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Até então, Christian Lindner já havia contraído um empréstimo de 2,35 milhões de euros com
o BBBank. Algumas semanas após o vídeo, o banco concedeu a ele um aumento no
empréstimo para 2,8 milhões de euros. Uma quantia robusta, especialmente porque o preço
de compra da propriedade foi de apenas 1,65 milhões de euros e o imóvel ainda serviu como
garantia. Mas o que levou o banco a conceder uma linha de crédito tão generosa?
Lindner é figura conhecida do BBBank há muitos anos. Desde 2014 aparece dando
testemunhos sobre o BBBank: seja na revista de circulação interna entre os clientes, ou num
vídeo no qual o líder do Partido Liberal Democrático (FDP) conversa por três minutos sobre seu
primeiro apartamento e a importância da liberdade financeira.
A agência de publicidade, que ainda mantém o vídeo em sua página inicial, escreveu: "Como
tema principal, o BBBank abordou uma situação com a qual muitos de nós provavelmente
estamos familiarizados: Os jovens parecem estar saindo da casa dos pais cada vez mais tarde.
Christian Lindner dá sua visão pessoal".
Até o endurecimento da legislação parlamentar em 2021, políticos não eram proibidos de fazer
propaganda, e os parlamentares do Bundestag também eram autorizados a dar palestras
remuneradas sem restrições. De acordo com um estudo da Fundação Otto Brenner, pouco
mais de um terço dos deputados alemães receberam rendimentos complementares no
período legislativo entre 2017 e 2021, totalizando cerca de 53 milhões de euros.
O vídeo de maio de 2022 pode ser problemático para Lindner, já que surgem questionamentos
quando um ministro das finanças diz palavras amigáveis sobre uma instituição financeira, e tal
instituição depois estende generosamente sua linha de crédito.
Uma porta-voz do Ministério das Finanças enfatizou que tais palavras amigáveis "não eram
nada incomuns". No entanto, ela não respondeu à pergunta se Lindner havia informado
anteriormente ao ministério sobre a sua relação comercial pessoal com o banco e sobre o
empréstimo.
Por outro lado, a oposição no Parlamento alemão está pedindo a demissão do ministro. Há
indicações de que Lindner "pode não ser capaz de distinguir claramente" entre o trabalho
como ministro e seus interesses particulares, disse o vice-presidente do partido A Esquerda
(Die Linke), Lorenz Gösta Beutin, à revista alemã Der Spiegel. "Se a suspeita for substanciada e
o processo criminal tiver seguimento, a demissão do ministro das finanças seria inevitável".
ANÚNCIO
O termo "corrupção" não se encontra no Código Penal alemão. Em vez disso, é feita uma
distinção entre aceitação de vantagens e suborno. De acordo com o Parágrafo 331 do Código
Penal, a aceitação de uma vantagem ocorre quando um funcionário público exige, permite
uma promessa ou aceita uma vantagem para o desempenho legal de suas funções. De acordo
com o Parágrafo 332, o suborno ocorre se um ato oficial concreto for realizado violando
deveres oficiais em troca de tal vantagem. Até mesmo expressar a disposição a tal vantagem é
punível.
Alemanha em 10º lugar no índice de corrupção
A ONG Transparência Internacional vê com bons olhos a investigação por parte do judiciário de
Berlim. "O Estado de direito deve ter um olhar crítico, principalmente se tratando de um
ministro", disse o advogado da organização, Wolfgang Jäckle, ao grupo de mídia alemão Funke
Mediengruppe.
No topo da lista estão atualmente Dinamarca, Finlândia e Nova Zelândia. O Brasil ocupa a 96ª
posição, enquanto Somália, Síria e Sudão do Sul estão entre os países com pior índice de
percepção da corrupção.
Isto talvez se deva ao fato de que até recentemente existiam lacunas na legislação
anticorrupção da Alemanha. Para políticos e funcionários públicos, as regras são rígidas há
muito tempo. Tanto presidente, prefeito ou policial não podem receber presentes ou
benefícios que excedam o valor de 10 euros.
Por exemplo, levar um bolo de presente no Natal para os funcionários da delegacia de polícia
do bairro não é problemático. Já um pequeno agrado em outra situação é diferente. Em 2006,
policiais que receberam uma cesta de frutas de um motorista de caminhão durante um
controle de tráfego em Hamburgo foram condenados por aceitação de benefícios.
Em 2012, quando se tornou público que o então presidente da Alemanha, Christian Wulff,
havia aceitado o convite de um amigo produtor de cinema para uma viagem de férias, o
Ministério Público considerou isto como aceitação de vantagem,iniciou uma investigação e o
caso foi levado a julgamento. Embora Wulff tenha sido absolvido, o fato marcou o término de
sua carreira política. Este, entre outros motivos, levou o então presidente a pedir demissão do
cargo.
Em julho de 2022, a Suprema Corte Federal decidiu em última instância que eles não eram
culpados de suborno ou corrupção, e sim apenas de abuso de influência. Algo que, apesar de
ser considerado delito de corrupção de acordo com a convenção da ONU, ainda não foi
transposto para a legislação alemã. De acordo com os juízes, caberia ao legislador fechar uma
possível lacuna no direito penal. As discussões estão em andamento.
Fonte: https://www.dw.com/pt-br/onde-come%C3%A7a-a-corrup%C3%A7%C3%A3o-o-caso-
do-ministro-alem%C3%A3o-garoto-propaganda-de-banco/a-64356957