1. É o conjunto de acidentes gramaticais que determinam as alterações do
verbo quanto à pessoa, número, tempo, modo e voz.
2. Para sua exata compreensão, importante é verificar os verbos quanto a
sua flexão.
3. Verbos regulares são aqueles que seguem um modelo, de modo que, se
se conhece, por exemplo, a conjugação de amar, vender e partir, sabem-
se todos os verbos regulares da língua portuguesa, já que, quanto a estes,
basta que se acrescentem aos radicais as terminações próprias de cada
tempo, conforme a conjugação.
4. Verbos irregulares são aqueles que se afastam do modelo, apresentando
alguma anormalidade no radical ou na desinência. São exemplos os
verbos pedir (peço, pedi), medir (meço, medi), fazer (faço, fazes, fiz),
ouvir (ouço, ouves), caber (caibo, cabes, coube).
5. Verbos anômalos são os que sofrem tantas irregularidades e se afastam
de tal modo do modelo, que não podem ser enquadrados em
classificação alguma. São eles: estar, haver, ser, ter, ir, vir e pôr. A rigor,
não deixam de ser irregulares, embora irregulares em excesso.
6. Verbos defectivos são os que não têm certas formas, não são conjugados
em todas as pessoas, tempos ou modos. Assim, por exemplo, o verbo
precaver-se, que não é composto de vir nem de ver, é regular, mas
apenas conjugado nas formas arrizotônicas. Atente-se, nesse campo, a
que cada verbo defectivo tem as razões próprias para sua defectividade,
a qual se dá, muitas vezes, por questões de eufonia.
7. Verbos abundantes são aqueles que têm duas ou mais formas
equivalentes. Assim, aceitar apresenta aceitado e aceito como
particípios passados.
Ver Amámos ou Amamos? (P. 108), Indicativo por Subjuntivo (P. 411),
Tempos primitivos (P. 729), Uso do infinitivo (P. 752) e Verbo seguido de
pronome (P. 763).

Cônjuge – Comum de dois ou Sobrecomum?


1. Carlos Góis e Herbert Palhano (1963, p. 49 e 52), em duas
oportunidades, atribuem a tal substantivo a condição de comum de dois
gêneros, fazendo-o variar pela simples alteração do artigo: o cônjuge, a
cônjuge.
2. Tem o mesmo proceder Júlio Ribeiro (1908, p. 83) e Geraldo Amaral
Arruda (1997, p. 37-8), o qual afiança que “não haverá inconveniente em
usarmos o cônjuge e a cônjuge”, asseverando não parecer haver razão
para que dicionários e gramáticas atribuam a tal substantivo apenas o
gênero masculino, “quando o latim, sua fonte próxima, lhe confere os
dois gêneros, com certa preferência pelo feminino”.
3. A maioria dos autores, porém, considera cônjuge um substantivo
sobrecomum, com um só gênero (e masculino) para designar pessoas de
ambos os sexos, sem necessidade de alteração do artigo ou de qualquer
palavra acompanhante.
4. Assim, para tais autores, a mulher casada, em relação a seu marido, é um
cônjuge, e não uma cônjuge.
5. Nessa esteira, estão Cândido de Oliveira (1961, p. 135) e Sousa e Silva
(1958, p. 81), o qual afiança que “neste caso não seguimos o latim, onde
a palavra é comum de dois”, e isso “mesmo quando se aplica
isoladamente à esposa, é vocábulo masculino: o cônjuge”.
6. Também nessa esteira, lembra Celso Cunha (1970, p. 97), para clareza
de sentido, que, quando se quer discriminar o sexo, o máximo que se
permite é o acréscimo de algum elemento determinativo, como é o caso
de um adjetivo. Ex.: o cônjuge feminino.
7. Também Vitório Bergo insere tal vocábulo na lista dos nomes
sobrecomuns, daqueles que “só se usam num dos dois gêneros, de modo
que o sexo do ser a que se referem não se deixa perceber senão pelo
contexto” (1943, p. 110).
8. De igual modo, na lição de Luciano Correia da Silva, “cônjuge é
substantivo sobrecomum, e, como tal, invariável em gênero, assim como
seus adjuntos. Seja o homem ou seja a mulher, sempre se diz o cônjuge”
(1991, p. 45).
9. Nesse sentido, assim é a síntese de José de Nicola e Ernani Terra: “Trata-
se de um substantivo sobrecomum, isto é, substantivo uniforme que
designa pessoas em que a diferença de gênero não é especificada por
artigos ou outros determinantes, que serão invariáveis. O mesmo
substantivo refere-se tanto a pessoas do sexo masculino quanto a pessoas
do sexo feminino. Portanto, quer se refira a homem, quer a mulher, o
substantivo cônjuge será sempre masculino: o cônjuge, seu cônjuge”
(2000, p. 71).
10. Resuma-se, para essa corrente, com o ensinamento de Eliasar Rosa, o
qual anota, por primeiro, tratar-se de substantivo sobrecomum,
devendo-se dizer sempre o cônjuge, sendo inviável a forma a cônjuge.
Ao depois, quanto à especificação, anota esse autor que se há de dizer o
cônjuge marido, o cônjuge varão, o cônjuge mulher. Por fim, após
referir que há quem diga cônjuge virago, esclarece que virago tem o
sentido de mulher robusta ou de maneiras varonis, razão por que
aconselha a manter a denominação inequívoca cônjuge mulher (ROSA,
1993, p. 44-5).
11. Deixando de lado a polêmica entre os dois grupos de ilustres
gramáticos, não se pode olvidar, entretanto, que o Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de
Letras, órgão oficial para definir quais vocábulos integram nosso
léxico, bem como o seu regime em nosso idioma, faz constar a referida
palavra como comum aos dois gêneros (2009, p. 211), e não como
sobrecomum. Vale dizer, o VOLP não a registra como pertencente
apenas ao masculino.
12. Isso quer dizer, em termos práticos, que devemos empregar o cônjuge e
a cônjuge, e não apenas o cônjuge para ambos, nem mesmo expressões
com termos indicativos do sexo, como o cônjuge feminino ou o
cônjuge mulher.
13. Acresça-se que não existe a forma cônjugue.
Ver Varão – Qual o feminino? (P. 757)

Conjunção
Ver Omissão da conjunção – Está correto? (P. 526)

Conjuntura
1. Significa reunião de circunstâncias, oportunidade, lance difícil. Exs.: a)
“Na atual conjuntura, em época de grande desemprego, fica difícil falar
em discussão por aumento de salários”; b) “Naquela conjuntura, a
perplexidade dominava-me o espírito”.
2. Não confundir com sua parônima conjetura, que quer dizer suposição,
maneira de prever, a qual também admite as variantes conjectura e
conjeitura.

Conosco
Ver Com nós – Existe? (P. 196), Conheço todos eles – Está correto? (P. 217)
e Pronome pessoal (P. 614).

Conquanto
Ver Indicativo por Subjuntivo (P. 411).

Consecução dos tempos verbais


1. Existem, em português, normas de correlação, de correspondência
temporal ou, ainda, de consecução dos tempos verbais (em latim, com
regras mais rígidas, consecutio temporum), determinadoras de
harmonização quanto ao uso das formas dos verbos.
2. Por essas normas é que, na prática, assim se redigem os seguintes
exemplos, guardando a correlação dos tempos (o uso primeiro de um
tempo exige o emprego de um outro a seguir): a) “Se é clara, a lei
dispensa interpretação”; b) “Se for clara, a lei dispensará
interpretação”; c) “Se fosse clara, a lei dispensaria interpretação”.
3. Por aplicação desses princípios, não se olvide, nesse ponto, a lição de
Vasco Botelho do Amaral: “Modernamente, contra a índole da língua
dos melhores escritores, com frequência se perde de vista o paralelismo
das formas verbais, e redige-se: ‘Há dias que se trabalhava’. Evite-se
essa construção”. Em tal caso, o correto é redigir-se: “Havia dias que se
trabalhava” (AMARAL apud ALMEIDA, 1981, p. 133).
4. Juntando os problemas de referência a tempo passado e a tempo futuro
no que tange ao verbo haver, Arnaldo Niskier sintetiza o problema da
seguinte forma: “Tendo como ponto de referência o momento presente,
use a para o futuro e há para o passado. Se o ponto de referência já for
passado, use havia em vez de há” (1992, p. 4). Exs.: a) “Ele estará
casado daqui a dois meses”; b) “Ele está casado há dois meses”; c) “Ele
estava casado havia dois meses”.
5. Para ilustrar, veja-se que, ao comentar o art. 324 do Projeto do Código
Civil – que registrava “se forem casados há mais de dois anos” Rui
Barbosa (1949, p. 141), preocupado com o assunto, já questionava a
estrutura de modo expresso: “Forem está no futuro; há, no presente. Será
legítima esta combinação gramatical?”
6. Em análise do exemplo “A Espanha já lutava há muito tempo contra
aquele semelhante estado de coisas”, José de Sá Nunes aponta a
ausência de correlação entre os tempos – há no presente e lutava no
pretérito imperfeito – explicando: “Assim nesta como em todas as
construções análogas, o verbo da segunda oração tem de ficar,
obrigatoriamente, para que haja consecutio temporum, no mesmo tempo
em que se acha o verbo da oração anterior: se esta tem o verbo no
presente, no presente há de estar o verbo daquela; e se o verbo de uma se
acha no passado, também no passado se deve achar o verbo da outra”.
7. Em seguida, traz tal autor exemplos de autorizados escritores, que
fizeram uso adequado da consecução dos tempos: a) “Havia dois dias
que nenhum incógnito atravessava o Crissus” (Alexandre Herculano); b)
“Começara, havia dois meses, a guerra da Crimeia” (Rui Barbosa).
8. Remata ele, todavia, com a observação de que “nem sempre os dois
verbos deverão ficar no mesmo tempo, presente ou passado, porque
muitas vezes a verdade dos fatos exige que os verbos estejam em tempos
diferentes”.
9. E exemplifica os casos de tal aspecto: a) “Escrevia então o jovem poeta
de São Paulo, há mais de cinquenta anos”; b) “Há dezessete anos, o
progresso material desconhecia a precisão dos cafés” (Camilo).
10. Alinhando significativas observações para conseguir adequada
consecução dos tempos verbais, o próprio José de Sá Nunes, por
primeira regra, anota que, quando se emprega o imperfeito do
subjuntivo na oração condicional, o verbo da oração principal deve
ficar no futuro do pretérito ou no imperfeito do indicativo. Exs.: a) “Se
quisesse anular a sentença, o advogado deveria entender-se com a
Justiça”; b) “Se quisesse anular a sentença, o advogado devia
entender-se com a Justiça”.
11. Em segunda regra, leciona que, quando o verbo da oração condicional
está no futuro do subjuntivo, emprega-se, na oração principal, o futuro
do indicativo, ou, às vezes, o imperativo. Exs.: a) “Se quiser anular a
sentença, o advogado deverá entender-se com a justiça”; b) “Se o
advogado quiser anular a sentença, entenda-se com a Justiça”.
12. Em terceira observação, realça o ilustre gramático (NUNES, 1938, p.
12-3 e 26-7) o que “o que não está em harmonia com a índole de nosso
idioma, nem encontra apoio nos grandes padrões da vernaculidade, é a
correlação do imperfeito do subjuntivo com o futuro do indicativo. Ex.:
“Se quisesse anular a sentença, o advogado deverá entender-se com a
Justiça” (errado).
13. Não se olvide, também, o ensinamento de Vitório Bergo (1944, p. 131),
que parte de um exemplo de Alexandre Herculano: “… eles tinham
sido, havia dois séculos, inimigos armados…”; e registra sua lição:
“deve empregar-se havia (pretérito imperfeito) e não há (presente do
indicativo) para indicar o termo de período referente a época passada”.
14. Oportuno, neste assunto, é atentar a dois importantes lembretes de João
Ribeiro (1923, p. 190): a) “Na correlação dos tempos só importa
conhecer os casos em que os verbos se correspondem em modos
diferentes”; b) Nesse assunto, “não só as regras são todas lacunosas,
como a verdade geral é que só o sentido, positivo ou hipotético, isto é,
o modo e não os tempos, determina o uso. Dizer que quando o sentido
é incerto ou hipotético o verbo vai para o subjuntivo, é nada dizer, pois
isso decorre da definição do subjuntivo”.
15. E se complemente com a doutrina do mesmo gramático (RIBEIRO,
João, 1923, p. 250), para quem “a falta de simultaneidade de tempos
nas proposições” configura, em realidade verdadeiro galicismo, como
nos seguintes exemplos: a) “É isso que me incomodou” (errado); b)
“Foi isso que me incomodou” (correto); c) “É Jesus quem dizia…”
(errado); d) “Foi Jesus quem dizia” (correto).
16. Com a exposição dos princípios e regras que devem ser obedecidos em
tais circunstâncias, podem-se extrair as seguintes conclusões: a)
“Migalhas quis é poupar os leitores de mais essa” (errado); b)
“Migalhas quis foi poupar os leitores de mais essa” (correto); c) “O
que o Migalhas quis é poupar os leitores de mais essa” (errado); d) “O
que o Migalhas quis foi poupar os leitores de mais essa” (correto); e)
“Migalhas quer é poupar os leitores de mais essa” (correto); f) “O que
Migalhas quer é poupar os leitores de mais essa” (correto).

Consecutio temporum
Ver Consecução dos tempos verbais (P. 219).

Conseguir
1. Tendo o grupo gu, neste caso, a exclusiva finalidade gráfica de registrar
o som original do g antes de e e de i – até porque, em tais circunstâncias,
o u não é pronunciado – perde aquele o u antes de a e de o.
2. Assim: consigo, consegues, consegue, conseguimos, conseguis,
conseguem (presente do indicativo); consiga, consigas, consiga,
consigamos, consigais, consigam (presente do subjuntivo); consegue,
consiga, consigamos, consegui, consigam (imperativo afirmativo); não
consigas, não consiga, não consigamos, não consigais, não consigam
(imperativo negativo).
3. Tais problemas se apresentam apenas no presente do indicativo e tempos
derivados, de modo que a referida dificuldade não se estende aos demais,
em que o gu permanece intacto: conseguia (pretérito imperfeito do
indicativo), conseguirei (futuro do presente do indicativo), conseguiria
(futuro do pretérito do indicativo), consegui (pretérito perfeito do
indicativo), conseguira (pretérito mais-que-perfeito do indicativo),
conseguir (futuro do subjuntivo), conseguisse (imperfeito do
subjuntivo), conseguindo (gerúndio), conseguido (particípio).
4. Seguem o mesmo modelo todos os verbos terminados em guir, em que o
u não seja pronunciado (distinguir, extinguir, perseguir, prosseguir,
seguir).
5. A propósito, Carlos Góis e Herbert Palhano (1963, p. 113) lembram,
com propriedade, que, dos verbos terminados em guir, apenas arguir e
redarguir têm o u pronunciado.

Consentâneo
1. Quanto às possibilidades de sintaxe, para Sousa e Silva, tal vocábulo
“usa-se indiferentemente com as preposições com e a: ‘consentâneo com
os bons princípios’ ou ‘consentâneo aos bons princípios’” (1958, p. 82).

Considerando
1. Por um lado, aplica-se ao raciocínio, para a formação do plural do
vocábulo considerando, a observação de Júlio Nogueira, segundo quem
“os nomes de línguas estrangeiras fazem o plural como se fossem
portugueses” – os considerandos.
2. Por outro lado, é importante trazer à discussão o lembrete do referido
gramático, e sem outra condenação, de que algumas pessoas usam o
plural latino – os consideranda (NOGUEIRA, 1930, p. 167).
3. Em lição muito apropriada, Vitório Bergo acrescenta que “o plural deste
latinismo é consideranda; todavia, não há fortes razões para que se não
adapte ao português: o considerando, os considerandos” (1944, p. 64).
4. Como remate e síntese, entretanto, é de se ver que o Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de
Letras, órgão oficial para definir quais vocábulos integram nosso léxico,
fez constar em seu rol apenas considerando, e não considerandum (2009,
p. 212).
5. Isso quer significar os seguintes aspectos: a) existe, em português,
apenas considerando, e não considerandum; b) o vocábulo considerando
está integrado oficialmente ao vernáculo; c) seu plural se forma como os
demais vocábulos de mesma terminação, a saber, considerandos; d) não
existe o plural consideranda.
6. Em termos de técnica gramatical, a par de aplaudir o posicionamento do
VOLP nesse campo, não se pode deixar, todavia, de anotar a incoerência
de tal posição, evidenciando a necessidade de uniformização de critérios,
uma vez que, diversamente dessa conduta, registrou, por exemplo,
memorândum.
Ver Campus (P. 166) e Plural de nomes estrangeiros – Existe? (P. 566)

Considerar
1. Considerar é vocábulo a ser observado sob o prisma da regência verbal.
2. É verbo transitivo, em cuja companhia, com frequência, aparece um
predicativo do objeto direto.
3. Tal predicativo pode vir ou não precedido de como ou por. Exs.: a)
“Consideraram-no o maior processualista vivo do país”; b)
“Consideraram-no como o maior processualista vivo do país”; c)
“Considero-o por meu melhor amigo”.
4. Abona Arnaldo Niskier esse posicionamento em relação às duas
primeiras construções, ao observar que “as duas formas estão corretas, o
uso de uma ou de outra vai depender do estilo de quem escreve” (1992,
p. 104).
5. Aires da Mata Machado Filho (1969a, p. 616) mostra sua preferência
pela simples justaposição das palavras, sem emprego de como,
justificando com a supremacia da elegância na fala.
6. Para Laudelino Freire, o predicativo pode vir ligado ao verbo por como
ou por, consoante exemplo dado por ele mesmo: “Considero-o como (ou
por) amigo” (1937b, p. 52-3).
7. Idêntica há de ser a construção com outros verbos que, de modo similar,
exijam predicativo do objeto: a) “Creio-o apto (ou como apto) para o
trabalho”; b) “Julguei-a incapaz (ou como incapaz) para a função”; c)
“Reconheço-a minha inspiradora (ou como inspiradora) daquela obra”;
d) “Reputo-o o maior processualista (ou como o maior processualista)
vivo do país”.
Consignar
1. Quanto a sua pronúncia, até mesmo entre pessoas cultas há uma
tendência a introduzir erroneamente uma inexistente vogal logo após o g,
nas formas rizotônicas, pronunciando-se consiguino, consiguinas…
2. É, contudo verbo regular, a que, após o radical (consign), apenas se
acrescentam as desinências próprias da conjugação: consigno, consignas,
consigna, consignamos, consignais, consignam (presente do indicativo);
consigne, consignes, consigne, consignemos, consigneis, consignem
(presente do subjuntivo)…
3. E, em tais formas rizotônicas, a sílaba tônica incide no i do radical,
jamais podendo ser tônica uma vogal que nem existe.
4. Por outro lado, como as formas rizotônicas apenas ocorrem no presente
do indicativo, presente do subjuntivo, imperativo afirmativo e
imperativo, não apresenta ele dificuldades nos demais tempos e formas,
quer quanto à grafia, quer quanto à pronúncia.

Consigo ou Com você?


1. Consigo é pronome pessoal que, na conformidade com a língua padrão
em vigor, só pode funcionar como reflexivo (isto é, só pode ser usado
como pronome referente à mesma pessoa do sujeito). Exs.: a) “Quero
falar consigo” (errado); b) “O advogado reteve consigo os autos por
vários meses” (correto); c) “A mãe, que contrai novas núpcias, não
perde o direito a ter consigo os filhos…” (CC/1916, art. 329 – correto).
2. Em outras palavras, tecnicamente se há de dizer que as variações
pronominais se, si e sigo são sempre correlatas à palavra que representa
o sujeito da oração em que se acham elas como complementos.
3. Veja-se, a respeito, a lição de Antenor Nascentes: “Os pronomes se, si,
consigo, referem-se sempre ao sujeito da oração; são reflexivos. Exs.:
‘… Fulano é um indivíduo metido consigo’. Deve-se dizer: ‘Estou muito
zangado com você…’ E não: ‘Estou muito zangado consigo’” (1942, p.
90).
4. Para Cândido de Oliveira, se, si e consigo são formas reflexivas e “só se
podem usar em relação ao próprio sujeito do verbo” (1961, p. 174).
5. De igual modo, para Laudelino Freire, tal forma pronominal é “por
natureza reflexiva, caráter que cumpre ter em vista para evitar erros
muito vulgarizados, como dizer uma pessoa a outra: Estou muito
satisfeito consigo” (1937b, p. 73).
6. Também em posicionamento de contrariedade a seu uso sem
reflexividade, Júlio Nogueira chama a tal emprego de “grosseiro
solecismo importado de Portugal”, não sem observar que se trata de
imperfeição que “até excelentes escritores portugueses já empregam”
(1930, p. 330).
7. Também lembra Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 66) que o uso não
reflexivo de tal pronome, muito embora seja comum em Portugal,
contém solecismo.
8. Nesse mesmo sentido, observa João Ribeiro que tal pronome é reflexivo
e refere-se “naturalmente ao sujeito da proposição”.
9. E continua ele dizendo não ser correto “Falei consigo”, mas “Falei com
você” (RIBEIRO, João, 1923, p. 176).
10. Apesar de posicionamento doutrinário firme nesse sentido por parte de
diversos e abalizados gramáticos (como Ernesto Carneiro Ribeiro, João
Ribeiro, Júlio Ribeiro, Carlos Góis e Assis Cintra), outros autores
defendem o uso de si e consigo sem significação reflexiva (Meyer
Lübke, Leite de Vasconcelos, José Maria Rodrigues e Eduardo Carlos
Pereira).
11. Nessa esteira, aduzindo que “não é só o povo que o usa, mas já muitos
letrados, o que não pode passar sem ser observado”, Silveira Bueno
(1938, p. 219) também acata o uso de tal pronome sem sua estrita
significação de reflexo.
12. Eduardo Carlos Pereira (1924, p. 325), após observar ser “antiga e
geral a tendência de se empregar no tratamento familiar” o consigo
referindo-se à segunda pessoa, acrescenta, de igual modo, que “não há
nisso inconveniência e há vantagem prática”, não explicitando, todavia,
qual seria o benefício, mas carreando o abono de Leite Vasconcelos e
citando exemplos de Alexandre Herculano e Eça de Queirós.
13. Lembra, por seu lado, Artur de Almeida Torres (1966, p. 83) que “em
Portugal já se admite o emprego de si e consigo não reflexivos,
referindo-se à pessoa com quem se fala”, como se dá no seguinte
exemplo de Camilo Castelo Branco: “Espere um pouquinho que eu vou
consigo”.
14. De extrema pertinência e propriedade, contudo, a esse respeito, é a
síntese de Aires da Mata Machado Filho: “O emprego de si, consigo,
sem significação reflexiva, mais usado em Portugal que no Brasil,
destoa da boa tradição vernácula e embaça a clareza do discurso”
(1969i, p. 25).
15. Vale lembrar, sobre a questão, o ensinamento de Júlio Nogueira no
sentido de que “o que não se deve admitir é o emprego de si e consigo
sem reflexividade, como se faz em Portugal”.
16. “Assim” – continua tal gramático – “não se há de dizer… ‘eu sonhei
consigo’; dir-se-á: “eu sonhei com o senhor, com a senhora, com você”.
17. E, com integral propriedade, acrescenta tal autor: “Além de o emprego
de si e consigo sem reflexividade constituir feio solecismo, ele traz
ambiguidade de sentido” (NOGUEIRA, 1959, p. 80).
18. Não destoam desse modo de pensar Carlos Góis e Herbert Palhano
(1963, p. 81): “As formas si e consigo só podem ser usadas como
reflexivas…, isto é, quando o próprio sujeito pratica e recebe a ação…”
É, pois, erro empregar si, consigo com referência ao interlocutor,
quando a ação do verbo é atribuída à pessoa que fala: “… Ontem me
encontrei consigo”. Deve dizer-se: “… Ontem me encontrei com
você…”
19. Não se olvide também a significativa lição de José de Sá Nunes: “O
pronome reflexivo sempre se refere ao sujeito da oração: ‘Pedro está
falando consigo’ quer dizer que ‘Pedro está falando sozinho, de si para
si’, e não com outra pessoa” (1938, p. 75).
20. Refere tal autor (1938, p. 76) que o emprego de consigo sem caráter
reflexivo, em Portugal, é defendido, entre outros, por Leite de
Vasconcelos e Epifânio Dias. “Mas esse emprego só se nota na
linguagem familiar de lá. Na linguagem literária, raríssimo se nos
depara em bons escritores lusitanos”.
21. Não se olvide, por fim, a lição de Laudelino Freire (s/d, p. 7): “Só é
legítimo o emprego do reflexivo nas frases em que se refere à terceira
pessoa. Estranhável é, portanto, que Camilo Castelo Branco o tivesse
empregado com referência à segunda pessoa, ainda quando fizesse
dialogar as suas personagens”.
22. Apesar das divergências apontadas, de lavra de gramáticos e filólogos
do melhor porte, melhor parece, nesse campo, em resumo, observar o
emprego do pronome consigo exclusivamente para os casos em que
indica reflexividade.
23. As mesmas observações aqui feitas valem para si.
Ver Pronome pessoal (P. 614).

Consoante
1. Com tal palavra, a construção feita com a preposição a é tida por Vitório
Bergo (1944, p. 64) como “boa regência, frequente em bons escritores”,
citando ele exemplo abonador de Camilo Castelo Branco: “A força de
alma que gera as virtudes é consoante à pureza que as alimenta”.
2. Francisco Fernandes (1969, p. 104) preconiza a possibilidade de
construção com qualquer de três preposições: a, com e em. Exs.: a) “…
não segundo os fatos mas consoante aos próprios interesses” (Rui
Barbosa); b) “Linguagem consoante com o assunto”; c) “Excessos
consoantes no pretexto, no espírito, no aspecto, na subordinação ao
mesmo interesse partidário” (Rui Barbosa).
3. Valendo-se de três exemplos de Camilo Castelo Branco, Cândido Jucá
Filho (1963, p. 160) vê três possibilidades de sintaxe: sem preposição
alguma, com a preposição a e com a preposição com: a) “Aferiam o
quilate duma obra de fantasia, consoante os lances surpreendentes”; b)
“A mãe desejava que o rapaz fosse frade, consoante à vontade de seu
irmão”; c) “Expede a sua doutrina mais consoante com a Escritura”.
4. Essas três possibilidades de construção também são abonadas por Celso
Pedro Luft (1999, p. 123): a) “Agir consoante convicções e princípios”;
b) “Consoante ao gosto da época…” (Soares Amora); c) “Um traje
consoante com o ato” (Antenor Nascentes).

Consonância
1. Para Celso Pedro Luft (1999, p. 124), tal vocábulo admite ser construído
com as preposições com e entre: a) “Consonância da prática com a
teoria”; b) “Consonância entre teoria e prática”.
2. Francisco Fernandes (1969, p. 104) amplia o leque de possibilidades,
para aceitar também a sintaxe com a preposição de: a) “Consonância das
predições com os acontecimentos” (Constâncio); b) “Consonância de
vontades”; c) “Só o hábito, na opinião do autor, nos pode tornar cegos à
singularidade dessa consonância entre espíritos que se harmonizam em
torno de uma conclusão tão importante” (Rui Barbosa).
Ver Em consonância (P. 306).

Consorte
1. Tal vocábulo, que normalmente significa marido ou mulher, é comum de
dois, vale dizer, “é masculino ou feminino, conforme o sexo da pessoa: o
consorte (homem) e a consorte (mulher)” (SILVA, A., 1958, p. 81). A
distinção, assim, se faz pelo artigo.
2. Também Geraldo Amaral Arruda (1997, p. 36-7) lembra a natureza de
substantivo comum de dois gêneros de tal substantivo, de modo que sua
variação em gênero se dá pela simples alteração do artigo: o consorte e a
consorte.
3. Espancando toda e qualquer dúvida, também esse é o posicionamento do
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, órgão incumbido
oficialmente de determinar a existência e o comportamento dos
vocábulos em nosso idioma (2009, p. 212).
Ver Cônjuge – Comum de dois ou Sobrecomum? (P. 218), Esposo ou
Marido? (P. 331) e Nubente (P. 505).

Constante
1. Quanto à regência nominal, Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 228) apenas
aconselha se construa com a preposição de no sentido daquilo que
consta, reservando seu emprego com em para as hipóteses em que
significa firme, contínuo. Exs.: a) “As provas constantes dos autos não
são suficientes para a condenação”; b) “Ele foi constante na busca de
provas para defender seus direitos no processo”.
2. Embora não manifeste opinião alguma, Francisco Fernandes (1969, p.
105) registra apenas dois exemplos, ambos em perfeita consonância com
esse posicionamento. Exs.: a) “Bens constantes de prédios e apólices”;
b) “Constante nesse vezo irreprimível, comparava-se, e aos artistas, a
moedeiros obcecados” (Afrânio Peixoto).
3. Celso Pedro Luft admite a possibilidade de construção com ambas as
preposições, e claramente não faz diferença alguma no que tange ao
sentido que o texto possa apresentar, como se pode ver dos exemplos
que alinha: a) “Dados constantes de um (ou num) manuscrito”; b)
“Vocábulos não constantes em (ou de) dicionários e vocabulários”.
4. Apenas acrescenta tal autor: “a regência original é de; em se explica a
partir da sinonímia consistir e encontrar-se (registrado ou mencionado),
estar” (LUFT, 1999, p. 124).
5. Adalberto J. Kaspary (1996, p. 108), muito embora acate a possibilidade
de construção com as preposições de e em, observa que, nos textos legais
que pesquisou, só encontrou o regime com a preposição de. Exs.: a) “A
matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por
prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão
legislativa” (CF/1988, art. 60, § 5º); b) “As declarações constantes de
documentos assinados presumem-se verdadeiras em relação aos
signatários” (CC/1916, art. 131); c) “A representação tanto se dá na
sucessão legal como na testamentária, mas com as restrições constantes
dos artigos seguintes” (CC português, art. 2.040).
6. Podem-se alinhar ainda outros textos de lei em que a sintaxe se dá
exclusivamente com a preposição de: a) “Conceder-se-á habeas data: …
para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do
impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades
governamentais ou de caráter público” (CF/1988, art. 50, LXXII, a); b)
“Arguida, por escrito, a falsidade de documento constante dos autos, o
juiz observará o seguinte processo…” (CPP art. 145, caput).
Ver Constar (P. 223).

Constar
1. Verbo de largo uso na linguagem forense, significa chegar ao
conhecimento, estar escrito ou registrado, fazer parte de. Exs.: a) “O
patrimônio e a herança constituem coisas universais, ou
universalidades, e como tais subsistem, embora não constem de objetos
materiais” (CC/1916, art. 57); b) “A instituição deverá constar de
escritura pública transcrita no registro de imóveis e publicada na
imprensa local e, na falta desta, na da Capital do Estado” (CC/1916, art.
73); c) “A autorização do marido pode ser geral ou especial, mas deve
constar de instrumento público ou particular previamente autenticado”
(CC/1916, art. 244).
2. Já quanto à acepção em que pode ser empregado, vale transcrever a lição
de Luís A. P Vitória, segundo quem “os puristas condenam este verbo,
no significado de ser provável, uma vez que, etimologicamente, ele
significa haver certeza” (1969, p. 72). Exs.: a) “É o que consta neste
livro” (correto); b) “Consta que o réu teve sua fuga facilitada” (errado).
3. Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 86), todavia, leciona que ele pode
ter o sentido de passar por certo, ou ser dito com aparências de verdade,
ou de chegar ao conhecimento: a) “Consta que o ditador se suicidou”; b)
“Consta que a jovem vai desfazer o noivado”; c) “Não me consta que
essa casa está à venda”.
4. Celso Pedro Luft (1999, p. 143-4) também lhe aceita a acepção de ser
comentado ou dito com aparências de verdade (o que é bem diverso de
haver certeza): a) “Constava-me que ele era contrabandista”; b)
“Consta-lhe que haverá demissões”.
5. O mais certo, nesse campo, em verdade, parece ser acatar ambos os
significados do mencionado verbo, até pelo princípio de que, na
divergência entre os doutos, deve-se conceder liberdade de emprego ao
usuário.
6. Sob um outro aspecto, firme-se o posicionamento de que, quanto à
regência verbal, admite ele ser construído indiferentemente com uma de
duas preposições: em ou de.
7. Assim, são igualmente corretas as construções seguintes: a) “Consta nos
autos que ele furtou”; b) “Consta dos autos que ele furtou”.
8. Assim é que Domingos Paschoal Cegalla leciona que, no sentido de estar
registrado ou mencionado, “pode-se dizer, indiferentemente, constar em
(preferível) ou constar de” (1999, p. 86).
9. Celso Pedro Luft, de igual modo, também acata ambas as possibilidades
de construção (1999, p. 143-4), entendimento esse também partilhado
por Francisco Fernandes (1971, p. 164).
10. No que concerne aos textos legais, no sentido de estar escrito ou
registrado em, de ser mencionado, de fazer parte, de incluir-se, observa
Adalberto J. Kaspary que constar de “é a regência quase que exclusiva,
atualmente, nos textos legais”, enquanto constar em é regência “de uso
raro” (1996, p. 106-7). Exs.: a) “O Presidente da República poderá
convocar Ministro de Estado para participar da reunião do Conselho,
quando constar da pauta questão relacionada com o respectivo
Ministério” (CF/1988, art. 90, § 10); b) “A aceitação da herança pode
ser expressa ou tácita; a renúncia, porém, deverá constar,
expressamente, de escritura pública, ou termo judicial’ (CC/1916, art.
1.581); c) “Os termos de juntada, vista, conclusão e outros
semelhantes constarão de notas datadas e rubricadas pelo escrivão”
(CPC/1973, art. 168); d) “Nenhum corretor pode dar certidão senão do
que constar do seu protocolo e com referência a ele” (C. Com, art. 46);
e) “Quando o réu estiver no território nacional, em lugar estranho ao
da jurisdição, será deprecada a sua prisão, devendo constar da
precatória o inteiro teor do mandado” (CPP, art. 289); f) “Os impostos
componentes do sistema tributário nacional são exclusivamente os que
constam deste título…” (CTN, art. 17); g) “… do que constara respeito
no Instituto Médico-Legal, no Instituto de Identificação e Estatística ou
em estabelecimentos congêneres…” (CPP, art. 541, § 2º, b).
Ver Constante (P. 223).

Constatar – Galicismo?
1. É verbo de largo uso nos meios jurídicos, com o significado de
comprovar, verificar estabelecer a verdade de um fato. Ex.: “A perícia
constatou a autoria do crime”.
2. Apesar de muito expressivo e de sua intensa utilização nesse sentido, é
vocábulo condenado por alguns, sob a acusação de galicismo.
3. Napoleão Mendes de Almeida (1981, p. 64), nessa esteira, reputa-o
inteiramente inútil, aconselhando sua substituição por verbos sinônimos,
que sejam efetivamente de nosso léxico: averiguar, certificar,
comprovar, demonstrar, notar, verificar.
4. Eduardo Carlos Pereira também o insere no rol dos galicismos léxicos,
daqueles que “são verdadeiras deturpações da língua, contra os quais
devemos estar premunidos” (1924, p. 260-261).
5. De igual modo para Vitório Bergo (1943, p. 117), é galicismo real e
inadmissível.
6. Muito embora esse radical esteja integrado na linguagem forense –
como, por exemplo, em “auto de constatação” – Edmundo Dantès
Nascimento (1982, p. 20), que inclui o vocábulo entre os estrangeirismos
léxicos encontrados na linguagem forense, anota que sempre haverá
ensejo para empregar as expressões portuguesas: verificar, certificar,
apurar, demonstrar, evidenciar.
7. Cândido Jucá Filho (1981, p. 55), por seu lado, o tem na conta de um
daqueles “galicismos inevitáveis”.
8. E Pedro A. Pinto – após noticiar idêntica condenação por Cândido de
Figueiredo como galicismo vitando, moderno e desnecessário, ao
responder a um consulente que lhe indagava se podia considerar tal
vocábulo um brasileirismo – anotava que se encontra tal verbo com o
sentido de certificar, mostrar, provar, em obras de vulto como as de José
Veríssimo e Ramalho Ortigão.
9. E rematava: “Não é o uso do galicismo constatar peculiaridade do falar
ou do escrever brasileiro, não é um galicismo brasileiro” (PINTO, 1924,
p. 272-5).
10. Retratando o pensamento vigente na atualidade e que parece o que
deva ser seguido nos próprios textos que devam submeter-se à norma
culta, assim se expressa Arnaldo Niskier: “Apesar de condenado como
galicismo pelos puristas, o verbo constatar é bastante difundido no
português moderno. Insistir em considerá-lo vício de linguagem não
leva a nada. Melhor é combater os anglicismos introduzidos
principalmente pela televisão e que hoje infestam nossa língua” (1992,
p. 9).
11. Aos que pretendem substituir esse verbo por verificar, Francisco
Fernandes resume com propriedade: “É pouco provável que a nossa
linguagem vulgar dispense este verbo. Sente-se que em constatar há
uma significação especial que não se encontra no português verificar…
Se… queremos exprimir não somente a ideia de verificar mas também
a de registrar, documentar para efeito ulterior, dizemos constatar. E
esta é a verdadeira acepção de constatar” (1971, p. 164).
12. Espancando quaisquer dúvidas acerca de sua existência entre nós, o
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa – palavra oficial para
listar os vocábulos pertencentes ao nosso idioma – arrola o verbo
constatar entre as palavras de nosso léxico (2009, p. 212), motivo por
que está oficialmente autorizado seu emprego nos textos que devam
submeter-se à norma culta.
13. Há exemplos de seu emprego em dispositivos de lei entre nós: a)
“Constatando a ocorrência de nulidade sanável, o tribunal poderá
determinar a realização ou renovação do ato processual, intimadas as
partes…” (CPC/1973, art. 515, § 4º, incluído pela Lei 11.276, de
2006); b) “As penas de apreensão, de inutilização de produtos, de
proibição de fabricação de produtos, de suspensão do fornecimento de
produto ou serviço, de cassação do registro do produto e revogação da
concessão ou permissão de uso serão aplicadas pela administração,
mediante procedimento administrativo, assegurada ampla defesa,
quando forem constatados vícios de quantidade ou de qualidade por
inadequação ou insegurança – do produto ou serviço” (CDC, art. 58).

Constituir
1. Quanto à ortografia, como todo verbo terminado em uir, só pode dar
origem à terminação ui na segunda e terceira pessoas do singular do
presente do indicativo: constituo, constituis, constitui.
2. Diferentemente dos verbos terminados em uar (como continuar), são
errôneas as grafias com e em tais situações: constitues, constitue.
3. Nas palavras de Cândido de Oliveira, após verificação dos muitos erros
cometidos nesse campo, “é com i a segunda e terceira pessoas do
singular do presente do indicativo dos verbos terminados em uir: aflui,
fruis, retribui, retribuis, contribui, contribuis, influi, influis” (1961, p.
64).
4. Atentos aos frequentes equívocos que ocorrem nos meios jurídicos (veja-
se, por exemplo, a expressão nomeia e constitui, empregada em
instrumentos de mandato, que muitos escrevem nomeia e constitue),
assim observam Antonio Henriques e Maria Margarida de Andrade: “Os
verbos em uir (concluir, possuir, estatuir etc.) têm um i na terceira
pessoa do singular do presente do indicativo e não e, como aparece até
em modelos de procuração” (1999, p. 53).
5. No que concerne à regência verbal, há dois verbos: constituir e
constituir-se: “Constituir é transitivo direto; constituir-se rege a
preposição em” (NISKIER, 1992, p. 104). Exs. a) “Os fatos até agora
narrados constituem toda a atuação do réu”; b) “Os fatos até agora
narrados constituem-se em toda a atuação do réu”.
6. Muito embora tais estruturas sejam sinônimas e possam ser usadas
facultativamente, é preciso cuidado, para que não se proceda a uma
indevida mescla. Ex.: “Os fatos até agora narrados constituem em toda
a atuação do réu” (errado).
7. Para Celso Pedro Luft, “a construção originária é algo ou alguém
constitui algo”, e “constituir-se em algo é inovação sintática, já familiar
à nossa imprensa” (1999, p. 144-5).
8. Observa Domingos Paschoal Cegalla, sob outro aspecto, que a
construção reflexiva constituir-se em, no significado de arvorar-se em, é
geralmente censurada de galicismo.
9. Entende, todavia, tal autor que “a censura só é plausível quando, na
construção em apreço, se emprega a preposição em” (CEGALLA, 1999,
p. 146), motivo por que se há de atentar para os seguintes exemplos, com
a indicação de sua correção ou incorreção: a) “Ele se constituiu em chefe
do bando” (errado); b) “Ele se constituiu chefe do bando” (correto).
10. Exemplos registrados por Francisco Fernandes (1971, p. 164)
corroboram esse entendimento: a) “Constituiu-se chefe supremo”
(Constâncio); b) “Assistiu-lhe com a mais desvelada benquerença,
constituindo-se seu procurador” (Camilo Castelo Branco).

Constranger
1. Etimologicamente, vem do latim com o significado de apertar, ligar,
prender.
2. Na esfera jurídica, quer dizer obrigar uma pessoa a fazer o que ela não
pretende ou não quer fazer, ou, ainda, impedi-la de fazer o que quer
realizar.
3. Nesse sentido, o art. 50, II, da Constituição Federal de 1988 determina
taxativamente que “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer
alguma coisa senão em virtude de lei”.
4. E, no âmbito criminal, o art. 146 do Código Penal assim tipifica o crime
de constrangimento ilegal: “Constranger alguém, mediante violência ou
grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio,
a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o
que ela não manda”.
5. Quanto à conjugação verbal, como todos os verbos terminados em ger,
para a continuidade do som original da última consoante do radical,
muda o g em j antes de o e de a. Assim: constranjo, constranges,
constrange… (presente do indicativo); constranja, constranjas (presente
do subjuntivo).
6. Feitas essas observações, anota-se que se trata de verbo conjugado em
todas as pessoas, tempos e modos, e – como essa modificação da última
letra do radical de g para j se dá apenas no presente do indicativo e
tempos daí derivados (presente do subjuntivo, imperativo afirmativo e
imperativo negativo) – é escrito com g em todos os demais tempos:
constrangia (imperfeito do indicativo), constrangerei (futuro do
presente), constrangeria (futuro do pretérito), constrangido (particípio),
constrangendo (gerúndio), constrangi (pretérito perfeito), constrangera
(pretérito mais-que-perfeito), constranger (futuro do subjuntivo),
constrangesse (imperfeito do subjuntivo).
7. Seguem as mesmas observações eleger, proteger, ranger, tanger.

Construir
1. Para José de Nicola e Ernani Terra, esse verbo, ainda hoje, “admite
também as formas construis, construi, construem no presente do
indicativo e construi no imperativo afirmativo” (2000, p. 73).
2. A um consulente que lhe perguntava qual a forma correta – ele construi
ou ele constrói – respondia Cândido de Figueiredo: “Construi é flexão
regular e legítima, mas desusada. Usado é constrói” (1948, p. 186).
3. Além da conjugação conhecida (construo, constróis, constrói,
constroem), vem de Vitório Bergo o seguinte ensinamento: “usa-se
também a forma regular, com u em todas as pessoas: construo,
construes, construe, construem…” (1943, p. 146).
4. Otelo Reis (1971, p. 134), em sua indispensável obra, registra, de igual
modo, a dupla possibilidade de uso: construis ou constróis, construi ou
constrói, e construem ou constroem. (Observe-se que a forma verbal
constroem não recebe acento gráfico, o que frequentemente ocorre por
contaminação da forma singular constrói).
5. Domingos Paschoal Cegalla, por sua vez, anota que “modernamente não
se usam as formas regulares construís, construi, construem” (1999, p.
87).
6. Quer pelo número de gramáticos favoráveis, quer pela divergência entre
eles, quer, ainda, pelo vetusto princípio de que, na diversidade de
posicionamentos, deve-se facilitar o uso, o melhor parece ser aceitar a
possibilidade de emprego de todas as formas mencionadas.
7. A questão, assim, cinge-se tão somente ao campo da preferência, sem
afastar a correção da forma preterida, apenas se observando a lição de
Francisco Fernandes (1971, p. 164-5), que transcreve ensino de Júlio
Nogueira: “Entre constróis, constrói e construis, construi, as primeiras
formas são vencedoras em quase todo o Brasil, pelo que devem ser
preferidas”.
Ver Verbos abundantes (P. 759).

Consulado-geral ou Consulado geral?


Ver Controlador-geral ou Controlador geral? (P. 230)

Consulesa – Existe?
Ver Capitã, Capitoa ou A Capitão? (P. 168) e Poeta – Qual o feminino? (P.
570)

Consultor-geral ou Consultor geral?


Ver Controlador-geral ou Controlador geral? (P. 230)

Consumerismo
1. Em inglês, consumer significa consumidor, o que, em termos de técnica
jurídica, quer indicar aquela pessoa que adquire produtos ou serviços
para seu próprio uso.
2. Também naquele idioma, de consumer deriva consumerism, palavra que
lá tem dois significados: a) mania ou excesso de consumo, que se
manifesta no hábito de comprar bens ou serviços em exagero, ou não
essenciais, ou desnecessários; b) estrutura jurídica que busca estabelecer
regras de proteção aos adquirentes de bens e serviços contra sua baixa
qualidade e alertar quanto aos perigos que alguns deles representam para
as pessoas.
3. Ora, entre nós, para representar a compulsão ao consumo, de há muito
existe a palavra consumismo. Todavia, para a estrutura de proteção ao
consumidor (preocupação antiga em países de língua inglesa, mas
recente em nosso meio), nosso idioma trouxe o vocábulo consumerism e
o aportuguesou normalmente: consumerismo (não é consumeirismo).
4. Essa, aliás, é a forma que consta no Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de Letras, que é o órgão
que tem a delegação legal para determinar oficialmente quais palavras
pertencem ao nosso léxico, bem como qual sua adequada grafia em
Português (2009, p. 212).
5. Por fim, se se quiser empregar não o substantivo, mas o adjetivo
referente ao consumidor em tais casos, dir-se-á consumerista (não,
porém, consumeirista).

Conter
Ver Ter (P. 730).

Conteste ou Inconteste?
Ver Inconteste ou Incontestável? (P. 406)

Continuar
1. Quanto à ortografia, como todo verbo terminado em uar, dá ele origem à
terminação ue: continues, continue.
2. Diferentemente dos verbos terminados em uir (como possuir), não tem
continuar forma alguma com a terminação ui, sendo errôneas as grafias
continuis, continui.
3. Nas palavras de Cândido de Oliveira, alertado pelos comuns equívocos
cometidos nesse campo, “é com ue a primeira, segunda e terceira
pessoas do singular do presente do subjuntivo dos verbos em uar: cultue,
cultues, habitue, preceitues” (1961, p. 65).
4. Quanto à conjugação verbal, é verbo regular, conjugado em todas as
pessoas, tempos e modos.
5. Oportuno é anotar que os verbos terminados em uar fazem a primeira
pessoa do singular sem qualquer irregularidade, jamais como pretendem
alguns: assim, suar faz suo, não soo.

Contorno – Como pronunciar o plural?


Ver Metafonia (P. 472).

Contra-arrazoar o recurso ou Contra-arrazoar ao recurso?


1. A dúvida trazida por um leitor para solução questiona qual a forma
correta: “Contra-arrazoar o recurso” ou “Contra-arrazoar ao recurso”?
2. Antes de ingressar no efetivo mérito da pergunta, observa-se que
existem, nos meios jurídicos e forenses, razoar e arrazoar, ambos com o
mesmo significado de expor as razões, os motivos ou os fundamentos
em uma peça, como se dá em uma petição inicial, uma contestação, um
recurso.
3. Por conseguinte, contrarrazoar e contra-arrazoar são expressões
sinônimas, que trazem em si a ideia de responder as razões em uma peça
judicial de resposta.
4. Por outro lado, quando se quer saber se o correto é “Contra-arrazoar o
recurso” ou “Contra-arrazoar ao recurso”, quer-se saber se o verbo
razoar ou arrazoar e, por conseguinte, contrarrazoar ou contra-arrazoar
pedem um complemento sem preposição ou com preposição.
5. Em termos mais técnicos, quer-se saber se tais verbos são transitivos
diretos ou transitivos indiretos.
6. E, quando a dúvida se refere à sintaxe, ou seja, à estruturação do
conjunto, à junção das palavras na frase – como é o caso de saber se um
verbo pede um objeto direto ou um objeto indireto – a autoridade para
definir a forma correta está com os bons escritores, conforme exemplos
neles coletados pelos nossos gramáticos e linguistas.
7. Ora, em obra que garimpa em nossos melhores autores, Francisco
Fernandes (1971, p. 492) ensina que, no sentido de defender ou advogar
uma causa, o verbo razoar é transitivo direto, isto é, constrói-se sem
preposição. Ex.: “Razoar uma causa”.
8. Discorrendo sobre arrazoar, Celso Pedro Luft (1999, p. 71) tem o mesmo
entendimento: é verbo transitivo direto. Ex.: “Arrazoar uma causa”.
9. Assim: a) “Razoar o recurso” (correto); b) “Razoar ao recurso”
(errado); c) “Arrazoar o recurso” (correto); d) “Arrazoar ao recurso”
(errado).
10. Considerando agora diretamente a indagação feita, pode-se assim
resumir na prática: a) “Contrarrazoar o recurso” (correto); b)
“Contrarrazoar ao recurso” (errado); c) “Contra-arrazoar o recurso”
(correto); d) “Contra-arrazoar ao recurso” (errado).
Ver Contra-razões ou Contrarrazões? (P. 229)

Contra – Com hífen ou sem?


1. Pelas regras do Acordo Ortográfico de 2008, como normalmente ocorre
com os prefixos terminados por vogal, apenas se emprega o hífen com o
prefixo contra em dois casos: a) quando o segundo elemento começa por
h (contra-habitual, contra-harmonia, contra-haste, contra-homônimo);
b) quando o elemento seguinte se inicia com a mesma letra que termina
o prefixo (contra-acusação, contra-almirante, contra-apelação, contra-
arrestar, contra-ataque).
2. Antes de outra consoante, que não seja h, acopla-se diretamente à
palavra seguinte, sem hífen: contrabalançar, contracapa, contracheque.
3. De igual modo, junta-se sem hífen, quando o elemento seguinte se inicia
por outra vogal, que não a mesma que finaliza o prefixo:
contraescritura, contrainterpelar, contraoferta.
4. Ressalva-se que, se a palavra seguinte se inicia por r ou s, tais
consoantes são duplicadas pela necessidade de manutenção do som, mas
não se usa o hífen: contrarrazões, contrarrecibo, contrarreforma,
contrarregra, contrarréplica, contrasseguro, contrassenso,
contrassistema.
5. Adiciona-se ponderação importante: o ato de argumentar e escrever as
razões de determinados recursos tanto pode ser razoar como arrazoar.
Desse modo, oferecer a respectiva resposta a um recurso tanto pode ser
contrarrazoar (resultado de contra + razoar) como contra-arrazoar
(resultado de contra + arrazoar).

Contraditar ou Contradizer?
1. A indagação que hoje se faz é se, em termos de técnica processual, o
correto é contraditar ou contradizer, já que ambos são encontrados nos
autores de obras de Direito e ambas são formas encontradiças na
linguagem forense.
2. Uma consulta ao Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa –
editado pela Academia Brasileira de Letras, órgão que recebeu a
delegação legal para dizer, com autoridade oficial, quais os vocábulos
pertencentes ao nosso idioma – revela que existem em nosso léxico
ambas as palavras: contraditar ou contradizer (VOLP, 2009, p. 214). Não
parece haver dificuldade alguma até aqui.
3. Além disso, uma busca nas origens vai demonstrar que ambas as formas
vêm do latim e do mesmo verbo e, assim, integram uma mesma família
etimológica, configurando aquilo que tecnicamente denominamos
cognatos: a) contradizer deriva de dicere, que é o infinitivo; b)
contraditar nasce de dictum, que é o supino; c) ambas as formas
pertencem ao verbo dico, dicis, dixi, dictum, dicere.
4. Quanto ao conteúdo semântico no campo do Direito, todavia, esses
verbos seguem caminhos um pouco diferentes.
5. Assim, contradizer, na esfera jurídica, costuma empregar-se para os
seguintes sentidos: a) Divergir de si próprio, em afirmativas feitas sobre
o mesmo caso ou sobre a mesma coisa: “Em seu depoimento, a
testemunha se contradisse em pontos importantes”; b) Divergir das
afirmativas ou da opinião de outrem: “A testemunha contradisse os
esclarecimentos do perito”.
6. Já contraditar, na terminologia forense, tem o significado técnico de
opor-se a que alguém sirva de testemunha em um processo, em razão de
sua incapacidade (por exemplo, o interdito por demência), impedimento
(quem é parte na causa) ou suspeição (inimigo capital ou amigo íntimo
de uma das partes). Exs.: a) “É lícito à parte contraditar a testemunha,
arguindo-lhe a incapacidade, o impedimento ou a suspeição”
(CPC/1973, art. 414, § 1º); b) “Antes de iniciado o depoimento, as partes
poderão contraditar a testemunha ou arguir circunstâncias ou defeitos,
que a tornem suspeita de parcialidade, ou indigna de fé. O juiz fará
consignar a contradita ou arguição e a resposta da testemunha, mas só
excluirá a testemunha ou não lhe deferirá compromisso nos casos
previstos nos arts. 207 e 208” (CPP, art. 214).

Contralto
1. Atente-se, de início, à observação de que é errôneo pensar que não há
homens contraltos; se não é tal voz normal em adultos, é, no entanto,
própria dos meninos.
2. No plano da concordância nominal, de conformidade com ensino de
Aires da Mata Machado Filho (1969a, p. 562), se tal substantivo vem
acompanhado de adjetivo, este fica formalmente no masculino,
ajustando-se ao substantivo modificado, sem qualquer reflexo sobre ele
do artigo determinador do gênero: a contralto lírico.
3. Já para Silveira Bueno, no que concerne aos qualificativos (incluindo o
artigo) de tal palavra, que ele iguala em tratamento a soprano, “não
devemos colocar no feminino os adjetivos que acompanham soprano
porque tais adjetivos modificam o substantivo oculto tom – tom soprano.
De acordo com isto, devemos dizer: Cantará hoje o grande soprano
Bidu Saião”.
4. Complementa tal autor (BUENO, 1938, p. 156-7) que se deve dizer meio
soprano, soprano lírico, soprano ligeiro, soprano dramático, devendo
todos os adjetivos e palavras referentes ao substantivo ir para o
masculino. E traz ele exemplo de Machado de Assis: “A vida é uma
grande ópera. O tenor e o barítono lutam pelo soprano, em presença do
baixo e dos comprimários, quando não são o soprano e o contralto que
lutam pelo tenor, etc.”.
5. Celso Cunha (1970, p. 99), sem explicações adicionais, recomenda a
preferência pelo gênero masculino.
6. Espancando toda e qualquer dúvida, o Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, que é o veículo
oficial para dirimir dúvidas acerca da existência ou não de vocábulos em
nosso idioma, bem como acerca de sua classificação e seu gênero,
registra tal substantivo apenas como masculino (2009, p. 214), de modo
que legem habemus, devendo prestar obediência ao quanto assim
determinado.
7. Anote-se, ao longo dos tempos, apenas a diversidade de avaliação do
problema por parte do VOLP, o qual, para o vocábulo soprano,
registrava, até sua edição de 1999, a possibilidade de emprego nos dois
gêneros, masculino e feminino. Esse problema, no entanto, encontra-se
superado na edição atual, que registra o vocábulo apenas como adjetivo
ou substantivo masculino (2009, p. 765).
Ver Soprano (P. 710).

Contraminuta ou Contrarrazões de agravo?


1. Em questão que se reveste muito mais de cunho jurídico do que
propriamente gramatical, um leitor lança a seguinte indagação:
Contraminuta ou Contrarrazões de agravo?
2. Ora, o Direito é uma ciência (lembra-se de que o curso é de ciências
jurídicas e sociais?) e, como toda ciência, tem terminologia técnica e
precisa.
3. Assim, se há termos técnicos determinados pela legislação, então não há
como fugir a seu uso. De modo mais específico: se a terminologia
correta é Código Penal e Código de Processo Civil, deve-se evitar dizer
estatuto repressivo e estatuto adjetivo civil. E se deve cuidar, mais ainda,
para não chegar ao ridículo: por exemplo, dizer pergaminho repressivo
castrense para o Código Penal Militar, ou diploma do anonimato para a
Lei das Sociedades Anônimas.
4. Uma análise dos artigos do Código de Processo Civil que tratam do
agravo mostra que a peça de sua interposição não é chamada, em lugar
algum, de minuta, mas de petição (arts. 524, 525, 526) e de razões (523,
§ 3º, 524, II).
5. Sérgio Bermudes, por seu lado, ao lecionar sobre a matéria, fala, de
modo bem misturado, em petição de interposição, “não arrazoado o
recurso” e “falta de contraminuta do agravado” (1977, p. 165, 172 e
181). E José Carlos Barbosa Moreira (1999, p. 488, 498, 499 e 503)
refere petição ou petição de interposição e, em contraposição, resposta
do agravado.
6. Uma atenta leitura do tratamento terminológico por parte da lei e da
doutrina acerca da matéria demonstra que não há precisão maior nem
preocupação mais intensa acerca desse aspecto.
7. Ora, se o legislador e os doutrinadores não se preocuparam em delimitar
os vocábulos destinados ao aspecto comentado, o mínimo que se pode
dizer é que há liberdade para o usuário.
8. Assim, partindo do princípio de que a) contraminutar é apresentar uma
contraminuta (ou seja, resumo de alegações escritas de resposta), que b)
contrarrazoar é apresentar contrarrazões (ou seja, argumentos e motivos
escritos de resposta), e que c) nenhum dos termos se vincula a um
sentido específico, não parece haver possibilidade de condenação a
nenhuma das seguintes expressões: resposta ao agravo, contraminuta de
agravo, contrarrazões de agravo.

Contra ou a favor
1. Partindo da indagação “Você é contra ou a favor do aborto?”, Arnaldo
Niskier demonstra, por primeiro, uma posição mais liberal do que a
sustentada pela Gramática em vigor na atualidade: “Nesses casos,
quando dois ou mais nomes, ou verbos, que possuem diferentes
regências exigem lógica e estilisticamente o mesmo complemento, deve-
se abandonar o rigor gramatical (que exigiria você é contra o aborto ou a
favor dele?) em proveito do estilo. Consideremos, pois, correta a frase
do exemplo”.
2. Ao depois, todavia, acaba ele por pregar o respeito às normas
gramaticais em vigor: “Mas, em geral, devemos respeitar as diferentes
regências” (NISKIER, 1992, p. 99).
3. Ante tal posicionamento dúbio, deve-se indagar ao referido autor:
quando a Gramática deve ceder em favor do estilo, e quando deve este
último prevalecer? Ou ainda: quando se há de reputar mais proveitoso o
estilo, e quando se há de dar maior importância ao respeito às diversas
regências?
4. Em verdade, da lição do ilustrado autor, parece ser possível deduzir que
a posição mais liberal fica para a linguagem coloquial, devendo-se,
contudo, obedecer às regras tradicionais, quando se estiver diante de um
texto que deva submeter-se aos ditames da norma culta.
5. Lembrando que uma construção como essa “não é Português”, observa
Edmundo Dantès Nascimento que “o nome ou pronome regidos por duas
ou mais preposições devem estar claros junto de cada uma delas”,
motivo por que, no entender do referido autor, as frases corretas devem
trazer o nome repetido desta maneira: a) “Há nos autos elementos a
favor da tese dos apelantes e contra ela”; b) “O réu foi procurado antes
das férias e durante elas”; c) “O réu foi procurado antes das férias
forenses e depois delas”.
6. Essa, ainda na lição de tal autor (NASCIMENTO, 1982, p. 158-60), é a
construção que normalmente se vê nos clássicos.
7. Estabelecendo, em continuação, importante princípio, assinala tal autor
(NASCIMENTO, 1982, p. 158-60) que “não há erro, quando se
empregam locuções preposicionais terminadas com a mesma preposição
formadora da locução” – geralmente a e de e, raramente, com – de modo
que é correta a expressão “… antes e depois das férias…” (as locuções
preposicionais, no caso, são antes de e depois de, ambas terminadas com
a mesma preposição de).
8. No caso que se aprecia, contudo, o que se tem, em realidade, é uma
locução (contra) e uma locução prepositiva (a favor de), cada qual com
estrutura própria, diversa da outra, de modo que o melhor é afastar a
possibilidade de construção abreviada, não se admitindo, assim, um
mesmo complemento para ambas.
9. Vale, em realidade, lembrar aqui a interessante lição de Vitório Bergo
sobre a expressão antes, durante e depois da festa: “Vê-se e ouve-se com
frequência esta expressão com um complemento comum. Observe-se,
porém, que não se diz durante da festa, e sim durante a festa. Isto é sinal
de que para a preposição durante não fica bem o complemento da festa,
bem empregado em relação a antes e depois. Diga-se, portanto, antes e
depois da festa e durante ela – ou – durante a festa, antes e depois dela”
(BERGO apud KASPARY, 1996, p. 366).
10. Vale confirmar: não se diz contra do aborto nem a favor o aborto, o
que quer dizer que para a locução prepositiva a favor de não fica bem o
complemento o aborto, bem empregado em relação à preposição
contra. Diga-se, portanto, contra o aborto ou a favor dele.
Ver Antes e depois (P. 120) e Com ou sem – Está correto? (P. 198)

Contra-razões ou Contrarrazões?
1. Ante as recentes modificações quanto ao emprego do hífen, ocasionadas
pelo Acordo Ortográfico de 2008, diversos leitores indagam qual a
forma correta da expressão: Contra-razões de apelação ou Contrarrazões
de apelação?
2. Pelas regras do Acordo Ortográfico de 2008, apenas se emprega o hífen
com o prefixo contra em dois casos: a) quando o segundo elemento
começa por h (contra-habitual, contra-harmonia, contra-haste, contra-
homônimo); b) quando o elemento seguinte se inicia com a mesma vogal
que termina o prefixo (contra-acusação, contra-almirante, contra-
apelação, contra-arrestar, contra-ataque).
3. Desse modo, acopla-se diretamente à palavra seguinte, sem
intermediação de hífen, quando iniciada esta por outra vogal, que não a
que encerra o prefixo: contraescritura, contrainterpelar, contraoferta.
4. Continua valendo a regra de junção direta, mesmo que o elemento
seguinte se inicie por consoante: contrabalançar, contracapa,
contracheque.
5. Apenas para a hipótese de ser o segundo elemento iniciado por r ou s,
dobram-se tais consoantes para continuidade do som originário:
contrarreforma, contrarregra, contrarréplica, contrasseguro,
contrassenso, contrassistema.
6. De modo prático para o caso da consulta, vê-se que o correto, quando se
juntam os elementos contra + razões é contrarrazões, e não mais contra-
razões.
7. Adiciona-se ponderação importante: o ato de argumentar e escrever as
razões de apelação tanto pode ser razoar como arrazoar. Desse modo,
oferecer a respectiva resposta tanto pode ser contrarrazoar (resultado de
contra + razoar) como contra-arrazoar (resultado de contra + arrazoar).

Contrariamente ao réu
Ver Advérbios em “mente” (P. 85).

Contrarrazoar ou Contra-arrazoar?
Ver Contra-arrazoar o recurso ou Contra-arrazoar ao recurso? (P. 226) e
Contra-razões ou Contrarrazões? (P. 229)

Contribuir
1. Quanto à ortografia, como todo verbo terminado em uir, só pode dar
origem à terminação ui na segunda e terceira pessoas do singular do
presente do indicativo: contribuo, contribuis, contribui.
2. Diferentemente dos verbos terminados em uar (como continuar), são
errôneas as grafias com e em tais situações: contribues, contribue.
3. Nas palavras de Cândido de Oliveira, atento aos frequentes equívocos
cometidos nesse campo, “é com i a segunda e terceira pessoas do
singular do presente do indicativo dos verbos terminados em uir: aflui,
fruis, retribui, retribuis, contribui, contribuis, influi, influis” (1961, p.
64).

Controlador-geral ou Controlador geral?


1. Observe-se, desde logo (até para conforto dos leitores que se veem em
grandes dúvidas quanto a este assunto), que, embora seja inegável e
perceptível o esforço de melhoria por parte do Acordo Ortográfico de
2008 quanto ao emprego do hífen, o certo é que a confusão ainda
continua sendo grande em alguns aspectos.
2. Em verdade, a primeira ideia do Acordo, neste campo, é que, em alguns
compostos, perdeu-se a noção de composição, motivo por que devem ser
grafados em uma única palavra girassol, paraquedas, passatempo,
pontapé…
3. A segunda ideia do Acordo é que o hífen – considerado especificamente
para o caso da consulta, em que o primeiro elemento é um substantivo, e
o segundo, um adjetivo – deverá continuar sendo empregado nas
palavras compostas por justaposição, quando os elementos constituam
uma nova unidade morfológica e de sentido: batata-inglesa, sócio-
gerente.
4. O que se verifica, contudo, é que às vezes descamba para o aspecto
subjetivo o entendimento do que se deva ter por elementos que
constituam uma nova unidade morfológica e de sentido.
5. E, talvez por conta desse subjetivismo de critério, o próprio órgão oficial
incumbido de solucionar o assunto também acaba enredado em
confusão.
6. Veja-se: esse órgão encarregado de definir oficialmente o modo de grafar
as palavras em nosso idioma é a Academia Brasileira de Letras, e ela
exerce esse múnus pela edição do Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa.
7. E uma consulta ao VOLP mostra que nele se encontra um critério duplo
e sem justificativa sobre o assunto, e isso porque, por um lado, registra
com hífen consulado-geral, governador-geral, ouvidor-geral,
procurador-geral, secretário-geral e vigário-geral; mas não registra
consultor-geral nem controlador-geral, o que quer dizer que tais
vocábulos devem ser escritos sem hífen, a saber, consultor geral e
controlador geral.
8. Como, porém, o VOLP (editado que é pela ALB) é a palavra oficial em
termos de grafia das palavras em nosso idioma, é a ele que devemos
prestar obediência, de modo que a solução, na dúvida, é consultá-lo.
9. Ante esse quadro, resta, por fim, a esperança de que a ABL, em futura
edição do VOLP, busque um foco mais preciso com vistas à solução
deste assunto.

Controle
1. Com a mesma grafia, há o substantivo, que significa basicamente
fiscalização e há o verbo controle (de controlar), na terceira pessoa do
singular do presente do subjuntivo, com o sentido de fiscalizar.
2. Ambas são palavras de mesma grafia (homófonas) mas com pronúncia
diversa (heterófonas).
3. Apresentando-se, assim, um problema de ortoepia, é de se especificar
que o verbo (que eu controle) tem o som aberto (ó), ao passo que o
substantivo (o controle), contrariamente ao uso frequente nos meios
forenses e nos discursos dos políticos, tem som fechado (ô) tanto no
singular (o controle) quanto no plural (os controles).
4. Sem explicações adicionais, observa Domingos Paschoal Cegalla que “a
pronúncia corrente é contrôle, porém a mais coerente é contróle, com a
vogal tônica aberta, como em todas as palavras terminadas em ole: fole,
gole, prole etc.” (1999, p. 88).
5. Entretanto o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da
Academia Brasileira de Letras, que é o veículo oficial para dirimir
dúvidas acerca da existência ou não de vocábulos em nosso idioma, bem
como acerca de sua grafia e pronúncia, manda pronunciar o substantivo
com o o fechado (ô), aspecto esse que, só por si, já determina o modo
oficial correto de articulação do referido vocábulo, já que, nesse caso,
legem habemus, e a tal determinação legal haveremos de prestar
obediência (2009, p. 216).

Convergir
1. Quanto à conjugação verbal, aparece um i na primeira pessoa do singular
do presente do indicativo e nos tempos dela derivados: convirjo,
converges, converge, convergimos, convergis, convergem (presente do
indicativo); convirja, convirjas, convirja, convirjamos, convirjais,
convirjam (presente do subjuntivo); converge, convirja, convirjamos,
convergi, convirjam (imperativo afirmativo); não convirjas, não
convirja, não convirjamos, não convirjais, não convirjam (imperativo
negativo).
2. Além disso, como é de fácil percepção, o g final do radical transforma-se
em j antes de a e de o, situação essa que se apresenta apenas no presente
do indicativo e nos tempos daí derivados.
3. Não aparecem tais dificuldades nos demais tempos: convergia (pretérito
imperfeito do indicativo), convergi (pretérito perfeito do indicativo),
convergira (pretérito mais-que-perfeito do indicativo), convergirei
(futuro do presente), convergiria (futuro do pretérito), convergir (futuro
do subjuntivo), convergisse (imperfeito do subjuntivo), convergindo
(gerúndio), convergido (particípio passado).
4. Não apresenta problemas ou irregularidades em outros tempos.

Convir
Ver Vir (P. 770).

Convocados a comparecer ou Convocados a comparecerem?


Ver Para compor ou Para comporem? (P. 544)

Convosco
Ver Com nós – Existe? (P. 196), Conheço todos eles – Está correto? (P. 217)
e Pronome pessoal (P. 614).

Coordenadora Jurídico – Está certo?


1. Uma leitora indaga se os adjetivos devem concordar com os substantivos
nas expressões indicativas de profissões e cargos, como Coordenador
Jurídico, Coordenadora Jurídica, Analista Jurídico e Analista Jurídica.
2. Ora, o vocábulo jurídico, em todas essas expressões, é um adjetivo que
qualifica um substantivo (coordenador e analista).
3. E a regra mais básica nesse assunto de concordância nominal é que o
adjetivo se harmoniza (ou concorda) em gênero (masculino ou feminino)
e número (singular ou plural) com o substantivo a que se refere. Desse
modo, se o substantivo é masculino, o adjetivo deve ser posto no
masculino; se feminino o substantivo, também nesse gênero há de estar o
adjetivo.
4. Não se sabe de onde surgiram equívocos dessa natureza, no dia a dia, em
expressões bastante corriqueiras: móveis paulista, tapetes persa,
especialidades mineira, doces caseiro, ovos caipira. Corrijam-se as
expressões sem dificuldades maiores: móveis paulistas, tapetes persas,
especialidades mineiras, doces caseiros, ovos caipiras.
5. Com essas ponderações, conclui-se que, nos exemplos trazidos pela
leitora, a concordância há de se fazer regularmente: Coordenador
Jurídico, Coordenadora Jurídica, Analista Jurídico, Analista Jurídica,
Coordenador Judiciário, Coordenadora Judiciária, Analista Judiciário,
Analista Judiciária.
6. Por fim, acresce dizer que não faz o mínimo sentido, em casos dessa
natureza, pretender usar o argumento de que o nome do cargo é,
genericamente, do masculino, e com isso afirmar que, abaixo do nome
da Dra. Maria de Fátima Silva, se deve escrever, como indicação de seu
cargo, Coordenador Jurídico. Ora, a Dra. Maria de Fátima Silva, como
integrante do gênero feminino, é a Coordenadora Jurídica da empresa, e
fim de conversa: abaixo de seu nome, a indicação de seu cargo deve ser
Coordenadora Jurídica.

Copiar
1. É verbo regular, sem alteração alguma, e serve de modelo para todos os
terminados em iar.
2. Pode trazer dúvidas no presente do indicativo e tempos derivados: copio,
copias, copia, copiamos, copiais, copiam (presente do indicativo); copie,
copies, copie, copiemos, copieis, copiem (presente do subjuntivo); copia,
copie, copiemos, copiai, copiem (imperativo afirmativo); não copies,
não copie, não copiemos, não copieis, não copiem (imperativo
negativo).
3. São errôneas as formas que as pessoas incultas proferem, confundindo
verbos terminados em iar com verbos terminados em ear: copeio,
vareia, apreceia.
4. Por esse verbo, conjugam-se todos os terminados em iar, menos mediar,
ansiar, remediar, incendiar e odiar (lembrar, com as iniciais de cada um
deles, a sigla MARIO), que têm por modelo o último nomeado e
recebem um i intermediário nas formas rizotônicas: odeio, odeias, odeia,
odiamos, odiais, odeiam (presente do indicativo); odeie, odeies, odeie,
odiemos, odieis, odeiem (presente do subjuntivo).
5. Vale a pena reiterar com a percuciente observação de Otelo Reis acerca
dos verbos em iar: “Pessoas incultas tendem a confundir estes verbos
com os terminados em ear, e dizem: copeio, vareia, apreceio, etc. Esta
pronúncia incorreta chega, em alguns lugares, a contaminar a própria
linguagem de algumas pessoas cultas” (1971, p. 63-4).

Co-réu, Corréu ou Coréu?


1. Pelo Acordo Ortográfico de 2008, o prefixo co sempre se acopla à
palavra seguinte diretamente, sem intermediação de hífen. Exs.:
cobeligerante, cocontratado, codemandante, cofundador, cogerência,
cotutor.
2. Não se abre exceção nem mesmo para a hipótese de ser o elemento
seguinte iniciado por vogal. Exs.: coacusado, coadministrador,
coapelante, coarrendante, coautor, coeditor, coeducador, coexistência,
coigual, coindicação, coobrigar, cooperação, coordenação, counívoco.
3. Para a hipótese de ser o segundo elemento iniciado por r ou s, dobram-se
tais consoantes para permanência do som do vocábulo original. Exs.:
correferência, correlação, corresponsabilidade, corréu, cossecante,
cossegurador, cossignatário.
4. Duas observações importantes: a) quando o segundo elemento tem h,
perde-se esse h, e se juntam os elementos sem hífen (coabitar,
coerdeiro); b) ainda que o segundo elemento se inicie pela mesma vogal
que encerra o prefixo, mesmo assim não há hífen (coobrigado, cooperar,
coordenação).

Coro – Como pronunciar o plural?


Ver Metafonia (P. 472).

Coronela – Existe?
Ver Capitã, Capitoa ou A Capitão? (P. 168) e Poeta – Qual o feminino? (P.
570)

Correicional ou Correcional?
1. Um leitor pergunta qual a forma correta para designar uma das
atribuições das Corregedorias: atividade correicional ou atividade
correcional?
2. Diga-se, num primeiro aspecto, que o Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa registra tanto correção como correição para designar o ato
de corrigir (ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, 2009, p. 221).
3. Pela tradição do Poder Judiciário, porém, tem-se reservado o termo
correição (e não correção) para designar a visita e a fiscalização feitas
por autoridade competente aos estabelecimentos submetidos a seu
controle.
4. Acrescente-se, porém, que, embora o VOLP registre tanto correção
como correição, o certo é que, ao dar os respectivos adjetivos, não
apresenta a variante correicional, e sim, apenas, correcional
(ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, 2009, p. 221).
5. Sempre é bom lembrar que o Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa é uma espécie de dicionário que lista as palavras
reconhecidas oficialmente como pertencentes à língua portuguesa, bem
como lhes fornece a grafia oficial.
6. Também conhecido pela sigla VOLP, é organizado e publicado pela
Academia Brasileira de Letras, a qual tem a delegação oficial e a
responsabilidade legal de editá-lo, em cumprimento à Lei Eduardo
Ramos, de n. 726, de 8/12/1900.
7. Voltando ao caso da consulta: a) atividade correcional (correto); b)
atividade correicional (errado).

Correio ou Correios?
1. Um leitor pergunta qual a forma correta: correio ou correios?
2. Para bem situar a questão, importa observar que, na origem, correio era
um mensageiro, um indivíduo que portava mensagens.
3. No decorrer dos tempos, passou a significar também o sistema de
comunicação que pressupõe um intercâmbio de mensagens, feito
especialmente por meio da troca de correspondência entre as pessoas.
4. Em seguida, por metonímia, passou, de igual modo, a abranger a
repartição onde se operam as trasladações de correspondência entre os
usuários desse sistema.
5. Apenas para não estender em demasia estas considerações, anota-se que,
também por metonímia, passou a significar o prédio, o edifício que
abriga esse tipo de repartição.
6. Com essas considerações, com tantos significados, ora querendo dizer
uma unidade, ora com a acepção de uma pluralidade, vê-se que não há
como vedar a possibilidade de uso do vocábulo correio tanto no singular
quanto no plural, conforme o sentido que se lhe quiser dar.

Correlação temporal
Ver Consecução dos tempos verbais (P. 219).

Correspondência temporal
Ver Consecução dos tempos verbais (P. 219).

Cortou-se-a – Existe?
1. É expressão errada, já que, em Português, o pronome se jamais combina
na mesma frase com o pronome o, a, os, as.
2. O pronome por último referido, em estruturas desse jaez, há de ser o
sujeito (caso reto, portanto), e os pronomes o, a, os, as são do caso
oblíquo, jamais podendo funcionar como sujeito.
3. Corrija-se, assim, tal expressão, por um dos seguintes modos: a)
Coloque-se em lugar dos pronomes condenados uma palavra que possa
ser sujeito (“Cortou-se a frase”); b) Use-se o pronome do caso reto, de
indiscutível correção em tais casos, muito embora a muitos pareça
contrário à eufonia (“Cortou-se ela”); c) Elimine-se simplesmente o
pronome oblíquo, que é o ponto de discórdia no caso, mas isso apenas
quando tal é possível sem comprometimento do sentido do contexto
(“Cortou-se”); d) Transponha-se o exemplo para a voz passiva analítica,
situação essa em que errar é mais difícil (“Ela foi cortada”); e) Ponha-se
o verbo na primeira pessoa do plural, adotando-se uma forma
determinada, pessoal, com o que se elimina o se (“Cortamo-la”); f)
Empregue-se o verbo na voz ativa, na terceira pessoa do plural e sem
sujeito explícito (“Cortaram-na”).
Ver Cite-se-o – Está correto? (P. 184)

Cota ou Quota?
1. Para Domingos Paschoal Cegalla, ambas as formas são corretas: cota e
quota; apenas – observa ele – “a primeira é mais usada que a segunda”
(1999, p. 91).
2. Consoante ensino adicional de Luciano Correia da Silva, usa-se quota ou
cota, “no sentido de parte, quinhão, porção determinada… ou
manifestação do advogado e, na prática, geralmente do promotor, nos
processos, bem como dos representantes do fisco” (1991, p. 112).
3. O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, órgão incumbido
oficialmente de determinar a existência dos vocábulos em nosso idioma,
além de sua grafia oficial, registra ambas as formas (ACADEMIA
BRASILEIRA DE LETRAS, 2009, p. 224 e 697) e, até a edição de 1999
(ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, p. 215 e 667), procedia à
remissão recíproca, em evidência de que as reputava formas sinônimas e
intercambiáveis.
4. É certo que alguns vislumbram a possibilidade de conferir a quota o
significado de determinada porção, de quinhão, deixando para cota a
acepção de nota, apontamento, ou manifestação de pequena extensão nos
autos de um processo.
5. Não há, todavia, respaldo científico para tal diferenciação, pois ambas
vêm de mesma palavra no latim (quota), sendo, em nosso idioma, quota
mais antiga e cota mais moderna, ocorrendo com esta última o mesmo
que se deu com a palavra quatorze, que hoje convive com catorze, em
que a eliminação de pronúncia do u fez surgir a grafia do c.
6. Em corroboração, basta que se observe que o Dicionário da
Melhoramentos registra cota e lhe confere ambos os significados, e, ao
depois, simplesmente remete quota ao primeiro vocábulo mencionado;
adicionalmente, até mesmo fala em “fração do capital de uma sociedade
por cotas de responsabilidade limitada” (Encyclopaedia Britannica do
Brasil, 1995, p. 500 e 1.445).
7. Maria Helena Diniz (1998, p. 910), de igual modo, os reputa vocábulos
intercambiáveis, independentemente do sentido no contexto e vê em cota
ao menos duas acepções importantes: a) em Direito Civil, significa “o
quinhão de cada condômino”, ou a “porção da herança cabível a cada
herdeiro”, ou a “fração de bens de que o testador pode livremente dispor
por ato de última vontade”, ou, ainda, a “quantia com que cada devedor
se compromete numa obrigação”, ou, também, a “parcela com que se
contribui para a consecução de determinado fim”, ou mesmo a “parte
ideal de um todo”; b) em Direito Processual Civil, seu significado mais
conhecido seria a “anotação ou apontamento feito por advogado no
ventre dos autos, prestando esclarecimentos ou dando informações ao
juiz ou ao adversário, pois por lei é defeso neles lançar cotas marginais
ou interlineares”.
8. Em outra parte de sua obra, ao discorrer sobre quota, a mesma autora
(DINIZ, 1998, p. 24) reitera a possibilidade de ambos os significados, a
saber, porção determinada ou quinhão, e nota concisa no corpo dos
autos.
9. O Código Comercial de 1850 prefere quotas nos arts. 289, 292 e 302.
10. O Decreto-lei 3.708, de 10/1/19, que regulou a “constituição de
sociedades por quotas de responsabilidade limitada”, manteve a grafia
da epígrafe nos arts. 1º, 3º, 4º, 5º, 6º, 7º, 8º, 9º, 14 e 17.
11. Nessa mesma acepção, já a Lei de Falências, pelo Decreto-lei 7.661, de
21/6/45, preferiu outra escrita, ao referir, no art. 6º, “sociedade por
cotas”.
12. E, no sentido de nota concisa ou manifestação, o art. 161 do Código de
Processo Civil determina ser “defeso lançar, nos autos, cotas marginais
ou interlineares”.
13. Vejam-se exemplos do emprego de quota em dispositivos de lei: a)
“Quando o pagamento for em quotas periódicas, a quitação da última
estabelece, até prova em contrário, a presunção de estarem solvidas as
anteriores” (CC, art. 322); b) “Salvo estipulação em contrário, o sócio
participa dos lucros e das perdas, na proporção das respectivas
quotas, mas aquele, cuja contribuição consiste em serviços, somente
participa dos lucros na proporção da média do valor das quotas” (CC,
art. 1.007); c) “Quando, por lei ou pelo contrato social, competir aos
sócios decidir sobre os negócios da sociedade, as deliberações serão
tomadas por maioria de votos, contados segundo o valor das quotas de
cada um” (CC, art. 1.010, caput); d) “Na sociedade limitada, a
responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas quotas, mas
todos respondem solidariamente pela integralização do capital social”
(CC, art. 1.052); e) “O capital social divide-se em quotas, iguais ou
desiguais, cabendo uma ou diversas a cada sócio” (CC, art. 1.055,
caput); f) “Ressalvado o disposto em lei especial, integralizadas as
quotas, pode ser o capital aumentado, com a correspondente
modificação do contrato” (CC, art. 1.081, caput); g) “A penhora
observará, preferencialmente, a seguinte ordem: … ‘VI – ações e
quotas de sociedades empresárias’” (CPC/1973, art. 655, VI – em
redação conferida pela Lei 11.382/2006).
14. E também se vejam exemplos do uso da palavra cotas em outros
dispositivos: a) “É defeso lançar, nos autos, cotas marginais ou
interlineares; o juiz mandará riscá-las, impondo a quem as escrever
multa correspondente à metade do salário mínimo vigente na sede do
juízo” (CPC/1973, art. 161); b) “Nos trabalhos de campo observar-se-
ão as seguintes regras: … VI – tomar-se-ão por aneróides ou por cotas
obtidas mediante levantamento taqueométrico as altitudes dos pontos
mais acidentados” (CPC/1973, art. 960, VI); c) “Não se aplica o
disposto no inciso IV caso o sócio remanescente, inclusive na hipótese
de concentração de todas as cotas da sociedade sob sua titularidade,
requeira no Registro Público de Empresas Mercantis a transformação
do registro da sociedade para empresário individual, observado, no
que couber, o disposto nos arts. 1.113 a 1.115 deste Código” (CC, art.
1.033, parágrafo único)

CPI: as CPI ou as CPIs?


1. Quando a abreviatura das palavras se dá pela utilização de suas iniciais,
tem-se uma sigla. Exs.: DASP (Departamento Administrativo do Serviço
Público), I.N.S.S. (Instituto Nacional de Seguridade Social).
2. E se sabe que, quanto ao uso ou não de ponto entre as letras que
resumem suas palavras integrantes, tanto se admite, na atualidade,
escrever CPI como C.P.I. E se anota que a moderna tendência à
simplificação faz com que mais e mais se dê preferência à primeira
grafia. Repita-se, porém, que ambas as formas estão corretas.
3. Quanto ao emprego de uma sigla no plural, parece integralmente
aceitável a lição de Napoleão Mendes de Almeida (1981, p. 298) de que
se pluralizam as siglas pelo acréscimo de um s minúsculo às letras já
integrantes delas: CEPs, CICs, R.Gs.
4. Desse entendimento também partilha Arnaldo Niskier, para quem “não
há motivos para não marcar o plural das siglas com um s minúsculo”
(1992, p. 111).
5. Regina Toledo Damião e Antonio Henriques também partilham do
mesmo entendimento de que, “com respeito ao plural das siglas, aceita-
se o uso do s (minúsculo) para efeito de pluralização: PMs, INPMs,
MPs” (1994, p. 245).
6. Tal uso de um s minúsculo ao final da sigla, no entendimento de
Edmundo Dantès Nascimento, “é uma solução gráfica sem aprovação de
convenção acerca do assunto, mas que resolve o caso” (1982, p. 208).
7. Quanto ao vocábulo especificamente considerado, vê-se com facilidade
que o plural de CPI é CPIs.

CPI ou C.P.I.?
Ver Abreviatura, Abreviação e Sigla – O que é e Como usa? (P. 55)

Crase antes de nomes de localidades


1. Um leitor indaga se está correto o emprego do acento indicador da crase
no seguinte exemplo: “Como dizem os antigos, não se vai à Franca,
sobe-se à Franca do Imperador.”
2. Ora, a indagação busca saber a respeito do uso de crase antes dos nomes
de localidades precedidos de a.
3. Nessas hipóteses, alguns aspectos devem ser analisados: a) Verifica-se,
de início, se a palavra que precede esse a exige a preposição a; b) Se essa
palavra precedente não exige tal preposição, não há crase; assim, por
exemplo, “Visitei a Bahia” (o verbo visitar é transitivo direto e não exige
complemento precedido de preposição – quem visita, visita algo ou
alguém); c) Se, porém, a palavra precedente exige a preposição a, deve-
se continuar o raciocínio: troca-se mentalmente a preposição da frase por
outra diferente (o que se consegue, muitas vezes, trocando o próprio
verbo, como ir por voltar); d) Se, operada essa troca, surge, na
combinação, um artigo feminino, então há crase no exemplo originário;
assim, diz-se “Vou à Bahia”, porque se fala “Volto da Bahia”; e) Se,
porém, feita a troca, não surge na combinação artigo algum, então não há
crase; assim, diz-se “Vou a Roma”, porque se fala “Volto de Roma”; f)
Diz-se, porém, “Vou à Roma dos césares”, porque se fala “Volto da
Roma dos césares”.
4. Em tais casos de nomes de localidades, simbolizando no verbo ir todos
aqueles que exigem construção com a preposição a, pode-se memorizar a
questão com a seguinte quadra: “Se vou a e volto da, / Nesse caso crase
há; / Se vou a e volto de, / Usar crase, para quê?”
5. De modo específico para os exemplos da consulta, a troca dos verbos dá
o seguinte resultado: “Volto de Franca” e “Volto da Franca do
Imperador”. Assim, a forma correta do exemplo será: “Como dizem os
antigos, não se vai a Franca, sobe-se à Franca do Imperador”.

Crase antes de pronomes


1. Crase tem por conceito a fusão de duas vogais idênticas: normalmente
um a (preposição) fundindo-se com outro a (com frequência um artigo),
o que, na grafia, se representa com um à (a com acento grave). Ex.: Fui
à entrega do título.
2. Para os casos mais corriqueiros de substantivos comuns, o mais fácil é
substituir mentalmente o substantivo feminino: a) se aparece ao diante
do masculino, então há crase no feminino; b) se não aparece ao no
masculino, então não há crase (nem seu acento indicativo) no feminino.
Exs.: a) “Fui à dentista” (porque “Fui ao dentista”); b) “Motor a
gasolina” (porque “Motor a óleo”).
3. No caso de pronomes de tratamento, vê-se com facilidade que eles não
são precedidos de artigo feminino. Ex.: “Vossa Excelência tem zelo pelos
seus eleitores”, e não “A Vossa Excelência tem zelo pelos seus eleitores”.
4. Exatamente porque não são precedidos de artigos femininos, é que se diz
que os pronomes de tratamento não admitem crase antes de si. Ex.:
“Dirijo-me a Vossa Excelência com todo o respeito”.
5. Nesse caso, ainda é oportuno observar que senhora, senhorita e dona são
pronomes de tratamento, mas, excepcionalmente, admitem artigo e, por
conseguinte, crase antes de si. Ex.: “Dirijo-me à senhora com todo o
respeito”.
6. Em resumo, quanto aos pronomes de tratamento: não há crase antes
deles, com exceção de senhora, senhorita e dona.
7. Quanto aos demais pronomes, o ensino da língua normalmente se faz
pelo fornecimento de uma lista daqueles antes dos quais há crase
obrigatória, outra lista da crase proibida e uma terceira lista da crase
facultativa.
8. Não vejo maior utilidade em um ensino desse modo, e prefiro
rememorar a regra básica de que o melhor é substituir um nome
feminino por outro masculino. Se, nessa substituição, aparecer ao no
masculino, há crase no feminino. Exs.: a) “Vou à cidade” (porque “Vou
ao campo”); b) “Ficaram junto à porta” (porque “Ficaram junto ao
portão”); c) “Encontrei a menina” (porque “Encontrei o menino”); d) “A
paz une as nações” (porque “O amor une os povos”).
9. Assim, no que tange à questão de crase antes de pronomes, em vez de
decorar quais deles admitem crase antes de si e quais os que a rejeitam,
melhor é aplicar essa regra geral de crase para antes de substantivos
comuns femininos e alterar mentalmente a estrutura da oração, de modo
que o pronome se torne masculino.
10. Nesses casos, se aparece ao no masculino, então há crase no feminino;
se não aparece ao no masculino, não há crase no feminino: a) “Fui à tal
cartomante” (isso porque se diz “Fui ao tal cartomante”); b) “Dei o
livro a esta menina” (isso porque se diz “Dei o livro a este menino”); c)
“Referi-me a/à minha amiga” (isso porque se diz “Referi-me a/ao meu
amigo”).
11. Em síntese: se é possível resolver a questão sem complicar com teorias
mirabolantes e listas enfadonhas, é muito melhor: basta raciocinar.

Crase antes de pronomes de tratamento


1. Pronome de tratamento, também chamado pronome de reverência, é a
maneira formal para se dirigir com respeito a determinadas pessoas no
trato cortês e cerimonioso. Ex.: a) “Sua Excelência, o presidente do
Tribunal de Justiça, honrou-nos com sua visita”; b) “Vossa Excelência,
senhor Deputado, é muito corajoso”.
2. Pela leitura atenta dos exemplos dados e pela verificação acurada de
outros casos, conclui-se com facilidade que normalmente não se
emprega artigo antes de um pronome de tratamento.
3. Ora, como crase significa a fusão de duas vogais idênticas, um segundo
a que seria necessário para sua ocorrência antes de um pronome de
tratamento fatalmente haveria de ser um artigo.
4. E, como o pronome de tratamento normalmente repele o uso do artigo,
fixa-se a regra de que não se usa o acento indicador da existência de
crase antes de pronome de tratamento. Exs.: a) “Dirijo-me
respeitosamente a Vossa Reverendíssima nesta oportunidade”; b)
“Entregamos um cartão de prata a Sua Excelência o prefeito, em
agradecimento por seus esforços em prol de nossa causa”.
5. Esclarece-se que essa regra de que não se usa acento indicador da crase
antes de pronome de tratamento não é estabelecida de modo genérico e
teórico, mas parte da verificação do caso concreto e da consequente
averiguação da inexistência de fusão de vogais idênticas.
6. Atentando de modo específico ao que se dá na linguagem forense, assim
ensina Eliasar Rosa: “Erro palmar e imperdoável é o de pôr sinal
indicativo de crase nesse a que antecede V. Exa.” (1993, p. 33).
7. Acresce dizer que, como exceções, há três pronomes de tratamento que
admitem artigo – e, por consequência, crase – antes de si: senhora,
senhorita e dona. Exs.: a) “Dirigiu-se à senhora Fontes com todo o
respeito”; b) “Meus respeitos à senhorita Fontes”; c) “Meus respeitos à
dona Valquíria Fontes”.

Crase antes de pronomes possessivos


1. A regra primeira e básica de emprego de crase antes de um substantivo
comum é substituir mentalmente o substantivo feminino por um
correspondente masculino: se, no masculino, aparece ao ou aos, há crase
no feminino. Exs.: a) “Vou à cidade” (porque “Vou ao bairro”); b)
“Encontrei a menina” (porque “Encontrei o menino”).
2. Ora, no que concerne à questão da crase antes dos pronomes
possessivos, em vez de decorar se é caso de admissão de crase ou não, o
melhor é aplicar essa regra geral de crase e substituir mentalmente por
um pronome possessivo masculino: se, no masculino, aparecer ao ou
aos, então há crase no feminino.
3. Assim, veja-se o seguinte exemplo: “Dei férias a minha equipe”, em que
equipe é um substantivo feminino. Quando se opera a substituição por
um masculino, vê-se dupla possibilidade de expressão: a) “Dei férias a
meu grupo”; b) “Dei férias ao meu grupo”.
4. Com esse exemplo bem prático, vê-se que é facultativo o emprego do
artigo antes do pronome possessivo: a) “Quanto a seu plural…”
(correto); b) “Quanto ao seu plural…” (correto). Uma lembrança dos
exemplos mais corriqueiros de linguagem reforça essa realidade: a)
“Meu amigo virá para a grande solenidade” (correto); b) “O meu amigo
virá para a grande solenidade” (correto); c) “Encontrei meu exemplar
autografado do Código da Vida de Saulo Ramos” (correto); d)
“Encontrei o meu exemplar autografado do Código da Vida de Saulo
Ramos” (correto); e) “Dei um exemplar do Código da Vida a meu
amigo” (correto); f) “Dei um exemplar do Código da Vida ao meu
amigo” (correto).
5. Ora, se, no masculino, posso dizer a ou ao, então forçosamente se
conclui que a crase é facultativa no feminino. Exs.: a) “Dei férias a
minha equipe” (correto); b) “Dei férias à minha equipe” (correto).
6. Confira-se a correspondência dos exemplos dados no feminino: a)
“Minha amiga virá para a grande solenidade”; b) “A minha amiga virá
para a grande solenidade”; c) “Encontrei minha cópia…”; d) “Encontrei
a minha cópia…”; e) “Dei um exemplar do livro a minha amiga”; f)
“Dei um exemplar do livro à minha amiga”; g) “Quanto a sua forma…”;
h) “Quanto à sua forma…”.
7. Em síntese, é pelas razões apontadas que se costuma dizer que o acento
indicador da existência de crase é facultativo antes de pronomes
possessivos femininos.
8. Não se estabelece tal regra de modo genérico e teórico, mas parte ela da
verificação do caso concreto e da consequente averiguação de que o
próprio emprego do artigo é facultativo no caso em estudo.

Crase antes de pronomes relativos


1. Além das regras gerais de crase, das hipóteses de crase proibida e
daquelas em que se dá a crase obrigatória, de modo muito especial se
deve atentar a seu uso antes do pronome relativo.
2. Este, por seu próprio conceito, substitui ou acompanha um substantivo.
3. Ora, se o substantivo substituído ou acompanhado é masculino, tal
significa que o pronome que o substitui ou acompanha também é
masculino, e a crase, em tal hipótese, está liminarmente impossibilitada,
já que esta, por sua própria natureza, normalmente ocorre em presença
de nomes femininos, não de masculinos. Ex.: “O presidente a que
obedeço tem autoridade” (o pronome relativo que, no caso, está
substituindo o substantivo masculino presidente).
4. Se, porém, o substantivo substituído ou acompanhado é feminino, então
mentalmente, por haver a possibilidade teórica e genérica de crase,
procede- se, na prática, à sua substituição pelo masculino (o que também
torna masculino o pronome), em aplicação prática da primeira regra
básica segundo a qual, para saber se há crase antes de um substantivo
comum feminino, o melhor é substituir mentalmente, na frase, tal
substantivo feminino por um correspondente masculino.
5. Feita a operação do item anterior, se aparece ao antes do pronome
relativo masculino, então há crase antes do pronome relativo feminino.
Ex.: “A lei à qual obedeço está em vigor” (e isso porque se diz “O
ordenamento ao qual obedeço está em vigor”).
6. Se, porém, em tal hipótese, não aparece ao antes do pronome relativo
masculino, então não há crase antes do pronome relativo feminino. Ex.:
“A lei a que obedeço está em vigor” (e isso porque se diz “O
ordenamento a que obedeço está em vigor”).

Crase antes de siglas


1. Um leitor pergunta de modo objetivo: é correto utilizar crase antes de
uma sigla?
2. Veja-se, num primeiro aspecto, que uma sigla é, em suma, a abreviatura
das palavras pela utilização de suas iniciais: TJ (Tribunal de Justiça),
CLT (Consolidação das Leis do Trabalho).
3. Veja-se ainda que, conceitualmente, crase é a fusão de duas vogais
idênticas, e seu aspecto mais comum e mais importante é o caso de fusão
da preposição a com o artigo feminino a. E se representa a crase pelo
acento grave (à).
4. Formulamos alguns exemplos para responder à indagação, sem
empregar, de início, o sinal indicativo da crase, ainda que eventualmente
necessário: a) “Ele escreveu a Petrobras”; b) “Ele dirigiu-se a OAB”; c)
“Ele foi a CPI”.
5. Na prática, para responder à indagação do caso – se há crase antes de
uma sigla – deve-se ver se, em última análise, ocorre, no caso concreto, a
fusão referida: preposição + artigo.
6. Num primeiro aspecto, “quem escreve, escreve a; quem se dirige, dirige-
se a; quem vai, vai a”. Ou seja: todos os verbos dos exemplos exigem a
preposição a.
7. Num segundo aspecto, veja-se que as siglas, de um modo geral, não
repelem um artigo antes de si, e este haverá de estar presente na sigla
sempre que também vier a ser empregado na expressão toda
representada pela sigla. Vejam-se siglas do masculino: a) “Ele escreveu
ao I.N.S.S. (Instituto Nacional do Seguro Social)”; b) “Ele dirigiu-se ao
STJ (Superior Tribunal de Justiça)”; c) “Ele foi ao STF (Supremo
Tribunal Federal)”.
8. A par dessa observação, veja-se que as siglas dos exemplos dados
inicialmente são do feminino e admitem artigo feminino antes de si,
como patenteia a seguinte frase: a) “Estive na Petrobras, na OAB e na
CPI”.
9. Verificada a circunstância já posta de que os verbos dos exemplos dados
exigem a preposição a e reiterado o aspecto de que as siglas
consideradas admitem artigo feminino antes de si, só se pode chegar aos
seguintes resultados: a) “Ele escreveu à Petrobras”; b) “Ele dirigiu-se à
OAB”; c) “Ele foi à CPI”.
10. E, respondendo especificamente à indagação do leitor: nada impede
que se venha a usar a crase antes de uma sigla, desde que preenchidos
os requisitos normais para seu emprego.

Crase antes de substantivos comuns


1. É princípio gramatical assente que crase é a fusão de duas vogais
idênticas.
2. Seu aspecto mais importante é o caso de fusão da preposição a com os
artigos femininos e os pronomes demonstrativos a ou as (resultando à e
às). Aliás, o acento grave tem hoje por função única em Português
representar a existência da crase.
3. Duas regras básicas são de grande utilidade.
4. Por primeiro, quando se trata de saber se ela existe antes de um
substantivo comum feminino, o melhor é substituir mentalmente, na
frase, tal substantivo feminino por um correspondente masculino; se,
com essa substituição, aparece ao ou aos no masculino, então há crase
no feminino.
5. Assim, diz-se “Vou à cidade”, porque, no masculino, se fala “Vou ao
campo”.
6. De semelhante modo, “Ficaram junto à porta”, porque “Ficaram junto
ao portão”.
7. Diz-se, todavia, “Encontrei a menina”, porque se fala “Encontrei o
menino”; e, também, “A paz une as nações”, porque “A paz une os
povos”.
8. Quanto se busca saber se há crase em uma expressão solta, como, por
exemplo, “… à presença de V. Exa…”, não há como saber se há ou não
crase, porque esta depende de haver uma palavra anterior que exija a
preposição a. Por isso, vamos formular dois exemplos com a referida
expressão já precedida de outra palavra, ora com crase, ora sem crase,
bastando conferir o procedimento do a questionado quando se procede à
substituição da palavra feminina que se lhe segue por um substantivo
masculino: a) “Venho à presença de V. Exa…”, porque “Venho ao
convívio…”; b) “Aprecio a presença de V. Exa…”, porque “Aprecio o
convívio…”
9. Uma observação final: crase não é o nome do acento, e sim o fenômeno
linguístico de encontro de duas vogais idênticas. O nome do acento
empregado em tal caso é grave, o qual apenas existe hoje em Português
para indicar existência de crase. Tecnicamente, portanto, deve-se dizer
que se usa o acento grave para indicar a existência da crase. Por
facilidade e simplificação, todavia, costuma-se dizer que se usa a crase.
E não há mal nenhum em dizer dessa forma, desde que se saiba o que
efetivamente se está dizendo.

Crase antes de substantivos femininos


1. A indagação feita busca saber qual a forma correta: a) “Congratulações
à atual patronagem”; b) “Congratulações a atual patronagem”. Ou seja:
com crase ou sem crase?
2. A regra primeira e básica para o emprego de crase antes de um
substantivo comum do feminino é substituí-lo mentalmente por um
correspondente masculino: se, no masculino, aparece ao ou aos, há crase
no feminino. Exs.: a) “Vou à cidade” (porque Vou ao bairro); b)
“Encontrei a menina” (porque Encontrei o menino).
3. Especial atenção deve ser dada à situação em que o substantivo pode
estar sendo empregado em caráter genérico: “A única vaga disponível
não se destina a mulher”. Observe que, nesse caso, se substituirmos
mulher por homem, a construção ficaria: “A única vaga disponível não
se destina a homem”. No caso em questão, os substantivos estão sendo
empregados em caráter genérico, indefinido, referindo-se ao gênero
feminino ou masculino em sua totalidade. Em casos semelhantes a esse,
não haverá crase.
4. Em situação similar à anterior, o a está diante de uma palavra feminina
no plural, como em “O cronograma somente foi entregue a costureiras”.
Se empregarmos o mesmo método da substituição por uma palavra
masculina, teremos: “O cronograma somente foi entregue a costureiros”.
Nesse caso, o a diante do substantivo no plural é apenas uma preposição,
não havendo o fenômeno da crase, que, mais comumente, é a fusão de
preposição solicitada pelo verbo com o artigo feminino solicitado pelo
substantivo. No exemplo dado, se quiséssemos empregar o artigo, o que
é possível, ele deveria estar no plural, e aí sim haveria a ocorrência da
crase: “O cronograma somente foi entregue às costureiras”, pois,
fazendo-se a transposição com a palavra masculina, a frase ficaria: “O
cronograma somente foi entregue aos costureiros”.
5. Um outro cuidado é não confundir pronome com substantivo. Em
“Todos devemos gratidão a ela”, não é correto fazer a substituição do
pronome feminino por um substantivo masculino (Todos devemos
gratidão ao chefe). Isso levaria à errônea conclusão de que há crase em
tal situação, o que de fato não ocorre. O que se pode fazer é substituir o
pronome feminino por um pronome masculino: “Todos devemos
gratidão a ele”. Desse modo, percebe-se que não há a ocorrência da
crase.
6. Com a aplicação dessa regra bem simples, vê-se, num primeiro
momento, que a expressão feminina “atual Patronagem” pode ser
substituída por uma correspondente masculina “atual patrono”.
7. E, quando assim se procede, vê-se que a dicção da expressão vem fácil:
“Congratulações ao atual patrono”.
8. Se, no masculino, aparece ao ou aos, por consequência há crase no
feminino: “Congratulações à atual patronagem”.

Crase e palavras ocultas


1. Um leitor parte do seguinte exemplo, que reputa correto: “A sua prova é
curiosamente igual à prova do aluno Roberto”. Sua dúvida é se a crase
continua, quando se suprime a segunda palavra prova nas seguintes
frases: a) “A sua prova é curiosamente igual à do aluno Roberto”; ou b)
“A sua prova é curiosamente igual a do aluno Roberto”?
2. Uma observação técnica de grande importância: a) quando a palavra
prova vem expressa, se houver crase, ela significará a fusão de uma
preposição a e de um artigo a; b) quando, porém, se omite a palavra
prova, se houver a referida fusão, será ela entre uma preposição e uma
palavra que tomou o lugar de um nome, a saber, um pronome.
3. Como tal explicação teórica não muda em nada a questão prática que
está sendo dirimida, importa lembrar que a primeira, geral e importante
regra de crase para nomes comuns do feminino manda substituir, no
raciocínio com o caso concreto, o nome feminino, antes do qual se quer
saber se existe ou não a crase, por um correspondente masculino (não
necessariamente um sinônimo, mas um vocábulo que mantenha a mesma
estrutura sintática).
4. E se, com a substituição, aparece ao no masculino, então há crase no
feminino; se não aparece ao no masculino, não há crase no feminino.
5. Veja-se o raciocínio que o próprio consulente deve ter seguido com o
exemplo, quando aparece o vocábulo prova: a) “A sua prova é
curiosamente igual à prova do aluno Roberto” (feminino); b) “O seu
exame é curiosamente igual ao exame do aluno Roberto” (masculino).
6. Com essas considerações como premissas, passa-se a raciocinar com o
exemplo em que o leitor suprimiu o vocábulo prova: a) tal palavra foi
suprimida na frase, mas ela continua claramente existindo na mente e no
raciocínio do leitor; b) se o leitor estivesse pensando não no primeiro,
mas no segundo exemplo, a frase dele, sem dificuldade alguma, seria “O
seu exame é curiosamente igual ao do aluno Roberto”; c) a regra não
muda, e, assim, se, no masculino aparece ao, a crase é de rigor no
feminino, esteja oculta ou aparente a palavra que deve ser levada em
consideração; d) o correto, então, no caso da consulta, é “A sua prova é
curiosamente igual à do aluno Roberto”.

Crase inexistente
1. Aires da Mata Machado Filho já teve oportunidade de afirmar que “a
crase é casca de banana em que tem escorregado muito cavalheiro
ilustre” (s/d, p. 10).
2. Essa advertência deve-nos estimular à busca das reais e efetivas regras
para seu uso: pela ordem, crase, crase proibida, crase obrigatória, crase
antes de pronomes, crase antes de pronomes relativos.
3. Com tais conceitos básicos, ver-se-á com clareza o equívoco existente no
dispositivo legal seguinte: “Os honorários periciais serão pagos em
valor fixo, estabelecido pelo juiz, atendida à complexidade do trabalho
desenvolvido” (art. 19, § 2º, da Lei Complementar 76, de 6/7/93, que
dispôs sobre desapropriação).
4. Ora, a aplicação da regra mais comum de crase – substituir mentalmente.
O nome feminino por um correspondente masculino – evidencia a
inexistência de preposição, e, por conseguinte, a impossibilidade de
crase no caso concreto. Assim: atendido o volume do trabalho; e, por
conseguinte, atendida a complexidade.
5. Veja-se este outro dispositivo: “Qualquer das Altas Partes Contratantes
reserva-se a faculdade de limitar à obrigação assumida, em virtude do
art. 1º da Convenção, exclusivamente às disposições relativas às letras,
não introduzindo no seu território as disposições sobre notas
promissórias constantes do Título II da Lei Uniforme”.
6. Ora, no que tange à regência verbal, o verbo limitar, no sentido do texto,
corresponde à construção limitar uma coisa a outra coisa. Vale dizer, em
correção do texto: … reserva-se a faculdade de limitar a obrigação
assumida… às disposições relativas às letras.

Crase – Nomes comuns do feminino


1. Um leitor quer saber, em síntese, se existe crase antes da palavra novela
no exemplo seguinte: “Ela se referiu a novela mexicana”. Outra leitora
pergunta se deve ou não haver crase no seguinte exemplo: “… no que
tange a necessidade da prorrogação do contrato em tela…” E um
terceiro leitor quer saber se há crase no seguinte exemplo: “Nossa
solidariedade a íntegra e competente juíza…”.
2. Ora, a primeira, geral e importante regra de crase para nomes comuns do
feminino manda substituir, no raciocínio para o caso concreto, o nome
feminino, antes do qual se quer saber se existe ou não a crase, por um
correspondente masculino (não necessariamente um sinônimo, mas um
vocábulo que mantenha a mesma estrutura sintática).
3. Se, com a substituição, aparece ao no masculino, então há crase no
feminino; se não aparece ao, não há crase no feminino.
4. Importa observar, antes que se faça alguma confusão, que, nesse caso,
não se muda mais nada na frase, sobretudo o verbo antecedente, já que,
mudando o verbo, pode-se mudar a regência e a própria preposição por
ele exigida.
5. Feita essa observação, veja-se como ficam os exemplos, já com a
substituição, nos casos trazidos pelos leitores: a) “Ela se referiu a novela
mexicana” (feminino); b) “Ela se referiu ao dramalhão mexicano”
(masculino); c) “… no que tange a necessidade da prorrogação do
contrato em tela…” (feminino); d) “… no que tange ao deferimento da
prorrogação do contrato em tela…” (masculino); e) “Nossa
solidariedade a íntegra e competente juíza…” (feminino); f) “Nossa
solidariedade ao íntegro e competente juiz…” (masculino).
6. E se vejam as correções: a) com a substituição por um correspondente
masculino, apareceu ao em ambos os casos; b) então há crase no
feminino também em ambos os casos; c) “Ela se referiu a novela
mexicana” (errado); d) “Ela se referiu à novela mexicana” (correto); e)
“… no que tange a necessidade da prorrogação do contrato em tela…”
(errado); f) “… no que tange à necessidade da prorrogação do contrato
em tela…” (correto); g) “Nossa solidariedade a íntegra e competente
juíza…” (errado); h) “Nossa solidariedade à íntegra e competente
juíza…” (feminino).

Crase obrigatória
1. Mesmo sem se estudar a crase quanto a suas regras gerais, em alguns
casos, desde logo, é sabido que ela deve ser utilizada.
2. Especificam-se, a seguir, quais são tais casos em que se emprega
obrigatoriamente a crase, sem quaisquer outros questionamentos: a) Se
há elipse da expressão moda ou moda de. Ex.: “Ele usava um penteado à
Castro Alves”. b) Nas locuções adverbiais, prepositivas ou conjuntivas,
formadas por palavras femininas (equivalem a advérbios, preposições ou
conjunções). Exs.: i) “Ele saiu às pressas” (locução adverbial); ii) “Ele
venceu à custa de muito esforço” (locução prepositiva); iii) “Ele
aprendia à medida que estudava” (locução conjuntiva).
3. Atente-se a que, do mesmo modo que, em alguns exemplos, é
obrigatória, também há casos de crase proibida.
Ver Crase antes de pronomes (P. 234) e Crase antes de pronomes relativos
(P. 236).

Crase para evitar ambiguidade


1. Alguns leitores indagam qual a forma correta: venda à vista ou venda a
vista. Outros até mesmo raciocinam com a substituição por um
masculino para defender a inexistência de crase: venda a prazo. E
concluem: se não aparece ao no masculino, não há crase no feminino.
2. Ora, normalmente, diz-se haver crase quando se fundem duas vogais
idênticas. Nos casos mais comuns, um a (preposição) se encontra com
outro a (artigo, pronome ou o início do pronome demonstrativo aquele,
aquela, etc.). Seu símbolo é o acento grave. Exs.: a) “Vou à cidade”
(preposição + artigo); b) “Esta situação é semelhante à anterior”
(preposição + pronome); c) “Dediquei-me àquela tarefa” (preposição +
início do pronome aquele ou similar).
3. Vale a pena esclarecer: o acento não é a crase, mas apenas o indicador de
que ali ocorreu esse fenômeno de encontro de duas vogais idênticas. Por
isso, o usuário não emprega a crase, mas o acento que representa sua
ocorrência. Por facilidade, todavia, costuma-se dizer que se “usa a
crase”, e não que se “usa o acento indicador de ocorrência do fenômeno
da crase”, embora tal seja tecnicamente o que ocorre.
4. No caso da consulta, todavia, é oportuno dizer que não se usa a crase por
motivos técnicos, e seu acento indicador não reflete a fusão de vogais
idênticas, mas ele é utilizado apenas para evitar a ambiguidade, a
duplicidade de sentido.
5. Exatamente por essa razão é que assim se escreve: a) “Matar à fome”
(deixar sem comer) para diferenciar de “Matar a fome” (dar de comer);
b) “Receber à bala” (receber atirando) para diferenciar de “Receber a
bala” (ganhar guloseima); c) “Pintar à mão” (pintar com a mão) para
diferenciar de “Pintar a mão” (passar tinta ou esmalte na mão); d)
“Cheirar à gasolina” (exalar o cheiro de gasolina) para diferenciar de
“Cheirar a gasolina” (aspirar o cheiro da gasolina).
6. Em todos esses casos, uma análise técnica demonstraria a inexistência do
fenômeno da crase, e a justificativa para seu emprego reside
exclusivamente no argumento de afastar a ambiguidade, a duplicidade de
sentido.
7. É também desse rol o exemplo “Venda à vista” (venda em parcelas), em
que também se dá a inexistência de motivos técnicos para crase, e basta
a substituição por um substantivo masculino para verificar essa
realidade: “Venda a prazo” (e não “Venda ao prazo”). Mas, analisando
melhor o exemplo “Venda a vista”, vê-se como possível a ocorrência de
ambiguidade, por se poder entender vista como substantivo e alvo da
própria venda (imagine-se a hipótese de alguém vendendo a própria
córnea).
8. Em outras palavras: é de fácil percepção a possibilidade de duplo sentido
na expressão trazida pela consulta. Daí a justificativa para uso da crase,
que – repita-se – não é empregada por motivos de técnica e de real
existência de fusão de duas vogais idênticas, mas apenas e tão somente
para evitar ambiguidade.

Crase proibida
1. Mesmo sem necessidade de estudo das regras gerais de crase, em alguns
casos, por seu próprio conceito e substância, vê-se que impossível é sua
ocorrência.
2. Alinham-se, assim, os casos em que a crase é proibida, mesmo sem
quaisquer outros questionamentos: a) Antes de nomes masculinos. Ex.:
“Andei a cavalo”. b) Antes de femininos genéricos. Ex.: “Jamais vamos
a festas pomposas” [Geralmente, nesse caso, ocorre um a (sem s)
precedendo um nome feminino no plural]. c) Antes de verbos. Ex.: “Ela
começou a chorar”. d) Em expressões formadas por palavras repetidas.
Ex.: “Ele estava face a face com seu desafeto”. e) Antes de pronomes de
tratamento. Ex.: “Dirijo-me respeitosamente a Vossa Excelência”
(Observa-se que senhora, senhorita e dona são pronomes de tratamento,
mas constituem exceção e admitem crase antes de si).
3. Do mesmo modo que, em algumas hipóteses é proibida, também há
casos de crase obrigatória.
Ver Crase antes de pronomes (P. 234) e Crase antes de pronomes relativos
(P. 236).

Crase – Regras gerais


1. É a fusão de duas vogais idênticas.
2. Seu aspecto mais importante é o caso de fusão da preposição a com os
artigos femininos e pronomes demonstrativos a ou as (resultando à e às).
E o acento grave tem hoje por função única em Português representar a
existência da crase.
3. Duas regras básicas são de grande utilidade.
4. Por primeiro, quando se trata de saber se ela existe antes de um
substantivo comum feminino, o melhor é substituir mentalmente, na
frase, tal substantivo feminino por um correspondente masculino; se,
com essa substituição, aparece ao ou aos no masculino, há crase no
feminino.
5. Assim, diz-se “Vou à cidade”, porque, no masculino, se fala “Vou ao
campo”.
6. De semelhante modo, “Ficaram junto à porta”, porque “Ficaram junto
ao portão”.
7. Diz-se, todavia, “Encontrei a menina”, porque se fala “Encontrei o
menino”; e, também, “A paz une as nações”, porque “A paz une os
povos”.
8. Uma segunda regra geral para utilização da crase concerne aos nomes
próprios de localidades.
9. Nessas hipóteses, quando um nome de localidade vem precedido de um
a, alguns aspectos devem ser analisados: a) Verifica-se, de início, se a
palavra que precede esse a exige a preposição a; b) Se essa palavra
precedente não exige tal preposição, não há crase; assim, por exemplo,
“Visitei a Bahia” (o verbo visitar é transitivo direto e não exige
complemento precedido de preposição – quem visita, visita algo ou
alguém); c) Se, porém, a palavra precedente exige a preposição a, deve-
se continuar o raciocínio, trocando-se mentalmente a preposição da frase
por outra diferente (o que se consegue, muitas vezes, trocando o próprio
verbo, como ir por voltar); d) Se, operada essa troca, surge, na
combinação, um artigo feminino, então há crase no exemplo originário;
assim, diz-se “Vou à Bahia”, porque se fala “Volto da Bahia”; e) Se,
porém, feita a troca, não surge, na combinação, artigo algum, então não
há crase; assim, diz-se “Vou a Roma”, porque se fala “Volto de Roma”.
10. Em tais casos de nomes de localidades, simbolizando no verbo ir todos
aqueles que exigem construção com a preposição a, pode-se memorizar
a questão com a seguinte quadra: “Se vou a e volto da, / Nesse caso
crase há; / Se vou a e volto de, / Usar crase, para quê?”.
11. Além dessas regras gerais, também há casos de crase obrigatória e
outros de crase proibida.
Ver também Crase antes de pronomes (P. 234), Crase antes de pronomes
relativos (P. 236), Crase inexistente (P. 238) e Distância (P. 291).

Crêem ou Creem?
1. Antes da recente reforma, os verbos crer, dar, ler e ver (e seus
derivados, como descrer, redar, tresler e antever) tinham, na primeira
letra do encontro ee, um acento circunflexo: crêem, dêem, lêem, vêem.
2. Agora, o Acordo Ortográfico passou a determinar: “Não se emprega o
acento circunflexo nas terceiras pessoas do plural do presente do
indicativo ou do subjuntivo dos verbos crer, dar, ler, ver e seus
derivados”.
3. Desse modo, as formas corretas passaram a ser creem, deem, leem e
veem.

Creio-o apto – Existe?


1. É expressão tão correta quanto “Creio-o como apto”.
2. É, porém, errada a construção “Creio-o como sendo apto”.
Ver Como sendo – Está correto? (P. 198) e Crer – Conjugação e Regência
verbal (P. 241).

Crenta ou Crente?
1. Um leitor indaga se, ao se permitir usar o vocábulo presidenta como
feminino de presidente, não se estaria criando uma regra geral, pela qual
também se poderiam empregar outros femininos como doenta, crenta e
ausenta.
2. Como regra, seguindo a mesma estruturação do latim, adjetivos
terminados em nte, ainda quando apresentam aparência substantivada,
têm uma mesma forma para o masculino e para o feminino, alterando-se
apenas o artigo que os antecede: o amante, a amante, o constituinte, a
constituinte, o doente, a doente, o estudante, a estudante, o ouvinte, a
ouvinte.
3. É tecnicamente o que se denomina comum de dois ou comum de dois
gêneros.
4. Para alguns desses vocábulos, contudo, tem-se admitido forma própria
terminada em a para o feminino: almiranta, infanta, presidenta.
5. Por um lado, pode-se dizer que essa tendência de começarem a ter
alguns vocábulos um feminino próprio em enta tende a acentuar-se,
sobretudo como resultado da inserção mais e mais intensa da mulher no
mercado de trabalho fora do lar, do que também resulta a criação de
vocábulos mais apropriados para indicar a profissão.
6. Dizer, contudo, que alguns vocábulos aceitam um feminino próprio em
enta não significa fixar uma nova regra geral, a ponto de, com base nela,
querer flexionar indistintamente os demais adjetivos e substantivos com
mesma terminação, como, por exemplo, adolescenta, adquirenta,
agenta, anuenta, ascendenta, cedenta, consulenta, contraenta,
dependenta, emitenta, escreventa, exequenta, gerenta, opoenta, pacienta,
pretendenta, promoventa, remetenta, requerenta, tenenta. Afirme-se,
para não haver dúvidas: tais femininos simplesmente não existem.
7. O que se tem a dizer nesse aspecto é que, nos casos de dúvida acerca
desses femininos, a solução é consultar o Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa, que é uma espécie de dicionário que lista as palavras
reconhecidas oficialmente como pertencentes à língua portuguesa, bem
como lhes fornece a grafia oficial e, às vezes, a variação em gênero e
número.
8. Também conhecido pela sigla VOLP, é organizado e publicado pela
Academia Brasileira de Letras, a qual tem a delegação oficial e a
responsabilidade legal de editá-lo, em cumprimento à Lei Eduardo
Ramos, de n. 726, de 8/12/1900.
9. Pois bem. Em sua quinta edição, de 2009, a primeira após o Acordo
Ortográfico, o VOLP registra, de modo expresso, almiranta, infanta e
presidenta (ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, p. 41, 456 e
674), mas não as demais acima referidas.
10. Com isso, é importante ressaltar: quando se diz que alguns dos nomes
em ente admitem no feminino a terminação enta, tal afirmação se
baseia no fato de que o VOLP registra essas formas. Por outro lado,
quando se nega existência a outras formas do rol acima, isso quer dizer
que o VOLP não as registra, e, por isso, elas não existem oficialmente
como vocábulos do idioma.
11. Como a língua é dinâmica (e o VOLP procura registrar e atestar essa
evolução linguística), não é impossível que o mencionado rol venha a
ampliar-se no futuro. A realidade presente, todavia, é a da aceitação
apenas da restrita relação referida, integrada por verdadeiras exceções
de vocábulos que podem formar o feminino em nta.
Ver Parenta ou Parente? (P. 550) e Presidenta ou A Presidente? (P. 596)

Crer – Conjugação e Regência verbal


1. Esse vocábulo apresenta problemas de conjugação verbal em diversos
tempos, até por apresentar sons não tão agradáveis ao ouvido e que
podem gerar confusões com outros verbos: creio, crês, crê, cremos,
credes, creem (presente do indicativo); creia, creias, creia, creiamos,
creiais, creiam (presente do subjuntivo); cri, creste, creu, cremos,
crestes, creram (pretérito perfeito do indicativo); cria, crias, cria,
críamos, críeis, criam (pretérito imperfeito do indicativo); cresse,
cresses, cresse, crêssemos, crêsseis, cressem (imperfeito do subjuntivo).
2. Juntamente com dar, ler, ver e respectivos compostos, eram os únicos
verbos grafados com êe na terceira pessoa do plural, com acento
circunflexo no primeiro e. O recente Acordo Ortográfico, todavia, aboliu
tais acentos: creem, deem, leem, veem.
3. Serve de modelo para seu composto descrer.
4. Num segundo aspecto, quanto à regência verbal, é verbo transitivo, em
cuja companhia, com frequência, aparece um predicativo do objeto
direto.
5. Tal predicativo pode vir ou não precedido de como. Exs.: a) “Creio-o
apto para a função”; b) “Creio-o como apto para a função”.
6. Nesse campo, Aires da Mata Machado Filho (1969a, p. 616), mostra sua
preferência pela simples justaposição das palavras, sem emprego de
como, justificando com a elegância na fala.
7. Acresça-se também que é corriqueiro o emprego de frases como a que
segue: “Creio-o como sendo apto para a função”.
8. Muito embora seja de uso comum tal expressão nesses casos, é ela
errônea e desnecessária, devendo ser eliminada.
9. Far-se-á sua correção, na prática, por um dos modos anteriormente
referidos.
10. Idêntica há de ser a construção com outros verbos que, de modo
similar, exijam predicativo do objeto: a) “Muitos o consideram o maior
processualista (ou como o maior processualista) vivo do país”; b)
“Julguei-a incapaz (ou como incapaz) para a função”; c) “Reconheço-
a minha inspiradora (ou como minha inspiradora) daquela obra”; d)
“Reputo-o o maior processualista (ou como o maior processualista)
vivo do país”.
Ver Nomear (P. 497).

Crime prescrevido ou Crime prescrito?


Ver Prescrever – Como conjugar? (P. 595)

Cuida-se de processos ou Cuidam-se de processos?


1. Quando se tem uma frase como essa, em que um se vem acoplado a um
verbo, deve-se fazer uma diferenciação: a) num primeiro caso, a frase é
reversível, de modo que pode ser dita de outro modo (“Aluga-se uma
casa” pode mudar-se para “Uma casa é alugada”); b) num segundo
caso, a frase não é reversível (ninguém pensaria em mudar “Gosta-se de
um bom vinho” para “De um bom vinho é gostado”).
2. Para uma frase reversível, como “Aluga-se uma casa”, podem-se extrair
as seguintes conclusões: a) o exemplo está na voz passiva sintética; b) o
se é uma partícula apassivadora; c) o sujeito é uma casa.
3. Já para uma frase não reversível, como “Gosta-se de um bom vinho”, as
conclusões a serem extraídas são um pouco diversas: a) o exemplo não
está na voz passiva sintética; b) diversamente da frase com a qual é
comparada, o se não é partícula apassivadora, mas símbolo (ou índice)
de indeterminação do sujeito; c) seu sujeito não é “um bom vinho”, mas
é indeterminado; d) em orações como essa, seria impossível considerar
um bom vinho sujeito, porquanto, como bem lembra Sousa e Silva, “o
sujeito é membro regente, não pode vir regido de preposição” (1958, p.
264).
4. Feitas essas observações, acresce dizer, quanto ao primeiro dos
exemplos até agora considerados, que, a) se uma casa é o sujeito e b) se
a regra geral de concordância é que o verbo concorda com seu sujeito, c)
se o sujeito for levado para o plural, d) o verbo também irá para o plural:
“Alugam-se casas”.
5. Já para o segundo exemplo, o raciocínio que se deve trilhar é que, a) se o
sujeito é indeterminado, b) é forçoso concluir que de um bom vinho não
é o sujeito, c) e, assim, se tal expressão for levada para o plural, d) em
nada estará sendo alterado o sujeito, e) de modo que, por ausência de
alteração no sujeito, o verbo também não há de sofrer modificação
alguma: “Gosta-se de bons vinhos”.
6. De modo específico para a questão trazida pelo leitor, “Cuida-se de um
processo” não é frase reversível, de modo que se deve seguir o
raciocínio desenvolvido para o segundo dos modelos, resultando que seu
plural é “Cuida-se de processos”.
7. Observe-se que essa é uma construção muito comum na linguagem
forense, com expressões corriqueiras dessa natureza: a) “Trata-se de
embargos à execução”; b) “Proceda-se aos inventários”; c) “Obedeça-se
aos princípios legais”. Pela explanação feita, são inaceitáveis e
equivocadas as seguintes estruturas: i) “Tratam-se de embargos à
execução”; ii) “Procedam-se aos inventários”; iii) “Obedeçam-se aos
princípios legais”.
8. Reitere-se adicionalmente, para efeitos práticos, que, em tais casos, se o
termo que aparenta a função de sujeito vem com preposição (de
embargos, aos inventários, aos princípios), tal é indício cabal de que a
frase não é reversível, certo como é que o sujeito é função do caso reto, e
não pode ser preposicionado.

Cujo
1. Dentre algumas observações que podem ser de grande utilidade para o
correto emprego desse pronome, começa-se com a afirmação de que,
correspondendo ao genitivo latino, cujo contém em si, implícita, a
preposição de, indica a ideia de posse e equivale a do qual, jamais
significando, nos dias de hoje, o qual, a qual, motivo por que há de ter
sempre um antecedente e um consequente diversos. Exs.: a) “Esta é uma
lei, cujos dispositivos são de fácil compreensão” (correto); b) “Enfim
temos uma lei, cuja lei é de fácil compreensão” (errado).
2. Em outras palavras, como lembram Carlos Góis e Herbert Palhano,
“cujo corresponde a de que ou do qual. Ora, se encerra em si a
preposição de, não pode funcionar como sujeito, porque sujeito não pode
vir regido de preposição” (1963, p. 85).
3. Oportuno é o ensino de Alfredo Gomes (1924, p. 344-5): “Cujo encerra
em si a preposição de; equivale a do qual, da qual, etc.; mas pode vir
precedido da mesma preposição de, se esta vier regendo o consequente
relativo: ‘O menino de cuja inteligência falávamos, chama-se Henrique’
(isto é: da inteligência do qual falávamos etc.)”.
4. Atento a uma primeira aversão que já existe contra seu próprio emprego,
observa Domingos Paschoal Cegalla que “é erro grave usar que em vez
de cujo (a), como nas frases: ‘Fiquei feliz em rever a ponte que eu
acompanhara a construção, em criança’. ‘Difícil é abrir um cofre que
desconhecemos o segredo’. ‘O rio Amazonas, que a largura se estreita
em Óbidos, impressiona pelo volume e a força de suas águas’. O correto
é: ‘Fiquei feliz em rever a ponte cuja construção eu acompanhara, em
criança’. ‘Difícil é abrir um cofre cujo segredo desconhecemos’. ‘O rio
Amazonas, cuja largura se estreita em Óbidos, impressiona pelo volume
e a força de suas águas’” (1999, p. 96).
5. Reitere-se, por força das observações feitas, que não se pode empregar
tal pronome em lugar de o qual, devendo-se atentar, assim, ao
ensinamento de Gladstone Chaves de Melo: “Na língua atual, só se
emprega adjetivamente, seguido do substantivo, e tem valor possessivo”
(1970, p. 277).
6. Exatamente por não ser mero sinônimo de o qual, a qual, Eduardo
Carlos Pereira aponta como incorreto o seguinte exemplo de Filinto
Elísio: “Trata-se de batalha contra Filipe cuja nós perdemos”.
7. E tal gramático insiste (PEREIRA, 1924, p. 306) – com apoio em
ensinamento de Ernesto Carneiro Ribeiro e contra lição de Cândido de
Figueiredo – que, no referido trecho, o correto haveria de ser: “Trata-se
de batalha contra Filipe, a qual nós perdemos”.
8. Reitere-se que o fato de já conter em si a ideia da preposição de não
impede que se lhe anteponha tal preposição ou mesmo outra, a qual não
há de reger cujo, mas sim seu termo consequente.
9. E, nesse sentido, em complementação, em termos de regência verbal, se
funciona como complemento, cujo depende totalmente da regência do
verbo ao qual se liga, motivo por que, se vai ou não haver preposição
antes dele, ou qual vai ser a preposição, tudo depende do verbo que está
sendo complementado pelo referido pronome relativo.
10. Ou, como sintetiza Eduardo Carlos Pereira: “Cujo admite antes de si a
preposição de ou qualquer outra, reclamada pelo verbo que se lhe
segue” (1924, p. 307). Ex.: “Esta é uma lei em cujas disposições não
acreditamos, com cuja finalidade não simpatizamos e de cujos dizeres
discordamos, mas a cujas disposições obedecemos para a manutenção
do estado de direito”.
11. Não se usa artigo depois do relativo cujo. Ex.: a) “Comprei a casa cuja
proprietária faleceu” (correto); b) “Comprei a casa cuja a proprietária
faleceu” (errado).
12. Embora não seja hábito o cometimento de erros dessa natureza, vale a
pena observar com Carlos Góis que tal pronome relativo “concorda
sempre com o seu subsequente, e nunca com o antecedente” (1943, p.
233). Exs.: a) “Faleceu o advogado cujos livros adquiri” (correto); b)
“Faleceu o advogado cujo livros adquiri” (errado).
13. Em outra obra coescrita com Herbert Palhano (1963, p. 168), quando à
concordância, reitera tal autor essa regra de que o mencionado
pronome relativo se harmoniza sempre com o consequente, e não com
o seu antecedente. Ex.: “Pedro, cujas qualidades admiro…”.
14. A falta de hábito no emprego de cujo, pronome esse que muitos
teimam em evitar, ocasiona um erro frequente nos discursos, que se dá
logo na saudação de muitos oradores: “Senhor presidente dos trabalhos
desta noite, em nome de quem saúdo todas as autoridades
presentes…”. Embora seu significado seja do qual, de quem, o certo é
que cujo não lhes é palavra sinônima, de modo que a correção do
mencionado exemplo há de dar-se do seguinte modo: “Senhor
presidente dos trabalhos desta noite, em cujo nome saúdo todas as
autoridades presentes…”.
15. Buscando uma síntese para o assunto, Júlio Ribeiro anota: a) por ter
significação restritiva possessiva, tal vocábulo “quer sempre claro
depois de si o substantivo a que restringe”; b) ao depois, “ao invés do
que sucede com qual, o substantivo que segue a cujo é sempre diverso
do antecedente”; c) por fim, “o emprego de cujo sem antecedente e
subsequente imediatos, se bem que clássico – e correto – é arcaico”: i)
“Cujas são estas árvores?”; ii) “Eu sei cujo é o gado”.
16. E complementa: “O uso atual de cujo é fazê-lo servir de sujeito, de
objeto do verbo ou de regime de preposição, dando-lhe antecedente
claro e fazendo-o seguir imediatamente do nome com que concorda”
(RIBEIRO, Júlio, 1908, p. 248, 249 e 261).
17. Sob outro aspecto, em oportuna observação, lembra Luís A. P Vitória
que, “quando for seguido de dois substantivos, (cujo) concorda só com
o primeiro. Ex.: ‘Eis o homem cujo filho e filha tu conheceste’” (1969,
p. 81).
18. Ao anotar os dois principais erros cometidos nesse aspecto, leciona
Silveira Bueno que todo e qualquer emprego desta palavra, que não
seja o de complemento de posse, estará errado: a) assim, por primeiro,
estará errado seu uso em função de sujeito (“O advogado, cujo ajuizou
a ação, não mais se manifestou na causa”); b) em segundo lugar, estará
errado seu emprego em função de objeto direto (“A ação, cuja venceu
aquele velho advogado, não era das mais fáceis”).
19. E complementa tal gramático (BUENO, 1938, p. 36-9) que correto é
seu emprego, quando puder ser substituído por do qual, do que, de
quem. Ex.: “O advogado, cuja petição inicial foi indeferida, não se
abalou”.
20. Podem-se resumir algumas observações importantes a respeito desse
pronome com o ensinamento de Sousa e Silva (1958, p. 90-1): a) Não
pode ter como consequente o mesmo nome que figure como
antecedente: “A casa que foi condenada, cuja casa foi demolida”
(deve-se substituir cuja casa por que ou a qual); b) Embora seja
linguagem pouco usada em nossos dias, às vezes cujo vem sem
consequente, ligado diretamente a um verbo: “O pintor Eduardo Malta,
cujos são estes quadros” (isto é, de quem são estes quadros); c) Como
pronome interrogativo, caiu em completo desuso: “Cujos são estes
quadros?” (vale dizer, de quem são estes quadros?; d) É crasso erro
empregar artigo depois da palavra cujo (ou variações): “cujo o pai”,
“cuja a glória”.
Ver De cujus – Qual é o plural? (P. 254), Pronome relativo –
Concordância verbal (P. 615) e Pronome relativo preposicionado (P. 616).

Cumprimentar em nome ou Cumprimentar na pessoa?


1. A situação trazida pela dúvida de uma leitora costuma ocorrer com
frequência em solenidades: havendo muitas autoridades a serem listadas
em um discurso, o orador prefere eleger uma delas e, tomando-a como
representante das outras, saúda nela as demais.
2. Indaga a leitora se, nesse caso, a saudação se dá em nome ou na pessoa
da autoridade escolhida. De modo mais específico, o orador
cumprimenta os demais em nome ou na pessoa de alguém.
3. Ora, num primeiro aspecto, quer pela Declaração Universal dos Direitos
Humanos, quer, mais especificamente entre nós, pelo art. 2º do Código
Civil, todo ser humano é reconhecido como pessoa perante a lei.
4. Por outro lado, o nome é a designação pela qual a pessoa se identifica no
seio da família e da sociedade. Nesse sentido, Spencer Vampré dizia com
total propriedade: “Quando pronunciamos ou ouvimos um nome,
transmitimos ou recebemos um conjunto de sons, que desperta, em nosso
espírito e no de outrem, a ideia da pessoa indicada, com seus atributos
físicos, morais, jurídicos, econômicos, etc. Por isso, é lícito afirmar que
constitui o nome a mais simples, a mais geral e a mais prática forma de
identificação” (1935, p. 38).
5. Em outras palavras: a pessoa é o ser representado; o nome, parte dela e
sua representação.
6. Com essas ponderações, é oportuno acrescentar que, às vezes, com
integral correção, se utiliza uma figura de linguagem conhecida como
metonímia, que consiste em usar uma palavra em lugar de outra, desde
que ambas tenham entre si algum tipo de relação e de proximidade,
como – exatamente o que ocorre no caso apreciado – é o caso de
empregar a parte (o nome) em lugar do todo (a pessoa).
7. De modo mais prático e direcionado à indagação da leitora: a) por um
lado, o vocábulo nome não pode ser tido como sinônimo objetivo de
pessoa, já que aquele é apenas parte e representação desta última; b) por
outro lado, é possível empregar nome em lugar de pessoa, quando se faz
uso da figura de linguagem denominada metonímia, pela qual uma
palavra toma o lugar de outra, com base em alguma relação de
proximidade entre ambas (causa e efeito, parte e todo, autor e obra,
continente e conteúdo, etc.); c) por isso, em uma saudação coletiva por
representação, tanto é correto cumprimentar várias autoridades em nome
de alguém, como cumprimentá-las na pessoa de alguém.

Cumprimento ou Comprimento?
Ver Comprimento ou Cumprimento? (P. 203)

Curador – Cargo ou encargo?


Ver Inventariante – Cargo ou Encargo? (P. 427)

Currículo
1. É, por um lado, palavra já incorporada, completa e definitivamente, ao
nosso vocabulário, devendo-se adotar, assim, o singular aportuguesado
currículo e o plural currículos, em proceder idêntico a desiderato e a
veredicto.
2. A par da forma aportuguesada, todavia, o Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras (2009, p. 237 e
862), órgão oficial para definir quais palavras integram nosso léxico,
também registra curriculum (forma latina, sem acento gráfico).
3. Deixando de lado o aspecto de que o VOLP é o veículo oficialmente
incumbido de determinar as palavras existentes e as que devem ter curso
em nosso idioma, motivo por que legem habemus e devemos prestar-lhe
obediência, e restringindo a questão ao aspecto científico, é de se ver que
o plural da língua mãe (curricula) – que era registrado no VOLP até a
edição de 1999 e não mais o é – deve ser evitado a qualquer custo, até
porque, em latim, os substantivos eram declinados, de modo que as
terminações do plural eram diversas, conforme a função sintática:
curricula (sujeito), curriculorum (adjunto adnominal), curriculis (objeto
indireto), curriculos (objeto direto).
4. Nesse sentido, a bem da verdade, não há como usar hoje pela metade o
vocábulo em latim: ou se considera o termo já integrado ao nosso idioma
para todos os efeitos, também para sua acentuação gráfica e sua flexão
no plural; ou se lhe conferem em plenitude feição e regime latinos,
hipótese em que há de ter o vocábulo uma específica terminação, de
acordo com a função sintática que a palavra venha a desempenhar,
proceder esse que, além de muito estranho, é simplesmente inviável ao
usuário médio do idioma, por exigir conhecimentos aprofundados de
análise sintática e de latim.
5. Vale lembrar, ainda no plano da discussão científica, a lição de Silveira
Bueno a um consulente que lhe indagava qual a melhor forma de
flexionar para o plural, em nosso idioma, a palavra memorandum: “As
palavras estrangeiras podem ter dois usos em nossa língua: ou o snr.
conserva a forma originária da língua donde provém o termo, ou aplica
às palavras as regras comuns do português. Se o snr. seguir a primeira
forma, deverá dizer no plural: memoranda – que este é o plural de
memorandum em latim. Se o snr. seguir a segunda maneira, dirá
memoranduns porque em português, os nomes terminados em m fazem o
plural mudando o m em ns. Há, porém, uma terceira forma, que achamos
melhor ainda que as duas expostas: é dar ao termo latino a forma
nacional: memorando e, no plural, memorandos” (1938, p. 49).
Ver Campus (P. 166).

Cuspido e escarrado – Está correto?


1. É expressão indevida e equivocada, que bem possivelmente se obteve
popularmente pela deterioração de esculpido e encarnado.
2. O correto, então, é que alguém diga: “O investigante era o próprio
investigando esculpido e encarnado”; e não: “O investigante era o
próprio investigando cuspido e escarrado”.
3. Usado no linguajar do povo, o último modo de exprimir, segundo
Arnaldo Niskier, “só deveria ser empregado quando o sentido fosse
pejorativo” (1992, p. 33).
4. Também seria de se pesquisar eventual similaridade com o inglês, em
que se tem, nesse sentido, a expressão spitting image, que pode ser
literalmente traduzida como imagem cuspida (diz-se, assim, que alguém
é a spitting image de alguém).
5. Não parece, por fim, ter fundamento consistente nem verossimilhança a
explicação de alguns que veem a expressão considerada como corruptela
de esculpido em (mármore de) carrara.

Custar
1. É verbo que precisa ser observado no que respeita à regência verbal,
quando usado no sentido de ser difícil, ser penoso.
2. É indiscutivelmente correta a seguinte frase: “Custa-me crer que você
perdeu o prazo para recurso”.
3. Por outro lado, tem sido considerada incorreta por muitos gramáticos a
seguinte construção: “Custo a crer que você perdeu o prazo para
recurso”.
4. Na primeira sintaxe desse verbo, reputada correta, é objeto indireto a
pessoa a quem a coisa é difícil, sendo essa a posição firme dos nossos
gramáticos, como, por exemplo, Laudelino Freire (1937a, p. 25-6).
5. Registre-se que a lição de Silveira Bueno a esse respeito se dá no sentido
de que “o verbo custar na significação de ser difícil é impessoal,
aparecendo unicamente na terceira do singular. Assim, é erro dizer-se:
Custei muito a compreender a lição…” (1938, p. 86).
6. E complementa tal autor que “o erro comum que encontramos em tais
casos consiste em fazer o verbo custar concordar com a pessoa que está
falando” (BUENO, 1938, p. 199).
7. Concordando parcialmente com o ilustre gramático, é de se dizer que o
verbo, no caso, não é impessoal, mas pessoal (porque tem sujeito),
apenas ficando no singular, porquanto, ao se inverter o exemplo, vê-se
que seu sujeito é oracional: “Custou-me muito compreender a lição”
(compreender a lição é o sujeito; facilmente perceptível quando se
inverte o exemplo: “Compreender a lição custou-me muito”).
8. Ressaltando, nesse aspecto, que a expressão custou-me dormir teve a
preferência dos clássicos mais antigos, Aires da Mata Machado Filho
(1969a, p. 612) menciona, porém, a existência de numerosos exemplos
coligidos por Heráclito Graça, além da lição de Epifânio Dias, pugnando
pela vernaculidade da construção eu custei a dormir, explicando: a) na
primeira estrutura, o infinitivo é sujeito do primeiro verbo; b) na
segunda, tem-se uma locução verbal, cujo sujeito é eu.
9. Também se registre o ensinamento de Cândido Jucá Filho de que, “no
Brasil, a circunstância de interesse torna-se pronome pessoal reto, e
dizemos naturalmente, como fez Lobato: Custei a achar” (1981, p. 13);
ainda que se aceite tal lição, o certo é que esse modo de falar há de
restringir-se à linguagem coloquial.
10. Firmada a correção de custa-me crer, é de se anotar que, num aspecto
seguinte da sintaxe desse verbo – sobre a validade gramatical de custa-
me crer ou custa-me a crer – lembra Vasco Botelho de Amaral: “já está
dito e redito que não há pecado no emprego da preposiçãozinha em pós
do verbo custar”.
11. E justifica tal gramático sua assertiva: a) “Em primeiro lugar a
anteposição de a ao infinito já ocorre na própria língua antiga
portuguesa…”; b) “Em segundo lugar, a expressão custa a crer surge
na melhor escrita, como por exemplo nas páginas do clássico
Alexandre Herculano…”
12. E acaba por concluir: “Portanto, não se arreceiem de dizer ou escrever
custa a crer ou custa crer” (AMARAL, 1948, p. 194-5).
13. Heráclito Graça, num primeiro momento, transcreve lição de Cândido
de Figueiredo: “Chega a parecer-me que toda a gente diz custa a crer.
E, contudo, esta locução está fora das leis da gramática. O verbo custar
não pede, depois de si, preposição alguma”.
14. Num segundo momento, contudo, o gramático (GRAÇA, 1904, p. 131-
7) que cita o ensinamento traz a corroboração de diversos exemplos de
autores insuspeitos e observa que “fica, de todo, patente que o escritor
que empregar o verbo custar seguido da preposição a, regente de um
infinito, está em honrosa e insuspeita companhia, e muito a cômodo
dentro, e não fora, das leis da gramática”. Exs.: a) “Custa a crer como
um ente, que é metade da nossa espécie” (Antônio Feliciano de
Castilho); b) “Custa-me a crê-lo” (Alexandre Herculano); c) “Custa-
me a crer que exista um monstro” (Almeida Garrett); d) “Antes de
Almeida Garrett, custa a crer que passasse aí um talento de tantos
fôlegos a viajar na sua terra” (Camilo Castelo Branco); e) “Custando-
lhe a crer que essa ventura a tivesse conseguido” (Latino Coelho); f)
“Custou-me a conhecer-lhe as feições” (Alexandre Herculano).
15. Também nessa esteira, Laudelino Freire (1937a, p. 25-6), com o abono
de exemplos de Herculano, de Castilho e de Rui Barbosa, leciona que,
“ao verbo custar, quando seguido de infinitivo, pode juntar-se ou não a
preposição a”, acrescentando, até mesmo, tal gramático que, entre
todos, clássicos, antigos e modernos, “menos usual, ou raro, é o seu uso
sem a preposição em seguida ao infinitivo”. Exs.: a) “Custava crer que
aquelas pálpebras nunca mais se reerguessem” (Rui Barbosa); b)
“Custa a compreender que interesse nacional possa haver” (Rui
Barbosa).
16. Sintetizando com propriedade os diversos aspectos do problema, assim
se manifesta Artur de Almeida Torres (1967, p. 106-8): a) por primeiro
a construção “Custo a crer”, “de uso puramente popular, é acoimada de
errônea pelos nossos gramáticos”; b) ao depois, no que tange à
construção “Custa-me crer”, é ela “encontradiça nas obras dos nossos
melhores escritores”; c) por fim, quanto à estrutura “Custa-me a crer”,
tem ela dado motivo a larga discussão: i) Cândido de Figueiredo, que,
por primeiro, asseverou que “o verbo custar não pede, depois de si,
preposição alguma”, mais tarde mudou de opinião, para afirmar nada
ter “que objetar ao custar a crer”; ii) Heráclito Graça justificou
amplamente tal construção, ao afirmar que a preposição que se discute
“serve de termo de ação do verbo que a precede, e igualmente expressa
a duração ou excesso da mesma ação”; iii) para Carlos Góis, a
preposição que aí aparece é “mero expletivo ou partícula de realce”; iv)
bem por isso, conclui o próprio Artur de Almeida Torres ser verdade
incontestável “que esta maneira de construir o verbo custar (com a
preposição), em que possa contrariar os rigorosos preceitos da
gramática, já está consagrada pelo uso constante dos nossos mais
abalizados escritores”, trazendo para sua confirmação exemplos de
autores insuspeitos de nossa literatura: I) “Custa a crer que minha
mãe… me entregasse à corrente de um rio” (Camilo Castelo Branco);
II) “Custava-lhe a aceitar a ideia do bem” (Machado de Assis); III)
“Mas tanto, custava-me a crê-lo” (Alexandre Herculano); IV) “Custa a
crer que um escritor de primeira plana como Camilo tolerasse em seus
livros espantosas faltas de ortografia” (Mário Barreto); V) “Custava a
crer que ouvidos portugueses se acomodam àquela singular
posposição” (Ernesto Carneiro Ribeiro).
17. Vale ultimar com a síntese de Francisco Fernandes, que invoca a
autoridade de João Ribeiro e elabora rápida lição acerca da regência
desse verbo: “Conquanto o bom uso mande que se use custa crer, custa
fazer, e não custa a crer, custa a fazer, encontram-se nos melhores
escritores inúmeros exemplos desta última construção. Não há, porém,
exemplos autorizados de custo a crer” (1971, p. 177).

Custas
Ver À custa de ou Às custas de? (P. 75)
D
Dactilografar
Ver Datilografar (P. 251).

Dado o
1. Como particípio passado do verbo dar, em oração participial, no sentido
de admitir, verificar, concorda dado em gênero e número com o
substantivo a que se refere. Exs.: a) “Dado o clima criado, suspendeu-se
a audiência”; b) “Dada a situação criada, suspendeu-se a audiência”; c)
“Dados os acontecimentos, suspendeu-se a audiência”; d) “Dadas as
circunstâncias, suspendeu-se a audiência”.
2. Um primeiro erro que se comete no emprego de tal palavra é deixá-la
invariável. Ex.: “Dado as circunstâncias, suspendeu-se a audiência”
(errado).
3. Um segundo erro é adicionar a preposição a ao termo que a tal verbo se
liga. Ex.: “Dado ao acontecimento, suspendeu-se a audiência” (errado).
4. Para que não surjam dúvidas, Arnaldo Niskier sintetiza a observação,
asseverando num primeiro aspecto: “A expressão dado o é variável, isto
é, dado o problema, dadas as dificuldades”.
5. E continua tal autor, num segundo aspecto: “Esta expressão, embora
signifique devido a, não contém a preposição” (NISKIER, 1992, p. 24).
6. Assim, reitere-se que estão erradas as expressões dado ao problema,
dadas às dificuldades; corrijam-se tais exemplos para dado o problema,
dadas as dificuldades.

Da falência
1. Para Napoleão Mendes de Almeida (1981, p. 73), constitui latinismo
sintático a ser evitado o emprego da preposição de para encabeçar
capítulos de tratados, códigos ou leis.
2. Em seu entendimento, não se deve dizer, por conseguinte, nas rubricas,
da falência ou dos contratos, mas apenas falência e contratos.
3. Não parece, todavia, haver motivos para tal objeção, até porque, pela
doutrina do saudoso gramático, tais erros estariam pululando em nossas
leis, já que, por exemplo, bastaria uma rápida consulta ao índice do
Código Civil – tido por manancial de perfeição vernácula, até mesmo em
decorrência da polêmica travada a seu respeito entre Rui Barbosa e
Ernesto Carneiro Ribeiro – para se concluir que quase todos os seus
livros, títulos, capítulos e seções vêm encimados pela referida
construção.
4. Acresça-se a tanto que, muito ao contrário, Rui Barbosa (1949, p. 47), ao
observar que a redação original às vezes empregava a preposição, às
vezes a omitia, anotou que as Ordenações observavam seu uso, e que o
Código Civil português invariavelmente também segue essa orientação,
e reputou, por fim, seu emprego um “sinal de vernaculidade”, a ser
imitado nas leis pela boa linguagem, cujas regras eram filhas da tradição
e da herança.
5. E se observe, adicionalmente, que o mesmo Rui, em sua proposta de
correção do projeto, acatada pelo legislador, acrescentou sempre a
partícula prepositiva aos títulos e rubricas do Código, proceder esse que
tem origem entre os romanos, os quais nos legaram, por exemplo, “De
Senectute” (Da Velhice) por meio de Cícero e “De Bello Gallico” (Da
Guerra Gaulesa) por intermédio de Júlio César, e assim por diante.
6. Após lembrarem que, “em livros didáticos, às vezes, abrem-se capítulos
com a matéria a ser exposta precedida da preposição de”, esclarecem
Regina Toledo Damião e Antonio Henriques (1994, p. 56) que “dita
preposição nada mais é que a preposição latina de que se construía com
o ablativo”, exemplificando tais autores com o “De natura rerum” de
Lucrécio (sobre, a respeito da natureza das coisas) e “De bello gallico”
de César (sobre a guerra gaulesa).
7. E Cândido de Figueiredo assevera que tal construção é correta e que
sempre assim a usaram os portugueses “nas inscrições dos capítulos de
uma obra, e nos títulos dos livros”.
8. E continua tal gramático: “Abrindo qualquer cronista, lemos no alto de
um capítulo: ‘De como El-Rei se partiu para Santarém’; ou ‘Dos
sucessos que se deram na ponte de Alcântara’; ou ‘Das desavenças que
houve entre o Infante e seu pai’. E assim em títulos de livros: ‘Da
imortalidade da alma’; ‘Das proezas e virtudes de D. Garcia de
Noronha’; ‘Dos defeitos e contradições do sistema constitucional’”
(FIGUEIREDO, 1943, p. 20-9).
9. Com tais ponderações, o que parece melhor é não concordar com o
posicionamento de Napoleão Mendes de Almeida, de modo que se há de
ter por correto o emprego da preposição de para encabeçar capítulos de
tratados, códigos ou leis, como, por exemplo, em da falência ou dos
contratos.

Dano moral ou Danos morais?


1. Um leitor indaga, sem maiores considerações, se o correto é falar
indenização por dano moral ou indenização por danos morais.
2. Respondendo, desde logo, e diretamente, a indagação do leitor, anota-se
que tanto se pode falar em dano material ou patrimonial, como em
danos materiais ou patrimoniais, já que tal braço se espraia em diversos
segmentos (dano patrimonial direto, dano patrimonial indireto, dano
pauliano [resultante de fraude contra credores], dano por ricochete,
dano direto, dano remoto…).
3. De mesmo modo, em contrapartida, pode-se falar em dano moral ou
danos morais, já que aqui se enfeixam diversas modalidades: dano moral
direto, dano moral indireto, dano moral indireto pela perda de bens
patrimoniais com valor afetivo…
4. Ou seja: tanto o dano material como o dano moral se compõem de
diversas secções, fragmentos ou espécies, e, assim, pode-se
perfeitamente falar também em danos materiais e danos morais.
5. Vejam-se alguns casos de opção de nossa legislação pelo circunlóquio
dano moral: a) “Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:…
VI) as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes
da relação de trabalho” (CF/88, art. 114, VI); b) “Aquele que, por ação
ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e
causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito” (CC, art. 186); c) “O ofendido por calúnia, difamação ou injúria,
sem prejuízo e independentemente da ação penal competente, poderá
demandar, no Juízo Civil, a reparação do dano moral, respondendo por
este o ofensor e, solidariamente, o partido político deste, quando
responsável por ação ou omissão a quem que, favorecido pelo crime,
haja de qualquer modo contribuído para ele” (Código Eleitoral, art. 243,
§ 1º); d) “No que couber aplicar-se-ão na reparação do dano moral,
referido no parágrafo anterior, os artigos 81 a 88 da Lei 4117, de
27/8/1962” (Código Eleitoral, art. 243, § 2º).
6. Vejam-se, por outro lado, alguns casos de preferência pela expressão
danos morais: a) “São direitos básicos do consumidor: … VI – a efetiva
prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais,
coletivos e difusos” (CDC, art. 6º, VI); b) “São direitos básicos do
consumidor: … VII – o acesso aos órgãos judiciários e administrativos
com vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais,
individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica,
administrativa e técnica aos necessitados”.

Daqui a pouco ou Daqui há pouco?


1. Profunda distinção se deve fazer entre a e há, que são palavras com
natureza e significado diversos.
2. Há é forma do verbo haver e, para o que aqui interessa, indica tempo
passado. Ex.: “Há vários meses os autos estão conclusos para
sentença”.
3. Por outro lado, a é preposição e, para o que concerne a estas
considerações, serve para as expressões indicativas de tempo futuro. Ex.:
“Daqui a dois dias, a sentença deverá ser publicada”.
4. Observe-se que não basta falar em tempo para existir o verbo haver. Para
sua ocorrência, é preciso que haja a significação de tempo passado, pois,
se se fala de tempo futuro, o que se tem é apenas a preposição a.
5. Em termos práticos, não se usa o verbo haver (nem há, por conseguinte),
se o verbo é futuro, motivo por que equivocada é a construção: “O
advogado chegará daqui há duas horas”.
6. A distinção que ora se faz não é supérflua, tanto assim que Josué
Machado (1994, p. 10), atento aos cochilos da imprensa, flagrou,
publicada num jornal de São Paulo, a expressão daqui há algum tempo.
7. De maneira específica para o caso da consulta, observe-se, em
conclusão, o que segue: a) “Daqui a pouco” (correto); b) “Daqui há
pouco” (errado).

Dar – Como concordar?


Ver Bater, Dar e Soar – Como concordar? (P. 157)

Dar – Como conjugar?


1. O verbo dar apresenta problemas de conjugação verbal em diversos
tempos, até por possuir em sua flexão sons não tão comuns ao ouvido:
dou, dás, dá, damos, dais, dão (presente do indicativo); dê, dês, dê,
demos, deis, deem (presente do subjuntivo); dei, deste, deu, demos,
destes, deram (pretérito perfeito do indicativo).
2. Juntamente com crer, ler, ver e respectivos compostos, eram os únicos
verbos grafados com êe na terceira pessoa do plural, ou seja, assim com
dois ee e acento circunflexo no primeiro e. O Acordo Ortográfico de
2008, todavia, aboliu tais acentos: creem, deem, leem, veem.
3. Serve de modelo para a flexão de seus compostos: desdar, redar.

Dar luz ao filho ou Dar à luz o filho?


1. A partir do próprio sentido da expressão, importante é observar a
regência verbal.
2. Por ocasião do nascimento, não se dá luz ao filho, mas se dá o filho à
luz, porque o rebento, que até então permanecia na escuridão do ventre
materno, é entregue à luz do mundo com o parto.
3. Comparem-se, assim, quanto à correção, os seguintes exemplos: a) “A
mãe deu a luz ao filho a caminho do hospital” (errado); b) “A mãe deu à
luz o filho a caminho do hospital” (correto).
4. Com esse mesmo significado, em sentido figurado, diz-se que o autor dá
à luz uma obra.
5. O entendimento por essa sintaxe é firme entre os gramáticos, e não se
apresenta discrepância nenhuma entre eles, como testemunham as lições
de Celso Pedro Luft (1999, p. 161) e Francisco Fernandes (1971, p. 179).
6. Em corroboração, Mário Barreto (1954a, p. 78-80) até mesmo lembra
que, em francês, se diz: “Sa mère, morte en lui donnant le jour”, o que
quer dizer “sua mãe, que morrera ao dá-lo à luz”. E leciona tal
gramático que esse verbo, nesse sentido, tem a pessoa que nasce como
objeto direto, reservando-se para luz a função de objeto indireto.
7. Confirmando esse ensino, Sousa e Silva (1958, p. 95) mostra uma
legenda de clichê que recolheu com o errôneo emprego de tal expressão:
“Bibi Ferreira deu a luz a uma linda menina que receberá na pia
batismal o nome de Teresa Cristina” (e manda corrigir: “Bibi Ferreira
deu à luz uma linda menina…”).
8. Também Domingos Paschoal Cegalla anota que dar à luz “é a forma
correta dessa expressão eufêmica, e não dar a luz a” (1999, p. 99).

Dar provimento
Ver Desprover ou Improver? (P. 278)

Dar-se ao trabalho de ou Dar-se o trabalho de?


1. Com frequência se encontram, em textos jurídicos e arrazoados forenses,
frases como “O advogado não se deu ao trabalho de pesquisar a íntegra
do acórdão”, em que o verbo dar-se, pronominal, tem o sentido de
entregar-se, de dedicar-se; e se fica em dúvida se essa sintaxe é a correta,
ou se uma outra é que é certa: “O advogado não se deu o trabalho de
pesquisar a íntegra do acórdão”.
2. Fixe-se, desde logo, que ambas as construções são corretas, podendo as
observações aqui feitas ser estendidas a outras expressões similares,
como dar-se ao incômodo ou dar-se ao luxo.
3. Do primeiro modelo (dar-se ao trabalho), podem-se alinhar alguns
exemplos: a) “Não ponho o número, para que algum curioso… se dê ao
trabalho de investigar e completar o texto” (Machado de Assis); b) “Não
queria se dar ao trabalho de buscar emprego” (Nélida Piñon); c) “Lúcia
Miguel Pereira, sempre tão escrupulosa, deu-se ao trabalho de ler toda
essa matéria impressa” (Manuel Bandeira).
4. De igual modo, podem-se citar exemplos da segunda estrutura (dar-se o
trabalho): a) “Ela nem se dá o trabalho de responder à pergunta” (Érico
Veríssimo); b) “Quem quer que se dê o trabalho de ler…” (José
Guilherme Merquior); c) “Deu-se o trabalho de vir aqui” (Menotti Del
Picchia).
5. Quanto ao que ocorre no plano da sintaxe, em tais casos, assim explicita
com propriedade Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 100): a) na
estrutura ele deu-se ao trabalho, o pronome oblíquo se é objeto direto, e
trabalho é o objeto indireto, querendo a expressão significar que a pessoa
se entregou ao trabalho; b) já na construção ele deu-se o trabalho, o
pronome oblíquo se é objeto indireto, e trabalho é o objeto direto, com o
sentido prático de que alguém impôs o trabalho a si próprio.
6. Remate-se com Celso Pedro Luft (1999, p. 162), para quem dar-se ao
trabalho é a sintaxe originária, enquanto dar-se o trabalho é construção
que ocorre nos dias de hoje.

Dar uma fugida – é correto?


1. Uma leitora observou no rádio a seguinte frase: “O jeito é dar uma
fugidinha com você”. E pergunta se é correto dizer dar uma fugida, em
vez de fugir.
2. Vejam-se outros exemplos com mesma estrutura, colhidos nos meios de
comunicação: a) “O aluno deu uma revisada na matéria”; b) “A aluna
deu uma relaxada antes do exame”; c) “O atacante deu uma vacilada e
perdeu o gol”; d) “O zagueiro deu uma escorregada, e o atacante fez o
gol”; e) “O Brasil deu uma forçada no saque”; f) “Jaqueline deu uma
largada na bola”; g) “O tumulto dá uma manchada no campeonato”; h)
“Dê uma ligada para mim antes de sair”; i) “O pivô deu uma andada
dentro do garrafão”; j) “O árbitro deu uma olhada feia para o jogador”;
k) “David Luiz deu uma recuada perigosa para o goleiro”; l) “O que o
goleiro fez foi dar uma esfriada no jogo”; m) “A Rússia quer dar uma
segurada no jogo”; n) “O time deu uma crescida no jogo”; o) “O
levantador deu uma aliviada na bola”; p) “Os dois times deram uma
cansada neste final de jogo”; q) “Agora, a seleção vai dar uma
cadenciada no jogo”; r) “Esse gol dá uma acalmada na seleção”; s)
“Dunga vai ter trabalho para dar uma acertada no time”; t) “O técnico
vai dar uma parada no jogo”; u) “O Brasil precisa dar uma
reestruturada no time”; v) “O defensor deu uma cochilada, e o time
levou o gol”; x) “Vou dar uma comentada com ele”.
3. Quando se tem uma estrutura como essa (o verbo dar + um substantivo
terminado por ada ou ida), o primeiro passo é verificar se o termo dado
como substantivo existe efetivamente no vernáculo. E a autoridade para
listar oficialmente as palavras de nosso idioma é a Academia Brasileira
de Letras, que a exerce pela edição do Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa. Desse modo, se o vocábulo pretendido não encontra
registro no VOLP, ele simplesmente não existe em português.
4. Ora, de toda essa lista de exemplos, constam como substantivos
registrados pelo VOLP as palavras empregadas nos seguintes exemplos,
de modo que apenas seu emprego está correto como tal: ai) “O atacante
deu uma vacilada e perdeu o gol”; b) “O zagueiro deu uma escorregada,
e o atacante fez o gol”; c) “Jaqueline deu uma largada na bola”; d) “Dê
uma ligada para mim antes de sair”; e) “O pivô deu uma andada dentro
do garrafão”; f) “O árbitro deu uma olhada feia para o jogador”; g)
“David Luiz deu uma recuada perigosa para o goleiro”; h) “O time deu
uma crescida no jogo”; i) “O levantador deu uma aliviada na bola”; j)
“Dunga vai ter trabalho para dar uma acertada no time”; k) “O técnico
vai dar uma parada no jogo”; l) “O defensor deu uma cochilada, e o
time levou o gol”; m) “Vou aproveitar o feriado prolongado e dar uma
viajada”; n) “Não sei se o piloto deu alguma errada”; o) “O Vasco deu
uma esquentada no jogo”; p) “O apresentador da cerimônia deu uma
enrolada solene”; q) “O gol deu uma sacudida no jogo”; r) “O diretor do
Corinthians ficou de dar uma telefonada”; s) “O Alonso deu uma
fechada no Massa”; t) “Helinho foi dar uma descansada no banco de
reservas”; u) “Vamos dar uma passada pelos outros estádios”; v) “O
Corinthians dá uma virada no jogo”; x) “O jogador deu uma corrida ao
ataque e não voltou para a defesa”.
5. Não sendo a questão solucionada pelo critério acima, o segundo passo é
ver se, apesar de não existir exatamente o substantivo do exemplo, de
modo que não pode ele ser aplicado, há um outro de mesmo radical, que
seja capaz de substituir o vocábulo pretendido, caso em que se fazem as
alterações necessárias nos demais termos da estrutura: a) “O aluno fez
uma revisão da matéria”; b) “Os dois times sentiram cansaço neste final
de jogo”; c) “O Brasil precisa fazer uma reestruturação no time”; d)
“Vou fazer um comentário com ele”; e) “O time teve uma reação e
depois voltou ao marasmo”; f) “Não sei, mas vou fazer uma pesquisa”;
g) “É preciso fazer uma conferência da situação”; h) “Djokovich foi
fazer uma pressão sobre o juiz de linha”; i) “É preciso fazer uma análise
da situação”; j) “A torcida deu aquela vaia”; k) “Valdívia fez uma
reclamação com o árbitro”; l) “Robinho deu um chute totalmente torto
na bola”; m) “O Brasil teve uma melhora no bloqueio”; n) “O zagueiro
deu, sim, um empurrão no atacante”; o) “O zagueiro tentou fazer o
domínio e perdeu a bola”; p) “A torcida fez um xingamento básico para
o árbitro”; q) “O árbitro fez a confirmação do número do jogador”; r)
“Vamos dar um giro pelos outros telões”; s) “Vamos fazer uma
atualização dos resultados”; t) “Vamos fazer a recuperação da imagem”;
u) “O técnico precisa fazer um encaixe no sistema”.
6. Num terceiro passo, se também não for encontrado nenhum substantivo
que substitua, então a expressão deverá ser toda trocada por um verbo,
como nos seguintes casos: a) “A aluna relaxou antes do exame”; b) “O
Brasil forçou o saque”; c) “O tumulto mancha o campeonato”; d) “O
que o goleiro fez foi esfriar no jogo”; e) “A Rússia quer segurar o jogo”;
f) “Agora, a seleção vai cadenciar o jogo”; g) “Esse gol acalma a
seleção”; h) “O técnico lembrou o assunto”; i) “O Felipão precisa
organizar as coisas”; j) “O Governo abandonou o projeto”; k) “O time
desconcentrou geral”; l) “Helinho Castroneves acelerou e passou”; m)
“Isso só dilui o problema”; n) “O passe da Alemanha sofreu uma piora”;
o) “Neymar isolou a bola”; p) “O técnico só observa o panorama”; q)
“Agora está nublando aqui em Porto Alegre”; r) “O goleiro valorizou o
choque”; s) “Ele ajeitou a bola com a mão”; t) “É preciso revigorar esse
time”; u) “Com a vitória, o time respira no campeonato”; v) “O técnico
quer poupar o jogador”; x) “O carro derrapou e atravessou na pista”;.
7. Nada impede que os exemplos do primeiro passo possam ser
transformados nos moldes do terceiro: a) “O atacante vacilou e perdeu o
gol”; b) “O zagueiro escorregou, e o atacante fez o gol”; c) “Jaqueline
largou a bola”; d) “Ligue para mim antes de sair”; e) “O pivô andou
dentro do garrafão”; f) “O árbitro olhou feio para o jogador”; g) “David
Luiz recuou perigosamente para o goleiro”; h) “O time cresceu no jogo”;
i) “O levantador aliviou na bola”; j) “Dunga vai ter trabalho para
acertar o time”; k) “O técnico vai parar o jogo”; l) “O defensor
cochilou, e o time levou o gol”; m) “Vou aproveitar o feriado prolongado
e viajar”; n) “Não sei se o piloto errou”; o) “O Vasco esquentou o jogo”;
p) “O apresentador da cerimônia enrolou solenemente”; q) “O gol
sacudiu o jogo”; r) “O diretor do Corinthians ficou de telefonar”; s) “O
Alonso fechou o Massa”; t) “Helinho foi descansar no banco de
reservas”; u) “Vamos passar pelos outros estádios”; v) “O Corinthians
vira o jogo”; x) “O jogador correu ao ataque e não voltou para a
defesa”.
8. Do mesmo modo, nada impede que os exemplos do segundo passo se
transformem na estrutura utilizada no terceiro, de acordo com a opção do
usuário: a) “O aluno revisou a matéria”; b) “Os dois times se cansaram
neste final de jogo”; c) “O Brasil precisa reestruturar o time”; d) “Vou
comentar com ele”; e) “O time reagiu e depois voltou ao marasmo”; f)
“Não sei, mas vou pesquisar”; g) “É preciso conferir a situação”; h)
“Djokovich foi pressionar o juiz de linha”; i) “É preciso analisar a
situação”; j) “A torcida vaiou”; k) “Valdívia reclamou com o árbitro”; l)
“Robinho chutou totalmente torto a bola”; m) “O Brasil melhorou o
bloqueio”; n) “O zagueiro empurrou, sim, o atacante”; o) “O zagueiro
tentou dominar e perdeu a bola”; p) “A torcida xingou o árbitro”; q) “O
árbitro confirmou o número do jogador”; r) “Vamos girar pelos outros
telões”; s) “Vamos atualizar os resultados”; t) “Vamos recuperar a
imagem”; u) “O técnico precisa encaixar o sistema”.
9. Após essas considerações, fazem-se, em síntese, os seguintes
comentários quanto ao exemplo da consulta: a) o Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de
Letras, é a palavra oficial para definir a existência ou não dos vocábulos
em nosso idioma; b) e o VOLP registra, sim, como substantivo feminino
regularmente existente em português, o termo fugida (2009, p. 387); c)
desse modo, é de total correção dizer e escrever dar uma fugida; d) nada
impede o emprego desse substantivo no diminutivo, de modo que se
venha a dizer “O jeito é dar uma fugidinha com você”.

Dá-se à causa o valor de ou Dá à causa o valor de?


1. Um leitor pergunta qual a forma correta: “Dá à causa o valor de…” ou
“Dá-se à causa o valor de…”.
2. Observe-se, desde logo, que ambas as expressões são corretas, cada uma
com as suas peculiaridades sintáticas.
3. Para o primeiro exemplo – Dá à causa o valor de… – siga-se o raciocínio
do autor em uma petição inicial: a) Vem (ele, autor) à presença do
magistrado para expor os fatos; b) Expõe (ele, autor) os fundamentos de
direito; c) Promove (ele, autor) a ação; d) Requer (ele, autor) a citação
do réu e a possibilidade de produzir todas as provas permitidas pelo
ordenamento jurídico; e) Por fim, dá (ele, autor) à causa o valor de…
4. Nesse caso: a) O sujeito de dar está oculto; b) Facilmente identificável, é
ele (o autor da demanda); c) Importa observar que, se houver mais de um
autor para a ação, então a correta expressão será “Dão à causa o valor
de…”; d) Essa variação para o plural é consequência lógica da
concordância verbal; e) Em tal caso, outros verbos da petição inicial da
ação também haverão de ir para o plural: i) “Vêm (eles, autores) à
presença do magistrado para expor os fatos”; ii) “Expõem (eles,
autores) os fundamentos de direito”; iii) “Promovem (eles, autores) a
ação”; iv) “Requerem (eles, autores) a citação do réu e a possibilidade
de produzir todas as provas permitidas pelo ordenamento jurídico…”
5. Para o segundo dos exemplos – “Dá-se à causa o valor de…” – outro há
de ser o raciocínio: a) Uma frase como essa, que conta com a presença
de um se nesses moldes, chama-se reversível; b) Isso quer dizer que tal
frase pode ser dita de outro modo; c) Já revertida, tal frase fica assim: “É
atribuído à causa o valor de…”; d) Na ordem direta, tal frase revertida
fica deste modo: “O valor de… é atribuído à causa”.
6. Em frases assim reversíveis, que contem com a presença de um se nos
moldes referidos, podem-se extrair as seguintes conclusões: a) O
exemplo que conta com o se está na voz passiva sintética; b) O se é
partícula apassivadora; c) A expressão o valor é sujeito (e não objeto
direto); d) O exemplo revertido – “É atribuído à causa o valor de…” –
está na voz passiva analítica; e) É atribuído é uma locução verbal; f) O
valor de também é sujeito na frase revertida.
7. Reitere-se, por fim, como remate, a observação inicialmente feita: ambas
as estruturas são gramaticalmente corretas, cada qual delas com suas
peculiaridades sintáticas.
Datado
1. No que concerne à exigência da preposição que lhe vem em seguida,
embora reconheça ser mais comum a construção com a preposição de,
Sousa e Silva observa que também se admite a construção com em.
2. Assim, estão igualmente corretos, quanto à sintaxe, os seguintes
exemplos: a) “Carta datada de 10 de fevereiro”; b) “Carta datada em 10
de fevereiro” (SILVA, A., 1958, p. 95).
3. Francisco Fernandes (1969, p. 121) também refere as duas possibilidades
de construção, transcrevendo dois autores, os quais usaram ora uma, ora
outra regência: a) “Tenho a satisfação de acusar e agradecer a
comunicação de Vossa Excelência, datada de 4 do corrente” (Rui
Barbosa); b) “E outras (cartas) mais de folga, datadas do convento de
Viana do Minho, onde o humilde príncipe da igreja se fora a descansar”
(Camilo Castelo Branco); c) “De uma carta de Corumbá, datada em 12
de março…” (Rui Barbosa); d) “Tenho uma carta dele, datada em
Alexandria” (Camilo Castelo Branco).
4. Além dessas sintaxes, Celso Pedro Luft ainda refere a possibilidade de
construção com a preposição a: “Carta datada a 8 de março” (1999, p.
145).

Datas
1. De início, anote-se o ensinamento da maioria dos gramáticos de que o
primeiro dia do mês é ordinal, não cardinal (GÓIS, 1943, p. 88).
2. Assim, seguindo exemplo de Celso Cunha (1970, p. 136), 1º de março (e
não 1 de março).
3. Por conseguinte, em forma compacta, de igual modo, escreve-se 1º, e
não 01 (1º/10/49 e não 01/10/49).
4. Anote-se, contudo, que Aires da Mata Machado Filho afiança ser correta
a construção “Hoje é um de dezembro” (1969a, p. 577).
5. Também muito embora observe que “hoje há preferência pelo ordinal”,
leciona Domingos Paschoal Cegalla que, “para designar o primeiro dia
do mês, pode-se usar o ordinal ou o cardinal: ‘O fato ocorreu no dia
primeiro (ou no dia um) de julho de 1990’” (1999, p. 121).
6. Para resumir esse aspecto, ante a divergência entre os gramáticos, deve-
se conferir liberdade ao usuário, de modo que se deve considerar correto
o emprego tanto do ordinal quanto do cardinal.
7. Em continuação, atente-se a que, em português, os nomes de meses se
escrevem com letra minúscula, porque o Formulário Ortográfico não os
inclui entre os nomes próprios, conforme esclarece observação do inciso
3º de sua regra 49: janeiro, março, outubro; jamais Janeiro, Março,
Outubro.
8. Sob outro aspecto, em oportuna observação, lembra Luiz Antônio
Sacconi (1979, p. 236) que, por um lado, “atualmente usa-se o ponto
também na separação de casas decimais: 15.245, 289.493, 1.648.396,
etc.”; por outro lado, “os números que identificam o ano não costumam
ganhar ponto: 1979, 1947, 1900, 1822, etc.”.
9. Quanto à concordância verbal, o verbo ser, nas datas, admite três
construções igualmente corretas: a) “Hoje é dia 30 de novembro”; b)
“Hoje é 30 de novembro”; c) “Hoje são 30 de novembro”.
Ver Hoje é dois – Está correto? (P. 391)

Datas – A catorze de julho ou Em catorze de julho?


Ver A catorze de julho ou Em catorze de julho? (P. 64)

Datas – Ponto no fim?


1. Uma leitora pergunta se, no final de uma expressão indicativa de data –
como “Miguelópolis, 18 de outubro de 1949” – deve ou não haver ponto.
2. Ora, para não haver dúvida em nenhum dos aspectos envolvidos,
observa-se que, em uma expressão indicativa de data, como a que inicia
uma correspondência, quatro observações são importantes: a) após o
nome da localidade, há vírgula (BECHARA, 1974, p. 338); b)
contrariamente ao que se dá em outros idiomas, como o inglês, o nome
do mês se escreve com inicial minúscula (isso, aliás, é determinação
expressa do Acordo Ortográfico de 2008); c) no ano, contrariamente ao
que, em regra, ocorre com os cardinais (“1.949 pessoas morreram com o
terremoto”), não há ponto entre o número indicador do milheiro e o
dígito indicador da centena (outubro de 1949); d) no final da data,
coloca-se um ponto.
3. No que diz respeito diretamente à indagação da leitora – se há ou não
ponto no final de tais expressões – Rocha Lima, exatamente tratando do
assunto ora sob análise, refere quatro cartas, três da lavra de Olavo Bilac
e uma de Euclides da Cunha, todas endereçadas a Coelho Neto, escritos
esses que ele considera “primorosos modelos de epistolografia
brasileira”. E todos eles, cada qual com suas peculiaridades, se
enquadram exatamente nos moldes acima especificados: a) “Milão, 9 de
março de 1909.”; b) “Rio, 1 de junho de 1902.”; c) “31, janeiro, 1902.”;
d) “Rio, 2-4-904.” (LIMA, 1972, p. 424-5); e) isso significa, em suma,
que, em tais casos, no final das datas, deve-se finalizar a escrita com um
ponto.

Data venia
Ver Adjetivação desnecessária (P. 80).

Data venia – com hífen ou sem?


Ver Post mortem – Com hífen ou sem? (P. 585)

Datilografar
1. Quanto à ortografia, anota-se que o Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, órgão incumbido
oficialmente de determinar a existência dos vocábulos em nosso idioma,
além de sua grafia oficial, registra tanto dactilografar como datilografar
(2009, p. 241 e 244), o que significa que o emprego de ambas as formas
está oficialmente autorizado.
2. Observe-se, contudo, que, em decorrência da lei do menor esforço, que
rege a dicção dos vocábulos na evolução das línguas, fala-se o que é
mais fácil, não o que é mais difícil (contato e não contacto, muito
embora ambas sejam formas corretas).
3. Bem por isso, mais no Brasil do que em Portugal, as consoantes inúteis,
determinadas pela etimologia, como o c do caso apreciado, tendem a cair
da pronúncia, com o consequente reflexo de sua eliminação na escrita, o
que, na prática, com o reforço do computador, em cuja linguagem se diz
haver digitação e não datilografia, põe dactilografar no baú de coisas
pouco usadas, apesar de sua integral correção.
4. Só por curiosidade, registre-se que, em pacto e rapto, as consoantes
intermediárias não são inúteis.
5. No que concerne à prosódia, as pessoas erram na pronúncia e na escrita
das formas rizotônicas desse verbo, nas quais a sílaba tônica é sempre
gra, não havendo formas proparoxítonas: datilografo, datilografas,
datilografa, datilografamos, datilografais, datilografam (presente do
indicativo); datilografe, datilografes, datilografe, datilografemos,
datilografeis, datilografem (presente do subjuntivo); datilografa,
datilografe, datilografemos, datilografai, datilografem (imperativo
afirmativo); não datilografes, não datilografe, não datilografemos, não
datilografeis, não datilografem (imperativo negativo).
6. Como as formas rizotônicas apenas ocorrem nos tempos referidos, não
há dúvidas de pronúncia e escrita nos demais tempos.
7. Veja-se, por fim, que o substantivo é que é proparoxítono: o datilógrafo,
a datilógrafa, os datilógrafos, as datilógrafas.
8. A questão se resolve pelas observações de Otelo Reis acerca das formas
verbais paroxítonas dignas de nota: “Certas formas rizotônicas,
paroxítonas, de verbos polissilábicos, possuem homógrafos
proparoxítonos, que são substantivos ou adjetivos. A distinção é feita, na
escrita, pela acentuação da palavra proparoxítona” (1971, p. 73-4).
9. Problema idêntico se dá com outros verbos, como biografar (o biógrafo
e eu biografo), dialogar (o diálogo e eu dialogo), estenografar (o
estenógrafo e eu estenografo), filosofar (o filósofo e eu filosofo),
fotografar (o fotógrafo e eu fotografo), interpretar (o intérprete e que eu
interprete), invalidar (ato inválido e eu invalido), logografar (o
logógrafo e eu logografo), maquinar (a máquina e ele maquina),
monologar (o monólogo e eu monologo), sindicar (o síndico e eu
sindico), subsidiar (o subsídio e eu subsidio), taquigrafar (o taquígrafo e
eu taquigrafo).

De
Ver Da falência (P. 246) e Preposição – Quando deve ser repetida? (P. 595).
De a
Ver É hora da onça beber água ou É hora de a onça beber água? (P. 296)

Decano ou Décano?
1. Quanto à prosódia, é palavra paroxítona, devendo ser pronunciada com
mais força sua penúltima sílaba (ca), rimando com soprano, sendo essa a
lição de Silveira Bueno, o qual realça que tal palavra “é daquelas que
não entram na aceitação geral. Há muita gente notável que diz
erradamente décano” (1938, p. 54).
2. Mário Barreto (1954b, p. 124), ao tratar das acentuações viciosas, alude
“aos que, contra a origem e prática, querem esdruxulizar” tal vocábulo,
pronunciando-o com acento na antepenúltima sílaba.
3. Em razão de sua adequada pronúncia paroxítona, não há motivo algum
para que se lhe ponha acento gráfico.
4. Júlio Ribeiro chama “esdrúxula asneira” a prosódia proparoxítona (dé) e
escreve: “O povo, que observa sempre, instintivamente, as leis da
glótica, do ablativo latino decano fez deão; os verdadeiros doutos
portugueses fizeram decano…” (RIBEIRO, Júlio, apud PINTO, 1924, p.
30).
5. E Pedro A. Pinto, que transcreve a lição de Júlio Ribeiro, invoca o
suporte de Mário Barreto, rematando: “Está hoje muito generalizada a
boa pronúncia da palavra, e somente pessoas completamente jejunas em
coisas da língua portuguesa serão capazes de dizer decano” (RIBEIRO,
Júlio, apud PINTO, 1924, p. 30).
6. Mais recentemente, Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 18), sem quaisquer
comentários ou formalidades adicionais, também lhe reitera a condição
de paroxítona.
7. Para Luís A. P. Vitória, “a pronúncia é, indubitavelmente, como
paroxítono (decâno), como bem o prova a forma evoluída de deão”
(1969, p. 85).
8. Eduardo Carlos Pereira (1924, p. 259) encarta o erro prosódico da
pronúncia proparoxítona de tal vocábulo no rol dos barbarismos de
forma ou peregrinismos.
9. Em corroboração com o ensino de tais autores, o Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras,
que é o veículo oficial para dirimir dúvidas acerca da existência ou não
de vocábulos pertencentes a nosso idioma, bem como acerca de sua
correta grafia e pronúncia, registra apenas a forma paroxítona decano
(2009, p. 245).

Decigrama
Ver Grama (P. 376).

Decisão
Ver Veredicto, Veredito ou Veredíctum? (P. 765)

Decisão: exarar, prolatar ou proferir?


Ver Exarar, prolatar ou proferir sentença? E acórdão? E despacho? (P.
340)

Decisão recorrida
Ver Sentença recorrida – Está correto? (P. 690)

Declinar – Galicismo?
1. José de Sá Nunes, num primeiro momento, aponta lição de Cândido de
Figueiredo e de Mário Barreto no sentido de que se evite a expressão
declinar o seu nome em lugar de declarar o seu nome, por se tratar de
galicismo de frase.
2. A seguir, porém, contraria tal ensinamento, aduzindo: “Em que pese,
todavia, a esses filólogos insignes, é de bom aviso não condenar um
verbo que, naquela acepção, tem sido usado por escritores como estes: a)
“… declinar o nome de seus cúmplices” (Ernesto Carneiro Ribeiro); b)
“Tais condições me parecia reunirem-se, até, numa pessoa, cujo nome
declinei, e cujas provas em todos esses dotes são cabais: o conselheiro
Lafayette” (Rui Barbosa).
3. O Padre José F. Stringari (1961, p. 14) – que, de um lado, refere o ensino
de Mário Barreto no sentido de que se deva evitar o verbo no sentido de
declarar, e, de outro, contrapõe a lição de Rui Barbosa, que tem por
escorreito seu emprego nesse sentido – abona o emprego de tal verbo na
significação discutida, exarando a seguinte lição: “Eu de mim não ouso
refusar nem desaconselhar o emprego do verbo declinar no sentido que
um escritor do porte de Rui Barbosa subscreveu”. E traz dois exemplos
do mesmo autor cuja autoridade invocou: a) “Tais condições me parecia
reunirem-se, até, numa pessoa, cujo nome declinei”; b) “Coelho da
Rocha, Teixeira de Freitas e Carlos de Carvalho são os nomes que
declina”.
4. Quanto a sua regência, no sentido de recusar, rejeitar, trazendo exemplo
de Latino Coelho, anota Vitório Bergo (1944, p. 76) que, “embora pareça
preferida a construção deste verbo com a preposição de, clássica é
também a construção transitiva (isto é, sem preposição): “Aleguei
incompetência, declinei a jurisdição, sorrindo-me contudo a ideia de
aparecer escritor”.
5. Nessa esteira, Carlos Góis e Herbert Palhano (1963, p. 187) assinalam a
dupla regência desse verbo, conforme seja seu significado: como
transitivo direto, tem o sentido de declarar; como transitivo indireto
(preposição de), quer dizer desistir de. Exs.: a) “Ele declinou o favor
concedido” (declarou qual era o favor); b) “Ele declinou do favor
concedido” (desistiu do favor).
6. Na última acepção, todavia, Celso Pedro Luft (1999, p. 165) o tem por
transitivo direto ou por transitivo indireto. Exs.: a) “Declinar a honra”;
b) “Declinar da honra”.
7. Em termos bem práticos, pode-se sintetizar do seguinte modo: a) no
sentido de declarar, é transitivo direto (“Ele declinou os culpados”); b)
na acepção de recusar, pode ser, facultativamente, transitivo direto ou
transitivo indireto (“Ele declinou a honra” ou “Ele declinou da honra”).

Decompor – Como conjugar?


Ver Pôr – Como conjugar? (P. 577)

De conformidade ou Em conformidade?
1. De conformidade e em conformidade são expressões sinônimas, que
significam de acordo. Exs.: a) “O juiz agiu, no caso, de conformidade
com a lei” (correto); b) “O juiz agiu, no caso, em conformidade com a
lei” (correto).
2. Os dispositivos das leis mais conhecidas revelam que, às vezes, o
legislador opta pela locução em conformidade com: a) “Os valores que
existirem em estabelecimento bancário oficial, na forma do artigo
antecedente, não se poderão retirar, senão mediante ordem do juiz, e
somente: … III – para se empregarem em conformidade com o disposto
por quem os houver doado, ou deixado” (CC, art. 1.754, III); b) “A
hipoteca legal dos bens do tutor ou curador, inscrita em conformidade
com o inciso IV do art. 827 do Código Civil anterior …, poderá ser
cancelada…” (CC, art. 2.040); c) “O juiz não receberá o recurso de
apelação quando a sentença estiver em conformidade com súmula do
Superior Tribunal de Justiça ou do Supremo Tribunal Federal”
(CPC/1973, art. 518, § 1º).
3. Outras vezes, porém, sem alteração alguma de sentido, prefere o
legislador a expressão de conformidade com: a) “Da decisão do órgão
que, de conformidade com o estatuto, decretar a exclusão, caberá
sempre recurso à assembleia geral” (CC, art. 57, parágrafo único, em
redação revogada); b) “A pessoa, nomeada de conformidade com os
artigos antecedentes, adquire os direitos e assume as obrigações
decorrentes do contrato, a partir do momento em que este foi celebrado”
(CC, art. 469); c) “O maior de dezesseis e menor de dezoito anos não
emancipado pode ser mandatário, mas o mandante não tem ação contra
ele senão de conformidade com as regras gerais, aplicáveis às
obrigações contraídas por menores” (CC, art. 666); d) “O comissário é
obrigado a agir de conformidade com as ordens e instruções do
comitente, devendo, na falta destas, não podendo pedi-las a tempo,
proceder segundo os usos em casos semelhantes” (art. 695, caput); e) “O
título de crédito, incompleto ao tempo da emissão, deve ser preenchido
de conformidade com os ajustes realizados” (CC, art. 891, caput); f) “O
portador de título representativo de mercadoria tem o direito de
transferi-lo, de conformidade com as normas que regulam a sua
circulação, ou de receber aquela independentemente de quaisquer
formalidades, além da entrega do título devidamente quitado” (CC, art.
894); g) “Não sendo cumprida a ordem, proceder-se-á à busca e
apreensão do testamento, de conformidade com o disposto nos arts. 839
a 843” (CPC/1973, art. 1.129, parágrafo único); h) “A parcela de que
trata o inciso I será distribuída proporcionalmente a um coeficiente
individual de participação, resultante do produto dos seguintes fatores:
… b) Fator representativo do inverso da renda per capita do respectivo
Estado, de conformidade com o disposto no art. 90” (CTN, art. 91, § 1º,
b).
4. Celso Pedro Luft (1999, p. 117-8) apenas entrevê a possibilidade de
construir qualquer das duas locuções seguida da preposição com: a)
“Agir de conformidade com a consciência”; b) “Os brasileiros que leem
de conformidade com a escrita… reagiram contra a novidade
ortográfica” (João Ribeiro).
5. Esse também é o posicionamento sustentado por Francisco Fernandes
(1969, p. 99): “Como, … de conformidade com eles, buscássemos… a
demão literária ali começada, para logo se viu negrejar a mais estranha
procela, que nunca escurecera por esses horizontes” (Rui Barbosa).
6. De Domingos Vieira, contudo, tem-se construção com a preposição a:
“Em conformidade às ordens recebidas” (VIEIRA apud LUFT, 1999, p.
118). E disso deflui a conclusão de que se devem aceitar ambas as
possibilidades de sintaxe.
Ver Conforme (P. 216).

Decreto
Ver Números – Como ler e Empregar? (P. 506)

Decreto Federal ou Decreto federal?


Ver Lei Federal ou Lei federal? (P. 443)

Decreto-lei
1. Denomina-se decreto-lei, num primeiro sentido, o ato emanado do Poder
Executivo, quando, em seu fundo e sua forma, se equipara às próprias
leis, emanadas do Poder Legislativo (DE PLÁCIDO E SILVA, 1989, p.
17).
2. Às vezes, pode ser o ato que decorre de uma atribuição conferida pelo
ordenamento ao Poder Executivo, para, em relação a determinada
matéria ou durante circunstâncias previstas, expedir determinação
normativa, com a mesma força de lei, como se adviesse do Poder
Legislativo.
3. Outras vezes, pode ser resultado da junção da vontade do Poder
Executivo e do Poder Legislativo.
4. A Constituição Federal de 1988 não mais faz referência a tal modalidade
de norma.
5. Quanto a sua variação para o plural, independentemente de quaisquer
outras discussões doutrinárias sobre o assunto, o certo é que o
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela Academia
Brasileira de Letras, órgão oficialmente incumbido de fornecer a correta
grafia das palavras em nosso idioma, registra duas formas: decretos-leis
e decretos-lei (2009, p. 246).
6. Atenta aos frequentes equívocos que ocorrem a esse respeito, sobretudo
em meio a profissionais de nível universitário e executivos, adverte
Laurinda Grion que “é preciso tomar cuidado, pois estas palavras
causam dúvidas em muitas pessoas” (s/d, p. 25).
Ver Números – Como ler e Empregar? (P. 506)

De cujus – com hífen ou sem?


Ver Post mortem – Com hífen ou sem? (P. 585)

De cujus – Qual é o plural?


1. Um leitor envia a seguinte indagação: “Nos processos de inventário, às
vezes, há mais de um falecido. Nesses processos, como colocar a
expressão latina de cujus no plural?”
2. Quando se emprega a expressão de cujus em processos de inventário,
tem-se uma forma braquilógica (redução de palavras ou expressões),
extraída da locução latina is de cujus sucessione agitur, a qual, traduzida,
significa “aquele de cuja sucessão se trata”.
3. Nossos repositórios legais trazem alguns casos de emprego da expressão
em latim: a) “… decorridos 5 (cinco) anos da abertura da sucessão, os
bens arrecadados passarão ao domínio do Estado, ou ao Distrito
Federal, se o de cujus tiver sido domiciliado nas respectivas
circunscrições…” (CC/1916, art. 1.594, em redação já revogada mesmo
antes do CC/2002); b) “O cônjuge viúvo, se o regime de bens do
casamento não era o da comunhão universal, terá direito, enquanto
durar a viuvez, ao usufruto da quarta parte dos bens do cônjuge
falecido, se houver filhos, deste ou do casal, e à metade, se não houver
filhos embora sobrevivam ascendentes do de cujus” (CC/1916, art.
1.611, § 1º).
4. Para melhor entendimento da expressão em latim (que guarda perfeita
equivalência para efeito de raciocínio), considere-se a respectiva
tradução: “aquele de cuja sucessão se trata”. Nesta, o pronome adjetivo
cuja refere-se a sucessão, fato esse que se confirma, quando, no mero
plano da Gramática, se substitui por outro o vocábulo sucessão (muito
embora possa não haver efetiva significação jurídica na afirmação
resultante): a) “Aquele de cujo inventário se trata…”; b) “Aquele de cuja
sucessão se trata…”; c) “Aquele de cujos bens se trata…”; d) “Aquele
de cujas dívidas se trata…”
5. Num segundo aspecto, fixe-se que o pronome adjetivo cuja não se refere
ao pronome aqueles. Para constatar, basta variar aquele e se perceberá
que a expressão discutida não se altera: a) “aquele de cuja sucessão se
trata”; b) “aquela de cuja sucessão se trata”; c) “aqueles de cuja
sucessão se trata”; d) “aquelas de cuja sucessão se trata”.
6. Como o raciocínio em vernáculo é o mesmo para o latim no aspecto da
consulta, o que se pode dizer, em resposta específica à indagação do
leitor, é que, não importando quantos sejam os falecidos e autores da
herança, a expressão latina há de permanecer sempre invariável: de cujus
sucessione agitur. Ou, de modo mais específico: a) o de cujus; b) a de
cujus; c) os de cujus; d) as de cujus.
7. Não assiste razão, assim, à observação encontrada na internet, em um
site especializado em língua portuguesa, de que a expressão não
receberia flexão de gênero, mas sempre deveria permanecer no
masculino – “o de cujus” – com as especificações: o de cujus varão ou
masculino e o de cujus virago ou feminino.
8. Ante o próprio significado e o comportamento linguístico da expressão,
há de se ter a cautela para não incidir no erro daquele causídico
despreparado do anedotário forense, o qual, em demonstração de que a
realidade, no mínimo, se iguala à fantasia, virou fato e, ao fazer as
primeiras declarações em autos de inventário, “afirmava que o de cujus
(o falecido) havia deixado cinco de cujinhos. Ele queria dizer que o
morto deixou cinco filhos vivos” (Folha de S. Paulo, 10/5/97).
9. Quanto à grafia, é certo que Cândido Jucá Filho registra o
aportuguesamento da expressão, com hífen e acento gráfico por nossas
regras: “Procedemos segundo a vontade expressa da de-cújus” (1963, p.
184).
10. Eliasar Rosa (1993, p. 51) por seu lado, registra o emprego da forma
aportuguesada decujo por Pontes de Miranda, por Lacerda de Almeida
e por outros juristas.
11. Tais formas aportuguesadas – de-cújus e decujo – contudo, não são
registradas pelo Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da
Academia Brasileira de Letras, órgão oficialmente incumbido de listar
quais as palavras que efetivamente integram nosso léxico, motivo por
que não se autoriza seu emprego.
12. Assim, por constituir expressão alheia a nosso idioma, deve ser grafada
sem acento e sem hífen (que não existiam na língua de origem), até
porque, como lembra Edmundo Dantès Nascimento (1982, p. 145), se
expressões assim não eram hifenizadas em latim, “não o podem ser em
língua nenhuma”. E acrescenta tal autor: “para quem pretende grafar
escorreitamente, não é permitido o hífen em expressões do latim
clássico”.
13. Além disso, expressões dessa natureza devem vir entre aspas, em
itálico, negrito ou com sublinha, que é o procedimento normal em
relação a vocábulos empregados em nosso idioma, mas alheios ao
vernáculo.

Dedetizar ou Detetizar?
1. Em 1874, um estudante alemão sintetizou o Dicloro Difenil Tricloretano,
ou simplesmente DDT, substância que, inicialmente esquecida, acabou
por conferir o Prêmio Nobel de Medicina de 1948 a seu descobridor
moderno, o suíço Paul Müller. A substância foi muito usada na Segunda
Guerra Mundial para proteger soldados contra insetos. A partir daí,
tornou-se um popular pesticida em pó branco, tanto para combater
doenças transmitidas por insetos, como para ajudar fazendeiros no
controle das pestes agrícolas.
2. Sua reputação, contudo, durou pouco, pois, em 1962, Rachel Carson
publicou o livro Silent Spring, obra tida como uma das mais influentes
do século, em que mostrou que a referida substância estava contribuindo
para a extinção de algumas espécies, entre as quais o falcão peregrino e a
águia careca. Afirmava, ainda, tal autora que tal substância penetrava na
cadeia alimentar e acumulava-se nos tecidos gordurosos dos animais,
inclusive do homem, com o risco de causar câncer e dano genético.
3. Os opositores de seu uso ressaltam sua volatilidade, seu efeito residual
no organismo humano por até trinta anos e sua potencialidade
cancerígena. Em 1972, os Estados Unidos da América, depois de
acirrada disputa judicial e política, baniram o produto. Logo foram
seguidos pela maioria dos países industrializados. Nas lavouras do
Brasil, não pode ser usado desde 1985, e a Suíça não o permite desde
1939. Existia um projeto mundial, feito por ambientalistas, para bani-lo
totalmente do planeta até 2007.
4. Apesar de grande oposição em todo o mundo, também conta com
defensores de peso, em razão de sua eficácia e custo baixo na
higienização de ambientes contra o mosquito transmissor do parasita da
malária. Afirmam tais defensores que até hoje não existe prova definitiva
de que o DDT prejudique a saúde humana. No combate à malária,
continua sendo usado por cerca de vinte países.
5. Pois bem: da substância Dicloro Difenil Tricloretano, ou, mais
especificamente, de sua sigla DDT (ou D.D.T.), surgiram os neologismos
dedetê, dedetização, dedetizado, dedetizador, dedetizar, dedetizável,
todos hoje aceitos como palavras de nosso léxico pelo Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, elaborado pela Academia Brasileira
de Letras, que é quem tem a responsabilidade legal de editá-lo, em
cumprimento à vetusta Lei Eduardo Ramos, de n. 726, de 8/12/1900,
listando, assim, os vocábulos de nosso idioma, consolidando-lhes a
grafia e classificando-os por gênero e por categoria morfológica (VOLP,
2009, p. 246 e 247).
6. Observe-se, por fim, que, na esteira do que ocorreu com outros
neologismos, dedetizar, originariamente, significava aplicar DDT. Seu
conteúdo semântico, porém, extrapolou os limites de seu significado, e a
substância passou a representar toda e qualquer substância similar, a
exemplo do que se dá com gilete e cotonete. Assim, aplicar toda e
qualquer substância similar, ainda que não fundada no princípio ativo do
Dicloro Difenil Tricloretano, passou a ser dedetizar. É por isso que, hoje,
embora vedado seu uso em nosso país, veem-se, aqui e ali, as empresas
de dedetização, que podem aplicar diversas substâncias com idêntico
objetivo, mas seguramente não utilizam DDT.

De ele – Está correto?


Ver É hora da onça beber água ou É hora de a onça beber água? (P. 296)

Dêem ou Deem?
Ver Crêem ou Creem? (P. 240)

De encontro a ou Ao encontro de?


Ver Ao encontro de ou De encontro a? (P. 123)

De eu – Está correto?
Ver É hora da onça beber água ou É hora de a onça beber água? (P. 296)

De facto ou De fato?
1. Um leitor, estranhando ter visto no noticiário a expressão de facto em
contraposição a de direito, indaga qual a razão desse c e se o correto não
seria de fato.
2. Ora, desde o começo do século XX, houve tratativas para acordos
ortográficos entre Brasil e Portugal, e elas acabaram, com o tempo,
abrangendo os países lusófonos que, gradativamente, se formaram a
partir da independência das antigas colônias portuguesas.
3. Tais tentativas de acordo, entretanto, invariavelmente malogravam e
sempre por um mesmo motivo: uma das partes buscava impor seu modo
de pronunciar ou de escrever, preconizando a consequente eliminação do
ponto de vista do outro.
4. Diferentemente, porém, do que se tentou em outras épocas, o Acordo
Ortográfico de 2008, discutido e trabalhado desde a década de 90 do
século passado, teve a sabedoria e o bom-senso de estabelecer que,
quando, considerada toda a extensão territorial de fala portuguesa,
houvesse duas pronúncias para um determinado vocábulo, então haveria
também duas escritas aceitas e válidas.
5. E essa é exatamente a situação do vocábulo trazido na dúvida do leitor:
enquanto no Brasil a pronúncia é de fato, já em Portugal se fala de facto.
6. Em tal caso, a conclusão só pode ser uma: se há duas pronúncias na
extensão territorial de fala portuguesa, ambas são consideradas válidas e
corretas.
7. Bem por isso, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, editado
pela Academia Brasileira de Letras, como autoridade oficial para
determinar a grafia e a pronúncia dos vocábulos existentes em nosso
idioma, registra, como existentes, válidos e corretos ambos os
vocábulos: facto e fato (2009, p. 361 e 365).
8. Assim, de modo direto para a indagação do leitor, tanto é correta a
expressão de fato, como também o é o circunlóquio de facto.

Defender – Galicismo?
1. Tal verbo é tido por alguns como galicismo na acepção de proibir,
sobretudo quanto à forma do particípio defeso. Ex.: “É defeso o emprego
de plebeísmos e gírias em autos de processos judiciais”.
2. Mário Barreto, todavia, com toda sua autoridade, reputa, juntamente com
outras construções, vernácula a referida sintaxe, esclarecendo que “a
circunstância de que são parecidas com as francesas não é razão, nem
sequer argumento para capitularmos tais palavras de galicismos”.
3. E esclarece que palavras como essas são “frequentemente empregadas
pelos nossos antigos escritores”, o que está a evidenciar que “as línguas
portuguesa e francesa, como nascidas ambas da latina, ramos do mesmo
tronco, deviam ter entre si, nos seus princípios, mais pontos de contato e
semelhança” (BARRETO, 1954b, p. 117-8).
4. Francisco Fernandes (1971, p. 183) também defende o uso de tal verbo
nesse sentido, abonando-se em autores insuspeitos: a) “Não comia peixe
contínuo, como manda a regra de S. Domingos, por lho defenderem os
médicos” (Frei Luís de Sousa); b) “Mas comer o gentio não pretende,
que a seita, que seguia, lho defende” (Luís de Camões).
5. Muito embora observe ser de pouco uso na atualidade, Celso Pedro Luft
(1999, p. 166), de igual modo, acata a integral possibilidade de seu
emprego na acepção de proibir, vedar: “Os regulamentos defendem a
caça em certas épocas do ano” (Cândido de Figueiredo).

Deferimento ou Diferimento?
1. Deferimento significa anuência, aprovação ou ato de deferir. Exs. a)
“Não se concedeu deferimento àquela solicitação, por ser
manifestamente ilegal”; b) “O autor, na petição inicial, requererá: I – o
depósito da quantia ou da coisa devida, a ser efetivado no prazo de 5
(cinco) dias contados do deferimento, ressalvada a hipótese do § 3o do
art. 890” (CPC/1973, art. 893, I).
2. Já diferimento quer dizer adiamento, o ato de diferir. Exs.: a) “Não se
atentou ao diferimento concedido pelas leis fiscais, para que fosse
recolhido o imposto”; b) “Ressalvado o disposto no § 3º do artigo 52, é
assegurada ao Município a cobrança do imposto nos casos em que da
lei estadual resultar suspensão ou exclusão de créditos, assim como a
antecipação ou o diferimento de incidências relativamente ao imposto
de que trata aquele artigo” (CTN, art. 62, em redação já revogada)
3. Atenta aos frequentes equívocos que se dão a esse respeito, sobretudo
em meio a profissionais de nível universitário e executivos, adverte
Laurinda Grion ser “preciso tomar cuidado, pois estas palavras causam
dúvidas em muitas pessoas” (s/d, p. 25).
4. Por reputar tão oportuna a diferenciação, o próprio Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras,
órgão incumbido oficialmente de determinar a existência dos vocábulos
em nosso idioma, além de sua grafia oficial, mesmo contrariamente a seu
proceder e a suas finalidades, acaba por apontar de modo expresso a
distinção entre ambos: deferimento é anuência, enquanto diferimento é
adiamento (2009, p. 247 e 285).

Deferir o pedido ou Deferir ao pedido?


Ver Deferir ou Diferir? (P. 256)

Deferir ou Diferir?
1. Deferir significa conceder, anuir a. Ex.: “O magistrado deferiu o
requerimento de suspensão do processo”.
2. Vejam-se alguns exemplos de seu emprego em nossa legislação: a) “A
herança defere-se como um todo unitário, ainda que vários sejam os
herdeiros” (CC, art. 1.791, caput); b) “Nascendo com vida o herdeiro
esperado, ser-lhe-á deferida a sucessão, com os frutos e rendimentos
relativos à deixa, a partir da morte do testador” (CC, art. 1.800, § 3º); c)
“A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte…” (CC, art. 1.829,
caput); d) “Em falta de descendentes e ascendentes, será deferida a
sucessão por inteiro ao cônjuge sobrevivente” (CC, art. 1.838); e) “Não
havendo impugnação dentro de 5 (cinco) dias, o pedido do assistente
será deferido” (CPC/1973, art. 51, caput); f) “Se o autor desistir da ação
quanto a algum réu ainda não citado, o prazo para a resposta correrá
da intimação do despacho que deferir a desistência” (CPC/1973, art.
298, parágrafo único); g) “A propositura da execução, deferida pelo juiz,
interrompe a prescrição…” (CPC/1973, art. 617); h) “Havendo
impugnação pelo credor ou pelo devedor, o juiz deferirá, quando
necessário, a produção de provas e em seguida proferirá sentença”
(CPC/1973, art. 772, caput); i) “Produzidas as provas em justificação
prévia, o juiz, convencendo-se de que o interesse do requerente corre
sério risco, deferirá a medida, nomeando depositário dos bens”
(CPC/1973, art. 858, caput).
3. Deferir conjuga-se como aderir, de modo que recebe um i na primeira
pessoa do presente do indicativo e nos tempos dela derivados: defiro,
deferes, defere, deferimos, deferis, deferem (presente do indicativo);
defira, defiras, defira, defiramos, defirais, defiram (presente do
subjuntivo); defere, defira, defiramos, deferi, defiram (imperativo
afirmativo); não defiras, não defira, não defiramos, não defirais, não
defiram (imperativo negativo).
4. Na observação de José de Nicola e Ernani Terra, “o e do radical muda
para i na primeira pessoa do singular do presente do indicativo e nas
formas daí derivadas” (2000, p. 20).
5. Tal verbo não é defectivo e não apresenta problemas ou irregularidades
nos demais tempos e modos, nos quais é conjugado normal e
regularmente.
6. Desse modo, em termos práticos, assim se conjugam os outros tempos:
deferia (imperfeito do indicativo), deferirei (futuro do presente do
indicativo), deferiria (futuro do pretérito), deferindo (gerúndio), deferido
(particípio), deferi (pretérito perfeito), deferira (pretérito mais-que-
perfeito), deferir (futuro do subjuntivo), deferisse (imperfeito do
subjuntivo).
7. No que respeita à regência verbal, lembra Artur de Almeida Torres
(1967, p. 109) que “pode ser empregado como transitivo direto ou
indireto”. Exs.: a) “Deferiu logo aquela súplica… por isso não deferiu
estoutra” (Manuel Bernardes); b) “Deferiu um requerimento” (Cândido
de Figueiredo); c) “Deferiu este (juiz de direito) ao meu requerimento”
(Camilo Castelo Branco); d) “O pai não deferia à sua petição” (Antônio
Vieira).
8. Também Celso Pedro Luft (1999, p. 166-7) reputa válidas, com
possibilidade de uso facultativo, ambas as construções: deferir uma
petição ou deferir a uma petição.
9. Em mesmo sentido, leciona o Padre Stringari, em doutrina lembrada por
Francisco Fernandes (1971, p. 183): “dizemos deferir a súplica ou
deferir à súplica”.
10. Como parônima de deferir, existe o verbo diferir, que quer dizer
diferenciar, divergir, retardar. Exs.: a) “O ponto de vista do advogado
diferia integralmente do entendimento do magistrado”; b) “Diferir o
pagamento do imposto”.
11. As mesmas observações feitas para deferir, quanto à conjugação
verbal, servem para diferir: tem um i na primeira pessoa do presente do
indicativo e nos tempos dela derivados: difiro, diferes, difere,
diferimos, diferis, diferem (presente do indicativo); difira, difiras,
difira, difiramos, difirais, difiram (presente do subjuntivo); difere,
difira, difiramos, diferi, difiram (imperativo afirmativo); não difiras,
não difira, não difiramos, não difirais, não difiram (imperativo
negativo).
12. Não apresenta problemas ou irregularidades nos demais tempos e
modos, os quais assim se conjugam: diferia (imperfeito do indicativo),
diferirei (futuro do presente do indicativo), diferiria (futuro do
pretérito), diferindo (gerúndio), diferido (particípio), diferi (pretérito
perfeito), diferira (pretérito mais-que-perfeito), diferir (futuro do
subjuntivo), diferisse (imperfeito do subjuntivo).
13. E, por reputar tão oportuna a diferenciação entre ambos, o próprio
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira
de Letras, órgão incumbido oficialmente de determinar a existência dos
vocábulos em nosso idioma, além de sua grafia oficial, mesmo
contrariamente a seu usual proceder e a suas finalidades, acaba por
apontar de modo expresso a distinção de sentido entre os vocábulos:
deferir é atender, enquanto diferir é adiar (2009, p. 247 e 285).

Defeso
1. O art. 601 do Código de Processo Civil, em sua redação anterior a 1994,
hoje revogada, trazia exemplo de emprego desse vocábulo no sentido de
proibido, vedado: “Preclusa esta decisão, é defeso ao devedor requerer,
reclamar, recorrer ou praticar no processo quaisquer atos, enquanto não
lhe for relevada a pena”.
2. Apesar da pecha de galicismo que alguns intentam conferir ao vocábulo,
tal uso e tal significação são perfeitamente corretos, estando presentes
em diversos outros dispositivos da legislação pátria: a) “É defeso às
partes e seus advogados empregar expressões injuriosas nos escritos
apresentados no processo…” (CPC/1973, art. 15); b) “… Entre as
condições defesas se incluem as que privarem de todo efeito o ato, ou o
sujeitarem ao arbítrio de uma das partes” (CC/1916, art. 115, 2ª parte);
c) “A validade do ato jurídico requer agente capaz, objeto lícito e forma
prescrita ou não defesa em lei” (CC/1916, art. 82); d) “É defeso a quem
ainda não depôs assistir ao depoimento da outra” (CPC/1973, art. 344,
parágrafo único).
Ver Defender – Galicismo? (P. 256)

Défice, Deficit ou Déficit?


1. Palavra vinda do latim, seu sentido indica o que falta para completar
uma conta, ou ainda o que falta para as receitas igualarem as despesas.
2. Para Vitório Bergo, deficit é “latinismo consagrado na linguagem
comercial. É o presente do indicativo, terceira pessoa do singular, do
verbo deficio, deficere (faltar). Designa, portanto, o que falta para cobrir
a despesa” (1944, p. 78). Ex.: “Não se conseguiu superar o deficit
orçamentário”.
3. Atinando a sua origem e a seu emprego, observa Antonio Henriques, por
um lado, que se deficit trata da “terceira pessoa do singular do presente
do indicativo do verbo latino deficere, usado em português como
substantivo por transmutação de classe gramatical, fenômeno comum na
linguagem”.
4. Por outro lado, explicita tal autor (HENRIQUES, 1999, p. 43-4) que “o
termo está vernaculizado como se vê pelo acento (inexistente em latim) e
pela desinência do plural (déficits)”.
5. Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 104) preconiza o uso da forma
aportuguesada déficit no singular e de déficits para seu plural.
6. Justificando a manutenção da grafia latina do vocábulo, sem acréscimo
final de qualquer letra, apenas se lhe pondo o acento das proparoxítonas,
assim se expressa Arnaldo Niskier: “Consideramos recomendável tal
grafia, já que, se acrescentássemos o e ao t mudo final, teríamos palavras
biesdrúxulas (“déficite”…), coisa que não ocorre em nosso idioma”
(1992, p. 8-9).
7. Complementando a lição de Arnaldo Niskier, Celso Cunha e Luís Filipe
Lindley Cintra (1985, p. 56) advertem que as palavras bisesdrúxulas (ou
biesdrúxulas) ocorrem em português somente quando se combinam
certas formas verbais com pronomes átonos, formando um só vocábulo
fonético e, nesses casos, é possível o acento recuar mais uma sílaba além
da antepenúltima. Ex.: “Amávamo-lo, faça-se-lhe.”
8. Para José de Nicola e Ernani Terra, “esse substantivo masculino, que
significa o excesso da despesa sobre a receita, é um latinismo. Sua forma
aportuguesada é trissílaba e proparoxítona; recebe, portanto, acento
gráfico: dé-fi-cit” (2000, p. 77).
9. Lembrando tratar-se de forma latina substantivada, observam Regina
Toledo Damião e Antonio Henriques (1994, p. 56) que tal vocábulo hoje
aparece acentuado e com a desinência indicativa do plural (déficits),
sinal de que já se considera incorporado ao português.
10. Registre-se que Cândido Jucá Filho (1963, p. 185), sem mencionar a
forma déficit, registra défice.
11. Para Regina Toledo Damião e Antonio Henriques (1994, p. 56), seu
plural se forma pelo simples acréscimo de s (déficits).
12. Nesse mesmo sentido, quanto ao número, leciona Júlio Nogueira
(1930, p. 167) que “os nomes de línguas estrangeiras fazem o plural
como se fossem portugueses”: os déficits.
13. A par de todos esses ensinamentos, contudo, é de se verificar que o
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira
de Letras, que é o veículo oficial para dirimir dúvidas acerca da
existência ou não de vocábulos pertencentes a nosso idioma, bem como
acerca de sua correta grafia e pronúncia, reputa défice um vocábulo já
integrado ao nosso idioma, mas considera deficit (sem acento algum),
como vocábulo pertencente ao latim (2009, p. 247 e 862).
14. Porque assim é, legem habemus, de modo que não está oficialmente
autorizado qualquer outro emprego.
15. É oportuno anotar que, porque pertencente ao latim, deve-se escrever
deficit, então, entre aspas, em itálico, em negrito ou com sublinha,
como se procede quando se emprega uma palavra de outro idioma, e
sem acento, que não existia na língua originária.

De forma a ou De forma que?


1. Leciona com propriedade Arnaldo Niskier que se podem usar,
indiferentemente, as locuções de forma que e de forma a.
2. Para tal autor, “as duas formas estão corretas; apenas mantenha-se atento
às diferenças na construção da frase com uma ou outra expressão”
(NISKIER, 1992, p. 26). Exs.: a) “Mudou de calçada, de forma que não
fosse visto por seu desafeto” (correto); b) “Mudou de calçada, de forma
a não ser visto por seu desafeto” (correto).
3. Como se pode verificar, de forma que vem em construções com orações
estendidas; ao passo que de forma a serve para construir orações
reduzidas na voz passiva.
4. Anote-se, contudo, que, quanto a de forma a poder, em que a referida
expressão vem seguida diretamente de um infinitivo que não esteja na
voz passiva, lembra Luís A. P. Vitória que “constitui esta construção um
galicismo fraseológico. Diga-se em bom português: de forma que possa”
(1969, p. 86.).
Ver De molde ou De molde a? (P. 263)

De formas que – Está correto?


1. Ao contrário do que com frequência se ouve, sobretudo entre políticos e
pessoas metidas a falar bem, é equivocado o emprego no plural de
expressões como de formas que, de maneiras que ou de modos que.
2. Em observação conjunta para todas essas expressões, aconselhando o
uso do singular, anota Júlio Nogueira que as estruturas no plural “são
formas incorretas, plebeísmos grosseiros” (1959, p. 28).
3. Silveira Bueno é veemente em suas observações a respeito: “Tal
emprego, no plural, envolve erro grosseiro e prova que as pessoas que
dele fazem uso são caipiras, Jecas de colarinho e gravata, mas Jecas. O
certo é no singular: de modo que, de forma que, de maneira que… Todo
aquele leitor, que por acaso disser de maneiras que, de formas que, de
modos que, saiba que é Jeca disfarçado em letrado” (1938, p. 58).
4. Em seu modo bem-humorado de sintetizar, observa Arnaldo Niskier que
“de forma que, de modo que e de maneira que ficam sempre no singular;
de forma que de formas que está errado” (1992, p. 25).
5. Josué Machado, também divertido em seu modo de comentar os erros
cometidos por políticos e pela imprensa, lembra que um eterno candidato
paulista, ao qual tal autor taxativamente identifica como “de muitas
eleições malsucedidas”, faz questão de pronunciar com o s final as
expressões de maneira que, de forma que e de modo que. E tal autor
observa que “essas expressões ainda se escrevem, sem esses nem enes,
embora ele e outros políticos e sindicalistas façam o possível para
perpetuar a novidade” (MACHADO, 1994, p. 10).
6. Luís A. P. Vitória, possivelmente lembrado da frequência com que
ocorrem erros dessa natureza, também observa que, “nas expressões de
forma que, de modo que, de maneira que, nunca empregar o plural de
forma, modo, maneira” (1969, p. 116).
7. Eliasar Rosa (1993, p. 53), também em observação que abarca as três
expressões, não é menos rigoroso: “Como locuções conjuntivas, são
invariáveis ou inflexivas”.
8. Acresça-se a interessante justificativa de Édison de Oliveira (s/d, p. 156),
para quem, em expressões dessa natureza, não há como pluralizar parte
alguma, pois são locuções conjuntivas, equivalendo, assim, a uma
conjunção, “e conjunção é palavra invariável”.
Ver De forma a ou De forma que? (P. 258)

Defronte a ou Defronte de?


1. Lembra Arnaldo Niskier que “a expressão correta em português é
defronte de e não defronte a” (1992, p. 25). Exs.: a) “O réu esperava a
vítima defronte do supermercado” (correto); b) “O réu esperava a vítima
defronte ao supermercado” (errado).
2. Celso Pedro Luft (1999, p. 149), porém, reputa corretas ambas as
sintaxes, com a ou com de: “Sentar-se defronte a (ou de) alguém”.
3. Defendendo, de igual modo, ambas as construções, anota Domingos
Paschoal Cegalla que “não há motivo para censurar a locução defronte a,
abonada por escritores de renome” (1999, p. 105).
4. Ante a divergência entre os doutos, mais uma vez se aplica o vetusto
princípio de que, na dúvida, é de se ampliar a possibilidade de uso de
tais estruturas.

Degladiar ou Digladiar?
1. Digladiar, do latim digladiare, significa combater, contender, disputar.
Ex.: “Os advogados daquele processo digladiaram durante meses, em
polêmica inútil”.
2. Importa observar, porém, que o Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, órgão oficialmente
incumbido de listar as palavras pertencentes a nosso léxico, registra
digladiar (2009, p. 285), mas não repete tal proceder com respeito a
degladiar.
3. Isso significa que não existe em nosso idioma a palavra por último
referida, de modo que está vedado o uso de tal verbo em textos que
devam submeter-se à norma culta, muito embora alguns teimem em usá-
lo.

De há muito
1. O verbo haver, na acepção de tempo passado, às vezes entra na
formação de frases adverbiais. Ex.: “O advogado entrou há pouco na
sala de audiências”.
2. Em expressões adverbiais dessa natureza, haver não é visto como verbo,
mas, sobretudo, como preposição, razão por que se lhe podem antepor
de, desde e até, e isso, segundo o magistério de Napoleão Mendes de
Almeida (1981, p. 133), por analogia com outras expressões como de
então, desde ontem, até hoje.
3. São, portanto, corretas, frases como as seguintes: a) “Guarda integral
viço, embora seja uma lei de há três décadas”; b) “Desde há cinco anos,
a ação já podia ter sido proposta”; c) “Até há três anos, a mencionada
lei ainda não vigorava”.
4. Também para Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 105-6), de há muito
e de há pouco são “expressões da linguagem culta, referentes ao tempo
passado”, de integral correção, acrescentando tal autor que, “em vez de
muito e pouco, podem-se usar outras expressões de tempo”, como de há
cem anos, de há três décadas, de há mil anos. Ex.: “Ouve pela última
vez o rir que responde ao teu riso de há dez anos” (Alexandre
Herculano).
5. Vasco Botelho de Amaral (1939, p. 20), todavia, é do parecer de “que o
de superabunda em giros fraseológicos como este”, motivo por que julga
“mais correta a supressão daquele de, redigindo antes há muito”.
6. A posição divergente ao gramático por último citado não muda o
entendimento de que são corretas ambas as expressões – há muito e de
há muito – assim como de que não há diferença de sentido entre ambas.

Deixar
Ver Vi-o fechar o cofre ou Vi-lhe fechar o cofre? (P. 769)

Deixe-me ler – Está correto?


1. Os pronomes pessoais oblíquos átonos (me, te, se, o, a, os, as, nos,
vos…) podem funcionar como sujeitos do infinitivo. Ex.: a) “Deixe-me
ler os autos”; b) “Deixei-os ler os autos”.
2. Atente-se a que a forma reta, em tais casos, é errônea: a) “Deixe eu ler os
autos”; b) “Deixei eles lerem os autos”.
3. Em tal exemplo, por um lado, é certo que me e os não são objetos diretos
do verbo deixar, mas sujeitos de ler, o que facilmente se percebe,
quando se estende a oração: a) “Deixe que eu leia os autos”; “Deixei que
eles lessem os autos”.
4. Por outro lado, justifica-se tal construção (sujeito no caso oblíquo), por
se tratar de estrutura vinda do latim, na qual, sendo o pronome sujeito de
um verbo no infinitivo, vai ele para o acusativo (que é caso oblíquo), e
não para o nominativo (que é caso reto): a) “Credo Petrum esse bonum”
(correto); b) “Credo Petrus esse bonum” (errado).
5. E, de igual modo em português: a) “Deixe-me ler os autos” (correto); b)
“Deixe eu ler os autos” (errado); c) “Deixei-os ler os autos” (correto); d)
“Deixei eles lerem os autos” (errado).
Ver Pronome pessoal (P. 614).

De jeito a ou De jeito que?


Ver De forma a ou De forma que? (P. 258) e De molde ou De molde a? (P.
263)

Delapidar ou Dilapidar?
1. O Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa condena o uso de
delapidar, no sentido de arruinar, demolir, destruir, proceder esse que
também adota Aires da Mata Machado Filho (1969c, p. 464).
2. É, porém, forma de largo uso, e Napoleão Mendes de Almeida (1981, p.
7) a defende com sólidos argumentos.
3. Dilapidar, por seu lado, do latim dilapidare, é verbo que tem o
significado de destruir, arruinar, demolir. Ex.: “O pródigo dilapidou a
fortuna em poucos meses”.
4. Eliasar Rosa (1993, p. 57), de modo didático, observa que, em dilapidar,
“o sentido é de lançar pedra para um lado e para outro; para os dois (di)
lados, portanto. Como se vê, o di encerra o sentido fundamental da
dualidade”. E tal autor, acompanhado por outros gramáticos, não vê
razão, assim, para o emprego da variante delapidar.
5. Espancando, porém, toda e qualquer dúvida, o Vocabulário Ortográfico
da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, que é o veículo
oficial para dirimir dúvidas acerca da existência ou não de vocábulos em
nosso idioma, registra ambas as formas – delapidar e dilapidar (2009, p.
248 e 286), de modo que legem habemus, e o emprego de ambas está
oficialmente autorizado, como sinônimas e variantes gráficas de um
mesmo sentido.

Delatar ou Dilatar?
1. Delatar quer dizer acusar, denunciar, revelar (crime). Exs.: a) “Silvério
dos Reis delatou os conjurados” (Aurélio Buarque de Holanda Ferreira);
b) “Às onze horas Calisto Elói entrou na Câmara. Dir-se-ia que entrava
Cícero a delatar a conjuração de Catilina” (Camilo Castelo Branco); c)
“Um informante delatou o acusado à polícia”.
2. Já dilatar significa aumentar as dimensões, adiar, prorrogar. Exs.: a) “O
calor dilatou a madeira”; b) “O magistrado dilatou o prazo para a
apresentação dos memoriais”.
3. Talvez por reputar tão oportuna a diferenciação, o próprio Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras,
órgão incumbido oficialmente de determinar a existência dos vocábulos
em nosso idioma, além de sua grafia oficial, mesmo contrariamente a seu
proceder de não especificar o sentido das palavras, acaba por apontar de
modo expresso a distinção de sentido entre os vocábulos: delatar é
denunciar, enquanto dilatar é estender (2009, p. 248 e 286).

Delegada – Existe?
Ver Capitã, Capitoa ou A Capitão? (P. 168) e Poeta – Qual o feminino? (P.
570)

Delegar
1. Em linguagem comum, significa transmitir poderes a alguém com a
finalidade de que este último aja em nome daquele que lhe outorgou tal
faculdade de atuação. Ex.: “Aquele governante delega mal os cargos que
exigem maior competência”.
2. Em linguagem jurídica, exprime, em sentido amplo, conceder ou
transmitir alguém (outorgante) um poder, que originariamente era
atribuído ou inerente a uma pessoa, a qual os transfere a outrem
(outorgado), para que este pratique atos de incumbência originária
daquele, ou exerça função, que lhe era atribuída ou confiada. Ex.: “A lei
delegou ao chefe do Poder Executivo a faculdade de alteração da base
de cálculo sobre que haveria de incidir o imposto” (DE PLÁCIDO E
SILVA, 1989, p. 24).
3. Quanto à regência verbal, na conformidade com lição de Vitório Bergo
(1944, p. 79), “é mais corrente a sintaxe delegar poderes a, mas a par
desta também se usa delegar poderes em”, para o que dá exemplo de
abalizados escritores: a) “Delegou… à sua comissão especial poderes
arbitrais sobre a emenda formulada” (Rui Barbosa); b) “… delegou
inteiros poderes em Manuel Vieira, e estabeleceu a sua definitiva
residência nos arrabaldes de Londres” (Camilo Castelo Branco).
4. Francisco Fernandes (1971, p. 185), por sua vez, não apenas admite a
possibilidade de construção com as preposições a e em, mas também
reconhece a possibilidade de sintaxe com a locução conjuntiva para que:
“Delega os seus procônsules para que vão governar nas terras de África
e Ásia” (Latino Coelho).
5. Também Celso Pedro Luft (1999, p. 169) acata a tríplice possibilidade de
construção defendida por Francisco Fernandes.
6. Em face da autoridade dos defensores, o melhor é, conforme o caso e o
sentido, acatar todas as possibilidades alinhadas: delegar a, delegar em e
delegar para que.

Delinquir
Ver Abolir (P. 55).

Delistar – Existe?
1. Um leitor indaga se existe em nosso idioma o vocábulo delistar e
observa que ele é de uso comum no ambiente empresarial, quando se
quer indicar o sentido de excluir, como em “O fornecedor foi delistado
do cadastro”, “O chefe foi delistado do sorteio” e “A empresa foi
delistada da Bolsa de Valores”.
2. Ora, quando se quer saber se uma palavra existe ou não em português,
deve-se tomar por premissa o fato de que a autoridade para listar
oficialmente os vocábulos pertencentes ao nosso idioma é a Academia
Brasileira de Letras.
3. E essa autoridade, a ABL a exerce por via da edição do Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa.
4. Uma simples consulta ao VOLP, contudo, mostra que nele não se
registra o verbo delistar, de modo que a forçosa conclusão é que essa
palavra não existe em nosso léxico e seu emprego não encontra guarida
nas regras que norteiam o uso da norma culta.
5. Em tais circunstâncias, se se quer usar um verbo com esse significado, a
solução é escolher um sinônimo entre as diversas palavras com essa
acepção em português: eliminar, expulsar, retirar. Ou, ainda, lançar mão
de um circunlóquio com o mesmo sentido, como excluir da lista, por
exemplo.
6. Empregar, porém, vocábulo inexistente, a pretexto de neologismo, não
constitui alternativa válida, que esteja ao alcance do usuário do idioma.
7. Parece oportuno observar, a esta altura, que, sobretudo nos meios
jurídicos e forenses, há uma equivocada tendência de alguns, com
pretensão de uma jamais alcançada erudição, para empregar vocábulos
arrevesados e barrocos, mas inexistentes, como esse que agora é trazido
para análise.
8. O máximo que conseguem, todavia, é um texto de difícil leitura e
compreensão, muito distante do ideal que só a simplicidade objetiva
consegue alcançar.

De maior – Está correto?


1. É expressão popular de largo uso, significando de maior idade ou que já
atingiu a maioridade.
2. Atente-se, contudo, à apropriada lição condenatória de uso de sua
correspondente de menor, extensiva à expressão ora considerada,
formulada por José de Nicola e Ernani Terra, para quem, “no padrão
culto, deve-se utilizar a forma menor de idade” (2000, p. 3).
3. Luciano Correia da Silva, de igual modo e com razão no que concerne
aos textos que devam submeter-se à norma culta, observa que “as
pessoas menos instruídas costumam dizer: ‘fulano é de menor’, ‘sicrano
é de maior’, em vez de ‘fulano é menor’, ‘sicrano é maior’”.
4. E complementa tal autor: “e o pior é que tal vulgaridade se vem
observando nos meios forenses, onde alguns profissionais se descuidam
no meneio da língua” (SILVA, L., 1991, p. 25).
5. Verifiquem-se os seguintes exemplos, com a correspondente indicação
de sua correção ou erronia: a) “Ele é maior” (correto); b) “Ele é de
maior” (errado); c) “Ele é de maior idade” (correto).

De mais a mais – Está correto?


1. É locução abonada pela autoridade de Domingos Paschoal Cegalla.
2. Tal autor (CEGALLA, 1999, p. 107) lhe atribui o significado de além
disso, ainda por cima. Exs.: a) “Não lhe pagou a dívida; de mais a mais,
o destratou”; b) “Falta-lhe competência; de mais a mais, é dado a
falcatruas”.

Demais ou De mais?
1. Num primeiro aspecto, demais pode ser advérbio de intensidade, com o
sentido de muito, caso em que intensifica um verbo, um adjetivo ou um
outro advérbio. Exs.: a) “O réu falou demais” (modifica o verbo falou);
b) “As testemunhas ficaram aborrecidas demais” (modifica o adjetivo
aborrecidas); c) “O réu estava bem demais” (modifica o advérbio bem).
2. Num segundo aspecto, também pode ser pronome indefinido, com o
significado de os outros, os restantes. Ex. “Um dos réus deixou os
demais nas mãos da polícia”.
3. Para diferenciar tal vocábulo da expressão de mais, lembram Pasquale
Cipro Neto e Ulisses Infante (1999, p. 549) que esta última “opõe-se a de
menos” e “refere-se sempre a um substantivo ou pronome”. Exs.: a)
“Não vejo nada de mais em sua atitude”; b) “Decidiu-se suspender o
concurso público porque surgiram candidatos de mais”.
4. Na lição de Domingos Paschoal Cegalla, por um lado, “escreve-se
demais, numa palavra só, quando significa: a) excessivamente: Não
convém comer demais; b) muitíssimo, extremamente: Ela é linda
demais; c) além disso: O cargo não lhe interessa; demais (ou demais
disso), falta-lhe tempo para exercê-lo; d) os outros, os restantes:
Entraram no banco três assaltantes; os demais ficaram esperando fora”.
5. Ainda segundo tal gramático, por outro lado, “grafa-se de mais, em duas
palavras, quando equivale a a mais, oposto de de menos: Bom guisado,
nem sal de mais, nem sal de menos. Não há nada de mais nisso”
(CEGALLA, 1999, p. 107).

De maneira a, De maneira a que, De maneira que ou De maneiras que?


Ver De forma a ou De forma que? (P. 258) e De molde ou De molde a? (P.
263)

De menor – Está correto?


Ver De maior – Está correto? (P. 261)

De modo a ou De modo que?


1. Fixada a premissa de que correta é a expressão de modo que, acrescenta-
se que se tem condenado por galicismo a construção de modo a, apesar
de seu uso por alguns autores, como Castilho (ALMEIDA, 1981, p. 74).
2. Sob esse aspecto, Aires da Mata Machado Filho (1969f, p. 233) também
reputa que o uso do a final, em tais casos, configura construção
afrancesada, que se deve evitar. Exs.: a) “Ele procedeu de modo a
provocar censura” (errado); b) “Ele procedeu de modo que provocou
censura” (correto).
3. Já para Arnaldo Niskier, podem-se usar indiferentemente as locuções de
modo que e de modo a: “As duas formas estão corretas; apenas
mantenha-se atento às diferenças na construção da frase com uma ou
outra expressão” (1992, p. 26). Exs.: a) “Mudou de calçada, de modo
que não fosse visto por seu desafeto” (correto); b) “Mudou de calçada,
de modo a não ser visto por seu desafeto” (correto).
4. Do cruzamento de tais construções, surgiu um de modo a que, em
estrutura sintática defendida por Evanildo Bechara, o qual aduz ser
responsável pelo aparecimento da preposição a em locuções modernas
dessa natureza a ideia de finalidade.
5. Em seu abono, tal gramático traz a lição de Mário Barreto, para quem
teria havido uma contaminação sintática de de modo que com de modo a
(BARRETO apud MACHADO FILHO, 1969f, p. 233).
6. Observa, por seu lado, Domingos Paschoal Cegalla, que de modo que “é
a locução correta, e não de modo a que, mesmo quando exprime
finalidade” (1999, p. 107). Exs.: a) “Construíram altos muros em torno
da penitenciária, de modo que nenhum preso pudesse fugir” (correto); b)
“Construíram altos muros em torno da penitenciária, de modo a que
nenhum preso pudesse fugir” (errado).
7. Vasco Botelho de Amaral (1939, p. 111), após observar que Camões
redigia de modo que, anota que, “como no francês a sintaxe admite ‘de
manière à’, no português descuidado de agora topa-se com de modo a
fazer, de maneira a acontecer, de forma a, de jeito a, de molde a”.
Acrescenta que até mesmo se encontram de maneira a que, de modo a
que, etc., “formas resultantes do cruzamento das construções sintáticas
incorreta e correta”. E ultima tal autor considerando tais estruturas
resultantes de cruzamento como verdadeiros e reais galicismos
sintáticos.
8. Anote-se, contudo, o entendimento de Otoniel Mota, após considerar a
expressão inglesa in order to: “Diante dessa construção vê-se que o
ataque feito às nossas expressões de modo a, de maneira a, por de modo
que, de maneira que, perde sua força. Elas não pecam em absoluto
contra o gênio da língua e trazem um colorido novo que as outras não
têm. E é por isso que elas se estão impondo. Se foi o francês que no-las
sugeriu, agradeçamos-lho de coração” (1916, p. 223-4).
9. Para essa e outras expressões, veja-se a lição de Mário Barreto: “As
proposições que exprimem o modo ou a intensidade da ação pelo efeito
ou resultado que ela produz são introduzidas pela conjunção que, em
correlação, na principal, com um adjetivo ou advérbio de intensidade…
ou com um substantivo que designa o modo e dispensa todo e qualquer
adjetivo intensivo: de modo, de maneira, de sorte, de forma, de jeito, de
feição, em lugar de, de tal modo, de tal maneira… Assim, de modo que
mereçam confiança e nunca de modo a merecerem confiança”
(BARRETO apud MACHADO FILHO, 1969d, p. 890).
10. Sempre insistindo no princípio de que, onde há fundamentada
divergência entre os gramáticos, também deve haver liberdade de
emprego para o usuário da norma culta, o melhor é adotar atitude
abrangente e ter por corretas todas as expressões que contem com
abono de parte dos estudiosos, motivo por que, no caso, devem ser
consideradas corretas todas as seguintes expressões: de modo que, de
modo a e, até mesmo, de modo a que (obviamente com a atenção
voltada para as diferenças em sua estrutura sintática – de modo que não
fosse visto, de modo a não ser visto, e de modo a que não fosse visto).
11. As mesmas observações valem para as expressões sinônimas de forma
que, de jeito a, de maneira que, de molde que, de jeito que, de sorte
que.
Ver De formas que – Está correto? (P. 258) e De molde ou De molde a? (P.
263)

De modos que
Ver De formas que – Está correto? (P. 258)

De molde ou De molde a?
1. Vitório Bergo (1944, p. 80) condena o uso de tal expressão e manda
substituí-la por de molde que.
2. De igual modo, Ronaldo Caldeira Xavier (1991, p. 89) insere a
expressão de modo (molde) a no rol dos galicismos sintáticos e
aconselha sua substituição por de modo (molde) que.
3. Edmundo Dantès Nascimento (1982, p. 138) também arrola tal
expressão entre as incorretas.
4. Vasco Botelho de Amaral (1939, p. 111), após observar que Camões
redigia de modo que, anota que, “como no francês a sintaxe admite de
manière à, no português descuidado de agora topa-se com de modo a
fazer, de maneira a acontecer, de forma a, de jeito a, de molde a”;
acrescenta que até mesmo se encontram de maneira a que, de modo a
que, etc., “formas resultantes do cruzamento das construções sintáticas
incorreta e correta”, as quais considera tal autor verdadeiros e reais
galicismos sintáticos.
5. Não confundir, todavia, com a expressão de molde, tomada da fundição
dos metais, a qual se aplica, segundo magistério de Mário Barreto, “às
coisas que se ajustam e acomodam perfeitamente entre si, à maneira que
o metal derretido enche as cavidades e toma a figura do molde em que
se infunde” (1954b, p. 121).
6. Nesse último sentido, de acordo com exemplificação colhida pelo
referido gramático, é construção muito usada por Camilo: a) “Aqui vem
de molde repetir as palavras…”; b) “Aqui vem de molde referir um
sucesso…”
7. Também Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 265) lembra que essa
expressão significa a propósito, no momento certo, oportunamente. Ex.:
“Seu telefonema veio de molde”.
8. Lembrando que a locução adverbial de molde significa a propósito, na
ocasião, no ensejo próprio, em conformidade, traz Edmundo Dantès
Nascimento significativo exemplo do modo correto de seu emprego:
“Vinha o encontro como talhado de molde para Humboldt” (1982, p.
138).
Ver De modo a ou De modo que? (P. 262)
Demolir
Ver Abolir (P. 55).

Dêmos ou Demos?
1. Um leitor pergunta se é verdade que, com as recentes mudanças em
nosso sistema de escrita, o verbo dar, na primeira pessoa do plural do
presente do indicativo, passou a ser acentuado.
2. Reitere-se que o Acordo Ortográfico de 2008 não veio para simplificar,
nem mesmo para unificar a escrita, e sim, em diversos aspectos, para
regularizar e justificar a duplicidade de grafias e de pronúncias entre os
usuários do idioma em Portugal (e países outros por ele colonizados) e
no Brasil.
3. Seguindo essa orientação, criou tal sistema a dupla e facultativa
possibilidade de grafia, mediante a diferenciação, pelo acento agudo, na
primeira pessoa do plural do pretérito perfeito do indicativo dos verbos
da primeira conjugação (louvámos, adorámos e falámos), formas essas
pronunciadas de modo aberto em Portugal, para opor-se à primeira
pessoa do plural do presente do indicativo (louvamos, adoramos e
falamos).
4. Em critério um pouco diverso – já que aqui a forma aberta é exatamente
a que não se acentua – quanto ao verbo dar, facultou o emprego do
acento circunflexo em dêmos (1ª pessoa do plural do presente do
subjuntivo) para se distinguir de demos (1ª pessoa do plural do pretérito
perfeito do indicativo).
5. Como tal acento é facultativo, confiram-se os seguintes exemplos, com a
indicação de seu acerto ou erronia entre parênteses: a) “Quando o
inimigo nos fere, é preciso que demos a outra face” (correto); b)
“Quando o inimigo nos fere, é preciso que dêmos a outra face” (correto);
c) “No passado, não demos a outra face” (correto); d) “No passado, não
dêmos a outra face” (errado).

De nada – Está correto?


1. Na lição de Vitório Bergo (1944, p. 80), dizer de nada constitui
“castelhanismo, com que muitos respondem a uma expressão de
agradecimento”, razão por que recomenda o uso de não há de quê.
2. Importa observar, contudo, que, quando alguém, em agradecimento, diz
“obrigado”, em última análise, está dizendo: “Sinto-me obrigado pelo
favor que me fez”. E, assim, em retribuição, o sentido da expressão é:
“Não se sinta obrigado por nada”; ou, em síntese: “por nada”.
3. Bem por isso, a própria sugestão de correção do ilustre gramático é de
duvidosa vernaculidade, porquanto quem agradece, ou agradece alguma
coisa, ou por alguma coisa, mas não de alguma coisa.
4. Talvez, então, fosse melhor alterar a sugestão para não há o quê, ou não
há por quê.
5. Em relação ao acento gráfico, observa Celso Pedro Luft (1991, p. 102)
que, muito embora o Acordo Ortográfico se refira ao que acentuado
apenas no fim da frase, o certo é que, exatamente pela igual
circunstância de que ele se torna tônico, “a rigor, pelo mesmo motivo, se
devia acentuar o que em qualquer pausa (vírgula, ponto e vírgula)”.
Ver Obrigado (P. 513).

Denegrir
1. Quanto à conjugação verbal, o e da penúltima sílaba transforma-se em i
nas formas rizotônicas bem como nas formas delas derivadas (REIS,
1971, p. 146-7).
2. Desse modo, assim é seu presente do indicativo: denigro, denigres,
denigre, denegrimos, denegris, denigrem.
3. Da primeira pessoa do singular se extrai o presente do subjuntivo:
denigra, denigras, denigra, denigramos, denigrais, denigram.
4. E de ambos os tempos formam-se o imperativo afirmativo e o imperativo
negativo.
5. Atente-se, porém, ao pretérito perfeito do indicativo, do qual derivam o
mais-que-perfeito do indicativo, o imperfeito do subjuntivo e o futuro do
subjuntivo, todos integrados por formas arrizotônicas, as quais não
sofrem influência alguma da observação referida: denegri, denegriste,
denegriu, denegrimos, denegristes, denegriram.
6. Seguem mesma conjugação outros verbos: agredir, progredir, regredir,
transgredir.

Dentre
1. Aglutinação de de e entre, esse vocábulo significa do grupo composto
de, do meio de. Ex.: “Dentre os candidatos, ele foi o escolhido”.
2. Exatamente por seu sentido, não serve para ser empregado após termo
que denote inclusão. Sousa e Silva (1958, p. 99), nesse sentido, aliás,
extrai excerto de equivocado emprego por parte de famoso jurista:
“Desde que o negócio jurídico… se considere incluído dentre os atos de
comércio” (e manda corrigir: “… incluído entre os atos de comércio”.
3. Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 108) lembra a possibilidade de seu
emprego nas expressões dentre nós, dentre vós, dentre vocês.
Ver Dentro a, Dentro de ou Dentro em? (P. 264)

Dentro a, Dentro de ou Dentro em?


1. Embora dentro de seja a construção mais comum na atualidade, João
Ribeiro (1923, p. 208) também justifica o emprego de dentro em,
observando que esta última é a sintaxe mais frequente nos autores
antigos.
2. Eduardo Carlos Pereira (1924, p. 153), sem restrições e até mesmo sem
comentários adicionais, arrola tal expressão entre os exemplos de
locuções prepositivas.
3. Eliasar Rosa (1993, p. 54), em igual posicionamento, destaca que ela tem
o mesmo quilate de vernaculidade que a locução dentro de, e observa
que Rui Barbosa a defendeu em sua Réplica, com abundante exemplário
colhido nos melhores escritores.
4. Mário Barreto, de igual modo, registra que seu emprego “é boa
linguagem portuguesa e dela usaram largamente os nossos clássicos, mas
é um arcaísmo” (1954b, p. 184-5).
5. Em estudo sobre a linguagem do literato Antônio Feliciano de Castilho,
anota Vasco Botelho de Amaral (1939, p. 69): “ao Mestre lhe era
preferida a regência em com a palavra dentro, regência essa que vimos já
criticada e que provamos ser bem vernácula”.
6. Observando que Cândido de Figueiredo preferia dentro de a dentro em,
anota Vasco Botelho de Amaral (AMARAL, 1939, p. 69) que, “nos
antigos escritores, dentro em é mais usual, embora ambas as formas
tenham o mesmo quilate vernáculo”; e lembra exemplos de abalizados
autores, como Rui Barbosa, Camões, Padre Antônio Vieira e Antônio
Feliciano de Castilho.
7. Para o Padre José F. Stringari (1961, p. 9), que invoca as lições de Rui
Barbosa e de João Ribeiro em abono do uso de ambas, “as duas formas
coexistiram sempre uma de par com a outra, e uma a par da outra
coexistem, sem motivo algum para que de qualquer delas nos
despojemos ou a tenhamos por estranha”.
8. Acerca da possibilidade de seu emprego optativo, Antonio Henriques
(1999, p. 45) – enquanto observa que “dentro em deixou vestígios em
dentro em breve e dentro em pouco” – transcreve definitiva lição de Rui
Barbosa: “Dentro em escrevi e escrevo amiúde, sem todavia rejeitar a
locução dentro de, de que igualmente uso”.
9. Heráclito Graça traz a lição adicional no sentido de que “dos clássicos
anteriores a Frei Luís de Sousa não há um só que deixe de usar
largamente da locução prepositiva dentro em e também dentro a”; mas
acrescenta tal autor que “a locução prepositiva dentro a caiu em desuso”.
10. Quanto a dentro em e dentro de, contudo, tal gramático anota que hoje
“são simples variantes, e como tais constituem riqueza da língua. Às
vezes uma é mais expressiva do que outra. E, se modernamente dentro
de está mais generalizada, ninguém ainda se lembrou de proscrever a
locução dentro em, que é muito usada, principalmente para exprimir a
ideia de tempo” (GRAÇA, 1904, p. 138-40).
11. Para Edmundo Dantès Nascimento (1982, p. 93), ambas as expressões
são igualmente vernáculas.
12. Para Sousa e Silva, que reputa dentro em expressão legítima,
equivalente a dentro de, a primeira locução, “atualmente, é mais usada
em sentido temporal: dentro no prazo, dentro em oito dias…” (1958, p.
100).
13. O Código Civil de 1916 emprega usualmente a expressão dentro em: a)
“Essas testemunhas comparecerão dentro em 5 (cinco) dias ante a
autoridade judicial mais próxima…” (art. 200, caput); b) “… ouvidos
os interessados, que o requererem, dentro em 15 (quinze) dias” (art.
200, § 1º); c) “… esta nulidade se considerará sanada, se não se
alegar dentro em 2 (dois) anos da celebração” (art. 208); d) “O dote
deve ser restituído pelo marido à mulher, ou aos seus herdeiros, dentro
no mês que se seguir à dissolução da sociedade conjugal…” (art. 300);
e) “… o menor pode impugnar o reconhecimento, dentro nos 4
(quatro) anos que se seguirem à maioridade, ou emancipação” (art.
362); f) “Desde que o donatário, ciente do prazo, não faça dentro nele,
a declaração, entender-se-á que aceitou, se a doação não for sujeita a
encargo” (art. 1.166); g) “… prazo razoável não maior de 30 (trinta)
dias, para, dentro nele, se o herdeiro…” (art. 1.584).
14. Já o Código de Processo Civil deu preferência a dentro de: “… depois
que a parte, por intermédio do escrivão, requerer ao juiz que
determine a providência e este não lhe atender o pedido dentro de dez
dias” (art. 133, parágrafo único).
15. Observa-se fato curioso no art. 76, § 3º, da Lei 6.015, de 31/12/73, que
dispôs sobre os registros públicos, que assim registra: “Ouvidos dentro
em 5 (cinco) dias os interessados que o requererem e o órgão do
Ministério Público, o juiz decidirá em igual prazo”.
16. No texto originário, registrava-se a expressão dentro em, mas, na
republicação, já com as modificações posteriores, no DOU de 16/9/75,
constou dentro de.
17. Aponta-se o fato por curiosidade, sem objeção alguma a qualquer das
expressões, já que ambas são igualmente corretas.

Dentro e fora de
Ver Antes e depois (P. 120) e Com ou sem – Está correto? (P. 198)

Denúncia
1. Por um lado, ao literato, que produz arte, confere-se liberdade de criação
para, em um jogo de palavras, encontrar a melhor forma de sugerir no
leitor um sentimento, o qual, por vezes, nem sempre foi pretendido ou
pensado pelo escritor; por outro lado, ao profissional do Direito, que
produz ciência, impõe-se a obrigatoriedade de emprego da linguagem de
padrão culto, correta quanto à gramática e apropriada quanto à
expressão.
2. Por pertencer à ciência, a linguagem do Direito é técnica e precisa, e,
assim, por via de regra, será inconveniente substituir seus termos e
locuções por sinônimos, a pretexto de evitar repetições, e isso sob pena
de se correr o risco da impropriedade de expressão e de se descambar
para o pernosticismo.
3. Apenas para exemplificar, é de se ver que pelo menos dezessete artigos
do Código de Processo Penal (arts. 12, 24, 25, 39, 41, 43, 46, 384, 505,
508, 509, 512, 513, 525, 556, 569 e 581) mencionam sempre a palavra
denúncia; nenhuma vez se dá, pela dicção da lei, sua substituição por
sinônimos.
4. Alguns operadores do Direito, porém, quer para evitar repetições, quer
para demonstrar pretensa erudição, quase nunca empregam, em Processo
Penal, a adequada palavra denúncia ou mesmo, em Processo Civil,
petição ou petição inicial, mas preferem dizer exordial, preambular,
prefacial, proemial, peça vestibular, petição de introito, esquecidos de
que singela consulta ao dicionário revela que denúncia ou mesmo
petição inicial não são exórdio, prefácio nem proêmio algum do
processo.
5. Em lição abrangente para o Processo Civil e para o Processo Penal,
observa Geraldo Amaral Arruda, nesse sentido, que denúncia e petição
inicial “são expressões técnicas às quais será difícil fugir de repetir na
sentenças”, motivo por que “convém evitar o mau gosto de substituí-las
por expressões como: peça inaugural, peça processual, exordial,
exordial acusatória, pretensão punitiva inaugural, inaugural acusatória,
vestibular, peça depositária da pretensão punitiva, peça denunciatória,
requisitório ministerial” (1997, p. 12).

Denúncia da lide ou Denunciação da lide?


1. Instituto de Direito Processual Civil, a denúncia da lide, também
conhecida como denunciação da lide, construções essas que têm o
mesmo sentido e a mesma sintaxe, “é a forma reconhecida pela lei como
idônea para trazer terceiro (litisdenunciado), a pedido da parte, autor
e/ou réu, ao processo destes, visando a eliminar eventuais ulteriores
ações regressivas, nas quais o terceiro figuraria, então, como réu”
(ALVIM NETO, 1986, p. 100).
2. Em termos de sintaxe, assim como se faz a entrega do pão ao
consumidor, de igual modo se promove a denúncia da lide a alguém, tal
como se registra no art. 70 do Código de Processo Civil, fato esse que se
corrobora na rubrica da seção que encima o mencionado dispositivo.
3. Nesse caso, em termos gramaticais, o adjunto adnominal se constrói com
a preposição de (da lide), e o complemento nominal se faz preceder pela
preposição a (a alguém).
4. São errôneas, por conseguinte, as expressões denúncia à lide ou
denúncia de alguém à lide, que alguns teimam em usar nos meios
forenses.
5. Em oportuno acréscimo, Adalberto J. Kaspary observa que “há perfeita
correspondência entre a regência do verbo denunciar e a do substantivo
denunciação: em ambos os termos, indica-se claramente que a lide é
denunciada a alguém” (1996, p. 130).
6. Exemplos registrados por Francisco Fernandes (1969, p. 125)
evidenciam esse posicionamento: a coisa que é denunciada se faz reger
pela preposição de; a pessoa ou entidade a quem se oferece a denúncia
vem precedida pela preposição a. Exs.: a) “Denúncia de contrabando;
denúncia de conspiração” (Constâncio); b) “Bando do Pavor…
permitido pelo alto clero talvez (quem sabe?), com o fim de, à falta de
denúncias à Inquisição, ser ele, uma vez no ano, o pelourinho andante
das mais escondidas vergonhas” (Antero de Figueiredo).
7. Esposa esse mesmo entendimento Celso Pedro Luft: “Denúncia de
irregularidades ao governo” (1999, p. 151).
8. Exemplo de correção, nesse sentido, é o Código de Processo Civil, o
qual refere, em seu art. 70, caput, que “a denunciação da lide é
obrigatória…”
9. Ante tais considerações, não parece ter respaldo algum na Gramática o
posicionamento de Regina Toledo Damião e Antonio Henriques (1994,
p. 46), os quais, muito embora sem explicação adicional alguma dos
motivos de seu emprego e sem abono algum de autores abalizados,
falam em denúncia à lide.
Ver Denunciar a lide ou Denunciar à lide? (P. 266)

Denunciar a lide ou Denunciar à lide?


1. No sistema de nosso Direito Processual Civil, denunciar a lide é “chamar
o terceiro (denunciado), que mantém um vínculo de direito com a parte
(denunciante), para vir responder pela garantia do negócio jurídico, caso
o denunciante saia vencido no processo” (THEODORO JÚNIOR, 1981,
p. 164).
2. No campo da sintaxe, assim como se denuncia o fato à polícia, de igual
modo se denuncia a lide a alguém.
3. Nesse caso, o verbo denunciar é transitivo direto e indireto: seu objeto
direto é o próprio fato que se denuncia (a lide); seu objeto indireto é o
destinatário da denúncia (alguém).
4. É equivocada, por conseguinte, a construção que alguns teimam em usar
– denunciar alguém à lide – a qual não tem sentido adequado nem
respaldo gramatical.
5. Nesse sentido, de maneira prática e objetiva, Eliasar Rosa observa que
“não se denuncia ninguém à lide. Denuncia-se a lide a alguém”.
6. E acrescenta tal autor (ROSA, 1993, p. 54) os exemplos, com a
necessária observação: a) “O réu denunciou à lide a Companhia de
Seguros” (errado); b) “O réu denunciou a lide à Companhia de Seguros”
(correto).
7. Atente-se, também, à diversidade de estruturas entre denunciar a lide e
denúncia da lide; em tais casos, distintas são as regências do verbo
(primeiro caso) e do substantivo (segundo caso), assim como diferentes
as construções do objeto direto ou objeto indireto (primeiro caso) e
adjunto adnominal ou complemento nominal (segundo caso).
8. Partindo da premissa de que, em nosso idioma, o objeto direto da voz
ativa passa a ser sujeito da voz passiva, atende-se, ademais, ao emprego
correto do verbo denunciar nos seguintes exemplos: a) “A lide foi
denunciada à Companhia de Seguros” (correto); b) “A Companhia de
Seguros foi denunciada à lide” (errado); c) “A lide foi denunciada a
Fulano” (correto); d) “Fulano foi denunciado à lide” (errado).
Ver Denúncia da lide ou Denunciação da lide? (P. 265)
De ofício
1. Expressão muito usada no dia a dia do foro, vem do latim (ex officio) e
significa por ofício, oficialmente, em razão do ofício ou por dever de
ofício, isto é, sem provocação do interessado.
2. Em termos jurídicos, tecnicamente falando, ato de ofício é aquele “que
se pratica por imposição ou por determinação legal, quando no
desempenho do cargo” (DE PLÁCIDO E SILVA, 1989, p. 248). Ex.:
“Com fundamento no art. 9º do Código de Processo Civil, o juiz, de
ofício, nomeou curador especial ao réu preso”.
3. Anote-se que, quando se usa a expressão vernácula de ofício, faz-se
presente o acento gráfico e não há aspas ou sinal algum indicativo de
palavra estrangeira; já quando se emprega ex officio, usam-se dois efes e
aspas (ou outro sinal indicativo de que a expressão é estrangeira), e não
se usa o acento gráfico nem o hífen, que não existiam no idioma original.
Ver Ex officio (P. 347).

De O Globo – Está correto?


Ver O Estado de S. Paulo (P. 519).

De oitiva
Ver Oitiva (P. 521).

De onde em onde
Ver De quando em vez ou De vez em quando? (P. 269)

De onde ou Donde?
Ver Donde ou De onde? (P. 294)

De ou Da?
1. Uma leitora diz ter dúvidas quanto ao emprego da preposição de, quando
em contração com os artigos a e o. Assim: a) Secretaria de Educação ou
Secretaria da Educação?; b) Uso de pronome pessoal ou Uso do
pronome pessoal?
2. Uma primeira observação a ser feita nesse campo é que, como o próprio
nome demonstra, o artigo definido serve para particularizar o substantivo
que o segue. Entre Encontrei Carlos e Encontrei o Carlos, vê-se que o
segundo modo de expressão é mais determinado, mais específico e,
aparentemente, mais próximo de quem fala do que o primeiro.
3. E, se, em vez apenas do artigo, vem este antecedido de uma preposição,
a situação se repete em mesmos moldes, como não é difícil perceber
entre as expressões roupa de menina e roupa da menina.
4. Com essas observações como premissas, pode-se dizer, num primeiro
aspecto, em resposta à indagação da leitora, que o ensino se aplica às
expressões uso de pronome e uso do pronome, sem necessidade de
maiores comentários.
5. Por outro lado, quanto à primeira expressão trazida por ela, a questão
também é de mera opção, ora pelo emprego exclusivo da preposição, ora
pelo uso da contração da preposição + o artigo, podendo haver, apenas e
tão somente, ligeira diferença de sentido, conforme deflui do
apontamento inicial destes comentários: Secretaria de Agricultura,
Secretaria de Direitos Humanos e Secretaria de Desenvolvimento
Social, ou Secretaria do Meio Ambiente, Secretaria da Fazenda e
Secretaria da Receita Federal.

De ouvida
Ver Oitiva (P. 521).

Deparar
1. Por um lado, Artur da Almeida Torres anota que Cândido de Figueiredo
e João Ribeiro não consideram correto o emprego deste verbo na
acepção de achar por acaso, encontrar, topar.
2. Acrescenta, entretanto, que o primeiro deles inspirou-se “nos velhos
lexicógrafos, mas esqueceu-se das autoridades modernas, que ampliaram
a significação desse verbo”.
3. No que concerne à regência verbal, o gramático (TORRES, 1967, p. 117-
8) que cita a lição dos demais, fundando-se na autoridade de diversos
bons escritores, vê quatro possibilidades de construção: a) transitivo
direto no sentido de fazer aparecer, achar por acaso, encontrar, topar: i)
“Santo Antônio depara as coisas perdidas” (João Ribeiro); ii) “José
Barbosa, deparando-os, levantaria…” (Camilo Castelo Branco); b)
transitivo indireto no sentido de achar por acaso, encontrar, topar,
posição essa que, como ele próprio lembra, reputam “incorreta preclaras
autoridades”, mas que, para Rui Barbosa, “encontra amparo
frequentíssimo nos escritos de Filinto Elísio”: i) “Eles que digam que de
vezes não deparam… com as suas próprias ideias” (Antônio Feliciano
de Castilho); ii) “Deparei, não sem alguma emoção, com a sombria e
monstruosa mesa” (Camilo Castelo Branco); c) bitransitivo (ou
transitivo direto e indireto) no sentido de fazer aparecer, apresentar
inesperadamente: i) “Deparou-lhe o acaso uma mulher” (Camilo Castelo
Branco); ii) “Um magnífico espetáculo lhe deparou a bela constelação”
(Latino Coelho); d) pronominal no sentido de fazer aparecer, apresentar-
se inesperadamente, topar, com a preposição a ou com: i) “Depararam-
se ao viandante numerosos caminheiros” (Latino Coelho); ii) “Na obra
parlamentar… não se depara com um só vocábulo inovado” (Rui
Barbosa).
4. Resumindo a questão, anota Luiz Antônio Sacconi, por primeiro, que, no
sentido de achar por acaso, encontrar, topar, pode ser transitivo direto ou
transitivo indireto. Exs.: a) “Deparei um erro crasso na sentença”
(transitivo direto); b) “Deparei com um erro crasso na sentença”
(transitivo indireto).
5. No significado de aparecer inesperadamente, é usado como pronominal,
em construção que o referido gramático realça ser clássica. Ex.: “Ao se
lhe deparar crasso erro na sentença, interrompeu a leitura dos autos”
(SACCONI, 1979, p. 220).
6. Sem contrariar o que até agora foi dito, de Édison de Oliveira vem a
seguinte advertência: “Há autores que admitem o emprego do verbo
deparar acompanhado da preposição com. Devemos saber, entretanto,
que é também perfeitamente correto empregar esse verbo sem
preposição alguma” (s/d, p. 111).
7. Na lição de Heráclito Graça, “assim como se pode dizer topar ou topar-
se com alguém ou com alguma cousa, encontrar ou encontrar-se com
alguém ou com alguma cousa, podemos do mesmo modo dizer – e dizer
bem – deparar com alguém ou com alguma cousa, deparar-se com
alguém ou com alguma cousa. A analogia dos três verbos é perfeita”.
8. E, para a defesa de sua afirmação, cita tal autor (GRAÇA, 1904, p. 141-
58) diversos exemplos de autores insuspeitos: a) “Perguntar-lhes-íamos
se deparam com espetáculos semelhantes nas antigas Repúblicas
gregas” (Antônio Feliciano de Castilho); b) “Deparam com centos de
homens cevados na leitura da antiguidade” (Filinto Elísio); c) “Enfim
deparei com um pobre homem” (Almeida Garrett); d) “Aí deparei, não
sem alguma emoção, com a sombria e monstruosa mesa de granito”
(Camilo Castelo Branco).
9. De modo mais prático, veja-se que são corretos todos os seguintes
exemplos: a) “Quando decidimos escrever este livro de prática,
deparamos uma dificuldade…” (transitivo direto); b) “Quando
decidimos escrever este livro de prática, deparamos com uma
dificuldade…” (transitivo indireto com a preposição com); c) “Quando
decidimos escrever este livro de prática, deparamo-nos com uma
dificuldade…” (pronominal com a preposição com); d) “Quando
decidimos escrever este livro de prática, o estudo realizado deparou a
nós uma dificuldade…” (transitivo direto e indireto); e) “Quando
decidimos escrever este livro de prática, deparou a nós (ou deparou-nos)
uma dificuldade” (transitivo indireto com a preposição a); f) “Quando
decidimos escrever este livro de prática, deparou-se a nós (ou deparou-
se-nos) uma dificuldade” (pronominal com a preposição a).

Depoimento a prestar(-se) – Está correto?


Ver A fazer – Está correto? (P. 91)

Depois dele sair


Ver É hora da onça beber água ou É hora de a onça beber água? (P. 296)

Depois de o
Ver É hora da onça beber água ou É hora de a onça beber água? (P. 296)
Depor – Como conjugar?
Ver Pôr – Como conjugar? (P. 577)

Depor judicialmente
Ver Advérbios em “mente” (P. 85).

Deprecado e Deprecante
Ver Precatória (P. 588).

De propósito
1. Muito embora reconheça Vitório Bergo que haja autores que rejeitem as
formas propositalmente e propositadamente, anota o referido gramático
que a locução adverbial de modo de propósito é recomendada tanto por
uns quanto por outros.
2. E traz exemplo de Machado de Assis: “… levantaria os brindes… e
seria por um copo de ouro e diamantes que eu lhe mandaria fazer de
propósito” (BERGO, 1944, p. 81).
Ver Propositadamente ou Propositalmente? (P. 624)

Deputada – Existe?
Ver Capitã, Capitoa ou A Capitão? (P. 168) e Poeta – Qual o feminino? (P.
570)

Deputado à Assembleia Legislativa


Ver Deputado – De onde vem? (P. 268)

Deputado à Câmara Federal


Ver Deputado – De onde vem? (P. 268)

Deputado a ou Deputado de?


1. Para alguns estudiosos, inexistiria justificativa para a construção “Ele foi
eleito deputado à assembleia legislativa”.
2. Entendem estes, em tal caso, que assembleia legislativa é simples
adjunto adnominal (ou complemento restritivo, que, em latim, é
representado pura e simplesmente por um genitivo), devendo-se dizer:
“Ele foi eleito deputado da assembleia legislativa”.
3. E, aos vocábulos vereador e senador, aplicar-se-iam as mesmas
observações: os vereadores da câmara municipal, os senadores do
congresso nacional.
4. Celso Pedro Luft (1999, p. 152), todavia, para deputado, sem mencionar
exemplos com de, não apenas admite, em casos desse jaez, a construção
com a preposição a (deputado à Assembleia Estadual), mas também com
a preposição por (deputado por certo partido, por um estado). Exs.: a)
“Aristides Barreiro, entre 1915 e 1923, deputado à Assembleia Estadual
pelo Partido Republicano” (Flávio Loureiro Chaves); b) “X. acumula as
funções de diretor…, deputado ao Parlamento e coronel do exército”
(Érico Veríssimo); c) “Eleito deputado à Assembleia Geral da Corte,
partiu [Rui] para o Rio, onde fixou residência” (Antônio Soares Amora).
5. Por essa possibilidade mais ampla (a e por) também se manifesta
Francisco Fernandes (1969, p. 126): a) “Deputado às cortes”
(Constâncio); b) “Deputado à assembleia legislativa”; c) “Deputado por
Buenos Aires” (Rui Barbosa).
6. Interessante, também, é anotar a indevida diferença de tratamento entre
vocábulos de natureza gramatical similar, como deputado, senador e
vereador, que, apenas para exemplo, fazem Francisco Fernandes e Celso
Pedro Luft: para deputado, como visto, ambos admitem as sintaxes com
as preposições a e por; para senador, aquele apenas admite
complemento com a preposição por (FERNANDES, 1969, p. 348), em
procedimento seguido por este (LUFT, 1999, p. 472); e, para vereador, o
primeiro continua admitindo tão somente a construção com a preposição
por (FERNANDES, 1969, p 377), enquanto o segundo é mais liberal
para, além de por, pugnar adicionalmente pela possibilidade de sintaxe
com a preposição a (LUFT, 1999, p. 525).
7. Em síntese, de modo específico para a palavra deputado, não parece
haver motivo para que não se acatem as construções com qualquer de
três preposições: de, a e por: a) “Os deputados da assembleia paulista
homenagearam aqueles heróis”; b) “Ele foi eleito deputado à assembleia
legislativa”; c) “Ele foi eleito deputado por São Paulo”.
Ver Candidatos a (P. 168), Capitã, Capitoa ou A Capitão? (P. 168), Poeta –
Qual o feminino? (P. 570), Senador (P. 687) e Vereador (P. 765).

Deputado – De onde vem?


1. A indagação que se faz diz respeito à etimologia do vocábulo deputado.
2. Essa palavra tem seu primeiro registro efetivo no idioma no século XIV,
e sua origem assenta-se no verbo deputar, do qual é particípio passado,
com o sentido de enviar alguém em missão ou comissão, na qualidade de
verdadeiro representante. Ex.: “Cada universidade deputou um professor
à banca examinadora” (HOUAISS; VILLAR, 2001, p. 943).
3. Por isso é que, tecnicamente, em sentido jurídico, diz-se deputado “toda
pessoa que recebe a incumbência ou o mandato de participar de uma
assembleia ou corporação, como representante ou delegado daqueles que
o escolheram” (DE PLÁCIDO E SILVA, 1989, p. 43).
4. Como é de fácil verificação, é nesse exato sentido que se elegem
representantes para as Assembleias Estaduais e para a Câmara Federal.
Mas, é bom que se frise, eles não são os únicos que podem receber tais
nomes.

De quando em quando
Ver De quando em vez ou De vez em quando? (P. 269)

De quando em vez ou De vez em quando?


1. De quando em vez constitui expressão de significado igual a de vez em
quando, de quando em quando e de vez em vez, todas corretas em nosso
idioma. Exs.: a) “De quando em vez, o réu ausentava-se de casa, sem
que lhe soubessem o paradeiro”; b) “De vez em quando, o réu
ausentava-se de casa, sem que lhe soubessem o paradeiro”; c) “De
quando em quando, o réu ausentava-se de casa, sem que lhe soubessem
o paradeiro”; d) “De vez em vez, o réu ausentava-se de casa, sem que
lhe soubessem o paradeiro”.
2. Aires da Mata Machado Filho (1969d, p. 814-6), em fundada lição,
mostra as discussões gramaticais e divergências que envolvem o uso das
referidas expressões; de sua análise se conclui, porém, que o respeito aos
abalizados autores que as usaram faz com que sejam todas, no mínimo,
toleradas em nosso idioma, pairando a possibilidade de seu emprego
acima das discussões.
3. Mostrando a flexibilidade de opção entre as duas expressões, Carlos
Góis (1945, p. 58) observa que “a locução adverbial de vez em quando
aparece, em bons autores, transposta para de quando em vez”. Exs.: a)
“De quando em vez se contava que…” (Camilo Castelo Branco); b)
“Não prejudica de quando em vez uma pequena arremetida” (Fidelino
de Figueiredo).
4. Registre-se, contudo, por oportuno, o ensino de Júlio Nogueira, para
quem, tanto de quando em vez como de vez em quando, “conquanto
muito vulgarizadas, têm sido combatidas com certa insistência. Melhor
será substituí-las por de quando em quando, de onde em onde” (1959, p.
32).
5. Nessa mesma esteira, a um consulente que lhe indagava se o correto era
de quando em vez ou de vez em quando, Cândido de Figueiredo
respondia que “de vez em quando é locução que todos nós conhecemos,
igual à de quando em quando, e ambas abonadas por autoridades de
inteira fé. Agora, de quando em vez, tenho visto isso em escribas arte-
nova, e mais nada” (1943, p. 27).
6. Júlio Nogueira (1939, p. 6), lembrando que, nesse sentido, também se
diz elegantemente de onde em onde, assevera ser preferível de quando
em quando a de vez em quando ou de quando em vez.
7. Para Sousa e Silva (1958, p. 101), de igual modo, “não é locução
autorizada”, razão por que deve ser substituída por de quando em
quando, de vez em quando ou de onde em onde.
8. Ante a discussão entre os gramáticos, o melhor é aplicar o vetusto
princípio de que, na dúvida, se há de permitir liberdade de uso, e acatar,
assim, a possibilidade de emprego das quatro estruturas.

De que
1. De integral propriedade a observação de Eliasar Rosa para uma situação
frequente nos discursos, a pretexto de erudição: “Há uma forma de errar
muito curiosa nas sustentações orais, ou em discursos forenses, ou
parlamentares. Consiste ela em usar-se a preposição de com verbos que
não a exigem. Exemplos: “O Dr. Promotor afirmou de que o réu matou
por motivo fútil; entretanto a defesa vai demonstrar de que isto não é
verdade, pois o que está provado, nos autos, é de que o réu matou
impelido por motivo de relevante valor social…”. Ora, os verbos
afirmar, demonstrar, provar não se constroem com a preposição de.
Logo o certo seria: “O Dr. Promotor afirmou que…; entretanto a defesa
demonstrará que…, pois está provado que…” (1993, p. 54-5).
Ver Omissão da preposição – Está correto? (P. 526) e Pronome relativo
preposicionado (P. 616).

De regra, Via de regra ou Por via de regra?


Ver Por via de regra, Via de regra ou De regra? (P. 584)

De repentemente – Existe?
Ver Advérbios em “mente” (P. 85).

De resto – Galicismo?
1. Constitui expressão que tem sido empregada no sentido de em remate,
em suma, finalmente, por fim. Exs.: a) “Minha tática, de resto bem
simples, consistia em jamais pronunciar ou sugerir a palavra literatura”
(Carlos Drummond de Andrade); b) “De resto, acrescentou, não podia
ser o Messias!” (Eça de Queirós).
2. Observando que Rui Barbosa a chamou de “francês puro”, Júlio
Nogueira (1959, p. 70) leciona que se deve preferir finalmente, em suma,
por fim, em remate, conforme o caso.
3. Em outra obra, tal autor (NOGUEIRA, 1930, p. 53) a insere entre as
locuções, expressões e frases completas que conservam o “ar francês” do
galicismo, espécies das mais repreensíveis, “pois não correspondem a
uma necessidade da língua”.
4. Alfredo Gomes (1924, p. 469), de igual modo, a insere no rol dos
galicismos sintáticos.
5. Idêntico é o proceder de Edmundo Dantès Nascimento (1982, p. 23-4),
que a insere entre os estrangeirismos fraseológicos e de acepção, e
assevera que o correto é finalmente, por fim, em suma.
6. Luís A. P. Vitória (1969, p. 211) também lista a expressão entre as
“condenáveis” e aconselha sua substituição por aliás, além disso.
7. Em mesma obra, tal autor (VITÓRIA, 1969, p. 211), para quem tal
expressão “cheira a francesia”, aduz que “temos em português: demais,
além disso, quanto ao mais”.
8. Lembra também Ronaldo Caldeira Xavier (1991, p. 89) ser a expressão
de resto um galicismo sintático e aconselha, em substituição, por fim, em
suma, finalmente.
9. Vasco Botelho de Amaral, de igual modo, lança a expressão na vala dos
galicismos, não se convencendo com o argumento de ser ela semelhante
a outras expressões também muito correntes, como de fato e de verdade,
justificando textualmente: “Parece-me que se não pode considerar
correta uma expressão estranha só por ser comparável a outra ou outras
correntes” (1943, p. 208).
10. Contrariamente a esse posicionamento, contudo, na visão de Evanildo
Bechara, “os puristas, sem maiores exames, têm tachado de galicismo
essa expressão de resto (= quanto ao mais); todavia, além de usada por
grandes escritores, tem raízes no latim de reliquo” (1974, p. 291).
11. Com supedâneo em exemplos de Alexandre Herculano, Camilo Castelo
Branco e Machado de Assis, também reitera Vitório Bergo (1944, p.
81) que de resto constitui “locução acoimada de galicismo mas
defendida por Heráclito Graça e largamente empregada pelos melhores
escritores da língua. Corresponde semiologicamente ao latim de
reliquo, não obstante se identifique com o francês du reste”.
12. Na lição do Padre José F. Stringari (1961, p. 65), “eis aí uma locução
que se atirou para o muladar das coisas inúteis por cheirar a francês.
Mas milheiros de exemplos clássicos há que a absolvem da pecha que
lhe assacam. Vou citar dois apenas e de mestres de polpa, que valem
por todos os demais: “De resto, a agitação é sinal de vida” (Machado
de Assis); “De resto, é uma circunstância esta pouco importante”
(Antônio Feliciano de Castilho).
13. E Vasco Botelho de Amaral (1939, p. 21-2), apesar de posicionamento
condenatório já referido, anota que Camilo Castelo Branco a usou com
frequência, muito embora advirta, por seu lado, que é, “de fato,
revelador de incapacidade expressiva o largo abuso com que alguns se
apegam à locução,… olvidando as restantes correspondentes e,
porventura, mais portuguesas”.
14. Em lição que parece ajustar-se com perfeição ao entendimento atual,
assim se manifesta Arnaldo Niskier: “apesar da objeção de alguns, que
veem esta expressão como inerente ao francês e não ao português,
tanto o dicionário de Antenor Nascentes quanto o de Aurélio Buarque
de Holanda registram-na. Ficamos com os mestres” (1992, p. 26).
15. Opondo-se ao ensinamento de Cândido de Figueiredo – que considera
de resto uma expressão que é “francês puro” e manda substituí-la por
quanto ao mais ou em tudo mais – Heráclito Graça é também de
entender mais permissivo: “De resto, locução adverbial, recebemos
imediatamente do francês, não há negá-lo; pelo sentido, porém, a
introdução da locução no português justifica-se perfeitamente com o
latim de reliquo, empregado especialmente por Cícero, na acepção de
quanto ao mais, quanto ao resto, de mais”.
16. E argumenta tal gramático que “foi sem dúvida pela consideração de
que au reste e du reste correspondem perfeitamente a de reliquo, que
de resto se aforou na linguagem escrita portuguesa, como já estava na
linguagem oral”.
17. E, em confirmação de sua assertiva, traz Heráclito Graça (1904, p. 183-
6) a corroboração de exemplos extraídos de autores os mais abalizados:
a) “De resto pouca eloquência, muita fome, muito frio e muito medo”
(Camilo Castelo Branco); b) “De resto, nenhum outro vestígio se
encontra” (Alexandre Herculano).
18. Ante a divergência entre os doutos, o melhor é aceitar o uso da referida
expressão, guardando fidelidade ao princípio de que, na dúvida, há de
se ter um entendimento mais permissivo.

Derrogação
1. Derivado do latim (derogatio, querendo dizer anulação de uma lei), “é o
vocábulo especialmente empregado para indicar a revogação parcial de
uma lei ou de um regulamento” (DE PLÁCIDO E SILVA, 1989, p. 44).
2. Atente-se a sua grafia: uma só palavra e dois erres.
3. Não confundir com ab-rogação, que quer dizer revogação total de uma
lei, decreto, regra ou regulamento, nem com revogação, que é palavra
genérica, abrangente de ambos os termos referidos.
4. No que concerne à regência nominal, Francisco Fernandes (1969, p. 127)
aceita a possibilidade de sintaxe com as preposições a e de,
exemplificando com dois excertos de Rui Barbosa: a) “Tais derrogações
à regra se verificam, de ordinário, quando o ato… não costuma formar
hábito, predileção, ofício, estado especial, ou intensidade”; b) “As mais
dolorosas características morais, as mais sensíveis derrogações da
condição humana…”.
5. As mesmas possibilidades de construção são acatadas por Celso Pedro
Luft (1999, p. 153): derrogação a uma lei, derrogações à norma,
derrogações à regra, derrogação de uma lei, derrogações da norma,
derrogações da regra.

Desacolher – Está correto?


1. É verbo empregado com frequência, nos meios jurídicos e forenses,
sempre com o sentido de não receber, de negar acolhida, provimento ou
recebimento, caso em que se emprega com objeto direto (que pode ser
sujeito na voz passiva), correspondendo à construção desacolher algo.
Exs.: a) “Os componentes da Turma Julgadora desacolheram a
preliminar de nulidade da sentença”; b) “A preliminar de nulidade da
sentença foi desacolhida pelos componentes da Turma Julgadora”.
2. Ante a objeção de alguns quanto a seu uso, é oportuno registrar que tal
vocábulo se encontra no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa,
da Academia Brasileira de Letras, que é o veículo oficial para dirimir
dúvidas acerca da existência ou não de vocábulos em nosso idioma
(2009, p. 254), motivo por que está oficialmente autorizado seu
emprego.
3. Não traz problemas quanto à conjugação verbal, já que, sendo seu
composto, tem por modelo acolher, de fácil flexão.

Desagradar
1. À semelhança de seu antônimo agradar, é verbo que precisa ser
observado pelo prisma da regência verbal.
2. No sentido de tratar mal, de deixar de acariciar, é transitivo direto. Exs.:
a) “Ele desagradou o cãozinho”; b) “Ele desagradou-o”.
3. Já no sentido de ser desagradável, é transitivo indireto. Exs.: “O
resultado do processo desagradou ao perdedor”; b) “O resultado do
processo lhe desagradou” (SILVA, A., 1958, p. 26).
4. Muito embora já tenha sido usado, no último sentido, também com
objeto direto, anota Francisco Fernandes que a construção com objeto
indireto “é hoje a mais empregada” (1971, p. 194).
5. Acerca dessa mesma questão, assim observa Celso Pedro Luft (1999, p.
177): a) na língua culta escrita de registro formal, “ainda preferem a
sintaxe desagradar a alguém, desagradar-lhe”; b) “mas desagradar
alguém, desagradá-lo foi uso clássico… e continuou sendo uso familiar e
popular, talvez por força dos sinônimos descontentar, desgostar,
contrariar”; c) “escritores brasileiros contemporâneos usam as duas
regências”.
6. Apesar da divergência entre os gramáticos, o que melhor parece, no que
tange aos textos que devam submeter-se à norma culta, é obedecer à
distinção de regência inicialmente formulada.
Ver Voz passiva – Quando é possível? (P. 793)

Desaguar – Como conjugar?


Ver Aguar – Como conjugar? (P. 101)

Desapercebido ou Despercebido?
1. Desapercebido quer dizer desprevenido, desguarnecido, desprovido. Ex.:
“O furtador disse haver-se apossado da carteira alheia, porque estava
desapercebido de dinheiro”.
2. Já despercebido significa o que não se vê, o que não é notado, aquilo em
que não se atenta. Ex.: “Passou despercebida à imprensa a notoriedade
do réu”.
3. Silveira Bueno (1938, p. 75) faz essa distinção entre desperceber (não
pressentir) e desaperceber (não estar preparado).
4. Também fazendo a distinção de significados entre os dois vocábulos,
Eliasar Rosa transcreve frase de Otoniel Mota, que serve para a fixação
dos dois sentidos: “O soldado tratou de passar despercebido perante o
inimigo, porque estava desapercebido para a luta”.
5. Bem por isso, critica tal autor a seguinte passagem de um acórdão: “No
vertente, a falta passou desapercebida ao ilustre Juiz, bem como às
partes litigantes…” (ROSA, 1993, p. 56-7).
6. Quanto ao emprego equivocado de um vocábulo em lugar do outro,
lembra Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 269) que se trata de barbarismo
semântico.
7. Eduardo Carlos Pereira denomina-o barbarismo de ideia e o conceitua
como o “uso desnecessário de termos estrangeiros e de termos em
acepção estranha à língua” (1924, p. 260).
8. Também é lição de Júlio Ribeiro (1908, p. 328) que constitui “vício
lexiológico” que se chama “barbarismo” o “dar às palavras significação
que elas não têm”, como, por exemplo, “desapercebido em vez de
despercebido”.
9. Vasco Botelho de Amaral (1939, p. 105) anota um cochilo de emprego
de desapercebidas por despercebidas em Camilo Castelo Branco.
10. Arnaldo Niskier também é dos que veem nítida diferença entre tais
vocábulos: “Despercebido é o que não foi notado: desapercebido é
desprovido, desaparelhado” (1992, p. 27).
11. Ronaldo Caldeira Xavier (1991, p. 85) caracteriza o emprego de
despercebido por desapercebido – e vice-versa – como cruzamento,
vale dizer, como “o emprego de uma palavra em lugar de outra”,
decorrente “da falta de discernimento entre vocábulos assemelhados
quanto à estrutura fonológica (parônimos), o que motiva a alteração da
mensagem tencionada, atentando contra a precisão terminológica”.
12. Importa ressalvar, todavia, que, para Júlio Nogueira, a distinção entre
ambas as palavras parônimas constitui “distinção útil, mas de criação
moderna” (1959, p. 34).
13. E Pedro A. Pinto – que vê em Cândido de Oliveira o autor e defensor
da distinção de significados entre tais vocábulos – anota serem
“correntes ambas as formas, e uma não é melhor que a outra”.
14. Em sequência, refere tal gramático que Heráclito Graça “demonstrou à
saciedade, que pode dizer-se, com o mesmo sentido, passou
desapercebido ou passou despercebido”.
15. Para corroborar seu pensamento, por fim, remata ele (PINTO, 1924, p.
98-9) com exemplo de Almeida Garrett: “Sr. Presidente, em toda a
minha vida tenho professado a liberdade, e por isso não podia deixar
desapercebido este fato injusto e altamente inconveniente à causa
pública…”.
16. Após todas essas ponderações, o que se pode dizer, em síntese, é que,
apesar de alguns entendimentos contrários mais antigos, a regra, na
atualidade, sobretudo nos textos que devam submeter-se à norma culta,
é fazer a distinção entre ambos os vocábulos: desapercebido é
desprevenido, desguarnecido, desprovido; já despercebido é o que não
se viu, o que não é notado, aquilo em que não se atentou. Vale, nesse
sentido, o conselho de Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 111), para
não se empregar um adjetivo em lugar do outro.

Descendência ou Ascendência italiana?


Ver Ascendência ou Descendência italiana? (P. 136)

Desce redondo ou Desce redonda?


1. Indaga um leitor qual a forma correta: “A cerveja que desce redondo…”
ou “A cerveja que desce redonda…”?
2. Veja-se, para fixar um primeiro conceito, o seguinte exemplo: “Ele
trabalhou pesadamente”. Nessa estrutura, ele é o sujeito, trabalhou é o
verbo, e pesadamente é o adjunto adverbial (ou seja, a palavra indica
uma circunstância referente ao verbo).
3. Desde o latim, porém, existe a possibilidade de diminuir esse advérbio
(pesadamente) e pôr em seu lugar um vocábulo de forma adjetiva
(pesado), o qual, porém, em decorrência de sua função adverbial, fica
invariável: a) “O juiz trabalhou pesado”; b) “A juíza trabalhou pesado”;
c) “Os desembargadores trabalharam pesado”; d) “As advogadas
trabalharam pesado”.
4. Uma análise não apenas gramatical, mas também semântica, da
mencionada estrutura mostra com clareza a função adverbial (e não
adjetiva) de pesado, que modifica trabalharam (um verbo), e não juiz
(um substantivo). Em outras palavras, o sentido é trabalhar pesado, e
não juiz pesado.
5. Para fixar um segundo conceito, tome-se um outro exemplo: “O
trabalhador chegou cansado”. Nessa estrutura, trabalhador é o sujeito,
chegou é o verbo, e cansado é um predicativo do sujeito (constitui uma
qualidade referente ao sujeito).
6. Contrariamente ao advérbio da hipótese anterior (que é categoria
gramatical invariável), tem-se, no caso, cansado, que é um real adjetivo,
com função adjetiva e que concorda com trabalhador, motivo por que é
passível de flexão em gênero (masculino ou feminino) e número
(singular ou plural): a) “O trabalhador chegou cansado”; b) “A
trabalhadora chegou cansada”; c) “Os trabalhadores chegaram
cansados”; d) “As trabalhadoras chegaram cansadas”.
7. De igual modo aqui, uma análise não apenas gramatical, mas também
semântica, da estrutura analisada mostra com clareza a função adjetiva (e
não adverbial) de cansado, que claramente modifica trabalhador (um
substantivo), e não chegou (um verbo). O sentido, sem dúvida, é
trabalhador cansado, e não chegou cansado.
8. Feitas essas distinções com os exemplos dados, observa-se que, em
alguns casos, acaba surgindo a dúvida no relacionamento sintático entre
as palavras ou expressões, e surge a indagação: um vocábulo com
aparência adjetiva tem sempre função adjetiva, ou desempenha função
adverbial?
9. Para responder a essa questão, veja-se exatamente o exemplo da
consulta: “A cerveja que desce redondo”. Quando se analisam as
relações entre os vocábulos e expressões da frase, vê-se que se podem
extrair duas conclusões: a) é possível pensar em redondo como o modo
como desce a cerveja (e, então, redondo tem função adverbial e é
invariável); b) também é possível ver em redondo como uma qualidade
da cerveja, que, ao descer, continua redonda (e, assim, redondo tem
função adjetiva, clara de um predicativo do sujeito, e, por conseguinte, é
variável).
10. Feitas essas observações e ante o quadro que se formou e suas
premissas, chega-se à conclusão de que ambos os exemplos são
corretos: a) “A cerveja que desce redondo”; b) “A cerveja que desce
redonda”. No primeiro deles, embora com aparência adjetiva, redondo
é um adjunto adverbial (e, assim, invariável); no segundo, redondo é
um adjetivo com a função de predicativo do sujeito (e, portanto,
variável).

Descer para baixo – Está correto?


1. Esta é mais uma daquelas expressões equivocadas e redundantes,
portadora de tautologia, ou pleonasmo vicioso.
2. Descer já significa movimentar-se para baixo.
3. Diga-se, portanto, tão somente, descer.

Desconcerto do mundo
1. Um leitor narra que encontrou um poema de Camões com o título “Ao
Desconcerto do Mundo” e lhe pareceu que o correto deveria ser
desconserto, já que a ideia é que o mundo precisaria de reparo.
2. Veja-se, num primeiro aspecto, que, no campo da ortografia, as palavras
que têm grafia e pronúncia parecidas, mas com sentidos diversos,
denominam-se parônimas.
3. Isso se dá com diversos vocábulos: arrear (pôr arreio) e arriar (baixar,
ceder); deferir (conceder) e diferir (diferenciar); delatar (denunciar) e
dilatar (aumentar, prorrogar); eminência (elevação, altura,
proeminência) e iminência (característica do que está prestes a
acontecer); flagrância (estado do que é flagrante, do que ocorre no ato) e
fragrância (perfume agradável); ratificar (confirmar) e retificar
(corrigir).
4. Nesse mesmo rol se podem inserir concerto (acordo, ajuste, convenção,
pacto) e conserto (remendo, reparo). Exs.: a) “Do concerto das vontades
em litígio, extraiu-se uma minuta de acordo”; b) “Para muitos, aquela
situação não tem conserto”.
5. Há um conhecido poema de Camões, que tem por título “Ao desconcerto
do mundo” com o seguinte teor: “Os bons vi sempre passar / No Mundo
graves tormentos; / E para mais me espantar, / Os maus vi sempre nadar
/ Em mar de contentamentos. / Cuidando alcançar assim / O bem tão
mal ordenado, / Fui mau, mas fui castigado. / Assim que, só para mim, /
Anda o Mundo concertado.”
6. Vejam-se os dois versos finais: “Assim que, só para mim, / Anda o
Mundo concertado.” A leitura nos faz entender que o que o poeta quer
dizer, em suma, é que apenas para ele o mundo anda estruturado e,
portanto, concertado.
7. Se, a par dessa conclusão, se pode extrair uma outra de que o mundo
também precisa de remendo, de reparo e, portanto, de conserto, isso é
outra questão, que não altera item algum do que já foi afirmado.

Descrição, Discrição ou Discreção?


1. Do latim descriptione, descrição é o ato ou efeito de descrever, a
exposição circunstanciada feita pela palavra escrita ou falada. Exs.: a)
“Em suas declarações, a vítima fez pormenorizada descrição do
criminoso”; b) “Em caso de informação inexata ou falsa descrição no
documento a que se refere o artigo antecedente, será o transportador
indenizado pelo prejuízo que sofrer, devendo a ação respectiva ser
ajuizada no prazo de cento e vinte dias, a contar daquele ato, sob pena
de decadência” (CC/2002, art. 745); c) “O contrato, que serve de título à
propriedade fiduciária, conterá … a descrição da coisa objeto da
transferência, com os elementos indispensáveis à sua identificação”
(CC/2002, art. 1.362, IV); d) “Só se pode arguir de sonegação o
inventariante depois de encerrada a descrição dos bens, com a
declaração, por ele feita, de não existirem outros por inventariar e
partir, assim como arguir o herdeiro, depois de declarar-se no
inventário que não os possui” (CC/2002, art. 1.996).
2. Já discrição é a qualidade ou caráter do que é discreto, sóbrio, do que
sabe guardar segredo. Ex.: “A discrição não era o ponto forte da ré, fato
esse que a levou a ser presa”.
3. Observe-se, em continuação, que não existe a palavra discreção, um
desacerto que se tem propagado incessantemente, motivo pelo qual está
vedada, assim, a possibilidade de seu emprego em textos que devam
submeter-se à norma culta, muito embora alguns gramáticos teimem em
registrá-la.
4. Ao ver que o dicionarista Caldas Aulete registrava o vocábulo discreção,
o romanista Gonçalves Viana foi taxativo para reputá-la barbarismo não
encontrado nos clássicos, o qual “deverá quanto antes ser desterrado da
escrita portuguesa, pois a adoção de tal forma ortográfica patenteia a
completa ignorância da história da língua e do seu desenvolvimento”
(VIANA apud MACHADO FILHO, 1969f, p. 216).
5. Vale resumir a questão com a síntese formulada com precisão por
Arnaldo Niskier: “Discrição é a qualidade de quem é discreto; descrição
é o relato oral ou escrito da aparência ou de um aspecto de uma coisa ou
pessoa; discreção não existe” (1992, p. 111).
6. Talvez em decorrência dos frequentes equívocos nesse campo, o próprio
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira
de Letras, órgão incumbido oficialmente de determinar a existência dos
vocábulos em nosso idioma, além de sua grafia oficial, o qual
normalmente não se debruça em dar o significado dos vocábulos que
registra, acaba por fazer expressa distinção: descrição é a ação de
descrever; já discrição tem o sentido de reserva (2009, p. 262 e 290).

Descriminação ou Descriminalização?
1. Descriminação tem por sinônima descriminalização e, basicamente,
significa a exclusão da criminalidade, a retirada da antijuridicidade de
um fato. Ex.: “Até movimentos se organizam em prol da descriminação
da maconha”.
2. Não confundir com sua parônima discriminação, que é o ato ou efeito de
distinguir, discernir, separar.
3. Ronaldo Caldeira Xavier (1991, p. 85-6) caracteriza o emprego de
discriminar por descriminar – e vice-versa – como cruzamento, vale
dizer, como “o emprego de uma palavra em lugar de outra”, decorrente
“da falta de discernimento entre vocábulos assemelhados quanto à
estrutura fonológica (parônimos), o que motiva a alteração da mensagem
tencionada”, atentando contra a precisão terminológica.
4. Pela importância da distinção e para que não se cometam equívocos, o
próprio Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, órgão incumbido
oficialmente de determinar a existência dos vocábulos em nosso idioma,
além de sua grafia oficial, o qual normalmente não se debruça em dar o
significado dos vocábulos que registra, acaba por especificar que
descriminação tem o sentido de inocentação (ACADEMIA
BRASILEIRA DE LETRAS, 2004, p. 251).

Descriminalizar, Descriminar, Discriminar ou Discriminalizar?


1. Existe descriminar, com o sentido de excluir de criminalidade, retirar a
antijuridicidade de um fato. Ex.: “Há movimentos sociais muito fortes
querendo descriminar o uso da maconha”.
2. Com esse mesmo conteúdo de sentido, há os vocábulos descriminação,
descriminado, descriminador, descriminalização, descriminalizador,
descriminalizante, descriminalizar, descriminalizável, descriminante e
descriminável (ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, 2009, p.
262).
3. Não confundir o verbo inicialmente citado com discriminar, que
significa discernir, distinguir, especificar e separar. Ex.: “Os efeitos
colaterais do medicamento estavam discriminados na bula”.
4. Também com esse mesmo conteúdo semântico, registram-se os
vocábulos discrime, discrímen, discriminação, discriminado,
discriminador, discriminante, discriminatório e discriminável
(ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, 2009, p. 290).
5. Edmundo Dantès Nascimento (1982, p. 90) observa a importância de
fazer a devida distinção entre os verbos descriminar e discriminar na
linguagem jurídica e forense.
6. Lembram Regina Toledo Damião e Antonio Henriques que “tem sido
bastante empregada a palavra descriminar (indica a exclusão de
criminalidade, denota a ideia de inocentar) nas discussões sobre a
reforma do Código Penal. Não há confundi-la com o vocábulo
discriminar, significativo de separar, distinguir, dar tratamento
diferenciado a uma mesma situação” (1994, p. 46).
7. É importante observar, todavia, que o VOLP (de 2009) não registra o
vocábulo discriminalizar.
8. De equívocos no emprego desses verbos nem mesmo escapam os textos
de lei, como se pode observar na publicação do texto oficial do art. 16,
II, do Decreto-lei 413, de 9/1/69, que dispôs sobre os títulos de crédito
industrial, ao especificar quais requisitos deve conter uma nota de
crédito industrial: “Data de pagamento; se a nota for emitida para
pagamento parcelado, acrescentar-se-á cláusula descriminando valor e
data de pagamento das prestações”. É óbvio que o correto é
discriminando.

Descriminar ou Discriminar?
Ver Descriminalizar, Descriminar, Discriminar ou Discriminalizar? (P.
274)

Desde
1. É preposição que indica tempo ou espaço com noção de continuidade
desde seu ponto de partida. Ex.: a) “Desde a última segunda-feira, estão
abertas as inscrições para o concurso da Magistratura”; b) “Desde
Miguelópolis até aqui, viajamos de ônibus”.
2. Na lição de Júlio Ribeiro (1908, p. 309), tal preposição indica
“precisamente o ponto de partida, quer local, quer temporal”, do que o
referido gramático dá exemplos: a) “Desde Sevilha…”; b) “Desde ontem
à noite até hoje pelas cinco horas”.
3. Muito embora, entretanto, possa haver em tal vocábulo a acepção de
local, de ponto de partida, anotam Hêndricas Nadólskis e Marleine Paula
Marcondes Ferreira de Toledo (1998, p. 111) que não se deve empregar
tal preposição para indicar somente o local de origem, mas sem ideia de
continuidade no espaço, erro esse muito frequente, bastando que se
atente aos meios de comunicação. Exs.: a) “O julgamento foi transmitido
desde Brasília por aquela emissora de televisão”. Corrija-se para: “O
julgamento foi transmitido de Brasília por aquela emissora de
televisão”.
4. Para resumir: a preposição desde tem o conteúdo semântico de “tempo
ou espaço com noção de continuidade desde seu ponto de partida”, mas
não deve ser empregada “para indicar somente o local de origem, sem
ideia de continuidade no espaço”.
5. Confira-se, assim, a correção ou a erronia de seu emprego nos seguintes
exemplos: a) “O sinal de transmissão demora poucos segundos para vir
desde Atenas até o Brasil” (correto, porque, no caso, seu uso se dá com
noção de continuidade desde seu ponto de partida); b) “O jogo foi
transmitido desde Atenas, com exclusividade, por aquela emissora de
televisão” (errado, porque, no caso, seu uso se dá sem ideia de
continuidade no espaço).
Ver Desde que (P. 274) e Dês que – Está correto? (P. 279)

Desde há algum tempo – Está correto?


1. Luís A. P. Vitória indaga: “será correto dizer desde há algum tempo?”
2. E ele próprio responde: “Não; os bons escritores não autorizam essa
construção”.
3. E complementa: “Diga-se, então: ‘Esses fatos ocorreram desde algum
tempo’” (VITÓRIA, 1969, p. 91).
Ver De há muito (P. 259).

Desde que
1. Na lição de Laudelino Freire, “o emprego da conjunção desde que no
sentido conclusivo de assim que, uma vez que não é rigorosamente
vernáculo”.
2. Nos dizeres de tal autor (FREIRE, s/d, p. 30), o mencionado giro “tem
sabor afrancesado. Acertado é usá-la na sua legítima acepção temporal
como fizeram os clássicos antigos, segundo este exemplo do puríssimo
padre Manuel Bernardes: ‘Desde que o Monge saíra do Mosteiro até que
tornara para ele…’”.
3. Em complementação e síntese, Domingos Paschoal Cegalla (1999, p.
114) admite a possibilidade de que tal locução conjuntiva possa imprimir
à oração as ideias de tempo, condição ou causa: a) “Desde que ficou
famoso, nunca mais teve sossego” (tempo); b) “Poderá comprar o
imóvel, desde que tenha recursos” (condição); c) “Desde que o burro
empacou, só me resta andar a pé” (causa).
Ver Desde (P. 274), Dês que – Está correto? (P. 279) e Indicativo por
Subjuntivo (P. 411).

De se fazer – Está correto?


Ver Agradável de se ler ou Agradável de ler? (P. 99)

De segunda a (ou à) sexta-feira?


1. Um leitor indaga se deve ser ou não craseada a expressão “De segunda a
(ou à) sexta-feira”.
2. Observe-se, em termos técnicos: a) crase significa a fusão de duas vogais
idênticas; b) nos casos mais comuns, o segundo a de um a craseado
costuma ser um artigo; c) se é artigo, obviamente é feminino e só pode
estar antes de um nome feminino.
3. Na prática, para se saber se existe crase (que poderá haver antes de um
feminino, mas não antes de um masculino): a) substitui-se o nome
feminino por um correspondente masculino; b) se, antes do masculino,
aparece ao, então existe crase no feminino; c) se, porém, antes do
masculino, não aparece ao, não há crase antes do feminino.
4. No caso da consulta: a) o nome feminino é sexta-feira; b) um
correspondente masculino é sábado; c) substituindo-se o feminino por
um correspondente masculino, tem-se a seguinte expressão: “De
segunda a sábado” (e não ao sábado); d) se não aparece ao no
masculino, então não há crase no feminino.
5. Vejam-se, portanto os seguintes exemplos, com o apontamento de sua
correção ou erronia: a) “De segunda a sexta-feira” (correto); b) “De
segunda à sexta-feira” (errado); c) “De segunda a sábado” (correto); d)
“De segunda à sábado” (errado).

Desembargador aposentado é Ex-desembargador?


1. Um leitor indaga de modo direto: desembargador aposentado é
desembargador ou ex-desembargador?
2. Ora, por um lado, os títulos de juiz, desembargador e outros constituem
prerrogativas de seu adquirente; por outro lado, a vitaliciedade, em
determinada extensão e no que concerne a determinados direitos,
transcende os limites da aposentadoria. E só esses argumentos já
bastariam para solucionar a indagação.
3. Adicionalmente, porém, uma consulta ao Regimento Interno do Tribunal
de Justiça do Estado de São Paulo corrobora com facilidade o raciocínio:
“Ao aposentar-se, o desembargador conservará o título e as honras do
cargo, salvo se o Órgão Especial decidir em contrário, pelo voto de dois
terços de seus integrantes, em razão de condenação por crime doloso”
(RITJSP, art. 141). Os outros tribunais têm disposições similares em seus
regimentos internos.
4. Assim, pode-se solucionar a consulta do seguinte modo: de alguém que
se aposentou em segunda instância num Tribunal de Justiça Estadual
pode-se dizer que é a) um desembargador ou b) um desembargador
aposentado; jamais, porém, c) um ex-desembargador.

Desiderato ou Desideratum?
1. O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela
Academia Brasileira de Letras, órgão oficialmente incumbido de definir
quais vocábulos integram nosso léxico, registra a forma desiderato (que
há de ter por plural desideratos) e também a forma desideratum,
considerando este último um vocábulo da língua latina (2009, p. 270 e
862).
2. Na lição simples, porém precisa, de Vitório Bergo, desideratum consiste
em latinismo, que “deve ser aportuguesado em desiderato” (1944, p. 85).
3. Asseverando ser ainda insuficiente a disciplina clássica no emprego de
nomes oriundos de outros idiomas, João Ribeiro (1923, p. 119)
reconhece haver “quem adote o plural das línguas originárias”, como
desiderata; acrescenta, entretanto, que “esse uso só se justifica em
palavras que se conservaram incorruptas e na sua forma etimológica”.
4. É oportuno na anotar que, se se reputa o vocábulo pertencente ao latim,
deve-se escrevê-lo, então, entre aspas, em itálico, em negrito ou com
sublinha, como se procede quando se emprega uma palavra de outro
idioma, e sem acento, que não existia em língua originária.
5. Ainda discutindo a questão em termos científicos, é de se dizer que o
plural latino deveria ser evitado a qualquer custo, até porque, na língua
mãe, os substantivos eram declinados, sendo diversas as terminações, co
forme a função sintática: desiderata (sujeito), desideratorum (adjunto
adnominal), desideratis (objeto indireto), dediderata (objeto direto).
6. Em realidade, não há como usar hoje pela metade o vocábulo em latim:
ou se considera o termo já integrado ao nosso idioma para todos os
efeitos, também para o de sua acentuação gráfica e de sua flexão no
plural; ou se lhe conferem feição e regime latinos em plenitude, hipótese
em que tem uma específica e diversa terminação, de acordo com a
função sintática que a palavra desempenhar, proceder esse que, além de
muito estranho, é simplesmente inviável ao usuário médio do idioma,
que nem mesmo teve acesso aos rudimentos da língua de origem.
7. Sempre com a atenção voltada para a discussão científica, vale lembrar,
por oportuno, a lição de Silveira Bueno, ministrada a um consulente que
lhe indagava qual a melhor maneira de formar, em nosso idioma, o plural
da palavra memorandum: “As palavras estrangeiras podem ter dois usos
em nossa língua: ou o snr. conserva a forma originária da língua donde
provém o termo, ou aplica às palavras as regras comuns do português. Se
o snr. seguir a primeira forma, deverá dizer no plural: memoranda – que
este é o plural de memorandum em latim. Se o snr. seguir a segunda
maneira, dirá memoranduns, porque, em português, os nomes
terminados em m fazem o plural mudando o m em ns” (1938, p. 49).
Ver Campus (P. 166), Currículo (P. 244) e Memorândum – Qual é o plural?
(P. 468)

Designar
1. Quanto a sua pronúncia, anota-se que, mesmo entre as pessoas cultas, há
uma tendência a introduzir uma vogal logo após o g que encerra o
radical, nas formas rizotônicas, pronunciando-se desiguino, desiguinas…
2. Trata-se, porém, de equívoco imperdoável, já que, sendo ele um verbo
regular, após o radical (design) apenas se acrescentam as desinências
próprias da conjugação: designo, designas, designa…; designe,
designes…, com a sílaba tônica incidindo no próprio radical (SACCONI,
1979, p. 20).
3. Tais dúvidas se dão apenas nas formas rizotônicas, situadas no presente
do indicativo, no presente do subjuntivo, no imperativo afirmativo e no
imperativo negativo, de modo que não há motivo para sobressaltos no
que concerne aos demais tempos: designei, designava, designarei,
designasse, designar, designando, designado…

Desincompatibilizar – Existe?
Ver Verbos – Existem ou não? (P. 764)

De somenos
Ver Somenos (P. 710).

De sorte que – Galicismo?


1. Contrariando os que reputam galicismo tal expressão, Vasco Botelho de
Amaral (1939, p. 120-1) a reputa “de bom cunho”, fundando-se em
exemplo de Padre Manuel Bernardes: “… de sorte que se torna em uma
massa mui unida”.
Ver De modo a ou De modo que? (P. 262)

Despacho alimpador – Existe?


Ver Esposo ou Marido? (P. 331)

Despacho aludido – Existe?


1. Pelo próprio fato de que, genericamente, o objeto direto da voz ativa se
torna sujeito da voz passiva, tem-se, no campo técnico, a premissa
genérica de que apenas verbos transitivos diretos podem ser apassivados,
sob pena de não haver um termo que venha a desempenhar a função de
sujeito da voz passiva. Exs.: a) “O magistrado proferiu a sentença”
(proferir é transitivo direto); b) “A sentença foi proferida pelo
magistrado” (voz passiva); c) “O magistrado gostou do resultado
obtido” (gostar é transitivo indireto); d) (Não há possibilidade de
passagem para a voz passiva).
2. No caso concreto, também se parte do princípio de que aludir é
transitivo indireto. Exs.: a) “O advogado aludiu a uma dívida antiga,
possivelmente já prescrita”; b) “Os traslados a que aludem os dois
artigos anteriores…” (Rui Barbosa).
3. Assim, prestados tais esclarecimentos, do fato de que aludir é transitivo
indireto deflui a conclusão genérica de que, em termos técnicos, não
admite ele construção na voz passiva, motivo por que estaria errada uma
frase como “Uma dívida antiga foi aludida pelo advogado”.
4. Ressalve-se, porém, que Napoleão Mendes de Almeida (1981, p. 214) –
sob o argumento de que alguns verbos desse tipo, dentre eles aludir,
embora transitivos indiretos, “têm recipiente” na voz ativa – defende-
lhes o uso na voz passiva.
5. De igual modo, Mário Barreto admite, de modo expresso, o
apassivamento de determinados verbos transitivos indiretos, como
aludir, obedecer, perdoar e responder, observando, porém, Aires da
Mata Machado Filho (1969a, p. 599), que lhe citou a lição, que “as
formas passivas fixaram-se na vigência da construção transitiva direta”,
do que teria advindo “a aparente contradição”.
6. Interessante, de igual modo, é a lição de Vitório Bergo a respeito: “O
verbo aludir, embora relativo (entenda-se transitivo indireto) e não
transitivo (entenda-se transitivo direto), é daqueles que, segundo Mário
Barreto, admitem a construção passiva. Efetivamente, na linguagem
usual, a cada passo se emprega aludido como equivalente de
mencionado, referido, citado. E também o apassivam bons escritores”.
7. E alinha tal gramático (BERGO, 1944, p. 20) exemplo de Antônio
Feliciano de Castilho: “As notícias históricas… são as mais das vezes
tocadas ou aludidas de modo tal que só um erudito, e a poder de estudos
e comentários, é que as deslinda”.
8. Alguns gramáticos também assim empregam o mencionado vocábulo,
como, por exemplo, Pedro A. Pinto em uma de suas lições: “Transcrevi,
no aludido livro, exemplos dos maiores clássicos da língua…” (1924, p.
34).
9. Em seu precioso trabalho sobre as “enfermidades da linguagem”,
Cândido de Figueiredo (1948, p. 5 e 76) emprega tal forma passiva ao
menos em duas passagens: a) “Dentro em pouco, porém, vi que as duas
aludidas seções… eram preenchidas… pelas minhas respostas a
numerosíssimos consulentes”; “; b) “… ia jurar que o aludido Sá brinca
com a tropa…”.
10. Com integral veracidade quanto ao uso na área jurídica e forense,
atesta Adalberto J. Kaspary que, “na linguagem jurídica, é bastante
usual a construção passiva com determinados verbos transitivos
indiretos”, rol esse em que se pode elencar o verbo aqui considerado.
11. Apenas ressalva tal autor em continuação: “Como a linguagem jurídica
está inserida na zona da língua culta, sendo, portanto, mais
formalizada, recomenda-se evitar o apassivamento generalizado de
verbos transitivos indiretos”.
12. E complementa: “mais uma vez, não se trata de questão de certo e
errado, mas de menor ou maior qualidade da expressão” (KASPARY,
1996, p. 376-7).
13. Em síntese, nesse caso se há de ter como verdadeira a apropriada lição
de Vitório Bergo (1944, p. 30), para quem o verbo aludir, embora
transitivo indireto, é daqueles que se costuma apassivar, de modo que,
embora se diga na voz ativa “aludir ao despacho”, também se diz na
voz passiva, como se despacho fosse objeto direto: “o despacho
aludido causara alvoroço”.
Ver Aludir (P. 106), Apelação (P. 125), Apelar (P. 126), Voz passiva – Quando
é possível? (P. 793) e Voz passiva sintética (P. 794).

Despacho: exarar, prolatar ou proferir?


Ver Exarar, prolatar ou proferir sentença? E acórdão? E despacho? (P.
340)

Despacho saneador
Ver Esposo ou Marido? (P. 331)

Despautério
1. Veja-se, por primeiro, que se grafa com e na primeira sílaba
(ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, 2009, p. 274).
2. Tem o significado de grande disparate, de asneira desmedida, de
despropósito grave. Ex.: “É um despautério afirmar que o juiz deve
sentenciar apenas buscando a justiça no caso concreto, sem se
preocupar com as disposições da lei”.
3. A palavra vem do francês (despautère), por sua vez proveniente do
antropônimo van Pauteren, gramático flamengo (1460-520), autor dos
Commentarii Gramatici, obra difusa e obscura, repleta de
excentricidades desprovidas de maiores fundamentos.
4. Das próprias circunstâncias históricas e da postura pessoal do indigitado
gramático se originou o significado que hoje se confere ao vocábulo
considerado.

Despender ou Dispender?
1. Despender é verbo normalmente registrado pelo Vocabulário Ortográfico
da Língua Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de Letras
(órgão incumbido de listar oficialmente os vocábulos existentes em
nosso idioma), e significa fazer despesa, gastar, consumir (2009, p. 275).
Ex.: “O réu despendeu o produto do furto em diversões e viagens”.
2. É verbo muito empregado na redação de artigos de lei: a) “Prescreve …
em cinco anos … a pretensão do vencedor para haver do vencido o que
despendeu em juízo”. (CC/2002, art. 206, § 5º, III); b) “O mandatário
tem sobre a coisa de que tenha a posse em virtude do mandato, direito
de retenção, até se reembolsar do que no desempenho do encargo
despendeu” (CC/2002, art. 681); c) “Incumbem ao dono as reparações
extraordinárias e as que não forem de custo módico; mas o usufrutuário
lhe pagará os juros do capital despendido com as que forem necessárias
à conservação, ou aumentarem o rendimento da coisa usufruída”
(CC/2002, art. 1.404); d) “Se o dono não fizer as reparações a que está
obrigado, e que são indispensáveis à conservação da coisa, o
usufrutuário pode realizá-las, cobrando daquele a importância
despendida” (CC/2002, art. 1.404, § 2º); e) “O tutor … tem direito a ser
pago pelo que realmente despender no exercício da tutela…” (CC/2002,
art. 1.752, caput); f) “O testamenteiro é obrigado a … dar contas do que
recebeu e despendeu, subsistindo sua responsabilidade enquanto durar a
execução do testamento” (CC/2002, art. 1.980).
3. Observe-se, todavia, que não existe a palavra dispender.
4. A comprovar a frequência com que ocorrem erros com o emprego do
inexistente verbo por último citado, Josué Machado transcreve a falha de
um “redator que escreveu na primeira página do jornal que ‘O Banco
Central americano dispendeu US$ 2 bilhões…’” (1994, p. 38).
5. A um consulente que indagava a razão da grafia diferente de despender e
de dispêndio, já que há entre elas sentido aproximado, assim respondia
Cândido de Figueiredo: “Sim, o significado é análogo, mas as duas
palavras não têm a mesma derivação: despender veio-nos do latim
dependere, e dispêndio é o mesmo que o latim dispendium, derivado de
dispendere. Ora, se em latim havia dependere e dispendere, e se o
vocabulário português é, em grande parte, filho do vocabulário latino,
nada tem que estranhar” (1943, p. 29).
Ver Dispêndio (P. 291).

Despensa ou Dispensa?
1. Despensa significa compartimento de uma casa onde se guardam
mantimentos. Ex.: “Os alimentos furtados estavam acondicionados
normalmente na despensa da casa abandonada”.
2. Não confundir com sua parônima dispensa, que quer dizer desligamento
de um cargo ou função, licença para não se cumprir certa obrigação. Ex.:
“Por adoentado, o réu solicitou dispensa de comparecimento à
audiência”.
3. Talvez motivado pelos frequentes equívocos cometidos nesse campo, o
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela Academia
Brasileira de Letras, órgão oficialmente incumbido de definir quais
vocábulos integram nosso léxico, contrariamente a seu normal proceder
de não mencionar o significado das palavras, faz questão de especificar o
sentido de ambos os vocábulos: despensa significa lugar para guardar
mantimentos, e dispensa quer dizer licença (2009, p. 275 e 290).

Despercebido ou Desapercebido?
Ver Desapercebido ou Despercebido? (P. 271)

Desproceder – Existe?
1. Muito embora seja frequentemente empregado nos textos jurídicos e
forenses com o sentido de não ter procedência, ou de não ter a
consequência processual pretendida, o Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, que é o órgão
oficialmente incumbido de listar as palavras existentes em nosso idioma,
não registra o verbo desproceder.
2. A forçosa e definitiva conclusão, assim, é que esse verbo não existe e,
portanto, não deve ser empregado em textos que devam submeter-se à
norma culta.
3. Acrescente-se, por oportuno, que, na referida lista oficial de palavras,
encontra-se um verbo de idêntico significado, que é improceder, o qual
pode tomar-lhe o lugar com escorreita perfeição (ACADEMIA
BRASILEIRA DE LETRAS, 2009, p. 451).

Despronunciar ou Impronunciar?
Ver Impronunciar ou Despronunciar? (P. 400)

Despropositadamente ou Despropositalmente?
Ver Propositadamente ou Propositalmente? (P. 624)

Desprover ou Improver?
1. Dois leitores indagam qual a forma correta: desprover ou improver? Em
caso de existência de ambos, há diferença de conteúdo semântico entre
ambas?
2. Quanto a desprover, trata-se de verbo empregado com frequência nos
meios jurídicos e forenses, normalmente com o sentido de recusar
provimento (a recurso), caso em que se emprega com objeto direto (que
pode ser sujeito na voz passiva), correspondendo à construção desprover
algo (agravo ou recurso, por exemplo). Exs.: a) “A Câmara julgadora
desproveu o recurso de apelação”; b) “O recurso de apelação foi
desprovido pela Câmara julgadora”.
3. É oportuno registrar que tal vocábulo se encontra listado no Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras,
que é o veículo oficial para dirimir dúvidas acerca da existência ou não
de vocábulos em nosso idioma (2009, p. 276), o que acarreta a forçosa
conclusão de que está oficialmente autorizado seu emprego.
4. Quanto a sua flexão, basta invocar os dizeres de Sousa e Silva: o verbo
desprover conjuga-se totalmente como prover (1958, p. 105), que é
verbete específico desta obra.
5. Anote-se, em sequência, em termos mais genéricos, que é comum, nos
meios forenses, em livros e em muitos acórdãos, a negação do verbo
prover por meio do prefixo in: “A turma julgadora, por maioria de
votos, improveu o recurso de apelação”; ou mesmo por emprego na voz
passiva: “O recurso de apelação, por maioria de votos, foi improvido
pela turma julgadora”.
6. Lembram, todavia, a propósito, Antonio Henriques e Maria Margarida
de Andrade que tal verbo “não encontra agasalho nos dicionários,
embora presente em textos jurídicos” (1999, p. 114).
7. Exatamente corroborando o ensino dos autores citados, o Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de
Letras (órgão que tem delegação legal para listar, em caráter oficial, os
vocábulos pertencentes ao idioma), não o registra, o que significa que
seu emprego não está oficialmente autorizado entre nós.
8. Desse modo, em resposta aos leitores que fizeram a consulta, não é que
haja diferença semântica entre desprover e improver; o que há é que
desprover existe no vernáculo, mas não improver, do que deflui a
conclusão que o uso do primeiro está autorizado, mas não o do segundo.
9. Vale a pena observar, em teoria, que o in é um prefixo latino de valor
negativo, que tem função nominal (SARAIVA, 1993, p. 586), isto é,
pode servir para criar neologismos por via erudita, desde que estes sejam
advérbios, adjetivos ou substantivos, derivados de outros nomes já
existentes. Assim, imerecido, impagável, inaplicável, induvidoso,
inexigido.
10. Por se tratar de prefixo nominal, porém, não se presta, por via de regra,
à criação de verbos pelo processo já referido. Bem por isso, são
errôneos os vocábulos imerecer, impagar, improver, inaplicar,
induvidar, inexigir.
11. É certo que, excepcionalmente, aparecem alguns verbos que
apresentam o prefixo in com valor negativo, como imortalizar,
impronunciar, incapacitar, inutilizar, dentre outros que se discriminam
nos dicionários; tal elenco, porém, deve ser mantido como rol de
exceções, não se prestando ao estabelecimento de nova regra para a
formação genérica e ampla de palavras.
12. As mesmas observações feitas para os verbos desprover e improver
valem para os substantivos desprovimento (substantivo que existe e
cujo emprego está autorizado) e improvimento (substantivo inexistente
em nosso idioma).
13. Anota-se, por fim, que o VOLP registra como existente o vocábulo
improvido como adjetivo, e até mesmo lhe dá o significado: sem
provimento (ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, 2009, p. 451).
Ver Prover – Como conjugar? (P. 629)

Desprovimento ou Improvimento?
1. Desprovimento e improvimento são dois substantivos empregados com
frequência nos meios jurídicos e forenses para indicar uma decisão
desfavorável de mérito em um recurso. E um leitor indaga se ambos são
corretos, ou não.
2. Ora, a autoridade oficial para dizer se um vocábulo existe ou não em
nosso idioma está com o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa,
editado pela Academia Brasileira de Letras, a qual tem a
responsabilidade legal de editá-lo, em cumprimento à vetusta Lei
Eduardo Ramos, de n. 726, de 8 /12/1900.
3. Em termos práticos para o caso, uma consulta à última edição do VOLP
(de 2009) mostra que existe o vocábulo desprovimento (ACADEMIA
BRASILEIRA DE LETRAS, p. 276), mas não improvimento.
4. E, se o VOLP atesta a existência oficial do primeiro vocábulo e nega a
do segundo, ele é a lei, e não há como levantar questionamento algum no
plano dos fatos e do direito. Eventual discussão só pode ser levantada no
plano científico do aspecto linguístico, mas não no âmbito de permitir o
uso de palavra ali não registrada, ou de vedar o emprego de um vocábulo
ali constante.
5. Resuma-se, portanto: Existe desprovimento; mas não existe
improvimento. Exs.: a) “O relator votou pelo desprovimento do recurso”
(correto); b) “O relator votou pelo improvimento do recurso” (errado).

Dês que – Está correto?


1. Na consonância com ensinamento de Sousa e Silva, constitui expressão
vernácula.
2. Para tal autor, “vale o mesmo que desde que, sendo até mais eufônica”
(SILVA, A., 1958, p. 105).
3. De igual modo, para Cândido de Oliveira, “é forma correta, o mesmo
que desde que” (s/d, p. 58).
4. Corroborando o ensino de tais gramáticos, registra tal torneio o
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira
de Letras, que é o veículo oficial para dirimir dúvidas acerca da
existência ou não de vocábulos em nosso idioma (2009, p. 253), o que
implica dizer que seu emprego está oficialmente autorizado.
Ver Desde (P. 274).

Destacar – Galicismo?
1. Apesar das acusações de galicismo, trata-se de palavra da língua
portuguesa nos sentidos de enviar ou separar. Exs.: a) “Destacou-se
força policial para guardar o preso”; b) “Destacou a folha do código em
que estava o artigo observado”.
2. Mesmo com a significação de distinguir-se, sobrelevar-se (principal alvo
da pecha de galicismo), tal acusação não se sustenta, como demonstra o
exemplo de Rui Barbosa: “Cada individualidade, cada peripécia, cada
movimento destaca-se caracteristicamente na sua realidade e na sua
cor” (BARBOSA apud ALMEIDA, 1981, p. 81).
3. Atacando doutrina de Cândido de Figueiredo no sentido de que o
détacher francês não pode traduzir-se por destacar, devendo ser
substituído por separar, distinguir, sobrelevar, Heráclito Graça, por
primeiro, observa, no plano genérico, que “uma cousa é na língua um
galicismo inútil, e outra, muito diversa, deduzir de um vocábulo nosso
significações novas por semelhança ou analogia, como fatalmente
sucede em todas as línguas”.
4. Ao depois, lembra tal autor que “destacar é palavra antiquíssima
portuguesa” e que autores insuspeitos a empregaram no sentido de
sobressair. Exs.: a) “Destacou um olhar sub-reptício para o vão da
janela” (Almeida Garrett); b) “Em tanto relevo destaca da grosseria vilã
dessas notabilidades improvisadas” (Rebelo da Silva); c) “Destacai de
um sermão célebre de um dos nossos primeiros oradores sagrados as
frases com que rompe” (José Feliciano de Castilho).
5. E finaliza ele com respeito a tal verbo: “o fato é que em todos os
mencionados sentidos é geralmente empregado o verbo destacar,
aumentando a riqueza da língua sem desnaturá-la absolutamente”
(GRAÇA, 1904, p. 187-9).
6. Em síntese, ante a força dos entendimentos em seu prol, não há razão
para recusar o emprego de tal verbo no sentido impugnado por alguns.
7. E, se se aceita o verbo destacar, de rigor acatar também como integrante
do vernáculo o substantivo destaque. Ex.: “O conferencista desta noite
trata-se de autor de destaque na doutrina nacional”.
Ver Destaque – Neologismo? (P. 279)

Destaque – Neologismo?
1. Heráclito Graça, por primeiro, transcreve ensinamento de Cândido de
Figueiredo, a que vai opor-se em seguida: “Destaque não é palavra de
meu conhecimento. Sei de destacar e destacamento”.
2. Em seguida, relembra tal gramático que, ao ocupar-se do verbo destacar,
mostrara que sua significação primitiva se estendera a outras
significações por semelhança e analogia, e, entre elas, sobressair,
relevar, avultar, sobrelevar, realçar-se, distinguir-se.
3. Afirma a seguir, de modo textual: “Daí o substantivo destaque, no
sentido de relevo, saliência, realce, distinção, coisa que se destaca, que
atrai a atenção etc.”
4. Ressalva tratar-se certamente de um neologismo, mas lembra ser ele
“expressivo e bem derivado do verbo português destacar, como de
atacar o substantivo ataque, de embarcar, embarque, de resgatar,
resgate…”
5. E conclui com firmeza: “Não há, pois, fundamento para estranhar e
ainda menos para repeli-lo; é uma criação natural, e com ela varia e
enriquece a linguagem, como sucede semelhantemente em todos os
idiomas, desde que nascem até que morrem” (GRAÇA, 1904, p. 223-4).
6. Espancando dúvidas acerca de sua vernaculidade, o Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras,
órgão incumbido oficialmente de determinar a existência dos vocábulos
em nosso idioma, além de sua grafia oficial, registra-o normalmente
(2009, p. 277), o que acarreta a forçosa conclusão de que está
integralmente autorizado seu emprego entre nós.
Ver Destacar – Galicismo? (P. 279)

Destarte = Dessarte = Dest’arte = Dess’arte?


1. Um leitor quer saber se há diferença de significado e de emprego entre
as palavras destarte e dessarte. Acrescente-se a dúvida bastante comum
nos meios jurídicos: existem os vocábulos dest’arte e dess’arte?
2. Num primeiro aspecto, destarte é palavra formada pela preposição de,
pelo pronome demonstrativo esta e pelo substantivo arte. Exs.: a)
“Estude a terra, o clima e a técnica: destarte colherá bons frutos”
(Domingos Paschoal Cegalla); b) “A cidade está sitiada, não há mais
homens, nem armas: destarte, só lhe resta a rendição”.
3. Trata-se, em realidade, de um advérbio, que significa por esta forma,
deste modo, assim sendo, assim, diante disso.
4. É sinônima de dessarte, e Evanildo Bechara as tem ambas como
existentes, normais e intercambiáveis (1974, p. 64).
5. Nessa forma por último referida, assim se lê em Rui Barbosa: “Dessarte,
magoando talvez a amizade, serviria sem dúvida ao país” (BARBOSA
apud JUCÁ FILHO, 1963, p. 207).
6. Como curiosidade de interesse para o campo jurídico, após referirem que
são vocábulos frequentes nesses meios, anotam Antonio Henriques e
Maria Margarida de Andrade que Washington de Barros Monteiro, em
seus escritos, prefere destarte; já Magalhães Noronha tem predileção
pela variante dessarte (1999, p. 85).
7. Para não remanescer dúvida, o Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, que é o veículo oficial
indicador das palavras existentes em nosso idioma, registra ambos os
vocábulos – dessarte e destarte – o que significa dizer que ambos os
vocábulos existem no idioma e que seu emprego está integralmente
autorizado (2009, p. 276-7).
8. Finaliza-se dizendo, porém, que o VOLP não registra dess’arte ou
dest’arte, o que obriga concluir que tais vocábulos não existem no
idioma e que seu emprego não está autorizado.

Deste e Desse
Ver Pronome demonstrativo (P. 611).

Destituir
1. Quanto a sua ortografia, como todo verbo terminado em uir, só pode dar
origem à terminação ui na segunda e terceira pessoas do singular do
presente do indicativo. Assim: destituo, destituis, destitui.
2. Diferentemente dos verbos terminados em uar (como continuar), são
errôneas as grafias com e em tais situações: destitues, destitue.
3. Nas palavras de Cândido de Oliveira, após verificação dos muitos erros
cometidos nesse campo, “é com i a segunda e terceira pessoas do
singular do presente do indicativo dos verbos terminados em uir: aflui,
fruis, retribui, retribuis, contribui, contribuis, influi, influis” (1961, p.
64).
4. Atentos aos frequentes equívocos que ocorrem nos meios jurídicos (veja-
se, por exemplo, a expressão nomeia e constitui, empregada em
instrumentos de mandato, que muitos escrevem nomeia e constitue),
assim observam Antonio Henriques e Maria Margarida de Andrade: “Os
verbos em uir (concluir, possuir, estatuir etc.) têm um i na terceira
pessoa do singular do presente do indicativo e não e, como aparece até
em modelos de procuração” (1999, p. 53).

Destratar ou Distratar?
1. Destratar é verbo que significa insultar, ofender. Ex.: “Em momento de
fúria, o advogado destratou seu próprio cliente”.
2. Não confundir com sua parônima distratar, que significa desfazer um
trato, ou seja, proceder a um distrato. Ex.: “Por não haver vantagens
para nenhuma delas, as partes distrataram o acordo anteriormente
pactuado”.
3. Arnaldo Niskier assim resume a diferença entre ambos os vocábulos:
“Destratar é insultar, tratar mal; distratar é desfazer (um negócio),
romper um contrato” (1992, p. 27).
4. De destratar vem destrato, que significa insulto; de distratar vem
distrato, que quer dizer desfazimento do contrato. Ex.: “O distrato faz-se
pela mesma forma exigida para o contrato” (CC/2002, art. 472).

Destruir
1. Quanto às formas destrui e destruem, anota Cândido Jucá Filho (1981, p.
61), fundado em lição de Mário Barreto, que tais formas, empregadas
ainda por Camões e Vieira, encontram-se hoje arcaizadas.
2. Otelo Reis (1971, p. 134), todavia, em indispensável trabalho sobre
conjugação verbal, aceita ambas as formas como válidas ainda para os
dias de hoje: destruis ou destróis, destrui ou destrói, e destruem ou
destroem.
3. Observe-se que a forma verbal destroem não recebe acento gráfico, erro
esse que frequentemente ocorre por contaminação da forma singular
destrói.
4. Para os que, como Otelo Reis, aceitam como válidas as formas clássicas,
é de se dizer, quanto a sua ortografia, que, como todo verbo terminado
em uir, só pode dar origem à terminação ui na segunda e terceira pessoas
do singular do presente do indicativo. Assim: destruo, destruis, destrui.
5. Em verdade, diferentemente dos verbos terminados em uar (como
continuar), são errôneas as grafias com e em tais situações: destrues,
destrue.
6. Nas palavras de Cândido de Oliveira, após verificação dos muitos erros
cometidos nesse campo, “é com i a segunda e terceira pessoas do
singular do presente do indicativo dos verbos terminados em uir: aflui,
fruis, retribui, retribuis, contribui, contribuis, influi, influis” (1961, p.
64).
7. Atentos aos frequentes equívocos que ocorrem nos meios jurídicos (veja-
se, por exemplo, a expressão nomeia e constitui, empregada em
instrumentos de mandato, que muitos escrevem nomeia e constitue),
assim observam Antonio Henriques e Maria Margarida de Andrade: “Os
verbos em uir (concluir, possuir, estatuir etc.) têm um i na terceira
pessoa do singular do presente do indicativo e não e, como aparece até
em modelos de procuração” (1999, p. 53).

De + sujeito de infinitivo
Ver É hora da onça beber água ou É hora de a onça beber água? (P. 296)

Detalhar – Galicismo?
Ver Detalhe – Galicismo? (P. 281)

Detalhe – Galicismo?
1. Enquanto João Ribeiro afirma ser “galicismo muito usado” (RIBEIRO
apud ALMEIDA, 1981, p. 82), Vasco Botelho de Amaral assevera ter o
vocábulo real “feição portuguesa” (RIBEIRO apud ALMEIDA, 1981, p.
82).
2. Sobre o assunto, Heráclito Graça, por primeiro, transcreve lição de
Cândido de Figueiredo: “Detalhe e detalhar não são nossos, mas
franceses a valer, nem deles precisamos, possuindo, como possuímos,
pormenores, minúcias, particularidades, e especializar, particularizar,
individuar etc”.
3. Escrevendo na primeira década do século XX, o gramático que traz a
mencionada lição, por seu turno, assim continua: “Há mais de século e
meio detalhe e detalhar fizeram invasão no português. Decorreram os
anos e, com o tempo, longe de ficarem esquecidos como outros
estrangeirismos, que tentaram implantar debalde em nosso idioma,
detalhe e detalhar arraigaram-se entre nós”.
4. E finalizava tal autor (GRAÇA, 1904, p. 225-8) sua lição para observar
que não lhe ocorria ter encontrado em Castilho ou em Herculano; mas
Eça de Queirós “abusava de tais vocábulos”.
5. Ora, se há divergência entre as próprias autoridades da língua, sem
dúvida se autoriza o emprego do mencionado vocábulo no vernáculo, até
por aplicação do vetusto princípio de que, na dúvida, se há de conferir
liberdade ao usuário, e isso sobretudo porque vem tal palavra registrada
no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia
Brasileira de Letras, que é o veículo oficial indicador das palavras
existentes em nosso idioma (2009, p. 279).
6. Idêntica a observação para o verbo detalhar.

Detalhes minuciosos – Está correto?


Ver Pleonasmo – O que é e Quando pode? (P. 565)

Deter
Ver Ter (P. 730).

Deterioração ou Deteriorização?
1. Deterioração é vocábulo que existe oficialmente em nosso idioma e tem
o sentido de ruína, de degeneração. Ex.: “Era perceptível a deterioração
do relacionamento entre as partes daquele processo”.
2. Observe-se, todavia, que deteriorização é palavra equivocada e
inexistente, não registrada nem por nossos léxicos, nem pelo Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de
Letras, que é o órgão oficialmente incumbido de especificar a extensão
léxica das palavras integrantes do vernáculo.
3. Em preciosa observação, Arnaldo Niskier (1992, p. 28) traz exatamente
essa distinção entre tais palavras.
4. De igual modo, o verbo correspondente é deteriorar, e não deteriorizar.

Deteriorar ou Deteriorizar?
Ver Deterioração ou Deteriorização? (P. 281)

Deteriorização ou Deterioração?
Ver Deterioração ou Deteriorização? (P. 281)

Devedor fiduciante ou Devedor fiduciário?


1. Vinda do latim (fiducia) com a conotação de uma alienação em
confiança, o certo é que, apenas com base na denominação alienação
fiduciária, costuma-se ouvir, para identificar as partes de um tal
relacionamento, credor fiduciário e devedor fiduciário. Ou seja, usa-se o
mesmo adjetivo, extraído da mencionada expressão, para designar tanto
o credor como o devedor. Para comprovar, basta ler com atenção alguns
manuais que tratam do assunto e alguns acórdãos sobre a questão. E a
dúvida sempre retorna: devedor fiduciante ou devedor fiduciário?
2. Para adequado entendimento, veja-se, por primeiro, que o regramento
legal do instituto encontra-se sintetizado em sua lei de regência: “A
alienação fiduciária em garantia transfere ao credor o domínio resolúvel
e a posse indireta da coisa móvel alienada, independentemente da
tradição efetiva do bem, tornando-se o alienante ou devedor em
possuidor direto e depositário com todas as responsabilidades e encargos
que lhe incumbem de acordo com a lei civil e penal”.
3. Complete-se com o conceito de Ernane Fidélis dos Santos, voltado para
a incidência do instituto sobre bens móveis: “Dá-se a alienação
fiduciária, quando o devedor, para garantir dívida, transfere ao credor
domínio da coisa móvel, sem, no entanto, lhe transferir a posse”
(SANTOS, 1988, p. 250). Fixe-se bem, pois é importante: quem aliena o
bem é exatamente o devedor, que o faz ao credor, em garantia de dívida,
na confiança de que, uma vez pago o débito, o domínio lhe seja
devolvido.
4. Fixados esses conceitos jurídicos, é oportuno observar que, em
português, os sufixos ante (amante), ente (gerente) e inte (ouvinte)
podem designar o autor, aquele que pratica a ação indicada no radical da
palavra a que eles se acoplam; já o sufixo ário (locatário) pode designar
o recebedor ou destinatário da mencionada ação. Na linguagem forense,
esbarramos a toda hora com vocábulos que revelam esses aspectos,
como, por exemplo, nas seguintes contraposições: alienante e
alienatário, arrendante e arrendatário, comodante e comodatário,
depositante e depositário, endossante e endossatário, fideicomitente e
fideicomissário, promitente e promissário.
5. No caso da alienação fiduciária, reitere-se o que nela ocorre: o devedor
aliena, em confiança, o domínio da coisa ao credor; e o credor, por sua
vez, é o destinatário dessa alienação em confiança. Daí, portanto, ser
correto dizer devedor fiduciante, ou simplesmente fiduciante, e credor
fiduciário, proprietário fiduciário (como refere a lei com frequência), ou
simplesmente fiduciário. O devedor, em suma, é o autor da alienação e
da confiança; o credor, o seu destinatário.
6. No sentido desse entendimento, basta conferir o art. 22 da Lei 9.514/97,
explícita, ao tratar da incidência do instituto sobre bens imóveis: “A
alienação fiduciária regulada por esta lei é o negócio jurídico pelo qual
o devedor, ou fiduciante, com o escopo de garantia, contrata a
transferência ao credor, ou fiduciário, da propriedade resolúvel da
coisa imóvel”.
7. Em resumo: pode-se dizer credor, ou fiduciário, ou credor fiduciário, ou,
ainda, proprietário fiduciário. Por outro lado, devedor, ou fiduciante, ou
mesmo devedor fiduciante; não, porém, devedor fiduciário.

Devem fazer ou Devem fazerem?


Ver Infinitivo com auxiliar – Como flexionar? (P. 414)

Devem-se dizer tais coisas ou Deve-se dizer tais coisas?


Ver Não se deve dizer tais coisas ou Não se devem dizer tais coisas? (P.
488)

Devendo as partes aguardar(em)?


1. Um leitor indaga qual a forma correta do verbo no seguinte caso: a)
“Não serão homologados acordos fora da pauta, devendo as partes
aguardar a audiência…”; b) “Não serão homologados acordos fora da
pauta, devendo as partes aguardarem a audiência…”?
2. É bastante conhecida a lição de que o infinitivo de um verbo (ou seja, o
verbo quando o chamamos pelo nome – como amar, vender, partir…)
pode apresentar-se em sua forma não flexionada (o próprio nome do
verbo – amar) ou em sua feição flexionada (vale dizer, conjugado –
amar eu, amares tu, amar ele, amarmos nós…)
3. Em tais casos, nem sempre é fácil escolher a forma a ser empregada
(flexionada ou não flexionada), e o assunto muitas vezes situa-se mais
no terreno da Estilística do que da Gramática.
4. Com atenção específica para o caso da consulta, é oportuno notar ser
corriqueiro, quando da redação profissional de nossas petições, decisões
e pareceres de todos os dias, surgir a dúvida de como usar o infinitivo
numa locução verbal (dois verbos desempenhando o papel de um só).
5. Não parecendo haver dificuldade para o exemplo no singular – “…
deverá o réu aguardar a audiência…” – vamos começar, por facilidade
didática, com uma variante do exemplo da consulta, sem questionar a
forma como se apresentou a dúvida: “… deverão as partes
aguardar(em)a audiência…” E vamos colocá-lo em ordem direta, a
começar pelo sujeito: “As partes deverão aguardar(em)”. Na ordem
direta, o leitor, quase que intuitivamente, define a forma correta para o
caso: “As partes deverão aguardar a audiência”. Ora, se se altera a
ordem dos termos da oração, não se muda a maneira correta de escrever:
“Deverão as partes aguardar a audiência”. Essa é a única forma correta
para o exemplo.
6. A regra aplicável ao caso é de fácil entendimento: emprega-se o
infinitivo impessoal nas locuções verbais, de modo que nelas não é lícito
flexionar o infinitivo, e sim apenas conjugar o verbo auxiliar. Exs.: a)
“As partes deverão aguardar a audiência” (correto); b) “As partes
deverão aguardarem a audiência” (errado); c) “Deverão as partes
aguardar a audiência” (correto); d) “Deverão as partes aguardarem a
audiência” (errado).
7. Em seguida, se, como no caso da consulta, o auxiliar da locução está no
gerúndio, nem por isso se alteram as possibilidades ou a maneira correta
de se escrever: a) “Não serão homologados acordos fora da pauta,
devendo as partes aguardar a audiência…” (correto); b) “Não serão
homologados acordos fora da pauta, devendo as partes aguardarem a
audiência…” (errado).

Dever de
1. Vasco Botelho de Amaral – invocando, para tanto, exemplos de Camilo
Castelo Branco – faz uma distinção: por um lado, assevera ele, “afirmar
que, ao haver expressão de necessidade ou de obrigação, faz mister
suprimir a preposição de entre o verbo dever e o infinito seguinte, não
condiz com o encontro de um ou outro passo de bom autor inobservante
de tal regra”; por outro lado – continua – “se a ideia é de probabilidade
ou de incerteza, então convém realmente aconselhar o dever de, pois o
povo e os escritores fiéis ao seu falar assim praticam”.
2. E carreia exemplo de tal construção indicando dúvida ou possibilidade:
“A vida íntima devia de ser-lhe um continuado suplício” (AMARAL,
1939, p. 22-3).
3. Já Eduardo Carlos Pereira leciona que “alguns verbos transitivos,
seguidos de um infinitivo, assumem facultativamente a preposição de”.
4. E ele próprio exemplifica: “devo falar ou de falar, preciso estar ou de
estar, devo escrever ou de escrever” (PEREIRA, 1924, p. 241).
5. Em mesma esteira da lição por último referida, a uma consulente que lhe
indagava qual a forma correta – “Deve-se medir bem” ou “Deve-se de
medir bem” – Cândido de Figueiredo (1943, p. 233) assim respondia,
demonstrando reputar facultativo seu emprego: “Deve-se medir é
construção mais usual; mas deve-se de medir não é menos portuguesa,
como se vê da seguinte passagem do Padre Antônio Vieira: ‘Suposto que
o céu é pregador, deve de ter sermões e deve de ter palavras’”.
6. De igual modo, sem proceder a distinção alguma, Cândido Jucá Filho
(1954, p. 176) anota que “esta sintaxe, embora cheire a arcaísmo, ainda
se usa”, exemplificando com trechos de autores insuspeitos: a) “Deve de
ser a felicidade suprema” (Almeida Garrett); b) “Devia de ser, pois,
qualquer dos antigos adoradores” (José de Alencar).
Dever de indenidade?
1. Noticia um leitor que encontrou em diversas leituras a expressão dever
de indenidade com o sentido de dever de reparar o dano decorrente da
prática de algum ato. E observa que não encontrou a expressão com esse
sentido em dicionários, motivo por que concluiu que a expressão é
inadequada. Por fim, pede esclarecimentos.
2. Por um lado, uma consulta ao Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de Letras, revela a
existência de ambos as palavras em nosso idioma (2009, p. 454).
3. Ora, porque a ABL tem a delegação legal para listar no VOLP os
vocábulos que existem oficialmente em nosso idioma, não pode haver
dúvida acerca da existência oficial de ambas as palavras em nosso
léxico, de modo que a solução do problema se faz por uma consulta ao
dicionário, para verificação de seu real sentido.
4. Com essas ponderações, anota-se que indenidade e indenização têm a
mesma etimologia. Contudo, enquanto indenização significa reparação,
compensação de um prejuízo, os dicionários dão para indenidade o
sentido de isenção de dano, perdão, relevamento, absolvição de culpa.
5. Por esse simples cotejo de acepções nos dicionários, já se verifica que
não é possível empregar dever de indenidade para significar a própria
obrigação de indenizar.

De vez
1. Em nossa sintaxe, faz-se presente a locução adverbial de vez, que
significa quase boa para ser colhida, podendo-se dizer, por exemplo: “A
fruta está de vez”.
2. Lembra Edmundo Dantès Nascimento (1982, p. 132), ademais, a
possibilidade de emprego de tal locução adverbial com o sentido de
decisivamente, terminantemente, em boa razão, em boa disposição. Exs.:
a) “Rompeu de vez com o Governo”; b) “Não estou de vez para suportá-
lo”.
Ver De vez que (P. 283).

De vez em quando ou De quando em quando?


Ver De quando em vez ou De vez em quando? (P. 269)

De vez em vez
Ver De quando em vez ou De vez em quando? (P. 269)

De vez que
1. Não é correta a expressão de vez que, empregada como locução
subordinativa causal, como sinônima de porque, porquanto, uma vez
que, em frases como a seguinte: “O réu foi absolvido, de vez que não
havia provas concretas contra ele”.
2. Em tais casos, deve-se usar uma conjunção ou locução conjuntiva causal
equivalente: porque, porquanto, já que, uma vez que, visto que.
3. Atente-se, a esse respeito, à lição de Aires da Mata Machado Filho:
“Essas conjunções causais formadas com o vocábulo vez não primam
pela vernaculidade. Salva-se, realmente, uma vez que” (1969h, p. 1.179).
4. Condenando-a como “locução inaceitável’, observa Domingos Paschoal
Cegalla que “não faltam expressões para indicar a ideia de causa: uma
vez que, porque, pois, por isso que, porquanto” (1999, p. 120).
5. Na lição de Sousa e Silva (1958, p. 107), de vez que configura
conjunção espúria, inexistente em nossa língua, embora “muito usada
presentemente”, a qual deve ser substituída por pois, porquanto ou
porque.
6. Para Edmundo Dantès Nascimento, essa expressão – que “constitui erro
de todos conhecido” – é completamente equivocada, já que se deve dizer
uma vez que. Observa ele, de igual modo, quanto à expressão vez que ser
ela errônea sem o acompanhamento do artigo uma. E acrescenta: “todas
as locuções preposicionais, conjuncionais ou adverbiais formadas com a
palavra vez têm a anteposição do artigo ou outra palavra”
(NASCIMENTO, 1982, p. 87-132).
7. Observando ser muito comum, tanto em peças redigidas por advogados
como em sentenças, o emprego de tal expressão, invoca Geraldo Amaral
Arruda (1997, p. 22) a lição de Silveira Bueno e assevera tratar-se de
“erro”, de “solecismo condenável”.
8. Deixando claro que se trata de solecismo e que “os srs. juízes e
advogados deveriam abster-se de tal novidade”, esclarece Silveira Bueno
que “não existe, em português, a locução conclusiva de vez que: é uma
inovação muito dos nossos dias, que, parece-me, foi criada pela
linguagem do fórum”.
9. E complementa: “não passa, porém, da confusão de duas outras muito
antigas na língua: desde que, uma vez que. Destas duas fizeram: de vez
que” (BUENO, 1957, p. 498).
10. Em resumo: é correta a locução conjuncional uma vez que; não são
corretas, porém, nem de vez que, nem, muito menos, vez que.
Ver De vez (P. 283) e Eis que (P. 298).

Devido à chuva ou Devido a chuva?


1. Um leitor indaga de modo direto: na expressão devido à chuva, o a leva
crase?
2. Nunca é demais repetir que uma primeira, geral e importante regra de
crase antes de nomes comuns do feminino é aquela que manda substituir,
no raciocínio para o caso concreto, o nome feminino, antes do qual se
quer saber se existe a crase, por um correspondente do masculino (não
necessariamente um sinônimo, mas um vocábulo que mantenha a mesma
estrutura sintática).
3. Dessa substituição, há de se extrair uma de duas conclusões: a) se
aparece ao no masculino, então há crase no feminino; b) se não aparece
ao no masculino, não há crase no feminino.
4. Vejamos como fica o exemplo com a substituição, no caso trazido pelo
leitor: a) “Devido à chuva, não pude ir ao encontro marcado”
(feminino); b) “Devido ao temporal, não pude ir ao encontro marcado”
(masculino).
5. Ou seja: a) com a substituição mencionada, apareceu ao no masculino;
b) então há crase no feminino; c) “Devido à chuva, não pude ir ao
encontro marcado” (correto); d) “Devido a chuva, não pude ir ao
encontro marcado” (errado).
Devolvam-se os autos ou Devolva-se os autos?
Ver Voz passiva e Pronome apassivador (P. 791).

Dia-a-dia ou Dia a dia?


1. Dia-a-dia (com hífen), antes do Acordo Ortográfico de 2008, era a forma
substantiva dessa expressão, que significava rotina, sequência dos dias.
Ex.: “O dia-a-dia do ascensorista é uma sucessão de altos e baixos”
(Josué Machado).
2. Dia a dia (sem hífen) era a locução adverbial, com o sentido de
diariamente, cotidianamente. Ex.: “Dia a dia o Poder Judiciário se vê às
voltas com um número crescente de processos para decidir”.
3. O Acordo Ortográfico de 2008, no entanto, aboliu essa diferenciação, de
modo que tanto a expressão substantiva quanto adverbial agora são
grafadas sem hifens. A diferença entre uma forma ou outra será
observada pelo contexto em que é empregada.

Diabete, Diabetes ou Diabeta?


1. Napoleão Mendes de Almeida (1981, p. 82) atribui a diabete, de modo
categórico, o gênero masculino e vê razão apenas para seu uso sem o s
final.
2. Já para Cândido de Oliveira (1961, p. 124), tal vocábulo integra o rol dos
“substantivos que são só masculinos”, muito embora admita as duas
grafias: diabete e diabetes.
3. De igual modo, Celso Cunha (1970, p. 99) lhe registra as duas formas –
diabete e diabetes – mas recomenda a preferência pelo gênero
masculino.
4. Domingos Paschoal Cegalla aceita diabete e diabetes e, embora lembre a
origem masculina do substantivo, observa que “os dicionaristas o
registram como masculino e feminino”, tentando justificar com o fato de
que, pela “influência da palavra doença, na língua do povo é geralmente
usado no feminino”.
5. Apenas ressalva tal autor que, “na linguagem científica, convém usar
diabetes (ou diabete) no masculino, como o fizeram os autores de
diversas obras de Medicina por nós consultadas” (CEGALLA, 1999, p.
121).
6. Cândido Jucá Filho (1963, p. 211) também aceita ambas as variantes, a
saber, com ou sem o s final, mas lhe confere preferencialmente o gênero
feminino.
7. Já Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (s/d, p. 470) registra ambos os
números e ambos os gêneros.
8. Em longo estudo – em que busca por fundamento a etimologia no grego,
o gênero na língua de origem e a derivação de palavras similares para o
português – José Inez Louro (1941, p. 109-12) reputa que “a única forma
autorizada pela etimologia” é diabeta, e “o gênero competente, de
direito, só pode ser masculino”, formando, assim, o diabeta (como o
planeta, o cometa, o atleta).
9. Já para José de Nicola e Ernani Terra (2000, p. 83), “não há
possibilidade de equívoco com essa palavra: o diabete, a diabete, os
diabetes, as diabetes são formas corretas. A forma o diabetes é a que
mais se prende à etimologia (do grego diabétes)”.
10. Em síntese: à falta de razões proibitivas mais sólidas e por força da
própria divergência entre os gramáticos, pode-se usar a palavra no
masculino ou no feminino, ou com ou sem o s final, ou, ainda, a forma
diabeta.
11. Tal, aliás, é o posicionamento do Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras – veículo oficial para
indicar quais as palavras que integram nosso idioma, o qual registra
diabete e diabetes, e lhes confere, indistintamente, a condição de
masculino e de feminino, e diabeta, como substantivo feminino,
estando autorizado, por conseguinte, seu emprego nessa exata
consonância (2009, p. 280).

Dialogar
Ver Datilografar (P. 251).

Diante disto ou Diante disso?


Ver Pronome demonstrativo (P. 611).
Dia primeiro
Ver Datas (P. 250).

Diferimento ou Deferimento?
Ver Deferimento ou Diferimento? (P. 256)

Diferir ou Deferir?
Ver Deferir ou Diferir? (P. 256)

Difícil de se fazer ou Difícil de fazer?


Ver Agradável de se ler ou Agradável de ler? (P. 99)

Digladiar ou Degladiar?
Ver Degladiar ou Digladiar? (P. 259)

Digna autoridade
Ver Adjetivação desnecessária (P. 80).

Dignar-se
1. Quanto à pronúncia de certas formas desse verbo, é de se anotar que,
mesmo entre as pessoas cultas, há uma tendência a introduzir uma vogal
logo após o g que encerra o radical, nas formas rizotônicas,
pronunciando-se diguino, diguinas…
2. Trata-se, porém, de verbo regular, em que, após o radical (dign), apenas
se acrescentam as desinências próprias da conjugação: digno, dignas,
digna…; digne, dignes…, com a sílaba tônica incidindo no próprio
radical (SACCONI, 1979, p. 20).
3. Atento aos frequentes equívocos que ocorrem nesse campo, observa
Artur de Almeida Torres que “a vogal i do verbo dignar-se deve ser
fortemente proferida nas formas rizotônicas” (1966, p. 107).
4. Como as formas rizotônicas apenas ocorrem no presente do indicativo,
presente do subjuntivo, imperativo afirmativo e imperativo negativo, a
flexão desse verbo não traz dúvidas em outros tempos.
5. Quanto à regência verbal, trata-se de verbo transitivo indireto que pede a
preposição de. Ex.: “Espero que V. Exa. se digne de ouvir minhas
ponderações a respeito”.
6. Pode-se também usá-lo com a elipse da preposição, de modo que é
correta a frase: “Espero que V. Exa. se digne ouvir minhas ponderações
a respeito”.
7. Artur de Almeida Torres, fundando-se em diversos exemplos de autores
abalizados de nosso idioma, sintetiza a regência desse verbo asseverando
que é “essencialmente pronominal, seguido de infinitivo, com a
preposição de clara ou omissa, indiferentemente” (1967, p. 119).
8. Em estudo específico sobre a linguagem de Antônio Feliciano de
Castilho, cuja imitação recomenda, anota Vasco Botelho de Amaral
(1939, p. 64) que ele usa “a regência de sábio clássico dignar-se de, que
se vai olvidando injustamente”.
9. Luís A. P. Vitória (1969, p. 94) dá por corretas ambas as formas, vale
dizer, com ou sem a preposição de.
10. Na lição de Cândido de Oliveira, “reflexivo, aceita construção com de
ou sem ele” (1961, p. 276).
11. Para Cândido Jucá Filho, “a construção de dignar-se sem de não é
errada, mas geralmente usada, e de bom quilate” (1981, p. 61).
12. Vale, no caso, a tríplice observação de Domingos Paschoal Cegalla: a)
“Normalmente, constrói-se com a preposição de, seguida de
infinitivo”; b) Pode-se omitir a preposição”; c) “É inadequada a
preposição a” (1999, p. 122). Exs.: i) “O magistrado se dignou de
receber o impaciente advogado” (correto); ii) “O magistrado se dignou
receber o impaciente advogado” (correto); iii) “O magistrado se
dignou a receber o impaciente advogado” (errado).
13. Essa também é a observação de Arnaldo Niskier (1992, p. 104), o qual,
após repisar o entendimento de que tal verbo “usa-se com a preposição
de ou com a elipse dela”, adiciona o aspecto significativo de que “a
tendência verificada na oralidade – o uso com a preposição a – ainda é
condenada pela norma”.
14. Francisco Fernandes, de igual modo, refere a possibilidade de sintaxe
com a preposição de ou mesmo “com elipse da preposição”, mas não
refere a terceira possibilidade, que é o emprego da preposição a. Exs.:
a) “Vossa Excelência se dignou de ouvir-me a esse respeito” (Rui
Barbosa); b) “A valiosa esmola que Vossa Excelência se dignou
oferecer, aceitá-la-ei quando lhe aprouver” (Camilo Castelo Branco).
15. E adiciona tal autor (FERNANDES, 1971, p. 241-2) a possibilidade de
seu emprego “como fórmula de deferência para com as pessoas
gradas”. Ex.: “Digne-se Vossa Excelência aceitar os meus respeitos”
(Caldas Aulete).
16. Celso Pedro Luft (1999, p. 212) segue em igual caminho, resumindo:
a) “Dignar-se de + infinitivo é a sintaxe plena”; b) “a construção
dignar-se + infinitivo se explica por elipse da preposição”.
17. Também para Sousa e Silva, tal verbo “pode construir-se com a
preposição de ou sem preposição” (1958, p. 107).
18. Estabelecida a premissa comumente aceita de que, em tais casos,
facultativo é o emprego da preposição, de Adalberto J. Kaspary vem
oportuna e final observação acerca do emprego de tal verbo: “Em
requerimentos e petições em geral, sugere-se, em nome da simplicidade
e funcionalidade da linguagem, omitir o verbo dignar-se. Assim, em
vez de ‘Fulano de Tal requer a V. Exa. se digne (de) autorizar…’,
escreva-se apenas: ‘Fulano de tal requer a V. Exa. (que) autorize…’”
(1996, p. 137).
19. Vale a pena observar que não há registros, nos melhores autores, que
respaldem o emprego de dignar-se em, de modo que deve ser reputada
errônea a seguinte forma de expressão: “Requer-se a Vossa Excelência
digne-se em deferir…”

Dignatário ou Dignitário?
1. Costuma-se asseverar, com supedâneo no ensino tradicional, que o
correto é dizer dignitário, e não dignatário, como frequentemente se
ouve.
2. Silveira Bueno (1938, p. 110), para fixar a lição, lembra dois
significativos aspectos de tal realidade: a) ninguém diz dignadade, mas
dignidade; b) em latim, a palavra era dignitarius, e não dignatarius.
3. Josué Machado (1994, p. 81) refere exemplos colhidos em periódicos e
em falas de políticos – incluindo um ex-presidente da República,
Caçador de Marajás – do equivocado emprego de dignatário.
4. Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 123), por um lado, lembra que “a
forma correta é dignitário, e não dignatário, pois o vocábulo é cognato
do latim dignitate”; por outro lado, observa tal autor que “a forma
incorreta se explica por dissimilação vocálica ou por influência do verbo
dignar-se”.
5. Estranhamente, porém, talvez em obediência ao vetusto princípio de que
o uso (ainda que muitas vezes equivocado) acaba sendo o senhor dessa
matéria, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia
Brasileira de Letras, que é o veículo oficial indicador das palavras
existentes em nosso idioma, registra dignatário como sinônima de
dignitário (2009, p. 285).
6. Isso quer significar, em última análise, que, se o veículo oficial de
listagem das palavras de nosso idioma a registra, legem habemus, e está
oficialmente autorizado o normal emprego de ambas as formas.

Dilação probatória – Está correto?


1. Vê-se, com frequência, o uso da referida expressão em autos de
processos, querendo significar fase probatória, fase instrutória, com o
intuito de abranger designação de audiência para colher prova oral e
determinação para produzir outras provas, em contraposição a
julgamento antecipado da lide, o qual normalmente se dá, quer porque a
questão de mérito é unicamente de direito, quer porque, embora a
questão de mérito envolva fato, não há necessidade de produzir prova
em audiência (CPC/1973, art. 330, I).
2. O uso da expressão nesse sentido, porém, é semanticamente equivocado,
além de anacronicamente posto, quando analisado o ordenamento
jurídico em vigor.
3. Por primeiro, uma consulta ao dicionário revelará que dilação significa
adiamento, delonga, demora, prazo, prorrogação, tardança (FERREIRA,
s/d, p. 475), conteúdo esse que, seguramente, não é o pretendido pela
expressão considerada.
4. Quanto ao anacronismo de seu emprego, a legislação processual civil
anterior ao Código de Processo Civil de 1939 determinava que, após a
petição inicial e uma vez citado o réu, haveria de instaurar-se a instância
pelo comparecimento do autor a juízo, abrindo-se o prazo para
contestação; após tal contestação, réplica e tréplica, assinava-se uma
parada do feito, normalmente pelo prazo de vinte dias, para a produção
das provas requeridas, seguindo-se as razões finais das partes e a
sentença.
5. A tal parada do feito para a produção de provas, dava-se o nome de
dilação probatória.
6. Essa significação, entretanto, a toda evidência, não reside atualmente na
expressão considerada, até porque tal instituto nem existe no
ordenamento processual vigente.
7. Geraldo Amaral Arruda – a quem o emprego dessa locução em tal
contexto “importa em impropriedade de expressão e até mesmo em
anacronismo processual” – resume com propriedade a questão: “No
processo anterior a 1940 havia a dilação probatória, que era um prazo em
que o processo parava para a produção de provas pelas quais as partes
houvessem protestado. O processo civil vigente, porém, desconhece o
protesto por provas e concentra a instrução e os debates numa audiência
de instrução e julgamento, para a qual é designada data certa, em vez de
ser aberto um prazo de espera para a produção de provas. O
desconhecimento das diferenças entre o processo vigente e o antigo e a
desatenção para o significado da palavra dilação têm levado muitos
militantes do foro a desenterrar a expressão dilação probatória; mas a
usam de forma incorreta”.
8. Salienta tal autor, em continuação, por um lado, que, “com boa vontade,
poder-se-á ver no processo vigente algum vestígio de dilação probatória
na prova de fora da terra, caso em que o juiz pode marcar um prazo
dentro do qual deve a precatória ser cumprida”.
9. Por outro lado, é ele peremptório para asseverar que, “no caso de não
haver necessidade de produzir prova em audiência, não se poderá falar
em desnecessidade de dilação probatória, sob pena de impropriedade de
expressão e anacronismo processual” (ARRUDA, 1997, p. 112 e 141-2).

Dilapidar ou Delapidar?
Ver Delapidar ou Dilapidar? (P. 260)

Dilatar ou Delatar?
Ver Delatar ou Dilatar? (P. 260)

Diminuir
1. Quanto à ortografia, como todo verbo terminado em uir, só pode dar
origem à terminação ui na segunda e terceira pessoas do singular do
presente do indicativo: diminuo, diminuis, diminui.
2. Diferentemente dos verbos terminados em uar (como continuar), são
errôneas as grafias com e em tais situações: diminues, diminue.
3. Nas palavras de Cândido de Oliveira, após verificação dos muitos erros
cometidos nesse campo, “é com i a segunda e terceira pessoas do
singular do presente do indicativo dos verbos terminados em uir: aflui,
fruis, retribui, retribuis, contribui, contribuis, influi, influis” (1961, p.
64).
4. Atentos aos frequentes equívocos que ocorrem nos meios jurídicos (veja-
se, por exemplo, a expressão nomeia e constitui, empregada em
instrumentos de mandato, que muitos escrevem nomeia e constitue),
assim observam Antonio Henriques e Maria Margarida de Andrade: “Os
verbos em uir (concluir, possuir, estatuir etc.) têm um i na terceira
pessoa do singular do presente do indicativo e não e, como aparece até
em modelos de procuração” (1999, p. 53).

Direito
1. Quanto ao modo de escrever tal palavra, lembra Édison de Oliveira (s/d,
p. 41) que as instruções para a organização do Vocabulário Ortográfico
da Língua Portuguesa preveem que os nomes que designam ciências,
artes ou disciplinas, bem como os que sintetizam, em sentido elevado, as
manifestações do engenho e do saber, sejam grafados com inicial
maiúscula.
2. Assim, quando se quer indicar a própria ciência, deve-se grafar Direito,
Medicina, Engenharia, Matemática, Arquitetura.
3. Quanto à regência nominal, trata-se de substantivo que, por primeiro,
permite ser complementado com as preposições a e de: com a primeira,
são correntes, nos meios forenses, as expressões direito a alimentos,
direito à assistência judiciária, direito à honra, direito à imagem, direito
à intimidade, direito à liberdade, direito ao nome, direito ao silêncio,
direito ao sossego, direito ao trabalho, direito à personalidade, direito à
privacidade, direito à propriedade; com a segunda preposição, não
menos usuais são os torneios direito da educação, direito das coisas,
direito das minorias, direito das obrigações, direito de ação, direito de
acrescer, direito de agir, direito de arrependimento, direito de defesa,
direito de família, direito de greve, direito de petição, direito de posse,
direito de preferência, direito de prelação, direito de regresso, direito de
resposta, direito de sequela, direito de uso, direito de usufruto, direito de
vizinhança.
4. Às vezes, é optativo o emprego de tais preposições, como em direito ao
usufruto e direito de usufruto, que acabam sendo expressões
equivalentes.
5. Essa dupla possibilidade de uso, em alguns casos em que facultativo o
emprego, facilita evitar a dureza de sons presente na repetição de
preposições, permitindo preferir, por eufonia, por exemplo, “direito à
liberdade de ir e vir” a “direito de liberdade de ir e vir”.
6. Nem sempre, todavia, é aleatória essa concomitância de sintaxes, já que
o sentido e a função das palavras regidas pela preposição podem ser
diversos.
7. Normalmente, a regência da preposição a (como em direito a alimentos)
indica que o termo por ela regido é o alvo, o objeto da ideia referida pelo
substantivo completado (configurando o que, quanto à sintaxe, se
denomina complemento nominal).
8. Já a regência da preposição de (como em direito das minorias), indica,
por via de regra, mas nem sempre, que a expressão que complementa o
substantivo não é alvo nem objeto da ideia representada por aquele, mas
apenas uma especificação indicadora do grupo a que pertence o nome
indicado (constituindo o que, em termos gramaticais, se chama adjunto
adnominal).
9. Quando seguido de um infinitivo, o vocábulo direito admite ser
construído, indistintamente, com qualquer das duas preposições. Exs.: a)
“Ele tem direito a exigir respeito ao contrato”; b) “Ele tem direito de
exigir respeito ao contrato”.
10. Francisco Fernandes (1969, p. 147), além da possibilidade de
construção com as preposições a e de, acrescenta ser viável a sintaxe
com as preposições em, para e sobre, conforme o sentido que se queira
dar ao contexto. Exs.: a) “O estudante envelheceu estudando, e tem
direito a não ver humilhada hoje a madureza dos seus anos” (Rui
Barbosa); b) “A liberdade é um direito que cada homem exerce de ser
igual a outro homem perante uma lei ilustrada” (Camilo Castelo
Branco); c) “Os pais têm direito sobre os filhos; os senhores, nos
escravos” (Morais); d) “Não vos acuso, porque não tenho direito
algum para tanto” (Camilo Castelo Branco).
11. Celso Pedro Luft (1999, p. 177) acrescenta a possibilidade de emprego
da preposição contra, trazendo em abono exemplo de autor insuspeito:
“… aceitando a candidatura… para afirmar os direitos do país contra
a usurpação” (Rui Barbosa).
12. Nos textos de lei, de igual modo, se verifica essa variedade de emprego
das preposições, com o acréscimo de que também há caso, em diploma
legal específico, de sintaxe com a preposição contra: a) “O preso tem
direito à identificação dos responsáveis por sua prisão…” (CF/88, art.
5º, LXIV); b) “O direito de queixa não pode ser exercido quando
renunciado expressa ou tacitamente” (CP, art. 106); c) “O fiador que…
perder o seu direito contra o devedor pode repetir do credor a
prestação feita” (CC português, art. 645, 2); d) “… direitos reais sobre
imóveis…” (CF/88, art. 156, II).
Ver Formulário Ortográfico (P. 361).

Direito a (ou à) indenização?


1. Um leitor encontrou a expressão direito a indenização no art. 5º, X, da
Constituição Federal, e indaga se não estaria faltando o acento indicador
da crase.
2. Em termos conceituais, crase é a fusão de duas vogais idênticas. No que
concerne à expressão da consulta, se existente, será ela a fusão de uma
preposição com um artigo feminino.
3. No caso, indenização é um substantivo feminino. E, quando se quer
saber se há crase antes de um substantivo comum do feminino, o melhor
é substituí-lo mentalmente, na frase, por um correspondente masculino.
Se, com essa substituição, aparece ao ou aos no masculino, então há
crase no feminino.
4. No caso da consulta, veja-se o dispositivo constitucional: “são
invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação”.
5. Num primeiro aspecto, quando se substitui indenização por um
correspondente masculino (ressarcimento, por exemplo), vê-se que a
nova expressão pode ficar de dois modos: a) “… assegurado o direito a
ressarcimento pelo dano material ou moral…”; b) “… assegurado o
direito ao ressarcimento pelo dano material ou moral…” No primeiro
caso, o sentido resultante é mais formal e genérico. No segundo, a
acepção é de algo mais definido e específico.
6. Independentemente de qual seja o sentido final, porém, o certo é que, no
campo estritamente gramatical, estão corretas ambas as expressões:
direito a indenização ou direito à indenização.

Direito e Linguagem científica


1. Um leitor envia a seguinte mensagem: “Gostaria de que me explicassem
se o Direito como ciência tem de possuir linguagem própria como outras
ciências, como Medicina, Física ou Matemática? Mas com isso, a
sociedade não se afastaria ainda mais, por não entenderem?”
2. Se, por um lado, o literato produz arte, com liberdade para empregar os
vocábulos que melhor sugiram seu estado de espírito e sua criatividade,
já o profissional do Direito (que frequentou um curso de ciências
jurídicas e sociais), por outro lado, produz ciência, cuja linguagem é
técnica e precisa.
3. Bem por isso, em termos práticos, é inconveniente, de um modo geral,
substituir termos e locuções por sinônimos, a pretexto de evitar
repetições.
4. Nessa esteira, lembrando que “a precisão da linguagem jurídica
desaconselha tais substituições”, observa Geraldo Amaral Arruda que,
“firmado o título do instituto jurídico com a função de determinado
adjetivo restritivo, será impróprio substituir substantivo e adjetivo por
sinônimos ou pretensos sinônimos”.
5. E alinha tal autor um rol dessas impropriedades, muitas vezes de mau
gosto: estatuto minorista, estatuto repressivo, estatuto adjetivo civil,
representante ministerial, fase inquisitorial, insuficiência probatória, em
vez de: Código de Menores, Código Penal, Código de Processo Civil,
representante do Ministério Público, fase do inquérito policial,
insuficiência de provas.
6. A questão é tão arraigada nos meios forenses, que até mesmo resvala
para o lado anedótico, como a história que se conta do causídico atuante
na Justiça Militar, que ao Código Penal Militar jamais atribuía esse
nome, mas sempre o rebatizava como pergaminho repressivo castrense;
ou do extremo a que chegou um representante do Ministério Público, o
qual, ao oferecer denúncia por lesões corporais em briga havida durante
um jogo de futebol, asseverou ter-se dado o evento durante pugna de
ludopédio.
7. Bem no estilo “seria cômico, se não fosse trágico”, prestigioso jornal
deste Estado, em artigo no qual se pretendia demonstrar que os jovens
advogados tentam modernizar o idioma jurídico, noticiou que um deles,
para não repetir a expressão Lei das Sociedades Anônimas, não teve
dúvidas em chamá-la de diploma do anonimato.
8. A necessidade de um vocabulário preciso e científico se faz evidente até
mesmo em determinados dispositivos legais.
9. Veja-se, por exemplo, o que segue: “Nos embargos infringentes e na
ação rescisória, devolvidos os autos pelo relator, a secretaria do
tribunal expedirá cópias autenticadas do relatório e as distribuirá entre
os juízes que compuserem o tribunal competente par o julgamento” (art.
553 do Código de Processo Civil).
10. Sabido é pela praxe que tais cópias serão entregues tão somente aos
que haverão de participar de modo efetivo do julgamento, e não a todos
os integrantes do tribunal, o qual, como um todo, não deixa de ser
competente para o julgamento.
11. Desse modo, melhor seria dizer turma julgadora em lugar de tribunal.
12. Em verdade, por ser ciência, o Direito tem uma linguagem própria, de
modo que querer simplificá-la, com a abolição ou o enfraquecimento
de sua terminologia técnica, a pretexto de tornar seu texto acessível ao
povo a todo custo – como, aliás, têm pregado até mesmo entidades
como a maior associação de magistrados do país – demonstra uma
visão distorcida do que seja a realidade científica e se apega a uma
atitude que se pode classificar, no mínimo, como demagógica.
13. Observem-se, em paralelo, os livros, os artigos e os relatos de
Medicina ou de Odontologia: ninguém, até hoje, questionou o nível de
sua linguagem, nem os termos técnicos envolvidos em sua redação.
Além disso, dificilmente o resultado de um exame laboratorial vai ser
entendido na totalidade por um paciente. E ninguém jamais pregou que
a linguagem dos relatórios de exames laboratoriais deva ser
simplificada, para ser entendida pelo leigo.
14. Nesse caso, é fácil dizer a sequência: o médico se incumbirá de dar as
explicações necessárias, para que o paciente tenha a exata compreensão
e extensão dos termos do resultado escrito. De semelhante modo, uma
coisa é o relacionamento do advogado com o texto redigido das
sentenças e dos acórdãos. Algo bem diverso é como esse advogado vai
explicar ao cliente eventuais tópicos da sentença mais difíceis de
compreensão pelo leigo.
15. Isso não quer dizer que não se devam policiar e coibir os excessos da
linguagem empregada pelos operadores, a qual, em diversos de seus
aspectos, esta sim, afasta a sociedade do Direito, quer como
ordenamento, quer como ciência. Nessa esteira, podem-se evitar, sem
dúvida, os termos empolados e difíceis, as construções arrevesadas,
eventuais citações de outros idiomas que se afigurem desnecessárias,
longos períodos que significam rigorosamente nada, extensas
digressões que não explicam coisa alguma. Isso, porém, pode ser
creditado na conta de um (mau) estilo de redação desenvolvido pelos
operadores do Direito, de um jargão fossilizado e de uma miopia de
análise, os quais levaram o pessoal do Direito a crer que tais
características demonstram uma cultura superior de quem assim fala ou
escreve.

Dirigir
1. Em sua conjugação verbal, apresenta problemas de ortografia.
2. Diferentemente dos verbos cujo radical termina em j – consoante essa
que tem o mesmo som antes de todas as vogais (viajo, viajas, viajemos,
viajeis, viajem) – os verbos terminados em gir, para continuidade do som
da consoante final do radical, precisam da representação gráfica j antes
de a ou de o. Assim: dirijo, diriges, dirige, dirigimos, dirigis, dirijam.
3. Serve de modelo para diversos outros verbos: coligir, erigir, exigir,
impingir, infligir, infringir, insurgir-se, transigir.
4. No que tange à regência verbal, de Francisco Fernandes (1971, p. 243)
vem significativa anotação fundada em lição de Stringari: “Sinônimo de
endereçar (carta, memória, encomenda, etc.), dirigir requer a ante a
designação do destinatário, e para ante o nome do lugar”. Exs.: a)
“Dirijo a carta a Paulo, a Júlio”; b) “Dirijo-a para Roma, para
Londres”.
5. Esse entendimento é também partilhado por Celso Pedro Luft, que assim
especifica: “No caso de complemento de lugar, a preposição é para, e
não a” (1999, p. 213).

Discernir
1. Tendo o significado de ver distintamente, distinguir, quanto à conjugação
verbal, aparece um i na primeira pessoa do singular do presente do
indicativo e nos tempos dela derivados: discirno, discernes, discerne,
discernimos, discernis, discernem (presente do indicativo); discirna,
discirnas, discirna, discirnamos, discirnais, discirnam (presente do
subjuntivo); discerne, discirna, discirnamos, discerni, discirnam
(imperativo afirmativo); não discirnas, não discirna, não discirnamos,
não discirnais, não discirnam (imperativo negativo).
2. Não apresenta problemas ou irregularidades em outros tempos: discernia
(imperfeito do indicativo), discernirei (futuro do presente), discerniria
(futuro do pretérito), discernindo (gerúndio), discernido (particípio),
discerni (pretérito perfeito), discernira (pretérito mais-que-perfeito),
discernir (futuro do subjuntivo), discernisse (imperfeito do subjuntivo).
3. Anote-se, por oportuno, que, para Francisco Fernandes, tal verbo “só se
usa nas terceiras pessoas” (1971, p. 243).
4. Já Otelo Reis (1971, p. 136) não o reputa defectivo, mas o conjuga
normalmente em todas as pessoas, tempos e modos.
5. Celso Cunha (1970, p. 214), por seu lado, ensina que tal verbo é
desusado no particípio e, consequentemente, nos tempos compostos.
6. Ante a divergência entre tais gramáticos, quer porque o usual é que se
encontre empregado tal verbo no particípio e, por conseguinte, nos
tempos compostos, quer porque, em tais casos, deve-se conferir
liberdade ao usuário, o melhor é adotar uma visão mais ampliada de
possibilidades de construção e considerá-lo conjugável em todas as
pessoas, tempos e modos.

Discordância verbal
1. Concordância é a conformidade de flexão de certas palavras à flexão de
outras, de que dependem.
2. No que concerne à concordância verbal, por exemplo, a regra geral é que
o verbo concorda (vale dizer, harmoniza-se em flexão) com o seu sujeito
em número e pessoa.
3. Há certos casos, porém, em que o verbo não se conforma literalmente ao
número ou à pessoa de seu sujeito; assim, por exemplo, o pronome de
tratamento é sujeito da segunda pessoa (com quem se fala), mas leva o
verbo para a terceira pessoa (normalmente de quem se fala).
4. A essa “não conformidade literal da flexão do verbo ao número, ou à
pessoa de seu sujeito”, Carlos Góis (1943, p. 25) denomina, com
indiscutível propriedade, discordância do verbo.
Ver Concordância nominal (P. 209) e Concordância verbal (P. 212).

Discreção – Existe?
Ver Descrição, Discrição ou Discreção? (P. 273)
Discrição ou Discreção?
Ver Descrição, Discrição ou Discreção? (P. 273)

Discriminação ou Descriminação?
1. Discriminação, do latim discriminatione, significa o ato ou efeito de
discriminar, discernir, distinguir, especificar, separar. Exs.: a) “A
discriminação racial contraria os mais elementares princípios de nosso
ordenamento”; b) “Institui-se o condomínio edilício por ato entre vivos
ou testamento, registrado no Cartório de Registro de Imóveis, devendo
constar daquele ato, além do disposto em lei especial: … I – a
discriminação e individualização das unidades de propriedade
exclusiva, estremadas uma das outras e das partes comuns” (CC/2002,
art. 1.332, I).
2. Não confundir com sua parônima descriminação, que significa retirar a
antijuridicidade, a criminalidade de um fato. Ex.: “Muita gente, não se
sabe com que propósitos, luta pela descriminação da maconha”.
3. Com inteira aplicação ao caso, Ronaldo Caldeira Xavier (1991, p. 85-6)
caracteriza o emprego de descriminar por discriminar – e vice-versa –
como “cruzamento”, vale dizer, como “o emprego de uma palavra em
lugar de outra”, decorrente da falta de discernimento entre vocábulos
assemelhados quanto à estrutura fonológica (parônimos), o que motiva a
alteração da mensagem tencionada, atentando contra a precisão
terminológica.

Discriminar ou Descriminar?
1. Discriminar tem esse verbo o sentido de discernir, separar, diferençar.
Ex.: “Perante nosso ordenamento jurídico, discriminar pode ser crime”.
2. Atento aos equívocos comuns, quanto a seu emprego na linguagem
forense, Edmundo Dantès Nascimento (1982, p. 90) faz a exata distinção
entre esse verbo e descriminar, que tem a significação de absolver do
crime, tirar a culpa.
3. Ronaldo Caldeira Xavier (1991, p. 85-6) caracteriza o emprego de
descriminar por discriminar – e vice-versa – como “cruzamento”, vale
dizer, como “o emprego de uma palavra em lugar de outra”, decorrente
“da falta de discernimento entre vocábulos assemelhados quanto à
estrutura fonológica (parônimos), o que motiva a alteração da mensagem
tencionada, atentando contra a precisão terminológica”.
4. Talvez motivado pelos frequentes equívocos cometidos nesse campo, o
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela Academia
Brasileira de Letras, órgão oficialmente incumbido de definir quais
vocábulos integram nosso léxico, contrariamente a seu normal proceder,
faz questão de especificar o sentido de ambos os vocábulos: descriminar
significa tirar a culpa, e discriminar quer dizer diferençar (2009, p. 262 e
290).
5. De equívocos no emprego desses verbos nem mesmo escapam os textos
de lei, como se pode observar na publicação do texto oficial do art. 16,
II, do Decreto-lei 413, de 9/1/69, que dispôs sobre os títulos de crédito
industrial, ao especificar quais requisitos deve conter uma nota de
crédito industrial: “Data de pagamento; se a nota for emitida para
pagamento parcelado, acrescentar-se-á cláusula descriminando valor e
data de pagamento das prestações”.

Discursos
Ver De que (P. 269).

Dispender ou Despender?
Ver Despender ou Dispender? (P. 277) e Dispêndio (P. 291).

