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10/07/2020 Consumidores que tiveram aparelhos queimados em decorrência de raios ou quedas de energia elétrica devem ter seus prejuízos …

Consumidores que tiveram aparelhos queimados em


decorrência de raios ou quedas de energia elétrica devem ter
seus prejuízos ressarcidos

O consumidor que for prejudicado pela queima de algum aparelho em


decorrência de raios ou quedas de energia elétrica, pode solicitar a reparação
de seus prejuízos, esse direito é assegurado pela Agência Nacional de Energia
Elétrica (ANEEL) e pelo Código de Defesa do Consumidor (CDC).

É dever das concessionárias de serviço público a prestação de um serviço adequado,


eficiente, e essencialmente seguro, assim, caso haja falha na prestação do serviço, ela
responderá independentemente da existência de culpa pelos infortúnios que causar.

Ao abordar as obrigações das empresas prestadoras de serviço público o


art. 22 do CDC, é expresso, vejamos:

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Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias,


permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados
a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos
essenciais, contínuos.

Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das


obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas
compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma
prevista neste código.

Em se tratando de responsabilidade civil, a nossa Carta Magna em seu § 6º do


art. 37 prevê que a responsabilidade das concessionárias prestadoras de serviço público
é objetiva, verbis:

§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de


serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa
qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o
responsável nos casos de dolo ou culpa.

Assim, seguindo a linha de raciocínio da responsabilidade objetiva, e constando o dano


e o nexo de causalidade v. G., queda do raio com a consequente queima da geladeira, as
únicas possíveis alternativas para excluir a responsabilidade da empresa é a força
maior, o caso fortuito e a culpa exclusiva da vítima.

O caso fortuito é conceituado como imprevisível e inevitável, faltando algum desses


requisitos não será caracterizada a excludente de responsabilidade. Ocorre que, a
descarga elétrica (raio) é previsível e até mesmo acontece frequentemente, emergindo a
obrigação da concessionária de energia elétrica tomar as providências cabíveis para se
evitar os danos decorrentes desses fatos (Ex.: instalar para raios, etc.).

Nesse sentido, a jurisprudência das Turmas Recursais é pacífica, segue ementa,


ipsis litteris:

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Ementa: RECURSO INOMINADO. PROCESSUAL CONSUMERISTA. AÇÃO DE


REPARAÇÃO DE DANO MATERIAL. DANO EM APARELHOS ELETRÔNICOS
PROVOCADA POR GRANDE OSCILAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA NA
UNIDADE CONSUMIDORA.RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA
CONCESSIONÁRIA. DIREITO CARACTERIZADO. Afastada a incompetência do
juizado especial cível reconhecida pelo juízo a quo, pois se mostra despicienda a
realização de perícia para averiguar a real situação dos bens danificados e o preço
dos mesmos, já que os elementos disponíveis nos autos são suficientes para o
deslinde da causa. A concessionária de energia elétrica responde, objetivamente,
pelos danos causados na prestação do seu serviço, na forma do que dispõe o
art. 37, § 6º, da CF. Desta maneira, as únicas excludentes de
responsabilidade que se admite nesta seara são a força maior, o caso
fortuito e a culpa exclusiva da vítima. Acerca do caso fortuito, decorre
de sua própria definição a necessidade de sua imprevisibilidade e
inevitabilidade, notas sem as quais a excludente não se configura.
Contudo, a descarga elétrica (raio) é absolutamente previsível e até
mesmo corriqueiro, construindo em desfavor da concessionária o ônus
de dotar seus equipamentos de mecanismos eficientes de proteção
contra danos disso decorrentes, devido à imposição legal de prestação
de serviço seguro, nos termos do art. 22 do CDC (RI 71003518347,
3ªTRC/RGS, rel. Juiz Fabio Vieira Heerdt, j. 26/4/2012; RI 71002737831,
1ªTRC/RGS, rel. Juíza Vivian Cristina Angonese Spengler, j. 31/3/2011). De outra
banda, conforme disposto no art. 164, da Resolução 414/2010 da ANEEL, a
responsabilidade da concessionária estende-se até o ponto de conexão de sua rede
com as instalações elétricas do consumidor. No caso em foco, o autor, por
intermédio da prova oral, não contraditada, logrou provar que a descarga elétrica
não se deu unicamente na sua residência, mas, também, em outras casas da região,
tendo a testemunha, inclusive, referido que outros vizinhos tiveram seus eletrônicos
queimados em razão do evento ocorrido em 06/02/2013. A corroborar a existência
de nexo causal, foram acostados laudos técnicos (fls. 24-27), dando conta da
danificação dos aparelhos eletrônicos decorrente da descarga elétrica. Nesse
contexto, pois, restando caracterizado o dano e o nexo de causalidade, de direito se
mostra o ressarcimento comandado pelo Juízo a quo, com base nas notas fiscais de
compra dos produtos que substituíram os que restaram queimados, no valor
nominal total de R$13.530,00, orçamento de menor valor (fls. 24-25). Registre-se,
por oportuno, que os preços de aparelhos eletrônicos similares ao do autor,

