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Excelentíssimo(a) Senhor(a) Doutor(a) Juiz(a) de Direito da 1ª Vara do Sistema dos

Juizados Especiais da Comarca de Juazeiro/Bahia.

Processo nº 0002888-08.2022.8.05.0146

TIM S/A, sucessora por incorporação da TIM CELULAR S/A, com sede na Cidade e
Estado do Rio de Janeiro, Rua Fonseca Telas, nº. 18 a 30, Bloco B, 3º pavimento, São Cristovão,
CEP: 20.940-200, inscrita no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica sob o nº 02.421.421/0001-11,
endereço que deverá ser utilizado para fins de citações, intimações e notificações, por seus
advogados infrafirmados, devidamente constituídos mediante instrumento procuratório em
anexo, com endereço profissional à Rua Erico Veríssimo, n.º 65, Itaigara, CEP 41.815-340,
Salvador, Bahia, vem, perante V. Exa., oferecer CONTESTAÇÃO ao processo em epígrafe,
aforado por JONILSON MIRANDA DA SILVA pelas razões de fato e de direito a seguir
aduzidas.

I. PRELIMINARMENTE

a) Da inépcia da Inicial – Regularização Processual / Ausência de Procuração:

Compulsando-se os autos, verifica-se que a Acionante não acostou aos autos procuração
devidamente ASSINADA, concedendo plenos poderes para que seu advogado possa
representa-la.

Conforme o Código de Processo Civil, a Lei 9.099/95, bem como o ato conjunto em sede dos
Juizados Especiais, ausência de procuração assinada junto aos autos, constitui hipótese de
irregularidade na representação processual, ensejando, para tanto, a extinção do feito sem exame
do mérito.

Não se pode perder de vista que a representação processual constitui pressuposto de validade do
processo e sua não regularização no prazo marcado acarreta a extinção integral do processo.

Ante o exposto, pugna ao Juízo pela extinção SEM JULGAMENTO DO MÉRITO do


presente feito, com esteio no quanto disposto pelo art. 485, I e IV c/c art. 321, p.u. do CPC.

b) Da Inépcia da Inicial – Extinção do Feito – Art. 330, I c/c 485, I do CPC:

Preliminarmente, requer a Contestante a extinção do processo sem resolução do mérito, com


fulcro no art. 485, I, do Código de Processo Civil.

Rua Érico Veríssimo, 65 – Itaigara – CEP: 41.815-340


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Assinado eletronicamente por: HUMBERTO GRAZIANO VALVERDE;
Código de validação do documento: 86876e92 a ser validado no sítio do PROJUDI - TJBA.
A peça inaugural da presente demanda não preenche os requisitos legais enumerados nos artigos.
319 e 320 da Lei 13.105/2015, estando à mesma inepta a provocar a tutela jurisdicional, haja vista
o Requerente valer-se, apenas e tão somente, de imputações genéricas, não colacionando aos
autos documentos que respaldam a pretensão Autoral.

Isso porque, o simples fato de alegar, não exime o Autor do ônus, o qual está incumbido,
de comprovar suas alegações, razão pela qual não há que se falar em responsabilização
civil desta Acionada.

Não há nos autos nenhuma prova do suposto bloqueio dos serviços do acesso telefônico
objeto da lide, uma vez que a parte autora não acosta aos autos nenhum documento
comprobatório que comprove a veracidade de suas alegações, se limitando a juntar tela
que em nada provam o arguido.

ORA, AINDA QUE A LIDE ENVOLVA UMA RELAÇÃO DE CONSUMO, QUE


PRIVILEGIA O CONSUMIDOR ATRAVÉS DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA,
ESTE NÃO ESTÁ DISPENSADO DE PRODUZIR MÍNIMA PROVA A AMPARAR
SUA ALEGAÇÃO, SOB PENA DE AFASTAR A VEROSSIMILHANÇA DO SEU
RELATO.

Assim, haja vista o Autor não ter instruído a petição inicial com os documentos comprobatórios
do quanto aduzido, não se desincumbindo de provar o fato constitutivo do direito que alega ter,
DEVE A INICIAL SER INDEFERIDA DE PLANO.

Isso porque, a norma contida no artigo 434 do CPC, dispõe, de maneira clara e inequívoca,
quanto ao momento de exibição dos documentos comprobatórios, os quais devem,
obrigatoriamente, instruir a petição inicial no ajuizamento da ação, o que no caso em comento,
não fora observado, ensejando o indeferimento da petição inicial, e, consequentemente, a
extinção do processo sem julgamento do mérito, em observância aos dispositivos 330 I c/c 485,
inciso I, igualmente, do Código de Processo Civil.

Nesta senda, cumpre ressaltar, o entendimento dos tribunais quanto à possibilidade do


magistrado, ex officio ou a requerimento do réu, promover a extinção do processo, em
atendimento as normas extraídas nos artigos 264 e 329, inciso I do CPC, não havendo que se
falar na obrigatoriedade de emenda e/ou complementação à inicial.