Dispêndio
1. Dispêndio é termo normalmente registrado pelo Vocabulário Ortográfico
da Língua Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de Letras
(órgão incumbido de listar oficialmente os vocábulos existentes em
nosso idioma), e significa despesa, consumo, gasto (2009, p. 290). Exs.:
a) “Foi muito elevado o dispêndio de energia elétrica no mês passado”;
b) “Se para o melhoramento, ou aumento, empregou o devedor trabalho
ou dispêndio, o caso se regulará pelas normas deste Código atinentes às
benfeitorias realizadas pelo possuidor de boa-fé ou de má-fé” (CC/2002,
art. 242, caput); c) “Não sendo possível a separação das coisas, ou
exigindo dispêndio excessivo, subsiste indiviso o todo, cabendo a cada
um dos donos quinhão proporcional ao valor da coisa com que entrou
para a mistura ou agregado” (CC/2002, art. 1.272, § 1º).
2. Seu verbo correspondente é despender, e é oportuno anotar que não
existe a palavra dispender.
3. A um consulente que indagava a razão da grafia diferente de despender e
de dispêndio, já que havia entre elas sentido aproximado, assim
respondia Cândido de Figueiredo: “Sim, o significado é análogo, mas as
duas palavras não têm a mesma derivação: despender veio-nos do latim
dependere, e dispêndio é o mesmo que o latim dispendium, derivado de
dispendere. Ora, se em latim havia dependere e dispendere, e se o
vocabulário português é, em grande parte, filho do vocabulário latino,
nada tem que estranhar” (1943, p. 29).
4. No que concerne à regência nominal, Francisco Fernandes apenas indica
a possibilidade de seu emprego seguido pela preposição de: “Dispêndio
da saúde, das forças do corpo” (1969, p. 149).
5. Lembrando, contudo, a possibilidade de existência de outra acepção e
necessidade, Celso Pedro Luft (1999, p. 179) também observa a sintaxe
com a preposição em: a) “Dispêndio de esforço e energias em coisas
fúteis”; b) “Enorme dispêndio do tempo e talento em resolver
questiúnculas, destituídas de interesse” (Afonso Celso).
Ver Despender ou Dispender? (P. 277)

Dispensa ou Despensa?
Ver Despensa ou Dispensa? (P. 277)

Disponibilizar – Existe?
Ver Verbos – Existem ou não? (P. 764)

Disputar
Ver Computar (P. 204).
Dissílabos átonos – Existe?
1. A maioria dos vocábulos átonos são monossílabos. Alguns, porém, são
dissílabos: o artigo uma, as preposições para e pera (arcaica), as
conjunções como e porque (CEGALLA, 1990, p. 21).

Distância
1. Para solução do problema de crase antes da palavra distância, assim são
as palavras de Cândido de Oliveira (s/d, p. 24): a) “Sem acento no a
quando a distância não é conhecida: ‘Ponha-se a distância’”; b) “Com
acento, quando a distância é conhecida: ‘Ponha-se à distância de seis
metros’”.
Ver Crase antes de pronomes (P. 234), Crase antes de pronomes relativos
(P. 236), Crase obrigatória (P. 238), Crase proibida (P. 239) e Crase – Regras
gerais (P. 239).

Distinguir
1. Localizando-se seus problemas no campo da ortografia e da ortoepia, por
primeiro, anote-se que o u não é pronunciado em qualquer das formas de
sua conjugação verbal (SACCONI, 1979, p. 18).
2. Tendo o grupo gu, neste caso, a exclusiva finalidade de conferir ao g seu
som original antes de e e de i, este e todos os verbos terminados em guir
(quando o u não é proferido) perdem o u antes de a e de o. Assim:
distingo (e não distinguo), distingues, distinguimos, distingamos (e não
distinguamos).
3. Na síntese de Artur de Almeida Torres, nesse sentido, “perde o u antes
de o ou a: distingo, distinga” (1966, p. 118).
4. Ou, ainda, como resume Otelo Reis: “Se o u não é proferido, muda o gu
em g antes de o e antes de a” (1971, p. 129).
5. Serve de modelo para todos os verbos terminados em guir, desde que o u
não seja pronunciado (conseguir, extinguir, perseguir, prosseguir,
seguir).
6. Carlos Góis e Herbert Palhano (1963, p. 113) lembram, com
propriedade, que, dos verbos terminados em guir, apenas arguir e
redarguir têm o u pronunciado.
7. Atentos aos frequentes equívocos em sua pronúncia, observam Regina
Toledo Damião e Antonio Henriques que existe uma indevida tendência
a pronunciar o u nele existente (1994, p. 244).
8. Reitera esse entendimento Arnaldo Niskier, ao lecionar que, nesse verbo,
“o u não se pronuncia” (1992, p. 29).
9. Em apropriada lição, refere Vitório Bergo que, “em atenção à tendência
da língua para suprimir a vogal u depois das guturais, não se profere esse
fonema, nem no infinito nem nos outros modos e tempos” (1943, p. 68).

Distratar ou Destratar?
Ver Destratar ou Distratar? (P. 280)

Distrato ou Destrato?
Ver Destratar ou Distratar? (P. 280)

Ditongos éi, ói, éu – Quando acentuar?


1. Ditongo é o encontro de dois sons vogais não apenas na mesma palavra,
mas, mais do que isso, na mesma sílaba: á-gua, mo-sai-co, réus.
2. As palavras monossílabas ou oxítonas recebem acento gráfico nos
ditongos tônicos (fortes) com formações éi, ói, éu. Exs.: réis, papéis, dói,
herói, céu, troféus.
3. O Acordo Ortográfico de 2008, no entanto, eliminou o acento agudo nos
ditongos abertos ei e oi de palavras paroxítonas, de modo que se escreve
agora assembleia, heroico e jiboia, e não mais assembléia, heróico e
jibóia.
4. Permanecem, no entanto, como exceções à regra, as paroxítonas
terminadas em ditongo (esferóideo, tireóideo, xifóideo) ou em r
(destróier, Méier). Nesses casos, se fosse excluído o acento gráfico,
haveria mudança de posição da sílaba tônica.
5. Não confundir ditongo com hiato, que é o encontro de sons vogais na
palavra, mas em sílabas diferentes (sa-í-da, ba-ú).
Divergir
1. Quanto à conjugação verbal, trata-se de verbo irregular, motivo por que
aparece um i na primeira pessoa do singular do presente do indicativo e
nos tempos dela derivados: divirjo, diverges, diverge, divergimos,
divergis, divergem (presente do indicativo); divirja, divirjas, divirja,
divirjamos, divirjais, divirjam (presente do subjuntivo); diverge, divirja,
divirjamos, divergi, divirjam (imperativo afirmativo); não divirjas, não
divirja, não divirjamos, não divirjais, não divirjam (imperativo
negativo).
2. Nos dizeres de Otelo Reis, tal verbo pertence ao grupo daqueles “em que
o e se muda em i na primeira pessoa do singular do indicativo presente e
em todo o subjuntivo presente” (1971, p. 134-6).
3. Tal mudança, por conseguinte, como se viu, também ocorre no
imperativo afirmativo e no imperativo negativo, nas pessoas daí
derivadas.
4. Anote-se que o g final do radical transforma-se em j antes de a e de o,
por necessidade de adaptação gráfica.
5. Não apresenta problemas de alteração de vogal ou de adaptação do g em
j, ou mesmo irregularidades nos outros tempos: divergia, divergirei,
divergiria, divergindo, divergido, divergi, divergira, divergir, divergisse.

Divisão das palavras


Ver Partição silábica entre as linhas (P. 551).

Doces caseiros ou Doces caseiro?


Ver Tapetes persas ou Tapetes persa? (P. 727)

Do contrato – Latinismo?
Ver Da falência (P. 246).

Documentação
1. Atenta consulta aos dicionários atesta que o vocábulo documentação tem
dois sentidos: a) ação ou efeito de documentar; b) conjunto de
documentos.
2. Quando significa ação ou efeito de documentar, é difícil pensar na
possibilidade de passar o vocábulo ao plural, até por inadequação quanto
ao sentido: “A documentação dos atos processuais é de suma
importância”.
3. Por outro lado, quando seu sentido é um conjunto de documentos, tem a
palavra valor de um coletivo, e, como se dá com este, normalmente fica
no singular: “A documentação do caso discutido foi dolosamente
incinerada”.
4. Nesse último caso, porém, pode-se pensar na hipótese de haver mais de
um conjunto de documentos, hipótese em que não se vê objeção a seu
emprego no plural, a exemplo de as manadas, as constelações, os
cardumes…: “As documentações dos casos similares foram todas
dolosamente incineradas”.
5. Vê-se, porém, que não parece haver sentido em pluralizar o vocábulo
discutido, não importando qual seja seu sentido: “Deverá a parte juntar
todas as documentações necessárias” (errado). Em tal caso, ou a palavra
tem o sentido de documento ou, no máximo, quer dizer um conjunto de
documentos de um só caso. Se se quiser atribuir-lhe o sentido de
documento, estará errado o emprego de documentação, porquanto esta
não é sinônima daquele. Por outro lado, se se pensar em conjunto de
documentos, será inadequado o uso do plural, certo como é que se terá
apenas um único conjunto de documentos, referente a um único caso.

Do Globo – Está correto?


Ver O Estado de S. Paulo (P. 519).

Dói ou Doi?
Ver Ditongos éi, ói, éu – Quando acentuar? (P. 292)

Dois adjetivos e um substantivo


1. Vitório Bergo leciona ser “prática dos clássicos” a concordância de um
substantivo no plural com dois adjetivos no singular. Ex.: “… a nobreza
e povo desta vila se opôs aos estados eclesiástico e secular da cidade de
Braga” (Frei Luís de Sousa).
2. Observa, contudo, tal autor em continuação (BERGO, 1943, p. 59):
“Opõem-se a esta sintaxe alguns autores, que alegam ser ela contrária à
lógica, uma vez que torna o substantivo como subordinado ao adjetivo.
Assim é que dão preferência a este torneio, também clássico: “… no
campo, traça a divisória entre a classe média e a rica” (Rui Barbosa).
3. Óbvio está que, ante a divergência de estruturas, manifestada por tão
excelsas autoridades do vernáculo – e essas são apenas exemplos
representativos de dois grandes grupos – optativo é o emprego ao
usuário comum da norma culta nos dias atuais, aqui incluído o operador
do Direito.
Ver Concordância nominal (P. 209) e Poderes legislativo e executivo (P.
569).

Dois autores de mesma obra


Ver Obra com dois autores (P. 512).

Dois terços
Ver Número fracionário (P. 505).

Dolo
1. Do latim dolus (que significa artifício, manha, esperteza, velhacaria),
tem sido empregado na terminologia jurídica, na acepção civil, “para
indicar toda espécie de artifício, engano, ou manejo astucioso promovido
por uma pessoa, com a intenção de induzir outrem à prática de um ato
jurídico, em prejuízo deste e proveito próprio ou de outrem” (DE
PLÁCIDO E SILVA, 1989, p. 120). Ex.: “Se ambas as partes
procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo, para anular o ato, ou
reclamar indenização” (CC/1916, art. 97).
2. Em sentido penal, é o “desígnio criminoso, a intenção criminosa em
fazer o mal, que se constitui em crime ou delito, seja por ação ou por
omissão” (DE PLÁCIDO E SILVA, 1989, p. 120).
3. Quanto à ortoepia (correta pronúncia do vocábulo), assim é o ensino de
Vitório Bergo (1944, p. 91): “De acordo com a quantidade latina da
vogal tônica, esta deve ser aberta em português (dó e não dô)”.
4. Também do entendimento de que seu timbre é aberto é Luiz Antônio
Sacconi (1979, p. 18).
5. Em perfeita harmonia com os autores já citados, Cândido Jucá Filho
(1963, p. 223) aponta-lhe, como pronúncia correta, o timbre aberto (ó).
6. Em idêntico modo de pensar, Domingos Paschoal Cegalla refere que a
pronúncia da vogal tônica do mencionado vocábulo é aberta, “como em
solo” (1999, p. 127).
7. Após noticiar a equivocada tendência à pronúncia do o tônico com o
timbre fechado (ô), observa Eliasar Rosa que, segundo os estudiosos da
etimologia, dólon era o mastro escondido de navio antigo, assim como
todo punhal que trouxesse a lâmina oculta, dissimulada em cabo de
chicote ou dentro de uma bengala.
8. E continua tal autor: “Por isso é que, em sentido amplo, fora do campo
estritamente penal, dolo significa astúcia, maquinação, vontade
consciente de induzir ou manter alguém em erro, a fim de lhe obter
vantagem para si mesmo, ou para outrem” (ROSA, 1993, p. 60).

Domiciliado à Rua Tal ou Domiciliado na Rua Tal?


Ver Morar à Rua Tal ou Morar na Rua Tal? (P. 477)

Domiciliar-se à Rua Tal ou Domiciliar-se na Rua Tal?


Ver Morar à Rua Tal ou Morar na Rua Tal? (P. 477)

Domicílio
Ver A domicílio ou Em domicílio? (P. 82) e Morar à Rua Tal ou Morar na
Rua Tal? (P. 477)

Dominialidade – Existe?
1. Um leitor pergunta se existe o termo dominialidade para expressar o
domínio que a União detém sobre lagos e rios que banhem mais de um
Estado, ou sirvam de limites com outros países, na forma do art. 20, III,
da Constituição Federal.
2. Uma consulta ao Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa mostra
que lá se registra o substantivo feminino dominialidade (ACADEMIA
BRASILEIRA DE LETRAS, 2009, p. 294).
3. Com essa premissa de fato, é oportuno acrescentar que a Academia
Brasileira de Letras, entidade que edita o VOLP, tem, por delegação da
lei, a incumbência para listar oficialmente as palavras pertencentes ao
nosso idioma, assim como para determinar-lhes a grafia e fixar-lhes a
pronúncia.
4. Isso quer dizer que, se uma palavra se encontra registrada em tal obra, tal
significa que ela existe oficialmente em nosso idioma, e seu emprego
está, assim, legalmente autorizado, o que há de dar-se com a grafia e a
pronúncia ali constantes.

Dona – Como abreviar?


1. Um leitor pergunta como se deve abreviar a palavra Dona.
2. Diga-se, de início, que abreviar uma palavra é representá-la por uma ou
algumas de suas letras: art. por artigo, inc. por inciso, par. por
parágrafo, decr. por decreto.
3. O Formulário Ortográfico oficial traz registradas as reduções mais
correntes, mas não mostra uniformidade de critérios, é confuso e
deficiente nesse campo e deixa sem solução diversos problemas.
4. Ante a deficiência dos critérios oficiais sobre a questão, o melhor é
concluir que ao usuário do idioma assiste certa liberdade para abreviar as
palavras e expressões, guardados determinados parâmetros e princípios.
5. Lembram-se aqui duas regras importantes nesse processo. Uma primeira:
para abreviar, sempre que possível, deve-se terminar a abreviatura em
consoante, não em vogal. Ex.: filosofia pode ser abreviada como filos. ou
fil., mas não filo.
6. Uma segunda regra: se na parte constante da abreviatura aparece o
acento gráfico da palavra, deve ele continuar na abreviatura. Ex.: pode-
se abreviar página como pág., mas não como pag.
7. De modo específico para o caso da consulta, o Vocabulário Ortográfico
da Língua Portuguesa, organizado e publicado pela Academia Brasileira
de Letras, a qual tem a incumbência oficial de zelar pelo idioma, ao
trazer as reduções mais correntes, reserva para dona nada menos do que
quatro modos de abreviar: D., d., D.ª e Da. (2009, p. 868).
8. O próprio VOLP traz os motivos para o número de reduções e para os
critérios adotados em sua elaboração: a) as reduções que ele registra são
“o resultado de uma coleta relativamente ampla de reduções em uso em
livros publicados em português no século XX”; b) “uma palavra pode
estar reduzida de duas ou mais formas”; c) isso se dá, porque “as
reduções poderão ser mais ou menos fortes”; d) “busca-se economizar o
mais possível com as reduções, mas, concomitantemente, diminuir o
mais possível as ambiguidades e obscuridades” (2009, p. 865).

Donde ou De onde?
1. Relacionado à forma latina unde, donde é o mesmo que de onde e indica
afastamento.
2. Acerca do emprego de onde, aonde e donde, Silveira Bueno assim
sintetizava a lição que dava a um de seus consulentes: “O snr. só pode
empregar onde com verbos que não marquem movimento, mas estado:
‘O lugar onde estamos nem sempre é aquele onde morremos’.
Empregará aonde com os verbos de movimento para ou movimento a: ‘A
terra aonde vou’; ‘A casa aonde te diriges’. Empregará donde com
verbos de movimento de: ‘O país donde chego’; ‘O jardim donde
venho’” (1938, p. 115).
3. Arnaldo Niskier (1992, p. 52), procedendo a uma observação conjunta
sobre onde, aonde e de onde, anota que seu uso “não é tão difícil” e
justifica: “com verbos que indicam permanência, como estar, usamos
onde; com verbos que indicam movimento, usaremos aonde quando se
referir ao destino (aonde você quer chegar?), e de onde (ou donde)
quando se referir à procedência (de onde você saiu?)”.
4. Para não haver dúvidas, observa-se que tanto se pode usar a forma
separada de onde, como se pode empregar a contração donde, como,
aliás, textualmente registra o Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa em sua mais recente edição, já posterior ao Acordo
Ortográfico de 2008 (ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, 2009,
p. 294).
Ver Onde, Adonde ou Aonde? (P. 528)

Do o ou De o?
Ver É hora da onça beber água ou É hora de a onça beber água (P. 296).

Do ponto de vista
Ver Ponto de vista (P. 572).

Do que
Ver O de que – Está correto? (P. 517)

Douta Curadoria
Ver Adjetivação desnecessária (P. 80).

Doutorando – Existe?
1. Apesar da oposição de alguns no que concerne à existência desse
vocábulo e à possibilidade de seu uso, é de se anotar que essa palavra
vem registrada no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da
Academia Brasileira de Letras, que é o veículo oficial indicador das
palavras existentes em nosso idioma, autorizando-se, por conseguinte,
seu normal emprego, para designar aquele que cursa doutoramento ou
está para doutorar-se (2009, p. 296).
2. Tal quer significar que seu emprego está oficialmente autorizado entre
nós.
Ver Alimentando – Existe? (P. 105)

Doutor Saulo Ramos ou doutor Saulo Ramos?


1. Um leitor pergunta se é grafada com maiúscula ou com minúscula a
inicial do tratamento que se dá às pessoas em expressões como as que
seguem: Doutor Saulo Ramos ou doutor Saulo Ramos, Professor
Evanildo Bechara ou professor Evanildo Bechara, Ministro Sidnei
Beneti ou ministro Sidnei Beneti?
2. A esse respeito, diz o Acordo Ortográfico de 2008 que é facultativo o
uso da inicial maiúscula ou minúscula nos axiônimos ou hagiônimos.
3. Ora, axiônimo é a forma cortês de tratamento, ou a palavra, ou locução
com que se presta reverência a determinada pessoa, exatamente como no
caso da consulta. Por outro lado, hagiônimo é um nome sagrado, como
Deus, Jeová, Alá, Ressurreição, etc.
4. Sendo facultativo o emprego da maiúscula ou da minúscula em tais
casos, estão corretos todos os seguintes exemplos: Doutor Saulo Ramos
ou doutor Saulo Ramos, Professor Evanildo Bechara ou professor
Evanildo Bechara, Ministro Sidnei Beneti ou ministro Sidnei Beneti,
Santo Agostinho ou santo Agostinho.
5. Não se esqueça, todavia, um lembrete final do próprio Acordo
Ortográfico: “As disposições sobre os usos das minúsculas e maiúsculas
não obstam a que obras especializadas observem regras próprias,
provindas de códigos ou normalizações específicas (terminologia
antropológica, geológica, bibliológica, botânica, zoológica, etc.),
promanadas de entidades científicas ou normalizadoras, reconhecidas
internacionalmente”. Nessa lista de entidades, inclui-se, obviamente, a
Associação Brasileira de Normas Técnicas (A.B.N.T.).

Doutrinas que parecem conveniente esquecer – Está correto?


1. Trata-se de construção errada.
2. Procede-se a sua correção da seguinte forma: “Doutrinas que parece
conveniente esquecer”.
Ver Infinitivo como sujeito – Como concordar? (P. 414)

Dupla atração
Ver Se me não falha a memória ou Se não me falha a memória? (P. 684)
Dupla negativa – Está correto?
1. Em latim, similarmente ao que se dá em outros idiomas, o advérbio non
aposto a outra palavra de força negativa destruía o sentido negativo da
frase.
2. Em português, todavia, é correto – e isso sem perder o cunho negativo –
repetir a ideia do não (anteriormente expresso na frase) em outras
palavras de significação negativa, que apareçam na sequência da
construção. Exs.: a) “Não encontrou nada naquele autor”; b) “Não
compareceu ninguém à audiência”; c) “Não encontrou nenhuma saída
para o caso”.
3. Em tais casos, dá-se o que se denomina negativa intensiva, e a segunda
palavra de valor negativo, conforme o caso, também pode ser substituída
por coisa alguma, pessoa alguma ou simplesmente por alguma (este
último vocábulo, desde que posposto ao substantivo). Exs.: a) “Não
encontrou coisa alguma naquele autor”; b) “Não compareceu pessoa
alguma à audiência”; c) “Não encontrou saída alguma para o caso”.
4. Os exemplos do item anterior hão de ser assim corrigidos: a) “Ele nada
encontrou naquele autor”; b) “Ninguém compareceu à audiência”. c)
“Nenhuma saída ele encontrou para o caso”.
5. Aires da Mata Machado Filho (1969i, p. 114-5) coleciona, nos melhores
autores, variadas formas de dupla negativa: a) “Nunca por nunca deparei
um homem que pudesse…” (Camilo Castelo Branco); b) “O sentimento
nunca em tempo algum lhe deixou brilhar no rosto o festival rubor da
mocidade” (idem); c) “Nunca dos nuncas poderás saber a energia e
obstinação que empreguei em fechar os olhos” (Machado de Assis); d)
“Nem tu não hás de vir” (Gil Vicente).
6. A um consulente que lhe indagava se era português legítimo dizer “não
vi nada”, Cândido de Figueiredo respondeu pela afirmativa, justificando:
“duas negativas, em latim, afirmam; em português, não”.
7. E continuava: “A língua portuguesa é considerada filha da latina, mas
não nos confundamos: o que temos do latim é grande parte do
vocabulário; quanto à sintaxe, temos muitas coisas que os latinos não
conheceram nunca e que portanto nos não vieram de lá” (FIGUEIREDO,
1941, p. 46 e 272).
8. De Silveira Bueno advém interessante lição nesse mesmo sentido: “Os
erros são como as doenças; fáceis de contrair, mas difíceis de curar. Este,
de que duas negativas juntas fazem uma afirmativa, é dos mais
renitentes. Algum gramático, fauna que não se extingue, tendo lido que,
em latim, duas negativas valem uma afirmativa, como non nullos =
ullus; non nihil = aliquid, transportou para o português a mesma doutrina
e errou. Em nosso idioma, duas ou duzentas negativas juntas são sempre
negativas” (1957, p. 311-2).
9. Para Cândido Jucá Filho (1981, p. 86), a negação dupla às vezes
efetivamente nega (“ninguém não diga”, “desinfeliz”) e às vezes afirma
(“não sem razão” = com razão, “nada anormal” = mui normal, “sem
desconhecer” = conhecendo).
10. Fundando-se em exemplo de Machado de Assis, Vitório Bergo (1944,
p. 171) atesta a regularidade da expressão e esclarece que “são
frequentes, especialmente com o advérbio nunca, as frases pleonásticas
em que se dá realce à negativa”.
Ver Não – Com hífen ou sem? (P. 484) e Nunca jamais – Está correto? (P.
509)

Duplicata
Ver Em duplicata ou Em duplicado? (P. 306)

Duplo particípio
Ver Verbos abundantes (P. 759).

Durante o tempo em que ou Durante o tempo que?


1. Na lição de Domingos Paschoal Cegalla, “a linguagem culta não
dispensa a preposição em antes do que nesta expressão de sentido
temporal” (1999, p. 129). Exs.: a) “Durante o tempo em que esteve
preso, recebia visitas de seus amigos” (correto); b) “Durante o tempo
que esteve preso, recebia visitas de seus amigos” (errado).

Duro de se roer ou Duro de roer?


Ver Agradável de se ler ou Agradável de ler? (P. 99)
Dúvida no indicativo
Ver Indicativo por Subjuntivo (P. 411).
E
É bom
Ver É proibido – Como concordar? (P. 325)

É chegado
Ver Ser nascido – Está correto? (P. 694)

Eco
1. Vício de linguagem muito comum nos meios jurídicos e forenses, pode
ser conceituado como “a concorrência desagradável de palavras que
terminam nos mesmos fonemas” (PEREIRA, 1924, p. 263).
2. Em termos mais populares, trata-se de rima indevida na prosa. Ex.: “O
tenente Clemente sente frequentemente dor de dente”.
3. Rui Barbosa, em seu parecer sobre o Projeto do Código Civil, garimpou
diversos desses no texto que então criticava: a) “Contrato cujo valor não
for superior…”; b) “O instrumento do consentimento de casamento…”;
c) “É válida a disposição para a criação de uma fundação…”
(PEREIRA, 1924, p. 263).
4. Quando tocava nesse ponto, um professor dos antigos dizia aplicar-se a
esses casos um vetusto verso popular: “Quem rima sem querer, é burro
sem saber”.

Edição extra
Ver Extra (P. 349).

Edifício Condeixa ou edifício Condeixa?


Ver Rua Caiubi ou rua Caiubi? (P. 675)
Editaliciamente – Está correto?
Ver Citar editaliciamente – Está correto? (P. 183)

Educando – Existe?
Ver Alimentando – Existe? (P. 105)

Êem ou Eem?
Ver Crêem ou Creem? (P. 240)

e. g.
1. Trata-se de abreviatura internacional da expressão latina exempli gratia
(pronuncia-se grácia), que corresponde ao nosso por exemplo. Ex.:
“Várias foram as atitudes indevidas do réu naquele processo, e. g.
contestação manifestamente intempestiva, recurso protelatório, ausência
de respectivo preparo…”.
2. Escreve-se com letras minúsculas.
Ver v. g. (P. 768)

Egrégia Câmara
Ver Adjetivação desnecessária (P. 80).

Egrégio
1. Antonio Henriques vê tal vocábulo como composto do prefixo e (ex),
denotador de afastamento, e grex, gregis (rebanho), significando, assim,
aquele ou aquilo “que sai do rebanho, do comum e se distingue da
multidão”.
2. Por outro lado, ressaltando que seu uso normal é antes do substantivo
para realçá-lo, complementa que ele “ocorre em expressões próprias do
Direito e, em geral, com maiúsculas e sentido superlativo: Egrégio
Tribunal, Egrégia Corte, Egrégio Juiz, Egrégia Câmara e outras”
(HENRIQUES, 1999, p. 53).
3. Atente-se a que, em interessante determinação, o art. 3º, caput, do
Regimento Interno do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo assim
estatui: “Têm o Tribunal e todos os seus órgãos o tratamento de
Egrégio…”.
Ver Adjetivação desnecessária (P. 80), Esposo ou Marido? (P. 331), Petição
inicial (P. 563) e Tribunal de Justiça – egrégio ou Egrégio? (P. 747)

É hora da onça beber água ou É hora de a onça beber água?


1. Diga-se, desde logo, que a maneira tradicionalmente considerada correta
de se dizer tal frase há de ser: “É hora de a onça beber água”, e isso na
consonância com a lição tradicional, como se vê do preciso ensino de
Vitório Bergo (1944, p. 77) sobre o assunto, que observa dois
significativos aspectos: a) “A preposição de não se contrai com o
pronome ele” (a lição, em realidade, vale também para outras palavras)
“quando este se acha, antes de um verbo, em função de sujeito”; b)
“Com o pronome eu nunca se dá a contração, porque este em nenhum
caso funciona como complemento”.
2. De acordo com a doutrina de Laudelino Freire, “costumam escritores
menos zelosos do que escrevem unir a preposição ao artigo, ou ao
pronome pessoal, em frases como estas – ‘É tempo do professor publicar
seu livro’ – ‘Depois dele partir para Londres…’”.
3. E continua tal gramático: “Incorreto é assim escrever, porque essa união
não tem cabimento, uma vez que a preposição não rege o sujeito e sim o
verbo, como se vê dando àquelas frases outra ordem – ‘É tempo de
publicar o professor o seu livro’ – ‘Depois de partir ele para
Londres…’”.
4. Encerra assim sua lição, nesse aspecto, o referido autor (FREIRE, s/d, p.
23-4): “Correto é, pois, escrever, separando a preposição do artigo ou do
pronome – ‘É tempo de o professor publicar o seu livro’ – ‘Depois de
ele partir para Londres…’”.
5. E Eduardo Carlos Pereira, lembrando a circunstância de que, nesses
casos, “a preposição rege o verbo e não o sujeito”, observa serem
condenáveis as seguintes construções: a) “Em vez dos ladrões levarem os
reis ao inferno…”; b) “É tempo dos patriotas erguerem-se”.
6. Em continuação, especifica ele quais as formas corretas para tais frases
(PEREIRA, 1924, p. 237): a) “Em vez de os ladrões levarem os reis ao
inferno…”; b) “É tempo de os patriotas erguerem-se”.
7. Com muita frequência, ocorre o mencionado equívoco com a expressão
apesar de, como se pode ver nos seguintes exemplos, em que se indica
sua correção ou erronia: a) “Apesar do réu ter faltado, não foi decretada
sua revelia” (errado); b) “Apesar de o réu ter faltado, não foi decretada
sua revelia” (correto); c) “Apesar de ter faltado o réu, não foi decretada
sua revelia” (correto).
8. Para tais casos, de muita propriedade é a síntese de Arnaldo Niskier:
“Quando após a preposição de ou em temos um sujeito, este não pode
ser contraído àquela em língua escrita, embora a tendência na oralidade
seja a contração. Assim, temos antes de ela chegar, não há mal em ele
sair, etc.” (1992, p. 26).
9. Trabalhando a frase “Chegou a hora de o povo decidir”, assim observam
José de Nicola e Ernani Terra (2000, p. 59): “Cuidado com essa
construção. Nunca escreva “Chegou a hora do povo decidir”. Pense na
gramática da frase: o povo é sujeito do verbo decidir; como sabemos, o
sujeito nunca é regido de preposição, daí não se justificar a contração da
preposição de com o artigo que faz parte do sujeito (nesse caso, a
preposição rege o verbo e não o sujeito)”.
10. A quem parecer artificial a construção, o melhor é valer-se da inversão
entre sujeito e verbo, evitando o referido encontro entre a preposição e
o artigo ou pronome: a) “É tempo de publicar o professor o seu livro”;
b) “Depois de partir ele para Londres…”; c) “Apesar de ter o réu
faltado…”
11. Sem embargo da integral correção do ensinamento até agora retratado,
Luciano Correia da Silva (1991, p. 178) cita dois “exemplos
consagradores da forma impugnada” em Machado de Assis: a) “São
horas da baronesa dar o seu passeio pela chácara”; b) “Minha mãe
sufocou este sonho pouco depois dele nascer”.
12. Outros exemplos de emprego da forma contraída podem ser
encontrados em diversos autores dos mais zelosos pelo culto ao
idioma: a) “Gonçalo pediu a D. João I que lhe legitimasse o filho
natural, para que, no caso dele perecer na batalha…” (Camilo Castelo
Branco); b) “No momento do comboio partir…” (Eça de Queirós); c)
“Cedo, antes do sol luzir, a sineta soava a despertar” (Coelho Neto); d)
“… no caso do infinitivo trazer complemento direto que não seja
pronome pessoal…” (Epifânio Dias); e) “Sabia-o, senhor, antes do
caso suceder” (Alexandre Herculano).
13. Em posição de discordância do ensino tradicional, também se veja a
lição de Silveira Bueno (1957, p. 430-1), para quem a frase “No
momento das estrelas surgirem” não está errada, sendo, para ele, de
igual modo, correto dizer “… das estrelas surgirem” ou “… de as
estrelas surgirem”, porquanto, para ele, “a simples contração não é
causa de regência”, já que esta “procede da função sintática e não da
posição gráfica”.
14. Também anota Domingos Paschoal Cegalla que, “devido ao seu
artificialismo e por conflitar com a oralidade, esta regra nem sempre é
respeitada” (1999, p. 110).
15. Em outra passagem, o mesmo autor (CEGALLA, 1999, p. 101-3) –
para quem são “desinformados e caturras” os gramáticos que
condenam a contração – considera “lícito, em benefício da eufonia,
contrair a preposição de com o artigo ou o pronome antes de orações
infinitivas”, lembrando tal autor que a forma contraída “é mais natural
e espontânea, evita os desagradáveis hiatos de o, de a, de ele, de esse,
de aquele, etc.”, e tem “a vantagem de evitar construções artificiais”,
enquanto “a outra é um gramaticalismo um tanto afetado, em choque
com a língua falada”.
16. Após tais arroubos de liberalismo gramatical, todavia, tal autor – a
quem não parece censurável contrair, normalmente, a preposição de
com o artigo, em frases como “Antes do sol nascer, já estávamos na
estrada” – reputa que, “na modalidade culta formal, recomenda-se
escrever: ‘Antes de o sol nascer, já estávamos na estrada’”
(CEGALLA, 1999, p. 27).
17. Apesar das apontadas divergências entre os gramáticos e autores, o
certo é que, nos textos jurídicos e forenses, a serem escritos com
observância do padrão culto, o melhor é seguir essa última parte do
ensino de Domingos Paschoal Cegalla e não empregar a forma
contraída.
18. Quanto ao emprego na elaboração das leis, assim se expressa Adalberto
J. Kaspary em preciosa monografia: “De cem exemplos que anotamos,
oitenta e sete são da construção não combinada, sendo, pois, apenas
treze da forma combinada. Curiosamente, dos treze exemplos em que o
sujeito aparece combinado ou contraído com a preposição, doze são do
Código Comercial de 1850 (em que aparece somente esta construção),
sendo o outro do Código Civil de Portugal, assim mesmo não na
redação original, mas de modificação posterior. Por outro lado, dos
oitenta e sete exemplos com a forma não combinada do sujeito, oitenta
e um são do Código Civil de Portugal”. Exs.: a) “A sentença, que
julgar procedente a ação, ordenará o restabelecimento do estado
anterior, a suspensão da causa principal e a proibição de o réu falar
nos autos até a purgação do atentado” (CPC, art. 881); b) “A falta ou
nulidade da citação, da intimação ou da notificação estará sanada,
desde que o interessado compareça, antes de o ato consumar-se,
embora declare que o faz para o único fim de argui-la” (CPP, art. 570);
c) “O sócio que não aprovar a liquidação ou a partilha é obrigado a
reclamar dentro de dez dias depois desta lhe ser comunicada…” (C.
Com., art. 348); d) “… mas nunca depois do menor atingir a
maioridade ou ser emancipado…” (CC português, art. 125º, 1, a).
19. E continua o mencionado autor, em lição que merece total acolhida:
“Em face das considerações acima expendidas e das constatações
feitas, recomenda-se o uso da forma não combinada em textos formais,
no que se estará seguindo a melhor tradição da linguagem literária em
geral e da linguagem jurídica em particular. Não se trata, no entanto,
convém frisar, de uma questão de certo e errado, mas, acima de tudo, é
um problema de maior ou menor gabarito da expressão escrita”
(KASPARY, 1996, p. 372).
20. Consideradas as premissas acima referidas, observem-se os exemplos a
seguir: a) “A notícia teve caráter degradante e não preservou sua
identidade, além dos fatos serem inverídicos…” (ou seria “além de os
fatos serem inverídicos…”?); b) “Apesar do réu ter confessado, foi
absolvido” (ou “Apesar de o réu ter confessado…”?); c) “Freud afirma
existirem duas formas do ser humano buscar a felicidade” (ou “… do
ser humano buscar…”)?
21. Ora, observadas as ponderações acima postas e verificada a
circunstância de que as considerações aqui feitas têm por alvo textos
que devem seguir a norma culta, como são os legais, os jurídicos e os
forenses, o melhor é não fazer a contração referida entre a preposição e
o artigo nessas circunstâncias.
22. Com essas explicações, confiram-se os seguintes exemplos, com a
indicação, entre parênteses, de seu melhor emprego, no que concerne à
linguagem formal: a) “A notícia teve caráter degradante e não
preservou sua identidade, além dos fatos serem inverídicos” (não
conveniente); b) “A notícia teve caráter degradante e não preservou
sua identidade, além de os fatos serem inverídicos” (mais adequada);
c) “A notícia teve caráter degradante e não preservou sua identidade,
além de serem inverídicos os fatos” (mais adequada); d) “Apesar do
réu ter confessado, foi absolvido” (não conveniente); e) “Apesar de o
réu ter confessado, foi absolvido” (mais adequada); f) “Apesar de ter
confessado, o réu foi absolvido” (mais adequada); g) “Freud afirma
existirem duas formas do ser humano buscar a felicidade” (não
conveniente); h) “Freud afirma existirem duas formas de o humano
buscar a felicidade” (mais adequada); i) “Freud afirma existirem duas
formas de buscar o ser humano a felicidade” (mais adequada).

Ei-lo
1. Trata-se de expressão correta em português, constituindo adaptação
formal de eis (advérbio com o significado de aqui está) mais o
(pronome). Ex.: “Quanto ao livro procurado, ei-lo bem a sua frente”.
2. Pela própria possibilidade de variação do pronome, a expressão admite
as formas ei-la, ei-los, ei-las.
3. Apesar das controvérsias sobre sua origem, a razão parece estar com
Otoniel Mota, que a vê derivar da expressão ecce illum, passando a
primeira palavra através da transformação esse, eice, eiz (MOTA apud
MACHADO FILHO, 1969a, p. 664).
Ver Verbo seguido de pronome (P. 763).

Éi – Ói – Éu ou Ei – Oi – Eu?
1. É muito comum, ante as recentes modificações em nossa ortografia,
indagar-se qual a extensão das mudanças, quanto à acentuação, no que
tange aos encontros vocálicos: éi – ói – éu ou ei – oi – eu.
2. Antes das mudanças em nossa ortografia, a regra era acentuar os
ditongos abertos éi – ói – éu sempre que se apresentassem com o som
aberto.
3. Não importava se as palavras eram monossílabas (como réis, dói e véu),
ou oxítonas (como papéis, herói e troféu), ou paroxítonas (como platéia,
heróico e jarandéua), ou, ainda, proparoxítonas (como alcalóidico); tais
ditongos abertos eram sempre acentuados.
4. Pois bem. O Acordo Ortográfico de 2008 manteve o acento referido nas
demais situações, mas o aboliu nos vocábulos paroxítonos. Observe-se,
assim, como ficam doravante as seguintes palavras paroxítonas: teteia,
jarandeua, jiboia, heroico, assembleia, ideia, alcaloide.
5. Permanecem, no entanto, como exceções à regra, as paroxítonas
terminadas em ditongo (esferóideo, tireóideo, xifóideo) ou em r
(destróier, Méier). Nesses casos, se fosse excluído o acento gráfico,
haveria mudança de posição da sílaba tônica.
6. Abolido que foi o acento apenas nas paroxítonas, continuam acentuadas
as demais já referidas, como se pode conferir: réis, dói e véu
(monossílabas), papéis, herói e troféu (oxítonas), alcalóidico
(proparoxítona).

Eis que
1. Trata-se de locução conjuntiva temporal, a qual pode aproximadamente
ser substituída por quando. Ex.: “A audiência seguia tranquila, eis que o
advogado resolveu tumultuá-la”.
2. É errôneo, porém, seu emprego no sentido de locução conjuntiva causal
(significando porque, uma vez que), ou mesmo como conjunção
explicativa ou conjunção condicional. Ex.: “O réu foi absolvido, eis que
não havia provas concretas contra ele” (errado).
3. Otoniel Mota lamenta o uso de tal expressão como locução conjuntiva
causal e lhe tece os seguintes comentários: “Segundo se diz e parece,
nasceu ela nos meios forenses, exatamente os que mais deviam, por
amor à precisão da linguagem, evitar, quanto possível, novidades dessa
natureza” (MOTA apud ALMEIDA, 1981, p. 91).
4. Após referir que as conjunções causais formadas com o vocábulo vez
não primam pela vernaculidade, com exceção de uma vez que, também
Aires da Mata Machado Filho leciona que, de todas essas expressões
errôneas, “a pior é mesmo eis que, tão encontradiça na linguagem dos
advogados. É um dos tiques da língua jurídica. Todavia os cultores do
Direito que escrupulizam em pontos de vernaculidade, costumam evitá-
la” (1969h, p. 1.179).
5. Atente-se, de igual modo, à ponderação de José de Sá Nunes, o qual
reconhece que muitas vezes se emprega tal locução conjuntiva com o
sentido de uma vez que, desde que, visto que, pois que, já que,
porquanto, porque: “mas não é esta a significação que ela tem no
português. Este sentido está desviado inteiramente do que lhe dão os
mestres da língua. Quem usa a locução eis que naquela acepção ignora o
seu legítimo significado, que é senão quando, improvisadamente, eis
senão quando, de repente, inopinadamente, quando subitamente”.
6. E continua o referido gramático, lecionando e exemplificando em
mesma obra e local: “Os deturpadores do idioma nacional têm à mão
uma dezena de locuções e vocábulos que lhes podem traduzir à justa o
que exprimem por meio da expressão eis que” (NUNES, 1938, p. 50-1).
7. Eliasar Rosa registra a ocorrência de uso e abuso dessa conjunção nas
petições, requerimentos, sentenças e acórdãos, como se fosse locução
causal e sinônima de uma vez que, porque, visto como, exemplificando o
erro: “O juiz julgou procedente o pedido, eis que ficou provada a mora
do devedor”.
8. Em continuação, transcreve oportuna advertência de Vitório Bergo para
todos os que militam nos meios forenses: “Evite-se, em tempo, a
confusão, a bem da genuinidade da linguagem, que, precisamente nos
domínios da lei e da justiça, se deve preservar de inovações descabidas”
(ROSA, 1993, p. 62).
9. Antonio Henriques (1999, p. 53), por um lado, observa o fato de que
“faz carreira no meio forense, entre advogados e até mesmo juízes, a
expressão eis que com sentido causativo (porque, uma vez que etc.)”; por
outro lado, assevera ele que “merece ser censurado e, até mesmo
condenado, tal procedimento”.
10. Atento aos frequentes erros cometidos no linguajar forense e jurídico,
observa Edmundo Dantès Nascimento (1982, p. 43) que o emprego de
eis que em lugar da conjunção causal uma vez que é errado.
11. Geraldo Amaral Arruda, por um lado, realça que se trata de “locução
adverbial que não se deve usar como conjunção”, e aconselha sua
substituição por uma vez que, visto que, porque etc.” (1997, p. 109).
12. Em outra passagem, de sua obra, observando tratar-se de locução
adverbial com o sentido de aqui está, o mesmo desembargador,
estudioso dos problemas gramaticais na linguagem jurídica e forense,
anota que “nenhum gramático ou dicionário autoriza o uso da locução
eis que na função de conjunção causal, como reiteradamente vem
sendo empregada na linguagem forense” (ARRUDA, 1997, p. 22).
13. Observando que se trata de “locução corretamente usada para abrir
frases anunciativas e também para exprimir surpresa, imprevisto”,
também recomenda Domingos Paschoal Cegalla “não usar eis que em
lugar de porque, porquanto, uma vez que ou pois” (1999, p. 131).
14. Sousa e Silva (1958, p. 110-1) recolheu passagem de uso equivocado
de tal expressão em um matutino carioca: “Os srs…. jamais exercerão
efetivamente a nova função, eis que já andam beirando os 60 anos de
idade” (e manda corrigir: porquanto já andam, ou visto que já andam,
ou porque já andam).
15. Em tais casos, em suma, deve-se usar uma conjunção ou locução
conjuntiva causal equivalente: porque, porquanto, já que, uma vez que,
visto que. Ex.: “O réu foi absolvido, porquanto não havia provas
concretas contra ele”.
Ver De vez que (P. 283) e Vez que – Está correto? (P. 767)

Elaborar em erro ou Laborar em erro?


Ver Laborar em erro ou Elaborar em erro? (P. 441)

Ela tinha
Ver Cacófato – O que é? (P. 163)

Eleger
1. Do latim eligere, tem o significado de escolher e se aplica a diversos
ramos do Direito.
2. Em Direito Administrativo, opõe-se a nomear, significando
precisamente escolher uma pessoa por meio de votos colhidos entre
outras, para ocupar um cargo ou desempenhar uma função pública.
3. Em Direito Civil, fala-se em eleger domicílio, com o significado de
escolha do local para fixar residência com intenção definitiva, para todos
os efeitos jurídicos.
4. No âmbito do Direito Obrigacional, fala-se em eleger foro, o que quer
dizer escolherem os contratantes, dentro da faculdade que lhes assiste
de especificar domicílio, o local onde se exercitarão direitos e se
cumprirão obrigações.
5. Quanto à conjugação verbal, como todos os verbos terminados em ger,
para a continuidade do som original da última consoante do radical,
muda-se o g em j antes de a e de o. Assim: elejo, eleges, elegi, elejam.
6. Feitas essas observações, anota-se que se trata de verbo conjugado em
todas as pessoas, tempos e modos.
7. Além disso, é verbo abundante, apresentando duas formas no particípio
passado (elegido e eleito), estando no verbete específico (verbos
abundantes) as regras para seu emprego.
8. Quanto à regência verbal, em lição que abarca outros verbos de mesmo
regime, observa Laudelino Freire (1937b, p. 52-3) que o predicativo
pode vir ligado ao verbo por conetivos, como, no caso, por em. Exs.: a)
“Elegeram-me senador” (correto); b) “Elegeram-me em senador”
(correto).
9. Em tais casos, Francisco Fernandes (1971, p. 252) também vê como
autorizada a forma sem conjunção ou com conjunção (que pode ser por,
em, para ou como). Exs.: a) “O bispo de Ceuta não tardou a ser eleito
arcebispo de Braga” (Alexandre Herculano); b) “Eleger por procurador
das cadeias um irmão de grande autoridade” (Padre Antônio Vieira); c)
“Enviou aos Estados uma declaração pela qual desiste da regência no
caso que o elejam em rei” (Mário Barreto); d) “Os soldados elegeram-
me capitão (ou para capitão, ou por capitão, ou como capitão)” (Mário
Barreto).

Elegido ou Eleito?
Ver Verbos abundantes (P. 759).

Elencar – Existe?
1. Sempre é importante ter em mente que, para que uma palavra possa ser
tida como existente em nosso idioma, será preciso que conste do
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela Academia
Brasileira de Letras, já que esse é o órgão que tem a incumbência legal
de listar os vocábulos oficialmente existentes em nosso idioma.
2. No caso vertente, uma consulta ao VOLP revela que nele se registram
ambos os vocábulos: elencar e elenco (ACADEMIA BRASILEIRA DE
LETRAS, 2009, p. 303). Tal quer dizer que as duas palavras existem
oficialmente em nosso idioma, de modo que podem ser regularmente
empregadas nos textos redigidos sob a égide da norma culta.
3. Por fim, se elenco tem em si o significado de catálogo, índice, lista,
relação, rol, o verbo elencar há de ser usado na acepção de catalogar,
listar, relacionar, arrolar. Ex. “Em sua decisão, o magistrado elencou seis
motivos pelos quais negava ao réu o benefício para recorrer em
liberdade”.

Eles têm ou Eles tem?


1. Um leitor indaga qual a forma correta após as recentes modificações em
nossa ortografia: eles têm ou eles tem?
2. Observe-se, desde logo, que essa é uma questão que não foi atingida
pelas modificações trazidas pelo Acordo Ortográfico e que merece um
cuidado todo especial.
3. Veja-se, num primeiro aspecto, que o verbo ter e seus derivados (manter,
suster, entreter, reter, etc.) são grafados, na terceira pessoa do plural do
presente do indicativo, com um acento circunflexo, para diferenciar da
terceira pessoa do singular: eles têm, eles mantêm.
4. Num segundo aspecto, veja-se que os derivados de ter – e apenas os
derivados – na terceira pessoa do singular, recebem um acento agudo:
ele tem, ele mantém.
5. Observe-se, por consequência, como se grafam as seguintes formas
verbais: ele tem, ele mantém, eles têm, eles mantêm.
6. As mesmas observações servem para o verbo vir e seus derivados em
tais circunstâncias: ele vem, ele sobrevém, eles vêm, eles sobrevêm.
7. Não se pense em grafar com ee qualquer desses verbos, já que a
duplicação da mencionada vogal é peculiaridade dos verbos crer, dar, ler,
ver e seus derivados, os quais, após o Acordo Ortográfico de 2008, não
mais apresentam acento na forma ee: creem, deem, leem, veem.

Elidir ou Ilidir?
1. Elidir tem o sentido de eliminar, fazer elisão, suprimir. Exs.: a) “Camões
elide, por aférese, o i de ‘imaginação’”; b) “E é por isso que Camões
pôde metrificar elidindo essa vogal” (Rui Barbosa); c) “O pagamento
dos tributos, para efeito de extinção de punibilidade… não elide a pena
de perdimento de bens…” (TFR, Súmula 92).
2. Com propriedade, no campo jurídico, o art. 11, § 2º, da antiga Lei de
Falências registra que, uma vez citado, o devedor comerciante, no prazo
para a defesa, poderá “depositar a quantia correspondente ao crédito
reclamado, … elidindo a falência”; e isso porque, como determina o
mesmo dispositivo em sequência, “feito o depósito, a falência não pode
ser declarada, e se for verificada a improcedência das alegações do
devedor, o juiz ordenará, em favor do requerente da falência, o
levantamento da quantia depositada, ou da que tiver reconhecido como
legitimamente devida”.
3. Já ilidir tem o significado de contestar, destruir refutando, impugnar,
rebater, refutar. Ex.: “Em sua defesa, o réu prontamente ilidiu as
acusações de que foi alvo”.
4. Observando que elidir significa eliminar, suprimir, fazer elisão, enquanto
ilidir quer dizer destruir, refutar, rebater, Eliasar Rosa complementa que,
“em suas sustentações escritas, ou orais, procura o advogado ilidir os
fundamentos, ou a argumentação que não lhe sejam favoráveis” (1993,
p. 63.).
5. É certo que o art. 343 do Código Civil de 1916 registrava: “Não basta o
adultério da mulher com quem o marido vivia sob o mesmo teto, para
elidir a presunção legal de legitimidade da prole”. Antonio Henriques e
Maria Margarida de Andrade (1999, p. 69), porém, observavam, durante
a vigência do mencionado dispositivo, e com total propriedade, que, em
indispensáveis anotações, Theotonio Negrão corrigia o verbo elidir
(suprimir, excluir) por ilidir (rebater, refutar, anular). E a nova
codificação civil veio a corrigir o equívoco: “Não basta o adultério da
mulher, ainda que confessado, para ilidir a presunção legal da
paternidade” (CC, art. 1.600).
6. Por outro lado, o art. 244 do Código Penal refere o verbo ilidir: “Nas
mesmas penas incide quem, sendo solvente, frustra ou ilide, de qualquer
modo, … o pagamento de pensão alimentícia judicialmente”; Damásio
de Jesus, todavia, em comentários ao mencionado dispositivo, anota que,
no caso, “o correto é elide” (JESUS apud HENRIQUES, 1999, p. 53).
7. O art. 757 do Código de Processo Civil registra: “O devedor ilidirá o
pedido de insolvência se, no prazo para opor embargos, depositar a
importância do crédito, para lhe discutir a legitimidade ou o valor”.
Observando que elidir significa eliminar, enquanto ilidir quer dizer
rebater, contestar, anota Theotonio Negrão (2001b, p. 796) que melhor
seria que a disposição legal, no caso, registrasse elidirá.
8. De igual modo, o texto oficial do art. 21, parágrafo único, da Lei 5.478,
de 25/7/68, que dispõe sobre a ação de alimentos, ao conferir nova
redação ao art. 244 do Código Penal, assim determina: “Nas mesmas
penas incide quem, sendo solvente, frustra ou ilide, de qualquer modo,
inclusive por abandono injustificado de emprego ou função, o
pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou
majorada”. O mesmo professor Theotonio Negrão (2001b, p. 53),
lembrando que o Pequeno Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, assim como Séguier e Aurélio Buarque de Holanda,
procedem a idêntica distinção, manda corrigir para elide.

Em 4 de julho ou A 4 de julho?
Ver A catorze de julho ou Em catorze de julho? (P. 64)

Em aberto – Está correto?


1. É corriqueiro o emprego de expressões como questão em aberto, assunto
em aberto, problema em aberto.
2. Todavia, com exceção de em branco, Domingos Paschoal Cegalla
questiona a vernaculidade de locuções adjetivas constituídas pela
preposição em + adjetivo (cópia em anexo, plateia em suspenso,
cuidados em vão).
3. Observa que em português “a locução adjetiva se forma com uma
preposição (geralmente de ou sem), seguida de substantivo: amor de
mãe; lenço de seda; voracidade de lobo; paixões sem freio; homem sem
escrúpulos, etc.”
4. E acrescenta: “o mínimo que se pode dizer é que a locução adjetiva em
aberto e as outras aqui citadas, embora de uso frequente, não têm
tradição em nossa língua. A única realmente imprescindível é em
branco” (CEGALLA, 1999, p. 134).

Em absoluto – Galicismo?
1. Vitório Bergo reconhece o fato de ser tal expressão tachada de galicismo.
2. Por outro lado, assevera que se lhe alarga o uso até na literatura, onde
“vai ela concorrendo com o advérbio absolutamente”.
3. Por fim, traz (BERGO, 1944, p. 96) a corroboração de exemplo de
Machado de Assis: “Já tenho lido que o conselho trabalha pouco, mas
não aceito em absoluto esta afirmação”.
4. Nesse mesmo sentido é a lição do Padre José F. Stringari: “Creio que
não havemos de escrupulizar no emprego da expressão – em absoluto –
embora paladinos da linguagem intemerata a estigmatizem com o ferrete
de galicismo”.
5. E acrescenta tal autor que “a locução de que se trata, abroquela-se com
textos que levam a chancela de autores exemplaríssimos”, passando a
citar diversos deles: a) “De passagem, aludirei apenas ao grave
inconveniente de se haver desprezado, quase em absoluto, a acentuação
gráfica” (Cândido de Figueiredo); b) “O certo é que o bloqueio obsta em
absoluto à saída ou introdução de todo e qualquer gênero de produtos”
(Rui Barbosa); c) “… pondo de banda as causas providenciais até
suprimir em absoluto o nome de Deus…” (Mário Barreto).
6. Por fim, aconselha o gramático citado: “Os autores são excelentes e os
exemplos são claros. Não hesitemos, pois, em lhes ir de companhia e
alegremo-nos por mais uma fórmula vir enriquecer o nosso já tão
alentado cabedal fraseológico” (STRINGARI, 1961, p. 69).

E-mail com cópia


1. Indaga um leitor se, ao enviar um e-mail para um homem, com cópia
para uma mulher, está errado iniciar o texto com o termo “senhores”.
2. Ora, um e-mail não deixa de ser uma forma de correspondência – como
se fosse uma carta – apenas que enviada por meio diverso do vetusto
correio.
3. Como correspondência, significa, em última análise, uma conversa entre
pessoas.
4. No caso, a situação foi taxativamente desenhada pelo leitor: o e-mail é
enviado a um homem, de modo que a conversa, pela informática ou não,
é travada entre duas pessoas. A mulher, assim, é apenas destinatária de
uma cópia da missiva, e não real partícipe da conversa.
5. Desse modo, independentemente de haver remessa de cópia para a
mulher – que a recebe, mas não participa da conversa – o tratamento será
conferido apenas ao interlocutor, ou seja, tão somente ao homem. Assim,
Prezado Senhor.

E-mail ou emeio?
1. O conjunto das palavras existentes em nosso vocabulário não é um sítio
arqueológico, em que nada de novo acontece e tudo se encontra
fossilizado. As palavras, na língua, têm vida, de modo que nascem, têm
sua existência, às vezes se modificam, quer em estrutura, quer em
sentido, e muitas vezes morrem.
2. Uma das razões do aparecimento de novos vocábulos é a tecnologia.
Palavras como televisão, telégrafo e telefone surgiram com a invenção
dos aparelhos conhecidos pelos respectivos nomes. Assim, de acordo
com a necessidade, novos termos vão surgindo, em razão da ausência de
vocábulo correspondente em Português. É o que se denomina
neologismo.
3. Quando, porém, surge o problema da ausência de vocábulo em nosso
idioma, como se deve resolver a questão: a) aportuguesa-se
simplesmente a palavra de outro idioma?; b) grafa-se a palavra tal como
em seu idioma de origem?; c) ou se emprega outra palavra em
Português, que seja a transliteração ou a adaptação da palavra de outra
língua?
4. Vale dizer: a escrita deve obedecer à grafia do inglês (e-mail), ou deve
haver a transliteração, ou seja, o registro em Português dos respectivos
sons, tais como pronunciados em inglês (emeio).
5. Ora, quando se confere forma nova a um vocábulo em Português, é
preciso verificar se ele consta da relação do Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa, que é uma espécie de dicionário que lista as palavras
reconhecidas oficialmente como pertencentes à língua portuguesa, bem
como lhes fornece a grafia oficial. Esse VOLP é elaborado pela
Academia Brasileira de Letras, que tem a responsabilidade legal de
editá-lo, em cumprimento à vetusta Lei Eduardo Ramos, de n. 726, de
8/12/1900.
6. Assim, se consta do VOLP, então a palavra pertence ao nosso léxico; em
caso contrário, ela não existe para o idioma. A ABL é a autoridade
suprema para listar oficialmente as palavras existentes em nosso léxico.
7. Pois bem. Em termos concretos, em sua edição de 2009, em que listou
uma série de “Palavras Estrangeiras” usadas em nosso dia a dia, arrolou
entre elas o vocábulo e-mail, esclarecendo que ele pertence ao idioma
inglês (ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, p. 862), o que liquida
de uma vez por todas com o assunto, porquanto, como é sabido, o VOLP
é a lei sobre o assunto, a que todos devemos obediência.
8. E, quando isso acontece, então se deve citar a palavra no idioma de
origem, apenas com o cuidado de grafá-la em itálico, negrito, sublinha
ou entre aspas: e-mail, e-mail, e-mail ou “e-mail”.
9. Acresce dizer que, de longa data, já existe em nosso léxico o vocábulo
emeio (e o próprio VOLP a tem assim registrado); como é fácil perceber
nos dicionários, porém, não significa a transliteração do vocábulo aqui
discutido, e sim é palavra usada no idioma ao menos desde o começo do
século XIX, mas com o significado de oportunidade, ocasião, momento.

E mais – Está correto?


1. Alguns podem pensar que se trata de inviável junção de dois vocábulos
com idêntica função aditiva, considerando expressão desse jaez como
“dito demasiado plebeu”.
2. Observa, contudo, Vasco Botelho de Amaral (1943, p. 15) que, se lesse
seu exemplar do Padre Antônio Vieira, “o esteta encontraria isto assim
mesmo: ‘só quem perdoa o agravo e mais o nome, perdoa
inteiramente’”.

Em algures – Está correto?


1. Trata-se de expressão incorreta e equivocada.
Ver Algures (P. 104), que é a forma correta, sem a preposição
antecedente.

Em anexo – Está correto?


1. A expressão invariável em anexo, embora corrente, não tem a aprovação
de muitos e, para se ter a ideia do repúdio de alguns gramáticos, não é
mencionada por Silveira Bueno, nem por Carlos Góis, nem por Aires da
Mata Machado Filho (1969, p. 443-4), o qual se reporta às lições dos
primeiros.
2. Domingos Paschoal Cegalla a reputa “expressão condenada”,
justificando que, com exceção de em branco, são de discutível
vernaculidade as locuções adjetivas constituídas da preposição em +
adjetivo (cópia em anexo, plateia em suspenso, cuidados em vão).
3. Observa tal gramático que em português “a locução adjetiva se forma
com uma preposição (geralmente de ou sem), seguida de substantivo:
amor de mãe; lenço de seda; voracidade de lobo; paixões sem freio;
homem sem escrúpulos, etc.”
4. E acrescenta que esta específica expressão e outras “embora de uso
frequente, não têm tradição em nossa língua. A única realmente
imprescindível é em branco” (CEGALLA, 1999, p. 134).
5. De igual modo, José de Nicola e Ernani Terra se postam de modo
contrário ao emprego da expressão em anexo, com a seguinte
fundamentação: “Embora sejam comuns, na linguagem comercial e
jurídica, as expressões em anexo e em apenso devem ser evitadas, pois,
como dissemos, tais palavras são adjetivos e não advérbios. Observe que
jamais alguém diria: As promissórias seguem em incluso. Por que então
dizer em anexo, em apenso?” (2000, p. 31).
6. Sem manifestar concordância ou discordância quanto a seu correto
emprego, Regina Toledo Damião e Antonio Henriques (1994, p. 227)
apenas observam ser “corrente a expressão”, “embora sem merecer a
aprovação de muitos”.
7. Arnaldo Niskier (1992, p. 90) é expresso para aceitar a correção de uso
da expressão em anexo, dando-a como invariável.
8. De Antonio Henriques e Maria Margarida de Andrade, de igual modo,
provém ensinamento favorável: “Tornou-se usual a expressão em anexo,
de valor adverbial, embora muitos a rejeitem, como o Manual de
Redação e Estilo de O Estado de S. Paulo; já o Manual de Redação da
Folha de S. Paulo a acolhe” (1999, p. 39).
9. Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 199), por seu lado, é taxativo para
aceitar a correção de uso de tal expressão, realçando que, em tal caso, a
expressão há de permanecer invariável: a) “Segue em anexo uma folha”;
b) “Seguem em anexo as fotografias”.
10. Após referir que anexo é, originariamente, um adjetivo, que se flexiona
normalmente em gênero e número, concordando com o substantivo por
ele modificado, assim justifica Luciano Correia da Silva a
possibilidade de emprego da expressão em anexo: “No entanto, como
todo adjetivo pode ser substantivado, anexo pode também significar
‘aquilo que está ligado como acessório’ (cf. Aurélio) e, nesta acepção,
indicar peças ou dados que formam um corpo especial, que se ajunta ou
acrescenta à petição ou aos autos: anexo 1, anexo 2 etc. Portanto, neste
sentido, é possível dizer que certa prova ou documento vem ou se acha
em anexo, em uma, duas ou mais folhas… Em anexo, isto é, em parte
que se junta ou se acrescenta, que se insere ou inclui. Exatidão ainda
mais saliente se nota quando alguém junta todo um processado ou
apenso aos autos principais. Por isso, é necessário prudência em
algumas críticas ou censuras, que vão passando de pais para filhos, sem
questionamento ou distinção…” (1991, p. 168).
11. Na lição de Antonio Henriques, em obra que escreveu sozinho, essa
expressão “tem valor adverbial consagrado pelo uso, embora alguns a
repilam” (1999, p. 17).
12. Para resumir, quer pelo extenso e prolongado uso – fator de extrema
importância em tais casos – quer pela ausência de elementos mais
sólidos para sua condenação, quer pela própria aprovação de autores de
relevo em nosso idioma, parece mais adequado aceitar seu normal
emprego, com a observação de que se trata de locução invariável.
Ver Anexo (P. 115).

Em apenso – Está correto?


1. A expressão invariável em apenso, embora corrente, não tem a
aprovação de muitos, a exemplo de sua sinônima em anexo.
2. Para se ter a ideia do repúdio de alguns gramáticos, tal expressão não é
mencionada por Silveira Bueno, nem por Carlos Góis, nem por Aires da
Mata Machado Filho (1969c, p. 443-4), o qual se reporta às lições dos
primeiros.
3. Anotam, porém, Antonio Henriques e Maria Margarida de Andrade que
tal locução “embora criticada por alguns, é corrente na área jurídica”,
dando tais autores o exemplo do art. 261 do Código de Processo Civil:
“O réu poderá impugnar no prazo da contestação o valor atribuído à
causa pelo autor. A impugnação será autuada em apenso…” (1999, p.
40).
4. Na lição de Antonio Henriques, essa expressão constitui “locução
adverbial, criticada por alguns, mas de uso mesmo na linguagem
jurídica” (1999, p. 21)
5. Regina Toledo Damião e Antonio Henriques (1994, p. 227), sem
concordância ou discordância, apenas observam ser “corrente a
expressão”, “embora sem merecer a aprovação de muitos”.
6. José de Nicola e Ernani Terra, todavia, se postam de modo contrário ao
emprego da expressão, assim fundamentando: “Embora sejam comuns,
na linguagem comercial e jurídica, as expressões em anexo e em apenso
devem ser evitadas, pois, como dissemos, tais palavras são adjetivos e
não advérbios. Observe que jamais alguém diria: ‘As promissórias
seguem em incluso’. Por que então dizer em anexo, em apenso?” (2000,
p. 31).
7. No campo do Direito e nos próprios textos legais, constata-se a
normalidade de seu uso, e o Código de Processo Civil a empregou ao
menos em dois lugares: no já citado art. 261 e no art. 996, parágrafo
único: “O incidente de remoção correrá em apenso aos autos do
inventário”.
8. Para resumir, quer pelo extenso e prolongado uso – fator de extrema
importância em tais casos – quer pela ausência de elementos mais
sólidos para sua condenação, quer pela própria aprovação de autores de
relevo em nosso idioma, além de seu uso em textos de lei, parece mais
adequado aceitar seu normal emprego, com a observação de que tal
locução não se há de flexionar, mas se manterá invariável.
Ver Apenso (P. 127).

Embaixadora ou Embaixatriz?
1. Como é ensino de Celso Cunha (1970, p. 96), “de embaixador, há,
convencionalmente, dois femininos: embaixatriz (a esposa do
embaixador) e embaixadora (funcionária chefe da embaixada)”.
2. Nesse sentido é a lição de Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 31).
3. Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 134) também faz a diferença:
embaixadora é a “mulher que exerce a função de representante
diplomática”; embaixatriz é “esposa de embaixador”.
4. Não destoa desse entendimento Arnaldo Niskier, ao lembrar que
“embaixador possui dois femininos com significados diferentes:
embaixatriz é a esposa do embaixador, embaixadora é a mulher que
exerce o cargo de embaixador”.
5. E “para mostrar que não é só o povo que comete erros”, tal autor lembra
[em 1992] que “o presidente Collor nomeou a apresentadora de TV
Angélica, que nem casada é, embaixatriz da criança” (NISKIER, 1992,
p. 30).

Embargo e Embargos
1. Em termos de técnica jurídica, o embargo traz em si a ideia de
impedimento, obstáculo, estorvo, embaraço, medida de oposição a
algum ato, como aquele que se faz extrajudicialmente, para que o
construtor não continue na execução de determinada obra (CPC/1973,
art. 935). Confira-se, nesse sentido, o conceito que lhe é dado por De
Plácido e Silva: “meio ou medida de oposição a ato ou ação de outrem,
para que os impeça ou seja suspensa a sua execução” (1989, p. 143).
2. Já em embargos se vê com nitidez a ideia de um recurso judicial para
oposição em diversas circunstâncias, como se dá em várias previsões da
legislação processual civil em vigor (DINIZ, 1998, p. 291).
3. No aspecto gramatical, embargo é palavra do singular e, quando
desempenha a função sintática de sujeito, pede o verbo em concordância
no singular, não havendo problema algum nesse campo. Ex.: “O
embargo extrajudicial foi feito na exata consonância com o disposto no
art. 935 do Código de Processo Civil”.
4. Em sequência, parta-se do princípio de que, em Português, há certos
substantivos que se empregam só no plural (e a eles se juntam aqueles
que têm sentido diferente no singular e no plural, como
embargo/embargos (CUNHA, 1970, p. 89): anais, arredores, esponsais,
núpcias, pêsames, víveres. Se essas palavras plurais exercem a função de
sujeito, o verbo há de concordar com elas no plural. Exs.: a) “Os
pêsames devem ser dados com parcimônia e sobriedade”; b) “Os víveres
não chegaram a tempo para a comemoração”.
5. E embargos, na significação de recurso processual, é exatamente uma
palavra plural, que, quando funciona como sujeito, exige o verbo no
plural, como é de fácil comprovação no Código de Processo Civil. Exs.:
a) “Cabem embargos infringentes…” (CPC/1973, art. 530); b) “Os
embargos serão restritos…” (CPC/1973, art. 530); c) “Cabem embargos
de declaração…” (CPC/1973, art. 535); d) “Os embargos serão
opostos…” (CPC/1973, art. 536); e) “Os embargos de declaração
interrompem o prazo…” (CPC/1973, art. 538); f) “O devedor poderá
opor-se à execução por meio de embargos, que serão autuados em
apenso…” (CPC/1973, art. 736); g) “Não são admissíveis embargos do
devedor antes de seguro o juízo” (CPC/1973, art. 737); h) “Na execução
fundada em título judicial, os embargos só poderão versar …”
(CPC/1973, art. 741); i) “Na execução por carta, os embargos serão
oferecidos no juízo deprecante ou no juízo deprecado…” (CPC/1973,
art. 747); j) “Os embargos podem ser de terceiro senhor e possuidor, ou
apenas possuidor…” (CPC/1973, art. 1.046, § 1º); k) “Admitem-se ainda
embargos de terceiro…” (CPC/1973, art. 1.047); l) “Os embargos podem
ser opostos a qualquer tempo …” (CPC/1973, art. 1.048); m) “Os
embargos serão distribuídos por dependência e correrão perante o
mesmo juiz que ordenou a apreensão” (CPC/1973, art. 1.049); n)
“Quando os embargos versarem sobre todos os bens…” (CPC/1973, art.
1.052); o) “Os embargos poderão ser contestados no prazo de dez (10)
dias…” (CPC/1973, art. 1.053); p) “No prazo previsto no artigo anterior,
poderá o réu oferecer embargos, que suspenderão a eficácia do
mandado inicial. Se os embargos não forem opostos…” (CPC/1973, art.
1.102c); q) “Os embargos independem de prévia segurança do juízo e
serão processados nos próprios autos, pelo procedimento ordinário”
(CPC/1973, art. 1.102, § 2º).
6. Outros diplomas legais seguem normalmente essa regra de que embargos
é palavra plural e, quando sujeito, leva o verbo a concordar no plural.
Exs.: a) “Os embargos infringentes, instruídos, ou não, com documentos
novos, serão deduzidos, no prazo de 10 (dez) dias…” (art. 34, § 2º, da
Lei 6.830, de 22/9/80, que dispôs sobre a cobrança judicial da Dívida
Ativa da Fazenda Pública); b) “Cabem embargos infringentes…”
(RISTJ, art. 260); c) “Os embargos serão fundamentados e entregues no
protocolo do Tribunal…” (RISTJ, art. 261); d) “Aos acórdãos proferidos
pela Corte Especial, pelas Seções ou pelas Turmas, poderão ser opostos
embargos de declaração…” (RISTJ, art. 263, caput); e) “Se os embargos
forem manifestamente incabíveis…” (RISTJ, art. 263, § 2º); f) “Os
embargos de declaração suspendem o prazo…” (RISTJ, art. 265); g)
“Das decisões da Turma, em recurso especial, poderão, em quinze dias,
ser interpostos embargos de divergência…” (RISTJ, art. 266); h) “Os
embargos serão juntados aos autos independentemente de despacho e
não terão efeito suspensivo” (RISTJ, art. 266, § 2º); i) “Cabem embargos
de divergência à decisão de Turma…” (RISTF, art. 330); j) “Cabem
embargos infringentes à decisão não unânime do Plenário ou da Turma”
(RISTF, art. 333); k) “Cabem embargos de declaração, quando houver
no acórdão…” (RISTF, art. 337); l) “Os embargos declaratórios serão
interpostos no prazo de cinco dias” (RISTF, art. 337, § 1º); m) “Se os
embargos forem recebidos, a nova decisão se limitará a corrigir…”
(RISTF, art.338); n) “Os embargos declaratórios suspendem o prazo
para interposição de outro recurso…” (RISTF, art. 339).
7. Por fim, nunca é demais repetir que descabido é querer dizer “segue
embargos”, a pretexto de que estaria subentendida a ideia de uma petição
de embargos. Também inviável raciocinar com a ideia de que em
embargos, não importando sua espécie, está ínsita a ideia de recurso, de
modo que se estaria, em última análise, dizendo: “segue (recurso de)
embargos declaratórios”. Em verdade, se se apresentarem essas novas
orações, ainda que o sentido possa ser o mesmo, a realidade gramatical e
sintática há de ser outra: petição ou recurso (palavras do singular)
passam a ser os núcleos dos sujeitos e exigirão a concordância do verbo
no singular.
8. Confira-se, assim, a correção dos seguintes exemplos: a) “Seguem
embargos”; b) “Segue a petição de embargos”; c) “Segue o recurso de
embargos de declaração”.

Embargos à Execução – Interpor ou opor?


Ver Interpor ou Opor? (P. 422)

Embargos à execução ou Embargos a execução?


1. Uma leitora indaga se a expressão correta é embargos à execução ou
embargos a execução.
2. Ora, quando se tem uma indagação como essa, que procura saber se
existe crase ou não antes de um nome comum do feminino (execução),
deve-se partir do princípio de que crase é a fusão de duas vogais
idênticas, e o encontro mais corriqueiro dessa natureza é o da preposição
“a” com o artigo feminino “a” ou “as”, com o resultado de à ou às.
3. E, na prática, quando se quer saber se há crase antes de um substantivo
comum feminino (como é o vocábulo execução no caso da consulta), o
melhor é substituir mentalmente tal substantivo feminino por um
correspondente masculino, como, por exemplo, embargos ao
cumprimento de sentença ou embargos ao leilão judicial.
4. Feito esse raciocínio simples, então se aplica a seguinte regra geral de
crase: se, com a substituição, aparece ao ou aos no masculino, então há
crase no feminino.
5. E, assim, se conclui, para o caso da consulta, que o correto é embargos à
execução, e não embargos a execução. Exs: a) “Os embargos à execução
foram opostos com a observância dos pressupostos e requisitos”
(correto); b) “Os embargos a execução foram opostos com a observância
dos pressupostos e requisitos” (errado).
6. Exemplos desse correto emprego da expressão constam em diversos
dispositivos do Código de Processo Civil de 1973, nos arts. 475, II, 520,
V, 542, § 3º, 736, parágrafo único e 791, I.

Embargos de declaração: interpor ou opor?


Ver Interpor ou Opor? (P. 422)

Embora
Ver Indicativo por Subjuntivo (P. 411) e Embora que (P. 305).

Embora que
1. Heráclito Graça (1904, p. 244) defende a correção de tal sintaxe e aponta
seu emprego em Padre Manuel Bernardes e Antônio Feliciano de
Castilho: a) “Embora que me custe…”; b) “Embora que me exponha…”.
Ver Indicativo por Subjuntivo (P. 411).

Em branco – Está correto?


Ver Em aberto – Está correto? (P. 301) e Papel em branco – Está correto?
(P. 544)

Em chefe – Existe?
1. A questão que se põe é saber se existem expressões como comandante-
chefe e comandante em chefe, médico-chefe e médico em chefe, redator-
chefe e redator em chefe.
2. Décadas passadas, Napoleão Mendes de Almeida lecionava que, em
expressões como redator-em-chefe (grafia da época, com hífen), o que se
tem é um substantivo composto, cujo segundo elemento tem a finalidade
de conferir qualidade ao primeiro, razão pela qual não havia motivo para
se antepor à palavra chefe a preposição em.
3. Para ele, seriam errôneas, assim, por configurarem galicismos,
expressões como comandante em chefe ou redator em chefe, as quais
deveriam ser substituídas simplesmente por comandante-chefe e redator-
chefe. (ALMEIDA, 1981, p. 94)
4. Nesse sentido também o ensino de João Ribeiro (1923, p. 249).
5. De igual modo, assim pensa Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 268), que
lança expressões como redator em chefe no rol dos galicismos.
6. Ao inseri-la também no rol dos galicismos fraseológicos ou sintáticos,
acrescenta Eduardo Carlos Pereira (1924, p. 260-2) que esse modo de
dizer é um daqueles que “são verdadeiras deturpações da língua, contra
as quais devemos estar premunidos”.
7. Ao discorrer sobre a preposição em, Luiz A. P. Vitória (1969, p. 98)
observa que ela “entra em muitas construções erradas” e dá como
exemplos general em chefe e redator em chefe, expressões que manda
substituir por generalíssimo e redator-chefe.
8. Aparentando, contudo, aprovação à estrutura discutida, ao exemplificar
que a preposição em “às vezes é mero expletivo”, exemplifica Alfredo
Gomes (1924, p. 414), por primeiro, com a expressão general em chefe.
9. Em outra passagem, porém, diz ele (GOMES, 1924, p. 469) constituir
galicismo sintático frequente “o emprego da preposição em nos
compostos”, exemplificando com redator em chefe.
10. E, logo em seguida, assevera ser hoje corrente a expressão general em
chefe.
11. Domingos Paschoal Cegalla, no verbete específico, manda que se evite
a construção comandante em chefe, por ser “cópia do francês
commandant en chef” (1999, p. 77).
12. Ao lhe indagarem qual a diferença entre médico-chefe e médico em
chefe, Cândido de Figueiredo respondia de modo taxativo: “É que
médico-chefe é forma portuguesa, e médico em chefe, construção
francesa” (1943, p. 104).
13. Também demonstrando seu posicionamento no sentido de que errônea
é a expressão, observa Vasco Botelho de Amaral (1943, p. 177-8) ser
claro que, “além de se poder suprimir o em, traduz-se perfeitamente o
in chief inglês (ou o en chef francês) por supremo, mor, etc.”, e se pode
corrigir “cortando simplesmente o em: comandante-chefe”.
14. Evanildo Bechara, por seu lado, tem posição divergente: “Tem-se, sem
maior exame, condenado este emprego da preposição em como
galicismo…, mas é linguagem hoje comuníssima e corrente nas
principais línguas literárias modernas” (1974, p. 292).
15. Em mesma esteira, José Oiticica (1954, p. 23) arrola tal construção
entre aquelas que “parecem galicismos ou erros”, mas “não o são”.
16. E Mário Barreto (1954a, p. 247-248) traz diversos exemplos de
emprego de expressões como general em chefe, comandante em chefe,
comando em chefe em autores insuspeitos, como Rui Barbosa, Camilo
Castelo Branco, Ramalho Ortigão, Rebelo da Silva, Júlio Dinis.
17. Heráclito Graça (1904, p. 293), mostrando aprovar a sintaxe em
discussão, refere que, compulsando a legislação portuguesa do início
do século XIX, encontrou o art. 181 do Decreto de 21 de fevereiro de
1816 – diploma esse que regulamentou a organização do exército de
Portugal – o qual estava assim redigido: “O exército será composto de
um general em chefe, que o comandará”.
18. O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia
Brasileira de Letras, que é o veículo oficial para determinar quais as
palavras que pertencem ao nosso léxico, bem como qual sua adequada
grafia, em sua edição já posterior ao Acordo Ortográfico de 2008,
registra, por um lado, comandante-chefe e comandante em chefe; num
segundo aspecto, faz constar médico-chefe, mas não médico em chefe;
por fim, não traz redator-chefe, nem redator em chefe (2009, p. 205 e
535).
19. Assim, do que consta da palavra oficial do VOLP, podem-se extrair
duas conclusões importantes: a) ao registrar comandante-chefe e
médico-chefe, demonstra a clara possibilidade de criação de outros
substantivos compostos com estrutura semelhante, dentre os quais
redator-chefe; b) ao fazer constar comandante em chefe, fixa como
vernácula a expressão em chefe e permite a construção de outras
estruturas sintáticas similares, como médico em chefe e redator em
chefe (assim sem hífen, ante a nova sistematização trazida pelo Acordo
Ortográfico de 2008).

Em conformidade ou De conformidade?
Ver De conformidade ou Em conformidade? (P. 253)

Em consonância
1. Para essa expressão, que tem por sentido de acordo com, Celso Pedro
Luft (1999, p. 124) vê tríplice possibilidade de sintaxe: em consonância
a, em consonância com, em consonância de: a) “Em consonância ao que
ele diz ou prega”; b) “Agir em consonância com princípios morais”; c)
“Suas ações estão em consonância do que ele diz”.
Ver Consonância (P. 222).

Em cores ou A cores?
Ver A cores ou Em cores? (P. 73)

Em definitivo – Galicismo?
1. Vitório Bergo censura o emprego dessa locução, por corresponder ao
francês en définitive.
2. Para solucionar o problema, prega sua substituição por definitivamente
ou terminantemente (BERGO, 1944, p. 98).

Em domicílio ou A domicílio?
Ver A domicílio ou Em domicílio? (P. 82)

Em duplicata ou Em duplicado?
1. Existe em português o substantivo duplicata, que é “o título que se extrai
em consequência de uma venda mercantil, quando feita para pagamento
a prazo, entre comprador e vendedor, domiciliados no país”,
assemelhando-se, em natureza jurídica, à letra de câmbio, à nota
promissória e ao cheque (DE PLÁCIDO E SILVA, 1989, p. 130).
2. Quanto à expressão em duplicata, para significar “em dois exemplares de
mesmo teor”, todavia, Napoleão Mendes de Almeida (1981, p. 95)
assevera não haver registro de sua existência nos melhores dicionários,
aconselhando, nesse sentido, o uso da expressão em duplicado.
3. Vejam-se, assim, os seguintes exemplos, com indicação de seu acerto ou
erronia, na lição do referido autor: a) “O instrumento de venda e compra
foi juntado aos autos em duplicata” (errado); b) “O instrumento de
venda e compra foi juntado aos autos em duplicado” (correto).
4. O erro, contudo, encontra-se tão arraigado entre nós, que a própria
Convenção Ortográfica entre o Brasil e Portugal, um documento que
buscava estabelecer regras específicas para a língua portuguesa entre os
dois países, firmado pelos respectivos Plenipotenciários em 1943, para
significar que a convenção fora confeccionada em duas vias, uma para
cada qual dos signatários, registrava de modo literal: “Feita em
duplicata, em Lisboa, aos 29 de dezembro de 1943”.

É-me… – Está correto?


1. Um leitor indaga se está correta a colocação do pronome na seguinte
frase: “É-me sumamente grato cumprimentar Vossa Excelência”.
2. Ora, um pronome como esse chama-se pronome pessoal oblíquo átono:
a) pronome pessoal, porque está em lugar de um nome, que representa
uma pessoa do discurso; b) oblíquo, porque faz uma função de objeto (se
fosse de sujeito, seria pronome reto); c) átono (e não tônico), porque não
tem autonomia sonora.
3. Por ser átono, esse pronome depende da tonicidade do verbo por ele
completado, de modo que a questão de colocação do pronome cinge-se a
verificar onde a sonoridade melhor aconselha seu posicionamento no
caso: antes ou depois do verbo.
4. Se o pronome átono vem antes do verbo, diz-se que há próclise. Ex.:
“Não me é sumamente grato cumprimentar Vossa Excelência”.
5. Se o pronome átono vem no meio do verbo, diz-se que há mesóclise.
Ex.: “Ser-me-á sumamente grato cumprimentar Vossa Excelência”.
6. Se o pronome átono vem depois do verbo, diz-se que há ênclise. Ex.: “É-
me sumamente grato cumprimentar Vossa Excelência”.
7. Considerando especificamente a indagação do leitor, podem-se fazer as
seguintes afirmações para o exemplo por ele enviado: a) não pode haver
próclise, porque, em linguagem culta, não é correto um pronome pessoal
oblíquo átono começar a frase; b) também não pode haver mesóclise,
porque esta só acontece no futuro do presente e no futuro do pretérito, e
o verbo do caso da consulta está no presente do indicativo; c) a ênclise,
assim, é a única opção restante e que se amolda às regras gramaticais de
colocação de pronomes; d) está, portanto, perfeitamente correta a
colocação no seguinte exemplo: “É-me sumamente grato cumprimentar
Vossa Excelência”.

Em epígrafe – Existe?
1. Um leitor indaga se é correta a expressão em epígrafe numa frase como
“nos autos do processo em epígrafe”.
2. Ora, epígrafe é palavra que existe de modo regular em nosso idioma,
como atesta o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, editado
pela Academia Brasileira de Letras, que é o órgão que detém a delegação
legal para listar oficialmente os vocábulos que pertencem ao vernáculo
(2009, p. 324).
3. Originária do grego (epi = em cima + grafe = escrever), tem, como um
de seus significados, o de uma palavra ou expressão posta no começo,
em destaque, em um texto ou documento. E, nessa acepção, será,
portanto, sinônima de destaque.
4. Assim, numa petição em que, no início do texto, foi posto em destaque o
número do processo, poderá haver, em seu meio, uma referência como a
da consulta, a saber, “nos autos do processo em epígrafe”, do mesmo
modo que se poderia dizer “nos autos do processo em destaque”.

Em face a ou Em face de?


Ver Face a, Em face a ou Em face de? (P. 350)

Em folhas ou A folhas?
Ver A folhas vinte e duas – Como é a forma correta? (P. 94)

Em frente a, Em frente de ou Frente a?


Ver Frente a, Em frente a ou Em frente de? (P. 364)

Em função de
1. Domingos Paschoal Cegalla insurge-se contra o emprego dessa
expressão como locução prepositiva causal.
2. É sua lição taxativa: “Não nos parece correto usar esta locução com
sentido causal, equivalente de por causa de, em virtude de”.
3. E acrescenta: “Entendemos que deve ser usada com sentido de finalidade
ou de dependência, correlação” (CEGALLA, 1999, p. 135).
4. Alinham-se, a seguir, alguns exemplos, com o apontamento de sua
correção ou incorreção, de acordo com a doutrina do referido gramático:
a) “Ele ficou doente em função do trabalho excessivo” (= por causa de –
errado); b) “Ele se afastou de algumas atividades em função do cargo
que passou a ocupar” (= em virtude de – errado); c) “Os jovens devem
escolher o caminho em função de suas tendências e habilidades” (=
tendo em vista – correto); d) “No Direito atual, os poderes do Estado
são estatuídos em função dos imperativos da sociedade civil” (= tendo
por finalidade – correto).

Em + gerúndio – É correto?
1. Um leitor observa que é muito utilizada a preposição em antes de verbos
no gerúndio, no início de frases, para estabelecer uma condição: em
ocorrendo, em havendo… E faz duas indagações: a) é correta uma
construção como essa?; b) não ficaria melhor dizer “se ocorrer” ou
“quando houver”?
2. Num primeiro aspecto, afirme-se a correção dessas construções em que o
gerúndio se faz preceder da preposição em. Exs. a) “Em se levantando,
saía”; b) “Em ocorrendo a condição prevista, o negócio estará
automaticamente desfeito”.
3. Carlos Henrique Rocha Lima anota que uma das funções da preposição
em é exatamente preceder o gerúndio, “exprimindo, sobretudo, tempo e
condição”. E exemplifica com excerto de Rui Barbosa: “A vida não tem
mais que duas portas: uma de entrar, pelo nascimento; outra de sair,
pela morte. Ninguém, cabendo-lhe a vez, se poderá furtar à entrada.
Ninguém, desde que entrou, em lhe chegando o turno, se conseguirá
evadir à saída” (1972, p. 345).
4. Cândido Jucá Filho, por sua vez, leciona que, nesses casos, a referida
preposição “introduz gerúndios, para insistir na ideia de concomitância”.
E exemplifica: “Em me vendo, ele logo se lembrará do prometido”
(1963, p. 233).
5. E Celso Cunha assim justifica a referida construção: “Precedido da
preposição em, o gerúndio marca enfaticamente a anterioridade imediata
da ação com referência à do verbo principal” (1970, p. 231).
6. Napoleão Mendes de Almeida ainda faz três observações: a) o gerúndio
“invade, nesse caso, a esfera do particípio presente latino”; b) “não se vá
julgar necessária a preposição em em tal caso”; c) “limita-se seu uso à
língua culta” (1981, p. 96).
7. Também interessante a ponderação de Domingos Paschoal Cegalla
(1999, p. 133-4): “É simplesmente enfática, portanto não necessária, a
preposição em antes de gerúndio, em orações que exprimem tempo ou
condição, como as frases: Em aparecendo febre, ela chama a vizinha. /
Em se tratando de casos graves, ele atende prontamente. / Em se
removendo a causa, cessarão os efeitos. / ‘Em chegando a hora, saberei
como agir.’ (Aurélio) / ‘Ande, aparente calma, mas, em chegando à
esquina, chispe.’ (Ciro dos Anjos, O Amanuense Belmiro, p. 80)”.
8. Gladstone Chaves de Melo (1978, p. 204-5) chega a afirmar que uma das
funções da preposição em é exatamente reger o gerúndio em
determinadas circunstâncias. E traz exemplos de abalizados escritores
para abonar seu ensino: a) “Ninguém, desde que entrou [neste mundo],
em lhe chegando o turno, se conseguirá evadir à saída” (Rui Barbosa);
b) “… ele, em se tratando da própria consideração, mentia sem
dificuldade” (Machado de Assis).
9. Por fim, respondendo diretamente à indagação do leitor: a) em casos
como os trazidos para análise, tanto é correto dizer o verbo no gerúndio
precedido pela preposição em (em ocorrendo, em havendo), como é
correta a supressão da preposição em antes do gerúndio, ou a extensão
do verbo, com o surgimento da conjunção e o desaparecimento da
preposição e do gerúndio (se ocorrer, quando ocorrer, se houver,
quando houver); b) como não é difícil perceber, nesses casos de um
gerúndio precedido pela preposição em, indica-se uma condição (se) ou
um tempo (quando); c) sintaticamente, as três construções se equivalem
quanto à correção gramatical, muito embora a construção com a
preposição em seja quase que exclusiva da norma culta; d) a escolha,
assim, fica ao talante do usuário; e) por fim, com o verbo no gerúndio e
manutenção ou não da preposição, estará correto qualquer desses
exemplos: (Em me levantando ou Levantando-me, Em ocorrendo ou
Ocorrendo, Em lhe chegando ou Chegando-lhe, Em me vendo ou Vendo-
me, Em aparecendo ou Aparecendo, Em se tratando ou Tratando-se, Em
se removendo ou Removendo-se, Em chegando ou Chegando).

Eminência ou Iminência?
1. Eminência significa elevação, altura, proeminência, ou, ainda, é o
pronome de tratamento reservado aos cardeais. Exs.: a) “A eminência de
seu cargo o autorizava a proceder daquela forma”; b) “Sua Eminência
fora chamado a Roma pelo papa, para um assunto muito importante”.
2. Já iminência quer dizer qualidade do que é iminente, do que está prestes
a acontecer. Ex.: “O réu estava na iminência de ser preso”.
3. Atento aos frequentes equívocos no emprego de ambas as palavras, o
próprio Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia
Brasileira de Letras, órgão incumbido oficialmente de determinar a
existência dos vocábulos em nosso idioma, além de sua grafia oficial,
mesmo fugindo a seu normal proceder e finalidade de apenas listar
palavras, acaba por precisar a exata significação de ambos os vocábulos:
eminência tem por conteúdo semântico alteza, e iminência quer dizer
proximidade (2009, p. 308 e 450).
Ver Eminente ou Iminente? (P. 308)
Eminente ou Iminente?
1. Eminente significa alto, elevado, ilustre, importante, nobre, notável,
sublime. Ex.: “O eminente magistrado proferiu a sentença”.
2. Já iminente quer dizer imediato, prestes a ocorrer, provável, próximo.
Exs.: a) “A prisão do réu estava iminente”; b) “O possuidor, que tenha
justo receio de ser molestado na posse, poderá impetrar ao juiz que o
segure da violência iminente, cominando pena a quem lhe transgredir o
preceito” (CC/1916, art. 501).
3. Talvez em decorrência dos frequentes equívocos no emprego de ambas
as palavras, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da
Academia Brasileira de Letras, órgão incumbido oficialmente de
determinar a existência dos vocábulos em nosso idioma, além de sua
grafia oficial, mesmo fugindo a seu normal proceder e finalidade de
apenas listar palavras, acaba por precisar a exata significação de ambos
os vocábulos: eminente é alto, e iminente significa próximo (2009, p.
308 e 450).
Ver Eminência ou Iminência? (P. 308)

Emissão ou Imissão?
1. Do latim emissione, emissão significa o ato de emitir, de expelir, de pôr
em circulação. Ex.: “A emissão de cheque sem fundos pode tipificar
estelionato”.
2. Também do latim immissione, imissão quer dizer o ato ou efeito de
imitir, de fazer entrar, de investir em. Ex.: “O autor requereu ao juiz a
imissão na posse do imóvel abandonado pelo réu”.
3. Em razão dos frequentes equívocos no emprego de ambas as palavras, o
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira
de Letras, órgão incumbido oficialmente de determinar a existência dos
vocábulos em nosso idioma, além de sua grafia oficial, mesmo fugindo a
seu normal proceder e finalidade de apenas listar palavras, acaba por
precisar a exata significação de ambos os vocábulos: emissão significa
envio, enquanto imissão quer dizer entrada (2009, p. 308 e 450).
Ver Imissão na posse ou Imissão de posse? (P. 394)
Emitir ou Imitir?
1. Do latim emittere, emitir quer dizer lançar de si, pôr em circulação. Ex.:
“Emitir cheque sem provisão de fundos pode tipificar estelionato”.
2. Já do latim immittere, imitir significa fazer entrar, investir em. Exs.: a)
“O juiz imitiu o autor na posse do imóvel abandonado pelo réu”; b) “Os
herdeiros, para se imitirem na posse dos bens do ausente, darão
garantias da restituição deles, mediante penhores, ou hipotecas
equivalentes aos quinhões respectivos” (CC, art. 30, caput); c) “Se o
expropriante alegar urgência e depositar quantia arbitrada de
conformidade com o art. 685 do Código de Processo Civil (refere-se ao
Código de 1939), o juiz mandará imiti-lo provisoriamente na posse dos
bens” (Decreto-Lei 3.365, de 21/6/41, art. 15).
3. Em decorrência dos frequentes equívocos no emprego de ambas as
palavras, o próprio Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da
Academia Brasileira de Letras, órgão incumbido oficialmente de
determinar a existência dos vocábulos em nosso idioma, além de sua
grafia oficial, mesmo fugindo a seu normal proceder e finalidade de
apenas listar palavras, acaba por precisar a exata significação de ambos
os vocábulos: emitir tem por conteúdo semântico enviar ou fazer sair,
enquanto imitir quer dizer fazer entrar (2009, p. 308 e 450), exatamente
o oposto.

Em mão ou Em mãos?
1. Dois leitores querem saber qual a forma correta: em mão ou em mãos? E
um deles indaga qual o seu real significado?
2. Ora, a entrega de uma determinada carta ou objeto ao respectivo
destinatário pode ser confiada a alguém em particular, e não ao correio.
É exatamente desse modo de entrega de correspondência que se diz em
mão, ou em mãos, ou em mão própria, ou em mãos próprias.
3. E, no sobrescrito da carta, costuma-se abreviar E. M. ou E. M. P.
4. Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (2010, p. 1.332-3) e Cândido Jucá
Filho (1963, p. 409) trazem apenas a forma no singular para ambas as
expressões; já Antônio Houaiss as registra no singular e no plural (2001,
p. 1.843). E todos sem comentário algum acerca de uma ou de outra
posição.
5. Domingos Paschoal Cegalla, por seu lado, justifica que “as duas formas
são corretas, mas no Brasil se emprega geralmente em mãos” (1999, p.
136).
6. Ante esse quadro, a postura mais adequada parece ser aquela que dá por
corretas todas essas formas de expressão.

Em nível de, A nível de, Ao nível?


Ver A nível de, Ao nível de ou Em nível de? (P. 116)

Em nome de – É correto?
1. Um leitor indaga se é correto, por exemplo numa coluna de jornal,
saudar todos os aniversariantes de um determinado dia em nome de
alguém conhecido e ilustre. E, nesse caso, a pessoa especificamente
nomeada seria homenageante ou homenageada?
2. A dúvida do leitor deve ter surgido por haver ele atentado, apenas e tão
somente, ao fato de que a expressão em nome de pode significar, por um
lado, em lugar de, mas com a específica acepção de como se fosse
(alguém). Ex.: “Apresentou-se à delegacia em nome do irmão”
(HOUAISS; VILLAR, 2001, p. 2.024).
3. O certo, contudo, é que, a par dessa possibilidade de sentido, também é
frequente e correto o emprego do referido vocábulo para indicar uma
representatividade de diversas outras pessoas em uma que é mais
conhecida, para simbolizar nesta a homenagem feita aos demais.
4. É o que se dá, por exemplo, num discurso, em que o orador saúda todos
os presentes no nome (ou na pessoa) do presidente da sessão. É também
o que se dá com a extensão dos cumprimentos a todos os aniversariantes
do dia, quando feitos expressamente no nome ou na pessoa de um
aniversariante mais conhecido.
5. Assim, de modo específico para as indagações do leitor, podem-se fazer
as seguintes considerações: a) por um lado, é correto o emprego da
expressão em nome de para significar em lugar de, com a específica
acepção de como se fosse alguém (“Apresentou-se ao delegado em nome
do irmão”); b) por outro lado, também é correto usar tal circunlóquio
para saudar ou homenagear diversas pessoas, tendo-as por representadas
em uma mais conhecida (“Saúdo os presentes no nome do Presidente
desta sessão solene”); c) nesse último caso, a expressão em nome de
também pode ser substituída pelo circunlóquio na pessoa de (“Saúdo os
presentes na pessoa do Presidente desta sessão solene”); d) uma
homenagem assim feita não se resume apenas à pessoa especificamente
mencionada, mas também se estende a todas as demais subentendidas na
referência.

Em nome ou Na pessoa?
Ver Cumprimentar em nome ou Cumprimentar na pessoa? (P. 243)

Em o
Ver Alma minha – É cacófato? (P. 106), Cacófato – O que é? (P. 163), Não
no sei – Está correto? (P. 486) e O Estado de S. Paulo (P. 519).

Em O Estado de S. Paulo
Ver O Estado de S. Paulo (P. 519).

Em ordem a – Anglicismo?
1. Esclarece Vasco Botelho de Amaral que, “atualmente, também se
emprega com frequência em ordem a, talvez por influência do in order to
inglês, que vale o nosso a fim de”.
2. Acrescenta que tal locução é “antiga em nossa língua”, alinhando
exemplo do Padre Manuel Bernardes, em Nova Floresta: “… em ordem
a formarmos mais nobre conceito de Eternidade…” (AMARAL, 1939,
p. 112).

Em ouro – Galicismo?
1. Para os gramáticos atuais, trata-se de galicismo a ser evitado o uso da
preposição em para explicitar a matéria de que é feito um objeto.
2. Essa é a lição de Júlio Nogueira (1959, p. 71), que dá como erradas as
expressões vestido em seda, estátua em bronze, casa em cimento
armado; e manda que se use vestido de seda, estátua de bronze, casa de
cimento armado.
3. Nas palavras textuais de Vitório Bergo, “constitui galicismo o emprego
da preposição em, no lugar de de, para designar a matéria de que se faz
algo” (1944, p. 163).
4. Também de acordo com essa lição, devem-se evitar, assim, expressões
como aliança em ouro, escultura em bronze, estátua em mármore, mesa
em jacarandá, que deverão ser substituídas, em escorreito português, por
aliança de ouro, escultura de bronze, estátua de mármore e mesa de
jacarandá.
5. Apesar desse entendimento da gramática normativa atual, todavia, colhe-
se em Camilo Castelo Branco a expressão “diversos bustos em mármore
e em bronze” (BRANCO apud JUCÁ FILHO, 1963, p. 233).
6. Ao lhe indagarem se um vestido em seda, uma estante em nogueira, um
broche em oiro não seriam galicismos, Cândido de Figueiredo respondia
que sim, “e dos mais charros. Vulgaríssimos todavia em lojas de modas e
domínios adjacentes. Em português, aquilo diz-se: um vestido de seda,
uma estante de nogueira, um broche de oiro” (1943, p. 139-40).
7. Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 133) é taxativo para observar que
“não se usa em, mas de, para especificar a matéria de que alguma coisa é
feita” (estátua de bronze, sapatos de camurça, estante de cedro, casaco
de veludo, mesa de mármore, piso de granito).
8. O uso da preposição em nas expressões vestidos em seda, estátua em
mármore, é tido também por Edmundo Dantès Nascimento como
“construção fraseológica estrangeira”, que deve ser rejeitada, “porque
altera até a maneira de pensar em nossa língua”.
9. Acrescenta ele (NASCIMENTO, 1982, p. 15-7), em outra passagem,
contudo, que, “para indicar o modo, não é estrangeirismo”,
exemplificando com escada em caracol, braço em cruz, janela em arco.
10. Ronaldo Caldeira Xavier (1991, p. 89) insere a expressão estátua em
mármore no rol dos galicismos sintáticos e aconselha sua substituição
por estátua de mármore.
11. Também condenando, em tais casos, por galicismo, o uso da
preposição em, leciona Sousa e Silva que “a matéria de que é feito um
objeto indica-se com a preposição de: crucifixo de marfim, estátua de
mármore, mesa de jacarandá” (1958, p. 223).
12. Cândido Jucá Filho (1981, p. 63) reputa expressões como crucifixo em
marfim ou todo em ouro como galicismos, muito embora observe, com
fundamento em conclusões de Pinheiro Domingues, que “tal maneira
de falar já é vitoriosa em Portugal”.
13. Em sua tarefa de recolher exemplos equivocados frequentemente
publicados nos jornais, Josué Machado deu com um comentário sobre a
biografia de Da Vinci, em que se dizia haver ele imaginado
“escafandros feitos em couro impermeável”.
14. Bem por isso observa tal autor que “expressões como essa – feito em
couro, em madeira, em ferro, joia em ouro, vestido em seda e outras
semelhantes –, com o em no lugar do sadio de, são boas construções
francesas, que podem ser traduzidas em português com o de no lugar
do em”.
15. E questiona ele: “por acaso dizemos corpo em carne e osso?”
16. Ao depois, conclui: “Em português por enquanto as mesas são feitas de
madeira ou de qualquer outra coisa, as estátuas são de mármore, as
joias, de ouro, os copos, de vidro, de cristal, ou seja lá do que for. O em
no lugar do de nessas construções configura o que os especialistas
chamam de galicismo dispensável e indesejável, para não dizer coisa
pior. Não torna a expressão mais elegante nem mais clara nem mais
concisa nem mais nada” (MACHADO, 1994, p. 57).
17. Já Mário Barreto, dando mostras de aprovação a ambas as sintaxes, por
um lado, lembra que, nesses casos, “é um fato que presentemente está
no uso vivo da nossa língua a preposição em: rica mobília em
nogueira, camas em madeira e ferro”.
18. Por outro lado, em explicação de entendimento não muito fácil, assim
justifica as duas formas, reputando-as ambas defensáveis na língua
portuguesa: “Se digo relógio de ouro, quero dizer a matéria de que é
formado o relógio; se digo em ouro, o meu espírito contempla o estado,
a condição, o modo de ser do relógio” (BARRETO, 1954a, p. 317).
19. O solitário posicionamento de Mário Barreto, entretanto, não parece ser
suficiente para autorizar o uso da construção em ouro (ou similar) em
casos que tais, devendo-se preferir a sintaxe de ouro.

Em páginas ou A páginas?
Ver A folhas vinte e duas – Como é a forma correta? (P. 94)

Empasse – Existe?
1. Sabendo-se que é corriqueiro o emprego de impasse no sentido de
situação com dificuldade para uma saída favorável, a questão cinge-se a
saber se existe ou não a palavra empasse em nossa língua.
2. Ora, quando se quer saber se uma palavra existe ou não em português,
deve-se tomar por premissa o fato de que a autoridade para listar
oficialmente os vocábulos do nosso idioma é a Academia Brasileira de
Letras.
3. E essa autoridade, a ABL a exerce por via da edição do Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa.
4. Feitas essa observações, verifica-se, a uma simples consulta ao VOLP,
que nele não se registra o vocábulo empasse, de modo que a forçosa
conclusão é que tal substantivo, por conseguinte, não existe em nosso
léxico.

Empecilho ou Impecilho?
1. Empecilho tem o significado de estorvo, impedimento, obstáculo. Ex:
“Não havia empecilho a que o condenado recebesse o indulto”.
2. Atente-se a sua ortografia, bem como à de seus cognatos (palavras
derivadas do mesmo radical): empecer, empeço.
3. Embora alguns teimem em usar, não existe a forma impecilho.
4. Observe-se, por fim, para que não haja confusão, que empecilho não
deriva de impedir, mas de empecer, que significa embaraçar, estorvar.

Em plena rua – Galicismo?


1. Luiz A. P. Vitória reputa tal construção um “francesismo vulgar”.
2. Para corrigir, manda substituir tal expressão por no meio da rua
(VITÓRIA, 1969, p. 100).

Empossando – Existe?
1. Um leitor, partindo do princípio de que o Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de Letras, registra
outros vocábulos de mesma terminação, como doutorando e
vestibulando, indaga se existe empossando, que o VOLP não registra.
2. Ora, no que tange a esse e a outros vocábulos de estrutura similar, pode-
se dizer que alguns entraram em nosso léxico – quer na língua culta,
quer no linguajar jurídico – por influência erudita: colendo (de collere =
cultuar), despiciendo (de despicere = desprezar), dividendo, educando,
exequendo, interditando, multiplicando e vitando (de vitare = evitar).
3. Já outros se formaram por analogia, como bacharelando (de bacharel, do
francês bachelier, ou bacheler) e vestibulando (sem correspondência em
latim).
4. Luciano Correia da Silva (1991, p. 77) – que lembra a criação e a
existência de outras palavras “à imagem dos gerundivos latinos”, como
“intransigendas roupas” de Castilho, “brancos véus das confessandas”
de Alphonsus de Guimaraens e “não murchandas flores” de Machado de
Assis – transcreve a lição de Gladstone Chaves de Melo, o qual “censura
a criação abusiva de gerundivos como farmacolando, engenheirando,
etc.”
5. Também se posicionando contrariamente à vernaculidade e à
possibilidade de uso de vocábulos assim formados, diz Domingos
Paschoal Cegalla, com referência a odontolando, tratar-se de um
“brasileirismo forjado para designar a pessoa que vai se graduar em
odontologia”, e acrescenta ser “palavra formada por analogia com
doutorando e bacharelando, que se justificam por terem base verbal
(doutorar-se, bacharelar-se)”. Mas conclui tal autor: “Odontolando não
deriva de verbo algum, pois não existe odontolar-se. É, portanto,
vocábulo mal formado, como também o são farmacolando,
agronomando, vestibulando, etc. (1999, p. 293)”
6. Apesar da oposição de tal autor e de outros quanto à existência de
diversas dessas palavras e à própria possibilidade de seu uso no
vernáculo, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da
Academia Brasileira de Letras (2009, p. 31, 40, 296, 316, 364, 544, 592
e 839), que é o veículo oficial indicador das palavras existentes em nosso
idioma, registra normalmente palavras como agronomando (aquele que
cursa Agronomia, ou está para nela graduar-se), alimentando (aquele que
é credor de alimentos), doutorando (aquele que cumpre créditos e
escreve tese para obter o título de doutor), engenheirando (aquele que
cursa Engenharia, ou está para nela graduar-se), farmacolando (aquele
que cursa Farmácia, ou está para nela graduar-se), mestrando (aquele
que cumpre créditos e escreve dissertação com vistas à obtenção do
título de mestre), odontolando (aquele que cursa Odontologia, ou está
para nela graduar-se) e vestibulando (aquele que presta exames
vestibulares para ingresso em cursos universitários).
7. Dessas lições, parece que se podem extrair duas importantes conclusões:
a) apesar da objeção de alguns, a autoridade oficial da ABL, por via da
edição do VOLP, permite o normal emprego de todos esses vocábulos
acima listados; b) mais do que isso, a própria premissa lançada por quem
tem a delegação oficial para listar as palavras existentes em nosso
idioma estabelece uma norma segundo a qual, respeitadas as regras da
respectiva formação, se podem criar validamente outros vocábulos em
idênticas circunstâncias.
8. Reitere-se, agora com especificidade para o caso da consulta: a)
costuma-se dizer – e com total verdade – que a ABL tem autoridade para
listar oficialmente as palavras existentes em nosso idioma; b) e ela o faz
por via da edição do VOLP; c) se um determinado vocábulo está nele
registrado, não há o que discutir quanto a sua existência em nossa língua;
d) ocorre, entretanto, que, para vocábulos formados à imagem dos
gerundivos latinos, o VOLP, por um lado, recepcionou aqueles que
entraram em nosso léxico por via erudita (como colendo, despiciendo,
educando, exequendo, interditando, etc.); e) por outro lado, o VOLP
aceitou, mesmo sem origem em gerundivos latinos, a formação de outros
vocábulos já em nosso idioma (como agronomando, farmacolando,
odontolando e vestibulando); f) mais do que avalizar a existência de tais
vocábulos, o que fez o VOLP foi fixar a regra da possibilidade de
formação de outros com mesma estrutura, desde que respeitadas as
regras da respectiva formação; g) nessa última permissão linguística,
reside exatamente a possibilidade de emprego de empossando,
significando aquele que toma posse.

Emprego abusivo de “de que”


Ver De que (P. 269).

Emprestar – Dar ou Tomar por empréstimo?


1. Domingos Paschoal Cegalla, que vê em tal verbo apenas a acepção de
ceder por algum tempo, gratuitamente ou não, entende que “não é bom
português empregar este verbo na acepção de pedir ou tomar
emprestado” (1999, p. 137).
2. Josué Machado também é do entendimento de que esse verbo apenas
deva ser usado no sentido de dar por empréstimo, jamais tomar por
empréstimo.
3. E acrescenta que “muita gente tropeça no uso do verbo emprestar,
porque no coloquial dos quintais fala-se que ‘o ministro emprestou
dinheiro da empreiteira’, com o significado evidente de que ele tomou,
recebeu, abocanhou, recolheu, capturou um dinheirinho. Uso ruim do
verbo e coisa feia para o ministro” (MACHADO, 1994, p. 209).
4. Luciano Correia da Silva (1991, p. 88) vê como erro comum “arranjar
objeto indireto com de para este verbo, como na frase: ‘Eu emprestei de
fulano esta máquina’”, mandando corrigi-la para “Tomei emprestada (ou
de empréstimo, por empréstimo) esta máquina”.
5. Para Luiz A. P. Vitória (1969, p. 102), “este verbo empregado no sentido
de pedir emprestado é galicismo”, motivo por que, segundo ele, não se
há de dizer “Emprestei um livro de Fulano”, mas “Tomei emprestado um
livro de fulano”.
6. Cândido Jucá Filho (1969, p. 102) reputa brasileirismo seu emprego com
o sentido de tomar por empréstimo, mas ele próprio traz significativos
exemplos de abalizados autores pátrios com essa significação: a) “Então
o doutor foi emprestar da doente a moléstia” (Taunay); b) “Usara do
engenhoso expediente de emprestar da oração algumas palavras
alusivas à sua posição” (José de Alencar).
7. Silveira Bueno também apenas admite para tal verbo a possibilidade de
uso quando o sujeito dele fizer a ação de dar alguma coisa a alguém,
motivo por que “toda vez que o sujeito do verbo não fizer a ação, mas,
ao contrário, recebê-la, não se poderá usar o verbo emprestar, e sim a
expressão tomar ou pedir emprestado” (1938, p. 68).
8. Celso Pedro Luft (1999, p. 234) tem a acepção de tomar ou receber por
empréstimo, de pedir emprestado, na conta de construção popular.
9. Com base em Cândido Jucá Filho, observa Francisco Fernandes que
emprestar de corre em São Paulo em vez de tomar emprestado a. Exs.:
a) “Paulo emprestou um livro a Martinho”; b) “Martinho emprestou um
livro de Paulo”.
10. E, lembrando lição do Padre José Stringari, continua tal autor: “no
sentido de pedir ou tomar emprestado, pedir de empréstimo, receber
por empréstimo, é falar brasileiro dizer-se emprestar de alguém alguma
coisa” (FERNANDES, 1971, p. 265).
11. Conforme designação de Mário Barreto, entretanto, trata-se de palavra
bifronte, porque indica relações duplas, posições recíprocas, com
sentido ora ativo, ora passivo.
12. Aires da Mata Machado Filho (1969f, p. 213), que transcreve a lição do
referido gramático, vê em tais vocábulos termos de significação ativa e
passiva.
13. Na primeira hipótese, significa dar por empréstimo. Exs.: a) “O
proprietário emprestou o imóvel ao amigo”; b) “Quando o uso
consistir no direito de habitar gratuitamente casa alheia, o titular
deste direito não a pode alugar, nem emprestar, mas simplesmente
ocupá-la com sua família” (CC art. 1.414).
14. No segundo caso, tem o sentido de receber por empréstimo. Ex.: “O
réu emprestou o imóvel do proprietário amigo”.
15. Em realidade, ante a divergência entre os gramáticos, o melhor é
ampliar as possibilidade de uso da expressão, aplicando-se o vetusto
princípio de que, na dúvida, há liberdade de uso.
16. Por outro lado, como se vê, o emprego adequado da preposição salva
os equívocos que possam aparecer em tais casos.
17. Antonio Henriques e Maria Margarida de Andrade (1999, p. 70)
também têm tal verbo como portador de ambos os significados: fazer
empréstimo e receber empréstimo.
18. Regina Toledo Damião e Antonio Henriques (1994, p. 234) também
estão de acordo em que tal verbo é bifronte, vale dizer, assume o duplo
aspecto tanto no sentido ativo de dar por empréstimo como no sentido
passivo de receber por empréstimo.

Empréstimo temporário – Está correto?


Ver Pleonasmo – O que é e Quando pode? (P. 565)

Em princípio ou A princípio?
Ver A princípio ou Em princípio? (P. 128)

Em que pese a
1. Aires da Mata Machado Filho vislumbra em tal expressão uma locução
empregada no português antigo, em sentido concessivo, equivalendo a
ainda que.
2. Para ele, o verbo, na referida expressão, fica invariável na terceira
pessoa do singular do presente do subjuntivo e exige a preposição a,
tendo por correto o seguinte exemplo: “Em que pese ao parecer dos
entendidos…” (MACHADO FILHO, 1969c, p. 488).
3. Atente-se a seu real sentido nesse exemplo de Rui Barbosa: “… em que
pese a tais autoridades, sempre a praticaram os nossos melhores
escritores”.
4. Para Eduardo Carlos Pereira (1924, p. 368), trata-se de locução
conjuntiva “de mais amplo uso no século de Gil Vicente”, mas ainda em
regular emprego nos dias de hoje.
5. Antenor Nascentes (1942, p. 111), de igual modo, vê em tal expressão
“um vestígio da antiga conjunção concessiva em que”, exemplificando
com Euclides da Cunha: “Assim se traçou limpidamente, em que pese ao
caráter da indeterminação que lhe davam três incógnitas…”.
6. Nessa mesma esteira se posta a lição de Vitório Bergo, para quem em
que pese ao é expressão de cunho clássico, em que a partícula em está
por ende, com o sentido de ainda, a qual fica invariável, vindo ultimada
por preposição: “… em que pese às injustiças d’el rei” (1944, p. 99).
7. Arnaldo Niskier é taxativo, para observar que, nesses casos, “a
preposição não pode ser omitida” (1992, p. 31).
8. Observando que, na referida expressão, “o primeiro elemento não é a
preposição”, mas “vale o mesmo que ainda”, esclarece Sousa e Silva,
por um lado, que, em tais casos, obrigatória é a construção com a
preposição a; por outro lado, realça ser um erro “converter o objeto em
sujeito, como fazem muitos”: “em que pese às razões” (e não: em que
pesem as razões); “em que pese às circunstâncias” (e não: em que pesem
as circunstâncias); “em que pese às dificuldades” (e não: em que pesem
as dificuldades).
9. E conclui tal autor seu pensamento: “O verbo pesar, nesse caso,
estereotipou-se no subjuntivo presente, havendo até quem registre em
que pese a como locução prepositiva” (SILVA, A., 1958, p. 112-3).
10. Para Silveira Bueno, na referida expressão, por um lado, “o verbo
permanece na terceira pessoa do singular, impessoalmente, sem
sujeito”; por outro lado, “o substantivo, que se lhe segue, não é o
sujeito como, erradamente, pensam, e sim, o complemento indireto”.
11. E complementa tal autor: “Portanto, escrever ‘em que pesem as
opiniões contrárias’ é sintaxe errada. O correto sempre foi ‘em que
pese às opiniões contrárias’” (BUENO, 1957, p. 393-4).
12. Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 318), sem outras variantes,
também refere que a expressão correta, a ser empregada em tais casos,
é em que pese a.
13. Em observação não encontrada em outros autores e que não parece
autorizada ante o ensino de todas as demais lições, entretanto, afirma o
mesmo autor, em outra passagem, que “alguns gramáticos condenam
converter o objeto indireto em sujeito e construir: ‘A máquina estatal
mostra-se ineficiente, em que pesem os esforços do governo’. ‘Não
recuaremos diante desse desafio, em que pesem as dificuldades do
momento’. Convém observar que se trata de uma construção evoluída,
largamente usada na imprensa e abonada por bons escritores. Mas só é
admissível se o sujeito for nome de coisa. Havendo referência a nome
de pessoa, usar-se-á a construção original em que pese a” (CEGALLA,
1999, p. 138).
14. Atento aos frequentes equívocos que ocorrem nos arrazoados forenses,
textos jurídicos e julgados, Edmundo Dantès Nascimento (1982, p.
166-7) observa que a expressão em que pese a equivale a ainda que lhe
custe, mau grado seu, ainda que seja penoso, ainda que cause
aborrecimento, e manda corrigir a corriqueira frase “Em que pesem
estas razões, não aceitamos o argumento da sentença…” para “Em que
pese a estas razões, não aceitamos o argumento da sentença…”.
15. Num outro aspecto, acresça-se a lição de Evanildo Bechara (1974, p.
45), segundo quem, quanto à ortoepia, as autoridades recomendam o
timbre fechado em pese (ê).
16. Também nesse sentido o registro de Otelo Reis (1971, p. 87), que dá
exemplos sempre com a vogal tônica fechada.
17. Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 19), de igual modo, lhe aconselha a
pronúncia fechada.
18. Para Mário Barreto (BARRETO apud FERNANDES, 1971, p. 461), o
verbo pesar “em geral significa medir o peso de alguma coisa, ou ter
peso; mas, quando se aplica à significação de pesar, dor ou
arrependimento, é impessoal, pronuncia-se o e com som fechado ou
circunflexo (pésa-me a carga, mas pêsa-me muito de ouvir dizer isso a
Vossa Mercê)”.
19. Para Edmundo Dantès Nascimento, “quanto à pronúncia (pêse), está
justificada pela palavra pêsames”, com o acréscimo de que “a
pronúncia com e fechado é anotada na Beira Alta, Douro e
Extremadura (Leite de Vasconcelos) e por nós ouvida em Ouro Preto,
Sabará e a muitas pessoas de S. Paulo, Belo Horizonte e Rio”.
20. E complementa que, “se a pronúncia no sentido de dor moral fosse é
aberto, teríamos pésames, como de acordam temos acórdão”
(NASCIMENTO, 1982, p. 166-7).
21. Ainda quanto à pronúncia, taxativa a lição do Padre José F. Stringari:
“Quando pesar significa examinar o peso por meio de balança ou
avaliar, ponderar alguma coisa, tem o e aberto; quando significa afligir,
causar tristeza, arrependimento, ter remorso, tem o e fechado”.
22. E refere tal gramático ser dessa última pronúncia o vetusto ato de
contrição ensinado nas aulas de catequese: “Pesa-me, Senhor, de vos
ter ofendido…”. (STRINGARI, 1961, p. 18-9)
23. Registre-se, todavia, a observação de Domingos Paschoal Cegalla de
que, “segundo alguns gramáticos, a vogal tônica e de pese(m), nesta
expressão, é fechada, como em pêsames. A verdade é que, em geral, se
pronuncia aberta” (1999, p. 138).
24. E, em outra passagem, continua tal autor argumentando contra a lição
dos gramáticos de que se deve pronunciar pêse em tal expressão, com o
ensino de que parece ser “arbitrária e afetada tal pronúncia”
(CEGALLA, 1999, p. 318).
25. Juntando as observações desses dois aspectos, em síntese que parece
ser a mais adequada de acordo com o entendimento dominante, Eliasar
Rosa (1993, p. 63), por primeiro, esclarece, quanto à fala, que, em tal
expressão, “o correto é pronunciá-la com o e fechado”; ao depois, ele a
considera somente com a preposição – em que pese a – acrescentando
que jamais se usa tal expressão no plural.
26. No que concerne à pronúncia fechada nos casos referidos, talvez até
pelos comuns equívocos que acontecem na vida prática, o Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras,
órgão incumbido oficialmente de determinar a existência dos vocábulos
em nosso idioma, em sua edição de 1999, contrariamente a seu usual
proceder e finalidade, asseverava de modo textual para o verbo pesar:
“como sentir desgosto, o e, se rizotônico, é fechado” (p. 582). Essa
observação não foi repetida nas edições de 2004 e de 2009, que nada
comentam a respeito (VOLP, 2009, p. 644).
Ver Pesar (P. 562).

Em questão – Galicismo?
1. No que concerne ao interesse destas observações, a locução tem o
significado daquilo que se trata, daquilo que se enfoca. Ex.: “Escapou,
única de muitas, a vara em questão” (Laet).
2. Júlio Nogueira (1959, p. 70) lembra a objeção de Epifânio Dias a seu uso
nesse sentido e manda substituir, por exemplo, a expressão crime em
questão por crime de que se trata ou crime em apreço.
3. Ronaldo Caldeira Xavier (1991, p. 89) a insere no rol dos galicismos
sintáticos e também aconselha sua substituição por em apreço, de que se
trata.
4. Vitório Bergo (1943, p. 119), de igual modo, insere-a no rol dos
galicismos de estrutura, daqueles “em que as palavras são portuguesas
mas a sintaxe (especialmente a colocação e a regência) é francesa”; e
manda substituir a expressão em questão por em apreço.
5. Em verdade, muito embora alguns vejam galicismo em seu emprego,
Napoleão Mendes de Almeida (1981, p. 95) defende-a como locução
justificável, trazendo argumentos importantes e o abono de autoridades
da língua portuguesa, como José Joaquim Nunes, Júlio Diniz, João
Ribeiro, Sousa da Silveira, Said Ali e Mário Barreto.
6. Sem outros comentários, também lhe defende a vernaculidade Cândido
Jucá Filho (1963, p. 526).
7. Evanildo Bechara ainda é mais categórico, observando que se tem
“querido evitar a expressão em questão, por se ter inspirado em modo de
falar francês; mas é linguagem hoje comuníssima e corrente nas
principais línguas literárias modernas” (1974, p. 292).
8. O melhor, ante a divergência entre os doutos, parece ser adotar o critério
que amplia as possibilidades de estruturação da frase em português e dar
como possível seu emprego no vernáculo, até mesmo por obediência ao
vetusto princípio de que, na dúvida, deve-se conceder liberdade de
expressão ao usuário.

Em regra – Existe?
Ver Por via de regra, Via de regra ou De regra? (P. 584)

Em sede de – Estrangeirismo?
1. Sede significa assento, cadeira e, por extensão, o centro de governo, de
diocese ou paróquia, o lugar onde funciona um governo ou
administração; diz-se, assim, sede administrativa de um banco, sede das
empresas.
2. Tem sido comum, porém, o emprego da expressão com o sentido de no
âmbito, na esfera de, no campo de, em, como, por exemplo, nas
construções em sede de mandado de segurança, em sede de habeas
corpus.
3. Tal uso, porém, não encontra abono nos autores clássicos nem nos
dicionaristas, configurando violência à sintaxe vernácula, muito embora
venha conseguindo indevida penetração no idioma pelo erudito caminho
das sentenças, dos acórdãos e dos livros de doutrina.
4. Vejam-se algumas correções possíveis para tais casos: a) “No âmbito do
mandado de segurança, não se discute questão dessa ordem”; b) “No
campo do mandado de segurança, não se discute questão dessa ordem”;
c)”Em mandado de segurança, não se discute questão dessa ordem”; d)
“Na esfera do mandado de segurança, não se discute questão dessa
ordem”.
5. Realçando tratar-se de italianismo, “que não se ajusta à índole da nossa
língua”, Geraldo Amaral Arruda (1997, p. 19) coleciona alguns
exemplos de uso equivocado por novéis juízes em sentenças, sobre as
quais longamente se debruçou tal autor para auxílio no aperfeiçoamento
da linguagem, fazendo-se acompanhar tais excertos pela devida
correção: a) “A culpa, em sede penal, precisa…” (poderia ser: “A culpa,
em matéria penal, precisa…”); b) “Na sede inquisitorial o réu disse…”
(poderia ser: “Na fase do inquérito…”); c) “… insuscetíveis de
apreciação em sede de arresto…” (poderia ser: “… insuscetíveis de
apreciação em caso de arresto”, ou “… em matéria de arresto…”).
6. Em anotações pessoais, fotocopiadas e entregues a uma turma de novos
juízes paulistas dos anos noventas, o mesmo desembargador, refutando o
indigitado modo de escrever e expressar-se, refere que, às vezes, “o vício
de linguagem penetra na redação das sentenças pela via erudita, que
violenta a sintaxe vernácula. Exemplo disso é a locução em sede de, cujo
sentido se pode encontrar no Lingarelli, que registra a locução in sede di,
com sentido de durante, no momento em que ocorre qualquer coisa (ex.
in sede di esami, di bilancio, di liquidazione). O dicionário italiano-
português do Porto registra estas expressões e mais ainda in sede storica,
politica, com a tradução do ponto de vista histórico, político”.
7. Em realidade, o erro é tão corriqueiro nos dias de hoje, que, facilmente
encontrável nos textos jurídicos, pode ser exemplificado com excerto de
brilhante processualista moderno, que, ao tratar da questão do acesso à
Justiça, o juntou, em mesma frase, a outro equívoco não menos sério (a
nível), lecionando que a expressão considerada, mais do que um
princípio, “é a síntese de todos os princípios e garantias do processo, seja
a nível constitucional ou infraconstitucional, seja em sede legislativa ou
doutrinária e jurisprudencial”.
8. Erro dessa natureza encontra-se na Resolução 18/2007, do Conselho
Nacional do Ministério Público, a qual, ao regulamentar o art. 9º da Lei
Complementar 75/93 e o art. 80 da Lei 8.625/93, disciplinando, no
âmbito do Ministério Público, o controle externo da atividade policial,
determina, em seu art. 3º, b, que tal controle externo será exercido, “em
sede de controle concentrado, através de membros com atribuições
específicas…”. Corrija-se, apenas no que concerne a tal aspecto: “na
esfera de controle concentrado”, ou “no âmbito de controle
concentrado”, ou, ainda, “quanto ao controle concentrado”.
9. E, mostrando que já não vivemos os tempos de apuro gramatical da
época de Rui Barbosa, que capitaneou batalha de anos com Ernesto
Carneiro Ribeiro pela correção do idioma naquele que veio a ser o
Código Civil de 1916, é de fácil constatação a incidência nesse equívoco
por parte do art. 1.585 da codificação civil de 2003, com reincidência do
mesmo dispositivo, quando alterado pela Lei 13.058/2014: a) “Em sede
de medida cautelar de separação de corpos, aplica-se quanto à guarda
dos filhos as disposições do artigo antecedente” (redação original); b)
“Em sede de medida cautelar de separação de corpos, em sede de
medida cautelar de guarda ou em outra sede de fixação liminar de
guarda, a decisão sobre guarda de filhos…” (redação dada pela Lei
13.058/2014).

Em seis – Está correto?


1. Do título da conhecida obra Éramos Seis, de autoria de Maria José
Dupré, pode-se extrair e memorizar significativa observação.
2. Em tal expressão, o sujeito está implícito na desinência verbal (nós); o
verbo ser é de ligação, e seis desempenha a função sintática de
predicativo do sujeito.
3. Ora, em português, o predicativo (que, em latim, fica no caso nominativo
e submete-se à mesma construção vernácula) é função que não vem
precedida de preposição.
4. Tem-se, assim, a forma correta éramos seis, sendo errônea, embora
corriqueira, a construção éramos em seis.
5. A mesma observação vale para outros casos de silepse de pessoa
(concorda-se o verbo com a ideia oculta, não com o termo expresso).
Exs.: a) “Ficamos quatro de vigília” (correto); b) “Avançamos cinco
contra o inimigo” (correto); c) “Ficamos em quatro de vigília” (errado);
d) “Avançamos em cinco contra o inimigo” (errado).
6. Ronaldo Caldeira Xavier (1991, p. 91), fundando-se em lição de
Hildebrando Affonso de André, insere a expressão somos em quatro no
rol dos italianismos a serem evitados e aconselha sua substituição por
somos quatro.
7. Também Vitório Bergo (1943, p. 103 e 147) insere tal expressão na lista
dos italianismos a serem evitados.
8. Ultime-se com a lição de Silveira Bueno (1938, p. 128 e 222), que assim
respondeu a um consulente que lhe perguntava se era correto dizer
somos em três: “Erradíssimo porque estamos usando em português, de
sintaxe italiana. Em italiano é que se diz: Siamo in trè. Em nossa língua,
o completivo predicativo une-se ao predicado de maneira direta, sem
preposição alguma e por isso dizemos: Somos três”, tirando-se a
preposição.
9. De outra obra do mesmo autor nos vem significativa síntese sobre o
assunto: “O italianismo – somos em três – está de tal modo arraigado na
expressão dos paulistas que até os bacharéis em Direito não conseguem
evitá-lo. É pura sintaxe italiana siamo in trè, eravamo in quattro, etc. Em
português não é necessária a preposição em: somos três, éramos quatro”
(BUENO, 1957, p. 454).

Em se tratando de – Estrangeirismo?
1. Ante a acusação de alguns autores de que constitui essa uma sintaxe
alheia ao idioma nacional, para que não paire dúvidas acerca da integral
vernaculidade dessa construção, carreia-se a lição de Carlos Góis, para
quem “a regência do gerúndio pela preposição em não constitui
galicismo, e sim um arcaísmo luso”.
2. Para tal autor, em complementação, “no Brasil esta regência é inusitada
na linguagem familiar, mas de uso no estilo grandíloquo” (GÓIS, 1945,
p. 102).

Em suspenso – Está correto?


Ver Em anexo – Está correto? (P. 302)

Em torno ou Entorno?
1. Um leitor pergunta, em síntese, a diferença entre a expressão em torno e
o vocábulo entorno.
2. Ora, o circunlóquio em torno de ou em torno a tem como significado em
volta de, à volta de, em redor de ou à roda de, normalmente iniciando um
adjunto adverbial de lugar. Exs.: a) “Os jogadores permaneciam por
longas horas em torno da mesa, sem aparente cansaço”; b) “Em torno a
vivo incêndio, tudo arde em seus ardores” (Antônio Feliciano de
Castilho).
3. Já o substantivo entorno significa arredor, cercania, circunvizinhança ou
vizinhança. Exs.: a) “Enquanto esperava, ele resolveu passear pelo
entorno”; b) “Foi tombado não só o prédio antigo, mas também todo o
seu entorno”.

É muito
1. No que tange à concordância verbal, “quando o sujeito no plural encerra
ideia de preço, porção, quantidade (vindo neste caso o substantivo
sujeito modificado por adjetivo numeral cardinal ou quantitativo, e
estando o predicativo invariável em número)”, o verbo, “atraído pelo
complemento (predicativo) no singular, passa a concordar com o
complemento, deixando, pois, de concordar com o sujeito” (GÓIS, 1943,
p. 112). Exs.: a) “Seis anos era muito” (Camilo Castelo Branco); b)
“Duas colheradas é suficiente” (Alexandre Herculano).
2. Porque em tais casos não se procede à normal concordância do sujeito
com o verbo, Eduardo Carlos Pereira fala na ocorrência de “casos
autorizados de discordância” (1924, p. 228).
3. O gramático Carlos Góis, em outra passagem, observa, e com
propriedade, que, se “o predicativo se flexionar no plural, impõe neste
caso o plural ao verbo” (1943, p. 112). Exs.: a) “Duas colheradas são
suficientes”; b) “Dois mil reais são bastantes”.
4. Laudelino Freire, que invoca lição de Carlos Góis, também segue em
mesma trilha: “Se… o atributo vem no plural, impõe-se, neste caso, o
plural ao verbo”.
5. E exemplifica ele próprio (FREIRE, 1937b, p. 65): “Duas colheradas
são suficientes”; “Vinte mil contos são rios de dinheiro”; “Dois contos
são bastantes”; “Quatro meses são insuficientes”.
6. Também o mesmo caminho é palmilhado por Vitório Bergo (1943, p.
62), que assim leciona e exemplifica a respeito: “Nas expressões de
quantidade (medida, peso, valor, tempo), se não varia o predicativo,
também não varia o verbo: ‘Cinco mil libras é muito’ (Alexandre
Herculano); ‘Vinte cruzados é dinheiro’ (Camilo Castelo Branco); ‘Três
contos é já uma boa assinatura’ (Machado de Assis).
Ver Discordância verbal (P. 290).

Em vão
Ver Em anexo – Está correto? (P. 302)

Em vez de o
Ver É hora da onça beber água ou É hora de a onça beber água? (P. 296)

Em vez de ou Ao invés de?


Ver Ao invés de ou Em vez de? (P. 123)

Em via de ou Em vias de?


1. Em via de é locução prepositiva equivalente a prestes a ou na iminência
de. Ex.: “De tão abalado, o réu estava em via de desmaiar”.
2. Atente-se à lição de Laurinda Grion, para quem “é considerada incorreta
a forma em vias de” (s/d, p. 30).
3. De igual modo, para José de Nicola e Ernani Terra, “na expressão em via
de, que significa a caminho de, prestes a, a palavra via deve permanecer
no singular. Não existe, em português, a expressão em vias de” (2000, p.
93).
4. Não diverge desse posicionamento Domingos Paschoal Cegalla, para
quem a locução prepositiva equivalente a prestes a é em via de, sendo,
em português, “considerada incorreta a forma em vias de” (1999, p.
139).
5. Sem discrepância alguma, para Arnaldo Niskier, nesses casos, o correto
é dizer em via de (1992, p. 32). Exs.: a) “O réu estava em vias de
alcançar seu objetivo ilegal” (errado); b) “O réu estava em via de
alcançar seu objetivo ilegal” (correto).

Encarar de frente – Está correto?


Ver Pleonasmo – O que é e Quando pode? (P. 565)

Encarregar
1. Mário Barreto leciona que, com tal verbo, tanto a pessoa quanto a coisa
podem ser objetos diretos ou objetos indiretos; não poderão coexistir,
entretanto, em mesma frase, dois objetos diretos ou dois objetos
indiretos.
2. Assim, vejam-se as seguintes construções e a assinalação de sua
correção ou erronia: a) “O magistrado encarregou o escrevente do
cumprimento da determinação” (correto); b) “O magistrado encarregou
ao escrevente o cumprimento da determinação” (correto); c) “O
magistrado encarregou o escrevente o cumprimento da determinação”
(errado); d) “O magistrado encarregou ao escrevente do cumprimento
da determinação” (errado).
3. Acrescenta o referido autor que tal estruturação sintática se repete com
outros verbos, como, por exemplo, impedir (BARRETO, 1954a, p. 271).
4. Essas sintaxes defendidas por Mário Barreto também se encontram nos
exemplos colhidos por Francisco Fernandes (1971, p. 270): a) “Cresça
primeiro, Jeremias, … e então se lhe encarregará uma missão e
comissão de tanta importância” (Padre Antônio Vieira); b) “Meu pai
encarregou-a do governo doméstico” (Alexandre Herculano).
5. Para Celso Pedro Luft, “encarregar algo a alguém é sintaxe antiga,
sobrepujada por encarregar alguém de algo” (1999, p. 238).
6. Nos textos de lei que pesquisou, em minuciosa análise, Adalberto J.
Kaspary (1996, p. 147) encontrou as duas sintaxes: a) “com objeto direto
(sujeito na voz passiva) de pessoa e indireto de coisa, com a preposição
de”, correspondendo ao modelo encarregar alguém de algo; b) “com
objeto direto de coisa (sujeito na voz passiva) e indireto de pessoa, com
a preposição a”, implementando o molde encarregar alguma coisa a
alguém. Exs.: a) “O testador pode encarregar o testamenteiro do
cumprimento dos legados e dos demais encargos da herança, quando
este seja cabeça de casal e não haja lugar a inventário obrigatório” (CC
português, art. 2.327º); b) “… salvo havendo estipulação diversa no
contrato, ou querendo os sócios, a aprazimento comum ou por
pluralidade de votos em caso de discórdia, encarregar a liquidação a
algum dos outros sócios não gerentes, ou a pessoa de fora da sociedade”
(CCom, art. 344). Atente-se ao fato de que, no último exemplo, o
primeiro a (a liquidação) é artigo, e o segundo (a algum) é preposição,
ocorrendo primeiramente o objeto direto e, depois, o indireto.
7. Para sintetizar, nos dias de hoje, as duas sintaxes são costumeiramente
encontradas nos textos que devam submeter-se à norma culta, e ambas
são igualmente defensáveis e vernáculas.

Encerrada a audiência
Ver Abstração feita a e Abstração feita de (P. 59).

Ênclise
1. Aspecto particular do estudo da colocação dos pronomes, a ênclise
abrange as hipóteses em que o pronome pessoal oblíquo átono deve vir
depois do verbo.
2. É a regra geral para a colocação dos pronomes, que é obrigatória, se o
período se inicia por verbo. Ex.: “Ateve-se o relator do acórdão à estrita
análise dos argumentos expostos pelo apelante”.
3. É errônea qualquer construção que inicie a frase por um pronome dessa
natureza: “Se ateve o relator à estrita análise dos argumentos expostos
pelo apelante.”
4. Em considerações teóricas sobre o assunto, lembra Carlos Góis, por um
lado, que “o francês, o espanhol e o italiano admitem o pronome pessoal
oblíquo átono no rosto do período; não o admite o português,
constituindo esse fato um de seus mais belos idiotismos” (lembre-se
sempre que idiotismo é peculiaridade, e não idiotice).
5. E continua tal autor com o lembrete de que (GÓIS, 1945, p. 109-10),
“por analogia, e como extensão deste caso, alguns autores puristas
evitam iniciar a oração pelo pronome pessoal oblíquo átono (ainda que
esta oração não seja a primeira do período), sobretudo quando antes dela
se faz sentir uma pausa ressalvada por vírgula, ou outro sinal”. Exs.: a)
“As portas da casa do capítulo estavam abertas: via-se dentro dela…”
(Alexandre Herculano); b) “Voltando sobre ele o boi enraivecido,
arremessou-o aos ares, esperou-lhes a queda nas armas…” (Rebelo da
Silva); c) “Aperfeiçoavam-se as aspas, cravavam-se os pregos,
aparafusavam-se as roscas” (Camilo Castelo Branco).
6. Em outra passagem, refere o mesmo autor que constitui um “barbarismo
de construção” iniciar o período por variação pronominal átona (GÓIS,
1945, p. 86).
7. Fixe-se, de igual modo, a regra de que também não se usa o pronome
átono logo após sinal de pontuação, ainda que antes deste haja palavra
atrativa (casos de próclise). Exs.: a) “Ali o encontrei” (correto); b) “Ali,
encontrei-o” (correto); c) “Ali, o encontrei” (errado); d) “Ali encontrei-
o” (errado).
8. Nesse aspecto, dupla é a lição de Carlos Góis (1945, p. 112): a) Quando
houver uma vírgula, indicadora de uma pausa, mesmo com a
antecedência de palavra atrativa, usa-se a ênclise, até porque “a pausa
faz cessar a atração”. Ex.: “Aqui, canta-se; ali, dança-se; acolá, bebe-
se”; b) “Sem a vírgula (ou pausa) será de rigor próclise”. Ex.: “Aqui se
canta, ali se dança, acolá se bebe”.
9. Oportuno, em continuação, é lembrar, com Luiz Antônio Sacconi (1979,
p. 231), que não exigem próclise, por não serem palavras atrativas, as
conjunções e, mas, porém, todavia, contudo, logo e portanto.
Ver também Atração pronominal remota (P. 144), Mesóclise (P. 471),
Próclise (P. 603), Próclise ou Ênclise? (P. 604) e Pronomes e Locuções
verbais (P. 617).

Ênclise e hífen
Ver Hífen e ênclise (P. 390).

Encontrei ele – Está correto?


1. Pronomes do caso reto não funcionam como complemento. Exs.: a) “Vi
ele no fórum” (errado); b) “Vi-o no fórum” (correto).
Ver Conheço todos eles – Está correto? (P. 217) e Pronome pessoal (P. 614).

É necessário
Ver Infinitivo como sujeito – Como concordar? (P. 414) e É proibido –
Como concordar? (P. 325)

E nem
1. Tais palavras só podem vir juntas em sequência, quando o e for
conjunção e o nem for advérbio, exercendo cada uma, assim, sua própria
função morfológica. Ex.: “O ordenamento jurídico busca a realização
da justiça e nem sempre consegue”.
2. Como conjunção, todavia, nem já significa e não, razão pela qual não se
lhe pode antepor e.
3. Em tais casos, ou se diz nem, ou se diz e não; mas não se pode dizer e
nem. Exs.: a) “O advogado não apresentou contestação, nem
apresentará” (correto); b) “O advogado não apresentou contestação e
não apresentará” (correto); c) “O advogado não apresentou contestação
e nem apresentará” (errado).
4. Acresça-se a lição de Eduardo Carlos Pereira, para quem “é arcaico e
plebeu o emprego conjunto…, o uso pleonástico de duas conjunções
como … e nem, o qual vai sendo evitado pelos escritores modernos”
(1924, p. 365-8).
5. Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 140), em mesma esteira, confirma
três significativos aspectos: a) “A conjunção nem significa e não. Por
isso, é incorreto antepor-lhe a conjunção e em frases como as seguintes,
nas quais nem tem significado aditivo-negativo, equivalente de e também
não: ‘Não vi nem conheço este homem’. ‘Ele nunca viajava de navio
nem de avião’”; b) “O conjunto aditivo e nem só é cabível quando
equivale a mas não, e também nas expressões e nem sequer, e nem por
isso, e nem assim, e nem sempre”; c) Por fim, “bons escritores,
contrariando a norma exposta no item a, empregam e nem”, tentando
justificar tal gramático os referidos cochilos com a possibilidade de e
nem “ser mais enfático do que o simples nem”. Exs.: i) “Não queremos e
nem podemos entrar no exame de tamanha complexidade” (João
Ribeiro); ii) “Nunca se lembra do que lhe sucedeu na véspera e nem faz
planos para o amanhã” (Aníbal Machado).
6. Por fim, assim é a síntese de Luiz A. P. Vitória (1969, p. 171): a)
“ensinam os gramáticos que é erro empregar nem precedido de e”; b)
está errado, assim, o exemplo: “Não vem e nem me avisa”, que deve ser
corrigido: “Não vem nem me avisa”, ou “Não vem e não me avisa”; c)
Excepcione-se, contudo, que se pode dizer: “Não vem e nem sequer me
avisou”.
Ver Bem como (P. 158).

Enfarte, Enfarto, Infarte ou Infarto?


1. Em patologia, é a necrose de um tecido, consequente à parada de
circulação, numa artéria que o irriga. Ex.: “O enfarte foi dado como
causa da morte do magistrado”.
2. O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia
Brasileira de Letras, que é o veículo oficial para determinar quais as
palavras pertencentes ao nosso léxico, bem como qual sua adequada
grafia, registra as quatro variantes – enfarte, enfarto, infarte e infarto
(2009, p. 315 e 456) –, o que implica asseverar que todas as quatro
formas se encontram oficialmente autorizadas entre nós.
3. Assim, vejam-se os seguintes exemplos, todos corretos em nosso
idioma: a) “O enfarte foi dado como causa da morte do magistrado”; b)
“O enfarto foi dado como causa da morte do magistrado”; c) “O infarte
foi dado como causa da morte do magistrado”; d) “O infarto foi dado
como causa da morte do magistrado”

Ênfase – Um ou uma?
1. Uma leitora afirma ter ouvido, com certa frequência, frases como “Ele
deu um ênfase especial àquele aspecto”. Como lhe parece errada essa
forma, indaga qual a correta: um ênfase ou uma ênfase?
2. Ora, sempre é bom lembrar – até para criar no leitor o salutar hábito de
um raciocínio que se repete – que, quando se quer saber se uma palavra
existe ou não em português, ou mesmo qual é seu gênero, grafia e/ou
pronúncia, ou qual o seu plural quando foge à normalidade, deve-se
tomar por premissa o fato de que a autoridade para listar oficialmente os
vocábulos pertencentes ao nosso idioma e para definir-lhes as demais
peculiaridades e circunstâncias, é a Academia Brasileira de Letras.
3. E essa autoridade, a ABL a exerce por via da edição do Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa.
4. Uma simples consulta ao VOLP (2009, 315) mostra que ênfase é palavra
pertencente ao gênero feminino (uma ênfase, e não um ênfase).
5. Em reposta ao leitor, confiram-se os seguintes exemplos, com a
indicação de sua correção ou erronia entre parênteses: a) “Ele deu um
ênfase todo especial àquele aspecto” (errado); b) “Ele deu uma ênfase
toda especial àquele aspecto” (correto).

Engenheirando – Existe?
Ver Alimentando – Existe? (P. 105)

Enjôo ou Enjoo?
1. Um leitor pergunta se houve alteração de grafia no seguinte vocábulo,
com a recente reforma ortográfica: enjôo ou enjoo?
2. Antes das recentes regras que alteraram nossa ortografia, os verbos
terminados em oar (como abençoar, abotoar, arrazoar, coroar, enjoar,
leiloar, voar…), na primeira pessoa do singular do presente do
indicativo, eram escritos com oo, e a primeira de tais vogais recebia um
acento circunflexo: abençôo, abotôo, arrazôo, corôo, enjôo, leilôo, vôo.
3. O Acordo Ortográfico, porém, alterou essa regra e determinou que “não
se emprega o acento circunflexo nas paroxítonas terminadas em oo”.
4. Desse modo, as formas corretas passaram a ser abençoo, abotoo,
arrazoo, coroo, enjoo, leiloo, voo.

Enquanto
1. Num primeiro aspecto, significa durante o tempo que, no tempo em que,
quando. Ex.: “Enquanto seguia a audiência, o advogado distraía-se,
olhando o horizonte”.
2. Num segundo aspecto, tem o sentido de ao passo que, podendo-se usar
com o sentido adversativo, de contrariedade. Ex.: “O advogado perdia
os olhos no horizonte, enquanto os demais atentavam ao que ocorria na
audiência”.
3. Josué Machado se posta de modo veemente contra o emprego de tal
vocábulo no sentido de considerado como ou sob o aspecto de.
4. E o fato de que o dicionário de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira
acata a mencionada palavra nesse sentido não comove tal autor, o qual
observa que, se o referido uso “viesse suprir alguma deficiência de
expressão, a descoberta seria ótima. Mas não. Essa história de enquanto
presidente, enquanto mulata, enquanto anta, enquanto ladrão significa
que se divide a pessoa em fatias para avaliar cada fatia em separado.
Serão acaso mortadelas?” (MACHADO, 1994, p. 46-7).
5. Arnaldo Niskier (1992, p. 32), todavia, mostra aceitar, ainda que não
totalmente, tal construção, dando, com relação ao exemplo “Eu,
enquanto tradutor…”, prudente conselho: “Tal construção, embora
abonada pelo Aurélio e por diversos gramáticos, tornou-se um modismo;
convém, portanto, evitar seu uso excessivo”.
6. Para resumir a questão, o certo é que, embora muitos queiram ver erro
em seu emprego na significação de como, de considerado como, de sob
o aspecto de, seu uso é abonado por autores de vernaculidade insuspeita,
como atesta o seguinte exemplo de Rui Barbosa: “Enquanto homem de
partido, pois, há de ser julgado”.
Ver Enquanto a mim ou Quanto a mim? (P. 319) e Enquanto que –
Galicismo? (P. 320)

Enquanto a mim ou Quanto a mim?


1. É comum ouvir frases como esta: “Enquanto a mim, asseguro-lhe que
nada sei”.
2. Trata-se de expressão errônea, na qual enquanto foi empregado em lugar
de quanto.
3. Edmundo Dantès Nascimento, atento ao erro, manda corrigir: “Quanto a
mim, asseguro-lhe que nada sei” (1982, p. 18).
Ver Enquanto (P. 319) e Enquanto que – Galicismo? (P. 320)

Enquanto que – Galicismo?


1. Para Cândido de Figueiredo, tal expressão seria um galicismo –
facilmente substituível no vernáculo por enquanto ou ao passo que –
garantindo tal autor não ter sido ela usada em nosso idioma até o século
XIX.
2. De igual modo, asseverando que o emprego de que depois de enquanto é
próprio da língua francesa, sendo, assim, dispensável em nosso idioma,
Silveira Bueno (1938, p. 65) manda evitá-lo por galicismo.
3. Edmundo Dantès Nascimento (1982, p. 18) reforça que “o certo é apenas
enquanto”, e que o povo foi quem criou esse erro.
4. Em outra passagem, esclarece o mesmo autor que “a conjunção é apenas
enquanto. A forma enquanto que, tão corrente na linguagem radiofônica
e modernamente na jurídica, constitui erro” (NASCIMENTO, 1982, p.
43).
5. Carlos Góis, todavia, em comentário específico, vê em tal expressão
apenas um galicismo aparente, dada a parecença com o francês tandis
que, e lhe defende o uso em nosso idioma.
6. Com supedâneo em tais observações e em exemplo de Machado de
Assis, Aires da Mata Machado Filho observa que se “pode empregar
sem susto a locução enquanto que” (1969f, p. 332-3) na exata
significação de enquanto ou de ao passo que.
7. Cândido Jucá Filho (1963, p. 248) – mesmo realçando que o uso do que
após enquanto é redundância – também dá pela integral vernaculidade da
expressão, citando exemplos de autores insuspeitos: a) “O padecer e
morrer louvada e admirada era heroísmo; enquanto que a alegria
criminosa de sua irmã causava-lhe amargura e vexame” (Camilo
Castelo Branco); b) “Nele as suas faces revezam-se, enquanto que nos
outros elas de ordinário são fixas” (José de Alencar).
8. Na conformidade com a observação de Laudelino Freire, “a locução
conjuntiva enquanto que (enquanto, ao passo que, se bem que) é hoje de
uso na linguagem de grandes escritores, cuja autoridade afasta o que
contra ela alguns gramáticos sentenciam, sob o fundamento, meramente
aparente, de ser ou parecer tradução da expressão francesa tandis que”.
9. Adverte, em seguida, de modo peremptório, colecionando, em
corroboração, exemplos dos autores que cita: “Aforam-na prosadores de
primeira ordem, como Alexandre Herculano, Latino Coelho, Camilo
Castelo Branco, Machado de Assis, João Ribeiro”.
10. E ultima ele, em justificativa (FREIRE, s/d, p. 42-4): “é de se observar
que os antigos desta expressão não fizeram uso, e, entre os modernos,
parece (e temerário seria afirmá-lo) que Rui e Castilho não na
empregaram jamais. Talvez confrontando a autoridade dos que a não
usaram com a dos modernos que a aforam, foi que Cândido de
Figueiredo a impugnou reiteradamente”.
11. Por sua vez, Vitório Bergo (1944, p. 103), que refere exemplo de
Machado de Assis, entende que se trata de “locução admitida em vez
do simples enquanto quando tem o sentido de ao passo que: ‘Os
sonhos acabam ou alteram-se, enquanto que os maus maridos podem
viver muito’”.
12. Domingos Paschoal Cegalla, reputa que a conjunção enquanto pode ser
empregada para unir orações que expressem tanto fatos simultâneos,
quanto fatos opostos. Exs.: a) “Malha-se o ferro, enquanto está quente”
(fatos simultâneos); b) “Uns trabalham, enquanto outros se divertem”
(fatos opostos).
13. E acrescenta tal autor (CEGALLA, 1999, p. 141) que, no segundo caso
(fatos opostos), “para que o contraste entre os dois fatos fique bem
nítido, pode-se usar, em vez de enquanto, a locução enquanto que,
equivalente a ao passo que”. Exs.: a) “Uns trabalham, enquanto que
outros se divertem”; b) “Ali estava ela nos braços doutro, enquanto que
ele, o amigo velho, era deitado ao canto” (Eça de Queirós); c) “Mas eu
creio que Capitu olhava para dentro de si mesma, enquanto que eu
fitava deveras o chão…” (Machado de Assis).
14. Heráclito Graça (1904, p. 243) reputa inconsequente eliminar tal
sintaxe a pretexto de que, lembrando o francês, seria redundância, e se
posiciona no sentido de que expressões como tais, longe de
defeituosas, são “muito expressivas e elegantes” e “imprimem ao dizer
mais vivacidade e servem para variar-lhe a forma e até, às vezes, o
sentido da preposição”.
15. Além disso, no entender do mesmo autor, o rótulo de galicismo parece
vir de “uma vã superstição e incompleta observação de locuções
análogas, possuídas pela língua portuguesa, que legitimam cabalmente
a congênere enquanto que”.
16. Lembra tal autor, em continuação, que o insuspeito Jerônimo Soares
Barbosa, relacionando as conjunções circunstanciais, “põe no número
delas a locução enquanto que”, para complementar: “certamente, não o
leram os críticos; pois se o tivessem lido, espancariam do espírito as
ideias mal concebidas que preocupadamente manifestam contra a
locução enquanto que, de tão elevado quilate português como qualquer
outra semelhante”.
17. Quanto à parecença com o francês tandis que, refuta-a tal gramático,
aduzindo tratar-se de “um argumento fútil”, alinhando uma série de
vocábulos e expressões em mesma situação – tanto que (tant que),
depois que (depuis que), antes que (avant que), desde que (dès que) –
para concluir de modo taxativo: “tais locuções portuguesas, ninguém as
contesta; por que então inquinar de espúria enquanto que?”.
18. E, para produzir “de pancada o efeito de não duvidar mais da
vernaculidade da locução conjuntiva enquanto que”, arrola ele
(GRAÇA, 1904, p. 240-8) exemplos de autores acima de qualquer
dúvida: a) “Vós é graficamente igual à palavra correspondente em
latim, enquanto que o pronome da segunda pessoa do plural é na
língua hibérnica sib” (Latino Coelho); b) “… enquanto que a
administração geral e municipal nada inspeciona” (Almeida Garrett);
c) “Vestem-se nas cumeeiras de espesso mato, enquanto que arbustos e
plantas os guarnecem ao raso das águas” (Camilo Castelo Branco).
19. Ante tal divergência entre os autores, até mesmo por força do princípio
de que na dúvida se há de liberar o uso, hão de ser tidos por igualmente
corretos os seguintes exemplos: a) “Ele vai à audiência, enquanto eu
fico no escritório”; b) “Ele vai à audiência, enquanto que eu fico no
escritório”.
Ver Enquanto (P. 319) e Enquanto a mim ou Quanto a mim? (P. 319)

Ensinar
1. Fundado em lição de Epifânio Dias, lembra Mário Barreto (1954b, p. 83)
que esse verbo pertence ao número daqueles que têm duas construções.
Exs.: a) “Ensinei-o a ler”; b) “Ensinei-lhe a leitura”.
2. Como se vê dos próprios exemplos, tanto aquilo que vai ser ensinado
como a pessoa a quem se vai ensinar podem ser objetos diretos ou
objetos indiretos, enquanto o outro complemento há de ser,
respectivamente, objeto indireto ou objeto direto. Exs.: a) “Mande
ensinar-lhe Medicina” (Machado de Assis); b) “O empenho de ensinar
os juízes a interpretar as leis” (Rui Barbosa).
3. Muito embora nesse campo vigore a proibição gramatical genérica da
concomitância de existência de dois objetos diretos ou de dois objetos
indiretos em mesma oração (como, por exemplo, seriam ensinei-o ler e
ensinei-lhe a ler), Francisco Fernandes (1971, p. 288), repercutindo o
que comumente vem ensinado pelos gramáticos e abonando-se com
autores insuspeitos, transcreve, em acréscimo, lição de Stringari:
“Quando a coisa ensinada é expressa por infinito regido da preposição a,
o nome da criatura, a quem se ensina, pôr-se-á, indiferentemente, no
dativo” (vale dizer, poderá ser objeto indireto) “ou no acusativo” (isto é,
poderá ser objeto direto). Exs.: a) “Esparta ensinava ao adolescente a
morrer pela glória” (Latino Coelho); b) “Ela mesma lhe ensinou a ler
mal, como ela sabia – e a coser e bordar” (Machado de Assis); c) “O
Espírito Santo o ensinava a recrear os outros religiosos” (Padre Manuel
Bernardes); d) “Ensinou o primeiro rei português a ser honrado”
(Camilo Castelo Branco).
4. Domingos Paschoal Cegalla sintetiza assim as três possibilidades
genéricas de sintaxe com esse verbo: a) ensinar algo a alguém; b) ensinar
alguém a fazer algo; c) ensinar a alguém a fazer algo.
5. Adverte, contudo, tal autor: “A construção c é abonada por bons
escritores. Todavia, deve-se dar preferência às duas primeiras”
(CEGALLA, 1999, p. 141).

Entrar
1. João Ribeiro lembra que Camões empregou tal verbo com construção
transitiva direta: “Primeiro entrando as portas da cidade”. (1923, p.
184)
2. Também Sousa e Silva (1958, p. 114) é do entendimento de que, no
sentido de transpor é transitivo direto e, na acepção de introduzir-se,
pode vir acompanhado de em ou de a. Exs.: a) “O navio entrou a barra”;
b) “Entramos no salão”; c) “Entramos ao salão”.
3. Carlos Góis e Herbert Palhano (1963, p. 187) ressaltam a possibilidade
de construí-lo tanto diretamente, isto é, sem preposição alguma (hipótese
em que lhe dão o sentido de invadir), como com a preposição em (caso
em que lhe conferem o significado de penetrar). Exs.: a) “O inimigo
entrou a cidade” (invadiu a cidade); b) “O inimigo entrou na cidade”
(penetrou na cidade).
4. Na síntese de Artur de Almeida Torres (1967, p. 129), por um lado, tal
verbo, “na acepção de passar para dentro, introduzir-se, penetrar,
constrói-se indiferentemente como transitivo direto (que se justifica pela
analogia com os verbos penetrar ou invadir, que lhe são sinônimos) ou
com as preposições em ou a: ‘Entrar o quarto’, ‘Entrar no quarto’ ou
‘Entrar ao quarto’”; por outro lado, esclarece que “a segunda regência é
muito comum; as outras duas estão circunscritas à linguagem literária,
sobretudo lusitana”.
5. Em Machado de Assis, também se vê a sintaxe entrar para: “Pensei em
dizer-lhe que ia entrar para o seminário”.
6. Dessa última construção também é exemplo o art. 1.377 do Código Civil
de 1916: “Se o sócio entrar para a sociedade com objeto determinado,
que venha a ser evicto, responderá aos consócios como o vendedor ao
comprador”.
7. Sem restrição alguma a qualquer das regências, parecendo ser a lição
que se deva seguir ainda na atualidade, Francisco Fernandes (1971, p.
292) traz abono de abalizados autores para todas as referidas
construções, acrescentando, ainda, a possibilidade de sintaxe com a
preposição por: a) “Entramos a porta da antiga cidadela” (Garrett); b)
“Entrar em casa” (João Ribeiro); c) “Estava pronto quando me entrou
por casa” (Machado de Assis); d) “Raiava a aurora quando entrou à
igreja” (Camilo Castelo Branco); e) “Às três horas da noite Vasconcelos
entrava para casa com a tranquilidade e regularidade do costume”
(Machado de Assis).

Entrar e Sair de – Está correto?


Ver Verbos com regências diversas (P. 760).

Entrar na Justiça – É correto?


1. Um leitor pergunta se é correta a expressão entrar na Justiça, ou se o
adequado é provocar o Judiciário.
2. Ora, apesar de tão maltratada em nossos dias na fala e na escrita, mesmo
assim é inquestionável que nossa língua dispõe de grande riqueza tanto
na extensão do léxico como nas formas de estruturação sintática.
Lembrando conhecido verso de Olavo Bilac, a maioria esmagadora dos
usuários continua sendo inculta, mas a língua continua sendo bela.
3. Nesse quadro, com a atenção voltada à indagação do leitor, diversos são
os verbos e expressões que podem indicar o início da atuação de alguém
em busca da prestação jurisdicional: entrar com ação, ingressar com
medida, ajuizar demanda, provocar…
4. E também múltiplas são as opções para identificar o destinatário estatal
desse pleito: Juízo, Justiça, Poder Judiciário…
5. Desse modo, não importando se uma das formas pode ser um pouco
mais técnica do que a outra, o certo é que qualquer associação que se
faça em todo esse conjunto será bem recebida para indicar essa incoação
da relação processual: a) “Entrar com ação em Juízo”; b) “Entrar com
ação na Justiça”; c) “Entrar com ação no Poder Judiciário”; d)
“Ingressar com medida em Juízo”; e) “Ingressar com medida na
Justiça”; f) “Ingressar com medida no Poder Judiciário”; g) “Ajuizar
demanda na Justiça”; h) “Ajuizar demanda no Poder Judiciário”; i)
“Provocar o Juízo”; j) “Provocar a Justiça”; k) “Provocar o Poder
Judiciário”…

Entrar para dentro – Pleonasmo?


1. Esta é mais uma daquelas expressões equivocadas e redundantes,
portadora de tautologia, ou pleonasmo vicioso.
2. Entrar já significa movimentar-se para o interior de algo.
3. Diga-se, portanto, tão somente, entrar.

Entre – Com hífen ou sem?


1. Como costuma acontecer com os prefixos terminados por vogal, apenas
em dois casos o prefixo entre se une por hífen ao elemento que o segue:
a) quando o segundo elemento começa com h: entre-hostil; b) quando o
segundo elemento começa com a mesma letra que termina o prefixo:
entre-eixo, entre-escolher, entre-escutar.
2. Antes de outra consoante, que não seja h, acopla-se diretamente à
palavra seguinte, sem hífen: entrebanho, entrecena, entredizer, entrefala,
entrejunta, entreligar, entrepasso, entreposto.
3. De igual modo, junta-se sem hífen, quando o elemento seguinte se inicia
por outra vogal, que não a mesma que finaliza o prefixo: entreaberto,
entreato, entreilha, entreunir.
4. Para a hipótese de ser o segundo elemento iniciado por r ou s, dobram-se
tais consoantes para continuidade do som originário: entrerrealizado,
entrerreclamar, entressafra.

Entre eles ou Entre si?


1. Observa Vitório Bergo (1944, p. 104) a existência de solecismo na
seguinte expressão, “quando exprime ideia de reciprocidade”: a)
“Brigaram entre eles” (errado); b) “Brigaram entre si” (correto).
2. Em outra passagem, lembra, com muita propriedade, o mesmo autor
(BERGO, 1944, p. 45) que “ao pronome reflexivo incumbe, também,
exprimir a ideia de reciprocidade”, motivo por que não é correta a
construção brigaram entre eles, devendo, assim, ser ela substituída por
brigaram entre si.
3. Luiz A. P. Vitória (1969, p. 101), de igual modo, leciona que se deve
dizer “Discutiram entre si” e não “Discutiram entre eles”.
4. Em perfeita distinção, Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 143) assim
leciona: a) quando há ideia de reciprocidade, usa-se entre si (“Marido e
mulher discutiam entre si frequentemente”); b) quando não há ideia de
reciprocidade, emprega-se entre eles (“O missionário foi bem recebido
pelos índios e permaneceu um mês entre eles”).

Entre eu e você, Entre você e eu ou Entre mim e você?


1. Entre eu e você e Entre você e eu são expressões gramaticalmente
erradas, que devem ser corrigidas assim: Entre mim e você ou Entre
você e mim.
Ver Entre ti e mim ou Entre tu e eu? (P. 323)

Entregue-se os autos da carta precatória – Está correto?


1. Trata-se de sintaxe errada, em que o verbo da voz passiva sintética
(entregue) não concordou com o seu sujeito (autos).
2. O correto é: “Entreguem-se os autos da carta precatória”.
Ver Voz passiva e Pronome apassivador (P. 791).

Entre mim e ti – Está correto?


1. É forma de expressão correta.
Ver Entre ti e mim ou Entre tu e eu? (P. 323)

Entre-safra ou Entressafra?
1. Um leitor revela que, com a chegada das novas regras de ortografia, tem
dificuldades para empregar entre como prefixo: entre-safra ou
entressafra?
2. Ora, entre é um prefixo latino que traz a ideia de intervalo, de algo que
se põe de permeio, como em entreato ou entreligar.
3. Pelas regras trazidas pelo Acordo Ortográfico de 2008, apenas em dois
casos tal prefixo se une por hífen ao elemento que o segue: a) quando o
segundo elemento começa com a mesma vogal com que se encerra o
prefixo: entre-eixo, entre-escolher, entre-escutar; b) quando o segundo
elemento começa com h: entre-hostil.
4. Desse modo, acopla-se diretamente à palavra seguinte, sem
intermediação de hífen, quando iniciada esta por outra vogal, que não a
que encerra o prefixo: entreaberto, entreato, entreilha, entreunir.
5. Continua valendo a regra de junção direta, mesmo que o elemento
seguinte se inicie por consoante: entrebanho, entrecena, entredizer,
entrefala, entrejunta, entreligar, entrepasso, entreposto.
6. Apenas para a hipótese de ser o segundo elemento iniciado por r ou s,
dobram-se tais consoantes para continuidade do som originário:
entrerrealizado, entrerreclamar, entressafra, entresseio.

Entre si ou Entre eles?


Ver Entre eles ou Entre si? (P. 322)

Entretanto
Ver No entretanto – Está correto? (P. 496)

Entreter-se
Ver Ter (P. 730).

Entre ti e mim ou Entre tu e eu?


1. Os pronomes pessoais eu e tu não podem vir precedidos de preposição,
e, no caso, entre é uma preposição essencial, de modo que não permite
construção em que se usem pronomes pessoais do caso reto. Exs.: a)
“Nada mais há entre tu e eu” (errado); b) “Nada mais há entre eu e tu”
(errado); c) “Nada mais há entre ti e mim” (correto); d) “Nada mais há
entre mim e ti” (correto); e) “Nada mais há entre eu e você” (errado); f)
“Nada mais há entre mim e você” (correto).
2. Resuma-se com a precisa lição de Silveira Bueno (1938, p. 94): “os
pronomes retos da primeira e da segunda pessoa – eu, tu – não podem
ser regidos por preposição. Mas o pronome reto da terceira pessoa pode
perfeitamente”.
3. Atente-se aos exemplos dos nossos grandes escritores: a) “Creio que isto
baste a quem entre ele e mim houver de pronunciar” (Rui Barbosa); b)
“São assuntos que se podem tratar entre mim e ti” (Machado de Assis).
4. Veja-se que, mesmo havendo outros substantivos, e não pronomes, a
situação não muda: a) “O advogado sentou-se entre o desembargador e
mim”; b) “Houve um acordo entre os réus e mim”.
5. Registre-se lição – que não há de merecer acolhida no que concerne aos
textos que devam submeter-se à norma culta – de Domingos Paschoal
Cegalla (1999, p. 143): “Admite-se o pronome reto quando este se acha
distante da preposição entre: ‘Entre o local onde a ponte desabara e eu,
que vinha em alta velocidade, mediavam perto de cem metros”.
6. Observe-se, por fim, que você tanto pode vir com preposição como sem
ela, de modo que são corretas as expressões: a) “Nada mais há entre mim
e você”; b) “Nada mais há entre você e mim”.
Ver Pronome pessoal (P. 614).

Entre um a dez livros ou Entre um e dez livros?


1. Afirme-se, desde logo, que entre um a dez livros é uma forma errônea de
expressão.
2. Quando a preposição entre põe dois termos em correlação, o correto é
dizer entre uma coisa e outra, e não entre uma coisa a outra.
3. Atentando para essa regra, observa Domingos Paschoal Cegalla que se
diz: “Havia, na estante, entre 50 e 60 livros”; e não: “Havia, na estante,
entre 50 a 60 livros”.
4. E alinha tal gramático outros significativos exemplos (CEGALLA, 1999,
p. 143): a) “A idade dos jogadores variava entre 17 e 19 anos”; b)
“Telefone-me entre 10 e 12 horas”; c) “A rentabilidade da poupança, no
mês, ficará entre 1,5 e 2 por cento”.
5. Observe-se, por fim, que a expressão em destaque poderia ser substituída
corretamente por outra, conforme o exemplo a seguir: a) “A idade dos
jogadores variava de 17 a 19 anos”; b) “Telefone-me das 10 às 12
horas”; c) “A rentabilidade da poupança, no mês, será de 1,5 a 2 por
cento”; d) “Havia, na estante, entre 50 e 60 livros”.

Entrever – Como conjugar?


Conferir Ver – Como conjugar? (P. 764)

Enxaguar – Como conjugar?


Ver Aguar – Como conjugar? (P. 101)

E/ou
1. Às vezes se encontram exemplos como: “O concurso exigia
conhecimentos de Direito Civil e/ou Direito Penal”, em que se abre,
concomitantemente, tanto a possibilidade de soma dos elementos, como
a de sua alternância. E se fica na dúvida sobre a possibilidade de seu
emprego.
2. Vale, a respeito, a lição de Arnaldo Niskier: “A rigor, este recurso não
faz parte do repertório da língua portuguesa. Modernamente, porém, tem
sido muito usado para expressar a possibilidade de os elementos serem
tomados em conjunto ou separadamente. É conveniente, no entanto,
evitar o abuso desse recurso e, quando usá-lo, certificar-se de que está
sendo bem usado, isto é, que tanto a ideia de adição quanto a de
alternância (e não apenas uma delas) estão presentes” (1992, p. 111).
3. É claro que o exemplo aqui inicialmente dado tem por função expressar
exatamente a dupla possibilidade em mesmo contexto: a) de serem
tomados os elementos em conjunto; b) de serem tomados os elementos
separadamente.
4. Se, todavia, o intento for marcar ou a soma ou a exclusão, então se há de
dizer com clareza uma só das conjunções, exatamente com o sentido que
se quer conferir ao caso concreto: a) “O concurso exigia conhecimento
de Direito Civil e de Direito Penal” (a exigência é dupla e
concomitante); b) “O concurso exigia conhecimento de Direito Civil ou
de Direito Penal” (a exigência é alternativa e excludente).
5. Encontram-se exemplos de emprego da referida expressão em
dispositivos de lei: a) A Política Nacional do Meio Ambiente se destina
“à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar
e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela
utilização de recursos ambientais com fins econômicos” (Lei 6.938, de
31/8/91, art. 4º, VII); b) Constitui crime de prevaricação “deixar o
Diretor de Penitenciária e/ou agente público, de cumprir seu dever de
vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que
permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo”
(CP, art. 319-A).

É ou São?
1. Um leitor indaga qual das construções a seguir é correta quanto à
concordância do verbo ser: a) “Essas testemunhas é o time do processo
cível”; b) “Essas testemunhas são o time do processo cível”.
2. Ora, a mais básica regra de concordância verbal diz que o verbo
concorda com o seu sujeito em número e pessoa. Exs.: a) “Eu vou ao
cinema” (singular e primeira pessoa); b)”Eles vão ao cinema” (plural e
terceira pessoa).
3. Com o verbo ser, entretanto, o que há de mais comum é sua tendência
para concordar com o termo que estiver no plural (seja sujeito, seja
predicativo), como comprovam os seguintes exemplos, ambos corretos.
Exs.: a) “O problema eram os meus projetos” (verbo no plural
concordando com o predicativo); b) “Os problemas eram o meu projeto”
(verbo no plural concordando com o sujeito).
4. Embora essa seja a tendência mais comum do verbo ser nessa situação,
vejam-se, entretanto, em seguida, exemplos de autores de peso que as
contrariam: a) “Os responsórios e os sinos é coisa importuna em Tibães”
(Camilo Castelo Branco); b) “Vestidos e modas é assunto para
mulheres” (Domingos Paschoal Cegalla).
5. Atentando, de modo específico, aos exemplos trazidos pelo leitor para
análise – a) “Essas testemunhas é o time do processo cível”; b) “Essas
testemunhas são o time do processo cível” – podem-se fazer as seguintes
afirmações: i) a regra geral de concordância é que o verbo concorda com
o seu sujeito em número e pessoa; ii) com o verbo ser, todavia, a
tendência mais comum é que ele concorde não necessariamente com o
sujeito, mas com o termo que estiver no plural; iii) por essa razão, pode-
se afirmar que o segundo exemplo trazido pelo leitor está em perfeita
sintonia com essa corrente; iv) como isso é uma tendência, e não uma
regra inflexível, também não é incomum que autores abalizados façam a
concordância de acordo com a regra geral, isto é, com o sujeito, ou
mesmo com o predicativo no singular, embora o sujeito esteja no plural;
v) com base nessa última observação, também se pode afirmar a
correção do primeiro de tais exemplos.

Epiceno
1. Também chamado de promíscuo por Eduardo Carlos Pereira (1924, p.
67), consiste no substantivo designativo de nomes de animais, que se
apresentam num só gênero gramatical para designar seres dos dois sexos,
sem alteração formal alguma, nem mesmo do artigo.
2. Para não confundi-lo com os sobrecomuns, interessante é atentar à
síntese de Luiz Antônio Sacconi: “os sobrecomuns e os epicenos têm
uma só forma e gênero para ambos os sexos, mas os sobrecomuns se
referem a pessoas; os epicenos, a animais e a insetos inferiores” (1979,
p. 33).
3. A discriminação dos sexos faz-se pelo acréscimo dos adjetivos macho e
fêmeo. Exs.: cobra macha, cobra fêmea, jacaré macho, jacaré fêmeo.
4. Júlio Nogueira, no plano histórico, após referir que, do latim ao
português, conforme a terminação, os nomes de animais se direcionaram
preponderantemente para o masculino, enquanto um pequeno número foi
para o feminino, assim completa seu relato: “O latim indicava os outros
nomes de animais ora pelo masculino, ora pelo feminino. Não os havia
neutros. Assim, corvus, piscis são masculinos, ao passo que vulpes,
aquila são femininos. Da mesma forma no português: tigre, jacaré etc.,
são masculinos, ao passo que cobra, serpente, abelha são femininos.
Quando havia necessidade de definir o sexo, o latim juntava ao
substantivo as palavras mas (macho) ou masculus (diminutivo de mas) e
femina (mulher). O português, igualmente, aplica os adjetivos macho e
fêmea a nomes de animais, no mesmo caso: a raposa macho, a raposa
fêmea” (1930, p. 140).
5. Carlos Góis e Herbert Palhano assim resumem a questão sobre o
conceito e o regramento do epiceno: “É o que apresenta a mesma forma
para ambos os gêneros, sendo que a distinção entre o masculino e o
feminino é feita pelas palavras macho e fêmea” (1963, p. 47).
6. Também oportuno é o ensino de José de Nicola e Ernani Terra (2000, p.
98): “é o substantivo que apresenta um único gênero para designar
animais ou vegetais de ambos os sexos: baleia, por exemplo, é um
substantivo feminino, quer se refira ao macho, quer à fêmea. O mesmo
ocorre com cobra, onça, borboleta, pulga, palmeira. Tubarão é um
substantivo masculino, quer se refira à fêmea, quer ao macho. O mesmo
ocorre com jacaré. Para se distinguir o sexo do animal, usam-se as
palavras macho e fêmea: o tubarão macho, o tubarão fêmea, a baleia
macho, a baleia fêmea”.
7. Não confundir com comum de dois ou comum de dois gêneros, em que a
forma do substantivo designativo de pessoas é a mesma, mas se altera o
artigo (o pianista, a pianista).
8. Também se reitere a distinção do sobrecomum, que é substantivo de um
só gênero, referindo-se a seres de ambos os sexos, sem distinção por
artigo ou por acréscimo de adjetivo (a criança, o indivíduo).
Para análise da flexão do adjetivo que especifica o gênero em tais
casos, ver Fêmeo – Existe? (P. 354)

É pouco
Ver É muito (P. 316).

É preciso
Ver É proibido – Como concordar? (P. 325)

É preferível do que – Está correto?


1. É sabido que o verbo preferir responde à construção preferir alguma
coisa a (e não do que) outra coisa. Exs.: a) “Ele preferiu correr o risco
de absolver um culpado a condenar um inocente” (correto); b) “Ela
preferiu correr o risco de absolver um culpado do que condenar um
inocente” (errado).
2. O adjetivo preferível, por sua vez, na linguagem padrão, segue idêntica
sintaxe: uma coisa é preferível a (e não do que) outra, muito embora
ocorra com frequência essa última construção na linguagem popular, por
influência semântica da palavra melhor. Exs.: a) “É preferível absolver
um culpado a condenar um inocente” (correto); b) “É preferível absolver
um culpado do que condenar um inocente” (errado); c) “É preferível
demorar um pouco e decidir bem a ser rápido e julgar mal” (correto); d)
“É preferível demorar um pouco e decidir bem do que ser rápido e
julgar mal” (errado).
3. Essa, aliás, é a posição de Francisco Fernandes (1969, p. 304), em
preciosa obra, o qual traz à corroboração exemplos de autores
insuspeitos: a) “É preferível ampliar e retocar os móveis de barro antigo
a empreender novos esboços” (Veiga Miranda); b) “O Conde de Santa
Bárbara há de dar-lhe quarenta contos, porque a vida é preferível a
quarenta contos” (Camilo Castelo Branco).
4. Também Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 328) lembra que “uma
coisa é preferível a outra (e não do que outra)”.
5. E Celso Pedro Luft (1999, p. 399) complementa que a expressão
preferível do que ocorre tão somente na linguagem vulgar.

É proibido – Como concordar?


1. Uma leitora encontrou em um livro a seguinte frase: “Foram precisos
vários minutos para remover a neve que bloqueava a porta”. A
expressão foram precisos lhe soou estranha e inadequada. Por isso
indaga se ela está certa.
2. Em realidade, expressões como é bom, é necessário, é preciso, é
proibido apresentam problemas quanto às concordâncias nominal e
verbal.
3. Se o sujeito é genérico (não vem precedido de artigo ou palavra
especificadora), a expressão fica invariável, no masculino singular: “É
proibido entrada”.
4. Se o sujeito é específico (tem antes de si algum termo que o determina),
a expressão concorda com o nome a que se refere: “É proibida a
entrada”.
5. Se ocorre elipse do verbo ser, continuam valendo as recomendações
feitas. Exs.: a) “Proibido entrada”; b) “Proibida a entrada”; c)
“Proibido armas a tiracolo”; d) “Expressamente proibido animais na
praia”.
6. A respeito da concordância observada, Aires da Mata Machado Filho
refere lição de Said Ali, o qual – na tentativa de explicação da
invariabilidade do adjetivo em tais casos – recorre à elipse de um verbo,
cujo objeto direto seria o substantivo subsequente às locuções em
apreço.
7. Assim, “é preciso paciência” valeria o mesmo que “é preciso ter
paciência”.
8. Após noticiar a referida doutrina, porém, tal autor (MACHADO FILHO,
1969a, p. 573-6) – no que é seguido por Antenor Nascentes, em posição
que parece mais acertada – dá preferência à lição de Mário Barreto:
“Não se diga que a língua portuguesa não tem gênero neutro; diga-se
antes que nela há o neutro, mas que a sua forma se confundiu com a do
masculino. Em português, como em toda língua, o neutro distingue-se,
no pensamento, do masculino, posto que já não se distingue um do outro
exteriormente, por formas gramaticais particulares ao masculino e ao
neutro, formas que se tornaram idênticas pela obliteração das antigas
terminações que os diferençavam”.
9. E Eduardo Carlos Pereira (1924, p. 229), lembrando que tal sintaxe é
“um dos vestígios interessantes do gênero neutro em português”,
justifica que, em expressões desse jaez, “bom, necessário, proibido
assumem a forma aparentemente masculina, porém realmente neutra,
visto que os substantivos a que se referem, tomados em sua generalidade
abstrata, assumem o sentido vago, no qual como que se oblitera o
conceito genérico”.
10. Carlos Góis (1943, p. 94), por seu lado, vê em construções dessa
natureza a “elipse de termos de uma segunda oração do período, da
qual o único elemento sobrevivente é o tal nome no plural”,
acrescentando que a concordância expressa é a mais usual entre os
autores, exemplificando com o Padre Vieira: “Para esta visão são
necessários olhos”.
11. Em termos práticos, tomando por referência a frase “é proibido
entrada”, significativa é a síntese que Silveira Bueno fazia a um de
seus consulentes: “Quando o substantivo (entrada) é tomado em toda a
sua generalidade, sem determinação alguma, assume a forma neutra o
adjetivo, permanecendo invariável. Mas se o snr. colocar o artigo antes
de entrada, então deverá fazer a concordância” (1938, p. 222-3).
12. Cândido de Oliveira (s/d, p. 69) sintetiza a questão em duas regras para
tais expressões: a) os adjetivos “ficam invariáveis quando não há artigo
a”; b) contudo, “se houver artigo [e, obviamente, for ele feminino],
vem a forma feminina”.
13. Em outra obra, assim explana Silveira Bueno, em mesmo sentido:
“Quando determinada palavra é tomada em toda a significação, sem a
menor restrição ou determinação, pode o adjetivo permanecer no
masculino sem concordar com o termo a que se refere. Assim se diz: é
proibido entrada, é necessário gramática, cerveja é bom para
engordar. Basta que se ponha o artigo para que a concordância passe a
ser obrigatória: é proibida a entrada…, é necessária a gramática, a
cerveja é boa para engordar” (1957, p. 375).
14. Por sua vez, ensina Vitório Bergo (1944, p. 106) ser concordância
regular e permitida “Eram precisas despesas”; observa, todavia, não
ser “condenável a concordância ‘Era preciso despesas’, notadamente
com o substantivo não definido”.
15. Mesmo em casos de ocorrente determinação, observa Artur de Almeida
Torres que, “às vezes, porém, ou porque haja elipse de um infinitivo,
ou porque perdure o sentido de neutralidade, o predicativo não
concorda com o sujeito determinado”. Exs.: a) “Não era preciso esta
minuciosa genealogia” (Machado de Assis); b) “É necessário uma
derradeira prova de esforço” (Alexandre Herculano); c) “Era preciso
muita cautela” (Camilo Castelo Branco).
16. E justifica tal gramático: “Pode-se subentender, em tais casos, os
verbos ter ou possuir: É necessário (ter ou possuir) muita cautela”
(TORRES, 1966, p. 164).
17. É interessante registrar que à possibilidade de permanência do verbo no
singular, mesmo “figurando na frase um nome no plural posposto com
a ‘aparência de sujeito’”, Carlos Góis (1943, p. 123) dá o nome de
discordância verbal.
18. Com essas observações, assim se conclui em resposta direta à leitora:
a) no caso do exemplo por ela trazido, o circunlóquio a ser considerado
é “foram precisos vários minutos”; b) nesse torneio, é preciso atentar à
expressão vários minutos; c) ora, vários é o modificador suficiente para
fazer variar a concordância da expressão é preciso; d) está, portanto,
plenamente correta a concordância do exemplo por ela trazido, a saber
“foram precisos vários minutos”; e) quanto a outras possibilidades de
concordância, vale a pena ler as observações e o ensino dos gramáticos,
tais como acima referidos.

É que
1. Caldas Aulete leciona que tal locução seria “uma espécie de advérbio,
que tem por fim particularizar e dar realce e força a uma afirmação”.
2. Carlos Góis, que cita a lição do dicionarista, anota, por sua vez, que se
trata de “um idiotismo de nossa língua” (1943, p. 93).
3. Para efeito de concordância verbal, considera-se como se não existisse
tal expressão na frase. Exs.: a) “Eu é que vou à audiência”; b) “Nós é
que vamos à audiência”.
Ver Concordância verbal (P. 212).

Equidade – Como se pronuncia?


1. Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 19) arrola o vocábulo entre aqueles nos
quais o u, facultativamente, é pronunciado ou não, situação essa de que
resultava a conclusão de que o emprego do trema também era optativo.
O trema, como se sabe, foi abolido pelo Acordo Ortográfico de 2008
para os vocábulos de nosso idioma.
2. Anote-se, contudo, que o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa,
da Academia Brasileira de Letras, órgão oficialmente incumbido de
anotar as palavras componentes de nosso léxico bem como o modo de
grafá-las, registrava, até sua edição de 2004, apenas a forma com trema
(p. 312), o que implicava dizer que apenas se admitia a pronúncia ü.
3. A mais recente edição de 2009, por outro lado, registra a duplicidade de
pronúncia (u ou ü), motivo por que ambas estão oficialmente autorizadas
no vernáculo (ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, p. 326).

Equivaler – Como se pronuncia?


1. Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 19) arrola o vocábulo entre aqueles nos
quais o u, facultativamente, é pronunciado ou não.
2. Também assim pensam José de Nicola e Ernani Terra: “Ambas as formas
são corretas” (2000, p. 98).
3. Óbvio está que, se se tem por facultativa a pronúncia do u no infinitivo,
também é optativo seu emprego em qualquer das formas do mencionado
verbo.
4. Esse, de igual modo, é o posicionamento da Academia Brasileira de
Letras, em seu Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, edição de
2009 (p. 326), que registra ambas as formas de pronúncia (u ou ü).
5. Anota-se, por oportuno, que com o Acordo Ortográfico de 2008 – que
aboliu o trema dos vocábulos de nosso idioma – nenhuma forma do
referido verbo recebe o referido sinal.
6. As mesmas observações valem para os seus cognatos: equivalência,
equivalente e todos os demais.

Era chegado
Ver Ser nascido – Está correto? (P. 694)

Éramos seis – Está correto?


Ver Em seis – Está correto? (P. 316)

Eram passados
Ver Ser nascido – Está correto? (P. 694)

Era o momento do réu falar – Está correto?


1. Trata-se de expressão a ser evitada em textos que devam submeter-se à
norma culta, como o são os legais, os jurídicos e os forenses.
2. Deve-se preferir “Era o momento de o réu falar”, ou “Era o momento de
falar o réu”.
Ver É hora da onça beber água ou É hora de a onça beber água? (P. 296)

Era perto de oito horas – Está correto?


1. Normalmente, o verbo ser, referindo-se a horas, concorda com o número
destas. Exs.: a) “Era uma hora”; b) “Era uma e meia”; c) “Eram duas
horas”.
2. Quando se têm expressões como perto de ou cerca de, todavia, ensina
Domingos Paschoal Cegalla que, mesmo estando horas no plural, deixar
o verbo no singular é “concordância anômala, porém correta”. Exs.: a)
“Era perto de oito horas” (concordância anômala); b) “Eram perto de
oito horas” (concordância normal); c) “Era cerca de oito horas”
(concordância anômala); d) “Eram cerca de oito horas” (concordância
normal).
3. E, trazendo o abono de escritores insuspeitos, justifica tal autor
(CEGALLA, 1999, p. 145-6) que “não é incorreto deixar, neste caso, o
verbo no singular, porque na indicação das horas o verbo ser é
impessoal, isto é, não tem sujeito”. Exs.: a) “Era perto de duas horas
quando saiu da janela” (Machado de Assis); b) “Era perto das cinco
quando saí” (Eça de Queirós).

Erário público – Está correto?


1. Indaga um leitor se é correta ou não a expressão erário público.
2. Oriundo do latim, em termos de conceituação jurídica, aplica-se o
vocábulo erário para designar o tesouro público, o conjunto de bens ou
valores pertencentes ao Estado (DE PLÁCIDO E SILVA, 1989, p. 182).
3. Uma consulta a um dicionário também revela que, vulgarmente,
considera-se erário o conjunto de recursos financeiros públicos, ou,
ainda, os dinheiros e bens do Estado (HOUAISS; VILLAR, 2001, p.
1.186).
4. Desse modo, sem necessidade de maiores indagações, vê-se que a
expressão erário público deve ser evitada, por tipificar tautologia ou
pleonasmo vicioso, até porque não se há de falar em erário privado.
5. Se, por acaso, se quiser empregar o adjetivo público, nada impede que se
use outro vocábulo que já não traga em si o sentido de relação com o
Poder Público, tal como cofres públicos ou burras do Governo.

Erigir
1. Em sua conjugação verbal, apresenta problemas de ortografia.
2. Em verdade, diferentemente dos verbos cujo radical termina em j –
consoante essa que tem o mesmo som antes de todas as vogais (viajo,
viajas, viajemos, viajeis, viajem) – os verbos terminados em gir, para
continuidade do som da consoante final do radical, precisam da
representação gráfica j antes de a ou de o. Assim: erijo, eriges, erigimos,
erijam.
3. Esses problemas apenas ocorrem no presente do indicativo e seus
tempos derivados: erijo, eriges, erige, erigimos, erigis, erigem (presente
do indicativo); erija, erijas, erija, erijamos, erijais, erijam (presente do
subjuntivo), erige, erija, erijamos, erigi, erijam (imperativo afirmativo);
não erijas, não erija, não erijamos, não erijais, não erijam (imperativo
negativo).
4. Como esses problemas ocorrem apenas no presente do indicativo e
tempos derivados, não apresenta o verbo erigir problema algum de
flexão nos demais tempos: erigia (pretérito imperfeito do indicativo),
erigirei (futuro do presente), erigiria (futuro do pretérito), erigindo
(gerúndio), erigido (particípio), erigi (pretérito perfeito do indicativo),
erigira (pretérito mais-que-perfeito do indicativo), erigir (futuro do
subjuntivo), erigisse (imperfeito do subjuntivo).
5. Seguem as mesmas observações diversos outros verbos: coligir, exigir,
impingir, infligir, infringir, insurgir-se, transigir.
Ver Erigir-se em – Está correto? (P. 328)

Erigir-se em – Está correto?


1. Apesar de seu largo uso como pronominal no sentido de fazer-se,
constituir-se, o certo é que para Francisco Fernandes (1971, p. 300),
fundado em lição de Cândido de Figueiredo e de Mário Barreto, “nesta
acepção é considerado galicismo dispensável”.
2. Nessa esteira, preconiza, de igual modo, Aires da Mata Machado Filho
(1969b, p. 738) que se evite facilmente o erro pelo uso das expressões
vernáculas arrogar-se em crítico e constituir-se juiz, dentre outras. Exs.:
a) “Ele se erige em árbitro da conveniência alheia” (errado); b) “Ele se
arroga em árbitro da conveniência alheia” (correto).
3. Júlio Nogueira (1930, p. 53) também insere esse torneio entre as
locuções, expressões e frases completas que conservam o “ar francês” do
galicismo, espécies das mais repreensíveis, “pois não correspondem a
uma necessidade da língua”.
4. Em mesmo sentido, Júlio Nogueira (1959, p. 69) leciona que, em vez de
erigir-se em censor, erigir-se em juiz, se há de dizer constituir-se em
censor, inculcar-se como juiz ou inculcar-se por juiz….
5. Edmundo Dantès Nascimento (1982, p. 23-4) também arrola essa
expressão entre os estrangeirismos fraseológicos e de acepção, e manda
que se mude a frase “Erigiu-se em Juiz” para “Constituiu-se em Juiz”,
“Inculcou-se como Juiz” ou mesmo “Arrogou-se o direito de…”.
6. Vitório Bergo (1943, p. 119) insere-a no rol dos galicismos de estrutura,
daqueles “em que as palavras são portuguesas mas a sintaxe
(especialmente a colocação e a regência) é francesa”; e manda substituir
a expressão erigir-se em censor por inculcar-se censor.
7. Registre-se, por fim, a observação de Domingos Paschoal Cegalla (1999,
p. 146) de que a censura de galicismo acerca de tal construção “só é
plausível quando, na construção em apreço, se emprega a preposição
em”, motivo por que se há de atentar para os seguintes exemplos, com a
indicação de sua correção ou incorreção: a) “Ele se erigiu em chefe do
bando” (errado); b) “Ele se erigiu chefe do bando” (correto).
Quanto à conjugação verbal, ver Erigir (P. 327).

Erros que importam omitir – Está correto?


Ver Infinitivo como sujeito – Como concordar? (P. 414)
Esboço – Como pronunciar o plural?
Ver Metafonia (P. 472).

Escola-modelo
Ver Substantivos compostos – Como levar ao plural? (P. 717)

Escrever a máquina ou Escrever à máquina?


1. Em termos técnicos de estrutura gramatical, costuma-se teorizar com o
ensino de que não se usa o sinal indicativo da crase antes de palavras
femininas que formem locuções adverbiais de meio ou de instrumento.
Exs.: a) “O poeta escrevia seus versos a máquina”; b) “O carro tinha um
motor a gasolina”; c) “O navio era movido a vela”.
2. Em termos práticos, como ocorre de um modo geral, a substituição dos
vocábulos precedidos pelo a que se discute, por correspondentes do
masculino mostra que, operada a substituição, não aparece ao no
masculino, de modo que não há crase no feminino. Exs.: a) “O poeta
escrevia seus versos a lápis”; b) “O carro tinha um motor a álcool”; c)
“O navio era movido a vapor”.
3. Para oportuno esclarecimento, apenas em uma hipótese se emprega a
crase nesses casos: quando se corre o risco de ambiguidade. Quando isso
acontece, por um lado, não há motivo técnico algum para o emprego da
crase; por outro lado, contudo, ela é usada exatamente para dirimir
qualquer dúvida a respeito de qual seja o sentido da frase. Exs.: a) “Ele
pintava a mão” (passava tinta na própria mão); b) “Ele pintava à mão”
(segurava as mãos com o pincel, não se valendo de nenhum outro
instrumento para tanto).
4. Como, porém, os casos inicialmente propostos não possibilitam a
ocorrência de ambiguidade, então não há justificativa alguma para o
emprego da crase. Confira-se: a) “O poeta escrevia seus versos a
máquina” (correto); b) “O poeta escrevia seus versos à máquina”
(errado); c) “O carro tinha um motor a gasolina” (correto); d) “O carro
tinha um motor à gasolina” (errado); e) “O navio era movido a vela”
(correto); f) “O navio era movido à vela” (errado).
Escrita e verbalmente ou Escrito e verbalmente?
1. Um leitor relata haver deixado na porta da sala do chefe um recado nos
seguintes termos: “Favor não entrar. Solicita-se deixar recado, escrita
ou verbalmente”. Foi ele corrigido por uma advogada e um diretor.
Disseram-lhe que o correto é “escrito ou verbalmente”, ou, no máximo,
“escrito ou verbal”. Serve-se da consulta para indagar qual a forma
correta.
2. Por um lado, importa fixar como premissa que um advérbio como o que
aqui se considera forma-se em nossa língua pela flexão do adjetivo para
o feminino e subsequente acréscimo do sufixo mente. Exs.: a) caloroso
> calorosa > calorosamente; b) legal > legal > legalmente.
3. Num segundo aspecto, vale citar o ensino de João Ribeiro: “Os
advérbios em mente, quando ocorrem juntos, perdem, exceto o último,
aquela terminação. Ex.: ‘Discorreu larga e profundamente’. É esse uso
clássico. No entanto, hoje em dia se vai generalizando, talvez por
influência francesa, o uso de conservar as terminações: Discorreu
sabiamente, largamente, profundamente” (1923, p. 205).
4. Tendo em consideração um exemplo de Rui Barbosa – “Essas decisões
são perfeitamente, legalmente, constitucionalmente definitivas” –
observa Souza e Silva (1958, p. 182) que nosso grande expoente da
língua “se teria expressado com menos energia se dissesse: ‘Essas
decisões são perfeita, legal, constitucionalmente definitivas’”.
5. Parece que o assunto, até este ponto, pode ser resumido com lição de
Artur de Almeida Torres (1966, p. 128): a) “Concorrendo na frase,
sucessivamente, dois ou mais advérbios de modo, só o último, em regra,
recebe o sufixo mente”; b) “Se, porém, a construção tiver sentido
enfático, cada advérbio poderá receber esse elemento sufixal”.
6. Em acréscimo, e com integral aplicação ao caso da consulta, em que o
sufixo ocorre apenas com o último advérbio, invoca-se a síntese de Júlio
Ribeiro (1908, p. 314): a) “Quando se agrupam diversos advérbios
terminados em mente, só o último assume essa desinência”; b) Guardam,
contudo, “os outros a forma feminina singular dos adjetivos de que
nascem”; c) E ele próprio exemplifica: “Lutaram os paraguaios
calorosa, desatinada, loucamente”.
7. Veja-se, apenas para conferir, a preferência do legislador brasileiro no
Código Civil revogado, cuja redação, como se sabe, teve a participação
decisiva de Rui Barbosa: “O registro declarará: … II – o modo por que
se administra e representa (a associação ou a fundação) ativa e passiva,
judicial e extrajudicialmente” (CC/1916, art. 19, II). E se perceba já
alguma alteração no dispositivo correspondente do Código Civil de
2002: “O registro declarará: … III – o modo por que se administra e
representa (a associação ou a fundação) ativa e passivamente, judicial e
extrajudicialmente” (CC, art. 46, III).
8. De modo específico para o caso da consulta, vejam-se as variações de
construção com a indicação de sua correção ou erronia, incluindo a
hipótese final de emprego de adjetivos, e não de advérbios: a) “Solicita-
se deixar recado, escrita ou verbalmente” (correto); b) “Solicita-se
deixar recado, escrito ou verbalmente” (errado); c) “Solicita-se deixar
recado, escritamente ou verbalmente” (correto); d) “Solicita-se deixar
recado, escrito ou verbal” (correto).

Esculpido e encarnado
Ver Cuspido e escarrado – Está correto? (P. 244)

Esculpir ou Insculpir?
1. Qual a forma correta entre os seguintes exemplos, quanto ao sentido
figurado dos verbos esculpir e insculpir: a) “Como está esculpido em
nossa Constituição.”; b) “Como está insculpido em nossa Constituição?”
2. Veja-se, por primeiro, que tanto o esculpir como insculpir são verbos que
se encontram registrados no Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de Letras (2009, p. 335 e
460).
3. Ante tal fato, porque a ABL tem a delegação legal para listar no VOLP
os vocábulos que existem oficialmente em nosso idioma, não pode haver
dúvida acerca da existência oficial de ambas as palavras em nosso
léxico, de modo que a solução do problema se faz por uma consulta ao
dicionário, para verificação de seu real sentido.
4. Os dicionaristas dão a mesma origem a ambos os verbos e lhes conferem
o mesmo sentido figurado de gravar, de inscrever. Exs.: a) “A vida de
sofrimentos esculpiu um ar de derrota em seu rosto”; b) “Insculpiu-se
um herói na estima do seu povo” (HOUAISS; VILLAR, 2001, p. 1.212 e
1.623).
5. Ante tais ponderações, pode-se dizer que estão corretos, e ambos com o
mesmo sentido, os seguintes exemplos: a) “Como está esculpido em
nossa Constituição”; b) “Como está insculpido em nossa Constituição”.

Escusável ou excusável?
1. Uma leitora, ante o que consta do art. 172, II, do Código Tributário
Nacional, indaga qual a forma correta: escusável ou excusável?
2. Ora, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, que é a obra pela
qual a Academia Brasileira de Letras exerce sua função de listar as
palavras que integram oficialmente nosso léxico, registra escusável, que
tem por sinônima desculpável ou perdoável, mas não excusável (2009, p.
335).
3. E, como a palavra da ABL por via do VOLP é a autoridade oficial nesse
campo, a forçosa conclusão, assim, é que excusável não existe em nosso
idioma. A mesma lição vale para outros vocábulos oriundos do mesmo
radical: existem escusa, escusado e escusar, mas não excusa, excusado e
excusar.
4. Quanto a seu emprego, é de se dizer que o verbo escusar é de frequente
uso em dispositivos de nossas leis, mas não o adjetivo escusável, que
não foi encontrado em nossas principais codificações.
5. A única vez, aliás, em que foi encontrado, o adjetivo veio com erro de
grafia: CTN – Art. 172. “A lei pode autorizar a autoridade
administrativa a conceder, por despacho fundamentado, remissão total
ou parcial do crédito tributário, atendendo: … II – ao erro ou
ignorância excusáveis do sujeito passivo, quanto a matéria de fato…”
Corrija-se: escusáveis.
6. A equivocada tendência de nosso idioma ao erro, no caso, tanto para o
adjetivo como para as outras palavras oriundas de mesmo radical, bem
possivelmente se deva ao uso corriqueiro do inglês (excuse me = com
licença ou perdoe-me) e do francês (excusez-moi = perdoe-me), idiomas
esses em que tais vocábulos se escrevem com x.
Esmero
1. Com a mesma grafia, há o substantivo, que significa apuro, zelo,
cuidado, diligência, e há o verbo esmero (de esmerar-se), na primeira
pessoa do singular do presente do indicativo, com o sentido de apurar-se,
cuidar-se.
2. Ambas são palavras de mesma grafia (homógrafas), mas com pronúncia
diversa (heterófonas).
3. Apresentando-se, assim, um problema de ortoepia, é de se dizer,
conforme lição de Aires da Mata Machado Filho (1969g, p. 1.787), que
o verbo (eu me esmero) tem o som aberto (é), ao passo que o substantivo
(contrariamente ao uso frequente nos meios forenses) tem som fechado
(ê) tanto no singular (o esmero) quanto no plural (os esmeros).
4. Atento aos frequentes equívocos que ocorrem com respeito a esse
vocábulo, observa Domingos Paschoal Cegalla que o substantivo se
pronuncia esmêro, já que, “com o e tônico aberto, é forma do verbo
esmerar-se” (1999, p. 148).
5. Cândido de Oliveira (1961, p. 34) também lembra que a pronúncia da
vogal tônica do substantivo é fechada (ê).
6. Espancando toda e qualquer dúvida, o Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras (2009, p. 338), que
é o veículo oficial indicador das palavras existentes em nosso idioma,
bem como sua grafia e sua pronúncia, manda que se pronuncie o e do
substantivo com timbre fechado (ê).

Espanha – Estive em ou na?


Ver França – Estive em ou na? (P. 363)

Espanholismo
1. O nome genérico para o vício de linguagem consistente em usar
vocábulos, expressões e construções alheias ao idioma é barbarismo.
2. Quando a invasão de palavras provém do espanhol, dá-se ao vício o
nome de espanholismo.
3. Esclareça-se que quando regular e oficialmente recebida a palavra nova
de outro idioma pelo Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa,
editado pela Academia Brasileira de Letras, diz-se estar diante de um
neologismo.

Especial a – Está correto?


1. Quando se indaga se está correta uma expressão como “especial a você”,
deve-se, por primeiro, observar os seguintes aspectos: a) a expressão a
você completa o vocábulo especial; b) especial é um adjetivo; c) assim,
em última análise, quer-se saber qual preposição o adjetivo especial está
a exigir no caso concreto.
2. Em termos de relacionamento entre as palavras na frase, ou de sintaxe
(do grego sin = conjunto + taxe = construção), perquirir sobre a
preposição que exige, na estrutura, um adjetivo (gramaticalmente um
nome) é assunto de um capítulo da Gramática denominado regência
nominal.
3. Em nosso idioma, as questões de construção, ou seja, de sintaxe, são
solucionadas pela consulta ao uso que nossos melhores autores, desde
Camões (1524-80), fizeram do idioma pátrio. E a expressão melhores
autores deve ser entendida aqui como aqueles escritores que
empregaram o vernáculo com apuro e zelo.
4. Buscar, porém, na obra literária dos nossos melhores autores o modo
como eles empregaram a regência do adjetivo especial é como procurar
agulha em palheiro.
5. Isso, porém, não é necessário, pois estudiosos e gramáticos já realizaram
estudos nesse sentido, compilaram milhares de exemplos e
sistematizaram, em dicionários preciosos, grande parte da sintaxe de
vocábulos dessa natureza.
6. Para o caso da consulta, Francisco Fernandes (1969, p. 186) colheu o
seguinte exemplo: “Consagraram, no seu idioma, um vocábulo especial
a exprimir o respeito e lealdade da nação à coroa” (Rui Barbosa).
7. Em mesmo escritor, Celso Pedro Luft (1999, p. 216) também encontrou
este emprego: “Fato fisiológico especial ao outro sexo” (Rui Barbosa).
8. Assim, em conclusão, pode-se dizer que é correta a regência nominal
empregada no exemplo: “Alguém muito especial a você passa a fazer
parte…”

Especialidades mineiras ou Especialidades mineira?


Ver Tapetes persas ou Tapetes persa? (P. 727)

Esperto ou Experto?
1. Esperto tem o significado de desperto, sagaz, vivo. Ex.: “Os litigantes
hão de estar espertos para a fiscalização dos atos processuais”.
2. Já experto é adjetivo com o sentido de exercitado, experiente, perito,
prático, versado. Exs.: a) “Eram advogados expertos na lida dos
processos”; b) “Perdoa, meu rico prelado, perdoa-me esses descuidos da
pena, tão pouco experta em matérias eclesiásticas” (Machado de Assis).
3. Como se vê pelo último exemplo, como adjetivo, experto pede
complemento regido pela preposição em, lição essa também registrada
por Francisco Fernandes (1969, p. 186), ao citar exemplo de Rui
Barbosa: “Qual seria o desfecho, perguntam os expertos nestes
assuntos”.
4. Com frequência e corretamente, também tem sido utilizado esse
vocábulo, nos meios forenses, como substantivo, para indicar o perito
nomeado pelo juízo para algum trabalho previsto pela legislação
processual. Ex.: “No prazo determinado pelo juiz, o experto apresentou
seu laudo pericial”.
5. Não se trata de palavra nova nessa acepção, porquanto já a empregava o
próprio Camões, em seu Os Lusíadas: “Que, posto que em cientes muito
cabe, / Mais em particular o experto sabe”.
6. Atento às dificuldades que normalmente ocorrem com a diferenciação
entre as duas palavras, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa,
da Academia Brasileira de Letras, órgão incumbido oficialmente de
determinar a existência dos vocábulos em nosso idioma, contrariamente
a seu usual proceder de não dar o sentido das palavras, acaba por fazer
ele próprio a distinção, explicitando que esperto quer dizer acordado,
enquanto experto tem a acepção de versado, perito (2009, p. 341 e 358).
Ver Peritagem – Está correto? (P. 561)
Espontâneo ou Expontâneo?
1. Espontâneo é adjetivo que significa voluntário, de livre vontade. Ex.: “O
homem, em comparecimento espontâneo, confessou o crime”.
2. Cuidado, porque é errônea a forma expontâneo.

Esponte própria
1. Existe em latim o substantivo desusado spons, que significa desejo,
vontade, cujo ablativo sponte significa por vontade ou por desígnio.
2. É frequente o emprego de tal palavra em expressões como sponte sua e
sponte propria, que se traduzem como por sua vontade e por própria
iniciativa. Exs.: a) “O funcionário subalterno agiu, no episódio, sponte
sua”; b) “O funcionário subalterno agiu, no episódio, sponte propria”.
3. Quanto ao emprego da expressão esponte própria, já aportuguesada,
porém, é importante observar que o Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa não a registra como palavra de nosso idioma, o que significa
que não estamos autorizados a empregá-la na linguagem formal das
petições, arrazoados e pareceres.
4. É importante anotar que o VOLP é uma espécie de dicionário que lista as
palavras reconhecidas oficialmente como pertencentes ao nosso idioma e
lhes fornece a grafia oficial, muito embora não lhes dê, por via de regra,
o significado.
5. É elaborado pela Academia Brasileira de Letras, que tem a
responsabilidade legal de editá-lo, em cumprimento à velha Lei Eduardo
Ramos, de n. 726, de 8/12/1900.
6. Ante incumbência advinda de lei específica, o VOLP goza de autoridade
para, nesse campo, dizer o direito, motivo por que, ao consultá-lo, legem
habemus e devemos prestar-lhe obediência, como devemos fazer com
respeito aos demais diplomas legais.
7. Assim, sendo o VOLP a palavra oficial sobre a existência e a ortografia
das palavras da língua portuguesa no Brasil, a ausência da palavra
esponte em seu rol significa que o referido vocábulo simplesmente não
existe em nosso idioma.
8. Por essa razão, não se autoriza o emprego da expressão esponte própria
em português, de modo que deve ser substituída por expressão
vernácula, como por própria vontade, ou então por expressão latina –
sponte propria – a qual, como todo vocábulo de idioma estrangeiro por
nós empregado, deve vir ou em negrito, ou em itálico, ou entre aspas, ou
com sublinha.

Esposo – Como pronunciar o plural?


Ver Metafonia (P. 472).

Esposo ou Marido?
1. Se se atentar ao princípio de que a linguagem do Direito é técnica e
científica e de que cada termo, na ciência jurídica, tem seu próprio
significado, uma atenta leitura do Código Civil evidenciará que ali se diz
com simplicidade: pai, mãe, mulher, militar, e não genitor, progenitora,
esposa, miliciano.
2. E, se o Código Civil fala em marido e mulher, desde logo se vê que
desnecessário é o emprego de esposo, esposa, senhora ou dama.
3. Ampliando a lição, se a lei, por exemplo, ao tratar da variação do valor
pago a título de alimentos, fala em “majoração do encargo” (CC, art.
1.699), despiciendo há de ser o emprego de exacerbação de verba; se a
lei já cunhou a expressão despacho, saneador, conferindo-lhe conotação
privativa do Direito Processual, não se há de inovar, em estranha
sinonímia, com despacho alimpador.
4. Em verdade, é inconveniente, na linguagem jurídica, substituir termos e
locuções por sinônimos, ainda que a pretexto de evitar repetições, e isso
sob pena de correr o risco da impropriedade de expressão e de se
descambar para o pernosticismo.
5. A esse respeito, Edmundo Dantès Nascimento, após asseverar que “a
busca de termos sinônimos, muita vez com preciosismo, macula a
simplicidade da lei”, dá lição que merece incessante obediência:
“Busquemos a elegância e riqueza verbal nos argumentos das razões e
nos fundamentos da sentença” (1982, p. 225-6).
6. Em outro aspecto, fazem José de Nicola e Ernani Terra (2000, p. 28)
oportuna observação de que o vocábulo esposo “no plural mantém o
timbre fechado” (espôsos), de modo que “não ocorre metafonia nessa
palavra”.
Ver Adjetivação desnecessária (P. 80) e Petição inicial (P. 563).

Esse ou Este?
Ver Pronome demonstrativo (P. 611).

Estabelecer
1. Na lição de Eliasar Rosa (1993, p. 95), tal verbo, que inclui entre os de
quietação, exige a preposição em, e não a preposição a. Exs.: a) “A
empresa estabeleceu-se na rua principal da cidade” (correto); b) “A
empresa estabeleceu-se à rua principal da cidade” (errado).
2. Esse também é o ensino de Francisco Fernandes (1971, p. 322), que se
vale de exemplos de dicionaristas insuspeitos: a) “Nos rios de comum se
estabelecem os castores” (Morais); b) “Fulano estabeleceu-se em
Lisboa” (Aulete).
3. Já Celso Pedro Luft, que refere a usual regência com a preposição em,
acrescenta que “ocorre estabelecer-se a diante da palavra rua” (1999, p.
279).
4. Partindo do principio de que, quando os gramáticos divergem em seu
ensino, deve-se ter liberdade para optar, deve-se concluir que, sem que
haja erro algum ou mesmo diversidade de sentido, são, assim,
igualmente corretas as frases “A empresa estabeleceu-se na Rua
Miguelópolis, 123” e “A empresa estabeleceu-se à Rua Miguelópolis,
123”.

Estabelecido à Rua Tal ou Estabelecido na Rua Tal?


Ver Morar à Rua Tal ou Morar na Rua Tal? (P. 477)

Estabilitário – Existe?
1. Um leitor indaga se existe em nosso idioma o vocábulo estabilitário,
segundo ele muito comumente utilizado na prática forense.
2. Observa-se, de início, que o subscritor destas linhas, antes de ler a
dúvida do leitor, jamais havia encontrado o mencionado vocábulo, nem
mesmo sabendo com que sentido ele vem sendo empregado.
3. Mesmo assim, é possível anotar que, quando se quer saber se uma
palavra existe ou não em português, deve-se tomar por premissa o fato
de que a autoridade para listar oficialmente os vocábulos pertencentes ao
nosso idioma é a Academia Brasileira de Letras.
4. E essa autoridade, a ABL a exerce por via da edição do Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa.
5. Ora, uma simples consulta ao VOLP mostra que nele não se registra
estabilitário, de modo que a forçosa conclusão a ser extraída é que essa
palavra não existe em nosso léxico.
6. Em tais circunstâncias, se se quer usar um vocábulo com esse
significado, a solução é escolher um sinônimo entre as diversas palavras
com a acepção pretendida pelo usuário em português.
7. Usar, porém, um vocábulo inexistente, a pretexto de neologismo, não
constitui alternativa que esteja ao alcance do usuário do idioma.
8. Sempre é oportuno observar adicionalmente que, em circunstâncias
como essa, nos meios jurídicos e forenses, há uma equivocada tendência
de alguns, com pretensão de uma jamais alcançada erudição, para
empregar vocábulos arrevesados e barrocos, muitas vezes inexistentes,
como esse que agora é trazido para análise.
9. O máximo que conseguem, todavia, é um texto de difícil leitura e
compreensão, muito distante do ideal que só a simplicidade consegue
alcançar.

Estação da Luz ou estação da Luz?


Ver Rua Caiubi ou rua Caiubi? (P. 675)

Estada ou Estadia?
1. Alguns autores, como Caldas Aulete, fazem diferença entre estadia e
estada, deixando a primeira para indicar a parada forçada que o navio faz
no porto, enquanto conferem à segunda o significado de parada de outras
coisas ou pessoas.
2. Cândido Jucá Filho (1963, p. 106 e 273), por seu lado, as dá por
sinônimas e reputa forçada a mencionada distinção, que diz parecer não
vigorar no Brasil.
3. Silveira Bueno (1938, p. 149), por sua vez, entende que o termo melhor
é estada para indicar permanência em algum lugar, reservando estadia
para designar o tempo em que um navio gasta no porto, significando
também a taxa portuária que se deve pagar.
4. Cândido Jucá Filho também reputa estadia um “termo de marinha”
(1981, p. 67).
5. Realçando haver frequentes equívocos quanto ao emprego desses
vocábulos nos meios forenses, Edmundo Dantès Nascimento faz
expressa distinção entre estada e estadia: “o primeiro: permanência em
um lugar (refere-se à pessoa); o segundo: permanência de navio no
porto; automóvel em garagem; animais em cocheiras” (1982, p. 90).
6. Para Regina Toledo Damião e Antonio Henriques, “não raro, bons
profissionais do Direito referem-se ao ato de estar em algum lugar por
certo tempo como estadia. Ora, estadia é a permanência de veículos em
garagem ou estacionamento, ou de navio no porto. Em referência a
pessoas (e também a animais) o correto é estada” (1994, p. 61).
7. De Arnaldo Niskier também é a diferenciação: “estada é a permanência
de animais ou pessoas em algum lugar. Estadia é para navios, carros,
etc.” (1992, p. 34).
8. Luiz A. P. Vitória (1969, p. 107), nessa esteira, também faz diferença:
estada (ato de estar, a demora, a permanência) e a estadia (tempo de
permanência de um navio no porto).
9. Após fazer tal distinção, o Padre José F. Stringari (1961, p. 55-6)
observa que “hoje em dia emprega-se a cada passo esta palavra (estadia)
na acepção de permanência, estada”. E complementa que, “enquanto os
puristas discutem, estadia vai ganhando terreno”, trazendo exemplos de
autores insuspeitos: a) “Eu decididamente não poderia recomeçar nova
estadia no estrangeiro” (Rui Barbosa); b) “Ocupou-se de todos os
autores nacionais que pôde conhecer e ainda de portugueses
abrasileirados pela sua estadia no Brasil” (José Veríssimo); c) “Durante
a estadia dos árabes na Península…” (Otoniel Mota).
10. A legislação tem observado, com apuro e rigor, a diferença semântica
entre ambos os vocábulos: a) “… correndo também por sua conta as
despesas de estada e alimentação do usuário…” (CC, art. 741); b) “…
terá o capitão a escolha, ou de resilir do contrato e exigir do afretador
metade do frete ajustado e primagem com estadias e sobrestadias…”
(C. Com., art. 592); c) “… Se o navio não for livre, o fretador pode
resilir do contrato, com direito ao frete vencido, estadias e
sobrestadias e avaria grossa…” (C. Com., art. 611).
11. Apesar da objeção de alguns, o melhor parece ser observar a efetiva
distinção entre ambos os vocábulos e conferir a cada qual sua
específica acepção, sobretudo porque o Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, órgão incumbido
oficialmente de determinar a existência dos vocábulos em nosso
idioma, além de sua grafia oficial, até mesmo fugindo a seu habitual
proceder e finalidade, acaba por fixar o real sentido do vocábulo
estadia: “demora, permanência de navio” (2009, p. 345).

Estádio ou Estágio?
1. Estádio significa fase, período, razão pela qual se há de dizer estádio de
tristeza, estádio de euforia, estádio de alegria. Ex.: “Passando por um
estádio difícil, a empresa precisou requerer concordata preventiva”.
2. Já estágio quer dizer aprendizado, situação transitória de preparação.
Ex.: “Os novos advogados faziam estágio em grandes escritórios”.
3. Atentos a essa diferença de significação entre os vocábulos e aos
constantes equívocos que se cometem na linguagem diária, assim
exemplificam José de Nicola e Ernani Terra seu uso correto: “No atual
estádio de sua vida, recomendaram-lhe fazer um estágio para se
aperfeiçoar” (2000, p. 100).
4. Observando que o primeiro significado de estágio é o período de
aprendizado prático para o exercício de certas profissões, Domingos
Paschoal Cegalla também anota o emprego comum desse vocábulo na
acepção de “cada uma das sucessivas etapas da realização de um
empreendimento, de uma obra”.
5. E, em seguida, ressalta ele ser esse um “erro enraizado” e que “alguns
gramáticos condenam, com razão, o emprego de estágio como sinônimo
de fase, etapa, estádio” (CEGALLA, 1999, p. 151).
6. Importa alertar que, na atualidade, alguns dicionaristas, de modo
equivocado, baralham ambos os vocábulos, atribuindo-lhes sinonímia
que verdadeiramente não têm.

Estado
Ver Maiúsculas (P. 455).

Estado da Bahia ou estado da Bahia?


1. Um leitor quer saber, em suma, se, quando se refere a um ente específico
da federação, deve ele escrever “Estado da Bahia” ou “estado da
Bahia”.
2. Ora, a primeira e importante observação que se deve fazer nesse campo é
que não há um regramento específico e oficial sobre a matéria.
3. Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, ao tratar dos diversos significados
do vocábulo em questão, grafa-o com minúscula no sentido aqui
buscado, em exemplo que assim registra: “O Brasil tem 26 estados e um
distrito federal” (2010, p. 864).
4. Antônio Houaiss não diverge do mencionado dicionarista e escreve com
minúscula a palavra, mesmo quando acompanhada pela especificação de
qual seja o membro da federação: estado de Sergipe (2001, p. 1.244.).
5. O Manual de Redação da Presidência da República, por sua vez, em
posição diametralmente oposta, nas dezenas de vezes em que emprega a
palavra no sentido de membro integrante da federação, registra-a com
maiúscula.
6. Por fim, no único aspecto em que tratou de algo próximo do assunto aqui
discutido – em determinação que poderia ser aplicada por analogia – , o
Acordo Ortográfico de 2008 determinou ser facultativo o uso de
maiúsculas ou minúsculas no início dos nomes dos logradouros
públicos: Rua Caiubi ou rua Caiubi, Avenida Paulista ou avenida
Paulista, Palácio da Justiça ou palácio da Justiça, Praça da República
ou praça da República.
7. Ante esse quadro, quer pela ausência de regramento específico e oficial
para o assunto, quer pela divergência entre os estudiosos da matéria no
plano da norma culta, o melhor é seguir, por analogia, a regra
determinada pelo Acordo Ortográfico de 2008 para os logradouros
públicos e permitir ambas as grafias, quer para o emprego genérico do
vocábulo (os Estados da federação ou os estados da federação), quer
para o uso na expressão que especifica os membros da federação (o
Estado da Bahia ou o estado da Bahia).

Estados Unidos
No que respeita à concordância verbal, ver Nomes próprios plurais (P.
500).

Estágio ou Estádio?
Ver Estádio ou Estágio? (P. 333)

Estandardizar – Anglicismo?
1. O adjetivo inglês é standard, e sua tradução é padrão. Exs.: preço
padrão, tipo padrão.
2. Para alguns, configuram desnecessários anglicismos tanto o verbo
estandardizar como outras palavras vindas do mesmo radical, como
estandardização, estandardizante, estandardizável, estandardizador.
3. O certo, contudo, é que, apesar da oposição de alguns no que concerne a
sua existência e à possibilidade de seu uso, todos esses vocábulos vêm
registrados no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da
Academia Brasileira de Letras, que é o veículo oficial indicador das
palavras existentes em nosso idioma, motivo por que está autorizado, por
conseguinte, seu normal emprego (2009, p. 346).

Estande
Ver Formação de adjetivos – Regras (P. 360) e Neologismo (P. 494).

Estar ao abrigo de – Galicismo?


1. Expressão que Cândido Jucá Filho (1981, p. 67) observa tratar-se de
galicismo a ser evitado.
2. Melhor é substituí-la por estar a salvo de.

Estar ao fato – Galicismo?


1. Luiz A. P. Vitória (1969, p. 113) assevera que “estar ao fato é um
galicismo gritante”, motivo pelo qual observa que se deve dizer estar
ciente.
2. Edmundo Dantès do Nascimento também arrola tal expressão entre os
estrangeirismos fraseológicos e observa que “o correto é estar ciente,
estar a par, saber, entender” (1982, p. 23).

Estar de férias ou Estar em férias?


1. Qual a forma correta: “Estar de férias” ou “Estar em férias”?
2. Dos gramáticos conhecidos, o único que trata do assunto é Domingos
Paschoal Cegalla (1999, p. 152), o qual, dizendo que a expressão estar
de, nessa estrutura, indica situação, como estar de plantão, estar de luto,
acrescenta a essa lista estar de férias. Mas não abona o referido estudioso
a construção estar em.
3. Ante tal realidade, parece que se deva seguir essa lição e considerar estar
de férias como a única forma correta.
4. Importa acrescer que o emprego das preposições após verbos, regendo
complementos destes, é questão de uso ao longo dos tempos, e nem
sempre existe lógica ou explicação plausível, que possa justificar as
construções sintáticas resultantes.
5. Basta ver, nesse aspecto, que não só a locução estar de indica situação,
mas também, em alguns casos, tem o mesmo significado a expressão
estar a, como em estar a trabalho.
6. Vale dizer: estar de férias e estar a trabalho são estruturas com
preposições diferentes, mas ambas indicam situação. E uma leitura mais
atenta demonstra que não são intercambiáveis tais preposições, e
ninguém pensaria em dizer estar a férias ou estar de trabalho.
Estaria se substituindo, Estar-se-ia substituindo ou…?
1. Estaria correta, quanto à colocação do pronome átono, uma construção
como “O Judiciário estaria se substituindo à banca examinadora…?”
2. Numa frase como essa, deve-se ver, de início, a existência de uma
locução verbal (mais de um verbo fazendo o papel de um só), em que
estaria é o verbo auxiliar, e substituindo é o verbo principal (e está no
gerúndio).
3. Confirma-se a existência da locução verbal (ou seja, de que há dois
verbos fazendo o papel de um só), quando se diz mentalmente “O
Judiciário se substituiria…”, e então se vê surgir apenas um verbo em
tempo simples.
4. Acresce dizer que, na estrutura considerada, ainda sobra o pronome
oblíquo átono se a ser usado com os verbos da locução.
5. Uma primeira observação a ser feita é que um pronome oblíquo átono
não tem autonomia sonora, de modo que fica na dependência do verbo,
que é a palavra à qual se liga; e esta é a efetiva detentora dessa
autonomia sonora.
6. E, em termos práticos, nesses casos, a indagação a ser adequadamente
feita é a seguinte: quanto à sonoridade e à eufonia, qual o melhor lugar
para o pronome: antes do auxiliar, entre o auxiliar e o principal, ou após
o principal? O assunto é estudado por um capítulo da Gramática
denominado topologia pronominal ou colocação dos pronomes.
7. Uma segunda observação é que, no caso das locuções verbais com o
principal no gerúndio, são possíveis, em tese, três colocações do
pronome. Exs: a) “O Judiciário se está substituindo…” (próclise ao
auxiliar); b) “O Judiciário está-se substituindo…” (ênclise ao auxiliar);
c) “O Judiciário está substituindo-se…” (ênclise ao principal).
8. Se o auxiliar está no futuro do presente ou no futuro do pretérito (tempos
esses que não admitem ênclise, e sim mesóclise), então a opção genérica
“ênclise ao auxiliar” fica adaptada para “mesóclise ao auxiliar”. Exs.: a)
“O Judiciário se estará substituindo…” (próclise ao auxiliar); b) “O
Judiciário estar-se-á substituindo…” (mesóclise ao auxiliar); c) “O
Judiciário estará substituindo-se…” (ênclise ao principal); d) “O
Judiciário se estaria substituindo…” (próclise ao auxiliar); e) “O
Judiciário estar-se-ia substituindo…” (mesóclise ao auxiliar); f) “O
Judiciário estaria substituindo-se…” (ênclise ao principal).
9. Anote-se, em sequência, que é fator impeditivo da próclise ao auxiliar o
fato de coincidir o pronome com o começo da frase. Exs.: a) “O
Judiciário se estaria substituindo…” (correto); b) “Se estaria
substituindo o Judiciário…” (errado).
10. Também se verifique que impede a ênclise ao auxiliar a existência de
uma daquelas palavras que normalmente atraem o pronome para antes
do verbo num tempo simples (palavras negativas, advérbios, pronomes
relativos, pronomes indefinidos e conjunções subordinativas). Exs.: a)
“O Judiciário não se está substituindo…” (correto); b) “O Judiciário
não está-se substituindo…” (errado).
11. O impedimento acima referido também incide para obstar a mesóclise
ao auxiliar, quando o verbo está no futuro do presente ou no futuro do
pretérito. Exs.: a) “O Judiciário não se estaria substituindo…”
(correto); b) “O Judiciário não estar-se-ia substituindo…” (errado); c)
“O Judiciário não estaria-se substituindo…” (errado). Mas tal fato não
impede a ênclise ao auxiliar: “O Judiciário não estaria substituindo-
se…” (correto).
12. Vejam-se, assim, em resumo, as possibilidades de colocação do
pronome no caso da consulta, com a indicação de sua correção ou
erronia entre parênteses: a) “Se está substituindo o Judiciário”
(errado); b) “O Judiciário se está substituindo…” (correto); c) “O
Judiciário está-se substituindo…” (correto); d) “O Judiciário está
substituindo-se…” (correto); e) “Se estaria substituindo o
Judiciário…” (errado); f) “O Judiciário se estaria substituindo…”
(correto); g) “O Judiciário estar-se-ia substituindo…” (correto); h) “O
Judiciário estaria-se substituindo…” (errado); i) “O Judiciário estaria
substituindo-se…” (correto); j) “Não se está substituindo o
Judiciário…” (correto); k) “O Judiciário não se está substituindo…”
(correto); l) “O Judiciário não está-se substituindo…” (errado); m) “O
Judiciário não está substituindo-se…” (correto); n) “Não se estaria
substituindo o Judiciário…” (correto); o) “O Judiciário não se estaria
substituindo…” (correto); p) “O Judiciário não estar-se-ia
substituindo…” (errado); q) “O Judiciário não estaria-se
substituindo…” (errado); r) “O Judiciário não estaria substituindo-
se…” (correto).
Ver Pronomes e Locuções verbais (principal no gerúndio) (P. 618).

Estatuir
1. Quanto a sua ortografia, como todo verbo terminado em uir, só pode dar
origem à terminação ui na segunda e na terceira pessoas do singular do
presente do indicativo. Assim: estatuo, estatuis, estatui.
2. Diferentemente dos verbos terminados em uar (como continuar), são
errôneas as grafias com e em tais situações: estatues, estatue.
3. Nas palavras de Cândido de Oliveira, atento aos frequentes equívocos
cometidos nesse campo, “é com i a segunda e terceira pessoas do
singular do presente do indicativo dos verbos terminados em uir: aflui,
fruis, retribui, retribuis, contribui, contribuis, influi, influis” (1961, p.
64).
4. Oportuno é lembrar que se trata de verbo empregado com frequência nos
meios jurídicos e forenses com o sentido de determinar, estabelecer
como regra, regular por meio de norma legal. Exs.: a) “Aplica-se ao
sequestro, no que couber, o que este Código estatui acerca do arresto”
(CPC/1973, art. 823); b) “Esta Consolidação estatui as normas que
regulam as relações individuais e coletivas de trabalho, nela previstas”
(CLT, art. 1º).

Estatuto adjetivo civil – Está correto?


1. Trata-se de expressão equivocada.
Ver Linguagem científica (P. 448).

Estatuto minorista – Está correto?


1. Trata-se de expressão equivocada.
Ver Linguagem científica (P. 448).

Estatuto repressivo – Está correto?


1. Trata-se de expressão equivocada.
Ver Linguagem científica (P. 448).

Esteje – Está correto?


1. Trata-se de forma verbal errônea, que deve ser corrigida para esteja.
Ver Ser (P. 693).

Estendimento – Existe?
1. Um leitor traz os seguintes argumentos para análise: a) indaga, primeiro,
se existe a palavra estendimento no sentido de alargamento ou
ampliação; b) reconhece que o vocábulo não é registrado pelos
principais dicionaristas, nem pelo VOLP; c) mas observa que tais obras
registram atendimento e fornecimento; d) por fim, observa que, se os
verbos atender e fornecer podem gerar atendimento e fornecimento,
estender também poderia gerar estendimento.
2. Ora, quando se quer saber se uma palavra existe ou não em português,
deve-se tomar por premissa o fato de que a autoridade para listar
oficialmente os vocábulos do nosso idioma é a Academia Brasileira de
Letras.
3. E essa autoridade, a ABL a exerce por via da edição do Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa.
4. Uma simples consulta ao VOLP mostra que, a par do verbo estender,
não se registra nenhum substantivo correspondente: nem estendimento,
nem estendição ou algo similar. Tais substantivos, por consequência
óbvia, não existem em nosso léxico.
5. Em tais circunstâncias, se se quer usar um substantivo com esse
significado, a solução é buscar um verbo sinônimo de estender, que
tenha um substantivo correspondente, exatamente como procedeu o
leitor, que trouxe alargamento e ampliação. Ou seja: a solução é
escolher, nesse rol, o vocábulo que mais se amolde à acepção pretendida
pelo contexto.
6. Por fim, quanto aos argumentos trazidos pelo leitor para justificar a
possível existência de estendimento, importa tecer as seguintes
considerações: a) por um lado, com o mesmo radical dos verbos, não é
incomum encontrar registrados pelo VOLP substantivos equivalentes de
ação, um acabado em ção, e outro, em mento (abreviação e
abreviamento, acomodação e acomodamento, acusação e acusamento);
b) por outro lado, também se encontram substantivos que apenas
admitem ser terminados em ção (abdicação, acentuação, aquisição); c) e
também se encontram outros que somente admitem término com o
sufixo mento (abastecimento, abatimento, acabamento); d) isso
significa, por um lado, que formar substantivos terminados em ção ou
em mento não é uma faculdade que assiste discricionariamente ao
usuário do vernáculo; e) por outro lado, isso faz forçosamente concluir
que a ABL, por meio do VOLP, continua sendo a autoridade para definir
oficialmente a lista dos vocábulos que integram o idioma pátrio; f) por
um lado, se o vocábulo se encontra listado na referida obra, então ele
existe em português; g) por outro lado, se ele não se encontra ali
registrado, então simplesmente não existe, e seu emprego não se acha
autorizado no vernáculo.

Estenografar
1. Tendo por sinônimos logografar e taquigrafar, significa escrever
estenograficamente, ou praticar a estenografia, que é “a escrita abreviada
e simplificada, na qual se empregam sinais que permitem escrever com a
mesma rapidez com que se fala” (FERREIRA, s/d, p. 580).
2. No que concerne à prosódia, há dúvidas na pronúncia e na escrita das
formas rizotônicas desse verbo, nas quais a sílaba tônica é sempre gra,
não havendo formas proparoxítonas: estenografo, estenografas,
estenografa, estenografamos, estenografais, estenografam (presente do
indicativo); estenografe, estenografes, estenografe, estenografemos,
estenografeis, estenografem, (presente do subjuntivo); estenografa,
estenografe, estenografemos, estenografai, estenografem (imperativo
afirmativo); não estenografes, não estenografe, não estenografemos, não
estenografeis, não estenografem (imperativo negativo).
3. Como as formas rizotônicas apenas ocorrem nos tempos referidos, não
há dúvidas de pronúncia e escrita nos demais tempos.
4. Veja-se, por fim, que o substantivo é que é proparoxítono: o estenógrafo,
a estenógrafa, os estenógrafos, as estenógrafas.
5. A questão se resolve pelas observações de Otelo Reis acerca das formas
verbais paroxítonas dignas de nota: “Certas formas rizotônicas,
paroxítonas, de verbos polissilábicos, possuem homógrafos
proparoxítonos, que são substantivos ou adjetivos. A distinção é feita, na
escrita, pela acentuação da palavra proparoxítona” (1971, p. 73-4).
6. Problema idêntico se dá com outros verbos, como biografar (o biógrafo
e eu biografo) datilografar (o datilógrafo e eu datilografo), dialogar (o
diálogo e eu dialogo), filosofar (o filósofo e eu filosofo), fotografar (o
fotógrafo e eu fotografo), interpretar (o intérprete e que eu interprete),
invalidar (ato inválido e eu invalido), logografar (o logógrafo e eu
logografo), maquinar (a máquina e ele maquina), monologar (o
monólogo e eu monologo), sindicar (o síndico e eu sindico), subsidiar (o
subsídio e eu subsidio), taquigrafar (o taquígrafo e eu taquigrafo).

Este ou Esse?
Ver Pronome demonstrativo (P. 611).

Estorvo – Como pronunciar o plural?


Ver Metafonia (P. 472).

Estrangeirismos
1. São as expressões tiradas de outras línguas e que constituem vício
quando os vocábulos estranhos não são indispensáveis (RIBEIRO, João,
1923, p. 245).
2. Tem por sinônima a palavra barbarismo e, para especificação, toma o
nome da língua de onde procede: germanismo, se vem do alemão
(Germânia é o antigo nome da Alemanha); anglicismo, se vem do inglês;
italianismo, se do italiano; espanholismo ou castelhanismo, se do
espanhol (Castela foi um dos locais onde teve início a língua); galicismo
ou francesismo, se do francês (Gália foi um antigo nome da França);
hebraísmo, se do hebraico; helenismo, se do grego (heleno é sinônimo de
grego); latinismo, se do latim (PEREIRA, 1924, p. 260).
3. Esclareça-se que, quando regular e oficialmente recebida a palavra nova
de outro idioma pelo Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa,
editado pela Academia Brasileira de Letras – onde se verifica a realidade
de existência aceita do vocábulo em nosso idioma – diz-se, estar diante
de um neologismo. Foi o que se deu recentemente com diversos
vocábulos de tecnologia e informática recolhidos do inglês pelo VOLP,
como acessar, deletar e inicializar.

Estratégia
1. Júlio Nogueira realça (1959, p. 21) que “causa impressão desagradável
ouvir dizer estrategia (gi) por estratégia”, erro esse bastante comum,
sobretudo entre pessoas pretensamente cultas.
2. Em verdade, é bastante triste ver pessoas que, em busca de equivocada
erudição, acabam por alterar o próprio modo de ser das palavras,
engodados pela própria ignorância.
3. Anote-se, por oportuno, que o Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa publicado pela Academia Brasileira de Letras, órgão esse
que tem delegação legal para listar as palavras oficialmente existentes
em nosso idioma, bem como sua forma de pronunciar, reforça que a
pronúncia do vocábulo aqui considerado é estratégia e manda não
confundir tal forma com o presente do indicativo do verbo estrategiar
(2009, p. 351), este sim sem acento gráfico e com a vogal tônica no i,
que tem o sentido de agir ou operar com estratégia.

Estremar ou Extremar?
1. Estremar tem o significado de demarcar por meio de estremas, que são
marcos divisórios de propriedades, normalmente rústicas. Ex.:
“Estremado o terreno, voltou a paz a reinar entre os vizinhos”.
2. Exatamente com o sentido apontado, tem aplicação em dispositivos da
legislação vigente: a) “Não pode ser objeto de venda com reserva de
domínio a coisa insuscetível de caracterização perfeita, para estremá-la
de outras congêneres…” (CC, art. 523); b) “O proprietário que tiver
direito a estremar um imóvel com paredes, cercas, muros, valas ou
valados, tê-lo-á igualmente a adquirir meação na parede, muro, valado
ou cerca do vizinho, embolsando-lhe metade do que atualmente valer a
obra e o terreno por ela ocupado (art. 1.297)” (CC, art. 1.328); c)
“Cabe: I – a ação de demarcação ao proprietário para obrigar o seu
confinante a estremar os respectivos prédios, fixando-se novos limites
entre eles ou aviventando-se os já apagados” (CPC/1973, art. 946, I).
3. Já sua parônima extremar tem o sentido de tornar extremo, sumo,
máximo, ou assinalar, ou sublimar. Ex.: “Com tão extremada fúria do
réu, não havia como dominá-lo naquela hora” (intensa).
4. Antonio Henriques e Maria Margarida de Andrade lembram passagem
de Camões, em que se deveria usar extremado e não estremado:
“Quando chegado ao fim de sua idade / o forte e famoso húngaro
estremado”.
5. Lembram, de igual modo, um excerto de Frei Luís de Sousa, em que
ocorre estrema, quando deveria estar extrema: “E isto foi em estrema
necessidade…” (HENRIQUES; ANDRADE, 1999, p. 73).
6. Atento aos equívocos corriqueiros quanto a seu emprego nos meios
forenses, Edmundo Dantès Nascimento faz a expressa distinção entre o
sentido de estremar e de extremar: “o primeiro: delimitar, balizar,
demarcar; o segundo: exaltar, sublimar” (1982, p. 91).
7. Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 155-6) também faz essa nítida
distinção e exemplifica: a) “Os Pireneus estremam a Espanha da
França”; b) “Ele estremará os bons dos maus”; c) “Luís de Camões
extremou-se na poesia épica”; d) “O dono do hotel extremava-se em
gentilezas”.
8. Atento às dificuldades e aos problemas que grafias tão similares podem
gerar, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia
Brasileira de Letras, órgão incumbido oficialmente de determinar a
existência dos vocábulos em nosso idioma, além de sua grafia oficial,
mesmo fugindo a seu normal proceder e finalidade, acaba fazendo
questão de distinguir: estremar é limitar, enquanto extremar é exceder
(2009, p. 351 e 359).
9. Oportuno é lembrar que art. 558 do Código Civil de 1916, cuja redação
teve grande contribuição de Rui Barbosa, trazia dicção que não se pode
tipificar como efetivamente precisa: “As raízes e ramos de árvores, que
ultrapassarem a extrema do prédio, poderão ser cortados, até o plano
vertical divisório, pelo proprietário do terreno invadido”. Como o
sentido do vocábulo é decisivamente o de limite, a codificação civil de
2002 empregou termo com significação mais precisa: “As raízes e os
ramos de árvore, que ultrapassarem a estrema do prédio, poderão ser
cortados, até o plano vertical divisório, pelo proprietário do terreno
invadido” (CC, art. 1.283).
Ver Estreme ou Extreme? (P. 337)

Estreme ou Extreme?
1. Deve-se atentar à grafia de estreme (com s e não x), a qual significa
puro, sem mácula, sem mistura, indiscrepante, indubitável, sem
contradições. Ex.: “A prova dos autos é estreme de dúvidas”.
2. Observe-se, ademais, que não existe o adjetivo extreme.
Ver Estremar ou Extremar? (P. 337)

Estresse
Ver Formação de adjetivos – Regras (P. 360) e Neologismo (P. 494).

Estupro ou Estrupo?
1. Do latim stuprum, estupro tem etimologicamente o significado de
afronta, desonra, infâmia.
2. O Código Penal brasileiro tipifica-o como crime contra os costumes,
inserindo-o no capítulo dos delitos contra a liberdade sexual,
conceituando-o especificamente, no art. 213, como o ato de “constranger
alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a
praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso”.
3. Atente-se à circunstância de que, desde o latim, a ortografia manda que
se escreva estupro, não existindo, ao longo a evolução do idioma, a
forma estrupo, nem o verbo estrupar.
4. Arnaldo Niskier, aliás, em jocoso frasear, anota que “dizer ou escrever
estrupo é crime contra o vernáculo” (1992, p. 35).
5. É certo que o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da
Academia Brasileira de Letras, órgão oficialmente incumbido de definir
a grafia dos vocábulos em Português, registra estrupo (2009, p. 352 e
353), o que poderia dar a ideia equivocada de dupla possibilidade de
grafia do vocábulo. Como, porém, lembra o dicionário Aulete on-line
(http://aulete.uol.com.br), diferentemente do vocábulo aqui considerado,
tal palavra tem o significado de tropel, tumulto, ruído.

Etc.
1. Trata-se de abreviatura da locução latina et coetera, que,
etimologicamente, significa e as outras coisas, ou e as coisas restantes,
tendo, na atualidade, o sentido de assim por diante, afora o mais, e ainda
outros, podendo abranger, além de coisas, também pessoas e animais.
Ex.: “Compareceram diversas pessoas do meio jurídico: juízes,
promotores, advogados, etc.”
2. Tem, como sinônimo pejorativo, et reliqua caterva, ou simplesmente et
caterva, literalmente e o bando restante, que se usa para indicar e os
demais da mesma laia (OLIVEIRA, C., s/d, p. 71).
3. Como não é difícil perceber, já na origem latina há uma conjunção
aditiva, razão por que é errado dizer e etc. Ex.: “Compareceram diversas
pessoas do meio jurídico: juízes, promotores, advogados e etc.” (errado).
4. Reforçando esse entendimento, traz-se a lição de Luiz A. P. Vitória:
“antes de etc., nunca se coloca a conjunção” (1969, p. 109).
5. Quanto à pontuação, a rigor, seria etimologicamente inconcebível o uso
da vírgula antes do etc., exatamente por considerada sua significação.
6. Nesses casos, tecnicamente, só se haveria de usar a vírgula antes de tal
palavra nas hipóteses em que tal sinal indicativo de parada existisse
antes do e, pela existência, por exemplo, de um termo intercalado. Ex.:
a) “Compareceram diversas pessoas do meio jurídico: juízes,
promotores, advogados, estes em maior número, etc.” (correto); b)
“Compareceram diversas pessoas do meio jurídico: juízes, promotores,
advogados, etc.” (errado).
7. Anote-se, todavia, que o acordo ortográfico em vigência determina que a
vírgula deve ser usada em tal caso, razão pela qual a referida vírgula se
torna, então, obrigatória.
8. A esse respeito, anota Arnaldo Niskier que “a questão da vírgula antes
do etc. é simples: deve ser usada! O argumento de que originalmente a
palavra já contém o e (et) não vale, pois o que conta é o acordo
ortográfico vigente, e, diga-se de passagem, já não falamos latim, mas
sim português” (1992, p. 35).
9. De Cândido de Oliveira, em seguida, vem outra importante observação:
“Sendo etc. a última palavra da frase, não colocamos dois pontos: um só
ponto indicará a abreviatura e o ponto final: São vales, serras, planícies,
etc.” (1961, p. 69).
10. Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 156) sintetiza em três
observações os problemas referentes ao assunto: a) “Costuma-se usar
vírgula antes dessa abreviatura, embora contenha a conjunção e”; b)
“Não se deve usar a conjunção e antes de etc.”; c) “Pode-se empregar
etc., mesmo com referência a pessoas e animais”.
11. De fundamentados comentários de Edmundo Dantès Nascimento
(1982, p. 46-7), também assim se pode resumir seu ponto de vista sobre
a questão, com importantes reflexos para os textos jurídicos e forenses:
a) apesar de alguns autores – como Júlio Nogueira e Luiz Autuori – o
empregarem como sinônimo de outros ou de outrem, não é possível tal
uso na literatura jurídica; b) é hábito internacional fazer preceder de
vírgula tal abreviatura, apesar de repugnar a pontuação em uma série
terminada por e, sobretudo aos que não perderam a ideia do sentido
etimológico do vocábulo; c) o Vocabulário Ortográfico, aliás, sempre
coloca vírgula antes de etc.
12. Uma observação final: o Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa – editado pela Academia Brasileira de Letras, a qual tem a
delegação legal para listar oficialmente os vocábulos existentes em
nosso idioma, em sua edição mais recente, a primeira na vigência do
Acordo Ortográfico de 2008 – omitiu, em seu corpo principal, o
registro do vocábulo etcétera, assim com acento gráfico, já em sua
forma aportuguesada e como vocábulo integrante de nosso léxico.
Trouxe, todavia, etc. no grupo das Reduções Mais Correntes (p. 832) e,
ao indicar-lhe o significado, ao lado da expressão latina et cetera,
também fez constar a fórmula aportuguesada etcétera, assim com
acento gráfico, que não existe em latim, e sem o emprego do itálico que
marca as palavras estrangeiras. Isso permite duas importantes
conclusões: a) embora não constante do corpo principal da listagem do
VOLP, a palavra etcétera é vocábulo pertencente ao nosso idioma; b)
por consequência, tanto o vocábulo etcétera como a respectiva redução
etc. se escrevem sem aspas, sem itálico, negrito ou sublinha,
circunstâncias essas próprias da escrita de vocábulos integrantes de
outros idiomas.
13. É interessante notar, para ilustração, que, no art. 232 da Lei 6.015, de
31/12/73, que dispôs sobre os registros públicos, de acordo com a
redação trazida pela Lei 6.216, de 30/6/75, que a modificou, constava
vírgula antes de etc.; na republicação da lei, inserida na Coleção das
Leis da União de 1975, vol. V, p. 61, todavia, acabou desaparecendo a
mencionada vírgula.

Et caterva e Et reliqua caterva


Ver Etc. (P. 338)

Eu
Ver Para eu ler ou Para mim ler? (P. 545)

Eu fêcho ou Eu fécho?
1. A pronúncia da primeira pessoa do singular do presente do indicativo do
verbo fechar é fechada (ê) ou aberta (é)?
2. Otelo Reis, em obra indispensável para resolver dúvidas sobre
conjugação verbal, soluciona com maestria a questão e observa que os
verbos terminados em echar devem ser pronunciados com som fechado:
fêcho, fêchas, fêcha, e não fécho, féchas, fécha. (Observe-se que o acento
gráfico foi aqui posto por questões didáticas, para fixar o som, embora
não exista na grafia).
3. E acrescenta o mesmo autor: “pessoas menos cultas manifestam a
errônea tendência de, nas formas rizotônicas, pronunciar o e com som
aberto: fécho, féche, etc.” (REIS, 1971, p. 80).
4. Essas mesmas observações valem para a pronúncia dos verbos
apetrechar, bochechar, desfechar, flechar…
Euforia ou Euforismo?
1. Euforia é substantivo feminino que significa alegria intensa. Não
empregar, nesses casos, euforismo, que, apesar de ter frequente emprego
nos meios jurídicos no sentido de euforia, é vocábulo inexistente, que os
dicionários não registram; não foi registrado no Vocabulário Ortográfico
de Júlio Nogueira, nem no de Gonçalves Viana, nem o é pelo
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira
de Letras, que atualmente é o veículo oficial para listar as palavras
existentes em nosso idioma.
2. Repita-se: para significar alegria intensa, a palavra correta é euforia.
Exs.: a) “Por causa da absolvição, o réu demonstrou justificado
euforismo” (errado); b) “Por causa da absolvição, o réu demonstrou
justificada euforia” (correto).

Eu gostaria… ou Eu quero…?
Ver Futuro do pretérito (P. 367).

É vedado férias coletivas – Está correto?


1. A Emenda Constitucional 45, de 8/12/04, acrescentou o inciso XII ao
art. 93 da Constituição Federal de 1988, nos seguintes dizeres: “a
atividade jurisdicional será ininterrupta, sendo vedado férias
coletivas…”.
2. Por primeiro, já que “sendo vedado férias coletivas” é oração reduzida,
vamos estendê-la, para melhor entendimento e análise, obedecendo à
estrutura que aí está: “e será vedado férias coletivas”.
3. Em seguida, vamos colocar tal oração em ordem direta (primeiro o
sujeito, depois o verbo): “férias coletivas será vedado”.
4. Com esse simples raciocínio, percebe-se que o correto há de ser: “férias
coletivas serão vedadas”. Na oração reduzida e na ordem da lei: “sendo
vedadas férias coletivas”.
5. Talvez o legislador (ou o revisor do texto) se tenham valido de um outro
raciocínio, o mesmo que se emprega para as expressões é bom ou é
proibido. Assim, se o sujeito é genérico (não vem precedido de artigo
nem tem palavra especificadora), a expressão fica invariável, no
masculino singular: Exs.: a) “Laranja é bom para resfriado”; b) “É
proibido entrada”.
6. Essa regra, porém, se completa com uma outra. Assim, se o sujeito é
específico (tem algum termo que o determina), a expressão concorda
normalmente com o nome a que se refere. Exs.: a) “A laranja baiana é
boa para feijoada”; b) “É proibida a entrada oeste”. Em tais casos, basta
que se acrescente um artigo ou palavra qualificadora, para que a
concordância seja obrigatória.
7. Para resumir: se apenas se dissesse “sendo vedado férias”, o sujeito
(férias) estaria em sentido genérico, sem qualquer outro termo que o
qualificasse ou determinasse, e, assim, ainda haveria uma justificativa
para a concordância.
8. No caso, porém, havendo um adjetivo (coletivas) que modifica o
substantivo (férias), não há possibilidade de qualquer outra
interpretação, de modo que é obrigatória a concordância: “sendo vedadas
férias coletivas”.

Evidência ou Prova?
1. Voltando ao velho manual de Filosofia que me acompanhou durante o
curso clássico (para os mais novos, antigo colegial, ou segundo grau,
com destinação específica de preparo para a área das ciências humanas),
relembro, por um lado, que, para a Lógica Formal, evidente é o que está
claro para todos e é por todos aceito sem necessidade de demonstração
ou comprovação.
2. Por outro lado, consultando um livro de processo civil, observo que
prova é “o meio e modo de que usam os litigantes para convencer o juiz
da verdade da afirmação de um fato, bem como o meio e modo de que se
serve o juiz para formar sua convicção sobre os fatos que constituem a
base empírica da realidade” (MARQUES, 1997, p. 207). Em síntese feliz
de Mittermayer, prova é a soma dos meios produtores de certeza.
3. Só desse confronto de conceitos, já se conclui que não se pode ter algo
que precisa de prova, ou mesmo a prova em si, como uma evidência. No
máximo, o que se pode ter nos autos de um processo é a evidência como
o resultado de uma apreciação conjunta e conjugada da prova.
4. Desse modo, vê-se com facilidade que é equivocado o emprego de
evidência para significar prova, como se dá nos seguintes exemplos: a)
“A polícia colheu, no local, evidências de que o marido é o assassino”;
b) “As evidências produzidas pela acusação simplesmente fulminaram
os argumentos da defesa”.
5. Tais exemplos, como é de fácil percepção, devem ser assim corrigidos:
a) “A polícia colheu, no local, provas de que o marido é o assassino”; b)
“As provas produzidas pela acusação simplesmente fulminaram os
argumentos da defesa”.
6. No caso anterior, se o que a polícia colheu no local foram vestígios que
constituem princípio de prova e podem conduzir ao conhecimento de
elementos significativos do fato delituoso, então o que se tem é um
indício, uma prova indiciária. Jamais, porém, uma evidência.
7. A origem do equívoco é facilmente identificável: vem da errônea
tradução das legendas dos filmes policiais, pois, em inglês, evidence
significa prova, o que não se dá em Português.
8. Segue esse erro na esteira de muitos outros vocábulos traduzidos
equivocadamente pela aparência (tecnicamente denominados falsos
cognatos, ou seja, aparentam pertencer a um mesmo radical, mas não
pertencem em realidade): actually quer dizer na verdade, e não
atualmente, que é nowadays; audience tem o sentido de plateia, e não de
audiência (judicial), que é court appearance; compromise significa
entrar em acordo, e não compromisso, que é appointment ou date;
eventually é finalmente, e não eventualmente, que é occasionally; injury
quer dizer ferimento, e não injúria, que é insult; intoxication tem o
sentido de embriaguez, e não de intoxicação, que é poisoning; lecture
significa palestra, e não leitura, que é reading; motel é hotel de beira de
estrada, e não o nosso motel, que é love motel; parents são pais, e não
parentes, que são relatives; policy significa as diretrizes políticas de um
governo, e não polícia, que é police; preservative é conservante, e não
preservativo, que é condom; pretend quer dizer fingir, e não pretender,
que é to intend ou to plan.

Evolução favorável – Existe?


1. Em evolução e evoluir, está presente a ideia de uma transformação
gradual de um quadro para outro.
2. Em termos de análise valorativa ou de conteúdo axiológico, o ponto para
o qual se evolui tanto pode ser melhor quanto pode ser pior que o
anterior, e o que importa é que tenha havido mudança de um estado
anterior para um outro posterior.
3. Veja-se um exemplo prático: o quadro de um paciente internado em
hospital, se não se acha estável, encontra-se em evolução, quer esteja o
doente melhorando, quer esteja piorando. Assim, o resultado final dessa
evolução tanto pode ser positivo, culminando com a convalescença,
como pode ser negativo, desaguando em óbito.
4. Bem por isso, pode-se dizer que estão corretas todas as seguintes
expressões: a) evolução favorável; b) evolução desfavorável; c) evoluir
positivamente; d) evoluir negativamente.

Exacerbação de verba
Ver Esposo ou Marido? (P. 331)

Ex adverso – com hífen ou sem?


Ver Post mortem – Com hífen ou sem? (P. 585)

Examinando – Existe?
1. Significa aquele que está sendo ou será examinado, ou, ainda, o
candidato que se apresenta para ser submetido a alguma modalidade de
exame. Ex.: “Os examinandos não podiam sair antes de completadas
duas horas de prova”.
2. Apesar da oposição de alguns no que concerne a sua existência e à
possibilidade de seu uso, esse vocábulo vem registrado no Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras,
que é o órgão oficial indicador das palavras existentes em nosso idioma,
estando autorizado, por conseguinte, seu normal emprego (2009, p. 356).
Ver Alimentando – Existe? (P. 105)

Exarar, prolatar ou proferir sentença? E acórdão? E despacho?


1. Observa-se, por um lado, que, na linguagem jurídica e forense, o verbo
prolatar “é usado em sua acepção ampla: tanto significa declarar
oralmente a sentença, quanto dá-la por escrito” (DAMIÃO;
HENRIQUES, 1994, p. 44). Exs.: a) “Encerrada a instrução, o
magistrado prolatou a sentença no próprio termo de audiência”; b)
“Após ter consigo os autos por seis meses, o magistrado prolatou a
sentença”.
2. Por outro lado, lembrando que “as palavras podem ser agrupadas pelo
sentido, compondo as chamadas famílias ideológicas”, mas que “não há
falar-se em sinonímia perfeita”, sobretudo na linguagem jurídica, que é
técnica, anotam Regina Toledo Damião e Antonio Henriques – em
observação conjunta para os verbos prolatar, proferir, exarar e
pronunciar – que se referem todos à decisão judicial, mas “não
representam, no entanto, exatamente a mesma ideia”.
3. Em continuação, acrescentam tais autores que esse uso técnico e de
escolha apurada, no que se refere ao uso desses verbos, “não é seguido
com rigor pela linguagem legislativa, sempre repleta de imperfeição
semântica”, de modo que, por exemplo, “o verbo prolatar é utilizado em
sua acepção ampla: tanto significa declarar oralmente a sentença,
quanto dá-la por escrito”.
4. E seguem tais autores em sua especificação: a) “proferir ajunta-se à ideia
de sentença oral”; b) “exarar corresponde a lavrar, consignar por escrito
a decisão judicial”; c) por fim, o verbo pronunciar “encontra seu sentido
preso ao Direito antigo, que o recomenda para a decisão anunciada em
voz alta” (DAMIÃO; HENRIQUES, 1994, p. 44).
5. Ora, quer por critérios técnicos, quer pelo que se vê na prática, não
parece haver razão plausível para conferir sentidos diferentes para
proferir e prolatar (em observação que pode ser estendida aos demais
verbos do rol mais amplo de seus significados), e isso no mínimo por
duas razões: a) ambas as formas provêm de um mesmo verbo latino, com
a observação de que a primeira se origina do infinitivo (proferre),
enquanto a segunda, do supino (prolatum), ambas, porém, dotadas do
significado de proferir, relatar, explicar, expor, etc. (BUENO, 1957, p.
382); b) a tentativa de diferenciação semântica, preconizada por alguns,
não conta com o apoio da maioria dos gramáticos, nem mesmo é seguida
com uniformidade pelos autores dos textos de lei.
6. Na prática, uma análise do Código de Processo Civil de 1973 mostra os
seguintes aspectos de relevo: a) uma preferência quase que total pelo
verbo proferir (trinta e nove vezes ); b) um único emprego de prolatar, e,
mesmo assim, não em sua redação original (CPC, art. 285-A, caput); c) a
ausência de distinção de sentido entre ambos; d) o uso adicional do
verbo dar também nessa acepção (CPC, art. 758: “Não havendo provas a
produzir, o juiz dará a sentença em 10 (dez) dias”); e) ao verbo lavrar,
nas dezenas de vezes em que aparece, é conferida sempre a significação
de reduzir a escrito uma determinada providência; f) não se faz
diferença alguma para seu emprego com acórdão, sentença ou decisão
interlocutória, como é de fácil percepção pela análise do art. 164 do CPC
de 1973: “Os despachos, decisões, sentenças e acórdãos serão redigidos,
datados e assinados pelos juízes. Quando forem proferidos verbalmente,
o taquígrafo ou o datilógrafo os registrará, submetendo-os aos juízes
para revisão e assinatura”; g) o verbo exarar aparece uma só vez,
indicando atuação do inventariante, e não de pessoa alguma que exerça
função jurisdicional (art. 993, caput); h) não se emprega o verbo
pronunciar nesse sentido.
7. Quanto ao Código de Processo Penal, constatam-se os seguintes aspectos
de importância: a) há dezenove ocorrências do verbo proferir; b) apenas
uma ocorrência do verbo prolatar (CPP, art. 530-G); c) não há distinção
de sentido entre ambos; d) usa-se, adicionalmente, o verbo pronunciar
com o mesmo significado (CPP, arts. 130, parágrafo único, 211, caput,
537, § 2º, e 625); e) não se faz distinção alguma quanto ao sentido de
tais verbos, além do que são eles empregados para despachos, decisões,
sentenças ou acórdãos; f) ao verbo lavrar, nas dezenas de vezes em que
aparece, confere-se sempre a significação de reduzir a escrito uma
determinada providência; g) o verbo exarar é encontrado uma vez,
exatamente com esse sentido, quando se afirmar que, “exarado o
relatório nos autos, passarão estes ao revisor” (art. 613, I).
8. Quanto à Consolidação das Leis do Trabalho, fazem-se as seguintes
observações: a) o verbo proferir é empregado trinta e quatro vezes com
referência a decisões, duas vezes com relação a sentenças e nenhuma
vez para acórdãos; b) fala-se também uma vez em proferir julgamento
(art. 904, § 2º); c) o verbo prolatar aparece duas vezes (arts. 852-I, § 3º, e
895, § 2º), sempre com referência a sentenças; d) não há distinção de
sentido no emprego de tais verbos; e) não se emprega o verbo pronunciar
nesse sentido; f) o verbo exarar aparece cinco vezes, sempre com relação
a manifestações de pessoas alheias ao que exercem a função
jurisdicional.

Exceção feita a
Ver Exceção feita de – Galicismo? (P. 341)

Exceção feita de – Galicismo?


1. Do mesmo modo que abstração feita de e outras, é galicismo sintático,
cujo emprego é unanimemente condenado pelos gramáticos.
2. Galicismo de construção de frase, seu erro está exatamente na colocação
do sujeito (exceção), o qual, no português moderno, não pode vir antes
do verbo (feita), já que se trata de oração reduzida de particípio.
3. Vale aqui a lição de Carlos Góis e Herbert Palhano (1963, p. 197): “A
anteposição do sujeito em orações reduzidas de particípio constitui
galicismo (isto é, imitação servil da língua francesa)”.
4. Em exposição didática em outra obra, Carlos Góis não é menos taxativo:
“A anteposição do sujeito em orações reduzidas participiais constitui
galicismo (isto é, imitação servil da língua francesa): Le dinner fini
(terminado o jantar); L’heure sonnée (soada a hora); Huit ans passés
(decorridos oito anos)”.
5. Em outra passagem, tal autor chama a esse solecismo um “barbarismo de
construção” (GÓIS, 1945, p. 2.687).
6. Eduardo Carlos Pereira também insere tal expressão no rol dos
galicismos fraseológicos ou sintáticos, daqueles que “são verdadeiras
deturpações da língua, contra os quais devemos estar premunidos”
(1924, p. 260-2).
7. Em interessante lição, Mário Barreto observa que o Padre Manuel
Bernardes, por exemplo, antepôs o sujeito ao particípio em orações
absolutas, que correspondem ao ablativo absoluto latino (“A manhã
vinda…”), em contraposição ao português moderno, em que o particípio
vem primeiro (“Vinda a manhã…”).
8. Acrescentando tal autor que Camões também empregou tal estrutura
contrária ao uso moderno em diversos lugares de Os Lusíadas, admoesta
ele que, quanto aos autores clássicos, não se há de pretender inquinar de
galicismos suas construções dessa natureza: “Não se pode admitir seja
tomada do francês uma colocação de que usaram livremente os mestres
de nossa língua, em tempo que o francês estava longe de preponderar
como entre os modernos prepondera, e os clássicos ‘só liam o latim, o
espanhol e o italiano, línguas mais conformes com a índole da nossa’,
como diz João Ribeiro, apontando… expressões, frases e palavras que
hoje seriam tidas por galicismo imperdoável, não o sendo” (BARRETO,
1955, p. 32-3).
9. Também é errônea, e pelas mesmas razões, a expressão exceção feita a.
10. São, porém, corretas as expressões à exceção de e com exceção de.
11. Observem-se, assim, os seguintes exemplos: a) “Não encontrou
solução jurídica para o caso, exceção feita do mandado de segurança”
(errado); b) “Não encontrou solução jurídica para o caso, exceção
feita ao mandado de segurança” (errado); c) “Não encontrou solução
jurídica para o caso, à exceção do mandado de segurança” (correto);
d) “Não encontrou solução jurídica para o caso, com exceção do
mandado de segurança” (correto).
Ver À exceção de ou Com exceção de? (P. 90)

Exceção – Interpor ou Opor?


Ver Interpor ou Opor? (P. 422)

Exceção ou Excessão?
1. Exceção, em termos comuns, significa algo que se desvia da regra geral.
Ex.: “Seu caso, em realidade, configura exceção aos que aqui
normalmente aparecem”.
2. Juridicamente, quer dizer defesa indireta, em que o réu, sem negar o fato
afirmado pelo autor, alega direito seu com o intento de refutar ou
paralisar a ação (arguindo, por exemplo, exceção de suspeição, de
incompetência, de litispendência, de coisa julgada etc.).
3. Nesse sentido, opõe-se a defesa direta, que ataca o próprio mérito da
discussão.
4. Atente-se a sua grafia, porque é errada a forma excessão, possivelmente
por analogia inadequada com o vocábulo excesso.
5. Lembra Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 268) que a grafia equivocada
tipifica um barbarismo morfológico.
Ver Exceção feita de – Galicismo? (P. 341)

Exceder
1. Trata-se de vocábulo a ser observado sob o prisma da regência verbal.
2. Atenta análise de nossos melhores autores revela a possibilidade de sua
construção ora com objeto direto (com possibilidade de tornar-se sujeito
da voz passiva) ora com objeto indireto, ora com ambos os
complementos ao mesmo tempo. Exs.: a) “O preço da mão de obra
excedeu o preço da matéria-prima” (correto); b) “O preço da mão de
obra excedeu ao preço da matéria-prima” (correto); c) “O preço daquele
licitante excedia os demais em número e condições” (correto); d) “O
preço daquele licitante excedia aos demais em número e condições”
(correto); e) “O preço da matéria-prima foi excedido pelo preço da mão
de obra” (correto).
3. Para esse sentido mais corriqueiro de ir além de, ultrapassar, superar,
Artur de Almeida Torres (1967, p. 142), além da possibilidade de
construção indiferente – quer como transitivo direto, quer como
transitivo indireto (caso em que pede a preposição a) – ainda mostra que
ele pode ser construído com objeto direto e a preposição em. Exs.: a)
“Nenhum pescador o excede” (Ernesto Carneiro Ribeiro); b) “A renda
dos bens… excede a duzentos contos de réis” (Alexandre Herculano); c)
“Era feito que excedia em heroicidade todos os que haviam praticado
dois cavaleiros portugueses” (Alexandre Herculano).
4. Também se pode construir com um complemento precedido pela
preposição de. Ex.: “Presume-se que a referência às dimensões foi
simplesmente enunciativa, quando a diferença encontrada não exceder
de 1/20 (um vigésimo) da área total enunciada…” (CC, art. 500, § 1º).
5. Atente-se, todavia, a que, em apropriada explicação acerca da última
observação feita, leciona Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 158) que
“exceder não admite objeto indireto regido da preposição de”,
acrescentando que tal preposição “só é cabível antes da expressão que
denota o excesso”. Exs.: a) “É proibido exceder esse limite” (correto); b)
“É proibido exceder desse limite” (errado); c) “Como pôr o volume na
mala, se a excedia de dez centímetros?” (correto).
6. Em posição contrária, lembra Luiz A. P. Vitória que este verbo “não
admite de” iniciando seu complemento. Ex.: “Esta mesa excede uns
vinte centímetros a outra” (1969, p. 110).
7. Celso Pedro Luft (1999, p. 288) traça dois aspectos de significativo
relevo quanto à sintaxe desse verbo: a) pode ser transitivo direto ou
transitivo indireto; b) “o adjunto de medida do excesso pode exprimir-se
sem preposição”, ou, ainda, com as preposições em, de ou a: i) “Eu o
excedo em peso”; ii) “Eu lhe excedo em peso”; iii) “Os gastos não
excediam de cinquenta”; iv) “Os gastos excedem à receita”; v) “Os
gastos não excedem a receita”.
8. Outro não é o entendimento de Francisco Fernandes (1971, p. 333-4),
como se verifica nos exemplos dos abalizados autores que cita.
9. Atenta análise dos textos legais evidencia que tal verbo é empregado
indiferentemente ora como transitivo direto, ora como transitivo indireto,
permanecendo essa duplicidade de regência até em mesmo diplomas
legais, como se vê nos seguintes excertos do Código Civil: a) “O valor
da cominação imposta na cláusula penal não pode exceder o da
obrigação principal” (art. 412); b) “O mandatário, que exceder os
poderes do mandato…” (art. 665); c) “Se o valor do seguro exceder ao
da coisa…” (art. 778); d) “Procede-se à declaração de insolvência toda
vez que as dívidas excedam à importância dos bens do devedor” (art.
955). Já se observava essa duplicidade indiferente de regência nos
dispositivos correspondentes do Código Civil de 1916 (arts. 920, 1.297,
1.438 e 1.554), cuja redação e apuro linguístico contaram com a decisiva
participação de Rui Barbosa.

Excelentíssima – Admite crase?


1. Um leitor indaga se Excelentíssimo e Ilustríssimo, quando usados no
feminino, admitem crase antes de si.
2. Algumas importantes observações sobre crase: a) em realidade, não há
palavras que admitem e outras que rechaçam, apenas em teoria, a
possibilidade de uso da crase; b) esta, como fusão da preposição a +
outro a (artigo, pronome, letra inicial de pronome), deve ser analisada
na prática; c) por isso a análise há de dar-se no caso concreto; d) e,
quando se diz, por exemplo, que não há crase antes de masculino, é
porque, por não haver artigo feminino antes de nome masculino, fica
inviabilizada, no caso concreto, a fusão mencionada; e) a mesma
observação vale para os verbos, para os pronomes de tratamento, etc.
3. Ora, quanto à indagação do leitor, o melhor que se faz, num primeiro
momento, é formular exemplos em que se encontrem as palavras trazidas
por ele para análise (até aqui, sem uso algum de sinal indicativo da crase,
mesmo que devido): a) “Encontrei a Excelentíssima Desembargadora na
plateia do teatro”; b) “Vi a Ilustríssima Delegada no teatro”; c) “O livro
pertence a Excelentíssima Desembargadora”; d) “O livro pertence a
Ilustríssima Delegada”.
4. Com essa providência tomada, parte-se para a primeira, geral e
importante regra de crase para nomes do feminino, a qual manda
substituir, no raciocínio com o caso concreto, o nome feminino, antes do
qual se quer saber se existe ou não a crase, por um correspondente
masculino (não necessariamente um sinônimo, mas um vocábulo que
mantenha a mesma estrutura sintática).
5. E se, com a substituição, aparece ao no masculino, então há crase no
feminino; se não aparece ao no masculino, não há crase no feminino.
6. Veja-se como ficam os exemplos com a substituição: a) “Encontrei o
Excelentíssimo Desembargador na plateia do teatro”; b) “Vi o
Ilustríssimo Delegado no teatro”; c) “O livro pertence ao Excelentíssimo
Desembargador”; d) “O livro pertence ao Ilustríssimo Delegado”.
7. Torne-se, então, aos exemplos inicialmente formulados, com a maneira
correta de escrita: a) “Encontrei a Excelentíssima Desembargadora na
plateia do teatro”; b) “Vi a Ilustríssima Delegada no teatro”; c) “O livro
pertence à Excelentíssima Desembargadora”; d) “O livro pertence à
Ilustríssima Delegada”.

Excelentíssimo – A quem se aplica?


Ver Ilustríssimo – Aplica-se a entidades? (P. 394)

Excelso pretório
Ver Adjetivação desnecessária (P. 80).

Exceto
1. A discussão sobre a variabilidade ou não desse vocábulo decorre do fato
de que, em última análise, tanto se pode tê-lo como adjetivo (e, portanto,
variável), como se pode tê-lo como preposição (e, assim, invariável), no
sentido de excetuado, posto de lado, salvo, com exceção de (FREIRE,
1937a, p. 97).
2. Se reputado um adjetivo, há de concordar normalmente com a palavra a
que se refere. Exs.: a) “Excetos os dicionários de Aulete e Adolfo
Coelho…” (Rui Barbosa); b) “Todas as cousas criadas, exceta uma
árvore…” (Padre Antônio Vieira).
3. Se considerado uma preposição, há de ser invariável, como palavra que
não acompanha a flexão do vocábulo que a segue, mesmo que este seja
feminino ou plural. Ex.: a) “As presidiárias, exceto as de bom
comportamento, foram removidas para outros locais”.
4. O que se deve observar desde logo é que os gramáticos e estudiosos não
estão acordes quanto à natureza desse vocábulo (e, assim, quanto a sua
possibilidade de variação), a começar por Eduardo Carlos Pereira (1924,
p. 153 e 363), que o insere no rol dos particípios que “no português atual
só funcionam como preposições”, ou forma nominal de verbo que foi
imobilizada entre as preposições, sendo como tal empregada, de modo
que arcaicas são as formas flexionadas excetos, exceta e excetas.
5. Também para Cândido Jucá Filho (1981, p. 68), tal vocábulo se firmou
como “preposição no português moderno”.
6. Em lição de Evanildo Bechara (1974, p. 302), por um lado, palavras
dessa natureza são formas verbais de particípio – e, assim, de valor
adjetivo – que “passaram a ter emprego equivalente a preposição e
advérbio… e, como tais, normalmente devem aparecer invariáveis”; por
outro lado, entretanto, para esse autor, não se perdeu de todo a
consciência de seu antigo valor, e muitos escritores procedem à
concordância regular, e, bem por isso, acrescenta tal gramático a lição de
Epifânio Dias, para quem flexionar um tal vocábulo “é expressar-se na
verdade com correção gramatical, mas de modo desusado”.
7. Laudelino Freire (1937b, p. 101), sem explicações adicionais, aconselha
seu emprego como adjetivo, fundando-se em exemplos clássicos: a)
“Todos os portugueses fazem o mesmo, excetos os mais ricos” (Vieira);
b) “… excetos, com efeito, os dicionários de Aulete e Adolfo Coelho”
(Rui Barbosa).
8. Lembra, por um lado, Artur de Almeida Torres (1966, p. 133) que “as
palavras exceto e salvo, consideradas outrora preposições acidentais, e
hoje como palavras denotativas de exclusão, empregam-se geralmente
como invariáveis, no uso atual da língua”; por outro lado, acrescenta tal
autor que “entre os clássicos… era comum fazer-se a concordância delas
com o substantivo seguinte, o mesmo se verificando entre alguns
escritores eruditos de hoje”.
9. Heráclito Graça, por primeiro, traz lição de Cândido de Figueiredo de
que exceto é preposição, e seria erro crasso flexionar tal vocábulo, para
fazê-lo concordar com o substantivo, como se fosse adjetivo. Em
seguida, entende tal autor ser absolutamente insustentável essa opinião
de privar tal adjetivo do direito de exprimir a ideia que lhe é própria e ao
mesmo tempo idêntica à da preposição em que se converte. Por fim,
expõe ele seu próprio posicionamento, em lição que abrange salvo e
exceto: “Tão correta é a sintaxe com qualquer dos referidos adjetivos
concordando com o substantivo, como com qualquer deles tornado
preposição. Vale o mesmo dizer: ‘Tudo lhe é indiferente, excetas as
mulheres’… e ‘Tudo lhe é indiferente, exceto as mulheres’”. E cita tal
autor (GRAÇA, 1904, p. 282-7) exemplos de autores insuspeitos: a) “A
paralisia tinha amortecido todos os membros de seu corpo, exceta a
língua” (Padre Manuel Bernardes); b) “Tudo chegou a salvamento,
excetas as partes líquidas” (Padre Antônio Vieira).
10. Faça-se constar também que, após referir que Padre Vieira escreveu
excetas as cartas, Aires da Mata Machado Filho é taxativo para, sem
outras explicações, dizer que “hoje cumpre escrever exceto as cartas”
(1969e, p. 991), lição essa que não parece dever ser aceita com o rigor
pretendido.
11. A possibilidade de aceitação de ambas as construções transparece da
lição de Carlos Góis (1943, p. 206), o qual, realçando o caráter de
preposição acidental, observa que tal vocábulo deve ficar invariável; a
seguir, entretanto, acrescenta que palavras dessa natureza, “no estilo
enfático, na língua enérgica e incisiva, reassumem a forma originária
de adjetivos participais, e, como tal, variam”.
12. Doutrina, por sua vez, João Ribeiro que “as preposições muitas vezes
derivam de particípios que se tornam momentaneamente invariáveis:
salvo, exceto, durante etc. Pode-se, contudo, dizer: ‘salvos os motivos’,
‘excetas as razões’”. E arrola tal gramático diversos exemplos de
concordância de tais palavras com os substantivos a que se referem,
retirados de Rui Barbosa, de Vieira e de Bernardes, contrariando,
assim, lição de Cândido de Figueiredo, que recusa foros de correção
vernácula para o exceto como adjetivo e, portanto, variável (RIBEIRO,
João, 1923, p. 205).
13. José de Sá Nunes, por sua vez, num primeiro aspecto, observa que, na
atualidade, o emprego normal tem sido a forma invariável, já que
exceto “se não emprega hoje como particípio passado, e sim como
preposição” (1938, p. 117). Exs.: a) “… processo que se encontra em
todas as línguas românicas, exceto o valáquio” (Mário Barreto); b)
“De exprimir, em orações subordinadas – exceto aquelas de que trata o
§ 279 – uma ação futura em relação a um momento do passado…”
(Epifânio Dias). Num segundo aspecto, lembra o mesmo autor: “Mas é
certo que nos melhores padrões da vernaculidade se nos depara o
emprego de exceto seguido de preposição, fazendo o papel de puro
advérbio de exclusão. E a razão disso é que… uma palavra substantiva
ligada a outra por uma partícula excetiva deve estar na forma
correspondente à função que exerce a palavra a que se liga” (NUNES,
1938, p. 117-8). Exs.: a) “Senhoreou-se de tudo, exceto dos dois sacos
de prata” (Camilo Castelo Branco); b) “Não falou nunca com pessoa
nenhuma de fora, exceto com o seu confessor” (Frei Luiz de Sousa).
14. Em termos práticos e em síntese, ante as fundadas divergências entre os
estudiosos, em lição válida para os dias de hoje, pode-se afirmar que ao
usuário se abrem duas opções igualmente corretas, sendo, assim,
optativo o uso desse vocábulo, quer como adjetivo, quer como
preposição, de modo que pode ficar invariável, ou pode concordar com
a palavra a que se refere. São, portanto, igualmente corretos os
seguintes modos de dizer e escrever: a) “Excetos os dicionários de
Aulete e Adolfo Coelho…” (Rui Barbosa); b) “Todas as cousas criadas,
exceta uma árvore…” (Padre Antônio Vieira); c) “As presidiárias,
excetas as de bom comportamento, foram removidas para outros
locais”; d) “Exceto os dicionários de Aulete e Adolfo Coelho…”; e)
“Todas as cousas criadas, exceto uma árvore…”; f) “As presidiárias,
exceto as de bom comportamento, foram removidas para outros
locais”.
15. Releva observar que, num outro aspecto, lembra Celso Cunha que,
exatamente pelo caráter de preposição acidental de tal palavra, depois
dela se empregam as formas eu e tu. Ex.: “Todos, exceto eu, sustentam
tese contrária” (1970, p. 147).
16. Também para Edmundo Dantès Nascimento (1982, p. 9), essa palavra,
com função de preposição, pode reger eu e tu, observando tal autor que
a razão desse emprego está em que tal vocábulo não é originariamente
preposição.
Ver Exceção feita de – Galicismo? (P. 341), Exceto com (P. 345) e Salvo (P.
678).

Exceto com
1. Interessante observação é feita por Domingos Paschoal Cegalla para a
palavra exceto, no que concerne à locução ora considerada: “Quando o
verbo ou o nome exigem complemento indireto, deve-se repetir a
preposição depois de exceto, palavra denotativa de exclusão”. Exs.: a)
“Falou com todas as colegas, exceto com Fátima”; b) “Gostava de todos
os irmãos, exceto do mais velho”; c) “Era carinhoso com todos, exceto
com a sogra”.
2. A mesma lição, tal autor a estende para o sinônimo menos (CEGALLA,
1999, p. 158).
Ver Exceto (P. 343) e Salvo (P. 678).

Excutir
1. É verbo que significa executar judicialmente os bens de alguém. Ex.:
“Vencida a prorrogação, o penhor será excutido, quando não seja
reconstituído” (CC/1916, art. 788, parágrafo único).
2. Não apresenta problemas quanto à conjugação verbal, quer por ser
regular, quer por ser conjugado em todas as pessoas, tempos e modos,
bastando que lhe sejam adicionadas as terminações do modelo da
terceira conjugação, como, por exemplo, partir.

Exempli gratia
1. Trata-se de expressão latina (pronuncia-se grácia), que corresponde ao
nosso por exemplo.
2. Sua abreviatura internacional é e. g., sempre com minúsculas.
3. Por se tratar de expressão latina, há de vir entre aspas ou com grifo
indicador de tal circunstância, como negrito, itálico ou sublinha; por
outro lado, vedado o uso do acento gráfico, que não existia naquela
língua.
Ver v. g. (P. 768)

Exequatur ou Exequátur?
1. Forma verbal latina substantivada, é o subjuntivo presente de exequor,
exsecutus sum, exsequi, em sua terceira pessoa do singular.
2. Literalmente, significa cumpra-se, execute-se, constituindo genérica
autorização ou ordem para que se cumpram determinados atos.
3. De acordo com ensino de Cândido Jucá Filho – que o aportuguesa e lhe
dá acento (exequátur) – trata-se de “um dos latinismos que, entre as
formas verbais, se adaptaram à categoria do substantivo, como veto,
déficit, lavabo, récipe” (1981, p. 68).
4. Na terminologia forense, trata-se de palavra “empregada para indicar a
autorização que é dada pelo Presidente do Supremo Tribunal Federal
para que possam, validamente, ser executados, na jurisdição do juiz
competente, as diligências ou atos processuais requisitados por
autoridade judiciária estrangeira” (DE PLÁCIDO E SILVA, 1989, p.
243).
5. O exequátur se dá em cartas rogatórias, diferenciando-se, nesse aspecto,
da homologação, que se apõe às sentenças estrangeiras, para que possam
ser cumpridas em território nacional.
6. Por ter sido tratada, até recentemente, como palavra pertencente a outro
idioma, vinha obrigatoriamente entre aspas, em itálico, negrito, sublinha,
ou com grifo equivalente, indicador de tal circunstância. De igual modo,
vedava-se o uso do acento gráfico, que não existia em latim.
7. Em corroboração a esse entendimento, o Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, que é o veículo
oficial indicador das palavras existentes em nosso idioma, até sua edição
de 1999, referia-se a esse vocábulo como um substantivo latino e, por
essa condição, lhe negava acento gráfico (p. 330). A edição de 2004,
todavia, incorporou-o ao léxico português, registrando-o com o devido
acento agudo sobre o a, como convém a um vocábulo paroxítono de
nosso léxico com essa terminação – exequátur (p. 343), no que foi
integralmente seguida pela edição mais recente (2009, p. 357).

Exequendo – Existe?
Ver Alimentando – Existe? (P. 105)

Eximir
1. Do latim eximere (etimologicamente significando tirar de, separar), tal
verbo tem o sentido de isentar, desobrigar, esquivar-se, escapar-se.
2. Artur de Almeida Torres (1967, p. 144), que sintetiza o que sobre o
assunto é aceito pelos gramáticos, vê nele as seguintes possibilidades de
construção: a) como pronominal mais a preposição a: “Nada se exime à
curiosidade” (Euclides da Cunha); b) como pronominal mais a
preposição de: “Não podíamos eximir-nos de chamar especialmente a
atenção do leitor” (Alexandre Herculano); c) como bitransitivo (ou
transitivo direto e indireto) mais a preposição a: “Nenhuma argúcia
metafísica pode eximir os ministros constitucionais a completa
responsabilidade”; d) como bitransitivo (ou transitivo direto e indireto)
mais a preposição de: “Dispensa muitos benefícios ao país, sem,
contudo, eximir os conselheiros da Coroa de sua solidária
responsabilidade” (Rui Barbosa).
3. Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 159), para a hipótese de seu
emprego não pronominal, lembra que a pessoa há de ser sempre o objeto
direto, e não objeto indireto. Exs.: a) “A lei o (e não lhe) exime de
votar”; b) “O fato de serem menores não os exime de responsabilidade”.

Existe em português?
1. Com frequência, leitores perguntam se existe esta ou aquela palavra em
Português: interiocução, bloqueamento, hipotisar, hipotizar, prognose,
probabilitária, pregunta, preguntar, arrematar ou rematar,
aguardamento ou aguardo, temerável, perca ou perda, acróbata ou
acrobata, carroçaria ou carroceria, contraversão, páteo ou pátio,
lesionar, inexigir, infazer, impactante, imexível…
2. Para solucionar questões dessa natureza, é importante anotar, de início,
que, por força da mais que centenária Lei Eduardo Ramos, de n. 726, de
8/12/1900, a autoridade para listar oficialmente os vocábulos existentes
em nosso idioma está com a Academia Brasileira de Letras.
3. E a ABL exerce essa delegação por intermédio do Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, que é a lista das palavras oficialmente
existentes em nosso idioma, com ligeiras especificações de categoria
gramatical, gênero e, muito raramente, de sentido ou outra observação
adicional. É editado de tempos em tempos, com o acréscimo de novas
palavras que passam, assim, a integrar oficialmente o nosso léxico.
Difere dos dicionários convencionais, por não explicar usualmente o
significado dos termos que registra.
4. Incumbida por lei específica para sua confecção, a ABL o elabora com
autoridade legal para, nesse campo, dizer o Direito, motivo por que, ao
consultar o VOLP, legem habemus e devemos prestar-lhe obediência, do
mesmo modo que devemos agir com respeito aos demais diplomas
legais.
5. Observa-se adicionalmente, por primeiro, que, apesar dos relevantes e
indiscutíveis serviços prestados ao idioma, os dicionários não têm
autoridade legal para dizer se uma palavra existe oficialmente em
Português, de modo que qualquer divergência entre eles e o VOLP deve
ser decidida em favor da autoridade legal deste último.
6. Em segundo aspecto, nem se pense em buscar no VOLP o registro de um
termo científico, como o nome da substância fenildimetilpirazolona, que
integra a fórmula de conhecido remédio.
7. Por fim, tenha-se um cuidado especial com os corretores de texto dos
programas dos computadores, já que, por uma série de motivos e
sobretudo imperfeições, acabam por dar como errados vocábulos
corretos e deixam passar como válidos outros que simplesmente não
existem em nosso idioma.
8. Após tais ponderações, que servem sempre à indagação “Existe em
Português?”, uma consulta ao VOLP revela, de modo específico para as
dúvidas apontadas na consulta que motivou este verbete, que: a)
simplesmente não existem os vocábulos interiocução, hipotisar ou
hipotizar, probabilitária, pregunta, preguntar, temerável, inexigir,
infazer; b) existem oficialmente em nosso idioma, estando, assim, seu
emprego autorizado na linguagem orientada pela norma culta as
seguintes palavras: bloqueio e bloqueamento, prognose (que é sinônimo
de prognóstico), pergunta, perguntar, rematar (que significa aperfeiçoar,
concluir ou terminar), arrematar (que, além dos sentidos do verbo
anterior, também quer dizer comprar bens em hasta pública, em leilão),
aguardamento e aguardo (de modo que são igualmente corretas as
expressões no aguardamento e no aguardo), contraversão (a que os
dicionários dão o sentido de versão contrária a outra ou posição inversa),
lesionar (exatamente no sentido de causar lesão), impactante, impactar e
imexível; c) de igual modo, são dadas como formas corretas e
equivalentes acróbata e acrobata, carroçaria e carroceria; d) o
substantivo feminino perca se encontra ali registrado, mas tal vocábulo
serve para indicar o nome de um peixe, de modo que seu emprego como
sinônimo de perda constitui um brasileirismo informal, e seu emprego
não tem curso permitido na linguagem que deva submeter-se à norma
culta; e) registra-se o vocábulo páteo, que tem o significado de relativo a
um tipo de cruz heráldica, mas não como sinônimo de pátio, a saber, um
recinto interno térreo não coberto (não parece ser esse último o
significado nas intimações do Tribunal de Justiça de São Paulo, com
respeito às seções que funcionam no Pátio do Colégio).

Existir
1. É verbo que precisa ser observado sob o aspecto da concordância verbal.
2. Diferentemente de seu sinônimo haver, tem sempre sujeito e com ele
concorda normalmente. Exs.: a) “Existiu um aluno interessado…”; b)
“Existiram vários alunos interessados…”
3. Se tem auxiliar, também este acompanha a concordância, ainda que seja
ele o verbo haver. Exs.: a) “Pode existir um aluno interessado”; b)
“Podem existir vários alunos interessados”; c) “Há de existir um aluno
interessado”; d) “Hão de existir vários alunos interessados”.
4. Por oportuno, anote-se, porém, que, com o verbo haver, o termo aluno
não seria sujeito, mas objeto direto, e, sendo o verbo impessoal, não teria
sujeito, motivo pelo qual haveria de ficar sempre no singular. Exs.: a)
“Havia um aluno interessado”; b) “Havia vários alunos interessados”; c)
“Pode haver um aluno interessado”; d) “Pode haver vários alunos
interessados”; e) “Há de haver um aluno interessado”; f) “Há de haver
vários alunos interessados”.
5. São comuns os equívocos de construção do verbo haver nesse sentido,
como se pode ver de um comunicado de um tribunal paulista, publicado
no Diário Oficial: “Comunicamos que, excepcionalmente, no dia 30 de
abril de 2002, terça-feira, não haverão as sessões ordinária e do
Juizado Especial da colenda 14ª Câmara”. Corrija-se com facilidade:
“Não haverá as sessões…”
6. E também se atente a esse excerto de um aresto de tribunal regional de
nosso país: “Se contribuições outras houveram, não houve comprovação
nos autos” (RT, vol. 748, p. 354). Corrija-se: “Se contribuições outras
houve, não houve comprovação nos autos”.

Ex nunc – com hífen ou sem?


Ver Post mortem – Com hífen ou sem? (P. 585)

Ex officio
1. Trata-se de expressão latina com o sentido etimológico de em
decorrência da lei ou em virtude do próprio cargo, isto é, sem
provocação da outra parte, havendo, em português, como expressão
perfeitamente sinônima, de ofício. Ex.: “O oficial público que lavrar a
escritura de dote, ou lançar em nota a relação dos bens particulares da
mulher, comunicá-lo-á ex officio ao oficial do registro de imóveis”
(CC/1916, art. 839, § 1º).
2. Tecnicamente falando, o ato ex officio é aquele “que se pratica por
imposição ou por determinação legal, quando no desempenho do cargo”
(DE PLÁCIDO E SILVA, 1989, p. 248). Ex.: “Com fundamento no art.
9º do Código de Processo Civil, o juiz, ex officio, nomeou curador
especial ao réu preso”.
3. Atento à dicção dos vocábulos de origem latina, Luciano Correia da
Silva lembra que se pronuncia “eksofício” (1991, p. 112).
4. Por se tratar de expressão latina, há de vir entre aspas ou com grifo
indicador de tal circunstância, como o itálico, negrito ou sublinha; por
outro lado, vedado o uso do acento gráfico e do hífen, que não existiam
naquela língua.
5. Nesse sentido, não se há de olvidar a lição de Edmundo Dantès
Nascimento (1982, p. 145), o qual, após observar que expressões como
essa não eram hifenizadas em latim, assevera que “não o podem ser em
língua nenhuma”, acrescentando tal autor que, “para quem pretende
grafar escorreitamente não é permitido o hífen em expressões do latim
clássico”.
6. Antonio Henriques e Maria Margarida de Andrade (1999, p. 135), por
seu lado, apontam, em obra de Washington de Barros Monteiro, a
existência da grafia ex-officio, e lembram, de igual modo, que, em tal
caso, “não se deve usar o hífen”.
Ver De ofício (P. 266).

Exordial
Ver Petição inicial (P. 563).

Exordial acusatória
Ver Petição inicial (P. 563).

Expelir
1. Quanto à conjugação verbal, aparece um i na primeira pessoa do
presente do indicativo e nos tempos dela derivados: expilo, expeles,
expele, expelimos, expelis, expelem (presente do indicativo); expila,
expilas, expila, expilamos, expilais, expilam (presente do subjuntivo);
expele, expila, expilamos, expeli, expilam (imperativo afirmativo); não
expilas, não expila, não expilamos, não expilais, não expilam
(imperativo negativo).
2. Não apresenta problemas ou irregularidades nos demais tempos e
modos, e também não é verbo defectivo.
3. Na observação de José de Nicola e Ernani Terra, “o e do radical muda
para i na primeira pessoa do singular do presente do indicativo e nas
formas daí derivadas” (2000, p. 20).
4. Otelo Reis (1971, p. 136) lembra que, no particípio passado, é verbo
abundante, admitindo as formas expelido e expulso.
Ver Verbos abundantes (P. 759).

Expert – Existe?
1. Um leitor indaga se existe em nosso idioma o vocábulo expert, que ele
tem encontrado muitas vezes no meio jurídico com o significado de
perito.
2. Ora, em salutar raciocínio que se deve repetir sempre, quando se quer
saber se uma palavra existe ou não em português, deve-se tomar por
premissa o fato de que a autoridade para listar oficialmente os vocábulos
pertencentes ao nosso idioma é a Academia Brasileira de Letras.
3. E essa autoridade, a ABL a exerce por via da edição do Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa.
4. Uma simples consulta ao VOLP mostra que nele não se registra a
palavra expert, o que implica dizer que tal vocábulo simplesmente não
existe no idioma e, assim, seu emprego não está autorizado ao usuário do
idioma.
5. Desse modo, deve ser substituído por perito, versado ou especialista, ou
mesmo experto, este sim com registro específico na mencionada obra
(ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, 2009, p. 358). Exs.: a)
“Após a apresentação dos quesitos e a nomeação dos assistentes
técnicos, os autos foram ao expert designado pelo Juízo” (errado); b)
“Após a apresentação dos quesitos e a nomeação dos assistentes
técnicos, os autos foram ao experto designado pelo Juízo” (correto).
6. Aos que, mesmo depois dessas observações, insistirem em usar a palavra
expert, anota-se que ela é de origem francesa, e não inglesa, de modo
que sua pronúncia é oxítona, sem que se ouça o som da última letra
(pronuncia-se ecspér).

Expertise – Existe?
1. Um leitor indaga se existe em nosso idioma o vocábulo expertise, que
ele tem encontrado muitas vezes no meio jurídico, ao que parece com o
sentido de experiência.
2. Ora, em salutar raciocínio que se deve repetir sempre, quando se quer
saber se uma palavra existe ou não em português, deve-se tomar por
premissa o fato de que a autoridade para listar oficialmente os vocábulos
pertencentes ao nosso idioma é a Academia Brasileira de Letras.
3. E essa autoridade, a ABL a exerce por via da edição do Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa.
4. Uma simples consulta ao VOLP mostra que nele não se registra a
palavra expertise, o que implica dizer que tal vocábulo simplesmente não
existe no idioma e, assim, seu emprego não está autorizado ao usuário da
língua portuguesa.
5. Desse modo, deve ser substituído por experiência ou outro sinônimo que
couber. Exs.: a) “A empresa de assessoria tinha expertise suficiente para
auxiliar no caso” (errado); b) “A empresa de assessoria tinha
experiência suficiente para auxiliar no caso” (correto).
6. Todavia, aos que, mesmo depois dessas observações, insistirem em usar
a palavra expertise, anota-se que ela é de origem francesa, e não inglesa,
de modo que sua pronúncia é paroxítona (com força no i), o r tem
pronúncia carioca, e o s tem o som de z (ecspertize).

Experto ou Esperto?
Ver Esperto ou Experto? (P. 330)
Expor – Como conjugar?
Ver Pôr – Como conjugar? (P. 577)

Expressões de tempo
1. De conformidade com lição de Júlio Nogueira (1930, p. 154-5) – que se
funda na justificativa de que, em latim, a relação de lugar onde às vezes
era expressa pelo caso ablativo, às vezes pelo genitivo, às vezes
acusativo, podendo, ainda, existir ou não a preposição – no português,
“na linguagem corrente, muita vez não se usa a preposição”.
2. Extrai-se daí a conclusão de que são, assim, igualmente corretos todos os
seguintes exemplos, extraídos do citado gramático: a) “Fui à Europa o
ano passado”; b) “Fui à Europa no ano passado”; c) “Isto se deu esta
semana”; d) “Isto se deu nesta semana”; e) “Esta noite não dormi”; f)
“Nesta noite não dormi”; g) “Mês que vem estaremos aqui”; h) “No mês
que vem estaremos aqui”.
3. Em mesma esteira, Sousa e Silva, por um lado, anota que “em
numerosos adjuntos adverbiais de tempo é lícito calar a preposição
inicial: chegaram domingo, embarcarei segunda-feira, dormi a tarde
toda, esteve aqui o mês passado”.
4. Por outro lado, complementa tal autor: “Pode usar-se a preposição, o que
é menos espontâneo: chegaram no domingo, embarcarei na segunda-
feira, dormi durante a tarde toda, esteve aqui no mês passado” (SILVA,
A., 1958, p. 223-4).

Expressões latinas
Ver Palavras e Expressões latinas (P. 543).

Expulsar
Ver Verbos abundantes (P. 759).

Extinguir
1. Verbo de larga utilização nos meios forenses. Ex.: “Em casos de
tipificação das hipóteses do art. 267 do Código de Processo Civil, deve
o juiz extinguir o processo sem julgamento do mérito”.
2. Por primeiro, anote-se que o u não é pronunciado em qualquer das
formas de sua conjugação verbal, razão por que não se escrevia esse
verbo com trema (SACCONI, 1979, p. 18), o qual, aliás, foi abolido pelo
Acordo Ortográfico de 2008 para os vocábulos pertencentes ao nosso
idioma.
3. Em apropriada lição, refere Vitório Bergo que, “em atenção à tendência
da língua para suprimir a vogal u depois das guturais, não se profere esse
fonema, nem no infinito nem nos outros modos e tempos” (1943, p. 69).
4. Por outro lado, tendo o grupo gu, em tal caso, a exclusiva finalidade de
conferir ao g seu som original antes de e e de i, como todos os verbos em
guir (quando o u não é proferido) perde o u antes de a e de o. Assim,
extingo (e não extinguo), extingues, extinguimos, extingam (e não
extinguam).
5. Seguem idênticas observações os verbos conseguir, distinguir, perseguir,
seguir.
6. Carlos Góis e Herbert Palhano (1963, p. 113) lembram, com
propriedade, que, dos verbos terminados em guir, apenas arguir e
redarguir têm o u pronunciado.
7. Em mesma esteira, atentos aos frequentes equívocos em sua pronúncia,
observavam Regina Toledo Damião e Antonio Henriques, mesmo antes
do Acordo Ortográfico de 2008, que tal verbo não é tremado, muito
embora haja “tendência de pronunciá-lo como se tremado fosse” (1994,
p. 244).
8. Com muita propriedade, lembra Otelo Reis (1971, p. 130) que dois são
seus particípios passados: extinguido e extinto.
9. Quanto ao emprego de tais formas, Domingos Paschoal Cegalla (1999,
p. 160-1) lança as seguintes observações: a) “Na voz ativa, usa-se, de
preferência, extinguido”, muito embora também admita o referido autor
a forma extinto. Exs.: i) “Os bombeiros tinham extinguido o incêndio”;
ii) “Os bombeiros tinham extinto o incêndio”; b) “Na voz passiva, usa-se
exclusivamente extinto”. Ex.: i) “O fogo foi extinto rapidamente pelos
bombeiros”; ii) “Esses privilégios serão extintos”; c) “Extinto pode usar-
se como adjetivo: vulcão extinto, lei extinta, costumes extintos,
associações extintas”.
Ver Verbos abundantes (P. 759).

Extinto o processo – Galicismo?


Ver Abstração feita a e Abstração feita de (P. 59) e Extinguir (P. 348).

Extorquir
1. Trata-se de verbo muito usado nos meios jurídicos com o sentido de
obrigar, forçar, constranger alguém, por violência ou grave ameaça, para
obter para si ou para outrem vantagem econômica. Ex.: “O réu foi
condenado por extorquir seu patrão ao longo de vários meses”.
2. O u não é pronunciado em nenhuma de suas formas, motivo pelo qual
não se usava trema (SACCONI, 1979, p. 18), que, aliás, foi abolido pelo
Acordo Ortográfico de 2008 para os vocábulos pertencentes ao nosso
léxico.
Quanto à conjugação verbal, ver Abolir (P. 55).

Extra
1. Como adjetivo, com o significado de extraordinário, é forma correta e
dicionarizada, podendo variar normalmente para o plural. Exs.: trabalho
extra, horas extras, edições extras.
2. Nesse caso, o som é fechado (ê), e não aberto (é).
3. A esse respeito, lembra com propriedade Édison de Oliveira (s/d, p. 96):
“Trata-se, no caso, da forma reduzida, abreviada de extraordinário. Ora,
como dizemos extraordinário (ê fechado), é sensato que, ao reduzirmos
a palavra, não modifiquemos a pronúncia”.
4. Arnaldo Niskier (1992, p. 91-2), realçando a natureza de adjetivo nesses
casos, observa que, em expressões como serviços extras, tal vocábulo
“concorda com o substantivo a que se refere”.
5. Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 161) também observa tal vocábulo
como adjetivo, em “forma reduzida de extraordinário” – horas extras,
ônibus extras, serviços extras –, acrescentando também a possibilidade
de seu emprego como substantivo: os extras de um filme, os extras de
uma novela.

Extra – Com hífen ou sem?


1. Como costuma acontecer com os prefixos terminados por vogal, apenas
em dois casos se usa o hífen com o prefixo extra: a) quando o elemento
seguinte se inicia por h: extra-hispânico, extra-hospitalar, extra-humano;
b) quando o elemento seguinte se inicia pela mesma letra que termina o
prefixo: extra-alcance, extra-amazônico, extra-atmosférico.
2. Antes de outra consoante, que não seja h, acopla-se diretamente à
palavra seguinte, sem hífen: extrabíblico, extracelular, extraduro,
extragenital, extrajudicial, extramatrimonial, extranormal,
extraparoquial, extratemporal, extraveicular.
3. De igual modo, junta-se sem hífen, quando o elemento seguinte se inicia
por outra vogal, que não a mesma que finaliza o prefixo:
extraembrionário, extraestatal, extraordinário, extraorgânico,
extraurbano.
4. Para a hipótese de ser o segundo elemento iniciado por r ou s, dobram-se
tais consoantes para continuidade do som originário: extrarregimental,
extrarrenal, extrasseco, extrassensível.

Extra-pauta ou Extrapauta?
1. Ante as recentes modificações em nossa ortografia, quanto ao hífen,
como fica a escrita da seguinte palavra: extra-pauta ou extrapauta?
2. Ora, extra é prefixo latino, que tem o significado de algo que está fora ou
algo que excede, como em extraconjugal.
3. Apenas em dois casos se usa o hífen: a) quando o elemento seguinte se
inicia pela mesma vogal que termina o prefixo: extra-alcance, extra-
amazônico, extra-atmosférico; b) quando o elemento seguinte se inicia
por h: extra-hispânico, extra-hospitalar, extra-humano.
4. Desse modo, acopla-se diretamente à palavra seguinte, sem
intermediação de hífen, quando iniciada esta por outra vogal, que não a
que encerra o prefixo: extraembrionário, extraestatal, extraordinário,
extraorgânico, extraurbano.
5. Continua valendo a regra de junção direta, mesmo que o elemento
seguinte se inicie por consoante: extrabíblico, extracelular, extraduro,
extragenital, extrajudicial, extramatrimonial, extranormal,
extraparoquial, extrapauta, extratemporal, extraveicular.
6. Apenas para a hipótese de ser o segundo elemento iniciado por r ou s,
dobram-se tais consoantes para continuidade do som originário:
extrarregimental, extrarrenal, extrasseco, extrassensível.

Extremar ou Estremar?
Ver Estremar ou Extremar? (P. 337)

Extreme ou Estreme?
Ver Estreme ou Extreme? (P. 337)

Ex tunc – com hífen ou sem?


Ver Post mortem – Com hífen ou sem? (P. 585)

Ex vi legis – com hífen ou sem?


Ver Post mortem – Com hífen ou sem? (P. 585)
F
Face a, Em face a ou Em face de?
1. Em nosso idioma, existem as locuções prepositivas em face de e em face
a, as quais podem também ser simplesmente substituídas pelas
preposições ante e perante. Exs.: a) “Em face do juiz, a testemunha
calou-se”; b) “Em face ao juiz, a testemunha calou-se”; c) “Ante o juiz, a
testemunha calou-se”; d) “Perante o juiz, a testemunha calou-se”.
2. Em tal caso, entretanto, é bom rememorar, desde logo, a lição de
Napoleão Mendes de Almeida (1981, p. 115), para quem é invencionice
o uso de face a, que não existe em nosso idioma.
3. Vejam-se, assim, algumas frases largamente usadas nos meios forenses,
com a indicação de sua correção ou erronia: a) “Face ao exposto, julgo
improcedente o pedido formulado” (errado); b) “Face ao juiz, a
testemunha calou-se” (errado); c) “Em face do exposto, julgo
improcedente o pedido formulado” (correto); d) “Em face do juiz, a
testemunha calou-se” (correto); e) “Em face ao exposto, julgo
improcedente o pedido formulado” (correto); f) “Em face do exposto,
julgo improcedente o pedido formulado” (correto).
4. Para que bem se possa entender o raciocínio adequado em contraposição
ao equívoco do emprego de tais expressões, quase que em termos
matemáticos, deve-se lembrar que só se pode dizer face a, quando se tem
uma face b.
5. Geraldo Amaral Arruda (1997, p. 15), observando os cuidados que exige
a locução prepositiva em face de, sintetiza os aspectos principais a serem
seguidos em tal caso: a) não dispensa ela a preposição em; b) tal
supressão importa barbarismo fraseológico; c) é aceitável a locução em
face a.
6. Também lembrando que “não há exemplo na boa linguagem” do uso de
face a, assevera Edmundo Dantès Nascimento que o correto é dizer à
face de ou em face de, trazendo em corroboração significativos
exemplos: a) “… nem que ela à face do altar não fosse minha e
reminha” (Castilho); b) “Em face da entrada via-se a porta de uma cela”
(Rebelo da Silva).
7. Ao referir que, modernamente, vem surgindo no linguajar comum a
expressão face a, com aceitação de muita gente, observa ele que se trata
de uma “ânsia de inovar por quem não está apto a fazê-lo”.
8. E, mesmo anotando que “a língua sofre mudanças no vocabulário e até
na sintaxe” e que Dante, Camões, os românticos, os simbolistas e até
João Guimarães Rosa mudaram suas línguas pátrias, ressalva, porém, tal
autor que, entre as constâncias seculares das línguas “se alinham as
preposições, que, em sua maioria, são subsistências latinas”.
9. Em complementação, assevera que, consultados tais movimentos e
pessoas, “verifica-se que ninguém pensou em alterar as preposições, pois
são movimentos realizados com pleno conhecimento de Gramática
Histórica” (NASCIMENTO, 1982, p. 132-5).
10. Observando que “não é admitida pelos gramáticos a variante face a”,
muito embora “frequente nos meios de comunicação e na literatura de
hoje”, lança Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 135-62) a hipótese
de que tal construção incorreta “talvez seja imitação do francês
moderno: Les Douze face à la nouvelle Europe; Les femmes face au
préservatif”.
11. Também anota Luciano Correia da Silva que se diz “em face de ou em
face a. Nunca ‘…face a’, erro encontradiço na linguagem comum e na
prática forense. Diz-se com exação: ‘Em face das provas (ou às
provas), o juiz absolveu o réu’” (1991, p. 94).
12. E Arnaldo Niskier (1992, p. 30) – após lembrar que existem as
expressões fazer face a e estar face a face com – também observa que
se deve dizer em face de, até porque face a não existe.
13. Reitere-se, por oportuno, que existem as expressões fazer face a e fazer
frente a, havendo exemplo específico de emprego da primeira em nossa
legislação maior: “No sexto ano de instalação, o Estado assumirá vinte
por cento dos encargos financeiros para fazer face ao pagamento dos
servidores públicos, ficando ainda o restante sob a responsabilidade
da União” (CF/1988, art. 235, IX, a).
14. Uma leitura do Código Civil de 2002 revela o uso exclusivo da
expressão em face de, como se pode ver pelas seguintes transcrições: a)
“São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de
vontade emanarem de erro substancial que poderia ser percebido por
pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio”
(art. 138); b) “Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face
dos contraentes do negócio jurídico simulado” (art. 167, § 2º); c) “As
coisas móveis, em face de terceiros, presumem-se do domínio do
cônjuge devedor, salvo se o bem for de uso pessoal do outro” (art.
1.680).
Ver Contra ou a favor (P. 228) e Mover ação contra – Está correto? (P. 478)

Fácil de se fazer ou Fácil de fazer?


Ver Agradável de se ler ou Agradável de ler? (P. 99)

Fac-símile – Latinismo?
1. Trata-se de expressão vinda do latim, considerada em nosso léxico como
um substantivo masculino, significando a reprodução exata de uma
assinatura, de uma escrita, de uma estampa etc.
2. Já é palavra incorporada ao nosso léxico, regularmente registrada pelo
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela Academia
Brasileira de Letras, órgão oficialmente incumbido de definir os
vocábulos que integram nosso idioma (2009, p. 361).
3. Por ser vocábulo já pertencente a nosso idioma, seu segundo elemento se
escreve com o acento gráfico que marca todas as palavras
proparoxítonas.
4. Seu plural é fac-símiles.
5. Anote-se, por oportuno, que o Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, veículo oficial para tanto, até sua edição de 1999, não
registrava como palavra integrante de nosso léxico seu sinônimo fax. O
novo VOLP, entretanto, já traz como regularmente incorporado ao nosso
idioma, o vocábulo fax, bem como seus plurais faxes e os fax
(ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, 2009, p. 366).
Ver Fax (P. 352) e Xerox ou Xérox? (P. 796)

Falar ao, no ou por telefone?


1. Na conformidade com lição de Sousa e Silva, “é erro empregar a
preposição em para indicar proximidade”, devendo-se usar, nesse caso, a
partícula a. Exs.: a) “Ele falou no telefone” (errado); b) “Ele falou ao
telefone” (correto).
2. Complementa tal autor com a observação de que “a preposição regente
de telefone pode ser por, se quisermos frisar o meio de comunicação”.
Ex.: “Já lhe falei por telefone” (SILVA, A., 1958, p. 223).
Ver Sentar-se na mesa – Está correto? (P. 689)

Falecer
1. A par de seu sentido corrente de morrer, finar, perder a vida, emprega-se
tal verbo com a significação de faltar, carecer, não ter. Ex.: “Se qualquer
das partes alegar, no entanto, que falece ao assistente interesse jurídico
para intervir a bem do assistido…” (CPC/1973, art. 51, caput).
2. Anote-se, todavia, a observação de Mário Barreto de que caiu ele em
desuso no sentido de faltar, permanecendo apenas o conteúdo semântico
de morrer, finar, perder a vida, razão por que tal autor fala, nesse caso,
em arcaísmo parcial (BARRETO apud HENRIQUES; ANDRADE,
1999, p. 77).
3. Observa-se, todavia, no que concerne à esfera do Direito, que, por um
lado, nos dispositivos legais, normalmente se emprega tal verbo em seu
sentido próprio de finar, perder a vida; mas também se emprega no
sentido figurado de faltar, carecer, não ter. Exs.: a) “Se dois ou mais
indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar se
algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão
simultaneamente mortos” (CC/2002, art. 8º – sentido de finar, perder a
vida); b) “Não havendo impugnação dentro de 5 (cinco) dias, o pedido
do assistente será deferido. Se qualquer das partes alegar, no entanto,
que falece ao assistente interesse jurídico para intervir a bem do
assistido…” (CPC/1973, art. 51 – sentido de faltar, carecer, não ter).
Falir
1. Em termos jurídicos, significa quebrar, ir à bancarrota o comerciante
que, “sem relevante razão de direito, não paga no vencimento obrigação
líquida, constante de título que legitime a ação executiva” (art. 1º, caput,
do Decreto-lei 7.661, de 21/6/45).
2. Quanto à conjugação verbal, trata-se de verbo defectivo, apenas
conjugado nas formas em que, de acordo com o modelo normal da
terceira conjugação, ao radical se segue i (OLIVEIRA, C., 1961, p. 211).
3. Como bem lembra Sousa e Silva, “não se diz, por conseguinte, falo,
fales, fale, fala, etc., em se tratando, é claro, do verbo falir” (1958, p.
124).
4. Não é outra a síntese de Otelo Reis: “O verbo falir só se conjuga
naquelas formas em que ao l se segue a vogal i” (1971, p. 148).
5. Traz, assim, problemas no presente do indicativo e tempos derivados:
falimos, falis (presente do indicativo); fali (vós) (imperativo afirmativo).
6. Não tem presente do subjuntivo nem imperativo negativo.
7. Como essa defectividade apenas ocorre no presente do indicativo e
tempos derivados, dá-se sua conjugação normalmente, nos demais
tempos: fali, faliste, faliu… (pretérito perfeito do indicativo); falira,
faliras, falira… (pretérito mais-que-perfeito do indicativo); falisse,
falisses, falisse… (imperfeito do subjuntivo); falir, falires, falir…
(futuro do subjuntivo); falia, falias, falia… (imperfeito do indicativo);
falirei, falirás, falirá… (futuro do presente do indicativo); faliria,
falirias, faliria… (futuro do pretérito do indicativo); falindo (gerúndio);
falido (particípio passado).
8. As formas inexistentes desse verbo podem ser supridas por ir à falência,
fracassar, malograr-se.
9. Por este verbo se conjuga remir.

Falsos cognatos
Ver Evidência ou Prova? (P. 339)

Faltam ainda se pronunciar dois desembargadores – Está correto?


1. Trata-se de construção errada.
2. Procede-se a sua correção por uma das seguintes formas: a) “Falta ainda
pronunciarem-se dois desembargadores”; b) “Falta ainda que se
pronunciem dois desembargadores” (SILVA, A., 1958, p. 124-5).
Para maiores esclarecimentos sobre essa estrutura, ver Infinitivo como
sujeito – Como concordar? (P. 414)

Faltar – Como concordar?


Ver Bastar e Faltar – Como concordar? (P. 156)

Farmacolando – Existe?
Ver Alimentando – Existe? (P. 105)

Fase inquisitorial – Está correto?


1. Trata-se de expressão equivocada.
Ver Linguagem científica (P. 448).

Fato
Ver O fato de – Está correto? (P. 520)

Fax
1. É palavra que normalmente se emprega como sinônima, em certa
extensão, de fac-símile, para indicar a reprodução exata de uma escrita,
de uma folha impressa, de uma estampa, etc.
2. Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 165) atribui a tal vocábulo a
natureza de “abreviatura de fac-símile” e assevera ser palavra “invariável
no plural: os fax”.
3. Também para José de Nicola e Ernani Terra, “o vocábulo fax, já
incorporado ao nosso vocabulário cotidiano, sujeita-se às regras de
flexão dos demais substantivos. Dessa forma, trata-se de um substantivo
uniforme: Enviei um fax; Enviei três fax. Não se justifica, portanto, a
forma plural faxes” (2000, p. 107).
4. O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela
Academia Brasileira de Letras, órgão oficialmente incumbido de definir
quais vocábulos integram nosso léxico, não o registrava até sua edição
de 1999, razão pela qual era vocábulo tido como não incorporado ao
nosso idioma. A edição atual do VOLP, entretanto, já o traz como
regularmente incorporado ao nosso idioma; e mais: como seu plural,
faculta as duas formas – os fax ou os faxes (2009, p. 366).
5. Porque assim é, como esse vocábulo vem registrado no Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras,
que é veículo oficial indicador das palavras existentes em nossa idioma,
está autorizado, por conseguinte, seu normal emprego, como sinônimo
de fac-símile, tanto no singular (fax) quanto no plural (os fax ou os
faxes).
Ver Xerox ou Xérox? (P. 796)

Faz dois meses ou Fazem dois meses?


Ver Fazer (P. 352).

Fazer
1. Em sua ortografia, merecem atenção seu pretérito perfeito e tempos
derivados, em cuja escrita aparece a letra z: fiz, fizeste, fez, fizemos,
fizestes, fizeram (pretérito perfeito do indicativo); fizera, fizeras, fizera,
fizéramos, fizéreis, fizeram (pretérito mais-que-perfeito do indicativo);
fizer, fizeres, fizer, fizermos, fizerdes, fizerem (futuro do subjuntivo),
fizesse, fizesses, fizesse, fizéssemos, fizésseis, fizessem (imperfeito do
subjuntivo).
2. Não confundir, nesse aspecto, com o verbo querer em tais tempos,
“cujas formas se escrevem com s” (CEGALLA, 1999, p. 345): quis,
quiseste, quis, quisemos, quisestes, quiseram (pretérito perfeito do
indicativo); quisera, quiseras, quisera, quiséramos, quiséreis, quiseram
(pretérito mais-que-perfeito do indicativo); quiser, quiseres, quiser,
quisermos, quiserdes, quiserem (futuro do subjuntivo); quisesse,
quisesses, quisesse, quiséssemos, quisésseis, quisessem (imperfeito do
subjuntivo).
3. Significando tempo passado, é verbo que precisa ser observado do ponto
de vista da concordância verbal.
4. Nesse sentido, é impessoal (não tem sujeito), motivo por que fica sempre
no singular. Exs.: a) “Faz um mês que cheguei”; b) “Faz dez meses que
cheguei”.
5. Em sentido de meteorologia, também é impessoal. Exs.: a) “Faz frio”; b)
“Faz dias quentes”.
6. Em ambos os casos, se a construção se dá com auxiliar, também este fica
no singular. Exs.: a) “Deve fazer dez meses que cheguei”; b) “Vai fazer
três meses que não chove”.
Ver Vi-o fechar o cofre ou Vi-lhe fechar o cofre? (P. 769)

Fazer dinheiro – Estrangeirismo?


1. Tal expressão, no sentido de realizar, de conseguir dinheiro, é tida por
Edmundo Dantès Nascimento (1982, p. 15) como “construção
fraseológica estrangeira”, que deve ser rejeitada, “porque altera até a
maneira de pensar em nossa língua”.
Ver Fazer erros – Está correto? (P. 353)

Fazer erros – Está correto?


1. É comum entre nós, na linguagem popular, que se empreguem os
chamados verbos vicários, isto é, verbos que fazem as vezes de outros,
tendendo o sentido da frase para a generalização.
2. Ouvem-se, por isso, com frequência, expressões como fazer erros (por
cometer erros), fazer música (por compor música), fazer passeios (por
passear ou empreender um passeio).
3. Além do empobrecimento do vocabulário pela omissão do verbo de
significação específica cabível no caso concreto, também se
compromete, em tais casos, o real e específico sentido da palavra que
deveria ser usada para a correta e adequada expressão do pensamento.
4. Mas não é só: Alfredo Gomes (1924, p. 469) arrola expressões dessa
natureza entre os galicismos sintáticos, isto é, entre os “modos de dizer,
locuções de cunho francês”, que, bem por isso, se hão de evitar.
5. Júlio Nogueira (1930, p. 53) insere tal expressão entre as locuções e
frases completas que conservam o “ar francês” do galicismo, espécies
das mais repreensíveis, “pois não correspondem a uma necessidade da
língua”.
6. Arrolando as expressões fazer de conta, fazer música, fazer um passeio
como galicismos, Luís A. P. Vitória observa, contudo, que, ao
lecionarem dessa maneira, “perdem tempo os puristas, pois essas
expressões são de uso consagrado” (1969, p. 114).

Fazer-se mister – Está correto?


1. Trata-se de expressão que tem o significado de ser preciso, tornar-se
necessário. Ex.: a) “Seguem os documentos para a providência que se
fizer mister”; b) “Seguem os documentos para as providências que se
fizerem mister” (ALMEIDA, 1981, p. 192).
2. Como se pode notar pelo último exemplo do conhecido gramático, na
referida locução, o verbo fazer se flexiona, conforme a necessidade de
concordância de seu sujeito; já o vocábulo mister permanece invariável.
Ver Mister (P. 475) e Ser mister – Está correto? (P. 694)

Fazer valer – Galicismo?


1. Ao comentar o art. 419 do Projeto do Código Civil, insurgia-se Rui
Barbosa contra tal expressão, reputando-a afrancesada e indicando que,
em vernáculo, se há de dizer “alegar, reclamar, demandar, vindicar,
reivindicar, opor, sustentar, defender, propugnar, manter” (1949, p. 163).
2. Suas ponderações, todavia, não foram acatadas pelo legislador, como se
observa da redação definitiva do art. 413, II, do Código Civil de 1916:
“Não podem ser tutores e serão exonerados da tutela, caso a exerçam:
… II) os que, no momento de lhes ser deferida a tutela, se acharem
constituídos em obrigação para com o menor, ou tiverem que fazer valer
direitos contra este…”
Fé demais – Cacófato?
Ver Cacófato – O que é? (P. 163)

Feiúra ou Feiura?
1. Com o Acordo Ortográfico de 2008, é pertinente a dúvida seguinte:
continua ou não o acento gráfico sobre o mencionado vocábulo?
2. Antes da recente reforma ortográfica, acentuavam-se o i e o u tônicos,
desde que formassem hiato com a vogal anterior (ou seja, estivessem os
sons vocálicos em sílabas distintas) e estivessem sozinhos ou seguidos
de s na mesma sílaba.
3. Assim: a) sa-í, sa-í-da, ba-ú, sa-ú-de (sozinhos na mesma sílaba); b) pa-
ís, sa-ís-te, ba-ús, ba-la-ús-tre (seguidos de s na mesma sílaba). Porém:
i) sa-ir, sa-ir-des, Ra-ul, de-mi-ur-go (seguidos de outra letra, que não s,
na mesma sílaba).
4. Também se ensinava que essa regra não valia quando a sílaba seguinte
começava por nh: ba-i-nha, ta-i-nha.
5. Pois bem. Em um primeiro lembrete, o Acordo Ortográfico de 2008
observa que “recebem acento agudo as palavras oxítonas cujas vogais
tônicas i e u são precedidas de ditongo: Piauí, tuiuiús”.
6. Em segundo lembrete, anota que “não recebem acento agudo palavras
paroxítonas cujas vogais tônicas i e u são precedidas de ditongo
decrescente: feiura, baiuca”.
7. A única explicação plausível para essa atitude do Acordo Ortográfico de
2008 talvez seja a vontade da reforma de diminuir o mais possível o
emprego dos acentos gráficos e outros sinais diacríticos.
8. Mas a abolição do acento, no caso, significou uma exceção sem
justificativa real, em determinação que veio mais para confundir do que
para simplificar. Mas regra fixada por acordo implantado por lei é lei.

Felicitar
1. No que tange à regência verbal, num primeiro aspecto, é de se observar a
lição de Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 167): “Constrói-se com o
pronome o (ou a), e não lhe”. Ex. “Felicito-o pela sua brilhante vitória”.
2. Num segundo aspecto, precisa é a lição de Mário Barreto (1954a, p.
293): “Usa-se, em portuguesíssima frase, o verbo felicitar com por ou de
para indicar o objeto, a causa da felicitação”, trazendo tal filólogo
exemplos das distintas construções, ambos de Camilo Castelo Branco: a)
“Os espectadores felicitaram-na pela sua destreza…”; b) “… um baile
de regozijo que o novo titular, estimulado pelo sogro, resolvera dar aos
seus colegas, e mais amigos, que o felicitaram da mercê”.

Feliz em ver ou Feliz ao ver?


1. No que diz respeito à norma culta, anota-se por primeiro que a
autoridade para dizer oficialmente quais as palavras existentes em nosso
idioma é o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, elaborado
pela Academia Brasileira de Letras, a qual tem a delegação legal de
editá-lo, em cumprimento à Lei Eduardo Ramos, de n. 726, de
8/12/1900. Em decorrência dessa delegação legal, o VOLP é a palavra
oficial sobre a existência, a grafia, eventualmente a pronúncia e, em
raros casos, o significado das palavras em nosso idioma.
2. Em segunda observação, vê-se que, se a questão é de sintaxe (parte da
Gramática que estuda a construção da frase, a estruturação das palavras
em suas relações de concordância, de subordinação e de ordem), a
referência para validar determinada estrutura são os nossos melhores
autores, aqueles reconhecidos pela voz geral como usuários privilegiados
do nosso idioma, os quais, assim, podem autorizar o usuário comum a se
valer de determinada construção. Acresça-se que a melhor postura aqui,
com as devidas cautelas, é a da inclusão, até porque o excesso de
purismo, em vez de auxiliar, pode acabar engessando a comunicação e o
idioma. Desse modo, salvo raras exceções, se determinado autor
abalizado usa determinada construção, deve ela ser acatada como
correta.
3. Feitas essas observações genéricas, localiza-se o problema das
expressões em epígrafe: quando se indaga se o correto é escrever feliz ao
ver ou feliz em ver, quer-se saber, em última análise, se feliz (um
adjetivo e, genericamente, um nome) exige (ou rege) um complemento
precedido pela preposição a ou pela preposição em. Exatamente por isso,
diz-se que a questão é de regência nominal.
4. E, na solução do problema, adiciona-se uma terceira observação:
localizar o emprego de uma estrutura, como a questionada, nos bons
autores do idioma constitui tarefa parecida com achar agulha em um
palheiro. Por isso alguns zelosos estudiosos de Gramática já procederam
a exaustivas leituras e pesquisas e elaboraram preciosos dicionários de
regência de substantivos e adjetivos (que genericamente são nomes).
5. Nessa tarefa, Francisco Fernandes (1969, p. 192) encontrou em bons
autores alguns exemplos de construção do adjetivo feliz com diversas
preposições, as quais, como é de fácil percepção, podem ter ora um ora
outro sentido: a) “Felizes com a migalha restante” (Euclides da Cunha);
b) “Senti-me feliz de uma alegria que não sabia dizer” (Camilo Castelo
Branco); c) “Parece que não foste feliz na (em + a) caçada de hoje”
(Afrânio Peixoto); d) “… tornar a vida mais rica e mais feliz para todos
nós”; e) “… silenciosamente beijou a irmã, feliz por achar naquela alma
boa um sentimento igual ao seu” (Afrânio Peixoto).
6. Confirmando todas essas possibilidades, Celso Pedro Luft (1999, p. 235-
6) também abona a construção feliz a: “Feliz [quem tem sorte] ao jogo,
infeliz aos amores”. E esclarece tal autor que, “com a, a construção é de
sintaxe lusitana”.
7. Ante as lições desses autores, pode-se dizer que são igualmente corretas
as construções feliz em ver e feliz ao ver. Apenas se esclarece que feliz
ao ver é construção mais usada em Portugal, enquanto feliz em ver é
mais empregada no Brasil. Ambas, contudo, são portadoras de igual
correção.

Fêmeo – Existe?
1. Em termos técnicos, como adjetivo biforme que é, variando
normalmente para amoldar-se ao nome a que se refere, faz fêmeo no
masculino e fêmea no feminino, devendo harmonizar-se pelas regras da
concordância nominal, em gênero e número com o substantivo por ele
modificado.
2. Por isso, Napoleão Mendes de Almeida (1981, p. 117) observa que,
assim como se diz javali gordo e javali alto, também se há de dizer
javali fêmeo, trazendo em corroboração exemplos adicionais de Antônio
Feliciano de Castilho (aerófago fêmeo) e Cândido Figueiredo (gado
fêmeo).
3. Em igual sentido, Vitório Bergo (1944, p. 118) aponta para a
possibilidade de concordância literal, variando para o masculino, se,
como adjetivo, estiver modificando substantivo desse gênero.
4. Também Carlos Góis e Herbert Palhano (1963, p. 47-50) fazem a
concordância literal, tornando masculino o adjetivo, se modifica
substantivo desse gênero: tigre fêmeo, jacaré fêmeo.
5. Na lição de Silveira Bueno (1957, p. 303-4), “macho, macha, fêmeo,
fêmea são adjetivos e como tais devem concordar com o substantivo a
que se referem”, motivo por que exemplifica tal autor: eloquência
macha, mamão fêmeo, jacaré fêmeo, cobra macha.
6. Em outra obra, o mesmo mestre observa que a concordância literal, com
a variação normal de tais adjetivos, “é fácil provar não só com bons
exemplos, mas com exemplos ótimos”, preconizando a possibilidade dos
dois usos: do invariável macho e fêmea, ou da regular concordância
nominal de tais palavras, como reais adjetivos que são.
7. E alinha diversos casos de escritores abalizados (BUENO, 1938, p. 62-
3): oliveira macha (Antônio Feliciano de Castilho); cousa macha (Bento
Pereira); palmeira macha (Morais); cobra macha (Domingos Vieira).
8. Cândido Jucá Filho (1963, p. 301), por sua vez, reputa compreensível
que o adjetivo fique, em silepse (concordância ideológica com o sexo do
substantivo modificado), na forma feminina, como em tigre fêmea,
fundando-se em exemplos de Raul Pompeia (“Para ele o mal era
fêmea”) e de Melo (“O costume de fazerem versos machos e fêmeas…”).
9. A invariabilidade de tal adjetivo, em oposição de gênero ao substantivo
modificado, também é defendida por Evanildo Bechara (1974, p. 85), e
Carlos Góis (1943, p. 240-1), aduzindo este último, para justificar tal
posicionamento, razões de silepse, no que é seguido por Celso Cunha
(1970, p. 97).
10. João Ribeiro (1923, p. 57), muito embora sem teorizar a questão, tanto
com macho quanto com fêmeo, faz, nos exemplos que dá, a
concordância de tais adjetivos por silepse, isto é, pelo sexo do animal
representado: o corvo macho, o javali fêmea, a cobra macho, a
codorniz fêmea.
11. Eduardo Carlos Pereira (1924, p. 67-8), também sem explicação
alguma acerca das razões de concordância, traz exemplos em que faz
tão somente a concordância ideológica.
12. Artur de Almeida Torres (1966, p. 58) também faz a concordância
ideológica de tais adjetivos, usando sempre macho e sempre fêmea: o
jacaré macho, o jacaré fêmea, o macho da cobra, a fêmea da cobra.
13. Cândido de Oliveira (1961, p. 131), nos exemplos que dá de epicenos,
usa normalmente a concordância com a ideia do sexo e lembra, em
nota específica, que apenas raramente se emprega a forma fêmeo,
como em jacaré fêmeo.
14. Em outra obra, o mesmo autor, sem comentários outros, faz, com tal
adjetivo, a concordância ideológica, vale dizer, com o sexo do ser
retratado: o tatu fêmea (OLIVEIRA, C., s/d, p. 44).
15. Para Alfredo Gomes (1924, p. 354), fêmeo, em casos que tais, trata-se
de um daqueles “substantivos adjetivados”, os quais, exatamente por
esse motivo, “se tornam invariáveis: papagaio fêmea, cobra monstro”.
16. A questão é de tal forma polêmica, que um mesmo autor, Júlio Ribeiro
(1908, p. 83), por um lado, ensina que, em tais casos, se há de fazer a
concordância ideológica (macho será sempre masculino, e fêmea será
sempre feminino), sob o argumento de que a concordância gramatical
como reais adjetivos seria “exagero que se não justifica com bons
exemplos” (RIBEIRO, Júlio apud BUENO, 1938, p. 62-3); por outro
lado, ressalva, sem condenação alguma, que se encontra nos escritores
clássicos portugueses a concordância literal (o jacu fêmeo).
17. Ante a divergência entre os gramáticos e a própria ausência de causa
real proibitiva, quer para macho, quer para fêmeo, parece defensável
efetuar tanto a concordância literal de tais adjetivos (cobra macha,
jacaré fêmeo) como a concordância por silepse, ou ideológica (cobra
macho, jacaré fêmea).
Ver Epiceno (P. 324).

Feminino dos adjetivos compostos – Regras


Ver Adjetivos compostos (P. 81).

Férias: uma férias?


1. Um leitor indaga qual a forma correta para dizer que se tem direito a
somente um período de férias: “Eu tenho direito a uma férias”?
2. Em nosso idioma, há determinados substantivos comuns apenas usados
em sua forma plural (arras, férias, óculos, etc.), os quais fazem o verbo
concordar no plural. Exs.: a) “Salvo estipulação em contrário, as arras
em dinheiro consideram-se princípio de pagamento” (CC/1916, art.
1.096); b) “… onde as férias sejam coletivas…” (Código Eleitoral, art.
374, parágrafo único); c) “Meus óculos caíram e se quebraram”.
3. Com essas palavras, será errônea qualquer tentativa de concordância no
singular, como, por exemplo, “Meu óculos caiu e se quebrou”.
4. De modo específico para o vocábulo da consulta, embora não possa
haver concordância no singular, é possível pensar na especificação de
um bloco de férias por outro modo, como pela anteposição das palavras
período ou bloco. Ex.: a) “O funcionário fazia jus a um período de
férias”; b) “Àquela altura, já estava prescrito o direito de reclamar um
bloco de férias”.
5. De modo específico para o caso em estudo, vejam-se os modos corretos
de dizer: a) “Eu tenho direito a um período de férias”; b) “Eu tenho
direito a um bloco de férias”.

Ferir
1. Quanto à conjugação verbal, aparece um i na primeira pessoa do
presente do indicativo e nos tempos dela derivados: firo, feres, fere,
ferimos, feris, ferem (presente do indicativo); fira, firas, fira, firamos,
firais, firam (presente do subjuntivo); fere, fira, firamos, feri, firam
(imperativo afirmativo); não firas, não fira, não firamos, não firais, não
firam (imperativo negativo).
2. Tal verbo não é defectivo, e não apresenta ele problemas ou
irregularidades nos demais tempos e modos, em que é conjugado normal
e regularmente.
3. Na observação de José de Nicola e Ernani Terra, “o e do radical muda
para i na primeira pessoa do singular do presente do indicativo e nas
formas daí derivadas” (2000, p. 20).

Ficamos em quatro – Está correto?


1. Trata-se de forma errônea de expressão, que deve ser corrigida para
ficamos quatro.
Ver Em seis – Está correto? (P. 316)

Ficar no aguardo – É correto?


1. Um leitor indaga se é correta a expressão ficar no aguardo para significar
aguardar.
2. Ora, num primeiro aspecto, importa anotar que o Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, veículo pelo qual a Academia
Brasileira de Letras exerce sua função de listar oficialmente as palavras
existentes em nosso idioma, registra, de modo expresso e taxativo, o
vocábulo aguardo como substantivo masculino (2009, p. 31), forma que
vem, por derivação regressiva, do verbo aguardar.
3. Nossos mais conhecidos dicionaristas – Aurélio Buarque de Holanda
Ferreira (2010, p. 80) e Antônio Houaiss (2001, p. 125) – conferem
ambos a esse substantivo o significado de aguardamento, espera e
expectativa.
4. São conhecidas as variantes ao aguardo (confira-se exemplo trazido pelo
primeiro dicionarista citado) e no aguardo. Exs.: a) “Fico ao aguardo de
suas notícias”; b) “Estou no aguardo de seus comentários”.
5. A par da palavra oficial favorável da ABL por via do VOLP, ainda se
pode acrescentar a abalizada lição de Napoleão Mendes de Almeida:
“Não há argumento para condenar o emprego de aguardo no sentido de
espera, expectativa. É da índole de nosso idioma utilizar-se de formas
verbais para funções de substantivo, para indicar o ato ou o resultado da
ação expressa pelo verbo” (1981, p. 16).

Filosofar
Ver Datilografar (P. 251).
Fim de linha
Ver Partição silábica entre as linhas (P. 551).

Fim de semana ou Final de semana?


1. Um leitor pergunta se há diferença de significação e de uso entre as
expressões fim de semana e final de semana.
2. No plano do sentido, fim de semana é uma expressão consagrada para
indicar o lapso temporal que se inicia na noite da sexta-feira e se encerra
na noite de domingo ou manhã de segunda-feira.
3. Por outro lado, final tem apenas um sentido próprio de última parte de
algo, ideia essa presente em diversas expressões: final de dia, final de
século. E, por não ser uma expressão consagrada como tal, nem formar
um circunlóquio específico, o final de semana só pode ser entendido até
a última hora do sábado, já que domingo é o primeiro dia da nova
semana.
4. Resolvida a questão do sentido das expressões, oportuno é acrescentar,
quanto a eventuais dúvidas acerca do hífen, que final de semana, por não
constituir expressão consagrada com significado próprio, não traz em si
motivo para emprego do hífen. Escreve-se, portanto, final de semana.
5. Quanto a fim de semana, embora até se possa enquadrá-la no conceito de
“palavra composta por justaposição, cujos elementos constituem uma
nova unidade morfológica e de sentido”, caso em que se justificaria o
emprego de hífen, o certo é que o próprio Acordo Ortográfico
excepciona expressamente a possibilidade de seu uso. Escreve-se, por
conseguinte, fim de semana.

Fim visado – Está correto?


1. É pacífico, como regra, o entendimento de que apenas os verbos
transitivos diretos podem ser apassivados, uma vez que o objeto direto
da voz ativa passa a ser o sujeito da voz passiva, e, se se apassivar um
verbo transitivo indireto, estar-se-á, na voz passiva, eliminando a
preposição, o que, em última análise, implica a alteração do regime do
verbo.
2. O problema assume maior relevo com verbos que num sentido são
transitivos diretos e noutro, transitivos indiretos, como é o caso de visar,
que, na acepção de vistar, pôr visto, pede objeto direto, e, no sentido de
ter em vista, ter por finalidade, reclama historicamente objeto indireto.
Exs.: a) “O banco visou o cheque”; b) “As medidas impopulares visam
ao crescimento da economia”.
3. Quanto a esses verbos de dupla ou múltipla significação, tem-se
entendido e ensinado, de modo genérico, que, como transitivos diretos,
podem ser usados na voz passiva; como transitivos indiretos, porém,
não.
4. Para que bem se fixe o posicionamento acerca da expressão aqui
considerada, entretanto, anota Artur de Almeida Torres (1967, p. 298-9),
e com muita propriedade, que se observa, no Brasil, uma tendência a se
usar do verbo visar sem preposição, mesmo como transitivo indireto,
quando seguido de infinitivo. Ex.: “Esta doutrina é simplesmente
didática e visa facilitar a aprendizagem dos verbos fortes” (Otelo Reis).
5. Cândido Jucá Filho (1981, p. 110) também lembra que, modernamente,
tem sido olvidado o uso da preposição com esse verbo, trazendo ele
exemplos de autores insuspeitos para corroborar seu ensino: a) “Se
visaram este alvo…” (Mário Barreto); b) “Medidas que a minha
administração visava…” (Rui Barbosa).
6. De Arnaldo Niskier vem a seguinte advertência para os dias atuais: “O
verbo visar, no sentido de ter por objetivo, rege, historicamente, a
preposição a; entretanto, no português moderno, seu uso como transitivo
direto já está mais do que difundido, sendo encontrado em bons autores,
independentemente da palavra que o segue. Assim, devemos considerar
as duas regências corretas, apesar do espernear daqueles que veem a
língua como um cadáver conservado em formol” (1992, p. 107).
7. Para esse seu emprego mais problemático, também assim leciona
Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 413-4): a) “na acepção de ter em
vista, ter como objetivo, pretender, constrói-se geralmente com objeto
indireto (preposição a)”; b) em tal acepção, todavia, “admite-se a
regência direta”.
8. Em nota bastante apropriada para tal significado, observa Francisco
Fernandes: “Neste caso o verbo visar regeu sempre complemento
indireto, introduzido pela preposição a; modernamente, porém, é comum
dar-se-lhe objeto direto, qualquer que seja sua acepção” (1971, p. 599).
9. Não é outro o posicionamento de Celso Pedro Luft (1999, p. 534), para
quem, “nesta acepção, a regência primária é transitivo indireto”,
correspondendo à construção visar a; todavia, “por causa da semântica
buscar, procurar, pretender, passou a aceitar também a transitividade
direta, dispensando a preposição”, o que “se deu, de início,
principalmente com o infinitivo”. Ex.: “O ataque visava cortar a
retaguarda da linha de frente” (Euclides da Cunha).
10. Nesse sentido de ter por fim ou objetivo, nos textos de lei, tal verbo, de
um modo geral, aparece com sua construção clássica com objeto
indireto introduzido pela preposição a (visar a alguma coisa), mas
também há casos de sintaxe com objeto direto (que pode aparecer
como sujeito da voz passiva), correspondendo à construção visar algo.
Exs.: a) “A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
dispensarão às microempresas e às empresas de pequeno porte, assim
definidas em lei, tratamento jurídico diferenciado, visando a incentivá-
las pela simplificação de suas obrigações administrativas…” (CF/88,
art. 179); b) “Subordinando-se a eficácia do ato à condição suspensiva,
enquanto esta se não verificar, não se terá adquirido o direito, a que
ele visa” (CC/1916, art. 118); c) “Quando a lei dispõe sobre as
condições de validade substancial ou formal de quaisquer fatos ou
sobre os seus efeitos, entende-se, em caso de dúvida, que só visa os
fatos novos…” (CC português, art. 12º, 2); d) “As penas aumentam-se
de um terço, se ocorre qualquer das hipóteses previstas no § 1º, nº1, do
artigo anterior, ou é visada ou atingida qualquer das coisas
enumeradas no nº II do mesmo parágrafo” (CP, art. 251, § 2º).
11. Para resumir, no que concerne, de modo específico, à expressão
proposta de início, a estrutura clássica e tradicional preconiza que
melhor do que fim visado é dizer fim a que se visa, ou, se se insistir no
emprego de um adjetivo, que advenha ele de um verbo transitivo
direto: fim objetivado, fim pretendido.
12. Há, todavia, diversos exemplos de abalizados autores, além do respaldo
de conceituados gramáticos, autorizando o emprego tanto do verbo
visar como transitivo direto na acepção de ter em vista, como de
emprego do adjetivo em expressões como fim visado, a qual, assim,
não há de merecer condenação alguma.
Ver Visar (P. 781).

Fiscala – Existe?
1. Estendendo ao vocábulo lição proferida a outra palavra, Geraldo Amaral
Arruda observa que melhor é a forma fiscal “tanto no masculino como
no feminino”, justificando que na linguagem culta são muitos os
substantivos com essa terminação que “variam no gênero com a simples
mudança do artigo e do adjetivo que os modifiquem”.
2. Acrescenta ele que adjetivos dessa natureza – de segunda classe – em
latim, tinham uma mesma forma para o masculino e para o feminino, e,
ao se formar o substantivo de tal adjetivo, “surgia um substantivo
masculino ou feminino, conforme fosse masculino ou feminino o
substantivo suprimido no ato da substantivação”.
3. E conclui que “o mesmo processo perdurou no português”, razão pela
qual, “se uma mulher entrar para os quadros da fiscalização de rendas do
Estado, chamar-se-á ela a fiscal”, sendo fiscala o que ele considera uma
“solução inferior”, portadora de “conotação depreciativa ou jocosa”
(ARRUDA, 1997, p. 145-6).
4. Também o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia
Brasileira de Letras, que é o veículo oficial indicador das palavras
existentes em nosso idioma e da própria maneira de sua flexão, veículo
esse que não registra fiscala, atribui a tal substantivo os dois gêneros, o
que significa dizer que as formas autorizadas são o fiscal e a fiscal
(2009, p. 374).
Ver Oficiala – Existe? (P. 520)

Fiscalizar
1. Para bem se guardar a grafia de tal vocábulo, duas regras devem ser
consideradas: a) Se se tem de acrescentar a um radical o sufixo izar
inteiro para formar um verbo, grafa-se com z: fiscal, útil (primitivas)
fazem fiscalizar, utilizar (derivadas). b) No caso da observação anterior,
porém, se já existe s no radical, é ele aproveitado: análise, pesquisa,
catálise (primitivas) fazem analisar, pesquisar, catalisar.
Ver Ortografia (P. 533) e Regras de ortografia (P. 652).

Flagrância ou Fragrância?
1. Flagrância significa estado do que é inflamado ou manifestação de um
fato no mesmo momento em que se dá. Ex.: “É de total flagrância a
inverdade do que ele falou”.
2. Sua parônima fragrância quer dizer qualidade do que é odorífero,
perfumado, ou, ainda, que tem perfume agradável. Ex.: “Suave
fragrância vinha das roseiras do jardim”.
3. O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia
Brasileira de Letras, órgão incumbido oficialmente de determinar a
existência dos vocábulos em nosso idioma, além de sua grafia oficial, o
qual normalmente não traz o significado das palavras, faz questão de, no
caso, distinguir claramente: flagrância é a condição do que é flagrante; já
fragrância significa aroma (2009, p. 375 e 383).

Flagrante ou Fragrante?
1. Um leitor indaga se é correto o vocábulo fragrante no seguinte trecho:
“Há uma fragrante inconstitucionalidade na composição da Corte, uma
vez que não estão sendo respeitadas as proporcionalidades dos quintos”.
2. Ora, flagrante é adjetivo, que pode significar acalorado, inflamado, ou
então evidente ou manifesto. Exs.: a) “O casal, sem dúvida, estava
tomado de flagrante paixão”; b) “Praticava-se, naquele caso, sem
dúvida, flagrante injustiça”.
3. Já sua parônima fragrante quer dizer odorífero, perfumado. Ex.: “Flores
fragrantes fresco aroma espargem” (José Albano).
4. Assim, não há dúvida: o certo é flagrante inconstitucionalidade, e não
fragrante inconstitucionalidade.
5. Importa acrescentar que o Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, órgão incumbido
oficialmente de determinar a existência dos vocábulos em nosso idioma,
além de sua grafia oficial, o qual normalmente não traz o significado das
palavras, faz questão de, no caso, distinguir claramente: a flagrante
confere o significado de evidente; a fragrante atribui o sentido de
perfumado (2009, p. 375 e 383).

Fluido ou Fluído?
1. Fluido (sem acento gráfico e com a sílaba tônica no u) pode ser um
adjetivo (a significar fluente, flácido, frouxo). Ex.: “Em discurso fluido,
o mestre expôs com clareza suas ideias”.
2. Também pode ser um substantivo (querendo indicar corpo líquido ou
gasoso). Ex.: “Acondicionar fluidos exige técnica diferente do
armazenamento dos sólidos”.
3. Em ambos os casos, repita-se, a força de sua pronúncia incide sobre o u,
não sobre o i (SACCONI, 1979, p. 18).
4. Nesses sentidos: a) é incorreto grafar ou dizer fluído (com a força da
pronúncia no i); b) a pronúncia é em ditongo (ui) e não em hiato (u-í).
5. Não confundir, assim, com sua parônima fluído, que é forma do
particípio passado do verbo fluir e significa correr em estado líquido,
escoar, manar. Ex.: “O recurso era intempestivo, porque já havia fluído o
prazo processual”.
6. Já nesse caso – fluído – a pronúncia é em hiato (u-í) e não em ditongo
(ui).

Fluir – Como conjugar?


Ver Fruir – Como conjugar? (P. 364)

Fluir ou Fruir?
Ver Fruir ou Fluir? (P. 366)

Foi indo – Está correto?


Ver Vir vindo – Está correto? (P. 781)
Folha e Página – Qual a diferença?
1. Um leitor indaga, em síntese, qual a diferença entre folha e página. E
complementa, partindo da premissa de que a folha, quando considerada
na frente e no verso, é um conjunto constituído por duas páginas, se
posso usar a expressão folha para significar cada conjunto de duas
páginas, estas com numeração duplicada daquelas. Assim, página 40 ou
folha 20-verso.
2. Ora, folha vem do substantivo neutro latino folium (possivelmente
tomado por equívoco do plural folia como se fosse um feminino
singular) e significa o órgão geralmente laminar e verde de algumas
plantas. Por analogia, passou a significar qualquer lâmina de pouca
espessura, como folha de metal, folha-de-flandres ou folha de papel.
3. Já página vem do feminino latino pagina, que significa a parte interna de
um papiro, com uma coluna apenas escrita.
4. Com essas explicações como premissas, passa-se a responder à
indagação do leitor: a) é certo que, num livro, num caderno ou num
processo, uma folha é um conjunto de duas páginas, que representam a
frente e o verso daquela; b) convencionou-se, todavia, dizer folha em
alguns casos (como num processo), e página em outros (como num livro
ou caderno); c) num livro, as páginas recebem numeração crescente, de
modo que, na frente, se tem uma página de número ímpar, enquanto, no
verso, uma de número par; d) já com os processos, as folhas têm
numeração crescente em sua frente, mas o seu verso recebe o mesmo
número da frente, apenas com a especificação de que se trata do verso
(assim, fls. 3 e fls. 3-verso, ou, de modo abreviado, fls. 3-v.).
5. Parece oportuno acrescentar algumas observações: a) haveria de
contrariar na íntegra o uso que normalmente se faz do idioma empregar
página para discriminar os elementos de um processo judicial ou folha
para especificar os mesmos elementos de um livro ou caderno; b)
importa observar, entretanto, que, fora de uma estrita especificação e
numeração, emprega-se folha para fazer referência a um livro, sobretudo
quando não está em questão a respectiva numeração (“Ele procurou ler
aquele livro, mas não passou das primeiras três folhas”).

Folhas
Ver A folhas vinte e duas – Como é a forma correta? (P. 94)

Fomos em seis – Está correto?


1. Trata-se de forma equivocada de expressão, que deve ser substituída por
fomos seis.
Ver Em seis – Está correto? (P. 316)

Fora
1. Trata-se de palavra que pode ter função prepositiva, hipótese em que
Celso Cunha (1970, p. 147) observa ser preposição acidental, podendo
ser sinônima de afora. Exs.: a) “Fora a vítima, ninguém mais
permaneceu na sala de audiências”; b) “Afora a vítima, ninguém mais
permaneceu na sala de audiências”.
2. Nesse caso, não se há de acrescentar nenhuma outra palavra antes da que
tiver que ser efetivamente por ela regida, pois a preposição, em nosso
idioma, vem imediatamente acompanhada da palavra que a ela se
submete, sem interposição de nenhuma outra partícula de ligação. Exs.:
a) “Fora o caso de doença, as faltas serão descontadas” (correto); b)
“Fora do caso de doença, as faltas serão descontadas” (errado).
3. Exemplo de correção no vernáculo, nesse sentido, é o art. 1.096 do
Código Civil de 1916, o qual, ao falar das arras como princípio de
pagamento, complementa que, “fora esse caso, devem ser restituídas,
quando o contrato for concluído, ou ficar desfeito”.
4. Apesar disso, registre-se lição contrária de Antonio Henriques, no
sentido de que tanto se pode dizer “fora isto ou fora disto” (1999, p. 22).
5. Ainda para tal caso, muito embora seja preposição, talvez porque
acidental, depois dela se empregam as formas eu e tu, e não mim nem ti,
como normalmente haveriam de ser pronomes preposicionados. Ex.:
“Todos, fora tu, não serão convidados para a festa”.
6. Se, porém, sua função é adverbial, não pode haver substituição por
afora. Exs.: a) “O advogado jogou fora o código em sinal de protesto”;
b) “Enquanto durou a audiência, o advogado permaneceu fora”.
7. Também é palavra que se usa na consagrada expressão mar em fora, com
o sentido de mar largo.
8. Nesse sentido, de Eduardo Carlos Pereira (1924, p. 354) é a lição de que
tal palavra, às vezes, pospõe-se ao substantivo, “com suma elegância,
exercendo função semelhante à dos adjetivos”, exemplificando: “Ele
saiu barra fora”.
9. Ainda nesse sentido adverbial, ressaltando a riqueza de nossa língua, o
Padre José F. Stringari (1961, p. 46-7) observa que há três maneiras de
dizer, isto é, fora, a fora e em fora, para o que traz a corroboração de
exemplos de autores insuspeitos: a) “Às onze horas saiu barra fora a
nau” (Camilo Castelo Branco); b) “Subiram todos para a carruagem,
que ruidosamente partiu pela rua a fora” (João Ribeiro); c) “… onde,
deixado o piloto do rio, entramos mar em fora no canal da Mancha”
(Almeida Garrett).
10. Em outros sentidos e funções, admite a estrutura fora de. Exs.: a) “Ele
dormiu fora de casa”; b) “Ele chegou fora de hora”; c) “Sua sugestão é
fora de propósito”; d) “Ele estava fora de si”; e) “Saindo do comum,
ele se comportou fora do natural”.
11. A pronúncia de seu o tônico é aberta (fóra), diferentemente da
pronúncia fechada de seu parônimo fora (fôra), forma verbal do
pretérito mais-que-perfeito simples do indicativo dos verbos ser e ir.
Observe-se que tanto a forma com o tônico aberto quanto a com
fechado não recebem acento diferencial de timbre (agudo ou
circunflexo).
Ver Afora (P. 96).

Fora da lei
1. Expressão de valor substantivo, empregada no sentido de marginal,
delinquente.
2. É invariável no plural: os fora da lei.
3. Anteriormente grafada com hifens (fora-da-lei), teve essa grafia alterada
pelo Acordo Ortográfico de 2008 (fora da lei), conforme registro
expresso do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela
Academia Brasileira de Letras, órgão oficialmente incumbido de listar as
palavras que integram nosso idioma, assim como para definir-lhes a
grafia e outras circunstâncias (2009, p. 379).

Formação de adjetivos compostos


1. Quando se quer dizer que algo se refere, concomitantemente, aos gregos
e aos romanos, pode-se dizer, em tese, como adjetivo composto, greco-
romano e romano-grego.
2. Ao se proceder a tal junção, todavia, em interessante observação, lembra
Luiz Antônio Sacconi que “o primeiro adjetivo deve ser sempre o menos
extenso”, devendo-se preferir sino-chileno, greco-hispânico, greco-
romano e belgo-boliviano a chileno-chinês, hispânico-grego, romano-
grego, bolivo-belga.
3. E continua tal autor (SACCONI, 1979, p. 56-7): “se ambos os adjetivos
possuírem o mesmo número de sílabas, prevalecerá a ordem alfabética”,
devendo-se preferir franco-grego a greco-francês.
4. Para tais situações, também ensinam José de Nicola e Ernani Terra: “o
primeiro adjetivo é sempre o de menor número de sílabas e aparece, via
de regra, em sua forma reduzida e erudita; o segundo adjetivo, sempre o
de maior número de sílabas, aparece em sua forma normal. Por exemplo,
um acordo entre Brasil e França é um acordo franco-brasileiro”.
5. E fornece tal autor um rol de algumas formas reduzidas de adjetivos
pátrios (NICOLA; TERRA, 2000, p. 112): afro (africano), anglo
(inglês), austro (austríaco), belgo (belga), euro (europeu), greco (grego),
hispano (espanhol), ítalo (italiano), luso (português), nipo (japonês),
sino (chinês), teuto (alemão, germânico).
6. Pasquale Cipro Neto e Ulisses Infante (1999, p. 250) adicionam a tal rol,
dentre outros, as formas reduzidas dano (dinamarquês) e fino (finlandês).
Ver Adjetivos compostos (P. 81) e Formação de adjetivos – Regras (P. 360).

Formação de adjetivos – Regras


1. Os limites do neologismo, em nosso idioma, em certa extensão, não
podem ser tão estritos, a ponto de resultar a condenação de seu uso do
simples fato de não se encontrar registrado pelos dicionários
determinado vocábulo, principalmente um adjetivo.
2. Exemplo significativo desse aspecto encontra-se em Mário Barreto
(1954b, p. 47), ao responder a um censor que argumentava não estar
registrado pelos léxicos o adjetivo inencontrável, por ele empregado em
um de seus artigos: “Como outros muitos verbais em ável, ível, é do
número daquelas palavras que se podem chamar facilmente formáveis.
Segundo o padrão de amável, imitável, provável…, formam-se ad
libitum adjetivos como agregável, alternável, civilizável, simplificável,
publicável, avistável, inavistável, centralizável, extirpável, intragável,
comível (em lugar de comestível), bebível (em lugar de potável), etc.
Com a maior facilidade, os verbos produzem adjetivos com a desinência
ável, a qual denota possibilidade, capacidade passiva ou de receber a
ação do verbo. Não deve, pois, causar estranheza ao meu ilustre crítico o
adjetivo inencontrável”.
Ver Formação de adjetivos compostos (P. 359).

Formando – Existe?
1. Apesar da oposição de alguns no que concerne a sua existência e à
possibilidade de seu uso, essa palavra vem registrada no Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras,
que é o veículo oficial indicador das palavras existentes em nosso
idioma, autorizando-se, por conseguinte, seu normal emprego, para
designar aquele que está para formar-se (2009, p. 380).
Ver Alimentando – Existe? (P. 105)

Fôrma ou Forma?
1. Um leitor indaga se a escrita correta da palavra sinônima de molde, após
as recentes mudanças em nossa ortografia, é fôrma ou forma. Na
hipótese de ser a primeira delas, questiona o motivo, já que, antes da
reforma, a palavra não tinha esse acento.
2. Ora, pela Lei 5.765, de 18/12/71, que alterou, em seu tempo, algumas
regras de nossa ortografia, em simplificação nesse campo, determinou-se
que não mais se acentuariam e e o das palavras de timbre fechado, sinal
esse que, até então, era usado para diferenciá-las dos vocábulos que
apresentavam fonemas de timbre aberto: almôço/almoço,
comêço/começo, colhêr/colher.
3. E tal lei, àquela época, manteve, como única exceção, o acento em pôde
(pretérito perfeito do indicativo de poder – “Ele pôde no passado”) para
diferenciar de pode (presente do indicativo – “Ele pode nos dias de
hoje”).
4. Era clara a justificativa para a exceção: era necessário distinguir entre
formas de um mesmo verbo que se empregava em tempos diversos.
5. Por um lado, o Acordo Ortográfico de 2008 manteve, de modo expresso,
o acento circunflexo diferencial em pôde (terceira pessoa do singular do
pretérito perfeito do indicativo de poder) para diferenciá-la de pode
(terceira pessoa do singular do presente do indicativo de poder).
6. Por outro lado, não se pode esquecer que, já no sistema anterior, havia
autores, como Aurélio Buarque de Holanda Ferreira em seu conhecido
dicionário, que preconizavam a necessidade de excepcionar ao menos
um outro caso de fácil confusão, a saber, forma (ô), a significar modelo
para se conferir o molde desejado, de difícil distinção da palavra forma
(ó), com o sentido de feitio, configuração, aspecto particular.
7. E alinhava tal autor, já àquela época, uma quadra de Manuel Bandeira,
no poema Estrela da Vida Inteira, em que a ausência de acento
simplesmente impossibilitava perceber o sentido da estrofe: “Vai por
cinquenta anos / Que lhes dei a norma: / Reduzi a sem danos / A fôrmas
a forma” (FERREIRA, s/d, p. 645).
8. Pois bem. O Acordo Ortográfico de 2008 tomou as seguintes
providências nesse campo: a) manteve a abolição genérica do acento
diferencial de timbre; b) fez permanecer, com obrigatoriedade, a exceção
do acento sobre pôde (terceira pessoa do singular do pretérito perfeito de
poder) para diferenciar de pode (terceira pessoa do singular do presente
do indicativo de poder); c) em inovação, facultou o uso do acento
circunflexo em fôrma (substantivo de timbre fechado) para distingui-la
de forma (substantivo de timbre aberto ou verbo no presente do
indicativo ou no imperativo).
9. Ante essa novidade, faz-se importante observação: sendo facultativo o
acento, vejam-se os seguintes exemplos, com a indicação de sua
correção ou erronia entre parênteses: a) “Não quero moldar minha vida
em fôrmas rígidas e sem sentido” (correto); b) “Não quero moldar minha
vida em formas rígidas e sem sentido” (correto); c) “Mais importante é o
conteúdo do que a forma” (correto); d) “Mais importante é o conteúdo
do que a fórma” (errado).

Formar em Direito ou Formar-se em Direito?


1. Um leitor indaga qual frase é correta: a) “Fulano de Tal formou em 1963
pela Universidade Presbiteriana Mackenzie”; b) “Fulano de Tal formou-
se em 1963 pela Universidade Presbiteriana Mackenzie”.
2. Ora, o verbo que constitui o cerne da indagação do leitor, por um lado, é
empregado sem o pronome reflexivo, se o sentido da frase é promover
ou facilitar a formação ou a formatura de terceiro (e não de si próprio),
ou mesmo de destiná-lo aos estudos superiores. Ex.: “Formou dois filhos
em Direito” (FERNANDES, 1971, p. 353).
3. Se, porém, o sentido é o de adquirir o próprio agente a formação ou a
formatura universitária, então tal verbo é obrigatoriamente pronominal.
Ex.: “Dias depois, ele se formou em Direito” (LUFT, 1999b, p. 307).
4. Respondendo, então, à indagação do leitor, confiram-se os seguintes
exemplos, com a indicação de sua correção ou erronia: a) “Fulano de Tal
formou em 1963 pela Universidade Presbiteriana Mackenzie” (errado);
b) “Fulano de Tal formou-se em 1963 pela Universidade Presbiteriana
Mackenzie” (correto); c) “Fulano de Tal formou dois filhos pela
Universidade Presbiteriana Mackenzie” (correto).

Formas arrizotônicas
1. Diz-se das formas verbais em que o acento tônico (sílaba forte) não recai
na raiz, no radical, mas na desinência, na terminação: assim, am-amos,
am-ais.
2. Tais formas repetem-se na conjugação de todos os verbos: são todas as
outras pessoas, com exclusão da primeira, segunda e terceira do singular
e terceira pessoa do plural do presente do indicativo, do presente do
subjuntivo, do imperativo afirmativo e do imperativo negativo (com a
observação de que, nos imperativos, não existe a primeira pessoa do
singular).
3. Trata-se de conceito de grande importância para a conjugação de
diversos verbos defectivos, que podem apresentar ausência de
conjugação exatamente nas demais formas, isto é, nas formas
rizotônicas.

Formas de tratamento
Ver Pronome de tratamento – Diretor de escola (P. 612).

Formas rizotônicas
1. Diz-se das formas verbais em que o acento tônico (sílaba forte) recai na
raiz, no radical, e não na desinência, na terminação: assim, am-o, am-as,
am-a, am-am.
2. Tais formas repetem-se na conjugação de todos os verbos: neles todos,
são a primeira, segunda e terceira pessoas do singular e terceira pessoa
do plural do presente do indicativo, do presente do subjuntivo, do
imperativo afirmativo e do imperativo negativo (com a observação de
que, nos imperativos, não existe a primeira pessoa do singular).
3. É conceito de grande importância para a conjugação de muitos verbos
irregulares, cujas alterações ocorrem exatamente em tais formas, além de
diversos verbos defectivos, não utilizados exatamente nelas.
4. Contrapõem-se a formas arrizotônicas.

Formulário Ortográfico
1. Originalmente, significou um conjunto de instruções para a organização
do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, aprovadas
unanimemente pela Academia Brasileira de Letras, na sessão de
12/8/1943.
2. Estabeleceram tais instruções normas para ortografia, acentuação
gráfica, emprego do hífen, divisão silábica, uso de maiúsculas e de sinais
de pontuação.
3. Compõem-se tais normas de 53 regras, com diversas subdivisões e
observações.
4. A Lei 5.765, de 18/12/1971, veio a modificar alguns aspectos de
acentuação gráfica.
5. Mais recentemente, outras dessas determinações de 1943 foram alteradas
pelas regras advindas do Acordo Ortográfico de 2008, dentre as quais se
destacam a eliminação genérica do trema, a modificação de algumas
regras de acentuação gráfica e a diminuição no emprego do hífen.
6. Importante esclarecer que, como a Academia Brasileira de Letras age,
nesse campo, por delegação legal, em cumprimento à vetusta Lei
Eduardo Ramos, de n. 726, de 8/12/1900, o que resulta de sua atuação –
como a edição do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa e as
alterações do Acordo Ortográfico – tem força de lei, motivo por que suas
determinações são de obrigatória observância, como o são as leis em
geral. Basta ver que alterações mais recentes nas regras nesse campo
foram feitas por meio de diplomas legais, como é o caso da Lei 5.765, de
18/12/71, do Decreto Legislativo 54, de 16/12/90 e dos Decretos 6.583,
6.584 e 6.585, todos de 29/9/2008.

Forno – Como pronunciar o plural?


Ver Metafonia (P. 472).

Fortuito ou Fortuíto?
1. A força da pronúncia incide sobre o u, não sobre o i, sendo sua divisão
silábica for-tui-to, e não for-tu-í-to (SACCONI, 1979, p. 18). Ou seja, a
pronúncia é em ditongo (ui) e não em hiato (u-í).
2. São incorretas, frise-se, a grafia e a pronúncia fortuíto.
3. Não há razão alguma para acento gráfico, em sua forma correta.
4. Na lição de Júlio Nogueira, “a tonicidade hoje recai no u, pouco
importando que o latim justifique a tonicidade no i” (1959, p. 24).
5. Fortuito (e não fortuíto) é também a forma registrada pelo Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras,
que é o veículo oficial indicador das palavras existentes em nosso
idioma, bem como de sua grafia e pronúncia (2009, p. 381).
6. Idêntica observação se pode fazer para circuito, gratuito e intuito.
Ver Fluido ou Fluído? (P. 358)
Fórum ou Foro?
1. Fórum é forma vinda diretamente do latim e significa, em termos
jurídicos, o próprio lugar onde funciona a Justiça, o prédio em que as
causas são julgadas. Nesse sentido, tem por sinônima pouco usada a
palavra foro (com pronúncia aberta no singular e no plural, mas sem
motivo algum de acento gráfico em qualquer dos casos). Exs.: a) “O
fórum cível central de São Paulo fica na Praça João Mendes”; b) “O
foro (ó) cível central de São Paulo fica na Praça João Mendes”.
2. Como todo vocábulo paroxítono terminado em um ou uns, fórum é
palavra acentuada tanto no singular quanto no plural: fórum, fóruns.
Todavia não recebem acento – repita-se – nem foro nem foros.
3. Não se encontrando exemplos de emprego de foro (ó) na legislação mais
conhecida, vejam-se alguns exemplos de emprego da palavra fórum na
legislação: a) “Considera-se prorrogado o prazo até o primeiro dia útil
se o vencimento cair em feriado ou em dia em que: I – for determinado o
fechamento do fórum” (CPC/1973, art. 184, § 1º, I); b) “A praça
realizar-se-á no átrio do edifício do fórum…” (CPC/1973, art. 686, §
2º); c) “O edital será afixado no átrio do fórum…” (CPC/1973, art. 687,
em redação revogada).
4. Com pronúncia fechada no singular (ô) e aberta no plural (ó), dentre
outros sentidos, significa a própria jurisdição, o âmbito, a alçada, o poder
de julgar. Ex.: “Mesmo havendo foro de eleição, normalmente não há
empecilho a que se ajuíze a demanda na comarca do domicílio do réu”.
5. Nesse sentido, também é palavra que, na atualidade, não tem razão
alguma para ser graficamente acentuada nem no singular (ô) nem no
plural (ó).
6. Com Arnaldo Niskier (1992, p. 39), vale reiterar “que o plural de foro,
como o de forno, é pronunciado com o tônico aberto (ó)”. A essa
alteração de timbre fechado no singular para aberto no plural, dá-se o
nome de metafonia.
7. Essa também é a lição de Artur de Almeida Torres (1966, p. 60), que
inclui tal vocábulo entre os “substantivos terminados em o átono que
fazem o plural com acréscimo de s, passando a aberto o timbre fechado
da vogal tônica” (fóros).
8. Nesse sentido se diz “foro de eleição”, “causa a ser discutida neste
foro”, “expressão usada na linguagem do foro”, e há diversos exemplos
de seu emprego na legislação: a) “A procuração geral para o foro,
conferida por instrumento público, ou particular assinado pela parte,
habilita o advogado a praticar todos os atos do processo, salvo para
receber citação inicial, confessar, reconhecer a procedência do pedido,
transigir, desistir, renunciar ao direito sobre que se funda a ação,
receber, dar quitação e firmar compromisso” (CPC/1973, art. 38); b) “A
ação fundada em direito pessoal e a ação fundada em direito real sobre
bens móveis serão propostas, em regra, no foro do domicílio do réu”
CPC/1973, art. 94); c) “Tendo mais de um domicílio, o réu será
demandado no foro de qualquer deles” (CPC/1973, art. 94, § 1º); d)
“Nas ações fundadas em direito real sobre imóveis é competente o foro
da situação da coisa” (CPC/1973, art. 95).
9. Para sintetizar, vale a pena trazer a lição de Antonio Henriques (1999, p.
70-1), que assim diferencia os vocábulos: a) fórum – “o termo, além de
outros significados, adquiriu o sentido de lugar de mercado, centro dos
negócios públicos e privados, lugar onde se resolviam as contestações e
processos”, daí advindo o sentido atual: “lugar, espaço físico, prédio
onde funcionam os órgãos do Poder Judiciário”; b) foro corresponde a
fórum, “com som aberto no singular e plural”; c) foro (som fechado no
singular e aberto no plural) – tem sentido de área de jurisdição, o raio de
ação do juiz, podendo significar, também, “juízo, julgamento (foro
íntimo, v. g.), costume, uso”.

Fotografar
Ver Datilografar (P. 251).

Fração
Ver Número fracionário (P. 505).

Frágeis, Difíceis e Papéis – Por que o acento?


1. Um leitor indaga qual o plural das palavras frágil, difícil e papel. Em
seguida, pergunta se são acentuadas no plural. Por fim, quer saber o
motivo de tais acentos gráficos.
2. Fixe-se, de início, que as palavras referidas fazem, no plural,
respectivamente, frágeis, difíceis e papéis.
3. Frágeis e difíceis têm a mesma razão de acento gráfico: acentuam-se as
paroxítonas (aquelas cuja sílaba forte é a penúltima) com ditongo oral na
última sílaba (dois sons vocálicos pronunciados em mesma sílaba – no
caso, ei). Essa regra não foi alterada pelo recente Acordo Ortográfico.
4. Já papéis recebe o acento gráfico, porque sempre se acentua o ditongo
aberto (éi), a menos que a palavra seja paroxítona (exceção essa
introduzida pelo Acordo Ortográfico de 2008). Exs.: papéis, réis, estreia.
5. Acrescenta-se, por oportuno, que essa última observação vale, em
mesmos moldes, para o ditongo aberto ói. Exs.: herói, dói, heroico.

Fragrância ou Flagrância?
Ver Flagrância ou Fragrância? (P. 358)

Fragrante ou Flagrante?
Ver Flagrante ou Fragrante? (P. 358)

França – Estive em ou na?


1. Um leitor indaga por que, quando nos referimos ao país França, dizemos
em França, assim apenas com a preposição, diferentemente de outros,
em que notamos a presença de um artigo.
2. Para não alongar a observação, vamos atentar ao modo de falar de duas
cidades brasileiras: a) “Estive em Curitiba”; b) “Estive no Rio de
Janeiro”.
3. Também observemos dois estados brasileiros: a) “Estive em São Paulo”;
b) “Estive no Paraná”.
4. Por fim, vejamos dois países: a) “Estive em Israel”; b) “Estive na
Turquia”.
5. Ora, no primeiro de cada dupla desses exemplos, nota-se a presença de
em, que é apenas uma preposição; já na segunda dupla, constata-se a
existência de no ou na, que é a junção da preposição em mais o artigo
definido (o ou a).
6. Sem necessidade de formulação de grandes teorias, isso demonstra que,
enquanto alguns nomes próprios de lugares (cidades, estados, países,
continentes) admitem artigos antes de si, outros não admitem.
7. E, para atender à indagação do leitor, assim se deve observar de modo
específico para os países: a) alguns vêm sempre sem artigo (como, por
exemplo, rei de Portugal); b) outros vêm sempre com artigo (presidente
do Brasil, povo do Canadá, importações dos Estados Unidos); c) e há os
que admitem ser usados, facultativamente, sem artigo ou com artigo,
embora a preferência atual e popular seja por essa última forma (reis de
França ou reis da França, grandes de Espanha ou grandes da Espanha,
flores de Holanda ou flores da Holanda, cartas de Inglaterra ou cartas
da Inglaterra…).
8. Para definir a extensão dessa lista e o enquadramento dos países nas
respectivas modalidades, é importante atentar ao ensino de Silveira
Bueno: HH “não há regra para este uso e só a observação diária de cada
um poderá remediar a dificuldade” (1968, p. 114).

Francesia
Ver Galicismo (P. 368).

Francesismo
Ver Galicismo (P. 368).

Francesmente – Existe?
Ver Portuguesmente – Existe? (P. 583)

Fraude à execução, Fraude de execução ou Fraude contra?


1. Quando se formula a indagação acima, quer-se saber, em última análise,
que tipo de preposição o substantivo fraude exige depois de si: a ou de?
A essa exigência de construção para depois de um nome denomina-se
regência nominal.
2. Quando o nome que vem depois é o autor da fraude, não há dificuldade:
fraude dos jogadores (ou seja, a fraude que os jogadores praticam). Ex.:
“A fraude dos jogadores foi percebida pelos fiscais das mesas”.
3. Em outro caso, também não é difícil verificar o uso da preposição em.
Ex.: “Os postos de gasolina foram fechados por fraude na qualidade do
combustível” (LUFT, 1999, p. 243).
4. Quando, porém, o nome que vem após é alvo, destinatário ou paciente da
fraude, a questão se torna um pouco mais difícil: contra, a ou de?
5. Francisco Fernandes (1969, p. 198), sem negar o valor de outras
construções, apenas lembra o acerto do emprego da preposição contra,
exemplificando com a expressão “fraude contra credores”.
6. Celso Pedro Luft (1999, p. 243) defende o acerto do emprego de duas
preposições: contra e de. Relembra a expressão fraude contra credores e
anota ser de fácil ambiguidade o uso de de em tais circunstâncias, pois
não se sabe se os credores são autores ou pacientes da fraude.
7. O Código Civil de 1916 consagrava a expressão fraude contra credores,
como se verifica no título que precede o art. 106, em conduta seguida
pelo Código Civil de 2002, no título que vem antes do art. 158.
8. O Código de Processo Civil, no art. 593, fala em fraude de execução, em
uso que se repete no art. 672, § 3º.
9. O Código Penal, ao tratar do estelionato e de outras fraudes, fala em
fraude na entrega de coisa, fraude para recebimento de indenização e
fraude no pagamento por meio de cheque (art. 171), além de fraude no
comércio (art. 175), fraudes na fundação ou administração de
sociedades por ações (art. 177) e fraude à execução (art. 179).
10. Nesse campo, a bem da verdade, não devemos ser restritivos, mas
ampliativos. Isso quer dizer que, se os gramáticos ou a lei permitem
determinada sintaxe, não há razão para rechaçá-la ou restringir seu
emprego, de modo que com qualquer dessas preposições há de se
reputar correta a construção.
11. Vale dizer, assim, que estão corretas todas as seguintes construções:
fraude de execução, fraude contra credores, fraude na entrega de
coisa, fraude para recebimento de indenização. E, de modo específico
para a consulta, estão ambas corretas: fraude à execução e fraude de
execução.
12. Apenas se lembra a ponderação de Celso Pedro Luft (1999, p. 243) de
que o emprego da preposição de em tais circunstâncias pode causar
ambiguidade, como quando se diz fraude de credores: nesse caso,
pode-se ficar na dúvida se os credores praticam a fraude ou são vítimas
dela.

Frente a, Em frente a ou Em frente de?


1. Existe em nosso idioma a expressão fazer frente a, que é correta e na
qual frente conserva em plenitude seu valor substantivo. Ex.: “Minhas
palavras não fazem frente a seus argumentos”.
2. Trata-se, porém, de castelhanismo a ser evitado o uso de frente a como
locução prepositiva. Ex.: “Frente ao juiz, a testemunha calou-se”
(errado).
3. Em tais casos, deve haver a substituição da expressão por ante, perante,
diante de, em frente de ou em frente a. Exs.: a) “Ante o juiz, a
testemunha calou-se” (correto); b) “Em frente do juiz, a testemunha
calou-se” (correto); c) “Em frente ao juiz, a testemunha calou-se”
(correto).
4. Aires da Mata Machado Filho (1969h, p. 1.162) – em lição plenamente
aplicável à expressão frente a – repisa o aspecto de que face a constitui
“rematado espanholismo”, que “deve ter entrado na apressada linguagem
dos jornais, através das crônicas esportivas”.
5. Quase que em termos matemáticos, para se guardar a observação, fixe-se
que apenas se pode dizer frente a quando se tem, por um outro lado, uma
frente b, aspecto esse que ocorre em linguagem das ciências exatas, não
no linguajar laico ou mesmo jurídico.
6. Anota Luciano Correia da Silva que se diz “em frente a ou em frente
de… Nunca frente a,… erro encontradiço na linguagem comum e na
prática forense. Diz-se com exação: ‘O Tribunal fica em frente à praça’
(ou da praça), ou ‘na frente da praça’” (1991, p. 94).
7. Geraldo Amaral Arruda (1997, p. 15), observando os cuidados que exige
a locução prepositiva em frente de, sintetiza os aspectos principais a
serem seguidos em tal caso: a) não dispensa ela a preposição em; b) tal
supressão importa barbarismo fraseológico; c) aceitável a locução em
frente a.
8. Lembrando que “não há exemplo na boa linguagem” do uso de frente a,
afiança Edmundo Dantès Nascimento que o correto é dizer em frente de,
trazendo significativo exemplo: “O grande pátio do Castelo em frente
dos paços” (Alexandre Herculano).
9. Ao referir que, modernamente, vem surgindo no linguajar comum a
expressão equivocada frente a, com aceitação de muita gente, observa
ele que se trata de uma “ânsia de inovar por quem não está apto a fazê-
lo”; e, mesmo anotando que “a língua sofre mudanças no vocabulário e
até na sintaxe”, e que Dante, Camões, os românticos, os simbolistas e até
João Guimarães Rosa mudaram suas línguas pátrias, ressalva, porém, tal
autor que, entre as constâncias seculares das línguas “se alinham as
preposições, que, em sua maioria, são subsistências latinas”.
10. Em complementação, assevera ele que, consultados tais movimentos e
pessoas, “verifica-se que ninguém pensou em alterar as preposições,
pois são movimentos realizados com pleno conhecimento de Gramática
Histórica” (NASCIMENTO, 1982, p. 132-5).
11. Reportando-se à lição de Napoleão Mendes de Almeida, observa
Laurinda Grion (s/d, p. 39) que não se há de dizer uma frase como
“Aguardei-a em frente o cinema”; para tal autora, “ninguém aguarda
em frente o, mas sim em frente de ou em frente a, já que toda locução
prepositiva termina por preposição: antes de, depois de, apesar de, em
relação a, junto com, à volta com e – naturalmente – em frente de, em
frente a”.
12. Exemplo de correção é o art. 540 do Código Civil: “Quando o terreno
aluvial se formar em frente a prédios de proprietários diferentes…”
13. Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 135) dá como igualmente
corretas e de escorreita vernaculidade as expressões em frente a e em
frente de.
14. Quanto a frente a, todavia, reconhece tal autor tratar-se de “locução
neológica, muito em voga”, embora “censurada pelos gramáticos”,
reconhecendo, até mesmo, que “talvez seja inócua a condenação do
neologismo, tal a sua frequência nas colunas dos jornais e na literatura”
(CEGALLA, 1999, p. 175).
15. Tal observação, contudo, não parece ser suficiente para autorizar o
emprego de tal expressão em textos que devam submeter-se à norma
culta.

Freqüência ou Frequência?
Ver Trema (P. 746).

Fruir – Como conjugar?


1. No que tange à conjugação verbal, leciona Otelo Reis (1971, p. 146-7)
que fruir é defectivo e manda flexioná-lo pelo modelo abolir.
2. Assim, de acordo com essa lição, não teria o verbo fruir as formas em
que, de acordo com a conjugação normal do modelo da terceira
conjugação, ao l do radical se seguiria a ou o, defectividade essa que
ocorreria no presente do indicativo e nos tempos derivados.
3. Em outras palavras, conjugar-se-ia “nas formas em que a terminação
começa pela vogal e ou pela vogal i” (REIS, 1971, p. 145).
4. Em termos bem práticos, de acordo com essa lição, não teria a primeira
pessoa do singular do presente do indicativo, e a segunda e a terceira
pessoas do singular terminariam respectivamente por es e e: frues, frue,
fruímos, fruís, fruem.
5. De igual modo, não teria pessoa alguma do presente do subjuntivo nem
do imperativo negativo, que são formas derivadas da primeira pessoa do
presente do indicativo.
6. No imperativo afirmativo, teria apenas as pessoas derivadas do presente
do indicativo: frue tu, fruí vós.
7. Como os problemas mencionados ocorreriam apenas no presente do
indicativo e nos tempos daí derivados, a defectividade referida não se
daria nos outros tempos, que seriam normalmente conjugados em todas
as pessoas: fruía (imperfeito do indicativo), fruirei (futuro do presente),
fruiria (futuro do pretérito), fruindo (gerúndio), fruído (particípio), fruí
(pretérito perfeito do indicativo), fruíra (pretérito mais-que-perfeito do
indicativo), quando eu fruir (futuro do subjuntivo), se eu fruísse
(imperfeito do subjuntivo).
8. Com todo o respeito pelo ensino do mestre da conjugação verbal em
nossa língua, todavia, não se pode deixar de ver ao menos dois
equívocos em sua lição.
9. Por primeiro, fixando premissas, observa-se, com o próprio Otelo Reis,
que, em alguns verbos, “foi o uso que não consagrou certas formas, as
quais, nunca tendo sido vistas ou ouvidas, são espontaneamente evitadas
pelos que procuram falar corretamente. Em outros, é a eufonia que faz
omitir algumas desagradáveis ao ouvido, ou geradoras de equívocos. Em
outros, ainda, a defectibilidade resulta de ser impossível conceber-se,
aplicada a certas pessoas, ou em certos tempos, a ideia expressa pelo
verbo” (1971, p. 13-4).
10. Reforce-se, em mesma esteira, com a significativa lição de Mário
Barreto, colhida por Cândido Jucá Filho (1981, p. 108-9): “A
morfologia não tem leis especiais para excluir de sua formação total
nenhum dos verbos que se têm por defectivos. Nenhuma lei de
estrutura se opõe a que se forme abole, colorem, pule, bane, dele,
demulo. O empregá-los numa forma e deixar de empregá-los noutra é
coisa que toca ao uso”.
11. Com base nessas premissas, forçoso é concluir, por primeiro, que não
se pode pretender alegar questões de natureza morfológica ou eufônica
para não usar, por exemplo, fruo, fruas, frua, fruamos, fruais, fruam,
certo como é que sua elocução, quanto a tais aspectos, em nada diverge
das demais formas em que se pacificou seu emprego.
12. Ao depois, não se deu justificativa alguma acerca de que o uso teria
consagrado as formas tidas por aceitas e teria renegado as demais.
13. O segundo equívoco cometido pelo ilustre mestre, ao dar-lhe por
modelo abolir, foi, automaticamente, fazê-lo receber e na segunda e
terceira pessoas do singular do presente do indicativo, quando fruir,
como todo verbo terminado em uir, só pode dar origem à terminação ui
na segunda e terceira pessoas do singular do presente do indicativo.
Assim: fruis, frui, na mesma esteira, por exemplo, de restituis, restitui.
14. Em verdade, diferentemente dos verbos terminados em uar (como
continuar), são errôneas as grafias com e em tais situações: frues, frue.
15. Nas palavras de Cândido de Oliveira, atento aos frequentes equívocos
cometidos nesse campo, “é com i a segunda e terceira pessoas do
singular do presente do indicativo dos verbos terminados em uir: aflui,
fruis, retribui, retribuis, contribui, contribuis, influi, influis” (1961, p.
64).
16. O melhor, assim, com todo o respeito pela lição de Otelo Reis, é, por
um lado, dar ao verbo fruir o modelo restituir ou retribuir, para que
não surjam formas como frues ou frue; por outro lado, deve-se aceitar-
lhe a conjugação integral, sem limitação de espécie alguma por
questões de defectividade. Se determinada forma vai ou não ser usada,
será uma questão de emprego do verbo, não de limites impostos pela
conjugação.
17. Todas essas observações sobre o verbo fruir valem para a conjugação
de sua parônima fluir e também para o verbo usufruir.