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apresentados pela ré (fls. 48-53), não têm o condão de infirmar a veracidade


daqueles informados nos orçamentos acostados aos autos, pois foram extraídos de
site de compras pela internet, sendo alguns dos produtos usados, não havendo
dados precisos acerca das atuais condições dos mesmos. RECURSO PROVIDO.
(Recurso Cível Nº 710046812 Cível, Turmas Recursais, Relator: Ricardo Bernd,
Julgado em 06/11/2014)

Sanado o ponto da responsabilidade da concessionária que presta serviço público, resta


saber quais as providenciais que o consumidor deve tomar caso sofra avarias em seus
aparelhos eletrônicos em virtude da falha da prestação do serviço.

De acordo com a ANEEL o consumidor tem um prazo decadencial para solicitar o


ressarcimento de seus prejuízos, bem como, deve cumprir algumas exigências, vejamos
o que narra o art. 204, incisos I a V e § 1º da Resolução nº 414 da ANEEL, verbis:

Art. 204. O consumidor tem até 90 (noventa) dias, a contar da data provável da
ocorrência do dano elétrico no equipamento, para solicitar o ressarcimento à
distribuidora, devendo fornecer, no mínimo, os seguintes elementos:

I – data e horário prováveis da ocorrência do dano;

II – informações que demonstrem que o solicitante é o titular da unidade


consumidora, ou seu representante legal;

III – relato do problema apresentado pelo equipamento elétrico;

IV – descrição e características gerais do equipamento danificado, tais como


marca e modelo; e,

V – informação sobre o meio de comunicação de sua preferência, dentre os


ofertados pela distribuidora.

§ 1o A solicitação de ressarcimento pode ser efetuada por meio de atendimento


telefônico, diretamente nos postos de atendimento presencial, via internet ou
outros canais de comunicação disponibilizados pela distribuidora.

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Portanto, primeiramente o consumidor deve entrar em contato com a empresa, prestar


as informações pertinentes, e caso necessário deixar a distribuidora visitar o local dos
fatos para investigar a existência do nexo causal (ligação entre a conduta e o dano).

O prazo legalmente previsto para a empresa visitar o local e fazer a análise é de 10 dias,
ou 1 (um) dia útil caso o equipamento danificado é utilizado para acondicionamento de
alimentos ou medicamentos. Depois de transcorrido esse prazo, ou antes, disso,
autorizado pela concessionária, o consumidor pode consertar o equipamento por sua
própria conta, exigindo ulteriormente o ressarcimento do que vier a gastar.

Ocorrendo a verificação in loco, a empresa tem 15 dias (contados a partir da


verificação) para informar ao consumidor o resultado da solicitação do ressarcimento.
Se por ventura não fora realizada a verificação pela empresa, esse prazo conta a partir
do requerimento feito pelo consumidor.

Sendo o pedido do consumidor deferido, a empresa tem mais 20 dias para efetuar o
ressarcimento em moeda corrente, providenciar o conserto ou substituir o
equipamento danificado.

É sobremodo importante assinalar que, se a empresa negar o ressarcimento ou


desrespeitar qualquer dos prazos previstos na legislação, o consumidor não é obrigado
a esperar eternamente pela boa vontade da concessionária, podendo ingressar
imediatamente em juízo para ver seus prejuízos reparados, bem como, pleitear outras
indenizações (dano moral, etc.) decorrentes da preterição da empresa.

Por fim, convém ressaltar que é sempre importante o consumidor estar bem amparado
com todas as provas possíveis, como: laudo técnico, protocolo de atendimento,
orçamento do conserto e tudo mais que comprove suas alegações.

Referências

BRASIL. ANEEL. Resolução ANEEL nº 414, de 9 de setembro de 2010.


Estabelece as Condições Gerais de Fornecimento de Energia Elétrica de forma
atualizada e consolidada. Disponível em:. Acesso em: 07 julho 2015.

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BRASIL. Código de defesa do consumidor. Brasília: Senado Federal, 1990.

PITTA. Regina Rocha. Procon alerta consumidores sobre queima de


aparelhos. Disponível em: http://www.campinas.sp.gov.br/noticias-integra.php?
id=6927. Acesso em: 08 julho 2015.

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