Face ao exposto, requer a acionada seja ACOLHIDA A PRELIMINAR DE INÉPCIA, para


INDEFERIR A PETIÇÃO INICIAL, em razão do artigo 330, I do CPC com a consequente
EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM JULGAMENTO DO MÉRITO, nos termos do art.
485, I, do CPC.

c) De Carência de Interesse Processual – Art. 330, III c/c 485, VI do CPC:

Compulsando-se detidamente os autos, infere-se que a parte Autora quedou-se inerte em


demonstrar, ainda que minimamente, que a pretensão deduzida em Juízo fora resistida pela
Acionada, condição esta sine qua non à formação da relação processual.

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Com efeito, não restou comprovada a contraposição dos interesses das partes, na medida em que
não houve recusa no atendimento do pleito do consumidor, a ensejar a necessidade da via
processual, a fim de alcançar a solução pretendida, não obtida por outros meios.

A parte Autora, de modo genérico, alega que houve suspensão dos seus serviços
telefônicos, e para tanto não acosta aos autos documentos que comprovem que ficou
impedida de utilizá-los.

Em análise aos autos, tem-se que o Autor quedou-se inerte em demonstrar,


inequivocamente, o suposto bloqueio dos serviços, denotando-se, pois, a sua falta de
interesse de agir.

Por essa razão, conclui-se que não houve resistência a pretensão Autoral, evidenciando a ausência
do interesse de agir da parte, pelo que pugna ao acolhimento da preliminar ora arguida,
consequentemente, a extinção do processo sem julgamento do mérito, nos parâmetros dos
artigos 330, III e 485, VI do CPC.

II. BREVE RESUMO DA EXORDIAL

Declara a parte Autora ser contratante dos serviços de telefonia móvel prestados pela Acionada,
sendo titular dos acessos (74) 9.9100-8440 e (21) 9.6777-4492.

Prossegue seus relatos, afirmando que a Acionada teria prosseguido com o bloqueio dos serviços
de seu plano sem explicação.

Assim, veio a juízo requerer liminarmente que a Aciona proceda com o reestabelecimento dos
serviços das suas linhas telefônicas. No mérito, além de pleitear pela confirmação da medida
liminar, requer que a Acionada seja condenada ao pagamento de uma indenização a título de
danos morais alegadamente experimentados, bem como inversão do ônus da prova.

Contudo, consoante restará demonstrado a seguir, a demanda não merece prosperar, conquanto,
contraria o melhor entendimento aplicável ao caso, colidindo com ordenamento pátrio sobre o
tema da responsabilidade civil.

É o que passa a demonstrar.

III. DA REALIDADE DOS FATOS

As alegações da parte autora afiguram-se como aleatórias e destituídas de qualquer


fundamentação quer fática, quer jurídica. A requerente, através de seus argumentos, desvirtua a
verdade dos fatos com o fito de induzir este órgão em erro, o que, respeitosamente, há de ser
veementemente rechaçado.

Assim, importa neste momento restabelecer a verdade fática vivenciada, para que a pretensão
do acionante seja completamente rechaçada e para que seja demonstrado o caráter aventureiro
da presente demanda em todos os seus aspectos.

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Insta esclarecer que a instituição ré está sempre preocupada com o atendimento adequado das
necessidades de seus clientes, pelo que mantém um serviço de grande qualidade à disposição
dos consumidores. Por essa razão, qualquer falha que venha a ser apontada pelo consumidor é
de imediato analisada pela TIM, de modo a aprimorar a cada dia os serviços ofertados.

Após o ajuizamento da presente demanda, esta acionada procedeu a uma análise minuciosa em
seus sistemas, restando comprovada a total inconsistência dos fatos narrados no termo de queixa.
Isso porque, a parte autora celebrou contrato de prestação de serviço de telefonia móvel junto à
demandada através de plano pós-pago, o que implica na confecção de faturas.

Urge salientar que, o cancelamento dos serviços oferecidos que constam no plano
contratado pela autora se deu mediante inadimplência das devidas contraprestações.
Vejamos:

ACESSO (21) 9.6777-4492 – CANCELADO POR INADIMPLÊNCIA EM 17/06/2021:

ACESSO (74) 9.9100-8440 – ACESSO CANCELADO POR INADIMPLÊNCIA EM 17/06/2021:

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Em relação as alegações arguidas pela parte Autora, cumpre a Acionada chamar atenção
para o fato de que as mesmas se encontram deturpadas e destituídas de qualquer razão.

Pois bem.