Fruir os bens ou Fruir dos bens?


1. Fruir tem o significado de desfrutar, gozar. Ex.: “Ele fruiu todos os
benefícios que a herança do pai podia conceder-lhe”.
2. Embora seja mais corriqueiro vê-lo construído com objeto direto (ou
seja, sem preposição em seu complemento), o certo é que ele pode ser
empregado, indiferentemente, como transitivo direto ou como transitivo
indireto. Exs.: a) “Fruirei a ventura de amar e ser amada” (Camilo
Castelo Branco); b) “Fruir pacificamente dos bens que adquiriram”
(Alexandre Herculano).
3. Ressalta Antenor Nascentes que a preposição de, em tal caso, traz uma
carga afetiva (NASCENTES apud KASPARY, 1996, p. 168).
4. Francisco Fernandes (1971, p. 357) lhe reconhece a dupla possibilidade
de sintaxe, quer como transitivo direto, quer como transitivo indireto, e
para tanto funda-se em exemplos de autores irretocáveis: a) “Constitui
usufruto o direito real de fruir as utilidades e frutos de uma coisa” (Rui
Barbosa); b) “Fruir pacificamente dos bens que adquiriram” (Alexandre
Herculano).
5. Outro não é o posicionamento de Domingos Paschoal Cegalla:
“Constrói-se, indiferentemente, com objeto direto ou indireto: ‘Ele fruía
tranquilamente os bens (ou dos bens) que herdara dos pais’” (1999, p.
176).
6. Pela dupla possibilidade de uso também é Celso Pedro Luft (1999, p.
309).
7. Nos textos legais, o normal é que encontrar casos em que é construído
com objeto direto, e não com objeto indireto. Exs.: a) “Constitui usufruto
o direito real de fruir as utilidades e frutos de uma coisa, enquanto
temporariamente destacado da propriedade” (CC/1916, art. 713); b) “O
usufrutuário fruirá a utilidade da coisa dada em uso, quanto o exigirem
as necessidades pessoais suas e de sua família” (CC/1916, art. 742); c)
“O credor anticrético pode fruir diretamente o imóvel…” (CC/1916, art.
806); d) “O usufrutuário pode usar, fruir e administrar a coisa ou o
direito…” (CC português, art. 1.446º).
8. Num caso, porém, houve o emprego de tal verbo como transitivo
indireto: “São direitos do condômino: I – usar, fruir e livremente dispor
das suas unidades” (CC, art. 1.335, I). Nesse dispositivo, a expressão
preposicionada “das suas unidades” complementa, simultaneamente, os
três verbos (usar, fruir e dispor), sempre com a mesma função: objeto
direto.

Fruir ou Fluir?
1. Fruir tem o significado de desfrutar, gozar. Exs.: a) “Ele fruiu todos os
benefícios que a herança do pai podia conceder-lhe”; b) “São direitos do
condômino: I – usar, fruir e livremente dispor das suas unidades” (CC,
art. 1.335, I); c) “O credor anticrético pode administrar os bens dados
em anticrese e fruir seus frutos e utilidades, mas deverá apresentar
anualmente balanço, exato e fiel, de sua administração” (CC, art. 1.507,
caput).
2. Já sua parônima fluir significa correr em estado líquido, escoar, manar e,
por extensão, decorrer. Exs.: a) “O néctar fluía das flores abertas”; b)
“Se houver atraso na imissão de posse no imóvel, atribuível ao
alienante, a partir dela fluirá o prazo de decadência” (CC, art. 501,
parágrafo único); c) “No caso de citação por edital, o prazo para a
defesa começará a fluir a partir do comparecimento pessoal do acusado
ou do defensor constituído” (CPP, art. 396, parágrafo único).
Frustrar ou Frustar?
1. É preciso atentar a sua ortografia, pois, desde o latim, é verbo que se
conjuga com tr em todas as pessoas, tempos e modos, não existindo o
verbo frustar.
Ver Estupro ou Estrupo? (P. 337)

Fui eu que ou Fui eu quem?


1. Entre as expressões fui eu que e fui eu quem, “não há que escolher:
ambas são corretas” (BUENO, 1938, p. 48).
2. Apenas se deve observar que, com a primeira delas (fui eu que), o verbo
concorda com o pronome pessoal reto que aí se encontra, vale dizer, na
primeira pessoa do singular; com a segunda delas (fui eu quem), o verbo
pode concordar com o pronome pessoal reto, ou pode ficar na terceira
pessoa do singular. Exs.: a) “Fui eu que ajuizei a ação” (correto); b)
“Fui eu que ajuizou a ação” (errado); c) “Fui eu quem ajuizei a ação”
(correto); d) “Fui eu quem ajuizou a ação” (correto).

Fui nascido
Ver Ser nascido – Está correto? (P. 694)

Fulano, Beltrano, Sicrano… – Existem outras formas?


1. Um leitor parte do princípio de que, quando queremos fazer uma
referência vaga ou genérica a alguém, ou falar de uma pessoa cujo nome
desconhecemos, geralmente empregamos as expressões fulano, beltrano
e sicrano. Diz ele, porém, que já ouviu alano, mengano, zutano, citano e
perengano. E indaga: além das três primeiras, existem outras formas
para tais referências em português?
2. Ora, quando se emprega um vocábulo como fulano, quer-se falar de uma
pessoa indeterminada, ou de alguém que não se conhece, ou, ainda, de
alguém que não se quer nomear. Ex.: “O fulano que atendeu não vestia o
uniforme da repartição”.
3. Se a referência é feita a mais de uma pessoa, fala-se de fulano, sicrano (e
não siclano, cicrano ou ciclano) e beltrano. Ex.: “Não me interessa se o
autor dessa estupidez foi fulano, sicrano ou beltrano”.
4. Quanto aos demais vocábulos trazidos pela consulta, podem-se fazer as
seguintes observações a seu respeito: a) O Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de Letras, com
delegação legal para listar oficialmente os vocábulos existentes no
idioma, não registra mengano, citano, cicrano e perengano, o que
implica dizer que tais palavras não existem em nosso idioma; b) Quanto
a zutano, trata-se de vocábulo do espanhol, não do português; c) Por fim,
a palavra alano existe no vernáculo, mas seu sentido é de um povo de
origem iraniana, que invadiu a Gália em 406, de modo que não tem a
acepção pretendida pela consulta.
5. Em síntese, respondendo de modo direto à pergunta: a) em português,
existem fulano, sicrano e beltrano; b) para complementar essa
discriminação, todavia, não existem alano, mengano, zutano, citano e
perengano.

Fundamento
Ver Sob o fundamento – Está correto? (P. 703)

Furta-cor
1. Trata-se de adjetivo composto, que tem o significado de algo cambiante,
que muda de cor conforme a luz.
2. Aires da Mata Machado Filho lembra, por um lado, o posicionamento de
Antenor Nascentes no sentido de conferir a tal vocábulo a condição de
invariável, dando-o como caso análogo a azul-ferrete, azul-pavão, verde-
garrafa e outros compostos, situação essa que o faria ter a mesma forma
para os dois números: o linho furta-cor, a seda furta-cor, os linhos furta-
cor, as sedas furta-cor.
3. Por outro lado, trazendo lição de Gonçalves Viana, o autor por primeiro
referido realça a analogia com o adjetivo multicor, do que adviria a
possibilidade de grafar o termo até mesmo em um só vocábulo,
variando-se-lhe o último elemento (MACHADO FILHO, 1969a, p. 553):
o linho furtacor, a seda furtacor, os linhos furtacores, as sedas
furtacores.
4. Essa última posição é também adotada por Evanildo Bechara (1974, p.
81).
5. Para Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 177), há dupla possibilidade
de plural: furta-cor ou furta-cores – tecidos furta-cor ou tecidos furta-
cores.
6. A tendência entre os dicionaristas, como Cândido Jucá Filho (1963, p.
318), é a grafia em dois elementos, com a flexão do segundo deles
(furta-cores) – em exceção à normal regra do plural dos adjetivos
compostos, que o deixaria invariável.
7. Dirimindo toda e qualquer dúvida e espancando toda outra possibilidade
de grafia, esse também é o posicionamento do Vocabulário Ortográfico
da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, veículo oficial
indicador das palavras existentes em nosso idioma, bem como de sua
maneira oficial de grafar, o qual registra a palavra em dois elementos
(furta-cor) e lhe dá por plural furta-cores (2009, p. 388).
Ver Adjetivos compostos (P. 81).

Futuro do pretérito
1. É bastante comum que alguém indague qual a forma correta: a) “Eu
quero solicitar a atenção dos presentes”; b) “Eu gostaria de solicitar a
atenção dos presentes”.
2. Fixe-se, desde logo, que, no primeiro exemplo, o verbo está no presente
do indicativo, e, na mente do usuário, não parece haver dúvida acerca de
seu uso. A questão que com frequência se põe, em verdade, busca saber
se é correto ou não o emprego do verbo no segundo exemplo.
3. Ora, por largo período, entre nós, esse tempo verbal chamou-se
condicional (e ainda se chama, na linguagem do ensino de muitos
países). Em 1958, porém, ante um emaranhado de terminologias que
grassava nas escolas, uma comissão de estudiosos (dentre eles Antenor
Nascentes, Cândido Jucá Filho, Celso Cunha e Rocha Lima) propôs a
unificação das terminologias no ensino da Gramática. Em 28 de janeiro
de 1959, o Ministério da Educação e Cultura editou a Portaria 36, que
recomendou a adoção das conclusões de tais estudiosos, dentre elas a
sugestão de substituir o nome condicional por futuro do pretérito. Anote-
se que Portugal não participou dessa mudança.
4. Sem intenção alguma de perscrutar o intento da alteração, ou mesmo de
justificar a posição dos estudiosos, uma das hipóteses de sua ocorrência
pode ter sido o fato de que a condição, nesse caso, não reside no tempo
verbal sob análise, mas na estrutura sintática da outra oração como um
todo, como é fácil verificar no seguinte exemplo: “Eu compraria uma
casa, se tivesse dinheiro”.
5. Quanto à adequação de seu uso, diga-se, por primeiro, que Celso Cunha
(1970, p. 222) defende o emprego do futuro do pretérito “como forma
polida de presente, em geral denotadora de desejo”. Ex.: “Desejaríamos
ouvi-lo sobre o crime” (Carlos Drummond de Andrade).
6. Não é diverso o ensino de Gladstone Chaves de Melo (1970, p. 287):
“Empregam-se também as formas do futuro do pretérito, quando se quer
atenuar a expressão, por polidez ou timidez; portanto, eufemismo”. Exs.:
a) “Eu pediria que os senhores tivessem um pouco de paciência, e
aguardassem até amanhã”; b) “Eu sugeriria que daqui fôssemos à casa
do Governador expor-lhe pessoalmente o problema e nossas razões”.
7. Só pela lição desses gramáticos, pode-se assim resumir: em casos como
o desta indagação, tanto é gramaticalmente correto empregar o presente
do indicativo como o futuro do pretérito. Não há entre eles, todavia, uma
real equivalência de conteúdo semântico: enquanto o futuro do pretérito
traduz uma forma polida e atenuada de expressão, portadora de um
desejo não tão claro e determinado, já o presente do indicativo denota
uma postura mais firme e decisiva, uma manifestação de real intento,
que busca efetiva concretização no campo dos fatos.
8. Anote-se, por fim, que muitas pessoas acabam empregando o futuro do
pretérito, no intento de conseguir forma polida, mesmo quando querem
manifestar um real desejo, uma busca de resposta concreta. Para tal
hipótese, todavia, se o intuito é que os ouvintes prestem efetiva atenção
ao que está sendo falado, então que se diga “Eu quero solicitar a atenção
dos presentes”, e não “Eu gostaria de solicitar a atenção dos presentes”.
A busca de pretensa polidez, no caso, faz a comunicação perder força,
sem benefício algum correspondente.
G
Galicismo
1. Por primeiro, diga-se que barbarismo é o nome genérico para o vício de
linguagem consistente em usar vocábulos, expressões e construções
alheias ao idioma.
2. Quando a invasão de palavras provém do francês, dá-se ao vício o nome
de galicismo ou francesismo.
3. Esclareça-se, por outro lado, que, se regular e oficialmente recebida de
outro idioma a palavra nova pelo Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de Letras, que é o veículo
oficialmente incumbido dessa tarefa, diz-se estar diante de um
neologismo.
4. Quanto à excessiva aversão a que se incorporem palavras novas ao nosso
léxico, é de se meditar nas palavras judiciosas de Júlio Nogueira, que se
referia especificamente ao francês: “Acaso a nossa língua pode
apresentar palavras tiradas dos próprios celeiros para exprimirem todas
as ideias concernentes à arte da navegação, da guerra, das modas, do
esporte e tantas outras? Não sejamos, pois, intolerantes e,
principalmente, parciais como nos temos revelado em desfavor das
contribuições que recebemos desde tempos remotos de uma das mais
cultas línguas do universo, senão a mais culta” (1959, p. 53).
5. Adicione-se outra passagem desse gramático: “o que cumpre é combater
o propósito evidente em raros escritores de dar à sua frase um ar de
construção francesa, para que se tenha a impressão de que eles sabem
francês” (NOGUEIRA, 1959, p. 53).
6. Em critério pragmático, aconselha Luiz Antônio Sacconi que, “na falta,
em nossa língua, de palavra correspondente ao estrangeirismo, deve-se
aportuguesar a grafia da palavra estrangeira” (1979, p. 268).
7. Também a esse respeito, oportuna a lição de José Oiticica: “é natural
que, sendo a França um país de grande influência em todos os ramos da
atividade humana, seus termos técnicos, científicos, de moda, de trato
social, emigrem com suas criações, pensamentos e vida” (1954, p. 14).
8. Mário Barreto (1954, p. 251), ao referir-se a um glossário de
francesismos já com um século de idade à época em que escrevia,
lembrava que “o rodar dos anos, a influência do uso e a sanção que os
escritores modernos mais autorizados deram a muitas das palavras e
acepções condenadas” fazem com que “pareçam intransigentes demais,
muito demais às vezes, as censuras e sentenças” lançadas contra tais
vocábulos e construções.
9. Para João Ribeiro, quanto aos termos de origem francesa em uso em
nosso idioma, “muitos e vários foram necessitados pelo desenvolvimento
do progresso universal, ou pelo incremento das relações entre os povos
latinos que a França espiritualmente domina; outros, porém, foram
introduzidos por descuido, ignorância das fontes clássicas, pelo mau
gosto dos escritores ou ainda pelo capricho da moda” (1923, p. 247).
10. No que concerne ao eventual cometimento de erros dessa natureza,
oportuna a lição de Mário Barreto: “No capítulo de galicismos todos
pecamos. Nem os que mais se prezam de escrever bem, logram sair
imunes do tão extenso contágio francês que nos rodeia. Não é só aos
tradutores de folhetins que escapam galicismos: também eles escorrem
das mais autorizadas penas” (1954a, p. 38).
11. Citando lição de Cândido de Figueiredo, anota Heráclito Graça que,
nesse assunto, “o que se reprova são os galicismos ou estrangeirismos,
em geral, inúteis e grosseiros, perfilhados pela moda, pela ignorância
ou pela inépcia” (1904, p. 83).
12. Em interessante observação, anota com propriedade Artur de Almeida
Torres que “não são os galicismos em si mesmos o que se repele, mas a
superfluidade evidente” (1966, p. 222).
Ver Gerúndio abusivo (P. 373).

Ganhado ou Ganho?
1. Na lição de Otelo Reis (1971, p. 91), o verbo ganhar, quanto a seu
particípio passado, é usado só na forma irregular (ganho) com qualquer
auxiliar, construção essa que, no entendimento desse autor, predominou,
havendo-se conservado a forma regular apenas em determinadas
locuções, como “viver do ganhado”. Exs.: a) “O réu tinha ganho
indulto”; b) “O indulto fora ganho pelo réu”.
2. Reafirmando tais aspectos, Édison de Oliveira assevera que, na
linguagem contemporânea, “estão fora de uso as formas ganhado,
gastado e pagado, não só com o auxiliar ser, mas também com o
auxiliar ter”, motivo por que “estão, pois, superadas construções como:
a) ‘Nós teríamos ganhado a partida’; b) ‘Ele tinha gastado o tempo
inutilmente’; c) ‘Tínhamos pagado tudo o que devíamos’; devendo-se
preferir: i) ‘Nós teríamos ganho a partida’; ii) ‘Ele tinha gasto o tempo
inutilmente’; iii) ‘Tínhamos pago tudo o que devíamos’” (s/d, p. 121.).
3. Aires da Mata Machado Filho (1969b, p. 783) ainda transcreve
interessante lição de Antenor Nascentes, que resume definitivamente a
questão para essa corrente: “Na língua viva atual, quer com o auxiliar
ter, quer com ser, só se usam os particípios irregulares ganho, gasto e
pago, dos verbos ganhar, gastar e pagar. Na língua antiga, o regular
domina: Vintém poupado, vintém ganhado (nas antigas moedas de 40
réis)”.
4. Ainda nesse sentido, a doutrina de Celso Cunha também merece
transcrição: “De outrora se usavam normalmente os dois particípios. Na
linguagem atual preferem-se, tanto nas construções com o auxiliar ser
como naquelas em que entra o auxiliar ter, as formas irregulares ganho,
gasto e pago, sendo que esta última substituiu completamente o antigo
pagado” (1970, p. 216).
5. Na lição de Alfredo Gomes, “tendem a desaparecer ganhado, gastado”,
remanescendo seu emprego tão somente em “expressões que se tornaram
proverbiais: comer do ganhado, vintém poupado, vintém ganhado”
(1924, p. 389).
6. Adiciona Edmundo Dantès Nascimento (1982, p. 106) que o uso vem
consagrando o particípio ganho tanto para o sentido ativo como para o
passivo.
7. Para Domingos Paschoal Cegalla, “o particípio regular ganhado caiu em
desuso” (1999, p. 178).
8. Também para Regina Toledo Damião e Antonio Henriques, “ganhado
sobrevive, hoje, apenas em determinadas locuções, como viver do
ganhado” (1994, p. 242).
9. Não é outro o ensino de Sousa e Silva: o particípio ganhado caiu em
desuso, “empregando-se atualmente a forma ganho com qualquer
auxiliar” (1958, p. 136).
10. Para Vitório Bergo, “os particípios fortes ganho, gasto, pago, salvo
tendem a suplantar as formas em ado, pois que se usam normalmente
com os dois tipos de auxiliares” (1943, p. 182).
11. E se resuma, para os que defendem o entendimento até agora
demonstrado, que a tendência ao uso na forma participial irregular,
tanto na voz ativa quanto na passiva, é antiga, sendo raros os exemplos
em contrário.
12. Observe-se, porém, que Evanildo Bechara (1974, p. 110) admite a
coexistência atual de ambos os particípios passados.
13. Segue tal caminho Cândido Jucá Filho, o qual, sem quaisquer
explicações adicionais, especifica indiferentemente os particípios
ganho e ganhado (1963, p. 322), exemplificando: a) “O ladrão já tinha
ganhado o mato”; b) “Tínhamos ganhado bom dinheiro”.
14. Vitório Bergo (1944, p. 123-4) também reconhece a continuidade de
existência atual do particípio passado regular desse verbo, que se
deverá usar com os auxiliares ter e haver, muito embora realce que, na
linguagem moderna, o particípio passado irregular tenda a suplantar
aquele, “ainda nos casos em que tenha por auxiliares os verbos ter e
haver”. Exs.: a) “As faces pálidas do Lidador tinham ganhado a
imobilidade…” (Antônio Feliciano de Castilho); b) “Tendo ganhado
para si a vontade do povo…” (A. P. Figueiredo).
15. Para Eduardo Carlos Pereira (1924, p. 141), por um lado, os particípios
irregulares pago, ganho e gasto “podem empregar-se na voz ativa com
os verbos ter e haver”; por outro lado, “muitas formas regulares”,
como, por exemplo, ganhado, gastado, “podem ser empregadas na
passiva com os verbos ser e estar”.
16. Vasco Botelho de Amaral (1939, p. 34-5), por um lado, anota que
ganhado é “um particípio que foge bastas vezes na escrita de bons
autores e na fala popular daquela determinação gramatical que dá por
convenientes aos verbos ter e haver os particípios regulares e guarda
para emprego adjetivo os que se costumam apelidar de irregulares”;
por outro lado, aponta exemplos de Camilo Castelo Branco, em que
usado tal particípio regular, quer com o verbo ter, quer mesmo em
função adjetiva: a) “Tens ganhado muitos corações com as tuas
palavras delambidas?”; b) “A vitória ganhada sobre o odioso
comissário…”.
17. Cândido de Figueiredo (1941, p. 161) admite para tal verbo tanto o
particípio passado regular como o irregular, estabelecendo duas regras,
que, aliás, são comuns aos verbos com dois particípios passados: a) “Se
o particípio é precedido do verbo ter ou haver, deve ser regular: ‘Eu
tinha ganhado 30 réis’; e ‘Se ele houvesse ganhado outro tanto…’”; b)
“Fora destes casos, é irregular: ‘Meteu no cofre todas as quantias
ganhas na véspera’”.
18. Júlio Nogueira (1939, p. 71) admite a possibilidade de emprego de
ambos os particípios – ganho ou ganhado – muito embora assevere que
“esta última forma já vai sendo esquecida”.
19. Para Cândido de Oliveira, “ganho, gasto, pago, pego são usados
indiferentemente para ambas as vozes (com qualquer auxiliar)”, muito
embora observe que “os particípios ganhado, gastado, pagado, pegado
tendem a desaparecer” (1961, p. 205).
20. Pasquale Cipro Neto e Ulisses Infante (1999, p. 175) consideram
ganhar um verbo abundante, sendo para tais autores perfeitamente
possível o emprego do particípio passado regular (ganhado), o qual
deverá ser usado com os auxiliares ter e haver.
21. Ante a divergência entre os gramáticos, o que reflete a própria
duplicidade de emprego pelos usuários da norma culta na atualidade,
não parece haver razão alguma para se restringir o emprego de
qualquer das formas, de modo que parecem perfeitamente aceitáveis o
particípio passado regular (ganhado) e o particípio passado irregular
(ganho), devendo-se conferir ao primeiro o uso com os auxiliares ter e
haver; ao segundo, deve-se destinar o emprego dos auxiliares ser e
estar.
22. Vejam-se os únicos exemplos de emprego do particípio em estudo,
encontrados após pesquisa nos mais importantes diplomas de nosso
sistema: a) “Mesmo após iniciada a construção, pode o dono da obra
suspendê-la, desde que pague ao empreiteiro as despesas e lucros
relativos aos serviços já feitos, mais indenização razoável, calculada
em função do que ele teria ganho, se concluída a obra” (CC, art. 623);
b) “As dívidas de jogo ou de aposta não obrigam a pagamento; mas
não se pode recobrar a quantia, que voluntariamente se pagou, salvo
se foi ganha por dolo, ou se o perdente é menor ou interdito” (CC, art.
814).
Ver Conjugação verbal (P. 217), Ganhar a rua – Galicismo? (P. 370) e
Verbos abundantes (P. 759).

Ganhar a rua – Galicismo?


1. Luís A. P. Vitória lembra que o verbo ganhar “no sentido de alcançar é
galicismo” (1969, p. 120). Exs.: a) “O assaltante ganhou a rua antes que
a Polícia chegasse” (errado); b) “O assaltante alcançou a rua antes que
a Polícia chegasse” (correto).

Garagem ou Garage?
1. Trata-se de palavra vinda do francês, a exemplo de diversas outras:
folhagem, linguagem, maquilagem, personagem.
2. A adaptação adequada de tais vocábulos no vernáculo se faz
indispensavelmente pelo acréscimo da letra m, tal como registra o
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira
de Letras, veículo oficial indicador das palavras existentes em nosso
idioma, o qual confere vernaculidade à forma garagem, mas atribui a
condição de palavra pertencente ao vocabulário francês à forma garage
(2009, p. 395 e 862).
3. Bem por isso, reitere-se que errônea é a forma garage, sendo garagem a
forma vernácula.

Gastado ou Gasto?
1. Para Otelo Reis (1971, p. 91), quanto a seu particípio passado, o verbo
gastar é usado só na forma irregular (gasto) com qualquer auxiliar,
observando tal autor que “na linguagem hodierna já não se usa a forma
regular”. Exs.: a) “O réu tinha gasto o produto do crime”; b) “O produto
do crime fora gasto pelo réu”.
2. Nos dizeres de Édison de Oliveira (s/d, p. 121), na linguagem
contemporânea, “estão fora de uso as formas ganhado, gastado e
pagado, não só com o auxiliar ser, mas também com o auxiliar ter”,
motivo por que “estão, pois, superadas construções como: a) ‘Nós
teríamos ganhado a partida’; b) ‘Ele tinha gastado o tempo
inutilmente’; c) ‘Tínhamos pagado tudo o que devíamos’; devendo-se
preferir: i) ‘Nós teríamos ganho a partida’; ii) ‘Ele tinha gasto o tempo
inutilmente’; iii) ‘Tínhamos pago tudo o que devíamos’”.
3. A doutrina de Celso Cunha também merece transcrição: “De outrora se
usavam normalmente os dois particípios. Na linguagem atual preferem-
se, tanto nas construções com o auxiliar ser como naquelas em que entra
o auxiliar ter, as formas irregulares ganho, gasto e pago, sendo que esta
última substituiu completamente o antigo pagado” (1970, p. 216).
4. Observa Edmundo Dantès Nascimento (1982, p. 106) que o uso vem
consagrando o particípio gasto tanto para o sentido ativo como para o
passivo.
5. Para Sousa e Silva, o particípio gastado caiu em desuso, “empregando-se
atualmente a forma gasto com qualquer auxiliar” (1958, p. 136).
6. Também para Vitório Bergo, “os particípios fortes ganho, gasto, pago,
salvo tendem a suplantar as formas em ado, pois que se usam
normalmente com os dois tipos de auxiliares” (1943, p. 182).
7. Para se resumir o entendimento até agora exposto, pode-se dizer que a
tendência ao uso do verbo gastar na forma participial irregular, tanto na
voz ativa quanto na passiva, é antiga, sendo raros os exemplos em
contrário.
8. Em posicionamento contrário, todavia, tem-se, na lição de Eduardo
Carlos Pereira (1924, p. 141), por um lado, que os particípios irregulares
pago, ganho e gasto “podem empregar-se na voz ativa com os verbos ter
e haver”; por outro lado, “muitas formas regulares”, como, por exemplo,
ganhado, gastado, “podem ser empregadas na passiva com os verbos ser
e estar”.
9. Evanildo Bechara (1974, p. 110) também admite a coexistência de
ambos os particípios passados.
10. Cândido Jucá Filho (1963, p. 324), sem quaisquer explicações
adicionais, especifica indiferentemente os particípios gasto e gastado.
11. Aires da Mata Machado Filho (1969b, p. 783), que, sem maiores
explicações, emprega normalmente o particípio passado gastado no
exemplo “Ele havia gastado o dinheiro”, acaba por transcrever
interessante lição de Antenor Nascentes: “Na língua viva atual, quer
com o auxiliar ter, quer com ser, só se usam os particípios irregulares
ganho, gasto e pago, dos verbos ganhar, gastar e pagar. Na língua
antiga, o regular domina: Vintém poupado, vintém ganhado (nas
antigas moedas de 40 réis)”.
12. Anota Vitório Bergo que se encontra em bons autores o emprego do
particípio passado regular, “precedido, segundo a regra geral, do
auxiliar ter ou haver” (1944, p. 124).
13. Para Cândido de Oliveira (1961, p. 205), “ganho, gasto, pago, pego são
usados indiferentemente para ambas as vozes (com qualquer auxiliar)”,
e “os particípios ganhado, gastado, pagado, pegado tendem a
desaparecer”.
14. Para Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 179), “usa-se gastado com
os auxiliares ter e haver”; já “com o auxiliar ser (voz passiva), usa-se
gasto”.
15. Pasquale Cipro Neto e Ulisses Infante (1999, p. 175) consideram gastar
um verbo abundante, sendo para tais autores perfeitamente possível o
emprego do particípio passado regular (gastado), o qual deverá ser
usado com os auxiliares ter e haver.
16. Ante a divergência entre os gramáticos, o que reflete a própria
duplicidade de emprego pelos usuários da norma culta na atualidade,
não parece haver razão alguma para se restringir o emprego de
qualquer das formas, de modo que parecem perfeitamente aceitáveis o
particípio passado regular (gastado) e o particípio passado irregular
(gasto), devendo-se conferir ao primeiro o uso com os auxiliares ter e
haver; ao segundo, deve-se destinar o emprego dos auxiliares ser e
estar.
Ver Conjugação verbal (P. 217) e Verbos abundantes (P. 759).
Generala – Existe?
Ver Capitã, Capitoa ou A Capitão? (P. 168) e Poeta – Qual o feminino? (P.
570)

General em chefe – Está correto?


Ver Em chefe – Existe? (P. 305)

Gênero, número e grau


1. Das expressões livro bonito, livrinho bonito, livrão bonito, livro
bonitinho, livro bonitão, livros bonitos, gravuras bonitas, todas corretas
em português, podem-se extrair algumas conclusões importantes: a) os
substantivos e os adjetivos têm seu estado normal: livro, gravura, bonito;
b) podem apresentar, também, em nosso idioma, uma forma que os
apequene (livrinho, gravurinha, bonitinho), que é seu grau diminutivo,
ou uma forma que os aumente (livrão, gravurona, bonitão), que é seu
grau aumentativo; c) e, quando se observa livro bonito, livros bonitos,
gravura bonita e gravuras bonitas, vê-se que o adjetivo se flexiona para
o masculino ou feminino (gênero) e para o singular ou plural (número),
sempre acompanhando fielmente o substantivo por ele modificado; d)
tecnicamente se diz, em tais casos, que o adjetivo concorda com o
substantivo por ele modificado em gênero e número.
2. Reitere-se que uma análise adequada do comportamento do adjetivo
nessas circunstâncias revela ser ele verdadeira sombra do substantivo,
acompanhando-o em sua flexão, motivo por que, em sentido figurado,
quando alguém concorda integralmente com a opinião ou com o modo
de pensar de outrem, costuma-se dizer que “Fulano concorda em gênero
e número com Sicrano”.
3. Oportuno, todavia, é observar que, da análise das expressões livrinho
bonito, livrão bonito, livro bonitinho e livro bonitão, extrai-se a forçosa
conclusão de que o adjetivo não concorda em grau com o substantivo
por ele modificado.
4. Só por isso já se nota que incorreta é a expressão que muitos empregam
para significar concordância total de uma pessoa com outra: “Fulano
concorda com Sicrano em gênero, número e grau”.
5. Esse é um erro que talvez remonte aos velhos tempos em que se
estudava latim, língua essa em que o adjetivo, além de gênero e número,
também concorda em caso (nominativo, vocativo, genitivo, dativo,
ablativo ou acusativo) com o substantivo modificado, motivo por que é
correto, então, dizer, pensando na língua ancestral: “Fulano concorda
com Sicrano em gênero, número e caso”.
6. Como, todavia, são raros os que, nos dias de hoje, entendem um pouco
de latim, talvez seja melhor dizer apenas gênero e número, muito embora
não esteja errado o emprego, na mencionada frase, da expressão gênero,
número e caso.
7. O que, porém, é inadmissível é dizer: “Fulano concorda com Sicrano em
gênero, número e grau”.

Gênero ou sexo – De onde vem?


1. Um leitor quer saber os seguintes aspectos: a) de onde vem o sexo ou
gênero em nosso idioma?; b) isso é apenas uma convenção?; c) no
inglês, o the serve para tudo; d) como, em português, calcinha e cueca
são usados por homens e mulheres respectivamente, mas são ambos do
feminino?; e) e como explicar essa diversidade a um estrangeiro de
origem anglo-saxônica?
2. Uma primeira distinção deve ser feita: a) quando se fala em sexo, quer-
se referir à “conformação particular que distingue o macho da fêmea,
nos animais e nos vegetais, atribuindo-lhes um papel determinado na
geração e conferindo-lhes certas características distintivas” (FERREIRA,
2010, p. 1.927); b) já quando se fala em gênero, está-se no campo da
estruturação que dispõe os nomes de determinada língua em classes
(masculino, feminino e neutro), classifica-os de acordo com a referência
pronominal (o menino/ele, a casa/ela), a concordância com os
modificadores (gato/gordo, menina/estudiosa) e a presença de
determinados afixos (ator/atriz).
3. Em suma: sexo é questão biológica; gênero é classificação gramatical.
4. E definir quantos e quais gêneros hão de existir ou mesmo quais nomes
hão de integrar determinado gênero não é algo meramente convencional,
mas é circunstância que acompanha o modo de evoluir de cada idioma. É
certo que alguns aspectos acabam por espraiar-se de uma língua
originária (como o latim) para as línguas dela derivadas (como o
português, o francês, o espanhol, o italiano, etc.); mas essas
peculiaridades nem sempre se comunicam, e mesmo quando se
comunicam, não o fazem de modo necessariamente uniforme.
5. De um modo geral, em português, os seres do sexo masculino são
designados por nomes do gênero masculino (gato, boi), enquanto os do
sexo feminino, por nomes do gênero feminino (gata, vaca). Mas mesmo
aqui algumas peculiaridades exigem atenção: a) alguns nomes,
chamados comuns de dois gêneros (como pianista, artista e selvagem)
designam seres tanto do sexo masculino como do sexo feminino, e a
distinção se faz pela aplicação de algum determinativo ou modificativo
(virtuoso pianista, conceituada artista, o selvagem); b) outros nomes, os
epicenos, são substantivos formalmente de um só gênero, e a distinção
dos sexos se faz pelo acréscimo dos adjetivos macho e fêmeo (a cobra
macha, o jacaré fêmeo); c) também há os sobrecomuns, substantivos de
um só gênero, mas que se referem a seres de ambos os sexos, sem
qualquer outra distinção (a criança, o indivíduo, a testemunha).
6. E, se já existe alguma dificuldade nessa classificação quanto aos seres
sexuados, a dificuldade ainda é maior entre os seres assexuados, em que
a classificação segue critérios totalmente apartados da questão da
sexualidade, ou mesmo não segue critério algum: assim, não há, pelo
que até agora se expôs, como explicar a razão de se dizer a) o arbusto,
mas a árvore, b) o garfo, mas a faca, c) o sofá, mas a cadeira, d) o lápis,
mas a borracha, e) a calcinha, mas a cueca, etc. Mais uma vez, cada
idioma tem seus critérios, ou, na maioria das vezes, não tem critério
algum.
7. Em realidade, cada idioma, sem determinação prévia específica,
desenvolve seu sistema de estruturação gramatical dos gêneros: a) no
latim, havia o masculino (inicialmente empregado para os seres do sexo
masculino), o feminino (na origem, para os seres do sexo feminino) e o
neutro (em latim, neuter = nem um nem outro, reservado aos seres a cujo
respeito não houvesse preocupação com a questão da sexualidade); b)
tanto pelas dificuldades normais advenientes de tais critérios, como pelo
próprio distanciamento da preocupação original, a distinção adotada foi-
se perdendo gradativamente; c) e, nas línguas românicas (oriundas do
latim), por questões de facilidade na fala diária, o gênero neutro foi
gradativamente desaparecendo; d) mas ainda se fazem presentes no
português alguns resquícios do neutro, pois, como não é difícil perceber,
embora este seja masculino e esta seja feminino, isto, isso, aquilo, tudo e
nada servem tanto para designar um como outro.
8. No inglês, também há o neutro. He é ele; she é ela; e it é ele neutro. Os
seres humanos são he ou she, conforme o sexo; os animais, it. Mas, se
alguém quer designar um homem de modo depreciativo, pode coisificá-
lo e chamá-lo por it. Se, porém, alguém quer mostrar um sinal de
distinção para com seu gato de estimação, pode humanizá-lo e chamá-lo
por he ou she, conforme o caso.
9. E não se pode, a esta altura, esquecer o alemão, em que, além da
coexistência do masculino, do feminino e do neutro, ainda há o aspecto
de que são declinados os pronomes, os substantivos, os adjetivos e os
artigos. Ou seja: tais palavras têm suas terminações definidas não apenas
pelo gênero a que pertencem (masculino, feminino ou neutro), mas
também pela função sintática que desempenham na frase (nominativo
para o sujeito, acusativo para o objeto direto, dativo para o objeto
indireto e genitivo para o complemento nominal). Imagine-se a
dificuldade para definir todos esses aspectos à medida que se fala ou
escreve.
10. Respondendo, em síntese, ao leitor: a) os termos sexo e gênero não se
confundem, já que o primeiro é questão biológica, enquanto o segundo
é classificação gramatical; b) embora quase nunca haja critérios claros
e definidos nos idiomas, não é aleatório nem meramente convencional
atribuir o gênero masculino ou feminino a um certo substantivo; c)
exatamente por se tratar de gênero e não de sexo e pela ausência de
critérios claros e definidos nos idiomas é que acontecem casos, como
calcinha e cueca, vestes usadas por mulheres e homens
respectivamente, mas que são ambas palavras do feminino; d) o
português (o menino sábio, a menina sábia) tem critérios mais
minuciosos do que o inglês (the wise boy, the wise girl) para a
especificação dos gêneros e para os aspectos de concordância nominal;
e) isso não significa, porém, uma necessária facilidade maior da língua
inglesa, na qual, por exemplo, é grande a dificuldade de regência
verbal, já que, a um mesmo verbo, podem acoplar-se preposições
diferentes, cada qual determinando uma regência e um significado
diversos para a expressão; f) nem muito menos significa dificuldade
maior do que falar e escrever o alemão, em que as palavras têm suas
terminações definidas não apenas pelo gênero a que pertencem
(masculino, feminino ou neutro), mas também pela função sintática que
desempenham na frase (nominativo para o sujeito, acusativo para o
objeto direto, dativo para o objeto indireto e genitivo para o
complemento nominal); g) como se vê, não há o que explicar a um
estrangeiro, muito menos a alguém de origem anglo-saxônica, como se
lhe fossem devidas desculpas pelas peculiaridades do português, certo
como é que as questões próprias dos idiomas deles também trazem
grandes dificuldades para o usuário do vernáculo.

Genitor ou Pai?
Ver Esposo ou Marido? (P. 331)

Gerir
1. Advirta-se, desde logo, que não se trata de verbo defectivo, e Antonio
Henriques e Maria Margarida de Andrade (1999, p. 80) lembram, de
modo oportuno, que “o paradigma de gerir é aderir” (giro, geres, gere,
gerimos, geris, gerem).
2. Com o sentido de administrar, gerenciar, governar, quanto à conjugação
verbal, atente-se a algumas de suas formas, para não ser confundido com
o verbo girar: giro, geres, gere, gerimos, geris, gerem (presente do
indicativo); gira, giras, gira, giramos, girais, giram (presente do
subjuntivo).
3. Não apresenta problemas ou irregularidades nos demais tempos.
4. É preciso atentar às desinências próprias da terceira conjugação, a que
ele pertence, para não confundi-lo com girar ou mesmo com gerar
(REIS, 1971, p. 136).

Germanismo
1. O nome genérico para o vício de linguagem consistente em usar
vocábulos, expressões e construções alheias ao nosso idioma é
barbarismo.
2. Quando a invasão de palavras ou de estrutura provém do alemão, dá-se
ao vício o nome de germanismo.
3. Esclareça-se, todavia, que, quando regular e oficialmente recebida a
palavra nova de outro idioma pelo Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de Letras, que é o órgão
oficialmente incumbido de fixar os vocábulos de nosso idioma, diz-se
estar diante de um neologismo, hipótese em que seu emprego passa a
estar oficialmente autorizado.

Gerúndio abusivo
1. Atente-se à lição de Júlio Nogueira (1959, p. 69) no sentido de emprego
inadequado do gerúndio em diversas situações: “É comum nos jornais:
‘Aluga-se uma casa tendo tantos quartos, tendo gás, luz etc.’ Na
linguagem vulgar: ‘Fulano é homem viajado falando muitas línguas
etc.’. A verdade, porém, é que alguns dicionários portugueses incidem
nesse hábito: ‘Dicionário da língua portuguesa, contendo…’
Ultimamente se tem procurado restaurar o particípio presente na
expressão água fervente, em vez de água fervendo.”
2. Veja-se também a lição de José Oiticica nas seguintes frases: a)
“Entregou-me um copo contendo vinho branco”; b) “Comprei uma casa
tendo quatro quartos”.
3. Tal autor, que as registra em sua obra, aponta tais casos como sendo
hipóteses de galicismos de sintaxe dos mais comuns.
4. Para ele, não é difícil a correção desses exemplos: a) “Entregou-me um
copo com vinho branco”; b) “Comprei uma casa com quatro quartos”.
5. Complementa tal autor, em mesma obra e local, que “só é legítimo,
nesse caso, o gerúndio, quando equivale a uma expressão progressiva”.
Ex.: “Vi um boi passando a ponte”, exemplo esse que equivale a “Vi um
boi que estava passando a ponte” ou “Vi um boi que estava a passar a
ponte” (OITICICA, 1954, p. 22).
6. Reafirmando o princípio de que, “quando o gerúndio não indica uma
continuidade de ação, seu uso é condenável, pois constitui galicismo”,
Edmundo Dantès Nascimento (1982, p. 144) estabelece valiosa regra de
cunho prático no sentido de que, quando indicar continuidade de ação,
pode tal gerúndio ser substituído pelo infinitivo regido da preposição a.
Exs.: a) “Vi o carro passando a curva do estádio” (correto, pois se pode
dizer: “Vi o carro a passar a curva do estádio”); b) “Estava o usuário
contando o dinheiro” (correto, pois se pode dizer: “Estava o usuário a
contar o dinheiro”); c) “Livro contendo estórias” (errado, pois não pode
ser substituído por “Livro a conter estórias”).
7. Registre-se, por fim, a observação de Artur de Almeida Torres (1966, p.
202), para quem, embora os puristas condenem por galicismo o emprego
de gerúndio com valor de oração adjetiva, “tal prática é defendida por
ilustres filólogos e gramáticos”, dentre os quais Eduardo Carlos Pereira,
Said Ali, Afonso Costa, Rodrigues Lapa e Sílvio Elia.
8. Acrescente-se que Geraldo Amaral Arruda, citando lição de Matoso
Câmara Júnior, observa que defeito de redação muito frequente no foro é
“o encadeamento de gerúndios, quando um se subordina ao outro”, tal
como se vê no seguinte exemplo: “O pesado caminhão, após parar no
cruzamento, pôs-se em marcha, desenvolvendo baixa velocidade,
levando a vítima a tentar a ultrapassagem, acelerando sua motocicleta,
a fim de passar pela frente do caminhão, esperando que ele parasse”.
9. O mau uso do gerúndio em encadeamentos dessa espécie se desfaz
exatamente com a alteração da estrutura e, se for o caso, com o emprego
do verbo em outro tempo. Ex.: “O pesado caminhão, após parar no
cruzamento, pôs-se em marcha, em baixa velocidade, o que levou a
vítima a tentar a ultrapassagem, acelerando sua motocicleta, na
expectativa de que ele parasse” (ARRUDA, 1987, p. 22-3).

Gerúndio como adjetivo


Ver Gerúndio abusivo (P. 373).

Gerúndio demitido por decreto


1. Pelo Decreto 28.314, de 28/9/07 – refreie o leitor sua estupefação, pois é
a estrita verdade o que aqui se fala – o gerúndio foi demitido de todos os
órgãos do Governo do Distrito Federal “para desculpa de ineficiência”.
2. Um diploma legal tão exótico como esse enseja a oportunidade de
algumas importantes considerações sobre o assunto em diversas de suas
facetas práticas.
3. Veja-se, como premissa, que o gerúndio tem três valores em português:
a) Circunstancial, em que funciona como adjunto adverbial. Ex.:
“Apartando as ondas, os ventos inflavam as velas”; b) Atributivo,
quando funciona como adjetivo e, portanto, adjunto adnominal. Ex.: “Ele
pôs água fervendo sobre o pó de café”; c) Integrante de locução verbal,
em que acrescenta a ideia de continuidade, de ação prolongada. Ex.: “Ele
estava trabalhando” (MELO, 1970, p. 294-9). Anote-se que, em
correspondência com esse último caso, em Portugal se costuma
empregar o infinitivo preposicionado. Ex.: “Ele estava a trabalhar”.
4. Os empregos referidos e os exemplos dados estão em total conformidade
com as regras de estruturação linguística do vernáculo, de modo que, até
aqui, não há o que observar adicionalmente.
5. Um primeiro equívoco, porém, entre os casos de galicismos de sintaxe
por emprego abusivo do gerúndio, está em seu uso em lugar de uma
preposição. Exs.: a) “Serviu uma taça contendo o melhor vinho branco”;
b) “Comprei uma casa tendo quatro quartos…” Corrijam-se tais frases:
i) “Serviu uma taça com o melhor vinho branco”; ii) “Comprei uma casa
com quatro quartos…”
6. Um segundo erro está em seu emprego quando não indica uma
continuidade de ação (caso em que Edmundo Dantès Nascimento fixa
preciosa regra de cunho prático de que, quando indica continuidade de
ação, pode o gerúndio ser substituído pelo infinitivo regido pela
preposição a). Exs.: a) “Vi o carro passando a curva do estádio”
(correto, pois se pode dizer: “Vi o carro a passar a curva do estádio”); b)
“Livro contendo estórias” (errado, pois não pode ser substituído por
“Livro a conter estórias”) (1982, p. 144).
7. Outro defeito muito corriqueiro na redação forense, segundo ensino de
Geraldo Amaral Arruda, é “o encadeamento de gerúndios, quando um se
subordina ao outro”. Ex.: “O pesado caminhão, após parar no
cruzamento, pôs-se em marcha, desenvolvendo baixa velocidade,
levando a vítima a tentar a ultrapassagem, acelerando sua motocicleta,
a fim de passar pela frente do caminhão, esperando que ele parasse”.
8. Tal erro, ainda conforme lição do referido autor, desfaz-se com a
alteração da estrutura e, se for o caso, com o emprego do verbo em outro
tempo. Ex.: “O pesado caminhão, após parar no cruzamento, pôs-se em
marcha, em baixa velocidade, o que levou a vítima a tentar a
ultrapassagem, acelerando sua motocicleta, na expectativa de que ele
parasse” (ARRUDA, 1987, p. 22-3).
9. Além disso, nos últimos tempos, quer como tentativa de aparentar uma
ilusória erudição ou ilustração na fala, quer por influência do emprego
dos tempos compostos em inglês, surgiu uma nova praga no vernáculo, a
que se pode chamar de linguagem de telemarketing: as mocinhas
encarregadas das mensagens ao telefone são ensinadas a usar perífrases
verbais inexistentes no idioma, locuções compostas de diversos verbos a
rigor desnecessários, com pretensão de expressão polida e elevada. Exs.:
a) “Já que a dona da casa não se encontra, quando vou estar podendo
entrar em novo contato com ela?”; b) “Ou será que ela vai estar
podendo retornar a ligação?”
10. Veja-se a correção de tais exemplos: a) “Já que a dona da casa não se
encontra, quando poderei entrar em novo contato com ela?”; b) “Ou
será que ela poderá retornar a ligação?”
11. Longe de se buscar a correção de tais estruturas, paira no ar a
impressão de que as pessoas se muniram do sentimento de que quanto
mais alongam tais locuções verbais, mais se mostram eruditas e maior
é o peso e seu poder de convencimento.
12. Ante um tal quadro, o Governador do Distrito Federal, com a edição do
famigerado Decreto 28.314, de 28/9/07 – será porque não mais vai
estar podendo suportar a situação? –, resolveu demitir o gerúndio do
Distrito Federal e regrou a situação do seguinte modo: a) “Fica
demitido o gerúndio de todos os órgãos do Governo do Distrito
Federal” (art. 1º); b) “Fica proibido a partir desta data o uso do
gerúndio para desculpa de INEFICIÊNCIA” (art. 2º).
13. Uma primeira observação final a esse respeito é que, assim como
malograram tentativas anteriores com relação à fome e à inflação,
também o certo é que não se melhora por decreto a qualidade do
usuário do idioma, e, assim, talvez mais aconselhável seja investir, por
exemplo, na melhoria da educação.
14. Uma segunda observação concerne ao fato de que, ainda que fosse
possível o intento estampado no referido decreto, seria indispensável
ressalvar os casos em que o gerúndio se emprega de modo necessário e
correto, o que, assim, não estaria abrangido pela demissão.
15. Por fim, ainda que se leve a sério o risível decreto, não se pode
esquecer que se trata de norma que não prevê penalidade para o caso de
descumprimento. E norma sem sanção fica sem o poder essencial de
coação que a caracteriza, de modo que a transforma em mero conselho.
E, em última análise, a função da lei não é aconselhar.

Gerúndio de telemarketing
1. Nos últimos tempos, quer como tentativa de aparentar uma ilusória
erudição ou ilustração na fala, quer por influência do emprego dos
tempos compostos em inglês, surgiu uma nova praga no vernáculo, a que
se pode chamar de linguagem de telemarketing: as mocinhas
encarregadas das mensagens ao telefone são ensinadas a usar perífrases
verbais inexistentes no idioma, locuções compostas de diversos verbos a
rigor desnecessários, com pretensão de expressão polida e elevada. Exs.:
a) “Já que a dona da casa não se encontra, quando vou estar podendo
entrar em novo contato com ela?”; b) “Ou será que ela vai estar
podendo retornar a ligação?”
2. Veja-se a correção de tais exemplos: a) “Já que a dona da casa não se
encontra, quando poderei entrar em novo contato com ela?”; b) “Ou
será que ela poderá retornar a ligação?”
3. Longe de se buscar a correção de tais estruturas, paira no ar a impressão
de que as pessoas se muniram do sentimento de que quanto mais
alongam tais locuções verbais, mais se mostram eruditas e maior é o
peso e seu poder de convencimento.

Gerúndio encadeado
1. Geraldo Amaral Arruda, citando lição de Matoso Câmara Júnior,
observa que defeito de redação muito frequente no foro é “o
encadeamento de gerúndios, quando um se subordina ao outro”, tal
como se vê no seguinte exemplo: “O pesado caminhão, após parar no
cruzamento, pôs-se em marcha, desenvolvendo baixa velocidade,
levando a vítima a tentar a ultrapassagem, acelerando sua motocicleta,
a fim de passar pela frente do caminhão, esperando que ele parasse”.
2. O mau uso do gerúndio em encadeamentos dessa espécie se desfaz
exatamente com a alteração da estrutura e, se for o caso, com o emprego
do verbo em outro tempo. Ex.: “O pesado caminhão, após parar no
cruzamento, pôs-se em marcha, em baixa velocidade, o que levou a
vítima a tentar a ultrapassagem, acelerando sua motocicleta, na
expectativa de que ele parasse” (ARRUDA, 1987, p. 22-3).
Ver Gerúndio abusivo (P. 373).

Gosta-se de um bom vinho – Está correto?


1. Diferentemente da frase “Aluga-se uma casa” – com a qual esta deve ser
sempre comparativamente analisada – a expressão que se aprecia não
permite ser transformada, como se fosse “Uma casa é alugada”,
podendo-se, assim, afirmar que ela não é reversível.
2. Para tais efeitos, serve ela de modelo para todas as frases que, de modo
similar, tenham um se acoplado ao verbo, mas não sejam reversíveis.
3. Da frase assim considerada, podem-se extrair as seguintes conclusões: a)
o exemplo não está na voz passiva sintética; b) diversamente da frase
com a qual é comparada, o se não é partícula apassivadora, mas símbolo
(ou índice) de indeterminação do sujeito; c) seu sujeito não é “um bom
vinho”, mas é indeterminado; d) em orações como essa, seria impossível
considerar um bom vinho sujeito, porquanto, como bem lembra Sousa e
Silva, “o sujeito é membro regente, não pode vir regido de preposição”
(1958, p. 264).
4. Em tais circunstâncias, pela própria estrutura sintática apontada, se, em
vez de um bom vinho, se diz bons vinhos, o sujeito não se altera, mas
continua indeterminado.
5. Bem por isso, ao se pluralizar tal termo, não há razão alguma para
modificar o verbo, até porque, com tal alteração, não há, em última
análise, modificação alguma do sujeito: “Gosta-se de bons vinhos”.
6. Observe-se que essa é uma construção muito comum na linguagem
forense, com expressões corriqueiras dessa natureza: a) “Trata-se de
embargos à execução”; b) “Proceda-se aos inventários”; c) “Obedeça-se
aos princípios legais”. Pela explanação feita, são inaceitáveis e
equivocadas as seguintes estruturas: i) “Tratam-se de embargos à
execução”; ii) “Procedam-se aos inventários”; iii) “Obedeçam-se aos
princípios legais”.
7. Reitere-se adicionalmente, para efeitos práticos, que, em tais casos, se o
termo que aparenta a função de sujeito vem com preposição (de
embargos, aos inventários, aos princípios), tal é indício cabal de que a
frase não é reversível, certo como é que o sujeito é função do caso reto, e
não pode ser preposicionado.
8. Repita-se: não confundir a frase apreciada com a construção “Aluga-se
uma casa”, cuja estrutura sintática é diferente.

Gosto – Como pronunciar o plural?


Ver Metafonia (P. 472).

Governador-geral ou Governador geral?


Ver Controlador-geral ou Controlador geral? (P. 230)

Grã
Ver Grã-mestra, Grão-mestra, Grã-mestre ou Grão-mestre? (P. 377)

Graças a – Pode ter sentido negativo?


1. Um leitor quer saber se a expressão graças a tem sempre sentido
positivo, ou se pode ter significação negativa.
2. Aurélio Buarque de Holanda Ferreira confere à mencionada expressão
um conteúdo neutro, sem atribuição de valor positivo ou negativo: por
causa de, devido a. E assim exemplifica: “A varíola – enfermidade hoje
erradicada, graças a uma campanha mundial de vacinação – era
particularmente letal” (2010, p. 1.045).
3. Aos significados já referidos, Antônio Houaiss acrescenta com o auxílio
de, de igual modo sem qualquer atribuição de conteúdo semântico
positivo ou negativo. E traz o seguinte exemplo: “Escapou de perder o
ano, graças aos amigos” (2001, p. 1.471).
4. É certo, por um lado, que os exemplos dados por ambos os dicionaristas
trazem em si a acepção positiva de que fala o leitor.
5. Não menos certo, também, é que essa tendência a pensar positivamente
sobre a expressão resulta das acepções positivas com que se emprega a
palavra ou as expressões por ela formada, como graça (em sentido
religioso), graças a Deus, cair nas graças, estado de graça, “ela está
uma graça”…
6. E isso sem falar nos sinônimos de sentido positivo em que o vocábulo é
usado: mercê, favor, benefício, gentileza, privilégio…
7. Sem prejuízo, porém, de todos esses aspectos e considerações, nada
impede que se empregue a mencionada expressão em sentido negativo,
como é fácil perceber nos exemplos seguintes: a) “Estamos sendo
levados à bancarrota graças a uma política de incompetência e a uma
corrupção nunca antes vista na história deste País”; b) “A equipe
perdeu vergonhosamente o mundial graças a uma série de equívocos dos
dirigentes e à profunda arrogância e indolência dos jogadores”.

Grafia de nomes próprios


1. As leis de ortografia – que também norteiam a escrita dos nomes
próprios de pessoas – mandam que se escreva Antônio, Luís e Mateus, e
não Antonio, Luiz ou Matheus. Com as alterações trazidas pelo Acordo
Ortográfico de 2008, também um nome como Aletéia passou a grafar-se
Aleteia.
2. Vale dizer: como qualquer outra palavra da língua, os nomes próprios
sujeitam-se às regras normais de ortografia e de acentuação gráfica, têm
sua forma correta de grafar.
3. Assim, Antônio, Cláudia, Sílvia e Sônia se acentuam, porque são
paroxítonas com ditongo na última sílaba; Teófilo, porque é
proparoxítona; Amílcar, porque é paroxítona terminada por r, como
revólver; Aírton, porque é paroxítona terminada por n, como hífen; Taís,
porque nela aparece o i tônico, seguido de s na mesma sílaba, formando
hiato com a vogal anterior.
4. Se alguém, todavia, teve seu nome registrado com uma grafia incorreta,
abrem-se-lhe duas saídas: pode usá-lo como aparece nos documentos,
como tem sido mais usual; ou pode solicitar-lhe a correção, quer ao
próprio responsável pelo serviço de registro de pessoas naturais, quer ao
Juiz de Direito, na hipótese de recusa daquele.
5. Pasquale Cipro Neto e Ulisses Infante, por fim, fazem importante e
oportuna observação: “A grafia dos nomes de todos os que se tornam
publicamente conhecidos aparece corrigida em publicações feitas após a
morte dessas pessoas” (1999, p. 42).
6. De Arnaldo Niskier (1992, p. 45) também é lição nesse sentido, para o
nome dessas pessoas: “passando desta para a melhor, a norma é escrever
seus nomes de acordo com as regras ortográficas”, razão pela qual “um
Antonio Luiz só o será em vida: depois da morte passará a ser,
portuguesmente, Antônio Luís”.
7. É interessante observar, por fim, o que se deu com alguns nomes como
Ruy Barbosa e Brodowsky (cidade do interior paulista, terra de Portinari
e Saulo Ramos): a) na origem, esses nomes tinham as grafias Ruy e
Brodowsky (sobrenome de um engenheiro); b) com a eliminação de
certas letras de nosso alfabeto, deu-se, num primeiro passo, a correção
para Rui e Brodósqui; c) com a reinserção dessas letras em nosso
alfabeto, por força do Acordo Ortográfico de 2008, podem tais nomes
perfeitamente retornar a sua grafia original.

Grafia de porquê
Ver Por que, Por quê, Porque ou Porquê? (P. 581)

Grama
1. Trata-se de unidade de peso do sistema métrico decimal.
2. Como palavra neutra em grego, deriva para o masculino em português:
um grama, duzentos gramas.
3. Errôneo é o costume popular de atribuir-lhe o gênero feminino: “Ele
comprou duzentas gramas de queijo”.
4. Também errado é tentar garantir-lhe o gênero masculino pela adaptação
de seu final: “Ele comprou duzentos gramos de queijo”.
5. As mesmas observações valem para os compostos decigrama,
centigrama, miligrama.
6. Para resumir, atente-se à síntese de José de Sá Nunes (1938, p. 37):
“Unidade dos pesos do sistema métrico, é palavra masculina, e não pode
ser escrita com o final, porque a etimologia não o permite. Assim
também os seus compostos e derivados”.
7. Em busca de uma explicação para os erros comuns a seu respeito, assim
se pronuncia Cândido de Figueiredo: “Talvez por influência da grama
(nome de várias plantas gramíneas), há gente que fala de duas gramas de
retrós, quinhentas gramas de carne… E, contudo, grama (peso) é termo
masculino em francês, castelhano, italiano, português”.
8. E, quanto a gramo – que é assim usado em espanhol – continua o
referido gramático: “No Brasil também houve quem propusesse o
gramo, em vez de grama; mas em português, gramo, nunca vi, nem ouvi,
nem lucraríamos muito em o ter, a não ser pela vantagem de lhe não
trocarem tão facilmente o gênero. Deixemos a nuestros hermanos o
gramo, e fiquemo-nos com o grama, que não ficamos pior. Antes pelo
contrário” (FIGUEIREDO, 1943, p. 67).
9. Apenas para registro, mas sem laivo algum de anuência, anota-se a lição
de Sousa e Silva, em cujo entender “o povo, que é quem mais emprega o
termo, só lhe atribui o gênero feminino”, motivo por que “força é, por
conseguinte, que admitamos os dois gêneros, o que não será fato insólito
na língua portuguesa”.
10. Mesmo para tal autor, contudo, em lição que não deixa de ser
contraditória, “são sempre masculinas, entretanto, as palavras
decagrama, hectograma, quilograma, miriagrama, decigrama,
centigrama e miligrama” (SILVA, A., 1958, p. 140-1).
11. A lição solitária do referido autor, repita-se, até por desacompanhada
de maiores fundamentos, não há de prevalecer para textos que devam
submeter-se à norma culta, motivo por que se há de observar sempre o
gênero masculino da palavra, mantendo-se o seu final com a aparência
feminina, o que há de valer, de igual modo, para todos os vocábulos
dela derivados: o grama, o decagrama, o hectograma, o quilograma, o
miriagrama, o decigrama, o centigrama e o miligrama.
Ver Abreviatura, Abreviação e Sigla – O que é e Como usa? (P. 55)
Gramática: devemos prestar-lhe obediência?
1. A par da linguagem mais descuidada que se permite no plano coloquial,
na correspondência mais íntima e na conversa familiar entre as pessoas,
existe um modo de escrever e falar próprio dos profissionais de qualquer
área, em suas manifestações oficiais e formais, em que se deve manter
um nível mínimo e comum de fala e escrita, submetidos às normas de
Gramática, a que se dá o nome de linguagem formal ou norma culta.
2. De modo específico no que tange à existência, à grafia e ao gênero das
palavras em nosso idioma, a autoridade fica com a Academia Brasileira
de Letras, que edita regularmente o Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, uma espécie de dicionário que lista as palavras reconhecidas
oficialmente como pertencentes ao nosso léxico, bem como lhes fornece
a grafia oficial, muito embora normalmente não lhes comente o
significado.
3. Ao agir assim, a ABL desincumbe-se de uma delegação legal, já que a
vetusta Lei Eduardo Ramos, de n. 726, de 8/12/1900, incumbiu-a de
editar regularmente essa lista oficial dos vocábulos de nosso idioma.
4. E, se temos uma lei, a ela devemos prestar obediência, como, aliás, se dá
com determinação legal de qualquer outra natureza. Basta ver que, em
época mais recente, para abolir o acento circunflexo diferencial de
timbre (com a única exceção de pôde) e os acentos circunflexo e grave
nas palavras com sufixo mente ou iniciado por z, tal se fez por via da Lei
5.765, de 18/12/71.
5. Mais recentemente, o Acordo Ortográfico de 2008, abolindo
definitivamente o trema das palavras em língua portuguesa e a maioria
dos acentos diferenciais, alterando regras de hifenização e de
acentuação, entre outras modificações, valeu-se do Decreto 6.583, de
29/9/2008.
6. Já quanto aos aspectos de construção ou sintaxe (concordância nominal,
concordância verbal, regência nominal, regência verbal, crase, colocação
de pronomes), a autoridade fica com os autores que cultuaram e cultuam
o idioma, em cujo rol raramente se incluem os modernistas, os quais, em
busca de maior comunicação, passaram a incorporar em seus escritos
uma linguagem coloquial, plebeísmos e equívocos gramaticais; a norma
culta, nesse aspecto, encontra-se hoje sedimentada nos bons livros de
Gramática.
7. No tocante à pontuação, apenas a partir da década de cinquenta do
século XX tomou significativo impulso e passou a orientar-se – além das
razões sintáticas tradicionais e dos impulsos subjetivos – pelas
recomendações e exigências mais apuradas da redação técnica, o que faz
concluir que os chamados clássicos de nossa literatura nem sempre lhe
atribuíram posição de relevo. Assim, não é incomum encontrar, mesmo
em abalizados escritores, exemplos de inadequação, nesse campo. Os
livros de Gramática, ademais, pouco trazem a esse respeito, sobretudo no
que concerne ao uso da vírgula.
8. Observa-se, por fim: não se pode dizer que a obediência a tais
parâmetros da norma culta signifique cerceamento à liberdade do
falante. Será difícil encontrar alguém que defenda a tese de que Padre
Vieira ou Rui Barbosa tenham sido cerceados ou feridos em sua
liberdade de expressão, por terem que obedecer às normas da Gramática.
As regras estão aí, e a arte de escrever está em encontrar a adequada
forma de expressão em seus moldes e limites. Mesmo grandes escritores
que têm um modo peculiar de escrever não ignoram tais regras.
Guimarães Rosa, que desconstruiu como raros o idioma em seu modo
peculiar de expressão, conhecia como poucos os meandros do vernáculo.

Grã-mestra, Grão-mestra, Grã-mestre ou Grão-mestre?


1. Uma consulta ao Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da
Academia Brasileira de Letras, órgão oficialmente incumbido de listar os
vocábulos existentes em nosso idioma bem como suas variações de
gênero e número (2009, p. 408-11) permite importantes constatações e
ilações para os vocábulos grã e grão (sempre usados como forma
apocopada do adjetivo grande e sempre com o sentido de maior entre
semelhantes).
2. Assim, nos compostos em que há masculino e há feminino, é fácil
perceber que o VOLP adotou a integral equivalência entre ambos os
adjetivos (grã e grão), empregados de modo intercambiável: grã-duque
ou grão-duque, grã-duquesa ou grão-duquesa, grã-mestre ou grão-
mestre, grã-mestra ou grão-mestra.
3. Nos compostos não apresentados em forma feminina, o VOLP continua
empregando tais elementos de modo intercambiável: grã-rabino ou
grão-rabino, grã-sacerdote ou grão-sacerdote, grã-turco ou grão-turco,
grã-vizir ou grão-vizir.
4. E, para ambos os casos, lista os plurais, onde se vê que tais adjetivos
apocopados permanecem sempre no singular: grã-duques ou grão-
duques, grã-duquesas ou grão-duquesas, grã-mestres ou grão-mestres,
grã-mestras ou grão-mestras, grã-rabinos ou grão-rabinos, grã-
sacerdotes ou grão-sacerdotes, grã-turcos ou grão-turcos, grã-vizires ou
grão-vizires.
5. Pode-se, então, resumir a questão do seguinte modo: a) grã e grão são
formas apocopadas de grande; b) como primeiro elemento de
substantivos ou adjetivos compostos, são intercambiáveis, não
importando o gênero do elemento que o segue (grã-duque ou grão-
duque, grã-duquesa ou grão-duquesa); c) não variam tais elementos,
quando o composto, como um todo, vai ao plural (grã-duques ou grão-
duques, grã-duquesas ou grão-duquesas).

Grande
Ver Mais grande ou Maior? (P. 453)

Grande maioria – Existe?


1. Indaga um leitor se é correto o emprego da expressão grande maioria.
2. Ora, numa associação que tenha cem membros, se se considera o número
de cinquenta deles mais um, está-se, sem dúvida, diante da maioria. No
capital acionário de uma sociedade anônima, quando se tem cinquenta
por cento do capital mais uma ação, também se está diante da maioria.
3. Uma maioria como a considerada nos dois casos, porém, é uma maioria
apertada; já uma maioria que represente, por exemplo, noventa por
cento dos associados ou do capital acionário, é uma folgada maioria. Em
termos jurídicos, tem-se maioria simples (metade mais um) e maioria
absoluta (dois terços).
4. Ante o fato de que o vocábulo maioria significa apenas a maior parte dos
integrantes de um todo e ante a circunstância de que, entre a maioria e a
totalidade, permeia uma gama enorme de possibilidades, são
perfeitamente empregáveis expressões como grande maioria, apertada
maioria, folgada maioria.
5. Sem necessidade de maiores indagações ou pesquisas, é fácil verificar na
Constituição Federal de 1988, já acrescida de suas emendas
constitucionais, diversos e significativos exemplos do emprego do
vocábulo maioria, ora sem qualificativo algum, ora com modificadores e
expressões: a) “Salvo disposição constitucional em contrário, as
deliberações de cada Casa e de suas Comissões serão tomadas por
maioria dos votos, presente a maioria absoluta de seus membros” (CF
art, 47); b) “Compete privativamente ao Senado Federal: … aprovar, por
maioria absoluta e por voto secreto, a exoneração, de ofício, do
Procurador-Geral da República antes do término de seu mandato” (CF,
art. 52, XI); c) “Desde a expedição do diploma, os membros do
Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo em flagrante de
crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vinte
e quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de
seus membros, resolva sobre a prisão” (CF, art. 53, § 2º); d) “Nos casos
dos incisos I, II e VI, a perda do mandato será decidida pela Câmara
dos Deputados ou pelo Senado Federal, por voto secreto e maioria
absoluta, mediante provocação da respectiva Mesa ou de partido
político representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa”
(CF, art. 55, § 2º); e) “O veto será apreciado em sessão conjunta, dentro
de trinta dias a contar de seu recebimento, só podendo ser rejeitado pelo
voto da maioria absoluta dos Deputados e Senadores, em escrutínio
secreto” (CF, art. 66, § 4º); f) “A matéria constante de projeto de lei
rejeitado somente poderá constituir objeto de novo projeto, na mesma
sessão legislativa, mediante proposta da maioria absoluta dos membros
de qualquer das Casas do Congresso Nacional” (CF, art. 67); g) “As leis
complementares serão aprovadas por maioria absoluta” (CF, art. 69); h)
“Será considerado eleito Presidente o candidato que, registrado por
partido político, obtiver a maioria absoluta de votos, não computados os
em branco e os nulos” (CF, art. 77, § 2º); i) “Se nenhum candidato
alcançar maioria absoluta na primeira votação, far-se-á nova eleição
em até vinte dias após a proclamação do resultado, concorrendo os dois
candidatos mais votados e considerando-se eleito aquele que obtiver a
maioria dos votos válidos” (CF, art. 77, § 3º).
Grande número de alunos – faltou ou faltaram?
Ver Coletivo – Como concordar? (P. 191)

Grande parte dos alunos – faltou ou faltaram?


Ver Coletivo – Como concordar? (P. 191)

Grato – E ponto final?


1. Uma leitora diz ter dúvidas em dois aspectos ao final de uma carta: a)
deve empregar a palavra grata ou agradecida?; b) depois desse adjetivo,
deve usar vírgula ou ponto final?
2. Observa-se, de início, que, com o correr dos tempos, a correspondência
formal passou a ser regida por algumas regras que não são determinadas
por normas oficiais, emanadas de órgãos detentores de delegação oficial
para estabelecê-las no idioma, mas que são normalmente obedecidas, até
porque, de um modo geral, emanam do bom-senso e, por isso, em certa
escala, acabam sendo seguidas também pela correspondência menos
formal.
3. Como repositórios de tais regras, os grandes jornais, as emissoras de
televisão e os próprios órgãos governamentais elaboram seus manuais de
redação, e estes, por um lado, enfeixam um conjunto comum de regras e,
por outro, divergem entre si em alguns pontos.
4. Para responder à primeira parte da indagação da leitora, invoca-se o
Manual de Redação Oficial da Presidência da República, facilmente
encontrável na internet, o qual traz um item específico destinado aos
fechos das comunicações oficiais e nele prescreve que elas terminem do
seguinte modo: a) para autoridades superiores, inclusive o Presidente da
República, Respeitosamente; b) para autoridades de mesma hierarquia ou
de hierarquia inferior, Atenciosamente.
5. Ora, para a comunicação pretendida pela leitora, a qual, pelos termos
trazidos, não chega a ser formal, embora venha com algo que aparenta
média formalidade, o término tanto poderá ser agradecida como grata,
ou outro adjetivo similar, até porque, em determinada escala, ambas não
deixam de ser palavras sinônimas.
6. Já quanto à segunda dúvida, isto é, quanto a saber se vai haver vírgula ou
ponto final depois desse adjetivo, deve-se partir do princípio de que
quem está grato ou agradecido é exatamente aquele que vem nominado
em seguida e vai assinar a correspondência. E isso quer dizer que há uma
ligação direta e íntima de sentido entre ambos os vocábulos.
7. Desse modo, até para preservar essa ideia de continuidade de sentido e
de vinculação entre os vocábulos, deve-se usar a vírgula, e não o ponto
final. Assim, Grata, e não Grata.
8. Vale a pena finalizar com a observação de que uma leitura dos modelos
ofertados pelo Manual de Redação Oficial da Presidência da República
confirma exatamente essa postura quanto à pontuação.

Gratuito
1. A força da pronúncia incide sobre o u, não sobre o i, sendo sua divisão
silábica gra-tui-to, e não gra-tu-í-to (SACCONI, 1979, p. 18).
2. Reforce-se, assim, que são incorretas a grafia e a pronúncia gratuíto.
3. E, em sua forma correta, não há razão alguma para acento gráfico.
4. Na síntese de Júlio Nogueira, “a tonicidade hoje recai no u, pouco
importando que o latim justifique a tonicidade no i” (1959, p. 24).
5. A pronúncia em ditongo (ui) e não em hiato (u-í) é também realçada por
Arnaldo Niskier (1992, p. 1).
6. Para Cândido de Figueiredo, “gratuíto é facécia, seguramente” (1946, p.
76).
7. Outro não é o entendimento do Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de Letras, órgão
incumbido de definir os vocábulos que oficialmente integram nosso
idioma, o qual não lhe reserva acento gráfico algum (2009, p. 411).
8. Idêntica observação se pode fazer para circuito, fortuito e intuito.
Ver Fluido ou Fluído? (P. 358)

Grosso modo ou A grosso modo?


1. Grosso modo é uma locução latina, que significa aproximadamente, de
um modo geral, de um modo grosseiro, por alto, resumidamente. Ex.:
“Apreciando o caso grosso modo, já se vê que o autor não tem razão”.
2. Por se tratar de expressão latina, de rigor é que venha entre aspas, com
sublinha, em negrito ou itálico, ou ainda com grifo equivalente,
indicador de tal circunstância.
3. Também não se olvide a lição de Edmundo Dantès Nascimento (1982, p.
145): a) expressões como essa não eram hifenizadas em latim, razão pela
qual “não o podem ser em língua nenhuma”; b) “para quem pretende
grafar escorreitamente, não é permitido o hífen em expressões do latim
clássico”.
4. Não há motivo algum para se lhe antepor a preposição a, que não existe
na expressão em latim, de modo que é errôneo o seguinte emprego:
“Apreciando o caso a grosso modo, já se vê que o autor não tem razão”.
5. Domingos Paschoal Cegalla confirma esse aspecto de que “não se diz a
grosso modo, mas apenas grosso modo” (1999, p. 185).
6. Veja-se, também nesse sentido, a lição de Arnaldo Niskier: “A expressão
é grosso modo e não a grosso modo” (1992, p. 40).
7. Resumem-se os três aspectos problemáticos da expressão: a) por ser
latina, de algum modo a expressão deve ser realçada (com sublinha,
negrito ou itálico, ou ainda com grifo equivalente, indicador de tal
circunstância); b) “a palavra a não pertence à expressão”, motivo por que
se há de dizer “sempre grosso modo, não a grosso modo” (GRION, s/d,
p. 11); c) por se tratar de expressão latina, é proibido o emprego de
hífen, que não existia no idioma original, de modo, assim, que é
equivocada a grafia grosso-modo.

Guarda-comida
1. Partindo das regras gerais de flexão dos substantivos compostos,
oportuno é lembrar que, se entra em sua composição a palavra guarda,
esta pode ser substantivo (e então é variável) ou verbo (e então é
invariável).
2. Em termos práticos de identificação, quando o segundo elemento é
substantivo (como é comida no caso apreciado), guarda é verbo (e,
assim, invariável). Bem por isso, o plural de guarda-comida é guarda-
comidas, assim como guarda-barreiras, guarda-louças, guarda-portões
e guarda-roupas (VITÓRIA, 1969, p. 124).
3. Ainda em termos práticos, quando o segundo elemento é adjetivo (como
é florestal em guarda-florestal), guarda é substantivo (e, assim,
variável), bem como é variável o segundo elemento (que é adjetivo).
Assim, o plural de guarda-florestal é guardas-florestais, assim como
guardas-faceiras, guardas-menores e guardas-maiores.
4. Para memorizar o uso da palavra guarda na formação de compostos
dessa natureza, vale lembrar duas observações de Carlos Góis e Herbert
Palhano (1963, p. 59): a) “Nos substantivos compostos em que o
primeiro elemento é guarda, e o segundo, substantivo, guarda será
sempre verbo, e, deste modo, varia somente o último” (guarda-roupa,
guarda-roupas); b) “Nos substantivos compostos em que o primeiro
elemento é guarda e o segundo adjetivo, guarda será substantivo e ambos
variam” (guarda-noturno, guardas-noturnos).
5. Ou, ainda, que se resuma com a lição de Silveira Bueno (1938, p. 44):
“se guarda for verbo, só o último elemento tomará o sinal de plural”
(guarda-louça, guarda-louças); todavia, “se a palavra for substantivo,
então, tomará também o sinal de plural” (guarda-civil, guardas-civis).
Ver Substantivos compostos – Como levar ao plural? (P. 717)

Guarda-noturno
Ver Guarda-comida (P. 380).

Guardar o leito – Galicismo?


1. O emprego dessa expressão é galicismo a ser evitado (garder le lit), no
sentido de estar de cama.
2. Eduardo Carlos Pereira a insere no rol dos galicismos fraseológicos ou
sintáticos, daqueles que “são verdadeiras deturpações da língua, contra
os quais devemos estar premunidos” (1924, p. 260-2).
3. Júlio Nogueira também a arrola entre as locuções, expressões e frases
completas que conservam o “ar francês” do galicismo, espécies das mais
repreensíveis, “pois não correspondem a uma necessidade da língua”
(1930, p. 53).
4. Alfredo Gomes (1924, p. 469), de igual modo, insere tal expressão no rol
dos galicismos sintáticos.
5. Edmundo Dantès Nascimento também arrola essa expressão entre os
estrangeirismos fraseológicos e de acepção, asseverando ser erro
“comum na imprensa e por imitação nos laudos médicos juntos a autos”.
6. Adicionalmente, após observar que “acamar significa dispor em
camadas”, assevera tal autor que se há de dizer estar enfermo, estar de
cama (NASCIMENTO, 1982, p. 24).
7. Lembra Luís A. P. Vitória que “este galicismo desgracioso tem
correspondente exato em português: ficar de cama, estar de cama, etc.”
(1969, p. 124).
8. Para Cândido de Figueiredo, “este disparate é dos mais vulgares na
nossa imprensa contemporânea. Guardar o leito, em vez de estar de
cama, não lembraria ao diabo, mas lembrou a uns degenerados
portugueses do último quartel do século XIX, e deitou raízes de
escalracho” (1948, p. 269).
9. Repelindo o uso vernáculo de tal expressão, a um consulente que lhe
indagava se dizer desse modo era “asneira”, respondia Cândido de
Figueiredo (1941, p. 36), em outro volume de mesma obra, que sim, e
“das de calibre 18”.
10. Ronaldo Caldeira Xavier (1991, p. 89) insere a expressão guardar o
leito no rol dos galicismos sintáticos e aconselha sua substituição por
acamar, estar de cama.
11. Também Vitório Bergo (1943, p. 103) insere a expressão na lista dos
galicismos a serem evitados.
12. Em outra passagem de mesma obra, o citado autor a inclui no rol dos
galicismos de estrutura, daqueles “em que as palavras são portuguesas
mas a sintaxe (especialmente a colocação e a regência) é francesa”; e
manda substituir a expressão guardar o leito por ficar de cama
(BERGO, 1943, p. 119).
H
Habeas corpus
1. Trata-se de expressão latina, composta pela segunda pessoa do singular
do presente do subjuntivo do verbo habere (habeas) e do substantivo
corpus, com o sentido etimológico de ande com o corpo, ou tenha o
corpo. Ex.: “O mais triste das prisões políticas é que quando o
advogado consegue o habeas corpus para o seu cliente, já não há mais
corpo”.
2. Historicamente, são as primeiras palavras de uma lei inglesa, editada
logo após a outorga da Magna Carta, em 1215, por João Sem Terra, a
qual concedia a qualquer vassalo inglês o direito de aguardar o
julgamento em liberdade, sob fiança.
3. Configura, atualmente, instituto jurídico consagrado entre nós pelo art.
5º, inciso LXVIII, da Constituição Federal de 1988, o qual tem por
precípua finalidade a defesa da liberdade de locomoção, “quando a esta
não se oponha a justeza da privação da liberdade, como medida de
punição disciplinar ou para cumprimento de sanção penal” (DE
PLÁCIDO E SILVA, 1989, p. 370).
4. Ensina Vitorino Prata Castelo Branco que essa medida, tal como prevista
na Constituição de 1891, “tinha sentido mais amplo, não tutelando
apenas o direito de locomoção, como ocorre com o art. 5º, LXVIII, do
texto constitucional de 1988” (BRANCO apud DAMIÃO;
HENRIQUES, 1994, p. 189).
5. Apenas para ilustração histórica, a restrição atual talvez possa ser
justificada com a explicação de que outros direitos que escaparam ao
regramento desse instituto passaram a ser tutelados pelo mandado de
segurança, instituído entre nós no início do século XX.
6. Na redação original, a Constituição Federal de 1988 atribui-lhe a grafia
habeas-corpus (com o hífen), como consta nos arts. 5º, LXVIII, LXIX e
LXXVII, 102, I, d; 102, II, a; 105, I, c; 108, I, d; 109, VII; 121, § 3º;
121, § 4º, V e 142, § 2º.
7. Em quatro alterações posteriores, realizados por três emendas
constitucionais distintas, entretanto, a grafia passou a ser habeas corpus
(sem o hífen): a) art. 102, I, i, (em redação dada pela EC 22, de 18/3/99);
b) art. 105, I, c (também em redação dada pela EC 22, de 18/3/99); c) o
mesmo art. 105, I, c (agora modificado pela EC 23, de 2/9/99); d) (em
redação conferida pela EC 45, de 8/12/04).
8. Por se tratar de expressão latina, obrigatório é o uso das aspas, negrito,
itálico, sublinha ou grifo indicador de tal circunstância, além de proibida
a utilização de acentos gráficos e de hífen, que não existiam no idioma
original.
9. Não se olvide, nesse sentido, a lição de Edmundo Dantès Nascimento
(1982, p. 145) de que expressões como essa não eram hifenizadas em
latim, razão pela qual “não o podem ser em língua nenhuma”,
acrescentando tal autor que, “para quem pretende grafar escorreitamente
não é permitido o hífen em expressões do latim clássico”.
10. Diversa, estranha e equivocadamente, todavia, José de Nicola e Ernani
Terra (2000, p. 122), a par de asseverarem a ausência de acento, por se
tratar de uma expressão latina, pela mesma razão observam que “deve
ser sempre grafada com hífen”.
11. Com a mesma estranheza era recebido o registro do Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras,
órgão incumbido oficialmente de determinar a existência dos vocábulos
em nosso idioma, além de sua grafia oficial, o qual, muito embora
registrasse a expressão como pertencente ao idioma latino e a
escrevesse sem acentos gráficos, apresentava seus termos unidos por
hífen (1999, p. 383). A edição de 2009 do VOLP, no entanto, corrige
esse problema e arrola o vocábulo sem acento ou hífen, entre as
palavras estrangeiras, como locução substantiva latina (p. 862).
12. Pela simples razão de que se trata de expressão latina e de que não
havia hífen na língua originária, como agora o reconhece o VOLP, o
melhor é seguir o ensino de Domingos Paschoal Cegalla (1999, p.
188), o qual, após observar que “não há consenso quanto ao uso do
hífen nesta expressão latina”, realça que “é preferível dispensá-lo”.
13. Acrescente-se que, nas palavras e expressões latinas, as vogais, mesmo
no fim das palavras, hão de ser pronunciadas claramente, até para se
evitarem confusões quanto à flexão das declinações; assim, diga-se
ábeas, e não ábias, e córpus, e não corpos.
14. É oportuno observar, por fim, que, para levar o plural, em Português, a
mencionada expressão, basta pluralizar o artigo ou palavra que a ela se
refere: a) os habeas corpus; b) habeas corpus preventivos. Pelo próprio
significado da referida expressão (que tenhas o corpo), não faria
sentido pluralizar no vernáculo os termos da expressão (que tenhais
corpos). Reafirme-se, portanto, o plural: os habeas corpus, e não os
habeatis corpora ou qualquer outra forma de plural.
15. As mesmas observações valem para expressões similares, como habeas
data.

Habeas data
1. Trata-se de expressão latina, composta pela segunda pessoa do singular
do presente do subjuntivo do verbo habere (habeas) e do substantivo
data, com o sentido etimológico de tenhas os dados ou tenhas as
informações.
2. O habeas data insere-se entre os direitos e garantias fundamentais
listados pelo art. 5º da CF/1988 (CF, art. 50, LXXII), e se concede nas
seguintes situações: a) “para assegurar o conhecimento de informações
relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de
dados de entidades governamentais ou de caráter público” (alínea a); b)
“para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo
sigiloso, judicial ou administrativo” (alínea b).
3. Na redação original de 1988, o constituinte atribuiu-lhe a grafia habeas-
data (com o hífen), como ainda consta nos arts. 5º, LXIX, LXXII e
LXXVII, 102, I, d; 102, II, a; 105, I, b; 108, I, c; 109, VIII e 121, § 4, V.
4. Em alterações posteriores, realizadas por duas emendas constitucionais,
a grafia passou a ser habeas data (sem o hífen): a) art. 105, I, b (em
redação atribuída pela EC 23, de 20/12/99); b) art. 114, IV (em redação
conferida pela EC 45, de 31/12/04).
5. É de relevo observar que, por se tratar de expressão latina, obrigatório é
o uso das aspas, negrito, itálico, sublinha ou grifo indicador de tal
circunstância, além de proibida a utilização de acentos gráficos e de
hífen, que não existiam no idioma original.
6. Não se olvide, nesse sentido, a lição de Edmundo Dantès Nascimento
(1982, p. 145) de que expressões como essa não eram hifenizadas em
latim, razão pela qual “não o podem ser em língua nenhuma”; e
acrescenta tal autor que, “para quem pretende grafar escorreitamente,
não é permitido o hífen em expressões do latim clássico”.
7. Diversa, estranha e equivocadamente, entretanto, José de Nicola e
Ernani Terra, a par de asseverarem a ausência de acento, por se tratar de
uma expressão latina, pela mesma razão observam que “deve ser sempre
grafada com hífen” (2000, p. 122).
8. Ora, pela simples razão de que se trata de expressão latina e de que não
havia hífen na língua originária, o melhor é seguir o ensino de Domingos
Paschoal Cegalla (1999, p. 188), o qual, após observar que “não há
consenso quanto ao uso do hífen” em expressões latinas desse jaez,
realça que “é preferível dispensá-lo”.
9. Acrescente-se que, nas palavras e expressões latinas, as vogais, mesmo
no fim das palavras, hão de ser pronunciadas claramente, até para se
evitarem confusões quanto a flexão das declinações; assim, diga-se
ábeas, e não ábias.

Habitar
1. Na lição de Vitório Bergo (1944, p. 129), que se funda em exemplos de
autores insuspeitos, esse verbo tanto pode ser empregado sem
preposição, como pode vir construído com a preposição em: a) “Que
terra é esta que habitais” (Camões); b) “… servos que habitavam nos
povoados principais…” (Alexandre Herculano).
2. Artur de Almeida Torres (1967, p. 165-6), além de confirmar-lhe a
possibilidade de construção como transitivo direto e com a preposição
em, ainda o vê como pronominal no sentido de povoar: “Olha essa terra
que se habita dessa gente sem lei” (Camões).
3. Nesse último caso, todavia, o que se tem é uma voz passiva sintética,
funcionando o se como partícula apassivadora, podendo-se transformar o
exemplo da seguinte maneira: “Olha essa terra que é habitada dessa (ou
por essa) gente sem lei”.
4. Porque assim é, continuaria sendo tal verbo transitivo direto, já que, na
voz ativa, assim haveria de ser a estrutura: “Olha essa terra que essa
gente sem lei habita”.
5. Francisco Fernandes (1971, p. 370) ensina que esse verbo pode ser
empregado como transitivo direto (sem preposição), assim como pode
ser construído com alguma das seguintes preposições: em, sobre e com.
Exs.: a) “Habita um palácio, habita uma choupana” (Constâncio); b) “O
homem é o animal mais disparatado e incongruente que habita na terra”
(Garrett); c) “Todos os que habitavam sobre a face de toda a terra”
(Padre Antônio P. Figueiredo); d) “Sem mais querer habitar com
Leovegildo, se fez viúva” (Morais).
6. Em nossa legislação, a maioria dos exemplos encontrados são no sentido
do emprego como transitivo direto (sem preposição), quer na voz ativa,
quer na voz passiva; mas há também casos, embora em número bem
menor, de seu uso com a preposição em: a) “Quando o uso consistir no
direito de habitar gratuitamente casa alheia, o titular deste direito não a
pode alugar, nem emprestar, mas simplesmente ocupá-la com sua
família” (CC, art. 1.414); b) “São terras tradicionalmente ocupadas
pelos índios as por eles habitadas em caráter permanente…” (CF, art.
231, § 1º); c) “Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo
dano proveniente das coisas que dele caírem ou forem lançadas em
lugar indevido” (CC, art. 938); d) “O proprietário ou o possuidor de um
prédio tem o direito de fazer cessar as interferências prejudiciais à
segurança, ao sossego e à saúde dos que o habitam, provocadas pela
utilização de propriedade vizinha” (CC, art. 1.277); e) “Quando o uso
consistir no direito de habitar gratuitamente casa alheia, o titular deste
direito não a pode alugar, nem emprestar, mas simplesmente ocupá-la
com sua família” (CC, art. 1.414); f) “Se o direito real de habitação for
conferido a mais de uma pessoa, qualquer delas que sozinha habite a
casa não terá de pagar aluguel à outra, ou às outras, mas não as pode
inibir de exercerem, querendo, o direito, que também lhes compete, de
habitá-la” (CC, art. 1.415); g) “Observar-se-á o procedimento
sumaríssimo: I – nas causas, qualquer que seja o valor: … j) do
proprietário ou inquilino de um prédio para impedir, sob cominação de
multa, que o dono ou inquilino do prédio vizinho faça dele uso nocivo à
segurança, sossego ou saúde dos que naquele habitam” (CPC/1973, art.
275, I, “j”, versão revogada).
Ver Voz passiva e Pronome apassivador (P. 791).

Habitat
1. É o lugar de vida de um organismo ou o total de características
ecológicas do lugar específico habitado por um organismo ou população.
2. Muito embora tenha chegado a nós por intermédio do francês, trata-se de
forma latina do verbo “habito, as, avi, atum, are”, é palavra
proparoxítona e tem a pronúncia adequada com maior força na
antepenúltima sílaba (ábitat), com o t final pronunciado, e não na última
(abitá), sem dicção do t.
3. Equivocada, assim, é a pronúncia afrancesada (abitá).
4. Se for ele entendido como vocábulo latino, obrigatório há de ser o uso
das aspas, negrito, itálico, sublinha ou grifo indicador de tal
circunstância, além de proibida a utilização de acento gráfico, que não
existia naquele idioma.
5. Ainda retomando sua etimologia e conceito, para Antonio Henriques,
trata-se de “forma verbal latina (terceira pessoa do singular do presente
do indicativo de habitare – habitar) substantivada em português e
corrente em ecologia: características do local habitado por organismos
ou população” (1999, p. 82).
6. Justificando a manutenção da grafia latina do vocábulo, sem acréscimo
final de qualquer letra, assim se expressa Arnaldo Niskier:
“Consideramos recomendável tal grafia, já que, se acrescentássemos o e
ao t mudo final, teríamos palavras biesdrúxulas (… hábitate), coisa que
não ocorre em nosso idioma” (1992, p. 8-9).
7. Complementando a lição de Arnaldo Niskier, Celso Cunha e Luís Filipe
Lindley Cintra (1985, p. 56) advertem que as palavras bisesdrúxulas (ou
biesdrúxulas) podem ocorrer em português somente quando se
combinam certas formas verbais com pronomes átonos, formando um só
vocábulo fonético e, nesses casos, é possível o acento recuar mais uma
sílaba além da antepenúltima. Ex.: “Amávamo-lo, faça-se-lhe”.
8. Cândido Jucá Filho (1963, p. 337) já a considera palavra incorporada ao
nosso léxico, liberando-a de aspas ou sinal equivalente e
providenciando-lhe acento: hábitat.
9. A seu respeito, assim é a lição de José de Nicola e Ernani Terra: “Esse
substantivo masculino, que significa o lugar de vida de um organismo, é
um latinismo. Sua forma aportuguesada é trissílaba e proparoxítona;
recebe, portanto, acento gráfico: há-bi-tat. Como você pode observar,
não se justifica a pronúncia oxítona nem a grafia sem o t final” (2000, p.
122).
10. Para Domingos Paschoal Cegalla, “é latinismo incorporado ao
português, devendo por isso ser acentuado” (1999, p. 188).
11. Inaceitável, porém, é o proceder de Aurélio Buarque de Holanda
Ferreira (s/d, p. 712), que a incorpora ao vernáculo como
proparoxítona, mas não a acentua graficamente, tipificando-a, assim,
como odiosa e desnecessária exceção de palavra dessa natureza que
não é graficamente acentuada.
12. Pondo fim a polêmicas, o Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, que é o veículo
incumbido de determinar oficialmente a existência das palavras em
nosso idioma, bem como de ordenar o modo de sua grafia, determina,
sem outras possibilidades de discussão: a) trata-se de substantivo latino
(que, portanto, deverá vir entre aspas, negrito, itálico, sublinha ou com
outro sinal de pertencer a palavra a outro idioma); b) sua grafia é
habitat (sem acento gráfico); c) sua pronúncia é ábitat (2009, p. 862).

Habite-se
1. Nos dizeres de Antonio Henriques (1999, p. 82), trata-se de “forma
verbal usada como substantivo: o habite-se, isto é, documento emitido
pelo poder municipal que autoriza a ocupação e uso de um imóvel (casa,
edifício)”.
2. Seu plural se faz pela simples alteração do artigo: os habite-se
(ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, 2009, p. 401). Essa, aliás, é
a posição do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, publicado
pela Academia Brasileira de Letras, órgão esse que tem delegação legal
para listar as palavras oficialmente existentes em nosso idioma, bem
como, se for o caso, sua maneira de formar plural, o qual registra que a
mesma forma (habite-se) há de ser observada para os dois números, isto
é, para o singular e para o plural (2009, p. 401).

Habituar
1. Trata-se de verbo regular, conjugado em todas as pessoas, tempos e
modos.
2. Não traz outras dificuldades, a não ser aquela que pode ser solucionada
pelas palavras de Cândido de Oliveira, alertado pelos comuns equívocos
cometidos nesse campo: “é com ue a primeira, segunda e terceira
pessoas do singular do presente do subjuntivo dos verbos em uar: cultue,
cultues, habitue, preceitues” (1961, p. 65).
3. Não existem, assim, as formas cultuis, cultui, habitui, preceituis.

Há cerca de, A cerca de ou Acerca de?


Ver Acerca de, Há cerca de ou Cerca de? (P. 68)

Há cinco anos atrás – Pleonasmo?


1. Em expressões dessa natureza, o verbo haver já significa tempo passado,
razão por que dispensável qualquer outra palavra de cunho pleonástico,
que indique tempo decorrido, como, por exemplo, atrás ou passados.
2. Vejam-se, assim, os seguintes exemplos: a) “Há cinco anos, podia-se
propor a ação” (correto); b) “Cinco anos atrás, podia-se propor a ação”
(correto); c) “Há cinco anos atrás, podia-se propor a ação” (errado).
3. Atente-se, nesse sentido, ao ensinamento de Arnaldo Niskier, com
respeito às expressões “há uma hora” e “uma hora atrás”: “As duas
formas são válidas. O incorreto, por ser redundante, é ‘há uma hora
atrás’”.
4. E exemplifica tal autor a erronia do mencionado emprego com famosa
letra de Paulo Coelho para música de Raul Seixas: “Eu nasci há dez mil
anos atrás” (NISKIER, 1992, p. 40).
5. Também lembrando o equívoco da música de Raul Seixas – “Eu nasci
há dez mil anos atrás” – e corrigindo o trecho para “Eu nasci há dez mil
anos” ou “Eu nasci dez mil anos atrás”, lembra textualmente Laurinda
Grion (s/d, p. 41) que “há (verbo haver, significa, neste caso, tempo
passado). Por isso é redundante (excessivo) usar a palavra atrás”.
6. Josué Machado observa a indevida existência de um há reforçado pelo
atrás em frase de um ex-presidente, conhecido como Caçador de
Marajás, quando procurou defender-se pela televisão pouco antes de ser
cassado: “Há dois anos atrás abri caminho para a modernidade…”
(1994, p. 11).
7. Observando tratar-se de construção pleonástica e redundante, lecionam
José de Nicola e Ernani Terra que “o verbo haver, referindo-se a tempo,
dispensa o advérbio atrás porque sempre indica tempo passado” (2000,
p. 122).
8. Já Luciano Correia da Silva (1991, p. 165), por seu lado, considerando o
emprego de “Há trinta anos passados”, defende expressões desse jaez,
justificando com a possibilidade de emprego do pleonasmo: “Como o
verbo haver, na hipótese, já indica passado, há muito quem censure o
emprego do advérbio atrás, vendo nisso uma redundância viciosa. Mas
não é assim. Desde que não se aplique abusivamente, o pleonasmo é
figura que dá certeza e vigor à expressão”.
9. Domingos Paschoal Cegalla também mostra posição mais liberal:
“Convém observar que o conjunto há… atrás transmite à frase mais
força e precisão, motivo pelo qual não nos parece vicioso, como viciosa
não é a expressão consagrada pelo uso voltar atrás”.
10. Para confirmar seu posicionamento, traz tal autor um exemplo de autor
antigo e diversos de escritores atuais (CEGALLA, 1999, p. 187-8): a)
“A fidalga, há anos atrás, tinha fugido com o doutor dos Pombais, e
nunca mais voltara” (Camilo Castelo Branco); b) “Será que vou
dormir minha noite pessoal, ou a de um de meus antepassados de há
milênios atrás?” (Aníbal Machado); c) “… as mesmas casas que há
trinta anos atrás saudavam o adolescente ansioso de conhecer o
Rio…” (Carlos Drummond de Andrade).
11. Apesar da liberalidade preconizada por alguns, sobretudo para a
linguagem coloquial e a literária, o certo é que, no que concerne aos
textos que devam submeter-se ao padrão culto, melhor é seguir o
ensino tradicional e evitar a redundância.
Ver Haver – Quando vai para o plural? (P. 386)

Há de ou Há-de?
1. Apesar de Cândido Jucá Filho (1963, p. 339) registrar a presença do
hífen na referida forma verbal – e isso sem quaisquer comentários
adicionais, lembra Napoleão Mendes de Almeida (1981, p. 133) que o
hífen após o verbo haver, nesses casos, é invenção lusa, a fim de se
evitar o erro muito comum por lá de se dizer há des, em vez de hás de.
2. Por cá, todavia, nosso sistema ortográfico não o permite de forma
alguma, nem implícita, nem explicitamente. Exs.: a) “O advogado há-de
chegar a tempo” (errado); b) “O advogado há de chegar a tempo”
(correto).
3. Valem as observações para outras formas do verbo haver: hei de, hão de,
haverá de, haverão de.
Ver Haver – Quando vai para o plural? (P. 386)

Há dias que se trabalhava – Está correto?


1. Trata-se de frase errada, por não haver adequada correlação entre os
verbos que a integram.
2. O correto é “Havia dias que se trabalhava”.
Ver Consecução dos tempos verbais (P. 219) e Há ou Havia? (P. 385)

Haja vista ou Haja visto?


1. Independentemente de discussões teóricas e da divergência de
interpretação dos gramáticos sobre haja vista, há pelo menos quatro
construções, todas corretas, com tal expressão. Exs.: a) “Haja vista aos
argumentos que embasaram o veredicto…”; b) “Haja vista dos
argumentos que embasaram o veredicto…”; c) “Hajam vista os
argumentos que embasaram o veredicto…”; d) “Haja vista os
argumentos que embasaram o veredicto…”.
2. Nos dois primeiros exemplos, é como se se afirmasse ao leitor: “Tenha a
vista lançada aos argumentos…”; ou, ainda: “Veja os argumentos…”.
3. As expressões aos argumentos e dos argumentos, nesses casos,
funcionam como objetos indiretos, e vista, como objeto direto.
4. No terceiro exemplo, argumentos é o sujeito, motivo por que o verbo
haver está no plural.
5. Se tal sujeito estivesse no singular, a concordância verbal seria outra, e
assim ficaria a frase: “Haja vista o argumento que embasou o
veredicto…”.
6. Essa última construção, defendida por Cândido de Figueiredo com
explicação pormenorizada, é fortemente combatida por Laudelino Freire,
que a tem por inaceitável e de evidente inutilidade; na prática, em
realidade, de todas, parece ser a sintaxe menos defensável e de
estruturação menos compreensível, muito embora tenha seus defensores
e, em última análise, deva ser considerada correta.
7. No último exemplo, haja vista é uma expressão invariável, uma locução
perifrástica transitiva (ALMEIDA, 1981, p. 134), equivalente a veja; e,
nesse caso, argumentos é objeto direto, o qual, estando no singular ou no
plural, não exerce influência alguma na flexão do verbo, em decorrência
das regras mais básicas de concordância verbal.
8. Por oportuno, anota-se que, em lição repetida por José de Sá Nunes
(1938, p. 156), já lembrava Ernesto Carneiro Ribeiro que “entre os bons
escritores varia muito a sintaxe da frase em que figura a locução haja
vista”.
9. Noticiam ambos os gramáticos que “para o Dr. Rui Barbosa, a expressão
haja vista reduz-se a uma locução elíptica sempre invariável”,
construção essa em que “a expressão haja vista equivale à forma verbal
veja” (NUNES, 1938, p. 157).
10. Em verdadeiro resumo, o Padre José F. Stringari (1961, p. 29) – para o
qual “ninguém se deixe entrar de receios sobre a vernaculidade destes
torneios de linguagem” – anota que “nos mestres da língua costumam
achar-se exemplos deste jeito: a) ‘Haja vista os modelos’; b) ‘Hajam
vista os modelos’; c) ‘Haja vista aos modelos’; d) ‘Haja vista dos
modelos’”.
11. Também lembrando que “a perífrase haja vista oferece várias sintaxes”,
leciona Laudelino Freire (1937b, p. 89) que “a mais fácil, uniforme e
única em conformidade com o sentido exato da expressão, sem que se
faça necessário dar-lhe significação suposta, nem recorrer a elipses
para que possível se torne construir sintaticamente com ela a oração, é
a que se passa a expor: A expressão haja vista equivale a veja; tem por
sujeito a palavra leitor, ou outra semelhante; e o complemento direto é
invariavelmente representado pela palavra, ou palavras que vêm depois
da mesma expressão. Exs.: ‘Haja vista o art. 182’; ‘Haja vista a
espécie de juras’; ‘Haja vista os exemplos disso em Castilho’; ‘Haja
vista as minhas ‘Cartas de Inglaterra’’” (Rui Barbosa).
12. A construção haja visto é muito comum, porém errada.

Hão de
Ver Hei-de vencer ou Hei de vencer? (P. 389)

Há ou A?
1. Profunda distinção deve ser feita entre ambas as palavras, que têm
naturezas e significados diversos.
2. Há é forma do verbo haver e significa tempo passado. Ex.: “Há vários
dias não vejo aquele desembargador”.
3. A é preposição e serve, nos casos em que pode haver confusão, para as
expressões indicativas de tempo futuro. Ex.: “Daqui a dois dias o verei
novamente”.
4. Atente-se a que não se deve usar verbo haver (nem há, por conseguinte),
se o verbo é futuro, razão por que errado é o seguinte exemplo: “O
advogado chegará daqui há duas horas”.
5. Por todas essas razões, não se hão de confundir as seguintes frases: a) “O
advogado chegou a tempo para a audiência” (isto é, em tempo, com
tempo); b) “O advogado chegou há tempo para a audiência” (ou seja,
faz tempo).
6. A distinção que ora se faz não é supérflua, tanto assim que Josué
Machado (1994, p. 10), atento aos cochilos da imprensa, flagrou,
publicada num jornal de São Paulo, a expressão “daqui há algum
tempo”.
Ver Há ou Havia? (P. 385)

Há ou Havia?
1. Existem, em português, normas de correlação, de correspondência
temporal ou, ainda, de consecução dos tempos verbais (em latim, com
regras mais rígidas, consecutio temporum), determinadoras de
harmonização quanto ao uso das formas dos verbos.
2. Por essas normas é que, na prática, assim se redigem os seguintes
exemplos: a) “Se é clara, a lei dispensa interpretação”; b) “Se for clara,
a lei dispensará interpretação”; c) “Se fosse clara, a lei dispensaria
interpretação”.
3. Com o verbo haver, a situação não é diferente, de modo que, se, com o
verbo fazer, se diz “A lei vigorava fazia anos” (e não “A lei vigorava faz
anos”), o correto, com o verbo haver, também é “A lei vigorava havia
anos” (e não “A lei vigorava há anos”).
4. Precisa, nesse ponto, é a lição de Vasco Botelho do Amaral:
“Modernamente, contra a índole da língua dos melhores escritores, com
frequência se perde de vista o paralelismo das formas verbais, e redige-
se: ‘Há dias que se trabalhava’. Evite-se essa construção” (AMARAL
apud ALMEIDA, 1981, p. 133).
5. Júlio Nogueira (1939, p. 190) também lembra que, com o verbo haver,
“se a relação de tempo é no passado, o verbo deve ir também para tempo
passado: ‘Ele chegara havia dez minutos’ (e não: ‘há dez minutos’)”.
6. Vê-se, assim, que equivocado é o emprego do verbo haver na frase
“morava há 40 anos”, a qual deve ser corrigida para “morava havia 40
anos”. Comparem-se os exemplos, ambos corretos, mas indicadores de
épocas diversas: a) “Ele mora ali há dez anos”; b) “Ele morava ali havia
dez anos”.
Ver Consecução dos tempos verbais (P. 219) e Há ou A? (P. 385)

Há quem garante ou Há quem garanta?


1. Um leitor indaga qual a forma correta de se dizer: Há quem garante ou
Há quem garanta?
2. Em termos técnicos, a questão pode ser formulada do seguinte modo:
numa frase como essa, deve-se empregar o presente do indicativo
(garante) ou o presente do subjuntivo (garanta)?
3. Ora, quanto à Gramática, como leciona Evanildo Bechara, emprega-se
normalmente o indicativo, quando se quer referir “um fato real ou tido
como tal”. Exs.: a) “A Terra gira em torno do Sol” (presente do
indicativo); b) “Os jurados fizeram um silêncio significativo” (pretérito
perfeito do indicativo); c) “O homem sempre buscará um sentido para
sua vida” (futuro do presente do indicativo).
4. Por outro lado, ainda na lição do citado gramático, usa-se o subjuntivo,
quando se quer mencionar um fato “considerado como incerto, duvidoso,
ou impossível de se realizar” (BECHARA, 1974, p. 273-6). Exs.: a)
“Talvez venhas” (presente do subjuntivo); b) “Era preciso que você
viesse” (pretérito imperfeito do subjuntivo); c) “Se você vier para a
solenidade…” (futuro do subjuntivo).
5. Com essas duas balizas, de modo específico para o caso da consulta,
pode-se dizer que ambas as expressões são corretas, mas cada qual com
uma acepção específica.
6. Em termos mais claros, se o falante acredita na certeza do fato referido,
usa o presente do indicativo: “Há quem garante”.
7. Se, porém, faz apenas uma conjectura, não necessariamente
compromissada com a realidade, e não tem certeza de sua ocorrência,
então é melhor que empregue o presente do subjuntivo: “Há quem
garanta”.

Hás de
Ver Hei-de vencer ou Hei de vencer? (P. 389)

Haurir
Ver Abolir (P. 55).

Haverá de ou Haverão de?


Ver Hei-de vencer ou Hei de vencer? (P. 389)
Haver lugar
Ver Ter lugar – Está correto? (P. 734)

Haver mister
1. Trata-se de expressão de que Vieira fez uso frequente no sentido de
necessitar, precisar, desejar, como demonstram os dois seguintes
exemplos, ambos extraídos de seus “Sermões”: a) “Logo, há mister luz,
há mister espelho e há mister olhos”; b) “… as outras nações, para
crerem, hão mister entendimento e vontade”.
2. Nosso Código Civil de 1916 também a empregou: “Cabe ao tutor,
quanto à pessoa do menor: … II – reclamar do juiz que providencie,
como houver por bem, quando o menor haja mister correção” (CC/1916,
art. 424, II). Tal expressão é assim mantida na codificação atual (CC, art.
1.740, II).
3. Vasco Botelho de Amaral (1939, p. 16) afiança que tal expressão “é bem
português”, invocando exemplo de Antônio Feliciano de Castilho: “…
para historiador há-se mister uma grande filosofia…”.
4. Quanto à estruturação sintática da frase, lembra Laudelino Freire (1937a,
p. 61) que esse torneio tem força de verbo transitivo e pede objeto direto,
o que, aliás, é bem visível nos exemplos dados do Padre Vieira.
5. Eduardo Carlos Pereira, de igual modo, arrola a expressão entre aqueles
casos curiosos “em que o valor transitivo está numa frase equivalente a
um verbo transitivo, a qual pede por isso um objeto direto” (1924, p.
238).
6. De Mário Barreto (1954b, p. 186) também é a lição de que “a locução
verbal, neste caso, tem força de verbo transitivo e pede objeto direto”,
exemplificando fartamente: a) “Não havemos mister doutores”; b) “Não
as hei mister”; c) “Havíamos mister trezentos mil cruzados”; d) “Não há
Deus mister conselho”.
7. Em proveitosa lição adicional, Antonio Henriques e Maria Margarida de
Andrade (1999, p. 82) observam que “haver mister não é forma
defectiva; conjuga-se em todas as pessoas”. Ex.: “Muitos dos enfermos
bem haviam mister um hospital” (Vieira).
8. Em outra obra, escrita solitariamente, Antonio Henriques (1999, p. 114)
também realça aspectos de relevo quanto ao uso dessa expressão, que ele
considera “forma conjugável em todas as pessoas”, de modo que “não é
defectiva” e se apresenta: a) “sem preposição”, estrutura que é “mais
corrente na linguagem arcaica” – “Muitos dos enfermos bem haviam
mister um hospital” (Padre Vieira); b) “com a preposição de”, sintaxe
“mais recorrente na linguagem atual” – “Mas o seu amor da ciência e da
pátria havia mister de outros incentivos” (Rui Barbosa).
9. Cândido Jucá Filho (1981, p. 75) – que identifica em tal expressão um
“conglomerado transitivo” – lembra a possibilidade de construção com
objeto direto e com objeto indireto: a) “… quando os há mister…”; b)
“Há mister de uma humana providência” (Latino Coelho).
10. Lembrando que tal expressão tem por variantes haver mister de e haver
de mister, corrobora Laudelino Freire (1937b, p. 100) a ideia de que ela
tem força de verbo transitivo direto.
Ver Fazer-se mister – Está correto? (P. 353), Mister (P. 475) e Ser mister –
Está correto?(P. 694)

Haver ou A ver?
Ver Nada a ver ou Nada haver? (P. 483)

Haver – Quando vai para o plural?


1. Um leitor, após lembrar corretamente que, quando haver tem o sentido
de existir, não vai para o plural, indaga quando é que varia o mencionado
verbo, já que os textos legais estão repletos de seu emprego desse modo.
2. Observe-se, como regra inicial, que o verbo haver, quando tem o
significado de existir, é impessoal (não tem sujeito), razão pela qual fica
sempre no singular. Exs.: a) “Houve um aluno interessado…”; b)
“Houve vários alunos interessados…”. Lembre-se que levar o verbo
haver ao plural nesses casos é imperdoável solecismo.
3. Ressaltando que esse verbo, “em sentido existencial, só pode ser usado
na terceira pessoa do singular, e sem sujeito”, e esclarecendo que “em
tais casos o substantivo que vem junto ao verbo funciona como objeto
direto”, observa Artur de Almeida Torres que esse solecismo “é
perpetrado pelos que confundem com sujeito o que na realidade é objeto
direto” (1966, p. 250).
4. Para ilustrar, narra Pedro A. Pinto que, no prólogo de um livro de nosso
poeta Fagundes Varela, de 1861, vinha o seguinte trecho: “… aos
ouvidos de uma pálida Madalena ou Julieta, esquecendo-se dos
algarismos e da estatística, (o estadista ou homem de negócios) não se
lembrou que haviam brisas e passarinhos, ilusões e devaneios”.
5. Segundo o referido gramático, Camilo Castelo Branco transcreveu o
lanço e acrescentou: “E gramática. Também seria bom lembrar-se aos
ouvidos das Madalenas e Julietas que havia regras para o verbo haver”.
6. Curioso, porém, é anotar, com o mesmo gramático que narra a história,
que, no mesmo ano, Guilherme Belegard e Carlos de Laet apontaram,
em livros de Camilo, exemplos semelhantes: “houveram coisas
terríveis”, “houveram sujeitos”, “hajam incentivos…”
7. E complementa o citado gramático que o grande escritor, quanto a tais
erros apontados, defendeu-se “com muito chiste e pouca lógica”,
valendo-se do argumento de muito uso ainda hoje, atribuindo os erros ao
tipógrafo e, em posição controvertida, mencionando autores clássicos
que usaram iguais expressões.
8. Encerrada a história, é de se dizer que o próprio Pedro A. Pinto (1924, p.
91-8), em mesma obra e local, mostra que escritores nossos de primeira
linha acabam claudicando nesse aspecto, e aponta trechos dessa sintaxe
vitanda em autores os mais abalizados: a) “Pensava que não haveria
santos, se não houvessem santeiros” (Eça de Queirós); b) “Enquanto
houverem cores…” (Gonçalves Dias).
9. Para resumir, transcreve-se a lição de José de Sá Nunes: “Houveram
homens é sintaxe indefensável. O verbo haver, quando usado
unipessoalmente, não tem plural. É verdade que o grande Camilo o
empregou nesse número várias vezes, e chegou a procurar defender o
crasso erro, a que ele mesmo chamava, em hora de melhor aviso,
‘solecismo bestial’; mas também é verdade que, em regra, o insigne
clássico lusitano punha o verbo haver no singular em tal situação” (1938,
p. 82).
10. Complemente-se que Mário Barreto, segundo noticia o mesmo José de
Sá Nunes (1938, p. 83), classificava construção desse jaez como um
‘escandaloso erro sintático’.
11. Por fim, observada como regra a invariabilidade do referido verbo no
singular, registra-se, por curiosidade, que Cândido Jucá Filho e
Pinheiro Domingues, em monografia específica, reuniram cerca de
trezentos exemplos de bons autores empregando esse plural, hoje
sabida e definitivamente condenado (JUCÁ FILHO; DOMINGUES
apud JUCÁ FILHO, 1954, p. 218).
12. Importa advertir que são comuns equívocos dessa construção, como se
pode ver em comunicado de um tribunal paulista, publicado no Diário
Oficial: “Comunicamos que, excepcionalmente, no dia 30 de abril de
2002, terça-feira, não haverão as sessões ordinária e do Juizado
Especial da colenda 14ª Câmara”. Corrija-se com facilidade: “Não
haverá as sessões…”
13. E também se atente a este excerto de aresto de um tribunal regional de
nosso país: “Se contribuições outras houveram, não houve
comprovação nos autos” (RT, vol. 748, p. 354). Corrija-se: “Se
contribuições outras houve, não houve a comprovação nos autos”.
14. Em continuação, fixa-se que, se, em casos dessa natureza, o verbo
haver tem auxiliar, também este fica na terceira pessoa do singular.
Exs.: a) “Pode haver um aluno interessado” b) “Pode haver vários
alunos interessados”; c) “Há de haver um aluno interessado”; d) “Há
de haver vários alunos interessados”; e) “Vai haver um aluno
interessado”; f) “Vai haver vários alunos interessados”.
15. Nesse sentido, com muita propriedade, lembra Júlio Nogueira que,
“caso o verbo haver constitua locução impessoal com outro (poder,
dever, ir, etc.), fica no infinitivo pessoal e o primeiro em terceira
pessoa do singular: ‘Deve haver muitos cantores na Itália’; ‘Pode
haver muitos casos semelhantes…’” (1959, p. 98).
16. Num passo seguinte, tome-se cuidado, todavia, porque seu sinônimo
existir é pessoal e varia normalmente, de acordo com o termo que o
acompanha, que é o seu sujeito, variação essa que se estende a eventual
auxiliar: a) “Existiu um aluno interessado…”; b) “Existiram vários
alunos interessados…”; c) “Pode existir um aluno interessado”; d)
“Podem existir vários alunos interessados”; e) “Há de existir um aluno
interessado”; f) “Hão de existir vários alunos interessados”; g) “Vai
existir um aluno interessado”; h) “Vão existir vários alunos
interessados”.
17. Fechada essa observação, deve-se dizer que, em outros sentidos, como,
por exemplo, comportar-se, o verbo haver é pessoal e normalmente
conjugado. Ex.: “Os causídicos não se houveram com correção na
defesa de seus clientes”.
18. Talvez pela própria frequência com que o verbo haver é empregado
como impessoal, e, portanto, no singular, o Código Civil de 1916, em
seu art. 1.772, § 2º, não atentou ao fato de ser ele apenas auxiliar de um
verbo pessoal, e o deixou equivocadamente no singular: “… salvo se
da morte do proprietário houver decorrido 20 (vinte) anos…” Corrija-
se: “… houverem decorrido…”. Observe-se que o mencionado artigo
não tem correspondência na atual codificação.
19. Em outro dispositivo de mesma estrutura, todavia, procedeu com acerto
o legislador: “Os frutos e mais produtos da coisa pertencem, ainda
quando separados, ao seu proprietário, salvo se, por motivo jurídico,
especial, houverem de caber a outrem” (CC/1916, art. 528). No atual
código, a locução “houverem de caber” foi substituída por “couberem”
(CC, art. 1.232).
20. Em estruturas como as seguintes é que o leitor pode ter visto o verbo
haver flexionado em textos legais (e de modo correto): a)
“Regressando o ausente nos dez anos seguintes à abertura da sucessão
definitiva, ou algum de seus descendentes ou ascendentes, aquele ou
estes haverão só os bens existentes no estado em que se acharem…”
(CC, art. 39) (o sentido é receberão); b) “A doação feita em
contemplação de casamento futuro com certa e determinada pessoa,
quer pelos nubentes entre si, quer por terceiro a um deles, a ambos, ou
aos filhos que, de futuro, houverem um do outro, não pode ser
impugnada por falta de aceitação, e só ficará sem efeito se o
casamento não se realizar” (CC, art. 546) (o significado é tiverem).
21. Um segundo, importante e corriqueiro caso em que o verbo haver se
flexiona para concordar com o seu sujeito é aquele em que ele é
auxiliar de outro verbo, numa locução verbal. Ex.: “Os causídicos
haviam trabalhado a noite inteira na elaboração da defesa”. Nesse
caso, é fácil perceber a necessidade de concordância do verbo no
plural, quando se substitui a locução por um tempo simples: “Os
causídicos trabalharam a noite inteira na elaboração da defesa”.
22. Vejam-se, em textos legais, alguns exemplos do emprego do verbo
haver como auxiliar de uma locução verbal: a) “Os traslados e as
certidões considerar-se-ão instrumentos públicos, se os originais se
houverem produzido em juízo como prova de algum ato” (CC, art.
218); b) “É anulável a venda de ascendente a descendente, salvo se os
outros descendentes e o cônjuge do alienante expressamente houverem
consentido” (CC, art. 496); c) “Salvo disposição em contrário, o
locatário goza do direito de retenção, no caso de benfeitorias
necessárias, ou no de benfeitorias úteis, se estas houverem sido feitas
com expresso consentimento do locador” (CC, art. 578); d) “São
também responsáveis pela reparação civil: … V – os que gratuitamente
houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente
quantia” (CC, art. 932, V); e) “O proprietário também pode ser
privado da coisa se o imóvel reivindicado consistir em extensa área, na
posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco anos, de considerável
número de pessoas, e estas nela houverem realizado, em conjunto ou
separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz de interesse
social e econômico relevante” (CC, art. 1.228, § 4º); f) “Extinta a
concessão, o proprietário passará a ter a propriedade plena sobre o
terreno, construção ou plantação, independentemente de indenização,
se as partes não houverem estipulado o contrário” (CC, art. 1.375).
Ver Nada a ver ou Nada haver? (P. 483) e Reaver – Como conjugar? (P.
645)

Havia dado – É cacófato?


Ver Cacófato – O que é? (P. 163)

Havia(m)-se passado vários anos?


1. Um leitor afirma ter lido “… haviam-se passado mais de dois anos…” e
indaga: a) Não deveria estar o verbo no singular, por ser impessoal?; b)
Ou vai para o plural, por estar no sentido de ter?
2. Para entender com mais facilidade a questão, vejam-se dois exemplos
com verbos em tempos simples: a) “Passou-se um ano…”; b)
“Passaram-se dois anos”. Neles, não há dificuldade maior, já que o
sujeito é um ano no primeiro exemplo e dois anos no segundo. Porque o
verbo (passar) concorda com seu sujeito (um ano ou dois anos), a
concordância flui com facilidade.
3. Diga-se, em seguida, o exemplo de outro modo: “Tinha-se passado um
ano…”. A novidade é que, em vez de um tempo simples, tem-se um
tempo composto, com o verbo em locução (dois verbos fazendo o papel
de um só): tinha-se passado.
4. Quando se tem uma locução verbal, podem-se afirmar os seguintes
aspectos: a) o primeiro verbo é o auxiliar (tinha), e o segundo é o
principal (passado); b) o verbo auxiliar é aquele que se flexiona na
locução; c) o verbo principal é aquele que carrega o sentido da locução;
d) se o sujeito está no singular (um ano), o verbo – mais especificamente
o auxiliar da locução – fica no singular (tinha-se…); e) se o sujeito está
no plural (dois anos), o auxiliar da locução vai para o plural (tinham-
se…). Ou seja: i) “Tinha-se passado um ano…” (correto); ii) “Tinham-se
passado dois anos…” (correto).
5. Ora, quando o verbo ter é empregado como auxiliar em uma locução: a)
quase sempre pode ser ele substituído pelo verbo haver; b) se o verbo
haver é auxiliar da locução, não é ele, só por isso, verbo impessoal; c)
em realidade, tal verbo se flexiona normalmente, conforme a
necessidade. Exs.: i) “Havia-se passado um ano…” (correto); ii)
“Haviam-se passado dois anos…” (correto).
6. Para resumir a hipótese de estar o verbo haver como auxiliar da locução:
a) não é ele impessoal, mas se flexiona normalmente, não deve
permanecer necessariamente invariável na terceira pessoa do singular,
mas deve concordar com o sujeito da oração.
Ver Concordância verbal (P. 212) e Haver – Quando vai para o plural? (P.
386)

Havia ou Haviam?
Ver Concordância verbal (P. 212) e Haver – Quando vai para o plural? (P.
386)
Hebraísmo
Ver Estrangeirismos (P. 336).

Hei de
Ver Hei-de vencer ou Hei de vencer? (P. 389)

Hei-de vencer ou Hei de vencer?


1. Um leitor, ante as recentes modificações em nossa ortografia, indaga
qual a forma correta: “Hei-de vencer” ou “Hei de vencer”?
2. É certo que, ao longo das décadas, sempre se viu, entre os usuários do
idioma, a duplicidade de emprego das formas da consulta, ora com hífen,
ora sem hífen.
3. O Acordo Ortográfico de 2008, porém, veio sistematizar o assunto
mediante regra específica: “Não se emprega o hífen para ligar as formas
monossilábicas do presente do indicativo do verbo haver à preposição
de”.
4. Confiram-se, assim, as formas do verbo haver no presente do indicativo,
seguido da preposição de, com a indicação de sua correção ou erronia: a)
“Eu hei-de vencer” (errado); b) “Eu hei de vencer” (correto); c) “Tu hás-
de vencer” (errado); d) “Tu hás de vencer” (correto); e) “Ele há-de
vencer” (errado); f) “Ele há de vencer” (correto); g) “Eles hão-de
vencer” (errado); h) “Eles hão de vencer” (correto).

Helenismo
Ver Estrangeirismos (P. 336).

Herói ou Heroi?
Ver Ditongos éi, ói, éu – Quando acentuar? (P. 292)

Hiato
1. É o encontro de sons vogais na palavra, os quais, entretanto, na divisão
do vocábulo, permanecem em sílabas diferentes: sa-ú-de, ra-i-nha, sa-ir.
2. Não importando se a palavra é oxítona ou paroxítona, os hiatos se
submetem a regras especiais de acentuação gráfica.
3. Assim, se o i ou o u, seguidos ou não de s na mesma sílaba, são tônicos e
formam hiato com a vogal anterior, recebem acento gráfico: saí, saíste,
balaústre, saúde.
4. Nesse último caso, porém, se, na mesma sílaba, o i ou o u são seguidos
de outra letra que não s, não há acento: saiu, saindo, sair.
5. Por essa razão, acentuam-se país, países, juíza, juízes, ruína; não, porém,
juiz, ruim, Raul.
6. Por casuísmo injustificável, não se acentua Bahia (ALMEIDA, 1981, p.
37), mas se acentua baía.
7. De igual modo, pelo Acordo Ortográfico de 2008, “não recebem acento
agudo palavras paroxítonas cujas vogais tônicas i e u são precedidas de
ditongo decrescente: feiura, baiuca”.
8. Ultime-se com a observação de que tal regra de acentuação do hiato
também não se aplica, se a sílaba seguinte é começada por nh, como, por
exemplo, em rainha, bainha.
Ver Acentuação gráfica (P. 67) e Bahia (P. 155).

Hífen
1. Quanto à acentuação gráfica de tal palavra, sendo ela paroxítona, seu
singular há de ter acento agudo no i (hífen), de acordo com a 8ª regra do
§ 43 do Formulário Ortográfico, mantida pelo Acordo Ortográfico de
2008 (acentuam-se graficamente os vocábulos paroxítonos terminados
por n).
2. O plural, porém, não traz acento gráfico (hifens), de acordo com a 1ª
observação da 7ª regra do mesmo parágrafo, também mantida pelo novo
sistema de ortografia: “Não se acentuam graficamente os vocábulos
paroxítonos finalizados por ens: imagens, jovens, nuvens”.
3. Não confundir, nesse aspecto, com item (terminada por m), que não é
acentuada nem no singular, nem no plural (itens).
4. Vejam-se, portanto, as seguintes formas: hífen, hifens, item, itens.
5. Quanto a seu emprego, o hífen constitui um sinal diacrítico (-) usado por
simples convenção ortográfica, para ligar elementos de palavras
compostas (couve-flor, melro-de-pescoço-amarelo) ou formações
mediante alguns prefixos (pré-datar e pós-datar), ou para unir pronomes
átonos a verbos (ofereceram-me, vê-lo-ei), ou para, no fim da linha,
separar uma palavra em duas partes (ca-sa).
6. Esse assunto, inicialmente regulamentado pelo Formulário Ortográfico
da Academia Brasileira de Letras, publicado em 1943, foi, como um
todo, alterado pelo Acordo Ortográfico de 2008, embora mantido seu
emprego em diversos casos.
7. Napoleão Mendes de Almeida (1981, p. 138), com respeito ao sistema
anterior, observava, e com razão, que o emprego do hífen nos compostos
era incerto, já que às vezes se tinha uma regra, a qual era desfeita logo
após por uma nota, que remetia a questão para ser solucionada com base
no uso, estabelecendo, assim, um critério falho e contraditório.
8. Embora seja inegável e perceptível o esforço de melhoria nesse sentido,
a confusão ainda continua sendo grande em alguns aspectos, mesmo
após Acordo Ortográfico.
9. As novas diretrizes podem ser assim sintetizadas: a) diminuir ao máximo
seu emprego, quer pela junção dos elementos sem hífen (corréu e
contrarrazões), quer por sua separação em vocábulos distintos, mas sem
hífen (à toa, dia a dia e pôr de sol); b) especificar melhor as regras para
seu uso; c) conferir sistematização mais lógica a seu emprego.
10. Como suas maiores dificuldades estão em alguns prefixos e elementos
denominados falsos prefixos, remete-se o leitor para tais casos,
estudados nesta obra: ab, ad, agro, ante, anti, arqui, auto, co, contra,
entre, extra, hiper, infra, inter, intra, macro, micro, multi, neo, pós, pré,
pseudo, retro, sem, semi, sobre, sub, super, supra, ultra.
11. Observa-se, adicionalmente, por ser de grande interesse nos meios
jurídicos e forenses, a lição de Edmundo Dantès Nascimento: “No
latim clássico, as expressões ex cathedra, extra muros, ex officio e
outras não eram hifenizadas, portanto não o podem ser em língua
nenhuma” (1982, p. 145). Ou seja: o hífen não existia no latim, de
modo que não há motivo algum para seu emprego em expressões
latinas, hoje citadas nos textos jurídicos e forenses.
Ver Anexo: Uso do hífen com base no prefixo e na letra inicial da
palavra seguinte (P. 803).

Hífen e ênclise
1. Um leitor pergunta se, com as modificações trazidas pelo Acordo
Ortográfico de 2008, continua existindo hífen em aplicasse-lhe. Justifica
sua dúvida com o fato de que ele havia entendido que o hífen seria usado
apenas se o elemento seguinte fosse iniciado por h ou por vogal idêntica
à que terminasse o primeiro elemento.
2. E outro leitor indaga se há ou não hífen nas formas: a) “Vou-lhe
contar…”; ou b) ‘Vou lhe contar…”?
3. Em realidade, a dúvida do primeiro leitor se originou do fato de que ele
invocou uma observação feita para um prefixo que se antepõe a uma
palavra e quis aplicá-la à junção de um pronome átono ao verbo por ele
completado, o que constitui realidade totalmente diversa.
4. Explica-se. Quando se tem um prefixo terminado por vogal (contra, por
exemplo), a regra é que há hífen em duas situações: a) se o elemento
seguinte se inicia por h (contra-habitual); b) ou se o elemento seguinte
se inicia por vogal idêntica àquela que encerra o prefixo (contra-
arrazoado). Se não ocorre nenhuma das duas hipóteses, então a junção é
direta, sem hífen algum (contraindicar, contracheque), dobrando-se o r
ou o s por eufonia, para a continuidade do som (contrarrazões e
contrassenso).
5. O caso de ambas as dúvidas ora apreciadas, porém, não concerne a
prefixo, mas diz respeito à junção de um pronome pessoal oblíquo átono
ao verbo por ele completado.
6. E, para esse caso, aplicam-se as seguintes ponderações: a) se o pronome
átono vem antes do verbo (próclise), os vocábulos se separam sem hífen
algum (“Não nos comunicaram a novidade”); b) se, porém, o pronome
átono vem no meio do verbo (mesóclise), há hífen antes e depois do
pronome, para ligá-lo às duas partes em que se divide o verbo (“Dir-lhe-
ei toda a verdade”); c) por fim, se o pronome átono vem depois do verbo
(ênclise), junta-se ele por hífen ao verbo por ele completado (“Disseram-
me que você não viria”).
7. É muito comum ver equívocos de emprego em tais circunstâncias,
incluindo os casos em que, numa locução verbal, o pronome se encontra
em ênclise ao verbo auxiliar; mas o certo é que há uma só regra: se o
pronome vem em ênclise ao verbo (não importando se é auxiliar ou
principal, ou mesmo não há vinculação alguma com locução verbal), é
obrigatória sua conexão por meio de hífen.
8. Por essa razão, é oportuno verificar seu correto emprego (ou mesmo sua
ausência) nos exemplos a seguir, dentre os quais se incluem as dúvidas
trazidas pelos leitores: a) “Nessas situações, aplicasse-lhe a regra
geral…”; b) “Vou-lhe contar o que estou sabendo sobre o assunto”; c)
“Eu lhes estou mostrando meu trabalho”; d) “Eu estou-lhes mostrando
meu trabalho”; e) “Eu estou mostrando-lhes meu trabalho”; f) “As
situações estão-se desenvolvendo perpetuamente”; g) “Vou-lhe permitir
sair mais cedo”; h) “Quer-me fazer o favor de sair daí?”; i) “Quer fazer-
me o favor de sair daí?”; j) “Saiu, fazendo-me ameaças”.

Hiper – Com hífen ou sem?


1. Com o prefixo hiper, usa-se o hífen apenas em dois casos: a) quando o
elemento seguinte se inicia por h: hiper-hepático, hiper-hidratação,
hiper-humano; b) quando o elemento seguinte começa com a mesma
letra que finda o prefixo: hiper-rancoroso, hiper-realismo, hiper-rugoso.
2. Por outro lado, une-se, de modo direto e sem emprego de hífen, quando
(i) o elemento seguinte não começa por h, (ii) nem se inicia por outra
consoante qualquer, que não aquela que finaliza o prefixo: hiperbásico,
hipercalcificação, hiperdesenvolvido, hiperflexão, hiperglicemia,
hipermecânico, hipersalivação, hipersensibilidade.
3. De igual modo, junta-se sem hífen, quando o elemento seguinte se inicia
por vogal: hiperacidez, hiperagressividade, hiperemocional, hiperesfera,
hiperinfeccionado, hiperinflação, hiperorgânico, hiperóxido,
hiperurbanismo.

Hipercorreção
1. No falar cotidiano, as pessoas, às vezes, são traídas pelo próprio
sentimento acerca do que seja falar e escrever bem o Português.
2. Em outras palavras, empregando determinada forma de se exprimir, “o
agente erra supondo estar certo, em oposição a outra, que na verdade é a
correta”.
3. Assim, por exemplo, emprega ele (SILVA, L., 1991, p. 169), de modo
equivocado, pégada (por pegada), rúbrica (por rubrica), súbida honra
(por subida honra), “fazem dois anos” (por faz dois anos), “eu não me
simpatizo com ele” (por eu não simpatizo com ele).

Hipotizar – Existe?
Ver Existe em português? (P. 346)

Hoje é 1º…
Ver Datas (P. 250).

Hoje é dois – Está correto?


1. Em expressões dessa natureza, três construções são igualmente possíveis
e corretas quanto à concordância verbal: a) “Hoje é dia dois de
fevereiro”; b) “Hoje são dois de fevereiro”; c) “Hoje é dois de fevereiro”.
2. No primeiro exemplo, a concordância se faz normal e diretamente com a
palavra dia, que, de modo expresso, consta do texto.
3. No segundo caso, o verbo ser concorda com o numeral dois, resultando
o sentido de “Hoje são passados dois dias do mês de fevereiro”.
4. Na última frase, o numeral cardinal (dois) substitui o numeral ordinal
(segundo), de modo que o significado da frase é “Hoje é o segundo dia
do mês de fevereiro”.
5. Justificando as referidas concordâncias, Aires da Mata Machado Filho
(1969a, p. 577-8) observa, por primeiro, que, em hoje são dez, a questão
“é puramente tradicional”; ao depois, quanto à estrutura hoje é dez,
refere que, embora se trate de emprego “achadiço entre os brasileiros,
não tem lugar no meio português”.
Ver Datas (P. 250).

Holanda – Estive em ou na?


Ver França – Estive em ou na? (P. 363)

Homófonas
1. Evidenciando aspecto que tem importância no campo da semântica e da
ortografia, homófonas são palavras de mesma pronúncia, mas de grafia
diversa.
2. Assim, para exemplificar, caçar significa apanhar vivo para prender ou
matar, enquanto cassar quer dizer anular, invalidar. Exs.: a) “Foram ao
pantanal para caçar jacarés”; b) “A Câmara cassou o mandato do
deputado por falta de decoro parlamentar”.
3. Não confundir com as homógrafas, que são palavras de mesma grafia,
mas de pronúncia diferente: pôde (pretérito perfeito) e pode (presente do
indicativo); colher (verbo) e colher (substantivo).
4. De igual modo, também não confundir com as parônimas, que são
palavras de grafia e pronúncia parecidas com as de outra, mas de sentido
totalmente diverso (arrear e arriar, deferir e diferir, eminência e
iminência).

Homógrafas
1. Aspecto que tem importância no campo da semântica e da ortografia,
homógrafas são palavras de mesma grafia, mas de pronúncia diferente:
pôde (pretérito perfeito) e pode (presente do indicativo); colher (verbo) e
colher (substantivo); o almoço (substantivo) e eu almoço (verbo); o
interesse (substantivo) e que eu me interesse (verbo). Exs.: a) “Por causa
de forte gripe, o advogado não pôde atuar no júri ontem; mas hoje ele
pode”; b) “O interesse do ordenamento jurídico é preservar a boa-fé”; c)
“É preciso que o autor, em suma, se interesse pela causa”.
2. Não confundir com homófonas, que são palavras de mesma pronúncia,
mas de grafia diversa; assim, caçar significa apanhar vivo para prender
ou matar, enquanto cassar quer dizer anular, invalidar.
3. De igual modo, também não confundir com as parônimas, que são
palavras de grafia e pronúncia parecidas com as de outra, mas de sentido
totalmente diverso (arrear e arriar, deferir e diferir, eminência e
iminência).
Hora
1. Na conformidade com lição de Domingos Paschoal Cegalla,
“recomenda-se usar o artigo em expressões do tipo: das 7 às 11 horas,
por volta das 21 horas, entre as 8 e as 9 horas, da zero às 5 horas, a
partir das 2 horas”.
2. Segue tal autor com a observação de que, “todavia, não constitui erro
omitir o artigo nestas expressões e construir: ‘O túnel ficará fechado a
partir de zero hora do dia 15’”.
3. Continua dizendo que se pode, “quando necessário, precisar a hora por
meio das expressões da madrugada, da noite, da tarde, da manhã:
‘Eram duas horas da madrugada’”.
4. Quanto à adequada escrita, anota que se deve “escrever: às 18h (e não às
18:00h), às 10h (e não às 10:00h), às 9h30 (ou às 9h30min)”; e que, no
plural, “grafa-se h (sem s nem ponto): às 5h, às 20h, etc.” (CEGALLA,
1999, p. 194).
5. Observe-se que, nas formas contraídas de preposição e artigo (das…às),
ocorre a crase: “das 7 às 11 horas”. Se, entretanto, preferirmos construir
“de 7 a 11 horas”, não ocorre o artigo (de…a), mas apenas preposição,
motivo pelo qual não há crase.
Ver Abreviatura, Abreviação e Sigla – O que é e Como usa? (P. 55) e Por
ora ou Por hora? (P. 580)

Hora do réu falar – Está correto?


1. Trata-se de expressão equivocada, devendo ser corrigida para hora de o
réu falar, ou hora de falar o réu.
Ver É hora da onça beber água ou É hora de a onça beber água? (P. 296)

Hora extra
Ver Extra (P. 349).

Hóspede – Hospital – Hospitaleiro – De onde vêm?


1. Um leitor quer saber se a palavra hospitaleiro, empregada na expressão
“povo hospitaleiro”, vem do mesmo radical de hospital, ou se vem de
hóspede.
2. Ora, em latim, existia a palavra hospes (com o genitivo hospitis), com o
significado de quem recebe um estrangeiro ou acolhe um estranho.
3. Com a forma original do radical em latim e portando em si algo do
conteúdo semântico original, formaram-se diversos vocábulos, alguns no
próprio idioma de origem (como hospital).
4. Outros vocábulos, ainda com o referido radical sem alteração, formaram-
se já no idioma português (como hospitaleiro [século XIII],
hospitalidade [século XIV] e hospitalar), todos mantendo em si algo da
acepção original de acolhimento ou auxílio.
5. Em época posterior, mas ainda no início do idioma, vieram outros
vocábulos, então com o abrandamento da consoante t para d (como
hóspede, hospedar, hospedaria e hospedeiro).
6. Respondendo diretamente à indagação do leitor: a) todos os vocábulos
por ele trazidos para apreciação se originam de um mesmo radical latino
(hospes [com o genitivo hospitis]); b) o vocábulo hospital data do início
da formação do nosso idioma; c) a palavra hospitaleiro é do século XIII.

Houveram filósofos – Está correto?


Ver Haver – Quando vai para o plural? (P. 386)

Houve vários alunos – Está correto?


1. Essa é a forma correta do verbo haver (no singular), por ser impessoal,
não variando para o plural, mesmo que acompanhado de termo que se
flexione.
Ver Haver – Quando vai para o plural? (P. 386)

Hum ou Um?
1. É comum encontrar, tanto em cheques, como na especificação por
extenso de números em documentos contábeis, a grafia hum para o
numeral cardinal um.
2. Vale, desde logo, lembrar a lição de José de Nicola e Ernani Terra a esse
respeito: “Trata-se de um equívoco injustificável. O numeral cardinal
admite apenas a forma um”.
3. E complementam tais autores: “existe a palavra hum: trata-se de uma
interjeição e, via de regra, indica desconfiança, impaciência, dúvida:
‘Hum! Isto me cheira a trapaça’” (NICOLA; TERRA, 2000, p. 126).
4. Observando que “entre os numerais cardinais nunca se fala em hum,
forma arcaica que bancários e banqueiros tentam ressuscitar para evitar
fraude”, lembra Antonio Henriques (1999, p. 196) que “nem mesmo a
Lei do Cheque (n. 2.591, de 7/8/1972) faz tal exigência”. E adverte esse
autor: “que se evitem fraudes, mas não atropelando a linguagem”.
5. Releva acrescentar que o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa,
da Academia Brasileira de Letras, órgão incumbido oficialmente de
determinar a existência dos vocábulos em nosso idioma, além de sua
grafia oficial, registra, sim, a forma hum, mas apenas o faz na qualidade
de interjeição (2009, p. 444), o que implica dizer que não existe no
vernáculo tal forma como numeral.
I
Ibero ou Íbero?
1. Quanto à prosódia, deve-se pronunciar tal palavra como paroxítona (bé)
e não como proparoxítona (í), rimando, assim, com bolero.
2. Esse é o entendimento de Silveira Bueno (1938, p. 16).
3. Tal é também o registro do Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, veículo oficial ordenador
do modo de pronunciar e grafar as palavras em nosso idioma, o qual faz
questão de sinalizar entre parênteses a sílaba tônica do vocábulo (2009,
p. 445).
4. Pedro A. Pinto lembra um verso dos Lusíadas, que estaria errado, se se
admitisse outra pronúncia: “Que o Ibero, o vio e o Tejo amedrontados”
(1924, p. 14).

Idéia ou Ideia?
Ver Ditongos éi, ói, éu – Quando acentuar? (P. 292)

Idem ou Ibidem?
1. Idem é pronome latino – e não adjetivo, como, entre outros, considera o
dicionarista Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (s/d, p. 738) –
correspondente à forma nominativa neutra do masculino isdem (com o
sentido de precisamente aquele) e à forma feminina eadem, com ideia
reforçativa, e tem tal vocábulo, em suma, o significado de o mesmo, a
mesma coisa.
2. É usado nas citações, para indicar o mesmo autor, da mesma forma, e
isso com o intuito de evitar repetições.
3. Sua pronúncia é paroxítona (ídem).
4. Sua abreviatura é id., assim com ponto.
5. Por pertencer a outro idioma, a rigor é palavra que deve vir entre aspas,
em itálico, negrito, sublinha ou com grifo indicador de tal circunstância.
6. Já ibidem é advérbio latino e tem o significado de aí mesmo, no mesmo
lugar.
7. Usado em citações, tem o sentido de na mesma obra, capítulo ou página
a que anteriormente se fez referência.
8. Sua pronúncia é paroxítona (ibídem), não proparoxítona (íbidem).
9. Sua abreviatura costuma ser ib., também assim com ponto.
10. Antonio Henriques (1999, p. 89) também lhe aceita ibid. por
abreviação.
11. O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia
Brasileira de Letras, que é o veículo oficialmente incumbido de
determinar quais as palavras que integram nosso idioma, refere-a como
advérbio latino, excluindo-a, desse modo, de nosso léxico (2009, p.
862).
12. Por pertencer a outro idioma, a rigor é palavra que, quando escrita por
extenso, deve vir entre aspas, em itálico, negrito, sublinha ou com grifo
indicador de tal circunstância.
13. Para distingui-la de idem, assim leciona Arnaldo Niskier (1992, p. 42):
“Essas palavras são encontradas com frequência em notas
bibliográficas. Normalmente, idem significa o mesmo, da mesma
forma, e ibidem no mesmo lugar; em notas bibliográficas, idem
significa o mesmo autor, ibidem na mesma obra (ou na mesma
página)”.

Ídolo tem feminino?


1. Um leitor indaga se a palavra ídolo tem feminino.
2. Para não haver dúvidas ou problemas, observa-se, num primeiro aspecto,
que há, em português, substantivos que têm uma forma definida e
específica para o masculino e outra para o feminino: o operário, a
operária.
3. Num segundo aspecto, há os chamados comuns de dois, ou comuns de
dois gêneros, que têm uma só forma para o masculino e para o feminino,
e a distinção se faz pelo artigo que o precede ou por outro determinativo
acompanhante: virtuoso artista, a artista.
4. Num terceiro aspecto, há o epiceno, que é o substantivo de um só
gênero, e a distinção se faz pelo acréscimo dos adjetivos macho e fêmeo:
cobra macha, jacaré fêmeo.
5. Por fim, lembre-se o sobrecomum, que é o substantivo de um só gênero,
relativo a seres de ambos os sexos, sem variação de forma e sem
distinção por artigo ou por acréscimo de determinativo acompanhante: o
bebê, a criança, o indivíduo, a pessoa, a testemunha, a vítima.
6. Respondendo diretamente à indagação do leitor: ídolo é um
sobrecomum, de modo que, sem variação de forma e sem distinção por
artigo ou por acréscimo de determinativo acompanhante, diz respeito
tanto a pessoas do sexo masculino como a pessoas do sexo feminino.
Exs.: a) “Mílton Nascimento é o ídolo de muita gente” (correto); b) “Elis
Regina é o ídolo de muita gente” (correto).

i. e.
1. Em português e em outros idiomas, é abreviação da expressão latina id
est.
2. Tem o significado das expressões explicativas isto é, ou seja, a saber, em
outras palavras. Ex.: “A vítima reagiu, i. e., voltou-se contra o agressor
e o dominou”.
3. As letras de tal abreviatura são escritas com minúsculas.

Igreja do Bonfim ou igreja do Bonfim?


Ver Rua Caiubi ou rua Caiubi? (P. 675)

Ileso
1. Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 18) atribui a esse vocábulo o timbre
fechado na pronúncia (ê).
2. Domingos Paschoal Cegalla, todavia, preconiza que “a pronúncia correta
é iléso, com o e aberto” (1999, p. 197).
3. Essa também é a lição de Luís A. P. Vitória (1969, p. 132): “pronuncia-
se o e com som aberto (iléso)”.
4. Espancando dúvidas, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa,
da Academia Brasileira de Letras, que é o veículo oficial ordenador do
modo de grafar e pronunciar as palavras em nosso idioma, admite ambas
as pronúncias (2009, p. 448): com o e fechado (ê) e com o e aberto (é).

Ilidir ou Elidir?
Ver Elidir ou Ilidir? (P. 300)

Ilustrado órgão do Ministério Público – Está correto?


Ver Adjetivação desnecessária (P. 80).

Ilustríssima – Admite crase?


Ver Excelentíssima – Admite crase? (P. 343)

Ilustríssimo – Aplica-se a entidades?


1. Uma leitora indaga, em síntese, se pronomes de tratamento (como
Ilustríssimo) se aplicam a órgãos e entidades, ou se apenas podem ser
relacionados a pessoas.
2. Ora, os pronomes de tratamento são maneiras formais e cerimoniosas
para tratar pessoas. Exs.: a) “Excelentíssimo Juiz: a testemunha não
praticou o ato de que é acusada”; b) “Ilustríssimo Senhor Supervisor
desse Órgão Ambiental: requeiro a possibilidade de intervir no
procedimento administrativo”.
3. Tais pronomes, entretanto, não se aplicam a órgãos e entidades, de modo
que são incorretos os seguintes exemplos: a) “Requeiro ao
Excelentíssimo Juízo o depoimento da testemunha”; b) “Requeiro ao
Ilustríssimo Órgão Ambiental a possibilidade de intervir no
procedimento administrativo”.
4. A par disso, observa-se que, quando se trata com órgãos e entidades, por
um lado, há quem preconize a eliminação dessa adjetivação
desnecessária, “cheia de mesuras e que soa falso, sem nada acrescentar
às peças forenses”; para tais pessoas, “tudo isso são salamaleques, hoje
vazios de significação verdadeira”. Ou ainda: “autênticos preciosismos
são essas postiças reverências, sem as quais em nada fica sacrificada a
cortesia do advogado, nem a majestade da Justiça e a dos que a servem
com elevação e dignidade” (ROSA, 1993, p. 98-99).
5. Todavia, para quem, mesmo assim, quer adjetivar tais órgãos e
entidades, anota-se que a eles não se aplicam o Ilustríssimo nem o
Excelentíssimo, mas outros adjetivos: digna Autoridade, douta
Curadoria, ilustrado órgão do Ministério Público, colenda Câmara,
egrégio Tribunal…
6. Parece oportuno acrescentar que, como regra, excelentíssimo se emprega
para autoridades e ocupantes de cargos de importância (arcebispos,
bispos, deputados, senadores, prefeitos, vereadores, governadores de
Estado, juízes de direito, desembargadores, ministros de tribunais,
generais, etc.). A ele corresponde o tratamento Vossa Excelência.
7. Já ilustríssimo normalmente se aplica a autoridades ocupantes de outros
cargos e pessoas que não ocupam cargos específicos nem exercem
efetiva autoridade (cidadãos comuns, cônsules, coronéis, diretores de
escola, etc.). A ele corresponde o tratamento Vossa Senhoria.

Imbróglio – Existe em Português?


1. Não é novidade para o leitor – até porque têm sido constantes as dúvidas
dessa natureza – que a autoridade para listar as palavras oficialmente
existentes em nosso léxico é o Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de Letras, órgão esse que
tem a responsabilidade legal de controlar nosso vocabulário, em
obediência à velha Lei Eduardo Ramos, de n. 726, de 8/12/1900.
2. De modo específico para o vocábulo em epígrafe, é preciso dizer, por um
lado, que o VOLP registra como existente em nosso idioma a palavra
imbróglio (2009, p. 449), exatamente assim com essa grafia.
3. Uma análise do modo como ela vem registrada no VOLP torna
obrigatórias as seguintes conclusões: a) a palavra está aportuguesada
oficialmente, de modo que integra nosso léxico para todos os efeitos; b)
a forma como deve ser escrita é imbróglio, assim com acento; c) pela
própria indicação do VOLP entre parênteses, o gl se pronuncia como lh,
vale dizer, assim como olho (do verbo olhar); d) por ser palavra que
integra oficialmente o idioma, não deve ser escrita em itálico, negrito,
com sublinha ou entre aspas, como ocorreria com um vocábulo
pertencente a outro idioma.
4. Qualquer discussão sobre o adequado aportuguesamento da palavra –
alguém poderia sugerir imbrolho para manter fidelidade aos critérios de
grafia em nosso idioma – só pode dar-se no plano científico, como
normalmente se dá, entre os juristas, no que tange à correção e
adequação de uma outra lei qualquer.
5. O valor de tal discussão, entretanto, terá o mesmo relevo que tem outra
discussão sobre um texto de lei: só pode ser feita no plano científico e
com vistas a eventual modificação futura de seus termos por via de
alteração da lei.
6. Ou seja: na prática, continuamos obrigados a cumprir os termos da
legislação em vigor, até que venha a ser modificada por outra lei. Vale
dizer: continuaremos obrigados a escrever imbróglio e a pronunciar o gl
como lh, até que venha – e isso apenas se vier – alguma modificação no
VOLP.

Imerecer – Existe?
Ver In (P. 402).

Imexível – Existe?
Ver Existe em português? (P. 346)

Iminência ou Eminência?
Ver Eminência ou Iminência? (P. 308)

Iminente ou Eminente?
Ver Eminente ou Iminente? (P. 308)

Imissão na posse ou Imissão de posse?


1. O raciocínio gramatical correto é que se imite alguém na posse de algum
bem; por isso se há de dizer, normalmente, imissão na posse, e não
imissão de posse.
2. Muito embora Francisco Fernandes e Celso Pedro Luft não registrem o
regime de tal substantivo em suas utilíssimas obras sobre regência
nominal, Eliasar Rosa (1993, p. 78) observa que o Código de Processo
Civil de 1939 incidiu no equívoco de referir imissão de posse, e não
imissão na posse, e que o de 1973 corrigiu tal lapso.
3. Em lição conjunta para o verbo imitir e para o substantivo imissão,
observa Luciano Correia da Silva que “na praxe forense vem-se
repetindo o errôneo dizer ‘imissão de posse’, já censurado por quantos
têm escrito e falado sobre o assunto. O verbo imitir constrói-se com a
preposição em: imitir na posse. Daí ‘imitidos na posse’ e ‘imissão na
posse’” (1991, p. 89).
4. Por seu lado, embora reconheça que “o correto seria imissão na posse,
pois imitir é um verbo de movimento”, Antonio Henriques, em lição
permissiva, anota que, “em direito, fala-se em imissão de posse, ato pelo
qual a coisa, que estava em poder de outrem, volta ao dono” (1999, p.
90).
5. Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 197), talvez alheio à precisão do
linguajar jurídico e forense, fala, de modo expresso, em imissão de
posse.
6. E o desembargador Geraldo Amaral Arruda (1997, p. 116-7), estudioso
das questões gramaticais concernentes ao linguajar forense, emprega
imissão de posse, registrando-a como expressão sinônima de imissão na
posse, insistindo taxativamente em que, em tais casos, “a regência
nominal comporta tanto a preposição de como em, de acordo com a ideia
que se pretende expressar”, muito embora exemplifique sem deixar clara
a exata extensão das diferenças semânticas e de estrutura das frases que
alinha: a) “Visa a ação à imissão de alguém na posse de determinado
imóvel”; b) “Para obter a posse do imóvel o proprietário move ação de
imissão de posse”.
7. Se, entretanto, se verificar seu emprego no Código de Processo Civil,
diploma que buscou ao mesmo tempo o apuro científico e a precisão
gramatical, ver-se-á que nele se emprega sempre a regência com a
preposição em: a) “… expedir-se-á, em favor do credor, mandado de
imissão na posse…” (art. 625); b) “O devedor oferecerá os embargos no
prazo de dez dias, contados: … da juntada aos autos do mandado de
imissão na posse…” (art. 738, III); c) “Comete atentado a parte que no
curso do processo: I – viola penhora, arresto, sequestro ou imissão na
posse…” (art. 879, I).
8. Ante esse quadro, embora não se possa condenar como incorreta a
expressão imissão de posse, é fácil perceber seu descompasso com o
próprio raciocínio lógico da regência do vocábulo, assim como com o
apuro gramatical que busca permear a redação das leis na atualidade.
Ver Emissão ou Imissão? (P. 309)

Imissão ou Emissão?
Ver Emissão ou Imissão? (P. 309)

Imitir ou Emitir?
Ver Emitir ou Imitir? (P. 309)

Imoral ou Amoral?
Ver Amoral ou Imoral? (P. 114)

Impactante – Existe?
Ver Existe em português? (P. 346)

Impagamento – Existe?
1. Trata-se de palavra que não existe.
Ver In (P. 402).

Impagar – Existe?
1. Sem opinar no sentido da correção ou incorreção do vocábulo, Eliasar
Rosa (1993, p. 79) apenas observa que nossos dicionários não registram
esse verbo, muito embora o façam com os adjetivos pagável e
impagável, mas que, no meio jurídico, é comum que se prefixe o verbo
pagar com o negativo im, daí sendo criado o verbo impagar.
2. Em realidade, in é prefixo latino de valor negativo e tem função nominal
(SARAIVA, 1993, p. 586), isto é, pode servir para criar neologismos, por
via erudita, desde que estes sejam advérbios, adjetivos ou substantivos
derivados de outros nomes já existentes. Exs.: imerecido, impagável,
inaplicável, induvidoso, inexigido.
3. Por se tratar de prefixo nominal, porém, não se presta, por via de regra, à
criação de novos verbos pelo processo já referido, sendo, por
conseguinte, errôneos vocábulos como imerecer, impagar, inaplicar,
induvidar, inexigir, inocorrer.
4. Excepcionalmente, aparecem alguns verbos com o prefixo in tendo valor
negativo, como imortalizar, impronunciar, incapacitar, inutilizar, dentre
outros que se discriminam nos dicionários; tal elenco, porém, deve ser
mantido como rol de exceções, não se prestando ao estabelecimento de
nova regra para formação de palavras.
5. Observe-se, por fim, que o Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, órgão incumbido
oficialmente de determinar a existência dos vocábulos em nosso idioma,
além de sua grafia oficial, muito embora registre o adjetivo impagável,
não faz constar o verbo impagar (2009, p. 450).
Ver In (P. 402).

Impecilho
1. Trata-se de palavra que não existe.
Ver Empecilho ou Impecilho? (P. 311)

Impede-nos de ser ou Impede-nos de sermos?


1. Indaga-se qual a forma correta: a) “Isso não nos tira o apanágio de
ser…”; b) “Isso não nos tira o apanágio de sermos…”. Em outras
palavras, quer-se saber se o infinitivo (o próprio nome do verbo, como
em amar, vender ou partir), no caso, vem flexionado ou não.
2. Lance-se aqui uma primeira lição genérica para emprego do infinitivo:
“muitas vezes, a opção entre a forma flexionada ou não flexionada é
estilística e não gramatical. Quando mais importa a ação, prefere-se a
forma não flexionada; quando se realça o agente da ação, usa-se a forma
flexionada” (NADÓLSKIS; TOLEDO, 1998, p. 125).
3. De modo específico para o caso da consulta, veja-se que o que há é um
infinitivo ser (não flexionado) ou sermos (flexionado), precedido pela
preposição de. E a questão é resolver qual empregar.
4. Ensina Artur de Almeida Torres que “o infinitivo poderá variar ou não, a
critério da eufonia, se vier precedido das preposições sem, de, a, para ou
em. Exs.: a) “Vamos com ele, sem nos apartar um ponto” (Padre Antônio
Vieira); b) “… os levavam à pia batismal sem crerem no batismo”
(Alexandre Herculano); c) “Careciam de obstar a que se escrevesse o
que faltava do livro” (Alexandre Herculano); d) “Os manuscritos de
Silvestre careciam de serem adulterados” (Camilo Castelo Branco); e)
“Obrigá-los a voltar o rosto contra os árabes” (Alexandre Herculano);
f) “… obrigava a trabalharem gratuitamente” (Alexandre Herculano);
g) “… fanatizados que aparecem sempre para justificar o bom quilate
da novidade” (Camilo Castelo Branco); h) “… tantos que nasceram
para viverem uma vida toda material” (Alexandre Herculano).
5. Respondendo, de modo específico, à indagação feita, como nenhuma das
formas propostas parece contrariar a eufonia, pode-se afirmar que estão
gramaticalmente corretas ambas as formas: a) “Isso não nos tira o
apanágio de ser”; b) “Isso não nos tira o apanágio de sermos”. No
primeiro caso (infinitivo não flexionado), realça-se a ação; no segundo
(infinitivo flexionado), o que se põe em relevo é o agente dessa ação.
6. Vale uma observação final: se o leitor teve dúvidas no caso concreto e se
tem dificuldade para diferenciar as situações e de proceder à opção
adequada, saiba que não está sozinho nessa questão e console-se com a
precisa e preciosa observação de Pasquale Cipro Neto e Ulisses Infante
(1999, p. 491), quando lecionam que “o infinitivo constitui um dos casos
mais discutidos da língua portuguesa”, de modo que “estabelecer regras
para o uso de sua forma flexionada, por exemplo, é tarefa difícil”, e, “em
muitos casos, a opção é meramente estilística”.

Impedir
1. Mário Barreto leciona que, com tal verbo, tanto a pessoa quanto a coisa
podem ser objetos diretos ou objetos indiretos; não poderão coexistir,
entretanto, em mesma frase, dois objetos diretos ou dois objetos
indiretos.
2. Assim, vejam-se as seguintes construções e a assinalação de sua
correção ou erronia: a) “A testemunha impediu o réu de consumar o
crime” (correto); b) “A testemunha impediu ao réu consumar o crime”
(correto); c) “A testemunha impediu o réu consumar o crime” (errado);
d) “A testemunha impediu ao réu de consumar o crime” (errado).
3. Tal estruturação sintática se dá com outros verbos, como, por exemplo,
encarregar (BARRETO, 1954a, p. 271).
4. Os exemplos registrados por Francisco Fernandes (1971, p. 376)
confirmam a possibilidade dessa variação de complementos, podendo
tanto a pessoa quanto a coisa ser objeto direto ou objeto indireto: a)
“Quando for que a invernia impeça os camponeses de saírem do lar”
(Castilho); b) “Impeço-lhes sempre as diversões mais inocentes” (Mário
Barreto).
5. Para Domingos Paschoal Cegalla, a construção mais normal é impedir
alguém de alguma coisa, sendo “correta, porém menos usada, a regência
impedir alguma coisa a alguém” (1999, p. 198).
6. E Celso Pedro Luft (1999, p. 325) refere que, por cruzamento de ambas
as regências, ocorre impedir a alguém de algo, uma “construção
anômala, com objetos indiretos de coisa e pessoa, como no equivocado
exemplo de Camilo Castelo Branco: ‘Em boa razão nada lhes impedia
de serem imortais’”.
7. Os textos de lei, por via de regra, registram a construção impedir alguém
de algo, com objeto direto (às vezes sujeito na voz passiva) de pessoa e
objeto indireto de coisa, com a preposição de: a) “Essa vedação não
impede a União de condicionar a entrega de recursos ao pagamento de
seus créditos” (CF/88, art. 160, parágrafo único); b) “Reputa-se justa
causa o evento imprevisto, alheio à vontade da parte, o que a impediu de
praticar o ato por si ou por mandatário” (CPC/1973, art. 183, § 1º); c)
“O empregado eleito para cargo de administração sindical ou
representação profissional, inclusive junto a órgão de deliberação
coletiva, não poderá ser impedido do exercício de suas funções…”
(CLT, art. 543); d) “O penhor da ação não impede o acionista de exercer
o direito de voto…” (Lei 6.404, de 15/12/76, art. 113).
8. Adalberto J. Kaspary (1996, p. 177), todavia, em preciosa obra, observa
que se encontra no Código de Processo Civil “um exemplo da
construção impedir a alguém de, com o objeto que representa a pessoa
introduzido pela preposição a: “A sub-rogação impede ao segurado, se
não receber o crédito do devedor, de prosseguir na execução, nos
mesmos autos, penhorando outros bens do devedor” (CPC/1973, art.
673, § 2º).
9. De todo o exposto, todavia, decorre a conclusão de que o melhor é seguir
o ensinamento majoritário e fazer da coisa e da pessoa ou um objeto
direto ou um objeto indireto, indiferentemente; mas se deve proceder de
tal modo, que não coexistam, em mesma frase, dois objetos diretos ou
dois objetos indiretos.

Imperativo ou Indicativo
Ver Registre-se ou Registra-se? (P. 651)

Impetrar – Quando se usa?


1. Um leitor viu empregado o verbo impetrar indicando atividade diversa
do ajuizamento de mandado de segurança ou de habeas corpus e indaga
se é correto tal uso.
2. Anote-se, de início, que Maria Helena Diniz (1998, p. 775), além da
acepção de “requerer perante autoridade competente habeas corpus ou
mandado de segurança”, aponta dois outros sentidos jurídicos para o
verbo impetrar: a) “interpor recurso”; b) “requerer decretação de
determinada medida judicial”.
3. Nos repositórios legais, por um lado, esse verbo atende com exatidão ao
significado de ajuizamento de mandado de segurança, como se pode
notar em dispositivo constitucional: “… o mandado de segurança pode
ser impetrado por…” (CF/88, art. 5º, LXX).
4. Nesse mesmo sentido é usado em dois dispositivos da lei específica que
rege o instituto: a) “O titular de direito líquido e certo decorrente de
direito, em condições idênticas, de terceiro, poderá impetrar mandado
de segurança a favor do direito originário, se o seu titular não o fizer”
(Lei 1.533, de 31/12/51, art. 3º); b) “Em caso de urgência, é permitido,
observados os requisitos desta Lei, impetrar o mandado de segurança
por telegrama ou radiograma ao juiz competente…” (Lei 1.533, de
31/12/51, art. 4º).
5. Quando se trata de habeas corpus, a legislação também costuma destinar
ao mencionado verbo a acepção de seu ajuizamento: “O habeas corpus
poderá ser impetrado por qualquer pessoa, em seu favor ou de outrem,
bem como pelo Ministério Público” (CPC/1973, art. 654).
6. Por outro lado, importa acrescentar que o Código Civil de 1916 – célebre
pelo apuro linguístico decorrente da polêmica travada entre Rui Barbosa
e seu professor, Ernesto Carneiro Ribeiro – aplicou tal verbo com a
simples acepção de requerer, ou mesmo de ajuizar outra modalidade de
demanda: “O possuidor, que tenha justo receio de ser molestado na
posse, poderá impetrar ao juiz que o segure da violência iminente…”
(CC/1916, art. 501). Tal dispositivo não encontra correspondente na
codificação atual.
7. O Código de Processo Civil de 1973, reconhecido pelo esforço de apuro
científico e busca de perfeição terminológica, também o usou à margem
do seu sentido original de ajuizamento de mandado de segurança ou de
habeas corpus: “O possuidor direto ou indireto, que tenha justo receio de
ser molestado na posse, poderá impetrar ao juiz que o segure da
turbação ou esbulho iminente” (CPC/1973, art. 932).
8. Também o Código de Processo Penal Militar, ao falar da assistência na
ação penal, após explicitar diversas medidas que se vedarão ao
assistente, assevera que ele “não poderá, igualmente, impetrar recursos,
salvo de despacho que indeferir o pedido de assistência” (CPPM, art. 65,
§ 1º).
9. Em síntese: muito embora normalmente o verbo impetrar queira dizer o
ajuizamento de mandado de segurança ou de habeas corpus, o certo é
que também ele pode ser usado para indicar a interposição de recursos, o
requerimento de outras providências judiciais e o aforamento de
demandas de outra natureza.

Impingir
1. Basicamente significa fazer aceitar pela força ou fazer passar por
verdade uma mentira. Ex.: “O réu impingiu um logro à vítima”.
2. Em sua conjugação verbal, apresenta problemas de ortografia.
3. Diferentemente dos verbos cujo radical termina em j – consoante essa
que tem o mesmo som antes de todas as vogais (viajo, viajas, viajemos,
viajeis, viajem) – os verbos terminados em gir, para continuidade do som
da consoante final do radical, precisam da representação gráfica j antes
de a ou de o. Assim: impinjo, impinges, impinge, impingimos, impingis,
impingem (presente do indicativo); impinja, impinjas, impinja,
impinjamos, impinjais, impinjam (presente do subjuntivo); impinge,
impinja, impinjamos, impingi, impinjam (imperativo afirmativo); não
impinjas, não impinja, não impinjamos, não impinjais, não impinjam
(imperativo negativo).
4. Como essas dificuldades gráficas apenas ocorrem nas formas acima
referidas, não deve haver preocupação com a grafia em outros tempos:
impingia (pretérito imperfeito), impingirei (futuro do presente),
impingiria (futuro do pretérito), impingido (particípio), impingindo
(gerúndio), impingi (pretérito perfeito), impingira (pretérito mais-que-
perfeito), impingisse (imperfeito do subjuntivo), impingir (futuro do
subjuntivo).
5. Seguem as mesmas observações diversos outros verbos: erigir, exigir,
infligir, infringir, insurgir-se, transigir.

Implicar
1. De grande uso nos meios jurídicos, é palavra que precisa ser observada
quanto à regência verbal em certas acepções.
2. Tanto no sentido de acarretar, originar, produzir, ser causa de, como no
significado de dar a entender, fazer supor, é transitivo direto, “devendo
ser repelida a preposição em virtude da transitividade direta do verbo
nessa acepção” (DAMIÃO; HENRIQUES, 1994, p. 50). Exs.: a) “A
nulidade da obrigação principal implica a das obrigações acessórias”
(CC/1916, art. 153, e CC/2002, art. 184); b) “Os precedentes daquele
juiz implicam grande honestidade” (Caldas Aulete); c) “Considera-se
desmembramento a subdivisão de gleba em lotes destinados a
edificação, com aproveitamento do sistema viário existente, desde que
não implique a abertura de novas vias…” (art. 2º, § 2º, da Lei 6.766, de
19/12/79).
3. Não encontra respaldo sua utilização como transitivo indireto (com a
preposição em), sendo errôneos os seguintes empregos: a) “A nulidade
da obrigação principal implica na das obrigações acessórias”; b) “Os
precedentes daquele juiz implicam em grande honestidade”.
4. Corroborando sua natureza de verbo transitivo direto, Eliasar Rosa
(1993, p. 80) aconselha se evitem as construções com a preposição em,
como nos seguintes exemplos: a) “O concubinato não implica em
reconhecimento de uma sociedade de fato” (errado); b) “A revelia não
implica em confissão do réu” (errado); c) “A aprovação em concurso
implica em comprovação de que o candidato será um bom juiz” (errado).
5. Não destoa desse entendimento a lição de Édison de Oliveira (s/d, p.
106): “Temos encontrado frequentemente na imprensa, na
correspondência e, às vezes, até em livros didáticos, o verbo implicar
(significando supor, acarretar, requerer) seguido pela preposição em. De
acordo com a gramática, entretanto, tal verbo, nessa acepção, não exige
preposição alguma.” Estão, pois, gramaticalmente erradas frases como:
a) “Amor implica em renúncia”; b) “Construir casa própria implica em
muitos sacrifícios”; c) “A demissão do Diretor implicou na convocação
da assembleia”. Corrija-se, dizendo: i) “Amor implica renúncia”; ii)
“Construir casa própria implica muitos sacrifícios”; iii) “A demissão do
Diretor implicou a convocação da assembleia”.
6. Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 221), que também condena o emprego
da preposição em com tal verbo, lembra que ele pode ser transitivo
indireto no sentido de ter implicância. Ex.: “O chefe implica muito com
seus subordinados”.
7. Buscando resumir os aspectos de regência acerca desse verbo, anotam
Regina Toledo Damião e Antonio Henriques (1994, p. 50) que, no
sentido de acarretar, deve “ser repelida a preposição em virtude da
transitividade direta do verbo nesta acepção”; com a significação de ter
implicância, “é regido pela preposição com, não devendo ser empregado
como pronominal”, forma essa exclusiva do sentido de envolver-se com.
8. Em seu estilo leve de observar, assim se explicita Arnaldo Niskier: “O
verbo implicar, no sentido de envolver ou ter como consequência, é
transitivo direto, isto implica dizer que não aceita a preposição em; ou
seja, isto implica aquilo, e não naquilo” (1992, p. 105).
9. No sentido de ter como consequência, trazer como consequência,
acarretar, provocar, observam Pasquale Cipro Neto e Ulisses Infante
(1999, p. 522) que, “no Brasil, esse verbo é sistematicamente usado com
a preposição em (‘Sua decisão implica em cancelar o projeto’)”;
lembram, todavia, tais autores que “nenhum dicionário admite essa
construção no padrão culto”.
10. Para Sousa e Silva (1958, p. 156), implicar em “não é regência
autorizada, nos sentidos de fazer supor, ser causa de e tornar
indispensável”; em tais acepções, o verbo implicar é transitivo direto.
11. Quando significa trazer como consequência, acarretar, confirma
Domingos Paschoal Cegalla que “é censurada a regência indireta
(preposição em), como na frase: ‘A quebra de um compromisso implica
em descrédito, perda de credibilidade’” (1999, p. 199).
12. Os textos de lei, de um modo geral, obedecem a essa determinação da
Gramática de que se construa tal verbo como transitivo direto, sem a
preposição de. Exs.: a) “A não observância do disposto nos incisos II e
III implicará a nulidade do ato e a punição da autoridade responsável,
nos termos da lei” (CF/88, art. 37, § 2º); b) “A nulidade da obrigação
principal implica a das acessórias, mas a destas não induz a da
obrigação principal” (CC/1916, art. 153 e CC/2002, art. 184); c)
“Importa renúncia tácita ao direito de queixa a prática de ato
incompatível com a vontade de exercê-lo; não a implica, todavia, o
fato de receber o ofendido a indenização do dano causado pelo crime”
(CP, art. 104, parágrafo único); d) “A absolvição implicará o
restabelecimento de todos os direitos perdidos em virtude de
condenação…” (CPP, art. 627); e) “A distribuição de dividendos com
inobservância do disposto neste artigo implica responsabilidade
solidária dos administradores e fiscais” (Lei 6.404, de 15/12/76, art.
201, § 1º); f) “A revogação e a renúncia da procuração implicam
revogação do mandato” (CC português, art. 1.179º).
13. Apesar dessa normal observância do regime direto, tal como entendem
os gramáticos que deva ser, Adalberto J. Kaspary (1996, p. 178-9)
encontrou, em preciosa pesquisa sobre textos de lei, três exemplos em
que implicar se apresenta como transitivo indireto (com a preposição
em): a) “A falsificação de diploma ou outros quaisquer títulos…
implicará na instauração… do processo que no caso couber” (CLT, art.
345, parágrafo único); b) “… desde que… não tenha implicado em
falta de pagamento do tributo” (CTN, art. 106, II, b); c) “O
descumprimento injustificado dos deveres estabelecidos para as
unidades federativas implicará na suspensão de qualquer ajuda
financeira a elas destinada pela União…” (Lei 7.210, de 11/7/84, art.
203, § 4º).

Importar
1. Segundo observação de Eliasar Rosa, se tal verbo tem o significado de
ter como resultado, representar, reproduzir, será ele transitivo direto, não
admitindo preposição. Exs.: a) “O pagamento importa extinção da
obrigação”; b) “A concessão de prazo ao devedor não importa
novação”; c) “A prescrição interrompe-se: … V – por qualquer ato
inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe reconhecimento do
direito pelo devedor” (CC/1916, art. 172, V, e CC/2002, art. 202, VI); d)
“Quando o dote importar alheação, o marido considerar-se-á
proprietário, e poderá dispor dos bens dotais…” (CC/1916, art. 292).
2. Se, porém, o significado é atingir certo preço, valor ou custo, então de
rigor é construí-lo com a preposição em. Ex.: “A dívida importa em
trezentos reais” (ROSA, 1993, p. 80-1).
3. Comunga desse posicionamento Mário Barreto, ao realçar que incorre
em erro quem emprega a preposição em depois de importar no sentido de
levar consigo, originar, representar, causar, produzir, ter como resultado
ou consequência, como se dá no seguinte exemplo: “As considerações
que acabo de fazer não importam em desestima a Teixeira de Melo”
(1954b, p. 93).
4. Assim resume Laudelino Freire a teoria sobre a regência de importar:
“Quando significa atingir certo preço ou custo, este verbo é transitivo
indireto, e pede, portanto, complemento regido da preposição em: ‘As
despesas importaram em cinco contos’. Noutra qualquer acepção –
trazer de fora, fazer vir de outra terra, ter como resultado, etc. – é
transitivo direto, e não pode ser seguido de preposição: ‘O que disse
importa grave acusação’; ‘Importou mercadorias de São Paulo’”
(1937b, p. 111).
5. No sentido de atingir preço, Vitório Bergo (1943, p. 212) insere tal verbo
no rol daqueles que merecem especial cuidado quanto à regência:
importar em.
6. Apesar dessa rigidez e uniformidade no que concerne aos escritores de
nossa língua, é de se ver que, nos textos de lei, tal verbo ora se apresenta
como transitivo direto, ora como transitivo indireto (com a preposição
em).
7. São exemplos de regência direta.: a) “Os atos de improbidade
administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos…” (CF/88,
art. 37, § 4º); b) “… Neste caso, o recebimento posterior da prestação
atrasada importa renúncia do credor ao seu direito de execução
imediata” (CC/1916, art. 762, III); b) “A conexão e a continência
importarão unidade de julgamento…” (CPP, art. 79); c) “O legatário é
parte legítima para manifestar-se sobre as dívidas do espólio… II –
quando o reconhecimento das dívidas importar redução dos legados”
(CPC/1973, art. 1.020, II); d) “A cassação da carta de reconhecimento
da entidade sindical não importará o reconhecimento de seu registro…”
(CLT, art. 556); e) “É vedado à União instituir tributo que não seja
uniforme em todo o território nacional, ou que importe distinção ou
preferência em favor de determinado Estado ou Município” (CTN, art.
8); f) “A prescrição interrompe-se… por qualquer ato inequívoco, ainda
que extrajudicial, que importe reconhecimento do direito pelo devedor”
(art. 172, V, do CC/1916, e CC/2002, art. 202); g) “O silêncio do
acusado não importará confissão, mas poderá constituir elemento para
a formação do convencimento do juiz” (art. 198 do CPP).
8. São exemplos de regência indireta: a) “Se for título de crédito a coisa
dada em pagamento, a transferência importará em cessão” (CC/1916,
art. 997, e CC/2002, art. 358); b) “A falta de cumprimento pelo
empregador do disposto neste artigo importará na lavratura de auto de
infração pelo agente da inspeção do trabalho” (CLT, art. 29, § 2º); c)
“Equipara-se à majoração do tributo a modificação de sua base de
cálculo, que importe em torná-lo mais oneroso” (CTN, art. 97, § 1º); d)
“A mulher não pode, sem autorização do marido: … IV – contrair
obrigações que possam importar em alheação de bens do casal”
(CC/1916, art. 242, IV).
9. Interessante é verificar que a Lei do Divórcio (Lei 6.515, de 26/12/77),
em dois de seus dispositivos, traz tal verbo como transitivo indireto: a)
“… qualquer ato que importe em grave violação dos deveres do
casamento…” (art. 5º, caput); b) “A separação judicial importará na
separação de corpos e na partilha de bens” (art. 7º, caput).
Diversamente, contudo, é transitivo direto no art. 27, parágrafo único, da
mesma lei: “O novo casamento de qualquer dos pais ou de ambos
também não importará restrição a esses direitos e deveres”.
10. Curiosas, a respeito, são as seguintes observações de Adalberto J.
Kaspary (1996, p. 179-1): a) nos textos legais que pesquisou, encontrou
noventa e seis vezes o mencionado verbo com tal significação, sendo
setenta e nove com objeto direto e apenas dezessete com objeto
indireto, evidenciando-se, assim, a preferência do legislador pela
construção com objeto direto; b) de acordo com lição de Ernesto
Carneiro Ribeiro, a observância do verbo como transitivo direto “é a
sintaxe que se observa em todos os escritores de nomeada, e nos que
timbram de escrever com pureza”; c) pela totalidade dos exemplos
colhidos no Código Civil de Portugal (trinta e nove), está ele
empregado invariavelmente como transitivo direto.
11. Por outro lado, uma vez aceita sua construção com a preposição em, o
certo é que, em determinados casos, pode tal sintaxe aclarar o sentido,
como é o caso do art. 1º, § 2º, do Decreto nº 3.079, de 15/9/38, que,
regulamentando o Decreto-lei 58, de 10/12/37, assim dispôs: “A
Prefeitura e as demais autoridades ouvidas disporão de 90 dias para
pronunciar-se, importando o silêncio a aprovação”. Bem mais claro
teria ficado o sentido do texto com a seguinte redação: “… importando
o silêncio em aprovação”. Aliás, menos ruim do que o texto em vigor
também seria: “… importando o silêncio aprovação”.

Imposto – Como pronunciar o plural?


Ver Metafonia (P. 472).

Impresso ou Imprimido?
1. A questão que se põe é saber qual a forma correta: “Ele já havia
imprimido” ou “Ele já havia impresso?”.
2. Há verbos – e com frequência no particípio passado – que apresentam
duas ou mais formas equivalentes: aceitado, aceito e aceite (aceitar),
imprimido e impresso (imprimir), pegado e pego (pegar). São
denominados verbos abundantes.
3. Nesses casos de verbos abundantes, a forma normal, mais longa e mais
de acordo com as regras de derivação constitui o particípio passado
regular (assim, entregado, benzido e extinguido); a outra forma, mais
compacta, é o particípio passado irregular (assim, entregue, bento e
extinto).
4. Quanto à sistematização do emprego das formas de tais verbos
abundantes, pode-se dizer que com os verbos ter e haver (formando
tempos compostos na voz ativa), usa-se normalmente o particípio
passado regular. Exs.: a) “Ele tinha acendido o fogo”; b) “Ele havia
acendido o fogo”.
5. Já com o verbo ser (formando voz passiva) e com o verbo estar, usa-se
normalmente o particípio passado irregular. Exs.: a) “O fogo fora aceso
por ele”; b) “O fogo estava aceso”.
6. Para não se radicalizar no assunto, vale lembrar a ponderada observação
de Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 76): “em alguns casos a língua
moderna tem mudado essa regra, preferindo o uso dos irregulares com
ter e haver”. Exemplifica tal autor com frito, ganho, gasto, pago e salvo,
com os quais tem havido completo desprezo dos particípios passados
regulares.
7. De modo especial para os exemplos inicialmente postos: a) “Ele já havia
imprimido a minuta” (correto); b) “Ele já havia impresso a minuta”
(errado); c) “Ele já tinha imprimido a minuta” (correto); d) “Ele já tinha
impresso a minuta” (errado); e) “A minuta foi imprimida por ele”
(errado); f) “A minuta foi impressa por ele” (correto); g) “A minuta já
estava imprimida” (errado); h) “A minuta já estava impressa” (correto).
Ver Concordância verbal (P. 212), Haver – Quando vai para o plural? (P.
386) e Verbos abundantes (P. 759).
Improceder – Existe?
1. Improceder é verbo empregado com frequência, nos meios jurídicos e
forenses, sempre com o sentido de não ter procedência, de não ter a
consequência pretendida, caso em que se emprega como intransitivo
(algo improcede). Exs.: a) “Como o autor não carreou aos autos as
provas necessárias, improcedem os pedidos feitos na inicial”; b)
“Apesar de tempestiva a apelação e de superadas as preliminares
arguidas, o recurso, no mérito, improcede”.
2. É oportuno registrar que esse vocábulo se encontra no Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras,
que é o veículo oficialmente incumbido de determinar quais palavras
integram nosso idioma (2009, p. 451), o que significa que seu uso está
oficialmente autorizado entre nós.
3. Anote-se, todavia, que tal situação não se repete com outro verbo muito
empregado em textos jurídicos e forenses, como se fosse seu sinônimo –
desproceder –, o qual ali não se acha arrolado e, assim, não deve ser
empregado em textos que devam submeter-se à norma culta.
4. Improceder não traz problemas quanto à conjugação verbal, já que tem
por modelo proceder, de fácil flexão.
5. Apegando-se ao fato de que é formado com o prefixo in (normalmente
formador de nomes e não de verbos), Geraldo Amaral Arruda (1997, p.
134) observa que esse verbo “constitui forma inferior de expressão”,
sendo melhor dizer julgar procedente ou julgar improcedente, ou
sentença de procedência ou sentença de improcedência.
6. Todavia a postura do Vocabulário Ortográfico de registrá-lo no rol das
palavras oficialmente existentes em nosso idioma, supera quaisquer
discussões dessa natureza e faz com que se devam desconsiderar
opiniões assim manifestadas.

Impronunciar ou Despronunciar?
1. É verbo usado com frequência em Direito Penal, especificamente em
processos que apuram crimes dolosos contra a vida, de competência do
Tribunal do Júri.
2. Tem o sentido de julgar, considerar inadequada uma denúncia, mesmo
antes de remeter o acusado para julgamento pelo Tribunal do Júri. Ex.:
“O juiz, como presidente do tribunal do júri, pode pronunciar,
impronunciar ou absolver sumariamente o acusado”.
3. Enquanto o verbo pronunciar tem aplicação mais ampla, não se
limitando à área penal, já impronunciar é um verbo específico da
terminologia criminal, não servindo para ser portador de qualquer outro
conteúdo semântico.
4. Acrescente-se, com Antonio Henriques e Maria Margarida de Andrade
(1999, p. 85), a profunda diferença entre impronunciar (“verificar, de
imediato, a ausência de provas para pronúncia”) e despronunciar (que
implica a “verificação posterior de dados insuficientes para a
pronúncia”, razão pela qual “esta deixou de existir”).
5. Em outra obra, Antonio Henriques (1999, p. 48) assim reforça a
diferença: a) impronunciar – “não houve pronúncia por falta de base, de
força, de fundamento; o indiciado não foi a julgamento”; b)
despronunciar – “houve pronúncia; o indiciado foi a julgamento que,
depois, se desfaz, acaba, cessa, sofre reforma”.
6. Também buscando diferenciar ambos os verbos, anota Adalberto J.
Kaspary (1996, p. 261) que despronunciar é “alterar um julgamento
anterior, em que o réu foi pronunciado”, enquanto impronunciar é
“julgar, desde logo, improcedente a denúncia ou queixa contra o
indiciado, determinando a sua soltura”.
7. Muito embora sejam empregados com frequência nos meios jurídicos e
forenses, raro é o uso de ambos os verbos – impronunciar e
despronunciar –nos textos legais: a) “A decisão que impronunciar ou
absolver o réu fará cessar a aplicação provisória da interdição
anteriormente determinada” (CPP, art. 376); b) “Quando, instaurado
processo por infração penal, o juiz, absolvendo ou impronunciando o
réu, reconhecer a existência de qualquer dos fatos previstos no art. 14
ou no art. 27 do Código Penal, aplicar-lhe-á, se for caso, medida de
segurança” (CPP, art. 555); c) “Caberá recurso, no sentido estrito, da
decisão, despacho ou sentença: … que pronunciar ou impronunciar o
réu” (CPP, art. 581, IV); d) “Mantém-se a culpa formada até à decisão
final, a não ser que em qualquer recurso o arguido seja despronunciado
ou absolvido” (CPP português, art. 308º, § 3º).
8. E se esclareça que ambos os verbos – despronunciar e impronunciar –
encontram-se registrados pelo Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, que é o veículo
oficialmente incumbido de determinar quais palavras integram, de modo
efetivo, nosso idioma (2009, p. 276 e 451), o que significa que o uso de
ambos está oficialmente autorizado entre nós.

Improver ou Desprover?
Ver Desprover ou Improver? (P. 278)

Impudico ou Impúdico?
1. Significa o que não tem ou revela pudor, o que não é casto nem recatado.
2. No campo jurídico, assim como seu antônimo pudico, é adjetivo muito
utilizado nas digressões acerca dos crimes contra os costumes: estupro,
atentado violento ao pudor, importunação ofensiva ao pudor.
3. Trata-se de palavra paroxítona, e não proparoxítona, sendo sua sílaba
tônica di e não pu, motivo por que inexiste razão para ser graficamente
acentuada (SACCONI, 1979, p. 19). Rima com rico e nanico.
4. Asseverando que tal questão “não se discute mais”, Silveira Bueno
(1938, p. 15) lhe afirma o caráter de palavra paroxítona.
5. Mário Barreto (1954b, p. 124), ao tratar das acentuações viciosas, alude
à existência daqueles que, “contra a origem e prática, querem
esdruxulizar” tal vocábulo, pronunciando-o com acento na
antepenúltima sílaba.
6. Ao apontar o correto emprego de tal palavra em Alexandre Herculano –
como paroxítona e não proparoxítona – lembra Vasco Botelho de Amaral
(1939, p. 86), em corroboração, que Camões lhe dá a correta acentuação,
ao rimar rica e rico, respectivamente, com pudica e pudico.
7. E de Cândido de Figueiredo é a taxativa observação: “Nunca houve
púdico nem impúdico em português: desde os latinos, através da Idade
Média, e através de todos os nossos dicionários, nunca se pronunciou
senão pudico e impudico, acentuando-se tonicamente o i” (1941, p. 220).
8. Espancando dúvidas, registra-a como paroxítona (di) o Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras,
que é o veículo oficial para dirimir dúvidas acerca da pronúncia dos
vocábulos em nosso idioma (2009, p. 451).
9. Seu superlativo absoluto sintético é impudicíssimo.

Impugnar
1. Quanto a sua pronúncia, anota-se que, mesmo entre as pessoas cultas, há
uma tendência a introduzir uma vogal logo após o g que encerra o
radical, nas formas rizotônicas, pronunciando-se impuguino,
impuguinas…
2. Trata-se, porém, de verbo regular, em que, após o radical (impugn),
apenas se acrescentam as desinências próprias da conjugação: impugno,
impugnas, impugna…; impugne, impugnes…, com a sílaba tônica
incidindo no próprio radical (SACCONI, 1979, p. 20).
3. Quanto a vocábulos como impuguino e impuguinas, configuram eles
aquilo que Sousa e Silva (1958, p. 157) chama de formas disparatas.
4. Em realidade, ao contrário do que muitos pensam, nas formas
rizotônicas desse verbo (casos em que a sílaba forte cai no radical), o
acento tônico incide no u que precede o g, e não nesta última consoante,
até porque só vogal pode ser acentuada: não se diga, pois, impuguino, ou
coisa parecida, mas: impugno, impugnas, impugna… impugnam
(presente do indicativo); impugne, impugnes, impugne…, impugnem
(presente do subjuntivo); impugna, impugne, impugnem (imperativo
afirmativo), não impugnes, não impugne, não impugnem (imperativo
negativo).
5. Como as formas rizotônicas apenas ocorrem no presente do indicativo,
presente do subjuntivo, imperativo afirmativo e imperativo negativo, não
deve haver preocupação alguma, quanto à observação feita, no que diz
respeito aos demais tempos: impugnava (pretérito imperfeito),
impugnarei (futuro do presente), impugnaria (futuro do pretérito),
impugnado (particípio), impugnando (gerúndio), impugnei (pretérito
perfeito), impugnara (pretérito mais-que-perfeito), impugnasse
(imperfeito do subjuntivo), impugnar (futuro do subjuntivo).
Imputar
Ver Computar (P. 204).

In
1. Prefixo latino de valor negativo, tem função nominal (SARAIVA, 1993,
p. 586), isto é, pode servir para criar neologismos, por via erudita, desde
que estes sejam advérbios, adjetivos ou substantivos, derivados de outros
nomes já existentes. Assim, imerecido, impagável, inaplicável,
induvidoso, inexigido.
2. Exatamente nesses moldes, é que Carlos de Laet forja a palavra
inempregáveis, para significar que não podem obter emprego, por falta
de preparo ou de indolência: “Além disso, há, porém, um pessoal
completo de cavalheiros desempregados e… inempregáveis” (LAET
apud NOGUEIRA, 1939, p. 7-8).
3. Por se tratar de prefixo nominal, porém, não se presta, por via de regra, à
criação de novos verbos pelo processo já referido. Assim, são errôneos
os vocábulos imerecer, impagar, improver, inaplicar, induvidar, inexigir.
4. Excepcionalmente, aparecem alguns verbos com o prefixo in tendo valor
negativo, como imortalizar, impronunciar, incapacitar, inutilizar, dentre
outros que se discriminam nos dicionários; tal elenco, porém, deve ser
mantido como rol de exceções, não devendo estabelecer nova regra para
formação de palavras.
5. Invocando ensinamento de Torrinha, leciona Geraldo Amaral Arruda,
por primeiro, que tal prefixo “junta-se a adjetivos e advérbios, sendo em
regra desusado antes de verbos ou substantivos”.
6. Ao depois, após observar que “na verdade temos verbos em que aparece
o prefixo in de valor negativo”, tal autor adverte que “em todos esses
casos o verbo foi formado a partir de um adjetivo no qual o prefixo já
havia perdido o sentido correspondente à etimologia”, como é o caso de
imortalizar, importunar, impacientar.
7. Com tais premissas, fixa ele que “o fato de haver em português casos de
verbos com prefixo in negativo não justifica que alguém, sem
necessidade e com base em falsa analogia, se dê o direito de criar novos
verbos”, além do que, “nessa matéria de neologismos convém que o
usuário da língua proceda com cuidado, com prudência, sem se deixar
enganar por falsa analogia”.
8. Em realidade, ainda segundo ele, se, por um lado, é verdade que “o
prefixo in negativo se ajusta bem aos adjetivos”, não menos certo é que,
por outro lado, “soa estranho quando juntado a verbos ou até mesmo a
alguns substantivos”.
9. E exemplifica com propriedade o referido mestre: “Assim, temos o
adjetivo impagável, mas não temos o substantivo impagamento, e seria
esdrúxulo o verbo impagar; temos inalienável, mas não se pode pensar
em inalienar e inalienamento ou inalienação; temos inaplicável, não
inaplicar; temos infalível, não infalir” (ARRUDA, 1997, p. 132-3).
10. Registre-se, contudo, em objeção tópica e parcial ao ensino do grande
desembargador e gramático, que inalienar é de palavra regularmente
acolhida pelo Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da
Academia Brasileira de Letras, que é o veículo oficialmente incumbido
de determinar os vocábulos que integram nosso idioma (2009, p. 452),
motivo por que está plenamente autorizado seu emprego.
11. Acresça-se que, atentos a tal aspecto, nossos textos de lei não buscam,
em tais casos, criar neologismos e deixam, às vezes, até mesmo de
empregar palavras existentes, para expressar a ideia pretendida com a
anteposição da negativa, como se dá em não captada (art. 565 do
CC/1916), não fazer (art. 882 do CC/1916 e CC/2002, art. 250), não
interessado (art. 931 do CC/1916 e CC/2002, art. 305), não pagamento
(art. 808, § 1º, e 945, § 1º, do CC/1916, sendo, no último caso,
substituída a expressão por “falta de pagamento” no CC/2002, art. 324,
parágrafo único), não reincidente (art. 33, § 2º, b, do CP), não
cumulativo (art. 49 do CTN).
12. Também empregado (com o sentido latino de em) nas citações
bibliográficas, para referenciar parte ou capítulo de uma obra. Ex.:
FIGUEIREDO, Fidelino. “Romantismo”. In: História Literária de
Portugal. (Séc. XII-XX). Coimbra: Nobel, 1944, p. 414-415
(FERREIRA, 1986, p. 927).

Inacolher – Existe?
1. O prefixo in é de origem latina e tem valor negativo, servindo para dar
causa a derivação nominal (SARAIVA, 1993, p. 586).
2. Em outras palavras, pode servir para criar neologismos, por via erudita,
desde que estes sejam advérbios, adjetivos ou substantivos, derivados de
outros nomes já existentes. Exs.: imerecido, impagável, inaplicável,
induvidoso, inexigido.
3. Por se tratar de prefixo nominal, porém, não se presta, por via de regra, à
criação de novos verbos pelo processo já referido, motivo por que são
errôneos vocábulos como imerecer, impagar, inaplicar, induvidar,
inexigir.
4. Excepcionalmente, aparecem alguns verbos com o prefixo in tendo valor
negativo, como imortalizar, impronunciar, incapacitar, inutilizar, dentre
outros que se discriminam nos dicionários; tal elenco, porém, deve ser
mantido como rol de exceções, não se prestando ao estabelecimento de
nova regra para formação de palavras.
5. Tal, entretanto, não é o caso de inacolher, que haverá de ser tido como
verbo inexistente.
6. É oportuno observar que não registra tal verbo o Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras,
órgão oficial de registro das palavras existentes em nosso idioma.
7. A forçosa e definitiva conclusão, assim, é que esse verbo não existe e,
portanto, não deve ser empregado em textos que devam submeter-se à
norma culta.
8. Com total razão, assim, o ensino de Geraldo Amaral Arruda (1997, p.
23), para quem, porque “não há em português o verbo inacolher”, devem
evitar-se invenções como “deve ser inacolhida a pretensão”.

Inadimplir – Existe?
1. Trata-se de verbo empregado com frequência nos meios jurídicos com o
sentido de não cumprir (a obrigação, o contrato, uma cláusula). Ex.: “O
locatário inadimpliu cláusula específica do contrato, que vedava a
sublocação do prédio”.
2. Atesta-lhe a existência em nosso idioma o Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, que é o veículo
oficial para dirimir dúvidas acerca da existência ou não de vocábulos em
nosso idioma, bem como acerca de sua grafia e pronúncia (2009, p. 452).
3. É verbo defectivo, conjugando-se “nas formas em que a terminação
começa pela vogal e ou pela vogal i” (REIS, 1971, p. 145).
4. Na prática, não tem a primeira pessoa do presente do indicativo, mas
apenas as demais: inadimples, inadimple, inadimplimos, inadimplis,
inadimplem.
5. Não é conjugado em pessoa alguma do presente do subjuntivo, que
haveria de derivar da inexistente primeira pessoa do presente do
indicativo.
6. No imperativo afirmativo, apenas tem a segunda pessoa do singular e a
segunda pessoa do plural, derivadas do presente do indicativo, mas não
as demais, oriundas do presente do subjuntivo: inadimple tu, inadimpli
vós.
7. Também não tem pessoa alguma do imperativo negativo, que viria
integralmente do presente do subjuntivo.
8. Como tais problemas de defectividade ocorrem apenas no presente do
indicativo e nos tempos daí derivados, é normalmente conjugado nos
outros tempos: eu inadimplia (imperfeito do indicativo), eu inadimplirei
(futuro do presente), eu inadimpliria (futuro do pretérito), inadimplindo
(gerúndio), inadimplido (particípio), eu inadimpli (pretérito perfeito do
indicativo), eu inadimplira (pretérito mais-que-perfeito do indicativo),
quando eu inadimplir (futuro do subjuntivo), se eu inadimplisse
(imperfeito do subjuntivo).

Inadmitir – Existe?
1. É verbo empregado com frequência nos textos jurídicos e forenses na
acepção de não admitir, rejeitar, repelir, caso em que é empregado como
transitivo direto (inadmitir algo), sendo de se complementar, assim, que,
por ser transitivo direto, admite ser construído na voz passiva (algo foi
inadmitido). Exs.: a) “O recurso, inadmitido na origem, subiu a esta
Corte por efeito de provimento do agravo, depois de devidamente
processado”; b) “À vista do exposto, inadmito o recurso”.
2. É oportuno registrar que tal vocábulo se encontra no Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras,
que é o órgão oficial de registro das palavras existentes em nosso idioma
(2009, p. 452), motivo pelo qual está perfeita e oficialmente autorizado
seu emprego.
3. Não traz problemas quanto à conjugação verbal, já que tem por modelo
admitir, de fácil flexão.

Inafastável – Existe?
1. Napoleão Mendes de Almeida (1981, p. 148) – sintetizando o
entendimento de alguns – reputa o emprego desse vocábulo uma
extravagância e inovação desnecessária, que não enriquece o idioma.
2. Trata-se, entretanto, de palavra regularmente acolhida pelo Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras,
que é o veículo oficialmente incumbido de determinar os vocábulos que
integram nosso idioma (2009, p. 452), motivo por que está plenamente
autorizado seu emprego.

Inalienar – Existe?
1. Apesar da objeção de alguns, trata-se de palavra regularmente acolhida
pelo Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia
Brasileira de Letras, que é o veículo oficialmente incumbido de
determinar os vocábulos que integram nosso idioma (2009, p. 452).
2. Por essa razão, está plenamente autorizado seu emprego.

Inaplicar – Existe?
1. Sempre importa reiterar que o prefixo in é de origem latina e tem valor
negativo, servindo para dar causa a derivação nominal (SARAIVA,
1993, p. 586).
2. Em outras palavras, pode servir para criar neologismos, por via erudita,
desde que estes sejam advérbios, adjetivos ou substantivos, derivados de
outros nomes já existentes. Exs.: imerecido, impagável, inaplicável,
induvidoso, inexigido.
3. Por se tratar de prefixo nominal, porém, não se presta, por via de regra, à
criação de novos verbos pelo processo já referido, motivo por que são
errôneos vocábulos como imerecer, impagar, inaplicar, induvidar,
inexigir.
4. Excepcionalmente, aparecem alguns verbos com o prefixo in tendo valor
negativo, como imortalizar, impronunciar, incapacitar, inutilizar, dentre
outros que se discriminam nos dicionários; tal elenco, porém, deve ser
mantido como rol de exceções, não se prestando ao estabelecimento de
nova regra para formação de palavras.
5. Tal, entretanto, não é o caso de inaplicar, que haverá de ser tido como
verbo inexistente.
6. É oportuno observar, nessa esteira, que não registra tal verbo o
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira
de Letras, órgão oficial de registro das palavras existentes em nosso
idioma.
7. A forçosa e definitiva conclusão, assim, é que esse verbo não existe e,
portanto, não deve ser empregado em textos que devam submeter-se à
norma culta.

Inaugural acusatória
Ver Petição inicial (P. 563).

Incendiar
1. Os verbos terminados em iar, quanto à conjugação verbal, normalmente
são verbos regulares e têm por modelo anunciar.
2. São exceções a essa regularidade de conjugação mediar, ansiar,
remediar, incendiar e odiar, que têm por modelo este último (as iniciais
desses verbos formam a sigla MARIO).
3. Tais verbos da relação mencionada mudam o i da penúltima sílaba em ei
nas formas rizotônicas: incendeio, incendeias, incendeia, incendiamos,
incendiais, incendeiam (presente do indicativo); incendeie, incendeies,
incendeie, incendiemos, incendieis, incendeiem (presente do subjuntivo);
incendeia, incendeie, incendiemos, incendiai, incendeiem (imperativo
afirmativo); não incendeies, não incendeie, não incendiemos, não
incendieis, não incendeiem (imperativo negativo).
4. Vale sintetizar os problemas de conjugação desse verbo com as
observações de Vitório Bergo: “recebe um e eufônico nas formas
rizotônicas, que só se manifestam no presente do indicativo e do
subjuntivo e, portanto, no imperativo” (1943, p. 142-3).
5. Não confundir os verbos terminados em iar com os que se encerram por
ear, como nomear, os quais, quanto à conjugação, recebem um i
intermediário nas formas rizotônicas: nomeio, nomeias, nomeia,
nomeamos, nomeais, nomeiam (presente do indicativo); nomeie,
nomeies, nomeie, nomeemos, nomeeis, nomeiem (presente do subjuntivo)

Incerto ou Inserto?
1. Incerto é adjetivo que significa duvidoso, indeterminado, e é muito
empregado no campo do direito processual. Ex.: “Nos termos do art. 231
do Código de Processo Civil, far-se-á a citação por edital, quando
incerto o lugar em que se encontrar o réu”.
2. Já inserto é particípio passado irregular de inserir, pouco usado, e tem
por sinônimo inserido. Ex.: “Insertas nos autos estavam todas as cartas
de ameaça que o réu enviara à vítima”.
3. Atento aos frequentes equívocos no emprego de ambas as palavras, o
próprio Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia
Brasileira de Letras, órgão incumbido oficialmente de determinar a
existência dos vocábulos em nosso idioma, além de sua grafia oficial,
mesmo fugindo a seu normal proceder e finalidade de apenas listar
palavras sem dar-lhes o sentido, acaba por precisar a exata significação
de ambos os vocábulos: incerto tem por conteúdo semântico duvidoso, e
inserto quer dizer inserido (2009, p. 453 e 460).
4. Não havendo emprego de inserto na legislação mais conhecida, alinham-
se alguns dos muitos exemplos de uso do vocábulo incerto: a)
“Considera-se condição a cláusula que, derivando exclusivamente da
vontade das partes, subordina o efeito do negócio jurídico a evento
futuro e incerto” (CC, art. 121); b) “A consignação tem lugar: … III – se
o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado ausente, ou
residir em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil” (CC, art. 335,
III); c) “Sendo incerto ou desconhecido o domicílio do réu, ele será
demandado onde for encontrado ou no foro do domicílio do autor”
(CPC/1973, art. 94, § 2º); d) “Far-se-á a citação por edital: I – quando
desconhecido ou incerto o réu…” (CPC/1973, art. 231, I).
Ver Lugar incerto e não sabido (P. 450).

Incipiente ou Insipiente?
1. Incipiente é adjetivo, que tem o significado de iniciante, principiante.
Ex.: “Apesar de incipiente, a enfermidade lhe acarretava grande
desconforto”.
2. Sua parônima insipiente também é adjetivo, mas tem a acepção de
ignorante. Ex.: “Com advogados insipientes, ainda que velhos, muitas
vezes é difícil fazer justiça”.
3. Atento aos frequentes equívocos no emprego de ambas as palavras, o
próprio Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia
Brasileira de Letras, órgão incumbido oficialmente de determinar a
existência dos vocábulos em nosso idioma, além de sua grafia oficial,
mesmo fugindo a seu normal proceder e finalidade de apenas listar
palavras sem dar-lhes o sentido, acaba por precisar a exata significação
de ambos os vocábulos: incipiente tem por conteúdo semântico
principiante, e insipiente quer dizer ignorante (2009, p. 453 e 460).

Inciso
1. Derivado do latim incisus, com o significado etimológico de aberto,
cortado, “é geralmente empregado, na linguagem jurídica, para indicar
cada uma das divisões, feitas num artigo da lei, encabeçada por um
número ou por uma letra” (DE PLÁCIDO E SILVA, 1989, p. 446).
2. No que concerne a sua finalidade, observam Juarez de Oliveira e Marcus
Cláudio Acquaviva que “o item ou inciso serve para dividir o artigo ou o
parágrafo, atuando como elemento discriminativo daquele, quando o
assunto versado não possa ser condensado nem constituir parágrafos”
(1975, p. 6).
3. Num outro aspecto, quando se quer significar a especificação da ordem
ou série em que dispostos os seres e as coisas, é correto o uso do
numeral ordinal. Exs.: quarta oportunidade, inciso quinto, centésima
vez.
4. Por brevidade e simplificação, entretanto, tem-se defendido o uso dos
cardinais em vez dos ordinais na enumeração de séries de objetos,
capítulos, artigos, parágrafos, incisos. Exs.: inciso dois, artigo dez.
5. Plácido e Silva, aliás, é taxativo, em tal caso, para exemplificar ser
“costume dizer-se o inciso três do artigo 20, para exprimir o item ou a
alínea três do referido artigo” (1989, p. 446).
6. Anota-se, porém, por primeiro, que, em tais casos, não variam para o
feminino os números um e dois. Exs.: página vinte e um, lição trinta e
dois.
7. Também se verifica que, se anteposto o numeral ao substantivo, de rigor
é o emprego do ordinal. Exs.: vigésima primeira página, trigésima
segunda lição, quinto inciso.
8. Adicionalmente, quanto aos diplomas legais, na lição de Napoleão
Mendes de Almeida – o qual não deixa de realçar a circunstância de que
os algarismos romanos vêm perdendo a preferência em nossos dias – os
incisos são “indicados por letras minúsculas ou por números: inciso 2 do
§ 3 do art. 58” (1981, p. 209).
Ver Artigo (P. 136) e Números – Como ler e Empregar? (P. 506)

Incluído ou Incluso?
1. A questão que se põe é saber quando empregar incluso e incluído.
2. Observe-se que não é tão difícil encontrar verbos que têm dois
particípios passados. São eles denominados verbos abundantes.
3. Nesses casos, o particípio normal, que segue as regras de derivação, é
mais longo e chama-se regular; o outro, irregular. Assim, entregado,
benzido e extinguido são particípios passados regulares; já entregue,
bento e extinto são particípios passados irregulares.
4. Com os verbos ter ou haver (formando tempos compostos na voz ativa),
usa-se normalmente o particípio passado regular. Exs.: a) “Ele tinha
acendido o fogo”; b) “Ele havia acendido o fogo”.
5. Com o verbo ser (formando voz passiva) e com o verbo estar, usa-se
normalmente o particípio passado irregular. Exs.: a) “O fogo fora aceso
por ele”; b) “O fogo estava aceso”.
6. Atente-se, adicionalmente, a que chegar não faz chego no particípio
passado. Ex.: a) “O réu tinha chegado com atraso à audiência”
(correto); b) “O réu tinha chego com atraso à audiência” (errado).
7. Acrescente-se, por fim, que incluído e incluso não são formas
abundantes de particípio do verbo incluir, e sim apenas incluído, uma
vez que, como adverte com propriedade Otelo Reis (1971, p. 150), em
lição para diversos verbos (dentre os quais incluir), “as formas dadas
como seus particípios [irregulares] são hoje meros adjetivos”.
8. Com essa lição em mente, confiram-se, assim, os seguintes exemplos,
com a indicação de sua correção ou erronia: a) “O garçom tinha incluído
o serviço na conta” (correto); b) “O garçom tinha incluso o serviço na
conta” (errado); c) “O serviço já fora incluído na conta” (correto); d) “O
serviço já fora incluso na conta” (errado); e) “O incluso tíquete de
desconto não foi levado em consideração” (correto).

Inclusive
1. Luciano Correia da Silva (1991, p. 31) a tem por “palavra denotativa de
inclusão já incorporada ao nosso vocabulário”, anotando que,
“antigamente considerado advérbio, assim como o seu antônimo
exclusive, pertence hoje à classe das ‘palavras denotativas’, acrescentada
pela última reforma da nossa nomenclatura”.
2. Regina Toledo e Antonio Henriques observam não ser bom o emprego
do vocábulo referido antes da ideia que se diz incluída.
3. Em tal caso, segundo o magistério de tais professores, é correto o uso de
incluindo antes da ideia, ou o uso de inclusive após a ideia cuja inclusão
se intenta (DAMIÃO; HENRIQUES, 1994, p. 186). Exs.: a) “Todos
compareceram à audiência, inclusive o réu” (errado); b) “Todos
compareceram à audiência, o réu inclusive” (correto); c) “Todos
compareceram à audiência, incluindo o réu” (correto).
4. Em obra confeccionada em parceria com outra coautora, reforça Antonio
Henriques a mesma ideia (HENRIQUES; ANDRADE, 1999, p. 61):
“não é bom o emprego da expressão antes da ideia que se diz incluída”
(Ex.: “Todos estavam ansiosos com o resultado, inclusive os próprios
jurados”); “é correto, porém, o emprego da forma incluindo antes da
ideia a que se refere” (Ex.: “Todos estavam ansiosos com o resultado,
incluindo os próprios jurados)”.
5. Em outra obra, um de tais autores e outra coautora (HENRIQUES;
ANDRADE, 1999, p. 87) observa que “constitui erro usar-se inclusive
com o sentido de até (preposição)”. Exs.: a) “Peço para você copiar este
livro até o capítulo dez, inclusive” (correto); b) “O professor ficou
revoltado e ameaçou inclusive fisicamente” (errado).
6. Em lição mais liberal, quer quanto ao emprego, quer quanto a seu
posicionamento na estrutura da frase, pondera Domingos Paschoal
Cegalla (1999, p. 203) que tal vocábulo quer dizer inclusivamente, com
inclusão de, até e até mesmo, e complementa que “não se deve censurar
o uso de inclusive no sentido de até mesmo e de expressões equivalentes,
denotativas de inclusão”, de modo que, para tal autor, são corretos
ambos os seguintes exemplos: a) “Li o jornal todo, inclusive os
anúncios”; b) “Ele não lhe pagou a dívida, inclusive disse-lhe
desaforos”.
7. Ante a fundada divergência entre os estudiosos, assiste ao usuário a
maior gama de possibilidades de seu emprego.
8. Os textos legais, incluindo o próprio Código Civil de 1916 (de apuro
linguístico reconhecido, sobretudo por influência de Rui Barbosa),
trazem exemplos dessa consideração mais liberal do emprego do referido
vocábulo: a) “Consideram-se imóveis para os efeitos legais: I – os
direitos reais sobre imóveis, inclusive o penhor, e as ações que os
asseguram” (CC/1916, art. 44, I); b) “Os sindicatos representativos de
categorias econômicas ou profissionais e as empresas, inclusive as que
não tenham representação sindical…” (CLT, art. 616); c) “Ao sindicato
cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da
categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas” (CF, art.
8º, III); d) “São pessoas jurídicas de direito público interno: … IV – as
autarquias, inclusive as associações públicas” (CC, art. 41, IV); e) “Nas
ações de indenização por ato ilícito contra pessoa, o valor da
condenação será a soma das prestações vencidas com o capital
necessário a produzir a renda correspondente às prestações vincendas
(art. 602), podendo estas ser pagas, também mensalmente, na forma do
§ 2º do referido art. 602, inclusive em consignação na folha de
pagamentos do devedor” (CPC/1973, art. 20, § 5º); f) “Transitada em
julgado a sentença condenatória, a multa será considerada dívida de
valor, aplicando-se-lhes as normas da legislação relativa à dívida ativa
da Fazenda Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas e
suspensivas da prescrição” (CP, art. 51); g) “O desconto, nos casos das
letras b e c, será feito mediante ordem ao empregador, à repartição
competente ou à administração da entidade paraestatal, e, antes de fixá-
lo, o juiz requisitará informações e ordenará diligências, inclusive
arbitramento, quando necessário, para observância do art. 37, § 3º, do
Código Penal” (CPP, art. 668, § 1º).

Incluso
1. Quanto ao sentido, em alguns casos significa incluído, mas os dois
vocábulos não têm a mesma natureza gramatical, o mesmo emprego,
nem uma total correspondência.
2. Do prisma da concordância verbal, é palavra de valor adjetivo e, assim,
concorda em gênero e número com o substantivo modificado
(MACHADO FILHO, 1969h, p. 1.278). Exs.: a) “Seguem inclusos os
documentos”; b) “Seguem inclusas as fotocópias”.
3. Os vocábulos anexo e apenso são seus sinônimos e seguem a mesma
construção.
Quanto ao emprego nas orações, ver Incluído ou Incluso? (P. 405)

Incontestável
Ver Inconteste ou Incontestável? (P. 406)

Inconteste ou Incontestável?
1. Incontestável é adjetivo de grande utilização no foro, sobretudo no que
concerne à análise das provas produzidas nos autos. Ex.: “A autoria e a
materialidade do delito são incontestáveis”.
2. Seu emprego não raro é equivocado, mas tal vocábulo significa, em
realidade, algo indiscutível, algo que não pode ser contestado,
independentemente de ter ou não havido objeção no caso concreto.
3. Assim, por exemplo, incontestável é a circunstância de que o exame
pericial hematológico que exclui a possibilidade de se atribuir a
paternidade a alguém – por residir valor absoluto e pleno em tal negativa
– acarreta a improcedência do pedido em ação de investigação de
paternidade. Apesar disso, no caso concreto, os interessados com
frequência teimam em tentar nulificar o valor de tal exame, buscando
remendar o conjunto de provas, por exemplo, com o depoimento de
testemunhas afirmadoras da ocorrência de namoro e de relacionamento
sexual entre a mãe e o suposto pai da criança (tal, em suma, significa,
que, apesar de incontestável, tal prova não é incontestada nos autos).
4. Já inconteste significa algo que diverge, que não pode ser abonado. Ex.:
“Os depoimentos foram incontestes e não convergiram para a formação
de convencimento sobre a real situação dos fatos”.
5. Nessa esteira, anota Cândido Jucá Filho (1963, p. 163 e 357) que
contestável é algo incerto, duvidoso, controverso; já conteste é algo
comprovativo, concorde. E, com relação a inconteste, complementa ele
que “muitos, por inadvertência, têm usado o termo em vez de
incontestável, ou de incontestado”.
6. Lembrando ser “comum o uso das palavras incontestável e inconteste
como sinônimos na linguagem jurídica, quando, até certo ponto, são
antônimos”, adiciona Edmundo Dantès Nascimento que também são
frequentes os equívocos entre “inconteste e incontestado, que
representam significâncias diferentes”.
7. Além disso, observa ele que incontestado quer apenas dizer não
contestado, acrescentando ele que “alguns dicionários dão como
sinônimo de incontestado o adjetivo incontestável, o que para a precisão
da linguagem jurídica é inaceitável”.
8. E finaliza tal autor, em distinção peculiar (NASCIMENTO, 1982, p.
189-1): a) provas incontestáveis traduzem o valor de algo “que não
admite contestação”; b) provas incontestadas têm o significado de algo
“que não foi contestado”, muito embora pudesse ser contestável,
conteste ou inconteste; c) provas incontestes, ao contrário do sentido que
muitos pretendem conferir à expressão, são “provas desarmônicas; que
não afirmam a mesma cousa, discrepantes, contradizentes”.
9. Também discorrendo sobre inconteste, observa Eliasar Rosa (1993, p.
81-3) que tal vocábulo “não é sinônimo de incontestável, de
indiscutível”, e que usar uma palavra por outra constitui erro que se
chama cruzamento. Assim, “testemunhas contestes – e não incontestes –
são aquelas cujos depoimentos são indiscrepantes, são uniformes,
incontrastáveis”.
10. Anota Luciano Correia da Silva (1991, p. 156) que “há muito quem
faça confusão entre as palavras conteste, inconteste, contestável,
incontestável e contestar. As testemunhas são contestes quando são
concordes em depoimento, quando não há divergência entre elas.
Conteste, em si, quer dizer afirmativo, comprovativo. Inconteste é o
contrário de conteste (testemunhas incontestes, ou seja, em
desacordo)”.
11. Em lição conjunta para três vocábulos, assim resume Antonio
Henriques (1999, p. 38) a questão: a) “O sentido de conteste é
(testemunha) concorde, conforme, igual. Trata-se, pois, de testemunha
que confirma, ratifica o depoimento de outrem”; b) já inconteste é
“antônimo de conteste: não concorde, discordante, discrepante,
contrário”; c) por fim, incontestável é antônimo de contestável;
significa, assim, não sujeito, não passível de contestação (sem
refutação, irrefutável, decisivo, irretorquível).
12. Em decorrência do quanto já observado, lembra Eliasar Rosa, em
continuação, que seria contraditória, sujeitando-se até mesmo a
embargos de declaração, uma sentença que pronunciasse o réu, em
processo de competência do júri, sob o argumento de que “a autoria e a
materialidade são incontestes”; no caso, a autoria e a materialidade só
poderiam ser contestes.
13. Ainda para o mesmo autor (ROSA, 1993, p. 81-3), Aurélio Buarque de
Holanda Ferreira – talvez levado por essa reiterada erronia ocorrente
nos meios forenses – “registra inconteste como sinônimo de
incontestado, contrariando, assim, os cânones da correção tradicional”.
14. Vejam-se exemplos de apurada correção quanto ao emprego de tais
palavras por nosso legislador: a) “Se as testemunhas forem contestes
sobre o fato da disposição, ou, ao menos, sobre a sua leitura perante
elas, e se reconhecerem as próprias assinaturas, assim como a do
testador, o testamento será confirmado” (CC, art. 1.878); b) “Faltando
até duas das testemunhas, por morte, ou ausência em lugar não
sabido, o testamento pode ser confirmado, se as três restantes forem
contestes, nos termos do artigo antecedente” (CC/1916, art. 1.648; o
CC/2002 evitou o vocábulo e substituiu-o pela explicação “se… houver
prova suficiente de sua veracidade” – art. 1.878, parágrafo único); c)
“Se pelo menos três testemunhas contestes reconhecerem que é
autêntico o testamento, o juiz, ouvido o órgão do Ministério Público, o
confirmará, observando-se quanto ao mais o disposto nos arts. 1.126 e
1.127” (CPC/1973, art. 1.133).

Incontinenti ou Incontinente?
1. Incontinenti é advérbio latino, que tem o sentido de sem demora,
imediatamente. Exs.: a) “Ante a fuga do réu, o juiz, incontinenti, acionou
a segurança do fórum”; b) “Quando o devedor pretenda vender o gado
empenhado, ou, por negligência, ameace prejudicar o credor, poderá
este requerer se depositem os animais sob a guarda de terceiros, ou
exigir que se lhe pague a dívida incontinenti” (CC/1916, art. 786; o
CC/2002 evitou a expressão e substituiu-a por uma genuinamente
vernácula, “de imediato” – art. 1.445, parágrafo único).
2. Por se tratar de vocábulo latino, não há acento gráfico, que não existia na
língua originária; de igual modo, deve ser grafado entre aspas, ou em
itálico, ou sublinhado, que é como se marcam palavras estrangeiras
empregadas em nossos textos.
3. Oportuno é a notar a diferença que Laurinda Grion (s/d, p. 43) faz entre
incontinenti e incontinente, fundada em lição de Luís A. P. Vitória:
“Incontinenti é um advérbio de forma latina e significa imediatamente.
Não confundir com o adjetivo incontinente, imoderado”.
4. De Domingos Paschoal Cegalla vem a seguinte observação:
“Recomendamos, por coerência, acentuar incontinênti, assim como se
acentuam os latinismos álibi, cútis, mapa-múndi, déficit, etc.” (1999, p.
204).
5. Em posição contrária a tal ensinamento, todavia, o Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras,
que é o veículo oficial para dirimir dúvidas acerca da grafia e de quais
vocábulos existem ou não em nosso idioma, registra incontinenti como
advérbio latino, motivo por que oficialmente não está incorporado tal
vocábulo a nosso léxico, não devendo, por conseguinte, receber acento
gráfico, que não existia na língua originária (2009, p. 862).
6. No campo jurídico, dentre os termos que “gozam de predileção especial
por parte de alguns autores”, lembram Regina Toledo Damião e Antonio
Henriques (1994, p. 24) que incontinenti tem a preferência de emprego
pelo jurista Miguel Reale.
7. Observa-se, em continuação, que o Decreto 22.132, de 25/11/32, que
instituiu as Juntas de Conciliação e Julgamento e regulamentou suas
funções, em seu art. 19, foi assim redigido: “terminada a instância da
Junta, seu Presidente remeterá in-continenti os processos findos ao
funcionário incumbido de receber as reclamações”.
8. Por outro lado, a Lei 7.787, de 30/6/89, que dispôs sobre alterações na
legislação de custeio da Previdência Social, em seu art. 12, assim fixou:
“em caso de extinção de processos trabalhistas de qualquer natureza,
inclusive a decorrente de acordo entre as partes, de que resultar
pagamento de vencimentos, remuneração, salário e outros ganhos
habituais do trabalhador, o recolhimento das contribuições devidas à
Previdência Social será efetuado in continenti”.
9. Não se pode aceitar, todavia, como corretas e adequadas, nem a forma
in-continenti (com hífen) nem a grafia in continenti (separada por
espaço), e isso, no mínimo, por duas razões: a) o próprio Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa – veículo oficial da Academia
Brasileira de Letras para listar oficialmente a grafia das palavras (2009,
p. 862) – ao referir que se trata de vocábulo pertencente ao idioma latino,
fixa-lhe a grafia incontinenti (numa só palavra); b) na língua original, as
palavras pertencentes a essa mesma família etimológica – como
incontinens (impetuoso), incontinenter (excessivamente) e incontinentia
(intemperança) – seguem a grafia preconizada pelo VOLP (SARAIVA,
1993, p. 593).

Incumbir
1. Na lição de Vitório Bergo (1944, p. 137), esse verbo admite dupla
possibilidade de construção: tanto é correta a regência incumbir algo a
alguém, como incumbir alguém de algo. Exs.: a) “O mandante incumbiu
ao réu a execução do crime” (correto); b) “O mandante incumbiu o réu
da execução do crime”.
2. Não destoa desse entendimento Sousa e Silva: “Tanto vale dizer
‘incumbi José desse negócio’ como ‘incumbi a José esse negócio’. Se
usarmos pronomes átonos, as regências serão as mesmas: ‘incumbi-o
desse negócio’ ou ‘incumbi-lhe esse negócio’” (1958, p. 157).
3. Francisco Fernandes (1971, p. 382) registra exemplos de ambas as
sintaxes empregados por abalizados autores: a) “Resolvera o (papa)
incumbir este negócio aos auditores da câmara apostólica” (Alexandre
Herculano); b) “Quando o Governo passado incumbiu do Código Civil o
Dr. Clóvis Beviláqua…” (Rui Barbosa).
4. Acatando, de igual modo, a possibilidade de emprego de ambas as
construções, realça Domingos Paschoal Cegalla que, “embora seja
correta, é menos frequente, hoje, a regência incumbir algo a alguém”
(1999, p. 205).
5. Celso Pedro Luft, por seu lado, também aceitando a possibilidade de
ambas as construções, alerta para se “evitar o cruzamento das duas
construções: Incumbiram-lhe da revisão” (1999, p. 331).
6. Nos textos de lei, encontram-se ambas as construções: a) com objeto
direto (sujeito na voz passiva) de coisa e indireto de pessoa com a
preposição a (correspondendo à estrutura incumbir alguma coisa a
alguém); b) com objeto direto (sujeito na voz passiva) de pessoa e
indireto de coisa com a preposição de (correspondendo à estrutura
incumbir alguém de alguma coisa. Exs.: a) “Se a administração se
incumbir a dois ou mais sócios…” (CC/1916, art. 1.384); b) “Se os réus
forem dois ou mais, poderão incumbir das recusas um só defensor…”
(CPP, art. 461).

Indedutível – Existe?
1. É importante anotar, de início, que a autoridade para listar as palavras
oficialmente existentes em nosso léxico é o Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de Letras, órgão
esse que tem a responsabilidade legal de controlar nosso vocabulário, em
cumprimento à velha Lei Eduardo Ramos, de n. 726, de 8/12/1900.
2. Isso significa, de um modo geral, que, se o VOLP não registra
determinado vocábulo, não estamos autorizados a empregá-lo na
linguagem formal das petições, arrazoados e pareceres.
3. Com essas observações iniciais, vê-se que, de fato, por um lado, o
VOLP, embora dê como existente em nosso idioma a palavra dedutível
(ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, 2009, p. 247), não registra,
contudo, indedutível.
4. Ora, quando não existe oficialmente um vocábulo, mesmo assim é
possível seu emprego, se ele puder ser caracterizado como um
neologismo.
5. E, para se justificar um neologismo, é preciso haver a concorrência de
dois requisitos: a) estruturação adequada do novo vocábulo em nosso
idioma; b) ausência de sinônimo em nossa língua.
6. Quanto ao vocábulo que deu origem à consulta, nota-se que o prefixo in
tem significado negativo, e o próprio VOLP dá como regular e perfeita a
prefixação nesses moldes, tal como ocorre com diversos outros adjetivos
de igual formação: inapreensível, inatingível, inatribuível, inaudível,
incabível, incorruptível…
7. Além disso, não parece haver sinônimo adequado para significar a
mesma realidade semântica que se tem em indedutível.
8. Assim, preenchidos ambos os requisitos – estruturação adequada do
novo vocábulo em nosso idioma e ausência de sinônimo em nossa língua
– não parece haver motivo para negar curso regular, ainda que na
qualidade de neologismo, à palavra indedutível.
9. E, como a língua é um organismo vivo, em que as palavras vão nascendo
oficialmente com o correr dos tempos, espera-se que uma próxima
edição do VOLP registre essa regular existência de indedutível, já não
mais como neologismo, mas como vocábulo normalmente integrado ao
nosso léxico.

Indenizar
1. Verbo de largo uso nos meios forenses, exige cuidados quanto à regência
verbal.
2. Ernesto Carneiro Ribeiro, em suas observações às emendas propugnadas
por Rui Barbosa para o Projeto de Código Civil, refere que “não se diz
em português correto indenizar a alguém alguma coisa; mas indenizar
alguém por alguma coisa ou de alguma coisa”. E, para corroborar seu
entendimento, traz lição de Latino Coelho (Apud ROSA, 1993, p. 83-4),
além de três passagens do Código Civil Português (arts. 744, 1.521 e
2.361).
3. Artur de Almeida Torres (1967, p. 175-7), por sua vez, vê as seguintes
possibilidades de construção: a) como bitransitivo (ou transitivo direto e
indireto) mais a preposição de: “Era necessário que a sociedade me
indenizasse do patrimônio” (Camilo Castelo Branco); b) como
bitransitivo (ou transitivo direto e indireto) mais a preposição por: “O
governo obrigara-se, além disso, a indenizar a Câmara apostólica por
todas as despesas” (Latino Coelho); c) como transitivo direto: “Mas,
nesta hipótese, cumpre indenizar o expropriado” (Alexandre
Herculano); d) como pronominal mais a preposição de: “Buscam
indenizar-se da estreiteza na imensa amplidão das águas” (Latino
Coelho); e) como pronominal mais a preposição com: “Indenizar-se a
indigência deste homem de bem com a riqueza” (Camilo Castelo
Branco).
4. Cândido Jucá Filho (1981, p. 78) ainda observa a possibilidade de se
dizer tanto “Indenizaram-no de suas perdas” como “Indenizaram-no por
suas perdas”.
5. Para Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 205-6), “a construção correta
é indenizar alguém de (ou por) alguma coisa”, de modo que se deve
evitar “a construção indenizar alguma coisa a alguém”, e isso porque
“ninguém indeniza prejuízos, mas pessoas prejudicadas”.
6. Contrariamente a seu próprio modo de expor, que é simplesmente
alinhar exemplos autorizados das diversas sintaxes que um verbo possa
apresentar, Francisco Fernandes é taxativo: “Podemos dizer: Indenizar
alguém de (ou por) alguma coisa e Indenizar a alguém alguma coisa”
(1971, p. 382).
7. E Celso Pedro Luft (1999, p. 331) acrescenta duas observações: a) “A
regência primária é indenizar alguém (de, por algo)”; b) “A regência
inovada, indenizar algo (a alguém), se deve à analogia com dar, pagar, e
foi defendida por Rui Barbosa, na Réplica”.
8. Resuma-se, ainda, com lição de Sousa e Silva (1958, p. 157): “É verbo
de variada construção: ‘indenizou-o dos prejuízos’, ‘indenizou-o pelos
prejuízos’, ‘indenizou-lhe os prejuízos’”.
9. Sintetizando tais aspectos e ampliando a questão para outras
possibilidades de uso, leciona Aires da Mata Machado Filho que “é
igualmente correto dizer indenizá-lo de, por ou com alguma coisa e
indenizar-lhe alguma coisa” (1969f, p. 351), do que se conclui serem
também corretas as seguintes construções: a) “O réu indenizou o autor
pelos prejuízos que lhe causou”; b) “O réu indenizou o autor com
significativa importância”.
10. Acresça-se o ensinamento de Vitório Bergo (1944, p. 137), o qual, com
a corroboração de exemplos autorizados, refere que tanto é possível
indenizar alguém de algo como indenizar alguém por algo: a) “João
da Cunha… visitou-o, indenizando-o com afagos das asperezas que
precederam a sua entrada no colégio” (Camilo Castelo Branco); b) “O
governo obrigara-se a indenizar a Câmara Apostólica por todas as
despesas” (Latino Coelho).
11. Apenas para registro, já que contraria o que maciçamente lecionam os
gramáticos, vale lembrar que Antonio Henriques e Maria Margarida de
Andrade, fundando-se em lição de Kaspary, entendem que fazer da
pessoa um objeto indireto e da coisa um objeto direto é “regência
equivocada defendida por Rui Barbosa e condenada por Carneiro
Ribeiro e outros” (1999, p. 88).
12. O melhor em tais casos, ante a fundada divergência entre os doutos, é
acatar todas essas construções preconizadas aqui e acolá.
13. Em textos legais, encontram-se, por primeiro, exemplos da construção
indenizar alguém de alguma coisa, a alguma coisa, por alguma coisa
ou com alguma coisa (e se esse alguém é objeto direto, obviamente
pode tornar-se o sujeito da construção na voz passiva): a) “… as
partes… serão indenizadas com o equivalente” (CC/1916, art. 158. e
CC/2002, art. 182); b) “o Estado indenizará o condenado por erro
judiciário, assim como o que ficar preso além do tempo fixado na
sentença” (CF, art. 5º, LXXV); c) “… as partes… serão indenizadas
com o equivalente” (CC, art. 182); d) “O juiz ou tribunal, de ofício ou a
requerimento, condenará o litigante de má-fé … a indenizar a parte
contrária dos prejuízos que esta sofreu, mais os honorários
advocatícios e todas as despesas que efetuou” (CPC/1973, art. 18); e)
“… facultado… ao empregador, o direito de indenizá-lo (o empregado)
por rescisão do contrato de trabalho…” (CLT, art. 475, § 1º); f) “…
sob pena de ser obrigado (o funcionário) a indenizar o empregador
dos prejuízos que desse fato lhe resultarem” (CLT, art. 480, caput); g)
“O corretor… será obrigado a indenizar as partes dos prejuízos…”
(CCom, art. 51).
14. Também se encontram na legislações exemplos da construção
“indenizar alguma coisa a alguém” (e se essa coisa é objeto direto,
obviamente pode tornar-se o sujeito da construção na voz passiva): a)
“As benfeitorias úteis e necessárias serão indenizadas em dinheiro”
(CF, art. 184, § 1º); b) “Se o adquirente tiver auferido vantagens das
deteriorações, e não tiver sido condenado a indenizá-las, o valor das
vantagens será deduzido da quantia que lhe houver de dar o alienante”
(CC, art. 452); c) “O litigante de má-fé indenizará à parte contrária os
prejuízos que esta sofreu, mais os honorários advocatícios e todas as
despesas que efetuou” (CPC/1973, art. 18, em redação revogada); d)
“São efeitos da condenação: I – Tornar certa a obrigação de indenizar
o dano resultante do crime” (CP, art. 74, I – redação revogada).
15. É preciso cuidado, entretanto, para não fazer dos dois complementos
objetos de mesma natureza, como se deu com o art. 666 do Código
Comercial: “… o segurador… se obriga a indenizar ao segurado da
perda ou dano que possa sobrevir ao objeto do seguro…”. No caso,
“ao segurado” e “da perda ou dano” são ambos objetos indiretos. A
correção vem por fazer de um dos complementos um objeto direto e, de
outro, um objeto indireto: a) “… indenizar ao segurado a perda ou
dano…” (correto); b) “… indenizar o segurado da perda ou dano…”
(correto).
16. Adalberto J. Kaspary (1996, p. 191) tece, acerca do mencionado verbo
em textos de lei, interessantes observações: a) A construção indenizar
alguma coisa a alguém ocorre com extrema raridade, tendo-a
encontrado tal autor apenas quatro vezes em todos os textos que
pesquisou; b) Em nenhum dos trinta e quatro exemplos localizados no
Código Civil de Portugal aparece a mencionada regência, sendo mais
frequente a construção indenizar alguém de alguma coisa (vinte e
cinco vezes), seguida de indenizar alguém ou algo (seis vezes) e de
indenizar alguém por alguma coisa (quatro vezes).

Independentemente ou Independente?
1. Muito embora incomode a alguns a repetição de sons existente nesse
vocábulo, é de se atentar na lição de Domingos Paschoal Cegalla: “É
incorreto usar independente (adjetivo) em vez de independentemente
(advérbio)”. Exs.: a) “O contrato terminará no prazo estipulado,
independente de qualquer notificação” (errado); b) “O contrato
terminará no prazo estipulado, independentemente de qualquer
notificação” (correto).
2. O mesmo autor leciona o modo geral de correção de exemplos dessa
natureza: “Troque-se o adjetivo pelo advérbio, e a frase ficará correta”
(CEGALLA, 1999, p. 206).
3. Apesar de todo o cuidado na redação, oriundo da polêmica sustentada
por Rui Barbosa antes de sua aprovação, o CC/1916 traz um equívoco
dessa natureza no art. 1.001: “A novação, por substituição do devedor,
pode ser efetuada independente de consentimento deste”. O CC/2002, no
art. 362, todavia, acabou procedendo à respectiva correção: “A novação
por substituição do devedor pode ser efetuada independentemente de
consentimento deste”.
4. Mas esse não é o único equívoco da legislação codificada. O art. 596 do
vetusto Código Comercial (Lei 556, de 25/6/1850), por exemplo, assim
registra: “… o fretador … poderá … completar a carga por outros
carregadores, independente de consentimento do afretador”. Corrija-se:
“… o fretador … poderá … completar a carga por outros carregadores,
independentemente de consentimento do afretador”.
5. Também no mesmo Código Comercial, o art. 862: “Os administradores
da quebra, sem necessidade de outro algum título mais que a ata do
contrato da união, e independente da audiência do falido, procederão à
venda de todos os seus bens, efeitos e mercadorias, qualquer que seja a
sua espécie, e a liquidação das suas dívidas ativas e passivas”. Corrija-
se: “Os administradores da quebra, … independentemente da audiência
do falido, procederão à venda de todos os seus bens, efeitos e
mercadorias…”.
6. Veja-se, ainda o art. 267, § 1º, do Código Eleitoral (Lei 4.737, de
15/7/1965): “A intimação se fará pela publicação da notícia da vista no
jornal que publicar o expediente da Justiça Eleitoral, onde houver, e nos
demais lugares, pessoalmente pelo escrivão, independente de iniciativa
do recorrente”. Corrija-se: “A intimação se fará …, independentemente
de iniciativa do recorrente”.
7. E o art. 149, § 2º, do Código Brasileiro de Aeronáutica (Lei 7.565, de
19/12/1986): “No caso do parágrafo anterior, o domínio fiduciário
transferir-se-á, no ato do registro, sobre as partes componentes, e
estender-se-á à aeronave construída, independente de formalidade
posterior”. Corrija-se: “… o domínio fiduciário transferir-se-á…
independentemente de formalidade posterior”.
8. E ainda o art. 156, § 2º, do mesmo Código Brasileiro de Aeronáutica: “A
função não remunerada, a bordo de aeronave de serviço aéreo privado
(artigo 177) pode ser exercida por tripulantes habilitados, independente
de sua nacionalidade”. Corrija-se: “A função … pode ser exercida por
tripulantes habilitados, independentemente de sua nacionalidade”.
9. Por fim, sem pretensão alguma de exaurir os equívocos da legislação
nesse campo, o art. 220 do mesmo Código Brasileiro de Aeronáutica:
“Os serviços de táxi-aéreo constituem modalidade de transporte público
aéreo não regular de passageiro ou carga, mediante remuneração
convencionada entre o usuário e o transportador, sob a fiscalização do
Ministério da Aeronáutica, e visando a proporcionar atendimento
imediato, independente de horário, percurso ou escala”. Corrija-se: “…
visando a proporcionar atendimento imediato, independentemente de
horário, percurso ou escala”.

Indicativo ou Imperativo?
Ver Registre-se ou Registra-se? (P. 651)

Indicativo ou Subjuntivo?
Ver Há quem garante ou Há quem garanta? (P. 385)

Indicativo por Subjuntivo


1. Vejam-se os seguintes exemplos: a) “Ainda que pareça fácil, trata-se de
matéria de difícil compreensão”; b) “Ainda que parece fácil, trata-se de
matéria de difícil compreensão”.
2. O verbo parecer, na oração subordinada do primeiro exemplo, está no
presente do subjuntivo; o da oração subordinada do segundo exemplo,
no presente do indicativo.
3. Em frases como essas, de idêntico significado, construídas pelas
conjunções ou locuções conjuntivas concessivas ainda que, bem que,
conquanto, posto que e outras equivalentes, o emprego do verbo no
subjuntivo, tal como se acha no primeiro exemplo, dispensa
comentários, por ser essa a sintaxe mais usual na escrita moderna.
4. No que respeita ao emprego do verbo no indicativo, porém, anote-se que
Vieira, Camões, Bernardes e os outros clássicos “assim construíam
todos, construção, como se vê, lidimamente vernácula e de bom cunho,
que, no entanto, vai resvalando no esquecimento”, sendo raros os
escritores modernos que a empregam (FREIRE, 1937a, p. 24), podendo-
se acrescentar que a referida sintaxe vem sendo substituída
gradativamente, nos tempos atuais, pelo emprego do subjuntivo.
5. Não se olvide, porém, que, se, para alguns, a segunda forma pode
parecer não soar bem modernamente, tal, entretanto, não significa que
não esteja ela em estrita consonância com a correção do vernáculo.
6. De Laudelino Freire vem a lição de que, “nas frases em que se emprega
qualquer das expressões ainda que, bem que, conquanto, posto que e
outras equivalentes, o verbo da oração subordinada tanto pode estar no
subjuntivo como no indicativo”.
7. E lembrando que o emprego do verbo no subjuntivo é a forma mais
usual (FREIRE, 1937b, p. 92-3) – “E ainda que pareça matéria de riso…
é matéria de toda a tentação” (Vieira) – passa tal autor a transcrever
exemplos de autores insuspeitos, que empregaram o verbo no indicativo:
a) “… ainda que Deus era imenso e invisível” (Vieira); b) “… mas
conquanto não pode haver desgosto” (Camões); c) “Não hesita Diez em
chamar solecismo, ainda que está subscrita por Camões” (Rui Barbosa);
d) “Posto que era horrendo esse inimigo…” (Castilho).
8. Em lição proferida para a expressão desde que, anota Luciano Correia da
Silva (1991, p. 154) que, “como locução conjuntiva, leva ordinariamente
o verbo para o subjuntivo, se a função for condicional: ‘Poderão
requerer o divórcio desde que satisfaçam todas as exigências legais’. Tal
fato é regra também com várias outras conjunções: embora sejam, ainda
que façam, ainda que fizessem etc. Entretanto é norma geral, que os
autores nem sempre observaram: ‘O trigo do semeador, ainda que caiu
quatro vezes, só de três nasceu’ (Vieira, Sermões…)”.
9. Em realidade, é lição primeira de conjugação verbal a assertiva de que o
modo indicativo aponta para uma certeza, enquanto o subjuntivo refere
dúvida, indecisão, incerteza.
10. Assis Cintra, contudo, mesmo referindo doutrina de gramáticos no
sentido dessa posição inflexível (dentre os quais Júlio Ribeiro e
Ernesto Carneiro Ribeiro), cita ensinamento esclarecedor de Rui
Barbosa, em sua Réplica: “Enunciada em absoluto, não é verdadeira a
sentença de que o subjuntivo indique sempre dúvida, indecisão,
incerteza. Certo que as locuções enunciativas, ação possível, desejável,
receável ou dubitável, conformam especialmente com aquele modo
verbal. Mas não seria igualmente exato que só por esse modo se
exprimam essas ideias, assim como o não é que só a exprimir tais
ideias, se emite a função desse modo. Muita vez se traduz a dúvida em
tempos do verbo no indicativo”.
11. E refere o mencionado autor (CINTRA, 1922, p. 31-45) diversos
exemplos indicadores de dúvida no indicativo, concluindo que “todas
essas orações, perfeitamente conversíveis ao subjuntivo e mais comuns
sob essa forma, se dão igualmente bem com as do indicativo”: a)
“Ainda que me parece que este o não fez” (Camões); b) “É possível
que em nenhuma parte das nossas hierarquias achou Deus outra
natureza?” (Padre Antônio Vieira); c) “Suposto que aquele amor
também é honesto” (Padre Manuel Bernardes); d) “Pode ser que isto
foi a causa” (Frei Luís de Sousa).
Ver Posto que (P. 587).

Índice de indeterminação do sujeito


Ver Gosta-se de um bom vinho – Está correto? (P. 375)
Indignar-se
1. Quanto a sua pronúncia, mesmo entre as pessoas cultas, há uma
tendência a introduzir uma vogal logo após o g que encerra o radical, nas
formas rizotônicas, pronunciando-se indiguino, indiguinas…
2. Trata-se, porém, de verbo regular, em que, ao radical (indign) apenas se
acrescentam as desinências próprias da conjugação: indigno, indignas,
indigna…; indigne, indignes…, com a sílaba tônica, em tais formas,
incidindo no próprio radical (SACCONI, 1979, p. 20).
3. Quanto a vocábulos como indiguino e indiguinas, Sousa e Silva (1958,
p. 157) chama-lhes formas disparatadas.
4. De Vitório Bergo é a seguinte lição: “ao contrário do que pensam
muitos, nas formas rizotônicas deste verbo o acento tônico incide no i
que precede o g e não nesta consoante, pois só vogal pode ser acentuada;
não se diga, pois, indiguino, ou coisa que tal, mas: indigno-me, indignas-
te, indigna-se… indignam-se; indigna-te tu, indignai-vos vós; que eu me
indigne, que tu te indignes, que ele se indigne… que eles se indignem;
não te indignes tu, não vos indigneis vós” (1943, p. 69).
5. Como as formas rizotônicas apenas ocorrem no presente do indicativo,
presente do subjuntivo, imperativo afirmativo e imperativo negativo, não
deve haver preocupação alguma, acerca da observação feita, nos demais
tempos: indignava (pretérito imperfeito), indignarei (futuro do presente),
indignaria (futuro do pretérito), indignado (particípio), indignando
(gerúndio), indignei (pretérito perfeito), indignara (pretérito mais-que-
perfeito), indignasse (imperfeito do subjuntivo), indignar (futuro do
subjuntivo).

Indiscreção ou Indiscrição?
1. Indiscreção é palavra que não existe.
Ver Descrição, Discrição ou Discreção? (P. 273)

Indispor – Como conjugar?


Ver Pôr – Como conjugar? (P. 577)
Induvidar – Existe?
1. O prefixo in é de origem latina e tem valor negativo, servindo para dar
causa a derivação nominal (SARAIVA, 1993, p. 586).
2. Em outras palavras, pode servir para criar neologismos, por via erudita,
desde que estes sejam advérbios, adjetivos ou substantivos, derivados de
outros nomes já existentes. Exs.: imerecido, impagável, inaplicável,
induvidoso, inexigido.
3. Por se tratar de prefixo nominal, porém, não se presta, por via de regra, à
criação de novos verbos pelo processo já referido, motivo por que são
errôneos vocábulos como imerecer, impagar, inaplicar, induvidar,
inexigir.
4. Excepcionalmente, aparecem alguns verbos com o prefixo in tendo valor
negativo, como imortalizar, impronunciar, incapacitar, inutilizar, dentre
outros que se discriminam nos dicionários; tal elenco, porém, deve ser
mantido como rol de exceções, não se prestando ao estabelecimento de
nova regra para formação de palavras.
5. Para que não remanesça dúvida alguma, induvidar é vocábulo não
registrado pelo Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da
Academia Brasileira de Letras, órgão incumbido oficialmente de
determinar a existência dos vocábulos em nosso idioma, além de sua
grafia oficial, o que significa que seu emprego não está oficialmente
autorizado entre nós.

Induzir em erro ou Induzir a erro?


1. No sentido de concluir, deduzir, inferir, pressupor, é transitivo direto
(FERNANDES, 1971, p. 383). Ex.: “Os alunos induzirão a regra depois
da observação dos seguintes exemplos…” (Sá Nunes).
2. No sentido de causar, provocar, originar, resultar em, constrói-se com
objeto direto (que pode ser sujeito na voz passiva). Exs.: a) “A nulidade
do instrumento não induz a do ato, sempre que este puder provar-se por
outro meio” (CC/1916, art. 152, parágrafo único, e CC/2002, art. 183);
b) “… A nulidade da obrigação principal implica a das obrigações
acessórias, mas a destas não induz a da obrigação principal” (CC/1916,
art. 153, e CC/2002, art. 184); c) “A citação válida torna prevento o
juízo, induz litispendência e faz litigiosa a coisa” (CPC/1973, art. 219);
d) “A nulidade do ato não é induzida pela do instrumento…”; e) “A
nulidade da obrigação principal não é induzida pela das acessórias”; f)
“A litispendência é induzida pela citação válida…”.
3. Observe-se, por oportuno, que o art. 678 do Projeto do Código Civil
trazia a expressão “induzem à propriedade”; apontando a erronia, Rui
Barbosa asseverou que “o verbo induzir pede complemento direto”
(1949, p. 231).
4. No sentido de instigar, incitar, persuadir alguém, por meio de
argumentos artificiosos, a praticar certo ato, aparece sob a construção
induzir alguém a algo. Ex. “Carecem de capacidade sucessória, por
motivo de indignidade: … c) O que por meio de dolo ou coação induziu
o autor da sucessão a fazer, revogar ou modificar o testamento, ou disso
o impediu” (CC português, art. 2.034º, c).
5. No sentido de arrastar, fazer cair em erro, observa Francisco Fernandes
(1971, p. 383) que o objeto indireto vem regido pela preposição em
(induzir alguém em). Ex.: “Quando, nos seus escritos, estatuiu leis
gramaticais, foi para induzir em erro os que as observassem” (Rui
Barbosa).

Inempregável – Existe?
Ver In (P. 402).

Inequivocamente ou Inequivocadamente?
1. Uma premissa a ser fixada neste assunto é que o sufixo mente, em
português, forma advérbios a partir de adjetivos no feminino. Assim:
criteriosamente (criterioso > criteriosa > criteriosamente),
satisfatoriamente (satisfatório > satisfatória > satisfatoriamente).
2. Por isso, para saber se estão corretos, como advérbios, os vocábulos
inequivocamente e inequivocadamente, deve-se verificar, por primeiro,
se equívoco e equivocado existem no idioma como reais adjetivos.
3. E uma consulta ao Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa –
editado pela Academia Brasileira de Letras, por delegação legal, para
fixar, com força de lei, quais vocábulos pertencem oficialmente ao nosso
léxico – revela que tanto equívoco como equivocado podem ser adjetivos
(2009, p. 326).
4. Apenas para esclarecer, os dicionários lhes conferem o sentido: equívoco
significa ambíguo ou aquilo que pode ter mais de um sentido; já
equivocado quer dizer errado ou que cometeu algum engano.
5. Ora, se equívoco e equivocado são adjetivos, podem seguir pela regra
geral e, assim, tornar-se advérbios nos moldes já referidos:
equivocamente e equivocadamente. Ou seja: os dois advérbios estão
formados de modo regular no idioma pátrio.
6. Em sequência, observa-se que in é um prefixo latino de valor negativo,
com função nominal, isto é, pode servir para criar neologismos, por via
erudita, desde que se junte a advérbios, adjetivos ou substantivos,
derivados de outros nomes já existentes, como imerecido, impagável,
inaplicável, induvidoso, inexigido.
7. Com essas premissas, pode-se concluir que nada impede que, em
português, também se diga tanto inequivocamente como
inequivocadamente, cada qual com seu específico significado, a partir
das acepções inicialmente esclarecidas. Ou seja: inequivocamente quer
dizer de modo não ambíguo; já inequivocadamente significa de modo
não errado.

Inexigir – Existe?
1. O prefixo in é de origem latina e tem valor negativo, servindo para dar
causa a derivação nominal (SARAIVA, 1993, p. 586).
2. Em outras palavras, pode servir para criar neologismos, por via erudita,
desde que estes sejam advérbios, adjetivos ou substantivos, derivados de
outros nomes já existentes. Exs.: imerecido, impagável, inaplicável,
induvidoso, inexigido.
3. Por se tratar de prefixo nominal, porém, não se presta, por via de regra, à
criação de novos verbos pelo processo já referido, motivo por que são
errôneos vocábulos como imerecer, impagar, inaplicar, induvidar,
inexigir.
4. Excepcionalmente, aparecem alguns verbos com o prefixo in tendo valor
negativo, como imortalizar, impronunciar, incapacitar, inutilizar, dentre
outros que se discriminam nos dicionários; tal elenco, porém, deve ser
mantido como rol de exceções, não se prestando ao estabelecimento de
nova regra para formação de palavras.
5. Para que não remanesça dúvida alguma, inexigir é vocábulo não
registrado pelo Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da
Academia Brasileira de Letras, órgão incumbido oficialmente de
determinar a existência dos vocábulos em nosso idioma, além de sua
grafia oficial, o que significa que seu emprego não está oficialmente
autorizado entre nós.
Ver Existe em português? (P. 346)

Infarte ou Infarto?
Ver Enfarte, Enfarto, Infarte ou Infarto? (P. 319)

Infazer – Existe?
Ver Existe em português? (P. 346)

In fine
1. Expressão latina de grande uso nos meios jurídicos, sobretudo em
citações de artigos, parágrafos e incisos de textos legais, deve ser
traduzida como no fim, na parte final. Ex.: “Por determinação do art.
199, parágrafo único, in fine, do Código Civil de 1916, parentes
próximos não podem servir como testemunhas do casamento
nuncupativo”.
2. Por pertencer a outro idioma, é locução que, a rigor, deve vir entre aspas,
em negrito, itálico, com sublinha ou grifo indicador de tal circunstância.
3. Também não se há de olvidar a lição de Edmundo Dantès Nascimento
(1982, p. 145) no sentido de que expressões como essa não eram
hifenizadas em latim, razão pela qual “não o podem ser em língua
nenhuma”, acrescentando tal autor que, “para quem pretende grafar
escorreitamente não é permitido o hífen em expressões do latim
clássico”.
Infinitivo
Ver A fazer – Está correto? (P. 91), Agradável de se ler ou Agradável de
ler? (P. 99), Infinitivo na voz passiva (P. 415) e Uso do infinitivo (P. 752).

Infinitivo com auxiliar – Como flexionar?


1. Uma leitora diz ter dúvida quanto a usar o infinitivo em expressões
como a que segue: “Graças a Deus, parou de chover, devendo os
moradores voltar (ou voltarem) para suas casas”.
2. Para localizar o problema, importa observar que a dúvida da leitora está
na locução verbal devendo … voltar, em que dever é o auxiliar, e voltar é
o verbo principal.
3. Pois bem. Com essa premissa de fato, invoca-se uma primeira e
importante regra de uso do infinitivo, segundo a qual, nas locuções
verbais, “não é lícito flexionar o infinitivo” (MACHADO FILHO,
1969b, p. 705). Exs.: a) “Os magistrados não podem fazer sozinhos o
trabalho de administrar a justiça” (correto); b) “Os magistrados não
podem fazerem sozinhos o trabalho de administrar a justiça” (errado).
4. Se não é difícil acertar a utilização do infinitivo nesses casos em que ele
está diretamente ligado ao auxiliar, a questão já não é tão simples
quando, entre ambos, existem outras palavras. Exs.: a) “Os magistrados
não podem, sozinhos, sem a participação de todos os segmentos
envolvidos, fazerem o trabalho de administrar a justiça” (errado); b) “Os
magistrados não podem, sozinhos, sem a participação de todos os
segmentos envolvidos, fazer o trabalho de administrar a justiça”
(correto).
5. Essa possibilidade de erro também aumenta significativamente, quando,
na locução verbal, o auxiliar se apresenta em forma invariável (como no
gerúndio, que é exatamente a situação do caso da dúvida da leitora).
6. E, nesse campo, até dispositivos de lei acabam resvalando para o abismo
dos equívocos, como se vê no seguinte caso: “O tabelião fica
desobrigado de manter, em cartório, o original ou cópias autenticadas
das certidões mencionadas nos incisos III e IV do art. 1º, desde que
transcreva na escritura pública os elementos necessários à sua
identificação, devendo, neste caso, as certidões acompanharem o
traslado da escritura” (art. 2º do Decreto 93.240, de 9/11/86, que
regulamentou a Lei 7.433, de 18/12/85, a qual dispôs sobre os requisitos
para lavratura de escrituras públicas).
7. Um simples exercício de junção dos termos da locução verbal revela a
necessidade de correção: … devendo… acompanhar o traslado da
escritura.
8. Depois de todas essas considerações, façam-se algumas observações
sobre a expressão “… devendo os moradores voltar para suas casas”,
em reposta direta à indagação da leitora: a) a locução verbal é devendo
… voltar; b) como não é difícil perceber, o verbo auxiliar está no
gerúndio (devendo); c) como é sempre o auxiliar da locução – e não o
principal – que se flexiona em tais circunstâncias, o verbo voltar não
sofre flexão alguma, até porque o gerúndio não é variável.
9. Confiram-se, em remate, as seguintes formas, com a verificação de sua
correção ou erronia entre parênteses: a) “Os moradores devem voltar
para suas casas” (correto); b) “Os moradores devem voltarem para suas
casas” (errado); c) “Nós devemos voltar para nossas casas” (correto); d)
“Nós devemos voltarmos para nossas casas” (errado); e) “… devendo os
moradores voltar para suas casas” (correto); f) “… devendo os
moradores voltarem para suas casas” (errado); g) “… devendo nós, por
conseguinte, voltar para nossas casas” (correto); h) “… devendo nós,
por conseguinte, voltarmos para nossas casas” (errado).

Infinitivo como sujeito – Como concordar?


1. Com frequência, veem-se exemplos como o seguinte: “O vencedor
ganhou por qualidades que não adiantam discutir”.
2. De maneira bem simples, lembra-se que o sentido do texto é (i) discutir
não adianta – (ii) e não qualidades não adiantam. Vale dizer que o que,
em suma, não adianta, o que não traz nenhum proveito, não são as
qualidades do vencedor, e sim discutir essas qualidades.
3. Em termos mais técnicos, o verbo adiantar não é auxiliar de discutir, e o
sujeito de adiantar é a oração discutir, e não o pronome que, relativo a
qualidades; este pronome é objeto direto de discutir.
4. A correção da frase proposta, assim, é: “O vencedor ganhou por
qualidades que não adianta discutir”.
5. O equívoco apontado constitui erro frequentíssimo com verbos que, do
mesmo modo como adiantar e fazer, podem ter por sujeito uma oração
reduzida de infinitivo: (i) bastar, (ii) caber no sentido de vir a propósito
ou competir, (iii) cumprir no significado de convir, (iv) faltar na acepção
de restar, (v) incumbir em lugar de competir, (vi) importar no sentido de
convir, (vii) parecer seguido de adjetivo, (viii) relevar na acepção de ser
conveniente ou necessário, (ix) tornar-se com predicativo, e poucos
mais.
6. Para melhor fixação, atente-se aos seguintes exemplos: a) “Coisas que
não basta evitar” (e não bastam); b) “Argumentos que não cabe
discutir” (e não cabem); c) “Tarefas que cumpre realizar” (e não
cumprem); d) “Assuntos que falta tratar” (e não faltam); e) “Trabalhos
que não nos incumbe executar” (e não incumbem); f) “Erros que importa
omitir” (e não importam); g) “Doutrinas que parece conveniente
esquecer” (e não parecem); h) “Circunstâncias que releva observar” (e
não relevam); i) “Casos que se torna necessário enumerar” (e não
tornam); j) “Motivos que interessa relatar” (e não interessam).
7. Para todos esses exemplos, vale a didática lição de Sousa e Silva:
“Quando está no infinitivo o primeiro verbo que se segue, na frase, a
algum dos que acabamos de mencionar, empregado na acepção indicada,
vai este na terceira pessoa do singular” (1958, p. 20-1).
8. Para análise e correção de estruturas dessa natureza, atente-se à lição de
Vitório Bergo: “Em frases como esta, nem sempre o sujeito de ser
necessário é o relativo que, com cujo antecedente se estabelece a
concordância verbal; não raro, a função subjetiva é exercida por uma
subordinada substantiva, que deixa o verbo no singular” (1944, p. 59).
Ex.: “Vejo coisas que é necessário fazer”.

Infinitivo na voz passiva


1. Na voz passiva sintética, o termo que aparenta ser objeto direto, é, em
realidade, o sujeito. Ex.: “Aluga-se uma casa” (uma casa = sujeito).
2. Tal voz passiva sintética pode ser transformada em voz passiva analítica,
raciocínio esse que facilita o entendimento e evidencia a permanência do
referido termo com a mesma função sintática: “Uma casa é alugada”
(uma casa = sujeito).
3. E, por força da regra segundo a qual o verbo concorda com o seu sujeito,
tal frase, no plural, faz: “Alugam-se casas”.
4. De igual modo, o infinitivo, na voz passiva sintética (ou pronominal),
deve concordar normalmente com o sujeito. Exs.: a) “O advogado
insistia na necessidade de se encontrar uma prova convincente”; b) “O
advogado insistia na necessidade de se encontrarem provas
convincentes”; c) “… era costume distribuírem-se velas indistintamente
a todos os cidadãos” (Sérgio Buarque de Holanda); d) “Um dos
professores sugeriu, ao se discutirem os programas, a ideia do ensino
integral da Zoologia…” (Carlos de Laet).

Infinitivo precedido pela preposição a


Ver A fazer – Está correto? (P. 91)

Inflição
1. Para Eliasar Rosa, “é o ato de infligir” (1993, p. 85), de aplicar pena ou
castigo.
2. Apesar de seu pouco uso, trata-se de palavra regularmente registrada
pelo Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia
Brasileira de Letras, que é o veículo oficialmente incumbido de
determinar os vocábulos que integram nosso idioma (2009, p. 457),
motivo por que está plenamente autorizado seu emprego.

Infligir ou Infringir?
Ver Infringir ou Infligir? (P. 417)

Influir
1. Quanto a sua ortografia, como todo verbo terminado em uir, só pode dar
origem à terminação ui na segunda e terceira pessoas do singular do
presente do indicativo: influo, influis, influi.
2. Diferentemente dos verbos terminados em uar (como continuar), são
errôneas as grafias com e em tais situações: influes, influe.
3. Nas palavras de Cândido de Oliveira, atento aos frequentes equívocos
cometidos nesse campo, “é com i a segunda e terceira pessoas do
singular do presente do indicativo dos verbos terminados em uir: aflui,
fruis, retribui, retribuis, contribui, contribuis, influi, influis” (1961, p.
64).
4. No que concerne à regência verbal, pode-se construir tal verbo com as
preposições em e sobre: a) “O fato superveniente influiu na decisão do
magistrado”; b) “O fato superveniente influiu sobre a decisão do
magistrado”.
5. Aos que intentam ver na construção influir sobre um galicismo, Mário
Barreto (1954a, p. 246-7) rebate com o argumento do uso e o abono dos
clássicos. Ex.: “A literatura atual é palavra, é o verbo ainda balbuciante
de uma sociedade indefinida, e contudo já influi sobre ela” (Almeida
Garrett).
6. Também para Sousa e Silva (1958, p. 161), influir sobre é regência tão
boa quanto influir em.
7. Francisco Fernandes, de igual modo, defende a possibilidade da
construção influir sobre, estribado até mesmo em exemplo de Rui
Barbosa: “Todas as autoridades que acabo de mencionar lhe são
posteriores, e sobre nenhuma influiu o exemplo de Paris” (1971, p. 385).
8. E Celso Pedro Luft é ainda mais específico: “A regência primária é
influir em… A preposição sobre, mais recente, se deve certamente à
analogia com atuar, exercer pressão, etc.” (1999, p. 334).

Informar
1. É interessante sua construção, no que respeita à regência verbal,
porquanto a coisa e a pessoa podem ser, indiferentemente, objeto direto
ou objeto indireto, apenas com a observação de que não pode haver, ao
mesmo tempo e em mesma oração, dois objetos diretos nem dois objetos
indiretos.
2. Assim, são corretas as construções: a) “Informaram ao Corregedor o
fato ocorrido”; b) “Informaram o Corregedor do (ou sobre o) fato
ocorrido”.
3. Pode-se sintetizar o assunto com as observações de Artur de Almeida
Torres (1967, p. 179-80): a) “Constrói-se, frequentemente, com objeto
direto de pessoa e indireto de coisa: informar alguém de alguma coisa”;
b) “Raramente aparece com objeto direto de coisa e indireto de pessoa:
informar alguma coisa a alguém”; c) “Não raro aparece seguido de
sobre, acerca de, a respeito de, contra, no sentido de dar parecer ou
informe, esclarecer”: i) “Em uma página útil e talvez a única proveitosa
aos viajantes, informa acerca dos hotéis” (Camilo Castelo Branco); ii)
“Ele informou contra” (Rui Barbosa).
4. Repita-se que não são, todavia, corretas as seguintes estruturas, que têm
ou dois objetos diretos ou dois objetos indiretos: a) “Informaram ao
Corregedor do fato ocorrido”; b) “Informaram o Corregedor o fato
ocorrido”.
5. Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 210-1) admite, para tal verbo, as
seguintes construções: a) informar alguém de (ou sobre, ou acerca de)
alguma coisa; b) informar alguma coisa a alguém.
6. Na lição de Antonio Henriques e Maria Margarida de Andrade, “pode-se
ver que há dupla construção possível: a) informar alguém de alguma
coisa; b) informar alguma coisa a alguém” (1999, p. 89).
7. Também defendendo ambas as construções, Francisco Fernandes (1971,
p. 385) observa que, às vezes, a preposição vem subentendida, esteando-
se em lição de Sousa da Silveira: “Sou informado que o original da
transcrição de Arinos está na 8ª edição de Morais” (de que o original).
8. Corroborando a possibilidade de ambas as construções, Celso Pedro Luft
(1999, p. 334) traz observações interessantes: a) “a regência primária é
informar (-se) de algo”; b) “a preposição sobre (ou acerca de, a respeito
de) veio do traço ‘assunto, matéria’ ou ‘relação’, como ocorre em falar
de ou sobre, notícias de ou sobre, etc.”; c) “Informar algo a alguém é
regência secundária, devida a traços semânticos como levar (pela fala:
comunicar), ‘destinatário’, dos verbos dizer, comunicar, etc.”.
9. Nos textos jurídicos, aparece tal verbo, por primeiro, com a construção
informar algo a alguém (e o algo, sendo objeto direto da voz ativa, pode
aparecer como sujeito na voz passiva). Exs.: a) “Compete ao terceiro, em
relação a qualquer pleito: I – informar ao juiz os fatos e as
circunstâncias, de que tenha conhecimento…” (CPC/1973, art. 341, I);
b) “No relatório anual, os órgãos da administração da companhia
aberta informarão à assembleia geral as disposições sobre política de
reinvestimento de lucros e distribuição de dividendos…” (Lei 6.404, de
15/12/76, art. 118, § 5º).
10. Em outros dispositivos, aparece a construção informar alguém de algo
(e o alguém, sendo objeto direto da voz ativa, pode ser transformado
em sujeito na voz passiva). Exs.: a) “… o preso será informado de seus
direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada
a assistência da família e de advogado” (CF/88, art. 5º, LXIII); b) “…
o Ministério Público informará do fato o procurador-geral da
República, que tomará ou proporá as providências convenientes” (CPP
português, art. 337º, § 2º); c) “Os processos em que houver réus presos
serão apresentados aos magistrados pelo escrivão, que os informará
desse fato” (CPP português, art. 355º).
11. Como pronominal, aparece com as construções informar-se acerca de
algo ou informar-se de algo. Exs.: a) “Se o citando não estiver
presente, o oficial de justiça procurará informar-se das razões da
ausência…” (CPC/1973, art. 228, § 1º); b) “Ao Conselho Nacional de
Política Criminal e Penitenciária, no exercício de suas atividades, em
âmbito federal ou estadual, incumbe: … VIII – inspecionar e fiscalizar
os estabelecimentos penais, bem assim informar-se… acerca do
desenvolvimento da execução penal nos Estados, Territórios e Distrito
Federal…” (Lei 7.210, de 11/7/84, art. 64, VIII).
12. Na acepção de dar informe ou esclarecer, vem sob a construção
informar sobre. Ex.: “Compete à lei federal: I – regular as diversões e
espetáculos públicos, cabendo ao Poder Público informar sobre a
natureza deles…” (CF/88, art. 220, § 3º, I).
13. Também seguem a mesma construção os verbos aconselhar, avisar,
certificar e prevenir.

Infra – Como empregar o hífen?


1. Apenas em dois casos se usa o hífen com o prefixo infra: a) quando o
elemento seguinte começa com h: infra-hepático, infra-homem, infra-
humano; b) quando o segundo elemento se inicia pela mesma letra que
termina o prefixo: infra-acústico, infra-assinado, infra-atômico.
2. Antes de outra consoante, que não seja h, acopla-se diretamente à
palavra seguinte, sem hífen: infrabucal, infracitado, infrafamiliar,
inframaxilar, inframencionado, infranasal, infravermelho.
3. De igual modo, junta-se sem hífen, quando o elemento seguinte se inicia
por outra vogal, que não a mesma que finaliza o prefixo: infraescrito,
infraestrutura, infraocular, infraordem, infraumbilical.
4. Para a hipótese de ser o segundo elemento iniciado por r ou s, dobram-se
tais consoantes para continuidade do som originário: infrarradical,
infrarrenal, infrasseção, infrassônico.

Infringência
1. Como é de frequente emprego nos textos jurídicos e forenses, importa
saber se existe ou não o vocábulo infringência, até mesmo por motivo da
objeção de alguns.
2. Reafirme-se observação importante já referida mais de uma vez: no que
tange à existência, à grafia e ao gênero das palavras em nosso idioma, a
autoridade fica com a Academia Brasileira de Letras, que edita
regularmente o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, uma
espécie de dicionário que lista as palavras reconhecidas oficialmente
como pertencentes ao nosso léxico, bem como lhes fornece a grafia
oficial, muito embora normalmente não lhes comente o significado.
3. Ao agir assim, a ABL desincumbe-se de uma delegação legal, já que a
vetusta Lei Eduardo Ramos, de n. 726, de 8/12/1900, incumbiu-a de
editar regularmente essa lista oficial dos vocábulos de nosso idioma.
4. Ora, uma consulta à mais recente edição da mencionada obra revela a
expressa existência do vocábulo infringência como integrante de nosso
léxico (2009, p. 457), de modo que, apesar da objeção de alguns, que até
mesmo a consideram “criação totalmente sem fundamento”
(RODRÍGUEZ, 2000, p. 411), não há dúvida alguma acerca de sua
existência e da regularidade de seu emprego, com elevado interesse no
campo do Direito, onde há frequente uso.
5. Tem o mesmo significado de desobediência, transgressão, violação.
Exs.: a) “A infringência ao Código Penal está claramente tipificada no
caso em discussão”; b) “Não se pode falar em infringência à lei penal,
se não há previsão legal como conduta criminosa”.
6. Ao menos em um lugar, em nossa legislação, o referido vocábulo é
empregado: “É nulo o casamento contraído… por infringência de
impedimento” (CC/2002, art. 1.548, II)

Infringir ou Infligir?
1. Em sua conjugação verbal, infringir apresenta problemas de ortografia.
2. Diferentemente dos verbos cujo radical termina em j – consoante essa
que tem o mesmo som antes de todas as vogais (viajo, viajas, viajemos,
viajeis, viajem) – os verbos terminados em gir, para continuidade do som
da consoante final do radical, precisam da representação gráfica j antes
de a ou de o. Assim: infrinjo, infringes, infringe, infrinjam.
3. Seguem as mesmas observações diversos outros verbos: coligir, erigir,
exigir, impingir, infligir, insurgir-se, transigir.
4. Do latim frango (quebro) e tendo por infinitivo latino infringere,
etimologicamente quer dizer quebrantar, transgredir, violar. Ex.: “O
funcionário infringiu o regulamento”.
5. São seus cognatos frangível, frangalho, fratura, fração, infração,
infringência.
6. Não confundir com sua parônima infligir, que significa cominar ou
aplicar pena, castigo, repreensão.
7. Buscando diferenciar os dois vocábulos, assim se expressam Regina
Toledo Damião e Antonio Henriques: “Infringir (infringere) refere-se à
violação da lei ou não cumprimento de obrigações. Infligir (infligere)
tem o sentido de aplicar, impor, atirar. Em Direito, é aplicar pena ou
castigo à pessoa, em consequência de conduta criminosa ou lesiva por
ela praticada” (1994, p. 46).

Inglaterra – Estive em ou na?


Ver França – Estive em ou na? (P. 363)

Inglesmente – Existe?
Ver Portuguesmente – Existe? (P. 583)
Ingressar com ação – é correto?
Ver Entrar na Justiça – É correto? (P. 322)

Ingressar com ou Ingressar em?


1. Uma leitora indaga, em suma, qual é o correto emprego do verbo
ingressar: tendo seu complemento regido pela preposição com, pela
preposição em, ou tendo os dois complementos regidos cada qual por
uma delas?
2. Ora, em linhas gerais para o que aqui interessa, costuma-se dizer que um
verbo, em português, pode ser intransitivo (quando não tem
complemento), transitivo direto (quando o complemento não vem
precedido por preposição), transitivo indireto (quando o complemento
tem preposição) ou bitransitivo (quando admite os dois objetos).
3. Num primeiro aspecto, porém, importa observar que a transitividade não
é rígida nem imutável, mas deve ser observada no contexto, pois um
mesmo verbo pode apresentar diferentes modos de construção,
dependendo do tipo de complementação que se queira atribuir-lhe na
frase. Exs.: a) “O réu falava muito” (intransitivo); b) “O réu falava
palavras desconexas” (transitivo direto); c) “O réu falava a seus
companheiros de cela” (transitivo indireto); d) “O réu falava palavras
desconexas a seus companheiros de cela” (transitivo direto e indireto).
4. Num segundo aspecto, deve-se enfatizar que, embora resolva grande
número de questões, essa lição sobre transitividade não contempla casos
importantes, embora menos comuns, como aquilo que os gramáticos
denominam verbos tritransitivos, de que traduzir é exemplo típico: “João
Ferreira de Almeida traduziu a bíblia do grego para o português” (no
caso, a bíblia é o objeto direto, do grego é um objeto indireto, e para o
português é outro objeto indireto).
5. Num terceiro aspecto, é de se dizer que essa regra geral também não
soluciona os casos de uns poucos verbos que os gramáticos chamam de
bitransitivos indiretos (que têm dois objetos indiretos), como é o caso de
discordar de alguém em alguma coisa, ou queixar-se de alguém a
outrem.
6. E, no caso desses dois últimos verbos, também se reitera o conceito de
que a transitividade deve ser analisada no caso concreto: a) “O aluno
discordou do professor” (transitivo indireto para um primeiro tipo
complemento); b) “O aluno discordou na questão da
constitucionalidade” (transitivo indireto para um segundo tipo
complemento); c) “O aluno discordou do professor na questão da
constitucionalidade” (bitransitivo indireto).
7. O mesmo molde do último exemplo serve para vestir a frase trazida pela
leitora quanto ao verbo ingressar, aqui trazido em diversas variações,
todas corretas: a) “Os autores ingressaram em juízo” (transitivo indireto
para um primeiro tipo de complemento); b) “Os autores ingressaram
com a ação de obrigação de fazer” (transitivo indireto para um segundo
tipo de complemento); c) “Os autores ingressaram em juízo com a ação
de obrigação de fazer” (bitransitivo indireto).

Iniciar ou Iniciar-se?
1. Um leitor pergunta qual a forma correta: a) “O trabalho iniciou em 23 de
março de 2009”; b) “O trabalho se iniciou em 23 de março de 2009”.
2. Ora, dentre os diversos significados e construções com o verbo iniciar, o
que está efetivamente sob análise é aquele em que o seu sujeito (no caso,
o trabalho) é que tem um começo.
3. Com essas características, Francisco Fernandes (1971, p. 385) preconiza
que deve ser ele construído em forma pronominal, ou seja, acompanhado
do se, e traz em abono exemplos de abalizados autores de nosso idioma:
a) “… iniciando-se o povoamento do país…” (Euclides da Cunha); b)
“Pinto Monteiro… iniciou-se na maçonaria em 1830…” (Camilo
Castelo Branco).
4. Já Celso Pedro Luft, constatando usos outros por autores mais recentes
da língua, defende ambas as possibilidades: de construção como
intransitivo ou sem o pronome se. E exemplifica: a) “O curso inicia na
próxima segunda-feira” (correto); b) “O curso se inicia na próxima
segunda-feira” (correto).
5. Nesse caso, a conclusão que se deve extrair é aquela segundo a qual,
onde os estudiosos divergem, ficam permitidas ambas as construções.
6. Assim, respondendo diretamente ao leitor, são corretas ambas as formas
por ele trazidas para análise: a) “O trabalho iniciou em 23 de março de
2009” (correto); b) “O trabalho se iniciou em 23 de março de 2009”
(correto).

Inobstante – Existe?
1. Apesar de seu largo uso nos meios jurídicos, com o sentido de apesar de,
trata-se de palavra não dicionarizada, cuja criação é atribuída por
Napoleão Mendes de Almeida (1981, p. 157) à falta de amadurecimento
do usuário, comparável à que deu origem a palavras que de igual modo
não existem, como aliasmente, devendo, assim, ser evitada a todo custo.
2. São corretas, porém, as expressões nada obstante e não obstante, ambas
com o sentido buscado pelo referido vocábulo.
3. Observe-se que Antonio Henriques e Maria Margarida de Andrade
(1999, p. 100), sem qualquer condenação, apenas asseveram tratar-se tal
vocábulo de “forma encontradiça” em textos jurídicos.
4. Após referendar a correção das expressões equivalentes não obstante e
nada obstante, assim leciona Luciano Correia da Silva: “O que se tem
discutido é a legitimidade do neologismo inobstante, largamente usado
na linguagem forense. Nós, parece-nos que nada impede o emprego
desse vocábulo, uma vez que encontra amparo no processo histórico de
formação das palavras… A formação é regular e, a nosso ver, não
merece censurada, exceto como uma desnecessidade em face às locuções
sinônimas e irmãs: não obstante e nada obstante. O que não se deve é
criar monstrengos linguísticos, tais como: apenasmente, ad hocmente e
outros, produtos da meia ciência, que as mais das vezes é pior do que a
ignorância” (1991, p. 132).
5. Embora reconheça tratar-se de variante de não obstante “tida por
incorreta por alguns como Napoleão Mendes de Almeida”, Antonio
Henriques, em lição permissiva constante de obra escrita solitariamente,
anota ser “forma encontradiça na linguagem jurídica” (1999, p. 117).
Ex.: “Inobstante, o método tópico busca também lugares comuns…”
(Tércio Sampaio Ferraz Jr.).
6. Geraldo Amaral Arruda, por outro lado, é taxativo a seu respeito:
“nenhum dicionário autoriza esse neologismo, que circula nos meios
forenses a par de outras expressões de formação semelhante”.
7. E aconselha tal autor o uso de expressões vernáculas já consagradas,
como não obstante e nada obstante (ARRUDA, 1997, p. 23).
8. Em síntese: embora seja de largo uso na linguagem formal,
principalmente na redação jurídica, inobstante não existe em nosso
idioma.
9. Para espancar dúvidas acerca da impossibilidade de seu emprego, o
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa – veículo oficial da
Academia Brasileira de Letras para apontar quais as palavras existentes
em nosso léxico – em sua edição de 2009, não a registra, o que obriga a
conclusão de que seu emprego não está autorizado em nosso idioma.

Inocorrer – Existe?
1. Eliasar Rosa (1993, p. 79) observa que nossos dicionários não registram
verbos como impagar, muito embora o façam com os adjetivos pagável
e impagável, mas que, no meio jurídico, é comum que se prefixem
verbos com o negativo im, como se dá neste caso.
2. Em realidade, in é prefixo latino de valor negativo e tem função nominal
(SARAIVA, 1993, p. 586), isto é, pode servir para criar neologismos, por
via erudita, desde que estes sejam advérbios, adjetivos ou substantivos
derivados de outros nomes já existentes. Exs.: imerecido, impagável,
inaplicável, induvidoso, inexigido.
3. Por se tratar de prefixo nominal, porém, não se presta, por via de regra, à
criação de novos verbos pelo processo já referido, sendo, por
conseguinte, errôneos vocábulos como imerecer, impagar, inaplicar,
induvidar, inexigir, inocorrer.
4. Excepcionalmente, aparecem alguns verbos com o prefixo in tendo valor
negativo, como imortalizar, impronunciar, incapacitar, inutilizar, dentre
outros que se discriminam nos dicionários; tal elenco, porém, deve ser
mantido como rol de exceções, não se prestando ao estabelecimento de
nova regra para formação de palavras.
5. Anota-se, por fim, que não registra o verbo inocorrer o Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras,
órgão esse oficialmente incumbido de definir quais palavras compõem
nosso léxico, o que implica dizer que seu uso não está oficialmente
autorizado entre nós.

Inquérito
1. Em inquérito, inquirir, perquirir, o u não é pronunciado, como, aliás,
bem lembra Silveira Bueno (1938, p. 179).
2. A frequência com que ocorre o erro na pronúncia desse vocábulo fez
Arnaldo Niskier (1992, p. 3) anotá-lo em obra de profundo senso prático,
acompanhado pela devida correção.
3. Para que não remanesçam dúvidas, veja-se que essa é a posição do
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, publicado pela
Academia Brasileira de Letras, órgão esse que tem delegação legal para
listar as palavras oficialmente existentes em nosso idioma bem como sua
forma de escrever e pronunciar (2009, p. 459).
Ver Inventário (P. 428).

Inquérito procedido – Está correto?


Ver Inquérito (P. 419) e Inventário (P. 428).

Inquirir
1. Em inquérito, inquirir, perquirir, o u não é pronunciado, como, aliás,
bem lembra Silveira Bueno (1938, p. 179).

Inserido ou Inserto?
1. Inserido é particípio regular do verbo inserir, e tem por sinônimo inserto.
Ex.: “Todas as provas foram inseridas nos autos”.
Ver Incerto ou Inserto? (P. 404) e Verbos abundantes (P. 759).

Inserir
1. Quanto à conjugação verbal, aparece um i no radical, na primeira pessoa
do presente do indicativo e nos tempos dela derivados: insiro, inseres,
insere, inserimos, inseris, inserem (presente do indicativo); insira,
insiras, insira, insiramos, insirais, insiram (presente do subjuntivo);
insere, insira, insiramos, inseri, insiram (imperativo afirmativo); não
insiras, não insira, não insiramos, não insirais, não insiram (imperativo
negativo).
2. Não apresenta problemas ou irregularidades nos demais tempos e
modos.
3. Na observação de José de Nicola e Ernani Terra, “o e do radical muda
para i na primeira pessoa do singular do presente do indicativo e nas
formas daí derivadas” (2000, p. 20).

Inserto ou Incerto?
Ver Incerto ou Inserto? (P. 404)

Insipiente ou Incipiente?
Ver Incipiente ou Insipiente? (P. 404)

Ínsito
1. Do latim insitu, é palavra muito usada nos meios jurídicos, e tem o
significado de inerente, inato. Ex.: “A ausência de dolo está ínsita no
conceito de crime culposo”.
2. Seu s intermédio, na lição de Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 19), tem
real som de s (como em subsolo), não de z (como em subzona).
3. A regra de pronúncia a ser seguida em tal hipótese é a de que o s apenas
tem som de z entre duas vogais, mas permanece com som de s entre uma
consoante e uma vogal.
4. A exceção a essa regra fica para o prefixo trans, quando se une a
vocábulo iniciado por vogal, situação em que o s adquire som de z:
transamazônico, transeunte, transitório, transoceânico, transuretral.
5. Cuidado, porém, porque, se o prefixo trans se une a palavras já
começadas por s, a pronúncia resultante é s, não z, independentemente
dos aspectos gráficos das palavras: transecular (trans+secular),
transiberiano (trans+siberiano), transubstanciação
(trans+substanciação).
6. À pronúncia equivocada do s intermediário desta palavra com o som de
z, Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 268) lembra tipificar-se um
barbarismo fonético.

Insolvabilidade – Galicismo?
1. Solvabilidade, insolvabilidade, solvável e insolvável eram vocábulos que
apareciam nos arts. 426, 914, 915, 955, § 4º, 1.003, 1.133, 1.300, § 2º,
1.389, 1.437, 1.492, 1.494, III, e 1.497, parágrafo único, do Projeto do
Código Civil.
2. Em suas apreciações, na Comissão de Redação do Senado, Rui Barbosa,
desde a introdução de seu Parecer (1949, p. 7), insurgiu-se contra eles,
reputando-os francesias, estrangeirismos desnecessários e reprovados.
3. Em comento ao art. 1.437 do Projeto, referiu que esses vocábulos e seus
cognatos nascem de solver, em sua acepção de quitar, de pagar a dívida,
enquanto os vocábulos com desinência em ável nascem de verbos
terminados em ar (reprovável, louvável); dos verbos terminados em er
nascem outros adjetivos: dissolvente, dissolúvel, resolúvel, resolvente,
resolvível (BARBOSA, 1949, p. 384).
4. Acrescentou que esse desacerto do Projeto escapou apenas uma vez aos
redatores do Código Civil português então em vigor, no art. 827; por ser
apenas uma vez, atribuiu a falha a um mero descuido (BARBOSA, 1949,
p. 262).
5. Por fim, aconselhou o uso de solvência ou insolvência, de solvente ou
insolvente, de solúvel ou insolúvel, conforme se trate da situação em si,
do próprio devedor, ou da obrigação (BARBOSA, 1949, p. 165, 281,
288, 196, 318, 356, 374, 384, 395, 396, 398 e 466).
6. Suas ponderações foram acatadas pelo legislador, conforme se comprova
pela redação definitiva dos arts. 913, 914, 954, parágrafo único, 1.002,
1.131, 1.300, § 2º, 1.389, 1.437, 1.492, III, 1.495, parágrafo único,
1.504, 1.798 e 1.804 do Código Civil.
7. Especificamente quanto ao vocábulo insolvabilidade, Vitório Bergo
(1944, p. 139) chama-o barbarismo gálico, ao mesmo tempo em que
preconiza o emprego de insolvência.
8. Em outra obra, o mesmo autor também o insere na lista dos galicismos,
daqueles que, “já por adaptação, já por coincidência, apresentam forma
portuguesa e, por isto, são menos notados” (BERGO, 1943, p. 118-9).
9. Na atualidade, porém, é de se anotar que tais vocábulos se encontram
registrados pelo Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da
Academia Brasileira de Letras, que é o veículo oficial incumbido de
determinar a existência ou não de palavras em nosso idioma (2009, p.
460 e 764), o que implica relevar que seu emprego está oficialmente
autorizado entre nós.

Insolvável – Barbarismo?
1. Na lição de Luís A. P. Vitória, tal vocábulo configura “barbarismo a
substituir por insolvente” (1969, p. 138).
2. Na atualidade, porém, é palavra que se encontra registrada pelo
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira
de Letras, que é o veículo oficial incumbido de determinar a existência
ou não de palavras em nosso idioma (2009, p. 460), o que implica dizer
que seu emprego está oficialmente autorizado entre nós.
Ver Insolvabilidade – Galicismo? (P. 420)

Insolvência
Ver Insolvabilidade – Galicismo? (P. 420)

Insolvente
Ver Insolvável – Barbarismo? (P. 420)

Instância a quo ou Instância a qua?


Ver A quo ou A qua? (P. 128)

Instituir
1. Quanto a sua ortografia, como todo verbo terminado em uir, só pode dar
origem à terminação ui na segunda e terceira pessoas do singular do
presente do indicativo: instituo, instituis, institui.
2. Diferentemente dos verbos terminados em uar (como continuar), são
errôneas as grafias com e em tais situações: institues, institue.
3. Nas palavras de Cândido de Oliveira, após verificação dos muitos erros
cometidos nesse campo, “é com i a segunda e terceira pessoas do
singular do presente do indicativo dos verbos terminados em uir: aflui,
fruis, retribui, retribuis, contribui, contribuis, influi, influis” (1961, p.
64).

Instrução Normativa ou Instrução normativa?


Ver Lei Federal ou Lei federal? (P. 443)

Insuficiência probatória – Está correto?


1. Trata-se de expressão equivocada.
Ver Linguagem científica (P. 448).

Inter – Com hífen ou sem?


1. Apenas em dois casos se separa o prefixo inter por hífen: a) quando o
elemento seguinte se inicia por h: inter-helênico, inter-hemisférico,
inter-humano; b) quando o elemento seguinte começa pela mesma letra
com que se finda o prefixo: inter-racial, inter-relacionamento, inter-
relatividade.
2. Por outro lado, une-se, de modo direto e sem emprego de hífen, quando
o elemento seguinte não começa por h, nem se inicia pela consoante que
finaliza o prefixo: intercontinental, interdental, interfase, interginasial,
interlinha, intermaxilar, internacional, interposto, intersecante,
intersegmento, intersocial.
3. De igual modo, junta-se sem hífen, quando o elemento seguinte se inicia
por vogal: interagir, interamericano, intereclesiástico, interescolar,
interindividual, interindustrial, interoceânico, interocular, interurbano.

Interditando – Existe?
Ver Alimentando – Existe? (P. 105)
Interessado
1. No que concerne à regência nominal, Rui Barbosa (1949, p. 152 e 179),
ao comentar o art. 477, § 1º, do Projeto do Código Civil – que registrava
“interessados à sucessão” – insurgiu-se contra a construção referida,
assim como contra a que aparecera no art. 372 (“interessados para”),
asseverando que, num e noutro caso se há de dizer “interessados na”.
2. Suas críticas acarretaram a alteração de tais dispositivos, como se
verifica nos arts. 365 e 471, § 1º, do Código Civil de 1916.
3. Observe-se, adicionalmente, que, além da preposição em, Francisco
Fernandes (1969, p. 236) também coleciona outros casos de construção,
em que se veem as preposições com e por. Exs.: a) “… mui interessadas
com os dois cisnes negros” (Ferreira de Castro); b) “Sempre interessados
por tudo quanto se referisse à vida dos parentes” (Luiz Viana Filho).
4. Celso Pedro Luft (1999, p. 304), por seu lado, preconiza a possibilidade
de sua construção com as preposições em e por.
Ver Interesse (P. 421).

Interesse
1. Com a mesma grafia, há o substantivo, que significa atenção, cuidado,
proveito, lucro, e há o verbo interesse (de interessar), na terceira pessoa
do singular do presente do subjuntivo, com o sentido de afetar, tocar,
prender a atenção.
2. Ambas são palavras de mesma grafia (homófonas), mas com pronúncia
diversa (heterófonas). Quanto ao vocábulo de som fechado (o interesse),
todavia, não há mais sobre ele o acento diferencial de timbre, já que a
Lei 5.765, de 18/12/71, buscando simplificação da língua nesse campo,
determinou que não mais se acentua o e e o o das palavras de timbre
fechado, sinal esse que era usado para diferenciá-las dos vocábulos de
mesma grafia mas com pronúncia aberta (o começo e eu começo, o
almoço e eu almoço).
3. Apresentando-se, assim, um problema de ortoepia, é de se dizer,
consoante lição de Aires da Mata Machado Filho (1969g, p. 1.787), que
o verbo (que eu me interesse) tem o som aberto (é), ao passo que o
substantivo (contrariamente ao uso frequente nos meios forenses) tem
som fechado (ê) tanto no singular (o interesse) quanto no plural (os
interesses).
4. Resumindo a questão da pronúncia, assim é o ensino de Eliasar Rosa:
“Como substantivo, pronuncia-se com o e fechado. Como verbo, com o
e aberto” (1993, p. 87).
5. A manutenção do e fechado no plural do substantivo (ê) é realçada por
Arnaldo Niskier (1992, p. 1) em obra preciosa e prática.
6. Contrariamente a essa clássica diferença e à própria normal ocorrência
de oposição entre substantivo (som fechado) e adjetivo (som aberto) na
estrutura do vernáculo como um todo, entretanto, o Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras,
órgão incumbido oficialmente de determinar a pronúncia oficial dos
vocábulos de nosso idioma, aponta-lhe a dupla possibilidade de
pronúncia para o substantivo: é ou ê (2009, p. 462). E essa é a palavra
oficial.
7. No campo jurídico, é palavra de largo uso para indicar uma pretensão
que se funda ou pode fundar-se em Direito, como se diz do interesse
processual como uma das condições da ação (cf. art. 267, VI, do Código
de Processo Civil).
8. Quanto à regência nominal, Celso Pedro Luft (1999, p. 304) vislumbra a
possibilidade de sua construção com as preposições de, em, para e por.
9. Exatamente essas possibilidades com as quatro preposições também são
preconizadas por Francisco Fernandes (1969, p. 236), que se vale de
exemplos de autores insuspeitos. Exs.: a) “Saberia, se tivesse a boa-fé de
saber, e não o interesse de errar” (Rui Barbosa); b) “Não têm os
príncipes interesse em fazer conquistas por esses meios; buscam
vassalos e não terras” (Mário Barreto); c) “Da civilização romana ao
ocidente da península Ibérica, que é a parte do mundo romano de maior
interesse para nós, … há inúmeros vestígios” (Sousa da Silveira); d)
“Disse a condessa, ansiosa de interesse por aquele homem
extraordinário” (Camilo Castelo Branco).
Ver Interessado (P. 421).

Ínterim
1. É substantivo que significa estado interino, entrementes, entretanto. Ex.:
“Nesse ínterim, chegaram ao magistrado dez outros processos conclusos
para sentença”.
2. Quanto à prosódia, de se atentar que se trata de palavra proparoxítona
(BECHARA, 1974, p. 59), razão por que recebe acento gráfico.
3. A pronúncia proparoxítona de tal vocábulo é também observada por
Arnaldo Niskier (1992, p. 2), talvez levado a tanto pelo número de vezes
que o encontrou escrito e pronunciado de modo errôneo, mesmo em
textos que devam submeter-se aos rigores da norma culta.

Interpor agravo retido ou Agravar retidamente?


Ver Agravar retidamente ou Interpor agravo retido? (P. 100)

Interpor – Como conjugar?


Ver Pôr – Como conjugar? (P. 577)

Interpor – Como é seu complemento?


1. No que concerne à regência verbal, o verbo interpor aparece, nos textos
de lei, com diversas construções, como bem lembra a respeito Adalberto
J. Kaspary (1996, p. 200-2).
2. Assim, às vezes é intransitivo (sem complemento expresso). Ex.: “… o
prazo para interpor e para responder, será sempre de 15 (quinze) dias”
(CPC/1973, art. 508).
3. Outras vezes, tem objeto direto (que pode ser sujeito na voz passiva).
Ex.: a) “Cada parte interporá o recurso, independentemente, no prazo e
observadas as exigências legais…” (CPC/1973, art. 500); b) “O recurso
poderá ser interposto pela parte vencida, pelo terceiro prejudicado e
pelo Ministério Público…” (CPC/1973, art. 499).
4. Também pode aparecer com objeto direto (eventualmente sujeito na voz
passiva) mais a construção perante (interpor algo perante). Ex.: a)
“Qualquer tripulante que se julgue prejudicado por ordem emanada de
superior hierárquico poderá interpor recurso, em termos, perante a
Delegacia do Trabalho Marítimo…” (CLT, art. 252); b) “… O recurso
adesivo fica subordinado ao recurso principal e se rege pelas
disposições seguintes: I – poderá ser interposto perante a autoridade
judiciária competente para admitir o recurso principal…” (CPC/1973,
art. 500, I).
5. Ainda tem, às vezes, objeto direto (ou sujeito da voz passiva) mais a
preposição para (interpor algo para). Ex.: “Os recursos mencionados no
artigo antecedente, serão interpostos para o Supremo Tribunal
Federal…” (CPC/1973, art. 540).
6. De igual modo, às vezes tem objeto direto (eventualmente sujeito da voz
passiva) mais a preposição de (interpor algo de). Ex.: “A apelação …
será recebida só no efeito devolutivo, quando interposta de sentença…”
(CPC/1973, art. 520, caput).
7. Nada impede, ademais, que haja a mescla dessas duas últimas estruturas
– objeto direto (ou sujeito da voz passiva) mais as preposições de e para
(interpor algo de … para). Ex.: “Ele interpôs apelação da sentença para
o tribunal…”

Interpor ou Opor?
1. Na prática processual do foro, alguns se veem em dificuldades ante
determinadas situações, quanto ao emprego dos verbos interpor e opor,
quando se trata de empregar certas expressões técnicas: opor embargos?,
interpor embargos?
2. Ora, num primeiro aspecto, a etimologia revela aspecto significativo, a
partir das preposições que integram os vocábulos. Assim, interpor (inter
+ ponere) traz a ideia de colocar entre, de pôr de permeio. Ex.: “Entre ti
e mim se interpôs um abismo”. Já opor (ob + ponere) reflete o sentido de
pôr diante de, de colocar como óbice, como impedimento. Ex.: “Ele opôs
uma barreira à invasão”.
3. Nosso sistema legislativo emprega usualmente interpor para referir-se
aos recursos, já que estes configuram um ato processual que se mete de
permeio entre um ato recorrido e os atos subsequentes, em mesmo feito.
Exemplifica-se: a) “Quando… forem interpostos simultaneamente
embargos infringentes e recurso extraordinário ou recurso especial…”
(CPC/1973, art. 498); b) “O recurso pode ser interposto pela parte
vencida, pelo terceiro prejudicado e pelo Ministério Público”
(CPC/1973, art. 499); c) “Cada parte interporá o recurso…”
(CPC/1973, art. 500, caput); d) “(O recurso adesivo) será interposto
perante a autoridade competente para admitir o recurso principal”
(CPC/1973, art. 500, I); e) “Na apelação, nos embargos infringentes, no
recurso ordinário, no recurso especial, no recurso extraordinário e nos
embargos de divergência, o prazo para interpor e para responder é de
quinze (15) dias” (CPC/1973, art. 508); f) “Será, no entanto, recebida (a
apelação) só no efeito devolutivo, quando interposta de sentença que…”
(CPC/1973, art. 520, caput); g) “O recurso extraordinário e o recurso
especial, nos casos previstos na Constituição Federal, serão interpostos
perante…” (CPC/1973, art. 541, caput); h) “O recurso extraordinário,
ou o recurso especial, quando interpostos…” (CPC/1973, art. 542, § 3º);
i) “É da competência de cada uma das Turmas do Tribunal: […] b)
julgar, em última instância, os recursos de revista interpostos de
decisões…” (CLT, art. 702, § 2º, “b”); j) “Os recursos serão interpostos
por simples petição e terão efeito meramente devolutivo…” (CLT, art.
899); k) “Já tendo sido interposto recurso de despacho ou de sentença,
as condições de admissibilidade, a forma e o julgamento serão
regulados pela lei anterior” (LICPP, art. 11); l) “Os recursos … deverão
ser interpostos…” (CPP, art. 574, caput); m) “O Ministério Público não
poderá desistir de recurso que haja interposto” (CPP, art. 576); n) “O
recurso poderá ser interposto pelo Ministério Público, ou pelo
querelante, ou pelo réu, seu procurador ou seu defensor” (CPP, art. 577,
caput); o) “O recurso será interposto por petição…” (CPP, art. 578,
caput); p) “Interposto por termo o recurso…” (CPP, art. 578, § 3º); q)
“O recurso voluntário poderá ser interposto…” (CPP, art. 586, caput); r)
“As apelações poderão ser interpostas quer em relação a todo o julgado,
quer em relação a parte dele” (CPP, art. 599); s) “Se o apelante declarar,
na petição ou no termo, ao interpor a apelação, que deseja arrazoar na
Superior Instância…” (CPP, art. 600, § 4º); t) “Incumbe, ainda, ao
Ministério Público: […] III – interpor recursos de decisões proferidas
pela autoridade judiciária, durante a execução” (Lei 7.210, de
11/7/1984, art. 68, III).
4. A mesma lição vale para o adjetivo interposto e para o substantivo
interposição, como se pode ver no Código de Processo Civil (arts. 497,
500, 506, caput, 506, parágrafo único, 507, 509, caput, 509, parágrafo
único, 511, caput, 511, § 1º, 514, 518, caput, 523, § 2º, 523, § 3º, 525, §
2º, 526, 542, § 3º, 544, § 1º, 550, 551, § 3º) e no Código de Processo
Penal (arts. 578, § 2º, 579, caput, 580, 583, 588, 593, § 2º, 598).
5. Já o verbo opor costuma ser empregado com a significação etimológica
de colocar como óbice, de antepor como obstáculo, como é o caso de
impedimentos, compensação, exceções, dúvidas (no Código Civil),
irregularidades, embargos, exceções (Código de Processo Civil e
Consolidação das Leis do Trabalho). Exemplifica-se: a) “Nas mesmas
penas incorrerá o juiz: I – que celebrar o casamento antes de levantados
os impedimentos opostos contra algum dos contraentes” (CC/1916, art.
228, I); b) “Nas mesmas penas incorrerá o juiz: … III – que se abstiver
de opô-los (os impedimentos), quando lhe constarem…” (CC/1916, art.
228, III); c) “O devedor demandado pode opor ao credor as exceções
que lhe forem pessoais e as comuns a todos; não lhe aproveitando,
porém, as pessoais a outro codevedor” (CC/1916, art. 911 – o CC/2002,
art. 281, mantém a dicção); d) “O devedor que, notificado, nada opõe à
cessão, que o credor faz a terceiros, dos seus direitos…” (CC/1916, art.
1.021 – o CC/2002, art. 377, mantém a dicção); e) “Salvo os casos
previstos nos arts. 1.268 e 1.269, não poderá o depositário furtar-se à
restituição do depósito, alegando não pertencer a coisa ao depositante,
ou opondo compensação, exceto se noutro depósito se fundar”
(CC/1916, art. 1.273 – o CC/2002, art. 638, mantém a dicção); f) “Em
falta de estipulações explícitas quanto à gerência social: I – presume-se
que cada sócio tem o direito de administrar, e válido é o que fizer, ainda
em relação aos associados que não consentiram, podendo, porém,
qualquer destes opor-se, antes de levado o ato a efeito” (CC/1916, art.
1.386, I); g) “As sociedades sem personalidade jurídica, quando
demandadas, não poderão opor a irregularidade de sua constituição”
(CPC/1973, art. 12, § 2º); h) “Na execução por quantia certa contra a
Fazenda Pública, citar-se-á a devedora para opor embargos em dez (10)
dias; se esta não os opuser, no prazo legal, observar-se-ão as seguintes
regras…” (CPC/1973, art. 730, caput); i) “O devedor poderá opor-se à
execução por meio de embargos” (CPC/1973, art. 736); j) “Aos
embargos opostos na forma deste artigo, aplica-se o disposto nos
Capítulos I e II deste Título” (CPC/1973, art. 746, parágrafo único); k)
“O devedor será citado para, no prazo de dez (10) dias, opor
embargos…” (CPC/1973, art. 755); l) “Se o oficial opuser dúvidas ou
dificuldades à tomada do protesto…” (CPC/1973, art. 884); m)
“Compete, ainda, às Juntas de Conciliação e julgamento … d) julgar as
exceções de incompetência que lhes forem opostas” (CLT, art. 653, d); n)
“Nas causas da jurisdição da Justiça do Trabalho, somente podem ser
opostas, com suspensão do feito, as exceções de suspeição ou
incompetência” (CLT, art. 799); o) “É vedado à parte interessada
suscitar conflitos de jurisdição quando já houver oposto na causa
exceção de incompetência” (CLT, art. 806).
6. Com tais considerações, anota-se que o art. 536 do Código de Processo
Civil registra: “Os embargos (de declaração) serão opostos, no prazo de
cinco (5) dias, em petição dirigida ao juiz ou relator, com indicação do
ponto obscuro, contraditório ou omisso, não estando sujeitos a
preparo”. A uma análise do que costumeiramente ocorre em nosso
sistema, não se duvida de que os embargos de declaração configuram
um recurso, trazendo a inconfundível ideia de ato que se coloca entre,
que se põe de permeio. Daí porque, para guardar coerência com o
restante do sistema processual, o correto deve ser interpor, e não opor.
Por isso, quem usar interpor em tal caso não incorre em erro algum. A
par disso, ainda no caso específico dos embargos de declaração, o
emprego de opor também não pode ser inquinado de erro, porquanto,
embora seja flagrante um afastamento da etimologia e da diretriz
adotada pelo sistema, e apesar de não haver justificativa plausível para a
mudança, tal é a linguagem do próprio código.
7. Todavia, por mera questão de preferência pessoal, fico com interpor
embargos de declaração, o que, à falta de justificativa para o outro modo
de expressão, guarda coerência com as linhas gerais do ordenamento.

Interpretação literal – Tem importância?


1. Um leitor traz para apreciação e adequada compreensão o art. 5º da Lei
8.032, de 1990: “O regime aduaneiro especial de que trata o inciso II do
art. 78 do Decreto-Lei no 37, de 18 de novembro de 1966, poderá ser
aplicado à importação de matérias-primas, produtos intermediários e
componentes destinados à fabricação, no País, de máquinas e
equipamentos a serem fornecidos no mercado interno, em decorrência de
licitação internacional, contra pagamento em moeda conversível
proveniente de financiamento concedido por instituição financeira
internacional, da qual o Brasil participe, ou por entidade governamental
estrangeira ou, ainda, pelo Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social – BNDES, com recursos captados no exterior”.
2. E centraliza o teor de sua dúvida: o trecho “contra pagamento em moeda
conversível proveniente de financiamento concedido por instituição
financeira internacional” refere-se à “importação de matérias-primas,
produtos intermediários e componentes” ou à “fabricação, no País, de
máquinas e equipamentos a serem fornecidos no mercado interno, em
decorrência de licitação internacional”?
3. E observa, por fim, que “a distinção é relevantíssima, pois a norma só
admite o benefício se houver financiamento internacional, e o
financiamento da importação é bem menor do que o financiamento da
fabricação para fornecimento no mercado interno”.
4. Ora, verificada a circunstância de que o legislador aqui, mais uma vez,
seguindo a tradição de redigir mal, escolheu um modo longo e confuso
para elaborar um dispositivo de lei, anota-se que um importante segredo
para a compreensão de textos extensos é ater-se o leitor, num primeiro
momento, aos núcleos das funções sintáticas, com a consequente
eliminação, numa análise inicial, de tudo o que não é estritamente
essencial.
5. Com essa postura, a primeira oração fica com a seguinte redação: “O
regime aduaneiro especial … poderá ser aplicado à importação de
matérias-primas, produtos intermediários e componentes…”
6. Seguindo esse critério, simplifica-se a segunda oração: “… destinados
[entendendo-se ‘que se destinem’, ou mesmo ‘desde que se destinem’] à
fabricação, no País, de máquinas e equipamentos…”
7. E se identifica a terceira oração, a indicar a finalidade do que
anteriormente se afirmou: “… a serem fornecidos no mercado interno,
em decorrência de licitação internacional, contra pagamento em moeda
conversível proveniente de financiamento concedido por instituição
financeira internacional…”
8. Nesse quadro, fixa-se a análise na terceira oração, a qual, pelo
encadeamento de sentido e de sintaxe, como um todo, deve ser entendida
em referência a seu antecedente mais próximo, “máquinas e
equipamentos” (que vierem a ser fabricados no País): “… a serem
fornecidos no mercado interno, em decorrência de licitação
internacional, contra pagamento em moeda conversível proveniente de
financiamento concedido por instituição financeira internacional…”
9. Sobre essa terceira oração, podem-se especificar as seguintes
observações: a) essa oração inteira se refere a seu antecedente
“máquinas e equipamentos” (que vierem a ser fabricados no País); b)
erige-se ela como uma oração subordinada adverbial final, indicando,
desse modo, uma finalidade para o que se afirmou na oração
imediatamente anterior; c) seus diversos segmentos sintáticos, assim,
devem ser entendidos, de modo prioritário, como referentes aos
elementos mais próximos e internamente à oração de que fazem parte, e
não a outras orações do período; d) isso quer significar que a prioridade
de compreensão da referência deve dar-se para o antecedente “máquinas
e equipamentos” (que vierem a ser fabricados no País); e) com essas
considerações como premissas, pode-se afirmar, num primeiro momento,
que, nessa oração, fala-se de uma finalidade para as máquinas e
equipamentos fabricados no País; f) em continuação, quer-se dizer que
tais máquinas e equipamentos fabricados no País devem ser fornecidos
no mercado interno; g) ao depois, está-se tratando das máquinas e
equipamentos fabricados no País, que venham a ser fornecidos no
mercado interno, mas que tal fornecimento decorra de licitação
internacional; h) e, ainda, nessa lista de requisitos e circunstâncias,
acrescenta-se que essas máquinas e equipamentos que vierem a ser
fabricados no País, devem ser fornecidos no mercado interno, mas em
decorrência de licitação internacional; i) além disso, essa fabricação e
esse fornecimento de máquinas e equipamentos devem provir de
financiamento concedido por instituição financeira internacional; j) por
fim, para aplicação do quanto previsto na lei, deve haver a previsão de
pagamento em moeda conversível.
10. Com essas considerações e atentando, então, ao caso da indagação do
leitor, o mais adequado parece ser concluir que o trecho “contra
pagamento em moeda conversível proveniente de financiamento
concedido por instituição financeira internacional” refere-se à
“fabricação, no País, de máquinas e equipamentos a serem fornecidos
no mercado interno, em decorrência de licitação internacional”, e não
ao distante circunlóquio “importação de matérias-primas, produtos
intermediários e componentes”.
11. Importa acrescentar que essas ilações se harmonizam na íntegra com a
determinação constante no art. 111 do Código Tributário Nacional, o
qual determina que se deve conferir interpretação literal às normas de
isenção.
12. Acresce concluir que é frequente, nos meios jurídicos, o menosprezo
pela interpretação literal, a pretexto de ser ela mesquinha ou
meramente gramatical. Em realidade, o que se tem a dizer é que os
demais métodos de interpretação é que não têm como prescindir da
letra da lei e de sua análise. Não há como interpretar uma lei sem a
compreensão em minúcias de seu texto. E, partindo desse princípio,
tange às raias do absurdo a postura de algumas correntes jurídicas de
exegese, as quais afirmam que, em si, o texto normativo não tem
sentido algum, e, assim, para elas, interpretar seria conferir ou atribuir
um sentido à letra. Ora, considerada em profundidade a assertiva de
não haver sentido algum na letra da lei em si, perfeitamente possível
seria concluir pela inexistência de diferença entre um texto normativo e
uma receita de bolo ou bula de remédio.

Interrogar
1. Para tal verbo, leciona Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 218) que a
estrutura do idioma “admite as regências acerca de, a respeito de ou
sobre, indiferentemente”. Exs.: a) “Interrogado acerca do acidente, o
motorista se contradisse”; b) “Interrogado a respeito do acidente, o
motorista se contradisse”; c) “Interrogado sobre o acidente, o motorista
se contradisse”.
2. Francisco Fernandes (1971, p. 390) ainda aduz a construção interrogar
alguém por, exemplificando com passagem de Camilo Castelo Branco:
“Na qualidade de amigo, interrogou-a pelos motivos da sua
melancolia”.

Intervir
Ver Vir (P. 770).

Intimação
1. Em termos de técnica jurídica, pode-se conceituar a intimação como o
conhecimento ou a “ciência, geralmente em caráter de ordem e de
autoridade, que deve ser dada à pessoa, parte ou interessada em um
processo, a respeito de despacho ou de sentença nele proferida, ou de
qualquer outro ato judicial ali promovido, a fim de que o intimado, bem
ciente do ocorrido, possa determinar-se segundo as regras prescritas em
lei, ou fique sujeito às sanções nesta cominadas” (DE PLÁCIDO E
SILVA, 1989, p. 508). Ex.: “O advogado protocolou recurso vinte dias
após intimação da sentença pelo Diário Oficial, motivo por que sua
apelação não foi recebida”.
2. Não confundir com citação ou notificação, atos processuais a ela
assemelhados, mas totalmente diversos em natureza.
3. Por comuns nos meios forenses, importa observar que são incorretas
certas expressões como procedida a citação, procedida a intimação,
procedido o inventário, procedida a penhora, de modo que, em seu
lugar, se deverá dizer feita a citação, ou efetivada a intimação, ou
realizado o inventário, ou lavrada a penhora.
Ver Intimação a efetivar(-se) – Está correto? (P. 425), Intimar (P. 425),
Proceder (P. 601), Procedeu-se aos inventários ou Procederam-se aos
inventários? (P. 601) e Voz passiva – Quando é possível? (P. 793)

Intimação a efetivar(-se) – Está correto?


Ver A fazer – Está correto? (P. 91)

Intimar
1. Para tal verbo, de frequente emprego nos textos jurídicos e forenses,
Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 218) vê as seguintes
possibilidades de construção: intimar alguém a alguma coisa; intimar
alguma coisa a alguém. Exs.: a) “O guarda o intimou a comparecer na
delegacia”; b) “O guarda intimou-lhe que comparecesse na delegacia”.
2. Francisco Fernandes (1971, p. 391), de igual modo, nos casos mais
problemáticos, vislumbra essa dupla possibilidade de construção:
intimar alguma coisa a alguém e intimar alguém a algo. Exs.: a) “Em
1641 lhe intimaram que para cá não viesse” (Júlio Ribeiro); b)
“Intimou-as em nome de Deus a que suspendessem o seu juízo” (Camilo
Castelo Branco).
3. Nos textos de lei, encontram-se ao menos duas outras construções:
intimar alguém para alguma coisa; intimar alguém de alguma coisa.
Exs.: a) “O réu será intimado… para responder” (CPC/1973, 296, § 2º –
redação já revogada); b) “Cada litisconsorte tem o direito de promover o
andamento do processo e todos devem ser intimados dos respectivos
atos” (CPC/1973, art. 49).

Intime-se as testemunhas ou Intimem-se as testemunhas?


Ver Junte-se as cartas ou Juntem-se as cartas? (P. 437).

Intimem-se-as – Existe?
1. Se se diz “Intimem-se as partes”, o que se tem é uma frase reversível,
que também pode ser dita assim: “As partes sejam intimadas”.
2. E, numa frase assim, podem-se extrair as seguintes conclusões: a) o
exemplo está na voz passiva sintética; b) o “se” é partícula apassivadora;
c) o sujeito é “as partes”.
3. Por extensão, se houver a substituição do nome final (partes) por um
pronome, este também haverá de ser sujeito e, portanto, do caso reto
(elas), não do caso oblíquo (as, lhes).
4. A forma correta, assim, com a substituição pelo pronome, é “Intimem-se
elas”, jamais “Intimem-se-as” ou “Intimem-se-nas”, ou qualquer forma
semelhante.
5. Ante tais considerações, conclui-se, de igual modo, serem plenamente
equivocadas expressões de uso corrente, como não se o diz, para se o
conhecer, não se a vê, ouve-se-o com prazer, cortou-se-as.
6. Na lição de Eduardo Carlos Pereira, “o uso geral dos bons escritores
antigos e modernos não autoriza a combinação destas formas (o, a, os,
as) com o reflexivo se” (1924, p. 317).
7. A esse respeito, também lembra Evanildo Bechara que “a língua padrão
rejeita a combinação se o, apesar de uns poucos exemplos na pena de
literatos” (1974, p. 257).
8. Lembrando lição de Otoniel Mota, observa P. A. Pinto (1924, p. 56) que
à língua repugnam as formas se o e se a, porque não é possível,
logicamente, “encaixar um acusativo ao lado de outros, que é o reflexo
se”.
9. Embora simples, também é firme a lição de Antenor Nascentes a
respeito: “É incorreta a combinação de se com os pronomes o, a, os, as”
(1942, p. 90).
10. Não menos incisivo é o ensinamento de Júlio Nogueira: “Não se
pospõem as variações o, a, os, as, ao pronome se. São solecismos
grosseiros frases como: ‘Deve-se admirar aquele homem pelo cérebro;
não se o deve admirar como político’… A correção é simples: basta
suprimir as formas o, a, os, as, com o que nada perde a clareza da
frase: ‘Deve-se admirar aquele homem pelo cérebro; não se deve
admirar como político’… Pode-se igualmente adotar a forma
determinada, pessoal: ‘Devemos admirar aquele homem pelo cérebro;
não o devemos admirar como político’” (1959, p. 85).
11. Eduardo Carlos Pereira insere construções dessa espécie no rol dos
galicismos fraseológicos ou sintáticos, daqueles que “são verdadeiras
deturpações da língua, contra os quais devemos estar premunidos”
(1924, p. 260 e 262).
12. Também Mário Barreto (1954b, p. 275) assevera que tal construção,
por mais que se pretenda justificar, “é um grosseiro atentado contra a
índole da língua”, uma incorreção que não acha amparo nos
gramáticos.
13. Em complementação feita em outra obra, lembra o mesmo autor que há
determinadas frases francesas construídas com on que podem, em
princípio, conduzir o usuário a uma tradução errada, por meio da
junção que ora se repele: On la porte sur son lit, on le reconduisit chez
lui, on l’appela pour diner, on la traitait avec bonté, on ne le trouva pas,
on ne les voit pas comme ils sont. Nem por isso, todavia, o conhecido
filólogo incide nas construções vitandas (leva-se-a para a cama, levou-
se-o para casa…), mas manda traduzir assim tais frases: “levam-na
para a cama, levaram-no para casa, chamaram-na para jantar,
tratavam-na com bondade, não o encontraram, não se veem como eles
são” (BARRETO, 1954a, p. 115-6).
14. E, quanto à construção cite-se ele, vale lembrar a lição de Vitório
Bergo: “A muitos afigura-se errônea esta construção, em que o
pronome reto ele parece estar em função de objeto indireto. Tal não se
dá, entretanto, pois ele é sujeito paciente, apenas colocado em ordem
inversa” (1944, p. 168). Em realidade, “cite-se ele” equivale a “(que)
ele seja citado”.
15. Se pode parecer estranho dizer “Intimem-se elas”, afigurando-se
foneticamente repugnante a combinação, continua sendo inegável que,
no campo sintático, o verbo está na voz passiva, e o sujeito tem que ser
do caso reto; além disso, nada impede a utilização da forma analítica:
“Sejam elas intimadas”.
16. Por argumento de autoridade, acresça-se o lembrete de Aires da Mata
Machado Filho (1969i, p. 185) de que a questão ficou cabalmente
elucidada no sentido exposto após memorável polêmica entre Mário
Barreto e Melo Carvalho.
17. Em outra passagem, o mesmo gramático – após reiterar que “erro grave
é a combinação binária do pronome se aos oblíquos o, a, os, as (em
função de acusativo), em frases de voz reflexo-passiva” – transcreve
precisa lição do primeiro polemista: “sendo o pronome oblíquo o, a, os,
as objeto direto dos verbos transitivos diretos supra; sendo passiva a
voz verbal (se viu igual a foi vista; se esperava igual a era esperado,
etc.), tais construções levariam à absurdeza de revestir o sujeito da
oração o caso oblíquo (acusativo) o, a, os, as, perdendo a retilidade
(sua principal característica) inerente ao nominativo” (MACHADO
FILHO, 1969h, p. 1.361-2).
18. Vale observar que os clássicos evitam tal construção errônea de dois
modos: a) Ou omitem simplesmente o pronome o, a, os, as. Ex.: “Ou
não se busca o confessor, ou, se se busca…” (Padre Manuel
Bernardes); b) Não omitem o pronome, mas o levam, e corretamente,
ao caso reto (ele, ela, eles, elas). Ex.: “Um crime, só um crime, pode
unir-nos… E por que não se cometerá ele?” (Alexandre Herculano).
19. Sintetize-se tal processo de correção com o ensinamento de Gladstone
Chaves de Melo: “Nos casos em que supostamente tivesse cabida a
junção, ou se cala o pronome acusativo, ou emprega-se o pronome reto,
construção essa mais rara, porém certa, porque se terá entendido a frase
como passiva e, então, o ele ou ela serão sujeito da oração” (1970, p.
266). Exs.: a) “Venha esse pão e ponha-se na balança” (Padre Manuel
Bernardes); b) “Um crime, só um crime… e por que não se cometerá
ele?” (Alexandre Herculano).
20. Acresça-se a lição de Eduardo Carlos Pereira (1924, p. 96) no sentido
de que se e o “não se encontram jamais na mesma frase”, motivo por
que “é incorreto dizer-se: Eles se o arrogam”.
21. E ultime-se com Silveira Bueno (1938, p. 136-7), cuja contundência, a
esse respeito, é perceptível em suas lições: “A combinação do reflexivo
se com as formas oblíquas o, a, os, as, é assunto completamente
liquidado por Mário Barreto em duas das suas ótimas obras: Novos
Estudos e De Gramática e de Linguagem. No primeiro livro aqui
citado, provou exaustivamente que frases como esta – Onde se o
encontra – são absolutamente contrárias ao cunho, à sintaxe
portuguesa. Houve um tal snr. Melo Carvalho que saiu a campo, a fim
de defender a vernaculidade, a correção de tal uso, citando em seu
abono Rui Barbosa. Foi muito infeliz porque teve pela frente não só
Mário Barreto, na segunda obra acima citada, não só o dr. Pedro Pinto,
mas o próprio Rui Barbosa que, em carta dirigida a Mário Barreto,
deserta da companhia de Melo Carvalho. Depois de tudo isto, quem
vier ainda com a pretensão de defender tal erro, que dê com a cabeça
na pedra para ver se a endireita”.
22. Veja-se, assim, de modo mais claro e analítico, o que é correto e o que
é errado nas seguintes frases: a) “Intimem-se as partes” (correto); b)
“As partes sejam intimadas” (correto); c) “Intimem-se-as” (errado); d)
“Intimem-se-nas” (errado); e) “Intimem-se” (correto); f) “Intimem-se
elas” (correto).

Intra – Como empregar o hífen?


1. Após o Acordo Ortográfico de 2008, importa saber como fica o emprego
do hífen com o prefixo intra. Assim, por exemplo: intra-racial ou
intrarracial?
2. Apenas em dois casos se usa o hífen com esse prefixo: a) quando o
elemento seguinte começa por h: intra-hepático, intra-histórico; b)
quando o elemento seguinte se inicia pela mesma letra que termina o
prefixo: intra-abdominal, intra-arterial, intra-auricular.
3. Antes de outra consoante, que não seja h, acopla-se diretamente à
palavra seguinte, sem hífen: intradilatado, intrafacial, intragástrico,
intramolecular, intramuros, intranacional.
4. De igual modo, junta-se sem hífen, quando o elemento seguinte se inicia
por outra vogal, que não a mesma que finaliza o prefixo:
intraepidérmico, intraescapular, intraocular, intraósseo, intrauterino.
5. Para a hipótese de ser o segundo elemento iniciado por r ou s, dobram-se
tais consoantes para continuidade do som originário: intrarracial,
intrarradial, intrassegmentar, intrassubjetivo.

Intransitivo
Ver Objeto direto preposicionado (P. 511).

Intrínseca validade – Cacófato?


Ver Cacófato – O que é? (P. 163)

Intuito ou Intuíto?
1. A força da pronúncia incide sobre o u, não sobre o i, sendo sua divisão
silábica in-tui-to (com ditongo), e não in-tu-í-to (com hiato).
2. Reforce-se, assim, que são incorretas a grafia e a pronúncia intuíto.
3. Considerada sua forma correta, não há razão alguma para acento gráfico
nesse vocábulo.
4. Idêntica observação se pode fazer para circuito, fortuito e gratuito.
Ver Fluido ou Fluído? (P. 358)

Invalidar
Ver Datilografar (P. 251).

Inventariante – Cargo ou Encargo?


1. Um leitor indaga se alguém assume o cargo ou o encargo de
inventariante.
2. Ora, um dos sinônimos que o dicionarista Aurélio Buarque de Hollanda
Ferreira registra para cargo é exatamente encargo (2010, p. 432). E outro
não é o proceder de Antônio Houaiss em obra similar (2001, p. 626).
3. E, uma vez firmada a sinonímia entre ambos os vocábulos no que
concerne a seu uso diário, observa-se, em seguida, que esse emprego
indistinto também se estende a todo o Código Civil de 1916, obra de
apuro técnico indiscutível, sobretudo em razão dos embates travados no
campo linguístico entre Rui Barbosa e seu antigo professor, Ernesto
Carneiro Ribeiro.
4. Embora se possa ver em cargo o realce do aspecto mais objetivo da
posição, enquanto no encargo parece residir uma consideração mais
subjetiva da função, o certo é que essa intercambiabilidade se dá a tal
ponto que, enquanto o art. 1.764 fala de encargo da testamentaria, o
dispositivo imediatamente posterior já refere o cargo da testamentaria.
5. Confiram-se, assim, alguns exemplos de uso de encargo no Código Civil
de 1916: a) “Art. 26. Velará pelas fundações o Ministério Público do
Estado, onde situadas. § 1º Se estenderem a atividade a mais de um
Estado, caberá em cada um deles ao Ministério Público esse encargo”;
b) “Art. 27. Aqueles a quem o instituidor cometer a aplicação do
patrimônio, em tendo ciência do encargo, formularão logo, de acordo
com as suas bases (art. 24), os estatutos da fundação projetada,
submetendo-os, em seguida, à aprovação da autoridade competente”; c)
“Art. 1.315. O mandatário tem sobre o objeto do mandato direito de
retenção, até se reembolsar do que no desempenho do encargo
despendeu”; d) “Art. 1.764. O encargo da testamentaria não se
transmite aos herdeiros do testamenteiro, nem é delegável”.
6. E também se atente a alguns exemplos do uso de cargo em mesma
legislação codificada: a) “Art. 467. Em falta de cônjuge, a curadoria dos
bens do ausente incumbe ao pai, à mãe, aos descendentes, nesta ordem,
não havendo impedimento que os iniba de exercer o cargo”; b) “Art.
1.579. Ao cônjuge sobrevivente, no casamento por comunhão de bens,
cabe continuar, até a partilha, na posse da herança, com cargo de
cabeça do casal”; c) “Art. 1.758. Levar-se-ão em conta ao testamenteiro
as despesas feitas com o desempenho de seu cargo e a execução do
testamento”; d) Art. 1.765. Havendo simultaneamente mais de um
testamenteiro, que tenham aceitado o cargo, poderá cada qual exercê-lo,
em falta dos outros”.
7. No Código Civil de 2002, essa promiscuidade continua: sempre com a
mesma acepção, ora se emprega cargo (arts. 25, § 1º, 711, 1.062, caput,
1.063, caput, e 1.986), ora se usa encargo (arts. 65, caput, 681 e 1.985).
8. O Código de Processo Civil de 1973 não é diferente: tanto utiliza o
vocábulo cargo (arts. 764, 990, VI, e 991, VII), como emprega encargo
(arts. 146, caput, 150, 422, 1.127, caput, 1.141, 1.192 e 1.198).
9. E o Código de Processo Civil de 2015, embora tenha dado preferência ao
emprego de encargo (arts. 157, 161, caput, 466, caput, 468, II, 735, § 4º,
760 e 763), acabou empregando, ao menos uma vez, o vocábulo cargo
nesse sentido (art. 618, VII).
10. Em síntese, respondendo, de modo prático e direto, à indagação
específica do leitor, pode-se usar indistintamente cargo de inventariante
ou encargo de inventariante.

Inventário
1. Derivado do latim (inventarium), esse vocábulo vem do verbo invenire,
que, em última análise, significa achar, encontrar.
2. Em sentido estrito, no plano do Direito das Sucessões, “entende-se a
ação especial, intentada para que se arrecadem todos os bens e direitos
do de cujus, quer os que se encontravam em seu poder, quando de sua
morte, ou em poder de outrem, desde que lhe pertençam, para que se
forme o balanço acerca desses mesmos bens e das obrigações e encargos
ao mesmo atribuídos” (DE PLÁCIDO E SILVA, 1989, p. 515).
3. Muito embora genericamente se fale do inventário de alguém para
designar todo o processo sucessório, desde a arrecadação dos bens até a
atribuição dos quinhões, passando pelo processamento do feito, pela
citação dos interessados, pela avaliação dos bens, pelo cálculo e
pagamento dos impostos, pelas colações e pelo pagamento das dívidas, o
certo é que o inventário é ato preliminar, a que sucede a partilha, de
modo que a expressão completa e adequada de tal realidade haveria de
ser inventário e partilha dos bens de alguém.
4. Ainda nesse campo, apenas para lembrar, o inventário há de ser sempre
judicial (CPC/1973, art. 982), ainda que maiores e capazes todos os
herdeiros, ou mesmo quando há testamento, diferentemente da partilha,
que, cumpridos determinados requisitos, poderá ser extrajudicial
(CPC/1973, art. 1.029).
5. No campo gramatical, é comum ver, nos meios forenses, o uso de
expressões como procedida a citação, procedida a intimação, procedido
o inquérito, procedido o inventário, procedida a penhora.
6. A esse respeito, é de se anotar que o verbo proceder, dentre seus
significados, tem o sentido de dar início, em que é transitivo indireto,
exigindo a preposição a. Ex.: “O magistrado procedeu ao inventário dos
bens deixados pelo falecido”.
7. Tendo normalmente voz passiva apenas os verbos transitivos diretos, não
os transitivos indiretos, vale transcrever, nesse sentido, a lição de Aires
da Mata Machado Filho (1969a, p. 606): “Na acepção de instaurar ou
fazer, o verbo proceder é relativo (mais precisamente transitivo indireto
na nomenclatura em vigor) e rege a preposição a… Por ser relativo, não
pode ser apassivado; é, pois, errônea a construção: As análises foram
procedidas – em vez de: – procedeu-se às análises. Também em lugar de
exame procedido se deve dizer exame realizado, ou coisa parecida”.
8. Exatamente pelos aspectos referidos, incorretas são as expressões
procedida a citação, procedida a intimação, procedido o inquérito,
procedido o inventário, procedida a penhora.
9. Em seu lugar, dever-se-á dizer: feita a citação, ou efetivada a intimação,
ou realizado o inventário, ou lavrada a penhora.
Ver Voz passiva – Quando é possível? (P. 793)

Ir
1. Quanto à conjugação verbal, trata-se de verbo anômalo.
2. Importante é observá-lo no presente do indicativo e tempos derivados:
vou, vais, vai, vamos, ides, vão (presente do indicativo); vá, vás, vá,
vamos, vades, vão (presente do subjuntivo); vai, vá, vamos, ide, vão
(imperativo afirmativo); não vás, não vá, não vamos, não vades, não vão
(imperativo negativo).
3. Ainda no âmbito da conjugação verbal, lembram Carlos Góis e Herbert
Palhano (1963, p. 120) que tal verbo tem quatro tempos iguais ao verbo
ser: pretérito perfeito do indicativo (fui, foste, foi, fomos, fostes, foram),
pretérito mais-que-perfeito do indicativo (fora, foras, fora, fôramos,
fôreis, foram), pretérito imperfeito do subjuntivo (fosse, fosses, fosse,
fôssemos, fôsseis, fossem) e futuro do subjuntivo (for, fores, for, formos,
fordes, forem).
4. Pode-se dizer, quanto à regência verbal, que, significando encaminhar-
se, dirigir-se para algum lugar, pede a preposição a. Ex.: “Foi ao
tribunal para assistir ao julgamento”.
5. Apesar de habitual na fala, é incorreta, nesses casos, no que tange aos
textos que devam submeter-se à norma culta, a construção com a
preposição em. Ex.: “Foi no tribunal para assistir ao julgamento”.
6. Em preciosa observação para os verbos ir e chegar, assim leciona Júlio
Nogueira: “Existe a tendência viciosa de construir estes verbos com a
preposição em e suas combinações. O certo, porém, é fazê-lo com a
preposição a” (1959, p. 102).
7. Celso Pedro Luft (1999, p. 342) faz interessante distinção entre ir a e ir
para: a) ir a algum lugar “traduz a ideia de lá não se demorar, de não
assentar lá a sua residência, ou de voltar breve”; b) já ir para algum
lugar, por outro lado, revela o “intuito de lá estabelecer residência ou de
lá permanecer mais ou menos tempo”.
Ver Ao encontro de ou De encontro a? (P. 123)

Ir ao encontro de ou Ir de encontro a?
Ver Ao encontro de ou De encontro a? (P. 123)

Irei lhes mostrar, Ir-lhes-ei mostrar, ou…?


1. Um leitor encontrou num texto a construção “Eu irei lhes mostrar meu
trabalho…” e indaga se ela é correta. Pergunta, ainda, se seriam
possíveis outras formas.
2. Numa frase como essa, deve-se ver, de início, a existência de uma
locução verbal (mais de um verbo fazendo o papel de um só), em que
irei é o verbo auxiliar, e mostrar é o verbo principal (e está no infinitivo).
3. Confirma-se a existência da locução verbal (ou seja, de que há dois
verbos fazendo o papel de um só), quando se diz mentalmente “Meu
trabalho se mostrará”, e, então, se vê surgir apenas um verbo em tempo
simples.
4. Acresce dizer que, na estrutura considerada, resta o pronome oblíquo
átono se a ser usado com os verbos da locução.
5. Uma primeira observação a ser feita é que um pronome oblíquo átono
não tem autonomia sonora, de modo que fica na dependência do verbo,
que é a palavra a que se acha ligada, a qual é a efetiva detentora dessa
autonomia sonora.
6. E, em termos práticos, nesses casos, a indagação a ser adequadamente
feita é a seguinte: quanto à sonoridade e à eufonia, qual o melhor lugar
para o pronome: antes do auxiliar, entre o auxiliar e o principal, ou após
o principal? O assunto é estudado por um capítulo da Gramática
denominado topologia pronominal ou colocação dos pronomes.
7. Uma segunda observação é que, no caso das locuções verbais com o
auxiliar no infinitivo, são possíveis, em tese, três colocações do
pronome: a) “Eu lhes vou mostrar meu trabalho” (próclise ao auxiliar);
b) “Eu vou-lhes mostrar meu trabalho” (ênclise ao auxiliar); c) “Eu vou
mostrar-lhes meu trabalho” (ênclise ao principal).
8. Se o auxiliar está no futuro do presente ou no futuro do pretérito (que
não admitem a ênclise e sim a mesóclise), então a opção ênclise ao
auxiliar fica adaptada para mesóclise ao auxiliar. Ex.: a) “Eu lhes irei
mostrar meu trabalho” (próclise ao auxiliar); b) “Eu ir-lhes-ei mostrar
meu trabalho” (mesóclise ao auxiliar); c) “Eu irei mostrar-lhes meu
trabalho” (ênclise ao principal); d) “Eu lhes iria mostrar meu trabalho”
(próclise ao auxiliar); e) “Eu ir-lhes-ia mostrar meu trabalho”
(mesóclise ao auxiliar); f) “Eu iria mostrar-lhes meu trabalho” (ênclise
ao principal).
9. Impede a próclise ao auxiliar o fato de coincidir o pronome com o
começo da frase. Exs.: a) “Eu lhes vou mostrar meu trabalho” (correto);
b) “Lhes vou mostrar meu trabalho” (errado).
10. Também obsta a ênclise ao auxiliar a existência de uma daquelas
palavras que normalmente atraem o pronome para antes do verbo num
tempo simples (palavras negativas, advérbios, pronomes relativos,
pronomes indefinidos e conjunções subordinativas). Exs.: a) “Eu não
lhes vou mostrar meu trabalho” (correto); b) “Eu não vou-lhes mostrar
meu trabalho” (errado).
11. O impedimento acima referido também incide para obstar a mesóclise
ao auxiliar, quando o verbo está no futuro do presente ou no futuro do
pretérito. Exs.: a) “Eu não lhes irei mostrar meu trabalho” (correto); b)
“Eu não ir-lhes-ei mostrar meu trabalho” (errado).
12. Com todas essas observações, vejam-se, assim, em resumo, as
possibilidades de colocação do pronome no exemplo da consulta, com
a indicação de sua correção ou erronia entre parênteses: a) “Lhes vou
mostrar meu trabalho” (errado); b) “Eu lhes vou mostrar meu
trabalho” (correto); c) “Eu vou-lhes mostrar meu trabalho” (correto);
d) “Eu vou mostrar-lhes meu trabalho” (correto); e) “Eu lhes irei
mostrar meu trabalho” (correto); f) “Eu ir-lhes-ei mostrar meu
trabalho” (correto); g) “Eu irei-lhes mostrar meu trabalho” (errado); h)
“Eu irei mostrar-lhes meu trabalho” (correto); i) “Não lhes vou
mostrar meu trabalho” (correto); j) “Eu não lhes vou mostrar meu
trabalho” (correto); k) “Eu não vou-lhes mostrar meu trabalho”
(errado); l) “Eu não vou mostrar-lhes meu trabalho” (correto); m) “Eu
não lhes irei mostrar meu trabalho” (correto); n) “Eu não ir-lhes-ei
mostrar meu trabalho” (errado); o) “Eu não irei-lhes mostrar meu
trabalho” (errado); p) “Eu não irei mostrar-lhes meu trabalho”
(correto).
Ver Pronomes e Locuções verbais (principal no infinitivo) (P. 620).

Ir e voltar de – Está correto?


Ver Verbos com regências diversas (P. 760).

Ir indo – Está correto?


1. Ante as dúvidas que pode haver no emprego de expressões como vai
indo (verbo ir como auxiliar), vem vindo (verbo vir como auxiliar), é de
se dizer de modo claro que nelas há indiscutível cunho pleonástico; são,
porém, ambas formas corretas, e podem ser empregadas normalmente no
vernáculo.
2. Veja-se, nessa esteira, o exemplo de Camilo Castelo Branco: “Parece-me
que são horas de vir vindo o jantar”.
3. Em realidade, trata-se de caso em que o verbo vir acaba sendo auxiliar
de si próprio, em construção perfeita e correta, como também demonstra
o seguinte exemplo de Machado de Assis: “Vieram vindo depois os
bravos, os apoiados, os não apoiados, uma bonita agitação”.
4. Anote-se, todavia, que, no exemplo “A revista Veja iria vir com tudo…”,
não há, em realidade, a ideia de pleonasmo, ou seja, de verbos que se
repetem quanto ao sentido: nem é ir indo, nem é vir vindo. Muito ao
contrário, busca-se empregar dois verbos de sentidos aparentemente
contrapostos: ir e vir.
5. A questão, assim, não diz respeito integralmente a pleonasmo, de modo
que se há de buscar o enquadramento em outro aspecto de emprego da
língua.
6. Em verdade, a exemplo de alguns outros verbos, ir e vir são empregados
com frequência como verdadeiros auxiliares em expressões de largo uso,
com sentido neutro e desvinculado de sua acepção normal de
deslocamento no espaço: a) “Ela vai trazer novidades”; b) “Ela vai
voltar ao lugar de origem”; c) “Ela vai ficar onde está”; d) “Ela vem
trazer novidades”; e) “Ela vem ficar onde sempre esteve”.
7. Tal uso não apenas se dá no presente do indicativo, mas é perfeitamente
aceitável em outros tempos: a) “Ela ia trazer novidades”; b) “Ela irá
voltar ao lugar de origem”; c) “Ela iria ficar onde estava”; d) “Ela virá
trazer novidades”; e) “Ela virá ficar onde sempre esteve”.
8. Diante disso, não parece haver possibilidade de condenar o emprego do
referido verbo na frase “A revista Veja iria vir com tudo…”.
9. Apenas se acrescente que estaria igualmente correta a seguinte frase: “A
revista Veja viria com tudo…”

Irreprochável – Galicismo?
1. Apesar de palavra dicionarizada por Aurélio Buarque de Holanda
Ferreira (s/d, p. 786), com o significado de impecável, Napoleão Mendes
de Almeida (1981, p. 160) a tem por galicismo grosseiro e preconiza sua
substituição pelos sinônimos incorrupto, irrepreensível, puro, são. Exs.:
a) “O réu tem passado irreprochável e, portanto, deve cumprir a pena
em liberdade”; b) “A humildade do monge é realmente irreprochável”; c)
“Contêm os autos prova irreprochável do parcelamento da dívida antes
do oferecimento da denúncia”; d) “O despacho lembrou a vida pregressa
irreprochável dos réus”.
2. Interessante anotar, porém, que tal autor por último referido, em outra
passagem de mesma obra, fundado em lição de João Ribeiro, assim se
manifesta: “Reprochar e assim reproche são vocábulos usados pelos
clássicos; são, pois, de bom uso” (ALMEIDA, 1981, p. 277): se
reprochar e reproche são de bom uso, não parece haver razão para
recusar reprochável e, assim, irreprochável.
3. Também em oposição a seu uso, tanto reprochar (censurar) como
reprochável (censurável) são vocábulos que Eduardo Carlos Pereira
insere no rol dos galicismos léxicos, daqueles que “são verdadeiras
deturpações da língua, contra os quais devemos estar premunidos”
(1924, p. 260-1).
4. Espancando, todavia, qualquer dúvida acerca da possibilidade de seu
emprego, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia
Brasileira de Letras, que é o veículo oficialmente incumbido de definir
quais as palavras que integram o nosso léxico, registra normalmente
irreprochável (2009, p. 467), o que significa que seu uso está
oficialmente autorizado entre nós.
5. Em realidade, mesmo para o autor já referido, reitere-se que não parece
haver razão alguma para tanto elogio a reprochar e reproche,
contrastando com a condenação de irreprochável, e parece perfeitamente
adequado o uso de todas as três palavras em nosso idioma, assim como
de reprochável.
6. Atente-se, nesse passo, à lição de Pedro A. Pinto, o qual, mesmo
referindo opiniões adversas, não vê galicismo em tais palavras, muito
embora as veja simplesmente em desuso, acrescentando que todas elas
“são expressões a cada hora ouvidas e encontradas em escritores de
valia”.
7. E cita ele quase uma dezena de exemplos encontrados em Machado de
Assis, realçando três aspectos: por primeiro, Cândido de Figueiredo as
anota em seu dicionário; ao depois, Mário Barreto usou tais termos em
seus trabalhos; por fim, tais vocábulos se encontram em escritores do
porte de Camilo Castelo Branco (PINTO, 1924, p. 241-7).

Írrito
1. Adjetivo de uso frequente em textos jurídicos, tem o significado de nulo,
sem efeito, sem valor. Ex.: “Não se pode pretender o cumprimento de
uma cláusula contratual írrita, inserida em um contrato nulo”.
2. Atente-se à circunstância de que é palavra proparoxítona, diferente da
paroxítona irrito, que é primeira pessoa do singular do presente do
indicativo do verbo irritar.

Isso ou Isto?
Ver Pronome demonstrativo (P. 611).

Isso porque – Como se usa?


1. Um leitor indaga em que frase está correto o emprego do circunlóquio
isso porque: a) “Os atos administrativos comportam controle
jurisdicional amplo, em especial aquele que impõe sanção disciplinar a
servidor público. Isso porque o Judiciário, quando provocado, deve
examinar a razoabilidade e a proporcionalidade do ato, em avaliação
que observe os princípios da dignidade da pessoa humana,
culpabilidade e proporcionalidade”; b) “Os atos administrativos
comportam controle jurisdicional amplo, em especial aquele que impõe
sanção disciplinar a servidor público. Isto porque o Judiciário, quando
provocado, deve examinar a razoabilidade e a proporcionalidade do ato,
em avaliação que observe os princípios da dignidade da pessoa
humana, culpabilidade e proporcionalidade”; c) “Os atos
administrativos comportam controle jurisdicional amplo, em especial
aquele que impõe sanção disciplinar a servidor público. Isso, porque o
Judiciário, quando provocado, deve examinar a razoabilidade e a
proporcionalidade do ato, em avaliação que observe os princípios da
dignidade da pessoa humana, culpabilidade e proporcionalidade.”
2. A dúvida do leitor, em realidade, se desdobra em dois aspectos: a) no
caso, deve-se usar isto ou isso?; b) há vírgula entre o vocábulo isto ou
isso e a palavra porque?
3. Num primeiro aspecto de interesse para o caso, lembra-se o ensino de
que, no interior da frase, emprega-se isto para referir o que se vai dizer,
enquanto isso se relaciona ao que já se disse. Exs: a) “A Constituição
determina isto: não há possibilidade de discriminação entre filhos”; b)
“Não há possibilidade de discriminação entre filhos: isso é preceito da
Constituição”.
4. Transpondo a lição para o caso da consulta, conclui-se, desde logo, que o
pronome demonstrativo a ser empregado é isso, já que, no exemplo, ele
se refere ao que anteriormente se afirmou.
5. Num segundo aspecto, constata-se que a expressão isso porque
demonstra a omissão de alguns vocábulos, já que o circunlóquio total
deveria ser isso é assim porque…
6. Ante essa realidade intuída da observação dos fatos, acresce-se a lição de
que a vírgula é obrigatória para indicar a supressão do verbo. Ex.: a)
“Depois da tempestade, a bonança” (ou seja, “Depois da tempestade
vem a bonança”).
7. E, trazendo essa segunda lição para o caso concreto, vê-se que é
obrigatória a vírgula entre os referidos vocábulos, já que um verbo foi aí
omitido: isso, porque…
8. E, assim, em resumo, conclui-se que, pelas razões mencionadas, a frase
correta, entre as trazidas pelo leitor, é a última por ele referida: “Os atos
administrativos comportam controle jurisdicional amplo, em especial
aquele que impõe sanção disciplinar a servidor público. Isso, porque o
Judiciário, quando provocado, deve examinar a razoabilidade e a
proporcionalidade do ato, em avaliação que observe os princípios da
dignidade da pessoa humana, culpabilidade e proporcionalidade”.

Isso posto ou Isto posto?


Ver Posto isso ou Isto posto? (P. 585)

Isto posto ou Posto isso?


Ver Posto isso ou Isto posto? (P. 585)

Italianismo
1. O nome genérico para o vício de linguagem consistente em usar
vocábulos, expressões e construções alheias ao idioma é barbarismo.
2. Quando a invasão de palavras provém do italiano, dá-se ao vício o nome
de italianismo.
3. Esclareça-se, todavia, que quando regular e oficialmente recebida a
palavra nova de outro idioma pelo Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de Letras, que é o órgão
oficial para listar os vocábulos de nosso idioma, diz-se estar diante de
um neologismo, hipótese em que seu emprego passa a estar oficialmente
autorizado.

Item
1. Observe-se que, por força das regras de acentuação gráfica, este
vocábulo não é acentuado nem no singular (item) nem no plural (itens).
2. Não confundir, todavia, com hífen (terminada por n), que é acentuada no
singular, mas não no plural (hifens).
3. Observem-se, assim, as seguintes grafias: item, itens, hífen, hifens.
Ver Inciso (P. 405).
J
Jaime
Ver Roraima (P. 675).

Já… já
1. Às vezes se encontra um período em que tais vocábulos têm o nítido
caráter alternativo, e, nessas hipóteses, deve-se lembrar a lição de Sousa
e Silva (1958, p. 248): se se emprega a conjunção já no primeiro
membro disjuntivo, deve-se repeti-la no segundo. Exs.: a) “O advogado
falava da tribuna sem parar, já cansando os jurados, ora piorando a
situação de seu próprio cliente” (errado); b) “O advogado falava da
tribuna sem parar, já cansando os jurados, já piorando a situação de
seu próprio cliente” (correto).
2. Essa mesma observação vale para outras conjunções similares: ora…
ora, quer… quer.
Ver Quer… quer… quer… (P. 639)

Jamais nunca – Está correto?


Ver Nunca jamais – Está correto? (P. 509)

Judiciário ou Justiça?
Ver Justiça ou Judiciário? (P. 440)

Juiz
1. Do latim judex (juiz, árbitro), tem por sinônimo magistrado e, no âmbito
jurídico, normalmente indica a pessoa que, investida de autoridade
pública e de jurisdição, administra a Justiça em nome do Estado.
2. Segundo a jurisdição que lhe é traçada e a competência que lhe é
atribuída, recebe as mais variadas denominações: juiz ad quem, juiz a
quo, juiz de direito, juiz de fato, juiz deprecado, juiz deprecante, juiz de
primeira instância, juiz de segunda instância, juiz singular, juiz
substituto, juiz titular.
3. No aspecto gráfico, pelas próprias regras que norteiam a acentuação do
hiato, tal palavra não é acentuada no singular (juiz), mas o é no plural
(juízes), no feminino singular (juíza) e no feminino plural (juízas),
bastando que se confira o Formulário Ortográfico, item 43, 4ª regra e
obs. 1: a) “Põe-se o acento agudo no i e no u tônicos que não formam
ditongo com a vogal anterior” (4ª regra); b) “Não se coloca o acento
agudo no i e no u quando, precedidos de vogal que com eles não forma
ditongo, são seguidos de l, m, n, r ou z que não iniciam sílabas” (obs. 1ª
da 4ª regra).
Ver Juíza (P. 432).

Juíza
1. Interessante a observação de Vitório Bergo (1944, p. 144) no sentido de
que, na linguagem clássica, o substantivo juiz, uniforme em gênero,
“dispensava a flexão feminina”. Hoje, porém, é normal a flexão juíza.
2. Ainda a respeito de sua flexão, Silveira Bueno, por um lado, traz antigo
ensinamento de J. Silva Correia, diretor da Faculdade de Letras de
Lisboa: “Nos últimos tempos têm surgido numerosas formas femininas,
que a língua de épocas não distantes desconhecia – e que são como que o
reflexo filológico do progresso masculinístico da mulher, – hoje com
franco acesso a carreiras liberais, donde outrora era sistematicamente
excluída”. Por outro lado, também aduz tal autor curiosa lição de
Lebierre: “Os gramáticos preceituam que os substantivos designativos de
certas profissões, a maior parte das vezes exercidas por homens,
conservem a forma masculina para a maioria de tais substantivos”. E
conclui ele próprio: “Os gramáticos, que defenderam a conservação, no
masculino, dos nomes de cargos outrora exercidos por homens e já agora
também por senhoras, não tinham razão porque tais nomes são meros
adjetivos…, podendo concordar com o sexo da pessoa que tal cargo
exerce e não com o gênero dos nomes de tais profissões” (BUENO,
1957, p. 382-3).
3. Para que se avaliem as profundas alterações em tempo exíguo acerca da
ascensão profissional da mulher, com a consequente necessidade de
emprego de novos vocábulos, basta que se veja que, mesmo na segunda
metade do século XX, ainda lecionava Artur de Almeida Torres (1966,
p. 59) haver “certos femininos que são meramente teóricos, e cujo
conhecimento não oferece nenhuma utilidade prática”, acrescentando tal
autor que “esses femininos só servem para sobrecarregar inutilmente a
memória do estudante”.
Quanto à acentuação gráfica, ver Juiz (P. 432).

Juiz acata pedido do autor


1. Um leitor quer saber se é correta a seguinte frase: “O juiz acatou o
pedido do autor”. Ou se o correto é: “O juiz concedeu (ou deferiu)o
pedido do autor”.
2. Em sua atividade de dizer o Direito, o juiz é órgão do Poder Judiciário,
com função soberana e específica de poder de Estado, e soluciona a lide
no caso concreto, sem relação de subordinação a quem quer que seja,
com liberdade, assim, para, dentro dos parâmetros da lei, solucionar o
caso concreto.
3. Para significar essa atuação, pode-se afirmar que o Magistrado concede
algo, pois tal verbo traz a ideia de fazer concessão ou de outorgar,
conforme se constata em diversos dispositivos do Código de Processo
Civil: a) “As custas acrescidas ficarão a cargo da parte em favor de
quem foi concedida a prorrogação” (art. 181, § 2º); b) “Não se
concederá a antecipação da tutela quando houver perigo de
irreversibilidade do provimento antecipado” (art. 273, § 2º); c) “A carta
precatória e a carta rogatória, não devolvidas dentro do prazo ou
concedidas sem efeito suspensivo, poderão ser juntas aos autos até o
julgamento final” (art. 338, parágrafo único); d) “Se o perito, por motivo
justificado, não puder apresentar o laudo dentro do prazo, o juiz
conceder-lhe-á, por uma vez, prorrogação, segundo o seu prudente
arbítrio” (art. 432); e) “Na ação que tenha por objeto a entrega de coisa,
o juiz, ao conceder a tutela específica, fixará o prazo para o
cumprimento da obrigação” (art. 461-A); f) “O juiz pode conceder ao
exequente o usufruto de móvel ou imóvel, quando o reputar menos
gravoso ao executado e eficiente para o recebimento do crédito” (art.
716).
4. Para caracterizar essa atuação judicial, também se emprega o verbo
deferir, que tem o conteúdo semântico de atender a uma solicitação, de
decidir favoravelmente a alguém, de concordar com algum pleito, e
desse emprego há diversos exemplos no mesmo Código de Processo
Civil: a) “Não havendo impugnação dentro de 5 (cinco) dias, o pedido
do assistente será deferido” (art. 51); b) “O juiz, ao deferir o pedido,
suspenderá o processo e mandará ouvir o autor no prazo de 5 (cinco)
dias” (art. 64); c) “Extingue-se o processo, sem resolução de mérito…
quando o juiz indeferir a petição inicial” (art. 267, I).
5. Quanto ao verbo acatar, porém, a par de significar demonstração de
reverência, tem ele a acepção de obedecer, de cumprir ordem, o que não
se dá, em extensão alguma, com o magistrado em sua atuação
jurisdicional. Bem por isso, pode-se falar que “O juiz acatou a
determinação do órgão hierarquicamente superior”, mas não parece
adequado dizer que “O juiz acatou o pedido do autor”.

Juiz ad quem
1. Quando se recorre de uma decisão a um órgão superior, apresenta-se o
recurso ao próprio magistrado que a proferiu (juiz a quo), para que ele,
após a regular tramitação, remeta os autos à segunda instância, ou
instância superior, para o respectivo julgamento.
2. Assim, juiz ad quem é expressão utilizada para identificar o juiz para
quem se remete o feito em grau de recurso.
Quanto à acentuação gráfica, ver Juiz (P. 432).

Juiz de direito
1. É o juiz togado, com jurisdição em primeira instância.
2. Conforme a matéria de sua competência, dentro da jurisdição que detém,
pode ser juiz cível, juiz criminal, juiz da infância e da juventude, juiz de
família… Também pode ser especificado, conforme a justiça em que
atua: juiz do trabalho, juiz federal…
3. Contrapõe-se à expressão juiz de fato, indicadora da pessoa que, mesmo
sendo leiga e não tendo o atributo de juiz togado, é chamada a compor
um tribunal (como o tribunal do júri) e pronunciar-se sobre fatos.
Quanto à acentuação gráfica, ver Juiz (P. 432).

Juiz de fato
Ver Juiz de direito (P. 433).

Juiz de fora
1. Conforme dão a entender as próprias palavras da expressão, era a
denominação dada ao magistrado que vinha de fora ou de lugar estranho
àquele em que ia servir, já que “era nomeado pelo rei para servir em
qualquer lugar como um administrador da justiça a mando dele próprio”
(DE PLÁCIDO E SILVA, 1989, p. 12).
2. Opunha-se ao juiz ordinário ou juiz eleito, que era escolhido entre as
pessoas do lugar, bem como ao juiz da terra.
3. Era, de regra, letrado e versado no Direito Romano, que normalmente
aplicava aos casos que lhe eram submetidos, ao contrário do que sucedia
com os juízes ordinários, que administravam a justiça com aplicação do
Direito Costumeiro.
4. Trata-se de classificação de cunho histórico, em terminologia que hoje
não mais se aplica, até por ausência de realidade de fato e de Direito.
Quanto à acentuação gráfica, ver Juiz (P. 432).

Juiz de paz
1. Também chamado juiz distrital, De Plácido e Silva (1989, p. 13) vê nele
os seguintes caracteres: a) foi implantado por lei de 15/10/1827; b) tinha
atribuições para conhecer e julgar pequenas demandas, que subiam em
grau de recurso aos juízes de direito; c) não se exigia dele a condição de
formado em Direito, para que pudesse exercer o cargo; d) elegia-se em
um município, para funcionar como magistrado em determinado distrito,
segundo a marcação feita pela Câmara Municipal.
2. Maria Helena Diniz (1998, p. 32) vê para ele duas funções principais: a)
“Leigo eleito para integrar, durante quatro anos, o quadro da Justiça de
paz”; b) “denominação que era dada ao encarregado da habilitação e
celebração de casamento”.
3. A atual Constituição do Estado de São Paulo lança luzes sobre a questão,
em seu art. 89: “A Justiça de Paz compõe-se de cidadãos remunerados,
eleitos pelo voto direto, universal e secreto, com mandato de 4 (quatro)
anos, e tem competência para, na forma da lei, celebrar casamentos,
verificar, de ofício ou em face de impugnação apresentada, o processo de
habilitação e exercer atribuições conciliatórias, sem caráter jurisdicional,
além de outras previstas na legislação”.
Quanto à acentuação gráfica, ver Juiz (P. 432).

Juiz deprecante ou Juiz deprecado?


1. Juiz deprecante é o juiz da comarca por onde tramita um processo e que,
nessa condição, expede carta precatória para outra comarca, a fim de que
outro juiz (juiz deprecado), execute atos a serem praticados na comarca
deste último: citar ou intimar o réu, ouvir testemunhas, penhorar, avaliar
e pracear bens situados em local que não o da causa…
2. Juiz deprecado, por conseguinte, é juiz da outra comarca, a quem o juiz
deprecante envia carta precatória para cumprimento dos atos processuais
acima descritos.
Quanto à acentuação gráfica, ver Juiz (P. 432).

Juiz de primeira instância


Ver Juiz singular (P. 434).

Juiz Diretor do Fórum ou do Foro?


Ver Fórum ou Foro (P. 362).

Juiz distrital
Ver Juiz de paz (P. 433).

Juiz monocrático
Ver Juiz singular (P. 434).

Juízo é sinônimo de juiz?


1. Uma leitora, encontrando com frequência o emprego da palavra juízo em
lugar de magistrado, de juiz, de julgador, indaga se são sinônimas e se
esse emprego é apropriado.
2. Num primeiro aspecto, importa observar que juízo, como já sintetizava
Chiovenda, é o próprio tribunal (MARQUES, 2000, p. 368), quer
considerado como órgão julgador, quer tido como estrutura de decisão.
3. Nesse sentido, o vocábulo é empregado em diversos dispositivos do
Código de Processo Civil de 1973: a) “Art. 12. Serão representados em
juízo, ativa e passivamente…”; b) “Art. 14. São deveres das partes e de
todos aqueles que de qualquer forma participam do processo: I – expor
os fatos em juízo conforme a verdade…”; c) “Art. 33, parágrafo único.
O juiz poderá determinar que a parte responsável pelo pagamento dos
honorários do perito deposite em juízo o valor correspondente a essa
remuneração”.
4. Já o juiz é a pessoa física que detém a atribuição estatal de dizer o direito
e, nesse sentido, o vocábulo tem por sinônimos magistrado e julgador.
5. Com essas premissas, já se vê que juízo não pode ser tido,
objetivamente, como sinônimo de magistrado, de juiz ou de julgador.
6. Vale a pena observar, entretanto, que, às vezes, se emprega uma figura
de linguagem conhecida como metonímia, que consiste em usar uma
palavra em lugar de outra, desde que ambas tenham entre si algum tipo
de relação e de proximidade. Veja-se, assim, o seguinte exemplo: “Esse
juízo decidiu anteriormente…”. Ora, o que se quer dizer é que o juiz
decidiu anteriormente, e não o tribunal. Afinal, quem decide é a pessoa,
e não a estrutura. E esse uso de uma palavra em lugar de outra é de
integral correção.
7. Desse modo, assim pode ser sintetizada a resposta à leitora: a) por um
lado, o vocábulo juízo não pode ser tido como sinônimo objetivo de juiz,
de magistrado ou de julgador; b) por outro lado, é possível empregar
juízo em lugar de juiz, quando se faz uso da figura de linguagem
denominada metonímia, pela qual uma palavra toma o lugar de outra,
com base em alguma relação de proximidade entre ambas: de causa e
efeito, de parte e todo, de autor e obra, etc.

Juiz singular
1. Também denominado juiz monocrático, ou juiz de primeira instância, é
aquele que administra a justiça singularmente, em oposição aos que
pertencem aos tribunais, cujas decisões normalmente são colegiadas.
2. Como regra, perante ele “se propõe ou se instaura a demanda, para que a
conheça e a julgue, e, depois que passe em julgado, para que dirija e
faça, igualmente, cumprir a execução” (DE PLÁCIDO E SILVA, 1989,
p. 13).
3. Em segunda instância, os magistrados dos Tribunais de Alçada são
denominados juízes; os dos outros tribunais regionais, desembargadores;
e os dos tribunais superiores, ministros.
Quanto à acentuação gráfica, ver Juiz (P. 432).

Juiz substituto
1. Juiz substituto é aquele recém-investido nas funções de magistrado e,
assim, no começo do exercício de seu cargo, pode substituir o juiz de
direito titular em sua falta ou impedimento. Pode-se dizer, de modo
simples, que é nomeado para ser suplente e auxiliar daquele, não tendo,
ainda, sua comarca ou vara própria.
2. Já o juiz titular, portanto, é aquele investido nas funções de magistrado,
quer para veredictos individuais, quer para julgamentos coletivos, com
comarca, vara ou juízo devidamente especificados, dos quais
vulgarmente se diz que ele é o dono. Eventualmente, tem a auxiliá-lo o
juiz substituto.
Quanto à acentuação gráfica, ver Juiz (P. 432).

Juiz titular
Ver Juiz substituto (P. 434).

Juiz – Vossa Excelência ou Vossa Senhoria?


1. Um leitor, a partir da constatação de que, nas petições dirigidas aos
juízes, se faz o endereçamento Vossa Excelência e se usa o tratamento
Excelentíssimo, observa que o Manual de Redação da Presidência da
República reserva tais expressões para altas autoridades, e, assim, indaga
como se deve resolver a questão no que tange aos juízes.
2. Ora, buscando socorro no próprio Manual de Redação da Presidência da
República, a que se referiu o leitor, observa-se que o Decreto federal
100.000, de 1991, autorizou a criação de uma Comissão para rever,
simplificar e uniformizar as normas de redação de atos oficiais utilizadas
desde 1937. Desse modo, em 2002, pela Portaria 91 do Ministro de
Estado Chefe da Casa Civil, foi publicada a segunda edição do Manual,
revista e atualizada, com as principais mudanças ocorrendo na
adequação das formas de comunicação.
3. E, em tal manual, em obediência ao que ali se diz ser de “secular
tradição”, confere-se o tratamento de Vossa Excelência para as seguintes
autoridades do Poder Judiciário: Ministros dos Tribunais Superiores,
Membros de Tribunais, Juízes e Auditores da Justiça Militar.
4. Em realidade, por um lado, importa observar que um magistrado não
deixa de ser uma autoridade merecedora desse tratamento, do mesmo
modo como são tratados outros ocupantes de cargos e incumbidos de
certas funções parelhas nos Poderes Legislativo e Executivo.
5. Por outro lado, incumbe esclarecer que, para as pessoas comuns e para
as autoridades às quais não se reserva o tratamento de Vossa Excelência,
o tratamento devido é Vossa Senhoria e Ilustríssimo, como é o caso dos
advogados, comissários de polícia, cônsules, coronéis, diretores de
empresas, secretários de prefeituras, tenentes-coronéis, etc.
6. No que concerne aos membros do Poder Judiciário, alguns dispositivos
legais até mesmo trazem essa especificação e essa garantia: a) o art. 16,
parágrafo único, do RISTF, por exemplo, estatui que os Ministros do
Supremo Tribunal Federal “receberão o tratamento de Excelência,
conservando o título e as honras correspondentes, mesmo após a
aposentadoria…”; b) e o art. 29, § 1º, do RISTJ determina que os
Ministros do Superior Tribunal de Justiça “receberão o tratamento de
Excelência e […] conservarão o título […] mesmo depois da
aposentadoria…”.
7. Por fim, quanto às cartas e ofícios destinados às autoridades, deve-se
observar a seguinte distinção: a) o vocativo a ser empregado no texto das
comunicações dirigidas aos Chefes de Poder é Excelentíssimo Senhor,
seguido do cargo respectivo, como Excelentíssimo Senhor Presidente da
República, Excelentíssimo Senhor Presidente do Congresso Nacional,
Excelentíssimo Senhor Presidente do Supremo Tribunal Federal; b) as
demais autoridades serão tratadas com o vocativo Senhor, seguido do
cargo respectivo, como Senhor Senador, Senhor Juiz, Senhor Ministro,
Senhor Governador.
8. Assim, no envelope, o endereçamento das comunicações dirigidas a um
juiz (o mesmo devendo ser dito, de modo indistinto, para as destinadas
às demais autoridades tratadas por Vossa Excelência) terá a seguinte
forma:

A Sua Excelência o Senhor

Fulano de Tal

Juiz de Direito da 10ª Vara Cível

Rua ABC, n. 123

01010-000 – São Paulo – SP

9. Esclarecendo que, talvez, a dúvida do leitor se tenha originado no fato de


que, quanto ao vocativo, a expressão a ser empregada para um é Senhor
Juiz, enquanto para outro há de ser Excelentíssimo Senhor Presidente da
República, anota-se que as dúvidas e explicações até agora trazidas
concernem ao tratamento a ser dado nas comunicações, cartas e ofícios,
de modo que, nas petições endereçadas a um juiz, continuaremos
escrevendo Excelentíssimo Senhor Juiz…

Julgar
1. Trata-se de vocábulo a ser observado sob o prisma da regência verbal.
2. É verbo transitivo direto, em cuja companhia, com frequência, aparece
um predicativo do objeto direto.
3. Tal predicativo pode vir ou não precedido de como. Exs.: a) “Julguei-a
incapaz para a função”; b) “Julguei-a como incapaz para a função”.
4. Aires da Mata Machado Filho (1969a, p. 616), por seu lado, mostra sua
preferência pela simples justaposição das palavras, sem emprego de
como, justificando com a elegância na fala.
5. Após observar que, na frase “Julgaram-no morto”, o sujeito é
indeterminado, o o é o objeto direto, e “morto” é o predicativo do objeto
direto, Mário Barreto (1954b, p. 196-7) também acrescenta que, com tal
verbo, o predicativo do objeto direto pode vir sem preposição ou com a
preposição por. Exs.: a) “Muita gente julgou o caso milagroso”; b)
“Muita gente julgou o caso por milagroso”.
6. Acresça-se, por fim, que é corriqueiro o emprego de frases como a que
segue: “Julgaram-no como sendo incapaz daquele procedimento”.
7. Muito embora seja de uso comum a expressão como sendo em casos que
tais – atente-se a que não é simplesmente como – é ela errônea e
desnecessária, devendo ser eliminada.
8. Proceder-se-á à correção, na prática, por um de três modos: a)
“Julgaram-no incapaz daquele procedimento”; b) “Julgaram-no como
incapaz daquele procedimento”; c) “Julgaram-no por incapaz daquele
procedimento”.
9. Idêntica há de ser a construção com outros verbos que, de modo similar,
exijam predicativo do objeto: a) “Creio-o apto (ou como apto) para o
trabalho”; b) “Consideram-no incapaz (ou como incapaz) para a
função”; c) “Reconheço-a minha inspiradora (ou como minha
inspiradora) daquela obra”; d) “Reputo-o o maior processualista (ou
como o maior processualista) vivo do país”.
Ver Nomear (P. 497).

Julguei-o incapaz – Está correto?


Ver Julgar (P. 435).

Júnior
1. Parta-se, inicialmente, do princípio de que tal palavra já está incorporada
ao nosso léxico com o sentido de mais moço e é empregada com
frequência após o nome de alguém mais jovem, para distingui-lo de
pessoa mais velha, de mesmo nome. Ex.: “Plínio Cecílio Segundo Júnior
escreveu o ‘Panegírico de Trajano’”.
2. Fixe-se, por oportuno, que, ao contrário do que muitos supõem, seu
significado não é de filho, mas apenas de alguém mais jovem, quando
comparado a outrem mais velho. Comparando ambos os vocábulos,
lembra Napoleão Mendes de Almeida (1981, p. 165) que júnior “tem
significação mais lata; pode designar não só filho, mas qualquer parente
que, de igual nome, seja de nascimento mais recente; um sobrinho, um
neto pode ter júnior após seu nome, igual ao de um tio, ao de um avô”.
3. No plural, com largo uso no esporte, lembra Evanildo Bechara (1974, p.
80) que tal vocábulo tem o sentido de novato, e, por questões de
ortoepia, a sílaba tônica se desloca, fazendo juniores, tendo a vogal
tônica pronúncia fechada (ô). Ex.: “O Brasil não foi bem no campeonato
mundial de futebol de juniores deste ano”.
4. Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 34) também lhe ressalta estes dois
aspectos quanto a seu plural: a) é forma paroxítona; b) a vogal tônica é
fechada (ô).
5. Fique-se com a preciosa síntese de Vitório Bergo (1944, p. 144), para
quem, por um lado, por significar o mais moço, quando “posposto a um
antropônimo, pode assinalar não só o filho em relação ao pai, senão
também o sobrinho em face do tio, o neto relativamente ao avô etc.” Ao
depois, em continuação, tal gramático não apenas aponta o deslocamento
do acento tônico para a penúltima sílaba, mas também explicita que o
timbre da vogal tônica é fechado (ô).
6. De igual modo, na síntese de José de Nicola e Ernani Terra (2000, p.
134), esse vocábulo, “que se refere ao mais jovem entre duas ou mais
pessoas, é uma palavra trissílaba proparoxítona; recebe, portanto, acento
gráfico: jú-ni-or. A forma plural é paroxítona: ju-ni-o-res (com a vogal
tônica fechada: ô)”.
7. Veja-se, também, a síntese de Arnaldo Niskier: “O plural de júnior é
juniores, que se pronuncia juniôres” (1992, p. 73).
8. De Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 226) também procede a
apropriada observação de que se escreve, no plural, juniores, e “se
pronuncia juniôres e jamais júniores ou júniors”.
9. Não difere desse entendimento Luís A. P. Vitória (1969, p. 142), para
quem juniores é o correto plural de júnior em português, e se pronuncia
com o o fechado (juniôres).
10. Seu antônimo é sênior, que significa mais velho, mais experimentado.
11. Para resumir, oportuna a observação de Sousa e Silva: “Não se
justificam os plurais júniors e sêniors, de que fazem uso nas seções
desportivas de nossas gazetas. As formas corretas são juniores,
seniores, com o acento tônico deslocado para a terceira sílaba: juniôres,
seniôres” (1958, p. 165).
12. Observe-se, por fim, que, eliminando quaisquer dúvidas ou polêmicas,
o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia
Brasileira de Letras, que é o veículo oficial ordenador do modo de
grafar as palavras pertencentes a nosso idioma, já faz tempo, fez
questão de fixar os três aspectos: a) a grafia do singular é júnior; b) o
plural é juniores; c) a pronúncia do plural é juniôres (1999, p. 437).
Fixados, porém, tais esclarecimentos na referida edição, o VOLP
passou a registrar apenas a forma do singular nas edições posteriores,
nada observando sobre seu plural.
Ver Ortoepia (P. 532).

Juniores
Ver Júnior (P. 435).

Juntada
1. Termo muito usado na técnica forense, significa “o ato pelo qual se faz
unir ao processo um documento ou uma peça, que lhe era estranha e que
passa a fazer parte dele, integrando-se em seus autos” (DE PLÁCIDO E
SILVA, 1989, p. 20). Ex.: a) “Os termos de juntada, vista, conclusão e
outros semelhantes constarão de notas datadas e rubricadas pelo
escrivão” (CPC/1973, art. 168); b) “O devedor oferecerá os embargos
no prazo de dez dias, contados: … da juntada aos autos do mandado de
imissão na posse…” (CPC/1973, art. 738, III).
2. Tipifica-se pelo assento ou termo de juntada, que é o escrito em que se
menciona o que se fez, com a indicação do que se juntou ou se uniu aos
autos e da data em que se executou, e é assinada pelo escrivão que
funciona no feito.
3. Trata-se de ato da mais elevada importância no andamento do processo,
bastando analisar o art. 241 do Código de Processo Civil, o qual
determina que o prazo para contestar uma ação começa a correr: a) da
juntada aos autos do aviso de recebimento, quando a citação for pelo
correio; b) da juntada aos autos do mandado cumprido, quando a citação
for por oficial de justiça; c) da juntada aos autos do último aviso de
recebimento ou mandado citatório cumprido, quando houver vários réus;
d) da juntada aos autos da carta de ordem, precatória ou rogatória,
quando o ato de citação se realizar em cumprimento a uma delas.

Juntamente com – Pleonasmo?


1. Um leitor pergunta se a expressão juntamente com é pleonasmo
desnecessário e, assim, deve ser evitada nas construções em português.
2. Algumas afirmações se podem fazer para as expressões juntamente com
e junto com: a) ambas não constituem pleonasmo; b) as duas formas são
corretas e defensáveis perante o idioma; c) também são locuções
prepositivas (ambas têm o valor de preposição); d) ambas podem ser
tidas como sinônimas, equivalentes e intercambiáveis. Exs.: i) “A filha
saiu junto com o pai, num dia de sol”; ii) “A filha saiu juntamente com o
pai, num dia de sol”.
3. Reiterando essa equivalência semântica e sintática, Celso Pedro Luft
(1999, p. 317) faz questão de, a par de citar exemplos de autores
insuspeitos, emparelhar a locução não empregada por eles: a)
“Convidou-o para almoçar…, juntamente com o seu intérprete” (Érico
Veríssimo); b) “Almoçou junto com o intérprete”; c) “O latim popular…
foi assimilado juntamente com toda a cultura dos romanos” (Fidelino de
Figueiredo); d) “… foi assimilado junto com a cultura…”; e) “Vim
juntamente com ele” (Antenor Nascentes); f) “… junto com ele”.
4. Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 227) também as dá como
equivalentes e sinônimas, e Francisco Fernandes (1969, p. 244) não
apenas atesta a regular existência de juntamente com, mas ainda alinha
exemplos de autores os mais significativos de nosso idioma: a) “E
abatera-se (o cavalo), morto juntamente com o cavaleiro” (Euclides da
Cunha); b) “Chamam-se (os sons) semivogais, sempre que soam
juntamente com a vogal de uma sílaba” (Sousa da Silveira).
5. Apenas para citar dois dos nossos repositórios de lei, uma busca no
Código Civil de 2002 e no Código de Processo Civil de 1973 mostra que
ambos optaram pelo uso exclusivo de juntamente com, e não há neles
um só caso de emprego da expressão junto com, como se pode ver a
seguir: a) “Quando se estipular a cláusula penal para o caso de mora,
ou em segurança especial de outra cláusula determinada, terá o credor
o arbítrio de exigir a satisfação da pena cominada, juntamente com o
desempenho da obrigação principal” (CC, art. 411); b) “Se, correndo
risco o objeto do comodato juntamente com outros do comodatário,
antepuser este a salvação dos seus abandonando o do comodante,
responderá pelo dano ocorrido, ainda que se possa atribuir a caso
fortuito, ou força maior” (CC, art. 583); c) “O sócio pode ser
representado na assembleia por outro sócio, ou por advogado, mediante
outorga de mandato com especificação dos atos autorizados, devendo o
instrumento ser levado a registro, juntamente com a ata” (CC, art.
1.074, § 1º); d) “Presentes os contraentes, em pessoa ou por procurador
especial, juntamente com as testemunhas e o oficial do registro, o
presidente do ato, ouvida aos nubentes a afirmação de que pretendem
casar por livre e espontânea vontade, declarará efetuado o casamento,
nestes termos: ‘De acordo com a vontade que ambos acabais de afirmar
perante mim, de vos receberdes por marido e mulher, eu, em nome da
lei, vos declaro casados’” (CC, art. 1.535); e) “A citação do denunciado
será requerida, juntamente com a do réu, se o denunciante for o autor;
e, no prazo para contestar, se o denunciante for o réu” (CPC/1973, art.
71); f) “Será oferecida, juntamente com os embargos, a exceção de
incompetência do juízo, bem como a de suspeição ou de impedimento do
juiz” (CPC/1973, art. 742); g) “Ocorrendo a morte de algum herdeiro na
pendência do inventário em que foi admitido e não possuindo outros
bens além do seu quinhão na herança, poderá este ser partilhado
juntamente com os bens do monte” (CPC/1973, art. 1.044).

Junte-se as cartas ou Juntem-se as cartas?


1. Uma leitora tem dúvida quanto à colocação do verbo no singular ou no
plural no seguinte exemplo: a) Junte-se aos autos as cartas precatórias;
b) Juntem-se aos autos as cartas precatórias? E esclarece que sua
dúvida advém da afirmação comum de que, quando há uma preposição,
o verbo fica no singular.
2. Ora, quando se tem uma frase como essa, em que um se vem acoplado a
um verbo, deve-se fazer uma diferenciação entre dois tipos de estruturas:
a) num primeiro caso, uma frase é reversível, de modo que pode ser dita
de outro modo (“Aluga-se uma casa”, por exemplo, pode mudar-se para
“Uma casa é alugada”); b) num segundo caso, uma frase não é
reversível (ninguém pensaria em mudar “Gosta-se de um bom vinho”
para “De um bom vinho é gostado”).
3. Para uma frase reversível, como “Aluga-se uma casa”, podem-se extrair
as seguintes conclusões: a) o exemplo está na voz passiva sintética; b) o
se é uma partícula apassivadora; c) o sujeito é uma casa.
4. Já para uma frase não reversível, como “Gosta-se de um bom vinho”, as
conclusões a serem extraídas são um pouco diversas: a) o exemplo não
está na voz passiva sintética; b) diversamente da frase com a qual é
comparada, o se não é partícula apassivadora, mas símbolo (ou índice)
de indeterminação do sujeito; c) seu sujeito não é “um bom vinho”, mas
é indeterminado; d) em orações como essa, seria impossível considerar
um bom vinho sujeito, porquanto, como bem lembra Sousa e Silva, “o
sujeito é membro regente, não pode vir regido de preposição” (1958, p.
264).
5. Feitas essas observações, acresce dizer, quanto ao primeiro exemplo,
que, a) se uma casa é o sujeito e b) se a regra geral é que o verbo
concorda com seu sujeito, c) se o sujeito for levado para o plural, d) o
verbo também irá para o plural: “Alugam-se casas”.
6. Já para o segundo exemplo, o raciocínio que se deve trilhar é que, a) se o
sujeito é indeterminado, b) é forçoso concluir que de um bom vinho não
é o sujeito, c) e, assim, se tal expressão for levada para o plural, d) em
nada estará sendo alterado o sujeito, e) de modo que o verbo também
não há de sofrer modificação alguma: “Gosta-se de bons vinhos”.
7. De modo específico para a questão trazida pelo leitor, o exemplo no
singular – “Junte-se ao expediente a carta precatória” – é uma frase
reversível (pode-se, sem dúvida alguma, dizer “A carta precatória seja
juntada ao expediente” – , de modo que se deve seguir o raciocínio
desenvolvido para o primeiro dos modelos, resultando que o plural será
“Juntem-se aos autos as cartas precatórias”.
8. Ao que parece, no caso da consulta, a dúvida da leitora nasceu do fato de
que existe uma preposição antes de autos. Mas, como não é difícil
perceber, esse não é o termo que seria o sujeito da voz passiva sintética,
e sim a carta precatória, o qual não vem regido de preposição alguma.
Desse modo, continua valendo a observação feita e a regra aqui aplicada.
9. Vejam-se, adicionalmente, as formas corretas de algumas construções
bastante comuns nos meios jurídicos e forenses, que seguem o primeiro
modelo: a) “Buscaram-se soluções para o conflito”; b) “Citem-se os réus
por precatória”; c) “Intimem-se as testemunhas para a audiência”; d)
“Processem-se os recursos de apelação”.
10. E também se vejam alguns casos bastante corriqueiros de exemplos
que seguem o segundo modelo: a) “Trata-se de embargos à execução”;
b) “Proceda-se aos inventários”; c) “Obedeça-se aos princípios
legais”. Pela explanação feita, são inaceitáveis e equivocadas as
seguintes construções: (i) “Tratam-se de embargos à execução”; (ii)
“Procedam-se aos inventários”; (iii) “Obedeçam-se aos princípios
legais”.

Junte-se, Cumpra-se e Intime-se


1. Às vezes se quer saber qual função do se e o comportamento da estrutura
sintática como um todo, sobretudo quanto à concordância verbal, quando
se está em presença de expressões como “Junte-se”, “Cumpra-se” e
“Intime-se”.
2. Muito embora não se tenha expresso o termo que se quer relacionar ao
verbo em tais orações (ou seja, o que ou quem se quer juntar, cumprir ou
intimar), é de fácil percepção que se abrevia o texto, deixando-se
subentendida alguma palavra, possivelmente porque já mencionada
anteriormente: “Junte-se (o documento)”; “Cumpra-se (o mandado)”;
“Intime-se (a testemunha)”.
3. Em tais casos, a análise que se há de fazer é a mesma de uma conhecida
estrutura (“Aluga-se uma casa”), em que também há um se acoplado ao
verbo e pode ser dita de outra forma: “Uma casa é alugada”. No caso
aqui apreciado: “O documento seja juntado”; “O mandado seja
cumprido”; “A testemunha seja intimada”.
4. Por serem frases que permitem essa transformação, pode-se dizer que
são frases reversíveis, cujas observações, em corolário, servem para
todas as outras, também reversíveis, que tenham o se unido ao verbo
desse modo.
5. Em frases dessa natureza, podem-se extrair as seguintes conclusões: a) o
exemplo está na voz passiva sintética; b) o se é partícula apassivadora; c)
o sujeito é uma casa (sujeito, e não objeto direto). E, ainda, os sujeitos,
nas demais orações, são documento, mandado e testemunha.
6. Continuando no raciocínio: se, em vez de uma casa, se diz casas, tem-
se, por consequência, o sujeito no plural. O mesmo se afirme quando se
diz documentos, mandados e testemunhas.
7. Exatamente por isso e por mera aplicação da regra de concordância
verbal de sujeito simples, se o sujeito está no plural, o verbo também
deve ir para o plural: “Alugam-se casas”, “Juntem-se os documentos”,
“Cumpram-se os mandados”, “Intimem-se as testemunhas”.
8. Acrescente-se que, quando se usam as estruturas de forma abreviada e se
subentendem outros termos, se estes são do plural (como seria o caso de
já terem sido mencionados anteriormente os documentos, os mandados
ou as testemunhas), as estruturas, ainda que abreviadas, teriam o verbo
no plural: “Juntem-se”; “Cumpram-se”; “Intimem-se”.
9. Sempre é bom lembrar que essa é uma construção muito comum nos
meios jurídicos, e se deve zelar por sua concordância adequada, no
plural, e não no singular, quando necessário: “Buscaram-se soluções
para o conflito”; “Citem-se os réus”; “Devolvam-se os autos”;
“Entreguem-se os autos da carta precatória”; “Processem-se os
recursos”.
Ver Voz passiva e Pronome apassivador (P. 791).

