EXCELENTÍSSIMO SENHOR PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA

ANTÔNIO AUGUSTO BRANDÃO DE ARAS.

Instrumento Jurídico: Representação

ELIAS VAZ DE ANDRADE, brasileiro, divorciado, Deputado Federal pelo

Partido Socialista Brasileiro no Estado de Goiás, inscrito no CPF nº 422.894.401-91,
portador da carteira de identidade nº 1345642 2ºvia expedido pela SSP-GO, título de
eleitor nº 0007504210582ª zona seção 101, encontradiço na Câmara dos Deputados,
Gabinete 303, Anexo IV, Palácio do Congresso Nacional - Praça dos Três Poderes,
Brasília - DF - Brasil – CEP - 70160-900;

KIM PATROCA KATAGUIRI, brasileiro, solteiro, Deputado Federal,

portador da Cédula de Identidade nº 40.289.548-4 SSP/SP e do CPF nº 393.134.958-64,
com endereço profissional na Câmara dos Deputados, Anexo IV, Gabinete 421, Brasília
– DF, CEP: 70160-900;

LÍDICE DA MATA E SOUZA, brasileira, divorciada, Deputada Federal,

portadora da Cédula de Identidade nº 01.083.952-60 –SSP/BA, inscrito no CPF n°
146.720.495-15, com endereço profissional na Câmara dos Deputados, Anexo IV,
Gabinete 913 - Brasília –DF, CEP 70160-900;
 UBIRAJARA DO PINDARÉ ALMEIDA SOUSA, brasileiro, casado,
deputado federal, portador da cédula de identidade 856.474/MA, inscrito no CPF sob o
nº 409.039.743-04, com endereço profissional na Câmara dos Deputados, Anexo IV,
gabinete 480, Brasília - DF, CEP 70160-900; vêm perante Vossa Excelência oferecer

REPRESENTAÇÃO
em desfavor de PAULO ROBERTO NUNES GUEDES, Ministro de Estado
da Economia, encontradiço na Esplanada dos Ministérios, prédio do Ministério da
Economia, Bloco P - 5º andar, Zona Civico Administrativa, Brasília/DF - CEP 70048-
900, e-mail: gabinete.ministro@economia.gov.br, por ter omitido informações
importantes na Declaração Confidencial de Informações (DCI) entregue no dia 11 de
janeiro de 2019 à Comissão de Ética Pública do Governo Federal, e pela suspeita de ter
usado as informações privilegiadas em operações efetuadas por sua offshore sediada nas
Ilhas Virgens Britânicas, a Dreadnoughts Internacional Group Limited, no mercado
financeiro.

1 – A OMISSÃO DA FILHA E A ESPOSA NA DECLARAÇÃO

CONFIDENCIAL DE INFORMAÇÕES (DCI) APRESENTADA EM
2019

1.1 – SEQUÊNCIA DOS FATOS

É público e notório que uma investigação empreendida pelo Consórcio

Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ), batizada de Pandora Papers, revelou
que o Ministro Paulo Guedes, ao lado de sua filha e esposa, é acionista de uma offshore
situada nas Ilhas Virgens Britânicas, a Dreadnoughts Internacional, cujo patrimônio é
de US$ 9,54 milhões, o equivalente a mais de R$ 50 milhões.

Link de acesso à reportagem do Portal de notícias G1 – Rede

Globo:

https://g1.globo.com/politica/noticia/2021/10/03/documentos-
vazados-revelam-mais-de-330-politicos-e-empresarios-de-
todo-o-mundo-com-offshore-em-paraisos-fiscais.ghtml
 Link de acesso à reportagem do Portal de notícias do jornal
Folha de São Paulo

https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2021/10/investigacao-
revela-operacoes-de-ao-menos-35-lideres-mundiais-em-
paraisos-fiscais.shtml

Diante desses fatos, a Câmara Federal aprovou a convocação para que o

Ministro preste esclarecimentos. O requerimento, inclusive, é de autoria do Deputado
Elias Vaz.

O link de acesso ao requerimento e à tramitação está disponível

abaixo:

https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao
?idProposicao=2301393

Ocorre que o ministro não compareceu à reunião que colheria seu

depoimento. Seus advogados apresentaram uma petição contendo alguns
esclarecimentos e documentos, entre estes está a Declaração Confidencial de
Informações (DCI) apresentada no dia 11 de janeiro de 2019 à Comissão de Ética
Pública do Governo Federal.