Em consulta ao sistema interno da empresa, identificamos que a parte Autora restou


inadimplente referente às faturas com vencimento em 15/09/2020 no valor de R$ 78,72 (-
), 15/10/2020 R$ 101,64 (-), 15/03/2021 R$ 59,32 (-), 15/04/2020 R$ 71,36 (-), 15/04/2021
R$ 2,05 (-), 15/10/2019 R$ 15,13 (-), 15/02/2021 R$ 81,63 (-), -15/09/2019 R$ 13,88 (-),
15/03/2020 R$ 79,67 (-), 15/01/2020 R$ 29,22 (-), 15/12/2019 R$ 28,61 (-), 15/11/2020 R$
120,88 (-). Confira-se:

Nesse ínterim, cumpre evidenciar que, a parte Autora realizou o parcelamento do


referido débito, sendo o valor atualizado atribuído de juros e multas R$ 844,70 (-). Foi
aplicado desconto de R$ 591,30 (-) e o débito corrigido totalizou R$ 253,40 (-). Foi

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definido o valor da entrada como sendo R$ 50,68 (-) e mais 05 parcelas mensais e
sucessivas no valor de R$ 42,76 (-). Conforme comprova-se das telas probatórias abaixo e
termo de confissão de dívida em anexo.

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Deste modo, em cumprimento aos ditames contratuais celebrados entre as partes, os
sistemas da Acionada realizaram automaticamente a suspenção parcial dos serviços.

Ora, nobre magistrado, resta patente que a parte Autora não apresentou pagamento
tempestivo das faturas ora expostas, acarretando na inadimplência e consequente
suspenção dos serviços.

O QUE SE QUER DEIXAR CLARO É QUE A SUSPENSÃO SE DEU DE FORMA


LEGÍTIMA, HAJA VISTA QUE A PARTE AUTORA NÃO REALIZOU O
PAGAMENTO DAS REFERIDAS FATURA.

Neste sentido, insta salientar que, em caso de inadimplemento das faturas de consumo, a
Operadora está legitimada a adotar o procedimento do bloqueio parcial após 15 (quinze) dias de
atraso no pagamento, obstando ligações e demais serviços prestados que impliquem em débito ao
cliente, já que já houve a utilização do serviço contratado sem a contraprestação devida.

Persistindo o inadimplemento, por mais 15 (quinze) dias após o bloqueio parcial, a acionada
procede ao bloqueio total dos serviços, ou seja, de todas as ligações originadas e recebidas e dos
demais serviços prestados pela TIM. Nestes casos, o bloqueio do serviço é medida legítima e de
pleno conhecimento dos clientes que contratam os serviços da Acionada. Conforme previsão
contratual, in verbis:

“4.2 Ainda no caso do não pagamento do documento de cobrança, além do disposto


no item anterior, a TIM poderá:

a) após 15 (quinze) dias da data do vencimento do documento


de cobrança – efetuar o bloqueio parcial dos serviços, que
consistirá no bloqueio das ligações originadas, das chamadas
recebidas e demais serviços prestados pela TIM, que importem
em débito para o CLIENTE, exceto serviços públicos de
emergência;

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b) após 15 (quinze) dias da data do bloqueio parcial – efetuar o bloqueio de todas
as ligações originadas e recebidas e dos demais serviços prestados pela TIM;

c) após 45 (quarenta e cinco) dias do bloqueio total – efetuar a desativação


definitiva do SPM e a rescisão deste contrato, com a consequente perda do Código de
Acesso (número telefônico).”

Desta forma, ilícito nenhum se configura na conduta da acionada, que agiu, portanto, em perfeita
consonância com suas prerrogativas contratuais.

Não obstante, cumpre elencar que, em relação aos protocolos citados em inicial, em consulta ao
sistema interno da empresa os mesmos não foram lozalizados. Veja-se:

PROTOCOLO 04017334520118190001:

PROTOCOLO 202206229050493:

PROTOCOLO 2022370967910 (Atendimento concluído com todas as informações


passadas):

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Sendo assim, não restam dúvidas quanto a real pretensão da parte autora, quando do ajuizamento
da presente demanda, senão de se utilizar do aparato jurisdicional pela via transversa para tentar
alcançar vantagem ilícita o que, inquestionavelmente, não pode ser aceito pelo nosso
ordenamento.

Diante do exposto, pugna pela TOTAL IMPROCEDÊNCIA da ação, restando patente a


fragilidade das provas e argumentos apresentados, bem como nexo de causalidade que justifique a
responsabilização da acionada.

IV. DA INOCORRÊNCIA DOS DANOS MORAIS ALEGADOS

Decerto, ultrapassada a argumentação precedente, impende seja analisada a questão concernente


à inexistência de dano suportado pela Autora, uma vez que, como não poderia deixar de ser, não
se pode falar em responsabilidade civil sem que haja um prejuízo efetivamente sofrido. Conforme
bem ensina o Mestre Cretella Junior:

A ilegitimidade ou irregularidade da ação, sem dano algum a terceiros, não é suficiente para
empenhar responsabilidade, mas, tão só, quando for o caso, a invalidade do ato”1.