Junto
1. Junto é particípio passado irregular de juntar e pode funcionar como
adjetivo (com o significado de anexo, pegado, unido), hipótese em que,
variável, modifica um substantivo, com o qual há de concordar em
gênero e número. Exs.: a) “A certidão junta prova que o recurso é
intempestivo”; b) “Os documentos juntos provam que o recurso é
intempestivo”; c) “As certidões juntas provam que o recurso é
intempestivo”.
2. Tal vocábulo também pode ser um advérbio (com o sentido de
juntamente, ao mesmo tempo ou em companhia), caso em que modifica
um verbo, não sofrendo variação de espécie alguma. Ex.: “Apresentou-se
o advogado, e com ele os autos junto”.
3. Vejam-se alguns exemplos de emprego desse vocábulo em dispositivos
de lei: a) “Só poderá ser junto aos autos documento redigido em língua
estrangeira, quando acompanhado de versão em vernáculo, firmada por
tradutor juramentado” (CPC/1973, art. 157); b) “A carta será
registrada, com aviso da recepção, a fim de ser junto aos autos”
(CPC/1973, art. 223, § 1º); c) “Ao laudo, anexará o agrimensor a planta
da região e o memorial das operações de campo, os quais serão juntos
aos autos, podendo as partes, no prazo comum de 10 (dez) dias, alegar o
que julgarem conveniente” (CPC/1973, art. 957, parágrafo único); d)
“Junto aos autos o relatório dos arbitrad ores, determinará o juiz que as
partes se manifestem sobre ele no prazo comum de 10 (dez) dias…”
(CPC/1973, art. 965).
4. Observe-se, adicionalmente, que junto a e junto de são locuções
prepositivas, com o significado de ao lado de, nas cercanias de, nas
proximidades de, hipóteses em que não sofrem variação alguma. Exs.: a)
“As armas se encontravam junto ao corpo da vítima”; b) “A cadeira
junto da porta estava desocupada”.
Ver Junto a, Junto de ou Junto em? (P. 439)

Junto a, Junto de ou Junto em?


1. Junto a e junto de são locuções prepositivas, com o significado de ao
lado de, nas cercanias de, nas proximidades de, hipóteses em que não
sofrem variação alguma. Exs.: a) “As armas se encontravam junto ao
corpo da vítima”; b) “A cadeira junto da porta estava desocupada”.
2. Atentos ao real sentido de tais locuções e com base em lição de
Napoleão Mendes de Almeida, lembram Antonio Henriques e Maria
Margarida de Andrade (1999, p. 112) que se tomam providências e
pedidos, requerendo-se em algum lugar, e não junto a um lugar.
3. Em apropriada síntese, em outra obra, leciona Antonio Henriques (1999,
p. 100) que, “com o significado de em não é correto o uso de junto a,
embora largamente disseminado”. Exs.: a) “Solicitar documentos na
Secretaria” (correto); b) “Solicitar documentos junto à Secretaria”
(errado); c) “Propor ação no Juízo criminal” (correto); d) “Propor ação
junto ao Juízo criminal” (errado).
4. Após reiterar que seu exato significado é perto de, ao lado de, próximo,
perto, Laurinda Grion leciona, de igual modo, que “a expressão junto a
tem-se tornado um verdadeiro curinga, sendo usada para substituir
diferentes preposições”.
5. E, atenta a essa observação teórica, tal autora traz exemplos de uso
correto da expressão: a) “Estávamos junto ao rio”; b) “Fabricou outra
fortaleza junto à nossa”; c) “Deixarei para pedir minha remoção quando
estiver junto a ele”.
6. Em continuação, traz ela exemplos de emprego errado da expressão,
fazendo-os seguir da respectiva correção (GRION, s/d, p. 95): a) “O
empresário não conseguiu rolar sua dívida junto ao banco” (erro que se
deve corrigir para com o banco); b) “Pediu vários empréstimos junto ao
banco” (erro que se deve corrigir para ao banco); c) “A audiência da
novela cresceu assustadoramente junto aos espectadores” (erro que se
deve corrigir para entre os espectadores); d) “O Vasco prometeu a
Serginho comprar seu passe junto à Portuguesa” (erro que se deve
corrigir para da Portuguesa); e) “O advogado entrou com um recurso
junto ao tribunal” (erro que se deve corrigir para no tribunal).
7. Nos arrazoados jurídicos e forenses, por um lado, são usadas, com
frequência e de modo correto, as locuções prepositivas junto a e junto de
com o significado de perto de, ao lado de ou próximo a. Exs.: a) “A arma
se encontrava junto ao corpo da vítima”; b) “A cadeira junto da porta
estava desocupada”.
8. Lembra Geraldo Amaral Arruda, todavia, não ser correto dizer “Propor
ação junto do juízo cível” ou “Tomar empréstimo junto ao banco”; em
tais casos, deve-se dizer “Propor ação no juízo cível”, ou “Propor ação
perante o juízo cível”, e “Tomar empréstimo do banco”.
9. Acrescenta tal autor que “o mau uso da locução prepositiva junto a
comporta soluções diversas, conforme o caso. Assim, a frase ‘Contraiu
empréstimo junto à ré’ fica melhor dizendo-se ‘Contraiu com a ré um
empréstimo’ ou ‘Obteve um empréstimo da ré’. A frase ‘Uma anistia
para os devedores de tributos junto à Fazenda Federal’ poderia
melhorar com a substituição da locução prepositiva: ‘… devedores de
tributos para com a Fazenda Federal’” (ARRUDA, 1997, p. 87).
10. Adicione-se, por oportuno, que, de um modo geral, o Código de
Processo Civil, nas hipóteses em que necessitou do emprego de
vocábulo ou expressão dessa natureza – seguindo, aliás, procedimento
anteriormente adotado pelo Código Civil, pelo Código Comercial, pelo
Código de Processo Penal e, antes deles, pelo Regulamento 737, de
1850, e pelas Ordenações Filipinas – emprega a preposição perante
(perante o juízo, ou perante testemunhas, ou perante o tribunal, ou
perante a autoridade, ou perante o relator), como se pode verificar da
análise dos arts. 99, parágrafo único, 106, 108, 393, 410, 478,
parágrafo único, 500, I, 935, 1.049, 1.059, 1.073 e 1.181.
11. Nas duas ocasiões, todavia, em que o Código Civil e o Código de
Processo Civil empregaram a expressão junto a, fizeram-no de modo
equivocado: a) “O segurado que, na vigência do contrato, pretender
obter novo seguro sobre o mesmo interesse, e contra o mesmo risco
junto a outro segurador, deve previamente comunicar sua intenção por
escrito ao primeiro, indicando a soma por que pretende segurar-se, a
fim de se comprovar a obediência ao disposto no art. 778” (CC, art.
782); b) “A caução a que se refere o inciso III do caput deste artigo
poderá ser dispensada … nos casos de execução provisória em que
penda agravo de instrumento junto ao Supremo Tribunal Federal ou ao
Superior Tribunal de Justiça…” (CPC/1973, art. 475-O, § 2º, II). Em
ambos os casos, é de fácil percepção o equívoco do emprego da
locução junto a, bem como a necessidade de sua substituição pelas
preposições perante ou em.
12. Por fim, vale lembrar, como regra, tanto para junto a como para junto
de, o ensino de Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 227): “são
corretas ambas as locuções, que se usam para exprimir proximidade,
contiguidade”, correção essa que se vê existir em exemplos como os
seguintes: a) “Entrevistou o embaixador brasileiro junto ao Vaticano”;
b) “Nosso representante diplomático junto ao governo americano se
incumbirá do caso”.
Ver Junto (P. 438).

Jurisprudência ou Jurisprudências?
1. A dúvida trazida busca saber qual o real sentido da palavra
jurisprudência e se é possível o seu emprego no plural.
2. Uma consulta aos manuais de Direito revela que o sentido da palavra
jurisprudência sempre foi o de um conjunto de decisões judiciais. Não
importando se são uniformes ou não, se se referem a uma matéria
específica ou não, o certo é que sempre se impregna do sentido de
conjunto de julgados.
3. O vocábulo pode trazer um sentido genérico, como a jurisprudência de
um país. Pode mesmo significar aquela que regula um relacionamento
entre países, como a jurisprudência internacional. Pode dizer respeito a
uma determinada área, como a jurisprudência administrativa. Pode
particularizar um determinado órgão julgador, como a jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal. Mas, repita-se, sempre se impregna da
acepção de um conjunto de julgados.
4. Tecnicamente, assim, num primeiro aspecto, não deve ser empregada
como sinônima de julgado, decisão, sentença ou precedente. Veja-se, por
isso, a correção ou incorreção dos seguintes exemplos: a) “Encontrei
uma jurisprudência que veste como luva o caso concreto” (errado); b)
“Encontrei um julgado (ou decisão, ou sentença, ou acórdão) que veste
como luva o caso concreto” (correto).
5. Por outro lado, entretanto, nada impede que venha a ser empregada no
plural, quando se quiser dizer a duplicidade de conjuntos de julgados.
Ex.: “As jurisprudências brasileira e americana divergem nesse assunto,
até em decorrência do tratamento diverso que a matéria recebe em
ambos os ordenamentos” (correto).

Justapor
Ver Pôr – Como conjugar? (P. 577)
Justiça ou Judiciário?
1. Um leitor parte do princípio de que os três Poderes são o Legislativo, o
Executivo e o Judiciário e verifica que, com frequência, fala-se não de
Judiciário, mas de Justiça: “… a Justiça prendeu, a Justiça soltou…”. E
indaga se não deveria ser empregado o termo Judiciário.
2. Em termos de terminologia técnica, como a própria Constituição Federal
faz questão de discriminar, os Poderes da União, independentes e
harmônicos entre si, são o Legislativo, o Executivo e o Judiciário
(CF/88, art. 2º).
3. É verdade que, se, no exercício de sua função de solucionar os casos
concretos e na aplicação da lei, o Judiciário tem por norte a busca de
distribuir a justiça (cf. Lei de Introdução ao Código Civil, art. 5º), esta
nem sempre aflora quando da solução dos casos concretos.
4. De todo modo, sendo a justiça um dos alvos precípuos do Poder
Judiciário e mesmo um de seus atributos ou possíveis consequências, o
certo é que, com certa frequência, se emprega o atributo em lugar do
nome técnico que identifica a entidade.
5. Dá-se o nome de metonímia a essa figura de linguagem que usa uma
palavra por outra, quando, entre elas, em decorrência de uma relação de
contiguidade, existe uma certa interdependência (LIMA, 1972, p. 466),
determinada por relação de: a) efeito e causa (“As cãs [em lugar de
velhice] inspiram respeito”), b) autor por obra (“Li Machado de Assis”),
c) continente por conteúdo (“Uma garrafa basta para ele se
descontrolar”), d) parte pelo todo (“Completou quinze primaveras”)…
6. De modo específico para o caso da consulta, embora se reconheça que o
sentido pode, eventualmente, vir a ficar tecnicamente comprometido, o
certo é que o emprego de Justiça em lugar de Judiciário está correto,
quando se atenta aos aspectos exclusivos da linguagem e da estilística, e
isso pelo emprego da já citada figura de linguagem denominada
metonímia. Exs.: a) “O Judiciário não pode ficar alheio a essa
discussão” (correto); b) “A Justiça não pode ficar alheia a essa
discussão” (correto).

Justiças federal e estadual – Está correto?


Ver Cláusulas terceira e quarta – Está correto? (P. 188)
Justificando a ilegalidade – É correto?
1. Um leitor encontrou em notícia a expressão “justificando a ilegalidade”.
Por causar-lhe estranheza, indaga se ela é correta.
2. A estranheza do leitor bem possivelmente se dá pelo fato de que, em
tese, simplesmente parece não haver possibilidade de trazer a legalidade
para o campo da Justiça e que, em última análise, se estaria diante de um
paradoxo, diante de elementos inconciliáveis.
3. Ocorre, todavia, que o verbo justificar, ao lado de sua significação mais
comum, rígida e técnica de demonstrar ou provar a inocência, também
apresenta um conteúdo semântico mais elástico e genérico de apenas
desculpar, ou fundamentar, ou mesmo “fazer passar do pecado à graça”
(FERREIRA, 2010, p. 1.221), ou, ainda, explicar, ou de “fornecer
argumentos a favor de” (HOUAISS, 2001, p. 1.696).
4. E é exatamente nesse sentido que se pode justificar o injustificável,
justificar o que não tem justificativa e até mesmo uma ilegalidade.
K
Know-how ou Norrau?
1. Um leitor afirma haver encontrado em texto literário de consagrado
autor da atualidade a palavra norrau e indaga acerca da correção de seu
emprego em lugar de know-how, original de língua inglesa.
2. Anote-se, de início, que, no idioma de origem, a expressão significa
conhecimento prático, ou habilidade, ou ainda tecnologia para solucionar
determinada situação. Exs.: a) “As grandes companhias têm dinheiro,
mas nem sempre têm o know-how para executar corretamente as
tarefas”; b) “Eu posso operar computadores, mas não tenho know-how
técnico a respeito deles”.
3. Ora, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela
Academia Brasileira de Letras, por um lado, não registra a palavra
norrau como integrante de nosso léxico. Por outro lado, ordena que se
escreva, quando necessário seu emprego, know-how, expressão essa que
tal publicação insere entre as palavras estrangeiras (2009, p. 863).
4. Com essas considerações de fato, observe-se, por oportuno, que a
Academia Brasileira de Letras é o órgão que detém a delegação legal
para determinar oficialmente quais palavras integram nosso léxico e qual
sua grafia correta. Sua maneira de entender é a palavra oficial no idioma,
e, desse modo, descabe toda e qualquer discussão acerca de outras
possibilidades.
5. Também é oportuno observar que os autores literários, por mais
considerados que sejam, podem eventualmente polemizar a grafia mais
adequada para um vocábulo e até mesmo aportuguesar a seu modo
palavras e expressões estrangeiras. Sua postura, todavia, para nada
servirá perante a posição oficial manifestada pela ABL em seu VOLP.
Quando muito, tal conduta poderá servir para fornecer elementos para
futura mudança de postura por parte da ABL, que poderá,
eventualmente, proceder à respectiva inclusão em edição futura do
VOLP.
L
Laborar em erro ou Elaborar em erro?
1. Laborar em erro é a expressão correta, que significa equivocar-se,
desenvolver falsamente um raciocínio. Ex.: “Laborou em erro o
advogado, quando da sustentação oral em segunda instância”.
2. Cuidado, entretanto, porque se diz laborar em erro, e não elaborar em
erro, como empregam alguns.
3. Como bem lembra Domingos Paschoal Cegalla, “embora esses dois
verbos procedam do latim labor (trabalho), não se pode usar um pelo
outro” (1999, p. 229).

Lagoa Mirim ou lagoa Mirim?


Ver Rua Caiubi ou rua Caiubi? (P. 675)

Lápis – Qual é seu plural?


Ver Ônibus – Qual é seu plural? (P. 529)

Largo da Liberdade ou largo da Liberdade?


Ver Rua Caiubi ou rua Caiubi? (P. 675)

Látex ou Latex?
1. Trata-se do suco leitoso, da seiva de certas plantas, como a seringueira.
2. Quanto à prosódia, é vocábulo paroxítono (BECHARA, 1974, p. 58),
devendo-se pronunciar com mais força a penúltima sílaba (lá).
3. Deve receber acento gráfico, por força da regra 43, alínea 8ª, do
Formulário Ortográfico, que manda sobrepor o acento agudo na vogal da
penúltima sílaba das palavras paroxítonas que acabem em x.
4. A pronúncia paroxítona de tal vocábulo é também observada por
Arnaldo Niskier em obra de elevado cunho prático (1992, p. 2).
5. Também não se há de esquecer que seu x final é pronunciado cs
(Academia Brasileira de Letras, 2009, p. 491).
6. Quanto à formação do plural (flexão de número), é palavra invariável,
como todos os demais vocábulos com terminação em x, conhecendo-se
sua flexão em número apenas pela variação do artigo: o tórax, os tórax;
o látex, os látex.

Latim entre aspas


1. Indaga-se se as aspas em palavras e expressões latinas são dispensáveis –
diversamente dos vocábulos pertencentes a outros idiomas – já que o
latim não seria uma língua estrangeira, e sim a origem do português. Ou
ainda: se tais palavras e expressões latinas deveriam ser destacadas não
pelas aspas, mas por outro sinal distintivo, como o negrito, itálico ou
sublinha, diferentemente do uso em expressões de outros idiomas.
2. Ora, fixe-se um primeiro princípio de que o latim não deixa de ser uma
língua estrangeira e, para tais efeitos, não se distingue dos demais
idiomas, de modo que as regras de grafia para estes últimos também são
válidas para aquele.
3. E não comove o fato de ser o latim nossa origem, nossa língua-mãe; caso
contrário, nada impediria uma interpretação mais elástica que atingisse,
por exemplo, o espanhol, o italiano e o francês, que, por também serem
derivadas do latim, são nossas línguas-irmãs. Todas, enfim, são da
mesma família.
4. Feitas essas observações iniciais, anota-se que, quando há necessidade
de citar alguma frase ou expressão estrangeira (incluindo o latim) em
textos de linguagem formal, devem-se observar algumas regras de suma
importância: a) em palavras latinas, não se põe acento gráfico, que não
existia na língua-mãe; b) em expressões latinas, também não se emprega
o hífen, que, de igual modo, não era lá empregado; c) porque
pertencentes os vocábulos ou expressões a outro idioma, devem vir entre
aspas, ou em negrito, ou em itálico, ou com sublinha, ou com qualquer
outro sinal indicador de tal circunstância (se é que ficou algum sem
citar).
5. Vejam-se, portanto, os seguintes exemplos, todos grafando corretamente
as expressões de origem latina: “fumus boni juris”, fumus boni juris,
fumus boni juris, fumus boni juris.
6. O procedimento de marcar a palavra ou expressão como estrangeira
haverá de ser o mesmo, amplo e igualitário, quando se estiver diante de
vocábulos de outros idiomas, que não o latim: apartheid (inglês), avant-
première (francês), backup (inglês), bar-mitzvá (hebraico), beagle
(inglês), blitz (alemão), cashmere (inglês), castrato (italiano), chianti
(italiano), chihuahua (espanhol), chop-suey (chinês), factoring (inglês),
fedayin (árabe), gaijin (japonês), glasnost (russo), gnocchi (italiano),
gouda (holandês), haikai (japonês), hanukah (hebraico), homus (árabe),
intelligentsia (russo), karma (sânscrito), kibutz (hebraico), kirsch
(alemão), kosher (iídiche), kümmel (alemão), ombudsman (sueco),
origami (japonês), paella (espanhol), pessach (hebraico), pit-bull
(inglês), pub (inglês), sashimi (japonês), shiatsu (japonês), shoyu
(japonês), squash (inglês), strogonoff (russo), sushi (japonês),
telemarketing (inglês), tsunami (japonês), yakisoba (japonês).

Latinismo
1. O nome genérico para o vício de linguagem consistente em usar
vocábulos, expressões e construções alheias ao nosso idioma é
barbarismo.
2. Quando a invasão de palavras ou de estrutura provém do latim, dá-se ao
vício o nome de latinismo.
3. Esclareça-se, todavia, que, quando regular e oficialmente recebida a
palavra nova de outro idioma pelo Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de Letras, que é órgão
oficialmente incumbido de fixar os vocábulos de nosso idioma, diz-se
estar diante de um neologismo, hipótese em que seu emprego passa a
estar oficialmente autorizado.
Ver Estrangeirismos (P. 336).

Lato senso, Lato sensu ou Latu sensu?


1. Lato sensu é expressão latina, que significa em sentido amplo. Ex.: “Ele
cursava especialização lato sensu naquela universidade”.
2. Sua locução antônima é stricto sensu.
3. É comum ver-se, por desconhecimento do latim, as grafias lato senso ou
latu sensu, evidentemente equivocadas.
4. Por se tratar de expressão pertencente a outro idioma, há de vir
obrigatoriamente entre aspas, em itálico, negrito, sublinha ou com grifo
equivalente, indicador de tal circunstância.
5. De igual modo, vedado é o uso do acento gráfico, que não existia na
língua originária.
6. Não se olvide também a lição de Edmundo Dantès Nascimento (1982, p.
145) no sentido de que expressões como essa não eram hifenizadas em
latim, razão pela qual “não o podem ser em língua nenhuma”,
acrescentando tal autor que, “para quem pretende grafar escorreitamente
não é permitido o hífen em expressões do latim clássico”.

Lato sensu – com hífen ou sem?


Ver Post mortem – Com hífen ou sem? (P. 585)

Latrocida – Existe?
1. Um leitor indaga se existe, em português, o vocábulo latrocida,
entendido como aquele que comete um latrocínio.
2. Ora, em vocábulos como homicida, tem-se um primeiro radical (homo =
semelhante) que se junta a outro radical (cida = aquele que mata).
3. Com idêntica formação, são palavras de uso corrente: bactericida,
espermicida, fungicida, herbicida, inseticida, raticida.
4. Em determinados casos, o assassino acaba tendo denominação
específica, conforme quem seja a pessoa que é morta: fratricida (que
mata o irmão), infanticida (que mata um infante), mariticida (que mata o
marido), matricida (que mata a mãe), parricida (que mata o pai),
regicida (que mata o rei), suicida (que mata a si próprio), uxoricida (que
mata a esposa).
5. De modo específico para o vocábulo latrocida, uma primeira observação
a ser feita é que, para que uma palavra possa ser tida como existente em
nosso idioma, será preciso que conste no Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de Letras, órgão
esse que tem delegação legal para listar os vocábulos oficialmente
existentes em nosso idioma. E, na hipótese vertente, uma consulta ao
VOLP evidencia que ali não se registra tal palavra.
6. Uma segunda observação, a partir da consideração dos demais vocábulos
com idêntica formação, é que, em tais palavras, o primeiro radical é
exatamente o alvo da morte. Ou seja: no caso, ainda que existisse o
vocábulo latrocida, só poderia ele significar aquele que mata um ladrão,
jamais aquele que comete um latrocínio.

Lavrar acórdão? E despacho? E sentença?


Ver Exarar, prolatar ou proferir sentença? E acórdão? E despacho? (P.
340)

Lêem ou Leem?
Ver Crêem ou Creem? (P. 240)

Legiferante ou Legisferante?
Ver Legiferar ou Legisferar? (P. 443)

Legiferar ou Legisferar?
1. Legiferar é a grafia correta do verbo, que significa fazer lei, e não
legisferar. Exs.: a) “A Câmara dos Deputados legifera” (correto); b) “A
Câmara dos Deputados legisfera” (errado).
2. De igual modo se há de dizer do Legislativo que é um Poder legiferante,
e não Poder legisferante.
3. Apenas para dar uma explicação à ocorrência de erro tão comum, lembra
Domingos Paschoal Cegalla que “por influência de outras palavras com
o radical legis (legislar, legislador, legislativo, etc.) é que se explica a
forma errônea legisferar” (1999, p. 231).
4. Trata-se, porém, de mera explicação, e não de justificativa que possa ter
o condão de dar o erro por aceitável, até porque tal forma não é
registrada pelo Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da
Academia Brasileira de Letras, órgão incumbido oficialmente de
determinar a existência dos vocábulos em nosso idioma, além de sua
grafia oficial. A única forma registrada pelo VOLP é o verbo legiferar
(2009, p. 493).

Lei
Ver Números – Como ler e Empregar? (P. 506)

Leiaute
Ver Formação de adjetivos – Regras (P. 360) e Neologismo (P. 494).

Lei Federal ou Lei federal?


1. Um leitor indaga se o adjetivo identificador da esfera federativa da qual
uma lei específica se origina deve ser escrito com inicial maiúscula ou
minúscula. Assim, Lei Municipal 789 ou Lei municipal 789?
2. Ora, a Lei Complementar 95, de 26/2/98, foi editada especificamente
para reger “a elaboração, a redação, a alteração e a consolidação das
leis”, de modo que os aspectos técnicos de como elaborar e redigir
dispositivos legais se enfeixam em tal diploma, quer quando ele
determina em tese para outros casos, quer quanto aos aspectos
linguísticos que, como resultado, ele próprio apresenta.
3. E, na referida lei, ao menos por quatro vezes, se registra a expressão Lei
Complementar, exatamente desse modo, com o adjetivo complementar
sendo grafado com inicial maiúscula.
4. Ante essa realidade, não é difícil concluir que outro adjetivo em situação
similar também há de obedecer ao mesmo critério de grafia, incluindo
aquele cuja finalidade é especificar a esfera federativa de origem da lei.
5. Desse modo, Lei Federal 5.869/73, Lei Estadual 6.789/2014, Lei
Municipal 789, Decreto Federal 589/98, Decreto Estadual 898/89,
Instrução Normativa 78/2009, Medida Provisória 587/2002.

Leis antigas – Como citar?


Ver Acordo Ortográfico – Como citar leis antigas? (P. 71)

Lêiser
Ver Formação de adjetivos – Regras (P. 360) e Neologismo (P. 494).

Leis federal, estadual e municipal – Está correto?


Ver Cláusulas terceira e quarta – Está correto? (P. 188)

Ler
1. Apresenta problemas de conjugação verbal em diversos tempos, até por
apresentar sons não tão agradáveis ao ouvido: leio, lês, lê, lemos, ledes,
leem (presente do indicativo); leia, leias, leia, leiamos, leiais, leiam
(presente do subjuntivo); li, leste, leu, lemos, lestes, leram (pretérito
perfeito do indicativo).
2. Juntamente com crer, dar, ver e respectivos compostos, eram os únicos
verbos grafados com êe na terceira pessoa do plural, com acento
circunflexo no primeiro e. O recente Acordo Ortográfico, todavia, aboliu
tais acentos: creem, deem, leem, veem.
3. Serve de modelo para seus compostos: reler, tresler.
Ver Crer – Conjugação e Regência verbal (P. 241), Nomear (P. 497), Ver –
Como conjugar? (P. 764) e Vir (P. 770).

Ler e gostar de – Está correto?


Ver Verbos com regências diversas (P. 760).

Lesionar – Existe?
Ver Existe em português? (P. 346)

Leso
1. É forma adjetiva com o significado de lesado, ferido.
2. Lembra Domingos Paschoal Cegalla que, “na acepção de lesado,
antepõe-se a certos substantivos, geralmente precedido da expressão
crime de, para indicar ofensa ou violação grave” (1999, p. 233).
3. Quanto à concordância nominal, é adjetivo que entra na formação de
compostos e varia normalmente, concordando com o substantivo a que
se refere em gênero e número: crime de leso-patriotismo, crime de lesa-
majestade, crime de lesos-sentimentos (PEREIRA, 1924, p. 295).
4. De oportuna transcrição o ensinamento de Carlos Góis: “Por falsa
analogia iludem-se alguns escritores incipientes, e usam escrever lesa-
patriotismo, lesa-sentimento, supondo que o primeiro elemento seja o
verbo lesar na terceira pessoa do singular do presente do indicativo,
quando é particípio passado irregular do referido verbo” (1943, p. 202).
5. Veja-se, de igual modo, a lição do Padre José F. Stringari (1961, p. 5):
“O adjetivo leso deve concordar com o substantivo a que se ajunta”,
exemplificando tal gramático com exemplo dos melhores de Alexandre
Herculano: “Mas nos crimes de lesa-arte e de leso-patriotismo
cometidos no meio das revoluções…”.
6. Para Vitório Bergo (1943, p. 58), “este adjetivo, a que se prende
etimologicamente o verbo lesar, concorda regularmente com o
substantivo a que se antepõe: ‘… prometera rasgar a folha deste
romance, ré de leso-matrimônio…’ (Camilo Castelo Branco); ‘A
supressão de cenas, árias, cavaletes etc. é … um crime de lesa-arte’
(Camilo Castelo Branco)”.
7. Em outro significativo aspecto, anota Luís A. P. Vitória (1969, p. 144)
com precisão: “pronuncia-se com e aberto”.

Letra maiúscula
Ver Direito (P. 287) e Letras maiúsculas e Acento gráfico (P. 444).

Letras
Ver Plural de letras – Existe? (P. 566)

Letras maiúsculas e Acento gráfico


1. Interessante e oportuna observação faz Antonio Henriques (1999, p. 6),
de grande valia para todos, mas que deveria ter maior penetração
sobretudo nos meios publicitários e na imprensa: “há de se lembrar que
as letras maiúsculas também são acentuadas”: JOSÉ, AUTÓDROMO.
2. E não escapa a tal regra a letra, quando se trata da primeira da palavra,
não importando se as demais sejam grafadas com minúsculas ou
maiúsculas: Átila, Édson, ÁTILA, ÉDSON.

Lêvedo ou Levedo?
1. Tal vocábulo pode significar o fermento, a levedura (e, assim, é um
substantivo), e também pode indicar a qualidade de fermentado (e, desse
modo, é um adjetivo).
2. Tradicionalmente, tem-se afirmado ser, em ambos os casos, um vocábulo
proparoxítono (BECHARA, 1974, p. 59), de modo que se tem
preconizado que se deve pronunciar com mais força a antepenúltima
sílaba (lê), o que, por consequência, gera a necessidade de acento
gráfico: lêvedo.
3. Cândido de Oliveira (1961, p. 34), em decorrência dos frequentes
equívocos acerca de sua pronúncia, reforça-lhe a condição de
proparoxítona, e Cândido Jucá Filho assim reitera (1963, p. 387), tanto
para o adjetivo (pão lêvedo) como para o substantivo (lêvedo de
cerveja).
4. Embora observe, quanto ao substantivo, que “a pronúncia corrente no
Brasil é levedo (vê)”, Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 233), quer
para o substantivo, quer para o adjetivo, quanto à norma culta, afirma ser
correta apenas a grafia e a pronúncia proparoxítonas (pão lêvedo, lêvedo
de cerveja).
5. Desse entendimento não destoa Napoleão Mendes de Almeida (1981, p.
172): “Quer substantivo, quer adjetivo…, é palavra sempre
proparoxítona”.
6. Contrariando, porém, a tradição, o Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa (2009, p. 497), repetindo o que afirmou em suas edições
anteriores (de 1999 a 2009), tem apontado apenas a forma paroxítona
levedo (vê) para o substantivo (e, assim, levedo de cerveja), reservando a
forma proparoxítona lêvedo (lê) apenas para o adjetivo (e, assim, pão
lêvedo, massa lêveda).
7. Nunca é demais anotar que, sendo editado pela Academia Brasileira de
Letras, órgão incumbido oficialmente de determinar a existência dos
vocábulos em nosso idioma, além de sua grafia e pronúncia oficiais, o
VOLP é a autoridade nesse assunto.
8. Assim, apenas cabe lutar e esperar que, em próxima edição, se torne ao
remansoso e sadio caminho da tradição do idioma, no mínimo para
autorizar cumulativamente a grafia e a pronúncia proparoxítonas para o
substantivo.

Lhe
1. Os pronomes pessoais oblíquos átonos o, a, os, as funcionam como
objetos diretos; já os pronomes lhe e lhes, como objetos indiretos. Exs.:
a) “O juiz sentenciou o caso”; b) “O juiz sentenciou-o”; c) “O
documento pertence aos autos”; d) “O documento pertence-lhes”.
2. Oportuna a lembrança de João Ribeiro (1923, p. 176) no sentido de que,
nos tempos preliminares do período clássico, encontra-se o emprego do
pronome lhe equivalendo a o, como, por exemplo, em repreendeu-lhe
(em vez de repreendeu-o), sintaxe essa de equivalência em diversos
casos, que também é encontrada no castelhano.
3. Para os dias de hoje, entretanto, Sousa e Silva (1958, p. 168) aponta,
com propriedade, que, embora comum, é errôneo emprego de lhe e lhes
em lugar de o, a, os e as.
4. A frequência com que se dão equívocos dessa natureza fez com que
Arnaldo Niskier (1992, p. 51) tecesse a seguinte observação: “É um erro
muito comum a troca do pronome o (e variações) por lhe(s). Devemos
ter em mente que o (e variações) é utilizado como objeto direto
(conheço-o) e lhe(s) como objeto indireto (paguei-lhe cinco mil
cruzeiros)”.
5. E, para quem tiver dificuldade exatamente em reconhecer a
transitividade dos verbos, é bom lembrar, em termos bem práticos, que o
verbo transitivo direto, por via de regra, admite passagem para a voz
passiva, mas não o transitivo indireto.
6. Assim, no exemplo “O caso foi sentenciado pelo juiz”, o verbo está na
voz passiva, já que o sujeito caso sofre a ação de sentenciar, em
evidência de que o verbo é transitivo direto.
7. Já o exemplo “O documento pertence aos autos” não admite passagem
para a voz passiva, o que é sinal inconfundível de que pertencer não é
transitivo direto.
8. De suma importância, em adendo, é ver que lhe põe-se em lugar de um
nome do singular, enquanto lhes substitui um nome do plural. Exs.: a)
“O paletó pertence à vítima”; b) “O paletó pertence-lhe”; c) “O dinheiro
pertence às vítimas”; d) “O dinheiro pertence-lhes”.
9. Essa distinção, todavia, por equívoco, nem sempre é observada até
mesmo por textos de lei, como se verifica do seguinte exemplo: “O
Banco Nacional da Habitação e a SUMOC manterão sigilo com relação
a documentos e informações que as sociedades de crédito imobiliário
lhe fornecerem” (art. 41, § 3º, da Lei 4.380, de 21/8/64, que
regulamentou os contratos imobiliários). Corrija-se lhe para lhes, porque
tal pronome substitui tanto o Banco Nacional da Habitação como a
SUMOC.
Ver Lhe por Seu (P. 445), Pronome pessoal (P. 614) e Voz passiva – Quando
é possível? (P. 793)

Lhe encaminho ou Encaminho-lhe?


1. Uma leitora indaga, na prática, qual dos seguintes exemplos é correto: a)
“Encaminho-lhe a nota”; b) “Lhe encaminho a nota”; c) “Encaminho a
você a nota”.
2. Num primeiro aspecto, verificada a circunstância de que não há
irregularidade alguma a ser apontada na frase “Encaminho a você a
nota”, estabelece-se uma comparação entre os dois primeiros exemplos:
a) “Encaminho-lhe a nota”; b) “Lhe encaminho a nota”.
3. Da própria comparação visual entre ambos, extrai-se que a dúvida é se o
pronome pessoal oblíquo átono lhe vem antes ou depois do verbo.
Reitere-se que, em ambos os casos, o pronome é átono, e está em jogo
exatamente o assunto da colocação pronominal.
4. Ora, em tese, um pronome pessoal oblíquo átono pode-se colocar em três
posições na frase: a) antes do verbo, ou seja, em próclise (“Não me
amole!”); b) no meio do verbo, ou seja, em mesóclise (“Dir-se-á que não
trabalhamos”); c) após o verbo, ou seja, em ênclise (“Deram-me notícia
falsa”).
5. Com essa observação inicial e teórica, sem necessidade de maiores
divagações, invoca-se uma primeira regra de colocação de pronomes
(com exceção dos casos em que o verbo está no futuro do presente ou no
futuro do pretérito): é obrigatória a ênclise, se o período se inicia por
verbo, de modo que é errônea qualquer construção que inicie a frase por
um pronome em tais circunstâncias (ou seja, em próclise).
6. Com essa observação, confira-se a correção ou erronia dos exemplos
trazidos pela leitora: a) “Encaminho-lhe a nota” (correto); b) “Lhe
encaminho a nota” (errado).
7. Num segundo aspecto, da comparação entre os exemplos – a)
“Encaminho-lhe a nota”; b) “Encaminho a você a nota” – podem-se
extrair as seguintes conclusões: i) no primeiro exemplo (lhe), tem-se um
pronome pessoal oblíquo átono; b) já no segundo exemplo (você), tem-
se um pronome tônico; c) tanto um pronome átono quanto um pronome
tônico podem ser empregados em tais circunstâncias e são perfeitamente
corretos (“Entregou-nos” ou “Entregou a nós”; “Encaminho-lhe” ou
“Encaminho a você”); d) nesses casos, em realidade, não está em
discussão o assunto de colocação de pronomes.

Lhe por Seu


1. Casos há em que, de modo erudito e louvável, se diz e se escreve
corretamente lhe em lugar de seu. Assim: “Elogiei-lhe o bom gosto” por
“Elogiei o seu bom gosto”.
2. Observando que ambas as formas são corretas, lembra Alfredo Gomes
que o lhe, em tal caso, apenas tem a aparência de um objeto indireto,
porquanto “é um adjunto atributivo (atualmente adjunto adnominal)
mascarado com aquela forma” (1924, p. 322).
3. Aconselhando o emprego de lhe por seu em hipóteses desse jaez,
Laudelino Freire até mesmo anota que “cumpre fugir quanto possível ao
emprego dos possessivos, que devem ser substituídos pelos pronomes
que lhes são correspondentes”. E, dando como exemplo “É direito do
progenitor sobre os filhos menores dirigir sua educação”, complementa
ele, com ensinamento de Rui Barbosa, que “a boa forma portuguesa,
clara, incisiva e tersa é dirigir-lhes a educação” (FREIRE, 1937b, p. 99).
4. Antonio Henriques (1999, p. 155) considera “elegante a substituição dos
possessivos pelos pronomes pessoais correspondentes em função
restritiva” e acrescenta que se serve “dessa substituição a boa linguagem
para conferir à frase torneio mais fino”.
5. Edmundo Dantès Nascimento (1982, p. 5), buscando o aprimoramento
do estilo, também assevera que “muito elegante é a substituição do
possessivo pelo pronome oblíquo”. Exs.: a) “Roubaram-lhe o
automóvel” por “Roubaram o seu automóvel”; b) “Morreu-lhe o pai” por
“Morreu o pai dele”.
6. Entretanto, em apropriada observação para verbos transitivos diretos,
como abandonar, aborrecer, abraçar, acompanhar, acusar, adorar,
ameaçar, amparar, auxiliar, condenar, conhecer, convidar, defender,
eleger, estimar, namorar, ouvir, prejudicar, proteger, respeitar, socorrer,
ver, visitar, anotam Pasquale Cipro Neto e Ulisses Infante (1999, p. 514)
que “os pronomes lhe, lhes só acompanham esses verbos para indicar
posse (caso em que atuam como adjuntos adnominais): ‘Quero beijar-lhe
o rosto (= beijar seu rosto)’; ‘Prejudicaram-lhe a carreira (=
prejudicaram sua carreira)’”.
7. Isso quer significar que o emprego desses pronomes, em tais casos, não
torna o verbo transitivo indireto, de modo que, se o lhe não significar
seu, em estruturas como as estudadas, o exemplo estará errado, se
houver o uso de lhe. Confiram-se, assim, os seguintes exemplos: a)
“Elogiei-lhe o bom gosto” (correto); b) “Elogiei-lhe perante todo o
grupo” (errado); c) “Elogiei-o perante todo o grupo” (correto); d)
“Quero beijar-lhe o rosto” (correto); e) “Quero beijar-lhe” (errado); f)
“Quero beijá-lo” (correto); g) “Prejudicaram-lhe a carreira totalmente”
(correto); h) “Prejudicaram-lhe totalmente” (errado); i) “Prejudicaram-
no totalmente” (correto).
8. Dessa sintaxe correta de emprego de lhe por seu se serve o Código Civil
em diversas passagens: a) “O reconhecimento pode preceder o
nascimento do filho, ou suceder-lhe ao falecimento (= suceder ao seu
falecimento), se deixar descendentes” (art. 357, parágrafo único); b)
“Cabe ao tutor, quanto à pessoa do menor: I – dirigir-lhe a educação (=
dirigir a sua educação), defendê-lo e prestar-lhe alimentos, conforme os
seus haveres e condição…” (art. 424, I); c) “Aquele que semeia… em
terreno próprio, com … materiais alheios… fica obrigado a pagar-lhes
o valor… (= pagar o seu valor)” (art. 546); d) “Se o depositário se
tornar incapaz, a pessoa que lhe assumir a administração dos bens (=
que assumir a administração de seus bens), diligenciará…” (art. 1.276).

Lhe – Só pode ser objeto indireto?


1. Um leitor viu em algum lugar que o pronome o serve para funcionar
como objeto direto, enquanto o pronome lhe, como objeto indireto. Teve
dúvidas, entretanto, sobre uma frase que lhe pareceu fugir do
enquadramento dado pelo referido raciocínio. E pergunta se ela está
correta quanto ao emprego do mencionado pronome: “Vêm os
suplicantes propor a presente ação, com o objetivo de ser-lhes
reconhecido o direito de receberem o acréscimo remuneratório”.
2. Antes de responder ao leitor quanto à correção ou erronia do exemplo
trazido por ele para análise, importa observar que o pronome lhe pode
ser, por um lado, objeto indireto; mas também pode desempenhar outras
funções: a) pronome com a função de objeto indireto (“Dou-lhe os
parabéns, meu amigo”); b) pronome possessivo com a função de adjunto
adnominal (“A gravata de cetim preto imobilizava-lhe o pescoço” –
equivalendo a “… imobilizava o seu pescoço); c) pronome com função
de complemento nominal (“Era-lhe difícil a caminhada – equivalendo a
“Era difícil para ele a caminhada”).
3. Ainda antes de responder ao leitor, também se fazem algumas
considerações preliminares sobre transitividade verbal, iniciando por
listar quatro exemplos para análise: a) “O juiz silenciou”; b) “O juiz
quebrou o silêncio”; c) “O documento pertence aos autos”; d) “O juiz
entregou os autos ao advogado”.
4. No primeiro exemplo (“O juiz silenciou”), o verbo é suficiente e bastante
em si, sem precisar de complementos. Tecnicamente, é um verbo
intransitivo.
5. No segundo exemplo (“O juiz quebrou o silêncio”), o verbo precisa de
um complemento, que a ele se ligue diretamente, isto é, sem o auxílio de
preposição. Tecnicamente, um verbo transitivo direto.
6. No terceiro exemplo (“O documento pertence aos autos”), o verbo
necessita de um complemento, que a ele se ligue indiretamente, vale
dizer, com o auxílio da preposição a. Tecnicamente, um verbo transitivo
indireto.
7. No último exemplo (“O juiz entregou os autos ao advogado”), o verbo
exige os dois complementos: a) um que se ligue a ele diretamente, sem
auxílio de preposição (os autos); b) e outro que desempenhe essa
atividade por intermédio da preposição a (ao advogado). Tecnicamente,
um verbo transitivo direto e indireto (que alguns ainda denominam
verbo bitransitivo).
8. E, ainda antes de responder ao leitor, por serem importantes para o caso,
tecem-se alguns comentários sobre vozes do verbo, a começar pelo
apontamento de dois exemplos para análise: a) “Esta é uma ação para
que o tribunal reconheça aos autores o direito pretendido”; b) “Esta é
uma ação para que o direito pretendido seja reconhecido pelo tribunal
aos autores”.
9. No primeiro exemplo, que é sintaticamente correto, do trecho “… o
tribunal reconheça aos autores o direito pretendido…”, extraem-se as
seguintes ilações: a) o tribunal é o sujeito; b) o direito pretendido é o
objeto direto; c) se se quiser substituir o objeto direto por um pronome,
este será o (“… o tribunal o reconheça aos autores”); d) aos autores é o
objeto indireto; e) se se quiser substituir o objeto indireto por um
pronome, este será lhes (“… o tribunal lhes reconheça o direito
pretendido…”); f) o verbo é transitivo direto e indireto; g) a ação
indicada pelo verbo (reconhecer) é praticada pelo sujeito (tribunal); h)
porque o sujeito pratica a ação indicada pelo verbo, então se diz que o
exemplo está na voz ativa.
10. No segundo exemplo, que também é sintaticamente correto, do trecho
“…o direito pretendido seja reconhecido pelo tribunal aos autores…”,
as seguintes conclusões podem ser tiradas: a) o sujeito é o direito
pretendido; b) a ação de reconhecer não é praticada pelo sujeito, mas
pelo tribunal; c) o sujeito, como se vê, recebe ou sofre a ação indicada
pelo verbo; d) porque o sujeito sofre a ação indicada pelo verbo, então
o exemplo está na voz passiva; e) e o termo que pratica, na voz
passiva, a ação indicada pelo verbo, chama-se agente da passiva, ou
agente da voz passiva (no caso, pelo tribunal); f) a passagem da voz
ativa para a voz passiva, como não é difícil perceber, é apenas uma
variação da maneira de expressar a mesma realidade; g) e essa
passagem de voz apenas mexe com o sujeito da ativa (que passa a ser
agente da passiva) e com o objeto direto da ativa (que passa a ser o
sujeito da passiva); h) por isso, como há objeto indireto na voz passiva,
ele continua sendo objeto indireto na voz passiva; i) reitere-se, assim,
que aos autores, que era objeto indireto na voz ativa, continuará sendo
objeto indireto na voz passiva; j) como conceitualmente não há objeto
direto na voz passiva, então não há possibilidade de aparecer nela o
pronome o; k) como, todavia, o que era objeto indireto na voz ativa
continua sendo objeto indireto na voz passiva, então nada impede que
aqui apareça o pronome lhes (“… o direito pretendido lhes seja
reconhecido pelo tribunal…”).
11. Responde-se diretamente ao leitor com relação ao exemplo por ele
trazido para análise: a) genericamente, o lhe, além de objeto indireto
(como em “Dou-lhe os parabéns, meu amigo”), pode desempenhar
outras funções sintáticas; b) uma delas é ser pronome possessivo com a
função de adjunto adnominal (“A gravata de cetim preto imobilizava-
lhe o pescoço”- equivalendo a “… imobilizava o seu pescoço); c) outra
delas é funcionar como pronome que tenha a função sintática de
complemento nominal (“Era-lhe difícil a caminhada – equivalendo a
“Era difícil para ele a caminhada”); d) quanto ao exemplo “… com o
objetivo de ser-lhes reconhecido o direito…”, o sujeito é direito, que
recebe a ação praticada pelo verbo; e) isso significa que o exemplo está
na voz passiva; f) na voz ativa, o exemplo seria “… com o objetivo de
que lhes reconheçam o direito…”; g) nesta voz ativa, o sujeito é
indeterminado, e o direito é o objeto direto; h) sendo indeterminado o
sujeito na voz ativa, isso quer dizer que o exemplo não tem agente da
passiva; i) em ambos os casos, o lhes é objeto indireto (que, como se
sabe, não muda de função na passagem de voz).

Lhe – Só se refere a pessoas?


1. Um leitor indaga se procede a informação que recebeu, segundo a qual o
pronome lhe somente deve ser empregado quando se refere a pessoas. E
pergunta, em continuação, se, em caso de ser correto esse entendimento,
estaria errado o seguinte exemplo: “conhecer do recurso e negar-lhe
provimento”.
2. Ora, uma primeira e importante observação diz respeito ao fato de que os
pronomes pessoais oblíquos átonos o, a, os, as funcionam como objetos
diretos; já os pronomes lhe e lhes, como objetos indiretos. Exs.: a) “O
juiz sentenciou o caso”; b) “O juiz sentenciou-o”; c) “O documento
pertence aos autos”; d) “O documento pertence-lhes”.
3. E, de modo específico para a dúvida trazida pelo leitor, importa anotar
que essa regra é válida, não importando se o complemento do verbo é
coisa ou pessoa, como se pode ver nos seguintes exemplos, todos
corretos. Exs.: a) “O juiz sentenciou o acusado”; b) “O juiz sentenciou-
o”; c) “O carro pertence ao juiz”; d) “O carro pertence-lhe (objeto
indireto de pessoa)”; e) “O documento pertence aos autos”; f) “O
documento pertence-lhes” (objeto indireto de coisa).
4. E, assim, em conclusão específica para a dúvida trazida pela leitora, o
certo é que seu exemplo é plenamente correto.
5. Vale a pena acrescentar que, embora comum nos dias de hoje, tanto na
escrita quanto na fala, é errôneo o emprego de lhe e lhes em lugar de o,
a, os e as. Exs.: a) “Não lhe vi” (errado); b) “Não lhe conheço” (errado);
c) “Não o vi” (correto); d) “Não o conheço” (correto).
6. E, para auxiliar aqueles que têm dificuldade exatamente em reconhecer
se um verbo é transitivo direto ou transitivo indireto, acrescenta-se que a
regra de cunho bem prático para esses casos é observar que o verbo
transitivo direto admite voz passiva: a) “O caso foi sentenciado pelo
juiz”; b) “Ele foi visto por mim”; c) “Ele é conhecido por mim”.
7. Já o verbo transitivo indireto não admite voz passiva, de modo que, se
você tentar passar para a voz passiva o exemplo “O documento pertence
aos autos”, é certo que não vai conseguir.

Lho – Existe?
Ver Mo – Está correto? (P. 476)

Licença-prêmio
1. Também chamada licença especial, é a permissão dada ao funcionário
público para faltar ao serviço por determinado lapso temporal (às vezes
convertida em pecúnia, por necessidade do serviço), com todos os
direitos e vantagens do cargo efetivo, e isso após o cumprimento de
alguns anos de trabalho e desde que preenchidos determinados aspectos
adicionais atinentes à ausência de suspensões e de faltas injustificadas
(MASAGÃO, 1968, v. 375, p. 195-6).
2. Na conformidade com lição de Luís A. P. Vitória, seu plural há de ser
licenças-prêmio e não licenças-prêmios, uma vez que, em substantivos
compostos dessa natureza, “quando o segundo elemento exprime
finalidade ou espécie, só o primeiro vai para o plural” (1969, p. 149).
3. Cândido de Oliveira (s/d, p. 92), de igual modo, confere-lhe por plural
apenas licenças-prêmio.
4. Se, todavia, por um lado, irretocável é a lição dos autores citados, em
consonância com a doutrina tradicional, o certo é que a tendência da
Gramática, na atualidade, é conferir duplo plural aos nomes compostos
formados por dois substantivos, em que o segundo elemento indique a
finalidade do primeiro.
5. Assim, nos dias de hoje, em regra válida para textos que devam
submeter-se aos rigores da norma culta, o substantivo composto aqui
analisado pode, no plural, indiferentemente, fazer licenças-prêmio ou
licenças-prêmios, como, aliás, aponta o Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa (2009, p. 498), editado pela Academia Brasileira de
Letras, entidade oficialmente incumbida de listar os vocábulos do nosso
idioma, bem como de apontar-lhes peculiaridades de flexão de gênero e
número.
Ver Substantivos compostos – Como levar ao plural? (P. 717)

Linguagem científica
1. Se, por um lado, o literato produz arte, com liberdade para empregar os
vocábulos que melhor sugiram seu estado de espírito e sua criatividade,
já o profissional do Direito (que frequentou um curso de ciências
jurídicas e sociais), por outro lado, produz ciência, cuja linguagem é
técnica e precisa.
2. Bem por isso, em termos práticos, é inconveniente, de um modo geral,
substituir termos e locuções por sinônimos, a pretexto de evitar
repetições.
3. Nessa esteira, lembrando que “a precisão da linguagem jurídica
desaconselha tais substituições”, observa Geraldo Amaral Arruda que,
“firmado o título do instituto jurídico com a função de determinado
adjetivo restritivo, será impróprio substituir substantivo e adjetivo por
sinônimos ou pretensos sinônimos”.
4. E alinha tal autor um rol dessas impropriedades, muitas vezes de mau
gosto: estatuto minorista, estatuto repressivo, estatuto adjetivo civil,
representante ministerial, fase inquisitorial, insuficiência probatória, em
vez de: Código de Menores, Código Penal, Código de Processo Civil,
representante do Ministério Público, fase do inquérito policial,
insuficiência de provas (ARRUDA, 1997, p. 40).
5. A questão é tão arraigada nos meios forenses, que até mesmo resvala
para o lado anedótico, como a história que se conta do causídico atuante
na Justiça Militar, que ao Código Penal Militar jamais atribuía esse
nome, mas sempre o rebatizava como pergaminho repressivo castrense;
ou do extremo a que chegou um representante do Ministério Público, o
qual, ao oferecer denúncia por lesões corporais em briga havida durante
um jogo de futebol, asseverou ter-se dado o evento durante pugna de
ludopédio.
6. Bem no estilo “seria cômico, se não fosse trágico”, prestigioso jornal,
em artigo no qual pretendia demonstrar que os jovens advogados tentam
modernizar o idioma jurídico, noticiou que um deles, para não repetir a
expressão Lei das Sociedades Anônimas, não teve dúvidas em chamá-la
de diploma do anonimato (Folha de S. Paulo, 5 jun. 1994, caderno 4, p.
2-3).
7. A necessidade de um vocabulário preciso e científico se faz evidente até
mesmo em determinados dispositivos legais.
8. Veja-se, por exemplo, o que segue: “Nos embargos infringentes e na
ação rescisória, devolvidos os autos pelo relator, a secretaria do
tribunal expedirá cópias autenticadas do relatório e as distribuirá entre
os juízes que compuserem o tribunal competente para o julgamento”
(art. 553 do Código de Processo Civil).
9. Sabido é pela praxe que tais cópias serão entregues tão somente aos que
haverão de participar de modo efetivo do julgamento, e não a todos os
integrantes do tribunal, o qual, como um todo, não deixa de ser
competente para o julgamento.
10. Desse modo, melhor seria dizer turma julgadora em lugar de tribunal.

Línguas grega e hebraica – Está correto?


Ver Cláusulas terceira e quarta – Está correto? (P. 188)

Liquidação e Liquidar
Ver Líquido (P. 449).

Líquido
1. Em palavras como liquidação, liquidar, líquido, liquidificador, o u é ou
não pronunciado, conforme a região do Brasil.
2. Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 19) arrola esse vocábulo entre aqueles
nos quais o u é pronunciado ou não facultativamente.
3. De tais observações extrai-se a ilação de que, para todos os efeitos,
facultativo era o uso do trema em tais palavras.
4. Ocorre que o Acordo Ortográfico de 2008 aboliu o uso do trema em
palavras de nosso idioma.
5. Isso, contudo, não invalida a lição de que, no caso, o u pode ou não ser
pronunciado, exatamente como aponta o Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras (2009, p. 503),
órgão incumbido oficialmente de determinar a existência dos vocábulos
em nosso idioma, que registra as duas formas de pronúncia (u ou ü),
mesmo em sua edição posterior ao mencionado acordo.

Livro a consultar(-se) – Está correto?


Ver A fazer – Está correto? (P. 91)

Localizado
1. De acordo com Francisco Fernandes (1971, p. 408), tal vocábulo admite
ser construído com as preposições em e entre. Exs.: a) “O terreno
discutido estava localizado em bairro distante”; b) “O terreno discutido
estava localizado entre uma padaria e um templo religioso”.
2. De mesma regência é o verbo localizar.
Ver Morar à Rua Tal ou Morar na Rua Tal? (P. 477)

Localizar
Ver Localizado (P. 449).

Locução verbal – Como flexionar?


1. Um leitor indaga qual a forma correta de flexão dos verbos nas seguintes
expressões: a) “As possibilidades terão desde já de ser
administradas…”; b) “As possibilidades terão desde já de serem
administradas…”
2. Façam-se, de início, as seguintes ponderações: a) a expressão terão de
ser equivale aproximadamente à forma verbal serão; b) quando uma
expressão assim vale por um verbo, diz-se que se está diante de uma
locução verbal; c) em uma locução, um dos verbos dá o sentido (no caso,
ser), enquanto o outro ajuda na conjugação (no caso, ter); d) o verbo no
infinitivo, que dá o sentido à locução, é o principal, e o que ajuda na
flexão é o auxiliar; e) o verbo auxiliar, exatamente por sua função de
ajudar na conjugação, é aquele que se flexiona; f) já o principal não
varia.
3. Confirme-se lição corrente entre os gramáticos segundo a qual, nas
locuções verbais, “não é lícito flexionar o infinitivo” (MACHADO
FILHO, 1969b, p. 705). Exs.: a) “Os magistrados não podem fazer
sozinhos o trabalho de administrar a justiça” (correto); b) “Os
magistrados não podem fazerem sozinhos o trabalho de administrar a
justiça” (errado).
4. Apesar desse firme e remansoso ensino, é erro muito comum a utilização
do infinitivo flexionado nesses casos, sobretudo quando, entre o verbo
auxiliar e o verbo principal, se interpõem outras palavras. Exs.: a) “Os
magistrados não podem, sozinhos, sem a participação de todos os
segmentos envolvidos, fazerem o trabalho de administrar a justiça”
(errado); b) “Os magistrados não podem, sozinhos, sem a participação
de todos os segmentos envolvidos, fazer o trabalho de administrar a
justiça” (correto).
5. Cândido de Figueiredo, exatamente a esse respeito, lembra o seguinte
exemplo encontrado “num livro moderno, premiado oficialmente”:
“Podem, entretanto, esses serviços serem estabelecidos…”. E
complementa: “Podem serem … não é linguagem de cá” (1941, p. 168).
Nem de cá, nem de lá, nem de lugar nenhum. Corrija-se: “Podem,
entretanto, esses serviços ser estabelecidos…”
6. Tendo essas explicações como premissas, retomem-se os exemplos da
consulta, com a indicação de sua correção ou erronia entre parênteses: a)
“As possibilidades terão desde já de ser administradas…” (correto); b)
“As possibilidades terão desde já de serem administradas…” (errado).

Locuções prepositivas
1. A análise dos bons autores revela que, se os elementos regidos por
locução prepositiva são unidos por e, pode haver a repetição da
preposição que finaliza a locução. Ex.: “Ele continua a culminar aí,
acima das letras e da magistratura”.
2. Se tais elementos se ligam sem conjunção, é costume repetir a
preposição que finaliza a locução. Ex.: “Ele continua a culminar aí
acima das letras, da política, da magistratura”.
3. Se o intuito é conferir ênfase à expressão, em elementos ligados sem
conjunção, pode-se repetir a locução prepositiva em sua totalidade. Ex.:
“Ele continua a culminar aí acima das letras, acima da política, acima
da magistratura” (Rui Barbosa).
4. Se os elementos se distanciam na frase, a ponto de dificultarem a
compreensão do leitor, nada melhor do que repetir a locução toda. Ex.:
“Ele continua a culminar aí acima da política e, também com igual
intensidade e vigor, acima da magistratura”.
5. Napoleão Mendes de Almeida (1981, p. 276) chama a atenção, para que
se evite o uso do artigo sem preposição antes do segundo elemento, o
que ele considera galicismo ou castelhanismo. Ex.: “Ele continua a
culminar aí acima das letras, e a política, e a magistratura” (errado).

Locuções verbais
Ver Pronomes e Locuções verbais (P. 617).

Logografar
Ver Datilografar (P. 251).

Longe
1. É palavra que precisa ser observada do ponto de vista da concordância
nominal.
2. Com ela, duas situações podem ocorrer: a) Se modifica um verbo ou um
adjetivo, tem valor de advérbio de lugar e é invariável. Ex.: “Os
magistrados moravam longe”; b) Se, porém, modifica um substantivo –
o que se dá excepcionalmente – tem valor de adjetivo e concorda com a
palavra modificada. Ex.: “O réu pensava em longes terras, onde não
pudessem alcançá-lo”.
3. Atente-se, a respeito, à lição de Mário Barreto (1954a, p. 296): a)
“Longe pode ser adjetivo plural com o substantivo terra”; b) “Longe
pode ainda ser advérbio: ‘A trovoada anda longe’”; c) Também pode ser
“adjetivo substantivado por preposição, equivalente a lugar longínquo:
Desde longe, venho de longe”; d) Pode ser, “finalmente, adjetivo
substantivado pelo artigo o: ao longe”.
Ver Bastante – Existe no plural? (P. 156)

Longo prazo – A ou em?


Ver A curto prazo ou Em curto prazo? (P. 73)

Louvar Deus ou Louvar a Deus?


Ver Objeto direto preposicionado (P. 511).
Lugar incerto e não sabido
1. Veem-se, com frequência, certidões de oficiais de justiça com o registro
de que o réu se encontra “em lugar incerto e não sabido”, expressão essa
que, às vezes, se repete em editais, em manifestações de advogados,
promotores, juízes e até mesmo em livros de doutrina.
2. Ora, ao determinar a citação do réu por edital, o art. 231, II, do Código
de Processo Civil discrimina as situações em que tal há de ocorrer: a)
“quando ignorado… o lugar em que se encontrar”; b) “quando …
incerto… o lugar em que se encontrar”; c) “quando … inacessível o
lugar em que se encontrar”.
3. Para Moniz de Aragão (1974, p. 235), encontra-se em lugar ignorado,
não sabido, ou desconhecido, por exemplo, aquele que “abandonou o lar
e tomou rumo ignorado”; por outro lado, reside em lugar incerto, mas
conhecido, aquele que se “muda para uma cidade grande ou nesta se
transfere de casa e não se sabe onde fica situada a nova residência”, não
sendo possível localizar tal pessoa “sem conhecer o nome da rua e o
número da casa onde mora”.
4. Ante tal ensinamento, em outras palavras, numa primeira hipótese, o
oficial de justiça poderá não ter notícia alguma do paradeiro do réu, caso
em que certificará estar ele em lugar não sabido; numa segunda
hipótese, poderá ter vaga notícia de que, por exemplo, retornou a Minas
Gerais, mais especificamente para o vale do Jequitinhonha, ou mesmo
que se mudou para a cidade de São Paulo, sem deixar o real endereço, e
neste caso certificará que ele está em lugar incerto.
5. O que não se pode afirmar, todavia, é que o réu se encontra, ao mesmo
tempo, “em lugar incerto e não sabido”, expressão essa que encerra
verdadeira contradição nos próprios termos.
6. Exatamente nessa esteira, observa Geraldo Amaral Arruda que antigos
textos legais referiam-se a lugar incerto ou não sabido, conforme do réu
“não se tivesse nenhuma notícia ou dele se tivesse notícia em lugar não
determinado (p. ex., em uma cidade não determinada do sul de Minas
Gerais)”.
7. E complementa tal autor ser um contrassenso dizer lugar incerto e não
sabido, pois “nenhum lugar pode ser incerto e, ao mesmo tempo, não
sabido” (ARRUDA, 1997, p. 10).
8. Fiel a esse entendimento, o Código de Processo Civil, em dois
dispositivos, fala tão somente de lugar incerto (arts. 72, § 1º, “b”, e 942),
sem acrescentar não sabido; e o Código Civil fala em lugar remoto ou
não sabido (art. 1.570), ou seja, refere-se a ambos de maneira disjuntiva.
Ver Incerto ou Inserto? (P. 404)

Lustre ou Lustro?
1. Num primeiro sentido, lustre é a luminária de vários braços, suspensa no
teto. Ex.: “Até lustres do mais puro cristal foram levados a leilão, para
pagar as dívidas daquela tradicional família”.
2. Em segundo significado, lustre pode significar brilho, brilhantismo,
esplendor. Ex.: “A sentença foi proferida num estilo sem lustre”.
3. Nesse segundo sentido, é sinônima de lustro.
4. Já lustro, num primeiro significado, é o quinquênio, o período de cinco
anos. Ex.: “Uma posse contínua e sem oposição por seis lustros era mais
do que suficiente para configurar o usucapião”.
5. Em segundo sentido, lustro, assim como lustre, pode significar brilho,
polimento. Ex.: “A sentença foi proferida num estilo sem lustro”.
M
Macérrimo, Magérrimo ou Magríssimo?
1. A par da formação popular magríssimo, lembrada por Carlos Góis e
Herbert Palhano (1963, p. 76) para o superlativo absoluto sintético de
magro, a forma erudita de tal superlativo absoluto sintético, pela
derivação latina, é macérrimo.
2. Macérrimo, aliás, é a única forma de superlativo absoluto sintético que
Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 49) dá para o adjetivo magro.
3. Para Gladstone Chaves de Melo, o superlativo magérrimo, que circula na
linguagem coloquial, “não tem suporte na tradição da língua, nem em
raiz latina ou alatinada. É, portanto, inaceitável e errado” (1970, p. 124).
4. Também macérrimo é o superlativo absoluto sintético de magro dado por
Antenor Nascentes (1942, p. 79).
5. Mesmo na atualidade, lembra Arnaldo Niskier que “a língua falada ainda
não conseguiu impor a forma magérrima, que continua sendo
considerada errônea” (1992, p. 45).
6. Na lição de Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 241), “a forma
magérrimo é anormal. Prefira-se macérrimo (forma erudita) ou
magríssimo (forma vulgar)”.
7. Também Artur de Almeida Torres (1966, p. 77) refere os superlativos
macérrimo e magríssimo, mas não magérrimo.
8. Para José de Nicola e Ernani Terra, “embora as formas populares
magérrimo e magríssimo sejam de largo uso, uma pessoa muito magra é
uma pessoa macérrima” (2000, p. 143).
9. Registra, todavia, magérrimo o Dicionário da Melhoramentos
(Encyclopaedia Britannica do Brasil, 1995, p. 1.078).
10. Também nessa última vertente e contrariando o histórico do vocábulo,
para Silveira Bueno, “é possível, exista a forma macérrimo; está,
porém, contra as leis da fonética. Devemos, portanto, usar da outra
correta: magérrimo ou da vernácula magríssimo” (1957, p. 294).
11. Já Cândido de Oliveira (1961, p. 160) arrola três superlativos absolutos
sintéticos para magro: magérrimo, macérrimo e magríssimo.
12. Talvez para atender ao constante emprego popular, o Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de
Letras – órgão oficial para determinar o que é correto ou não no campo
do léxico – veio a dirimir quaisquer controvérsias, acolhendo como
corretas as formas macérrimo e magérrimo (2009, p. 514 e 517),
motivo por que está oficialmente autorizado o emprego de ambas.
13. Observe-se, ademais, que o VOLP não registra a forma magríssimo, e
isso assim se dá, porquanto não se registram normalmente as formas
regulares do superlativo absoluto sintético. Isso, todavia, não quer dizer
que não seja forma correta e perfeitamente empregável.

Macho – Qual o feminino?


1. Trata-se tal palavra de adjetivo biforme e, por conseguinte, variável,
fazendo macho no masculino e macha no feminino, devendo, assim, pela
regra de concordância nominal, flexionar em gênero e número, para
acompanhar o substantivo modificado.
2. Napoleão Mendes de Almeida (1981, p. 117), nessa esteira, alinha
exemplos de Caldas Aulete (flores machas, figura macha) e de Morais
(palmeira macha).
3. Também nesse caminho, Carlos Góis e Herbert Palhano (1963, p. 50)
fazem a concordância literal, tornando feminino o adjetivo, quando
modifica substantivo desse gênero: arara macha.
4. Na lição de Silveira Bueno (1957, p. 303-4), “macho, macha, fêmeo,
fêmea são adjetivos e como tais devem concordar com o substantivo a
que se referem”, motivo por que exemplifica tal autor: eloquência
macha, mamão fêmeo, jacaré fêmeo, cobra macha.
5. Celso Cunha (1970, p. 97), todavia, ao tratar dos epicenos, sem teorizar
sobre a concordância de tal adjetivo, acaba por fazer, com seu oposto, a
concordância ideológica (crocodilo fêmea), no que é seguido por
Evanildo Bechara (1974, p. 85) num primeiro momento (jacaré fêmea) e
também por Gladstone Chaves de Melo (1970, p. 116), todos sem
divergências (cobra macho, barata macho).
6. Em mesmas pegadas, João Ribeiro (1923, p. 57), muito embora sem
teorizar a questão, tanto com macho quanto com fêmeo, faz, nos
exemplos que dá, a concordância por silepse, a saber, pelo sexo do
animal representado: o corvo macho, o javali fêmea, a cobra macho, a
codorniz fêmea.
7. Artur de Almeida Torres (1966, p. 58) também faz essa concordância
ideológica de tais adjetivos, usando sempre macho e sempre fêmea: “o
jacaré macho, o jacaré fêmea, o macho da cobra, a fêmea da cobra”.
8. Cândido de Oliveira (1961, p. 131), de igual modo, usa normalmente a
concordância com a ideia do sexo e lembra, em nota específica, que
apenas raramente se emprega a forma macha, como em palmeira macha.
9. O mesmo autor, em outra obra, sem comentários outros, repete, com tal
adjetivo, a concordância ideológica, vale dizer, harmoniza o adjetivo
com o sexo do ser retratado: a águia macho (OLIVEIRA, C., s/d, p. 44 ).
10. À mesma concordância ideológica – e sem explicação teórica alguma a
respeito – procede Eduardo Carlos Pereira (1924, p. 67-8), ao dar
exemplos de epicenos: onça macho, araponga macho.
11. Em outra obra, Carlos Góis leciona que o adjetivo considerado e seu
antônimo fêmeo “mantêm-se, por silepse, indeclináveis em gênero,
ainda que em oposição a substantivos de gênero oposto: a cobra
macho, o jacaré fêmea” (1943, p. 240-1).
12. Cândido Jucá Filho, por sua vez, de modo não muito claro, atribui-lhe a
categoria gramatical de substantivo e lhe dá o gênero masculino,
afirmando que, “na boa linguagem, a palavra é invariável quanto ao
gênero”.
13. Em seguida, porém, acaba exemplificando com um adjetivo: “Matou
uma andorinha macho”.
14. E, em continuação, ao tratar do adjetivo, acaba por não fazer qualquer
observação adicional e dá exemplo de adjetivo em sua flexão normal
pelas regras da concordância literal: “Gosto de ver gente macha”
(JUCÁ FILHO, 1963, p. 398).
15. Júlio Ribeiro ensina que, em tais casos, se há de fazer a concordância
ideológica (macho será sempre masculino, e fêmea será sempre
feminino), sob o argumento de que a concordância gramatical como
reais adjetivos seria “exagero que se não justifica com bons exemplos”.
16. Silveira Bueno, que transcreve a lição do eminente gramático, retruca,
por sua vez, que o inverso de tal lição “é fácil provar não só com bons
exemplos, mas com exemplos ótimos”, preconizando a possibilidade
dos dois usos: do invariável macho e fêmea, ou da regular
concordância nominal de tais palavras, em harmonia com os
substantivos modificados, como reais adjetivos que são.
17. E alinha diversos casos de escritores abalizados (BUENO, 1938, p. 62-
3): oliveira macha (Castilho); cousa macha (Bento Pereira); palmeira
macha (Morais); cobra macha (Domingos Vieira).
18. O próprio Júlio Ribeiro (1908, p. 83) – já transcrito por Silveira Bueno
–em sua obra, opta pela concordância ideológica (a onça macho), mas
ressalva, sem condenação alguma, que se encontra nos escritores
clássicos portugueses a concordância literal (a onça macha).
19. Alfredo Gomes também vê como lícitas ambas as concordâncias – a
literal e a ideológica – ao exemplificar com “borboleta macho ou
macha” (1924, p. 75).
20. Ante a divergência entre os gramáticos e a própria ausência de causa
real proibitiva, parece possível efetuar tanto a concordância literal de
tais adjetivos (cobra macha, jacaré fêmeo) como sua concordância por
silepse, ou ideológica (cobra macho, jacaré fêmea).
Ver Epiceno (P. 324).

Macro-economia ou Macroeconomia?
1. Ante as modificações advindas do Acordo Ortográfico de 2008, importa
observar como fica a questão do hífen, quando se emprega o falso
prefixo macro: assim, macro-economia ou macroeconomia?
2. O elemento grego macro (contrapondo-se a micro) tem o sentido de
grande e forma diversos vocábulos em nosso idioma.
3. Quanto à grafia, como geralmente ocorre com os prefixos e falsos
prefixos terminados por vogal, apenas em duas hipóteses se usa o hífen:
a) quando o elemento seguinte se inicia por h (macro-história); b)
quando o elemento seguinte se inicia pela mesma vogal com que se
encerra o prefixo (macro-organização, macro-organismo).
4. Assim, acopla-se diretamente à palavra seguinte, sem intermediação de
hífen, quando iniciada esta por outra vogal, que não a que encerra o
prefixo: macroanálise, macroeconomia, macroinstrução, macrouniverso.
5. Continua valendo a regra de junção direta, mesmo que o elemento
seguinte se inicie por consoante: macrobiótica, macrocultura,
macrodecisão, macrofauna, macromolécula, macronúcleo,
macroquímica, macrotórax.
6. Na hipótese de ser o segundo elemento iniciado por r ou s, dobram-se
tais consoantes para continuidade do som originário: macrorrinia,
macrossegmento, macrossocial.

Má-fé
1. Presumindo-se praticados de boa-fé os atos jurídicos de um modo geral,
sendo protegido por lei todo aquele que age sob o manto de tal intenção
–quer podendo resilir o ato em que se prejudicou, quer podendo manter
aquele que deve ser respeitado – a má-fé, seu oposto, exprime “tudo que
se faz com entendimento da maldade ou do mal, que nele se contém”
(DE PLÁCIDO E SILVA, 1989, p. 123).
2. E os atos praticados com tal intenção são inoperantes, não recebendo
força legal, quer sendo tidos como nulos por natureza, quer podendo ser
anulados, na conformidade com o interesse da parte prejudicada.
3. Quanto à estruturação gramatical de mau ou mal, é de se anotar,
genericamente, que, modificando um adjetivo ou um verbo, é advérbio e
se escreve mal: malcriado, mal-humorado, mal-intencionado.
4. Modificando, porém, um substantivo, escreve-se mau, que é como se
grafa o adjetivo: mau-caráter, mau-olhado.
5. Para facilidade de identificação, anote-se que, na prática, mau é o oposto
de bom, enquanto mal é o contrário de bem.
6. Por outro lado, se o advérbio é invariável (malcriada, mal-humorados,
mal-intencionadas), já o adjetivo sofre suas normais alterações para o
feminino e para o plural, conforme a variação do substantivo: mau-
olhado, maus-olhados, má-criação, más-criações.
7. De modo específico para o verbete considerado, o plural de má-fé é más-
fés.
8. Pelas regras oficiais do Formulário Ortográfico (obs. 1 do § 1º da regra
45), obrigatório é o uso do hífen, o que se corrobora pela verificação do
próprio Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela
Academia Brasileira de Letras (2009, p. 517).
9. Não se deve pensar que, no caso, haja dois acentos gráficos em mesma
palavra, uma vez que, para efeito de acentuação gráfica, os elementos
unidos por hífen são considerados palavras distintas. Exs.: ábaco-
mágico, café-solúvel, cará-de-são-tomé, cipó-café, pré-abdômen, pró-
britânico.
10. Não se esqueça, aliás, ser bem fácil encontrar formas verbais com a
conformação referida no item anterior: encontrá-lo-ás, fá-lo-íamos.
Ver Mau ou Mal? (P. 464), Muito (P. 481) e Pior má-fé (P. 564).

Magérrimo, Macérrimo ou Magríssimo?


Ver Macérrimo, Magérrimo ou Magríssimo? (P. 451)

Magríssimo, Macérrimo, Magérrimo?


Ver Macérrimo, Magérrimo ou Magríssimo? (P. 451)

Maioria de
Ver Coletivo – Como concordar? (P. 191)

Maior parte
Ver Coletivo – Como concordar? (P. 191)

Maior que ou Maior em?


1. Um leitor indaga qual forma de expressão é correta: a) não há amor
maior que dar, b) não há amor maior em dar, ou c) não há amor maior
que dá.
2. Uma análise das expressões revela que o que se quer, em última análise,
é estabelecer uma comparação entre mais de uma modalidade de amor.
3. E, de modo mais específico para o comparativo de superioridade, que é o
que se tem no caso concreto, basta invocar o ensino de Celso Cunha:
“Forma-se o comparativo de superioridade antepondo-se o advérbio
mais e pospondo-se a conjunção que ou do que ao adjetivo”. E ele
próprio exemplifica: a) “Pedro é mais idoso do que Carlos”; b) “João é
mais nervoso que desatento”.
4. Acrescenta-se, para o caso sob análise, a observação do mesmo autor de
que o comparativo de grande é irregular e especial, a saber, maior
(CUNHA, 1970, p. 120).
5. Com essas considerações, conclui-se, para o caso específico da dúvida
do leitor, que a forma correta é “Não há amor maior que dar…” ou
“Não há amor maior do que dar…”

Mais absoluto – Está correto?


1. Luís A. P. Vitória (1969, p. 9) lembra que o adjetivo absoluto “quer dizer
ilimitado, soberano, único”, razão pela qual “não pode admitir o
advérbio mais”. Exs.: a) “Todos, na sala de audiências, permaneceram
em absoluto silêncio” (correto); b) “Todos, na sala de audiências,
permaneceram no mais absoluto silêncio” (errado).

Mais bem ou Melhor?


Ver Mais mal ou Pior? (P. 454)

Mais bom – Está correto?


Ver Mais grande ou Maior? (P. 453)

Mais de
Ver Perto de (P. 562).

Mais de um – Chegou ou chegaram?


1. Uma leitora diz ter encontrado a seguinte frase: “Se encontrada apenas
uma dessas irregularidades, as contas serão aprovadas com ressalva;
se, porém, mais de uma dessas irregularidades for detectada, então as
contas serão aprovadas, mas com ressalvas”. E ficou na dúvida sobre
qual seja a concordância correta: a) “… mais de uma dessas
irregularidades for detectada…”; b) ou “… mais de uma dessas
irregularidades forem detectadas…”?
2. Ora, em situações como essa, em que aparece a expressão mais de um no
sujeito, a concordância mais comum do verbo é no singular, mas
também se admite sua ocorrência no plural. Exs.: a) “Mais de um aluno
chegou atrasado” (correto); b) “Mais de um aluno chegaram atrasados”
(correto).
3. De modo específico para os exemplos que causaram a dúvida da leitora,
confiram-se os resultados: a) “… mais de uma dessas irregularidades for
detectada…” (correto); b) ou “… mais de uma dessas irregularidades
forem detectadas…” (correto).

Mais grande ou Maior?


1. Ensinam alguns, sem possibilidade de exceções, que tanto o comparativo
de superioridade quanto o superlativo de grande é maior, e não mais
grande, e o de pequeno é menor, e não mais pequeno, de modo que
assim consideram os seguintes exemplos: a) “Sua casa é mais grande do
que a minha” (errado); b) “Sua casa é maior do que a minha” (correto);
c) “Sua casa é a mais grande do bairro” (errado); d) “Sua casa é a
maior do bairro” (correto); e) “Sua casa é mais pequena do que a
minha” (errado); f) “Sua casa é menor do que a minha” (correto); g)
“Sua casa é a mais pequena do bairro” (errado); h) “Sua casa é a menor
do bairro” (correto).
2. Essa, por exemplo, é a lição de Pasquale Cipro Neto e Ulisses Infante
(1999, p. 258-9).
3. Nessa esteira, também Celso Cunha leciona que “quatro adjetivos – bom,
mau, grande e pequeno – formam o comparativo e o superlativo de
modo especial” (1972, p. 262).
4. Napoleão Mendes de Almeida (1981, p. 181), porém, discorda
frontalmente desse posicionamento e o faz nos seguintes termos: a) as
formas dos comparativos sintéticos “não foram as que primeiro se
usaram em português, senão as analíticas ou perifrásticas (mais bom,
mais mau, mais grande e mais pequeno)”; b) “o que aconteceu foi
simplesmente um capricho do uso, que a estas últimas preferiu as
primeiras formas”; c) “gramaticalmente nada houve que justificasse tal
preferência”; d) assim, pode-se “perfeitamente dizer ‘O homem era mais
pequeno que a mulher’”.
5. Também optando pela permissão de uso da expressão “Joãozinho é mais
pequeno que Ricardo”, Gladstone Chaves de Melo (1970, p. 125)
assevera que, “em Portugal, na linguagem coloquial de todos, só se usa
mais pequeno” e que “as pessoas de menos instrução chegam a não
entender o que signifique menor”.
6. Em atitude intermediária, Cândido Jucá Filho (1963, p. 332 e 477) nega
para grande a possibilidade de uso da forma analítica (mais grande), mas
arrola expressa permissão nesse sentido para pequeno, abonando-se em
exemplos de autores insuspeitos: a) “Eu não tinha outra mais pequena”
(Camilo Castelo Branco); b) “Uma dessas bolas é mais pequena” (José
de Alencar).
7. Em mesmo sentido o ensino de Rocha Lima: “Não é correto dizer mais
bom, mais grande; porém o é mais mau, mais pequeno” (1972, p. 92).
8. Também vetando toda possibilidade de emprego da forma comparativa
mais grande, Domingos Paschoal Cegalla observa que mais pequeno é
“expressão corrente no português lusitano e encontrada em um ou outro
escritor brasileiro”, e acrescenta que “no Brasil se diz menor”,
exemplificando: a) “A ala esquerda, mais pequena que as outras duas,
não parecia…” (Alexandre Herculano); b) “… por mais pequena que
fosse a sua posição social, sentia-se diante de um igual seu” (Raquel de
Queirós).
9. Resumindo a questão, no que tange à realidade do que vem efetivamente
acontecendo na linguagem moderna, assim leciona Silveira Bueno: “O
uso da língua portuguesa proíbe, modernamente, o comparativo
analítico: mais grande, mais bom, mais mau; pode-se dizer mais
pequeno, que já vai, entretanto, saindo do uso geral” (1968, p. 180).
10. Num aspecto final, apesar das discussões concernentes às comparações
entre qualidades de seres diferentes, o certo é que se abre exceção para
emprego de tal forma comparativa analítica para as hipóteses em que se
confrontam qualidades de um mesmo ser. Exs.: a) “Ele era um homem
mais grande que pequeno” (correto); b) “Ele era um homem maior que
menor” (errado).
11. Em tais hipóteses, de rigor é o uso da forma analítica, como lembra
Evanildo Bechara (1974, p. 93): “Comparando-se duas qualidades, ou
ações, empregam-se mais bom, mais mau, mais grande e mais pequeno
em vez de melhor, pior, maior, menor”. Exs.: a) “É mais bom do que
mau (e não: É melhor do que mau)”; b) “A escola é mais grande do que
pequena”; c) “Escreveu mais bem do que mal”; d) “Ele é mais bom do
que inteligente”.
12. Todavia, talvez contaminado por um sentimento de hipercorreção,
ditado pelas proibições anteriores, Domingos Paschoal Cegalla (1999,
p. 244), a par do acatamento acerca da retidão e certeza do ensino
gramatical por último referido, mesmo assim aconselha ser “preferível
a construção: ‘Ele era um homem antes grande que pequeno’”. É um
conselho que não parece ter fundamento sólido.

Mais mal ou Pior?


1. Quando se diz “Ele é um mau advogado”, o vocábulo mau, por
modificar um substantivo (advogado), é adjetivo e pode ter regularmente
seu plural (“Eles são maus advogados”). Diga-se o mesmo de “Ele é um
bom advogado”.
2. Já quando se diz “Ele é mal intencionado”, por modificar um adjetivo, a
palavra mal é um advérbio. Diga-se o mesmo de “Ele é bem
intencionado”.
3. A partir dessas observações, esclarece-se que a dúvida entre os
gramáticos concerne a saber se se pode empregar pior ou melhor como
comparativo de superioridade tanto de mau (adjetivo) quanto de mal
(advérbio), como, ainda, de bom (adjetivo) e bem (advérbio).
4. Desde logo se verifique que não há problemas quanto à possibilidade de
uso da forma comparativa melhor e pior para os adjetivos. Exs.: a)
“Estes são piores advogados do que aqueles”; b) “Estes são melhores
advogados do que aqueles”.
5. A discussão entre os gramáticos respeita à possibilidade de uso do
comparativo pior e melhor para os respectivos advérbios.
6. Assim, a questão que surge é saber qual ou quais dos exemplos seguintes
estão corretos: a) “A testemunha mais mal informada acabou depondo
nos autos”; b) “A testemunha pior informada acabou depondo nos
autos”; c) “Estas são as razões de recurso mais mal feitas que já vi”; d)
“Estas são as razões de recurso pior feitas que já vi”; e) “Há outros mal
confiados e pior aconselhados”; f) “As suas ações são mal vistas e pior
imitadas”; g) “A testemunha mais bem informada acabou depondo nos
autos”; h) “A testemunha melhor informada acabou depondo nos autos”;
i) “Estas são as razões de recurso mais bem feitas que já vi”; j) “Estas
são as razões de recurso melhor feitas que já vi”; k) “Há outros bem
confiados e melhor aconselhados”; l) “As suas ações são bem vistas e
melhor imitadas”.
7. Em um dos pólos dessa discussão, situa-se Edmundo Dantès
Nascimento, para quem, “com particípio passado, principalmente
quando este é irregular, o correto são as formas: ‘mais bem’, ‘mais
mal’”, pois “ninguém diz: ‘melhor feito’, ‘pior colocado’” (1982, p. 6).
8. Cândido de Figueiredo (1941, p. 63) também se opõe ao emprego
indiscriminado das duas expressões – melhor informados e mais bem
informados – ressaltando haver “um equívoco, muito vulgar, a este
respeito”, e defende que “em boa linguagem diz-se: mais bem
informados, mais bem procedido, mais bem intencionados…”.
9. Indagado sobre qual a melhor construção – mais bem classificado ou
melhor classificado – o referido autor, em outro volume de sua obra,
realçando não ser ociosa a dúvida, observa que a primeira aparência é de
que “seria indiferente o uso de qualquer das formas”.
10. Em seguida, porém, justifica tal gramático seu posicionamento: “da
índole da língua e da prática dos mestres não se infere essa indiferença;
e, embora se descubram alguns exemplos clássicos, que talvez
autorizassem melhor classificado, o caminho seguro é outro”
(FIGUEIREDO, 1948, p. 84).
11. Ainda nessa esteira, doutrina Luís A. P. Vitória que “toda a vez que os
advérbios bem ou mal precederem um particípio passado, ainda que
adjetivado, empregar-se-á o comparativo analítico e não o sintético;
dir-se-á, portanto: exercício mais bem feito, e não melhor feito” (1969,
p. 154).
12. Também realçando ser recomendável o uso do superlativo analítico
mais bem ou mais mal, em vez do sintético melhor ou pior, antes do
particípio passado, Vitório Bergo observa, contudo, que “uma ou outra
vez se encontra em bons escritores aquela forma sintética”.
13. Mas, em outra passagem de sua obra, tal autor afirma que uma
expressão como pior governado é “forma correta e clássica, embora na
linguagem moderna se prefiram os comparativos analíticos mais bem e
mais mal antes do particípio passado” (BERGO, 1944, p. 160 e 189).
14. Em outro polo da discussão, posta-se a lição de Eduardo Carlos Pereira
(1924, p. 353) de que “são geralmente preferidas as formas analíticas
mais bem e mais mal às sintéticas melhor, pior, diante de um particípio
passivo: – mais bem feito, mais bem informado, mais mal escrito.
Todavia, não faltam autorizados exemplos das formas sintéticas”,
passando tal autor a exemplificar: a) “… a demonstração… seja
melhor confirmada pelos fatos” (Alexandre Herculano); b) “Santarém
é das terras de Portugal a melhor situada e qualificada” (Almeida
Garrett).
15. João Ribeiro (1923, p. 200-1), com supedâneo em exemplos de autores
clássicos, também leciona “que não é errado em tais casos o emprego
de pior e melhor”, exemplificando: “Palavras mal pronunciadas e pior
entendidas”; “Mal mantido, mal albergado e pior recebido”.
16. Vasco Botelho de Amaral, de igual modo, observa que, “quando bem
não é parte integrante de adjetivo composto, pode usar-se
indiferentemente mais bem ou melhor, antes de particípio adjetivo”
(1939, p. 39).
17. Também para Sousa e Silva, “pode usar-se, indiferentemente, qualquer
das duas formas com o particípio passado: melhor informado e mais
bem informado”.
18. E lembra tal gramático que “há quem não admita a forma sintética
(melhor), mas a impugnação está em desacordo com os fatos da
língua” (SILVA, A., 1958, p. 181).
19. Nessa esteira, em oportuna análise de autores insuspeitos, Cândido
Jucá Filho (1954, p. 282) – embora se posicione pessoalmente no
sentido de que “o melhor… é o que praticou o Rui: ‘não foi mais bem
sucedido’” – assevera que o Padre Manuel Bernardes escreveu “Levou
seu prêmio melhor logrado”, e que José de Alencar fez registrar “mais
decidida, senão melhor armada”.
20. Ante a divergência entre os gramáticos, é óbvio que estão autorizadas
ambas as construções na linguagem que, nos dias de hoje, deva
submeter-se ao padrão culto.
Ver Mau ou Mal? (P. 464)

Mais nunca – Está correto?


1. Trata-se de expressão correta, que pode ser empregada como sinônima
de nunca mais (GÓIS, 1945, p. 177). Ex.: “Se o capitão Dreyfus fosse
fuzilado, nenhum oficial mais nunca se sentiria em segurança” (Rui
Barbosa).

Mais pequeno – Está correto?


Ver Mais grande ou Maior? (P. 453)

Mais pequeno ou Menor?


Ver Mais grande ou Maior? (P. 453)

Maiúsculas
1. Inicie-se a questão com a oportuna advertência de Hêndricas Nadólskis e
Marleine Paula Marcondes Ferreira de Toledo: “Cada língua tem seu
sistema de uso das maiúsculas iniciais de palavras. Assim, a língua
alemã grafa todo substantivo com maiúscula inicial, o que não ocorre na
língua portuguesa. Atualmente, nos textos empresariais, há um uso
exagerado de maiúsculas iniciais de palavras. Fique atento, evite
exageros, consulte as normas gramaticais. A ortografia, no Brasil, é
regulamentada por lei” (1998, p. 55).
2. E, de acordo com as normas gramaticais vigentes entre nós, podem-se
destacar os seguintes casos de uso obrigatório de maiúsculas,
determinado pelo Formulário Ortográfico: a) Nomes de vias e lugares
públicos: Avenida Rio Branco, Praça da Bandeira, Rua do Ouvidor,
Travessa do Comércio; b) Nomes que designam altos conceitos
religiosos, políticos ou nacionalistas: Igreja, Nação, Estado; c) Nomes
que designam artes, ciências ou disciplinas: Arquitetura, Direito,
Filologia Portuguesa, Gramática, Matemática; d) Nomes que designam
altos cargos, dignidades ou postos: Vigário, Bispo, Arcebispo, Cardeal,
Papa, Presidente da República, Governador do Estado, Prefeito,
Ministro da Educação, Secretário de Estado; e) Nomes de repartições,
corporações ou agremiações, edifícios e estabelecimentos públicos ou
particulares: Diretoria Geral do Ensino, Ministério das Relações
Exteriores, Presidência da República; f) Nomes de fatos históricos
importantes, atos solenes e grandes empreendimentos públicos:
Descobrimento da América, Reforma Ortográfica, Dia do Município; g)
Nomes de escolas de qualquer espécie e grau de ensino: Faculdade de
Filosofia, Grupo Escolar de Miguelópolis; h) Nomes, adjetivos,
pronomes e expressões de tratamento ou reverência, quer por extenso,
quer abreviados: Sr. (Senhor), V. Exª. (Vossa Excelência); i) Palavras que,
no estilo epistolar, se dirigem a um amigo, a um colega, a uma pessoa
respeitável, as quais, por deferência, consideração ou respeito, se queira
realçar por esta maneira: meu bom Amigo, meu prezado Mestre,
estimado Professor; j) Nomes dos diplomas legais, quando
personificados ou individuados: a Lei de 13 de maio, o Decreto 20.108,
a Portaria de 15 de junho, o Regulamento 737, o Acórdão de 3 de
agosto.
3. Pelas próprias observações também trazidas pelo mesmo Formulário
Ortográfico, também se podem observar os seguintes casos em que não
se empregam maiúsculas: a) Nomes dos povos: baianos, paulistas,
uruguaios; b) Nomes dos meses: janeiro, fevereiro, março; c) Nomes das
festas pagãs ou populares: entrudo, carnaval.
4. Apontando lacunas na sistematização oficial – que, além de dificultar
qualquer padronização nesse sentido, especificamente não prevê, por
exemplo, solução segura para o segundo elemento de nomes compostos
que tenham o primeiro elemento escrito com maiúsculas – Napoleão
Mendes de Almeida (1981, p. 181) anota que, de modo discrepante, o
Formulário Ortográfico de 1943, ao exemplificar a sétima regra do
capítulo XVI, registra Vigário-Geral (com ambas as iniciais maiúsculas)
e, ao dar nomes compostos na observação da regra 12 do mesmo
capítulo, refere Decreto-lei (com maiúscula apenas na inicial do primeiro
elemento).
5. Ora – continua o eminente gramático em mesma obra e local – se, ao
impor a inicial maiúscula na regra 15 do citado capítulo, o formulário
justifica com a necessidade de “deferência, consideração e respeito”, fica
difícil aceitar a incoerência para Decreto-lei, assim como para diversos
outros vocábulos: Ex-rei, Tenente-coronel, Vice-presidente.
6. Ainda de acordo com o referido gramático, não se há de olvidar que, se
os nomes comuns são tomados individualmente, com sentido especial,
escrevem-se com a inicial maiúscula. Exs.: a) “A Igreja católica condena
o divórcio”; b) “Em São Paulo, a Capital exige grandes cuidados”; c)
“O Estado só deve intervir onde há necessidade”.
7. Nesses casos, Igreja é a entidade católica, Capital, uma cidade
determinada, e Estado, a organização política.
8. Se, porém, tais palavras são empregadas em sentido geral e
indeterminado, iniciam-se com minúscula. Exs.: a) “Desapropriaram a
igreja”; b) “Há capitais que têm o mesmo nome do estado”.
9. Ante a frequência com que ocorrem erros com respeito às vias e
logradouros públicos, Arnaldo Niskier observa que os nomes de ruas,
praças, avenidas, etc. “apresentam inicial maiúscula: Rua Santo Amaro,
Avenida Brasil, etc.” (1992, p. 105).
10. É oportuno também atentar ao apropriado ensinamento de Artur de
Almeida Torres para um caso especial de emprego de minúsculas:
“Não se escrevem com maiúscula inicial as partículas monossilábicas
que se acham no interior de vocábulos compostos ou de locuções ou
expressões que têm iniciais maiúsculas: Queda do Império, O
Crepúsculo dos Deuses, Histórias sem Data, A Mão e a Luva, Festas e
Tradições Populares no Brasil, etc.” (1966, p. 230).
11. Em lição mais abrangente, Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 395)
lança a esse respeito duas importantes regras e uma recomendação: a)
“De acordo com a ortografia oficial, usa-se letra inicial maiúscula nos
títulos de livros, jornais, revistas, produções artísticas, literárias e
científicas”; b) “As palavras átonas, no interior dos títulos, grafam-se
com inicial minúscula”; c) “A bem do aspecto gráfico, não se usem
aspas para destacá-los, mas escrevam-se em itálico”.
12. O que se pode concluir, nesses casos, é que se devem grafar com
maiúsculas os vocábulos tônicos – sejam eles monossilábicos ou não –,
e com minúsculas os vocábulos átonos – sejam eles monossílabos ou
dissílabos.
13. Interessante e oportuna observação faz Antonio Henriques (1999, p. 6),
de grande valia para todos, mas que deveria ter maior penetração,
sobretudo nos meios publicitários: “há de se lembrar que as letras
maiúsculas também são acentuadas”: JOSÉ, AUTÓDROMO.
14. E não escapa a tal regra a letra, quando se trata da primeira da palavra,
mesmo que as demais sejam grafadas com minúsculas: Átila, Édson.
15. Por fim, com interesse significativo para as lides forenses, anota
Luciano Correia da Silva que “é de boa ética tratar as partes, no
processo, escrevendo-se-lhes os nomes com inicial maiúscula: o
Requerente, o Exequente, o Executado, o Autor, o Réu, etc.” (1991, p.
206).

Mal e parcamente ou Mal e porcamente?


1. Mal e parcamente é a expressão correta, com a observação de que parco
tem o significado de pouco.
2. Mal e porcamente é expressão indevida e equivocada, obtida pelo uso
popular, por deterioração da expressão mal e parcamente.
3. O correto é que alguém diga: “Dormi mal e parcamente”; vale dizer:
“Dormi mal e pouco”.
4. Não se pode deixar de realçar que, querendo conferir outra significação,
é bem possível que, de determinados trabalhos mal feitos, se possa dizer
que o operador do Direito escreveu mal e porcamente.

Mal ou Mau?
Ver Mau ou Mal? (P. 464)

Mal – Quando usar o hífen?


1. Uma leitora, com o advento das novas regras de ortografia, diz ter
dúvidas sobre o emprego ou não do hífen com o advérbio mal, quando
este é o primeiro elemento de uma palavra.
2. Por um lado, é importante observar que o Acordo Ortográfico de 2008,
quanto ao uso do hífen, teve em mira os seguintes objetivos: a) diminuir
ao máximo seu emprego, quer pela junção dos elementos sem hífen
(corréu e contrassenso), quer por sua separação em vocábulos distintos,
mas sem hífen (à toa, dia a dia e pôr de sol); b) especificar melhor as
regras para seu uso; c) conferir sistematização mais lógica a seu
emprego.
3. Apesar das boas intenções e das estudadas tentativas nesse sentido, o
certo, porém, é que, no que tange ao advérbio mal, não foram fixados
critérios objetivos, que possam solucionar, de maneira clara, simples e
uniforme, as questões práticas, sem que o usuário venha a se encontrar
frequentemente às voltas com dúvidas.

Maltrato – Existe?
1. Firme-se a premissa de que mau é adjetivo, tendo, na prática, bom por
antônimo, enquanto mal pode ser substantivo ou advérbio, tendo bem
por seu oposto.
2. Com base nessas simples observações, vê-se que maltratar, enquanto
verbo, se escreve com l em todas as pessoas, tempos e modos, até porque
facilmente se pensa em bem tratar.
3. Por outro lado, pensa-se em maus-tratos, porque se tem por contrário
bons-tratos.
4. Maltrato, porém, não pode ser substantivo e não é palavra que integre
nosso léxico, sendo errado seu emprego em frases como a seguinte: “A
solução pretendida pelo requerente há de configurar, em suma, maltrato
à Lei de Registros Públicos”.
5. O referido vocábulo há de ser substituído, em exemplos dessa natureza,
por algum de seus correspondentes: desrespeito, insulto, lesão,
transgressão, violação.
6. Apontando maus-tratos como a forma correta do substantivo, Vitório
Bergo refere que a forma incorreta maltrato (como substantivo) é
“determinada certamente por analogia com maltratar” (1944, p. 157).
7. Coerente com essa postura, o Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, órgão incumbido
oficialmente de determinar a existência dos vocábulos em nosso idioma,
além de sua grafia oficial, (i) não registra em seu rol o substantivo
maltrato (ii) assim como não traz o vocábulo mau-trato, (iii) mas apenas
faz constar maus-tratos, especificando ser este um substantivo que se
emprega somente no plural (2009, p. 534), o que implica asseverar que o
emprego das demais não está oficialmente autorizado entre nós.

Mandado ou Mandato?
1. Mandado vem do latim mandatum, de mandare, é termo de largo uso nos
meios forenses e significa o ato escrito, emanado de autoridade pública,
judicial ou administrativa, em virtude do qual deve ser cumprida a
diligência ou a medida, que ali se ordena ou determina (DE PLÁCIDO E
SILVA, 1989, p. 131-2).
2. Se expedido por autoridade judiciária, diz-se mandado judicial, que
recebe denominações de acordo com sua finalidade ou com o conteúdo
da ordem dada: mandado de citação, mandado de intimação, mandado
de busca e apreensão, mandado de segurança, mandado de reintegração
na posse, mandado de imissão na posse, mandado de prisão, mandado
de penhora.
3. Mandato também tem origem no latim (manus data, ou seja de mãos
dadas) e tecnicamente significa dar poder por contrato, autorizar.
4. É termo muito usado no foro, sempre para exprimir o contrato que
designa duas vontades, uma dando à outra uma incumbência, e outra
recebendo e aceitando tal encargo, para realizar ou executar o desejo
daquela.
5. Bem por isso, De Plácido e Silva o conceitua, em sentido técnico-
jurídico, como “o poder dado ou outorgado a alguém, por quem o possa
dar, seja pessoa física ou jurídica, para representá-la em qualquer ato”
(1989, p. 137). Ex.: “Na consonância com o art. 1.288 do Código Civil,
a procuração é o instrumento do mandato”.
6. O vocábulo toma diversos sentidos específicos, conforme a expressão
em que se encontra e de acordo com o fim a que se destina: mandato ad
judicia, mandato ad litem, mandato ad negotia, mandato em causa
própria, mandato legal, mandato legislativo.
7. Na lição de Regina Toledo Damião e Antonio Henriques, “não há
confundir-se a palavra mandato com seu parônimo mandado. Originária
de mandare, mandar, a forma substantivada do particípio passado,
mandado, é na linguagem processual a ordem do juiz encaminhada ao
oficial de justiça” (1994, p. 160).
8. Na lição dos mesmos autores, “a palavra mandato origina-se da
expressão latina manus data (mãos dadas) que, a princípio, simbolizava
o gesto de firmar o acordo, evoluindo o vocábulo para mandatum, em
português, mandato” (DAMIÃO; HENRIQUES, 1994, p. 160).
9. O emprego de mandato por mandado – e vice-versa – caracteriza
“cruzamento”, vale dizer, tipifica “o emprego de uma palavra em lugar
de outra”, decorrente “da falta de discernimento entre vocábulos
assemelhados quanto à estrutura fonológica (parônimos), o que motiva a
alteração da mensagem tencionada”, atentando contra a precisão
terminológica (XAVIER, 1991, p. 85-6).
10. Atento aos equívocos que a imprensa comete no emprego de tais
parônimas, anota Josué Machado que “um assessor jurídico do
Itamarati, integrante do grupo que foi sequestrar o PC na Tailândia,
explicou pela tevê por que estava lá: ‘Há um mandato de prisão contra
ele.’ E repetiu mais duas vezes aos repórteres: mandato” (1994, p.
236).
11. Vejam-se alguns exemplos de correto emprego da palavra mandado em
nossa legislação: a) “Constituída a fundação por negócio jurídico entre
vivos, o instituidor é obrigado a transferir-lhe a propriedade, ou outro
direito real, sobre os bens dotados, e, se não o fizer, serão registrados,
em nome dela, por mandado judicial” (CC, art. 64); b) “O pai ou a mãe
que contrair novas núpcias não perde o direito de ter consigo os filhos,
que só lhe poderão ser retirados por mandado judicial, provado que
não são tratados convenientemente” (CC, art. 1.588); c) “Incumbe ao
escrivão: I – redigir, em forma legal, os ofícios, mandados, cartas
precatórias e mais atos que pertencem ao seu ofício” (CPC/1973, art.
131, I); d) “Incumbe ao oficial de justiça: I – fazer pessoalmente as
citações, prisões, penhoras, arrestos e mais diligências próprias do seu
ofício, certificando no mandado o ocorrido, com menção de lugar, dia
e hora…” (CPC/1973, art. 143, I); e) “O mandado, que o oficial de
justiça tiver de cumprir, deverá conter…” (CPC/1973, art. 225); f)
“Incumbe ao oficial de justiça procurar o réu e, onde o encontrar, citá-
lo: I – lendo-lhe o mandado e entregando-lhe a contrafé” (CPC/1973,
art. 226, I); g) “Começa a correr o prazo: … II – quando a citação ou
intimação for por oficial de justiça, da data de juntada aos autos do
mandado cumprido” (CPC/1973, art. 241, II).
12. Também se verifiquem alguns exemplos de uso adequado da palavra
mandato em artigos de lei: a) “Prescreve: … § 5º: Em cinco anos: … II
– a pretensão dos profissionais liberais em geral, procuradores
judiciais, curadores e professores pelos seus honorários, contado o
prazo da conclusão dos serviços, da cessação dos respectivos
contratos ou mandato” (CC, art. 206, § 5º); b) “Opera-se o mandato
quando alguém recebe de outrem poderes para, em seu nome, praticar
atos ou administrar interesses. A procuração é o instrumento do
mandato” (CC, art. 653); c) “Ainda quando se outorgue mandato por
instrumento público, pode substabelecer-se mediante instrumento
particular” (CC, art. 655); d) O mandato pode ser expresso ou tácito,
verbal ou escrito” (CC, art. 656); e) “A outorga do mandato está
sujeita à forma exigida por lei para o ato a ser praticado. Não se
admite mandato verbal quando o ato deva ser celebrado por escrito”
(CC, art. 657); f) “Os atos praticados por quem não tenha mandato, ou
o tenha sem poderes suficientes, são ineficazes em relação àquele em
cujo nome foram praticados, salvo se este os ratificar” (CC, art. 662);
g) “Sem instrumento de mandato, o advogado não será admitido a
procurar em juízo…” (CPC/1973, art. 37); h) “A parte, que revogar o
mandato outorgado ao seu advogado, no mesmo ato constituirá outro
que assuma o patrocínio da causa” (CPC/1973, art. 44); i) “O
advogado poderá, a qualquer tempo, renunciar ao mandato, provando
que cientificou o mandante a fim de que este nomeie substituto…”
(CPC/1973, art. 45).
13. Da confusão entre tais termos não escapam nem mesmo textos de lei,
bastando que se atente ao seguinte dispositivo: “Qualquer alteração
posterior do nome, somente por exceção e motivadamente, após
audiência do Ministério Público, será permitida por sentença do juiz a
que estiver sujeito o registro, arquivando-se o mandato e publicando-
se a alteração pela imprensa” (art. 57, caput, da Lei 6.015, de
31/12/73).
14. É óbvio que o que se quer dizer, no caso, é que se arquivará o
documento portador da ordem judicial, e não um acordo ou contrato
para que alguém pratique atos em nome de outrem: deve ser mandado,
por conseguinte, e não mandato.
15. Esclareça-se, apenas, que a redação primitiva da lei trazia,
corretamente, mandado; entre as alterações trazidas pela Lei 6.216, de
30/6/75, todavia, veio esse equivocado mandato.
16. De igual modo, o art. 127, VI, da mesma Lei de Registros Públicos
registrava, em sua redação primitiva, e corretamente, que, no Registro
de Títulos e Documentos será feita a transcrição “do mandado judicial
de renovação do contrato de arrendamento”; na republicação da lei,
inserida na Coleção das Leis da União de 1975, vol. V, p. 61, todavia,
constou equivocadamente mandato.

Mandados de citação ou Mandados de citações?


Ver Cartas de intimação ou Cartas de intimações? (P. 172)

Mandamus – Estrangeirismo?
1. Geraldo Amaral Arruda combate o uso de tal vocábulo em lugar de
mandado de segurança, já que constitui estrangeirismo desnecessário,
por haver no vernáculo vocábulo ou giro equivalente.
2. E, estendendo a mesma observação para writ, complementa tal autor, de
modo explícito, em lição para ambos: “tenho dúvidas de que
correspondam com inteira propriedade ao nosso mandado de segurança”
(ARRUDA, 1997, p. 19).
3. O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia
Brasileira de Letras, órgão incumbido para determinar, de modo oficial,
quais as palavras que integram o nosso léxico, não o registra nem mesmo
como latinismo permitido, razão pela qual, para a hipótese de ser usado,
sendo reputado vocábulo latino, não recebe acento gráfico – que não
existia na língua originária – e deverá ser necessariamente grafado entre
aspas, com itálico, negrito ou sublinha, ou mesmo outro sinal indicativo
de tal circunstância.

Mandar
Ver Vi-o fechar o cofre ou Vi-lhe fechar o cofre? (P. 769)

Mandatário – Cargo ou encargo?


Ver Inventariante – Cargo ou Encargo? (P. 427)

Mandato ou Mandado?
Ver Mandado ou Mandato? (P. 457)

Manipular com as mãos – Pleonasmo?


1. Trata-se de expressão equivocada e redundante, portadora de tautologia,
ou pleonasmo vicioso.
2. Manipular, em realidade, já tem por radical, em latim, a ideia de atuar
com as mãos.
3. Diga-se, portanto, simplesmente, manipular.

Manter
Ver Ter (P. 730).

Manteúda – Existe?
Ver Teúda – Existe? (P. 737)

Manusear com as mãos – Está correto?


Ver Pleonasmo – O que é e Quando pode? (P. 565)

Mapa-múndi
1. O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela
Academia Brasileira de Letras, órgão oficial para definir quais vocábulos
integram oficialmente nosso léxico, registra o vocábulo mapa-múndi
como pertencente a nosso idioma, acentuando-o regularmente, como
deve ocorrer com todo vocábulo paroxítono, e lhe confere o plural
mapas-múndi (2009, p. 526).
2. Apenas se observa adicionalmente que não deixa de ocorrer certa
incoerência nos critérios da Academia, porquanto não há registro de
outras palavras como integrantes de nosso idioma, como, por exemplo,
modus vivendi, além do que a própria palavra modus é dada como
pertencente ao latim.
Ver Campus (P. 166), Currículo (P. 244) e Desiderato ou Desideratum? (P.
275)

Maquiage, Maquiagem, Maquilage, Maquilagem ou Maquilhagem?


1. É palavra vinda do francês, a exemplo de diversas outras: folhagem,
garagem, linguagem, personagem.
2. A adaptação adequada de tais vocábulos no vernáculo se faz
indispensavelmente pelo acréscimo da letra m.
3. Bem por isso, é errônea a forma maquilage.
4. Cândido Jucá Filho (1963, p. 410) registra-lhe a forma maquilhagem,
mas tal forma vem perdendo terreno para maquilagem, como se vê no
dicionário da Melhoramentos (Encyclopaedia Britannica do Brasil, 1995,
p. 1.098).
5. Quanto a maquiagem, apesar de seu registro em Aurélio Buarque de
Holanda Ferreira (s/d, p. 884), é forma que, em princípio, não encontra
abono nas regras de derivação de nossa língua.
6. Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 250-1) registra ambas as formas –
maquiagem e maquilagem – ressaltando que, entre nós, a primeira é
preferida à segunda; de igual modo, sustenta ele que normalmente se dá
preferência ao verbo maquiar, sendo de pouco uso maquilar.
7. Esclareça-se, por fim, que, espancando dúvidas, o Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras,
órgão oficialmente incumbido de determinar a existência e a forma dos
vocábulos em nosso idioma – registra as três formas: maquiagem,
maquilagem e maquilhagem, assim como os verbos maquiar, maquilar e
maquilhar (2009, p. 526), razão por que, nos textos que devam
submeter-se à norma culta, estão oficialmente autorizadas todas essas
formas, independentemente de outras discussões.

Maquiar ou Maquilar?
Ver Maquiage, Maquiagem, Maquilage, Maquilagem ou Maquilhagem?
(P. 459)

Maquinar
Ver Datilografar (P. 251).

Maquinaria, Maquinária ou Maquinário?


1. Quanto à prosódia, lembra Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 19) que se
trata de palavra paroxítona, sendo o i sua sílaba mais forte, rimando,
assim, com Maria.
2. Lembrando ser “errônea a pronúncia maquinária”, já que “todos os
substantivos formados com o sufixo – aria, como livraria, cavalaria,
etc., têm o acento tônico na sílaba ri”, acrescenta Domingos Paschoal
Cegalla que “existe a variante neológica maquinário” (1999, p. 251).
3. Anotando que a equivocada pronúncia maquinária parece ser influência
espanhola, observa Silveira Bueno (1957, p. 283) que, da mesma forma
que infantaria, pedraria, “os nomes coletivos terminados em aria devem
ter acentuação paroxítona e não proparoxítona”: maquinaria, e não
maquinária. (Diz tal autor que maquinária é uma proparoxítona, porque
faz ele a seguinte divisão: ma-qui-ná-ri-a. Mas é importante acrescentar
que há estudiosos que a consideram também uma paroxítona terminada
em ditongo crescente, com a seguinte divisão silábica: ma-qui-ná-ria.
Ambas as maneiras de dividir são perfeitamente aceitáveis).
4. Ante a frequência com que ocorrem erros em sua pronúncia, também
Cândido de Oliveira (s/d, p. 33 e 93) dá-lhe por conceito “conjunto de
máquinas” e lembra que sua vogal tônica é o i, rimando com Maria.
5. Espancando quaisquer dúvidas, o Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, que é o veículo oficial
para dirimir dúvidas acerca da existência e da forma dos vocábulos em
nosso idioma, registra as formas maquinaria e maquinário (não, porém,
maquinária), o que implica dizer que o uso das primeiras está plena e
oficialmente autorizado entre nós, mas não o da última (2009, p. 526).

Marcha ré ou Marcha à ré?


1. Os diversos ritmos de aceleração dos veículos automotores se
denominam marchas, que podem desenvolver-se para frente ou para trás.
2. Uma primeira marcha à frente serve para tirar o veículo da situação de
inércia e fazê-lo andar. Por sua finalidade e natureza, tem mais força e
menos velocidade. A situação vai-se invertendo, de modo que, por
exemplo, uma quinta marcha à frente tem pouca força e muita
velocidade, e serve para quando o veículo já se encontra em movimento
acelerado.
3. Para as marchas à frente, costuma-se apenas dizer primeira marcha,
segunda marcha, terceira marcha, já que são várias que indicam o
movimento do veículo para frente.
4. Para indicar o movimento que faz o veículo para trás, todavia, ao
contrário de uma marcha à frente, diz-se marcha à ré, derivando o
vocábulo ré bem possivelmente do latim retro, que significa para trás. É
conhecida, aliás, mesmo entre os leigos, a expressão latina vade retro,
que significa “arreda-te!”, “retira-te”, “afasta-te”, endereçada
normalmente a Satanás.
5. Feitas essas considerações, pode-se concluir que, assim como se diz
marcha à frente, e não marcha frente, e assim como se diria marcha para
trás e não marcha trás (sempre, portanto, com o emprego de
preposição), também se há de dizer e escrever marcha à ré, e não marcha
ré, expressão que, além da preposição, tem o artigo feminino, daí se
originando o acento indicativo da crase.

Marechala – Existe?
Ver Capitã, Capitoa ou A Capitão? (P. 168) e Poeta – Qual o feminino? (P.
570)
Marido ou Esposo?
Ver Esposo ou Marido? (P. 331)

Mar Negro ou mar Negro?


Ver Rua Caiubi ou rua Caiubi? (P. 675)

Mas – Como se pronuncia?


1. A um curioso que desejava saber de José de Sá Nunes se devia
pronunciar a conjunção como se fora escrita mans ou mãs, para
diferençá-la do adjetivo em sua forma plural (más), o combativo filólogo
respondia de modo peremptório: “Não, senhor; não é plausível. No
contexto, não há quem seja capaz de confundir a conjunção com o
adjetivo. E se fôssemos adotar o expediente de escrever de maneira
diversa todos os homógrafos, que seria da simplicidade ortográfica? E da
prosódia portuguesa ou luso-brasileira que seria, se se abraçasse o
critério de proferir-se diferentemente qualquer vocábulo homônimo?”
2. Em continuação, asseverava: “A pronúncia normal brasileira da
conjunção mas é idêntica à do adjetivo plural más. Nós não fazemos
diferença alguma na pronúncia do a aberto e do a fechado, como o
fazem os lusitanos”.
3. E rematava: “Pronuncie o amável consultante a conjunção mas com o a
aberto, e fique certo de que pronuncia bem, porque esta é a ortoépia
espontânea, natural, legítima da quase totalidade do povo brasileiro,
letrado ou não letrado” (NUNES, 1938, p. 231-2).
4. Nessa mesma esteira, assim assevera Eliasar Rosa: “Evite-se a pronúncia
mãs, porque é falsa e inexistente para a boa linguagem” (1993, p. 94).
5. Também de Arnaldo Niskier é o ensino de que “nunca é demais lembrar
que mas não se pronuncia mãs e sim más” (1992, p. 47).

Mas contudo – Está correto?


Ver Mas porém (P. 463).

Mas e a vírgula
1. Anotando ser frequente tal erro nos jornais e revistas, observa Josué
Machado que “alguns escribas não conseguem escrever o mas sem
grudar a ele uma vírgula; é como se a vírgula fizesse parte da conjunção
adversativa”.
2. Continuando a lição de que “essas vírgulas pegariam mal até em
composições escolares juvenis”, tal autor lembra que, “apesar de a
vírgula indicar pausa, nem sempre a pausa pode ser representada por
vírgula”. Exs.: a) “… mas, a testemunha se preparava para mentir em
juízo” (errado); b) “… mas a testemunha se preparava para mentir em
juízo” (correto).
3. E complementa que esse sinal “só vai bem depois de mas quando
antecede uma palavra ou grupo de palavras a que se quer ou se deve dar
destaque”. Ex.: “… mas, em atitude perceptível, a testemunha se
preparava para mentir em juízo” (correto); em justificativa mais técnica,
o uso da vírgula em tal circunstância pode ser explicado pela existência
de um termo ou expressão que se intercala entre o mas e a sequência
normal da oração em ordem direta (MACHADO, 1994, p. 231).
4. Em tais casos, porém, importante é observar que, pelo motivo de que tais
termos estão intercalados, haverá vírgula antes e depois deles.
5. Exemplos de Artur de Almeida Torres (1966, p. 134) comprovam o fato
de que, quando uma conjunção adversativa inicia uma segunda oração,
há vírgula antes dessa (para separar as orações), mas não após a
conjunção, se esta inicia uma oração em ordem direta: a) “Pedro é
trabalhador, mas Paulo é vadio”; b) “Estudou bastante, todavia foi
reprovado”.
6. Também Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 252) observa que se usa
a vírgula “antes de mas, entre duas orações. Não há vírgula depois de
mas, no início de período, em frases do tipo: ‘Mas como ele conseguiu
dominar a rebelião?’, ‘Mas que crimes cometera ela para ser tão
odiada?’”.
Ver, em complementação, nesta ordem: Vírgula (P. 772), Vírgula
obrigatória (P. 777), Vírgula proibida (P. 779), Vírgula entre orações (P. 773)
e Porém (P. 578).

Mas entretanto
Ver Mas porém (P. 463).

Mas e Porém
1. Ao enfatizar que a elegância e a energia podem resultar do emprego
pospositivo das conjunções, anota Alfredo Gomes que “entre estas
avulta a conjunção porém, que exatamente difere de mas em que esta
inicia a sua oração e aquela deve por elegância vir depois de uma ou
algumas palavras”.
2. E exemplifica ele próprio: a) “O estudo exagerado pode robustecer o
espírito, mas depaupera quase sempre o físico e arruína a saúde”; b) “O
estudo exagerado pode robustecer o espírito; quase sempre, porém,
depaupera o físico e arruína a saúde”.
3. E finaliza tal autor com propriedade, que, identicamente se pospõem por
elegância contudo, entretanto, todavia, nada obstante (GOMES, 1924, p.
418-9).
4. É de se ver, todavia, que tal lição se esteia na elegância e na energia da
frase, uma vez que, no que concerne à correção, observa Laudelino
Freire (1937b, p. 100) ser “usual o emprego das adversativas porém,
todavia, contudo, etc., no começo da frase”, trazendo ele a corroboração
de autores insuspeitos: a) “Porém cinco sóis eram passados” (Camões);
b) “Todavia o espírito do Imperador não se inquieta” (Rui Barbosa); c)
“Contudo eu não me firmo de todo nesta razão” (Vieira).
Ver Mas porém (P. 463).

Mas – Pode começar a frase?


1. Um leitor, em síntese, põe-se contra o emprego da conjunção adversativa
mas no começo da frase. E pede que se comente o que reputa ser uma
equivocada “tendência dos últimos anos” em textos em geral,
principalmente jornalísticos, já que a conjunção deve servir para unir
orações, e não iniciar frases.
2. Por conceito, “conjunção é a expressão que liga orações ou, dentro da
mesma oração, palavras que tenham o mesmo valor ou função”
(BECHARA, 1974, p. 159). Exs.: a) “O nascimento desiguala, mas a
morte iguala a todos” (liga orações); b) “Uma velhice longa mas
desonrada não enobrece” (liga termos de mesmo valor na oração).
3. Nos exemplos trazidos pelo leitor, alinhados mais abaixo, tem-se
realmente uma conjunção adversativa, e isso porque ela liga orações que
estão em oposição ou contraste entre si. As conjunções adversativas mais
usadas são mas, porém, todavia, contudo e entretanto.
4. Já quanto à dúvida do leitor, pode-se afirmar que, se liga orações ou
termos de uma mesma oração, então se aplica a regra lembrada por ele: a
conjunção não inicia a frase e não é precedida de ponto. E isso pode ser
observado com facilidade nos exemplos dados acima.
5. Os dois casos da consulta pertencem a essa estrutura, de modo que estão
inadequados quanto à pontuação: a) “A prefeitura da cidade X vai
assinar convênio com entidade Y para realizar tal ação. Mas os
moradores continuarão dependendo da estrutura Z”; b) “Os vereadores
aprovaram projeto de lei que garante mais recursos para a área de
saúde. Mas não disseram de onde virá a grana”.
6. Corrijam-se: a) “A prefeitura da cidade X vai assinar convênio com
entidade Y para realizar tal ação; mas os moradores continuarão
dependendo da estrutura Z”; b) “Os vereadores aprovaram projeto de lei
que garante mais recursos para a área de saúde; mas não disseram de
onde virá a grana”.
7. Explique-se o primeiro exemplo: a) o período é composto por
coordenação e subordinação; b) um primeiro segmento a ser observado
se compõe das orações “A prefeitura da cidade X vai assinar convênio
com entidade Y” e “para realizar tal ação”; c) nesse segmento, a
primeira é a oração principal, e a segunda é uma oração subordinada
adverbial final em relação à primeira; d) o segundo segmento a ser
observado é “mas os moradores continuarão dependendo da estrutura
Z”; e) esse segmento é formado por apenas uma oração; f) essa oração se
posta em ideia de oposição ou contraste em relação ao primeiro bloco
como um todo; g) então dizemos que ela é uma oração coordenada
adversativa em relação ao bloco anterior e, sobretudo, em relação à
oração principal de tal bloco; h) no que tange à pontuação, aplica-se a
lição já referida, ou seja, as orações coordenadas costumam separar-se
por vírgula; i) todavia, quando são de maior extensão, ou – como no caso
– uma delas tem oração subordinada relacionada a si, de modo que a
pausa se torna um pouco mais prolongada, emprega-se o ponto e vírgula;
j) aplica-se ao caso a lição de Evanildo Bechara: “ponto e vírgula
representa uma pausa mais forte que a vírgula” (1974, p. 338).
8. Explique-se o segundo exemplo: a) o período é composto por
coordenação e subordinação; b) um primeiro segmento a ser observado
se compõe das orações “Os vereadores aprovaram projeto de lei” e “que
garante mais recursos para a área de saúde”; c) nesse segmento, a
primeira é a oração principal, e a segunda é uma oração subordinada
adjetiva restritiva em relação à primeira; d) o segundo segmento a ser
observado é “mas não disseram de onde virá a grana”; e) esse segmento
é formado pelas orações “mas não disseram” e “de onde virá a grana”;
f) nesse segmento, a primeira é a oração principal e a segunda é uma
oração subordinada substantiva objetiva direta”, pois desempenha a
função sintática de objeto direto do verbo da oração anterior; g) a
primeira das orações desse segmento – “mas não disseram” – se posta
em ideia de oposição ou contraste em relação ao primeiro bloco como
um todo e sobretudo em relação à oração principal dele; h) então
dizemos que “mas não disseram” é uma oração coordenada adversativa
em relação ao bloco anterior e, sobretudo, em relação à oração principal
de tal bloco; i) feitas essas ponderações, também aqui se acrescenta, no
que tange à pontuação, que as orações coordenadas costumam separar-se
por vírgula; j) todavia, quando são de maior extensão, ou – como no caso
– quando têm orações subordinadas relacionadas a si, de modo que a
pausa é um pouco mais prolongada, emprega-se o ponto e vírgula.
9. Atendida, assim, a dúvida do leitor, caminha-se um pouco mais, para
aquelas frases em que, embora começadas por mas, as estruturas não se
caracterizam por oposição ou contraste de uma oração em relação a
outra, de modo que não se há de falar em emprego de vírgula ou de
qualquer outro sinal de pontuação. Exs.: a) “Mas como ele conseguiu
dominar a rebelião?”; b) “Mas que crimes cometera ela para ser tão
odiada (CEGALLA, 1999, p. 252)?”
10. E se vai um pouco mais além, com um segundo exemplo: “A cidade se
desenvolvera ao longo de décadas, com o esforço diuturno e conjunto
de seus habitantes e dirigentes. O alvo sempre fora a busca de um
bem-estar coletivo e comunitário. O progresso viera, como fruto
benfazejo da luta diária de uma população consciente e ordeira. Mas
tudo estava para mudar em poucos dias. A chegada dos tanques
inimigos imporia medo e terror. A ordem da vida diária seria
suplantada pelas determinações do inimigo. Em poucas horas, toda a
conquista daqueles anos seria aniquilada”.
11. O que se tem nesse trecho é o seguinte: a) há dois grandes blocos de
sentido, o segundo deles iniciado por mas; b) esses blocos encontram-
se em oposição e contraste entre si; c) as orações pertencentes a cada
qual dos blocos formam períodos simples (de uma só oração),
finalizados por pontos; d) se assim é entre tais orações, o certo é que
nem a vírgula, nem um ponto e vírgula bastam para fazer a pausa e a
separação entre os blocos; e) ou seja, se entre as orações de cada bloco
se faz a separação por pontos, não faz sentido empregar, entre os
blocos, em que a pausa é ainda maior, um sinal de pontuação menos
intenso do que um ponto; f) aplica-se aqui, na prática, o ensino de
Evanildo Bechara, para quem o ponto “é dos sinais o que denota maior
pausa” (1974, p. 338).

Mas porém
1. Na lição de Vitório Bergo, o fato de ser encontrada nos clássicos a
construção com duas adversativas (mas porém, mas contudo, mas
entretanto) não é “motivo bastante para que se use na linguagem
moderna, em que, pela confusão semântica das duas partículas, passou a
constituir desgraciosa redundância o seu emprego concomitante” (1944,
p. 158).
2. Assim também pensa Silveira Bueno: “atualmente, mas porém não se
admitem juntos na mesma expressão adversativa, embora tenha sido
correto emprego de outros períodos do idioma” (1957, p. 280-1).
3. Em mesma esteira, anota Vasco Botelho de Amaral (1943, p. 130), sem
maiores explicações, que “tal junção deve evitar-se”, muito embora
ressalve que “constitui pleonasmo encontrável em bons autores”,
destacando ele citação de Camões: “Mas porém nesta vitória…”.
4. Para Domingos Paschoal Cegalla, “são redundâncias condenadas mas
porém, mas contudo, mas no entanto, mas entretanto” (1999, p. 252).
5. Por fim, nesse sentido, a lição de Eduardo Carlos Pereira (1924, p. 365-
8), para quem “é arcaico e plebeu o emprego conjunto de mas porém”,
ou mesmo o uso pleonástico de duas conjunções como e porém, mas
contudo, e contudo, e mas ou e nem, o qual vai sendo evitado pelos
escritores modernos.
6. Se, porém, por um lado, observa que “os gramáticos condenam as
expressões mas contudo, mas entretanto”, Luís A. P. Vitória (1969, p.
160) complementa que “a expressão mas porém, além de clássica, é
popularíssima”.
7. Heráclito Graça (1904, p. 445) defende a correção de tal sintaxe, em que
se juntam duas conjunções adversativas, e anota que Camões a
empregou no seguinte trecho: “… mas porém de pequenos animais / Do
mar todo coberto cento e cento”.
8. Segundo Sílvio Elia (1967, p. 296), porém vem do latim pro inde, e mais
antiga é a forma porende ou por ende, cujo sentido originário é o de por
isso, daí porque, para tal gramático, se pode usar a expressão mas porém.
9. Édison de Oliveira (s/d, p. 127) também ressalta ser muito comum, na
linguagem popular atual, o uso dessa expressão.
10. Num primeiro momento, Júlio Nogueira observa que “tais associações
não devem ser feitas”, porquanto “duas adversativas se repelem, pois
cada uma, de per si, basta às necessidades do discurso”. Ao depois,
ressalva tal gramático que mas todavia “encontra-se em Bernardes”; e
mas porém foi expressão usada por Camões em mais de um lugar,
muito embora hoje só exista “como plebeísmo repugnante”. Por fim,
quanto a mas contudo e mas entretanto, esclarece tal autor que essas
associações “vão resistindo no discurso de alguns, porém a tendência
manifesta é no sentido de suprimir uma das duas palavras”
(NOGUEIRA, 1959, p. 29).
11. Oportuno, ainda, é lembrar João Ribeiro, o qual observa que, a certa
altura da língua, mas tomou o sentido de adversativa; originariamente,
entretanto, era reiterativa, isto é, acrescentava sem contradizer, do que
se vê remanescente em não só… mas também. Bem por isso, acata ele
a possibilidade da construção mas porém, justificando textualmente:
“não sendo de todo adversativa, é fácil que a deparemos conjuntamente
com porém nos escritores da idade clássica” (RIBEIRO, João, 1923, p.
209).
12. Em resumo, ante a fundada divergência entre os gramáticos, deve-se
dar ao leitor a gama mais ampla de possibilidades de emprego do
idioma, motivo por que, independentemente de se reputar ou não de
bom gosto qualquer de tais expressões reiterativas, o certo é que seu
emprego está autorizado nos textos que devam submeter-se à norma
culta.
Ver Mas e Porém (P. 463).

Mas se esqueceu ou Mas esqueceu-se?


1. Indaga um leitor qual o correto: a) “… mas se esqueceu das autoridades
modernas…”; b) “… mas esqueceu-se das autoridades modernas”. E
pergunta se o mas não seria um “fator de próclise”.
2. Em termos gerais, quando átono (ou seja, sem autonomia sonora), o
pronome (no caso, o se) se “pendura”, quanto à pronúncia, no verbo,
conforme o melhor som (eufonia): a) Se vem antes do verbo, há próclise.
Ex.: “O advogado não se conteve em audiência”; b) Se vem no meio do
verbo, há mesóclise. Ex.: “Realizar-se-á o júri na data prevista”; c) Se
vem depois do verbo, há ênclise. Ex.: “Conteve-se o advogado, apesar
das ofensas do causídico adversário”.
3. Costuma-se dizer que a regra geral é a ênclise, o que significa dizer que
o lugar normal para o pronome átono é depois do verbo, a não ser que
algo especial aconteça.
4. E esse algo especial que pode acontecer são algumas palavras que, em
razão da eufonia, atraem o pronome para antes do verbo: a) as de valor
negativo; b) os advérbios; c) os pronomes relativos; d) os pronomes
indefinidos; e) as conjunções subordinativas.
5. Confiram-se os seguintes exemplos: a) “Não lhe importavam as calúnias
assacadas” (palavra negativa); b) “Hoje a encontrei de novo”
(advérbio); c) “O argumento que o convenceu foi o último mencionado”
(pronome relativo); d) “Alguém o convenceu” (pronome indefinido); e)
“Quando o encontrou, fugiu” (conjunção subordinativa).
6. No exemplo da consulta, tem-se um mas, que é uma conjunção
coordenativa, e não uma conjunção subordinativa. Luiz Antônio Sacconi
(1979, p. 231), a esse respeito, anota que as conjunções e, mas, porém,
todavia, contudo, logo e portanto não exigem necessariamente a
próclise, exatamente porque são conjunções coordenativas, e não
subordinativas.
7. Feitas essas observações, acrescenta-se que, quando se tem uma
conjunção coordenativa (e não subordinativa), e o exemplo está em
ordem direta (sujeito + verbo + complementos), e não há palavra que
atraia o pronome para antes do verbo, a colocação do pronome é
optativa, em próclise ou em ênclise. Ou seja, pode-se fazer o uso
indistinto de uma ou de outra colocação.
8. Por isso, de modo específico para o caso da consulta, são corretas ambas
as formas: a) “… mas se esqueceu das autoridades modernas…”
(conjunção coordenativa e pronome em próclise); b) “… mas esqueceu-
se das autoridades modernas” (conjunção coordenativa e pronome em
ênclise).

Massivo – Existe?
1. Indaga um leitor se existe massivo e acrescenta que, apesar de
empregado amiúde, tal vocábulo não é registrado em dicionário algum.
2. Observe-se, de início, que não se põe em discussão, nem de longe se
quer diminuir os relevantes serviços que os dicionaristas prestam ao
idioma.
3. Mas se deve dizer que, por delegação legal específica, incumbe à
Academia Brasileira de Letras a elaboração do rol dos vocábulos
pertencentes ao vernáculo, e ela o faz pela edição do Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, uma lista das palavras que integram
oficialmente nosso idioma, com sua grafia oficial, seu gênero (masculino
ou feminino), categoria morfológica (substantivo, adjetivo), etc.
4. Adiciona-se que, nos primeiros meses de 2009, veio a lume a quinta
edição do VOLP, e nela se encontra regularmente registrado o vocábulo
massivo, com a especificação de que se trata de um adjetivo
(ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, p. 532).
5. Oportuno é fixar que, incumbida por lei específica para a confecção do
VOLP, a ABL goza de autoridade para, nesse campo, dizer o Direito,
motivo por que, ao consultá-lo, devemos prestar obediência a suas
determinações, como devemos fazer em relação aos demais diplomas
legais.
6. Ante um tal quadro, duas situações precisam ser diferenciadas: a) se o
VOLP não registra uma palavra, e um dicionário o faz, é de forçosa
conclusão que tal vocábulo não existe oficialmente em nosso idioma; b)
se o VOLP registra uma palavra, e os dicionários não o fazem, nem por
isso o vocábulo deixa de existir oficialmente em nosso idioma.
7. Feitas essas ponderações, especifica-se que o adjetivo aqui considerado
significa, em última análise, sólido ou maciço, como é de fácil percepção
nos seguintes exemplos: a) “O magistrado fez acompanhar sua sentença
de massivos argumentos doutrinários”; b) “Massiva jurisprudência
confirma a tese ora esposada”.

Mas todavia
Ver Mas porém (P. 463).

Matado ou Morto?
Ver Morto – Particípio passado de Matar ou Morrer? (P. 478)

Matar – Qual o particípio: Matado ou Morto?


Ver Morto – Particípio passado de Matar ou Morrer? (P. 478) e Verbos
abundantes (P. 759).

Mau-caráter – Qual é o seu plural?


Ver Caráter ou Caractere? (P. 170)

Mau ou Mal?
1. Um leitor, tendo dúvida em discussão com colegas de escritório, indaga
qual a forma correta para os seguintes exemplos: a) “Nada mau para um
museu que começou modestamente”; ou b) “Nada mal para um museu
que começou modestamente”?
2. Inicia-se com algumas observações abrangentes e teóricas.
3. Mau só pode ser adjetivo (é, na prática, o contrário de bom), admitindo
emprego no plural e no feminino, conforme a necessidade da palavra
modificada. Exs.: a) “Trata-se de réu com maus antecedentes”; b)
“Trata-se de réu com más companhias”.
4. Mal pode ser: a) conjunção (sinônimo de apenas). Ex.: “Mal começaram
os debates, o jurado dormiu”; b) substantivo (antônimo de bem, fazendo,
no plural, males). Ex.: “Foi condenado, porque praticou o mal”; c)
advérbio (também antônimo de bem). Ex.: “O réu passou mal durante o
júri”.
5. Sem qualquer pretensão de teorizar o problema, mas apenas observando
os aspectos de ortografia, nos casos mais comuns basta reiterar: a) mau é
o oposto de bom (mau-caráter, mau humor); b) mal é o oposto de bem
(mal-humorado, mal-intencionado).
6. Essa, aliás, é a síntese de Vitório Bergo, a observar que é fácil “verificar-
se qual o termo que cabe na frase pelo uso do respectivo antônimo”
(1944, p. 156-9).
7. Josué Machado (1994, p. 21), atento aos erros cometidos pela imprensa e
pelos políticos, anota a existência de uma revista que publicou um artigo
com o equivocado título “O Mau das Pesquisas” (quando o correto
haveria de ser “O Mal das Pesquisas”).
8. Juntando o exemplo trazido pelo leitor e a ele adicionando outros,
listam-se alguns casos de emprego correto dos referidos vocábulos: a)
“Nada mau para um museu que começou modestamente”; b) “Ele nada
mal, como uma galinha que cai ao rio”; c) “O museu está mal das
pernas”; d) “Ele era um mal necessário para o museu”; e) “Ele era um
mau exemplo para o museu”; f) “Mal abriu, já se falava que o museu
iria fechar”; g) “Ele passou mal no museu”.

Maus-tratos
Ver Maltrato – Existe? (P. 457)

Mau-trato – Existe?
Ver Maltrato – Existe? (P. 457)
Máxime
1. Trata-se de advérbio de origem latina, mas já incorporado ao léxico
vernáculo por nossos dicionaristas, como atestam Aurélio Buarque de
Holanda Ferreira (s/d, p. 901) e Cândido Jucá Filho (1963, p. 415).
2. Assim sendo, porque é palavra proparoxítona, deve ser acentuada
graficamente, como todas dessa categoria.
3. Os dicionaristas mencionados atribuem ao x de tal vocábulo o som de cs,
no que são seguidos por Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 19).
4. Também para Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 253), sua pronúncia
é mácsime.
5. Já Napoleão Mendes de Almeida (1981, p. 187) lhe confere a pronúncia
mássime.
6. De igual modo, para Antonio Henriques (1999, p. 111), “pronuncia-se
como se houvesse dois ss (mássime)”.
7. Eliminando divergências e possibilidades de discussão, todavia, o
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela Academia
Brasileira de Letras – órgão incumbido de definir quais vocábulos
integram oficialmente nosso idioma, bem como seu modo de escrever e
pronunciar – registra-o com acento gráfico (o que significa que
incorporou o vocábulo ao nosso léxico) e manda, até a edição de 1999,
pronunciar o x como cs (p. 482). A mais recente edição de VOLP, no
entanto, assinala que o x dessa palavra, pode soar, indistintamente, como
cs ou ss (2009, p. 534), o que faz concluir que ambas as pronúncias estão
oficialmente autorizadas entre nós.
8. Tem o significado de especialmente, mormente, principalmente. Ex.:
“Essa posição é peculiar aos processualistas brasileiros, máxime de
nossa região”.

Máximo
1. Há dificuldades no que tange à pronúncia desse adjetivo.
2. Lembra Édison de Oliveira que, “por pedantismo ou por inconsciência,
há quem pronuncie ‘máksimo’. A pronúncia correta é, entretanto,
‘mássimo’” (s/d, p. 98).
3. Eliminando dúvidas, porém, o Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de Letras, órgão oficial
para definir quais vocábulos integram oficialmente nosso léxico e qual
sua respectiva pronúncia, assinala que o x dessa palavra pode soar,
indistintamente, como cs ou ss (2009, p. 534), o que faz concluir que
ambas as pronúncias estão oficialmente autorizadas entre nós.

Meado ou Meados?
1. Particípio passado do verbo mear, empregado como substantivo, quer
dizer chegado ao meio, próximo ao meio. Ex.: “No meado deste século,
surgiu nova consciência acerca da preservação do ambiente”.
2. Também usada no plural com o mesmo sentido. Ex.: “Em meados do
mês passado, o réu se entregou à autoridade policial”.
3. Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 254) confirma a possibilidade de
emprego do singular meado ou do plural meados, com o significado de
parte média, de meio, acrescentando serem errôneas as formas meiado e
meiados.
4. Sousa e Silva, realçando o caráter de particípio depoente de mear ou
mear-se, com o significado de chegar ao meio, observa que “pode fazer
de predicado em orações adverbiais reduzidas”, em elegante construção,
de que ele próprio fornece diversos exemplos: a) “Meado o mês de
junho, embarcaremos para a França”; b) “Meado aquele ano, falecia
meu pai”; c) “Meada a próxima semana, irei fazer-te uma visita”.
5. Advertindo para a forma feminina meada do terceiro exemplo, que
concorda com o sujeito a próxima semana, acrescenta tal autor que “a
oração reduzida ‘Meado o mês de junho’ corresponde à desenvolvida
‘Quando for meado o mês de junho’, equivalente a estas outras: ‘Quando
mear o mês de junho’, ‘Quando chegar ao meio o mês de junho’”
(SILVA, A., 1958, p. 179).

Mediar
1. Os verbos terminados em iar, quanto à conjugação verbal, normalmente
são regulares e têm por modelo anunciar.
2. São exceções a essa regularidade de conjugação mediar, ansiar,
remediar, incendiar e odiar – pode-se guardar a sigla MARIO –, os
quais têm por modelo este último.
3. Tais verbos da relação mencionada mudam o i da penúltima sílaba em ei
nas formas rizotônicas: medeio, medeias, medeia, mediamos, mediais,
medeiam (presente do indicativo); medeie, medeies, medeie, mediemos,
medieis, medeiem (presente do subjuntivo); medeia, medeie, mediemos,
mediai, medeiem (imperativo afirmativo); não medeies, não medeie, não
mediemos, não medieis, não medeiem (imperativo negativo).
4. Vale sintetizar os problemas de conjugação desse verbo com as
observações de Vitório Bergo: “recebe um e eufônico nas formas
rizotônicas, que só se manifestam no presente do indicativo e do
subjuntivo e, portanto, no imperativo” (1943, p. 142-3).
5. Não confundir com os verbos terminados por ear, como nomear, os
quais recebem um i intermediário nas formas rizotônicas: nomeio,
nomeias, nomeia, nomeamos, nomeais, nomeiam (presente do
indicativo); nomeie, nomeies, nomeie, nomeemos, nomeeis, nomeiem
(presente do subjuntivo); nomeia, nomeie, nomeemos, nomeai, nomeiem
(imperativo afirmativo); não nomeies, não nomeie, não nomeemos, não
nomeeis, não nomeiem (imperativo negativo).

Médico em chefe – Está correto?


Ver Em chefe – Existe? (P. 305)

Medida Provisória ou Medida provisória?


Ver Lei Federal ou Lei federal? (P. 443)

Médio prazo – A ou em?


Ver A curto prazo ou Em curto prazo? (P. 73)

Meia
Ver Meio (P. 466).
Meio
1. É palavra que precisa ser observada do ponto de vista da concordância
nominal.
2. Como numeral, significa metade e é variável. Ex.: “O réu sorveu meio
copo de cerveja e meia garrafa de aguardente”.
3. Como substantivo, normalmente vem precedido de artigo, significa
modo, maneira e flexiona-se no plural. Ex.: “Os detentos encontraram os
meios de fugir do presídio de segurança máxima”.
4. Como advérbio, significa um pouco e é invariável. Ex.: “A juíza estava
meio cansada àquela altura”.
5. Nesse último caso, são comuns os erros, fazendo as pessoas concordar
indevidamente o advérbio com o adjetivo que o segue, como no seguinte
exemplo: “A juíza estava meia cansada àquela altura” (errado).
6. São grandemente apropriadas as observações de Domingos Paschoal
Cegalla (1999, p. 255) a respeito desse vocábulo: a) “Usado como
advérbio, significa um pouco e permanece invariável”; b)
“Modernamente, não se flexiona meio, advérbio, como o têm feito
escritores de outros tempos: porta meia aberta; corpos meios nus, etc.”;
c) “É variável quando substantivo (os meios de comunicação), adjetivo
(meia garrafa de vinho) ou quando formador de substantivos compostos
(meia-estação, meia-idade, meia-noite, meias-direitas, meias-esquerdas,
… meios-fios, meios-termos, meios-tons)”; d) “Nesse último caso
(quando formador de substantivos compostos), os elementos são unidos
com hífen”.
Ver Bastante – Existe no plural? (P. 156) e Meio-dia e meia ou Meio-dia e
meio? (P. 467)

Meio ambiente – Pleonasmo?


1. Para Domingos Paschoal Cegalla, trata-se de “expressão redundante,
mas sancionada pelo uso comum” (1999, p. 256).
2. Luís A. P. Vitória também se põe em objeção contra tal sintaxe,
observando que se trata de “construção redundante: meio e ambiente
significam a mesma coisa” (1969, p. 161).
3. Josué Machado se posta, de igual modo, contra o emprego da
“redundante expressão meio ambiente”, muito embora reconheça que ela
“já foi incorporada” ao nosso léxico “e nem dói mais”.
4. Explicitando que não se diz autoridades meio-ambientais, mas
autoridades ambientais, anota o mencionado autor que “o pleonasmo
contido em meio ambiente, expressão formada por palavras de sentido
equivalente, equivale ao de algo como mulher fêmea ou homem macho”.
5. Em outra passagem, aduz o referido autor que, em nosso país, “tudo o
que se refere a meio ou a ambiente – sinônimos, no caso – recebe o
assombroso nome duplo, reforçado, redundante, pleonástico de meio
ambiente. Ninguém descobriu ainda por quê”.
6. E complementa com propriedade: “Há gente até que põe hífen entre
meio e ambiente, o que passa a significar algo como metade do
ambiente” (MACHADO, 1994, p. 36 e 103-4).
7. Em outro aspecto, mesmo para a hipótese de se aceitar como válido esse
giro, ante a frequência com que os erros ocorrem, lembra Arnaldo
Niskier (1992, p. 47) que tal expressão se escreve sem hífen (meio
ambiente e não meio-ambiente).
8. Também José de Nicola e Ernani Terra (2000, p. 147) lembram que tal
expressão deve ser grafada sempre sem hífen.
9. Talvez por um equívoco de entendimento dessa natureza, um candidato
do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), no ano de 2002, assim
escreveu: “não preserve apenas o meio ambiente, mas sim todo ele”.
10. É importante anotar que o Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, publicado pela Academia Brasileira de Letras, órgão esse
que tem delegação legal para listar as palavras oficialmente existentes
em nosso idioma, bem como, se for o caso, sua grafia correta, não
registra a forma hifenizada. Essa observação é muito importante,
porquanto, se houvesse hífen, a forma hifenizada seria alvo de registro,
pois, nessa hipótese, o VOLP a consideraria uma nova palavra, o que
não se dá nos casos em que não se emprega o hífen.

Meio-dia e meia ou Meio-dia e meio?


1. Trata-se de construção que precisa ser observada sob o prisma da
concordância nominal.
2. Quando se diz meio-dia e meia, quer-se, em realidade, significar meio-
dia mais meia hora, podendo-se concluir que meio, nas duas ocorrências,
é numeral e, portanto, variável.
3. Incorreta, por conseguinte, é a expressão meio-dia e meio (a qual apenas
poderia significar metade de um dia mais metade de um dia, a significar,
em última análise, um dia completo).
4. É bem certo que Francisco da Silveira Bueno tenta justificar o emprego
de meio-dia e meio com o argumento de “atração sintática” (1957, p.
278-9).
5. A fragilidade de suas razões e a ausência de caráter científico de seu
arrazoado, todavia, fazem com que não se confira maior valor a seu
intento.
6. Nessa esteira, observando que Júlio Nogueira transige com o uso da
maioria, aprovando meio-dia e meio, Sousa e Silva (1958, p. 181)
adverte, mesmo assim, tratar-se de erro vulgar, anotando,
esperançosamente, que “não nos parece difícil a emenda”.
7. O mais adequado, em tal caso, é aceitar as afirmações de Napoleão
Mendes de Almeida (1981, p. 187): a) “a forma correta é meio-dia e
meia, pois a palavra a que o adjetivo se refere é hora”; b) “não tem
cabida afirmar tratar-se de flexão por atração”.
Ver Meio (P. 466) e Meio dia ou Meio-dia? (P. 467)

Meio dia ou Meio-dia?


1. Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 256) faz distinção muito
importante: a) Meio-dia significa o momento exato das doze badaladas:
“Ver estrelas ao meio-dia”; b) Meio dia tem a acepção de metade do dia:
“Trabalhei só meio dia”.
Ver Meio (P. 466) e Meio-dia e meia ou Meio-dia e meio? (P. 467)

Meios de provas – Admitidos ou admitidas?


1. Um leitor indaga qual é a forma correta de dizer e escrever: a) “Provará
o alegado por todos os meios de provas em direito admitidos”; b)
“Provará o alegado por todos os meios de prova em direito admitidas”;
c) “Provará o alegado por todos os meios de prova em direito
admitido”?
2. Ora, quando se põe uma questão como essa, em que se quer saber qual a
forma de uma palavra de valor adjetivo (no caso, admitido), deve-se
procurar, em síntese, a que outro vocábulo ela se refere: o que, enfim, é
admitido?
3. E, embora, em tese, o direito possa ser admitido, embora as provas
possam ser admitidas, o que, efetivamente, se quer qualificar, no caso, é
o vocábulo meios.
4. E, quando se identifica a palavra modificada, fica fácil a concordância:
admitidos. Ou seja: “Provará o alegado por todos os meios de provas em
direito admitidos”.
5. É assim, aliás, que registram alguns dispositivos da legislação pátria: a)
“Todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que
não especificados neste Código, são hábeis para provar a verdade dos
fatos…” (CPC-1973, art. 332); b) “A data do documento particular,
quando a seu respeito surgir dúvida ou impugnação entre os litigantes,
provar-se-á por todos os meios de direito” (CPC-1973, art. 370, caput);
c) “… É lícito ao comerciante, todavia, demonstrar, por todos os meios
permitidos em direito, que os lançamentos não correspondem à verdade
dos fatos” (CPC, art. 378, caput); d) “Para o desempenho de sua função,
podem o perito e os assistentes técnicos utilizar-se de todos os meios
necessários” (CPC-1973, art. 429, caput); e) “… com meios
considerados idôneos pelo juiz…” (CPC-1973, art. 582, caput).

Meios suasórios
1. Trata-se de expressão de frequente emprego nos meios forenses, com o
sentido de meios de convencimento, de modos de persuasão. Ex.: “O
advogado usou todos os meios suasórios a seu dispor, para convencer
seu cliente de que deveria negar a autoria do crime”.

Melhor
1. Se modifica um substantivo, é adjetivo e, assim, é variável. Exs.: a) “Ele
é o melhor defensor da cidade”; b) “Eles são os melhores defensores da
cidade”.
2. Se, porém, modifica um verbo, um adjetivo ou um advérbio, funciona
como advérbio e, assim, é invariável. Exs.: a) “Já agora, o negócio vai
melhor na advocacia” (correto); b) “Já agora os negócios vão melhor na
advocacia” (correto).
3. Da verificação de sua função sintática, veja-se que incorreto é o seguinte
exemplo: “Já agora os negócios vão melhores na advocacia”.
Ver Mais mal ou Pior? (P. 454), Melhor boa-fé – Está correto? (P. 468) e
Melhormente – Existe? (P. 468)

Melhora ou Melhoria?
1. Da observação do que se fala e escreve no dia a dia, surge a indagação:
melhora ou melhoria?
2. Nunca é demais repetir que a Academia Brasileira de Letras, desde o
começo do século XX, é o órgão que tem a delegação legal para listar
oficialmente as palavras existentes em nosso idioma, e ela o faz pela
publicação, atualizada de tempos em tempos, do Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa.
3. Pois bem, uma consulta ao VOLP mostra que lá se registram ambos os
vocábulos: melhora e melhoria (ACADEMIA BRASILEIRA DE
LETRAS, 2009, p. 539).
4. Com a premissa, assim, de que ambos os vocábulos existem oficialmente
no vernáculo, acrescenta-se que os dicionaristas os dão como sinônimos,
ambos com o significado de recuperação de um estado ruim, ou
apresentação de condições mais satisfatórias ou mais vantajosas.
5. Não é difícil, aliás, perceber essa sinonímia nos casos práticos: melhoria
salarial ou melhora salarial, melhora no quadro clínico ou melhoria no
quadro clínico.

Melhor boa-fé – Está correto?


1. Quando se diz boa-fé, a junção do adjetivo com o substantivo faz com
que se origine uma só ideia, de tal modo que a expressão passe a
significar lealdade, resultando, psicologicamente, uma só palavra, uma
unidade lexicológica, motivo pelo qual o Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de Letras, registra-
a com hífen (2009, p. 124).
2. Pelas regras que norteiam a flexão dos substantivos compostos, já que
seus elementos são, respectivamente, um adjetivo e um substantivo, seu
plural há de ser boas-fés.
3. Ante a consideração de que se trata de um substantivo composto com
unidade lexicológica, parece perfeitamente lícito dizer-se melhor boa-fé,
como ocorre com o seguinte exemplo de Camilo Castelo Branco: “Isso
parece-me demais – retorquiu a tia com a melhor boa-fé” (BRANCO
apud MACHADO FILHO, 1969i, p. 117-8).
4. Nesse sentido, leciona Eduardo Carlos Pereira (1924, p. 294) que, em
casos dessa natureza, “não assume o adjetivo a forma sintética do
comparativo”, porquanto “a língua tende a considerar essas expressões
como substantivos compostos”, e, assim, se deverá dizer: melhor boa-fé,
melhor boa vontade.
5. Vitório Bergo (1944, p. 42), em adendo, traz comentário de significativo
relevo: “Esta expressão soa hoje como uma palavra composta, em que o
adjetivo boa se tem na conta de prefixo. Daí a frequência com que se
ouve o superlativo a melhor boa-fé, no qual parece ter havido
esquecimento da redundância mais boa boa-fé”.
6. Tais observações valem para expressões de mesma estrutura: bom-senso,
má-fé.

Melhor bom-senso – Pleonasmo?


Ver Melhor boa-fé – Está correto? (P. 468)

Melhormente – Existe?
1. A um consulente que lhe indagava acerca da possibilidade de uso de tal
vocábulo, Cândido de Figueiredo optava pela afirmativa e assim resumia
sua lição: “Tão exato é o advérbio melhor, como o advérbio
melhormente. Melhor, como advérbio, é de uso corrente, e comparativo
de bem; e melhormente é formado do adjetivo comparativo melhor e do
sufixo mente, e vemo-lo em bons mestres, como Bernardes, Francisco
Manuel, Camilo, etc.” (1948, p. 100-1).
Ver Advérbios em “mente” (P. 85).

Melhor ou Mais bem?


Ver Mais mal ou Pior? (P. 454)

Memorândum – Qual é o plural?


1. Cândido de Oliveira (s/d, p. 93) dá por singular memorando e por plural
memorandos, e lembra que não se deve empregar a forma latina
memorandum, cujo plural há de ser memoranda.
2. Também para Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 257),
modernamente se prefere a forma portuguesa (memorando) à latina
(memorandum).
3. Tal posicionamento segue a lição de Silveira Bueno, para quem o melhor
meio de lidar com os empréstimos, no caso com os latinismos, “é o de
adaptá-los à nossa língua sempre que possível”, de modo que, “em lugar
de memorandum, deveremos dizer memorando, com o plural normal
memorandos”.
4. E finaliza tal autor: “Isso de memorandum, memoranda já me cheira a
pedantismo” (BUENO, 1957, p. 281).
5. Já Antonio Henriques (1999, p. 112), que o considera um “resquício do
gerundivo latino memorandum”, dá-lhe por singular tanto memorandum
quanto memorando, e por plural memoranda, memoranduns e
memorandos.
6. Para Cândido de Figueiredo, entretanto, o plural memoranda briga “com
a índole da linguagem corrente, e por isso se lhe tem aportuguesado a
desinência, escrevendo-se memorânduns”. A tal gramático, ademais, esta
última forma também lhe desapraz “pelo seu frisante hibridismo”. Bem
por isso, em vez de memorândum, prefere ele escrever memorando,
“porque, assim, já o plural não oferece dificuldades” (FIGUEIREDO,
1948, p. 101).
7. Eliminando, todavia, as dúvidas e as possibilidades de divergência, o
certo é que, ao lado do singular memorando e do plural memorandos, o
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela Academia
Brasileira de Letras – órgão oficialmente encarregado de definir quais
vocábulos pertencem a nosso idioma – registra memorândum como
palavra plenamente integrada a nosso léxico, atribuindo-lhe, desse modo,
acento gráfico, como deve ocorrer com as paroxítonas terminadas em
um, à semelhança de álbum e fórum (2009, p. 540).
8. E, como vocábulo de nosso idioma, seu plural há de ser memorânduns,
assim com acento, do mesmo modo que outras de mesma terminação,
como álbuns e fóruns.
9. Também por ser palavra de nosso idioma, não se há de pensar em
formar-lhe o plural memoranda.
10. Em lição oportuna ainda para os dias atuais, asseverando ser ainda
insuficiente a disciplina clássica no emprego de nomes oriundos de
outros idiomas, João Ribeiro (1923, p. 119) reconhece, no que
concerne a substantivos desse jaez, haver “quem adote o plural das
línguas originárias”, vale dizer, memoranda no caso concreto;
acrescenta, entretanto, tal gramático que “esse uso só se justifica em
palavras que se conservaram incorruptas e na sua forma etimológica”.
11. Sempre discorrendo em termos científicos, o que parece é que o plural
latino, em casos dessa natureza, deve ser evitado a qualquer custo, até
porque, em latim, os substantivos eram declinados, de modo que as
terminações do plural eram diversas, conforme a função sintática:
memoranda (sujeito), memorandorum (adjunto adnominal),
memorandis (objeto indireto), memoranda (objeto direto).
12. Nessa esteira, em realidade, não haveria como usar hoje pela metade o
vocábulo em latim: ou se consideraria o termo já integrado ao nosso
idioma para todos os efeitos, também para sua acentuação gráfica e
para sua flexão no plural como outros nomes de mesma terminação; ou
se lhe haveria de conferir feição e regime latinos em plenitude,
hipótese em que teria o substantivo uma específica terminação, de
acordo com a função sintática que a palavra viesse a desempenhar,
proceder esse que, além de muito estranho, seria simplesmente inviável
ao usuário médio do idioma, por exigir conhecimentos aprofundados
de análise sintática e de latim.
Ver Campus (P. 166), Considerando (P. 220), Desiderato ou Desideratum?
(P. 275) e Plural de nomes estrangeiros – Existe? (P. 566)

Memorial ou Memoriais?
1. Uma leitora indaga qual das duas palavras está correta para significar a
peça que se entrega aos julgadores de um recurso logo antes de um
julgamento: memorial ou memoriais?
2. Por um lado, o dicionarista Antônio Houaiss vê possibilidade expressa
de emprego da palavra memorial no sentido da indagação da leitora, ao
conceituá-lo do seguinte modo: “qualquer sustentação feita à autoridade
judiciária ou administrativa, geralmente no final do processo” (2001, p.
1.891). E não faz referência ao emprego de memoriais nessa acepção.
3. Inversamente a essa postura, o Código de Processo Civil de 1973 não
registra a palavra memorial nesse sentido, e sim memoriais: a) “Quando
a causa apresentar questões complexas de fato ou de direito, o debate
oral poderá ser substituído por memoriais” (CPC, art. 454, § 3º); b) “
Encerrado o debate ou oferecidos os memoriais…” (CPC, art. 456); c)
“…sendo-lhes assegurado o direito de apresentar memoriais ou de pedir
a juntada de documentos” (CPC, art. 482, § 2º).
4. O Código de Processo Civil de 2015 tem idêntico proceder ao anterior:
a) “Qualquer das partes poderá, no prazo de 5 (cinco) dias, apresentar
memoriais ou discordância do julgamento por meio eletrônico” (CPC,
art. 945, § 2º); b) “A parte legitimada à propositura das ações previstas
no art. 103 da Constituição Federal poderá manifestar-se, por escrito,
sobre a questão constitucional objeto de apreciação, no prazo previsto
pelo regimento interno, sendo-lhe assegurado o direito de apresentar
memoriais ou de requerer a juntada de documentos” (CPC, art. 950, §
2º).
5. Com essas ponderações, pode-se responder à leitora do seguinte modo:
a) por um lado, o dicionarista citado fala em memorial, mas não em
memoriais, no que tange ao sentido pretendido por ela; b) por outro lado,
as codificações processuais de 1973 e 2015 falam em memoriais, mas
não em memorial; c) ante essas circunstâncias, continua valendo o
princípio segundo o qual onde os estudiosos divergem, devem-se
permitir ambas as formas (“Ofereceu memorial antes do julgamento da
apelação” e “Ofereceu memoriais antes do julgamento da apelação”.

Menor impúbere
1. Um leitor indaga se a expressão menor impúbere é adequada para
descrever o absolutamente incapaz – aquele com idade inferior a
dezesseis anos – como comumente se vê em petições e outros
documentos de cunho jurídico.
2. Para explanar a questão de modo mais didático, veja-se que, na esteira
da legislação codificada anterior, o art. 3º, I, do Código Civil considera
absolutamente incapaz de exercer pessoalmente os atos da vida civil o
menor de dezesseis anos, e o art. 4º, I, tem por relativamente incapaz o
menor com idade entre dezesseis e dezoito anos.
3. A consequência imediata dessa distinção reside no fato de que (i) o
menor absolutamente incapaz não pode praticar ato algum por si, de
modo que é representado por seus pais ou responsáveis, enquanto (ii) o
menor relativamente incapaz pode praticar determinados atos da vida
civil e, neles, é assistido por seus pais ou responsáveis (CC, art. 1.634,
VI e art. 1.690, caput).
4. Embora a terminologia da consulta não tenha desfrutado da preferência
do legislador, o certo é que a doutrina, de longa data, sempre denominou
os menores absolutamente incapazes de menores impúberes, e deixou a
terminologia menores púberes para os menores relativamente incapazes.
5. Quanto à etimologia, o impúbere – também conhecido como infante – é
aquele que ainda não atingiu a puberdade, que não desenvolveu os pelos
pubianos. Já o púbere – ou adolescente – é aquele que atingiu a
puberdade, que já desenvolveu pelos pubianos. Como lembra De Plácido
e Silva, essa é uma “situação que se revela pelo desenvolvimento físico
da pessoa, em relação aos órgãos genitais” (1989, p. 179). E, assim, até
pela variabilidade com que se dá tal ocorrência, conclui-se que esse não
é um critério científico nem seguro.
6. Para não haver dúvidas, é importante resumir dizendo que, embora não
adotada por dispositivos de lei, essa é terminologia perfeitamente correta
e adequada, além de uniformemente aceita pela doutrina, como se vê
pela conceituação de Maria Helena Diniz (1998, p. 252), que não lhe faz
reparo algum ou ressalva: a) Menor impúbere: “Aquele que conta com
menos de dezesseis anos de idade, sendo absolutamente incapaz,
devendo ser representado em todos os atos da vida civil”. b) Menor
púbere: “Pessoa relativamente incapaz, maior de dezesseis anos…, que
pode praticar atos da vida civil desde que assistido pelo seu
responsável”.

Menos
1. Como adjetivo, modifica um substantivo, hipótese em que é o grau
comparativo de inferioridade de pouco: Ex.: “Havia menos pessoas do
que esperava o palestrante”.
2. Modificando um verbo, um adjetivo ou um advérbio, é ele próprio um
advérbio. Exs.: a) “O funcionário trabalhou menos do que costumava”;
b) “Ela é menos bonita que a irmã”; c) “Hoje ele trabalhou menos mal
do que ontem”.
3. Importante é anotar que, mesmo como adjetivo, é sempre invariável,
sendo, assim, errôneas as seguintes construções: a) “Tenha mais amor e
menas confiança”; b) “Havia menas pessoas do que esperava o
palestrante”; c) “Quanto menas pessoas houver, melhor”.
4. Carlos Góis, nesses casos em que tal palavra modifica um substantivo,
denomina-a adjetivo quantitativo e reconhece-lhe a invariabilidade – por
não se flexionar tal palavra nem gênero nem em número com o
substantivo modificado, mas por tomar outra feição – justificando que a
ausência de flexão tem por causa a circunstância de ser o vocábulo,
originariamente, um advérbio.
5. E a tal invariabilidade, por não haver a concordância literal da palavra
modificadora com o substantivo modificado, o referido gramático dá o
significativo nome de discordância do adjetivo com o substantivo
(GÓIS, 1943, p. 187).

Menos com e Menos de


1. Interessante observação feita por Domingos Paschoal Cegalla para a
palavra exceto, estende-a tal autor para a palavra menos: “Quando o
verbo ou o nome exigem complemento indireto, deve-se repetir a
preposição depois de exceto, palavra denotativa de exclusão”. Exs.: a)
“Falou com todas as colegas, exceto com Fátima”; b) “Gostava de todos
os irmãos, exceto do mais velho”; c) “Era carinhoso com todos, exceto
com a sogra”.
2. E continua: “Proceda-se da mesma forma com o sinônimo menos”. Exs.:
a) “Falou com todas as colegas, menos com Fátima”; b) “Conquistou a
simpatia de todos os funcionários, menos do contador” (CEGALLA,
1999, p. 158).

Mercância ou Mercancia?
1. De tanto ver e ouvir um emprego que não lhe parece adequado, um leitor
indaga qual a forma correta do vocábulo: mercância ou mercancia?
2. Em nosso idioma, o ato de mercanciar, de mercadejar, de comerciar, de
comprar e vender, de ser um mercador ou um comerciante é mercancia,
com seu final pronunciado como freguesia, e não mercância, como se
rimasse com ganância. Ex.: “Paula Forgioni escreveu excelente obra:
‘A Evolução do Direito Comercial Brasileiro: Da Mercancia ao
Mercado’”.
3. Para dirimir dúvida desse teor, a solução é consultar o Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, que é uma espécie de dicionário que
lista as palavras reconhecidas oficialmente como pertencentes ao
vernáculo, bem como lhes fornece a grafia oficial.
4. Também conhecido pela sigla VOLP, ele é organizado e publicado pela
Academia Brasileira de Letras, a qual tem a delegação legal e a
responsabilidade oficial de editá-lo, em cumprimento à vetusta Lei
Eduardo Ramos, de n. 726, de 8/12/1900.
5. Pois bem. Em sua quinta edição, de 2009, já após o Acordo Ortográfico
de 2008, o VOLP apenas fez constar como correto o vocábulo mercancia
(ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, 2009, p. 541), e não há
registro algum da variante mercância. Essa é a lei do nosso léxico, e a
ela devemos prestar obediência.

Mercê de – Está correto?


1. Trata-se de locução correta, que tem o significado de graças a ou por
causa de. Ex.: “Mercê da equivocada benevolência do magistrado, o réu
acabou fugindo”.
2. Também é correta, e com igual sentido, a expressão por mercê de. Ex.:
“Por mercê da equivocada benevolência do magistrado, o réu acabou
fugindo”.
3. A preposição final da locução (de) é indispensável. É, assim, totalmente
equivocado o emprego da expressão no seguinte exemplo: “Mercê uma
equivocada benevolência do magistrado, o réu acabou fugindo”.
Corrija-se: “Mercê de uma equivocada benevolência do magistrado, o
réu acabou fugindo”.

Meritoriamente – Está correto?


Ver Tocantemente – Existe? (P. 739)

Mês
Ver Datas (P. 250).

Mesmo
1. É palavra que precisa ser observada pelo prisma da concordância
nominal.
2. Acompanhando um substantivo ou palavra equivalente, tem valor
adjetivo e, assim, concorda com o substantivo modificado em gênero e
número. Exs.: a) “Ela mesma subscreveu a inicial”; b) “Eles mesmos
subscreveram a inicial”; c) “Elas mesmas subscreveram a inicial”.
3. Em tais casos, Luiz Antônio Sacconi vê esse vocábulo como evidência
“de caráter reforçativo” (1979, p. 68).
4. Sintetizando tal regra, assim leciona Eduardo Carlos Pereira: “quando
reforça os pronomes pessoais, recebe o gênero e o número da pessoa que
o pronome representa” (1924, p. 300).
5. A um leitor que lhe indagava qual a forma correta – “As portas abriram-
se por si mesmo” ou “As portas abriram-se por si mesmas” – assim
respondia Cândido de Figueiredo: “Por se ter usado e abusado de
mesmo, como advérbio, esse uso ou abuso poderá desculpar o abrirem-
se as portas por si mesmo, ou mesmo por si; mas a corrente dos clássicos
e dos bons mestres segue outra direção: As portas abriram-se por si
mesmas” (1943, p. 188).
6. Seu sinônimo próprio segue a mesma construção.
Ver O mesmo (P. 524).

Mesóclise
1. Aspecto particular do estudo da colocação dos pronomes, abrange as
hipóteses em que o pronome pessoal oblíquo átono vem no meio do
verbo.
2. É a regra geral para o futuro do presente e para o futuro do pretérito,
observando Otoniel Mota que a proibição de uso da ênclise nas formas
verbais do futuro do presente e do futuro do pretérito “é relativamente
moderna” (1916, p. 189). Exs.: a) “Vender-se-á o bem em hasta
pública”; b) “Vender-se-ia o bem em hasta pública”.
3. Oportuno é anotar que o futuro do presente e o futuro do pretérito, pelas
modernas regras de Gramática, não admitem ênclise em hipótese
alguma, razão pela qual são errôneas as seguintes construções: a)
“Venderá-se o bem em hasta pública”; b) “Venderia-se o bem em hasta
pública”.
4. De Carlos Góis (1945, p. 105-6) é a lição para o futuro do presente, que
ele próprio estende ao futuro do pretérito: “Em caso algum se coloca o
pronome pessoal oblíquo átono depois do futuro simples do indicativo:
Chamarei-te (seria ultradissonante)”.
5. Luiz Antônio Sacconi, por seu lado, sem condenação alguma ao uso
tecnicamente correto da mesóclise em tais casos, mas valendo-se de
outra possibilidade perfeitamente correta de construção, assevera,
todavia, que, “se a forma verbal não vier no rosto da oração, recomenda-
se a próclise, colocação mais eufônica” (1979, p. 232). Exs.: a) “Em
hasta pública se venderá o bem”; b) “Em hasta pública se venderia o
bem”.
6. Por fim, de oportuna observação é que, se houver antes do verbo alguma
das chamadas palavras atrativas, poderá a questão ser encartada em
algum dos casos de próclise. Exs.: a) “Não se venderá o bem em hasta
pública”; b) “Não se venderia o bem em hasta pública”.
Ver também Atração pronominal remota (P. 144), Ênclise (P. 317), Próclise
(P. 603), Próclise ou Ênclise? (P. 604) e Pronomes e Locuções verbais (P.
617).

Mestra e doutora ou Mestre e doutora?


1. Não é incomum, em discriminação dos títulos de formação pós-
universitária de pessoa do sexo feminino, ver escrito que ela é mestre e
doutora por esta ou aquela universidade. E se indaga, em tais casos, qual
a forma correta: mestra e doutora ou mestre e doutora?
2. Vale dizer: feminino de mestre, em tais casos, é mestra, ou o substantivo
é comum de dois gêneros, de modo que apresenta uma só forma para o
masculino e para o feminino, e a distinção do gênero se faz apenas pelo
artigo que o precede, do mesmo modo como se dá com artista e
selvagem?
3. Ora, uma simples consulta ao Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa – editado pela Academia Brasileira de Letras, entidade essa
que tem delegação legal para listar oficialmente os vocábulos existentes
em Português, bem como fornecer seu gênero, grafia e modo de
pronúncia – mostra (i) que mestre é apenas masculino, e não comum de
dois gêneros, e (ii) que, para o vocábulo mestre, indica-se expressamente
o feminino mestra, sem outras variáveis, de modo que, no caso, o
feminino se dá normalmente com forma específica, e não pela simples
alteração do artigo (2009, p. 544).
4. Isso quer dizer que a única forma correta para a mencionada expressão é
“mestra e doutora”, e não “mestre e doutora”.

Mestrando – Existe?
Ver Alimentando – Existe? (P. 105)

Metade de… – foi ou foram?


1. É palavra que deve ser observada sob o prisma da concordância verbal.
2. Na função de sujeito, trazendo em si o sentido de coletividade e sendo
seguido de um especificador (adjunto adnominal), permite ao verbo
concordar no singular ou no plural.
3. Assim, são igualmente corretos os seguintes exemplos: a) “Metade dos
rixosos não compareceu à audiência”; b) “Metade dos rixosos não
compareceram à audiência”.
4. Essa, aliás, é a lição de Vitório Bergo: “tendo por complemento um
substantivo no plural, o partitivo metade admite o verbo também no
plural” (1944, p. 141), asseveração essa que, por seus próprios termos,
indica que, a contrario sensu, é de igual modo correta a concordância no
singular: a) “Com o atraso do conferencista, metade dos ouvintes foi
embora” (correto); b) “Com o atraso do conferencista, metade dos
ouvintes foram embora” (correto).
5. Quanto à concordância nominal do termo especificador que está no
singular, não existe dupla possibilidade de concordância, sendo
obrigatória a harmonização da palavra de valor adjetivo com o termo
metade, como se nota nos dois seguintes exemplos: a) “Metade do
auditório estava cansada” (correto); b) “Metade do auditório estava
cansado” (errado).
6. De se distinguir, porém, o resultado adveniente da necessidade de
observância conjunta das regras de concordância verbal e de
concordância nominal: “Metade dos membros… são poetas”
(MACHADO FILHO, 1969a, p. 583).
7. Vejam-se, portanto, os seguintes exemplos: a) “Metade dos ouvintes
estava cansada” (correto); b) “Metade dos ouvintes estavam cansados”
(correto).

Metades iguais – Está correto?


Ver Pleonasmo – O que é e Quando pode? (P. 565)

Metafonia
1. Da análise prática do que ocorre no idioma, verifica-se com facilidade
que palavras que tem um o fechado tônico no singular bifurcam-se em
seu comportamento no plural: algumas mantêm o timbre fechado (como
bolso [ô] e bolsos [ô]), enquanto outras mudam para o timbre aberto
(miolo [ô], miolos [ó]).
2. A esse fenômeno linguístico, chamamos tecnicamente metafonia.
Autores há que também denominam umlaut, que é o termo alemão para
essa ocorrência.
3. Vejam-se alguns exemplos de palavras com o fechado (ô) no singular, as
quais, por metafonia, passam ao plural com o aberto (ó): abrolho (ô),
abrolhos (ó), aposto (ô), apostos (ó), caroço (ô), caroços (ó), choco (ô),
chocos (ó), corno (ô), cornos (ó), coro (ô), coros (ó), corpo (ô), corpos
(ó), corvo (ô), corvos (ó), despojo (ô), despojos (ó), esforço (ô), esforços
(ó), fogo (ô), fogos (ó), forno (ô), fornos (ó), imposto (ô), impostos (ó),
miolo (ô), miolos (ó), olho (ô), olhos (ó), osso (ô), ossos (ó), ovo (ô),
ovos (ó), poço (ô), poços (ó), porco (ô), porcos (ó), porto (ô), portos (ó),
posto (ô), postos (ó), povo (ô), povos (ó), reforço (ô), reforços (ó),
socorro (ô), socorros (ó), tijolo (ô), tijolos (ó), torto (ô), tortos (ó), troço
(ô), troços (ó).
4. Atente-se, contudo, a outras palavras com o fechado no singular (ô), que
continuam com o fechado no plural (ô): acordo (ô), acordos (ô), almoço
(ô), almoços (ô), alvoroço (ô), alvoroços (ô), bolo (ô), bolos (ô), bolso
(ô), bolsos (ô), cachorro (ô), cachorros (ô), caolho (ô), caolhos (ô), coco
(ô), cocos (ô), contorno (ô), contornos (ô), esboço (ô), esboços (ô),
esposo (ô), esposos (ô), estorvo (ô), estorvos (ô), ferrolho (ô), ferrolhos
(ô), forro (ô), forros (ô), globo (ô), globos (ô), gosto (ô), gostos (ô), gozo
(ô), gozos (ô), morro (ô), morros (ô), rolo (ô), rolos (ô), sogro (ô), sogros
(ô), sopro (ô), sopros (ô), soro (ô), soros (ô), transtorno (ô), transtornos
(ô).
5. Essa mudança do timbre da vogal, presente nas línguas românicas, como
lembra J. Mattoso Camara Jr. (s/d, p. 259-60) “parece ter principalmente
ocorrido onde se fez sentir a necessidade de discriminação ou maior
diferenciação flexional”, “interferiu com a regularidade da mutação das
vogais longas e breves latinas para fechadas e abertas portuguesas”, e,
“na sincronia do português moderno, estabeleceu o processo morfêmico
ou submorfêmico da alternância vocálica”.
6. Se essa explicação técnica e histórica sobre as circunstâncias da
passagem dos vocábulos do latim para o português diz muito pouco ao
leitor, console-se ele, porque o autor destas linhas, que teve aulas de
filologia românica em sua faculdade de Letras, também absorve bem
pouco de tais considerações.
7. Em realidade, o que se dá é uma ocorrência linguística de fato, que
independe de regras e que impossibilita sistematização. Vale dizer: pelas
próprias circunstâncias em que a metafonia ocorre em nosso idioma, não
há como regrar ou sistematizar o assunto.
8. A solução para dúvidas dessa natureza é consultar o Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, uma espécie de dicionário que lista as
palavras reconhecidas oficialmente como pertencentes à língua
portuguesa, bem como lhes fornece a grafia oficial e, em casos
complexos, esclarece adicionalmente a pronúncia.
9. Também conhecido pela sigla VOLP, é organizado e publicado pela
Academia Brasileira de Letras, a qual tem a delegação e a
responsabilidade legal de editá-lo, em cumprimento à Lei Eduardo
Ramos, de n. 726, de 8/12/1900.

Metro
Ver Abreviatura, Abreviação e Sigla – O que é e Como usa? (P. 55)

Meu produto ou O meu produto?


Ver Seu produto ou O seu produto? (P. 696)

Micro ou Micros?
1. Com frequência se encontram frases como “Fomento às micro e
pequenas empresas”, em que micro, em forma abreviada e sem variação
para o plural, está em lugar da expressão completa microempresas.
2. É de se ter como forma correta tal forma de expressão, sobretudo se, em
similaridade de estrutura, se atentar a que Júlio Ribeiro (1908, p. 135),
em uma de suas lições, menciona “as tabelas retro”, em que se há de
entender que retro está em lugar de retromencionadas e que, muito
embora tenha função de adjetivo, não teve variação formal para sua
concordância com o substantivo modificado.
3. No caso apreciado, apesar de microempresas ser um substantivo,
enquanto retromencionadas é um adjetivo, não parece ser descabida a
analogia entre os vocábulos e suas estruturas de concordância.
4. Parece, de igual modo, plenamente defensável a outra concordância
“Fomento às micros e pequenas empresas”, em que micro varia para o
plural, à semelhança de extra, que é adjetivo, com o significado de
extraordinário, também normalmente variável para o plural: trabalho
extra, horas extras, edições extras.
5. Antonio Henriques e Maria Margarida de Andrade preferem a variação
normal em número de tal adjetivo, como se vê no seguinte excerto: “…
acabará aceito como acabam aceitos outros pleonasmos, como o de se
dividirem as empresas em grandes, micros e pequenas, classificação
distinta, expressa por termos linguisticamente equivalentes” (1999, p.
85).
6. Apenas para registro, anota-se que o Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, órgão incumbido oficialmente de determinar a existência
dos vocábulos em nosso idioma, além de sua grafia oficial, não registra a
forma micro como adjetivo, mas como substantivo masculino. (VOLP,
2009, p. 548)
Ver Extra (P. 349) e Retro ou Retros? (P. 672)

Microssistema, Micro-sistema ou Microsistema?


1. Ante as alterações trazidas pelo Acordo Ortográfico de 2008, importa
perguntar: microssistema, micro-sistema ou microsistema?
2. Anota-se, desde logo, que micro é um elemento grego com o significado
de pequeno, e que, por seu largo uso em nosso idioma na formação de
palavras, ganhou ares de prefixo: é o que se costuma chamar falso
prefixo.
3. Quanto à grafia, como geralmente ocorre com os prefixos e falsos
prefixos terminados por vogal, apenas em duas hipóteses se usa o hífen:
a) quando o elemento seguinte se inicia com a mesma vogal do fim do
prefixo: micro-onda, micro-ônibus, micro-organismo; b) quando o
elemento seguinte se inicia por h: micro-habitat, micro-história.
4. Desse modo, acopla-se diretamente à palavra seguinte, sem
intermediação de hífen, quando iniciada esta por outra vogal, que não a
que encerra o prefixo: microabscesso, microelemento, microempresa,
microincisão.
5. Continua valendo a regra de junção direta, mesmo que o elemento
seguinte se inicie por consoante: microbactéria, microcâmara,
microdicionário, microfóssil, micrografia.
6. Apenas para a hipótese de ser o segundo elemento iniciado por r ou s,
dobram-se tais consoantes para continuidade do som originário:
microrradiografia, microrregião, microssistema, microssubmarino,
microssulco.

Milhão
1. Trata-se de substantivo masculino – para alguns, como Antenor
Nascentes e Aires da Mata Machado Filho (1969f, p. 220), mais
especificamente um substantivo coletivo numérico – que não varia para
o feminino, ainda que desse último gênero seja seu especificador.
2. Vejam-se, assim, os seguintes exemplos: a) “Entre os quinze milhões de
crianças abandonadas…” (correto); b) “Entre as quinze milhões de
crianças abandonadas…” (errado).
3. Em interessante distinção, assim se manifesta Arnaldo Niskier: “Milhar
e milhão são substantivos masculinos; portanto, o artigo ou numeral que
os acompanhar deve ser do gênero masculino. Mas lembre-se que mil é
numeral, por isso, o artigo ou numeral que o acompanhe concordará com
o substantivo que é modificado” (1992, p. 85-6). Exs.: a) “Duas mil
pessoas”; b) “Dois milhões de pessoas”; c) “Dois milhares de pessoas”.
4. Para José de Nicola e Ernani Terra, “o substantivo milhão, que significa
mil milhares, é masculino (o milhão). O numeral ou adjetivo que o
acompanha deve, portanto, com ele concordar em gênero e número.
Portanto devemos dizer dois milhões de estrelas, e não duas milhões de
estrelas” (2000, p. 89).
5. Em continuação, para outro significativo aspecto da questão, doutrina
Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 261-2) que, “se o sujeito da oração
for milhões, o particípio ou o adjetivo podem concordar no masculino,
com milhões, ou, por atração, no feminino, com o substantivo feminino
plural”. Exs.: a) “Dois milhões de sacas de soja estão ali armazenados
(ou armazenadas)”; b) “Dezoito milhões de crianças vão ser vacinadas
este ano”; c) “Foram colhidos três milhões de sacas de trigo”; d) “Os
dois milhões de árvores plantadas estão altas e bonitas”; e) “Outros
cinco milhões de moedas serão cunhados (ou cunhadas) no próximo
mês”.
6. Por outro lado, quando, na imprensa, se escreve “O Brasil perde 1,4
milhão de reais em reservas em um só dia”, tal estrutura, vinda do
inglês, é usada em forma numérica por economia de espaço, e sua leitura
obrigatória há de ser: “O Brasil perde um milhão e quatrocentos mil
reais em reservas em um só dia”.
7. É interessante notar que os outros numerais da expressão acabam
flexionando-se normalmente para o feminino, como neste significativo
exemplo de Gladstone Chaves de Melo (1970, p. 126), que, na expressão
2.342.000 pessoas, manda ler dois milhões e trezentas e quarenta e duas
mil pessoas.
8. Em oportuna consideração, lembra Domingos Paschoal Cegalla que “o
numeral um não admite artigo” (1999, p. 285-6). Exs.: a) “Os 1,1 milhão
de servidores civis da União vão receber a primeira cota do reajuste
salarial” (errado); b) “Os servidores civis da União, cerca de 1 milhão e
100 mil, vão receber…” (correto).
9. Quanto à concordância verbal, por sua própria condição de palavra de
significado coletivo, se milhão está no singular e não vem seguido de
termo especificador, o verbo fica no singular; se, contudo, vem seguido
de termo especificador, fica, optativamente, no singular ou no plural.
Exs.: a) “Quanto aos refugiados, só naquele ano um milhão chegou ao
país vizinho” (correto); b) “Quanto aos refugiados, só naquele ano um
milhão chegaram ao país vizinho” (errado); c) “Um milhão de
refugiados chegou ao país vizinho” (correto); d) “Um milhão de
refugiados chegaram ao país vizinho” (correto).
10. Não confundir com mil, o qual, como numeral, com função adjetiva,
concorda normalmente com o substantivo modificado. Exs.: a) “Entre
os dois mil autores pesquisados…” (correto); b) “Entre as duas mil
autoras pesquisadas…” (correto).
Ver Milhar (P. 474).
Milhar
1. É substantivo masculino, não variando seu artigo antecedente para o
feminino, ainda que desse último gênero seja seu especificador. Exs.: a)
“Entre os milhares de crianças abandonadas…” (correto); b) “Entre as
milhares de crianças abandonadas…” (errado).
2. Nos dizeres de Domingos Paschoal Cegalla, “o artigo ou outra palavra
referentes a milhares devem concordar no masculino” (1999, p. 262).
Exs.: a) “Onde estão os milhares de árvores que havia ali?”; b)
“Plantaram-se dois milhares de mudas”; c) “Os milhares de crianças
que vivem nas ruas sofrem muito no inverno”; d) “Esses milhares de
aves para onde estariam indo?”; e) “Esqueceu os milhares de vezes que
o ajudamos?”; f) “Muitos dos milhares de vítimas do trânsito morrem
por imprudência”; g) “… por alguns dos milhares de forças interessadas
em eliminá-lo”.
3. Juntando três observações sobre o mesmo assunto, assim se expressa
Arnaldo Niskier (1992, p. 85-6): “Milhar e milhão são substantivos
masculinos; portanto, o artigo ou numeral que os acompanhar deve ser
do gênero masculino. Mas lembre-se que mil é numeral, por isso, o
artigo ou numeral que o acompanhe concordará com o substantivo que é
modificado: a) “Duas mil pessoas”; b) “Dois milhares de pessoas”.
4. Apenas para registro, em lição que não merece ser seguida, Silveira
Bueno (1957, p. 282) formula duas regras para o emprego do referido
vocábulo: a) “A palavra milhar pode ser substantivo quando precedida
de artigo, tomando então o gênero masculino: o milhar, um milhar”; b)
“Empregada, porém, como adjetivo numeral, toma o gênero do
substantivo a que se refere: os milhares de peixes, as milhares de
lagostas”.
5. Não confundir com mil, o qual, como numeral, por ter função adjetiva,
concorda normalmente com o substantivo modificado. Exs.: a) “Entre os
dois mil autores pesquisados…” (correto); b) “Entre as duas mil autoras
pesquisadas…” (correto).
Ver Milhão (P. 473).

Milheiro
1. É substantivo masculino, que não se flexiona para o feminino, ainda que
o termo especificador que o segue seja desse gênero. Ex.: “Na
conferência, havia uns dois milheiros de autoridades estrangeiras”.
Ver Milhão (P. 473), Milhar (P. 474) e Mil ou Um mil? (P. 474)

Miligrama
Ver Grama (P. 376).

Mil ou Um mil?
1. Quanto a seu uso nas quantificações – sobretudo em preenchimento de
cheques – lembra Napoleão Mendes de Almeida (1981, p. 324) que o
cardinal mil não vem precedido de um. Exs.: a) “Pague-se por este
cheque a quantia de mil reais” (correto); b) “Pague-se por este cheque a
quantia de um mil reais” (errado); c) “O Brasil foi descoberto em mil e
quinhentos” (correto); d) “O Brasil foi descoberto em um mil e
quinhentos” (errado).
2. Com propriedade, também lembram Pasquale Cipro Neto e Ulisses
Infante: “não se deve usar um antes de mil: ‘O serviço custaria mil
reais’” (1999, p. 313).
3. José de Nicola e Ernani Terra, de igual modo, advertem: “Não se utiliza
um antes do numeral mil: mil reais, mil dólares e não um mil reais, um
mil dólares” (2000, p. 149).
4. Atenta, ainda, aos frequentes equívocos da linguagem profissional nesse
campo, reforça Laurinda Grion: “apesar do seu uso bastante comum, não
se deve colocar um antes do numeral mil, … como se costuma fazer no
preenchimento de cheques” (s/d, p. 91).
5. E assim resume Domingos Paschoal Cegalla: “não se usa um antes de
mil. Diga-se ou escreva-se mil reais, mil e quinhentos dólares. No
preenchimento de cheques, evite-se escrever hum mil reais, hum mil e
oitocentos reais. Há meios tão seguros quanto esse para evitar
falsificações sem atropelar a língua” (1999, p. 404).
Ver Hum ou Um? (P. 392)
Mim
Ver Para eu ler ou Para mim ler? (P. 545)

Mini-carro ou Minicarro?
1. Ante as alterações trazidas pelo Acordo Ortográfico de 2008 quanto à
grafia, importa perguntar: mini-carro ou minicarro?
2. Ora, pelas diretrizes do recente Acordo Ortográfico, apenas em dois
casos mini se separa por hífen: a) quando o segundo elemento começa
por h: mini-habitante, mini-história; b) quando o segundo elemento
principia pela mesma vogal de término do primeiro elemento: mini-
indústria, mini-império.
3. Por consequência, juntam-se diretamente os elementos, se o segundo
deles começa com outra vogal, que não i: miniaparelho,
miniabotoadura, miniescada, minioratório, miniorganização,
miniumbigo.
4. A ligação também é direta, quando o segundo elemento é começado por
outra consoante, que não h: minibiblioteca, minicomputador,
minidicionário, miniquadro.
5. Apenas se observa que, se o segundo elemento se inicia por r ou s,
dobram-se tais consoantes para continuidade do som originário. Exs.:
minirretrospectiva, minissaia, minissubmarino.

Ministério de Educação ou da Educação?


Ver De ou Da? (P. 266)

Ministra – Existe?
Ver Capitã, Capitoa ou A Capitão? (P. 168) e Poeta – Qual o feminino? (P.
570)

Ministro Sidnei Beneti ou ministro Sidnei Beneti?


Ver Doutor Saulo Ramos ou doutor Saulo Ramos? (P. 294)
Minúsculas
Ver Maiúsculas (P. 455).

Minuto
Ver Abreviatura, Abreviação e Sigla – O que é e Como usa? (P. 55)

Miolo – Como pronunciar o plural?


Ver Metafonia (P. 472).

Mister
1. Quanto à prosódia, anota-se, desde logo, que se trata de palavra oxítona,
de modo que a última sílaba é a mais forte; além disso, o e é aberto (é),
rimando, assim, com um conhecido utensílio de mesa, a colher, ou
mesmo com Ester (BECHARA, 1974, p. 58).
2. Essa é a lição de Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 19), e também do
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira
de Letras, órgão incumbido oficialmente de determinar a existência dos
vocábulos em nosso idioma, além de sua grafia oficial (2009, p. 555).
3. Tanto pode ser substantivo (significando necessidade, ocupação ou
trabalho) como adjetivo (com a acepção de necessário, preciso ou
urgente). Exs.: a) “Ocupava-se ele com os misteres da advocacia”
(substantivo); b) “Era mister coibir a deslealdade processual”
(adjetivo).
4. Oportuno, acerca da construção a ser seguida, é lembrar a lição de José
de Sá Nunes (1938, p. 198): “Esta é que é a sintaxe que me parece mais
segura, porque desde Morais até Figueiredo o vocábulo mister nunca
jamais deixou de ter o significado de necessidade, precisão, urgência. De
modo que, ainda se dizendo “não são mister sabedorias”, é necessário
subentender-se a preposição de”.
Ver Fazer-se mister – Está correto? (P. 353), Haver mister (P. 386) e Ser
mister – Está correto? (P. 694)

Modéstia à parte ou Modéstia a parte?


1. Uma leitora indaga qual é a expressão correta entre as seguintes:
modéstia à parte, modéstia a parte ou modéstia aparte.
2. Sem, ainda, entrar no mérito do questionamento da leitora quanto à
crase, vê-se que, quando se utiliza tal expressão, o que se quer, em suma,
é conferir-lhe o significado de modéstia ao lado ou, de modo mais
completo, deixando a modéstia ao lado.
3. Ou seja, desde logo, do próprio sentido se conclui que a expressão deve
ser grafada separadamente, em duas palavras.
4. Em seguida, aplica-se a regra geral de crase para os nomes comuns: a)
substitui-se o nome comum do feminino (no caso, parte) por um nome
comum do masculino (no caso, lado); b) e se, neste, aparece ao, então há
crase no feminino.
5. Feito esse raciocínio, constata-se no caso concreto, sem dificuldades
maiores, que modéstia à parte corresponde, no masculino, a modéstia ao
lado.
6. E, assim, porque no masculino aparece ao, então se conclui que a grafia
correta da expressão é modéstia à parte.

Modus agendi
Ver Modus vivendi (P. 476).

Modus faciendi
Ver Modus vivendi (P. 476).

Modus vivendi
1. Trata-se de expressão latina de estrutura muito corriqueira, em que a
palavra modus (nominativo singular) vem seguida de vivendi (um
genitivo de gerúndio), tudo com o significado de modo de viver.
2. Por se tratar de locução pertencente a outro idioma, obrigatório é o uso
das aspas, de negrito, itálico, sublinha ou de grifo equivalente indicador
de tal circunstância, e proibida a utilização do acento gráfico ou hífen,
que não existiam naquela língua.
3. O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, veículo oficial da
Academia Brasileira de Letras, órgão incumbido de definir quais
vocábulos pertencem efetivamente ao idioma, no entanto, registra como
palavra integrante do léxico latino apenas modus (2009, p. 863), e não os
demais vocábulos que, mais comumente, completam a expressão latina:
agendi, faciendi e vivendi.
4. Em corroboração, não se olvide a lição de Edmundo Dantès Nascimento
(1982, p. 145) no sentido de que expressões como essa não eram
hifenizadas em latim, razão pela qual “não o podem ser em língua
nenhuma”, acrescentando tal autor que, “para quem pretende grafar
escorreitamente não é permitido o hífen em expressões do latim
clássico”.
5. Quanto a seu plural, cabem integralmente as observações feitas para
outros vocábulos de origem latina, como campus.

Mo – Está correto?
1. Os pronomes pessoais oblíquos átonos me, te, lhe, nos, vos podem
juntar-se aos pronomes o, a, os, as, dando origem às formas mo, to, lho,
no-lo, vo-lo. Exs.: a) “Estes autos, ele mos entregou em confiança”; b)
“A causa, ele no-la confiou para defesa em segunda instância”.
2. Lembra Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 235) que “tais contrações
pronominais são exclusivas da linguagem culta” e “raramente as usam os
escritores brasileiros de hoje”.
3. Em aspecto de peculiar interesse nesse campo, não haveria dúvida
quanto a juntar lhe e os, do que resultaria facilmente lhos; mas, como
pode haver problemas quando o primeiro pronome é lhes, vale trazer a
lição de Júlio Ribeiro (1908, p. 106 e 257) no sentido de que tal
pronome, “em concurso com o, a, os, as, forma lho, lha, lhos, lhas”,
acrescentando tal autor que “o, a, os, as, em concurso com lhes exigem a
queda do s, absorvem o e, e formam lho, lha, lhos, lhas”.
4. Em mesmo sentido, Ronaldo Caldeira Xavier (1991, p. 111) anota que
“as formas pronominais lho, lha e plurais podem resultar,
indiferentemente, da combinação de lhe + o, lhe + a, ou de lhes + o,
lhes + a. Ex.: ‘Entregaste o recibo aos contribuintes?’ – ‘Entreguei-lho’
(lho = lhes + o)”.
5. Nessa mesma esteira, doutrina Sousa e Silva que, “no português antigo o
pronome lhe era invariável, permanecendo assim, modernamente,
quando se combina com o, a, os, as” (1958, p. 173-4).
6. Há diversas passagens dos textos de lei, em que se empregam pronomes
escritos dessa forma: a) “Antes de assumir a tutela, o tutor declarará
tudo o que lhe deva o menor, sob pena de não lho poder cobrar,
enquanto exerça a tutoria…” (CC, art. 430); b) “O credor pignoratício é
obrigado: … III – a entregar o que sobeje do preço, quando a dívida for
paga, seja por excussão judicial, ou por venda amigável, se lha permitir
expressamente o contrato, ou lha autorizar o devedor…” (CC, art. 774);
c) “Pode ser árbitro, não lho vedando a lei, quem quer que tenha a
confiança das partes” (CC, art. 1.043).
Ver Pronome pessoal (P. 614) e Verbo seguido de pronome (P. 763).

Monologar
Ver Datilografar (P. 251).

Monopólio exclusivo – Está correto?


Ver Pleonasmo – O que é e Quando pode? (P. 565)

Monossílabos tônicos e Monossílabos átonos


1. Segundo ensina Domingos Paschoal Cegalla (1990, p. 20), os
monossílabos, conforme a intensidade com que se proferem, podem ser
tônicos ou átonos.
2. Tônicos são os que têm autonomia fonética, sendo pronunciados
fortemente na frase: substantivos, adjetivos, advérbios, verbos, numerais,
pronomes (exceto oblíquos átonos) e interjeições.
3. Átonos são aqueles que não têm autonomia fonética, sendo proferidos
fracamente, como se fossem sílabas átonas dos vocábulos em que se
apoiam: artigos, pronomes oblíquos átonos e conectivos (preposições e
conjunções). Exs.: o, a, os, as, lhe, lhes, nos, vos.
Ver Acento diferencial de tonicidade (P. 66) e Acentuação dos
monossílabos (P. 67).
Monstro
1. Para Alfredo Gomes (1924, p. 354), em casos como cobra monstro, o
vocábulo monstro é um daqueles “substantivos adjetivados”, os quais,
exatamente por esse motivo, “se tornam invariáveis”.
2. Veja-se, por consequência, a flexão do substantivo modificado com a
devida permanência sem variação do referido substantivo adjetivado:
cortejo monstro, cobra monstro, cortejos monstro, cobras monstro.

Montar
1. Leciona Luís A. P. Vitória que esse verbo, no sentido de importar,
atingir, de acordo com a maioria dos gramáticos, deve ser regido pela
preposição a. Ex.: “Os gastos montam a R$ 2.000,00”.
2. Complementa ele, todavia, sem condenação, que há “alguns exemplos
em que escritores empregam a preposição em” (VITÓRIA, 1969, p.
165).
3. Desse modo, também estaria correta a seguinte construção: “Os gastos
montam em R$ 2.000,00”.
4. Francisco Fernandes (1971, p. 426) não apenas aceita as duas
construções, mas também vê a possibilidade de construção do referido
verbo como transitivo direto, trazendo, para todas as hipóteses, exemplos
de autores insuspeitos: a) “Estes reforços, que montavam a 2.914
homens…” (Euclides da Cunha); b) “… cuja verba montava em 141
milhões de dólares” (Rui Barbosa); c) “Cinquenta talentos, que pelo
menos montavam trinta mil cruzados” (Padre Manuel Bernardes).
5. E Celso Pedro Luft, que também acata todas essas possibilidades de
estrutura, esclarece que a regência primária é montar a, comparável a
subir, elevar-se a, enquanto montar em “deve-se ao verbo importar”
(1999, p. 370-1).

Morador à Rua Tal ou Residente na Rua Tal?


Ver Morar à Rua Tal ou Morar na Rua Tal? (P. 477)

Moral – A moral ou O moral?


1. Com o significado de tradição, decência, educação, ética, conjunto de
costumes ou preceitos naturais para dirigir as ações humanas, é
substantivo feminino. Ex.: “Não se hão de confundir o Direito e a
Moral”.
2. Já na acepção de ânimo, coragem, entusiasmo, o substantivo é
masculino. Ex.: “O moral das tropas continuava elevado” (SILVA, A.,
1958, p. 186).
3. São corriqueiras as confusões, sobretudo com os erros de utilização da
palavra no feminino, quando deveria ser empregada no masculino
(VITÓRIA, 1969, p. 166). Exs.: a) “As tropas continuavam com a moral
elevada” (errado); b) “As tropas continuavam com o moral elevado”
(correto). Veja-se, nesse sentido, o ensino de Cândido de Oliveira (1961,
p. 126).
4. Atente-se também à síntese de Arnaldo Niskier: “A moral é um conjunto
de normas de conduta consideradas válidas por uma comunidade. O
moral é o conjunto das faculdades psíquicas, brio, vergonha” (1992, p.
49).
5. Observem-se os seguintes exemplos de uso adequado do vocábulo
moral, no que tange a seu gênero gramatical: a) “Perderá por ato
judicial o poder familiar o pai ou a mãe que: … III – praticar atos
contrários à moral e aos bons costumes” (CC, art. 1.638, III); b) “O juiz
poderá ordenar ou autorizar, na pendência da ação principal ou antes
de sua propositura: … V – o depósito de menores ou incapazes
castigados imoderadamente por seus pais, tutores ou curadores, ou por
eles induzidos à prática de atos contrários à lei ou à moral” (CPC/1973,
art. 888, V).
Ver Amoral ou Imoral? (P. 114)

Morar à Rua Tal ou Morar na Rua Tal?


1. Com os verbos domiciliar-se, morar, residir, situar-se e com os
adjetivos domiciliado, estabelecido, morador, residente e sito, sempre
surge a indagação de como se deve dizer na sequência: ‘À Rua Tal’ ou
‘Na Rua Tal’?
2. Napoleão Mendes de Almeida (1981, p. 195), Eliasar Rosa (1993, p. 95),
Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 222), Aires da Mata Machado Filho
(1969b, p. 729-30), Artur de Almeida Torres (1967, p. 200-1), Édison de
Oliveira (s/d, p. 129), Vitório Bergo (1944, p. 164), Arnaldo Niskier
(1992, p. 105), José de Nicola e Ernani Terra (2000, p. 151), Laudelino
Freire (1937b, p. 110), Luís A. P. Vitória (1969, p. 166) e Domingos
Paschoal Cegalla (1999, p. 267-8) defendem como correta (e como única
correta) a construção com um complemento indicativo de lugar regido
pela preposição em. Ex.: “Ele mora na Rua do Ouvidor”.
3. Silveira Bueno (apud ALMEIDA, 1981, p. 195), João Ribeiro (1923, p.
207), Cândido Jucá Filho (1963, p. 432), o Padre José F. Stringari (1961,
p. 68), o insuspeito Francisco Fernandes (1971, p. 426), Celso Pedro
Luft (1999, p. 371), Cândido de Oliveira (s/d, p. 94) e Sousa e Silva
(1958, p. 37), a par de aceitarem a construção anterior, entendem que a
construção com a preposição a também é de bom cunho português. Ex.:
“Ele mora à Rua Áurea”.
4. Ante o peso e os argumentos de ambas as correntes de gramáticos, há de
se aplicar o princípio de que, na dúvida, deverão ser permitidas,
indiferentemente, ambas as possibilidades de construção, quer com a
preposição em, quer com a preposição a, e isso sem qualquer alteração
de sentido para a expressão.
5. Vejam-se, portanto, os seguintes exemplos, todos corretos quanto à
regência verbal: a) “O réu domiciliou-se à Rua do Ouvidor, perto da
vítima”; b) “O réu domiciliou-se na Rua do Ouvidor, perto da vítima”; c)
“O réu morava à Rua do Ouvidor, perto da vítima”; d) “O réu morava
na Rua do Ouvidor, perto da vítima”; e) “O réu residia à Rua do
Ouvidor, perto da vítima”; f) “O réu residia na Rua do Ouvidor, perto da
vítima”; g) “A residência do réu situava-se à Rua do Ouvidor, perto da
vítima”; h) “A residência do réu situava-se na Rua do Ouvidor, perto da
vítima”; i) “O réu estava domiciliado à Rua do Ouvidor, perto da
vítima”; j) “O réu estava domiciliado na Rua do Ouvidor, perto da
vítima”; k) “O réu estava estabelecido à Rua do Ouvidor, perto da
vítima”; l) “O réu estava estabelecido na Rua do Ouvidor, perto da
vítima”; m) “O réu era morador à Rua do Ouvidor, perto da vítima”; n)
“O réu era morador na Rua do Ouvidor, perto da vítima”; o) “O réu era
residente à Rua do Ouvidor, perto da vítima”; p) “O réu era residente na
Rua do Ouvidor, perto da vítima”; q) “Ele era morador de um imóvel
sito à Rua da Alfândega”; r) “Ele era morador de um imóvel sito na Rua
da Alfândega”.

Morgue – Galicismo?
1. Trata-se, para alguns, de galicismo integralmente desnecessário, já que,
em português, há um sinônimo perfeito, que é necrotério.
2. Muito embora se trate de vocábulo hoje quase desconhecido no Brasil,
observa Júlio Nogueira que ele subsiste em Portugal, “onde não querem
aceitar o termo necrotério, naturalmente por ter sido formado no Brasil,
onde o criou o escritor Alfredo d’Escragnolle Taunay”.
3. Apontando para a resistência pelo motivo já referido, tal gramático
lembra que Gonçalves Viana preferia ficar com o galicismo morgue, por
achar ‘longuíssimo’ o necrotério, muito embora tenha tal palavra
“apenas uma letra mais que cemitério e o mesmo número de sílabas…”
(NOGUEIRA, 1959, p. 64).
4. Espancando dúvidas, porém, o Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, órgão incumbido
oficialmente de determinar a existência dos vocábulos em nosso idioma,
além de sua grafia oficial, registra a mencionada palavra como
pertencente ao nosso idioma e lhe confere o gênero feminino (2009, p.
563), o que significa que seu emprego é plenamente defensável entre
nós.

Morrer – Qual o particípio passado?


Ver Verbos abundantes (P. 759) e Viva os brasileiros! ou Vivam os
brasileiros!? (P. 784)

Morrido
Ver Morto – Particípio passado de Matar ou Morrer? (P. 478)

Morto – Particípio passado de Matar ou Morrer?


1. Curiosamente, é o particípio passado irregular de dois verbos: matar e
morrer. Exs.: a) “A vítima está morta” (morrer); b) “O ladrão também
foi morto” (matar).
2. Os particípios passados regulares de tais verbos são, respectivamente,
morrido e matado. Exs.: a) “A vítima tinha morrido”; b) “A polícia havia
matado o bandido”.
Quanto ao uso do particípio passado regular ou irregular, ver Verbos
abundantes (P. 759).

Motivos que interessam relatar – Está correto?


Ver Infinitivo como sujeito – Como concordar? (P. 414)

Móveis paulistas ou Móveis paulista?


Ver Tapetes persas ou Tapetes persa? (P. 727)

Móveis rústicos ou Móveis rústico?


Ver Tapetes persas ou Tapetes persa? (P. 727)

Mover ação contra – Está correto?


1. Geraldo Amaral Arruda anota que o emprego de contra, em expressões
como mover ação contra, decorre “da preferência pela fórmula
tradicional, que é satisfatória para descrever como é vista e sentida a
relação entre os litigantes”, o que fez com que Chiovenda, Liebman e
Cândido Rangel Dinamarco não deixassem de referir a existência de
uma contenda judiciária e de usar a preposição contra para fazer menção
a tal disputa.
2. Bem por isso, complementa tal autor ser “evidente que, ao referir-se a
essa luta a respeito de interesses conflitantes, o juiz retrate o que vê ante
si, dizendo que as partes contrárias não estão apenas uma em face da
outra, mas que vê perante o juízo adversários que se enfrentam em
contenda judiciária, uma contra a outra”.
3. E alinha tal autor diversos exemplos colhidos em obra de Liebman,
traduzida para o vernáculo por Cândido Rangel Dinamarco, e de
Chiovenda, na tradução portuguesa de J. Guimarães Menegale, sempre
em fidelidade para com o uso original, no qual se patenteia o
antagonismo entre as partes de um processo e o próprio emprego da
preposição contra e não da locução em face de (ARRUDA, 1997, p. 89-
93).
4. Sérgio Bermudes, notável advogado e mestre de processo, marcou, por
sua vez, posição específica, escrevendo artigo com o significativo título
A Favor do Contra, no qual acentua os seguintes aspectos: a) “o pedido
de tutela se dirige efetivamente contra o Estado, devedor da prestação
jurisdicional”; b) “cunhou-se, então, a locução prepositiva em face de,
com o ânimo de deixar bem nítido que o autor não ajuizou a ação contra
o réu, mas contra o Estado”; c) “esse empenho de esclarecer,
demasiadamente, as coisas só faz confundi-las e baralhá-las, aos olhos
do homem comum, destinatário da administração da justiça, que
entende, perfeitamente, até por atavismo, que uma ação haja sido
proposta contra ele, mas queda perplexo e nervoso, quando ouve dizer
que uma ação foi proposta em face dele”; d) “infelizmente, o emprego da
locução em face de vai ganhando terreno e expulsando da linguagem
técnica o contra imemorial”; e) “não há motivos de ordem lógica, ou
jurídica, para o culto da expressão em face dele, incompatível com a
tradição e o claro entendimento do alcance da iniciativa do autor, que vai
a juízo contra o réu”; f) “desde as fontes, identifica-se a ação, e dela se
fala como um movimento do autor contra o réu”; g) “os clássicos da
antiga literatura processual portuguesa e brasileira sempre se referiram à
ação de uma parte contra a outra”, como se pode confirmar em Pereira e
Sousa, Paula Batista, Barão de Ramalho e João Monteiro; h) “se os
avanços científicos convenceram os processualistas brasileiros de que a
ação se exerce contra o Estado, e não contra o réu, não chegaram a
influir na sua linguagem, como revelam eloquentes amostras, colhidas
em apressada e perfunctória consulta, nos mananciais mais abundantes”,
em obras de Pontes de Miranda, José Frederico Marques, Moacyr
Amaral Santos e José Carlos Barbosa Moreira, este último, além de
enfileirado entre os melhores processualistas do mundo, também “de
notórios desvelos com o apuro da linguagem técnica”; i) em conclusão,
“num país em que tanto se deve reformar, da estrutura de várias
instituições ao caráter de muitos homens, convém deixar quieto, no seu
canto, o que não precisa ser mudado”, de modo que é preciso ser contra
ao em face, “aliás, de pureza vernacular duvidosa” (Revista de Processo,
vol. 65, p. 219-223).
5. A Constituição Federal, nas vezes em que se referiu ao problema, jamais
fez uso da expressão em face de, mas sempre empregou a preposição
contra: a) “Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os
militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações
judiciais contra atos disciplinares militares…” (CF, art. 125, § 4º, com
redação dada pela Emenda Constitucional 45/2004); b) “Compete aos
juízes de direito do juízo militar processar e julgar, singularmente, os
crimes militares cometidos contra civis e as ações judiciais contra atos
disciplinares militares…” (CF, art. 125, § 5º, com redação dada pela
Emenda Constitucional 45/2004).
6. Em correspondência eletrônica mantida com este autor, o Dr. Saulo
Ramos, jurista da melhor água, Consultor-Geral da República e Ministro
da Justiça do Governo Sarney, assim se manifestou com sua conhecida
precisão e bom-humor: “Afinal as partes são contrárias. Portanto as
ações são propostas por uma parte contra a outra. Por isso são contrárias.
A criação da expressão ‘em face de’ é uma idiotice. Como
qualificaremos as partes? Faciais, faceiras, faciárias? Não pretendo fazer
facécias.”
7. Não se olvide que de uso corrente é a preposição contra em nosso
Código Civil de 1916 – de reconhecido apuro linguístico por decisiva
atuação de Rui Barbosa – para significar a contraposição dos polos ativo
e passivo de uma demanda (em estruturação mantida pelo Código de
2002, nos casos em que persiste a respectiva determinação): a) “… ação
do segurado contra o segurador e vice-versa…” (art. 178, § 6º, II); b)
“… ação do proprietário do prédio desfalcado contra o do prédio
aumentado pela avulsão…” (art. 178, § 6º, XI); c) “… toda e qualquer
ação contra a Fazenda federal, estadual ou municipal…” (art. 178, §
10, VI); d) “… aqueles (herdeiros do doador) podem prosseguir na ação
iniciada pelo doador, continuando-a contra os herdeiros do donatário,
se este falecer depois de contestada a lide” (art. 1.185); e) “Se o
mandatário obrar em seu próprio nome, não terá o mandante ação
contra os que com ele contrataram, nem estes contra o mandante” (art.
1.307); f) “… terá (o mandante) contra este (o procurador) ação pelas
perdas e danos resultantes da inobservância das instruções” (art. 1.313);
g) “… ficam salvas ao constituinte as ações, que no caso lhe possam
caber, contra o procurador” (art. 1.318); h) “Se o gestor se fizer
substituir por outrem, responderá pelas faltas do substituto, ainda que
seja pessoa idônea, sem prejuízo da ação, que a ele, ou ao dono do
negócio, contra ela possa caber” (art. 1.337); i) “Sempre que houver
ação regressiva de uns contra outros herdeiros, a parte do co-herdeiro
insolvente dividir-se-á em proporção entre os demais” (art. 1.798).
8. De igual modo, o Código de Processo Civil – diploma recente e de
conhecida apuração formal quanto à precisão científica e quanto ao zelo
pelo vernáculo – registra, em diversas passagens, o uso da preposição
contra para estabelecer o antagonismo das demandas judiciais: a) “…
oferecer oposição contra ambos” (art. 56); b) “… contra o outro
prosseguirá o opoente” (art. 58); c) “… contra ele correrá o processo”
(art. 66, primeira parte); d) “… o processo continuará contra o
nomeante” (art. 66, segunda parte); e) “… não poderá intentar nova
ação contra o réu” (art. 268, parágrafo único); f) “É permitida a
cumulação, num único processo, contra o mesmo réu, de vários
pedidos…” (art. 292, caput); g) “Considera-se em fraude de execução a
alienação ou oneração de bens: … II – quando, ao tempo da alienação
ou oneração, corria contra o devedor demanda capaz de reduzi-lo à
insolvência…” (art. 593, II); h) “Da execução por quantia certa contra
devedor solvente” (rubrica do Capítulo IV, que precede o art. 646); i)
“Da execução contra a Fazenda Pública” (rubrica da Seção III, que
precede o art. 730); j) “… pode o juiz ouvir, em três (3) dias, aquele
contra quem (o protesto contra a alienação de bens) foi dirigido…” (art.
870, parágrafo único).
9. Também nessa exata conformidade, é de se ver que Francisco Fernandes
(1969, p. 8) registra se deva dizer ação contra, simplesmente ignorando a
existência de ação em face de, com base em exemplo de Camilo Castelo
Branco: “Aconselharam-no que intentasse ação judiciária contra os
sócios”.
10. Igual proceder tem Celso Pedro Luft (1999, p. 26), que apenas refere
ação contra, nada aduzindo acerca de ação em face de.
Ver Contra ou a favor (P. 228), Face a, Em face a ou Em face de? (P. 350) e
Pagar contra recibo – Está correto? (P. 542)

Mover ação em face de – Está correto?


Ver Mover ação contra – Está correto? (P. 478)

Mozarela, Muçarela, …?
1. Em recente concurso, indagou-se qual a forma correta em português para
aquele famoso queijo napolitano de leite de búfala ou de vaca, que se
talha com uma espécie de fungo conhecido por mozze no dialeto
napolitano.
2. A primeira observação a ser feita é que, em nosso idioma, a autoridade
oficial para dizer quais vocábulos pertencem ao vernáculo ou não é o
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, uma espécie de
dicionário que lista as palavras reconhecidas oficialmente como
pertencentes à língua portuguesa, bem como lhes fornece a grafia oficial,
mas normalmente não lhe dá o significado.
3. É ele elaborado pela Academia Brasileira de Letras, que tem a
responsabilidade legal de editá-lo, em cumprimento à vetusta Lei
Eduardo Ramos, de n. 726, de 8/12/1900.
4. Por isso, dizer que tal ou qual dicionarista registra ou não registra
determinada forma não resolve a questão nesse campo, uma vez que a
palavra oficial não está com eles, mas com o VOLP; este, sim, é que diz
oficialmente o que se deve acatar nessa esfera. Ou seja: por mais
abalizados que sejam dicionaristas como Houaiss ou Aurélio, eles não
são a autoridade oficial nesse campo.
5. Uma segunda observação é que, se há palavras vernáculas, isso significa
que o vocábulo já sofreu aportuguesamento, de modo que, então,
normalmente não mais se emprega o termo tal como escrito no idioma
original, a não ser que haja expressa permissão do próprio VOLP.
6. Feitas essas ponderações, uma consulta do VOLP vai demonstrar que lá
não se encontram as seguintes grafias: moçarela, morzarela, mossarela,
mozzarela, murzarela, mussarela, muzzarela.
7. São apontadas, todavia, como formas corretas, em mesmo local,
mozarela, muçarela e muzarela (ACADEMIA BRASILEIRA DE
LETRAS, 2009, p. 566 e 572).
8. Esclareça-se que o que se tem, nesse campo da grafia, em última análise,
é uma lei: a Academia Brasileira de Letras tem a delegação legal para
elaborar o rol dos vocábulos oficialmente existentes em nosso idioma, e
o faz por intermédio do VOLP, de modo que qualquer discussão que se
queira travar sobre a questão haverá de situar-se no plano científico. Não
está, porém, no alvedrio de quem quer que seja adotar uma grafia não
consagrada por ela, de modo que grafar diferentemente da determinação
oficial será, em última análise, descumprir a lei.
9. Resolvida a consulta, quero, neste final, fazer três observações: a) se
fosse submetido a tal exame, no qual a questão foi formulada, eu
também erraria, pois ninguém sabe qual a grafia oficial de todos os
vocábulos em nosso idioma; b) uma questão como essa não verifica o
real conhecimento que um candidato tem do uso do idioma, nem mesmo
se sabe manejá-lo adequadamente; c) bem por isso, um teste como esse
não atinge o alvo nem seleciona, de modo efetivo, candidatos aptos para
cargo nenhum, nem mesmo se estiverem buscando um pizzaiolo ou um
garçom.

Mui
1. É forma apocopada do advérbio muito, usada, e corretamente, por
questão de eufonia, antes de adjetivos e advérbios. Exs.: a) “Em tom mui
respeitoso, ele dirigiu-se ao magistrado”; b) “O autor vem mui
respeitosamente requerer a V. Exa…”
2. De acordo com lição de Sousa e Silva, “esta forma apocopada de muito
só tem lugar quando se lhe segue um adjetivo ou advérbio, ou expressão
equivalente: mui belo, mui nobre, mui raro, mui longe, mui de propósito
etc.”; bem por isso, “não se diz mui dinheiro, gostei mui etc.”.
3. Continua tal autor com a observação de que, “no dicionário de Séguier
condena-se o uso de mui antes de palavra iniciada por vogal ou h”;
remata, todavia, ele próprio – após ressalvar que foi suprimida a nota na
última edição de tal léxico, em 1956 – com taxativa anotação: “se isto é
erro, não há escritor que o não tenha perpetrado…” (SILVA, A., 1958, p.
187).
4. Num outro aspecto, pelas regras de ortoepia, segundo o magistério de
Evanildo Bechara (1974, p. 44), sua pronúncia é anasalada.
5. Acrescenta, porém, Celso Cunha que “não se assinala na escrita a
nasalidade do ditongo” (1970, p. 17).
6. Já o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia
Brasileira de Letras, órgão incumbido oficialmente de estabelecer a
existência dos vocábulos em nosso idioma, além de sua pronúncia
oficial, determina que sua vogal tônica seja proferida em som oral, e não
nasal (ú), o que faz com que a palavra, por regra oficial, seja proferida
em rima com Rui (2009, p. 567).
Ver Ortoepia (P. 532).

Muitas coisas ou Muitas das coisas?


1. Um leitor indaga qual a forma correta: “Muitas coisas que aconteceram
não se justificam” ou “Muitas das coisas que aconteceram não se
justificam”.
2. Em síntese, o que se quer saber é o que está correto entre estas duas
expressões: muitas coisas ou muitas das coisas.
3. Como, em decorrência do uso sem contestação, não parece haver
dúvidas sobre a correção da primeira forma – muitas coisas – resta
considerar o exemplo em que se apresenta a expressão muitas das coisas.
4. Ora, em francês, se alguém disser algo como “Eu comi pão” ou “Eu
comi o pão”, o ouvinte entenderá que se comeu o pão inteiro, e não
apenas uma ou duas fatias.
5. Naquele idioma, se alguém quiser dizer que comeu uma ou algumas
fatias de um pão, deverá dizer algo como “Eu comi do pão”. De igual
modo, se tomar uma ou duas taças de uma jarra de vinho, deverá dizer
“Eu bebi do vinho”.
6. Esse elemento indicador de parte de um todo denomina-se partitivo.
Apenas para ilustrar, veja-se que uma propaganda francesa, contrariando
a estrutura da língua, conclama a população a beber Coca-Cola (“Buvez
Coca-Cola”), e não usa o partitivo. Embora o fato tenha causado
inquietação aos puristas da língua, constituiu um caso isolado, que não
mudou – nem poderia mudar – a sintaxe do idioma daquele país, e,
assim, o povo francês, embora continue bebendo tal refrigerante,
mantém intacto o emprego do partitivo.
7. Em português, embora não obrigatório, é muito comum, sobretudo entre
os autores mais clássicos, o uso do partitivo como recurso de estilo.
8. Em termos práticos, no caso da consulta, pode-se ver exatamente um
partitivo no segundo exemplo. Como já se observou, seu emprego é tão
correto como a outra forma que não o utiliza.
9. Vejam-se outros exemplos em que ambas as maneiras de dizer são
corretas: a) “Começava a rever muitas coisas que havia vivido até
então”; b) “Começava a rever muitas das coisas que havia vivido até
então”; c) “Descobri que muitas coisas que eu admirava em você…”; d)
“Descobri que muitas das coisas que eu admirava em você…”; e)
“Partilhei muitas coisas que vivi por aqui”; f) “Partilhei muitas das
coisas que vivi por aqui”.

Muita vez – Está correto?


1. É locução adverbial sinônima de muitas vezes, configurando forma
perfeitamente correta e adequada de expressão. Ex.: “Já muita vez
tentaram convencer os tribunais acerca de tese tão absurda”.
2. A vernaculidade e a correção desse torneio de palavras são atestadas por
Sousa e Silva (1958, p. 187).

Muitíssimo – Está correto?


1. É comum ouvir-se tal palavra, sobretudo na expressão muitíssimo
obrigado; mas trata-se de emprego incorreto.
2. O superlativo absoluto sintético, em realidade, é grau privativo de
adjetivos (que encerram a ideia de qualidade), jamais de advérbios
(palavras que modificam um adjetivo, um verbo ou um outro advérbio).
3. E muito, na expressão muitíssimo obrigado, é advérbio, não podendo
sofrer tal variação em grau.
Ver Coisíssima – Está correto? (P. 190) e Muito (P. 481).

Muito
1. É palavra que precisa ser observada do prisma da concordância nominal.
2. Se modifica um verbo ou um adjetivo, a palavra tem valor de advérbio e
é invariável. Exs.: a) “Ele trabalha muito”; b) “Ela trabalha muito”; c)
“Eles trabalham muito”; d) “Elas trabalham muito”; e) “Ele está muito
cansado”; f) “Ela está muito cansada”; g) “Eles estão muito cansados”;
h) “Elas estão muito cansadas”.
3. Se, porém, modifica um substantivo, tem valor de adjetivo e concorda
com a palavra modificada. Exs.: a) “Havia muita gente à espera do réu”;
b) “Havia muitas pessoas à espera do réu”; c) “Havia muitos repórteres
à espera do réu”.
4. Em observação abrangente dos vocábulos muito, pouco, bastante, tanto
e quanto, asseveram Carlos Góis e Herbert Palhano que tais palavras são
pronomes indefinidos, quando vêm modificando um substantivo; “neste
caso são variáveis em gênero e número”.
5. Acrescentam tais autores que são advérbios, quando vêm modificando o
verbo, o adjetivo, ou outro advérbio; “neste caso, são invariáveis”
(GÓIS; PALHANO, 1963, p. 123-4).
6. Num outro aspecto, quando se diz “Ele tem muito bom-senso”,
considera-se bom-senso uma só palavra, razão pela qual, vindo muito a
modificar o núcleo da expressão, que é senso, e não bom, tendo, assim,
valor adjetivo, há de ser ela variável, razão por que se há de atentar à
concordância nominal de muito nas frases em que são femininos os
substantivos modificados. Exs.: a) “O advogado agiu com muita má-fé”
(correto); b) “O advogado agiu com muito má-fé” (errado).
7. Pelas regras de ortoepia, segundo o magistério de Evanildo Bechara, sua
pronúncia é anasalada (1974, p. 44).
8. Acrescenta, porém, Celso Cunha que “não se assinala na escrita a
nasalidade do ditongo” (1970, p. 17).
9. Já o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia
Brasileira de Letras, órgão incumbido oficialmente de estabelecer a
existência dos vocábulos em nosso idioma, além de sua pronúncia
oficial, determina que sua vogal tônica seja proferida em som oral (ú), e
não nasal, o que faz com que a sílaba tônica de tal palavra, por regra
oficial, seja proferida em rima com Rui (2009, p. 568).
Ver Bastante – Existe no plural? (P. 156), Má-fé (P. 452), Muitíssimo – Está
correto? (P. 481), Muito poucos – Está correto? (P. 482) e Ortoepia (P. 532).

Muito obrigado
Ver Muitíssimo – Está correto? (P. 481) e Obrigado (P. 513).

Muito poucos – Está correto?


1. Equivalendo ao superlativo pouquíssimo, a expressão muito pouco tem
uma palavra (muito) que modifica outra de valor adjetivo (pouco),
sendo, assim, advérbio e, portanto, invariável. Exs.: a) “Muito poucos
autores se atreveriam a contrariar esse posicionamento
jurisprudencial”; b) “Muito poucas decisões se atreveriam a contrariar
esse posicionamento jurisprudencial”.
2. Fica evidente essa conclusão, quando se nota que os exemplos poderiam
ser ditos de outro modo: a) “Bem poucos autores se atreveriam a
contrariar esse posicionamento jurisprudencial”; b) “Bem poucas
decisões se atreveriam a contrariar esse posicionamento
jurisprudencial”.
3. Em tais casos, por sua própria condição de advérbio, é incorreto
flexionar a palavra muito. Exs.: a) “Muitos poucos autores se atreveriam
a contrariar esse posicionamento jurisprudencial” (errado); b) “Muitas
poucas decisões se atreveriam a contrariar esse posicionamento
jurisprudencial” (errado).
Ver Muito (P. 481).

Muitos de nós – sabem ou sabemos?


Ver Alguns de nós – sabem ou sabemos? (P. 104)

Muitos de vós – sabem ou sabeis?


Ver Alguns de nós – sabem ou sabemos? (P. 104)

Multi-culturais ou Multiculturais?
1. Após as alterações trazidas pelo Acordo Ortográfico de 2008 quanto ao
emprego do hífen, importa esclarecer: multiculturais ou multi-culturais?
2. Em português, com o significado de muitos, de diversos, de grande
quantidade, multi serve de primeiro elemento a uma série enorme de
vocábulos: multilateral, multimilionário.
3. Quanto à grafia, como geralmente ocorre com os prefixos e falsos
prefixos terminados por vogal, apenas em duas hipóteses se usa o hífen:
a) quando o elemento seguinte se inicia por h (multi-habilitado, multi-
habitação, multi-hermeneuta); b) quando o elemento seguinte se inicia
pela mesma vogal com que se encerra o prefixo (multi-invenção, multi-
inseticida).
4. Vale aqui observar que, em equívoco a ser corrigido em próxima edição,
o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela Academia
Brasileira de Letras para ser o portador oficial da grafia das palavras em
nosso idioma, registra multinfecção (2009, p. 569), quando deveria trazer
multi-infecção.
5. Tal falso prefixo, ademais, acopla-se diretamente à palavra seguinte, sem
intermediação de hífen, quando iniciada esta por outra vogal, que não a
que encerra o prefixo: multiangular, multiembrionário, multiocular.
6. Continua valendo a regra de junção direta, quando o elemento seguinte
se inicia por consoante: multibilionário, multicultural, multidirecional,
multifuncional, multigrávida, multilateral, multimilionário,
multipartição, multitubular, multiviscosidade.
7. Apenas para adaptação gráfica, com vistas à continuidade do mesmo
som, dobra-se o r ou o s, quando principiam o segundo elemento:
multirracial, multirreligioso, multissecular, multissílabo.

Músico e Música?
1. Um leitor indaga qual se a mulher que é profissional da Música, em
contraposição ao músico, se chama música.
2. Vale lembrar, num primeiro aspecto, que há, em português, substantivos
que têm uma forma definida e específica para o masculino e outra para o
feminino: o operário, a operária.
3. Num segundo aspecto, há os chamados comuns de dois, ou comuns de
dois gêneros, que têm uma só forma para o masculino e para o feminino,
e a distinção se faz pelo artigo que o precede ou por outro determinativo
acompanhante: o artista, a artista.
4. Num terceiro aspecto, há o epiceno, que é o substantivo de um só
gênero, e a distinção se faz pelo acréscimo dos adjetivos macho e fêmeo:
cobra macha, jacaré fêmeo.
5. Por fim, lembre-se o sobrecomum, que é o substantivo de um só gênero,
relativo a seres de ambos os sexos, sem variação de forma e sem
distinção por artigo ou por acréscimo de determinativo acompanhante: o
bebê, a criança, o indivíduo, a pessoa, a testemunha, a vítima.
6. Respondendo diretamente à indagação do leitor: a) músico é um
substantivo normal, que tem masculino e feminino; b) pertence, assim, à
primeira categoria referida no início desta explanação; c) desse modo,
não se há de considerar com estranheza seu regular emprego. Exs.: i)
“Villa Lobos era um músico de categoria ímpar” (correto); ii)
“Chiquinha Gonzaga era uma música de categoria ímpar” (correto).
N
Na conformidade
Ver De conformidade ou Em conformidade?(P. 253)

Nada a opor – Estrangeirismo?


1. Edmundo Dantès Nascimento condena o uso de a para formular
locuções como a que ora se considera, inserindo-a no rol dos
estrangeirismos sintáticos.
2. Observa que “o correto é o emprego de que”, e finaliza com a conclusão
de que se deve dizer nada que opor, em vez de nada a opor.
3. Em outra passagem, lembrando ser corrente a leitura de nada a opor,
reitera ele que, “na expressão, que é pronome, logo o correto é nada que
opor, nada que dizer, nada que acrescentar” (NASCIMENTO, 1982, p.
16 e 89).

Nada a ver ou Nada haver?


1. Um leitor pergunta qual a forma correta de dizer: Nada a ver ou Nada
haver?
2. Nesse sentido de ter uma coisa ou não relação com outra coisa, as
expressões tudo a ver e nada a ver são os modos corretos, e não tudo
haver ou nada haver. Exs.: a) “A presença do réu no local do crime tem
tudo a ver com a autoria” (correto); b) “A presença do réu no local do
crime tem tudo haver com a autoria” (errado); c) “A presença do réu no
local do crime não tem nada a ver com a autoria” (correto); d) “A
presença do réu no local do crime não tem nada haver com a autoria”
(errado).
3. Em seu tom brincalhão de criticar erros de Gramática, anota Arnaldo
Niskier que “nada haver é que não tem nada a ver com a norma culta”
(1992, p. 49).
4. Complementam José de Nicola e Ernani Terra (2000, p. 154) que, na
mencionada expressão, “não ocorre o verbo haver e sim o verbo ver
precedido da preposição a”. Exs.: a) “Seu argumento não tem nada a ver
com o caso” (correto); b) “Seu argumento não tem nada haver com o
caso” (errado).

Nada obsta
Ver Obstar (P. 516).

Nada obstante – Estrangeirismo?


1. Para José de Sá Nunes (1938, p. 221), quanto a seu uso em nosso
idioma, “nada há que se espantar”, já que essa “é locução
portuguesíssima, pouco encontradiça, é verdade, mas incontestavelmente
vernácula”.
2. E traz ele exemplos de significativos autores: a) “Nada obstante, pode
haver identidade de sujeito entre a regente e a regida” (Ernesto Carneiro
Ribeiro); b) “O que, nada obstante, Jesus Cristo fez” (Filinto Elísio).
3. Tem por sinônima a expressão não obstante.
4. Não existe inobstante.
5. Ao rejeitar o emprego de inobstante, aliás, para o que argumenta que
“nenhum dicionário autoriza esse neologismo”, Geraldo Amaral Arruda
(1997, p. 23) preconiza o uso de nada obstante ou de sua sinônima não
obstante, reputando-as ambas “expressões vernáculas já consagradas”.
6. Registre-se, por fim, que Luciano Correia da Silva (1991, p. 132)
referenda o emprego de não obstante e nada obstante, acreditando até
mesmo que nada impede o uso de inobstante.
7. Para espancar dúvidas acerca da impossibilidade de seu emprego, o
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa – veículo oficial da
Academia Brasileira de Letras para apontar quais as palavras existentes
em nosso léxico –, não registra inobstante, o que obriga a conclusão de
que seu emprego não está autorizado em nosso idioma.

Náilon
Ver Formação de adjetivos – Regras (P. 360) e Neologismo (P. 494).

Na medida em que – Existe?


Ver À medida que, À medida em que ou Na medida em que? (P. 111)

Namorar com… – Existe?


1. Quer no sentido de desejar ardentemente algo, quer no significado de
cortejar, galantear, trata-se de verbo transitivo direto (construído sem
qualquer preposição). Ex.: “O rapaz namorou a vizinha durante dois
anos”.
2. Atente-se a que não admite ele a mesma regência verbal de casar, não
aceitando, assim, ser construído com a preposição com, razão pela qual é
errônea a frase: “O rapaz namorou com a vizinha durante dois anos”.
3. Nessa mesma esteira, observem-se particularmente as construções
errôneas com os pronomes comigo, contigo e consigo que,
etimologicamente, trazem implícita a preposição com. Assim a frase
“Você quer namorar comigo?”, conhecido quadro de um programa de
auditório, deve ser corrigida para “Você quer me namorar?”.
4. Veja-se, em confirmação, que, para Luís A. P. Vitória (1969, p. 169),
trata-se de “verbo transitivo direto” e “não admite, pois, a preposição
com”.
5. Vitório Bergo (1943, p. 212) o insere no rol daqueles verbos que
merecem especial cuidado quanto à regência: namorar, e não namorar
com.
6. Ronaldo Caldeira Xavier (1991, p. 91), fundando-se em lição de
Hildebrando Affonso de André, insere a expressão namorar com alguém
no rol dos italianismos a serem evitados e aconselha sua substituição por
namorar alguém.
7. Atento à linguagem forense, Edmundo Dantès Nascimento (1982, p. 91)
aponta erros de regência desse verbo até mesmo em sentenças de
anulação de casamento ou de separação judicial, com o emprego da
preposição com (“Namorava com ele”), alertando que o correto é
Namorava-o.
8. Anote-se que, em lição não aplicável à norma culta, Evanildo Bechara
ressalta seu uso coloquial com a preposição com, “influenciado talvez
pela regência de casar” (1974, p. 319).
9. De igual modo, Aires da Mata Machado Filho (1969b, p. 734), sem
explicação alguma nem abono de autor autorizado, observa de modo
simplista e telegráfico: “Usam-se as duas regências”.
10. Silveira Bueno (1938, p. 101), contrariando entendimento majoritário e
alegando inexplicáveis questões de “psicologia do verbo”, aduz que tal
vocábulo traduz “ação que requer companhia, e a preposição adequada
é com”.
11. Após citar lição de Silveira Bueno no sentido da possibilidade de
emprego da sintaxe namorar com, acrescenta Luciano Correia da Silva
“outro fato, que determina usos e costumes em nossa língua: a
analogia. A analogia com o verbo casar com, vizinho de namorar, pode
ter influído para que tivéssemos o namorar com, mais visto no Rio,
Norte e Nordeste” (1991, p. 164).
12. Celso Pedro Luft (1999, p. 375) também considera normal o emprego
da regência namorar com, argumentando com a existência da ideia de
companhia, de encontro.
13. A par do fato da inexistência de cunho científico para tal proceder,
todavia, acresce observar que Francisco Fernandes (1971, p. 431), em
postura mais harmônica com a tradição e com a ciência, cita diversos
exemplos, ora tendo o verbo como intransitivo, ora como pronominal;
em momento algum, todavia, cogita da estrutura namorar com.
14. Ante tais considerações, o melhor posicionamento continua sendo
empregá-lo simplesmente como verbo transitivo direto, sem
possibilidade de regência com a preposição com, no que concerne aos
textos que devam submeter-se ao padrão da norma culta.

Não apenas… como também… merece(m)…?


1. Indaga um leitor se está correta a concordância verbal na seguinte frase:
“Não apenas o Direito, como todas as demais disciplinas humanas,
merecem respeito”.
2. Ora, lecionando sobre a expressão “não só… mas também…”, lembra
Domingos Paschoal Cegalla que “esta e outras expressões equivalentes,
quando sujeito, levam o verbo para o plural”. Exs.: a) “Não só o jornal
mas também a televisão devem educar o povo”; b) “Não só o pai mas
também a mãe acompanhavam as crianças”. Realça tal autor, em
continuação, que, “se o sujeito vier depois do verbo, este concordará, de
preferência no singular”. Exs.: a) “Deve usufruir dos lucros não só o
patrão mas também o trabalhador”; b) “A esse cargo aspirava não só o
marido mas também a esposa” (CEGALLA, 1999, p. 276-7).
3. As outras expressões equivalentes, a que se refere o ilustre gramático
são, por exemplo, “não apenas… como também…”, “não apenas… mas
também…”, “não só… como…”, “não só… como também…”, “não
somente… mas também…”, “tanto… como…”
4. Especificamente quanto ao caso da consulta, conclui-se, após tais
ponderações, que está correta a concordância verbal na seguinte frase:
“Não apenas o Direito, como todas as demais disciplinas humanas,
merecem respeito”. Estaria também correta a inversão no singular, na
esteira do exemplo do gramático referido: “Merece respeito não apenas
o Direito, como todas as demais disciplinas humanas”.

Não – Com hífen ou sem?


1. Com as alterações trazidas para o emprego do hífen pelo Acordo
Ortográfico de 2008, vale a pena tecer algumas observações sobre a
forma correta: “Cópia não-pirata” ou “Cópia não pirata”?
2. Até pouco tempo atrás, o não, quando tinha a atribuição de prefixo
negativo, podia, em alguns casos e observadas determinadas
circunstâncias, anexar-se por hífen a um adjetivo ou substantivo e formar
um outro vocábulo.
3. Independentemente, porém, de aprofundamento maior nessa observação,
deve-se anotar que o Acordo Ortográfico de 2008, ao regrar o assunto,
especificou os casos em que se emprega o hífen nas palavras que tenham
prefixos ou falsos prefixos, mas nesse rol não incluiu o não.
4. Isso quer dizer, em suma, que, como regra, não mais se usa o hífen,
quando se quer negar uma palavra, dizendo o seu contrário pela
anteposição de um não.
5. Assim, no exemplo do qual se partiu para estas observações, responda-
se: o correto é cópia não pirata, e não cópia não-pirata.
6. O próprio Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, em sua
primeira edição após o Acordo Ortográfico, ao listar diversos vocábulos
precedidos de não, em casos similares ao da consulta, registra-os sem
hífen: não agressão, não cooperação, não cumprimento, não esperado,
não execução, não ficção, não fumante, não governamental, não ligado,
não pagamento, não proliferação, não sei quê, não violência (2009, p.
574).
7. Sempre é oportuno lembrar que o VOLP é editado pela Academia
Brasileira de Letras, a qual tem a delegação oficial e a responsabilidade
legal de editá-lo, em cumprimento à Lei Eduardo Ramos, de n. 726, de
8/12/1900.
8. E sua função é, com força de lei, listar as palavras reconhecidas
oficialmente como pertencentes à língua portuguesa; de um modo geral,
não lhes indica o sentido; todavia, além da grafia oficial, fornece a
pronúncia dos casos duvidosos.
9. Seguem alguns exemplos de dispositivos legais enquadrados no caso
vertente, originalmente grafados com hífen, mas aqui já atualizados
pelas regras do Acordo Ortográfico de 2008, os quais, quando citados,
deverão, doravante, ser corrigidos pela eliminação do hífen: a) “A
República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais
pelos seguintes princípios: … IV – não intervenção” (CF, art. 4º, IV); b)
“O imposto previsto no inciso IV: … II – será não cumulativo,
compensando-se o que for devido em cada operação com o montante
cobrado nas anteriores” (CF, art. 153, § 3º, II); c) “O não oferecimento
do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua oferta irregular,
importa responsabilidade da autoridade competente” (CF, art. 208, §
2º); d) “Se não for possível nem conveniente a divisão de todos os bens
em natureza, calcular-se-á o valor de alguns ou de todos para reposição
em dinheiro ao cônjuge não proprietário” (CC, art. 1.684); e) “Compete
ao credor, dentro de 10 (dez) dias, contados da data em que foi intimado
do arresto a que se refere o parágrafo único do artigo anterior, requerer
a citação por edital do devedor. Findo o prazo do edital, terá o devedor
o prazo a que se refere o art. 652, convertendo-se o arresto em penhora
em caso de não pagamento” (CPC/1973, art. 654); f) “A pena será ainda
agravada em relação ao agente que: … III – instiga ou determina a
cometer o crime alguém sujeito à sua autoridade ou não punível em
virtude de condição ou qualidade pessoal” (CP, art. 62, III); g) “As
testemunhas comunicarão ao juiz, dentro de um ano, qualquer mudança
de residência, sujeitando-se, pela simples omissão, às penas do não
comparecimento” (CPP, art. 224); h) “Comprovada a falsa alegação do
motivo de força maior, é garantida a reintegração aos empregados
estáveis, e aos não estáveis o complemento da indenização já percebida,
assegurado a ambos o pagamento da remuneração atrasada” (CLT, art.
504).
10. Importa esclarecer, por fim, que, ao tratar desse assunto, em Nota
Explicativa, a “Comissão de Lexicologia e Lexicografia da Academia
Brasileira de Letras”, qualificando de “sintético e enxuto o texto oficial
do novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa”, após proceder a
uma minuciosa análise de suas bases, decidiu por diversas medidas,
dentre as quais, “excluir o emprego do hífen nos casos em que as
palavras não e quase funcionam como prefixos: não agressão, não
fumante, quase delito, quase irmão.”
11. Por outro lado, contudo, aditou excerto que requer atenção: “Está claro
que, para atender a especiais situações de expressividade estilística
com a utilização de recursos ortográficos, se pode recorrer ao emprego
do hífen nestes e em todos os outros casos que o uso permitir. É recurso
a que se socorrem muitas línguas. Deste não hifenizado se serviram no
alemão Fichte e Hegel para exercer importante função significativa nas
respectivas terminologias filosóficas: nicht-sein e nicht-ich, de que
outros idiomas europeus se apropriaram como calcos linguísticos”.
12. E a indagação que surge do trecho citado é se nessa observação reside
um permissivo lançado pela própria ABL para justificar a manutenção
do hífen em qualquer das expressões referidas, de modo a justificar
não-intervenção, não-cumulativo, não-oferecimento, não-proprietário,
não-pagamento, não-punível, não-cumprimento, não-estáveis.
13. Ora, essa questão precisa ser posta nos seguintes termos: a) o Acordo
Ortográfico, em texto claro e sem exceções, eliminou o hífen das
palavras formadas com não; b) como regra, assim, não há casos
especiais outros de permissão para seu emprego; c) o filósofo alemão
Fichte, ao tratar dos componentes da percepção do mundo, precisou
lançar em oposição dois princípios teóricos absolutos (ich e nicht-ich,
ou seja, eu e não-eu); d) de igual modo, Hegel, outro filósofo e também
alemão, recusando a fixação dos opostos e buscando a conciliação
entre eles, dizendo que negar simplesmente um termo nada produzia de
determinado, precisou, para explicitar seu método dialético, contrapor
pares conceituais (como sein e nicht-sein, vale dizer, ser e não-ser); e)
a extrema especificidade em que empregado o não hifenizado
evidencia seu caráter de excepcionalidade total no emprego feito por
ambos os filósofos; f) isso quer dizer que simplesmente não está ao
talante do usuário que escreve algo que ache importante, que venha, a
todo instante, a usar o hífen em tais circunstâncias; g) a própria Nota
Explicativa reforça essa tese, ao complementar que esse “não é,
portanto, recurso para ser banalizado”.
14. Desse modo, em termos práticos, continua valendo tudo o que
anteriormente se disse, de modo que, no excerto da Nota Explicativa
não reside permissivo algum para justificar a manutenção do hífen em
qualquer das expressões referidas na legislação, e, assim, devem ser
elas grafadas doravante do seguinte modo: não intervenção, não
cumulativo, não oferecimento, não proprietário, não pagamento, não
punível, não cumprimento, não estáveis.

Não encontrou nada – É correto?


Ver Dupla negativa – Está correto? (P. 295)

Não há comparar – Está correto?


1. De Vitório Bergo é a lição no sentido de ser “clássico o emprego do
verbo haver, seguido de infinitivo e precedido da negativa não, para
exprimir ideia de impossibilidade”.
2. Em seu abono, traz tal gramático a corroboração de exemplo de
Machado de Assis: “Não havia fugir, ainda casando?” (BERGO, 1944,
p. 168).

Não há de quê
1. Em relação à ocorrência do acento gráfico, observa Celso Pedro Luft
(1991, p. 102) que, muito embora o Acordo Ortográfico se refira ao que
acentuado apenas no fim da frase, o certo é que, exatamente pela igual
circunstância de que ele se torna tônico, “a rigor, pelo mesmo motivo, se
devia acentuar o que em qualquer pausa (vírgula, ponto e vírgula)”.
Ver De nada – Está correto? (P. 263) e Obrigado (P. 513).

Não há de ser nada – Está correto?


Ver Dupla negativa – Está correto? (P. 295)

Não há falar, Não há falar-se, Não há que falar ou …?


1. Na prática, surge a dúvida acerca de qual a forma correta entre as
seguintes: a) “Não há falar em nulidade no caso vertente”; b) “Não há
falar-se em nulidade no caso vertente”; c) “Não há que falar em
nulidade no caso vertente”; d) “Não há que se falar em nulidade no caso
vertente”.
2. De início, para o que interessa a este assunto, importa observar que,
numa primeira estrutura, o verbo haver pode vir seguido de um
infinitivo, em expressão com o sentido de não é possível, não cabe. Exs.:
a) “Não há fugir a essa evidência”; b) “Não há confundir o interesse
público com o interesse de eventuais governantes ou administradores”;
c) “No caso, não há falar em coisa julgada”.
3. Nesse caso, lembra Francisco Fernandes que “também pode concorrer o
elemento que entre a forma do verbo haver e o infinitivo” (1971, p. 371).
Exs.: a) “Não há que fugir a essa evidência”; b) “Não há que confundir
o interesse público com o interesse de eventuais governantes ou
administradores”; c) “No caso, não há que falar em coisa julgada”.
4. Ainda com mesma estrutura, o verbo haver pode vir seguido de que +
infinitivo e tem o sentido de é preciso, é necessário, e, nessa hipótese, a
presença do que é obrigatória. Exs.: a) “No caso, não há que olvidar o
princípio da boa-fé”; b) “Num país democrático, há que respeitar a
liberdade de expressão”.
5. Num segundo aspecto, considerem-se os seguintes exemplos (e, desde
logo, se diga que todos estão corretos): a) “Não há falar”; b) “Não há
falar-se”; c) “Não há que falar”; d) “Não há que se falar”.
6. Nesse caso, o primeiro exemplo de cada uma das séries (“Não há falar” e
“Não há que falar”): a) não tem a presença do se; b) o infinitivo é
impessoal, e c) tal verbo não tem sujeito.
7. Já o segundo exemplo de cada uma das séries (“Não há falar-se” e “Não
há que se falar”): a) tem um se; b) este se é símbolo de indeterminação
do sujeito; c) o sujeito, portanto, é indeterminado, e d) o infinitivo é
pessoal.
8. Desse modo, o que se pode afirmar, em síntese, é que estão corretos
todos os exemplos da consulta, cada um com suas peculiaridades
sintáticas: a) “Não há falar em nulidade no caso vertente”; b) “Não há
falar-se em nulidade no caso vertente”; c) “Não há que falar em
nulidade no caso vertente”; d) “Não há que se falar em nulidade no caso
vertente”.
9. E, quanto aos demais exemplos, vejam-se suas variações linguísticas,
todas corretas: a) “Não há fugir a essa evidência”; b) “Não há que fugir
a essa evidência”; c) “Não há fugir-se a essa evidência”; d) “Não há que
se fugir a essa evidência”; e) “Não há confundir o interesse público com
o interesse de eventuais governantes ou administradores”; f) “Não há
que confundir o interesse público com o interesse de eventuais
governantes ou administradores”; g) “Não há confundir-se o interesse
público com o interesse de eventuais governantes ou administradores”;
h) “Não há que se confundir o interesse público com o interesse de
eventuais governantes ou administradores”; i) “No caso, não há falar
em coisa julgada”; j) “No caso, não há que falar em coisa julgada”; k)
“No caso, não há falar-se em coisa julgada”; l) “No caso, não há que se
falar em coisa julgada”; m) “No caso, não há que olvidar o princípio da
boa-fé”; n) “No caso, não há que se olvidar o princípio da boa-fé”; o)
“Num país democrático, há que respeitar a liberdade de expressão”; p)
“Num país democrático, há que se respeitar a liberdade de expressão”.

Não lhe resta ao credor outro caminho – Está correto?


Ver Pleonasmo – O que é e Quando pode? (P. 565)

Não no sei – Está correto?


1. Sobre a frase “Isto bem no sei eu desde criança”, que lhe era posta para
apreciação por um consulente, José de Sá Nunes (1938, p. 217) assim se
expressava: “Tome a mão por todos os gramáticos, filólogos e
dicionaristas o supereminente Rui, que – estranhando dr. Carneiro o
haver desaprovado como antiquada a intercalação eufônica do n em
frases como estas: ‘Quem no diria? Quem no creria?’ – disse que, nesse
caso, ‘vão para o gerontocômio dos velhustros caducos os Castilhos, os
Latinos e os Camilos, cuja decrepidez gramatical perpetrou a monte
desses anacronismos’”.
2. E cita o referido gramático uma série de exemplos em tais autores, como
os seguintes: a) “Mas essa propriedade não na alcança o pescador” (Rui
Barbosa); b) “Desde então, dez mil cuidados tenho posto em no buscar”
(Castilho).
3. Também oportuna a lição de Silveira Bueno que, a um leitor que lhe
indagava se era correto dizer tal construção, respondia pela afirmativa,
em lição taxativa: “por eufonia costumam acrescentar a letra n ao
pronome oblíquo toda vez que vem depois de palavra nasal. Mas é
simples caso de eufonia muito do gosto dos portugueses, não tanto dos
brasileiros” (1938, p. 204).
4. Citando Camões, Júlio Nogueira também dá como correto o uso
eufônico de tais partículas: “Não no dá a Pátria, não…” (1959, p. 86).
5. E João Ribeiro (1923, p. 81) justifica que se junte o advérbio não e o
pronome o ou a, fazendo-se anteceder esses últimos de um n que não
tem outra razão de existência, que não seja a própria eufonia, lembrando,
para tanto, duas passagens de Camões: a) “Não no vês tinto de ira”; b)
“Quem não sabe a arte, não na estima”.
6. Carlos Góis e Herbert Palhano (1963, p. 86) também defendem o uso das
formas no, na, nos, nas, mesmo nas hipóteses em que não haja
vinculação a formas verbais, mas que apenas constituam casos de mero
som nasal antecedente, lição essa que se extrai dos próprios exemplos
fornecidos por eles: a) “Mal haja quem no perdeu”; b) “… não na
soube” (Bernardim Ribeiro).
7. A um correspondente que lhe reparava a escrita ora de bem a vi, ora de
bem no dizem, Mário Barreto as dava ambas por formas corretas,
justificando que assim as escrevia, “ora de um modo, ora de outro,
porque das duas variantes qualquer delas é legítima, posto que hoje raro
se escreva não no vi, bem no vi; escreve-se não o vi, bem o vi”.
8. Em seguida, tal autor justifica a inserção do n em tais casos com a
ocorrência de assimilação com o som nasal precedente, e observa a
facilidade de se encontrarem exemplos desse uso na linguagem literária,
como em Almeida Garrett, Castilho e Camilo (BARRETO, 1954b, p. 54-
6).
9. Heráclito Graça, no prólogo de significativa obra sobre os fatos da
linguagem, mesmo sem qualquer teoria, acaba por dar significativo
exemplo de seu emprego: “Unicamente aos que não na conhecem
gramaticalmente…” (1904, p. 8).
10. Para Cândido de Figueiredo, ambas as formas são igualmente corretas
– bem a vi e bem na vi, não o quero e não no quero –, justificando tal
autor que a razão que fundamenta a segunda de cada qual das
estruturas “é a mesma que justifica dizem-no, fazem-no, matam-nas”
(1941, p. 20).
11. Vasco Botelho de Amaral, mesmo sem teorizar sobre a questão, dá
exemplo claro em defesa do emprego de tal n eufônico, ao observar,
em nota final de sua obra: “As incoerências do Acordo não nas
praticou, na esperança de as ver algum dia revogadas” (1943, p. 254).

Não obstante – Está correto?


1. Trata-se de expressão correta, que significa apesar de. Ex.: “Não
obstante a respeitável argumentação do autor, proferiu-se um veredicto
de improcedência do pedido”.
2. Tem nada obstante como locução de idêntico significado e de perfeita
correção no vernáculo.
3. Esclareça-se com José de Sá Nunes: “Obstante é o particípio do presente
do verbo obstar, o qual entra na formação da locução prepositiva não
obstante e da locução conjuntiva não obstante que. É trivialíssima em
nossa língua a expressão não obstante isto ou isto não obstante, análoga
ao latim hoc non obstante, ablativo absoluto” (1938, p. 32).
4. Acresça-se com o mesmo gramático que “hoje, porém, não se faz a
concordância no plural, porque não obstante se usa como preposição, e,
como tal, invariável. Exemplos semelhantes à tríade seguinte poderei
oferecer-lhos às dezenas, por demonstrar que as locuções não obstante e
não obstante que são vernaculíssimas a qualquer luz” (NUNES, 1938, p.
33). Exs.: a) “Não obstante quaisquer pretensões…” (Rui Barbosa); b)
“Não obstante as festas da Terra…” (Machado de Assis).
5. Antonio Henriques (1999, p. 117) conceitua a expressão não obstante
como um “elemento de coesão negativo-opositivo” e a considera “a
forma mais corrente” nos meios jurídicos: a) “Não obstante, a multa não
é fatal” (Magalhães Noronha); b) “Se omitir tais cautelas e, não
obstante, efetuar a tapagem, presumir-se-á que a fez à sua custa”
(Washington de Barros Monteiro).
6. Cândido Jucá Filho observa ser possível a construção não obstante que,
lembrando lição de Mário Barreto, que se abona com um passo do Padre
Manuel Bernardes: “Aos sábados era certo na ladainha, não obstante
que a freguesia lhe ficava longe do campo onde morava” (1981, p. 85-
6).
7. Ao rejeitar o emprego de inobstante, porque “nenhum dicionário
autoriza esse neologismo”, Geraldo Amaral Arruda preconiza o uso de
nada obstante ou de sua sinônima não obstante, reputando-as ambas
“expressões vernáculas já consagradas” (1997, p. 23).
8. Luciano Correia da Silva (1991, p. 132), contudo, referenda o emprego
de não obstante e de nada obstante, acreditando até mesmo que nada
impede o uso de inobstante.
9. Para espancar dúvidas, todavia, é de se ver que o Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa – veículo oficial da Academia
Brasileira de Letras para apontar quais as palavras existentes em nosso
léxico –, não registra inobstante, o que obriga a conclusão de que seu
emprego não está autorizado em nosso idioma.
10. Nosso Código Civil emprega diversas vezes a expressão não obstante:
a) “Quando a transação versar sobre diversos direitos contestados e
não prevalecer em relação a um, fica, não obstante, válida
relativamente aos outros” (art. 1.026, parágrafo único); b) “Não
obstante o prazo ajustado para o pagamento, se antes da tradição o
comprador cair em insolvência, poderá o vendedor sobrestar na
entrega da coisa, até que o comprador lhe dê caução de pagar no
tempo ajustado” (art. 1.131); c) “Às pessoas que não puderem
contratar é facultado, não obstante, aceitar doações puras” (art.
1.170); d) “O segurador, que, ao tempo do contrato, sabe estar
passado o risco, de que o segurado se pretende cobrir, e, não obstante,
expede a apólice, pagará em dobro o prêmio estipulado”.
Ver Nada obstante – Estrangeirismo? (P. 483) e Não obstante que – Está
correto? (P. 488)

Não obstante que – Está correto?


1. Heráclito Graça (1904, p. 243) defende a correção de tal sintaxe e aponta
seu emprego por Padre Manuel Bernardes e Antônio Feliciano de
Castilho.
2. Para José de Sá Nunes, “obstante é o particípio do presente do verbo
obstar, o qual entra na formação da locução prepositiva não obstante e
da locução conjuntiva não obstante que” (1938, p. 32).
3. Cândido Jucá Filho observa ser possível a construção não obstante que,
lembrando lição de Mário Barreto, que se abona com um passo do Padre
Manuel Bernardes: “Aos sábado era certo na ladainha, não obstante que
a freguesia lhe ficava longe do campo onde morava” (1981, p. 85-6).
Ver Não obstante – Está correto? (P. 487)

Não sabido
Ver Lugar incerto e não sabido (P. 450).

Não se deve dizer tais coisas ou Não se devem dizer tais coisas?
1. A questão é saber qual a construção correta: “Não se deve dizer tais
coisas”, ou “Não se devem dizer tais coisas”?
2. De acordo com Vitório Bergo, “em frases deste modelo, o verbo dever
constitui, em regra, auxiliar do infinitivo que se lhe segue, sendo que a
partícula se apassiva o todo verbal. Destarte, concorda aquele com o
substantivo a que se refere o infinitivo e que é, em suma, o seu sujeito”
(1944, p. 191); em outras palavras, para tal autor a única forma correta
seria: “Não se devem dizer tais coisas”.
3. Anote-se, porém, que ambas as estruturas estão corretas, mas cada qual
delas tem uma explicação própria (BUENO, 1938, p. 123-4), devendo-se
realçar, desde logo, que ambas estão na voz passiva.
4. No primeiro exemplo (“Não se deve dizer tais coisas”), o verbo da
oração principal é deve, e o seu sujeito é oracional – dizer tais coisas –,
aspecto esse que facilmente se percebe, quando se põe o período em
ordem direta (“Dizer tais coisas não se deve”), ou mesmo quando se
passa o exemplo, que está na voz passiva sintética, para a voz passiva
analítica (“Dizer tais coisas não é devido”). Observa-se que, sendo
fraseológico o sujeito, deixa ele o verbo no singular, e se acrescenta,
apenas para complementar, que o se, no caso, é partícula apassivadora.
5. No segundo exemplo (“Não se devem dizer tais coisas”), a expressão
devem dizer é uma locução verbal (sendo devem o verbo auxiliar e dizer
o principal). O se aqui também funciona como partícula apassivadora, e
tais coisas é o sujeito de uma voz passiva sintética, cuja voz passiva
analítica assim se constrói: “Tais coisas não devem ser ditas”. Em ambas
as vozes passivas (sintética e analítica), o sujeito é tais coisas, e tal
sujeito, por estar no plural, leva também o verbo para esse número, quer
na passiva sintética, quer na passiva analítica.
6. Anote-se, todavia, para registro, a lição restritiva de Eduardo Carlos
Pereira no sentido de que, em frases como a considerada, quando o
verbo está no plural, as frases estão corretas, “manifestamente
apassivadas pela partícula se”, e tais coisas é o sujeito do verbo
perifrástico.
7. Para tal autor, entretanto, muito embora ressalve que o emprego do
verbo no singular se encontre, ainda que raramente, em alguns escritores,
“tal concordância, todavia, não é segura”, pois “só teria sua justificação
no caso de ser o se sujeito”.
8. Ultima ele suas observações com o lembrete de que, “em outras locuções
do infinitivo, em que se vê claramente ser este o sujeito do verbo no
modo finito, dá-se a concordância no singular”, alinhando, dentre outros,
dois exemplos de João Ribeiro: a) “Quer-se inverter as leis”; b)
“Intenta-se demolir aqueles muros” (PEREIRA, 1924, p. 220-1).
9. Ressalve-se, todavia, que o se jamais poderia ser sujeito em tal
expressão, já que, como acentuado, em ambas as estruturas é ele
partícula apassivadora.
10. Em continuação, o ensino de Júlio Nogueira (1959, p. 108) se dá no
sentido de que, muito embora se encontrem exemplos de construção no
singular, é preferível, sobretudo por eufonia, a concordância no plural,
além de mais habitual nos clássicos.
11. Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 320), sem considerações teóricas
acerca do assunto, considera, por um lado, “boa concordância dizer
‘Podem-se colher as frutas’”; por outro lado, refere que “também é
lícito, em construções desse tipo, deixar o verbo auxiliar poder no
singular: Pode-se colher as frutas”.
12. Em observações ao art. 52 do Código Civil – que registra: “Coisas
divisíveis são as que se podem partir em porções reais e distintas,
formando cada qual um todo perfeito” – Luciano Correia da Silva,
atento aos aspectos até agora analisados, leciona que também se
poderia dizer: “Coisas divisíveis são as que se pode partir em porções
reais e distintas…”.
13. Segundo tal autor, entretanto, a frase assim dita haveria de ficar “sem o
mesmo vigor e propriedade” (SILVA, L., 1991, p. 34).
14. Reitere-se, por fim, ante a própria análise da divergência entre os
gramáticos e as aceitáveis justificativas para as duas sintaxes, que o
melhor parece ser validar, em tais casos, ambas as construções: ou com
o verbo no singular, ou com o verbo no plural.

Não se o diz – Está correto?


1. Trata-se de expressão errada, já que, em Português, o pronome se jamais
combina na mesma frase com o pronome o, a, os, as.
2. O pronome por último referido, em estruturas desse jaez, há de ser o
sujeito (caso reto, portanto), e os pronomes o, a, os, as são do caso
oblíquo, jamais podendo funcionar como sujeito.
3. Corrija-se, assim, tal expressão, por um dos seguintes modos: a)
Colocando em lugar dos pronomes condenados uma palavra que possa
ser sujeito (“Não se diz tal coisa”); b) Usando o pronome do caso reto,
de indiscutível correção em tais casos, muito embora a muitos pareça
contrária à eufonia (“Não se diz ele”); c) Eliminando simplesmente o
pronome oblíquo, que é o ponto de discórdia no caso, mas isso apenas
quando tal é possível sem comprometimento do sentido do contexto
(“Não se diz”); d) Transpondo o exemplo para a voz passiva analítica,
situação essa em que errar é mais difícil (“Ele não é dito”); e) Pondo o
verbo na primeira pessoa do plural, adotando-se uma forma determinada,
pessoal, com o que se elimina o se (“Não o dizemos”); f) Empregando o
verbo na voz ativa, na terceira pessoa do plural e sem sujeito explícito
(“Não o dizem”).
Ver Cite-se-o – Está correto? (P. 184)

Não se pode dizer tais coisas ou Não se podem dizer tais coisas?
Ver Não se deve dizer tais coisas ou Não se devem dizer tais coisas? (P.
488)

Não só… como…


Ver Não apenas… como também… merece(m)…? (P. 484)

Não só… mas também


Ver Não apenas… como também… merece(m)…? (P. 484)

Não somente… mas também


Ver Não apenas… como também… merece(m)…? (P. 484)

Não só… que também


1. Lembrando que alguns condenam essa expressão por galicismo, Vasco
Botelho de Amaral posiciona-se em sentido contrário, defendendo-lhe a
vernaculidade, sob o argumento de que “não cabe duvidar ser o que, por
vezes, sinônimo de senão”.
2. Para confirmar seu posicionamento, traz exemplos de abalizados autores
(AMARAL, 1939, p. 42): a) “Outra coisa não é, que as deleitosas
honras…” (Camões); b) “Não só as músicas, que também as vozes
distintas…” (Camilo Castelo Branco).
Na pessoa de – É correto?
Ver Em nome de – É correto? (P. 309)

Na proporção em que ou À proporção que?


Ver À medida que, À medida em que ou Na medida em que? (P. 111)

Na qualidade de – Galicismo?
1. Anota Vasco Botelho de Amaral que “tal modo de dizer recebemo-lo de
França”.
2. Acrescenta que “mais natural é o emprego de como, nas funções de, ou,
com circunlóquio, exercendo (eu, ele, etc.) o cargo de, etc.”.
3. Observa que, “se a imprópria expressão ganhar raízes, não há remédio
senão usá-la”, não sem realçar que “cumpre não esquecer ou não
postergar as equivalentes portuguesas”.
4. E, lembrando que Camilo Castelo Branco “lançou mão da locução pouco
ou nada vernácula”, traz dois exemplos do referido autor: a) “… na
qualidade de conselheiro de estado e guerra…”; b) “… na qualidade de
capitão-general do reino…” (AMARAL, 1939, p. 43).
5. As nossas leis, por seu lado, com frequência lançam mão desse torneio
de palavras exatamente no sentido apontado: a) “O endossatário de
endosso-mandato só pode endossar novamente o título na qualidade de
procurador, com os mesmos poderes que recebeu” (CC/2002, art. 917, §
1º); b) “O endossatário de endosso-penhor só pode endossar novamente
o título na qualidade de procurador” (CC/2002, art, 918, § 1º); c) “O
herdeiro pode, em ação de petição de herança, demandar o
reconhecimento de seu direito sucessório, para obter a restituição da
herança, ou de parte dela, contra quem, na qualidade de herdeiro, ou
mesmo sem título, a possua” (CC/2002, art. 1.824); d) “Presume-se
imputada na parte disponível a liberalidade feita a descendente que, ao
tempo do ato, não seria chamado à sucessão na qualidade de herdeiro
necessário” (CC/2002, art. 2.005, parágrafo único); e) “A pena é
aumentada de um terço, quando o agente recebeu a coisa… na
qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante,
testamenteiro ou depositário judicial” (CP, art. 168, § 1, II); f) “Trair, na
qualidade de advogado ou procurador, o dever profissional,
prejudicando interesse, cujo patrocínio, em juízo, lhe é confiado” (CP,
art. 355); g) “Inutilizar, total ou parcialmente, ou deixar de restituir
autos, documento ou objeto de valor probatório, que recebeu na
qualidade de advogado ou procurador” (CP, art. 356); h) “É vedada
afiliação ao regime geral de previdência social, na qualidade de
segurado facultativo, de pessoa participante de regime próprio de
previdência” (CF/1988, art. 201, 5º, com a redação dada pela Emenda
Constitucional 20/98); i) “É vedado o aporte de recursos a entidade de
previdência privada pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios,
suas autarquias, fundações, empresas públicas, sociedades de economia
mista e outras entidades públicas, salvo na qualidade de patrocinador,
situação na qual, em hipótese alguma, sua contribuição normal poderá
exceder a do segurado” (CF/1988, art. 202, § 3º, incluído pela Emenda
Constitucional 20/98).

Nascido em ou Nascido a?
Ver A catorze de julho ou Em catorze de julho? (P. 64)

Na(s) pessoa(s) de seu(s) advogado(s)?


1. Um servidor do Tribunal de Justiça do Maranhão diz que, ao expedir um
mandado de intimação, teve dúvida: a) “Intimar Fulano e Sicrano na
pessoa de seu advogado”; b) “Intimar Fulano e Sicrano nas pessoas de
seus advogados”? Esclarece o leitor que, no caso de sua consulta, o
mesmo advogado patrocina as duas pessoas a serem intimadas.
2. Em verdade, duas hipóteses, em tese, podem ocorrer em tais
circunstâncias: a) um mesmo advogado patrocina os interesses de ambas
as pessoas; b) cada advogado patrocina os interesses de uma delas.
3. Ora, quando um mesmo advogado defende os interesses de ambas as
pessoas, estas serão intimadas em uma só pessoa, que é o seu advogado
comum. Por isso: “Intimem-se Fulano e Sicrano na pessoa de seu
advogado”.
4. Todavia, quando cada advogado patrocina os interesses de uma das
pessoas a serem intimadas, cada qual destas será intimada na pessoa de
seu respectivo advogado, de modo que ambos os advogados haverão de
receber a intimação. Assim: “Intimem-se Fulano e Sicrano nas pessoas
de seus advogados”.

Nato ou Inato?
1. Um leitor ficou sabendo que o correto seria empregar a palavra inato
para significar uma qualidade de sempre de uma pessoa, como em
nadador inato. Conferiu depois, no dicionário, e constatou que nato e
inato são sinônimas. E indaga: são corretas ambas as construções?
2. Parta-se do princípio de que tais palavras não são efetivamente
sinônimas, mas, em realidade, até mesmo têm sentidos opostos: nato
significa nascido, enquanto inato significa não nascido.
3. E também se afirme, desde logo, que as confusões que podem surgir são
mais de entendimento equivocado de seu conteúdo semântico nos casos
concretos do que qualquer outra coisa.
4. Considere-se, por primeiro, o seguinte exemplo: “Ele é um político
nato”. O que se quer dizer, em tal caso, em suma, é que ele a) já nasceu
político, b) comportou-se como um político já em seus primeiros passos,
c) tinha muito jeito no trato com os colegas desde os bancos escolares,
etc. Em síntese: já nasceu político.
5. Considere-se outro exemplo: “A política é inata nele”. O que se quer
dizer não é que ele não tenha a política no sangue, e sim o contrário: a) a
política não se manifestou nele num determinado momento de sua vida;
b) em verdade, ela sempre esteve com ele. Ou seja: a política não nasceu
nele num certo momento, mas é congênita, nasceu com ele.

Natural e Residente em – Está correto?


1. De Luís A. P. Vitória vem o seguinte ensinamento: “É comum ver-se a
seguinte construção: ‘F. de Tal, natural e residente em S. Paulo’. Se,
porém, se diz natural de e residente em, não é possível harmonizar os
dois adjetivos com a mesma preposição. Diga-se, pois: ‘F. de Tal,
natural de S. Paulo, onde reside’” (1969, p. 170).
2. Expressão dessa natureza é tida por Domingos Paschoal Cegalla como
“frase defensível por sua concisão, mas incorreta, porque se construíram
com a mesma preposição dois adjetivos de regência diferente: natural de,
residente em” (1999, p. 278).
Ver Com ou sem – Está correto? (P. 198), Regência verbal (P. 651) e Verbos
com regências diversas (P. 760).

Necessitam-se operários ou Necessita-se de operários?


1. Observa-se, em verbete específico, que o verbo necessitar, à semelhança
de seu sinônimo precisar, quando tem o sentido de carecer, sentir
necessidade, quanto à regência verbal, pode, indiferentemente, ter objeto
direto (sem preposição) ou objeto indireto (com a preposição de). Exs.:
a) “As boas leis necessitam bons executores” (Caldas Aulete); b) “O Pai
de Famílias necessitava dos jornaleiros para a vinha” (Padre Antônio
Vieira).
2. Exatamente por poder ser transitivo direto ou transitivo indireto, vale
para o verbo necessitar, quando acompanhado da partícula se, a mesma
lição de Mário Barreto, transcrita por Francisco Fernandes (1971, p.
471), para o verbo precisar: pode-se dizer “Necessita-se de operários”
ou “Necessitam-se operários”, porquanto necessitar, na ativa, pode ter
complemento direto ou indireto.
3. Para maiores esclarecimentos, quando se disser “Necessita-se de
operários”, seu modelo de estrutura, com o qual há de ser comparado,
será “Gosta-se de um bom vinho”; já quando se disser “Necessitam-se
operários”, há de ser considerado o paradigma “Aluga-se uma casa”.
Ver Necessitar (P. 491).

Necessitar
1. À semelhança de seu sinônimo precisar, quando tem o sentido de
carecer, sentir necessidade, quanto à regência verbal, pode,
indiferentemente, ter objeto direto (sem preposição) ou objeto indireto
(com a preposição de). Exs.: a) “As boas leis necessitam bons
executores” (Caldas Aulete); b) “O Pai de Famílias necessitava dos
jornaleiros para a vinha” (Padre Antônio Vieira).
2. Exatamente nesse sentido, acolhe Vasco Botelho de Amaral a
possibilidade de construção de tal verbo tanto como transitivo direto
quanto como transitivo indireto: “Permito-me acolher favoravelmente as
duas construções. E não se julgue que é bondade minha. A bondade é da
língua popular e também da língua literária” (1948, p. 247).
3. Na síntese de Sousa e Silva, “na acepção de precisar, constrói-se com de
ou sem preposição: necessito de dinheiro ou necessito dinheiro” (1958,
p. 189).
4. Francisco Fernandes (1971, p. 432,), em indispensável obra, acata as
duas construções, abonando-se com autores insuspeitos: a) “Não
necessitam defesa minha…” (Mário Barreto); b) “Este sentimento não
necessita… de outra nutrição” (Rui Barbosa).
5. Sem qualquer contestação, Celso Pedro Luft (1999, p. 377) também
acolhe ambas as possibilidades de sintaxe.
Ver Gosta-se de um bom vinho – Está correto? (P. 375), Necessitam-se
operários ou Necessita-se de operários? (P. 490) e Voz passiva e Pronome
apassivador (P. 791).

Necrópsia ou Autópsia?
Ver Autópsia ou Necrópsia? (P. 148)

Negativa dupla – Está correto?


Ver Dupla negativa – Está correto? (P. 295)

Negro – é pejorativo e racista?


1. Um leitor quer saber alguns aspectos centrados na palavra negro: a) sua
gênese; b) se, na origem, é referência à cor das pessoas ou à ausência de
luz; c) se denegrir tem conotação racista e se é referência, já há mais de
2.000 anos, aos negros.
2. Observe-se, num primeiro aspecto, que, nos idiomas em geral, os nomes
ou apelidos pelos quais as pessoas passam a ser conhecidas originam-se
às vezes de suas características físicas, e isso não necessariamente com
intento de zombaria ou depreciação, mas como facilitação para seu
reconhecimento e identificação. Assim, Laura significa loura, Flávio
também quer dizer loiro, e Nívea é aquela da cor da neve. Cláudio, em
latim, quer dizer manco (daí o verbo claudicar na etimologia, hoje com
o significado de tropeçar), e esse não era o nome do imperador romano,
que assim ficou conhecido, porque tinha um defeito na perna. De igual
modo, Paulo não era nome, mas significava, apenas e tão somente,
pequeno. O apóstolo, de nome Saulo, bem possivelmente, recebeu esse
apelido em razão de sua estatura. E Cícero também não era o nome nem
o sobrenome de Marco Túlio, mas significa grão-de-bico e tinha sido
dado como apelido a um antepassado seu, em razão de uma verruga no
nariz, semelhante ao mencionado vegetal. Ao entrar na vida pública,
sugeriram a Marco Túlio que se abstivesse de usá-lo. Ele se negou, e foi
com ele que se celebrizou para a posteridade.
3. Feita essa observação, acrescenta-se, quanto ao vocábulo negro, de
existência multissecular no latim e nas línguas dele oriundas, que sempre
serviu, desde a origem, para indicar a coloração escura dos objetos e
sempre possuiu diversos cognatos, ou seja, palavras do mesmo radical:
niger (adjetivo que significa negro, preto ou escuro), nigrescere e nigrare
(verbos que têm o sentido de tornar negro ou escurecer), nigricolor,
nigritia e nigritudo (de cor preta, negror e negritude).
4. E, das coisas, a aplicação de seu sentido passou também para as pessoas,
a fim de que, por meio de nomes próprios, estas pudessem ter neles a
caracterização desse aspecto físico da tez de sua pele mais escura ou
mesmo negra: Nigel, nome muito usado em inglês, significa negro ou
escuro; Nigella, nome de chef famosa, como diminutivo feminino que é,
quer dizer negrinha ou escurinha; Nigro, sobrenome de tantas famílias
italianas, tem o mesmo significado; e o livro de Atos dos Apóstolos
menciona que, na igreja de Antioquia, havia uma pessoa chamada
“Simeão cognominado Níger” (At 13:1). Será difícil, em qualquer
critério de hermenêutica, entender que a Bíblia quisesse dar conotação
racista à referência do apelido aqui mencionado.
5. Ainda como real apelido, nas décadas de sessenta e setenta do século
passado, falava-se que, na noite anterior, o Santos ganhara mais um jogo,
e o Negrão havia feito dois gols. Todos sabiam que o termo se referia ao
maior jogador de futebol de todos os tempos. E todos também sabiam
que o termo era falado com orgulho e como sinal de distinção entre
todos os demais, mesmo pelos torcedores dos times adversários, sem
conotação de xingamento, depreciação ou racismo. E também não parece
haver alguém que veja alguma conotação de xingamento, ironia ou
diminuição, quando se fala em Dia da Consciência Negra.
6. Por outro lado, pela observação da natureza, verifica-se que a um dia
claro, de sol brilhante, contrapõe-se uma noite escura, ou nuvens
carregadas, ou um mar tempestuoso e plúmbeo. E todas essas são
situações de características físicas advenientes da coloração, que fazem
com que se diga noite negra, ou nuvens negras, ou mar negro. Ou seja:
mera oposição de circunstâncias físicas, e só há de ver racismo nesse
modo de falar quem esteja predisposto a tanto.
7. Além disso, no sentido figurado, a uma situação límpida e clara, em que
os elementos de raciocínio podem ser entrevistos de modo bastante
preciso e cristalino, contrapõe-se um outro quadro de confusão, em que
não se podem distinguir as ideias, nem direcionar o modo de pensar. Na
primeira situação, diz-se que o raciocínio é claro, enquanto na segunda,
que tudo está escuro. Tão difícil como encontrar um outro modo de
expressar com tanta felicidade o que se quer dizer numa situação como
essa é acreditar que essa última forma de concluir seja depreciativa e
racista.
8. Mas não é só. Se alguém difama outrem, costuma-se dizer que denegriu
sua honra. É que uma mancha ou nódoa traz ínsita em si a ideia de parte
que indevidamente se põe em coloração diferente do restante. Nessa
acepção é que se diz mancha de sangue, mancha da pele, ou mesmo
mancha branca em superfície escura. E, assim, em sentido figurado,
quando se diz que alguém denigre a honra de outrem, o que se quer
significar é que a limpidez da honra de alguém recebeu uma mácula,
uma nódoa, uma mancha, decorrente da ação do ofensor. E, para que a
coloração dessa mancha tenha sentido no contexto de uma honra
límpida, clara e cristalina, deve trazer em si a ideia de algo escuro em
relação à cor original. Por isso se emprega o verbo denegrir. Querer,
todavia, mais uma vez, entrever conotação racista ou pejorativa no
emprego desse verbo, na situação referida, é ir longe demais nesse
assunto.
9. Diante dessas considerações, parece importante anotar que o racismo e a
depreciação não residem necessariamente nas palavras, mas na mente e
no coração das pessoas. Existe até mesmo uma figura de linguagem
denominada ironia, segundo a qual o usuário do idioma diz em suas
palavras uma coisa, mas o sentido que lhes quer conferir é exatamente o
contrário, com intenção depreciativa ou sarcástica. É isso o que ocorre,
por exemplo, quando se diz “Que alunos preparados!”, quando se quer
significar exatamente que não sabem nem somar.
10. Ora, é conhecido o provérbio que diz que o mesmo sol que amolece a
cera endurece o barro. Aplicado ao caso vertente, isso quer significar
que as mesmas palavras, se na boca de quem quer a paz e a concórdia
ou se na de quem busca a desarmonia e a desavença, geram efeitos
opostos. Para os primeiros, de um modo geral, não há grande
necessidade de escolha dos vocábulos a serem ditos ou escritos, porque
o que disserem virá regado com o azeite da verdade e da boa-fé. Para
os últimos, de nada servirá determinar-lhes o que deva ser dito ou
escrito, nem haverá politicamente correto que solucione ou remedeie a
situação, pois o fel da má-fé e da mentira sempre há de se fazer
presente em suas falas. E, por último, mas não menos importante,
explicita-se que, infelizmente, há pessoas de ambas as modalidades
referidas tanto entre os falantes como entre os ouvintes do idioma.
11. Respondendo, em síntese, ao leitor: a) na origem, o vocábulo negro e
seus cognatos, nos diversos idiomas, sempre serviram para designar a
coloração das coisas e das pessoas; b) da cor dos objetos e da pele das
pessoas, passaram a integrar seus próprios nomes ou cognomes; c) as
situações climáticas também passaram a sofrer os efeitos dessa maneira
de ver, como, por exemplo, a contraposição entre a clareza do dia
ensolarado e o negror da noite, das nuvens carregadas e do mar
tempestuoso; d) do aspecto físico, passou-se, ao depois, também, ao
aspecto figurado, vindo a ocorrer, então, algo como um raciocínio
claro ou um raciocínio obscuro; e) ainda no plano figurado, em
raciocínio até mais apurado, pela similitude com a existência de uma
mancha, passou-se a empregar expressões indicativas dessa
contraposição em aspectos morais, como em denegrir a honra de
alguém; f) em qualquer desses empregos, contudo, não se pode ver, na
origem e na maneira objetiva de falar ou escrever, a existência de uma
necessária conotação de natureza irônica, depreciativa, pejorativa ou
racista, que está, muitas vezes, mais na subjetividade do usuário do
idioma ou do ouvinte, do que na objetividade dos vocábulos; g) vedar o
emprego de termos como negro ou preto, para designar a raça ou a
coloração das pessoas, ou mesmo fixar que algo é o politicamente
correto ou incorreto não resolve nem remedeia a situação, até porque,
na boca ou no ouvido do maldoso, os melhores termos podem ser
distorcidos.

Nem
Ver Bem como (P. 158), E nem (P. 318) e Nem… nem (P. 493).

Nem… nem
1. No que concerne à concordância verbal, lembra Artur de Almeida Torres
que “os sujeitos da terceira pessoa do singular, ligados pela conjunção
nem, repetida ou não, podem ter o verbo no singular ou no plural”. Exs.:
a) “Nem o estrépito do cavalo e do veículo, nem a minha entrada fez
levantar o dono do negócio” (Machado de Assis); b) “Até aí nem o
nome, nem a imagem de Leonor me tinha passado pelo espírito”
(Alexandre Herculano); c) “Nem o barão nem o pajem pregaram olho à
noite”; d) “São Paulo disse animosamente que estava certo que nem a
morte, nem a vida o podiam separar do amor de Deus” (Padre Manuel
Bernardes).
2. Fundado em lição de Epifânio Dias, complementa tal autor que “o verbo
vai para o plural, se quem fala pretende fazer sobressair a ideia da
pluralidade dos sujeitos; vai para o singular, se tem em vista dar realce à
referência do predicado a cada sujeito separado” (TORRES, 1966, p.
148-9).
3. Mais do que questão de preferência e estilo, porém, por um lado, quando
os elementos do sujeito vierem ligados pela conjunção nem, com ideia
de exclusão, o verbo ficará no singular. Ex.: “Nem Pedro nem Paulo
casará com Maria”.
4. Por outro lado, se não houver a ideia de exclusão, mas sim de
concomitância, de rigor será a concordância do verbo no plural (GÓIS,
1943, p. 38). Ex.: “Nem ele nem sua mulher ficaram contentes” (Padre
Antônio Vieira).
5. Ultimando com a síntese de João Ribeiro (1923, p. 150), quando se trata
de núcleos unidos por ou ou por nem, “o verbo, quando só se refere a
um, com exclusão de outro, fica no singular”; porém, se o verbo “se
refere à totalidade dos sujeitos, vai para o plural”.
Ver Nem um nem outro (P. 493).

Nem pensar nisso! – Está correto?


1. Trata-se de expressão em que o infinitivo é usado em lugar e com o
sentido de imperativo: equivale a “nem pense nisso!”.
2. É modo correto de dizer, podendo-se apontar outros exemplos
corriqueiros de mesma estrutura: a) “Apontar armas!”; b) “Avançar!”; c)
“Passar bem!”.

Nem um nem outro


1. É expressão a ser observada pelo prisma da concordância verbal.
2. Com ela no sujeito, o verbo concorda, indiferentemente, no singular ou
no plural. Exs: a) “Clóvis Beviláqua e Vicente Rao, nem um nem outro
deixou de espalhar talento e cultura” (correto); b) “Clóvis Beviláqua e
Vicente Rao, nem um nem outro deixaram de espalhar talento e cultura”
(correto).
3. Segue igual concordância a expressão um e outro.
Ver Nem… nem (P. 493).

Nem um ou Nenhum?
Ver Nenhum ou Nem um? (P. 493)

Nenhum dos advogados – compareceu ou compareceram?


1. A indagação que se faz busca saber qual a forma correta: a) Nenhum de
seus dois advogados compareceu à audiência?; b) Nenhum de seus dois
advogados compareceram à audiência?
2. Em casos dessa natureza, podem ser feitas as seguintes observações: a) a
expressão “nenhum de seus dois advogados”, quanto à Gramática, é
similar a outras da mesma espécie (algum dos advogados, cada um dos
advogados, cada qual dos advogados, qualquer um dos advogados…);
b) em todas elas, há, por primeiro, um pronome indefinido ou expressão
equivalente (nenhum, algum, cada um, cada qual, qualquer um); c) o
núcleo do sujeito é exatamente esse pronome ou expressão do singular;
d) a outra expressão (dos advogados) traz a ideia de especificação e não
pode ser núcleo do sujeito, no mínimo, porque é preposicionada, e o
sujeito, em nossa estrutura linguística, não vem precedido de preposição.
3. Resolvidas essas questões estruturais, a questão se torna fácil: aplica-se a
regra básica de concordância verbal, que diz, em síntese, que o verbo
concorda com o seu sujeito (mais especificamente com o núcleo do
sujeito).
4. Em termos práticos, confiram-se os exemplos quanto à correção: a)
“Nenhum de seus dois advogados compareceu à audiência” (correto); b)
“Nenhum de seus dois advogados compareceram à audiência” (errado);
c) “Algum dos advogados podia ter comparecido à audiência” (correto);
d) “Algum dos advogados podiam ter comparecido à audiência”
(errado); e) “Cada um dos advogados compareceu a seu modo à
audiência” (correto); f) “Cada um dos advogados compareceram a seu
modo à audiência” (errado); g) “Cada qual dos advogados compareceu
a seu modo à audiência” (correto); h) “Cada qual dos advogados
compareceram a seu modo à audiência” (errado); i) “Qualquer um dos
advogados poderia ter comparecido à audiência” (correto); j) “Qualquer
um dos advogados poderiam ter comparecido à audiência” (errado).

Nenhum ou Nem um?


1. Nenhum – pronome indefinido de significação negativa – é o contrário
de algum. Ex.: “Nenhum autor encontrei favorável a esse
posicionamento”.
2. Nem um, por outro lado, é a mescla da conjunção ou advérbio nem com
o numeral um, opondo-se a uma outra expressão qualquer, em que a
palavra nem venha seguida de outro numeral. Ex.: “Ele pensou muito em
defender esse posicionamento, nem uma, nem duas vezes”.
3. Em síntese precisa ministrada por Aires da Mata Machado Filho, vê-se
que a diferença de sentido entre a primeira palavra e a segunda
expressão é grande; “é a mesma que estrema o pronome indefinido, de
valor vago por definição, do numeral cardinal, que expressa a quantidade
por forma positiva” (1969h, p. 1.429).
4. Também buscando a melhor explicação, afirma Evanildo Bechara:
“Enquanto nenhum é um termo que generaliza a negação, nem um se
refere à unidade” (1974, p. 271).
5. Interessante é observar que, assim como algum faz, no plural, alguns, de
igual modo nenhum, no plural, faz nenhuns, como se pode ver nos
seguintes exemplos: a) “Tem havido escritores e oradores de
vocabulário pobre. Machado de Assis, Eça de Queirós, Vieira e Camões
não foram nenhuns milionários do verbo, nem com isso se teriam
preocupado” (JUCÁ FILHO, 1954, p. 47); b) “Conselhos não lhe dou
nenhuns” (Machado de Assis).
6. Em outras palavras, se modificar substantivo no plural, deverá ser feita a
normal flexão dessa palavra (nenhuns problemas); o mesmo se há de dar,
se a palavra modificada for feminina plural (nenhumas soluções).
7. Nesse aspecto, Sousa e Silva (1958, p. 189-90) colhe excerto em que
ocorre um erro: “Da casa do Alberto ainda não tive notícias nenhuma”;
e manda corrigir: “Da casa do Alberto ainda não tive notícias
nenhumas”.
8. É de se ver que autores insuspeitos fazem variar para o plural tal palavra,
quando também é plural o vocábulo por ela acompanhado: a) “Ornatos
de vaidades retóricas, nenhuns” (Camilo Castelo Branco); b) “Quanto à
irmã de Pelágio, nenhuns vestígios haviam encontrado” (Alexandre
Herculano).

Nenhures – Existe?
1. Trata-se de advérbio que significa em nenhum lugar. Ex.: “Nenhures
poderá ser encontrado posicionamento doutrinário semelhante”.
2. Contrapõe-se a algures, que significa em algum lugar, em alguma parte.
3. Não confundir com alhures, que tem o sentido de em outro lugar.
4. Vasco Botelho de Amaral, defendendo-lhe o uso normal na estrutura
atual da língua, anota, de modo taxativo: “Se amanhã vir ou ouvir que
nenhures é arcaísmo desprezível, não me admirarei nada…” (1943, p.
14).
5. Porque já significa em nenhum lugar (em que se nota a presença da
preposição em), é totalmente incorreto o emprego de em nenhures.

Neologismo
1. Em termos práticos, é o contrário de arcaísmo.
2. Define-o Aurélio Buarque de Holanda Ferreira como a “palavra, frase ou
expressão nova, ou palavra antiga com sentido novo” (s/d, p. 969).
3. Napoleão Mendes de Almeida (1981, p. 208) o vê consistindo “no
emprego de palavras novas, criadas pela ciência, por organizações
modernas (telégrafo, autódromo, astronauta, telex, xerox) ou de palavras
antigas tomadas em sentido novo (computador, satélite)”.
4. Asseverando tratar-se o uso dos neologismos de mania “das mais
detestáveis” e que os neologistas “não passam de deturpadores da
língua”, Júlio Ribeiro doutrina que o neologismo “só se justifica pela
necessidade de uma denominação nova, para uma descoberta que
também é nova, para um novo instrumento; ou então quando vem
apadrinhado por um nome respeitado na língua” (1908, p. 353).
5. Anotam, por sua vez, Regina Toledo Damião e Antonio Henriques que
“o importante, na questão dos neologismos, é não tomar posições
extremadas, mesmo porque a oposição radical ao neologismo é inútil”
(1994, p. 54).
6. Não se há de esquecer, nessa esteira, como lembra Mário Barreto, que “o
romancista Camilo Castelo Branco, que entre os grandes artistas da
palavra sobressai pela inultrapassável riqueza de seu léxico, serviu-se
frequentemente de palavras expressivas, sugestivas e pitorescas, que não
estavam no Dicionário, ou que o não estavam na época em que ele
escreveu” (1954b, p. 133).
7. Também a esse respeito, leciona Evanildo Bechara que “o que se deve
combater é o excesso de importação de línguas estrangeiras, mormente
aquela desnecessária, por se encontrarem no vernáculo vocábulos e giros
equivalentes” (1974, p. 333).
8. Já para Rui Barbosa, “salvos os casos de necessidade ou utilidade, e boa
adaptação vernácula, voto contra o neologismo” (s/d, p. 570).
9. Buscando analisar outro aspecto, refere Júlio Nogueira que “o caráter do
neologismo é temporário. Conhecida a cousa, tornada familiar pelo uso
que dela fazemos, o nome que se lhe dá fica por tal forma ligado à sua
significação que dentro em pouco tempo a novidade do termo
desaparece. Assim já não podem ser consideradas neologismos palavras
relativamente novas, como: fotografia, telégrafo, telefone, fonógrafo,
gramofone, automóvel, cinematógrafo, radiografia, etc.” (1930, p. 54).
10. A dupla exigência para formação do neologismo (estruturação
adequada em nosso idioma + ausência de sinônimo em nossa língua)
encontra-se expressa em lição de Napoleão Mendes de Almeida: “Para
que se justifique, o neologismo deve, antes de tudo, ser necessário e,
depois, formado de acordo com o gênio da língua. Não sendo
conveniente nem corretamente formado, o neologismo passa a ser
barbarismo” (1981, p. 208).
11. Em mesmo sentido, repetindo lição de Júlio Ribeiro, assevera Artur de
Almeida Torres (1966, p. 222) que o neologismo “só se justifica pela
necessidade de uma denominação nova, para uma descoberta que
também é nova, para um novo instrumento, ou então quando vem
apadrinhado por nome respeitado na língua”, concluindo ele próprio
que, “fora desses casos, o neologismo deixa de ser uma riqueza da
língua e passa à caterva dos barbarismos”.
12. Mário Barreto também lembra os requisitos que hão de convergir para
a aceitação de um neologismo: “Para uma palavra ou uma locução de
formação recente serem aceitáveis hão de preencher as condições
seguintes: hão de observar-se na sua formação as leis morfológicas
relativas à estrutura das palavras simples e primitivas e à construção
das derivadas, compostas e justapostas; finalmente, hão de estar
autorizadas pelo uso de bons escritores” (1954a, p. 91).
13. Exatamente por causa dessa dupla exigência para a formação de um
neologismo – estruturação adequada no idioma + ausência de sinônimo
– foi que, anos atrás, apesar da defesa de alguns gramáticos, acabou
sendo condenado o emprego da palavra imexível, feito por um ex-
ministro. Por um lado, sua formação estava integralmente de acordo
com as regras de nossa língua, quer quanto ao prefixo, quer quanto ao
sufixo utilizados. Deu-se, porém, que já havia no idioma sinônimos
perfeitos para o vocábulo, representados pelas palavras intangível e
intocável.
14. Quanto à excessiva aversão a que se incorporem palavras novas ao
nosso léxico, é de se meditar nas palavras judiciosas de Júlio Nogueira,
o qual, então, falava especificamente do Francês: “Acaso a nossa
língua pode apresentar palavras tiradas dos próprios celeiros para
exprimirem todas as ideias concernentes à arte da navegação, da
guerra, das modas, do esporte e tantas outras? Não sejamos, pois,
intolerantes e, principalmente, parciais como nos temos revelado em
desfavor das contribuições que recebemos desde tempos remotos de
uma das mais cultas línguas do universo, senão a mais culta” (1959, p.
53).
15. Adicione-se outra admoestação do mesmo gramático: “o que cumpre é
combater o propósito evidente em raros escritores de dar à sua frase um
ar de construção francesa, para que se tenha a impressão de que eles
sabem francês” (NOGUEIRA, 1959, p. 53).
16. De Rui Barbosa também chega a advertência de que “todos os idiomas
vivos permutam uns com os outros. Seria desatino recusar esses
subsídios, tão inestimáveis quanto imprescindíveis, que se mutuam as
línguas, enquanto não fossilizadas” (BARBOSA apud TORRES, 1966,
p. 221).
17. Também não se olvide a lição de José Oiticica: “Se o neologismo
necessário é bem feito, enriquece a língua, aumentando-lhe o poder de
expressão e a maleabilidade; não assim o neologismo descabido, capaz
de usurpar as funções de boas palavras ou construções clássicas. Pior
ainda o vezo das novidades léxicas e sintáticas” (1954, p. 33-4).
18. Sobre a necessidade de acolhida de novos termos, atente-se ao
ensinamento de que “sem o neologismo as línguas ficariam
estacionárias; não teriam saído nunca da infância; não teriam nome
grande número de objetos novos, e seria impossível a manifestação de
muitas ideias por meio da palavra” (BARRETO, 1954a, p. 91).
19. Oportuna, no caso, a lição de Vasco Botelho de Amaral: “O combate ao
estrangeirismo não pode, não deve tomar o aspecto de intolerância, de
veto rígido, o que não quer dizer que perca a energia necessária diante
de invasões perigosas. Quem estuda, quem investiga os problemas
linguísticos precisa de procurar o equilíbrio, ou antes, a virtude do
meio termo” (1943, p. 24).
20. Também vale transcrever a advertência de Hêndricas Nadólskis e
Marleine Paula Marcondes Ferreira de Toledo: “Não podemos deixar
de importar palavras quando for necessário; mas, se já houver vocábulo
equivalente em português, é claro que devemos usá-lo. Por exemplo,
use desempenho em vez de performance. Se não houver, verifique se já
está aportuguesado. Se já estiver, não deixe de escrever a forma
dicionarizada” (1998, p. 67). Exs.: bói, estande, estresse, leiaute, lêiser,
náilon, turnê, uísque, xampu.
21. Faça-se ligeiro retoque a essa preciosa observação: pode haver forma
dicionarizada que não conste do Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, e vice-versa. Em caso de divergência assim, prevalecerá o
VOLP, editado pela Academia Brasileira de Letras, órgão esse que tem
a autoridade oficial para listar os vocábulos existentes em nosso léxico,
bem como sua grafia e outras circunstâncias de flexão e pronúncia. Os
dicionaristas, por mais relevantes serviços que prestem ao idioma, não
detêm a palavra oficial e final sobre a matéria.
22. De igual modo oportuna a lição de Mário Barreto (1954b, p. 131-2),
que, invocando lição de Vaugelas, lembra que o uso é o mestre, o rei e
o tirano nesse campo, sendo ele quem consagra, definitivamente e
soberanamente, decidindo se se abre ou não a porta do léxico aos novos
vocábulos; e, porque assim é, enquanto espera que em definitivo “se
pronuncie o veredicto do uso”, ao professor e ao gramático incumbe,
por dever, “ensinar não a língua de ontem e muito menos a de amanhã,
mas a língua de hoje”.
23. De modo muito especial para os arrazoados forenses e livros jurídicos,
imprescindível é meditar na apropriada admoestação de Geraldo
Amaral Arruda (1997, p. 64), para quem, se o profissional de Direito
“não dispuser de conhecimentos maiores da língua, não se aventure a
criar verbos novos”, pois “o exibicionismo é perigoso”.
24. Curioso observar que, para a criação dos neologismos verbais, a única
conjugação prolífica tem sido a primeira (-ar). Ex.: telefonar,
telegrafar, televisionar e inúmeros outros.
Ver Formação de adjetivos – Regras (P. 360).

Neo-pentecostal ou Neopentecostal?
1. Com as alterações encartadas no sistema pelo Acordo Ortográfico de
2008 quanto ao emprego do hífen, vale refletir sobre a escolha da grafia
correta: neo-pentecostal ou neopentecostal?
2. Esse elemento tem o significado de novo, como em neoimperialista e
neofascista e, em razão de seu largo uso como primeiro elemento de uma
nova palavra, acabou conhecido como um falso prefixo.
3. Pelas regras trazidas pelo Acordo Ortográfico de 2008, apenas em dois
casos tal elemento se une por hífen ao segundo elemento: a) quando o
segundo elemento começa com a mesma vogal com que se encerra o
prefixo: neo-orleanês, neo-ortodoxo; b) quando o segundo elemento
começa com h: neo-hebraico, neo-holandês.
4. Por conseguinte, liga-se diretamente ao segundo elemento, quando este é
iniciado por outras vogais, que não aquela que encerra o prefixo:
neoacadêmico, neoafricano, neoescocês, neoescolástico,
neoimperialismo, neoimpressionismo.
5. Também se liga sem hífen ao segundo elemento, quando este é iniciado
por consoante: neobarroco, neocapitalismo, neocristianismo,
neodarwinismo, neofascista, neogramático, neomodernismo,
neopentecostal.
6. E, se o segundo elemento se inicia por r ou s, tais consoantes se
duplicam para que haja continuidade do som originário:
neorracionalismo, neorrealista, neorrepública, neosserranense,
neossimbolismo, neossocialismo.

Neste ou Nesse?
Ver Pronome demonstrativo (P. 611).

Ninguém nunca – Está correto?


Ver Dupla negativa – Está correto? (P. 295), Não – Com hífen ou sem? (P.
484) e Nunca jamais – Está correto? (P. 509)

Nível
Ver A nível de, Ao nível de ou Em nível de? (P. 116)
No aguardo – É correto?
Ver Ficar no aguardo – É correto? (P. 356)

Nobel – Oxítona ou Paroxítona?


1. É o nome do célebre prêmio instituído pelo inventor da dinamite, Alfred
Nobel.
2. Quanto à prosódia, lembra Napoleão Mendes de Almeida (1981, p. 205)
que o instituidor era sueco, e em sueco a palavra é oxítona, rimando,
assim, com Abel, não havendo razão alguma para, em nosso idioma, ser
pronunciada como paroxítona.
3. Desse entendimento é também Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 19).
4. A pronúncia oxítona de tal vocábulo é também observada por Arnaldo
Niskier (1992, p. 1) em obra de elevado cunho prático.

No caso concreto ou No caso em concreto?


1. Um leitor pergunta qual a forma correta para a expressão: no caso
concreto ou no caso em concreto.
2. Ora, quando se emprega uma expressão como essa, quer-se referir, em
última análise, a um caso prático, a um caso discutido, a um caso
apreciado, ou algo equivalente.
3. E, em qualquer das expressões que possam ser usadas em mesmo
sentido, não se entrevê a necessidade de fazer com que o adjetivo venha
precedido da preposição em.
4. Com a expressão trazida pelo leitor, de igual modo, não há razão para
procedimento diverso.
5. Assim, o correto é dizer no caso concreto, e não no caso em concreto.

No dia 4 de julho
Ver A catorze de julho ou Em catorze de julho? (P. 64)

No entanto
Ver No entretanto – Está correto? (P. 496)
No entretanto – Está correto?
1. Entretanto e no entanto são formas sinônimas e perfeitamente usáveis,
tendo o significado adversativo de mas, porém, todavia, contudo. Exs.:
a) “O advogado fez um trabalho primoroso, no entanto não conseguiu
êxito” (correto); b) “O advogado fez um trabalho primoroso, entretanto
não conseguiu êxito” (correto).
2. Já na expressão no entretanto, Evanildo Bechara (1974, p. 165) vê uma
locução adverbial de tempo, com o sentido de nesse ínterim, nesse
tempo, nesse intervalo, e observa que muitos puristas condenam o
acréscimo de no para fazê-la valer como conjunção adversativa.
3. Desse mesmo entendimento é Arnaldo Niskier, para quem “no entanto e
entretanto se equivalem, o erro está em mesclar as duas formas e obter
no entretanto” (1992, p. 33).
4. Luís A. P. Vitória também leciona que existe entretanto e também se
pode dizer no entanto, mas “não é correto dizer no entretanto” (1969, p.
103).
5. Pelo ensino de Eliasar Rosa (1993, p. 99-100), é de se evitar o uso de tal
expressão como sinônima de mas, porém, todavia…, por ser ela locução
temporal com o significado de no intervalo, nesse ínterim.
6. Além disso, como lembra Napoleão Mendes de Almeida (1981, p. 101),
mesmo nesse último sentido, trata-se de forma que caiu em desuso.

No Estado de S. Paulo – Está correto?


Ver O Estado de S. Paulo (P. 519).

No fundo – Galicismo?
1. Júlio Nogueira (1930, p. 53) a insere entre as locuções, expressões e
frases completas que conservam o “ar francês” do galicismo, espécies
das mais repreensíveis, “pois não correspondem a uma necessidade da
língua”.
2. Rui Barbosa, em mesma linha de raciocínio, aconselha que se diga em
suma, na essência, em substância, conforme o caso (BARBOSA apud
NOGUEIRA, 1959, p. 64).
3. Citando, todavia, trecho em que Cândido de Figueiredo – que também se
insurgia contra a francesia da locução e mandava substituí-la por na
essência, em substância, no ponto capital, no âmago – Heráclito Graça
atesta-lhe plena vernaculidade e aponta, para exemplo, um excerto de
Latino Coelho: “Conformando um e outro no fundo da história, mas
dissentindo nas circunstâncias e episódios…”.
4. E lembra o referido gramático que “no fundo e na forma” é “expressão
corrente entre pessoas cultas” (GRAÇA, 1904, p. 363-6).

No-lo
Ver Mo – Está correto? (P. 476)

Nome
1. O nome de uma pessoa, genericamente considerado, em termos de
técnica jurídica, compõe-se de duas partes: a) o prenome, ou seja, o
nome próprio, ou nome de batismo, pelo qual geralmente a pessoa é
chamada ou conhecida, que pode ser simples (Rita, Ana, Carolina,
Ovídio) ou composto (José Maria, Rita de Cássia, José Saulo); b) o
sobrenome, também conhecido tecnicamente como apelido de família
(CC/1916, art. 240, parágrafo único, e Lei 6.015/73, art. 56), como nome
de família, sobrenome ou patronímico, que também pode ser simples
(Costa, Leite) ou composto (Leite da Costa, Rocha Barros).
2. O nosso prenome corresponde ao prénom dos franceses, aos forenames
dos ingleses e aos nombres de pila dos povos de língua espanhola.
3. Já o sobrenome corresponde ao nom dos franceses, ao family name dos
ingleses e ao apellido dos povos de língua espanhola.
4. Apesar da distinção técnica existente entre os termos, acaba por haver,
nos textos de lei e de doutrina, nos arrazoados forenses e nos acórdãos,
uma generalizada confusão em torno da denominação dos elementos
formadores do nome, quer pela ausência de precisão terminológica, quer
pela multiplicidade de vocábulos para significar uma mesma realidade.
5. Exemplo marcante dessa ocorrência é a falta de técnica e de
uniformidade registrada no próprio Código Civil de 1916, repositório de
tão grande apuro de ciência e de linguagem, em resultado das conhecidas
polêmicas travadas entre Rui Barbosa e o conhecido gramático Ernesto
Carneiro Ribeiro: a) assim, nome significa nome por inteiro nos arts.
271, I, 324 (hoje revogado pela Lei do Divórcio), 386, 487, 666, I, II e
VII (hoje revogado pela Lei 5.988/73), 698, 846, I, 931, 940, 1.289, § 1º,
1.307 e 1.510; b) a nomes se contrapõe o vocábulo prenomes no art. 195,
I, II, III e VI; c) já no art. 1.039, a contraposição se faz entre nomes e
sobrenomes; d) por fim, no art. 240, não se fala em nomes ou
sobrenomes, mas em apelidos.
6. A confusão continua existindo, de um modo geral, na redação da maioria
dos citados dispositivos, no Código Civil de 2002. Apenas o art. 1.536
(correspondendo ao art. 195 do anterior) substituiu “nomes” e
“prenomes”, respectivamente, por “prenomes” e “sobrenomes”. O art.
1.565 (correspondendo ao art. 240 do anterior) substituiu “apelidos” por
“sobrenome”. O art. 324 do Código Civil de 1916 (revogado pelo art. 17
da Lei do Divórcio), viu substituída a condenação da mulher vencida na
ação a “perder o nome do marido” por outro circunlóquio: “voltará a
usar o nome de solteira”.

Nomear
1. Quanto à conjugação verbal, como todo verbo terminado por ear, recebe
um i intermediário nas formas rizotônicas: nomeio, nomeias, nomeia,
nomeamos, nomeais, nomeiam (presente do indicativo); nomeie,
nomeies, nomeie, nomeemos, nomeeis, nomeiem (presente do
subjuntivo); nomeia, nomeie, nomeemos, nomeai, nomeiem (imperativo
afirmativo); não nomeies, não nomeie, não nomeemos, não nomeeis, não
nomeiem (imperativo negativo).
2. Como as formas rizotônicas apenas ocorrem nos tempos já referidos, a
mencionada peculiaridade não se repete nos demais: nomeava (pretérito
imperfeito do indicativo), nomearei (futuro do presente do indicativo),
nomearia (futuro do pretérito do indicativo), nomeei (pretérito perfeito
do indicativo), nomeara (pretérito mais-que-perfeito do indicativo),
nomear (futuro do subjuntivo), nomeasse (imperfeito do subjuntivo),
nomeando (gerúndio), nomeado (particípio).
3. Não confundir com os terminados em iar, como anunciar, que são
verbos regulares, com exceção de mediar, ansiar, remediar, incendiar e
odiar, que têm regime próprio, seguindo por modelo o último referido, e
que são conhecidos pela sigla MARIO.
4. Em adição, vale registrar a preciosa observação de Júlio Nogueira (1959,
p. 99): “Não há na língua um só verbo terminado em eiar. O que há são
verbos em ear e iar. Os primeiros, uniformemente, inserem um i nas três
pessoas do singular e na terceira do plural do presente do indicativo,
formas acentuadas no radical (rizotônicas)”.
5. Já os segundos, obviamente, são regulares, sem qualquer acréscimo ou
alteração. Como já observado, excetuam-se os da sigla MARIO, que são
irregulares.
6. Também preciosa a anotação de Carlos Góis e Herbert Palhano no
sentido de que, em verbos com essa terminação, “é erro grave escrever
no infinitivo ‘eiar’” (1963, p. 112).
7. Em mesma direção é o ensino de Otoniel Mota, para quem é errôneo em
português escrever passeiar, guerreiar, “porque não há um sufixo verbal
eiar, mas ear” (1916, p. 68).
8. Quanto à regência verbal, é de se ver que, numa frase como “O
governador nomeou-o comandante”, podem-se estabelecer as seguintes
funções sintáticas: a) O governador é o sujeito; b) o é o objeto direto; c)
comandante é o predicativo do objeto direto.
9. Com tal verbo, o predicativo do objeto direto pode vir sem preposição ou
com a preposição por ou para, motivo por que são corretos os três
seguintes exemplos: a) “O governador nomeou-o comandante”; b) “O
governador nomeou-o por comandante”; c) “O governador nomeou-o
para comandante” (BARRETO, 1954b, p. 197).
10. Celso Pedro Luft admite-lhe a construção com a preposição como: “Foi
nomeado como Pai dos Pobres” (1999, p. 378).
11. Francisco Fernandes (1971, p. 434) acrescenta a possibilidade de sua
sintaxe com a preposição em: “Não quis nomeá-lo em presidente da
seção” (Sandoval).
Ver Como sendo – Está correto? (P. 198) e Julgar (P. 435).
Nomeou-o depositário ou Nomeou-lhe depositário?
1. Uma leitora indaga qual das duas expressões está correta: “Nomeio-o
depositário” ou “Nomeio-lhe depositário”?
2. Quanto à regência verbal, é de se ver que, numa frase como “O
governador nomeou-o comandante”, podem-se estabelecer as seguintes
funções sintáticas: a) O governador é o sujeito; b) o é o objeto direto; c)
comandante é o predicativo do objeto direto.
3. Com tal verbo, o predicativo do objeto direto pode vir sem preposição ou
com a preposição por ou para, motivo por que são corretos os três
seguintes exemplos: a) “O governador nomeou-o comandante”; b) “O
governador nomeou-o por comandante”; c) “O governador nomeou-o
para comandante” (BARRETO, 1954b, p. 197).
4. Celso Pedro Luft admite-lhe a construção com a preposição acidental
como: “Foi nomeado como Pai dos Pobres” (1999, p. 378).
5. Francisco Fernandes (1971, p. 434) acrescenta a possibilidade de sua
sintaxe com a preposição em: “Não quis nomeá-lo em presidente da
seção” (Sandoval).
6. Como se pode ver, os estudiosos do assunto, nesse sentido de qualificar
ou considerar, admitem, então, as seguintes construções: a) objeto sem
preposição + complemento sem preposição; b) objeto sem preposição +
complemento com a preposição acidental como; c) objeto sem
preposição + complemento com a preposição por; d) objeto sem
preposição + complemento com a preposição para; e) objeto sem
preposição + complemento com a preposição em.
7. Desse modo, estão corretos os seguintes exemplos: a) “O juiz nomeou o
advogado síndico da falência”; b) “O juiz nomeou o advogado como
síndico da falência”; c) “O juiz nomeou o advogado por síndico da
falência”; d) “O juiz nomeou o advogado para síndico da falência”; e)
“O juiz nomeou o advogado em síndico da falência”. Mas em nenhum
dos casos se admite a construção “O juiz nomeou ao advogado…”
8. Ante essas considerações, com a forçosa observação de que o objeto,
nesses casos, pode ser direto, mas não indireto, estão corretas as
seguintes formas quanto ao exemplo trazido pela leitora: a) “Nomeio-o
depositário”; b) “Nomeio-o como depositário”; c) “Nomeio-o por
depositário”; d) “Nomeio-o para depositário”; e) “Nomeio-o em
depositário”.
9. Exatamente porque o objeto pode ser direto, mas não indireto, estão
errados os seguintes exemplos: a) “Nomeio-lhe depositário”; b)
“Nomeio-lhe como depositário”; c) “Nomeio-lhe por depositário”; d)
“Nomeio-lhe para depositário”; e) “Nomeio-lhe em depositário”.

Nome próprio – Com artigo ou Sem artigo?


1. Indaga-se, em suma, qual o complemento que se dá para o verbo
pertencer, quando se quer saber o que está correto: a) “O livro pertence
a José”; b) “O livro pertence ao José”?
2. Nunca é demais repetir o princípio básico de que o estudo do
relacionamento entre as palavras na frase diz respeito a uma parte da
Gramática denominada sintaxe (do grego sin = conjunto + taxe =
construção).
3. E o capítulo específico da Gramática que trata das preposições exigidas
pelo verbo para iniciar seu complemento (ou mesmo ausência de
preposição) chama-se regência verbal.
4. Em nosso idioma, as questões de construção, ou seja, de sintaxe, são
solucionadas pelo uso que nossos melhores autores, desde Camões
(1524-80), fizeram do idioma pátrio. E a expressão melhores autores
deve abranger aqueles escritores que empregaram o vernáculo com
apuro e zelo.
5. Buscar, porém, na obra literária dos nossos melhores autores, como foi o
emprego da regência do verbo pertencer é como procurar agulha em um
palheiro.
6. Mas isso não é necessário, pois, de um modo geral, estudiosos e
gramáticos já realizaram estudos nesse sentido, compilaram milhares de
exemplos e sistematizaram, em monografias preciosas, grande parte da
sintaxe de vocábulos dessa natureza.
7. De modo específico para os limites da indagação, mais não é preciso, em
princípio, do que atentar à lição de Domingos Paschoal Cegalla (1999, p.
317-8): o verbo pertencer “exige complemento indireto regido da
preposição a”. Exs.: a) “O iate pertencia a um banqueiro”; b) “Estas
ilhas pertencem a Portugal” (Constâncio).
8. Vale acrescentar que os pronomes pessoais oblíquos átonos o, a, os e as
funcionam como objetos diretos, enquanto os pronomes lhe e lhes
servem para substituir objetos indiretos. Assim: a) “O documento
pertence aos autos”; b) “O documento pertence-lhes”.
9. Quanto a saber se o correto é “O documento pertence a José” ou “O
documento pertence ao José”, diga-se desde logo que ambas as formas
estão corretas, e a questão, agora, já não é mais de regência verbal, até
porque a preposição a, exigida pelo verbo pertencer, encontra-se em
ambos os exemplos.
10. O que convém esclarecer, nesse aspecto, é que há duas formas de falar
os nomes das pessoas: a) sem artigo, o que denota formalidade no
tratamento; b) com artigo, o que indica intimidade no tratamento. Exs.:
i) “José esteve aqui faz quinze minutos” (tratamento formal); ii) “O
José esteve aqui faz quinze minutos” (tratamento informal); iii) “Dei o
livro a José” (tratamento formal); iv) “Dei o livro ao José” (tratamento
informal).
11. Com tal ponderação, independentemente de ser formal ou informal o
tratamento, estão gramaticalmente corretos ambos os exemplos: a) “O
livro pertence a José”; b) “O livro pertence ao José”.
12. E quanto a saber se o correto é “O livro pertence a meu irmão” ou “O
livro pertence ao meu irmão”, também não é difícil explicar. Ambos os
exemplos são corretos. Por razões dadas, de igual modo, como
formalidade ou informalidade, os pronomes possessivos (meu, minha,
meus, minhas) admitem, antes de si, de modo optativo, o uso dos
artigos, de sorte que estão igualmente corretos os dois exemplos
referidos. E, se ambos estão corretos no masculino, confira-se o
feminino: a) “O livro pertence a minha irmã” (correto); b) “O livro
pertence à minha irmã” (correto).

Nomes compostos
Ver Substantivos compostos – Como levar ao plural? (P. 717)
Nomes comuns
Ver Maiúsculas (P. 455).

Nomes de família
Ver Grafia de nomes próprios (P. 376) e Plural de nomes próprios –
Existe? (P. 566)

Nomes de meses
Ver Datas (P. 250).

Nomes de pessoas
Ver Grafia de nomes próprios (P. 376).

Nomes estrangeiros
Ver Plural de nomes estrangeiros – Existe? (P. 566)

Nomes plurais
1. Há determinados substantivos comuns que são apenas usados em sua
forma plural, como, por exemplo, arras, exéquias, óculos.
2. Com eles, é preciso atentar a concordância verbal, porque, se estão na
função sintática de sujeito, sempre levam o verbo para o plural: “Meus
óculos caíram e se quebraram”.
3. É errônea, assim, a forma: “Meu óculos caiu e se quebrou”.
4. Interessante observar-se o caso do vocábulo anais, utilizado somente na
forma plural como substantivo sinônimo de registros, mas flexionado
normalmente como sinônimo de cerimônia realizada ao longo de um
ano ou como adjetivo.

Nomes próprios
Ver Grafia de nomes próprios (P. 376).
Nomes próprios personativos
Ver Plural de nomes próprios – Existe? (P. 566)

Nomes próprios plurais


1. Há determinados nomes próprios que sempre se apresentam na forma
plural: Alpes, Andes, Estados Unidos, Lusíadas, Sertões, Vassouras.
2. Tais substantivos trazem problemas de concordância verbal, e três
observações podem ser formuladas a seu respeito.
3. Por primeiro, se um nome desses vem precedido de artigo, o verbo
concorda com esse artigo. Ex.: “Os Estados Unidos invadiram o
Iraque”.
4. Se, porém, o nome não é precedido de artigo, o verbo fica no singular.
Ex.: “Vassouras homenageou aquele desembargador”.
5. Para o último caso, de Júlio Nogueira é a lição de que, “se o nome
geográfico é do plural, mas só se pode usar sem artigo, a concordância
deve ser no singular: Campos produz muito açúcar, Minas é abundante
em minérios, Campinas tem muitas andorinhas etc.” (1939, p. 208).
6. Assim sintetizam José de Nicola e Ernani Terra (2000, p. 164) a questão
do plural de nomes dessa natureza, rol esse em que tais autores incluem
até mesmo nomes comuns: “Quando o sujeito é um nome que só se usa
no plural (Estados Unidos, Alagoas, Minas Gerais, férias, pêsames, etc.)
e não vem precedido de artigo, o verbo fica no singular. Caso venha
antecipado de artigo, o verbo concordará com o artigo”. Exs.: a)
“Alagoas possui lindas praias”; b) “As Alagoas possuem lindas praias”;
c) “Férias faz bem”; d) “As férias fazem bem”; e) “Pêsames não traz
conforto”; f) “Os pêsames não trazem conforto”; g) “Os Estados Unidos
enviaram poderoso reforço”; h) “O Amazonas fica longe”.
7. Por fim, se o nome plural é título de obra, optativa é a concordância, de
modo que pode o verbo ficar no singular ou ir para o plural. Ex.: a) “Os
Sertões faz parte de nosso melhor acervo cultural” (correto); b) “Os
Sertões fazem parte de nosso melhor acervo cultural” (correto).
8. Em mesmo sentido, vale lembrar a doutrina de João Ribeiro (1923, p.
159): “Os nomes, habitualmente do plural, que indicam unidade de tal
modo que não são acompanhados de artigo, exigem a concordância no
singular. Notem-se os exemplos: ‘Buenos Aires é a mais bela cidade da
América’; ‘Montes Claros fica na planície’”. E manda tal gramático
comparar a concordância com a dos nomes que trazem o artigo: ‘Os
Alpes ficam na Suíça’; ‘Os Estados Unidos fizeram guerra à Espanha’”.
9. E, em justificativa, complementa tal autor em outra passagem: “Os
nomes geográficos do plural, quando significam uma unidade, rio, cabo,
monte ou povoação, figuram como no singular: ‘Campos é próximo do
Rio’; ‘Buenos Aires está na embocadura do Prata’; ‘O fértil
Amazonas’”.
10. Ao depois, acrescenta tal gramático: “Há exceção quando os nomes
exprimem coletividade de montanhas, países, e são, por isso,
precedidos do artigo: ‘Os Estados Unidos de novo fizeram a paz’; ‘Os
Andes de sul a norte marginam o litoral do Oceano Pacífico’; ‘Os
Alpes nevam’” (RIBEIRO, João, 1923, p. 159).
11. Para resumir a Gramática, em tais casos, de oportuna lembrança a lição
de Aires da Mata Machado Filho (1969b, p. 717): “A boa norma é pôr
o verbo no singular quando o topônimo no plural dispensa o artigo
(Campos, Dores do Indaiá), e levá-lo para o plural quando o artigo seja
empregado (Os Estados Unidos)”.
12. E, quanto a nomes como Estados Unidos, atente-se ao ensino adicional
de Vitório Bergo: “não procede a alegação de que o nome, embora no
plural, se refere a um só país, pois esse país é constituído de diversos
estados, e a ideia de pluralidade se reflete no articular os. Por este, pois,
se pode regular a concordância: Campos progrediu, Campinas cresceu,
o Amazonas é grande, os Andes se estendem, os Estados Unidos
entraram em guerra” (1944, p. 178).
13. E Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 204), opondo-se aos que,
especificamente nesse caso, defendem a possibilidade de concordância
no singular sob o argumento de que os Estados Unidos seriam um só
país, justifica que “tal alegação não procede, porque a ideia de
pluralidade está claramente refletida no artigo os. Ademais, não se
deve levar em conta o que o termo possa eventualmente sugerir,
porquanto, assim fosse, teríamos uma verdadeira barafunda na língua”,
até porque se poderia dizer: “A guaraná está gelada” (por se tratar de
uma bebida), ou “Luís é boa” (por se tratar de uma pessoa), ou “Isilda
é sério” (por se tratar de um indivíduo).
14. Apenas para registro, transcreve-se o posicionamento minoritário, que,
pelas razões expostas, não merece ser seguido, de Júlio Nogueira: “a
denominação de países, livros etc. dada no plural não obriga o verbo ao
plural: ‘… os Estados Unidos são (ou é) um grande país’” (1939, p.
208).
Ver Nomes plurais (P. 499) e Plural de nomes próprios – Existe? (P. 566)

No que
Ver O de que – Está correto? (P. 517)

No que couber ou No que couberem?


1. Um leitor traz uma dúvida que tem causado, em seu círculo de amigos e
colegas de profissão, debates intermináveis: no que couber ou no que
couberem?
2. Por questão de facilidade didática, são propostos dois exemplos em que
aparece a expressão mencionada, com pequeno ajuste para explicitar
melhor o problema (em vez de no, aparece naquilo): a) “Esse princípio
será aplicável naquilo que couber”; b) “Esses princípios serão
aplicáveis naquilo que couber”.
3. Nesses dois exemplos, verifica-se que o que é um pronome relativo, o
que, na prática, se percebe, procedendo-se à sua substituição por o qual.
4. Ora, um pronome relativo começa uma segunda oração, de modo que as
orações do primeiro exemplo são as seguintes: a) “Esse princípio será
aplicável naquilo” (oração principal); b) “que couber” (oração
subordinada adjetiva [um pronome relativo começa exatamente uma
oração adjetiva]).
5. Ora, num exemplo como esse, chama-se ao que de pronome relativo por
duas razões: a) está ele em lugar de um nome anteriormente
mencionado; b) relaciona-se a esse nome quanto ao sentido e o
representa sintaticamente na nova oração.
6. A partir dessas premissas, podem-se fazer as seguintes afirmativas no
caso concreto: a) O sentido do texto mostra que o antecedente do que –
em cujo lugar ele está, com o qual se relaciona em sentido e ao qual
representa sintaticamente na outra oração – é aquilo (veja-se: naquilo =
em + aquilo); b) Deixar no singular ou levar para o plural o verbo que
vem após o que não depende do sujeito da oração anterior, mas apenas
do antecedente do que, já que este é sujeito da segunda oração.
7. Confira-se, portanto, a correção dos exemplos da consulta: a) “Esse
princípio será aplicável naquilo que couber”; b) “Esses princípios serão
aplicáveis naquilo que couber”.
8. Para ilustração sobre a flexão de um verbo de segunda oração, quando
nesta há um que que é sujeito, também se confiram os seguintes
exemplos, todos corretos: a) “O vigia não viu o ladrão que entrou”; b)
“Os vigias não viram o ladrão que entrou”; c) “O vigia não viu os
ladrões que entraram”; d) “Os vigias não viram os ladrões que
entraram”.

Norma culta
1. Em termos históricos, após um período fonético da grafia das palavras
(da fase inicial da língua até a metade do século XVI) e outro período
pseudoetimológico (marcado pelo eruditismo do período entre os séculos
XVI e XVIII, em que se inventavam símbolos extravagantes e se
duplicavam as consoantes intervocálicas, a pretexto de uma aproximação
artificial com o grego e o latim, em critério pretensioso, que contrariava
a própria evolução das palavras), adveio um terceiro período, marcado
pela renovação dos estudos linguísticos em Portugal, época em que surge
Gonçalves Viana. Este, após “algumas tentativas, consegue apresentar
um sistema racional de grafia, com base na história da língua”,
apresentando em 1904 sua Ortografia Nacional, obra que serviu de
roteiro à comissão de filólogos encarregada pelo governo português, em
1911, de elaborar um novo sistema ortográfico, que foi oficializado em
setembro do mesmo ano e adotado também em nosso país em 1931, por
acordo entre a Academia das Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira
de Letras, com aprovação de ambos os governos. Após alterações nesse
sistema, foi elaborado pela Academia Brasileira de Letras, com base no
Formulário Ortográfico, com aprovação da Academia das Ciências de
Lisboa, o Pequeno Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa,
oficializado no Brasil em 1943 e revigorado pelo Congresso Nacional
em 1955, por intermédio da Lei 2.623, de 21/10/55 (TORRES, 1966, p.
225-6).
2. Pode-se dizer, em termos bem práticos, que o Vocabulário Ortográfico
da Língua Portuguesa é, assim, uma espécie de dicionário que lista as
palavras reconhecidas oficialmente como pertencentes à língua
portuguesa, bem como lhes fornece a grafia oficial.
3. Também conhecido pela sigla VOLP, seu objetivo é reconhecer a
existência e consolidar a grafia dos vocábulos, além de classificá-los
pelo gênero (masculino ou feminino) e categoria morfológica
(substantivo, adjetivo…), e, eventualmente, especificar-lhes a pronúncia,
ou mesmo outras peculiaridades de interesse.
4. Difere dos dicionários convencionais, por não explicar usualmente o
significado dos termos que registra.
5. É elaborado pela Academia Brasileira de Letras, que tem a
responsabilidade legal de editá-lo, em cumprimento à vetusta Lei
Eduardo Ramos, de n. 726, de 8/12/1900.
6. As primeiras instruções para sua efetiva organização vieram com o
Formulário Ortográfico, e foram aprovadas unanimemente pela
Academia Brasileira de Letras, na sessão de 12/8/43 (mais tarde,
modificadas pela Lei 5.765, de 18/12/71). Anote-se que “essas
instruções tiveram por base o Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, da Academia das Ciências de Lisboa, edição de 1940”
(2000, p. 231).
7. A tais instruções, juntaram-se as diretrizes mais recentes da Lei 5.765,
de 18/12/71, cujo art. 2º assim determinou: “A Academia Brasileira de
Letras promoverá, dentro do prazo de dois anos, a atualização do
Vocabulário Comum, a organização do Vocabulário Onomástico e a
republicação do Pequeno Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa
nos termos da presente lei”.
8. Em sua edição de setembro de 1998, o VOLP incorporou à língua
aproximadamente 6.000 termos às 350.000 palavras já reconhecidas, em
geral relativos ao desenvolvimento científico e tecnológico, figurando
entre as novidades diversos termos de Informática. Essa postura vem-se
repetindo, em mesmos moldes, nas edições subsequentes.
9. Oportuno é reiterar que, incumbido por lei específica para sua
confecção, quem o elabora goza de autoridade para, nesse campo, dizer
o Direito, motivo por que, ao consultá-lo, legem habemus e devemos
prestar-lhe obediência, como devemos fazer com respeito aos demais
diplomas legais.
10. Em comunhão com esse pensamento, José de Nicola e Ernani Terra
afirmam que esse vocabulário “é a palavra oficial sobre a ortografia das
palavras da língua portuguesa no Brasil” (2000, p. 231), e não se pode
olvidar que também é a palavra oficial no que concerne à própria
existência dos vocábulos em nosso idioma.
11. Reitere-se: a Academia Brasileira de Letras, quando edita normas sobre
questões de sua competência, age por delegação legal do Congresso
Nacional, de modo que suas determinações são, em última análise,
normas jurídicas, e não meras normas técnicas da arte da comunicação;
são determinações a serem obedecidas, e não apenas conselhos, de
modo que ao usuário cumpre apenas acatar.
12. Veja-se bem: o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa é
palavra oficial sobre a existência, a pronúncia, a categoria gramatical, o
gênero e a grafia dos vocábulos. Assim, se não registra desproceder,
improver e inacolber, só se pode concluir que tais palavras não existem
em nosso léxico e, assim, não devem ser usadas. Se diz que adrede
deve ser pronunciada com o som fechado, não há como fazê-la soar de
modo diverso. Se diz que adrede e amiúde são advérbios, não há como
aceitar adredemente ou amiudemente, já que advérbios vêm de
adjetivos, não de outros advérbios. Se diz que cônjuge pode pertencer
ao masculino ou ao feminino, não há como condenar o emprego de o
cônjuge ou de a cônjuge. Se a Lei 5.765, de 18/12/71, dizia que o único
acento diferencial de timbre que perdurava era o que se usa em pôde
(pretérito perfeito) para diferenciar de pode (presente do indicativo),
não havia como pretender grafar fôrma, como fazia, por exemplo, o
Dicionário Aurélio. Qualquer divergência, discussão ou polêmica,
aqui, só pode perdurar no campo da doutrina, da ciência e de lege
ferenda, como subsídios para futuras modificações. Não mais do que
isso.
13. Mas não é só: se, com o advento do Acordo Ortográfico de 2008,
inclusive o que negava em edição anterior, só cabe acatar a nova
decisão legal. Veja-se, na prática: acolheu, de forma optativa, outros
dois casos de emprego do acento diferencial de timbre, incluindo o
vocábulo fôrma. Diz textualmente o Acordo: “Assinalam-se com
acento circunflexo: (…) b) Facultativamente, dêmos (1ª pessoa do
plural do presente do conjuntivo), para se distinguir da correspondente
forma do pretérito perfeito do indicativo (demos); fôrma (substantivo),
distinta de forma (substantivo; 3ª pessoa do singular do presente do
indicativo ou 2ª pessoa do singular do imperativo do verbo formar).
14. Já quanto aos aspectos de construção ou sintaxe (concordância
nominal, concordância verbal, regência nominal, regência verbal,
crase, colocação de pronomes), a autoridade fica com os autores que
cultuaram e cultuam o idioma, em cujo rol raramente se incluem os
modernistas, os quais, em busca de maior comunicação, passaram a
incorporar em seus escritos uma linguagem coloquial, plebeísmos e
equívocos gramaticais; a norma culta, nesse aspecto, encontra-se hoje
sedimentada nos bons livros de Gramática.
15. No que respeita à pontuação, observa-se que apenas a partir da década
de cinquenta do século XX, tomou significativo impulso e passou a
orientar-se – além das razões sintáticas tradicionais e dos impulsos
subjetivos – pelas recomendações e exigências mais apuradas da
redação técnica, o que faz concluir que os chamados clássicos de nossa
literatura nem sempre lhe atribuíram posição de relevo, e, assim, não é
incomum encontrar, mesmo em abalizados escritores, exemplos de
inadequação, nesse campo. Os livros de Gramática, ademais, pouco
trazem a esse respeito, sobretudo no que concerne ao uso da vírgula.
16. Se o usuário do idioma tiver que se expressar pela língua falada ou
escrita, em sua atividade profissional ou científica, é obrigatório que se
valha da norma culta, a cujo respeito podem ser fixados, em resumo, os
seguintes aspectos: a) a norma culta é o nível formal de expressão do
idioma, própria de todos os que assim devem expressar-se, sendo uma
só para todos os usuários; b) eventual vocabulário típico de certa gama
de usuários não faz nascer uma norma culta própria de determinada
categoria profissional, até porque seria impensável entender pela
existência de uma linguagem formal que fosse correta para uns e não
para outros; c) o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa é a
palavra oficial sobre a existência, a pronúncia, a categoria gramatical, o
gênero e a grafia dos vocábulos em nosso idioma, além de outras
peculiaridades; d) quanto aos aspectos de construção ou sintaxe, a
norma culta encontra-se, hoje, sedimentada nos bons livros de
Gramática.

Norrau – Existe?
Ver Know-how ou Norrau? (P. 441)

No sentido de… – Está correto?


1. Um leitor indaga se é correto o emprego da expressão no sentido de em
frases como a seguinte: “Um exército de estudiosos e vernaculistas
engajou-se no sentido de preservar as excelências e galas da língua
portuguesa”.
2. Vejam-se, de início, os seguintes exemplos: a) “O acidente bloqueou a
Rodovia Fernão Dias no sentido de Belo Horizonte”; b) “Não tem plural
o verbo ‘haver’ no sentido de ‘existir’”; c) “A Justiça Eleitoral precisa
modernizar-se no sentido de agilizar os julgamentos”.
3. E, então, se passe a constatar: a) no primeiro exemplo, a expressão
significa na direção de; b) no segundo exemplo, pode ser substituída por
na acepção de; c) no terceiro exemplo, quer dizer apenas para.
4. Pois bem: os gramáticos têm entendido pela correção integral dos dois
primeiros casos, mas têm condenado o uso dessa expressão para
significar apenas para.
5. Assim, Josué Machado (1994, p. 33) se posta contra o emprego dessa
expressão “supostamente solene… em lugar do conciso para”, em frases
como, por exemplo, “Estou envidando esforços no sentido de…”
6. Laurinda Grion (s/d, p. 52) também dá como incorreto seu uso em tais
casos, preconizando sua substituição por para, justificando que, “neste
caso, não é preferível o uso da expressão no sentido de, porque ela indica
direção, ao passo que a ideia da frase é finalidade”, motivo por que
“para é o melhor vocábulo”.
7. Voltando, na prática, à frase da consulta: a) “Um exército de estudiosos e
vernaculistas engajou-se no sentido de preservar as excelências e galas
da língua portuguesa” (errado); b) “Um exército de estudiosos e
vernaculistas engajou-se para preservar as excelências e galas da
língua portuguesa” (correto).

Nós nos divertimos ou Nós divertimo-nos?


1. Como a colocação dos pronomes átonos pode ser, para alguns, problema
tormentoso, vale a pena discorrer sobre qual a forma correta entre as
seguintes: a) “Nós nos divertimos tanto…”; b) “Divertimo-nos tanto…”;
c) “Nós divertimo-nos tanto…”.
2. Em termos conceituais, para os tempos verbais simples, três são as
possibilidades genéricas de colocação do pronome pessoal oblíquo
átono: antes do verbo (próclise), no meio do verbo (mesóclise) e depois
do verbo (ênclise). Exs.: a) “Não te vi na solenidade” (próclise); b)
“Encontrar-nos-emos na solenidade” (mesóclise); c) “Vi-te na
solenidade” (ênclise).
3. Esclareça-se, por um lado, que o pronome só se põe no meio do verbo
quando este está no futuro do presente ou no futuro do pretérito. Como
esse não é o caso das frases inicialmente postas, a questão resume-se a
saber se se emprega a próclise ou a ênclise.
4. Também se veja que não se inicia uma frase com um pronome átono.
Exs: a) “Nos divertimos muito” (errado); b) “Divertimo-nos muito”
(correto).
5. Já no exemplo “Nós divertimo-nos tanto…”, fixe-se que se tem um
exemplo na ordem direta (sujeito + verbo + complementos), e não há
palavra alguma que atraia o pronome para antes do verbo (lembre-se que
nós, pronome pessoal do caso reto, não é palavra atrativa).
6. Observe-se que as palavras atrativas são: a) as negativas (não, nunca,
jamais); b) os advérbios (sempre, talvez, muito); c) os pronomes
relativos (que, o qual); d) os pronomes indefinidos (tudo, nada,
ninguém, alguém); e) as conjunções subordinativas (mas não as
conjunções coordenativas).
7. Com essas premissas, fixe-se a regra: quando a) se tem um exemplo na
ordem direta, e b) não há palavra que atraia o pronome para antes do
verbo, é facultativa a colocação do pronome em próclise ou em ênclise:
i) “Nós nos divertimos tanto…” (correto); ii) “Nós divertimo-nos
tanto…” (correto).
8. Com essas ponderações, vejam-se, portanto, os seguintes exemplos, com
a indicação de correção ou erronia quanto à colocação dos pronomes,
incluindo-se hipóteses em que haja palavra atrativa (de valor negativo):
a) “Nós nos divertimos…” (correto); b) “Divertimo-nos…” (correto); c)
“Nós divertimo-nos…” (correto); d) “Nós não nos divertimos…”
(correto); e) “Não divertimo-nos…” (errado); f) “Nós não divertimo-
nos…” (errado); g) “Nos divertimos…” (errado); h) “Não nos
divertimos…” (correto).
Ver Colocação de pronomes (P. 192), Ênclise (P. 317), Mesóclise (P. 471),
Próclise (P. 603) e Próclise ou Ênclise? (P. 604)

Nosso produto ou O nosso produto?


Ver Seu produto ou O seu produto? (P. 696)

Nota de rodapé
Ver Obra com dois autores (P. 512).

Notário
Ver Tabelião (P. 724).

Notificação
1. Em sentido amplo, trata-se de vocábulo empregado para designar “o ato
judicial escrito, emanado do juiz, pelo qual se dá conhecimento a uma
pessoa de alguma coisa, ou de algum fato, que também é de seu
interesse, a fim de que possa usar das medidas legais ou das
prerrogativas, que lhe sejam asseguradas por lei” (DE PLÁCIDO E
SILVA, 1989, p. 253).
2. Não confundir com citação ou intimação, atos processuais a ela
assemelhados, mas totalmente diversos em natureza.
3. Quanto a seu emprego, é comum ver, nos meios forenses, o uso
equivocado de expressões como procedida a citação, procedida a
intimação, procedido o inventário, procedida a notificação, procedida a
penhora.
Ver Proceder (P. 601), Procedeu-se aos inventários ou Procederam-se aos
inventários? (P. 601) e Voz passiva – Quando é possível? (P. 793)

Notificação a efetuar(-se) – Está correto?


Ver A fazer – Está correto? (P. 91)

Notificar
1. Quanto à regência verbal, tanto a coisa quanto a pessoa podem ser,
indiferentemente, objeto direto ou objeto indireto.
2. O que não pode ocorrer é a existência simultânea, em mesma frase, de
dois objetos diretos ou de dois objetos indiretos.
3. Por isso, são corretas as duas construções seguintes: a) “Notificou o
Corregedor do que estava ocorrendo”; b) “Notificou ao Corregedor o
que estava ocorrendo”.
4. Não são, todavia, corretas, as seguintes estruturas: a) “Notificaram o
Corregedor o que estava ocorrendo”; b) “Notificou ao Corregedor do
que estava ocorrendo”.
5. Essas duas últimas frases são errôneas, porquanto a primeira tem dois
objetos diretos, e a segunda, dois objetos indiretos.
6. De igual modo e pelas mesmas razões, são errôneas: a) “Notificá-lo
que…”; b) “Notificar-lhe de que…” (NASCIMENTO, 1982, p. 154).
7. Celso Pedro Luft (1999, p. 378-9) sintetiza as duas possibilidades de
construção, resumindo com os modelos: a) notificar algo a alguém; b)
notificar alguém de algo.
8. Também seguem a mesma construção os verbos aconselhar, certificar,
informar, prevenir.
9. No âmbito do direito, em sentido amplo, “é empregado para designar o
ato judicial escrito, a mando do juiz, pelo qual se dá conhecimento a uma
pessoa de alguma coisa, ou de algum fato, que também é de seu
interesse, a fim de que possa usar das medidas legais ou das
prerrogativas que lhe sejam asseguradas por lei” (DE PLÁCIDO E
SILVA, 1989, p. 253).
10. Nos textos legais, empregado no sentido de comunicar, avisar, dar
conhecimento ou ciência de um ato judicial, tal verbo aparece, quanto à
regência verbal, com variada construção: com objeto direto (que, pelas
normais regras de transformação, pode ser sujeito na voz passiva), com
objeto direto (eventualmente sujeito na voz passiva) de pessoa mais
objeto indireto de coisa, regido este pela preposição de (notificar
alguém de algo), com objeto direto (possível sujeito na voz passiva) de
coisa e objeto indireto de pessoa, regido pela preposição a (notificar
algo a alguém), com objeto direto de pessoa mais a preposição para
(notificar alguém para ou a fim de que). Exs.: a) “O reclamante será
notificado no ato da apresentação da reclamação…” (CLT, 841, § 2º);
b) “Para poder exercitar o direito, que da evicção lhe resulta, o
adquirente notificará do litígio o alienante, quando e como lho
determinarem as leis do processo” (CC/1916, art. 1.116, e CC/2002,
art. 456, caput); c) “Por ocasião do respectivo lançamento, cada
contribuinte deverá ser notificado do montante da contribuição…”
(CTN, art. 82, § 2º); d) “Ao defensor oficiosamente nomeado será
notificada a nomeação, quando não estiver presente no ato dela” (CPP
português, art. 24º); e) “O advogado poderá, a qualquer tempo,
renunciar ao mandato, notificando o mandante, a fim de que lhe
nomeie sucessor…” (CPC/1973, art. 45).
11. Não apresenta problemas quanto à conjugação verbal, a não ser no
aspecto de que troca o c do fim do radical por qu antes de e: notifico,
notifique.
Ver Notificação (P. 503).

Notifique-se-o – Está correto?


1. Trata-se de estrutura errônea e equivocada.
2. Corrija-se para uma das seguintes formas: a) Notifique-se ele; b)
Notifique-se; c) Seja ele notificado.
Ver Cite-se-o – Está correto? (P. 184)
Novel – Oxítona ou Paroxítona?
1. Com a acepção de novo, quanto à prosódia, é palavra oxítona (CUNHA,
1970, p. 26), rimando com o nosso Abel e com Nobel. Ex.: “No horário
marcado, o novel advogado entrou na sala de audiências”.
2. Seu plural é novéis.
3. Apesar desse posicionamento uniforme dos gramáticos, Silveira Bueno
refere a existência de defensores de ambas as pronúncias: oxítona e
paroxítona.
4. Segundo ele, que aconselha o uso oxítono, apenas para exemplificar,
“Adolfo Coelho manda dizer nóvel, paroxítona; Aulete quer que se diga
novel, oxítono” (BUENO, 1938, p. 207).
5. Espancando dúvidas, entretanto, o Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, órgão incumbido
oficialmente de determinar a existência dos vocábulos em nosso idioma,
além de sua pronúncia oficial, registra tal palavra apenas como oxítona
(2009, p. 587), motivo por que está oficialmente desautorizada qualquer
outra pronúncia.

Noves fora
1. Josué Machado anota que, na substantivação, não há motivo para
abandonar os numerais sem flexão para o plural. Exs.: a) “As eleições
dos anos noventas serão diferentes com as urnas eletrônicas”; b) “Os
ladrões do Congresso transformavam cincos em cinquentas”; c) “Os
noves do baralho foram marcados”.
2. Excepciona tal autor, porém, que “só não se flexionam em número os
numerais cardinais terminados em s (dois, três, seis, dezesseis), em z
(dez) e mil” (MACHADO, 1994, p. 71).
3. De Vitório Bergo (1943, p. 191) também é a lição de que as palavras
substantivadas seguem geralmente as regras normais de flexão para o
plural, segundo a sua terminação, como é o caso de os noves.
4. Para Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 285), por um lado, “numerais
substantivados terminados por fonema vocálico formam o plural como
os substantivos: dois uns, quatro setes, prova dos noves fora, dois cens”;
por outro lado, ficam invariáveis os que finalizam por fonema
consonantal: “No teste, João tirou quatro seis e dois dez”.

Nubente
1. Derivado do latim nubens, de nubere (casar-se), trata-se de vocábulo na
terminologia jurídica, no mesmo sentido de noivo, para designar a
pessoa que está comprometida em casamento com outra.
2. Por sua própria etimologia, para De Plácido e Silva, “nubentes serão até
que, afirmando sua vontade de se tornarem marido e mulher, perante o
juiz oficiante do casamento, este os declara, em nome da lei, marido e
mulher” (1989, p. 258).
3. Em termos de Gramática, é comum de dois, vale dizer (SILVA, A., 1958,
p. 81), “é masculino ou feminino, conforme o sexo da pessoa: o nubente
(homem) e a nubente (mulher)”.
4. Trata-se de termo de uso frequente em nossa legislação, como se pode
verificar pela leitura dos capítulos do Código Civil que tratam do
casamento.
Ver Cônjuge – Comum de dois ou Sobrecomum? (P. 218) e Consorte (P.
222).

Numeral cardinal – Como ler e empregar?


Ver Números – Como ler e Empregar? (P. 506)

Numeral ordinal – Como ler e empregar?


Ver Números – Como ler e Empregar? (P. 506)

Número fracionário
1. Com frequência, o sujeito de uma oração é constituído por número
fracionário, o que acarreta problemas quanto à concordância verbal.
2. Em tais casos, como lembra Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 206), a
concordância é normal, vale dizer, deve dar-se com o próprio número
indicador da fração, que acaba sendo o núcleo do sujeito. Exs.: a) “Um
quarto dos bens cabe ao menor”; b) “Dois quartos da herança cabem ao
menor”; c) “No sistema político alemão, um terço dos senadores é
nomeado; dois terços são eleitos pelo povo”.
3. Arnaldo Niskier sintetiza a questão de modo prático: “um quinto, um
terço, um quarto, etc. – verbo no singular; dois quintos, três oitavos,
cinco décimos, etc. – verbo no plural” (1992, p. 97).
4. Na conformidade com lição de Domingos Paschoal Cegalla (1999, p.
404), “quando o sujeito é numeral fracionário, a concordância do verbo
se efetua normalmente com o numerador”. Exs.: a) “Um terço dos
funcionários recebeu aviso de dispensa”; b) “Dois terços dos
trabalhadores foram readmitidos pela empresa”.
5. Em outra passagem, contudo, complementa o mesmo autor (CEGALLA,
1999, p. 285): “todavia, parece-nos lícito usar o verbo no plural, quando
o número fracionário, seguido de substantivo plural, tem o numerador
um”. Ex.: “Um quinto dos homens eram de cor escura”.
6. Em tal permissão levantada pelo referido gramático, parece haver uma
analogia com os casos de coletivo seguido de termo especificador, em
que o verbo fica, optativamente, no singular ou no plural, lição essa
perfeitamente aplicável ao caso concreto, quando o numerador é
singular, de modo que estão igualmente corretas as seguintes
construções: a) “Um quarto dos bens cabe ao menor”; b) “Um quarto
dos bens cabem ao menor”.
7. Se, porém, não houver termo especificador, a concordância se fará com o
numeral fracionário. Exs.: a) “Um terço foi cancelado”; b) “Dois terços
foram cancelados”.
Ver também Porcentagem ou Percentagem? (P. 575) e Por cento – Como
concordar o verbo? (P. 576)

Números cardinais – Como escrever por extenso?


1. O problema que aqui se põe é como ler e escrever corretamente um
número extenso, algo, por exemplo, como 225.042.406.458.042.
2. Eduardo Carlos Pereira (1924, p. 311) assim leciona a respeito: “Na
formação dos números interpõe-se a conjunção e entre as ordens” [ou
seja, depois de cada centena], “e também entre a penúltima e a última
classe, se esta tiver zero na centena: 225.042.406.458.042 – duzentos e
vinte cinco trilhões, quarenta e dois bilhões, quatrocentos e seis milhões,
quatrocentos e cinquenta e oito mil e quarenta e dois”.
3. De Júlio Ribeiro (1908, p. 247) é outra minuciosa exposição: “Se o
número se compõe de mais de uma casa de três algarismos, não se põe
conjunção entre o primeiro algarismo da última casa e o número que o
precede. Ex.: Seis mil quinhentos e quarenta e seis (6.546). No caso,
porém, de ser esse primeiro algarismo um zero, interpõe-se a conjunção.
Ex.: Cinco mil e vinte oito (5.028). Quando o número se compõe de
várias casas de três algarismos, omite-se a conjunção entre cada uma das
casas. Ex.: Três trilhões, quatrocentos e quarenta e quatro bilhões,
duzentos e vinte e cinco milhões, quinhentos e vinte e oito mil, duzentos
e vinte e cinco (3.444.225.528.225). Todavia, quando na última casa de
três algarismos, faltam unidades e dezenas, interpõe-se a conjunção. Ex.:
Vinte e um milhões, trezentos e cinquenta e dois mil e quatrocentos
(21.352.400)”.
4. Após dar o exemplo “Eu nasci em mil novecentos e trinta e cinco”, anota
genericamente Arnaldo Niskier, por um lado, que, “ao escrevermos um
número cardinal, devemos usar a conjunção e entre as centenas, as
dezenas e as unidades”.
5. Ao depois, complementa tal autor com a seguinte lição (NISKIER, 1992,
p. 51): “Usa-se normalmente a conjunção e entre os milhares e as
dezenas ou unidades (mil e vinte e um, mil e um); entre os milhares e as
centenas só se usa o e se o número terminar nas centenas (mil e cem),
caso contrário não se usa nem e nem vírgula (mil cento e um).
6. De acordo com Domingos Paschoal Cegalla, “usa-se a conjunção e entre
mil e as centenas, exceto quando estas vêm seguidas de dezenas ou de
unidades simples: mil e quinhentos dólares; mil quinhentos e vinte
dólares; mil quinhentas e cinco libras” (1999, p. 261).
7. Ainda para tal autor, tanto para a leitura como para a escrita dos
cardinais por extenso, “intercala-se a conjunção e entre as centenas e as
dezenas e entre estas e as unidades: 2.662.385 frutas = dois milhões
seiscentas e sessenta e duas mil trezentas e oitenta e cinco frutas”
(CEGALLA, 1999, p. 285).
8. E, em interessante observação para a grafia dos cardinais por extenso,
assim ultima o citado gramático: “Na escrita dos números por extenso
não se usam vírgulas” (CEGALLA, 1999, p. 285).
9. Para Cândido de Oliveira (s/d, p. 109), em observação não acatada pela
maioria dos gramáticos, “na separação de milhar, não se usa ponto” – 1
000, 2 749, 4 495 008 – de modo que a escrita se dá “sem ponto e com
espaço”.
10. Na tentativa de conciliar e acatar de modo ampliativo, desde que
possível, as lições dos doutos, algumas uniformes, outras divergentes,
podem-se fixar as seguintes regras práticas para a escrita e a leitura dos
cardinais: a) entre a centena e a dezena e entre a dezena e a unidade de
cada série de três algarismos, normalmente se emprega o e
(234.456.789 – duzentos e trinta e quatro milhões, quatrocentos e
cinquenta e seis mil, setecentos e oitenta e nove); b) entre as diversas
séries de três algarismos, porém, a regra é não usar o e (789.456.234 –
setecentos e oitenta e nove milhões, quatrocentos e cinquenta e seis
mil, duzentos e trinta e quatro); c) usa-se, porém, o e entre as duas
últimas séries de três algarismos, se a última delas tem zero na centena
(234.067.089 – duzentos e trinta e quatro milhões, sessenta e sete mil e
oitenta e nove); d) também se usa o e entre as duas últimas séries de
três algarismos, se há, concomitantemente, zero na unidade e na dezena
da última delas (234.067.400 – duzentos e trinta e quatro milhões,
sessenta e sete mil e quatrocentos); e) se o usuário quiser, poderá usar
vírgula, na grafia por extenso, entre as séries de três algarismos
(234.456.789 – duzentos e trinta e quatro milhões, quatrocentos e
cinquenta e seis mil, setecentos e oitenta e nove); f) se, todavia,
preferir, poderá eliminar tais vírgulas (duzentos e trinta e quatro mil
quatrocentos e cinquenta e seis setecentos e oitenta e nove); g) é bom
lembrar que, em todos esses casos, não haverá, ao mesmo tempo,
vírgula e e.
Ver Números – Como ler e Empregar? (P. 506)

Números – Como ler e Empregar?


1. Algarismo é cada um dos caracteres com que se representam os
números.
2. Algarismos arábicos (nome que lhes veio porque os árabes divulgaram
seu uso no Ocidente) são, no sistema decimal de numeração, os dez
caracteres com que se representam os números 1 (um), 2 (dois), 3 (três),
4 (quatro), 5 (cinco), 6 (seis), 7 (sete), 8 (oito), 9 (nove) e 0 (zero).
3. Algarismos romanos, por sua vez, são os símbolos representativos dos
números no sistema romano de numeração. De 1 a 10: I, II, III, IV, V, VI,
VII, VIII, IX, X. As dezenas de 10 a 100: X, XX, XXX, XL, L, LX, LXX,
LXXX, XC, C. Além disso, 500 (D), 1.000 (M).
4. Quando indica quantidade, o numeral é cardinal (2 anos, 10 meses, 29
dias). Veja-se a sua leitura: dois anos, dez meses, vinte e nove dias.
Quando denota posição, chama-se ordinal (2º ano, 10º mês, 29º dia).
Observe-se sua leitura: segundo ano, décimo mês, vigésimo nono dia.
5. Os algarismos romanos tanto servem para representar números cardinais
quanto para exprimir números ordinais (capítulo IX [nono], capítulo XII
[doze]). Nesse sentido, Júlio Ribeiro (1908, p. 248) leciona que Carlos
IX e Luís XVI leem-se, respectivamente, Carlos nono e Luís dezesseis.
6. Napoleão Mendes de Almeida realça que os algarismos romanos vêm
perdendo a preferência em nossos dias e que os próprios artigos de lei
“discriminam-se por números arábicos” (1981, p. 209). Isso se deve não
apenas a seu pouco uso, mas também à maior complexidade de emprego
dos algarismos romanos, a exigirem um raciocínio mais elaborado do
usuário. Não se sabe bem, ademais, o que, nesse assunto, é causa, e o
que é efeito. Mas o leitor há de concordar que ler 1.987 parece ser mais
fácil do que ler MCMLXXXVII.
7. Além disso, vale observar que a ponderação do ilustre gramático quanto
ao pouco uso moderno dos algarismos romanos pelo legislador pode ser
verdadeira no que tange à numeração dos artigos e dos parágrafos;
quanto aos respectivos incisos, porém, um simples manuseio de nossos
diplomas legais evidencia uma quase total identificação por algarismos
romanos.
8. Atento à peculiaridade da falta de estudo aprofundado que caracteriza
nossos dias, observa Luciano Correia da Silva que, “certamente em face
à dificuldade na leitura dos algarismos romanos, vai-se notando a sua
substituição pelos arábicos, em jornais e revistas: século 20, João Paulo
2º…” (1991, p. 126).
9. Feitas essas observações gerais, anota-se que se percebem as
dificuldades nesse campo, quando se está diante da necessidade de ler os
números das leis, decretos, portarias e regulamentos; ou de especificar as
partes dos livros, sobretudo jurídicos, com suas seções, capítulos,
artigos, cláusulas, parágrafos, incisos e alíneas; ou, então, de discriminar
os séculos, anos, meses, semanas e dias; ou, ainda, de particularizar os
reis, príncipes, imperadores e papas.
10. Silveira Bueno (1957, p. 318) sintetiza regras práticas para a solução
do problema da enumeração de reis, papas, séculos e capítulos: a) de 1
a 10, usam-se os ordinais, independentemente de vir o numeral antes
ou depois do substantivo: Pedro II (segundo), João IV (quarto), Pio X
(décimo), século VIII (oitavo), capítulo V (quinto); b) de 11 em diante,
se o numeral vem antes do substantivo, emprega-se o ordinal: o XIII
século (o décimo terceiro século), o XV Luís (o décimo quinto Luís), o
XXV capítulo (vigésimo quinto capítulo); c) em tais casos, se o numeral
vem depois do substantivo, há de se usar o cardinal: O Luís XV
(quinze), século XXV (vinte e cinco), Pio XII (doze), capítulo XIII
(treze).
11. De igual modo, para Edmundo Dantès Nascimento (1982, p. 8),
“empregam-se os ordinais até dez e daí por diante os cardinais: Ex.:
Pio X (décimo), João XXIII (vinte e três), D. João IV (quarto), Luiz XV
(quinze)”.
12. Desse mesmo entendimento é Gladstone Chaves de Melo: “é de praxe
usar o ordinal até décimo, e dai por diante o cardinal: …capítulo
oitavo, capítulo décimo, capítulo quinze” (1970, p. 262).
13. Ainda para a designação dos capítulos de uma obra, na lição de
Hêndricas Nadólskis e Marleine Paula Marcondes Ferreira de Toledo
(1998, p. 75), usa-se o ordinal até dez; de onze em diante, usa-se o
cardinal.
14. Não diverge Júlio Ribeiro: “na enumeração dos reis e personagens
célebres do mesmo nome, usa-se do número ordinal até dez e do
cardinal daí em diante” (1908, p. 248).
15. Ainda para Luiz Antônio Sacconi, “quando se fala de papas, reis,
príncipes, anos e séculos, empregamos, de 1 a 10, os ordinais”: João
Paulo I (primeiro), Luís X (décimo), Pio IX (nono); “de 11 em diante,
empregamos os cardinais”: Pio XI (onze), Leão XIII (treze).
16. Também é a lição de Luís A. P. Vitória: “para indicar a ordem dos
séculos, ou a ordem de sucessão de soberanos, usa-se o ordinal até dez
e o cardinal de onze em diante. Ex.: ‘Pio Onze substituiu Pio Décimo
no trono papal’” (1969, p. 174).
17. Abrangendo a designação dos papas, reis e séculos, ensina Domingos
Paschoal Cegalla: “usam-se numerais ordinais de um a dez e cardinais
de onze em diante” (1999, p. 367).
18. Sintetiza-se essa posição com ensino de José de Nicola e Ernani Terra:
“na indicação de papas, reis, séculos, capítulos, partes de obra, usam-se
os numerais ordinais até décimo (inclusive). A partir daí, usam-se os
cardinais” (2000, p. 134).
19. Para representar uma segunda posição, começa-se com o ensino de
Celso Cunha (1970, p. 136), para quem se usa “o ordinal até nove, e o
cardinal de dez em diante” (artigo nono, artigo dez), e isso sempre que
o numeral vier depois do substantivo” (1970, p. 262).
20. Em mesmo sentido, de acordo com Eliasar Rosa, “usam-se os numerais
ordinais do 1º ao 9º, inclusive. Do art. 10 em diante empregam-se os
cardinais. Dir-se-á: art. 1º, art. 10, art. 2º, art. 11 etc.” (1993, p. 103).
21. Em terceira posição, Artur de Almeida Torres (1966, p. 81) faz uma
distinção: a) “Nas séries de reis e papas e na designação de séculos ou
capítulos, usamos do ordinal até dez, e do cardinal de onze em diante”:
Luís Décimo, Luís Onze, Pio Décimo, Pio Onze, século décimo, século
onze, capítulo décimo, capítulo onze; b) “Na numeração de artigos de
leis empregamos o ordinal até nove, e o cardinal de dez em diante:
artigo primeiro, artigo nono, artigo dez”.
22. Também Pasquale Cipro Neto e Ulisses Infante (1999, p. 312) bifurcam
o problema e duplicam as soluções: a) por um lado, “para designar
papas, reis, imperadores, séculos e partes em que se divide uma obra,
quando o numeral vem depois do substantivo, utilizam-se os ordinais
até décimo e a partir daí os cardinais”: Pio 9º (nono), Pio 10º (décimo),
Pio 11 (onze); b) por outro lado, “para designar leis, decretos e
portarias, utiliza-se o ordinal até nono e o cardinal de dez em diante”:
artigo 1º (primeiro), artigo 9º (nono), artigo 10 (dez).
23. Buscando remediar a divergência entre os autores e as dificuldades de
emprego no caso concreto, ensina Vitório Bergo (1944, p. 212) – em
lição que há de ter integral aceitação nos casos concretos – que, na
generalidade dos casos, se há de empregar o numeral ordinal até nove
(século nono); o seguinte pode ser século décimo ou dez; daí por
diante, usa-se o cardinal (século onze).
24. Em continuação, diga-se que, por brevidade e simplificação, tem-se
defendido o uso indiscriminado dos cardinais, em vez dos ordinais, na
enumeração de séries de objetos e de partes em que se dividem os
diplomas legais, como capítulos, artigos, parágrafos, incisos. Exs.:
capítulo dois, artigo dez.
25. Nesse campo, Eduardo Carlos Pereira (1924, p. 250) leciona que “os
cardinais pospõem-se ao substantivo quando por brevidade se
empregam pelos ordinais” (página dois, casa vinte e um, por página
segunda e casa vigésima primeira).
26. Ainda na lição desse mesmo autor, quando se trata de “longas séries,
como as páginas de um livro ou as casas de uma rua, emprega-se pelo
ordinal o cardinal, que se conserva invariável”, exemplificando ele
próprio: “página vinte e dois, por vigésima segunda; casa trinta e um,
por trigésima primeira” (PEREIRA, 1924, p. 312).
27. E complementa: “a título de brevidade, usamos constantemente os
cardinais pelos ordinais” – casa vinte e um, página trinta e dois – com
a complementação de que “os cardinais um e dois não variam nesse
caso porque está subentendida a palavra número” (PEREIRA, 1924, p.
312).
28. Também lembra Edmundo Dantès Nascimento (1982, p. 9): “por
brevidade na série de objetos, artigos, cláusulas de lei, capítulos,
parágrafos, empregam-se os cardinais. Art. 321, Lei 322, casa 21, fls.
41, capítulo 1, cláusula 2, etc.”. E complementa: a) “neste caso não
variam os numerais um e dois”; b) diz-se na linguagem forense: “aos
20 dias do mês de maio”, “a fls. trinta e duas”.
29. Reitere-se, contudo, que essa possibilidade de uso do cardinal pelo
ordinal tem como regra primeira a de que o numeral posponha-se ao
substantivo, motivo por que se há de atentar à necessidade de correção
de um giro muito frequente em tomadas de depoimentos de policiais: a)
78º DP (leia-se: septuagésimo oitavo Distrito Policial) (correto); b) DP
78 (leia-se: Distrito Policial setenta e oito – subentendendo-se número
setenta e oito) (correto); c) 78 DP (leia-se: setenta e oito Distrito
Policial) (errado).
30. Em interessante observação nesse sentido, também acrescentam José
de Nicola e Ernani Terra (2000, p. 54-5): “O numeral anteposto ao
substantivo deve ser lido como ordinal, concordando com esse
substantivo. Já o numeral posposto ao substantivo deve ser lido como
cardinal, concordando com a palavra número, que se considera
subentendida”: III Salão do automóvel (terceiro), II Maratona
Estudantil (segunda), VIII Copa do Mundo (oitava), casa 2 (dois),
apartamento 44 (quarenta e quatro).
31. Ainda quanto ao que se dá com os textos legais, interessante
observação final vem de Adalberto J. Kaspary: “Ao contrário do que se
observa nos documentos legais do Brasil, em que os artigos são
numerados por meio de algarismos ordinais do primeiro ao nono, e por
meio de algarismos cardinais do décimo em diante, na legislação
codificada de Portugal todos os artigos vêm numerados por meio de
algarismos ordinais: art. 64º, art. 1.689º, etc.” Mas excepciona tal
autor: “No texto da Constituição da República Portuguesa, adota-se a
numeração articular empregada no Brasil” (1996, p. 12).
32. Pode-se resumir do seguinte modo a questão do emprego e da leitura
dos numerais em sua mais ampla abrangência (leis, decretos, portarias,
regulamentos, seções, capítulos, artigos, cláusulas, parágrafos, incisos,
alíneas, séculos, anos, meses, semanas, dias, reis, príncipes,
imperadores e papas): a) podem-se empregar os algarismos romanos
tanto para representar cardinais quanto para exprimir ordinais (capítulo
IX [nono], capítulo XII [doze], Carlos IX [nono] e Luís XVI
[dezesseis]); b) de 1 a 9, usam-se os ordinais, independentemente de vir
o numeral antes ou depois do substantivo: Pedro II (segundo), João IV
(quarto), século VIII (oitavo), capítulo V (quinto), III encontro
(terceiro), VIII gincana (oitava); c) de 11 em diante, empregam-se
ordinais, se o numeral vem antes do substantivo: XX aniversário
(vigésimo), XIII encontro dos antigos alunos (décimo terceiro); d)
empregam-se, porém, os cardinais de 11 em diante, se o numeral se
pospõe ao substantivo: século XX (vinte), João XXIII (vinte e três); e)
quanto ao número 10 posposto ao substantivo, embora haja divergência
entre os autores, o melhor é permitir que se empregue tanto o cardinal
quanto o ordinal: Pio X (décimo ou dez), capítulo X (décimo ou dez),
artigo 10 (dez) ou 10º (décimo); f) por brevidade e simplificação, na
enumeração de séries de objetos e de partes em que se dividem os
diplomas legais, como capítulos, artigos, parágrafos, incisos, é possível
o uso indiscriminado dos cardinais, em vez dos ordinais, quando
pospostos ao substantivo, ainda que em número inferior a dez: capítulo
dois, artigo dez, parágrafo dois, alínea vinte e um; g) nesse último
caso, o numeral permanece invariável no masculino: alínea vinte e
dois, seção trinta e um; h) ainda nesse caso, não é possível o uso do
cardinal pelo ordinal, se o numeral preceder o substantivo: i) 78º DP
(septuagésimo oitavo Distrito Policial) (correto); ii) DP 78 (Distrito
Policial setenta e oito – subentendendo-se número setenta e oito)
(correto); iii) 78 DP (setenta e oito Distrito Policial) (errado).
Ver Números cardinais – Como escrever por extenso? (P. 505), Primeiro
de maio ou Um de maio? (P. 600), Pontuação dos numerais (P. 574) e
Segundos e terceiros – É possível? (P. 684)

Números e sua abreviatura no processo


1. O art. 15 do Código de Processo Civil de 1939, além de vedar as
abreviaturas, também determinava deverem “ser escritos por extenso os
números e as datas”;
2. Essa regra, contudo, não foi repetida pelo ordenamento processual em
vigor.
3. Assim, não mais existe obrigatoriedade alguma nesse sentido, devendo o
usuário apenas zelar para que se dificulte eventual fraude, registrando,
por exemplo o mês por extenso, e não por número.
Ver Abreviatura, Abreviação e Sigla – O que é e Como usa? (P. 55) e
Abreviatura no processo (P. 57).

Nunca dos nuncas – Existe?


Ver Nunca jamais – Está correto? (P. 509)

Nunca em tempo algum – É correto?


Ver Dupla negativa – Está correto? (P. 295)
Nunca jamais – Está correto?
1. Trata-se de expressão enfática, de sentido evidentemente negativo, a
qual, sinônima de jamais nunca, apesar da duplicidade e repetição de
significado, é aprovada pelos gramáticos e encontrada com frequência
nos melhores escritores: Bernardes, Vieira, Camilo Castelo Branco,
Castilho, Machado de Assis e Rui Barbosa. Exs.: a) “Nunca jamais
houve defensor da liberdade como este”; b) “Jamais nunca houve
defensor da liberdade como este”.
2. Eduardo Carlos Pereira vê em tal expressão “uma negativa reforçada ou
intensiva ainda vigente” (1924, p. 355).
3. Aires da Mata Machado Filho (1969i, p. 114) coleciona, nos melhores
autores, variadas formas similares de dupla negativa: “nunca por nunca”
(Camilo Castelo Branco), “nunca em tempo algum” (idem), “nunca dos
nuncas” (Gil Vicente), “nem tu não hás de vir” (idem).
4. Como se viu, costuma também aparecer na forma invertida jamais
nunca.
5. Cândido de Figueiredo (1937, p. 176), para quem tal expressão é um
advérbio composto, de emprego normal, traz a corroboração de exemplo
do Padre Manuel Bernardes: “Nunca jamais me glorie em coisa
alguma…”.
6. Mesmo sem comentários específicos, José de Sá Nunes (1938, p. 198)
acata o emprego dessa expressão, como se verifica na seguinte passagem
de sua própria lavra: “Esta é que é a sintaxe que me parece mais segura,
porque desde Morais até Figueiredo o vocábulo ‘mister’ nunca jamais
deixou de ter o significado de ‘necessidade’, ‘precisão’, ‘urgência’…”.
7. Heráclito Graça (1904, p. 446) defende a correção de tal sintaxe e anota
que a empregaram Frei Luís de Sousa, Padre Antônio Vieira e Antônio
Feliciano de Castilho.
8. Justificando o emprego optativo de nunca jamais e de jamais nunca,
Carlos Góis leciona que, “quando um advérbio vem modificado por
outro, pode ocorrer, mui raramente, a colocação indiferente de um em
relação a outro: … Nunca jamais me apareças; ou Não me apareças
jamais nunca…” (1945, p. 58).
9. Nos dizeres de Domingos Paschoal Cegalla, “não é redundância
censurável, mas uma negativa enfática, frequente em escritores
clássicos” (1999, p. 286).
10. Para Luís A. P. Vitória, trata-se de “expressão pleonástica justificada
pela ênfase” (1969, p. 174).
11. Ante a uniforme aceitação por parte dos gramáticos, vê-se que está
plenamente autorizado o emprego de tal expressão nos textos que
devam submeter-se as regras da norma culta.
Ver Dupla negativa – Está correto? (P. 295) e Não – Com hífen ou sem?
(P. 484)

Nunca ninguém – Está correto?


Ver Dupla negativa – Está correto? (P. 295)

Nu-proprietário
1. No que diz respeito aos dispositivos legais, vejam-se dois aspectos
importantes: a) pela lei, “o proprietário tem a faculdade de usar, gozar e
dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que
injustamente a possua ou detenha” (CC, art. 1.228, caput); b) por outro
lado, em disposição legal não repetida pela codificação em vigor, mas
com elementos integralmente válidos na atualidade, “quando todos os
seus direitos elementares se acham reunidos” na pessoa do proprietário,
“é plena a propriedade”; em caso contrário, a propriedade será limitada
(CC/1916, art. 525).
2. No caso do usufruto, por exemplo, o direito de usar e gozar dos bens se
desloca para a pessoa do usufrutuário, e fica ao proprietário, ainda que
temporariamente, apenas o direito de dispor deles, de modo que, sendo
ele um proprietário despido de alguns dos poderes inerentes ao domínio,
chama-se, tecnicamente, nu-proprietário.
3. Assim, nu-proprietário é aquele que tem a propriedade que não é plena,
que está despojado ou despido do gozo da coisa, tendo o que, no Direito
Romano, se conhecia como a nuda proprietas (DE PLÁCIDO E SILVA,
1989, p. 258).
4. A grafia de tal vocábulo se dá com hífen, como registra o Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras,
que é o veículo oficial ordenador do modo de grafar as palavras em
nosso idioma (2009, p. 588).
5. Quanto à flexão de nu-proprietário para o feminino ou para o plural,
Antonio Henriques manda variar “só o último elemento. Daí: nu-
proprietário; nu-proprietários; nu-proprietária; nu-proprietárias” (1999,
p. 121).
6. Em mesma esteira, Napoleão Mendes de Almeida (1981, p. 209-10) vê
em tal expressão tão somente um adjetivo composto e, quanto à flexão,
manda dizer nu-proprietária e nu-proprietários.
7. Uma análise acurada da realidade efetiva, todavia, revela que tal
vocábulo pode ser um adjetivo composto ou um substantivo composto,
conforme a situação: a) “O nu-proprietário vendeu seus direitos sobre o
imóvel” (substantivo composto); b) “O casal nu-proprietário vendeu
seus direitos sobre o imóvel” (adjetivo composto).
8. E, porque a expressão nu-proprietário às vezes é um substantivo
composto e às vezes é um adjetivo composto, então o melhor é observar
as específicas regras de flexão aplicáveis a um e a outro.
9. Assim, quando se trata de um substantivo composto – como na frase “O
nu-proprietário vendeu seus direitos sobre o imóvel”, em que ambos os
elementos são variáveis (nu é adjetivo, e proprietário é substantivo) –
então se aplica a regra de flexão dos substantivos compostos segundo a
qual cada elemento individualmente variável sofre sua normal flexão
para o feminino ou para o plural, não importando seja ele o primeiro ou
o segundo elemento do substantivo composto (o nu-proprietário, a nua-
proprietária, os nus-proprietários, as nuas-proprietárias), a exemplo de
pública-forma (cujo plural é públicas-formas).
10. Quando, porém, é um adjetivo composto – como na frase “O casal nu-
proprietário vendeu seus direitos sobre o imóvel” – então se aplica a
regra de flexão dos adjetivos compostos, segundo a qual o primeiro
elemento é sempre invariável, e o segundo só varia para o plural ou
feminino, quando ele próprio é um adjetivo (casal nu-proprietário,
pessoa nu-proprietária, casais nu-proprietários, pessoas nu-
proprietárias).
11. Nessa esteira, veja-se a correção do Dicionário Houaiss, o qual, para o
substantivo nu-proprietário, registra o plural nus-proprietários
(HOUAISS; VILLAR, 2001, p. 2.037).
12. Tal solução não é artificiosa, e seu acerto pode ser percebido, quando
se compara a questão aqui analisada com a flexão do vocábulo surdo-
mudo, com o qual guarda certa similitude, já que este último também
pode às vezes ser um substantivo composto e às vezes um adjetivo
composto.
13. Pois bem: Sousa e Silva, discutindo o problema de surdo-mudo, não
partilha do entendimento de alguns escritores, que têm laborado no
engano “de aplicar ao adjetivo as flexões do substantivo” (no caso ora
discutido a questão é inversa, pois se intenta aplicar ao substantivo as
flexões do adjetivo).
14. Bem por isso, doutrina tal gramático, em lição perfeitamente amoldável
ao caso concreto: a) “Empregado como substantivo, faz no plural
masculino surdos-mudos; no singular feminino, surda-muda; no plural
feminino, surdas-mudas”; b) “Como adjetivo, conserva inalterado o
primeiro elemento: meninos surdo-mudos, criança surdo-muda,
operárias surdo-mudas”.
15. Vale dizer (SILVA, A., 1958, p. 289): a) como adjetivo, conserva nu-
proprietário inalterado o primeiro elemento (casal nu-proprietário,
pessoa nu-proprietária, casais nu-proprietários, pessoas nu-
proprietárias); b) como substantivo, entretanto, já que seus elementos
componentes são variáveis, ambos sofrem sua normal flexão para o
feminino ou para o plural (o nu-proprietário, a nua-proprietária, os
nus-proprietários, as nuas-proprietárias).
16. O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa não é claro a esse
respeito e, assim, não elimina as dúvidas, uma vez que: a) explicita a
possibilidade de seu emprego como substantivo e como adjetivo; b) dá
como plural apenas nus-proprietários; c) mas não especifica se tal
plural abrange o substantivo e o adjetivo, ou se se aplica apenas a um
deles (VOLP, 2009, p. 588). Parece salutar, na prática, seguir as
instruções anteriormente postas neste verbete.
Ver Adjetivos compostos (P. 81) e Substantivos compostos – Como levar
ao plural? (P. 717)
O
Obcecação, Obceção ou Obsessão?
1. Obcecação é o substantivo que significa o ato de obcecar, de turvar o
entendimento. Ex.: “Ele nada mais enxergava, numa obcecação própria
do fanatismo”.
2. Seu verbo é obcecar, bem com esse sentido de turvar o entendimento.
Ex.: “Obcecava-o a ideia de perder o amor da vítima para o desafeto”.
3. Já obsessão tem o sentido de ideia fixa, mania. Ex.: “Sua obsessão era
conseguir tirar a vida de seu desafeto”.
4. Não existe a forma obceção, que alguns grafam por contaminação do
vocábulo obsessão.

Obceção, Obcecação ou Obsessão?


Ver Obcecação, Obceção ou Obsessão? (P. 510)

Obcecar
Ver Obcecação, Obceção ou Obsessão? (P. 510)

Obedecer
1. É verbo de posição peculiar no que concerne à regência verbal.
2. Na atualidade, é exclusivamente transitivo indireto e admite lhe como
complemento. Exs.: a) “O magistrado obedece ao ordenamento
jurídico”; b) “O magistrado obedece-lhe”.
3. Buscando-lhe a origem, assevera Otoniel Mota (1916, p. 221) que esse
verbo é transitivo indireto em português, assim como o era em latim, em
que regia o caso dativo.
4. De acordo com Antonio Henriques e Maria Margarida de Andrade
(1999, p. 99), ele “oscilava entre o objeto direto e o indireto, na época
quinhentista”, mas “prevalece, na linguagem literária moderna, o objeto
indireto… Por tal razão é que se explica a construção passiva: a lei é
obedecida”.
5. Por essa oscilação em séculos passados, época em que se lhe admitia a
construção como transitivo direto, é que, nos dias de hoje, constitui tal
verbo exceção à regra de que só tem voz passiva um verbo transitivo
direto, já que ele, embora transitivo indireto, pode ser usado na voz
passiva. Ex.: “O ordenamento jurídico é obedecido pelo magistrado”.
6. Nessa esteira, Amini Boainain Hauy (1983, p. 180), em interessante
monografia, corrobora o entendimento de que, no Português atual, o
verbo obedecer constrói-se “na voz ativa com objeto indireto de pessoa”,
mas admite voz passiva.
7. Francisco Fernandes (1971, p. 436), abonando-se com exemplos de
importantes autores, explicita que a estruturação desse verbo com voz
passiva “é construção universalmente aceita”: a) “A ordem foi
obedecida” (Eduardo Carlos Pereira); b) “Fazem com que sejam
obedecidas as leis” (Mário Barreto).
8. Aires da Mata Machado Filho (1969a, p. 599) reitera o entendimento de
que tal forma passiva fixou-se em época histórica em que o verbo era
usado como transitivo direto, do que adveio “a aparente contradição” de
ter voz passiva um verbo atualmente transitivo indireto.
9. No que tange aos textos de lei, por um lado, dá-se a observância normal
de sua regência como transitivo indireto; por outro lado, em diversas
passagens, apresenta-se construído na voz passiva. Exs.: a) “… caso em
que a homologação produzirá efeitos imediatos, obedecidas as
condições estabelecidas para a eficácia das sentenças estrangeiras no
País…” (LICC, art. 7º, § 6º); b) “Se não for obedecido imediatamente, o
executor convocará duas testemunhas e, sendo dia, entrará à força na
casa, arrombando as portas, se preciso…” (CPP, art. 392); c) “…
obedecidas as disposições estabelecidas na lei e nos seus estatutos”
(CLT, art. 549); d) “… obedecidas as seguintes regras, na ordem em que
enumeradas…” (CTN, art. 163).
Ver Agente da passiva (P. 97), Ser nascido – Está correto? (P. 694) e Voz
passiva sintética (P. 794).
Obeso
1. Cândido de Oliveira (1961, p. 34) lembra, quanto à pronúncia, que a
sílaba tônica desse vocábulo tem timbre aberto (bé).
2. Também de acordo com lição de Cândido de Oliveira (s/d, p. 109 e 129),
“a boa pronúncia é com é aberto (rima com eu peço)”.
3. Manda, de igual modo, Luís A. P. Vitória (1969, p. 175) “pronunciar e
aberto (obéso)”.
4. Não é outra a lição de Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 288), para
quem “a pronúncia correta, porém pouco seguida, é obéso, com o e
aberto”, lembrando tal gramático que “a pronúncia obêso deve-se
provavelmente à influência de outras palavras, em sua maioria com o e
tônico fechado: aceso, indefeso, peso, preso, surpreso, etc.”.
5. Espancando dúvidas, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa,
da Academia Brasileira de Letras, órgão incumbido oficialmente de
determinar a existência dos vocábulos em nosso idioma, além de sua
grafia oficial, e, eventualmente, sua pronúncia, registra a possibilidade
de ambas as pronúncias: com e fechado (ê) ou com o e aberto (é) (2009,
p. 589), o que implica dizer que ambas as pronúncias estão oficialmente
autorizadas.