1.2 – PAULO GUEDES OMITIU QUE A FILHA PERMANCEU

OCUPANDO O CARGO DE DIRETORA DA OFFSHORE.

A Lei n° 12.813, de 16 de maio de 2013, estabelece que as autoridades e

outros servidores que integram o alto escalão do Governo Federal deverão apresentar
informações sobre situações que possam gerar conflitos de interesses.

O cargo de ministro de Estado é sensível diante do impacto de suas ações e

decisões na sociedade e no mercado, ele também detém inúmeras informações
estratégicas e sigilosas que podem representar uma enorme vantagem comercial e
econômica ao seu portador.
 Diante disso, seus titulares devem entregar à Comissão de Ética Pública do
Governo Federal a Declaração Confidencial de Informações (DCI). Com base nesse
documento, a Comissão de Ética Pública realizará a análise e monitoramento dos
possíveis conflitos de interesses.

Na DCI, o servidor deverá apresentar informações sobre sua vida profissional,

patrimonial e a existência de cônjuge, companheiro ou parentes, por consanguinidade
ou afinidade, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, que, no exercício de suas
atividades, possam suscitar conflito de interesses, nos termos do art. 9°, I, da Lei n°
12.813/2013.

Veja-se:

Art. 9º Os agentes públicos mencionados no art. 2º desta Lei,

inclusive aqueles que se encontram em gozo de licença ou em
período de afastamento, deverão:
I - enviar à Comissão de Ética Pública ou à Controladoria-
Geral da União, conforme o caso, anualmente, declaração com
informações sobre situação patrimonial, participações
societárias, atividades econômicas ou profissionais e indicação
sobre a existência de cônjuge, companheiro ou parente, por
consanguinidade ou afinidade, em linha reta ou colateral, até
o terceiro grau, no exercício de atividades que possam suscitar
conflito de interesses; e

Em sua DCI, na página n° 08, Paulo Guedes informou que é acionista da

Dreadnoughts Internacional Group Limited, situada nas Ilhas Virgens Britânicas, e que
se retirou da diretoria da offshore em dezembro de 2018. Ele também afirmou que a
gestão foi entregue ao Banco Itaú, por meio da Itaú Bahamas Fiduciary Services.

Os documentos entregues pelos advogados confirmam que ele realmente

deixou a diretoria no dia 21 de dezembro de 2018. Esses mesmos documentos também
comprovam que sua filha, Paula Drumond Guedes, permaneceu como diretora da
offshore até o presente momento.

Segue abaixo uma certidão emitida pela Trident Trust Company (B.V.I)
Limited, agente de registro internacional, no dia 08 de outubro de 2021.
 Ocorre que esse fato foi omitido na DCI entregue em 11 de janeiro de 2019 à
Comissão de Ética Pública.

O formulário da DCI contém um campo para informações sobre familiares

localizado no item 05, página 11. Nele, Paulo Guedes afirmou não possuir nenhum
cônjuge, companheira ou parentes, por consanguinidade ou afinidade, em linha
reta ou colateral, até terceiro grau atuando em áreas afins à competência de seu
cargo. A offshore, todavia, atua no mercado financeiro e é dirigida por sua filha.

Veja-se:

No item 5.2, página 12, Guedes deveria informar a existência de familiares

que fossem acionistas ou empregados de pessoas jurídicas.
 Para nossa surpresa, o Ministro afirmou que não possuía nenhum parente
como sócio ou empregado de empresas que atuam em áreas ou matérias afins às
atribuições de seu cargo. Veja-se.

Como visto, ele omitiu que sua Filha, Paula Drumond Guedes, é a diretora da
offshore que atua no mercado financeiro. Também omitiu que sua esposa, Maria
Cristina Bolívar Drumond Guedes, é sócia da Dreadnoughts Internacional.

Destaca-se que, no item 5.5, Guedes ofereceu informações sobre sua filha,
porém afirmou apenas que ela é membra da Global Blockchain Business Council, uma
organização sem fins lucrativos voltada à promoção do entendimento da tecnologia
Blockchain, presente nas criptomoedas, nada mais. Veja-se.

Ele também omitiu que sua esposa, Maria Cristina Bolívar Drumond Guedes,
é sócia da Dreadnoughts.
 Para nós, isso é muito grave, pois o Ministro omitiu informações que
precisavam passar pelo crivo da Comissão de Ética Pública ainda em 2019, diante da
possibilidade de existir conflito de interesses, uma vez que sua filha (Paula) é a diretora
de uma empresa que atua no mercado financeiro, que é de propriedade do próprio
Guedes.