Com efeito, esse preceito geral do dever de indenizar, qual seja a necessidade de existência de um
dano efetivamente suportado pela vítima, constitui verdadeiro pilar da teoria da responsabilidade
civil moderna. A obrigação de indenizar dano inexistente consubstancia uma inversão de valores,
uma verdadeira consagração e privilégio do enriquecimento ilícito que não recebe agasalho do
ordenamento jurídico nacional.

Para que haja dever de ressarcimento de dano material ou de reparação de dano moral - e,
portanto, o dano - o fato apontado como lesivo há que ser ilícito. Em outras palavras, a conduta
(comissiva ou omissiva) do agente causador do dano há que ser antijurídica.

Os atos praticados em exercício regular de um direito reconhecido não constituem atos


ilícitos (CC, art. 188, caput e inc. I), sendo exercício regular de um direito reconhecido
qualquer conduta (comissiva ou omissiva) permitida ou não proibida por lei, que, ainda

1 STOCO, Rui, Tratado de Responsabilidade Civil, 5 ed., São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2001, p. 94.

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que cause prejuízo a outrem (material ou moral), não dará azo a ressarcimento ou
reparação.

Pensar de modo diverso – que pudesse alguém ter responsabilidade civil por ato lícito por
si praticado – de início ofende expressamente o artigo 927 do Código Civil Brasileiro e,
em última análise, subverte o princípio constitucional que determina que ninguém será
obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa, senão em virtude de lei (CF, art.5°, II).

De fato, o princípio constitucional invocado – elevado à categoria de direito fundamental –


assegura aos indivíduos que não haverá privação pessoal ou patrimonial decorrente do regular
exercício de condutas lícitas (permitidas ou não proibidas em lei), afastando a incidência de
responsabilidade criminal, civil e administrativa.

E a “isso” (que assegura a vida em sociedade) chama-se segurança jurídica, finalidade precípua do
Poder Judiciário, cujos membros juraram solenemente cumprir e fazer cumprir as leis da
República.

Na ciência jurídica só há dano reparável ou passível de ressarcimento se houver violação de algum


direito (direito-obrigação). Em outras palavras, mister que a conduta apontada como lesiva (a)
seja proibida por lei 2, ou (b) ofenda garantia assegurada por lei a outrem 3. Na lição de Humberto
Teodoro Jr. 4:

“(...) Se o incômodo é pequeno (irrelevância) e se, mesmo sendo grave, não corresponde a um
comportamento indevido (licitude), obviamente não se manifestará o dever de indenizar”.

Em se tratando de dano moral, o ilícito ofende sempre algum direito da personalidade


(logicamente, expressamente previsto pelo direito positivo). Por conseguinte a conduta ofensiva a
direito da personalidade (direito individual fundamental) será, sempre, fato típico de crime ou
contravenção penal, o que torna muito simples a identificação da ilicitude, ou não, da conduta.

É bem verdade que a tendência atual da disciplina da responsabilidade civil vem já evoluindo a
ponto de, nos moldes da teoria da responsabilidade objetiva e teoria do risco, falar-se em
responsabilidade civil e dever de indenizar independentemente de apuração da culpa do agente
danoso.

Entretanto, não se pode defender a existência de responsabilidade civil sem dano, mesmo porque
o dever de indenizar constitui-se, por natureza, em um dever de restituir, de repor, um verdadeiro
dever jurídico de recompor, não se admitindo, permissa venia, a utilização desse instrumento como
modo de acréscimo patrimonial ou enriquecimento da parte “vitimada”.

Decerto, o dever de indenizar o dano moral encontra-se estritamente ligado à existência de um


efetivo prejuízo sofrido oriundo da prática de um ato ilícito. Dito prejuízo, embora sendo muitas
vezes de impossível apreciação pecuniária, é sempre passível de aferição face aos critérios

2
Descumprimento de uma obrigação;
3
Inobservância de um direito;
4
“Dano Moral”, 2ª Edição;

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objetivos e subjetivos traçados pela doutrina e jurisprudência pátrias. Consoante preceitua Sérgio
Cavalieri Filho:

“Só deve ser reputado como dano moral a dor, vexame, sofrimento ou humilhação que,
fugindo à normalidade, interfira intensamente no comportamento psicológico do indivíduo,
causando-lhe aflições, angústia e desequilíbrio em seu bem-estar. Mero dissabor,
aborrecimento, mágoa, irritação ou sensibilidade exacerbada estão fora da órbita do dano
moral, porquanto, além de fazerem parte da normalidade do nosso dia-a-dia, no trabalho, no
trânsito, entre amigos e até em ambiente familiar, tais situações não são intensas e
duradouras, a ponto de romper o equilíbrio psicológico do indivíduo. Se assim não se
entender, acabaremos por banalizar o dano moral, ensejando ações judiciais em busca de
indenizações pelos mais triviais aborrecimentos”5.