Objeto direto interno


Ver Chovia uma chuva – Existe? (P. 180)

Objeto direto preposicionado


1. Espantam-se alguns, quando sabem, por um lado, que verbos como
louvar, amar e adorar, são transitivos diretos, mas, por outro lado, em
determinadas circunstâncias, veem que seus complementos se constroem
com preposição, como se dá nas seguintes expressões: Louvar a Deus,
amar a Deus e adorar a Deus.
2. Antes de entrar no mérito da questão, considerem-se dois exemplos: a)
“O juiz silenciou”; b) “O juiz quebrou o sigilo bancário”.
3. No primeiro exemplo – “O juiz silenciou” – vê-se que o sujeito é o juiz,
enquanto o verbo indica a ação de silenciar. Já no segundo exemplo – “O
juiz quebrou o sigilo bancário” – tem-se por sujeito o juiz, enquanto o
verbo indica a ação de quebrar.
4. Ora, no primeiro caso, quando se diz o sujeito (o juiz) mais o verbo
(silenciou), verifica-se que, numa análise bastante rudimentar e própria
para o que aqui é necessário, a ação estanca no verbo, não passa (ou não
transita) para além dele. Por isso se diz que se está diante de um verbo
intransitivo.
5. Já no segundo caso, quando se diz o sujeito (o juiz) mais o verbo
(quebrou), também em análise bastante simplista, nota-se que a ação
passa, vai (ou transita) para além do verbo. Por isso se diz que se está
diante de um verbo transitivo.
6. Adicione-se um terceiro exemplo: “O documento pertence aos autos”.
Nele se tem o sujeito (o juiz) e um verbo (pertence), cuja ação também
passa (ou transita) para além do verbo, de modo que também aqui se está
diante de um verbo transitivo.
7. Considere-se, em seguida, novamente, o primeiro dos exemplos com
verbo transitivo: “O juiz quebrou o sigilo bancário”. Uma análise visual
mostra que o complemento, que é o alvo (ou objeto) da ação de quebrar,
está sem preposição obrigatória. O raciocínio a ser feito é que quem
quebra, quebra algo (exige complemento sem preposição obrigatória). E
se conclui que a ação de quebrar passa diretamente para o complemento
(ou alvo ou objeto), isto é, sem auxílio obrigatório de preposição.
8. Em tal caso, extraem-se duas conclusões de extrema importância: a) O
que se tem é um verbo transitivo direto; b) O complemento desse verbo,
por sua vez, denomina-se objeto direto.
9. Considere-se, em seguida, o segundo dos exemplos com verbo
transitivo: “O documento pertence aos autos”. Uma atenta observação
mostra que o complemento, que é o destinatário (ou objeto) da ação de
pertencer, está com preposição obrigatória. O raciocínio a ser feito é que
o que pertence, pertence a algo ou a alguém. E se conclui que a ação de
pertencer passa indiretamente para o complemento (ou destinatário ou
objeto), isto é, com o auxílio obrigatório de preposição.
10. E aqui também se extraem duas conclusões de extrema importância: a)
Tem-se, no caso, um verbo transitivo indireto; b) O complemento, por
sua vez, denomina-se objeto indireto.
11. No caso das expressões Louvar a Deus, amar a Deus e adorar a Deus,
importa observar que determinados verbos normalmente transitivos
diretos às vezes aparecem completados por objetos diretos
preposicionados, e isso se dá, dentre outras, pelas seguintes razões: a)
Por reverência e respeito: “Ele ama a Deus sobre todas as coisas”; b)
Quando se trata de pronome oblíquo tônico: “Nem ele entende a nós,
nem nós a ele”; c) Para evitar confusão de sentido, principalmente em
casos de inversão dos termos da oração: “A Abel matou Caim”.
12. E não se esqueça para tais casos: a) Mesmo com objetos diretos
preposicionados, os verbos continuam transitivos diretos, de modo que
não passam a ser transitivos indiretos; b) Reforce-se que o
complemento é objeto direto preposicionado, e não objeto indireto.
13. Para quem tem dificuldade exatamente para reconhecer qual há de ser a
transitividade de um verbo em tal caso, é bom lembrar, em termos bem
práticos, que o verbo transitivo direto normalmente admite passagem
para a voz passiva, enquanto o transitivo indireto, por via de regra, não
a admite.
14. Assim, o exemplo “O juiz quebrou o sigilo bancário” admite
transformação para “O sigilo bancário foi quebrado pelo juiz”. Já o
exemplo “O documento pertence aos autos” não admite passagem para
a voz passiva, o que é sinal inconfundível de que pertencer não é
transitivo direto.
15. Vamos formular exemplos com as frases do início: a) “Nós louvamos a
Deus” (voz ativa); b) “Deus é louvado por nós” (voz passiva); c) “Os
homens amam a Deus?” (voz ativa); d) “Deus é amado pelos
homens?”; e) “Eles adoravam verdadeiramente a Deus”; f) “Deus era
verdadeiramente adorado por eles”.

Objeto(s) do contrato
1. Vale a pena observar uma expressão bastante corriqueira em textos
jurídicos e forenses, verificando quais são corretas entre estruturas como
as que seguem: a) “… serviços objeto do contrato…”; b) “… serviços
objetos do contrato…”; c) “… matérias que foram objeto de
apreciação…”; d) “… matérias que foram objetos de apreciação…”?
2. Quando se tem uma estrutura com verbo de ligação, nos moldes dos
exemplos dados, e o sujeito é plural, o complemento (predicativo do
sujeito) pode ficar no singular ou no plural, independentemente de haver
alguma variação no sentido.. Exs.: a) “Os escândalos do Congresso
foram assunto do dia”; b) “Os escândalos do Congresso foram assuntos
do dia”; c) “Os novos produtos foram sucesso instantâneo”; d) “Os
novos produtos foram sucessos instantâneos”.
3. E, quando no predicativo do sujeito se tem o vocábulo alvo ou a palavra
objeto, a situação não se altera, de modo que são corretos todos os
exemplos a seguir: a) “As matérias foram alvo de apreciação”; b) “As
matérias foram alvos de apreciação”; c) “As matérias foram objeto de
apreciação”; d) “As matérias foram objetos de apreciação”.
4. Vamos estender um pouco mais os exemplos por último referidos, em
estruturas sintáticas igualmente corretas: a) “As matérias que foram alvo
de apreciação não foram publicadas”; b) “As matérias que foram alvos
de apreciação não foram publicadas”; c) “As matérias que foram objeto
de apreciação não foram publicadas”; d) “As matérias que foram
objetos de apreciação não foram publicadas”.
5. Nos exemplos por último citados, para não repetir o verbo ser
desnecessariamente, vamos excluí-los e ver que são também corretas as
estruturas resultantes: a) “As matérias alvo de apreciação não foram
publicadas”; b) “As matérias alvos de apreciação não foram
publicadas”; c) “As matérias objeto de apreciação não foram
publicadas”; d) “As matérias objetos de apreciação não foram
publicadas”.
6. Voltemos aos exemplos inicialmente dados: a) “… executar os serviços
objeto desse contrato” (correto); b) “… executar os serviços objetos
desse contrato” (correto); c) “… imóveis objeto do contrato…”
(correto); d) “… imóveis objetos do contrato…” (correto); e) “… as
matérias foram objeto de apreciação…” (correto); f) “… as matérias
foram objetos de apreciação” (correto).

Obra com dois autores


1. Com certa frequência, nos meios jurídicos, encontram-se dois ou mais
autores de mesma obra, separados por hífen (Baudry-Lacantinerie,
Cintra-Grinover-Dinamarco, Enneccerus-Kipp-Wolff, Planiol-Ripert,
Ruggiero-Maroi), e assalta a dúvida da concordância verbal na citação.
2. Em outras palavras, fica-se sem saber se se deixa o verbo no singular, ou
se se faz sua concordância no plural.
3. Nesses casos de sujeito indicativo de autoria dupla ou múltipla de uma
obra, estando os nomes separados por hífen – proceder esse de origem
alemã – observa Evanildo Bechara que, em construção optativa, “o
verbo da oração vai ao plural ou ao singular”.
4. Apenas ressalta tal gramático que, na hipótese de concordância no
singular, leva-se “apenas em conta a obra em si” (BECHARA, 1974, p.
303), o que faz concluir que, no caso de concordância no plural, põem-se
em relevo os autores em sua individualidade. Exs.: a) “Ruggiero-Maroi
sustenta, de modo expresso, essa posição” (correto); b) “Ruggiero-Maroi
sustentam, de modo expresso, essa posição” (correto).
5. É preciso atentar, entretanto, que pode ocorrer nome composto de um
único autor (como Alcalà-Zamora), caso em que a concordância verbal
se fará, como é óbvio, tão somente no singular.

Obra – Como citar?


Ver Título de obra (P. 739).

Obrigado
1. Expressando gratidão, é palavra que deve ser observada do ponto de
vista da concordância nominal.
2. Para se entender a concordância, importante é atentar no sentido da
expressão: a pessoa a quem se presta um favor, ao agradecer, diz que se
sente obrigada a retribuí-lo.
3. Bem por isso, não importa a quem é manifestado o agradecimento; o que
efetivamente interessa é a pessoa que o manifesta, pois é com ela que tal
palavra concorda: assim, se é um homem que fala, diz ele muito
obrigado; se é mulher, muito obrigada; se vários são os homens,
expressando-se, por exemplo, num discurso, por meio de orador, diz-se
muito obrigados; se várias as mulheres, muito obrigadas.
4. Para resumir, precisa é a lição de Silveira Bueno, que sintetiza os
aspectos significativos do emprego de tal vocábulo: “A expressão de
agradecimento muito obrigado não passa de uma oração abreviada: Eu
lhe estou muito obrigado pelo favor que me fez – ou qualquer outra
semelhante. Como se vê, obrigado é adjetivo que está qualificando o
sujeito da oração. Ora, sabemos que todos os adjetivos concordam em
gênero e número com o substantivo a que se referem. Logo, se o sujeito
for masculino, dirá: muito obrigado. Mas se for feminino, há de dizer:
muito obrigada” (1938, p. 122).
5. Acrescente-se a lição de Júlio Nogueira quanto ao equívoco
normalmente cometido com tal vocábulo: “É incorreção peculiar ao belo
sexo. Uma senhora não deve dizer, como forma de agradecimento:
Obrigado!, mas obrigada! Nenhuma diria: Eu fico obrigado. Assim:
Obrigada! ou Obrigadas, se há mais de uma” (1959, p. 32).
6. A uma leitora de nome Adelaide – cuja esclarecida amiga teimava em
dizer muito obrigado – que lhe indagava se não seria melhor que tal
dama dissesse obrigada, assim respondia Cândido de Figueiredo: “Não
só é melhor, é o que é, se a tal amiga de Adelaide é realmente do sexo
feminino” (1948, p. 202).
7. Por fim, se, como já se observou, obrigado é uma oração abreviada e
significa “Eu estou obrigado pelo favor que me fez”, não menos verdade
é que, a um obrigado como esse, alguém pode replicar com outra forma
abreviada e correta (“Obrigado eu”), com o exato sentido de “Eu é que
me sinto obrigado”.
8. E, assim, vejam-se as variações: a) “Obrigado eu” (se do masculino e
quem fala); b) “Obrigada eu” (se do feminino é quem fala); c)
“Obrigados nós” (se do masculino plural é quem fala); d) “Obrigadas
nós” (se do feminino plural é quem fala).
9. Num aspecto adicional muito significativo, não se pode esquecer que as
palavras, em português, embora pertençam originariamente a outra
categoria gramatical, podem ser substantivadas, ou seja, podem tornar-se
um substantivo. Exs.: a) “Não quero ouvir um mas de sua parte” (mas,
normalmente, é uma conjunção); b) “Não me venha com um não” (não,
originariamente, é um advérbio).
10. Assim também se dá com a palavra obrigado, a qual, se substantivada,
não sofre as influências até agora anotadas quanto à concordância.
Exs.: a) “Ele disse um obrigado muito significativo”; b) “Ela disse um
obrigado muito significativo”; c) “Eles disseram um obrigado muito
significativo”; d) “Elas disseram um obrigado muito significativo”.
Ver De nada – Está correto? (P. 263) e Muitíssimo – Está correto? (P. 481)

Obrigado eu – Está correto?


Ver Obrigado (P. 513).

Obrigado – Meu muito obrigada?


1. Um leitor reconhece saber que a palavra obrigado, precedida ou não de
muito, varia de acordo com a pessoa que fala. Mas, num caso prático,
teve dúvidas para definir se estava correto o emprego de tal vocábulo,
quando substantivado e falado por pessoa do sexo feminino: “A todos
aqueles me ajudaram nessa trajetória, deixo o meu muito obrigada”?
2. Para se entender a concordância, importante é atentar no sentido da
expressão: a pessoa a quem se presta um favor, ao agradecer, diz que se
sente obrigada a retribuí-lo.
3. Bem por isso, não importa a quem é manifestado o agradecimento; o que
efetivamente interessa é a pessoa que o manifesta, pois é com ela que tal
palavra concorda: assim, se é um homem que fala, diz ele obrigado; se é
mulher, obrigada; se vários são os homens, expressando-se, por
exemplo, num discurso, por meio de orador, diz-se obrigados; se várias
as mulheres, obrigadas.
4. Para resumir, precisa é a lição de Silveira Bueno, que sintetiza os
aspectos significativos do emprego de tal vocábulo: “A expressão de
agradecimento muito obrigado não passa de uma oração abreviada: Eu
lhe estou muito obrigado pelo favor que me fez – ou qualquer outra
semelhante. Como se vê, obrigado é adjetivo que está qualificando o
sujeito da oração. Ora, sabemos que todos os adjetivos concordam em
gênero e número com o substantivo a que se referem. Logo, se o sujeito
for masculino, dirá: muito obrigado. Mas se for feminino, há de dizer:
muito obrigada” (1938, p. 122).
5. Acrescente-se a lição de Júlio Nogueira quanto ao equívoco
normalmente cometido com tal vocábulo: “É incorreção peculiar ao belo
sexo. Uma senhora não deve dizer, como forma de agradecimento:
Obrigado!, mas obrigada! Nenhuma diria: Eu fico obrigado. Assim:
Obrigada! ou Obrigadas, se há mais de uma” (1959, p. 32).
6. A uma leitora de nome Adelaide – cuja esclarecida amiga teimava em
dizer muito obrigado – que lhe indagava se não seria melhor que tal
dama dissesse obrigada, assim respondia Cândido de Figueiredo: “Não
só é melhor, é o que é, se a tal amiga de Adelaide é realmente do sexo
feminino” (1948, p. 202).
7. Como não é difícil perceber, não sofre alteração alguma o quanto até
agora dito, se o vocábulo obrigado vem precedido pelo advérbio muito:
a) “Muito obrigado pelo favor que me fez – disse o rapaz”; b) “Muito
obrigada pelo favor que me fez – disse a moça”; c) “Muito obrigados
pelo favor que nos fizeram – disseram os rapazes”; d) “Muito obrigadas
pelo favor que nos fizeram – disseram as moças”.
8. Com respeito à indagação específica do leitor, entretanto, traz-se ensino
claro, simples e taxativo de Napoleão Mendes de Almeida: “Quanto
substantivada a expressão, aparece sempre o masculino” (1981, p. 196).
Exs.: a) “A todos os que me ajudaram deixo o meu muito obrigado, disse
o rapaz”; b) “A todos os que me ajudaram deixo o meu muito obrigado,
disse a moça”; c) “A todos os que nos ajudaram deixamos o nosso muito
obrigado, disseram os rapazes”; d) “A todos os que nos ajudaram
deixamos o nosso muito obrigado, disseram as moças”.

Obrigado você ou Obrigado a você?


1. Sempre é bom rememorar que, para se entender o regime da palavra
obrigado, é importante observar o que se quer com ela dizer: a pessoa a
quem se presta um favor, ao agradecer, diz que se sente obrigada a
retribuí-lo.
2. Bem por isso, não importa a quem é manifestado o agradecimento; o que
efetivamente interessa é a pessoa que o manifesta, pois é com ela que tal
palavra concorda: assim, se é um homem que fala, diz ele muito
obrigado; se mulher, muito obrigada; se vários são os homens,
expressando-se, por exemplo, num discurso, por meio de orador, diz-se
muito obrigados; se várias as mulheres, muito obrigadas.
3. Exatamente porque, em tais casos, obrigado é uma oração abreviada e
significa “Eu estou obrigado pelo favor que me fez”, é que, a um
obrigado como esse, alguém pode replicar com outra forma abreviada e
correta (“Obrigado eu”), com o exato sentido de “Eu é que me sinto
obrigado”. E daí surgem as variações: a) “Obrigada eu” (se do feminino
é quem fala); b) “Obrigados nós” (se do masculino plural é quem fala);
c) “Obrigadas nós” (se do feminino plural é quem fala).
4. Querem alguns, todavia, que se deva dizer, em tal caso, “obrigado(a)
você”, o que estaria sintetizando de modo adequado a oração completa
“obrigado(a) estou eu em relação a você”. Tal, entretanto, não é a forma
correta, pois, se esse é o sentido que se quer conferir ao texto, quem se
sente obrigado continua sendo o eu, enquanto você há de ser o
destinatário do agradecimento. Por isso, indispensável há de ser o
emprego da preposição. E, assim, se há de dizer corretamente:
“Obrigado(a) a você”.
5. E mais: se se pretender falar “Obrigado você” (ausente a preposição), o
único sentido possível será: Você se sente obrigado. E tal conotação está
fora de qualquer consideração no presente caso, porque não é o que se
quer dizer.

Obrigava-o ou Obrigava-lhe?
1. Ante os corriqueiros equívocos de troca do pronome pessoal oblíquo
átono o pelo pronome lhe, vale a pena observar qual a forma correta: a)
“… apresentava a forma com que o prefeito tinha recebido a liminar que
o obrigava…”; b) “… apresentava a forma com que o prefeito tinha
recebido a liminar que lhe obrigava…”
2. Antes de entrar no mérito da questão, vamos considerar dois exemplos:
a) “O juiz silenciou”; b) “O juiz quebrou o sigilo bancário”.
3. No primeiro exemplo – “O juiz silenciou” – vê-se que o sujeito é o juiz,
enquanto o verbo indica a ação de silenciar; já no segundo exemplo – “O
juiz quebrou o sigilo bancário” – tem-se por sujeito o juiz, enquanto o
verbo indica a ação de quebrar.
4. Ora, no primeiro caso, quando se diz o sujeito (o juiz) mais o verbo
(silenciou), verifica-se que, numa análise bastante rudimentar e própria
para o que aqui é necessário, a ação estanca no verbo, não passa (ou não
transita) para além dele. Por isso se diz que se está diante de um verbo
intransitivo.
5. Já no segundo caso, quando se diz o sujeito (o juiz) mais o verbo
(quebrou), também em análise bastante simplista, nota-se que a ação
passa, vai (ou transita) para além do verbo. Por isso se diz que se está
diante de um verbo transitivo.
6. Adicione-se um terceiro exemplo: “O documento pertence aos autos”.
Nele se tem o sujeito (o documento) e um verbo (pertence), cuja ação
também passa (ou transita) para além do verbo, de modo que também
aqui se está diante de um verbo transitivo.
7. Considere-se, em seguida, novamente, o primeiro dos exemplos com
verbo transitivo: “O juiz quebrou o sigilo bancário”. Uma análise visual
mostra que o complemento, que é o alvo (ou objeto) da ação de quebrar,
está sem preposição obrigatória. O raciocínio a ser feito é que quem
quebra, quebra algo (o verbo exige complemento sem preposição
obrigatória). E se conclui que a ação de quebrar passa diretamente para o
complemento (ou alvo ou objeto), isto é, sem auxílio obrigatório de
preposição.
8. Em tal caso, extraem-se duas conclusões de extrema importância: a) O
que se tem é um verbo transitivo direto; b) O complemento desse verbo,
por sua vez, é um objeto direto.
9. Considere-se, em seguida, o segundo dos exemplos com verbo
transitivo: “O documento pertence aos autos”. O complemento, que é o
destinatário (ou objeto) da ação de pertencer, está com preposição
obrigatória. O raciocínio a ser feito é que aquilo que pertence, pertence a
algo ou a alguém. E se conclui que a ação de pertencer passa
indiretamente para o complemento (ou destinatário ou objeto), isto é,
com o auxílio obrigatório de preposição.
10. E aqui também se extraem duas conclusões de extrema importância: a)
Tem-se, no caso, um verbo transitivo indireto; b) O complemento, por
sua vez, é um objeto indireto.
11. Considere-se, por fim, um terceiro exemplo com verbo transitivo: “O
juiz entregou os autos ao advogado”. Uma atenta observação revela
que há dois complementos: os autos (alvo da ação de entregar) e ao
advogado (destinatário da ação de entregar). O raciocínio a ser feito é
que quem entrega, entrega algo (complemento sem preposição
obrigatória) a alguém (complemento com preposição obrigatória). E se
conclui que, no caso, a ação de entregar passa diretamente para um
complemento (alvo ou objeto), isto é, sem o auxílio obrigatório de
preposição, e também passa indiretamente para outro complemento
(destinatário ou objeto), isto é, com o auxílio obrigatório de preposição.
12. E aqui também se extraem duas conclusões de extrema importância: a)
Tem-se um verbo transitivo direto e indireto (alguns ainda o
denominam verbo bitransitivo); b) Há dois complementos do verbo:
um objeto direto (os autos) e um objeto indireto (ao advogado).
13. Com essas premissas, acrescenta-se que os pronomes pessoais oblíquos
átonos o, a, os e as funcionam como objetos diretos, enquanto os
pronomes lhe e lhes se destinam a ser objetos indiretos. Exs.: a) “O juiz
quebrou o sigilo bancário”; b) “O juiz quebrou-o”; c) “O documento
pertence aos autos”; d) “O documento pertence-lhes”; e) “O juiz
entregou os autos ao advogado”; f) “O juiz entregou-os ao advogado”;
g) “O juiz entregou os autos ao advogado”; h) “O juiz entregou-lhe os
autos”.
14. Sousa e Silva (1958, p. 168) aponta, com propriedade, ser comum,
embora errôneo, o emprego de lhe e lhes em lugar de o, a, os e as.
15. A frequência com que ocorrem erros dessa natureza faz com que
Arnaldo Niskier (1992, p. 51) teça a seguinte observação: “É um erro
muito comum a troca do pronome o (e variações) por lhe(s). Devemos
ter em mente que o (e variações) é utilizado como objeto direto
(conheço-o) e lhe(s) como objeto indireto (paguei-lhe cinco mil
cruzeiros)”.
16. Para quem tem dificuldade exatamente para reconhecer qual há de ser a
transitividade de um verbo em tal caso, é bom lembrar, em termos bem
práticos, que o verbo transitivo direto admite passagem para a voz
passiva, enquanto o transitivo indireto, por via de regra, não a admite.
17. Assim, o exemplo “O juiz quebrou o sigilo bancário” admite
transformação: “O sigilo bancário foi quebrado pelo juiz”. Já o
exemplo “O documento pertence aos autos” não admite passagem para
a voz passiva, o que é sinal inconfundível de que pertencer não é
transitivo direto.
18. Voltando ao exemplo inicialmente dado, vamos alterá-lo ligeiramente,
para conferir-lhe um sentido prático, que possibilite análise sintática
mais fácil: “A liminar obrigava o Prefeito ao silêncio”. O termo a ser
substituído pelo pronome, sem dúvida, é o Prefeito. Sem maiores
dificuldades, verifica-se que ele é objeto direto. Assim, a substituição
fica fácil: “A liminar obrigava-o ao silêncio”. Ou, em termos literais
para o caso da consulta: “…apresentava a forma com que o prefeito
tinha recebido a liminar que o obrigava…”
Ver O, Lhe e Dele? (P. 523) e Regência verbal (P. 651).

Obsceno
1. Quer dizer desonesto, aquilo que fere o pudor. Ex.: “O gesto obsceno
feito pelo réu durante o interrogatório não foi levado em consideração
pelo juiz”.
2. Atente-se a sua correta grafia, já que é palavra que costuma ser escrita de
modo equivocado.

Obséquio (cé ou zé)?


1. Na Gramática tradicional, costuma-se ensinar que a regra é que o s
apenas tem som de z entre duas vogais, mas permanece com o som de s
entre uma consoante e uma vogal.
2. E também se ensina que a exceção a essa regra fica para o prefixo trans,
quando se une a vocábulo iniciado por vogal, situação em que o s
adquire som de z: transamazônico, transeunte, transitório,
transoceânico.
3. Mesmo para o prefixo trans, porém, é preciso cuidado, porque, se ele se
une a palavra já começada por s, a pronúncia resultante é de s, e não de
z, independentemente dos aspectos gráficos das palavras: transecular
(trans+secular), transiberiano (trans+siberiano), transubstanciação
(trans+substanciação).
4. Apesar de a regra ser exatamente a exposta nas considerações anteriores,
ocorre, porém, que o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, ao
listar os vocábulos obsequiar, obséquio e obsequioso, traz, entre
parêntese, a pronúncia com z, e não com s (ACADEMIA BRASILEIRA
DE LETRAS, 2009, p. 590), o que constitui uma segunda exceção à
referida regra.
5. Por fim, nunca é demais lembrar que a autoridade para listar as palavras
oficialmente existentes em nosso léxico, bem como sua grafia e sua
pronúncia, está com o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa,
editado pela Academia Brasileira de Letras, órgão esse que tem a
responsabilidade legal de controlar nosso vocabulário existente, em
cumprimento à velha Lei Eduardo Ramos, de n. 726, de 8/12/1900.
6. Vale dizer: se o VOLP determina um modo de pronunciar, esse há de ser
tido como o oficial e legal, de modo que qualquer polêmica que se
queira travar fica no campo da discussão científica. É o mesmo, aliás,
que se dá com qualquer lei: pode-se discutir sua necessidade, sua
adequação e diversos outros aspectos; mas a ela se deve prestar
obediência, a menos que seja inconstitucional.

Obsessão, Obcecação ou Obceção?


Ver Obcecação, Obceção ou Obsessão? (P. 510)

Obstar
1. É certo que, por um lado, Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 222) defende
seja tal verbo construído tão somente com objeto indireto. Exs.: a) “A
vontade da parte não obsta ao exercício do direito”; b) “A medida
protelatória do réu não obsta a que seja executada a sentença”.
2. Vitório Bergo (1943, p. 212), de igual modo, apenas lhe aponta a
possibilidade de construção com objeto indireto.
3. E, postando-se contrariamente aos gramáticos que lhe aceitam a sintaxe
transitiva direta – nomeia, entre eles, Pedro A. Pinto e Artur de Almeida
Torres – observa Cândido Jucá Filho (1981, p. 88) que os exemplos
dados por tais autores “não são convincentes, porquanto casos como
‘Obstar a chegada’ podem ser erros tipográficos, faltando o sinal da
crase. Em ‘Cumpria-lhe obstar que…’ está omissa a preposição, o que é
normal. Em ‘Nada obsta que ele seja igualmente estripado’(Machado de
Assis), ‘que ele seja…’ é o sujeito. Exemplos de Alencar e Euclides da
Cunha não o são de vernaculidade. Passagens como esta são decisivas
(para configurar-lhe a natureza de transitivo indireto): ‘Para lhe
obstarem, oferecem matéria mais ampla’ (Herculano)”.
4. Referindo, todavia, de um lado, posicionamento de Mário Barreto, para
quem tal verbo é transitivo indireto e pede a preposição a, e, do outro,
Pedro A. Pinto, que lhe defende a construção como transitivo direto,
Artur de Almeida Torres (1967, p. 204-5), fundado em exemplos de
autores abalizados, assevera, de modo taxativo, que “obstar pertence à
classe dos verbos que, mantendo inalterável o sentido, pedem
indiferentemente objeto direto ou indireto”: a) “… do velho doutor
obstara o duelo” (José de Alencar); b) “Nada obstaria, pois, em boa
razão, a que indicássemos…” (Rui Barbosa).
5. Na lição de Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 291-2), por um lado,
“constrói-se, de preferência, com objeto indireto”; por outro lado, “se
bem que não constitua erro, é menos recomendável a regência direta…, a
qual se explica por influência do sinônimo impedir, que se constrói com
objeto direto”.
6. Sousa e Silva (1958, p. 193), lembrando que também pode ser
empregado intransitivamente (“Isso não obsta”), leciona, de igual modo,
que esse verbo “pode construir-se com a preposição a ou com objeto
direto: obstou ao contrato e obstou o contrato”.
7. Em indispensável obra, Francisco Fernandes (1971, p. 437) admite
também optativamente sua sintaxe como transitivo direto ou como
transitivo indireto: a) “A lembrança de tamanho obséquio não teve força
para obstar que ele viesse a público enxovalhar o cunhado” (Machado
de Assis); b) “Os costumes obstam a essas consequências extremas”
(Rui Barbosa).
8. Celso Pedro Luft tem o mesmo entendimento, para admitir
facultativamente ambas as estruturas, justificando: “A sintaxe originária
é transitiva indireta – obstar a, mas a influência de impedir trouxe
transitividade direta” (1999, p. 381-2).
9. Ante a divergência entre os gramáticos, aplica-se ao caso o vetusto
princípio de que, na dúvida, tem o usuário liberdade para ambos os
empregos.
10. Nos textos legais, obstar aparece às vezes construído com objeto direto
(que pode, eventualmente, ser sujeito na voz passiva), às vezes com
objeto indireto (com a preposição a), às vezes com objeto direto e com
objeto indireto, às vezes sendo o objeto indireto representado por
oração objetiva indireta. Exs.: a) “Não obsta à partilha o estar um ou
mais herdeiros na posse de certos bens do espólio…” (CC/1916, art.
1.772, § 2º); b) “Reputa-se verificada, quanto aos efeitos jurídicos, a
condição, cujo implemento for maliciosamente obstado pela parte, a
quem desfavorecer…” (CC, art. 129); c) “Não obsta à manutenção, ou
reintegração na posse, a alegação de propriedade, ou de outro direito
sobre a coisa…” (CC, art. 1.210, § 2º); d) “Estende-se ao possuidor o
disposto quanto ao devedor acerca das causas que obstam… a
prescrição…” (CC, art. 1.244); e) “A despedida que se verificar com o
fim de obstar ao empregado a aquisição de estabilidade sujeitará o
empregador a pagamento em dobro da indenização prescrita nos arts.
477 e 478” (CLT, art. 449, § 3º); f) “A desistência da ação, ou a
existência de qualquer causa que a extinga, não obsta ao
prosseguimento da reconvenção” (CPC/1973, art. 317); g) “… A
aprovação das contas do caixa dada pela maioria dos compartes do
navio não obsta a que a minoria dos sócios intente contra eles as ações
que julgar competentes…” (C. Com., art. 495).

Obstruir
1. Verbo empregado com frequência em textos jurídicos e forenses com o
sentido de estorvar, impedir. Ex. “O advogado obstruía, a cada passo, a
tramitação do processo”.
2. Apesar da semelhança, não se flexiona como construir, e, para
Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 292), “conjuga-se como a maioria
dos verbos terminados em –uir (possuir, influir, instruir, etc.)”,
observação essa da qual emerge a necessidade de fixação do presente do
indicativo e de seus tempos derivados.
3. Otelo Reis lhe dá por modelo o verbo restituir (1971, p. 132-3).
4. Desse modo: obstruo, obstruis, obstrui, obstruímos, obstruís, obstruem
(presente do indicativo); obstrua, obstruas, obstrua, obstruamos,
obstruais, obstruam (presente do subjuntivo); obstrui, obstrua,
obstruamos, obstruí, obstruam (imperativo afirmativo), não obstruas,
não obstrua, não obstruamos, não obstruais, não obstruam (imperativo
negativo).
5. Não traz dificuldades maiores de flexão nos demais tempos: obstruía
(imperfeito do indicativo); obstruirei (futuro do presente do indicativo);
obstruiria (futuro do pretérito do indicativo); obstruindo (gerúndio);
obstruído (particípio); obstruí (pretérito perfeito do indicativo);
obstruíra (pretérito mais-que-perfeito do indicativo); obstruir (futuro do
subjuntivo); obstruísse (imperfeito do subjuntivo).

Obter
Ver Ter (P. 730).

O cargo é aspirado – Está correto?


Ver Aspirar o(ao) perfume? e Aspirar o(ao) cargo? (P. 138)

Óculos
Ver Nomes plurais (P. 499).

O de que – Está correto?


1. Um consulente escrevia a Mário Barreto, assinalando estarem erradas as
seguintes frases: a) “Um punhal foi do que se valeu o assassino”; b) “Do
que se trata agora é de sair daqui”.
2. Assinalava o subscritor da missiva a ocorrência de erros em tais frases,
uma vez que a preposição estaria fora do lugar que lhe competia na
primeira oração: “Um punhal foi o de que se valeu…”; na segunda
oração, deveria haver a dissolução da expressão do que: “O de que se
trata…”
3. O insigne filólogo, todavia, observou que “neste, como noutros casos, a
incontestável autorização do uso chegou a dar salvo-conduto a
construções a que chamam absurdas e aberrações que não consentem a
análise”.
4. E acrescentou que “tanto Rui Barbosa como outros escritores praticam
também a deslocação da preposição”, sendo “costume agregar-se no
antecedente a preposição que pertence ao relativo”: a) “No que se deve
cuidar, portanto, é em educá-lo e corrigi-lo” (Rui Barbosa); b) “No que
reparo agora é em duas coisas, que estão bem à flor da terra” (Padre
Manuel Bernardes).
5. Por isso, o próprio gramático desfilou uma série de exemplos de uso
corriqueiro, em que se dá tal junção: a) “Não sei no que pensas”; b)
“Não sei te dizer do que mais gostei em Paris”; c) “Não sabes do que
sou capaz”; d) “Isso é do que me estou queixando”.
6. E justificou, antes de asseverar que a outra forma “é artificiosa e quase
inusitada”: “Tal é o poder do hábito nestas construções, que a ninguém,
procedendo espontaneamente, ocorrerá colocar essas palavras na ordem
que deveriam ter, e como se faz ao analisar-se tal classe de orações”
(BARRETO, 1954a, p. 235-40).
7. Em verdade, na consonância com ensinamento de Laudelino Freire, que
traz significativos exemplos para tanto, “quando na frase vem o
demonstrativo o seguido do relativo que, costuma-se, e é o que faz a
linguagem corrente, juntar o o à preposição que pertence ao relativo”: a)
“Não sei no que (o em que) pensar”; b) “Veja ao que (o a que) me
exponho”; c) “Já não sei para o que (o para que) eles prestam”; d)
“Ainda não sei ao que (o a que) vem o Senhor”.
8. E complementa tal gramático (FREIRE, 1937b, p. 112): “Entretanto o
não agregar o demonstrativo o à preposição imprime ao dizer verdadeiro
cunho clássico, como se vê neste exemplo de Castilho: ‘… mas amor,
que é o a que ela aspira, não lhe chega a prometer’”.

O devedor foi perdoado – Está correto?


1. Quanto à regência verbal considerada em sua forma ortodoxa, tem o
verbo perdoar duas transitividades.
2. É transitivo direto, se o complemento é coisa. Exs.: a) “O vencedor
perdoou o débito”; b) “O vencedor perdoou-o”.
3. É transitivo indireto, se o complemento é pessoa. Exs.: a) “O vencedor
perdoou ao vencido”; b) “O vencedor perdoou-lhe”.
4. Admite também ser construído com os dois complementos. Exs.: a) “O
vencedor perdoou o débito ao vencido”; b) “O vencedor perdoou-lho”.
5. Apesar, todavia, de parecer ser melhor dar preferência, nos textos que
devam submeter-se à norma culta, como é o caso dos jurídicos e
forenses, à estruturação fixa (objeto direto para coisa e objeto indireto
para pessoa), o certo é que, ante a autoridade dos que defendem postura
mais liberal, não se pode condenar como errados exemplos que fazem da
pessoa um objeto direto.
6. Com tais observações, em continuação, é de se dizer que, porque só
admite ser construído na voz passiva um verbo que seja transitivo direto,
poderia parecer, sob um ponto de vista mais ortodoxo, que apenas com o
primeiro significado, tecnicamente poderia o verbo perdoar ser usado na
passiva (vale dizer, quando tivesse objeto direto e este fosse
representado por coisa). Exs.: a) “O débito foi perdoado pelo vencedor”
(correta); b) “O vencido foi perdoado pelo vencedor” (errada).
7. E, para os que assim pensam, de clareza ímpar e precisão incomparável a
explicação de Vitório Bergo: “Deve evitar-se a apassivação do verbo
perdoar quando o sujeito é pessoa, pois que, regularmente, o sujeito da
voz passiva é o objeto direto da ativa e este, no caso do verbo perdoar, é
coisa, constituindo a pessoa o objeto indireto. Em vez, pois, de dizer-se
‘estou perdoado’, o que se deve dizer é ‘minha falta está perdoada’”
(1944, p. 111).
8. Apesar de ser esse o posicionamento a se extrair das vigentes normas de
gramática, em um posicionamento mais ortodoxo quanto à regência do
verbo perdoar, o certo é que Mário Barreto e Sousa da Silveira admitem
excepcionalmente voz passiva para tal verbo, mesmo na acepção de
transitivo indireto, com a observação de Aires da Mata Machado Filho
(1969a, p. 636) de que voz passiva não é um sinal inequívoco de regime
evidenciador de verbo transitivo direto.
9. Em outro lugar, tal autor por último referido é mais categórico: “Pode-
se, porém, dizer, com igual vernaculidade ‘o réu foi perdoado pelo
presidente’ e ‘as faltas foram perdoadas por alguém’, mesmo na
construção indireta. É que o verbo perdoar, ainda seguido de
complemento de pessoa, já foi construído com objeto direto. Fixou-se
por isso a possibilidade do apassivamento” (MACHADO FILHO,
1969b, p. 745).
10. Luiz Antônio Sacconi também lembra que, “apesar de transitivo
indireto para complemento de pessoa, pode aparecer na voz passiva”
(1979, p. 223).
11. Amini Boainain Hauy, em interessante monografia, também anota que,
no português atual, esse verbo constrói-se na voz ativa com objeto
indireto de pessoa, mas admite voz passiva, trazendo, para tanto, a
corroboração de exemplo de Machado de Assis: “Não sabia, mas
queria ser perdoado” (1983, p. 180).
12. Vale a pena transcrever outra parte da lição de Vitório Bergo (1944, p.
216), em mesma obra já referida, no sentido de que, por um lado, a
sintaxe preferida modernamente não faz da pessoa o sujeito na voz
passiva de tal verbo. E reitera esse autor que, com tal palavra “na voz
passiva o sujeito é geralmente cousa e não pessoa”. Mas continua:
“todavia, por influência da sintaxe clássica, que era diferente, ainda se
encontram exemplos, entre os modernos, de pessoa como sujeito
paciente”. Exs.: a) “Não podeis ser perdoada” (Camões); b) “Judas
ainda pode ser perdoado” (Machado de Assis).
13. De conformidade com ensinamento de Ronaldo Caldeira Xavier, esse
verbo, tendo pessoa como objeto indireto, “aceita apassivamento,
equivalendo o sujeito ao objeto indireto da ativa: ‘O réu deverá ser
perdoado’” (1991, p. 116).
14. Invocando lição de Antônio Chediack, leciona Geraldo Amaral Arruda
(1997, p. 56) que, “a partir do uso antigo do verbo com objeto direto de
pessoa”, perdoar “admite a voz passiva”, sintetizando o raciocínio
seguido para tal conclusão: a) “no português antigo, era tal verbo
empregado com objeto direto ou indireto de pessoa”, indiferentemente;
b) “se admitia objeto direto, admitia a passiva analítica”; c)
“desapareceu depois a construção com objeto direto de pessoa”,
ficando somente a de objeto indireto; d) “mas a construção passiva não
desapareceu”; e) “e é por isso que se pode dizer: O vizinho foi
perdoado”; f) em consequência, “esse verbo pode ser empregado na
passiva analítica, independentemente da ativa”; g) “mas não se pode
transformar a ativa em passiva porque o objeto não pode ser sujeito”.
15. Sem comentários adicionais, observa Domingos Paschoal Cegalla
(1999, p. 316) que “perdoar admite a forma passiva”, exemplificando:
a) “Ambos foram perdoados pelo rei”; b) “Perdoai (vós), para serdes
perdoados”.
16. Os textos legais, de um modo geral, obedecem às determinações
gramaticais mais ortodoxas, mas às vezes apresentam exemplos de
emprego do verbo perdoar com objeto direto de pessoa, e outras vezes
o empregam na voz passiva com sujeito de pessoa, como no seguinte
exemplo: “… e não ter sido o agente perdoado no estrangeiro…” (CP,
art. 7º, II, § 2º, e).
17. Com integral veracidade quanto à regência verbal nessa área, atesta
Adalberto J. Kaspary que, “na linguagem jurídica, é bastante usual a
construção passiva com determinados verbos transitivos indiretos,
principalmente obedecer, pagar, perdoar, perguntar, proceder,
responder e visar”.
18. Leciona, todavia, tal autor, em continuação: “Como a linguagem
jurídica está inserida na zona da língua culta, sendo, portanto, mais
formalizada, recomenda-se evitar o apassivamento generalizado de
verbos transitivos indiretos, principalmente naqueles casos em que,
como transitivos diretos, eles têm outra significação, muitas vezes bem
distinta”.
19. E assim finaliza: “Mais uma vez, não se trata de questão de certo e
errado, mas de menor ou maior qualidade da expressão” (KASPARY,
1996, p. 376-7).
20. Em resumo, porém, não pode ser condenada como errônea, na
atualidade, uma construção do verbo perdoar na voz passiva, tendo
como sujeito que sofre a ação uma pessoa.
Ver Perdoar (P. 559), Voz passiva – Quando é possível? (P. 793) e Voz
passiva sintética (P. 794).

Odiar
1. Os verbos terminados em iar, quanto à conjugação verbal, normalmente
são verbos regulares e têm por modelo anunciar.
2. São exceções a essa regularidade de conjugação mediar, ansiar,
remediar, incendiar e odiar, que têm por modelo este último e são
conhecidos pela sigla MARIO.
3. Tais verbos da relação mencionada mudam o i da penúltima sílaba em ei
nas formas rizotônicas: odeio, odeias, odeia, odiamos, odiais, odeiam
(presente do indicativo); odeie, odeies, odeie, odiemos, odieis, odeiem
(presente do subjuntivo); odeia, odeie, odiemos, odiai, odeiem
(imperativo afirmativo); não odeies, não odeie, não odiemos, não odieis,
não odeiem (imperativo negativo).
4. Como as formas rizotônicas apenas ocorrem nos tempos já referidos, não
há preocupações com a flexão dos demais tempos.
5. Não confundir com os verbos terminados por ear, como nomear, o qual,
nesse aspecto, como todo verbo terminado por ear, recebe um i
intermediário nas formas rizotônicas: nomeio, nomeias, nomeia,
nomeamos, nomeais, nomeiam (presente do indicativo); nomeie,
nomeies, nomeie, nomeemos, nomeeis, nomeiem (presente do
subjuntivo); nomeia, nomeie, nomeemos, nomeai, nomeiem (imperativo
afirmativo); não nomeies, não nomeie, não nomeemos, não nomeeis, não
nomeiem (imperativo negativo).
6. Por oportuno, vale registrar a preciosa observação de Júlio Nogueira
(1959, p. 99): “Não há na língua um só verbo terminado em eiar. O que
há são verbos em ear e iar. Os primeiros, uniformemente, inserem um i
nas três pessoas do singular e na terceira do plural do presente do
indicativo, formas acentuadas no radical (rizotônicas)”; os segundos,
obviamente, são regulares, sem qualquer acréscimo ou alteração, com
exceção dos que são observados no presente verbete.
7. Também nesse sentido preciosa é a anotação de Carlos Góis e Herbert
Palhano de que, em verbos com essa terminação, “é erro grave escrever
no infinitivo eiar” (1963, p. 112).
8. De modo específico para o verbo odiar, vale sintetizar os problemas de
conjugação com as observações de Vitório Bergo: “recebe um e eufônico
nas formas rizotônicas, que só se manifestam no presente do indicativo e
do subjuntivo e, portanto, no imperativo” (1943, p. 142-3).
9. Não apresenta problemas maiores de regência verbal, já que, nos casos
mais comuns, é transitivo direto (FERNANDES, 1971, p. 439): a)
“Odiar alguém” (Constâncio); b) “Odiar a tirania” (Séguier).

Odontolando – Existe?
Ver Alimentando – Existe? (P. 105)

O Estado de S. Paulo
1. Quando nomes próprios dessa natureza – como o do mais que centenário
jornal, em que se nota a existência de um artigo inicial – vêm precedidos
de uma preposição, surge a dúvida de como proceder à grafia: do
Estado, dO Estado, de O Estado, no Estado, nO Estado, em O Estado. E,
ainda: em tais casos, usa-se o apóstrofo ou não?
2. Apesar de conter o próprio Manual de Redação e Estilo desse jornal, por
diversas vezes, expressões como no Estado de S. Paulo ou o estilo do
Estado de S. Paulo, lembra Arnaldo Niskier que “o correto é sempre em
O Estado de S. Paulo, em O Globo, e nunca no Globo, ou pior, nO
Globo” (1992, p. 31). Exs.: a) “Ele é assistente da direção de redação do
Estado…” (errado); b) “Ele é assistente da direção de redação de O
Estado…” (correto).
3. Para Laurinda Grion (s/d, p. 47), que parte da expressão em O Estado de
S. Paulo, “a preposição, no caso, em, não se junta ao artigo o, quando
este faz parte de nomes de revistas, obras literárias”, complementando
tal autora com exemplos significativos: a) “Harrison Ford atuou em ‘A
Testemunha’”; b) “A notícia foi publicada em O Globo”.
4. Desse mesmo teor é a lição de José de Nicola e Ernani Terra: “Não se
deve unir com a preposição o artigo que faz parte de nome de revistas,
jornais, obras literárias” (2000, p. 138).

O fato de – Está correto?


1. Como o Direito, sobretudo em alguns de seus setores, lida com fatos, e o
respectivo operador tem por ofício mencioná-los, é comum ver uma
expressão como “o fato de encontrar a vítima…”.
2. Edmundo Dantès Nascimento, porém, observa que a expressão “o fato
de”, em tais casos, em geral não é necessária.
3. E, acrescentando que “a repetição da expressão é monótona e
enfadonha”, recomenda tal autor que se diga simplesmente “o encontrar
a vítima”, com o que “a linguagem se aligeira e se vernaculiza”
(NASCIMENTO, 1982, p. 138).
Ver É hora da onça beber água ou É hora de a onça beber água? (P. 296)

O fato de o
Ver É hora da onça beber água ou É hora de a onça beber água? (P. 296) e
O fato de – Está correto? (P. 520)

Oficiala – Existe?
1. Assim como o feminino de juiz de direito é juíza de direito, não há, em
tese, razão alguma para se estranhar que, se a função de oficial de justiça
é desempenhada por uma mulher, será ela uma oficiala de justiça, a
exemplo de consulesa, coronela, delegada, deputada, generala,
marechala, ministra, paraninfa, prefeita, primeiraministra, sargenta,
vereadora.
2. Acrescente-se, por oportuno, que o feminino oficiala é assim apontado,
sem outras observações, ressalvas ou reservas, por Aurélio Buarque de
Holanda Ferreira (s/d, p. 992).
3. Também Napoleão Mendes de Almeida (1981, p. 215), de modo
categórico, assevera que esse sempre há de ser o feminino.
4. Em mesma esteira, posta-se Evanildo Bechara (1974, p. 84).
5. Domingos Paschoal Cegalla, sem outros comentários ou ressalvas, dá
oficiala como o único “feminino de oficial: oficiala de modista, oficiala
da Marinha” (1999, p. 294).
6. Cândido de Oliveira (1961, p. 133), após observar que, até há pouco, a
maioria de nomes dessa natureza era considerada comum de dois
gêneros, acrescenta textualmente que “é de lei, assim para o
funcionalismo federal como estadual, e de acordo com o bom senso
gramatical, que nomes designativos de cargos e funções tenham flexão:
uma forma para o masculino, outra para o feminino”; e, em seu
exemplário, ao masculino oficial contrapõe ele o feminino oficiala.
7. Silveira Bueno, por um lado, traz antigo ensinamento de J. Silva Correia,
diretor da Faculdade de Letras de Lisboa: “Nos últimos tempos têm
surgido numerosas formas femininas, que a língua de épocas não
distantes desconhecia, – e que são como que o reflexo filológico do
progresso masculinístico da mulher, – hoje com franco acesso a carreiras
liberais, donde outrora era sistematicamente excluída”.
8. Por outro lado, também aduz tal autor curiosa lição de Lebierre: “Os
gramáticos preceituam que os substantivos designativos de certas
profissões, a maior parte das vezes exercidas por homens, conservem a
forma masculina para a maioria de tais substantivos”.
9. E conclui ele próprio: “Os gramáticos, que defenderam a conservação,
no masculino, dos nomes de cargos outrora exercidos por homens e já
agora também por senhoras, não tinham razão porque tais nomes são
meros adjetivos como escriturário, secretário, deputado, senador,
prefeito, podendo concordar com o sexo da pessoa que tal cargo exerce e
não com o gênero dos nomes de tais profissões”.
10. E preconiza ele que se diga oficiala, se tal posto é entregue a uma
senhora, acrescentando que Camilo Castelo Branco emprega tal forma
para designar a costureira de modista (BUENO, 1957, p. 382-3).
11. Para que se avaliem as profundas alterações em tempo exíguo acerca
da ascensão profissional da mulher, com a consequente necessidade de
emprego de novos vocábulos, basta que se veja que, mesmo na segunda
metade do século XX, ainda lecionava Artur de Almeida Torres haver
“certos femininos que são meramente teóricos, e cujo conhecimento
não oferece nenhuma utilidade prática”, acrescentando tal autor que
“esses femininos só servem para sobrecarregar inutilmente a memória
do estudante”.
12. E, dentre tais substantivos inúteis, elenca ele (TORRES, 1966, p. 59),
por exemplo, capitoa (de capitão), aviatriz (de aviador) e anfitrioa (de
anfitrião).
13. Cândido Jucá Filho (1963, p. 452), por sua vez, muito embora sem
indicar preferência nem prestar outros esclarecimentos, ressalta que o
uso de oficiala às vezes é irônico.
14. Édison de Oliveira (s/d, p. 158) insere tal palavra entre aqueles
diversos vocábulos femininos terminados por a, que o povo evita usar,
“quer em virtude de preconceito de que se trata de funções ou
características próprias do homem, quer por considerá-los mal sonoros
ou exóticos”, acrescentando, ademais, que se hão de empregar tais
femininos, “que a gramática já ratificou definitivamente”.
15. Geraldo Amaral Arruda (1997, p. 36-7), por sua vez, inclui o
mencionado substantivo entre os comuns de dois gêneros, mandando
que sua variação se dê pela simples alteração do artigo (o oficial e a
oficial).
16. Em outra passagem, o mesmo autor obtempera que “melhor é a forma
oficial tanto no masculino como no feminino”, justificando que na
linguagem culta são muitos os substantivos com essa terminação que
“variam no gênero com a simples mudança do artigo e do adjetivo que
os modifiquem”.
17. Acrescenta ele que adjetivos dessa natureza – de segunda classe – em
latim, tinham uma mesma forma para o masculino e para o feminino, e,
ao se formar o substantivo de tal adjetivo, “surgia um substantivo
masculino ou feminino, conforme fosse masculino ou feminino o
substantivo suprimido no ato da substantivação”.
18. E conclui que “o mesmo processo perdurou no português”, razão pela
qual “também é melhor solução falar o oficial de justiça e, em se
tratando de mulher, a oficial de justiça”, sendo oficiala uma “solução
inferior” (ARRUDA, 1997, p. 145-6).
19. Por fim, é interessante anotar que, diferentemente de coronela,
generala, marechala e sargenta, não registra o feminino oficiala o
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira
de Letras, que é o veículo oficial para dirimir dúvidas acerca da
existência ou não de vocábulos em nosso idioma; deixa, contudo, o
assunto sem solução, porque registra oficial apenas como masculino (e
não comum de dois gêneros), sem se manifestar acerca da forma
feminina que se há de usar (2009, p. 221, 399, 528, 592 e 743).
20. Ora, se não é comum de dois gêneros, seu feminino não pode ser a
oficial, de modo que se há de cair na regra comum de flexão de gênero,
formando-se, de modo correto, a oficiala.
Ver Capitã, Capitoa ou A Capitão? (P. 168) e Poeta – Qual o feminino? (P.
570)

Oficial de registros
Ver Tabelião (P. 724).
Oficiar o ou Oficiar ao?
1. Um leitor viu em algum lugar que “Alguém oficiou o General de
Brigada”. Como essa construção lhe incomodou os ouvidos, indaga se o
correto não seria “Alguém oficiou ao General de Brigada”.
2. Ora, como é correntio e sem divergências entre os estudiosos da matéria,
para a autoridade ou pessoa a quem se dirige um ofício, Francisco
Fernandes, invocando exemplo de Euclides da Cunha, manda construir o
complemento com a preposição a: “Oficiou de novo ao prelado” (1971,
p. 439).
3. Celso Pedro Luft, também em mesma esteira, para o sentido de
comunicar por ofício, preconiza a construção com a preposição a: “O
secretário oficiou ao governador” (1999, p. 383).
4. Respondendo, então, de modo prático, ao leitor, pode-se dizer que lhe
assiste integralmente razão em seu incômodo aos ouvidos, bastando
conferir o acerto ou erronia dos exemplos por ele trazidos para análise:
a) “Alguém oficiou o General de Brigada” (errado); b) “Alguém oficiou
ao General de Brigada” (correto).

O Globo
Ver O Estado de S. Paulo (P. 519).

O grosso dos alunos – faltou ou faltaram?


Ver Coletivo – Como concordar? (P. 191)

Oitiva
1. Oitiva é forma variante de outiva e significa o ato ou efeito de ouvir, a
ouvida, a audiência. Ex.: “O juiz designou data para a oitiva das
testemunhas de acusação”.
2. Antonio Henriques a considera “forma sincopada de ouditiva > outiva,
com alteração do ditongo” (1999, p. 128).
3. Geraldo Amaral Arruda, todavia, entende que tal palavra, fora da
locução de oitiva, “está praticamente em desuso” e “apenas na
linguagem forense alguns bacharéis com pretensões arcaizantes ainda
usam o substantivo oitiva”. Complementa tal autor que, mesmo em tais
casos, o emprego do vocábulo costuma estar “fora do significado
próprio”, motivo por que entende ele que tais operadores do direito
“procederiam melhor evitando-a”. Por fim, em outra passagem, volta ele
a afirmar que ela “é de uso restrito na linguagem contemporânea e de
duvidosa propriedade” (ARRUDA, 1997, p. 82 e 123).
4. O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia
Brasileira de Letras, que é o veículo oficial indicador das palavras
existentes em nosso idioma, registra ambos os substantivos femininos –
oitiva e outiva – remetendo um ao outro e sem proceder a qualquer
ressalva de uso ou observação (2009, p. 594 e 606), o que significa que o
emprego de ambos está oficialmente autorizado entre nós, nada se
podendo objetar contra eles em termos de atualidade e correção.
5. Em verdade, o uso, mestre e tirano nesse particular, parece ter selado a
sorte do vocábulo, permitindo-lhe o uso, de modo que não parece haver
motivos para restrições.
6. Contudo, para os que não gostarem da palavra tal como empregada, resta
substituí-la por audiência ou inquirição.
7. Já de oitiva, que tem por expressão sinônima de ouvida, significa por
ouvir dizer. Ex.: “A testemunha conhecia o caso apenas de oitiva”
(ARRUDA, 1997, p. 82).
8. Cândido Jucá Filho (1954, p. 243), ao referir-se à extraordinária
personalidade do poeta Antônio Feliciano de Castilho – que ficou cego
de sarampão aos cinco anos, mas mesmo assim adquiriu grande cultura,
vindo a morrer aos setenta e cinco anos, já então feito Visconde de
Castilho – emprega nesse sentido a mencionada expressão: “Possuía
peregrina memória, de que se gabava, e certamente graças a isso
marchetou suas poesias de mimosas descrições de aspectos que nunca
viu, reminiscências de leituras de oitiva”.
9. Por fim, de ouvida é expressão muito usada no foro, como em
testemunha de ouvida – ou testemunha de ouvida alheia, ou testemunha
de oitiva, ou testemunha auricular – que é aquela que depõe apenas
acerca do que ouviu dizer, nada sabendo de ciência própria, por
conhecimento direto, mas por informação alheia e se opõe a testemunha
ocular ou de ciência própria (DE PLÁCIDO E SILVA, 1989, p. 368).
10. Nosso Código de Processo Civil não se vale do emprego da expressão
de oitiva nem do vocábulo outiva, e sim de audiência: a) “Só em casos
excepcionais, expressamente autorizados por lei, determinará o juiz
medidas cautelares sem a audiência das partes” (CPC/1973, art. 797);
b) “O requerente poderá pedir que o juiz, ao despachar a petição
inicial e sem audiência do requerido, lhe arbitre desde logo uma
mensalidade para mantença” (CPC/1973, art. 854, parágrafo único); c)
“Contra as pessoas jurídicas de direito público não será deferida a
manutenção ou a reintegração liminar sem prévia audiência dos
respectivos representantes judiciais” (CPC/1973, art. 928, parágrafo
único); d) “Ocorrendo mora do comprador, provada com o protesto do
título, o vendedor poderá requerer, liminarmente e sem audiência do
comprador, a apreensão e depósito da coisa vendida” (CPC/1973, art.
1.071, caput).
11. Já o Código de Processo Penal usa oitiva e também audiência em tais
casos: a) “Durante o curso do processo judicial, é permitido às partes,
quanto à perícia: I – requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a
prova ou para responderem a quesitos…” (CPP, art. 159, § 5º, I); b)
“… a oitiva de testemunha poderá ser realizada por meio de
videoconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão de sons
e imagens em tempo real…” (CPP, art. 222, § 3º); c) (a autoridade
competente) “… procederá à oitiva das testemunhas …, colhendo,
após cada oitiva, suas respectivas assinaturas, lavrando, a autoridade,
afinal, o auto” (CPP, art. 304, caput); d) “Depois de prestada a fiança,
que será concedida independentemente de audiência do Ministério
Público, este terá vista do processo a fim de requerer o que julgar
conveniente” (CPP, art. 333); e) “Se o juiz reconhecer desde logo a
existência de causa para a conversão, a ela procederá de ofício ou a
requerimento do Ministério Público, independentemente de audiência
do condenado…” (CPP, art. 689, § 1º).

O júri foi assistido – Está correto?


1. É pacífico, como regra, o entendimento de que apenas os verbos
transitivos diretos podem ser apassivados, uma vez que o objeto direto
da voz ativa passa a ser o sujeito da voz passiva, de modo que, se se
apassivar um verbo transitivo indireto, estar-se-á, na voz passiva,
eliminando a preposição, o que, em última análise, implica a alteração
do regime do verbo.
2. O problema assume maior relevo com verbos que num sentido são
transitivos diretos e noutro, transitivos indiretos, como é o caso de
assistir, que, na acepção de auxiliar, socorrer, pede objeto direto, e, no
sentido de presenciar, ver, reclama objeto indireto. Exs.: a) “A
enfermeira assistiu o réu, quando desmaiou”; b) “Centenas de pessoas
assistiram ao júri”.
3. Quanto a tais verbos de dupla ou múltipla significação, tem-se entendido
e ensinado que, como transitivos diretos, podem ser usados na voz
passiva; como transitivos indiretos, porém, não. Exs.: a) “O réu, quando
desmaiou, foi assistido pela enfermeira” (correto); b) “O júri foi
assistido por centenas de pessoas” (errado).
4. Em relação à correção ou não da voz passiva com o verbo assistir, ter
sempre em mente o significado que ele deve ter na oração: se ver ou
presenciar, é incorreta; se auxiliar, é correta. Assim, o exemplo acima
dado como errado pode ser correto na seguinte situação: “O júri foi
assistido por diversos peritos” (voz passiva), se, na voz ativa,
corresponder a “Diversos peritos assistiram (auxiliaram) o júri.”
5. Com integral veracidade quanto ao uso nos meios jurídicos e forenses,
atesta Adalberto J. Kaspary que, “na linguagem jurídica, é bastante usual
a construção passiva com determinados verbos transitivos indiretos,
principalmente obedecer, pagar, perdoar, perguntar, proceder,
responder e visar”.
6. Leciona, todavia, tal autor, em continuação, com total aplicação ao verbo
que se observa: “Como a linguagem jurídica está inserida na zona da
língua culta, sendo, portanto, mais formalizada, recomenda-se evitar o
apassivamento generalizado de verbos transitivos indiretos,
principalmente naqueles casos em que, como transitivos diretos, eles têm
outra significação, muitas vezes bem distinta”.
7. E assim finaliza: “Mais uma vez, não se trata de questão de certo e
errado, mas de menor ou maior qualidade da expressão” (KASPARY,
1996, p. 376-7).
8. Nessa esteira, Aires da Mata Machado Filho lembra que, no sentido de
ver, presenciar, “o verbo assistir, que exige complemento
preposicionado, não suporta o apassivamento. Vai-se apassivando, na
linguagem descuidada, nesses últimos tempos. Quem o faz, também erra
na voz ativa, escrevendo com objeto direto e, portanto, sem a
preposição” (1969h, p. 1.493).
9. Em outra obra, o mesmo autor lança-o na vala comum dos verbos
transitivos indiretos sem voz passiva, aplicando-lhe o argumento de que
“a voz passiva repugna à quase totalidade dos verbos transitivos
indiretos” (MACHADO FILHO, 1969b, p. 758).
10. Também lembrando o sentido de ver, presenciar, observa Domingos
Paschoal Cegalla que, “nesta acepção, o verbo assistir, no padrão culto,
não se usa na forma passiva: ‘Dez mil pessoas assistiram ao torneio’ e
não ‘O torneio foi assistido por dez mil pessoas’” (1999, p. 40).
11. Em observação específica para a frase “O filme foi assistido”, anotam
José de Nicola e Ernani Terra que se trata de “construção não aceita
pela língua culta, pois somente os verbos que pedem objeto direto
(exceção feita ao verbo obedecer) podem ser apassivados”.
12. E assim exemplificam tais autores, apontando a correção ou erronia das
frases (NICOLA; TERRA, 2000, p. 159): a) “Uma plateia atenta
assistiu ao filme” (correto); b) “O filme foi assistido por uma plateia
atenta” (errado).
13. Ainda quanto ao significado de ver, presenciar, atentando ao
equivocado exemplo “Não assisti o jogo”, anotam, por primeiro,
Pasquale Cipro Neto e Ulisses Infante (1999, p. 520) que, “no padrão
culto, não se aceita essa construção”; por outro lado, reforçam a
observação de que “não se pode fazer a passiva de verbos transitivos
indiretos, portanto não se pode dizer ‘O jogo foi assistido por apenas
mil pessoas’”, razão por que, “no padrão formal, deve-se optar pela
construção ativa (‘Apenas mil pessoas assistiram ao jogo’)”.
14. Ressalve-se, porém, que Napoleão Mendes de Almeida (1981, p. 214)
– sob o argumento de que alguns verbos como este, embora transitivos
indiretos, “têm recipiente” na voz ativa – defende-lhes o uso na voz
passiva, exemplificando de modo textual: “A missa foi assistida por
muitas pessoas”.
15. De igual modo, Mário Barreto admite, de modo expresso, o
apassivamento de tal verbo, na esteira de outros transitivos indiretos
com construção idêntica, como aludir, obedecer, perdoar e responder,
observando, porém, Aires da Mata Machado Filho (1969a, p. 599), que
lhe citou a lição, que “as formas passivas fixaram-se na vigência da
construção transitiva direta”, do que teria advindo “a aparente
contradição”.
16. Quer pela esmagadora maioria dos que pregam a distinção, quer porque
o melhor é seguir a regra genérica que impede o apassivamento de
verbos dessa natureza, quer porque o uso indistinto se deu em outra
época de desenvolvimento da língua, o melhor parece ser realmente
observar a distinção dos significados e só empregar o verbo assistir na
voz passiva quando transitivo direto, vale dizer, na acepção de auxiliar,
ajudar.
17. Esse, aliás, é o proceder de nossos textos de lei. Exs.: a) “Poderá o
incapaz, por meio de representante ou devidamente assistido,
continuar a empresa antes exercida por ele enquanto capaz, por seus
pais ou pelo autor de herança” (CC, art. 974); b) “Antes de
pronunciar-se acerca da interdição, o juiz assistido por especialistas,
examinará pessoalmente o arguido de incapacidade” (CC, art. 1.771);
c) “Os incapazes serão representados ou assistidos por seus pais,
tutores ou curadores, na forma da lei civil” (CPC/1973, art. 8º); d)
“Quando a prova do fato depender de conhecimento técnico ou
científico, o juiz será assistido por perito, segundo o disposto no art.
421” (art. 145); e) “Ao realizar a inspeção direta, o juiz poderá ser
assistido de um ou mais peritos” (CPC/1973, art. 441); f) “Ouvidas as
partes, no prazo comum de 10 (dez) dias, sobre o cálculo e o plano da
divisão, deliberará o juiz a partilha. Em cumprimento desta decisão,
procederá o agrimensor, assistido pelos arbitradores, à demarcação
dos quinhões…” (CPC/1973, art. 979); g) “O tabelião somente lavrará
a escritura pública se todas as partes interessadas estiverem assistidas
por advogado comum ou advogados de cada uma delas, cuja
qualificação e assinatura constarão do ato notarial” (CPC/1973, art.
982, parágrafo único, com a redação conferida pela Lei 11.441, de
2007); h) “O tabelião somente lavrará a escritura se os contratantes
estiverem assistidos por advogado comum ou advogados de cada um
deles, cuja qualificação e assinatura constarão do ato notarial”
(CPC/1973, art. 1.124-A, § 2º, incluído pela Lei 11.441, de 2007); i) “A
adoção será assistida pelo Poder Público, na forma da lei, que
estabelecerá casos e condições de sua efetivação por parte de
estrangeiros” (CF/1988, art. 227, §5º).
Ver, nesta ordem, Voz passiva – Quando é possível? (P. 793), Voz passiva
sintética (P. 794), Agente da passiva (P. 97), Assistir (P. 140), Concordância
verbal – Símbolo de indeterminação do sujeito (P. 213), Ser nascido –
Está correto? (P. 694), Voz passiva e Pronome apassivador (P. 791) e Gosta-
se de um bom vinho – Está correto? (P. 375)

O, Lhe e Dele?
1. Importa observar a realidade em nosso idioma acerca de que alguns
verbos não admitem o uso do pronome oblíquo lhe, mesmo quando
transitivos indiretos.
2. Ora, quanto aos pronomes pessoais oblíquos átonos, fixa-se uma
primeira regra: o, a, os e as funcionam como objetos diretos, enquanto
lhes e lhes servem para funcionar como objetos indiretos. Exs.: a) “O
juiz sentenciou o caso”; b) “O juiz sentenciou-o”; c) “O documento
pertence aos autos”; d) “O documento pertence-lhes”.
3. Nem todos os verbos transitivos indiretos, contudo, permitem que seus
objetos indiretos sejam substituídos por lhe.
4. Assim, como exemplo, o verbo assistir, no significado de presenciar,
ver, é transitivo indireto, pede a preposição a e não admite lhe como
complemento. Exs.: a) “O estagiário assiste a vários debates e
audiências”; b) “O estagiário assiste-lhes” (errado); c) “O estagiário
assiste a eles” (correto).
5. Para Laudelino Freire, “na língua portuguesa existem verbos cujos
complementos indiretos são representados pela forma a ele em lugar de
lhe. Isto ocorre, entre outros, com assistir (estar presente), aspirar
(desejar), recorrer (pedir auxílio), que, recusando a forma lhe, têm os
seus objetos indiretos expressos pela forma a ele” (s/d, p. 7). Exs.: a) “O
estagiário aspirava ao cargo”; b) “O estagiário aspirava-lhe” (errado);
c) “O estagiário aspirava a ele” (correto); d) “Naquele hora, recorreu a
Deus”; e) “Naquela hora, recorreu-lhe” (errado); f) “Naquela hora,
recorreu a ele” (correto).
6. Além da discriminação do ilustre gramático, outros verbos transitivos
diretos repelem os pronomes lhe e lhes, de modo que são construídos
com as formas preposicionadas: aludir, depender, referir-se. Exs.: a)
“Aludi ao autor”; b) “Aludi-lhe” (errado); c) “Aludi a ele”; d) “Dependo
da lei”; e) “Dependo-lhe” (errado); f) “Dependo dela” (correto); g)
“Referi-me a Deus”; h) “Referi-me-lhe” (errado); i) “Referi-me a ele”
(correto).
7. Os gramáticos não trazem as razões históricas para esse modo peculiar
de construção de alguns verbos transitivos indiretos. Nem precisariam
fazê-lo, assim como não precisam justificar o motivo de um determinado
verbo ser hoje transitivo direto e outro, transitivo indireto. Às vezes,
alguns verbos são sinônimos, mas apresentam diferentes transitividades.
Em verdade, a função primordial da Gramática não é fixar regras
impositivas de cima para baixo, mas sistematizar os fatos e as condutas
da língua como manifestação. E as peculiaridades que tomam certas
construções numa ou noutra direção nem sempre se submetem a regras.

O mais das vezes – Está correto?


1. Em apreciação sobre a obra de Mário Barreto, que emprega a expressão
as mais das vezes, anota Cândido Jucá Filho (1981, p. 44) que essa
sintaxe “é tão boa quanto o mais das vezes”.
2. Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 38 e 295) também dá como
sinônimas ambas as locuções adverbiais (as mais das vezes e o mais das
vezes), conferindo-lhes a acepção de quase sempre, ou em geral, ou
geralmente.

Omelete – O ou a?
1. Um leitor afirma ter ouvido, com certa frequência, em restaurantes,
pessoas pedindo o omelete em vez de a omelete. Como até ele ficou na
dúvida, pergunta se o correto é o omelete ou a omelete.
2. Ora, sempre é bom lembrar – até para criar no leitor o salutar hábito de
um raciocínio que se repete – que, quando se quer saber se uma palavra
existe ou não em português, ou mesmo qual é seu gênero, grafia e/ou
pronúncia, ou qual o seu plural quando foge à normalidade, deve-se
tomar por premissa o fato de que a autoridade para listar oficialmente os
vocábulos pertencentes ao nosso idioma e para definir-lhes as demais
peculiaridades e circunstâncias, é a Academia Brasileira de Letras.
3. E essa autoridade, a ABL a exerce por via da edição do Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa.
4. Uma simples consulta ao VOLP mostra que omelete é palavra que tanto
pode ser usada no masculino como no feminino (a omelete ou o
omelete). E mais: o VOLP registra adicionalmente a forma omeleta,
pertencente ao feminino (2009, p. 596).
5. Uma primeira observação: omelete tem som aberto (é), mas omeleta tem
som fechado (ê).
6. Uma segunda observação: Antônio Houaiss segue o VOLP e registra
omelete no masculino e no feminino (2001, p. 2.062); mas Aurélio
Buarque de Holanda Ferreira a registra apenas no feminino (2010, p.
1.506). E fica a dúvida sobre quem está com a razão. Ora, sem desprezo
algum pelo grande trabalho prestado pelos dicionaristas ao idioma, o
certo é que, quando há divergência entre algum deles e o VOLP, a razão
há de estar sempre com este último, que é a palavra de quem detém a
autoridade oficial para definir aspectos linguísticos dessa natureza.
7. Em reposta ao leitor, confiram-se os seguintes exemplos, com a
indicação de sua correção ou erronia entre parênteses: a) “Ele pediu um
omelete com queijo” (correto); b) “Ele pediu uma omelete com queijo”
(correto); c) “Ele pediu uma omeleta com queijo” (correto).

O mesmo
1. Quanto à sintaxe, constitui erro frequente usar tal pronome
demonstrativo sem acompanhamento de substantivo, não se podendo
olvidar que mesmo não tem por função substituir ele ou este. Exs.: a) “O
réu foi até à vítima e falou com a mesma” (errado); b) “Consultou tais
autores, e os mesmos lhe indicaram a adequada solução” (errado); c)
“Designada a audiência, compareceram à mesma todos os interessados”
(errado).
2. Tais erros se corrigem com facilidade, se há um pouco de atenção; a) “O
réu foi até à vítima e falou com ela”; b) “Consultou tais autores, e estes
lhe indicaram a adequada solução”; c) “Designada a audiência,
compareceram a ela todos os interessados”.
3. Atento à frequência com que equívocos dessa natureza são cometidos na
linguagem forense, observa Edmundo Dantès Nascimento que “mesmo
em Português não tem função de pronome pessoal, logo não pode ser
empregado por ele, ela, elas, dele, dela, para ele, nele, etc.”
4. E complementa tal autor ser erro crasso dizer (NASCIMENTO, 1982, p.
152): a) “E falei com a mesma”; b) “Li o livro e do mesmo tirei
ensinamentos”; manda, assim, corrigir tais frases do seguinte modo: i)
“E falei com ela”; ii) “Li o livro e dele tirei ensinamentos”.
5. Com a mesma preocupação de seu emprego equivocado nos textos
jurídicos, que hão de submeter-se ao padrão da norma culta, assim
adverte Geraldo Amaral Arruda: “O vocábulo mesmo comporta uso em
muitas funções gramaticais e não convém que seja usado nos contextos
em que seja mais expressivo o emprego de ele ou de este, esse, aquele”.
6. E acrescenta tal autor: “o uso de mesmo em substituição ao pronome
pessoal da terceira pessoa ou do demonstrativo este em nada melhora a
frase. Antes, a prejudica em clareza e elegância” (ARRUDA, 1997, p.
45-6).
7. Domingos Paschoal Cegalla, por um lado, lança a seguinte advertência:
“Evite-se empregar mesmo como substituto de um pronome”.
8. Em sequência, alinha diversos exemplos de emprego inadequado: a)
“Não suportando mais a dor, procurei o dentista, mas o mesmo tinha
viajado”; b) “Não dê carona a pessoas desconhecidas, porque as
mesmas podem ser assaltantes”; c) “Os donos dos armazéns se
obrigaram a estocar e manter os cereais em bom estado, mas os mesmos
não respeitaram o contrato”; d) “O pescador salvou o náufrago e ainda
ofereceu ao mesmo a sua cabana”.
9. Por fim, dá-lhes a respectiva correção (CEGALLA, 1999, p. 259): a)
“Não suportando mais a dor, procurei o dentista, mas ele tinha viajado”;
b) “Não dê carona a pessoas desconhecidas, porque elas (ou, ainda, a
simples supressão de as mesmas) podem ser assaltantes”; c) “Os donos
dos armazéns se obrigaram a estocar e manter os cereais em bom
estado, mas eles não respeitaram o contrato”; d) “O pescador salvou o
náufrago e ainda lhe ofereceu a sua cabana”.
10. É tão comum o cometimento desse deslize, que Aires da Mata
Machado Filho (1969e, p. 1.049), após asseverar não haver igualdade
entre ele e mesmo, aponta cochilo desse jaez até em Machado de Assis
(“Apareceu um relatório contra os mesmos e contra outros”).
11. Também de um gramático do porte de Júlio Nogueira advém o seguinte
emprego equivocado desse vocábulo: “Não há, pois, redigir frases em
que, sendo ‘tu’ a forma de tratamento, se usem em relação à mesma os
possessivos ‘seu’, ‘sua’ e as variações ‘o’, ‘a’, ‘lhe’” (1959, p. 75).
12. Não escapam desses equívocos até mesmo diplomas legais, como é o
caso do art. 6º, d, da Lei 4.380, de 21/8/64, que trata de imóveis
adquiridos pelas regras do Sistema Financeiro da Habitação: “Além das
prestações mensais referidas na alínea anterior, quando
convencionadas prestações intermediárias, fica vedado o
reajustamento das mesmas e do saldo devedor a elas
correspondentes”.
13. Nesse erro também incide a Lei do Divórcio (Lei 6.515/77), em seu art.
49, ao modificar o art. 7º, § 5º, da Lei de Introdução ao Código Civil
(lapso esse que não ocorre no Código Civil, que é de 1916, revisto e
discutido, entre outros, por Rui Barbosa e Ernesto Carneiro Ribeiro):
“O estrangeiro casado, que se naturalizar brasileiro, pode, mediante
expressa anuência de seu cônjuge, requerer ao juiz, no ato de entrega
do decreto de naturalização, se apostile ao mesmo a adoção do regime
de comunhão parcial de bens…”
14. Também dessa natureza é o equívoco encontrado no art. 2º, § 1º, da Lei
4.591, de 16/12/64, que dispôs sobre o condomínio em edificações e as
incorporações imobiliárias: “O direito à guarda de veículos nas
garagens ou locais a isso destinados nas edificações ou conjuntos de
edificações será tratado como objeto de propriedade exclusiva, com
ressalva das restrições que ao mesmo sejam impostas por instrumentos
contratuais adequados, e será vinculada à unidade habitacional a que
corresponder…” Melhor é que se diga: “… das restrições que lhe
sejam impostas…”
15. De tudo o quanto se expôs, vê-se que é incorreto o emprego de o
mesmo no art. 1º da Lei 12.722/98 do Município de São Paulo, quando
manda afixar o seguinte aviso nas proximidades dos elevadores nos
edifícios: “Antes de entrar no elevador verifique se o mesmo encontra-
se parado neste andar”. A correção há de dar-se do seguinte modo:
“Antes de entrar no elevador, verifique se ele encontra-se parado neste
andar”.
16. Veja-se, de igual modo, o equívoco do art. 2º do Decreto-lei 4.597, de
19/8/42, que dispôs sobre a prescrição das ações contra a Fazenda
Pública e deu outras providências: “O Decreto 20.910, de 6 de janeiro
de 1932, que regula a prescrição quinquenal, abrange as dívidas
passivas das autarquias, ou entidades e órgãos paraestatais, criados
por lei e mantidos mediante impostos, taxas ou quaisquer
contribuições, exigidas em virtude de lei federal, estadual ou
municipal, bem como a todo e qualquer direito e ação contra os
mesmos”. Corrija-se: “… bem como a todo e qualquer direito e ação
contra eles”.
17. O art. 114, § 2º, da Constituição Federal de 1988, com redação dada
pela Emenda Constitucional 45, de 2004, não escapou a tal vício de
redação: “Recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva ou
à arbitragem, é facultado às mesmas, de comum acordo, ajuizar
dissídio coletivo de natureza econômica, podendo a Justiça do
Trabalho decidir o conflito, respeitadas as disposições mínimas legais
de proteção ao trabalho, bem como as convencionadas anteriormente”.
18. Em mesma esteira de equívoco laborou novamente a Constituição
Federal de 1988, no art. 70 do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias: “Fica mantida atual competência dos tribunais estaduais
até que a mesma seja definida na Constituição do Estado, nos termos
do art. 125, §1, da Constituição”. Corrija-se: “… até que ela seja
definida…”
19. O art. 867 do Código de Processo Civil também errou: “Todo aquele
que desejar prevenir responsabilidade, prover a conservação e
ressalva de seus direitos ou manifestar qualquer intenção de modo
formal, poderá fazer por o seu protesto, em petição dirigida ao juiz, e
requerer que do mesmo se a quem de direito”. Corrija-se: “… e
requerer que dele se intime…”
20. Em mesmo equívoco incidiu a Lei 8.245, de 18/11/91, art. 23, § 2º, que
dispõe sobre as locações dos imóveis urbanos e os procedimentos a
elas pertinentes: “O locatário fica obrigado ao pagamento das
despesas referidas no parágrafo anterior, desde que comprovadas a
previsão orçamentária e o rateio mensal, podendo exigir a qualquer
tempo a comprovação das mesmas.” Corrija-se: “… podendo exigir a
qualquer tempo a sua comprovação”. Ou, com maior estilo: “…
podendo exigir-lhes a comprovação a qualquer tempo”.
21. Veja-se, ainda, o art. 114, § 2º, da Constituição Federal, com a redação
conferida pela Emenda Constitucional 45/2004: “Recusando-se
qualquer das partes à negociação coletiva ou à arbitragem, é
facultado às mesmas, de comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de
natureza econômica…”. Corrija-se: “é-lhes facultado”, ou “é facultado
a elas”.
22. De equívocos dessa natureza não escapou o tão recente e moderno
Código Civil de 2002 em três dispositivos: a) “Se o adquirente deixar
de remir o imóvel, sujeitando-o a execução, ficará obrigado a ressarcir
os credores hipotecários da desvalorização que, por sua culpa, o
mesmo vier a sofrer, além das despesas judiciais da execução” (art.
1.481, § 3º) (Corrija-se: “… por sua culpa, ele vier a sofrer…”); b) “O
credor só poderá se opor ao pedido de desmembramento do ônus,
provando que o mesmo importa em diminuição de sua garantia” (art.
1.488, § 1º) (Corrija-se: “… provando que ele importa em…”); c) “Se o
legado for de coisa que se determine pelo gênero, será o mesmo
cumprido, ainda que tal coisa não exista entre os bens deixados pelo
testador” (art. 1.915) (Corrija-se: “… será ele cumprido…”).
23. Num outro aspecto de significativo interesse, conforme lição de
Epifânio Dias, não se há de olvidar que tal vocábulo pode vir, e de
modo correto, substantivado no singular, “precedido do artigo definido,
equivalendo a mesma coisa: ‘A caridade, pois, não é o mesmo que a
filantropia’” (DIAS apud MACHADO FILHO, 1969e, p. 1.055).
24. Em tais casos em que significa a mesma coisa, refere Eduardo Carlos
Pereira (1924, p. 301) que mesmo é pronome com forma neutra,
representando um predicado nominal. Exs.: a) “O mesmo se há de
dizer…” (João Ribeiro); b) “O mesmo se escreve…” (Frei Luís de
Sousa).
Ver Mesmo (P. 471).
Omissão da conjunção – Está correto?
1. Observa Luciano Correia da Silva, em lição apropriada, que “é de bom
gosto e até de requinte literário omitir a integrante que antes da oração
subordinada” (1991, p. 89). Exs.: a) “Espero não venhas tarde” (em vez
de “que não venhas tarde”); b) “O réu pleiteou lhe fosse concedida
liberdade condicional” (em vez de “que lhe fosse concedida…”).
2. Exatamente esse é o proceder do Código Civil de 1916 em algumas
passagens: a) “O excluído … poderá, justificando falta de meios,
requerer lhe seja entregue metade dos rendimentos do quinhão, que lhe
tocaria” (art. 478 – nesse caso, a expressão em realce está por “requerer
que lhe seja entregue”); b) “Quando o devedor pretenda vender o gado
empenhado, ou, por negligência, ameace prejudicar o credor, poderá
este requerer se depositem os animais sob a guarda de terceiros, ou
exigir que se lhe pague a dívida ‘incontinenti’” (art. 786 – nesse caso, a
expressão em realce está por “requerer que se depositem”); c) “Para que
a consignação tenha força de pagamento, será mister concorram, em
relação às pessoas, ao objeto, modo e tempo, todos os requisitos sem os
quais não é válido o pagamento” (art. 974 – nesse caso, a expressão
sublinhada quer dizer “será mister que concorram”).

Omissão da preposição – Está correto?


1. No que concerne à regência, não se discute que é correto dizer estar
certo de que, estar persuadido de que, não há dúvida de que…
2. Assis Cintra, todavia, prega que, em tais casos, “a preposição de pode
ser omitida com vantagem para a elegância da frase”.
3. E traz ele exemplos dos mais significativos, extraídos dos mestres de
nossa língua: a) “Não podemos duvidar que nos dará outro…” (Padre
Antônio Vieira); b) “Lembrava-se que o pai a prevenira” (Camilo
Castelo Branco).
4. Com argumentos dessas e de outras autoridades da língua, assim conclui
o referido autor: “Não se deve considerar erro a frase ‘Estou certo que o
amigo virá’ por ‘Estou certo de que o amigo virá’. Tanto uma como
outra é correta, porém há casos em que a supressão da preposição
imprime elegância à frase” (CINTRA, 1922, p. 110-1).
5. Considerando exemplos como “Estou certo de que és culpado” e
“Estamos persuadidos de que o fato existiu”, anota, de igual modo,
Cândido Jucá Filho (1981, p. 67) que tais estruturas “permitem a
supressão do nexo prepositivo”.
6. Também justifica o mencionado autor a possibilidade de omissão da
preposição antes da conjunção integrante: assim, para ele, “Gosto que tu
te divirtas” será tão correta quanto “Gosto de que tu te divirtas”.
7. De igual modo, dá ele por justificada a omissão da preposição antes do
infinitivo (JUCÁ FILHO, 1981, p. 67): a) “Apenas tive notícias de que V.
M. gostaria ver escritas as vidas dos sereníssimos reis portugueses”
(Melo); b) “… embora gostasse conduzir um cavalo bravo” (Antero de
Quental).
8. Além desses, lembra ainda Laudelino Freire (1937b, p. 107) outros casos
em que se dá a supressão da preposição antes do que, ainda que imposto
seu emprego pela regência gramatical, trazendo em corroboração
exemplos de autores insuspeitos: a) “Terrível palavra é um não. Não tem
direito nem avesso; por qualquer lado que (em que) tomeis, sempre soa
e diz o mesmo” (Vieira); b) “E o Arcebispo saía a continuar o seu ofício
com a mesma vigilância e cuidado que (com que) soia” (Frei Luís de
Sousa).
Ver De que (P. 269), Pronome relativo preposicionado (P. 616) e Preposição
– Quando deve ser repetida? (P. 595).

Omitir texto assim […] – É correto?


1. Um leitor ouviu dizer que, quando se transcreve texto de outro autor, não
se utilizam reticências entre colchetes – […] – para representar as partes
omitidas do original. E indaga se tem procedência esse entendimento.
2. Tomem-se, como exemplos, três dispositivos da legislação em vigor: a)
“A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas
a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro” (CC, art.
2º); b) “A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a
pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil” (CC, art.
5º); c) “Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da
personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu
exercício sofrer limitação voluntária” (CC, art. 11).
3. Na hipótese de não se querer a transcrição integral de qualquer desses
dispositivos, podem-se usar as reticências, com a observação de que elas
servem “para indicar, nas citações, que foram suprimidas algumas
palavras” (LIMA, 1972, p. 435) do texto original. E tais reticências são
representadas por três pontos seguidos, não importando o local do texto
em que a supressão aconteça: a) “… a lei põe a salvo, desde a
concepção, os direitos do nascituro” (CC, art. 2º); b) “A menoridade
cessa aos dezoito anos completos …” (CC, art. 5º); c) “… os direitos da
personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis …” (CC, art. 11).
4. Ocorre, contudo, que as reticências, além de indicarem a supressão de
parte do texto citado, podem ter outras funções e indicações, de tal modo
que – com exceção das citações de textos de lei, em que tal não acontece
– não é impossível que até mesmo pertençam ao texto original que se
está transcrevendo, do que pode originar significativa confusão.
5. Exatamente por isso, têm-se utilizado, na prática, as reticências entre
parênteses ou entre colchetes, para indicar, com mais clareza, a
supressão de parte do texto que consta do original.
6. Tome-se, como exemplo, o seguinte trecho: “No Código Civil de 2002,
em regramento advindo da lei anterior, podem-se alinhar alguns
exemplos de tais obrigações conjuntas: a) pelo art. 1.317, se condôminos
contraem dívida sem discriminação das partes, entende-se pela obrigação
proporcional ao quinhão da coisa comum; b) pelo art. 1.380, assistindo
ao dono de uma servidão o direito de fazer as obras necessárias a sua
conservação e a seu uso, se a servidão pertence a mais de um prédio, as
despesas são rateadas entre os respectivos donos; c) pelo art. 1.934,
parágrafo único, todos os herdeiros instituídos, se não há especificação
de quais hão de executar os legados, por estes respondem
proporcionalmente ao que herdam” (COSTA, 2003, p. 238).
7. Nada impede que as omissões das partes que não sejam julgadas
essenciais para a citação, as quais também podem ser representadas
apenas por reticências, sejam marcadas do seguinte modo, entre
parênteses: “No Código Civil de 2002, (…), podem-se alinhar alguns
exemplos de tais obrigações conjuntas: a) pelo art. 1.317, (…), entende-
se pela obrigação proporcional ao quinhão da coisa comum; b) pelo art.
1.380, (…), se a servidão pertence a mais de um prédio, as despesas são
rateadas entre os respectivos donos; c) pelo art. 1.934, parágrafo único,
todos os herdeiros instituídos (…) respondem proporcionalmente ao que
herdam”.
8. E não é só: essas supressões, as quais, como visto, podem ser marcadas
por reticências entre parênteses – (…) – também podem ser indicadas
por reticências entre colchetes – […]. É que não parece haver razão para,
neste caso, fazer diferença entre parênteses e colchetes. E assim se
procede com a autorização de abalizados gramáticos. É certo, por um
lado, que Napoleão Mendes de Almeida ensina que os colchetes
designam “os sinais que indicam um parêntese que tem outro dentro de
si” (1981, p. 59). Já Celso Cunha, em exemplo que transcreve de Sousa
da Silveira, acaba por mostrar exatamente o inverso, a saber, parênteses
dentro de colchetes (1970, p. 286). E Gladstone Chaves de Melo – que
chama aos colchetes de “parênteses quadrados” – ao especificar as
funções de um e de outro, faz com que uns, em última análise, guardem
equivalência de funções com os outros (1978, p. 250). Tais ponderações
obrigam a concluir pela equivalência entre ambos.
9. Em síntese: nas citações de textos de lei ou de autores, as omissões de
parte do original podem ser representadas a) ou por reticências, isto é,
…, b) ou por reticências entre parênteses, a saber, (…), c) ou, ainda, por
reticências entre colchetes, vale dizer, […]. Essas variadas
possibilidades, em última análise, advêm do fato de que, se os
indicadores de uso das reticências, dos parênteses e dos colchetes, por
um lado, não permitem abertamente tais usos, o certo é que, por outro
lado, também não proíbem os empregos apontados.

Onde, Adonde ou Aonde?


1. Por um lado, correspondendo ao advérbio latino ubi (com o significado
de onde, no lugar em que), usa-se onde com verbos de acepção estática,
que indicam permanência em algum lugar. Exs.: a) “Onde trabalha a
testemunha?”; b) “Onde se escondeu o assassino?”.
2. Já aonde, que é combinação da preposição a com o advérbio onde (e que
tem por sinônima adonde, correspondendo ao advérbio latino quo e
significando para onde, para que lugar), exprime o destino de uma
pessoa ou coisa e se emprega como adjunto adverbial de verbos
dinâmicos, que indicam movimento em direção a algum lugar. Exs.: a)
“Aonde vai o nobre advogado?”; b) “Aonde foi o assassino?”.
3. Veja-se a lição de Vitório Bergo quanto ao emprego de aonde:
“Combinação da preposição a com o advérbio onde, emprega-se,
logicamente, como complemento de verbos de movimento” (1944, p.
28). Ex.: “Aonde foi a testemunha após o crime?”.
4. Vê-se, assim, que equivocado, em princípio, o uso de tais palavras nos
seguintes exemplos: a) “Aonde você mora?”; b) “Onde você vai?”.
5. Atente-se, ao revés, ao perfeito uso de ambas as palavras por Carlos
Drummond de Andrade no seguinte trecho: “Pediram-me que definisse o
Arpoador. É aquele lugar dentro da Guanabara e fora do mundo, aonde
não vamos quase nunca, e onde desejaríamos obscuramente viver”.
6. Assim resumem Antonio Henriques e Maria Margarida de Andrade a
regra acerca do uso de onde e aonde: “Onde usa-se com verbos de
caráter estático, indicadores de fixação… Aonde usa-se com verbos de
caráter dinâmico, indicadores de movimento” (1999, p. 59).
7. Também dando mostras de plena distinção entre os vocábulos, leciona
Laudelino Freire: “deve firmar-se critério uniforme no emprego destes
advérbios, em conformidade com as suas significações, sempre fáceis de
serem discriminadas segundo os verbos que se lhes unem. Onde significa
no lugar em que, no qual lugar, e junta-se a verbos que encerram a ideia
de quietação; aonde significa para o lugar que, para o qual lugar, para
que parte, para que lugar, e junta-se a verbos que encerram ideia de
movimento” (1937b, p. 100).
8. Lembrando que até mesmo Camões quase sempre usava onde e, “quando
usava do aonde, fazia-o sem ter em atenção o seu significado”, o mesmo
Laudelino Freire esclarece que, nos dias de hoje, “não escreveria correto
quem não discriminasse nitidamente, no uso desse advérbio, o lugar
donde, o lugar onde, o lugar aonde ou para onde” (1937b, p. 100).
9. Para Sousa e Silva, onde e aonde não se equivalem hodiernamente, e,
embora se trate de diferenciação moderna, “tende a fixar-se no idioma,
não obstante a resistência de alguns filólogos” (1958, p. 195).
10. Também acerca do emprego de onde, aonde e donde, Silveira Bueno
assim sintetiza a lição: “O snr. só pode empregar onde com verbos que
não marquem movimento, mas estado: O lugar onde estamos nem
sempre é aquele onde morremos. Empregará aonde com os verbos de
movimento para ou movimento a: A terra aonde vou; A casa aonde te
diriges. Empregará donde com verbos de movimento de: O país donde
chego; O jardim donde venho” (1938, p. 115).
11. E Arnaldo Niskier (1992, p. 52), também em observação conjunta
acerca de onde, aonde e de onde, anota que seu uso “não é tão difícil”,
justificando: “com verbos que indicam permanência, como estar,
usamos onde; com verbos que indicam movimento, usaremos aonde
quando se referir ao destino (aonde você quer chegar?), e de onde (ou
donde) quando se referir à procedência (de onde você saiu?)”.
12. Eduardo Carlos Pereira, por seu lado, após proceder à diferenciação
entre aonde, donde e onde, observa que “não se subordinam os nossos
clássicos e alguns escritores modernos a estas distinções quanto aos
advérbios onde e aonde” (1924, p. 354-5).
13. Oportuna é a ponderação de Pasquale Cipro Neto e Ulisses Infante: “o
estabelecimento dessa diferença de significado tem sido uma tendência
do português moderno. Na língua clássica, ela não existia; ainda hoje, é
comum encontrar-se o emprego indiferente de uma ou outra forma”
(1999, p. 546).
14. Sílvio Elia (1967, p. 181), por seu lado, a par de estabelecer a lição
normalmente aceita por nossos gramáticos de que os verbos de
movimento exigem aonde, em comentários a um verso de Álvares de
Azevedo – “Onde vais pelas trevas impuras…?” – excepciona que “o
interrogativo onde é muito frequentemente usado em português com o
valor de aonde”.
15. Não se pense, por fim, que a discussão seja destituída de cunho prático
ou de atualidade, devendo-se lembrar que, em jornal de grande
circulação no país, o ex-presidente da República José Sarney, após
afirmar que, no Maranhão, falar errado “desfaz casamento e abala
conceito”, produziu ele próprio a seguinte frase: “Ora, aonde no Brasil
se pode misturar latim e Carnaval?” (Folha de S. Paulo, 5/3/93).
16. Dias após, no Painel do Leitor do mesmo jornal, o professor Octavio
Bueno Magano, da Universidade de São Paulo, polemizava que o
escritor maranhense melhor se houvera se dissesse: “Ora, onde no
Brasil se pode misturar latim e Carnaval?” (Folha de S. Paulo,
19/3/93).
17. Em resposta, o senador e imortal da Academia Brasileira de Letras –
que não quis atribuir o aonde a equívoco da secretária ou datilógrafa,
muito embora, em publicação anterior do mesmo artigo, no Maranhão,
viesse o registro de onde – ponderava que um dos envolvidos na
polêmica estava certo, e o outro não estava errado, realçando que a
discussão tinha mais de um século, e que desde alguns de nossos
melhores autores da fase arcaica da língua até nossos dias, vários não
fazem distinção alguma, motivo por que onde ou aonde seriam
defensáveis em tais casos, quer em decorrência do emprego pelos
clássicos, quer pela ocorrência de verdadeiro brasileirismo.
18. Polêmicas à parte, o melhor, na atualidade, acaba sendo observar a
distinção que modernamente se faz entre onde e aonde, usando o
primeiro para verbos e outras palavras que indiquem quietação, e
guardando o segundo para palavras que signifiquem movimento em
direção a algum lugar.
19. No que concerne aos textos de lei, normalmente se observa seu
emprego correto. Exs.: a) “O domicílio da pessoa natural é o lugar
onde ela estabelece a sua residência com ânimo definitivo” (CC, art.
31); b) “Far-se-á, no registro onde a pessoa jurídica estiver inscrita, a
averbação de sua dissolução” (CC, art. 51, § 1º); c) “Velará pelas
fundações o Ministério Público do Estado onde situadas” (CC, art. 66,
caput).
20. Interessante, por fim, é observar um exemplo como “Onde vou morar”,
no qual, aparentemente, há um verbo de conteúdo dinâmico (vou) e
outro de conotação estática (morar).
21. Nesse caso, porém, a realidade que surge além das aparências é que
não há dois verbos com significados distintos de ir e de morar, mas
apenas uma locução verbal (dois verbos fazendo o papel de um só),
cujo verbo principal (determinante do sentido) é morar, enquanto vou é
apenas um verbo auxiliar da locução, sem capacidade para determinar a
preposição que se há de empregar no caso.
22. E, assim, se morar é um verbo de acepção estática, então se há de
empregar onde, e não aonde. Exs.: a) “Onde vou morar” (correto); b)
“Aonde vou morar” (errado).

Ônibus – Qual é seu plural?


1. Uma leitora diz ter dúvidas quanto ao plural de ônibus.
2. Ora, esse vocábulo vem de omnibus, que é o dativo plural latino de
omnis, com o significado de para todos.
3. Normalmente, o plural das palavras terminadas por s, desde que não
oxítonas (MELO, 1970, p.116), faz-se do mesmo modo que no singular
(Bechara, 1974, p. 79): bônus, cais, lápis, ônus, pires, vírus, xis.
4. Assim também se dá com a palavra ônibus, trazida para análise. Exs.: a)
“Os torcedores eram tão poucos, que não lotavam um ônibus”; b) “Os
torcedores eram tantos, que lotavam vinte ônibus”; c) “Um ônibus veio
trazendo os diretores”; d) “Dezenove ônibus vieram trazendo a torcida”.

Ôo ou Oo?
Ver Enjôo ou Enjoo? (P. 319)

O ou Lhe?
1. Os pronomes pessoais oblíquos átonos o, a, os e as funcionam como
objetos diretos; os pronomes lhe e lhes, como objetos indiretos. Exs.: a)
“O juiz sentenciou o caso”; b) “O juiz sentenciou-o”; c) “O documento
pertence aos autos”; d) “O documento pertence-lhes”; e) “O juiz decidiu
a questão”; f) “O juiz decidiu-a”; g) “O computador pertence à juíza”;
h) “O computador pertence-lhe”.
2. Oportuna a lembrança de João Ribeiro (1923, p. 176) de que, nos tempos
preliminares do período clássico, encontra-se o emprego do pronome lhe
equivalendo a o, como, por exemplo, em repreendeu-lhe, sintaxe essa de
equivalência em diversos casos, que também é encontrada no castelhano,
mas não válida para nosso idioma nos dias de hoje.
3. Sousa e Silva (1958, p. 168) aponta, com propriedade, ser comum o
errôneo emprego de lhe e lhes em lugar de o, a, os e as.
4. A frequência com que se dão os erros dessa natureza faz com que
Arnaldo Niskier (1992, p. 51) teça a seguinte observação: “É um erro
muito comum a troca do pronome o (e variações) por lhe(s). Devemos
ter em mente que o (e variações) é utilizado como objeto direto
(conheço-o) e lhe(s) como objeto indireto (paguei-lhe cinco mil
cruzeiros)”.
5. Para quem tiver dificuldade exatamente em reconhecer qual há de ser a
transitividade de um verbo em tal caso, é bom lembrar, em termos bem
práticos, que o verbo transitivo direto admite passagem para a voz
passiva, mas não o transitivo indireto.
6. Assim, o exemplo “O juiz sentenciou o caso” admite a transformação
para “O caso foi sentenciado pelo juiz”, em que o verbo está na voz
passiva, já que o sujeito caso sofre a ação de sentenciar, fato esse que
evidencia ser o verbo transitivo direto.
7. Já o exemplo “O documento pertence aos autos” não admite passagem
para a voz passiva, o que é sinal inconfundível de que pertencer não é
transitivo direto.

Op. cit. – Quando se usa?


1. Por ter importante papel nas notas de rodapé e nas citações de trabalhos
científicos, vale a pena observar quando se usa op. cit.
2. Imagine-se que, num determinado trabalho científico – e as petições,
peças e arrazoados forenses se incluem nesse rol – se resolva fazer
referência ao seguinte trecho de Theotonio Negrão: “o operador do
direito que não consegue ter linguagem correta não consegue expressar
adequadamente seu pensamento”.
3. Para isso, é de rigor científico que se forneçam elementos bastantes, a
fim de que o leitor possa localizar a citação, constatar a veracidade da
afirmação, conferir a fidelidade ao texto e até mesmo analisar o contexto
em que se fez a afirmação.
4. A ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas – fixa os critérios
e a forma para o fornecimento desses dados, com possibilidade de
variantes, e o usuário poderá fazer a respectiva menção em nota de
rodapé ou entre parênteses.
5. Imagine-se, porém, que, num parágrafo seguinte, o autor do trabalho
científico queira fazer nova citação do mesmo autor e da mesma obra.
6. Nesse caso, ao fornecer os dados para localização do texto, poderá ele
optar por um de dois caminhos: a) ou repetir os dados da fonte, como se
não tivesse feito citação alguma anterior do mesmo autor citado, e
acrescentar a nova página; b) ou dizer que o novo trecho está na mesma
obra, ou seja, na obra citada, mas em outra página.
7. Nesse caso, omitirá ele os demais dados, e mencionará a expressão obra
citada, e fornecerá o número da nova página, e isso novamente entre
parênteses (Cf. NEGRÃO, Theotonio. Obra citada, p. 85), ou em nota de
rodapé, sendo correto abreviar para Ob. cit. tanto na primeira situação,
quanto na segunda.
8. Por influência multissecular do latim, ademais, admite-se o emprego da
expressão obra citada em sua forma naquele idioma, quer por extenso
(opus citatum), quer por abreviatura (Op. cit.), e isso tanto no meio do
texto como em nota de rodapé.
9. Uma advertência final: nos casos práticos, é preciso tomar cuidado com
alguns aspectos: a) Op. cit. refere-se à fonte referida imediatamente
antes da fonte que se está citando; b) Para encontrar a fonte do Op. cit., o
leitor deve buscar em todas as notas de rodapé previamente referidas, a
fim de localizar o que então se menciona; c) Por isso, é preciso atentar
para que, por receio de não ser repetitivo, não se acabe, com o uso da
expressão da consulta, dificultando o entendimento do texto e a própria
localização da referência que se quer fazer.

Operacionalizar – Existe?
Ver Verbos – Existem ou não? (P. 764)

O perfume é aspirado – Está correto?


Ver Aspirar o(ao) perfume? e Aspirar o(ao)cargo? (P. 138)

Opor – Como conjugar?


Ver Pôr – Como conjugar? (P. 577)

Opor ou Interpor?
Ver Interpor ou Opor? (P. 422) e Pôr – Como conjugar? (P. 577)

Oportunizar – Existe?
1. Um leitor diz ter visto com frequência a palavra oportunizar em textos
oficiais. Parecendo-lhe estranha, indaga se é correto seu uso.
2. Sempre é bom lembrar – até para criar no leitor um raciocínio salutar
que sempre deve ser repetido em tal situação – que, quando se quer saber
se uma palavra existe ou não em português, deve-se tomar por premissa
o fato de que a autoridade para listar oficialmente os vocábulos
pertencentes ao nosso idioma é a Academia Brasileira de Letras.
3. E essa autoridade, a ABL a exerce por via da edição do Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa.
4. Ora, uma simples consulta ao VOLP mostra que nele não se registra
oportunizar, de modo que a forçosa conclusão a ser extraída é que essa
palavra não existe em nosso léxico.
5. Em tais circunstâncias, se se quer usar um vocábulo com esse
significado, a solução é escolher um sinônimo entre as palavras
existentes em português com a acepção pretendida pelo usuário
(possibilitar ou ensejar, por exemplo), ou mesmo construir um torneio
com o mesmo radical da palavra pretendida (dar ou abrir oportunidade)
ou mesmo com outra palavra (dar ensejo).
6. Usar, porém, um vocábulo inexistente, a pretexto de neologismo, não
constitui alternativa que esteja ao alcance do usuário do idioma.
7. Sempre é oportuno observar adicionalmente que, em circunstâncias
como essa, nos meios jurídicos e forenses, há uma equivocada tendência
de alguns, com pretensão de uma jamais alcançada erudição, para
empregar vocábulos arrevesados e barrocos, muitas vezes inexistentes,
como esse que agora é trazido para análise.
8. O máximo que conseguem, todavia, é um texto de difícil leitura e
compreensão, muito distante do ideal que só a simplicidade consegue
alcançar.

Opor veto – Está correto?


1. Vetar, do latim vetare (proibir, vedar), em sentido constitucional, quer
dizer a negação da sanção pelo Poder Executivo a uma resolução ou lei
elaborada pelo Poder Legislativo.
2. A própria ideia de vetar já traz em si o sentido de apresentar em
oposição, de objetar, de impugnar, o qual se acha presente no verbo opor
(como em opor embargos), o que não se dá, entretanto, em apor, que
quer dizer pôr junto, juntar, justapor.
3. Assim, além da possibilidade de uso do próprio verbo vetar, é correto
dizer: “O presidente opôs veto à lei eleitoral aprovada pelo Congresso”.
4. Equivocada, porém, é a construção: “O presidente apôs veto à lei
eleitoral aprovada pelo Congresso”.
Ver Interpor ou Opor? (P. 422) e Pôr – Como conjugar? (P. 577)

Optar
1. No que concerne à ortografia e à ortoepia de sua conjugação verbal, é
preciso atentar a suas formas rizotônicas, nas quais o radical permanece
o mesmo, em conduta típica de verbo regular, sem qualquer acréscimo
de i ou deslocamento de posição da sílaba tônica, dificuldade essa que se
apresenta no presente do indicativo e tempos derivados (SACCONI,
1979, p. 21): opto, optas, opta, optamos, optais, optam (presente do
indicativo); opte, optes, opte, optemos, opteis, optem (presente do
subjuntivo); opta, opte, optemos, optai, optem (imperativo afirmativo);
não optes, não opte, não optemos, não opteis, não optem (imperativo
negativo).
2. Assim leciona Artur de Almeida Torres: “Nas três pessoas do singular e
na terceira do plural do presente do indicativo e do presente do
subjuntivo, a vogal o do radical é tônica, e portanto fortemente
pronunciada, juntamente com a consoante seguinte” (1966, p. 116).
3. Como as formas rizotônicas ocorrem apenas no presente do indicativo e
tempos derivados, as mencionadas dificuldades de ortoepia e ortografia
não se apresentam nos demais tempos.
4. Quanto a sua regência verbal, admite ser construído com as preposições
por ou entre, mas o uso de tais sintaxes não é aleatório: a) se se
mencionam, direta e explicitamente, os elementos integrantes do rol da
escolha, tem cabimento a preposição entre; se, porém, apenas consta o
elemento escolhido, mas não os demais do universo em que feita a
opção, elege-se a preposição por. Exs.: a) “Poderá o evicto optar entre a
rescisão do contrato e a restituição da parte do preço correspondente ao
desfalque sofrido” (Rui Barbosa); b) “Afirmavam que ela optara pelo
mais rico” (Camilo Castelo Branco).
5. Atente-se, porém, a que a sintaxe correta, na primeira modalidade, é
optar entre uma coisa e outra, e não optar entre uma coisa ou outra: a)
“PFL terá de optar entre ficar no Governo ou apoiar o ex-presidente do
Senado” (errado); b) “PFL terá de optar entre ficar no Governo e apoiar
o ex-presidente do Senado” (correto).
6. Além disso, de acordo com Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 297),
“a regência usual é a indireta (preposições entre e por)”, sendo “menos
comum a regência direta”. Exs.: a) “Ele tinha de optar entre pagar a
dívida ou perder o imóvel”; b) “Ela optou pelo pretendente mais rico e
deu-se mal”; c) “Os funcionários optaram continuar em greve”.

Optar – Foi optado – É correto?


1. Um leitor indaga se é correto o emprego do verbo optar na voz passiva,
como no seguinte exemplo: “Considerando-se os riscos, foi optado por
não se operar o paciente”.
2. De início, observe-se que voz ativa e voz passiva são duas maneiras
sintaticamente diversas de dizer a mesma realidade de fato, conforme o
sujeito pratique ou receba a ação indicada pelo verbo. Exs.: a) “O
magistrado proferiu a sentença” (voz ativa, porque o sujeito magistrado
pratica a ação indicada pelo verbo proferir); b) “A sentença foi proferida
pelo magistrado” (voz passiva, porque o sujeito sentença recebe a ação
indicada pelo verbo proferir).
3. Uma análise de ambas as estruturas revela os seguintes aspectos, que são
de suma importância para a análise que está sendo feita: a) o objeto
direto da voz ativa torna-se o sujeito da voz passiva; b) o sujeito da voz
passiva torna-se o agente da passiva.
4. Ora, se o objeto direto da voz ativa se torna o sujeito da voz passiva, a
primeira e importante regra, nesse campo, é a de que permitem o
emprego na voz passiva os verbos transitivos diretos.
5. É por isso que, por mais que se tente, não se consegue passar para a voz
passiva o exemplo “O livro pertence ao Magistrado”: a) é que o verbo
pertencer é transitivo indireto, e b) a expressão “ao Magistrado” é um
objeto indireto.
6. Tendo essas observações como premissas, segue-se para a resposta à
indagação do leitor: a) no sentido da frase proposta, quem opta, opta por
alguma coisa ou opta por alguém; b) ou seja, tal verbo é
tradicionalmente transitivo indireto, e seu complemento (um objeto
indireto) é precedido pela preposição por; c) assim o empregaram nossos
melhores autores, como Camilo Castelo Branco (“Afirmavam que ela
optara pelo mais rico”) ou Euclides da Cunha (“Determinou que optasse
por uma das pontas do dilema”); d) com essas premissas, conclui-se que
o verbo optar não admite ser empregado na voz passiva; e) é correto
dizer “… optou-se por não se operar o paciente”; f) também é correto
dizer “optaram por não se operar o paciente”; g) mas não é correto dizer
“foi optado por não se operar o paciente”.

O quanto antes ou Quanto antes?


Ver Quanto antes ou O quanto antes? (P. 634)

O que ele quis é poupar… – Está correto?


1. Em nosso idioma, existem normas de correlação, de correspondência
temporal ou, ainda, de consecução dos tempos verbais, que determinam
a harmonização quanto ao uso dos tempos dos verbos.
2. De modo mais prático, isso significa que o uso de um primeiro verbo
exige que o segundo verbo vá para um determinado tempo. Vejam-se os
seguintes exemplos: a) “Se é clara, a lei dispensa interpretação”; b) “Se
for clara, a lei dispensará interpretação”; c) “Se fosse clara, a lei
dispensaria interpretação”.
3. Muitas vezes, nos dias de hoje, perde-se de vista esse paralelismo das
formas verbais e se redige: “Há dias que não se trabalhava”; “Ela
estava casada há dois meses”. Corrija-se: a) “Há dias que não se
trabalha”; b) “Havia dias que não se trabalhava”; c) “Ela está casada
há dois meses”; d) “Ela estava casada havia dois meses”.
4. Como ensinam os gramáticos, a falta de simultaneidade de tempos
nessas proposições configura verdadeiro galicismo (estrutura do idioma
francês não aceita em nossa língua), como nos seguintes exemplos: a) “É
isso que me incomodou” (errado); b) “Foi isso que me incomodou”
(correto); c) “É Jesus quem dizia…” (errado); d) “Foi Jesus quem
dizia…” (correto).
5. De modo específico para a frase em epígrafe, vejam-se as variações
corretas e as erradas sobre o assunto: a) “O que ele quis é poupar…”
(errado); b) “O que ele quis foi poupar…” (correto); c) “O que ele quer
foi poupar…” (errado); d) “O que ele quer é poupar” (correto).

Ora
Ver Por ora ou Por hora? (P. 580)

Oração concessiva
Ver Indicativo por Subjuntivo (P. 411).

Oração substantiva – Separa-se por vírgula da principal?


Ver Vírgula – Pode existir com as orações substantivas? (P. 778)

Orações intercaladas ou interferentes?


1. São denominadas orações intercaladas ou interferentes aquelas que,
sintaticamente independentes, se interpõem a outras a título de
esclarecimento, observação, advertência ou ressalva. São orações
consideradas “à margem” da frase.
2. Interessa, nesse aspecto, observar a pontuação que as isola no interior do
período. Para isso, empregam-se vírgulas, parênteses ou travessões. Exs.:
a) “Desta vez, disse ele, vais para a Europa” (M. de Assis). b) “Tive
(porque não direi tudo?), tive remorsos” (M. de Assis); c) “Rico, e muito
rico – pensava Caúla – quem possuía um barco como aquele” (Adonias
Filho).

Ora… ora
1. Às vezes se encontra um período em que tais vocábulos têm o nítido
caráter alternativo, e, nessas hipóteses, deve-se lembrar a lição de Sousa
e Silva (1958, p. 248) de que, se se emprega a conjunção ora no primeiro
membro disjuntivo, deve-se repeti-la no segundo. Exs.: a) “O advogado
ora se inflamava, ou então ficava mudo” (errado); b) “O advogado ora
se inflamava, ora ficava mudo” (correto).
2. Essa mesma observação vale para outras conjunções similares: já… já,
quer… quer.

Ordinal
Ver Números – Como ler e Empregar? (P. 506)

O risco de o
Ver É hora da onça beber água ou É hora de a onça beber água? (P. 296)

Ortoepia
1. Muito embora Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (s/d, p. 1.007)
registre também a forma ortoépia, Napoleão Mendes de Almeida (1981,
p. 217) preconiza ortoepia, “com o acento tônico no i, de acordo com o
étimo grego”.
2. Já Gladstone Chaves de Melo (1970, p. 54) apenas registra ortoépia.
3. Júlio Nogueira (1939, p. 83), após asseverar que “alguns pronunciam
esta palavra como proparoxítona” (ortoépia), diz não haver razão para
tanto, porquanto, “além da quantidade grega, a própria analogia indica
que deve ser paroxítona” (ortoepia). Acresça-se que ortoépia pode ser
considerada uma paroxítona com ditongo crescente na última sílaba (ia).
4. Silveira Bueno (1957, p. 346) registra como correta a pronúncia
ortoépia.
5. Ainda quanto à pronúncia, Evanildo Bechara (1974, p. 59) também lhe
admite ortoépia.
6. Celso Cunha registra a oscilação de sua pronúncia, mesmo na língua
culta (1970, p. 26), divergência essa que, para ele, indica a possibilidade
de uso de ambas as pronúncias.
7. Pasquale Cipro Neto e Ulisses Infante referem a dupla possibilidade de
aceitação de ortoepia e ortoépia, e situam-na como “parte da Fonologia
que cuida da correta produção oral das palavras” (1999, p. 28).
8. A possibilidade de dupla prosódia de tal vocábulo também é observada
por Arnaldo Niskier (1992, p. 2).
9. Espancando toda possibilidade de dúvida a esse respeito, o Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras,
que é o veículo oficial indicador das palavras existentes em nosso
idioma, bem como de sua maneira de grafar e pronunciar, registra ambas
as formas – ortoépia e ortoepia (2009, p. 602), de modo que está
oficialmente autorizado o emprego de ambas.
10. No que tange a seu significado, Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 17) a
conceitua como sendo a parte da Gramática que “trata da correta
enunciação dos fonemas de uma língua”, exemplificando: escrever e
não escrevê, psicologia e não pissicologia, abrrupto e não abrupto,
socorros (ó) e não socorros (ô).
11. Cândido de Oliveira lhe confere por função a “correta pronúncia do
vocábulo: clareza na emissão dos fonemas” (1961, p. 32).
12. Júlio Nogueira entende que ela “trata da pronúncia exata dos valores
literais” (1939, p. 83).
13. Em outra obra, Cândido de Oliveira (s/d, p. 31) refere que se dedica tal
parte da Gramática à “correta pronúncia do vocábulo”, à “boa emissão
do fonemas”, de modo que “quem diz bão em lugar de bom,
adevogado por advogado, comete erro de Ortoepia”.
14. Tratando-se da parte da Gramática que cuida da correta pronúncia das
palavras, e, por ter havido confusões com prosódia, Antenor Nascentes
faz questão de observar que “a pronúncia correta, isto é, a verdadeira
emissão das vozes e a verdadeira articulação das consonâncias, chama-
se tecnicamente ortoepia” (1942, p. 14).
15. Essa mesma distinção fazem Carlos Góis e Herbert Palhano: “A
ortoepia estuda a correta pronúncia dos sons dos vocábulos; a prosódia,
a sua exata acentuação” (1963, p. 23).
16. Artur de Almeida Torres (1966, p. 27) também faz diferença entre tais
vocábulos: “a ortoepia (ou ortoépia) ensina a exata pronúncia das
palavras”, vale dizer, “boa emissão das vogais e boa articulação das
consoantes”, enquanto “a prosódia trata da correta acentuação dos
vocábulos”.
17. De sua incumbência, por exemplo, é verificar e esclarecer que, em mui
e muito, o som é anasalado; que adrede e algoz se pronunciam com a
vogal tônica fechada (ê e ô); que caroço, coro, forno, poço, rogo e
torto, de som fechado no singular, passam a ter som aberto no plural,
em fenômeno conhecido tecnicamente por metafonia; que, porém, no
plural, permanecem com o mesmo som fechado do singular acordos,
almoços, caolhos, consolos, engodos, esboços, estorvos, rostos e
subornos; que, no plural de caráter, júnior e sênior, a sílaba tônica
muda de posicionamento, resultando caracteres, juniores e seniores;
que, em ab-rogar, ad-rogar, sub-rogar e derivados, o r deve ser
pronunciado múltiplo e separado, isto é, sem fazer grupo com a
consoante anterior; que, em sintaxe, o x tem som de ss (BECHARA,
1974, p. 44-6).
18. Quanto a todos esses aspectos, parece ser melhor extrair as seguintes
conclusões: a) aceitáveis são ambas as pronúncias do vocábulo –
ortoépia (é) e ortoepia (pi); b) o melhor é caracterizar ortoepia como a
parte da Gramática que trata genericamente da correta enunciação dos
fonemas e da adequada pronúncia dos vocábulos, deixando à prosódia
a específica tarefa da correta localização da sílaba tônica.
19. Apenas para registro, o antônimo de ortoepia é cacoepia.
Ver Prosódia (P. 626).

Ortografia
1. Em significativo escorço histórico, divide Artur de Almeida Torres a
história da ortografia portuguesa em três períodos bem distintos: o
fonético, o pseudoetimológico e o histórico.
2. No primeiro (do início da língua até a metade do século XVI), “as
palavras eram grafadas mais ou menos de acordo com a pronúncia, sem
nenhuma sistematização criteriosa”.
3. No segundo, “dominava a preocupação pseudoetimológica, fruto do
eruditismo dos séculos XVI a XVIII, e em que se duplicavam as
consoantes intervocálicas e se inventavam símbolos extravagantes, a
pretexto de uma aproximação artificial com o grego e o latim, critério
pretensioso que contrariava a própria evolução das palavras”.
4. No terceiro período, marcado pela renovação dos estudos linguísticos em
Portugal, surge Gonçalves Viana que, após “algumas tentativas,
consegue apresentar um sistema racional de grafia, com base na história
da língua”, dando a público, em 1904, sua Ortografia Nacional, obra que
serviu de roteiro à comissão de filólogos encarregada pelo governo
português, em 1911, de elaborar um novo sistema ortográfico. Esse novo
sistema ortográfico foi oficializado em setembro do mesmo ano e
adotado também em nosso país em 1931, por acordo entre a Academia
das Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras, com
aprovação de ambos os governos.
5. Após alterações nesse sistema, foi elaborado pela Academia Brasileira
de Letras, com aprovação da Academia das Ciências de Lisboa, o
Pequeno Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, oficializado
no Brasil em 1943 e revigorado pelo Congresso Nacional em 1955, por
intermédio da Lei 2.623, de 21/10/55 (TORRES, 1966, p. 225-6).
6. Ainda no plano histórico, lembre-se, com Gladstone Chaves de Melo,
que “a ortografia da língua portuguesa passou por mil vicissitudes e
oscilações, até que se firmou o sistema resultante da reforma portuguesa
de 1911, modificado e compendiado entre nós pelo acordo luso-
brasileiro de 1943” (1970, p. 62).
7. Em lição de Júlio Nogueira, “as reformas gráficas, a partir da portuguesa
de 1911, têm procurado impor grande cópia de acentos, no desígnio de
ensinar, por esse meio, a pronúncia das palavras. O acento seria,
simultaneamente, um símbolo de tonicidade e de timbre” (1959, p. 126-
7).
8. Por seu lado, Pedro A. Pinto relata que, “no século 19, apesar de
tentativas de Castilho, de Garrett e de outros, não se logrou estabelecer
um sistema de ortografia, e cada escritor escreveu como quis. Camilo,
por exemplo, não tinha ortografia e grafava as palavras de várias
maneiras”.
9. Após tal fato, até mesmo indaga o citado gramático: “Em vista do que
ficou copiado, tem alguém o direito de falar em ortografia clássica, dos
Lusíadas, do Dicionário de Morais, de Camilo ou de nossos maiores?”
(PINTO, 1924, p. 125-6).
10. Feitas essas observações de ordem histórica, oportuno é anotar que um
sistema ortográfico é sempre uma convenção, e sua base pode ser de
caráter histórico (levando em conta a etimologia, isto é, a origem da
palavra para determinar sua grafia) ou de caráter fonético (levando em
conta o som para a grafia da palavra).
11. “O sistema ortográfico adotado, atualmente, no Brasil é o aprovado
pela Academia Brasileira de Letras na sessão de 12/8/1943 e
simplificado pela Lei 5.765, de 18/12/1971. É um sistema que pode ser
considerado misto, pois em alguns casos privilegia a etimologia e, em
outros, privilegia a fonética” (NICOLA; TERRA, 2000, p. 204).
12. De modo específico para o nosso idioma, quanto ao volume de erros
que cometem os usuários do vernáculo com um sistema de associação
de tão poucas letras, espantam-se Pasquale Cipro Neto e Ulisses
Infante: “Não é admissível que com um alfabeto tão restrito (apenas 23
letras!) se cometam tantos erros ortográficos pelo Brasil afora” (1999,
p. 33).
13. Pela necessidade de obediência do linguajar forense à norma culta,
alguns erros e vícios de linguagem, sobretudo no campo da grafia,
embora de aparência simples, acabam por desprestigiar quem os
comete, fato esse bem lembrado na síntese de J. Mattoso Câmara Jr.:
“as grafias errôneas, às vezes irrelevantes em si mesmas, ganham vulto
e importância, porque são tomadas como índices da cultura geral de
quem escreve, mostrando nele, indiretamente, pouco manuseio das
leituras e pouca sedimentação escolar” (s/d, p. 58).
14. Ainda sobre esse assunto, judiciosas são as palavras de Pasquale Cipro
Neto e Ulisses Infante: “A competência para grafar corretamente as
palavras está diretamente ligada ao contato íntimo com essas mesmas
palavras. Isso significa que a frequência do uso é que acaba trazendo a
memorização da grafia correta. Além disso, deve-se criar o hábito de
esclarecer as dúvidas com as necessárias consultas ao dicionário. Trata-
se de um processo constante, que produz resultados a longo prazo”
(1999, p. 33).
15. Apesar desse sábio conselho, que merece obediência, há, contudo,
algumas observações gerais que podem ser de grande utilidade para
alcançar a melhoria rápida nesse campo.
Ver Regras de ortografia (P. 652).

O(s) de cujus
Ver De cujus – Qual é o plural? (P. 254)

Os Diários não foram circulados – Está correto?


1. Na biblioteca da OAB/SP, afixou-se o seguinte comunicado: “Os Diários
do Poder Judiciário – cadernos I, II e III – não foram mais circulados a
partir do dia 15/8/2007”. Vale a pena observar se está ou não correta a
frase “não foram mais circulados”.
2. Independentemente de qualquer juízo sobre a correção ou erronia do
exemplo, vê-se que ele está formando voz passiva, ele assim estaria
posto na ordem direta, apenas com os elementos mais importantes no
plano sintático: “Os Diários não foram mais circulados…”.
3. Ora, em tese, voz ativa e voz passiva são duas maneiras sintáticas de se
dizer a mesma realidade de fato: a) Na voz ativa, o sujeito pratica a ação
indicada pelo verbo (“O magistrado proferiu a sentença” – o sujeito
magistrado pratica a ação de proferir); b) Na voz passiva, o sujeito
recebe a ação indicada pelo verbo (“A sentença foi proferida pelo
magistrado” – o sujeito sentença recebe a ação de proferir indicada pelo
verbo).
4. De uma simples contraposição entre os dois exemplos mencionados,
podem-se extrair importantes conclusões quanto à estruturação sintática
dos termos envolvidos: a) O que era objeto direto na voz ativa (sentença)
passa a ser sujeito na voz passiva; b) O que era sujeito na voz ativa
(magistrado) continua agindo na voz passiva e, sintaticamente, recebe o
nome de agente da passiva.
5. Ora, se o objeto direto da voz ativa se torna o sujeito da voz passiva,
uma primeira conclusão importante desse raciocínio é que apenas verbos
transitivos diretos podem ter voz passiva, sob pena de não se ter, na
ativa, um objeto direto que possa tornar-se o sujeito da voz passiva.
6. Em corolário, verbos transitivos indiretos, por via de regra, não podem
ser passados para a voz passiva. E isso não é complicado de entender:
basta atentar aos seguintes exemplos: a) “O juiz não gostou do
depoimento”; b) “Nós dependemos das circunstâncias”; c) “A garota não
simpatizava com a colega de classe”. É intuitivo que não se consegue
passar essas orações para a voz passiva.
7. Por idênticas razões, também não podem ser passados para a voz passiva
os verbos intransitivos, como, em mesmo raciocínio, demonstram com
facilidade os seguintes exemplos: a) “A criança morreu no hospital”; b)
“O prédio caiu”; c) “O presidente voltou de viagem”.
8. Em termos práticos, voltando ao exemplo inicial – “Os Diários não
foram mais circulados…” –, arranja-se sua formulação na voz ativa: “Os
Diários não circularam”. E, fatalmente, duas conclusões são
obrigatórias: a) O verbo dessa oração não é transitivo direto, e sim
intransitivo; b) Se é intransitivo, não admite construção na voz passiva;
c) Por conseguinte, é totalmente incorreto o exemplo “Os Diários não
foram mais circulados…”
Ver Voz passiva – Quando é possível? (P. 793)

Os embargos de declaração ou O embargos de declaração?


1. Uma leitora indaga qual das duas expressões está correta: os embargos
de declaração ou o embargos de declaração?
2. Em português, há certos substantivos que se empregam só no plural:
anais, arredores, esponsais, núpcias, pêsames, víveres. E a eles se
juntam aqueles vocábulos – como embargo e embargos – que têm
sentidos diferentes no singular e no plural.
3. Explicite-se: por um lado, embargo traz em si a ideia de impedimento,
obstáculo, estorvo, embaraço, medida de oposição a algum ato, como
aquele que se faz para que o construtor não continue na execução de
determinada obra (CPC, art. 935).
4. Já em embargos se vê com nitidez a ideia de um recurso judicial para
oposição em diversas circunstâncias (embargos de declaração,
embargos à execução, embargos de terceiro, embargos infringentes…).
5. E, nessa acepção de recurso processual, é palavra do plural, que exige
também no plural todos os vocábulos a ela referentes (os embargos,
embargos intempestivos…). Se for sujeito, também pede o verbo no
plural: a) “Cabem embargos infringentes…” (CPC, art. 530); b) “Os
embargos serão opostos…” (CPC, art. 536); c) “… os embargos serão
oferecidos…” (CPC, art. 747).
6. Com os embargos de declaração, a situação é exatamente a mesma: a)
“Cabem embargos de declaração…” (art. 535); b) “Na reiteração de
embargos protelatórios…” (CPC, art. 538, parágrafo único).
7. E, assim, respondendo diretamente ao leitor: a) no sentido trazido por ele
(de recurso processual), a palavra embargos é empregada apenas no
plural; b) nessas circunstâncias, ela exige que os demais vocábulos que a
ela se referem (artigo, adjetivo…) também venham no plural (os
embargos de declaração, embargos de declaração protelatórios); c) se
tal vocábulo é o sujeito da oração, o verbo também concorda no plural
(cabem embargos de declaração).

Os Estados Unidos
No que respeita à concordância verbal, ver Nomes próprios plurais (P.
500).

Otimizar – Existe?
1. Nos dizeres de Antonio Henriques e Maria Margarida de Andrade, trata-
se de invenção não registrada pelos dicionários, assim como diversos
outros pretensos neologismos, “criados por influência do economês,
como oportunizar, absolutizar, calendarizar etc.” (1999, p. 66).
2. Em sentido contrário a essa lição, todavia, Aurélio Buarque de Holanda
Ferreira (s/d, p. 1.010) acolhe tal verbo com o sentido de proceder à
otimização, tornar ótimo.
3. E o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia
Brasileira de Letras – que é o veículo oficial para listar os vocábulos
existentes em nosso idioma – registra normalmente o verbo otimizar
(2009, p. 605), o que implica concluir que seu uso está perfeitamente
autorizado entre nós.
Ou – Como concordar o verbo?
1. Quando os elementos do sujeito vêm ligados pela conjunção ou, com
ideia de exclusão, o verbo fica no singular. Exs.: a) “Pedro ou Paulo
casará com Maria”; b) “A União, o Estado, ou o Município, oferecerá
ao ex-proprietário o imóvel desapropriado, pelo preço por que o foi,
caso não tenha o destino, para que se desapropriou” (CC/1916, art.
1.150).
2. Se, porém, não há a ideia de exclusão, mas sim de concomitância, de
rigor é a concordância do verbo no plural. Ex.: “Pedro ou Paulo
comparecerão à audiência”.
3. De conformidade com João Ribeiro (1923, p. 150), em se tratando de
núcleos unidos por ou ou por nem, “o verbo, quando só se refere a um,
com exclusão de outro, fica no singular”; porém, se o verbo “se refere à
totalidade dos sujeitos, vai para o plural”.
4. Interessante, adicionalmente, a observação de Luiz Antônio Sacconi
(1979, p. 212-3) para as hipóteses de núcleos do sujeito unidos pela
conjunção ou, que sejam constituídos por pessoas gramaticais diversas:
“o verbo concorda com a mais próxima, se houver ideia de exclusão”;
se, porém, não há a ideia de exclusão, “o verbo pode concordar com a
pessoa mais próxima, ou ir ao plural, concordando com aquela que tem
primazia”. Exs.: a) “Eu ou ele será eleito presidente do clube”
(exclusão); b) “Ele ou eu serei eleito presidente do clube” (exclusão); c)
“Eu ou ele jantará (ou jantaremos) com Juçara hoje” (não exclusão); d)
“Ele ou eu jantarei (ou jantaremos) com Juçara hoje” (não exclusão).

Ou e Vírgula
1. Um leitor pergunta como se emprega a vírgula antes da conjunção ou nas
orações. Ante a importância do assunto, além da análise da vírgula entre
orações, também se estende aqui o estudo para os casos de vírgula entre
os termos de mesma oração.
2. Algumas observações se fazem neste início: a) a preocupação do leitor
foi bem posta, ao indagar sobre o emprego da vírgula antes da conjunção
ou, já que seu uso após ela se deve a diversos outros fatores, de difícil
unificação ou sistematização; b) a conjunção ou às vezes conecta termos
de mesma oração (como em “Preciso encontrar Pedro ou Paulo”) e,
outras vezes, liga duas orações (como em “No próximo final de semana,
não sei se trabalho ou descanso”); c) as observações que aqui se fazem
mostram mais uma tendência haurida nas regras de estruturação do
pensamento e nos melhores autores, de aconselhável emprego no ato de
redigir, do que um conjunto de regras inflexíveis; d) uma maior atenção
à pontuação – sobretudo na redação técnica – constitui tendência da
segunda metade do século XX, de modo que nem os melhores autores de
antes observaram com acuidade as respectivas regras ao longo dos
tempos.
3. Respondendo à indagação da consulta, é de se dizer que, quando o ou
une termos de mesma oração, o normal é não usar a vírgula antecedente,
e isso por não haver separação nem ruptura de encadeamento entre tais
termos, quer quanto ao pensamento, quer quanto à sintaxe: a) “Os bens
naturalmente divisíveis podem tornar-se indivisíveis por determinação
da lei ou por vontade das partes” (CC, art. 88); b) “As benfeitorias
podem ser voluptuárias, úteis ou necessárias” (CC, art. 96, caput); c)
“Nenhum juiz prestará a tutela jurisdicional senão quando a parte ou o
interessado a requerer, nos casos e forma legais” (CPC/1973, art. 2º); d)
“Os incapazes serão representados ou assistidos por seus pais, tutores
ou curadores, na forma da lei civil” (CPC/1973, art. 8º); e) “Responde
por perdas e danos aquele que pleitear de má-fé como autor, réu ou
interveniente” (CPC/1973, art. 16); f) “O juiz, ao decidir qualquer
incidente ou recurso, condenará nas despesas o vencido” (CPC/1973,
art. 20, § 1º); g) “Concorrendo diversos autores ou diversos réus, os
vencidos respondem pelas despesas e honorários em proporção”
(CPC/1973, art. 23).
4. Embora essa seja uma regra básica, que não causa polêmica e que emana
das diretrizes filosóficas que norteiam a estruturação de um texto a ser
escrito em linguagem formal, da sintaxe e dos próprios fins dos sinais de
pontuação, o certo é que os melhores escritores e mesmo diversos textos
de lei acabam por transgredi-la a todo momento, e isso, bem
possivelmente, mais por descuido e desatenção do que por real
desconhecimento acerca de sua necessidade: a) “Cessará, para os
menores, a incapacidade: I – pela concessão dos pais, ou de um deles na
falta do outro…” (CC, art. 5º, parágrafo único, I); b) “Pode-se exigir que
cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade…” (CC, art. 12);
c) “É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição
gratuita do próprio corpo…” (CC, art. 14, caput); d) “… mantendo-se
os bens que lhe deviam caber sob a administração do curador, ou de
outro herdeiro designado pelo juiz…” (CC, art. 30, § 1º); e) “Em caso de
abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de
finalidade, ou pela confusão patrimonial…” (CC, art. 50); f) “… o
instituidor é obrigado a transferir-lhe a propriedade, ou outro direito
real, sobre os bens dotados…” (CC, art. 64); g) “Se (as fundações)
funcionarem no Distrito Federal, ou em Território, caberá o encargo ao
Ministério Público Federal” (CC, art. 66, § 1º); h) “… o órgão do
Ministério Público, ou qualquer interessado, lhe promoverá a
extinção…” (CC, art. 69); i) “São móveis os bens suscetíveis de
movimento próprio, ou de remoção por força alheia…” (CC, art. 82); j)
“Bens divisíveis são os que se podem fracionar sem alteração na sua
substância, diminuição considerável de valor, ou prejuízo do uso a que
se destinam” (CC, art. 87); k) “… salvo se o contrário resultar da lei, da
manifestação de vontade, ou das circunstâncias do caso” (CC, art. 94);
l) “São bens públicos:… III – os dominicais, que constituem o
patrimônio das pessoas jurídicas de direito público, como objeto de
direito pessoal, ou real, de cada uma dessas entidades” (CC, art. 99, III);
m) “A procuração geral para o foro, conferida por instrumento público,
ou particular assinado pela parte, habilita o advogado a praticar todos
os atos do processo…” (CPC/1973, art. 38, caput); n) “Compete ao
advogado, ou à parte quando postular em causa própria” (CPC/1973,
art. 39, caput); o) “… não poderá ingressar em juízo, substituindo o
alienante, ou o cedente, sem que o consinta a parte contrária”
(CPC/1973, art. 42, § 1º); p) “A citação do alienante, do proprietário, do
possuidor … far-se-á:… b) quando residir em outra comarca, ou em
lugar incerto, dentro de 30 (trinta) dias” (CPC/1973, art. 72, § 1º, “b”);
q) “A sentença, que julgar procedente a ação, declarará, conforme o
caso, o direito do evicto, ou a responsabilidade por perdas e danos,
valendo como título executivo” (CPC/1973, art. 76).
5. Acresce dizer que, se o conetivo ou se repete antes de termos ou
expressões, com resultante caráter enfático, usa-se a vírgula antes dele,
em todas as ocorrências: “Em se tratando de morto, terá legitimação
para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou
qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau” (CC, art.
12, parágrafo único).
6. Quando o ou une orações de pequena extensão, normalmente não se
emprega a vírgula antes de tal conetivo: a) “Far-se-á averbação em
registro público:… II – dos atos judiciais ou extrajudiciais que
declararem ou reconhecerem a filiação” (CC, art. 10, II); b) “… o juiz…
adotará as providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato
contrário a esta norma” (CC, art. 21); c) “… é mister que a reforma:…
II – não contrarie ou desvirtue o fim desta” (CC, art. 67, II); d) “…
ainda que o tornem mais agradável ou sejam de elevado valor” (CC, art.
96, § 1º); e) “São úteis as que aumentam ou facilitam o uso do bem”
(CC, art. 96, § 2º); f) “São necessárias as que têm por fim conservar o
bem ou evitar que se deteriore” (CC, art. 96, § 3º); g) “Para propor ou
contestar ação é necessário ter interesse e legitimidade” (CPC/1973, art.
3º); h) “… cabe às partes prover as despesas dos atos que realizam ou
requerem no processo…” (CPC/1973, art. 19, caput); i) “… naquelas em
que não houver condenação ou for vencida a Fazenda Pública…”
(CPC/1973, art. 20, § 4º); j) “… as despesas e os honorários serão
pagos pela parte que desistiu ou reconheceu” (CPC/1973, art. 26,
caput); k) “… salvo quando suprimirem o órgão judiciário ou alterarem
a competência…” (CPC/1973, art. 87); l) “A assistência não obsta a que
a parte principal reconheça a procedência do pedido, desista da ação ou
transija sobre direitos controvertidos…” (CPC/1973, art. 53).
7. Se as orações são de maior extensão, então se usa a vírgula antes do
conetivo: a) “Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição
do próprio corpo, quando importar diminuição permanente da
integridade física, ou contrariar os bons costumes” (CC, art. 13); b) “A
autorização do marido e a outorga da mulher podem suprir-se
judicialmente, quando um cônjuge a recuse ao outro sem justo motivo,
ou lhe seja impossível dá-la” (CPC/1973, art. 11, caput); c) “O juiz dará
curador especial: I – ao incapaz, se não tiver representante legal, ou se
os interesses deste colidirem com os daquele” (CPC/1973, art. 9º, I); d)
“Quando o autor recusar o nomeado, ou quando este negar a qualidade
que lhe é atribuída, assinar-se-á ao nomeante novo prazo para
contestar” (CPC/1973, art. 67).
8. Como nem sempre é fácil definir o que seja oração de maior extensão, é
muito comum ver o emprego da vírgula antes do conetivo ou, mesmo
quando este liga orações que possamos classificar como de menor
extensão: a) “Se o ausente aparecer, ou se lhe provar a existência…”
(CC, art. 36); b) “O registro declarará:… V – se os membros respondem,
ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais” (CC, art. 46, V); c)
“Presume-se aceita a nomeação se:… II – o nomeado não comparecer,
ou… nada alegar” (CPC/1973, art. 68, II); d) “… se o denunciado for
revel, ou comparecer apenas para negar a qualidade que lhe foi
atribuída, cumprirá ao denunciante prosseguir na defesa até final”
(CPC/1973, art. 75, II).
9. Para tornar mais prática uma análise dessa natureza por parte do leitor,
tome-se um exemplo da própria lei: “Decai em três anos o direito de
anular as decisões a que se refere este artigo, quando violarem a lei ou
estatuto, ou forem eivadas de erro, dolo, simulação ou fraude” (CC, art.
48, parágrafo único).
10. Para o que aqui interessa, podem-se extrair as seguintes conclusões: a)
quando se diz a lei ou o estatuto, o conetivo está a unir termos de uma
mesma oração, o que explica a ausência de vírgula; b) essa também é a
explicação para a inexistência de vírgula na expressão simulação ou
fraude; c) o outro conetivo liga duas orações – “… quando violarem a
lei ou estatuto, ou forem eivadas de erro…”; d) como as orações por
ele unidas têm uma certa extensão, justifica-se a existência da vírgula
para separá-las.
11. Tome-se também outro exemplo: “Tornando-se ilícita, impossível ou
inútil a finalidade a que visa a fundação, ou vencido o prazo de sua
existência, o órgão do Ministério Público, ou qualquer interessado, lhe
promoverá a extinção, incorporando-se o seu patrimônio, salvo
disposição em contrário no ato constitutivo, ou no estatuto, em outra
fundação, designada pelo juiz, que se proponha a fim igual ou
semelhante” (CC, art. 69).
12. Dele se podem dizer os seguintes aspectos acerca do ou: a) quando se
diz impossível ou inútil e igual ou semelhante, o conetivo está a unir
termos de uma mesma oração, o que explica a ausência de vírgula; b) a
segunda ocorrência do conetivo mostra que ele está a unir duas orações
– “Tornando-se ilícita, impossível ou inútil a finalidade…, ou vencido
o prazo …” – e, como as orações por ele unidas têm uma certa
extensão, justifica-se a existência da vírgula para separá-las; c) nas
demais ocorrências – i) o órgão do Ministério Público, ou qualquer
interessado e ii) no ato constitutivo, ou no estatuto – volta a ocorrer a
união entre termos de mesma oração, e, assim, tais termos não
deveriam ser separados por vírgula.

Ou… ou
Ver Quer… quer… quer… (P. 639)

Ou seja
1. Trata-se de expressão explanatória ou explicativa, a qual, conforme o
caso, pode ser substituída por isto é, a saber, vale dizer. Exs.: a) “Ele
trabalhou dois meses, ou seja, sessenta dias”.
2. Anotando que “a conjunção é invariável”, não apresentando flexão para
o plural, observa Edmundo Dantès Nascimento ser erro escrever “Meia
saca, ou sejam, 30 quilos” (1982, p. 42).
3. Também desse posicionamento é Domingos Paschoal Cegalla (1999, p.
302): “Como equivalente de isto é, essa expressão é invariável”. Ex.: “O
trigo e o arroz, ou seja, os cereais mais consumidos no mundo, não
chegam a muitas bocas”.
4. Desse posicionamento, contudo, diverge Aires da Mata Machado Filho,
partindo de dois exemplos: a) “Um hectare de terra, ou sejam, dez mil
metros quadrados, é suficiente para um pequeno pomar”; b) “Um
hectare de terra, ou seja, dez mil metros quadrados, é suficiente para um
pequeno pomar”.
5. Reputa ele corretos ambos os exemplos: a) no primeiro, há duas orações,
sendo a segunda “ou sejam dez mil metros quadrados”, a qual tem por
finalidade ser “uma espécie de explanação da primeira”, devendo estar o
verbo no plural para concordar com seu predicativo; b) no segundo
exemplo, apenas haveria uma oração, configurando um aposto a
expressão “ou seja dez mil metros quadrados”, sendo, assim, ou seja
mero conetivo, que deve permanecer invariável (MACHADO FILHO,
1969e, p. 1.002).
6. Também na lição de Silveira Bueno, quando “a palavra que vier após a
expressão explicativa – ou seja – for singular ou plural, o verbo ser
concordará com ela em número e pessoa”, justificando tal autor que se
trata de “atração sintática do completivo predicativo sobre o predicado”.
7. E corrobora ele seu ensino com exemplos de autores insuspeitos
(BUENO, 1957, p. 432-3): a) “… que o número de 66.000 vocábulos foi
por este (dicionário) elevado aproximadamente ao duplo, ou sejam
cento e vinte mil e tantos” (Cândido de Figueiredo); b) “… monumentos
que a escultura e a pintura, ou sejam Miguel Ângelo e Rafael, Leonardo
da Vinci e Paulo Veronese e tantos outros, ornaram e constelaram de
maravilhas” (Trindade Coelho).
8. Ante tais posicionamentos, quer pela divergência entre os gramáticos –
caso em que vige o vetusto princípio de que, na dúvida, há liberdade
para o usuário – quer pela autoridade dos escritores que as empregaram
ambas, o melhor parece ser a aceitação das duas variantes, quando a
expressão vier seguida de plural: ou seja e ou sejam.
9. Quanto à pontuação, por sua natureza de locução explanatória, se
permanecer no singular, deve vir entre vírgulas. Nos casos em que se
defende a forma plural (ou sejam), observe-se que a quase totalidade dos
exemplos traz a vírgula apenas antes da expressão e não depois.
10. De qualquer modo, segundo ensino de Arnaldo Niskier (1992, p. 52), é
importante não confundir essa expressão com a locução qual seja, que,
sem discussão alguma, “é variável, formando no plural quais sejam”.
Ver Vírgula obrigatória (P. 777).

Outiva
Ver Oitiva (P. 521).

Outorga uxória do marido – Está correto?


1. De vez em quando, vê-se, em arrazoados forenses, ou mesmo em
sentenças, uma expressão como falta de outorga uxória do marido.
2. Ora, a outorga, nesse caso, é o consentimento de um cônjuge, exigido,
por exemplo, pelo art. 10 do Código de Processo Civil, para que o outro
possa propor determinadas ações.
3. Enquanto, porém, o adjetivo conjugal se refere genericamente a qualquer
dos esposos, já uxório vem do Latim, uxor, uxoris, que significa esposa.
4. Com base na etimologia, vê-se que se pode dizer, assim, outorga uxória
(quando se quer referir ao consentimento da esposa) ou outorga marital
(quando se fala da anuência do esposo), ou mesmo de outorga conjugal
(que é genérico, podendo referir-se a qualquer deles), mas não outorga
uxória do marido, nem outorga marital da esposa, o que, em última
análise, seria verdadeira contradição nos próprios termos.
5. Vê-se, assim, que é preciso cuidado, porque a etimologia e o
desconhecimento do Latim podem acabar pregando peças.
6. Acrescente-se que estaria incorreta a expressão outorga uxória da
esposa, por caracterizar redundância a ser evitada.
Ver Acordo amigável (P. 71).

Outra alternativa – Existe?


1. A indagação a que ora se responde busca saber se está correta a seguinte
frase: “… não lhe restando ao credor outra alternativa, senão procurar
a via judicial”. E se questiona se é correto o emprego de outra, ou se é
dispensável tal vocábulo.
2. Ora, por um lado, a análise do vocábulo alternativa faz ver que nele já
existe um radical (alter) que, em latim, significa outro.
3. Com base em tal argumento da etimologia, até mesmo há quem veja na
expressão outra alternativa um pleonasmo vicioso, uma redundância, que
se há de evitar com a supressão do pronome (RODRÍGUEZ, 2000, p.
390).
4. Não se pode, porém, esquecer que, quando se fala em alternativa, não se
tem necessariamente apenas uma dualidade de posições, de modo que se
pode abrir um leque para uma multiplicidade delas. Ou seja: quando se
fala em alternativas, pode-se estar em face não apenas de duas opções,
mas de várias para escolher.
5. Assim, apesar da aparente redundância perceptível pela etimologia, pode
muito bem ser vernáculo, dependendo da análise do caso concreto, o
emprego da expressão outra alternativa. Ou seja: entre apenas duas
alternativas, dispensável é o pronome outra; em face de mais de duas
opções, entretanto, é correto o emprego do mencionado pronome.

Outrem
1. Significa, basicamente, outra pessoa. Ex.: “O magistrado esperava que
outrem, não o réu, adentrasse na sala de audiências naquela
oportunidade”.
2. Trata-se de palavra paroxítona, sendo errôneas a grafia e a pronúncia
outrém, apesar de Napoleão Mendes de Almeida referir que “era
antigamente acentuado oxitonamente, como alguém, ninguém” (1981, p.
219.).
3. Nesse sentido, espancando dúvidas, o Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, que é o veículo
oficial indicador das palavras existentes em nosso idioma e de sua
correta grafia e pronúncia, registra outrem, sendo, assim, essa a forma
que se há de observar (2009, p. 606).
4. Por sua própria pronúncia, vê-se inexistir razão para acento gráfico.

Outrossim
1. A palavra outrossim merece comentários sobre onde pode ser
empregada, já que é comum em petições, mesmo quando já se utilizou
ademais, por fim, etc.
2. Napoleão Mendes de Almeida (1981, p. 151) dá-lhe por significado
ademais, igualmente, ao mesmo tempo.
3. Anotando tratar-se de palavra que “transita, com abundância, em todos
os tratados de Direito”, conceitua-a Antonio Henriques como “elo de
coesão com ideia de continuidade cujo significado é igualmente,
também, bem assim” (1999, p. 133).
4. Para exemplificar, vejam-se alguns casos de seu emprego, garimpados
em nossa legislação: a) “Quando o seguro versar sobre dinheiro dado a
risco, deve declarar-se na apólice, não só o nome do navio, do capitão,
e do tomador do dinheiro, como outrossim fazer-se menção dos riscos
que este quer segurar…” (Código Comercial [Lei 556, de 25/6/1850],
art. 682); b) … “Indagará outrossim a causa ou causas verdadeiras da
falência, podendo para este fim perguntar as testemunhas que julgar
precisas e sabedoras…” (Código Comercial [Lei 556, de 25/6/1850], art.
818); c) “Ao depositário será facultado, outrossim, requerer depósito
judicial da coisa, quando, por motivo plausível, não a possa guardar, e o
depositante não queira recebê-la” (Código Civil [Lei 10.406, de
10/1/2002], art. 635); d) “Havendo recusa ou mora do devedor, a
obrigação pessoal do devedor converter-se-á em perdas e danos,
aplicando-se outrossim o disposto no art. 633” (Código de Processo
Civil [Lei 5.869, de 11/1/73], art. 638, parágrafo único); e) “Nos
ascensores de edifícios será obrigatória colocação de um banco
individual para o respectivo cabineiro, devendo, outrossim, ser provida
a cabine de um processo de renovação de ar facilitado pela ventilação
da respectiva torre” (Consolidação das Leis do Trabalho [Decreto-lei
5.452, de 1/5/43], art. 215 – redação original).

Ouve-se-o com prazer – Está correto?


1. Trata-se de expressão errada, já que, em Português, o pronome se jamais
combina na mesma frase com o pronome o, a, os, as.
2. O pronome por último referido, em estruturas desse jaez, há de ser o
sujeito (caso reto, portanto), e os pronomes o, a, os, as são do caso
oblíquo, jamais podendo funcionar como sujeito.
3. Corrija-se, assim, tal expressão, por um dos seguintes modos: a)
Colocando em lugar dos pronomes condenados uma palavra que possa
ser sujeito (“Ouve-se o cantor com prazer”); b) Usando o pronome do
caso reto, de indiscutível correção em tais casos, muito embora a muitos
pareça contrária à eufonia (“Ouve-se ele com prazer”); c) Eliminando
simplesmente o pronome oblíquo, que é o ponto de discórdia no caso,
mas isso apenas quando tal é possível sem comprometimento do sentido
do contexto (“Ouve-se com prazer”); d) Transpondo o exemplo para a
voz passiva analítica, situação essa em que errar é mais difícil (“Ele é
ouvido com prazer”); e) Pondo o verbo na primeira pessoa do plural,
adotando-se uma forma determinada, pessoal, com o que se elimina o se
(“Ouvimo-lo com prazer”); f) Empregando o verbo na voz ativa, na
terceira pessoa do plural e sem sujeito explícito (“Ouvem-no com
prazer”).
Ver Cite-se-o – Está correto? (P. 184)

Ouvida
Ver Oitiva (P. 521).

Ouvidor-geral ou Ouvidor geral?


Ver Controlador-geral ou Controlador geral? (P. 230)

Ovni ou Óvni? Ovnis, Óvnis ou Ovni’s?


1. Partindo-se do princípio de que se trata de uma sigla, onde está a forma
correta: Ovni ou Óvni? Ovnis, Óvnis ou Ovni’s?
2. O que se busca saber no caso da consulta são dois aspectos distintos: a) o
modo correto de levar uma sigla para o plural; b) como se porta o acento
gráfico nas siglas e, de modo específico, na palavra referida.
3. Quanto ao primeiro aspecto, parece integralmente aceitável a lição de
Napoleão Mendes de Almeida (1981, p. 298) de que se pluralizam as
siglas pelo acréscimo de um s minúsculo às letras já integrantes delas:
CEPs, CICs, RGs.
4. Desse entendimento também é Arnaldo Niskier, para quem “não há
motivos para não marcar o plural das siglas com um s minúsculo” (1992,
p. 111).
5. Regina Toledo Damião e Antonio Henriques também partilham do
mesmo entendimento de que, “com respeito ao plural das siglas, aceita-
se o uso do s (minúsculo) para efeito de pluralização: PMS, INPMs,
MPs” (1994, p. 245).
6. Tal uso de um s minúsculo ao final da sigla, para Edmundo Dantès
Nascimento, “é uma solução gráfica sem aprovação de convenção acerca
do assunto, mas que resolve o caso” (1982, p. 208).
7. Ressalve-se, todavia, que a pluralização da sigla, em tais casos, se dá
com a simples junção de um s minúsculo, e não mediante emprego de
algum apóstrofo: CEPs, CICs, RGs, e não CEP’s, CIC’s, RG’s.
8. E, quanto ao segundo aspecto da consulta, é entendimento pacífico que
não se acentuam as siglas, como é fácil perceber em PETROBRAS (que
seria acentuada por se tratar de oxítona terminada por a e em SESI (que
seria acentuada por ser paroxítona terminada por i).
9. Parece importante ressaltar, a esta altura, que, não se deve confundir as
siglas com as abreviaturas, e isso porque, diversamente das siglas, as
abreviaturas devem ser acentuadas, se o acento estiver na parte que
permanece da palavra abreviada. Exs.: fábr. (de fábrica), pág. (de
página), téc. (de técnica).
10. Observa-se, por fim, em termos práticos, para a solução final do
problema, um pormenor de extremo significado. E, para dar solução
adequada à questão, fixa-se por premissa que a Academia Brasileira de
Letras, desde o início do século XX, por delegação conferida por lei,
tem a autoridade para listar os vocábulos pertencentes ao vernáculo, e
ela o faz por meio da publicação periódica do Vocabulário Ortográfico
da Língua Portuguesa.
11. Pois bem. Em sua edição mais recente, o VOLP registra a palavra óvni,
assim minúscula, com acento gráfico, e especifica que se trata não mais
de uma sigla, e sim de um substantivo masculino (ACADEMIA
BRASILEIRA DE LETRAS, 2009, p. 606), o que, obviamente,
permite a normal acentuação gráfica e pluralização do vocábulo (óvni,
óvnis).
12. Em síntese: a) óvni é, na atualidade, em nosso idioma, um substantivo
masculino, e não uma sigla; b) como vocábulo normal, por se tratar de
palavra paroxítona terminada por i, recebe acento agudo na vogal
tônica (óvni); c) por fim, seu plural se forma regularmente pela adição
de um s (óvnis).

Ovos caipiras ou Ovos caipira?


Ver Tapetes persas ou Tapetes persa? (P. 727)

Oxítona
1. Palavra oxítona é aquela em que se pronuncia com mais força a última
sílaba, não importando se o vocábulo tem ou não acento gráfico: ju-ri-ti,
ca-fe-zal, ca-fé.
2. Por determinação já antiga, mantida de modo específico pelo Acordo
Ortográfico de 2008, acentuam-se graficamente as oxítonas terminadas
por a(s), e(s), o(s), em, ens. Exs.: jacarandá(s), ipê(s), rapé(s), avô,
avós, refém, armazéns.
3. Quanto aos monossílabos, são acentuados os tônicos terminados por
a(s), e(s), o(s), como pá(s), pé(s), pó(s).
4. Em comparação com as oxítonas, vale observar que não se acentuam os
monossílabos tônicos terminados por em ou ens: bem, trem, nem.
5. Também vale acrescentar que um monossílabo pode vir a ser acentuado
por outra razão (como por exemplo, por motivo da existência de um
ditongo aberto): réis, véu, dói.
6. Por conclusão extraída da própria regra, se não houver outra razão, não
serão graficamente acentuadas as oxítonas terminadas por i(s) ou por
u(s): tupi, sacis, urutu, cajus.
7. Muito cuidado, porém, com as terminações i(s) e u(s), nos casos de
hiato, em que pode ocorrer acento: saí, jaú.
8. Oportuno é observar que são oxítonos os vocábulos recém, refém, ruim.
Ver Acento diferencial de número (P. 65), Acento diferencial de timbre (P.
66), Acento diferencial de tonicidade (P. 66) e Paroxítonas – Quando
acentuar? (P. 551)
P
Paço da Liberdade ou paço da Liberdade?
Ver Rua Caiubi ou rua Caiubi? (P. 675)

Padecer de verossimilhança – é correto?


1. Uma leitora, depois de encontrar mais de uma vez empregada, no meio
jurídico, a expressão padecer de verossimilhança para significar que algo
não tem aparência de verdadeiro, indaga se é correta e por quê.
2. Uma busca ao dicionário revela que verossímil ou verossimilhante é a
qualidade positiva de algo semelhante à verdade, que parece verdadeiro,
que é provável por não contrariar a verdade.
3. Por outro lado, o verbo padecer, com acepção negativa, quer dizer sofrer,
ser afligido ou ser atormentado por alguma coisa.
4. Só com essas explicações já se vê que alguma coisa, no aspecto positivo,
detém verossimilhança e, assim, é verossimilhante, quando aparenta
traços de verdade; ou, no aspecto negativo, padece de inverossimilhança,
ou é inverossimilhante, quando não traz aparência de elementos
verdadeiros, nem é provável, por contrariar a verdade.
5. Pelo próprio conteúdo semântico dos vocábulos analisados, vê-se que,
quando se quer dizer que algo não tem aparência de verdadeiro, então
carece de verossimilhança, ou padece de inverossimilhança, ou mesmo
padece de falta de verossimilhança. Mas não parece adequado e
apropriado falar em padecer de verossimilhança para significar
exatamente ser verossimilhante, vale dizer, num sentido positivo.

Pagado ou Pago?
Ver Pago ou Pagado? (P. 542)

Pagar
1. Quanto à regência verbal, tem tal verbo duas transitividades: a) é
transitivo direto, se o complemento é coisa. Exs.: i) “O perdedor pagou
o valor devido”; ii) “O perdedor pagou-o”; b) É transitivo indireto, se o
complemento é pessoa. Exs.: i) “O vencido pagou ao vencedor”; ii) “O
vencido pagou-lhe”.
2. Pode ser construído, ao mesmo tempo, com os dois complementos. Exs.:
a) “O vencido pagou o valor devido ao vencedor”; b) “O vencido pagou-
lho”.
3. Na síntese de Artur de Almeida Torres, ele “rege acusativo de coisa
(objeto direto) e dativo de pessoa (objeto indireto): pagar alguma coisa a
alguém” (1967, p. 213).
4. Após referir que alguns empregam tal verbo fazendo da pessoa o objeto
direto, Mário Barreto leciona ser essa uma “construção de todo
rejeitável”, porquanto “o regime de pessoa deve aqui aparecer como
complemento indireto” (BARRETO apud TORRES, 1966, p. 178).
5. Outra não é a lição de Cândido de Figueiredo: “É verdade que o nosso
velho Morais empregou as expressões: pagar as tropas, os criados, as
dívidas. As dívidas, bem está; mas pagar os criados parece-me que foi
precipitação ou lapso do respeitado dicionarista, tanto mais que,
aduzindo textos clássicos, não citou um único em abono daquela sintaxe:
pagar os criados” (FIGUEIREDO apud TORRES, 1966, p. 178).
6. Em oportuna observação para os meios jurídicos, lembram Antonio
Henriques e Maria Margarida de Andrade que “a boa sintaxe requer,
com o verbo pagar, objeto indireto de pessoa. Na linguagem dos códigos
não se acha exemplo do objeto direto de pessoa; este pode aparecer em
escritores modernos, no uso da linguagem coloquial, em determinados
contextos. A sintaxe clássica reponta no conhecido adágio: Quem deve a
Pedro e paga a Gaspar torna a pagar” (1999, p. 103).
7. Fundado em lição de Mário Barreto e atento aos deslizes da linguagem
forense, observa Edmundo Dantès Nascimento (1982, p. 109) que uma
frase como “Pagar o mestre”, em realidade, é “construção de todo
rejeitável. O regime de pessoa deve aqui aparecer como complemento
indireto”.
8. Na lição de Celso Pedro Luft, “puristas logicistas só aceitam objeto
indireto de pessoa com este verbo, condenando a sintaxe evoluída pagar
alguém, pagá-lo”.
9. E continua, esteando-se em exemplos apenas de autores do século XX:
“Esta, no entanto, é de uso frequente e, até literariamente, bem
documentada”.
10. Mas finaliza, nesse aspecto: “Pode-se dizer que, na língua escrita
formal, a sintaxe pagar a alguém, pagar-lhe é preferível a pagar
alguém, pagá-lo” (LUFT, 1999, p. 388).
11. Os textos legais, por via de regra, observam as determinações da
Gramática quanto à regência do verbo pagar, fazendo da coisa o objeto
direto (com possibilidade de ser sujeito da voz passiva) e da pessoa o
objeto indireto, nada impedindo que coexistam ambos os
complementos em mesma oração. Exs.: a) “Aquele que semeia… em
terreno próprio, com … materiais alheios… fica obrigado a pagar-lhes
o valor,… se obrou de má-fé” (CC/1916, art. 546); b) “Aquele que
semeia… de má-fé… poderá ser constrangido… a pagar os prejuízos”
(CC/1916, art. 547); c) “Se, porém, as referidas coisas forem avaliadas
no título constitutivo do usufruto, salvo cláusula expressa em
contrário, o usufrutuário é obrigado a pagá-las pelo preço da
avaliação” (CC/1916, art. 766, parágrafo único); d) “Ao credor por
esta caução compete o direito de: … II – fazer intimar ao devedor dos
títulos caucionados, que não pague ao seu credor, enquanto durar a
caução” (CC/1916, art. 792, II); e) “O depositante é obrigado a pagar
ao depositário as despesas feitas com a coisa, e os prejuízos que do
depósito provierem” (CC/1916, art. 1.278); f) “A matrícula deve ser
feita no porto do armamento da embarcação, e conter: … 4. As
quantias adiantadas, que se tiverem pago ou prometido pagar…” (C.
Com., art. 467, 4); g) “No caso de fraude da parte do segurado, além
de nulidade do seguro, será este condenado a pagar ao segurador o
prêmio estipulado em dobro…” (C. Com., art. 679).
12. Quanto aos exemplos inicialmente dados, será correto dizer: a) “Pagar
o passivo” (e, portanto, pagá-lo); b) “Pagar aos credores” (e, portanto,
pagar-lhes); c) “Pagar o passivo aos credores” (e, portanto, pagar-
lhos).
Ver Pagar contra recibo – Está correto? (P. 542), Pago ou Pagado? (P. 542),
Verbos abundantes (P. 759), Voz passiva – Quando é possível? (P. 793), Voz
passiva e Verbos não transitivos diretos (P. 792) e Voz passiva sintética (P.
794).

Pagar contra recibo – Está correto?


1. Apesar de seu frequente uso nos meios jurídicos, uma cuidadosa
consulta a um bom dicionário revelara ser galicismo a expressão pagar
contra, descabendo ao referido vocábulo que o acompanha qualquer
sentido que justifique tal emprego.
2. Nesse sentido é a lição de Vitório Bergo (1944, p. 65), para quem
expressões como pagar contra reembolso configuram sintaxe francesa,
que se deve evitar, substituindo-se a expressão por pagar mediante
reembolso.
Ver Pagar (P. 541).

Página dois ou Páginas duas?


1. Na lição de Eduardo Carlos Pereira (1924, p. 312), quando se trata de
“longas séries, como as páginas de um livro ou as casas de uma rua,
emprega-se pelo ordinal o cardinal, que se conserva invariável”, assim
exemplificando tal gramático: “página vinte e dois, por vigésima
segunda; casa trinta e um, por trigésima primeira”.
Ver A folhas vinte e duas – Como é a forma correta? (P. 94)

Pago ou Pagado?
1. Quanto à conjugação verbal e ao emprego de seu particípio passado, é de
comum ensino que se usa o verbo pagar apenas na forma irregular
(pago), e isso com qualquer auxiliar, lembrando mesmo Otelo Reis
(1971, p. 91) que, “quanto ao particípio regular pagado, não existe mais
na linguagem hodierna”, lição essa a que tal autor ainda acresce, em
outra passagem, que “a forma regular é absolutamente desusada”. Exs.:
a) “O réu tinha pago a pena”; b) “A pena foi paga pelo réu”.
2. Nos dizeres de Édison de Oliveira (s/d, p. 121), na linguagem
contemporânea, “estão fora de uso as formas ganhado, gastado e
pagado, não só com o auxiliar ser, mas também com o auxiliar ter”,
motivo por que “estão, pois, superadas construções como: a) ‘Nós
teríamos ganhado a partida’; b) ‘Ele tinha gastado o tempo
inutilmente’; c) ‘Tínhamos pagado tudo o que devíamos’; devendo-se
preferir: a) ‘Nós teríamos ganho a partida’; b) ‘Ele tinha gasto o tempo
inutilmente’; c) ‘Tínhamos pago tudo o que devíamos’”.
3. Tal tendência ao uso do verbo pagar na forma participial irregular, tanto
na voz ativa quanto na passiva, é antiga, sendo raros os exemplos em
contrário.
4. Aires da Mata Machado Filho (1969b, p. 783), a esse respeito, transcreve
interessante lição de Antenor Nascentes, que resume a questão: “Na
língua viva atual, quer com o auxiliar ter, quer com ser, só se usam os
particípios irregulares ganho, gasto e pago… Na língua antiga, o regular
domina”.
5. Também de oportuna transcrição o ensinamento de Celso Cunha: “De
outrora se usavam normalmente os dois particípios. Na linguagem atual
preferem-se, tanto nas construções com o auxiliar ser como naquelas em
que entra o auxiliar ter, as formas irregulares ganho, gasto e pago, sendo
que a última substituiu completamente o antigo pagado” (1970, p. 216).
6. Fundando-se em lição de Said Ali e anotando que pagado e pago são
“formas de particípio passado do verbo pagar correntes em antigos
documentos e na época clássica”, também Antonio Henriques (1999, p.
134-5) assegura que, “hoje, a forma pago suplantou a forma pagado”.
7. Em mesma esteira, para Cândido de Oliveira, “ganho, gasto, pago, pego
são usados indiferentemente para ambas as vozes (com qualquer
auxiliar)”, e “os particípios ganhado, gastado, pagado, pegado tendem a
desaparecer” (1961, p. 205).
8. Para Domingos Paschoal Cegalla, pagado é “forma obsoleta, suplantada
pela forma irregular pago” (1999, p. 304).
9. Para Regina Toledo Damião e Antonio Henriques (1994, p. 242),
“pagado está em desuso” na atualidade.
10. Para Vitório Bergo, “os particípios fortes ganho, gasto, pago, salvo
tendem a suplantar as formas em ado, pois que se usam normalmente
com os dois tipos de auxiliares” (1943, p. 182).
11. Quanto a pagado, Sousa e Silva observa que “vai caindo em desuso
este particípio, quase sempre substituído pela forma pago” (1958, p.
202).
12. Observe-se, porém, que Evanildo Bechara (1974, p. 110) acata para
esse verbo os particípios regular e irregular.
13. De igual modo, Cândido Jucá Filho (1963, p. 461), sem quaisquer
explicações adicionais, especifica indiferentemente os particípios pago
e pagado, exemplificando com autor de abalizada autoridade: a) “Estas
duas têm pagado bem seu tributo à asneira” (Camilo Castelo Branco).
14. Também para Eduardo Carlos Pereira (1924, p. 141), por um lado, os
particípios irregulares pago, ganho e gasto “podem empregar-se na voz
ativa com os verbos ter e haver”; por outro lado, “muitas formas
regulares”, como, por exemplo, ganhado, gastado, “podem ser
empregadas na passiva com os verbos ser e estar”.
15. Pasquale Cipro Neto e Ulisses Infante (1999, p. 175) consideram pagar
um verbo abundante, sendo para tais autores perfeitamente possível o
emprego do particípio passado regular (pagado), o qual deverá ser
usado com os auxiliares ter e haver.
16. Muito embora até se possa dizer que a norma culta, na atualidade,
tenha preferência pelo particípio passado pago tanto para seu uso com
os verbos ter e haver quanto ser e estar, o certo é que ainda não se
pode dizer que o particípio pagado esteja em completo desuso ou que
seu emprego esteja errado; é ele certo e há de ser usado com os verbos
ter e haver.
Ver Pagar (P. 541), Verbos abundantes (P. 759) e Voz passiva e Verbos não
transitivos diretos (P. 792).

Paina
Ver Roraima (P. 675).

Paisano ou A paisano?
1. Um leitor parte do princípio de que paisano é um substantivo masculino
e indaga como aplicar tal vocábulo em expressões como a paisano.
2. Observa-se, num primeiro aspecto, que paisano pode ser um substantivo
ou adjetivo. Nesse caso, normalmente, tem o sentido de pessoa natural
de certa região, e não parece haver dificuldade no emprego ou
concordância do vocábulo. Exs.: a) “Os paisanos se diferenciavam dos
turistas quanto às vestes, ao modo de proceder e de se alimentar”
(substantivo); b) “As camponesas paisanas pareciam mais recatadas que
as turistas” (adjetivo).
3. Num segundo aspecto, importa anotar que existe a expressão invariável à
paisana, a significar militar em trajes civis (e, por extensão, qualquer um
que normalmente se vista de modo diferenciado e que, em certa situação,
esteja com vestes informais). Exs.: a) “Em seu dia de folga, os militares
desceram à paisana e foram divertir-se no clube da cidade”; b) “De
olhar, conheço um padre, ainda que à paisana”.
4. Resumindo para a indagação da consulta: a) A expressão é à paisana, e
não a paisano; b) Tal expressão, em português, tem normalmente o
significado de em trajes civis; c) Não importando outras variações
sintáticas na frase, permanece ela invariável; d) O correto é dizer
“Fulano estava à paisana” ou “Beltrano estava à paisana”, e não
“Fulano estava a paisano” ou “Beltrano estava a paisano”; e) Também
não é correto dizer “Fulano estava paisano” ou “Beltrano estava
paisano”.

Palácio da Justiça ou palácio da Justiça?


Ver Rua Caiubi ou rua Caiubi? (P. 675)

Palavra
Ver Partição silábica entre as linhas (P. 551).

Palavra bifronte
Ver Alugar (P. 107).

Palavras atrativas
Ver Próclise (P. 603).
Palavras com regências diversas
Ver Verbos com regências diversas (P. 760).

Palavras de mesmo radical


Ver Uso abusivo – Está correto? (P. 752)

Palavras e Expressões latinas


1. Na linguagem do Direito, empregam-se, com frequência, palavras e
expressões latinas, quer porque o significado dos conceitos se foi
sedimentando com maior propriedade na língua mãe, quer porque o uso,
ao longo do tempo, consagrou fórmulas que, ditas em latim, parecem
possuir maior força e propriedade do que no vernáculo.
2. Assim, por exemplo, na análise de uma das condições específicas da
ação cautelar, há de verificar-se a existência do fumus boni juris,
expressão essa conhecida de todos os operadores do Direito, a qual não
guarda a mesma extensão de significado quando traduzida para fumaça
do bom direito.
3. O emprego das citações latinas, entretanto, deve, por um lado, ser
parcimonioso, quer para não significar ostensiva afetação, quer para que
o texto seja inteligível por um número maior de pessoas, sobretudo em
época de tão pouco estudo desse idioma.
4. Ao depois, em tais citações se devem observar algumas regras de suma
importância: a) em palavras latinas, não se põe acento gráfico, que não
existia na língua mãe; b) em expressões latinas, também não se emprega
o hífen, que, de igual modo, não era lá empregado; c) porque
pertencentes os vocábulos ou expressões a outro idioma, devem vir entre
aspas, em negrito, em itálico, com sublinha ou com qualquer outro sinal
indicador de tal circunstância.
5. Veja-se, assim, a correta grafia de alguns vocábulos e expressões: ad
corpus (venda pelo todo, sem especificação de medida), ad hoc (para
isso, para determinado ato), ad quem (diz-se do termo final de um prazo
ou do tribunal a que se dirige um recurso), data venia (com a devida
permissão), de cujus (aquele de cuja sucessão se trata), ex adversa (diz-
se da parte contrária), ex cathedra (com autoridade de quem conhece), ex
jure (segundo o Direito), ex nunc (a partir de agora, sem efeito
retroativo), ex officio (de ofício, em decorrência da própria função ou
cargo), ex professo (com conhecimento de causa, magistralmente), ex
tunc (desde o início, com efeito retroativo), ex vi (por força), ex vi legis
(por força de lei), habeas corpus (que tenhas corpo), in fine (ao final),
lato sensu (em sentido amplo), pari passu (passo a passo, em todas as
etapas), pro forma (por formalidade), stricto sensu (em sentido estrito),
venia concessa (concedida a permissão).
6. Os próprios textos de lei – em discutível proceder para a atual técnica de
elaboração legislativa, que preconiza se evitem vocábulos estrangeiros
desnecessários nas disposições legais – quando se põem a empregar
expressões latinas, acabam, às vezes, por complicar-se.
7. Exemplo de uso equivocado encontra-se na redação oficial do art. 61, §
2º, da Lei 4.380, de 21/8/64, que regulamentou diversos aspectos dos
contratos imobiliários: “As escrituras, no entanto, consignarão
obrigatoriamente que as partes contratantes adotam e se comprometem
a cumprir as cláusulas, termos e condições a que se refere o parágrafo
anterior, sempre transcritas verbum ad verbum no respectivo cartório ou
ofício, mencionado inclusive o número do livro e das folhas do
competente registro”.
8. Ora, em latim, a expressão é verbo ad verbum, que tem o sentido de
palavra por palavra ou literalmente.
9. Tem ela por sinônimas as expressões ipsis litteris, in verbis, ipsis verbis
e ad litteram.
Ver Citar latim é perigoso (P. 183).

Pane – Um ou uma?
1. Um leitor ouviu, em transmissão esportiva, a seguinte frase: “Deu um
pane na seleção brasileira”. E traz duas indagações: a primeira é se pane
é palavra do português; a segunda é se, em caso positivo, deve-se dizer
um pane ou uma pane.
2. Ora, sempre é bom lembrar – até para criar no leitor o hábito salutar de
um raciocínio que se repete em tal situação – que, quando se quer saber
se uma palavra existe ou não em português, ou mesmo qual é seu gênero,
grafia e/ou pronúncia, ou qual o seu plural quando foge à normalidade,
deve-se tomar por premissa o fato de que a autoridade para listar
oficialmente os vocábulos pertencentes ao nosso idioma e para definir-
lhes as demais peculiaridades e circunstâncias, é a Academia Brasileira
de Letras.
3. E essa autoridade, a ABL a exerce por via da edição do Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa.
4. Uma simples consulta ao VOLP (2009, p. 614) mostra dois aspectos
quanto ao vocábulo da consulta do leitor: a) pane é palavra perfeitamente
registrada como integrante do vernáculo; b) pertence ao gênero feminino
(uma pane, e não um pane).
5. Em reposta ao leitor, confiram-se os seguintes exemplos, com a
indicação de sua correção ou erronia entre parênteses: a) “Deu um pane
na seleção brasileira” (errado); b) “Deu uma pane na seleção
brasileira” (correto).

Papas – Como ler seu número?


Ver Números – Como ler e Empregar? (P. 506)

Papel em branco – Está correto?


1. Na lição de Luís A. P. Vitória, “não se diga papel em branco, mas papel
branco. Ex.: ‘Queira dar-me uma folha de papel branco’. Assim querem
os puristas” (1969, p. 43).
Ver Em ouro – Galicismo? (P. 310)

Para
Ver No sentido de… – Está correto? (P. 502)

Para baixo e Para cima de


Ver Com ou sem – Está correto? (P. 198)

Parabenizar – Existe?
1. Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (s/d, p. 1.032), em seu dicionário,
registra tal vocábulo.
2. Diverso, entretanto, é o entendimento de Napoleão Mendes de Almeida,
para quem, além da necessidade de uma palavra ser formada de acordo
com as regras previstas por nosso idioma – o que parece obedecido no
caso sob análise – a inserção de um neologismo em nosso léxico
vincula-se também à inexistência de outra palavra adequada para
expressar a ideia.
3. E, no caso, para tal autor, a existência de sinônimos perfeitos, como
cumprimentar e felicitar, tornaria desnecessária a inovação, reputada por
ele mera extravagância (ALMEIDA, 1981, p. 224).
4. Espancando, entretanto, toda dúvida acerca da possibilidade de emprego
do referido vocábulo, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa,
da Academia Brasileira de Letras, que é o veículo oficial para dirimir
dúvidas acerca da existência ou não de vocábulos em nosso idioma,
registra a mencionada palavra (2009, p. 618), o que implica dizer que
seu uso está plena e oficialmente autorizado entre nós.

Para compor ou Para comporem?


1. Um leitor diz ter dúvidas quanto à flexão do verbo em frases como: a)
“Designar servidores para compor comissão…”; b) “Designar
servidores para comporem comissão…”
2. Para se ver que essa é uma dúvida trazida de modo recorrente, outro
leitor indaga qual ou quais as formas corretas nos seguintes exemplos: a)
“Nosso pai sempre nos incentivou a ser fortes”; b) “Nosso pai sempre
nos incentivou a sermos fortes”; c) “A miséria compele-nos a não ter
prurido”; d) “A miséria compele-nos a não termos prurido”; e) “…
comportamentos a ser adotados…”; f) “… comportamentos a serem
adotados…”.
3. Em frases como as apontadas, o que se tem é um verbo no infinitivo e
precedido por uma preposição – para ou a. E a questão, em suma, busca
resposta para a seguinte indagação: Usa-se o infinitivo não flexionado
(compor ou ser) ou o infinitivo pessoal (comporem ou sermos), quando
precedido pela preposição para ou a?
4. Quanto ao uso do infinitivo flexionado ou não, de um modo geral,
leciona Said Ali que a escolha depende de cogitarmos somente da ação
ou do intuito ou da necessidade de pormos em evidência o agente da
ação: no primeiro caso, preferimos o infinitivo não flexionado; no
segundo, o flexionado (ALI apud CUNHA, 1970, p. 230).
5. Também para Hêndricas Nadólskis e Marleine Toledo, “muitas vezes, a
opção entre a forma flexionada ou não flexionada é estilística e não
gramatical. Quando mais importa a ação, prefere-se a forma não
flexionada; quando se realça o agente da ação, usa-se a forma
flexionada” (1998, p. 125).
6. Celso Cunha (1970, p. 126), que cita o primeiro autor, em
complementação, diz tratar-se, em verdade, de um emprego seletivo,
mais do terreno da Estilística do que, propriamente, da Gramática.
7. Assim também leciona Artur de Almeida Torres (1966, p. 151-252) a
esse respeito: “o infinitivo poderá variar ou não, a critério da eufonia, se
vier precedido das preposições sem, de, a, para ou em”. Exs.: a) “Vamos
com ele, sem nos apartar um ponto” (Padre Antônio Vieira); b) “… os
levavam à pia batismal sem crerem no batismo” (Alexandre Herculano);
c) “Careciam de obstar a que se escrevesse o que faltava do livro”
(Alexandre Herculano); d) “Os manuscritos de Silvestre careciam de
serem adulterados” (Camilo Castelo Branco); e) “Obrigá-los a voltar o
rosto contra os árabes” (Alexandre Herculano); f) “… obrigava a
trabalharem gratuitamente” (Alexandre Herculano); g) “… fanatizados
que aparecem sempre para justificar o bom quilate da novidade”
(Camilo Castelo Branco); h) “… tantos que nasceram para viverem uma
vida toda material” (Alexandre Herculano).
8. Veja-se que eufonia, em última análise, significa um som agradável, e a
atenta leitura mostra que os exemplos acima não repeliriam outra
construção, como é fácil verificar: a) “Vamos com ele, sem nos apartar
…”; b) “Vamos com ele, sem nos apartarmos …”; c) “… os levavam à
pia batismal sem crerem no batismo”; d) “… os levavam à pia batismal
sem crer no batismo”; e) “Obrigá-los a voltar o rosto contra os árabes”;
f) “Obrigá-los a voltarem o rosto contra os árabes”; g) “… fanatizados
que aparecem sempre para justificar o bom quilate da novidade”; h) “…
fanatizados que aparecem sempre para justificarem o bom quilate da
novidade”; i) “… tantos que nasceram para viverem uma vida toda
material”; j) “… tantos que nasceram para viver uma vida toda
material”.
9. Nesse assunto de uso do infinitivo flexionado ou não flexionado,
resguardados certos parâmetros mínimos de correção, de bom-senso e de
eufonia, é oportuno rememorar a frase de José Oiticica, de que Aires da
Mata Machado Filho (1969f, p. 324) lamentou não ter sido o autor, de
modo que lhe restava apenas a satisfação de repetir: “Mandem os
gramáticos às favas e empreguem o infinitivo à vontade”.
10. Tais palavras, a bem da verdade, não deixam de ter suporte no que
Júlio Nogueira disse com muita propriedade: “Além das sumárias
indicações…, difícil será estabelecer regras seguras. É este um dos
assuntos que têm dividido os competentes na matéria, dando lugar a
fortes dissídios. Em alguns casos, a preferência entre a forma
invariável e a variável é apenas de intuição natural, por eufonia,
orientação perigosa, pois o que a uns parece agradável ao ouvido, a
outros soa mal. Nisto, como no mais, os clássicos não são acordes, nem
podem, pela prática generalizada, servir de modelo” (1939, p. 219-20).
11. Remate-se com a observação de Pasquale Cipro Neto e Ulisses Infante
(1999, p. 491) de que “o infinitivo constitui um dos casos mais
discutidos da língua portuguesa”, e “estabelecer regras para o uso de
sua forma flexionada, por exemplo, é tarefa difícil” e, “em muitos
casos, a opção é meramente estilística”.
12. De modo prático para os exemplos da primeira consulta, deve-se dizer
que, em todos os casos em que o infinitivo vem precedido de
preposição dessa natureza (sem, de, a, para ou em), estão corretos
ambos os modos de fala: a) “Designar servidores para compor
comissão…”; b) “Designar servidores para comporem comissão…”
13. E, quanto aos exemplos da segunda consulta, também todos os
exemplos estão igualmente corretos: a) “Nosso pai sempre nos
incentivou a ser fortes”; b) “Nosso pai sempre nos incentivou a sermos
fortes”; c) “A miséria compele-nos a não ter prurido”; d) “A miséria
compele-nos a não termos prurido”; e) “… comportamentos a ser
adotados…”; f) “… comportamentos a serem adotados…”.
Ver Uso do infinitivo (P. 752).
Para eu ler ou Para mim ler?
1. Em frases como “Ela trouxe os autos para eu ler”, a preposição não está
regendo o pronome eu, mas o verbo ler, motivo por que a ligação
sintática é “Trouxe os autos para ler”, e não “Trouxe os autos para
mim”.
2. Observe-se, assim, o uso adequado e correto do pronome nos exemplos
seguintes: a) “Trouxe os autos para mim” (correto); b) “Trouxe os autos
para mim ler” (errado); c) “Trouxe os autos para eu ler” (correto); d)
“Para mim, ler os autos é tarefa demorada” (correto); e) “Para eu ler os
autos, preciso de umas duas horas” (correto).
3. Na lição de Laudelino Freire, tal maneira de falar constitui “indisfarçável
solecismo, que provém de uma falsa suposição, isto é, de que a
preposição para esteja regendo o pronome, e não o verbo, como de fato
ela está regendo” (s/d, p. 26).
4. Em casos dessa natureza, significativo é o lembrete de Luiz Antônio
Sacconi: “não aparecendo verbo posposto, claro está que o pronome já
não será sujeito” (1979, p. 65).
5. Anote-se, todavia, que a existência de verbo no infinitivo não é
necessariamente um sinal de que o pronome seja seu sujeito, fato esse
que se comprova com a própria alteração de ordem dos termos da
oração. Exs.: a) “Para mim, ler os autos é tarefa demorada” (correto); b)
“Ler os autos é tarefa demorada para mim” (correto).
6. Em complementação a esse aspecto, atente-se à oportuna observação de
Édison de Oliveira (s/d, p. 132) de que, “às vezes, por troca de ordem, o
infinitivo, que não devia estar após esses pronomes, acaba por ocupar
essa posição e, nesse caso, mantêm-se as formas mim e ti”. Ex.: “Para
mim ir ou ficar não faz diferença” (= “Ir ou ficar não faz diferença para
mim”).
Ver Pronome pessoal (P. 614).

Parágrafo – Como ler seu número?


Ver Números – Como ler e Empregar? (P. 506)
Parágrafo único
1. Ilustrativa, a respeito, a lição de Eliasar Rosa (1993, p. 104), fundado em
ensinamento de Napoleão Mendes de Almeida: “O símbolo do parágrafo
é §, constituído de dois ss entrelaçados, iniciais das palavras signum
sectionis = sinal de secção, de corte. Quando, porém, só há um
parágrafo, não se usa o símbolo, mas escreve-se a palavra. Assim:
Parágrafo único. Nos artigos de lei, serve o parágrafo para discriminar
casos particulares”.
2. De conformidade com a lição de Juarez de Oliveira e Marcus Cláudio
Acquaviva, “quando houver apenas um parágrafo após o caput do artigo,
deverá a palavra parágrafo constar por extenso, assim: ‘Parágrafo
único…’” (1975, p. 6).
3. De Adalberto J. Kaspary vem interessante observação: “Enquanto é da
tradição legislativa brasileira escrever-se por extenso parágrafo único,
empregando-se, nos demais casos, o signo correspondente § (signum
sectionis), em Portugal, mesmo no caso de parágrafo único, aparece a
representação pelo sinal abreviativo: § único” (1996, p. 12).

Parágrafo único ou § único?


1. A dúvida trazida busca saber se o correto é escrever parágrafo único ou §
único?
2. O art. 59, caput, da Constituição Federal de 1988 esclarece que o
processo legislativo compreende a elaboração de emendas à
Constituição, leis complementares, leis ordinárias, leis delegadas,
medidas provisórias, decretos legislativos e resoluções. E o parágrafo
único do referido dispositivo ordena, na sequência, que “lei
complementar disporá sobre a elaboração, redação, alteração e
consolidação das leis”.
3. Em cumprimento à mencionada disposição constitucional, foi editada a
Lei Complementar 95, de 26/2/98, a qual, antes de passar ao regramento
específico, adicionou ao rol dos itens sob sua regência os “decretos” e
“demais atos de regulamentação expedidos por órgãos do Poder
Executivo” (art. 1º, parágrafo único).
4. Como se vê, por um lado, impõe-se fixar a premissa de que, em nosso
sistema, existe lei própria regulamentando o modo de redigir e citar as
disposições de lei. Por outro lado, importa esclarecer que os pontos a
serem observados, para o item trazido pela dúvida, encontram-se
especificados em três regras postas no art. 10, III, da citada lei: a) “os
parágrafos serão representados pelo sinal gráfico ‘§’”; b) esse símbolo
será “seguido de numeração ordinal até o nono e cardinal a partir
deste”; c) quando existente apenas um parágrafo, usar-se-á “a expressão
‘parágrafo único’ por extenso”.
5. Desse modo, sintetiza-se assim a resposta à questão trazida pelo leitor: a)
não é aleatório o modo de elaborar e redigir as leis, mas segue ele
determinações específicas postas em lei; b) também não fica ao alvitre
do usuário a forma como citar e especificar seus itens; c) assim, quando
houver um só parágrafo no dispositivo legal, é obrigatório escrever
parágrafo único; d) já quando houver mais de um parágrafo, será
obrigatório empregar o símbolo §; e) na sequência de tal símbolo, o
numeral será ordinal até o nono (1º, 2º, 3º…, 9º); f) do décimo em
diante, o numeral será cardinal (10, 11, 12…).
6. Na prática, diretamente em resposta à dúvida trazida pelo leitor: a) as
formas corretas de escrita são obrigatoriamente parágrafo único e § 1º;
b) não é correto escrever nem § único, nem parágrafo 1º; c) pelos
dispositivos da lei que rege a matéria, não é aleatório o emprego de tais
formas, nem fica ao alvitre do leitor a opção por uma delas, que não a
indicada pela lei.
7. Uma curiosidade final. O símbolo § equivale a dois esses entrelaçados.
Sua criação tem origem na expressão latina signum sectionis, ou seja,
um sinal de seção ou sinal de corte. Para efeitos jurídicos, isso quer
significar que o trecho representado pelo parágrafo, por sua importância
em termos de tratamento legislativo, está apartado ou separado daquilo
que o texto legal tratou no caput do dispositivo a que ele pertence.

Paralelismo das formas verbais


Ver Consecução dos tempos verbais (P. 219).

Para lhe enviar ou Para enviar-lhe?


1. É muito comum surgir a dúvida sobre qual das seguintes formas de
colocação pronominal é correta: “Aproveitamos também para lhe
enviar…” ou “Aproveitamos também para enviar-lhe…”
2. Fixe-se, para conceituar, que, quando o pronome pessoal oblíquo átono
se põe antes do verbo, diz-se que há próclise: “O advogado se atrasou”;
já quando tal pronome se posta depois do verbo, diz-se que há ênclise:
“O advogado atrasou-se”.
3. No caso dos exemplos inicialmente dados, uma análise técnica revela
que o leitor quer saber, em última análise, como se coloca o pronome,
quando uma preposição (no caso para) precede um verbo no infinitivo
(no caso enviar): em próclise ou em ênclise?
4. Ora, para os verbos no infinitivo, existe, por um lado, a lição de Cândido
de Figueiredo de que “as preposições pertencem à categoria das
partículas que influem geralmente na colocação dos pronomes pessoais
atônicos, atraindo-os” (1937, p. 320).
5. Exemplos colhidos pelo mencionado autor em autorizados escritores de
nosso idioma, entretanto, revelam que, quando se tem um infinitivo
precedido de preposição, a colocação do pronome átono, em última
análise, não se faz em próclise necessária, mas constitui caso de
colocação facultativa, a saber, antes do verbo (em próclise) ou depois
dele (em ênclise). Exs.: a) “Até chegou a me dar casa…” (Machado de
Assis); b) “… obriga o procurador a respeitar-lhe as cláusulas” (Rui
Barbosa); c) “… era bastante para sacudir-me da Tijuca” (Machado de
Assis); d) “Chamou-me um escravo para me servir o doce” (Machado de
Assis); e) “Ficou Maria Henriqueta livre por se ver livre do suborno da
mãe” (Camilo Castelo Branco); f) “Senhor, morro por unir-me
convosco” (Padre Manuel Bernardes); g) “Gastei pouco tempo em dizer-
lhe…” (Machado de Assis); h) “… não faltaria Deus em lhe dar um bom
dia” (Padre Antônio Vieira).
6. Assim, fixada a regra de que o infinitivo precedido de preposição
permite a colocação facultativa do pronome átono em próclise ou em
ênclise, pode-se dizer, quanto à indagação que motivou estas
considerações, que estão corretas ambas as formas trazidas pelos
exemplos dados: a) “Aproveitamos também para lhe enviar”; b)
“Aproveitamos também para enviar-lhe”.

Paralisar
1. Para bem guardar a escrita de tal vocábulo, duas regras de ortografia
devem ser consideradas: a) Se se tem de acrescentar a um radical o
sufixo izar inteiro para formar um verbo, grafa-se com z: fiscal, útil
(primitivas) fazem fiscalizar, utilizar (derivadas); b) No caso da
observação anterior, porém, se já existe s no radical, é ele aproveitado:
análise, pesquisa, catálise (primitivas) fazem analisar, pesquisar,
catalisar.
2. Porque no caso a palavra primitiva é paralisia, onde já existe s, a
derivada há de ser paralisar.
Ver Ortografia (P. 533) e Regras de ortografia (P. 652).

Para mim e você ou Para eu e você?


1. Um leitor quer saber, em suma, como se deve dizer e escrever: para mim
e você ou para eu e você?
2. Antes de responder diretamente ao leitor, é importante formular dois
exemplos, já que o que as expressões foram trazidas para análise soltas e
sem vinculação a uma estrutura sintática adequada: a) “A bibliotecária
trouxe o livro para José”; b) “A bibliotecária trouxe o livro para José
folhear”.
3. Quanto ao primeiro exemplo – “A bibliotecária trouxe o livro para José”
– podem-se fazer as seguintes considerações: a) o exemplo tem um só
verbo (trouxe); b) trata-se de um período simples; c) a bibliotecária é o
sujeito; d) o livro é o objeto direto; e) José é o objeto indireto.
4. Já sobre o segundo exemplo – “A bibliotecária trouxe o livro para José
folhear” – podem-se extrair as seguintes ilações: a) o exemplo tem dois
verbos (trouxe e folhear); b) trata-se, portanto, de um período composto;
c) a primeira oração é “A bibliotecária trouxe o livro”; d) a segunda
oração é “para José folhear”; e) as funções sintáticas dos termos da
primeira oração são aquelas já referidas no exemplo anterior; f) já na
segunda oração, quando se pergunta “para quem folhear?”, encontra-se
o sujeito desse verbo, que é José.
5. Com essas considerações, segue-se o raciocínio: a) imagine-se que, em
ambos os exemplos, se queira substituir José por um pronome da
primeira pessoa do singular (eu ou mim); b) então se deve lembrar que,
no primeiro exemplo, José é o objeto indireto, enquanto, no segundo
exemplo, ele é o sujeito; c) a esta altura, também é preciso lembrar a
velha (e nem sempre compreendida) regra de que eu é um pronome do
caso reto, enquanto mim é do caso oblíquo; d) ora, quando se faz tal
afirmativa, o que se quer dizer na prática é que um pronome do caso reto
serve para funcionar como sujeito, enquanto um pronome do caso
oblíquo serve para funcionar como complemento; e) entendida a questão
desse modo, então se resolve com facilidade a substituição do primeiro
caso (“A bibliotecária trouxe o livro para mim”) e também a do segundo
(“A bibliotecária trouxe o livro para eu folhear”); f) qualquer mudança
do pronome, nesses casos, estaria errada.
6. Por fim, respondendo diretamente à indagação do leitor: a) tal como feita
a pergunta, a resposta deve ser que ambas as construções são possíveis,
já que só se pode fazer outra afirmação em exemplos sintaticamente
estruturados; b) se, todavia, se pensar em exemplos práticos, em que se
empregue a expressão em estruturas sintáticas analisáveis, estará correto
dizer, por um lado “A bibliotecária trouxe o livro para mim e você”; c)
por outro lado, também estará correto dizer “A bibliotecária trouxe o
livro para eu e você folhearmos”; d) estará errado, entretanto, dizer, por
um lado, “A bibliotecária trouxe o livro para eu e você”; e) e também
estará errado dizer “A bibliotecária trouxe o livro para mim e você
folhearmos”.

Paraninfa – Existe?
Ver Capitã, Capitoa ou A Capitão? (P. 168) e Poeta – Qual o feminino? (P.
570)

Para o lembrar ou Para lembrá-lo?


1. Um leitor indaga, em síntese, qual das construções é a correta: a)
“Escrevo para lembrá-lo de que (…)”; b) “Escrevo para o lembrar de
que (…)”.
2. Para não haver dúvidas, é oportuno reafirmar que, em tese, um pronome
pessoal oblíquo átono pode-se colocar em três posições na frase: a) antes
do verbo, ou seja, em próclise (“Não me amole!”); b) no meio do verbo,
ou seja, em mesóclise (“Dir-se-á que não trabalhamos”); c) após o
verbo, ou seja, em ênclise (“Deram-me notícia falsa”).
3. No caso trazido para análise, uma primeira observação: não se há de
falar em mesóclise, já que esta só pode existir com o verbo em um de
dois tempos: futuro do presente e futuro do pretérito. E uma segunda
observação: o verbo dos dois exemplos sob apreciação está no infinitivo.
4. E uma análise técnica revela que o leitor quer saber, em última análise,
como se coloca o pronome, quando uma preposição (no caso para)
precede um verbo no infinitivo (no caso lembrar): em próclise ou em
ênclise?
5. Ora, para os verbos no infinitivo, existe, por um lado, a lição de Cândido
de Figueiredo, segundo a qual “as preposições pertencem à categoria das
partículas que influem geralmente na colocação dos pronomes pessoais
atônicos, atraindo-os” (1937, p. 320).
6. Exemplos colhidos pelo mencionado autor em autorizados escritores de
nosso idioma, entretanto, revelam que, quando se tem um infinitivo
precedido de preposição, a colocação do pronome átono, em última
análise, não se faz em próclise necessária, mas constitui caso de
colocação facultativa, a saber, antes do verbo (em próclise) ou depois
dele (em ênclise). Exs.: a) “Até chegou a me dar casa…” (Machado de
Assis); b) “… obriga o procurador a respeitar-lhe as cláusulas” (Rui
Barbosa); c) “… era bastante para sacudir-me da Tijuca” (Machado de
Assis); d) “Chamou-me um escravo para me servir o doce” (Machado de
Assis); e) “Ficou Maria Henriqueta livre por se ver livre do suborno da
mãe” (Camilo Castelo Branco); f) “Senhor, morro por unir-me
convosco” (Padre Manuel Bernardes); g) “… não faltaria Deus em lhe
dar um bom dia” (Padre Antônio Vieira).
7. Fixada, assim, a regra de que o infinitivo precedido de preposição
permite a colocação facultativa do pronome átono em próclise ou em
ênclise, pode-se dizer, quanto à específica indagação que motivou estas
considerações, que estão corretas ambas as formas trazidas pelo leitor: a)
“Escrevo para lembrá-lo de que (…)”; b) “Escrevo para o lembrar de
que (…)”.

Pára ou Para?
1. Com as alterações de grafia trazidas pelo Acordo Ortográfico de 2008,
importa analisar se o acento agudo de pára (verbo) foi abolido, ou
continua existindo.
2. No passado, a regra era o emprego do acento agudo na forma verbal pára
(flexão do verbo parar – ele pára), a fim de diferenciá-la da preposição
para.
3. A explicação para essa ocorrência era que o verbo constituía forma
tônica, enquanto a preposição era forma átona, de modo que se
empregava, assim, na primeira, um acento diferencial de tonicidade.
4. O Acordo Ortográfico de 2008, porém, aboliu, de modo expresso, esse
acento agudo da forma verbal para, de modo que, hoje, o correto é
escrever sem acento algum tanto a forma verbal como a preposição,
como se confere a seguir: a) “Então, estranhamente, sem motivo algum,
ele para no semáforo aberto” (3ª pessoa do singular do presente do
indicativo do verbo parar); b) “Instruções para pouso na água”
(preposição).

Para se fazer alguma coisa – Está correto?


Ver Pronome desnecessário – Quando ocorre? (P. 611)

Para se o conhecer – Está correto?


1. Trata-se de expressão errada, já que, em Português, o pronome se jamais
combina na mesma frase com o pronome o, a, os, as.
2. O pronome por último referido, em estruturas desse jaez, há de ser o
sujeito (caso reto, portanto), e os pronomes o, a, os, as são do caso
oblíquo, jamais podendo funcionar como sujeito.
3. Corrija-se, assim, tal expressão, por um dos seguintes modos: a)
Colocando em lugar dos pronomes condenados uma palavra que possa
ser sujeito (“Para se conhecer o argumento”); b) Usando o pronome do
caso reto, de indiscutível correção em tais casos, muito embora a muitos
pareça contrária à eufonia (“Para se conhecer ele”); c) Eliminando
simplesmente o pronome oblíquo, que é o ponto de discórdia no caso,
mas isso apenas quando tal é possível sem comprometimento do sentido
do contexto (“Para se conhecer”); d) Transpondo o exemplo para a voz
passiva analítica, situação essa em que errar é mais difícil (“Para ser ele
conhecido”); e) Pondo o verbo na primeira pessoa do plural, adotando-se
uma forma determinada, pessoal, com o que se elimina o se (“Para o
conhecermos”); f) Empregando o verbo na voz ativa, na terceira pessoa
do plural e sem sujeito explícito (“Para o conhecerem”).
Ver Cite-se-o – Está correto? (P. 184)

Parecer
1. No que concerne à concordância verbal, se o verbo parecer vem
precedido de palavra no plural e seguido de outro verbo no infinitivo,
qualquer dos dois verbos pode ir para o plural (GÓIS; PALHANO, 1963,
p. 176). Exs.: a) “Os advogados pareciam estar preocupados” (correto);
b) “Os advogados parecia estarem preocupados” (correto).
2. No primeiro exemplo, tem-se a seguinte estrutura sintática: “Os
advogados (sujeito) pareciam (verbo de ligação) estar preocupados”
(predicativo do sujeito).
3. No segundo exemplo, o verbo parecer é intransitivo (não tem
complementos), e seu sujeito oracional é estarem preocupados; basta,
para conferir com facilidade tal afirmação, que se estenda a oração
reduzida de particípio: “Parecia (oração principal) que os advogados
estavam preocupados (oração subordinada substantiva subjetiva).
4. Anote-se, porém, que não podem ambos os verbos ir simultaneamente
para o plural, sendo errôneo o seguinte exemplo: “Os advogados
pareciam estarem preocupados”.
5. Pela própria estruturação sintática de tais períodos, se aparece o que
(conjunção subordinativa integrante), o verbo parecer fica
obrigatoriamente no singular, já que seu sujeito é oracional, não tendo,
por conseguinte, plural algum: a) “Os advogados parecia que estavam
preocupados” (correto); b) “Os advogados pareciam que estavam
preocupados” (errado). Para comprovar a correção dessa estrutura, basta
colocar o exemplo em sua ordem direta: “Parecia que os advogados
estavam preocupados.”
6. Resumindo a sintaxe desse verbo, assim se manifesta Laudelino Freire:
“O verbo parecer presta-se a duas construções (em realidade, ele mesmo
menciona três): ‘As montanhas parecem fugir’ ou ‘As montanhas parece
fugirem’. Ambas são corretas, o que se verifica pela análise: no primeiro
exemplo o sujeito de parecem é montanhas; no segundo, o sujeito de
parece é a oração fugirem, ou a oração integrante que fogem” (GÓIS;
PALHANO, 1963, p. 176).
7. Francisco Fernandes (1971, p. 449) transcreve exemplos de autores
insuspeitos para ambas as construções: a) “De cujo manto as vagas
parece roçarem ainda com respeito a fímbria do Adamastor” (Sousa da
Silveira); b) “As estrelas parecia sorrirem” (Carlos Góis); c) “Se
espancas os cães da vinha, pareces ser também ladrão” (Mário Barreto);
d) “Depois ficou por alguns instantes calada, com os olhos fitos no
rochedo fronteiro, em cuja face escabrosa as sombras pareciam dançar”
(Alexandre Herculano); e) “As palavras que ele disse parece que saíam
de uma alma que ia ser julgada por Deus” (Camilo Castelo Branco).
8. Bastante didático o resumo de Domingos Paschoal Cegalla (1999, p.
208) acerca das possibilidades de sintaxe correta do referido verbo: a)
“Parecer no plural e infinitivo no singular” (As estrelas pareciam sorrir
de minhas veleidades); b) “Parecer no singular e infinitivo no plural” (As
estrelas parecia sorrirem de minhas veleidades); c) “Usando-se a oração
desenvolvida em vez da infinitiva, parecer concorda no singular” (Os
dois homens parecia que estavam embriagados).
Ver Infinitivo como sujeito – Como concordar? (P. 414)

Parede-meia
1. Carlos Góis (1945, p. 40 e 41), sem maiores discussões, emprega, e mais
de uma vez, paredes meias.
2. Luís A. P. Vitória (1969, p. 181) quer que se diga e escreva paredes-
meia.
3. Mesmo lembrando haver quem prefira as formas parede meia, parede em
meio, Vasco Botelho de Amaral (1939, p. 45) observa que “parece bem
português o dizer paredes meias”, para o que traz exemplo garimpado
em Camilo Castelo Branco: “Do outro lado do pátio estava o quarto do
oficial da guarda, paredes meias com a residência e escritório do
carcereiro”.
4. O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia
Brasileira de Letras, que é o veículo oficial para dirimir dúvidas acerca
da existência ou não de vocábulos em nosso idioma, registra a palavra
parede-meia, assim com hífen, especificando-a como um substantivo
feminino (2009, p. 622); e, por se tratar de um substantivo composto em
que ambos os termos isoladamente já são variáveis (um substantivo e um
numeral), a regra de passagem para o plural determina que ambos
variem: paredes-meias.

Parenta ou Parente?
1. Assim como o feminino de juiz de direito é juíza de direito, não há razão
alguma para se estranhar que, se se refere a uma pessoa do sexo
feminino ligada a alguém pelos laços do parentesco, será ela uma
parenta, a exemplo de consulesa, coronela, delegada, deputada,
generala, ministra, paraninfa, prefeita, primeira-ministra, sargenta,
vereadora.
2. Essa formação normal do feminino é preconizada por Júlio Ribeiro
(1908, p. 86).
3. Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 32) confere ao vocábulo dois femininos:
parente e parenta.
4. Registra a palavra parenta como um substantivo feminino o Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras,
que é o veículo oficial para dirimir dúvidas acerca da existência ou não
de vocábulos em nosso idioma; além disso, tal obra também registra
parente como substantivo comum de dois gêneros (2009, p. 622), o que
implica dizer que o uso de ambas está plena e oficialmente autorizado
entre nós: a parenta e a parente.
Ver Poeta – Qual o feminino? (P. 570) e Crenta ou Crente? (P. 240)

Parêntese ou Parêntesis?
1. Como se deve dizer: parêntese ou parêntesis?
2. Uma consulta ao Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa –
veículo da Academia Brasileira de Letras para listar oficialmente os
vocábulos existentes em nosso idioma – mostra que se acham ali
arrolados ambos os vocábulos como sinônimos e equivalentes: parêntese
e parêntesis.
3. Em termos gramaticais, todavia, uma observação mais apurada nos dois
registros mostra que parêntese é substantivo masculino, do singular, de
modo que seu plural se forma normalmente pela adição de um s (o
parêntese, os parênteses).
4. Já parêntesis faz-se acompanhar da anotação de que pertence aos dois
números (singular e plural), e, assim, sua variação apenas pode ser
conhecida pela presença de um outro vocábulo que modifique tal
substantivo (o parêntesis, os parêntesis).
5. Veja-se, assim, o correto emprego dessas palavras nos exemplos
seguintes: a) “Abriu um parêntese e passou a divagar”; b) “Abriu um
parêntesis e passou a divagar”; c) “O erro de grafia estava entre
parênteses”; d) “O erro de grafia estava entre parêntesis”.
6. No que concerne à pontuação, é de se anotar que, se se apresenta a
necessidade de emprego interno de parênteses, os parênteses externos
são substituídos por colchetes. Ex.: “A quantia pedida [R$1.000.000 00
(um milhão de reais)] acabou sendo o valor atribuído à causa.”

Parênteses e Ponto
1. Para a ordem de colocação entre o fechamento do parêntese e o ponto,
Cândido de Oliveira (1961, p. 68) estabelece duas regras importantes: a)
“Primeiro parêntese e depois ponto final, quando a declaração não é
autônoma” (ou seja, a frase, desde o ponto anterior, não se faz apenas
com o que está entre parênteses). Ex.: “Alguns vocábulos têm e (quase,
se, senão, sequer).” b) “Primeiro ponto final e depois parêntese, quando
a declaração é autônoma (tudo o que se escreve deve estar compreendido
dentro dos parênteses)”. Ex.: “Horácio não irá. (O rapaz anda às voltas
com os livros.)”

Par e passo ou Pari passu?


Ver Pari passu ou Par e passo? (P. 550)

Parequema
1. Segundo Artur de Almeida Torres, “consiste em colocar ao lado de uma
sílaba outra sílaba com o mesmo som: corpo poroso, barco coberto de
lona” (1966, p. 224).
Ver U’a maneira – Está correto? (P. 747)

Pari passu ou Par e passo?


1. Pari passu é locução latina de grande uso nos meios jurídicos, com o
significado de a passo igual, passo a passo, lado a lado, ao mesmo
tempo. Exs.: a) “Aquele autor, em sua obra, acompanhava pari passu as
modificações legislativas sobre o assunto”; b) “À medida que forem
adquirindo o vocabulário do Direito, … sentirão crescer pari passu os
seus conhecimentos jurídicos” (Miguel Reale).
2. Pronuncia-se páripássu.
3. Por se tratar de expressão pertencente a outro idioma, obrigatório é o uso
das aspas, itálico, negrito, sublinha ou grifo indicador equivalente; de
igual modo, é proibida a utilização do acento gráfico, que não existia na
língua original.
4. Também não se há de olvidar a lição de Edmundo Dantès Nascimento
(1982, p. 145): expressões como essa não eram hifenizadas em latim,
razão pela qual “não o podem ser em língua nenhuma”, acrescentando
tal autor que, “para quem pretende grafar escorreitamente não é
permitido o hífen em expressões do latim clássico”.
5. Não existe, ademais, a expressão a pari passu.
6. Quanto a par e passo, constitui ela a própria tradução da expressão latina
e tem o mesmo significado de perto, com cuidado. Ex.: “O representante
do Ministério Público acompanhou par e passo o interrogatório daquele
réu de colarinho branco”.
7. Atento aos frequentes equívocos cometidos na linguagem do foro,
observa Edmundo Dantès Nascimento que “o povo tem confundido a
locução preposicional a par de com a locução adverbial par e passo e
emprega erroneamente a par e passo” (1982, p. 137).

Parônima
1. Aspecto que tem importância no campo da semântica e da ortografia,
parônima é a palavra que tem grafia e pronúncia parecidas com as de
outra, mas sentido totalmente diverso.
2. Assim, é preciso atentar às seguintes palavras parônimas: arrear (pôr
arreio) e arriar (baixar, ceder); deferir (conceder) e diferir (diferenciar);
deferimento (anuência, aprovação) e diferimento (adiamento,
prorrogação); delatar (denunciar) e dilatar (aumentar, prorrogar);
eminência (elevação, altura, proeminência) e iminência (característica do
que está prestes a acontecer); eminente (ilustre) e iminente (que está para
acontecer); flagrância (estado do que é flagrante, do que ocorre no ato) e
fragrância (perfume agradável); flagrante (no ato) e fragrante
(perfumado); infligir (aplicar) e infringir (transgredir); ratificar
(confirmar) e retificar (corrigir); sortir (abastecer) e surtir (resultar);
vultoso (volumoso) e vultuoso (atacado de congestão na face).
3. Não confundir com as homógrafas, que são palavras de mesma grafia,
mas de pronúncia diferente (pôde – pretérito perfeito – e pode – presente
do indicativo; colher – verbo – e colher – substantivo).
4. Também não confundir com as homófonas, que são palavras de mesma
pronúncia, mas de grafia diversa (caçar e cassar; cessão e sessão).
Ver Acento diferencial de número (P. 65), Acento diferencial de timbre (P.
66) e Acento diferencial de tonicidade (P. 66).

Paroxítonas – Quando acentuar?


1. Palavra paroxítona é aquela em que pronunciada com mais força a
penúltima sílaba (ca-ne-ta, jú-ri), classificação essa para a qual não
importa se a sílaba tônica recebe ou não acento gráfico.
2. Por determinação legal, são acentuadas graficamente as paroxítonas que
tiverem as seguintes terminações: r, i(s), n, l, u(s), x, ã(s), um, uns, ps e
as que tiverem ditongo na última sílaba. Exs.: revólver, júri(s), hífen,
fácil, bônus, látex, órfã(s), fórum, fóruns, bíceps, egrégio.
3. Pela estrita observância da regra, note-se a ausência de acento gráfico
nas seguintes palavras: foro, hifens, polens, item, itens, jovem, jovens,
mosaico, ritmo.
4. O recente Acordo Ortográfico de 2008, por sua vez, eliminou o acento
agudo nos ditongos abertos ei e oi de palavras paroxítonas, de modo que
se escreve agora assembleia, heroico e jiboia, e não mais assembléia,
heróico e jibóia. Permanecem, no entanto, como exceções à regra, as
paroxítonas terminadas em ditongo (esferóideo, tireóideo, xifóideo) ou
em r (destróier, Méier). Nesses casos, se fosse excluído o acento gráfico,
haveria mudança de posição da sílaba tônica.
5. Como, no caso do item anterior, o acento foi eliminado das palavras
paroxítonas, é certo que continuam acentuados os vocábulos oxítonos
com tais terminações, como papéis e herói.
Ver também Acento diferencial de número (P. 65), Acento diferencial de
timbre (P. 66), Acento diferencial de tonicidade (P. 66), Acentuação gráfica
(P. 67), Hiato (P. 389) e Oxítona (P. 540).

Parque do Ibirapuera ou parque do Ibirapuera?


Ver Rua Caiubi ou rua Caiubi? (P. 675)

Parte de… – foi ou foram?


Ver Metade de… – foi ou foram? (P. 472)

Partição silábica entre as linhas


1. Também denominada translineação.
2. Quando se parte uma palavra, por não caber toda ao final de uma linha, o
Formulário Ortográfico fornece alguns elementos para a solução do
problema, devendo-se, porém, desde logo, anotar dois itens: a) partição
não se confunde necessariamente com contagem de sílabas, muito
embora este último aspecto tenha grande importância naquele processo;
b) algumas observações práticas são de grande relevo para resolver a
questão.
3. É certo que, normalmente, a partição se dá pela divisão da palavra em
suas sílabas componentes – isto é, pelas regras da silabação – (CUNHA,
1970, p. 33), independentemente de seus prefixos, sufixos, radicais ou
elementos integrantes, também não se levando em conta, para tais
efeitos, a questão da etimologia: ab-di-car, ad-vo-ga-do, bi-sa-vô, cons-
ti-tu-i-ção, de-sar-mar, de-sen-ga-nar, ét-ni-co, i-no-pe-ran-te, obs-tru-ir,
op-ção, si-na-lag-má-ti-co, sub-por, subs-ta-be-le-cer, su-pers-ti-ção.
4. Porque em casos normais se separam sílabas, não se partem os sons
vocálicos pertencentes a ditongos ou tritongos: i-guais, cai-pi-ra, e não
i-gua-is, ca-i-pi-ra.
5. Os hiatos, porém, exatamente por envolverem vogais que se pronunciam
distintamente, em sílabas separadas, partem-se de modo normal, de
conformidade com o número de suas sílabas: ca-a-tin-ga, ci-ú-me, co-or-
de-nar, mi-ú-do, tri-un-fo.
6. Apesar da regra genérica de que normalmente se partem as sílabas das
palavras, é preferível não deixar isolada a vogal do início ou do fim das
palavras, evitando-se, assim, no fim da linha, partições como a-trofia ou
atrofi-a, justificando Luiz Antônio Sacconi esse posicionamento “em
nome da estética” (1979, p. 5).
7. Também nesse sentido a lição de Vitório Bergo: “quando a sílaba é
simples vogal não deve separar-se de outra sílaba que lhe venha aposta:
apro-ximar e não a-proximar” (1943, p. 92-3).
8. Arnaldo Niskier, entretanto, posiciona-se em sentido oposto: “É
perfeitamente correto separar as vogais de um hiato, deixando uma na
linha de cima e colocando o resto da palavra na linha de baixo, quando o
espaço da página o determina. As redações de jornais e revistas,
alegando questões de aspecto gráfico, recomendam que não se faça essa
separação. Achamos que tal gosto estético é, no mínimo, questionável,
sobretudo se verificarmos a maneira de separar utilizada modernamente
pelos computadores” (1992, p. 63-4).
9. No que tange às consoantes, separam-se sempre, na partição das palavras
ao fim da linha, as geminadas cc, cç, rr e ss e o dígrafo sc: oc-ci-pi-tal,
fac-ção, ar-res-to, cas-sar, res-ci-são.
10. Não se separam, porém, os dígrafos ch, lh e nh: fa-cho, ca-lha, ma-nhã.
11. Separam-se as consoantes dos grupos bl, br e dl, se pronunciadas
apartadamente: sub-li-mi-nar, sub-ro-gar, ad-le-ga-ção.
12. Não se separam, porém, se conjuntamente pronunciadas: su-bli-me, so-
bres-tar, A-dri-a-na.
13. “Quando a palavra já se escreve com hífen – quer por ser composta,
quer por ser uma forma verbal seguida de pronome átono – e coincidir
o fim da linha com o lugar onde está o hífen, pode-se repeti-lo, por
clareza, no início da linha seguinte” (CUNHA, 1970, p. 34).
14. Vitório Bergo, por sua vez, toma tal aspecto com o sentido de
obrigatoriedade: “o hífen que prende duas palavras deve ser repetido na
linha imediata, se coincidir com o final da linha: guarda-/-sol,
chamaram-/-me” (1943, p. 92-3).
15. Tal proceder – que é facultativo, e não obrigatório – segundo Luiz
Antônio Sacconi (1979, p. 5), “elimina as eventuais dúvidas sobre a
grafia de palavras compostas em que se usam hifens”, acrescentando
tal autor que essa conduta se trata “não de uma norma ortográfica, mas
de bom-senso no modo de escrever”.
16. A leitura da regra, contudo, parece mostrar a obrigatoriedade de tal
procedimento, e não apenas sua facultatividade: “Na translineação de
uma palavra composta ou de uma combinação de palavras em que há
um hífen ou mais, se a partição coincide com o final de um dos
elementos ou membros, deve, por clareza gráfica, repetir-se o hífen no
início da linha imediata: ex- -alferes, serená- -los-emos ou serená-los- -
emos, vice- -almirante”.
17. De Arnaldo Niskier é importante observação no sentido de que,
“quando trans se liga a outro elemento que comece por vogal, a
separação de sílabas se dará desta forma: tran-sa-tlân-ti-co” (1992, p.
68).
18. Em ensinamento não encontradiço em outros autores, leciona Antonio
Henriques: “a estética exige que não se separem elementos que
provoquem impressão gráfica desagradável: concu-binato, após-tolo,
am-putação” (1999, p. 138).

Participar
1. Quando tiver o sentido de avisar, informar, na lição de Antonio
Henriques e Maria Margarida de Andrade (1999, p. 89), há dupla
construção possível: a) participar alguém de alguma coisa; b) participar
alguma coisa a alguém. Exs.: a) “O advogado participou o juiz da
impossibilidade de comparecimento do réu”; b) “O advogado participou
ao juiz a impossibilidade de comparecimento do réu”.
2. Desse modo, também se dirá, fazendo-se a substituição pelos pronomes:
a) “O advogado participou-o da impossibilidade de comparecimento do
réu”; b) “O advogado participou-lhe a impossibilidade de
comparecimento do réu”.
3. Observe-se, contudo, que não são corretas as seguintes estruturas, que
têm ou dois objetos diretos ou dois objetos indiretos: a) “O advogado
participou o juiz a impossibilidade de comparecimento do réu”; b) “O
advogado participou ao juiz da impossibilidade de comparecimento do
réu”.
4. Nos textos de lei, tais construções são obedecidas, com a observação
oportuna de que, quando transitivo direto, admite emprego na voz
passiva. Exs.: a) “O segurado deve sem demora participar ao
segurador.. todas as notícias…” (C. Com, art. 719); b) “A concessão de
férias será participada, por escrito, ao empregado, com antecedência
de, no mínimo, 10 (dez) dias…” (CLT, art. 135); c) “Se chegar ao
conhecimento do depositário que a coisa provém de crime, deve
imediatamente participar o depósito à pessoa a quem foi subtraída ou,
não sabendo quem é, ao Ministério Público…” (CCp, art. 1.192º, 3); d)
“Toda a pessoa que tiver notícia de qualquer infração penal poderá
participá-la ao juiz da comarca em que foi cometida…” (CPPp, art.
160º)
5. Também seguem a mesma construção os verbos aconselhar, avisar,
certificar, prevenir.
Ver Partilhar (P. 553).

Particípio duplo
Ver Verbos abundantes (P. 759).

Particípio passado
Ver Concordância do particípio passado (P. 208) e Verbos abundantes (P.
759).

Partícula apassivadora
1. É uma das diversas funções do pronome se, empregado com verbos
transitivos diretos ou bitransitivos, para a formação da voz passiva
sintética ou pronominal.
2. Também denominada pronome apassivador.
Ver Voz passiva e Pronome apassivador (P. 791), Voz passiva sintética (P.
794) e Vozes verbais (P. 791).

Partilhar
1. Retratando seu corrente emprego nos meios forenses, anota Edmundo
Dantès Nascimento que é “mais ou menos comum a sinonímia que se
observa nos arrazoados e julgados dos verbos partilhar com participar”.
2. Acrescenta, todavia, tal autor que “em linguagem escorreita não se deve
fazer esta conclusão”.
3. Para ele, aconselhável é usar partilhar no sentido de fazer partilha,
dividir, repartir, partir, separar, desunir, apartar e semelhantes, enquanto
o verbo participar deve ser empregado, além dos conhecidos, para a
significação de comunicar, avisar, tomar parte, ser participante, associar-
se, compartilhar, compartir.
4. Lembrando que apenas Heráclito Graça se posta em sentido contrário,
resume ele a opinião de “outros tratadistas de prol” – como Túlio Silva,
João Ribeiro e Cândido Figueiredo – com lição de Mário Barreto: “o
mais prudente e seguro é evitar-se o emprego de partilhar no sentido de
participar”.
5. E alinha, em abono, significativos exemplos de autores insuspeitos, no
que tange ao verbo a ser usado em tais casos (NASCIMENTO, 1982, p.
157): a) “Vale, porém, a estipulação do contrato que exima o sócio de
indústria de compartir as perdas sociais” (Rui Barbosa); b) “Viver sob
suas ordens e compartir de seus cuidados…” (Mário Barreto).
6. Francisco Fernandes (1971, p. 450), sem outras ressalvas, dá o verbo
partilhar como sinônimo de participar.
7. Desse mesmo modo de pensar é Celso Pedro Luft (1999, p. 392), que
exemplifica, admitindo duas regências: a) “Partilhar ideias”; b)
“Partilhar sentimentos com alguém”; c) “Partilhar das ideias”; d)
“Partilhar dos sentimentos de alguém”.
Ver Participar (P. 552).

Passar bem! – Está correto?


1. Trata-se de expressão em que o infinitivo é usado em lugar e com o
sentido de imperativo, equivalendo a “passe bem”.
2. É modo correto de se dizer, podendo-se apontar outros exemplos
corriqueiros da mesma estrutura: a) “Apontar armas!”; b) “Avançar!”; c)
“Nem pensar nisso!”.

Passim
1. Advérbio latino com o significado de aqui e ali, passim é de largo uso
nos meios jurídicos, sobretudo nas citações de livros, para indicar que as
passagens sobre o assunto em estudo se encontram aqui e ali, isto é, em
mais de um lugar.
2. Sua pronúncia é paroxítona (pássim).
3. De conformidade com Vitório Bergo, é “latinismo, equivalente a aqui e
ali, em diversos pontos” (1944, p. 184).
4. Em confirmação dos aspectos até agora observados, o Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras,
órgão incumbido oficialmente de determinar a existência dos vocábulos
em nosso idioma, além de sua grafia oficial, registrava-o como advérbio
latino e lhe conferia a pronúncia pássim (1999, p. 567). As edições de
2004 e 2009 do VOLP, no entanto, apenas trazem o registro de advérbio
latino, nada comentando sobre a sua pronúncia (2009, p. 863). Isso,
contudo, não significa alteração alguma no que concerne à posição
oficial sobre o assunto, expressa na edição de 1999.
5. Por se tratar de vocábulo pertencente a outro idioma, obrigatória é a
utilização das aspas, negrito, itálico, sublinha ou grifo equivalente.

Passos perdidos
Ver Salão dos Passos Perdidos – O que é? (P. 677)

Páteo – Existe?
Ver Existe em português? (P. 346)

Patronímico
Ver Nome (P. 497).

Peça denunciatória – Está correto?


Ver Petição inicial (P. 563).

Peça depositária da pretensão punitiva – Está correto?


Ver Petição inicial (P. 563).

Peça inaugural – Está correto?


Ver Petição inicial (P. 563).

Peça processual – Está correto?


Ver Petição inicial (P. 563).

Peça vestibular – Está correto?


Ver Petição inicial (P. 563).

Pedir para
1. No campo da regência verbal, a questão que surge com tal verbo é a
mesma que formulava Rui Barbosa em sua Réplica: será lícita, em
português, a construção pedir para ir, pedir para ler?
2. Observa-se, por primeiro, a circunstância de que Cândido de Figueiredo
condena liminarmente o uso de tal construção, e Silveira Bueno (1938,
p. 119), muito embora reconheça a existência de mestres que defendam o
contrário, por entenderem oculta a palavra licença em frases como
“Fulano pediu para falar” – no que veriam a significação de “Fulano
pediu licença para falar” – é do entendimento de que “a expressão pedir
para … não é correta justamente porque o verbo transitivo exige objeto
(direto) e a preposição para impede tal objetividade direta”.
3. Rui Barbosa, na sequência da indagação feita, restringia a possibilidade
de emprego da expressão pedir para ao caso em que, a seguir, ou vem
expressa, ou se subentende a palavra licença, como nos seguintes
exemplos: a) “Pediu ela licença para responder”; b) “Pediu ela para
responder”.
4. Do mesmo entendimento de Rui Barbosa é Artur de Almeida Torres
(1967, p. 221), ao observar que mostram “os exemplos dos bons
escritores que o verbo pedir admite após si a partícula para quando tem
elítico o objeto direto licença ou autorização”.
5. O certo, entretanto, é que, do cruzamento da primeira forma (com o
objeto direto expresso) com a segunda (com o objeto direto
indeterminado), resultou uma terceira – do verbo pedir seguido da
preposição para, sem nenhum adjunto adverbial de fim, mas com a ideia
de objeto direto: “Ela lhe pediu para responder”, sentença essa que
corresponde exatamente ao sentido de “Ela pediu que ele respondesse”.
6. É certo que Vitório Bergo admite “a construção do verbo pedir com
complemento regido da preposição para quando entre esta e aquele se
subentende licença, permissão, ordem” (1944, p. 185).
7. Na lição de José de Sá Nunes, todavia, “respectivamente ao verbo pedir
com objeto regido da preposição para, em que pese aos grandes mestres
que reprocham esta sintaxe, e só a admitem quando há elipse do
complemento direto, a mim não me é possível condená-la, pois os
aperfeiçoadores do nosso idioma escrevem desse jeito” (1938, p. 9).
8. E alinha tal gramático, em continuação, exemplos de abonados escritores
do nosso idioma: a) “Ia pedir ao nosso padre cura para me fazer alguma
rezazinha” (Antônio Feliciano de Castilho); b) “… pediu para falar a
sós com Atanagildo” (Alexandre Herculano); c) “Padre Antônio pediu
para ficar só comigo” (Camilo Castelo Branco); d) “Minha mãe ficou
perplexa quando lhe pedi para ir ao enterro” (Machado de Assis).
9. Trazendo à baila essa polêmica entre as correntes, Francisco Fernandes
(1971, p. 454) assim se manifesta: “Não obstante, é comum encontrar,
em escritores de boa nota, exemplos da construção condenada”. Exs.: a)
“Ao fim desse tempo, ela pretextou um livro, que estava em cima das
músicas e pediu-me para dizer se o conhecia” (Machado de Assis); b)
“Carlota vinha pedir a Augusta para ir cantar num concerto que ia dar
em casa” (Machado de Assis); c) “Um mouro viera aí pedir a sua
reverência para ir ver uma pobre mulher que se morria” (Alexandre
Herculano); d) “Peço para ser vogal do júri… mas declaro desde já que
não voto em gordas, nem tolas, nem beatas” (Garrett).
10. E Celso Pedro Luft, fundado em lição de Matoso Câmara Júnior, refere
que tal sintaxe é construção moderna e “é a mais usual no português do
Brasil” (1999, p. 395).
11. Do ensino de Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 312), podem-se
extrair os seguintes excertos: a) “De acordo com a gramática
tradicional, a construção pedir para alguma coisa só é correta quando
se pode subentender uma das palavras licença, permissão,
autorização”; b) “Vetado é também usar pedir para que (em vez de
pedir que)”; c) “Cabe observar, entretanto, que não há, entre os
gramáticos, consenso sobre a matéria, pois frequentemente se deparam,
em escritores de renome, abonações da sintaxe condenada”; d) “Como
se trata de um caso controvertido, recomendamos que, pelo menos na
linguagem culta formal, se siga, acerca do verbo pedir, a doutrina
tradicional, podendo-se usar as construções incriminadas na
comunicação familiar do dia a dia.”
12. Em linhas gerais, todavia, o que se nota é que, embora a estrutura
questionada receba a condenação de alguns, é defendida por outros,
que a respaldam com significativos exemplos de escritores os mais
autorizados; e, ante a divergência entre os gramáticos, o melhor é
seguir o princípio segundo o qual, na dúvida, deve-se conferir
liberdade de emprego ao usuário.

Pegado ou Pego?
Ver Pegar (P. 554).

Pegar
1. Na lição de Luiz Antônio Sacconi, “o verbo pegar é abundante na língua
familiar; não o é na língua culta” (1979, p. 76).
2. Pasquale Cipro Neto e Ulisses Infante (1999, p. 175) lecionam que esse
verbo, na língua culta, apresenta apenas o particípio passado regular
(pegado).
3. Antonio Henriques, de igual modo, preconiza pegado como a “única
forma aceitável do particípio passado de pegar” (1999, p. 141).
4. Silveira Bueno preconiza a continuidade de existência e a possibilidade
de uso normal de ambos os particípios – pegado e pego – de acordo com
as regras previstas para os verbos abundantes no particípio: “com os
verbos ter e haver usamos o particípio longo, invariável… Com os
verbos ser e estar usamos o particípio breve, variável” (1938, p. 88).
5. Na lição de Vitório Bergo, o particípio passado regular (pegado) é
“forma correta, usada pelos clássicos em vez de pego, que é moderna, e
nos diversos sentidos usuais, como seguro, medrado, rente, etc.” (1944,
p. 185).
6. Para Cândido de Oliveira, “ganho, gasto, pago, pego são usados
indiferentemente para ambas as vozes (com qualquer auxiliar)”, e “os
particípios ganhado, gastado, pagado, pegado tendem a desaparecer”
(1961, p. 205).
7. Em outra obra escrita com Regina Toledo Damião, anota Antonio
Henriques (1994, p. 243) que, “apesar do uso corrente da forma pego,
ainda sobrevive entre bons autores a forma pegado” na atualidade.
8. Para Sousa e Silva (1958, p. 208), que invoca a autoridade de Eduardo
Carlos Pereira e de José Oiticica, pego “é um dos particípios de pegar (o
outro é pegado), desconhecido, talvez, em Portugal, mas comuníssimo
no Brasil”.
9. Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 313) assim resume a questão da
sintaxe desse verbo, no que tange ao uso de seu particípio passado: a)
Pegado “se usa com os verbos ter e haver” (Homens da vizinhança
tinham (ou haviam) pegado o animal); b) Pego é “forma contrata de
pegado” e “se usa, de regra, com os verbos ser e estar” (O cão foi pego
pelos moradores da vizinhança – O animal estava pego); c) “Há
tendência para se usar pego na forma ativa” (Um morador vizinho tinha
(ou havia) pego o animal).
10. Ante a divergência apresentada entre os gramáticos, podem-se extrair
as seguintes conclusões, de integral validade para o usuário da norma
culta: a) o verbo pegar é abundante, assim na língua familiar como na
língua culta, apresentando os dois particípios passados – pegado e
pego; b) com tais particípios, o normal é seguir as regras previstas para
os verbos abundantes e usar pegado com os verbos ter e haver, e pego
com os verbos ser e estar; c) empregar, todavia, pego com os auxiliares
ter e haver não pode ser considerado um erro; d) se pegado tende a
desaparecer, o certo é que ainda existe e é usado em nosso idioma nos
dias de hoje.
11. Ultime-se com a anotação de que a pronúncia do particípio passado
irregular pego é fechada (ê), e não aberta (é), como alguns teimam em
dizer (CEGALLA, 1999, p. 313), até porque pego “com a vogal e
aberta é forma do verbo pegar (eu pego)”.
Ver Verbos abundantes (P. 759).

Pego (ê) ou pego (é)?


1. Um leitor indaga se a pronúncia do particípio passado do verbo pegar
tem timbre fechado ou aberto: pego (ê) ou pego (é). Como nos exemplos
a seguir: a) “O assaltante foi pego (ê) pela polícia”?; ou b) “O assaltante
foi pego (é) pela polícia”?
2. Diga-se, desde logo, para não haver dúvidas: a pronúncia aberta do
verbo pegar (pégo), no particípio passado, é um modismo que, em época
mais recente, vem-se alastrando entre os usuários do idioma, e isso por
significativa influência do rádio e da televisão; mas essa pronúncia não
encontra respaldo algum nas regras de ortoepia do vernáculo, nem entre
os estudiosos do assunto, que são unânimes em apoiar a forma fechada.
3. É certo, por um lado, que o verbo pegar tem pronúncia aberta no
presente do indicativo: eu pego (é), tu pegas (é), ele pega (é)…
4. No particípio passado, porém, é consenso entre os estudiosos do idioma
que a pronúncia deve ter timbre fechado.
5. Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 313) assim resume essa questão
do particípio passado: “A pronúncia correta é pêgo. Pego, com a vogal e
aberta, é forma do verbo pegar (eu pego)”.
6. Porque ao tempo de edição de sua obra já não mais havia, na escrita, o
acento diferencial de timbre sobre vocábulos dessa natureza, Napoleão
Mendes de Almeida fazia questão de trazer entre parênteses a grafia
sempre fechada desse particípio passado (1981, p. 228-9).
7. Mesmo antes da reforma ortográfica trazida pela Lei 5.765, de 18/12/71,
que extinguiu o acento diferencial de timbre, Silveira Bueno, sem ver
necessidade de quaisquer outras discussões, registrava, tão só e
exclusivamente, a forma com timbre fechado – pêgo (1968, p. 218) –
proceder esse que já havia manifestado em outra de suas obras (1957, p.
332).
8. Esse também é o modo de pensar de Cândido de Oliveira (1961, p. 207).
9. E, em preciosa obra acerca do estudo sobre a conjugação dos verbos,
Otelo Reis foi mais longe e deu a forma pego (é) como criação errônea
de cunho popular (1976, p. 90).
10. Ante tais considerações, comparem-se as formas corretas e erradas de
pronúncia de tal particípio passado nos seguintes exemplos: a) “O
assaltante foi pego (ê) pela polícia” (correta); b) “O assaltante foi pego
(é) pela polícia” (errada); c) “Os assaltantes foram pegos (ê) pela
polícia” (correta); d) “Os assaltantes foram pegos (é) pela polícia”
(errada); e) “A fugitiva foi pega (ê) pela polícia” (correta); f) “A
fugitiva foi pega (é) pela polícia” (errada); g) “As fugitivas foram
pegas (ê) pela polícia” (correta); h) As fugitivas foram pegas (é) pela
polícia” (errada).

Péla
Ver Acento diferencial de tonicidade (P. 66).

Pélo
Ver Acento diferencial de tonicidade (P. 66).

Pêlo ou Pelo?
Ver Acento diferencial de tonicidade (P. 66).

Pelo que sei, Ao que sei, …?


Ver Ao que sei ou Pelo que sei? (P. 125)

Pena
Ver Penalizar ou Apenar? (P. 556)

Penalizar ou Apenar?
1. Penalizar é verbo que usualmente tem o sentido de causar pena, afligir.
Exs.: a) “Penalizava-o o ar de tristeza das crianças pobres”; b)
“Penalizava-me assistir ao drama daqueles presos sem julgamento”.
2. Nos meios jurídicos e forenses, também tem sido empregado com
frequência na acepção de punir, impor penalidade. Exs.: a) “O Ibama
penalizou a madeireira”; b) “O juiz penalizou o réu com dois meses de
detenção”.
3. Nessa última significação, todavia, Domingos Paschoal Cegalla (1999,
p. 314) o considera um “neologismo dispensável”, preconizando sua
substituição por punir ou prejudicar, conforme o caso.
4. Apesar disso, Celso Pedro Luft (1999, p. 397) apresenta o referido verbo
exatamente no sentido de impor penalidade a, de sujeitar a penalidade,
de castigar, de punir, como no exemplo: “Penalizar os infratores da lei”.
5. Em verdade tais problemas decorrem de que este verbo é derivado de um
substantivo polissêmico: pena. Este vocábulo pode ter os seguintes
significados: a) castigo – sentido em que forma o verbo apenar
(condenar a pena, aplicar a pena). Ex.: “O juiz apenou o réu”; b) dó,
piedade – sentido em que forma o verbo penalizar (causar pena). Ex.: “A
situação das crianças penalizou o advogado”; c) pluma – sentido em
que forma os verbos empenar (criar penas ou enfeitar com penas) e
depenar ou despenar (tirar as penas ou, na gíria, extorquir dinheiro
astuciosamente). Exs.: i) “O frango, enfim, está empenando”; ii) “Antes
de ser trinchado, o peru deve ser despenado”; iii) “Depenaram o coitado
no cassino”; d) e ainda pode ter o significado de sacrifício, como no
maravilhoso poema de Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena / Se a alma
não é pequena…”.
6. Resuma-se, por fim, que, ante a divergência entre os gramáticos –
Cegalla o considera um neologismo dispensável e Luft lhe defende
integralmente o emprego – deve-se aceitar indistintamente o uso de
penalizar ou de apenar no sentido de aplicar pena ou de impor pena.
Vale, nesse caso, o vetusto brocardo de que, na dúvida entre os
estudiosos, deve-se conferir liberdade ao usuário.

Penalizar – Pode significar impor pena?


1. Um leitor quer solucionar a seguinte dúvida: é correto utilizar o verbo
penalizar no sentido de impor pena?
2. Ora, penalizar é verbo que, no sentido leigo e diário, tem o sentido de
causar pena ou afligir. Exs.: a) “Penalizava-o o ar de tristeza das
crianças pobres”; b) “Penalizava-me assistir ao drama daqueles presos
sem julgamento”.
3. Nos meios jurídicos e forenses, adicionalmente, tem sido empregado na
acepção de punir ou impor penalidade. Exs.: a) “O Ibama penalizou a
madeireira”; b) “O juiz penalizou o réu com dois meses de detenção”.
4. É certo que Domingos Paschoal Cegalla considera o emprego nessa
segunda acepção um “neologismo dispensável” e preconiza sua
substituição por punir ou prejudicar, conforme o caso (1999, p. 314).
5. Apesar disso, Celso Pedro Luft apresenta-o exatamente no sentido de
impor penalidade a, de sujeitar a penalidade, de castigar, de punir. E
ele próprio exemplifica: “Era preciso penalizar os infratores da lei”
(1999b, p. 397).
6. O dicionarista Aurélio Buarque de Holanda Ferreira também abona esse
emprego por último referido: “O juiz penalizou o time” (2010, p. 1.600).
E dessa posição não diverge Antônio Houaiss: “Seria incabível penalizar
um indivíduo sem culpa formada” (2001, p. 2.174).
7. Ora, nesses casos, em que os estudiosos e entendidos da matéria
divergem entre si, o melhor é conferir liberdade ao usuário e ter como
corretas ambas as acepções para tal verbo.
8. Com essas observações como premissas, respondendo diretamente ao
leitor, pode-se concluir que o verbo penalizar tanto pode ser empregado
no sentido leigo de causar pena ou afligir, como no sentido que lhe
conferem os meios jurídicos e forenses, de aplicar pena, punir ou impor
penalidade.
Penhor
Ver Penhora (P. 556).

Penhora
1. Trata-se do “ato judicial de constrição, no processo executivo contra
devedor solvente, com a finalidade de alienar a coisa subtraída à
administração, desse, para, com o produto, satisfazer a dívida executada”
(SIDOU, 1990, p. 412). Ex.: “Pela penhora, o bem do devedor ficou
vinculado à execução que lhe foi movida pelo credor”.
2. Não se faça confusão entre penhor e penhora, institutos jurídicos que
claramente se distinguem: a) “O penhor é a garantia dada pelo devedor,
espontaneamente ou por imposição legal”; b) Já a penhora – ato sempre
determinado pelo juiz – “é a apreensão de bens, dados ou não em
garantia, para que por eles se cobre o credor do que lhe é devido pelo
executado” (DE PLÁCIDO E SILVA, 1989, p. 12).
3. No que tange ao verbo que precede tal vocábulo, é comum ver-se, nos
meios forenses, o uso de expressões como procedida a citação,
procedida a intimação, procedido o inventário, procedida a penhora.
4. A esse respeito, porém, é de se ver que o verbo proceder, dentre seus
significados, tem o sentido de dar início, em que é transitivo indireto,
exigindo a preposição a. Ex.: “O magistrado procedeu ao inventário dos
bens deixados pelo falecido”.
5. Tendo normalmente voz passiva, em nosso idioma, apenas os verbos
transitivos diretos, não os transitivos indiretos, vale transcrever, nesse
sentido, a lição de Aires da Mata Machado Filho: “Na acepção de
instaurar ou fazer, o verbo proceder é relativo (mais precisamente
transitivo indireto na nomenclatura em vigor) e rege a preposição a…
Por ser relativo, não pode ser apassivado; é, pois, errônea a construção:
As análises foram procedidas – em vez de: – Procedeu-se às análises.
Também em lugar de exame procedido se deve dizer exame realizado, ou
coisa parecida” (1969, p. 606).
6. Exatamente pelos aspectos referidos, incorretas são as expressões
procedida a citação, procedida a intimação, procedido o inventário,
procedida a penhora.
7. Em seu lugar, dever-se-á dizer: feita a citação, ou efetivada a intimação,
ou realizado o inventário, ou lavrada a penhora.
Ver Voz passiva – Quando é possível? (P. 793)

Pensamos
Ver Primeira pessoa do plural (P. 600).

Pênsil
1. Após referir que, em Portugal, tal vocábulo se insere entre os
paroxítonos, formando o plural em eis, Júlio Nogueira (1930, p. 165)
estranhamente observa que, no Brasil, a tendência da língua é tê-los por
oxítonos, fazendo, por conseguinte, o plural em is: portanto, pensil e
pensis.
2. O autor do presente trabalho, todavia, confessa jamais ter ouvido de
outrem semelhante lição, nem alguém pronunciar no Brasil tal vocábulo
com o acento oxítono (pensil), mas sim com o acento paroxítono
(pênsil).
3. Em corroboração a esse entendimento, o Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras – que é o veículo
oficial para dirimir dúvidas acerca da existência ou não de vocábulos em
nosso idioma, bem como de sua correta pronúncia e acentuação gráfica –
registra, em sua edição de 1999, tão somente pênsil para o singular e
pênseis para o plural (p. 575). As edições de 2004 e 2009, no entanto,
nada trazem a respeito da pronúncia, mas registram o vocábulo apenas
entre as paroxítonas (2009, p. 636), motivo pelo qual assim devemos
considerá-lo, até porque essa posição é a lei.

Penso
Ver Primeira pessoa do plural (P. 600).

Pequeno
Ver Mais grande ou Maior? (P. 453)
Pequeno Vocabulário
1. Designação resumida do Pequeno Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, aprovado e publicado pela Academia Brasileira de Letras e
mandado adotar oficialmente no Brasil, em 1943 (BERGO, 1944, p.
188).
Ver Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (P. 785).

Per
Ver Preposição – Quando deve ser repetida? (P. 595).

Perante – Como usar?


1. Trata-se de preposição que tem o sentido de ante, diante de. Ex.: “Enfim,
o réu estava perante o juiz”.
2. Observe-se que a preposição é perante, e não existe a locução
prepositiva perante a; não se esqueça, como bem lembra Domingos
Paschoal Cegalla, que “a preposição a, aqui, é demasiada” (1999, p.
315).
3. Vejam-se, por conseguinte, as formas adequadas de expressão: perante o
juiz (e não perante ao juiz), perante eles (e não perante a eles), perante
o qual (e não perante ao qual).
4. Alinham-se alguns exemplos de emprego correto do referido vocábulo
em nossa legislação: a) “No caso de transporte cumulativo, todos os
transportadores respondem solidariamente pelo dano causado perante o
remetente…” (CC, art. 756); b) “Subsistirá a responsabilidade do
segurado perante o terceiro, se o segurador for insolvente” (CC, art.
787, § 4º); c) “O estipulante não representa o segurador perante o grupo
segurado, e é o único responsável, para com o segurador, pelo
cumprimento de todas as obrigações contratuais” (CC, art. 801, § 1º); d)
“A ação intentada perante tribunal estrangeiro não induz litispendência,
nem obsta a que a autoridade judiciária brasileira conheça da mesma
causa e das que lhe são conexas” (CPC/1973, art. 90); e) “Correndo o
processo perante outro juiz, serão os autos remetidos ao juiz competente
da Capital do Estado ou Território, tanto que neles intervenha uma das
entidades mencionadas neste artigo” (CPC/1973, art. 99, parágrafo
único); f) “Correndo em separado ações conexas perante juízes que têm
a mesma competência territorial, considera-se prevento aquele que
despachou em primeiro lugar” (CPC/1973, art. 106).
Ver Junto a, Junto de ou Junto em? (P. 439)

Perca – Existe?
Ver Existe em português? (P. 346)

Percentagem ou Porcentagem?
Ver Porcentagem ou Percentagem? (P. 575)

Percentual ou Porcentual?
1. Nos dizeres de Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 315), ao considerar
os vocábulos percentual e porcentual, “ambas as formas são corretas,
mas a mais usada é a primeira”.
2. O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia
Brasileira de Letras, que é o veículo oficial para dirimir dúvidas acerca
da existência ou não de vocábulos em nosso idioma, também registra
ambas as formas, dando-as como variantes e sinônimas (2009, p. 638 e
667), o que implica asseverar que está oficialmente autorizado o
emprego de qualquer uma delas.
Ver Porcentagem ou Percentagem? (P. 575)

Perdas e danos
1. Expressão consagrada no ordenamento jurídico para significar
genericamente prejuízo, constitui a responsabilidade patrimonial do
devedor, quando este não cumpre a obrigação, ou deixa de cumpri-la
pelo modo e no tempo devidos (art. 1.056 do Código Civil); salvo as
exceções previstas pelo próprio Código, nos termos do art. 1.059, caput,
do mesmo diploma civil, as verbas devidas a tal título abrangem, além
do que o credor efetivamente perdeu (dano emergente), o que ele
razoavelmente deixou de lucrar (lucro cessante).
2. Apresenta a expressão uma peculiaridade quanto à concordância
nominal, observável facilmente no mencionado art. 1.059 do Código
Civil de 1916: “As perdas e danos devidos ao credor…”: o artigo as, que
antecede os substantivos, está no feminino, enquanto o adjetivo devidos,
que se refere a ambos os substantivos, está no masculino.
3. No caso, tanto o as (um artigo) como devidos (forma verbo-nominal de
particípio passado do verbo dever) são palavras de valor adjetivo, as
quais se referem concomitantemente a dois substantivos: perdas
(feminino plural) e danos (masculino plural).
4. Ora, pelas regras de concordância nominal, se o adjetivo ou palavra
equivalente modificam dois ou mais substantivos e a estes precedem,
concordam, por regra, com o mais próximo; no caso, o artigo as está no
feminino plural exatamente para concordar com o núcleo mais próximo,
a saber, com perdas.
5. Por outro lado, também pelas regras de concordância nominal, se o
adjetivo qualifica dois ou mais substantivos e vem depois deles, pode
concordar com a soma deles ou com o mais próximo; na hipótese sob
análise, o adjetivo devidos está no masculino plural, e isso se dá quer
porque o substantivo mais próximo é masculino plural, quer porque a
soma dos dois substantivos (feminino plural mais masculino plural) só
resulta em masculino plural.
6. Pelas próprias observações feitas, vê-se que tecnicamente inviável a
concordância “as perdas e danos devidas…”; em realidade, afastada a
possibilidade de tal significar concordância com o núcleo mais próximo,
não se há de olvidar que, se há um núcleo masculino em tais casos, a
resultante soma sempre será masculino plural.
7. Significativos exemplos de Eduardo Carlos Pereira demonstram o acerto
da construção as perdas e danos devidos, em que o artigo inicial
concorda com o substantivo mais próximo (perdas), enquanto o adjetivo
final concorda com a soma de ambos os substantivos (perdas + danos),
de que resulta o gênero masculino: “Seus temores e esperanças vãs” ou
“suas esperanças e temores vãos”, exemplos esses que são transcritos e
abonados por José de Sá Nunes (1938, p. 65-6).

Perder de ou Perder para?


1. Quando se faz uma indagação como essa – perder de ou perder para? –
quer-se saber, em suma, que preposição está a exigir o verbo perder para
o seu complemento.
2. Esse assunto de relacionamento entre as palavras na frase diz respeito a
uma parte da Gramática denominada sintaxe (do grego sin = conjunto +
taxe = construção).
3. E o capítulo específico da Gramática que trata das preposições exigidas
pelo verbo para iniciar seu complemento chama-se regência verbal.
4. Em nosso idioma, as questões de construção, ou seja, de sintaxe, são
solucionadas pelo uso que nossos melhores autores, desde Camões
(1524-80), fizeram do idioma pátrio. E a expressão melhores autores
deve abranger aqueles escritores que empregaram o vernáculo com
apuro e zelo.
5. Buscar, porém, na obra literária dos nossos melhores autores, como
empregaram a regência do verbo perder, por exemplo, é como procurar
agulha em um palheiro.
6. Mas essa pesquisa não é necessária, pois, de um modo geral, estudiosos
e gramáticos já realizaram estudos nesse sentido, compilaram milhares
de exemplos e sistematizaram, em monografias preciosas, grande parte
da sintaxe de vocábulos dessa natureza.
7. De modo específico para a indagação feita, o gramático Domingos
Paschoal Cegalla ensina que o verbo perder, “na acepção de ser vencido,
constrói-se comumente com a preposição de”. Ex.: “O Fluminense
perdeu do Flamengo”.
8. Quando se quantifica o resultado do jogo, acrescenta tal autor que se
pode usar uma de duas preposições: de ou por. Exs.: a) “O Santos
perdeu do São Paulo de 3 a 2”; b) “O Santos perdeu do São Paulo por 3
a 2”.
9. E ainda assim finaliza sua lição: “Parece-nos boa também a regência
perder para”. Exs.: a) “A Itália perdeu para o Brasil por 3 a 1”; b)
“Portugal perdeu de 2 a 1 para a Espanha” (CEGALLA, 1999, p. 315).
10. Em síntese, de modo específico para a indagação inicialmente posta,
tanto se pode dizer perder de como perder para. Vale aqui o princípio
de que, quando abalizados autores permitem mais de uma construção,
não se deve vedar ao usuário nenhuma delas.
Ver Regência verbal (P. 651).

Perdoar
1. Quanto à regência verbal considerada em sua forma ortodoxa, tem esse
vocábulo duas transitividades.
2. É verbo transitivo direto, se o complemento é coisa. Exs.: a) “O
Vencedor perdoou o débito”; b) “O vencedor perdoou-o”.
3. É transitivo indireto, se o complemento é pessoa. Exs.: a) “O vencedor
perdoou ao vencido”; b) “O vencedor perdoou-lhe”.
4. Admite também ser construído com os dois complementos. Exs.: a) “O
vencedor perdoou o débito ao vencido”; b) “O vencedor perdoou-lho”.
5. Em termos históricos, Pedro A. Pinto (1924, p. 232-5), sem outras
considerações, mas trazendo consigo exemplos de Francisco de Morais,
de Bernardim Ribeiro e de Machado de Assis, reputa igualmente correto
construí-lo com objeto direto, mesmo quando se trata de complemento
que seja pessoa, dando o exemplo: “Assim procedeu, porque sabia que o
governo havia de perdoá-lo”.
6. Otoniel Mota (1916, p. 214) chega a lecionar que a sintaxe com o objeto
indireto seria mais usual no português antigo, e que a tendência moderna
seria abolir tal construção, de modo que comum é que se ouça fora dos
meios cultos e da literatura “perdoei o homem”, e não “perdoei ao
homem”.
7. Lembra Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 316) que, “no português
moderno, é corrente a construção perdoar alguém, ainda que contrarie o
ensino dos gramáticos”. Exs.: a) “Bruna não a perdoaria nunca, se a
visse assim” (Lygia Fagundes Teles); b) “Queria perdoá-lo, embora com
dúvidas, pois sabia que esse homem era um enigma” (José Geraldo
Vieira).
8. Nos dizeres de Silveira Bueno (1957, p. 333), referindo-se a pessoas, “o
verbo perdoar tanto pode reger complemento indireto (perdoai-lhes)
como direto (perdoai-os)”.
9. Já Artur de Almeida Torres (1967, p. 224), em posicionamento mais
ortodoxo, após reconhecer que esse verbo “no português antigo regia
acusativo de pessoa” (vale dizer, permitia a construção da pessoa como
objeto direto), “atualmente só rege acusativo de coisa e dativo de pessoa:
perdoar alguma coisa a alguém” (isto é, a coisa só pode ser objeto direto,
e a pessoa só pode ser objeto indireto).
10. Em indispensável obra, Francisco Fernandes assim posiciona o
problema: a) “Nos clássicos antigos é comum encontrar-se o verbo
perdoar com o acusativo de pessoa” (objeto direto); b) “Otoniel Mota
aceita, ainda hoje, semelhante regência…, ao passo que E. Carlos
Pereira…, Júlio Nogueira… e outros a rejeitam por anacrônica…”
(FERNANDES, 1971, p. 457-8).
11. De Celso Pedro Luft (1999, p. 399) se podem extrair as seguintes
lições: a) “Perdoar algo a alguém é a construção primária, com objeto
direto de coisa e indireto de pessoa”; b) “Mas também ocorre objeto
direto de pessoa, perdoar alguém (perdoá-lo), construção derivada, nos
clássicos antigos e modernos” (Camões e Machado de Assis); c) A
construção com objeto direto de pessoa “é sintaxe usual no português
contemporâneo do Brasil”; d) “Essa alteração de regência tem
explicação semântica (influência de escusar ou desculpar, e poupar)…
e sintática: na ausência (por indeterminação) do objeto direto (de
coisa), pode o indireto tomar-lhe o lugar”; e) “Não há pois motivo para
gramáticas e dicionários… continuarem reprovando essa sintaxe”; f)
“O mais que se pode é aconselhar a sintaxe primária, lógica, para a
linguagem culta formal”.
12. De toda essa polêmica entre os doutos, o melhor, ainda para os dias de
hoje, parece ser dar preferência, nos textos que devam submeter-se à
norma culta, como é o caso dos jurídicos e forenses, à estruturação fixa
(objeto direto para coisa e objeto indireto para pessoa), muito embora
não se possa, ante a autoridade dos que defendem postura mais liberal,
condenar como errados exemplos que fazem da pessoa um objeto
direto.
13. De Portugal vêm dois exemplos de seu emprego no âmbito das leis: a)
“A doação não é revogável por ingratidão do donatário: […] c) Se o
doador houver perdoado ao donatário” (CCp, art. 975º, c); b) “O
marido não poderá querelar, se perdoou a qualquer dos corréus, ou se
reconciliou com a mulher” (CPp, art. 402º)
Ver O devedor foi perdoado – Está correto? (P. 518), Voz passiva –
Quando é possível? (P. 793) e Voz passiva sintética (P. 794).

Perdoar a alguém por algo – É correto?


1. Um leitor quer saber, em suma, qual é a forma correta de construir uma
frase com o verbo perdoar: a) “Perdoai as nossas ofensas”; b) “Perdoai-
nos as nossas ofensas”; c) “Perdoai-nos por nossas ofensas”.
2. A pergunta do leitor, em termos técnicos, busca saber que o tipo de
complemento pede o verbo perdoar. Trata-se, portanto, de questão
referente a regência verbal.
3. Quanto à regência verbal considerada em sua forma ortodoxa, tem esse
vocábulo duas transitividades.
4. É verbo transitivo direto, se o complemento é coisa. Exs.: a) “O
vencedor perdoou o débito”; b) “O vencedor perdoou-o”.
5. É transitivo indireto, se o complemento é pessoa. Exs.: a) “O vencedor
perdoou ao vencido”; b) “O vencedor perdoou-lhe”.
6. Admite também ser construído com os dois complementos. Exs.: a) “O
vencedor perdoou o débito ao vencido”; b) “O vencedor perdoou-lho”.
7. A par dessas construções, Celso Pedro Luft abona, de modo expresso, a
construção “perdoar alguém por” e traz o exemplo “Perdoou a esposa
pelas faltas cometidas” (1999b, p. 399). Como se vê, defende ele que a
pessoa funcione como objeto direto e que a coisa seja um objeto indireto
precedido pela preposição por. Embora essa construção arcaica de
considerar a pessoa um objeto direto tenha sido defendida, várias
décadas atrás, por gramáticos do porte de Otoniel Mota (FERNANDES,
1971, p. 457), trata-se de construção inaceitável, por anacrônica, pela
norma culta dos dias de hoje, de modo que não se admite, atualmente,
que, com esse verbo, a pessoa funcione como objeto direto.
8. Mas parece totalmente aceitável que se mantenha, em linhas gerais, tal
estrutura, desde que se torne a pessoa um objeto indireto: “Perdoou à
esposa pelas faltas cometidas”. Nesse caso, ter-se-ia o que os estudiosos
chamam de verbo bitransitivo indireto, vale dizer, um verbo construído
com dois objetos indiretos.
9. Feitas essas considerações, pode-se dizer, quanto à indagação específica
do leitor, que seu primeiro exemplo (“Perdoai as nossas ofensas”) está
correto, porque o verbo perdoar admite ser construído apenas com o
objeto direto de coisa (“as nossas ofensas”).
10. No que tange ao segundo exemplo (“Perdoai-nos as nossas ofensas”),
pode-se afirmar que ele também está correto, porque o verbo perdoar
admite ser construído, a um só tempo, com um objeto direto de coisa
(“as nossas ofensas”) e com um objeto indireto de pessoa (“nos” = a
nós).
11. Por fim, quanto ao terceiro exemplo (“Perdoai-nos por nossas
ofensas”), parece que deva ser aceito como correto pelas mesmas
razões acima explicitadas para validação do exemplo “Perdoou à
esposa pelas faltas cometidas”; mas isso desde que se entenda o nos
como objeto indireto (= a nós), de modo que se tenha, então, um verbo
bitransitivo indireto.
12. Vale dizer: para fins de análise sintática, nesse último caso, o nos será
objeto indireto, enquanto por nossas ofensas também será objeto
indireto.
13. Importante esse esclarecimento, uma vez que o pronome nos tanto
pode funcionar como objeto direto (como em “Ele viu-nos”), como
pode ser objeto indireto (como em “Pareceu-nos totalmente inoportuna
sua visita”).

Performance – Existe?
1. Mais uma vez se torne a uma observação importante: a autoridade para
fixar a existência das palavras em nosso idioma é da Academia
Brasileira de Letras, que edita regularmente o Vocabulário Ortográfico
da Língua Portuguesa, uma espécie de dicionário que lista as palavras
reconhecidas oficialmente como pertencentes ao nosso léxico, bem como
lhes fornece a grafia oficial, muito embora normalmente não lhes
comente o significado.
2. Ao editar regularmente o VOLP, a ABL desincumbe-se de uma
delegação legal, já que a vetusta Lei Eduardo Ramos, de n. 726, de
8/12/1900, incumbiu-a de editar regularmente essa lista oficial dos
vocábulos de nosso idioma.
3. Ora, uma consulta à edição de 2009 da mencionada obra revela a
ausência do vocábulo performance como integrante de nosso léxico,
registrando-o apenas entre as palavras estrangeiras (p. 863), de modo
que ele há de ser tido, para todos os efeitos, como palavra não
pertencente ao nosso idioma.
4. Os que poderiam pensar em ver no mencionado vocábulo um
neologismo não devem esquecer que, para a existência regular deste no
idioma, faz-se, tecnicamente, dupla exigência: estruturação adequada em
nosso idioma + ausência de sinônimo em nossa língua. Essa, aliás, é a
lição de Napoleão Mendes de Almeida: “Para que se justifique, o
neologismo deve, antes de tudo, ser necessário e, depois, formado de
acordo com o gênio da língua. Não sendo conveniente nem corretamente
formado, o neologismo passa a ser barbarismo” (1981, p. 208).
5. Para o caso específico de performance, tem-se um sinônimo perfeito,
que se enquadra em toda a ampla acepção do vocábulo considerado, que
é desempenho, o que torna injustificável a tese de um neologismo.

Pérfuro
1. Trata-se de adjetivo que tem o sentido de perfurante, servindo de
primeiro elemento para a formação de outros adjetivos.
2. Em Medicina Legal, é termo que serve para indicar os instrumentos ou
armas normalmente terminados em pontas agudas, que perfuram os
órgãos, distinguindo-se “dos contundentes, que somente batem ou
malham, e dos cortantes, que têm gume para cortar” (DE PLÁCIDO E
SILVA, 1989, p. 352).
3. Como primeiro elemento de adjetivo composto, pode associar-se a
outros, daí resultando perfurocontundente, ou perfurocontuso, e
perfurocortante, conforme tenha o instrumento ou arma a capacidade de,
ao mesmo tempo, perfurar e bater, ou de perfurar e cortar.
4. Ao longo dos tempos, quanto à grafia de adjetivos compostos assim
formados, havia divergência entre os doutos, a começar por Aurélio
Buarque de Holanda Ferreira (s/d, p. 1.069), que unia os dois elementos
em uma só palavra, registrando perfurocortante.
5. Já Napoleão Mendes de Almeida (1981, p. 231) e Cândido Jucá Filho
(1963, p. 479) uniam por hífen os dois elementos, obviamente
acentuando o adjetivo sob estudo, por proparoxítono: pérfuro-contuso,
pérfuro-cortante.
6. Registre-se que Silveira Bueno (1938, p. 218) se insurge contra a
pronúncia proparoxítona (pér) de tal adjetivo, aduzindo que o caso é de
simples justaposição, hipótese em que conserva cada termo a sua
primitiva prosódia; assim, para ele, a pronúncia do primeiro adjetivo há
de ser paroxítona (fu).
7. Observe-se, contudo, que o que se tem ouvido no foro é, apenas e tão
somente, a pronúncia pér.
8. Anote-se, por fim, quer quanto à grafia, quer quanto à pronúncia, que o
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira
de Letras, órgão oficialmente incumbido de definir quais as palavras
integrantes de nosso léxico, além de sua correta grafia, pronúncia e
acentuação, em sua primeira edição após o Acordo Ortográfico de 2008,
repetindo o que fixara desde sua primeira edição (1999), não registra
autonomamente o elemento pérfuro nem perfuro, e, quanto aos
compostos, apenas faz constar perfurocortante, assim sem hífen e sem
possibilidade de verificação da prosódia adotada (2009, p. 639).

Perícia a fazer(-se) – Está correto?


Ver A fazer – Está correto? (P. 91)

Peritagem – Está correto?


1. Embora seja palavra de uso comum nos meios jurídicos e forenses,
alguns a têm por inexistente em nosso léxico, além de desnecessária,
motivo por que preconizam sua substituição por perícia.
2. Anote-se, todavia, que o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa,
da Academia Brasileira de Letras, órgão oficialmente incumbido de
definir quais as palavras que integram nosso léxico, faz seu normal
registro (2009, p. 641).
3. Isso quer significar, em suma, que seu emprego está oficialmente
autorizado em nosso idioma nos textos que devam submeter-se à norma
culta.
Ver Esperto ou Experto? (P. 330)

Perito ou Périto?
1. Quanto à prosódia, trata-se de palavra paroxítona, tendo maior força de
pronúncia sobre a penúltima sílaba (rí).
2. Não se sabe de onde se originou o erro comum de sua grafia e pronuncia
como proparoxítona (périto); talvez do desejo de demonstrar falsa
erudição nos meios jurídicos por parte de alguns despreparados.
3. Seu sinônimo muito usado, e corretamente, é experto.
Ver Peritagem – Está correto? (P. 561)

Permissa venia
Ver Adjetivação desnecessária (P. 80).

Perquirir
1. Em inquérito, inquirir, perquirir, o u não é pronunciado, como, aliás,
bem lembra Silveira Bueno (1938, p. 179).

Perseguir
1. Tendo o grupo gu, neste caso, a exclusiva finalidade de conferir ao g seu
som original antes de e e de i, os verbos em guir (quando o u não é
proferido) perdem o u antes de a e de o; assim: persigo, persegues,
perseguimos, persigamos.
2. Seguem o mesmo modelo todos os verbos terminados em guir, desde
que o u não seja pronunciado (conseguir, distinguir, extinguir, prosseguir,
seguir).
3. Em oportuna observação, Carlos Góis e Herbert Palhano (1963, p. 113)
lembram, com propriedade, que, dos verbos terminados em guir, apenas
arguir e redarguir têm o u pronunciado.
Personagem
1. Para Napoleão Mendes de Almeida, seu gênero fixo é o feminino, ainda
que se refira a pessoa do sexo masculino. Ex.: “Otelo é uma personagem
muito expressiva da criação de Shakespeare”.
2. Segundo tal autor, constituiria galicismo o uso de tal vocábulo com o
gênero masculino (ALMEIDA, 1981, p. 232).
3. Para Domingos Paschoal Cegalla, “com referência a mulheres deve-se
usar o feminino: Capitu é a personagem central do romance Dom
Casmurro” (1999, p. 317).
4. Cândido Jucá Filho, porém, embora reconheça ser mais regular o
feminino, aponta-a como palavra tanto masculina quanto feminina, cujo
uso independe do gênero do vocábulo a que se refere, como dá
testemunho o exemplo que cita: “Caxias foi uma grande personagem na
Guerra do Paraguai” (1963, p. 481).
5. Para João Ribeiro, “hoje se diz arbitrariamente: o ou a personagem”
(1923, p. 70), acrescentando tal gramático, em outra passagem de sua
obra, que tal vocábulo “ainda hoje tem gênero incerto” (p. 158).
6. Aurélio Buarque de Holanda Ferreira também partilha do entendimento
desse último autor, exemplificando de modo expressivo: “A criança é
um dos personagens mais bonitos do quadro” (s/d, p. 1.075).
7. Júlio Ribeiro arrola-o entre os substantivos que “são indiferentemente
masculinos ou femininos” (1908, p. 88).
8. Também para Evanildo Bechara (1974, p. 87), a palavra tanto pode ser
masculina quanto feminina.
9. Celso Cunha, de modo taxativo, leciona: “Diz-se, indiferentemente, o
personagem ou a personagem com referência ao protagonista homem ou
mulher” (1970, p. 98).
10. Vasco Botelho de Amaral observa que “continua e continuará talvez a
hesitação acerca do gênero desta palavra, que nuns autores surge
masculina, noutros feminina e, às vezes, no mesmo ora masculina ora
feminina, como em Herculano”.
11. Acrescenta que, no início do século, dava-se preferência ao feminino,
muito embora em Camilo Castelo Branco predominasse o masculino
(AMARAL, 1939, p. 47).
12. Cândido de Oliveira (1961, p. 134) arrola-o entre os comuns de dois
gêneros: a) “Hamlet é um personagem difícil de interpretar”; b)
“Julieta é uma personagem romântica”.
13. Cândido Jucá Filho registra que, no português arcaico, “inúmeras
palavras que tinham o sufixo agem eram masculinas. Com o tempo,
todas vieram dar em feminino, apesar do castelhano e do francês terem
preferido o masculino. Personagem, porém, ficou indeciso, quer se
trate de homem, quer de mulher… No Brasil, tem predominado
porventura o masculino, mesmo tratando-se de mulher” (1954, p. 30).
14. Lembrando que se usa tal vocábulo, indiferentemente, como masculino
e como feminino, observa Sousa e Silva que “a condenação do
masculino é mero arbítrio, não se apoia nos fatos da linguagem” (1958,
p. 210).
15. Para Arnaldo Niskier, “apesar de os puristas insistirem em considerar
personagem como um substantivo exclusivamente feminino,
modernamente, ele pode também ser usado no masculino” (1992, p.
55).
16. Dirimindo quaisquer dúvidas, o Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de Letras e portador da
incumbência de listar oficialmente as palavras de nosso léxico, registra
personagem como um substantivo de dois gêneros (2009, p. 643), o
que permite extrair duas conclusões: a) a palavra pode ser empregada
no masculino ou no feminino, indiferentemente; b) tal uso facultativo
independe do gênero da palavra a que se refira, de modo que estão
corretas todas as seguintes expressões: a) “Capitu é a personagem
central do romance Dom Casmurro”; b) “Capitu é o personagem
central do romance Dom Casmurro”; c) “Caxias foi um grande
personagem na Guerra do Paraguai”; d) “Caxias foi uma grande
personagem na Guerra do Paraguai”.

Perto de
1. No que concerne à concordância verbal, de Laudelino Freire (1937b, p.
64) vem oportuna observação: “Se o atributo no plural vier regido de
locução prepositiva – cerca de, perto de, mais de, menos de, etc. –, o
verbo pode ficar no singular”. Exs.: a) “É perto de onze horas” (correto);
b) “São perto de onze horas” (correto); c) “Eram mais de dez horas”
(correto); d) “Era mais de dez horas” (correto).
2. Em tais circunstâncias, no ensino de Artur de Almeida Torres, “o verbo
ser, quando seguido das expressões perto de, cerca de e um numeral,
poderá ficar no singular ou no plural” (1966, p. 150). Exs.: a) “Era perto
de nove horas” (Machado de Assis); b) “Eram perto das duas horas”
(Alexandre Herculano); c) “Eram cerca de quatro horas” (José de
Alencar).

Pesar
1. Na conformidade com lição de Mário Barreto, este verbo tem um
primeiro sentido de medir o peso ou ter o peso, hipótese em que sua
pronúncia é aberta (é) nas formas rizotônicas. Ex.: “Pesa-me muito a
carga sobre os ombros”.
2. Na significação de dor, de arrependimento, todavia, ainda segundo
ensinamento do referido gramático, sua pronúncia é fechada (ê),
acrescentando ele que, em tal hipótese, o complemento se forma com a
preposição de (BARRETO, 1954b, p. 225), hipótese em que, no ensino
de Francisco Fernandes, a preposição serve para “indicar a causa do
pesar ou do arrependimento” (1971, p. 461). Exs.: a) “Pesa-me muito de
haver ofendido a Deus e aos homens”; b) “Pesa-nos, ó Deus, de tanta
ingratidão!” (Monte Alverne).
3. Para Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 318), entretanto, tal
pronúncia fechada do verbo é arbitrária e afetada.
4. No que concerne à pronúncia fechada no caso referido, talvez até pelos
comuns equívocos que acontecem na vida prática, o Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras,
órgão incumbido oficialmente de determinar a existência dos vocábulos
em nosso idioma, em sua edição de 1999, contrariamente a seu usual
proceder e finalidade, asseverava de modo textual para o verbo pesar:
“como sentir desgosto, o e, se rizotônico, é fechado” (p. 582). Essa
observação não se encontra repetida nas edições de 2004 e 2009, que
nada comentam a respeito (2009, p. 644).
Ver Em que pese a (P. 313).
Pesquisar
1. Para bem se guardar a escrita de tal vocábulo, duas regras de ortografia
devem ser consideradas.
2. Por primeiro, se se tem de acrescentar a um radical o sufixo izar inteiro
para formar um verbo, grafa-se com z: fiscal, útil (primitivas) fazem
fiscalizar, utilizar (derivadas).
3. Se, porém, já existe s no radical, é ele aproveitado: análise, pesquisa,
catálise (primitivas) fazem analisar, pesquisar, catalisar.
Ver Ortografia (P. 533) e Regras de ortografia (P. 652).

Pessoa humana – Redundância?


1. Do latim persona, o termo pessoa designa o próprio ser humano,
abrangendo, também as entidades e criações jurídicas, personalizadas ou
personificadas por força de lei (DE PLÁCIDO E SILVA, 1989, p. 365).
2. Para significar o ser humano, também se pode dizer pessoa natural ou
pessoa física, para se fazer contraposição à pessoa jurídica.
3. Dizer, porém, pessoa humana, é redundância desnecessária e tautologia
imperdoável, da mesma espécie de acordo amigável, pessoa viva e
sentença de primeira instância.
4. Josué Machado, coletando lapsos dessa natureza nos jornais, refere a fala
de um ex-ministro que, acuado em discussão com aposentados, retrucou:
“Eu exijo respeito a minha pessoa humana”.
5. Em outra passagem, também anota tal autor o não menos equivocado
título de um artigo publicado por uma ex-ministra em jornal de grande
circulação em terras paulistas: “Pela Valorização da Pessoa Humana”
(MACHADO, 1994, p. 113 e 244).
Ver Pessoa viva – Redundância? (P. 563)

Pessoa viva – Redundância?


1. O Código Civil de 1916 estabelece textualmente, por um lado, que “a
personalidade civil do homem começa do nascimento com vida” (art.
4º); por outro lado, delimita que “a existência da pessoa natural termina
com a morte” (art. 10).
2. Da exegese desses dispositivos, extraem-se duas conclusões: por
primeiro, que o nascituro ainda não é pessoa, muito embora a lei ponha a
salvo “desde a concepção” os seus direitos (art. 4º); por outro lado, com
a morte de alguém, já não há mais pessoa alguma, porém um defunto,
operando-se a sucessão, com a transmissão de seus bens, desde logo, aos
herdeiros legítimos e testamentários (CC/1916, arts. 1.572 e s.).
3. Assim, não se podendo falar em pessoa morta, de igual modo há de
configurar rematada tautologia dizer pessoa viva, equívoco esse em que
incide o próprio art. 1.089 do Código Civil de 1916, apesar do conhecido
esforço de Rui Barbosa na tentativa de aperfeiçoar o padrão gramatical
do projeto: “Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva”.
4. Em oportuna observação acerca do artigo de lei por último referido,
anota Eliasar Rosa que falaria o legislador brasileiro com mais
propriedade, “se dissesse que não pode ser objeto de contrato herança
futura, ou, segundo o Código Civil italiano, sucessão ainda não aberta”
(1993, p. 107).
5. De mesma espécie são os erros acordo amigável e sentença de primeira
instância.
Ver Pessoa humana – Redundância? (P. 563)

Petição inicial
1. Por um lado, ao literato, que produz arte, confere-se liberdade de criação
para, em um jogo de palavras, encontrar a melhor forma de sugerir no
leitor um sentimento, o qual nem sempre foi sequer pretendido ou
pensado pelo escritor; por outro lado, ao profissional do Direito, que
produz ciência, impõe-se a obrigatoriedade de emprego da linguagem de
padrão culto, correta quanto à Gramática e apropriada quanto à
expressão.
2. Por pertencer à ciência, a linguagem do Direito é técnica e precisa, e,
assim, por via de regra, como em todas as demais ciências, será
inconveniente substituir seus termos e locuções por sinônimos, a
pretexto de evitar repetições, e isso sob pena de se incorrer na
impropriedade de expressão e de se descambar para o pernosticismo.
3. Para exemplificar, é de se ver que, apenas no capítulo respectivo que
trata do assunto, o Código de Processo Civil, em catorze artigos
(282/296), menciona nada menos do que nove vezes a palavra petição ou
a expressão petição inicial; nenhuma vez se dá, contudo, pela dicção da
lei, sua substituição por sinônimos.
4. Alguns operadores do Direito, porém, tanto para evitar repetições,
quanto para demonstrar pretensa erudição, quase nunca empregam a
adequada palavra petição ou a expressão petição inicial, mas preferem
dizer exordial, preambular, prefacial, proemial, peça vestibular, petição
de introito, esquecidos de que perfunctória consulta ao dicionário revela,
por exemplo, que petição inicial não é exórdio, nem prefácio, nem
proêmio algum do processo.
5. Incide nesse equívoco Luciano Correia da Silva ao observar, sem
qualquer reparo, que a petição inicial é “também chamada vestibular,
preambular, exordial, entre outras expressões sinônimas na linguagem
forense” (1991, p. 265).
6. Em lição abrangente para o Processo Civil e para o Processo Penal,
observa Geraldo Amaral Arruda que denúncia e petição inicial “são
expressões técnicas às quais será difícil fugir de repetir nas sentenças”.
7. E adiciona energicamente tal autor: “convém evitar o mau gosto de
substituí-las por expressões como: peça inaugural; peça processual,
exordial, exordial acusatória, pretensão punitiva inaugural, inaugural
acusatória, vestibular, peça depositária da pretensão punitiva, peça
denunciatória, requisitório ministerial” (ARRUDA, 1997, p. 12).
8. As mesmas observações, como se percebe, valem para a denúncia no
Processo Penal.
Ver Adjetivação desnecessária (P. 80) e Esposo ou Marido? (P. 331)

Peticionar mal e porcamente – Está correto?


Ver Mal e parcamente ou Mal e porcamente? (P. 457)
Pior
Ver Mais mal ou Pior? (P. 454)

Pior má-fé
1. Quando se diz má-fé, a junção do adjetivo com o substantivo faz com
que se origine uma só ideia, de tal modo que a expressão passe a
significar deslealdade, resultando, psicologicamente, uma só palavra,
uma unidade lexicológica, o que, no caso, se reforça pela presença do
hífen, obrigatório, como se vê da grafia apresentada pelo Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras,
órgão oficialmente incumbido de definir quais as palavras integrantes de
nosso léxico, além de sua correta grafia e acentuação (2009, p. 517).
2. Ante tal consideração parece perfeitamente lícito dizer pior má-fé, como
ocorre com o seguinte exemplo de Camilo Castelo Branco: “Isso me
parece interessante – retorquiu a tia, deixando no ar um resquício da
pior má-fé” (BRANCO apud MACHADO FILHO, 1969i, p. 117-8).
3. Leciona, em verdade, Eduardo Carlos Pereira (1924, p. 294) que, em
casos dessa natureza, “não assume o adjetivo a forma sintética do
comparativo”, porquanto “a língua tende a considerar essas expressões
como substantivos compostos”, e, assim, se deverá dizer: pior má-fé.
4. Significativa lição de Vitório Bergo para a expressão antônima melhor
boa-fé tem integral aplicação ao caso vertente: “Esta expressão soa hoje
como uma palavra composta, em que o adjetivo boa se tem na conta de
prefixo. Daí a frequência com que se ouve o superlativo a melhor boa-fé,
no qual parece ter havido esquecimento da redundância mais boa boa-
fé” (1944, p. 42).
5. Tais observações valem para expressões com mesma estrutura: bom-
senso, boa-fé.

Pires – Qual é seu plural?


Ver Ônibus – Qual é seu plural? (P. 529)

Pisar a (ou à ou na) grama?


1. Quanto à regência do verbo pisar, importa observar qual a forma correta:
pisar a grama, pisar à grama ou pisar na grama.
2. Como se faz sempre com respeito a indagações dessa natureza, é bom
esclarecer, de início, que, quando se quer saber que preposição se
emprega após um verbo, tecnicamente se tem um problema relacionado
à regência verbal.
3. E a resposta para uma indagação dessa natureza encontra-se com aqueles
escritores que se expressaram de forma mais apurada no respeito ao
idioma.
4. Para que, todavia, não precisemos ler uma imensidade de autores apenas
a fim de localizar resposta a alguma dúvida que tenhamos nesse campo,
alguns estudiosos da língua já fizeram preciosos estudos e exaustivas
coletas de exemplos, de modo que basta consultar tais obras específicas.
5. Assim, Francisco Fernandes (1971, p. 464), para o significado de pôr o
pé sobre alguma coisa, ensina que o mencionado verbo aceita um
complemento sem preposição, ou com a preposição em, ou com a
preposição sobre. Exs.: a) “Diógenes pisava… os soberbos estrados”
(Antônio Morais Silva); b) “Creio que Vossa Senhoria com isto pode
saber em que terreno pisa” (Machado de Assis); c) “E respirando… a
poeira levantada pelo pisar vigoroso sobre as tábuas movediças”
(Camilo Castelo Branco).
6. Celso Pedro Luft (1999, p. 405), repetindo, quanto ao mais, a lição
anterior, acrescenta a possibilidade de construção com duas outras
locuções prepositivas: em cima de e por cima de. Exs.: a) “Pisar em
cima das brasas”; b) “Vinha pisando por cima dela” (José Lins do
Rego).
7. Assim, com a indicação de seu acerto ou erronia entre parênteses, vejam-
se os seguintes exemplos: a) “Pisar a grama” (correto); b) “Pisar na
grama” (correto); c) “Pisar sobre a grama” (correto); d) “Pisar em cima
da grama” (correto); e) “Pisar por cima da grama” (correto); f) “Pisar à
grama” (errado).

Planejar antecipadamente – Está correto?


Ver Pleonasmo – O que é e Quando pode? (P. 565)
Platéia ou Plateia?
Ver Ditongos éi, ói, éu – Quando acentuar? (P. 292)

Pleito
1. Significa basicamente concorrência, discussão, disputa, podendo-se
falar, por exemplo, em pleito judicial, pleito eleitoral. Exs.: a) “Em
pleito judicial de natureza meramente patrimonial e entre pessoas
maiores e capazes, não há motivo para a participação do Ministério
Público”; b) “No pleito de outubro, conheceremos os candidatos
vencedores”.
2. Não confundir com sua parônima preito, que quer dizer homenagem,
reverência, tributo.

Plena rua – Galicismo?


Ver Em plena rua – Galicismo? (P. 311)

Pleonasmo – O que é e Quando pode?


1. Pleonasmo (de pleos, em grego, que quer dizer abundante) significa, em
síntese, uma repetição, no falar ou escrever, de ideias ou palavras que
tenham o mesmo sentido.
2. Trata-se de termo genérico, que tanto pode adornar a linguagem, como
torná-la feia e sem encanto. No primeiro caso, em que se busca dar força
à expressão, chama-se pleonasmo de estilo. Ex.: “Vi com meus próprios
olhos”. No segundo caso, caracteriza vício da linguagem e chama-se
pleonasmo vicioso, porquanto, longe de enfeitar o estilo, apenas repete
desnecessariamente ideia já referida. Ex.: “Subir para cima”.
3. Na lição de Vitório Bergo (1944, p. 183), a expressão com pleonasmo de
estilo constitui construção irrepreensível, porque “o pleonasmo deixa de
considerar-se vício para classificar-se como figura desde que, sem tornar
deselegante a frase, contribua para dar maior relevo à ideia”.
4. Lembrando que o pleonasmo pode ser representado pela repetição de
pronomes, Mário Barreto leciona que “uma boa coleção de pleonasmos
possui a língua portuguesa na combinação das formas pronominais,
tônicas e atônicas, podendo o pronome absoluto preceder o pronome
conjunto complemento: dá-lhe a ele; a mim parece-me que…; parece-me
a mim que…; a ti não te faço mal; a mim basta-me a satisfação de ter
descoberto estas pérolas; a ele eu não lhe disse nada; ele disse-mo a
mim…” (1954a, p. 264). Acrescentem-se aqui expressões como “Não lhe
resta ao credor outro caminho…”.
5. Quando, em vez de dar reforço ao estilo, significa desnecessária e feia
redundância, o pleonasmo é vicioso e também se denomina tautologia
(de tautos, em grego, que exprime a ideia de mesmo, de idêntico).
Caracteriza-se, em síntese, pela seguida repetição, por meio de palavras
diferentes, de um pensamento anteriormente enunciado, baseando-se “no
desconhecimento da verdadeira significação dos termos empregados,
provocando redundância ou condenável demasia verbal” (XAVIER,
1991, p. 95).
6. Além dos lapsos mais comuns nesse campo dos pleonasmos viciosos
(subir para cima, descer para baixo, entrar para dentro, sair para fora,
menino homem…) e verificáveis até com perfunctório cuidado, há outros
de identificação mais difícil, mas que, de igual modo, devem ser
evitados, ainda que à custa de maior atenção: breve alocução (alocução
já significa um discurso breve), monopólio exclusivo (está ínsita em
monopólio a ideia de exclusividade), principal protagonista
(protagonista já é o personagem principal), manusear com as mãos
(manusear já tem por radical, em latim, a ideia de atuar com as mãos),
preparar de antemão (por força do prefixo latino pre, preparar já tem
em si a ideia de anterioridade), prosseguir adiante (não há como
prosseguir para trás, já que o prefixo latino pro tem o significado de
movimento para a frente), prever antes (por força do prefixo latino pré,
significando anterioridade, prever depois não é prever), prevenir
antecipadamente (o prefixo latino pre já traz em si a ideia de
anterioridade), repetir de novo (em razão do prefixo latino re, repetir já
significa atuar de novo), boato falso (boato já significa um relato sem
correspondência com a verdade).
7. Veja-se como nem sempre é fácil identificar tautologias, quer por
desconhecimento do real significado das palavras, quer porque há
expressões que estão enraizadas no uso e são de difícil expurgo:
abertura inaugural, acabamento final, detalhes minuciosos, metades
iguais, empréstimo temporário, encarar de frente, planejar
antecipadamente, superávit positivo, vereador da cidade.

Pleonasmo vicioso
Ver Pleonasmo – O que é e Quando pode? (P. 565)

Pletora
1. Do grego plethora (significando grande quantidade), é palavra usada em
português com o significado de demasia, excesso, superabundância. Ex.:
“O presidente do Tribunal de Justiça advertiu que essa pletora de
trabalho pode conduzir ao colapso do Poder Judiciário”.
2. Muito embora não haja razão para o uso de qualquer acento gráfico, não
surgindo dúvida alguma nesse sentido, oportuno é lembrar, quanto à
ortoepia, que a sílaba tônica tem o timbre aberto (ó).
3. O lembrete acerca da pronúncia aberta da vogal tônica também é feito
por Cândido de Oliveira (1961, p. 34), possivelmente em decorrência
dos frequentes equívocos a seu respeito nos meios jurídicos.
4. Atento à etimologia grega do vocábulo, lembra José Inez Louro, de
modo taxativo, quanto à prosódia: “A palavra pletora deve ser
paroxítona e não esdrúxula. Comete erro prosódico quem assim a não
pronunciar” (1941, p. 328).
5. Ante a possível dúvida – plétora ou pletora – Vasco Botelho de Amaral
assevera de modo decidido: “Que dúvida! Pletóra. Mas dispensa o sinal
de tônica: pletora” (1943, p. 126).
6. O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia
Brasileira de Letras, órgão oficialmente incumbido de definir quais as
palavras integrantes de nosso léxico, além de sua correta grafia e
acentuação, registra-a como paroxítona, o que se evidencia pela
inexistência de acento gráfico (2009, p. 658).

Plurais latinos – Como fazer?


Ver Campus (P. 166) e Memorândum – Qual é o plural? (P. 468)
Plural de abreviatura – Existe?
Ver Abreviatura, Abreviação e Sigla – O que é e Como usa? (P. 55)

Plural de desigualdade social


Ver Plural majestático (P. 568).

Plural de letras – Existe?


1. Por um lado, a letra pode ser representada tal como escrita no alfabeto:
a, b, r, s; por outro lado, também pode ser nomeada tal como sugere o
som de sua leitura: a, bê, erre, esse.
2. Quanto a seu plural, também duas são as possibilidades (BECHARA,
1974, p. 80): a) um plural normal, como qualquer outro substantivo, com
adição de um s (os ás, os bês, os erres, os esses); b) um segundo, obtido
pela duplicação da letra que se quer pluralizar (os aa, os bb, os rr, os ss).
3. Assim, de duas maneiras igualmente corretas se pode dizer a mesma
frase: a) “Ele contou o acontecido com todos os ff e rr”; b) “Ele contou o
acontecido com todos os efes e erres”.
4. Embora em nada se altere o quanto já observado, oportuno anotar o
posicionamento de Aires da Mata Machado Filho (1969a, p. 555), o
qual, embora repute defensável e possível escrever “dois mm” ou “pôr os
pingos nos ii”, dá como preferível grafar “dois emes” e “pôr os pingos
nos is”.
5. Ultime-se que, com apoio em exemplo de Machado de Assis, que fala de
erres e efes, observa Vitório Bergo: “os nomes das letras, como os
substantivos em geral, estão sujeitos a flexão de número” (1944, p. 107).

Plural de modéstia
Ver Plural majestático (P. 568).

Plural de nomes de família – Existe?


Ver Plural de nomes próprios – Existe? (P. 566)
Plural de nomes estrangeiros – Existe?
1. Eduardo Carlos Pereira, acerca dos nomes estrangeiros correntes em
nossa literatura e jornalismo, observa que há duas opiniões divergentes:
a) “uma deixa intacto o vocábulo estrangeiro, acrescentando-lhe apenas
um s”; b) “a outra nacionaliza o vocábulo estrangeiro, dando-lhe o plural
de acordo com as regras da língua vernácula”.
2. E complementa tal gramático: “Esta última opinião obedece à tendência
natural de todas as línguas, e é preferível segui-la com moderação e
critério”, devendo-se conferir a tais vocábulos “franca naturalização”.
3. Bem por isso, preconiza que os plurais devem ser ultimátuns,
memorânduns, veredíctuns, lazarones, cicerones.
4. Lembrando, todavia, que o masculino plural no italiano se faz em i, traz
significativo exemplo de Almeida Garrett em contrário a esta
observação: “Doutores antiquários, dilettanti, virtuosi, amateurs e
professores” (PEREIRA, 1924, p. 78).

Plural de nomes próprios – Existe?


1. Os nomes próprios – quer marcas, quer prenomes, quer sobrenomes –
seguem as mesmas regras dos nomes comuns, no que concerne a sua
flexão para o plural: os Alvins, os Andrades, os Cadilacs, os Josés, os
Maias, os Ômegas, os Rafaéis, as Ritas, os Sandovais (NOGUEIRA,
1930, p. 143). Exs.: a) “As Madalenas, as Salomés, as Jacobes também
se chamavam Marias” (Padre Antônio Vieira).
2. Vasco Botelho de Amaral traz, a esse respeito, lições de grande
importância: a) “constitui norma peculiar ao idioma francês a
singularização de apostos formados por apelidos”; b) “ao invés, em
nossa língua, a tradicional regra impõe o uso do plural em tal caso”; c)
“por cópia criticável do francês, surge hoje amiúde na escrita portuguesa
o emprego de apelidos no singular com referência a mais do que uma
pessoa”; d) “convém atentar no erro, observando os bons modelos”; e)
pelos motivos alinhados, lança tal autor uma advertência a um jornal que
escreveu “irmãos Monteverde”, corrigindo a expressão para “irmãos
Monteverdes”.
3. E traz ele exemplos significativos de Camilo Castelo Branco: a) “Há
aqui uns Queiroses e uns Magalhães que têm irmãs ajeitadas…”; b) “…
um rancho de senhoras de Freixo-de-Espada-à-Cinta, composto de sete
famílias, a saber: as senhoras Travincas, as senhoras Belermas, as
senhoras Ramires, as senhoras Crastos, as senhoras Gamboas, as
senhoras Varejões e finalmente as senhoras Carrascos” (AMARAL,
1939, p. 43-4).
4. Atente-se, nesse sentido, ao interessante excerto do Padre José F.
Stringari (1961, p. 8): “Ora bem, se os Ruis, os Herculanos, os
Castilhos, os Bernardes, os Vieiras e os Camões, que são a flor de nossa
língua, não se correram de subscrever tal torneio de linguagem, por que
havemos de rejeitá-lo nós outros?”
5. Cândido Jucá Filho (1981, p. 92) lembra que Mário Barreto pluralizava
normalmente tais nomes: “As Raquéis e Esteres”.
6. Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 283) esclarece que “a imprensa
infringe frequentemente essa norma”, mas “é tradição, na língua
portuguesa, pluralizar os nomes próprios de pessoa, ou os antropônimos,
seguindo-se as mesmas regras para a flexão dos substantivos comuns”.
Exs.: a) “Não se fazem Alexandres na conquista de praças desarmadas”
(Machado de Assis); b) “É impossível que os Monizes não fugissem de
casa assim que principiou o fogo” (Camilo Castelo Branco); c) “Há
centenas de obscuros Josés e Joões reverenciados em nomes de ruas”
(Moacir Werneck de Castro).
7. Lembrando que em francês os nomes próprios não têm plural, e “lá se
diz efetivamente les Balzac, les d’Arlincout, les Rousseau”,
complementa Cândido de Figueiredo (1941, p. 160) que, “em português,
os nomes e apelidos pluralizam-se como os substantivos comuns: os
Albuquerques, os Castros, as Soisas, as Sobrais, os Cabrais”.
8. Na lição de Alfredo Gomes (1924, p. 82), os nomes próprios vão para o
plural, “quando indicam famílias diversas ou membros diferentes da
mesma família ou não”; e ele próprio dá os exemplos: a) “Os Fábios
serviram bem a sua pátria”; b) “Estes Albuquerques não têm entre si
parentesco”.
9. Para Cândido de Oliveira (1961, p. 141), os nomes próprios podem
perfeitamente “receber flexão de plural: os Albuquerques, os Antônios,
os Eças, as Esteres, os Oliveiras, as Raquéis, os Sênecas”.
10. Para Vitório Bergo (1943, p. 191), os nomes próprios e as palavras
substantivadas seguem geralmente as regras normais de flexão para o
plural, segundo a sua terminação: “os Castilhos, os Vieiras, os
Juvenais, os Manuéis, os noves, os quereres, os ais”.
11. Após observar que os nomes próprios se pluralizam (os Luíses, os
Rauis, os Nélsons), devendo-se proceder identicamente com respeito
aos sobrenomes (os Sousas, os Salazares, os Cabrais, os Nóbeis),
acrescenta Luiz Antônio Sacconi que “pode, tal prática, ser
desagradável ao ouvido, mas nela é que está a correção”.
12. E remata tal autor que, “se os sobrenomes forem estrangeiros, com
terminação estranha à língua, acrescentar-se-á somente um s, pois eles
não estão sujeitos às regras do idioma: os Bopps, os Renans, os
Beethovens, os Lincolns, os Kants, os Disneys, os Kennedys, etc. O que
não se admite é dar variação apenas ao artigo: os Lincoln, os Kennedy,
etc.” (SACCONI, 1979, p. 283).
13. Já para Domingos Paschoal Cegalla, quando se tratar de “nomes
estrangeiros com terminação estranha à nossa língua, ou se deixam
invariáveis, ou se lhes acrescenta um s final”. Ex.: a) “Os Kennedy (ou
os Kennedys) notabilizaram-se pela política”; b) “Era o velho
continente que principiava a expiar a velha política, desalmada,
mercantil e cínica, dos Napoleões, Metternichs e Bismarcks…” (Rui
Barbosa).
14. Em outra passagem de sua obra, Luiz Antônio Sacconi observa que
“nomes próprios de família não sofrem metafonia” (1979, p. 21); vale
dizer, a vogal tônica não sofre alteração de timbre em sua passagem
para o plural: os Portos (ô), os Cardosos (ô), os Raposos (ô).
15. Após lembrar – com supedâneo na abalizada lição de A. Darmesteter –
que “os próprios franceses já dão regularmente plural aos nomes
próprios de pessoas”, observa Eduardo Carlos Pereira (1924, p. 292)
que “já são, portanto, um galicismo arcaico” as construções em que se
pluraliza o artigo, mas se deixa no singular o nome próprio, como no
seguinte exemplo de Montalverne, por ele próprio colhido: “Sempre na
vanguarda dos combatentes o êmulo dos Antão e dos Pacômio”.
16. Em um outro aspecto da questão, para Júlio Nogueira (1930, p. 143), se
o nome é composto, apenas o último elemento varia (isso, se não
houver preposição intermediária): os Almeida Prados, os Arruda
Alvins, os Costa Pereiras, os Miguel-Ângelos (ou Miquelângelos), os
Monte Serrats, os Rui Barbosas (para indicar os mais inteligentes).
17. Nessa situação, o ensino de Luiz Antônio Sacconi já é o inverso: “os
nomes e sobrenomes compostos só têm o primeiro elemento
pluralizado: os Júlios César, as Marias Antonieta, os Luíses Antônio,
as Anas Maria, os Machados de Carvalho, os Aquinos de Sousa, os
Almeidas Prado, os Arrudas Sampaio, etc.” (1979, p. 35).
18. Em terceiro ensino para tal situação, Vasco Botelho de Amaral (1939,
p. 44) traz exemplo de Camilo Castelo Branco, preconizando se
pluralizem ambos os elementos: “… os filhos e netos dos Fragas
Botelhos, dos Vieiras Cabrais…”.
19. Também no sentido desse último ensino é a lição de Silveira Bueno,
para quem os nomes próprios, quer prenomes, quer nomes de família,
“são nomes e como tais podem ter plural como outros quaisquer”,
razão pela qual – acrescentando tal autor que pensar o contrário “é
engano manifesto e manifesto desconhecimento dos autores clássicos”
– dá como plural de Gregório Magno os Gregórios Magnos.
20. Ainda num outro aspecto, se há preposição intermediária, só se
pluraliza o que vem antes dela (AMARAL, 1939, p. 44): os Leites da
Costa, os Costas de Albuquerque, “os Pereiras da Silva” (Camilo
Castelo Branco).
21. Nesse sentido é o exemplo de Ciro dos Anjos: “Os Ataídes de Azevedo
são, na verdade, encantadores” (Ciro dos Anjos).
22. Sousa e Silva (1958, p. 190) sintetiza deste modo a lição sobre o
assunto: a) os nomes próprios recebem normal flexão de número: os
Antônios, os Ademires, os Rauis, as Raquéis, as Esteres, os Lucas, os
Mateus; b) também se flexionam normalmente os nomes próprios
estrangeiros, “a que se acrescenta apenas s”: os Müllers, os Bréals
(assim em Rui; não Mülleres nem Bréais), os Froebels (assim em
Castilho; não Froebeis), os Lafers (assim em Oiticica; não Láferes); c)
em casos como Lima de Azevedo, com presença de preposição
intermediária, “só se flexiona o primeiro termo”: os Limas de Azevedo;
d) “se não houver partícula, flexionam-se os dois vocábulos: os Costas
Limas”; e) “Lima e Silva deve fazer os Lima e Silvas, para que não se
entenda os Limas e os Silvas”; f) digna de registro é a flexão de Jornal
do Comércio em Camilo Castelo Branco: “nos Jornais do Comércio de
6 de dezembro de 1871 e 27 de janeiro de 1872”.
23. Acresça-se outro aspecto da lição do já citado Luiz Antônio Sacconi no
sentido de que, “quando os sobrenomes são compostos e aparecem
ligados por e, flexionam-se ambos: os Coutos e Silvas, os Prados e
Silvas, os Andradas e Silvas, etc.” (1979, p. 35).
24. Ante todos esses ensinamentos – já levando em consideração o vetusto
princípio de que, na fundada divergência entre os gramáticos, há
liberdade de emprego – parece ser apropriado extrair as seguintes
ilações em resumo: a) os nomes próprios, os prenomes ou sobrenomes
e as marcas seguem as mesmas regras dos nomes comuns quanto à
flexão para o plural, quando formados por uma só palavra (Teresas,
Costas, Ômegas); b) se estrangeiros os nomes, com terminação
estranha ao vernáculo, acrescenta-se-lhes um s (Lincolns, Kants,
Kennedys); c) não há alteração de som no plural, inexistindo, assim, o
que tecnicamente se denomina metafonia: os Portos (ô), os Cardosos
(ô); d) quando o nome é composto por dois elementos, há exemplos
abalizados de flexão apenas do primeiro elemento (Júlios César, Anas
Maria), do segundo elemento (Almeida Prados, Rui Barbosas) ou de
ambos (Vieiras Cabrais, Gregórios Magnos); e) se há preposição
intermediária, só se pluraliza o que vem antes dela: os Leites da Costa,
os Costas de Albuquerque; e) se os nomes aparecem ligados por e,
flexiona-se apenas o último elemento (os Lima e Silvas) ou ambos (os
Coutos e Silvas, os Prados e Silvas, os Andradas e Silvas).
Ver Grafia de nomes próprios (P. 376).

Plural de números – Existe?


Ver Noves fora (P. 504).

Plural de o tônico
1. Silveira Bueno agrupa regras importantes para a pronúncia de
determinadas palavras em que o o é tônico e fechado no singular, mas se
tem dificuldade em sua pronúncia no plural.
2. Por primeiro, “quando a palavra tiver feminino, conservará no plural a
mesma pronúncia do feminino singular: bolso, bolsa, bolsos; lobo, loba,
lobos”.
3. Todavia, “quando o tônico for precedido (em realidade, o mestre quis
dizer ‘seguido’) de m ou n, a pronúncia será fechada: colono, colonos;
trono, tronos, pomo, pomos”.
4. Por fim, “quando substantivo e verbo forem homônimos, o substantivo
terá pronúncia fechada e o verbo, aberta” (BUENO, 1938, p. 140-1):
troco (substantivo), troco (verbo).
Ver Metafonia (P. 472).

Plural de siglas – Existe?


Ver Abreviatura, Abreviação e Sigla – O que é e Como usa? (P. 55)

Plural de sobrenomes – Existe?


Ver Plural de nomes próprios – Existe? (P. 566)

Plural dos adjetivos compostos


Ver Adjetivos compostos (P. 81).

Plural dos substantivos compostos


Ver Substantivos compostos – Como levar ao plural? (P. 717)

Plural majestático
1. Também denominado plural de desigualdade social ou mesmo plural de
modéstia, consiste no emprego do pronome nós em lugar de eu, forma
essa pela qual reis, papas e pessoas de semelhante posição elevada se
referem a si próprios.
2. Quando autores, jornalistas e oradores assim procedem para evitar a
conotação egoística do emprego da primeira pessoa do singular, dá-se o
nome de plural redatorial.
3. Em tais casos, o verbo vai para o plural; se, porém, há algum adjetivo,
este, por silepse (concordância com a ideia, não com o termo aparente),
fica no singular. Ex.: “Nas palavras a seguir, seremos mais breve que
prolixo”.
4. A observação anterior também vale para quando se usa vós em lugar de
tu, com o intuito de deferência, de respeito. Ex.: “Vós sois justo,
Senhor”.
5. Resuma-se, nesse sentido, com o ensino de João Ribeiro (1923, p. 152),
para quem “muitas vezes se empregam os pronomes vós e nós para
designar uma pessoa única”, acrescentando tal autor que, em tal
hipótese, o adjetivo que se referir a tal pronome “fica no singular”:
‘estamos convencido’,’sois generoso’, ‘trabalhai e sereis abençoado’.
6. Júlio Ribeiro sintetiza assim a lição: “Em lugar do pronome da primeira
pessoa do singular eu, usam os escritores da forma da primeira pessoa do
plural nós. O verbo vai para o plural; os adjetivos em relação atributiva
ou predicativa com esse pronome ficam no singular” (1908, p. 252). Ex.:
“Nós ficamos perplexo com a atitude dele”.
7. Complementa, entretanto, Eduardo Carlos Pereira (1924, p. 235) que
muitos preferem a concordância regular do adjetivo, carreando
significativos exemplos de abalizados autores: a) “Somos chegados ao
último sonho de Xavier” (Padre Antônio Vieira); b) “Estamos
persuadidos de que… a conversa era fingida” (Alexandre Herculano).
8. Em resumo de Alfredo Gomes, “o pronome nós emprega-se às vezes
para substituir eu, quando se quer dar autoridade às próprias palavras ou
quando se quer mostrar modéstia: Nós mandamos… Nós publicamos…”
(1924, p. 339).
9. Assim é a síntese de Júlio Nogueira a respeito dessa questão: “O
pronome nós pode ser empregado em relação à primeira pessoa do
singular. Na polêmica, na linguagem didática, nos discursos, quem fala
ou escreve pode atribuir-se o pronome do plural, como que desejando
dividir com outrem a responsabilidade do que diz, por uma espécie de
modéstia: ‘Nós mesmo (ou mesma), nós próprio (ou própria)’. Essa
concordância também existe quando tratamos a uma pessoa por vós:
‘Vós mesmo, sr. Presidente’, ‘Vós mesma, sra. Professora’” (1939, p.
204-5).
10. Acresça-se, todavia, a apropriada ponderação de Carlos Góis: “não é
boa sintaxe o uso promíscuo do eu e nós, no mesmo contexto, com
relação à pessoa que fala” (1943, p. 118).

Plural redatorial
Ver Plural majestático (P. 568).

Plus
1. Observam José de Nicola e Ernani Terra que se trata de “palavra latina,
que significa mais; originariamente advérbio, também aparece
empregada como substantivo”.
2. E acrescentam tais autores que “é justamente como substantivo que essa
palavra tem ocupado cada vez mais espaços no marketing de lançamento
de alguns produtos”, porque, “num mercado extremamente competitivo,
um novo produto precisa oferecer um plus, ou seja, algo mais em relação
aos concorrentes”.
3. Advertem, por fim, com toda propriedade, que, “no entanto, alguns
marqueteiros falam em ‘um plus a mais’, o que resulta numa expressão
redundante, num pleonasmo vicioso” (NICOLA; TERRA, 2000, p. 173).
Exs.: a) “Este novo produto oferece um plus: além da garantia de dois
anos, um seguro contra roubos” (correto); b) “Este novo produto oferece
um plus a mais: além da garantia de dois anos, um seguro contra
roubos” (errado).
4. Embora exista atualmente em diversos idiomas (como no inglês e no
francês), o certo é que tal vocábulo nos vem diretamente do latim, e,
assim, sua pronúncia entre nós deve ser a latina, rimando com cruz.
5. Por se tratar de vocábulo de língua estrangeira, deve vir entre aspas, em
itálico, em negrito, com sublinha ou outro traço indicativo de tal
circunstância.

p. m.
1. Abreviatura internacional da expressão latina post meridiem, que
significa após o meio-dia.
2. Contrapõe-se a a. m., que é forma abreviada de ante meridiem, com o
significado de antes do meio-dia.
3. As letras de tal abreviatura vêm em minúsculas.
Ver a. m. (P. 108)

Poço – Como pronunciar o plural?


Ver Metafonia (P. 472).

Podem fazer ou Podem fazerem?


Ver Infinitivo com auxiliar – Como flexionar? (P. 414)

Podem-se dizer tais coisas ou Pode-se dizer tais coisas?


Ver Não se deve dizer tais coisas ou Não se devem dizer tais coisas? (P.
488)

Podem… serem restritas…


Ver Uso do infinitivo (P. 752).

Pôde ou Pode?
1. Com o Acordo Ortográfico de 2008, importa observar se está mantido ou
não o acento circunflexo em pôde (forma do verbo poder no passado),
para diferenciar de pode (também forma do verbo poder, mas no
presente).
2. Pela Lei 5.765, de 18/12/71, que alterou, em seu tempo, algumas regras
de nossa ortografia, buscou-se uma simplificação nesse campo, o que se
deu com a determinação de que não mais se acentuariam e e o das
palavras de timbre fechado, sinal esse que, até então, era usado para
diferenciá-las dos vocábulos que apresentavam fonemas de timbre
aberto: almôço / almoço, comêço / começo, colhêr / colher.
3. Tal lei, todavia, manteve, como exceção, o acento em pôde (pretérito
perfeito do indicativo de poder – “Ele pôde no passado”) para
diferenciar de pode (presente do indicativo – “Ele pode no presente”).
4. Sabia-se da justificativa para a exceção: era necessária a distinção entre
formas de um mesmo verbo, que apenas se empregava em tempos
diversos.
5. Pois bem. O Acordo Ortográfico de 2008 manteve, de modo taxativo, o
acento circunflexo diferencial em pôde (pretérito perfeito do indicativo
de poder) para diferenciá-la de pode (presente do indicativo de poder).
Ex.: “Ele pôde fazer no passado coisas que não mais pode realizar nos
dias de hoje”.

Poderes legislativo e executivo


1. É usual, na linguagem forense, vir um substantivo no plural modificado
por dois adjetivos no singular, correspondentes às partes em que se
decompõe o plural ou às espécies em que se decompõe o gênero
expresso pelo substantivo. Ex.: “Os Poderes Legislativo e Executivo não
podem imiscuir-se no Judiciário, sob pena de real golpe de Estado”.
2. Júlio Ribeiro, muito embora ressalve a opinião de outros autores,
assevera ser “vicioso empregar um substantivo no plural e fazer
concordar com ele adjetivos no singular” (1908, p. 243).
3. Júlio Nogueira, de igual modo, embora reconheça a existência de muitos
exemplos de tal construção em autores insuspeitos, como Padre Manuel
Bernardes, Antônio Feliciano de Castilho e Camilo Castelo Branco,
afiança ser “preferível não usar no plural um substantivo acompanhado
de dois ou mais adjetivos do singular, quando com estes se discriminam
espécies nomeadas genericamente pelo mesmo substantivo”.
4. E leciona ser mais adequado dizer “a literatura brasileira e a
portuguesa”, e não “as literaturas brasileira e portuguesa”
(NOGUEIRA, 1939, p. 202).
5. Em mesma esteira, na lição de Laudelino Freire, “não deve um
substantivo do plural ser acompanhado de adjetivos no singular, uma vez
que é ao adjetivo que cabe concordar com o substantivo”.
6. Para tal autor, integrante, a seu tempo, da Academia Brasileira de Letras,
não é correto, assim, dizer “as línguas grega, hebraica, latina e
espanhola”, nem “as afeições conjugal, filial e paternal”, nem “as
idades viril e madura”; mas sim “a língua grega, a hebraica, a latina e a
espanhola”, “a afeição conjugal, a filial e a paternal”, “a idade viril e a
madura”.
7. Acrescenta que “sem o artigo estas frases seriam igualmente corretas”:
“a língua grega, hebraica, latina, etc.”.
8. E complementa com a observação de que, “contra esta regra, deparam-
se-nos exemplos de grandes escritores, que, não a respeitando, infringem
a hierarquia gramatical, subordinando o substantivo ao adjetivo”
(FREIRE, 1937b, p. 58).
9. Observando, porém, ser construção oriunda do latim, Carlos Góis (1943,
p. 195-7) abona integralmente a concordância nominal referida,
contando com o respaldo de Mario Barreto e Rui Barbosa, além da
corroboração de preciosos exemplos de Padre Manuel Bernardes,
Camilo Castelo Branco e Camões.
10. Eduardo Carlos Pereira observa com precisão: “É comum vir um
substantivo no plural com dois ou mais adjetivos no singular, os quais
exprimam as partes em que se decompõe o plural” (1924, p. 231).
11. Rebatendo os autores que não concordam com tal concordância, e isso
sob o argumento de que “em português não é o substantivo que
concorda com o adjetivo, mas o inverso”, abona Luiz Antônio Sacconi
(1979, p. 203) tal estrutura, justificando com o argumento de que “tal
construção já se observava no próprio latim”.
12. Vitório Bergo leciona ser “prática dos clássicos” a concordância de um
substantivo no plural com dois adjetivos no singular. Ex.: “… a
nobreza e povo desta vila se opôs aos estados eclesiástico e secular da
cidade de Braga” (Frei Luís de Sousa).
13. Observa, contudo, tal autor em continuação (BERGO, 1943, p. 59):
“Opõem-se a esta sintaxe alguns autores, que alegam ser ela contrária à
lógica, uma vez que torna o substantivo como subordinado ao
adjetivo”. Assim é que dão preferência a este torneio, também clássico:
“… no campo, traça a divisória entre a classe média e a rica” (Rui
Barbosa).
14. Sousa e Silva (1958, p. 22), por sua vez, de modo taxativo, afiança que
“dois ou mais adjetivos no singular podem modificar um substantivo
no plural”, acrescentando que Mário Barreto demonstrou que “já no
latim há exemplos dessa sintaxe, que alguns mestres impugnam sem
razão”.
15. Óbvio está que, ante a divergência de estruturas, manifestada por tão
excelsas autoridades do vernáculo – até mesmo lembrando o vetusto
princípio de que, na dúvida, há liberdade de uso – optativo é o emprego
ao usuário comum da norma culta nos dias atuais, aqui incluído o
operador do Direito.
16. Atento, contudo, a essa divergência, por anotar que alguns gramáticos
– como Júlio Ribeiro e Eduardo Carlos Pereira – discordam dessa
construção em epígrafe, Carlos Góis (1943, p. 195-7) acrescenta que,
se se preferir evitar tal estrutura, isso há de ser um processo fácil: basta
“colocar o substantivo no singular modificado pelo primeiro adjetivo e
repeti-lo depois, representado por um pronome demonstrativo
modificado pelo segundo adjetivo”. Ex.: “O Poder Legislativo e o
Executivo não podem imiscuir-se no Judiciário, sob pena de real golpe
de Estado”.
17. Vale, a respeito, mesmo para uma visão ampliada de possibilidades de
uso da expressão, o ensinamento de Eliasar Rosa acerca de como
proceder à presença ou à ausência do artigo em tais casos: “Ou se diz
assim – Os Códigos Civil e Penal – ou, então, O Código Civil e o
Penal. Não é recomendável a construção: O Código Civil e Penal”
(1993, p. 103).

Poderiam ensinarem… – Está correto?


Ver Uso do infinitivo (P. 752).

Poder legiferante ou Poder legisferante?


1. Poder legiferante é a grafia correta da expressão, em que o vocábulo
legiferante significa que faz lei.
2. Não existe o adjetivo legisferante.

Poeta – Qual o feminino?


1. Como substantivo, seu feminino é poetisa (BECHARA, 1974, p. 84),
tendo, assim, como bem lembra Celso Cunha (1970, p. 99) uma forma
própria para o masculino (poeta) e outra para o feminino (poetisa), não
se admitindo seu emprego como se fosse substantivo comum de dois
gêneros. Exs.: a) “Ela é uma poetisa conceituada” (correto); b) “Ela é
uma poeta conceituada” (errado).
2. Veja-se, nesse sentido, que Carlos Góis e Herbert Palhano (1963, p. 52),
sem quaisquer outras possibilidades, dão-lhe por feminino poetisa,
posição essa também adotada por Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 32).
3. Tal formação normal do feminino (poetisa) é assim preconizada por
Júlio Ribeiro (1908, p. 87).
4. Desse mesmo entender são Júlio Nogueira (1930, p. 161) e Eduardo
Carlos Pereira (1924, p. 68), inserindo este último tal substantivo no rol
daqueles que “sofrem algumas irregularidades na flexão feminina”.
5. Cândido de Oliveira (1961, p. 130), de igual modo, apenas lhe confere
por feminino poetisa.
6. Alfredo Gomes (1924, p. 79) tem igual proceder.
7. Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 321) – para quem “poeta aplica-se
a homem”, e, “para mulher usa-se poetisa” – condena com firmeza modo
diverso de emprego no feminino, ao asseverar que, “por ignorância ou
desprezo pela tradição da língua, há quem use poeta em vez de poetisa,
como fez o autor desta frase: ‘A poeta Cecília Meireles era, ao mesmo
tempo, leitora e analista minuciosa da poesia de Mário de Andrade’”.
8. Vitório Bergo (1943, p. 110), sem outra possibilidade, dá poetisa por
feminino de tal vocábulo.
9. Parece bastante oportuna, no caso, a observação de Arnaldo Niskier: “O
feminino de poeta é poetisa, e nada há de depreciativo nesse feminino.
Agora, algumas poetisas, movidas por uma incompreensão do real
sentido do Movimento Feminista, pregam o uso de poeta tanto para
homens quanto para mulheres. Não custa nada satisfazê-las, mas é
preciso lembrar que isso não contribui para mudar a situação da mulher
em nossa sociedade, e é o mesmo que dizer a homem. Esse tipo de
afetação, que também se vê no Movimento Negro, quando este é contra
o uso de palavras como denegrir, demonstra uma superficialidade muito
patente no encaminhamento dado a lutas tão importantes” (1992, p. 74).
10. Contrariamente a esses entendimentos majoritários, o Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras,
órgão oficialmente incumbido de definir o regime das palavras
integrantes do nosso léxico, além de sua correta grafia, em sua edição
de 1999, por um lado, dava por masculino poeta e fazia corresponder-
lhe o feminino poetisa; por outro lado, também permitia que se
reputasse poeta um substantivo comum de dois gêneros (VOLP, 1999,
p. 597), o que implicava asseverar que o emprego de a poeta estava
oficialmente autorizado entre nós.
11. Em boa hora, todavia, a quarta edição do VOLP (2004), veio corrigir o
equívoco e passou a registrar poeta apenas como substantivo
masculino, conferindo-lhe por feminino tão somente poetisa
(ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, p. 632), entendimento
esse, aliás, também mantido pela mais recente edição (2009), a
primeira após o Acordo Ortográfico de 2008 (p. 662), o que equivale a
dizer que, na atualidade, apenas são corretas as formas o poeta e a
poetisa.
12. Anote-se, por fim, que, como adjetivo, o vocábulo poeta não sofre
variação no masculino e no feminino: Exs.: a) “Ele tem um espírito
poeta, que vagueia incessantemente” (correto); b) “Ele tem uma alma
poeta, que vagueia incessantemente” (correto).
Ver Chefe – Qual o feminino? (P. 179), Oficiala – Existe? (P. 520) e
Presidenta ou A Presidente? (P. 596)

Pois – Vírgula antes e/ou depois?


1. Um leitor quer saber se, com a conjunção pois, a vírgula vem antes,
depois, ou antes e depois.
2. Vejam-se os seguintes exemplos: a) “Esconda-se, pois alguém se
aproxima”; b) “Era um aluno de caráter; foi, pois, um professor
exemplar”.
3. Em ambas as orações, pois é uma conjunção, porque une duas orações:
no primeiro caso, por ter o significado de porque, é uma conjunção
coordenativa explicativa; no segundo caso, tendo como sinônimas logo,
portanto, por conseguinte, é uma conjunção coordenativa conclusiva.
4. Ora, fixe-se, em tese, uma regra geral, com dois aspectos importantes
(embora comporte ela diversas observações e exceções): a) o lugar
normal de uma conjunção é o início de uma segunda oração; b) como as
orações normalmente se separam por vírgulas, é comum que haja vírgula
antes da conjunção.
5. Fixada essa ponderação como premissa e voltando a raciocinar com os
exemplos acima citados, pode-se dizer que, quando o pois é uma
conjunção coordenativa explicativa (“Esconda-se, pois alguém se
aproxima”), podem-se extrair as seguintes ilações: a) nesse caso, a
conjunção começa a segunda oração; b) como a regra é que as orações
sejam separadas por sinal de pontuação, normalmente há uma vírgula ou
ponto e vírgula antes do pois; c) como, em continuação, por via de regra,
o texto segue em ordem direta – e não há vírgula na ordem direta –
usualmente não se põe vírgula após o pois. Exs.: i) “Espere um pouco,
pois ele não demora”; ii) “Não tenha medo, pois eu não mordo”; iii)
“Fale mais alto, pois eu também quero ouvir”.
6. Já quando o pois é uma conjunção coordenativa conclusiva (“Era um
aluno de caráter; foi, pois, um professor exemplar”), observações
diversas podem ser feitas: a) nesses casos, a regra é que o pois não
começa a segunda oração, mas vem posposto a um outro termo dela; b)
normalmente já haveria um sinal de pontuação antes desse outro termo,
porquanto ele inicia a oração; c) além disso, especificamente quanto ao
pois, o certo é que ele se intercala entre outros termos da oração, e, como
se dá com as intercalações de um modo geral, deve essa do caso
concreto ser marcada por vírgulas antes e depois. Exs.: i) “Tinha dois
anos; era, pois, muito pequeno”; ii) “Você foi injusto com o amigo; deve,
pois, desculpar-se”; iii) “É um bom filho; será, pois, um bom pai”.

Polícia ou Policia?
1. Um leitor indaga se, após o Acordo Ortográfico de 2008, a palavra
polícia continua ou não acentuada.
2. Ora, quanto à acentuação gráfica (aqui abrangidos não apenas os acentos
– grave, agudo e circunflexo –, mas também os sinais diacríticos, como o
trema), o mencionado acordo alterou, fundamentalmente, alguns
aspectos.
3. Para o caso da consulta, porém, a única possibilidade que haveria para
gerar a dúvida trazida pelo leitor seria o caso de se pensar na existência
de um hipotético acento diferencial entre polícia (substantivo que rima
com primícia) e policia (terceira pessoa do singular do presente do
indicativo do verbo policiar – ele policia, que rima com freguesia).
4. Esse, porém, não é o caso, pois não se tem aqui uma hipótese de acento
diferencial. Em verdade, polícia (com a sílaba tônica li) tem acento
gráfico porque é um vocábulo paroxítono terminado em ditongo; já em
policia, a sílaba forte é ci, e esse fato não gera razão alguma para que
exista acento gráfico no mencionado vocábulo.
5. Assim, em resumo, pelas razões já expostas, mesmo após o Acordo
Ortográfico de 2008, polícia continua com acento gráfico, enquanto
policia continua sem acento gráfico. Tudo, aliás, como dantes.

Polícias civil e militar


Ver Poderes legislativo e executivo (P. 569).

Pólo
Ver Acento diferencial de tonicidade (P. 66).

Pombo-correio
Ver Substantivos compostos – Como levar ao plural? (P. 717)

Ponto
Ver Pontuação dos numerais (P. 574).

Ponto de interrogação – Quando se emprega?


1. Um leitor indaga se, mesmo com o verbo no futuro do pretérito, pode ser
empregado o ponto de interrogação, como no exemplo seguinte: “O
senhor poderia enviar o formulário preenchido?”
2. Por totalmente alheia a qualquer fundamento técnico que possa respaldá-
la, não sei de onde pode ter surgido a dúvida do leitor; mas o certo é que
não há vedação alguma ao emprego do ponto de interrogação com este
ou com aquele tempo verbal, nem mesmo com o futuro do pretérito.
3. Vale dizer: se houver o sentido da interrogação direta, o emprego do
símbolo representativo de tal questionamento ou indagação estará
sempre autorizado. Ou, nos dizeres de Evanildo Bechara, se há uma
“oração enunciada com entoação interrogativa”, deve ela ser finalizada
com ponto de interrogação (1974, p. 335).
4. Vejam-se alguns exemplos dessa possibilidade autorizada de uso do
ponto de interrogação: a) “O senhor pode enviar o formulário
preenchido?” (correto – verbo no presente do indicativo); b) “O senhor
poderá enviar o formulário preenchido?” (correto – verbo no futuro do
presente do indicativo); c) “O senhor poderia enviar o formulário
preenchido?” (correto – verbo no futuro do pretérito do indicativo).

Ponto de vista
1. Tal expressão, em última análise, quer dizer, no sentido físico, o lugar
em que uma pessoa se coloca para ver ou observar alguma coisa; no
sentido figurado, indica o modo de entender ou considerar um assunto.
2. Quando se quer dizer sob o aspecto de, relativamente a, do ângulo,
lembra Domingos Paschoal Cegalla que se há de dizer do ponto de vista
e que “é incorreta a expressão sob o ponto de vista” (1999, p. 127). Exs.:
a) “Do ponto de vista político, o discurso dele foi um desastre” (correto);
b) “Sob o ponto de vista político, o discurso dele foi um desastre”
(errado).
3. Ante a frequência com que ocorrem erros em sua escrita, Arnaldo
Niskier (1992, p. 56) faz questão de observar que a grafia correta é sem
hífen.

Ponto e parênteses
Ver Parênteses e Ponto (P. 550).

Ponto e vírgula – Depois de exclamação!?


1. Um leitor encontrou o seguinte exemplo: “Nunca vi nada parecido!; esse
é genial.” E indaga se pode haver um ponto e vírgula assim desse modo,
após um ponto de exclamação.
2. Antes de qualquer análise teórica ou tentativa de sistematização do
problema, confiram-se as seguintes citações, com a indicação de seus
autores bem como dos estudiosos que as transcreveram: a) “Olé!
exclamei” – Machado de Assis; b) “Ah! brejeiro” – Machado de Assis;
c) “Mas, na morte, que diferença! que liberdade” – Machado de Assis
(BECHARA, 1974, p. 335); d) “Sim! Quanto o tempo entre os dedos /
Quebra um século, uma nação, / Encontra nomes tão grandes, / Que não
lhe cabem na mão” – Castro Alves; e) “Oh! Se Carlos soubesse…” –
Júlio Dinis; f) “Andrada! arranca esse pendão dos ares! / Colombo!
fecha a porta dos teus mares!” – Castro Alves; g) “Ó meu filho, meu
filho! replicou Frei Hilarião” – Alexandre Herculano (LIMA, 1972, p.
433-4); h) “Oh! dias de minha infância” – Casimiro de Abreu; i) “Meu
velho Pedro! Meu fantasma de criança” – Antônio Nobre; j) “Deus! ó
Deus! onde estás que não respondes?” – Castro Alves; k) “Coração,
para! ou te refreia, ou morre!” – Alberto de Oliveira (CUNHA, 1970, p.
283).
3. Dos exemplos dados e da constatação do que escreveram os estudiosos
sobre esse assunto, podem-se estabelecer os seguintes aspectos: a) não se
encontra, nas gramáticas mais conhecidas, um estudo regular e
sistematizado de pontuação nem, muito menos, do assunto trazido pelo
leitor para análise; b) nos exemplos dos bons autores de nossa literatura
por eles transcritos, porém, não se encontra caso nenhum de uso do
ponto e vírgula após o ponto de exclamação; c) além disso, percebe-se
que, quando o usuário quer indicar uma pausa maior após o ponto de
exclamação, então ele escreve a palavra seguinte com maiúscula; d) se,
todavia, quer significar uma pausa menor, então faz uso de minúscula na
palavra seguinte.
4. Respondendo, então, diretamente ao leitor: a) não é correto o exemplo
dado por ele, em que emprega um ponto e vírgula após o ponto de
exclamação; b) a correção se faz com a simples exclusão do ponto e
vírgula; c) usar maiúscula ou minúscula para iniciar a palavra seguinte
vai depender da pausa maior ou menor que ele queira conferir no caso
concreto. Exs.: i) “Nunca vi nada parecido!; esse é genial.” (errado); ii)
“Nunca vi nada parecido! esse é genial.” (correto); iii) “Nunca vi nada
parecido! Esse é genial.” (correto).
5. Vale a pena tecer, embora ligeiros, oportunos comentários adicionais
sobre essa ausência de sistematização desse assunto por parte dos
gramáticos e demais estudiosos da matéria. É que, num primeiro aspecto,
apenas a partir da década de cinquenta do século XX, a pontuação tomou
significativo impulso e passou a orientar-se – além das razões sintáticas
tradicionais e dos impulsos subjetivos – pelas recomendações e
exigências mais apuradas da redação técnica. Isso faz concluir que os
chamados clássicos de nossa literatura nem sempre lhe atribuíram
posição de relevo, motivo pelo qual não é incomum encontrar, mesmo
em abalizados escritores, erros de pontuação similares aos cometidos
hoje por qualquer usuário médio do idioma. Por outro lado, os livros de
Gramática de hoje também apresentam poucos elementos sobre o
assunto por duas razões: primeira, os gramáticos de peso normalmente
têm sua formação forjada na primeira metade do século XX, vale dizer,
antes do despertar para esse assunto; segunda, por um abissal equívoco
dos responsáveis, o ensino da Gramática deixou de ter importância
significativa nos currículos de nossas escolas exatamente no começo da
segunda metade do século passado, o que significa pequenos esforços,
estudos e progressos nesse campo.

Ponto e vírgula – Emprego


1. Os escritores de outras épocas tinham preferência por períodos mais
longos, o que tornava necessário e comum o uso do ponto e vírgula.
2. Atualmente, porém, por força da utilização de construções mais curtas,
raro é seu uso.
3. Fundamentalmente, destina-se a separar orações coordenadas de certa
extensão bem como coordenadas que já tiverem vírgulas internas. Ex.:
“No andamento do processo, explicitam as partes seu pretenso direito e
o comprovam; ao final, após regular contraditório, o juiz decide a
controvérsia”.
4. Vale aqui a preciosa síntese de Eduardo Carlos Pereira (1924, p. 375):
“se as coordenadas são de pouca extensão, basta a vírgula para separá-
las”; se, porém, têm elas “certa extensão, ou possui alguma delas termos
separados por vírgulas”, então se emprega o ponto e vírgula”.
5. Importante uso do ponto e vírgula é lembrado por Luiz Antônio Sacconi,
com reflexos para o campo do Direito: “separar os considerandos de uma
lei ou de um decreto”. Ex.: “Considerando que…; Considerando que…
Considerando, finalmente, que…; Decreta…”.
6. Também de oportuna lembrança de tal gramático é seu emprego para
“separar os diversos itens de uma enumeração” (SACCONI, 1979, p.
243). Ex.: “Na ocasião, os técnicos enfocarão quatro temas: a)
processos e métodos para indústria metalúrgica; b) reflorestamento –
métodos e equipamento; c) técnicas de transporte; d) telecomunicações”.
7. Exemplo claro de período que deveria ter dois blocos de orações
separados por ponto e vírgula, e não por simples vírgula, é o art. 20, § 1º,
da Lei 9.307, de 23/9/96, que dispôs sobre a arbitragem: “Acolhida a
arguição de suspeição ou impedimento, será o árbitro substituído nos
termos do art. 16 desta lei, reconhecida a incompetência do árbitro ou
do tribunal arbitral, bem como a nulidade, invalidade ou ineficácia da
convenção de arbitragem, serão as partes remetidas ao órgão do Poder
Judiciário competente para julgar a causa”.
8. Nele, como uma simples leitura do texto faz ver, os princípios de
pontuação evidenciam a necessidade de que a vírgula entre as palavras
lei e reconhecida seja substituída por um ponto e vírgula.
9. Outro exemplo claro de equívoco de texto legal reside no art. 21 da Lei
5.478, de 25/7/68, que dispôs sobre a ação de alimentos, o qual, ao
conferir nova redação ao art. 244 do Código Penal, assim determinou:
“Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência do cônjuge, ou de
filho menor de 18 anos ou inapto para o trabalho ou de ascendente
inválido ou valetudinário, não lhes proporcionando os recursos
necessários ou faltando ao pagamento de pensão alimentícia
judicialmente acordada, fixada ou majorada, deixar sem justa causa, de
socorrer descendente ou ascendente gravemente enfermo…”
10. Ora, uma análise adequada de todo o período revela que, entre as duas
palavras sublinhadas, há não apenas uma divisão entre termos de
mesma oração, nem mesmo entre simples orações, mas de duas
proposições distintas, cada qual implementando, por si só, o tipo penal;
trata-se, assim, de hipótese clara de emprego de ponto e vírgula, e não
de vírgula simplesmente.
11. No que concerne à ortografia, é oportuno lembrar que os hifens que
agregavam seus elementos (ponto-e-vírgula) deixaram de ser
empregados após o Acordo Ortográfico de 2008 (ponto e vírgula),
como, aliás, registra o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa,
da Academia Brasileira de Letras, órgão oficialmente incumbido de
definir a correta grafia das palavras integrantes de nosso léxico (2009,
p. 667).
Ver Pontuação (P. 574), Vírgula entre orações (P. 773), Vírgula obrigatória
(P. 777) e Vírgula proibida (P. 779).

Pontuação
1. De evidente utilidade, a pontuação é conhecida há séculos e já
presenciou a aparição e o desaparecimento de muitos sinais.
2. A partir da década de cinquenta do século XX, tomou significativo
impulso e passou a orientar-se – além das razões sintáticas tradicionais e
dos impulsos subjetivos – pelas recomendações e exigências mais
apuradas da redação técnica.
3. De um modo geral, é empregada para representar, na escrita, a dinâmica
da fala, marcando a entonação, as pausas respiratórias e enfáticas.
4. Oportuno é anotar que os chamados clássicos de nossa literatura nem
sempre lhe atribuíram posição de relevo, motivo pelo qual não é
incomum encontrar, mesmo em abalizados escritores, erros de
pontuação, tais como os cometidos por qualquer usuário da escrita.
5. As gramáticas, por seu lado, pouco trazem a seu respeito, sobretudo no
que concerne ao uso da vírgula.
6. Deve-se conferir, todavia, adequado valor à pontuação, até porque, em
certos casos, errar ou acertar é questão de vida ou morte.
7. Para ilustrar a necessidade de observância dos princípios de pontuação,
lembre-se que a lenda conta que Alexandre Magno, não querendo
prosseguir em suas conquistas, antes de voltar à Babilônia, mandou,
como era de praxe à época, fosse consultada uma pitonisa acerca do
futuro. A resposta veio em cinco palavras soltas, sem qualquer sinal de
separação; e sua leitura foi feita por Alexandre e seus generais do modo
como mais lhes convinha: “Vais. Voltas. Não morrerás lá.” Em
campanha, porém, febre aguda acometeu o grande conquistador, que
acabou morrendo aos trinta e três anos, em 323 a. C. Seus generais,
lembrando-se da pitonisa, mandaram buscá-la, para que fosse punida
pela errônea previsão. Qual não foi o espanto deles, contudo, quando
ouviram dela a adequada leitura do vaticínio: “Vais. Voltas? Não!
Morrerás lá.”
8. Da lenda, de igual modo, vem a história de que, na antiga Rússia, em
apelo extremo, um czar rejeitara as alegações de um condenado,
encimando o recurso com o lacônico veredicto: “Manter condenação.
Impossível absolver.” Tendo profundo e pessoal interesse no caso, mas
sem querer ostensivamente desafiar o czar, a czarina, durante a
madrugada, teria revertido a situação, valendo-se de pequenas
alterações: “Manter condenação impossível: absolver (COSTA, 2005, p.
348)”.
Ver Colchetes (P. 191), Parênteses e Ponto (P. 550), Ponto e vírgula –
Emprego (P. 573), Reticências (P. 671), Travessão (P. 746), Vírgula entre
orações (P. 773), Vírgula proibida (P. 779), Vírgula obrigatória (P. 777) e
Vírgula optativa (P. 777).

Pontuação dos numerais


1. “Segundo o Instituto Nacional de Metrologia, Normatização e Qualidade
Industrial (INMETRO), os números que representam quantias em
dinheiro ou quantidades de mercadorias, bens ou serviços em
documentos para efeitos fiscais, jurídicos e/ou comerciais, devem ser
escritos com os algarismos separados em grupos de três, a contar da
vírgula para a esquerda e para a direita, com pontos separando estes
grupos entre si.” Exs.: 1.997 m, R$ 1.911,00.
2. “Nos demais casos, os algarismos da parte inteira e os da parte decimal
dos números são separados em grupos de três a contar da vírgula para a
esquerda e para a direita, com pequenos espaços entre estes grupos, ou
os algarismos da parte inteira e os da parte decimal são escritos
seguidamente, isto é, sem separação em grupos. Por exemplo: no ano de
1997 ou 1 997, RG 1 003 308 ou 10003308. O espaçamento entre um
número e o símbolo é de um toque, se não houver risco de fraude: 2 kg,
R$ 3 091,00 ou R$3 091,00” (NADÓLSKIS; TOLEDO, 1998, p. 72).
3. Em lição um pouco diversa, lembra Luiz Antônio Sacconi que, por um
lado, “atualmente usa-se o ponto também na separação de casas
decimais: 15.245, 289.493, 1.648.396, etc.”.
4. Por outro lado, acrescenta que “o curioso é que os números que
identificam o ano não costumam ganhar ponto: 1979, 1947, 1900, 1822,
etc.” (SACCONI, 1979, p. 236).
Ver Números – Como ler e Empregar? (P. 506)

Pontuação: espaço antes?


1. A indagação que se faz é se está correto o uso de espaço entre a última
letra da palavra e um sinal de pontuação, como o ponto de exclamação
ou o ponto de interrogação. Em outras palavras, se o sinal de pontuação
pode vir separado da palavra, ou se é juntado a ela sem espaço algum.
Assim, por exemplo, o que está correto: “Quantos filhos ele tem?” ou
“Quantos filhos ele tem ?”
2. Ora, inexistentes em tempos mais primitivos, os sinais de pontuação
foram inventados, na evolução da língua escrita e de seus registros, para
facilitar tanto a leitura quanto o entendimento e a compreensão do texto.
3. De um modo geral, não parece haver dúvida sobre a existência ou não de
espaço entre a palavra e o sinal de pontuação, quando se está diante da
vírgula, do ponto, dos dois pontos ou do ponto e vírgula, bastando, para
constatar, a leitura dos parágrafos antecedentes: simplesmente não se
separa com um espaço o sinal de pontuação da última palavra que o
antecede.
4. A dúvida, ao que parece, avulta diante de um ponto de interrogação e de
um ponto de exclamação.
5. Tais sinais, entretanto, não diferem, para esses efeitos, dos demais
símbolos da pontuação, de modo que não há motivo para querer usar um
espaço entre a última palavra e um ponto de interrogação, ou um ponto
de exclamação, ou mesmo qualquer outro sinal. Exs.: a) “Quantos filhos
ele tem?” (correto); b) “Quantos filhos ele tem ?” (errado).
6. Acresce dizer que uma consulta ao Formulário Ortográfico – aprovado
unanimemente pela Academia Brasileira de Letras, com força de lei, em
sessão de 29/1/42, para organizar a edição do Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa – embora não traga regra alguma teórica e específica
para esse aspecto, emprega a pontuação exatamente como aqui se
preconiza, ao exemplificar com Rui Barbosa determinado aspecto da
própria pontuação: “‘Aí temos a lei’, dizia o Florentino. ‘Mas quem as
há de segurar?’ Ninguém.”

Por acaso
Ver Porventura ou Por ventura? (P. 584)

Por baixo e Por cima de


Ver Com ou sem – Está correto? (P. 198)

Por cada – Cacófato?


Quanto à possibilidade de vislumbre de som inadequado na junção de
tais vocábulos, ver Cacófato – O que é? (P. 163)

Porcentagem ou Percentagem?
1. Porcentagem é vocábulo de frequente aplicação nos textos jurídicos e
forenses. Ex.: “Consistirá a taxa de legitimação em porcentagens sobre
a avaliação que será feita por perito residente no foro rei sitae,
nomeado pelo juiz” (Decreto-lei 9.760, de 5/9/46, art. 166).
2. Silveira Bueno (1957, p. 380) reputa “pedantismo” o uso de
percentagem, argumentando que se trata de “importação inglesa”,
acrescentando que “a preposição latina per desapareceu do idioma
português substituída pela outra por” (remanescendo apenas nas
expressões de per si e de permeio), além do que “é velha na língua a
forma porcentagem”.
3. Em outra obra, o mesmo autor reitera não mais existir em nosso idioma a
preposição per, que foi absorvida pela preposição por, e acrescenta que
seria “pedantismo e vaidadezinha ingênua dizer-se percentagem e não
porcentagem” (BUENO, 1938, p. 81).
4. Inverso, entretanto, é o entendimento de Júlio Nogueira, que manda usar
percentagem, muito embora observe que “é muito provável que se fixe a
forma porcentagem, graças à influência da locução por cento” (1959, p.
27).
5. Antonio Henriques e Maria Margarida de Andrade dão notícia de que
Cândido de Figueiredo e Heráclito Graça polemizaram sobre o assunto;
Said Ali preferia porcentagem, enquanto Júlio Nogueira optava por
percentagem… (1999, p. 44).
6. Heráclito Graça, por seu lado, cita, por primeiro, lição de Cândido de
Figueiredo, que se mostrava maravilhado de que no Brasil se escrevia
porcentagem e aconselhava a eliminação de semelhante grafia, por se
opor às tradições da língua, enquanto percentagem tem per, que
“corresponde em todas as suas letras à preposição latina per”.
7. Observando, contudo, que os antigos escritores jamais confundiam as
preposições per e por, servindo-se da primeira para denotar meio e da
segunda para indicar causa, o referido gramático contraria a lição citada,
apadrinhando-se com Leoni: “Hoje, porém, empregamos indistintamente
a preposição por em ambos os casos, e só nos servimos da preposição
per em algum particular idiotismo, e como partícula inseparável dos
verbos e dos nomes”.
8. E conclui: “porcentagem, como se escreve no Brasil, … é grafia
moderna e lógica” (GRAÇA, 1904, p. 399-402).
9. Luís A. P. Vitória (1969, p. 184) assevera que percentagem é a forma
correta, por originar-se do latim per centum; acrescenta, todavia, que “a
forma porcentagem tem, a seu favor, o uso corrente”.
10. Por outro lado, dão-nas ambas como válidas e defensáveis os
dicionaristas Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (s/d, p. 1.066) e
Cândido Jucá Filho (1963, p. 478).
11. Tem-se, em realidade, entendido que percentagem prende-se à locução
latina per centum, forma que o inglês manteve sem alteração; já
porcentagem sofre nítida influência, em sua origem, da forma francesa
pourcentage.
12. Ao lhe porem em questão qual dos dois vocábulos usar, Cândido de
Figueiredo assim se pronunciou: “Porcentagem é forma brasileira,
moderna e inútil. A palavra percentagem formou-se na vigência da
preposição per, e como tal se tem mantido e se manterá” (1943, p. 129-
30).
13. Domingos Paschoal Cegalla considera percentagem e porcentagem
duas formas igualmente corretas: “a primeira provém do latim per
centum (por cento) + sufixo – agem; a segunda, mais usual, deriva da
locução portuguesa por cento” (1999, p. 315).
14. Para Cândido de Oliveira (s/d, p. 118), porcentagem “é a forma atual,
moderna”, lembrando tal autor, porém, que “também correta a forma
antiga percentagem”.
15. Para José de Nicola e Ernani Terra (2000, p. 171), “as duas formas são
corretas e equivalentes”, acrescentando tais autores que “percentagem é
uma forma erudita, que mantém a grafia da expressão latina per centum
(‘por cento’)”, enquanto “porcentagem é uma forma aportuguesada”.
16. Ante a divergência entre autores, que até mesmo defendem pontos de
vista diametralmente opostos, vigendo aqui o princípio de que, em caso
de dúvida fundada, confere-se liberdade ao usuário, defensável é o uso
indiscriminado de ambos os vocábulos: percentagem e porcentagem.
17. Esse, aliás, é o posicionamento do Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, órgão oficialmente
incumbido de definir quais as palavras integrantes de nosso léxico, o
qual, sem observações adicionais ou ressalvas, registra ambas as
formas: percentagem e porcentagem (2009, p. 638 e 667).
18. Sendo corretas ambas as formas, e aceitas no léxico vernáculo, parece
desnecessária a postura do mestre Theotonio Negrão (2001a, p. 1.001),
que, muito embora anote constar porcentagem no texto oficial do art.
27, caput, da Lei 5.764, de 16/12/71, que instituiu o regime das
cooperativas, corrige, na transcrição do dispositivo, para percentagem,
talvez imbuído da ideia de que não se deva acatar no vernáculo a forma
que evitou.
19. O Código Civil de 2002 não emprega nenhuma das duas formas, e o
Código de Processo Civil, usando-a apenas uma vez, prefere
percentagem: “Se, quando for organizado o quadro geral dos credores,
os bens da massa já tiverem sido alienados, o contador indicará a
percentagem, que caberá a cada credor no rateio” (CPC/1973, art.
770).
Ver Número fracionário (P. 505) e Por cento – Como concordar o verbo?
(P. 576)

Por cento – Como concordar o verbo?


1. Entre os seguintes exemplos, qual aquele de concordância correta: “…
20% dos senadores não foram reeleitos” ou “… 20% dos senadores não
foi reeleito”?
2. Em termos um pouco mais técnicos, quer-se saber como se procede à
concordância verbal nas diversas hipóteses de representação percentual
no sujeito. Resumam-se, em dois exemplos, os principais problemas do
assunto: a) “Noventa por cento viajou (ou viajaram)?”; b) “Noventa por
cento do time viajou (ou viajaram)?”. No primeiro deles, há um
percentual no sujeito, mas sem especificação; no segundo, há um
percentual seguido de especificação (no caso, do time).
3. Após longa análise dos autores que escrevem sobre a matéria e de suas
divergências, fixa-se, desde logo, a premissa de que, quando divergem os
gramáticos, há liberdade para o usuário, de modo que se fixam as regras
que seguem, levando em conta um modo bastante amplo de entender a
questão.
4. Primeira regra: Quando não há termo especificador, a concordância se
faz com o numeral. Exs.: a) “Um por cento deixou a cidade”; b) “Trinta
por cento deixaram a cidade”; c) “Apenas dez por cento aprovam a
atuação do serviço do restaurante”; d) “1% desconhece o assunto”; e)
“Um por cento é pobre”; f) “Noventa por cento são ricos”.
5. Segunda regra: Quando a expressão indicativa de porcentagem se faz
acompanhar de um termo especificador (tecnicamente se denomina um
partitivo), a concordância pode ser feita, indistintamente, com o número
percentual ou com o termo especificador. Exs.: a) “Apenas 1% dos filmes
requisitados chegou” (correto); b) “Apenas 1% dos filmes requisitados
chegaram” (correto); c) “Noventa por cento da imprensa defendem o
governo” (correto); d) “Noventa por cento da imprensa defende o
governo” (correto); e) “Um por cento dos alunos faltou” (correto); f)
“Um por cento dos alunos faltaram” (correto); g) “Setenta por cento do
time não apresentavam boas condições físicas” (correto); h) “Setenta
por cento do time não apresentava boas condições físicas” (correto).
6. Em tais casos de dupla possibilidade de concordância, é preciso atentar à
flexão do adjetivo que funcionar como predicativo. Exs.: a) “Vinte por
cento da população está desempregada” (correto); b) “Vinte por cento
dos trabalhadores estão desempregados” (correto).
7. Terceira regra: Se, porém, o número percentual se pospõe ao verbo, a
concordância normalmente se faz com o número indicador da
porcentagem, que vem no começo. Exs.: a) “Estão perdidos 50% da
lavoura de café”; b) “Ficou alagado 1% das terras”.
8. Quarta regra: Se o número percentual vier precedido de um artigo ou
pronome, o plural será obrigatório. Exs: a) “Os 37% da produção serão
exportados”; b) “Uns 15% da população morreram como consequência
do terremoto”.
9. De modo específico para os exemplos inicialmente dados, porque tanto o
número percentual (20%) como o termo especificador (senadores) estão
no plural, apenas se permite a concordância do verbo no plural: a) “…
20% dos senadores não foram reeleitos” (correto); b) “… 20% dos
senadores não foi reeleito” (errado). Mas observe-se a seguinte variação:
a) “… 1% dos senadores não foi reeleito” (correto); b) “… 20% dos
senadores não foram reeleitos” (correto). Mais uma vez, atenção para
com o adjetivo final em ambos os casos (reeleito e reeleitos).

Porcentual ou Percentual?
Ver Percentual ou Porcentual? (P. 558)

Pôr – Como conjugar?


1. Anote-se, de início, que o verbo pôr tem, no infinitivo, acento diferencial
de tonicidade, mas tal peculiaridade não se repete com o infinitivo de
nenhum de seus compostos.
2. Quanto à conjugação verbal, sendo um verbo anômalo, apresenta
problemas no pretérito perfeito do indicativo e tempos derivados: pus,
puseste, pôs, pusemos, pusestes, puseram (pretérito perfeito); pusera,
puseras, pusera, puséramos, puséreis, puseram (pretérito mais-que-
perfeito); puser, puseres, puser, pusermos, puserdes, puserem (futuro do
subjuntivo); pusesse, pusesses, pusesse, puséssemos, pusésseis,
pusessem (imperfeito do subjuntivo).
3. Ele é modelo de conjugação para todos os seus compostos: apor,
compor, decompor, depor, expor, indispor, justapor, opor, pressupor,
propor, repor, supor, transpor.
4. Importante é atentar à forma correta da conjugação dos compostos no
pretérito perfeito do indicativo e tempos derivados. Exs.: a) “Na defesa
prévia, os advogados antepuseram sua linha de defesa” (e não
anteporam); b) “Quando as testemunhas compuserem a cena do crime
com seus depoimentos…” (e não comporem); c) “Se a testemunha
depusesse em audiência…” (e não deposse); d) “As testemunhas
expuseram o fato com clareza” (e não exporam); e) “Se os executados
não opuserem embargos…” (e não oporem); f) “Se a parte propusesse
algo mais concreto…” (e não proposse); g) “Os executados opuseram
embargos” (e não oporam); h) “Enquanto os advogados pressupuserem
fatos inexistentes…” (e não pressuporem); i) “Se a parte propusesse algo
mais concreto…” (e não proposse); j) “As testemunhas repuseram a
situação de fato no devido lugar” (e não reporam); k) “Quando os
advogados supuserem uma questão dessa natureza…” (e não suporem);
l) “Se os escreventes transpusessem para o papel as palavras das
testemunhas…” (e não transpossem).
Ver Pôr ou Por? (P. 581)

Por completo – Galicismo?


1. Cândido de Figueiredo arrola tal expressão entre os galicismos a serem
evitados, lançando a seguinte justificativa: “por completo não é
português genuíno. Em vez dele, temos completamente e seus
sinônimos” (1948, p. 260).
2. De igual modo, Vasco Botelho de Amaral considera “estranha” tal
expressão, “porque nunca se topa em bons escritores”, não se
convencendo do contrário tal autor com o argumento de ser ela “corrente
na nossa língua”.
3. E acrescenta, quanto à assertiva de que seria ela similar a outras
expressões de uso diário: “Parece-me que se não pode considerar correta
uma expressão estranha só por ser comparável a outra ou outras
correntes”.
4. Por fim, em substituição, preconiza que se empregue completamente,
inteiramente e de todo (AMARAL, 1943, p. 208).

Pôr-de-sol, Por de sol ou …?


1. Com as alterações introduzidas em nosso sistema pelo Acordo
Ortográfico de 2008, é oportuno observar como fica, quer quanto ao
hífen, quer quanto ao acento gráfico, a escrita da expressão: pôr-de-sol,
por-de-sol, pôr de sol ou por de sol?
2. Como é de fácil percepção, deve-se partir a questão em dois aspectos: a)
o primeiro elemento da expressão continua com o acento circunflexo ou
o perdeu?; b) há hífen para separar os elementos da expressão ou não?
3. Num primeiro aspecto, anota-se que, antes das recentes mudanças em
nossa ortografia, a regra era acentuar a forma verbal pôr, para distingui-
la da preposição por.
4. A explicação para essa ocorrência era que o verbo configurava uma
forma tônica, enquanto a preposição, uma forma átona, de modo que se
empregava, assim, na primeira, um acento diferencial de tonicidade.
5. Pois bem. Esse acento foi expressamente mantido pelo Acordo
Ortográfico de 2008, como se pode conferir nos seguintes exemplos: a)
“O trabalho foi feito por ele” (preposição); b) “É preciso pôr os pingos
nos is” (verbo).
6. Num segundo aspecto, antes das recentes mudanças, havia, sim, o hífen
para separar os elementos de tal palavra, de modo que a escrita correta
era pôr-de-sol (ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, 2004, p.
638).
7. O Acordo Ortográfico de 2008, mantendo raras exceções já consagradas
pelo uso, eliminou o hífen das locuções substantivas.
8. No rol desse vocábulo em que se eliminou o hífen, acha-se a locução pôr
de sol, como se pode comprovar no Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa (ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, 2009, p. 668).
9. Vejam-se, desse modo, os seguintes exemplos, com a indicação de sua
correção ou erronia entre parênteses: a) “Dificilmente haverá um pôr-de-
sol como aquele” (errado); b) “Dificilmente haverá um pôr de sol como
aquele” (correto); c) “Dificilmente haverá um por-de-sol como aquele”
(errado); d) “Dificilmente haverá um por de sol como aquele” (errado).
10. Apenas para ilustração complementar, frisa-se que o plural de pôr de
sol é pores de sol.

Porém
1. É certo que diversos autores e diplomas legais preferem intercalar entre
vírgulas, no meio da oração, as conjunções adversativas a fazê-las iniciar
as orações, o que também é correto. Exs.: a) “Sucedeu, porém, que como
eu vinha cansado, fechei os olhos três ou quatro vezes” (Machado de
Assis); b) “A interrupção, porém, aberta por um dos credores solidários
aproveita aos outros” (CC/1916, art. 176, § 1º).
2. Não se sabe bem, todavia, de onde se originou um estranho ensino (mas
é certo que Cândido de Figueiredo, por exemplo, o repete), que pretende
não se poder começar uma oração com algumas conjunções
adversativas, sobretudo com porém. Para os gramáticos que defendem
esse ponto de vista, a conjunção adversativa jamais deve iniciar uma
oração, mas deve vir posposta ao primeiro ou aos primeiros termos do
segmento em que se insere. Vejam-se os seguintes exemplos, com a
indicação e a erronia para os seguidores dessa corrente: a) “O
magistrado inquiriu a testemunha; não foi, porém, bem sucedido”
(correto); b) “O magistrado inquiriu a testemunha, porém não foi bem
sucedido” (errado); c) “O réu podia estar na audiência; não podia,
porém, interferir” (correto); d) “O réu podia estar na audiência; porém
não podia interferir” (errado).
3. Indagando-se acerca da correção de principiar uma oração com tal
conjunção adversativa, contudo, Assis Cintra responde pela afirmativa,
argumentando que, “desde os mais velhos escritores da língua até os
mais modernos, todos eles iniciam frases com a conjunção citada”. E
refere exemplos dos mais abalizados mestres de nossa língua em todos
os períodos (CINTRA, 1922, p. 26-31): a) “Porém já cinco sóis eram
passados” (Camões); b) “Porém não se imagine o pecador estar
destituído de verdadeiro arrependimento” (Padre Manuel Bernardes); c)
“Porém, já neste tempo andava outro gênero de profecia mais temeroso”
(Frei Luís de Sousa); d) “Porém todos os clássicos de todos os tempos
ma deparam frequentemente assim colocada” (Rui Barbosa); e) “Porém
casos há em que a preposição que acompanha o complemento direto não
é expletiva” (Mário Barreto).
4. Ainda para refutar esse ensinamento, traz-se a lição de Silveira Bueno:
“O ensino geral de que as orações adversativas não podem começar pela
conjunção porém, devendo esta vir sempre depois das primeiras
palavras, é totalmente sem fundamento. Veja estes exemplos de Vieira,
que, por certo, ninguém me vai dizer que não sabia escrever
corretamente: ‘Porém, todas estas cousas verdadeiramente grandes…
etc.’; ‘Porém, nós como morremos?’; ‘Porém se sucedesse alguma vez
não ser assim…’. Pode-se, portanto, começar a oração adversativa com a
conjunção porém, tomando por exemplo o maior escritor da língua
portuguesa” (1957, p. 331).
5. Outra não é a lição de Luciano Correia da Silva: “Já se ensinou que não
se devem usar no início da frase as adversativas em geral (porém, no
entanto, todavia, contudo, etc.), que precisam ocupar, entre vírgulas,
posição intermediária… Todavia, essa regra não encontra respaldo
literário, uma vez que os melhores escritores nunca a observaram”. E
lista ele exemplos de autores insuspeitos no vernáculo (SILVA, L., 1991,
p. 47): a) “Porém, como ela (a sentença) foi pronunciada definitiva e
declaradamente…” (Padre Vieira); b) “Entretanto, vida diferente não
quer dizer vida pior” (Machado de Assis); c) “Contudo, certas formas de
encantamento que observamos na vida contemporânea parecem
confirmar a cediça verdade…” (Carlos Drummond de Andrade).
6. É oportuno acrescentar que, se, quanto ao estilo, pode ser mais fluente
pospor a conjunção em tais casos, essa já é outra questão, que escapa à
analise e ao questionamento acerca da correção de tal emprego, atestada
à farta pela autoridade dos exemplos citados.
7. Essas observações valem para outras conjunções igualmente
adversativas: todavia, contudo, entretanto.
8. Uma análise de nossa legislação permite extrair as seguintes ilações a
esse respeito: a) o mas, como é de regra, sempre inicia oração e não pode
ser intercalado; b) as demais conjunções adversativas às vezes começam
as orações, às vezes se intercalam entre seus termos; c) por questão de
estilo, contudo, é perceptível a preferência pela intercalação.
9. Vejam-se alguns exemplos de emprego das adversativas no início das
respectivas orações em nossa legislação: a) “A personalidade civil da
pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a
concepção, os direitos do nascituro” (CC, art. 2º); b) “A sentença que
determinar a abertura da sucessão provisória só produzirá efeito cento e
oitenta dias depois de publicada pela imprensa; mas, logo que passe em
julgado, proceder-se-á à abertura do testamento, se houver, e ao
inventário e partilha dos bens, como se o ausente fosse falecido” (CC,
art. 28, caput); c) “O dono ou o possuidor do prédio inferior é obrigado
a receber as águas que correm naturalmente do superior, não podendo
realizar obras que embaracem o seu fluxo; porém a condição natural e
anterior do prédio inferior não pode ser agravada por obras feitas pelo
dono ou possuidor do prédio superior” (CC, art. 1.288); d) “Todavia, os
casos fortuitos, ocorrentes no ato de contar, marcar ou assinalar coisas,
que comumente se recebem, contando, pesando, medindo ou
assinalando, e que já tiverem sido postas à disposição do comprador,
correrão por conta deste” (CC, art. 492, § 1º); e) “O juiz conhecerá de
ofício, em qualquer tempo e grau de jurisdição, enquanto não proferida
a sentença de mérito, da matéria constante dos ns. IV, V e VI; todavia, o
réu que a não alegar, na primeira oportunidade em que lhe caiba falar
nos autos, responderá pelas custas de retardamento” (CPC/1973, art.
267, § 3º).
10. Observem-se outros casos, em que as conjunções adversativas se
intercalam nos temos da oração: a) “As mulheres e os eclesiásticos
ficam isentos do serviço militar obrigatório em tempo de paz, sujeitos,
porém, a outros encargos que a lei lhes atribuir” (CF, art. 143, § 2º); b)
“O descendente, ascendente ou cônjuge que for sucessor provisório do
ausente, fará seus todos os frutos e rendimentos dos bens que a este
couberem; os outros sucessores, porém, deverão capitalizar metade
desses frutos e rendimentos, segundo o disposto no art. 29, de acordo
com o representante do Ministério Público, e prestar anualmente
contas ao juiz competente” (CC, art. 33, caput); c) “Se, porém, a
pessoa natural tiver diversas residências, onde, alternadamente, viva,
considerar-se-á domicílio seu qualquer delas” (CC, art. 71); d) “O dolo
do representante legal de uma das partes só obriga o representado a
responder civilmente até a importância do proveito que teve; se,
porém, o dolo for do representante convencional, o representado
responderá solidariamente com ele por perdas e danos” (CC, art. 149).

Porém e a vírgula
Ver Porém (P. 578).

Porém e Mas
Ver Mas e Porém (P. 461).

Porém – No meio da frase? E com vírgula?


1. Um leitor indaga qual das duas frases é correta: a) “Discordo, porém, da
multa aplicada”; b) “Discordo porém da multa aplicada”. E, aventando
a possibilidade de nenhuma delas estar correta, pede auxílio.
2. A dúvida do leitor, em realidade, abrange dois aspectos de discussão: a)
procura saber se as conjunções adversativas (porém, todavia, contudo,
entretanto) podem estar no meio da oração, e não no começo; b) como se
dá a questão do emprego das vírgulas.
3. Num primeiro aspecto, é certo que diversos autores e diplomas legais
preferem intercalar entre vírgulas, no meio da oração, as conjunções
adversativas a fazê-las iniciar as orações, o que também é correto. Exs.:
a) “Sucedeu, porém, que como eu vinha cansado, fechei os olhos três ou
quatro vezes” (Machado de Assis); b) “A interrupção, porém, aberta por
um dos credores solidários aproveita aos outros” (CC/1916, art. 176, §
1º).
4. Não se sabe bem, todavia, de onde se originou um estranho ensino (mas
é certo que Cândido de Figueiredo, por exemplo, o repete), que pretende
não se poder começar uma oração com algumas conjunções
adversativas, sobretudo com porém. Para os gramáticos que defendem
esse ponto de vista, a conjunção adversativa jamais deve iniciar uma
oração, mas deve vir posposta ao primeiro ou aos primeiros termos do
segmento em que se insere. Vejam-se os seguintes exemplos, com a
indicação e a erronia para os seguidores dessa corrente: a) “O
magistrado inquiriu a testemunha; não foi, porém, bem sucedido”
(correto); b) “O magistrado inquiriu a testemunha, porém não foi bem
sucedido” (errado); c) “O réu podia estar na audiência; não podia,
porém, interferir” (correto); d) “O réu podia estar na audiência; porém
não podia interferir” (errado).
5. Indagando-se acerca da correção de principiar uma oração com tal
conjunção adversativa, contudo, Assis Cintra responde pela afirmativa,
argumentando que, “desde os mais velhos escritores da língua até os
mais modernos, todos eles iniciam frases com a conjunção citada”. E
refere exemplos dos mais abalizados mestres de nossa língua em todos
os períodos (CINTRA, 1922, p. 26-31): a) “Porém já cinco sóis eram
passados” (Camões); b) “Porém não se imagine o pecador estar
destituído de verdadeiro arrependimento” (Padre Manuel Bernardes); c)
“Porém, já neste tempo andava outro gênero de profecia mais temeroso”
(Frei Luís de Sousa); d) “Porém todos os clássicos de todos os tempos
ma deparam frequentemente assim colocada” (Rui Barbosa); e) “Porém
casos há em que a preposição que acompanha o complemento direto não
é expletiva” (Mário Barreto).
6. Ainda para refutar esse ensinamento, traz-se a lição de Silveira Bueno:
“O ensino geral de que as orações adversativas não podem começar pela
conjunção porém, devendo esta vir sempre depois das primeiras
palavras, é totalmente sem fundamento. Veja estes exemplos de Vieira,
que, por certo, ninguém me vai dizer que não sabia escrever
corretamente: ‘Porém, todas estas cousas verdadeiramente grandes…
etc.’; ‘Porém, nós como morremos?’; ‘Porém se sucedesse alguma vez
não ser assim…’. Pode-se, portanto, começar a oração adversativa com a
conjunção porém, tomando por exemplo o maior escritor da língua
portuguesa” (1957, p. 331).
7. Outra não é a lição de Luciano Correia da Silva: “Já se ensinou que não
se devem usar no início da frase as adversativas em geral (porém, no
entanto, todavia, contudo, etc.), que precisam ocupar, entre vírgulas,
posição intermediária… Todavia, essa regra não encontra respaldo
literário, uma vez que os melhores escritores nunca a observaram”. E
lista ele exemplos de autores insuspeitos no vernáculo (SILVA, L., 1991,
p. 47): a) “Porém, como ela (a sentença) foi pronunciada definitiva e
declaradamente…” (Padre Vieira); b) “Entretanto, vida diferente não
quer dizer vida pior” (Machado de Assis); c) “Contudo, certas formas de
encantamento que observamos na vida contemporânea parecem
confirmar a cediça verdade…” (Carlos Drummond de Andrade).
8. É oportuno acrescentar que, se, quanto ao estilo, pode ser mais fluente
pospor a conjunção em tais casos, essa já é outra questão, que escapa à
analise e ao questionamento acerca da correção de tal emprego, atestada
à farta pela autoridade dos exemplos citados.
9. Essas observações valem para outras conjunções igualmente
adversativas: todavia, contudo, entretanto.
10. Uma análise de nossa legislação permite extrair as seguintes ilações a
esse respeito: a) o mas, como é de regra, sempre inicia oração e não
pode ser intercalado; b) as demais conjunções adversativas às vezes
começam as orações, às vezes se intercalam entre seus termos; c) por
questão de estilo, contudo, é perceptível a preferência pela
intercalação.
11. Num segundo aspecto, deve-se atentar aos seguintes pontos: a) quando
começa uma segunda oração, a conjunção a separa da primeira, e essa
divisão de orações normalmente é marcada por vírgula ou ponto e
vírgula; b) considerada na oração por ela iniciada, avulta observar que,
já que o papel da conjunção é ligar orações, seu lugar natural é o início
da oração por ela começada; c) por essa razão, se a conjunção inicia a
oração, normalmente não há vírgula para separá-la do termo que lhe
vem a seguir; d) se, porém, por questão de estilo, se quer intercalá-la
entre os termos da oração a que pertence, então essa intercalação vem
marcada por duas vírgulas, uma antes e outra depois da conjunção.
12. Confiram-se os seguintes exemplos, todos corretos, a comprovarem os
aspectos teóricos acima referidos: a) “Não queria dormir; porém
sucedeu que fechei os olhos por três ou quatro vezes”; b) “Não queria
dormir; sucedeu, porém, que fechei os olhos por três ou quatro vezes”;
c) “O magistrado inquiriu a testemunha, todavia não foi bem
sucedido”; d) “O magistrado inquiriu a testemunha; não foi, todavia,
bem sucedido”.
13. Respondendo diretamente ao leitor, confiram-se os seguintes exemplos,
alguns por ele trazidos e outros com variações, todos com a indicação
de sua correção ou erronia entre parênteses: a) “… porém discordo da
multa aplicada” (correto); b) “… porém, discordo da multa aplicada”
(errado); c) “… discordo porém da multa aplicada” (errado); d) “…
discordo, porém, da multa aplicada” (correto).

Por isso ou Porisso?


1. A grafia oficial, no § 574, adotou a forma analítica, em dois elementos,
para tal conjunção. Ex.: “O réu não contestou a ação; por isso a
sentença lhe aplicou os efeitos da revelia”.
2. Oportuno, em corroboração, é lembrar a respeito a incisiva lição de
Vasco Botelho de Amaral: “Evidentemente deve escrever-se por isso, e
não porisso, erro de grafia, como se grafa por isto, e não poristo, nem
poraquilo” (AMARAL apud ALMEIDA, 1981, p. 240).
3. Na apropriada observação de Laurinda Grion, “assim como escrevemos
por este, por esta, por aquela, escrevemos por isso” (s/d, p. 65).

Por mais que


Ver Indicativo por Subjuntivo (P. 411).

Por ora ou Por hora?


1. A indagação que se faz é se está correta a expressão por ora no seguinte
contexto: “O vice-presidente indeferiu o arquivamento por ora,
explicitando…”
2. A questão não parece ser de difícil esclarecimento, bastando distinguir
que há duas expressões de sentidos diversos.
3. Por ora corresponde a por agora, por enquanto. Ex.: “O réu, por ora, há
de ficar em liberdade”.
4. Já por hora tem o significado de a cada sessenta minutos. Ex.: “No
instante do acidente, o réu corria a cento e vinte quilômetros por hora”.
5. De volta, especificamente, ao exemplo que motivou a explanação, sem
maiores dificuldades, a expressão apontada tem, no texto, o sentido de
por agora ou por enquanto, e não a cada sessenta minutos. Diga-se,
portanto, por ora, e não por hora. Ou seja: “O vice-presidente indeferiu o
arquivamento por ora, explicitando que se trata de interesse coletivo da
categoria representada pelo suscitante”.

Pôr ou Por?
1. Após as mudanças que aconteceram por conta do Acordo Ortográfico de
2008 em nossa ortografia, importa analisar se ainda existe o acento
circunflexo na forma verbal pôr.
2. A regra, anteriormente, era acentuar a forma verbal pôr, para distingui-la
da preposição por.
3. A explicação para essa ocorrência era que o verbo configurava uma
forma tônica, enquanto a preposição, uma forma átona, de modo que se
empregava, assim, na primeira, um acento diferencial de tonicidade.
4. E esse acento foi expressamente mantido pelo Acordo Ortográfico de
2008, como se pode conferir nos seguintes exemplos: a) “O trabalho foi
feito por ele” (preposição); b) “É preciso pôr os pingos nos is” (verbo).
5. O acento continua existindo em palavras compostas, como pôr de sol ou
pôr do sol, mas não nos respectivos plurais: pores de sol ou pores do sol.
6. Oportuno é anotar, também, que esse acento não se faz presente nos
compostos de pôr: antepor, apor, decompor, depor, impor, justapor,
recompor, transpor…
Ver Pôr – Como conjugar? (P. 577)

Por quanto ou Porquanto?


1. Um leitor traz o seguinte exemplo: “A nulidade produziu prejuízo à
defesa, por quanto serviu como base para a negativa do privilégio legal
do furto qualificado”. E indaga: a expressão por quanto poderia ser
escrita como uma só palavra?
2. Ora, escreve-se separadamente por quanto, quando se tem uma
preposição (por) e um pronome (quanto), ou, considerada como um todo,
uma locução adverbial. Exs.: a) “Por quanto dinheiro você vende seu
apartamento?”; b) “Por quanto você vende seu apartamento?”; c) “Ele
não sabia por quanto tempo ainda esperaria pelo médico”.
3. Escreve-se, porém, como uma só palavra, quando é conjunção, caso em
que pode ser substituída por pois ou porque. Exs.: a) “Ele não se moveu,
porquanto a conversa não era com ele”; b) “Ele venceu o concurso,
porquanto não apareceu nenhum outro candidato”.
4. No caso, vê-se, com facilidade, que o sentido do vocábulo no texto é
pois ou porque, o que significa que é conjunção e se deve escrever como
uma só palavra.
5. Vejam-se, assim, os seguintes exemplos, com indicação de seu acerto ou
erronia entre parênteses: a) “A nulidade produziu prejuízo à defesa, por
quanto serviu como base para a negativa do privilégio legal do furto
qualificado” (errado); b) “A nulidade produziu prejuízo à defesa,
porquanto serviu como base para a negativa do privilégio legal do furto
qualificado” (correto).

Por que, Por quê, Porque ou Porquê?


1. Quando se quer mencionar o próprio substantivo, na acepção de causa,
razão, motivo, grafa-se porquê (uma só palavra e com acento). Ex.: “Até
hoje não se sabe bem o porquê da condenação daquele réu”
(OLIVEIRA, C., 1961, p. 101).
2. Para José de Nicola e Ernani Terra (2000, p. 177), nesse caso, o
substantivo, geralmente, virá precedido de artigo ou outro determinante
(adjetivo, pronome ou numeral).
3. Em idêntica lição, reiteram Pasquale Cipro Neto e Ulisses Infante (1999,
p. 546) que, em tais hipóteses, porque “normalmente surge acompanhada
de palavra determinante (artigo, por exemplo)”, decorrendo, além disso,
de sua própria natureza de substantivo, que tal vocábulo “pode ser
pluralizado sem qualquer problema”. Ex.: “Creio que os verdadeiros
porquês mais uma vez não vieram à luz”.
4. O motivo de se grafar uma só palavra é que porquê não é resultado da
junção de duas outras, mas tão somente uma conjunção substantivada.
5. Embora originariamente átona a conjunção, torna-se tônica pela
substantivação, motivo por que, conforme ensino de Celso Pedro Luft
(1991, p. 101), “deve ela obedecer à regra de acentuação dos oxítonos
terminados em e(s)”.
6. Num segundo aspecto, quando o vocábulo é conjunção (significando
uma vez que, pois, já que, como, porquanto, visto que, visto como –
conjunções e locuções essas pelas quais pode ser substituída), escreve-se
porque (uma só palavra e sem acento). Ex.: “O réu foi condenado,
porque realmente cometeu o crime”.
7. Para esse caso, assim é a síntese de Napoleão Mendes de Almeida:
“Quando simples conjunção subordinativa causal, é uma só palavra:
‘Dei-lho porque me pediu’” (1981, p. 240).
8. De modo prático, leciona Arnaldo Niskier: “porque (junto e sem acento)
é usado em respostas e nas frases declarativas, quando não se pode
subentender a palavra motivo” (1992, p. 57).
9. Complementam José de Nicola e Ernani Terra (2000, p. 176): “Escreve-
se porque (um só vocábulo e sem acento) quando se trata de uma
conjunção; introduz oração subordinada adverbial causal (equivale a
uma vez que, visto que) ou uma oração coordenada explicativa (equivale
a pois)”.
10. Luís A. P. Vitória (1969, p. 193) adverte a que não se confunda porque
com por que “em duas palavras”, porquanto, como conjunção, é uma
só palavra, e não a associação de duas outras.
11. E a ausência de acento gráfico decorre da circunstância de que a
conjunção porque se insere entre os casos raros de dissílabos átonos,
vale dizer, das palavras que não têm uma autonomia de sonoridade e,
por isso, esteiam-se na força de pronúncia de outro vocábulo.
12. Ainda como conjunção, porque pode ter o sentido de para que, a fim de
que, muito embora se trate “de um uso pouco frequente na língua
atual”. Ex.: “Não julgues porque não te julguem” (CIPRO NETO;
INFANTE, 1999, p. 546).
13. Num terceiro aspecto, em termos bem práticos, já observada, por um
lado, a questão do substantivo (porquê), e, por outro lado, o aspecto da
conjunção (porque), nos demais casos, quando “passa a locução,
escreve-se por que”, expressão essa que sempre “é formada da
preposição por e do pronome relativo ou interrogativo que, e por isso
se escreve separadamente” (FREIRE, 1937b, p. 94).
14. Na lição de Laudelino Freire, “este que refere-se sempre a um nome,
quer subentendido, quer expresso, o qual, neste último caso, pode vir
antes dele, ou depois, passando aquela locução a significar por qual,
pelo qual, pelos quais, etc., isto é, motivo pelo qual, por qual motivo,
etc.” (FREIRE, 1937b, p. 94).
15. E complementa tal autor: “Escreve-se, pois, o por separado do que nas
frases interrogativas, ainda que acompanhado venha do substantivo,
claro ou oculto, anteposto ou posposto, e também quando o por que
significar pelo qual, etc.” (FREIRE, 1937b, p. 94). Exs.: a) “Por que o
réu não foi condenado?”; b) “O motivo por que não se condenou o réu
foi a falta de provas”.
16. Vale lembrar, a propósito, na prática, a preciosa lição de Júlio
Nogueira: “escreva-se por que quando houver ou for possível aditar a
palavra motivo, razão, etc.” (1959, p. 32).
17. Mais abrangente é a preciosa lição do ex-presidente da Academia
Brasileira de Letras, Arnaldo Niskier (1992, p. 57): “Por que (separado
e sem acento) vem em perguntas (desde que não esteja seguido
imediatamente por uma pausa) e quando se pode subentender a palavra
motivo (por que motivo) ou quando é equivalente a pelo qual (ou
variações)”.
18. Ao conceituar por que, nesses casos, Cândido Jucá Filho refere ser uma
“locução átona, em que se combinam a preposição por mais o pronome
que (equivalente a a qual ou o qual): Já sabes o motivo por que ele
faltou. Já sabes por que motivo ele faltou. Por que (motivo) faltou ele?
(1963, p. 496)”
19. Quando assim aparece a locução, Napoleão Mendes de Almeida (1981,
p. 240) reputa por que um advérbio interrogativo de causa e reforça o
aspecto de que os elementos vêm separados “tanto nas interrogativas
diretas (‘Por que você não vai?’) quanto nas indiretas (‘Quero saber
por que você não vai’)”.
20. Para todas essas hipóteses, Celso Pedro Luft traz importante
advertência: “Em todos esses casos, que é pronome (interrogativo,
indefinido, relativo), não devendo aglutinar-se ao por, que é
preposição” (1991, p. 101).
21. Para maior facilidade de reconhecimento de ocorrência de tal hipótese
nos casos concretos, Pasquale Cipro Neto e Ulisses Infante observam
que, “em termos práticos, é uma expressão equivalente a por qual
razão, por qual motivo” (1999, p. 545).
22. Assim se podem resumir os casos do por que (separado e sem acento):
a) Quando é junção de preposição e pronome relativo (significando
pelo qual): “O crime por que foi o réu condenado é hediondo”; b)
Quando é pronome interrogativo, em interrogações diretas (em tais
hipóteses, subentende-se a palavra motivo logo após, podendo também
vir expresso tal vocábulo): i) “Por que o réu foi condenado?”; ii) “Por
que motivo o réu foi condenado?”; c) Quando é pronome interrogativo,
em interrogações indiretas (nesses casos, de igual modo, subentende-se
a palavra motivo logo após): “Todos querem saber por que o réu foi
condenado”.
23. Nesses casos, é bom lembrar que a ausência de acento gráfico decorre
da circunstância de que a palavra que se insere entre os monossílabos
átonos, vale dizer, entre as palavras que não têm uma autonomia de
sonoridade e, por isso, esteiam-se na força de pronúncia de outro
vocábulo.
24. Em um quarto aspecto, no caso da observação anterior, se a expressão
coincide com o fim da frase, grafa-se por quê (duas palavras e com
acento). Ex.: “O réu foi condenado por quê?”
25. Em outras palavras (CIPRO NETO; INFANTE, 1999, p. 545): “Caso
surja no final de uma frase, imediatamente antes de um ponto (final, de
interrogação, de exclamação) ou de reticências, a sequência deve ser
grafada por quê, pois, devido à posição na frase, o monossílabo que
passa a ser tônico, devendo ser acentuado”. Exs.: a) “Ainda não
terminou? Por quê?”; b) “Você tem coragem de perguntar por quê?!”;
c) “Claro. Por quê?”; d) “Não sei por quê!”
26. Para Celso Pedro Luft, “trata-se do mesmo por que anterior, quando
incide em fim de frase. Não podendo esta terminar em vocábulo átono,
está claro que o que se torna tônico, e deve obedecer à regra dos
oxítonos acabados em ê(s): Ele está triste, sem saber por quê. Não
vais, por quê? Eles não foram? Por quê? (1991, p. 101-2)”
27. Assim resume o problema Cândido Jucá Filho, no que concerne a esse
tópico específico: “Em fim de frase, o que é tônico, e escreve-se quê:
Não fui lá, e já lhe disse por quê” (1963, p. 496).
28. E assim diz Júlio Nogueira (1959, p. 32): “Fechando a frase, a palavra
que tem acento circunflexo no e: Por quê?”
29. Em seu divertido modo de explicar, Edison de Oliveira leciona: “Grafa-
se por quê (separado e com chapéu), quando essa expressão ‘bater
contra’ um ponto final. Exs.: a) ‘Saíste agora por quê?’; b) ‘Ninguém
sabe por quê’” (s/d, p. 47).
30. Arnaldo Niskier – ao que parece com razão, já que não é apenas no fim
da frase que o que adquire tonicidade – é um pouco mais abrangente,
para não apenas possibilitar essa grafia com acento no fim da frase,
mas também em casos intermediários, em que há pausa, mas no meio
da frase, antes, por exemplo, de uma vírgula, ou mesmo de um ponto-e-
vírgula: “Por quê (separado e com acento) é usado em perguntas
quando vem seguido imediatamente por uma pausa” (1992, p. 57). Ex.:
“O advogado não sabe por quê, nem como, nem quando a causa foi
perdida”.
31. Atento a essa circunstância, observa Celso Pedro Luft (1991, p. 102)
que, muito embora o Acordo Ortográfico se refira ao que acentuado
apenas no fim da frase, o certo é que, exatamente pela igual
circunstância de que ele se torna tônico, “a rigor, pelo mesmo motivo,
se devia acentuar o que em qualquer pausa (vírgula, ponto e vírgula)”.
32. Anote-se, por fim, que essas quatro distinções (porquê, porque, por
que, por quê) acham-se regularmente abonadas pelas regras de
ortografia e acentuação de nosso idioma, bem como pelo Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras,
órgão oficialmente incumbido de definir quais as palavras integrantes
de nosso léxico, além de sua correta grafia e acentuação (2009, p. 668).
33. Além disso, também a 1ª observação da 14ª regra da alínea 43 de
acentuação gráfica das instruções do Formulário Ortográfico,
unanimemente aprovadas pela Academia Brasileira de Letras em
sessão de 12/8/1943, ao referir-se ao emprego do “acento circunflexo
para distinguir de certos homógrafos inacentuados as palavras que têm
e ou o fechados”, ordena que se acentue “porquê (quando é substantivo
ou vem no fim da frase)”, para distinguir de “porque (conjunção)”.
34. Em termos históricos, vale aditar, com Silveira Bueno (1957, p. 349),
que “o fato de empregarmos, diferentemente grafados, porque e por
que, é muito recente”, com o que se buscou “indicar as funções
diversas da palavra até então sempre escrita num vocábulo só –
porque”.
35. Lembra, de igual modo, Júlio Nogueira (1959, p. 32), que “essa
distinção é racional, mas nem sempre foi respeitada”, muito embora já
possa ser vista em antigos escritos de Castro Lopes.

Por si só
1. A palavra só de tal expressão tem função adjetiva, significando sozinho,
razão pela qual varia para o plural, se também do plural for a palavra a
que se referir. Exs.: a) “O réu tem um passado que por si só não o
recomenda”; b) “O réu tem antecedentes que por si sós não o
recomendam”.
Ver Só – Como concordar? (P. 706)

Por tal – Cacófato?


Quanto à possibilidade de vislumbre de som inadequado na junção de
tais vocábulos, ver Cacófato – O que é? (P. 163)

Portaria – Como ler seu número?


Ver Números – Como ler e Empregar? (P. 506)

Portuguesmente – Existe?
1. Formador de advérbios em português, o sufixo mente só pode ser
acrescentado a adjetivos no feminino: satisfatória + mente =
satisfatoriamente.
2. João Ribeiro lembra que “o português formou advérbios numerosos com
a junção de mente a adjetivos femininos… Essa faculdade já existia com
pequena extensão no latim clássico” (1923, p. 139).
3. Observa também Eduardo Carlos Pereira (1924, p. 151 e 174), em duas
passagens de sua obra, que “a terminação adverbial mente é o
substantivo feminino mente com a significação de maneira, intenção.
Mais tarde se justapôs ao adjetivo, perdendo o caráter de substantivo,
conservando, entretanto o adjetivo sua flexão feminina”.
4. A partir dessas observações, vê-se que, tecnicamente, o advérbio deveria
ser portuguesamente.
5. Como lembra Vitório Bergo (1943, p. 251), entretanto, em nossa língua,
originariamente “os adjetivos em ês eram uniformes, como ainda o é
cortês”, razão pela qual “ainda hoje se usa essa forma no advérbio de
modo (portuguesmente e não portuguesamente)”.
6. Bem por isso, a forma portuguesmente continua sendo correta na
atualidade e, como lembra Sousa e Silva (1958, p. 305), “é vestígio da
concordância arcaica ‘nação português’”, e a maneira uniforme de se
dizerem adjetivos com essa terminação ainda se dá entre nós, como em
mulher cortês.
7. Acrescente-se, com Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 324), que,
como essa regra de uniformidade em gênero (homem português, mulher
português) se espraiava para todos os adjetivos terminados em ês no
português antigo, também seguem essa regra os demais advérbios
formados de mesmo modo de adjetivos gentílicos terminados em ês:
francesmente, inglesmente e até burguesmente.

Porventura ou Por ventura?