Fica claro que a investigação promovida pelo Consórcio Internacional de

Jornalistas Investigativos (ICIJ) jogou luz sobre uma relação que se mantinha oculta.

Na prática, se investigação Pandora Paper não tivesse existido, ninguém

saberia que Paulo Drumond Guedes é a diretora da offshore e que Maria Cristina Bolívar
Drumond Guedes é sócia, uma vez que a DCI não contém tais informações.

Fica claro que há evidente conflito de interesses.

Essa omissão, entretanto, pode revelar a existência de outra irregularidade,

uma vez que Paula Drumond Guedes e Paulo Guedes têm relação de pai e filha, seria
muita ingenuidade achar que eles não conversarão sobre questões econômicas e os
rumos que nosso país trilhará.

Ademais, o acesso prévio a uma única informação estratégica poderia ter

gerado lucros expressivos no mercado financeiro. Por esse motivo é crucial que o
Ministério Público Federal requeira o extrato operacional da offshore junto às bolsas de
valores mundiais, uma vez que nossa economia influencia no movimento dos ativos
financeiros nacionais e internacionais.

Ante ao exposto, a atuação do MPF é crucial para apurar a omissão e um

possível uso de informações privilegiadas.

1.3 – NECESSIDADE DE INVESTIGAÇÃO DE POSSÍVEL CRIME

DE INSIDER TRADING

Como visto nos itens anteriores, Paulo Roberto Nunes Guedes fundou, ao
lado da filha e da esposa, uma offshore nas Ilhas Virgens Britânicas, que são
popularmente conhecidas como paraísos fiscais.

Paulo Guedes deixou a diretoria da offshore em dezembro de 2018, porém

manteve sua filha, Paula Drumond Guedes, no cargo de diretora.
 Em sua DCI, o ministro informou que deixou a diretoria antes de ser
nomeado, todavia omitiu que sua filha permaneceu como diretora da entidade. Ele
também omitiu que sua esposa continua como sócia.

Para nós, isso causa estranheza, uma vez que a Dreadnoughts Internacional
Group Limited atua no mercado financeiro.

Tal fato levanta sérias suspeitas sobre o comportamento ético do Ministro da

Economia, tanto no campo administrativo-político (como servidor público) quanto em
sua atuação no mercado financeiro.

O Brasil é uma das maiores economias mundiais. Somos respeitados em

diversos segmentos. Em nosso território estão estabelecidas algumas das maiores
empresas do mundo como, por exemplo, Petrobrás, Vale, Raízen, Ambev e outras.
Nossos bancos estão entre os maiores do sistema financeiro latino-americano.

A influência que o Brasil exerce sobre o sistema financeiro mundial é

inegável. Para se ter uma ideia, nossa economia é transnacional, pois há ativos
brasileiros negociados em todo mundo, os ADRs brasileiros (que são títulos americanos
vinculados às empresas brasileiras) e empresas puramente nacionais listadas
diretamente nas bolsas de valores dos EUA são alguns exemplos de nossa importância.
Além disso, estamos presentes de forma massiva nos mercados futuros de câmbio,
commodities, índices e em mais de uma centena de valores mobiliários mundialmente
negociados.

Há inúmeros fundos especializados em ativos nacionais e nas mercadorias

que nossas empresas negociam mundialmente. É notório que as decisões econômicas
tomadas diariamente interferem nas cotações dos ativos financeiros.

O Paulo Roberto Nunes Guedes é o líder de nossa economia. Para esse múnus,
ele está cercado de profissionais de grande preparo técnico e altíssima competência, que
lhe entregam informações preciosas sobre nosso país e o mundo todos os dias.

Guedes fez sua carreira no sistema financeiro, portanto ele sabe que nossa
política econômica interna e externa influencia as tendências de alta e queda dos ativos.
Ele também sabe que, no mercado, o operador pode ganhar dinheiro nas duas pontas,
ou seja, apostando na alta, com operações compradas (Long), e apostando na queda,
com operações vendidas (Short). Nesse mundo, o acesso prévio a informações pode
gerar fortunas gigantescas.

Mesmo com todo esse conhecimento estratégico, a Dreadnoughts

Internacional continuou ativa nas Ilhas Virgens Britânicas, com Paula Drumond Guedes
no cargo de diretora. Aliás, ninguém sabia disso antes da investigação Pandora Paper.

É inegável, Excelência, que uma única informação oriunda do Ministério da

Economia, poderia embasar tecnicamente uma operação milionária tanto no mercado à
vista quanto no futuro.