Faz-se mister salientar que é justamente sobre essa hipótese que recai o caso sub examine, uma vez
que da conduta lícita praticada pela Ré, não decorreram quaisquer danos de natureza moral
suportados pela parte autora.

Retomando a linha de raciocínio encabeçada pelo Mestre Sérgio Cavalieri Filho, o Dano Moral,
nos moldes determinados pela Carta Política de 1988, nada mais é do que a violação ao direito à
dignidade. Pode, então, ser classificado como qualquer agressão à dignidade pessoal, seja por
meio de violação da intimidade, vida privada, honra ou mesmo da imagem.

De mais a mais, é bem verdade que parte do pretório nacional, na esteira da doutrina do punitive
damage, oriunda do direito norte-americano, vem atribuindo natureza sancionadora ao instituto da
indenização por dano moral – a par de seu caráter compensatório –, como forma de coibir a
conduta do agente lesivo.

Tal entendimento, todavia, não se afina à sistemática pátria, erigida sobre pilares totalmente
distintos daqueles que balizam o direito norte-americano, no particular.

Com efeito, a teoria jurídica do Punitive Damage nasce em país cujo ordenamento jurídico
caracteriza-se pela inexistência de prevalência da lei sobre as demais fontes do direito,
encontrando-se ela sempre em posição inferior àquela ocupada pela jurisprudência e pela
doutrina.

A decisão dos tribunais, naquelas nações, é que “introduz no direito nacional as novas regras,
possibilidade que confere aos magistrados um poder de criar o direito, paralelo àquele tradicional que lhe permite
aplicar a norma ao caso concreto, vale dizer, à jurisdição” - explica o Professor Giovanni Comodaro
Ferreira.

Insta esclarecer que, em relação ao nosso país, que integra o bloco dos sistemas erigidos segundo
a tradição romano-germânica, a implantação dessa nova teoria, em qualquer dos níveis de
regulação normativa, no ordenamento pátrio, somente é possível, portanto, se respeitada a
estrutura legal brasileira.

5 FILHO, Sérgio Cavalieri, Programa de Responsabilidade Civil, 3 ed., Malheiros Editores, p. 89.

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Exsurge, pois, restar impossibilitada, data maxima venia, a condenação em reparação
por danos morais como meio de sanção ou de coibição, conquanto medida incompatível
com a natureza jurídica do instituto.

Consoante ao exposto linhas acima, no ordenamento pátrio, a indenização – a qualquer título –


constitui-se em dever jurídico de reparar, e não sanção.

Ao emprestar caráter sancionador ao dever jurídico de indenizar por dano moral, o Julgador,
concessa venia, afasta-se da concepção científica acerca da natureza do instituto, pondo em xeque
construções epistemológicas erigidas por séculos a fio. Colocando em descrédito, portanto, toda
a sistemática até então adotada.

Ademais, a ausência de critérios objetivos, previamente fixados em lei – que constitui o único e
exclusivo instrumento juridicamente idôneo, apto a instituir uma sanção –, bem como a aplicação
de natureza sancionadora por analogia ou extensão, viola postulados elevados a patamar de
Princípios Constitucionais, como a Legalidade e a Segurança Jurídica.

Outrossim, é de se ver que a impossibilidade de utilização do instituto jurídico sub oculi como
sanção não elide o caráter publicista que reveste os assim chamados direitos de terceira geração.
O ordenamento pátrio possui instrumentos próprios, adequados a resguardar a ordem jurídica,
por meio de medidas administrativas e mesmo penais, aplicáveis quando necessário coibir-se
práticas abusivas, ofensoras dos bens imateriais sob maior tutela.

Impende observar, por derradeiro, que a experiência comum vem ensinando que, ao contrário do
que os defensores do punitive damage vêm gizando, a conversão de um dever jurídico meramente
compensatório em rigorosa sanção pecuniária revertida em favor do lesado vem dando margem a
uma gradativa industrialização dos danos morais. Estes são muitas vezes alegados de forma
leviana e desleal, como possível meio de locupletamento indevido, assoberbando o Poder
Judiciário com forçosas e desnecessárias demandas neste sentido.

Premente, pois, o rigor na aferição ao que de fato venha a constituir dano moral, tendo-se em
mira tão-somente o seu caráter compensatório, quando da fixação do valor da indenização, que
jamais deverá autorizar qualquer tipo de enriquecimento ilícito ao ofendido.

Na hipótese dos autos, inexistindo, conforme demonstrado supra, qualquer espécie de dano
moral suportado pela parte autora, não há que se falar em condenação da Ré ao pagamento de
indenização pecuniária, fosse ela aplicada em seu caráter sancionatório ou compensador.