1. Um leitor pergunta, em síntese, qual a diferença entre porventura e por
ventura.
2. Ora, porventura é um advérbio, que tem o significado de acaso ou por
acaso. Exs.: a) “Porventura, meu Deus, estarei louco?” (Augusto dos
Anjos); b) “O senhor é, porventura, o Dr. Maciel?”
3. Já ventura é substantivo, que significa acaso, sorte ou destino, e pode vir
precedido pela preposição por, se assim o contexto o exigir, por outra
preposição, ou mesmo sem preposição alguma. Exs.: a) “Por ventura
ditosa, ele estudou com os Irmãos Maristas, que lhe deram esmerada
educação”; b) “Naquela ação, desencadeada à ventura, ele não estava
sozinho”; c) “Ele teve a ventura de conhecer pessoas que o
influenciaram positivamente pelo resto de sua vida”.
4. Como não é difícil perceber, as funções sintáticas e os sentidos são
diversos, razão pela qual não há como confundir.
5. Interessante lembrar, adicionalmente, a lição de Napoleão Mendes de
Almeida, quando observa que porventura tem o sentido de por acaso,
mas a primeira se escreve em uma só palavra, e a segunda, em duas. E
assim comenta ele: “Por mais que estudemos e pesquisemos a origem
dessas locuções, não chegaremos a justificar esse diferente procedimento
ortográfico” (1981, p. 240).

Por via de regra, Via de regra ou De regra?


1. Importa saber se a expressão via de regra pode ser substituída, como
sinônima e equivalente, por, simplesmente, de regra. Com exemplos
práticos, é oportuno saber, ainda, se a frase “Via de regra as coisas
acontecem dessa forma” pode ser dita assim: “De regra das coisas
acontecem dessa forma”.
2. Diga-se, de início, que a locução adverbial que tem o sentido de em
regra (forma esta indiscutivelmente correta) é por via de regra. Ex.: “O
pôlder é, por via de regra, isento de impostos por espaço de vinte anos”
(Ramalho Ortigão).
3. Confirma essa lição o seguinte emprego do gramático Pedro A. Pinto:
“Por via de regra os antigos escritores não curavam de aprimorar nesta
parte os seus livros” (1924, p. 121).
4. Para Domingos Paschoal Cegalla, a expressão via de regra “é variante
censurada de por via de regra, em regra, expressões essas que devem ser
preferidas” (1999, p. 411), motivo por que deve ser evitada em textos
que devam submeter-se à norma culta.
5. Também não há, entre os melhores autores, abono algum para a forma de
regra. Em realidade, se a determinação gramatical é que se empregue a
expressão por via de regra, e se já pesa censura sobre o circunlóquio via
de regra, não há possibilidade alguma de se aceitar como
gramaticalmente correta uma simplificação maior, como o é a expressão
de regra para significar a primeira referida.
6. Com base nas observações feitas, confiram-se, assim, os seguintes
exemplos, com a indicação de sua correção ou erronia: a) “Por via de
regra, as coisas acontecem dessa forma” (correto); b) “Em regra, as
coisas acontecem dessa forma” (correto); c) “Via de regra, as coisas
acontecem dessa forma” (errado); d) “De regra, as coisas acontecem
dessa forma” (errado).
7. No Código de Processo Civil, há dois empregos da referida expressão,
um correto e um errado: a) “A ação fundada em direito pessoal e a ação
fundada em direito real sobre bens móveis serão propostas, em regra, no
foro do domicílio do réu” (art. 94) (correto); b) “A confissão é, de regra,
indivisível, não podendo a parte, que a quiser invocar como prova,
aceitá-la no tópico que a beneficiar e rejeitá-la no que lhe for
desfavorável…” (art. 354). Errado, corrija-se: em regra ou por via de
regra.

Pós-datar ou Posdatar?
1. Como único critério efetivamente objetivo, diz o Acordo Ortográfico de
1988 que se usa o prefixo pós com hífen e acento, quando o segundo
elemento se inicia por h: pós-hipófise, pós-homérico.
2. A par dessa observação, em critério fluido, volátil e de difícil
compreensão, diz que também se usa pós com hífen e acento, quando o
segundo elemento tem vida à parte: pós-adolescência, pós-apostólico,
pós-datar, pós-doutoramento, pós-escrito, pós-graduação, pós-guerra,
pós-kantiano, pós-nupcial, pós-operatório.
3. E complementa, dizendo que o prefixo se junta diretamente e sem hífen
ao segundo elemento, se este não tem vida à parte: poscefálico, posfácio,
posgênito, poslúdico, pospasto, pospor.
4. É importante frisar, todavia, que o conceito desse segundo critério é de
extrema fluidez, ao fincar a distinção para separar ou não por hífen os
elementos apenas no fato de ter ou não ter o segundo elemento vida à
parte. Para constatar a dificuldade de explicação para a respectiva grafia,
basta considerar o vocábulo pospor, em que apontaríamos um segundo
elemento com efetiva vida à parte, mas o VOLP, ao grafar os elementos
unidos sem hífen e sem acento, considera-o, no caso, como elemento que
não possui vida à parte.
5. Em casos como esse – em que se constata a ausência de critério fixo e
palpável para um raciocínio de convicção e certeza – a única saída
segura é consultar o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, uma
espécie de dicionário que lista oficialmente as palavras pertencentes à
língua portuguesa e lhes fornece a grafia oficial.

Pós-escrito é o mesmo que Post Scriptum?


1. Quando se termina de escrever um texto, geralmente uma carta, e se quer
acrescentar algo, mesmo após a assinatura, então o redator pode valer-se
de um acréscimo denominado pós-escrito.
2. Essa é a forma da expressão em português, preferível à forma latina post
scriptum.
3. Mesmo que se empregue o vernáculo para a fala total, é comum que a
abreviatura se faça a partir das iniciais da expressão latina: p.s.
4. O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia
Brasileira de Letras, que é o veículo oficial para dirimir dúvidas acerca
da grafia das palavras em nosso idioma, registra pós-escrito, mas não
post scriptum (2009, p. 669), o que dá a certeza de que a segunda
expressão não foi aportuguesada oficialmente.
5. O plural de pós-escrito é pós-escritos.
Ver Memorândum – Qual é o plural? (P. 468)

Possessivo
Ver Lhe por Seu (P. 445).

Possível de se conseguir ou Possível de conseguir?


Ver Agradável de se ler ou Agradável de ler? (P. 99)

Possuir
1. Quanto a sua ortografia, como todo verbo terminado em uir, só pode dar
origem à terminação ui na segunda e terceira pessoas do singular do
presente do indicativo: possuo, possuis, possui.
2. Diferentemente dos verbos terminados em uar (como continuar), são
errôneas as grafias com e em tais situações: possues, possue.
3. Pelo próprio significado técnico de posse insculpido do Código Civil de
1916 (arts. 485 e seguintes), querem alguns que possuir não pode ser
usado no sentido genérico de ter; tal posicionamento restritivo, todavia,
parece não ter acolhida geral, como demonstra a seguinte passagem de
Mário Barreto: “Uma boa coleção de pleonasmos possui a língua
portuguesa na combinação das formas pronominais, tônicas e atônicas”
(1954a, p. 264).

Post mortem – Com hífen ou sem?


1. Um leitor quer saber se, em português, se escreve com hífen ou sem
hífen a seguinte expressão: post mortem ou post-mortem?
2. Observe-se em primeiro lugar que essa expressão é de origem latina e
tem o significado de após a morte, posterior à morte ou póstumo. Ex.:
“As fotos ‘post mortem’ aparentemente tiveram origem na Inglaterra,
quando a Rainha Vitória pediu que fotografassem o cadáver de uma
pessoa conhecida ou um parente, para que ela guardasse como
recordação, e daí viraram moda”.
3. Como regra para a grafia das expressões latinas usadas em português, a
melhor solução em nosso idioma parece obedecer aos seguintes
parâmetros: a) não devem ter acentos gráficos, que não existiam na
língua de origem; b) também não se deve empregar o hífen, que, de igual
modo, não existia no idioma original; c) por fim, como todas as palavras
e expressões de língua estrangeira que venham a ser usadas no
vernáculo, devem ser grafadas em itálico, negrito, com sublinha ou entre
aspas.
4. Em termos práticos, respondendo à indagação do leitor: pode-se escrever
post mortem, post mortem, post mortem ou “post mortem”. Não,
porém, post-mortem, post-mortem, post-mortem ou “post-mortem”.
5. As mesmas observações valem para a grafia de outras expressões de
origem latina empregadas em português: a quo, ad corpus, ad hoc, ad
quem, data venia, de cujus, ex adverso, ex nunc, ex officio, ex tunc, ex vi,
ex vi legis, habeas corpus, habeas data, lato sensu, pro forma, stricto
sensu, venia concessa, etc.
6. Observe-se, nesse sentido, que a Constituição Federal de 1988 é
exemplo de correção nas vezes em que emprega, por exemplo, habeas
corpus e habeas data.
Posto isso ou Isto posto?
1. Posto isso é fórmula quase sacramental, normalmente usada pelos juízes
para, após o relatório e a fundamentação, introduzir a parte dispositiva
da sentença, que é onde há o efetivo comando judicial da decisão.
2. Trata-se de oração reduzida de particípio, a significar que, uma vez posta
a fundamentação passa o magistrado a explicitar o efetivo comando do
veredicto.
3. Nos meios jurídicos e forenses, cristalizou-se o emprego da forma isto
posto.
4. Em termos de técnica gramatical, todavia, num primeiro aspecto, é de se
ver que, dentre as diversas regras para seu uso, os pronomes isso, esse,
essa destinam-se a identificar algo que já foi dito, enquanto isto, este,
esta servem para indicar algo que ainda se vai dizer. Exs.: a) “Essas
palavras que lhes disse não têm grande importância”; b) “Estas
palavras que lhes direi são muito importantes”.
5. De modo específico para a expressão aqui apreciada, como o pronome se
refere a toda uma fundamentação já exposta, tecnicamente se há de usar
isso, e não isto.
6. Num segundo aspecto, a oração reduzida de particípio, em português,
tem o verbo iniciando a frase, postado, assim, antes do sujeito da oração
participial. De rigor, assim, é que se diga: “Começada a aula os alunos
saíram”, “Terminado o estudo, fecharam-se os livros”, “Proferida a
sentença, o juiz encerrou os trabalhos”; não se há de dizer, em tais
casos: “A aula começada…”, “O estudo terminado…”, “A sentença
proferida…”
7. Vejam-se, para confirmar, os seguintes exemplos de nossa legislação: a)
“Anulados os atos fraudulentos a vantagem resultante reverterá…”
(CC/1916, art. 113); b) “Autuado o pedido e tomadas as declarações, o
juiz procederá às diligências necessárias para verificar se os
contraentes podiam ter-se habilitado para o casamento, na forma
ordinária, ouvidos os interessados…” (CC/1916, art. 200, §1º); c) “Esta
autorização é revogável a todo tempo, respeitados os direitos de
terceiros e os efeitos necessários dos atos iniciados” (CC/1916, art.
244); d) “Recusada a incompetência, o juiz continuará no feito…”
(CPC/1973, art. 108, § 2º); e) “… descontada a quota do credor
remitente” (CC/1916, art. 894); e) “… decorridos (cinco) anos da
abertura da sucessão os bens arrecadados passarão ao domínio do
Estado, ou ao Distrito Federal, se o de cujus tiver sido domiciliado nas
respectivas circunscrições…” (CC/1916, art. 1.594).
8. Desse modo, em termos de técnica gramatical, o vocábulo posto, na
expressão analisada, deve anteceder o pronome.
9. Para resumir, não se deveria, tecnicamente, dizer isto posto, mas posto
isso, havendo na primeira das expressões, como se viu, duas
impropriedades.
10. Acresça-se que construção dessa natureza é inserida por Eduardo
Carlos Pereira no rol dos galicismos fraseológicos ou sintáticos,
daqueles que “são verdadeiras deturpações da língua, contra os quais
devemos estar premunidos” (1924, p. 260-2).
11. Edmundo Dantès Nascimento, por um lado, observa que, em nosso
Código Civil, como, aliás, em Português como regra, o particípio
passado vem em primeiro lugar, razão pela qual se diz “separado o
dote” (art. 309), “decretada a interdição” (art. 453), “ressalvado… o
seu direito” (art. 799); por essa razão, na expressão ora comentada,
também se há de antepor o particípio posto ao pronome isso, devendo-
se dizer posto isso.
12. Em seguida, realçando ser frequente o emprego de isto e não isso em
tais casos, esclarece tal autor que este e isto são pronomes que denotam
o que vem a seguir, “ao passo que esse e isso, o que já foi exposto;
portanto, corretamente, deve-se escrever posto isso, a saber, o que já se
expôs”.
13. Em outra passagem, todavia, equivoca-se tal autor e apenas faz a
primeira correção, vale dizer, apenas antepõe o particípio na expressão,
afirmando que “isto posto é erro”, mas mantém isto, e diz que posto
isto “é a frase correta” (NASCIMENTO, 1982, p. 24 e 83).
14. Oportuno é anotar, todavia, que, após referirem que “a anteposição do
sujeito em orações reduzidas de particípio constitui galicismo”, isto é,
“imitação servil da língua francesa”, Carlos Góis e Herbert Palhano
(1963, p. 197) excepcionam a expressão isto posto, justificando tratar-
se de questão de eufonia.
15. Em interessante lição, Mário Barreto observa que o Padre Manuel
Bernardes, por exemplo, antepôs o sujeito ao particípio em orações
absolutas, que correspondem ao ablativo absoluto latino (“A manhã
vinda…”), em contraposição ao português moderno, em que o
particípio vem primeiro (“Vinda a manhã…”).
16. E, acrescentando que Camões também empregou tal estrutura contrária
ao uso moderno em diversos lugares de Os Lusíadas, admoesta tal
autor que, quanto aos autores clássicos, não se há de pretender inquinar
de galicismos suas construções dessa natureza: “Não se pode admitir
seja tomada do francês uma colocação de que usaram livremente os
mestres de nossa língua, em tempo que o francês estava longe de
preponderar como entre os modernos prepondera, e os clássicos ‘só
liam o latim, o espanhol e o italiano, línguas mais conformes com a
índole da nossa’, como diz João Ribeiro, apontando… expressões,
frases e palavras que hoje seriam tidas por galicismo imperdoável, não
o sendo” (BARRETO, 1955, p. 32-3).
17. Após referir que “o particípio que forma oração reduzida não se pospõe
ao sujeito, sob pena de francesia”, observa Luciano Correia da Silva,
entretanto, que, “com o pronome isto, essa regra vê-se quebrada desde
os tempos mais remotos até os nossos dias” (1991, p. 42).
18. Na vetusta primeira edição de uma de suas obras, Júlio Nogueira
(1959, p. 64), por sua vez, usou de tal expressão (“Isto posto, vejamos
estas frases”).
19. Em outra obra, o mesmo gramático, em uma de suas lições, talvez em
função dessa estratificação generalizada da expressão, novamente usa
da forma que contraria os critérios técnicos e gerais da norma culta e
das regras de posicionamento das palavras na frase: “Isto posto, é bem
de ver que a Linguagem dos antigos… não pode ser mais um
instrumento útil de comunicação” (NOGUEIRA, 1930, p. 311).
20. Acresça-se, em abono do emprego excepcional da referida construção,
que Eduardo Carlos Pereira (1924, p. 247-8) – após lecionar que uma
das hipóteses em que o sujeito (no caso isso) pospõe-se ao verbo
quando este se encontra em uma de suas formas nominais, vale dizer,
no infinitivo particípio ou gerúndio (no caso, está no particípio) –
observa que, se o pronome for sujeito do particípio posto, “é mais
comum a anteposição para evitar-se a colisão de consoantes fortes”,
para o que carreia ele exemplos de Soares Barbosa (“isto posto”) e do
próprio Camões (“isto feito” e “isto dito”).
21. Em Heráclito Graça, encontra-se o seguinte trecho: “Isto posto, como
obstar que ‘chicana’ invadisse a área da língua e nela se
arreigasse…” (1904, p. 82).
22. Antonio Henriques, por sua vez, lança duas premissas: a) “hoje, não se
faz diferença absolutamente rígida no uso dos demonstrativos isso e
isto, como, aliás, ontem também não se fazia”; b) mesmo em se
tratando, na expressão considerada, de uma “oração reduzida, resquício
do ablativo absoluto latino”, o certo é que “a colocação do
demonstrativo antes da forma verbo-nominal é praxe na Linguagem
clássica e reponta no discurso jurídico”.
23. Com supedâneo em tais postulados, assim conclui o mencionado autor
(HENRIQUES, 1999, p. 97-8): “Vale dizer que os dois podem ser
usados: isso posto (correto) – isto posto (correto)”.
24. Observados dois aspectos – o primeiro, de que a fundada divergência
entre os gramáticos leva à liberdade de emprego pelo usuário, e o
segundo de que o uso corrente e duradouro não pode ser desprezado
como elemento importante pelo gramático, em tais circunstâncias
podem-se extrair as seguintes conclusões: a) em termos técnicos, a
expressão efetivamente correta, para tais casos, é posto isso; b) por
força do uso quase sacramental, todavia, toleram-se (i) as expressões
que antepõem o verbo em tal oração reduzida de particípio (isso posto),
(ii) as que não observam o exato modo de usar o demonstrativo (posto
isto), bem como (iii) as que desprezam ambos os aspectos (isto posto).

Posto que
1. Lembrando tratar-se de conjunção concessiva (equivalendo a ainda que,
a embora), Geraldo Amaral Arruda (1997, p. 109) realça dois aspectos
de significativo relevo a respeito dessa locução: a) “não deve ser usada
como causal” (não equivale, assim, a porque); b) usa-se “com o verbo no
subjuntivo”. Exs.: a) “Posto que fosse tarde, o magistrado mesmo assim
continuou a audiência” (correto); b) “Posto que era tarde, o magistrado
mesmo assim continuou a audiência” (errado).
2. Sousa e Silva, por um lado, com muita propriedade, insere também tal
locução no rol das conjunções concessivas, “da mesma espécie de
conquanto, embora, ainda que, se bem que, etc.”
3. Exemplifica, a seguir, com excerto irretocável de Camilo Castelo
Branco: “Posto que o vosso sangue me não corra nas veias, sou vosso
neto pelo sacramento que me liga à mui nobre dama”.
4. Continua para explicar que o trecho significa: “Embora o vosso sangue
me não corra nas veias, sou vosso neto…”.
5. Em acréscimo, assevera que “é grave incorreção, assaz frequente no
Brasil, empregar posto que como conjunção causal ou como conjunção
explicativa”.
6. Por fim, exemplifica com trecho extraído de jornais, em que manifesto o
erro em seu emprego: “Discordamos do ilustre magistrado, posto que
seu juízo acerca da moral dominante no interior das emissoras é falho e
sem lastro na realidade”.
7. E manda corrigir: “Discordamos do ilustre magistrado, visto que seu
juízo (ou visto como seu juízo, ou porquanto seu juízo, ou porque seu
juízo…)” (SILVA, A., 1958, p. 213-4).
8. Eliasar Rosa (1993, p. 111) dá exemplo de erro corriqueiro nos meios
forenses, representado pelo uso de tal locução como causal (sinônima de
porque), quando, na verdade, só pode ser empregada como concessiva
(sinônima de embora); adicionalmente, dá ele um exemplo de seu
emprego escorreito: a) “Julgo procedente o pedido, posto que ficou
provada a necessidade do retomante” (errado); b) “A sentença poderá
ser reformada, posto que certa em sua fundamentação” (correto).
9. Exemplo de adequado emprego da expressão encontra-se em Heráclito
Graça: “Posto que ignore as razões da sua convicção, não me parece,
todavia, temeridade aventurar que, para gerá-la e mantê-la, Sua
Excelência dissentiu da autoridade dos exemplos do Visconde de
Santarém e de Latino…” (1904, p. 246).
10. Uma leitura atenta dos textos legais corrobora o modo correto de seu
emprego: a) “Equipara-se a terceiro a parte que, posto figure no
processo, defende bens que… não podem ser atingidos pela apreensão
judicial” (CPC/1973, art. 1.046, § 2º); b) “São suscetíveis do contrato
de hipoteca os navios, posto que ainda em construção” (CC/1916, art.
825); c) “A obrigação de dar coisa certa abrange-lhe os acessórios,
posto não mencionados…” (CC/1916, art. 863); d) “O que der a
fabricar alguma obra de empreitada poderá a seu arbítrio resilir do
contrato, posto que a obra esteja já começada a executar…” (C. Com.,
art. 236).
11. Idêntico é o uso nos arts. 130, 215, 340, 552, 2ª alínea, e 656, última
alínea, do Código Comercial, como também acontecia no art. 336 do
Regulamento 737, de 1850, assim como em diversas passagens das
Ordenações Filipinas.
Quanto à possibilidade de dizer “Posto que fosse tarde” ou “Posto que
era tarde”, ver Indicativo por Subjuntivo (P. 411).

Post scriptum
Ver Pós-escrito é o mesmo que Post scriptum? (P. 585)

Pouco
1. É palavra que precisa ser observada do prisma da concordância nominal.
2. Se modifica um verbo ou um adjetivo, a palavra tem valor de advérbio e
é invariável. Exs.: a) “Ele trabalha pouco”; b) “Ela trabalha pouco”; c)
“Eles trabalham pouco”; d) “Elas trabalham pouco”; e) “Ele está pouco
cansado”; f) “Ela está pouco cansada”; g) “Eles estão pouco cansados”;
h) “Elas estão pouco cansadas”.
3. Se, porém, modifica um substantivo, tem valor de adjetivo e concorda
com a palavra modificada. Exs.: a) “Havia pouca gente à espera do
réu”; b) “Havia poucas pessoas à espera do réu”; c) “Havia poucos
repórteres à espera do réu”.
4. Em observação abrangendo os vocábulos muito, pouco, bastante, tanto e
quanto, asseveram Carlos Góis e Herbert Palhano que tais palavras são
pronomes indefinidos, quando vêm modificando um substantivo; “neste
caso são variáveis em gênero e número”. Ex.: “Poucas razões indicavam
a absolvição do réu”.
5. Acrescentam que são advérbios, quando vêm modificando o verbo, o
adjetivo, ou outro advérbio; “neste caso, são invariáveis”. Ex.: “Pouco
aconselhadas eram as razões do recurso” (GÓIS; PALHANO, 1963, p.
123-4).

Poucos de nós – sabem ou sabemos?


Ver Alguns de nós – sabem ou sabemos? (P. 104)

Poucos de vós – sabem ou sabeis?


Ver Alguns de nós – sabem ou sabemos? (P. 104)

Praça da República ou praça da República?


Ver Rua Caiubi ou rua Caiubi? (P. 675)

Praia do Flamengo ou praia do Flamengo?


Ver Rua Caiubi ou rua Caiubi? (P. 675)

Prazeroso ou Prazeiroso?
1. Prazeroso significa algo cheio de prazer, algo que causa prazer. Ex.: “É
algo muito prazeroso estar aqui, neste congresso, em companhia de
Vossa Excelência”.
2. O advérbio, por sua vez, é prazerosamente.
3. Cuidado, porque não existe o adjetivo prazeiroso, nem o advérbio
prazeirosamente.

Prazo
Ver A curto prazo ou Em curto prazo? (P. 73)

Preambular
Ver Petição inicial (P. 563).

Precatória
1. Do verbo depoente latino precari (rogar, pedir), significa o pedido feito
por um juiz, denominado deprecante, a outro, que se denomina
deprecado, normalmente por meio de um documento denominado carta
precatória, a fim de que este último, no âmbito de sua jurisdição, cumpra
ato de interesse daquele.
2. Assim, um réu é citado por precatória em comarca diversa daquela em
que corre a demanda; também por ela se ouve uma testemunha, se
penhora, se avalia e se praceia bem em comarca diversa daquela do juízo
da causa.
3. Não confundir com precatório, que significa documentação expedida
pelo juiz ao Presidente do Tribunal, para que a Fazenda Pública pague,
na ordem cronológica de sua apresentação, as requisições de pagamento
de condenações transitadas em julgado.
4. Também não confundir carta precatória com carta de ordem ou carta
rogatória, que têm a mesma essência da precatória, mas a primeira é
remetida por um juiz superior a outro hierarquicamente inferior, e a
última é remetida por um juiz de um país a outro e se refere a atos que
devam ser praticados em território estrangeiro.

Precatório
1. Com o trânsito em julgado de uma sentença que condene a Fazenda
Pública ao pagamento de determinada importância, o juiz da causa
expede documentos ao Presidente do Tribunal, a fim de que, por
intermédio deste, se expeçam as necessárias ordens de pagamento às
respectivas repartições pagadoras. A tal procedimento se dá o nome de
precatório, vocábulo esse do masculino e com tal sentido específico.
2. Por determinação legal, a ordem cronológica de sua apresentação há de
ser obedecida, sob penas severas (CF/1988, art. 100).
3. Não confundir com precatória, que significa o pedido feito por um juiz
ao magistrado de uma outra comarca, a fim de que este pratique, por
meio de carta específica, um ato processual.
4. Também não confundir precatório com carta de ordem ou carta
rogatória, que têm a essência de uma carta precatória, mas a primeira é
remetida por um juiz superior a outro hierarquicamente inferior, e a
última é remetida por um juiz de um país a outro e se refere a atos que
devam ser praticados em território estrangeiro.

Precavejo – Existe?
Ver Precaver – Como conjugar? (P. 588)

Precavenham-se – Existe?
Ver Precaver – Como conjugar? (P. 588)

Precavenho – Existe?
Ver Precaver – Como conjugar? (P. 588)

Precaver – Como conjugar?


1. Quanto à conjugação verbal, precaver é verbo defectivo: não é
conjugado em todas as formas e pessoas. Quanto ao presente do
indicativo, apenas nas formas arrizotônicas (aquelas em que a sílaba
tônica está na desinência, não no radical) e nas que delas derivarem:
precavemos, precaveis (presente do indicativo); precavei (imperativo
afirmativo). Não tem presente do subjuntivo nem imperativo negativo.
2. Veja-se a síntese de Vitório Bergo (1943, p. 80-1): a) “não tem nada com
vir, ver, nem haver; conjuga-se regularmente (segundo vender), porém
só nas formas arrizotônicas”; b) “não tem o presente do subjuntivo nem
as formas imperativas derivadas deste tempo”.
3. Reitere-se: não é composto de vir, nem de ver, nem mesmo de haver, de
sorte que são errôneas as formas precavejo, precavês, precavenho,
precavenha-se. O que já se disse foi que tal verbo não é conjugado em
tais pessoas.
4. Nas formas em que é defectivo, deve ser substituído por sinônimos:
acautelar, precatar, prevenir. Veja-se, nesse sentido, a lição de Artur de
Almeida Torres: “supre-se a defectibilidade de precaver-se com os
verbos prevenir-se, acautelar-se, ou precatar-se” (1966, p. 114).
5. Como o pretérito perfeito e seus derivados não têm formas rizotônicas,
esse verbo é conjugado em todas as pessoas nesses tempos: precavi,
precaveste, precaveu, precavemos, precavestes, precaveram (pretérito
perfeito); precavera, precaveras, precavera, precavêramos, precavêreis,
precaveram (pretérito mais-que-perfeito); precaver, precaveres,
precaver, precavermos, precaverdes, precaverem (futuro do subjuntivo);
precavesse, precavesses, precavesse, precavêssemos, precavêsseis,
precavessem (imperfeito do subjuntivo).
6. Também não apresenta problemas de conjugação nos demais tempos,
que só têm formas arrizotônicas: precavia (imperfeito do indicativo),
precaverei (futuro do presente do indicativo), precaveria (futuro do
pretérito do indicativo), precavendo (gerúndio), precavido (particípio).

Preceder
1. Com o significado de vir antes, ter preferência, ter primazia, quanto à
regência verbal, Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 223) observa que pode
ser transitivo direto ou transitivo indireto, indiferentemente. Exs.: a) “Os
descendentes precedem os ascendentes na ordem de vocação hereditária
do art. 1.603 do Código Civil de 1916” (correto); b) “Os descendentes
precedem aos ascendentes na ordem de vocação hereditária do art.
1.603 do Código Civil de 1916” (correto).
2. Em mesma esteira, leciona Artur de Almeida Torres: “mostram os
exemplos dos bons escritores que o verbo preceder pode ser construído,
indiferentemente, como transitivo direto ou indireto”; e remata tal
gramático: “entretanto, casos há em que, para maior clareza do sentido,
se deve preferir o regime indireto”. Exs.: a) “Na ordem cronológica, o
escritor precede o gramático” (Cândido de Figueiredo); b) “Nunca será
ocioso insistir em que a língua precedeu aos estudos gramaticais”
(Heráclito Graça).
3. E, para que não remanesça dúvida alguma, complementa tal autor com a
observação de que, em casos de construção com objeto indireto, pode ele
ser representado pelo pronome lhe: “… locução em si evidentemente
pleonástica, empregada pelos escritores que lhe precederam”
(TORRES, 1967, p. 226-7).
4. Quanto às possibilidades de regência desse verbo, ora como transitivo
direto, ora como transitivo indireto, foi que Rui Barbosa acabou
lecionando em frase que acaba sendo citada como exemplo de
possibilidade de emprego da expressão ambos os dois: “Ambas as
formas são corretas? São-no ambas as duas. Não mo puderam negar…
O verbo preceder tem uma e outra forma” (BARBOSA apud SILVA, L.,
1991. p. 73).
5. Reportando-se a ensino de Otoniel Mota e valendo-se de terminologia do
latim, leciona Francisco Fernandes: “o verbo preceder rege dativo ou
acusativo: preceder ao dia, ou preceder o dia” (1971, p. 471): vale dizer,
pode ser construído com objeto indireto ou com objeto direto.
6. Não é diverso o posicionamento de Celso Pedro Luft: “Mostram os
exemplos dos bons escritores que o verbo preceder pode ser construído,
indiferentemente, como transitivo direto ou indireto”.
7. E complementa tal autor (LUFT, 1999, p. 411), agora se valendo de
argumento de Artur de Almeida Torres: “Entretanto, casos há em que,
para maior clareza do sentido, se deve preferir o regime indireto”.
8. Nos textos legais, independentemente de ser coisa ou pessoa o alvo da
precedência, pode este ser objeto direto (podendo o objeto direto
aparecer como sujeito da voz passiva) ou objeto indireto introduzido
pela preposição a. Exs.: a) “Se dois ou mais indivíduos falecerem na
mesma ocasião, não se podendo averiguar se algum dos comorientes
precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos”
(CC/1916, art. 11); b) “O reconhecimento pode preceder o nascimento
do filho…” (CC/1916, art. 357, parágrafo único); c) “Entre os
descendentes, os mais próximos precedem aos mais remotos, e, dentre os
do mesmo grau, os varões (precedem) às mulheres” (CC/1916, art. 459,
§ 2º); d) “A este recurso, que será regulado por lei processual,
precederá o depósito da importância da pena, ou prestação de fiança
idônea ao seu pagamento” (CC/1916, art. 1.046, parágrafo único); e) “A
arrematação será precedida de edital…” (CPC/1973, art. 686).
9. Com sua conhecida proficiência, observa Adalberto J. Kaspary que “a
construção transitiva direta é a única que aparece no Código Civil de
Portugal” (1996, p. 243).
10. Muito embora sinônimos, não se confundem, quanto à regência verbal,
anteceder e preceder.

Precisam-se operários ou Precisa-se de operários?


1. Quanto à flexão do verbo precisar acompanhado da partícula se, veja-se
a respeito a sucinta e apropriada lição de Mário Barreto, transcrita por
Francisco Fernandes: “Com este verbo precisar, pode-se dizer ‘Precisa-
se de operários’ ou ‘Precisam-se operários’. É porque precisar, na ativa,
pode ter complemento direto ou indireto” (FERNANDES, 1971, p. 471).
2. Também para Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 327), pode-se dizer,
indiferentemente, “Precisa-se de empregadas domésticas” ou
“Precisam-se empregadas domésticas”, muito embora acrescente tal
autor que a última forma de expressão seja menos usual.
3. Observe-se, todavia, que incorreto é o cruzamento de ambas as
estruturas: “Precisam-se de operários”, ou “Precisa-se empregadas
domésticas”. Essa é uma conclusão simples das regras que diferenciam o
emprego do “se” ora como pronome apassivador, ora como símbolo de
indeterminação do sujeito, e da própria essência de um verbo transitivo
direto e de um verbo transitivo indireto.
4. Veja-se, para fixar, nesse sentido, a lição de Napoleão Mendes de
Almeida (1981, p. 243): a) “Dizer ‘Precisam-se de costureiras’ é
cometer erro em português”; b) “Tal como posto o exemplo, costureiras
não constitui o sujeito do verbo”; c) “Precisar, todavia, é um daqueles
verbos que permite construção com objeto direto ou com objeto
indireto”; d) “Pode-se, assim, dizer ‘Sem precisar de doutor nem de
feitiçaria’, ou ‘Sem precisar doutor nem feitiçaria’”; e) Além disso,
“uma vez transitivo direto, pode perfeitamente apassivar-se o verbo
precisar”, sendo correto o exemplo “Precisam-se operários”; f) Todavia
“estranhável e errada é a construção ‘Precisam-se de operários’”; g) Em
tal caso, “ou se diz ‘Precisam-se operários’, apassivando-se
pessoalmente o verbo, ou ‘Precisa-se de operários’, impessoalizando-se
a construção”.
Ver Gosta-se de um bom vinho – Está correto? (P. 375), Precisar (P. 590),
Precisar de falar – Está correto? (P. 590) e Voz passiva e Pronome
apassivador (P. 791).

Precisar
1. À semelhança de seu sinônimo necessitar, no sentido de carecer, sentir
necessidade, quanto à regência verbal, apesar de algumas controvérsias
entre os gramáticos, pode ter, indiferentemente, objeto direto (sem
preposição) ou objeto indireto (com a preposição de). Exs.: a) “Todo o
homem precisa revelação divina” (Cândido de Figueiredo); b) “A vítima
precisava de dinheiro, de assistência”.
2. Desse entendimento não discrepa Artur de Almeida Torres (1967, p.
228), o qual, após afiançar que, “na acepção de ter precisão ou
necessidade de, carecer, aparece ora como transitivo direto, ora com o
complemento regido de de”, remata, com Cândido de Figueiredo, que
“ambas as formas são portuguesas”.
3. Sousa e Silva (1958, p. 217), anotando que alguns gramáticos apenas o
aceitam construído como transitivo indireto (com a preposição de),
tachando de errônea a construção como transitivo direto, leciona que “os
fatos, porém, destroem tal modo de ver e demonstram que a segunda
maneira de construir é tão portuguesa quanto a primeira”.
4. Para Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 327), “na acepção de ter
necessidade, necessitar, constrói-se modernamente com objeto indireto,
quando este é substantivo ou pronome, e com objeto direto se o
complemento é um infinitivo”. Exs.: a) “As escolas precisam de bons
professores”; b) “O país precisou fazer empréstimos”.
5. Para Celso Pedro Luft (1999, p. 412), que se fixa apenas em termos do
que é mais corriqueiro, e não do que seria correto ou errado: a) Uma
pesquisa de Luiz Carlos Lessa mostra que no Brasil, pelo menos em
nossos dias, o mais usual é preposicionar-se o complemento, se este é
um substantivo; b) Por outro lado, o mais comum é omitir a preposição,
“se a precisar segue-se um infinitivo”.
6. Em realidade, o que parece de melhor senso é resumir a questão com o
seguinte excerto de Francisco Fernandes: “Significando ter precisão ou
necessidade, ensinam alguns gramáticos que só se deve dar a este verbo
complemento indireto, regido da preposição de, tachando de errônea a
construção com objeto direto… Os fatos, porém, destroem tal modo de
ver, e demonstram que a segunda maneira de construir é tão portuguesa
quanto a primeira” (1971, p. 471).
Ver Gosta-se de um bom vinho – Está correto? (P. 375), Precisam-se
operários ou Precisa-se de operários? (P. 590), Precisar de falar – Está
correto? (P. 590) e Voz passiva e Pronome apassivador (P. 791).
Precisar de
Ver Dever de (P. 283).

Precisar de falar – Está correto?


1. Ante a verificação do que normalmente se vê empregado na prática dos
textos jurídicos e forenses, importa observar se é correto o uso da
preposição de depois de precisar e antes do infinitivo que o segue, como
no caso da expressão “precisar de falar”.
2. Valendo-se de pesquisa de Luiz Carlos Lessa, no que tange ao verbo
precisar, observa Celso Pedro Luft que no Brasil, “pelo menos em
nossos dias, o mais usual é preposicionar-se o complemento, se este é
um substantivo, e, ao revés, omitir a preposição, se a precisar segue-se
um infinitivo: preciso de viagens / preciso viajar” (1999, p. 412).
3. Da análise dos casos concretos de seu uso, todavia, pode-se afirmar que,
mesmo seguido de infinitivo, o verbo precisar pode ser empregado sem
preposição ou com preposição, indiferentemente (FERNANDES, 1971,
p. 471): a) “Não precisamos rememorar os fatos decisivos das duas
regiões” (Euclides da Cunha); b) “Essa classe opulenta não precisava
para isso de pertencer à raça judaica” (Alexandre Herculano).
4. Eduardo Carlos Pereira, com muita propriedade, leciona que “alguns
verbos transitivos, seguidos de um infinitivo, assumem facultativamente
a preposição de”.
5. E ele próprio exemplifica: “devo falar ou de falar, preciso estar ou de
estar, devo escrever ou de escrever” (PEREIRA, 1924, p. 241).
Ver Precisam-se operários ou Precisa-se de operários? (P. 590) e Precisar
(P. 590).

Precisa-se de operários – Está correto?


Ver Precisam-se operários ou Precisa-se de operários? (P. 590)

Precluir
1. Do latim praecludere, com o sentido etimológico de fechar, obstruir, é
verbo de frequente uso em Direito, estando regularmente registrado no
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira
de Letras, órgão oficial para determinar quais os vocábulos que integram
nosso léxico (2009, p. 672).
2. Significa ser atingido por preclusão, que é a “perda do exercício de ato
processual pela inércia da parte, no lapso de tempo prescrito por lei ou
ditado pelo juiz” (SIDOU, 1990, p. 434). Ex.: “Não arrolando o autor as
testemunhas no prazo de lei, precluiu a faculdade processual para fazê-
lo”.
3. Trata-se de verbo defectivo, conjugado apenas nas terceiras pessoas,
tendo por modelo atribuir (FERREIRA, s/d, p. 1.127).
4. Reitera esse entendimento Ronaldo Caldeira Xavier, para quem tal verbo
é defectivo e “só deve usar-se na terceira pessoa” (1991, p. 128).
5. Assim: preclui e precluem (presente do indicativo), preclua e precluam
(presente do subjuntivo), precluiu e precluíram (pretérito perfeito do
indicativo), precluíra e precluíram (pretérito mais-que-perfeito do
indicativo), precluía e precluíam (imperfeito do indicativo), precluirá e
precluirão (futuro do presente do indicativo), precluiria e precluiriam
(futuro do pretérito do indicativo), precluir e precluírem (futuro do
subjuntivo), precluísse e precluíssem (imperfeito do subjuntivo),
precluindo (gerúndio), precluído e precluso (particípio passado).
6. Nas demais formas, deve ser substituído, conforme o caso, por um
sinônimo (fechar, obstruir, proibir, vedar) ou por um torneio de palavras
(ser atingido por preclusão).

Precluso
1. Particípio passado irregular do verbo precluir, encontra emprego em
textos legais e jurídicos.
2. É exemplo desse uso o art. 601 do Código de Processo Civil, em sua
redação anterior a 1994, hoje revogada: “Preclusa esta decisão, é defeso
ao devedor requerer, reclamar, recorrer ou praticar no processo
quaisquer atos, enquanto não lhe for relevada a pena”.

Preeminente ou Proeminente?
1. Um leitor relata ter sido aluno de conhecido professor, e este sempre
insistia em que preeminente era a forma correta, enquanto proeminente
seria a forma errada. E indaga qual a forma correta da expressão.
2. Observe-se, num primeiro aspecto, que o Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa registra ambas as palavras: preeminente e
proeminente (ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, 2009, p. 673 e
677).
3. Ora, o VOLP é editado pela Academia Brasileira de Letras, e esta detém
a delegação legal para listar oficialmente os vocábulos existentes em
nosso idioma, de modo que não remanesce dúvida quanto à efetiva
existência de ambos os vocábulos no vernáculo.
4. Num segundo aspecto, uma consulta aos dicionários revela que
proeminente tem o sentido primário e físico daquilo que avança em
ponta, como maçãs do rosto proeminentes ou queixo proeminente.
5. Desse sentido físico, passou-se ao sentido metafórico, para indicar
aquele ou aquilo que se eleva acima do que está em volta, ou aquele que
se destaca por qualidades intelectuais ou morais em seu meio. Exs.: a)
“Falo aos cidadãos proeminentes desta cidade”; b) “Buscava garimpar
ideias proeminentes, que pudessem frutificar nas mentes dos
concidadãos”.
6. Já para preeminente, os dicionários referem a acepção daquilo que está
muito acima do que está em sua volta, ou superior, ou excelso, ou
sublime, ou que se distingue pelo mérito ou saber, ou nobre, distinto,
ilustre. Exs.: a) “Um saber assim preeminente não pode ficar
escondido”; b) “Ideias preeminentes foram explicitadas naquela
reunião”.
7. Da comparação entre as acepções e os exemplos, pode-se concluir em
síntese: a) proeminente, por um lado, tem um sentido físico, que não se
encontra em preeminente; b) no sentido metafórico, todavia,
proeminente é sinônimo de preeminente.

Prefacial
Ver Petição inicial (P. 563).

Prefeita – Existe?
Ver Capitã, Capitoa ou A Capitão? (P. 168) e Poeta – Qual o feminino? (P.
570)

Prefeitura Municipal – Existe?


1. Importa saber se é correto usar a expressão Prefeitura Municipal, já que,
ao que parece, toda prefeitura – ente da administração pública – é
municipal, e, assim, haveria redundância no referido circunlóquio.
2. Ora, prefeitura vem do latim (praefectura ou, mais especificamente, do
verbo praeficere, que significa prepor, estar à testa, ser o chefe). Quer
exprimir, assim, o comando, a direção, o governo, a intendência exercida
por alguém (DE PLÁCIDO E SILVA, 1989, p. 423).
3. Entre os romanos, podia significar a administração de uma quinta
(praefectura villae), o cargo de censor (praefectura morum), o comando
da cavalaria (praefectura equitum), ou, até mesmo, similarmente à
acepção mais comum entre nós, a prefeitura de Roma (SARAIVA, 1993,
p. 930). Chegou mesmo a constituir cada uma das quatro grandes
divisões administrativas do Império Romano, estabelecidas por
Constantino (da Itália, das Gálias, do Oriente e da Ilíria).
4. Todavia, embora estejamos acostumados apenas a pensar na repartição
executiva central de cada município, ainda hoje há outros empregos do
vocábulo, podendo-se exemplificar com prefeitura da universidade e
prefeitura do campus.
5. Como se vê, em conclusão, nada há de incorreto no emprego da
expressão Prefeitura Municipal, e, a seu respeito, podem-se fazer duas
afirmações: a) não serve ela, de modo exclusivo, para designar a
repartição central de um governo municipal; b) não há redundância em
seu uso.

Preferir
1. Quanto à conjugação verbal, aparece um i na primeira pessoa do
presente do indicativo e nos tempos dela derivados: prefiro, preferes,
prefere, preferimos, preferis, preferem (presente do indicativo); prefira,
prefiras, prefira, prefiramos, prefirais, prefiram (presente do
subjuntivo); prefere, prefira, prefiramos, preferi, prefiram (imperativo
afirmativo); não prefiras, não prefira, não prefiramos, não prefirais, não
prefiram (imperativo negativo).
2. Tal verbo não é defectivo, e não apresenta problemas ou irregularidades
nos demais tempos e modos, em que é conjugado normal e regularmente.
3. Na observação de José de Nicola e Ernani Terra, em verbos dessa
natureza, “o e do radical muda para i na primeira pessoa do singular do
presente do indicativo e nas formas daí derivadas” (2000, p. 20).
4. Como os tempos derivados do presente do indicativo são o presente do
subjuntivo, o imperativo afirmativo e o imperativo negativo, os
problemas apontados não aparecem nas demais formas, tempos e modos,
que são regulares.
5. Duas observações se hão de fazer, em continuação, quanto a sua
regência verbal: a) por sua própria etimologia (pre = antes; ferre = levar,
trazer), já traz em si a ideia de predileção, de preferência, motivo por que
não se lhe acrescenta palavra alguma ou expressão indicadora de
intensidade, como antes, mais, muito mais ou mil vezes (TORRES, 1967,
p. 230); b) o objeto indireto, nesse caso, é regido pela preposição a, e
não pela locução do que.
6. Observem-se, assim, os seguintes exemplos e a indicação de sua
correção ou erronia: a) “O réu preferiu calar a mentir” (correto); b) “O
réu preferiu mil vezes calar a mentir” (errado); c) “O réu preferiu calar
do que mentir” (errado); d) “O réu preferiu mil vezes calar do que
mentir” (errado).
7. Em elegante expressão, Vasco Botelho de Amaral (1939, p. 50),
comentando as formas errôneas, observa que “tal redundância não pode
admitir-se no escorreito frasear, posto que se explique o seu emprego”,
acrescentando que nesse erro, em real e efetiva “inadvertência de
redação” – a qual, no caso, é até “perdoável a quem tanto honrou o
idioma” – incidiu Camilo Castelo Branco: “… prefere antes matar a
vítima…”.
8. Referindo-se a dois exemplos – um de Camilo Castelo Branco e outro de
Almeida Garrett – em que se usou da expressão preferir antes, Rui
Barbosa assim a criticou: “Preferir antes não reflete o menor traço da
elegância paterna”, acrescentando que tal proceder “não encontraria,
entre os menos escrupulosos escrevedores, quem o imitasse”
(BARBOSA apud TORRES, 1967, p. 230).
9. Com supedâneo em lição de Mário Barreto, anota Cândido Jucá Filho
(1981, p. 93) que “preferir antes” é “expressão supérflua”.
10. E assim teoriza Laudelino Freire, de modo definitivo, a questão: “O
verbo preferir, além do complemento direto ou acusativo, pede dativo:
‘Prefiro morrer a matar’; ‘Prefiro ficar para almoçar a ficar para
jantar’; ‘Prefiro a irmã ao irmão’… Enfim, preferir a, e não preferir do
que” (1937b, p. 110).
11. Na apropriada observação de Cândido de Oliveira, “preferir significa
querer antes; daí ser erro ‘prefiro antes’, ‘prefiro mais’… Não se dirá,
igualmente: ‘preferir isto que aquilo’, ‘preferir tal do que qual’…”
(1961, p. 277).
12. Anotando a frequência com que ocorrem lapsos desse jaez nos meios
de comunicação, Josué Machado exemplifica com trechos equivocados
de jornais: a) “Gramsci preferia Stálin do que Palmiro Togliatti”; b)
“Chiarelli prefere CPI do que bloquear Bucchi”; c) “Ele prefere
competir com Lula no segundo turno, em vez de Brizola”.
13. Em outra passagem, complementa tal autor que, “enquanto o amor ao
popular não prevalecer, convém continuar preferindo uma coisa a
outra” (MACHADO, 1994, p. 41 e 206).
14. Ainda quanto a preferir antes, Cândido de Figueiredo (1948, p. 59-60)
– que assevera nunca ter visto “em português de lei” – observa que “é
pleonasmo inutilíssimo, resultante da influência de outra locução: antes
que. Aqui, está bem o antes; acolá está mal, porque já estava
implicitamente no preferir. Preferir é querer antes. ‘Eu antes quero’ é o
mesmo que ‘eu prefiro’.
15. Muito embora aponte uma ou outra abonação literária para preferir
mais ou preferir antes, sobretudo em escritores modernos e
contemporâneos, Celso Pedro Luft realça tratar-se de “sintaxe oral”,
acrescentando que “em linguagem culta formal cabe a sintaxe primária:
preferir algo ou alguém a…” (1999, p. 413).
16. Registre-se, contudo, em posição solitária, sem reflexo algum de
aceitação nos meios em que se deva empregar a norma culta, o ensino
de Silveira Bueno, que argumenta não existir em Português o verbo
ferir (não no sentido de machucar, mas, de acordo com a própria
etimologia, de suportar, levar, conduzir), motivo por que, em “preferir
do que, desde que o povo empregue o advérbio mais com o qual se faz
o comparativo de superioridade, corretamente virá a segunda parte da
comparação expressa por do que”.
17. E, para corroborar seu ensino, carreia tal autor exemplos de dois
escritores de proa de nossa língua (BUENO, 1957, p. 350-1): a)
“Nunca tive, certo, a balda de valentão, mas agora, sem a mínima
fanfarronada, prefiro antes e muito antes morrer de uma bala do que
estar mais tempo emigrado” (Almeida Garrett); b) “O menino repartia-
se bem com ambas, preferindo um pouco mais a mãe postiça”
(Machado de Assis).
18. Repetindo lição de Silveira Bueno – repita-se sempre que sem
aceitação nos meios em que obrigatório o padrão culto – assevera
Luciano Correia da Silva que se vai “incorporando à linguagem
moderna a construção ‘preferir do que’, nada obstante o ensino
tradicional em contrário”.
19. E encontra tal autor mais um fundamento para advogar o emprego da
locução do que: “Nos períodos longos, a regência com a pode tornar a
expressão obscura” (SILVA, L., 1991, p. 79).
20. Por fim, vale acrescer que, no âmbito jurídico, o mencionado verbo
pode ter o sentido de ter primazia, hipótese em que é intransitivo ou
transitivo indireto. Exs.: a) “Concorrendo à remição vários
pretendentes, preferirá o que oferecer maior preço” (CPC/1973, art.
789); b) “O crédito real prefere ao pessoal de qualquer espécie…”
(CC/1916, art. 1.560); c) “A Fazenda federal prefere à estadual, e esta,
à municipal” (CC/1916, art. 1.571).

Preferível
1. Lembrando ser “grave erro construir este adjetivo com a locução do que
(ou seu equivalente que)”, Sousa e Silva anota que “a regência vernácula
é com a preposição a, sintaxe igual à do verbo derivante”.
2. Arrola tal autor um exemplo a ser evitado, por gramaticalmente
incorreto: “Ele não pode fugir às penas da lei e, no caso, é preferível
enfrentá-las como homem normal do que fugir-lhe aos rigores, passando
por anormal”.
3. E manda corrigi-lo: “Ele não pode fugir às penas da lei e, no caso, é
preferível enfrentá-las como homem normal a fugir-lhe aos rigores,
passando por anormal” (SILVA, A., 1958, p. 221).
4. Francisco Fernandes (1969, p. 304) também é inflexível nessa lição,
abonando-se com exemplos de autores insuspeitos: a) “É preferível
retocar e ampliar os moldes de barro antigo a empreender novos
esboços” (Veiga Miranda); b) “O Conde de Santa Bárbara há de dar-lhe
quarenta contos, porque a vida é preferível a quarenta contos” (Camilo
Castelo Branco).
5. Lembrando a ocorrência de preferível do que na linguagem vulgar, Celso
Pedro Luft, no que concerne aos textos que devam submeter-se à norma
culta, observa, em mesma esteira, que o correto é “uma coisa preferível a
outra, que lhe é preferível” (1999, p. 399).

Prefixo negativo
Ver In (P. 402) e Não – Com hífen ou sem? (P. 484)

Preito
1. Quer dizer homenagem, reverência, tributo, sendo comum a expressão
preito de gratidão. Exs.: a) “De muitos modos os fiéis rendem preito aos
santos”; b) “A estátua em praça pública é um justo preito da cidade a
um de seus mais ilustres filhos”; c) “No início da sessão do júri, o
advogado rendeu merecido preito ao colega da defesa, recentemente
falecido”.
2. Não confundir com sua parônima pleito, que basicamente significa
concorrência, discussão, disputa.

Prejuízos acudidos – Está correto?


1. Veja-se, por primeiro, que pelo prisma da regência verbal, o verbo
acudir é tradicionalmente transitivo indireto, permitindo as construções
acudir a alguém ou a algo com (no sentido de ajudar, socorrer), ou
simplesmente acudir a algo (no significado de atender, assumir). Exs.: a)
“O usufruto extingue-se: … VII – Por culpa do usufrutuário, quando
aliena, deteriora, ou deixa arruinar os bens, não lhes acudindo com os
reparos de conservação” (CC/1916, art. 739, VII); b) “Aplica-se,
outrossim, a disposição do artigo antecedente, quando a gestão se
proponha acudir a prejuízos iminentes, ou redunde em proveito do dono
do negócio, ou da coisa…” (CC/1916, art. 1.340).
2. A partir de tal situação de fato em termos de Gramática, é de se ver que
pacífico, em nosso idioma, o entendimento de que apenas os verbos
transitivos diretos podem ser apassivados, uma vez que o objeto direto
da voz ativa passa a ser o sujeito da voz passiva, e, se se apassivar um
verbo transitivo indireto, estar-se-á, na voz passiva, eliminando a
preposição, o que, em última análise, implica a alteração do regime do
verbo.
3. Com supedâneo em tais premissas, fixa-se o entendimento de que não é
possível empregar o verbo acudir na voz passiva, de modo que errônea é
a expressão prejuízos acudidos, assim como equivocado é o seguinte
exemplo: “Prejuízos iminentes não foram acudidos pelo usufrutuário do
imóvel”.
4. Leciona, a respeito, Adalberto J. Kaspary, com integral validade para o
verbo e para a expressão ora apreciados: “Como a linguagem jurídica
está inserida na zona da língua culta, sendo, portanto, mais formalizada,
recomenda-se evitar o apassivamento generalizado de verbos transitivos
indiretos” (1996, p. 376-7).
Ver Acudir (P. 73).

Prenome
Ver Nome (P. 497).

Pré ou Pre? Com hífen ou sem?


1. Como único critério efetivamente objetivo, diz o Acordo Ortográfico de
2008 que, se o segundo elemento se inicia por h, a forma pré (acentuada)
e o hífen são obrigatórios: pré-habilitação, pré-helênico, pré-história,
pré-humano.
2. Quanto ao mais, em observação fluida, volátil e sem critério efetivo
aparente, determina o Acordo que se use o hífen e o acento, quando o
segundo elemento tem vida à parte: pré-contratual, pré-datar, pré-
impressão, pré-primário, pré-financiamento, pré-jurídico, pré-
lançamento, pré-leitura, pré-matrícula, pré-nupcial, pré-operatório,
pré-puberdade, pré-qualificação, pré-renascentista, pré-republicano,
pré-requisito, pré-revolucionário, pré-romantismo, pré-santificado, pré-
seleção, pré-senilidade, pré-simbolismo.
3. A par disso, ainda em critério fluido, volátil e de difícil compreensão,
acrescenta que o prefixo se junta diretamente, sem emprego de hífen, se
o segundo elemento não tem vida à parte: preâmbulo, precursor,
predeterminar, predispor.
4. Todavia, como não é difícil perceber, é um critério de extrema fluidez
fincar a distinção para separar ou não por hífen no fato de ter ou não ter
o segundo elemento vida à parte. Basta, aliás, considerar os seguintes
vocábulos, já com sua grafia oficial determinada pelo Acordo
Ortográfico, para se ver a dificuldade de explicação para as respectivas
grafias: preanunciação, preaquecimento, precogitação, preconcebido,
precondicionar, predelinear, predestinar, predizer, prejulgamento,
prenomeação, prequestionamento.
5. Em casos como esses – de ausência de critérios fixos e palpáveis para
um raciocínio de convicção e certeza – a única saída segura é consultar o
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, uma espécie de
dicionário que lista oficialmente as palavras pertencentes à língua
portuguesa, bem como lhes fornece a grafia oficial.

Preparar de antemão – Está correto?


Ver Pleonasmo – O que é e Quando pode? (P. 565)

Preposição
Ver Artigo (P. 136), Com ou sem – Está correto? (P. 198), Expressões de
tempo (P. 348), Omissão da preposição – Está correto? (P. 526) e
Preposição – Quando deve ser repetida? (P. 595).

Preposição antes do pronome relativo


1. Aspecto interessante, quanto a esse tópico, diz respeito à regência verbal.
2. Se funciona como complemento, o pronome relativo depende totalmente
da regência do verbo ao qual se liga.
3. Assim, se vai ou não haver preposição antes do pronome, ou qual vai ser
essa preposição, tudo depende do verbo que está sendo completado pelo
pronome. Vejam-se os exemplos: a) “Editou-se uma lei em que
acreditamos, com que simpatizamos e por que lutamos” (acreditar em,
simpatizar com e lutar por); b) “Fazer da aplicação da lei a arte de
distribuir justiça é o ideal a que aspiramos, com que simpatizamos e em
que nos comprazemos” (aspirar a, simpatizar com e comprazer-se em).
4. Assim é a lição de Sousa e Silva a esse respeito: “Nas orações adjetivas
cujo pronome relativo não funcione como sujeito, se o verbo exigir
alguma preposição, coloca-se esta antes do relativo”. Exs.: a)
“Atualmente, os meios de que dispomos…”; b) “Fui traído pelos amigos
em quem mais confiava”; c) “…em relação àquele a quem devia respeito
e admiração”; d) “É um monumento de que todos os brasileiros se
orgulham” (dispor de, confiar em, dever respeito e admiração a,
orgulhar-se de).
5. Num segundo aspecto, lembra tal autor que, “se o relativo for o adjetivo
(atualmente pronome adjetivo) cujo, a construção gramatical é idêntica”
(SILVA, A., 1958, p. 230-3). Exs.: a) “…eram R. S. e um pretinho de
cujo nome não se lembra” (lembrar-se de).
6. Para ilustração dos conceitos explanados, veja-se o seguinte exemplo:
“… o projeto – do qual ainda não tivemos acesso…”. Ora, quem tem
acesso, tem acesso a algo, a alguma coisa, e não de algo, nem de alguma
coisa. Corrija-se, portanto, para um dos seguintes modos: a) “o projeto –
a que ainda não tivemos acesso…”; b) “o projeto – ao qual ainda não
tivemos acesso…”.
Ver Omissão da preposição – Está correto? (P. 526), Pronome relativo
preposicionado (P. 616) e Preposição – Quando deve ser repetida? (P. 595).

Preposição e Pronome relativo


Ver Omissão da preposição – Está correto? (P. 526), Pronome relativo
preposicionado (P. 616) e Preposição – Quando deve ser repetida? (P. 595).
Preposição – Quando deve ser repetida?
1. Uma leitora quer saber, quanto à repetição das preposições, qual das
duas construções a seguir atende à norma gramatical: a) “[…] alega
violação ao art. 93, inciso IX, da CF, art. 275 do Código Eleitoral e art.
535, inciso II, do CPC”; b) “[…] alega violação ao art. 93, inciso IX, da
CF, ao art. 275 do Código Eleitoral e ao art. 535, inciso II, do CPC”.
2. Ora, importa iniciar com uma observação genérica, segundo a qual uma
frase é um conjunto de palavras que se interligam para formar um todo,
estruturando-se por meio de vinculações que se submetem a
determinadas regras, conhecidas no idioma pelo nome de sintaxe
(vocábulo de origem grega que, etimologicamente, quer dizer construção
do conjunto).
3. E uma análise da estruturação sintática do exemplo trazido pela leitora
revela aspectos de grande interesse: a) a expressão “ao art. 93…”
vincula-se ao vocábulo violação por meio da preposição “a”; b) a
expressão “art. 275…” também se vincula ao vocábulo violação pelo
mesmo modo; c) a expressão “art. 535…” também segue idêntica
construção; d) se não se suprimisse, em cada segmento, a palavra a que
se vinculam tais expressões, as estruturas seriam “violação ao art. 93”,
“violação ao art. 275” e “violação ao art. 535”.
4. Feitas essas ponderações, anota-se que, tais como trazidos os exemplos
para a consulta, apenas o segundo deles é correto: “[…] alega violação
ao art. 93, inciso IX, da CF, ao art. 275 do Código Eleitoral e ao art.
535, inciso II, do CPC”. A outra frase é incorreta, porque a supressão da
preposição faz com que a vinculação ao termo regente, ainda que
elíptico, ocorra sem a preposição, a qual é aqui obrigatória.
5. Parece oportuno acrescentar duas observações: pela primeira, há um
segundo modo correto de redigir tal frase: “[…] alega violação aos arts.
93, inciso IX, da CF, 275 do Código Eleitoral e 535, inciso II, do CPC”.
Nesse caso, a vinculação ao termo regente se dá genericamente por via
da preposição primeira, que se associa ao artigo definido já no plural
(os), representativo, assim, de todos os três termos regidos.
6. Em segunda observação, lembra com propriedade Alfredo Gomes (1924,
p. 470) que configura galicismo sintático a ser evitado “a repetição do
artigo antes de cada termo de idêntico valor lógico sem repetir a
preposição de ou per”, exemplificando ele próprio: a) “Conversou-se
acerca dos negócios do Estado e a melhor aplicação dos dinheiros
públicos” (errado); b) “Passamos pela estrada e a ponte sobre o rio”
(errado).
7. Em tais casos, a correção dos mencionados exemplos há de dar-se pela
simples repetição da preposição de ou per antes do segundo termo por
ela regido na oração: a) “Conversou-se acerca dos negócios do Estado e
da melhor aplicação dos dinheiros públicos” (correto); b) “Passamos
pela estrada e pela ponte sobre o rio” (correto).

Preposições acidentais
Ver Preposições essenciais (P. 595).

Preposições essenciais
1. Preposições são palavras que subordinam um termo da frase a outro – o
que vale dizer que tornam o segundo dependente do primeiro: livro de
Pedro, obediente a seus pais.
2. Dizem-se essenciais as preposições típicas, que normalmente funcionam
como tais, havendo, em português, dezessete delas: a, ante, após, até,
com, contra, de, desde, em, entre, para, por, sem, sob, sobre, trás e per
(usada somente na expressão de per si e nas combinações pelo, pela,
pelos, pelas).
3. Já as preposições não essenciais (ou acidentais) são originariamente
particípios ou adjetivos: durante (particípio presente do verbo durar),
mediante (de mediar), conforme etc.

Prequestionamento ou Pré-questionamento?
Ver Pré ou Pre? Com hífen ou sem? (P. 594)

Prescrever – Como conjugar?


1. Do latim praescribere, tem o sentido popular de ordenar de maneira
explícita, determinar, estabelecer, fixar. Ex.: “A lei prescreve as penas
para os diversos crimes”.
2. Em termos de técnica jurídica, também tem por acepção incidir em
prescrição, atingir, por força da inércia do titular de um direito, um
estado tal de decurso de tempo, que não lhe seja mais possível ajuizar
com sucesso determinada ação.
3. Veja-se o seu emprego no sentido de fixar, estabelecer, determinar: a)
“Quando a lei prescrever determinada forma, sob pena de nulidade, a
decretação desta não pode ser requerida pela parte que lhe deu causa”
(CPC/1973, art. 243); b) “Quando a lei prescrever determinada forma,
sem cominação de nulidade, o juiz considerará válido o ato se, realizado
de outro modo, lhe alcançar a finalidade” (CPC/1973, art. 244).
4. Também se veja seu emprego no sentido técnico de incidir em
prescrição: a) “A exceção prescreve no mesmo prazo em que a
pretensão” (CC, art. 190); b) “Fica isento de restituir pagamento
indevido aquele que, recebendo-o como parte de dívida verdadeira,
inutilizou o título, deixou prescrever a pretensão ou abriu mão das
garantias que asseguravam seu direito…” (CC, art. 880); c) “O direito
de propor ação anulatória de partilha amigável prescreve em 1 (um)
ano” (CPC/1973, art. 1.029, caput).
5. Quanto à conjugação verbal, trata-se de verbo regular, tendo por modelo
escrever e ostentando irregularidade, como aquele, apenas no particípio
passado, que é prescrito (REIS, 1971, p. 102).
6. Não confundir com sua parônima proscrever, que significa expulsar,
desterrar.

Presidenta ou A Presidente?
1. Seguindo a mesma estruturação existente no latim, os adjetivos
terminados em nte, mesmo quando apresentam aparência substantivada,
têm geralmente, em nosso idioma, uma mesma forma para o masculino e
para o feminino, modificando-se apenas o artigo que os antecede: a
amante, o amante, a constituinte, o constituinte, a doente, o doente, a
estudante, o estudante, a ouvinte, o ouvinte.
2. É tecnicamente o que se denomina comum de dois ou comum de dois
gêneros.
3. Nos últimos tempos, porém, gradativamente, alguns desses vocábulos
vêm adquirindo forma efetivamente feminina, em nta.
4. Dentre eles está presidenta, que, segundo Celso Cunha (1970, p. 96),
constitui feminino ainda com curso restrito no idioma, pelo menos no
Brasil.
5. Antenor Nascentes (1942, p. 60) anota que o uso já passou a admitir o
feminino presidenta.
6. Essa também é a lição de João Ribeiro, para quem “o uso de formar
femininos em enta dos nomes em ente, como presidenta, almiranta,
infanta, tem-se pouco generalizado” (1923, p. 158).
7. Evanildo Bechara (1974, p. 84), de igual modo, é dos que admitem a
normal flexão desse substantivo para o feminino, e Luiz Antônio
Sacconi (1979, p. 32), sem outros comentários, confere ao vocábulo os
dois femininos: presidente e presidenta.
8. Mário Barreto admite-lhe a forma específica feminina (presidenta) e
esclarece tratar-se de “toda mulher que preside”, recusando, todavia, o
intento de alguns de conferir tal nome à mulher do presidente.
9. Ainda de acordo com esse gramático, a ojeriza de alguns para com o
emprego de forma feminina em tais casos talvez se explique pela
circunstância de que, “na língua jocosa, é que dos nomes de cargos sói
derivar-se um feminino para designar a mulher do que o desempenha,
como almiranta, generala, coronela, delegada…” (BARRETO, 1954b,
p. 188).
10. Édison de Oliveira (s/d, p. 158) inclui essa palavra entre os vocábulos
femininos terminados por a, que o povo evita usar, “quer em virtude de
preconceito de que se trata de funções ou características próprias do
homem, quer por considerá-los mal sonoros ou exóticos”; mas afirma
que se hão de empregar tais femininos, “que a gramática já ratificou
definitivamente”.
11. Observa Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 330) que presidenta “é a
forma dicionarizada e correta, ao lado de presidente”. E exemplifica: a)
“A presidenta da Nicarágua fez um pronunciamento à nação”; b) “A
presidente das Filipinas pediu o apoio do povo para o seu governo”.
12. Para Arnaldo Niskier, “o feminino de presidente é presidenta, mas
pode-se também usar a presidente, que é a forma utilizada em diversos
jornais” (1992, p. 58).
13. Sousa e Silva não vê desdouro algum nem incorreção linguística em se
dizer presidenta para o feminino.
14. E transcreve o posicionamento de Sá Nunes, para quem, ao se deixar
de flexionar tal vocábulo, “não pode haver contrassenso maior: contra a
Gramática e contra o gênio da Língua Portuguesa”, uma vez que “o
substantivo que designa o cargo deve concordar em gênero com a
pessoa que exerce a função. Sempre foi assim, e assim tem de ser”.
15. Continuando na exposição de seu próprio entendimento, complementa
Sousa e Silva (1958, p. 307) que, na esteira dos nomes terminados em
ente – e que são comuns aos dois gêneros – tanto se pode dizer a
presidente como a presidenta.
16. Silveira Bueno (1957, p. 382-3) preconiza que se diga presidenta, se tal
posto é entregue a uma senhora, acrescentando que Castilho emprega
tal forma.
17. E Cândido de Oliveira (1961, p. 133-4), após lecionar que “os nomes
terminados em ente são comuns de dois gêneros”, acrescenta
textualmente que “é de lei, assim para o funcionalismo federal como
estadual, e de acordo com o bom senso gramatical, que nomes
designativos de cargos e funções tenham flexão: uma forma para o
masculino, outra para o feminino”. E, em seu exemplário, ao masculino
presidente contrapõe ele o feminino presidenta.
18. O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia
Brasileira de Letras, veículo oficial para dirimir dúvidas acerca da
existência ou não de vocábulos em nosso idioma, ao lado de presidente
– que dá como substantivo comum de dois gêneros – registra a palavra
presidenta como um substantivo feminino (2009, p. 674), o que implica
dizer que o uso indistinto de ambas está plena e oficialmente
autorizado entre nós.
19. E assim se conclua e sintetize: sem desdouro algum e sem significar
ironia ou gracejo, pode-se dizer indiferentemente, portanto, a
presidente ou a presidenta.
20. Uma primeira observação adicional: o uso tradicional da língua de que
vocábulos terminados em nte tivessem a mesma forma para o
masculino e para o feminino apenas começou a ter um real início de
variação para um feminino em nta na primeira metade do século XX.
Bem por isso, a atribuição desse feminino específico é gradativa, sendo
ainda poucos os vocábulos que admitem essa possibilidade. Na dúvida,
convém consultar o VOLP.
21. Uma segunda observação adicional: dizer que alguns vocábulos
aceitam um feminino próprio em enta não significa fixar uma regra
geral a ponto de, com base nela, querer flexionar indistintamente os
demais adjetivos e substantivos com mesma terminação, como, por
exemplo, adolescenta, adquirenta, agenta, anuenta, ascendenta,
cedenta, consulenta, contraenta, dependenta, emitenta, escreventa,
exequenta, gerenta, opoenta, pacienta, pretendenta, promoventa,
remetenta, requerenta. Afirme-se, para não haver dúvidas: tais
femininos simplesmente não existem (ao menos por enquanto).
Ver Crenta ou Crente? (P. 240) e Parenta ou Parente? (P. 550)

Presidir
1. Quanto à regência verbal, admite, indiferentemente, ser construído com
objeto direto ou com objeto indireto (preposição a).
2. Assim, são corretas ambas as construções a seguir: a) “O magistrado
presidiu o júri”; b) “O magistrado presidiu ao júri”.
3. Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 224) observa que, quando se preferir seu
emprego como transitivo indireto, é de se dar preferência às formas
preposicionadas dos pronomes – a ele, a ela, a eles, a elas –
marginalizando as formas átonas lhe e lhes.
4. A esse respeito, contudo, vale transcrever lição de Francisco Fernandes
(1971, p. 475): “Entendem alguns gramáticos que este verbo recusa a
forma pronominal lhe, só admitindo a ele, a ela. Ambas as duas
construções, porém, são encontradas em escritores autorizados”. Exs.: a)
“Foram nomeados para presidirem a ela o provincial dos pregadores e o
guardião” (Alexandre Herculano); b) “Sacrifício que fiz à dignidade
coletiva dos que me tinham escolhido para lhes presidir” (Alexandre
Herculano).
5. Admitindo a dupla possibilidade de construção, esclarece Celso Pedro
Luft (1999, p. 416) que o mais comum é o objeto indireto analítico (a
ele, a ela, a eles, a elas), e que o lhe também ocorre, “se bem que
escassamente”.
6. Porque se aceita sua regência como transitivo direto, óbvio que pode ser
empregado na voz passiva. Ex.: “O júri foi presidido pelo magistrado”.
7. Resumindo as questões de regência desse verbo, leciona com
propriedade Domingos Paschoal Cegalla: “São portanto lícitas as
construções presidir a sessão, presidi-la, presidir à sessão, presidir a
ela, a sessão foi presidida por fulano” (1999, p. 330). Acrescente-se:
presidir-lhe.
8. Oportuno o registro da lição de Sousa e Silva (1958, p. 225), o qual,
embora confirme a dupla possibilidade de construção, já referida, assim
leciona: “constrói-se com a preposição a quando significa regular”. Ex.:
“As leis que presidem à gravidade”. Não parece haver sentido para a
distinção.
9. Nos textos legais, este verbo aparece às vezes como transitivo direto
(podendo o objeto direto aparecer como sujeito da voz passiva), às vezes
como transitivo indireto introduzido pela preposição a. Exs.: a)
“Compete privativamente ao Presidente da República: … XVIII –
convocar e presidir o Conselho da República e o Conselho de Defesa
Nacional” (CF/88, art. 84, XVIII); b) “A instrução contraditória é
sempre presidida pelo juiz…” (CPP português, art. 330º); c) “Celebrar-
se-á o casamento no dia, hora e lugar previamente designados pela
autoridade que houver de presidir ao ato…” (CC/1916, art. 192).
10. Após pesquisa levada a efeito em textos legais do Brasil e de Portugal,
Adalberto J. Kaspary concluiu que “ocorre com maior frequência a
construção com objeto indireto: doze entre dezenove exemplos” (1996,
p. 250).
Ver Voz passiva – Quando é possível? (P. 793)

Pressupor
Ver Pôr – Como conjugar? (P. 577)

Pretenção ou Pretensão?
1. Pretensão é o ato ou efeito de pretender, aspiração ou ambição. Ex.: “A
pretensão do rapaz era tornar-se magistrado”.
2. Atente-se a sua ortografia, pois é errada a forma pretenção.
3. Idêntica observação serve para pretensioso, pretenso, pretensor.

Pretencioso ou Pretensioso?
Ver Pretenção ou Pretensão? (P. 597)

Pretensão punitiva inaugural – Está correto?


Ver Petição inicial (P. 563).

Pretenso
Ver Pretenção ou Pretensão? (P. 597)

Pretensor
Ver Pretenção ou Pretensão? (P. 597)

Preterir
1. Embora seja composto de ir, não se assemelha a ele na conjugação
verbal, mas segue a conjugação “dos verbos da terceira, que têm um e
antes da última sílaba do infinitivo” (FERNANDES, 1971, p. 476).
2. Desse modo, aparece um i na primeira pessoa do singular do presente do
indicativo e nos tempos dela derivados, devendo-se observar não ser ele
verbo defectivo: pretiro, preteres, pretere, preterimos, preteris, preterem
(presente do indicativo); pretira, pretiras, pretira, pretiramos, pretirais,
pretiram (presente do subjuntivo); pretere, pretira, pretiramos, preteri,
pretiram (imperativo afirmativo); não pretiras, não pretira, não
pretiramos, não pretirais, não pretiram (imperativo negativo).
3. Não apresenta problemas ou irregularidades nos demais tempos.
4. Seu significado mais usual é deixar de parte, marginalizar. Exs.: a) “A
sentença era nula por preterir formalidades tidas por imprescindíveis
pelo ordenamento processual”; b) “Normalmente, o testador não pode
preterir os herdeiros necessários”.
5. No que concerne à regência verbal, leciona Sousa e Silva que “não se diz
preterir Fulano a Sicrano, e sim preterir Fulano por Sicrano”.
6. Lembra tal autor exemplo de errôneo emprego desse verbo: “… sempre
que F. preterir A., em alto estado de inspiração, a um suplente de menor
categoria”.
7. E manda assim corrigir: “… sempre que F. preterir A., em alto estado de
inspiração, por um suplente de menor categoria” (SILVA, A., 1958, p.
226).
8. Porque admite ser construído com objeto direto, pode ser empregado na
voz passiva: “Os herdeiros necessários normalmente não podem ser
preteridos pelo testador”.

Pretérito mais-que-perfeito
1. Um leitor relata que uma colega de trabalho, em suas peças jurídicas, usa
do pretérito mais-que-perfeito o tempo todo, nos lugares em que o
normal seria empregar o pretérito perfeito. E indaga se essa é uma opção
estilística válida, ou se há equívoco na utilização indiscriminada desse
tempo verbal.
2. Em termos de fixação de premissas, observe-se que o pretérito perfeito
indica uma ação terminada (“Fiz o trabalho”), enquanto o pretérito mais-
que-perfeito aponta uma ação passada em relação ao próprio perfeito
(“Quando ela chegou, eu já fizera [ou tinha feito] o trabalho”).
3. Para Evanildo Bechara, em seu emprego clássico, o pretérito mais-que-
perfeito “denota uma ação anterior a outra já passada” (1974, p. 275), e
isso se pode observar com facilidade em exemplo de autor
inquestionável: “No dia seguinte, antes de me recitar nada, explicou-me
o capitão que só por motivos graves abraçara a profissão marítima…”
(Machado de Assis).
4. Em segunda possibilidade de emprego, o pretérito mais-que-perfeito
pode, sem correlação com outra ação passada, denotar um fato
vagamente situado no passado, como se dá no seguinte exemplo:
“Nascera na senzala, de mãe escrava, e seus primeiros anos vivera-os
pelos cantos escuros da cozinha, sobre velha esteira e trapos imundos”
(Monteiro Lobato).
5. E, para o que interessa aqui, não há outra permissão para emprego do
pretérito mais-que-perfeito.
6. Vale dizer: se não ocorre nenhum dos casos citados – (i) nem ação
anterior a outra já passada, (ii) nem fato vagamente situado no passado,
mesmo sem correlação com outra ação passada – mas se lança mão do
pretérito mais-que-perfeito como simples equivalente do pretérito
perfeito, então o que há é um equívoco nesse indiscriminado emprego de
tempo verbal.

Pretexto
Ver A pretexto de ou Sob pretexto de? (P. 127)

Pretório excelso – Está correto?


Ver Adjetivação desnecessária (P. 80).

Prevalente ou Prevalecente?
1. Do que se observa ser usado nos textos jurídicos e forenses, importa
saber qual a palavra correta para significar a qualidade daquilo que
prevalece: prevalente ou prevalecente?
2. Para tanto, de início, é importante reiterar que a autoridade para listar as
palavras oficialmente existentes em nosso léxico é o Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de
Letras, órgão esse que tem a responsabilidade legal de controlar nosso
vocabulário, em cumprimento à velha Lei Eduardo Ramos, de n. 726, de
8/12/1900.
3. Isso significa, de um modo geral, que, se o VOLP não registra
determinado vocábulo, não estamos autorizados a empregá-lo na
linguagem formal das petições, arrazoados e pareceres. E tal autorização
para seu emprego encontra-se exatamente na existência do referido
vocábulo na lista do VOLP.
4. Com essas observações, é preciso dizer, que o VOLP, dá como existentes
em nosso idioma tanto prevalente como prevalecente (ACADEMIA
BRASILEIRA DE LETRAS, 2009, p. 675), o que significa dizer que
está autorizado o emprego de qualquer dos dois vocábulos na acepção
pretendida.

Prevenir antecipadamente – Está correto?


Ver Pleonasmo – O que é e Quando pode? (P. 565)

Prevenir ou Previnir?
1. Prevenir é a grafia correta da palavra, e não previnir.
2. Quanto à conjugação verbal, o e da penúltima sílaba transforma-se em i
nas formas rizotônicas e nas formas delas derivadas.
3. Desse modo, assim é seu presente do indicativo: previno, prevines,
previne, prevenimos, prevenis, previnem.
4. Da primeira pessoa do singular se extrai o presente do subjuntivo:
previna, previnas, previna, previnamos, previnais, previnam.
5. Desses dois se extraem seus derivados: previne, previna, previnamos,
preveni, previnam, (imperativo afirmativo); não previnas, não previna,
não previnamos, não previnais, não previnam (imperativo negativo).
6. Como as formas rizotônicas ocorrem apenas nos tempos já referidos, não
se dá irregularidade alguma nos demais: prevenia (imperfeito do
indicativo), prevenirei (futuro do presente do indicativo), preveniria
(futuro do pretérito), prevenindo (gerúndio), prevenido (particípio).
7. Serve de modelo para outros: agredir, denegrir, progredir, regredir,
transgredir.
8. Num segundo aspecto, trata-se de vocábulo que precisa ser observado,
por seus problemas de regência verbal.
9. Tanto a coisa quanto a pessoa que lhe servem de complementos podem
ser, indiferentemente, objeto direto ou objeto indireto.
10. O que não se permite é a coexistência de dois objetos diretos ou dois
objetos indiretos em mesma oração.
11. Com essas anotações, são corretas as duas construções seguintes: a)
“Preveniram ao Corregedor o fato que ocorreria”; b) “Preveniram o
Corregedor do (ou sobre o) fato que ocorreria”.
12. Não são, contudo, corretas as seguintes estruturas, em que se faz
presente o cruzamento entre as duas estruturas já mencionadas: a)
“Preveniram ao Corregedor do fato que ocorreria”; b) “Preveniram o
Corregedor o fato que ocorreria”.
13. Tais construções são errôneas, porque a primeira tem, ao mesmo
tempo, dois objetos indiretos, e a segunda, dois objetos diretos.
14. Francisco Fernandes (1971, p. 476-7), todavia, lembra que, quando o
objeto indireto é representado por uma oração, às vezes a preposição
vem subentendida. Exs.: a) “Devo prevenir-te que não venho disposto
para fazer via-sacra” (Camilo Castelo Branco). Curioso observar,
todavia, que, no exemplo dado, o pronome oblíquo te tanto pode ser
objeto indireto quanto objeto direto, o mesmo se aplicando à oração
subordinada. Entretanto, se entendermos o pronome como objeto
direto, a oração será obrigatoriamente subordinada objetiva indireta; se
classificarmos o pronome como objeto indireto, a oração será
subordinada objetiva direta. Construindo-se a oração com a preposição
expressa (“Devo prevenir-te de que não venho disposto para fazer via-
sacra”), a única possibilidade é o pronome ser o objeto direto e a
oração ser subordinada objetiva indireta. b) “Previne já os nossos
cavaleiro que vistam imediatamente as armas” (Alexandre Herculano).
15. De Celso Pedro Luft (1999, p. 417) vêm as seguintes observações: a) O
uso mais comum corresponde à estrutura prevenir alguém de algo; b)
Também ocorre a sintaxe prevenir algo a alguém; c) “Muito raramente
se nos apresentou construído com objeto indireto de pessoa e direto de
coisa, construção que não merece, por certo, a aprovação de
vernaculistas”.
16. Também seguem essa construção os verbos aconselhar, avisar,
certificar e informar.

Prever antes – Está correto?


Ver Pleonasmo – O que é e Quando pode? (P. 565)
Prever com antecedência – Pleonasmo?
Ver Pleonasmo – O que é e Quando pode? (P. 565)

Prever – Como conjugar?


Conferir Ver – Como conjugar? (P. 764)

Previlégio ou Privilégio?
Ver Privilégio ou Previlégio? (P. 600)

Prezados Senhores – E as mulheres?


1. Uma primeira observação que se deve fazer é que sexo é uma questão
biológica, enquanto gênero é classificação gramatical. É preciso não
fazer confusão.
2. Para confirmar, veja-se que determinados idiomas, além do masculino e
do feminino, também têm o gênero neutro, algo inaceitável quando se
fala de sexo. Em tais línguas, animais, que sabidamente têm sexo, muitas
vezes, pertencem ao gênero neutro. Por outro lado, seres assexuados –
como o garfo e a colher – não deixam de ter seu gênero. Alguém, por
acaso, iria procurar uma razão por que garfo é masculino em português,
e por que colher pertence ao feminino?
3. Com essas premissas, deve-se dizer que, em português, o masculino é
um gênero não marcado, o que significa que admite seres de ambos os
sexos, enquanto o feminino é um gênero marcado, o que implica que
abrange apenas seres do sexo feminino. Por isso, quando se diz “O
homem é mortal”, no vocábulo homem se incluem seres de ambos os
sexos (ou alguém acha que a mulher vai ficar para semente?). Já quando
se diz “A mulher teve grandes conquistas nas últimas décadas”, está
claro que o vocábulo quis abranger tão somente seres do feminino.
4. É por essa razão – e não por machismo multissecular – que, quando se
juntam seres do masculino e do feminino, a resultante será o masculino
plural: “Prezados Senhores”, os ouvintes, os telespectadores, os
candidatos…
5. Desse modo, longe de demonstrar gentileza, cuidado ou respeito, acaba
evidenciando desconhecimento do sistema de tratamento de nosso
idioma principiar uma manifestação por um dos seguintes modos:
“Brasileiros e brasileiras…”; ou “Companheiros e companheiras…”;
ou, ainda, “Senhores Advogados e Senhoras Advogadas…” Muito pior,
então, é dizer “Bom dia a todos e a todas”. Afinal, se existe um pronome
que tem total abrangência, esse é o todos.

Primeira-ministra – Existe?
Ver Capitã, Capitoa ou A Capitão? (P. 168) e Poeta – Qual o feminino? (P.
570)

Primeira pessoa do plural


1. A linguagem forense e técnica, precisa e impessoal, o que excepcionada
a manifestação final dos veredictos, em que o juiz, representante do
próprio Estado, como poder jurisdicional, fala em primeira pessoa do
singular (julgo procedente o pedido, julgo improcedente a postulação,
julgo extinto o processo) – só por si, já elimina toda possibilidade de se
dizerem, em manifestações de feitos judiciais, expressões meramente
evidenciadoras de opinião, como eu penso, eu acho, eu acredito.
2. Uma afirmação, em tal caso, vale pelo seu conteúdo, pelo seu
argumento, e não pelo fato de seu autor afiançar que assim pensa, que
assim acha, ou que assim acredita, como se expressões dessa natureza
pudessem inculcar maior credibilidade ao leitor.
3. E não abranda a questão o fato de alguns, com pretensão de plural
majestático, escreverem nós pensamos, nós achamos, nós acreditamos.
4. Ainda sobre o assunto, vale lembrar a advertência de Eliasar Rosa: “Vai-
se tornando frequente ler requerimentos e petições em que o advogado,
esquecido de que fala pelo constituinte, começa a falar em nome próprio,
usando o plural de modéstia: nós. Assim: Data venia, não nos
conformamos com o respeitável despacho de V. Exª. e, por isso, dele
queremos agravar… Ora, quem não se conforma e quer agravar é a
pessoa do constituinte, cujo nome inicia a petição: F. de Tal, nos autos…
vem dizer que não se conforma com … e, por isso, quer agravar…”
(1993, p. 18).
Primeiro de maio ou Um de maio?
1. O que se tem aprendido é que, normalmente, correto é dizer primeiro de
maio e não um de maio, lição essa que se encontra com frequência nos
ensinos de Gramática, sem maiores discrepâncias.
2. O Padre José F. Stringari, todavia, leciona que, “para se indicar o
primeiro dia do mês, pode usar-se o ordinal, o que é mais comum, ou
também o cardinal, que, sem embargo de ser menos frequente, não deixa
de ser linguagem lídima”.
3. E continua tal autor (STRINGARI, 1961, p. 66): “sejam exemplos os
seguintes passos: ‘Pouco depois, em o primeiro de dezembro de 1581, foi
laureado de martírio’ (Padre Manuel Bernardes); ‘Agradecendo-lhe a
amabilidade da carta que me dirigiu no dia um de maio do corrente
ano…’ (Mário Barreto)”.
Ver Números – Como ler e Empregar? (P. 506)

Primeiro e segundo
1. Em precisa lição, observa Artur de Almeida Torres que, “quando dois ou
mais numerais ordinais do singular modificam um mesmo substantivo,
este, se posposto, pode ficar no singular ou ir para o plural”. Exs.: a)
“Depois de bater repetidas vezes à porta do primeiro e segundo andar,
dispunha-se a fazer arrombar as portas” (Camilo Castelo Branco); b)
“Os preços de segunda e terceira classes eram os mesmos de outras
partes” (Machado de Assis).
2. Complementa tal gramático que “o substantivo ficará no plural se se
antepuser aos aludidos numerais” (TORRES, 1966, p. 162). Ex.: “As
cláusulas terceira, quarta e quinta” (Rui Barbosa).
Ver Cláusulas terceira e quarta – Está correto? (P. 188) e Segundos e
terceiros – É possível? (P. 684)

Primeiros e segundos
Ver Segundos e terceiros – É possível? (P. 684)

Principal protagonista – Está correto?


Ver Pleonasmo – O que é e Quando pode? (P. 565)

Príncipe – Como ler seu número?


Ver Números – Como ler e Empregar? (P. 506)

Privilégio ou Previlégio?
1. Comumente, privilégio significa a vantagem que se concede a alguém
em detrimento de outros. Ex.: “Por força do art. 100, I, do Código de
Processo Civil, a mulher goza do privilégio de ser autora ou ré no foro
de sua residência quanto às ações de separação judicial, divórcio e
anulação de casamento”.
2. Observe-se que se deve escrever com i a sílaba inicial, sendo errônea a
forma previlégio ou mesmo o verbo previlegiar, tudo como registra o
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (2009, p. 676), editado
pela Academia Brasileira de Letras, entidade oficialmente incumbida de
listar os vocábulos existentes em nosso idioma, bem como sua correta
grafia.
3. A frequência do erro fez Arnaldo Niskier (1992, p. 3) anotá-lo em obra
de profundo senso prático, acompanhado pela devida correção.
4. Veja-se seu emprego em alguns dispositivos de lei: a) “A sub-rogação
transfere ao novo credor todos os direitos, ações, privilégios e garantias
do primitivo, em relação à dívida, contra o devedor principal e os
fiadores” (CC, art. 349); b) “O crédito do comissário, relativo a
comissões e despesas feitas, goza de privilégio geral, no caso de falência
ou insolvência do comitente” (CC, art. 707); c) “Os títulos legais de
preferência são os privilégios e os direitos reais” (CC, art. 958); d) “O
privilégio especial só compreende os bens sujeitos, por expressa
disposição de lei, ao pagamento do crédito que ele favorece; e o geral,
todos os bens não sujeitos a crédito real nem a privilégio especial” (CC,
art. 963).

Problema a debater(-se) – Está correto?


Ver A fazer – Está correto? (P. 91)
Proceda-se aos inventários ou Procedam-se…?
Ver Junte-se as cartas ou Juntem-se as cartas? (P. 437)

Proceder
1. Inspira cuidados quanto à regência verbal, porquanto, em dois de seus
três significados, é verbo muito usado na linguagem forense.
2. No sentido de ter fundamento, é intransitivo. Ex.: “A argumentação
exposta na inicial não procede”.
3. Significando provir, originar-se, constrói-se com a preposição de. Ex.:
“Ele procede de Miguelópolis”.
4. No significado de dar início, é transitivo indireto e exige a preposição a.
Ex.: “O magistrado procedeu ao inventário dos bens deixados pelo
falecido”.
5. Nesse último sentido, os textos de lei têm obedecido regularmente às
normas de regência determinadas pela Gramática, empregando-o como
transitivo indireto, introduzido pela preposição a. Exs.: a) “Compete
privativamente à Câmara dos Deputados: … II – proceder à tomada de
contas do Presidente da República…” (CF/88, art. 51, II); b) “Autuado o
pedido e tomadas as declarações, o juiz procederá às diligências
necessárias para verificar se os contraentes podiam ter-se habilitado
para o casamento…” (CC/1916, art. 200, §1º); c) “… logo que passe em
julgado se procederá à abertura do testamento, se existir, e ao
inventário e partilha dos bens, como se o ausente fosse falecido”
(CC/1916, art. 471 – com a observação de que esse dispositivo foi
revogado e substituído pelo art. 1.165 do CPC/1973); d) “Todo
proprietário pode obrigar o seu confinante a proceder com ele à
demarcação entre os dois prédios…” (CC/1916, art. 569); e) “Compete
à autoridade judiciária brasileira…: … proceder a inventário e partilha
de bens, situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja
estrangeiro…” (CPC/1973, art. 89, II); f) “… o juiz lhe ordenará que
proceda ao respectivo depósito em cartório…” (CPC/1973, art. 362); g)
“Compete ao juiz em especial: … proceder direta e pessoalmente à
colheita das provas” (CPC/1973, art. 446, II); h) “… o juiz procederá à
instrução…” (CPC/1973, art. 453, § 1º).
6. Idêntica construção se pode observar nos arts. 603, caput, 776, 1.007,
1.012, 1.045, parágrafo único, 1.060, caput, 1.068, § 2º, 1.071, § 1º,
1.183, caput e 1.207, caput, todos do Código de Processo Civil.
7. Apenas para significativo registro, em sua pesquisa sobre a legislação de
Brasil e de Portugal, encontrou Adalberto J. Kaspary (1996, p. 256)
cento e sessenta e sete exemplos desse verbo com o sentido de realizar;
nessa acepção, entretanto, não localizou um caso sequer de seu emprego
como transitivo direto.
Ver Gosta-se de um bom vinho – Está correto? (P. 375), Procedeu-se aos
inventários ou Procederam-se aos inventários? (P. 601), Voz passiva –
Quando é possível? (P. 793) e Voz passiva e Pronome apassivador (P. 791).

Procedeu-se aos inventários ou Procederam-se aos inventários?


1. Por primeiro, parta-se do princípio de que, no significado de dar início, o
verbo proceder é transitivo indireto e exige a preposição a. Ex.: “O
magistrado procedeu ao inventário dos bens deixados pelo falecido”.
2. Fixada tal premissa, vale a pena ver, então, as observações feitas nos
verbetes “Aluga-se uma casa” e “Gosta-se de um bom vinho”.
3. Com tais ponderações, vê-se que, se o verbo proceder, no sentido
mencionado, como transitivo indireto que é, associa-se ao pronome se,
tal partícula há de ser índice de indeterminação do sujeito, motivo por
que não pode ser usado na passiva, “ainda que o objeto no plural esteja”
(FREIRE, 1937a, p. 7).
4. Bem por isso, o plural de uma frase como “Procedeu-se ao inventário”
há de ser “Procedeu-se aos inventários”, sendo errôneo falar
“Procederam-se aos inventários”, ou “Procederam-se os inventários”.
5. Luciano Correia da Silva também observa que “erro palmar consiste em
fletir o verbo proceder na voz passiva pessoal, como se transitivo
(direto) fosse: ‘procederam-se as diligências’, ‘os atos foram
procedidos’, ‘procedeu-se a busca’, etc., em vez de ‘procedeu-se às
diligências’, ‘procedeu-se aos atos’, ‘procedeu-se a busca’” (1991, p.
51).
6. Geraldo Amaral Arruda (1997, p. 21-2) também anota que esse verbo: a)
por ser transitivo indireto, não tem voz passiva, não se inserindo em
exceção alguma para tais efeitos; b) quando usado com a partícula se,
não forma voz passiva pronominal, não tendo o se a função de partícula
apassivadora, mas de símbolo de indeterminação do sujeito, de modo
que o verbo não varia, devendo-se dizer “procedeu-se às anotações”, e
não “procederam-se as anotações”.
7. Fixe-se, em continuação, importante conceito: é pacífico, como regra, o
entendimento de que apenas os verbos transitivos diretos podem ser
apassivados, uma vez que o objeto direto da voz ativa passa a ser o
sujeito da voz passiva, e, se se apassivar um verbo transitivo indireto,
estar-se-á, na voz passiva, eliminando a preposição, o que, em última
análise, implica alteração do regime do verbo.
8. Assim, se o verbo é transitivo indireto, não tem, por via de regra, voz
passiva. Exs.: a) “O magistrado procedeu ao inventário daquele
milionário” (correto); b) “O inventário daquele milionário foi procedido
pelo magistrado” (errado).
9. Para tais casos, em que o verbo proceder tem o sentido de dar início e
vem acompanhado do pronome se, vale transcrever a lição de Aires da
Mata Machado Filho: “O verbo proceder é relativo (mais precisamente
transitivo indireto na nomenclatura em vigor) e rege a preposição a…
Por ser relativo, não pode ser apassivado; é, pois, errônea a construção:
As análises foram procedidas – em vez de: – procedeu-se às análises.
Também em lugar de ‘exame procedido’ se deve dizer exame realizado,
ou coisa parecida” (1969a, p. 606).
10. Exatamente justificando com as questões de transitividade, afirma Luís
A. P. Vitória (1969, p. 197) que esse verbo “não pode admitir a forma
passiva”, motivo por que complementa: “Está errada, portanto, a
construção seguinte: arquivou-se o inquérito procedido; diga-se:
arquivou-se o inquérito a que se procedeu”.
11. Pode-se sintetizar e complementar com as lições de Sousa e Silva
(1958, p. 229): a) No sentido de fazer, “constrói-se obrigatoriamente
com a preposição a”: procedeu ao registo (e nunca procedeu o registo);
b) “Frases como foi procedido o registo devem ser evitadas”, e o
correto é procedeu-se ao registo; c) Tal verbo “é dos que não admitem
como objeto a forma sintética lhe ou lhes, que devem ser decompostas
em a ele, a ela, a eles ou a elas”: “Quanto à inspeção, não terei tempo
de proceder a ela hoje” (e nunca de proceder-lhe hoje).
12. Atento à frequência com que, no mundo do Direito, ocorrem equívocos
quanto ao emprego desse verbo no sentido de levar a efeito, executar,
realizar, reitera Ronaldo Caldeira Xavier que ele “não admite
apassivamento. Errôneas, portanto, são as construções do tipo: Foi
procedida a leitura dos autos” (1991, p. 117).
13. Com integral veracidade quanto ao uso na área jurídica e forense,
atesta Adalberto J. Kaspary que, “na linguagem jurídica, é bastante
usual a construção passiva com determinados verbos transitivos
indiretos, principalmente obedecer, pagar, perdoar, perguntar,
proceder, responder e visar”. Leciona, todavia, tal autor, em
continuação (KASPARY, 1996, p. 376-7): “Como a linguagem jurídica
está inserida na zona da língua culta, sendo, portanto, mais
formalizada, recomenda-se evitar o apassivamento generalizado de
verbos transitivos indiretos”, complementando tal autor que, “mais
uma vez, não se trata de questão de certo e errado, mas de menor ou
maior qualidade da expressão”.
14. Em pelo menos dois casos, na legislação pátria, todavia, empregou-se,
e de modo equivocado, o verbo proceder, na acepção de realizar, na
voz passiva (o que pressupõe que foi tido como transitivo direto, a um
simples confronto com as regras de passagem de voz).
15. Num deles, deu-se o uso da voz passiva analítica: “As eleições para a
renovação da diretoria e do conselho fiscal deverão ser procedidas
dentro do prazo máximo de 60 (sessenta) dias e no mínimo de 30
(trinta) dias, antes do término do mandato dos dirigentes em exercício”
(CLT, art. 532, caput). Corrija-se: “… deverão ser realizadas…”
16. Em outro, usou-se a voz passiva sintética: “As guias de depósito ou
recolhimento serão emitidas em 3 (três) vias e o recolhimento da multa
deverá proceder-se dentro de 5 (cinco) dias…” (CLT, art. 636, § 4º).
Corrija-se: “… e ao recolhimento da multa deverá proceder-se…”
17. Buscando alguma justificativa para os deslizes, pondera Adalberto J.
Kaspary que a redação dos dois dispositivos não se encontra nos textos
originais da Consolidação das Leis do Trabalho – intuída por ele, ao
que parece, como de melhor redação – “mas de acréscimos feitos
mediante legislação posterior” (1996, p. 256).
18. Ainda nessa esteira, é de se anotar que o art. 1.777, caput, do Projeto
do Código Civil de 1916 registrava: “O inventário e partilha judiciais
serão procedidos…” Em suas críticas iniciadas na introdução de seu
Parecer (1949, p. 6) – quando referia ser de correção duvidosa essa
forma – Rui Barbosa apontou que tal verbo não tem complemento
direto, o que impede seu apassivamento, o qual, aliás, segundo suas
palavras, não é encontrado “nos bons escritores vernáculos daqui, ou
de ultramar” (1949, p. 458).
19. A alteração foi acatada pelo legislador, como se verifica da versão
definitiva do art. 1.770 do Código Civil de 1916: “Proceder-se-á ao
inventário e partilha judiciais…”
20. Eliasar Rosa, de modo específico para o campo do Direito, lembra que
“não se pode, pois, apassivar tal verbo, dizendo, como se lê em alguns
despachos: ‘Foi procedida a perícia’. ‘Os exames foram procedidos
pelos expertos’. E muito menos: ‘A leitura a que foi procedida’. Tais
erros serão solecismos de regência” (1993, p. 113).
21. Incidiu exatamente nesse erro de indevido apassivamento o art. 114 da
Lei 8.666, de 21/6/93, que regulamenta o art. 37, inciso XXI, da
Constituição Federal, instituindo normas para licitações e contratos de
Administração Pública e dando outras providências: “O sistema
instituído nesta Lei não impede a pré-qualificação de licitantes nas
concorrências, a ser procedida sempre que o objeto da licitação
recomende análise mais detida da qualificação técnica dos
interessados”. Corrija-se “… a ser realizada sempre…”
Ver Gosta-se de um bom vinho – Está correto? (P. 375), Proceder (P. 601),
Voz passiva – Quando é possível? (P. 793) e Voz passiva e Pronome
apassivador (P. 791).

Procedido o inventário – Está correto?


Ver Procedeu-se aos inventários ou Procederam-se aos inventários? (P.
601)
Procedimento
1. Vulgarmente, quer dizer comportamento, modo de agir. Ex.: “O
procedimento da moça era irrepreensível”.
2. Juridicamente, é o aspecto formal do processo, a sequência em que se
desenvolvem os atos processuais praticados nos devidos prazos e formas
estabelecidos em lei. Ex.: “Tratava-se de causa que deveria tramitar
pelo procedimento sumário”.
3. Sua noção é puramente formal, já que se trata da coordenação de atos
que se sucedem, configurando manifestação extrínseca; assim, não se
confunde com processo, o qual, além da forma, exige a substância, pois
abarca também a relação jurídico-processual que se estabelece entre as
partes e o Estado na pessoa do juiz.
Ver Autos foi (ou foram) encaminhado(s)? (P. 151)

Processe-se-o – Está correto?


1. Trata-se de estrutura errônea, já que em português não existe esse
encontro se + o.
2. Corrija-se para uma das seguintes formas: a) Processe-se ele; b)
Processe-se; c) Seja ele processado.
Ver Cite-se-o – Está correto? (P. 184)

Processe-se o recurso – Está correto?


1. Vejam-se os seguintes exemplos, com a indicação de sua correção ou
erronia: a) “Processe-se o recurso” (correto); b) “Processe-se os
recursos” (errado); c) “Processem-se os recursos” (correto).
2. Quando se diz “Processe-se os recursos”, a sintaxe está equivocada, uma
vez que o verbo da voz passiva sintética (processe) não concordou com o
seu sujeito (recursos).
Ver Voz passiva e Pronome apassivador (P. 791).

Processo
1. Vulgarmente, significa curso, marcha, sucessão de estados ou mudanças.
Ex.: “O processo inflamatório está melhorando”.
2. Em Direito, trata-se de instituto complexo, formado pela relação jurídica
processual que se estabelece entre as partes e o Estado-juiz e dos atos
por eles praticados na forma, sequência e prazos determinados na lei.
Ex.: “O juiz extinguiu o processo sem julgamento do mérito”.
3. Não é palavra sinônima de procedimento, que é apenas seu aspecto
formal, a maneira como se realiza o processo, mas que não abarca a
totalidade de seu conceito, que é mais abrangente, alcançando, além de
forma, a própria substância.
4. Também não se confunde com autos, que consistem na materialização
dos documentos, nos quais se corporificam os atos do procedimento.
Ver A fazer – Está correto? (P. 91)

Processo a despachar(-se) – Está correto?


Ver A fazer – Está correto? (P. 91)

Próclise
1. Aspecto particular do estudo da colocação dos pronomes, abrange as
hipóteses em que o pronome pessoal oblíquo átono vem posto antes do
verbo. Ex.: “Não te vás!”.
2. É obrigatória, entre outros casos, quando, logo antes do verbo, sem outra
palavra intermediária e sem vírgula ou sinal de pontuação, há uma das
chamadas palavras atrativas.
3. São palavras atrativas as de valor negativo, os advérbios, os pronomes
relativos, os pronomes indefinidos e as conjunções subordinativas.
4. Confiram-se, assim, os exemplos a seguir: a) “Não lhe importavam as
calúnias assacadas” (palavra negativa); b) “Hoje a encontrei de novo”
(advérbio); c) “O argumento que o convenceu foi o último mencionado”
(pronome relativo); d) “Alguém o convenceu” (pronome indefinido); e)
“Quando o encontrou, fugiu” (conjunção subordinativa).
5. Oportuno é anotar que não se usa, normalmente, pronome átono logo
após sinal de pontuação, ainda que antes deste haja palavra atrativa.
Exs.: a) “Ali o encontrei” (correto); b) “Ali encontrei-o” (correto); c)
“Ali, o encontrei” (errado); d) “Ali encontrei-o” (errado).
6. Nesse aspecto, apropriada é a síntese de Carlos Góis (1945, p. 112), em
dois aspectos: a) Quando houver uma vírgula, indicadora de uma pausa,
mesmo com a antecedência de palavra atrativa, usa-se a ênclise, até
porque “a pausa faz cessar a atração”. Ex.: “Aqui, canta-se; ali, dança-
se; acolá, bebe-se”; b) “Sem a vírgula (ou pausa) será de rigor próclise”.
Ex.: “Aqui se canta, ali se dança, acolá se bebe”.
7. Também essa é a lição de José de Nicola e Ernani Terra (2000, p. 36):
por um lado, “grande parte dos advérbios atrai o pronome oblíquo átono
para antes do verbo”; por outro lado, “caso haja vírgula depois do
advérbio, o pronome oblíquo deverá vir depois do verbo”. Exs.: a) “Aqui
se trabalha muito”; b) “Aqui, trabalha-se muito”.
8. Em interessante observação acerca do relacionamento entre a palavra
atrativa e o pronome em tais circunstâncias, anota Cândido de Oliveira
de modo taxativo: “havendo pausa (geralmente indicada por vírgula),
pronome depois: a) ‘Aqui, despedimo-nos’; b) ‘Agora, ajeite-se como for
possível’; c) ‘Não, arrume-se por aí’” (1961, p. 307).
9. Para o último tipo de palavras atrativas, assim é o ensino de Cândido de
Figueiredo: “A qualidade atrativa das conjunções, em relação aos
pronomes pessoais atônicos, reproduz-se naturalmente nas locuções
conjuntivas” (1937, p. 311).
10. Para o caso específico do pronome indefinido como palavra atrativa,
em tais hipóteses, anota Eduardo Carlos Pereira que “numerosas
exceções em bons escritores mostram que esta regra assinala uma
tendência, que ao ouvido educado compete determinar em cada caso”
(1924, p. 254).
11. Acresça-se que as palavras atrativas permanecem com sua força de
atração mesmo antes do futuro do presente e futuro do pretérito. Exs: a)
“Não lhe concederei benefício para o cumprimento da pena” (correto);
b) “Não conceder-lhe-ei benefício para o cumprimento da pena”
(errado); c) “Não lhe concederia benefício para o cumprimento da
pena” (correto); d) “Não conceder-lhe-ia benefício para o
cumprimento da pena” (errado).
12. Tal, aliás, é a lição de Carlos Góis (1945, p. 126), para quem, nas
construções com futuro do presente e futuro do pretérito, “se figurar na
frase qualquer fator de próclise…, dar-se-á esta, e não a mesóclise”, até
porque esta última construção “seria ultradissonante”. Exs.: a) “Não te
amaria”; b) “Certamente nos veríamos”.
13. A todos esses casos de próclise, oportuno é acrescentar a lição de
Eduardo Carlos Pereira (1924, p. 255) no sentido de que as formas
proparoxítonas dos verbos repelem em geral a ênclise. Exs.: a) “Nós
amáramos-te mais que nossa vida” (errado); b) “Nós te amáramos
mais que nossa vida” (correto).
14. Interessante também a observação de Luiz Antônio Sacconi (1979, p.
230): é clássico o emprego do pronome antes do advérbio não, em
construção que tecnicamente recebe o nome de apossínclise. Ex.: “É
possível que o leitor me não creia” (Machado de Assis).
15. Ainda oportuno é lembrar com tal gramático que as conjunções e, mas,
porém, todavia, contudo, logo e portanto não exigem próclise
(SACCONI, 1979, p. 231), até porque são conjunções coordenativas e
não subordinativas.
16. Feitas essas observações, de grande adequação é lembrar as
apropriadas palavras de Eduardo Carlos Pereira: “é manifestamente
levar ao exagero a topologia pronominal o ensinar que o pronome reto,
as conjunções coordenativas, os adjetivos possessivos e numerais
atraem normalmente o oblíquo” (1924, p. 256).
Ver também Atração pronominal remota (P. 144), Ênclise (P. 317),
Mesóclise (P. 471), Próclise ou Ênclise? (P. 604), Próclise proibida (P. 605),
Pronomes e Locuções verbais (P. 617) e Se me não falha a memória ou Se
não me falha a memória? (P. 684)

Próclise ou Ênclise?
1. Resolvidas as questões gerais de colocação dos pronomes e observados
os casos de ênclise, mesóclise e próclise, deve-se anotar que em dois
casos é optativa a colocação do pronome em próclise ou em ênclise.
2. A primeira hipótese é a da frase que está na ordem direta (sujeito +
verbo + complementos), e não tem palavra atrativa.
3. Assim, são corretas ambas as formas: a) “O advogado se atrasou”; b) “O
advogado atrasou-se”.
4. A segunda hipótese de colocação pronominal optativa é a da frase em
que, antes do verbo, há uma conjunção coordenativa (e não
subordinativa, a qual haveria de configurar caso de atração obrigatória
do pronome para antes do verbo).
5. Por isso, também são corretas ambas as formas: a) “O promotor chegou
e se apresentou”; b) “O promotor chegou e apresentou-se”.
6. Atente-se, entretanto, a que, mesmo se coordenativa a conjunção, mas de
valor negativo, “será de rigor a próclise”. Ex.: “Nem Pedro nem Paulo se
viu eleito” (GÓIS, 1945, p. 120-1).
7. Essas observações também se aplicam ao verbo no futuro do presente ou
futuro do pretérito, caso em que, em vez de dar-se a facultatividade entre
a próclise e a ênclise, porém, ocorrerá ela entre a próclise e a mesóclise.
8. Vejam-se, então, os seguintes exemplos e a indicação de sua correção ou
erronia: a) “O advogado se atrapalhará” (correto); b) “O advogado
atrapalhar-se-á” (correto); c) “O advogado atrapalhará-se” (errado); d)
“O advogado se atrapalharia” (correto); e) “O advogado atrapalhar-se-
ia” (correto); f) “O advogado atrapalharia-se” (errado).
9. Carlos Góis (1945, p. 122), em oportuna observação, refere que, “sempre
que a colocação for facultativa, deve preferir-se a ênclise”, trazendo ele
próprio as justificativas: a) “sendo o pronome pessoal oblíquo átono uma
palavra sem acentuação própria, o seu lugar natural, como palavra
enclítica, é depois do verbo (e não antes)”; b) “sendo o pronome pessoal
oblíquo átono complemento do verbo (objeto direto ou indireto), o seu
lugar natural é também depois do verbo (e não antes)”.
10. Quando, no início da oração, há uma palavra daquelas que
normalmente atraem o pronome átono para antes do verbo (de valor
negativo, advérbio, pronome relativo, pronome indefinido ou
conjunção subordinativa), mas entre ela e o pronome se posicionam
outras palavras, querem alguns autores que seja a próclise obrigatória,
sob a justificativa de que, em tais casos, apesar da intercalação de
outros vocábulos, mantém-se a força de atração de tais palavras, em
verdadeira atração pronominal remota (OLIVEIRA, C., 1961, p. 310).
11. Ora, a força de atração de palavras desse jaez, nessas hipóteses, deve
restringir-se apenas aos casos em que estejam elas logo antes do verbo.
12. Em caso contrário, se houver, por exemplo, um sujeito entre a palavra
atrativa e o verbo, será possível tanto a próclise como a ênclise, mas
não pelas razões dadas pelos referidos gramáticos, e sim por força da
sequência sujeito + verbo + complemento, ordem direta essa que
permite ambas as estruturas.
13. Atente-se, assim, aos seguintes exemplos, todos corretos: a) “Ninguém
respondeu, porque dona Teresa ergueu-se imediatamente” (Alexandre
Herculano); b) “Ninguém respondeu, porque dona Teresa se ergueu
imediatamente”; c) “É verdade que meu pai aborrecia-me” (Camilo
Castelo Branco); d) “É verdade que meu pai me aborrecia”.
14. Vale, em continuação, transcrever a lição genérica de Carlos Góis:
“Constitui a próclise a mais enfática das formas sinclíticas; por isso o
seu emprego deve ser o mais moderado possível; não se pode
malbaratar a ênfase. Constituindo ela a regra geral no francês, no
espanhol e no italiano, constitui exceção em português: neste, sempre
que a colocação for facultativa (ou arbitrária), prevalecerá a ênclise”.
15. Mais à frente, já deixando o problema no patamar da preferência,
continua tal autor: “Sempre que a colocação for facultativa, deve-se
preferir a ênclise à próclise” (GÓIS, 1945, p. 106 e 117).
Ver também Atração pronominal remota (P. 144), Mesóclise (P. 471),
Próclise proibida (P. 605), Pronomes e Locuções verbais (P. 617) e Se me
não falha a memória ou Se não me falha a memória? (P. 684)

Próclise ou Mesóclise?
Ver Próclise ou Ênclise? (P. 604)

Próclise proibida
1. Diz-se haver próclise quando o pronome pessoal oblíquo átono vem
antes do verbo. Ex.: “O réu não se conformou com a sentença
condenatória”.
2. Existem, até mesmo, alguns casos em que tal posicionamento do
pronome em relação ao verbo é obrigatório.
3. Atente-se, porém, na lição de Carlos Góis (1945, p. 86), resumindo o
entendimento comum entre os gramáticos: constitui “barbarismo de
construção” iniciar o período por variação pronominal átona. Exs.: a)
“Me parece que…” (errado); b) “Parece-me que…” (correto); c) “Lhe
disseste tudo” (errado); d) “Disseste-lhe tudo” (correto).
4. A força de tal observação de não se começar oração com pronome átono
faz com que normalmente não seja ele empregado logo após sinal de
pontuação, ainda que antes deste haja palavra atrativa. Exs.: a) “Ali o
encontrei” (correto); b) “Ali, encontrei-o” (correto); c) “Ali, o encontrei”
(errado); d) “Ali encontrei-o” (errado).
5. Nesse aspecto, apropriada é a síntese de Carlos Góis (1945, p. 112), em
dois aspectos: a) Quando houver uma vírgula, indicadora de uma pausa,
mesmo com a antecedência de palavra atrativa, usa-se a ênclise, até
porque “a pausa faz cessar a atração”. Ex.: “Aqui, canta-se; ali, dança-
se, acolá, bebe-se”; b) “Sem a vírgula (ou pausa) será de rigor próclise”.
Ex.: “Aqui se canta, ali se dança, acolá se bebe”.
Ver também Atração pronominal remota (P. 144), Mesóclise (P. 471),
Pronomes e Locuções verbais (P. 617) e Se me não falha a memória ou Se
não me falha a memória? (P. 684)

Procurador-geral ou Procurador geral?


Ver Controlador-geral ou Controlador geral? (P. 230)

Produção de provas: Requerer, Pedir, Protestar?


1. No que concerne à correta linguagem forense, importa definir qual a
expressão correta para ser empregada em uma peça processual: a)
“Requerer a produção de provas”; b) “Protestar pela produção de
provas”? Vale alargar a discussão, para também definir se há diferença,
quanto à técnica processual, em tais casos, entre pedir e requerer.
2. O termo técnico para formular algum pedido ao juiz da causa em um
processo civil, sem dúvida, é requerer, como se pode verificar, sem
grande esforço, pela leitura de alguns dispositivos do respectivo Código:
2º, 5º, 19, 33, 40, 64, 68, 71, 78, 83, 133, 155, 181, 222, 233, 243, 265,
273, 276, 278, 287, 325, 338, 343…
3. O sinônimo pedir às vezes é reservado para outras significações de
cunho não necessariamente processual, como pedir certidões (255, 876),
pedir o relator dia para julgamento (528 e 551) e formular requerimento
ao Ministério Público (1.203).
4. Outras vezes, contudo, o verbo pedir também tem a exata conotação de
requerer algo ao Magistrado da causa, em ato de solicitação de algo em
processo civil: pedir alimentos (100, 259, 852), pedir prestações (260),
pedir abstenção de prática de atos (287), pedir revisão do quanto
estatuído em sentença (471), pedir juntada de documentos (555), pedir
citação do devedor ou do réu (614, 874, 902, 912, 1.164), pedir que o
juiz arbitre algo (854) e pedir concessão de prazo (1.071).
5. O sinônimo solicitar é reservado para um relacionamento alheio ao
cerne da relação processual propriamente dita e se emprega entre
pessoas ou instâncias não dispostas em hierarquia: entre escrivão de vara
e secretário de tribunal (207); entre juízo deprecante e juízo deprecado
(338, 475-P); entre magistrado e outra autoridade (411); entre perito e
chefe de repartição pública (429); entre um julgador e seu tribunal (476);
entre um julgador e outros tribunais (543-C); entre o oficial de justiça e
seu juiz superior (660); entre o depositário e o juiz (835).
6. Veja-se, em seguida, que postular fica mais para a acepção genérica de
simplesmente peticionar ou fazer pedidos, como se vê nos arts. 36, 39,
134 e 254.
7. Dos verbos de mesmo conjunto de significação, ainda resta pleitear,
normalmente reservado para o sentido genérico de peticionar, como nas
expressões pleitear em nome próprio (6º), pleitear de má-fé (16),
pleitear o advogado no processo (134) e pleitear um direito em juízo
(674).
8. Outras vezes, entretanto, pleitear tem o mesmo significado técnico-
processual de requerer, como em pleitear o exequente quantia superior
(475-L, 743), pleitear medidas acautelatórias urgentes (615) e pleitear
medida cautelar (801).
9. Observa-se, por fim, que, contrariamente aos demais, protestar não tem o
conteúdo semântico de requerer ou dos demais verbos, e sim de afirmar
categoricamente ou reclamar frontalmente.
10. Com essas ponderações, pode-se afirmar o que segue: a) O termo
técnico para formular processualmente algum pedido é requerer; b) Por
isso, nada se pode objetar contra a expressão requerer produção de
provas; c) Não estaria incorreta, nem mesmo se apreciada com rigor
técnico, uma expressão que empregasse algum dos sinônimos (pedir,
solicitar, postular ou pleitear); d) Não há base gramatical (nem mesmo
jurídica) para defender o uso do verbo protestar com esse sentido.
11. Vejam-se, assim, os seguintes exemplos, com a indicação de sua
correção ou erronia entre parênteses: a) “Requerer a produção de
provas” (correto); b) “Pedir a produção de provas” (correto); c)
“Solicitar a produção de provas” (correto); d) “Postular a produção de
provas” (correto); e) “Pleitear a produção de provas” (correto); f)
“Protestar pela produção de provas” (errado).
12. Para ilustração final, é de se dizer que corre, nos meios forenses, o
relato de que, tendo um advogado protestado pela produção de provas e
entendendo o Magistrado da causa que aquilo não era um efetivo
requerimento, julgou o processo sem realizar a fase de instrução. A
história, porém, termina por aí, porque, a par de não haver
comprovação de sua veracidade, também não se sabe se houve recurso
de eventual decisão, nem qual foi seu resultado final.

Produtos produzidos – Pleonasmo?


1. Esta é mais uma daqueles expressões equivocadas e redundantes,
portadora de tautologia, ou pleonasmo vicioso.
2. Produtos e produzidos são vocábulos de mesmo radical, de modo que tal
torneio se assemelharia a ação acionada, processo processado,
inventário inventariado ou algo similar.
3. Vale aqui a lição de Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 405) para
expressão similar (uso abusivo): “não se deve juntar adjetivo a
substantivo que têm o mesmo radical” (como é o caso de produtos e
produzidos).
4. Troque-se, assim, algum dos vocábulos por outro que tenha radical
diferente: produtos fabricados ou instrumentos produzidos.

Proemial
Ver Petição inicial (P. 563).

Proferir acórdão? E despacho? E sentença?


Ver Exarar, prolatar ou proferir sentença? E acórdão? E despacho? (P.
340)

Professor Evanildo Bechara ou professor Evanildo Bechara?


Ver Doutor Saulo Ramos ou doutor Saulo Ramos? (P. 294)

Pro forma
1. Expressão latina, significa “por mera formalidade” e é comumente
empregada para referir algo que não corresponde a uma efetiva realidade
de conteúdo. Ex.: “Apresentou-se um balancete pro forma da empresa,
com cifras financeiras hipotéticas, baseadas em operações comerciais
anteriores, para ser entregue ao banco, com vistas à obtenção do
financiamento”.
2. Por se tratar de expressão latina, obrigatório é o uso das aspas, negrito,
itálico, sublinha ou grifo indicador de tal circunstância, além de proibida
a utilização de acento gráfico e de hífen, que não existiam no idioma
original.
3. Não se olvide, nesse sentido, a lição de Edmundo Dantès Nascimento
(1982, p. 145) de que expressões como essa não eram hifenizadas em
latim, razão pela qual “não o podem ser em língua nenhuma”,
acrescentando tal autor que, “para quem pretende grafar escorreitamente,
não é permitido o hífen em expressões do latim clássico”.
4. Diversa, estranha e equivocadamente, entretanto, José de Nicola e
Ernani Terra observam que, exatamente por se tratar de uma expressão
latina, uma locução como essa “deve ser sempre grafada com hífen”
(2000, p. 122).
5. Ora, pela simples razão de que se trata de expressão latina e de que não
havia hífen na língua originária, o melhor é seguir o ensino de Domingos
Paschoal Cegalla (1999, p. 188), o qual, após observar que “não há
consenso quanto ao uso do hífen” em expressões latinas desses jaez,
realça que “é preferível dispensá-lo”.
Progenitor – Pai ou Avô?
1. Dicionaristas como Aurélio Buarque de Holanda Ferreira e Antonio
Houaiss, conferem a tal vocábulo dupla possibilidade de significados,
que há de fixar-se, quanto à semântica, no caso concreto: a) de pai, como
o ascendente direto e imediato de alguém; b) de qualquer ascendente que
procria antes do pai.
2. Rui Barbosa, ao comentar o art. 391 do Projeto do Código Civil de 1916,
em que originariamente se registrava tal palavra com o significado de
pai, já ressaltava que, em latim, progenitor é avô, e genitor é pai, mas
que “os dois nomes passaram para o português com o mesmo sentido”.
3. Aconselhava ele, todavia, que, tendo a lei à mão o vocábulo pai, que é
“termo específico e unívoco, não deve ir buscar o indeciso e multicor”,
motivo por que conclamava a que se usasse, “na fraseologia jurídica, da
expressão que se não preste a dois sentidos. Para indicar o genitor,
escrevamos pai, e, querendo abranger num só vocábulo o pai e a mãe,
digamos pais” (BARBOSA, 1949, p. 155).
4. De modo específico para o caso que então era questionado, a observação
do grande mestre foi acatada pelo legislador, como se nota pela redação
definitiva do art. 384 do Código Civil de 1916: “Compete aos pais,
quanto à pessoa dos filhos menores…”
5. Não se olvide, entretanto, que “a objeção de Rui Barbosa, defendendo a
acepção restrita do termo, foi brilhantemente refutada por Carneiro
Ribeiro, que trouxe à baila valiosos exemplos em sentido contrário,
embora não muito numerosos entre os clássicos” (SILVA, L., 1991, p.
75).
6. Luciano Correia da Silva também reputa “falso o ensino de que
progenitor é somente o avô ou outro ascendente que não o pai”.
7. E explicita tal autor: “De fato, etimologicamente, a palavra quer dizer, a
rigor, o que procria antes do pai, mas o uso, tanto o popular quanto o
jurídico, e o literário a consagraram como significativa de pai, ou, no
plural, de pais” (SILVA, L., 1991, p. 75).
8. Anota Antonio Henriques: “hoje, aceita-se que o termo pode ser usado
por pai desde que não haja ambiguidade” (1999, p. 158).
9. Da noticiada polêmica que precedeu nosso Código Civil de 1916, assim
concluem Antonio Henriques e Maria Margarida de Andrade: “Carneiro
Ribeiro tem razão: pai e progenitor usam-se um pelo outro e a
etimologia não elucida a questão. Rui Barbosa tem razão: em caso de
dúvida, ha que se optar pelo termo pai, mais claro e preciso” (1999, p.
52).
10. O próprio Código Civil de 1916 emprega progenitor em lugar de pai
por mais de uma vez: a) “Durante o casamento compete o pátrio poder
aos pais, exercendo-o o marido com a colaboração da mulher. Na falta
ou impedimento de um dos progenitores, passará o outro a exercê-lo
com exclusividade” (art. 380, caput); b) “Divergindo os progenitores
quanto ao exercício do pátrio poder, prevalecerá a decisão do pai,
ressalvado à mãe o direito de recorrer ao juiz para solução da
divergência” (art. 380, parágrafo único).

Progredir
1. Quanto à conjugação verbal, o e da penúltima sílaba transforma-se em i
nas formas rizotônicas bem como nas formas delas derivadas.
2. Desse modo, assim é seu presente do indicativo: progrido, progrides,
progride, progredimos, progredis, progridem.
3. Da primeira pessoa do singular se extrai o presente do subjuntivo:
progrida, progridas, progrida, progridamos, progridais, progridam.
4. E de ambos os tempos formam-se o imperativo afirmativo e o imperativo
negativo: progride, progrida, progridamos, progredi, progridam
(imperativo afirmativo); não progridas, não progrida, não progridamos,
não progridais, não progridam (imperativo negativo).
5. Atente-se, porém, a que nos outros tempos, cujas formas são todas
arrizotônicas, não há troca do e pelo i: progredi (pretérito perfeito),
progredira (pretérito mais-que-perfeito), progredia (pretérito
imperfeito), progredirei (futuro do presente), progrediria (futuro do
pretérito), progredisse (imperfeito do subjuntivo), progredir (futuro do
subjuntivo), progredindo (gerúndio), progredido (particípio).
6. Seguem idêntica conjugação os seguintes verbos: agredir, denegrir,
prevenir, regredir, transgredir.
Proibido
Ver É proibido – Como concordar? (P. 325)

Projétil ou Projetil?
1. Palavra de grande uso em Criminalística e Medicina Legal, significa
todo corpo ou objeto (pedra, seta, pedaço de pau ou, mais comumente,
bala de arma de fogo) que se arremessa ou se atira contra coisa ou
pessoa, com o intuito de dano ou destruição.
2. Napoleão Mendes de Almeida (1981, p. 248) a insere no rol das palavras
paroxítonas (sendo mais forte a penúltima sílaba) tanto no singular
quanto no plural: projétil e projéteis, tendo proceder idêntico Gladstone
Chaves de Melo (1970, p. 117).
3. Também Silveira Bueno a dá exclusivamente como paroxítona,
conferindo-lhe, por plural, tão somente projéteis (1938, p. 14),
acrescentando, até mesmo, que quem pronunciar tais vocábulos como
oxítonos e compuser o plural em is e não em eis “cometerá grave erro,
evidenciando que desconhece a história de sua própria língua” (1938, p.
45-6).
4. Em outra passagem de mesma obra, entretanto, tal gramático acrescenta
que a prosódia paroxítona é a mais correta, embora ressalve que a
pronúncia oxítona seja mais vulgar (BUENO, 1938, p. 111).
5. Cândido Jucá Filho (1963, p. 512), por sua vez, observa não ser rara a
pronúncia oxítona (sendo mais forte a última sílaba), tanto no singular
quanto no plural (projetil e projetis), fundando-se em exemplo de Camilo
Castelo Branco.
6. Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (s/d, p. 1.144) registra projetil
(oxítona) como forma principal e refere projétil (paroxítona) como sua
variante.
7. Evanildo Bechara (1974, p. 78) e Celso Cunha (1970, p. 26 e 89)
admitem ambas as formas (projétil e projetil) assim como seus
respectivos plurais (projéteis e projetis), observando o último autor que a
pronúncia mais generalizada no Brasil é a paroxítona.
8. Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 19 e 34) também arrola o vocábulo entre
aqueles que podem ser oxítonos ou paroxítonos, conferindo-lhe
indiferentemente a condição de oxítono ou de paroxítono, e dando-lhe,
de igual modo, dois plurais: projetis e projéteis.
9. Júlio Ribeiro (1908, p. 12) defende a pronúncia paroxítona, muito
embora refira o posicionamento de alguns gramáticos e lexicógrafos que
lhe preguem a pronúncia oxítona.
10. Após mencionar que, em Portugal, tal vocábulo se insere entre os
paroxítonos, formando o plural em eis, Júlio Nogueira (1930, p. 165)
observa que, no Brasil, a tendência da língua é tê-lo por oxítono,
fazendo, por conseguinte, o plural em is.
11. Aires da Mata Machado Filho (1969c, p. 492), por sua vez, dá como
incorreta a pronúncia paroxítona e aconselha como correta a forma
oxítona, justificando seu posicionamento na origem francesa
(projectile) – e não latina, segundo seu entendimento, idioma esse em
que não haveria tal vocábulo – donde a razão da diferença tópica da
tonicidade.
12. Após observar que em Portugal é mais comum a pronúncia paroxítona,
enquanto no Brasil são vulgares a escrita e a pronúncia oxítonas, Júlio
Nogueira adverte – em observação também feita para réptil e para têxtil
– que “a pronúncia lusitana em tais palavras é mais fiel à latina, mas
seria demasiado rigor corrigir a brasileira nesses casos generalizados.
Somente nas escolas, em língua erudita, se pronunciam essas palavras à
maneira lusitana” (1959, p. 19-20).
13. Eduardo Carlos Pereira aceita tanto a forma oxítona quanto a
paroxítona, lembrando apenas que a primeira é mais comum e
encartando o vocábulo entre aqueles “de pronúncia dupla pela incerteza
da tônica” (1924, p. 28 e 31).
14. Cândido de Oliveira (1961, p. 34) admite-lhe a dupla pronúncia e
grafia, quer como oxítona, quer como paroxítona.
15. Ante a divergência entre os gramáticos e dicionaristas, até por
aplicação do princípio de que, na fundada dúvida entre os gramáticos,
há liberdade de uso, abre-se, na prática, a possibilidade de ambas as
pronúncias, anotando-se que, como paroxítona (projétil, projéteis), há
razão para acento gráfico; tal, entretanto, não se dá com a pronúncia
oxítona (projetil, projetis).
16. Esse, aliás, é o posicionamento do Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, veículo oficial para
dirimir dúvidas acerca da existência ou não de vocábulos em nosso
idioma, bem como acerca de sua correta grafia e pronúncia, o qual
registra tanto projétil como projetil (2009, p. 678), o que implica dizer
que o uso de ambas as formas está plena e oficialmente autorizado
entre nós, assim como de qualquer dos plurais: projéteis e projetis.

Pro labore
1. Trata-se de locução latina, que se traduz como “pelo trabalho”, ou “em
razão do trabalho”, muito usada para indicar a remuneração ou o ganho
que se tem como recompensa pela efetiva atuação do sócio na sociedade
e que se computa nas despesas gerais desta, diferentemente dos lucros
que possam advir como remuneração do capital, os quais são pagos a
todos os sócios, na proporção de sua parcela no capital social,
independentemente de trabalharem na empresa (DE PLÁCIDO E
SILVA, 1989, p. 470). Ex.: “Os valores de pro labore foram creditados
mês a mês na conta daquele sócio, enquanto durou a prestação de seus
serviços à sociedade”.
2. Por se tratar de expressão latina, obrigatório é o uso das aspas, negrito,
itálico, sublinha ou grifo indicador de tal circunstância, além de proibida
a utilização de acento gráfico e de hífen, que não existiam no idioma
original.
3. Não se olvide, nesse sentido, a lição de Edmundo Dantès Nascimento
(1982, p. 145) de que expressões como essa não eram hifenizadas em
latim, razão pela qual “não o podem ser em língua nenhuma”,
acrescentando tal autor que, “para quem pretende grafar escorreitamente,
não é permitido o hífen em expressões do latim clássico”.
4. Diversa, estranha e equivocadamente, entretanto, José de Nicola e
Ernani Terra observam que, exatamente por se tratar de uma expressão
latina, uma locução como essa “deve ser sempre grafada com hífen”
(2000, p. 122).
5. Ora, pela simples razão de que se trata de expressão latina e de que não
havia hífen na língua originária, o melhor é seguir o ensino de Domingos
Paschoal Cegalla (1999, p. 188), o qual, após observar que “não há
consenso quanto ao uso do hífen” em expressões latinas desse jaez,
realça que “é preferível dispensá-lo”.
6. Observa-se, por fim, que a expressão pro labore, nos contratos de
prestação de serviços profissionais de advocacia, expressa aquela parcela
fixa de honorários, a ser paga independentemente do resultado da causa,
como remuneração pelo trabalho efetivamente prestado, e contrapõe-se à
parcela ad exitum, a qual significa um valor de risco, quer o advogado
receberá ou não, dependendo do sucesso da demanda e, eventualmente,
na proporção dos resultados auferidos pelo cliente.
7. Exatamente nesse sentido, o Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, órgão oficialmente
incumbido de definir quais as palavras integram nossa léxico, registra
pro labore entre as palavras estrangeiras oriundas do latim. (VOLP,
2009, p. 863)

Pró-labore ou “Pro labore”?


1. Um leitor faz as seguintes ponderações: a) observou que, no Manual de
Redação Jurídica (4ª edição), do autor destas linhas, a expressão pro
labore se encontra registrada ainda em sua forma latina; b) ocorre que o
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela Academia
Brasileira de Letras, já traz o verbete em sua forma aportuguesada, a
saber, pró-labore; c) e, obviamente, quer saber alguma explicação ou
justificativa a esse respeito.
2. Ora, a expressão pro labore – tal como se grafa na origem latina, mas
agora já integrada ao nosso idioma como pró-labore – traduz-se como
pelo trabalho, ou em razão do trabalho, muito usada para indicar a
remuneração ou o ganho que se tem como recompensa pela efetiva
atuação do sócio na sociedade e que se computa nas despesas gerais
desta, diferentemente dos lucros que possam advir como remuneração do
capital, os quais são pagos a todos os sócios, na proporção de sua parcela
no capital social, independentemente de trabalharem na empresa. Ex.
“Os valores de pró-labore foram creditados mês a mês na conta daquele
sócio, enquanto durou a prestação de seus serviços à sociedade”.
3. Importante acrescentar que, nos contratos de prestação de serviços
profissionais de advocacia, tal expressão constitui aquela parcela fixa de
honorários, a ser paga independentemente do resultado da causa, como
remuneração pelo trabalho efetivamente prestado, e contrapõe-se à
parcela ad exitum, a qual significa um valor de risco, que o advogado
receberá ou não, dependendo do sucesso da demanda e, em muitos
casos, na proporção dos resultados auferidos pelo cliente.
4. Por fim, em resposta às judiciosas observações do leitor, fazem-se as
seguintes ponderações: a) a Academia Brasileira de Letras detém a
delegação legal para listar oficialmente as palavras e expressões
existentes em português; b) e ela exerce essa autoridade por via da
edição do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa; c) em sua 2ª
edição (1998, reimpressão em 1999), o VOLP optou por registrar a
expressão pro labore, mas explicitou que ela era alheia ao nosso idioma,
por pertencer ao latim (p. 612); d) por considerada então expressão
latina, era obrigatório o uso de aspas, negrito, itálico, sublinha ou grifo
indicador de tal circunstância, além de proibida a utilização de acento
gráfico e de hífen, que não existiam no idioma de origem; e) em sua 4ª
edição (2004), o VOLP continuou considerando a expressão pertencente
ao latim, mas, em termos de apresentação gráfica, optou por
simplesmente ignorar-lhe o registro no corpo do texto, assim como fez
com todas as expressões pertencentes a outros idiomas; f) a mais recente
edição do VOLP (5ª, de 2009, p. 678), por seu lado, já integrou a
expressão ao vernáculo e lhe conferiu, em português, a forma pró-labore
(exatamente assim com acento no prefixo e hífen entre os elementos da
expressão).

Prolatar
Ver Exarar, prolatar ou proferir sentença? E acórdão? E despacho? (P.
340)

Prolatar acórdão? E despacho? E sentença?


Ver Exarar, prolatar ou proferir sentença? E acórdão? E despacho? (P.
340)

Prolator
1. Etimologicamente, quer dizer proferidor, tendo origem no supino
prolatum do verbo latino profero (proferir).
2. Em Direito, tem o sentido especial e técnico de alguém que profere, de
alguém que é o autor de uma decisão, sentença ou despacho. Ex.: “O
ilustre prolator da respeitável sentença não se houve com o costumeiro
acerto”.
Ver Exarar, prolatar ou proferir sentença? E acórdão? E despacho? (P.
340).

Promotor: Vossa Senhoria ou Vossa Excelência?


1. Em razão das regras de protocolo e de Gramática, importa definir qual o
modo correto de dirigir-se aos membros do Ministério Público em
documento oficial: Vossa Senhoria ou Vossa Excelência?
2. Ora, o pronome de tratamento, também chamado pronome de reverência,
é a maneira formal para dirigir-se a determinadas pessoas no trato cortês
e cerimonioso.
3. À maioria das autoridades se confere o tratamento de Vossa Excelência.
Enquanto isso, reserva-se Vossa Senhoria para o tratamento formal das
pessoas comuns.
4. Os manuais de Gramática, quando tratam especificamente da matéria,
destinam normalmente o tratamento de Vossa Excelência aos membros
do Ministério Público.
5. Confirmando esse posicionamento, tem-se, por exemplo, a Lei
Complementar 75, de 20/5/93, que dispõe sobre o Estatuto do Ministério
Público da União, a qual, em seu art. 19, refere que os membros da
mencionada instituição terão as mesmas honras e o mesmo tratamento
reservados aos magistrados perante os quais oficiem.
6. Ora, sabendo que aos magistrados se destina o tratamento de Vossa
Excelência, não há dificuldade alguma para confirmar que também aos
membros do Ministério Público se há de dispensar a mesma titulação na
linguagem oficial oral ou escrita.
Ver Pronome de tratamento ou Pronome de reverência? (P. 612)

Promover ação contra – Está correto?


Ver Contra ou a favor (P. 228).

Promover ação em face de – Está correto?


Ver Contra ou a favor (P. 228).

Promovidos a
Ver Candidatos a (P. 168).

Pronome – Antes ou Depois do verbo?


1. Um leitor pede explicações sobre a colocação do pronome nos seguintes
exemplos: a) “Nosso pai sempre nos incentivou a ser fortes”; b) “A
miséria compele-nos a não ter prurido”.
2. Comecemos pela observação da realidade de fato do segundo exemplo:
“A miséria compele-nos…”. Nele, podem-se extrair os seguintes
aspectos: a) Nessa oração, o sujeito é a miséria, o verbo é compele, e o
complemento é nos; b) Quando se tem um exemplo nessa ordem, diz-se
que ele está na ordem direta.
3. Quanto às regras de colocação do pronome, faz-se o seguinte raciocínio:
a) O estudo para a colocação do pronome oblíquo átono centra-se no
verbo, que é a base de sustentação sonora para a melhor localização do
pronome (que não tem autonomia sonora); b) Se o pronome vem antes
do verbo, há a próclise (“Ele se despediu”); c) Se o pronome vem no
meio do verbo, há mesóclise (“Ele despedir-se-ia”); d) Se o pronome
vem depois do verbo, há ênclise (“Ele despediu-se”); e) Se, como no
caso, não há palavra atrativa antes do verbo, pode-se usar o pronome,
facultativamente, em próclise ou em ênclise.
4. Vale dizer, na prática: a) “A miséria nos compele…” (correto); b) “A
miséria compele-nos…”.
5. Vamos, agora, ao primeiro exemplo: “Nosso pai sempre nos incentivou
…”. Nele se podem ver os seguintes aspectos: a) O sujeito é nosso pai, o
verbo é incentivou, e o complemento é nos; b) Existe, antes do verbo,
uma daquelas palavras atrativas; c) Especificando melhor, as palavras
atrativas são as negativas (não, nunca, nada, ninguém, jamais, nem), os
advérbios (sempre, frequentemente, ontem, amanhã), os pronomes
relativos (que, o qual, cujo), os pronomes indefinidos (tudo, alguém) e
as conjunções subordinativas (se, quando, conforme, como).
6. Em uma das regras fundamentais de colocação de pronomes, pode-se
dizer que, se existe uma palavra atrativa antes do verbo, é obrigatória a
próclise.
7. Em conclusão prática para o primeiro exemplo: a) “Nosso pai sempre
nos incentivou…” (correto); b) “Nosso pai sempre incentivou-nos…”
(errado).
8. Resumindo as possibilidades para o caso da consulta: a) “A miséria nos
compele a não ter prurido” (correto); b) “A miséria compele-nos a não
ter prurido” (correto); c) “Nosso pai sempre nos incentivou…” (correto);
d) “Nosso pai sempre incentivou-nos…” (errado).
Ver Próclise (P. 603), Ênclise (P. 317) e Próclise ou Ênclise? (P. 604)

Pronome apassivador
1. Também denominado partícula apassivadora.
Ver Voz passiva e Pronome apassivador (P. 791), Voz passiva sintética (P.
794) e Vozes verbais (P. 791).

Pronome átono e Locuções verbais


Ver Pronomes e Locuções verbais (P. 617).

Pronome combinado
Ver Pronome pessoal (P. 614).

Pronome demonstrativo
1. Tanto no tempo quanto no espaço, este indica posição mais próxima da
pessoa que fala (primeira pessoa). Exs.: a) “Estou nesta sala”; b) “Saiu
neste minuto”.
2. Na prática, quando se fala em este, pode-se pensar em aqui. Assim:
“Estou nesta sala aqui”.
3. Já esse indica posição próxima da pessoa com quem se fala (segunda
pessoa), ou mesmo um certo distanciamento da pessoa que fala. Exs.: a)
“Já entrei nesse tribunal”; b) “Ano passado: esse, para mim, foi um dos
anos mais difíceis”.
4. Na prática, quando se fala em esse, pode-se pensar em aí. Assim: “Já
entrei nesse tribunal aí”.
5. Por sua vez, aquele indica posição próxima de quem se fala (terceira
pessoa) ou mesmo distante dos interlocutores (de quem fala e da pessoa
com quem se fala). Exs.: a) “Olhe aquele advogado no carro preto”; b)
“Eu era juiz de primeira entrância; naquela época, tudo era menos
complicado”.
6. Na prática, quando se fala em aquele, pode-se pensar em lá. Assim:
“Olhe aquele advogado lá no carro preto” (s/d, p. 71).
7. No que respeita à proximidade dos objetos ou das pessoas, vale resumir
a questão com o ensinamento de Júlio Ribeiro: “Este indica proximidade
em relação à pessoa que fala; é o demonstrativo da primeira pessoa:
‘esta espingarda’ indica a espingarda que está junto da pessoa que fala.
Esse indica proximidade em relação à pessoa com que se fala: é o
demonstrativo da segunda pessoa: ‘essa faca’ indica a faca que esta
perto da pessoa com quem se fala. Aquele indica distância absoluta ou
proximidade com relação a terceiro; é o demonstrativo da terceira
pessoa: aquele veado indica o veado que se vê ou que se supõe ao longe”
(1908, p. 63).
8. Num segundo aspecto, no interior da frase, este se refere ao elemento
anterior mais próximo; aquele, ao mais distante. Ex.: “O adulto e a
criança têm seus direitos, mas esta exige maiores cuidados do que
aquele”.
9. Ainda no interior da frase, isto, este e esta se referem ao que se vai dizer,
enquanto isso, esse e essa se relacionam ao que já se disse. Exs.: a) “A
nova Constituição traz este preceito: não há possibilidade de
discriminação entre filhos”; b) “Não há possibilidade de discriminação
entre filhos: esse é o preceito da nova Constituição”.
10. Finde-se com a judiciosa observação de Evanildo Bechara: “Nem
sempre se usam com este rigor gramatical os pronomes
demonstrativos; muitas vezes interferem situações especiais que
escapam à disciplina da gramática” (1974, p. 97).
11. Josué Machado (1994, p. 27-9) também deixa claras as funções do
pronome demonstrativo em tais circunstâncias: a) “este está sempre
mais perto de quem fala ou escreve do que esse, por mais perto que
esteja o esse”; b) “quando se usa este ou aquele para referência a
termos ou orações anteriores, este se refere ao mais próximo e aquele
obviamente ao mais afastado”; c) na diferenciação entre o que já se
disse e o que se vai dizer, “este se refere ao futuro, ao que vem abaixo,
a seguir”, e “esse sempre se refere ao passado, ao já dito, que ficou
para trás, ou está acima”.
12. Os textos de lei nem sempre fazem a adequada distinção entre
pronomes, em casos dessa espécie.
13. Veja-se, para exemplo: “Para os efeitos desse artigo, equipara-se ao
‘habite-se’ das autoridades municipais a ocupação efetiva da unidade
residencial” (art. 7º, § 1º, da Lei 4.380, de 21/8/64, que regulamentou
os contratos imobiliários).
14. Tratando-se de um parágrafo inserido no próprio artigo a que se faz
referência, óbvio que o pronome deve ser deste, e não desse.
15. Por fim, indaga-se qual o correto: a) “Nestes termos, pede
deferimento”; b) “Nesses termos, pede deferimento”? Trata-se de
expressão muito usada em petições dirigidas aos juízos e tribunais, e
nelas se pode pensar em dois significados: a) nos termos desta petição,
caso em que nestes termos seria expressão correta por aplicação do
item 1 destas reflexões; b) nos termos que ficaram ditos anteriormente,
hipótese em que nesses termos seria expressão correta por aplicação do
item 9 destas reflexões.
16. Em resumo: a) Nestes termos seria forma correta e significaria nos
termos desta petição; b) Nesses termos seria forma igualmente correta e
significaria nos termos que ficaram ditos anteriormente na petição.
Vale dizer: duas formas gramaticalmente corretas, mas com ligeira
alteração de significado.

Pronome desnecessário – Quando ocorre?


1. Atente-se à frase “É preciso tempo para se fazer alguma coisa”.
2. Com exemplos diários nos jornais e revistas, e também nos bons livros
de doutrina e elevados textos jurídicos, essa sintaxe apresenta, nos
dizeres de Josué Machado, uma “espécie de se inútil, que se gruda como
craca ao infinitivo preposicionado”.
3. Segundo o mesmo observador, “parece que os autores querem
personalizar uma ação que não precisa ser personalizada”, e acabam por
produzir frases como as seguintes: a) “É muito importante se ter
consciência disso”; b) “Era preciso estender esse processo para se
transmitir…”; c) “… a necessidade de se chamar a atenção…”; d) “…
coisas interessantes para se ler…”; e) “… para se assistir com
prazer…”; f) “Não havia razão para se acreditar…”; g) “… o perigo a
se evitar…”; h) “… amontoados para se fazer uma fogueira…”.
4. Lembrando, em continuação, que, “nesses casos, o se não tem função”,
que “não é objeto direto, não é apassivador, não é conjunção, não é nada
do que o se poderia ser”, aconselha tal autor o que deve ser feito em tais
circunstâncias: “É só cortar o se inútil… para ter as frases limpas e claras
(e não para se ter)”.
5. E ultima ele com propriedade: “Basta lembrar que o infinitivo
preposicionado já tem valor passivo, por isso rejeita o se: osso duro de
roer é igual a osso duro de ser roído”.
6. Em outra passagem, complementa esse autor: “O uso do se inútil está tão
disseminado que a maioria dos escribas, locutores e leitores nem
percebe. Nem por isso ele deixa de ser errado… Um jornal, por exemplo,
deu no alto da página o seguinte título em seis colunas: ‘Chances de se
achar os corpos diminui’. Para que será que serve esse se?”
(MACHADO, 1994, p. 30 e 199).

Pronome de tratamento – Diretor de escola


1. Um leitor indaga qual o pronome de tratamento que se deve dar a um
diretor de escola agrotécnica federal.
2. Ora, pronome de tratamento, também denominado pronome de
reverência, é a maneira formal para se dirigir a determinadas pessoas.
3. Para alguns cargos, os pronomes de tratamento são específicos:
arcebispo (Vossa Excelência); bispo (Vossa Excelência); cardeal (Vossa
Eminência); comandante geral da Polícia Militar (Vossa Excelência);
deputado (Vossa Excelência); desembargador (Vossa Excelência);
embaixador (Vossa Excelência); general (Vossa Excelência); governador
de estado (Vossa Excelência); juiz de direito (Vossa Excelência);
ministro de estado (Vossa Excelência); prefeito (Vossa Excelência);
promotor de justiça (Vossa Excelência); reitor de universidade (Vossa
Magnificência); secretário de estado (Vossa Excelência); senador (Vossa
Excelência); vereador (Vossa Excelência).
4. Quando não há forma específica, o tratamento formal se faz com o
pronome genérico Vossa Senhoria, aplicável, por exemplo, ao cônsul, ao
coronel (e patentes a ele subordinadas), aos funcionários públicos de um
modo geral, etc.
5. Com essas premissas, o raciocínio não é difícil para o caso da consulta:
a) Se a escola agrotécnica federal é uma universidade e o diretor
considerado é seu reitor, tem este tratamento específico (Vossa
Magnificência); b) Se não se tratar de uma universidade, ou se o diretor
referido não é seu reitor, como não há previsão de tratamento específico,
cai-se na vala comum, de modo que seu tratamento formal será Vossa
Senhoria.

Pronome de tratamento ou Pronome de reverência?


1. Pronome de tratamento, também chamado pronome de reverência, é a
maneira formal para se dirigir com reverência a determinadas pessoas;
são aqueles pronomes “usados no trato cortês e cerimonioso”
(SACCONI, 1979, p. 62). Ex.: “Sua Excelência, o presidente do
Tribunal de Justiça, honrou-nos com sua visita.”
2. É importante saber alguns cargos e respectivos pronomes de tratamento:
arcebispo (Vossa Excelência); bispo (Vossa Excelência); cardeal (Vossa
Eminência); comandante geral da Polícia Militar (Vossa Excelência);
cônsul (Vossa Senhoria); coronel (Vossa Senhoria); deputado (Vossa
Excelência); desembargador (Vossa Excelência); embaixador (Vossa
Excelência); general (Vossa Excelência); governador de estado (Vossa
Excelência); juiz de direito (Vossa Excelência); marechal (Vossa
Excelência); ministro de estado (Vossa Excelência); prefeito (Vossa
Excelência); promotor de justiça (Vossa Excelência); reitor de
universidade (Vossa Magnificência); secretário de estado (Vossa
Excelência); senador (Vossa Excelência); tenente-coronel (Vossa
Senhoria); vereador (Vossa Excelência).
3. Se se trata alguém por Vossa Excelência, o endereçamento da
correspondência é excelentíssimo, ou, em abreviatura, Exmo.; se se trata
por Vossa Senhoria, o endereçamento é ilustríssimo, ou, de forma
abreviada, Ilmo.
4. No uso dos pronomes de tratamento, quando se fala diretamente à pessoa
tratada (“pessoa com quem se fala”), usa-se “vossa”; quando, porém, se
faz referência à pessoa tratada, mas se conversa com outrem (“pessoa de
quem se fala”), emprega-se “sua”. Exs.: a) “Vossa Excelência, senhor
Deputado, é muito corajoso” (quando se fala com a autoridade); b) “Sua
Excelência, o Deputado Araújo de quem lhe falei há pouco, é muito
corajoso” (quando se fala da autoridade).
5. Em outras palavras: “se a pessoa, a quem se refere o tratamento, está
ausente, isto é, se, em vez de ser o interlocutor (segunda pessoa), for o
assunto (terceira pessoa) – a pessoa de quem se fala – então se
empregará o (pronome) adjetivo Sua, e não Vossa” (GÓIS, 1943, p. 55).
6. Quanto à concordância verbal, embora se trate de pronome da segunda
pessoa (com quem se fala), o pronome de tratamento precedido de vossa
leva o verbo e os demais pronomes para a terceira pessoa (na prática,
substitui-se mentalmente por você). Exs.: a) “Vossa Excelência foi traído
por seus próprios assessores” (correto); b) “Vossa Excelência fostes
traído por vossos próprios assessores” (errado).
7. Anota Carlos Góis (1943, p. 91) que esse idiotismo do português – de
empregar a terceira pessoa pela segunda, com os pronomes de
tratamento seguindo em mesma esteira – é também peculiar ao italiano.
8. Quanto a sua concordância nominal, o pronome de tratamento
harmoniza-se com o sexo da pessoa representada. Exs.: a) “Vossa
Excelência, senhor juiz, é muito corajoso”; b) “Vossa Excelência,
senhora juíza, é muito corajosa”.
9. Nessa esteira, porque o papa é sempre pessoa do masculino, sempre se
dirá “Sua Santidade mostrou-se corajoso em seu pronunciamento”, e
nunca “Sua Santidade mostrou-se corajosa em seu pronunciamento”.
10. Valendo a ponderação também para a concordância nominal, Carlos
Góis (1943, p. 114-5) observa curiosamente que não se há de falar, no
caso, em concordância verbal, mas em discordância do verbo, que é “a
não conformidade literal da flexão do verbo ao número, ou à pessoa do
seu sujeito”, e isso porque, embora se refira à segunda pessoa (o
interlocutor ou a pessoa com quem se fala), o verbo “acomoda-se à
flexão da terceira pessoa”.
11. Podendo-se substituir mentalmente o pronome de tratamento por você,
verifica-se que o vossa que a ele se acopla não define a pessoa em que
se vai conjugar o verbo nem os pronomes que serão utilizados, e é
importante manter a uniformidade de tratamento. Assim, repita-se, o
correto é dizer-se: “Vossa Excelência cumpriu seus compromissos”.
12. Constitui erro crasso falar: “Vossa Excelência cumpriu vossos
compromissos” ou “Vossa Excelência cumpristes vossos
compromissos”.
13. Em outra observação, oportuno é lembrar, com Napoleão Mendes de
Almeida (1981, p. 319), que não tem base gramatical a afirmação de
que se tenha que repetir enfadonhamente o pronome de tratamento,
sem substituí-lo por pronome oblíquo, ou mesmo que, ao menos uma
vez em cada parágrafo, tenha que haver menção a ele. Isso é
invencionice, sem base científica alguma.
14. Pode-se usar, assim, sem temor, o pronome oblíquo no lugar do
pronome de tratamento, já empregado anteriormente, evitando-se
desnecessárias repetições. Exs.: a) “Formulamos-lhe este pedido”; b)
“Vemos qualidades ímpares em sua pessoa”; c) “Pedimos-lhe este
supremo favor”.
15. Nessa esteira, lembra Geraldo Amaral Arruda que “nos ofícios não é…
de rigor que fórmulas protocolares ou de cortesia se repitam
fastidiosamente. Nada obsta a que se use o pronome oblíquo (lhe ou o)
ou os pronomes possessivos, quando couberem, evitando o uso
iterativo das fórmulas. O emprego de pronome oblíquo ou possessivo,
mesmo na linguagem protocolar, é correto… e, por si, tal procedimento
não implica descortesia” (1997, p. 48).
16. Por fim, é de se anotar que escritores ilustres nem sempre escapam de
algum escorregão no campo da concordância do pronome de
tratamento. Narra-se, por exemplo, que, em carta datada de
18/10/1853, Antônio Feliciano de Castilho principiou pelo tratamento
de vossa excelência: “Recebi em tempo próprio a carta com que V.
Exa. me honrou”. Ao longo do texto, porém, acabou ele por mudar o
tratamento para a segunda pessoa do plural: “De todo o coração vos
abraça o vosso respeitador, consócio e amigo obrigadíssimo”.
17. De igual modo, em fala dirigida a Dom Pedro II em 4 de maio de 1889,
Rui Barbosa, a par do tratamento protocolar de Vossa Majestade,
também cometeu idêntico equívoco, que se alastrou por outros de seus
discursos: “Com profundo sentimento de piedade acompanhou esta
Câmara o discurso, que o Ministério acaba de proferir pelos augustos
lábios de Vossa Majestade; e, escutando-o com a reverência devida à
vossa posição…” (BARBOSA apud NUNES, 1938, p. 253-5).
18. Para ambas as situações, como lembrava Horácio, poeta latino, não há
usuário da língua que não cometa equívocos orais ou escritos, e, de
quando em vez, até ilustres escritores claudicam, dormem e ressonam:
“quandoque bonus dormitat Homerus”.
19. Na tentativa de alguma explicação para erros dessa natureza, o que não
os justifica nem os transmuda em formas aceitáveis perante a norma
culta, observa Sousa e Silva que “outrora havia indecisão no emprego
de tais formas, alternando no mesmo escrito Vossa Alteza, por exemplo,
e vós; seu e vosso; etc.” (1958, p. 315).
Ver também Abreviatura, Abreviação e Sigla – O que é e Como usa? (P.
55), Crase proibida (P. 239), Discordância verbal (P. 290) e Uniformidade de
tratamento (P. 751).

Pronome de tratamento – Para pessoas ou para entidades?


1. Um leitor quer saber se é correto o emprego do pronome de tratamento
em relação a órgãos, entidades ou instituições, como no caso de
Meritíssimo Juízo, Meritíssima 1ª Vara do Trabalho, Meritíssima Vara
de Origem.
2. Uma distinção é de relevo nesse assunto: os pronomes de tratamento são
formas com as quais são nomeadas as pessoas. E, no que tange às
autoridades do Poder Judiciário, confere-se o tratamento de Vossa
Excelência para Ministros dos Tribunais Superiores, Membros de
Tribunais, Juízes e Auditores da Justiça Militar. E juiz, aqui incluído,
que tem por sinônimos magistrado e julgador.
3. Enquanto isso, importa observar que juízo, como já sintetizava
Chiovenda, é o próprio tribunal (MARQUES, 2000, p. 368), quer
considerado como órgão julgador, quer tido como estrutura de decisão.
E, para o caso da consulta, uma vara que venha a ser especificada não
deixa de ser uma parte dessa estrutura de decisão, desse órgão julgador.
4. Com esses esclarecimentos, fazem-se as seguintes ponderações: a) um
tratamento como Meritíssimo destina-se às pessoas dos juízes, e não aos
órgãos de atuação por eles ocupados; b) para os juízes, o tratamento é
Vossa Excelência, Excelentíssimo e Meritíssimo; c) para um tribunal,
considerado em seu todo, emprega-se o tratamento de egrégio, que
significa insigne, nobre, eminente, grandemente distinto; d) já para os
órgãos fracionários dos tribunais (câmaras, turmas, seções, varas, etc.),
o tratamento normalmente conferido é colendo; e) essa distinção entre
egrégio e colendo, todavia, nem sempre é respeitada na prática, tanto
assim que o art. 3º, caput, do Regimento Interno do Tribunal de Justiça
do Estado de São Paulo, em redação hoje revogada, assim estatuía: “Têm
o Tribunal e todos os seus órgãos o tratamento de Egrégio…”
5. Com esses conceitos e respondendo, de modo direto, à indagação do
leitor, assim se discrimina: a) em regra que pode ser alargada para outros
setores, os pronomes de tratamento são relacionados a pessoas, e não a
órgãos do Poder Judiciário; b) às pessoas dos juízes, o tratamento a ser
conferido é Vossa Excelência, Excelentíssimo ou Meritíssimo; c) para o
tribunal, considerado em seu todo, o tratamento a ser destinado é
egrégio; d) já para um órgão fracionário do tribunal (câmara, turma,
seção, vara, etc.), o tratamento é colendo; e) essa distinção entre egrégio
e colendo, todavia, nem sempre é respeitada na prática; f) é equivocado,
portanto, o uso de MM. Juízo, MM. 1ª Vara do Trabalho, MM. Vara de
Origem; g) corrija-se para colendo Juízo, colenda 1ª Vara do Trabalho,
colenda Vara de Origem; h) quem se abstiver do purismo da distinção
tradicional também poderá usar egrégio Juízo, egrégia 1ª Vara do
Trabalho, egrégia Vara de Origem.

Pronome oblíquo como possessivo


Ver Lhe por Seu (P. 445).

Pronome pessoal
1. Como a própria expressão sugere, trata-se de palavra que serve para
substituir um nome, a fim de evitar repetições. Ex.: “O juiz decidiu o
caso: sentenciou-o e deu-lhe o tratamento adequado”.
2. Algumas observações, a seguir, são de extrema importância para o uso
diário de tais pronomes.
3. Pronomes do caso reto não funcionam como objeto. Exs.: a) “Vi ele no
fórum” (errado); b) “Vi-o no fórum” (correto).
4. Se preposicionados, os pronomes pessoais ele, ela, eles, elas podem
funcionar como objetos. Ex.: “Dei a ele a atenção que merecia”.
5. Se precedido de todo ou só, lecionam alguns que o pronome pessoal do
caso reto pode funcionar como objeto. Exs.: a) “Vi só ele no fórum”; b)
“Vi todos eles no fórum”.
6. Nesse sentido é o ensinamento de Evanildo Bechara: “o pronome ele, no
português moderno, … aparece como objeto direto, quando precedido de
todo ou só…” (1974, p. 254).
7. Em realidade, talvez por influência de um exemplo como “Ele falou com
nós todos”, em que a presença da palavra reforçativa todos faz com que
se diga com nós e não conosco, como seria normal, se esta última não
existisse (“Ele falou conosco”), alguns são levados a dizer algo como
“Conheço todos eles”.
8. Os casos, entretanto são diversos, e não se há de fazer confusão entre
eles, devendo permanecer o exemplo aqui apreciado na vala dos casos
comuns.
9. Siga-se a lição de Luís A. P. Vitória: “diga-se conheço-os todos.
Ocupando eles o lugar do objeto direto, deverá ser substituído pelo caso
objeto que é os” (1969, p. 58).
10. Também Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 397-8) – que, por um
lado, abre espaço para, na linguagem coloquial informal, “usar os
pronomes eles e elas como objeto direto, quando precedidos de
todos(as): Nós recolhemos todos eles” – observa que “tal permissão,
todavia, não se estende ao padrão mais elaborado de expressão”, pois
“na língua culta se dirá: Nós os recolhemos todos”.
11. Em continuação, os pronomes pessoais eu e tu não podem vir
precedidos de preposição. Exs.: a) “Nada mais há entre tu e eu”
(errado); b) “Nada mais há entre eu e tu” (errado); c) “Nada mais há
entre ti e mim” (correto); d) “Nada mais há entre eu e você” (errado);
e) “Nada mais há entre mim e você” (correto).
12. Em frases como “Ela trouxe os autos para eu ler”, a preposição não
está regendo o pronome eu, mas o verbo ler. Assim, a ligação sintática
é “Trouxe os autos para ler”, e não “Trouxe os autos para mim”.
13. Observe-se, assim, o uso adequado e correto nos exemplos a seguir: a)
“Trouxe os autos para mim” (correto); b) “Trouxe os autos para mim
ler” (errado); c) “Trouxe os autos para eu ler” (correto); d) “Para mim,
ler os autos é tarefa demorada” (correto); e) “Para eu ler os autos,
preciso de umas duas horas” (correto); f) “Ler os autos é tarefa
demorada para mim” (correto).
14. Os pronomes pessoais oblíquos átonos (me, te, se, o, as, nos, vos…)
podem funcionar como sujeitos do infinitivo. Exs.: a) “Deixe-me ler os
autos” (correto); b) “Deixe eu ler os autos” (errado).
15. Os pronomes pessoais si e consigo só podem funcionar como
reflexivos (isto é, só podem ser utilizados como pronomes referentes à
mesma pessoa do sujeito). Exs.: a) “Eu me dirijo a si” (errado); b) “Eu
me dirijo a você” (correto); c) “Ele voltou a si” (correto); d) “Quero
falar consigo” (errado); e) “O advogado reteve consigo os autos por
vários meses” (correto); f) “Quero falar com você” (correto).
16. É correta a repetição, em pleonasmo, de um pronome pessoal oblíquo
átono por um tônico. Ex.: “A mim me parece que o recurso é
intempestivo”.
17. Os pronomes pessoais oblíquos átonos me, te, lhe, nos, vos podem
juntar-se aos pronomes o, a, os, as, dando origem às formas mo, to, lho,
no-lo, vo-lo. Exs.: a) “Estes autos, eu lhos entrego em segundos”; b) “A
causa, ele no-la confiou para defesa em segunda instância”.
18. Os pronomes pessoais oblíquos átonos o, a, os, as funcionam como
objetos diretos; os pronomes lhe e lhes, como objetos indiretos. Exs.: a)
“O juiz sentenciou o caso”; b) “O juiz sentenciou-o”; c) “O documento
pertence aos autos”; d) “O documento pertence-lhes”; e) “Amo
Valquíria de todo o coração: amo-a com ardor” (correto); f) “Amo
Valquíria de todo o coração: amo-lhe com ardor” (errado).
19. Precedidos da preposição com, os pronomes nós e vós formam conosco
e convosco. Permanecem, contudo, as formas com nós e com vós, se
tais pronomes vêm precedidos de outros, todos, mesmos, próprios.
Exs.: a) “O juiz falou com nós” (errado); b) “O juiz falou conosco”
(correto); c) “O juiz falou com vós” (errado); d) “O juiz falou
convosco” (correto); e) “O juiz falou conosco outros” (errado); f) “O
juiz falou com nós outros” (correto); g) “O juiz falou conosco todos”
(errado); h) “O juiz falou com nós todos” (correto); i) “O juiz falou
conosco mesmos” (errado); j) “O juiz falou com nós mesmos” (correto);
k) “O juiz falou conosco próprios” (errado); l) “O juiz falou com nós
próprios” (correto).
Ver Com nós – Existe? (P. 196), Consigo ou Com você? (P. 221), Mo – Está
correto? (P. 476), Si (P. 696) e Voz passiva – Quando é possível? (P. 793)

Pronome possessivo – Artigo antes?


Ver Seu produto ou O seu produto? (P. 696)

Pronome reforçativo
Ver Seu dele – Está correto? (P. 695)

Pronome relativo – Concordância verbal


1. Um leitor traz à consulta o seguinte exemplo: “Buscam reparação dos
prejuízos relativos às despesas de franquia do seguro dos autores, que
totaliza(m) R$ 2.100,00, despesas processuais e demais cominações
legais”. E indaga se o verbo totalizar deve ser posto no singular ou no
plural.
2. Ora, quando se pergunta se o verbo fica no singular ou vai para o plural,
tem-se, em suma, uma questão de concordância verbal.
3. E a regra mais básica da concordância verbal se resume em dizer que o
verbo concorda com o seu sujeito.
4. Para tanto, no caso, deve-se dividir o período em suas respectivas
orações, cada qual com seu respectivo verbo: a) a primeira oração é
“Buscam reparação dos prejuízos relativos às despesas de franquia do
seguro dos autores”; b) a segunda oração é “que totaliza(m) R$
2.100,00, despesas processuais e demais cominações legais”.
5. Sem necessidade de muitas perquirições, vê-se que, para saber se o
verbo totaliza(m) fica no singular ou vai para o plural, a chave reside em
se perguntar exatamente pelo seu sujeito.
6. Ora, porque totaliza(m) está na segunda oração, devemos cingir-nos aos
termos dela, para identificar a função sintática e a eventual flexão de
qualquer termo nela existente.
7. Com essa tônica, em seguida, nota-se que o que existente na segunda
oração pode ser substituído por o qual, a qual, os quais, as quais.
Conclui-se que é, assim, um pronome relativo.
8. E, quanto ao pronome relativo, fazem-se as seguintes ponderações: a)
chama-se pronome porque está em lugar de um nome; b) diz-se relativo,
porque está em íntima relação com um nome anteriormente referido; c)
para se saber a função sintática exercida por um pronome relativo na
segunda oração, é de crucial importância definir o nome existente na
primeira oração, em cujo lugar ele se encontra.
9. No caso, o próprio contexto revela com facilidade que, dos nomes
existentes na primeira oração, o que pode estar em lugar de reparação,
de prejuízos, ou mesmo de despesas.
10. Em seguida, com a recolocação do nome que foi substituído pelo
pronome relativo, o período fica do seguinte modo: “Buscam
reparação dos prejuízos relativos às despesas…, a qual reparação, ou
os quais prejuízos, ou as quais despesas totaliza(m) …”
11. E, em seguida, formula-se a pergunta para se achar o sujeito de
totaliza(m): o que é que totaliza? E a resposta vem com facilidade: a
qual reparação, ou os quais prejuízos, ou as quais despesas. Ou seja: o
que (que substitui reparação, prejuízos, ou despesas) é o sujeito de
totaliza(m). E, porque substitui um nome do singular ou um nome do
plural, tanto se pode dizer que o que está no singular como que está no
plural.
12. E, assim: se se pode entender que o sujeito de totaliza(m) tanto pode
estar no singular como no plural, então se conclui que o verbo tanto
pode ficar no singular como ir para o plural, conforme o sentido que se
queira fixar.
13. Vejam-se, portanto, os seguintes exemplos, com a indicação e a
explicação de sua correção entre parênteses: a) “Buscam reparação dos
prejuízos relativos às despesas de…, que totaliza…” (correto, por se
entender que o que substitui reparação); b) “Buscam reparação dos
prejuízos relativos às despesas de…, que totalizam…” (correto, por se
entender que o que substitui prejuízos ou despesas).
Ver Concordância verbal (P. 212).

Pronome relativo – Cujo ou De cujo?


1. Uma leitora estudou bastante a questão do pronome relativo
preposicionado, mas não conseguiu distinguir por que, nos dois
seguintes exemplos, ambos extraídos de concurso público, o segundo
está correto, enquanto o primeiro está errado: a) “As propostas, ‘de cuja’
falta sentiu Mário Campana, eram, na verdade, inúmeras e
contrastantes”; b) “Os impulsos missionários, ‘de que’ o autor não se
mostra carente, poderiam levá-lo a combater a fome do mundo”.
2. Fixem-se, de início, duas premissas importantes: a) se funciona como
complemento, o pronome relativo depende totalmente da regência do
verbo ao qual se liga; b) se vai haver ou não preposição antes de tal
pronome, ou qual vai ser essa preposição, tudo depende do verbo que
está sendo completado por ele. Exs.: i) “Editou-se uma lei em que
acreditamos, com que simpatizamos e por que lutamos” (acreditar em,
simpatizar com e lutar por); ii) “Fazer da aplicação da lei a arte de
distribuir justiça é o ideal a que aspiramos e em que nos comprazemos”
(aspirar a e comprazer-se em).
3. Com essas premissas, passa-se à análise do segundo exemplo (“Os
impulsos missionários, de que o autor não se mostra carente, poderiam
levá-lo a combater a fome do mundo”): a) um pronome relativo começa
uma segunda oração; b) essa oração, no caso, é “de que o autor não se
mostra carente”; c) a ordem direta dessa segunda oração é “o autor não
se mostra carente de que” (isto é, não se mostra carente dos quais
impulsos missionários); d) como não é difícil perceber, o que substitui a
expressão impulsos missionários, referida na oração anterior; e) em
outros dizeres, tal pronome substitui um substantivo anteriormente
referido, com o qual se relaciona; f) porque substitui um nome, chama-se
pronome; g) porque representa esse nome em outra oração e a ele está
relacionado, chama-se pronome relativo; h) muito embora substitua um
nome referido na oração anterior, sua função sintática fica na total
dependência daquilo que tal pronome significa para a oração em que ele
se situa; i) ora, quem se mostra carente, mostra-se carente “de” alguma
coisa, ou, mais especificamente, mostra-se carente dos quais impulsos
missionários; j) por isso é que a forma correta é exatamente aquela
trazida pelo exemplo, a saber, “de que o autor não se mostra carente”.
4. Em continuação, estabeleçam-se três premissas adicionais para a
compreensão do pronome relativo cujo: a) no português atual, esse
pronome sempre acompanha um substantivo, de modo que não serve
para substituí-lo; b) esse pronome relativo traz embutida em si a ideia da
preposição de, que não vem escrita (no exemplo “Esta é uma lei cujos
dispositivos são claros”, o sentido é “Esta é uma lei da qual os
dispositivos são claros”, embora esse último exemplo não esteja correto
quanto à Gramática); c) o pronome relativo cujo até pode ter preposição
antes de si, mas tal preposição vai reger o termo que vem depois do
pronome (como no exemplo “Esta é uma lei em cujas disposições não
acreditamos, com cuja finalidade não simpatizamos e de cujos dizeres
discordamos, mas a cujas determinações obedecemos para a
manutenção do estado de direito”).
5. Com essas premissas, segue-se a análise do primeiro exemplo (“As
propostas, ‘de cuja’ falta sentiu Mário Campana, eram, na verdade,
inúmeras e contrastantes”): a) como pronome relativo, cuja também
começa uma segunda oração; b) no caso, a segunda oração é “de cuja
falta sentiu Mário Campana”; c) a ordem direta dessa oração é “Mário
Campana sentiu de cuja falta”; d) ora, quem sente, sente alguma coisa;
e) no caso, sente falta (um complemento sem preposição); f) o
substantivo falta é que pede um complemento regido pela preposição de;
g) ocorre, porém, que o pronome relativo cujo já tem embutida em si a
ideia da preposição de; h) então, no caso, a preposição está sobrando; i)
o exemplo correto, portanto, é “As propostas, cuja falta sentiu Mário
Campana, eram, na verdade, inúmeras e contrastantes”.

Pronome relativo preposicionado


1. Aspecto interessante, quanto a esse tópico, diz respeito à regência verbal.
2. Se funciona como complemento, o pronome relativo depende totalmente
da regência do verbo ao qual se liga.
3. Assim, se vai ou não haver preposição antes do pronome, ou qual vai ser
essa preposição, tudo depende do verbo que está sendo completado pelo
pronome. Vejam-se os exemplos: a) “Editou-se uma lei em que
acreditamos, com que simpatizamos e por que lutamos” (acreditar em,
simpatizar com e lutar por); b) “Fazer da aplicação da lei a arte de
distribuir justiça é o ideal a que aspiramos, com que simpatizamos e em
que nos comprazemos” (aspirar a, simpatizar com e comprazer-se em).
4. Assim é a lição de Sousa e Silva a esse respeito: “Nas orações adjetivas
cujo pronome relativo não funcione como sujeito, se o verbo exigir
alguma preposição, coloca-se esta antes do relativo”. Exs.: a)
“Atualmente, os meios de que dispomos…”; b) “Fui traído pelos amigos
em quem mais confiava”; c) “… em relação àquele a quem devia
respeito e admiração”; d) “É um monumento de que todos os brasileiros
se orgulham” (dispor de, confiar em, dever respeito e admiração a,
orgulhar-se de).
5. Num segundo aspecto, lembra tal autor que (SILVA, A., 1958, p. 230-3),
“se o relativo for o adjetivo (atualmente pronome adjetivo) cujo, a
construção gramatical é idêntica”. Exs.: a) “… eram R. S. e um pretinho
de cujo nome não se lembra” (lembrar-se de).
Ver Cujo (P. 242).

Pronome relativo – Quando antepor uma preposição?


1. Uma leitora traz o que, aparentemente, é uma questão de concurso. O
gabarito deu como correta a alternativa e. Pareceu a ela, entretanto, que
essa resposta não é a correta. Veja-se a questão: “O que devidamente
empregado só não seria regido de preposição na opção: a) ‘O cargo ___
aspiro depende de concurso.’ b) ‘Eis a razão ___ não compareci.’ c) ‘Rui
é o orador ___ mais admiro’. d) ‘O jovem ___ te referiste foi reprovado’.
e) ‘Ali está o abrigo ___ necessitamos.’”
2. Fixem-se, de início, duas premissas importantes: a) se funciona como
complemento, o pronome relativo depende totalmente da regência do
verbo ao qual se liga; b) se vai haver ou não preposição antes de tal
pronome, ou qual vai ser essa preposição, tudo depende do verbo que
está sendo completado por ele. Exs.: i) “Editou-se uma lei em que
acreditamos, com que simpatizamos e por que lutamos” (acreditar em,
simpatizar com e lutar por); ii) “Fazer da aplicação da lei a arte de
distribuir justiça é o ideal a que aspiramos e em que comprazemos”
(aspirar a e comprazer-se em).
3. No exemplo da primeira alternativa – “O cargo ___ aspiro depende de
concurso” – pode-se desenvolver o seguinte raciocínio: a) o pronome
relativo completa o verbo aspirar; b) tal verbo, nesse sentido de
pretender, desejar, almejar, é transitivo indireto e pede a preposição a; c)
a formulação correta do exemplo, então, é “O cargo a que aspiro
depende de concurso”.
4. Na segunda alternativa – “Eis a razão ___ não compareci” – assim se
deve raciocinar: a) o pronome relativo completa o verbo comparecer; b)
ora, quem não comparece, não comparece por alguma razão; c) o
raciocínio deixa clara a necessidade da presença da preposição por; d) o
exemplo completo será, assim, “Eis a razão por que não compareci”.
5. Na terceira – “Rui é o orador ___ mais admiro” – assim se desenvolve o
pensamento: a) o pronome relativo completa o verbo admirar; b) quem
admira, admira algo ou alguém; c) vale dizer, o verbo admirar pede um
objeto direto, ou seja, um complemento sem preposição alguma; d) o
exemplo completo, então, é “Rui é o orador que mais admiro”.
6. Em sequência, na quarta alternativa – “O jovem ___ te referiste foi
reprovado” – assim flui o raciocínio: a) o pronome relativo completa o
verbo referir-se; b) ora, quem se refere, refere-se a alguém ou a algo; c)
isso quer significar que tal verbo pede um complemento regido pela
preposição a; d) o exemplo completo, então, é “O jovem a que te
referiste foi reprovado”.
7. O exemplo da última alternativa – “Ali está o abrigo ___ necessitamos”
– deve ser assim analisado: a) o pronome relativo completa o verbo
necessitar; b) quem necessita, necessita de alguém ou de algo; c) exige
ele um complemento regido pela preposição de; d) o exemplo completo,
desse modo, é “Ali está o abrigo de que necessitamos”.
8. Feita essa análise, conclui-se que o pronome relativo, nos exemplos
dados, apenas não será regido por preposição na alternativa c. Se o
gabarito apontou a alternativa e, obviamente incorreu em erro.

Pronomes e Locuções verbais


1. Como regra, as palavras em Português têm uma de suas sílabas
pronunciada com mais força (sílaba tônica) do que as outras, que são
fracas (sílabas átonas). A exceção fica para alguns monossílabos e raros
dissílabos, nos quais não há sílabas tônicas, mas apenas átonas.
2. Quanto aos vocábulos átonos, estes, na pronúncia, postam-se sempre na
dependência sonora de uma sílaba tônica. Assim, quando se diz “Passe-
me o pão, por favor”, percebe-se com clareza tal fenômeno, a ponto de,
na pronúncia, serem identificadas apenas três palavras, e não seis:
“Pásseme opão, porfavor”.
3. Quanto aos pronomes pessoais oblíquos átonos, exatamente por não
terem autonomia sonora, dependem do verbo por eles acompanhado,
cingindo-se a questão a verificar onde a sonoridade melhor aconselha
seu posicionamento: a) em próclise (antes do verbo), como em “O juiz
não se conteve”; b) em mesóclise (no meio do verbo), como em
“Realizar-se-á o júri, como previsto”; c) em ênclise (depois do verbo),
como em “Conteve-se o advogado…”
4. Estudar o melhor lugar para o pronome em relação ao verbo, em tais
casos, é assunto para a topologia pronominal ou colocação dos
pronomes.
5. De modo mais específico para o caso em estudo, é de se ver que, nas
locuções verbais (dois ou mais verbos fazendo o papel de um só), três
são as hipóteses, em tese, de colocação dos pronomes: a) em próclise ao
verbo auxiliar, como em “Eu lhes estou mostrando meu trabalho”; b) em
ênclise ao verbo auxiliar, como em “Eu estou-lhes mostrando meu
trabalho”; c) em ênclise ao verbo principal, como em “Eu estou
mostrando-lhes meu trabalho”.
6. Não se olvide, ademais, que, nos casos até aqui considerados, o pronome
não se refere ao verbo auxiliar ou verbo principal separadamente, mas
completa a locução verbal como um todo. Exs.: a) “As situações estão-se
desenvolvendo perpetuamente” (a locução é estão desenvolvendo); b)
“Vou-lhe permitir sair mais cedo” (a locução é vou permitir); c) “Quer-
me fazer o favor de sair?” (a locução é quer fazer).
7. E se veja que tal caso é totalmente diferente da mera justaposição de dois
verbos autônomos, que não compõem uma locução verbal, em que a
colocação de pronomes deve estudar cada verbo com seu respectivo
pronome. Ex.: “Saiu, fazendo-me ameaças” (saiu e fazendo são verbos
autônomos e integram até mesmo orações distintas: saiu e fez-me
ameaças).
8. À possibilidade de vir o pronome pessoal oblíquo átono a ocupar mais
de uma posição na frase, sem prejuízo de sentido e sem transgressão da
disciplina gramatical, Carlos Góis denomina “tipos sintáticos
equivalentes de topologia pronominal”, o qual, entretanto, ressalva que,
se, com a alteração de posicionamento do pronome no período, “o
sentido for diferente, não haverá tipo sintático equivalente”, como é o
caso dos seguintes exemplos (GÓIS, 1945, p. 135-6): a) “Cumpre-lhe
dizer” (isto é, Cumpre a ele dizer); b) “Cumpre dizer-lhe” (isto é,
Cumpre dizer a ele); c) “Mandou-me arrolar” (o me é agente de
arrolar); d) “Mandou arrolar-me” (o me é paciente).
9. Acrescente-se a essas anotações iniciais uma primeira observação de
Pasquale Cipro Neto e Ulisses Infante para a colocação dos pronomes
nas locuções verbais e tempos compostos: “a tendência brasileira é
colocar o pronome antes do verbo principal”, mas ele “também pode
surgir em outras posições” (CIPRO NETO; INFANTE, 1999, p. 559).
Exs.: a) “Eu lhes estou mostrando meus trabalhos”; b) “Eu estou-lhes
mostrando meus trabalhos”; c) “Eu estou mostrando-lhes meus
trabalhos”.
10. Num segundo aspecto, para tais autores, “o uso do hífen nos casos em
que o pronome aparece em posição intermediária é considerado
optativo”. Exs.: a) “Eu estou-lhes mostrando meus trabalhos”; b) “Eu
estou lhes mostrando meus trabalhos”. Justificam eles que (CIPRO
NETO; INFANTE, 1999, p. 559), “na verdade, a primeira forma tende
a representar a fala lusitana, que encosta o pronome no verbo auxiliar
(‘Eu estou-lhes…’), enquanto a segunda forma tende a representar a
fala brasileira, que encosta o pronome no verbo principal (‘… lhes
mostrando’)”.
11. Esse, todavia, não é o entendimento da grande maioria dos estudiosos,
começando por Júlio Nogueira (1939, p. 232), em lição para o
gerúndio, mas que pode ser estendida para o infinitivo e para o
particípio, como verbos principais da locução: “No caso de estar o
gerúndio constituindo tempo composto com outro verbo, a partícula
pode ficar em várias posições… Não deve, porém, … ficar solta antes
do gerúndio (os visitantes foram se aproximando)”.
12. Ainda sobre o assunto, assim observa Aires da Mata Machado Filho
(1969h, p. 1.392-3): a) “escritores brasileiros há que preferem deixar o
pronome átono solto entre os elementos constitutivos de locução verbal
e da conjugação de tempos compostos”; b) quando se posiciona depois
do auxiliar ou depois do principal, o pronome átono vem “sempre a
eles ligado por hífen”; c) a ênclise ao auxiliar, nesses casos, não
dispensa o traço de união entre o auxiliar e o pronome átono, sob pena
de se relacionar, indevidamente, o pronome em próclise ao verbo
principal. Exs.: i) “A natureza inteira estava-lhe dando uma festa”
(correto); ii) “A natureza inteira estava lhe dando uma festa” (errado);
iii) “A natureza inteira estava dando-lhe uma festa” (correto); iv) “A
natureza inteira estava dando lhe uma festa” (errado).
13. Nesse mesmo sentido, leciona Édison de Oliveira (s/d, p. 119): a) “o
pronome oblíquo não pode ficar solto entre dois verbos”; b) está,
assim, errada a construção “Os torcedores foram se retirando”; c) em
tal caso, “reúne-se o pronome oblíquo à forma verbal anterior”; d)
corrige-se a frase apontada para “Os torcedores foram-se retirando”.
14. De Carlos Góis também é idêntico ensino para a grafia do pronome,
quando posto em ênclise ao auxiliar: “O traço de união (hífen ou tirete)
assinala que até eles se estende a acentuação do verbo. Constitui por
isso grave erro omiti-lo: havia lhe dito por havia-lhe dito” (1945, p.
69).
15. Ante tais lições, no que concerne a textos que devam submeter-se à
norma culta, o melhor é seguir o ensino da quase totalidade dos
estudiosos, de modo que, em termos bem práticos, atente-se aos
seguintes exemplos, com a indicação do acerto ou erronia da colocação
dos pronomes átonos: a) “As situações se estão desenvolvendo…”
(correto); b) “As situações estão-se desenvolvendo…” (correto); c) “As
situações estão se desenvolvendo…” (errado); d) “As situações estão
desenvolvendo-se…” (correto); e) “As situações estão desenvolvendo
se…” (errado); f) “Eu lhe vou permitir sair mais cedo” (correto); g)
“Eu vou-lhe permitir sair mais cedo” (correto); h) “Eu vou lhe permitir
sair mais cedo” (errado); i) “Eu vou permitir-lhe sair mais cedo”
(correto); j) “Eu vou permitir lhe sair mais cedo” (errado); k) “Você me
quer fazer o favor de sair?” (correto); l) “Você quer-me fazer o favor
de sair?” (correto); m) “Você quer me fazer o favor de sair?” (errado);
n) “Você quer fazer-me o favor de sair?” (correto); o) “Você quer fazer
me o favor de sair?” (errado)
Para estudo mais aprofundado, observar os verbetes específicos:
Pronomes e Locuções verbais (principal no gerúndio) (P. 618), Pronomes
e Locuções verbais (principal no infinitivo) (P. 620) e Pronomes e
Locuções verbais (principal no particípio) (P. 622).

Pronomes e Locuções verbais (principal no gerúndio)


1. No estudo desse problema, o melhor é dedicar-se, por primeiro, às regras
gerais de colocação dos pronomes, aos casos específicos de ênclise,
mesóclise e próclise, e aos casos em que se admite optativamente
próclise ou ênclise, e, só depois, observar o uso de tais pronomes nas
locuções verbais (dois ou mais verbos fazendo o papel de um só).
2. Quando se tem a frase “O réu estava dizendo-nos alguma coisa”, tem-se
uma locução verbal com um verbo auxiliar (estava) e um principal no
gerúndio (dizendo); e a questão é saber qual a posição em que há de estar
corretamente situado o pronome pessoal oblíquo átono (nos): antes do
auxiliar (“O réu nos estava dizendo alguma coisa”), entre o auxiliar e o
principal (“O réu estava-nos dizendo alguma coisa”), ou após o principal
(“O réu estava dizendo-nos alguma coisa”).
3. Fixada, por um lado, a premissa de que a questão não tem a unanimidade
de posicionamento entre os gramáticos, Luiz Antônio Sacconi observa
que, quando não há palavra atrativa antes da locução, admitem-se apenas
dois posicionamentos do pronome átono – ênclise ao auxiliar e ênclise
ao gerúndio – acrescentando tal gramático que, se há palavra atrativa,
deve o pronome vir em próclise ao auxiliar.
4. Mas esse mesmo autor adverte que, entre nós, independentemente de
haver ou não palavra atrativa, parece generalizada “apenas a ênclise ao
auxiliar” (SACCONI, 1979, p. 235).
5. Já para Silveira Bueno, se, numa locução verbal, alguém pospusesse o
pronome átono ao verbo principal no gerúndio, “mereceria cadeia”
(1938, p. 78).
6. Da análise do que normalmente se vê em nossos autores, todavia, parece
possível estabelecer uma primeira regra de que, se não há palavra
atrativa (ver casos de próclise), qualquer das três posições é
perfeitamente defensável: antes do auxiliar, entre o auxiliar e o principal
e após o principal. Exs.: a) “Parece que a natureza inteira lhe estava
dando uma festa” (Almeida Garrett); b) “Não só as relações foram-se
tornando melindrosas, mas eu estava ansioso por tornar à corte”
(Machado de Assis); c) “… árvore solitária, que vinha alongando-se”
(José de Alencar).
7. Mostrando preferência, mas não radicalismo, leciona Alfredo Gomes
(1924, p. 348) que “o pronome pessoal objeto coloca-se
ordinariamente… depois do auxiliar nos tempos compostos”, mas tal
posicionamento não é ortodoxo, admitindo outras colocações. Exs.: a)
“A história se foi coligindo” (Almeida Garrett); b) “Vou-me recobrando
do susto”.
8. Assim resume a questão Júlio Nogueira (1939, p. 232): “No caso de
estar o gerúndio constituindo tempo composto com outro verbo, a
partícula pode ficar em varias posições: ‘Os visitantes foram-se
aproximando’, ‘Os visitantes se foram aproximando’ e até ‘Os visitantes
foram aproximando-se’. Não deve, porém, a partícula ficar solta antes do
gerúndio (Os visitantes foram se aproximando)”.
9. Oportuno evidenciar, por primeiro, que, se a colocação antes do auxiliar
coincide com o começo da frase, óbvio que não se permite tal colocação.
Exs.: a) “Lhe estava dando uma festa a natureza inteira” (errado); b) “A
natureza inteira lhe estava dando uma festa” (correto).
10. Da própria observação dos exemplos dos melhores autores, por outro
lado, também parece possível estabelecer a regra de que, se há palavra
atrativa antes da locução, não se coloca o pronome entre o auxiliar e o
principal. Exs.: a) “Os visitantes não se iam aproximando” (correto); b)
“Os visitantes não iam-se aproximando” (errado); c) “Os visitantes não
iam aproximando-se” (correto).
11. Sousa e Silva, a esse respeito, é ainda mais restritivo: “Com as
conjugações compostas de dois verbos em que o principal estiver no
gerúndio, colocar-se-á o pronome antes do auxiliar, se houver alguma
das palavras que determinam a próclise com as conjugações
simples…” (1958, p. 62).
12. Em casos dessas locuções, se o auxiliar está no futuro do presente ou
no futuro do pretérito, valem as regras já referidas, apenas com a
ressalva de que, com essas formas verbais, nunca se dá a ênclise ao
auxiliar, posição essa que deve ser substituída pela mesóclise. Assim:
a) “O magistrado estar-lhe-ia dizendo toda a verdade” (correto); b) “O
magistrado estaria-lhe dizendo toda a verdade” (errado).
13. Em pertinente observação na sequência, Aires da Mata Machado Filho
(1969h, p. 1.392-3) – esclarecendo que “escritores brasileiros há que
preferem deixar o pronome átono solto entre os elementos constitutivos
de locução verbal e da conjugação de tempos compostos” – anota que,
quando se posiciona depois do auxiliar ou depois do principal, o
pronome átono vem “sempre a eles ligado por hífen”, acrescentando
que a ênclise ao auxiliar, nesses casos, não dispensa o traço de união
entre o auxiliar e o pronome átono, sob pena de se relacionar,
indevidamente, o pronome em próclise ao verbo principal. Exs.: a) “A
natureza inteira estava-lhe dando uma festa” (correto); b) “A natureza
inteira estava lhe dando uma festa” (errado); c) “A natureza inteira
estava dando-lhe uma festa” (correto); d) “A natureza inteira estava
dando lhe uma festa” (errado).
14. Nesse mesmo sentido leciona Édison de Oliveira (s/d, p. 119): “o
pronome oblíquo não pode ficar solto entre dois verbos”, motivo por
que está errada a seguinte construção: “Os torcedores foram se
retirando”; e, observando que, em tal caso, “reúne-se o pronome
oblíquo à forma verbal anterior”, manda assim corrigir tal frase o
referido autor: “Os torcedores foram-se retirando”.
15. De Carlos Góis também se origina idêntico ensinamento para a grafia
do pronome, quando posto em ênclise ao auxiliar: “O traço de união
(hífen ou tirete) assinala que até eles se estende a acentuação do verbo.
Constitui por isso grave erro omiti-lo: havia lhe dito por havia-lhe
dito” (1945, p. 69).
16. A essa possibilidade de que o pronome pessoal oblíquo átono venha a
ocupar mais de uma posição na frase, sem prejuízo de sentido e sem
transgressão da disciplina gramatical, Carlos Góis denomina “tipos
sintáticos equivalentes de topologia pronominal”.
17. Ressalva ele, entretanto, que, se, com a alteração de posicionamento do
pronome no período, “o sentido for diferente, não haverá tipo sintático
equivalente”, como é o caso dos seguintes exemplos (GÓIS, 1945, p.
135-6): a) “Cumpre-lhe dizer” (isto é, cumpre a ele dizer); b) “Cumpre
dizer-lhe” (isto é, cumpre dizer a ele); c) “Mandou-me arrolar” (o me é
agente); d) “Mandou arrolar-me” (o me é paciente).
18. Em continuação, para se retirar a questão do campo do dogmatismo e
da inflexibilidade, parece plenamente válida a observação de Mário
Barreto, para quem “a colocação dos pronomes atônicos não se resolve
pela análise lógica, mas sim pela fonética” (1954b, p. 49-50).
19. Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 232-3), em achegas para o assunto,
observa aspectos importantes, que, a par de algumas regras ditadas pela
observação do uso eufônico nos casos mais comuns, devem servir de
norte, a fim de que não se veja na questão de colocação de pronomes
um acervo de aspectos dogmáticos, mas tendências e preocupação com
a eufonia: a) trouxe posicionamento de Antenor Nascentes no sentido
de que as formas oblíquas dos pronomes pessoais colocam-se onde o
escritor quiser, antes ou depois do verbo; b) do mesmo mestre, trouxe o
posicionamento no sentido de que não há colocações erradas – com
exceção das que raiarem pelo absurdo – mas colocações elegantes ou
deselegantes, conforme o critério de cada um; c) de Sílvio Romero,
com a largueza de vistas que a este caracterizava, lembrou a passagem
em que recebia Euclides da Cunha na Academia Brasileira de Letras,
quando afirmou preferir os escritores que colocam bem as ideias aos
que colocam bem os pronomes.
20. Parece que a questão da colocação dos pronomes oblíquos átonos nas
locuções em que o verbo principal esteja no gerúndio pode ser
resumida do seguinte modo: a) se não há palavra atrativa antes do
auxiliar (ver casos de próclise), qualquer das três posições é
perfeitamente defensável – o pronome pessoal oblíquo átono pode vir
antes do auxiliar, entre o auxiliar e o principal e após o principal; b) se
a colocação antes do auxiliar coincide com o começo da frase, não está
ela permitida, pelo simples motivo de que um pronome dessa natureza
não começa frase; c) se antes da locução há uma palavra atrativa, não
se coloca o pronome entre o auxiliar e o principal, restando apenas as
duas outras possibilidades – próclise ao auxiliar e ênclise ao principal;
d) se o auxiliar está no futuro do presente ou no futuro do pretérito,
valem as regras já referidas, apenas com a ressalva de que, com essas
formas verbais, nunca se dá a ênclise ao auxiliar, devendo essa
possibilidade, por conseguinte, ser adaptada para mesóclise ao auxiliar;
e) quando se posiciona depois do auxiliar ou após o principal, o
pronome átono vem sempre ligado a tais verbos por hífen.
Ver Verbo seguido de pronome (P. 763).

Pronomes e Locuções verbais (principal no infinitivo)


1. Para quem quer fixar esta questão, melhor é que se dedique, por
primeiro, à verificação das regras gerais de colocação dos pronomes, dos
casos específicos de ênclise, mesóclise e próclise, e dos casos em que se
admite optativamente próclise ou ênclise, e que, só então, atente ao uso
de tais pronomes nas locuções verbais (dois ou mais verbos fazendo o
papel de um só).
2. Quando se tem a frase “O réu quer dizer-nos alguma coisa”, tem-se uma
locução verbal composta por um verbo auxiliar (quer) e um principal no
infinitivo (dizer); e a questão é saber qual a posição em que há de estar
corretamente colocado o pronome pessoal oblíquo átono (nos): antes do
auxiliar (“O réu nos quer dizer alguma coisa”), entre o auxiliar e o
principal (“O réu quer-nos dizer alguma coisa”), ou após o principal (“O
réu quer dizer-nos alguma coisa”).
3. Carlos Góis (1945, p. 114-5), sem trazer qualquer fundamento para sua
asseveração – o que confere ao indigitado ensino o consequente matiz de
mera preferência – leciona que “a construção com o pronome no meio
(‘deve-se dizer a verdade’, ‘podem-se ocultar as provas’), conquanto
não seja incorreta, é menos boa”.
4. Já para Alfredo Gomes (1924, p. 348), “o pronome pessoal objeto
coloca-se ordinariamente… depois do auxiliar nos tempos compostos”,
mas tal posicionamento não é ortodoxo, admitindo outras colocações.
5. Em realidade, muito embora seja mais comum a colocação antes do
auxiliar ou depois do principal, Eduardo Carlos Pereira (1924, p. 252-3),
para os casos normais, lembra a possibilidade genérica das três
colocações do pronome átono: antes do auxiliar, após o auxiliar e após o
principal. Exs.: a) “A testemunha nos pode esclarecer a verdade”; b) “A
testemunha pode-nos esclarecer a verdade”; c) “A testemunha pode
esclarecer-nos a verdade”.
6. Lembra Otoniel Mota (1916, p. 184) que, “com um infinito a que se
junta um auxiliar, a colocação pronominal mais elegante e mais
empregada pelos bons autores modernos é a enclítica a ambos os verbos:
‘quero dizer-vos’. No português arcaico predomina a colocação de
permeio”, entre o auxiliar e o principal (quero-vos dizer).
7. Sobre o uso de ênclise do pronome ao infinitivo em Portugal, em casos
dessa natureza, de Cândido de Figueiredo (1937, p. 80-1) é oportuna
lição: “afinal, tão portuguesa é a expressão que deve rejeitar-se, como
esta outra: que se deve rejeitar, embora eu prefira esta, por me parecer
mais espontânea, mais nacional… de cá, e talvez mais clássica”, não sem
reiterar em acréscimo tal gramático sua crença de serem “legítimas as
duas variantes”.
8. Se o pronome começa a frase, vedada está a possibilidade de vir ele
antes do auxiliar, sob pena de contrariar princípio básico de colocação de
pronomes oblíquos átonos, segundo o qual eles não começam frase.
Exs.: a) “O magistrado lhe queria falar” (correto); b) “Lhe queria falar
o magistrado” (errado).
9. Se há palavra atrativa antes da locução, não se coloca o pronome entre o
auxiliar e o principal. Exs.: a) “O magistrado não lhe quer falar”
(correto); b) “O magistrado não quer-lhe falar” (errado); c) “O
magistrado não quer falar-lhe” (correto).
10. Vale aqui a lição de Aires da Mata Machado Filho: “Se houver motivo
de próclise, ajusta-se a duas colocações: anterior à locução ou posterior
ao verbo principal… É errado escrever não posso-te ensinar…”
(1969h, p. 1.392).
11. Em idêntico sentido é a lição de Laudelino Freire: “Nas frases em que
figura o infinitivo precedido de auxiliar, vindo este precedido da
negativa, ou do pronome relativo, os pronomes complementos,
inclusive o se como partícula apassivante, ou virão depois do infinitivo,
ou antes do auxiliar, e nunca entre o auxiliar e o infinitivo” (s/d, p. 17).
12. Também assim é a lição de Sousa e Silva: “Com as conjugações
compostas de dois verbos em que o principal estiver no infinito,
colocar-se-á o pronome antes do auxiliar ou depois do infinitivo, se
houver alguma das palavras que determinam a próclise com as
conjugações simples…; no caso contrário, será inteiramente facultativa
a colocação” (1958, p. 62).
13. Em tais hipóteses de existência de palavra atrativa antes da locução,
lembra Carlos Góis que “é errônea (solecismo) a construção, muito em
voga no Brasil (até por parte de escritores pouco escrupulosos), com o
pronome interposto à locução verbal, e agravada com a omissão do
hífen: ‘Aqui devo te esperar’”.
14. Complementa ele que tal emprego errôneo constitui um
“brasileirismo”, por ele conceituado como “um solecismo próprio das
classes incultas de nosso país”, em colocação que, por viciosa, “deverá
ser evitada” (GÓIS, 1945, p. 99, 101 e 103).
15. Josué Machado, lembrando famosa frase do primeiro presidente civil
eleito após o período da Revolução de 1964, embora indiretamente –
“Não vamos nos dispersar” –, observa que “um português bem falante
ou um gramático severo diria ou escreveria: ‘Não vamos dispersar-
nos’. Ou ‘Não nos vamos dispersar’” (1994, p. 78).
16. João Ribeiro, todavia, nesse assunto de locução verbal com o principal
no infinitivo, precedida de palavra negativa, lembra, por um lado, a
dupla possibilidade da gramática: anteposição do pronome átono ao
auxiliar ou sua posposição ao principal.
17. “Mas” – continua ele – “eu digo por um terceiro modo” (fixação do
pronome entre o auxiliar e o principal, mesmo com palavra negativa
antes do auxiliar), “e, quem sabe, se não estou a criar uma utilidade
nova e um delicado matiz que a língua europeia não possui”
(RIBEIRO, João, 1933, p. 10).
18. Luiz Antônio Sacconi, por um lado, lembra que, nas hipóteses de
ausência de palavras atrativas, tríplice é a possibilidade de
posicionamento do pronome átono (próclise ao auxiliar, ênclise ao
auxiliar e ênclise ao infinitivo).
19. Por outro lado, observa que “a colocação preferida brasileira é a
segunda”.
20. Em continuação, para os casos em que a locução vem precedida de
palavra atrativa (ver casos de próclise), esclarece haver duas
possibilidades de colocação do pronome átono (próclise ao auxiliar e
ênclise ao infinitivo).
21. Por fim, em observação acerca da língua falada, anota que “ambas
essas colocações são rejeitadas pelos brasileiros”, que preferem
posicionar o pronome átono entre o auxiliar e o principal (SACCONI,
1979, p. 234).
22. Para tais espécies de locução verbal, Mário Barreto, por primeiro, deixa
clara a possibilidade de emprego de ênclise ao infinitivo.
23. Ao depois, ressalva de modo taxativo a correção de uso da ênclise ao
auxiliar, argumentando com motivo de atração fonética e justificando
que “a colocação dos pronomes atônicos não se resolve pela análise
lógica, mas sim pela fonética” (BARRETO, 1954, p. 49-50).
24. Se o auxiliar está no futuro do presente ou no futuro do pretérito, valem
as regras já referidas, apenas com a ressalva de que, com essas formas
verbais, nunca se dá a ênclise ao auxiliar, mas mesóclise ao auxiliar: a)
“O magistrado dever-lhe-ia falar toda a verdade” (correto); b) “O
magistrado deveria-lhe falar toda a verdade” (errado).
25. Se com tais conjugações perifrásticas do infinitivo aparece a
preposição de, lembra Eduardo Carlos Pereira que, se não houver
incidência das proibições mencionadas, pode o pronome ocupar quatro
posições: antes e depois do auxiliar; antes e depois do infinitivo. Exs.:
a) “Pedro se tem de calar”; b) “Pedro tem-se de calar”; c) “Pedro tem
de se calar”; d) “Pedro tem de calar-se”.
26. Acrescenta, contudo, que, “sendo negativa a proposição, o pronome só
poderá ocupar três posições”, exemplificando ele próprio: a) “Pedro
não se tem de calar”; b) “Pedro não tem de calar-se”; c) “Pedro não
tem de se calar” (PEREIRA, 1924, p. 255-6).
27. Em um outro aspecto, anota Édison de Oliveira que “o pronome
oblíquo não pode ficar solto entre dois verbos”, motivo por que está
errada a construção “O fato vai se repetir”.
28. Segundo tal autor, para corrigir expressões dessa natureza, “reúne-se o
pronome oblíquo à forma verbal anterior”: “O fato vai-se repetir”
(OLIVEIRA, E., s/d, p. 119).
29. Em mesma esteira, após admitir normalmente todas as já mencionadas
possibilidades de colocação do pronome nas locuções verbais, Aires da
Mata Machado Filho (1969h, p. 1.392-3) – esclarecendo que
“escritores brasileiros há que preferem deixar o pronome átono solto
entre os elementos constitutivos de locução verbal e da conjugação de
tempos compostos” – observa que, quando se posiciona depois do
auxiliar ou depois do principal, o pronome átono vem “sempre a eles
ligado por hífen”, acrescentando que a ênclise ao auxiliar, nesses casos,
não dispensa o traço de união entre o auxiliar e o pronome átono, sob
pena de se relacionar, indevidamente, o pronome em próclise ao verbo
principal.
30. De Carlos Góis (1945, p. 69) também se origina idêntico ensinamento
para a grafia do pronome, quando posto em ênclise ao auxiliar: “O
traço de união (hífen ou tirete) assinala que até eles se estende a
acentuação do verbo. Constitui por isso grave erro omiti-lo”: O fato vai
se repetir por O fato vai-se repetir.
31. À possibilidade de que o pronome pessoal oblíquo átono venha a
ocupar mais de uma posição na frase, sem prejuízo de sentido e sem
transgressão da disciplina gramatical, Carlos Góis denomina “tipos
sintáticos equivalentes de topologia pronominal”.
32. Ressalva ele, entretanto, que, se, com a alteração de posicionamento do
pronome no período, “o sentido for diferente, não haverá tipo sintático
equivalente”, que é o que se dá nos seguintes exemplos (GÓIS, 1945,
p. 135-6): a) “Cumpre-lhe dizer” (isto é, cumpre a ele dizer); b)
“Cumpre dizer-lhe” (isto é, cumpre dizer a ele); c) “Mandou-me
arrolar” (o me é agente); d) “Mandou arrolar-me” (o me é paciente).
33. Por fim, Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 232-3) observa aspectos
importantes, que, a par de algumas regras ditadas pela observação do
uso eufônico nos casos mais comuns, devem servir de norte, a fim de
que não se veja na questão de colocação de pronomes um ponto de
aspectos exclusivamente dogmáticos e inflexíveis, mas tendências a
serem criteriosamente observadas e preocupação real com a eufonia: a)
trouxe posicionamento de Antenor Nascentes no sentido de que as
formas oblíquas dos pronomes pessoais colocam-se onde o escritor
quiser, antes ou depois do verbo; b) de mesmo mestre, trouxe o
posicionamento no sentido de que não há colocações erradas – com
exceção das que raiarem pelo absurdo – mas colocações elegantes ou
deselegantes, conforme o critério de cada um; c) de Sílvio Romero,
com a largueza de vistas que a este caracterizava, lembrou a passagem
em que recebia Euclides da Cunha na Academia Brasileira de Letras,
quando afirmou preferir os escritores que colocassem bem as ideias aos
que colocassem bem os pronomes.
34. Parece que a questão da colocação dos pronomes oblíquos átonos nas
locuções em que o verbo principal esteja no infinitivo pode ser
resumida do seguinte modo: a) se não há palavra atrativa antes do
auxiliar (ver casos de próclise), qualquer das três posições é
perfeitamente defensável – o pronome pessoal oblíquo átono pode vir
antes do auxiliar, entre o auxiliar e o principal e após o principal; b) se
a colocação antes do auxiliar coincide com o começo da frase, não está
ela permitida, pelo simples motivo de que um pronome dessa natureza
não começa frase; c) se antes da locução há uma palavra atrativa não se
coloca o pronome entre o auxiliar e o principal, restando apenas as
duas outras possibilidades – próclise ao auxiliar e ênclise ao principal;
d) se o auxiliar está no futuro do presente ou no futuro do pretérito,
valem as regras já referidas, apenas com a ressalva de que, com essas
formas verbais, nunca se dá a ênclise ao auxiliar, devendo esta
possibilidade ser adaptada para mesóclise ao auxiliar; e) quando se
posiciona depois do auxiliar ou depois do principal, o pronome átono
vem sempre ligado a tais verbos por hífen.
Ver Verbo seguido de pronome (P. 763).

Pronomes e Locuções verbais (principal no particípio)


1. Em consideração a esse assunto, melhor é dedicar-se, por primeiro, ao
estudo das regras gerais de colocação dos pronomes, dos casos
específicos de ênclise, mesóclise e próclise, e dos casos em que se
admite optativamente próclise ou ênclise, para, somente após, verificar o
uso de tais pronomes nas locuções verbais (dois ou mais verbos fazendo
o papel de um só).
2. Quando se analisa a frase “O réu tinha-lhe dito alguma coisa”, tem-se
um verbo auxiliar (tinha) e um principal no particípio (dito); e a questão
é saber qual a posição em que há de estar corretamente colocado o
pronome pessoal oblíquo átono (lhe): antes do auxiliar (“O réu lhe tinha
dito alguma coisa”), entre o auxiliar e o principal (“O réu tinha-lhe dito
alguma coisa”), ou após o principal (“O réu tinha dito-lhe alguma
coisa”).
3. Algumas observações são de valioso auxílio para o adequado uso do
pronome em tais circunstâncias, podendo-se dizer, desde logo, que, se
não há palavra atrativa antes da locução, apenas se veda a colocação
após o particípio, sendo esta a lição proibitiva de João Ribeiro: “nunca se
dá posposição depois do particípio pretérito” (1923, p. 230). Exs.: a) “O
réu lhe tinha dito alguma coisa” (correto); b) “O réu tinha-lhe dito
alguma coisa” (correto); c) “O réu tinha dito-lhe alguma coisa” (errado).
4. Essa, também, a lição de Eduardo Carlos Pereira: “ao particípio passado
nunca se pospõe pronome átono” (1924, p. 252).
5. Nesse mesmo sentido é o ensino de Cândido de Figueiredo: “nos tempos
compostos, não se liga a partícula ao particípio passado, e sim ao verbo
auxiliar. Não devemos dizer tinha falado-me, porém, tinha-me falado”
(1937, p. 92).
6. Essa posposição do pronome átono complementar ao particípio passado
– como em “Tendo o ofendido queixado-se à autoridade” – é tida por Sá
Nunes como um solecismo muito próprio do Brasil (NUNES apud
AMARAL, 1943, p. 114).
7. Em mesma esteira é a lição de Carlos Góis: “em caso algum se pospõe o
pronome pessoal oblíquo átono ao particípio passado: ‘Eu lhe havia dito’
ou ‘Eu havia-lhe dito’. Nunca jamais: ‘Eu havia dito-lhe’” (1945, p.
119).
8. Observação que se deve fixar como sinal luminoso diante do usuário da
língua é também lição de Carlos Góis, em mesma obra: “em caso algum
se pospõe o pronome pessoal oblíquo átono ao particípio passado”. Exs.:
a) “Tenho dito-lhe” (errado); b) “Havia escrito-me” (errado).
9. Não menos oportuna é a consideração adicional trazida pelo ilustre
gramático: “É permitido, porém, sendo perfeitamente correto, pospor-lhe
a variação pronominal tônica”. Exs.: a) “Tenho dito a você”; b) “Havia
escrito a mim” (GÓIS, 1945, p. 129).
10. Exemplos colhidos em autores insuspeitos e no próprio Código Civil
de 1916 mostram a possibilidade de emprego do pronome, em tais
casos, antes do auxiliar: a) “Como eu lhe perguntasse se a havia
acordado…” (Machado de Assis); b) “Nunca lhe tinham consentido
que mudasse de camisa” (Camilo Castelo Branco); c) “… os filhos, que
só lhe poderão ser retirados, mandando o juiz…” (CC/1916, art. 329).
11. Não se pode esquecer, todavia, a possibilidade adicional de colocação
do pronome átono após o auxiliar: “Os seus receios haviam-se
realizado” (Rebelo da Silva).
12. Óbvio está que, por regra básica, só se pode colocar o pronome átono
antes do verbo auxiliar, se o pronome não começa a frase. Exs.: a) “Os
advogados lhe tinham falado coisas estranhas” (correto); b) “Lhe
tinham falado coisas estranhas os advogados” (errado).
13. Vitório Bergo sintetiza do seguinte modo sua lição a esse respeito:
“Nos tempos compostos de particípio passado, o pronome fica melhor
antes do auxiliar: ‘Eles se haviam esquecido’; se houver inconveniente
na próclise, virá ele depois do auxiliar, ligado por hífen: ‘Haviam-se
fixado as datas’” (1943, p. 50).
14. Para Carlos Góis (1945, p. 129), em locuções verbais dessa natureza,
cujo verbo principal esteja no particípio, “se figurar na frase qualquer
dos fatores da próclise…(como, por exemplo, palavras atrativas), dar-
se-á esta”. Exs.: a) “Não me tinha dito” (correto); b) “Não tinha-me
dito” (errado); c) “Continuamente lhe tenho escrito” (correto); d)
“Continuamente tenho-lhe escrito” (errado).
15. Assim também é a lição de Sousa e Silva, que ressalva a óbvia
impossibilidade de colocação do pronome no início do período, antes
do auxiliar: “Com os tempos compostos de particípio, colocar-se-á o
pronome antes do auxiliar, se houver alguma das palavras que
determinam a próclise com os tempos simples; no caso contrário, o
pronome poderá vir antes ou logo depois do auxiliar” (1958, p. 62).
16. Anote-se, para registro, o divergente ensino de Luiz Antônio Sacconi
(1979, p. 209), o qual, após preconizar a possibilidade genérica de duas
colocações do pronome átono – próclise ao auxiliar e ênclise ao
auxiliar – refere que, mesmo havendo palavra atrativa, a colocação
preferida entre nós é a ênclise ao auxiliar.
17. Se o auxiliar está no futuro do presente ou no futuro do pretérito, valem
as regras já referidas, apenas com a ressalva de que, com essas formas
verbais, nunca se dá a ênclise ao auxiliar, mas deve ela ser adaptada
para mesóclise ao auxiliar. Exs.: a) “O magistrado ter-lhe-ia dito toda
a verdade” (correto); b) “O magistrado teria-lhe dito toda a verdade”
(errado).
18. Em continuação, Aires da Mata Machado Filho (1969b, p. 1.392-3) –
esclarecendo que “escritores brasileiros há que preferem deixar o
pronome átono solto entre os elementos constitutivos de locução verbal
e da conjugação de tempos compostos” – observa que, quando se
posiciona depois do auxiliar ou depois do principal, o pronome átono
vem “sempre a eles ligado por hífen”, acrescentando que a ênclise ao
auxiliar, nesses casos, não dispensa o traço de união entre o auxiliar e o
pronome átono, sob pena de se relacionar, indevidamente, o pronome
em próclise ao verbo principal.
19. Em mesma esteira, leciona Édison de Oliveira (s/d, p. 119) que “o
pronome oblíquo não pode ficar solto entre dois verbos”, motivo por
que está errada a seguinte construção: “Os voluntários tinham se
apresentado”, a qual deve ser corrigida do seguinte modo: “reúne-se o
pronome oblíquo à forma verbal anterior” – “Os voluntários tinham-se
apresentado”.
20. De Carlos Góis também procede idêntico ensinamento para a grafia do
pronome, quando posto em ênclise ao auxiliar: “O traço de união (hífen
ou tirete) assinala que até eles se estende a acentuação do verbo.
Constitui por isso grave erro omiti-lo: havia lhe dito por havia-lhe
dito” (1945, p. 69).
21. Reitere-se, assim, que, embora muito comum que alguns queiram
deixar de usar o hífen quando o pronome se põe entre o verbo auxiliar
e o verbo principal, tal uso é errôneo. Exs.: a) “O réu tinha-lhe dito
alguma coisa” (correto); b) “O réu tinha lhe dito alguma coisa”
(errado).
22. Ainda a esse respeito, de apropriada transcrição é o ensinamento de
Carlos Góis (1945, p. 119): “A omissão do hífen, em que se
comprazem alguns escritores relaxados…, constitui grave atentado
prosódico, de que resultaria perder o pronome complemento o seu
caráter de palavra enclítica (isto é, de palavra sem acentuação
própria)”.
23. Oportuno, ainda, outro lembrete do mesmo autor (GÓIS, 1945, p. 69):
“É grave erro omitir o hífen entre o auxiliar e o particípio passado”.
Exs.: a) “Tinha me dito” (errado); b) “Tinha-me dito” (correto).
24. Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 232-3) observa aspectos adicionais
importantes, que, a par de algumas regras ditadas pela observação do
uso eufônico nos casos mais comuns, devem servir de norte, a fim de
que não se veja na questão de colocação de pronomes um ponto de
aspectos dogmáticos, mas tendências e preocupação com a eufonia: a)
trouxe posicionamento de Antenor Nascentes no sentido de que as
formas oblíquas dos pronomes pessoais colocam-se onde o escritor
quiser, antes ou depois do verbo; b) de mesmo mestre, trouxe o
posicionamento no sentido de que não há colocações erradas – com
exceção das que raiarem pelo absurdo – mas colocações elegantes ou
deselegantes, conforme o critério de cada um; c) de Sílvio Romero,
com a largueza de vistas que a este caracterizava, lembrou a passagem
em que recebia Euclides da Cunha na Academia Brasileira de Letras,
quando afirmou que preferia os escritores que colocassem bem as
ideias aos que colocassem bem os pronomes.
25. A essa possibilidade de que o pronome pessoal oblíquo átono venha a
ocupar mais de uma posição na frase, sem prejuízo de sentido e sem
transgressão da disciplina gramatical, Carlos Góis denomina “tipos
sintáticos equivalentes de topologia pronominal”.
26. Ressalva ele, entretanto, que, se, com a alteração de posicionamento do
pronome no período, “o sentido for diferente, não haverá tipo sintático
equivalente”, exatamente como se dá nos exemplos seguintes (GÓIS,
1945, p. 135-6): a) “Cumpre-lhe dizer” (isto é, cumpre a ele dizer); b)
“Cumpre dizer-lhe” (isto é, cumpre dizer a ele); c) “Mandou-me
arrolar” (o me é agente); d) “Mandou arrolar-me” (o me é paciente).
27. Parece que a questão da colocação dos pronomes oblíquos átonos nas
locuções em que o verbo principal esteja no particípio pode ser
resumida do seguinte modo: a) se não há palavra atrativa antes do
auxiliar (ver casos de próclise), há duas posições perfeitamente
defensáveis – o pronome pessoal oblíquo átono pode vir antes do
auxiliar ou entre o auxiliar e o principal; b) quando o verbo principal da
locução está no particípio, jamais haverá possibilidade de ênclise a
este, e isso pela simples razão de que não há ênclise ao particípio; c) se
a colocação antes do auxiliar coincide com o começo da frase, óbvio
que não está ela permitida, pelo simples motivo de que um pronome
dessa natureza não começa frase; d) se antes da locução há uma palavra
atrativa, não se coloca o pronome entre o auxiliar e o principal, de
modo que resta apenas uma possibilidade – próclise ao auxiliar; e) se o
auxiliar está no futuro do presente ou no futuro do pretérito, valem as
regras já referidas, apenas com a ressalva de que, com essas formas
verbais, nunca se dá a ênclise ao auxiliar, devendo esta possibilidade
ser entendida como mesóclise ao auxiliar; f) quando se posiciona
depois do auxiliar, o pronome átono vem sempre ligado a tal verbo por
hífen.
Ver Verbo seguido de pronome (P. 763).

Pronúncia
Ver Amámos ou Amamos? (P. 108)

Pronunciar
Ver Exarar, prolatar ou proferir sentença? E acórdão? E despacho? (P.
340).

Pronunciar acórdão? E despacho? E sentença?


Ver Exarar, prolatar ou proferir sentença? E acórdão? E despacho? (P.
340)
Propor
Ver Pôr – Como conjugar? (P. 577)

Propositadamente ou Propositalmente?
1. Fundado em lição de João Ribeiro, Napoleão Mendes de Almeida (1981,
p. 249) adverte que, para significar a expressão de propósito ou de caso
pensado, deve-se usar o advérbio propositadamente, não sendo
considerado de bom uso, nesse caso, nem o advérbio propositalmente,
nem o adjetivo proposital. Ex.: a) “O crime foi doloso, porque o réu agiu
propositadamente” (correto); b) “O crime foi doloso, porque o réu agiu
propositalmente” (errado).
2. Rui Barbosa (1949, p. 7), em suas críticas específicas, já observava a
ausência de analogia vernácula autorizadora de uso do advérbio
propositalmente, ao qual chamou de “desnecessária corruptela”, que
ganharia foro de sanção jurídica com sua inserção no Código Civil de
1916.
3. Em outro lugar de mesma obra, tal mestre lecionava textualmente que
“as regras da analogia não autorizam a formação de semelhante
neologismo”, estendendo longa lista de sinônimos para substituí-lo
(BARBOSA, 1949, p. 48).
4. Por fim, ao criticar o art. 96 do projeto original do código, sugeriu, para
o adjetivo proposital, três vocábulos substitutos: intencional, voluntário,
deliberado (BARBOSA, 1949, p. 61).
5. José de Sá Nunes, num primeiro aspecto, afiança não ser
propositalmente um vocábulo do léxico português, para o que traz abono
de Rui Barbosa e de Ernesto Carneiro Ribeiro.
6. Ao depois, transcreve lição de Said Ali, para quem propositalmente e até
mesmo propositadamente são vocábulos desnecessários.
7. Acrescenta, a seguir, que, em seu modo de ver, nem Rui Barbosa nem
Ernesto Carneiro Ribeiro se lembraram de “provar a vernaculidade do
adjetivo propositado e do advérbio propositadamente”.
8. Por fim, acaba trazendo citações de abalizados escritores, em que se
comprova o emprego do vocábulo discutido (NUNES, 1938, p. 242-3):
a) “Mas A. Herculano mui propositadamente escreveu…” (Rui Barbosa);
b) “Propositadamente neguei registo a vocábulos, que tinham a
abonação de Rui Barbosa e que eram do meu conhecimento” (Cândido
de Figueiredo); c) “Excluímos propositadamente desta secção os
escritores vivos” (João Ribeiro).
9. Para Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 336), propositadamente é
“melhor forma do que propositalmente”, assim como propositado é
forma “preferível a proposital”.
10. Cândido Jucá Filho, por um lado, lembra lição de Mário Barreto, de
importância para o caso: “Rui Barbosa, na sua brilhante Réplica,
provou a ilegitimidade vernácula de proposital e de propositalmente. O
que é português é propositado e propositadamente”.
11. Por outro lado, após tal transcrição, continua o referido autor: “Não
concordo. Rui não mostrou senão uma implicância pessoal. Diz-se
intenção, intencional, intencionalmente. Por que se não pode dizer
propósito, proposital, propositadamente?
12. Por fim, conclui ele: “Mas a verdade é que os clássicos, como o povo,
têm preferido a expressão de propósito. Quanto a propositado, não se
livra de ser pedante” (JUCÁ FILHO, 1981, p. 95).
13. Dirimindo, todavia, toda e qualquer dúvida acerca da possibilidade de
emprego de proposital e, por consequência, propositalmente, é de se
ver que o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia
Brasileira de Letras, que é o veículo oficial para dirimir dúvidas acerca
da existência de vocábulos em nosso idioma, registra tanto propositado
quanto proposital (2009, p. 679), o que implica dizer que o uso de
ambos os adjetivos está plena e oficialmente autorizado entre nós, além
de estarem autorizados, de igual modo, propositadamente e
propositalmente, os quais nada mais são do que advérbios regularmente
formados dos dois referidos adjetivos.
Ver De propósito (P. 268).

Propositado ou Proposital?
Ver Propositadamente ou Propositalmente? (P. 624)

Próprio
1. Quanto à ortografia e à pronúncia, veja-se, por primeiro, que há um
generalizado descuido da parte de alguns, que teimam, de modo
equivocado, em escrever e falar própio, estendendo o erro para todos os
cognatos: apropiado, propiedade…
2. Por outro lado, é palavra que precisa ser observada pelo prisma da
concordância nominal.
3. E, nesse campo, anota-se que, acompanhando um substantivo, tem valor
adjetivo e, assim, concorda em gênero e número com o substantivo
modificado. Ex.: a) “Ela própria subscreveu a inicial”; b) “Eles próprios
subscreveram a inicial”; c) “Elas próprias subscreveram a inicial”.
4. Em tais casos, Luiz Antônio Sacconi vê esse vocábulo como um
demonstrativo “de caráter reforçativo” (1979, p. 68).
5. Seu sinônimo mesmo segue idêntica construção.

Prorrogar – Até, para, por ou para até?


1. Um leitor indaga qual das seguintes formas é correta: a) “Prorrogou
para até o dia 30”; b) “Prorrogou até o dia 30”; c) “Prorrogou para o
dia 30”? Acrescente-se: “Prorrogou por uma semana”?
2. Ora, quando se busca saber qual preposição deve ser empregada após um
verbo, o assunto reside na esfera da regência verbal.
3. E, de modo específico para o caso, uma pesquisa nos principais
gramáticos e linguistas que estudaram a matéria revela que eles não
solucionaram a questão para o verbo prorrogar, quando se trata de um
complemento preposicionado nos termos pretendidos pela dúvida do
leitor. Apenas Celso Pedro Luft defende a construção com a preposição
por, quando se leva em consideração o lapso temporal que medeia entre
o início e o fim de tal prazo. Ex.: “Prorrogar as inscrições por uma
semana” (1999b, p. 423).
4. Mas uma análise mais aprofundada das estruturas de alguns exemplos do
dia a dia revela, num primeiro aspecto, que o verbo prorrogar admite ser
construído com a preposição para, quando tem o sentido de adiar para
uma nova data a realização de um certo evento; nesse caso, tem-se em
vista sobretudo a data final fixada pela prorrogação. Ex.: “O presidente
prorrogou para a sessão do dia 30 a votação do projeto”).
5. Num segundo aspecto, permite construção com a preposição até, quando
a acepção é de prolongar em continuidade uma determinada situação ou
atuação; nesse caso, leva-se em conta o lapso que medeia entre o início e
o fim do novo prazo fixado. Ex.: “O presidente prorrogou até o dia 30 o
prazo para a inscrição”.
6. Respondendo mais especificamente ao leitor: a) o verbo prorrogar
admite ser construído com a preposição para, com a preposição até e
com a preposição por; b) com cada preposição, tal verbo tem
peculiaridades próprias de significado; c) não há, entretanto, justificativa
gramatical que respalde a locução prepositiva para até.

Proscrever – Como conjugar?


1. Do latim proscribere (anunciar por escrito), quer dizer condenar ao
degredo, desterrar, expulsar, fazer sair. Ex.: “A República proscreveu do
Brasil a família real”.
2. Quanto à conjugação verbal, trata-se de verbo regular, tendo por modelo
escrever, apenas ostentando irregularidade, assim como seu modelo, no
particípio passado, que é proscrito (REIS, 1971, p. 102).
3. Não confundir com sua parônima prescrever, que quer dizer determinar,
fixar, ordenar de maneira explícita previamente.

Prosódia
1. É a parte da fonética que trata da correta acentuação e entonação dos
fonemas, sendo sua preocupação maior o conhecimento da sílaba
predominante na palavra, vale dizer, da sílaba tônica (BECHARA, 1974,
p. 52).
2. No conceito de Eduardo Carlos Pereira (1924, p. 23), prosódia “é a parte
da fonologia que trata da correta pronúncia dos fonemas combinados
para a formação dos vocábulos”. Complementa tal autor que o termo
grego prosódia (pros + ode) corresponde ao latino acento (ad + cantus), e
lembra “o caráter musical dessas duas línguas antigas, onde a altura do
som representava papel importante na prolação vocabular”.
3. Após conceituá-la como “o tratado dos sons articulados em relação à sua
intensidade comparativa, quando constituídos em palavras”, lembra Júlio
Ribeiro (1908, p. 12) que prosódia “é o mesmo que acentuação”, já que
ambos os termos, “etimologicamente considerados, referem-se à
modulação dos sons”.
4. Após atribuir-lhe a função de ocupar-se “essencialmente da correta
acentuação tônica das palavras”, Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 17)
exemplifica os resultados: gratuito(ú) e não gratuíto, filantropo(ô) e não
filântropo.
5. Ante as confusões feitas por alguns, que lhe dão o mesmo significado de
ortoepia, vale a pena lembrar a lição de Antenor Nascentes: “A parte da
fonética que se ocupa com a acentuação tônica dos vocábulos chama-se
prosódia. É este o verdadeiro emprego da palavra, dado pelos gramáticos
gregos e latinos, e não como equivalente de ortoepia, segundo fazem
alguns” (1942, p. 23).
6. Essa mesma distinção fazem Carlos Góis e Herbert Palhano: “A ortoepia
estuda a correta pronúncia dos sons dos vocábulos; a prosódia, a sua
exata acentuação” (1963, p. 23).
7. Artur de Almeida Torres (1966, p. 27) também faz diferença entre tais
vocábulos: para ele, “a ortoepia (ou ortoépia) ensina a exata pronúncia
das palavras”, vale dizer, “boa emissão das vogais e boa articulação das
consoantes”; já “a prosódia trata da correta acentuação dos vocábulos”.
8. Cândido de Oliveira atribui-lhe a função de cuidar “da correta
localização do acento tônico” (1961, p. 33).
9. Distinguindo-a inteiramente da ortoepia, Júlio Nogueira afirma que ela
“diz respeito à sílaba tônica da palavra” (1939, p. 83).
10. Também para Cândido de Oliveira, “é a correta colocação do acento
tônico” (s/d, p. 128).
11. Feitas essas observações, reforça a necessidade de atenção a esse
aspecto a seguinte circunstância lembrada por Luiz Antônio Sacconi:
“todas as palavras que apresentam sílaba tônica possuem acento
prosódico, que é o acento da fala. Não se confunde com acento gráfico,
que é o sinal usado para indicar o acento prosódico. As únicas palavras
em português que não possuem acento prosódico são os monossílabos
e dissílabos átonos” (1979, p. 4).
12. De seu encargo, por exemplo, é esclarecer que boêmia, estratégia e
maquinaria são formas corretas; que mister, Nobel, recém, refém e
ruim são palavras oxítonas; que avaro, látex, perito, pudico e rubrica
são palavras paroxítonas; que álibi, arquétipo e ínterim são
proparoxítonas; que certas palavras admitem duas pronúncias:
acróbata ou acrobata, hieróglifo ou hieroglifo.
13. O erro quanto à posição da sílaba tônica na palavra recebe o nome de
silabada.
14. Lembra Júlio Nogueira que a tendência coletiva para destacar
erroneamente a sílaba forte “ocorre em certas palavras que têm a
propriedade de sugerir pronúncia falsa por parecer mais natural que a
certa. Muitos indivíduos, à força de serem corrigidos porque não
pronunciam como esdrúxulas algumas palavras, fazem esdrúxulas
outras que o não são” (1959, p. 19).
15. Em mesma obra e local, assegurando que “em prosódia, como em
todos os demais aspectos, a linguagem é nimiamente convencional”, o
referido gramático, quanto ao vício de pronunciar erroneamente as
palavras, com enfoque tônico e sílaba inadequada, adverte que “cumpre
evitar essa má tendência. O remédio é consultar um vocabulário
prosódico ou pessoa de boas letras que possa esclarecer o caso”
(NOGUEIRA, 1959, p. 19).
16. Para os dias de hoje, o melhor é consultar o Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, órgão
oficialmente incumbido de listar as palavras pertencentes ao nosso
léxico bem como de definir-lhes a correta pronúncia e localização da
sílaba tônica.
Ver Ortoepia (P. 532).

Prosseguir
1. Tendo o grupo gu, neste caso, a exclusiva finalidade de conferir ao g seu
som original antes de e e de i, deve-se lembrar que os verbos em guir
(quando o u não é proferido) perdem o u antes de a e de o: prossigo,
prossegues, prosseguimos, prossigamos.
2. Seguem o mesmo modelo todos os verbos terminados em guir, desde
que o u não seja pronunciado (conseguir, distinguir, extinguir, perseguir,
seguir).
3. Oportuno é realçar a apropriada lembrança de Carlos Góis e Herbert
Palhano (1963, p. 113) no sentido de que, dos verbos terminados em
guir, apenas arguir e redarguir tem o u pronunciado.
Ver Pleonasmo – O que é e Quando pode? (P. 565)

Prosseguir adiante – Está correto?


Ver Pleonasmo – O que é e Quando pode? (P. 565)

Protagonismo – Existe?
1. Um leitor indaga se existe em nosso idioma o vocábulo protagonismo,
que ele tem ouvido com frequência nos meios de comunicação. E
indaga, em caso positivo, qual é o seu significado.
2. Ora, em raciocínio que se deve repetir sempre, até para criar no leitor o
hábito salutar de pensar de modo metódico sobre o assunto, quando se
quer saber se uma palavra existe ou não em português, deve-se tomar por
premissa o fato de que a autoridade para listar oficialmente os vocábulos
pertencentes ao nosso idioma é a Academia Brasileira de Letras.
3. E essa autoridade, a ABL a exerce por via da edição do Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa.
4. Ora, uma simples consulta ao VOLP mostra que nele se registra, sim, o
vocábulo protagonismo (2009, p. 680), de modo que a forçosa conclusão
é que ele efetivamente existe em nosso léxico, e seu emprego está
integralmente autorizado ao usuário do idioma.
5. O significado desse vocábulo é de atuação como protagonista, vale
dizer, como ator ou personagem principal. Ex.: “Enfim, o Ministro da
Justiça assumiu o protagonismo naquele caso, como, aliás, deveria ter
feito desde o início”.
6. Dada a resposta específica ao leitor, acrescenta-se uma primeira
observação: é certo que nem Aurélio Buarque de Holanda Ferreira nem
Antônio Houaiss registram tal palavra em seus conhecidos dicionários.
Ante esse fato, importa anotar que não se põe em dúvida o elevado valor
da contribuição dos dicionaristas para o apuro da língua portuguesa;
mas, com todo o respeito devido, o certo é que eles não são a autoridade
no assunto. Isso significa que, em caso de divergência entre eles e o
VOLP quanto à existência ou algum outro aspecto de um vocábulo,
deve-se ficar com este último, que é a palavra da autoridade oficial na
matéria.
7. E se ultima com uma segunda ponderação: o fato de se constatar,
atualmente, um real abuso no emprego do vocábulo ora comentado,
capaz de aconselhar moderação em seu uso, não é motivo para sua
condenação, como se fosse um equívoco. Já os latinos diziam que o
abuso não pode impedir o uso (“abusus non tollit usum”), e o provérbio
se aplica ao caso com perfeição.

Protagonista principal – Pleonasmo?


1. Também se trata de expressão equivocada e redundante, portadora de
tautologia, ou pleonasmo vicioso.
2. Protagonista já é o personagem principal.
3. Diga-se, portanto, simplesmente, protagonista, ou então personagem
principal.

Proteger
1. Quanto à conjugação verbal, como todos os verbos terminados em ger,
para a continuidade do som original da última consoante do radical,
muda o g em j antes de o e de a: protejo, proteges, proteja, protegi.
2. Feitas essas observações, anota-se que se trata de verbo conjugado em
todas as pessoas, tempos e modos.
3. Flexionam-se de mesmo modo constranger, eleger, ranger, tanger.

Protocolar – Existe?
1. Trata-se de palavra existente e regularmente usada em nosso idioma,
sem resistência alguma. Ex.: “No prazo para a interposição do recurso,
a petição será protocolada, ou depois de despachada, entregue em
cartório” (CPC/1973, art. 514, parágrafo único).
2. Sua existência como verbo é atestada pelo Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, veículo oficial
para dirimir dúvidas acerca da existência ou não de vocábulos em nosso
idioma (2009, p. 680).
Ver Protocolizar – Existe? (P. 628)

Protocolizar – Existe?
1. Apesar das objeções de alguns autores, Napoleão Mendes de Almeida
(1981, p. 250) e Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (s/d, p. 1.150)
registram-na como forma vernácula, dando-a como normal sinônimo de
protocolar (esta sem resistência alguma), com o significado de levar ao
protocolo. Ex.: “O advogado protocolizou o pedido de relaxamento de
prisão de seu constituinte”.
2. Embora pouco usada no sentido de inscrever, de registrar em protocolo,
encontra-se exemplo de seu emprego por texto de lei: “Protocolizado o
título ou documento, far-se-á em seguida, no livro respectivo…” (Lei
6.015, de 31/12/73, art. 147).
3. Interessante é anotar, por um lado, que nossos textos de lei, de um modo
geral, evitam o emprego tanto de protocolar como de protocolizar, e
acabam dando preferência a locuções como lançados em protocolo (art.
50 do Código Comercial), apontado no protocolo (art. 154 do Decreto
4.857, de 1939 – Regulamento dos Registros Públicos), lançamento no
protocolo, apontamento no protocolo, entrada no protocolo e prenotados
no protocolo (respectivamente arts. 12, 151, 153 e 191 da Lei de
Registros Públicos).
4. Por outro lado, também se encontram as formas específicas dos
mencionados verbos, como o particípio passado de protocolar (art. 164,
§ 1º, do Decreto 4.857, de 1939), situação que se repete nos arts. 110, §
1º, e 156, parágrafo único, da Lei de Registros Públicos, e o particípio
passado de protocolizar (arts. 147 e 188 do texto legal por último
referido).
5. Em apreciação conjunta para ambas as formas, leciona Geraldo Amaral
Arruda (1997, p. 151) que “é preciso cuidado especial no uso desses
verbos, que, embora registrados nos dicionários, não consta que tenham
sido usados senão em formas nominais, fora da linguagem coloquial dos
cartórios”, motivo por que – acentuando o referido mestre tratar-se
“antes de uma questão de estilo e clareza do que de correção de
linguagem” – em seu entendimento, é “conveniente a opção pelas
locuções, das quais as leis oferecem vários exemplos”.
6. Com a devida vênia desse ensinamento, todavia, não parece haver razão
para tal emprego restritivo, porquanto, se se admite o uso das formas
nominais de ambos os verbos (infinitivo, gerúndio e particípio), e se não
há empecilho algum que determine ser defectivo qualquer deles no que
concerne à conjugação verbal, não parece haver razão impeditiva de seu
emprego nas demais formas, também não se apresentando visível
qualquer “questão de estilo e clareza” que justifique tal proceder
proibitivo.
7. Reforçando exatamente esse entendimento, o Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, veículo oficial
para dirimir dúvidas acerca da existência ou não de vocábulos em nosso
idioma, registra o verbo protocolizar sem restrição alguma (2009, p.
680), o que implica dizer que seu emprego está oficialmente autorizado
entre nós.
8. Oportuno é acrescentar que o art. 147 da Lei 6.015, de 31/12/73, que
dispôs sobre os registros públicos, em sua redação primitiva, assim
registrava: “Protocolado o título ou documento, far-se-á, em seguida, no
livro respectivo, o lançamento…”; na republicação da lei, inserida na
Coleção das Leis da União de 1975, vol. V, p. 61, todavia, passou a
constar protocolizado.
9. De igual modo, o art. 277 da mesma lei (antigo art. 278), assim
registrava: “Requerida a inscrição de imóvel rural no registro Torrens, o
oficial protocolará e autuará o requerimento e documentos…”; a
republicação, com as alterações trazidas pela Lei 6.140 e pela Lei 6.216,
de 30/6/75, por sua vez, registrou protocolizará.
10. Nenhum problema, já que ambas as formas são aceitas como variantes
e igualmente corretas em nosso léxico.

Prova a produzir(-se) – Está correto?


Ver A fazer – Está correto? (P. 91)
Prova dos nove ou Prova dos noves?
1. Josué Machado anota que, na substantivação, não há motivo para
abandonar os numerais sem flexão para o plural. Exs.: a) “As eleições
dos anos noventas serão diferentes com as urnas eletrônicas”; b) “Os
ladrões do Congresso transformavam cincos em cinquentas”; c) “Os
noves do baralho foram marcados”; d) “A obra por ele citada fora
publicada nos anos vintes”.
2. Excepciona tal autor, porém, que “só não se flexionam em número os
numerais cardinais terminados em s (dois, três, seis, dezesseis), em z
(dez) e mil” (MACHADO, 1994, p. 71).
3. De Vitório Bergo (1943, p. 191) também é a lição de que as palavras
substantivadas seguem geralmente as regras normais de flexão para o
plural, segundo a sua terminação, como é o caso de os noves.
4. Para Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 285), por um lado, “numerais
substantivados terminados por fonema vocálico formam o plural como
os substantivos: dois uns, quatro setes, prova dos noves fora, dois cens”;
por outro lado, ficam invariáveis os que finalizam por fonema
consonantal: “No teste, João tirou quatro seis e dois dez”.
5. Bem por isso, de modo específico para o caso, há de se dizer prova dos
noves, e não prova dos nove, como tem sido de corriqueira audiência.

Proveniente ou Proviniente?
1. Proveniente significa originário, oriundo. Ex.: “Proveniente de Minas
Gerais, o advogado guardava a entonação de voz típica de sua região de
origem”.
2. Muito embora seja palavra derivada de provir, atente-se a que
proviniente é grafia errada.

Prover a mantença ou Prover à mantença?


1. Um leitor pergunta se não há erro no texto do art. 1.695 do Código Civil
(objeto de questão do 178º Concurso da Magistratura de São Paulo),
quando registra que “são devidos os alimentos quando quem os pretende
não tem bens suficientes, nem pode prover… à própria mantença…”.
Para ele, a crase seria indevida antes de mantença, já que prover é verbo
transitivo direto.
2. No caso, busca-se saber, em suma, se o verbo prover pede um objeto
indireto ou um objeto direto e se, por conseguinte, o respectivo
complemento deve vir ou não regido pela preposição a. E isso é uma
questão a ser resolvida por um capítulo da Gramática chamado regência
verbal.
3. Celso Pedro Luft (1999, p. 424), após alongadas pesquisas em nossos
melhores autores, leciona que o verbo prover, quando tem o sentido de
acudir, de atender, é transitivo indireto. E exemplifica: a) “Prover às
despesas”; b) “Prover ao pagamento de uma dívida”; c) “Prover ao seu
sustento”; d) “Prover à própria subsistência”.
4. O ensino de Francisco Fernandes (1971, p. 483), outro que se exauriu em
pesquisas em nossos literatos, não é diferente e traz a corroboração de
exemplos de excelentes autores: a) “Prover à segurança pública”
(Morais); b) “Prover às necessidades do hospital” (Cândido de
Figueiredo); c) “Nem provê às necessidades do gênero humano” (Rui
Barbosa).
5. Ante essas lições, conclui-se não haver reparo algum a ser feito à
redação do art. 1.695 do Código Civil, quando registra que “são devidos
os alimentos quando quem os pretende não tem bens suficientes, nem
pode prover… à própria mantença…”
6. A crase antes de mantença é totalmente adequada, já que prover, no
sentido empregado, é verbo transitivo indireto e pede que o
complemento seja regido pela preposição a, a qual, ao se fundir com o
artigo a que antecede mantença, gera a crase.
Ver Regência verbal (P. 241).

Prover – Como conjugar?


1. Tendo normalmente o significado de abastecer, providenciar, é verbo
complexo quanto à conjugação, em decorrência de sua flexão híbrida.
2. Assim, no presente do indicativo e tempos derivados, é composto de ver:
provejo, provês, provê, provemos, provedes, proveem (presente do
indicativo); proveja, provejas, proveja, provejamos, provejais, provejam
(presente do subjuntivo); provê, proveja, provejamos, provede, provejam
(imperativo afirmativo); não provejas, não proveja, não provejamos, não
provejais, não provejam (imperativo negativo).
3. Porém, no pretérito perfeito e tempos derivados, não segue a conjugação
de ver, mas é regular: provi, proveste, proveu, provemos, provestes,
proveram (pretérito perfeito); provera, proveras, provera, provêramos,
provêreis, proveram (pretérito mais-que-perfeito); prover, proveres,
prover, provermos, proverdes, proverem (futuro do subjuntivo);
provesse, provesses, provesse, provêssemos, provêsseis, provessem
(imperfeito do subjuntivo).
4. Serve de modelo para a conjugação de desprover.
5. Quanto à regência verbal, vem empregado, nos textos de lei, ora como
transitivo direto, ora como transitivo indireto (preposição a). Exs.: a)
“Compete-lhe (ao marido)… prover a manutenção da família…”
(CC/1916, art. 233, IV – transitivo direto); b) “Salvo as disposições
concernentes à justiça gratuita, cabe às partes prover as despesas dos
atos que realizam ou requerem no processo…” (CPC/1973, art. 19 –
transitivo direto); c) “São devidos os alimentos quando o parente, que os
pretende, não tem bens, nem pode prover… à própria mantença”
(CC/1916, art. 399 – transitivo indireto); d) “Considera-se pobre a
pessoa que não puder prover às despesas do processo sem privar-se dos
recursos indispensáveis ao próprio sustento ou da família” (CPP, art. 32,
§ 1º – transitivo indireto).
Ver Desprover ou Improver? (P. 278)

Provimento
Ver Números – Como ler e Empregar? (P. 506)

Provocar o Judiciário – é correto?


Ver Entrar na Justiça – É correto? (P. 322)

Pseudo-perito ou Pseudoperito?
1. Ante as alterações introduzidas em nosso sistema pelo Acordo
Ortográfico de 2008, importa saber qual a forma correta: pseudo-perito
ou pseudoperito?
2. Começa-se dizendo que pseudo é um elemento de origem grega,
empregado como adjetivo na formação de palavras no vernáculo, e
significa falso, suposto: pseudofruto, pseudocristianismo.
3. Por outro lado, é de se dizer que, frequentemente empregado em
português como primeiro elemento na formação de inúmeros vocábulos,
constitui aquilo que, em Gramática, se chama falso prefixo.
4. Pelas diretrizes do Acordo Ortográfico de 2008, apenas em dois casos se
junta ao elemento seguinte com hífen: a) quando o segundo elemento se
inicia por h: pseudo-hemofilia, pseudo-hérnia, pseudo-história; b)
quando o segundo elemento se inicia com a mesma vogal que encerra o
prefixo: pseudo-occipital, pseudo-osteose.
5. Desse modo, acopla-se diretamente à palavra seguinte, sem
intermediação de hífen, quando iniciada esta por outra vogal, que não a
que encerra o prefixo: pseudoálcool, pseudoametista, pseudoedema,
pseudoesfera, pseudoicterícia, pseudoimunização.
6. Continua valendo a regra de junção direta, mesmo que o elemento
seguinte se inicie por consoante: pseudobatismo, pseudocartilagem,
pseudodoutor, pseudofilosofia, pseudoglaucoma, pseudomártir,
pseudoperito.
7. Apenas para a hipótese de ser o segundo elemento iniciado por r ou s,
dobram-se tais consoantes para continuidade do som originário:
pseudorrainha, pseudorreação, pseudossensação, pseudossufixo.
Ver Pseudoprofessora ou Pseudaprofessora? (P. 630)

Pseudoprofessora ou Pseudaprofessora?
1. O primeiro elemento pseudo, que entra na composição de vários
vocábulos em português, é invariável ou não? Assim: pseudoprofessora
ou pseudaprofessora?
2. Ora, pseudo é elemento grego com o sentido de falso, e, de tanto usado
na formação de palavras em português, constitui o que se chama falso
prefixo.
3. É importante anotar que se trata de elemento invariável, tanto em gênero
quanto em número, sendo, portanto, errôneas as formas em que se usa tal
elemento no feminino: pseudaperita, pseuda-advogada (GÓIS, 1943, p.
195).
4. Na didática lição de Sousa e Silva, “não se diz pseuda, pseudos,
pseudas. O termo pseudo (do grego pseudes, ‘falso’) é invariável em
gênero e número e só se usa em composição, como elemento inicial”
(1958, p. 245).
5. Na esteira do correto emprego de tal vocábulo, lembra Cândido Jucá
Filho (1981, p. 95) que Mário Barreto empregou a expressão “letras
pseudoetimológicas”.
6. Para Silveira Bueno, “o adjetivo pseudo – inteiramente grego – é
invariável em gênero e número. Exs.: Os pseudoprofessores, as
pseudopoetisas” (1957, p. 334).
7. Para Vitório Bergo (1943, p. 58), “embora usado como adjetivo, na
acepção de falso, suposto, pseudo é prefixo e conserva-se, portanto,
invariável: ‘Prossegue… a crítica zombeteira dos médicos mezinheiros,
dos pseudomédicos, dos barbeiros, das benzedeiras’ (Camilo Castelo
Branco)”.
8. São bastante corriqueiros os equívocos nesse sentido, como se pode
verificar na minuta de um recurso dirigido a um tribunal paulista:
“Alegando pseudas infringências a dispositivos contratuais e legais…”.
Corrija-se: “Alegando pseudoinfringências a dispositivos contratuais e
legais…”.
Ver Pseudo-perito ou Pseudoperito? (P. 629)

Pública-forma
1. Para De Plácido e Silva, é a “denominação dada à cópia de um
documento, feita por um tabelião ou escrivão, na qual faz constar,
palavra por palavra, tudo o que está ou se encontra no original” (1989, p.
502).
2. Por ser cópia feita por pessoa estranha ou que não produziu o escrito
original, distingue-se do traslado ou da certidão, que são feitos ou
extraídos pelo serventuário do próprio cartório em que passada a
escritura ou produzido o ato.
3. Duas observações importantes, que podem ser extraídas do Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa (2009, p. 686), editado pela Academia
Brasileira de Letras, entidade oficialmente incumbida de listar os
vocábulos existentes em nosso idioma, bem como sua grafia e sua
flexão: a) mesmo após as alterações introduzidas em nosso sistema pelo
Acordo Ortográfico de 2008, perdura o hífen entre os elementos; b)
substantivo composto que é, formado por um adjetivo e um substantivo,
seus dois elementos variam na passagem para o plural: públicas-formas.
Ver Substantivos compostos – Como levar ao plural? (P. 717)

Pudico ou Púdico?
1. Pudico significa o que tem ou revela pudor, o que é casto, recatado: um
jovem pudico, uma jovem pudica, uns jovens pudicos, umas jovens
pudicas.
2. No campo jurídico, assim como seu antônimo impudico, é adjetivo
muito usado nas digressões acerca dos crimes contra os costumes:
estupro, atentado violento ao pudor, importunação ofensiva ao pudor.
3. Quanto à prosódia, trata-se de palavra paroxítona, não proparoxítona,
sendo sua sílaba tônica di e não pu, de modo que não existe razão para
ser graficamente acentuada (SACCONI, 1979, p. 19).
4. Asseverando ser questão que “não se discute mais”, Silveira Bueno
(1938, p. 15) também lhe afirma o caráter de palavra paroxítona.
5. Mário Barreto (1954b, p. 124), ao tratar das acentuações viciosas, alude
“aos que, contra a origem e prática, querem esdruxulizar” tal vocábulo,
pronunciando-o com acento na antepenúltima sílaba.
6. Ao apontar o correto emprego de tal palavra em Alexandre Herculano –
como paroxítona e não proparoxítona – lembra Vasco Botelho de
Amaral, em corroboração, que, “em latim, pudicus era grave”,
acrescentando que Camões lhe dá a correta acentuação, ao rimar rica e
rico, respectivamente, com pudica e pudico (AMARAL, 1939, p. 86).
7. Espancando eventuais dúvidas, o Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, órgão oficialmente
incumbido de definir a pronúncia dos vocábulos pertencentes ao nosso
léxico, registra pudico, assim sem acento gráfico algum, como
paroxítona, portanto, e rimando com rico e nanico (2009, p. 686).
8. Seu superlativo absoluto sintético é pudicíssimo.

Pugilistico ou Pugilístico?
1. Um leitor, observando que em francês existe pugilistique e em italiano é
corrente pugilistico, pergunta se não existe pugilistico em português, já
que o corretor ortográfico de seu computador acusou irregularidade em
tal grafia.
2. Importa anotar, como premissa, que, desde o início do século XX, por
delegação legal, a Academia Brasileira de Letras é o órgão legalmente
incumbido de listar oficialmente os vocábulos existentes em nosso
idioma bem como determinar-lhes a correta grafia, e ela o faz por meio
da edição periódica do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa.
3. Pois bem: uma consulta à mais recente edição do VOLP mostra que, no
vernáculo, em correspondência com as palavras estrangeiras citadas,
existe o adjetivo pugilístico (ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS,
2009, p. 686), o qual, por ser vocábulo proparoxítono, traz em si o
acento gráfico.
4. Resolvida a questão, oportuno é acrescentar que dos corretores
ortográficos instalados nos computadores se pode dizer o mesmo que
dos dicionaristas: não importando a grande contribuição que prestam aos
usuários da língua portuguesa, se houver alguma desavença entre eles e
o VOLP, a razão há de estar sempre com este último, no que concerne à
existência, modo de ser e de escrever dos vocábulos em nosso idioma.

Pugnar
1. Quanto a sua pronúncia, é de se anotar que, até mesmo entre as pessoas
cultas, há uma tendência a introduzir uma vogal logo após o g, nas
formas rizotônicas, pronunciando-se puguino, puguinas…
2. Trata-se, porém, de verbo regular, em que, após o radical (pugn), apenas
se acrescentam as desinências próprias da conjugação: pugno, pugnas,
pugna, pugnamos, pugnais, pugnam (presente do indicativo); pugne,
pugnes, pugne, pugnemos, pugneis, pugnem (presente do subjuntivo);
pugna, pugne, pugnemos, pugnai, pugnem (imperativo afirmativo); não
pugnes, não pugne, não pugnemos, não pugneis, não pugnem
(imperativo negativo).
3. E não se há de introduzir, na fala, uma vogal que não existe na escrita.
4. Quanto a vocábulos como puguino e puguinas, configuram eles aquilo
que Sousa e Silva chama de formas disparatadas (1958, p. 157).
5. Em realidade, repita-se que, ao contrário do que muitos pensam, nas
formas rizotônicas desse verbo (casos em que a sílaba forte cai no
radical), o acento tônico incide no u que precede o g, e não nesta última
consoante, até porque só vogal pode ser pronunciada com força: não se
diga, pois, puguino, ou coisa parecida, mas: pugno, pugnas, pugna…
pugnam (presente do indicativo); pugne, pugnes, pugne…, pugnem
(presente do subjuntivo); pugna, pugne, pugnem (imperativo afirmativo),
não pugnes, não pugne, não pugnem (imperativo negativo).
6. Como as formas rizotônicas apenas ocorrem no presente do indicativo,
presente do subjuntivo, imperativo afirmativo e imperativo negativo, não
deve haver preocupação alguma, quanto à observação feita, no que diz
respeito aos demais tempos: pugnava (pretérito imperfeito), pugnarei
(futuro do presente), pugnaria (futuro do pretérito), pugnado
(particípio), pugnando (gerúndio), pugnei (pretérito perfeito), pugnara
(pretérito mais-que-perfeito), pugnasse (imperfeito do subjuntivo),
pugnar (futuro do subjuntivo).

Puni-lo ou Puní-lo? Conclui-lo ou Concluí-lo?


1. Uma importante premissa é que formas verbais unidas por hífen a
pronomes são consideradas palavras distintas para efeito de acentuação
gráfica. Exs.: amá-la-íamos e amá-lo-á são três palavras; puni-lo, bani-
lo e concluí-lo são duas palavras.
2. Para, em sequência, saber se amá, puni, bani e concluí têm acento
gráfico, o primeiro raciocínio é dividi-las em sílabas: a-má; pu-ni; ba-ni;
con-clu-í.
3. Em seguida, deve-se verificar qual a sílaba mais forte de todas essas
palavras: a-má; pu-ni; ba-ni; con-clu-í. Como, em todas elas, a sílaba
tônica é a última, dizemos que todas são palavras oxítonas.
4. Após esse raciocínio, anota-se que recebem acento gráfico as oxítonas
terminadas por a(s), e(s) e o(s). Assim: jacá, café e avô recebem acento
gráfico; mas não se acentuam saci e tatu.
5. Com essas observações se vê que se acentua amá, mas não puni nem
bani.
6. Em adição à regra genérica de acentuação das oxítonas, todavia, se a
palavra ainda não tiver motivo para receber acento gráfico, deve-se ver
se ela tem em si um ditongo (dois sons vogais na mesma sílaba, como
em cha-péu, á-gua) ou hiato (dois sons vogais que se encontram na
palavra, mas se acham em sílabas distintas, como em vo-o e ma-nu-al).
No caso analisado, vê-se que há hiato em con-clu-í.
7. Percorrido esse caminho, vê-se que há uma regra de hiatos segundo a
qual todo i ou u tônicos, seguidos ou não de s na mesma sílaba,
receberão acento gráfico, se formarem hiato com a vogal anterior.
Assim: sa-í, sa-ís-te, sa-í-da, ba-ú, ba-la-ús-tre, sa-ú-de. Mas não sa-ir
nem Ra-ul.
8. Pois bem. No nosso caso, con-clu-í se encaixa exatamente nessa regra.
9. Por essas razões é que, no caso das palavras inicialmente listadas,
escreve-se puni-lo, bani-lo e concluí-lo.

Puxa-saco – Qual o plural?


1. Um leitor indaga, em síntese, qual é o plural do vocábulo puxa-saco.
2. Ora, ante o fato de se tratar de uma palavra que traz em si o estigma da
vulgaridade, gerando dúvidas sobre sua existência efetiva no vernáculo,
sempre é bom lembrar – até para criar no leitor o hábito salutar de um
raciocínio que se repete – que, quando se quer saber se uma palavra
existe ou não em português, ou mesmo qual é sua grafia e/ou pronúncia,
ou qual o seu plural quando foge à normalidade, deve-se tomar por
premissa o fato de que a autoridade para listar oficialmente os vocábulos
pertencentes ao nosso idioma e para definir-lhes as demais
peculiaridades e circunstâncias, é a Academia Brasileira de Letras.
3. E essa autoridade, a ABL a exerce por via da edição do Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa.
4. Uma simples consulta ao VOLP mostra que, além da efetiva existência
no léxico do vocábulo puxa-saco, há o registro dos seguintes aspectos: a)
tem ele a mesma forma para o masculino e para o feminino; b) no plural,
forma puxa-sacos tanto no masculino como no feminino (2009, p. 688).
5. Com essas considerações como premissas, em específica reposta ao
leitor, confiram-se os seguintes exemplos, todos corretos: a) “Ele é um
puxa-saco”; b) “Ela é uma puxa-saco”; c) “Eles são dois puxa-sacos”; d)
“Elas são duas puxa-sacos”; e) “Ele puxa o saco do presidente”; d) “Ela
puxa o saco do presidente”; e) “Eles puxam o saco do presidente”; f)
“Elas puxam o saco do presidente”.
Q
Quais de nós – sabem ou sabemos?
Ver Alguns de nós – sabem ou sabemos? (P. 104)

Quais de vós – sabem ou sabeis?


Ver Alguns de nós – sabem ou sabemos? (P. 104)

Qual
1. Atentando-se à frase “Era uma herança de autores, que era preciso
salvar”, vê-se que ela é ambígua, com total prejuízo de sentido, pois não
há certeza acerca de qual seja o antecedente do que; isto é, na prática,
não se sabe com certeza o que era preciso salvar – se a herança, se os
autores.
2. Nesses casos, por necessidade de clareza, deve-se substituir o que por o
qual ou equivalente, definindo-se com precisão o antecedente e
desfazendo-se, desse modo, possível ambiguidade. Exs.: a) “Era uma
herança de autores, a qual era preciso salvar”; b) “Era uma herança de
autores, os quais era preciso salvar”.
3. Em outras palavras, embora técnica e gramaticalmente o exemplo
original esteja correto, o sentido exige que se altere a construção da
frase.
Ver Que (P. 635) e Qual de nós – sabe ou sabemos? (P. 633)

Qual a pontuação adequada?


1. Indaga-se qual a pontuação a ser feita no seguinte texto: “Maria toma
banho porque sua mãe disse ela pegue a toalha”. E, para a solução do
problema, vem o esclarecimento de que faltam nela, para que tenha
sentido, um ponto, uma exclamação e duas vírgulas.
2. De evidente utilidade, a pontuação é conhecida há séculos e já
presenciou aparição e o desaparecimento de muitos sinais.
3. A partir da década de cinquenta do século XX, tomou significativo
impulso entre nós e passou a orientar-se – além das razões sintáticas
tradicionais e dos impulsos subjetivos – pelas recomendações e
exigências mais apuradas da redação técnica.
4. De um modo geral, é empregada para representar, na escrita, a dinâmica
da fala, marcando a entonação, as pausas respiratórias e enfáticas.
5. Oportuno é anotar que os chamados clássicos de nossa literatura nem
sempre lhe atribuíram posição de relevo, motivo pelo qual não é
incomum encontrar, mesmo em abalizados escritores, erros de
pontuação, tais como os cometidos por qualquer usuário mediano da
escrita.
6. As gramáticas, por seu lado, pouco trazem a seu respeito, sobretudo no
que concerne ao uso da vírgula.
7. Deve-se conferir, todavia, adequado valor à pontuação, até porque, em
certos casos, errar ou acertar é questão de vida ou morte.
8. Para ilustrar a necessidade de observância dos princípios de pontuação,
lembre-se que a lenda conta que Alexandre Magno, não querendo
prosseguir em suas conquistas, antes de voltar à Babilônia, mandou,
como era de praxe à época, fosse consultada uma pitonisa acerca do
futuro. A resposta veio em cinco palavras soltas, sem qualquer sinal de
separação; e sua leitura foi feita por Alexandre e seus generais do modo
como mais lhes convinha: “Vais. Voltas. Não morrerás lá.” Em
campanha, porém, febre aguda acometeu o grande conquistador, que
acabou morrendo aos trinta e três anos, em 323 a. C. Seus generais,
lembrando-se da pitonisa, mandaram buscá-la, para que fosse punida
pela errônea previsão. Qual não foi o espanto deles, contudo, quando
ouviram dela a adequada (ao menos para ela) leitura do vaticínio: “Vais.
Voltas? Não! Morrerás lá.”
9. Da lenda, de igual modo, vem a história de que, na antiga Rússia, em
apelo extremo, um czar rejeitara as alegações de um condenado,
encimando o recurso com o lacônico veredicto: “Manter condenação.
Impossível absolver.” Tendo profundo e pessoal interesse no caso, mas
sem querer ostensivamente desafiar o czar, a czarina, durante a
madrugada, teria revertido a situação, valendo-se de pequenas alterações
de pontuação: “Manter condenação impossível: absolver.”
10. De mesma natureza é a história que tem circulado pelos computadores
de todo país. Conta ela que um homem rico estava muito mal. Pediu
papel e pena e assim escreveu: “Deixo meus bens à minha irmã não a
meu sobrinho jamais será paga a conta do alfaiate nada aos pobres”.
Morreu antes de fazer a pontuação. Sendo quatro os concorrentes, o
sobrinho fez a seguinte pontuação: “Deixo meus bens à minha irmã?
Não! A meu sobrinho. Jamais será paga a conta do alfaiate. Nada aos
pobres.” A irmã chegou em seguida e assim pontuou o escrito: “Deixo
meus bens à minha irmã. Não ao meu sobrinho. Jamais será paga a
conta do alfaiate. Nada aos pobres”. O alfaiate pediu cópia do original.
Não teve dúvidas em assim pontuar: “Deixo meus bens à minha irmã?
Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a conta do alfaiate. Nada
aos pobres”. Então chegaram os descamisados da cidade. Um deles,
sabido, fez esta leitura: “Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu
sobrinho? Jamais! Será paga a conta do alfaiate? Nada! Aos pobres!”
11. Quanto ao período da indagação (não sei se há outros sentidos), pode
ele ser pontuado ao menos dos seguintes modos, todos corretos: a)
“Maria toma banho porque sua. Mãe! disse ela, pegue a toalha!”; b)
“Maria toma banho, porque sua. Mãe! disse ela, pegue a toalha!”; c)
“Maria toma banho porque sua. Mãe! – disse ela – pegue a toalha!”;
d) “Maria toma banho, porque sua. Mãe! – disse ela – pegue a
toalha!”; e) “Maria toma banho porque sua. Mãe! (disse ela) pegue a
toalha!”; f) “Maria toma banho, porque sua. Mãe! (disse ela) pegue a
toalha!”; g) “Maria toma banho porque sua. ‘Mãe!’ disse ela. ‘Pegue a
toalha!’”; h) “Maria toma banho, porque sua. ‘Mãe!’ disse ela. ‘Pegue
a toalha!’”; i) “Maria toma banho porque sua. ‘Mãe!’ – disse ela –
‘Pegue a toalha!’”; j) “Maria toma banho, porque sua. ‘Mãe!’ – disse
ela – ‘Pegue a toalha!’”; k) “Maria toma banho porque sua. ‘Mãe!’
(disse ela) ‘Pegue a toalha!’”; l) “Maria toma banho, porque sua.
‘Mãe!’ (disse ela) ‘Pegue a toalha!’”; m) “Maria toma banho porque
sua. – Mãe! disse ela, pegue a toalha!”; n) “Maria toma banho, porque
sua. – Mãe! disse ela, pegue a toalha!”; o) “Maria toma banho porque
sua. – Mãe! – disse ela – pegue a toalha!”; p) “Maria toma banho,
porque sua. – Mãe! – disse ela – pegue a toalha!”; q) “Maria toma
banho porque sua. – Mãe! (disse ela) pegue a toalha!”; r) “Maria toma
banho, porque sua. – Mãe! (disse ela) pegue a toalha!”

Qual de nós – sabe ou sabemos?


Ver Alguém de nós – sabe ou sabemos? (P. 103)

Qual de vós – sabe ou sabeis?


Ver Alguém de nós – sabe ou sabemos? (P. 103)

Qualidade
Ver Na qualidade de – Galicismo? (P. 489)

Qualquer – É sinônimo de nenhum?


1. Trata-se de pronome indefinido que designa um objeto, um indivíduo ou
um lugar indeterminado. Ex.: “Não se ponha a reproduzir qualquer
teoria”.
2. Napoleão Mendes de Almeida (1981, p. 200), com ponderosos
argumentos e exemplos, condena o uso de tal vocábulo com a
significação de nenhum, e taxativamente indica o caminho para
solucionar os casos concretos: “Quando qualquer não vier na oração
com a significação de nenhum, o seu emprego será então justo”.
3. Assim, são incorretos os seguintes exemplos: a) “Não vi qualquer razão
para o pedido”; b) “Ele não se muniu de qualquer embasamento jurídico
em sua petição”.
4. Devem eles ser assim corrigidos: a) “Não vi razão alguma para o
pedido”; b) “Não vi nenhuma razão para o pedido”; c) “Ele não se
muniu de nenhum embasamento jurídico em sua petição”; d) “Ele não se
muniu de embasamento jurídico algum em sua petição”.
5. Josué Machado (1994, p. 30-1), inserindo tal equívoco no rol das “coisas
lamentáveis”, anota que “qualquer não pode substituir nenhum porque
não significa nenhum, não tem sentido negativo nem de exclusão”.
6. É bem verdade que, asseverando que “certos gramáticos não
condescendem com o uso de qualquer no sentido de nenhum em frases
negativas”, preconiza Domingos Paschoal Cegalla que “não se deve
condenar o emprego de qualquer nesta acepção, tão generalizado está”
(1999, p. 340).
7. Todavia, com todo o respeito ao eminente gramático, se verdade é que o
uso se constitui no grande mestre do idioma, não menos certo é que, para
que seja alçado a tal condição, há de ser ele remansoso e pacífico no
padrão culto, o que não se dá no caso analisado, atendo-se a mencionada
generalização tão somente à linguagem informal.
8. Num outro aspecto, Júlio Nogueira (1939, p. 224), com propriedade,
lembra que “qualquer, posposto, tem, às vezes, sentido pejorativo: Não
entregue esses documentos a um empregado qualquer; ou Pelo simples
desejo de casar, não aceite um marido qualquer”.
9. Seu plural é quaisquer.
Ver Dupla negativa – Está correto? (P. 295)

Qualquer ônus ou Quaisquer ônus?


1. Deve-se dizer qualquer ônus ou quaisquer ônus?
2. A dificuldade parece surgir em razão do fato de que ônus é uma palavra
que tem a mesma forma no singular e no plural, fato esse que também se
dá com outros vocábulos, como pires e ônibus.
3. Em tais casos, porém, identifica-se o singular ou o plural desses
substantivos pelas demais palavras que a eles se referem: a) “Um ônus
incidia sobre o imóvel”; b) “Diversos ônus incidiam sobre o imóvel”.
4. No caso específico da indagação inicial, anota-se que qualquer é
singular, enquanto quaisquer é plural.
5. Desse modo, a dificuldade é mais aparente do que real, como se pode
verificar nos seguintes exemplos: a) “Qualquer ônus que remanescer
sobre o imóvel será de responsabilidade do vendedor”; b) “Quaisquer
ônus que remanescerem sobre o imóvel serão de responsabilidade do
vendedor”.

Qual seja
1. Ante as frequentes confusões que ocorrem com essa expressão e com
outras similares, observe-se a precisa lição de Arnaldo Niskier: “ou seja
é invariável, por ser, a exemplo de isto é, uma expressão explicativa.
Não devemos, no entanto, usar o mesmo raciocínio para qual seja, que é
variável, formando no plural quais sejam” (1992, p. 52).
2. Assim, é de se atentar à correção ou incorreção dos seguintes exemplos:
a) “Os tribunais superiores, qual seja, o Supremo Tribunal Federal e o
Superior Tribunal de Justiça, ainda não apreciaram a matéria” (errado);
b) “Os tribunais superiores, quais sejam, o Supremo Tribunal Federal e
o Superior Tribunal de Justiça, ainda não apreciaram a matéria”
(correto); c) “Os tribunais superiores, ou seja, o Supremo Tribunal
Federal e o Superior Tribunal de Justiça, ainda não apreciaram a
matéria” (correto); d) “Os tribunais superiores, ou sejam, o Supremo
Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça, ainda não
apreciaram a matéria” (correto).
3. Para os que reputarem contrários à eufonia os sons daí resultantes, o
melhor é substituir a expressão por uma de suas sinônimas: a saber, isto
é, vale dizer.
Ver Ou seja (P. 538).

Quando de – Está correto?


1. Errôneo é o uso dessa expressão, nascida de influência francesa, quando
tem o significado de à época de, e isso quer por não pertencer ela à
estrutura de nosso idioma, quer por não contar com o abono dos bons
escritores. Ex.: “Quando da aprovação do projeto do Código Civil,
longa batalha se travou, tendo por centro a atuação de Rui Barbosa”
(errado).
2. Tal expressão, nesses casos, pode perfeitamente ser evitada por
substituição de uma das seguintes locuções: à época de, no momento de,
no tempo de, por ocasião de.
3. Com outro significado, nenhum empecilho há para seu uso. Exs.: a)
“Quando dos esforços advêm resultados satisfatórios, sentimo-nos
recompensados”; b) “Quando de Brasília voltavam os deputados, já se
percebeu que não seria votado o projeto de lei”.
4. Em tais casos, percebe-se facilmente o real sentido da locução,
empregada como conjunção subordinativa temporal, quando se põem as
frases em sua ordem direta: a) “Quando resultados satisfatórios advêm
dos esforços, sentimo-nos recompensados”; b) “Quando os deputados
voltavam de Brasília, percebeu-se que não seria votado o projeto de lei”.

Quanto antes ou O quanto antes?


1. Quanto antes é a forma correta da expressão, e não o quanto antes.
2. Para Laurinda Grion (s/d, p. 55), que se reporta às lições de Sacconi e
Napoleão Mendes de Almeida, deve-se dizer quanto antes, “sem o a
anteceder a locução adverbial”.
3. Vejam-se, assim, os seguintes exemplos, com a indicação de sua erronia
ou correção: a) “Vá quanto antes” (correto); b) “Vá o quanto antes”
(errado); c) “Termine o serviço quanto antes” (correto); d) “Termine o
serviço o quanto antes” (errado); e) “Neste Natal, procure fazer compras
quanto antes” (correto); f) “Neste Natal, procure fazer compras o quanto
antes” (errado)

Quanto a seu plural ou Quanto ao seu plural?


Ver Crase antes de pronomes possessivos (P. 235).

Quanto possível ou Quanto possíveis?


1. Observa Luís A. P. Vitória (1969, p. 203) que “esta locução é
invariável”, não se flexionando, por consequência, para o plural. Exs.: a)
“O réu procurou vítimas tão ingênuas quanto possível” (correto); b) “O
réu procurou vítimas tão ingênuas quanto possíveis” (errado).

Quantum
1. Antonio Henriques (1999, p. 166) o conceitua como “advérbio latino
substantivado em português com o sentido de montante, indicador de
quantidade”. Exs.: a) “… agregam-se necessariamente à pena, influindo,
pois, na fixação do quantum da fiança” (Magalhães Noronha); b) “Por
isso mesmo, quer seja civil ou comercial, desde que a obrigação foi em
parte satisfeita, justo é se reduza o quantum da multa…” (Washington
de Barros Monteiro).
2. O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia
Brasileira de Letras – que é o veículo oficial para registrar os vocábulos
pertencentes ao nosso idioma e ordenar o modo de grafar as palavras em
nosso idioma – considera-o palavra ainda pertencente ao idioma latino,
motivo por que não o acentua (o que seria obrigatório, se já estivesse
incorporado ao nosso léxico, à semelhança de álbum, como paroxítona
terminada em um), e lhe indica o plural quanta, desconhecido para as
palavras vernáculas (2009, p. 863).
3. Por ser vocábulo não pertencente a nossa língua, há de ser grafado entre
aspas ou por qualquer modo indicador de tal circunstância, como itálico,
negrito ou sublinha.

Quase
1. É advérbio que tem o sentido de perto, aproximadamente. Ex.: “A
sustentação oral durou quase vinte minutos”.
2. No âmbito jurídico, entra na composição de substantivos para indicar
aproximação da ideia expressa pelo nome: quase contrato, quase delito,
quase posse, compostos esses que têm sentido preciso e técnico.
3. Importante observar que o Acordo Ortográfico de 2008 aboliu o hífen
utilizado nos substantivos compostos com este advérbio.
4. Atente-se a que são incorretas as grafias quasi e quási.

Quatorze ou Catorze?
Ver Catorze ou Quatorze? (P. 174)

Que
1. Quanto às regras de estilo para o uso do que, leciona Antônio Albalat
que “é preferível não os multiplicar e servir-vos dele sobriamente; mas
não há que hesitar, quando a clareza e a originalidade se impõem”.
2. Aconselha, no entanto, tal autor sua supressão em muitos casos, em prol
da harmonia, com o auxílio de adjetivos (ALBALAT, 1934, p. 142-3).
3. Assim, devem-se evitar expressões como as seguintes: a) “Este costume,
que achavam ridículo…”; b) “O mancebo que avistara na véspera…”.
Há de expressar a ideia de outro modo: a) “Este costume julgado
ridículo…”; b) “O mancebo avistado na véspera…”
4. Por outro lado, fundado em lição de Guerreiro Murta, também observa o
desembargador Geraldo Amaral Arruda que as orações relativas
(iniciadas por um pronome relativo) às vezes desagradam ao ouvido pela
colisão ou repetição de sons, ou truncam o pensamento.
5. Bem por isso, aconselha ele diversos modos de melhorar a frase
(ARRUDA, 1987, p. 2-3.): a) Pela substituição da oração adjetiva por
um aposto: i) “Clóvis Beviláqua, que fez este projeto de código…” (frase
original); ii) “Clóvis Beviláqua, autor deste projeto de código…” (frase
melhorada). b) Pela substituição da oração adjetiva por um adjetivo: i)
“Era um juiz que estudava para decidir” (frase original); ii) “Era um juiz
estudioso para decidir” (frase melhorada). c) Pela substituição da oração
adjetiva por um possessivo: i) “O médico que cuida de mim…” (frase
original); ii) “O meu médico…” d) Pela substituição da oração adjetiva
por uma preposição: i) “Era um juiz que não tinha medo de decidir”
(frase original); ii) “Era um juiz sem medo de decidir” (frase melhorada);
e) Pela mudança da oração adjetiva, fazendo desaparecer o pronome
relativo: i) “O ladrão haveria de restituir os bens que havia roubado”
(frase original); ii) “O ladrão haveria de restituir os bens roubados”
(frase melhorada); iii) “O ladrão roubara os bens, mas haveria de
restituí-los” (frase melhorada).
Ver Omissão da conjunção – Está correto? (P. 526) e Qual (P. 632).

Que concorre ou A que concorre?


1. Um leitor indaga, em suma, se está correta a seguinte frase: “Clique aqui
e confira as obras que você pode concorrer”. E questiona se o correto
não é: “Clique aqui e confira as obras a que você pode concorrer”.
2. O problema todo reside na expressão que você pode concorrer, onde o
que é pronome relativo (e, assim, pode ser substituído por quais).
3. Ora, se, como no caso, o pronome relativo funciona como complemento,
depende ele totalmente da regência do verbo ao qual se liga.
4. Assim, se vai ou não haver preposição antes de tal pronome, ou qual vai
ser essa preposição, tudo depende do verbo que está sendo completado
por ele.
5. Vejam-se os seguintes exemplos: a) “Editou-se uma lei em que
acreditamos, com que simpatizamos e por que lutamos” (assim se diz,
porque o correto é acreditar em, simpatizar com e lutar por); b) “Fazer
da aplicação da lei a arte de distribuir justiça é o ideal a que aspiramos,
com que simpatizamos e em que nos comprazemos” (e isso porque se diz
aspirar a, simpatizar com e comprazer-se em).
6. Sobre esse assunto, assim é a lição de Sousa e Silva: “Nas orações
adjetivas cujo pronome relativo não funcione como sujeito, se o verbo
exigir alguma preposição, coloca-se esta antes do relativo”. Exs.: a)
“Atualmente, os meios de que dispomos…”; b) “Fui traído pelos amigos
em quem mais confiava”; c) “… em relação àquele a quem devia
respeito e admiração”; d) “É um monumento de que todos os brasileiros
se orgulham” (dispor de, confiar em, dever respeito e admiração a,
orgulhar-se de).
7. Num segundo aspecto, lembra o mesmo autor que, “se o relativo for o
adjetivo (atualmente pronome adjetivo) cujo, a construção gramatical é
idêntica” (SILVA, A., 1958, p. 230-3). Ex.: “… eram R. S. e um pretinho
de cujo nome não se lembra” (lembrar-se de).
8. Com essas observações, de modo específico para o caso da consulta,
anota-se que quem concorre, concorre a. Se há um auxiliar, não varia a
regência do verbo: quem pode concorrer, pode concorrer a.
9. Desse raciocínio, conclui-se que equivocada é uma das frases
inicialmente dadas, conforme se nota pela seguinte especificação: a)
“Clique aqui e confira as obras que você pode concorrer” (errado); b)
“Clique aqui e confira as obras a que você pode concorrer” (correto).
Ver Regência verbal (P. 651).

Quede – Existe?
1. Assim como cadê e quedê, trata-se de corruptela vocabular da expressão
que é de.
2. Ocorre que cadê é palavra aceita como existente em nosso léxico, mas,
nesse sentido, não existe quede nem quedê.
Ver Que é de (P. 636) e Cadê (P. 165).

Quedê – Existe?
1. Assim como cadê e quede, trata-se de corruptela vocabular da expressão
que é de.
2. Ocorre que cadê é palavra aceita como existente em nosso léxico, mas,
nesse sentido, não existe quede nem quedê.
Ver Que é de (P. 636) e Cadê (P. 165).

Que é de
1. Na expressão interrogativa “Que é de?”, subentende-se a palavra feito, e
seu uso é integralmente correto, ficando a locução invariável, mesmo
que acompanhada de palavra no plural. Exs.: a) “Que é da prova pericial
determinada pelo juízo?”; b) “Que é das provas técnicas, e que é dos
exames periciais?”
2. Atente-se à precisa lição de Vitório Bergo: “Fórmula exata de pergunta,
resumo de ‘que é feito de…?’, que se deve empregar em vez de quede”
(1944, p. 201). Ex.: “Que é dos tempos em que Aspásia ensinava
retórica aos oradores?” (Machado de Assis).
3. Jamais se deve dizer – e muito menos escrever – quéde, quedê.
4. Quanto a cadê, assim leciona Júlio Nogueira: “Esta palavra estranha, que
se ouve a cada momento, principalmente no falar nortista, é apenas uma
corrutela da frase interrogativa: Que é de?, a saber: Que é feito de? O
cadê já é uma segunda transformação, sendo a primeira quede. Quede o
livro? Que é de? Quanto ao grosseiro cadê, não deve ter representação
alguma, cabendo antes expungi-lo de vez da nossa linguagem” (1959, p.
27).
5. Para Arnaldo Niskier – que também vê como possível o emprego da
expressão onde está – “o correto é que é de; quede e cadê só na
linguagem oral ou na reprodução da mesma [sic] em textos literários”
(1992, p. 59).
6. Em efetiva condenação a seu uso – mormente no padrão culto –
Domingos Paschoal Cegalla sintetiza que cadê, quedê e quede “são
deturpações populares de que é de?, que é feito de?” (1999, p. 61).
7. Importa, todavia, observar que o Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de Letras, detentora de
autoridade oficial para listar os vocábulos integrantes de nosso léxico, a
partir de sua edição de 2009, passou a registrar cadê, exatamente na
acepção de que é de (2009, p. 143). Isso significa que tal vocábulo, a
contar da referida edição, passou a integrar nosso idioma, e seu emprego
está integralmente autorizado.
Ver Cadê (P. 165).

Quem de nós – sabe ou sabemos?


Ver Alguém de nós – sabe ou sabemos? (P. 103)

Quem de vós – sabe ou sabeis?


Ver Alguém de nós – sabe ou sabemos? (P. 103)

Quem fez foi (foram) eles?


1. Por causa dos problemas que normalmente advêm do uso do referido
pronome, importa observar como fica a concordância do verbo com o
emprego de quem no seguinte exemplo: “Quem fez mais sucesso no
carnaval foi (foram) os cartões corporativos”?
2. A questão, num primeiro momento, pode ser solucionada com
facilidade: foi o cartão ou foram os cartões. O verbo concorda com
cartão/cartões, que é o seu sujeito.
3. Em sequência, aproveita-se para seguir em explicação que parece
bastante útil ao caso: O exemplo poderia ser invertido para “Foram os
cartões corporativos quem fez mais sucesso no carnaval”. E se indaga:
quem fez ou quem fizeram mais sucesso no carnaval?
4. Ora, quando se tem quem ou que, em estruturas dessa natureza, parta-se
do princípio de que, entre fui eu que e fui eu quem, “não há que escolher:
ambas são corretas” (BUENO, 1938, p. 48).
5. Com a primeira de tais expressões – fui eu que – o verbo seguinte
concorda com o pronome pessoal reto que aí se encontra. Exs.: a) “Fui
eu que fiz…”; b) “Foste tu que fizeste…”; c) “Foi ele que fez…”; d)
“Fomos nós que fizemos…”; e) “Fostes vós que fizestes…”; f) “Foram
eles que fizeram…”.
6. Com a segunda delas – fui eu quem – o verbo seguinte: a) pode
concordar com o pronome pessoal reto, como no caso anterior, b) ou
pode ficar fixo na terceira pessoa do singular. Exs.: i) “Fui eu quem
fiz…”; ii) “Fui eu quem fez…”; iii) “Foste tu quem fizeste…”; iv) “Foste
tu quem fez…”; v) “Fomos nós quem fizemos…”; vi) “Fomos nós quem
fez…”; vii) “Fostes vós quem fizestes…”; viii) “Fostes vós quem fez…”;
ix) “Foram eles quem fizeram…”; x) “Foram eles quem fez…”
7. Com o quem, é muito comum a concordância na terceira pessoa do
singular, principalmente quando se procede à inversão: a) “Quem fez fui
eu…”; b) “Quem fez foste tu…”; c) “Quem fez foi ele…”; d) “Quem fez
fomos nós…”; e) “Quem fez fostes vós…”; f) “Quem fez foram eles...”
8. Com essas ponderações, vejam-se as variações corretas: a) “Foram os
cartões corporativos que fizeram mais sucesso no carnaval”; b) “Foram
os cartões corporativos quem fizeram mais sucesso no carnaval”; c)
“Foram os cartões corporativos quem fez mais sucesso no carnaval”; d)
“Quem fez o maior sucesso no carnaval foram os cartões corporativos”.
Ver Fui eu que ou Fui eu quem? (P. 366)

Quem há de
Ver Há de ou Há-de? (P. 384)

Quem serve para coisa ou só para pessoa?


1. Um leitor pergunta se configura inadequação usar quem numa situação
em que o termo referido não é pessoa, e sim coisa. E traz um exemplo
colhido na mídia, para demonstrar sua estranheza: “Foram os cartões
corporativos quem fizeram mais sucesso no carnaval”.
2. Ora, no português moderno, em estruturas como a trazida pelo leitor, o
que serve para coisas e pessoas, mas quem serve apenas para pessoas, e
não para coisas. Exs.: a) “Foi o reitor que o ajudou naquela dificuldade”
(correto); b) “Foi o reitor quem o ajudou naquela dificuldade” (correto);
c) “Foi o dicionário que o ajudou naquela dificuldade” (correto); d)
“Foi o dicionário quem o ajudou naquela dificuldade” (errado).
3. Vejam-se, porém, dois exemplos de autores clássicos em que não se
obedeceu a essa regra: a) “A ciência do direito romano foi quem, para
desconto, trouxe o absolutismo às nações” (Alexandre Herculano); b)
“… Toledo, cidade nobre e antiga, a quem cercando o Tejo em torno vai,
suave e ledo” (Luís de Camões).
4. Quanto a esses dois exemplos de séculos atrás, Cândido Jucá Filho,
mesmo assim, traz justificativa mais do que apropriada: “em ambos os
casos há certa personificação do ser a que se alude” (1963, p. 525).
5. Para o português atual, todavia, em termos de norma culta, deve-se
observar os princípios inicialmente postos, de modo que se deve assim
corrigir o exemplo trazido pelo leitor: “Foram os cartões corporativos
que fizeram mais sucesso no carnaval”.

Que nem – Está correto?


1. Como a muitos causa estranheza o emprego da expressão que nem, vale
a pena observar se é correta uma frase como a seguinte: “João fala
inglês que nem um nativo”.
2. Para melhor situar a pergunta, observa-se que o circunlóquio que nem
está em lugar de como e introduz uma oração subordinada adverbial
comparativa. Com a mencionada pergunta, então, quer-se saber se que
nem pode ser uma conjunção (mais tecnicamente, uma locução
conjuntiva) com valor comparativo.
3. Diga-se desde logo que os gramáticos, de um modo geral, não se sabe se
por mero esquecimento ou se por rejeição não declarada, evitam listar
que nem entre as conjunções ou locuções conjuntivas comparativas.
4. Atestando-lhe, porém, a existência ao longo dos tempos no vernáculo,
Napoleão Mendes de Almeida (1981, p. 257) registra aspectos
interessantes: a) Anota que não vemos seu emprego em autores
renomados. b) Traz, todavia, um exemplo do insuspeito Rebelo da Silva
(“O erudito fez-se vermelho que nem uma romã”); c) Observa, por fim,
que Eduardo Carlos Pereira registra tal locução em sua obra de
gramática.
5. Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 344), por sua vez, a tem como
“expressão popular, equivalente à conjunção comparativa como”. E
exemplifica: a) “Ele é que nem o avô: alto e magro”; b) “Trepava nas
árvores que nem macaco novo”; c) “Sua tez era que nem pétalas de
rosa”; d) “Entrou na sala que nem vento impetuoso”.
6. Respondendo a um consulente, que lhe indagava se tal expressão é
“grosso caipirismo”, quando usada numa comparação, Silveira Bueno
(1938, p. 92) afiançava ser “bom português” e realçava que podia ser
encontrada em bons autores.
7. Enfrentando diretamente a questão inicialmente posta e tendo em mente
que se está diante de seu emprego por autores e gramáticos do porte
daqueles aqui mencionados, pode-se afirmar que, no mínimo, o que há
aqui é uma divergência entre os estudiosos, e, nessa condição, sempre
vigora importante princípio a determinar que, na dúvida, concede-se
liberdade ao usuário para escolher entre as posições.

Que ou De que?
1. Um leitor diz ter dúvidas quanto ao emprego da palavra que ou da
expressão de que em frases como as seguintes: a) “Uma das informações
que se colhe no noticiário é que o advogado …”; b) “Uma das
informações que se colhe no noticiário é de que o advogado …”?
2. Nesse campo, de integral propriedade é a observação de Eliasar Rosa
para uma situação frequente nos discursos a pretexto de suposta
erudição: “Há uma forma de errar muito curiosa nas sustentações orais,
ou em discursos forenses ou parlamentares”.
3. E especifica tal autor: “Consiste ele em usar-se a preposição de com
verbos que não a exigem”.
4. E cita ele o seguinte trecho como exemplo: “O Dr. Promotor afirmou de
que o réu matou por motivo fútil; entretanto a defesa vai demonstrar de
que isso não é verdade, pois está provado nos autos de que o réu matou
impelido por motivo de relevante valor social…”
5. Por fim, assim ele explica e conclui: “Os verbos afirmar, demonstrar,
provar não se constroem com a preposição de. Logo o certo seria: “O Dr.
Promotor afirmou que…; entretanto a defesa demonstrará que…, pois
está provado … que… (1993, p. 54-5)”
6. No caso da dúvida trazida pela leitora, tem-se o verbo ser, que é de
ligação e que pede predicativo do sujeito não precedido de preposição. O
correto, portanto, é “Uma das informações que se colhe no noticiário é
que o advogado …”
7. Acresce dizer que também é correta a seguinte construção: “Uma das
informações que se colhe no noticiário é a de que o advogado…”. Mas
ela corresponde exatamente à construção aqui abonada, na qual “a” é
objeto direto, e a estrutura restante é um complemento desse termo por
último referido.

Que ou Quê?
1. Como a palavra referida às vezes é acentuada, às vezes não, importa
observar qual a forma correta quanto à acentuação gráfica: “Requeira o
que de direito” ou “Requeira o quê de direito”.
2. É importante anotar que se acentua graficamente o vocábulo da consulta,
numa primeira hipótese, quando é um substantivo, caso em que significa
(i) o próprio nome da consoante ou (ii) alguma coisa. Exs.: a) “O quê
fica entre o pê e o erre” (nome da letra); b) “Valquíria tem um quê de
mistério no olhar”.
3. Também se acentua, quando se localiza no fim da frase (ou logo antes de
sinal de pontuação), e, então, se torna tônica. Ex. “Quê! Você por aqui?”
(fim de frase).
4. Com essas premissas, passa-se à análise dos exemplos inicialmente
dados.
5. Quando se observa o exemplo “Requeira o que de direito”, tem-se que:
a) o o é um pronome demonstrativo, com o significado de aquilo; b) o
que é um pronome relativo; c) veja como se pode substituir a referida
expressão – “Requeira aquilo o qual é de direito”; d) não há razão
alguma que justifique a necessidade de emprego do acento gráfico na
palavra que.

Querer
1. De início, merecem atenção seu pretérito perfeito e tempos derivados,
“cujas formas se escrevem com s” (CEGALLA, 1999, p. 345): quis,
quiseste, quis, quisemos, quisestes, quiseram (pretérito perfeito do
indicativo); quisera, quiseras, quisera, quiséramos, quiséreis, quiseram
(pretérito mais-que-perfeito do indicativo); quiser, quiseres, quiser,
quisermos, quiserdes, quiserem (futuro do subjuntivo); quisesse,
quisesses, quisesse, quiséssemos, quisésseis, quisessem (imperfeito do
subjuntivo).
2. Em sua ortografia, como se verifica com facilidade, faz oposição, nesses
tempos, ao verbo fazer, que é escrito com z: fiz, fizeste, fez, fizemos,
fizestes, fizeram (pretérito perfeito do indicativo); fizera, fizeras, fizera,
fizéramos, fizéreis, fizeram (pretérito mais-que-perfeito do indicativo);
fizer, fizeres, fizer, fizermos, fizerdes, fizerem (futuro do subjuntivo),
fizesse, fizesses, fizesse, fizéssemos, fizésseis, fizessem (imperfeito do
subjuntivo).
3. Também é palavra que precisa ser observada quanto à regência verbal.
4. Significando desejar, é transitivo direto. Exs.: a) “Eu quero o livro”; b)
“Eu o quero”.
5. No sentido de estimar, querer bem, é transitivo indireto. Exs.: a) “Eu
quero muito aos meus amigos”; b) “Eu lhes quero muito”.
6. Assim é a síntese de Artur de Almeida Torres: “É transitivo indireto no
sentido de ter amizade ou estima a, amar. Nas demais acepções, aparece
como transitivo direto, bitransitivo, intransitivo e pronominal” (1967, p.
241).
7. Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 345) faz as seguintes ponderações:
a) “na acepção de desejar, pede objeto direto” (“Ele não a quis para
esposa”); b) “no sentido de amar, ter afeto a alguém, usa-se com objeto
indireto” (“Os tios queriam muito ao menino”); c) em frases do último
modelo, “está implícita a palavra bem” (“Os tios queriam muito bem ao
menino”).
8. De tais observações, oportuno é anotar que fundamentalmente diversas
em sentido são as seguintes frases, quando dirigidas a uma mulher: a)
“Eu a quero muito” (= Eu a desejo muito); b) “Eu lhe quero muito” (=
Eu a estimo muito).
9. É bem certo que Celso Pedro Luft (1999, p. 430) faz a seguinte
ponderação para os dias de hoje: “Para a linguagem culta formal, pode-
se recomendar a variante querer-lhe, sem condenar a outra (querê-lo).
10. O melhor, a esse respeito, entretanto, parece ser acolitar o ensino de
Francisco Fernandes: a) Há exemplos de seu emprego transitivo direto
em escritores de boa nota; b) Sem embargo de tal uso, entretanto, “a
regência mais recomendada para o verbo querer, na acepção de amar
alguém, ter-lhe amizade ou estima, é aquela em que ele aparece
seguido de objeto indireto”.
11. Bem por isso, o referido autor resume o melhor posicionamento nesse
sentido, fundado em lição de Otoniel Mota: “O verbo querer, com o
sentido de amar alguém, ter-lhe amizade, rege o pronome lhe; com o
sentido de desejar, rege o pronome o”.
12. E justifica: “O bem, ou o mal, que se quer, é, nesses casos, o
complemento direto do verbo; de sorte que a pessoa, ou coisa, a que se
quer o mal ou o bem, representará necessariamente um complemento
indireto. Em faltando, portanto, o complemento direto, nas frases cujo
torneio elíptico o subentende, a situação gramatical da coisa ou pessoa,
a cujo respeito se cogita em exprimir a disposição de ânimo do agente,
não mudará de natureza. Assim que diremos: “Quero bem a Pedro”.
“Quero muito a Pedro”. Ou, supresso o complemento direto: Quero a
Pedro” (FERNANDES, 1971, p. 487-8).

Quer… quer…
1. Ao dar com uma legenda de clichê “… quer corram ou andem
devagar…”, Sousa e Silva observa que, se se emprega a conjunção quer
no primeiro membro disjuntivo, deve-se repeti-la no segundo: “… quer
corram, quer andem devagar” (1958, p. 248).
2. Diversa, entretanto, é nesse sentido a lição de Luciano Correia da Silva:
“A alternativa ou pode estar uma vez só ou várias vezes numa frase ou
período: ‘Decifra-me ou devoro-te’; ‘Um advogado se distingue, ou pela
competência, ou pela dedicação, ou, o que é melhor, por essas duas
qualidades juntas’. Quer e já funcionam sempre repetidas, combinadas
com ou, ou várias vezes… conforme os exemplos: ‘Já falando, já
escrevendo, o advogado precisa respeitar a gramática’; ‘Quer falando,
ou escrevendo, o advogado precisa respeitar a gramática’” (1991, p.
144).
3. Da observação dos textos submetidos à norma culta, entretanto, o que
comumente se vê é a obediência à primeira lição referida, de lavra de
Sousa e Silva, de modo que, se se tem a conjunção quer na primeira
oração, deve ser ela repetida na segunda.
4. As mesmas observações valem para outras conjunções similares: ora…
ora, já… já.
Ver Quer… quer… quer… (P. 639)

Quer… quer… quer…


1. Nada impede que se empregue quer por mais de duas vezes, desde que
três ou mais blocos hajam de ser comparados em alternativa, tal como
aparece no art. 1.368 do Código Civil de 1916: “É universal a sociedade,
quer abranja todos os bens presentes, ou todos os futuros, quer uns e
outros na sua totalidade, quer somente a dos seus frutos e rendimentos”.
2. Quanto ao emprego de outras palavras de função similar, de Luciano
Correia da Silva vem a seguinte lição: “A alternativa ou pode estar uma
vez só ou várias vezes numa frase ou período: ‘Decifra-me ou devoro-
te’; ‘Um advogado se distingue, ou pela competência, ou pela
dedicação, ou, o que é melhor, por essas duas qualidades juntas’. Quer e
já funcionam sempre repetidas, combinadas com ou, ou várias vezes…
conforme os exemplos: ‘Já falando, já escrevendo, o advogado precisa
respeitar a gramática’; ‘Quer falando, ou escrevendo, o advogado
precisa respeitar a gramática’” (1991, p. 144).
3. Interessante é anotar, todavia, em objeção ao ensino do mestre por
último citado, que, da observação dos textos submetidos à norma culta, o
que comumente se vê é a obediência à lição de Sousa e Silva, para quem,
se se emprega a conjunção quer no primeiro membro disjuntivo, deve-se
repeti-la no segundo: “… quer corram, quer andem devagar” (1958, p.
248).
Ver Quer… quer… (P. 639)

Questão
1. Silveira Bueno manda omitir a pronúncia do u em tal vocábulo e diz que
“quem pronunciar cuestão errará vulgarmente” (1938, p. 13).
2. Em outra parte de sua obra, volta ele a negar a possibilidade de
pronúncia do u e assevera que o qu tem valor de k (BUENO, 1938, p.
71).
3. Por fim, ainda observa a erronia da pronúncia kestã (BUENO, 1938, p.
7).
4. Também para Domingos Paschoal Cegalla, “é insonoro o u de questão e
dos derivados questionar (contestar), questionário, questiúncula,
questor” (1999, p. 345).
5. Arnaldo Niskier, de igual modo, insiste em que não se há de pronunciar
o u dessa palavra, lição essa que ele estende para o verbo questionar
(1992, p. 3 e 81).
6. Todavia já o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela
Academia Brasileira de Letras, órgão oficial para definir quais vocábulos
e quais formas integram o léxico da língua pátria, em sua última edição
anterior ao Acordo Ortográfico de 2008, registrava qüestão a par de
questão (2004, p. 662), atestando a dupla possibilidade de pronúncia e de
grafia para o vocábulo.
7. Ora, firme-se a premissa de que o Acordo Ortográfico de 2008
simplesmente aboliu o uso do trema em palavras de nosso idioma, mas
não alterou a pronúncia de nenhum deles.
8. E, assim, nessa esteira, o VOLP, tentando trazer um pouco de luz ao
assunto, em sua primeira edição posterior às mudanças de grafia em
nosso idioma, a par de excluir o trema sobre tal vocábulo, teve o cuidado
de apontar, entre parênteses, a duplicidade de pronúncias possíveis, a
saber, com o u pronunciado ou não (ACADEMIA BRASILEIRA DE
LETRAS, 2009, p. 692).
9. E essa possibilidade de dupla pronúncia também se estende a todos os
seus cognatos: questionabilidade, questionação, questionador,
questionamento, questionante, questionar, questionário, questionável,
questiúncula.
Ver Trema (P. 746).
Questão a resolver(-se) – Está correto?
Ver A fazer – Está correto? (P. 91)

Questionamento
Ver Questão (P. 639).

Questionar
Ver Questão (P. 639).

Questionário
Ver Questão (P. 639).

Questiúncula
Ver Questão (P. 639).

Que subscrevem ou Que esta subscrevem?


1. Uma leitora pergunta como se deve escrever: “por seus advogados que
subscrevem” ou “por seus advogados que esta subscrevem”?
2. Ora, na estruturação das frases de nosso idioma, tanto na escrita quanto
na fala, nem sempre há uma só maneira correta de expressão.
3. É o que se dá nos exemplos trazidos pela leitora.
4. No segundo deles – por seus advogados que esta subscrevem – tem-se a
expressão completa, em que esta é o pronome que está em lugar do
nome petição, ou peça, ou carta, ou qualquer outro papel ou documento
escrito. Tal vocábulo tem a função de objeto direto do verbo subscrever.
5. No primeiro deles – por seus advogados que subscrevem – ocorre a
ocultação tanto do nome quanto do pronome que haveria de substituí-lo,
o que, assim fica subentendido.
6. Mas ambas as estruturas são maneiras corretas de expressão, de modo
que a opção por uma delas é mera questão de estilo, ou mesmo da
vontade do subscritor quanto a ser mais ou menos claro e específico.
Que tal
1. Em expressões dessa natureza, tal varia de acordo com o substantivo que
acompanha (NISKIER, 1992, p. 59). Exs.: a) “Que tal o depoimento do
réu?”; b) “Que tais os depoimentos das testemunhas?”

Quinquênio
1. É o lapso temporal de cinco anos, tendo por sinônimo lustro. Ex.: “Em
um quinquênio, prescrevem as ações patrimoniais contra o Estado”.
2. No que concerne à pronúncia, lembra Luiz Antônio Sacconi (1979, p.
19) que, em tal palavra, o u soa nas duas vezes em que aparece.
3. Tal, aliás, era o posicionamento do Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, órgão incumbido
oficialmente de determinar a existência dos vocábulos em nosso idioma,
além de sua grafia oficial, o qual, em sua última edição antes do Acordo
Ortográfico de 2008 (2004, p. 665), registrava o vocábulo com dois
tremas (qüinqüênio).
4. É certo que Acordo Ortográfico de 2008 simplesmente aboliu o uso do
trema em palavras de nosso idioma, e hoje, por consequência, nem
mesmo se sabe, apenas pela escrita, se o u é ou não pronunciado em
determinado vocábulo.
5. O VOLP, todavia, tentando trazer um pouco de luz ao assunto, em sua
primeira edição posterior às mudanças de grafia em nosso idioma, tem
tido o cuidado de apontar, entre parênteses, a correta pronúncia do
vocábulo em análise, bem como de seus cognatos (ACADEMIA
BRASILEIRA DE LETRAS, 2009, p. 695).

Quinquídio – Significado e pronúncia


1. Quinquídio é o lapso temporal de cinco dias.
2. Quanto à pronúncia, o u soa nas duas vezes em que aparece.
3. Tal, aliás, é o posicionamento do Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, órgão incumbido
oficialmente de determinar a existência dos vocábulos em nosso idioma,
além de sua grafia oficial e pronúncia, o qual registra o vocábulo com
destaque, entre parênteses, para o u, pronunciado nas duas sílabas em
que aparece (2009, p. 695).
4. É importante essa postura do VOLP, uma vez que, após o Acordo
Ortográfico de 2008, que simplesmente aboliu o uso do trema nas
palavras de nosso idioma, já não se sabe, a atualidade, apenas pela
escrita, se o u é ou não pronunciado em determinado vocábulo.

Quite ou Quites?
1. Particípio passado do verbo quitar, tem problemas de concordância
nominal, até porque, sendo tempo verbo-nominal, também varia em
número.
2. Porque tem singular e plural, concorda normalmente com a palavra
modificada. Exs.: a) “O condenado está quite com a Justiça”; b) “Os
condenados estão quites com a Justiça”.
3. São errôneas as seguintes concordâncias: a) “Eu estou quites com a
Justiça”; b) “Nós estamos quite com a Justiça”.
4. Lembrando tratar-se de adjetivo variável em número (isto é, que tem
singular e plural), de modo bem prático observa Eliasar Rosa: “Assim:
uma pessoa está quite, duas estão quites. Dir-se-á: Os alunos estão quites
com a tesouraria. O candidato não estava quite com o serviço militar”
(1993, p. 118).
5. Atento aos frequentes deslizes da linguagem do foro, observa Edmundo
Dantès Nascimento (1982, p. 106) ser “erro comum o emprego de quites
no singular: ‘estou quites’”; e complementa tal autor que “o particípio
varia: ‘Estou quite; estamos quites’”.
6. Lembrando didaticamente que quite é o singular de quites, Sousa e Silva
(1958, p. 249) arrola, para ilustrar, interessante exemplo de Alexandre
Herculano: “Quite está convosco o rei que vo-los dá; quites estamos nós
que para isso repartimos com ele o fruto do nosso suor”.
7. Regina Toledo Damião e Antonio Henriques, em apropriada observação,
anotam que tal palavra “é, muitas vezes, tomada por invariável, o que
representa falácia sintática, por tratar-se de adjetivo, portanto, variável”
(1994, p. 62).
8. Nossos textos de lei usualmente fazem a regular concordância: a) “Dá-se
a novação: … II – quando novo devedor sucede ao antigo, ficando este
quite com o credor” (CC/1916, art. 999); b) “Em toda escritura de
transferência de imóveis, serão transcritas as certidões de se acharem
eles quites com a Fazenda Federal, Estadual e Municipal, de quaisquer
impostos a que possam estar sujeitos” (CC/1916, art. 1.137).
Ver Plural majestático (P. 568).

Quorum
1. Um ilustre leitor envia a seguinte consulta: a) não encontrou, no
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, o registro da palavra
quorum, nem com acento nem sem acento; b) no Dicionário Aurélio,
todavia, há quórum, em forma aportuguesada pelo acento; c) a partir do
fato de que quorum é genitivo plural do pronome relativo latino qui,
quae, quod, indaga: deve usar “quorum”, assim entre aspas e sem acento,
ou, como registra o Aurélio, quórum, sem aspas e com acento?
2. Fixem-se, desde logo, duas importantes premissas para o vocábulo da
consulta: a) Quorum é o genitivo plural do pronome relativo latino – qui,
quae, quod – cristalizado como substantivo, com o sentido de número
legal, “geralmente empregado na terminologia jurídica, para indicar o
número de pessoas que deve comparecer às assembleias ou reuniões,
para que estas, validamente, possam deliberar” (DE PLÁCIDO E
SILVA, 1989, p. 17); b) Tal vocábulo vem da expressão latina quorum
praesentia suffici, que significa “dos quais a (ou melhor, cuja) presença
baste” (para aprovar ou denegar).
3. Domingos Paschoal Cegalla assim observa: “Contrariamente ao que em
geral se ensina, julgamos conveniente acentuar este latinismo, por ser
palavra de largo uso e por haver outros com idêntica terminação, como
álbum, fórum e médium, unanimemente acentuados”.
4. E complementa que “há falta de critério e de coerência da parte de
dicionaristas e autores de manuais de ortografia, acerca da grafia dos
latinismos. Vemos, por exemplo, fórum acentuado e quorum sem acento,
múnus (latinismo de uso restrito) com acento, habitat (latinismo
generalizado) sem acento” (CEGALLA, 1999, p. 346).
5. Com todo o respeito pelo ilustre gramático, o certo é que, para
solucionar a questão, parte-se da premissa de que a Academia Brasileira
de Letras tem a responsabilidade legal de editar o Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, também conhecido por VOLP e,
assim, de listar oficialmente os vocábulos que integram nosso idioma,
bem como consolidar-lhes a grafia, além de classificá-los pelo gênero
(masculino ou feminino) e categoria morfológica (substantivo,
adjetivo…).
6. Incumbida a ABL por lei específica para sua confecção em caráter
oficial, quem o elabora goza de autoridade para, nesse campo, dizer o
Direito, motivo por que, ao consultá-lo, legem habemus e devemos
prestar-lhe obediência, do mesmo modo como devemos fazer com
respeito aos demais diplomas legais.
7. Em comunhão com tal pensamento, afirmam José de Nicola e Ernani
Terra que esse vocabulário “é a palavra oficial sobre ortografia das
palavras da língua portuguesa no Brasil” (2000, p. 231). Complemente-
se: também é a palavra oficial no que concerne à própria existência dos
vocábulos em nosso idioma, além de outros aspectos que eventualmente
venha a mencionar (pronúncia, gênero, etc.).
8. Isso quer dizer, desde logo, que nossos dicionaristas (como os ilustres
Aurélio e Houaiss), por mais respeitados que sejam e por melhores
serviços que tenham prestado ao idioma, não são autoridades oficiais no
assunto. Desse modo, se suas lições contrariam o VOLP, a este (e não
àqueles) se deve prestar obediência, independentemente, até mesmo, de
eventuais incoerências ou imperfeições que se possam apontar nos
critérios por ele seguidos. Vale aqui a observação que se faz acerca da
lei: pode-se, em tese e no plano da Ciência, discuti-la, questionar seus
critérios, sua própria justiça; mas, na prática, incumbe segui-la e prestar-
lhe obediência, até que seja modificada por outra.
9. Com especificidade para o caso da consulta, anota-se que o VOLP, em
sua quinta edição, de 2009 (posterior, assim, ao Acordo Ortográfico de
2008), não arrola quorum entre as palavras da língua portuguesa. Mais
do que isso, registra-a entre as palavras estrangeiras, confere-lhe a grafia
quorum (sem acento) e especifica tratar-se de substantivo masculino
pertencente ao idioma latino (p. 863).
10. Por ser vocábulo pertencente a outro idioma, não deve ser acentuado
(já que não o era na língua mãe), e, assim, deve ser grafado entre aspas,
em itálico, negrito, sublinha ou qualquer outro modo indicador de tal
circunstância.
11. Importa anotar, em seguida, que nossos textos de lei não são uniformes
quanto ao modo de empregar (ou de deixar de empregar) tal vocábulo.
12. Assim, o Código Eleitoral (Lei 4.737, de 15/7/65), no art. 28, § 1º, traz
o acerto parcial do legislador, que grafa o vocábulo sem acento gráfico,
mas esquece o sinal indicador de estrangeirismo.
13. A Lei das Sociedades por Ações (Lei 6.404, de 15/12/76), não mostra
sequer uniformidade de uso do vocábulo: a) na rubrica que encima o
art. 125, emprega-o corretamente, sem acento gráfico e entre aspas; b)
acerta, de outro modo, o emprego no art. 136, caput, em redação
conferida pela Lei 9.457/97, quando deixa de empregar o acento
gráfico e escreve o vocábulo em itálico; c) no art. 129, § 1º, entretanto,
utiliza-o sem acento gráfico, mas também sem elemento algum
indicador de estrangeirismo, equívoco esse que se repetia na redação
original do art. 136 caput, hoje revogada, e que continua na redação do
art. 136, § 2º, ainda em vigor, e no art. 140, IV, e 141, § 5º (ambos com
redação conferida pela Lei 10.303/01).
14. A Constituição Federal de 1988, por seu lado, evitou seu uso e preferiu
expressões substitutivas (voto da maioria, por exemplo).
15. O Código Civil de 2002 (Lei 10.406, de 10/1/02) alterna critérios em
seu emprego: a) no art. 59, parágrafo único, acerta pela metade, ao
deixar de usar o acento gráfico, mas ao esquecer os elementos
indicadores de estrangeirismo (com redação dada pela Lei 11.127/05);
b) no art. 1.094, acerta integralmente, grafando o vocábulo sem acento
e em itálico; c) no art. 1.334, III, volta a acertar parcialmente, ao grafar
sem acento gráfico e sem aspas ou sinal indicador de estrangeirismo; c)
tal conduta de acerto parcial, em tais moldes, volta a repetir-se no art.
1.352 e 1.353.
16. Num outro aspecto, importa saber qual o plural que se lhe deve
conferir: quora (seu hipotético plural neutro em latim), quoruns (mero
acréscimo de s, como outras tantas em português, com mera adaptação
pela troca de m por n), quóruns (aportuguesamento pelo acento gráfico
e pluralização pelo critério do nosso idioma), quorums (mero
acréscimo de s, sem alterar o vocábulo originário, fugindo ao modo
habitual de pluralização em português)…?
17. Ainda a título de consideração preliminar no plano da Ciência, mas
sem alterar em nada o que aqui se explicitou, vê-se que a manutenção
do vocábulo como latinismo dificulta a formação de seu plural em
português, tal como, aliás, também se dá com campus, por exemplo,
dentre outros.
18. Com essas ponderações, anota-se que o leitor traz à baila o polêmico e
tormentoso problema de pluralização das palavras de outros idiomas
ainda não incorporadas ao vernáculo, para o que, desde logo, se
observa, não há regramento específico emanado dos órgãos
competentes, e, assim, o que se tenta aqui é solucionar a questão por
um raciocínio cientificamente correto, com o acompanhamento do bom
senso que deve nortear soluções dessa natureza.
19. Parta-se do princípio de que palavras e expressões de outros idiomas
podem cristalizar-se no uso vernáculo de maneiras diversas: a) campus
veio na forma do nominativo (caso latino que serve para desempenhar
a função sintática de sujeito); b) quorum sedimentou-se aqui na forma
do genitivo (caso que serve para exercer a função do antigo
complemento restritivo, hoje adjunto adnominal na maioria dos casos);
c) a quo veio na forma do ablativo por influência da preposição
antecedente (caso que normalmente serve para desempenhar a função
de complemento circunstancial, hoje adjunto adverbial); d) ad quem, de
igual modo por influência da preposição antecedente, veio no acusativo
(que normalmente serve para a função de objeto direto).
20. Como não é de difícil compreensão, essa cristalização do vocábulo
estrangeiro em nosso idioma e seu emprego em estruturas sintáticas
vernáculas ocorrem (i) sem preocupação de qual seja sua função
sintática na oração em português e (ii) sem vínculo com a estrutura
sintática do latim. Exs.: a) “O quorum qualificado serve para
determinadas decisões” (sujeito); b) “A decisão exigiu quorum
qualificado” (objeto direto); c) “A decisão precisava de quorum
qualificado” (objeto indireto); d) “A solução é um quorum qualificado”
(predicativo do sujeito); e) “A decisão de um quorum qualificado é a
melhor para esta questão” (adjunto adnominal).
21. Se alguém quer levar em conta essa preocupação de qual seja a função
sintática do vocábulo na oração em português e proceder à
correspondente adaptação em latim, então não apenas se deve observar
que quorum é genitivo (caso de adjunto adnominal), mas também que
tal palavra já está no plural, além do que os dicionários de latim não
fazem constar quorum como substantivo naquele idioma, e, assim, as
tentativas de sua pluralização ali também não passam de suposições.
22. Bem por isso, levando-se em conta a declinação do pronome relativo
em latim – qui, quae, quod – os exemplos dados deveriam ter outra
feição, conforme a função sintática desempenhada pelo pronome
relativo na oração, e jamais se usaria quorum nos exemplos dados, até
porque tal forma é plural: a) “O qui qualificado serve para
determinadas decisões” (sujeito); b) “A decisão exigiu quem
qualificado” (objeto direto); c) “A decisão precisava de cui
qualificado” (objeto indireto); d) “A solução é um qui qualificado”
(predicativo do sujeito); e) “A decisão de um cujus qualificado é a
melhor para esta questão” (adjunto adnominal).
23. Se você está perplexo com o resultado, então ainda se adicionam
algumas observações: a) as formas acima empregadas são do pronome
relativo no masculino; b) o pronome relativo, porém, como indica seu
próprio nome, relaciona-se a um nome anteriormente mencionado e
concorda com esse nome em gênero (masculino, feminino ou neutro);
c) como, nos exemplos dados, as formas usadas são do masculino, isso
equivale a dizer que, se o antecedente for de outro gênero, então o
pronome relativo terá ainda outra forma; d) apenas para o primeiro
exemplo, em que se usou qui no nominativo, a forma seria quae para o
caso de antecedente feminino e quod para o antecedente neutro; e)
ocorre, adicionalmente, que, além de não termos o gênero neutro em
português, pode acontecer que determinada palavra seja feminina em
latim e masculina em português (ou vice-versa), o que baralha ainda
mais a questão; f) assim, variar a palavra pelo antecedente em
português poderia ser equivocado, ante o fato de que o gênero em latim
poderia ser outro.
24. Com o devido respeito por aqueles que pensam de modo diverso, a
melhor síntese e solução para o emprego do referido pronome, quer no
singular, quer no plural, parecem obedecer aos seguintes parâmetros: a)
as palavras estrangeiras não devem ter acentos gráficos, se estes não
existiam na língua de origem (como é o caso específico do latim); b)
devem ser grafadas em itálico, negrito, com sublinha ou entre aspas; c)
devem desvincular-se de sua função sintática de origem para efeito de
suas flexões em português, seja de gênero (masculino e feminino), seja
de número (singular e plural); d) a pluralização em português deve dar-
se pela forma tradicional em nosso idioma, a saber, mediante a adição
de um s, com eventuais adaptações, como é o caso da mudança de m
em n no caso da consulta.
25. Veja-se, assim, a correta grafia do vocábulo da consulta, no singular e
no plural, nos exemplos seguintes: a) “O quorum qualificado serve
para determinadas decisões” (sujeito); b) “A decisão exigiu quorum
qualificado” (objeto direto); c) “A decisão precisava de quorum
qualificado” (objeto indireto); d) “A solução é um quorum qualificado”
(predicativo do sujeito); e) “A decisão de um quorum qualificado é a
melhor para esta questão” (adjunto adnominal); f) “Os quoruns
qualificados servem para determinadas decisões” (sujeito); g) “As
decisões exigiram quoruns qualificados” (objeto direto); h) “A decisão
precisava de quoruns qualificados” (objeto indireto); i) “As soluções
são quoruns qualificados” (predicativo do sujeito); j) “A decisão de
quoruns qualificados é a melhor para estas questões” (adjunto
adnominal).
26. Até por questão de regramento geral do assunto no vernáculo, essa
solução há de estender-se, em mesmos moldes e pelas mesmas razões,
para outras palavras e expressões vindas do latim: a) “O campus
daquela universidade é simplesmente exemplar”; b) “Os campus
daquela universidade são simplesmente exemplares”; c) “O tribunal a
quo deu-se por incompetente para o julgamento da causa”; d) “Os
tribunais a quo deram-se por incompetentes para o julgamento da
causa”; e) “Espera-se melhor solução do tribunal ad quem”; f)
“Esperam-se melhores soluções dos tribunais ad quem”.
27. Qualquer outra solução foge ao efetivo respeito à etimologia, aos
critérios mínimos científicos e ao próprio bom senso.

Quorum – Qual é o plural?


Ver Quorum (P. 641).

Quota ou Cota?
Ver Cota ou Quota? (P. 232)
R
R$ 0,045 – Como ler?
1. Uma leitora indaga como se deve fazer a leitura de R$ 0,045.
2. Ora, o sistema nacional prevê, para depois da vírgula, apenas duas casas,
e denomina a unidade monetária assim obtida como centavo: a) R$ 0,01
(um centavo); b) R$ 0,99 (noventa e nove centavos).
3. Na disputa pela preferência dos consumidores, entretanto, lojas e postos
de combustíveis, mesmo sem previsão específica pelo sistema
monetário, passaram a empregar uma casa a mais, por um lado para
tentar ganhar a preferência do consumidor e, por outro lado, para não
deixar de conseguir preciosas parcelas da moeda com esse terceiro dígito
após a vírgula.
4. Para solucionar o caso, à falta de específica previsão pelo sistema,
resolve-se a questão pelos modos normais de leitura, quando envolvidos
casos comuns de fragmentação da unidade.
5. E, assim, o que se tem no caso, em última análise, são milésimos de um
real.
6. Então assim há de ser a correta leitura e a adequada escrita do número
trazido pela leitora para análise: quarenta e cinco milésimos de real.

Radical
Ver Uso abusivo – Está correto? (P. 752)

Ranger
1. Quanto à conjugação verbal, como todos os verbos terminados em ger,
para a continuidade do som original da última consoante do radical,
muda o g em j antes de o e de a. Assim: ranjo, ranges, ranja, rangi.
2. Feitas essas observações, é de se anotar que se trata de verbo regular,
conjugado em todas as pessoas, tempos e modos.
3. Flexionam-se de mesmo modo constranger, eleger, proteger, tanger.

Raptar
1. Em nosso ordenamento jurídico, rapto era figura típica de crime prevista
pelos arts. 219/222 do Código Penal de 1940, em disposições que foram
revogadas pela Lei 11.106/2005. Raptar consistia, em síntese, em
subtrair mulher honesta de seu domicílio para fins libidinosos, mediante
violência, grave ameaça ou fraude (DE PLÁCIDO E SILVA, 1989, p.
22).
2. No que concerne à ortografia de sua conjugação verbal (SACCONI,
1979, p. 21), é preciso atentar a suas formas rizotônicas, nas quais o
radical permanece o mesmo, em conduta típica de verbo regular que é,
sem qualquer acréscimo de i ou alteração de posicionamento da sílaba
tônica, ocorrência essa que se patenteia no presente do indicativo e nos
tempos daí derivados: rapto, raptas, rapta, raptamos, raptais, raptam
(presente do indicativo); rapte, raptes, rapte, raptemos, rapteis, raptem
(presente do subjuntivo); rapta, rapte, raptemos, raptai, raptem
(imperativo afirmativo); não raptes, não rapte, não raptemos, não
rapteis, não raptem (imperativo negativo).
3. Como todos os demais tempos e modos verbais apenas têm formas
arrizotônicas, essa dificuldade não mais se apresenta neles.
4. Vale aqui a mesma lição de Artur de Almeida Torres para o verbo optar:
“Nas três pessoas do singular e na terceira do plural do presente do
indicativo e do presente do subjuntivo, a vogal o do radical é tônica, e,
portanto, fortemente pronunciada, juntamente com a consoante seguinte”
(1966, p. 116).
5. Ultime-se com a observação de que, mesmo entre as pessoas cultas, há
essa tendência equivocada para introduzir, quer na escrita, quer na
pronúncia, uma vogal logo após o t que encerra o radical, nas formas
rizotônicas, pronunciando-se rapito, rapitas, com o deslocamento da
sílaba tônica para esse i inexistente.

Ratificar ou Retificar?
1. Basicamente, ratificar quer dizer confirmar o que se afirmou
anteriormente. Ex.: “A testemunha, ratificando-se, confirmou a história
inicial”.
2. É bastante comum seu emprego nos textos de lei: a) “O pagamento deve
ser feito ao credor ou a quem de direito o represente, sob pena de só
valer depois de por ele ratificado, ou tanto quanto reverter em seu
proveito” (CC, art. 308); b) “Os atos praticados por quem não tenha
mandato, ou o tenha sem poderes suficientes, são ineficazes em relação
àquele em cujo nome foram praticados, salvo se este os ratificar” (CC,
art. 662); c) “O mandatário que exceder os poderes do mandato, ou
proceder contra eles, será considerado mero gestor de negócios,
enquanto o mandante lhe não ratificar os atos” (CC, art. 665); d)
“Quando alguém, na ausência do indivíduo obrigado a alimentos, por
ele os prestar a quem se devem, poder-lhes-á reaver do devedor a
importância, ainda que este não ratifique o ato” (CC, art. 871); e) “Se
qualquer dos cônjuges não comparecer à audiência designada ou não
ratificar o pedido, o juiz mandará autuar a petição e documentos e
arquivar o processo” (CPC/1973, art. 1.122, § 2º).
3. Já retificar significa corrigir, emendar. Ex.: “O magistrado, em novo
despacho, retificou ligeiros descuidos do anterior”.
4. Também é usual seu emprego nos textos de lei: a) “Se o teor do registro
não exprimir a verdade, poderá o interessado reclamar que se retifique
ou anule” (CC, art. 1.247); b) “Publicada a sentença, o juiz só poderá
alterá-la: … I – para lhe corrigir, de ofício ou a requerimento da parte,
inexatidões materiais, ou lhe retificar erros de cálculo” (CPC/1973, art.
463, I); c) “Julgando procedente a impugnação referida no n. I, o juiz
mandará retificar as primeiras declarações” (CPC/1973, art. 1.000,
parágrafo único); d) “Julgando procedente a impugnação, determinará o
juiz que o perito retifique a avaliação, observando os fundamentos da
decisão” (CPC/1973, art. 1.009, § 2º).

Realizou-se ou Foi realizada?


1. Um leitor pergunta se é correto dizer “… realizou-se a primeira
sessão…” Entende que deveria ser usada a voz passiva: “foi realizada a
primeira sessão”. E pede opinião.
2. Ora, tomando-se por modelo a estrutura “Aluga-se uma casa”, vê-se que
nela se acham presentes os seguintes aspectos: a) O exemplo pode ser
dito de outra forma – “Uma casa é alugada”; b) Porque pode o exemplo
ser dito de outra forma, diz-se que ela é uma frase reversível; c) Em
casos assim, o exemplo que serviu de base para a transformação já está
na voz passiva, e, por ser mais resumida do que a outra, chama-se voz
passiva sintética; d) O outro modo de dizer – “Uma casa é alugada” é a
voz passiva analítica; e) Não há, entre ambos, modo melhor ou pior de
dizer, já que são apenas estruturas sintáticas diferentes para dizer a
mesma realidade de fato; f) O se, no caso, chama-se partícula
apassivadora; g) O sujeito do exemplo é uma casa; h) Porque o sujeito é
uma casa, quando se diz casas, o verbo deve ir para o plural, já que a
regra geral de concordância verbal determina que o verbo concorda com
o seu sujeito; i) O correto, então, no plural, é “Alugam-se casas”, e não
“Aluga-se casas”.
3. Observe-se, aliás, que essa é uma construção muito comum nos meios
jurídicos, de modo que se há de zelar pela concordância adequada no
plural, e não no singular, em casos como os que seguem: “Buscaram-se
soluções para o conflito”; “Citem-se os réus”; “Devolvam-se os autos”;
“Entreguem-se os autos da carta precatória”; “Intimem-se as
testemunhas”; “Processem-se os recursos”.
4. Voltando ao exemplo da consulta – “… realizou-se a primeira sessão…”
– que também pode ser transformado em “… foi realizada a primeira
sessão…”, podem ser extraídas, dentre outras, as seguintes conclusões:
a) O primeiro dos exemplos é voz passiva, tanto quanto o segundo deles;
b) O primeiro – que tem o se – por ser mais resumido do que o outro,
chama-se voz passiva sintética; c) O outro – “… foi realizada a primeira
sessão…” – é voz passiva analítica; d) Não há entre ambos modo melhor
ou pior de dizer, nem mais correto ou menos correto, já que são apenas
formas equivalentes, no plano sintático, de dizer a mesma realidade de
fato. e) Em síntese: são igualmente corretos os exemplos i) “… realizou-
se a primeira sessão…” e ii) “… foi realizada a primeira sessão…”
Ver Voz passiva – Quando é possível? (P. 793) e Voz passiva sintética (P.
794).

Reavejo – Está correto?


1. Trata-se de forma equivocada e inexistente, já que reaver é verbo
defectivo em tal pessoa, devendo ser substituído por um sinônimo
(recupero) ou por locução (estou reavendo).
Ver Reaver – Como conjugar? (P. 645)

Reavenho – Está correto?


1. É forma equivocada e inexistente, já que reaver é verbo defectivo em tal
pessoa, devendo ser substituído por um sinônimo (recupero) ou por
locução (estou reavendo).
Ver Reaver – Como conjugar? (P. 645)

Reaver – Como conjugar?


1. Quanto à conjugação verbal, reaver é verbo defectivo (ou seja, é
conjugado apenas em algumas pessoas, tempos ou modos). Para
especificar melhor sua condição, invoca-se a lição de Vitório Bergo:
“conjuga-se segundo o verbo haver, de que é composto, mas apenas nas
formas em que este conserva o v” (1943, p. 81).
2. Em termos práticos: a) no presente do indicativo, tem apenas reavemos e
reaveis (porque somente essas formas têm v); b) são errôneas, portanto,
as formas reavenho e reavejo; c) não tem o presente do subjuntivo
inteiro (porque não aparece v no verbo haver – haja, hajas, etc.); d) são
errôneas, assim, as formas reaja, reajam, reavenham, e reavejam, até
porque esse verbo não é composto de ver nem de vir; e) no imperativo
afirmativo, tem apenas a segunda do plural, que vem do presente do
indicativo (reavei); f) não tem o imperativo negativo inteiro.
3. Por outro lado, como o verbo haver tem v em todas as pessoas do
pretérito perfeito do indicativo e tempos derivados, o verbo reaver é
conjugado em todas as pessoas nesses tempos: reouve, reouveste, reouve,
reouvemos, reouvestes, reouveram (pretérito perfeito); reouvera,
reouveras, reouvera, reouvéramos, reouvéreis, reouveram (pretérito
mais-que-perfeito); reouver, reouveres, reouver, reouvermos, reouverdes,
reouverem (futuro do subjuntivo); reouvesse, reouvesses, reouvesse,
reouvéssemos, reouvésseis, reouvessem (imperfeito do subjuntivo).
4. Cuidado, porque, mesmo no pretérito perfeito do indicativo e tempos
derivados, há equívocos, como o emprego das formas errôneas reavi,
reaveste, reaveu, reaveram, quando eu reaver, se eu reavesse…
5. Otelo Reis (1971, p. 95) sintetiza a conjugação do verbo reaver em duas
lições: a) “Conjuga-se por haver, mas só se emprega nas formas em que
há a letra v”; b) “Querem outros que se conjugue apenas nas formas em
que há a letra v, precedida de a, e então não se admitem o perfeito do
indicativo reouve, o mais-que-perfeito reouvera, o imperfeito do
subjuntivo reouvesse e o futuro do subjuntivo reouver”.
6. A última parte da observação do douto mestre, todavia não é o
ensinamento mais seguido nesse pormenor entre os doutos na atualidade,
bastando lembrar os seguintes exemplos: a) “E se a tua consciência
reouver um instante de sagacidade, tu dirás que queres viver” (ASSIS
apud FERNANDES, 1971, p. 493); b) “O país reouve do invasor as
terras perdidas” (LUFT, 1999, p. 434); c) “Reouveram do soberano as
terras que perderam” (LUFT, 1999, p. 434).
7. São oportunas, para sintetizar, duas observações de Domingos Paschoal
Cegalla (1999, p. 348-9): a) “Suprem-se as formas que não existem
(quatro do presente do indicativo e todas as do presente do subjuntivo)
com as correspondentes do sinônimo recuperar: recupero, recuperas,
recupera, recuperam; recupere (e não reaveja nem reaja), recuperes,
recupere, recuperemos, recupereis, recuperem (e não reavejam nem
reajam)”; b) “Atenção: eu reouve (e não reavi); se ele reouver (e não se
ele reaver)”.

Reaveu – Está correto?


1. É forma equivocada e inexistente. A forma correta em tal tempo e pessoa
é reouve.
Ver Reaver – Como conjugar? (P. 645)

Reavi – Está correto?


1. Trata-se de forma equivocada e inexistente. A forma correta em tal
tempo e pessoa é reouve.
Ver Reaver – Como conjugar? (P. 645)
Recém
1. É prefixo que indica evento próximo, coisa vinda há pouco. Ex.: “No
fórum recém-inaugurado ainda faltavam juízes”.
2. Com frequência, entra na composição de vocábulos compostos,
mantendo assim sua autonomia de palavra como o acento gráfico:
recém-chegado, recém-nascido, recém-promulgada.
3. Quanto a um dos vocábulos dados como exemplo, até para compreensão
exata do referido prefixo no campo jurídico, é oportuno considerar que,
para De Plácido e Silva (1989, p. 37), o recém-nascido, no sentido legal,
é somente a criança de idade máxima de sete dias.
4. Quanto à prosódia, atente-se a que tal prefixo é palavra oxítona, devendo
por lei, ante sua terminação, receber acento gráfico (SACCONI, 1979, p.
19).
5. Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 349) acusa, no falar gaúcho, seu
emprego como advérbio: a) “Antônio casou recém”; b) “Era uma casa
construída recém”. Vale a pena observar que tal estrutura constitui
regionalismo, mas não é modelo que se deva ampliar para uso nos textos
que devam submeter-se à norma culta.

Recomende-se-o – Está correto?


1. Trata-se de construção totalmente equivocada, que não resiste à mais
perfunctória análise sintática (ARRUDA, 1997, p. 57).
2. Atente-se a circunstância de que não se permite em português a junção
dos pronomes se + o.
3. A correção de tal frase dá-se por uma das seguintes formas: recomende-
se ele, seja ele recomendado, recomendem-no.
Ver Cite-se-o – Está correto? (P. 184)

Re – Com hífen ou Sem hífen?


1. Ante as alterações trazidas pelo Acordo Ortográfico de 2008, importa
observar a forma correta de ligação do prefixo: re-designar ou
redesignar?
2. Pelas determinações consolidadas pelo referido acordo, o prefixo re, que
significa repetição, como regra, acopla-se diretamente à palavra
seguinte, sem intermediação de hífen. Exs.: rebatizar, recadastrar,
redefinição, redesignar, refazer, refundação, rejustificar, relacrar,
remagnetizar, renascer, reparafusar, requalificar, retrabalhar,
revalorização.
3. Continua valendo essa regra, mesmo que o elemento seguinte se inicie
por vogal. Exs.: reabastecer, reabertura, reabsorção, reeducação,
reelaboração, reencadernar, reimergir, reimportar, reinaugurar,
reobservação, reoficializar, reunificar, reurbanizar.
4. Para a hipótese de ser o segundo elemento iniciado por r ou s, dobram-se
tais consoantes para continuidade do som originário. Exs.:
rerratificação, rerrespirado, ressaciar, ressalgar.
5. Mesmo para hipótese de ser iniciado por h o elemento seguinte, não se
usa o hífen; apenas se suprime o h inicial: reidratar, reumanização.

Reconhecer
1. Trata-se de vocábulo a ser observado sob o prisma da regência verbal.
2. É verbo transitivo, em cuja companhia, com frequência, aparece um
predicativo do objeto direto.
3. Tal predicativo pode vir ou não precedido de como. Exs.: a) “Reconheço-
a minha inspiradora daquela obra” (correto); b) “Reconheço-a como
minha inspiradora daquela obra” (correto).
4. Aires da Mata Machado Filho (1969a, p. 616), por seu lado, mostra sua
preferência pela simples justaposição das palavras, sem emprego de
como, alegando motivo de elegância na fala.
5. Acresça-se que é corriqueiro o emprego de frases como a que segue:
“Reconheço-a como sendo minha inspiradora daquela obra”.
6. Muito embora seja de uso comum a expressão como sendo em casos que
tais, é ela errônea e desnecessária, devendo ser eliminada.
7. Procede-se à correção, na prática, por um de dois modos: a) “Reconheço-
a minha inspiradora daquela obra”; b) “Reconheço-a como minha
inspiradora daquela obra”.
8. Idêntica há de ser a construção com outros verbos que, de modo similar,
exijam predicativo do objeto, como crer, julgar, considerar, reputar: a)
“Creio-o apto (ou como apto) para o trabalho”; b) “julguei-a incapaz
(ou como incapaz) para a função”; c) “Considero-a minha inspiradora
(ou como minha inspiradora) daquela obra”; d) “Reputo-o o maior
processualista (ou como o maior processualista) vivo do país”.
Ver Nomear (P. 497).

Reconvir
Ver Reconvir – Constrói-se com que preposição? (P. 647) e Vir (P. 770).

Reconvir – Constrói-se com que preposição?


1. Quanto à regência verbal, Evanildo Bechara (1974, p. 320) indica que
reconvir deve ser construído com a preposição sobre.
2. Francisco Fernandes, com arrimo em exemplo de Morais, mostra-o
transitivo direto: “Obrigava-me a que lhe pagasse os cem mil réis das
casas o que fez que eu o reconviesse por cento e cinquenta que ele me
devia” (1971, p. 500).
3. Os raros exemplos encontrados nos textos de lei mostram tal verbo
empregado como transitivo indireto (com a preposição a): a) “O réu
pode reconvir ao autor no mesmo processo…” (CPC/1973, art. 315,
caput); b) “Não pode o réu, em seu próprio nome, reconvir ao autor…”
(CPC/1973, art. 315, § 1º).
4. Pelo princípio de que, onde há fundada divergência entre os gramáticos,
assiste liberdade para qualquer dos usos, pode-se, em síntese, dizer que o
verbo reconvir admite ser construído sem preposição ou com as
preposições sobre e a. Exs.: a) “Eu o reconvim na exigência que me fez
de dívida, porque ele, em realidade, é que é meu devedor”; b) “Ele
reconveio sobre a exigência da dívida”; c) “Como nos casos clássicos, o
réu reconveio ao autor”.
5. Anote-se, por fim, que, atento ao vocabulário jurídico, observa
Adalberto J. Kaspary que, “como sinônimo de reconvir, também existe o
verbo reconvencionar, do qual se formou o termo reconvencionante,
com o mesmo significado de reconvinte” (1996, p. 277).
Ver Vir (P. 770).

Recorde
1. Quanto à origem histórica do vocábulo, assim é a explicação de Silveira
Bueno: “Dava-se tal nome ao disco, nos jogos atléticos, que se colocava
no fim da meta, no estádio: aquele que primeiro o atingisse, o retinha
como troféu, como lembrança, como recordação do feito praticado”
(1957, p. 413).
2. Basicamente significa superação de marcas anteriores. Ex.: “Diversos
recordes foram batidos naquele torneio internacional”.
3. Apesar de generalizada a pronúncia proparoxítona (récorde), lembra
Napoleão Mendes de Almeida (1981, p. 264) ser mais apropriada a
pronúncia paroxítona, rimando com acorde, concorde e discorde.
4. Desse entendimento é também Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 19).
5. Assim também registra o Dicionário da Melhoramentos (Encyclopaedia
Britannica do Brasil, 1995, p. 1.472).
6. Silveira Bueno (1938, p. 201), de igual modo, é taxativo no sentido de
que se deve pronunciar a palavra como paroxítona e não proparoxítona.
7. Em realidade, embora seja palavra de origem inglesa e tenha, na língua
mãe, a pronúncia proparoxítona, o certo é que fogem às regras de grafia
e pronúncia quaisquer outras formas de passagem para nosso léxico:
récorde, récor, record, recor.
8. Trata-se, ademais, de palavra já perfeitamente integrada a nosso léxico,
sendo, assim, inaplicável a lição de Aires da Mata Machado Filho
(1969i, p. 173), no sentido do uso de grifo para indicar-lhe a procedência
estrangeira.
9. A pronúncia paroxítona – e não proparoxítona – desse vocábulo é
também realçada por Arnaldo Niskier, autor esse que, em outra
passagem, assevera que “se pronuncia recórdes e não récordes; nós não
falamos inglês” (1992, p. 3 e 66).
10. Assim é a síntese de José de Nicola e Ernani Terra: “O substantivo que
indica que uma marca máxima foi atingida apresenta uma forma
aportuguesada, já de uso consagrado: recorde (paroxítona). Evite,
portanto, a pronúncia proparoxítona (récorde) e a grafia inglesa record”
(2000, p. 193).
11. Eliminando toda possível dúvida sobre sua forma e pronúncia em
português, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da
Academia Brasileira de Letras, que é o veículo oficial ordenador do
modo de grafar as palavras em nosso idioma, registra unicamente
recorde (com e final e sem acento gráfico), a significar que a considera
palavra já integrada a nosso idioma, e a faz ser pronunciada rimando
com acorde, concorde e discorde (2009, p. 709).
12. Em pertinente observação, anota Domingos Paschoal Cegalla (1999, p.
350) que recorde pode ser usada como substantivo ou como adjetivo: a)
“O Guinness é o livro dos recordes” (substantivo); b) “Fez o percurso
em tempo recorde” (adjetivo). A pronúncia continua a mesma.

Recorrer
1. Quanto à regência verbal, Francisco Fernandes (1971, p. 500), para o
significado de interpor agravo ou recurso judicial, apelar, admite seja ele
construído com duas preposições: de e para. Ex.: “Recorrer de um
tribunal para outro”.
2. Não é outra a lição de José de Nicola e Ernani Terra: “Na linguagem
jurídica utiliza-se o verbo recorrer no sentido de apelar ou interpor
recurso para instância superior. Nesse sentido exige a preposição para e
não a preposição a” (2000, p. 194).
3. Ressalvado o emprego técnico em textos jurídicos, vê-se, na consonância
com ensino de Domingos Paschoal Cegalla, que, no sentido comum de
buscar socorro, exige a preposição a. Ex.: “O réu recorreu a um
advogado famoso”.
4. Nessa acepção, para o autor mencionado, “como o verbo assistir, requer
o complemento pronominal a ele e não lhe” (CEGALLA, 1999, p. 350).
Exs.: a) “Lembrei-me de um advogado famoso e recorri a ele”; b)
“Refratário sou ao café. Nunca recorri a ele como a estimulante
cerebral” (Rui Barbosa); c) “Tem muitos amigos influentes mas não
recorre a eles nas horas difíceis”.
5. De Laudelino Freire, nesse aspecto, é idêntica lição: “Na língua
portuguesa existem verbos cujos complementos indiretos são
representados pela forma a ele em lugar de lhe. Isto ocorre, entre outros,
com assistir (estar presente), aspirar (desejar), recorrer (pedir auxílio),
que, recusando a forma lhe, tem os seus objetos indiretos expressos pela
forma a ele” (s/d, p. 7).
6. Nos textos de lei, de um modo geral, obedece-se às normas de
Gramática, empregando-se ora a construção recorrer de, ora recorrer
para, ora recorrer de… para. Exs.: a) “O réu não poderá recorrer da
pronúncia senão depois de preso, salvo se prestar fiança nos casos em
que a lei a admitir” (CPP, art. 585); b) “Ainda que o compromisso
contenha a cláusula sem recurso e pena convencional contra a parte
insubmissa, terá esta o direito de recorrer para o tribunal superior…”
(CC/1916, art. 1.046, revogado); c) “Da decisão do Delegado Regional
do Trabalho poderão os interessados recorrer, no prazo de dez (10)
dias, para o órgão de âmbito nacional competente em matéria de
segurança e medicina do trabalho…” (CLT, art. 161, § 3º).
7. Há, todavia, exemplos de emprego pelo legislador da construção recorrer
a, mas se vê claramente que seu exato sentido, em tais casos, é de buscar
socorro, e não na acepção técnica de interpor recurso: a) “A minoria
vencida na modificação dos estatutos poderá dentro de 1 (um) ano
promover-lhe a nulidade recorrendo ao juiz competente salvo o direito
de terceiros” (CC/1916, art. 29, em redação alterada pelo CC/2002); b)
“Os pais devem decidir em comum as questões relativas aos filhos e a
seus bens; havendo divergência, poderá qualquer deles recorrer ao juiz
para a solução necessária” (CC, art. 1.690, parágrafo único).
Ver Agravar retidamente ou Interpor agravo retido? (P. 100) e Sentença
recorrida – Está correto? (P. 690)

Recorrer adesivamente ou Interpor recurso adesivo?


Ver Agravar retidamente ou Interpor agravo retido? (P. 100)

Recuar para trás – Pleonasmo?


1. Esta é mais uma daquelas expressões equivocadas e redundantes,
portadora de tautologia, ou pleonasmo vicioso.
2. Recuar já significa movimentar-se para trás.
3. Diga-se, portanto, tão somente, recuar.

Recursar – Existe?
1. Trata-se de verbo empregado no sentido de recorrer, interpor recurso
judicial ou administrativo. Ex.: “Por preenchidos os requisitos legais o
réu poderá recursar em liberdade”.
2. Aos que possam vê-lo com estranheza, trata-se de palavra regularmente
registrada pelo Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da
Academia Brasileira de Letras, órgão incumbido oficialmente de
determinar a existência dos vocábulos em nosso idioma (2009, p. 709), o
que implica concluir que seu emprego está oficialmente autorizado.
3. Atento ao linguajar jurídico, anota Adalberto J. Kaspary que, muito
embora se trate de neologismo já oficialmente aceito no vernáculo,
talvez até mesmo pela tradicional ausência de sua utilização, “em seu
lugar, recomenda-se, todavia, usar a forma recorrer, de longa tradição no
idioma e consagrada na linguagem técnico-jurídica” (1996, p. 279).

Recurso
Ver Interpor ou Opor? (P. 422)

Recurso adesivo
Ver Agravar retidamente ou Interpor agravo retido? (P. 100)

Recurso especial – Interpor ou Opor?


Ver Interpor ou Opor? (P. 422)

Recurso extraordinário – Interpor ou Opor?


Ver Interpor ou Opor? (P. 422)

Recurso – Interpor ou Opor?


Ver Interpor ou Opor? (P. 422)
Recursos de apelação ou Recursos de apelações?
1. Uma leitora indaga qual a forma correta: recursos de apelação ou
recursos de apelações?
2. Esclareça-se, de início, que apelação é a modalidade daquele recurso que
serve para alguém se opor contra uma sentença (CPC, art. 513).
3. É apenas uma entre outras modalidades processuais de recursos: agravo,
embargos infringentes, embargos de declaração, recurso ordinário,
recurso especial, recurso extraordinário, embargos de divergência…
4. Uma análise de seu texto integral revela que o Código de Processo Civil
de 1973, nas dezenas de vezes em que faz uso da referida expressão,
jamais emprega a palavra apelação no plural. E sempre utiliza o
vocábulo apelação apenas, e só uma vez emprega a expressão recurso de
apelação (art. 518, § 1º).
5. O Código de Processo Civil de 2015 não foge muito a essa linha, a não
ser que emprega duas vezes a expressão recurso de apelação (arts. 937, I,
e 1.011, caput).
6. Feitas essas ponderações, enfrenta-se a questão trazida pela leitora.
7. Ora, em hipóteses como a trazida pela leitora, os recursos podem ser
vários, mas a modalidade é uma só: apelação.
8. Por isso se pode ter um recurso de apelação ou vários recursos de
apelação. Mas sempre com este último termo no singular, e não no
plural.
9. Se, todavia, se tomar apenas a palavra apelação em lugar da mencionada
expressão, então se poderá dizer as apelações.
10. Confiram-se, portanto, os seguintes exemplos: a) “Ambas as apelações
foram providas” (correto); b) “Ambos os recursos foram providos”
(correto); c) “Ambos os recursos de apelação foram providos”
(correto); d) “Ambos os recursos de apelações foram providos”
(errado).

Redação jurídica – Pode ser em primeira pessoa?


1. Uma leitora, não conseguindo encontrar resposta adequada, indaga se
pode escrever um parecer jurídico em primeira pessoa.
2. Ora, em suas diversas modalidades (petições, pareceres, arrazoados ou
trabalhos acadêmicos), a redação jurídica deve obedecer a determinados
critérios, que é oportuno observar.
3. Num primeiro aspecto, lembra-se que o Direito é uma ciência, de modo
que o profissional da área produz textos científicos, cuja linguagem deve
ser técnica e precisa.
4. Por isso, já em resposta direta à indagação da leitora, anota-se que a
linguagem do Direito, exatamente por ser científica, deve ser impessoal.
5. Isso quer significar que, com a exceção representada pela expressão final
de um parecer (“É o que me parece, salvo melhor juízo [ou, de modo
abreviado, s. m. j.]” – o que também pode ser dito de outra forma
objetiva e impessoal [“É o que parece, salvo melhor juízo])”, um
parecerista, assim como todo e qualquer autor de petição, arrazoado ou
trabalho acadêmico, deve empregar, na redação que produz, a terceira
pessoa (e não a primeira, quer do singular, quer do plural).
6. Fica, assim, muito mais adequado dizer, em uma fundamentação,
“Quando se busca uma interpretação convincente…” do que “Quando
eu busco (ou buscamos) uma interpretação convincente…”. Deve-se
proceder de modo idêntico nas conclusões: “Conclui-se que…” fica
muito melhor do que “Concluo que…” ou mesmo “Concluímos que…”,
ainda que essa última expressão tenha por pretexto um plural de
modéstia.
7. Aproveitando a oportunidade, outras observações podem ser acrescidas
para o aperfeiçoamento da redação jurídica: a) é inconveniente, de um
modo geral, substituir termos técnicos e locuções por sinônimos, a
pretexto de evitar repetições e de buscar uma pretensa linguagem
literária (assim, não se deve substituir, ao longo de um texto, por
exemplo, petição inicial por peça inaugural, petição de introito,
preambular ou vestibular); b) em nome da sobriedade e da objetividade
próprias da linguagem científica, deve-se evitar uma adjetivação
desnecessária (como clara e indefectível Justiça, digna Autoridade
Policial, douta Procuradoria de Justiça ou ilustrado Órgão do
Ministério Público, bastando dizer Justiça, Autoridade Policial,
Procuradoria de Justiça ou Órgão do Ministério Público); c) devendo a
linguagem jurídica ser sóbria e parcimoniosa, clara, correta e persuasiva,
são perfeitamente dispensáveis pedidos de licença para alguma
afirmação mais contundente ou divergente (como, por exemplo, data
venia, ou venia concessa, ou similares).

Redarguir – Significado, pronúncia e regência


1. Significa replicar argumentando, responder arguindo, replicar. Ex.: “O
advogado redarguiu à acusação, questionando exatamente as bases da
acusação”.
2. Quanto à pronúncia, o u é proferido em todas as formas de flexão do
verbo, seja átona ou tônica a referida vogal.
3. Na lição de Otelo Reis, “profere-se sempre o u, pronunciando-se, pois,
bem clara a sílaba gu, tenha ela ou não o acento tônico” (1971, p. 133).
4. O trema que era usado em algumas de suas formas foi abolido pelo
Acordo Ortográfico de 2008; tal verbo tem, todavia, acento agudo nas
formas em que o u, seguido de e ou de i, é forte (tônico), razão por que
interessante é observar-lhe algumas formas: redarguo, redargúis,
redargúi, redarguimos, redarguis, redargúem (presente do indicativo);
redargui, redarguiste, redarguiu, redarguimos, redarguistes,
redarguiram (pretérito perfeito do indicativo).
5. Pelas próprias regras que norteiam a acentuação, não há sinal diacrítico
algum na primeira pessoa do singular do presente do indicativo ou do
presente do subjuntivo: redarguo, redarguas, redargua, redarguamos…
6. Carlos Góis e Herbert Palhano (1963, p. 113) lembram, com
propriedade, que, dos verbos terminados em guir, apenas arguir e
redarguir tem o u pronunciado.
7. Atente-se a que, diferentemente dos verbos terminados em uar (como
averiguar), são errôneas as grafias com e em tais situações: redargúes,
redargúe.
8. No que concerne à regência verbal, Francisco Fernandes, em preciosa
síntese (1971, p. 501), traz exemplos das mais variadas possibilidades de
construção quanto a seu complemento: a) como intransitivo: “Redarguiu
sorrindo o marido” (Camilo Castelo Branco); b) como transitivo direto:
“O cego redarguiu que não tinha outra [justificativa]” (Camilo Castelo
Branco); c) transitivo indireto: i) “Às graçolas não redarguiu” (Camilo
Castelo Branco); ii) “Redarguira ao insulto com severidade” (Camilo
Castelo Branco); d) transitivo direto e indireto: “Redarguiram-lhe que
nenhuma das três coisas lhe podiam dar” (Rebelo da Silva); e) transitivo
direto com predicativo do objeto: i) “… redarguindo-o de traidor”
(Morais); ii) “Redarguir o documento de falso” (Constâncio).

Redator em chefe – Está correto?


Ver Em chefe – Existe? (P. 305)

Redimir
1. Porque há pessoas que o confundem, quanto à conjugação verbal, talvez
por influência de seu problemático sinônimo remir, lembra Sousa e Silva
que ele “não é defectivo: emprega-se em todos os modos, tempos e
pessoas” (1958, p. 254).
2. Além disso, trata-se de verbo regular, que não apresenta dificuldade
alguma quanto à flexão: redimo, redimes, redime, redimimos, redimis,
redimem (presente do indicativo); redima, redimas, redima, redimamos,
redimais, redimam (presente do subjuntivo); redimi, redimiste, redimiu,
redimimos, redimistes, redimiram (pretérito perfeito do indicativo)…

Refém
1. “Do árabe rehén, entende-se a pessoa que é entregue ou fica em poder de
outrem, como garantia do cumprimento de um ajuste ou tratado, ou que
se entrega como penhor de fidelidade” (DE PLÁCIDO E SILVA, 1989,
p. 62). Ex.: “Os presos amotinados mantiveram o juiz de direito da
cidade como refém ao longo de toda a negociação”.
2. Atente-se a que, quanto à prosódia, é palavra oxítona, devendo por lei,
em virtude de sua terminação, receber acento gráfico.
3. Registre-se, a esse respeito, a lição de Silveira Bueno no sentido de que,
quanto à prosódia, não apenas se deve conferir ao vocábulo pronúncia
oxítona (BUENO, 1938, p. 10), mas, sendo ele oxítono e agudo, tem
acento na última sílaba, e rima com alguém, ninguém, porém (BUENO,
1938, p. 91).

Referendo ou Referendum?
1. Segundo o dicionário de Aurélio Buarque de Holanda, referendo é o
“direito que tem os cidadãos de se pronunciar diretamente a respeito das
questões de interesse geral” (1986, p. 1.470).
2. O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia
Brasileira de Letras – que é o veículo ordenador do modo de grafar as
palavras em nosso idioma – registra referendo (VOLP, 2009, p. 711),
motivo pelo qual está autorizado o seu normal emprego.
3. Quanto a referendum, Antonio Henriques (1999, p. 171) o reputa
“sobrevivência do particípio futuro passivo latino (gerundivo) em
português como substantivo”, lembrando-lhe a “conotação jurídica”, e
conceituando-o como o ato de “levar alguma proposta, submetê-la à
decisão de outro poder”, como observa transparecer na expressão ad
referendum.
4. O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa considera referendum
palavra ainda pertencente ao idioma latino (ACADEMIA BRASILEIRA
DE LETRAS, 2009, p. 863), motivo por que não o acentua (o que seria
obrigatório, se já estivesse incorporado ao nosso léxico, a semelhança de
álbum, como paroxítona terminada em um), e lhe indicava, até sua
edição de 1999, o plural referenda (p. 642), flexão não repetida nas
edições de 2004 e 2009.
5. Por ser vocábulo não pertencente a nossa língua, há de ser grafado entre
aspas ou de qualquer modo indicador de tal circunstância, como itálico,
negrito ou sublinha.
Para maiores observações sobre a conveniência de sua perfeita
integração ao vernáculo, incluindo a formação de seu plural, ver
Memorândum – Qual é o plural? (P. 468)

Reforço de próclise
Ver Se me não falha a memória ou Se não me falha a memória? (P. 684)
Refrega
1. Tem o sentido de luta, disputa, batalha. Ex.: “Em meio à árdua refrega
os dois advogados debatiam bravamente”.
2. Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 19) lembra que o timbre de sua vogal
tônica é aberto (é).
3. Ante a frequência com que ocorrem erros em sua pronúncia, também
Cândido de Oliveira (s/d, p. 33 e 129) lembra que sua sílaba tônica é
pronunciada com o e aberto (é).

Regências diversas
Ver Contra ou a favor (P. 228), Regência verbal (P. 651) e Verbos com
regências diversas (P. 760).

Regência verbal
1. Estuda o problema da complementação do verbo, da exigência ou não de
preposições antecedendo tais complementos e das construções
específicas relacionadas aos verbos.
2. Algumas observações gerais, explicitadas a seguir, podem ser de grande
utilidade.
3. Os pronomes o, a, os, as funcionam como objetos diretos: “Estimo os
amigos” (“Estimo-os”).
4. Os pronomes lhe, lhes funcionam como objetos indiretos: “O livro
pertence ao magistrado” (“O livro pertence-lhe”).
5. Alguns verbos, embora transitivos indiretos, não admitem lhe como
complemento: a) “Aludi a ele”; b) “Aspiro a ele” (no sentido de
pretender); c) “Assisti a ele” (no significado de ver, presenciar); d)
“Dependo dele”; e) “Recorri a ele”; f) “Referi-me a ele”.
6. Se não se sabe ao certo se um verbo é transitivo direto ou transitivo
indireto, caminho bastante prático é usá-lo na voz passiva: se tal for
possível, o verbo normalmente será transitivo direto; caso contrário, não
o será: a) assim, “Eu estimo os amigos” fica, na voz passiva, “Os amigos
são estimados por mim”; b) já “O livro pertence-lhe” não admite
passagem para a voz passiva.
7. O verbo obedecer é a exceção, pois, embora transitivo indireto, admite,
por questões históricas, ser empregado na voz passiva: a) “O magistrado
também obedece ao ordenamento”; b) “O magistrado também lhe
obedece”; c) “O ordenamento jurídico é obedecido também pelo
magistrado”.
8. Se um verbo, como aspirar, às vezes é transitivo direto (no sentido de
cheirar), às vezes é transitivo indireto (quando quer significar pretender),
na primeira acepção pode ser usado na voz passiva, mas não na segunda.
Exs.: a) “A moça aspira o perfume” (correto); b) “O perfume é aspirado
pela moça” (correto); c) “A moça aspira ao cargo” (correto); d) “O
cargo é aspirado pela moça” (errado).
Ver Aludir (P. 106), Contra ou a favor (P. 228), Em seis – Está correto? (P.
316), Omissão da preposição – Está correto? (P. 526), Pagar (P. 541), Pedir
para (P. 553), Perdoar (P. 559), Recorrer (P. 647), Só – Como concordar? (P.
706), Todo ou Todo o? (P. 740) e Verbos com regências diversas (P. 760).

Registar – Existe?
1. É importante anotar, mais uma vez, que a autoridade para listar as
palavras oficialmente existentes em nosso léxico é o Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de
Letras, órgão esse que tem a responsabilidade legal de controlar a
existência de nossas palavras, em cumprimento à velha Lei Eduardo
Ramos, de n. 726, de 8/12/1900.
2. Isso significa, de um modo geral, que, se o VOLP traz determinado
vocábulo como integrante de nosso idioma, então essa palavra
oficialmente existe para nós; em caso contrário, se ele não a registra, não
estamos autorizados a empregá-la na linguagem formal das petições,
arrazoados e pareceres.
3. Com essas observações iniciais, é preciso dizer, de modo específico que,
a par de registrado, registrador, registradora, registrar, registrável e
registro, o VOLP também traz como formas existentes em nosso léxico
registado, registador, registadora, registar, registável e registo
(ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, 2009, p. 712).
4. Isso quer dizer que tais palavras sem o r existem em nosso idioma e
apenas são variações daquelas com o r, delas sinônimas e passíveis de
emprego normal, sem outras preocupações.

Registre-se ou Registra-se?
1. Um leitor narra que é comum ler em petições “registre-se”, “frise-se” e
“note-se”. Mas lhe parece que, tais como escritas, essas formas misturam
um aspecto de imperativo, o que ele não sabe se está certo. E indaga se,
no sentido de que algum ponto apenas deva ser registrado, frisado ou
notado, o melhor não seria “registra-se”, “frisa-se” e “nota-se”.
2. Faça-se o seguinte raciocínio: a) o exemplo “O imóvel foi registrado”
está na voz passiva analítica; b) tem-se, no caso, voz passiva, porque o
sujeito (imóvel) recebe a ação indicada pelo verbo (registrar); c) seria
voz ativa, se o sujeito praticasse a ação indicada pelo verbo (O Cartório
registrou o imóvel); d) existe uma outra forma de voz passiva, que é a
voz passiva sintética; e) para formar a voz passiva sintética, põe-se o
verbo na forma ativa (registrou) e se acrescenta o se, que passa a ter a
função de partícula apassivadora; f) assim, a voz passiva analítica “O
imóvel foi registrado” tem, como voz passiva sintética, “Registrou-se o
imóvel”; g) se a voz passiva analítica fosse “Os imóveis foram
registrados”, a voz passiva sintética seria “Registraram-se os imóveis”.
3. Vejam-se as variações dessa expressão, conforme o tempo e o modo em
que se queira empregar o verbo registrar: a) se a voz passiva analítica é
“O imóvel é registrado”, a voz passiva sintética é “Registra-se o
imóvel”; b) se a analítica é “O imóvel era registrado”, a sintética é
“Registrava-se o imóvel”; c) para a analítica “O imóvel será registrado”,
tem-se a sintética “Registrar-se-á o imóvel”; d) para a forma imperativa
“O imóvel seja registrado”, tem-se a sintética “Registre-se o imóvel”.
4. Respondendo de modo prático à indagação do leitor, tem-se, num
primeiro aspecto, que, se o que se quer é uma forma imperativa,
resultante de efetiva determinação de autoridade, têm-se as seguintes
formas sintéticas no chamado modo imperativo: a) “Registre-se o
imóvel”; b) “Frise-se este ponto de vista”; c) “Note-se este aspecto
importante”. Correspondem elas às seguintes formas analíticas: i) “O
imóvel seja registrado”; ii) “Este ponto de vista seja frisado”; iii) “Este
aspecto importante seja notado”.
5. Se, porém, o que se quer é apenas indicar um fato que ocorre no
momento em que se fala, sem carga nenhuma de ordem ou
determinação, então se têm as formas sintéticas no chamado modo
indicativo: a) “Registra-se o imóvel”; b) “Frisa-se este ponto de vista”;
c) “Nota-se este aspecto importante”. Correspondem elas às seguintes
formas analíticas: i) “O imóvel é registrado”; ii) “Este ponto de vista é
frisado”; iii) “Este aspecto importante é notado”.
6. Por fim, embora não seja difícil perceber, parece oportuno realçar que a
voz passiva sintética (e, assim, o se como partícula apassivadora)
coexiste normalmente com a forma verbal no imperativo.

Registro ou Registo?
1. Registro é palavra de grande uso nos meios forenses, como nas
expressões Registro Civil, Registro de Imóveis.
2. São defensíveis, em português, as formas registro e registo.
3. A segunda, lembra Aires da Mata Machado Filho, com base em lição de
Leite de Vasconcelos, veio da primeira “pela dissimilação do r, o que
igualmente aconteceu em rosto, do português antigo rostro, do latim
rostrum” (1969i, p. 14).
4. Entre vocábulos como registro e registo, observa Silveira Bueno que
“não há diferença alguma; são formas paralelas igualmente corretas… A
forma antiga foi sempre: registro e registrar; no latim medieval o snr.
encontra registrum. Houve depois a dissimilação do r em s, dando a
forma registo e registar. Por antiguidade, pois, registro e registrar
deveriam ser preferidos. Mas o tempo caminha e as línguas o
acompanham e por isso muitos preferem registo e registar” (1938, p.
52).
5. Lembra Cândido de Figueiredo que a forma registro corresponde ao
francês registre, ao castelhano e ao italiano registro, mas observa que “a
etimologia da palavra não é registrum, que só existiu no latim bárbaro,
mas sim regestum, plural regesta, onde se não vê o segundo r de
registro” (1941, p. 294-5).
6. Ainda quanto à duplicidade de formas – registro e registo –, aduz
Silveira Bueno que “aquela é mais antiga do que esta porque o grupo tr
tende sempre a perder a vibrante: rostro, rosto; rastro, rasto”.
7. Estendendo a mesma lição para registrar e registar, assevera o referido
autor, em continuação, que “o fato de registro ser mais antigo não quer
dizer que seja errado: está em pleno uso ainda hoje”.
8. Por fim, dá ele um conselho útil: “o que se deve fazer é fixar uma das
variantes para se ter uniformidade” (BUENO, 1957, p. 411).
9. Em preciosa síntese, lembra Eliasar Rosa que, muito embora haja
pessoas que escrupulizam em usar alguma das duas formas, “os clássicos
antigos e modernos usam quer uma, quer outra dessas grafias” (1993, p.
121-2).
10. Eliminando possibilidades de dúvida, o Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras – que é o veículo
oficial indicador das palavras existentes em nosso idioma – registra
ambas as variantes (registro e registo), sem restrição alguma ou
observação específica (2009, p. 712), o que implica dizer que ao
usuário se faculta o emprego indiferente de qualquer delas.

Regras de abreviatura
Ver Abreviatura, Abreviação e Sigla – O que é e Como usa? (P. 55)

Regras de ortografia
1. Ortografia é a parte da Gramática que ensina a escrever corretamente.
2. Algumas regras e observações podem ser preciosas para a concretização
de tal intento, como se verifica em seguida.
3. Os substantivos que derivam de adjetivos devem ser grafados com ez,
eza: macio, safado, belo (adjetivos) fazem maciez, safadeza, beleza
(substantivos derivados).
4. Os adjetivos que derivam de substantivos devem ser grafados com ês,
esa: monte, corte, França (substantivos) fazem montês, cortês, francesa
(adjetivos derivados).
5. Se é preciso acrescentar o sufixo izar inteiro para formar um verbo,
grafa-se com z: fiscal, útil (primitivas) fazem fiscalizar, utilizar
(derivadas).
6. No caso da observação anterior, porém, se já existe s no radical, deve ser
ele aproveitado: análise, pesquisa, catálise (primitivas) fazem analisar,
pesquisar, catalisar.
7. Os verbos em uir só podem dar origem à terminação ui na segunda e
terceira pessoas do singular do presente do indicativo: possuir, constituir,
restituir, (primitivas) fazem possuis, possui, constituis, constitui,
restituis, restitui (derivadas), sendo errôneas formas como possue,
constitue, restitue.
8. Os verbos em uar só podem dar origem à terminação ue, jamais ui:
continuar, atenuar, averiguar (primitivas) fazem continue, atenue,
averigúe (derivadas), e não continui, atenui, averigúi.
9. As palavras derivadas conservam, geralmente, os aspectos de grafia da
primitiva: deus, cruz, loja, brasa (primitivas) fazem endeusar,
encruzilhada, lojista, abrasar (derivadas).
10. Um aspecto a que poucos dão atenção, mas que configura item de
muitos erros, é observado por Pasquale Cipro Neto e Ulisses Infante
(1999, p. 131): “Compare a terceira pessoa do plural do pretérito
perfeito do indicativo com a terceira pessoa do plural do futuro do
presente: a primeira é paroxítona e termina em am (estudaram,
venderam, permitiram); a segunda é oxítona e termina em ão
(estudarão, venderão, permitirão)”.
Ver Mau ou Mal? (P. 464), Ortografia (P. 533), Parônima (P. 551) e Por que,
Por quê, Porque ou Porquê? (P. 581)

Regredir
1. Quanto à conjugação verbal, a irregularidade desse verbo consiste em
que o e da penúltima sílaba transforma-se em i nas formas rizotônicas
bem como nas formas daí derivadas.
2. Desse modo, assim é seu presente do indicativo: regrido, regrides,
regride, regredimos, regredis, regridem.
3. Da primeira pessoa do singular do presente do indicativo se extrai o
presente do subjuntivo: regrida, regridas, regrida, regridamos,
regridais, regridam.
4. E de ambos os tempos formam-se o imperativo afirmativo e o imperativo
negativo: regride, regrida, regridamos, regredi, regridam (imperativo
afirmativo); não regridas, não regrida, não regridamos, não regridais,
não regridam (imperativo negativo).
5. Atente-se, porém, ao pretérito perfeito do indicativo, do qual derivam o
mais-que-perfeito do indicativo, o imperfeito do subjuntivo e o futuro do
subjuntivo, todos integrados por formas arrizotônicas, nos quais não se
apresenta problema algum digno de nota, sendo, então, verbo regular:
regredi, regrediste, regrediu, regredimos, regredistes, regrediram.
6. De Francisco Fernandes, que lhe dá por modelo agredir, é interessante
síntese: “Muda o e em i em todas as formas rizotônicas” (1971, p. 61).
7. Seguem idêntica conjugação os seguintes verbos: agredir, denegrir,
prevenir, progredir, transgredir.

Regulamento
Ver Decreto-lei (P. 253).

Rei – Como ler seu número?


Ver Números – Como ler e Empregar? (P. 506)

Reincidir novamente – Pleonasmo?


1. Esta é mais uma daquelas expressões equivocadas e redundantes,
portadora de tautologia, ou pleonasmo vicioso.
2. Em razão do prefixo latino re, reincidir já significa incidir de novo.
3. Diga-se, portanto, tão somente, reincidir (e não reincidir novamente), a
não ser que se queira significar reincidir uma segunda vez, indicando,
assim, não uma segunda, mas uma terceira atuação do agente. Ou então,
incidir novamente.

Reinicializar – Existe?
Ver Verbos – Existem ou não? (P. 764)

Reintegração
1. Na consonância com lição de Luciano Correia da Silva, “‘reintegra-se
na posse’. Por isso é que se diz também ‘reintegração na posse’. O
mesmo ocorre com manutenção e imissão: ‘manutenção ou imissão na
posse’” (1991, p. 92).
2. Segue esse entendimento o art. 1.210, § 2º, do Código Civil: “Não obsta
à manutenção ou reintegração na posse a alegação de propriedade, ou
de outro direito sobre a coisa…”
3. Levanta Francisco Fernandes (1969, p. 329), todavia, a possibilidade de
dupla construção, vale dizer, com de ou com em: a) “Reintegração de
bens” (Caldas Aulete); b) “Sua reintegração na sociedade carioca
coincidira infelizmente com o ofuscamento político do marido” (Veiga
Miranda); c) “Reintegração num cargo, num posto”.
4. Celso Pedro Luft ainda levanta a possibilidade de emprego de
complemento regido pela preposição a: “Acordo capaz de permitir a
reintegração do Brasil ao sistema internacional” (1999, p. 439).

Reintegrar
1. Quanto à regência verbal, Celso Pedro Luft leciona que, como transitivo
direto e indireto, corresponde à construção reintegrar alguém em alguma
coisa. Ex.: “O reitor reintegrou nas cátedras os professores demitidos”
(1999, p. 445).
2. Francisco Fernandes defende igual posicionamento, abonando-se com
exemplo de Rui Barbosa: “… reintegrasse os lentes nos quadros do
magistério” (1971, p. 508).
3. Atento ao linguajar jurídico, Adalberto J. Kaspary sintetiza de mesmo
modo sua regência: “constrói-se com objeto direto (sujeito na voz
passiva) de pessoa, ou com objeto direto de pessoa e indireto de coisa,
com a preposição em (reintegrar alguém, ou reintegrar alguém em
alguma coisa)”. Exs.: a) “Demitiram-no mas em obediência a ordem
judicial acabaram reintegrando-o”; b) “O novo diretor reintegrou nas
cátedras os professores demitidos”.
4. Acrescenta tal autor, entretanto: “Na Lei 7.210, de 11/7/1984 (Lei de
Execução Penal), art. 25, I, aparece a construção reintegrar alguém a
alguma coisa: ‘A assistência ao egresso consiste: I – na integração e
apoio para reintegrá-lo à vida em liberdade’” (KASPARY, 1996, p.
283).

Réis ou Reis?
Ver Ditongos éi, ói, éu – Quando acentuar? (P. 292)

Reivindicar ou Revindicar?
1. É preciso cuidado com a ortografia dessa palavra e de seus cognatos,
para não se inserir nelas um n inexistente: reivindicação, reivindicar e
reivindicatória, assim, são as formas corretas; jamais se há de dizer ou
escrever reinvindicação, reinvindicar ou reinvindicatória.
2. Trata-se de palavra cujo primeiro elemento, “rei” (genitivo de res, da
quinta declinação latina, significando da coisa), não se faz seguir de n no
idioma original.
3. Muito embora pela etimologia (“rei”) seja mais usual a escrita e a
pronúncia com o i intermédio (reivindicação, reivindicar,
reivindicatória), o certo é que o Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, órgão oficialmente
incumbido de listar as palavras pertencentes ao nosso léxico, também
registra revindicação, revindicar e revindicatória, o que significa estar
oficialmente autorizado o uso de ambas as grafias (2009, p. 713 e 721).
4. Com a acepção de reclamar judicialmente a coisa, é empregado por
mais de uma vez no Código Civil de 1916: a) “Na propriedade em
comum, compropriedade, ou condomínio, cada condômino ou consorte
pode: … II – Reivindicá-la de terceiro” (art. 623, II); b) “Aquele cujo
nome se acha inscrito no título presume-se dono e pode reivindicá-lo de
quem quer que injustamente o detenha” (art. 1.510, segunda parte).
5. Essa também a acepção em dispositivos do Código Civil de 2002: a)
“Cancelado o registro, poderá o proprietário reivindicar o imóvel,
independentemente da boa-fé ou do título do terceiro adquirente” (CC,
art. 1.247, parágrafo único); b) “Cada condômino pode usar da coisa
conforme sua destinação, sobre ela exercer todos os direitos compatíveis
com a indivisão, reivindicá-la de terceiro, defender a sua posse e alhear
a respectiva parte ideal, ou gravá-la” (CC, art. 1.314, caput).
Remarcável – Galicismo?
1. No sentido de notável, é vocábulo que Eduardo Carlos Pereira insere no
rol dos galicismos léxicos, daqueles que “são verdadeiras deturpações da
língua, contra os quais devemos estar premunidos” (1924, p. 260-1).
2. O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia
Brasileira de Letras, veículo oficial indicador das palavras existentes em
nosso idioma, registra-a, todavia, normalmente como adjetivo integrante
de nosso léxico (2009, p. 714), o que significa que seu uso está
regularmente autorizado em nosso idioma.

Remediar
1. Os verbos terminados em iar, quanto à conjugação verbal, normalmente
são verbos regulares e têm por modelo anunciar.
2. São exceções a essa regularidade de conjugação mediar, ansiar,
remediar, incendiar e odiar (mnemônico MARIO), os quais têm por
modelo este último.
3. Tais verbos da relação mencionada mudam o i da penúltima sílaba em ei
nas formas rizotônicas (isto é, no presente do indicativo, presente do
subjuntivo, imperativo afirmativo e imperativo negativo): remedeio,
remedeias, remedeia, remediamos, remediais, remedeiam (presente do
indicativo); remedeie, remedeies, remedeie, remediemos, remedieis,
remedeiem (presente do subjuntivo); remedeia, remedeie, remediemos,
remediai, remedeiem (imperativo afirmativo); não remedeies, não
remedeie, não remediemos, não remedieis, não remedeiem (imperativo
negativo).
4. Como nos demais tempos não há formas rizotônicas, neles não se dá a
referida alteração: remediei (pretérito perfeito do indicativo), remediara
(pretérito mais-que-perfeito), remediar (futuro do subjuntivo),
remediasse (imperfeito do subjuntivo), remediava (imperfeito do
indicativo), remediarei (futuro do presente), remediaria (futuro do
pretérito), remediando (gerúndio), remediado (particípio).
5. Não confundir com os verbos terminados por ear, como nomear, os
quais, nesse aspecto, como todo verbo terminado por ear, recebem um i
intermediário nas formas rizotônicas: nomeio, nomeias, nomeia,
nomeamos, nomeais, nomeiam (presente do indicativo); nomeie,
nomeies, nomeie, nomeemos, nomeeis, nomeiem, (presente do
subjuntivo); nomeia, nomeie, nomeemos, nomeai, nomeiem (imperativo
afirmativo); não nomeies, não nomeie, não nomeemos, não nomeeis, não
nomeiem (imperativo negativo).
6. Vale sintetizar os problemas de flexão do verbo aqui considerado com as
observações de Vitório Bergo: “recebe um e eufônico nas formas
rizotônicas, que só se manifestam no presente do indicativo e do
subjuntivo e, portanto, no imperativo” (1943, p. 142-3).

Remeter
1. No sentido de sujeitar, expor, exige tal verbo objeto direto e objeto
indireto, correspondendo à construção remeter algo a algo, ou remeter
alguém a algo.
2. Acata esse posicionamento Francisco Fernandes (1971, p. 511), que se
abona em exemplo de Filinto: “Tendo por incomportável remeter a um
funesto destroço tão abonada valentia”.
3. É comum, nesse sentido, dizer-se, em linguagem jurídica: “Remeter
alguém às vias ordinárias”.
4. Também se usa, em tal caso, a preposição para, como em “Remeter
alguém para os meios ordinários”, como preferiu o Código de Processo
Civil (arts. 984, 1.000, parágrafo único, e 1.016, § 2º).
5. Não encontra suporte nos modelos da língua, porém, o uso tomado pelo
art. 19, § 2º, da Lei 6.766, de 19/12/79, que dispôs sobre o parcelamento
do solo urbano, que assim determinou: “Ouvido o Ministério Público no
prazo de 5 (cinco) dias, o juiz decidirá de plano ou após instrução
sumária, devendo remeter ao interessado as vias ordinárias, caso a
matéria exija maior indagação”.
6. O correto, em tal caso, há de ser: “… devendo remeter o interessado às
vias ordinárias…”

Remição da pena ou Remissão da pena?


Ver Remição ou Remissão? (P. 655)
Remição ou Remissão?
1. Por etimologia, remição significa resgate ou reaquisição onerosa de
alguma coisa. Ex.: “A remição do homem custou sangue divino”.
2. Em Direito, sempre com essa ideia das origens, fala-se, por exemplo, em
remição da execução (resgate desta, mediante pagamento de todo o seu
valor), em remição da hipoteca (pagamento da dívida hipotecária por
pessoa que não estava pessoal e originariamente obrigada a tanto), em
remição de bens executados (liberação, por pessoas legalmente
autorizadas, dos bens trazidos à execução, mediante depósito do preço
de sua avaliação).
3. Em síntese, como lembra Geraldo Amaral Arruda, “remição nada mais é
do que uma variante de redenção” (1997, p. 143).
4. O verbo para exprimi-la é remir, que tem por sinônimo redimir, mas não
remitir, que significa perdoar.
5. Já a palavra remissão, do latim remissio, traz em si o sentido de perdão,
renúncia, desistência, absolvição. Ex.: “A remissão do pecado do homem
custou sangue divino”.
6. Juridicamente, exprime renúncia voluntária, perdão ou liberação
graciosa de uma dívida, de um direito, e, desse modo, constitui, por
conseguinte, modo de extinção de obrigação ou direito.
7. Assim, remissão da dívida é o ato de liberalidade do credor, que perdoa
a dívida ou renuncia ao direito de exigi-la; remissão da pena é seu
perdão no todo ou em parte, recebendo, conforme o caso, a designação
própria e específica de graça ou indulto.
8. O verbo para expressar a remissão é remitir (que significa perdoar), e
não remir ou redimir (ambos com o significado de resgatar).
9. Nossos textos de lei normalmente empregam com propriedade o
vocábulo remição – como se pode verificar, dentre outros, nos arts. 266,
267, 272, 274 e 276 da Lei de Registros Públicos – além dos seguintes
exemplos: a) “A remição não pode ser parcial, quando há licitante para
todos os bens” (CPC/1973, art. 787, parágrafo único); b) “Concorrendo
à remição vários pretendentes, preferirá o que oferecer maior preço…”
(CPC/1973, art. 789); c) “Deferindo o pedido, o juiz mandará passar
carta de remição…” (CPC/1973, art. 790); d) “A lei disporá sobre o
instituto da enfiteuse em imóveis urbanos, sendo facultada aos foreiros,
no caso de sua extinção, a remição dos aforamentos mediante aquisição
do domínio direto…” (CF/88, DCT, art. 49); e) “Constitui o crime do
art. 399 do Código Penal declarar ou atestar falsamente prestação de
serviço para fim de instruir pedido de remição” (Lei 7.210, de 11/7/84,
art. 130).
10. Os textos de lei também normalmente observam a exata significação
do vocábulo remissão: a) “Qualquer anistia ou remissão que envolva
matéria tributária ou previdenciária só poderá ser concedida através
de lei específica, federal, estadual ou municipal” (CF/88, art. 150, §
6º); b) “Os atos de transmissão gratuita de bens, ou remissão de
dívida, quando os pratique o devedor já insolvente, ou por eles
reduzido à insolvência, poderão ser anulados pelos credores
quirografários como lesivos de seus direitos” (CC/1916, art. 106,
caput); c) “O foreiro não tem direito à remissão do foro, por
esterilidade ou destruição parcial do prédio enfitêutico, nem pela
perda total de seus frutos…” (CC/1916, art. 687); d) “O pagamento
parcial feito por um dos devedores e a remissão por ele obtida não
aproveitam aos outros devedores, senão até à concorrência da quantia
paga, ou relevada” (CC/1916, art. 906); e) “A remissão concedida a
um dos codevedores extingue a dívida na parte a ele
correspondente…” (CC/1916, art. 1.055); f) “As normas estabelecidas
nos dois artigos antecedentes aplicam-se ao pagamento e à remissão
da dívida” (CPC/1973, art. 403); g) “Extingue-se a execução quando…
o devedor obtém, por transação ou por qualquer outro meio, a
remissão total da dívida” (CPC/1973, art. 794); h) “A lei pode
autorizar a autoridade administrativa a conceder, por despacho
fundamentado, remissão total ou parcial do crédito tributário…”
(CTN, art. 172).
11. Apesar do costumeiro acerto da legislação, anota-se, porém, que, em
diversas passagens, o Código Civil de 1916 se equivocou e acabou por
empregar remissão, quando o contexto não traz a ideia de perdão, e sim
de resgate, do próprio ato de remir, motivo pelo qual, em tais casos, o
correto há de ser remição: a) “O herdeiro ou sucessor que fizer a
remissão fica sub-rogado nos direitos do credor pelas cotas que houver
satisfeito” (art. 766, parágrafo único); b) “O mesmo direito (de fazer
cancelar a transcrição do instrumento pignoratício) compete ao
adquirente do penhor por adjudicação, compra, sucessão ou remissão,
exibindo seu título” (art. 801, parágrafo único); c) “Resolve-se o
penhor: … VI – Dando-se a adjudicação judicial, a remissão ou a
venda amigável do penhor, se a permitir expressamente o contrato, ou
for autorizada pelo devedor…, ou pelo credor…” (art. 802, VI); d)
“Para a remissão, neste caso (em que a hipoteca anterior pode ser
remida) consignará o segundo credor a importância do débito e das
despesas judiciais, caso se esteja promovendo a execução, intimando o
credor anterior para levantá-la e o devedor para remi-la, se quiser”
(art. 814, § 1º); e) “Se o adquirente quiser forrar-se aos efeitos da
execução da hipoteca, notificará judicialmente, dentro em trinta dias, o
seu contrato aos credores hipotecários, propondo, para a remissão, no
mínimo, o preço por que adquiriu o imóvel” (art. 815, § 1º); f) “Não
sendo requerida a licitação, o preço da aquisição, ou aquele que o
adquirente propuser, haver-se-á por definitivamente fixado para a
remissão do imóvel, que, pago ou depositado o dito preço, ficará livre
de hipotecas” (art. 816, § 1º); g) “É lícito aos interessados fazer
constar das escrituras o valor entre si ajustado dos imóveis
hipotecados, o qual será a base para as arrematações, adjudicações e
remissões, dispensada a avaliação” (art. 818, primeira parte); h) “No
caso de falência do devedor hipotecário, o direito de remissão devolve-
se à massa, em prejuízo da qual não poderá o credor impedir o
pagamento do preço por que foi avaliado o imóvel.” (art. 821, primeira
parte); i) “A hipoteca extingue-se: … IV – Pela remissão” (art. 849,
IV). Nesse último caso, se o legislador quisesse dizer perdão, a
hipótese já estaria abrangida pelo inciso anterior, que fala de renúncia
do credor; além disso, se assim fosse, inexistiria dentre os casos de
extinção da hipoteca, a possibilidade de remição, vale dizer, de resgate,
a qual, a toda evidência, é tratada em diversos dispositivos.
12. Uma análise comparativa entre esses dispositivos com grafia
equivocada e seus correspondentes no Código Civil de 2002 revela os
seguintes aspectos: a) a nova codificação evitou empregar o vocábulo e
o substituiu, em diversos casos, por um torneio de palavras; b) nos
casos em que manteve seu uso, normalmente procedeu à correção; c) a
exceção é a do art. 802, VI, do Código Civil de 1916, que não teve o
vocábulo corrigido no art. 1.436 do Código Civil de 2002.
13. Em mesmo equívoco de baralhar tais vocábulos está o art. 120, § 2º,
segunda parte, do Decreto-lei 7.661, de 21/6/45, que instituiu a Lei de
Falências: “Se, porém, não tiverem ficado com tal faculdade, poderão
notificar o síndico para, dentro de 8 dias, remir a coisa dada em
penhor; se o síndico não achar de conveniência para a massa a
remissão da coisa, deverá notificar o credor para que dela lhe faça
entrega, na forma deste artigo”. O contexto evidencia a necessidade de
correção para remição da coisa.
14. Juntando em mesma observação remição e remissão, esclarece Eliasar
Rosa que são eles “vocábulos homônimos, homófonos, e não
sinônimos, pois têm significações distintas como institutos jurídicos,
embora, na própria lei e na doutrina, seja comum a confusão
terminológica entre um e outro” (1993, p. 122).
15. Ante a ocorrência de dúvidas e a importância do assunto, mesmo
fugindo a suas características normais, o Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, órgão incumbido
oficialmente de determinar a existência dos vocábulos em nosso
idioma, além de sua grafia oficial, faz questão de apontar o significado
dos dois vocábulos de modo expresso: remição significa resgate,
enquanto remissão tem o sentido de perdão (2009, p. 714).