O fato de a Dreadnoughts Internacional Group Limited estar situada fora do

país não impede se beneficie das informações estratégicas no mercado internacional ou
nacional.

Além disso, uma empresa poderá investir no mercado das seguintes formas:

1° Comprando diretamente ativos financeiros no mercado – Forma

Direta;

2° Comprando cotas de fundos que negociam ativos nacionais,

vinculados às empresas brasileiras ou em contratos futuros de
mercadorias ou câmbio – Forma Indireta.

A diferença é que a própria empresa escolhe e adquire os ativos na forma

direta. Na forma indireta, um fundo realiza a compra dos ativos.

O art. 27-D, da Lei n° 6.385, de dezembro de 1976, tipifica como crime o uso
de informações que ainda não foram divulgadas a todo o mercado – Insider Trading.
Veja-se

Uso Indevido de Informação Privilegiada

Art. 27-D. Utilizar informação relevante ainda não divulgada

ao mercado, de que tenha conhecimento e da qual deva manter
sigilo, capaz de propiciar, para si ou para outrem, vantagem
indevida, mediante negociação, em nome próprio ou de
terceiro, com valores mobiliários:

Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa de até 3

(três) vezes o montante da vantagem ilícita obtida em
decorrência do crime.
 Ante ao exposto, requer que o Ministério Público Federal investigue as
operações realizadas pela Dreadnoughts Internacional no período compreendido entre o
dia 01 de janeiro de 2019 e o presente momento.

1.4 – NECESSIDADE DE ANÁLISE DO EXTRATO DE

OPERAÇÕES FINANCEIRAS REALIZADAS PELA
DREADNOUGHTS INTERNACIONAL GROUP LIMITED NO
PERÍODO COMPREENDIDO ENTRE O DIA 01 DE JANEIRO DE
2019 ATÉ O PRESENTE MOMENTO

O caso em tela é obscuro e repleto de omissões que poderão revelar o uso

indevido de informações privilegiadas pela offshore.

Para que o insider trading seja constatado ou descartado, é necessário que

o Ministério Público Federal requeira o extrato de operações realizadas, de forma
direta ou indireta, pela Dreadnoughts Internacional no mercado financeiro.

A offshore pode ter realizados operações no mercado internacional ou

nacional. Ela também pode ter adquirido cotas de fundos que adquiriram os ativos.

Há, ainda, a possibilidade de operações diretas ou indiretas nos mercados

futuros de câmbio, commodities e índices. Também deverão ser analisadas as aquisições
de derivativos como, por exemplo, as Opções Calls ou Puts.

Somente o extrato de operações revelará se a offshore se beneficiou de

informações prévias sobre decisões do Ministério da Economia, do Banco Central ou
do Comitê de Política Monetária (COPOM).

Ante ao exposto, requer que o Ministério Público Federal requeira o extrato

de operações realizadas pela offshore no período compreendido entre o dia 01 de janeiro
de 2019 e o presente momento.

02 - CONCLUSÃO
 No caso em tela, está provado que o Ministro da Economia omitiu que sua
filha, Paula Drumond Guedes, é a diretora da offshore Dreadnoughts Internacional em
sua Declaração Confidencial de Informações (DCI).

Ele também omitiu que sua esposa, Maria Cristina Bolívar Drumond Guedes,
é sócia da offshore. Esse fato impediu que Comissão de Ética Pública se manifestasse
sobre a manutenção da offshore.

Tais circunstâncias levantam sérias suspeitas sobre o comportamento ético de

Paulo Guedes tanto na esfera pública quanto no mercado financeiro. Ademais, é preciso
que o Ministério Público Federal investigue as reais motivações de tamanha omissão.

De outro lado, é preciso que haja uma investigação sobre as operações

realizadas pela Dreadnoughts Internacional de janeiro de 2019 até o presente momento,
pois esta poderá ter sido beneficiada por decisões e informações oriundas do Ministério
da Economia.

Para esse trabalho, é essencial que se requeira o extrato de operações

realizadas, de forma direta ou indireta, pela offshore no mercado financeiro no período
supracitado.

Nesses termos requer a atuação do Ministério Público Federal no presente

caso.

Goiânia, 17 de novembro de 2021

Elias Vaz de Andrade

Deputado Federal pelo PSB/GO

Kim Patroca Kataguiri

Deputado Federal pelo DEM/SP

Lídice da Mata e Souza

Deputada Federal pelo PSB/BA

Ubirajara do Pindaré Almeida Sousa

Deputado Federal pelo PSB/MA