Por sua vez, na remota possibilidade de assim não entender V. Exa., vindo então
eventualmente a decidir pela obrigação de indenizar, no que efetivamente não crê a ora
Ré, não se poderá admitir a reparação pleiteada de forma aleatória e sem critério legal,
como postulado em inicial. Urge, assim, o estabelecimento de critérios lastreadores da
fixação de um eventual quantum debeatur, conforme restará devidamente evidenciado
abaixo.

No caso dos autos, o valor de indenização, a título de danos morais, extrapola o limite da
razoabilidade, haja vista que é feito em desobediência a qualquer parâmetro legal, constituindo-se

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numa malfadada tentativa de obter vantagem indevida, o que leva-nos com tranqüilidade a
impugnar o valor da indenização pretendida.

Na esteira desse entendimento, cumpre observar que quanto à fixação do valor da indenização,
predomina no nosso sistema legal, a regra da persuasão racional do magistrado, já que “transfere
para o juiz o poder de aferir, com o seu livre convencimento e tirocínio, a extensão da lesão e o
valor da reparação correspondente. Afinal, é o juiz quem, usando parâmetros subjetivos, fixa a
pena condenatória de réus processados criminalmente e/ou estabelece o quantum indenizatório,
em condenação de danos ressarcitórios, de natureza patrimonial.6 ”.

É nesse sentido que a jurisprudência dominante tem entendido, ao reiteradamente defender que,
ao fixar o valor da indenização por dano moral, o juiz deverá agir com cautela, a fim de evitar que
a condenação converta-se em fonte de enriquecimento ilícito para a parte autora. Nesse sentido,
o Superior Tribunal de Justiça:

16051910 – CIVIL E PROCESSUAL CIVIL – RESPONSABILIDADE


CIVIL – DANO MORAL – INSCRIÇÃO IRREGULAR – SPC E SERASA
– QUANTUM INDENIZATÓRIO – CONTROLE PELO SUPERIOR
TRIBUNAL DE JUSTIÇA – VALOR RAZOÁVEL – CASO CONCRETO
– HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS – ENUNCIADO Nº 7 DA
SÚMULA/STJ – PRECEDENTES – RECURSO DESACOLHIDO – I – O
valor da indenização por dano moral sujeita-se ao controle do Superior Tribunal de Justiça,
sendo certo que a indenização a esse título deve ser fixada em termos razoáveis, não se
justificando que a reparação venha a constituir-se em enriquecimento indevido, com manifestos
abusos e exageros, devendo o arbitramento operar com moderação, proporcionalmente ao grau
de culpa e ao porte econômico das partes, orientando-se o juiz pelos critérios sugeridos pela
doutrina e pela jurisprudência, com razoabilidade, valendo-se de sua experiência e do bom
senso, atento à realidade da vida e às peculiaridades de cada caso. Ademais, deve procurar
desestimular o ofensor a repetir o ato. II – No caso, diante de suas circunstâncias, não se
vislumbra exagero na condenação. III – A questão relacionada com o quantum dos
honorários advocatícios está normalmente envolta com os fatos da causa, pelo que seria
inapreciável no âmbito do recurso especial, salvo quando se tratar de questões de direito ou
quando a estipulação feita nas instâncias ordinárias desborda dos critérios estipulados em lei,
o que inocorreu na espécie. (STJ – RESP 245727 – (200000053600) – SE – 4ª T. –
Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira – DJU 05.06.2000 – p. 00174).

No caso dos autos, na remota possibilidade de vislumbrar-se alguma ilicitude na conduta


praticada pela Ré – o que somente se admite para fins de argumentação – ao perscrutarmos a
análise da pecunia doliris, chegar-se-á à inafastável conclusão de que a pretensão da Demandante
vai de encontro às diretrizes recomendadas pelo Tribunal Superior, para fixação da indenização
por dano moral.

Com efeito, na hipótese de vir a ser deferido o pleito inicial, o que se admite tão somente no
plano hipotético, a condenação converter-se-á em verdadeira fonte de enriquecimento para a
parte Acionante, em total detrimento da Ré.

6 REIS Clayton. Ob. cit. pg. 94.

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Face ao exposto, impugna o valor pretendido na exordial, e, na remota hipótese de entender esse
M. D. Juízo que existe o dever de reparar o dano, que seja a indenização fixada em limites
razoáveis.

V. DA INOCORRÊNCIA DE DESVIO PRODUTIVO DO CONSUMIDOR NO


CASO EM COMENTO

A tese do desvio produtivo do consumidor, de autoria de Marcos Dessaune, preconiza que o tal
se caracteriza quando o consumidor, diante de uma situação de mau atendimento, precisaria
desperdiçar o seu tempo e desviar as suas competências — de uma atividade necessária ou por
ele preferida — para tentar resolver um problema criado pelo fornecedor, a um custo de
oportunidade indesejado, de natureza irrecuperável.