Remir
1. Do latim redimere, tem por sinônimo redimir e significa resgatar, pagar,
liberar, livrar, trazendo em si a ideia de pagamento, de reaquisição a
título oneroso. Ex.: “Para remir o homem, precisou haver trabalho
divino”.
2. Com esse mesmo sentido no campo jurídico, fala-se, assim, em remir a
execução (depositar judicialmente o valor do débito, que extingue a
execução), em remir bens do executado (exonerar da penhora bens
gravados, mediante depósito do valor da avaliação). Ex.: “É lícito ao
cônjuge, ao descendente, ou ao ascendente do devedor remir todos ou
quaisquer bens penhorados, ou arrecadados no processo de insolvência,
depositando o preço por que foram alienados ou adjudicados”
(CPC/1973, art. 787, caput).
3. É verbo para indicar remição (resgate, liberação a título oneroso), e não
remissão, que significa perdão.
4. Não confundir com remitir, que significa perdoar.
5. Quanto à conjugação verbal, trata-se de verbo defectivo, o qual, para
Otelo Reis (1971, p. 148), apenas é conjugado nas formas em que, ao m
do radical, se segue a vogal i: remimos, remis, remia, remi, remira,
remirei, remiria, remisse, remindo, remido, devendo as formas que lhe
faltam ser supridas pelas do verbo redimir, que é conjugado em todas as
pessoas: redimo, redimes…
6. Cândido de Oliveira (1961, p. 212) também observa que tal verbo é
defectivo e que, nas formas faltantes, há de ser complementado por
redimir.
7. Desse entendimento também é Sousa e Silva (1958, p. 254).
8. Em lição que não afeta a estruturação prática, mas apenas influencia a
disciplina teórica da conjugação, Alfredo Gomes assevera que tal verbo
não é defectivo, porquanto “remir e redimir são formas diversas do
mesmo vocábulo latino (redimere); por isso remir tem as seguintes
formas no presente do indicativo: redimo, redimes, redime, remimos,
remis, redimem; no imperativo: redime, remi; no subjuntivo presente:
redima, redimas, redima, redimamos, redimais, redimam” (1924, p. 121).
Com a devida vênia do ilustre autor, não há como concordar com ele. Se,
em latim, remir e redimir eram formas do mesmo vocábulo, tal não se dá
em Português, em que devemos considerar a existência de dois verbos
distintos, cada qual com sua conduta e sua conjugação, e isso
independentemente da circunstância de um deles provir do outro.
9. Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 91), reconhecendo-lhe a defectividade,
assevera que ele “só possui as formas arrizotônicas”, complementando
que “as formas que lhe faltam são supridas com as do verbo sinônimo
redimir”.
10. Em termos práticos, outra não é a lição de Francisco Fernandes (1971,
p. 512), forte em lição de Ernesto Carneiro Ribeiro, que traz as
seguintes observações: a) “Emprega-se nas formas em que aparece a
vogal i após o m do radical”; b) “Para suprir as linguagens de que
carece o verbo remir, por se equivocarem com as do verbo rimar,
recorre nossa língua às formas do verbo redimir, de que é aquele
apenas uma síncope”.
11. Das lições lançadas, em termos práticos, vê-se que seus problemas de
conjugação restringem-se ao presente do indicativo e tempos daí
derivados.
12. No presente do indicativo, apresenta remimos e remis.
13. Não tem pessoa alguma do presente do subjuntivo.
14. No imperativo afirmativo, tem apenas remi (vós).
15. Por não ter presente do subjuntivo, não apresenta pessoa alguma do
imperativo negativo, que deriva na totalidade do primeiro, sem
alteração alguma.
16. Em todos os demais tempos, aparece um i após o radical: remi
(pretérito perfeito do indicativo), remira (pretérito mais-que-perfeito do
indicativo), remisse (imperfeito do subjuntivo), remir (futuro do
subjuntivo), remia (pretérito imperfeito do indicativo), remirei (futuro
do presente), remiria (futuro do pretérito), remindo (gerúndio), remido
(particípio). Nesses tempos, não há dificuldade para a conjugação.
17. Gladstone Chaves de Melo (1970, p. 165), todavia, mantém
ensinamento diverso dos anteriormente explicitados, e assevera que
falta ao verbo apenas a primeira pessoa do singular do presente do
indicativo e, por conseguinte, todas as pessoas do presente do
subjuntivo, motivo por que, para ele, no presente do indicativo, assim é
sua conjugação: rimes, rime, remimos, remis, rimem.
18. De acordo com essa lição, passaria a existir também a segunda pessoa
do singular do imperativo afirmativo (rime tu).
19. Em mesma esteira, observam Antonio Henriques e Maria Margarida de
Andrade que “há quem admite a conjugação integral”, coletando
significativos exemplos: a) “Almas e corpos se rimem, almas e corpos
se resgatam; mas as almas resgatam-se por amor de si mesmas, e os
corpos por amor das almas” (Padre Vieira); b) “Rime do infando
incêndio a pia armada / Poupa inocentes, nossa causa atende”
(Odorico Mendes).
20. Indo ainda além, recorda Adalberto J. Kaspary (1996, p. 286) a posição
de Albertina Fortuna Barros e Zélio dos Santos Jota, “que advogam o
emprego de remir em todas as suas formas, dando-lhe flexão idêntica a
do verbo agredir: rimo, rimes, rime, remimos, remis, rimem…”.
21. Por fim, é interessante observar que, nos textos de lei, tal verbo
aparece, invariavelmente, no infinitivo, como se pode observar nos
artigos 766 e 814 do Código Civil de 1916 (mantido o vocábulo no
caso do primeiro dispositivo, substituído pelo art. 1.429 do CC/2002),
651, 787 e 788 do Código de Processo Civil, 278 do Código
Comercial, 266 da Lei 6.015, de 31/12/73, 126 da Lei 7.210, de
11/7/84.

Remissão ou Remição?
Ver Remição ou Remissão? (P. 655)

Remisso
1. Observando que tal vocábulo “relaciona-se etimologicamente com
remitir, mas adquiriu significado diverso”, leciona Geraldo Amaral
Arruda que, “nas leis, aparece frequentemente o adjetivo remisso, mas
ele tem o sentido de descuidado, negligente, relapso”.
2. E exemplifica Geraldo Amaral Arruda (1997, p. 144) que “com esse
significado aparece ele no Código Comercial (arts. 278, 289 e 578), no
Código de Processo Civil (arts. 433, na sua redação original, e 695, § 3º)
e no Código de Processo Penal (art. 319, I)”.
3. É exatamente com esse sentido que também é empregado em outros
dispositivos de nossa legislação: a) “Verificada a mora, poderá a
maioria dos demais sócios preferir, à indenização, a exclusão do sócio
remisso, ou reduzir-lhe a quota ao montante já realizado, aplicando-se,
em ambos os casos, o disposto no § 1º do art. 1.031” (CC/2002, art.
1.004, parágrafo único); b) “Não integralizada a quota de sócio remisso,
os outros sócios podem, sem prejuízo do disposto no art. 1.004 e seu
parágrafo único, tomá-la para si ou transferi-la a terceiros, excluindo o
primitivo titular e devolvendo-lhe o que houver pago, deduzidos os juros
da mora, as prestações estabelecidas no contrato mais as despesas”
(CC/2002, art. 1.058); c) “Se remisso for o perito nomeado pelo juiz, este
o substituirá, impondo-lhe multa…” (CPC/1973, art. 433, em redação
revogada pela Lei 8.455, de 24/8/92); d) “Se o arrematante ou seu fiador
não pagar o preço no prazo estabelecido, o juiz impor-lhe-á em favor do
exequente, a perda da caução, voltando os bens a nova praça ou leilão,
dos quais não serão admitidos a participar o arrematante e o fiador
remissos” (CPC/1973, art. 695, em redação conferida pela Lei
11.382/2006).
Ver Remição ou Remissão? (P. 655), Remir (P. 656) e Remitir (P. 658).

Remitir
1. Do latim remittere, significa perdoar, dispensar, não exigir, renunciar, e
traz em si a ideia de graciosidade da liberação. Ex.: “Era preciso haver
divina liberalidade para remitir o pecado do homem”.
2. Com esse mesmo significado no campo jurídico, vê-se que remitir uma
dívida é perdoá-la, é renunciar ao direito de sua cobrança; remitir uma
pena é dispensar-lhe o cumprimento, no todo ou em parte, mediante
concessão de graça ou indulto. Exs.: a) “Se um dos credores remitir a
dívida, a obrigação não ficará extinta para com os outros; mas estes só
a poderão exigir, descontada a quota do credor remitente” (CC, art.
262); b) “O credor que tiver remitido a dívida ou recebido o pagamento
responderá aos outros pela parte que lhes caiba” (CC, art. 272).
3. Trata-se de verbo para indicar a ação de remissão, com o sentido de
perdão, e não de remição, que significa resgate.
4. Não confundir com remir, que significa resgatar, readquirir por título
oneroso.
5. Não apresenta problemas quanto à conjugação, já que se flexiona com
regularidade em todas as pessoas, tempos e modos.

Remontar
1. Indaga-se qual a forma correta: a) “Esta tradição remonta a quatro mil
anos”; b) “Esta tradição remonta há quatro mil anos”.
2. O verbo remontar, quando tem o sentido de ir buscar a origem ou a data,
pede um objeto indireto que seja começado pela preposição a. Exs.: a)
“As cruzadas remontam à Idade Média” (Cândido de Figueiredo); b)
“Remontemos à época dos visigodos” (Séguier); c) “É próprio do
historiador remontar ao passado”.
3. É certo que o verbo haver pode significar tempo passado em expressões
que guardam algum ponto comum de sentido com a ideia de remontar.
Exs.: a) “Há vários dias não leio os jornais”; b) “O advogado chegou há
duas horas”.
4. Veja-se, contudo, que o verbo haver, em tais casos, pode, normalmente,
ser substituído por fazer. Exs.: a) “Faz vários dias não leio os jornais”;
b) “O advogado chegou faz duas horas”.
5. Sem maiores dificuldades, é forçosa a conclusão de que, quando se
emprega o verbo remontar, inviável é tal substituição do a por alguma
forma do verbo fazer.
6. Ou seja, de modo específico para a indagação analisada: a) “Esta
tradição remonta a quatro mil anos” (correto); b) “Esta tradição
remonta há quatro mil anos” (errado).

Renomado – Galicismo?
1. Para Napoleão Mendes de Almeida (1981, p. 275), trata-se de galicismo
a ser evitado.
2. Tem por sinônimos acreditado, afamado, celebrado, conhecido,
nomeado.
3. Também Aires da Mata Machado Filho (1969h, p. 1.161-2) o reputa
“galicismo desnecessário, cópia fiel do francês renommé”, motivo por
que preconiza se usem seus sinônimos conceituado, famoso, célebre, ou
mesmo a locução de nomeada.
4. Silveira Bueno (1957, p. 408), de igual modo, considera “um dos
galicismos de mais feia catadura o tal renomado de que tanto gostam os
que não sabem ou não querem saber a nossa língua”; reputa-o “má
tradução do francês renommé, ao qual corresponde o legítimo afamado”.
5. Anote-se, para registro, que, em obra utilíssima para os operadores do
Direito, Antonio Henriques e Maria Margarida Andrade (1999, p. 49)
empregam normalmente o vocábulo discutido: “Vários e renomados
autores (Rui Barbosa, Cândido de Figueiredo, João Ribeiro et al.)
rejeitam o sentido de necessitar, precisar para carecer”.
6. E ultime-se com a observação de que o Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras – que é o veículo
oficial indicador das palavras existentes em nosso idioma – registra-a
normalmente como adjetivo (2009, p. 715), o que significa que seu uso
está regularmente autorizado em nosso idioma, como palavra
perfeitamente integrada ao nosso léxico.

Renunciar
1. A um consulente que perguntava qual a forma correta – renunciar o
mandato ou renunciar ao mandato – Pedro A. Pinto respondia que, pelos
“sabedores da língua”, ambas as formas eram corretas, muito embora
inferisse ele ser mais corrente o primeiro uso, como transitivo direto.
2. Em termos históricos, lembra o citado gramático que “Rui Barbosa
escrevia de ambas as maneiras, quer o verbo significasse resignar,
abdicar, quer correspondesse a recusar, não aceitar, não querer”
(PINTO, 1924, p. 229).
3. Também na lição de Vitório Bergo, esse verbo, com o sentido de rejeitar,
pode ser transitivo direto ou transitivo indireto, muito embora seja “esta
última a regência preferida no português moderno” (1944, p. 206).
4. Em mesma esteira, Carlos Góis e Herbert Palhano (1963, p. 148-9), sem
indicação de preferência alguma, arrolam tal verbo entre aqueles que
admitem dupla regência, podendo ser construído ou com objeto direto ou
com objeto indireto. Exs.: a) “Renunciar o poder”; b) “Renunciar ao
poder”.
5. Desse posicionamento não destoa Artur de Almeida Torres, que é
taxativo para afirmar: “em qualquer das suas acepções, constrói-se,
indiferentemente, como transitivo direto ou indireto”.
6. Funda-se tal gramático (TORRES, 1967, p. 249), para assim afirmar, em
exemplos de regências distintas de um mesmo escritor modelar: a)
“Renunciar a missão oficial” (Rui Barbosa); b) “… uma das duas casas
do congresso teria de renunciar à sua participação legítima e
indispensável na redação do Código Civil” (Rui Barbosa).
7. Para Domingos Paschoal Cegalla, “no português de hoje prefere-se a
regência indireta: renunciar ao cargo; renunciar ao poder; renunciar à
violência; renunciar aos prazeres mundanos” (1999, p. 354).
8. Também Sousa e Silva é pela dupla possibilidade de regência desse
verbo: “quando tem objeto, vai com a preposição a ou sem preposição:
‘renunciou ao cargo’ ou ‘renunciou o cargo’”.
9. E complementa tal autor que esse verbo também pode ser empregado
intransitivamente. Ex.: “O prefeito renunciou” (SILVA, A., 1958, p.
255).
10. É interessante anotar que se encontram exemplos de seu emprego como
transitivo indireto, mas seguido da preposição de. Ex.: “…renunciando
com prazer dessa honra em quem melhor do que eu o representasse”
(Rui Barbosa).
11. Para Francisco Fernandes, independentemente de qual seja sua
acepção, é facultativo o emprego desse verbo como transitivo direto ou
como transitivo indireto, apenas observando tal autor que “a regência
com objeto indireto é a mais frequente hoje em dia” (1971, p. 514).
12. Essa também é a lição de Celso Pedro Luft: a) “Primeiro teria o verbo
surgido transitivo indireto”; b) “Depois, sem deixar de ser transitivo
indireto, tornou-se também transitivo direto por influência de verbos
como deixar, abandonar, resignar” (1999, p. 449).
13. Nos textos legais, tal verbo aparece construído ora com objeto direto
(que pode aparecer como sujeito na voz passiva), correspondendo à
construção renunciar alguma coisa, ora com objeto indireto
introduzido pela preposição a, correspondendo à construção renunciar
a alguma coisa, ora mesmo intransitivamente. Exs.: a) “Resolve-se o
penhor: … III – Renunciando o credor” (CC, art. 1.436, II); b) “Pode o
credor não exercer, porém lhe é vedado renunciar o direito a
alimentos…” (CC, art. 1.707); c) “Se o testador ordenar que o
herdeiro, ou legatário, entregue coisa de sua propriedade a outrem,
não o cumprindo ele, entender-se-á que renunciou à herança, ou ao
legado” (CC, art. 1913 – interessante anotar que o CC/1916, art. 1.679,
de mesma redação, apenas tinha de diferente que o mencionado verbo
era transitivo direto, e agora é transitivo indireto); d) “O que renunciou
a herança, ou que foi dela excluído, deve, não obstante, conferir as
doações recebidas…” (CC, art. 2008 – interessante anotar que,
inversamente ao exemplo anterior, o CC/1916, art. 1.790, caput, trazia
o mencionado verbo como transitivo indireto, e agora é transitivo
direto); e) “O direito de queixa não pode ser exercido quando
renunciado expressa ou tacitamente” (CP, art. 104); f) “O advogado
poderá, a qualquer tempo, renunciar ao mandato…” (CPC/1973, art.
45).
14. Em interessante observação, assim se manifesta Adalberto J. Kaspary:
“No Código Civil Brasileiro, constata-se nítida preferência pelo regime
direto: dezenove entre vinte e dois exemplos anotados, ao passo que,
no Código Civil de Portugal, predomina o regime indireto: vinte entre
vinte e dois exemplos encontrados. Atualmente, nos textos jurídicos e
forenses em geral, prevalece o regime indireto” (1996, p. 289).

Repartição das palavras


Ver Partição silábica entre as linhas (P. 551).

Repercutir – Qual seu uso correto?


1. Um leitor indaga se está correto o uso do verbo repercutir na frase “O
Senador … ‘repercutiu’ … a opinião do prefeito fulano de tal”.
2. Ora, Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (2010, p. 1.819) atribui ao
verbo repercutir os significados de reproduzir e fazer ecoar. E
exemplifica: “As montanhas repercutem o som das cornetas”.
3. E Antônio Houaiss (2001, p. 2.430) lhe confere os sentidos de
reproduzir, ecoar e ressoar, assim exemplificando: “O salão vazio
repercute o som dos atabaques”.
4. Com referência a ambos os exemplos registrados pelos dicionaristas,
podem-se fazer as seguintes afirmações: a) o verbo é transitivo direto; b)
no primeiro exemplo, as montanhas reproduzem, ressoam ou fazem
ecoar o som das cornetas; c) no segundo exemplo, o salão vazio
reproduz, ressoa ou faz ecoar o som dos atabaques.
5. Com as premissas lançadas pela análise dos exemplos dados pelos
dicionaristas, podem-se extrair também as seguintes ilações para o
exemplo trazido pelo leitor: a) o verbo repercutir é, de igual modo,
transitivo direto; b) o senador, tal como a questão se apresenta nos
exemplos dados, nada mais faz do que reproduzir, ressoar ou fazer ecoar
a opinião do prefeito; c) a forçosa conclusão é a de que não há
incorreção alguma que se possa entrever no exemplo trazido para
análise.
6. Vale a pena observar que a desconfiança quanto ao acerto do verbo
assim empregado advém do fato de que seu uso mais tradicional (e
também correto) é como intransitivo, isto é, sem objeto direto ou objeto
indireto. Exs.: a) “A notícia do falecimento do candidato repercutiu
muito”; b) “Os últimos acontecimentos repercutiram em todo o país”.
Mas, como se verificou, essa desconfiança não tem fundamento para
condenar o exemplo trazido para consulta pelo leitor.

Repetição da preposição – Quando deve acontecer?


Ver Preposição – Quando deve ser repetida? (P. 595)

Repetição das locuções prepositivas


Ver Locuções prepositivas (P. 449).

Repetição do artigo
Ver Artigo (P. 136).

Repetição obrigatória da preposição


Ver Preposição – Quando deve ser repetida? (P. 595)

Repetir de novo – Está correto?


Ver Pleonasmo – O que é e Quando pode? (P. 565)

Repor
Ver Pôr – Como conjugar? (P. 577)

Representação de letras
Ver Plural de letras – Existe? (P. 566)

Representante ministerial – Existe?


1. Trata-se de expressão equivocada.
Ver Linguagem científica (P. 448).

Reprimenda corporal – Está correto?


1. O vocábulo reprimenda significa admoestação, advertência, repreensão,
às vezes com cunho enérgico e equivalendo frequentemente a um
castigo. Ex.: “Nenhum efeito lograram sobre ele as reprimendas
paternas”.
2. Não há, porém, como conferir-lhe o significado do próprio castigo.
3. Equivocado, portanto, seu uso, que tem sido corriqueiro nos meios
forenses e nos arrazoados, no sentido de punição ou pena corporal,
sendo, desse modo, errôneas expressões como reprimenda corporal ou
reprimenda de três anos de reclusão.
4. De acordo com lembrança de Vitório Bergo, para balizar o real sentido
do vocábulo, “os puristas mandam preferir admoestação, advertência,
censura” (1944, p. 207).
5. Ao observar que essa palavra tem aparecido em sentenças como
sinônima de pena, Geraldo Amaral Arruda anota que equivocado é tal
emprego, por não haver fundamento para o uso do vocábulo no sentido
de punição criminal.
6. E acrescenta tal autor que “apenas pretendendo referir-se à admonição
resultante da suspensão condicional da pena é que se pode falar, sem
impropriedade, em reprimenda ao réu” (ARRUDA, 1997, p. 8-9).
7. Quanto à vernaculidade do vocábulo reprimenda, Mário Barreto afiança
não ser ele galicismo, e Cândido Jucá Filho (1981, p. 99) relata que foi
exatamente para contrariar posição diversa de Cândido de Figueiredo
que aquele autor estreou na filologia.
8. Para espancar dúvidas, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa,
da Academia Brasileira de Letras – veículo oficial para dirimir as
questões acerca da existência ou não de vocábulos em nosso idioma
registra a mencionada palavra (2009, p. 716), razão pela qual é de se
considerá-la como perfeitamente integrada a nosso léxico.

Reprochador – Galicismo?
1. É vocábulo empregado por Mário Barreto, em seu Correio de
Consulentes, ao referir um “melindroso reprochador do emprego da
preposição a” (1954b, p. 38).
2. Embora alguns queiram lançá-la no rol dos galicismos, o certo é que o
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira
de Letras – que é o veículo oficial para dirimir as questões acerca da
existência ou não de vocábulos em nosso idioma – registra a mencionada
palavra (2009, p. 716), razão pela qual é de se considerá-la como
perfeitamente integrada a nosso léxico.
Ver Irreprochável – Galicismo? (P. 430) e Reprochar – Galicismo? (P. 660)

Reprochar – Galicismo?
1. No sentido de censurar, trata-se de vocábulo que Eduardo Carlos Pereira
insere no rol dos galicismos léxicos, daqueles que “são verdadeiras
deturpações da língua, contra os quais devemos estar premunidos”
(1924, p. 260-1).
2. Na lição de Vitório Bergo (1944, p. 207), todavia, “parece galicismo,
mas é português de lei”, trazendo tal autor, para confirmar seu ensino,
significativo exemplo colhido em Machado de Assis: “Ia ao armazém
visitar o Palha; este, ao fim de cinco semanas, reprochou-lhe a
ausência”.
3. Cândido Jucá Filho (1981, p. 99), defendendo, de igual modo, a
vernaculidade do vocábulo, observa que o próprio Mário Barreto o
empregou: “Uma delas mais afoita que as outras reprochou-lhe a sua
má condição”.
4. Impecável, nesse sentido, é a advertência de Francisco Fernandes:
“Reprochar é pouco usado, e aos que o têm por galicismo lhes
recomendamos a leitura destas linhas do nosso Machado de Assis, que
sabia a língua destramente: ‘Reproche não é galicismo. Nem reproche,
nem reprochar’” (1971, p. 517-8).
5. O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia
Brasileira de Letras – que é o veículo oficial para dirimir as questões
acerca da existência ou não de vocábulos em nosso idioma – registra a
mencionada palavra (VOLP, 2009, p. 716), razão pela qual é de se
considerá-la como perfeitamente integrada a nosso léxico.
Ver Irreprochável – Galicismo? (P. 430) e Reproche – Galicismo? (P. 661)

Reprochável – Galicismo?
Ver Irreprochável – Galicismo? (P. 430) e Reproche – Galicismo? (P. 661)

Reproche – Galicismo?
1. No sentido de censura, trata-se de vocábulo que Eduardo Carlos Pereira
insere no rol dos galicismos léxicos, daqueles que “são verdadeiras
deturpações da língua, contra os quais devemos estar premunidos”
(1924, p. 260-1).
2. Observando, todavia, que Machado de Assis gostava muito de lançar
mão desse termo, assim como do verbo reprochar, anota o Padre José F.
Stringari que, a um anônimo que certa vez lhe reprovou tal uso, nosso
ilustre escritor, invocando a autoridade dos exemplos do Dicionário de
Morais, em certo trecho de sua defesa, assim asseverou: “Reproche não é
galicismo, nem reproche nem reprochar”.
3. E tal padre gramático (STRINGARI, 1961, p. 75-6) acrescenta dois
exemplos de outras abalizadas autoridades do idioma: a) “Um dia que as
reunira a todas numa sala do serralho, uma delas mais afoita que as
outras reprochou-lhe a sua má condição” (Mário Barreto); b)
“Reprochar e assim reproche são vocábulos usados pelos clássicos; são,
pois, de bom uso” (João Ribeiro).
4. Observando, também, não ser galicismo tal vocábulo, Cândido Jucá
Filho (1981, p. 99) cita significativo exemplo de Machado de Assis: “D.
Miguel voltou para ele os olhos turvos de tristeza e reproche”.
5. Por fim, espancando as possíveis dúvidas, o Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras – que e o veículo
oficial para dirimir as questões acerca da existência ou não de vocábulos
em nosso idioma – registra a mencionada palavra (2009, p. 716), razão
pela qual é de se considerá-la como perfeitamente integrada a nosso
léxico.
Ver Irreprochável – Galicismo? (P. 430) e Reprochar – Galicismo? (P. 660)

Réptil ou Reptil?
1. Na lição de José de Sá Nunes, “a verdadeira prosódia de réptil é com a
acentuação tônica em a primeira sílaba (re), e o seu legítimo plural é
répteis; mas o uso geral consagrou a pronúncia reptil (oxítona), bem
como o plural reptis. E ir de encontro ao uso é remar contra a maré”
(1938, p. 58-9).
2. E tal autor alinha exemplos de uso oxítono do vocábulo em Rui Barbosa
e Antenor Nascentes.
3. Em outra passagem de mesma obra, assim leciona tal autor: “A prosódia
latina reptilis com a tônica em a segunda, é errônea. Os melhores
dicionários latinos mandam pronunciar reptilis (proparoxítona), pois
marcam com o mâcron (sinal de longa) a primeira sílaba de reptilis. Se
eles assinalassem reptilis, com o sinal de bráquia no re, eu daria a mão à
palmatória e cantaria a palinódia. Mas em nossa língua o uso consagrou
a pronúncia oxítona” (NUNES, 1938, p. 145).
4. Silveira Bueno, por sua vez, a dá exclusivamente como paroxítona,
conferindo-lhe, por plural, tão somente répteis (1938, p. 14),
acrescentando que quem pronunciar tais vocábulos como oxítonos e
compuser o plural em is e não em eis – único plural que considera
correto, aliás – “cometerá grave erro, evidenciando que desconhece a
história de sua própria língua” (1938, p. 45-6).
5. Em outra passagem de mesma obra, tal gramático acrescenta que a
prosódia paroxítona é a mais correta, embora a pronúncia oxítona seja
mais vulgar (BUENO, 1938, p. 111).
6. Após observar que em Portugal é mais comum a pronúncia paroxítona,
enquanto no Brasil são vulgares a escrita e a pronúncia oxítonas, Júlio
Nogueira adverte – em observação feita para réptil, para projétil e para
têxtil – que “a pronúncia lusitana em tais palavras é mais fiel à latina,
mas seria demasiado rigor corrigir a brasileira nesses casos
generalizados. Somente nas escolas, em língua erudita, se pronunciam
essas palavras à maneira lusitana” (1959, p. 19-20).
7. Em outra obra, o mesmo gramático, após referir que, em Portugal, tal
vocábulo se insere entre os paroxítonos, formando o plural em eis,
observa que, no Brasil, a tendência da língua é tê-los por oxítonos,
fazendo, por conseguinte, o plural em is (NOGUEIRA, 1930, p. 165).
8. Eduardo Carlos Pereira aceita tanto a forma oxítona como a paroxítona,
lembrando apenas que a primeira é mais comum e arrolando o vocábulo
entre aqueles “de pronúncia dupla pela incerteza da tônica” (1924, p. 28
e 31).
9. Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 19 e 34) insere o vocábulo entre aqueles
que podem ser oxítonos ou paroxítonos, confere-lhe dois singulares –
como oxítona e como paroxítona – e lhe dá, de igual modo, dois plurais:
reptis e répteis.
10. Júlio Ribeiro (1908, p. 12 e 90), num primeiro momento, defende a
pronúncia paroxítona de tal vocábulo, muito embora refira o
posicionamento de alguns gramáticos e lexicógrafos que lhe preguem a
pronúncia oxítona; em outra passagem de mesma obra, todavia,
considera-o oxítono e manda fazer o plural pela queda do l e posterior
acréscimo de s.
11. Cândido de Oliveira (1961, p. 34) admite-lhe a dupla pronúncia e
grafia, quer como oxítona, quer como paroxítona.
12. Para Cândido de Figueiredo (1948, p. 116-7), “carregar no i de réptil, e
fazer o plural reptis, há de ser sempre disparate, ainda que não tenha
remédio”, acrescentando tal autor que tal pronúncia “é um destes
desconchavos, que nós aceitamos todos, por serem talvez
irremediáveis”.
13. Para Cândido Jucá Filho, “não há dúvida que a palavra é paroxítona.
Mas a verdade é que, em se tratando de palavra erudita, só tardiamente
se fez a correção prosódica. Todos disseram reptil, oxítono, até o século
passado, o que se vê pelo plural que se lhe dava (reptis)… Mas Bilac,
que a princípio seguia nas mesmas pegadas…, depois corrigiu-se para
répteis” (1981, p. 99).
14. Eliminando as possíveis dúvidas, o Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras – que é o veículo oficial
para dirimir as questões acerca do modo de grafar e pronunciar os
vocábulos em nosso idioma – registra tanto réptil quanto reptil,
respectivamente com os plurais répteis e reptis (2009, p. 717) razão
pela qual está autorizado o emprego das duas prosódias bem como das
duas formas de plural.

Reputar
1. No que tange à conjugação verbal, Otelo Reis, por evidentes questões de
eufonia resultante de um pudor excessivo, manda não conjugar o verbo
computar nas três pessoas do singular do presente do indicativo.
2. Quanto a reputar, todavia, não lhe faz ressalva alguma e manda conjugá-
lo em todas as pessoas, tempos e modos (1971, p. 77).
3. Por outro lado, trata-se de vocábulo a ser observado sob o prisma da
regência verbal.
4. E, nesse aspecto, é verbo transitivo, em cuja companhia, com frequência,
aparece um predicativo do objeto direto.
5. Tal predicativo pode vir ou não precedido de como. Exs.: a) “Reputam-
no o maior processualista vivo do país”; b) “Reputam-no como o maior
processualista vivo do país”.
6. Aires da Mata Machado Filho (1969a, p. 616), por seu lado, mostra sua
preferência pela simples justaposição das palavras, sem emprego de
como, alegando por motivo a elegância na fala.
7. Francisco Fernandes (1971, p. 518) também acata a possibilidade de
construção do predicativo do objeto direto precedido pela preposição
por. Ex.: “Eu o reputo por homem, ou homem de bem”.
8. Acresça-se que é corriqueiro o emprego de frases como a que segue:
“Reputam-no como sendo o maior civilista pátrio”. Muito embora seja
de uso comum a expressão como sendo em casos assim, é ela errônea e
desnecessária, devendo ser eliminada. Corrija-se, portanto, por um de
dois modos: a) “Reputam-no o maior civilista pátrio”; b) “Reputam-no
como o maior civilista pátrio”.
9. Idêntica há de ser a construção com outros verbos que, de modo similar,
exijam predicativo do objeto: a) “Creio-o apto (ou como apto) para o
trabalho”; b) “Julguei-a incapaz (ou como incapaz) para a função”; c)
“Reconheço-a minha inspiradora (ou como minha inspiradora) daquela
obra”; d) “Consideram-no o maior processualista (ou como o maior
processualista) vivo do país”.
Ver Computar (P. 204) e Nomear (P. 497).

Reputo-o o maior processualista pátrio – Está correto?


1. Trata-se de expressão tão correta quanto “Reputo-o como o maior
processualista pátrio”.
2. É, porém, errada a construção “Reputo-o como sendo o maior
processualista pátrio”.
Ver Reputar (P. 662).

Requerente ou Autor?
Ver Autor ou Requerente? (P. 149)

Requerer
1. Quanto à conjugação verbal, é vocábulo que tem flexão própria, não
sendo composto de querer.
2. Vejam-se suas formas no presente do indicativo e tempos derivados:
requeiro, requeres, requere (ou requer), requeremos, requereis, requerem
(presente do indicativo); requeira, requeiras, requeira, requeiramos,
requeirais, requeiram (presente do subjuntivo); requere, requeira,
requeiramos, requerei, requeiram (imperativo afirmativo); não
requeiras, não requeira, não requeiramos, não requeirais, não
requeiram (imperativo negativo).
3. Lembra Otelo Reis que “a forma mais usada na terceira pessoa do
singular do presente do indicativo é requer, conquanto a correta seja
requere” (1971, p. 99).
4. Relembrando não ser ele composto de querer, veja-se o seu pretérito
perfeito do indicativo, do qual, como se sabe, derivam outros tempos:
requeri, requereste, requereu, requeremos, requerestes, requereram
(pretérito perfeito); requerera, requereras, requerera, requerêramos,
requerereis, requereram (pretérito mais-que-perfeito); requerer,
requereres, requerer, requerermos, requererdes, requererem (futuro do
subjuntivo); requeresse, requeresses, requeresse, requerêssemos,
requerêsseis, requeressem (imperfeito do subjuntivo).
5. Vale a pena lembrar o ensino de Vitório Bergo acerca da conjugação
deste verbo: “difere de querer na primeira pessoa do singular do presente
do indicativo, de que se deriva o presente do subjuntivo…; é regular nos
outros tempos…” (1943, p. 145).
6. Atentos aos frequentes equívocos que ocorrem em sua conjugação,
assim fixam Pasquale Cipro Neto e Ulisses Infante oportunos lembretes:
“O pretérito perfeito do indicativo desse verbo é regular…
Consequentemente, o pretérito mais-que-perfeito do indicativo, o
imperfeito do subjuntivo e o futuro do subjuntivo também são regulares:
eu requerera, se eu requeresse, quando eu requerer” (1999, p. 152).
7. Quanto à regência verbal, a construção mais comum é ‘requerer alguma
coisa a alguém’. Ex.: “Requeiro a Vossa Excelência que se digne deferir
o pedido”.
8. Veja-se, contudo, que é de igual modo correta a construção ‘requerer
alguma coisa de alguém’ (BUENO, 1957, p. 417). Exs.: a) “Requeiro de
Vossa Excelência que se digne deferir o pedido”; b) “Como cavalheiros
peço-vos justiça; como filhos do mesmo sangue, requeiro de vós ajuda”
(Rebelo da Silva).
9. Francisco Fernandes (1971, p. 519) também acata as três possibilidades
de construção: a) “Ante os barões e ricos-homens, na cúria, devera
requerer seu direito” (Alexandre Herculano); b) “Requereu ao Governo
a concessão de um terreno”; c) “Requereu deles mais prudência e tino”
(Cândido de Figueiredo).

Requer seja expedido ou Requer que seja expedido?


1. É frequente a dúvida nos meios jurídicos e forenses: a) “Requer seja
expedido alvará…”; ou b) “Requer que seja expedido alvará”?
2. Uma análise dos exemplos dados mostra que: a) o período é composto;
b) requer é a oração principal; c) que seja expedido alvará é uma oração
subordinada; d) a oração subordinada, como um todo, pode ser
substituída pela palavra isto; e) quando se tipifica tal situação, a oração é
subordinada substantiva (no caso objetiva direta); f) o que, em tais casos,
é uma conjunção integrante.
3. Sem necessidade de maiores indagações, o que se vê, no português, é a
faculdade de uma frequente (e elegante) omissão do que nessa qualidade
de conjunção integrante, como ensina Domingos Paschoal Cegalla
(1999, p. 342).
4. Vejam-se os seguintes exemplos de autores abalizados de nosso idioma:
a) “Pouco importa me batas pelo dobro” (Carlos Drummond de
Andrade); b) “… toda a família temia sucedesse comigo o que
acontecera ao Pedro” (Ciro dos Anjos); c) “Agora pedir-vos-ei a mercê
que espero me concedais” (Alexandre Herculano).
5. Por ser facultativa a omissão, não haveria erro algum na explicitação do
vocábulo: a) “Pouco importa que me batas pelo dobro”; b) “… toda a
família temia que sucedesse comigo o que acontecera ao Pedro”; c)
“Agora pedir-vos-ei a mercê que espero que me concedais”.
6. Quem tem alguma noção de inglês verá com facilidade que, naquele
idioma, o normal é exatamente a omissão da conjunção referida.

Requisitar
1. Do latim requaesitare, significa pedir ou exigir legalmente. Ex.: “O
funcionário requisitou suas férias ainda para aquele ano”.
2. Não apresenta problemas quanto à conjugação verbal, em que é regular,
nem quanto à regência verbal, em que pode ser transitivo direto (para
significar a coisa requisitada) ou transitivo direto e indireto (para indicar
também a pessoa ou repartição a quem se requisita). Exs.: a) “O superior
hierárquico requisitou um documento” (transitivo direto); b) “O superior
hierárquico requisitou um documento ao setor de pessoal” (transitivo
direto e indireto).
3. Francisco Fernandes (1971, p. 519) também anota a possibilidade de
construção do objeto indireto com a preposição de. Ex.: “Requisitou do
general em chefe o número de cavalos necessários” (Barão do Rio
Branco).
4. Celso Pedro Luft (1999, p. 454), de igual modo, vê a possibilidade de
construção com todas essas estruturas.
5. Nos textos legais, vem empregado nas acepções de pedir, de exigir com
autoridade pública, de fazer requisição, de demandar, de requerer,
hipóteses em que é construído “com objeto direto (sujeito na voz
passiva) de coisa, ou com objeto direto de coisa e indireto de pessoa,
com a preposição a ou de”, correspondendo as construções requisitar
algo, ou requisitar algo a ou de alguém (KASPARY, 1996, p. 293-4).
Exs.: a) “O juiz requisitará às repartições públicas em qualquer tempo
ou grau de jurisdição…” (CPC/1973, art. 399, caput); b) “… o juiz
requisitará à autoridade policial que proceda à arrecadação e ao
arrolamento dos bens” (CPC/1973, art. 1.148); c) “No curso do
processo, e depois de subirem os autos conclusos para sentença, o juiz
poderá, dentro em cinco dias, requisitar de autoridades ou de
repartições todos os esclarecimentos para a restauração” (CPP, art. 544,
parágrafo único).
Ver Requisito (P. 664).

Requisito
1. É aquilo que se requereu, ou a condição necessária para a obtenção de
certo objetivo. Ex.: “Para se ajuizar uma ação, alguns requisitos
haverão de ser preenchidos”.
2. Quanto à ortografia, atente-se à lição de José de Sá Nunes: “Requisito
escreve-se com qui e não com que, pois vem do latim requisitum. Nada
tem que ver com a palavra quesito, que se grafa com que por vir de
quaesitum” (1938, p. 53).
3. Essa, aliás, é a grafia observada pelo Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, que é o veículo oficial
ordenar o modo de grafar as palavras em nosso idioma (2009, p. 717).
4. Reafirme-se, assim, que não existe requesito.
Ver Requisitar (P. 663).

Requisitório
Ver Petição inicial (P. 563).

Reserva
Ver Substabelecer (P. 716).
Residente à Rua Tal ou Residente na Rua Tal?
Ver Morar à Rua Tal ou Morar na Rua Tal? (P. 477)

Residente e domiciliado – Expressão necessária na inicial?


1. Um leitor indaga se, no momento da qualificação das partes, em uma
petição inicial, é necessário o uso da expressão “residente e
domiciliado”, mesmo que respeitadas suas distintas definições para os
fins jurídicos. Acredita-se que ele quer saber se há necessidade ou
mesmo correção em escrever os dois vocábulos, ou se o correto e
necessário seria explicitar apenas um deles.
2. Ora, por um lado, o art. 70 do Código Civil registra que “o domicílio da
pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo
definitivo”.
3. Por outro lado, o art. 71 do mesmo Código complementa que, “se,
porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde, alternadamente,
viva, considerar-se-á domicílio seu qualquer delas”.
4. Sem pretensão de aprofundar os conceitos ou de exaurir a matéria, o
certo é que se podem fazer as seguintes afirmações: a) os conceitos de
residência e de domicílio não se confundem; b) uma pessoa pode ter
várias residências e apenas um domicílio; c) pode-se, num certo sentido,
afirmar que residência tem uma conotação mais física, enquanto em
domicílio reside mais uma acepção de cunho jurídico.
5. Apenas com esses conceitos, podem-se extrair as seguintes ilações
quanto à expressão “residente e domiciliado”, trazida pelo leitor: a) os
termos de tal expressão não se confundem, já que residente tem um
significado próprio, específico e apartado de domiciliado; b) até por seu
conteúdo semântico diverso, não é incorreto empregar, numa petição
inicial, contestação ou peça de processo, ou mesmo contrato ou
declaração, a expressão residente e domiciliado; c) por ela, o que se quer
dizer, enfim, é que a pessoa sob qualificação tem apenas uma residência
e um domicílio, que coincidem no endereço que há de vir especificado
logo a seguir, na peça processual em que constam tais dados.
6. Por fim, quanto à necessidade ou não de fazer constar essa dupla
possibilidade de localização de alguém envolvido num processo, fazem-
se as seguintes ponderações: a) em termos gramaticais, três e distintas
são as realidades afirmadas, quando se diz residente, ou domiciliado, ou
residente e domiciliado; b) ainda em termos gramaticais, são corretas as
três formas de expressão, muito embora cada qual delas afirme uma
realidade distinta; c) em termos jurídicos, entretanto, o art. 282, II, do
Código de Processo Civil de 1973 (em regra repetida pelo CPC-2015, art
319, II) determina que “a petição inicial indicará: … II – os nomes,
prenomes, estado civil, profissão, domicílio e residência do autor e do
réu…”; d) isso quer significar que o roteiro da lei de processo para a
redação de uma petição inicial determina a obrigatoriedade de
especificação tanto da residência quanto do domicílio em uma inicial; e)
todavia, dentre os motivos para indeferimento de uma petição inicial,
constantes do art. 295 do CPC, não se autoriza tal desfecho para a
desobediência ao registro anteriormente determinado; f) o autor deste
verbete também jamais teve conhecimento de uma ocorrência dessa
natureza; g) talvez se deva computar essa irregularidade no rol daquelas
desobediências às determinações da lei para as quais não se prevê sanção
alguma e das quais não resulta consequência danosa alguma a seu autor.

Residir à Rua Tal ou Residir na Rua Tal?


Ver Morar à Rua Tal ou Morar na Rua Tal? (P. 477)

Resilir
1. Antonio Henriques (1999, p. 174) dá, como origem de tal vocábulo, re +
salire, que significa saltar para trás, romper, extinguir contrato.
2. Em termos técnicos, para De Plácido e Silva, no que concerne aos
contratos, “resilir é empregado tanto para indicar ou exprimir dissolver
por acordo das partes contratantes, como dissolver o contrato por
vontade de uma das partes, quando firmado por tempo indeterminado”
(1989, p. 122).
3. Quanto à conjugação verbal, Antonio Henriques refere ser ele defectivo,
dando-lhe por modelo abolir (1999, p. 174), razão pela qual não tem as
formas em que, de acordo com a conjugação normal do modelo da
terceira conjugação, ao l do radical se seguiria a ou o, defectividade essa
que ocorre no presente do indicativo, presente do subjuntivo, imperativo
afirmativo, e imperativo negativo.
4. Na prática, não tem a primeira pessoa do presente do indicativo, mas
apenas: resiles, resile, resilimos, resilis, resilem.
5. Não tem pessoa alguma do presente do subjuntivo, que derivaria da
inexistente primeira pessoa do presente do indicativo.
6. No imperativo afirmativo, apenas tem a segunda pessoa do singular e a
segunda pessoa do plural, derivadas do presente do indicativo, mas não
as demais, oriundas do presente do subjuntivo: resile tu, resili vós.
7. Também não tem pessoa alguma do imperativo negativo, que se origina
integralmente do presente do subjuntivo.
8. Como tais problemas de defectividade ocorrem apenas no presente do
indicativo e nos tempos daí derivados, é normalmente conjugado nos
outros tempos: resilia (imperfeito do indicativo), resilirei (futuro do
presente), resiliria (futuro do pretérito), resilindo (gerúndio), resilido
(particípio), resili (pretérito perfeito do indicativo), resilira (pretérito
mais-que-perfeito do indicativo), quando eu resilir (futuro do
subjuntivo), se eu resilisse (imperfeito do subjuntivo).
9. Anotando que os dicionários comuns “apresentam o verbo resilir como
sinônimo de rescindir, romper, desfazer, dissolver” (contrato ou ajuste),
observa Adalberto J. Kaspary (1996, p. 297) que “os autores de obras
jurídicas fazem, em geral, questão de estabelecer diferença entre resilir e
rescindir um contrato”, para o que lembra lição de Orlando Gomes, o
qual, seguindo no particular a terminologia francesa, reserva o vocábulo
resilição “para designar o modo de dissolução do contrato que se realiza
mediante manifestação de vontade das duas partes contratantes, ou de
uma delas”.
10. Quanto à regência verbal, Celso Pedro Luft (1999, p. 455) preconiza a
possibilidade de sua construção, indiferentemente, como transitivo
direto (correspondendo à construção resilir algo) ou como transitivo
indireto (correspondendo à construção resilir de algo).
11. Nos textos legais, tendo sempre o mesmo sentido de dissolver um
contrato por mútuo consentimento ou por provocação de uma das
partes, aparece às vezes com objeto direto (que pode ser sujeito na voz
passiva), correspondendo à construção resilir algo, às vezes com objeto
indireto introduzido pela preposição de (resilir de algo), decorrendo a
construção indireta, certamente, “da regência adotada pelo verbo
originário latino: resilere a” (KASPARY, 1996, p. 298). Exs.: a) “Em
todos os casos em que o comprador tem direito de resilir o contrato, o
vendedor é obrigado não só a restituir o preço, mas também a pagar
as despesas que tiver ocasionado com os juros da lei” (C. Com, art.
213); b) “Se a demora exceder a dez dias, pode o passageiro resilir o
contrato, sendo-lhe restituída a passagem se a tiver pago” (C. Com.
português, art. 568º); c) “Sendo demorado o navio para se consertar,
pode o passageiro resilir o contrato, pagando a passagem em
proporção do caminho andado” (C. Com. português, art. 572º); d) “O
que der a fabricar alguma obra de empreitada poderá a seu arbítrio
resilir do contrato, posto que a obra esteja já começada a executar…”
(C. Com., art. 236); e) “… terá o capitão a escolha, ou de resilir do
contrato e exigir do afretador metade do frete ajustado e primagem
com estadias e sobrestadias, ou de empreender a viagem sem carga…”
(C. Com., art. 592); f) “… Se o navio não for livre, o fretador pode
resilir do contrato, com direito ao frete vencido, estadias e
sobrestadias e avaria grossa…” (C. Com., art. 611); g) “… Resilindo o
passageiro do contrato antes da viagem começada, o capitão tem
direito à metade do preço da passagem…” (C. Com., art. 630).

Resolução
Ver Números – Como ler e Empregar? (P. 506)

Respectivo – Qual seu real sentido e uso?


1. Diante das frequentes dúvidas entre os usuários do idioma, vale observar
qual o melhor sentido e emprego da palavra respectivo nos textos que
devam submeter-se à norma culta.
2. Pode-se dizer, em síntese, que respectivo constitui um adjetivo normal,
que não sofre restrição alguma quanto a seu uso ou flexão, com o
significado de aquilo que concerne, que é devido, que é próprio, e se lhe
podem dar os seguintes sinônimos: atinente, devido, competente e
correspondente.
3. Nesse exato sentido estão os seguintes exemplos: a) “No âmbito de cada
Turma, a distribuição dos processos compete ao respectivo Presidente”;
b) “Os concursos serão regidos por este regulamento e pelos respectivos
editais”.
4. Para ilustração, citam-se alguns exemplos de seu emprego no Código
Civil: a) “Os herdeiros, para se imitirem na posse dos bens do ausente,
darão garantias da restituição deles, mediante penhores ou hipotecas
equivalentes aos quinhões respectivos” (CC, art. 30, caput); b) “Se, nos
dez anos a que se refere este artigo, o ausente não regressar, e nenhum
interessado promover a sucessão definitiva, os bens arrecadados
passarão ao domínio do Município ou do Distrito Federal, se
localizados nas respectivas circunscrições, incorporando-se ao domínio
da União, quando situados em território federal” (CC, art. 39, parágrafo
único); c) “Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito
privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro,
precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder
Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar
o ato constitutivo” (CC, art. 45); d) “Decai em três anos o direito de
anular a constituição das pessoas jurídicas de direito privado, por
defeito do ato respectivo, contado o prazo da publicação de sua
inscrição no registro” (CC, art. 45, parágrafo único).

Respeitável decisão – Está correto?


Ver Adjetivação desnecessária (P. 80).

Respeito para com – Está correto?


1. Ante as frequentes dúvidas, vale observar a correção ou a erronia dos
seguintes exemplos, no que tange ao emprego da expressão “respeito
para com”: a) “Eles têm respeito para com a professora” (antes de
pessoa); b) “Eles têm respeito para com a instituição” (antes de coisa).
2. Ora, quando se formula uma questão como essa, quer-se saber, na
prática, que preposição a palavra respeito (um substantivo) exige em
construção depois de si.
3. Em termos de técnica gramatical, o problema diz respeito à regência
nominal, e a solução há de ser encontrada pela leitura atenta de nossos
melhores autores.
4. Para facilitar a solução, todavia, alguns gramáticos já realizaram
preciosos estudos sobre a matéria e selecionaram exemplos empregados
pelos autores mais significativos de nossa literatura.
5. Assim, depois de paciente coleta, Francisco Fernandes (1969, p. 336)
concluiu que o substantivo respeito, no sentido da indagação, pode ser
empregado com as preposições a, com, de, por e com a locução
prepositiva para com, e garimpou exemplos comprobatórios de elevada
significação: a) “… respeito ao destemor dos adversários…” (Euclides
da Cunha); b) “Respeito com os religiosos…” (Ernesto Carneiro
Ribeiro); c) “Havia outrora sanções escritas, que asseguravam o
respeito das coisas santas” (Rui Barbosa); d) “Esqueceu-se do fingido
respeito que em toda a parte mostrava pela rainha” (Alexandre
Herculano); e) “Respeito para com os velhos, para com os
desgraçados”.
6. Celso Pedro Luft (1999, p. 453) reitera as possibilidades já apontadas e,
de modo específico para a locução prepositiva para com, traz
significativos exemplos: a) “Somente nos países anglo-americanos e
escandinavos existe um respeito mínimo da maioria vitoriosa… para
com a minoria derrotada” (José Honório Rodrigues); b) “Reivindicamos
dos senhores gramáticos… o devido respeito para com as nuanças de
que a sintaxe portuguesa se reveste em nosso meio” (Luiz Carlos Lessa);
c) “Esta falta de respeito para com a criatura humana…” (T. A.
Queiroz).
7. Assim, em resumo, pode-se dizer que é correto o emprego da expressão
respeito para com, quer quando se tem depois um nome representativo
de pessoa (respeito para com a professora), quer quando se está diante
de um nome de coisa (respeito para com a entidade).
8. E, de modo específico para os exemplos inicialmente dados, pode-se
concluir que são corretas ambas as construções: a) “Eles têm respeito
para com a professora”; b) “Eles têm respeito para com a instituição”.

Responder
1. Verbo de grande utilização nos meios forenses, requer cuidados quanto à
regência verbal.
2. Alguns querem que se possa construir indiferentemente com objeto
direto ou objeto indireto, independentemente de seu sentido (GÓIS;
PALHANO, 1963, p. 148-9). Exs.: a) “Responder o quesito”; b)
“Responder ao quesito”.
3. A leitura dos bons exemplos da língua, entretanto, demonstra que a
melhor sintaxe é aquela que faz do conteúdo da resposta o objeto direto e
daquilo a que se responde o objeto indireto. Assim: a) “O réu respondeu
argumentos irrefutáveis” (conteúdo da resposta = objeto direto); b) “O
magistrado respondeu ao ofício da Corregedoria” (aquilo a que se
responde = objeto indireto).
4. Nesse sentido é a síntese de Artur de Almeida Torres: “Na acepção de
dizer ou escrever em resposta, constrói-se com acusativo (vale dizer,
objeto direto) do que se responde e dativo (isto é, objeto indireto)
daquele ou daquilo a que se responde: ‘Ao ofício do diretor respondeu
que cumpria ordens’” (1967, p. 255).
5. Contrariando lição de Carlos Góis, para quem “se pode construir
indiferentemente responder a carta ou à carta”, leciona Francisco
Fernandes, invocando ensino de Eduardo Carlos Pereira, que “a leitura
dos bons exemplares da língua demonstra que a melhor sintaxe é aquela
em que responder ‘rege acusativo (vale dizer, exige objeto direto)
daquilo que se responde, e dativo (isto é, faz objeto indireto) daquilo ou
daquele a que se responde’”.
6. E reforça seu posicionamento, em continuação, com a doutrina de
Cândido Lago: “Convém dizer corretamente – ‘Respondendo ao vosso
ofício’, ‘Respondendo à sua carta de’, etc., etc. Aquilo que a pessoa
responde é que é o objeto direto; mas o ofício ou a carta a que a pessoa
responde é o objeto indireto” (FERNANDES, 1971, p. 521-2).
7. Celso Pedro Luft (1999, p. 456-7) traz importantes observações para o
assunto: a) a regência primária é responder a algo, “com objeto direto
indeterminado, numa estrutura plena suposta (alguém responde algo a
uma pergunta, carta, etc.)”; b) “gramáticos e puristas só aceitam essa
regência, mas no português brasileiro está consagrada a regência TD que
eles condenam”; c) “A construção passiva deriva dessa regência”; d)
“Preserve-se a regência primária responder a… na linguagem culta
formal, sem condenar a regência evoluída, perfeitamente explicável”.
8. Dada a regra de que apenas tem voz passiva um verbo transitivo direto,
lembra-se a lição de Mário Barreto, que admite, de modo expresso, o
apassivamento de determinados verbos transitivos indiretos, como
aludir, obedecer, perdoar e responder, acrescentando, porém, Aires da
Mata Machado Filho (1969a, p. 599), que lhe citou a lição, que “as
formas passivas fixaram-se na vigência da construção transitiva direta”,
do que teria advindo “a aparente contradição”.
9. Atento ao que ocorre nos textos legais e no campo jurídico, observa
Adalberto J. Kaspary que, atualmente, “o verbo responder está tendendo
para a transitividade direta também no sentido de dar resposta a, o que se
comprova, inclusive, pela frequência das construções passivas, que,
aliás, há muito tempo, tem curso tranquilo no idioma” (1996, p. 302).
10. Oportuno é acrescentar que, no sentido de atribuir responsabilidade,
rege tal verbo a preposição por: a) “Se o usufruto recair em coisa
singular ou parte dela, só responderá o usufrutuário pelo juro da
dívida…” (CC/1916, art. 736, em disposição não repetida pelo
CC/2002); b) “O possuidor de boa-fé não responde pela perda ou
deterioração da coisa, a que não der causa” (CC, art. 1.217); c) “O
possuidor de má-fé responde pela perda ou deterioração da coisa,
ainda que acidentais…” (CC, art. 1.218).
Ver Agente da passiva (P. 97), Ser nascido – Está correto? (P. 694), Voz
passiva – Quando é possível? (P. 793) e Voz passiva sintética (P. 794).

Ressabido – Existe?
1. Palavra usada com frequência nos meios jurídicos, reveste-se de plena
correção, na consonância com lição de João Ribeiro, para quem “uma
das formas populares de grau ou ênfase é feita com o prefixo re: velho,
revelho” (1923, p. 165).
2. Em mesma esteira é a lição de Mário Barreto (1954b, p. 224-5), que
considera formas dessa natureza verdadeiros superlativos, e traz, em
acréscimo, diversos exemplos de Castilho: “tolo e retolo”; “minha e
reminha”; “seu e resseu”; “são, ressão e arquissão”.
3. Veja-se o seguinte exemplo extraído da introdução dos estudos de
linguagem do Padre José F. Stringari: “Se você tiver a coragem de dar-se
à leitura destas páginas, achará certamente nelas expressões e torneios
ressabidos de classicismo” (1961, p. 4).
4. Defendendo a integral viabilidade desse processo de formação de novas
palavras e invocando lição de Mário Barreto, assevera Cândido Jucá
Filho (1981, p. 98) que o re, em casos como refulgente e retolo, é
“prefixo enfatizante”.
5. Edmundo Dantès Nascimento (1982, p. 135) traz, em abono do emprego
desse processo de ênfase, um exemplo colhido em Castilho: “Nem que
ela à face do altar não fosse minha e reminha”.

Ressão – Existe?
Ver Revelho – Existe? (P. 673)

Ressarcir
1. Trata-se de verbo muito usado nos meios jurídicos, como na expressão
ressarcir os prejuízos, com o sentido de indenizar, reparar um gasto, um
dano. Ex.: “Os arts. 186 e 927 do Código Civil determinam que aquele
que causa dano a outrem, deve ressarcir-lhe os prejuízos”.
2. De Plácido e Silva (1989, p. 128) faz a diferença entre responder e
ressarcir: a) responder “é estar obrigado pelo dano causado, ou a
ressarcir o dano”, evidenciando-se em tal verbo o sentido de sujeitar-se à
obrigação ou a ela prender-se; b) já ressarcir “é pagar o dano ou
satisfazer a obrigação, resultante ou fundada na responsabilidade”, com a
real acepção de cumprir a obrigação.
3. Quanto à conjugação verbal, Otelo Reis o considera verbo defectivo, e
manda conjugá-lo apenas nas formas em que, após o radical, aparece a
letra i: a) no presente do indicativo, apenas tem ressarcimos e ressarcis;
b) daí se vê que o imperativo afirmativo apenas tem a segunda pessoa do
plural (ressarci vós); c) não tem, por conseguinte, as outras formas do
presente do indicativo nem do imperativo afirmativo; d) de igual modo,
não tem forma alguma do presente do subjuntivo nem do imperativo
negativo.
4. O mesmo autor, porém, em nota específica, observa que “alguns
admitem a conjugação integral: ressarço, ressarces…” (REIS, 1971, p.
148).
5. Os problemas de conjugação desse verbo, como se verifica, apenas se
situam nas formas rizotônicas (em que a sílaba forte está no radical), e
estas só existem no presente do indicativo, presente do subjuntivo,
imperativo afirmativo e imperativo negativo.
6. Bem por isso, não deve haver preocupação alguma, quanto à observação
feita, no que diz respeito aos demais tempos: ressarcia (pretérito
imperfeito), ressarcirei (futuro do presente), ressarciria (futuro do
pretérito), ressarcido (particípio), ressarcindo (gerúndio), ressarci
(pretérito perfeito), ressarcira (pretérito mais-que-perfeito), ressarcisse
(imperfeito do subjuntivo), ressarcir (futuro do subjuntivo).
7. Quanto à regência verbal, Eliasar Rosa (1993, p. 124-5) observa que Rui
Barbosa, em sintaxe seguida pelo Código Civil de 1916, o construía,
fazendo com que quem ressarcisse, ressarcisse alguma coisa a alguém –
vale dizer, como transitivo direto e indireto – com a consequente
possibilidade de transformar o objeto direto da voz ativa em sujeito da
voz passiva, tal como se vê no art. 517: “Ao possuidor de má-fé serão
ressarcidas somente as benfeitorias necessárias”.
8. Francisco Fernandes (1971, p. 522) acata esse posicionamento e se
abona com dois exemplos do próprio Rui Barbosa, num deles também
tornando o objeto direto da voz ativa sujeito da voz passiva: a)
“Adquirirá o proprietário as sementes, plantas e construções, com
encargo, porém, de ressarcir o valor das benfeitorias”; b) “Eu proporia
que esses sacrifícios fossem ressarcidos aos fazendeiros pelo fundo de
emancipação”.
9. Também em prol dessa ampla possibilidade de sintaxes é a doutrina de
Celso Pedro Luft (1999, p. 457).
10. Nos textos de lei, tal verbo aparece às vezes com objeto direto (que
pode ser sujeito na voz passiva), correspondendo à construção ressarcir
alguma coisa, às vezes com objeto direto de coisa e objeto indireto de
pessoa introduzido pela preposição a (ressarcir alguma coisa a
alguém), às vezes como pronominal, com objeto indireto introduzido
pela preposição de (correspondendo à construção ressarcir-se de algo).
Exs.: a) “… caso em que poderá determinar que o requerente preste
caução real ou fidejussória de ressarcir os danos que o requerido
possa vir a sofrer” (CPC/1973, art. 804); b) “O gestor envidará toda a
sua diligência habitual na administração do negócio, ressarcindo ao
dono o prejuízo resultante de qualquer culpa na gestão” (CC, art. 866);
c) “O credor que de boa-fé receber a prestação de coisa que o devedor
não pode alhear tem o direito de impugnar o cumprimento, sem
prejuízo da faculdade de se ressarcir dos danos que haja sofrido” (CC
português, art. 765º, 1).

Restar
1. Num primeiro aspecto, quanto à concordância verbal, é comum que o
sujeito plural venha posposto a esse verbo, caso em que é preciso
atenção, para não haver equívocos quanto à flexão deste último. Exs.: a)
“Restava ainda alguns processos sem sentença” (errado); b) “Restavam
ainda alguns processos sem sentença” (correto); c) “Resta-lhe poucos
familiares” (errado); d) “Restam-lhe poucos familiares” (correto).
2. Atento aos problemas daí advenientes, leciona Napoleão Mendes de
Almeida que “a concordância se impõe com verbos que significam
carência, falta, abastança, suficiência: Restavam apenas quinze mil
homens” (1981, p. 278).
3. No que tange à regência verbal, não encontra abono nos autores
clássicos e nos gramáticos seu uso como verbo de ligação seguido de
predicativo (com o sentido de ficar), construção frasal essa que se vem
vulgarizando na linguagem forense, apesar de errônea. Ex.: “A acusação
contra o réu não restou provada nos autos” (errado).
4. Nesse sentido, vale lembrar que, em suas indispensáveis obras sobre
regência verbal, nem Francisco Fernandes, nem Celso Pedro Luft fazem
menção à possibilidade da referida sintaxe.
5. Corroborando esse posicionamento, anota Geraldo Amaral Arruda que
“nenhum dicionário da língua portuguesa registra restar como verbo de
ligação” (1997, p. 21).
6. Lembrando que basta uma consulta aos melhores autores para se
comprovar que tal sintaxe “não é Português”, leciona Edmundo Dantès
Nascimento que o verbo restar é empregado erradamente na linguagem
forense, isto é, com predicativo do sujeito, em frases como “O decreto
restou revogado”.
7. Acrescenta tal autor que “a correção se faz com emprego de ficar,
remanescer, subsistir, conforme o caso” (NASCIMENTO, 1982, p. 177).
8. Pode-se acrescentar a esse ensinamento que mesmo o verbo ser pode ser
empregado como auxiliar na voz passiva, evidenciando a ideia da ação
verbal o sentido que se intenta obter com o predicativo: “O decreto foi
revogado”.
9. Reitere-se que, para evitar tal solecismo de sintaxe, basta, na maioria dos
casos, adotar a construção passiva, quer sintética, quer analítica, sem o
emprego do verbo restar, ou então usar o verbo próprio de ligação com o
adequado predicativo do sujeito. Exs.: a) “Não se provou nos autos, a
acusação contra o réu” (correto – voz passiva sintética); b) “Não foi
provada nos autos, a acusação contra o réu” (correto – voz passiva
analítica); c) “A acusação contra o réu não ficou provada nos autos”
(correto – verbo de ligação mais predicativo do sujeito).
10. Apenas para ilustrar, é de se ver que Adalberto J. Kaspary (1996, p.
307-8), dedicado estudioso do emprego dos verbos nos textos de lei, –
muito embora realce que uma construção como a discutida (“O decreto
restou revogado”) “tem trânsito cada vez mais livre na linguagem
forense” – não conseguiu localizar um só exemplo abonador de tal
emprego, assim nos diplomas legais do Brasil como nos de Portugal.

Restar provado – Está correto?


1. Trata-se de expressão sintaticamente errada.
Ver Restar (P. 668).

Restituir
1. É verbo de larga utilização nos meios jurídicos: a) a antiga Lei de
Quebras falava em restituir coisas entregues ao falido (art. 76) ou ao
concordatário (art. 166) nos quinze dias anteriores ao requerimento da
falência ou da concordata; b) os arts. 180 e 507 do Código de Processo
Civil falam em restituir prazo para a prática de algum ato processual,
para o qual houve impedimento sem culpa da parte que deveria praticá-
lo.
2. Quanto a sua ortografia, como todo verbo terminado em uir, só pode dar
origem à terminação ui na segunda e terceira pessoas do singular do
presente do indicativo. Assim: restituo, restituis, restitui.
3. Diferentemente dos verbos terminados em uar (como continuar), são
errôneas as grafias com e em tais situações: restitues, restitue.
4. Nesse Sentido, nas palavras de Cândido de Oliveira (1961, p. 64), atento
aos frequentes equívocos cometidos nesse campo, “é com i a segunda e
terceira pessoas do singular do presente do indicativo dos verbos
terminados em uir: aflui, fruis, retribui, retribuis, contribui, contribuis,
influi, influis”.
5. Além disso, é palavra que exige cuidados quanto à regência verbal.
6. Uma primeira possibilidade de uso é fazer da coisa que se restitui o
objeto direto e da pessoa a quem se restitui o objeto indireto introduzido
pela preposição a (correspondendo à construção restituir algo a alguém),
sintaxe essa preferida pelo Código Civil de 1916 nos artigos 300, 603,
1.256 e 1.272 (com exceção do primeiro, que tratava de matéria hoje
revogada, os demais dispositivos correspondem, respectivamente, aos
arts. 1.233, caput, 586 e 637 do CC/2002, com mesma estrutura
sintática). Exs.: a) “O réu restituiu ao autor o bem que lhe furtara”; b)
“O herdeiro do depositário que de boa-fé vendeu a coisa depositada, é
obrigado a assistir o depositante na reivindicação, e a restituir ao
comprador o preço recebido” (CC, art. 637).
7. Uma segunda possibilidade igualmente correta de construção é fazer da
coisa que se restitui objeto indireto introduzido pela preposição de, e da
pessoa a quem se restitui objeto direto (correspondendo à sintaxe
restituir alguém de algo). Ex.: “O réu restituiu o autor do bem que lhe
furtara”.
8. Celso Pedro Luft (1999, p. 458) acata essa dupla possibilidade de
regência: a) restituir alguma coisa a alguém; b) restituir alguém de
alguma coisa.
9. Também Francisco Fernandes (1971, p. 524) abona essa dupla
possibilidade de sintaxe.
10. Atento ao que ocorre nos textos legais e no campo jurídico, Adalberto
J. Kaspary entrevê, em acréscimo, a possibilidade de seu uso no
sentido de restabelecer, reintegrar (com a possibilidade de vir o objeto
direto da voz ativa a tornar-se sujeito da voz passiva), hipótese em que
corresponde à sintaxe restituir alguém a alguma coisa. Ex.: “No caso de
esbulho violento, pode o possuidor pedir que seja restituído
provisoriamente à sua posse, alegando os fatos que constituem a posse,
o esbulho e a violência” (CPC português, art. 393º).
11. E acrescenta tal autor que, no sentido de reintegrar-se, reempossar-se,
recuperar o perdido, esse verbo é construído pronominalmente
(restituir-se). Ex.: “O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-
se, ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo”
(CC, art. 1.210, § 1º, primeira parte).

Resto
Ver De resto – Galicismo? (P. 269)

Resto – É só o que não presta?


1. Um leitor diz ter dúvidas quanto ao emprego dos vocábulos resto e
restante, pois já ouviu dizer que resto seria aquilo que não presta,
enquanto restante seria uma sobra do que presta, do que teria valor.
2. Ora, uma consulta aos dicionários demonstra não ter fundamento o
temor de que a palavra resto tenha, só por si, conotação negativa, como
acredita o leitor.
3. Os dicionaristas Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (2010, p. 1.831) e
Antônio Houaiss (2001, p. 2.443) veem, no conteúdo semântico de resto,
apenas aquilo que fica, o mais, aquilo que sobra, o saldo, o
remanescente. Ou seja: a significação dos dicionários aponta para um
conteúdo neutro e genérico, que, no caso concreto, pode vir a cristalizar-
se como bom ou ruim.
4. E o primeiro de tais autores refere restante como sinônimo de resto.
5. Eventual desconfiança quanto ao significado de tais vocábulos talvez
advenha do fato de que, como lembra o primeiro dicionarista citado,
quando no plural (restos), o vocábulo também tem o significado de
destroços, ruínas, despojos mortais ou cadáver. Mas tal desconfiança não
resiste a uma análise mais acurada das acepções reais e efetivas dos
indigitados vocábulos.
Resultar infrutífera – Está correto?
1. Trata-se de expressão incorreta.
Ver Resultar provado – Está correto? (P. 669)

Resultar provado – Está correto?


1. Napoleão Mendes de Almeida (1981, p. 278), arrimando-se em lições de
Botelho de Amaral, Epifânio Dias e Mário Barreto, adverte que não se
deve dar a tal palavra o valor de verbo de ligação; isto é: “não deve ele
vir acompanhado de predicativo”.
2. A correção, em tais casos, faz-se pela substituição do verbo vitando por
um sinônimo. Exs.: a) “Resultou improfícuo o esforço do Ministério
Público, que não conseguiu a condenação do réu” (errado); b) “Tornou-
se (ou veio a ser, ou foi) improfícuo o esforço do Ministério Público, que
não conseguiu a condenação do réu” (correto).
3. Francisco Fernandes (1971, p. 524), de igual modo, até mesmo
colacionando exemplo reputado vicioso de Euclides da Cunha (“A
operação… resultou inútil”), após observar que, “modernamente, tem-se
querido dar ao verbo resultar a natureza de verbo predicativo”, nega
integralmente a possibilidade de tal construção.
4. A esse respeito, também adverte Júlio Nogueira: “A nossa imprensa
parece disposta a dar ao verbo resultar um emprego que ele só tem no
espanhol: ‘os esforços resultaram improfícuos’; ‘a diligência resultou
inútil’ etc. Em português cumpre dizer: ‘os esforços foram improfícuos’
ou ‘não deram resultado’…” (1959, p. 104).
5. Fazendo eco contra seu uso desse modo equivocado nos meios jurídicos,
em estrutura com predicativo – por ele reconhecida como real
castelhanismo – posta-se Eliasar Rosa (1993, p. 125-6), anotando
exemplos de seu emprego errôneo: a) “Do exame das provas, resultou
provado…”; b) “Os esforços da defesa resultaram inúteis”.
6. Fundado em lição de Epifânio Dias, lembra Edmundo Dantès
Nascimento que uma frase como “A prova resultou completamente
irrelevante”, em realidade, “não é possível em linguagem escorreita”, e o
emprego do verbo resultar, em tais casos, com predicativo do sujeito
“não é português”.
7. Manda tal autor corrigir para “A prova resultou em completa
irrelevância”, ou ainda “A prova não deu resultado” (NASCIMENTO,
1982, p. 175-6).
8. De igual modo, corrija-se uma frase como “A diligência resultou inútil”
para “A diligência foi improfícua”, ou “A diligência não deu resultado”.
9. Geraldo Amaral Arruda (1997, p. 20-1) confirma que seu emprego como
verbo de ligação, acompanhado de predicativo, com o sentido de ficar,
por influência do espanhol, é condenado entre nós por Júlio Nogueira,
Francisco Fernandes, Napoleão Mendes de Almeida e Cândido Jucá
Filho.
10. Laurinda Grion (s/d, p. 98) também observa que “resultar não é verbo
de ligação”, motivo por que uma frase como nossos esforços
resultaram inúteis “exige um desses verbos, como ser, estar,
permanecer”, devendo ser corrigida para nossos esforços foram inúteis.
11. Sousa e Silva também invoca lição de Mário Barreto no sentido de que
não parece português “este emprego do verbo resultar com nome
predicativo”. Exs.: a) “Um exército em que nem o último soldado
queira ceder o passo resulta invencível” (errado); b) “Um exército em
que nem o último soldado queira ceder o passo é invencível” (correto).
12. Observando que os espanhóis, na linguagem moderna, “fazem
excessivo gasto de semelhante verbo”, complementa o referido
gramático que “em português recorremos a qualquer outro meio de
expressão, menos ao verbo resultar. Usaremos ser, sair, vir a ser, parar
em, vir a parar, fazer-se” (SILVA, A., 1958, p. 257).
13. Em ensino que pode valer para a linguagem coloquial, mas não para os
textos que devam submeter-se ao padrão culto, ensina Domingos
Paschoal Cegalla que “a construção ‘resultar + adjetivo’ é imitação do
espanhol;… mas, devido a sua força expressiva, tal emprego do verbo
resultar vem se impondo cada vez mais e não deve ser condenado”
(1999, p. 358).
14. Em mesma esteira, aponta Celso Pedro Luft (1999, p. 459) alguns
aspectos: a) a construção resultar + predicativo “trata-se de empréstimo
tomado ao castelhano”; b) configura, todavia, “empréstimo
consagrado”, que “recebe, atualmente, cada vez mais adeptos,
certamente por seu sintetismo expressivo”; c) “é que esse resultar não é
simplesmente ‘verbo de ligação’, como se pretende, mas síntese
expressiva de ser + resultado”; d) “por isso, ‘Os esforços resultaram
improfícuos’ não é o mesmo que … foram ou tornaram-se improfícuos
ou não deram resultado, correções pretendidas”.
15. Apesar da autoridade dos divergentes, parece ser de toda conveniência
evitar a construção resultar + predicativo nos textos que devam
submeter-se à norma culta.
16. Nos textos de lei – que, por via de regra, obedecem às regras da norma
culta e não o empregam com predicativo – tal verbo às vezes aparece
empregado com objeto indireto de coisa (resultar de), às vezes com
objeto indireto de pessoa (resultar a), às vezes com objeto indireto de
coisa e objeto indireto de pessoa (resultar de… a), às vezes
intransitivamente, com o sentido de dar resultado; jamais, porém, é ele
empregado como verbo de ligação. Exs.: a) “… A aceitação pode
retratar-se se não resultar prejuízo a credores…” (CC/1916, art. 1.590,
em redação não repetida pelo art. 1.812 do CC/2002); b) “A
indenização por injúria, difamação ou calúnia consistirá na reparação
do dano que delas resulte ao ofendido” (CC, art. 953, caput); c) “A
filiação materna ou paterna pode resultar de casamento declarado
nulo, ainda mesmo sem as condições do putativo” (CC, art. 1.617); d)
“Se no processo de divórcio litigioso, a tentativa de conciliação não
resultar, o juiz procurará obter o acordo dos cônjuges para o divórcio
por mútuo consentimento…” (CC português, art. 1.774º, 2).
17. Apenas para ilustrar, é de se ver que Adalberto J. Kaspary (1996, p.
307-8), dedicado estudioso do emprego dos verbos nos textos de lei, –
muito embora realce que “esse uso de resultar como verbo de ligação,
que já se encontra em Euclides da Cunha (Os Sertões), recebe,
atualmente, cada vez mais adeptos, certamente por seu sintetismo
expressivo” – não conseguiu localizar um só exemplo abonador de tal
emprego, assim nos diplomas legais do Brasil como nos de Portugal.
Ver Restar (P. 668).

Reter
Ver Ter (P. 730).
Reticências
1. “Os três pontos seguidos (reticências) empregam-se para deixar o
sentido suspenso, por ironia ou por antífrase” (NOGUEIRA,1959, p.
148).
2. Nada impede a combinação das reticências com outros sinais: …, ?…
?!… !… !?…
3. Interessante lembrete vem de Luiz Antônio Sacconi acerca dos trechos
de outros autores, empregados, por exemplo, na elaboração dos
arrazoados jurídicos: “Se a citação ou a transcrição não começar com a
palavra inicial, colocar-se-ão reticências logo após a abertura das aspas.
Da mesma forma, devem ser usadas as reticências no final, antes do
fechamento das aspas, se a intenção é não terminar a referida citação ou
transcrição” (1979, p. 247).
4. Importa adicionar que se usam apenas reticências em lugar do trecho que
foi suprimido, sem necessidade de pô-las entre parênteses ou entre
colchetes, ou mesmo de outro artifício qualquer, como é de fácil
verificação no ensino dos estudiosos, como Celso Cunha (1970, p. 283),
Rocha Lima (1972, p. 435) e Evanildo Bechara (1974, p. 336). Exs.: a)
“… galgos … e toda a demais cainçalha patrulhavam… por morros…”
(correto); b) “(…) galgos (…) e toda a demais cainçalha patrulhavam
(…) por morros (…)” (errado); c) “[…] galgos […] e toda a demais
cainçalha patrulhavam […] por morros […]” (errado).

Retificar ou Ratificar?
Ver Ratificar ou Retificar? (P. 644)

Retolo – Existe?
Ver Revelho – Existe? (P. 673)

Retribuir
1. Quanto à ortografia, como todo verbo terminado em uir, retribuir só
pode dar origem à terminação ui na segunda e na terceira pessoa do
singular do presente do indicativo: retribuo, retribuis, retribui.
2. Diversamente dos verbos terminados em uar (como continuar), que
terminam com e nessas situações, são errôneas as grafias com e:
retribues, retribue.
3. Nas palavras de Cândido de Oliveira, após verificação dos muitos erros
cometidos nesse campo, “é com i a segunda e terceira pessoas do
singular do presente do indicativo dos verbos terminados em uir: aflui,
fruis, retribui, restituis, contribui, contribuis, influi, influis” (1961, p.
64).
4. Atentos aos frequentes equívocos que ocorrem nos meios jurídicos,
assim também observam Antonio Henriques e Maria Margarida de
Andrade: “Os verbos em uir (concluir, possuir, estatuir etc.) têm um i na
terceira pessoa do singular do presente do indicativo e não e” (1999, p.
53).
Ver Constituir (P. 225).

Retro – Com hífen ou sem?


1. Como costuma acontecer com os prefixos terminados por vogal, com o
prefixo retro, apenas se juntam por hífen os elementos integrantes da
palavra, quando o segundo deles começa com a mesma vogal que
termina o prefixo: retro-oclusão, retro-operar.
2. Valeria aqui a observação que normalmente se faz para os prefixos
terminados por vogal, que também manda separar por hífen os
elementos, quando o segundo deles começa por h. Apenas se anota,
contudo, que não foram encontrados vocábulos listados pelo Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de
Letras, órgão incumbido de dizer oficialmente quais são os vocábulos
que integram o nosso léxico.
3. Feitas as observações anteriores, anota-se que, antes das consoantes, tal
prefixo acopla-se diretamente à palavra seguinte, sem hífen:
retrocarregador, retrodatar, retrofoguete, retrogradação.
4. De igual modo, junta-se sem hífen, quando o elemento seguinte se inicia
por outra vogal, que não a mesma que finaliza o prefixo: retroagir,
retroanálise, retroescavadeira, retroespalhamento, retroinfecção,
retroinjeção, retrouterino.
5. Para a hipótese de ser o segundo elemento iniciado por r ou s, dobram-se
tais consoantes para continuidade do som originário: retrorrefletor,
retrorreflexão, retrosseguir, retrossinfoniano.

Retro-mencionada ou Retromencionada?
1. Ante as inovações introduzidas quanto à escrita dos prefixos e falsos
prefixos em nossos sistema pelo Acordo Ortográfico de 2008, é oportuna
a indagação: retro-mencionada ou retromencionada?
2. O prefixo retro é latino e tem o significado de atrás ou para trás, como é
de fácil percepção na própria palavra da consulta.
3. Quanto à grafia, como geralmente ocorre com os prefixos e falsos
prefixos terminados por vogal, apenas em duas hipóteses se usa o hífen:
a) quando o elemento seguinte se inicia por h (retro-habilitação); b)
quando o elemento seguinte se inicia pela mesma vogal com que se
encerra o prefixo (retro-oclusão, retro-operar).
4. Desse modo, acopla-se diretamente à palavra seguinte, sem
intermediação de hífen, quando iniciada esta por outra vogal, que não a
que encerra o prefixo: retroagir, retroanálise, retroescavadeira,
retroespalhamento, retroinfecção, retroinjeção, retrouterino.
5. Continua valendo a regra de junção direta, mesmo que o elemento
seguinte se inicie por consoante: retrocarregador, retrodatar,
retrofoguete, retrogradação, retromencionada.
6. Apenas para a hipótese de ser o segundo elemento iniciado por r ou s,
dobram-se tais consoantes para continuidade do som originário:
retrorrefletor, retrorreflexão, retrosseguir, retrossinfoniano.
Ver Retro ou Retros? (P. 672)

Retro ou Retros?
1. Ante as frequentes dúvidas quanto ao referido falso prefixo, é oportuno
observar se se deve dizer citações retro ou citações retros.
2. Um estudioso da língua e de seus fenômenos, Júlio Ribeiro (1908, p.
135), em uma de suas lições, menciona “sobre as tabelas retro”.
3. Em tal exemplo, há de se entender que retro está em lugar de
retromencionadas e que, muito embora tenha função adjetiva, não teve
sua normal flexão para concordar com o substantivo modificado.
4. Com base em tal ensinamento, veja-se como ficam as estruturas:
dispositivo retro, citação retro, dispositivos retro, citações retro.
Ver Extra (P. 349), Micro ou Micros? (P. 473) e Retro-mencionada ou
Retromencionada? (P. 671)

Retrotrair
1. Quanto à conjugação verbal, Otelo Reis (1971, p. 130) manda que
retrotrair seja conjugado tendo por modelo sair.
2. Adalberto J. Kaspary lhe dá como modelo de flexão trair, com a
observação de que “a segunda e a terceira pessoa do singular do presente
do indicativo se grafam com i (e não com e): retrotrais, retrotrai” (1996,
p. 310-1).
3. Anota Luciano Correia da Silva que “o verbo retrotrair pode ser
considerado um peregrinismo de nossa língua, conservado na literatura
legal. Do latim retro (para trás) mais trahere (puxar, mover), significa
fazer voltar, retrogradar, fazer retroceder” (1991, p. 52).
4. Antonio Henriques e Maria Margarida de Andrade (1999, p. 131), que
lhe dão por paradigma o verbo trair, alinham lição de Artur de Almeida
Torres, que estranha o mau gosto desse verbo, de pronúncia difícil e
pouco condizente com o fraseado das leis, que deve ser singelo e avesso
ao pedantismo.
5. No que concerne à regência verbal, Rui Barbosa, ao comentar o art. 204
do Projeto do Código Civil – em observação que veio a repetir quando se
referiu ao art. 539 – ressaltava o caráter transitivo de tal verbo, anotando
que ele “não quer dizer recuar, mas fazer recuar”.
6. E, de maneira específica para o assunto tratado no dispositivo então sob
comento – que registrava “Este registro fará retrotrair os efeitos do
casamento” – continuava: “O registro não fará que os efeitos do
matrimônio retrotraiam: retrotrairá esses efeitos. A redação correta,
assim, seria: Este registro retrotrairá os efeitos do casamento”
(BARBOSA, 1949, p. 102 e 193).
7. As críticas redundaram em alteração das respectivas disposições, como
se vê na redação definitiva do art. 200, § 4º, do Código Civil de 1916:
“O assento assim lavrado retrotrairá os efeitos do casamento… à data
da celebração”. Tal redação foi mantida em mesmos moldes pelo
CC/2002, art. 1.541, § 4º.
8. A lição de Francisco Fernandes (1971, p. 527), quanto à regência verbal
desse vocábulo, dá-se em igual sentido, ensino esse que também é
repetido por Celso Pedro Luft (1999, p. 461).
9. Nos textos de lei, tal verbo se constrói às vezes com objeto direto e a
preposição a (retrotrair alguma coisa a), às vezes pronominalmente com
a preposição a (retrotrair-se a): a primeira estrutura foi a adotada pelo
nosso Código Civil de 1916, e a segunda, pelo Código Civil de Portugal.
Exs.: a) “O assento assim lavrado retrotrairá os efeitos do casamento,
quanto ao estado dos cônjuges, à data da celebração e, quanto aos
filhos comuns, à data do nascimento” (CC/1916, art. 200, § 4º, mantida
pelo CC/2002, art. 1.541, § 4º); b) “O que contraiu casamento, enquanto
incapaz, pode ratificá-lo, quando adquirir a necessária capacidade, e
esta ratificação retrotrairá os seus efeitos à data da celebração”
(CC/1916, art. 211, em redação alterada pelo CC/2002, art. 1.553); c)
“Invocada a usucapião, os seus efeitos retrotraem-se à data do início da
posse” (CC português, art. 1.288).

Réu
1. Em termos de técnica processual, autor é aquele que promove uma ação
judicial civil ou uma denúncia penal (HENRIQUES, 1999, p. 175); e réu
“é aquele contra quem se promove ação judicial (sentido civil) ou aquele
contra quem se move denúncia por fato criminoso (sentido penal)”.
2. Magalhães Noronha cita alguns nomes com que se designa o acusado no
campo penal: indiciado, imputado, perseguido, denunciado, réu;
ressalva, porém, que o termo réu deve ser usado após a instauração da
ação penal (NORONHA apud HENRIQUES, 1999, p. 175).
3. E, de conformidade com Antonio Henriques, termos como suplicante e
suplicado “vêm caindo em desuso, substituídos, respectivamente, por
autor e réu, ou, então, requerente – requerido” (1999, p. 186).
4. Essa postura se deve a dois aspectos pelo menos: a) por um lado, os
tempos modernos exigem o abandono de uma tradição anacrônica e
nitidamente extemporânea, como a que pretende perpetuar termos como
Suplicante e Suplicado, resquícios de uma vassalagem, oriundos dos
tempos da Casa de Suplicação, que os séculos já esqueceram; b) por
outro lado, o que se tem hoje é um crescente ranço da ciência processual,
a qual, em aprimoramento da técnica de redação, leva ao abandono de
uma terminologia genérica e à busca de vocábulos que indiquem uma
real e específica posição do interessado no processo.
5. Apesar da resistência dos leigos – para os quais o vocábulo réu tange as
raias do xingamento – esse é o termo técnico genérico, corretamente
empregado em processo civil para indicar aquele contra quem o autor
(também termo genérico) promove uma demanda, independentemente
do tipo e da espécie da medida judicial manejada: o exequente pode ser
chamado de autor da execução, enquanto o executado há de ser-lhe o
respectivo réu; quando este, em ação desconstitutiva específica, se torna
embargante, pode ser ele chamado de autor dos embargos à execução,
enquanto o exequente há de ser o réu da referida ação; o reconvinte pode
ser chamado de autor da reconvenção, enquanto o reconvindo há de ser-
lhe o respectivo réu.
Ver Autor ou autor? Réu ou réu? (P. 149)

Revelho – Existe?
1. Vocábulo bastante usado nos meios jurídicos no sentido de muito velho,
é de integral correção, na consonância com lição de João Ribeiro, para o
qual “uma das formas populares de grau ou ênfase é feita com o prefixo
re: velho, revelho” (1923, p. 165).
2. Em mesma esteira é a lição de Mário Barreto (1954, p. 224-5), que
considera formas dessa natureza verdadeiros superlativos, e traz, em
acréscimo, diversos exemplos de Castilho: “tolo e retolo”; “minha e
reminha”; “seu e resseu”; “são, ressão e arquissão”.
3. Veja-se, para ilustração, o seguinte exemplo extraído da introdução dos
estudos de linguagem do Padre José F. Stringari: “Se você tiver a
coragem de dar-se à leitura destas páginas, achará certamente nelas
expressões e torneios ressabidos de classicismo” (1961, p. 4).
4. Defendendo a integral viabilidade desse processo de formação de novas
palavras e invocando lição de Mário Barreto, assevera Cândido Jucá
Filho (1981, p. 98) que o re, em casos como refulgente e retolo, é
“prefixo enfatizante”.
5. Edmundo Dantès Nascimento (1982, p. 135) traz, em abono do emprego
desse processo de ênfase um exemplo colhido em Castilho: “Nem que
ela à face do altar não fosse minha e reminha”.

Rever – Como conjugar?


Conferir Ver – Como conjugar? (P. 764)

Ribeirão Preto: quem nasce lá é o quê?


1. Um leitor verificou que o autor destas linhas pertence a uma academia
de letras jurídicas. E, a partir dessa leitura, faz duas indagações: a) o
correto é ribeirãopretano ou ribeirãopretense?; b) a grafia é com hífen ou
sem?
2. Um adjetivo como esse, denominado pátrio, é conceituado por Aurélio
Buarque de Holanda Ferreira como aquele “que se refere a continente,
país, região, estado, cidade, província, vila, povoado (2010, p. 57). Com
ligeira alteração de significado, pode ele também ser denominado
adjetivo gentílico ou relativo.
3. É nessa esteira que vem a pergunta do leitor: quem nasce em Ribeirão
Preto é o quê? E, em seguida: os elementos desse adjetivo composto são
separados por hífen ou não?
4. Tudo isso, na prática, significa escolher entre as formas de extenso rol de
possibilidades teóricas: ribeirãopretano, ribeirão-pretano,
ribeirãopretense, ribeirão-pretense, ribeiropretano, ribeiro-pretano,
ribeiropretense, ribeiro-pretense, riberopretano, ribero-pretano,
riberopretense, ribero-pretense.
5. Para isso, em primeiro lugar, é importante estabelecer o princípio de que
a lei delega à Academia Brasileira de Letras a autoridade para definir
quais são os vocábulos que integram oficialmente nosso léxico, e ela
exerce essa delegação por via da edição do Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa. Essa autoridade abrange também definir a grafia dos
vocábulos, sua pronúncia, gênero, categoria gramatical, etc.
6. Com essa premissa, releva anotar, em continuação, que o VOLP registra
apenas as seguintes grafias para o adjetivo gentílico buscado pelo leitor:
ribeirão-pretano, ribeirão-pretense e ribeiro-pretano (2009, 9. 722).
7. Faça-se, então, uma primeira observação. Pelos critérios adotados pelo
Acordo Ortográfico de 2008 – que não cabe nesta oportunidade discutir
ou polemizar – todas as formas registradas pelo VOLP como corretas
trazem hífen, de modo que se excluem as possibilidades de junção dos
dois elementos sem o mencionado sinal diacrítico.
8. Adicione-se uma segunda observação. Essas são as formas de grafia
autorizadas para o mencionado vocábulo, sem outras possibilidades.
Pode-se argumentar que, tecnicamente, nada impediria a admissão, por
exemplo, de ribeiro-pretense. Todavia, se o VOLP não a autoriza, essa
forma não existe no idioma. Pode ser que, em futura edição, a ABL
venha a absorvê-la e adotá-la como correta. Então se haverá de inseri-la
no léxico oficial. Não, porém, por agora.
9. E se ultime com uma terceira observação, a partir do seguinte fato:
Aurélio Buarque de Hollanda Ferreira não registra ribeirão-pretense
(2010, p. 1.842), e o dicionário da Melhoramentos traz ribero-pretano
(1975, p. 1.517). Ou seja: o primeiro omite forma registrada pelo VOLP,
enquanto o segundo faz constar outra não adotada por ele. Sem demérito
para o inestimável trabalho desempenhado, no campo da ciência, em
prol do vernáculo, pelos dicionaristas, é importante fixar que eles não
detêm a autoridade legal para definir as questões do idioma, e sim a
ABL. Desse modo, em caso de divergência, há de prevalecer o que esta
última diz e determina.

Ridicularizar ou Ridiculizar?
1. A língua é uma estrutura dinâmica, e com frequência é necessário criar
novas palavras para expressar novas realidades. Foi assim que surgiram
telégrafo, autódromo, astronauta, telex, xerox, etc.
2. Ora, é importante, num primeiro momento, observar que, quando se quer
formar uma nova palavra em português (tecnicamente se chama
neologismo), deve-se atentar se há real necessidade de criar novo
vocábulo, pois o neologismo só se justifica pela necessidade de algo
novo.
3. Um segundo aspecto é que a nova palavra deve obedecer aos ditames
normais para formação de novas palavras no idioma no caso, verificar se
o radical (ridículo) está correto e se realmente existe o prefixo
pretendido (izar), etc.
4. A exigência concomitante de ambos os requisitos era assim resumida por
Rui Barbosa, que opinava em sequência: “Salvos os casos de
necessidade ou utilidade, e boa adaptação vernácula, voto contra o
neologismo” (s/d, p. 570).
5. Feitas essas observações iniciais, acresce dizer que a autoridade para
listar oficialmente os vocábulos existentes em nosso idioma está com a
Academia Brasileira de Letras, e ela o faz por intermédio da edição do
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, que é uma lista imensa
de tais vocábulos, com ligeiras especificações de categoria gramatical,
gênero e, muito raramente, de sentido ou outra observação adicional.
6. No caso, uma consulta do VOLP (ACADEMIA BRASILEIRA DE
LETRAS, 2009, p. 722) vai revelar que, independentemente de boa ou
má formação em nosso idioma, existem ambos os vocábulos: um
formado de forma mais regular (ridiculizar) e outro formado de modo
menos convencional para as regras do idioma (ridicularizar). E, se o
VOLP atesta oficialmente a existência de ambos os vocábulos, legem
habemus, e não há como levantar questionamento algum no plano dos
fatos e do direito. Qualquer discussão só pode ser levantada no plano
científico do aspecto linguístico, mas não no âmbito de vedar o uso
prático do vocábulo como palavra oficialmente pertencente ao nosso
idioma.

Rigorismo – Existe? E rigorosismo?


1. Um leitor indaga se é correto falar a palavra rigorismo. Diz ele optar por
rigorosismo, por questão de eufonia. E quer saber se há prejuízo no
emprego de uma ou de outra.
2. Ora, em raciocínio que sempre é bom repetir, até para formar no leitor
um hábito mais do que salutar, lembra-se que, quando se quer saber se
uma palavra existe ou não em português, deve-se tomar por premissa o
fato de que a autoridade para listar oficialmente os vocábulos
pertencentes ao nosso idioma é a Academia Brasileira de Letras.
3. E essa autoridade, a ABL a exerce por via da edição do Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa.
4. Uma simples consulta ao VOLP (2009, p. 723) mostra dois aspectos de
extrema importância para resposta ao leitor: a) o vocábulo rigorismo
encontra-se ali normalmente registrado; b) já rigorosismo, não.
5. Em tais circunstâncias, a forçosa conclusão que se há de extrair é que a
palavra rigorismo existe perfeitamente em português, e seu emprego está
normalmente autorizado ao usuário do idioma.
6. Por outro lado, há uma segunda e reversa conclusão a ser tirada desse
raciocínio: o vocábulo rigorosismo não existe no vernáculo, e não se
autoriza seu uso na fala e na escrita que devam submeter-se aos ditames
da norma culta.
7. Anota-se, por fim, que, se ao leitor repugna, por afronta à eufonia, a
forma rigorismo, o VOLP registra um outro sinônimo que pode ser
empregado em tais circunstâncias: rigorosidade.

Risco de morte ou Risco de vida?


1. É frequente a dúvida sobre qual a forma correta de expressão: Risco de
morte ou Risco de vida? E também: é correto dizer risco de morrer?
2. Diz-se, desde logo, num primeiro aspecto, que é correta a expressão
risco de morrer, e contra ela não parece haver possibilidade de maiores
questionamentos. Ex.: “A paciente corre o risco de morrer durante a
cirurgia”.
3. Por outro lado, para se entender bem o restante do problema, é
importante dizer que, tradicionalmente, a expressão empregada quase
sempre foi risco de vida. Assim foi o uso de nossos avós, e assim
empregaram maciçamente os nossos literatos mais considerados ao
longo dos tempos.
4. Para se ter uma ideia da dimensão do emprego de ambas as expressões
ainda nos dias de hoje, basta anotar que uma pesquisa de tais expressões
no Google dá um resultado de 27.000.000 de registros para risco de vida,
enquanto apenas 284.000 registros para risco de morte, o que mostra a
maciça preferência pela primeira delas.
5. Por outro lado, não se pode negar que, de uns tempos para cá, houve a
redescoberta da expressão risco de morte, a qual, impulsionada pela
defesa do prestigiado Professor Pasquale Cipro Neto em programa de
televisão, acabou por se tornar verdadeiro modismo nos meios de
comunicação.
6. O que se ouve, porém, com frequência, é que o referido professor foi
quem inventou a expressão risco de morte e a quer impingir à população,
como se fosse ele um ditador da Gramática.
7. O certo, contudo, é que o mencionado gramático tem a seu favor, no
mínimo, quatro aspectos relevantes: a) ao que parece, ele não apontou
erro algum na expressão risco de vida; b) o que ele fez, em verdade, foi
apenas afiançar ser correta a expressão risco de morte; c) e ele está
totalmente certo, quando diz ser correta a expressão risco de morte; d)
por fim, também se acrescenta que não foi ele o inventor dessa expressão
por último referida.
8. Em verdade, em obra publicada há décadas, o sempre lembrado mestre
Napoleão Mendes de Almeida já observava, em defesa da expressão
combatida, que, “se dizemos ‘correr o risco de morrer’, ‘correr o perigo
de morrer’, acertado é também que digamos ‘correr o risco de morte’,
‘correr o perigo de morte’…” (1981, p. 280).
9. Com tais ponderações, que parecem ser de total oportunidade, é possível
afirmar que as duas expressões são vernáculas e corretas, e ambas
trazem o mesmo conteúdo semântico e se equivalem: risco de vida e
risco de morte.
10. Além disso, sem exageradas preocupações de ordem gramatical, em
ambas se pode ver a ocorrência de uma elipse: a) em risco de vida, está
claro que o significado é o risco de (perder a) vida; b) em risco de
morte, não menos certa é a acepção do risco de (encontrar a) morte.
11. Verificando nossa legislação – apenas no que tange aos códigos, sem
busca na legislação esparsa – podem-se afirmar os seguintes aspectos:
a) não parece haver nenhuma referência à expressão risco de morte; b)
foram encontrados apenas três exemplos da expressão risco de vida,
todas elas no recente Código Civil de 2002: i) “Ninguém pode ser
constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou
a intervenção cirúrgica” (CC, art. 15); ii) “Quando algum dos
contraentes estiver em iminente risco de vida, não obtendo a presença
da autoridade à qual incumba presidir o ato, nem a de seu substituto,
poderá o casamento ser celebrado na presença de seis testemunhas,
que com os nubentes não tenham parentesco em linha reta, ou, na
colateral, até segundo grau” (CC, art. 1.540); iii) “O nubente que não
estiver em iminente risco de vida poderá fazer-se representar no
casamento nuncupativo” (CC, art. 1.542, § 2º).
12. Apenas a título de ilustração final, anota-se que essa convivência de
expressões aparentemente opostas, mas com o mesmo conteúdo
semântico, não ocorre apenas em português, já que existem tais
expressões, em mesmos moldes, no inglês (risk of life e risk of death),
no espanhol (riesgo de vida e riesgo de muerte) e no francês (risque de
vie e risque de mort).

Rizotônicas
Ver Formas rizotônicas (P. 361).

Rodapé
Quanto às anotações e citações que vão em tal lugar, ver Obra com dois
autores (P. 512).

Roraima
1. De Arnaldo Niskier (1992, p. 3) é a lição no sentido de que o ditongo
intermediário de tal vocábulo seja pronunciado ãi, e não ái (Rorãima, e
não Roráima).
2. Diversa, entretanto, é a solução apontada por Domingos Paschoal
Cegalla (1999, p. 360): a) “No português do Brasil, em geral, se nasaliza
o ditongo ai, quando seguido de sílaba que começa por m ou n”; b) “Mas
não é pronúncia incorreta proferir Roraima (ái), Jaime, andaime, paina
etc., sem nasalar o ditongo, como a gaita”.
3. Registre-se, por oportuno, todavia, que o Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, órgão incumbido
oficialmente de determinar a existência dos vocábulos em nosso idioma,
além de sua grafia e pronúncia oficiais não registra a palavra Roraima,
em decorrência de ser nome próprio, assim como não aponta pronúncia
alguma para andaime; por outro lado, registra, entre parênteses, ãi como
a pronúncia adequada da sílaba tônica de paina (2009, p. 54 e 610).

Rua Caiubi ou rua Caiubi?


1. Ante as alterações introduzidas em nosso sistema pelo Acordo
Ortográfico de 2008, importa saber se é grafada com maiúscula ou
minúscula a inicial dos nomes de logradouros públicos: Rua Caiubi ou
rua Caiubi, Avenida Paulista ou avenida Paulista, Palácio da Justiça ou
palácio da Justiça?
2. Diz o Acordo Ortográfico de 2008 que á facultativo o uso da inicial
maiúscula ou minúscula em nomes indicativos de logradouros públicos,
de templos, de edifícios, etc. Exs.: Alameda Santos ou alameda Santos,
Arraial do Cabo ou arraial do Cabo, Avenida Paulista ou avenida
Paulista, Beco do Carmo ou beco do Carmo, Edifício Condeixa ou
edifício Condeixa, Estação da Luz ou estação da Luz, Igreja do Bonfim
ou igreja do Bonfim, Lagoa Mirim ou lagoa Mirim, Largo da Liberdade
ou largo da Liberdade, Mar Negro ou mar Negro, Palácio da Justiça ou
palácio da Justiça, Parque do Ibirapuera ou parque do Ibirapuera,
Praça da República ou praça da República, Praia do Flamengo ou
praia do Flamengo, Rua Caiubi ou rua Caiubi, Terreiro de São
Francisco ou terreiro de São Francisco, Travessa do Comércio ou
travessa do Comércio.
3. Não se esqueça, por fim, um lembrete do próprio Acordo Ortográfico:
“As disposições sobre os usos das minúsculas e maiúsculas não obstam a
que obras especializadas observem regras próprias, provindas de códigos
ou normalizações específicas (terminologia antropológica, geológica,
bibliológica, botânica, zoológica, etc.), promanadas de entidades
científicas ou normalizadoras, reconhecidas internacionalmente”. Nessa
lista de entidades, inclui-se, obviamente, a Associação Brasileira de
Normas Técnicas (A.B.N.T.).

Rua tal, número tal


1. Quando se diz que alguém reside na rua tal, número tal, há duas
interpretações plausíveis quanto à função sintática de número tal: a)
pode-se entender como um aposto de especificação com relação a rua
tal; b) podem-se entender ambas as expressões como adjuntos adverbiais
de lugar.
2. Ora, o aposto, em tais circunstâncias, vem separado por vírgulas do
termo que procura explicar.
3. Tal vírgula também se repete quando se acham justapostas expressões
em enumeração, quer adjuntos adverbiais, quer não.
4. Assim, independentemente de qual seja a interpretação sintática dos
termos observados, haverá vírgula na expressão Rua Tal, número tal.
5. Eliasar Rosa, por seu lado, em observação peculiar, que em nada altera a
situação prática de existência do referido sinal, assevera que “esta
vírgula, entre o nome da rua e a abreviatura de número, está substituindo
a palavra casa” (1993, p. 126).

Rubrica
1. Do latim rubrica, de ruber (vermelho), significa assinatura breve ou
firma abreviada, aposição de um visto ou atribuição de autenticidade.
Ex.: “O magistrado apôs sua rubrica nos documentos que remetia
naquela oportunidade”.
2. Nos pergaminhos do Direito antigo, significava tudo o que se escrevia
com tinta vermelha ou rubra; e, como era hábito grafar em vermelho os
títulos ou a inscrição nos livros jurídicos, passou a significar toda
denominação ou intitulação dos mesmos livros, assim como toda
inscrição, epígrafe ou título em que se inscrevem, se tratam ou se
registram certas coisas.
3. Assinalando o cunho etimológico de ruber (vermelho), Antonio
Henriques e Maria Margarida de Andrade (1999, p. 132) anotam que
com essa cor “se escrevia o título nos capítulos do Direito Canônico”,
complementando que “hoje se rubrica com qualquer cor”.
4. Por causa dessa etimologia, na atualidade, “quer exprimir o título, a
inscrição, a epígrafe, em que se anotam certas indicações ou se
inscrevem certas determinações” (DE PLÁCIDO E SILVA, 1989, p.
155).
5. Trata-se, desde o latim e sempre em português, de palavra paroxítona,
não proparoxítona, sendo sua sílaba tônica “bri”, e não “ru”, motivo por
que não há de ser graficamente acentuada (SACCONI, 1979, p. 19).
Rima, assim, com rica e nanica.
6. Aires da Mata Machado Filho (1969h, p. 1.436) lembra que a pronúncia
proparoxítona carece de apoio na etimologia.
7. Esse mesmo modo de localizar a sílaba tônica na palavra é também
observado por Arnaldo Niskier (1992, p. 2) em obra de elevado cunho
prático.
8. E Vasco Botelho de Amaral não destoa desse entendimento: “é evidente
que a pronúncia escorreita exige o acento tônico no i, donde fugiu talvez
por influência analógica das palavras terminadas semelhantemente”,
como súplica.
9. Em adendo, tal autor observa que, “afora o étimo latino rubrica, grave,
determina a tonicidade paroxítona a consideração da palavra como
derivada regressiva de rubricar”; e aduz um terceiro argumento em tal
favor, representado pela circunstância de que “dois terços das palavras
portuguesas são graves” (AMARAL, 1939, p. 87).
10. Espancando eventuais dúvidas remanescentes, também é rubrica (bri) a
grafia apresentada pelo Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa,
da Academia Brasileira de Letras, órgão incumbido oficialmente de
determinar a existência dos vocábulos em nosso idioma, além de sua
grafia e pronúncia oficiais (2009, p. 730).

Ruim
1. É adjetivo que significa aquilo que é inútil, que não tem préstimo, que
não é bom. Ex.: “A situação processual do réu é muito ruim”.
2. Seu comparativo de superioridade é pior e seu superlativo absoluto
sintético é péssimo.
3. Quanto à prosódia, trata-se de palavra oxítona (SACCONI, 1979, p. 19).
4. Pelas regras da língua portuguesa, não tem razão alguma para receber
acento gráfico, conforme preceitua a primeira observação da quarta regra
de acentuação gráfica do Formulário Ortográfico: “não se coloca o
acento agudo no i e no u quando, precedidos de vogal que com eles não
forma ditongo, são seguidos de… m”.
5. Para Eliasar Rosa, “pronuncia-se ruim como rima de assim” (1993, p.
128).
6. Lembra Édison de Oliveira (s/d, p. 100), como estratagema de facilitação
de sua pronúncia, que tal palavra está na mesma linha de dicção do
vocábulo ruína.
7. A pronúncia oxítona de tal vocábulo é também observada por Arnaldo
Niskier (1992, p. 1) em obra de elevado cunho prático.
8. Lembrando que se trata de palavra que rima com Caim, transcreve-se a
lição de José de Nicola e Ernani Terra (2000, p. 197): “Esse adjetivo,
derivado de ruína (coisa destruída, acabada), é dissílabo oxítono. Sua
pronúncia correta é ru-im (o i nasal é a vogal tônica). Não se justifica,
portanto, a pronúncia popular que acentua o u (rúim).
9. Espancando qualquer possibilidade de dúvida, o próprio Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras –
que é o veículo oficial para registrar o modo de pronunciar as palavras
em nosso idioma – em sua edição de 2004 (p. 699), fazia questão de,
entre parênteses, indicar a separação das sílabas, sinalizando para o hiato
e indicando a localização da vogal tônica com um acento gráfico (u-ím).
S
Sair para fora – Pleonasmo?
1. Esta é mais uma daquelas expressões equivocadas e redundantes,
portadora de tautologia, ou pleonasmo vicioso.
2. Sair já significa movimentar-se para o exterior de algo.
3. Diga-se, portanto, tão somente, sair.

Sala dos Passos Perdidos – O que é?


Ver Salão dos Passos Perdidos – O que é? (P. 677)

Salão dos Passos Perdidos – O que é?


1. Em alguns tribunais e repartições, costuma haver salões com tal nome, e
muitos ficam a imaginar qual o real sentido dessa expressão.
2. A alguém que lhe indagava o que isso queria dizer, assim respondia
Cândido de Figueiredo: “Alguém nunca foi pretendente? À mão de sua
caríssima metade, com certeza; a empregos e sinecuras, não sei. Mas se
tiver subido muita vez as escadas das secretarias de Estado, se tiver
perdido a paciência nas antecâmaras dos ministros e das cortes, se tiver
visto a solenidade com que um contínuo responde a um pretendente que
o senhor ministro está a despacho e só recebe depois de seis horas, já
deve saber o que são passos perdidos e botas malbaratadas. Pois a essas
antecâmaras, em que tantas horas e tantos passos se perdem, é que a
sabedoria dos povos, pelo menos em Portugal e em França, chamou sala
dos passos perdidos. Já vê que, junto à Câmara dos Deputados, não
podia deixar de haver uma sala dos passos perdidos. Nunca lá foi? Os
meus parabéns” (1943, p. 152).
3. Com o título O Salão dos Passos Perdidos, há um livro de autoria de
Evandro Lins e Silva, da Editora Nova Fronteira. Também trata do
assunto Maurice Garçon (1963, p. 17), em “O Advogado e a Moral”,
além de Honoré de Balzac (1952, p. 583), o qual, em 1837, já fazia
referência a essa dependência dos palácios.

Salão dos Passos Perdidos ou salão dos Passos Perdidos?


Ver Rua Caiubi ou rua Caiubi? (P. 675)

Salário-mínimo ou Salário mínimo?


1. Um leitor indaga qual a forma correta de escrever: salário-mínimo ou
salário mínimo? Ou seja: com hífen ou sem?
2. Veja-se: o órgão encarregado de definir oficialmente o modo de grafar as
palavras em nosso idioma é a Academia Brasileira de Letras, e ela
exerce essa autoridade por via da edição do Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa.
3. E uma consulta à última edição do VOLP, posterior ao Acordo
Ortográfico de 2008, revela que nele se registra, como modo correto de
escrever, a forma salário-mínimo (2009, p. 736).
4. Acrescenta-se que, em mesmo local, se registram como únicas formas
corretas de escrita, para palavras com o mesmo primeiro elemento da
que aqui se analisa, os vocábulos salário-base, salário-hora, salário-
família e salário-maternidade.
5. Uma última observação é importante e se faz necessária: como o VOLP
(editado que é pela ABL) é a palavra oficial em termos de grafia das
palavras em nosso idioma, é a ele que devemos prestar obediência, de
modo que a solução, na dúvida, é consultá-lo.

Salvante – Existe?
1. Trata-se de preposição empregada no sentido de exceto, senão, com
exceção de, menos. Ex.: “As criadas e o escudeiro já ancião foram
substituídos, salvante Maria Miguel” (Camilo Castelo Branco).
2. Como preposição, manda Napoleão Mendes de Almeida que se deixe
invariável tal palavra exatamente por força de sua categoria. Ex.:
“Salvante os menores…”
3. Para tal autor, que estende a lição para durante e tirante, “flexionar hoje,
com esta função, essas palavras é incorrer em arcaísmo” (ALMEIDA,
1981, p. 314).
4. Por outro lado, embora seja certo que as preposições normalmente rejam
caso oblíquo (sem mim, para mim, contra mim), anota Edmundo Dantès
Nascimento (1982, p. 9) que salvante rege eu e tu, observando tal autor
que a razão desse emprego está em que tal vocábulo não é
originariamente preposição. Ex.: “Salvante eu e tu, os demais se
dobraram àquelas propostas”.

Salvar
1. Em tese, esse verbo é abundante, apresentando salvado e salvo como
particípios passados, aquele regular, este irregular.
2. Para Vitório Bergo, todavia, “os particípios fortes ganho, gasto, pago,
salvo tendem a suplantar as formas em ado, pois que se usam
normalmente com os dois tipos de auxiliares” (1943, p. 182).
3. Otelo Reis, todavia, insere-o na relação dos verbos da primeira
conjugação “em que subsistem os dois particípios” (1971, p. 90).
4. E Domingos Paschoal Cegalla é ainda mais categórico nesse último
sentido: a) “Emprega-se o particípio regular salvado com os verbos ter e
haver nos tempos compostos da voz ativa: O bombeiro tinha (ou havia)
salvado muitas vidas”; b) “O particípio irregular salvo se usa com o
verbo ser, na voz passiva: O menino foi salvo pelo pai” (1999, p. 363).
Ver Salve! (P. 678), Salvo (P. 678) e Verbos abundantes (P. 759).

Salve!
1. Silveira Bueno, partindo do exemplo “Salvem os heróis!” – que, segundo
ele, equivale à frase optativa “Que os heróis sejam saudados”, até
porque salve está aqui com o sentido de saudar –, anota que, sendo
salvem um verbo, deve ele ir para o plural.
2. E justifica que, em latim, uma era a forma para o singular (salve) e outra
para o plural (salvete); assim: “Salve, puer!”; “Salvete, pueri!”
(BUENO, 1957, p. 459).
3. Na lição do Padre José F. Stringari, contudo, “o termo salve, embora seja
verbo em sua origem, é hoje interjeição pura”, motivo por que “não se
flexiona”.
4. E exemplifica com excertos dos mais autorizados escritores
(STRINGARI, 1961, p. 73): a) “Salve, florestas virgens!” (Fagundes
Varela); b) “Salve, florinhas símplices!” (Antônio Feliciano de Castilho).
5. Sousa e Silva reitera-lhe o caráter de interjeição (e, portanto, de palavra
invariável), transcrevendo significativo exemplo de Rui Barbosa: “Salve,
bravos jangadeiros do Norte; sede bem-vindos às nossas praias”.
6. E, por sua própria condição de interjeição, empregada quase sempre com
expressão vocativa, complementa tal gramático que não tem, pois,
cabimento o artigo que muitos lhe associam (SILVA, A., 1958, p. 260-1):
“Salve, Mestre!” (e nunca “Salve o Mestre”).
7. O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia
Brasileira de Letras, que é o veículo oficial para dirimir dúvidas acerca
da categoria gramatical a que pertencem os vocábulos de nosso idioma,
confirma-lhe, para o que aqui interessa, a natureza de interjeição, o que
lhe define a própria invariabilidade (2009, p. 738).
Ver Salvar (P. 678), Salvo (P. 678) e Viva os brasileiros! ou Vivam os
brasileiros!? (P. 784)

Salvo
1. Um primeiro aspecto a ser esclarecido concerne a saber se o correto é
dizer salvo o caso ou salvo no caso, isto é, se se usa ou não a preposição
após tal palavra.
2. Por um lado, diferentemente de exceto, a palavra salvo aí – embora sua
origem primeira seja o particípio passado irregular do verbo salvar – é
preposição, e a preposição, em nosso idioma, vem imediatamente
acompanhada pela palavra por ela regida, sem interposição de nenhuma
outra partícula de ligação, razão pela qual, em princípio, seria correto
dizer “Salvo o caso de doença, as faltas serão descontadas”, e seria
incorreto dizer “Salvo no caso de doença, as faltas serão descontadas”.
3. Lembra, todavia, José de Sá Nunes que, à semelhança de exceto, “é certo
que nos melhores padrões da vernaculidade se nos depara o emprego de
salvo seguido de preposição, fazendo o papel de puro advérbio de
exclusão. E a razão disso é que… uma palavra substantiva ligada a outra
por uma partícula excetiva deve estar na forma correspondente à função
que exerce a palavra a que se liga” (1938, p. 117-8). Exs.: a) “… não se
pinta ordinariamente o acento, salvo nos casos em que só o acento
distingue palavras escritas com as mesmas letras” (Mário Barreto); b)
“Ela o sentira e escondera sempre de todos, salvo de seu pai” (Camilo
Castelo Branco).
4. Num segundo aspecto, inserindo-se tal vocábulo no rol dos “adjetivos
usados eventualmente como preposição” (PEREIRA, 1924, p. 153), para
o magistério de Napoleão Mendes de Almeida (1981, p. 284), trata-se de
palavra invariável, que não acompanha a flexão da palavra que a segue,
mesmo que esta seja feminina ou plural. Exs.: a) “Salvo as hipóteses de
doença ou morte na família, as faltas serão descontadas” (correto); b)
“Salvas as hipóteses de doença ou morte na família, as faltas serão
descontadas” (errado).
5. Esclarece José de Sá Nunes, nesse sentido, que, a exemplo do que ocorre
com a palavra exceto, na atualidade, o emprego normal tem sido a forma
invariável, já que salvo “se não emprega hoje como particípio passado, e
sim como preposição” (1938, p. 117).
6. Já Sousa e Silva (1958, p. 263) lembra, por um lado, que tal palavra
“fica geralmente invariável em nossos dias”; por outro lado, ressalva que
“um ou outro escritor ainda emprega, às vezes, as formas flexionadas”.
7. Heráclito Graça, por primeiro, traz lição de Cândido de Figueiredo –
para depois contrariá-la – no sentido de que salvo é preposição, e seria
erro crasso flexionar tal vocábulo, para fazê-lo concordar com o
substantivo, como se fosse adjetivo.
8. Em seguida, entende o primeiro gramático ser absolutamente
insustentável essa opinião de privar tal adjetivo do direito de exprimir a
ideia que lhe é própria e ao mesmo tempo idêntica à da preposição em
que se converte.
9. E resume ele seu posicionamento, em lição que abrange salvo e exceto:
“Tão correta é a sintaxe com qualquer dos referidos adjetivos
concordando com o substantivo, como com qualquer deles tornado
preposição. Vale o mesmo dizer: ‘Tudo lhe é indiferente, excetas as
mulheres’…e ‘Tudo lhe é indiferente, exceto as mulheres’”.
10. E cita tal autor, apenas em Alexandre Herculano, três exemplos de uso
de salvo como adjetivo, variando de acordo com o substantivo
modificado: a) “Os árabes viram dentro em pouco os homens hispano-
godos irem-se amoldando aos seus hábitos e ideias, salvas as crenças
religiosas, última coisa que as nações abandonam”; b) “… salva a
diferença de limites…”; c) “… salvas aquelas quatro regalias…”
(GRAÇA, 1904, p. 282-7).
11. Laudelino Freire (1937b, p. 101), sem explicações adicionais,
aconselha o emprego de tal vocábulo como adjetivo, fundando-se em
exemplos clássicos: a) “Salvos os casos de necessidade, ou utilidade, e
boa adaptação vernácula, voto contra o neologismo” (Rui Barbosa); b)
“Salvas as alterações transitórias…” (Alexandre Herculano).
12. Em outra obra, o mesmo autor defende a duplicidade de emprego de
salvo – ora variável, ora invariável – asseverando com autoridade que
tal vocábulo “é de uso vulgar como preposição, mas também
empregado como adjetivo”, alinhando exemplos de autores abalizados
(FREIRE, 1937a, p. 97): a) “… matando todos os primogênitos, salvas
somente as casas dos israelitas” (Padre Manuel Bernardes); b) “… os
limites boreais e austrais de Portugal eram os mesmos…, salvas as
alterações transitórias” (Alexandre Herculano); c) “… o amor, salvas
as legítimas consequências do matrimônio, nunca pode ser ato sério”
(Camilo Castelo Branco).
13. Em mesma esteira, lembra, por um lado, Artur de Almeida Torres que
“as palavras exceto e salvo, consideradas outrora preposições
acidentais, e hoje como palavras denotativas de exclusão, empregam-se
geralmente como invariáveis, no uso atual da língua”.
14. Por outro lado, acrescenta tal autor que “entre os clássicos… era
comum fazer-se a concordância delas com o substantivo seguinte, o
mesmo se verificando entre alguns escritores eruditos de hoje”
(TORRES, 1966, p. 133).
15. A possibilidade de uso de ambas as construções emerge, de igual
modo, da lição de Carlos Góis, o qual, após defender a invariabilidade
de vocábulos dessa natureza, em virtude de seu aspecto de preposição
acidental, acrescenta, entretanto, que eles, “no estilo enfático, na língua
enérgica e incisiva, reassumem a forma originária de adjetivos
participiais, e, como tal, variam” (1943, p. 206).
16. Segundo lição de Evanildo Bechara, palavras desse porte são formas
verbais de particípio, que “passaram a ter emprego equivalente a
preposição e advérbio… e, como tais, normalmente devem aparecer
invariáveis”.
17. Acrescentando, contudo, que não se perdeu de todo a consciência de
seu antigo valor, adiciona que muitos escritores procedem à
concordância regular, e invoca lição de Epifânio Dias, para quem
flexionar um tal vocábulo “é expressar-se na verdade com correção
gramatical, mas de modo desusado” (BECHARA, 1974, p. 302).
18. Doutrina João Ribeiro que “as preposições muitas vezes derivam de
particípios que se tornam momentaneamente invariáveis: salvo, exceto,
durante etc.”
19. Em continuação, entretanto, complementa que se pode, contudo,
“dizer: ‘salvos os motivos’, ‘excetas as razões’”.
20. E arrola diversos exemplos de concordância de tais palavras com os
substantivos a que se referem, retirados de Rui Barbosa, de Vieira e de
Bernardes, contrariando, assim, lição de Cândido de Figueiredo, que
recusa foros de correção vernácula a construções dessa natureza
(RIBEIRO, João, 1923, p. 205).
21. Nos textos de lei, tal vocábulo às vezes vem invariável, às vezes
variável: a) “… O produto do seu trabalho assim auferido e os bens
com ele adquiridos constituem, salvo estipulação diversa em pacto
antenupcial, bens reservados…” (CC/1916, art. 246, 2ª parte, em
redação não repetida pelo CC/2002); b) “… salvo comprovada má-
fé…” (Lei 7.347, de 24/7/85, art. 18); c) “O locatário é obrigado: … IV
– a restituir a coisa, finda a locação, no estado em que a recebeu,
salvas as deteriorações naturais ao uso regular” (CC, art. 569, IV,
repetindo a redação do CC/1916, art. 1.192, IV).
22. Em abono dessa duplicidade de construções, é de se ver que, por um
lado, no art. 1.189, I, do Projeto do Código Civil, constava a estrutura
invariável “salvo cláusula expressa em contrário”, estrutura essa que
não mereceu questionamento algum de Rui Barbosa (1949, p. 329-30);
por outro lado, o art. 1.193, IV, do Projeto, apresentava o vocábulo com
flexão em regular concordância com o substantivo, o que também não
foi alvo de objeção alguma do ilustre erudito, de modo que assim se
cristalizou o art. 1.192, IV, do Código Civil de 1916: o locatário é
obrigado “a restituir a coisa… salvas as deteriorações naturais”.
23. Ante a divergência entre os conhecedores da Gramática, guardando
fidelidade ao vetusto princípio de que, na divergência, deve-se conferir
liberdade ao usuário, vê-se que estão autorizadas ambas as construções:
a) deixar invariável o vocábulo salvo em tais construções, realçando-
lhe o caráter de preposição; b) flexioná-lo normalmente, como se dá
com todo adjetivo, em regular concordância com o substantivo a que se
refere.
24. Adverte, por fim, Celso Cunha, apegado ao aspecto de preposição
acidental, que, depois de tal palavra, empregam-se as formas eu e tu,
jamais mim ou ti. Ex.: “Todos, salvo eu, sustentam tese contrária”
(1970, p. 147).
25. Nesse mesmo aspecto, para Edmundo Dantès Nascimento (1982, p. 9),
essa palavra, com função de preposição, rege eu e tu, observando tal
autor que a razão desse emprego está em que o mencionado vocábulo
não é originariamente preposição.
Ver Salvar (P. 678) e Salve! (P. 678)

Sanar ou Sanear?
1. Uma leitora indaga qual a forma correta de expressão: sanar as falhas
apontadas ou sanear as falhas apontadas?
2. Em realidade, existem em português ambos os verbos, sanar e sanear, o
primeiro, nascido ainda no latim, do verbo sanare, e o segundo já
formado em português, do radical san mais o sufixo ear (originariamente
iar).
3. Uma consulta aos nossos mais conhecidos dicionaristas da atualidade –
Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (2010, p. 1.884) e Antônio Houaiss
(2001, p. 2.508-9) – revela que, de um modo geral, têm ambos um
núcleo semântico comum; a) para sanar, conferem a acepção de curar,
sarar, tornar são, reparar, obstar e desfazer; b) para sanear, os
significados conferidos são curar, sarar, tornar são, reparar, coibir,
remediar e limpar.
4. Para sanar, mencionam tais dicionaristas as seguintes expressões: a)
sanar um enfermo; b) sanar uma injustiça; c) sanar um mal; d) sanar um
desequilíbrio fiscal; e) sanar um problema de desenvolvimento.
5. Já para sanear, conferem eles os seguintes exemplos: a) sanear os
pântanos; b) sanear as valas negras; c) sanear a população atingida
pela epidemia; d) sanear uma injustiça; e) sanear a corrupção; f) sanear
as finanças públicas; g) sanear os erros da administração anterior.
6. Da própria comparação entre os exemplos dados, vê-se, num primeiro
aspecto, que uma mesma acepção foi conferida, em um dos casos, para
ambos os verbos: sanar uma injustiça ou sanear uma injustiça.
7. Num segundo aspecto, vê-se que ora se empregou um verbo, ora se
empregou outro para expressões que podem ser tidas como sinônimas,
similares e intercambiáveis: sanar o desequilíbrio fiscal e sanear as
finanças públicas; sanar um mal e sanear a corrupção; sanar um
enfermo e sanear a população atingida pela epidemia. E o contexto
mostra que nada impediria fossem trocados tais verbos, sem perda ou
alteração de significado.
8. E, assim, em resposta específica à indagação da leitora, podem-se fazer
as seguintes afirmações: a) por um lado, talvez haja uma ou outra
expressão consagrada no idioma, em que esteja cristalizado emprego de
sanar ou de sanear; b) dificilmente, entretanto, se verá algum exemplo
em que ambos os verbos não possam ser tidos como sinônimos e
intercambiáveis; c) e, de modo específico para os exemplos trazidos para
análise, pode-se afirmar com segurança que é optativo o emprego de
qualquer deles: sanar as falhas apontadas ou sanear as falhas
apontadas.

Sanguíneo – O u é pronunciado ou não?


1. Em palavras como liquidação, liquidar, líquido, liquidificador,
sanguinário, sanguíneo, o u é ou não pronunciado, conforme a região do
Brasil.
2. O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia
Brasileira de Letras, que é o veículo oficial para dirimir dúvidas a
respeito dos vocábulos em nosso idioma, registra a dupla pronúncia, de
modo que ambas encontram-se autorizadas. (VOLP, 2009, p. 739)

Santo Agostinho ou santo Agostinho?


Ver Doutor Saulo Ramos ou doutor Saulo Ramos? (P. 294)

Sargenta – Existe?
Ver Capitã, Capitoa ou A Capitão? (P. 168) e Poeta – Qual o feminino? (P.
570)

Seção, Secção, Sessão ou Cessão?


Ver Cessão, Seção, Secção ou Sessão? (P. 177)

Secção, Sessão, Cessão ou Seção?


Ver Cessão, Seção, Secção ou Sessão? (P. 177)

Secretaria de Educação ou Secretaria da Educação?


1. Uma leitora diz que sempre teve dúvida: usar ou não usar o artigo
definido o e a: assim, Secretaria da Educação ou Secretaria de
Educação?; Uso do pronome pessoal ou Uso de pronome pessoal?
2. Num primeiro aspecto, veja-se que o artigo definido (o, a, os e as) serve
para identificar, de modo claro, o ser que está sendo referido: a) “Os
alunos estão atrasados”; b) “As portas desta casa foram pintadas”.
3. Contrapõe-se ele ao artigo indefinido (um, uma, uns e umas), e é fácil
perceber a diferença entre ambos: a) “Ele foi acusado do crime”
(acusação precisa); b) “Ele foi acusado de um crime” (acusação vaga).
4. A principal diferença entre a presença e a ausência do artigo definido é
que sua presença normalmente indica a real extensão do significado da
palavra que lhe vem logo após, enquanto sua ausência a deixa
indeterminada: a) “Ele foi acusado do crime” (acusação precisa); b) “Ele
foi acusado de crime” (acusação vaga).
5. Em alguns casos, entretanto, sua presença ou ausência não fazem
diferença: a) “Pobreza não é vileza”; b) “A pobreza não é vileza”; c)
“Cão que ladra não morde”; d) “O cão que ladra não morde”.
6. E, quando se trata de nomes próprios de pessoas, o emprego do artigo
cerca o tratamento de uma atmosfera mais afetiva e familiar, enquanto
sua ausência impregna a fala de uma certa formalidade: a) “Vou falar
com o Olavo” (demonstração de intimidade e informalidade); b) “Vou
falar com Olavo” (demonstração de distanciamento e formalidade).
7. De modo prático para a consulta, o certo é que, em ambos os casos
trazidos pela leitora, a presença ou ausência do artigo definido não
fazem diferença, de modo que o sentido acaba sendo o mesmo: a) “Uso
de pronome pessoal”; b) “Uso do pronome pessoal”; c) “Secretaria de
Educação”; d) “Secretaria da Educação”.
8. E, no que concerne à última das expressões referidas, uma verificação no
que ocorre de fato em nosso País explicita essa coincidência de sentidos
demonstrada pela presença ou pela ausência de artigo nesses casos: a)
Ministério da Educação; b) Secretaria de Educação de Minas Gerais; c)
Secretaria da Educação do Estado de São Paulo; d) Secretaria de
Educação do Distrito Federal.

Secretário-geral ou Secretário geral?


Ver Controlador-geral ou Controlador geral? (P. 230)

Século – Como ler seu número?


Ver Números – Como ler e Empregar? (P. 506)

Sede
Ver Em sede de – Estrangeirismo? (P. 315)

Sedizente – Galicismo?
1. Encontra-se, em um ou outro autor nacional, a palavra sedizente,
tradução literal do francês soi-disant. Ex.: “O sedizente proprietário
pode, muito bem, não exercer o efetivo domínio sobre a coisa”.
2. É forte a censura de José de Sá Nunes contra o uso de tal palavra, a qual
assevera não haver logrado, até agora, “entrar em obra de escritor que
sabe a sua língua”.
3. E tal autor busca dar a causa dessa ocorrência: “Porque,
irredarguivelmente, só emprega neologices que tais quem não conhece
os maravilhosos recursos do nosso opulentíssimo idioma. Aquele que
tem vasta leitura dos clássicos e dos bons autores modernos não carece
de lançar mão de neologismos destrambelhados, feitos a machado e a
martelo, sem respeito às leis etimológicas e fonéticas, e sem obediência
aos mais comezinhos princípios da analogia e das regras de derivação
portuguesa” (NUNES, 1938, p. 223).
4. Para espancar eventuais dúvidas, anota-se que o Vocabulário Ortográfico
da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, que é o veículo
oficial para registrar as palavras existentes em nosso idioma, não a
registra, o que significa que seu uso não está autorizado entre nós, em
textos que devam submeter-se à norma culta.
5. Quanto a soi-disant, trata-se de galicismo a ser facilmente evitado, já
que, mesmo não tendo tradução ou equivalência gráfica em vernáculo,
pode, conforme o caso, ser substituído por um sinônimo: autointitulado,
falso, inculcado, pretenso, suposto…

Se eu vir ou Se eu vier?
1. A questão precisa ser analisada do ponto de vista da conjugação verbal.
2. Por primeiro, se se pensa no verbo vir, o futuro do subjuntivo é se eu
vier, se tu vieres, se ele vier, se nós viermos, se vós vierdes, se eles
vierem. Exs.: a) “Se eu vier de São Paulo em tempo, irei à solenidade”;
b) “Se nós viermos de São Paulo no mesmo voo, eu lhe darei uma
carona do aeroporto até sua casa”.
3. É muito importante tal distinção, pois seguem a conjugação de vir toda
uma série de compostos: advir, convir, desavir-se, intervir, provir,
reconvir, sobrevir.
4. Porém, se se pensa no verbo ver, o futuro do subjuntivo, então, é se eu
vir, se tu vires, se ele vir, se nós virmos, se vós virdes, se eles virem.
Exs.: a) “Se eu vir o responsável, direi a ele que você chegou”; b) “Se
nós virmos o responsável, diremos a ele que você chegou”. Evite-se,
portanto, a forma errônea bastante comum: “Se eu ver o responsável,
direi a ele que você chegou”.
5. Também aqui é muito importante a distinção, pois seguem a conjugação
de ver toda outra série de compostos: antever, entrever, prever, rever.
Conferir Ver – Como conjugar? (P. 764) e Vir (P. 770).

Se evadiu ou Evadiu-se?
1. Um leitor, dizendo-se policial, diz ter dúvidas sobre uma das frases mais
usadas pela polícia: “O meliante evadiu-se”. E indaga qual das formas é
correta: a) “O meliante evadiu”; b) “O meliante evadiu-se”; c) “O
meliante se evadiu”?
2. Uma atenta leitura dos exemplos trazidos pelo leitor mostra que ele, em
realidade, tem duas dúvidas: a) se o verbo evadir é pronominal (evadir-
se) ou não (evadir); b) em sendo pronominal, se o pronome pessoal
oblíquo átono vem antes do verbo ou depois do verbo.
3. Quanto à primeira dúvida, Francisco Fernandes, com base em exemplos
de abalizados escritores, confere a esse verbo, no sentido de escapar ou
fugir às ocultas, apenas a construção como pronominal, isto é,
acompanhado do pronome se (1971, p. 332). Celso Pedro Luft segue
exatamente em mesma esteira (1999b, p. 286). Confiram-se, assim: a)
“O meliante evadiu-se” (correto); b) “O meliante evadiu” (errado). Não
há necessidade de prolongar as discussões quanto a isso.
4. Quanto à segunda dúvida, referente à colocação do pronome, importa
observar, de início, que, em tese, um pronome pessoal oblíquo átono
pode-se colocar em três posições na frase: a) antes do verbo, ou seja, em
próclise (“Não me amole!”); b) no meio do verbo, ou seja, em mesóclise
(“Dir-se-á que não trabalhamos”); c) após o verbo, ou seja, em ênclise
(“Deram-me notícia falsa”).
5. E, ainda antes de discutir o mérito da questão, em raciocínio que sempre
deve ser repetido em tais circunstâncias, observam-se os seguintes
aspectos no exemplo dado: a) o verbo é evadir-se; b) o pronome, cuja
colocação está sendo discutida, é o se; c) o verbo está num tempo
simples (ou seja, não é composto, nem é locução verbal, o que
acarretaria observações um pouco diversas); d) o verbo não está no
futuro do presente, nem no futuro do pretérito (de modo que se descarta
totalmente a possibilidade de ocorrência de mesóclise), e, assim, restam,
na prática, apenas as possibilidades de próclise (pronome antes do verbo)
e de ênclise (pronome após o verbo).
6. Com essas premissas, deve-se atentar aos seguintes aspectos: a) o lugar
natural do pronome, nesses casos, é em ênclise; b) esse pronome apenas
é atraído, em próclise obrigatória, quando há, logo antes do verbo,
alguma das chamadas palavras atrativas; c) as palavras atrativas são (i)
as negativas, (ii) os advérbios, (iii) os pronomes relativos, (iv) os
pronomes indefinidos e (v) as conjunções subordinativas; d) no caso sob
análise, meliante é um substantivo e não se encaixa em nenhuma dessas
categorias; e) se é assim, conclui-se que não há palavra atrativa alguma;
f) então não há motivo para a próclise obrigatória, e a colocação natural
do pronome é em ênclise.
7. Tecem-se algumas ponderações adicionais: a) o sujeito é meliante, e o
verbo é evadiu-se; b) não há palavra atrativa logo antes do verbo; c) o
exemplo está na ordem direta (sujeito + verbo + complemento); d)
quando se tem essa duplicidade de condições – exemplo na ordem direta
e ausência de palavra atrativa antes do verbo – , então, além da ênclise,
também se faculta o uso do pronome em próclise.
8. Com essas considerações, responde-se ao leitor de modo direto e prático:
a) quanto à primeira dúvida, o verbo evadir-se, no sentido de escapar ou
fugir às ocultas, é pronominal, de modo que deve vir obrigatoriamente
acompanhado pelo pronome; b) desse modo, é correto o primeiro
exemplo (“O meliante evadiu-se”), mas errado o segundo (“O meliante
evadiu”); c) quanto ao segundo exemplo, por não haver palavra atrativa
antes do verbo, o lugar natural do pronome é após o verbo, em ênclise
(“O meliante evadiu-se”); d) se houvesse palavra atrativa antes do verbo,
seria obrigatória a próclise (“O meliante não se evadiu”); e) em mesma
esteira, porque não há palavra atrativa antes do verbo e porque o
exemplo está na ordem direta, também é correta a colocação do pronome
antes do verbo, em próclise (“O meliante se evadiu”).
9. Por facilidade, confiram-se os exemplos seguintes, com a indicação de
seu acerto ou erronia entre parênteses: a) “O meliante evadiu” (errado);
b) “O meliante se evadiu” (correto); c) “O meliante evadiu-se” (correto);
f) “O meliante não se evadiu” (correto); e) “O meliante não evadiu-se”
(errado).
10. Vale acrescer que, em casos como o trazido pelo leitor, de emprego
facultativo da ênclise ou da próclise, a ênclise é mais usada em
Portugal; no Brasil, a preferência é pela próclise.

Segue embargos ou Seguem embargos?


1. Importa saber qual dos dois exemplos está gramaticalmente correto: a)
“Segue embargos…”; b) “Seguem embargos…”?
2. Ora, chama-se concordância verbal à harmonização do verbo com o seu
sujeito, o que se dá em número (singular ou plural) e pessoa (primeira,
segunda ou terceira).
3. Saiba-se, assim, por primeiro, que, conforme sustenta Carlos Góis (1943,
p. 25), o verbo (denominado palavra regida ou subordinada) acomoda-se
à flexão do sujeito (denominado palavra regente ou subordinante).
4. E também se saiba que se o sujeito é simples, a concordância se faz em
número e pessoa com o núcleo do sujeito. Exs.: a) “Eu encontrei o
livro”; b) “Os rebeldes saíram às ruas”; c) “A pintura dos três prédios
exigiu dois meses”; d) “Aconteceram, por aqui, casos interessantes”; e)
“Os consertos do edifício demoraram mais do que o previsto”.
5. Muitas vezes, sobretudo porque o sujeito vem posposto ao verbo, ou dele
distante, ou mesmo porque se acoplam adjuntos no plural a um núcleo de
sujeito no singular, esquecem-se equivocadamente alguns de proceder à
regular concordância, como se dá até mesmo com textos de lei.
6. E equívocos dessa natureza ocorrem até mesmo em dispositivos de lei.
Assim, por exemplo: “Prescrevem em 6 (seis) meses, contados da
expiração do prazo de apresentação, a ação que o art. 47 desta lei
assegura ao portador” (art. 59 do Decreto-Lei 7.357, de 2/9/85, que
dispôs sobre o cheque e deu outras providências). Corrija-se o texto
para: Prescreve… a ação (porque, na ordem direta, a ação prescreve).
7. Em mesma esteira: “A existência de ônus fiscais ou reais, salvo os
impeditivos de alienação, não impedem o registro, que será feito com as
devidas ressalvas…” (art. 32, § 50, da Lei 4.591, de 16/12/64, que
regulou o condomínio e as incorporações imobiliárias). Proceda-se à
seguinte correção: “A existência… não impede o registro…”
8. Ante as ponderações feitas nestes comentários, se a dúvida reside em
saber qual dos dois exemplos está correto – “Segue embargos…” ou
“Seguem embargos…” –, tenha-se a certeza: seguem, porque
“embargos” (uma palavra que exige verbo no plural) é o sujeito.
9. E não cabe objetar com o argumento de que o sentido seria “Segue
petição de embargos…” Se se apresentar essa nova oração, ainda que se
tenha o mesmo sentido, a realidade gramatical e sintática há de ser outra:
em vez de “embargos”, “petição” (palavra do singular) passará a ser o
núcleo do sujeito e exigirá a concordância do verbo no singular.
10. Veja-se, assim, a forma correta dos seguintes exemplos: a) “Seguem
embargos”; b) “Segue petição de embargos”.

Seguir
1. Tendo o grupo gu, neste caso, a exclusiva finalidade de conferir ao g seu
som original antes de e e de i, os verbos em guir (quando o u não é
proferido) perdem o u antes de a e de o. Assim: sigo, segues, seguimos,
sigamos.
2. Seguem o mesmo modelo todos os verbos terminados em guir, desde
que o u não seja pronunciado (conseguir, distinguir, extinguir,
perseguir, prosseguir).
3. A propósito, Carlos Góis e Herbert Palhano (1963, p. 113) lembram,
com propriedade, que, dos verbos terminados em guir, apenas arguir e
redarguir têm o u pronunciado.

Segunda-feira ou segundafeira?
1. Um leitor indaga qual das formas é correta: segunda-feira ou
segundafeira? E justifica sua dúvida com a explicação de que, pelas
novas regras do Acordo Ortográfico de 2008, não se usa mais o hífen
quando o primeiro elemento termina por vogal, e o segundo começa com
outra consoante que não seja h.
2. Em realidade, a dúvida do leitor resulta do fato de que ele se equivocou
ao tomar uma regra de uso do hífen nos prefixos e tentou aplicá-la à
formação dos substantivos compostos.
3. Nos prefixos, sim, existe uma regra segundo a qual não mais se emprega
o hífen, se o prefixo termina por vogal e o elemento que vem após ele se
inicia por consoante que não seja h. Assim, antedatar, contrapor,
seminovo.
4. Mas com os substantivos compostos, as regras são diferentes, e existe
uma determinação específica do Acordo Ortográfico para emprego do
hífen nas palavras compostas por justaposição, que contenham um
elemento numeral, e que constituam uma unidade semântica. É
exatamente o caso de segunda-feira e dos demais dias da semana com
mesma estrutura: terça-feira, quarta-feira, quinta-feira e sexta-feira.
5. É na forma segunda-feira que o vocábulo aparece no Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de
Letras, que é quem detém a autoridade para dizer oficialmente como se
grafam os vocábulos do nosso idioma (2009, p. 746).
6. Apenas para complementar com informação importante, seu plural é
segundas-feiras.

Segundo o qual – É correto?


1. Um leitor indaga se é correto o emprego da expressão “segundo o qual”
na seguinte frase: “O STF firmou o entendimento segundo o qual o
parlamentar infiel perderá o mandato para o partido”.
2. Fixem-se, de início, duas premissas importantes: a) se funciona como
complemento, o pronome relativo depende totalmente da regência do
verbo ao qual se liga; b) se vai haver ou não preposição antes de tal
pronome, ou qual vai ser essa preposição, tudo depende do verbo que
está sendo completado por ele. Exs.: i) “Editou-se uma lei em que
acreditamos, com que simpatizamos e por que lutamos” (acreditar em,
simpatizar com e lutar por); ii) “Fazer da aplicação da lei a arte de
distribuir justiça é o ideal a que aspiramos e em que comprazemos”
(aspirar a e comprazer em).
3. Se, em vez de que, se põe qual no lugar, então podem surgir questões
adicionais atinentes também à concordância nominal: a) “Editou-se um
provimento no qual acreditamos”; b) “Editou-se uma lei na qual
acreditamos”; c) “Editaram-se provimentos nos quais acreditamos”; d)
“Editaram-se leis nas quais acreditamos”.
4. Ora, no caso trazido para análise, segundo é preposição, e qual é
pronome relativo que tem como antecedente a palavra entendimento.
Vejam-se, então, as formações diversas que se podem fazer, todas
corretas: a) “O STF firmou o entendimento segundo o qual…”; b) “O
STF firmou a tese segundo a qual…”; c) “O STF firmou entendimentos
segundo os quais…”; d) “O STF firmou teses segundo as quais…”
5. Acresce dizer, por um lado, que, a par de ser correta a estruturação
trazida para análise, o exemplo do leitor poderia ter também a seguinte
forma igualmente correta: “O STF firmou o entendimento de que o
parlamentar infiel perderá o mandato para o partido”.
6. Por outro lado, não há como ver erro no exemplo por ele trazido, até
porque Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 368), ao lecionar que se
deve dizer, em casos por ele apontados, “segundo o qual, e não segundo
quem”, traz exatamente os seguintes exemplos comprobatórios da boa
estruturação sintática: a) “O filósofo grego Aristóteles, segundo o qual o
homem é um animal político, aborda em sua obra todos os ramos do
saber”; b) “Discordo desses historiadores, segundo os quais o
descobrimento do Brasil ocorreu por acaso”.

Segundos e terceiros – É possível?


1. Quando se indaga se é possível uma expressão como “segundos e
terceiros”, vale transcrever a lição de Vitório Bergo: “É comum a
pluralização dos ordinais primeiro e último, que a admitem, este por não
ser numeral e sim indefinido, aquele por lhe ser análogo, como extremo
de uma série. Todavia, embora de raro em raro, também se encontram os
outros numerais ordinais com flexão numérica, indicando série de
grupos”.
2. E refere tal gramático exemplo de Machado de Assis: “Os minutos iam
correndo, com a mesma brevidade dos anos; os primeiros cinco e os
segundos iam longe; estavam no décimo terceiro, atrás deste iam
apontando as asas de outro, e mais outro” (BERGO, 1944, p. 213).
3. Nesse exato sentido, em sua redação ainda original, está o art. 381 do
Código Civil de 1916: “O desquite não altera as relações entre pais e
filhos senão quanto ao direito, que aos primeiros cabe, de terem em sua
companhia os segundos”.
Ver Números – Como ler e Empregar? (P. 506)

Sejam… sejam
Ver Seja… seja (P. 684).

Seja… seja
1. É vocábulo que pode ser usado em repetição, como conjunção
coordenativa alternativa. Ex.: “Seja réu, seja autor, todos são credores
de igual tratamento na estrutura do processo civil”.
2. Em tal caso, talvez pela própria categoria gramatical a que pertence (é
conjunção e não verbo), Gladstone Chaves de Melo a trata como palavra
invariável, não importando que venha seguida de termo no plural, como
se pode ver da seguinte passagem: “Para classificar corretamente as
conjunções, seja as coordenativas, seja as subordinativas, é necessário
sempre raciocinar” (1970, p. 175).
3. Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 368) também afirma ser ela
palavra invariável. Ex.: a) “A abundância é o estado de fartura e riqueza
que possibilitaria a plena satisfação de todas as necessidades
econômicas, seja as de bens de consumo, seja as de serviços” (Paulo
Sandroni); b) “… seja um leitor, um cômico, um tocador de lira, seja os
três ao mesmo tempo” (Maria José de Queirós).
4. Já Rui Barbosa, por seu lado, leva em conta a forma verbal e faz a
concordância regular do vocábulo, como se vê no seguinte trecho de
seus Comentários à Constituição Federal Brasileira: “Sejam várias,
sejam muitas, ou seja uma só espécie, … tudo é um…” (BARBOSA
apud MENDES NETO, 1949, p. 64-5).
5. Ante a divergência entre autoridades da língua, deve-se aplicar o
princípio da liberdade de emprego, de modo que se hão de considerar
corretas ambas as estruturas.
Ver Ou seja (P. 538).
Seje – Está correto?
1. Trata-se de forma verbal que não existe, muito embora de uso bastante
como, assim como outra igualmente errada, que é esteje, entre pessoas
de menor cultura.
2. É correta apenas a grafia seja.
3. Não confundi-la com sua parônima sege com e aberto (sége), substantivo
que significa coche, carruagem.
Ver Ser (P. 693).

Se me não falha a memória ou Se não me falha a memória?


1. Aspecto específico do estudo da colocação dos pronomes merece ser
realçado, com a observação primeira de que determinadas palavras, se
existentes antes do verbo, atraem o pronome pessoal oblíquo átono,
obrigando a ocorrência do que se denomina próclise. São elas: as de
valor negativo, os advérbios, os pronomes relativos, os pronomes
indefinidos e as conjunções subordinativas.
2. Especifiquem-se com exemplos: a) “Não lhe importavam as calúnias
assacadas” (palavra negativa); b) “Hoje a encontrei de novo”
(advérbio); c) “O argumento que o convenceu foi o último mencionado”
(pronome relativo); d) “Alguém o convenceu” (pronome indefinido); e)
“Quando o encontrou, fugiu” (conjunção subordinativa).
3. Ora, quando se juntam duas dessas palavras atrativas antes de verbo,
sendo usualmente a segunda de valor negativo, o pronome átono pode
vir logo após qualquer uma delas. Exs.: a) “Se não me falha a
memória…” (correto); b) “Se me não falha a memória…” (correto).
4. Essa construção, tecnicamente, recebe o nome de apossínclise
(SACCONI, 1979, p. 230) e constitui um idiotismo arcaico (lembre-se
que idiotismo não é idiotice, mas peculiaridade própria da língua), que
ainda sobrevive, ainda hoje, em construções elegantes da norma culta.
5. Os textos legais às vezes se valem desse recurso linguístico: a) “Pode
casar por procuração o preso, ou o condenado, quando lhe não permita
comparecer em pessoa a autoridade, sob cuja guarda estiver” (CC/1916,
art. 201, parágrafo único, em redação não repetida pelo CC/2002); b)
“… quando as partes o não determinarem” (CC/1916, art. 1.141, em
redação não repetida pelo CC/2002).
6. Carlos Góis define esse fenômeno linguístico como “a anteposição do
pronome pessoal oblíquo átono, não só ao verbo, como a outra ou a
outras palavras, que precedam ao verbo”.
7. Acrescenta tal autor que tal reforço “subsiste ainda quando com a
partícula não concorre outro elemento determinante da próclise”. Ex.:
“Se me não falha a memória”.
8. Por fim, mostrando injustificada repulsa para com sua ocorrência,
pondera que se trata do “caso mais violento de deslocação topológica”,
em “criação artificiosa dos poetas quinhentistas (a isso impelidos pelas
injunções do ritmo e da métrica)”, e observa que seu emprego traz
grande prejuízo à clareza, motivo por que está “caído em dessuetude,
subsistindo unicamente com a partícula não junta a outro elemento
favorável à próclise” (GÓIS, 1945, p. 132).

Semi – Com hífen ou sem?


1. Como costuma acontecer com os prefixos terminados por vogal, apenas
em dois casos o prefixo semi se une ao segundo elemento por hífen: a)
quando o segundo elemento se inicia por h: semi-heresia, semi-
hipnotizado, semi-histórico; b) quando o segundo elemento começa com
a mesma letra que termina o prefixo: semi-improviso, semi-
independência, semi-internato.
2. Antes de outra consoante, que não seja h, acopla-se diretamente à
palavra seguinte, sem hífen: semibárbaro, semicatólico, semideus,
semifinalista, semigasto, semilouco.
3. De igual modo, junta-se sem hífen, quando o elemento seguinte se inicia
por outra vogal, que não a mesma que finaliza o prefixo: semiabertura,
semiacordado, semieixo, semielaborado, semioficial, semioitava,
semiuniversal, semiurbano.
4. Para a hipótese de ser o segundo elemento iniciado por r ou s, dobram-se
tais consoantes para continuidade do som originário: semirracional,
semirrígido, semissecular, semisselvagem.
Sem número ou Cem número?
1. Sem é uma preposição, que traz à expressão por ela iniciada a ideia de
ausência, falta ou privação. Ex.: “Sem armas e munição, o exército foi
facilmente vencido”.
2. Cem, por outro lado, é numeral, que traz em si a indicação exata de uma
centena, de dez vezes dez. Ex.: “Cem vidas eu tivesse, cem vidas te
daria”.
3. Quando se diz uma frase como “Trouxe consigo um sem número de
assessores”, o que se quer dizer não é a representação exata de uma
centena de assessores, mas de um número indefinido, de ausência, de
falta de definição do real número de assessores, embora muitos.
4. Sem maiores dificuldades, é fácil estabelecer o que é correto e o que é
errado: a) “Concedeu privilégios a um sem número de funcionários”
(correto); b) “Concedeu privilégios a um cem número de funcionários”
(errado).

Sem-pão
Ver Sem-vergonha ou Sem vergonha? (P. 686)

Sem-partido
Ver Sem-vergonha ou Sem vergonha? (P. 686)

Sem-pátria
Ver Sem-vergonha ou Sem vergonha? (P. 686)

Sem reserva ou Sem reservas?


1. Quando empregada com o verbo substabelecer, na locução reserva de
poderes, constitui expressão errônea no plural, devendo permanecer no
singular. Exs.: a) “O advogado firmou o substabelecimento sem reserva
de poderes” (correto); b) “O advogado firmou o substabelecimento sem
reservas de poderes” (errado).
Ver Substabelecer (P. 716).
Sem-terra ou Sem terra?
Ver Sem-vergonha ou Sem vergonha? (P. 686)

Sem-terra – Qual é o plural?


1. Uma leitora indaga qual é o plural de sem-terra.
2. Ora, sempre é bom lembrar – até para criar no leitor o hábito salutar de
um raciocínio que deve repetir-se em tais circunstâncias – que, quando
se quer saber se uma palavra existe ou não em português, ou mesmo qual
é sua grafia e/ou pronúncia, ou qual o seu plural quando foge à
normalidade, deve-se tomar por premissa o fato de que a autoridade para
listar oficialmente os vocábulos pertencentes ao nosso idioma e para
definir-lhes as demais peculiaridades e circunstâncias é a Academia
Brasileira de Letras.
3. E essa autoridade, a ABL a exerce por via da edição do Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa.
4. Uma simples consulta ao VOLP mostra que ele considera o mencionado
vocábulo simplesmente invariável tanto em gênero quanto em número
(2009, p. 749). Vale dizer que sua forma será exatamente a mesma no
masculino, no feminino, no singular e no plural. Exs.: a) “Aproximou-se
um sem-terra”; b) “Aproximou-se uma sem-terra”; c) “Aproximaram-se
dois sem-terra”; d) “Aproximaram-se duas sem-terra”.
5. Adiciona-se a informação de que o raciocínio é o mesmo para outras
palavras de mesma estrutura: sem-deus, sem-família, sem-lar, sem-
pátria, sem-sal, sem-vergonha.

Sem-teto
Ver Sem-vergonha ou Sem vergonha? (P. 686)

Sem-vergonha ou Sem vergonha?


1. Ante as modificações introduzidas em nosso sistema pelo Acordo
Ortográfico de 2008 quanto ao hífen, importa saber qual a forma correta:
sem-vergonha ou sem vergonha?
2. Para um adjetivo composto (menino sem-vergonha) ou substantivo
composto (um sem-vergonha), o Acordo Ortográfico de 2008 manda que
se use sempre o hífen após o prefixo sem: sem-barba, sem-cerimônia,
sem-deus, sem-família, sem-gracice, sem-lar, sem-nome, sem-pão, sem-
partido, sem-pátria, sem-razão, sem-sal, sem-terra, sem-teto.
3. Assim, de modo prático para o exemplo inicialmente posto: não
importando se é para indicar um adjetivo ou um substantivo composto, o
correto é sem-vergonha, e não sem vergonha. Exs.: a) “Ele é um sem-
vergonha” (substantivo); b) “Menino sem-vergonha não merece
compreensão” (adjetivo).
4. Não se confunda, porém, com outros casos em que não existe a
formação de um substantivo ou de um adjetivo composto, e sim, por via
de regra, um adjunto adverbial: a) “Os bandidos agiram sem vergonha
nenhuma”; b) “Sem vergonha e sem caráter, não se pode construir um
país”.
5. Conforme determinação do Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de Letras – entidade essa
que tem a delegação legal de listar oficialmente as palavras existentes
em nosso idioma e de dar-lhes as circunstâncias próprias de seu emprego
(determinando até mesmo seu gênero e número) – a expressão sem-
vergonha, quer quando tem valor de substantivo, quer quando tem valor
de adjetivo, não varia do masculino para o feminino, nem do singular
para o plural (2009, p. 749). Em resumo: trata-se de expressão
invariável.
6. Confira-se essa invariabilidade nos exemplos seguintes, todos corretos:
a) “Um sem-vergonha como ele só podia acabar na prisão…”; b) “Dois
sem-vergonha como ele só podiam acabar na prisão…”; c) “Diversos
sem-vergonha foram detidos pelos policiais…”; d) “Diversas sem-
vergonha foram detidas pelos policiais…”; e) “Um trabalhador sem-
vergonha foi detido pelos policiais…”; f) “Uma trabalhadora sem-
vergonha foi detida pelos policiais…”; g) “Diversos trabalhadores sem-
vergonha foram detidos pelos policiais…”; h) “Diversas trabalhadoras
sem-vergonha foram detidas pelos policiais…”
7. A mesma observação, conforme se verifica com facilidade por uma
atenta consulta ao VOLP, vale para outras expressões dessa natureza,
como sem-deus, sem-pão, sem-partido, sem-pátria, sem-terra e sem-teto.
Senado Federal ou apenas Senado?
1. Um leitor, a partir do fato de que não existe hoje um Senado Estadual em
nosso sistema, indaga se não é pleonasmo chamar o Senado de Senado
Federal.
2. Ora, a primeira Constituição republicana, de 24/2/1891, deu liberdade
aos Estados para se organizarem, incluindo a permissão para elaborar
cada qual deles sua própria Constituição, obedecidos, obviamente, os
princípios maiores e a forma republicana. Alguns Estados optaram pela
organização bicameral (Câmara e Senado estaduais). A maioria deles,
contudo, preferiu o modelo unicameral (apenas Câmara Estadual).
Mesmo para os Estados que adotaram o modelo bicameral, todavia, foi
ele de curta duração, e o Estado de São Paulo foi o que por último o
extinguiu, e isso já em 1930.
3. Assim, na estrutura atual de nosso País, por um lado, há os Deputados
Estaduais, que atuam nas Assembleias Legislativas dos Estados, e
também os Deputados Federais, que atuam na Câmara dos Deputados,
portanto na órbita federal.
4. Já, por outro lado, os Senadores existem apenas no âmbito federal. Vale
dizer: não existem, na atualidade, em nosso País, Senadores Estaduais.
5. Embora não faça parte da indagação, parece importante anotar, ademais,
que os Deputados Federais são representantes do povo, razão pela qual
são eleitos proporcionalmente à população de cada Estado, Território ou
Distrito Federal para um mandato de quatro anos (CF, art. 45); já os
Senadores são representantes dos Estados e do Distrito Federal, e,
assim, cada Estado e o Distrito Federal elegem um número fixo de três
Senadores para um mandato de oito anos (CF, art. 46).
6. Ante essas ponderações – e agora passando a responder ao leitor – não
haveria realmente necessidade de empregar a expressão Senado Federal,
a qual constitui, sim, um pleonasmo. Isso quer significar que bastaria
dizer Senado.
7. Ocorrem, todavia, dois aspectos: a) a tradição faz com que muitos,
embora passadas tantas décadas da extinção dos Senados Estaduais,
continuem usando a expressão integral; b) os pleonasmos se bipartem
em pleonasmos de estilo e pleonasmos viciosos, e apenas os segundos
são condenáveis; c) e se tem considerado, ao longo do tempo, que
Senado Federal não constitui pleonasmo vicioso.
8. Para atestar essa circunstância, basta observar que, na Constituição
Federal de 1988, emprega-se a expressão Senado Federal 58 vezes; já a
palavra Senado, solitariamente, apenas duas vezes (art. 66), uma na
expressão Presidente do Senado e outra no circunlóquio Vice-Presidente
do Senado.

Senador
1. Para muitos, inexiste justificativa para a construção “Ele foi eleito
senador ao congresso nacional”.
2. Entendem estes, em tal caso, que congresso nacional é simples adjunto
adnominal (ou complemento restritivo, que, em latim, é representado
pura e simplesmente por um genitivo), devendo-se dizer: “Ele foi eleito
senador do congresso nacional”.
3. E, aos vocábulos deputado e vereador, aplicar-se-iam as mesmas
observações: os vereadores da câmara municipal, os deputados da
assembleia legislativa.
4. Até mesmo contrariamente a essa lição, todavia, Francisco Fernandes
(1969, p. 348) apenas admite sintaxe com a preposição por: “A
nomeação de um senador pela Bahia fora motivo para sérios
aborrecimentos” (Luiz Viana Filho); b) “Ainda assim, não vimos tarde
para oferecer destas colunas à atenção dos nossos leitores a carta do
ex-senador pelo Estado do Rio de Janeiro” (Rui Barbosa).
5. Também Celso Pedro Luft (1999, p. 472) pugna pela sintaxe exclusiva
com a preposição por: “Senador por um Estado”; “Rui Barbosa foi
senador pela Bahia”; “senador pelo Estado da Bahia”.
6. Não parece, todavia, a uma análise mais aprofundada, haver motivo
algum diferenciação de sintaxe entre esses três cargos do Poder
Legislativo nos diferentes níveis, para que não se acatem as construções
com qualquer de três preposições: de, a e por: a) “Os senadores de São
Paulo insurgiram-se contra a providência pretendida”; b) “Ele foi eleito
senador ao congresso nacional”; c) “Ele foi eleito senador por São
Paulo”.
7. Interessante, também, é anotar a indevida diferença de tratamento entre
vocábulos de natureza similar, como deputado, senador e vereador, que,
apenas para exemplo, fazem Francisco Fernandes (1969, p 126) e Celso
Pedro Luft (1999, p. 152): para deputado, ambos admitem as sintaxes
com as preposições a e por, para senador, como visto, aquele apenas
admite complemento com a preposição por, em procedimento seguido
por este; e, para vereador, o primeiro continua admitindo tão somente a
construção com a preposição por, enquanto o segundo é mais liberal
para, além de por, pugnar adicionalmente pela possibilidade de sintaxe
com a preposição a.

Senador ao Congresso Nacional – Está correto?


Ver Senador (P. 687).

Senão ou Se não?
1. Há de se escrever uma só palavra, quando significar do contrário, mas, a
não ser, mas também. Exs.: a) “Senhor advogado, não insista em
perguntas tendenciosas, senão elas serão indeferidas” (do contrário); b)
“A advertência do magistrado não teve por escopo cercear a defesa,
senão dar cumprimento às regras de processo em vigor” (mas); c)
“Ninguém havia, senão três das testemunhas arroladas” (a não ser); d)
“Era um magistrado não apenas culto, senão (ou senão também) justo”
(mas também).
2. Quando o significado não for algum dos quatro alinhados, duas serão as
palavras: o se exercerá a função de conjunção subordinativa condicional,
que admitirá até mesmo a substituição por conjunção sinônima (caso,
por exemplo); o não há de ser normalmente um advérbio de negação.
Ex.: “Se não fosse o patrono, a vítima teria agredido o réu” (caso não
fosse…).
3. Analisando o exemplo “Não o fez João, senão Pedro”, Mário Barreto
assim se expressa: “Este senão, com o sentido de mas, é conjunção
adversativa e escreve-se numa só palavra” (1955, p. 48).
4. Em apropriado resumo, lembram Regina Toledo Damião e Antonio
Henriques (1994, p. 229-30) que senão é “conjunção adversativa
significando em caso contrário, de outra forma, mas sim, a não ser”, ou
mesmo “substantivo com o sentido de falha, defeito”, enquanto se não é
aproximação de um se que é conjunção condicional e um não que é
advérbio de negação.
5. Como substantivo, o plural de senão é senões. Ex.: “Ele apontou vários
senões na tramitação do processo”.
6. Arnaldo Niskier, por um lado, assim resume o ensinamento a respeito
das grafias aqui consideradas: “Senão é usado quando significa: a) caso
contrário (Venha, senão vai se arrepender); b) mas sim (Não quero seu
amor, senão sua amizade); c) a não ser (Não faz nada senão beber). Se
não é usado em todos os outros casos.
7. Por outro lado, traz tal autor importante acréscimo: “Em alguns casos
pode-se usar uma ou outra forma, adaptando para isso a pontuação:
‘Tomara que chova, senão a safra será ruim’. ‘Tomara que chova; se
não, a safra será ruim’” (NISKIER, 1992, p. 63).
8. Vale trazer à lembrança a advertência de Laudelino Freire quanto à
diferença entre senão e se não: “Cumpre ter em atenção o emprego exato
destas expressões. Senão é conjunção adversativa, que tem o mesmo
sentido de mas ou porém; se não é expressão formada pela conjunção
condicional se seguida do advérbio não” (1937b, p. 102).
9. Os textos de lei têm empregado corretamente o vocábulo, de acordo com
sua real acepção: a) “A validade das declarações de vontade não
dependerá de forma especial, senão (a não ser) quando a lei
expressamente a exigir” (CC, art. 129); b) “Ninguém pode reclamar o
que, por uma obrigação anulada, pagou a um incapaz, se não
(conjunção condicional + advérbio) provar que reverteu em proveito
dele a importância paga” (CC, art. 157); c) “A interrupção operada
contra um dos herdeiros do devedor solidário não prejudica aos outros
herdeiros ou devedores, senão (a não ser) quando se trate de obrigações
e direitos indivisíveis” (CC, art. 176, § 2º).
10. Não se olvide que, conforme o sentido concreto da palavra ou
expressão num dado contexto, a questão vai ficar na dependência do
sentido, observando-se adicionalmente que o conteúdo semântico de
ambas as formas está muito próximo um do outro, de modo que não
será tão fácil a separação dos significados.
11. Assim, por exemplo, pode-se dizer “Se não, vejamos…”, querendo
significar o seguinte contexto: “Se ainda não está de acordo com o que
estou dizendo, vejamos os seguintes elementos adicionais…”
12. Por outro lado, pode-se dizer “Senão vejamos…”, querendo que o
conteúdo semântico seja: “Caso contrário, vejamos…”

Sendo que
1. Trata-se de locução conjuntiva causal, sinônima de desde que,
porquanto, porque, uma vez que. Ex.: “Sendo que terminara a audiência,
todos se retiraram do local”.
2. Esse é o seu único emprego correto, e será errôneo qualquer outro uso
dessa expressão, como se dá com o sentido de e ou de mas. Exs.: a) “Os
autores concordam com essa teoria, sendo que os nacionais são ainda
mais enfáticos” (errado); b) “O advogado contentou-se com duas
testemunhas, sendo que preferiria ter ouvido todas as arroladas”
(errado).
3. Tais frases podem ser assim facilmente corrigidas: a) “Os autores
concordam com essa teoria, e os nacionais são ainda mais enfáticos”; b)
“O advogado contentou-se com duas testemunhas, mas preferiria ter
ouvido todas as arroladas”.
4. O desembargador Geraldo Amaral Arruda, em contínua luta para a
melhoria da linguagem dos novos juízes paulistas, aponta a frequência e
a erronia de seu emprego nos meios forenses, quer como conjunção
adversativa, quer como conjunção aditiva, quer mesmo como pronome
relativo, e indica, por modo de correção, a substituição pela conjunção
adequada, se for o caso, “ou a sua supressão, com a colocação de ponto
final ou ponto e vírgula” (1987, p. 9-10).
5. Em outra obra, tal autor (1997, p. 109) – observando que vem sendo
empregada tal locução, de modo errôneo e frequente, como maneira fácil
e indevida de “esticar” a frase, e isso fora do sentido de relação causal,
em prejuízo da clareza e do estilo – reitera que “muitas vezes a elocução
ficará melhor com a simples supressão do sendo que e sua substituição
por ponto e vírgula. Outras vezes ficará melhor com o emprego da
conjunção e ou de uma adversativa. E outras vezes o sendo que pode ser
substituído pelo gerúndio do verbo principal da oração introduzida por
essa locução (ex.: “… sendo que ele deve…” por “… devendo ele…”).
6. Na lição de Domingos Paschoal Cegalla, essa “não é expressão
recomendável para unir orações. Em alguns casos, convém dispensá-la
por ser inútil; em outros, é preferível substituí-la por uma conjunção ou
por um pronome relativo”.
7. E ele próprio dá três exemplos, seguidos das respectivas correções
(CEGALLA, 1999, p. 370): a) “O pescador trouxe muitos peixes do rio,
sendo que alguns deles ainda estavam vivos” (errado); b) “O pescador
trouxe muitos peixes do rio, alguns deles ainda vivos” (correto); c) “O
rio invadiu parte da cidade, sendo que a violência das águas arrastou
mais de uma casa” (errado); d) “O rio invadiu parte da cidade, e a
violência das águas arrastou mais de uma casa” (correto); e) “Ele
escreveu mais de uma dezena de romances, sendo que três deles já
foram traduzidos em vários idiomas” (errado); f) “Ele escreveu mais de
uma dezena de romances, três dos quais já traduzidos em vários
idiomas” (correto).
8. Para Hêndricas Nadólskis e Marleine Paula Marcondes Ferreira de
Toledo, é “construção agramatical, não há necessidade de usá-la” (1998,
p. 115).
9. De cochilo dessa natureza nem mesmo escapam reconhecidas
autoridades da Gramática, como Celso Cunha, que manda usar as formas
de particípio passado irregular ganho, gasto e pago, acrescentando
textualmente: “sendo que a última substituiu completamente o antigo
pagado” (1970, p. 216).
10. Carlos Góis e Herbert Palhano também tropeçam no emprego de tal
expressão, ao conceituarem o substantivo epiceno: “É o que apresenta a
mesma forma para ambos os gêneros, sendo que a distinção entre o
masculino e o feminino é feita pelas palavras macho e fêmea” (1963, p.
47).
11. Em mesmo cochilo resvala Vitório Bergo, como se vê da seguinte
passagem de uma de suas lições: “Em frases deste modelo, o verbo
poder constitui, em regra, auxiliar do infinito, que se lhe segue, sendo
que a partícula se apassiva o todo verbal” (1944, p. 191).
12. Em interessante lição sobre o assunto, assim se manifesta o mesmo
gramático por último referido em outra parte de sua obra, corroborando
a lição inicial destas observações sobre o uso correto da construção:
“Aqui está uma expressão de que muitos abusam, afeando o estilo. Em
escritores modelares encontra-se geralmente como resultante da elipse
(sendo certo que) ou como equivalente de visto que” (BERGO, 1944,
p. 215).

Senhora dona – Está correto?


1. Como bem lembra Sousa e Silva, “não é viciosa a expressão, evitada por
muitos patrícios nossos. Ao contrário, é ela vernaculíssima e lê-se com
frequência nos bons autores. Gonçalves Viana escreveu: Sra. Doutora D.
Carolina Michaëlis de Vasconcelos” (1958, p. 266).

Senhor doutor – Está correto?


1. Trata-se de expressão correta.
Ver Senhora dona – Está correto? (P. 689)

Sênior
1. Registra tal palavra o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da
Academia Brasileira de Letras, que é o veículo oficial indicador das
palavras existentes em nosso idioma, estando autorizado, por
conseguinte, seu normal emprego (2009, p. 449).
2. Tem o sentido de mais velho, mais experimentado, adicionado ao nome
de alguém mais velho, de mesmo nome, para distingui-lo de alguém
mais moço. Ex.: “Refiro-me ao Sebastião da Silva sênior, não ao
júnior”.
3. Em tal caso, o vocábulo há de ser acentuado graficamente, de
conformidade com a 8ª alínea do item 43 do Formulário Ortográfico:
sobrepõe-se o acento agudo ao e aberto da penúltima sílaba dos
vocábulos paroxítonos que acabem em r.
4. No plural, com larga utilização no esporte, a sílaba tônica, por questões
de ortoepia, se desloca, fazendo seniores, com o mesmo significado,
sendo fechada a pronúncia da sílaba tônica (ô). Ex.: “O Brasil não foi
bem no campeonato mundial de futebol de seniores deste ano”
(SACCONI, 1979, p. 34).
5. A tal vocábulo, Luís A. P. Vitória (1969, p. 218) dá por plural seniores e
ressalta o timbre fechado para a vogal tônica (seniôres).
6. Também José de Nicola e Ernani Terra anotam que o plural desse
vocábulo é se-ni-o-res, com a vogal tônica fechada: ô (2000, p. 134).
7. Para resumir, oportuna a observação de Sousa e Silva: “Não se
justificam os plurais júniors e sêniors, de que fazem uso nas seções
desportivas de nossas gazetas. As formas corretas são juniores, seniores,
com o acento tônico deslocado para a terceira sílaba: ‘juniôres’,
‘seniôres’” (1958, p. 165).
8. As mesmas observações valem para seu antônimo júnior, que tem o
sentido de mais moço.
Ver Ortoepia (P. 532).

Sentar-se na mesa – Está correto?


1. Na consonância com lição de Sousa e Silva, “é erro empregar a
preposição em para indicar proximidade”, sendo competente a partícula
a. Exs: a) “Ele sentou-se na mesa” (errado); b) “Ele sentou-se à mesa”
(correto).
2. E lembra tal autor que sentar-se na mesa quer dizer sentar-se sobre a
mesa (SILVA, A., 1958, p. 223).
Ver Falar ao, no ou por telefone? (P. 351)

Sentença apelada – Está correto?


1. Pelo próprio fato de que, genericamente, o objeto direto da voz ativa se
torna o sujeito da voz passiva, tem-se, no campo técnico, a premissa
genérica de que apenas verbos transitivos diretos podem ser apassivados,
sob pena de não haver um termo que venha a desempenhar a função de
sujeito da passiva.
2. No caso concreto, tem-se a premissa de que o verbo apelar é transitivo
indireto quer quando se refere ao objeto da apelação, quer quando
concerne ao órgão ao qual se recorre, nada impedindo, até mesmo, que
se usem concomitantemente os dois objetos indiretos, ou mesmo que
seja ele empregado intransitivamente: a) “A parte vencida apelou da
sentença”; b) “A parte vencida apelou para o tribunal”; c) “A parte
vencida apelou da sentença para o tribunal”; d) “O réu não poderá
apelar sem recolher-se à prisão…” (CPP, art. 594).
3. Assim, com base na premissa afirmada, do fato de que apelar é
transitivo indireto deflui a conclusão genérica de que, tecnicamente, não
admite ele construção na voz passiva.
4. Segundo afirma com propriedade Vitório Bergo, todavia, “do verbo
apelar se dirá o mesmo que de aludir: é relativo (entenda-se transitivo
indireto) que se costuma apassivar. Efetivamente se diz apelar da
sentença (…) E também se diz, na voz passiva, como se fora sentença
objeto direto na voz ativa: ‘A sentença apelada causara alvoroço’”
(1944, p. 30).
5. Cândido Jucá Filho (1981, p. 42), em apreciação sobre a obra de Mário
Barreto, também observa a possibilidade de que, apesar de transitivo
indireto, esse verbo possa ser usado em construção passiva, como em “a
sentença apelada”.
Ver Aludir (P. 106), Apelação (P. 125), Apelar (P. 126), Despacho aludido –
Existe? (P. 276), Voz passiva – Quando é possível? (P. 793) e Voz passiva
sintética (P. 794).

Sentença a proferir(-se) – Está correto?


Ver A fazer – Está correto? (P. 91)

Sentença de primeira instância – Pleonasmo?


1. Embora de uso frequente nos meios forenses, trata-se de tautologia, de
pleonasmo vicioso a ser evitado, e isso porque configura redundância de
termos que não tem emprego legítimo, por não conferir mais vigor ou
clareza à expressão.
2. Em termos de técnica processual, a sentença já é o provimento
jurisdicional de primeira instância, não se podendo pretender precisar
tecnicamente o sentido do vocábulo pela adição de que sua fonte é o
órgão jurisdicional de primeiro grau, até porque as decisões colegiadas
dos órgãos superiores têm outra e específica denominação: acórdão.
3. Observe-se, por oportuno, que nesse equívoco incide o art. 67, III, da Lei
8.245, de 18/10/91, o qual, ao tratar da ação de consignação de aluguel e
acessórios da locação, prevê que os depósitos se façam “até ser prolatada
a sentença de primeira instância”.
4. Em linguagem escorreita, diga-se, assim, em tais casos, apenas sentença,
e não sentença de primeira instância.
5. Idêntico equívoco comete o art. 7º da Lei 8.560, de 29/12/92, que
regulou a investigação de paternidade dos filhos havidos fora do
casamento: “Sempre que na sentença de primeiro grau se reconhecer a
paternidade, nela se fixarão os alimentos provisionais ou definitivos do
reconhecido que deles necessite”. Corrija-se o exemplo apenas com a
supressão das palavras de primeiro grau.
6. Acresça-se que, para a hipótese de se usar um termo genérico, como
decisão ou veredicto – que não trazem em si a conotação obrigatória de
serem originários desta ou daquela fonte jurisdicional – então se poderá
falar em decisão de primeira instância ou em veredicto de segunda
instância.
7. De mesma espécie são outros erros, como acordo amigável e pessoa
viva.

Sentença: exarar, prolatar ou proferir?


Ver Exarar, prolatar ou proferir sentença? E acórdão? E despacho? (P.
340)

Sentença recorrida – Está correto?


1. Quanto à regência verbal considerada em sua forma tradicional, tem o
verbo recorrer três construções, mas em todas elas é ele transitivo
indireto.
2. Assim, podem-se empregar as construções recorrer de, recorrer para, ou
recorrer de… para.
3. Com tais observações, em continuação, é de se dizer que, porque
tecnicamente só admite ser construído na voz passiva um verbo que seja
transitivo direto, poderia parecer, sob um ponto de vista mais ortodoxo,
que recorrer não admitiria apassivamento, de modo que deveriam ser
condenadas expressões como sentença recorrida, despacho recorrido.
4. A esse respeito, todavia, é de se lembrar a observação de Aires da Mata
Machado Filho (1969, p. 636) de que voz passiva não é um sinal
inequívoco de regime evidenciador de verbo transitivo direto.
5. Nos textos legais, nessa esteira, o que se verifica com frequência é o
emprego desse verbo na voz passiva. Exs.: a) “O julgamento proferido
pelo tribunal substituirá a sentença ou a decisão recorrida no que tiver
sido objeto de recurso” (CPC/1973, art. 512); b) “Se o recorrido for o
réu, será intimado do prazo na pessoa do defensor” (CPP, art. 588,
parágrafo único); c) “No julgamento de recursos contra decisão ou
despacho do Presidente, do Vice-Presidente ou do Relator, ocorrendo
empate, prevalecerá a decisão ou despacho recorrido” (CLT, art. 672, §
4º).
Ver Recorrer (P. 647), Recorrer adesivamente ou Interpor recurso
adesivo? (P. 648), Voz passiva – Quando é possível? (P. 793) e Voz passiva
sintética (P. 794).

Sentença trânsita ou transitada em julgado?


1. Uma leitora gostaria de saber qual o certo: sentença trânsita em julgado
ou sentença transitada em julgado.
2. Esclareça-se, num primeiro aspecto, sobretudo para os leitores não
acostumados ao linguajar jurídico e forense, que se diz que uma decisão
transita em julgado ou passa em julgado, quando não mais é possível
interpor recurso contra ela, quer pelo decurso de prazo, quer porque os
recursos possíveis foram esgotados no devido tempo.
3. Então se diz que a decisão transitou em julgado (CPC, art. 466-A) ou
passou em julgado (CPC, art. 474), ou, ainda, que houve o trânsito em
julgado. Nesses casos, o que se tem, portanto, é uma decisão transitada
em julgado (CPC, art. 475-I, § 1º).
4. O que, todavia, a leitora quer saber é se, em vez de decisão transitada
em julgado, se pode dizer decisão trânsita em julgado.
5. E, quando se faz tal indagação, quer-se saber, em suma, se existe o
adjetivo trânsito na forma feminina.
6. Todavia uma consulta ao Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa,
pelo qual a Academia Brasileira de Letras desempenha sua missão de
especificar oficialmente as palavras que integram nosso idioma, revela
que existe o substantivo trânsito (2009, p. 805), mas não o adjetivo
trânsito, que possa gerar o adjetivo feminino tal como acima pretendido.
7. Daqui se conclui, necessariamente, que o correto é dizer sentença
transitada em julgado, e simplesmente não existe a forma sentença
trânsita em julgado.
8. Também se observe que é correto dizer que houve o trânsito em julgado
do acórdão (porque aqui trânsito é um substantivo); mas não é correto
dizer acórdão trânsito em julgado (porque trânsito seria,
necessariamente, um adjetivo, mas este não existe em nosso idioma).

Sentenciado o feito – Está correto?


Ver Abstração feita a e Abstração feita de (P. 59).

Se o
1. Não é possível, em Português, a junção de se (como partícula
apassivadora) e o pronome o.
Ver Cite-se-o – Está correto? (P. 184)

Se-o – Existe?
1. Inadmissível, em português, a junção dos pronomes se + o.
Ver Cite-se-o – Está correto? (P. 184)

Se por al não estiver preso – Existe?


Ver Al – Existe? (P. 102)

Se – Quando e como pode ser omitido?


1. Um leitor, esclarecendo ser autoridade no serviço público, indaga se,
dependendo das circunstâncias, em uma portaria, por exemplo, o se
(como em junte-se cópia ou expeça-se mandado de intimação) pode vir
a ser omitido nos casos em que fique claro a quem a ordem é dada. E
pergunta se, com a omissão do se, o verbo deve ficar sempre no singular.
2. Estabeleçam-se algumas premissas, a começar pela observação de que,
quando se tem uma frase em que um se vem acoplado a um verbo, deve-
se fazer uma diferenciação entre dois tipos de estruturas: a) num
primeiro caso, uma frase é reversível, de modo que pode ser dita de
outro modo (“Aluga-se uma casa”, por exemplo, pode mudar-se para
“Uma casa é alugada”); b) num segundo caso, uma frase não é
reversível (ninguém pensaria em mudar “Gosta-se de um bom vinho”
para “De um bom vinho é gostado”, já que isso não faria sentido algum
em nosso idioma).
3. Para uma frase reversível, como “Aluga-se uma casa”, podem-se extrair
as seguintes conclusões: a) o exemplo está na voz passiva sintética; b) o
se é uma partícula apassivadora; c) o sujeito é uma casa.
4. Já para uma frase não reversível, como “Gosta-se de um bom vinho”, as
conclusões a serem extraídas são um pouco diversas: a) o exemplo não
está na voz passiva sintética; b) diversamente da frase com a qual é
comparada, o se não é partícula apassivadora, mas símbolo (ou índice)
de indeterminação do sujeito; c) o sujeito não é um bom vinho, mas é
indeterminado; d) em orações como essa, seria impossível considerar um
bom vinho o sujeito, porquanto, como bem lembra Sousa e Silva, “o
sujeito é membro regente, não pode vir regido de preposição” (1958, p.
264).
5. Feitas essas observações, acresce dizer, quanto ao primeiro exemplo,
que, a) se uma casa é o sujeito e b) se a regra geral de concordância é
que o verbo concorda com seu sujeito, c) no caso, se o sujeito for levado
para o plural, o verbo também irá para o plural (Alugam-se casas).
6. Outros exemplos para essa mesma construção: a) “Regularize-se o
inquérito”; b) “Notifique-se o indiciado”; c) “Intime-se a testemunha”;
d) “Encaminhe-se o feito ao Ministério Público”. Seus plurais: i)
“Regularizem-se os inquéritos”; ii) “Notifiquem-se os indiciados”; iii)
“Intimem-se as testemunhas”; iv) “Encaminhem-se os feitos ao
Ministério Público”.
7. Já para o segundo exemplo, o raciocínio que se deve trilhar é o seguinte:
a) o sujeito é indeterminado; b) assim, se a expressão constante do
exemplo for levada para o plural, em nada estará sendo alterado o
sujeito; c) desse modo, quando se põe a expressão no plural, o verbo não
há de sofrer modificação alguma (Gosta-se de bons vinhos).
8. Outros exemplos para essa mesma construção: a) “Obedeça-se ao
provimento referido”; b) “Proceda-se à lacração já determinada”. Seus
plurais: i) “Obedeça-se aos provimentos referidos”; ii) “Proceda-se às
lacrações já determinadas”.
9. Feitas essas ponderações como premissas e partindo-se para a resposta
prática à indagação do leitor, anota-se que um Delegado de Polícia pode,
sim, exarar a seguinte determinação em um inquérito policial: “Em face
do exposto, determino as seguintes providências: a) Regularize-se este
inquérito nos termos acima especificados; b) Notifique-se o indiciado; c)
Intime-se a testemunha; d) Encaminhe-se, ao depois, o feito para a
perícia; e) Em tudo, porém, obedeça-se ao provimento acima referido; f)
E, antes da remessa do inquérito para perícia, proceda-se à lacração
determinada.” Nesse caso, os sujeitos serão este inquérito (i), o
indiciado (ii), a testemunha (iii), o feito (iv), indeterminado (v) e
indeterminado (vi).
10. Conforme a necessidade do caso específico, a decisão pode ter o
seguinte teor, com as expressões no plural: “Em face do exposto,
determino as seguintes providências: a) Regularizem-se estes autos nos
termos acima especificados; b) Notifiquem-se os indiciados; c)
Intimem-se as testemunhas; d) Encaminhem-se, ao depois, os autos
para perícia; e) Em tudo, porém, obedeça-se aos provimentos acima
referidos; f) E, antes da remessa do inquérito para perícia, proceda-se
às lacrações determinadas.” Nesse caso, os sujeitos serão estes autos
(i), os indiciados (ii), as testemunhas (iii), os autos (iv), indeterminado
(v) e indeterminado (vi).
11. Antes de passar à frente, importa observar um equívoco cometido pelo
Código Civil de 2002 quanto ao verbo proceder. O art. 1.129 determina
do seguinte modo: “Ao Poder Executivo é facultado exigir que se
procedam a alterações ou aditamento no contrato ou no estatuto…”
(CC-2002, art. 1.129). Corrija-se: “[…] que se proceda a alterações…”
12. Com uma primeira hipótese de eliminação do se, pode-se ter também o
seguinte texto perfeitamente correto: “Em face do exposto, determino
as seguintes providências ao Escrivão de Polícia Fulano de Tal: a)
Regularize estes autos nos termos acima especificados; b) Notifique os
indiciados; c) Intime as testemunhas; d) Encaminhe, ao depois, os
autos para perícia; e) Em tudo, porém, obedeça aos provimentos
acima referidos; f) E, antes da remessa do inquérito para perícia,
proceda às lacrações determinadas.” Nesse caso, o sujeito é sempre o
mesmo, a saber, o Escrivão de Polícia Fulano de Tal.
13. Mas, também com a eliminação do se, pode haver a seguinte variante
do texto: “Em face do exposto, determino as seguintes providências
cumulativamente aos Escrivães de Polícia Fulano e Beltrano, e isso em
razão do muito que há de ser feito e da urgência que o caso requer: a)
Regularizem este inquérito nos termos acima especificados; b)
Notifiquem o indiciado; c) Intimem a testemunha; d) Encaminhem, ao
depois, o feito para perícia; e) Em tudo, porém, obedeçam ao
provimento acima referido; f) E, antes da remessa do inquérito para
perícia, procedam à lacração determinada.” Nesse caso, o sujeito é
sempre o mesmo, a saber, os Escrivães de Polícia Fulano e Beltrano.

Se – Quando é desnecessário?
1. É frequente a indagação, quanto à redação das petições dirigidas aos
juízos e tribunais, se é correto ou não o uso do sujeito indeterminado
com o verbo conjugado na terceira pessoa do singular, mediante o uso,
por exemplo, das expressões “salienta-se” e “esclarece-se”.
2. Observa-se, por primeiro, que, quando se elabora uma petição, começa-
se por dizer que “Fulano de Tal, por seu advogado, vem à presença de
Vossa Excelência, para expor e requerer o que segue…”
3. Em seguida, é feita a exposição do fato e do direito, e, por fim, vem o
pedido que se faz ao juiz ou ao tribunal.
4. Ora, na sequência lógica de raciocínio, após a explicitação de quem
comparece a juízo e qual a finalidade de tal presença, nada impede que
se diga salienta e esclarece, com o verbo na terceira pessoa do singular,
caso em que se entende que o sujeito está oculto (ele, o Fulano de Tal).
Exs.: a) “Salienta que este pedido está sendo feito no prazo concedido
por Vossa Excelência”; b) “Esclarece que o réu não se manifestou nos
autos, conforme determinação de Vossa Excelência”.
5. Nesse caso, duas observações podem ser feitas: a) O sujeito de tais
verbos está oculto (ele ou o Fulano de Tal); b) Se forem diversos os
peticionários, o verbo deverá ir para o plural (salientam e esclarecem).
6. Por outro lado, é igualmente correto dizer salienta-se e esclarece-se,
como nos seguintes exemplos: a) “Salienta-se que este pedido está sendo
feito no prazo concedido por Vossa Excelência”; b) “Esclarece-se que o
réu não se manifestou nos autos, conforme determinação de Vossa
Excelência”.
7. Nesse caso, três outras observações devem ser feitas: a) A oração que
vem depois de salienta-se e de esclarece-se sempre pode ser substituída
pela palavra isto; b) Uma estrutura como essa é sempre reversível (“Isto
é salientado” e “Isto é esclarecido”); c) Quando há uma oração em tais
moldes, o verbo sempre ficará no singular, pois tem um sujeito
oracional.
8. Duas observações finais podem ser adicionadas: a) Contrariamente aos
exemplos inicialmente dados, o sujeito de salienta-se e de esclarece-se é
a oração que vem depois (como se pode ver pela substituição pela
palavra isto), motivo por que tal oração será chamada de oração
subordinada substantiva subjetiva; b) Porque o sujeito é exatamente a
mencionada oração, não se pode dizer que, em tal estrutura, o sujeito
seja indeterminado; c) O se, em tal caso, não é símbolo de
indeterminação do sujeito, e sim partícula apassivadora.

Seqüência ou Sequência?
Ver Trema (P. 746).

Sequer
1. É advérbio, que tem o significado de ao menos, pelo menos. Ex.: “As
testemunhas não trouxeram aos autos um elemento sequer de elucidação
da verdade”.
2. Napoleão Mendes de Almeida (1981, p. 296), com abalizada autoridade
e fundado em lição de outros dicionaristas e gramáticos, como Caldas
Aulete, Domingos Vieira e Laudelino Freire, observa que tal vocábulo
não tem, só por si, sentido negativo, devendo ser empregado apenas “em
orações em que já existe negação”, sendo errôneo emprestar-lhe
significação negativa em si mesmo. Exs.: a) “O patrono gastou quinze
minutos em sua sustentação oral e sequer abrangeu as preliminares do
caso” (errado); b) “O patrono gastou quinze minutos em sua sustentação
oral e nem sequer abrangeu as preliminares do caso” (correto).
3. Nessa esteira, Arnaldo Niskier (1992, p. 50) também observa que
“sequer significa ao menos e, para ter o sentido de negação, não pode
prescindir de uma palavra negativa (como nem, não, etc.)”.
4. De igual modo, Domingos Paschoal Cegalla, por um lado, anota que
“sequer não tem, por si mesmo, significado negativo”, motivo por que
“são por isso incorretas frases como as seguintes, a que falta a negativa
não ou nem”: a) “O pseudomédico sequer possuía diploma de curso
primário”; b) “Ela sequer olhou para mim”; c) “A escola sequer tinha
carteiras nas salas de aula”; d) “Sequer um carro de polícia
funcionava”.
5. Por outro lado, a par de dizer que se usa “mais frequentemente em frases
negativas”, tal gramático assevera que “ocorre menos frequentemente
em frases de sentido positivo”, exemplificando com Aurélio Buarque de
Holanda Ferreira: “Tudo se arranjaria se ambos tivessem sequer um
pouco de boa vontade” (CEGALLA, 1999, p. 371).
6. Atente-se a sua ortografia, pois são incorretas as formas siquer e se quer
(não se confunda esta última grafia errada com a soma de conjunção
condicional + verbo querer. Ex.: “Se quer pão, tome-o”).

Ser
1. Quanto à conjugação verbal, trata-se de verbo anômalo, e é preciso
atentar ao presente do indicativo e aos tempos dele derivados: sou, és, é,
somos, sois, são (presente do indicativo); seja, sejas, seja, sejamos,
sejais, sejam (presente do subjuntivo); sê, seja, sejamos, sede, sejam
(imperativo afirmativo); não sejas, não seja, não sejamos, não sejais,
não sejam (imperativo negativo).
2. Como se vê, não existe a forma seje, assim como não há a forma esteje,
para o verbo estar.
3. Ainda no âmbito da conjugação verbal, lembram Carlos Góis e Herbert
Palhano (1963, p. 120) que o verbo ser tem quatro tempos iguais ao
verbo ir: pretérito perfeito do indicativo (fui, foste, foi, fomos, fostes,
foram), pretérito mais-que-perfeito do indicativo (fora, foras, fora,
fôramos, fôreis, foram), pretérito imperfeito do subjuntivo (fosse, fosses,
fosse, fôssemos, fôsseis, fossem) e futuro do subjuntivo (for, fores, for,
formos, fordes, forem).
Ver Em seis – Está correto? (P. 316)

Ser chegado – Está correto?


Ver Ser nascido – Está correto? (P. 694)

Ser – Como concordar?


1. Um leitor indaga qual é a estrutura correta quanto à concordância do
verbo ser: a) “Hoje é 30 de novembro”; b) “Hoje são 30 de novembro”?
Para outro leitor, as dúvidas estão nestas estruturas: a) “O prazo máximo
é de três meses”; b) “O prazo máximo são três meses”. Um terceiro
pergunta o que é correto: a) “O inferno são os outros”; b) “O inferno é os
outros”; c) “O rebanho é meus pensamentos” (Fernando Pessoa)?
2. Diferentemente dos verbos em geral – que ou não têm complementos, ou
têm complementos próprios chamados objetos (direto ou indireto) – o
verbo ser, em seu uso mais normal, liga uma qualidade ao sujeito: “A
candidata da cidadezinha era muito competente”.
3. Nesse caso: a) Competente não completa o verbo era, mas se refere ao
sujeito candidata; b) Por significar uma qualidade do sujeito, esse
complemento chama-se predicativo do sujeito; c) Por ligar uma
qualidade ao sujeito, o verbo ser denomina-se verbo de ligação.
4. Porque o predicativo guarda íntima ligação com o sujeito, e não com o
verbo, então, diversamente do que se dá com outros verbos – que
seguem a regra normal de concordância com o seu sujeito – em
estruturas com ser, o verbo concorda ora com o sujeito, ora com o
predicativo.
5. Por peculiaridades do verbo ser, com ele não se pode falar em regras de
concordância, mas em tendências ou preferências de concordância.
Mesmo assim, em diversas hipóteses, uma vez fixada determinada
tendência, logo após, com certa facilidade, encontra-se um exemplo de
tendência contrária.
6. Tentando, contudo, abranger os casos mais comuns, uma primeira
tendência do verbo ser é que ele prefere a concordância com o termo que
estiver no plural (seja sujeito, seja predicativo). Ex.: a) “O problema
eram os meus projetos” (verbo no plural concordando com o
predicativo); b) “Os problemas eram o meu projeto” (verbo no plural
concordando com o sujeito).
7. Uma segunda tendência é que, se o sujeito é designativo de pessoa, fica
o verbo no singular. Ex..: a) “Márcia é as preocupações da família”; b)
“A bailarina é as preocupações da família”.
8. Em terceiro aspecto, nas datas, admitem-se as seguintes construções: a)
“Hoje é quinze de janeiro”; b) “Hoje são quinze de janeiro”; c) “Hoje é
dia quinze de janeiro”.
9. Apontadas as tendências mais importantes de concordância do verbo ser,
vejam-se, porém, em seguida, exemplos de autores de peso que as
contrariam: a) “Os responsórios e os sinos é coisa importuna em Tibães”
(Camilo Castelo Branco); b) “Vestidos e modas é assunto para
mulheres” (Domingos Paschoal Cegalla).
10. Com a atenção voltada aos casos da consulta, assim se pode dizer: a)
Nos exemplos trazidos pelo primeiro leitor – i) “Hoje é 30 de
novembro”; ii) “Hoje são 30 de novembro” – têm-se a referência a
datas, hipótese em que se permitem ambas as construções, e até mesmo
seria possível uma terceira estrutura: “Hoje é dia 30 de novembro”; b)
Nos exemplos do segundo leitor – i) “O prazo máximo é de três
meses”; ii) “O prazo máximo são três meses” – as construções bem
poderiam ser justificadas pela dupla possibilidade de concordância do
verbo ser em tais circunstâncias, ora levando o verbo para o singular,
ora, para o plural; c) Na dúvida do terceiro leitor – i) “O inferno são os
outros”; ii) “O inferno é os outros”; iii) “O rebanho é meus
pensamentos” (Fernando Pessoa) – novamente se pode justificar pela
alternância de possibilidade de concordar o verbo ser com o sujeito ou
com o predicativo.

Ser mister – Está correto?


1. Trata-se de expressão que significa ser preciso, ser necessário, e admite a
variante ser de mister. Exs.: a) “Navegar é mister”; b) “Navegar é de
mister”.
2. O Código Civil de 1916 a emprega em mais de uma passagem: a) “Para
o casamento dos menores de 21 (vinte e um) anos, sendo filhos
legítimos, é mister o consentimento de ambos os pais” (art. 185; o
CC/2002, art. 1.517, altera a redação para “exigindo-se autorização de
ambos os pais”); b) “Para que a consignação tenha força de pagamento,
será mister concorram, em relação às pessoas, ao objeto, modo e tempo,
todos os requisitos sem os quais não é válido o pagamento” (art. 974; o
CC/2002, art. 336, repete a redação).
Ver Fazer-se mister – Está correto? (P. 353), Haver mister (P. 386) e Mister
(P. 475).

Ser nascido – Está correto?


1. Lembra Mário Barreto que o antigo português construía com frequência
o verbo ser com particípios passados de verbos que exprimem a ideia de
movimento: era chegado, era nascido, era vindo, eram passados dois
dias…
2. Na observação de tal autor, não há, em tais expressões, voz passiva, mas
formas depoentes à moda latina, isto é, verbos com formas passivas, mas
com significação não passiva, o que facilmente se pode comprovar com
a assertiva de que, quando se diz “o menino é nascido”, o menino “não
sofre a ação do nascer, senão que ele é o nascido”.
3. Ultima o gramático sua lição com a advertência de que “hoje já se não
emprega essa construção semipassiva ou depoente”, muito embora haja
exceções da parte de alguns autores (BARRETO, 1954b, p. 185-6).
4. Em casos que tais, “quando, por elegância, empregamos o verbo ser
pelos auxiliares ter e haver com verbos intransitivos”, Eduardo Carlos
Pereira (1924, p. 345), em mesmo sentido, assevera ocorrer o fenômeno
da depoência.
5. Amini Boainain Hauy (1983, p. 187-8), em estudo oportuno, anota que
“certas construções verbais apresentam flexões que lembram os
depoentes latinos” (verbos de forma passiva, ainda que passiva sintética,
mas de significação ativa), trazendo tal autora significativos exemplos:
a) “Os cavaleiros eram partidos caminho de Zamora” (Antônio
Feliciano de Castilho); b) “Chega-se (ou é chegado) o prazo e dia
assinalado…” (Camões); c) “Eu ainda não era nascido…”; d) “São
decorridos três meses…”; e) “Nós estávamos brigados”.
6. Cândido Jucá Filho (1981, p. 60), de igual modo, classifica tal fenômeno
como depoência, uma “herança latina”, que se dá “com verbos neutros,
que exprimem sobretudo ideia de movimento, e em tempos perfeitos: é
chegado, era saído, sejam vindos, era passada, seja corrido, são
partidas”.
7. Júlio Nogueira, em didática lição, observa que “algumas construções
com o verbo ser dão a ideia de verbo depoente, isto é, de forma passiva e
significação ativa: ser chegado, ser nascido, equivalentes,
respectivamente, a chegar, nascer”.
8. E complementa tal autor: “Estas modalidades vão caindo em desuso”
(NOGUEIRA, 1939, p. 191).
9. Teorizando a questão, lembra Alfredo Gomes que “há particípios
passados que correspondem a presentes; são verdadeiros particípios
depoentes: lido (o que lê), calado (o que cala), etc. Por extensão do
processo deponencial, tornou-se possível substituir às vezes o auxiliar
ter pelo auxiliar ser nos tempos compostos de certos verbos: a) ‘Eles
ainda não eram vindos’; b) ‘Os cavaleiros eram partidos…’ (Castilho);
c) ‘Treze anos são passados’” (1924, p. 387).

Ser pago – Está correto?


Ver Voz passiva e Verbos não transitivos diretos (P. 792).

Ser passado – Está correto?


Ver Ser nascido – Está correto? (P. 694)

Servir
1. É vocábulo que precisa ser observado quanto à regência verbal.
2. No sentido de prestar serviços, é transitivo direto. Exs.: a) “O criado
servia o patrão nos afazeres da casa”; b) “O criado o servia nos
afazeres da casa”.
3. No significado de ser útil, convir, é transitivo indireto. Exs.: a) “Um
criado assim sem préstimos não servia ao patrão”; b) “Um criado assim
sem préstimos não lhe servia” (MACHADO FILHO, 1969g, p. 1.787).
4. Francisco Fernandes (1971, p. 546) invoca, nesse sentido, lição de
Stringari: “Note-se a diferença em ‘O criado não o serve’ e ‘O criado
não lhe serve’: servi-lo é prestar serviços, e servir-lhe é ser útil, convir”.
5. Concordando com esse posicionamento, Celso Pedro Luft (1999, p. 481)
lança as seguintes e oportunas observações: a) A transitividade originária
é a indireta; b) Depois, o verbo “tornou-se transitivo direto”, mas isso
“sem abandonar a transitividade indireta, de modo que hesita, desde os
clássicos, entre a regência direta e a indireta”; c) “Hoje parece firmada a
oposição servi-lo / servir-lhe como prestar serviços a / convir, agradar”.
6. Assim também é a lição sintética de Domingos Paschoal Cegalla: a) “Na
acepção de prestar serviço, ajudar, é preferível complementar servir com
objeto direto”; b) “No sentido de convir, ser útil ou bom, constrói-se com
objeto indireto”.
7. Complementa o gramático por último citado com duas interessantes
observações: a) “Constrói-se com objeto direto de coisa e indireto de
pessoa, no sentido de dar, oferecer” comida, bebida (“Serviram-lhe
biscoitos e vinho”; b) “Inversamente, dá-se-lhe objeto direto de pessoa e
indireto de coisa, na acepção de abastecer” (“O comando da guerrilha
servia-os de armas e alimentos” (CEGALLA, 1999, p. 373).

Se + se – Existe?
1. Um leitor diz não conseguir identificar o que significa o emprego, duas
vezes seguidas, do se em frases como a seguinte: “Há satisfação
dobrada se se oferece espontaneamente o que está faltando”.
2. Ora, uma primeira observação que se faz é que, numa sequência como
essa, o emprego seguido da palavra se está perfeitamente de acordo com
a norma culta e com as regras do uso do vernáculo. Não há erro algum
nessa repetição.
3. Uma segunda observação é que cada se tem sua própria função na
estrutura da frase, e sua identificação emerge da análise sintática que se
faz do exemplo.
4. No caso, como normalmente ocorre em tais situações, o primeiro se está
a indicar uma condição para a oração que introduz, a qual, então, é uma
oração subordinada adverbial condicional.
5. O segundo se pertence à oração “se oferece espontaneamente o”, e a
respeito dela se podem fazer as seguintes ponderações: a) o pronome o
pode ser substituído, para facilidade de análise, por aquilo; b) essa
oração pode ser posta em ordem direta, também para facilitar a análise
(“aquilo se oferece espontaneamente”); c) essa frase que tem tal se é
reversível, isto é, pode ser dita de outro modo, fazendo-se desaparecer o
se (“aquilo é oferecido espontaneamente”); d) em uma frase como essa
original, o exemplo está na voz passiva sintética; e) já o exemplo
transformado está na voz passiva analítica; f) em casos assim, o segundo
se é partícula apassivadora ou pronome apassivador.

Sessão, Cessão, Seção ou Secção?


Ver Cessão, Seção, Secção ou Sessão? (P. 177)

Seu dele – Está correto?


1. Eduardo Carlos Pereira (1924, p. 309) defende o emprego de expressões
enfáticas dessa natureza, justificando com a necessidade de “remover
ambiguidade e elucidar a referência”, trazendo a corroboração de
exemplo de Almeida Garrett: “O seu grande amigo dela”.
2. Luiz Antônio Sacconi também concorda com tal junção de pronomes,
justificando, de igual modo, que, às vezes, eles servem “para desfazer
ambiguidades” (1979, p. 67).
3. Também sem destoar dessa linha de raciocínio, para uma frase como
“Preciso saber desde logo o seu nome dele”, essa dupla indicação do
possessivo é tida como plenamente correta por Mário Barreto, autor para
quem tal proceder “resolve a incerteza do adjetivo seu com respeito ao
gênero e número do possuidor” (BARRETO, 1954, p. 215).
4. Artur de Almeida Torres (1966, p. 84-5), abonando-se com escritores
insuspeitos, justifica que, quando “houver mais de uma terceira pessoa
na mesma frase, o pensamento pode tornar-se ambíguo”, motivo por que
corrobora o proceder de nossos escritores, que, “para tornar claro o
contexto, costumam recorrer às formas reforçativas dele, dela, delas”: a)
“O Sr. Frei João é muito extremoso, e o que faz é por desejar o seu bem
deles” (Rebelo da Silva); b) “Já meu cunhado dizia que era seu costume
dela, quando queria alguma coisa” (Machado de Assis); c) “…
começaria por atirar às faces dos poderosos o sudário dos seus crimes
deles” (Camilo Castelo Branco).
5. Vale, em resumo, transcrever a didática exposição de Vasco Botelho de
Amaral a respeito da questão: “Quem, desprevenidamente, ouvir a um
rude campônio dizer que a sua mulher dele fez isto ou aquilo não se
precipite imaginando que o pobre homem se expressou pleonasticamente
mal. É que, não só a linguagem popular, senão também a literária recorre
por vezes às formas dele, dela, deles, delas como reforço ou como
processo de clareza. A explicação está em que seu, sua, seus, suas
podem dar lugar a confusão de gênero e número, pois seu tanto pode ser
dele, como dela, deles ou delas, de você, etc.” (1943, p. 40).

Seu nome dele – Está correto?


Ver Seu dele – Está correto? (P. 695)

Seu produto ou O seu produto?


1. Um leitor indaga qual das seguintes formas é correta: a) “A Jamef
entrega mais que seu produto. Entrega sua marca”; ou b) “A Jamef
entrega mais que o seu produto. Entrega a sua marca”?
2. Ora, a diferença visual entre os dois exemplos trazidos para análise
estampa-se nos seguintes dizeres: a) seu produto e sua marca, ou b) o
seu produto e a sua marca.
3. Uma análise um pouco mais técnica do exemplo mostra que a dúvida do
leitor, em última análise, reside em saber se o pronome possessivo (seu
ou sua) admite ou não artigo antes de si.
4. Uma consulta, ainda que perfunctória, aos escritos de nossos abalizados
autores revela que é facultativo o emprego do artigo antes dos pronomes
possessivos. Exs.: a) “… outra vez torno a falar de vosso amor” (Padre
Antônio Vieira); b) “Andrade contentou-se com o seu próprio sufrágio”
(Machado de Assis).
5. Lembra-se, adicionalmente, que essa facultatividade de emprego do
artigo antes do pronome possessivo se dá no plano sintático, certo como
é que, quanto ao sentido, à precisão e à especificação, pode haver
ligeiras diferenças entre os exemplos.
6. E, assim, de modo específico para a indagação do leitor, respeitadas
ligeiras diferenças de sentido, ambas as frases da consulta estão corretas:
a) “A Jamef entrega mais que seu produto. Entrega sua marca”; b) “A
Jamef entrega mais que o seu produto. Entrega a sua marca”.

Si
1. O pronome pessoal si só pode funcionar como reflexivo (isto é, só pode
ser utilizado como pronome referente à mesma pessoa do sujeito). Exs.:
a) “Eu me dirijo a si” (errado); b) “Eu me dirijo a você” (correto); c)
“Ele voltou a si” (correto); d) “Ele pensou apenas em si” (correto).
2. Em outras palavras, tecnicamente se há de dizer que as variações
pronominais se, si e sigo são sempre correlatas à palavra que representa
o sujeito da oração em que tais palavras se acham como complementos
(PEREIRA, 1924, p. 325).
3. Veja-se, nesse sentido, a firmeza da lição de Antenor Nascentes: “Os
pronomes se, si, consigo, referem-se sempre ao sujeito da oração; são
reflexivos. Exs.: Fulano se enganou. Fulano só cuida de si. Fulano é um
indivíduo metido consigo. Deve-se dizer: Estou muito zangado com
você. Há pouco falei de você. E não: Estou muito zangado consigo. Há
pouco falei de si” (1942, p. 90).
4. Nesse mesmo sentido, observa João Ribeiro (1923, p. 176) que si, sendo
reflexivo, refere-se “naturalmente ao sujeito da proposição”. E continua
dizendo não ser correto “Falei consigo”, mas “Falei com você”; nem ser
correto dizer “Falei de si”, mas “Falei de você”.
5. Lembra Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 66) que o uso não reflexivo de
tal pronome, muito embora seja comum em Portugal, contém solecismo.
6. Posicionando-se contrariamente a seu uso sem reflexividade, também
Júlio Nogueira (1930, p. 330) chama a tal emprego de “grosseiro
solecismo importado de Portugal”, não sem observar que se trata de
imperfeição que “até excelentes escritores portugueses já empregam”.
7. Não destoam desse modo de pensar Carlos Góis e Herbert Palhano: “As
formas si e consigo só podem ser usadas como reflexivas…, isto é,
quando o próprio sujeito pratica e recebe a ação… É, pois, erro empregar
si, consigo com referência ao interlocutor, quando a ação do verbo é
atribuída à pessoa que fala: ‘Nunca pensei isso de si’; ‘Ontem me
encontrei consigo’. Deve dizer-se: ‘Nunca pensei isso de você…’
‘Ontem me encontrei com você…’” (1963, p. 81).
8. Assim reforça o lembrete de Sousa e Silva no sentido de que, quando há
reflexividade, obrigatório é o uso desse pronome, e, nessa hipótese, “não
é correto empregar ele, ela, eles ou elas” (1958, p. 271-5). Exs.: a) “Ele
pensou apenas em si” (correto); b) “Ele pensou apenas nele mesmo”
(errado).
9. Júlio Nogueira (1939, p. 239-40) também é taxativo para rotular de
solecismo o uso de si sem reflexividade.
10. Observando que “se, si, sigo são meros reflexivos e não se podem
referir senão ao sujeito da oração, sendo este da terceira pessoa” –
como em “Antônio fala a si” ou consigo, isto é, “Antônio fala a si
próprio” ou consigo mesmo – leciona Alfredo Gomes (1924, p. 339)
que “é erro crasso empregar expressões como: “Fulano já falou a si
(ao senhor) acerca deste negócio? Gosto muito de si (de você)”.
11. De igual modo, para Cândido de Oliveira, se, si e consigo são formas
reflexivas e “só se podem usar em relação ao próprio sujeito do verbo”
(1961, p. 174).
12. Para Laudelino Freire (1937, p. 73), tal forma pronominal é “por
natureza reflexiva”, caráter que cumpre ter em vista para evitar erros
muito vulgarizados, como dizer uma pessoa a outra: … “Pedro deu-me
este recado para si”.
13. Apesar de posicionamento doutrinário firme nesse sentido por parte de
diversos e abalizados gramáticos, como Ernesto Carneiro Ribeiro, João
Ribeiro, Júlio Ribeiro, Carlos Góis e Assis Cintra, é de se anotar,
porém, que outros autores defendem o uso de si e consigo sem
significação reflexiva: Meyer Lübke, Leite de Vasconcelos, José Maria
Rodrigues e Eduardo Carlos Pereira.
14. Este último (PEREIRA, 1924, p. 325), após observar ser “antiga e geral
a tendência de se empregar no tratamento familiar” o si e o consigo
referindo-se à segunda pessoa, acrescenta que “não há nisso
inconveniência e há vantagem prática”, não explicitando, todavia, qual
seria o benefício, mas carreando o abono de Leite Vasconcelos e
citando exemplos de Alexandre Herculano e Eça de Queirós.
15. Nessa esteira, aduzindo que “não é só o povo que o usa, mas já muitos
letrados, o que não pode passar sem ser observado”, Silveira Bueno
(1938, p. 219) também acata o uso de tal pronome sem sua estrita
significação de reflexo.
16. Lembra, de igual modo, Artur de Almeida Torres que “em Portugal já
se admite o emprego de si e consigo não reflexivos, referindo-se à
pessoa com quem se fala” (1966, p. 83).
17. De extrema pertinência e propriedade, contudo, a síntese de Aires da
Mata Machado Filho: “O emprego de si… sem significação reflexiva,
mais usado em Portugal que no Brasil, destoa da boa tradição
vernácula e embaça a clareza do discurso” (1969i, p. 25).
18. Vale também anotar a advertência claríssima de Júlio Nogueira: “o que
não se deve admitir é o emprego de si e consigo sem reflexividade,
como se faz em Portugal”. Assim – continua tal gramático – não se há
de dizer ‘eu gosto de si’, ‘eu sonhei consigo’; dir-se-á: ‘eu gosto do
senhor, da senhora, de você’, ‘eu sonhei com o senhor, com a senhora,
com você”.
19. E, com integral propriedade, acrescenta (NOGUEIRA, 1959, p. 80):
“Além de o emprego de si e consigo sem reflexividade constituir feio
solecismo, ele traz ambiguidade de sentido”. Assim, o exemplo “A
moça falou de si”, para os que defendem a possibilidade do emprego de
tal pronome sem reflexividade, tanto pode ter seu sentido normal de “A
moça falou de si própria”, como pode significar que “A moça falou de
você, do senhor, de Vossa Excelência…”
20. Não se olvide, por conseguinte, a significativa lição de José de Sá
Nunes: “O pronome reflexivo sempre se refere ao sujeito da oração…”
(1938, p. 75).
21. Observa tal autor que o emprego de si e de consigo sem caráter
reflexivo, em Portugal, é defendido, entre outros, por Leite de
Vasconcelos e Epifânio Dias; “mas esse emprego só se nota na
linguagem familiar de lá. Na linguagem literária, raríssimo se nos
depara em bons escritores lusitanos o pronome si sem função
reflexiva” (NUNES, 1938, p. 76).
22. E continua: “No Brasil, houve um filólogo de alto mérito que se
abalançou a defender o uso do pronome si sem valor reflexo: Mário
Barreto. O certo é que, entre nós, o pronome si, despojado da função
que lhe é inerente, só se ouve na linguagem familiar e no linguajar da
gente inculta” (NUNES, 1938, p. 76-7).
23. Em outro trecho de sua obra, assim se expressa José de Sá Nunes:
“Felizmente, o uso errôneo de se empregar o si em valor reflexo é
quase exclusivo de Portugal, e, mesmo lá, somente na linguagem
popular e na de alguns modernistas… No Brasil, graças a Deus, todos
os filólogos e gramáticos dignos de tais nomes reprovam e condenam o
uso do pronome si com referência à pessoa com quem se fala. Este
pronome, quando reflexivo, não pode referir-se a outra palavra que não
seja o sujeito da oração. Desse parecer só discrepa, ao que me consta, o
dr. Mário Barreto” (1938, p. 149-50).
24. E também se veja a lição de Laudelino Freire: “Só é legítimo o
emprego do reflexivo nas frases em que se ele refere à terceira pessoa.
Estranhável é, portanto, que Camilo Castelo Branco o tivesse
empregado com referência à segunda pessoa, ainda quando fizesse
dialogar as suas personagens” (s/d, p. 7).
25. Para se fixar uma síntese, o certo é que, apesar de algumas divergências
entre os gramáticos, a defesa do uso de si sem reflexividade dá-se
basicamente para seu emprego na linguagem coloquial, de modo que,
no que concerne à norma culta, deve-se preservar a distinção: a) se há
reflexividade, emprega-se o si; b) se, porém, não se refere ao sujeito da
oração, outro é o pronome a ser usado.
26. As mesmas observações aqui feitas valem para consigo.
Ver Entre eles ou Entre si? (P. 322) e Pronome pessoal (P. 614).

Sic
1. Trata-se de advérbio latino, que significa assim.
2. De acordo com ensinamento de Vitório Bergo, é latinismo que,
geralmente, se encontra entre parênteses, “para indicar que um trecho
transcrito não foi alterado, mas se apresenta textualmente, ainda que com
ele não concorde o transcritor” (1944, p. 217-8).
3. Para Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 246), tal vocábulo tem por função
“demonstrar a fidelidade de algum trecho transcrito”. Ex.: “A república,
este sim, é o melhor regime” (sic).
4. No conceito de Domingos Paschoal Cegalla, constitui “latinismo que se
coloca entre parênteses, após uma palavra ou citação, para indicar que
são autênticas, embora erradas ou estranhas” (1999, p. 374).
5. Não destoa desse ensino Napoleão Mendes de Almeida: “Palavra latina
que significa assim. Emprega-se entre parênteses, antes ou depois de
uma citação, para indicar que o original vai ser ou foi reproduzido
fielmente, com as mesmas palavras, como foram proferidas ou escritas”
(1981, p. 298).
6. Em termos técnicos, usa-se com muita frequência antes, no meio ou
depois de uma citação, para indicar que houve fiel reprodução do
original, com as mesmas palavras, conforme foram escritas (geralmente
para eximir a quem cita da responsabilidade atinente a algum erro de
grafia ou de sintaxe). Ex.: a) “Registrava textualmente a sentença que
‘as testemunhas, talvez por medo ou coação, não deporam (sic)nos
termos previstos pela legislação civil em vigor’” (o correto é
depuseram); b) “Qualquer mudança deve vigir (sic)apenas a partir de
2002” (o correto é viger).
7. O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia
Brasileira de Letras, que é o veículo oficial indicador das palavras
existentes em nosso idioma, registra-o com a especificação de se tratar
de advérbio latino (2009, p. 864).
8. Assim, por se tratar de palavra pertencente a outro idioma, há de vir
entre aspas, em negrito, itálico, com sublinha ou grifo equivalente,
indicador de tal circunstância.

Sigla
Ver Abreviatura, Abreviação e Sigla – O que é e Como usa? (P. 55)
Sigla – Como escrever por extenso?
1. Uma leitora pergunta, em síntese, como fica melhor explicitar o
significado de uma sigla: entre travessões, ou com um travessão no
início e vírgula no final? Em termos práticos: a) “Foi considerada a
maior ONG – Organização Não-Governamental – da América Latina”;
b) “Foi considerada a maior ONG – Organização Não-Governamental,
da América Latina”?
2. Antes de ingressar no efetivo mérito da dúvida da leitora, observa-se,
num primeiro aspecto, que, pelas regras do Acordo Ortográfico de 2008,
não mais se usa o hífen, quando se quer negar uma palavra, dizendo o
seu contrário pela anteposição de um não. Vejam-se alguns exemplos:
não agressão, não cooperação, não cumprimento, não ficção, não
fumante, não pagamento, não proliferação, não violência. Assim, para o
caso, Organização Não Governamental.
3. No mérito da indagação, observa-se que o que a leitora quer, em última
análise, é saber como separar por sinais de pontuação a explicação
Organização Não Governamental, que é exatamente o significado da
sigla que antecede tal explicação. E, quando se extrai a expressão
indicadora do significado da sigla, percebe-se que não há sinal algum
adicional de pontuação que precise ser considerado (“Foi considerada a
maior ONG da América Latina), o que implica dizer que o único desafio
é realmente a expressão do significado da referida entidade.
4. Ora, quando se trata de pura intercalação, esta pode ser feita entre
travessões ou entre parênteses. Mas a intercalação acontece com sinais
idênticos, de modo que não se pode colocar um travessão no início e
uma vírgula depois.
5. Assim, em resposta à leitora, confiram-se os seguintes exemplos, com a
indicação de sua correção ou erronia entre parênteses: a) “Foi
considerada a maior ONG – Organização Não Governamental – da
América Latina” (correto); b) “Foi considerada a maior ONG
(Organização Não Governamental) da América Latina” (correto); c)
“Foi considerada a maior ONG – Organização Não Governamental, da
América Latina” (errado); d) “Foi considerada a maior ONG,
Organização Não Governamental – da América Latina” (errado).
Sigla e Ponto
1. Quando a abreviatura das palavras se dá pela utilização de suas iniciais,
tem-se uma sigla. Exs.: DASP (Departamento Administrativo do Serviço
Público), I.N.S.S. (Instituto Nacional de Seguridade Social).
2. A questão do regime das abreviaturas e, por conseguinte, das siglas, não
é pacífica, mas algumas ponderações podem ser feitas com proveito.
3. Uma primeira observação é que, nas siglas, o mais lógico é não usar o
ponto de separação, se as letras são pronunciadas formando nova
palavra, como ARENA (Aliança Renovadora Nacional, antigo partido
político dos tempos da ditadura de 1964); se, todavia, a leitura da sigla se
dá em soletração, então o mais adequado é usar o ponto de separação
entre as letras, como em F.N.M. (Fábrica Nacional de Motores).
4. Essa, aliás, é a lição de Cândido de Oliveira: “se lermos letra por letra
(ene, ge, bê), entre elas há ponto (N.G.B.); se as letras formam um todo
significativo, não há ponto: DEA”.
5. Do primeiro caso, para o mesmo autor (OLIVEIRA, C., 1961, p. 77), são
exemplos I.N.S.S. (Instituto Nacional de Seguridade Social) e P.V.O.L.P
(Pequeno Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa), enquanto do
segundo são MEC (Ministério da Educação e Cultura), PETROBRAS
(Petróleo Brasileiro), SESI (Serviço Social da Indústria) e UBE (União
Brasileira de Escritores).
6. Apesar da lição tradicional anterior, Luciano Correia da Silva anota que
o uso constante vem contrariando a regra segundo a qual se utilizam
pontos nas siglas cujas letras se pronunciam separadamente: de I.N.P.S.,
O.A.B., segundo tal autor, passou-se, na prática, a escrever INPS e OAB.
7. Em outra passagem, acrescenta ele (SILVA, L., 1991, p. 181 e 323) que
“há uma tendência crescente para a eliminação dos pontos nas siglas em
geral: MP (Ministério Público), CPC (Código de Processo Civil), TJ
(Tribunal de Justiça), RT (Revista dos Tribunais), STF (Supremo
Tribunal Federal), STJ (Superior Tribunal de Justiça), CLT
(Consolidação das Leis do Trabalho), MP (Medida Provisória), PM
(Polícia Militar)”.
8. Em mesmo sentido, para Regina Toledo Damião e Antonio Henriques
(1994, p. 245), as siglas, em casos dessa natureza, podem vir,
indiferentemente, acompanhadas ou não de ponto – MEC ou M.E.C.,
CIC ou C.I.C. E acrescentam tais autores que “a tendência moderna é o
uso de siglas sem pontuação”.
9. Com todas essas observações e posições dos nossos autores, vê-se que se
deve adotar uma postura mais abrangente e acatar ambas as posições: ou
seja, tanto se pode escrever uma sigla com pontos entre suas letras
componentes, como se pode suprimi-los. Acresce dizer que, embora o
ensino tradicional seja o de pontuar siglas dessa natureza, a moderna
tendência à simplificação faz com que mais e mais se dê preferência à
primeira grafia. Repita-se, porém, que ambas as formas estão corretas.

Siglas – CND’S ou CNDs?


Ver Abreviatura, Abreviação e Sigla – O que é e Como usa? (P. 55)

Siglas dos estados brasileiros


1. Um leitor envia sua dúvida, aduzindo os seguintes argumentos: a) as
siglas dos estados brasileiros são escritas algumas só com a inicial
maiúscula (Ba), enquanto outras com todas as letras maiúsculas (RJ,
MG); b) acredita ele que a sigla toda maiúscula se deve ao fato de ser
composto o nome de alguns estados; c) quanto aos demais, que têm
nomes simples, apenas a primeira letra deve ser maiúscula.
2. Num primeiro aspecto, em termos genéricos, anota-se que, para o
emprego de maiúsculas e minúsculas nas siglas, José de Nicola e Ernani
Terra mandam observar uma primeira regra de que “as siglas formadas
por até três letras são grafadas em maiúsculas: PT, CBF, ONU, OAB,
STF, etc.”
3. Acrescentam uma segunda regra de que “as siglas com mais de três
letras devem ser grafadas com inicial maiúscula e as demais, minúsculas:
Incra, Unesco, Fiesp, Embratur, etc.”
4. E complementam: “Se, porém, as siglas formadas por mais de três letras
não puderem ser pronunciadas como se fosse uma palavra normal,
também se grafarão em maiúsculas: ABNT, INSS, BNDES, CNBB,
CPOR, DNER, etc.” (NICOLA; TERRA, 2000, p. 118).
5. Após essas observações, anota-se que as siglas dos vinte e seis estados e
do distrito federal são, respectivamente: Acre - AC; Alagoas - AL;
Amapá - AP; Amazonas - AM; Bahia - BA; Ceará - CE; Distrito Federal -
DF; Espírito Santo - ES; Goiás - GO; Maranhão - MA; Mato Grosso -
MT; Mato Grosso do Sul - MS; Minas Gerais - MG; Pará - PA; Paraíba -
PB; Paraná - PR; Pernambuco - PE; Piauí - PI; Rio de Janeiro - RJ; Rio
Grande do Norte - RN; Rio Grande do Sul - RS; Rondônia - RO;
Roraima - RR; Santa Catarina - SC; São Paulo - SP; Sergipe - SE;
Tocantins - TO. Todas as letras das siglas, como se vê, são grafadas em
maiúsculas.
6. Da observação das siglas acima, podem extrair-se as seguintes
conclusões: a) Em estados com nome composto, a formação das
abreviaturas normalmente aproveitou a inicial dos dois nomes: Distrito
Federal - DF, Espírito Santo - ES, Minas Gerais - MG, Rio de Janeiro -
RJ, Santa Catarina - SC, São Paulo - SP; b) Se já havia outro estado com
a mesma sigla, então se fixou a diferença por algum outro modo: Mato
Grosso - MT, Mato Grosso do Sul - MS; c) Quando houve, desde o
início, um estado no norte e um no sul com a mesma sigla resultante, a
diferença se fixou pela localização: Rio Grande do Norte - RN, Rio
Grande do Sul – RS; d) Nos estados com nome simples, buscou-se a
feitura da sigla pelo aproveitamento das duas primeira letras: Acre - AC,
Alagoas - AL, Amazonas - AM, Bahia - BA, Ceará - CE, Goiás - GO,
Maranhão - MA, Pará – PA, Pernambuco – PE, Piauí – PI, Rondônia -
RO, Sergipe - SE, Tocantins - TO; e) Também nesse caso, se já havia
uma sigla, a diferenciação se fez por algum outro artifício: Amapá - AP,
Paraíba - PB, Paraná - PR, Roraima - RR.
7. Com base em todas as considerações feitas, podem-se extrair as
seguintes conclusões concernentes ao caso da consulta: a) Todos os
estados brasileiros e o distrito federal têm siglas com apenas duas letras,
não importando a extensão de seus nomes: b) Ambas as letras de tais
siglas são grafadas com maiúsculas, não importando tamanho do nome
do estado nem o modo de formação da sigla; c) A sigla do estado da
Bahia (BA) foi formulada pelo modo mais natural, a saber, pelo
aproveitamento das duas primeiras letras; d) Tal sigla, como as dos
demais estados brasileiros, é grafada integralmente com maiúsculas; e)
Também por conta das razões expostas, a sigla da Universidade Federal
da Bahia – porque não se pronuncia como uma palavra autônoma – se
escreve integralmente com maiúsculas (UFBA); f) A escrita de toda a
sigla em maiúscula independe do fato de que, eventualmente, para sua
formação, haja contribuído uma palavra com mais letras do que outra
(Bahia teria contribuído com duas letras, enquanto Universidade e
Federal, cada qual delas com uma).

Siglas dos Estados – Como escrever?


1. Um leitor, após observar, no dia a dia, diversas maneiras de apresentação
das siglas dos estados da federação – Niterói, RJ; Niterói/RJ; Niterói-RJ;
Niterói - RJ; Niterói (RJ) – indaga qual dentre elas é a forma correta.
2. Diga-se, de início, como observação geral, que nem sempre existe uma
só maneira correta de dispor as palavras ou expressões na frase, de modo
que, em tais hipóteses, assistirá ao usuário da língua portuguesa optar
por esta ou por aquela forma, desde que obedecidos os princípios gerais
que norteiam o uso do idioma.
3. É o que se dá, por exemplo, com as orações intercaladas ou interferentes,
a saber, aquelas que, sendo sintaticamente independentes, se interpõem a
outras a título de esclarecimento, observação, advertência ou ressalva, e
são consideradas “à margem” do contexto considerado como um todo.
4. Quanto à pontuação, podem tais orações separar-se daquelas em que se
intercalam, indiferentemente, por meio de vírgulas, parênteses ou
travessões. Exs.: a) “Esta situação, pensava ele, poderia ser bem pior”;
b) “Esta situação (pensava ele) poderia ser bem pior”; c) “Esta situação
– pensava ele – poderia ser bem pior”.
5. De igual modo, no caso das siglas indicativas dos estados da federação, à
falta de determinação legal específica para a matéria, ao usuário
assistirá, indiferentemente, empregar o modo de representação que
melhor lhe convier, desde que obedecido o bom senso e as regras gerais
que norteiam a grafia em nosso sistema.
6. Em termos práticos, respondendo diretamente à questão trazida pelo
leitor, são corretas todas as seguintes formas de registro das siglas dos
estados da federação: Niterói, RJ; Niterói/RJ; Niterói-RJ; Niterói - RJ;
Niterói (RJ).

Siglas pluralizadas
Ver Abreviatura, Abreviação e Sigla – O que é e Como usa? (P. 55)

Sílaba
Ver Partição silábica entre as linhas (P. 551).

Silabada
Ver Prosódia (P. 626).

Símbolo de indeterminação do sujeito


Ver Gosta-se de um bom vinho – Está correto? (P. 375)

Símbolos
Ver, ao final, Símbolos e Sinais (P. 798).

Simpatizar
1. Esse verbo significa, em suma, ter afeição, interesse, afinidade ou
inclinação. Ex.: “O pai não simpatizou com o namorado da filha”.
2. A preocupação maior com esse verbo diz respeito à regência verbal, já
que é transitivo indireto e se constrói unicamente com a preposição com.
Exs.: a) “O país inteiro simpatizava com esse princípio” (Rui Barbosa);
b) “Seu pai, comerciante laborioso, simpatizou com o incansável
bastardo do titular” (Camilo Castelo Branco); c) “Desses homens e
dessas ideias com quem a minha natureza simpatizava sem saber por
quê” (Almeida Garrett).
3. Observada sua normal regência, vale acrescentar que ele não é
pronominal nem admite construção com qualquer outra preposição, de
modo que são equivocadas e errôneas as seguintes estruturas: a) “O pai
não se simpatizou com o namorado da filha”; b) “O pai não simpatizou
do namorado da filha”; c) “O pai não simpatizou pelo namorado da
filha”; d) “O pai não se simpatizou pelo namorado da filha”; e) “O pai
não se simpatizou do namorado da filha”.
4. A correção de todos esses casos de uso equivocado e errôneo do verbo
simpatizar deve dar-se por uma só forma: “O pai não simpatizou com o
namorado da filha”.
5. Nada impede que se empregue algum termo que indique intensidade
dessa ação de simpatizar: a) “O pai simpatizou muito com o namorado
da filha”, b) “O pai simpatizou pouco com o namorado da filha”.

Simplicista ou Simplista?
1. Um leitor relata que um professor seu sempre insistiu em que o correto é
simplicista, e não simplista. E indaga se isso é verdade.
2. Por um lado, realça-se que o Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa registra ambas as palavras: simplicista e simplista
(ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, 2009, p. 757).
3. Ora, o VOLP é editado pela Academia Brasileira de Letras, entidade esta
que detém a delegação legal para listar oficialmente os vocábulos
existentes em nosso idioma, de modo que não remanesce dúvida alguma
quanto à efetiva existência de ambos os vocábulos no vernáculo.
4. Num segundo aspecto, os dicionários dão tais palavras como sinônimas,
muito embora registrem que simplicista é forma pouco usada, e atribuem
a ambas o significado daquilo que se relaciona com a tendência de
considerar apenas uma face ou um aspecto das coisas, ou seja, aquilo
que tem a ver com uma simplificação exagerada. Exs.: a) “Essa opinião,
sem dúvida, é muito simplicista para a dificuldade do problema”
(correto); b) “Essa opinião, sem dúvida, é muito simplista para a
dificuldade do problema” (correto).
5. Acresce dizer que simplicista, numa segunda acepção, também pode
significar aquilo que se refere ao tratamento ou cura por meio de
símplices (ou seja, por meio de plantas medicinais em seu estado
natural). E, obviamente, nesse sentido simplicismo não é sinônimo de
simplismo, nem simplicista tem a mesma acepção de simplista.

Sinal
Ver Símbolos e Sinais (P. 798).

Sindicar
Ver Datilografar (P. 251).

Sisa
1. Napoleão Mendes de Almeida (1981, p. 300), fundado em ensinamento
de Fernão de Oliveira, dá por origem de tal vocábulo o idioma espanhol,
e o tem por existente em nosso idioma já ao tempo de D. João I, rei de
Portugal, no século XIV.
2. Sua origem mais remota é encontrada por De Plácido e Silva (1989, p.
241) no latim, mais especificamente no verbo excidere, que significa
cortar, separar.
3. Quanto à história, no período entre 1530 e 1808, em nosso país, já foi
imposto cobrado pelo Real Erário por cabeça de índio tornado escravo e
já era antigo imposto cobrado em Portugal sobre a venda e compra de
equinos, escravos e vinhos, além de imposto adicional cobrado de judeus
(judença). A partir do século XIX, as sisas passaram a ser cobradas no
Brasil, em negócios imobiliários.
4. Em termos jurídicos, é a denominação dada ao imposto de transmissão
de propriedade, calculado mediante porcentagem estabelecida sobre o
valor da venda.
5. Se se trata de imposto de transmissão em virtude do falecimento de
alguém (causa mortis) e de doação, a Constituição Federal de 1988
atribui a competência para sua instituição aos Estados e ao Distrito
Federal (art. 155, I, “a”); se, porém, se trata de transmissão por ato
oneroso entre vivos (inter vivos), a competência para sua instituição é
conferida aos Municípios (art. 156, II).

Site, saite ou sítio?


1. O conjunto das palavras existentes em nosso vocabulário não é um sítio
arqueológico, em que nada de novo acontece e tudo se encontra
fossilizado. As palavras, na língua, têm vida, de modo que nascem, têm
sua existência, às vezes se modificam, quer em estrutura, quer em
sentido, e muitas vezes morrem.
2. Uma das razões do aparecimento de novos vocábulos é a tecnologia.
Palavras como televisão, telégrafo e telefone surgiram com a invenção
dos aparelhos conhecidos pelos respectivos nomes. Assim, de acordo
com a necessidade, novos termos vão surgindo, em razão da ausência de
vocábulo correspondente em português. É o que se denomina
neologismo.
3. Quando surge o problema, porém, como se deve resolver a questão: a)
aportuguesa-se simplesmente a palavra de outro idioma?; b) grafa-se a
palavra tal como em seu idioma de origem?; c) ou se emprega outra
palavra em português, que seja a tradução da palavra de outra língua?
4. Ora, num primeiro aspecto, nem sempre a tradução fiel da palavra para o
vernáculo corresponde ao sentido do termo na língua de origem. Assim,
é questionável que sítio corresponda a “site”.
5. Por outro lado, quando se confere forma nova a um vocábulo em
português, é preciso verificar se ele consta da relação do Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, que é uma espécie de dicionário que
lista as palavras reconhecidas oficialmente como pertencentes à língua
portuguesa, bem como lhes fornece a grafia oficial. Esse VOLP é
elaborado pela Academia Brasileira de Letras, que tem a
responsabilidade legal de editá-lo, em cumprimento à vetusta Lei
Eduardo Ramos, de 726, de 8/12/1900.
6. Assim, se consta do VOLP, então a palavra pertence ao nosso léxico; em
caso contrário, ela não existe para o idioma. A ABL é a autoridade
suprema para listar oficialmente as palavras existentes em nosso léxico.
7. Pois bem. Em termos bem concretos, saite não se encontra no VOLP.
Muito ao contrário: em sua edição de 2009, em que listou uma série de
“Palavras estrangeiras” usadas em nosso dia a dia, arrolou entre ela o
vocábulo site, esclarecendo que ele pertence ao idioma inglês
(ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, p. 864), o que liquida de
uma vez por todas com o assunto, porquanto, como é sabido, o VOLP é
a lei sobre o assunto, a que todos devemos obediência.
8. E, quando o vocábulo pertence a um idioma estrangeiro, então se deve
citar a palavra no idioma de origem, apenas com o cuidado de grafá-la
em itálico, negrito, sublinha ou entre aspas. Assim, site, site, site ou
“site”.

Sito à Rua Tal ou Residente na Rua Tal?


Ver Morar à Rua Tal ou Morar na Rua Tal? (P. 477)

Situações que não bastam evitar – Está correto?


Ver Infinitivo como sujeito – Como concordar? (P. 414)

Situado à Rua Tal ou Residente na Rua Tal?


Ver Morar à Rua Tal ou Morar na Rua Tal? (P. 477)

Situar-se à Rua Tal ou Situar-se na Rua Tal?


Ver Morar à Rua Tal ou Morar na Rua Tal?(P. 477)

Só – Adjetivo ou advérbio?
1. Um leitor indaga se, na frase “Exército de um homem só”, “só” se
comporta como adjetivo (equivalendo a solitário), como o advérbio
(correspondendo a apenas) ou como ambos?” E outro leitor pergunta
qual a frase correta entre as seguintes: a) “Causas que, por si só,
produziriam o resultado…”; b) “Causas que, por si sós, produziriam o
resultado”.
2. Ora, a palavra só ora funciona como advérbio, ora, como adjetivo.
3. Por um lado, tem ela valor de advérbio: a) quando modifica um verbo ou
um adjetivo; b) nesse caso, equivale a somente, unicamente, apenas; c)
nessa situação, é invariável. Exs.: i) “O réu só queria protelar o
andamento do feito”; ii) “Os réus só queriam protelar o andamento do
feito”.
4. Por outro lado, tem valor de adjetivo: a) quando modifica um
substantivo; b) nesse caso equivale a sozinho, desacompanhado,
solitário; c) nessa situação, é variável. Exs.: i) “O réu ficou só”; ii) “Os
réus ficaram sós”.
5. Por oportuno, acresce dizer que a expressão a sós é invariável. Exs.: a)
“O réu ficou a sós”; b) “O réu e seu patrono ficaram a sós”.
6. Feitas essas considerações, passa-se a responder, de modo prático, ao
primeiro leitor: a) deixando de lado a teoria, quer porque nem sempre é
de fácil entendimento, quer porque dispensável na análise do caso
concreto, pode-se afirmar que só é advérbio quando significa somente ou
apenas; b) nesse caso, é invariável; c) por outro lado, é adjetivo quando
significa sozinho ou solitário; d) nessa hipótese, é variável; e) na
expressão trazida para análise – “Exército de um homem só”, o sentido
permite que a substituição se dê por qualquer dos vocábulos referidos
como sinônimos (somente ou apenas e sozinho ou solitário); f) é de fácil
percepção que a função de só será diferente, conforme o sentido que se
dê ao vocábulo no caso prático; g) quando o sentido for somente ou
apenas, então só será um advérbio; h) quando, porém, se quiser conferir
a tal palavra o sentido de sozinho ou solitário, então se estará diante de
um adjetivo; i) com os exemplos no plural, a expressão mostra com mais
clareza a diferença de sentidos e de funções de tal palavra – “Exército só
de homens” e “Exército de homens sós”.
7. Observadas as mesmas premissas para o segundo leitor, fazem-se as
seguintes ponderações: a) se o exemplo for “… causas que, só por si”,
então o só pode ser substituído por somente; b) nesse caso, só é um
advérbio e, portanto, invariável; c) o resultado correto é “… causas que,
só por si…”; d) se o exemplo é “… causa que, por si só”, a substituição
dá-se por sozinha; e) então tal palavra é adjetivo e é variável; f) no
plural, então, fica “… causas que, por si sós…”

Soar – Como concordar?


Ver Bater, Dar e Soar – Como concordar? (P. 157)

Sob
1. Do latim, sob indica posição de uma coisa inferior a outra. Ex.: sobpé,
sobpor.
2. As diretrizes do Acordo Ortográfico de 2008 determinam que tal prefixo
se une ao segundo elemento por hífen em três casos: a) quando o
segundo elemento se inicia por h (faltam exemplos no VOLP); b)
quando o segundo elemento começa com r (sob-roda, sob-rojar); c)
quando o segundo elemento principia com a mesma letra que finda o
prefixo (faltam exemplos no VOLP).
3. Por conseguinte, a ligação se faz de modo direto, quando o segundo
elemento começa com outra consoante: sobcapa, sobdominante, sobpé,
sobpor.
4. Também direta é a ligação, quando o segundo elemento é iniciado por
vogal: sobalçar, sobestar.

Sob color de
1. Veja-se, por primeiro que color, na expressão referida, é palavra oxítona
(pronuncia-se colôr), não tendo, assim, a mesma pronúncia do
sobrenome de um ex-presidente da República, que caçava marajás.
2. Atente-se também a que, se o vocábulo latino colore deu origem à
palavra cor em português, não menos certo é que, desde a língua mãe,
por transmutação semântica, também passou a ter o significado de
aparência, pretexto.
3. E, assim, em termos formais, a forma arcaica color sobrevive
validamente na locução prepositiva sob color de, perfeitamente correta
em nosso idioma, com o significado de a pretexto de, sob aparência de.
Exs: a) “Sob color de legais, as medidas determinadas nos autos eram
efetivamente arbitrárias”; b) “Devia ser Serges o alugador das casas,
sob color de querer armazenar nelas os seus gêneros” (Camilo Castelo
Branco).

Sob encomenda ou Sobre encomenda?


1. Um leitor indaga qual a forma correta: “Os uniformes foram
confeccionados sob encomenda” ou “Os ternos foram confeccionados
sobre encomenda”?
2. Para o que aqui se discute, é de se ver que a preposição sob tem o
sentido físico de debaixo de (como em sob a mesa) e também o sentido
intangível de subordinação, de dependência (como em sob o aspecto,
sob condição de, sob pena de, sob o domínio de, sob a direção de, sob o
governo de, sob forma de e sob medida).
3. Já a preposição sobre exprime a ideia geral de em cima de, e também
pode apresentar o significado de a respeito de (sobre política), com
garantia de (empréstimo sobre hipoteca)…
4. Diversos exemplos – e corretos – podem ser trazidos para exemplificar a
acepção do circunlóquio da consulta: a) “Restaurantes oferecem ceia de
Natal sob encomenda”; b) “Já existem pessoas, na internet, que
oferecem monografias e trabalhos sob encomenda”; c) “Nossa
pontualidade é total em nossos trabalhos sob encomenda”; d) “Aquele
compositor faz músicas sob encomenda no Natal”; e) “A produção sob
encomenda é desenvolvida para um cliente específico”.
5. Uma análise da própria significação mostra, sem grandes dificuldades,
que se deve dizer sob encomenda, e não sobre encomenda, de modo que
as formas corretas dos exemplos trazidos são as seguintes: a) “Os
uniformes foram confeccionados sob encomenda”; b) “Os ternos foram
confeccionados sob encomenda”.

Sob hipoteca ou Sobre hipoteca?


1. Qual a forma correta da expressão: a) “Emprestei-lhe dinheiro sob
hipoteca”; b) “Emprestei-lhe dinheiro sobre hipoteca”. Acrescenta ele
que encontrou, no prestigiado gramático Domingos Paschoal Cegalla, a
construção “Emprestar dinheiro sobre hipoteca”.
2. Num primeiro momento, exclui-se de qualquer dúvida um exemplo
como “Ele discorreu longamente sobre hipoteca”, em que é clara, na
preposição sobre, a ideia de a respeito de, acerca de, com referência a
ou relativamente a, tipificando uma situação bem diferente da que aqui
se discute.
3. Em seguida, alinha-se um exemplo como “A casa estava sob hipoteca”:
nele o sentido é claro para considerar a hipoteca como oneração ou
gravame que pesa sobre a casa. É a hipoteca em seu prisma passivo,
considerada do lado de quem sofre seus efeitos.
4. Por fim, traz-se um outro exemplo – “Ele aplicou dinheiro sobre
hipoteca”: o contexto não deixa dúvida de que a expressão em destaque
busca considerar a hipoteca como lastro, em seu prisma ativo,
considerada do lado de quem a tem como garantia e pode exigir seus
reflexos do devedor.
5. Da própria verificação dos casos concretos, parece que se pode resumir a
questão do seguinte modo: a) a expressão sob hipoteca indica a
consideração pelo aspecto passivo, a saber, da oneração ou do gravame
que pesa sobre o bem; b) já o circunlóquio sobre hipoteca aponta o
aspecto ativo, ou seja, da garantia ou do lastro representado pelo referido
direito real.
6. Com essas ponderações, vejam-se os seguintes exemplos, todos corretos
quanto ao uso da expressão sob hipoteca: a) “Iriam à hasta pública os
bens sob hipoteca”; b) “Basta que conste que o imóvel se encontra sob
hipoteca”; c) “É preciso fiscalizar os imóveis sob hipoteca legal”; d)
“Trata-se de imóvel sob hipoteca cedular com base no Decreto-lei
413/69”; e) “O Sindicato dos Jornalistas se acha sob hipoteca judicial”.
7. E se acrescentem outros exemplos, todos também corretos, agora com o
emprego da expressão sobre hipoteca: a) “Era preciso proceder a uma
avaliação das perdas quanto aos empréstimos sobre hipoteca”; b) “Ele
aplicava dinheiro, mas o fazia somente sobre hipoteca”.
8. Por fim, quanto aos casos inicialmente dados, à luz das considerações
feitas, atente-se aos exemplos: a) “Emprestei-lhe dinheiro sob hipoteca”
(errado); b) “Emprestei-lhe dinheiro sobre hipoteca” (correto).

Sob número 37 ou Sob o número 37?


1. A preposição sob tem diversos sentidos em português: a) embaixo de (no
sentido físico), como em “Escondeu-se sob a cama”; b) submetido a
(uma autoridade ou comando, para o exercício de cargo ou função),
como em “Servia sob as ordens do ministro”; c) a partir de, como em
“Analisar o problema sob novos ângulos”; d) de acordo com, como em
“Roupa sob medida”; e) dominado, como em “Situação sob controle”; f)
em consequência de, como em “A dor diminuiu sob analgésicos
poderosos”; g) debaixo de proteção, como em “Viver sob as asas da
mãe”; h) interior de, como em “Usar camiseta sob a blusa de lã”; i)
cercado por, como em “Os vitoriosos desfilavam sob aplausos”.
2. Como é de fácil verificação nos exemplos dados, em alguns casos,
independentemente do sentido, emprega-se o artigo, como em sob a
cama, sob as ordens, sob as asas da mãe. Em outros, prefere-se omitir o
artigo, como em sob novos ângulos, sob medida, sob controle, sob
analgésicos e sob aplausos.
3. Não há uma razão específica nem uma regra para empregar ou omitir o
artigo em tais casos, e a questão fica muito mais para a eufonia, para o
som resultante da fala, do que para uma regra gramatical específica.
4. Quando tem a acepção pretendida pela dúvida sob análise, de indicado,
designado por ou com, a eufonia nem exige nem impede qualquer das
duas construções, de modo que são corretas ambas as formas: “Inscrito
no CNPJ sob número 37” ou “Inscrito no CNPJ sob o número 37”.

Sob o fundamento – Está correto?


1. Trata-se de expressão defeituosa, porquanto, como lembra Vitório Bergo
(1944, p. 218), “qualquer cousa se levanta sobre o fundamento”, e não
sob o fundamento.
2. Nesse cochilo, entretanto, incidem usuários de vulto do idioma, como
Laudelino Freire, o qual assevera que “a locução conjuntiva enquanto
que (enquanto, ao passo que, se bem que) é hoje de uso na linguagem de
grandes escritores, cuja autoridade afasta o que contra ela alguns
gramáticos sentenciam, sob o fundamento, meramente aparente, de ser
ou parecer tradução da expressão francesa tandis que” (s/d, p. 42-4).
3. Em verdade, ante o próprio significado da expressão, cujo conteúdo
semântico não quer realçar a ideia de sujeição, mas de alicerce sobre o
qual alguma coisa se ergue, é que não parece assistir razão ao ensino de
Napoleão Mendes de Almeida, quando assevera que “essa ideia de
sujeição é que explica sob palavra, sob o fundamento de” (1981, p. 301).
4. Quando se diz sob condição, sob pena de morte ou mesmo sob palavra,
reside claramente em tais expressões a ideia de sujeição ou mesmo de
subordinação. Quando se fala em fundamento, todavia, não há ideia
alguma de sujeição ou de subordinação, mas de base, sobre a qual (e não
sob a qual) se erige um pensamento ou raciocínio.

Sob o ponto de vista – Está correto?


1. Trata-se de expressão equivocada.
2. Conferir sua forma correta, que é do ponto de vista.

Sob pretexto de ou A pretexto de?


Ver A pretexto de ou Sob pretexto de? (P. 127)
Sobre – Com hífen ou sem?
1. Como costuma acontecer com os prefixos terminados por vogal, apenas
em dois casos o prefixo sobre se une ao elemento seguinte por hífen: a)
quando o elemento seguinte se inicia por h: sobre-homem, sobre-
humano, sobre-horrendo; b) quando o elemento seguinte começa com a
mesma letra que termina o prefixo: sobre-elevar, sobre-esforço, sobre-
exaltado.
2. Antes de outra consoante, que não seja h, tal prefixo acopla-se
diretamente à palavra seguinte, sem hífen: sobrebainha, sobrecalça,
sobredemora, sobrefaturamento, sobregoverno, sobreloja, sobrenadar.
3. De igual modo, junta-se sem hífen, quando o elemento seguinte se inicia
por outra vogal, que não a mesma que finaliza o prefixo:
sobreabundância, sobreaviso, sobreimposto, sobreintensidade,
sobreolhar, sobreosso, sobreunha.
4. Para a hipótese de ser o segundo elemento iniciado por r ou s, dobram-se
tais consoantes para continuidade do som originário: sobrerrenal,
sobrerroda, sobressair, sobressaturação.

Sobrecomum
1. Diz-se do substantivo que tem um só gênero gramatical para designar
pessoas de ambos os sexos, sem distinção alguma, nem mesmo por
alteração do artigo. Exs.: o algoz, a criança, a criatura, o cônjuge, o
indivíduo, a pessoa, a testemunha, a vítima.
2. Como lembra Celso Cunha (1970, p. 97), quando se quer discriminar o
sexo, o máximo que se permite é o acréscimo de algum elemento
determinativo, como é o caso de um adjetivo. Ex.: o cônjuge feminino.
3. Não confundir com comum de dois ou comum de dois gêneros, em que a
forma do substantivo é a mesma, mas se altera o artigo (o pianista, a
pianista).
4. Também se faça a distinção do epiceno, que é o substantivo de um só
gênero, mas para normal diferenciação de animais ou plantas, em que a
distinção dos sexos se faz pelo acréscimo dos adjetivos macho e fêmeo
(cobra macha, jacaré fêmeo, palmeira macha).
5. Interessante, no sentido da última distinção, a síntese de Luiz Antônio
Sacconi no sentido de que “os sobrecomuns e os epicenos têm uma só
forma e gênero para ambos os sexos, mas os sobrecomuns se referem a
pessoas; os epicenos, a animais e a insetos inferiores” (1979, p. 33).

Sobrenome
Ver Nome (P. 497) e Plural de nomes próprios – Existe? (P. 566)

Sobrescritar ou Subscritar?
1. Sobrescritar quer dizer escrever sobre, escrever em cima de, escrever o
endereço no envoltório de uma carta. Exs.: a) “Meteu a folha de papel
em um envelope e sobrescritou-o” (Aluísio Azevedo); b) “Brotero releu
a carta, dobrou-a, encapou-a, sobrescritou-a” (Machado de Assis).
2. De Cândido de Figueiredo, sobre o que se escreve no envelope: “em
português, aquilo diz-se sobrescrito” (1948, p. 203).
3. Também Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 377), por um lado,
confere a tal verbo o sentido de pôr sobrescrito (endereço) em; por outro
lado, distingue-o de subscritar, que significa pôr a assinatura ou assinar
embaixo, ou subscrever.
4. Não confundir, assim, sobrescritar com subscritar ou subscrever, que
tem o sentido de assinar sob, escrever em baixo. Ex.: “O vendedor
subscritou o contrato na presença de duas testemunhas”.
5. Na lição do Padre José F. Stringari (1961, p. 52), quanto ao que se deve
escrever nos envelopes, “a subscritar prefira-se sobrescritar”, trazendo
tal estudioso da linguagem dois exemplos significativos: a) “O endereço,
com que o invólucro se sobrescrita, indica ao correio e ao carteiro
aonde há de levar a carta, a quem a deve entregar” (Rui Barbosa); b)
“Sabem que neste mês ganhei mais trinta e duas liras em sobrescritar do
que no mês passado?” (João Ribeiro).

Sobressair
1. Quanto à regência verbal, oportuno é anotar que esse verbo não é
pronominal, devendo-se atentar à correção de seu uso. Exs.: a) “O
advogado sobressaía em audiência, pela sua cultura” (correto); b) “O
advogado se sobressaía em audiência, pela sua cultura” (errado).
2. Atento aos frequentes equívocos e atentados à Gramática, que se
cometem no linguajar cotidiano, lembra Domingos Paschoal Cegalla ser
“um fato inequívoco da língua atual do Brasil o uso deste verbo na forma
pronominal, sem dúvida por influência dos sinônimos destacar-se,
distinguir-se, salientar-se” (1999, p. 377); tal emprego, todavia, comum
nas manifestações linguísticas informais, obviamente há de ser evitado
nos textos de padrão culto.
3. Celso Pedro Luft (1999, p. 484-5), nessa esteira, traz lições importantes:
a) Anota, por primeiro, ser “bastante frequente a pronominalização deste
verbo, por influência dos sinônimos salientar-se, destacar-se, distinguir-
se”; b) Acrescenta ser tão natural essa forma, que Napoleão Mendes de
Almeida, um purista, chega a escrever que “parecerá estranho, mas este
verbo não se constrói pronominalmente”; c) E ultima com a observação
de que, “na linguagem culta formal, aconselha-se a construção
originária, não pronominal”.
4. Quanto à regência verbal, Francisco Fernandes (1971, p. 550) lembra a
possibilidade de sua construção como transitivo indireto com as
preposições entre e a: a) “E esta (serra), apesar da sugestiva
denominação de Eschwege, mal sobressai entre aquelas lombadas”
(Euclides da Cunha); b) “O conde da Torre, cuja voz estrondosa
sobressaía a todas as outras…” (Corvo, apud Aulete).

Sobrestar – Como se conjuga?


1. Um leitor observa que, de acordo com os dicionaristas Antônio Houaiss
e Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, o verbo sobrestar deve ser
conjugado como estar. Todavia, em dicionário da internet, a lição é
diversa e manda conjugá-lo como verbo regular. Então pergunta qual a
forma correta no pretérito perfeito do indicativo: sobrestou ou
sobresteve?
2. Quanto à conjugação verbal, flexiona-se “pelo verbo estar, do qual é
derivado” (SACCONI, 1979, p. 87): sobrestou, sobrestás, sobrestá,
sobrestamos, sobrestais, sobrestão (presente do indicativo); sobresteja,
sobrestejas, sobresteja, sobrestejamos, sobrestejais, sobrestejam
(presente do subjuntivo); sobrestive, sobrestiveste, sobresteve,
sobrestivemos, sobrestivestes, sobrestiveram (pretérito perfeito do
indicativo). Ex.: a) “Sobrestive na resposta quarenta e oito horas”
(Camilo Castelo Branco); b) “Sobresteve o Tupi; arfando em ondas, o
rebater do coração se ouvia” (Gonçalves Dias).
3. Também Otelo Reis (1971, p. 48) manda que seja ele conjugado tendo
por modelo estar, acrescentando, e com propriedade, que outros
derivados de formas latinas em stare são regulares: constar, obstar,
prestar, restar, sustar.
4. Atento aos frequentes equívocos que se cometem no linguajar forense,
assim leciona Luciano Correia da Silva: “Diariamente se nos deparam
quotas e despachos como estes: ‘Requeiro que se sobreste o feito’;
‘Sobreste-se o feito’. São erros imperdoáveis a advogados, promotores e
juízes. Diga-se: ‘Requeiro se sobresteja o feito’; ‘Sobresteja-se o feito’”
(1991, p. 122).
5. Martins de Aguiar aponta no vetusto livro “Vida de D. Manuel”, de
Filinto Elísio, o equívoco de um sobrestaram por sobrestiveram
(AGUIAR apud HENRIQUES; ANDRADE, 1999, p. 135).
6. Por essas indicações gramaticais, atente-se às formas corretas e
incorretas dos exemplos seguintes: a) “O juiz sobresta o processo por
dois meses” (errado); b) “O juiz sobrestá o processo por dois meses”
(correto); c) “O juiz sobrestou o processo por dois meses” (errado); d)
“O juiz sobresteve o processo por dois meses” (correto); e) “Os
desembargadores sobrestaram o processo por dois meses” (errado); f)
“Os desembargadores sobrestiveram o processo por dois meses”
(correto); g) “Se o juiz sobrestasse o processo por dois meses…”
(errado); h) “Se o juiz sobrestivesse o processo por dois meses…”
(correto); i) “Enquanto o juiz sobrestar o processo…” (errado); j)
“Enquanto o juiz sobrestiver o processo” (correto); k) “É preciso que o
juiz sobreste o processo por dois meses” (errado); l) “É preciso que o
juiz sobresteja o processo por dois meses” (correto).
7. Respondendo diretamente à indagação do leitor, a forma correta é
sobresteve, e não sobrestou.

Sobrestar – Qual é seu complemento?


1. Quanto à regência verbal, pode-se sintetizar a questão com o ensino de
Celso Pedro Luft (1999, p. 485), que observa a possibilidade de
construção como intransitivo, como transitivo direto e como transitivo
indireto com a preposição em. Exs.: a) “O índio sobresteve”; b)
“Sobrestiveram o andamento do processo”; c) “Sobrestiveram no
andamento do processo”.
2. Nos textos de lei, às vezes se constrói com objeto direto (que pode
aparecer como sujeito na voz passiva), correspondendo à construção
sobrestar alguma coisa, e às vezes se apresenta com objeto indireto
introduzido pela preposição em (sobrestar em alguma coisa). Exs.: a) “…
podendo o relator ordenar imediatamente às Juntas e aos Juízes, nos
casos de conflito positivo, que sobrestejam o andamento dos respectivos
processos” (CLT, art. 809, II); b) “Poderá o relator, de ofício, ou a
requerimento de qualquer das partes, determinar, quando o conflito for
positivo, seja sobrestado o processo” (CPC, art. 120); c) “Não obstante o
prazo ajustado para o pagamento, se antes da tradição o comprador
cair em insolvência, poderá o vendedor sobrestar na entrega da
coisa…” (CC, art. 495, repetindo a redação do CC/1916, art. 1.131).

Sobrevir
Ver Vir (P. 770).

Sobrevir – Constrói-se com que preposição?


1. Quanto à regência verbal, Francisco Fernandes (1971, p. 550),
resumindo o que é de normal aceitação entre os gramáticos, aponta-lhe
dupla possibilidade de emprego, a saber, intransitivo ou transitivo
indireto com a preposição a: a) “Nas mudanças políticas e sociais que
depois sobrevieram em Portugal” (Alexandre Herculano); b) “Pelo
máximo infortúnio que possa sobrevir a um escritor” (J. Veríssimo).
2. Nossos textos de lei empregam tal verbo com regular frequência,
podendo-se notar principalmente a observância das regras já apontadas
para sua conjugação: a) “Enquanto não sobrevier sentença
condenatória, nas infrações comuns, o Presidente da República não
estará sujeito a prisão” (CF/88, art. 86, § 3º); b) “O capitão é
responsável por todas as perdas e danos que, por culpa sua, omissão ou
imperícia, sobrevierem ao navio ou à carga” (C. Com., art. 529); c) “Se
a insanidade mental sobrevier no curso da execução da pena, observar-
se-á o disposto no art. 682” (CPP, art. 154).
Ver Se eu vir ou Se eu vier? (P. 681), Viemos ou Vimos? (P. 768) e Vir (P.
770).

Sociedade Anônima
1. Arnaldo Niskier observa que se deve abreviar S.A.; “nada de S/A nem
S.A” (1992, p. 113).
2. A abreviatura preconizada pelo mencionado autor é a que também
consta do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia
Brasileira de Letras, órgão oficialmente incumbido de estabelecer a
grafia dos vocábulos e das respectivas formas abreviadas (2009, p. 875).

Sócio-gerente ou Sociogerente?
1. Com as alterações introduzidas em nosso sistema pelo Acordo
Ortográfico de 2008, quanto ao emprego do hífen, importa indagar qual
a expressão correta para designar o sócio que, além de integrante do
capital social, exerce uma função de comando na estrutura da empresa:
sócio-gerente ou sociogerente, sócio-administrador ou
socioadministrador, sócio-diretor ou sociodiretor?
2. Nunca é demais reforçar, como introdução desta resposta, que a maioria
dos gramáticos estavam acordes em que o emprego do hífen era assunto
que carecia de um sério e profundo trabalho de sistematização e
simplificação. Longe de melhorar a situação e de atender às
expectativas, todavia, o que o Acordo Ortográfico de 2008 fez foi
complicar ainda mais o que já era difícil.
3. Mas tentemos solucionar a questão trazida pelo atento leitor, usando as
ferramentas de que dispomos.
4. Pelo Acordo Ortográfico, quando se compõe nova palavra por
justaposição de dois elementos, emprega-se o hífen, se tais elementos
constituem uma nova unidade morfológica e de sentido, mantendo o
acento. Exs.: arco-íris, afro-luso-brasileiro.
5. Como se vê, o critério não é firme, além do que escapa à apreciação da
maioria dos usuários do idioma identificar quais os casos em que os
elementos se unem para constituir nova unidade morfológica e de
sentido, mantendo o acento.
6. Num caso como esse – em que se constata a ausência de critérios
palpáveis para um raciocínio de convicção e certeza – a única saída é
consultar o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, que é uma
espécie de dicionário que lista as palavras reconhecidas oficialmente
como pertencentes à língua portuguesa, bem como lhes fornece a grafia
oficial.
7. Também conhecido pela sigla VOLP, é organizado e publicado pela
Academia Brasileira de Letras, a qual tem a delegação e a
responsabilidade legal de editá-lo, em cumprimento à Lei Eduardo
Ramos, de n. 726, de 8/12/1900.
8. Pois bem. Em sua quinta edição, de 2009, a primeira após o Acordo
Ortográfico, o VOLP faz constar o substantivo composto sócio-gerente
(ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, p. 762).
9. É importante complementar com a observação de que nenhum outro
substantivo composto, formado pelo primeiro elemento sócio, foi
registrado pelo VOLP; não parece difícil, entretanto, concluir que os
demais da consulta sigam o mesmo rumo: sócio-administrador e sócio-
diretor.

Só – Como concordar?
1. É palavra que precisa ser observada pelo prisma da concordância
nominal.
2. Com ela, duas situações podem ocorrer: a) Se modifica um verbo ou
adjetivo, a palavra tem valor de advérbio, equivale a somente,
unicamente, apenas, e é invariável. Ex.: “Os réus só queriam protelar o
andamento do feito”. b) Se, porém, modifica um substantivo, tem valor
de adjetivo, corresponde a desacompanhado, desajudado, único, ermo,
solitário, e concorda com a palavra modificada. Ex.: “O réu e seu
patrono ficaram sós”.
3. A expressão a sós é invariável. Ex.: “O réu e seu patrono ficaram a sós”.
4. Sousa e Silva transcreve interessante exemplo de Rui Barbosa com o sós
anteposto ao substantivo: “Reduzir o recurso extraordinário àqueles sós
casos (quer dizer: àqueles únicos casos) seria atrofiá-lo e dar-lhe
proporções ínfimas e mesquinhas” (1958, p. 276-7).
5. Atente-se ao fato de que, se precedido de todo ou só, lecionam alguns
que o pronome pessoal do caso reto pode funcionar como objeto. Exs.:
a) “Vi só ele no fórum”; b) “Vi todos eles no fórum”.
6. Nesse sentido é o ensinamento de Evanildo Bechara: “o pronome ele, no
português moderno, … aparece como objeto direto, quando precedido de
todo ou só…” (1974, p. 254).
7. Em realidade, talvez por influência de um exemplo como “Ele falou com
nós todos”, em que a presença da palavra reforçativa todos faz com que
se diga com nós e não conosco, como seria normal, se esta última não
existisse (“Ele falou conosco”), alguns são levados a dizer algo como
“Conheço todos eles”, ou “Vi só ele no fórum”.
Ver Pronome pessoal (P. 614).

Socorro – Como pronunciar o plural?


Ver Metafonia (P. 472).

Só ele
Ver Pronome pessoal (P. 614).

Soer
1. Observando que tal verbo provém do latim solere (semidepoente, com o
sentido de costumar, ter por hábito), lembram Antonio Henriques e
Maria Margarida de Andrade que, “hoje, dito verbo permanece, apenas,
em obras mais antigas” (1999, p. 136).
2. Sobre sua conjugação, traz-se o ensinamento de Vitório Bergo: “usa-se
geralmente na terceira pessoa, especialmente no presente do indicativo:
como sói acontecer; admite-se, entretanto, em todas as pessoas do
pretérito imperfeito do indicativo: soía, soías, soía, soíamos, soíeis,
soíam; há também o particípio passado: soído” (1943, p. 81).
3. Domingos Paschoal Cegalla lembra ser ele “verbo defectivo e de uso
raro”, cujas “formas usadas são sói, soem, soía e soíam”.
4. Complementa tal gramático com importante observação: “distinguir
soem (ó), de soer, e soem (ô), de soar” (CEGALLA, 1999, p. 378),
distinção essa oportuna e necessária, já que, muito embora sejam
diversos os timbres de tais homógrafas, nenhuma delas recebe acento
gráfico pelas regras em vigor, daí decorrendo a possibilidade de
confusão.
5. Na lição de Regina Toledo Damião e Antonio Henriques (1994, p. 238),
“está vinculado ao verbo semidepoente latino soleo, soles, solitus sum,
solere (costumar, ter por hábito)”, e se trata de “um verbo, hoje,
completamente esquecido; em um ou outro jurista ainda aparece a forma
sói”.
6. Para Alfredo Gomes, tal verbo “só se conjuga hoje no presente do
indicativo – sói, soem – e no imperfeito – soía, soíam” (1924, p. 116).
7. Otelo Reis é mais minucioso e organizado para conferir-lhe uma
possibilidade mais ampla de conjugação, vedando-lhe a existência
apenas da primeira pessoa do singular do presente do indicativo e das
pessoas que daí derivam. Parece ser a melhor lição.
8. Assim, para tal autor, no presente do indicativo, apenas se omite a
primeira pessoa do singular: sóis, sói, soemos, soeis, soem.
9. Não tem, portanto, o presente do subjuntivo, que derivaria da inexistente
primeira pessoa do singular do presente do indicativo.
10. No imperativo afirmativo, tem apenas as pessoas derivadas do presente
do indicativo (tu e vós): sói, soei.
11. Não tem imperativo negativo, que vem integralmente do presente do
subjuntivo (REIS, 1971, p. 117-8).
12. Nos demais tempos e formas, tem conjugação normal e regular,
cumprindo adicionar-lhe as terminações do modelo da segunda
conjugação, como, por exemplo, de vender.

Sogro – Como pronunciar o plural?


Ver Metafonia (P. 472).

Soi-disant – Galicismo?
1. Trata-se de expressão francesa, a ser facilmente evitada, já que,
conforme o caso, pode ser substituída por uma das seguintes palavras:
autointitulado, falso, inculcado, pretenso, suposto.
2. Encontra-se, ademais, em um ou outro autor nacional, sobretudo de
processo civil, sua tradução literal sedizente, vocábulo esse não
dicionarizado, que não tem o mínimo respaldo para uso como
neologismo, no mínimo por haver no vernáculo os já referidos sinônimos
perfeitos, que o tornam integralmente despiciendo.
3. Nos dizeres de Cândido de Figueiredo (1928, p. 178), “embora não
tenhamos tradução rigorosamente literal do soi-disant, nem por isso nos
esquivamos ao dever de o substituir por expressões nossas”,
acrescentando haver mais de uma forma em português, por exemplo,
para a expressão soi-disant crítico: suposto crítico, que como crítico se
inculca ou até mesmo mofino critiqueiro.
4. Em confirmação do quanto até agora asseverado, o Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras,
que é o veículo oficial indicador das palavras existentes em nosso
idioma, registra a circunstância de pertencer a indigitada expressão ao
léxico francês (2009, p. 864).

Soja – Masculino ou feminino?


1. Um leitor observa que alguns usuários do idioma empregam a palavra
soja no masculino, enquanto outros o fazem no feminino. E indaga qual
é a forma correta.
2. Ora, quando se quer solucionar uma questão como essa, deve-se tomar
por premissa o fato de que a Academia Brasileira de Letras detém a
autoridade para definir oficialmente a existência e as peculiaridades das
palavras de nosso idioma concernentes à grafia, pronúncia, gênero,
número, categoria gramatical, etc.
3. E essa autoridade, a ABL a exerce por via da edição do Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa.
4. Ora, uma simples consulta ao VOLP mostra que, sem outras opções, a
palavra soja é dada como pertencente ao gênero feminino (2009, p. 763),
de modo que se deve dizer a soja, e não o soja.
5. A origem da dúvida trazida pelo leitor bem possivelmente se deve ao
fato de que existe, como sinônimo, feijão-soja, este sim do masculino, o
que pode levar alguns ao equívoco de empregar também no masculino o
vocábulo soja. O fato de serem sinônimos, todavia, não quer dizer que
tais vocábulos pertençam ao mesmo gênero.

Soldada ou A Soldado?
Ver Capitã, Capitoa ou A Capitão? (P. 168) e Poeta – Qual o feminino? (P.
570)

Solecismo
1. “Solecismo é um vocábulo grego, oriundo de Soloi, nome de certa
colônia da Cilícia, cujos habitantes se caracterizavam pelo desmazelo
com que maltratavam o próprio idioma” (GÓIS, 1943, p. 134).
2. Conceitualmente, “é o erro de sintaxe” (OITICICA, 1954, p. 11), ou,
ainda, “qualquer erro sintático de concordância ou regência” (PEREIRA,
1924, p. 262).
3. Os que escrevem sem afetação acabam correndo menos riscos de
equívocos desse jaez, como bem lembrava Pedro A. Pinto a um
consulente, que lhe submetia à apreciação uma construção errônea, por
ele reputada solecismo pernóstico: “Há solecismos que se cometem por
equívoco, por desatenção. O de que se trata provém de ignorância de
rudimentos da língua e não seria cometido por quem escrevesse com
singeleza e naturalidade” (1924, p. 39).
4. Por se caracterizarem erros dessa natureza como equívocos de estrutura,
de construção, há solecismos de concordância (“Um de nós iríamos com
certeza”, quando o correto é “Um de nós iria com certeza”), solecismos
de regência (“Não lhe conheço”, quando o correto é “Não o conheço”),
solecismos de colocação (“Eu tinha dito-lhe a verdade”, quando o
correto é “Eu lhe tinha dito a verdade”, ou “Eu tinha-lhe dito a
verdade”).

Solerte
1. Usar um adjetivo sem conhecimento do real significado da qualidade por
ele indicada é algo de muito perigo e que pode causar situações no
mínimo constrangedoras.
2. Para exemplificar tal situação, é de se ver que é comum, em petições de
advogados que querem parecer agradáveis, que se apodem os juízes de
solertes, querendo dizer com isso que eles são inteligentes, perspicazes e
sabem buscar onde está o Direito no caso concreto.
3. Contrariamente ao significado pretendido, todavia, tal adjetivo tem
sentido pejorativo e quer dizer astucioso, velhaco, ardiloso, finório.
4. Cautela, portanto, e consulta a um bom dicionário não fazem mal a
ninguém; a não ser que, realmente, se queira dizer que o juiz é mesmo
solerte.

Solicitar
1. Em dois exemplos autorizados de Rui Barbosa, vê-se, quanto à regência
verbal, que se pode construir tal verbo com uma de duas preposições: a
ou de. Exs.: a) “De vós e do Senado solicitei me fizessem mercê
exonerar-me dos cargos de membro e presidente desta comissão” (Rui
Barbosa); b) “O ministério Lafayette, nos seus últimos dias, solicitara…
ao Imperador o título de conselheiro, alegando meus serviços ao
ensino” (Rui Barbosa).
2. Nessa esteira, doutrina Vitório Bergo (1944, p. 219) que tal verbo pode
ser construído com as preposições a ou de: solicitar a ou solicitar de.
3. Anota Francisco Fernandes que, na acepção de pedir com instância,
rogar com grande empenho, “pode dizer-se solicitar alguma coisa a
alguém, ou solicitar de alguém alguma coisa” (1971, p. 552).
4. Celso Pedro Luft (1999, p. 487), de igual modo, abona ambas as
construções.
5. E Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 379), também acatando as
mesmas possibilidades de sintaxe, acrescenta que, nesses casos, “a
regência mais usual é solicitar alguma coisa a alguém” e que “menos
comum é a regência solicitar de alguém alguma coisa”.
6. Nos textos de lei, aparecem ambas as construções: a) “As leis delegadas
serão elaboradas pelo Presidente da República, que deverá solicitar a
delegação ao Congresso Nacional” (CF/88, art. 68); b) “Quando por
ausência do consignatário, ou por não se apresentar o portador do
conhecimento à ordem, o capitão ignorar a quem deva competentemente
fazer a entrega, solicitará do Juiz de Direito do Comércio, e onde o não
houver da autoridade local a quem competir, que nomeie depositário
para receber os gêneros e pagar os fretes devidos por conta de quem
pertencer” (C. Com., art. 528).

Solução de continuidade – Está correto?


1. Apesar de seu emprego frequente na linguagem normal e nos meios
forenses, José Fialho Dutra, em apontamentos específicos, repele, por
contrária à propriedade e pelo seu sentido recôndito, obscuro e vago, a
possibilidade de uso da mencionada expressão, mandando substituí-la
por interrupção, intercepção, separação.
2. José de Sá Nunes (1938, p. 206-7), todavia, que transcreve a lição do
mencionado gramático, não vê razão para estigmatizar tal expressão e a
refere como abonada por altas autoridades “em matéria de lexicologia
portuguesa”, citando diversos exemplos de abalizados autores: a) “O uso
clássico, aqui, não teve jamais solução de continuidade” (Rui Barbosa);
b) “E seguem-se logo, sem solução de continuidade, as expressões”
(Ernesto Carneiro Ribeiro); c) “Achareis o fio, enredado sim, talvez
inextrincável, mas sem solução de continuidade” (Alexandre
Herculano).

Solvabilidade – Galicismo?
1. Solvabilidade, insolvabilidade, solvável e insolvável eram vocábulos que
apareciam nos arts. 426, 914, 915, 955, § 4º, 1.003, 1.133, 1.300, § 2º,
1.389, 1.437, 1.492, 1.494, III, e 1.497, parágrafo único, do Projeto do
Código Civil.
2. Em suas apreciações, na Comissão de Redação do Senado, Rui Barbosa
(1949, p. 7), desde a introdução de seu Parecer, insurgiu-se contra eles,
reputando-os francesias, estrangeirismos desnecessários e reprovados.
3. Em comento ao art. 1.437 do Projeto, referiu que esses vocábulos e seus
cognatos nascem de solver, em sua acepção de quitar, de pagar a dívida,
enquanto os vocábulos com desinência em ável nascem de verbos
terminados em ar (reprovável, louvável); dos verbos terminados em er
nascem outros adjetivos: dissolvente, dissolúvel, resolúvel, resolvente,
resolvível (BARBOSA, 1949, p. 384).
4. Acrescentou que esse desacerto do Projeto escapou apenas uma vez aos
redatores do Código Civil português então em vigor, no art. 827; por ser
apenas uma vez, atribuiu a falha a um mero descuido (BARBOSA, 1949,
p. 262).
5. Por fim, aconselhou o uso de solvência ou insolvência, de solvente ou
insolvente, de solúvel ou insolúvel, conforme se trate da situação em si,
do próprio devedor, ou da obrigação (BARBOSA, 1949, p. 165, 281,
288, 196, 318, 356, 374, 384, 395, 396, 398 e 466).
6. Suas ponderações foram acatadas pelo legislador, conforme se comprova
pela redação definitiva dos arts. 913, 914, 954, parágrafo único, 1.002,
1.131, 1.300, § 2º, 1.389, 1.437, 1.492, III, 1.495, parágrafo único,
1.504, 1.798 e 1.804 do Código Civil de 1916. Os mencionados
vocábulos foram mantidos, na exata conformidade com a sugestão, pelo
Código Civil de 2002 na redação dos arts. 283, 284, 333, parágrafo
único, 363, 495, dentre outros.
7. Especificamente quanto ao vocábulo insolvabilidade, Vitório Bergo
(1944, p. 139) chama-o “barbarismo gálico”, ao mesmo tempo em que
preconiza o emprego de insolvência.
8. Edmundo Dantès Nascimento (1982, p. 23), que arrola o vocábulo entre
os estrangeirismos de nosso léxico, após observar que se trata de termo
que vem aparecendo com frequência nos Exames de Ordem e na
linguagem do foro, aponta-lhe a origem no Francês solvabilité, e
acrescenta que, em Português, o termo é solvência.
9. Observe-se, entretanto, que esse substantivo – assim como seu sinônimo
solvibilidade – vem registrado no Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, que é o veículo oficial
indicador das palavras existentes em nosso idioma, motivo por que está
oficialmente autorizado, por conseguinte, seu normal emprego (2009, p.
764).
Ver Solvável – Galicismo? (P. 709)

Solvável – Galicismo?
1. Tem sido apontado como galicismo a ser evitado.
2. Afirma-se, como justificativa, que, em português, o que é possível pagar
é algo solvível, e não solvável.
3. Assim, para os autores que defendem esse ponto de vista, há de se falar
em dívida solvível, e não em dívida solvável.
4. Edmundo Dantès Nascimento (1982, p. 23), que arrola o vocábulo entre
os estrangeirismos de nosso léxico, após observar que se trata de termo
que vem aparecendo com frequência nos Exames de Ordem e na
linguagem do foro, aponta-lhe a origem no Francês solvable, e
acrescenta que, em Português, os termos são solvente, solvível, solúvel.
5. Observe-se, entretanto, que esse adjetivo – assim como seu sinônimo
solvível – vem registrado no Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, que é o veículo oficial
indicador das palavras existentes em nosso idioma, motivo por que está
oficialmente autorizado, por conseguinte, seu normal emprego (2009, p.
764).
Ver Solvabilidade – Galicismo? (P. 709)

Solvência – Galicismo?
Ver Solvabilidade – Galicismo? (P. 709)

Solvível – Galicismo?
Ver Solvável – Galicismo? (P. 709)

Somatória ou Somatório?
1. Lembram José de Nicola e Ernani Terra que “a soma dos termos de uma
sequência qualquer denomina-se somatório” (no masculino).
2. Observam adicionalmente tais autores (NICOLA; TERRA, 2000, p. 205)
que “não existe a forma somatória” (no feminino).
3. Observe-se, entretanto, que esse substantivo – exatamente no feminino
(somatória) – vem registrado, assim como somatório, no Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras,
que é o veículo oficial indicador das palavras existentes em nosso
idioma, razão pela qual está oficialmente autorizado, por conseguinte,
seu normal emprego (VOLP, 2009, p. 764).
4. O legislador, em caso único de emprego nas codificações mais
conhecidas, proferiu seu emprego no masculino: “O total da despesa do
Poder Legislativo Municipal, incluídos os subsídios dos Vereadores e
excluídos os gastos com inativos, não poderá ultrapassar os seguintes
percentuais, relativos ao somatório da receita tributária e das
transferências previstas no § 5º do art. 153 e nos arts. 157 e 159,
efetivamente realizado no exercício anterior” (CF/1988, art. 29-A,
incluído pela Emenda Constitucional 25/2000)

Somenos
1. Trata-se de adjetivo, que quer dizer baixo, inferior, de qualidade ou valor
menor. Ex.: “Em posse do réu, encontrou-se uma cartucheira de
somenos valia”.
2. Por ser sempre um adjetivo, é palavra que precisa fazer acompanhar-se
de substantivo, sob pena de não ter sentido a construção resultante. Ex.:
a) “Os rixosos se desentenderam por questões de somenos importância”
(correto); b) “Os rixosos se desentenderam por questões de somenos”
(errado).
3. Domingos Paschoal Cegalla, que lhe confirma a natureza de adjetivo,
acrescenta ser ele “invariável em gênero e número, como menos” (1999,
p. 380).

Somos em seis – Está correto?


Ver Em seis – Está correto? (P. 316)

Sonhar com ou Sonhar em?


1. Ante o fato de ser comum o duplo emprego de estrutura, importa saber
qual a forma correta do verbo sonhar: a) “Ele sonhou com sair do
emprego algum dia”; b) “Ele sonhou em sair do emprego algum dia”?
2. Ora, quando se quer saber que preposição se emprega após um verbo,
tecnicamente se diz que o problema diz respeito à regência verbal.
3. E a resposta para uma indagação dessa natureza encontra-se com aqueles
autores que se expressaram de forma mais apurada no respeito ao
idioma.
4. Para que não precisemos ler uma imensidade de autores só para localizar
resposta a alguma dúvida que tenhamos nesse campo, alguns gramáticos
já fizeram preciosos estudos, de modo que basta consultá-los.
5. Assim, Francisco Fernandes, na acepção de pensar com insistência, de
ter ideia fixa, ensina que o verbo sonhar pede a preposição em: a) “Amo-
o, desejo-o, nele cuido, nele sonho” (Júlio Castilho); b) “E depois de se
deitar e adormecer, sonhava… Em quê? Nas combinações infinitas da
matéria eterna” (Alexandre Herculano).
6. Já no sentido de ver em sonhos, recomenda o mesmo autor
(FERNANDES, 1971, p. 553) o emprego da preposição com: a) “E
sonhava com a Glória Neves, que lhe pedia morrer às suas mãos
zelosas” (Cândido Jucá Filho). Essa também é a posição de Celso Pedro
Luft (1999, p. 212).
7. Em posição mais liberal, Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 380)
entende que, no sentido de pensar constantemente, de desejar vivamente,
devem ser aceitas as duas construções (com e em): a) “O pobre sonha
com uma vida melhor”; b) “Sonha em possuir um pedaço de terra”.
8. Como observação final, anota-se que, quando os estudiosos da língua
têm alguma divergência, o melhor é acatar a posição mais ampliativa, de
modo que, no caso, fica-se com a posição do autor por último citado.
9. E, de modo prático para os exemplos inicialmente dados, veja-se a
indicação de sua correção ou erronia entre parênteses: a) “Ele sonhou
com sair do emprego algum dia” (correto); b) “Ele sonhou em sair do
emprego algum dia” (correto).

Soprano
1. Celso Cunha (1970, p. 99) manifesta a preferência pelo gênero
masculino.
2. Na lição de Silveira Bueno, “Machado de Assis escreveu sempre o
soprano, o contralto, que são dois tons de voz exclusivos do sexo
feminino. Fez, portanto, concordar o artigo com o tom de voz, e não com
o sexo de quem o possui”.
3. Com base nesse argumento, afiança tal autor que se deve dizer “o
soprano Bidu Saião” (BUENO, 1957, p. 456-7).
4. Para Cândido de Oliveira, tal vocábulo integra o rol dos “substantivos
que são só masculinos” (1961, p. 125).
5. Evanildo Bechara (1974, p. 87), por seu lado, leciona que o mencionado
substantivo tanto pode ser masculino quanto feminino, tratando-se,
assim, de substantivo comum de dois gêneros, de modo que apresenta a
mesma forma para o masculino e para o feminino, fazendo-se a
diferenciação do sexo pelo artigo ou pela determinativa acompanhante.
Exs.: a) “Os sopranos daquele coral desafinaram”; b) “A soprano Bidu
Sayão é uma das glórias de nosso país”.
6. Domingos Paschoal Cegalla, que menciona “a soprano Bidu Saião”,
observa que, “se o termo se referir a homens (geralmente meninos), dir-
se-á, evidentemente, o soprano” (1999, p. 380).
7. Na lição de Sousa e Silva, “em se tratando de cantora que tenha essa
voz, pertence aos dois gêneros”: o soprano Cláudia Muzio ou a soprano
Cláudia Muzio.
8. E procede tal gramático a importante observação: “Para semelhante
emprego de metonímia em português, nunca se fixou norma alguma
quanto ao gênero das palavras. Todos dizem, por exemplo: ‘O caixa do
banco deu um desfalque’ (mudando o gênero de caixa), mas
inversamente: ‘Rui Barbosa foi uma pena cintilante’ (conservando o
gênero de pena). Com o vocábulo soprano o uso estabeleceu alternação.
É legítima, portanto” (SILVA, A., 1958, p. 280).
9. Em termos práticos, também é oportuno atentar a que é errôneo pensar
que não há homens sopranos; se não é tal voz normal em adultos, é, no
entanto, própria dos meninos.
10. No plano da concordância nominal, se tal substantivo vem
acompanhado de adjetivo, mesmo para os que lhe conferem a natureza
de comum de dois gêneros, esse fica formalmente no masculino,
ajustando-se ao substantivo modificado, sem qualquer reflexo sobre ele
do artigo determinador do gênero: a soprano lírico (MACHADO
FILHO, 1969a, p. 562).
11. Apesar de observação contrária, feita linhas atrás, anote-se, para
registro, que Silveira Bueno, sem razão, refere, por primeiro, que “todo
soprano é mulher”.
12. Por outro lado, continua ele em sua lição, no que respeita aos
qualificativos que acompanham palavra dessa natureza: “Não devemos
colocar no feminino os adjetivos que acompanham soprano porque tais
adjetivos modificam o substantivo oculto tom – tom soprano”.
13. De acordo com isto, devemos dizer, para tal autor: Cantará hoje o
grande soprano Bidu Saião.
14. Complementa ele que se deve dizer meio soprano, soprano lírico,
soprano ligeiro, soprano dramático, devendo todos os adjetivos ir para
o masculino.
15. E traz exemplo de Machado de Assis: “A vida é uma grande ópera. O
tenor e o barítono lutam pelo soprano, em presença do baixo e dos
comprimários, quando não são o soprano e o contralto que lutam pelo
tenor, etc.” (BUENO, 1938, p. 156-7).
16. Apesar das alongadas discussões, o certo é que o Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras,
órgão oficial para determinar os vocábulos que integram nosso léxico,
bem como sua natureza e gênero, fazia constar, até sua edição de 1999,
a dupla possibilidade: considerá-lo masculino ou pertencente aos dois
gêneros, masculino e feminino (p. 693). Essa dupla possibilidade de
emprego, todavia, encontra-se superada na edição atual, que registra o
vocábulo apenas como adjetivo ou substantivo masculino (2009, p.
765).
Ver Contralto (P. 228).

Sortir ou Surtir?
1. Sortir significa abastecer, prover, providenciar. Ex.: “O funcionário
sortiu o almoxarifado com materiais para consumo diário”.
2. Quanto à conjugação verbal, sortir é conjugado em todas as pessoas,
tempos e modos: apenas, nos dizeres de Otelo Reis (1971, p. 142), “tem
as formas rizotônicas em u”, e, obviamente, as formas daí derivadas.
3. Assim: surto, surtes, surte, sortimos, sortis, surtem (presente do
indicativo); surta, surtas, surta, surtamos, surtais, surtam (presente do
subjuntivo); surte, surta, surtamos, sorti, surtam (imperativo
afirmativo); não surtas, não surta, não surtamos, não surtais, não
surtam (imperativo negativo).
4. Como as formas rizotônicas apenas ocorrem nos tempos já
especificados, não apresenta problema algum nos demais: sorti (pretérito
perfeito), sortira (pretérito mais-que-perfeito), sortir (futuro do
subjuntivo), sortia (imperfeito do subjuntivo), sortisse (imperfeito do
subjuntivo), sortirei (futuro do presente), sortiria (futuro do pretérito),
sortindo (gerúndio), sortido (particípio).
5. Já surtir tem o sentido de resultar, ter como consequência. Exs.: a) “A
pena aplicada aos condenados, na maioria dos casos, não surte o efeito
desejado”; b) “É obrigado o mandante a pagar ao mandatário a
remuneração ajustada e as despesas da execução do mandato, ainda
que o negócio não surta o esperado efeito, salvo tendo o mandatário
culpa” (CC, art. 676).
6. Sem lhe conferir restrição alguma, nem considerá-lo defectivo, Otelo
Reis (1971, p. 141) manda proceder a sua conjugação como verbo
regular.
7. Já para Domingos Paschoal Cegalla, “é verbo defectivo, conjugável só
nas terceiras pessoas” (1999, p. 386).
8. O melhor, para esse verbo, é considerá-lo, quanto à conjugação, regular
e empregável em todas as pessoas, muito embora seja difícil encontrar
possibilidade de seu emprego em outras, que não a terceira pessoa do
singular e a terceira pessoa do plural. Exs.: a) “… a fim de que esse
adjutório surta o melhor dos resultados” (Rui Barbosa); b) “Esses
esforços, porém, não surtiram efeito” (Rui Barbosa).

Statu quo ou Status quo?


1. Expressão latina, que indica o estado anterior a uma situação. Ex.: “O
legislador acabou mantendo o statu quo defendido pelo funcionalismo”.
2. De acordo com lição de Napoleão Mendes de Almeida, a expressão
cristalizou-se no ablativo – caso latino dedicado ao adjunto adverbial
(antigo complemento circunstancial) – sendo assim utilizada em nosso
idioma, sem qualquer variação, valendo como substantivo para qualquer
função sintática. Exs.: a) “O statu quo dos privilégios acabou sendo
mantido” (sujeito); b) “A nova legislação não manteve o statu quo dos
privilégios” (objeto direto); c) “Os privilégios pertencem a um statu quo
ultrapassado” (objeto indireto); d) “A manutenção do statu quo interessa
a muitos governantes” (complemento nominal).
3. Ainda de conformidade com o ilustre gramático citado, “são infundados
os raciocínios para justificar status quo, status in quo (ALMEIDA, 1981,
p. 304).
4. A um consulente, de iniciais G. P., que lhe indagava qual a construção
correta – “statu quo ou status quo” – assim respondia Cândido de
Figueiredo: “Na expressão, por exemplo, ‘o statu quo agrada-lhe’,
parece que statu é sujeito; mas como esta palavra é um ablativo, e o
sujeito deve ser nominativo (status), parece talvez ao Sr. G. P. que
deveríamos dizer – ‘o status quo agrada-lhe’. É equívoco. O sujeito não
é statu, nem quo, nem o; é toda a locução: o statu quo”.
5. E complementava tal gramático: “Se devêssemos atender à declinação
do statu para aquele caso, teríamos de o colocar em acusativo, quando é
complemento direto, segundo a rigorosa construção latina; e, assim,
diríamos: ‘o Governo manteve o statum quo’; e lá se iam pela água
abaixo os indiscutíveis foros da locução latina. Não pode ser”
(FIGUEIREDO, 1948, p. 206-7).
6. Domingos Paschoal Cegalla, indicando aceitar ambas, dá preferência à
forma status quo e lembra que “é menos usada a forma original statu
quo” (1999, p. 381).
7. O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia
Brasileira de Letras, que normalmente registra palavras e expressões
latinas, apenas lhes apontando a origem, não toma partido no caso, não
transcrevendo qualquer das formas.
8. Por se tratar de expressão latina, há de vir obrigatoriamente entre aspas,
em itálico, negrito, com sublinha ou com grifo equivalente, indicador de
tal circunstância.
9. De igual modo, vedado é o uso do acento gráfico, que não existia em
latim.
10. Também não se há de olvidar a lição de Edmundo Dantès Nascimento
(1982, p. 145) no sentido de que expressões como essa não eram
hifenizadas em latim, razão pela qual “não o podem ser em língua
nenhuma”, acrescentando tal autor que, “para quem pretende grafar
escorreitamente não é permitido o hífen em expressões do latim
clássico”.
Para análise da ausência de variação das palavras latinas em português,
ver Modus vivendi (P. 476).

Stricto senso, Stricto sensu ou Strictu sensu?


1. Stricto sensu é expressão latina, que tem o significado de em sentido
restrito. Ex.: “Ele cursava especialização stricto sensu naquela
universidade”.
2. Sua locução antônima é lato sensu.
3. Atente-se à grafia de ambas as expressões, para não se querer
uniformizar a terminação de seus vocábulos componentes, nem se
escrever stricto senso ou strictu sensu, nem lato senso ou latu sensu.
4. Por se tratar de expressão pertencente a outro idioma, há de vir
obrigatoriamente entre aspas, em itálico, negrito, com sublinha ou com
grifo equivalente, indicador de tal circunstância.
5. De igual modo, vedado é o uso do acento gráfico, que não existia em
latim.
6. Também não se há de olvidar a lição de Edmundo Dantès Nascimento
(1982, p. 145) de que expressões como essa não eram hifenizadas em
latim, razão pela qual “não o podem ser em língua nenhuma”,
acrescentando tal autor que, “para quem pretende grafar escorreitamente
não é permitido o hífen em expressões do latim clássico”.

Sua autobiografia – Pleonasmo?


1. Esta é mais uma daquelas expressões equivocadas e redundantes,
portadora de tautologia, ou pleonasmo vicioso.
2. O prefixo auto, de sentido reflexivo, já confere à palavra autobiografia o
significado de biografia de si próprio.
3. Não se diga, assim, “Ele escreveu sua autobiografia”, mas apenas “Ele
escreveu a autobiografia”, sem o pronome possessivo sua; ou então:
“Ele escreveu a própria biografia”.

Sua Excelência ou Vossa Excelência?


1. No que tange ao pronome de tratamento, quando se fala diretamente à
pessoa tratada (“pessoa com quem se fala”), usa-se vossa; quando,
porém, se faz referência à pessoa tratada, mas se conversa com outrem
(“pessoa de quem se fala”), emprega-se sua. Exs.: a) “Vossa Excelência é
corajoso” (quando se fala com a própria autoridade); b) “Sua Excelência
é corajoso” (quando se fala da autoridade para uma terceira pessoa).
Ver Pronome de tratamento ou Pronome de reverência? (P. 612) e
Uniformidade de tratamento (P. 751).

Suar
1. Quanto a sua ortografia, como todo verbo terminado em uar, dá origem
à terminação ue. Assim: sues, sue.
2. Diferentemente dos verbos terminados em uir (como possuir), não tem
forma alguma com a terminação ui, sendo errôneas as flexões suis, sui.
3. Nas palavras de Cândido de Oliveira, alertado pelos comuns equívocos
cometidos nesse campo, “é com ue a primeira, segunda e terceira
pessoas do singular do presente do subjuntivo dos verbos em uar: cultue,
cultues, habitue, preceitues” (1961, p. 65), e, por consequência, sue.
4. Quanto à conjugação verbal, trata-se de verbo regular, conjugado em
todas as pessoas, tempos e modos.
5. Não confundi-lo com o verbo soar, de significado diverso. Assim, suar
faz eu suo e não soo, eles suaram e não soaram, ele sua e não soa.
Observe-se que a primeira vogal é sempre u e não o.
6. Conjuga-se, assim, como o verbo atenuar.
Ver Atenuar (P. 143).
Sub – Com hífen ou sem?
1. O prefixo sub se une ao segundo elemento por hífen em três casos: a)
quando o segundo elemento se inicia por h: sub-hepático, sub-
horizontal, sub-horizonte, sub-humanidade, sub-humano; b) quando o
segundo elemento principia com a mesma consoante que finda o prefixo:
sub-base, sub-bosque, sub-brigadeiro; c) quando o segundo elemento
começa com r: sub-ramo, sub-região, sub-reitoria, sub-rogação, sub-
rogar.
2. Por conseguinte, a ligação se faz de modo direto (em uma só palavra e
sem hífen), quando o segundo elemento começa com outra consoante,
que não seja alguma do item anterior: subclassificação,
subdesenvolvimento, subfamília, subgaleria, submaxilar, subnível,
subsalário, subseção.
3. Também direta é a ligação, quando o segundo elemento se inicia por
vogal: subabdominal, subadquirente, subemenda, subemprego,
subinfecção, subitem, subocular, suboficial, subunidade, subutilizar.
4. Interessante é observar que o Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa – editado pela Academia Brasileira de Letras, a qual tem
delegação legal para listar oficialmente os vocábulos existentes no
vernáculo e para determinar-lhes a forma correta – , de modo equivocado
e confuso, adota critério triplo para vocábulos com o prefixo sub (2009,
p. 767-9), cujo segundo elemento se inicia por h: a) com alguns deles,
separa por hífen e mantém o h (sub-horizontal e sub-horizonte); b) com
outros deles, elimina o h e junta sem hífen os elementos (subarmônico,
subasta e subemisférico); c) com terceiros deles, permite as duas formas
(sub-hepático e subepático, sub-hidroclorato e subidroclorato, sub-
hirsuto e subirsuto, sub-híspido e subíspido, sub-humanidade e
subumanidade, sub-humano e subumano).
5. Espera-se que, em uma nova edição, o VOLP racionalize a questão e use
de critérios mais uniformes para solução da matéria.

Subida honra, Súbida honra ou Súbita honra?


1. Na expressão subida honra, o vocábulo subida é adjetivo com o
significado de elevado, excelso, nobre. Exs.: a) “O orador fez seu
pronunciamento em subido estilo”; b) “Tenho a subida honra de saudar
Vossa Excelência”.
2. Silveira Bueno, esclarecendo dúvida bastante comum em discursos e
pronunciamentos em solenidades, lembra ser “comum ouvir-se a
pronúncia erradíssima de súbida honra” (1938, p. 71).
3. Assim, em tal caso, é preciso atenção para não dizer súbido estilo ou
súbida honra, conferindo ao vocábulo prosódia proparoxítona que ele
não tem, erro esse bastante comum na retórica de pessoas pretensamente
cultas.
4. Pior ainda é que alguns mencionem, em tais casos, súbita honra, como se
a expressão significasse honra inesperada, honra repentina, e não honra
elevada, contrariando, assim, o real sentido que a palavra tem nessas
situações.
5. Para o respectivo acerto, observe-se o ensino de Silveira Bueno: “A
palavra subida é particípio passado de subir e como tal é paroxítona,
rimando com querida, conhecida, etc. Não existem particípios passados
que não sejam paroxítonos. Quem diz súbida honra, como se fosse
esdrúxula, erra por querer acertar. É o que se chama superurbanismo ou
hipercorreção” (1957, p. 450).
6. Vale a pena transcrever o oportuno ensinamento de Domingos Paschoal
Cegalla acerca dessa locução: “Nesta expressão (que deve ser evitada
por constituir um chavão de mau gosto), subida significa elevada e é
palavra paroxítona. Evite-se, pelo menos, pronunciar súbida honra ou
súbita honra, que são disparates palmares” (1999, p. 381).
7. Em atenção aos correntes erros com a expressão, também Cândido de
Oliveira lembra que o adjetivo da locução subida honra “rima com
sabida” (s/d, p. 131).

Subir e descer de – Está correto?


Ver Verbos com regências diversas (P. 760).

Subir para cima – Pleonasmo?


1. Esta é mais uma daquelas expressões equivocadas e redundantes,
portadora de tautologia, ou pleonasmo vicioso.
2. Subir já significa movimentar-se para cima.
3. Diga-se, portanto, tão somente, subir.

Súbita honra
Ver Subida honra, Súbida honra ou Súbita honra? (P. 713)

Subjuntivo
Ver Indicativo por Subjuntivo (P. 411).

Subjuntivo ou Indicativo?
Ver Há quem garante ou Há quem garanta? (P. 385)

Sub-rogação – Como se pronuncia?


1. Do latim subrogatio, pode-se dizer que, no campo do Direito, é a
substituição de pessoa, coisa ou qualidade numa relação jurídica (DE
PLÁCIDO E SILVA, 1989, p. 275).
2. Evanildo Bechara (1974, p. 46), quanto à ortoepia, doutrina que o r deve
ser pronunciado múltiplo e separado, isto é, sem fazer grupo com a
consoante anterior (sub-ro-ga-ção).
3. Desse mesmo sentir é Cândido Jucá Filho (1963, p. 601).
4. A própria grafia do vocábulo – com o prefixo separado do segundo
elemento por hífen – confirma essa posição.

Sub-rogação ou Subrogação?
1. Com as inovações trazidas para o nosso sistema pelo Acordo Ortográfico
de 2008, importa analisar como se deve escrever atualmente: sub-
rogação ou subrogação?
2. Ora, o prefixo sub, de origem latina, normalmente traz o significado de
posição inferior, em sentido físico ou figurado, como em subtenente.
3. As diretrizes do Acordo Ortográfico de 2008 determinam que tal prefixo
se une ao segundo elemento por hífen em três casos: a) quando o
segundo elemento se inicia por h: sub-hepático, sub-horizontal, sub-
humano; b) quando o segundo elemento começa com r: sub-ramo, sub-
região, sub-reitoria, sub-rogação (e isso sob pena de ter a vogal que
inicia o segundo elemento o som de um só r, como em sobremesa); c)
quando o segundo elemento principia com a mesma letra que finda o
prefixo: sub-base, sub-bosque, sub-brigadeiro (e aqui também sob pena
de ter a vogal que principia o segundo elemento o som de um só b, como
em subir).
4. Desse modo, ligam-se diretamente os elementos, quando o segundo
deles principia por outra consoante, que não aquela que encerra o
prefixo: subclassificação, subdesenvolvimento, subfamília, subgaleria,
submaxilar, subnível, subsalário, subseção.
5. Também se ligam diretamente os elementos, quando o último deles
começa por vogal: subabdominal, subadquirente, subemenda,
subemprego, subinfecção, subitem, subocular, suboficial, subunidade,
subutilizar.
6. Interessante é observar que o Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa – editado pela Academia Brasileira de Letras, a qual tem
delegação legal para listar oficialmente os vocábulos existentes no
vernáculo, determinando-lhes a forma correta – em critério
evidentemente duplo e equivocado de consideração do problema,
apresenta alguns vocábulos cujo segundo elemento é iniciado por h, mas
lhes suprime tal letra e faz a junção sem hífen, como se o segundo
elemento fosse iniciado por vogal: subarmônico, subemisférico,
subepático, subumano (2009, p. 767-9).
7. Todavia, como a Academia Brasileira de Letras, pela edição do VOLP, é
a autoridade para ditar as regras sobre a grafia das palavras em nosso
idioma, deve-se obedecer a tal determinação, até que, em edição futura, a
questão seja unificada.

Sub-rogar – Como é seu complemento?


1. Quanto à regência do verbo sub-rogar, Francisco Fernandes vê uma
primeira possibilidade de construção, como transitivo direto e indireto,
ora com a preposição em, ora com a preposição por, podendo
corresponder a uma de duas estruturas: sub-rogar alguém em algo ou
sub-rogar algo por algo. Exs.: a) “Sub-rogar alguém em algum ofício”
(Morais); b) “Ou há de Sena Freitas sub-rogar aquele ‘for’ por ‘é’…”
(Júlio Ribeiro).
2. Quando tal verbo é pronominal, tal autor preconiza a construção com a
preposição em (FERNANDES, 1971, p. 557). Ex.: “E se sub-rogasse em
seu lugar até que ela o chamasse” (Mário Barreto).
3. Celso Pedro Luft, no que concerne ao transitivo direto e indireto,
preconiza dupla possibilidade: a) sub-rogar alguém em algo; b) sub-
rogar algo em alguém.
4. E acrescenta tal autor: “por causa da semântica transferir, passar…,
também ocorre sub-rogar algo a alguém” (LUFT, 1999, p. 492).
5. Nos textos de lei, tal verbo aparece com as seguintes construções: a)
pronominalmente, seguindo-se complemento iniciado pela preposição
em (sub-rogar-se em alguma coisa): “O devedor, que paga a dívida, sub-
roga-se no direito do credor, em relação aos outros coobrigados”
(CC/2002, art. 259, parágrafo único, repetindo a redação do CC/1916,
art. 891, parágrafo único); b) com objeto direto de coisa ou pessoa (que
pode aparecer como sujeito na voz passiva) e objeto indireto de coisa ou
pessoa introduzido pela preposição em (sub-rogar algo ou alguém em
alguém ou em alguma coisa): i) “O produto do leilão será depositado,
sub-rogando-se nele a penhora” (CPC/1973, art. 1.070, § 2º); ii) “Os
créditos tributários relativos a impostos… sub-rogam-se na pessoa dos
respectivos adquirentes…” (CTN, art. 130); c) intransitivamente: “A
vontade de sub-rogar deve ser expressamente manifestada” (CC
português, art. 590º, 2).

Subscrever – Como conjugar?


1. Palavra sinônima de subscritar, tendo ambas o significado de assinar
sob, escrever por baixo de, de modo que, assim, pode alguém subscrever
uma carta, um documento, um projeto. Ex.: “Ora qual é aí o escritor,
que se recusaria a subscrever algumas dessas frases?” (Rui Barbosa).
2. Não confundir subscrever ou subscritar com sobrescritar, que significa
escrever sobre, escrever o endereço no envoltório de uma carta
(STRINGARI, 1961, p. 97-8).
3. Nos textos de lei, às vezes aparece com o significado de apor assinatura,
caso em que se constrói com objeto direto (sujeito na voz passiva),
correspondendo à estrutura subscrever algo. Ex.: “Subscreverão o termo
o juiz, os advogados, o órgão do Ministério Público e o escrivão”
(CPC/1973, art. 457, § 2º).
4. Também se emprega tal verbo, nos diplomas legais, com a acepção de
contribuir ou obrigar-se a contribuir, hipótese em que também se
constrói com objeto direto (sujeito na voz passiva), correspondendo, de
igual modo, à sintaxe subscrever algo. Ex.: “Encerrada a subscrição e
havendo sido subscrito todo o capital social, os fundadores convocarão
a assembleia geral…” (Lei 6.404, de 15/12/76, art. 86).

Subscritar ou Sobrescritar?
Ver Sobrescritar ou Subscritar? (P. 704)

Subsidiar – Como se pronuncia o s?


Ver Datilografar (P. 251) e Subsídio – Como se pronuncia o s? (P. 715)

Subsídio – Como se pronuncia o s?


1. Subsídio é palavra muito usada nos meios jurídicos, assim como seus
cognatos subsidiar e subsidiário, e tem o significado de auxílio, ajuda.
Ex.: “A sentença foi proferida com subsídios doutrinários e
jurisprudenciais muito importantes”.
2. Seu s intermédio, na lição de Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 19), tem
real som de s (como em subsolo), não de z (como em subzona).
3. A regra a ser seguida em tal hipótese é a de que o s apenas tem som de z
entre duas vogais, mas permanece com som de s entre uma consoante e
uma vogal.
4. A exceção a essa regra fica para o prefixo trans, quando se une a
vocábulo iniciado por vogal, situação em que o s adquire som de z:
transamazônico, transeunte, transitório, transoceânico, transuretral.
5. Mesmo no caso do último prefixo, porém, é preciso cuidado, porque, se
trans se une a palavras já começadas por s, a pronúncia resultante é de s,
não de z, independentemente dos aspectos gráficos: transecular
(trans+secular), transiberiano (trans+siberiano), transubstanciação
(trans+substanciação).
6. Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 268) lembra que a pronúncia equivocada
do s intermediário desta palavra com o som de z tipifica um barbarismo
fonético.
7. A frequência com que ocorre o erro na pronúncia desse vocábulo fez
Arnaldo Niskier (1992, p. 3) anotá-lo em obra de profundo senso prático,
acompanhado pela devida correção.
8. A um consulente que lhe perguntava se o segundo s de subsídio tinha o
som de z, assim respondia Cândido de Figueiredo: “Não o deve ter, e os
bons foneticistas não lho dão. Na palavra entraram dois elementos,
começando o segundo por s, que portanto tem valor forte, como em
princípio de vocábulo” (1943, p. 27).
9. Atente-se, de igual modo, ao ensino de Silveira Bueno: “A palavra
subsídio tem o s sempre sibilante, surdo, ss. É formada de sub sedio e
segundo Leoni era o nome de um corpo do exército romano, formado de
estrangeiros, que só entrava em combate quando era necessário auxiliar.
Desta ideia de auxílio foi que tomou a significação moderna de ajuda,
pagamento, etc.” (1957, p. 426).
10. Também na lição de Luís A. P. Vitória, o s medial deste vocábulo “não
deve soar como z e sim como subcídio” (1969, p. 226).
11. Reforçam José de Nicola e Ernani Terra o posicionamento de que
“nessa palavra o s soa como ss e não como z” (2000, p. 206).
12. Não é outro, aliás, o entendimento do Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras, órgão oficial para
determinar a adequada pronúncia dos vocábulos que integram nosso
léxico (2009, p. 769).

Subsistência – Como se pronuncia o s?


1. Subsistência é palavra muito usada nos meios jurídicos, e tem o
significado de permanência, continuação, ou então alimentos,
manutenção, sustentação. Ex.: “A sentença foi proferida naquela
separação judicial, garantindo a subsistência dos filhos menores”.
2. Em seu conceito jurídico, não se restringe ao sentido de mera
alimentação, mas compreende o suprimento de tudo o que é necessário à
vida, à manutenção das pessoas e abrange o alimento, o vestuário e outra
utilidades de uso comum, como a assistência médica e os respectivos
medicamentos (DE PLÁCIDO E SILVA, 1989, p. 278).
3. É nessa acepção que esse vocábulo deve ser entendido em diversos
dispositivos do Código Civil pátrio: a) “Presumem-se, porém, de boa-fé
e valem os negócios ordinários indispensáveis à manutenção de
estabelecimento mercantil, rural, ou industrial, ou à subsistência do
devedor e de sua família” (CC/2002, art. 164); b) “É nula a doação de
todos os bens sem reserva de parte, ou renda suficiente para a
subsistência do doador” (CC/2002, art. 548); c) “Na falta das pessoas
indicadas neste artigo, serão beneficiários os que provarem que a morte
do segurado os privou dos meios necessários à subsistência” (CC/2002,
art. 792, parágrafo único); d) “Compete mais ao tutor… fazer-lhe as
despesas de subsistência e educação, bem como as de administração,
conservação e melhoramentos de seus bens” (CC/2002, art. 1.747, III).
4. Seu s intermédio, na lição de Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 19), tem
real som de s (como em subsolo), não de z (como em subzona).
5. Contrariamente a tal postura doutrinária quanto à pronúncia, todavia, o
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela Academia
Brasileira de Letras, órgão oficial para determinar a adequada pronúncia
dos vocábulos que integram nosso léxico, faculta que o seu s intermédio
possa ser pronunciado como si ou zi, de modo que ambas as formas
estão autorizadas (VOLP, 2009, p. 769).
6. As mesmas observações valem para o verbo subsistir, que, de igual
modo, é palavra muito usada nos meios jurídicos e tem o significado de
manter-se, persistir (ver, por exemplo, os arts. 1.415, 1.506 e 1.686 do
Código Civil de 1916; no CC/2002, apenas a redação do último
remanesce no art. 1.919, parágrafo único, já que a matéria do primeiro
não é tratada, e o vocábulo, no segundo se transforma em “é devida” no
art. 905, parágrafo único). Ex.: a) “Subsiste, ainda após a dissolução da
sociedade, a responsabilidade social para com terceiros, pelas dívidas
que houver contraído” (CC/1916, art. 1.407); b) “Se a revogação for
parcial, ou se o testamento posterior não contiver cláusula revogatória
expressa, o anterior subsiste em tudo que não for contrário ao
posterior” (CC, art. 1.970, parágrafo único).
7. Para esse verbo, importa observar, adicionalmente, quanto à regência
verbal, a lição de Francisco Fernandes (1971, p. 557), segundo a qual ele
pode ser usado não apenas como intransitivo, mas também como
transitivo indireto, caso em que admite a preposição de. Exs.: a)
intransitivo: “… o tempo subsiste” (Machado de Assis); b) transitivo
indireto: “Subsistir apenas de esmolas” (Séguier).

Subsistir – Como se pronuncia o s?


Ver Subsistência – Como se pronuncia o s? (P. 715)

Substabelecer
1. Em termos de técnica jurídica, significa passar, outorgar a outrem, por
instrumento específico (substabelecimento), os poderes recebidos de
alguém em procuração. Ou, nos dizeres de De Plácido e Silva, “transferir
os poderes constantes de um mandato a outrem, para que substitua a
pessoa a quem o mesmo mandato foi conferido” (1989, p. 279). Ex.: “O
advogado, a pedido do cliente, substabeleceu os poderes recebidos”.
2. Quem outorga o substabelecimento chama-se substabelecente; quem
recebe poderes por ele chama-se substabelecido.
3. Substabelecer com reserva significa continuar o substabelecente com
poderes para atuar na causa; substabelecer sem reserva quer dizer
desvincular-se o substabelecente, de modo total e definitivo, da causa,
sem poderes para nela continuar atuando (em tal caso, é errado dizer com
reservas ou sem reservas, assim, no plural).
4. Quanto à sintaxe, é verbo que precisa ser observado no que tange à
regência verbal.
5. Apontando-o como transitivo indireto, Francisco Fernandes o
exemplifica com o pronome lhe, mas não esclarece a preposição que
deva ser usada: “Substabeleceu-lhe os poderes da procuração” (1971, p.
557).
6. Contrariando esse posicionamento e observando que há “nos
substabelecimentos um erro corrente”, Edmundo Dantès Nascimento
(1982, p. 85), com fundamento em lição de Lindolfo Gomes, assevera
que “quem substabelece não substabelece os poderes a alguém”, mas
“substabelece alguém nos poderes”.
7. Regina Toledo Damião e Antonio Henriques preconizam o uso da
preposição em em tais hipóteses: “A regência do verbo substabelecer é:
substabelecer em alguém os poderes conferidos” (1994, p. 165).
8. Adalberto J. Kaspary (1996, p. 329) dá como perfeita e correta a sintaxe
com um objeto direto de pessoa (que pode vir como sujeito na voz
passiva) e objeto indireto de coisa introduzido pela preposição em
(substabelecer alguém em algo). Ex.: “Fulano substabeleceu Beltrano
nos poderes da procuração que lhe foi outorgada”.
9. Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, porém, em seu dicionário, dá
exemplo em que usa a preposição a: “A empresa em falência
substabeleceu a outra firma o trabalho contratado” (s/d, p. 1.332).
10. De acordo com lição de Eliasar Rosa, que transcreve doutrina de
Lindolfo Gomes, seria errada a construção “não se substabelecem
‘poderes a alguém’”, já que o que se dá é que se substabelece ‘alguém
nos poderes…’”
11. Por fim, anota tal autor ser erro comum dizer-se que se substabelece
com reservas ou sem reservas, já que tal substantivo deve ficar no
singular; assim, substabelece-se com reserva ou sem reserva de
poderes (ROSA, 1993, p. 132-3). Exs.: a) “O advogado substabeleceu
com reserva de poderes” (correto); b) “O advogado substabeleceu com
reservas de poderes” (errado).
12. Em realidade, ante a divergência entre os doutos, com supedâneo no
vetusto princípio de que, na dúvida, há de se ter um entendimento
liberal, são possíveis três construções: a) substabelecer poderes a
alguém; b) substabelecer alguém nos poderes; c) substabelecer poderes
em alguém. Exs.: i) “O antigo advogado substabeleceu os poderes da
causa ao novo patrono”; ii) “O antigo advogado substabeleceu o novo
patrono nos poderes da causa”; iii) “O antigo advogado substabeleceu
os poderes da causa no novo patrono”.
13. Em tais casos, como é de regra, também se pode empregar as referidas
construções, fazendo do objeto direto da voz ativa o sujeito da voz
passiva. Exs.: a) “Os poderes foram substabelecidos ao novo
advogado”; b) “O novo advogado foi substabelecido nos poderes”; c)
“Os poderes foram substabelecidos no advogado recém-contratado”.
14. Esse entendimento mais liberal é acolhido por Celso Pedro Luft (1999,
p. 492), que vislumbra a possibilidade das seguintes construções: a)
substabelecer algo a alguém; b) substabelecer algo em alguém; c)
substabelecer alguém + predicativo (como em substabelecer alguém
mandatário).
15. Nos textos de lei, tal verbo vem construído às vezes como intransitivo,
às vezes com objeto direto (que pode ser sujeito na voz passiva) de
coisa (substabelecer alguma coisa), às vezes com objeto direto de coisa
e objeto indireto de pessoa introduzido pela preposição a
(substabelecer alguma coisa a alguém), às vezes com objeto direto de
coisa e objeto indireto de pessoa introduzido pela preposição em
(substabelecer alguma coisa em alguém). Exs.: a) “Havendo poderes
de substabelecer, só serão imputáveis ao mandatário os danos…” (CC,
art. 667, § 2º); b) “Nos poderes que a lei presume conferidos ao
mandatário está incluído o de substabelecer o mandato” (CPC
português, art. 36º, 2); c) “O mandatário é obrigado a aplicar toda a
sua diligência habitual na execução do mandato, e a indenizar
qualquer prejuízo causado por culpa sua ou daquele a quem
substabelecer, sem autorização, poderes que devia exercer
pessoalmente” (CC, art. 667, caput); d) “Considera-se celebrado pelo
representante… o negócio realizado por aquele em quem tiverem sido
substabelecidos os poderes de representação” (CC português, art. 261º,
2).

Substabelecimento

Ver Substabelecer (P. 716).

Substantivos compostos – Como levar ao plural?


1. Quando se tem uma palavra formada por mais de um elemento (unidos
por hífen ou sem o auxílio deste), a qual funcione no conjunto como um
substantivo, tem-se o que se denomina substantivo composto. Exs.:
segunda-feira, passatempo.
2. Nem sempre é tão simples passar para o plural um substantivo
composto, quando seus elementos se unem por hífen, mas se podem
estabelecer dois aspectos importantes: a) os elementos normalmente
variáveis vão para o plural (substantivos, adjetivos, numerais…); b) já os
verbos, os prefixos e os advérbios não variam. Exs.: i) decreto-lei
(substantivo + substantivo) = decretos-leis; ii) pública-forma (adjetivo +
substantivo) = públicas-formas; iii) segunda-feira (numeral +
substantivo) = segundas-feiras; iv) porta-papel (verbo + substantivo) =
porta-papéis; v) abaixo-assinado (advérbio + adjetivo) = abaixo-
assinados; vi) vice-diretor (prefixo + substantivo) = vice-diretores; vii)
bota-fora (verbo + advérbio) = os bota-fora.
3. Em confirmação desse ensino, para o caso de se ter um verbo e um
substantivo, anote-se a lição de Laudelino Freire: “Os nomes compostos
de verbo e substantivo, como lança-perfume, formam o plural levando-
se somente ao plural o substantivo: lança-perfumes. Regra é, parece-me,
que não está sujeita a exceções” (s/d, p. 38).
4. Se os elementos do substantivo composto são dois substantivos, e o
segundo não dá a ideia de adição ao primeiro, mas indica-lhe o tipo ou a
finalidade, o ensino tradicional é que só varia o primeiro elemento. Exs.:
canetas-tinteiro; navios-escola; salários-família.
5. Como, porém, é assunto delicado e nem sempre seguro saber se o
segundo elemento acrescenta ou não ideia de tipo ou finalidade ao
primeiro, a tendência atual da Gramática é flexionar a ambos, motivo por
que são igualmente corretos os seguintes plurais: canetas-tinteiros,
navios-escolas, salários-famílias.
6. Se os elementos do substantivo composto são ligados por preposição, só
varia o primeiro deles. Exs.: bocas-de-leão.
7. Se os elementos do substantivo composto são palavras repetidas ou
semelhantes, apenas varia o segundo deles. Exs.: tique-taques; corre-
corres.
8. Ficam invariáveis os substantivos compostos que forem frases
substantivas: as estou-fraca (BECHARA, 1974, p. 82).
9. Com ligeiros reparos já feitos e ressalvadas algumas exceções, vale
sintetizar todo esse assunto com a lição de Artur de Almeida Torres
(1966, p. 61-4): a) “Nos compostos constituídos de dois substantivos, de
um substantivo e um adjetivo, de um adjetivo e um substantivo ou de um
numeral e um substantivo, ligados por hífen, ambos os elementos vão
para o plural”; b) “Quando os elementos da composição estiverem
reunidos formando um só todo, apenas o último vai para o plural”
(passatempos); c) “Se os compostos são formados de verbo e
substantivo, ligados por hífen, somente o último recebe a flexão do
plural” (porta-papéis); d) “Quando os compostos são formados de dois
substantivos, ligados por preposição, só o primeiro vai para o plural”
(mesmo que a preposição esteja omissa, como em mestres-sala e
mestres-escola); e) “Nos compostos em que o segundo elemento
determina o primeiro, com ideia de fim ou semelhança, somente o
primeiro recebe a flexão do plural” (canetas-tinteiro); f) “Se os
compostos forem constituídos de dois verbos antônimos, ou de verbo e
advérbio, ligados por hífen, ambos se conservam invariáveis”, como em
os perde-ganha; g) “Se os verbos vierem repetidos, vão geralmente para
o plural”, como em corres-corres, pegas-pegas; h) “Se os compostos
forem constituídos de palavras onomatopaicas, só a última vai para o
plural” (reco-recos, tico-ticos); i) “Quando o primeiro elemento do
composto é invariável, o segundo vai para o plural”, como em bel-
prazeres, te-déuns, vice-presidentes.
Ver Adjetivos compostos (P. 81).

Substituir
1. Quanto à ortografia, como todo verbo terminado em uir, só pode dar
origem à terminação ui na segunda e terceira pessoas do singular do
presente do indicativo. Assim: substituo, substituis substitui.
2. Diferentemente dos verbos terminados em uar (como continuar), são
errôneas as grafias com e em tais situações: substitues, substitue.
3. Quanto à regência verbal, Sousa e Silva, por um lado, valendo-se de
exemplos, lembra que “Substituíram a monarquia pela república” e
“Substituíram a república à monarquia” são frases equivalentes,
realçando que Alexandre Herculano emprega seguidas vezes a segunda
sintaxe, como no seguinte trecho: “Outros nomes, porém, havia,
sobretudo nas designações corográficas, tão completamente alterados,
que me repugnava o substituir o moderno ao antigo” (quer dizer:
substituir o antigo pelo moderno).
4. Completa, por outro lado, o referido gramático, valendo-se de exemplo
de Carlos de Laet, com a observação de que tal verbo admite o uso do
pronome lhe: “O século passado destruiu, sem algo lhes substituir, as
antigas corporações que protegiam tais classes” (SILVA, A., 1958, p.
286).
5. Veja-se também a lição de Silveira Bueno (1957, p. 430), que lhe admite
dupla regência: a) substituir alguma cousa por outra. Exs.: i) “O governo
substituiu o professor de português pelo assistente de inglês”; ii) “O
padre substituiu o sacristão pelo coroinha”; b) substituir alguma cousa a
outra cousa. Exs.: i) “… a revolução moral que substituiu as ideias
gregas às máximas antigas” (Mário Barreto); ii) “… que substituísse a
espiritualidade de um Deus ao materialismo dos ídolos” (Antônio
Feliciano de Castilho).
6. Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 382) vislumbra as mesmas
possibilidades, vale dizer, de construir o objeto indireto com por ou com
a, posição essa também seguida por Celso Pedro Luft (1999, p. 492-3).
7. Francisco Fernandes (1971, p. 557) ainda adiciona a possibilidade de
construção do objeto indireto com a preposição com: “… substituir as
janeiras e maias com procissões mui devotas…” (Alexandre Herculano).
8. Em minucioso estudo sobre seu emprego nos textos de lei, Adalberto J.
Kaspary encontrou as seguintes construções: a) substituir alguém (com o
objeto direto da voz ativa podendo ser o sujeito da voz passiva): “Dá-se
a novação… Quando um novo devedor substitui o antigo e este fica
desobrigado” (C. Com., art. 438,2); b) substituir-se reciprocamente: “O
testador pode determinar que os co-herdeiros se substituam
reciprocamente” (CC português, art. 2.283º, 1); c) substituir-se por: “Se
o gestor se fizer substituir por outrem, responderá pelas faltas do
substituto” (CC, art. 867, caput); d) substituir alguma coisa: “A
concessão da pensão especial do inciso II substitui, para todos os efeitos
legais, qualquer outra pensão já concedida ao ex-combatente” (CF/88,
DCT, art. 53, parágrafo único); e) substituir alguma coisa por outra: “O
parceiro proprietário substituirá por outros, no caso de evicção, os
animais evictos” (CC/1916, art. 1.418); f) substituir alguém a: “O
testador pode substituir outra pessoa ao herdeiro, ou legatário…” (CC,
art. 1.947); g) substituir-se a: “Dá-se a novação… quando por uma nova
convenção se substitui um credor a outro…” (C. Com., art. 438, 3); h)
substituir alguém em algo: “A exceção de não cumprimento é oponível
aos que no contrato vierem a substituir qualquer dos contraentes nos
seus direitos e obrigações” (CC português, art. 431º); i)substituir-se em
algo: “Se, não obstante proibição do mandante, o mandatário se fizer
substituir na execução do mandato…” (CC, art. 667, § 1º); j) substituir a
alguém em algo: “A apólice de seguro é transferível e exequível por via
de endosso, substituindo o endossado ao segurado em todas as
obrigações, direitos e ações” (C. Com., art. 675); k) substituir-se a
alguém em algo: “Relativamente aos créditos, o mandante pode
substituir-se ao mandatário no exercício dos respectivos direitos” (CC
português, art. 1.181º, 2).
9. Observa especificamente o mencionado autor que, no item j, “ao
segurado exerce a função de objeto direto preposicionado, construção
usada para efeito de clareza” (KASPARY, 1996, p. 329-1).

Subsume ou Subsome?
1. Um leitor diz ter encontrado as seguintes frases em votos de ministros de
nossos tribunais superiores: a) “A conduta do paciente subsume-se ao
preceito”; b) “O tema da prescrição subsume-se ao âmbito das normas”.
Mas lhe parece que a flexão nesses casos deve ser subsome-se, e não
subsume-se. E indaga qual a forma correta.
2. Ora, subsumir é o verbo que indica o fato da subsunção e significa, em
síntese, realizar “a operação de diagnose do direito, consistente em
enquadrar o caso concreto no preceito legal abstrato a ele aplicável”
(SIDOU, 1990, p. 539). Ex.: “No caso concreto, o fato noticiado não se
subsumia à legislação benéfica atualmente em vigor”.
3. E, ainda, segundo Geraldo Amaral Arruda (1997, p. 125), significa
“pensar (um objeto individual) como compreendido em um conjunto (ou
indivíduo em uma espécie, uma espécie em um gênero)”.
4. Num primeiro aspecto, na apropriada lição de Luiz Antônio Sacconi
(1979, p. 19), seu s intermédio tem real som de s (como em subsolo), e
não de z (como em subzona).
5. Num segundo aspecto, quanto a sua conjugação, trata-se de assunto a
cujo respeito não se encontram grandes subsídios. Mas Vera Cristina
Rodrigues (2003, p. 238), em monografia de grande utilidade, junta-o ao
verbo sumir e manda conjugá-lo pelo modelo sacudir, com a observação
específica de que “a vogal –u- passa a –o- fechado /ô/ nas quatro formas
em que há abertura de timbre”).
6. Ora, para começar, veja-se o verbo sacudir no presente do indicativo:
sacudo, sacodes, sacode, sacudimos, sacudir, sacodem. Três das formas
referidas pela mencionada autora estão aí registradas; a outra é a segunda
pessoa do singular do imperativo afirmativo (sacode).
7. Passe-se ao verbo sumir, que ela junta com subsumir, em mesmo
paradigma de conjugação: sumo, somes, some, sumimos, sumis, somem.
8. Então se chega ao verbo subsumir: subsumo, subsomes, subsome,
subsumimos, subsumis, subsomem.
9. Com essas anotações teóricas, não é difícil solucionar a dúvida do leitor:
a) “A conduta do paciente subsume-se ao preceito” (errado); b) “A
conduta do paciente subsome-se ao preceito” (correto); c) “O tema da
prescrição subsume-se ao âmbito das normas” (errado); d) “O tema da
prescrição subsome-se ao âmbito das normas” (correto).

Subsumir
Ver Subsume ou Subsome? (P. 718)

Subsunção
1. Em preciosa monografia, em passado não muito distante, João Mendes
Neto (1949, p. 30) observava que “o termo subsunção não é encontrado
nos dicionários da língua portuguesa. Sumptio, em latim, é a (premissa)
menor do silogismo, derivando daí subsumptio, que é colocar debaixo de
um conceito mais amplo a (premissa) menor do silogismo.
Tecnicamente, pois, o termo subsunção é próprio do silogismo”.
2. Na atualidade, o termo já foi incorporado ao léxico, como se pode
observar pelo Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da
Academia Brasileira de Letras, órgão oficial para determinar os
vocábulos que integram nosso idioma (2009, p. 769).
3. Também o registra o Dicionário da Melhoramentos (Encyclopaedia
Britannica do Brasil, 1995, p. 1.636), que lhe mantém a significação
filosófica.
4. Seu s intermédio, na lição de Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 19), tem
real som de s (como em subsolo), não de z (como em subzona).
5. De largo uso nos meios forenses, tem-se-lhe atribuído a significação de
enquadramento de um fato a uma lei, de uma ideia específica em outra
ideia mais geral. Ex.: “Não se dá, no caso concreto, a subsunção do fato
noticiado à legislação benéfica atualmente em vigor”.
6. J. M. Othon Sidou, em utilíssima obra que coordenou, conceitua-a
tecnicamente como a “operação de diagnose do direito, consistente em
enquadrar o caso concreto no preceito legal abstrato a ele aplicável”
(1990, p. 539).

Suceder
1. No sentido de vir depois, seguir-se, observa Artur de Almeida Torres que
“regia, antigamente, acusativo” (isto é, objeto direto) “ou dativo” (vale
dizer, objeto indireto); “atualmente, porém, constrói-se como transitivo
indireto, com a preposição a”: “É erro que sucede ao erro” (Alexandre
Herculano).
2. Complementa tal gramático que o objeto indireto, em tais casos, admite
substituição pelo pronome lhe (TORRES, 1967, p. 272): “Sucedeu-lhe
Antônio Vaz, pai de Lopo Vaz de Camões” (Camilo Castelo Branco).
3. Sousa e Silva (1958, p. 287) corrobora integralmente a lição de Almeida
Torres, quer quanto ao único uso moderno (com a preposição a), quer
quanto à possibilidade de empregar com ele o pronome lhe.
4. Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 382-3) confirma a tendência
moderna de usá-lo com objeto indireto regido da preposição a, à qual se
há de dar preferência, acrescentando tal gramático a observação de que,
“na acepção de ocorrer, não se diz suceder-se, mas suceder”. Exs.: a)
“Algo de parecido está sucedendo em nosso país” (correto); b) “Algo de
parecido está se sucedendo em nosso país” (errado).
5. Edmundo Dantès Nascimento (1982, p. 182), em mesma esteira, observa
que, “modernamente o verbo suceder deve ser construído com objeto
indireto em todos os sentidos”, trazendo à corroboração exemplos de
abalizados autores: a) “… o moço sucedia ao seu pai no governo…”
(Alexandre Herculano); b) “… codificação que tem de suceder às velhas
ordenações…” (Rui Barbosa).
6. Francisco Fernandes (1971, p. 558) reitera esse posicionamento, quer
para considerar tal verbo transitivo indireto que pede a preposição a,
quer para permitir o emprego do pronome lhe.
7. O ensino de Celso Pedro Luft (1999, p. 493) é mais ampliativo, para
aceitar sua construção também como pronominal: a) “Uma grande
bonança sucedeu à tempestade” (correta); b) “Uma grande bonança
sucedeu-se à tempestade” (correto).
8. Oportuno é acrescentar que a expressão suceder na herança significa ter
direito à herança.
9. Nos textos de lei, às vezes aparece empregado intransitivamente, às
vezes com objeto direto de pessoa, às vezes com objeto indireto de coisa
introduzido pela preposição em (suceder em algo), às vezes com objeto
indireto de pessoa introduzido pela preposição a (suceder a alguém), às
vezes com dois objetos indiretos, o de pessoa introduzido pela
preposição a e o de coisa, pela preposição em (suceder a alguém em
algo). Exs.: a) “A lei do domicílio do herdeiro ou legatário regula a
capacidade para suceder” (LICC, art. 10, § 2º); b) “São inelegíveis para
os mesmos cargos, no período subsequente, o Presidente da República,
os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os
houver sucedido, ou substituído nos seis meses anteriores ao pleito”
(CF/88, art. 14, § 5º); c) “A vocação para suceder em bens de
estrangeiro situados no Brasil será regulada pela lei brasileira em
benefício do cônjuge brasileiro e dos filhos do casal…” (LICC, art. 10, §
1º); d) “Quando os netos, representando seus pais, sucederem aos avós,
serão obrigados a trazer à colação, ainda que o não hajam herdado, o
que os pais teriam de conferir” (CC, art. 2.009); e) “A habilitação tem
lugar quando, por falecimento de qualquer das partes, os interessados
houverem de suceder-lhe no processo” (CPC/1973, art. 1.055); f) “Dá-se
a novação: … II – quando novo devedor sucede ao antigo, ficando este
quite com o credor” (CC, art. 360, II).
10. Pelas construções observadas nos textos de lei, vê-se que são
empregadas as construções suceder-lhe, suceder a ele e sucedê-lo.

Suicidar-se – Pleonasmo?
1. Atente-se à circunstância de que se perdeu, no fluir dos tempos, a ideia
de que, no vocábulo analisado, o sui inicial quer dizer de si, razão pela
qual, na atualidade, o correto e necessário é conjugar o verbo
acompanhado do pronome se. Exs.: a) “Ante a evidência das provas de
acusação, o réu suicidou-se na prisão” (correto); b) “Ante a evidência
das provas de acusação, o réu suicidou na prisão” (errado).
2. Respondendo a um consulente que lhe indagava se tal verbo, “pela sua
construção, não dispensa o pronome se”, afirmava taxativamente
Cândido de Figueiredo: “Não, senhor. Morfologicamente, em suicidar já
consideramos de fato uma ação reflexa; mas como esse verbo, sem o
pronome se, nunca existiu em português, pouco importam as nossas
filosofias, e temos de aceitar os fatos incontestáveis da linguagem.
Suicidar-se é fato corrente e constante nos vários períodos da nossa
língua, e não temos que corrigi-lo. Aquela suposta redundância não é
coisa insulada na história da língua” (1941, p. 197-8).
3. Reafirmando que, contrariamente à etimologia, o correto é suicidar-se,
Domingos Paschoal Cegalla lembra que “a língua nem sempre se
submete ao jugo da lógica” (1999, p. 383).
4. Francisco Fernandes (1971, p. 558), de igual modo, também o vê apenas
com a possibilidade de construção pronominal: a) “Só poderia resistir
suicidando-me” (Camilo Castelo Branco); b) “Suicidou-se levado pela
ambição”.

Sujeito composto de pessoas diferentes


1. A questão pode ser resumida com o ensino de Domingos Paschoal
Cegalla (1990, p. 380), para quem, se o sujeito composto for de pessoas
diversas, o verbo se flexiona no plural e na pessoa que tiver prevalência.
2. Para esses efeitos, a primeira pessoa tem prevalência sobre a segunda e a
terceira (eu + tu + ele + nós). Ex.: “Foi o que fizemos Capitu e eu”
(Machado de Assis). Tecnicamente falando, o sujeito é composto por um
núcleo da terceira pessoa (Capitu) e outro de primeira (eu), motivo por
que o verbo vai para a primeira pessoa do plural.
3. Por outro lado, se não há um núcleo de primeira pessoa, mas há um
núcleo da segunda pessoa e outro da terceira, aquela tem prevalência
sobre esta (tu + ele + vós). Ex.: “Tu e ele partireis juntos” (Mário
Barreto). Tecnicamente falando, o sujeito é composto por um núcleo da
segunda pessoa (tu) e outro da terceira pessoa (ele), motivo pelo qual o
verbo vai para a segunda pessoa do plural.
4. Quando se tem um pronome de tratamento e um outro núcleo da terceira
pessoa, embora o pronome de tratamento seja da segunda pessoa (pessoa
com quem se fala), ele leva o verbo para a terceira pessoa, de modo que
a soma resultante há de ser a terceira pessoa do plural. Ex.: “Você e meu
irmão não me compreendem”. Nesse caso, você é pronome de tratamento
da segunda pessoa, mas leva o verbo para a terceira; e meu irmão é da
terceira pessoa. A soma resultante, assim, é vocês, de modo que o verbo
vai para terceira pessoa do plural.

Sujeito composto (núcleos unidos por com)


1. Veja-se o seguinte exemplo: “Napoleão com suas tropas atravessou a
fronteira russa”. Nele se podem fazer duas afirmações quanto à análise
sintática: a) o sujeito da oração é “Napoleão com suas tropas”; b) nesse
sujeito, podem identificar-se dois núcleos: Napoleão e tropas.
2. Em termos das regras que norteiam a concordância verbal, aqui se
extraem duas conclusões: a) quando o sujeito tem dois núcleos, diz-se,
tecnicamente, que ele é um sujeito composto; b) quando o sujeito é
composto, é regra geral que o verbo vá para o plural.
3. No caso, porém, os dois núcleos estão unidos pela preposição com, e
com ela se dá uma circunstância muito especial: a) o verbo pode
concordar com o primeiro nome no singular; b) ou então pode concordar
com a soma dos dois núcleos. Desse modo, estão corretos ambos os
exemplos: i) “Napoleão com suas tropas atravessou a fronteira russa”;
ii) “Napoleão com suas tropas atravessaram a fronteira russa”.
4. Verificado o aspecto de que ambas as construções estão gramaticalmente
corretas, anota-se, quanto ao estilo, que: a) quando se procede à
concordância no singular, quer-se realçar a atuação do primeiro núcleo
do sujeito (ou seja, no caso se quer exaltar o comando de Napoleão); b)
quando se faz a concordância no plural, quer-se destacar a atuação
conjunta (isto é, que a travessia foi realizada não apenas por Napoleão,
mas por ele e por suas tropas, em atuação de grupo).

Sujeito composto = verbo no plural


1. Concordância verbal é a harmonização do verbo com o seu sujeito, o que
se dá em número (singular ou plural) e pessoa (primeira, segunda ou
terceira).
2. Algumas observações gerais podem ser de grande utilidade.
3. Nesses casos, como ensina com precisão Carlos Góis (1943, p. 25), o
verbo (denominado palavra regida ou subordinada) acomoda-se à flexão
do sujeito (denominado palavra regente ou subordinante).
4. Assim, se o sujeito é simples, a concordância se faz em número e pessoa
com o núcleo do sujeito. Exs.: a) “Eu encontrei o livro”; b) “Os rebeldes
saíram às ruas”; c) “A pintura dos três prédios exigiu dois meses”; d)
“Aconteceram, por aqui, casos interessantes”; e) “Os consertos do
edifício demoraram mais do que o previsto”.
5. Se o sujeito é composto e anteposto ao verbo, concorda este com a soma
daquele. Ex.: “A citação e a penhora foram anuladas”.
6. Se o sujeito é composto e posposto, o verbo pode concordar no plural ou
com o núcleo mais próximo. Exs.: a) “Foram anuladas a citação e a
penhora” (correto); b) “Foi anulada a citação e a penhora” (correto); c)
“Foi anulado o edital e a citação” (correto).
7. Para esse último caso, vale observar com João Ribeiro que, “embora
concorram muitos sujeitos, sempre foi primor e liberdade de estilo deixar
o verbo no singular desde que este os precede na frase” (1923, p. 149).
8. Se se indagar qual a forma correta – a) “Cautela e caldo de galinha não
faz mal a ninguém”; b) “Cautela e caldo de galinha não fazem mal a
ninguém”? – é de fácil verificação que o sujeito tem dois núcleos:
cautela e caldo. E mais: sujeito composto e anteposto ao verbo, o que,
por via de regra, exige a concordância no plural. Assim, o correto é
“Cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém… exceto à
galinha”.
Sumariíssimo ou Sumaríssimo?
1. Não é infrequente, quando da elaboração de textos jurídicos e forenses,
que surja a dúvida para o superlativo absoluto sintético de sumário:
sumariíssimo ou sumaríssimo?
2. O motivo da discussão reside no fato de que o Código de Processo Civil,
no art. 275 (Lei 5.869, de 11/1/73), falava em procedimento
sumaríssimo. A Constituição Federal de 1988, no art. 98, I, rebatizou-o
como procedimento sumariíssimo. A Lei 9.245, de 26/12/95, que alterou
dispositivos do Código de Processo Civil, evitando discussões, em seu
art. 3º, passou a chamá-lo simplesmente de procedimento sumário.
3. Esclareça-se que, no campo do Direito, ao menos em tese, como lembra
De Plácido e Silva, sumário “é a expressão usada para designar o
processo em que tudo se faz com brevidade, ou em que tudo se resolve
de plano, isto é, sem maiores indagações e sem a satisfação de
formalidades usualmente dispostas para os processos comuns” (1989, p.
297).
4. J. Mattoso Câmara Jr. observa que o superlativo absoluto sintético é o
grau mais intenso que um adjetivo pode assumir e especifica que,
embora o sufixo básico no idioma seja íssimo, existe também a variante
imo (humílimo, paupérrimo).
5. E acrescenta: “O português arcaico não possuía essa derivação para
superlativos, que se estabeleceu, a partir do séc. XVI, por influência
italiana” (CÂMARA JR., s/d, p. 367).
6. Para Rocha Lima, “a terminação geral do superlativo absoluto sintético é
íssimo, a qual se junta ao radical dos adjetivos, na forma em que estamos
acostumados a vê-los: fri(o) + íssimo = friíssimo; doc(e) + íssimo =
docíssimo; nobr(e) + íssimo = nobríssimo” (1972, p. 94). Para o caso
analisado, o correto seria sumariíssimo.
7. E Napoleão Mendes de Almeida, ao comentar outro adjetivo de mesma
estrutura – sério – assim assevera: “O superlativo sintético é seriíssimo,
com dois ii após o r” (1981, p. 297). E não abre tal autor outra opção.
8. Já Pasquale Cipro Neto e Ulisses Infante (1999, p. 261) bifurcam a lição:
a) “os adjetivos terminados em io não precedido de e formam o
superlativo absoluto sintético em iíssimo” (sério – seriíssimo; necessário
– necessariíssimo; frio – friíssimo); b) os outros se formam com apenas
um i (feio – feíssimo; cheio – cheíssimo). Essa lição, se aplicada ao caso,
redundaria em sumariíssimo.
9. Evanildo Bechara (1974, p. 92), embora confirme essa última posição
(seriíssimo, friíssimo, necessariíssimo, precariíssimo), e, por
conseguinte, sumariíssimo, traz importante ensino para os dias atuais:
“Tendem a fixar-se as formas populares… com um i apenas”. Vale dizer:
para esse autor, também são aceitáveis seríssimo, necessaríssimo,
sumaríssimo e semelhantes.
10. Outra não é a lição de Celso Cunha: “Em lugar das formas superlativas
seriíssimo, necessariíssimo e outras semelhantes, a língua atual prefere
seríssimo, necessaríssimo, com um só i” (1970, p. 122).
11. Abrangendo de modo específico o adjetivo ora considerado, resume
Domingos Paschoal Cegalla que adjetivos com esse perfil “assumem,
no superlativo, a terminação regular -iíssimo ou a irregular -íssimo. Há
preferência por essa última, por ser mais eufônica: sumaríssimo (em
vez de sumariíssimo), seríssimo, primaríssimo, etc.” (1999, p. 384).
12. Ante a diversidade de posições entre os gramáticos, o melhor é aplicar
o princípio de que, na dúvida ou divergência entre eles, prevalece a
conduta mais liberal, que abarque ambos os ensinamentos, de modo
que tanto se pode dizer procedimento sumariíssimo como procedimento
sumaríssimo.
13. Apenas se observa que a primeira (sumariíssimo) é forma regular, que
se harmoniza com as regras de derivação das palavras, enquanto a
segunda (sumaríssimo) é forma irregular, que segue a eufonia e se
plasma na lei do menor esforço. Esta lei tem grande influência no
modo de pronunciar os vocábulos, ao longo do tempo, em nosso
idioma, e se particulariza pelo emprego de modos mais simplificados
de dicção.

Superávit
1. É a terceira pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo do
verbo latino superare, e significa etimologicamente sobrou; ou, como
anota Vitório Bergo, trata-se de latinismo consagrado na linguagem
comercial, sendo “forma verbal latina (supero, superare) e significa
sobrou” (1944, p. 78).
2. Serve para designar, em suma, a diferença a mais entre a receita e a
despesa. Ex.: “Conseguiu-se um inesperado superávit na receita daquele
ano”.
3. Por se tratar de palavra já incorporada ao nosso léxico, além de dispensar
as aspas (normalmente dedicadas a vocábulos estrangeiros), também
recebe acento gráfico.
4. Napoleão Mendes de Almeida – possivelmente levado a equívoco pela
observação feita em conjunto com a palavra déficit – considera superávit
um vocábulo proparoxítono, quando é facilmente perceptível seu caráter
de paroxítona.
5. O mesmo gramático dá-lhe por plural superávits (ALMEIDA, 1981, p.
305).
6. Na feitura desse plural, tem o referido gramático o abono de Regina
Toledo Damião e Antonio Henriques, que preconizam apenas o
acréscimo da “desinência indicativa do plural” (1994, p. 56).
7. Já Cândido Jucá Filho (1963, p. 604) registra a forma superávites.
8. Lembrando tratar-se de forma latina substantivada, observam Regina
Toledo Damião e Antonio Henriques (1994, p. 56) que tal vocábulo hoje
aparece acentuado e com a desinência indicativa do plural (superávits),
sinal de que já se considera incorporado ao português.
9. O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia
Brasileira de Letras, que é o veículo oficial para dirimir dúvidas acerca
de pertencerem ou não os vocábulos a nosso idioma, bem como acerca
de sua correta grafia e pronúncia – em contrariedade aos critérios
adotados para seu antônimo déficit (para o qual, a par do
aportuguesamento défice, não permite outra forma) – aceita a forma
superávit como vocábulo integrante de nosso idioma (2009, p. 772).

Superávit positivo – Está correto?


Ver Pleonasmo – O que é e Quando pode? (P. 565)

Super – Com hífen ou sem?


1. O prefixo super se liga ao segundo elemento por meio de hífen apenas
em dois casos: a) quando o elemento seguinte se inicia por h: super-
habilidade, super-hidratar, super-homem; b) quando o elemento seguinte
começa com a mesma letra que finaliza o prefixo: super-reação, super-
realidade, super-resfriado.
2. Por outro lado, quando o elemento seguinte se inicia por consoante, une-
se, de modo direto e sem emprego de hífen em duas situações: a) quando
o elemento seguinte não começa por h; b) quando o elemento seguinte
não se inicia pela mesma consoante que finaliza o prefixo. Exs.:
superbacia, supercampeão, superdimensionar, superfaturamento,
supergigante, superliga, supersaturar, supersecreto, supersensível.
3. De igual modo, junta-se sem hífen, quando o elemento seguinte se inicia
por vogal: superabundância, superacidez, superedificação,
superespetáculo, superintendente, superinvestimento, superocupação,
superovulação, superumidade, superurbanismo.

Superintendente executivo ou Superintendente executiva?


1. Como é de frequente questionamento para os casos de cargos e
profissões, surge a dúvida, quando se tem que empregar o feminino da
expressão superintendente executivo.
2. Ora, em português, o adjetivo concorda em gênero (masculino ou
feminino) e número (singular ou plural) com o substantivo por ele
modificado.
3. Essa regra não traz dificuldades nos casos mais simples, quando é clara a
variação no próprio substantivo: advogado pleno, advogada plena,
advogados plenos, advogadas plenas.
4. Em um substantivo como superintendente, todavia, em que se tem a
mesma forma para o masculino e para o feminino, apenas se reconhece a
diferença pelo artigo que o acompanha: o estudante, a estudante, o
doente, a doente, o ouvinte, a ouvinte, o selvagem, a selvagem, o artista,
a artista. Assim também o superintendente, a superintendente.
5. Quando se está diante de um substantivo que tem uma só forma para o
masculino e para o feminino, de modo que a distinção se faz pelo artigo
que o precede ou por outro determinativo acompanhante, tem-se,
tecnicamente, o que se chama de comum de dois ou comum de dois
gêneros.
6. Talvez essa falta de clara distinção quanto ao gênero de superintendente,
num primeiro momento, leve à dificuldade de fixação da forma correta
do adjetivo modificador. Mas a concordância do adjetivo (executivo)
com o substantivo (superintendente) é normal e não traz problema
algum: superintendente executivo, superintendente executiva.
7. E as dificuldades são ainda menores, quando se faz anteceder o
mencionado vocábulo de um artigo: o superintendente executivo, a
superintendente executiva.

Superurbanismo
Ver Hipercorreção (P. 391).

Supor
Ver Pôr – Como conjugar? (P. 577)

Supra – Com hífen ou sem?


1. Como costuma acontecer com os prefixos terminados por vogal, apenas
em dois casos se usa o hífen com o prefixo supra: a) quando o elemento
seguinte se inicia por h (supra-hepático, supra-histórico, supra-
humano); b) quando o elemento seguinte se inicia pela mesma letra que
termina o prefixo (supra-atmosférico, supra-auricular).
2. Antes de outra consoante, que não seja h, acopla-se diretamente à
palavra seguinte, sem hífen: supracelestial, supradental,
supralegalidade, supranacional, suprapartidário.
3. De igual modo, junta-se sem hífen, quando o elemento seguinte se inicia
por outra vogal, que não a mesma que finaliza o prefixo:
supraenumerado, supraescapular, suprainguinal, supraocular.
4. Para a hipótese de ser o segundo elemento iniciado por r ou s, dobram-se
tais consoantes para continuidade do som originário: suprarrealista,
suprarregional, suprarrelatado, suprarrenal, suprassensível,
suprassensorial, suprassumo.
Supressão da preposição
Ver Omissão da preposição – Está correto? (P. 526)

Surdo-mudo
1. Trata-se da pessoa que tem, ao mesmo tempo, deficiência total da
audição e da fala. Ex.: “São absolutamente incapazes de exercer
pessoalmente os atos da vida civil: … III – Os surdos-mudos, que não
puderem exprimir a sua vontade” (CC/1916, art. 5º, III).
2. Após estabelecer a regra normal de flexão dos adjetivos compostos por
dois ou mais elementos – segundo a qual “varia em regra apenas o
último” – Vitório Bergo complementa que, todavia, “foge à regra surdo-
mudo, empregado normalmente como substantivo, cujo plural é surdos-
mudos” (1943, p. 59).
3. Também na lição de José de Nicola e Ernani Terra, “nessa palavra, seja
empregada como substantivo, seja como adjetivo, ambos os elementos
variam em gênero e número” (2000, p. 209).
4. De igual modo para Napoleão Mendes de Almeida, “por exceção da
regra de flexão dos adjetivos compostos, surdo-mudo faz surda-muda,
surdos-mudos, surdas-mudas” (1981, p. 305).
5. Arnaldo Niskier, em mesma esteira, considera “surdo-mudo um adjetivo
que, excepcionalmente, faz o plural surdos-mudos” (1992, p. 74).
6. Sousa e Silva, porém – em lição que parece tecnicamente mais
apropriada, lembrando o princípio de que, para os adjetivos compostos,
“quando a palavra é composta de dois adjetivos, o primeiro não se
flexiona” – não partilha desse entendimento, motivo por que assevera
que alguns escritores têm laborado no engano “de aplicar ao adjetivo as
flexões do substantivo”.
7. E doutrina tal gramático acerca do giro em epígrafe (SILVA, A., 1958, p.
289): a) “Empregado como substantivo, faz no plural masculino surdos-
mudos; no singular feminino, surda-muda; no plural feminino, surdas-
mudas”; b) “Como adjetivo, conserva inalterado o primeiro elemento:
meninos surdo-mudos, criança surdo-muda, operárias surdo-mudas”.
Ver Adjetivos compostos (P. 81).
Surpresa inesperada – Pleonasmo?
1. Esta é mais uma daquelas expressões equivocadas e redundantes,
portadora de tautologia, ou pleonasmo vicioso.
2. Surpresa já traz em si a ideia de algo inesperado.
3. Diga-se, portanto, tão somente, surpresa; ou então se troque o
substantivo por outro que não tenha tal carga de significação:
acontecimento inesperado.

Surtir ou Sortir?
Ver Sortir ou Surtir? (P. 711)

Suso
1. De acordo com lição de Sílvio Elia, que insere o vocábulo no léxico
arcaico, vem “do latim susum, forma assimilada de sursum, que existia
desde Catão (século II a. C.). Significa em cima, para cima. A locução
de suso, análoga ao francês dessus, quer dizer em cima” (1967, p. 292 e
301).
2. Cândido Jucá Filho (1963, p. 606) não confere autonomia a tal vocábulo,
mas o apresenta compondo susodito, exatamente com a acepção de atrás
mencionado, supradito, acima citado, referido antes.
3. Já o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia
Brasileira de Letras, que é o veículo oficial para questões dessa natureza,
até sua edição de 1999, não apenas conferia autonomia ao referido
vocábulo, mas lhe discriminava a qualidade de adjetivo, de substantivo
ou de advérbio, conforme o caso (p. 703). O VOLP, edição 2004, no
entanto, deixou de registrar tal vocábulo, o mesmo ocorrendo na recente
edição de 2009.
4. Anote-se, por fim, que se trata de vocábulo pouco usado em nosso
idioma e que, normalmente, integra a fala rebuscada de alguns, na
tentativa de demonstrar pretensa erudição, como se pode ver pelo
seguinte exemplo: “Impende aludir ao venerando argumento suso
mencionado…”. Até pela existência de outros equivalentes perfeitos,
aconselha-se não usá-lo.
Suspendido ou Suspenso?
Ver Verbos abundantes (P. 759).

Sustentação oral
Ver De que (P. 269).

Suster
Ver Ter (P. 730).
T
Tabelião
1. Do latim tabellio, tabellionis (tabelião, notário público), “entende-se o
oficial público, a quem se comete a missão de redigir e instrumentar os
atos e contratos ajustados entre pessoas, atribuindo-lhes autenticidade e
fé pública” (DE PLÁCIDO E SILVA, 1989, p. 312).
2. Quando especialmente encarregado da elaboração de escrituras ou
instrumentação dos atos jurídicos, que devam ser dados ou passados por
esse meio, chama-se tabelião de notas, ou notário.
3. Quando encarregado dos registros públicos, como o de nascimento, o de
óbitos ou o de títulos e documentos, recebe a denominação de tabelião
de registros ou oficial de registros.
4. No que concerne a seu plural, de Cândido de Figueiredo é a seguinte
observação: “O povo, pela generalização, que faz, do sufixo ões,
também diz tabeliões; mas a forma geralmente usada é tabeliães, não sei
bem por quê, visto que o latim tabelliones mandaria que, em português
se dissesse tabeliões, como se ouve entre o povo” (1948, p. 34-5).
5. José de Nicola e Ernani Terra (2000, p. 210) também dão como seu
plural tabeliães.
6. Para seu feminino, Napoleão Mendes de Almeida (1981, p. 307) e
Cândido Jucá Filho (1963, p. 608) registram apenas tabelioa.
7. Cândido de Oliveira (1961, p. 133), após observar que, até há pouco, a
maioria de nomes dessa natureza era considerada comum de dois
gêneros, acrescenta textualmente que “é de lei, assim para o
funcionalismo federal como estadual, e de acordo com o bom senso
gramatical, que nomes designativos de cargos e funções tenham flexão:
uma forma para o masculino, outra para o feminino”; e, em seu
exemplário, ao masculino tabelião contrapõe ele o feminino tabelioa.
8. Em outra obra, o mesmo autor reitera-lhe por feminino tabelioa
(OLIVEIRA, C., 1961, p. 130).
9. De igual modo, Alfredo Gomes (1924, p. 79) também lhe dá por
feminino tão somente tabelioa.
10. Também sem quaisquer comentários ou ressalvas, Sousa e Silva (1958,
p. 291) apenas lhe dá por feminino tabelioa.
11. Édison de Oliveira (s/d, p. 158) confere-lhe o feminino tabelioa,
inserindo tal palavra entre os vocábulos femininos terminados por a,
que o povo evita usar, “quer em virtude de preconceito de que se trata
de funções ou características próprias do homem, quer por considerá-
los mal sonoros ou exóticos”, acrescentando, ademais, tal autor que se
hão de empregar tais femininos, “que a gramática já ratificou
definitivamente”.
12. Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (s/d, p. 1.344), porém, acrescenta
a possibilidade de tabeliã para seu feminino.
13. Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 32), de igual modo, confere-lhe o
feminino tabeliã, realçando que “tabelioa é arcaísmo”.
14. Artur de Almeida Torres (1966, p. 74) atribui a tal substantivo,
indiferentemente, os dois plurais: tabeliã ou tabelioa.
15. Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 387) confere a tabelião os
femininos tabelioa e tabeliã, realçando que “tabeliã é a forma
geralmente usada e preferível”, já que, assim como também se dá com
anfitrião, ermitão e tecelão, “as formas em -oa desses substantivos são
de cunho vulgar”.
16. José de Nicola e Ernani Terra (2000, p. 210) dão como plural tabeliães
e, como feminino, tabelioa ou tabeliã, observando ser esta última a
forma mais utilizada.
17. O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia
Brasileira de Letras, veículo oficial ordenador do modo de grafar as
palavras em nosso idioma (VOLP, p. 777), registra duas formas para o
feminino (tabeliã e tabelioa), mas apenas uma para o plural (tabeliães).
18. Ante o vetusto princípio de que, na divergência entre os doutos, apesar
da posição do Vocabulário Ortográfico, parece que o mais adequado é
pensar que há liberdade para o usuário, de modo que se autorize o
emprego de ambos os femininos (tabeliã e tabelioa) e ambos os plurais
(tabeliães e tabeliões).
19. Por fim, anote-se que, quando empregado tal vocábulo como adjetivo,
Carlos Góis e Herbert Palhano (1963, p. 51) fazem sua flexão para o
feminino como tabelioa.

Tabeliã ou Tabelioa?
Ver Tabelião (P. 724).

Tachar ou Taxar?
1. Do francês tache, que significa mancha, tachar tem o sentido de pôr
defeito, de qualificar negativamente, de acusar, censurar, acusar de
mancha (CIPRO NETO; INFANTE, 1999, p. 36). Exs.: a) “O autor em
seu depoimento pessoal tachou o réu de desonesto”; b) “Com sua
crítica, o advogado pretendeu tachar o magistrado de insensível”.
2. Já taxar quer dizer lançar imposto ou taxa, impor uma taxa, ou onerar
com impostos (CIPRO NETO; INFANTE, 1999, p. 36). Exs.: a) “O
governo resolveu taxar mais pesadamente as importações”; b) “Há
projeto de lei em tramitação no Congresso para taxar as grandes
fortunas”.
3. Ante os frequentes equívocos com tais homófonas, lembra Cândido de
Oliveira (s/d, p. 131) que com x tal palavra quer dizer cobrar taxa,
imposto, e com ch significa denominar, alcunhar, apelidar,
exemplificando ele próprio: a) “A alfândega vai taxar a nossa
encomenda”; b) “Não me tache de ignorante”.
4. Talvez pela frequência com que ocorrem erros desse jaez em nossa
escrita, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia
Brasileira de Letras, veículo oficial ordenador do modo de grafar as
palavras em nosso idioma, em proceder não muito usual, acaba por fazer
a expressa diferença: tachar quer dizer censurar, enquanto taxar tem a
acepção de impor tributo (2009, p. 778 e 784).
5. Quanto a taxar, na acepção de regular, fixar o justo preço de, estabelecer
ou determinar a taxa de preço, de Adalberto J. Kaspary (1996, p. 338),
em alongado estudo, vem a observação de que se constrói, nos textos de
lei, com objeto direto (que pode ser sujeito na voz passiva),
correspondendo à construção taxar algo: a) “Pode também cada fiador
taxar no contrato a parte da dívida que toma sob sua
responsabilidade…” (CC/1916, art. 1.494; o CC/2002, no art. 830,
alterou a redação para fixar); b) “Quando o testamenteiro não for
herdeiro nem legatário, terá direito a um prêmio que, se o testador o
não houver taxado, será de um a cinco por cento…” (CC/1916, art.
1.766; o CC/2002, no art. 1.987, alterou a redação para fixar); c)
“Enquanto se não fixarem definitivamente os alimentos, pode o tribunal,
a requerimento do alimentando, ou oficiosamente se este for menor,
conceder alimentos provisórios, que serão taxados segundo o seu
prudente arbítrio” (CC português, art. 2.008, 1).

Tal
Ver Que tal (P. 640) e Tal qual (P. 725).

Tal qual
1. Na lição de Édison de Oliveira (s/d, p. 141), em construções com essa
expressão, “temos duas orações, de modo que o termo tal concorda com
o sujeito da primeira, e o termo qual concorda com o sujeito da
segunda”. Exs.: a) “O filho é tal qual o pai”; b) “Os filhos são tais qual o
pai”; c) “O filho é tal quais os pais”; d) “Os filhos são tais quais os
pais”.
2. Em mesma esteira, na consonância com ensino de Domingos Paschoal
Cegalla, seguindo “a tradição da língua, os correlativos tal e qual devem
concordar com o substantivo ou pronome a que se referem: a) “A mãe
queria que a filha fosse tal quais as colegas”; b) “Eles querem ser tais
qual o pai”.
3. Atento aos equívocos corriqueiros a esse respeito e ao próprio
desconhecimento mínimo do idioma por muitos de seus usuários,
complementa o mesmo autor que “escritores modernos geralmente não
flexionam tal qual, por entenderem que a expressão equivale a como”
(CEGALLA, 1999, p. 388).
4. Um consulente propôs a Cândido de Figueiredo o exemplo “Sábio é o
indivíduo que vê as coisas tais como são” e indagou acerca da correção
da frase e da possibilidade de substituição de tais como são por tal como
são, ou tais quais são, ou tal qual são.
5. Assim foi a resposta do referido gramático, evidenciadora da
necessidade de concordância de tal com o termo anterior a que se refere
(coisas): “Tais quais são é forma portuguesíssima. Tais como são
também não oferece dúvidas. Tal como são é tolice; e tal qual são é
outra, pelo menos enquanto os mestres não fundirem o tal e o qual num
advérbio, juntando as duas partículas (talqual). Inda lá não chegamos”
(FIGUEIREDO, 1943, p. 181).
6. Vitório Bergo (1943, p. 58), em lição que não dissente das anteriores,
assim doutrina e exemplifica a questão: “Os correlativos qual e tal
concordam com o nome a que se referem: ‘Eis o homem tal qual a
memória mo relembra’ (Rui Barbosa); ‘Praticou ações tais quais nunca
foram praticadas’ (Garrett); ‘Mostra o P. Francisco naquela carta
quanto desejava fossem todos tais, qual ele era no zelo da salvação das
almas’ (Lucena)”.
7. Por fim, vale transcrever a admoestação de Laudelino Freire (1937b, p.
105) no que concerne à diferenciação entre essa expressão e outras
parecidas: “As expressões tal qual, tal e qual, tal ou qual têm sentidos
diversos. A primeira tem o sentido de como, e exprime comparação – ‘O
filho é tal qual o pai’ (= tal qual é o pai); a segunda resultou de se terem
copulativamente coordenado as duas palavras, como dois adjetivos, e
tem a ideia de exatidão, de rigor – ‘É tal e qual como ele informa’; a
terceira resultou também de se terem coordenado aquelas palavras
disjuntivamente, e exprime a ideia de aproximação – ‘Fala com tal ou
qual eloquência’”.
Ver Advérbios em “mente” (P. 85).

Talqualmente – Existe?
Ver Advérbios em “mente” (P. 85).

Talvez
1. Alfredo Gomes (1924, p. 377), em oportuna observação de estilo acerca
do modo verbal a ser empregado com tal vocábulo, lembra que “talvez
ora quer o subjuntivo, quando precede o verbo, ora o indicativo, quando
vem depois do verbo: a) ‘Talvez isto seja verdade’; b) ‘Isto é talvez
verdade’”.
2. Reiterando tal lição, Silveira Bueno (1957, p. 469) ministra duas
interessantes observações alheias, com as quais mostra concordância:
“Ensinam as gramáticas que, vindo talvez antes do verbo, deve este ir
para o modo subjuntivo: talvez eu vá ao cinema; talvez venha hoje, etc.”;
“Se vier depois, o verbo poderá ficar no indicativo: vou, talvez, ao
cinema; venho, talvez, hoje”.
Ver Indicativo por Subjuntivo (P. 411).

Tampouco ou Tão pouco?


1. Tampouco é um advérbio, que significa e também não. Ex.: “Ele não
auxilia nos trabalhos judiciários; tampouco permite que outros o
façam”.
2. Por já trazer em si valor negativo, não aceita o acréscimo de não ou de
nem, equívoco esse que se repete com frequência. Exs.: a) “Ele não
auxilia nos trabalhos judiciários; tampouco permite que outros o façam”
(correto); b) “Ele não auxilia nos trabalhos judiciários nem tampouco
permite que outros o façam” (errado).
3. Não confundir com tão pouco, expressão de significado diverso, em que
tão é advérbio, indicando a intensidade de pouco. Ex.: “Ele tinha tão
pouco entusiasmo pelas discussões jurídicas!”
4. Atento aos frequentes equívocos que ocorrem quanto ao emprego dessa
palavra, assim leciona Antonio Henriques (1999, p. 188): a) Tampouco –
“forma de expressão negativa (nem mesmo, nem sequer, nem ao menos,
também não)”; b) Tão pouco – “advérbio de intensidade com o
reforçativo tão”.

Tangentemente – Existe?
Ver Tocantemente – Existe? (P. 739)

Tanger
1. Quanto à conjugação verbal, como todos os verbos terminados em ger,
para a continuidade do som original da última consoante do radical,
muda o g em j antes de o e de a. Assim: tanjo, tanges, tanja, tangi.
2. Feitas essas observações, é de se anotar que se trata de verbo regular,
conjugado em todas as pessoas, tempos e modos.
3. Conjugam-se de mesmo modo constranger, eleger, proteger, ranger.
4. É importante observar-lhe a regência verbal, por se tratar de verbo que
muda a exigência de construção conforme o significado.
5. Assim, no sentido de executar um instrumento ou de tocar animais, é
transitivo direto. Exs.: a) “A moça tangia a harpa maravilhosamente”; b)
“O retireiro tangia o gado com maestria”.
6. Na acepção de dizer respeito, de referir-se, é transitivo indireto e exige a
preposição a. Ex.: “No que tange às preliminares, devem ser repelidas
desde logo”.
7. Esse é o entendimento de Francisco Fernandes (1971, p. 564), que se
abona com exemplos de autores insuspeitos: a) “Outros com vozes com o
que o céu feriam instrumentos altíssonos tangiam” (Camões); b) “Um
homem de carão sinistro… tangendo duas mulas de boa aparência”
(Camilo Castelo Branco); c) “Vós outros que sois principal parte neste
feito, e a que isto mais tange que a nós, devíeis dizer isto, e eu não”
(Alexandre Herculano).

Tanto… como
Ver Não apenas… como também… merece(m)…? (P. 484)

Tanto ou mais do que


1. Na lição de Vitório Bergo, “logicamente se deve dizer tanto como… ou
mais do que…, mas admite-se nesta expressão, hoje corrente, a elipse da
conjunção comparativa de igualdade” (1944, p. 225). Ex.: “Você é meu
amigo? Que pergunta! – Diga. – Tanto ou mais do que este animal,
respondeu Rubião, em um arroubo de ternura” (Machado de Assis).

Tanto quanto
Ver À medida que, À medida em que ou Na medida em que? (P. 111)
Tão logo
1. Na referida expressão, num primeiro sentido, logo é advérbio, que vem
precedido de tão, outro advérbio, este último indicando a intensidade
daquele. Ex.: “Tão logo não haverá de terminar a audiência”.
2. Num segundo sentido, significa logo que assim que, caso em que é
locução conjuntiva subordinativa temporal. Ex.: “Tão logo terminou a
audiência todos se retiraram da sala”.

Tão pouco ou Tampouco?


Ver Tampouco ou Tão pouco? (P. 726)

Tão-somente, Tão somente ou Tãossomente?


1. Com as alterações introduzidas em nosso sistema pelo Acordo
Ortográfico de 2008, importa observar como fica a grafia da seguinte
expressão: tão-somente, tão somente ou tãossomente?
2. Uma atenta leitura das alterações trazidas pelo Acordo Ortográfico
mostra que este, em determinada extensão, veio para modificar o
emprego do hífen nas palavras compostas, e a situação acabou ficando
do seguinte modo: às vezes, passou a unir os elementos sem o emprego
do hífen; outras vezes os manteve apartados, também sem a conexão
pelo hífen; por fim, em alguns casos, acabou mantendo a união com o
hífen, como se dava no sistema anterior.
3. No que concerne de modo específico à expressão inicialmente dada, o
que se tinha antes era uma expressa posição oficial sobre o assunto, e
esta continua existindo em tais moldes após o Acordo Ortográfico. É o
que se passa a explanar.
4. Parta-se, por primeiro, da premissa de que a Academia Brasileira de
Letras, desde o início do século XX, por delegação conferida por lei, tem
a autoridade para listar oficialmente os vocábulos pertencentes ao
vernáculo, e ela o faz por meio da publicação periódica do Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa.
5. Pois bem. Em sua edição de 2004, o VOLP registrava a grafia tão-
somente, com os elementos unidos por hífen (ACADEMIA
BRASILEIRA DE LETRAS, p. 747).
6. Ao depois, na primeira edição posterior ao Acordo Ortográfico, tal obra
passou a registrar a grafia tão somente, separando os elementos e
fazendo desaparecer o hífen (ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS,
2009, p. 781).
7. Como o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa é a palavra
oficial sobre a matéria, conclui-se que, após o Acordo Ortográfico, a
grafia correta da expressão só pode ser tão somente.
8. A mesma observação vale para tão só, assim registrada em mesmos
moldes e em mesmo local pelo VOLP.

Tão-só, Tão só ou Tãossó?


Ver Tão-somente, Tão somente ou Tãossomente? (P. 727)

Tapetes persas ou Tapetes persa?


1. Em dúvida que se origina de equívoco bastante cometido, um leitor
pergunta se o correto é escrever “contas bancárias” ou “contas
bancária”.
2. Ora, no caso, o que se tem é um adjetivo (bancário) que se põe junto de
um substantivo (conta), modificando-o.
3. E a regra geral mais básica de concordância nominal em português é que
o adjetivo concorda com o substantivo por ele modificado em gênero
(masculino ou feminino) e número (singular ou plural). Exs.: a)
estabelecimento bancário; b) conta bancária; c) estabelecimentos
bancários; d) contas bancárias.
4. Essa é a regra a ser seguida em casos dessa natureza, e não há como
fazer raciocínios outros incabíveis no plano da concordância nominal,
como, por exemplo, escrever tapetes persa, ou móveis rústico, ou
quitutes mineiro, ou ovos caipira, a pretexto de que se poderia pensar em
tapetes do tipo persa, ou móveis do tipo rústico, ou, ainda, quitutes do
tipo mineiro, ou mesmo ovos do tipo caipira.
5. Corrijam-se tais exemplos: a) tapete persa; b) tapetes persas; c) móvel
rústico; d) móveis rústicos; e) parede rústica; f) paredes rústicas; g)
quitute mineiro; h) quitutes mineiros; i) iguaria mineira; j) iguarias
mineiras; k) ovo caipira; l) ovos caipiras.
6. Ultime-se essa lista com expressão totalmente equivocada constante de
comunicado virtual feita por entidade a seus filiados: “Férias cultural
2016…”. Corrija-se: “Férias culturais 2016…”.

Taquigrafar
1. Tendo por sinônimos estenografar e logografar, significa escrever
taquigraficamente, ou praticar a taquigrafia, que é “a escrita abreviada e
simplificada, na qual se empregam sinais que permitem escrever com a
mesma rapidez com que se fala” (FERREIRA, s/d, p. 580).
2. No que concerne à prosódia, há dúvidas na pronúncia e na escrita das
formas rizotônicas desse verbo, nas quais a sílaba tônica é sempre gra,
não havendo formas proparoxítonas: taquigrafo, taquigrafas, taquigrafa,
taquigrafamos, taquigrafais, taquigrafam (presente do indicativo);
taquigrafe, taquigrafes, taquigrafe, taquigrafemos, taquigrafeis,
taquigrafem (presente do subjuntivo); taquigrafa, taquigrafe,
taquigrafemos, taquigrafai, taquigrafem (imperativo afirmativo); não
taquigrafes, não taquigrafe, não taquigrafemos, não taquigrafeis, não
taquigrafem (imperativo negativo).
3. Como as formas rizotônicas apenas ocorrem nos tempos referidos, não
há dúvidas de pronúncia e escrita nos demais tempos.
4. Veja-se, por fim, que o substantivo é que é proparoxítono: o taquígrafo,
a taquígrafa, os taquígrafos, as taquígrafas.
5. A questão se resolve pelas observações de Otelo Reis acerca das formas
verbais paroxítonas dignas de nota: “Certas formas rizotônicas,
paroxítonas, de verbos polissilábicos, possuem homógrafos
proparoxítonos, que são substantivos ou adjetivos. A distinção é feita, na
escrita, pela acentuação da palavra proparoxítona” (1971, p. 73-4).
6. Problema idêntico se dá com outros verbos, como biografar (o biógrafo
e eu biografo), datilografar (o datilógrafo e eu datilografo), dialogar (o
diálogo e eu dialogo), estenografar (o estenógrafo e eu estenografo),
filosofar (o filósofo e eu filosofo), fotografar (o fotógrafo e eu
fotografo), interpretar (o intérprete e que eu interprete), invalidar (ato
inválido e eu invalido), maquinar (a máquina e ele maquina),
monologar (o monólogo e eu monologo), sindicar (o síndico e eu
sindico), subsidiar (o subsídio e eu subsidio).

Tarefas que cumprem realizar – Está correto?


Ver Infinitivo como sujeito – Como concordar? (P. 414)

Tautologia
Ver Pleonasmo – O que é e Quando pode? (P. 565)

Taxar ou Tachar?
Ver Tachar ou Taxar? (P. 725)

Telex – Anglicismo?
1. Telex é palavra vinda do inglês e aparece no dicionário Houaiss, que
assim a define: “Modalidade de serviço telegráfico através do qual os
usuários podem comunicar-se direta e temporariamente entre si, por
meio de aparelhos teleimpressores. (…) Etimologia inglesa ‘redução da
expressão inglesa TELeprinter EXchange (service), ou seja, (serviço) de
troca de textos impressos a distância’” (HOUAISS; VILLAR, 2001, p.
2.687).
2. Por ser redução de uma expressão inglesa, sua pronúncia é oxítona,
contrariamente a quase totalidade dos vocábulos terminados em x, que
são paroxítonos.
3. No que concerne à vernaculidade atual da mencionada palavra, é de se
anotar que o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da
Academia Brasileira de Letras, que é o veículo oficial indicador dos
vocábulos pertencentes a nosso idioma, registra normalmente telex como
substantivo masculino de nosso léxico (2009, p. 786), motivo por que
está perfeitamente autorizado seu emprego entre nós.
4. Do gênero masculino, seu plural se faz pela regra de pluralização das
palavras terminadas em x, a saber, sem variação alguma, a não ser pela
mudança do artigo ou da palavra acompanhante: os telex, dois telex,
telex surpreendentes. Essa é a posição do próprio VOLP (2009, p. 786).
5. Domingos Paschoal Cegalla corrobora seu caráter de vocábulo
“invariável no plural: um telex, vários telex” (1999, p. 390).
6. Nessa mesma esteira é a lição de Napoleão Mendes de Almeida: “o
plural, a seguir a regra de pluralização de palavras terminadas em x, é
invariável: dois telex” (1981, p. 310).

Têm ou Tem?
Ver Eles têm ou Eles tem? (P. 300)

Tempo
Ver Expressões de tempo (P. 348).

Tempo passado ou Tempo futuro?


1. É lição corrente que há é forma do verbo haver e significa tempo
passado. Ex.: “Há vários dias não leio o ‘Migalhas’”.
2. Por outro lado, a é preposição e serve, nos casos em que pode haver
confusão, para as expressões indicativas de tempo futuro. Ex.: “Daqui a
dois dias, melhorarei dos olhos e voltarei a ler o ‘Migalhas’”.
3. Atente-se, assim, a que não se emprega verbo haver (nem há, por
conseguinte), se o verbo é futuro, razão por que errado é o seguinte
exemplo: “Só melhorarei dos olhos daqui há duas semanas”.
4. Por essas razões, não se hão de confundir as seguintes frases, ambas
corretas: a) “O advogado chegou a tempo para a audiência” (isto é, em
tempo, com tempo); b) “O advogado chegou há tempo para a
audiência” (ou seja, faz tempo).
5. Veja-se, para exercício, o seguinte exemplo: “Há exatamente um ano e
cinco meses depois de instalada, a Subseção Judiciária de Sousa/PB,
amanhã ganha seu edifício-sede”.
6. Com base nos comentários anteriormente feitos, verificado o real sentido
do contexto, é de fácil percepção que o exemplo está incorreto.
7. Duas, ao menos, são as formas para sua correção: a) “Instalada há
exatamente um ano e cinco meses, a Subseção Judiciária de Souza/PB,
amanhã, ganha seu edifício-sede”; b) “Um ano e cinco meses depois de
instalada, a Subseção Judiciária de Souza/PB, amanhã, ganha seu
edifício-sede”.

Tempos derivados
Ver Tempos primitivos (P. 729).

Tempos derivados do infinitivo


1. No que tange à conjugação verbal, visto o conceito do que sejam tempos
primitivos e tempos derivados, e sabida a tríplice divisão, segundo a qual
se observa que os tempos verbais podem originar-se de uma de três
fontes – presente do indicativo, pretérito perfeito do indicativo e
infinitivo impessoal – analisam-se os tempos derivados do infinitivo
impessoal, que são o pretérito imperfeito do indicativo, o futuro do
presente do indicativo, o futuro do pretérito do indicativo, o gerúndio, o
particípio e o infinitivo pessoal.
2. Tomando-se, por exemplo, o radical do verbo caber (cab) e
acrescentando-se as terminações próprias de sua conjugação, têm-se os
tempos então resultantes.
3. Assim, o pretérito imperfeito do indicativo é cabia, cabias, cabia,
cabíamos, cabíeis, cabiam.
4. O futuro do presente do indicativo é caberei, caberás, caberá,
caberemos, cabereis, caberão.
5. O futuro do pretérito do indicativo é caberia, caberias, caberia,
caberíamos, caberíeis, caberiam.
6. O gerúndio é cabendo.
7. O particípio passado é cabido.
8. O infinitivo pessoal é caber, caberes, caber, cabermos, caberdes,
caberem.
Ver Tempos derivados do presente do indicativo (P. 729), Tempos
derivados do pretérito perfeito do indicativo (P. 729) e Tempos primitivos
(P. 729).

Tempos derivados do presente do indicativo


1. No que tange à conjugação verbal, visto o conceito do que sejam tempos
primitivos e tempos derivados, e sabida a tríplice divisão, segundo a qual
se observa que os tempos verbais podem originar-se de um de três
lugares – presente do indicativo, pretérito perfeito do indicativo e
infinitivo impessoal –, analisam-se os tempos derivados do presente do
indicativo, que são o presente do subjuntivo, o imperativo afirmativo e o
imperativo negativo.
2. Tomando-se, por exemplo, o verbo fazer, pode-se afirmar que, da
primeira pessoa do singular do presente do indicativo (faço) deriva o
presente do subjuntivo: faça, faças, faça, façamos, façais, façam.
3. Verificada a circunstância de que nenhum dos dois imperativos tem a
primeira pessoa do singular, anota-se que tu e vós do imperativo
afirmativo vêm do presente do indicativo, menos o s; as demais pessoas
do imperativo afirmativo vêm do presente do subjuntivo, sem qualquer
alteração: faze tu, faça você, façamos nós, fazei vós, façam vocês.
4. Para a formação do imperativo negativo, basta acrescentar a negação ao
presente do subjuntivo, sem qualquer alteração, apenas olvidando a
primeira pessoa, que não existe em tal modo: não faças tu, não faça
você, não façamos nós, não façais vós, não façam vocês.
Ver Tempos derivados do infinitivo (P. 729) e Tempos primitivos (P. 729).

Tempos derivados do pretérito perfeito do indicativo


1. No que tange à conjugação verbal, visto o conceito do que sejam tempos
primitivos e tempos derivados, e sabida a tríplice divisão, segundo a qual
se observa que os tempos verbais podem originar-se de um de três
lugares – presente do indicativo, pretérito perfeito do indicativo e
infinitivo impessoal – analisam-se os tempos derivados do pretérito
perfeito do indicativo, que são o pretérito mais-que-perfeito do
indicativo, o futuro do subjuntivo e o imperfeito do subjuntivo.
2. Tomando-se, por exemplo, o verbo fazer, em termos práticos, seu
pretérito perfeito significa um tempo passado que corresponde a uma
ação terminada: fiz, fizeste, fez, fizemos, fizestes, fizeram.
3. Em seguida, se da terceira pessoa do plural do pretérito perfeito do
indicativo (fizeram) se retira o m, tem-se a primeira pessoa do singular
do pretérito mais-que-perfeito do indicativo: fizera, fizeras, fizera,
fizéramos, fizéreis, fizeram.
4. Se da terceira pessoa do plural do pretérito perfeito do indicativo
(fizeram) se retira o am, tem-se a primeira pessoa do singular do futuro
do subjuntivo: fizer, fizeres, fizer, fizermos, fizerdes, fizerem.
5. Se, da terceira pessoa do plural do pretérito perfeito do indicativo
(fizeram) se retira o ram e se acrescenta sse, tem-se a primeira pessoa do
singular do pretérito imperfeito do subjuntivo: fizesse, fizesses, fizesse,
fizéssemos, fizésseis, fizessem.
Ver Tempos derivados do infinitivo (P. 729), Tempos derivados do
presente do indicativo (P. 729) e Tempos primitivos (P. 729).

Tempos primitivos
1. Quanto à conjugação verbal, sobretudo para os verbos irregulares, é
importante anotar que a fixação de sua maneira de flexionar não se faz
por simples processo de memorização, mas há regras próprias de
derivação válidas praticamente para todos os verbos; e a observância
dessas normas facilita sobremaneira o entendimento das formas mais
difíceis.
2. Em outras palavras, há algumas formas e tempos dos quais outros se
originam: os primeiros são os tempos primitivos; os outros, tempos
derivados.
3. De modo mais específico, do presente do indicativo deriva o presente do
subjuntivo; e de ambos se originam o imperativo afirmativo e o
imperativo negativo.
4. Do pretérito perfeito do indicativo derivam o pretérito mais-que-perfeito
do indicativo, o futuro do subjuntivo e o imperfeito do subjuntivo.
5. E do infinitivo impessoal derivam os demais tempos e modos: pretérito
imperfeito do indicativo, futuro do presente do indicativo, futuro do
pretérito do indicativo, infinitivo pessoal, gerúndio e particípio.
Ver Tempos derivados do infinitivo (P. 729), Tempos derivados do
presente do indicativo (P. 729) e Tempos derivados do pretérito perfeito
do indicativo (P. 729).

Tenho realizado ou Tenho realizada?


1. Um leitor diz ter dúvida sobre qual seja a forma correta: “Tenho
realizado a compra” ou “Tenho realizada a compra”?
2. Ora, por via de regra, pode-se dizer que os verbos ter e haver (este, de
uso menos frequente) servem para formar tempos compostos na voz
ativa (o sujeito pratica a ação indicada pelo verbo). Exs.: a) “O
advogado tinha estudado o caso”; b) “O advogado havia estudado o
caso”.
3. Já os verbos ser e estar servem para formar tempos compostos, aquele
normalmente compondo voz passiva (o sujeito recebe a ação indicada
pelo verbo). Exs.: a) “O caso foi estudado pelo advogado”; b) “O caso
estava estudado suficientemente”.
4. Como regra geral, com os verbos ter e haver, o particípio passado fica
invariável. Exs.: a) “O advogado tinha estudado o caso”; b) “O
advogado tinha estudado a ação”; c) “O advogado tinha estudado os
casos”; d) “O advogado tinha estudado as ações”; e) “A advogada havia
estudado o caso”; f) “A advogada havia estudado a ação”; g) “A
advogada havia estudado os casos”; h) “A advogada havia estudado as
ações”; i) “Os advogados tinham estudado o caso”; j) “Os advogados
tinham estudado a ação”; k) “Os advogados tinham estudado os casos”;
l) “Os advogados tinham estudado as ações”; m) “As advogadas haviam
estudado o caso”; n) “As advogadas haviam estudado a ação”; o) “As
advogadas haviam estudado os casos”; p) “As advogadas haviam
estudado as ações”.
5. Já com os verbos ser ou estar, o particípio se flexiona em gênero
(masculino ou feminino) e número (singular ou plural), para concordar
com o seu sujeito. Exs.: a) “O caso foi estudado pelo advogado”; b) “A
ação foi estudada pelo advogado”; c) “Os casos foram estudados pelo
advogado”; d) “As ações foram estudadas pelo advogado”; e) “O caso
estava estudado suficientemente”; f) “A ação estava estudada
suficientemente”; g) “Os casos estavam estudados suficientemente”; h)
“As ações estavam estudadas suficientemente”.
6. De modo específico para a indagação do leitor, vejam-se as formas
corretas: a) “Ele tinha realizado a compra”; b) “Ela tinha realizado a
compra”; c) “Eles tinham realizado a compra”; d) “Elas tinham
realizado a compra”; e) “Ele havia realizado as compras”; f) “Ela havia
realizado as compras”; g) “Eles haviam realizado as compras”; h) “Elas
haviam realizado as compras”.
7. Com as variações já consideradas para a voz passiva, também se
observem as seguintes formas corretas: a) “O trabalho foi realizado por
ela”; b) “A compra foi realizada por ele”; c) “Os trabalhos foram
realizados por ela; d) “As compras foram realizadas por ele”; e) “O
trabalho estava realizado adequadamente”; f) “A obra estava realizada
adequadamente”; g) “Os trabalhos estavam realizados adequadamente”;
h) “As obras estavam realizadas adequadamente”.

Teor
Ver A teor de – Existe? (P. 143)

Ter
1. Ter, num primeiro aspecto, é verbo que traz problemas quanto à
acentuação gráfica, dificuldade essa que se espraia para seus compostos,
razão pela qual algumas observações são oportunas.
2. Assim, tanto ter quanto seus compostos são grafados, na terceira pessoa
do plural do presente do indicativo, com um acento circunflexo, e isso
para diferenciar da terceira pessoa do singular: eles têm, eles mantêm.
3. Seus compostos – e apenas seus compostos – na terceira pessoa do
singular, recebem um acento agudo: ele tem, ele mantém.
4. Atente-se, portanto, a como se grafam as seguintes formas verbais: ele
tem, ele mantém, eles têm, eles mantêm (a mesma observação vale para
todos os demais compostos do verbo ter).
5. Observe-se, por outro lado, que, na terceira pessoa do singular do
presente do indicativo, nem ter nem seus compostos apresentam dois ee,
encontro vocálico esse privativo de crer, dar, ler, ver e seus compostos.
6. Atento aos corriqueiros equívocos do linguajar cotidiano, lembra
Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 119) que “em jornais são
frequentes erros como este: ‘Forças de segurança eslovenas detiam um
comboio de blindados’” (o correto seria detinham).
7. Há diversos compostos, que lhe seguem integralmente a conjugação:
abster-se, ater-se, conter, deter, entreter, manter, obter, reter, suster.
8. O tempo que deve merecer grande atenção, porém, é o pretérito perfeito
do indicativo, do qual derivam outros tempos: tive, tiveste, teve, tivemos,
tivestes, tiveram (pretérito perfeito); tivera, tiveras, tivera, tivéramos,
tivéreis, tiveram (pretérito mais-que-perfeito); tiver, tiveres, tiver,
tivermos, tiverdes, tiverem (futuro do subjuntivo); tivesse, tivesses,
tivesse, tivéssemos, tivésseis, tivessem (imperfeito do subjuntivo).
9. Vejam-se alguns exemplos de emprego do composto abster-se: a) “O réu
se absteve de qualquer pronunciamento” (e não se absteu); b) “Os réus
se abstiveram de qualquer pronunciamento” (e não se absteram); c) “Se
o réu se abstiver de qualquer pronunciamento, talvez consiga
absolvição” (e não se abster); d) “Se o réu se abstivesse de qualquer
pronunciamento, talvez conseguisse absolvição” (e não se abstesse).
10. E também algumas formas corretas com o composto ater-se: a) “O réu
se ateve a sua própria versão” (e não se ateu); b) “Os réus se ativeram
a sua própria versão” (e não se ateram); c) “Se o réu se ativer à
verdade, talvez consiga absolvição” (e não se ater); d) “Se o réu se
ativesse à verdade, talvez conseguisse absolvição” (e não se atesse).
11. E, ainda, alguns casos de uso com o composto conter: a) “O réu não se
conteve e confessou o crime” (e não se conteu); b) “Os policiais
contiveram a rebelião” (e não conteram); c) “Se o réu se contiver,
talvez consiga absolvição” (e não se conter); d) “Se o réu se contivesse,
talvez conseguisse absolvição” (e não se contesse).
12. E, mais, com o verbo deter: a) “O policial deteve o assassino” (e não
deteu); b) “Os policiais detiveram o assassino” (e não deteram); c) “Se
o policial não o detiver, o assassino certamente cometerá outros
crimes” (e não deter); d) “Se o policial não o detivesse, o assassino
certamente cometeria outros crimes” (e não detesse).
13. E com o verbo entreter-se: a) “O ladrão se entreteve com o produto do
furto e foi preso” (e não se entreteu); b) “Os ladrões se entretiveram
com o produto do furto e foram presos” (e não se entreteram); c) “Se o
ladrão se entretiver com o produto do furto, certamente será preso” (e
não se entreter); d) “Se o ladrão não se entretivesse com o produto do
furto, certamente não seria preso” (e não se entretesse).
14. De igual modo, com o composto manter: a) “O réu se manteve calado”
(e não se manteu); b) “Os réus se mantiveram calados” (e não se
manteram); c) “Se o réu se mantiver calado, talvez consiga
absolvição” (e não se manter); d) “Se o réu se mantivesse calado,
talvez conseguisse absolvição” (e não se mantesse).
15. Em continuação, com o composto obter: a) “O assassino não obteve a
recompensa prometida” (e não obteu); b) “Os assassinos não
obtiveram a recompensa prometida” (e não obteram); c) “Se o réu
obtiver a recompensa, certamente fugirá” (e não obter); d) “Se o réu
obtivesse a recompensa, certamente fugiria” (e não obtesse).
16. Adicionalmente, com o composto reter: a) “O acusado reteve consigo
a real versão dos fatos” (e não reteu); b) “Os réus retiveram consigo a
real versão dos fatos” (e não reteram); c) “Se o réu não retiver consigo
a real versão dos fatos, talvez consiga absolvição” (e não reter); d) “Se
o réu não retivesse consigo a real versão dos fatos, talvez conseguisse
absolvição” (e não retesse).
17. Por fim, com o composto suster: a) “O réu não susteve a pressão do
interrogatório e confessou o crime” (e não susteu); b) “Os réus não
sustiveram a pressão do interrogatório e confessaram o crime” (e não
susteram); c) “Se o réu sustiver a versão dada na fase policial, talvez
consiga absolvição” (e não suster); d) “Se o réu sustivesse a versão
dada na fase policial, talvez conseguisse absolvição” (e não sustesse).
18. Vejam-se alguns exemplos de emprego dos compostos de ter nos textos
legais: a) “Só se considera perdida a posse para quem não presenciou
o esbulho, quando, tendo notícia dele, se abstém de retornar a coisa,
ou, tentando recuperá-la, é violentamente repelido” (CC, art. 1.224); b)
“Sob pena de nulidade, o estatuto das associações conterá…” (CC, art.
54); c) “Haverá simulação nos negócios jurídicos quando: … II –
contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não
verdadeira” (CC, art. 167, § 1º, II); d) “Considera-se inepta a petição
inicial quando: … IV – contiver pedidos incompatíveis entre si”
(CPC/1973, art. 295, parágrafo único, IV); e) “Se a petição contiver os
requisitos do art. 654, § 1º, o presidente, se necessário, requisitará da
autoridade indicada como coatora informações por escrito…” (CPP,
art. 662); f) “Aos contratos por prazo determinado, que contiverem
cláusula asseguratória do direito recíproco de rescisão antes de
expirado o termo ajustado, aplicam-se, caso seja exercido tal direito
por qualquer das partes, os princípios que regem a rescisão dos
contratos por prazo indeterminado” (CLT, art. 481); g) “Aquele que
detiver a coisa em nome alheio, sendo-lhe demandada em nome
próprio, deverá nomear à autoria o proprietário ou o possuidor”
(CPC/1973, art. 62); h) “Se o transportador mantiver a coisa
depositada em seus próprios armazéns, continuará a responder pela
sua guarda e conservação, sendo-lhe devida, porém, uma remuneração
pela custódia, a qual poderá ser contratualmente ajustada ou se
conformará aos usos adotados em cada sistema de transporte” (CC,
art. 753, § 4º); i) “Se um dos cônjuges ou companheiros adota o filho
do outro, mantêm-se os vínculos de filiação entre o adotado e o
cônjuge ou companheiro do adotante e os respectivos parentes” (CC,
art. 1.626, parágrafo único); j) “A empresa que mantiver empregado
não registrado nos termos do art. 41 e seu parágrafo único, incorrerá
na multa de valor igual a 1 (um) salário-mínimo regional, por
empregado não registrado, acrescido de igual valor em cada
reincidência” (CLT, art. 47, caput); k) “Se o juiz mantiver o nome
indicado, a impugnação deverá ser remetida ao Tribunal Regional que
a apreciará antes de decidir sobre a nomeação” (Código Eleitoral, art.
62, § 5º – revogado); l) “O julgamento contrário a um dos credores
solidários não atinge os demais; o julgamento favorável aproveita-
lhes, a menos que se funde em exceção pessoal ao credor que o obteve”
(CC, art. 274); m) “Aquele que, trabalhando em matéria-prima em
parte alheia, obtiver espécie nova, desta será proprietário, se não se
puder restituir à forma anterior” (CC, art. 1.269); n) “A sentença de
mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando: … VII –
depois da sentença, o autor obtiver documento novo, cuja existência
ignorava, ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe
assegurar pronunciamento favorável” (CPC/1973, art. 485, VII).
Ter a – Galicismo?
1. Napoleão Mendes de Almeida reputa francesismos as construções “Nada
tenho a fazer”, “Há muitos pontos a esclarecer”.
2. Segundo tal autor, três seriam as formas para corrigir tal barbarismo
sintático (ALMEIDA, 1981, p. 1 e 312): a) “Nada tenho por fazer”; b)
“Nada tenho para fazer”; c) “Nada tenho que fazer”.
3. Carlos Góis, de igual modo, assevera que Nada tenho a fazer “acha-se
fora de qualquer cogitação de uso, por galicana” (1943, p. 185).
4. Júlio Nogueira (1959, p. 71) também se posta contra o uso de expressões
como “Tenho muitas coisas a fazer”; e preconiza o uso da preposição
que: “Tenho muitas coisas que fazer”.
5. De igual modo, anota Vasco Botelho de Amaral (1939, p. 75) que
“representa galicismo de construção a posposição de a ao verbo ter,
relacionado, por seu turno, com infinito seguinte”. Acrescenta que não
são para imitar redações como a do seguinte exemplo de Camilo Castelo
Branco, “autor que frequentes vezes apresenta semelhante francesismo”:
“Se me falas com o teu costumado juízo, tenho a dizer-te…”. Por fim,
afiança que “a boa norma idiomática está em Castilho”, de onde extrai
ele o exemplo que cita: “Nada tenho para acrescentar…”.
Ver A fazer – Está correto? (P. 91) e Ter de ou Ter que? (P. 732)

Teratológico ou Teratogênico?
1. Um leitor relata ser comum, na prática dos tribunais, o emprego da
expressão decisão teratológica. E indaga se o correto, sobretudo do
ponto de vista etimológico, não seria teratogênica.
2. Observe-se, num primeiro aspecto, que o Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa registra ambas as palavras: teratogênico e
teratológico (ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, 2009, p. 788).
3. E se realça, nesse campo, que o VOLP é editado pela Academia
Brasileira de Letras, e esta detém a delegação legal para listar
oficialmente os vocábulos existentes em nosso idioma, de modo que não
há dúvida quanto à efetiva existência de ambos os vocábulos no
vernáculo.
4. Num segundo aspecto, vê-se que teratológico, originalmente, significa
aquilo que se refere à teratologia, ou seja, ao estudo das anomalias e
malformações do embrião ou feto. Ex.: “Naquela aula, em que os
estudantes de Medicina respiravam embriões e fetos, só se falou em
teratologia, em assuntos teratológicos”.
5. Desse sentido físico, por sinédoque, passou a significar o estudo das
monstruosidades em geral. Ex.: “Pretender a aplicação de um princípio
geral de direito com marginalização de lei infraconstitucional em vigor,
e isso sem que seja esta declarada inconstitucional, nada mais é do que
teratologia, do que interpretação teratológica da lei e do ordenamento
jurídico como um todo”.
6. Já teratogênico tem o sentido primário e físico daquilo que causa
teratogenia ou teratogênese, a saber, que causa formação e
desenvolvimento no útero de anomalias que levam a malformações. E
não há registro de aplicações do vocábulo com sentido figurado ou de
algum modo metafórico. Ex.: “Na análise daquele embrião doente, as
malformações foram expostas em todos os seus aspectos teratogênicos”.
7. Da comparação entre as acepções e os exemplos, pode-se concluir em
síntese: a) teratológico, por um lado, tem um sentido figurado, que os
dicionários não apresentam para teratogênico; b) no sentido físico, os
vocábulos apresentam alguma intersecção de sentido, mas, pelo que
mostram os dicionários, mas não uma real e efetiva sinonímia; c) de
modo específico para o caso da consulta, a forma correta é decisão
teratológica, e não decisão teratogênica.

Terceiro e quarto
Ver Primeiro e segundo (P. 600).

Terceiros e quartos
Ver Segundos e terceiros – É possível? (P. 684)

Ter de ou Ter que?


1. De acordo com lição de Napoleão Mendes de Almeida, a expressão ter
de denota obrigatoriedade, portando em si o significado de estar na
obrigação de. Ex.: “O juiz não tinha de deferir o requerimento
intempestivo formulado pelo réu” (ALMEIDA, 1981, p. 311).
2. De igual modo, para Júlio Nogueira (1959, p. 71), perfeitamente possível
é o uso da referida expressão, quando exprime obrigação: “Tenho de
sair”, “Tenho de comprar”.
3. Já a expressão ter que, segundo os gramáticos, apenas relata a existência
de coisa por fazer, de coisa que ainda não foi feita. Ex.: “O juiz tinha que
realizar duas audiências”.
4. Observe-se, adicionalmente, que tal sentença também pode ser dita do
seguinte modo: “O juiz tinha duas audiências que realizar”.
5. Atento a essa distinção e com ela concorde, Aires da Mata Machado
Filho anota que se podem dizer duas frases similares quanto à forma,
mas de significados distintos em tais circunstâncias: “Tenho de vencer
duas léguas” e “Tenho que vencer duas léguas”, ou “Tenho duas léguas
que vencer”.
6. Para tal gramático, “no primeiro modo (tenho de), apresento o vencer as
duas léguas como uma obrigação a que estou sujeito, uma necessidade a
que não posso fugir. No segundo (tenho que), apenas digo que me restam
duas léguas por vencer ou que tenho diante de mim o vencer duas
léguas, se quiser chegar a determinado lugar” (1969c, p. 404).
7. Em análise dos exemplos “tenho de vencer duas léguas” e “tenho duas
léguas que vencer”, assim se expressa em repetição Sousa da Silveira:
“No primeiro modo, apresento o vencer as duas léguas como uma
obrigação a que estou sujeito, uma necessidade a que não posso fugir; no
segundo, digo apenas que me restam duas léguas por vencer ou que
tenho diante de mim o vencer duas léguas se quiser chegar a
determinado lugar” (SILVEIRA Apud HENRIQUES, 1999, p. 190).
8. Também para Antonio Henriques e Maria Margarida de Andrade, ter de
e ter que são coisas diferentes: “Ter de implica ideia de obrigatoriedade,
dever, necessidade, precisão: Tenho de sair = tenho (necessidade) de
sair; tenho de trabalhar = tenho (obrigação) de trabalhar. Ter que supõe
um antecedente para o relativo que: Tenho muito (muita coisa) que fazer
(a fazer)”.
9. E acrescentam tais autores: “Considera-se que as duas expressões não
são sinônimas, mesmo que isso aconteça no CC/1916, art. 413, II,
CC/1916, art. 597, e CPP, art. 484, VI” (HENRIQUES; ANDRADE,
1999, p. 140-1).
10. Silveira Bueno, por um lado, também faz a diferença, que reputa
necessária “para que o pensamento seja perfeitamente claro”, entre ter
que – expressão que só se deve empregar quando o que for pronome
indefinido, equivalendo a coisas (“tenho muito que fazer”) – e ter de
expressão a ser usada nos demais casos, como “mera forma futura com
sentido de obrigação” (“tenho de fazer exame, tenho de embarcar,
tenho de ouvir um sermão”).
11. Por outro lado, ressalva ele que “os escritores, ainda os mais
cuidadosos como Rui Barbosa, empregam, indiferentemente, ter de por
ter que e vice-versa” (BUENO, 1957, p. 472.).
12. Édison de Oliveira, por sua vez, abrandando o rigor dos gramáticos
antecedentes, assevera ser hoje facultativo o uso de ter de ou de ter que,
justificando taxativamente que “houve tempo em que se discutiu muito
sobre esse assunto, mas, atualmente, as bibliografias dão validade às
duas construções e o redator pode escolher, tranquilamente, a que lhe
soar melhor no momento” (s/d, p. 141).
13. Arnaldo Niskier também observa que, “apesar da resistência de alguns
puristas, ter que já pode ser considerado hoje tão correto quanto ter de.
A língua evolui…” (1992, p. 107).
14. Adicione-se, por fim, para efeitos de identificação nos casos práticos,
que, de acordo com lição de Júlio Nogueira (1959, p. 71), o emprego
da expressão ter que “cabe quando o que é relativo: ‘Tenho muitos
passos que dar’; ‘Muitas coisas que fazer’”.
15. Já para Carlos Góis (1943, p. 185), em frases como “Nada há que
dizer”, “o que não é pronome relativo, mas preposição acidental”,
podendo-se substituir por “Nada há por dizer”.
16. Acerca das expressões ter de e ter que, Adalberto J. Kaspary (1996, p.
339-40) traz judiciosas ponderações, sobretudo no que interessa para o
seu emprego nos textos de lei: a) “Originariamente, ter de e ter que
eram duas expressões bem distintas” (ter de significava ter obrigação
ou dever de, e ter que equivalia a ter alguma coisa a qual se deve ou se
pode fazer); b) “Com o tempo, as duas expressões tornaram-se
sinônimas; ter que consagrou-se como variante (popular, oral) de ter
de, ficando esta como expressão preferida na linguagem culta escrita”;
c) “Nos textos legais pesquisados, notamos (como, de resto, em textos
literários de autores atuais) nítida preferência pela expressão ter de para
expressar obrigação, necessidade”; d) “Assim, dos cinquenta e três
exemplos que anotamos, cinquenta são com ter de, ficando apenas três
para ter que”; e) “Desse modo, embora possamos dizer a mesma coisa
com uma e outra expressão, parece evidente que ter de deve merecer a
preferência em textos formais, como o são os da linguagem jurídica e
forense”.
17. Vejam-se alguns dispositivos de lei com ter de: a) “É competente a
autoridade judiciária brasileira quando for o réu domiciliado no
Brasil ou aqui tiver de ser cumprida a obrigação” (LICC, art. 12); b)
“Tendo o processo de ser remetido a outro juízo a disposição deste
passará o réu se estiver preso” (CPP, art. 410, parágrafo único).
18. São exemplos de artigos de lei com ter que: a) “Se a caça ferida se
acolher a terreno cercado, murado, valado ou cultivado, o dono deste,
não querendo permitir a entrada do caçador, terá que a entregar, ou
expelir” (CC, art. 597); b) “Quando o juiz tiver que fazer diferentes
quesitos, sempre os formulará em proposições simples e bem distintas”
(CPP, art. 484, VI).

Ter e haver – Qual a diferença?


1. Um leitor traz a seguinte questão para análise: “O editor do jornal
titulou: ‘Obra da serra com recursos federais não haverá licitação’.
Alterei para ‘Obra da serra com recursos federais não terá licitação’. A
editora reclamou, pedindo justificativa. Não pude justificar, já que se
trata de problema complexo, mas minha opinião prevaleceu, com a
promessa de eu fornecer as explicações pedidas. Entendo também que
dois pontos após ‘federais’ quebraria o galho, mas optei por mudar o
verbo. Você pode me ajudar?”
2. Tentemos ajudar o leitor, que é revisor de jornal. A diferença entre os
dois exemplos é que no primeiro deles se usa o verbo haver, enquanto,
no segundo, o verbo ter. E essa mudança de verbo faz enorme diferença
no plano sintático.
3. Quando se emprega o verbo haver, extraem-se as seguintes conclusões:
a) o verbo haver é impessoal; b) isso quer dizer que ele não tem sujeito;
c) assim, no caso, o termo licitação é seu objeto direto; d) tal como
escrita a frase, porém, fica no ar e sem função sintática a expressão obra
da serra com recursos federais; e) para remediar a situação, o que se
pode fazer é tornar tal termo um adjunto adverbial, o que se consegue
antepondo-se a preposição em; f) a frase completa, então, fica sendo “Em
obra da serra com recursos federais, não haverá licitação”.
4. Já quando se decide pelo verbo ter, são forçosas as seguintes ilações: a)
o verbo ter é pessoal; b) isso quer dizer que ele tem sujeito; c) no caso,
seu sujeito é obra da serra com recursos federais; d) o termo licitação é
o objeto direto; e) a frase completa, então, é “Obra da serra com
recursos federais não terá licitação”.
5. Também, com pequeno acréscimo de sinal de pontuação, tal como
propõe o leitor, é possível dizer “Obra da serra com recursos federais:
não haverá licitação”. Nesse exemplo, lança-se mão de uma figura de
linguagem conhecida como anacoluto. Por ela, aquele que fala começa
uma frase, mas, como que por arrependimento, muda o rumo de seu
raciocínio, e um determinado termo fica solto e sem função sintática na
estrutura (esse termo, no caso, é a expressão obra da serra com recursos
federais”).
6. Com essas ponderações e acreditando que as explicações dadas possam
ajudar o leitor, apontam-se algumas variações corretas para a frase da
consulta: a) “Em obra da serra com recursos federais, não haverá
licitação”; b) “Obra da serra com recursos federais não terá licitação”;
c) “Obra da serra com recursos federais: não haverá licitação”.

Ter lugar – Está correto?


1. Segundo lição de Napoleão Mendes de Almeida, é correto o uso da
expressão com o sentido de ter cabimento, ser oportuno, vir a propósito,
caber, vir a tempo. Ex.: “O pedido de adiamento da audiência não tem
lugar numa situação como esta”.
2. Para tal gramático, porém, constitui galicismo a ser evitado seu emprego
com o sentido de acontecer, celebrar-se, dar-se, efetuar-se, ocorrer,
realizar-se, suceder, verbos esses pelos quais a locução pode ser
substituída facilmente e sem prejuízo algum de compreensão
(ALMEIDA, 1981, p. 312). Exs.: a) “Por serem muitos os réus, a
audiência teve lugar no salão do júri” (errado); b) “Por serem muitos os
réus, a audiência realizou-se no salão do júri” (correto).
3. Em mesma esteira, para Vitório Bergo (1944, p. 227), “em bom
português, ter lugar significa ser admissível, ter cabimento, ser acolhido,
ser oportuno”; e acrescenta tal gramático: “é corrente na imprensa, mas
deve evitar-se a bem da pureza da língua, a expressão ter lugar no
sentido de efetuar-se, realizar-se, tradução do francês avoir lieu”.
4. Ao dar com o emprego de tal expressão no sentido condenado em obra
de Antônio Feliciano de Castilho, escreve, em igual sentido, Vasco
Botelho de Amaral: “admira que tão vernáculo escritor haja empregado
tal galicismo, perfeitamente inútil” (1939, p. 62).
5. A um leitor que queria saber se era “asneira teve lugar a festividade”,
respondia Cândido de Figueiredo: “Não é asneira mas tem laivos de
galicismo inútil. É melhor realizou-se, celebrou-se, etc.” (1946, p. 170).
6. Em outro volume de mesma obra, o referido gramático adiciona a
seguinte observação: “ter lugar, em vez de suceder, realizar-se, pareceu-
me sempre galicismo claro e desnecessário” (FIGUEIREDO, 1941, p.
204).
7. Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 393) confirma que, “em bom
português, esta expressão significa ser admissível, ter cabimento, ser
oportuno”, mas “é galicismo que deve ser evitado usar ter lugar (em
francês avoir lieu) na acepção de realizar-se”.
8. Na lição de Antonio Henriques e Maria Margarida de Andrade, apenas
possível o emprego de tal construção no significado de ter cabida, ser
cabível, ter guarida, uma vez que, “no sentido de suceder, ocorrer,
realizar-se, foi e ainda é vitando, mesmo que apareça em textos legais”
(1999, p. 141).
9. Para Luís A. P. Vitória, trata-se de “galicismo fraseológico, no sentido de
realizar-se”. Ex.: ‘A festa realizou-se (e não: teve lugar) a 15 do
corrente’” (1969, p. 231).
10. Ronaldo Caldeira Xavier (1991, p. 89), de igual modo, insere a
expressão ter lugar no rol dos galicismos sintáticos e aconselha sua
substituição por ocorrer, realizar-se, acontecer.
11. Nesse sentido de realizar-se, de efetuar-se, tal expressão é tida por
Edmundo Dantès Nascimento (1982, p. 15 e 82) como “construção
fraseológica estrangeira”, que deve ser rejeitada, “porque altera até a
maneira de pensar em nossa língua”; para tal autor, entretanto, é correto
seu emprego, quando significa ter cabimento, caber, vir a tempo, ser
oportuno: a) “Tem lugar o recurso, em face do…” (correto); b) “A
audiência teve lugar no dia 6” (errado).
12. Em outra de suas obras, Vitório Bergo (1943, p. 119) novamente a
insere no rol dos galicismos de estrutura, daqueles “em que as palavras
são portuguesas mas a sintaxe (especialmente a colocação e a regência)
é francesa”; e manda substituir a expressão ter lugar por realizar-se.
13. Nos textos de lei, tal expressão aparece, na maioria dos casos, em seu
sentido apurado de caber, ser oportuno: a) “A consignação tem
lugar…” (CC/1916, art. 973, repetindo-se no CC/2002, art. 335); b) “A
habilitação tem lugar quando por falecimento de qualquer das partes,
os interessados houverem de suceder-lhe no processo” (CPC/1973, art.
1.055); c) “Salvo dolo, a sub-rogação não tem lugar se o dano foi
causado pelo cônjuge do segurado, seus descendentes ou ascendentes,
consanguíneos ou afins” (CC, art. 786, § 1º); d) “A indenização
prevista neste artigo, que deverá ser equitativa, não terá lugar se
privar do necessário o incapaz ou as pessoas que dele dependem” (CC,
art. 928, parágrafo único).
14. Em alguns casos, porém, vem a expressão empregada no sentido
condenado pelos autores de acontecer, ocorrer, celebrar-se: a) “O
carregador não pode abandonar as fazendas ao frete. Todavia pode ter
lugar o abandono dos líquidos, cujas vasilhas se achem vazias ou
quase vazias” (C. Com., art. 624); b) “A sociedade formada por
escritura pública ou particular deve ser dissolvida pela mesma forma
de instrumento por que foi celebrada, sempre que o distrato tiver lugar
amigavelmente” (C. Com., art. 337); c) “O reexame deverá ter lugar de
três em três meses…” (CPP português, art. 273º-A, § único).
15. Também aparece, nos textos legais, a expressão haver lugar (cf. C.
Com., arts. 535 e 596).
Termos de substabelecimento ou Termos de substabelecimentos?
Ver Cartas de intimação ou Cartas de intimações? (P. 172)

Ter ou Haver – São sinônimos e equivalentes?


1. Para facilitar nos casos práticos, importa distinguir entre o emprego dos
verbos ter e haver, e se um pode ser usado pelo outro.
2. Diga-se, desde logo, que, em alguns casos, ter e haver são praticamente
sinônimos e podem ser usados um em lugar do outro. Em outras
situações, todavia, distinguem-se totalmente.
3. Num primeiro aspecto, como auxiliares, empregados na formação dos
tempos compostos, são intercambiáveis: tinha amado ou havia amado,
tivera amado ou houvera amado, terei amado ou haverei amado. Veja-se
este dispositivo de lei: “Nas causas relativas ao estado de pessoa, se
houverem sido citados no processo…” (CPC/1973, art. 472). Bem se
poderia substituir: se tiverem sido citados…
4. A esse respeito, interessante observação histórica nos traz Otelo Reis:
“Até princípios do século XVIII, … usavam os escritores muito mais do
auxiliar haver que de ter, dizendo: hei sido, hei amado, havia chegado,
etc. Atualmente, emprega-se mais frequentemente o auxiliar ter. A
linguagem familiar, desataviada, não conhece mesmo o auxiliar haver,
que só se emprega em composição mais esmerada…” (1971, p. 23).
5. Num segundo aspecto, tais verbos também se podem considerar
sinônimos e intercambiáveis no significado de alcançar, conseguir, obter,
ou mesmo reaver. Exs.: a) “O proprietário das sementes, plantas ou
materiais poderá cobrar do proprietário do solo a indenização devida,
quando não puder havê-la do plantador ou construtor” (CC, art. 1.257,
parágrafo único); b) “No caso de falência, insolvência ou execução do
prédio gravado, o credor da renda tem preferência aos outros credores
para haver o capital indicado no artigo antecedente” (CC/1916, art.
752); c) “O condômino, a quem não se der conhecimento da venda,
poderá, depositando o preço, haver para si a parte vendida a
estranhos…” (CC, art. 505).
6. O verbo haver ainda pode apresentar o conteúdo semântico de
considerar ou julgar, e nesse caso também pode ser tido como sinônimo
de ter. Exs.: a) “Se a administração, ou diretoria, tiver a sede no
estrangeiro, haver-se-á por domicílio da pessoa jurídica … o lugar do
estabelecimento, sito no Brasil, a que ela corresponder” (CC, art. 75, §
2º); b) “Enquanto se não transcrever o título de transmissão, o alienante
continua a ser havido como dono do imóvel, e responde pelos seus
encargos” (CC/1916, art. 860, parágrafo único).
7. Também são sinônimos e intercambiáveis na expressão haver lugar ou
haver lugar a, com o sentido de caber, em estrutura corrente na
legislação portuguesa. Exs.: a) “Aquele que, sem título ou causa
legítima, exercer funções próprias dum empregado público, arrogando-
se esta qualidade, será punido com a pena de prisão de um até dois
anos, e multa correspondente, sem prejuízo das penas de falsidade, se
houverem lugar” (CP português, art. 235º); b) “Só pode haver lugar à
providência referida neste artigo quando se trate de prisão efetiva e
atual…” (CPP português, art. 315º, parágrafo único); c) “Quando haja
lugar à extradição do réu, os prazos prescritos nos artigos anteriores
para o processo seguir, como de ausentes, começarão a correr desde a
data do pedido de extradição” (CPP português, art. 574º); d) “A
assistência tem lugar em qualquer dos tipos de procedimento e em todos
os graus de jurisdição” (CPC/1973, art. 50, parágrafo único); e) “Aos
credores só é permitido requerer arrolamento nos casos em que tenha
lugar a arrecadação de herança” (CPC/1973, art. 856, § 2º); f) “A
representação tem lugar, ainda que todos os membros das várias
estirpes estejam, relativamente ao autor da sucessão, no mesmo grau de
parentesco, ou exista uma só estirpe” (CC português, art. 2.045º).
8. Nas locuções ter de ou ter que – expressões essas que hoje abarcam dois
significados (tanto o sentido de obrigação ou dever de, ou de precisar,
como a acepção de ter alguma coisa a qual se deve ou se pode fazer) – o
verbo ter é sinônimo de haver e bem pode ser por este substituído. Exs.:
a) “É competente a autoridade judiciária brasileira, quando for o réu
domiciliado no Brasil ou aqui tiver de ser cumprida a obrigação”
(LICC, art. 12); b) “Havendo comunicação de lucros ilícitos, cada um
dos sócios terá de repor o que recebeu do sócio delinquente, se este for
condenado à restituição” (CC/1916, art. 1.392; a redação foi alterada
pelo CC/2002, art. 1.009); c) “Há litisconsórcio necessário, quando, por
disposição de lei ou pela natureza da relação jurídica, o juiz tiver de
decidir a lide de modo uniforme para todas as partes…” (CPC/1973,
art. 47); d) “Quando se tratar de fotografia, esta terá de ser
acompanhada do respectivo negativo” (CPC/1973, art. 385, § 1º); e) “Se
a caça ferida se acolher a terreno cercado, murado, valado ou
cultivado, o dono deste, não querendo permitir a entrada do caçador,
terá que a entregar, ou expelir” (CC/1916, art. 597); f) “Quando o juiz
tiver que fazer diferentes quesitos, sempre os formulará em proposições
simples e bem distintas…” (CPP, art. 484, VI).
9. A sinonímia e a intercambiabilidade entre ambos, todavia, nos casos
mais comuns de emprego, cessam no que foi posto nas observações até
agora feitas.
10. Bem por isso, o verbo haver pode significar existir, e, nesse sentido, é
impessoal (fica invariável na terceira pessoa do singular) e transmite
sua impessoalidade para o auxiliar em eventual locução verbal. Exs.: a)
“Há um aluno inteligente naquela classe”; b) “Há vários alunos
inteligentes naquela classe”; c) “Deve haver um aluno inteligente
naquela classe”; d) “Deve haver vários alunos inteligentes naquela
classe”; e) “Nos Territórios Federais com mais de cem mil habitantes,
… haverá órgãos judiciários de primeira e segunda instância…”
(CF/88, art. 33, § 3º); f) “As despesas funerárias, haja ou não herdeiros
legítimos, sairão do monte da herança…” (CC, art. 1.998); g) “Não
haverá distinções relativas à espécie de emprego…” (CLT, art. 3º,
parágrafo único).
11. Importa acrescer, no que tange à norma culta, que, nesse significado de
existir, o verbo haver não permite a substituição por ter, de modo que o
conhecido verso de Carlos Drummond de Andrade – “tinha uma pedra
no meio do caminho” – deve ficar na conta da linguagem popular e
coloquial.
12. Também é de fácil percepção que o verbo haver não permite
substituição por ter, quando significa decorrer: “Havia oito ou nove
anos que não nos víamos” (Machado de Assis).
13. O verbo haver ainda pode estar na expressão haver por bem, em que
significa dignar-se, resolver, julgar oportuno ou conveniente, e nessa
hipótese não há sinonímia nem intercambiabilidade com o verbo ter.
Ex.: “Cabe ao tutor, quanto à pessoa do menor: … II – Reclamar do
juiz que providencie, como houver por bem, quando o menor haja
mister correção” (CC, art. 1.740, II).
14. Também não há sinonímia nem intercambiabilidade entre ambos,
quando ao verbo haver se segue um infinitivo e aquele tem o sentido de
não é possível, não cabe. Exs.: a) “Não há fugir a essa evidência”; b)
“Não há confundir o interesse público com o interesse de eventuais
governantes ou administradores”; c) “No caso, não há falar em coisa
julgada”.
15. Nesse caso por último referido, lembra Francisco Fernandes que
“também pode concorrer o elemento que entre a forma do verbo haver
e o infinitivo” (1971, p. 371). Exs.: a) “Não há que fugir a essa
evidência”; b) “Não há que confundir o interesse público com o
interesse de eventuais governantes ou administradores”; c) “No caso,
não há que falar em coisa julgada”.
16. De igual modo, não são sinônimos nem intercambiáveis tais verbos,
quando haver vem seguido de que + infinitivo e tem o sentido de é
preciso, é necessário. Exs.: a) “No caso, não há que olvidar o princípio
da boa-fé”; b) “Num país democrático, há que respeitar a liberdade de
expressão”.
17. Vale acrescentar diversos outros sentidos do verbo ter, nos quais é
difícil entrever sinonímia e intercambiabilidade com o verbo haver: a)
Quando significa sentir, sofrer, experimentar: “São mães sem terem
dores” (Castilho); b) Quando quer dizer conter, encerrar: “Bolsa que
tem dinheiro…” (Cândido de Figueiredo); c) Quando tem a acepção de
dirigir, orientar, ensinar: “O professor teve este ano só três discípulos”
(Caldas Aulete); d) Com o sentido de dar à luz, gerar: “Minha mãe teve
seis filhos”; e) Como sinônimo de estar na idade de: “O menino tinha,
então, seis anos”; f) Na acepção de valer, importar: “Que tem isso?”; g)
Quando significa ser composto, formado: “Esta obra tem três
volumes”; h) Por fim, para não alongar em demasia essa lista, com a
acepção de avistar-se: “Fui ter com o diretor”.
18. Como síntese, vale repisar a observação inicialmente feita: em alguns
casos, ter e haver são praticamente sinônimos e podem ser usados um
em lugar do outro; em outras situações, todavia, distinguem-se
totalmente.
Ter para
Ver Ter a – Galicismo? (P. 732)

Ter por
Ver Ter a – Galicismo? (P. 732)

Ter que ou Ter de?


Ver Ter de ou Ter que? (P. 732)

Terreiro de São Francisco ou terreiro de São Francisco?


Ver Rua Caiubi ou rua Caiubi? (P. 675)

Terreno a vender(-se) – Está correto?


Ver A fazer – Está correto? (P. 91)

Testamenteiro – Cargo ou encargo?


Ver Inventariante – Cargo ou Encargo? (P. 427)

Testemunha
1. No plano gramatical, trata-se de substantivo que é sempre feminino (a
testemunha), não importando se designa um homem ou uma mulher.
2. É o que, tecnicamente, se denomina substantivo sobrecomum.
3. E, como lembram José de Nicola e Ernani Terra (2000, p. 214), “caso se
queira especificar o sexo da pessoa, deve-se dizer a testemunha do sexo
masculino (ou feminino)”.
4. Sem maiores dificuldades ou discussões, basta, nesse sentido, consultar
o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, publicado pela
Academia Brasileira de Letras, órgão esse que tem delegação legal para
listar as palavras oficialmente existentes em nosso idioma, bem como, se
for o caso, fixar seu gênero (2009, p. 791).
Testemunha a ouvir(-se) – Está correto?
Ver A fazer – Está correto? (P. 91)

Testemunha auricular – Está correto?


Ver Oitiva (P. 521).

Testemunha de ciência própria


Ver Oitiva (P. 521).

Testemunha de oitiva
Ver Oitiva (P. 521).

Testemunha de ouvida
Ver Oitiva (P. 521).

Testemunha de ouvida alheia


Ver Oitiva (P. 521).

Teúda – Existe?
1. De ter, é a forma antiga do particípio passado tido.
2. Em verdade, como ensinam Regina Toledo Damião e Antonio Henriques
(1994, p. 52), “no português arcaico, os verbos da segunda conjugação
tinham o particípio passado em udo (conhoçudo, vençudo, manteúdo,
conteúdo)”.
3. Nesse sentido é a lição de João Ribeiro (1923, p. 195), a lecionar que a
terminação dos particípios da segunda conjugação era em udo, como
estabeleçudo (estabelecido), sabudo (sabido), conhoçudo (conhecido),
reteúdo (retido), tendo remanescido alguns vestígios dessas formas
arcaicas em teúdo, conteúdo, manteúdo, posicionamento esse de que não
discrepa Eduardo Carlos Pereira (1924, p. 173), ao apontar o sufixo udo
como o “particípio passado da segunda conjugação”.
4. Otoniel Mota, de igual modo, não dissente dessa lição, ao asseverar que
“o particípio passado dos verbos da segunda conjugação portuguesa era
antigamente em udo, não ido: perdudo, temudo, devudo, por perdido,
temido, devido” (1916, p. 49).
5. Na lição de Alfredo Gomes (1924, p. 387), outrora, “o particípio passado
dos verbos da segunda conjugação e alguns outros terminavam em udo
(teúdo). Houve um período de vacilância entre os particípios em udo e os
em ido; estes triunfaram, deixando aqueles vestígios nos termos: teúdo
(o que é tido); conteúdo (o que está contido); manteúdo (o que está
mantido)”.
6. Trata-se, hoje, de verbo empregado comumente, nos meios jurídicos e
forenses, na expressão teúda e manteúda, para exprimir aquela pessoa
que se tem e se mantém, como em concubina teúda e manteúda.
7. Embora antiquada quanto à forma, tal expressão “é ainda empregada em
questões de concubinato para indicar a mulher que é mantida à custa do
homem, com quem, igualmente, vive em relações permanentes”, não
sendo apenas aquela “que se tem em relações fugazes” (DE PLÁCIDO E
SILVA, 1989, p. 372).
8. Em terminologia atualizada, concubina teúda e manteúda é a mulher tida
e mantida por um homem como sua real e efetiva mulher, em verdadeiro
casamento não oficializado, tenha ele ou não outra família.

Têxtil
1. Para Napoleão Mendes de Almeida, a pronúncia da palavra têxtil é
paroxítona, sendo mais forte a penúltima sílaba.
2. O mesmo gramático refere a divergência existente quanto ao timbre do
vocábulo (ALMEIDA, 1981, p. 313): para Caldas Aulete, João Ribeiro e
Vasco Botelho do Amaral, a vogal tônica é aberta (é); para Cândido de
Figueiredo e para o Pequeno Vocabulário da Língua Portuguesa, é
fechada (ê).
3. Também para Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 19), sua pronúncia é
fechada (ê).
4. Silveira Bueno a dá exclusivamente como paroxítona, conferindo-lhe,
por plural, tão somente têxteis (1938, p. 14), referindo que quem
pronunciar tais vocábulos como oxítonos e compuser o plural em is e
não em eis – único plural correto para ele – “cometerá grave erro,
evidenciando que desconhece a história de sua própria língua” (1938, p.
45-6).
5. Para Cândido de Figueiredo, “têxtil é palavra grave ou paroxítona, isto é,
acentua-se tonicamente na penúltima sílaba, e forma o plural têxteis”
(1948, p. 116-7).
6. Após observar que em Portugal é mais comum a pronúncia paroxítona,
enquanto no Brasil são vulgares a escrita e a pronúncia oxítonas, Júlio
Nogueira adverte – em observação feita para réptil, para projétil e para
têxtil – que “a pronúncia lusitana em tais palavras é mais fiel a latina,
mas seria demasiado rigor corrigir a brasileira nesses casos
generalizados. Somente nas escolas, em língua erudita, se pronunciam
essas palavras a maneira lusitana” (1959, p. 19-20).
7. Em outra obra, após referir que, em Portugal, tal vocábulo se insere entre
os paroxítonos, formando o plural em eis, o mesmo gramático observa
que, no Brasil, a tendência da língua é tê-los por oxítonos, fazendo, por
conseguinte, o plural em is (NOGUEIRA, 1930, p. 165).
8. Espancando dúvidas acerca da possibilidade atual de uso, o Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras,
veículo oficial ordenador do modo de grafar as palavras em nosso
idioma, registra apenas têxtil para o singular (2009, p. 792). Embora
silente esta quanto ao plural, é certo que, na edição de 1999, o VOLP
apontava, com exclusividade, o plural têxteis (1999, p. 721). Essa é a
regra que ainda se mantém. Isso significa que a forma oxítona não é
oficialmente aceita para tal vocábulo nem singular nem no plural.

Tinha imiscuído-se, Tinha-se imiscuído ou…?


1. Da leitura do exemplo “… o fato de o Judiciário ter, de certa forma,
imiscuído-se na esfera legislativa…” – surge a forçosa indagação: é
correta a colocação do pronome oblíquo se após um particípio passado?
2. Faz-se ligeira adaptação na frase (apenas por questões didáticas e de
raciocínio, já que se torna à frase original no fim): “… o Judiciário tinha
imiscuído-se…”. Em sua nova forma, anota-se, de início, a existência de
uma locução verbal (mais de um verbo fazendo o papel de um só), em
que tinha é o verbo auxiliar, e imiscuído é o verbo principal (que está no
particípio).
3. Confirma-se, aliás, a existência da locução verbal (ou seja, de dois
verbos fazendo o papel de um só), quando se diz mentalmente “… o
Judiciário se imiscuiu…”. Em tal exemplo, o que se vê é apenas um
verbo em tempo simples.
4. Acresce dizer que, na estrutura considerada, ainda sobra o pronome
oblíquo átono se para ser usado com os verbos da locução.
5. Uma primeira observação a ser feita é que um pronome oblíquo átono
não tem autonomia sonora, de modo que fica na dependência do verbo,
que é a palavra à qual se liga; e esta é a efetiva detentora dessa
autonomia sonora, na qual o pronome acaba por apoiar-se.
6. Em termos práticos, nesses casos, a indagação a ser adequadamente feita
é a seguinte: quanto à sonoridade e à eufonia, qual o melhor lugar para o
pronome: antes do auxiliar, entre o auxiliar e o principal, ou após o
principal? O assunto é estudado por um capítulo da Gramática
denominado topologia pronominal ou colocação dos pronomes.
7. Uma segunda observação é que, no caso das locuções verbais com o
principal no particípio, são possíveis, em tese, duas colocações do
pronome: a) “… o Judiciário se tinha imiscuído…” (próclise ao
auxiliar); b) “… o Judiciário tinha-se imiscuído…” (ênclise ao auxiliar).
Mas não se permite ênclise ao principal: “… o Judiciário tinha
imiscuído-se…” (errado).
8. Anote-se, em continuação, que também se impede a próclise ao auxiliar,
quando o pronome coincide com o começo da frase. Exs.: a) “… o
Judiciário se tinha imiscuído…” (correto); b) “Se tinha imiscuído o
Judiciário…” (errado).
9. Também se verifique que obsta a ênclise ao auxiliar a existência de uma
daquelas palavras que normalmente atraem o pronome para antes do
verbo num tempo simples (palavras negativas, advérbios, pronomes
relativos, pronomes indefinidos e conjunções subordinativas). Exs.: a)
“… o Judiciário não se tinha imiscuído…” (correto); b) “… o Judiciário
não tinha-se imiscuído…” (errado).
10. Vejam-se, assim, em resumo, as possibilidades de colocação do
pronome no caso de locução verbal com o principal no infinitivo, com
a indicação de sua correção ou erronia entre parênteses: a) “Se tinha
imiscuído o Judiciário…” (errado); b) “… o Judiciário se tinha
imiscuído…” (correto); c) “… o Judiciário tinha-se imiscuído…”
(correto); d) “… o Judiciário tinha imiscuído-se…” (errado); e) “Não
se tinha imiscuído o Judiciário…” (correto); f) “… o Judiciário não se
tinha imiscuído…” (correto); g) “… o Judiciário não tinha-se
imiscuído…” (errado); h) “… o Judiciário não tinha imiscuído-se…”
(errado). Enfatize-se: não se admite, em hipótese alguma, em
português, a ênclise ao particípio.
11. Com as ponderações feitas, retorna-se ao exemplo inicial: a) “… o fato
de o Judiciário se ter, de certa forma, imiscuído na esfera
legislativa…” (correto); b) “… o fato de o Judiciário ter-se, de certa
forma, imiscuído na esfera legislativa…” (correto); c) “… o fato de o
Judiciário ter, de certa forma, imiscuído-se na esfera legislativa…”
(errado).
Ver Pronomes e Locuções verbais (principal no particípio) (P. 622).

Tirante
1. Para o que efetivamente aqui interessa, trata-se de “preposição acidental,
como exceto” (BERGO, 1944, p. 228). Ex.: “… tirante as quatro peças
náuticas que vira…” (Camilo Castelo Branco).
2. Segundo lição de Evanildo Bechara, palavras dessa natureza são formas
verbais de particípio – e, assim, de valor adjetivo – que “passaram a ter
emprego equivalente a preposição e advérbio… e, como tais,
normalmente devem aparecer invariáveis” (1974, p. 302).
3. Também de conformidade com Eduardo Carlos Pereira (1924, p. 363),
trata-se de forma nominal de um verbo, que foi imobilizada entre as
preposições, sendo como tal empregada, de modo que arcaica é a forma
flexionada tirantes.
4. O certo, entretanto, é que não se perdeu de todo a consciência de seu
antigo valor, e muitos escritores procedem a sua concordância regular
com o substantivo modificado.
5. Acrescenta, por isso, Evanildo Bechara a lição de Epifânio Dias, para
quem flexionar tal vocábulo “é expressar-se na verdade com correção
gramatical, mas de modo desusado” (1974, p. 302).
6. Na esteira dessas lições, são, assim, tecnicamente corretos os seguintes
exemplos: a) “Tirante os adversários, todos aplaudiram o discurso”; b)
“Tirantes os adversários, todos aplaudiram o discurso”.
7. O melhor, contudo, é seguir a lição preconizada por Domingos Paschoal
Cegalla (1999, p. 394), que refere exemplo de autores insuspeitos, nos
quais tal vocábulo é usado sem variação para o plural: a) “Tirante os três
a que acabo de me referir, os nossos acadêmicos são literatos que falam
de linguística como amadores” (Mário Barreto); b) “O marido tirante as
horas de comer, não saía da livraria” (Camilo Castelo Branco).
8. Em lição adicional para outro aspecto, refere Celso Cunha (1970, p. 147)
que, por se tratar de preposição, mas de cunho acidental, e não essencial
– pertence normalmente a outra classe gramatical, mas funciona
esporadicamente, no caso, como preposição – depois dela se empregam
as formas eu e tu, e não mim nem ti, como, aliás, seria o normal ocorrer,
se fosse essencial a preposição. Exs.: a) “Todos tirante eu, sustentam tese
contrária” (correto); b) “Todos tirante mim, sustentam tese contrária”
(errado).

Título
Ver Números – Como ler e Empregar? (P. 506)

Título de obra
1. É oportuno atentar ao apropriado ensinamento de Artur de Almeida
Torres: “Não se escrevem com maiúscula inicial as partículas
monossilábicas que se acham no interior de vocábulos compostos ou de
locuções ou expressões que tem iniciais maiúsculas: Queda do Império,
O Crepúsculo dos Deuses, Histórias sem Data, A Mão e a Luva, Festas e
Tradições Populares no Brasil, etc.” (1966, p. 230).
2. Em lição mais abrangente, Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 395)
lança a esse respeito duas importantes regras e uma recomendação: a)
“De acordo com a ortografia oficial, usa-se letra inicial maiúscula nos
títulos de livros, jornais, revistas, produções artísticas, literárias e
científicas”; b) “As palavras átonas, no interior dos títulos, grafam-se
com inicial minúscula”; c) “A bem do aspecto gráfico, não se usem
aspas para destacá-los, mas escrevam-se em itálico”.
3. O que se pode concluir, nesses casos, é que se devem grafar com
maiúsculas os vocábulos tônicos – sejam eles monossilábicos ou não –, e
com minúsculas os vocábulos átonos – sejam eles monossílabos ou
dissílabos.

Tocantemente – Existe?
1. Para se formar um advérbio em português, de um modo geral se
acrescenta o sufixo adverbial mente ao adjetivo no feminino: satisfatório
+ mente = satisfatoriamente; criterioso + mente = criteriosamente.
2. Nos casos comuns, porém, o advérbio formado pelo acréscimo de tal
sufixo passa a significar o modo como o adjetivo acontece:
satisfatoriamente quer dizer de modo satisfatório; criteriosamente
corresponde a de modo criterioso.
3. E lembra Eduardo Carlos Pereira (1924, p. 151 e 174), em duas
passagens, que “a terminação adverbial mente é o substantivo feminino
mente com a significação de maneira, intenção. Mais tarde se justapôs ao
adjetivo, perdendo o caráter de substantivo, conservando, entretanto, o
adjetivo sua flexão feminina”.
4. Ocorre que, em petições, pareceres e veredictos, encontram-se amiúde
expressões como tocantemente às preliminares, tangentemente ao mérito
ou mesmo meritoriamente, nas quais, embora haja advérbios
regularmente formados no que concerne à técnica, observa-se, a uma
análise, ainda que superficial, do sentido, que tais expressões não
querem significar de modo tocante, de modo tangente ou mesmo de
maneira meritória.
5. Bem por isso, tais advérbios, por errôneos, devem ser evitados nesses
exemplos, e se deve proceder à correção do seguinte modo: no que toca
às preliminares, no que tange ao mérito ou no que concerne ao mérito.
6. De fato, a facilidade com que o sufixo mente se presta à formação de
advérbios de modo tem dado margem a abusos e equívocos, originando
invenções reprováveis como essa.
7. A esse respeito, lembra Geraldo Amaral Arruda: “importa que não se
considere que a concisão recomende sempre substituir as locuções”, já
que, “em muitos casos a substituição pode ser inócua, em outros ela é
menos expressiva e em outros ainda pode ser inaceitável ou descabida”.
8. E continua tal autor: “nem sempre é apropriada a redução de uma
locução adverbial a um advérbio terminado em mente, pois os advérbios
com essa terminação têm significado claro (ou meio apagado) de modo”,
e “de qualquer maneira provocam uma distorção na ideia que deveria ser
expressada” (ARRUDA, 1997, p. 65 e 80).
9. Em outra passagem de sua obra, o mesmo autor – preocupado com a
falta de clareza e de precisão da linguagem dos jovens advogados e dos
novéis juízes, estes recrutados entre aqueles – atribui tais falhas à
deficiência do aprendizado da língua portuguesa no curso secundário,
mas observa que elas “são agravadas pelos defeituosos formulários a que
recorrem os iniciantes das lides forenses”.
10. E acrescenta tal autor que “um desses formulários destaca
corretamente, nos modelos de petições, as proposições preliminares das
de mérito e, como introduz as primeiras com o advérbio
preliminarmente, ao passar para as proposições de mérito, sem
vacilação, pespega um sonoro meritoriamente, que ficaria muito bem
na boca do ilustre Prefeito de Sucupira, o Coronel Odorico Paraguaçu,
o mesmo que pretende promover a abertura jogatícia” (ARRUDA,
1997, p. 6-7).
Ver Advérbios em “mente” (P. 85) e Advérbios em “mente” seguidos –
Como resolver? (P. 86)

Todo
Ver Pronome pessoal (P. 614), Regência verbal (P. 651), Só – Como
concordar? (P. 706) e Todo ou Todo o? (P. 740)

Todo ou Todo o?
1. Vejam-se os seguintes exemplos e o significado respectivo da expressão
todo ou todo o: a) “Todo o dia, o réu está no balcão do cartório, à
espera da sentença” (o dia inteiro); b) “Todo dia, o réu está no balcão
do cartório, à espera da sentença” (todos os dias).
2. Laudelino Freire é muito preciso em sua observação a respeito: “O todo
quando se lhe pospõe o artigo (todo o) significa a inteireza de uma coisa,
reservando-se a todo, sem o artigo, a significação de cada, qualquer, ou o
total de muitas. No primeiro caso indica-se o todo físico, o todo lógico,
por inteiro; no segundo, a coleção ou totalidade”.
3. Fundando-se em lição de Damião de Góis, continua tal gramático na
observação de que: a) na frase “Laranjeira que todo ano tem fruto”, deve
entender-se que essa árvore dá frutos todos os anos; b) se, porém, se
disser “Laranjeira que todo o ano tem fruto”, deve-se entender que ela
frutifica durante o ano inteiro.
4. E finaliza ele com propriedade: “O fato, portanto, ficará regularizado, se
se tomar por norma usar sempre de todo seguido de o, menos quando
todo tenha a significação de qualquer, ou de totalidade. As expressões
toda a parte, toda a vez, todo o momento, todo o caso, etc., melhor
exprimirão o que se quer dizer uma vez escritas sem o artigo (FREIRE,
1937a, p. 53).
5. De igual modo, em exemplo significativo, Silveira Bueno (1938, p. 65)
desfaz possíveis dúvidas: a) “Toda vida é uma dádiva de Deus” quer
dizer que qualquer vida é uma dádiva de Deus; b) já “Toda a vida é uma
dádiva de Deus” vem a significar que a vida inteira é uma dádiva de
Deus.
6. Vale também transcrever a preciosa síntese e acréscimo de Júlio
Nogueira (1959, p. 31): “Na linguagem do Brasil, faz-se judiciosa
distinção. Todo o diz-se quando equivale a inteiro, na totalidade,
completamente… Na acepção de qualquer não se usa o artigo”. E
continua tal gramático com sua observação: “No plural, porém, o artigo
aparece em qualquer acepção”.
7. E se reitere, quanto a última lição, com a observação de Édison de
Oliveira, para quem, “no plural, as palavras todos, todas sempre se farão
acompanhar pelos artigos os, as, independentemente do significado em
que tenham sido empregadas” (s/d, p. 143).
8. Buscando esquematizar o emprego exato de tais vocábulos, leciona
Laudelino Freire que se deve “usar sempre de todo seguido de o (todo o)
menos quando todo tenha a significação de qualquer. Todo o significa a
inteireza de uma coisa; todo, sem o artigo, significa cada, qualquer, ou o
total de muitos. A distinção é inconfundível. ‘Toda a casa foi queimada’,
isto é, a casa, toda ela, foi queimada. ‘Toda casa deve pagar impostos’,
isto é, todas as casas são sujeitas ao imposto. ‘Todo o dia’ = dia inteiro;
‘Todo dia’ = todos os dias” (1937b, p. 89).
9. Na lição de José de Nicola e Ernani Terra (2000, p. 215), “os pronomes
indefinidos todo e toda (no singular), quando desacompanhados de
artigo, significam qualquer”; porém, “quando acompanhados de artigo,
passam a dar a ideia de inteiro, totalidade”.
10. Para Antonio Henriques e Maria Margarida de Andrade (1999, p. 75),
todo “tem a ideia de totalidade numérica, de generalização” (toda
responsabilidade = qualquer tipo de responsabilidade), enquanto todo
o “tem ideia de totalidade das partes, especificação” (toda a
responsabilidade = responsabilidade total, inteira, completa).
11. Sousa e Silva (1958, p. 295), por um lado, lembra que há gramáticos,
como Eduardo Carlos Pereira, para os quais “é facultativo o uso do
artigo nas frases em que muitos o omitem presentemente”; por outro
lado, observa ele que essa moderna distinção entre toda a casa (“a casa
inteira”) e toda casa (“todas as casas” ou “qualquer casa”), por
exemplo, “tende a fixar-se em nossa língua, por influência do francês”.
12. Para Luciano Correia da Silva, os arcaicos e os clássicos usavam
indiferentemente uma forma pela outra, e “somente a partir do
Romantismo é que se passou a ensinar esta diferença: todo é sinônimo
de cada qualquer, e todo o quer dizer inteiro, na totalidade” (1991, p.
23).
13. Vale a pena teorizar com a lição de Alfredo Gomes: “a palavra todo
tem duas acepções: a de inteiro e a de qualquer. Apesar de confundidas
essas duas ideias no emprego…, convém fazê-lo seguir de artigo – todo
o, toda a – no sentido de inteiro, e usá-lo sem artigo quando significar
qualquer: a) ‘Todo homem é mortal’; b) ‘Nem toda a casa está
estragada’” (1924, p. 365).
14. Em caso muito particular, anote-se que, Silveira Bueno, por um lado,
observa que “a expressão todo mundo é galicismo que desde os tempos
de Gil Vicente entrou no uso português, mais velho, portanto que o
próprio Brasil”.
15. Por outro lado, mostra esse autor uma visão permissiva no emprego
dela: “Esta antiguidade da expressão já lhe deu foros de idioma e pode
ser empregada, sabendo-se, contudo, que é empréstimo” (BUENO,
1957, p. 476).
16. Antonio Henriques (1999, p. 191) refere lição de Said Ali e de Rui
Barbosa de que a equivalência de todo o (inteiro) e todo (qualquer)
“engenhosa e clara, mas falsa”, acrescentando que o primeiro dos
autores que cita “aduz inúmeros exemplos em que falha tal correlação”.
17. O Código Civil de 1916 nem sempre observa a distinção: a) “Todo o
ato lícito que tenha por fim imediato adquirir, resguardar, transferir,
modificar ou extinguir direitos, se denomina ato jurídico” (art. 81 –
todo o ato lícito está por qualquer ato lícito; a redação conferida ao
CC/2002, art. 185, fez desaparecer o problema); b) “A mulher pode, em
todo o caso, reter os objetos de seu uso…” (art. 303 – todo o caso está
por qualquer caso; como se tratava do regime dotal, o dispositivo não
se repete no CC/2002); c) “Estão sujeitos à curatela: I – os loucos de
todo o gênero” (art. 446, I – todo o gênero está pela totalidade
completa; a redação conferida ao CC/2002, art. 1.767, I, fez
desaparecer a dificuldade); d) “A certidão negativa exonera o imóvel e
isenta o adquirente de toda responsabilidade” (art. 1.137, parágrafo
único – toda responsabilidade está por qualquer responsabilidade; o
dispositivo não se repete no CC/2002).
18. O Código Comercial, de igual modo, nem sempre faz a referida
distinção: a) “Todo documento de contrato comercial não ressalvada
pelos contraentes com assinatura da ressalva não produzirá efeito
algum em juízo…” (art. 134 – a distinção foi observada); b) “Todo o
corretor é obrigado a matricular-se no Tribunal de Comércio do seu
domicílio” (art. 38 – a distinção não foi observada).
19. A legislação portuguesa, de igual modo, não prima pela observância
rigorosa da distinção aqui noticiada: “Toda a pessoa que tiver notícia
de qualquer infração penal poderá participá-la ao juiz da comarca em
que foi cometida…” (CPPp, art. 160º). Corrija-se: “Toda pessoa que
tiver notícia de qualquer infração penal poderá participá-la ao juiz da
comarca em que foi cometida…”.
Ver Todos os dois – Galicismo? (P. 741) e Tudo o que ou Tudo que? (P.
747)

Todos dois – Galicismo?


Ver Todos os dois – Galicismo? (P. 741)

Todos eles
Ver Conheço todos eles – Está correto? (P. 217) e Pronome pessoal (P. 614).

Todos os dois – Galicismo?


1. Na lição de Eduardo Carlos Pereira, “todos dois ou todos os dois é
galicismo; os dois ou ambos é forma vernácula” (1924, p. 313).
2. Luciano Correia da Silva (1991, p. 127), de igual modo, considera a
expressão todos os dois uma francesia (tous les deux).
3. Em mesma esteira, para Luís A. P. Vitória (1969, p. 233), tal expressão é
“francesismo a evitar. Diga-se os dois” ou mesmo ambos.
Ver Todo ou Todo o? (P. 740)

To – Existe?
Ver Mo – Está correto? (P. 476)

Torna
1. É substantivo que indica um excesso a ser devolvido, ou o excesso a ser
reposto por quem tenha recebido, numa permuta ou adjudicação, bens
cujo valor ultrapasse o de seu quinhão, ou de sua parte. Ex.: “Como
houvesse significativa desigualdade entre os bens permutados, deu-se
torna, que superava vinte por cento o valor do bem da parte
favorecida”.
2. Exatamente nesse sentido é que está empregado o verbo tornar no art.
1.728, § 1º, do Código Civil de 1916 (em disposição que não se repete
no CC/2002): “Se não for possível a divisão, e o excesso do legado
montar a mais de um quarto do valor e do prédio, o legatário deixará
inteiro na herança o imóvel legado, ficando com o direito de pedir aos
herdeiros o valor que couber na metade disponível. Se o excesso não for
de mais de um quarto, aos herdeiros torná-lo-á em dinheiro o legatário,
que ficará com o prédio”.

Tornar a repetir – Pleonasmo?


1. Lembra Luís A. P. Vitória que essa construção é “pleonasmo a evitar,
uma vez que a sílaba re do verbo repetir já significa tornar” (1969, p.
233).
2. Não parece impossível seu emprego, todavia, se, após uma repetição, se
dá nova repetição, hipótese em que se torna a repetir.
Ver Pleonasmo – O que é e Quando pode? (P. 565)

Tornar-se
1. Segundo indicação de Caldas Aulete, quanto à regência verbal, esse
verbo, que significa fazer, converter-se em, tomar um outro estado ou
qualidade, vem seguido de um adjetivo ou substantivo, que, no caso,
funcionam como predicativo e dispensam preposição. Exs.: a) “Em
pouco tempo, a audiência tornou-se um tumulto” (correto); b) “Em
pouco tempo, a audiência tornou-se em um tumulto” (errado).
2. Aires da Mata Machado Filho, que refere o ensinamento do mencionado
dicionarista, anota que “bem pode ser que algum exemplo de autor
qualificado abone o emprego da preposição, explicável pela analogia
com o verbo transformar-se, de idêntica significação. Mas a lição de
Aulete é que parece a mais segura” (1969b, p. 733).
3. Pelos exemplos, que cita sem qualquer observação ou restrição, um
deles, aliás, do próprio Caldas Aulete, Francisco Fernandes (1971, p.
573) parece acatar ambas as construções: a) “Tornou-se mofo” (Morais);
b) “Tornar-se a ferida em fístula” (Caldas Aulete).
Ver Infinitivo como sujeito – Como concordar? (P. 414)
Trabalho extra
Ver Extra (P. 349).

Tráfego ou Tráfico?
1. Tráfego tem sido aplicada no sentido de trânsito, de movimento ou
circulação de veículos. Ex.: “O tráfego, à hora do acidente, era intenso e
perigoso”.
2. Não confundir com sua parônima tráfico, que tem sido destinada a
significar transporte, comércio. Ex.: “Aquele rapaz cumpre longa pena
por tráfico de drogas”.
3. Atenta aos frequentes equívocos que ocorrem na linguagem profissional,
assim se manifesta Laurinda Grion: “Trata-se de palavras às vezes
trocadas, mudando o sentido que se deseja dar a uma redação. Tráfico é
negócio ilícito ou indecoroso. Ex.: tráfico de entorpecentes. Não
confundir com tráfego, que deve ser empregado para designar trânsito:
tráfego aéreo, tráfego marítimo” (s/d, p. 88).
4. Também não confundir os substantivos tráfego e tráfico com os verbos
trafegar e traficar na primeira pessoa do singular do presente do
indicativo (trafego e trafico).

Tranqüilo ou Tranquilo?
Ver Trema (P. 746).

Transação
1. De conformidade com a expressa dicção do art. 1.025 do Código Civil,
transação é um negócio jurídico bilateral, pelo qual as partes
interessadas, fazendo-se concessões mútuas, previnem ou extinguem
obrigações litigiosas ou duvidosas.
2. Discorrendo sobre comum equívoco na expressão forense, Geraldo
Amaral Arruda observa ser caso de impropriedade de expressão o
emprego do termo transação no sentido de negócio, alertando tal autor,
assim, em livro dirigido sobretudo ao aperfeiçoamento do linguajar dos
juízes, a que não se use, “numa sentença, no sentido genérico que tem na
linguagem comum” (1997, p. 9-10).
3. Interessante, todavia, é observar a falta de técnica da própria legislação
nesse sentido, sobretudo da mais antiga, como é o caso do vetusto
Código Comercial de 1850, o qual, em seu art. 123, após estipular o
valor máximo de quatrocentos mil reis como teto para negócios passíveis
de prova exclusivamente testemunhal, acrescenta que, “em transações de
maior quantia, a prova testemunhal somente será admitida como
subsidiária de outras provas por escrito”.
4. Em mesma esteira de equívoco, o art. 29 da Lei 4.591, de 16/12/64 (que
dispõe sobre o condomínio em edificações e incorporações imobiliárias),
ao tratar da figura do incorporador, considera-o também aquele “que
meramente aceite propostas para efetivação de tais transações”, tomando
este último vocábulo no mero sentido de negócios.
5. Para Caio Mário da Silva Pereira, que vê na redação do mencionado
dispositivo erro de linguagem e pouco vernáculo, “quem o lê tem a
impressão de que foi redigido por pessoa que desconhece até as mais
comezinhas noções jurídicas, pois ali confunde o conceito de transação
com negócio jurídico” (1993, p. 247).
6. Transigir ou transacionar são os verbos para indicar a ocorrência de
transação.

Transacionar – Existe?
1. Tem por sinônimo transigir e serve para indicar a transação.
2. Nos termos do art. 840 do Código Civil, transigir significa prevenir ou
encerrar um litígio mediante concessões mútuas. Ex.: “Transacionando
as partes em audiência, o magistrado reduziu a termo o acordo”.
3. Diferentemente de transigir, entretanto, que tem o sentido técnico da
transação estampada no art. 840 do Código Civil, transacionar também
traz em si o sentido de negociar, como bem referem os dicionaristas.
4. Não apresenta problemas quanto à conjugação verbal.
5. A um consulente que lhe perguntava se se podia admitir tal verbo,
Cândido de Figueiredo respondeu com decisão: “Não há dúvida.
Compare-se ação e acionar, função e funcionar, impulsão e
impulsionar, impressão e impressionar, transação e transacionar”
(1943, p. 65).
Ver Subsídio – Como se pronuncia o s? (P. 715), Transação (P. 742) e
Transigir (P. 743).

Transatlântico
1. De Arnaldo Niskier é importante observação no sentido de que, “quando
trans se liga a outro elemento que comece por vogal, a separação de
sílabas se dará desta forma: tran-sa-tlân-ti-co” (1992, p. 68).
Para maiores observações acerca da pronúncia do s em tais
circunstâncias, ver Subsídio – Como se pronuncia o s? (P. 715)

Transgredir
1. Quanto à conjugação verbal, o e da penúltima sílaba transforma-se em i
nas formas rizotônicas bem como nas formas delas derivadas.
2. Desse modo, assim é seu presente do indicativo: transgrido, transgrides,
transgride, transgredimos, transgredis, transgridem.
3. Da primeira pessoa do singular se extrai o presente do subjuntivo:
transgrida, transgridas, transgrida, transgridamos, transgridais,
transgridam.
4. E de ambos os tempos formam-se o imperativo afirmativo e o imperativo
negativo.
5. Atente-se, porém, ao pretérito perfeito do indicativo, do qual derivam o
mais-que-perfeito do indicativo, o imperfeito do subjuntivo e o futuro do
subjuntivo, todos integrados por formas arrizotônicas, nas quais não se
apresenta a alteração do e pelo i: transgredi, transgrediste, transgrediu,
transgredimos, transgredistes, transgrediram (pretérito perfeito);
transgredira, transgrediras, transgredira, transgredíramos,
transgredíreis, transgrediram (pretérito mais-que-perfeito); transgredir,
transgredires, transgredir, transgredirmos, transgredirdes,
transgredirem (futuro do subjuntivo); transgredisse, transgredisses,
transgredisse, transgredíssemos, transgredísseis, transgredissem
(imperfeito do subjuntivo).
6. Também não apresenta problemas de conjugação nos demais tempos:
transgredia (imperfeito do indicativo), transgredirei (futuro do
presente), transgrediria (futuro do pretérito), transgredindo (gerúndio),
transgredido (particípio).
7. Seguem idêntica conjugação os seguintes verbos: agredir, denegrir,
prevenir, progredir, regredir.

Transigir
1. Verbo de grande uso nos meios forenses, em seu sentido técnico, tem
como sinônimo transacionar e serve para indicar a transação, a qual, nos
termos do art. 840 do Código Civil, pode ser conceituada como a
prevenção ou o término de um litígio mediante concessões mútuas. Exs.:
a) “Transigindo as partes em audiência, o magistrado reduziu a termo o
acordo”; b) “Extingue-se o processo com julgamento de mérito: …
quando as partes transigirem” (CPC/1973, art. 269, III); c) “Incumbe
ainda ao inventariante, ouvidos os interessados e com autorização do
juiz… transigir em juízo ou fora dele” (CPC/1973, art. 992, II).
2. Diferentemente, porém, do verbo transacionar, que também tem o
sentido vulgar de negociar, o verbo transigir não apresenta tal
significação.
3. Em sua conjugação verbal, apresenta problemas de ortografia.
4. Diferentemente dos verbos cujo radical termina em j – consoante essa
que tem o mesmo som antes de qualquer das vogais (viajo, viajas,
viajemos, viajeis, viajem) – os verbos terminados em gir, para
continuidade do som da consoante final do radical, precisam da
representação gráfica j antes de a e de o. Assim, transijo, transiges,
transigimos, transijam.
5. Seu modelo é dirigir.
6. Feitas essas observações, é de se ver que transigir é conjugado em todas
as pessoas, tempos e modos.
7. Quanto à regência verbal, pode-se sintetizar seu regime com exemplos
colhidos por Francisco Fernandes (1971, p. 577), que o vê com
possibilidade de construção intransitiva ou transitiva indireta, sendo o
objeto indireto introduzido pelas preposições em, com e sobre: a)
“Transigir não pode quem não possa dispor” (Rui Barbosa); b) “Nisso
não transigia João das Regras” (O. Martins); c) “E o tenente tirava a
cabeça, transigindo com o insultador por amor da sobrinha” (Camilo
Castelo Branco); d) “Só nos litígios de direito privado, só na ordem das
relações em que o Estado contrata, dispõe, renuncia, transige sobre
assuntos alheios” (Rui Barbosa).
Ver Subsídio – Como se pronuncia o s? (P. 715), Transação (P. 742) e
Transacionar – Existe? (P. 743)

Trânsita ou Transitada em julgado?


Ver Sentença trânsita ou transitada em julgado? (P. 690)

Transitividade verbal
Ver Objeto direto preposicionado (P. 511).

Transitivo direto, Transitivo direto e indireto e Transitivo indireto


Ver Objeto direto preposicionado (P. 511).

Transladar ou Trasladar?
Ver Trasladar ou Transladar? (P. 744)

Translado ou Traslado?
Ver Traslado ou Translado? (P. 744)

Translineação
Ver Partição silábica entre as linhas (P. 551).

Transpor
Ver Pôr – Como conjugar? (P. 577)

Trasladar ou Transladar?
1. Para Adalberto J. Kaspary, “trasladar, que tem a forma variante
transladar, origina-se do verbo latino transferre (levar de um para outro
lugar, transferir, transportar), que, por sua vez, se compõe do prefixo
trans (através de, além de, para lá de) e do verbo ferre (levar ou trazer,
levar para diante, transportar, mover, dirigir, levar). Tra(n)sladar origina-
se, especificamente, do particípio (passado) do verbo transferre, que é
translatus. Daí que, etimologicamente, transferir e tra(n)sladar são
sinônimos, apenas as duas formas provindo de radicais diferentes do
mesmo verbo” (1996, p. 347).
2. Domingos Paschoal Cegalla dá como existentes em português e
sinônimas as formas transladar e trasladar, apenas realçando que “há
preferência pela forma trasladar” (1999, p. 400).
3. Francisco Fernandes (1971, p. 577 e 579) os registra ambos, dando-os
como sinônimos, com abono de exemplos de autores insuspeitos: a)
“Não deformemos, por falso acanhamento, o original que transladamos”
(Rui Barbosa); b) “Trasladaram-lhe os ossos para a sepultura”.
4. Celso Pedro Luft (1999, p. 512 e 514) também os reputa formas
variantes uma da outra.
5. Ambas as formas, em realidade, encontram-se registradas no
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira
de Letras, que é o veículo oficial indicador das palavras existentes em
nosso idioma, estando autorizado, por conseguinte, seu normal emprego
(VOLP, 2009, p. 805 e 806).
6. Em textos de lei consultados, apenas se encontrou a forma trasladar: a)
“O escrivão trasladará para os autos cópia autêntica do termo de
audiência” (CPC/1973, art. 457, § 3º); b) “O agravo de instrumento será
interposto no prazo de (5) dias por petição, que conterá: … III – a
indicação das peças do processo que devam ser trasladadas”
(CPC/1973, art. 523, III – redação revogada); c) “Se o juiz a reformar, o
escrivão trasladará para os autos principais o inteiro teor da decisão”
(CPC/1973, art. 527, § 5º).
7. Embora haja os verbos transladar e trasladar, importa observar que existe
em nosso idioma o substantivo traslado, mas não translado.

Traslado ou Translado?
1. Do latim trans (além de, através de) + latus (supino de ferre = levar),
significa “a cópia, o que foi tirado do original constituindo-se na cópia
fiel de documentos” (HENRIQUES, 1999, p. 193). Ex.: “Os traslados e
as certidões considerar-se-ão instrumentos públicos, se os originais se
houverem produzido em juízo como prova de algum ato” (CC, art. 218).
2. De Plácido e Silva (1989, p. 413), que lhe confere um sentido técnico
próprio na terminologia jurídica, conceitua-o como “a cópia imediata, ou
as cópias imediatas, passadas pelo próprio tabelião, ou escrivão, que
formulou a escritura, e entregues, ato contínuo, aos interessados, como
instrumentos autênticos da mesma escritura”, motivo por que “é tido
como o próprio original da escritura, cuja matriz está trasladada no livro
do tabelião, ou nos autos do processo, em que a fez o escrivão oficiante”.
3. Para Luciano Correia da Silva (1991, p. 44), tanto faz traslado ou
translado.
4. Anote-se, porém, que o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa,
da Academia Brasileira de Letras, que é o veículo oficial ordenador do
modo de grafar as palavras em nosso idioma, não registra a forma
translado, muito embora registre ambos os verbos: transladar e
trasladar (VOLP, 2009, p. 805 e 806). Isso significa que equivocada a
lição de ilustre gramático, posta no item anterior.
5. Vejam-se exemplos de emprego correto em artigos de nossa legislação:
a) “Terão a mesma força probante os traslados e as certidões, extraídos
por tabelião ou oficial de registro, de instrumentos ou documentos
lançados em suas notas” (CC, art. 217); b) “Os traslados e as certidões
considerar-se-ão instrumentos públicos, se os originais se houverem
produzido em juízo como prova de algum ato” (CC, art. 218); c)
“Cumprida a carta, será devolvida ao juízo de origem, no prazo de 10
(dez) dias, independentemente de traslado, pagas as custas pela parte”
(CPC/1973, art. 212); d) “Fazem a mesma prova que os originais: … II –
os traslados e as certidões extraídas por oficial público, de instrumentos
ou documentos lançados em suas notas” (CPC/1973, art. 365, II); e)
“Será de quinze (15) dias o prazo para a extração, a conferência e o
concerto do traslado, prorrogável por mais dez (10) dias, mediante
solicitação do escrivão” (CPC/1973, art. 525, caput); f) “Feita a
intimação, ordenará o juiz que, pagas as custas, e decorridas 48
(quarenta e oito) horas, sejam os autos entregues à parte
independentemente de traslado” (CPC/1973, art. 872); g) “Quando o
testamento for público, qualquer interessado, exibindo-lhe o traslado ou
certidão, poderá requerer ao juiz que ordene o seu cumprimento”
(CPC/1973, art. 1.128).
6. Há, todavia, um caso de uso equivocado na redação revogada do art.
1.089 do CPC/1973: “Se já estiver pendente a causa, o presidente ou o
árbitro, juntando o compromisso ou depois de assinado o termo (artigo
1.073), requererá ao juiz do feito que mande entregar-lhe os autos
mediante recibo e independentemente de translado”. Corrija-se:
independentemente de traslado.

Tratamento
Ver Pronome de tratamento ou Pronome de reverência? (P. 612)

Tratar-se de
1. Geraldo Amaral Arruda esclarece que o verbo tratar pode ter sujeito,
como na frase: “O autor, nesta ação, trata de seus direitos hereditários”.
2. Continua afirmando, todavia, que, em outro contexto, pode-se preferir
omitir o sujeito da oração, dizendo-se: “Nesta ação, trata-se de direitos
hereditários”.
3. E extrai ele as seguintes ilações: “O verbo continua na voz ativa e
continua a reger objeto indireto; somente desapareceu o agente, que
ficou indeterminado, servindo a partícula se precisamente como índice
de indeterminação do sujeito” (ARRUDA, 1997, p. 53).
4. Exatamente porque o sujeito é indeterminado com um direito ou com
vários direitos, é que a flexão de tal substantivo para o plural não influi
na concordância verbal: a) “Trata-se de um direito hereditário”; b)
“Trata-se de direitos hereditários”.
5. Em mesmo sentido, na lição de Domingos Paschoal Cegalla (1999, p.
400), o verbo tratar concorda obrigatoriamente na terceira pessoa do
singular, mesmo que o termo ou expressão seguinte esteja no plural: a)
“Trata-se de tarefas que exigem habilidade”; b) “Na verdade, tratava-se
de fenômenos pouco conhecidos na época”; c) “Durante o encontro dos
dois líderes políticos, tratou-se de problemas que afligem as populações
pobres”; d) “Não se trata de advogados, minha senhora; trata-se de
provas”.
6. Reitere-se, com Laudelino Freire, que, quando usado na terceira pessoa
com o pronome se, não vai para o plural tal verbo na passiva, “ainda que
o objeto no plural esteja” (1937a, p. 7).
7. Assim, o plural de “Trata-se de um bom negócio” há de ser “Trata-se de
bons negócios”, e não “Tratam-se de bons negócios”.
8. Francisco Fernandes (1971, p. 580) até mesmo se refere à expressão
tratar-se de, para que tal estrutura fique mais apartada das demais.
9. E Celso Pedro Luft (1999, p. 515) é ainda mais didático, para lecionar
que, com esse significado, “o verbo fica sempre na terceira pessoa do
singular”: “Trata-se de obras”, “Tratar-se-á de símbolos”, “Talvez se
trate de exceções”, “Quando se tratar de leis”.
10. Em oportuna observação, anota Adalberto J. Kaspary, por primeiro,
exemplos de uso correto do verbo tratar-se usado pronominalmente: a)
“Trata-se de meros casos de alçada policial”; b) “Trata-se de pessoas
falsas, insinceras”; c) “Tratava-se de questões que fugiam à nossa
competência”; d) “Talvez se trate de casos isolados”; e) “Trata-se,
agora, de evitar prejuízos maiores aos condôminos”.
11. Em sequência, realça tal autor que, com o verbo tratar-se, usado
pronominalmente, “são incorretas construções pessoais (com sujeito
expresso)”, alinhando ele próprio exemplos errôneos: a) “A presente
lide trata-se de ação possessória”; b) “É indiscutível tratarem-se de
entorpecentes as substâncias supramencionadas”; c) “O autor trata-se
de trabalhador rural”; d) “O caso trata-se de falsidade ideológica”.
12. Por fim, manda que se corrijam tais exemplos da seguinte forma
(KASPARY, 1996, p. 348): a) “Cuida-se, na presente lide, de ação
possessória”; b) “É indiscutível serem entorpecentes as substâncias
supramencionadas”; c) “O autor é trabalhador rural”; d) “O caso é de
falsidade ideológica” (ou “Trata-se, no caso, de falsidade ideológica”,
ou “O caso constitui falsidade ideológica”).
Ver Gosta-se de um bom vinho – Está correto? (P. 375), Voz passiva –
Quando é possível? (P. 793), Voz passiva e Pronome apassivador (P. 791).
Trata-se de embargos ou Tratam-se…?
Ver Junte-se as cartas ou Juntem-se as cartas? (P. 437)

Trata-se de processos ou Tratam-se de processos?


Ver Cuida-se de processos ou Cuidam-se de processos? (P. 241)

Travessa do Comércio ou travessa do Comércio?


Ver Rua Caiubi ou rua Caiubi? (P. 675)

Travessão
1. Observa Arnaldo Niskier que, “quando um travessão coincidir com uma
vírgula, deve-se usar os dois sinais” (1992, p. 70). Ex.: “Após o
pagamento das prestações – três de Cr$ 6.000 00 –, o consumidor
percebeu que fora logrado”.
2. Também utilizado nas narrativas para introdução do discurso direto
(assim como as aspas) e para isolar orações intercaladas.
Ver Orações intercaladas ou interferentes? (P. 532) e Vírgula (P. 772).

Trazer à baila ou Trazer à balha?


Ver À baila, À balha ou À bailha? (P. 53)

Trazer à colação
1. Em Direito Civil, colação é o ato de trazer o herdeiro ao acervo comum
hereditário os bens recebidos do de cujus quando ainda vivo este, a fim
de que haja igualdade na partilha, com a equiparação da legítima de
todos os herdeiros. Exs.: a) “Só o valor dos bens doados ou dotados
entrará em colação…” (CC/1916, art. 1.792, § 2º); b) “Não virão à
colação os gastos ordinários do ascendente com o descendente…” (CC,
art. 2.010); c) “As doações remuneratórias de serviços feitos ao
ascendente também não estão sujeitas a colação” (CC, art. 2.011).
2. Desse modo, a expressão trazer à colação tem o sentido de restituir ao
acervo hereditário os bens recebidos em vida como adiantamento de
herança. Ex.: “No caso do artigo antecedente, se ao tempo do
falecimento do doador, os donatários já não possuírem os bens doados,
trarão à colação o seu valor” (CC/1916, art. 1.787).
3. Lembrando lição de Eliasar Rosa, aduz Adalberto J. Kaspary que, a
partir de seu significado técnico no Direito das Sucessões, a palavra
colação passou a ter emprego mais amplo, de caráter conotativo: “Ela
significa, também, comparação, confronto, quando, por exemplo, se diz
que a parte trouxe à colação argumentos doutrinários, ou que, num
recurso, se trouxeram à colação acórdãos do mesmo ou de outro tribunal.
O que está dito aí é que argumentos e acórdãos foram trazidos para
comparação, ou confronto com o que se quer sustentar” (1996, p. 349).
4. De Geraldo Amaral Arruda é o ensinamento de que tal expressão “tem
curso na linguagem forense a partir das disposições legais que obrigam
os herdeiros a conferir as doações recebidas em vida do de cujus”.
5. Lembra tal autor que essa expressão é sinônima de conferir, assim como
o substantivo colação significa conferência, podendo-se verificar o bom
uso de colação e de conferir no art. 2.012 do Código Civil, repetindo a
redação do CC/1916, art. 1.795.
6. Por fim, insurge-se ele contra o emprego do neologismo colacionar, por
rebarbativo e desnecessário para quem conheça a boa linguagem, a qual
dispõe de outros recursos legítimos de expressão (ARRUDA, 1997, p.
82-3).
7. Oportuno apenas é lembrar que, apesar da lição contrária do ilustre
mestre, registra o verbo colacionar o Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, órgão incumbido por lei
para determinar quais vocábulos pertencem oficialmente ao vernáculo
(2009, p. 202), motivo por que está oficialmente autorizado entre nós seu
emprego.

Trema
1. Por conta das alterações introduzidas em nosso sistema pelo Acordo
Ortográfico de 2008, importa tecer algumas observações sobre o trema.
2. Num primeiro aspecto, pode-se transcrever o que diz o Acordo
Ortográfico: “O trema é inteiramente suprimido em palavras portuguesas
ou aportuguesadas”.
3. Pela grafia do sistema anterior, certas palavras recebiam o trema:
agüentar, argüição, cinqüenta, freqüência, tranqüilo. Agora, todavia,
veja-se como são grafadas: aguentar, arguição, cinquenta, frequência,
tranquilo.
4. Realce-se, contudo, que o próprio Acordo Ortográfico de 2008 deixa
uma exceção: “Conserva-se, no entanto, (o trema) em palavras derivadas
de nomes próprios estrangeiros: mülleriano, de Müller”; hübneriano, de
Hübner.
5. Reconhece-se, por um lado, que, antes do Acordo Ortográfico, as regras
para emprego do trema não eram tão simples, e, em determinados casos,
sua existência era questão que dependia até mesmo da pronúncia ou não
do u nos respectivos vocábulos, e isso podia variar de grupo para grupo,
de região para região.
6. A eliminação pura e simples do trema, contudo, não se deu sem efeitos
complicadores. Basta que se veja, por exemplo, que hoje, a abolição do
acento agudo em certas formas verbais e a eliminação do trema “dão
origem a novas homografias: argui, por exemplo, representa
graficamente a 3ª pessoa do singular do presente do indicativo (u tônico
em ele argui), a 2ª pessoa do singular do imperativo afirmativo (u tônico
em argui [tu]) e a 1ª pessoa do singular do pretérito perfeito (i tônico,
com o u sonante)” (INSTITUTO ANTÔNIO HOUAISS; 2008, p. 40). E
essas novas dificuldades, o Acordo não as resolve.

Tribunais a quo ou Tribunais a quibus?


Ver A quo ou A qua? (P. 128)

Tribunal de Justiça – egrégio ou Egrégio?


1. Um leitor indaga se, antes de Tribunal de Justiça, usa-se egrégio ou
Egrégio. E, na forma abreviada, e. ou E.?
2. Vejam-se, de início, alguns conceitos: a) egrégio significa insigne, nobre,
eminente, grandemente distinto; b) já colendo quer dizer respeitável,
venerando.
3. Ora, por tradição, egrégio normalmente é o tratamento conferido, no
Poder Judiciário, a um tribunal considerado em seu todo; já colendo se
destina a seus órgãos fracionários (câmaras, turmas e seções).
4. De modo específico para a dúvida do leitor, por estar em discussão o
Tribunal de Justiça, um órgão considerado em seu todo, o tratamento a
ser conferido é, efetivamente, egrégio.
5. Interessante anotar, porém, que, apesar dessa distinção tradicional
quanto ao emprego de ambos os vocábulos, o art. 3º, caput, do
Regimento Interno do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, em
redação hoje revogada, portando determinação divergente, assim
estatuía: “Têm o Tribunal e todos os seus órgãos o tratamento de
Egrégio…”.
6. Quanto a ser maiúscula ou minúscula a inicial, importa observar que o
Acordo Ortográfico de 2008, por um lado, diz ser facultativo seu
emprego em palavras nessa situação, quando antecedem nomes próprios:
Doutor Saulo Ramos ou doutor Saulo Ramos, Ministro Sidnei Beneti ou
ministro Sidnei Beneti, Professor Evanildo Bechara ou professor
Evanildo Bechara.
7. Por outro lado, também determina o mesmo Acordo que a mesma regra
se aplique em expressões que indiquem um logradouro público: Rua
Caiubi ou rua Caiubi, Praça da República ou praça da República,
Alameda Santos ou alameda Santos.
8. Parece lícito aplicar, por analogia, tais determinações ao caso da
consulta: Egrégio Tribunal de Justiça ou egrégio Tribunal de Justiça.
9. No que concerne à respectiva abreviatura, o Formulário Ortográfico
oficial, que registra as reduções mais correntes, a par de não trazer a de
egrégio, anota que “uma palavra pode estar reduzida de duas ou mais
formas” (ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, 2009, p. 865), uma
vez guardados determinados parâmetros e princípios.
10. Desse modo, parece aceitável concluir que fica ao usuário a liberdade
de se conduzir nessa tarefa, desde que haja objetividade e clareza. E,
assim, em síntese, para o caso apreciado, nada impede que se abrevie
e., E., egr. ou Egr.

Tudo a ver ou Tudo haver?


Ver Nada a ver ou Nada haver? (P. 483)

Tudo o que ou Tudo que?


1. São igualmente corretas e se equivalem quanto ao sentido as expressões
tudo o que e tudo que. Exs.: a) “Tudo o que significa má-fé deve ser
coibido pelas regras de processo”; b) “Tudo que significa má-fé deve ser
coibido pelas regras de processo”.
2. Em precisa lição, sistematiza Laudelino Freire: “O demonstrativo o não
torna a expressão tudo o que diferente de sua equivalente tudo que. Não
se lhes pode reconhecer sentido diverso uma da outra, como acontece
com todo o e todo. Ambas significam aquilo que, tudo aquilo que, todas
as coisas. Quando muito pode admitir-se que a primeira traduza com
mais força a ideia de integralidade, do todo, do tudo, que é o que se quer
com ela exprimir. Certo é que ambas são indistintamente usadas pelos
escritores modernos” (1937a, p. 102-3).
Ver Todo ou Todo o? (P. 740)

Tu e Você – Podem misturar-se?


Ver Vocês e Vós – Podem misturar-se? (P. 786)

Turnê
Ver Formação de adjetivos – Regras (P. 360) e Neologismo (P. 494).
U
U’a maneira – Está correto?
1. Postar uma sílaba ao lado de outra de mesmo som é defeito que dificulta
a fluência da linguagem, ao qual os gramáticos chamam de parequema.
Exs.: gado doente, pato tonto, coxa chata.
2. Numerosos parequemas, porém, são inevitáveis, particularmente os
resultantes do emprego do vocábulo uma; e a prática, em casos que tais,
de suprimir o m e colocar apóstrofo (’), sobretudo nos dias de hoje, peca
pela base, pois é artificial, configurando, para muitos gramáticos,
invencionice a ser evitada, devendo-se observar que alguns acabam
chegando ao exagero de assim proceder em casos nos quais não haveria
problema em nenhuma hipótese, vindo a escrever, por exemplo, u’a
pessoa.
3. Em conselho válido para os dias atuais, se não houver possibilidade de
contorno do problema, escreva-se e pronuncie-se normalmente uma
matéria, uma menina, uma manhã, uma mata, uma madeira, até porque
a outra solução que alguns preconizam prejudica a naturalidade e
desfigura a pronúncia da palavra, sem realmente atingir o objetivo.
4. Aires da Mata Machado Filho (1969d, p. 847) – após referir lição de
Benedito Sampaio de que o motivo de conduta diversa é “esquisitice,
pruridos de eufonia, requinte de ouvido melindroso” – conclui que “o
melhor é nada mudar na grafia de uma antes da sílaba ma. Os
despreocupados de maus encontros silábicos lerão com toda
naturalidade. Os outros, refugiando-se em antiga pronúncia nasal, não
deixarão de cometer o indigitado vício, implicitamente. Como quer que
seja, é urgente largar mão de semelhante apóstrofo”.
5. Registre-se, por outro lado, a observação de Evanildo Bechara (1974, p.
51), o qual, muito embora condene a grafia u’a, acaba por aconselhar a
dicção anasalada do u, cancelando-se a pronúncia do m, posicionamento
esse que, com o devido respeito, é ainda mais artificial do que a conduta
preconizada anteriormente por outros gramáticos.
6. Também divergindo do entendimento majoritário, Eliasar Rosa, em lição
que merece a mesma advertência anterior, refere que uma “regra de
ortoépia diz que sempre que ao artigo indefinido ou ao numeral uma se
seguir vocábulo começado por m, não se deve pronunciar o m, e
nasaliza-se o u. A pronúncia será, então um a máquina; um a mão; um a
meta; um a mãe; um a minha, um a malha etc., escrevendo-se ua com o
til no u. Desnecessária, pois, a estranha grafia u’a” (1993, p. 138).
7. Mostrando aceitar o emprego da supressão do m em tais circunstâncias,
Silveira Bueno apenas esclarece a um de seus leitores que não se há de
indicar tal supressão por apóstrofo, mas por til: “Não há motivo algum
para que se escreva u’a com apóstrofo porque este sinal indica a
supressão de sons: ora, não há supressão de som algum, mas apenas a
substituição da nasal m pelo ressoo nasal indicado pelo til”.
8. Bem por isso, afiança tal autor, a forma correta e única é com til sobre o
u, “quando a palavra começar por m” (BUENO, 1957, p. 482).
9. Já Domingos Paschoal Cegalla, em ensinamento que parece mais
apropriado aos dias de hoje, assim leciona acerca de ua e u’a: “Evitem-
se estas formas artificiais, mesmo diante de palavras que possam gerar
cacófatos. É preferível grafar, por exemplo, uma mão, uma mata a
escrever ua (ou u’a) mão, ua mata” (1999, p. 403).
10. Transcrevendo lição de Matoso Câmara Jr., assevera Ronaldo Caldeira
Xavier (1991, p. 96) que “não convém exagerar o esforço contra o
cacófato a ponto de apelar para vocábulos obsoletos ou artificiais. Tal
é, em vez de uma, em contato com mão, manga etc., a forma u’a, em
que o apóstrofo pressupõe a supressão do m, quando na realidade se
trata de uma obsoleta desnasalação da forma arcaica ua (com til no u)”.
11. Ante o exposto, sempre é oportuno lembrar a observação muito
apropriada de Cândido de Oliveira: “não existe a forma u’a” (s/d, p.
131).
12. O proceder mais aconselhável, em realidade, parece ser aquele que vê
com naturalidade encontros dessa natureza e que não busca enxergar
defeitos e vícios de linguagem em todo canto, nessas hipóteses de
parequemas inevitáveis, e, assim, deve-se grafar normalmente uma
mão, uma mata.
Ver Cacófato – O que é? (P. 163)
U’a mão – Está correto?
Ver Cacófato – O que é? (P. 163) e U’a maneira – Está correto? (P. 747)

Uísque
Ver Formação de adjetivos – Regras (P. 360) e Neologismo (P. 494).

Ultra – Com hífen ou sem?


1. Como costuma acontecer com os prefixos terminados por vogal, apenas
em dois casos, o prefixo ultra se une ao segundo elemento por hífen: a)
quando o segundo elemento se inicia por h: ultra-hipérbole, ultra-
honesto, ultra-humano; b) quando o segundo elemento principia com a
mesma letra que finda o prefixo: ultra-americanismo, ultra-apressado,
ultra-aquecer.
2. Antes de outra consoante, que não seja h, tal prefixo acopla-se
diretamente ao elemento seguinte, sem hífen: ultrabárbaro,
ultracansado, ultradivino, ultrafamoso, ultraliberal.
3. De igual modo, junta-se sem hífen, quando o elemento seguinte se inicia
por outra vogal, que não a mesma que finaliza o prefixo: ultraescuro,
ultraestrutura, ultraindependente, ultrainfernal, ultraobscuro,
ultraoriental.
4. Para a hipótese de ser o segundo elemento iniciado por r ou s, dobram-se
tais consoantes para continuidade do som originário: ultrarracional,
ultrarradical, ultrarrápido, ultrassensível, ultrassom, ultrassonoro.

Uma e meia
Ver Um e meio (P. 749).

Uma mão – Cacófato?


Ver Cacófato – O que é? (P. 163) e U’a maneira – Está correto? (P. 747)
Uma porção de alunos – faltou ou faltaram?
Ver Coletivo – Como concordar? (P. 191)

Uma vez ou outra ou Vez ou outra?


1. Para Edmundo Dantès Nascimento, uma vez ou outra é a expressão
correta, e seu emprego sem o artigo uma é errônea.
2. E acrescenta tal autor: “todas as locuções preposicionais, conjuncionais
ou adverbiais formadas com a palavra vez têm a anteposição do artigo
ou outra palavra” (NASCIMENTO, 1982, p. 87).

Um como – Está correto?


1. Invocando exemplo de Mário Barreto, defende Cândido Jucá Filho
(1981, p. 108) a total vernaculidade dessa expressão: “Uma como
estátua”.

Um de maio ou Primeiro de maio?


Ver Primeiro de maio ou Um de maio? (P. 600)

Um dos que
1. Trata-se de expressão que traz problemas quanto à concordância verbal.
2. Com ela no sujeito, o verbo pode concordar optativamente no singular
ou no plural. Exs.: a) “Dentre nossos juristas, Vicente Rao foi um dos
que mais abusou do talento e da cultura” (correto); b) “Dentre nossos
juristas, Vicente Rao foi um dos que mais abusaram do talento e da
cultura” (correto).
3. Após lembrar que tal expressão às vezes faz o verbo concordar no
singular, às vezes no plural, Júlio Nogueira observa o que sintaticamente
se dá: na segunda hipótese, “predomina o plural os, contido em dos; na
primeira, um”.
4. Em continuação, opina o referido gramático: “Parece-nos preferível o
verbo no plural, e usá-lo assim é a tendência mais generalizada”
(NOGUEIRA, 1959, p. 112).
5. Embora haja a condenação de alguns gramáticos ora a esta, ora àquela
construção, Laudelino Freire (1937a, p. 18-23), fundando-se em diversos
exemplos de abalizados autores e reforçado pela autoridade de
conceituados gramáticos, defende a concordância do verbo, em tais
casos, tanto no singular quanto no plural, refutando superiormente tais
invectivas adversárias.
6. Júlio Nogueira (1939, p. 212), de seu lado, assevera que, “com um dos
que é preferível o plural”; por outro lado, assevera que, “se, porém, vale
o exemplo dos clássicos, pode-se usar o singular”, passando a arrolar
exemplos abalizados de bons escritores: a) “Foi uma das primeiras
terras de Espanha que recebeu a fé de Cristo” (Frei Luís de Sousa); b)
“Uma das causas que derribou a Galba do Império foi…”.
7. Para Laudelino Freire (1937b, p. 97), “há dupla sintaxe para as orações
em que o pronome que vem precedido de um dos, uma das”, observando
tal gramático que, à semelhança do que ocorre na língua francesa, são
facilmente justificáveis ambas as concordâncias.
8. Em realidade, autorizadas que estão as duas construções em nosso
idioma, pode-se asseverar que, hoje, a questão é apenas de sentido: com
o verbo no singular, realça-se a ideia da ação individual; com o verbo no
plural, reforça-se o aspecto da ação coletiva.

Um dos que – Será ou serão?


1. Uma leitora encontrou a seguinte frase: “De acordo com pesquisa da
National Association for Law Placement, o departamento de
aperfeiçoamento de profissionais é um dos primeiros a ser cortado em
contenção de gastos em escritórios de advocacia”. Pareceu-lhe errada a
concordância “é um dos primeiros a ser cortado”. Em seu entendimento,
se há outros, o departamento de aperfeiçoamento deve ser “um dos
primeiros a serem cortados”.
2. Para uma abordagem mais didática, procede-se inicialmente à extensão
da frase no trecho da dúvida, fazendo desaparecer o verbo no infinitivo.
A partir de tal extensão, o desafio será definir qual das formas é correta:
a) “… é um dos primeiros que será cortado…”; b) “… é um dos
primeiros que serão cortados…”
3. Com essa pequena alteração, importa observar que a expressão um dos
que é daquelas que merecem considerações específicas quanto à
concordância verbal.
4. É que, quando ela compõe o sujeito, o verbo pode concordar
optativamente no singular ou no plural: a) “Rui Barbosa foi um dos que
serviu tanto ao Direito quanto ao vernáculo” (correto); b) “Rui Barbosa
foi um dos que serviram tanto ao Direito quanto ao vernáculo” (correto).
5. Autorizadas que estão ambas as concordâncias no plano da sintaxe,
parece oportuno acrescentar que a questão não é indiferente na órbita do
significado: a) com o verbo no singular, realça-se a ideia da ação
individual; b) com o verbo no plural, reforça-se o aspecto da ação
coletiva.
6. E, assim, feitas essas observações com a oração estendida, volta-se à
especificação das frases trazidas pela leitora, com o lembrete de que o
raciocínio é o mesmo tanto para a oração estendida quanto para a oração
reduzida: a) “O departamento de aperfeiçoamento de profissionais é um
dos primeiros que será cortado…” (correto); b) “O departamento de
aperfeiçoamento de profissionais é um dos primeiros que serão
cortados…” (correto); c) “O departamento de aperfeiçoamento de
profissionais é um dos primeiros a ser cortado…” (correto); d) “O
departamento de aperfeiçoamento de profissionais é um dos primeiros a
serem cortados…” (correto).

Um e meio
1. São igualmente corretas, em nosso idioma, as expressões um metro e
meio e um e meio metro, muito embora a última seja menos usual.
2. Quando se dizem tais expressões, porém, é de se ver que ainda não se
chegou a duas unidades – hipótese em que, só então, obrigatório seria o
plural da palavra quantificada – de modo que é errada a concordância
nominal um e meio metros.
3. As mesmas observações valem para o feminino, sendo igualmente
corretas as expressões uma vez e meia e uma e meia vez, mas, pelas
razões já expostas, não uma e meia vezes.
4. Nessa exata esteira, afirmando que se há de dizer um e meio quilo e um e
meio litro, complementa Sousa e Silva que “o plural, em nossa língua,
começa em dois” (1958, p. 299).
5. Acrescente-se a lição de João Ribeiro, no que concerne à concordância
verbal: “nos casos em que se indicar a unidade e mais uma fração,
parece melhor conservar a concordância no singular: ‘Um e meio basta’”
(1923, p. 211).

Um e outro
1. É expressão a ser observada pelo prisma da concordância verbal.
2. Com ela no sujeito, o verbo concorda, indiferentemente, no singular ou
no plural. Exs: a) “Clóvis Beviláqua e Vicente Rao, um e outro abusou
do talento e da cultura” (correto); b) “Clóvis Beviláqua e Vicente Rao,
um e outro abusaram do talento e da cultura” (correto).
3. Segue igual concordância a expressão nem um nem outro.
4. Quanto à concordância nominal, anote-se que o substantivo que vem
depois fica no singular. Ex.: “Um e outro autor abusou (ou abusaram)
do talento e da cultura”.
5. Se, porém, tal substantivo se faz seguir de um adjetivo, este último vai
para o plural. Ex.: “Um e outro autor nacionais abusou (ou abusaram)
do talento e da cultura”.

Um mil ou Mil?
Ver Mil ou Um mil? (P. 474)

Um ou Hum?
Ver Hum ou Um? (P. 392)

Um ou mais deles – Verbo no singular ou no plural?


1. Um leitor indaga como fica a concordância, quando o sujeito composto é
formado por um elemento no singular e outro no plural, como no
seguinte exemplo: “Um ou mais deles é (são) selecionado(s) para
representar a controvérsia”.
2. Esclareça-se, de início, ao leitor, que a dificuldade do exemplo trazido
por ele não reside no fato de que um núcleo do sujeito seja singular e
outro, no plural, e sim na circunstância de que os dois núcleos (um e
mais deles) estão unidos pela conjunção ou.
3. E, quando os núcleos do sujeito (estando ao menos um deles no singular,
para que possa haver dúvida) se unem por ou, e esta conjunção não
indica exclusão, de modo que o fato expresso pelo verbo pode ser
atribuído a ambos, então o verbo vai para o plural (CUNHA, 1970, p.
241). Exs.: a) “Violência ou traição não o venceram”; b) “Pedro ou
Paulo encontrarão uma solução para o problema”.
4. É exatamente o que se dá no exemplo trazido para análise, em que, em
princípio, nada impede que apenas um ou, então, mais de um venham a
ser selecionados.
5. E, assim, atente-se à forma correta: “Um ou mais deles são selecionados
para representar a controvérsia”.
6. Apenas se remata com a observação de que, nos casos em que a
conjunção ou indica exclusão obrigatória, então o verbo irá para o
singular. Exs.: a) “Pedro ou Paulo casará com Maria”; b) “A União, o
Estado ou o Município oferecerá ao ex-proprietário o imóvel
desapropriado, pelo preço por que o foi, caso não tenha o destino, para
que se desapropriou” (CC/1916, art. 1.150).

Um rebanho de boas ovelhas – sumiu ou sumiram?


Ver Coletivo – Como concordar? (P. 191)

Um terço
Ver Número fracionário (P. 505).

União Federal ou simplesmente União?


1. Com o argumento de que não há União Estadual nem União Municipal,
querem alguns que não se deva dizer União Federal, mas apenas União,
quando se quer referir à esfera do Governo Federal.
2. Em verdade, os vocábulos Estado e Município trazem uma carga
semântica própria e inconfundível, o que afasta a necessidade de
qualquer especificação; mesmo assim, por exemplo, se diz Estado-
Membro e Estados-Membros.
3. Já União constitui um termo genérico, que, só em si, não tem
representação de sentido que o distinga dentre todos os demais
abrangidos por ele: União de Bancos, União das Escolas de Samba,
União das Torrefações, etc.
4. É por isso que um dicionário jurídico normalmente registra ambas as
expressões: União e União Federal. E conceitua União Federal como o
“agrupamento de Estados-Membros de uma Federação sob a direção do
poder central” (DINIZ, 1998, p. 660).
5. Assim, não há erro algum no seguinte trecho: “A União Federal terá que
ressarcir…”. De igual modo, em um contexto onde não houvesse
possibilidade de interpretações equivocadas, também não estaria errado
dizer: “A União terá que ressarcir…”
6. Em mesma esteira, é correto dizer Constituição Federal, até porque não
se há de confundi-la com a Constituição Estadual, que é o conjunto de
regras que regem os destinos de um Estado-Membro.

Uniformidade de tratamento
1. É de regra que, na fala e na escrita, o pronome escolhido para tratamento
das pessoas espraie seus efeitos para todos os elementos envolvidos.
2. Assim, se se trata o interlocutor por vós, além de concordarem os verbos
nessa pessoa, só se podem usar os pronomes oblíquos e os pronomes
possessivos que a ela correspondem (vos, convosco, vosso, vossa,
vossos, vossas); se, por outro lado, a pessoa for tratada por tu, os
pronomes oblíquos haverão de ser teu, tua, teus, tuas (jamais seu, sua,
seus, suas, não podendo, assim, haver mistura de pronomes). Exs.: a) “Se
você quer, vou até teu gabinete” (errado); b) “Se você quer, vou até seu
gabinete” (correto); c) “Se tu queres, vou até seu gabinete” (errado); d)
“Se tu queres, vou até teu gabinete” (correto).
3. Nesse exato sentido se dá a lição de Vasco Botelho de Amaral: “Misturar
pronomes ou formas verbais na segunda pessoa do plural com pronomes
ou formas verbais da terceira constitui um erro crasso” (1948, p. 287).
4. Em outra obra, o referido autor é ainda mais didático acerca do problema
analisado: “Certa carta de um conhecido ministro estrangeiro publicada
nos jornais portugueses, entre outros deslizes de tradução apresentava
este: ‘Foi com grande pesar que recebi a vossa decisão de não aceitar o
cargo que lhe ofereci na remodelação do Ministério…’. Onde se pôs
vossa, devia estar evidentemente – sua. O inglês your não corresponde
só a vosso, vossa, vossos, vossas; deve traduzir-se, não só às vezes por
teu, tua, teus, tuas, mas, como ali na carta, por seu, sua, seus suas, de V.,
de V. Exa., etc.” (AMARAL, 1943, p. 177).
5. Não menos clara é a lição de Júlio Nogueira: “Não há, pois, redigir
frases em que, sendo tu a forma de tratamento, se usem em relação à
mesma os possessivos seu, sua e as variações o, a, lhe” (1959, p. 75).
6. Situando geograficamente onde o problema se dá com maior gravidade,
anota Júlio Nogueira que, “no Rio de Janeiro e, por contágio, em alguns
estados vizinhos, baralham-se os tratamentos de tu e você, o senhor etc.,
empregando-se possessivos e variações pronominais de forma
disparatada” (1930, p. 330).

Universidades se comprometem ou Universidades comprometem-se?


1. Não é incomum haver dúvida sobre qual seja a colocação pronominal
correta nos seguintes exemplos: “Universidades se comprometem a não
penalizar alunos inadimplentes”.
2. Ora, em português, o pronome pessoal oblíquo átono, por não ter força
sonora própria, pendura-se, quanto ao som, na sílaba forte do verbo mais
próximo.
3. Assim, de acordo com a eufonia, pode o pronome estar em uma de três
posições: a) Próclise (pronome antes do verbo), como em “Não se vá!”;
b) Mesóclise (pronome no meio do verbo), como em “Fá-lo-ei com
rapidez”; c) Ênclise (pronome depois do verbo), como em “Buscou-se
uma solução”.
4. A par dessa observação, deve-se ver que há determinadas palavras que,
se existirem antes do verbo, atraem o pronome: negativas, advérbios,
pronomes relativos, pronomes indefinidos e conjunções subordinativas.
5. Nos exemplos dados acima, o que se tem é uma oração em ordem direta
(sujeito [universidades], verbo [comprometem] e complementos), e não
aparece nenhuma daquelas palavras que normalmente atraem o pronome
para antes do verbo.
6. Pois bem. Quando se tem uma oração com esses dois requisitos (oração
em ordem direta e inexistência de palavra atrativa), então é facultativa a
colocação do pronome em próclise ou em ênclise.
7. Exatamente em decorrência dessa facultatividade de colocação, estão
corretas as duas formas de expressão: a) “Universidades se
comprometem a não penalizar alunos inadimplentes” (correto); b)
“Universidades comprometem-se a não penalizar alunos inadimplentes”
(correto).

Usar
1. Com respeito a sua regência verbal, em seus casos mais comuns,
oportuna é a lição de Artur de Almeida Torres no sentido de que usar “é
verbo de dupla sintaxe. Aparece, numa mesma acepção, ora com regime
direto, ora com o complemento regido de de: usou algo e usou de algo”.
Exs.: a) “Os clássicos não raro usavam, nesse caso, o infinito pessoal”
(Rui Barbosa); b) “Erraria quem usasse desse pronome” (Rui Barbosa).
2. O mesmo gramático, por outro lado, adverte que “em alguns casos essa
preposição determina certa diferença de sentido, como em usou gravata
e usou de gravata” (TORRES, 1967, p. 285).
3. Cândido Jucá Filho (1981, p. 108) invoca lição de Mário Barreto e
defende a possibilidade de emprego desse verbo quer como transitivo
direto, quer como transitivo indireto, citando para tanto autores
insuspeitos: a) “Nem sempre usam as folhas verdes” (Camilo Castelo
Branco); b) “Mãos longas, descarnadas, mas são ossudas como usam de
ser mãos de velhas” (Almeida Garrett).
4. De igual entendimento é Sousa e Silva em suas lições: “no sentido de
servir-se, fazer uso, emprega-se com a preposição de ou sem preposição:
usei desta palavra ou usei esta palavra” (1958, p. 299).
5. Na lição de Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 405), “constrói-se
mais frequentemente com objeto direto”; mas “constrói-se também com
objeto indireto, sobretudo quando este é substantivo abstrato: usar de
franqueza, usar de muita cautela; usar de astúcia; usar de evasivas; usar
de diplomacia; usar de misericórdia com alguém”.
6. Francisco Fernandes (1971, p. 588-9), de igual modo, acata a dupla
possibilidade de sintaxe: como transitivo direto e como transitivo
indireto, posição essa também adotada por Celso Pedro Luft (1999, p.
523).
7. Nos textos de lei, observa-se uma preferência pelo uso do objeto indireto
introduzido pela preposição de, mas há frequentes exemplos de emprego
como transitivo direto, duplicidade essa, aliás, que segue à risca a
permissão da Gramática. Exs.: a) “… No caso de iminente perigo
público, a autoridade competente poderá usar de propriedade
particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver
dano” (CF/88, art. 5º, XXV); b) “Só podem usar da firma da sociedade
em nome coletivo, e, como tal, obrigá-la e aos respectivos associados, o
sócio ou sócios devidamente designados no contrato social” (C. Com.
português, art. 152º); c) “O comodatário é obrigado a conservar, como
se sua própria fora, a coisa emprestada, não podendo usá-la senão de
acordo com o contrato ou a natureza dela, sob pena de responder por
perdas e danos” (CC, art. 582, caput); d) “O proprietário ou ocupante do
imóvel é obrigado a tolerar que o vizinho entre no prédio, mediante
prévio aviso, para: I – dele temporariamente usar, quando indispensável
à reparação, construção, reconstrução ou limpeza de sua casa ou do
muro divisório” (CC, art. 1.313, I); e) “Cada condômino pode usar da
coisa conforme sua destinação, sobre ela exercer todos os direitos
compatíveis com a indivisão, reivindicá-la de terceiro, defender a sua
posse e alhear a respectiva parte ideal, ou gravá-la” (CC, art. 1.314,
caput).

Uso abusivo – Está correto?


1. Para Domingos Paschoal Cegalla, “não se deve juntar adjetivo a
substantivo que têm o mesmo radical” (como é o caso de uso e abuso).
2. Assim, “em vez de uso abusivo, diga-se ou escreva-se: uso excessivo ou
uso imoderado. Ou ainda: o recurso abusivo, o abuso” (CEGALLA,
1999, p. 405).
Uso de maiúsculas
Ver Maiúsculas (P. 455).

Uso do infinitivo
1. De acordo com Said Ali, a escolha da forma infinitiva depende de
cogitarmos somente da ação ou do intuito ou da necessidade de pormos
em evidência o agente da ação: no primeiro caso, preferimos o infinitivo
não flexionado; no segundo, o flexionado (ALI apud CUNHA, 1970, p.
230).
2. Em lição similar, para Hêndricas Nadólskis e Outra, “muitas vezes, a
opção entre a forma flexionada ou não flexionada é estilística e não
gramatical. Quando mais importa a ação, prefere-se a forma não
flexionada; quando se realça o agente da ação, usa-se a forma
flexionada” (1998, p. 125).
3. Celso Cunha (1970, p. 230), que cita o primeiro autor, em
complementação, diz tratar-se, em verdade, de um emprego seletivo,
mais do terreno da Estilística do que, propriamente, da Gramática.
4. Com a atenção voltada para tal advertência, parece mais acertado falar
não de regras, mas de tendências que se observam no emprego de uma e
de outra forma do infinitivo, muito embora, em determinadas situações,
haja proibição ou obrigatoriedade de determinada construção.
5. Com essas premissas, passa-se às ponderações seguintes.
6. Emprega-se o infinitivo impessoal nas locuções verbais, e nelas “não é
lícito flexionar o infinitivo” (MACHADO FILHO, 1969b, p. 705). Exs.:
a) “Os magistrados não podem fazer sozinhos o trabalho de administrar
a justiça” (correto); b) “Os magistrados não podem fazerem sozinhos o
trabalho de administrar a justiça” (errado).
7. Erro muito comum é a utilização do infinitivo flexionado nesses casos,
sobretudo quando, entre o verbo auxiliar e o verbo principal, existem
outras palavras. Exs.: a) “Os magistrados não podem, sozinhos, sem a
participação de todos os segmentos envolvidos, fazerem o trabalho de
administrar a justiça” (errado); b) “Os magistrados não podem,
sozinhos, sem a participação de todos os segmentos envolvidos, fazer o
trabalho de administrar a justiça” (correto).
8. Cândido de Figueiredo (1941, p. 168), exatamente a esse respeito,
lembra o seguinte exemplo, encontrado “num livro moderno, premiado
oficialmente”: “Podem entretanto esses serviços serem
estabelecidos…”; e complementa: “Podem serem… não é linguagem de
cá”. Nem de cá, nem de lá, nem de lugar algum.
9. Reitere-se que, nesse caso, quando os verbos componentes da locução
estão próximos e o auxiliar é normalmente flexionado, é menos
corriqueiro o equívoco de flexão, sendo, assim, incomum um erro como
“As certidões deverão acompanharem o traslado da escritura”.
10. Todavia, quando os verbos da locução se distanciam, a possibilidade de
erro se acentua intensamente, como se dá no seguinte emprego
equivocado, modelo de outros tantos: “As certidões deverão, sob pena
de invalidade do ato e impedimento para o registro, acompanharem o
traslado da escritura” (corrija-se para: deverão… acompanhar).
11. Também se acentua grandemente a possibilidade de erro quando, na
locução verbal, o auxiliar se apresenta em forma invariável (como um
gerúndio, por exemplo).
12. Nesse campo, aliás, até dispositivos de lei acabam resvalando para o
abismo dos equívocos, como se vê no seguinte caso: “O tabelião fica
desobrigado de manter, em cartório, o original ou cópias autenticadas
das certidões mencionadas nos incisos III e IV, do art. 1º, desde que
transcreva na escritura pública os elementos necessários à sua
identificação, devendo, neste caso, as certidões acompanharem o
traslado da escritura” (art. 2º do Decreto 93.240, de 9/11/86, que
regulamentou a Lei 7.433, de 18/12/85, que dispôs sobre os requisitos
para lavratura de escrituras públicas).
13. Um simples exercício de junção dos termos da locução verbal revela a
necessidade de correção: … devendo acompanhar… as certidões o
traslado da escritura.
14. Também se emprega o infinitivo impessoal, se o sujeito do infinitivo é
pronome oblíquo átono. Ex.: “Deixei-os sair”.
15. De igual modo se aplica o infinitivo impessoal, se o infinitivo não se
refere a sujeito específico. Ex.: “Navegar é preciso”.
16. Por fim, usa-se o infinitivo impessoal, se tal infinitivo funciona como
complemento de adjetivo. Ex.: “Ordens difíceis de obedecer”.
17. Já o infinitivo pessoal é usado, se o infinitivo tem sujeito diferente do
sujeito da outra oração. Ex.: “O magistrado repreendeu os patronos,
por não procederem com urbanidade na audiência”. Essa, aliás, é a
velha regra lembrada por Rui Barbosa (1949, p. 5), formulada de há
muito por Jerônimo Soares Barbosa: “A língua portuguesa usa do
infinito pessoal, quando o sujeito do verbo infinito é diferente do do
verbo finito, que determina a linguagem infinita”.
18. Também se emprega o infinitivo pessoal como recurso para
indeterminar o sujeito. Ex.: “Ouvi falarem inverdades por aí”.
19. Silveira Bueno (1938, p. 96-100), com supedâneo em lição dada por
Soares Barbosa, resume algumas regras para o uso do infinitivo, quer
pessoal, quer impessoal. a) “Quando na frase o verbo principal e o
verbo infinito tiverem o mesmo sujeito, o infinitivo deve ser
impessoal”. Ex.: “Queremos ser felizes”. b) “Quando os dois verbos
possuem sujeitos diferentes, usa-se o modo pessoal”. Ex.: “Napoleão
viu caírem as armas das mãos de seus soldados”. c) Neste último caso,
porém, “quando a frase do infinito serve de objeto direto ao verbo
principal, podemos empregar o infinito impessoal ainda que ambos
tenham sujeitos diferentes”, opção essa que fica à escolha do usuário.
Ex.: “Napoleão viu cair as armas das mãos de seus soldados”.
20. Vale a pena também relembrar uma primeira regra de Soares Barbosa,
abrangente de elevado número de casos: “Usa-se o infinito pessoal
quando tem ele sujeito próprio, diverso do de seu verbo regente; e o
impessoal, quando os sujeitos são idênticos” (BARBOSA apud
PEREIRA, 1924, p. 338-9); em complementação do resumo, traga-se
uma segunda regra de Frederico Diez: “Só se emprega o infinito
pessoal quando é possível ser substituído por um modo finito, e, por
consequência, pode ele subtrair-se à relação de dependência que o
prende ao verbo principal” (DIEZ apud PEREIRA, 1924, p. 338-9).
21. Ensina Artur de Almeida Torres (1966, p. 251-2) que “o infinitivo
poderá variar ou não, a critério da eufonia, se vier precedido das
preposições sem, de, a, para ou em”. Exs.: a) “Vamos com ele, sem nos
apartar um ponto” (Padre Antônio Vieira); b) “… os levavam à pia
batismal sem crerem no batismo” (Alexandre Herculano); c)
“Careciam de obstar a que se escrevesse o que faltava do livro”
(Alexandre Herculano); d) “Os manuscritos de Silvestre careciam de
serem adulterados” (Camilo Castelo Branco); e) “Obrigá-los a voltar o
rosto contra os árabes” (Alexandre Herculano); f) “… obrigava a
trabalharem gratuitamente” (Alexandre Herculano); g) “… fanatizados
que aparecem sempre para justificar o bom quilate da novidade”
(Camilo Castelo Branco); h) “… tantos que nasceram para viverem
uma vida toda material” (Alexandre Herculano).
22. Resguardados determinados parâmetros mínimos de correção e de bom
senso, vale trazer à colação a frase de José Oiticica, de que Aires da
Mata Machado Filho lamentou não ter sido o autor, restando-lhe
apenas a satisfação de repetir: “Mandem os gramáticos às favas e
empreguem o infinitivo à vontade” (1969f, p. 324).
23. Oportuno é refletir sobre o fato de que, após indicar alguns caminhos
para o emprego de tal forma verbal, Júlio Nogueira assim conclui sua
lição a respeito: “Além das sumárias indicações que aí ficam, difícil
será estabelecer regras seguras. É este um dos assuntos que têm
dividido os competentes na matéria, dando lugar a fortes dissídios. Em
alguns casos a preferência entre a forma invariável e a variável é
apenas de intuição natural, por eufonia, orientação perigosa, pois o que
a uns parece agradável ao ouvido, a outros soa mal. Nisto, como no
mais, os clássicos não são acordes, nem podem, pela prática
generalizada, servir de modelo” (1939, p. 219-20).
24. E se remate com a observação de Pasquale Cipro Neto e Ulisses
Infante (1999, p. 491) de que “o infinitivo constitui um dos casos mais
discutidos da língua portuguesa”, e “estabelecer regras para o uso de
sua forma flexionada, por exemplo, é tarefa difícil”, e, “em muitos
casos, a opção é meramente estilística”.
25. Feitas essas considerações, vejam-se os seguintes exemplos: a) “Vi dois
pássaros voar” (correto – ver item 19, parte final); b) “Vi dois pássaros
voarem” (correto – ver item 19, parte intermediária); c) “Chamei duas
pessoas para analisar o projeto” (correto – ver item 21); d) “Chamei
duas pessoas para analisarem o projeto” (correto – ver item 21).
Ver A fazer – Está correto? (P. 91), Agradável de se ler ou Agradável de
ler? (P. 99), Infinitivo na voz passiva (P. 415), Para eu ler ou Para mim ler?
(P. 545) e Para lhe enviar ou Para enviar-lhe? (P. 547)

Uso dos tempos verbais


1. Um leitor indaga qual a forma correta de uso dos verbos em dois
exemplos, os quais, para o que aqui interessa, podem ser resumidos do
seguinte modo: a) “O valor do pagamento do ágio será destinado à
conta de reserva de capital da Companhia, reserva essa que terá/teria
por finalidade o pagamento de dividendos a ações preferenciais,
consoante dispõe o inciso V do art. 200 da Lei 6.404/76”; b) “Os
acionistas renunciam ao exercício do direito de preferência que
têm/teriam quanto à subscrição das novas ações, direito esse previsto no
inciso IV do art. 109 e art. 171, ambos da Lei 6.404/76”.
2. Com relação ao primeiro exemplo, observa-se, no plano gramatical, que
o futuro do pretérito normalmente é empregado para denotar uma ação
que ainda se vai realizar, mas que se põe na dependência de uma
condição. Ex.: “Eu faria o trabalho, se não estivesse tão cansado”.
3. Já o futuro do presente denota uma ação que também se vai realizar no
futuro, mas que normalmente não se põe na dependência de condição
alguma. Ex.: “A morte virá para todos”.
4. No caso da consulta, a finalidade futura da provisão do valor referido é
formar a reserva de capital para pagar dividendos e ações preferenciais, e
não se põe isso na dependência de condição alguma. Muito ao contrário,
a certeza da finalidade e da provisão é patente e até mesmo se confirma
pela previsão expressa da disposição legal referida no texto.
5. É de fácil percepção, aliás, que dizer teria – em vez de terá – pode
sugerir apenas uma possibilidade de ter, não uma certeza de ter.
6. Veja-se, por conseguinte, o modo correto de dizer a primeira frase da
consulta: “O valor do pagamento do ágio será destinado à conta de
reserva de capital da Companhia, reserva essa que terá por finalidade o
pagamento de dividendos a ações preferenciais, consoante dispõe o
inciso V do art. 200 da Lei 6.404/76”.
7. Em seguida, com relação ao segundo caso, observa-se, quanto à
constatação de fato, que sua diferença gramatical para o exemplo
anterior é que têm é presente do indicativo, e não futuro do presente.
Todavia, no plano técnico, reitera-se que o presente do indicativo tem a
mesma característica do futuro do presente, uma vez que denota algo que
se realiza agora, sem se submeter à dependência de condição alguma (ao
contrário de teriam, que é futuro do pretérito).
8. Em outros dizeres, no caso, os acionistas estão renunciando,
presentemente, ao incondicionado direito à subscrição das novas ações.
Dizer teriam – em vez de têm – como é de fácil percepção, pode sugerir,
como no caso do item primeiro da consulta, apenas uma possibilidade de
ter, não uma certeza de ter.
9. O modo correto de dizer a segunda frase, portanto, é: “Os acionistas
renunciam ao exercício do direito de preferência que têm quanto à
subscrição das novas ações, direito esse previsto no inciso IV do art.
109 e art. 171, ambos da Lei 6.404/76”.

Usucapião – Masculino ou feminino?


1. Em Direito, usucapião é a prescrição aquisitiva, o modo de adquirir a
propriedade móvel ou imóvel pela posse pacífica e ininterrupta da coisa,
com ânimo de proprietário, durante certo tempo. Ex.: “Na conformidade
com o art. 530, III, do Código Civil de 1916, um dos modos de se
adquirir a propriedade imóvel era o usucapião”.
2. Anote-se, por um lado, que a forma usocapião, empregada por Clóvis
Beviláqua, muito embora até possa ser tida como mais consentânea com
a índole da língua na época, não encontra registro no Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras,
que é o veículo oficial ordenador do modo de grafar as palavras em
nosso idioma.
3. Outro problema interessante respeita a saber qual o gênero da palavra, se
masculino, se feminino, ou mesmo se optativo o emprego.
4. Numa primeira posição, situam-se aqueles que, a exemplo da
Constituição Federal de 1988, preferem não usar especificador algum
que evidencie o gênero escolhido para o vocábulo, como se dá nos arts.
183, § 3º, e 191, parágrafo único, ambos com idêntica redação: “Os
imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião”.
5. Numa segunda posição, há os que, como Cândido de Oliveira, definem a
preferência pela inserção de tal palavra no rol dos “substantivos que são
só masculinos” (1961, p. 125).
6. Cândido Jucá Filho (1963, p. 642), firmando pé nessa posição, traz em
abono a abalizada autoridade do padre Manuel Bernardes: “Proíbe o
direito que o usucapião, ou prescrição, valha por razão de antiguidade
da posse, se é de cousa sagrada”.
7. E José de Nicola e Ernani Terra (2000, p. 220) resumem o pensamento
dos defensores dessa posição: “trata-se de um substantivo de gênero
vacilante (a ou o usucapião)”, mas “na linguagem atual, tem sido
empregado preferencialmente no masculino”.
8. Numa terceira vertente, na esteira de outros dicionaristas e autores, há os
que, como Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (s/d, p. 1.434), lhe
atribuem com exclusividade o gênero feminino.
9. Assim também Napoleão Mendes de Almeida (1981, p. 325), com
ponderosos argumentos etimológicos, pugna pela atribuição de gênero
feminino, observando, todavia, não faltarem dicionaristas que confiram à
palavra os dois gêneros.
10. Sem quaisquer comentários adicionais, Luiz Antônio Sacconi (1979, p.
31), de igual modo, insere usucapião entre as palavras femininas.
11. Transcrevendo lição do monografista Nélson Vaz, assim também se
pronuncia Eliasar Rosa (1993, p. 139): “Feminina em fonte nativa,
feminina nos idiomas que a adotaram, não há motivo plausível para
que essa relíquia do direito romano deserte de sua primitiva condição,
transmigrando para o gênero masculino apenas em Português”.
12. Por fim, numa quarta posição, mais liberal, existem aqueles, como
Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 405-6), para os quais usucapião é
“palavra feminina em latim, mas usada geralmente no masculino, em
português”, acrescentando tal autor que “os lexicógrafos a registram
ora como feminina, ora como masculina”.
13. Em interessante levantamento, Antonio Henriques (1999, p. 197-8)
anota que alguns dicionaristas e gramáticos lhe conferem o gênero
feminino (Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, Antenor Nascentes,
Napoleão Mendes de Almeida, Dicionário Jurídico da Academia
Brasileira de Letras Jurídicas), enquanto outros, o gênero masculino
(De Plácido e Silva, António Moraes de Silva, Larousse, Laudelino
Freire, Cândido Jucá Filho) e terceiros, por fim, ambos os gêneros
(Caldas Aulete, Mirador); entre os autores de Direito, também alguns
optam pelo feminino (Pontes de Miranda, Eliasar Rosa e Benedito
Silvério Ribeiro), enquanto outros, pelo masculino (Washington de
Barros Monteiro, Rafael Augusto Mendonça de Lima, José Cretella
Júnior, Diocleciano Torrieri Guimarães); nos próprios textos legais, às
vezes se tem o vocábulo como feminino (Código de Processo Civil e
Lei 6.969, de 10/12/81, nos arts. 2º, 3º, 4º, § 2º, 7º), às vezes, como
masculino (Código Civil de 1916 no art. 533, e Decreto 8.740, de
17/3/82, nos arts. 1º e 3º).
14. Um levantamento de nossas leis evidencia que o gênero masculino
constava do Projeto de Código Civil (arts. 555 e seguintes) e foi assim
mantido, sem comentário algum ou observação de Rui Barbosa (1949,
p. 197).
15. Por consequência, o Código Civil de 1916, em seus arts. 530, III,
550/553, 618/619 e 698, atribuiu-lhe com exclusividade o gênero
masculino, o que mereceu de Napoleão Mendes de Almeida, defensor
do gênero feminino, em mesma obra e local já referidos, o comentário
de que teria ocorrido distração de nossos codificadores, entre eles Rui
Barbosa.
16. Outros textos legais às vezes empregam o vocábulo no masculino,
como os arts. 1º e 3º do Decreto 87.040, de 17/3/82; às vezes, usa-se no
feminino, como o fizeram os arts. 2º, 3º, 4º, § 2º, e 7º da Lei 6.969, de
10/12/81.
17. Embora o Código Civil de 1916 tenha preferido o masculino, o Código
Civil de 2002 fez evidente opção pelo emprego do feminino: a) Da
usucapião (título que especifica a Seção I do Capítulo II e antecede o
art. 1.238); b) “… as quais também se aplicam à usucapião”
(CC/2002, art. 1.244); c) “Da usucapião (título que especifica a Seção
I do Capítulo III e antecede o art. 1.260); d) “Aplica-se à usucapião das
coisas móveis do disposto…” (CC/2002, art. 1.262); e) “… a sentença
que julgar consumada a usucapião” (CC/2002, art. 1.379, caput); f)
“… o prazo da usucapião será de vinte anos” (CC/2002, art. 1.379,
parágrafo único).
18. À vista dessa variedade de posições e fundada divergência entre os
doutos, quer autores, quer textos legais e jurídicos, lembram Antonio
Henriques e Maria Margarida de Andrade (1999, p. 145) o princípio de
que, na dúvida, opta-se pela liberdade de uso, muito embora ressalvem
que, em termos de etimologia, “se deva preferir o feminino já que a
forma latina (capio, capionis) é feminina”.
19. Espancando toda e qualquer dúvida acerca das possibilidades de seu
uso, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia
Brasileira de Letras, que é o veículo oficial indicador das palavras
existentes em nosso idioma bem como seu regime de gênero, número,
etc., registra ambos os gêneros (2009, p. 829), razão pela qual está
oficialmente autorizado, por conseguinte, seu normal emprego quer no
masculino, quer no feminino.
20. Acresça-se, por fim, que, tradicionalmente, o mais comum entre os
doutrinadores, civilistas e no próprio meio forense é seu uso no
masculino; nos últimos anos, todavia, tem aumentado o número deles
que passaram a empregar o vocábulo no feminino.

Usucapir
1. É verbo que significa adquirir o domínio de um bem móvel ou imóvel
por usucapião, ou receber por prescrição aquisitiva. Ex.: “Na
conformidade com o art. 183, § 3º, da Constituição Federal de 1988,
não se podem usucapir imóveis públicos”.
2. Está regularmente registrado pelo Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, órgão incumbido oficialmente de determinar a existência
dos vocábulos em nosso idioma, além de sua grafia oficial (ACADEMIA
BRASILEIRA DE LETRAS, 2009, p. 829).
3. Quanto à conjugação verbal, ver Abolir.
4. Quanto à regência verbal, Celso Pedro Luft (1999, p. 523) preconiza a
possibilidade de sua construção como intransitivo ou transitivo direto: a)
“Vinte anos são suficientes para usucapir”; b) “Vinte anos são
suficientes para usucapir um imóvel”.
5. Francisco Fernandes (1971, p. 589) também comunga do mesmo ensino:
a) “Tais cousas nem prescrevem, nem usucapem”; b) “Usucapir um
prédio”.
6. Não foram encontrados registros de seu emprego em textos de lei, e o
Código Civil de 1916, nos artigos 550 e 618, prefere empregar, em seu
lugar, a expressão adquirir o domínio. A Constituição Federal de 1988,
por seu lado, também não usa o referido verbo, e sim a expressão
“imóveis adquiridos por usucapião” (arts. 183, § 3º, e 191, parágrafo
único).

Usufruir – Como conjugar?


Ver Fruir – Como conjugar? (P. 364)

Usufruir os bens ou Usufruir dos bens?


1. Com o significado de fruir pelo uso, de tirar utilidades pelo uso,
Francisco Fernandes (1971, p. 589), no que concerne à regência verbal,
admite a possibilidade de construção do verbo usufruir com objeto direto
(que pode aparecer como sujeito na voz passiva). Ex.: “Nem
companheiro de casa era dos amigos de Otaviano e estava no direito de
usufruir sua opulência literária” (Porto Carreiro).
2. Nesse mesmo sentido, com especificidade para o campo do Direito,
Adalberto J. Kaspary ensina com propriedade: “embora seja registrada
por alguns gramáticos e dicionaristas, não encontramos nos textos de lei
pesquisados, exemplos da regência usufruir de” (1996, p. 352).
3. Lembrando, todavia, lição de Cândido Jucá Filho, Celso Pedro Luft
(1999, p. 523) observa a possibilidade facultativa de seu emprego com
objeto indireto introduzido pela preposição de. Ex.: “Usufruiu dos
rendimentos”.
4. Domingos Paschoal Cegalla, por seu lado, pondera que “a regência
indireta, usufruir de alguma coisa, embora censurada por alguns
gramáticos, mas registrada em dicionários modernos, vem se impondo
na língua de hoje: ‘Usufruímos dos benefícios da civilização’” (1999, p.
406).
5. Nos textos de lei pesquisados, foram encontrados, por um lado,
exemplos de sintaxe com objeto direto. Exs.: a) “O usufrutuário pode
usufruir … o prédio…” (CC/1916, art. 724); b) “O usufrutuário de
ações ou de partes sociais tem direito: … c) a usufruir os valores que, no
ato de liquidação da sociedade ou da quota, caibam à parte social sobre
que incide o usufruto” (CC português, art. 1.467º, 1, c).
6. Também foi encontrado um exemplo de sintaxe com emprego da
preposição de no art. 29, § 2º, da Lei 5.764, de 16/1/71, que define a
Política Nacional de Cooperativismo, institui o regime jurídico das
sociedades cooperativas e dá outras providências. Em tal dispositivo,
registra-se que, para acudir às despesas da sociedade, a cooperativa pode
ou proceder a rateio diretamente proporcional à fruição dos serviços (art.
80, caput), ou estabelecer rateio igual das despesas gerais da sociedade
entre todos os associados, “quer tenham ou não, no ano, usufruído dos
serviços por ela prestados” (art. 80, I).
7. Em resumo, quanto à regência verbal, embora divirjam os gramáticos
sobre as possibilidades de construção para o complemento desse verbo, o
melhor parece ser adotar a maior abrangência da discussão e acatar
ambas as possibilidades aventadas pelos estudiosos: a) “Ele usufruíra os
benefícios da civilização” (transitivo direto); b) “Ele usufruíra dos
benefícios da civilização” (transitivo indireto).

Utilizar
1. Para bem guardar a escrita de tal vocábulo, duas regras de ortografia
devem ser consideradas: a) Se se tem de acrescentar a um radical o
sufixo izar inteiro para formar um verbo, grafa-se com z: fiscal, útil
(primitivas) fazem fiscalizar, utilizar (derivadas). b) No caso da
observação anterior, porém, se já existe s no radical, é ele aproveitado
para formar o verbo: análise, pesquisa, catálise (primitivas) fazem
analisar, pesquisar, catalisar.
2. Quanto à regência verbal, no sentido de empregar, fazer uso, Francisco
Fernandes apenas traz exemplos de construção como transitivo direto:
“Já não podemos utilizar o imperfeito de ‘pôr’ e seus compostos?” (Rui
Barbosa).
3. Para tal autor (FERNANDES, 1971, p. 589), como pronominal e no
sentido de servir-se, de auferir proveito, de tirar vantagem, vem ele
construído com objeto indireto principiado pela preposição de: “Utilizar-
se da ignorância alheia” (Cândido de Figueiredo).
4. Tal entendimento é partilhado por Celso Pedro Luft (1999, p. 523), que o
faz corresponder a uma de duas sintaxes: utilizá-lo ou utilizar-se de.
Ver Ortografia (P. 533) e Regras de ortografia (P. 652).
V
Vai fazer dois meses ou Vão fazer dois meses?
Ver Fazer (P. 352).

Vai indo – Está correto?


Ver Vir vindo – Está correto? (P. 781)

Vanitas vanitatis ou Vanitas vanitatem?


Ver Citar latim é perigoso (P. 183).

Vantajosidade – Existe?
1. Um leitor indaga se existe em nosso idioma o vocábulo vantajosidade, o
qual, segundo ele, é de uso comum no Direito Administrativo, quando se
quer indicar uma vantagem obtida pela Administração Pública em
determinada contratação.
2. Ora, em salutar raciocínio, que sempre é bom repetir para acostumar o
leitor a tanto, lembra-se que, quando se quer saber se uma palavra existe
ou não em português, deve-se tomar por premissa o fato de que a
autoridade para listar oficialmente os vocábulos pertencentes ao nosso
idioma é a Academia Brasileira de Letras.
3. E essa autoridade, a ABL a exerce por via da edição do Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa.
4. Ora, uma simples consulta ao VOLP mostra que nele não se registra o
substantivo vantajosidade, de modo que a forçosa conclusão a ser
extraída é a de que ele não existe em nosso léxico.
5. Em tais circunstâncias, se se quer usar um substantivo com esse
significado, a solução é escolher um sinônimo entre as diversas palavras
com essa acepção em português: benefício, ganho, proveito ou
vantagem.
6. Usar, porém, vocábulo inexistente, a pretexto de neologismo, não
constitui alternativa dotada de validade, que esteja ao alcance do usuário
do idioma.
7. Parece oportuno observar, a esta altura, que, nos meios jurídicos e
forenses, há uma equivocada tendência de alguns, com pretensão de uma
jamais alcançada erudição, para empregar vocábulos arrevesados e
barrocos, muitas vezes inexistentes, como esse que agora é trazido para
análise.
8. O máximo que conseguem, todavia, é um texto de difícil leitura e
compreensão, muito distante do ideal que só a simplicidade consegue
alcançar.

Varão – Qual o feminino?


1. Muito embora os dicionários registrem varoa e virago como seus
femininos, é preciso que se atente a seu uso nos casos concretos.
2. Varoa é feminino normal, regularmente formado no vernáculo, muito
embora de origem popular (como ermitão/ermitoa, leitão/leitoa,
patrão/patroa); seu uso é legítimo e adequado, do que é exemplo o fato
de que Gladstone Chaves de Melo, sem outros comentários, dá o
vocábulo por feminino de varão (1970, p. 180). Ex.: “Na partilha, ao
varão tocará o bem imóvel, enquanto à varoa tocarão todos os bens
móveis e semoventes”.
3. De igual modo, sem quaisquer comentários adicionais, Carlos Góis e
Herbert Palhano (1963, p. 51) dão para varão o feminino varoa.
4. Já virago, desde sua origem no latim, traz em si a ideia de mulher forte,
destemida, de modos masculinizados; desse modo, por seu caráter
adicionalmente pejorativo, é forma que se deve evitar.
5. Assim, aliás, de Domingos Paschoal Cegalla vem definitiva
recomendação para que se evite dar tal vocábulo como feminino de
varão: “junta-se, geralmente, a virago sentido pejorativo” (1999, p. 413).
6. De Luciano Correia da Silva não é diversa a lição: “Tropeçamos
diariamente com essas palavras na linguagem do foro, delas não se
eximindo juízes, promotores, advogados e escrivães. Aprenderam nas
gramáticas, ou na escola, que o feminino de varão é virago, ou, forma
popular, varoa. Tudo isso está muito bem, em princípio, na repetição
comodista de muitos gramáticos despreocupados com a língua viva,
onde se deve buscar o sentido real das palavras e locuções. Pois o uso de
virago, como sinônimo de mulher, cônjuge do sexo feminino, se não
fosse um erro, seria, no mínimo, uma impropriedade reprochável, ou
franca revelação de mau gosto. Ao que consta, virago tem sentido
pejorativo, exatamente como encontramos em Os Sertões, de Euclides da
Cunha, com a significação de marimacho, machoa, mulher-homem…
Aurélio não registra o verbete senão com esse significado, remetendo ao
sinônimo machão. Varoa também não é coisa que se diga, pelo menos
sem o mesmo ranço de vulgaridade. Há outras formas, dignas de
utilizadas: o cônjuge mulher, ou simplesmente a requerente, a
suplicante, a mulher” (1991, p. 167-8).
7. Geraldo Amaral Arruda (1997, p. 9), com a experiência de longos anos
na vida forense e na Magistratura, observa que “há também
impropriedade ou, pelo menos, falta de delicadeza e respeito à mulher
chamá-la de virago ou varoa, palavras cuja conotação pejorativa os
dicionários assinalam” (mulher masculinizada).
8. Registre-se, todavia, que Luiz Antônio Sacconi dá virago por feminino
normal, realçando que “varoa é arcaísmo” (1979, p. 32).
9. E Cândido de Oliveira (1961, p. 130), sem comentários outros, confere
ao vocábulo varão os femininos varoa, virago, matrona.
10. Não deixa de ter essa acepção de mulher forte e com características de
homem, de mulher varonil, de mulher guerreira o seguinte excerto de
Eça de Queirós: “Não digo lá uma dessas viragos, uma Judite, uma
Dalila. Mas um desses lírios poéticos da Bíblia”.
11. O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia
Brasileira de Letras, órgão oficialmente incumbido de determinar a
existência dos vocábulos em nosso idioma registra regularmente ambas
as formas: varoa e virago. (VOLP, 2009, p. 834 e 842)
Ver Cônjuge – Comum de dois ou Sobrecomum? (P. 218)
Vários de nós – sabem ou sabemos?
Ver Alguns de nós – sabem ou sabemos? (P. 104)

Vários de vós – sabem ou sabeis?


Ver Alguns de nós – sabem ou sabemos? (P. 104)

Varoa ou Virago?
Ver Varão – Qual o feminino? (P. 757)

Vêem ou Veem?
Ver Crêem ou Creem? (P. 240)

Vem vindo – Está correto?


Ver Vir vindo – Está correto? (P. 781)

Venda a vista ou Venda à vista?


Ver Crase para evitar ambiguidade (P. 239).

Venerando
1. Do latim venerandus, é o mesmo que venerável, e, de acordo com De
Plácido e Silva, “refere-se ao que é respeitado, deve ser acatado ou
merece ser venerado” (1989, p. 479).
2. Trata-se de adjetivo que, por respeito, vem, com frequência, na
linguagem forense, acoplado aos substantivos acórdão e aresto, quer por
extenso (venerando acórdão, venerando aresto), quer na forma
abreviada (v. acórdão, v. aresto).
3. Apesar da oposição de alguns no que concerne a sua existência e à
possibilidade de seu uso, é de se anotar que esse vocábulo vem
registrado no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da
Academia Brasileira de Letras, que é o veículo oficial indicador das
palavras existentes em nosso idioma, autorizando-se, por conseguinte,
seu normal emprego (2009, p. 836).
Ver Adjetivação desnecessária (P. 80) e Alimentando – Existe? (P. 105)

Venia concessa
Ver Adjetivação desnecessária (P. 80).

Venia concessa – com hífen ou sem?


Ver Post mortem – Com hífen ou sem? (P. 585)

Venia permissa
Ver Adjetivação desnecessária (P. 80).

Verbo e pronome átono – Como combinar?


1. Um leitor refere que, ao estudar pelo Acordo Ortográfico de 2008,
entendeu a questão do hífen na nova ortografia, mas continuou com
dúvida sobre a expressão “aplicasse-lhe”, pois havia entendido que
apenas haveria hífen, se a segunda palavra fosse iniciada com h ou vogal
repetida, mas o exemplo mencionado não se amolda a nenhum dos dois
casos. E outro pergunta qual a forma correta: intime nos ou intimem nos.
2. Em verdade, o que o primeiro leitor estudou foi o hífen unindo um
prefixo ou um falso prefixo e um radical, e o objeto de sua dúvida não se
encaixa em nenhuma das categorias que ele próprio referiu, já que o
exemplo que trouxe foi um verbo seguido de pronome pessoal oblíquo
átono, de cuja junção se podem originar associações que vale a pena
observar na sequência. A indagação do segundo leitor também reside na
mesma área.
3. Assim, se o verbo termina por vogal e é seguido de o, a, os, as, a junção
ocorre sem alteração alguma: entregou + o = entregou-o; dou + as =
dou-as.
4. Se o verbo vem seguido de vos ou lhes, a junção também se faz sem
alteração alguma: entregamos + vos = entregamos-vos; entregamos +
lhes = entregamos-lhes.
5. Se a primeira pessoa do plural vem seguida do pronome nos, o verbo
perde o s final: entregamos + nos = entregamo-nos.
6. Bem nessa esteira, lembra Mário Barreto que, nesses casos, o correto “é
suprimir-se o s final da primeira pessoa do plural quando o pronome nos
vem após o verbo” (1954b, p. 141).
7. Na lição de Domingos Paschoal Cegalla, em casos dessa natureza, “para
atender à eufonia, suprime-se o s final da primeira pessoa do plural dos
verbos, quando seguida do pronome nos” (1999, p. 139).
8. Se o verbo termina por m ou ditongo nasal e é seguido de o, a, os, as, a
forma verbal permanece inalterada, e o pronome é precedido de um n:
entregaram + a = entregaram-na; dão + o = dão-no.
9. Se o verbo termina por r, s ou z e é seguido de o, a, os, as, aquelas
consoantes são eliminadas, e os pronomes passam a ter as formas lo, la,
los, las: encontrar + o = encontrá-lo; encontrar + a + ei = encontrá-la-
ei; procuras + os = procura-los; fiz + as = fi-las.
10. Nos dizeres de Artur de Almeida Torres, “nas formas verbais
terminadas em r, s ou z, seguidas do pronome oblíquo o, a, em sua
antiga representação lo, la, aqueles fonemas assimilaram-se ao l,
desaparecendo depois: mandar-lo, mandallo, mandá-lo; levastes-lo,
lesvastello, levaste-lo; fez-lo, fello, fê-lo” (1966, p. 15).
11. Cândido Jucá Filho (1954, p. 31), nesse aspecto, lembra que Filinto
Elísio, “censurando os críticos ignorantes, incide nesta erronia
grosseira: ‘E chamais-los puristas e censores?’ (isto é, ‘chamai-los’)”.
12. Se o verbo termina por ns, segue-se a observação anterior, apenas com
a transformação do n remanescente em m: tu manténs + o = tu
mantém-lo; tu tens + o = tu tem-lo (RIBEIRO, Júlio, 1908, p. 257).
13. De Édison de Oliveira é interessante observação sobre o assunto, muito
embora em nada altere a realidade gramatical nem institua permissão
para o cometimento dos equívocos em norma culta: “É claro que a
maioria dessas combinações, embora rigorosamente corretas de acordo
com a gramática, são frequentemente evitadas na linguagem cotidiana,
e até na linguagem literária, por estranhas ou mal sonoras, sendo fácil
transmitir a mesma ideia através de outras construções”.
14. E, “para evidenciar o caráter excêntrico que a forma verbal assume em
tais circunstâncias”, exemplifica tal autor com a conjugação completa
de um tempo verbal seguido de pronome: quero + o = quero-o; queres
+ o = quere-lo; quer + o = qué-lo; queremos + o = queremo-lo; quereis
+ o = querei-lo; querem + o = querem-no (OLIVEIRA, E., s/d, p. 137).
15. De modo prático, tem-se a observar que a dúvida do primeiro leitor se
resolve conforme o seguinte raciocínio: como o pronome é lhe, sua
junção se faz ao verbo sem alteração alguma (aplicasse-lhe).
16. Já a dúvida do segundo leitor, à falta de um contexto específico,
permite resposta mais diversificada: a) se a junção for de intime + os, o
resultado será intime-os; b) se for intime + nos, será intime-nos; c) se
intimem + os, o resultado será intimem-nos; d) se intimem + nos, será
também intimem-nos. E o fato de haver formas resultantes iguais não
altera o raciocínio que se deve realizar em tais circunstâncias.
17. Importa acrescentar, por fim, que o segundo leitor trouxe o pronome
em ênclise (após o verbo), mas apartado deste sem ser por intermédio
de hífen (“intime nos e intimem nos”). E se anota, desde logo, que é
muito comum esse equívoco, com o pronome em ênclise, mas sem sua
junção ao verbo por meio de hífen.
18. O certo, entretanto, é que há uma só regra a esse respeito: se o pronome
vem em ênclise ao verbo, sempre é obrigatória sua conexão por meio
de hífen. Corrija-se, portanto: “intime-nos e intimem-nos”, e não
“intime nos e intimem nos”.
Ver Mo – Está correto? (P. 476) e Pronome pessoal (P. 614).

Verbo intransitivo e Verbo transitivo


Ver Objeto direto preposicionado (P. 511).

Verbos abundantes
1. Verbos abundantes são aqueles com duas ou mais formas equivalentes,
ocorrendo com mais frequência tal situação no particípio passado.
Assim, por exemplo, aceitar apresenta aceitado e aceito como
particípios passados (e, para alguns, ainda aceite).
2. Muito embora seja mais comum a ocorrência desse fenômeno da
abundância no particípio passado, há algumas outras formas verbais
abundantes em outros tempos: a) haver na primeira pessoa do plural do
presente do indicativo (havemos ou hemos); b) comprazer em todo o
pretérito perfeito e tempos derivados (mais-que-perfeito, futuro do
subjuntivo e imperfeito do subjuntivo): comprazi, comprazeste,
comprazeu, etc., ou comprouve, comprouveste, comprouve, etc. (e,
assim, comprazera ou comprouvera…, comprazesse ou
comprouvesse…, comprazer ou comprouver…; c) construir na segunda
e terceira pessoas do singular e terceira pessoa do plural do presente do
indicativo: construis, construi, construem ou constróis, constrói,
constroem (e, pelo mesmo modelo, desconstruir, destruir, reconstruir);
d) entupir na segunda e terceira pessoas do singular e terceira pessoa do
plural do presente do indicativo (entupes, entupe, entupem ou entopes,
entope, entopem); e) ir na primeira pessoa do plural do presente do
indicativo (vamos ou imos); f) querer na terceira pessoa do singular do
presente do indicativo (ele quer ou ele quere – e, pelo mesmo modelo,
requerer); g) fazer na segunda pessoa do singular do imperativo
afirmativo (faze tu ou faz tu – e, pelo mesmo modelo, dizer, fazer, trazer
e traduzir).
3. No que se refere à abundância participial, é de se dizer que o particípio
normal, que segue as regras de derivação, é mais longo e chama-se
regular; o outro, irregular. Assim, entregado, benzido e extinguido são
particípios passados regulares; já entregue, bento e extinto são
particípios passados irregulares.
4. Primeira regra importante para escolher entre dois particípios de verbos
abundantes: com os verbos ter ou haver (formando tempos compostos na
voz ativa), usa-se normalmente o particípio passado regular. Exs.: a)
“Ele tinha acendido o fogo”; b) “Ele havia acendido o fogo”.
5. Segunda regra importante: já com o verbo ser (formando voz passiva) e
com o verbo estar, usa-se normalmente o particípio passado irregular.
Exs.: a) “O fogo fora aceso por ele”; b) “O fogo estava aceso”.
6. Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 76), por seu lado, observa que “em
alguns casos a língua moderna tem mudado essa regra, preferindo o uso
dos irregulares com ter e haver”, exemplificando com frito, ganho,
gasto, pago e salvo, com os quais tem havido completo desprezo dos
particípios passados regulares.
7. Terceira regra importante: nas orações reduzidas, o particípio utilizado
deverá ser obrigatoriamente o irregular. Exs.: a) “Entregue a
correspondência, o carteiro saiu” (e não entregada); b) “Bento o óleo, o
bispo encerrou a cerimônia” (e não benzido); c) “Extinto o processo sem
julgamento do mérito, não se produziu coisa julgada material” (e não
extinguido).
8. Anote-se a interessante observação de Otelo Reis no sentido de que o
verbo ser, como auxiliar temporal, ainda hoje é empregado “em verbos
que não admitem voz passiva: ‘Somos chegados’, ‘É chegado o
momento’, etc. Tais modos de dizer equivalem exatamente a
‘Chegamos’, ‘Chegou o momento’” (1971, p. 27).
9. Como regra normalmente estabelecida pela Gramática, os verbos pagar,
ganhar e gastar são usados só na forma irregular (pago, ganho, gasto)
com qualquer auxiliar. Exs.: a) “O réu tinha pago a pena”; b) “A pena
foi paga pelo réu”; c) “O réu tinha ganho indulto”; d) “O indulto foi
ganho pelo réu”; e) “O réu tinha gasto o produto do crime”; f) “O
produto do crime fora gasto pelo réu”.
10. Na lição de Eduardo Carlos Pereira (1924, p. 141), porém, por um lado,
os particípios irregulares pago, ganho e gasto “podem empregar-se na
voz ativa com os verbos ter e haver”; por outro lado, “muitas formas
regulares”, como, por exemplo, ganhado, gastado, “podem ser
empregadas na passiva com os verbos ser e estar”.
11. Observe-se, porém, que Cândido Jucá Filho, sem quaisquer explicações
adicionais, especifica indiferentemente os particípios ganho e ganhado
(1963, p. 322), gasto e gastado (1963, p. 324) e pago e pagado (1963,
p. 461), exemplificando em alguns casos: a) “O ladrão já tinha
ganhado o mato”; b) “Tínhamos ganhado bom dinheiro”; c) “Estas
duas têm pagado bem seu tributo à asneira” (Camilo Castelo Branco).
12. Atente-se a que chegar não faz chego, e sim chegado, no particípio
passado. Ex.: a) “O réu tinha chegado com atraso à audiência”
(correto); b) “O réu tinha chego com atraso à audiência” (errado).
13. Observe-se, por interessante, o aspecto de que, contrariamente aos
verbos abundantes (que têm duplicidade de formas), outros há que têm
particípios pertencentes a dois verbos: morto é particípio passado de
matar e de morrer; expulso é particípio passado de expelir e de
expulsar (GÓIS; PALHANO, 1963, p. 92).
14. Contrariamente ao que se entende por verbos abundantes, há verbos
aos quais faltam algumas pessoas, tempos ou modos, que precisam de
complementação de um sinônimo ou de giro equivalente: são os verbos
defectivos.
Ver Conjugação verbal (P. 217), Pagar (P. 541) e Pegar (P. 554).

Verbos anômalos
Ver Conjugação verbal (P. 217).

Verbos bitransitivos indiretos – O que são?


Ver Ingressar com ou Ingressar em? (P. 417)

Verbos com pronomes – Pode-se dispensar o se?


1. Um leitor observa que, nos jornais e na televisão, tem sido comum o
esquecimento do se em determinadas expressões: a) “O jogador
concentrou…”, em vez de “O jogador se concentrou…”; b) “O jogador
atirou no chão para cavar um pênalti”, em vez de “O jogador atirou-se
no chão para cavar um pênalti”. E pede que se teça algum comentário a
esse respeito.
2. Ora, de um exemplo como “O jogador concentrou seus esforços…”,
podem-se extrair as seguintes conclusões: a) o jogador é o sujeito; b)
concentrou é o verbo; c) seus esforços é o objeto direto.
3. Imagine-se, porém, que o jogador tenha ido para a concentração, junto
com os demais atletas, um ou dois dias antes de um jogo. Nesse caso, ele
levou a si próprio para a concentração. Então se haverá de dizer que “O
jogador concentrou-se no centro de treinamentos”.
4. Veja-se um segundo exemplo: “O jogador atirou a bola ao chão”. Dele,
de igual modo, podem-se fazer as seguintes ilações: a) o jogador é o
sujeito; b) atirou é o verbo; c) a bola é o objeto direto; d) ao chão é o
adjunto adverbial de lugar.
5. E também aqui se imagine que ele tenha lançado a si próprio ao chão.
Nesse caso, então, se haverá de dizer que “O jogador atirou-se ao chão”.
6. Esse se não pode ser esquecido nem dispensado em nenhum dos dois
casos, nem mesmo com a alegação de amor à brevidade, pois não é um
penduricalho que um usuário de gosto barroco tenha posto na frase, mas
é um termo essencial na estrutura sintática, que desempenha em ambos
os exemplos a função de objeto direto.
7. Ante essas ponderações confrontadas com os exemplos trazidos para
apreciação, só resta concordar com o leitor e lembrar que já houve dias
melhores para o vernáculo nos meios de comunicação.

Verbos com regências diversas


1. Não aceita a norma culta, como regra, que se dê um mesmo
complemento a verbos de regências diferentes (que pedem construções
ou preposições diferentes).
2. Assim, tecnicamente não se deve dizer “Li e gostei do livro”, ou “Assisti
e gostei do espetáculo”, ou “Fui e voltei de São Paulo no mesmo dia”,
ou “Entrei e saí da sala em poucos instantes”; as formas corretas são “Li
o livro e gostei dele”, “Assisti ao espetáculo e gostei dele”, “Fui a São
Paulo e voltei de lá no mesmo dia” e “Entrei na sala e saí dela em
poucos instantes”.
3. Em mesma esteira, veja-se a seguinte redação, encontrada com
frequência em acórdãos: “Por votação unânime, a Turma Julgadora
admitiu, conheceu e deu provimento ao recurso”. Ora, admite-se algo e
conhece-se algo (ou de algo), mas dá-se provimento a algo. Corrija-se,
portanto: “Por votação unânime, a Turma Julgadora admitiu e conheceu
o recurso, e a ele (ou lhe) deu provimento” (ou então: “Por votação
unânime, a Turma Julgadora admitiu o recurso, dele conheceu a ele (ou
lhe) deu provimento”.
4. São exemplos assim encontrados nos clássicos: a) “… entrar o homem
na cova, e sair dela” (Padre Manuel Bernardes); b) “… não consentia
que pessoa alguma saísse da cidade, ou nela entrasse” (Castilho).
5. De Édison de Oliveira é a seguinte lição exatamente nessa esteira: “Para
solucionar, gramaticalmente, o problema, deve-se repetir o objeto após
cada verbo, respeitando-lhe a regência” (s/d, p. 110). Exs.: a) “Conheci
Isaura e gostei dela” (e não: “Conheci e gostei de Isaura”); b) “Vi
Brasília e me apaixonei por ela” (e não: “Vi e me apaixonei por
Brasília”); c) “Queremos a paz, gostamos dela e a ela aspiramos” (e
não: “Queremos, gostamos e aspiramos à paz”).
6. Apontando exemplos de cochilos e inadvertências nesse sentido em
escritores célebres mais modernos, como Garrett, Castilho, Herculano e
Camilo, leciona Laudelino Freire que “aos verbos que na frase se
sucedem deve dar-se a cada um a regência que lhe é própria, isto é, cada
verbo deve vir acompanhado do seu complemento”, acrescentando tal
autor ser raro notar nos escritores antigos negligência a esse respeito.
7. E resume tal gramático: “só se deve dar o mesmo complemento a dois ou
mais verbos quando, separadamente, esse complemento se lhes ajustar”,
ou seja, somente quando todos tiverem a mesma regência e exigirem a
mesma construção (FREIRE, 1937a, p. 29).
8. Na lição de Laudelino Freire, “aos verbos de regência diversa, que na
frase se sucedem, deve dar-se a cada um a regência que lhe é própria.
Em outras palavras: cada verbo deve vir acompanhado do seu
complemento”.
9. E continua tal gramático: “Não escreve certo quem escrever: Recebi e
respondo à sua carta; Assisti e elogiei a festa; Houve muitos homens que
desprezaram e fugiram do mundo. O certo é: Recebi a sua carta e
respondo a ela; Assisti à festa e elogiei-a; Houve muitos homens que
desprezaram o mundo e fugiram dele” (FREIRE, 1937b, p. 98).
10. Também nesse sentido, leciona Vitório Bergo num primeiro momento:
“Duas palavras podem ter um complemento comum, desde que tenham
a mesma regência: o desejo e o amor da glória (desejo de, amor de);
ele deseja e ama a glória (deseja a glória, ama a glória)”.
11. Continuando tal autor, todavia, em sua lição, assevera que “desde,
porém, que seja diferente a regência, cumpre dar a cada uma das
palavras complemento próprio (BERGO, 1943, p. 210): ‘Ele ama a
glória e luta por ela’ (e não ama e luta pela glória)”.
12. Lembrando ser incorreto atribuir um mesmo complemento a palavras
que regem complementos diversos, leciona Eduardo Carlos Pereira que
“duas ou mais palavras podem ter um complemento comum, desde que
tenham a mesma regência”.
13. E acrescenta tal autor dois exemplos em que menciona haverem
infringido tal regra autores clássicos (PEREIRA, 1924, p. 240): a) “…
pessoas que entravam e saíam do hotel dos Irmãos Unidos” (Camilo
Castelo Branco); b) “Adão não coube, nem se contentou com um
império tão vasto” (Padre Antônio Vieira).
14. Atento aos frequentes equívocos dessa natureza na linguagem forense,
reforça Edmundo Dantès Nascimento (1982, p. 91-2) que “erro comum
é dar-se a verbos com regências diferentes um mesmo complemento”,
exemplificando ele próprio com o apontamento do complemento
necessário: a) “O acórdão consulta (objeto direto) e atende (objeto
indireto) ao decreto” (errado); b) “O acórdão consulta o decreto e
atende a ele” (correto); c) “A sentença no relatório estudou; depois, na
decisão, esqueceu-se do processo” (errado); “A sentença no relatório
estudou o processo (objeto direto); depois na decisão, esqueceu-se
dele” (objeto indireto) (correto).
15. Josué Machado, observando que “é muito feio misturar regências
primárias”, coletou significativa legenda de foto em jornal com os
seguintes dizeres: “Kevin Costner produz e atua no filme Rapa Nui”; e
mandou corrigir: “Kevin Costner produz o filme Rapa Nui e atua nele”.
16. Indagando se é esquisita a forma correta, dá ele próprio a resposta:
“Muita gente se acostuma tanto com o torto, que estranha o certo”.
17. Ante a importância do assunto, tal autor, em outra passagem, volta com
exemplo significativo, que colheu em orientação de uma editora acerca
de como escrever: “… ninguém deixará de ler, entender e reagir à
notícia por causa das barbeiragens do texto”.
18. E explica: “ler e entender alguma coisa; reagir a alguma coisa”; bem
por isso, corrige: “… deixará de ler e entender a notícia e de reagir a
ela…” (MACHADO, 1994, p. 139 e 196-7).
19. Registre-se, todavia, que, embora reconheça ser tal construção
anômala, Gladstone Chaves de Melo anota “ser bastante encontrável na
pena dos melhores escritores” (1970, p. 333-4), trazendo ele, em
corroboração, exemplos de escritores de acurado vernáculo: a) “…
entrar e sair de uma cova…” (Padre Manuel Bernardes); b) “O obreiro
não sabe ou não gosta de escrever” (Castilho).
20. Por sua vez, José de Sá Nunes (1938, p. 16) não vê equívoco
gramatical algum em construções dessa natureza e assevera que a
forma de empregar a mesma preposição para reger um só
complemento, comum a dois verbos, além da outra forma – que é
exata, irrepreensível, rigorosamente gramatical, além de
vernaculíssima, mas “arrastada, inelegante e pesada” – além de mais
concisa e elegante, é “mais conforme ao gênero da nossa língua, mais
usada no falar despreocupado e familiar e, além de tudo, autorizada
pelos maiores clássicos e pelos mais insignes filósofos”.
21. E arrola o citado filólogo exemplos abalizados de autorizados
escritores: a) “… no meio dos sergentes que entravam e saíam da
sala…” (Alexandre Herculano); b) “… do caso que me levou e trouxe
de tão longe…” (Padre Vieira); c) “A rua de São Clemente era o
caminho que o levava e trazia da repartição…” (Machado de Assis).
22. Sousa e Silva lembra que a regra dos gramáticos – de que não se dê um
mesmo complemento para verbos com regências diversas, que peçam
preposições diferentes – é “não raro desmentida pelos clássicos da
língua”, observando que Alexandre Herculano “chega a construir dois
verbos coordenados com uma preposição que só convém ao mais
distante: “saindo e entrando dos aposentos”.
23. E complementa tal autor, invocando lição de Epifânio Dias, que, ao se
cometer erro desse jaez, o que se tem é “a correção sacrificada à
brevidade” (SILVA, A., 1958, p. 192).
24. Partindo da indagação “Você é contra ou a favor do aborto?”, Arnaldo
Niskier demonstra posição primeiramente mais liberal do que a
Gramática em vigor na atualidade, para depois voltar às raízes: “Nesses
casos, quando dois ou mais nomes, ou verbos, que possuem diferentes
regências exigem lógica e estilisticamente o mesmo complemento,
deve-se abandonar o rigor gramatical (que exigiria você é contra o
aborto ou a favor dele?) em proveito do estilo. Consideremos, pois,
correta a frase do exemplo. Mas, em geral, devemos respeitar as
diferentes regências” (1992, p. 99).
25. Ante tal posicionamento dúbio, é de se indagar ao referido autor:
quando a Gramática deve ceder em favor do estilo, e quando deve este
último prevalecer? Ou ainda: quando se há de reputar mais proveitoso
o estilo, e quando se há de dar maior importância ao respeito às
diversas regências?
26. Fundado em lição de Gladstone Chaves de Melo, todavia, lembra
Adalberto J. Kaspary que tal construção, considerada viciosa entre os
gramáticos, é “frequentíssima na linguagem corrente e bastante
encontrável na pena dos melhores escritores”, alinhando, entre os
usuários de tal estrutura sintática simplificada, Manuel Bernardes,
Almeida Garrett, Castilho, Alexandre Herculano, Camilo Castelo
Branco e Machado de Assis.
27. E continua, por um lado, o citado autor em sua preciosa monografia
sobre o emprego dos verbos na linguagem jurídica: “Não obstante, nos
textos legais pesquisados, talvez pelo formalismo de linguagem que,
costumeiramente, lhes é peculiar, encontramos um maior número de
exemplos com a construção desdobrada, vale dizer, com complemento
distinto para cada verbo: dez entre quatorze exemplos anotados”. Exs.:
a) “É livre a locomoção no território nacional em tempo de paz,
podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer
ou dele sair com seus bens” (CF/88, art. 5º, XV); b) “Ninguém será
levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade
provisória…” (CF/88, art. 5º, LXVI); c) “Além de outros casos
previstos nesta Constituição, a Câmara dos Deputados e o Senado
Federal reunir-se-ão em sessão conjunta para … IV – conhecer do veto
e sobre ele deliberar…” (CF/88, art. 57, § 3º, IV).
28. Por outro lado, mostra tal autor que, excepcionalmente, também se
encontram, nos textos de lei, exemplos, embora raros, de construção
abreviada, em que há um complemento comum para dois verbos que
pedem regências distintas (KASPARY, 1996, p. 364-5). Exs.: a) “O
capitão é o comandante da embarcação; toda a tripulação lhe está
sujeita, e é obrigada a obedecer e cumprir as suas ordens em tudo
quanto for relativo ao serviço do navio” (C. Com., art. 486); b)
“Comete falta grave o condenado à pena privativa de liberdade que: I
– incitar ou participar de movimento para subverter a ordem ou a
disciplina” (Lei 7.210, de 11/7/84, art. 50, I).
29. No primeiro dos dois últimos exemplos, obedecer é transitivo indireto
e pede a preposição a, enquanto cumprir é transitivo direto e exige, por
conseguinte, complemento sem preposição alguma; a construção
desdobrada, com complementos distintos, então, será obedecer a (ou
às) suas ordens e cumpri-las.
30. No segundo de tais exemplos, ambos os verbos pedem objeto indireto,
mas a preposição para o incitar é a, enquanto para participar é de; a
construção desdobrada, assim, haverá de ser incitar ao movimento ou
dele participar.
31. Apesar do intento mais permissivo de alguns gramáticos, o melhor
parece ser, nos textos que devam submeter-se à norma culta, que se
proceda à regular distinção e se empregue cada verbo com seu próprio
complemento, não se atribuindo o mesmo complemento a verbos ou
palavras que peçam regências distintas.
Ver Com ou sem – Está correto? (P. 198) e Regência verbal (P. 651).

Verbos defectivos
1. Tratando-se de questão atinente à conjugação verbal, anota-se que,
genericamente, defectivo é algo imperfeito, defeituoso.
2. Verbo defectivo, por sua vez, é aquele cujo defeito consiste em não ter
determinadas formas, em não ser conjugado em todas as pessoas, tempos
ou modos, normalmente por questões de natureza morfológica ou
eufônica.
3. Na conceituação de Vitório Bergo, “pode designar-se por defectivo
qualquer vocábulo que não se empregue em todas as formas regulares”.
4. Oportuno, desde logo, é lembrar significativa lição de Mário Barreto,
colhida por Cândido Jucá Filho: “A morfologia não tem leis especiais
para excluir de sua formação total nenhum dos verbos que se têm por
defectivos. Nenhuma lei de estrutura se opõe a que se forme abole,
colorem, pule, bane, dele, demulo. O empregá-los numa forma e deixar
de empregá-los noutra é coisa que toca ao uso” (1981, p. 108-9).
5. No que concerne especificamente à categoria gramatical considerada,
anota esse autor que a defectividade é o “caráter dos verbos a que faltem
algumas pessoas” (BERGO, 1943, p. 78-9).
6. Muito embora se deva a ausência de certas formas a questões de
natureza morfológica ou eufônica, o certo é que cada verbo defectivo
tem uma razão própria de defectividade, e esta se deve a diversas razões,
muito embora, em alguns casos, não se assente tal desvio de conjugação
em bases lógicas (BECHARA, 1974, p. 107).
7. Para Otelo Reis, em alguns verbos, “foi o uso que não consagrou certas
formas, as quais, nunca tendo sido vistas ou ouvidas, são
espontaneamente evitadas pelos que procuram falar corretamente. Em
outros, é a eufonia que faz omitir algumas desagradáveis ao ouvido, ou
geradoras de equívocos. Em outros, ainda, a defectibilidade resulta de
ser impossível conceber-se, aplicada a certas pessoas, ou em certos
tempos, a ideia expressa pelo verbo” (1971, p. 13-4).
8. Em termos práticos, para exemplificar, o verbo precaver-se apenas é
conjugado nas formas arrizotônicas; o verbo reaver, composto de haver,
apenas se emprega nas formas em que este último tem v no radical; o
verbo remir, apenas nas formas em que, ao m do radical, se segue a
vogal i.
9. Observando que, na linguagem forense, ocorre com alguma frequência o
errado emprego de alguns verbos dessa natureza, adverte taxativamente
Geraldo Amaral Arruda: “há que se ter cuidado com os verbos
defectivos, para não os empregar nos modos, tempos ou pessoas que lhes
faltam” (1997, p. 22).
10. Pasquale Cipro Neto e Ulisses Infante genericamente observam, por
um lado, e com muita propriedade, que “os verbos defectivos são
conjugados normalmente nos pretéritos e futuros. São mais do que
corretas formas como aboli, adequei, explodi, fali, precavi, demoli,
aboliu, adequou, explodiu, faliu, precaveu, demoliu”.
11. Sob um outro enfoque, lecionam que, “para suprir uma forma dada
como inexistente, costuma-se recorrer a verbos sinônimos ou a
expressões equivalentes. Em vez de dizer ‘Eu me
precavo/precavenho/precavejo’, diga ‘Eu me acautelo/previno’; em vez
de ‘A empresa fale’, diga ‘A empresa vai à falência/vai falir’; em vez
de ‘O texto se adequa’, diga ‘O texto se adapta/é adequado’” (CIPRO
NETO; INFANTE, 1999, p. 173).

Verbo seguido de pronome


1. Da conjugação de um verbo seguido de pronome pessoal oblíquo átono,
podem surgir associações que vale a pena observar.
2. Assim, se o verbo termina por vogal e é seguido de o, a, os, as, a junção
ocorre sem alteração alguma: entregou + o = entregou-o; dou + as =
dou-as.
3. Se o verbo vem seguido de vos ou lhes, a junção também se faz sem
alteração alguma: entregamos + vos = entregamos-vos; entregamos +
lhes = entregamos-lhes.
4. Se a primeira pessoa do plural vem seguida do pronome nos, o verbo
perde o s final: entregamos + nos = entregamo-nos.
5. Bem nessa esteira, lembra Mário Barreto que, nesses casos, o correto “é
suprimir-se o s final da primeira pessoa do plural quando o pronome nos
vem após o verbo” (1954b, p. 141).
6. Na lição de Domingos Paschoal Cegalla, em casos dessa natureza, “para
atender à eufonia, suprime-se o s final da primeira pessoa do plural dos
verbos, quando seguida do pronome nos” (1999, p. 139).
7. Se o verbo termina por m ou ditongo nasal e é seguido de o, a, os, as, a
forma verbal permanece inalterada, e o pronome é precedido de um n:
entregaram + a = entregaram-na; dão + o = dão-no.
8. Se o verbo termina por r, s ou z e é seguido de o, a, os, as, aquelas
consoantes são eliminadas, e os pronomes passam a ter as formas lo, la,
los, las: encontrar + o = encontrá-lo; encontrar + a + ei = encontrá-la-
ei; procuras + os = procura-los; fiz + as = fi-las.
9. Nos dizeres de Artur de Almeida Torres, “nas formas verbais terminadas
em r, s ou z, seguidas do pronome oblíquo o, a, em sua antiga
representação lo, la, aqueles fonemas assimilaram-se ao l, desaparecendo
depois: mandar-lo, mandallo, mandá-lo; levastes-lo, lesvastello, levaste-
lo, fez-lo, fello, fê-lo” (1966, p. 15).
10. Cândido Jucá Filho (1954, p. 31), nesse aspecto, lembra que Filinto
Elísio, “censurando os críticos ignorantes, incide nesta erronia
grosseira: ‘E chamais-los puristas e censores?’ (isto é, ‘chamai-los’)”.
11. Se o verbo termina por ns, segue-se a observação anterior, apenas com
a transformação do n remanescente em m: tu manténs + o = tu
mantém-lo; tu tens + o = tu tem-lo (RIBEIRO, Júlio, 1908, p. 257).
12. De Édison de Oliveira é interessante observação sobre o assunto, muito
embora em nada altere a realidade gramatical nem institua permissão
para o cometimento dos equívocos em norma culta: “É claro que a
maioria dessas combinações, embora rigorosamente corretas de acordo
com a gramática, são frequentemente evitadas na linguagem cotidiana,
e até na linguagem literária, por estranhas ou mal sonoras, sendo fácil
transmitir a mesma ideia através de outras construções”.
13. E, “para evidenciar o caráter excêntrico que a forma verbal assume em
tais circunstâncias”, exemplifica tal autor com a conjugação completa
de um tempo verbal seguido de pronome: quero + o = quero-o; queres
+ o = quere-lo; quer + o = qué-lo; queremos + o = queremo-lo; quereis
+ o = querei-lo; querem + o = querem-no (OLIVEIRA, E., s/d, p. 137).
Ver Mo – Está correto? (P. 476) e Pronome pessoal (P. 614).

Verbos – Existem ou não?


1. Um leitor indaga se existem os seguintes verbos no português culto e
formal: agilizar, desincompatibilizar, disponibilizar, operacionalizar,
reinicializar.
2. A primeira observação que se deve fazer nesse campo é que, desde o
início do século XX, a Academia Brasileira de Letras tem, por delegação
legal, a autoridade para listar os vocábulos existentes em nosso idioma, e
ela o faz por intermédio da publicação do Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa.
3. Desse fato resulta a forçosa conclusão – e esta é a lei para o assunto – de
que, se o VOLP registra determinado vocábulo, ele existe oficialmente
em nosso idioma, e seu uso está regularmente autorizado. Em caso
contrário, não.
4. E vale acrescentar que, ressalvada a grande contribuição que os
dicionaristas prestam ao idioma, o certo é que não são eles a autoridade
para ditar regras nesse campo, de modo que, em eventual conflito, vence
o VOLP.
5. Qualquer discussão adicional que se queira travar fica no campo da
ciência linguística e pode influenciar futuras mudanças, mas não define a
questão em termos práticos e atuais.
6. Com essa premissa, observa-se que todos os verbos acima mencionados
estão regularmente registrados na última edição do Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa (ACADEMIA BRASILEIRA DE
LETRAS, 2009, p. 29, 270, 291, 598 e 713).
7. Assim, independentemente de alguém concordar ou não com sua
existência, modo de ser ou de emprego no vernáculo, tais vocábulos
existem oficialmente no idioma, e seu uso está perfeitamente autorizado
na linguagem formal.

Verbos irregulares e Verbos regulares


Ver Conjugação verbal (P. 217).

Verbos tritransitivos – O que são?


Ver Ingressar com ou Ingressar em? (P. 417)

Ver – Como conjugar?


1. Juntamente com crer, dar, ler e respectivos compostos, eram os únicos
verbos grafados com êe na terceira pessoa do plural (ou seja, [i] dois ee
[ii] e acento circunflexo no primeiro e). O Acordo Ortográfico de 2008,
todavia, manteve os dois ee, mas aboliu os acentos: creem, deem, leem,
veem.
2. Observem-se suas formas no presente do indicativo e tempos derivados:
vejo, vês, vê, vemos, vedes, veem (presente do indicativo); veja, vejas,
veja, vejamos, vejais, vejam (presente do subjuntivo); vê, veja, vejamos,
vede, vejam (imperativo afirmativo); não vejas, não veja, não vejamos,
não vejais, não vejam (imperativo negativo).
3. São as seguintes as formas do pretérito perfeito do indicativo: vi, viste,
viu, vimos, vistes, viram.
4. Assim, cuidado com os tempos derivados do pretérito perfeito do
indicativo: vira, viras, vira, víramos, víreis, viram (pretérito mais-que-
perfeito do indicativo); vir, vires, vir, virmos, virdes, virem (futuro do
subjuntivo); visse, visses, visse, víssemos, vísseis, vissem (imperfeito do
subjuntivo).
5. Serve de modelo integral para seus compostos: antever, entrever, prever,
rever.
6. Vejam-se, assim, alguns exemplos com seus compostos no pretérito
perfeito e tempos derivados (que são os casos onde mais ocorrem os
problemas de conjugação): a) “Os advogados anteviram a condenação
de seu cliente” (e não anteveram); b) “Àquela altura, o magistrado
entreviu uma saída para o caso” (e não entreveu); c) “Se o
desembargador previsse o que aconteceria, talvez tivesse dado outra
solução para o problema” (e não prevesse); d) “O magistrado reviu sua
decisão” (e não reveu).
7. Seguem alguns dispositivos de leis com emprego de compostos de ver:
a) “Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da
personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu
exercício sofrer limitação voluntária” (CC, art. 11); b) “… a maioria dos
sócios, representativa de mais da metade do capital social … poderá
excluí-los [aos sócios] da sociedade, mediante alteração do contrato
social, desde que prevista neste a exclusão por justa causa” (CC, art.
1.085, caput); c) “Se ocorrer diminuição no preço do material ou da
mão-de-obra superior a um décimo do preço global convencionado,
poderá este ser revisto, a pedido do dono da obra, para que se lhe
assegure a diferença apurada” (CC, art. 620); d) “Os atos meramente
ordinatórios, como a juntada e a vista obrigatória, independem de
despacho, devendo ser praticados de ofício pelo servidor e revistos pelo
juiz quando necessários” (CPC/1973, art. 162, § 4º).
8. Os erros de conjugação com esses verbos são tão frequentes, que até
disposições de lei cometem equívocos de conjugação, como se pode
verificar pelo art. 36, caput, do Decreto-lei 70, de 21/11/66, que instituiu
a cédula hipotecária: “Os públicos leilões regulados pelo art. 32 serão
anunciados e realizados, no que este decreto-lei não prever, de acordo
com o que estabelecer o contrato de hipoteca…”. Corrija-se: “no que
este decreto-lei não previr…”.
9. Faça-se uma primeira observação final: prover não lhe segue
integralmente a conjugação: a) no presente do indicativo e tempos
derivados, é composto de ver: provejo, provês, provê… (presente do
indicativo); proveja, provejas, proveja… (presente do subjuntivo)…; b)
no pretérito perfeito e tempos derivados, contudo, não segue a
conjugação de ver, mas é regular: provi, proveste, proveu, provemos,
provestes, proveram (pretérito perfeito)…
10. Segunda observação final: precaver não é seu composto, nem lhe segue
a conjugação em tempo algum.
Ver Precaver – Como conjugar? (P. 588), Prover – Como conjugar? (P. 629)
e Vir (P. 770).

Vereador
1. Para muitos, inexiste justificativa para a construção “Ele foi eleito
vereador à Câmara Municipal”.
2. Entendem estes, em tal caso, que Câmara Municipal é simples adjunto
adnominal (ou complemento restritivo, que, em latim, é representado
pura e simplesmente por um genitivo), devendo-se dizer: “Ele foi eleito
vereador da Câmara Municipal”.
3. E, aos vocábulos deputado e senador, aplicar-se-iam as mesmas
observações: os senadores do Congresso Nacional, os deputados da
Assembleia Legislativa.
4. Até mesmo contrariamente a essa lição, todavia, Francisco Fernandes
apenas admite sintaxe com a preposição por: “Um dos vereadores pela
cidade teve a eleição impugnada” (1969, p. 377).
5. Celso Pedro Luft (1999, p. 525) ainda é mais liberal e, além de citar o
próprio Francisco Fernandes no exemplo dado com a preposição por,
pugna adicionalmente pela possibilidade de sintaxe com a preposição a:
“Vereador à Câmara do antigo Distrito Federal”.
6. Não parece, todavia, a uma análise mais aprofundada, haver motivo
algum diferenciação de sintaxe entre os três cargos do Poder Legislativo
nos diferentes níveis, para que não se acatem as construções com
qualquer de três preposições: de, a e por: a) “Os vereadores de Ribeirão
Preto insurgiram-se contra a providência pretendida”; b) “Ele foi eleito
vereador à Câmara Municipal”; c) “Ele foi eleito vereador por um
pequeno partido”.
7. Interessante, também, é anotar a indevida diferença de tratamento entre
vocábulos de natureza similar, como deputado, senador e vereador, que,
apenas para exemplo, fazem Francisco Fernandes (1969, p. 126) e Celso
Pedro Luft (1999, p. 152): para deputado, ambos admitem as sintaxes
com as preposições a e por; para senador, aquele apenas admite
complemento com a preposição por (FERNANDES, 1969, p. 348), em
procedimento seguido por este (LUFT, 1999, p. 472); e, para vereador,
como visto, o primeiro continua admitindo tão somente a construção
com a preposição por, enquanto o segundo é mais liberal para, além de
por, pugnar adicionalmente pela possibilidade de sintaxe com a
preposição a.
8. Em resumo, voltando sempre ao princípio de que não se deve restringir o
emprego da língua, mas se deve atuar na amplitude aceita por seus
estudiosos, parece defensável admitir como corretas as três seguintes
construções: a) “Ele foi eleito vereador da Câmara Municipal de
Ribeirão Preto”; b) “Ele foi eleito vereador à Câmara Municipal de
Ribeirão Preto”; c) “Ele foi eleito vereador pela cidade de Ribeirão
Preto”.
Ver Candidatos a (P. 168), Capitã, Capitoa ou A Capitão? (P. 168), Poeta –
Qual o feminino? (P. 570) e Senador (P. 687).

Vereadora – Existe?
Ver Crenta ou Crente? (P. 240) e Parenta ou Parente? (P. 550)

Vereador da cidade – Está correto?


Ver Pleonasmo – O que é e Quando pode? (P. 565)

Veredicto recorrido
Ver Sentença recorrida – Está correto? (P. 690)

Veredicto, Veredito ou Veredíctum?


1. Veredicto é palavra já incorporada ao nosso vocabulário, com a variante
veredito, devendo-se, assim, dar preferência ao singular aportuguesado
veredicto e ao plural veredictos.
2. Anote-se, por oportuno, que o Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, órgão oficial para definir
quais palavras integram nosso léxico, registra veredicto e veredito (2009,
p. 837), mas não veredictum nem veredíctum, motivo por que,
independentemente de quaisquer outras discussões, legem habemus e,
assim, apesar do desejo de alguns de empregarem a forma latina, apenas
se autoriza o emprego dos vocábulos ali permitidos.
Ver Campus (P. 166).

Ver e gostar de
Ver Verbos com regências diversas (P. 760).

Versar
1. Tem o sentido de compulsar, constar, discorrer, estudar, examinar, tratar
e, quanto à regência verbal, pode ser empregado, indiferentemente, como
transitivo direto ou como transitivo indireto (com a preposição sobre).
Exs.: a) “Tal decisão versará unicamente a falsidade documental”
(Magalhães Noronha); b) “Os pontos sobre que versavam as
censuras…” (Ernesto Carneiro Ribeiro).
2. Sousa e Silva (1958, p. 309), por seu lado, é mais específico ao regrar-
lhe o regime de complemento: a) “É transitivo direto nas acepções de
compulsar, estudar, tratar: versei as obras clássicas, versou as três
ciências, versou bem o assunto”; b) “Quando significa ter por objeto,
constrói-se ordinariamente com a preposição sobre: versa o livro sobre
História”; c) “Também admite, neste sentido, as preposições em e acerca
de”.
3. Exemplo significativo se pode extrair de excerto de carta de Rui Barbosa
transcrita por Mário Barreto, em que se emprega a preposição sobre: “…
não podia conhecer o escrito do ilustrado filólogo, onde se me faz a
honra de citar os excertos meus, sobre que versa a pergunta do meu
eminente amigo e mestre entre mestres” (1955, p. 40).
4. Para Luciano Correia da Silva, tal verbo pode ser usado como transitivo
direto, embora sua sintaxe com sobre ou acerca de seja a mais utilizada
(1991, p. 115). Exs.: a) “A transação versou diversos direitos
Contestados”; b) “A transação versou sobre diversos direitos
contestados”; c) “A transação versou acerca de diversos direitos
contestados”.
5. Francisco Fernandes (1971, p. 596), no sentido indicado, admite-lhe as
seguintes sintaxes: ora como transitivo direto, ora como transitivo
indireto principiado pelas preposições em, sobre ou acerca de: a) “O
distinto professor Sousa da Silveira versa o assunto de certos
brasileirismos que constituem um episódio curioso” (Mário Barreto); b)
“O livrinho que versa neste assunto magnificamente, tem páginas belas”
(Camilo Castelo Branco); c) “A questão versa sobre matérias
filosóficas” (Constâncio); d) “As nossas discussões versam acerca da
moral” (Mário Barreto).
6. Além dessas possibilidades, Celso Pedro Luft acrescenta a viabilidade da
sintaxe com a preposição de: “O livro versa (de, sobre, acerca de)
problemas morais” (1999, p. 530).
7. Resuma-se com quadro das possibilidades de uso correto do verbo versar
quanto à regência verbal: a) “A questão apenas versa a falsidade
documental” (transitivo direto); b) “A questão apenas versa sobre a
faculdade documental” (transitivo indireto com a preposição sobre); c)
“O livro versa em História” (transitivo indireto com a preposição em); d)
“O livro versa acerca de História” (transitivo indireto com a locução
prepositiva acerca de); e) “O livro versa de História” (transitivo indireto
com a preposição de).
8. Os textos legais preferem usá-lo com objeto indireto principiado pela
preposição sobre: a) “Das decisões dos Tribunais Regionais Eleitorais
somente caberá recurso quando: … III – versarem sobre inelegibilidades
ou expedição de diplomas nas eleições federais ou estaduais…” (CF/88,
art. 121, § 4º, III); b) “Quando os embargos versarem sobre todos os
bens, determinará o juiz a suspensão do curso do processo principal;
versando sobre alguns deles, prosseguirá o processo principal somente
quanto aos bens não embargados” (CPC/1973, art. 1.052); c) “A doação
verbal será válida, se, versando sobre bens móveis e de pequeno valor,
se lhe seguir incontinenti a tradição” (CC, art. 541, parágrafo único); d)
“Quando a transação versar sobre diversos direitos contestados,
independentes entre si, o fato de não prevalecer em relação a um não
prejudicará os demais” (CC, art. 848, parágrafo único).
Versus – Como concorda o verbo?
1. Uma leitora parte do seguinte exemplo, que não sabe se está certo quanto
à concordância verbal: “Esta situação ‘versus’ aquela situação resulta
em…” E indaga se termos unidos pela palavra versus tipificam sujeito
composto ou não. Ou seja: em tais circunstâncias, o verbo vai para o
plural, ou fica no singular?
2. Ora, a uma simples observação do exemplo trazido pela leitora, começa-
se por tecer os seguintes comentários quanto à palavra versus
considerada isoladamente: a) versus é uma preposição e não uma
conjunção (contrariamente a outras palavras que unem núcleos de um
sujeito composto, como ou e nem); b) é vocábulo latino, ainda não
integrado ao vernáculo, como é fácil concluir a uma simples consulta ao
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela Academia
Brasileira de Letras, que tem a delegação legal para listar as palavras
pertencentes ao nosso idioma; c) como vocábulo estrangeiro, ainda não
incorporado ao nosso idioma, deve ser escrito em itálico, ou negrito, ou
entre aspas, ou sublinhado, ou de algum outro modo que indique ser
alienígena a palavra empregada; d) seu sentido normal é de
contrariedade entre as palavras por ele ligadas.
3. No plano da concordância verbal, o mais adequado parece ser partir de
alguns exemplos: a) “Flamengo ‘versus’ Fluminense não entusiasmou a
torcida”; b) “Éder Jofre ‘versus’ Harada foi simplesmente empolgante”;
c) “Davi ‘versus’ Golias sempre traz lições importantes”; d) “Escola
particular ‘versus’ escola pública pode causar polarizações indevidas”;
e) “Marido ‘versus’ mulher quase nunca redunda em benefícios”.
4. E desses exemplos, então, parece lícito concluir do seguinte modo: a)
embora o vocábulo considerado não pertença ao idioma, parece
adequado, com as cautelas já indicadas, empregá-lo em tais
circunstâncias, com o escopo de unir elementos contrapostos; b) a ideia
de contraposição e/ou contrariedade entre os elementos por ele unidos
conduz instintivamente o usuário a concordar o verbo no singular; c)
como é de fácil percepção nas frases já modificadas do item a seguir, é
inevitável, diante de um exemplo desses, pensar em um termo inicial,
que seja a referência para tal contraposição; d) e é com a ideia desse
termo inicial pressuposto que, nessas situações, se faz a concordância
verbal por silepse (concordância ideológica); e) importa adicionar, como
se pode perceber pelo exemplo acrescido por último no próximo item,
que o verbo fica no singular, mesmo que ambos os termos contrapostos
estejam no plural.
5. Vejam-se os exemplos já modificados com o acréscimo de um termo
inicial instintivamente pensado: a) “(O jogo) Flamengo ‘versus’
Fluminense não entusiasmou a torcida”; b) “(O combate de) Éder Jofre
‘versus’ Harada foi simplesmente empolgante”; c) “(O duelo de) Davi
‘versus’ Golias sempre traz lições importantes”; d) “(A contraposição
de) Escola particular ‘versus’ escola pública pode causar polarizações
indevidas”; e) “(A disputa de) Marido ‘versus’ mulher quase nunca
redunda em benefícios”; f) “(A briga de) Corinthianos ‘versus’
palmeirenses resultou em mortes”.

Vestibulando – Existe?
Ver Alimentando – Existe? (P. 105)

Vestibular
Ver Petição inicial (P. 563).

Veto
Ver Opor veto – Está correto? (P. 531)

Vez ou outra – Está correto?


Ver Uma vez ou outra ou Vez ou outra? (P. 749)

Vez que – Está correto?


1. Para que não haja dúvidas, observa-se, de início, que, efetivamente,
existe em nosso idioma a locução adverbial de vez, que significa quase
boa para ser colhida; assim, por exemplo, diz-se que “a fruta está de
vez”.
2. Não é correta, entretanto, a expressão vez que com significado de
conjunção subordinativa causal, em frases como a seguinte: “O réu foi
absolvido, vez que não havia provas concretas contra ele”.
3. Em tais casos, deve-se usar uma conjunção ou locução conjuntiva causal
equivalente: porque, porquanto, já que, uma vez que, visto que.
4. Atente-se, a esse respeito, à lição de Aires da Mata Machado Filho:
“Essas conjunções causais formadas com o vocábulo vez não primam
pela vernaculidade. Salva-se, realmente, uma vez que” (1969h, p. 1.179).
5. Anotando ser frequente o emprego dessa expressão em razões, sentenças
e requerimentos, em lugar de uma vez que, observa Edmundo Dantès
Nascimento (1982, p. 43) tratar-se de erro a ser evitado.
6. Ao referir que, modernamente, vem surgindo no linguajar comum tal
expressão, com aceitação de muita gente, Edmundo Dantès Nascimento
observa que se trata de uma “ânsia de inovar por quem não está apto a
fazê-lo”; e, mesmo anotando que “a língua sofre mudanças no
vocabulário e até na sintaxe” e que Dante, Camões, os românticos, os
simbolistas e até João Guimarães Rosa mudaram suas línguas pátrias,
ressalva, porém, tal autor que, entre as constâncias seculares das línguas
“se alinham as preposições, que, em sua maioria, são subsistências
latinas”.
7. Em complementação, assevera ele que, consultados tais movimentos e
pessoas, “verifica-se que ninguém pensou em alterar as preposições, pois
são movimentos realizados com pleno conhecimento de Gramática
Histórica” (NASCIMENTO, 1982, p. 132).
8. Para o mesmo autor, em outra passagem de mesma obra, essa expressão
é completamente equivocada, e se deve dizer uma vez que.
9. E acrescenta: “todas as locuções preposicionais, conjuncionais ou
adverbiais formadas com a palavra vez têm a anteposição do artigo ou
outra palavra” (NASCIMENTO, 1982, p. 87).
10. Observando ser muito comum, tanto em peças redigidas por advogados
como em sentenças, o emprego de tal expressão, invoca Geraldo
Amaral Arruda a lição de Silveira Bueno e assevera tratar-se ela de
erro, de solecismo condenável (1997, p. 22).
11. Em outra passagem de mesma obra, tal autor refere que se trata de
“locução que nenhum dicionário ou gramática registram” (ARRUDA,
1997, p. 109).
Ver Eis que (P. 298).
v. g.
1. Escreve-se com letras minúsculas.
2. Trata-se de abreviatura internacional muito usada – sobretudo nas
línguas neolatinas – da expressão latina verbi gratia (pronuncia-se vérbi
grácia), que significa a título de exemplo, ou simplesmente por exemplo.
Ex.: “Várias foram as atitudes indevidas do réu naquele processo, v. g.,
contestação manifestamente intempestiva, recurso protelatório, ausência
do respectivo preparo…”.
Ver e. g. (P. 296), de que é sinônima.

Via
Ver Em via de ou Em vias de? (P. 317)

Viabilidade – Galicismo?
1. Embora reconheça ser vocábulo de uso correntíssimo, encontrado até
mesmo em Camilo Castelo Branco, Vasco Botelho de Amaral o arrola
entre os galicismos.
2. Para substituí-lo, tal gramático aponta exequibilidade, tal como se vê no
seguinte exemplo de Antônio Feliciano de Castilho: “Os fundamentos de
ambos estes arbítrios, a sua exequibilidade suma, e os seus efeitos
prospérrimos…” (AMARAL, 1939, p. 79).
3. Em lado oposto, todavia, situa-se o Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, órgão incumbido
oficialmente de determinar a existência dos vocábulos em nosso idioma,
que o registra normalmente (2009, p. 839), motivo pelo qual legem
habemus, estando, por conseguinte, integralmente autorizado seu
emprego.

Via de regra, De regra ou Por via de regra?


Ver Por via de regra, Via de regra ou De regra? (P. 584)
Viajar
1. Em sua conjugação verbal, apresenta problemas de ortografia.
2. Diferentemente dos verbos cujo radical termina em g – consoante essa
que, para perdurar com o mesmo som, precisa da representação gráfica j
antes de a ou de o (fugir, por exemplo, faz fujo, fujas) – os verbos cujo
radical termina em j não sofrem alteração gráfica alguma, até porque o j
tem o mesmo som antes de qualquer das vogais. Assim: viajo, viajas,
viajemos, viajeis, viajem. Repita-se: viajem.
3. Não confundir com o substantivo viagem, sua homófona, grafada com g,
em escrita justificada pela etimologia, já que vem de um t latino
(viaticum), assim como selvagem vem de silvaticum.

Viemos ou Vimos?
1. Ante a frequência com que se baralham o exemplo correto e o exemplo
errado, vale a pena observar a diferença entre “Vimos à sua presença” e
“Viemos à sua presença”.
2. Ora, vimos é presente do indicativo do verbo vir, enquanto viemos é
passado do mesmo verbo. Exs.: a) “Vimos agora, nesta oportunidade,
para manifestar nosso apoio” (correto); b) “Viemos ontem, porque a
audiência começa muito cedo” (correto).
3. Porque vimos também é o passado do verbo ver, alguns tendem a evitar
seu uso como presente de vir e acabam cometendo erros como o
seguinte: “Viemos agora, nesta oportunidade, para manifestar nosso
apoio”.
4. A razão é que a primeira pessoa do plural do presente do indicativo do
verbo vir é unicamente vimos, sendo, por conseguinte, errônea a
construção que acaba de ser citada.
5. A correção de tal frase faz-se do seguinte modo: “Vimos agora, nesta
oportunidade, para manifestar nosso apoio”.
6. Como lembra Otelo Reis, “as pessoas menos cultas manifestam a
tendência para dizer viemos em vez de vimos na primeira pessoa do
plural do presente do indicativo” (1971, p. 123).
7. Tal falha de emprego da forma do pretérito perfeito pelo presente do
indicativo, Júlio Nogueira (1930, p. 201) a atribui à “falta de uso” da
forma correta.
8. Conta o anedotário político que Jânio Quadros – conhecido por seu
vernáculo escorreito – quando prefeito ou governador de São Paulo,
recebeu uma comissão de representantes de professores em greve. O
líder deles se levantou e disse algo assim: “Senhor Prefeito, viemos aqui
hoje para apresentar a Vossa Excelência nossa pauta de
reivindicações”. Antes que o representante continuasse, Jânio, também
conhecido por seus repentes e rompantes, levantou-se de imediato e
disse, saindo, para não mais voltar à reunião: “Vieram e não me
encontraram!”
9. Voltando aos exemplos inicialmente dados: a) “Vimos agora à sua
presença” (correto); b) “Viemos agora à sua presença” (errado); c)
“Viemos ontem à sua presença” (correto).
Para informações adicionais, conferir Ver – Como conjugar? (P. 764) e
Vir (P. 770).

Vigário-geral ou Vigário geral?


Ver Controlador-geral ou Controlador geral? (P. 230)

Viger ou Vigir?
1. Para Eliasar Rosa, viger é verbo defectivo, que só se emprega “nas
formas em que o g é seguido de e”. Exs.: a) “A lei vigente”; b) “Não vige
mais aquele contrato.”
2. Para tal autor, assim, em decorrência de tal regra, não se pode dizer
“Esse contrato foi feito quando vigia a lei revogada” (ROSA, 1993, p.
140-1).
3. Também assim pensa Francisco Fernandes, ao registrar: “emprega-se nas
formas em que ao g se segue e” (1971, p. 597).
4. Essa, porém, não é a posição de Napoleão Mendes de Almeida, para
quem é verbo regular, embora defectivo, defluindo de sua lição uma
permissão maior de conjugação, permitindo-se que ao g do radical se
siga o i: “não se emprega na primeira pessoa do singular do indicativo
presente nem, portanto, nas do presente do subjuntivo”.
5. Exemplifica assim o autor por último citado (ALMEIDA, 1981, p. 336):
a) “Essa lei já não vige”; b) “Ao tempo em que vigia a ditadura…”; c)
“Lei vigente (e não viginte)”; d) “Lei que está vigendo (e não vigindo)”.
6. A seu respeito, traz Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 412) duas
ponderações: a) trata-se de verbo defectivo, que “só possui as formas em
que ao g se segue a vogal e”; b) “não existe a forma vigir”.
7. Atento à frequência com que ocorrem erros com esse verbo nos textos
jurídicos, reforça Ronaldo Caldeira Xavier que “a forma vigir, de curso
eventual em certas obras jurídicas, simplesmente não existe” (1991, p.
134).
8. De igual modo atentos aos erros cometidos com frequência a seu
respeito, observam José de Nicola e Ernani Terra que “o gerúndio desse
verbo é vigendo e não vigindo” (2000, p. 226).
9. Lembra Adalberto J. Kaspary que “os gramáticos e dicionaristas
divergem quanto à flexão de viger. Alguns dizem que deve empregar-se
apenas nas formas em que o g é seguido de e; outros, entre os quais nos
alinhamos, lhe admitem atualmente a conjugação também nas formas
com o g seguido de i, apenas excluindo as formas em que o g é seguido
de o ou a” (1996, p. 356).
10. Na oportuna lição de Antonio Henriques e Maria Margarida de
Andrade – que insistem ser o verbo viger e não vigir – “entende-se o
verbo como defectivo; usa-se, apenas, na terceira pessoa do singular e
do plural, nas formas em que ao g seguir-se e ou i” (1999, p. 149).
11. Observando ser verbo regular, “usado e abusado no Direito”, Regina
Toledo Damião e Antonio Henriques asseveram a seu respeito: “é
defectivo; na prática, aparece apenas na terceira pessoa, nos tempos
que conservam a vogal temática e” (1994, p. 239).
12. Sousa e Silva (1958, p. 311), anotando que vigindo é um falso
gerúndio, explica que “ao presente vige (“vigora”) corresponde o
infinito viger (não “vigir”) e, portanto, o gerúndio vigendo”, mandando
tal gramático que se comparem bebendo (de beber), sofrendo (de
sofrer) e morrendo (de morrer).
13. Reiterando a lição de que viger é um verbo defectivo, Geraldo Amaral
Arruda (1997, p. 67) acrescenta que, “na prática, usa-se mais o verbo
vigorar, ou locuções em que entram os substantivos vigência e vigor”,
do que dão testemunho exemplos extraídos da Lei de Introdução ao
Código Civil: a) “…a lei começa a vigorar…” (art. 1º); b) “… antes de
entrar a lei em vigor…” (art. 1º, § 3º); c) “… a lei terá vigor…” (art.
2º).
14. Nas poucas vezes, porém, em que dispositivos de lei se põem a
empregar o referido verbo, acabam por complicar-se, como se pode ver
no art. 3º, § 2º, da Lei 5.621, de 4/11/70, que regulamentou o art. 144, §
5º, da Constituição Federal então vigente: “Se no quinquênio posterior
ao da última alteração não for adotada modificação na divisão e
organização judiciárias do Estado, esta poderá ser realizada a
qualquer tempo, vigindo a 1º de janeiro do ano seguinte, quando se
iniciará a contagem do novo quinquênio”. Após as explicações dadas,
fácil é a correção: vigendo a 1º de janeiro do ano seguinte.
15. Em resumo, no que tange a sua flexão, por força do vetusto princípio
de que, na dúvida, há liberdade de emprego para o usuário, há de se ter
pela possibilidade mais ampla, devendo-se considerar tal verbo
defectivo apenas na primeira pessoa do singular do presente do
indicativo, razão pela qual também não há o presente do subjuntivo
nem as pessoas dos imperativos daí derivadas.
16. Por se excluírem de uso apenas as formas em que o g é seguido de o ou
a, são perfeitamente corretas vige, vigeu, vigendo, vigerá, vigesse,
vigia.

Vigindo ou Vigendo?
Ver Viger ou Vigir? (P. 768)

Vigiu ou Vigeu?
Ver Viger ou Vigir? (P. 768)

Vimos ou Viemos?
Ver Viemos ou Vimos? (P. 768)
Vinte – Existe no plural?
Ver Anos vinte ou Anos vintes? (P. 117)

Vi-o fechar o cofre ou Vi-lhe fechar o cofre?


1. Ante as dificuldades práticas que ocorrem em seu emprego, vale a pena
observar qual a forma correta entre os seguintes exemplos: a) “Vi-o fazer
um gesto”; b) “Vi-lhe fazer um gesto”; c) “Vi ele fazer um gesto”?
2. Veja-se o primeiro exemplo: “Vi-o fazer um gesto”. Nota-se, desde logo,
que ele pode ser dito de outro modo: “Vi que ele fez um gesto”. Nessa
nova formulação, percebem-se os seguintes aspectos: a) Uma primeira
oração é “Vi”; b) Uma segunda oração é “que ele fez um gesto”.
3. Em termos sintáticos, podem-se extrair as seguintes conclusões para o
novo exemplo: a) “Vi” é a oração principal; b) “Que ele fez um gesto” é
uma oração subordinada que faz a função sintática de objeto direto de vi,
ou seja, da oração principal; c) Exatamente por isso, aquela é uma
oração subordinada substantiva objetiva direta; d) Como se verifica, o
objeto direto de vi não é o, mas toda a segunda oração; e) Então, num
aspecto seguinte, conclui-se que o é o sujeito de fez.
4. Ante esse quadro, vê-se que está sendo usado um pronome oblíquo como
sujeito do verbo no infinitivo, e não um pronome do caso reto, o qual é
até mesmo errado na hipótese: a) “Vi-o fazer um gesto” (correto); b) “Vi
ele fazer um gesto” (errado).
5. A excepcionalidade de um pronome oblíquo figurar como sujeito
constitui estrutura vinda do latim, idioma esse no qual o sujeito de um
verbo no infinitivo vai para o acusativo (que é o caso oblíquo), e não
para o nominativo (que é o caso reto): a) “Credo Petrum esse bonum”
(correto); b) “Credo Petrus esse bonus” (errado).
6. De modo específico para o primeiro exemplo citado – “Vi-o fazer um
gesto” –, podem-se fixar os seguintes aspectos: a) “Vi” é a oração
principal; b) “-o fazer um gesto” é oração subordinada, que faz a função
sintática de objeto direto de vi, ou seja, da oração principal; c)
Exatamente por isso, ela é uma oração objetiva direta; d) Porque seu
verbo estava contraído na forma do infinitivo e precisou até mesmo ser
desenvolvido para ser analisado, chama-se ela, adicionalmente, oração
reduzida de infinitivo; e) Seu nome completo, assim, é uma oração
subordinada substantiva objetiva direta reduzida de infinitivo; f) “O” não
é objeto direto do verbo da primeira oração, mas sujeito de fazer, o que
se entende facilmente pela existência do ele na oração estendida.
7. E se acrescenta: quando, nessa estrutura, o verbo da oração subordinada
é transitivo direto (como o é fazer), então se permite usar lhe em vez de
o, e isso sem alteração alguma de significado. Exs.: a) “Vi-o sair”
(correto); b) “Vi-lhe sair” (errado); c) “Vi-o fechar o cofre” (correto); d)
“Vi-lhe fechar o cofre” (correto); e) “Vi ele sair” (errado); f) “Vi ele
fechar o cofre” (errado).
8. Essas mesmas construções e essas mesmas observações feitas para o
verbo ver valem para os verbos fazer, mandar e deixar em construções
similares. Exs.: a) “Faço-o sair” (correto); b) “Faço-lhe sair” (errado);
c) “Faço-o fechar o cofre” (correto); d) “Faço-lhe fechar o cofre”
(correto); e) “Faço ele fechar o cofre” (errado); f) “Mandei-o sair”
(correto); g) “Mandei-lhe sair” (errado); h) “Mandei-o fechar o cofre”
(correto); i) “Mandei-lhe fechar o cofre” (correto); j) “Mandei ele fechar
o cofre” (errado); k) “Deixei-o sair” (correto); l) “Deixei-lhe sair”
(errado); m) “Deixei-o fechar o cofre” (correto); n) “Deixei-lhe fechar o
cofre” (correto); o) “Deixei ele fechar o cofre” (errado).

Vir
1. Num primeiro aspecto, vir é verbo que traz problemas quanto à
acentuação gráfica, já que tanto ele quanto seus compostos são grafados,
na terceira pessoa do plural do presente do indicativo, com um acento
circunflexo, para diferenciar da terceira pessoa do singular: eles vêm,
eles intervêm.
2. Seus compostos, mas não ele próprio, na terceira pessoa do singular,
recebem um acento agudo, em razão de regra específica das oxítonas: ele
vem, ele intervém.
3. Atente-se, assim, às seguintes formas do presente do indicativo: ele vem,
eles vêm, ele intervém, eles intervêm.
4. Quanto à conjugação verbal, são as seguintes suas formas do presente do
indicativo e tempos derivados: venho, vens, vem, vimos, vindes, vêm
(presente do indicativo); venha, venhas, venha, venhamos, venhais,
venham (presente do subjuntivo); vem, venha, venhamos, vinde, venham
(imperativo afirmativo); não venhas, não venha, não venhamos, não
venhais, não venham (imperativo negativo).
5. “As pessoas menos cultas manifestam a tendência para dizer viemos em
vez de vimos na primeira pessoa do plural do presente do indicativo”
(REIS, 1971, p. 123). Aquela forma, porém, pertence ao pretérito
perfeito do indicativo, e tal falha de emprego da forma do pretérito
perfeito pelo presente do indicativo é atribuída por Júlio Nogueira (1930,
p. 201) à “falta de uso” da forma correta.
6. Em continuação, são as seguintes as formas do pretérito perfeito: vim,
vieste, veio, viemos, viestes, vieram.
7. Cuidado, assim, com os tempos derivados do pretérito perfeito do
indicativo: a) viera, vieras, viera, viéramos, viéreis, vieram (pretérito
mais-que-perfeito do indicativo); b) vier, vieres, vier, viermos, vierdes,
vierem (futuro do subjuntivo); c) viesse, viesses, viesse, viéssemos,
viésseis, viessem (imperfeito do subjuntivo).
8. Observe-se que o gerúndio e o particípio são iguais (vindo).
9. Por esse verbo se conjugam outros: advir, convir, desavir-se, intervir,
provir, reconvir, sobrevir.
10. Atenção para com a conjugação de vir e de seus compostos no pretérito
perfeito e tempos derivados: a) “Terceiros intervieram no processo” (e
não interviram); b) “O réu não apenas contestou, mas também
reconveio” (e não reconviu); c) “Quando sobrevier sentença…” (e não
“Quando sobrevir…”).
11. Falando de um dos compostos de vir, lembra Geraldo Amaral Arruda
(1997, p. 67) que “lamentavelmente muitos se confundem e escrevem
eu intervi, ele intervia, eles interviram”, acrescentando tal autor que
esse verbo nada tem com o verbo ver e que, em sua conjugação, não se
deve fazer tal confusão. Corrijam-se as formas apontadas: eu intervim,
ele intervinha, eles intervieram.
12. Grafias equivocadas, como interviu em lugar de interveio, lembra Luiz
Antônio Sacconi (1979, p. 268) que são barbarismos morfológicos.
13. Vejam-se alguns exemplos de uso adequado dos compostos de vir na
legislação: a) “A transação não aproveita, nem prejudica senão aos
que nela intervierem, ainda que diga respeito a coisa indivisível” (CC,
art. 844); b) “Aquele que, sem autorização do interessado, intervém na
gestão de negócio alheio, dirigi-lo-á segundo o interesse e a vontade
presumível de seu dono, ficando responsável a este e às pessoas com
que tratar” (CC, art. 861); c) “No caso deste artigo, aquele em cujo
benefício interveio o gestor só é obrigado na razão das vantagens que
lograr” (CC, art. 875, parágrafo único); d) “Sem prejuízo do direito de
fiscalizar a gestão dos negócios sociais, o sócio participante não pode
tomar parte nas relações do sócio ostensivo com terceiros, sob pena de
responder solidariamente com este pelas obrigações em que intervier”
(CC, art. 993, parágrafo único); e) “Transitada em julgado a sentença,
na causa em que interveio o assistente, este não poderá, em processo
posterior, discutir a justiça da decisão, salvo se …” (CPC/1973, art.
55, caput); f) “Correndo o processo perante outro juiz, serão os autos
remetidos ao juiz competente da Capital do Estado ou Território, tanto
que neles intervenha uma das entidades mencionadas neste artigo”
(CPC/1973, art. 99, parágrafo único); g) “Às partes, aos advogados,
aos órgãos do Ministério Público, aos peritos e às testemunhas é
facultado rubricar as folhas correspondentes aos atos em que
intervieram” (CPC/1973, art. 167, parágrafo único); h) (Está impedido
de depor como testemunha) “o que intervém em nome de uma parte,
como o tutor na causa do menor, o representante legal da pessoa
jurídica, o juiz, o advogado e outros, que assistam ou tenham assistido
as partes” (CPC/1973, art. 405, § 2º, III); i) “Se o interessado não
puder ser citado pessoalmente, intervirá no processo o Ministério
Público” (art. 862, parágrafo único); j) “O devedor em mora responde
pela impossibilidade da prestação, embora essa impossibilidade
resulte de caso fortuito ou de força maior, se estes ocorrerem durante o
atraso; salvo se provar isenção de culpa, ou que o dano sobreviria
ainda quando a obrigação fosse oportunamente desempenhada” (CC,
art. 399); k) “A indenização por ofensa à liberdade pessoal consistirá
no pagamento das perdas e danos que sobrevierem ao ofendido, e se
este não puder provar prejuízo, tem aplicação o disposto no parágrafo
único do artigo antecedente” (CC, art. 954, caput).
Ver Se eu vir ou Se eu vier? (P. 681) e Viemos ou Vimos? (P. 768)
Vir à baila ou Vir à balha?
Ver À baila, À balha ou À bailha? (P. 53)

Vir de – Galicismo?
1. Questiona-se com frequência o uso da mencionada expressão seguida de
infinitivo, no sentido de acabar, por suspeita de galicismo, como em “Ele
vem de formar-se em Direito”.
2. Para Cândido de Figueiredo (1943, p. 285), vir de, como em “vimos de
narrar”, é “francesia escurril”, pois, segundo ele, “diz-se em português
de lei: acabamos de narrar, ou narramos há pouco, ou deixamos
exposto, ou… o que quiserem, menos aquilo”.
3. Eduardo Carlos Pereira também insere tal expressão no rol dos
galicismos fraseológicos ou sintáticos, daqueles que “são verdadeiras
deturpações da língua, contra os quais devemos estar premunidos”
(1924, p. 260-2).
4. Ronaldo Caldeira Xavier (1991, p. 89), de igual modo, insere a
expressão vir de no rol dos galicismos sintáticos e aconselha sua
substituição por acabar de.
5. Para Vasco Botelho de Amaral (1939, p. 54), os usos de vir de, “sem
expressão clara de movimento e com equivalência significativa de
acabar de”, são passos que se devem considerar “como menos fiéis ao
gênio do idioma”, muito embora aponte seu emprego como tal em
Camilo Castelo Branco.
6. Em sua Réplica, porém, Rui Barbosa abona-lhe o uso, por se tratar de
expressão “irrepreensivelmente vernácula” (1949, p. 547).
7. E José de Sá Nunes (1938, p. 38), arrolando significativos exemplos, é
peremptório para corroborar o posicionamento de Rui: “Vir de mais
infinitivo, quer expresse movimento, quer o não expresse, nunca foi
galicismo, a não ser que por galicistas se tenham os mais seguros
padrões da vernaculidade em todas as idades do nosso idioma”. Exs.: a)
“Mas, se o invoco, é apenas em argumento adminicular, subsídio aos
outros, que venho de expender” (Rui Barbosa); b) “Eu, que vinha de
concluir o curso geral de matemática, natural era que aspirasse a
professar essa disciplina” (Laudelino Freire); c) “Eu, aos dez anos,
vinha de perder meu pai quando já não tinha mãe” (Camilo).
8. Heráclito Graça – arrolando posicionamento de Cândido de Figueiredo,
contrário à vernaculidade de tal expressão – funda-se em lição de Rui
Barbosa de que, “por efeito de mera parecença do português com o
francês ou coincidência, ora casual, ora gerada pela ação de causas
comuns aos dois idiomas, caíram na tacha de galicismo a locução vim de
perder minha mãe e outras semelhantes”.
9. E conclui tal gramático (GRAÇA, 1904, p. 460-2) que expressões como
essa são “irrepreensivelmente vernáculas”, para o que traz em
corroboração exemplos insuspeitos: a) “De amor dos lusitanos
incendidas / Que vem de descobrir o novo mundo” (Camões); b) “Vindo
um dia elrei D. João III, de Portugal, de ouvir missa na Anunciada”
(Manuel Bernardes); c) “… que vinham de tomar seu regabofe” (Filinto
Elíseo); d) “Vinha eu de assistir de Vesta ao culto” (Antônio Feliciano de
Castilho); e) “Vinha eu… de fazer as minhas mercancias” (Alexandre
Herculano).
10. Para Júlio Nogueira (1959, p. 69), vir de no sentido de acabar de,
acaba sendo combatida como galicismo por muitos, a tanto levados por
Cândido de Figueiredo, o qual, “sem exame sério, a condenou”.
11. Também para José Oiticica (1954, p. 23-4), arrola-se tal construção
entre aquelas que “parecem galicismos ou erros”, mas “não o são”.
12. Nos dizeres de Francisco Fernandes (1971, p. 599), por um lado, “vir
de, significando acabar de, é expressão condenada como francesismo
por alguns vernaculistas” (dentre os quais Otoniel Mota e Cândido de
Figueiredo); por outro lado, “todavia, tal modo de construir é
largamente abonado por escritores também de boa nota”. Exs.: a)
“Enquanto a mim, vens de ler as pieguices amoradas de algum ‘roué’
parisiense” (Camilo Castelo Branco); b) “De amor dos lusitanos… que
vêm de descobrir um mundo novo” (Camões); c) “Vinha de ler o seu
primeiro livro, ‘Canções Românticas’…” (Machado de Assis); d) “Não
tem algumas das qualidades que vimos de nomear” (Rui Barbosa).
13. Celso Pedro Luft (1999, p. 533) até mesmo se exalta para asseverar que
tal construção “é atacada por muitos puristas maníacos mas defendida
por um Heráclito Graça… e outros”.
14. Ante tais posicionamentos divergentes entre os gramáticos,
independentemente de eventuais preferências, por força do velho
princípio de que, na dúvida, deve-se conceder liberdade ao usuário, é
de se concluir que vir de mais infinitivo, no sentido de acabar de, é
expressão vernácula, que pode ser empregada sem escrúpulos. Ex.: “O
réu vem de praticar nos autos ato nitidamente configurador de
litigância de má-fé”.

Vírgula
1. Deve-se, desde logo, evitar a visão simplista de que a vírgula serve para
marcar as pausas da fala.
2. Para combater tal posicionamento, vale a lição proferida com muita
propriedade e humor por Josué Machado: “A lição simplificada de
alguns gramáticos de que a vírgula serve para marcar pausas é singela e
incompleta. Há pessoas que sofrem de bronquite e fazem pausas fora do
compasso. Outras soluçam e gaguejam. O fato é que a pausa oral nem
sempre corresponde à pontuação” (1994, p. 63).
3. Em realidade, muito embora seja comum a coincidência entre pausas e
vírgulas, o certo é que há pausas na fala que não correspondem a
vírgulas, e também há vírgulas que não correspondem necessariamente a
pausas.
4. Por outro lado, para ilustrar a importância que reside na pontuação como
um todo, aqui se incluindo a vírgula, lembre-se a lenda de que Alexandre
Magno, não querendo prosseguir em suas conquistas, antes de voltar à
Babilônia, mandou, como era de praxe à época, fosse consultada uma
pitonisa acerca do futuro. A resposta veio em cinco palavras soltas, sem
qualquer sinal de separação; e sua leitura foi feita por Alexandre e seus
generais do modo como mais lhes convinha: “Vais. Voltas. Não morrerás
lá.” Em campanha, porém, febre aguda acometeu o grande conquistador,
que acabou morrendo aos trinta e três anos, em 323 a. C., razão pela
qual, obviamente, não mais voltou a suas conquistas. Seus generais,
lembrando-se da pitonisa, mandaram buscá-la, para que fosse punida
pela errônea previsão. Qual não foi o espanto deles, contudo, quando
ouviram dela a adequada leitura do vaticínio: “Vais. Voltas? Não!
Morrerás lá.”
5. Da lenda, de igual modo, vem a história de que, na antiga Rússia, um
czar rejeitara o apelo extremo de um condenado, encimando o recurso
com o lacônico veredicto: “Manter condenação. Impossível absolver.”
Tendo pessoal interesse no caso, mas sem querer ostensivamente
desafiar o czar, nem pedir-lhe expressamente o favor, a czarina, durante
a madrugada, teria revertido em plenitude a situação, valendo-se de
pequenas alterações: “Manter condenação impossível; absolver”
(COSTA, 2005, p. 321-2).
6. Como se vê, a questão da vírgula não é supérflua, podendo resultar
equívocos sérios de seu mau emprego, como se comprovar da análise do
art. 54, § 7º, da Lei de Registros Públicos: a) o mencionado dispositivo
registra que “o assento de nascimento deverá conter: … 7º: os nomes e
prenomes, a naturalidade, a profissão dos pais, o lugar e cartório onde
se casaram, a idade da genitora, do registrando em anos completos, na
ocasião do parto, e o domicílio ou a residência do casal”; b) a vírgula
entre genitora e do registrando – incabível, como se observa pelo próprio
sentido – consta da redação original da Lei 6.015, de 31/12/73, da Lei
6.140, de 28/11/74, e foi reproduzida na retificação da Lei de Registros
Públicos; c) sem a vírgula – como deve ser – entende-se que devem
constar a idade e os demais dados apenas da genitora à época do parto;
d) se houver insistência na vírgula – tal como não se harmoniza com a
exegese do texto – deverá constar a idade da genitora e também a idade
do registrando, em anos completos, por ocasião do parto.
7. O descuido quanto ao emprego da vírgula é facilmente constatável a uma
simples leitura de alguns dispositivos legais, como se vê no art. 526 do
Código de Processo Civil, com a redação que lhe foi conferida pela Lei
9.139, de 30/11/95: “O agravante, no prazo de 3 (três) dias, requererá
juntada, aos autos do processo de cópia da petição do agravo de
instrumento e do comprovante de sua interposição, assim como a
relação dos documentos que instruíram o recurso”.
8. Uma simples leitura dos casos de vírgula proibida fará concluir que, no
caso, tem-se um complemento nominal (aos autos) e um termo por ele
completado (juntada), hipótese em que, para não haver separação nem
ruptura de encadeamento entre eles, que estão em total dependência
sintática, não se há de empregar a vírgula.
9. Para uma visão sistematizada sobre o assunto, ver, pela ordem, vírgula
proibida, vírgula obrigatória, vírgula optativa, vírgula entre orações, mas
e a vírgula.
Ver Orações intercaladas ou interferentes? (P. 532)

Vírgula e Etc.
1. Etc. é abreviatura da locução latina et coetera, que, etimologicamente,
significa “e as outras coisas” ou “e as coisas restantes”, tendo, na
atualidade, o sentido de “assim por diante”, “afora o mais”, e “ainda
outros”, podendo abranger, além de coisas, também pessoas e animais.
Ex.: “Compareceram diversas pessoas do meio jurídico: juízes,
promotores, advogados, etc.”
2. Tem, como sinônimo pejorativo, et reliqua caterva, ou simplesmente et
caterva, literalmente “e o bando restante”, que se usa para indicar “e os
demais da mesma laia”.
3. Como se vê, já na origem latina há uma conjunção aditiva, razão por que
é errado dizer e etc. Ex.: “Compareceram diversas pessoas do meio
jurídico: juízes, promotores, advogados e etc.” (errado).
4. Nesse sentido a lição de Luiz A. P. Vitória: “antes de etc., nunca se
coloca a conjunção”.
5. Quanto à pontuação, a rigor, seria etimologicamente inconcebível o uso
da vírgula antes do etc., exatamente por considerada sua significação.
6. Nesses casos, tecnicamente, só se haveria de usar a vírgula antes de tal
palavra nas hipóteses em que tal sinal indicativo de parada existisse
antes do e, pela existência, por exemplo, de um termo intercalado. Ex.:
a) “Compareceram diversas pessoas do meio jurídico: juízes,
promotores, advogados, estes em maior número etc.” (correto); b)
“Compareceram diversas pessoas do meio jurídico: juízes, promotores,
advogados, etc.” (errado).
7. Anote-se, todavia, que o acordo ortográfico em vigência determina que a
vírgula deve ser usada em tal caso, razão pela qual a referida vírgula se
torna, então, obrigatória.
8. Exatamente por essa razão, anota Arnaldo Niskier que “a questão da
vírgula antes do etc. é simples: deve ser usada! O argumento de que
originalmente a palavra já contém o e (et) não vale, pois o que conta é o
acordo ortográfico vigente, e, diga-se de passagem, já não falamos latim
mas sim português”.
9. De Cândido de Oliveira, em seguida, vem importante observação:
“Sendo etc. a última palavra da frase, não colocamos dois pontos: um só
ponto indicará a abreviatura e o ponto final: São vales, serras, planícies,
etc.”.
10. Domingos Paschoal Cegalla sintetiza em três observações os
problemas referentes ao assunto: a) “Costuma-se usar vírgula antes
dessa abreviatura, embora contenha a conjunção e”; b) “Não se deve
usar a conjunção e antes de etc.”; c) “Pode-se empregar etc., mesmo
com referência a pessoas e animais”.
11. De fundamentados comentários de Edmundo Dantès Nascimento,
também assim se pode resumir seu ponto de vista sobre a questão, com
importantes reflexos para os textos jurídicos e forenses: a) apesar de
alguns autores – como Júlio Nogueira e Luiz Autuori – empregarem
etc. como sinônimo de outros ou de outrem, não é possível tal uso na
literatura jurídica; b) é hábito internacional fazer preceder de vírgula tal
abreviatura, apesar de repugnar a pontuação em uma série terminada
por e, sobretudo aos que não perderam a ideia do sentido etimológico
do vocábulo; c) o Vocabulário Ortográfico, aliás, sempre coloca vírgula
antes de etc.
12. É interessante notar que, no art. 232 da Lei 6.015, de 31/12/73, que
dispôs sobre os registros públicos, de acordo com a redação trazida
pela Lei 6.216, de 30/6/75, que a modificou, constava vírgula antes de
etc.; na republicação da lei, inserida na Coleção das Leis da União de
1975, vol. V, p. 61, todavia, acabou desaparecendo a mencionada
vírgula. Trata-se, sem dúvida, de evidente equívoco.

Vírgula entre orações


1. Após analisar os aspectos gerais de pontuação, de vírgula, de vírgula
proibida e de vírgula obrigatória, que buscam o enfoque da separação
entre os termos de uma oração, com centralização óbvia no período
simples, fazem-se oportunas algumas observações sobre o uso da vírgula
entre as orações, já com uma anotação primeira de que,
etimologicamente, vírgula significa varinha (SACCONI, 1979, p. 243).
2. Em decorrência de observação feita no item “Vírgula proibida”, veda-se
o uso desse sinal de pontuação entre orações principais e orações
subordinadas que equivalham a um sujeito, objeto direto, objeto indireto,
predicativo e complemento nominal (respectivamente orações
subordinadas substantivas subjetivas, objetivas diretas, objetivas
indiretas, predicativas e completivas nominais). Ex.: a) “É importante
que se preserve o estado de direito” (subjetiva); b) “Os homens de bem
querem que se preserve o estado de direito” (objetiva direta); c) “Todos
necessitam de que se preserve o estado de direito” (objetiva indireta); d)
“O desejo de todos é que se preserve o estado de direito” (predicativa);
e) “Todos têm necessidade de que se preserve o estado de direito”
(completiva nominal).
3. Também se usa a vírgula para isolar orações intercaladas. Ex.: “O
homem, dizia Rousseau, é puro em estado de natureza”.
4. No caso anterior, as orações intercaladas também podem ser separadas
por parênteses ou por travessões. Exs.: a) “O homem (dizia Rousseau) é
puro em estado de natureza” (correto); b) “O homem – dizia Rousseau –
é puro em estado de natureza” (correto).
5. As orações coordenadas normalmente são separadas por vírgulas. Ex.:
“O réu foi interrogado, mas nada confessou”.
6. Se as coordenadas são começadas por e e têm o mesmo sujeito, não são
separadas por vírgulas. Ex.: “A testemunha entrou e (a testemunha) foi
inquirida”.
7. Se, porém, as coordenadas são começadas por e e têm sujeitos
diferentes, então são separadas por vírgulas. Ex.: “A testemunha entrou,
e o juiz a inquiriu”.
8. Acresça-se outra lição de Eduardo Carlos Pereira (1924, p. 375) para a
separação de orações dessa natureza: “se as coordenadas são de pouca
extensão, basta a vírgula para separá-las”; se, porém, têm elas “certa
extensão, ou possui alguma delas termos separados por vírgulas”, então
se emprega o ponto e vírgula”. Exs.: a) “Vim, vi, venci” (coordenadas de
pequena extensão); b) “Vim aqui, oriundo de longes terras; vi a situação
adversa em todos os seu pormenores; venci uma das batalhas mais
difíceis de toda a minha vida” (coordenadas de maior extensão e/ou com
vírgulas internas).
9. A conjunção nem dispensa a vírgula, quando liga orações ou termos de
pequena extensão; há vírgula, porém, nesses casos, se as expressões ou
orações são de razoável extensão. Exs.: a) “Não falou sobre o crime nem
sobre o réu”; b) “O réu não confessou nem acusou os demais”; c) “O réu
não confessou a autoria de delito tão hediondo, nem trouxe elementos
fidedignos para o real esclarecimento dos fatos”.
10. As orações subordinadas adjetivas explicativas são separadas por
vírgulas; não, porém, as adjetivas restritivas. Exs.: a) “A Constituição,
que é a lei maior, contém cláusulas estruturais ditas pétreas” (adjetiva
explicativa); b) “O livro que comprei é de edição antiga” (adjetiva
restritiva).
11. Os textos de lei, com certa frequência, empregam, de modo indevido,
uma vírgula entre uma oração adjetiva restritiva e sua oração principal,
como se pode ver nos casos seguintes, em que, pela razão mencionada,
deve ser excluído tal sinal de pontuação: a) “Considera-se possuidor
todo aquele, que tem de fato o exercício, pleno, ou não, de algum dos
poderes inerentes ao domínio, ou propriedade” (CC/1916, art. 485; o
equívoco foi corrigido na redação do CC/2002, art. 1.196); b) “A
transcrição datar-se-á do dia, em que se apresentar o título ao oficial
do registro, e este o prenotar no protocolo” (CC/1916, art. 534; o
equívoco foi corrigido na redação do CC/2002, art. 1.246); c) “Não se
considera condição a cláusula, que não derive exclusivamente da
vontade das partes, mas decorra necessariamente da natureza do
direito, a que acede” (CC/1916, art. 117, sem correspondente no
CC/2002).
12. Um erro interessante encontra-se no art. 14, parágrafo único, do
Código de Processo Civil, incluído pela Lei 10.358, de 27/12/01, com a
seguinte redação: “Ressalvados os advogados que se sujeitam
exclusivamente aos estatutos da OAB, a violação do disposto no inciso
V deste artigo constitui ato atentatório ao exercício da jurisdição…”.
Ora, sem a vírgula entre advogados e que, tem-se uma oração
subordinada adjetiva restritiva, de modo que a ressalva que se faz é de
alguns advogados, os quais se sujeitam exclusivamente aos estatuto da
OAB, dando a entender: a) que possa haver advogados que não se
sujeitem aos estatutos da OAB; b) que possa haver advogados que se
sujeitem a outros estatutos, além dos da OAB. Essa interpretação do
texto, entretanto, não faz sentido, certo como é que apenas se quer
deixar clara a circunstância de que todos os advogados em nosso país
se sujeitam aos estatutos da OAB (algo parecido com um aposto).
Trata-se, assim, de oração subordinada adjetiva explicativa. Use-se,
portanto, a vírgula e faça-se a correção: “Ressalvados os advogados,
que se sujeitam exclusivamente aos estatutos da OAB,…”.
13. As orações subordinadas adverbiais são, por via de regra, separadas por
vírgula de suas principais, sobretudo quando antepostas a estas últimas.
Ex.: “Quando o magistrado entrou na sala, todos fizeram silêncio”.
Ver Ponto e vírgula – Emprego (P. 573) e Vírgula optativa (P. 777).

Vírgula e numerais por extenso


Ver Números cardinais – Como escrever por extenso? (P. 505)

Vírgula e orações subordinadas adverbiais


1. Um leitor indaga se está correto o uso da vírgula nos seguintes
exemplos: a) “Nosso vibrante matutino tem os melhores leitores, porque
tem os melhores articulistas?”; b) “Ou tem os melhores articulistas,
porque tem os melhores leitores?”
2. A análise sintática de ambos os exemplos revela os seguintes aspectos:
a) os dois períodos são compostos, já que ambos têm mais de uma
oração; b) e são compostos por subordinação, já que, em ambos, a
segunda oração indica uma circunstância peculiar do que se diz na
primeira; c) em ambos, a primeira oração é a oração principal (“Nosso
vibrante matutino tem os melhores leitores…” e “[Nosso vibrante
matutino] tem os melhores articulistas…”); d) em ambos, a segunda é
uma oração subordinada adverbial causal, já que ambas representam a
causa do que se afirma na oração principal (“… porque tem os melhores
articulistas” e “… porque tem os melhores leitores”).
3. Feitas essas observações atinentes à estrutura sintática dos exemplos
trazidos para análise, invoca-se, então, por aplicável ao caso, uma regra
específica para o emprego da vírgula nos períodos compostos: as orações
subordinadas adverbiais, desde que não sejam de pequena extensão,
normalmente são separadas por vírgula de suas orações principais, não
importando qual delas vem antes. Exs.: a) “A memória dos velhos é
menos pronta, porque seu arquivo é mais extenso” (oração subordinada
adverbial causal); b) “O homem prudente se humilha pela experiência,
como as espigas se curvam por maduras” (oração subordinada adverbial
comparativa); c) “Não desfrutou o resultado de seu esforço, embora
tenha trabalhado a vida toda” (oração subordinada adverbial
concessiva); d) “Os homens seriam incapazes de heroísmo, se não
tivessem alguma coisa de loucos” (oração subordinada adverbial
condicional); e) “Viajou para o exterior com todos os seus pertences,
conforme lhe determinara o severo pai” (oração subordinada adverbial
conformativa); f) “Devemos viver a nossa vida de tal modo, que
possamos não recear depois da morte” (oração subordinada adverbial
consecutiva); g) “Fiz-lhe sinal de modo claro e intenso, para que não
cometesse alguma indiscrição naquela hora” (oração subordinada
adverbial final); h) “O instinto dos homens enfraquece, à medida que sua
razão se desenvolve” (oração subordinada adverbial proporcional); i)
“Ele se desesperou de todas as circunstâncias e possibilidades, quando
percebeu a total falta de saídas para seu problema” (oração subordinada
adverbial temporal).
4. E, uma vez postas essas ponderações, confiram-se as respostas às
indagações do leitor: a) as vírgulas estão corretas em ambos os
exemplos; b) e isso porque, em ambos, a primeira oração é a oração
principal, enquanto a segunda é uma oração subordinada adverbial
causal; c) em verdade, por regra específica aplicável ao caso, entre uma
oração principal e uma oração subordinada adverbial de alguma
extensão, haverá vírgula que as há de separar.

Vírgula e Termos intercalados


1. O emprego da vírgula com expressões e termos intercalados é assunto
que gera muitas dúvidas, motivo por que se parte dos seguintes
exemplos, para se estudar a matéria: a) “Vem, respeitosamente, à
presença de Vossa Excelência”; b) “Vem respeitosamente à presença de
Vossa Excelência”?
2. Ora, quando se trata do emprego da vírgula, deve-se atentar a uma
primeira regra: não se usa a vírgula entre termos da oração que estejam
em ordem direta (sujeito + verbos + complementos). Ex.: “Os
integrantes da defesa civil entregaram suprimentos e remédios aos
flagelados das enchentes durante toda a noite passada”.
3. Uma segunda regra: partindo-se do princípio de que não se emprega a
vírgula na ordem direta, complementa-se que ela é empregada para
marcar a intercalação ou a inversão de termos da oração. Exs.: a)
“Durante toda a noite passada, os integrantes da defesa civil
entregaram suprimentos e remédios aos flagelados das enchentes”; b)
“Os integrantes da defesa civil, durante toda a noite passada,
entregaram suprimentos e remédios aos flagelados das enchentes”; c)
“Os integrantes da defesa civil entregaram, durante toda a noite
passada, suprimentos e remédios aos flagelados das enchentes”; d) “Os
integrantes da defesa civil entregaram suprimentos e remédios, durante
toda a noite passada, aos flagelados das enchentes”.
4. Anote-se, porém, que, quando a inversão ou intercalação é de apenas
uma palavra ou pequena expressão, acaba sendo optativo o emprego de
tais vírgulas. Exs.: a) “Amanhã, os integrantes da defesa civil entregarão
suprimentos e remédios aos flagelados das enchentes”; b) “Os
integrantes da defesa civil, amanhã, entregarão suprimentos e remédios
aos flagelados das enchentes”; c) “Os integrantes da defesa civil
entregarão, amanhã, suprimentos e remédios aos flagelados das
enchentes”; d) “Os integrantes da defesa civil entregarão suprimentos e
remédios, amanhã, aos flagelados das enchentes”; e) “Amanhã os
integrantes da defesa civil entregarão suprimentos e remédios aos
flagelados das enchentes”; f) “Os integrantes da defesa civil amanhã
entregarão suprimentos e remédios aos flagelados das enchentes”; g)
“Os integrantes da defesa civil entregarão amanhã suprimentos e
remédios aos flagelados das enchentes”; h) “Os integrantes da defesa
civil entregarão suprimentos e remédios amanhã aos flagelados das
enchentes”.
5. Observe-se, todavia, que, quando há intercalação com vírgula optativa,
ou se usam ambas as vírgulas, ou não se utiliza nenhuma delas. Exs.: a)
“O réu, displicentemente, segurava o queixo” (correto); b) “O réu
displicentemente segurava o queixo” (correto); c) “O réu,
displicentemente segurava o queixo” (errado); d) “O réu
displicentemente, segurava o queixo” (errado).
6. Em relação aos exemplos inicialmente dados, vejam-se as variações,
com a indicação de acerto ou erronia no emprego da vírgula: a) “Vem,
respeitosamente, à presença de Vossa Excelência” (correto); b) “Vem
respeitosamente à presença de Vossa Excelência” (correto); c) “Vem,
respeitosamente à presença de Vossa Excelência” (errado); d) “Vem
respeitosamente, à presença de Vossa Excelência” (errado).

Vírgula na escrita e pausa na fala coincidem?


1. Para bem elucidar a questão, parte-se do seguinte exemplo: “A disputa
travada entre estudantes, professores e bibliotecários contra editores
por conta de cópias de livros, é um dos assuntos…”. E se indaga, desde
logo, se está correta a vírgula após o vocábulo livros.
2. Em termos de realidade gramatical, vamos fixar alguns princípios
básicos e desfazer alguns mal-entendidos comuns no assunto: a) a
vírgula não serve sempre para marcar pausas na fala, embora seja
comum que pausas e vírgulas coincidam; b) ou seja: há pausas na fala
que não correspondem a vírgulas na escrita; c) de igual modo, há
vírgulas que não correspondem necessariamente a pausas na fala.
3. Por outro lado, o emprego correto da vírgula exige alguns
conhecimentos mínimos da estrutura sintática do trecho a ser pontuado,
o que, no caso concreto, significa observar, em termos práticos: a) “A
disputa… é um dos assuntos…” é a oração principal; b) travada é um
verbo que está no particípio passado e forma uma oração reduzida de
particípio; c) exatamente por ser forma reduzida de oração, travada pode
ser estendida para que se travou ou que foi travada; d) quando se analisa
a forma estendida de tal oração, verifica-se que o que é um pronome
relativo, de modo que a oração por ele iniciada é uma oração
subordinada adjetiva; e) em termos de estrutura, “a disputa… é um dos
assuntos…” é a oração principal, e “… travada entre estudantes,
professores e bibliotecários contra editores por conta de cópias de
livros” é a oração subordinada adjetiva, que se intercala entre os termos
daquela; f) assim, a vírgula discutida está entre o fim de uma oração
subordinada adjetiva e a oração principal em que aquela se intercalou.
4. Ora, as orações subordinadas adjetivas podem ser de duas espécies:
explicativas e restritivas (o que não precisa ser aprofundado na hipótese
analisada). As explicativas sempre têm vírgulas em seu começo e em seu
final. Já as restritivas normalmente não são separadas da principal por
vírgula. Se, porém, têm uma extensão considerável, mesmo as restritivas
podem ter vírgula em seu final.
5. No caso, se fosse explicativa, a oração adjetiva teria vírgula em seu final.
Se fosse restritiva (e ela o é), também poderia ter vírgula, já que tem
significativa extensão.
6. Em resumo, voltando ao exemplo inicialmente dado, está correta a
vírgula após o vocábulo livros.
7. Esclarece-se que, até porque não é o objeto da questão, não se analisam
outros aspectos de pontuação no texto.

Vírgula nas citações de artigos de lei


1. Como é frequente o equívoco, vale a pena observar, quanto ao emprego
da vírgula, se o correto é “artigo 5º, inciso III, da Constituição Federal”,
ou “artigo 5º, inciso III da Constituição Federal”.
2. E a explicação é das mais pertinentes, até porque os erros são bastante
comuns nesse campo, embora a matéria não seja grandemente complexa.
3. Para uma explicação didática, veja-se um primeiro exemplo: “A alínea
‘c’ do inciso VII do § 3º do art. 206 do Código Civil trata da prescrição
trienal para ações que visem a responsabilizar os liquidantes por
violação da lei ou do estatuto”.
4. Desse primeiro modo de citar dispositivos de lei, podem-se fazer as
seguintes ponderações: a) a citação vai do particular, ou seja do elemento
mais minucioso (alínea), em ordem gradativa (perpassando por inciso,
parágrafo e artigo) para o mais geral (Código Civil); b) entre os diversos
elementos (alínea, inciso, parágrafo, artigo e Código Civil) existe a
preposição de; c) a existência da preposição de entre tais elementos já
revela que eles estão encadeados na estruturação da frase, em total
dependência sintática; d) nesse caso, até para não haver separação nem
ruptura de encadeamento entre termos que estão em total dependência
sintática, não há vírgula alguma, não importando a extensão dessas
referências.
5. Considere-se um segundo exemplo: “O art. 206, § 3º, inciso VII, alínea
‘c’, do Código Civil trata da prescrição trienal para ações que visem a
responsabilizar os liquidantes por violação da lei ou do estatuto”.
6. Desse segundo modo de citar dispositivos de lei, podem-se fazer os
seguintes comentários e afirmações: a) em tal construção, o que
normalmente se tem é o artigo no começo e o diploma legal (Código
Civil) no final; b) entre tais elementos, intercalam-se as especificações
(no caso, o parágrafo, o inciso e a alínea); c) tal discriminação dos
elementos intercalados dá-se em ordem decrescente (parágrafo é mais
que inciso, e inciso é mais que alínea); d) ora, uma das serventias da
vírgula é exatamente indicar uma intercalação de vocábulos ou termos
da oração; e) reforce-se que tal intercalação ocorre entre vírgulas (ou
seja, há vírgula antes e depois de cada intercalação).
7. De modo específico para exemplo inicialmente dado, vejam-se as
variações de estrutura com a indicação de sua correção ou erronia: a)
“Confira-se o artigo 5º, inciso III, da Constituição Federal” (correto); b)
“Confira-se o artigo 5º, inciso III da Constituição Federal” (errado); c)
“Confira-se o artigo 5º inciso III, da Constituição Federal” (errado); d)
“Confira-se o artigo 5º inciso III da Constituição Federal” (errado); e)
“Confira-se o inciso III do artigo 5º da Constituição Federal” (correto);
f) “Confira-se o inciso III, do artigo 5º, da Constituição Federal”
(errado); g) “Confira-se o inciso III, do artigo 5º da Constituição
Federal” (errado); h) “Confira-se o inciso III do artigo 5º, da
Constituição Federal” (errado).

Vírgula obrigatória
1. Com a anotação de que as regras nem sempre são tão rígidas para seu
emprego, a vírgula – etimologicamente uma varinha (SACCONI, 1979,
p. 243) – em mesma oração, é usada para: a) Separar os elementos de
uma enumeração. Ex.: “O réu era feio, magro, doente”; b) Isolar o
aposto. Ex.: “Clóvis Beviláqua, autor do projeto do Código Civil, é
considerado por muitos seu melhor intérprete”; c) Isolar o vocativo. Ex.:
“Nobre causídico, mantenha-se nos limites da cortesia e da urbanidade
de tratamento”; d) Indicar inversão ou intercalação de algum elemento
da frase, fazendo-a sair da ordem direta. Ex.: “Ao final da audiência, os
advogados requereram prazo para memoriais” (inversão); “Os
advogados requereram, ao final da audiência, prazo para memoriais”
(intercalação); e) Indicar a supressão do verbo. Ex.: “Depois da
tempestade, a bonança”; f) Isolar termos pleonásticos ou repetidos. Ex.:
“Com a presença de testemunha tão inesperada, o réu ficou branco,
branco de espanto”; g) Destacar as expressões explanatórias ou
corretivas (isto é, a saber, ou seja, além disso, por exemplo, vale
dizer…). Ex.: “A testemunha mentiu, isto é, não esclareceu aspectos
importantes”.
2. Mesmo com as regras apontadas, algumas considerações especiais se
fazem necessárias aos casos observados: a) No que respeita à inversão
entre os termos da oração, a posposição do sujeito ao verbo normalmente
não vem marcada pela vírgula. Ex.: “Não redundará em condenação a
sentença destes autos”; b) Quando a intercalação ou inversão se dão com
uma só palavra ou com expressão de poucas palavras, as vírgulas que
marcam tal ocorrência acabam sendo optativas. Exs.: i)
“Displicentemente, o réu segurava o queixo com a mão” (correto); ii)
“Displicentemente o réu segurava o queixo com a mão” (correto); iii) “O
réu segurava, displicentemente, o queixo com a mão” (correto); iv) “O
réu segurava displicentemente o queixo com a mão” (correto); c)
Observe-se, todavia, que, quando há intercalação com vírgula optativa,
ou se usam ambas as vírgulas, ou não se utiliza nenhuma delas. Exs.: i)
“O réu, displicentemente, segurava o queixo” (correto); ii) “O réu
displicentemente segurava o queixo” (correto); iii) “O réu,
displicentemente segurava o queixo” (errado); iv) “O réu
displicentemente, segurava o queixo” (errado); d) Se a conjunção inicia
oração, não há razão alguma para a existência de vírgula logo após, até
porque o exemplo há de estar na ordem direta, circunstância essa que
dispensa a vírgula. Ex.: “O réu falou muito, entretanto não convenceu o
magistrado”.
3. Mantém-se o posicionamento por último externado, apesar da lição
contrária de Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 239) de que seja
“facultativo, dependendo de ênfase ou não, o emprego da vírgula depois
de conjunções que principiem período”. Exs.: a) “Muitos processos
foram julgados. Todavia nem todos foram alvo de recurso”; b) “Muitos
processos foram julgados. Todavia, nem todos foram alvo de recurso”.
Ver Ponto e vírgula – Emprego (P. 573), Pontuação (P. 574), Rua tal,
número tal (P. 676), Vírgula entre orações (P. 773), Vírgula optativa (P. 777) e
Vírgula proibida (P. 779).
Vírgula optativa
1. Com a anotação de que as regras nem sempre são tão rígidas para seu
emprego, já se viu, no estudo da vírgula proibida, que ela, em mesma
oração, não é usada entre termos da oração que estejam em ordem direta,
a saber, entre sujeito e verbo, entre verbo e seus complementos.
2. Será ela, todavia, empregada para indicar inversão ou intercalação de
algum elemento da frase, fazendo-o sair da ordem direta. Ex.: a) “Ao
final da audiência, os advogados requereram prazo para memoriais”
(inversão); b) “Os advogados requereram, ao final da audiência, prazo
para memoriais” (intercalação).
3. Além disso, no que respeita à inversão entre os termos da oração, a
posposição do sujeito ao verbo normalmente não vem marcada pela
vírgula. Ex.: “Não redundará em condenação a sentença destes autos”.
4. Mais do que isso, quando a intercalação ou inversão se dão com uma só
palavra ou com expressão de poucas palavras, as vírgulas que marcam
tal ocorrência acabam sendo optativas. Exs.: a) “Displicentemente, o réu
segurava o queixo com a mão” (correto); b) “Displicentemente o réu
segurava o queixo com a mão” (correto); c) “O réu segurava,
displicentemente, o queixo com a mão” (correto); d) “O réu segurava
displicentemente o queixo com a mão” (correto).
5. Observe-se, todavia, que, quando há intercalação com vírgula optativa,
ou se usam ambas as vírgulas, ou não se utiliza nenhuma delas. Exs.: a)
“O réu, displicentemente, segurava o queixo” (correto); b) “O réu
displicentemente segurava o queixo” (correto); c) “O réu,
displicentemente segurava o queixo” (errado); d) “O réu
displicentemente, segurava o queixo” (errado).
6. Equívocos dessa ordem encontram-se com frequência, até mesmo em
textos de lei.
7. Considere-se o seguinte dispositivo de lei: “Tratando-se de registro fora
do prazo legal o oficial, em caso de dúvida poderá requerer ao juiz as
providências que forem cabíveis para esclarecimento do fato” (art. 52, §
2º, da Lei 6.015, de 31/12/73, que dispôs sobre os registros públicos).
8. Independentemente da falta de vírgula já após o adjetivo legal, sinal este
obrigatório por se tratar de oração subordinada adverbial temporal
reduzida de gerúndio e anteposta à principal (Ver Vírgula entre orações),
o certo é que a expressão em caso de dúvida está intercalada entre o
sujeito, que é oficial, e o respectivo verbo, que é a locução poderá
requerer.
9. Dessas considerações resulta a obrigatoriedade de colocação de vírgula
após a expressão intercalada; assim: “… o oficial, em caso de dúvida,
poderá requerer…”.
10. Anote-se, por oportuno, que a vírgula após dúvida, no caso, constava
do texto primitivo da lei, mas este apareceu sem ela, quando de sua
republicação.
11. Mais um dispositivo equivocado: “O juiz competente somente
processará o pedido, se tiver expressa concordância do companheiro, e
se da vida em comum houverem decorrido, no mínimo cinco anos ou
existirem filhos da união” (art. 57, § 3º, da já referida Lei de Registros
Públicos).
12. Uma observação mais atenta revela que no mínimo se intercala entre a
locução verbal houverem decorrido e seu sujeito cinco anos; e, com
expressões intercaladas dessa natureza, ou se empregam ambas as
vírgulas, ou não se emprega nenhuma delas.
13. Esclareça-se que, de igual modo, a vírgula aparecia regularmente no
texto da Lei 6.216, de 30/6/75, mas foi omitida pela republicação da
Lei de Registros Públicos.
14. Ainda um outro exemplo: “O financiador abrirá, com o valor do
financiamento conta vinculada à operação…” (art. 4º do Decreto-lei
413, de 9/1/69, que dispôs sobre os títulos de crédito industrial).
15. A expressão com o valor do financiamento encontra-se intercalada
entre o verbo abrirá e o objeto direto conta; se se emprega a vírgula
antes da expressão, a intercalação deve ser total, e deve haver a
segunda vírgula, ao final dela.
16. Corrija-se, por conseguinte: “O financiador abrirá, com o valor do
financiamento, conta vinculada à operação…”.
17. Outro equívoco dessa ordem surge pouco à frente, logo no art. 6º do
mesmo Decreto-lei 413, de 9/1/69: “O devedor facultará ao credor a
mais ampla fiscalização do emprego da quantia financiada, exigindo,
inclusive os elementos que lhe forem exigidos”.
18. Empregada a vírgula antes de inclusive, obrigatória é também a
segunda vírgula.
19. Mas não é só: o art. 227 do Código de Processo Civil, em certo trecho,
traz a seguinte redação: “…deverá, havendo suspeita de ocultação,
intimar a qualquer pessoa da família, ou em sua falta a qualquer
vizinho, que, no dia imediato voltará, afim de efetuar a citação…”.
20. Ora, a expressão “no dia imediato” está sabidamente intercalada. Por
se tratar de intercalação, assim, ou se usam as duas vírgulas, ou não se
emprega nenhuma. Corrija-se, portanto, para uma das duas seguintes
formas: a) “… que, no dia imediato, voltará…”; b) “… que no dia
imediato voltará…”. Jamais, porém, como consta no texto de lei: “…
que, no dia imediato voltará…”.
Ver Ponto e vírgula – Emprego (P. 573), Pontuação (P. 574), Rua tal,
número tal (P. 676), Vírgula entre orações (P. 773) e Vírgula proibida (P.
779).

Vírgula – Pode existir com as orações substantivas?


1. Um leitor parte da afirmação de que as orações substantivas
normalmente se separam sem vírgula da oração principal. E indaga se,
quando deslocadas, isto é, quando vêm antes da principal, são ou não são
separadas por vírgula. E pergunta adicionalmente se tal vírgula é
obrigatória ou não. Remata questionando se os gramáticos conhecidos
tocam nesse assunto.
2. Ora, a primeira regra geral de proibição de vírgula diz que, por não haver
separação lógica nem ruptura de encadeamento entre termos que, pela
própria estruturação da frase, estão em total dependência sintática, não
será ela usada entre: a) sujeito e verbo (“O juiz proferiu uma sentença
condenatória”); (b) verbo e objeto direto (“O juiz liberou o réu”); c)
verbo e objeto indireto (“O réu depende da sentença”); d) verbo e
predicativo do sujeito (“A sentença foi longa”); e) verbo e agente da
passiva (“Uma sentença condenatória foi proferida pelo juiz”); f)
adjunto adnominal e substantivo modificado (“A resposta do réu
provocou indignação”; g) complemento nominal e vocábulo completado
(“A resposta ao magistrado provocou indignação”).
3. Por extensão da própria regra anterior, a vírgula também não será usada
entre as orações principais e aquelas que exerçam as funções sintáticas
de sujeito, objeto direto, objeto indireto, predicativo do sujeito e
complemento nominal, exatamente as chamadas orações substantivas
(assim chamadas por desempenharem uma função própria de um
substantivo), as quais, desse modo, serão denominadas, respectivamente,
subjetivas, objetivas diretas, objetivas indiretas, predicativas e
completivas nominais.
4. Exemplifica-se para melhor entendimento: a) “É muito importante que
se preserve o estado de direito” (subjetiva); b) “Os homens de bem
querem que se preserve o estado de direito” (objetiva direta); c) “Todos
necessitam de que se preserve o estado de direito” (objetiva indireta); d)
“O desejo de todos é que se preserve o estado de direito” (predicativa);
e) “Todos têm necessidade de que se preserve o estado de direito”
(completiva nominal).
5. Com essas premissas e esclarecendo que os gramáticos conhecidos não
tocam nesse assunto, passa-se a responder aos leitores: a) a regra de que
a ordem direta dispensa a vírgula no período simples traz, como
corolário, ainda no período simples, a regra de que a inversão dos termos
da oração permite separação por vírgula, sobretudo quando o termo
invertido é de razoável extensão (“Em reação coletiva, toda a plateia se
levantou”); b) no que concerne às orações substantivas, a estruturação
típica dos períodos em que elas se situam é exatamente aquela que foi
delineada nos exemplos acima, a saber, oração principal + oração
subordinada substantiva; c) embora raramente os casos práticos
permitam, a anteposição da oração subordinada substantiva, por fugir à
estruturação típica desses períodos, constituirá verdadeira inversão; d) e
essa inversão poderá ser marcada pela vírgula ([i] “Que se preserve o
estado de direito, é muito importante”; [ii] “Que ele volte, não me
importa” [iii] “Se ele vem, ainda não sei”); e) como a inversão, nesses
casos, é de significativa extensão, então a vírgula, de facultativa como
regra geral, passa a ser obrigatória.
6. Apenas se tecem, por fim, embora ligeiros, oportunos comentários à
observação do leitor de que os estudiosos, de um modo geral, nada falam
sobre isso. É que, num primeiro aspecto, apenas a partir da década de
cinquenta do século XX, a pontuação tomou significativo impulso e
passou a orientar-se – além das razões sintáticas tradicionais e dos
impulsos subjetivos – pelas recomendações e exigências mais apuradas
da redação técnica. Isso faz concluir que os chamados clássicos de nossa
literatura nem sempre lhe atribuíram posição de relevo, motivo pelo qual
não é incomum encontrar, mesmo em abalizados escritores, erros de
pontuação similares aos cometidos hoje por qualquer usuário médio do
idioma. Por outro lado, os livros de Gramática de hoje também
apresentam poucos elementos sobre o assunto por duas razões: primeira,
os gramáticos de peso normalmente têm sua formação forjada na
primeira metade do século XX, vale dizer, antes do despertar para esse
assunto; segunda, por um abissal equívoco dos responsáveis, o ensino da
Gramática deixou de ter importância significativa nos currículos de
nossas escolas exatamente no começo da segunda metade do século
passado, o que significa pequenos esforços, estudos e progressos nesse
campo.

Vírgula proibida
1. Por não haver separação nem ruptura de encadeamento entre termos que,
pela própria estruturação da frase, estão em total dependência sintática, a
vírgula – etimologicamente uma varinha (SACCONI, 1979, p. 243) –
não será usada nos casos seguintes: a) Entre sujeito e verbo. Ex.: a) “O
juiz proferiu uma sentença condenatória”; b) Entre verbo e objeto direto.
Ex.: b) “O juiz proferiu uma sentença condenatória”; c) Entre verbo e
objeto indireto. Ex.: “O réu depende da sentença”; d) Entre verbo e
predicativo. Ex.: “A sentença foi longa”; e) Entre verbo e agente da
passiva. Ex.: “Uma sentença condenatória foi proferida pelo juiz”; f)
Entre o adjunto adnominal e o substantivo modificado. Ex.: “A resposta
do réu provocou indignação”; g) Entre o complemento nominal e o
vocábulo por ele completado. Ex.: “A resposta ao magistrado provocou
indignação”.
2. Por força da própria observação anterior, vê-se que a vírgula também
não será usada entre as orações principais e aquelas que exerçam funções
sintáticas de sujeito, objeto direto, objeto indireto, predicativo do sujeito
e complemento nominal.
3. Vale dizer: não haverá vírgula entre as orações principais e as orações
subordinadas substantivas subjetivas, as objetivas diretas, as objetivas
indiretas, as predicativas e as completivas nominais. Exs.: “É importante
que se preserve o estado de direito” (subjetiva); “Os homens de bem
querem que se preserve o estado de direito” (objetiva direta); c) “Todos
necessitam de que se preserve o estado de direito” (objetiva indireta); d)
“O desejo de todos é que se preserve o estado de direito” (predicativa);
e) “Todos têm necessidade de que se preserve o estado de direito”
(completiva nominal); f) “Os homens de bem querem uma coisa
importante: de que se preserve o estado de direito” (apositiva).
4. Por outro lado, apesar de que um dos usos da vírgula seja marcar uma
inversão, o certo é que não se dá seu emprego para indicar posposição do
sujeito ao verbo, caso esse em que ela é proibida. Exs.: a) “Caminhavam
o pai e a filha calmamente”; b) “Saíram o advogado e seu cliente para
uma conversa particular”; c) “Conversavam animadamente o juiz, os
advogados e as testemunhas”.
5. Além de ser comum essa espécie de erro nos textos jurídicos, vê-se que
às vezes derrapam nesse campo até mesmo alguns dispositivos de lei,
como é o caso do art. 7º da Lei 9.790, de 23/3/99, que dispôs sobre a
organização da sociedade civil: “… serão assegurados, ampla defesa e o
devido contraditório…”.
6. Corrija-se: serão assegurados ampla defesa e o devido contraditório,
porque ampla defesa e o devido contraditório serão assegurados.
7. Confirme-se que os textos de lei, às vezes, equivocam-se nesse sentido,
lançando vírgula entre termos que não a permitem: a) “A novação por
substituição do devedor, pode ser efetuada independente de
consentimento deste” (CC/1916, art. 1.001. Tal vírgula, existente assim
no texto oficial, posta-se, de modo irregular, entre sujeito e verbo. O
CC/2002, art. 362, corrigiu o equívoco pela eliminação da mencionada
vírgula).
Ver Ponto e vírgula – Emprego (P. 573), Pontuação (P. 574), Vírgula entre
orações (P. 773), Vírgula obrigatória (P. 777) e Vírgula optativa (P. 777).

Vírgula – Questão Prática


1. Um leitor parte do seguinte texto, que foi objeto de questionamento em
algum exame ou concurso: “Levantamento do Mapa da Violência
mostrou que o cenário pacífico ficou no passado. Divulgado no dia 30 de
março pelo Instituto Sangari, o documento prova que a criminalidade
mudou de endereço. Migrou das capitais e regiões metropolitanas para o
interior.”
2. E traz para análise a alternativa “c” da questão respectiva, que foi dada
como correta, quanto ao emprego da vírgula, por quem confeccionou o
gabarito (de modo equivocado, no entender do leitor): “(C) A correção
gramatical do texto seria mantida, caso o trecho ‘Divulgado no dia 30 de
março pelo Instituto Sangari’ fosse deslocado para depois da expressão
‘o documento’, da seguinte forma: ‘O documento divulgado no dia 30 de
março pelo Instituto Sangari’”.
3. Adicionalmente, transcreve a justificativa que quem confeccionou o
gabarito deu para considerar correta a alternativa: “No texto original, a
oração ‘Divulgado no dia 30 de março pelo Instituto Sangari’ vem
separada por vírgula pelo fato de ser reduzida anteposta e ter valor
explicativo (Divulgado = que foi divulgado); o deslocamento colocaria a
oração em sua posição normal e isso dispensaria o uso da vírgula. Então,
o deslocamento proposto: ‘O documento divulgado no dia 30 de março
pelo Instituto Sangari’ manteria a correção gramatical do texto”.
4. Antes de responder à indagação do leitor, consideram-se, de início, dois
outros exemplos para a fixação de premissas didáticas importantes: a)
“O documento que foi divulgado ontem não é verdadeiro”; b) “O
documento, que foi divulgado ontem, não é verdadeiro”.
5. Uma acurada reflexão, quando comparados ambos os exemplos, faz
concluir pelos seguintes aspectos para o primeiro deles: a) o vocábulo
“documento” tem sentido genérico; b) a expressão “que foi divulgado
ontem” acaba por restringir-lhe a abrangência; c) isso quer dizer que,
dentre todos os documentos possíveis, sua significação é particularizada
para “aquele que foi divulgado ontem”.
6. Seguindo a análise, também se podem extrair as seguintes ilações para o
segundo dos exemplos: a) o vocábulo documento, desde logo, demonstra
ter um sentido específico e conhecido pelo leitor, bem possivelmente
porque já tenha sido mencionado; b) desse modo, a expressão “que foi
divulgado ontem” não lhe restringe a abrangência, mas apenas explicita
uma circunstância que lhe é própria ou lhe fornece uma explicação; c)
isso quer dizer que a palavra documento, antes e depois de acrescida a
mencionada expressão, continua com a mesma extensão semântica.
7. Com esses elementos, podem-se extrair as seguintes conclusões: a) em
ambas as frases, “que foi divulgado ontem” é uma expressão que
modifica o vocábulo documento; b) como essa modificação é
representada por uma expressão que contém um verbo, tem-se que o
trecho modificador constitui uma oração; c) como essa oração
desempenha uma função sintática em relação a um termo da outra
oração (a saber, “O documento […] não é verdadeiro”), que é a oração
principal, então ela é chamada de oração subordinada; d) como a
oração sob análise modifica um substantivo, então tecnicamente
equivale a um adjetivo e é chamada de oração subordinada adjetiva; e)
como, no primeiro exemplo, essa oração restringe o sentido do
substantivo modificado, particularizando-o entre todos os demais da
mesma espécie, então ela se chama oração subordinada adjetiva
restritiva; f) como, no segundo caso, essa oração apenas explicita uma
circunstância já existente na palavra modificada ou fornece uma
explicação a seu respeito, então ela se chama oração subordinada
adjetiva explicativa; g) importa, ainda, acrescentar que, se a forma do
verbo não for estendida (“que foi divulgado”), mas compacta, no
particípio (apenas “divulgado”), ainda deverá ser esclarecida essa
circunstância (no primeiro exemplo, oração subordinada adjetiva
restritiva reduzida de particípio, enquanto, no segundo, oração
subordinada adjetiva explicativa reduzida de particípio).
8. E se adicionam outras observações: a) as orações adjetivas normalmente
são iniciadas por um pronome relativo (no caso, que = o qual na oração
estendida); b) é regra que a oração adjetiva explicativa vem separada
por vírgulas da oração principal; c) também é regra que a oração
adjetiva restritiva não vem antecedida por vírgula e, excepcionalmente,
sobretudo quando é de maior extensão, pode ter vírgula em seu término.
9. Quanto ao exemplo trazido pelo leitor, uma vez aplicados os princípios
antes alinhados e seguido o raciocínio até agora feito, são pertinentes os
seguintes comentários: a) é verdade que, no caso trazido para análise,
pode-se deslocar, sem alteração de sentido, a primeira parte do trecho
referido; b) não se pode esquecer, todavia, que o trecho inicial, que se
intercala, tem conotação explicativa, e não restritiva; c) tecnicamente,
constitui uma oração subordinada adjetiva explicativa, fato esse que se
constata com facilidade, quando se estende seu verbo, que vem no
particípio; d) por ser explicativa, tal oração adjetiva deve ser intercalada
na oração principal por meio de vírgulas; e) a forma correta, então, é “O
documento, divulgado no dia 30 de março pelo Instituto Sangari, prova
que a criminalidade mudou de endereço”; f) isso faz concluir que, tal
como posta a questão trazida para análise, a correção gramatical não foi
mantida ao se proceder à intercalação da parte inicial sem vírgulas; g)
em outras palavras, vale dizer que assiste razão ao raciocínio do leitor
consulente.

Vir ou Vier?
1. Um leitor indaga qual das duas formas é correta nos exemplos seguintes:
a) “Se você vir, nós sairemos”; b) “Se você vier, nós sairemos”.
2. Ora, o futuro do subjuntivo do verbo ver se conjuga do seguinte modo:
se eu vir, se tu vires, se ele vir, se nós virmos, se vós virdes, se eles
virem.
3. Já o verbo vir, nesse mesmo tempo, apresenta as seguintes formas: se eu
vier, se tu vieres, se ele vier, se nós viermos, se vós vierdes, se eles
vierem.
4. O leitor não estabeleceu com precisão qual verbo pretende ver
conjugado no caso concreto, e, com um pequeno esforço, podem-se
formular situações em que caiba ora um sentido, ora outro; a) “Se você
vir que realmente não temos razão, nós sairemos” (correto); b) “Se você
vier para nos atrapalhar, nós sairemos” (correto).
5. E, assim, respondendo diretamente à indagação feita, mas apenas
analisando os exemplos tais como trazidos pelo leitor, pode-se afirmar
genericamente que ambos são corretos: o primeiro, como forma do verbo
ver; o segundo, do verbo vir.

Vírus – Qual é seu plural?


Ver Ônibus – Qual é seu plural? (P. 529)

Vir vindo – Está correto?


1. Em expressões como vai indo, vem vindo, há indiscutível cunho
pleonástico. São, porém, ambas formas corretas, que podem ser
empregadas normalmente no vernáculo.
2. Veja-se, nessa esteira, o exemplo de Camilo Castelo Branco: “Parece-me
que são horas de vir vindo o jantar”.
3. Em realidade, trata-se de caso em que o verbo vir acaba sendo auxiliar
de si próprio, em construção perfeita e correta, como demonstra o
seguinte exemplo de Machado de Assis: “Vieram vindo depois os
bravos, os apoiados, os não apoiados, uma bonita agitação”.
4. Exatamente nessa esteira, anota Celso Pedro Luft que o verbo vir pode
fazer-se acompanhar de gerúndio, caso em que “exprime aspecto
progressivo continuativo ou incoativo”, como nos seguintes exemplos:
Vem superando a expectativa. Eles vinham resistindo bem. A lua vinha
nascendo.
5. E, de modo específico para o que aqui estamos observando,
complementa tal autor que, de igual modo, “pode ocorrer a combinação
vir vindo” (LUFT, 1999, p. 533-4).

Visar
1. Quanto à regência verbal, na lição de Artur de Almeida Torres, “é
transitivo direto nas acepções de pôr o sinal de visto em; apontar arma
de fogo”. Exs.: a) “Visar um passaporte” (Caldas Aulete); b) “Visa
sempre o mesmo alvo” (Mário Barreto).
2. Complementa tal gramático com a lição de que, “no sentido de ter em
vista um fim, dirigir os seus esforços para, tender, constrói-se como
transitivo indireto, com a preposição a”. Ex.: “Os conspiradores presos
visavam provavelmente a estabelecer a internacional socialista”
(Camilo Castelo Branco).
3. Ultima o referido gramático (TORRES, 1967, p. 298-9), com
propriedade, que se observa, no Brasil, uma tendência a se usar do verbo
visar sem preposição, mesmo como transitivo indireto, quando seguido
de infinitivo. Ex.: “Esta doutrina é simplesmente didática e visa facilitar
a aprendizagem dos verbos fortes” (Otelo Reis).
4. Cândido Jucá Filho (1981, p. 110) lembra que, modernamente, tem sido
olvidado o uso da preposição com esse verbo, trazendo ele exemplos de
autores insuspeitos para corroborar seu ensino: a) “Se visaram este
alvo…” (Mário Barreto); b) “Medidas que a minha administração
visava…” (Rui Barbosa).
5. De Arnaldo Niskier vem a seguinte advertência para os dias atuais: “O
verbo visar, no sentido de ter por objetivo, rege, historicamente, a
preposição a; entretanto, no português moderno, seu uso como transitivo
direto já está mais do que difundido, sendo encontrado em bons autores,
independentemente da palavra que o segue. Assim, devemos considerar
as duas regências corretas, apesar do espernear daqueles que veem a
língua como um cadáver conservado em formol” (1992, p. 107).
6. Para esse seu emprego mais problemático, também assim leciona
Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 413-4): a) “na acepção de ter em
vista, ter como objetivo, pretender, constrói-se geralmente com objeto
indireto (preposição a)”; b) em tal acepção, todavia, “admite-se a
regência direta”.
7. Em nota bastante apropriada para tal significado, observa Francisco
Fernandes: “Neste caso o verbo visar regeu sempre complemento
indireto, introduzido pela preposição a; modernamente, porém, é comum
dar-se-lhe objeto direto, qualquer que seja sua acepção” (1971, p. 599).
8. Não é outro o posicionamento de Celso Pedro Luft (1999, p. 534), para
quem, “nesta acepção, a regência primária e transitivo indireto”,
correspondendo à construção visar a; todavia, “por causa da semântica
buscar, procurar, pretender, passou a aceitar também a transitividade
direta, dispensando a preposição”, o que “se deu, de início,
principalmente com o infinitivo”. Ex.: “O ataque visava cortar a
retaguarda da linha de frente” (Euclides da Cunha).
9. Nesse sentido de ter por fim ou objetivo, nos textos de lei, tal verbo, de
um modo geral, aparece com sua construção clássica com objeto indireto
com a preposição a (visar a alguma coisa), mas também há casos de
sintaxe com objeto direto (que pode aparecer como sujeito da voz
passiva), correspondendo à construção visar algo. Exs.: a) “A União, os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios dispensarão às
microempresas e às empresas de pequeno porte, assim definidas em lei,
tratamento jurídico diferenciado, visando a incentivá-las pela
simplificação de suas obrigações administrativas…” (CF/88, art. 179);
b) “Subordinando-se a eficácia do ato à condição suspensiva, enquanto
esta se não verificar, não se terá adquirido o direito, a que ele visa”
(CC, art. 118); c) “Quando a lei dispõe sobre as condições de validade
substancial ou formal de quaisquer fatos ou sobre os seus efeitos,
entende-se, em caso de dúvida, que só visa os fatos novos…” (CC
português, art. 12º, 2); d) “As penas aumentam-se de um terço, se ocorre
qualquer das hipóteses previstas no § 1º, n. 1, do artigo anterior, ou é
visada ou atingida qualquer das coisas enumeradas no n. II do mesmo
parágrafo” (CP, art. 251, § 2º).
Ver Fim visado – Está correto? (P. 356)

Vista
1. Juridicamente falando, é a entrega de autos a alguém interessado no
processo (advogados, representante do Ministério Público), a fim de que,
após análise do que neles se contém, se pronuncie como lhe competir.
Ex.: “Os autos foram com vista ao representante do Ministério Público”.
2. Não se confunde com conclusão, que é o “ato, consistente em termo, por
meio do qual os autos são submetidos ao juiz da causa, para que neles
profira uma decisão” (KASPARY, 1996, p. 97). Ou seja: enquanto os
autos seguem com vista para os demais operadores do processo, como os
advogados das partes e dos terceiros (CPC/1973, arts. 40, II, 141, IV, b,
196, caput, 493, caput, 518, 531, 542, caput, 864 e 1.000), os
procuradores dos órgãos públicos (arts. 141, IV, b, e 1.002) e o
representante do Ministério Público (CPC/1973, arts. 83, I, 141, IV, b),
seguem eles em conclusão para o juiz da causa (CPC/1973, arts. 141, IV,
a, 159, § 2º, 323, 549, caput).
3. Eliasar Rosa leciona que é erro frequentíssimo na linguagem do foro
dizer-se vistas, assim no plural, como, por exemplo: “O advogado
requereu vistas dos autos”; ou “Os autos estão com vistas ao Ministério
Público”.
4. Para tal autor, “o certo é vista, no singular” (ROSA, 1993, p. 141).
5. Modelo de correção, nesse sentido, é o Código de Processo Civil em
diversas passagens: a) “O advogado tem direito de: … requerer, como
procurador, vista dos autos de qualquer processo pelo prazo de cinco
(5) dias” (art. 40, II); b) “Intervindo como fiscal da lei, o Ministério
Público… terá vista dos autos depois das partes…” (art. 83, I); c) “É
facultado a qualquer juiz, que tiver assento na turma ou câmara, pedir
vista, por uma sessão, se não estiver habilitado a proferir imediatamente
o seu voto” (art. 555, parágrafo único).

Visto ou Vista?
1. Um leitor observa ter lido, no serviço público, avisos nos quais, junto à
assinatura do chefe, consta “Chefe – Visto” ou “Chefe – Vista”. E,
opinando pela primeira forma, por entender que, no caso, o que ocorre é
um visto da autoridade, indaga qual a forma correta.
2. Ora, juridicamente falando, vista é a entrega dos autos às partes ou
intervenientes de um processo judicial ou procedimento administrativo,
para que, após adequada análise, possam pronunciar-se como lhes
competir. Ex.: “Os autos foram com vista ao representante do Ministério
Público”.
3. Já visto quer dizer a declaração de uma autoridade ou funcionário num
documento, para validá-lo, significando que foi examinado, verificado e
achado conforme. Ex.: “Após adequada análise e verificação, a
autoridade apôs seu visto no documento”.
4. Importa observar que é erro frequentíssimo, na linguagem do foro, o
emprego de vistas em lugar de vista, razão pela qual é oportuna a
seguinte especificação: a) “O advogado requereu vista dos autos”
(correto); b) “O advogado requereu vistas dos autos” (errado); c) “Os
autos estão com vista ao Ministério Público” (correto); d) “Os autos
estão com vistas ao Ministério Público” (errado).
5. Voltando ao caso da consulta, tudo vai depender do sentido em que está
empregado o indigitado vocábulo: se o significado for de entrega dos
autos para que alguém neles se manifeste, será vista; se a acepção for de
atestado de correção de um documento após análise, então será visto.
6. As circunstâncias do caso trazido para análise e a própria observação do
leitor parecem indicar tratar-se de um visto.
7. Também aqui, por fim, parece importante acrescentar que não importa se
a autoridade é alguém do masculino ou do feminino, porque, além de
constituir um substantivo masculino, o visto se refere ao documento, e
não à autoridade.
Vistos etc., Vistos, etc… ou Vistos, etc.?
1. Em outros tempos, as sentenças judiciais começavam com um cabeçalho
mais ou menos redigido do seguinte modo: “Vistos e bem examinados
estes autos de ação civil em que figura como autor…”.
2. José Carlos Barbosa Moreira (2001, p. 287) ensina que uma fórmula
inicial como “vistos, relatados e discutidos estes autos…”, em realidade,
“pretende deixar certo que se cumpriram todos os trâmites necessários:
os autos foram vistos – isto é, examinados –, deles se fez um relatório, e
a matéria foi submetida à discussão do colegiado”.
3. Hélio Tornaghi lembra a origem da expressão: “O juiz antigo não estava
obrigado a dizer as razões que o haviam levado a concluir de
determinada maneira. Em Roma, a princípio, ele condenava escrevendo
a letra D (de damo = condeno) e absolvia com a letra L (de libero =
absolvo). Ainda na Idade Média, não se exigia a motivação da sentença.
O juiz limitava-se a dizer: visto o processo, condeno. Ou absolvo (viso
processu condemnamus; viso processu absolvimus). Fórmula que
corresponde ao nosso ‘vistos e examinados’, mas à qual, hoje,
acrescentamos a fundamentação” (1981, p. 171).
4. Nos dias de hoje, entretanto, um preâmbulo como esse não é essencial,
mas dispensável, até por força da disposição constitucional que
determina a obrigatoriedade de fundamentar as decisões judiciais (cf.
CF/1988, art. 93, IX).
5. Além disso, fórmulas sacramentais como essa perderam a relevância de
outros tempos, sobretudo porque a estrutura legal de uma sentença, na
atualidade, exige o relatório como requisito essencial, além dos
fundamentos e da parte final dispositiva (cf. CPC/1973, art. 458).
6. E não é só: ficaria difícil imaginar o que, na atualidade, se quereria
enfeixar no etc., certo como é que, pela estrutura hodierna de uma
sentença, o juiz ainda não fez o relatório, que deverá constar no corpo do
veredicto, nem discutiu com ninguém, pois ainda não se chegou ao cerne
do julgamento. E ainda pioraria a situação, na hipótese de um
julgamento de primeira instância, em que o juiz decide sozinho, de modo
que não há mais ninguém com quem discutir.
7. De qualquer modo, por tradição das sentenças e pela força do hábito no
jargão forense, a expressão perdura em uso, de modo que, para a
hipótese de seu emprego, analisam-se, a seguir, seus aspectos de
pontuação.
8. Veja-se por primeiro, nesse aspecto, que etc. constitui abreviatura da
locução latina et coetera, que etimologicamente significa e as outras
coisas, ou e as coisas restantes. Ex.: “Compareceram diversas pessoas
do meio jurídico: juízes, promotores, advogados, etc.”
9. Por já possuir, na origem latina, uma conjunção aditiva, é errado dizer e
etc. Ex.: “Compareceram diversas pessoas do meio jurídico: juízes,
promotores, advogados e etc.” (errado).
10. Quanto à pontuação, a rigor, seria etimologicamente inconcebível o uso
da vírgula antes do etc., exatamente por se considerar sua significação.
11. Anote-se, todavia, que o Formulário Ortográfico, expedido com força
de lei pela Academia Brasileira de Letras em 1943, emprega a vírgula
antes de etc., motivo por que, desse modo, a vírgula se torna
obrigatória. E se acrescente que o Acordo Ortográfico de 2008 não
alterou em nada o referido posicionamento das regras anteriores.
12. Em justificativa para essa posição, assim leciona Arnaldo Niskier: “A
questão da vírgula antes do etc. é simples: deve ser usada! O
argumento de que originalmente a palavra já contém o e (et) não vale,
pois o que conta é o acordo ortográfico vigente, e, diga-se de
passagem, já não falamos latim, mas sim português” (1992, p. 35).
13. Num outro aspecto, diga-se que após o etc. usa-se o ponto indicador da
abreviatura.
14. Não se devem usar as reticências (…) por uma razão simples: no caso,
esse sinal de pontuação serviria para indicar que se suspende a
discriminação de outros seres, mas essa suspensão, em última análise, é
exatamente o que se deixa implícito no vocábulo etc.
15. Por fim, nada impede o uso de outros sinais de pontuação após o ponto
indicador da abreviatura com o vocábulo etc. Ex.: “Vistos etc., em
decisão para a ação principal e para a medida cautelar.”
16. Para sintetizar, vejam-se os modos de grafia para a mencionada
expressão, com as devidas indicações de sua correção ou erronia: a)
Vistos etc. (errado); b) Vistos, etc. (correto); c) Vistos etc… (errado); d)
Vistos, etc… (errado).
Vi todos eles – Está correto?
Ver Pronome pessoal (P. 614).

Viva os brasileiros! ou Vivam os brasileiros!?


1. Em expressões como “Viva o rei!”, surgem problemas, quando o
substantivo está no plural: “Viva os reis!” ou “Vivam os reis!”?
2. Para Antenor Nascentes, trata-se de interjeição: “Viva os Estados
Unidos!” (NASCENTES apud STRINGARI, 1961, p. 72), do que
decorreria a conclusão de que se trataria de palavra invariável.
3. Para Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 414), que acaba por não se
posicionar acerca da correção ou erronia do modo de expressão, mas
parecendo inclinar-se para a tese da invariabilidade, “o povo sente a
palavra viva como interjeição de aclamação, portanto, invariável”; e
complementa tal autor que, “aliás, em francês se usa de preferência o
singular: Vive les vacances!”.
4. Após observar que alguns gramáticos classificam esse vocábulo como
interjeição, hipótese em que é invariável, enquanto outros a inserem na
categoria dos verbos, caso em que a fazem variar de acordo com o
respectivo sujeito, leciona Luís A. P. Vitória que “fica, pois, ao arbítrio
de cada um escolher a forma que mais lhe aprouver” (1969, p. 243-4).
5. Não parece defensável, todavia, classificar viva como interjeição nesses
casos, quer porque lhe falta o sentido vago e extragramatical próprio de
tal categoria de palavras, quer porque a força exclamativa reside na
oração como um todo, e não na palavra isoladamente.
6. Em realidade, o mais adequado é concluir que o sentido da expressão é
optativo, indicador de uma vontade expressa por quem diz a frase: “Eu
desejo que o rei viva”, ou, simplesmente, “Que viva o rei!” (SACCONI,
1979, p. 209); do que decorre o plural “Eu desejo que os reis vivam”, ou,
simplesmente, “Que vivam os reis!”.
7. Alfredo Gomes (1924, p. 328) equipara o exemplo “Viva a República
Brasileira!”, sem qualquer complementação, simplesmente a “Viva meu
pai longos anos”, observando apenas que ambos os exemplos constituem
hipóteses em que o sujeito substantivo vem depois do verbo, assertiva
essa de que se extrai a conclusão de que tais frases, com o sujeito no
plural, assim ficariam: “Vivam as Repúblicas sul-americanas!” e “Vivam
nossos pais longos anos”.
8. De Arnaldo Niskier (1992, p. 96) é a seguinte síntese: “Os verbos viver e
morrer nas frases exclamativas devem concordar normalmente com o
sujeito; são verbos e não interjeições”. Exs.: a) “Viva o Sol!”; b) “Vivam
as férias!”; c) “Morram os nazistas!”.
9. Para Silveira Bueno (1957, p. 483), no exemplo “Vivam os índios!” –
que equivale à frase optativa (ou desiderativa) “Que os índios vivam” –,
sendo vivam um verbo, deve ele ir para o plural.
10. No entendimento de Laudelino Freire, “nas orações optativas assim
construídas – ‘Viva o Brasil’, ‘Morra a anarquia’ – os sujeitos são
respectivamente o Brasil, a anarquia” (1937b, p. 40).
11. Sousa e Silva, sem comentários outros, afirma que tal vocábulo
“concorda com o nome a que precede: ‘Vivam nossos pais!’” (1958, p.
314).
12. Ante tais considerações, o mais adequado, então, é dizer “Vivam os
reis!”, harmonizando-se regularmente o sujeito com o seu verbo, como
determinam as normas de concordância verbal, sendo tão flagrante a
natureza verbal da palavra, que até lhe podemos encontrar, no caso, o
antônimo morra. Exs.: a) “Viva o rei!”; b) “Vivam os reis!”; c) “Morra
o rei!”; d) “Morram os reis!”.
13. Quanto à expressão “Viva às férias”, presente no Ateneu, de Raul
Pompeia, anota Aires da Mata Machado Filho que tal autor “sentiu a
natureza verbal da palavra viva. Mas, como lhe repugnou o plural, que
o verbo exige, tratou de reduzir o sujeito a objeto direto (sic),
perpetrando, assim, um assassínio gramatical” (1969i, p. 69).
14. Resuma-se o problema com lição do mesmo gramático citado, presente
em outra obra: “A falta de costume de ver o verbo no plural é que
induz à procura de explicações para o singular, onde só o plural é
possível, em face das regras gramaticais” (MACHADO FILHO, 1969i,
p. 718).
15. E se complemente com lição de José de Sá Nunes, o qual, a um
consulente que lhe indagava se estava correta a expressão “Viva as
férias!”, respondeu de modo categórico: “Certa não está, pois o sujeito
é as férias, com que deve concordar o verbo vivam. Quem diz ‘viva as
férias’ perpetra solecismo”.
16. Para confirmar seu ponto de vista, alinha tal autor significativos
exemplos de abalizados escritores no sentido da lição por ele proferida
(NUNES, 1938, p. 88): a) “Vivam as musas!” (Machado de Assis); b)
“Vivam os bons e morram os maus” (Ernesto Carneiro Ribeiro); c)
“Vivam todos esses intrépidos jacobinos da literatura” (Castilho).
17. Em precisa lição – após observar que, em francês, o termo é verbo
(Vive la liberté! – Vivent les braves!), mas em italiano, interjeição
(Viva i nostri benefattori! – Viva le donne oneste!), acrescentando que
“cada língua tem sua índole e quer-se respeitada” – anota o Padre José
F. Stringari que, em orações desse jaez, no vernáculo, “o termo viva
não é interjeição, mas sim verbo e, como tal, deve concordar com o
sujeito: Viva o Brasil! Vivam os brasileiros!”
18. E exemplifica o padre gramático com textos de autores os mais
abalizados (STRINGARI, 1961, p. 71-2): a) “Viva a minha amiga
corça gentil!” (Machado de Assis); b) “Vivam os vivos!…Vivam as
flores!… Vivam as musas!… Vivam os sineiros de outros anos!”
(Machado de Assis).
19. Para rematar, em lição que pode ser tomada como verdadeira síntese do
assunto, de Silveira Bueno é o seguinte ensinamento para estruturas
desse jaez: “Não devemos perder mais tanto tempo com cousas já
decididas. Perante todos os luminares da filologia portuguesa está
liquidado o caso: trata-se de orações optativas, em que o verbo viva
deve concordar com o sujeito que se lhe segue imediatamente. Donde:
Viva Tiradentes! Vivam os Inconfidentes!” (1938, p. 216).
Ver Salve! (P. 678)

Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa


1. Em termos históricos, após um período fonético da grafia das palavras
(da fase inicial da língua até a metade do século XVI) e outro período
pseudoetimológico (marcado pelo eruditismo do lapso temporal que
mediou entre os séculos XVI e XVIII, em que se inventavam símbolos
extravagantes e se duplicavam as consoantes intervocálicas, a pretexto
de uma aproximação artificial com o grego e o latim, em critério
pretensioso, que contrariava a própria evolução das palavras), adveio um
terceiro período, marcado pela renovação dos estudos linguísticos em
Portugal, época em que surgiu Gonçalves Viana, o qual, após “algumas
tentativas, conseguiu apresentar um sistema racional de grafia, com base
na história da língua”, apresentando em 1904 sua Ortografia Nacional,
obra que serviu de roteiro à comissão de filólogos encarregada pelo
governo português, em 1911, de elaborar um novo sistema ortográfico,
que foi oficializado em setembro do mesmo ano e adotado também em
nosso país em 1931, por acordo entre a Academia das Ciências de
Lisboa e a Academia Brasileira de Letras, com aprovação de ambos os
governos. Após alterações nesse sistema, foi elaborado pela Academia
Brasileira de Letras, com aprovação da Academia das Ciências de
Lisboa, o Pequeno Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa,
oficializado no Brasil em 1943 e revigorado pelo Congresso Nacional
em 1955, por intermédio da Lei 2.623, de 21/10/55 (TORRES, 1966, p.
225-6).
2. Pode-se dizer, em termos bem práticos, que o Vocabulário Ortográfico
da Língua Portuguesa é, assim, uma espécie de dicionário que lista as
palavras reconhecidas oficialmente como pertencentes à língua
portuguesa, bem como lhes fornece a grafia oficial.
3. Também conhecido pela sigla VOLP, seu objetivo é reconhecer a
existência e consolidar a grafia dos vocábulos, além de classificá-los
pelo gênero (masculino ou feminino) e categoria morfológica
(substantivo, adjetivo…).
4. Difere dos dicionários convencionais, por não explicar usualmente o
significado dos termos que registra.
5. É elaborado pela Academia Brasileira de Letras, que tem a delegação e a
responsabilidade legal de editá-lo, em cumprimento à vetusta Lei
Eduardo Ramos, de n. 726, de 8 de dezembro de 1900.
6. As primeiras instruções para sua efetiva organização vieram com o
Formulário Ortográfico, e foram aprovadas unanimemente pela
Academia Brasileira de Letras, na sessão de 12/8/43 (mais tarde,
modificadas pela Lei 5.765, de 18/12/71); anote-se que “essas instruções
tiveram por base o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da
Academia das Ciências de Lisboa, edição de 1940” (NICOLA; TERRA,
2000, p. 231).
7. A tais instruções, juntaram-se as diretrizes mais recentes da Lei 5.765,
de 18/12/71, cujo art. 2º assim determinou: “A Academia Brasileira de
Letras promoverá, dentro do prazo de dois anos, a atualização do
Vocabulário Comum, a organização do Vocabulário Onomástico e a
republicação do Pequeno Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa
nos termos da presente lei”.
8. Em sua edição de setembro de 1998, o Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa incorporou à língua aproximadamente 6.000 termos
às 350.000 palavras já reconhecidas, em geral relativos ao
desenvolvimento científico e tecnológico, figurando entre as novidades
diversos termos de Informática.
9. Em sua quarta edição (2004), (a) removeu arcaísmos e termos dialetais
em total desuso, (b) aperfeiçoou o sistema de registro dos plurais de
muitos vocábulos, principalmentesubstantivos compostos e (c)
enriqueceu significativamente o rol dos vocábulos listados como
oficialmente existentes no vernáculo.
10. Sua quinta edição (2009), presentemente em vigor, (a) incorporou as
Bases do Acordo Ortográfico de 2008 e (b) registrou os vocábulos do
idioma já com as modificações atinentes à acentuação gráfica, ao trema
e ao hífen.
11. Oportuno é reiterar que, incumbido por lei específica para sua
confecção, quem o elabora goza de autoridade para, nesse campo, dizer
o Direito, motivo por que, ao consultá-lo, legem habemus e devemos
prestar-lhe obediência, como devemos fazer com respeito aos demais
diplomas legais. Qualquer discussão ou divergência há de ficar para o
plano da ciência, não consistindo, todavia, em válvula que permita o
descumprimento de suas determinações.
12. Em comunhão com tal pensamento, para José de Nicola e Ernani Terra
(2000, p. 231), esse vocabulário “é a palavra oficial sobre a ortografia
das palavras da língua portuguesa no Brasil”, não se podendo olvidar
que também é a palavra oficial no que concerne à própria existência
dos vocábulos em nosso idioma.
Vocativo nas petições judiciais
1. As petições, na prática do foro, são iniciadas normalmente pelo vocativo
(chamamento) referente ao cargo da pessoa a quem são dirigidas:
Excelentíssimo Juiz de Direito, Excelentíssimo Desembargador Relator,
Egrégia Turma Julgadora, Colenda Câmara etc.
2. Durante muitos séculos, as profissões de um modo geral eram exercidas
exclusivamente por homens, motivo por que simplesmente não havia
preocupação em saber se seria feita a variação do tratamento para o
feminino.
3. Mas, hoje, com a abertura do mercado de trabalho, em todos os níveis,
para ambos os sexos, a questão vem à pauta.
4. Desde logo, em princípio, normal há de ser a variação do tratamento,
quando o cargo é ocupado por uma mulher: Excelentíssima Juíza de
Direito, Excelentíssima Desembargadora Relatora.
5. Apenas se observa que, quando se ajuíza uma ação e ainda não se sabe
se ela será distribuída a um magistrado ou a uma magistrada, óbvio que
se há de deixar o vocativo no masculino.
6. E a razão para isso não é machismo no tratamento, mas apenas
observância a uma regra básica no assunto: enquanto o feminino é um
gênero marcado e só admite abranger seres do feminino, já o masculino
permite abarcar seres do feminino. Assim, quando se diz que “A mulher
alcançou diversas conquistas no último século”, só se abrangem, no
termo mulher, seres do feminino. Porém, quando se diz “O homem é
mortal”, no termo homem se abrangem seres masculinos e femininos.

Você – Segunda ou Terceira pessoa?


1. Entenda-se, por primeiro, que você é uma forma abreviada a que se
reduziu, ao longo dos tempos, a expressão Vossa Mercê. Com o passar
dos anos, veio vosmecê, a variante vassuncê e, por fim, você. A lei do
menor esforço, que rege a fala, já faz com que as pessoas digam ocê e
até mesmo cê: “Cê trouxe o livro?”
2. Como pronome de tratamento, também chamado pronome de reverência,
é a maneira formal para se dirigir com respeito a determinadas pessoas.
É um daqueles pronomes “usados no trato cortês e cerimonioso”
(SACCONI, 1979, p. 62). Ex.: “Sua Excelência, o presidente do
Tribunal de Justiça, honrou-nos com sua visita”.
3. No uso dos pronomes de tratamento, quando se fala diretamente à pessoa
tratada (“pessoa com quem se fala”), usa-se “vossa”. Quando, porém, se
faz referência à pessoa tratada, mas se conversa com outrem (“pessoa de
quem se fala”), emprega-se “sua”. Exs.: a) “Vossa Excelência, senhor
Deputado, é muito corajoso” (quando se fala com a autoridade); b) “Sua
Excelência, o Deputado Edinho Araújo, de quem lhe falei há pouco, é
muito corajoso” (quando se fala da autoridade).
4. Em outras palavras: “se a pessoa, a quem se refere o tratamento, está
ausente, isto é, se, em vez de ser o interlocutor (segunda pessoa), for o
assunto (terceira pessoa) – a pessoa de quem se fala – então se
empregará o [pronome] adjetivo Sua, e não Vossa” (GÓIS, 1943, p. 55).
5. De maneira específica para o caso apreciado, sendo você uma forma
abreviada de Vossa Mercê, é de rigor concluir, de começo, que ele é um
pronome da segunda pessoa (“pessoa com quem se fala”).
6. Quanto à concordância verbal, embora se trate de pronome da segunda
pessoa (com quem se fala), o pronome de tratamento precedido de vossa
(e aqui se enquadra o você) leva o verbo e os demais pronomes para a
terceira pessoa. Exs.: a) “Vossa Excelência foi traído por seus próprios
assessores” (correto); b) “Vossa Excelência fostes traído por vossos
próprios assessores” (errado); c) “Você foi traído por seus próprios
assessores” (correto); d) “Você fostes traído por vossos próprios
assessores” (errado); e) “Você foste traído por teus próprios assessores”
(errado).
7. Anota Carlos Góis (1943, p. 91) que essa peculiaridade do português –
de empregar a terceira pessoa pela segunda, com os pronomes de
tratamento seguindo em mesma esteira – existe também no italiano.
8. Tal autor acrescenta, de modo curioso, que não se há de falar, no caso,
em concordância verbal, mas em discordância do verbo, que é “a não
conformidade literal da flexão do verbo ao número, ou à pessoa do seu
sujeito”, e isso porque, embora se refira à segunda pessoa (o interlocutor
ou a pessoa com quem se fala), o verbo “acomoda-se à flexão da terceira
pessoa” (GÓIS, 1943, p. 114-5).
Vocês e Vós – Podem misturar-se?
1. Uma leitora pergunta por que a primeira das frases a seguir está correta,
enquanto a segunda está errada: a) “Vai, junta-te àquele grupo de
manifestantes e depois dize-me o que achaste”; b) “Senhores, vão juntar-
se àquele grupo de manifestantes e depois dizei-nos o que acharam”.
2. E um segundo leitor indaga qual a forma correta do verbo ser na
seguinte frase: “Sê/Sede/Seja como o sândalo que perfuma o machado
que o fere”.
3. Ora, nesse assunto, a regra é que, tanto na fala quanto na escrita, o
pronome escolhido para tratamento da pessoa com quem se fala deve
continuar sendo o mesmo, além de espraiar seus efeitos para todos os
elementos envolvidos, incluindo pronomes e verbos.
4. Assim, se se trata o interlocutor por vós, além de concordarem os verbos
nessa pessoa, só se podem usar os pronomes oblíquos e os pronomes
possessivos que a ela correspondem (vos, convosco, vosso, vossa,
vossos, vossas); se, por outro lado, a pessoa for tratada por tu, os
pronomes oblíquos haverão de ser teu, tua, teus, tuas (jamais seu, sua,
seus, suas, não podendo, assim, haver mistura de pronomes). Exs.: a) “Se
você quer, vou até teu gabinete” (errado); b) “Se você quer, vou até seu
gabinete” (correto); c) “Se tu queres, vou até seu gabinete” (errado); d)
“Se tu queres, vou até teu gabinete” (correto).
5. Nesse exato sentido se dá a lição de Vasco Botelho de Amaral: “Misturar
pronomes ou formas verbais na segunda pessoa do plural com pronomes
ou formas verbais da terceira constitui um erro crasso” (1948, p. 287).
6. Em outra obra, o referido autor é ainda mais didático acerca do problema
analisado: “Certa carta de um conhecido ministro estrangeiro publicada
nos jornais portugueses, entre outros deslizes de tradução apresentava
este: ‘Foi com grande pesar que recebi a vossa decisão de não aceitar o
cargo que lhe ofereci na remodelação do Ministério…’. Onde se pôs
vossa, devia estar evidentemente – sua. O inglês your não corresponde
só a vosso, vossa, vossos, vossas; deve traduzir-se, não só às vezes por
teu, tua, teus, tuas, mas, como ali na carta, por seu, sua, seus suas, de V.,
de V. Exa., etc.” (AMARAL, 1943, p. 177).
7. Não menos clara é a lição de Júlio Nogueira: “Não há, pois, redigir
frases em que, sendo tu a forma de tratamento, se usem em relação à
mesma os possessivos seu, sua e as variações o, a, lhe” (1959, p. 75).
8. Quanto à primeira frase da primeira leitora – “Vai, junta-te àquele grupo
de manifestantes e depois dize-me o que achaste” – pode-se dizer o
seguinte: a) todos os verbos estão no imperativo; b) todos eles estão
corretamente conjugados na segunda pessoa do singular; c) o tratamento
é uniforme, já que a pessoa com quem se fala é tratada por tu o tempo
todo; d) o próprio pronome que se junta ao segundo verbo (te) também é
da segunda pessoa do singular; e) o me não vai para a segunda pessoa do
singular, porque não se refere à pessoa com quem se fala, e sim à própria
pessoa que fala; f) por tudo isso, o exemplo está correto.
9. Quanto ao segundo exemplo da primeira leitora – “Senhores, vão juntar-
se àquele grupo de manifestantes e depois dizei-nos o que acharam” – as
considerações são as seguintes: a) nem todos os verbos estão no
imperativo, mas todos se referem à pessoa com quem se fala; b) o
primeiro verbo está em locução verbal (vão juntar), de modo que apenas
o auxiliar (vão) há de se modificar; c) alguns verbos estão na terceira
pessoa do plural (vão e acharam), mas dizei está, equivocadamente, na
segunda pessoa do plural; d) o tratamento, como se vê, não é uniforme,
porque, nos primeiros, o tratamento foi vocês, enquanto, no último, foi
vós; e) o pronome que se junta à locução verbal (se) também deve seguir
essa orientação (deve ser se na terceira do plural, mas, na segunda do
plural, deve ser vos); f) o nos não segue esse caminho, porque não se
refere à pessoa com quem se fala, e sim à própria pessoa que fala; g) por
essas razões, o exemplo está errado quanto à uniformidade de
tratamento.
10. Partindo do princípio de que a pessoa com quem se fala poderia ser tu,
você, vós ou vocês, estarão corretas todas as frases seguintes: a)
“Senhor, vai juntar-te àquele grupo de manifestantes e depois dize-nos
o que achaste” (tratamento tu); b) “Senhor, vá juntar-se àquele grupo
de manifestantes e depois diga-nos o que achou” (tratamento você); c)
“Senhor, ide juntar-vos àquele grupo de manifestantes e depois dizei-
nos o que achastes” (tratamento vós); d) “Senhores, vão juntar-se
àquele grupo de manifestantes e depois digam-nos o que acharam”
(tratamento vocês).
11. Quanto ao exemplo trazido pelo segundo leitor (“Sê/Sede/Seja como o
sândalo que perfuma o machado que o fere”), podem-se fazer as
seguintes afirmações: a) todas as formas ali constantes estão corretas,
pois todas estão no imperativo; b) não há elemento algum na frase que
exija compatibilidade para manter a uniformidade de tratamento; c)
desse modo, apenas se observa que cada um dos verbos trata o
interlocutor numa pessoa; d) o pronome o não entra em discussão, pois
não se refere à pessoa com quem se fala, e sim ao substantivo sândalo.
12. Vejam-se, desse modo, as formas possíveis de tratamento do exemplo
do segundo leitor, conforme se queira tratar o interlocutor por tu, você,
vós ou vocês: a) “Sê como o sândalo que perfuma o machado que o
fere” (tratamento tu); b) “Seja como o sândalo que perfuma o machado
que o fere” (tratamento você); c) “Sede como o sândalo que perfuma o
machado que o fere” (tratamento vós); d) “Sejam como o sândalo que
perfuma o machado que o fere” (tratamento vocês).

Vo-lo
1. Os pronomes pessoais oblíquos átonos me, te, lhe, nos, vos podem
juntar-se aos pronomes o, a, os, as, dando origem às formas mo, to, lho,
no-lo, vo-lo. Exs.: “Estes autos, eu vo-los entrego em confiança”.
Ver Pronome pessoal (P. 614) e Verbo seguido de pronome (P. 763).

VOLP
Ver Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (P. 785).

Voltar atrás – Existe?


1. O verbo voltar significa ir ou vir de um ponto para outro local onde
antes se esteve. Exs.: a) “Voltou ao início da página”; b) “Voltou a Paris
depois de muitos anos”; c) “Voltou ao seu humilde lugar”.
2. Ao contrário do que possa parecer, contudo, voltar não implica
necessariamente considerar um ponto físico que esteja posto atrás da
pessoa considerada, mas tem um conteúdo semântico de modificação, de
alteração de posição.
3. Por isso, não há erro algum a se apontar na expressão voltar atrás,
mesmo que seja com o significado de desfazer o que foi feito, ou
arrepender-se, ou desistir, como, aliás, é de fácil constatação em nossos
melhores escritores, que contam com o abono, o respaldo e a
confirmação de nossos gramáticos: a) de Domingos Paschoal Cegalla
(1999, p. 415) – “Pressionado pela opinião pública, o governo voltou
atrás e revogou o decreto”; b) de Francisco Fernandes (1971, p. 602),
que cita Rebelo da Silva – “Palavra de alfageme não volta atrás”; c) de
Cândido Jucá Filho (1963, p. 662-3), que invoca exemplo de José de
Alencar – “Não havia meio de fazê-lo voltar atrás”.
4. Francisco Fernandes (1971, p. 602), de inquestionável autoridade entre
nós, aceita normalmente tal construção no sentido de retornar ao ponto
de partida, de desdizer-se, de retratar-se, de mudar de opinião.
5. Anota-se, adicionalmente, porém, quanto à expressão voltar para trás,
que Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 415), sem explicar os motivos
da condenação, afirma ser essa uma “redundância inaceitável”, a qual,
por conseguinte, “deve ser evitada”.

Voltar para trás – Está correto?


1. Trata-se de construção gramaticalmente inaceitável.
Ver Voltar atrás – Existe? (P. 787)

Vôo ou Voo?
Ver Enjôo ou Enjoo? (P. 319)

Vós de cerimônia
1. Um leitor, ao dar com um erro que lhe apontaram em Rui Barbosa, no
emprego de pronome de tratamento, disse haver ficado em dúvida se tal
autor não estaria usando o vós de cerimônia.
2. Como primeira premissa, deixam-se de lado questões teóricas e se fixa
que um pronome de tratamento, como Vossa Majestade, Vossa Senhoria
ou Vossa Alteza, equivale, na prática, para efeito de concordância verbal,
a você (que nada mais é do que uma forma simplificada de outro
pronome de tratamento, Vossa Mercê).
3. Por isso, o correto é “Vossa Excelência dirigiu com firmeza os trabalhos
da sessão de hoje”, porque se diz também “Você dirigiu com firmeza…”.
4. Essa substituição prática também vale para a concordância nominal, no
que concerne ao pronome possessivo: o correto é “Vossa Excelência
dirigiu com firmeza seus funcionários”, porque se diz também “Você
dirigiu com firmeza seus funcionários”.
5. Feitas essas ponderações, conclui-se que contraria os princípios de
concordância do pronome de tratamento o seguinte trecho de Rui
Barbosa: “… augustos lábios de Vossa Majestade; e, escutando-o com a
reverência devida à vossa posição…”. Corrija-se: “… augustos lábios
de Vossa Majestade; e, escutando-o com a reverência devida à sua
posição…”.
6. Acresce dizer que uma detida análise dos exemplos e das situações
demonstra que as regras de concordância do pronome de tratamento
(verbal ou nominal) não se confundem com o que alguns gramáticos
chamam de vós de cerimônia, que é o emprego do pronome vós (que é
segunda pessoa do plural) com referência a uma só pessoa, e isso por
polidez, para marcar a distância ou o apreço social. Exs.: a) “Bem, bem!
Escusai-me vós. Tendes razão, Duque.”; b) “Pai nosso, que estais no
céu…”.
7. Em exemplos dessa natureza, embora a conversa se dirija a uma só
pessoa, põe-se o tratamento como um todo – pronome, verbo, etc. – no
plural, em razão da reverência. Mas a concordância continua correta,
sem indevida mescla de natureza alguma.

Vossa Excelência ou Sua Excelência?


1. Por ser equívoco frequente, incluindo ofícios e discursos, é oportuno
observar qual a forma que se deve dispensar aos parlamentares, quando
se está falando deles: Vossas Excelências ou Suas Excelências?
2. No uso de qualquer dos pronomes de tratamento, duas situações podem
surgir: a) ou se fala com a pessoa indicada por ele; b) ou se fala da
pessoa indicada por ele.
3. Quando se fala diretamente à pessoa tratada (pessoa com quem se fala),
usa-se Vossa. Ex.: “Vossa Excelência, senhor Deputado, é muito
corajoso” (fala-se com a autoridade).
4. Quando se faz referência à pessoa tratada, mas se conversa com outrem
(pessoa de quem se fala), emprega-se Sua. Ex.: “Sua Excelência o
Deputado Edinho Araújo, de quem lhe falei há pouco, é muito corajoso”
(fala-se da autoridade).
5. De modo específico para os exemplos inicialmente dados, se se fala com
alguém a respeito de parlamentares, então se deve dizer Suas
Excelências, e não Vossas Excelências.

Votarão ou Votaram?
1. Um leitor, narrando que tem lido modos de escrita que contrariam o que
ele aprendeu, pergunta como se deve escrever no futuro: “Amanhã os
congressistas votarão a matéria” ou “Amanhã os congressistas votaram
a matéria”?
2. Duas observações devem ser feitas para os verbos da primeira
conjugação (terminados em ar), quanto à terceira pessoa do plural do
futuro do presente do indicativo: a) são formas oxítonas (ou seja, a sílaba
forte é a última da palavra), e não paroxítonas (vale dizer, a sílaba forte
não é a penúltima da palavra); b) sua grafia é com ão no final, e não com
am.
3. Vejam-se os seguintes exemplos: a) “Amanhã os congressistas votarão a
matéria” (correto); b) “Amanhã os congressistas votaram a matéria”
(errado).
4. Para complementar a resposta e eliminar, de uma vez por todas, a dúvida
do leitor, também se fazem duas observações para esses mesmos verbos
da primeira conjugação (terminados em ar), na terceira pessoa do plural,
mas agora no pretérito perfeito do indicativo: a) são formas paroxítonas
(ou seja, a sílaba forte é a penúltima da palavra), e não oxítonas (vale
dizer, a sílaba forte não é a última da palavra); b) sua grafia é com am no
final, e não com ão.
5. Vejam-se os seguintes exemplos: a) “Os congressistas deixaram ontem
de votar aquela matéria importante” (correto); b) “Os congressistas
deixarão ontem de votar aquela matéria importante” (errado).
6. Apenas para refletir: a observação dos fatos demonstra que esse é um
erro cuja ocorrência vem crescendo com o passar dos tempos, bem
possivelmente devido à falta de cuidado com que vem sendo tratado o
ensino do português na educação de base.

Voto-vista ou Voto vista? E qual é o plural?


1. Uma leitora quer saber qual a grafia correta do vocábulo: voto-vista ou
voto vista? E outra indaga qual é seu plural, sobretudo porque não se
registra tal palavra no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa,
editado pela Academia Brasileira de Letras.
2. Observe-se, de início, quanto ao conceito dessa expressão, que, nos
tribunais, sendo o julgamento normalmente colegiado, pode ocorrer que,
após o relator proferir seu voto, o julgador seguinte (ou algum dos
demais) não se sinta em condições de decidir, ou prefira analisar mais
detidamente certos aspectos do caso. Então ele pede vista (a expressão
jamais é pedir vistas, no plural). Isso significa que o julgamento é
suspenso, e os autos do processo lhe são encaminhados. Em uma das
sessões seguintes, o processo retorna à pauta, e o julgador que pediu
vista entrega seu voto. A esse voto proferido após a vista solicitada, dá-
se o nome de voto-vista (ou voto vista?), expressões essas que não se
encontram nem no Código de Processo Civil de 1973, nem no de 2015,
nem, ainda, nos regimentos internos dos tribunais superiores.
3. No que concerne à grafia, importa observar, por um lado, que, na edição
de 2009, não se registra essa expressão entre as palavras listadas pelo
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela Academia
Brasileira de Letras, órgão esse que detém a delegação para dizer
oficialmente quais são os vocábulos integrantes de nosso idioma. Além
disso, também não consta da versão sempre atualizada on-line do VOLP
no site da ABL.
4. Ante esse quadro, uma primeira e importante regra a ser observada é que
a ABL detém autoridade para listar os vocábulos existentes no idioma e
suas respectivas grafias, e ela o faz por intermédio do VOLP. Por isso, é
correntio afirmar que o que não está no VOLP não existe no idioma.
5. Ocorre, todavia, que um dos casos em que essa regra geral pode ser
contornada é aquele em que se precisa de um neologismo, de uma
palavra para dar nome a um ser ou a uma situação, ou mesmo para
expressar uma realidade nova. É o que acontece no caso vertente, em
que esse neologismo se compõe pela junção por hífen de dois elementos
já existentes no idioma (voto e vista), resultando em um novo vocábulo
(voto-vista), que possui sentido novo e diverso de ambas as palavras (a
saber, de voto proferido em sequência a um pedido de vista). Sua criação
advém tanto da necessidade de um termo que atenda à especificação
técnica requerida, como da inexistência de palavra equivalente no
idioma.
6. Com essa explicação, dá-se, assim, por superado, em primeira
conclusão, o requisito da necessidade de criação de um neologismo e se
conclui pela adequação de conduta quanto a juntar os segmentos
integrantes da expressão, e isso porque a palavra resultante constitui
entidade diversa daquilo que significa cada um de seus elementos
componentes.
7. Ao depois, em segunda conclusão, no que tange à grafia, parece
totalmente adequado juntar por hífen os dois elementos dessa nova
palavra, e isso porque, embora tenha havido, no caso, a criação de uma
unidade semântica por sua justaposição em neologismo, o certo é que a
pronúncia distinta de ambos os elementos do vocábulo, que mantêm seus
acentos prosódicos próprios, exige sua grafia também separada (assim,
voto-vista).
8. Quanto a seu plural, fazem-se as seguintes observações: a) um
substantivo formado por mais de um elemento é um substantivo
composto; b) no caso, importa fixar que cada um de tais elementos,
quando isoladamente considerado, já é um substantivo; c) se, como no
caso, os elementos de um substantivo composto já são dois substantivos,
e o segundo não confere apenas a ideia de adição ao primeiro, mas
indica-lhe um tipo ou finalidade, o ensino tradicional é que só varia o
primeiro elemento (canetas-tinteiro, navios-escola e salários-família); d)
aplicando-se a regra ao caso, é correto dizer votos-vista; e) como,
todavia, é assunto delicado e nem sempre seguro saber se o segundo
elemento acrescenta ou não a ideia de tipo ou finalidade ao primeiro, a
tendência atual da Gramática é também permitir a flexão de ambos os
elementos, motivo por que são igualmente corretos os plurais canetas-
tinteiros, navios-escolas e salários-famílias; f) aplicando-se a regra ao
caso apreciado, também é correto dizer votos-vistas.
9. Por fim, respondendo de modo prático às indagações das leitoras: a)
embora não se registre no VOLP, é correto escrever, em real, verdadeiro
e defensável neologismo, o vocábulo voto-vista, assim, com hífen; b) seu
plural tanto pode ser votos-vista como votos-vistas; c) espera-se que, em
razão dos aspectos assinalados nestas considerações, a ABL decida pela
inserção do mencionado vocábulo em edição futura do VOLP.

Vou indo – Está correto?


Ver Vir vindo – Está correto? (P. 781)

Vou ir – É correto?
1. Um leitor pergunta se são corretas expressões como vou ir, ou vou indo.
2. Embora alguns teimem em tachar de errônea uma construção dessa
natureza, o certo é que, no plano da Gramática, não há nela erro algum.
3. E é importante perceber que não se trata de pleonasmo, nem muito
menos de pleonasmo vicioso, até porque os verbos não se repetem em
função, mas o primeiro deles é auxiliar, enquanto o outro é o principal da
locução.
4. O que pode parecer estranho para alguns é o fato de que o verbo ir, que é
auxiliar em diversas outras expressões representativas da ideia de futuro
mediante locução verbal – como vou trabalhar, vou fazer, vou pensar –
está sendo empregado, no caso, como auxiliar de si mesmo (ir [auxiliar]
+ ir [principal]).
5. E uma atenta análise mostra que situação idêntica se dá com outros
verbos, que também acabam sendo empregados como auxiliares de si
próprios em locuções verbais de mesma estrutura: há de haver, tinha
tido, vinha vindo. E, ao que se sabe, ninguém pensa em condenar tais
expressões, ou ver nelas algum sinal de equívoco gramatical.
6. Como sinal de seu emprego por poetas e cultores de nosso idioma, é
interessante verificar que Paulinho da Viola, na canção Sinal Fechado,
assim diz em um certo verso: “Eu vou indo, correndo, pegar meu lugar
no futuro”.
7. E Vinícius de Moraes, na canção Você e Eu, que fez em parceria com
Carlos Lyra, também assim pôs seus versos: “Podem preparar / Milhões
de festas ao luar, / Que eu não vou ir. / Melhor nem pedir, / Que eu não
vou ir, não quero ir”.

Vou-me já – Cacófato?
Ver Cacófato – O que é? (P. 163)

Voz ativa e Voz passiva


1. Voz ativa e voz passiva são duas maneiras sintaticamente diversas de
dizer a mesma realidade de fato, conforme o sujeito pratique ou receba a
ação indicada pelo verbo: a) “O magistrado proferiu a sentença” (voz
ativa, porque o sujeito magistrado pratica a ação indicada pelo verbo
proferir); b) “A sentença foi proferida pelo magistrado” (voz passiva,
porque o sujeito sentença recebe a ação indicada pelo verbo proferir).
2. Da observação dos exemplos dados, algumas regras são de importância
vital para o emprego de diversos verbos e para a própria criação de
estruturas sintáticas.
3. Assim, por primeiro, o objeto direto da voz ativa torna-se sujeito da voz
passiva, e o que era sujeito na voz ativa passa a ser o agente da passiva.
4. Observe-se esta transposição no esquema a seguir:
5. Por essa explicação, vê-se que, por via de regra, só tem voz passiva um
verbo que seja transitivo direto ou transitivo direto e indireto
(bitransitivo).
6. Exemplificando essa asseveração, vê-se que a frase “O juiz não gostou
do depoimento” não tem voz passiva, porque não há, na voz ativa, objeto
direto que possa tornar-se o sujeito da voz passiva.
7. O verbo obedecer, embora seja transitivo indireto, tem voz passiva, por
questões históricas, configurando exceção. Ex.: a) “A suposta vítima não
obedeceu ao comando do policial” (voz ativa); b) “O comando do
policial não foi obedecido pela suposta vítima” (voz passiva).
8. Verbos que, num sentido, são transitivos diretos e, noutro sentido,
transitivos indiretos (como assistir), apenas na primeira hipótese, por via
de regra, podem ser usados na voz passiva. Assim, “O advogado assiste
o constituinte” faz, na voz passiva, “O constituinte é assistido pelo
advogado”.
9. Já a frase ativa “Dezenas de estagiários assistiram aos debates” não
permite a utilização da voz passiva, de modo que é errado dizer “Os
debates foram assistidos por dezenas de estagiários”.
10. Ressalve-se, porém, que Napoleão Mendes de Almeida (1981, p. 214)
– sob o argumento de que alguns desses verbos por último referidos,
embora transitivos indiretos, “têm recipiente” na voz ativa – defende-
lhes o uso na voz passiva, exemplificando de modo textual: a) “A missa
foi assistida por muitas pessoas”; b) “Ele foi perdoado por todos”.
11. De igual modo, Mário Barreto admite, de modo expresso, o
apassivamento de determinados verbos transitivos indiretos, como
aludir, obedecer, perdoar e responder, observando, porém, Aires da
Mata Machado Filho (1969a, p. 599), que lhe citou a lição, que “as
formas passivas fixaram-se na vigência da construção transitiva direta”,
do que teria advindo “a aparente contradição”.
12. O autor por último citado, por um lado, aceita a construção passiva de
perdoar seguido de complemento de pessoa, argumentando que, em
épocas passadas, tal verbo “já foi construído com objeto direto”,
fixando-se, por isso, “a possibilidade do apassivamento” (MACHADO
FILHO, 1969b, p. 745); por outro lado, contudo, quanto ao verbo
assistir, no sentido de ver, presenciar, lança-o na vala comum dos
verbos transitivos indiretos sem voz passiva, aplicando-lhe o
argumento de que “a voz passiva repugna à quase totalidade dos verbos
transitivos indiretos” (MACHADO FILHO, 1969b, p. 758).
13. Tais posicionamentos peculiares e exceções episódicas, todavia, não
infirmam as regras estabelecidas para a estrutura considerada.
14. Já se observou que “Assisto ao filme” é regência correta e significa que
eu vejo o filme na qualidade de espectador; já “Assisto o filme”
também é regência correta, mas significa, em última análise, que
auxilio em sua produção, em sua confecção. Pelas regras já postas
acerca da conversão da voz ativa para a voz passiva, podem-se extrair
as seguintes conclusões: a) “Assisto o filme” (com o sentido de “auxilio
na confecção do filme”) faz, na voz passiva: “O filme é assistido por
mim”; b) “Assisto ao filme” (com a acepção de “vejo o filme na
qualidade de espectador”) não pode ser empregado na voz passiva.
Ver Agente da passiva (P. 97), Aludir (P. 106), Assistir (P. 140), Infinitivo na
voz passiva (P. 415), Obedecer (P. 510), Pagar (P. 541)., Perdoar (P. 559),
Recorrer, (P. 647) Ser nascido – Está correto? (P. 694) e Voz passiva
sintética (P. 794).

Vozes verbais
1. Voz do verbo, segundo ensino de Domingos Paschoal Cegalla (1990, p.
185-8), é a forma que este assume para indicar que a ação verbal é
praticada ou sofrida pelo verbo. Três são as vozes do verbo: a ativa, a
passiva e a reflexiva.
2. Um verbo está na voz ativa quando o sujeito é agente, isto é, pratica a
ação expressa pelo verbo. Ex.: “O caçador abateu a ave”. O sujeito da
oração (o caçador) é agente (ou ativo), ou seja, pratica a ação de abater.
3. Um verbo está na voz passiva quando o sujeito é paciente, isto é, sofre,
recebe a ação expressa pelo verbo. Ex.: “A ave foi abatida pelo
caçador”. O sujeito da oração (a ave) é paciente (ou passivo), ou seja,
sofre, recebe a ação descrita pelo verbo abater.
4. Na voz reflexiva o sujeito é ao mesmo tempo agente e paciente: faz uma
ação cujos efeitos ele mesmo sofre ou recebe. Ex.: “O caçador feriu-se”.
O sujeito da oração (o caçador) é agente (praticou a ação) e, ao mesmo
tempo, paciente (sofreu a ação).
5. Uma variante da voz reflexiva é a que denota reciprocidade, ação mútua
ou correspondida, usada com o verbo geralmente no plural, já que
envolve mais de um elemento. Ex.: “Os dois pretendentes insultaram-
se” (ou seja, insultaram um ao outro).
Ver Voz passiva e Pronome apassivador (P. 791) e Voz passiva sintética (P.
794).

Voz passiva e Pronome apassivador


1. Diferentemente da frase “Gosta-se de um bom vinho” – com a qual esta
deve sempre ser comparada em análise – uma frase como “Aluga-se uma
casa”, em que há um se acoplado ao verbo, pode ser dita de outra forma:
“Uma casa é alugada”.
2. E, por permitir essa transformação, pode-se dizer que é uma frase
reversível, que serve de modelo para todas as outras, também
reversíveis, que tenham o se unido ao verbo desse modo.
3. Em frases dessa natureza, podem-se extrair as seguintes conclusões: a) o
exemplo está na voz passiva sintética; b) o se é partícula apassivadora; c)
o sujeito é uma casa (sujeito, e não objeto direto).
4. Por essas razões, se, em vez de uma casa, se diz casas, tem-se, por
consequência, o sujeito no plural.
5. Exatamente por isso e por mera aplicação da regra de concordância
verbal de sujeito simples, se o sujeito está no plural, o verbo também
deve ir para o plural: “Alugam-se casas”.
6. 6)Atente-se a que essa é uma construção muito comum nos meios
jurídicos, devendo-se zelar por sua concordância adequada, no plural, e
não no singular: “Buscaram-se soluções para o conflito”; “Citem-se os
réus”; “Devolvam-se os autos”; “Entreguem-se os autos da carta
precatória”; “Intimem-se as testemunhas”; “Processem-se os recursos”.
7. A essa altura, lembre-se o ensinamento de Mário Barreto: “Pondo de
lado discussões teóricas, complicadas e difíceis, todos, na prática,
estamos de acordo, sábios e leigos, em que viu-se muitas desgraças,
aceita-se comensais, via-se lindas flores, aqui vende-se jornais, na
passiva com se, são concordâncias absolutamente intoleráveis em
português” (1954a, p. 263).
8. Pelas observações já feitas, tais frases devem ser assim corrigidas:
viram-se muitas desgraças, aceitam-se comensais, viam-se lindas flores,
aqui vendem-se jornais.
9. Vale registrar a observação de Júlio Nogueira (1959, p. 72), para quem,
em situações dessa natureza, a índole de nossa língua exige que se
concorde o verbo com o seu sujeito (Alugam-se casas), do mesmo modo
como usaríamos o plural com outra forma passiva (Casas são alugadas).
10. Atente-se, de igual modo, à admoestação de Eduardo Carlos Pereira de
que “são, pois, solecismos, que importa evitar, as expressões: ‘Corta-se
árvores’, ‘Vende-se queijos’, ‘Conserta-se relógios, Compra-se livros
usados’, ‘Ferra-se cavalos’” (1924, p. 321).
11. A exemplo de ensino anterior, tais frases devem ser assim corrigidas:
‘Cortam-se árvores’, ‘Vendem-se queijos’, ‘Consertam-se relógios’,
‘Compram-se livros usados’, ‘Ferram-se cavalos.
12. A um consulente que lhe indagava qual a forma correta – “Fez-se
tentativas” ou “Fizeram-se tentativas” – Cândido de Figueiredo,
asseverando que, “a este respeito, não pode haver duas opiniões
fundamentadas”, observava ser “pecado grave contra a língua
portuguesa” – a primeira forma, que “é construção francesa, e portanto
galicismo de frase, além de erro de gramática”.
13. E explicava o motivo de sua posição: “os ingênuos supõem que o on
francês equivale ao pronome se português, e, ao verem on achete des
livres, traduzem lampeiramente – ‘compra-se livros’… No citado
exemplo francês, on é sujeito da proposição; em português o se nunca é
sujeito” (FIGUEIREDO, 1948, p. 13-4).
14. Anote-se, ademais, que desses equívocos nem mesmo escapam os
melhores escritores, como, só para ilustrar, se vê no caso de Mário
Barreto, que estudava um erro de concordância verbal de Rui Barbosa
e um outro de Alexandre Herculano, e exatamente no artigo em que o
fazia, incidiu no mesmo solecismo (muito embora tenha corrigido de
pronto tal descuido no artigo seguinte): “Na língua falada, faz-se
quotidianamente frequentes aplicações…” (JUCÁ FILHO, 1981, p.
54).
15. A linguagem forense também não escapa à reiteração de equívocos
dessa natureza, como se pode comprovar com uma simples
determinação judicial em autos de processo: “Tome-se por termo as
primeiras declarações”. Corrija-se: “Tomem-se por termo as primeiras
declarações”.
16. Também não estão imunes a equívocos desse jaez os próprios textos de
lei, que, esquecidos da existência do se e da necessidade de flexão
verbal, olvidam a concordância do verbo com o seu sujeito.
17. Assim o art. 273 do Código Civil de 1916, em redação conferida pela
Lei 4.121, de 27/8/62, que instituiu o Estatuto da Mulher Casada: “No
regime da comunhão de bens, presume-se adquiridos na constância do
casamento os móveis, quando não se provar com documento autêntico,
que o foram em data anterior”.
18. Sua correção, feita, aliás, pelo CC/2002, art. 1.662, há de ser: “…
presumem-se adquiridos… os móveis” (porque os móveis são
presumidos adquiridos).
19. De igual modo, o art. 33 do Decreto-lei 70, de 21/11/66, que instituiu a
cédula hipotecária: “Compreende-se no montante do débito hipotecado,
para os efeitos do art. 32, a qualquer momento de sua execução, as
demais obrigações contratuais vencidas…”.
20. Corrija-se: “Compreendem-se… as demais obrigações contratuais
vencidas…” (porque as obrigações contratuais vencidas são
compreendidas).
21. E também o art. 113 da Lei 8.078, de 11/9/90, que dispôs sobre a
proteção ao consumidor: “Acrescente-se os seguintes §§ 4º, 5º e 6º ao
art. 5º da Lei 7.347, de 24 de julho de 1985”.
22. A correção há de ser: “Acrescentem-se os seguintes §§…” (porque os
seguintes parágrafos sejam acrescentados).
Ver Cite-se-o – Está correto? (P. 184) e Gosta-se de um bom vinho – Está
correto? (P. 375)

Voz passiva e Verbos não transitivos diretos


1. Quanto à regência verbal, tem o verbo pagar duas transitividades: a) é
transitivo direto, se o complemento é coisa. Exs.: i) “O perdedor pagou
o valor devido”; ii) “O perdedor pagou-o”; b) É transitivo indireto, se o
complemento é pessoa. Exs.: i) “O vencido pagou ao vencedor”; ii) “O
vencido pagou-lhe”.
2. Pode ser construído, ao mesmo tempo, com os dois complementos. Exs.:
a) “O vencido pagou o valor devido ao vencedor”; b) “O vencido pagou-
lho”.
3. Em decorrência da regra de que só um verbo transitivo direto admite voz
passiva, apenas na primeira acepção (tendo coisa como complemento)
poderia o verbo pagar, tecnicamente, ser usado na passiva. Exs.: a) “O
valor devido foi pago pelo perdedor” (correto); b) “O vencedor foi pago
pelo vencido” (errada).
4. Em evidente impropriedade, portanto, estaria incidindo o art. 710 do
Código de Processo Civil, ao registrar: “Estando o credor pago do
principal, juros, custas e honorários, a importância que sobejar será
restituída ao devedor”; estaria correto o exemplo, se fosse dito de outra
maneira: “Estando pagos ao credor o principal, os juros, as custas e os
honorários…”.
5. Nesse sentido, João Mendes Neto coleciona exemplo de impropriedade
dessa natureza do grande Rui Barbosa (1949, p. 162), em discurso
proferido no Colégio Anchieta: “Nem só os laureados… se hão de ter
por bem pagos da lide estudiosa”.
6. Contrariamente, porém, à posição estritamente técnica de que tal verbo
apenas admite voz passiva quando, na voz ativa, o objeto direto seja
coisa, Sousa e Silva, muito embora sem explicação ou justificativa
alguma, refere que “o particípio pago aplica-se não somente a coisas,
mas também a pessoas: as contas foram pagas, considero-me bem pago
etc.” (1958, p. 202).
7. Repisando a questão da transitividade de tal verbo, Celso Pedro Luft
anota que “puristas logicistas só aceitam objeto indireto de pessoa com
este verbo, condenando a sintaxe evoluída pagar alguém, pagá-lo”.
8. E continua, esteando-se em exemplos apenas de autores do século XX:
“Esta, no entanto, é de uso frequente e, até literariamente, bem
documentada”.
9. Mas finaliza, nesse aspecto: “Pode-se dizer que, na língua escrita formal,
a sintaxe pagar a alguém, pagar-lhe é preferível a pagar alguém, pagá-
lo” (LUFT, 1999, p. 388).
10. Apoiando ensino de Mário Barreto, transcreve Francisco Fernandes
(1971, p. 445) lição significativa a esse respeito: “Outro verbo que
alguns empregam transitivamente, como o acusativo da pessoa, é o
verbo pagar: ‘Augusto não tinha com que pagar o mestre’. Construção
de todo rejeitável. O regime de pessoa deve aqui parecer como forma
de complemento indireto: ‘Dava-lha dinheiro para pagar ao mestre de
latim’”.
11. Em resumo, pode-se firmar que, nos dias atuais, continua a discussão
acerca da possibilidade de transformar ou não tal verbo para a voz
passiva, quando a pessoa venha a ser o sujeito desta.
12. Em textos legais, muito embora se note, na voz ativa, normal
observância da regência do verbo pagar, com o emprego de objeto
direto para coisa e objeto indireto para pessoa, o certo é que são
bastante comuns os exemplos de emprego desse verbo tendo por
sujeito a pessoa na voz passiva, quer sintética, quer analítica. Exs.: a)
“O tutor… tem direito a ser pago do que legalmente despender no
exercício da tutela…” (CC/1916, art. 431, em construção repetida pelo
CC/2002, art. 1.752); b) “Ajustado que se desfaça a venda, não se
pagando o preço até certo dia, poderá o vendedor, não pago, desfazer
o contrato, ou pedir o preço” (CC/1916, art. 1.163, em disposição não
repetida pelo CC/2002); c) “Estando o credor pago do principal, juros,
custas e honorários, a importância que sobejar será restituída ao
devedor” (CPC/1973, art. 710); d) “Decretado o usufruto, perde o
devedor o gozo do imóvel ou da empresa, até que o credor seja pago
do principal, juros, custas e honorários advocatícios” (CPC/1973, art.
717); e) “Privilégio creditório é a faculdade que a lei, em atenção à
causa do crédito, concede a certos credores, independentemente do
registro, de serem pagos com preferência a outros” (CC português, art.
733º); f) “… pagando-se em primeiro lugar o Estado e só depois as
autarquias locais” (CC português, art. 747º, 1, a); g) “Salvo nos casos
excepcionalmente previstos na lei, o exequente adquire pela penhora o
direito de ser pago com preferência a qualquer outro credor que não
tenha garantia real anterior” (CC português, art. 822º, 1); h) “É defeso
aos liquidatários proceder à partilha dos bens sociais enquanto não
tiverem sido pagos os credores da sociedade…” (CC português, art.
1.016º, 1).
13. Parece ser de integral propriedade e veracidade quanto à regência
verbal na área jurídica e forense o ensino de Adalberto J. Kaspary,
quando refere que, “na linguagem jurídica, é bastante usual a
construção passiva com determinados verbos transitivos indiretos,
principalmente obedecer, pagar, perdoar, perguntar, proceder,
responder e visar”.
14. Para tal autor, todavia, em tais casos, “como a linguagem jurídica está
inserida na zona da língua culta, sendo, portanto, mais formalizada,
recomenda-se evitar o apassivamento generalizado de verbos
transitivos indiretos”.
15. E assim finaliza: “Mais uma vez, não se trata de questão de certo e
errado, mas de menor ou maior qualidade da expressão” (KASPARY,
1996, p. 376-7).
Ver Pagar (P. 541), Pagar contra recibo – Está correto? (P. 542), Pago ou
Pagado? (P. 542), Voz passiva – Quando é possível? (P. 793) e Voz passiva
sintética (P. 794).

Voz passiva pronominal


Ver Vozes verbais (P. 791) e Voz passiva sintética (P. 794).

Voz passiva – Quando é possível?


1. Vale analisar, em exemplos práticos, qual deles admite transposição para
a voz passiva: a) “Cresce a olhos vistos a oferta de produtos associados
à juventude”; b) “São inúmeras as consequências dessa idolatria”; c)
“As leis do mercado favorecem esse culto da juventude”; d) “A juventude
deixou de ser uma fase da vida”; e) “Resulta disso tudo uma espécie de
código comportamental”.
2. Para solucionar adequadamente a questão, deve-se partir do princípio de
que, conceitualmente, voz ativa e voz passiva são duas maneiras
sintaticamente diversas de dizer a mesma realidade de fato; no primeiro
caso, o sujeito pratica a ação indicada pelo verbo, e, no segundo, o
sujeito a recebe: a) “O magistrado proferiu a sentença” (voz ativa,
porque o sujeito magistrado pratica a ação indicada pelo verbo proferir);
b) “A sentença foi proferida pelo magistrado” (voz passiva, porque o
sujeito sentença recebe a ação indicada pelo verbo proferir – no caso, na
locução verbal foi proferida).
3. Em continuação na análise sintática de tais exemplos, vê-se, sem muito
esforço de exegese, que o objeto direto da voz ativa torna-se sujeito da
voz passiva, e o que era sujeito na voz ativa passa a ser o agente da
passiva.
4. Por essa observação, extrai-se, como regra, a ilação de que só tem voz
passiva um verbo transitivo direto ou transitivo direto e indireto
(bitransitivo). Caso contrário, não há na voz ativa um termo que possa
ser o sujeito da voz passiva.
5. Bem por isso, a frase “O juiz não gostou do depoimento” não tem voz
passiva. O termo do depoimento é objeto indireto, e não há, na voz ativa,
objeto direto que possa vir a ser o sujeito da voz passiva.
6. Com essas premissas, veja-se a primeira frase dentre os exemplos
inicialmente dados: (“Cresce a olhos vistos a oferta de produtos
associados à juventude”): a) sua ordem direta (sujeito + verbo +
complementos) é “A oferta de produtos associados à juventude cresce a
olhos vistos”; b) o sujeito é “A oferta de produtos associados à
juventude”; c) o verbo é cresce; d) a expressão “a olhos vistos” é um
adjunto adverbial; e) constata-se que não há objeto direto; f) assim, pelas
premissas lançadas, o exemplo não admite transposição para a voz
passiva.
7. Considere-se o segundo exemplo (“São inúmeras as consequências
dessa idolatria”): a) sua ordem direta é “As consequências dessa
idolatria são inúmeras”; b) o sujeito é “as consequências dessa
idolatria”; c) o verbo é são (o verbo ser é chamado verbo de ligação,
porque liga uma qualidade ao sujeito); d) porque, no caso, o verbo ser é
de ligação, seu complemento (inúmeras) é um predicativo do sujeito; e)
com verbo de ligação não há objeto direto; f) assim, também pelas
premissas lançadas, o exemplo dado não admite transposição para a voz
passiva.
8. Atente-se ao terceiro exemplo (“As leis do mercado favorecem esse culto
da juventude”): a) o exemplo já está na ordem direta (sujeito + verbo +
complementos); b) o sujeito é “as leis do mercado”; c) o verbo é
favorecem; d) “esse culto da juventude” é o objeto direto; e) porque tem
verbo transitivo direto, o exemplo admite transposição para a voz
passiva; f) confira-se como fica o exemplo na voz passiva: “Esse culto
da juventude é favorecido pelas leis do mercado”.
9. Observe-se o quarto exemplo (“A juventude deixou de ser uma fase da
vida”): a) o exemplo já está na ordem direta; b) o sujeito é a juventude;
c) o verbo é uma locução (deixou de ser), em que o principal é ser, um
verbo de ligação; d) como se viu anteriormente, o complemento de verbo
de ligação é um predicativo do sujeito; e) a análise do exemplo mostra
que nele não há objeto direto; f) e, pelas premissas lançadas, se não há
objeto direto na voz ativa, o exemplo não admite transposição para a voz
passiva.
10. Chega-se, por fim, ao último exemplo (“Resulta disso tudo uma
espécie de código comportamental”): a) a ordem direta é “Uma espécie
de código comportamental resulta disso tudo”; b) o sujeito é uma
espécie de código comportamental; c) o verbo é resulta; d) disso tudo é
o objeto indireto; e) como não há objeto direto na voz ativa, o exemplo
não admite transposição para a voz passiva.
11. Resolvida a questão quanto aos exemplos dados, acresce dizer, como
exceção, que o verbo obedecer, embora transitivo indireto, tem voz
passiva por questões históricas: a) “A suposta vítima não obedeceu ao
comando policial” (voz ativa); b) “O comando policial não foi
obedecido pela suposta vítima” (voz passiva).
12. Também se anota que alguns verbos, num sentido, são transitivos
diretos e, noutro sentido, transitivos indiretos: a) “O advogado assiste o
cliente” (no sentido de ajudar, é transitivo direto); b) “O advogado
assiste ao espetáculo” (no sentido de ver, presenciar, é transitivo
indireto).
13. Quanto a esses verbos que mudam de transitividade conforme o
sentido, fixa-se-lhes a regra de que apenas admitem transposição para a
voz passiva quando são transitivos diretos: a) “O cliente foi assistido
pelo advogado” (admite emprego na voz passiva, porque, no sentido de
auxiliar, o verbo assistir é transitivo direto); b) “O espetáculo foi
assistido pelo advogado” (exemplo equivocado e errôneo, já que,
sendo transitivo indireto nesse sentido, o verbo assistir não admite
transposição para a voz passiva).
14. Embora haja autores que insistam em apassivar verbos dessa última
acepção, mesmo quando transitivos indiretos, os gramáticos, de um
modo geral, têm mantido a posição de obediência à regra acima fixada.

Voz passiva sintética


1. À voz passiva sintética ou pronominal, João Ribeiro chama “voz média
passiva com o pronome se” (1923, p. 219).
2. Normalmente, tal voz passiva apresenta um verbo com aparência de voz
ativa com o acréscimo do pronome se (partícula apassivadora ou
pronome apassivador), e não tem, nos dias de hoje, agente da passiva,
enquanto a voz passiva analítica (com verbo em locução e sem o
pronome se) pode ou não ser complementada por tal agente da passiva.
Exs.: a) “Proferiram-se várias sentenças” (voz passiva sintética); b)
“Várias sentenças foram proferidas” (voz passiva analítica sem agente
da passiva); c) “Várias sentenças foram proferidas pelo juiz auxiliar”
(voz passiva analítica com agente da passiva).
3. Mário Barreto observa que, por bastante tempo, foram clássicas em
português construções de voz passiva sintética com a explicitação do
agente da passiva: “Os mares se navegavam por gente estranha”.
4. Lembra, a seguir, todavia, que, no português moderno, a voz passiva
sintética apenas é usada quando não se nomeia o agente, estando, assim,
fora de uso, estruturas como a que se apontou (BARRETO, 1954b, p.
96).
5. Artur de Almeida Torres chega mesmo a afirmar que “é arcaísmo dizer-
se: ‘Constroem-se casas por operários competentes’” (1966, p. 195).
6. Oportuna, por fim, é a observação de Antonio Henriques e Maria
Margarida de Andrade de que “a passiva pronominal… parece merecer a
predileção especial na linguagem dos Códigos. Nos cem primeiros
artigos do CC ela aparece, pelo menos 25 vezes. No CPP, também nos
cem primeiros artigos, ocorre ela 20 vezes. Trata-se, não há duvidar, de
forma mais elegante e mais afinada com os clássicos” (1999, p. 46).
Ver Agente da passiva (P. 97), Infinitivo na voz passiva (P. 415) e Voz
passiva – Quando é possível? (P. 793)

Voz passiva sintética – Como reconhecer e diferenciar?


1. Um leitor diz ter dificuldade em reconhecer, em determinados casos, a
voz passiva sintética e, em outros casos, em diferenciá-la da voz passiva
analítica. E pede auxílio para proceder a tal identificação nos seguintes
exemplos: a) “Quando os portugueses descobriram as terras que vieram
a se chamar Brasil, encontraram povos…”; b) “Quando os portugueses
descobriram as terras a que veio a se chamar Brasil, encontraram
povos…’
2. No plano dos conceitos, é importante observar que voz ativa e voz
passiva são duas maneiras sintaticamente diversas de dizer a mesma
realidade de fato, conforme o sujeito pratique ou receba a ação indicada
pelo verbo. Exs.: a) “O magistrado proferiu a sentença” (voz ativa,
porque o sujeito magistrado pratica a ação indicada pelo verbo proferir);
b) “A sentença foi proferida pelo magistrado” (voz passiva, porque o
sujeito sentença recebe a ação indicada pelo verbo proferir).
3. Seguindo um pouco mais à frente, têm-se os seguintes exemplos, os
quais, em comum, têm um se acoplado ao verbo e apresentam problemas
quanto à questão das vozes verbais: a) “Aluga-se uma casa”; b) “Gosta-
se de um bom vinho”.
4. Quanto ao primeiro exemplo – “Aluga-se uma casa” – , trata-se de uma
frase reversível, pois pode ser dita de outro modo “Uma casa é
alugada”, e a seu respeito podem-se extrair as seguintes ilações: a) um
exemplo reversível assim está na voz passiva sintética; b) nele, o se é
uma partícula apassivadora; c) o sujeito é uma casa (sujeito, e não objeto
direto); d) porque o sujeito é uma casa, se este vai para o plural, o verbo
também vai, em razão da mais básica regra de concordância, segundo a
qual o verbo concorda com o seu sujeito “Alugam-se casas”; e) apenas
para completar os conceitos, tendo em vista os fins da indagação do
leitor, o exemplo “Casas são alugadas” está na voz passiva analítica,
que é assim chamada por ser mais extensa que a voz passiva sintética.
5. Já quanto ao segundo exemplo – “Gosta-se de um bom vinho” – trata-se
de uma frase não reversível, pois não pode ser dita de outro modo
(ninguém pensaria em dizer “De um bom vinho é gostado”), e a seu
respeito podem-se tirar as seguintes conclusões: a) um exemplo não
reversível assim não pode estar na voz passiva sintética; b) nele, o se não
é partícula apassivadora, e sim um símbolo de indeterminação do sujeito;
c) o sujeito dessa oração é indeterminado; d) porque o sujeito é
indeterminado, se o termo um bom vinho vai para o plural, não é o
sujeito que se modifica (esse termo, aliás, é o objeto indireto); e) se, ao
passar um bom vinho para o plural, não se toca no sujeito, o verbo não se
modifica; f) seu plural, por conseguinte, há de ser “Gosta-se de bons
vinhos”.
6. Com essas ponderações, volta-se à primeira frase trazida pelo leitor: a) a
frase é “Quando os portugueses descobriram as terras que vieram a se
chamar Brasil…”; b) por facilidade – e sem alterar a estrutura analisada
quanto a seu mérito – reduz-se a frase para “… as terras … vieram a se
chamar Brasil…”; c) trata-se de uma frase reversível (pois pode ser dita
de outro modo, a saber, “as terras … vieram a ser chamadas Brasil…”;
d) se a frase é reversível, o exemplo está na voz passiva sintética; e) o se
é partícula apassivadora; f) o sujeito é as terras, razão pela qual o verbo
está no plural; g) se o sujeito fosse a terra, então a frase seria “… a terra
… veio a se chamar Brasil…”; h) na voz passiva analítica, as frases são
“a terra … veio a ser chamada Brasil…” e “as terras … vieram a ser
chamadas Brasil…”
7. Altera-se ligeiramente a frase, omitindo-se o se, e se extraem outras
conclusões: a) a frase passa a ser “Quando os portugueses descobriram
as terras que vieram a chamar Brasil…”; b) quando se pergunta pelo
sujeito de vieram nessa nova frase, a resposta é portugueses, e não
terras; c) por facilidade de análise – e também sem alterar a estrutura
analisada quanto a seu mérito – reduz-se a frase para “… as terras que
(eles – os portugueses) vieram a chamar Brasil…”; d) não se há de
pensar em reversibilidade da frase, até porque não há um se; e) como o
sujeito (eles ou os portugueses) pratica a ação de chamar, o exemplo
está na voz ativa; f) se terras for para o singular, o sujeito não será
modificado, de modo que não haverá alteração alguma quanto à
concordância (“… a terra que (eles – os portugueses) vieram a chamar
Brasil…”.
8. Por fim, importa observar que a última frase trazida pelo leitor (“Quando
os portugueses descobriram as terras A QUE VEIO a se chamar Brasil,
encontraram povos…”), o certo é que ela apresenta erro de sintaxe
exatamente no trecho trazido em destaque por ele próprio, de modo que
não admite análise nem considerações outras, além das que foram feitas
nos itens acima.

Vulto – É sempre gente morta?


1. Uma leitora, ao ver publicado um livro com o título “Vultos da
República”, indaga se a palavra vulto se aplica apenas a pessoas mortas,
ou pode ser empregada com relação aos vivos.
2. Uma simples busca aos dicionários revela que vulto pode ter o
significado de pessoa notável (HOUAISS, 2001, p. 2.884) ou de pessoa
importante (FERREIRA, 2010, p. 2.176).
3. Com isso se pode concluir que, se, por um lado, pelo próprio tempo pelo
qual se desenrolou a extensa história da humanidade, o maior número de
pessoas notáveis ou importantes se condensa no passado, não menos
certo, por outro lado, é que também entre os vivos da atualidade se
encontram pessoas com essas características e que podem, assim, receber
tal tratamento.
4. Por isso, em resposta direta à indagação da leitora, pode-se dizer que
vultos são pessoas notáveis ou importantes, não sendo de relevo se, na
atualidade, estão mortas, ou ainda não. Ex.: “Dentre os vultos de nossa
história, encontramos integrantes de todas as faixas sociais, profissões
ou ocupações: Einstein, Jesus, Júlio César, Lutero, Madre Teresa,
Martin Luther King, Sabin, Papa Francisco, Pelé…”.

Vultoso ou Vultuoso?
1. Vultoso tem o sentido de considerável, polpudo, robusto, volumoso. Ex.:
“Apesar de envolverem vultosas importâncias, os crimes de colarinho
branco são de difícil apuração”.
2. Não confundir com sua parônima vultuoso, que significa atacado de
vultuosidade, de inchaço, de congestão na face. Ex.: “Com a aparência
vultuosa há meses, nem assim ainda havia procurado auxílio médico”.
3. Assim, atente-se ao fato de que é errada a frase: “O ladrão subtraiu
vultuosa importância dos cofres daquele banco”.
4. A um consultante, que lhe indagava se poderia dizer “um roubo
vultuoso”, Silveira Bueno respondia de modo taxativo: “Não se pode
dizer tal porque vultuoso diz-se do rosto enfermo, do rosto que está
inflamado. O que se deve dizer é: roubo vultoso, isto é, de vulto, de
grande tamanho” (1938, p. 114).
5. Eliasar Rosa observa não ser raro o equívoco de “ver-se o cruzamento
que resulta do uso de vultuoso por vultoso” (1993, p. 143).
6. Ainda quanto ao emprego equivocado de vultuoso em lugar de vultoso,
lembra Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 269) que se trata de barbarismo
semântico.
7. Ronaldo Caldeira Xavier (1991, p. 85) caracteriza esse emprego de
vultuoso por vultoso – e vice-versa – como “cruzamento”, vale dizer,
como “o emprego de uma palavra em lugar de outra”, decorrente “da
falta de discernimento entre vocábulos assemelhados quanto à estrutura
fonológica (parônimos), o que motiva a alteração da mensagem
tencionada”, atentando contra a precisão terminológica”.
W
Writ – Estrangeirismo?
1. Por um lado, De Plácido e Silva leciona que tal vocábulo, vindo do
inglês, deve ser entendido como mandado, “e se aplica comumente ao
mandado de segurança e ao habeas corpus” (1991, p. 85).
2. Por outro lado, Geraldo Amaral Arruda combate seu uso em lugar de
mandado de segurança, já que constitui estrangeirismo desnecessário,
por haver no vernáculo vocábulo ou giro equivalente.
3. E, estendendo a mesma observação para mandamus, complementa tal
autor, de modo explícito, em lição para ambos: “tenho dúvidas de que
correspondam com inteira propriedade ao nosso mandado de segurança”
(ARRUDA, 1997, p. 19).
4. Aos que insistirem em seu emprego, deve-se observar que, por se tratar
de palavra pertencente a outro idioma, há de vir entre aspas, em negrito,
itálico, com sublinha ou grifo equivalente, indicador de tal circunstância.
X
Xampu
Ver Formação de adjetivos – Regras (P. 360) e Neologismo (P. 494).

Xerocar, Xerocópia, Xerocopiar, Xerografar, Xerografia e Xeroxar


Ver Xerox ou Xérox? (P. 796)

Xerox ou Xérox?
1. Trata-se de vocábulo que tem sido empregado como sinônimo de
fotocópia, indicando cópias idênticas obtidas por sistema fotográfico
instantâneo, a partir de um documento original.
2. No plano histórico, lembram José de Nicola e Ernani Terra: “Trata-se da
marca registrada de uma máquina de reprodução gráfica. O nome
popularizou-se a tal ponto que a marca do produto passou a designar o
próprio produto e o sistema de reprodução (xerografia). Fenômeno
semelhante ocorreu com a marca Gillette, que passou a designar
qualquer lâmina de barbear”.
3. No campo gramatical, continuam tais autores: “A palavra admite dupla
pronúncia: xérox (como paroxítona terminada em x, recebe acento
gráfico) ou xerox (como oxítona, não recebe acento gráfico)”.
4. E complementam que “xérox, paroxítona, prende-se à pronúncia inglesa;
a forma oxítona xerox segue uma tendência do português falado no
Brasil” (NICOLA; TERRA, 2000, p. 236).
5. Luiz Antônio Sacconi (1979, p. 31) lhe confere a condição de
paroxítona, e, portanto, acentuada por força das regras específicas,
dando-lhe o gênero feminino, sob o argumento de que se trata de “a
xerocópia”.
6. Domingos Paschoal Cegalla (1999, p. 418) a considera “palavra de
acento prosódico vacilante”, acentuando que “a pronúncia que se vem
impondo é xerox (oxítona)”.
7. Já o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia
Brasileira de Letras, órgão incumbido oficialmente de determinar a
existência dos vocábulos em nosso idioma, além de sua grafia oficial e
de seu próprio comportamento no vernáculo, arrola-a entre as palavras
pertencentes ao nosso idioma e a aponta como substantivo de dois
gêneros (masculino e feminino) e lhe confere a possibilidade de
pronúncia como oxítona e como paroxítona, de modo que está
oficialmente autorizado o emprego de um xerox, uma xerox, um xérox,
uma xérox (2009, p. 850).
8. Observe-se, apenas para registro, que mais de acordo com a formação da
língua estaria a pronúncia paroxítona xérox, à semelhança de outros
vocábulos, como tórax, látex, sílex, córtex; neste caso, se se prefere a
pronúncia paroxítona, por força da 8ª alínea da observação n. 43 do
Formulário Ortográfico, recebe acento gráfico, uma vez que se sobrepõe
o acento agudo ao e aberto dos vocábulos paroxítonos que acabem em x.
9. Se se prefere a pronúncia oxítona, não há razão alguma para acento
gráfico.
10. À semelhança de outros vocábulos com mesma terminação, como
tórax, fica invariável no plural, que se faz pela mera alteração do
artigo: os xérox, as xérox, os xerox, as xerox.
11. Acrescente-se que o VOLP também já registra como palavras
incorporadas oficialmente a nosso idioma diversos de seus cognatos:
xerocação, xerocado, xerocador, xerocar, xerocável, xerocópia,
xerocopiar, xerocopista, xerografado, xerografar, xerografia,
xerográfico, xerógrafo, xeroxar.

Xis – Qual é seu plural?


Ver Ônibus – Qual é seu plural? (P. 529)

XPTO
1. Pronunciado por soletração (xispeteó), para Alfredo Gomes, esse é um
dos mais curiosos casos de arcaísmos gráficos da língua portuguesa,
representado por letras gregas maiúsculas, correspondentes a uma forma
abreviada de Cristo, com as quais “se marcava na caixa competente o
excelente e superior vinho – Lacryma Christi”.
2. Ocorre, porém, que “o negociante e o povo, ignorantes da significação
dessa marca registrada, lembrando-se apenas de que tal gênero era
excelente, estenderam a denominação XPTO do vinho a todos os
gêneros igualmente superiores: donde o absurdo de dizer-se carne seca
XPTO, bacalhau XPTO, etc., para significar a carne seca superior, o
bacalhau finíssimo”.
3. E finaliza o citado gramático: “insensivelmente entrou a expressão
errada na língua corrente” (GOMES, 1924, p. 279-80).
4. Artur de Almeida Torres (1966, p. 234) refere, de igual modo, sua
origem na linguagem popular, assinalando tratar-se da abreviatura de
Cristo, também relacionando tal palavra ao mencionado vinho, que a
usava em suas caixas, e lhe confere o significado daquilo que é de ótima
qualidade.
5. E o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia
Brasileira de Letras, veículo oficial indicador das palavras existentes em
nosso idioma, registra esse vocábulo entre as reduções mais correntes,
com a acepção de “excelente, magnífico, sem-par” (VOLP, 2009, p.
877).
Z
Zero grau ou Zero graus?
Ver Zero hora (P. 797).

Zero hora
1. Com razoável frequência, ouvem-se expressões equivocadas, como zero
horas, zero graus, zero quilômetros.
2. A esse respeito, assim observa Laurinda Grion: “Quando precedidos de
zero, os vocábulos quilômetro, hora, dia ou qualquer outro
discriminativo de unidade de medida ficam no singular”.
3. Acrescenta tal autora que “zero não encerra pluralidade nem na forma
nem na significação”.
4. Por fim, com base em lição de Domingos Paschoal Cegalla e Napoleão
Mendes de Almeida, ela própria continua: “Digamos sem receio:
‘Participei à zero hora’. ‘Comprarei um carro zero-quilômetro’. ‘O
computador gera uma fila de saída zero erro…’. ‘As tarifas postais
estão mais caras desde a zero hora de hoje’. ‘O horário de verão
começou à zero hora de 16/10/94 e terminou à meia-noite de 18/2/95’”
(GRION, s/d, p. 94).
Ver Zero-quilômetro (P. 798).

Zero-quilômetro
1. Domingos Paschoal Cegalla, grafando a expressão com hífen, confere-
lhe a natureza de adjetivo.
2. E, em continuação, observa tal autor que tal adjetivo é invariável:
automóvel zero-quilômetro, automóveis zero-quilômetro (CEGALLA,
1999, p. 420).
3. Corroborando esse entendimento, o Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, veículo oficial indicador
das palavras existentes em nosso idioma, bem como de sua grafia e
comportamento, além de grafar com hífen tal palavra, registra-a como
adjetivo e ainda lhe confere ambos os gêneros e ambos os números, o
que equivale a dizer que a considera invariável (2009, p. 856). Vale
dizer: a) carro zero-quilômetro; b) bicicleta zero-quilômetro; c) carros
zero-quilômetro; d) bicicletas zero-quilômetro.
Ver Zero hora (P. 797).
SÍMBOLOS E SINAIS

&

1. A palavra inglesa para designar esse sinal gráfico é ampersand, sem


correspondente em português, e constitui abreviatura do latim et (que
significa e).
2. Observa Domingos Paschoal Cegalla que “Millôr Fernandes propôs a
denominação portuguesa sinal tironiano, por ter sido inventado por
Tirônio, secretario de Cícero, político e orador latino” (1999, p. 24).
3. Luciano Correia da Silva relata ter lido artigo de Fernando Sabino em
que havia a explicação de que o símbolo & significaria etc.
4. Explica, entretanto, com total propriedade, o mencionado autor: “O sinal
& não é forma reduzida de etc… Na verdade, este símbolo é apenas o
entrelaçamento de et (e + t), herança latina de um costume gráfico
medieval. Daí é que veio a forma curiosa do nosso uso comercial:
Simões & Filhos, isto é, Simões e Filhos e não ‘Simões etc. Filhos’”
(SILVA, L., 1991, p. 159).


1. Trata-se de um sinal gráfico em forma de vírgula suspensa, denominado
apóstrofo, que indica a supressão de letra ou letras.
2. O Formulário Ortográfico, aprovado unanimemente pela Academia
Brasileira de Letras, na sessão de 12/8/1943, ao estipular as instruções
para a organização do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa,
estabeleceu limites rígidos, em expressa dicção do item 44, a fim de que
seu emprego apenas se dê nos seguintes casos: a) indicar a supressão de
uma letra ou letras no verso, por exigência da metrificação (c’roa,
esp’rança, of’recer, ‘star); b) reproduzir certas pronúncias populares
(‘tá, ‘teve); c) indicar a supressão da vogal, já consagrada pelo uso, em
certas palavras compostas ligadas pela preposição de (copo-d’água, pau-
d’água, pau-d’alho, pau-d’arco).
3. De conformidade com observação acrescida ao referido item pelo
próprio Formulário Ortográfico, restringe-se o apóstrofo a esses casos
discriminados, de modo que não será permitido seu uso em nenhuma
outra hipótese, e, assim, seu emprego é vedado nos seguintes casos: a)
em contrações das preposições de ou em com artigos, adjetivos,
pronomes e advérbios (aqui-del-rei, duma, numa, dalguma, nalgum,
daqui, dele, nele, naquele, naquilo, daí, donde); b) nas combinações dos
pronomes pessoais (mo, ma, mos, mas, to, ta, tos, tas, lho, lha, lhos,
lhas, no-lo, vo-lo); c) nas expressões vocabulares que se tornaram
unidades fonéticas e semânticas (dessarte, destarte, homessa, tesconjuro,
vivalma); d) nas expressões de uso constante e geral na linguagem
vulgar: co, coa, cos, coas (com + o, com + a, com + os, com + as), pro,
pra, pros, pras (para o, para a, para os, para as).
4. Em decorrência dessa observação final do Formulário Ortográfico,
conclui-se que descabido é o intento manifestado por alguns gramáticos
de evitar o parequema (colocação de uma sílaba ao lado de outra de
mesmo som, como em gado doente, pato tonto, coxa chata) que se dá
com a palavra uma, quando se une a um substantivo iniciado pela sílaba
ma (uma matéria, uma manhã, uma mata, uma madeira), até porque, a
par da determinação legal proibitiva, a prática, em casos que tais, de
suprimir o m e colocar apóstrofo, sobretudo nos dias de hoje, peca pela
base, por sua artificialidade, constituindo invencionice a ser evitada, não
se podendo olvidar que alguns acabam chegando ao exagero de assim
proceder em casos nos quais não haveria problema de pronúncia em
nenhuma hipótese, como é o caso de u’a pessoa.
5. Em conselho válido para os dias atuais, decorrente da própria
determinação legal, se não houver possibilidade de contorno do
problema, escreva-se e pronuncie-se normalmente uma matéria, uma
manhã, uma mata, uma madeira, até porque, reforce-se, a outra solução
que alguns preconizam, além de sua ilegalidade gramatical, prejudica a
naturalidade e desfigura a pronúncia da palavra, sem realmente atingir o
objetivo.
6. Em ensino bastante apropriado para os dias de hoje, leciona Domingos
Paschoal Cegalla acerca de ua e u’a: “Evitem-se estas formas artificiais,
mesmo diante de palavras que possam gerar cacófatos. É preferível
grafar, por exemplo, uma mão, uma mata a escrever ua (ou u’a) mão, ua
mata” (1999, p. 403).
7. Por fim, é importante não confundir apóstrofo, que é o sinal em
observação, com apóstrofe, que é recurso de retórica, pelo qual o orador
ou escritor, fazendo ou não uma interrupção em sua fala ou texto, dirige-
se a seres reais ou fictícios. Exs.: a) “Andrada! arranca esse pendão dos
ares! / Colombo! fecha a porta dos teus mares!” (Castro Alves); b) “E
vós, Tágides minhas, … / Dai-me agora um som alto e sublimado!”
(Camões).

“”
1. São as aspas, ou aspas duplas, ou aspas dobradas, do gótico haspa,
também conhecidas por comas ou vírgulas dobradas (às vezes em forma
de cunhas), sinais cujo uso mais comum é abrir e fechar citações. Ex.:
Deu nos jornais: “O articulista defende, como forma de melhoria nas
relações jurídicas, uma globalização das leis”.
2. Importante é observar que, se o sinal de pontuação pertence à citação,
fica ele dentro das aspas, como o ponto de interrogação no seguinte
exemplo: Por que você não disse “Eu vou?”.
3. Se, porém, o sinal de pontuação pertence ao autor, fica ele depois das
aspas, como é o caso do ponto final no seguinte exemplo. Ex.: Como já
dizia Hipócrates, traduzido por Sêneca, “a arte é longa, e a vida é
breve”.
4. Na síntese de Celso Cunha, “quando a pausa coincide com o final da
expressão ou sentença que se acha entre aspas, coloca-se o competente
sinal de pontuação depois delas, se encerram apenas uma parte da
proposição; quando, porém, as aspas abrangem todo o período, sentença,
frase ou expressão, a respectiva notação fica abrangida por elas” (1970,
p. 284).
5. Para Luiz Antônio Sacconi, “o ponto vem após as aspas”, se “não foram
estas que deram início ao período”. Ex.: Napoleão disse: “Do alto destas
pirâmides quarenta séculos vos contemplam”.
6. E complementa tal autor (SACCONI, 1979, p. 244-8) com a observação
de que “as aspas aparecem depois da pontuação somente quando
abrangem todo o período”: “O Brasil espera que cada um cumpra o seu
dever”.
7. Interessante lembrete ainda vem do mesmo gramático acerca dos trechos
de outros autores, empregados, por exemplo, na elaboração dos
arrazoados jurídicos: “se a citação ou a transcrição não começar com a
palavra inicial, colocar-se-ão reticências logo após a abertura das aspas.
Da mesma forma, devem ser usadas as reticências no final, antes do
fechamento das aspas, se a intenção é não terminar a referida citação ou
transcrição” (SACCONI, 1979, p. 247).
8. Ainda sobre as aspas, assim se expressa Josué Machado: “Quando a
pausa coincide com o final da expressão ou sentença que se acha entre
aspas, coloca-se o competente sinal de pontuação depois delas, se
encerram apenas uma parte da proposição; quando, porém, as aspas
abrangem todo o período, sentença, frase ou expressão, a respectiva
notação fica abrangida por elas” (1994, p. 66).
9. Para a ordem de colocação entre as aspas e o ponto, Cândido de Oliveira
(1961, p. 67) estabelece duas regras: a) “Primeiro ponto final e por
último aspas, se toda a declaração (o período inteiro, da maiúscula inicial
ao ponto final) estiver entre aspas”; b) “Primeiro aspas e depois ponto
final, se somente a parte derradeira do período receber aspas”.
10. Palavras e expressões estrangeiras também devem vir entre aspas,
permitindo-se também explicitar tal circunstância com o uso de grifo
equivalente, sublinha, itálico ou negrito. Ex.: O magistrado negou
liminar ao pedido, fundado na inexistência do “periculum in mora”.
11. Veja-se, no sentido dessa última lição, o ensino de Eduardo Carlos
Pereira em corroboração ao fato de se escreverem “sublinhadas ou em
grifo as palavras de língua estrangeira, que se intercalam no discurso”
(1924, p. 48).
12. Artur de Almeida Torres (1966, p. 245) também observa a
possibilidade de emprego das aspas, “quando se deseja chamar a
atenção do leitor para certos vocábulos que devem ser postos em
evidência”: Aquele “sim” me confortou.
13. Ensina, ainda, Luciano Correia da Silva que “não se usam aspas nas
atribuições nominais ou dos epônimos: Fundação Roberto Marinho,
Rodovia Castelo Branco, EEPSG Horário Soares, Fundação
Educacional Miguel Mofarrej, Fórum João Mendes Júnior”.
14. Em critério aparentemente diverso, todavia, em outra passagem, manda
o mesmo autor que se usem tais sinais “em nomes de livros, jornais,
obras de arte…”, como, por exemplo, “Folha de S. Paulo” (SILVA, L.,
1991, p. 179-97).
15. Reitere-se, por fim, ensino já expresso, em observação de Hêndricas
Nadólskis e Marleine Paula Marcondes Ferreira de Toledo (1998, p.
51): em tais hipóteses, em vez de empregar aspas, pode-se optar pelo
destaque gráfico do negrito ou do itálico, a que se pode acrescer
também a sublinha. Exs.: a) A notícia saiu na “Folha de S. Paulo”
(correto); b) A notícia saiu na Folha de S. Paulo (correto); c) A notícia
saiu na Folha de S. Paulo (correto); d) A notícia saiu na Folha de S.
Paulo (correto).
Ver Parênteses e Ponto (P. 550).

‘’
1. Verificada a questão, resolvida logo antes, das aspas dobradas, também
conhecidas por comas ou vírgulas dobradas (“ ”), anota-se que as aspas
simples (‘ ’) não divergem das primeiras referidas, assim em natureza
como em uso.
2. E, para resumir o emprego de tais aspas simples, basta observar que o
que normalmente se emprega são as aspas dobradas; quando, porém,
dentro do trecho já entre aspas, há necessidade de novas aspas, estas são
simples (NADÓLSKIS; TOLEDO, 1998, p. 51). Exs.: a) Deu nos
jornais: “O articulista defende, como forma de melhoria nas relações
jurídicas, uma assim chamada ‘globalização’ das leis”; b) Consta
textualmente da decisão: “Nega-se liminar ao pedido, ante a
inexistência do ‘periculum in mora’”.

*
1. A palavra asterisco, do grego asteriskos, pelo latim asteriscu, significa
etimologicamente uma estrelinha, que é exatamente o que dá a entender
seu desenho.
2. Destina-se aos mais variados empregos: indicar uma nota no pé da
página, ou no fim do capítulo, ou no fim do volume; fazer ver a
existência de uma supressão no trecho que se transcreve; substituir um
nome que não se quer mencionar.
3. Atente-se para sua pronúncia, a fim de não se dizer asterístico, forma de
muito uso, mas efetivamente equivocada e sem registro nesse sentido no
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira
de Letras, órgão incumbido por lei de listar as palavras pertencentes a
nosso léxico.

¸
1. O nome desse sinal é cedilha, diminutivo, em português, da forma
espanhola ceda, a qual, nos dizeres de Napoleão Mendes de Almeida
(ALMEIDA, 1981, p. 51), “é hoje representada por um pequeno c virado
para trás, que se sotopõe ao c, que então se denomina cê-cedilhado”.
2. No que concerne a seu uso, importante é observar que apenas é possível
empregar o cê-cedilhado quando o c tem som de ss antes de a, o e u
(caçar, caçoar, açúcar), jamais antes de e ou de i (cacemos, cacique).
3. Em termos práticos, também é de se ver que, nos verbos da primeira
conjugação terminados em çar, o c perde a cedilha antes do e: abrace,
cacemos; por outro lado, por idêntico motivo, nos verbos da segunda
conjugação terminados em cer, o c recebe cedilha antes de a e de o:
mereça, apareço.
4. Atento ao aspecto de que cedilha é substantivo e que o adjetivo é
cedilhado, acrescenta o saudoso gramático que “não se deve dizer cê-
cedilha” (ALMEIDA, 1981, p. 51).
5. Todavia o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia
Brasileira de Letras, veículo oficial indicador das palavras existentes em
nosso idioma, além de cedilha, também registra cê-cedilha e cê-
cedilhado, de modo que o emprego de tais formas também está
legalmente autorizado (VOLP, 2009, p. 174).
ANEXO
Uso do hífen com base no prefixo e na letra inicial da palavra seguinte
Legenda

Vogal (=): quando a vogal final do prefixo e a inicial da palavra seguinte


coincidem. Ex.: micro-ondas;
Vogal (≠):quando a vogal final do prefixo e a inicial da palavra seguinte são
diferentes. Ex.: microelemento;
(No caso de o prefixo terminar em consoante, essa diferenciação, por óbvia,
não é necessária).

(-) o vocábulo deve ser grafado com hífen;


(x) o vocábulo deve ser grafado sem hífen, unindo-se o prefixo à palavra
seguinte;
RR e SS: o vocábulo deve ser grafado sem hífen, unindo-se o prefixo à
palavra seguinte, dobrando-se o S ou o R inicial dessa palavra;

(1) Opcional: emprega-se o hífen ou une-se diretamente o prefixo à palavra


sem o H. Ex.: aero-hidropata ou aeroidropata; deca-hidratação ou
decaidratação; sub-humano ou subumano;
(2) O M final do prefixo mantém-se na união com palavras iniciadas pelas
consoantes P e B (circumpolar, circumboreal), adaptando-se para N com as
demais consoantes (cincunfluir, cincuncentral);
(3) Une-se sem hífen, excluindo-se o H da palavra ligada ao prefixo:
coabitar, coerdeiro;
(4) Aglutinação das vogais idênticas: decatleta, pentatleta, odontortopedia,
teleducação.
(5) As palavras compostas com “não” indicando um antônimo, são grafadas
separadas e sem o hífen: não alinhados, não governamental, não
intervenção, não localizado;
(6) As regras da tabela aplicam-se ao prefixo “para”, na concepção de
“proximidade, relativo a” (paramédico, paramilitar). Quando “para”
significa “obstáculo ou barreira”, em conjugação do verbo “parar”,
normalmente forma um substantivo composto com hífen (para-brisa, para-
choque, para-raios).

(Regras compiladas e resumidas pelo Professor Edson de Campos


Souza)
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ASSESSORAMENTO NA ATUALIZAÇÃO E COMPLEMENTAÇÃO
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REVISÃO GRAMATICAL E DE CONTEÚDO
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DIAGRAMAÇÃO E CAPA
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PRODUÇÃO
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COLABORAÇÃO
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Daniela Zimmermann
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Flavia Carille de Araújo França
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Patrícia Cardeal
Regiane Sousa

Sob o título Manual de Redação Profissional: 1ª edição: 2002 –


2ª edição: 2004 – 3ª edição: 2007.

Sob o título Manual de Redação Jurídica: 4ª edição: 2012 – 5ª


edição: 2013.

Costa, José Maria da


Manual de Redação Jurídica – 6ª edição
José Maria da Costa
Ribeirão Preto: Migalhas, 2017.

816 p.

ISBN 978-85-61707-85-9

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