O desvio produtivo evidenciar-se-ia assim quando o fornecedor, ao descumprir sua missão e


praticar ato ilícito, independentemente de culpa, impõe ao consumidor um relevante ônus
produtivo indesejado por este, onerando indevidamente seus recursos produtivos.

Contudo, o referido princípio não pode ser levado às últimas consequências, sob pena de restar
configurado um dano indenizável para todo e qualquer dispêndio mínimo de tempo, o que faria,
numa análise superficial da tese, falsamente se concluir que: 1) todo fornecedor, de qualquer
ramo, precise ser indefectível no seu serviço, o que é absolutamente irreal; e, principalmente, 2)
estar-se-ia legitimando, de outro lado, o abuso do direito, o que deve ser veementemente
rechaçado.

Com relação ao primeiro aspecto, não resta a menor dúvida de que, para além de ser irrazoável se
esperar que todo e qualquer serviço contratado seja imune a eventuais e pontuais defeitos, é
absolutamente ilegal. Nesse sentido, vale lembrar que o próprio Código de Defesa do
Consumidor, no seu art. 18, §1º, termina por reconhecer que tais situações existem, dando até
mesmo um parâmetro de espera razoável.

Vale dizer, o legislador reconheceu que existem situações de vício, em que, para se equalizar os
interesses entre fornecedores e consumidores – intuito primordial do microssistema consumerista
–, mister se faz oportunizar que a fornecedora sane tal vício, em um prazo razoável.

A própria jurisprudência assim reconhece, uma vez que chega mesmo a entender pela falta de
interesse de agir daquele que não tentou, antes, buscar a resolução administrativa de sua
demanda:

DECISÃO SANEADORA QUE REJEITA PRELIMINAR DE FALTA DE


INTERESSE DE AGIR. COBRANÇA DE SEGURO DPVAT .
ALEGAÇÃO DE FALTA DE INTERESSE DE AGIR, POR AUSÊNCIA
DE REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO. 1-Entendimento recente
firmado pelo Egrégio Supremo Tribunal Federal no julgamento do RE
631.240/MG, com repercussão geral reconhecida, aplicado analogicamente ao seguro
DPVAT, no sentido de que somente após prévio requerimento
administrativo é que se pode falar em ameaça ou lesão ao direito, aptas
a ensejar a manifestação do Judiciário. 2- Prévio requerimento administrativo que
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não se confunde com o esgotamento das vias administrativas. Demandante que, ao que tudo
indica, requereu administrativamente o seguro, restando comprovado o interesse de agir.
Condições da ação presentes. Decisão que se mantém. RECURSO A QUE SE NEGA
SEGUIMENTO.

Assim, ao se analisar a teoria do desvio produtivo do consumidor, há de se levar em consideração


que O DANO NÃO SURGE DA EXISTÊNCIA DO VÍCIO NO FORNECIMENTO
DO SERVIÇO EM SI, MAS NA DEMORA SIGNIFICATIVA E INJUSTIFICADA NA
RESOLUÇÃO DO MESMO, AO SER APONTADO PELO CONSUMIDOR.

Não é demais se concluir que, para a incidência da referida tese, há de haver um relevante,
considerável e grande perda de tempo por parte do consumidor, bem como que seja
comprovado que tal tempo afetou o seu tempo útil, a atrapalhar seu labor, seu cotidiano,
suas atividades rotineiras e necessárias.

Como preleciona o jurista Pablo Stolze Gagliano:

“Deve ficar claro, nesse contexto, que nem toda situação de desperdício
do tempo justifica a reação das normas de responsabilidade civil, sob
pena de a vítima se converter em algoz, sob o prisma da teoria do abuso
de direito.
Apenas o desperdício “injusto e intolerável” poderá justificar eventual reparação pelo dano
material e moral sofrido, na perspectiva, como já dito, do superior princípio da função social.
E, por se tratar de conceitos abertos, caberá à doutrina especializada e à própria
jurisprudência, estabelecer as balizas hermenêuticas da sua adequada aplicação.”7 (grifos
nossos)

É de se perceber, sob tal prisma, que a própria legislação vigente traz freios a tal entendimento,
vide o que determina o Código Civil vigente:

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons
costumes.

O que foi positivado na legislação mencionada acima é a figura do “abuso de direito”, e que,
como pode-se verificar, também é considerado como um ato ilícito, e, portanto, não pode ser
usado como instrumento para o enriquecimento, que nesse caso seria ilegal, como se percebe
perfeitamente aplicável ao caso ora em tela.

A parte não faz prova alguma de que houve qualquer perda razoável de tempo na
resolução da sua pretensão, nem mesmo que houve demora razoável e significativa em
sua resolução.

7
STOLZE, Pablo. Responsabilidade civil pela perda do tempo. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862,
Teresina, ano 18, n. 3540, 11 mar. 2013. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/23925>. Acesso em: 24 mar.
2019.

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Para justificar tal pleito, carreia somente números de protocolo, gerados automaticamente pelo
Canal de Atendimento disponibilizado pela Ré.

Ora, não é demais chamar a atenção deste MM. Juízo para o fato de que tais números são
gerados automaticamente, e antes mesmo do atendimento efetivo do consumidor por um dos
atendentes. Vale dizer, para “provar o desvio produtivo”, nos moldes delineados na peça
exordial, bastaria que o consumidor ligasse para a Central, e após o fornecimento do número,
simplesmente desligasse a ligação.

Tal não passaria de 30 segundos! Qual desvio produtivo se implementaria, nessa situação?

Assim, por falta de absoluto amparo legal e lastro probatório mínimo a embasar a sua pretensão,
pugna desde já pelo seu indeferimento, por questão de absoluta justiça.

VI. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA – IMPOSSIBILIDADE –


HIPOSSUFICIÊNCIA DESCARACTERIZADA – AUSÊNCIA DE CRITÉRIOS
JUSTIFICADORES – APLICAÇÃO DA REGRA COMUM DO ART. 373, I DO CPC

Tendo em vista que a inversão do ônus da prova está diretamente relacionada ao reconhecimento
da vulnerabilidade em que se encontra a parte na relação em juízo, visando ainda diminuir as
diferenças, não restam dúvidas que, no presente caso, a inversão almejada é totalmente
desnecessária.

Em regra, diante do juiz, a parte que alega alguma coisa tem obrigação de provar o que está
alegando. Mas, excepcionalmente, quando as posições são invertidas, diz-se que há a inversão do
ônus da prova. Porém, a inversão do ônus não é automática e para todos os casos. Assim, a
inversão não ocorre sem qualquer critério, mas com a decisão expressa do juiz que deve
considerar as particularidades de cada caso, somadas às condições estabelecidas em Lei.

Verificamos no art. 6º do CDC, os direitos básicos dos consumidores, entre eles, o inciso VIII,
que dispõe sobre a facilitação de defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da
prova a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou
quando ele for hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiência. Neste sentido, a
jurisprudência pátria:

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


INDENIZATÓRIA. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA.
IMPRESCINDIBILIDADE DE DEMONSTRAÇÃO DA
VEROSSIMILHANÇA DA ALEGAÇÃO E DA HIPOSSUFICIÊNCIA
DO CONSUMIDOR. NÃO COMPROVAÇÃO. NECESSIDADE DE
REEXAME FÁTICO-PROBATÓRIO DOS AUTOS. AGRAVO
DESPROVIDO. 1. A inversão do ônus da prova depende da análise, pelas instâncias
ordinárias, da presença ou não da verossimilhança da alegação e da demonstração da
hipossuficiência do consumidor. Precedentes. 2. A Corte de origem concluiu que a parte
autora não apresentou mínima prova da ocorrência do fato e a verossimilhança das alegações.
3. A reforma do julgado demandaria, necessariamente, novo exame do acervo fático-

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probatório dos autos, providência vedada no recurso especial, a teor do disposto na Súmula 7
do STJ. 4. Agravo interno a que se nega provimento.
(STJ - AgInt no AREsp: 1134599 RS 2017/0169793-0, Relator: Ministro
LÁZARO GUIMARÃES (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF
5ª REGIÃO), Data de Julgamento: 28/11/2017, T4 - QUARTA TURMA, Data
de Publicação: DJe 04/12/2017)

Requer a Acionada, portanto, seja indeferido de plano o pedido formulado pela parte autora no
sentido inverter o ônus da prova em desfavor da Acionada.

VII. DOS REQUERIMENTOS

Acaso ultrapassada as preliminares arguidas, requer, pois, a Acionada, seja julgada


TOTALMENTE IMPROCEDENTE a presente ação, haja vista a inexistência de fatos e
amparo legal que autorizem e justifiquem o quanto requerido. E, se assim não entender o(a)
ilustre magistrado(a) – no que, sinceramente, não acredita a Acionada – seja a condenação fixada
dentro de padrões razoáveis, que não traduzem o quanto pedido na inicial.

Requer, por derradeiro, a produção de todos os meios de prova em direito admitidos,


especialmente o depoimento pessoal da parte autora, ouvida de testemunhas, juntada posterior de
documentos em contraprova e tudo mais quanto for necessário ao melhor deslinde do feito.

Por fim requer que todas as publicações/intimações sejam feitas em nome dos
Advogado Mauricio Silva Leahy, OAB/Ba 13.907 e Humberto Graziano Valverde,
OAB/Ba 13.908, sob pena de nulidade processual.

Nestes termos,
Pede deferimento.

De Salvador/BA para Juazeiro, 29 de Julho de 2022.

Humberto Graziano Valverde


OAB/BA 13.908
(assinado eletronicamente)

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